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História

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Curso de Graduação a Distância Teoria da História 02 créditos 40 horas Autor Eva Maria Luiz Ferreira Universidade Católica Dom Bosco Virtual wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 2 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Missão Salesiana de Mato Grosso Universidade Católica Dom Bosco Instituição Salesiana de Educação Superior Chanceler Pe Ricardo Carlos Reitor Pe José Marinoni PróReitora de Graduação e Extensão Profª Rúbia Renata Marques Diretor da UCDB Virtual Prof Jeferson Pistori Coordenadora Pedagógica Profª Blanca Martín Salvago Direitos desta edição reservados à Editora UCDB Diretoria de Educação a Distância 67 33123335 wwwvirtualucdbbr UCDB Universidade Católica Dom Bosco Av Tamandaré 6000 Jardim Seminário Fone 67 33123800 Fax 67 33123302 CEP 79117900 Campo Grande MS Ferreira Eva Maria Luiz Teoria da História Eva Maria Luiz Ferreira Campo Grande UCDB 2015 78 p Segunda versão revisada em 2020 Palavraschave 1 História Antiga 2 Correntes teóricas 3 Escrita da história 0221 3 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe multidisciplinar da UCDB Virtual com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do seu curso Elementos que integram o material Critérios de avaliação são as informações referentes aos critérios adotados para a avaliação formativa e somativa e composição da média da disciplina Quadro de Controle de Atividades tratase de um quadro para você organizar a realização e envio das atividades virtuais Você pode fazer seu ritmo de estudo sem ul trapassar o prazo máximo indicado pelo professor Conteúdo Desenvolvido é o conteúdo da disciplina com a explanação do pro fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo Indicações de Leituras de Aprofundamento são sugestões para que você possa aprofundar no conteúdo A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para facilitar seu acesso aos materiais Atividades Virtuais atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo As datas de envio encontramse no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem Como tirar o máximo de proveito Este material didático é mais um subsídio para seus estudos Consulte outros conteúdos e interaja com os outros participantes Portanto não se esqueça de Interagir com frequência com os colegas e com o professor usando as ferramentas de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem AVA Usar além do material em mãos os outros recursos disponíveis no AVA aulas audiovisuais vídeoaulas fórum de discussão fórum permanente de cada unidade etc Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto a calendário atividades ferramentas do AVA e outros Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas necessidades como estudante organize o seu tempo Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza gem contando com a ajuda e colaboração de todos 4 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Objetivo Geral Colaborar com o educando na construção do conhecimento histórico Compreender os paradigmas da História por meio do estudo de diversas concepções SUMÁRIO UNIDADE 1 AS ORIGENS ANTIGAS OU PRÉMODERNAS 10 11 Conceitos básicos 10 12 Antes da invenção da teoria e da história 10 13 Os gregos e a história 11 UNIDADE 2 CONCEPÇÕES DA HISTÓRIA 13 21 Positivismo 14 22 Historicismo 15 23 Marxismo 17 UNIDADE 3 ESCOLA DOS ANNALES 20 31 Surgimento e contexto histórico 20 32 Primeira geração dos Annales 23 33 Segunda Geração dos Annales Fernand Braudel 29 34 Terceira Geração dos Annales 33 UNIDADE 4 NOVAS ABORDAGENS 38 41 Históriaproblema 38 42 Interdisciplinaridade 39 43 Dimensões e abordagens da história 40 44 Abordagens historiográficas 45 UNIDADE 5 O ESTUDOD A HISTÓRIA E AS FONTES HISTÓRICAS 48 51 As fontes históricas 48 52 Fontes documentais 48 53 Fontes orais 52 54 Fontes audiovisuais 55 55 Fontes arqueológicas 57 56 Fontes impressas 59 5 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 57 Fontes biográficas 61 UNIDADE 6 TAREFA DO HISTORIADOR 66 61 O historiador e seu ofício 66 REFERÊNCIAS 69 EXERCÍCIOS E ATIVIDADES 71 Avaliação A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar isto é a finalidade da avaliação é propiciar oportunidades de açãoreflexão que façam com que você possa aprofundar refletir criticamente relacionar ideias etc A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada além das provas no final de cada módulo avaliação somativa será considerado também o desempenho do aluno ao longo de cada disciplina avaliação formativa mediante a realização das atividades Todo o processo será avaliado pois a aprendizagem é processual Para que se possa atingir o objetivo da avaliação formativa é necessário que as atividades sejam realizadas criteriosamente atendendo ao que se pede e tentando sempre exemplificar e argumentar procurando relacionar a teoria estudada com a prática As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de cada disciplina Critérios para composição da Média Semestral Para compor a Média Semestral da disciplina levase em conta o desempenho atingido na avaliação formativa e na avaliação somativa isto é as notas alcançadas nas diferentes atividades virtuais e nas provas da seguinte forma Somatória das notas recebidas nas atividades virtuais somada à nota da prova dividido por 2 Caso a disciplina possua mais de uma prova será considerada a média entre as provas Média Semestral Somatória Atividades Virtuais Média Provas 2 Assim se um aluno tirar 7 nas atividades e 5 na prova MS 7 5 2 6 Antes do lançamento desta nota final será divulgada a média de cada aluno dando a oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a 70 possam fazer a Recuperação das Atividades Virtuais 6 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Se a Média Semestral for igual ou superior a 40 e inferior a 70 o aluno ainda poderá fazer o Exame Final A média entre a nota do Exame Final e a Média Semestral deverá ser igual ou superior a 50 para considerar o aluno aprovado na disciplina Assim se um aluno tirar 6 na Média Semestral e tiver 5 no Exame Final MF 6 5 2 55 Aprovado FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES O quadro abaixo visa ajudálo a se organizar na realização das atividades Faça seu cronograma e tenha um controle de suas atividades Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade consulte o calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade AVALIAÇÃO PRAZO DATA DE ENVIO Atividade 11 Ferramenta Tarefa Atividade 31 Ferramenta Tarefa Atividade 41 Ferramenta Tarefa 7 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 BOAS VINDAS Olá bemvindo aos estudos da disciplina de Teoria da História Na presente disciplina apresentaremos um panorama das correntes teóricas que norteiam a disciplina de Teoria da História objetivando levar o acadêmico conhecer as teorias que permitem a escrita historiográfica Na unidade 1 abordaremos a escrita da história antes da invenção dos termos teoria e história e como era o registro sobre o passado e os seus significados Também apresentaremos a importância dos gregos na História Na unidade 2 teremos como principal objetivo conhecer e refletir sobre duas importantes correntes teóricas na trajetória do pensamento histórico Veremos como estas correntes organizam criticam e utilizam da documentação produzida pelo homem nos seus embates teóricos Na unidade 3 será apresentada uma inovação que aconteceu no início do século XX no campo historiográfico Veremos os principais intelectuais que fizeram importantes e significativos desdobramentos na escrita historiográfica Na unidade 4 conceituaremos dois importantes termos que nortearão os novos domínios historiográficos postulados pela terceira geração da escola dos Annales Termos que permitirão um aprofundamento da ampliação dos temas de pesquisa e aporte interdisciplinar à história Na unidade 5 teremos contato com as variadas fontes históricas e as inúmeras possibilidades de abordar no trabalho do historiador Também ofereceremos uma gama de materiais utilizados na investigação e na produção do conhecimento histórico Na unidade 6 apresentaremos uma reflexão sobre o ofício do historiador Sua importância na produção do conhecimento é preciso estudar ensinar e divulgar a história Desejo a todos um bom estudo 8 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Préteste A finalidade deste préteste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta disciplina Não fique preocupado com a nota pois não será pontuado 1 Leia os enunciados sobre o que é História e depois assinale a alternativa correta I É a vida dos povos e da humanidade II É uma pesquisa que nos ensina o que o homem fez e portanto o que o homem é III É a ciência que estuda o Homem no Tempo IV A História se constitui de um processo contínuo de interação entre o historiador e seus fatos um diálogo interminável entre o presente e passado a Apenas o enunciado I está correto b Apenas os enunciados I e II estão corretos c Apenas os enunciados II e III estão corretos d Todos os enunciados estão corretos 2 Assinale a alternativa incorreta em relação à importância do estudo da disciplina da Teoria da História no curso de História a Importante para possibilitar ao pesquisador e ao professor de história compreender como o conhecimento é produzido b Importante ferramenta de possibilidades para o historiador refletir sobre o passado que é o principal objetivo da História c Importante para o professor ter plenas condições de desenvolver uma postura crítica diante das explicações historiográficas transformando a história em sala de aula em algo muito além da mera memorização de datas e nomes d Para ter mais autonomia para produzir por si mesmo análises reflexões e pesquisas sobre a história tanto na sala de aula como na pesquisa 3 Como podemos chamar os vestígios produzidos pelo passado humano como documentos pinturas rupestres registros cartoriais correspondências públicas e privadas etc que permitem ao historiador reconstruir acontecimentos e formas de vida do passado a Fonte Histórica 9 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 b Fato Histórico c Escrita da História d Evento Histórico 4 Várias correntes historiográficas produziram conceitos diferenciados que subsidiam a escrita historiográfica a realizar reflexões das mudanças históricas Duas importantes correntes se destacam Uma que explicava a História por meio de uma escrita tradicional a outra buscava explicar as mudanças a partir das classes sociais e os modos de produção Essas correntes são a Marxismo e Escola dos Annales b Positivismo e Marxismo c Positivismo e Escola dos Annales d Escola dos Annales e Historicismo Submeta a Préteste por meio da ferramenta Questionário 10 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 1 AS ORIGENS ANTIGAS OU PRÉMODERNAS OBJETIVO DA UNIDADE Compreender a escrita da história antes da invenção dos termos teoria e história bem como o registro do passado e os seus significados Apresentar a importância dos gregos na História 11 Conceitos básicos Toda a Teoria da História moderna surgida com o racionalismo saber o que certo ou errado e o iluminismo os seres humanos com condições de pensarliberdade de criar do século XVIII surge em continuidade e em oposição à tradição milenar de reflexão sobre o passado Continuidade pois muitas das referências antigas foram retomadas em tempos modernos mas ainda mais em oposição pelo distanciamento das maneiras de se conceber a História nas tradições antigas e medievais O que é Teoria e História São termos de origem grega de importantes significados Teoria relacionase com o verbo Theámai enxergar e com thea Vista e está portanto no mesmo campo do teatro em grego théatron A teoria é portanto um ponto de vista uma visão e esse termo já é em si muito revelador Assim a visão é subjetiva ela depende de quem olha e ela é também afetada por condições de visibilidade externas ao observador História confunde no senso comum com a noção de passado como aquilo que aconteceu Mas história é um termo grego que significa pesquisa uma observação algo investigado pela vista 12 Antes da invenção da teoria e da História Antes da invenção pelos gregos dos termos teoria e história já se pensava sobre o passado e o seu significado As concepções mais retomadas pela historiografia moderna foram as hebraicas parte da tradição ocidental por meio da Bíblia O tempo bíblico é um tempo religioso prenhe de subjetividade e emoção Os termos mais usuais para designar o tempo referemse a um ciclo como dia mês e ano que compõe uma vida uma geração A palavra tempo é de origem desconhecida mas está relacionada ao ciclo da vida em sua acepção religiosa 11 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 13 Os gregos e a História Quem é o pai da História O grego Heródoto nascido em Halicarnasso 484420 aC Ele foi o primeiro a adotar a palavra História com sentido que passaria a ter que todas as obras dos homens não fossem esquecidas com o tempo Ele atravessou o mundo em busca de experiências de vida As experiências ele socializa em praças públicas durante horas como se fosse um comício A intenção de sua fala era de emocionar e tocar o público Fonte httpmigremeoY2ol O uso da oralidade muita das vezes soava com descrédito para as pessoas uma vez que não acreditava no que ele falava não sendo uma pura verdade Mas ele ressaltava que antes de falar averiguava o testemunho O testemunho e a memória como preservação das ações humanas para que não sejam esquecidas Para Heródoto a História é um relato racional agradável e literário A investigação a partir da visão e da audição ver ouvir e registrar Outro grego Tucídides abordará a História de forma diferente de Heródoto Ele rompe com a escuta dos povos e seus costumes preocupado apenas com a História contemporânea da sua época Não falava em espaço público não queria a opinião das pessoas A busca da precisão ligavase à visão judiciária da História como se a pesquisa histórica fosse uma investigação das provas de um tribunal em busca da verdade Fonte httpkdfrasescomautortucídides 12 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Já Aristóteles não dedicou seus escritos à História como seus conterrâneos Heródoto e Tucídides Mas entra para a historiografia grega ao mencionar na sua obra a Poética onde enfatiza a relação entre a Poesia e História É o primeiro a fixar a relação de diferença FicçãoHistória partindo da definição dos conteúdos e formas correspondentes à Poesia e à História Assim propõe a diferenciação e delimitação entre história e literatura Fonte httpmigremeoY2rC Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 1 e a Atividade 11 Dica de Aprofundamento Aprofunde sobre o conceito de Teoria buscando o conceito no Dicionário de Conceitos Históricos que se encontra à sua disposição na Biblioteca Virtual Universitária 13 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 2 CONCEPÇÕES DA HISTÓRIA OBJETIVO DA UNIDADE Conhecer e refletir sobre duas importantes correntes teóricas na trajetória do pensamento histórico Analisar como estas correntes organizam criticam e utilizam a documentação produzida pelo homem nos seus embates teóricos A tradição historiográfica cristã com a sua mescla de temas sagrados e profanos com a onipresença de milagres viria a marcar a reação a partir da releitura dos historiadores gregos e romanos Os escritores do Renascença a partir do século XV entusiasmaramse com as abordagens racionais e seculares dos antigos e começaram a desenvolver uma erudição crítica Com a divulgação da imprensa e do uso das línguas vernáculas como o francês italiano ou inglês começam a difundir obras históricas de pensadores como Maquiavel Já se estava no século XVIII sob o clima de uma luta declarada contra a influência da Igreja na interpretação do passado e na busca de uma interpretação racional do passado Todo o século XVIII produziu grandes obras literárias para o deleite a partir do método da empatia ou seja estude um tema e vá à sua época e busque tudo que for possível para melhor desenvolver o tema Ainda não havia a carreira universitária para organização da nova ciência na forma que conhecemos nos dias atuais A primeira disciplina a surgir no que viria a ser as ciências humanas e sociais foi a Filologia o conhecimento das línguas suas características e origens Momento de abandono da explicação bíblica que atribuía a diversidade de línguas à da Torre de Babel Logo surgiram os dois grupos de línguas indoeuropeias quase todas as línguas faladas na Europa além do persa e das línguas da Índia As semíticas línguas do Oriente Médio hebraico aramaico e o árabe Permitiu ainda que o conhecimento dos documentos antigos fosse muito mais profundo e objetivo Criase um novo conceito de História como conhecimento positivo do passado não mais como literatura ou relato religioso O surgimento da Filologia permitiu que se iniciasse a História como disciplina acadêmica que está conosco até hoje 14 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 21 Positivismo O Positivismo pregava a cientifização do pensamento e do estudo humano visando a obtenção de resultados claros objetivos e completamente corretos Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de neutralidade isto é na separação entre o pesquisadorautor e sua obra esta em vez de mostrar as opiniões e julgamentos de seu criador retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos mas sem os analisar Os positivistas creem que o conhecimento se explica por si mesmo necessitando apenas seu estudioso recuperálo e colocálo à mostra Que a história se oferece através de documentos organizados em ordem cronológica dos fatos considerados significativos pelo historiador de forma que não possibilite uma reflexão teórica Não foram poucos os que seguiram a corrente positivista Auguste Comte na Filosofia Émile Durkheim na Sociologia Fustel de Coulanges na História entre outros contribuíram para fazer do Positivismo e da cientifização do saber um posicionamento poderoso no século XIX O Positivismo visava ao conhecimento objetivo do passado não o gozo de uma bela leitura e menos a dar uma guarida à fantasia Podese inclusive dizer que o Positivismo reduz o papel do homem enquanto ser pensantecrítico para um mero coletor de informações e fatos presentes nos documentos capazes de fazerse entender por sua conta Fonte httpmigremeoY2xc O positivismo nasceu na França também no século XIX a partir da doutrina de Auguste Comte que estabelece algumas leis para a construção do conhecimento histórico e se aproxima mais de teoria 211 A crítica documental e o método científico da História Os fatos históricos falam por si mesmos dizia Coulanges historiador francês Assim para os positivistas que estudaram a História esta assume o caráter de ciência pura uma vez que é formada pelos fatos cronológicos e o que realmente significam em si São objetivos à medida que possuem uma verdade única em sua formação onde o seu sentido e sua única possibilidade de compreensão não requerem a ação do historiador para serem entendidos Como já dito o papel deste é descrever os episódios as datas as guerras os 15 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 fatos os heróis constatando pela análise minuciosa e liberta de julgamentos pessoais sua validade ou não O saber histórico dessa forma provém do que os fatos contêm e assume um valor tal qual uma lei da Física ou da Química ciências exatas E assim a história por muitas décadas foi tratada à distância Leopold Von Ranke 17951886 foi o grande historiador acadêmico positivista que daria sequência e aprofundaria a nova teoria positivistametódica da História Fonte httpmigremeoY2zw Fundador da moderna disciplina histórica universitária tanto do ponto de vista epistemológico como administrativo Estabeleceu pela primeira vez a disciplina na Universidade algo que tardaria muitas décadas em outros lugares como na França A História positivista rompe com a tradição literária estabelece uma severa crítica textual A crítica visava a saber se os documentos eram verdadeiros e fidedignos Inaugurase o estilo da historiografia positivista árido difícil em tudo diverso da tradição literária da História inaugurada por Heródoto Possuía uma excelente retórica e profundo conhecimento fato da sua conquista no lugar como o fundador de nova escola histórica pelo apelo retórico de sua documentação Surge assim a escola metódica Leopold Von Ranke foi a principal figura que ajudou a difundir seus ideais Em seus longos discursos Ranke evocou o que se tornou para muitos eruditos alemães e muitos admiradores não alemães uma das grandes descobertas da história do início do século XIX os prazeres do arquivo O seu método de pesquisa possuía uma força e um estilo brilhante Era um incansável pesquisador em busca das fontes primárias onde lia copiava examinava fazia todas as correções necessárias também um trabalho muito próprio do seu estilo comparar os escritos impressos com os textos manuscritos Dedicou aos estudos dos documentos até o fim de sua vida 22 Historicismo Barros 2010 aborda o Historicismo que se constituiu como um complexo movimento dentro da história da historiografia ocidental Originouse na Escola Histórica Alemã de Ranke Teve alguns precursores na passagem do século XVIII para o XIX O 16 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 movimento abrigou tendências relativamente variadas Apesar de uma oposição mais geral contra o Positivismo As contribuições de historiadores ligados ao historicismo alemão como Ranke e Niebuhr trouxeram avanços para a historiografia principalmente no que diz respeito à técnica e à profissionalização Nesse contexto a história se firma como disciplina autônoma com lugar na Universidade O desenvolvimento da crítica documental e a constituição de uma nova figura de historiador especializado por oposição ao historiador diletante fez com que o historicismo se destacasse apesar do caráter bastante conservador Os financiadores do historicismo eram os governos nacionais que preocupados em utilizar a história para justificar a configuração política internacional na Europa bem como ajustála aos ditames de uma sociedade industrial fundamentada na prosperidade burguesa e sob o domínio político BARROS 2010 Nesse sentido o Historicismo era inovador em relação às novas propostas de estabelecimento da História como uma ciência autônoma com direito a buscar uma identidade própria e métodos específicos Por outro lado tinha seu lado conservador devido às ligações políticas I Nos primeiros tempos o historicismo ainda estava totalmente distante do paradigma positivista Ranke ainda propunha certa neutralidade historiográfica Com o tempo o historicismo foi se afirmando em oposição ao paradigma positivista como uma proposta de reflexão e investigação orientada por diretrizes específicas Buscavase primeiramente o estudo da particularidade histórica em oposição às generalizações que um dia haviam sido feitas pelo Iluminismo e que agora eram encaminhadas pelo Positivismo A busca de Leis Gerais característica do positivismo era confrontada por uma concepção da História como ciência do particular da vivência humana que dificilmente poderia se ajustar às receitas positivistas Também se buscava uma metodologia própria Dica de Aprofundamento Leia as páginas 7471 do texto Dois paradigmas em contraposição Positivismo e Historicismo do livro BARROS José D Assunção Teoria da História Os primeiros paradigmas positivismo e historicismo Vol II 4 ed Petrópolis RJ Vozes 2014 O livro encontrase à sua disposição na Biblioteca Virtual Universitária 17 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 23 Marxismo O Marxismo é um dos sistemas de pensamento mais influentes desde o início do século XIX suas ideias econômicas políticas e sociais originárias dos influxos de Marx e Engels conheceram diferentes desdobramentos e ainda hoje marcam a epistemologia de diversas áreas É importante frisar que o marxismo uma nova leitura da História Luta de classes ideologia alienação mais valia proletariado fetichismo socialismo e comunismo são palavras comumente ligadas ao seu vocabulário sendo representativas de um amplo modelo ao qual se associam concepções teóricas e práticas do pensamento social que oferece instrumentos para os atores sociais desenvolverem a sua própria crítica social bem diferente do positivismo que pregava a importância de se manter a ordem Karl Marx nasceu em Trier Alemanha a 5 de maio de 1818 e morreu em 14 de março de 1883 Fonte httpmigremeoY2BY Marx faz parte do grupo seleto dos clássicos do pensamento sociológico A análise que ele faz acerca da sociedade capitalista e suas formulações teóricas provocaram uma imensa influência no pensamento sociológico a ponto de ter se tornado um marco referencial no mundo ocidental É a partir desse marco que inúmeros pensadores desenvolveram e ainda desenvolvem suas teorias no sentido de confirmar ou negar as questões elencadas por ele Marx era herdeiro do ideário iluminista e acreditava que a razão era um instrumento de apreensão da realidade e de construção de uma sociedade mais justa capaz de possibilitar a realização de todo o potencial de perfectibilidade existente nos indivíduos Foi um atento observador dos problemas da sociedade dessa forma demonstra em suas obras a importância de se pensar a sociedade e seus conflitos ou seja as lutas de classe como o motor da história A história de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes Homem livre e escravo patrício e plebeu barão e servo burgueses de corporação e oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em 18 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 constante oposição uns aos outros travaram uma luta ininterrupta ora oculta ora aberta uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta MARX 2009 p 7 Dessa forma o marxismo e o materialismo histórico compõem uma teoria extremamente revolucionária para a sua época Marx foi um pensador extremamente atuante Sua formação era em filosofia e fez doutoramento também nesta área Todavia devido às suas posições revolucionárias não conseguiu lugar nas universidades para lecionar Trabalhou como jornalista Dedicou a sua vida a escrever e ter uma militância política Por isso a maioria de suas obras refletem os problemas vividos na sociedade capitalista O materialismo histórico portanto explica a história das sociedades humanas em todas as épocas por meio da produção material dos sistemas econômicos e técnicos A sociedade é comparada a um edifício as fundações a infraestrutura seriam representadas pelas forças econômicas pelo modo de produção enfim pelos aspectos materiais da vida humana A superestrutura representaria as ideias costumes instituições políticas religiosas jurídicas etc Os historiadores positivistas baseavam seus estudos nos documentos oficiais escritos compondo uma história das elites políticas Diferentemente dos historiadores marxistas que tinham nas relações de trabalho condição material da vida em sociedade As ações individuais eram fundamentais para os historiadores positivistas provocadores de transformações e mudanças são para os historiadores marxistas consequências naturais do estágio do modo de produção em curso O caminho aberto das ciências sociais por Marx e Comte vão influenciar os pensadores da Escola dos Annales Dicas de Aprofundamento Sugestão de leitura Manifesto do Partido Comunista escrito por Karl Marx e Friedrich Engels O livro encontrase à sua disposição na Biblioteca Virtual Universitária Assista ao filme O jovem Karl Marx acessando https httpsyoutube2M5vo2n6G7Y Acesso em 08 abr 2020 19 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 2 20 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 3 ESCOLA DOS ANNALES OBJETIVO DA UNIDADE Apresentar a inovação que aconteceu no início do século XX no campo historiográfico Conhecer os principais intelectuais que fizeram importantes e significativos desdobramentos na escrita historiográfica 31 Surgimento e contexto histórico Na passagem do século XIX e XX toda a Europa passava por mudança de perspectiva sobre a realidade social e histórica Entretanto na França apesar os durkheimianos a instituição histórica e a comunidade de historiadores estavam ainda dominados pela filosofia apesar do discurso cientificista e por uma falsa compreensão do que seria uma história cientificista A história metódica que controlava todos os níveis da pesquisa ensino de administração pública relativa à história mostrouse surda às novas ideias e mesmo às provocações Ela era uma instituição poderosa ligada à situação central e dominadora da Europa no mundo O historiador era aquele que estabelecia a harmonia entre os valores da Europa e o futuro era a realização universal da Europa Mas já no início do século XX o poder europeu já não era tão absoluto e após a primeira guerra mundial o centro do mundo não era mais a Europa que perdera seu predomínio Com o declínio da Europa no mundo a instituição histórica controlada pela história metódica ficou sem sustentação Ela sobrevivia sem sua base efetiva falava de um mundo que já não existia mais A história metódica solidamente instalada nas instituições mas defasada da realidade não duvidava da objetividade de seus resultados e da segurança de seus pressupostos evolucionistas Assim tornouse um alvo fácil dos sociólogos que tinha a pretensão em submeter todas as outras disciplinas sociais a províncias campos de experimentação produtoras de materiais para servirem às generalizações da sociologia Pelo projeto da sociologia a história perderia toda a sua autonomia No confronto com historiadores tradicionais os sociólogos possuíam um trunfo os historiadores sempre tiveram preconceito em relação à teoria e não estavam acostumados ao debate teórico Ingênuos teoricamente acabam a reboque da teoria considerada mais atual se tornam vítimas fáceis dos ataques das outras ciências sociais e da própria filosofia Por seu lado os sociólogos eram bem formados em filosofia pois sua formação passava 21 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 pela agregação de filosofia Treinados no debate teórico deixaram os historiadores metódicos confusos diante de suas ideias abstratas Na formação intelectual do historiador ele não adquiriu a cultura teórica exigida pelo debate filosófico O debate entre sociólogos geógrafos filósofos e historiadores do início do século XX foi tenso e decisivo para os rumos da história e da sociologia Nesse contexto surgiu a Escola dos Annales um movimento inovador originado na França no início do século XX O movimento deu origem ao que conhecemos hoje como Nova História Tudo começou com a criação da revista francesa Les Annales dHistorie Economique et Sociale Os Anais de História Econômica e Social a qual tinha como públicoalvo os grandes estudiosos das ciências sociais a exemplo dos historiadores sociólogos antropólogos geógrafos etc O periódico tinha como objetivo inicial apresentar uma nova forma de construção do conhecimento histórico contestando os antigos dogmas difundidos pela Escola Metódica Desde seu primeiro número a publicação propôs a organização de um fórum que promovesse uma discussão entre os historiadores e cientistas sociais o questionamento da periodização histórica história antiga medieval e moderna o questionamento da divisão entre o que seriam sociedades primitivas e sociedades civilizadas a criação de uma comunidade das ciências sociais A revista também propunha a ampliação da noção de fonte documental admitindo como fontes além dos documentos escritos os imagéticos e nãoverbais Os fundadores da revista foram Marc Bloch e Lucien Febvre Nas palavras de Burke 1997 p 17 foram os líderes do que pode ser chamado de Revolução Francesa da Historiografia Eles estavam ligados à Universidade de Estrasburgo que a partir de 1918 voltou a pertencer à França Após a primeira guerra o governo francês se apressou em ocupar a AlasaceLoraine profundamente alemã e para isto investiu recursos incomuns naquela universidade de província A universidade teria duas funções reinserir a Alasace Loraine na cultura francesa e consolidar a presença francesa naquela fronteira com a Alemanha Ocupando uma posição estratégica de extrema importância essa universidade se tornou um meio intelectual dos mais fecundos Possuía um quadro de professores de grande qualidade em todas as áreas juristas filósofos historiadores sociólogos Os professores de Estrasburgo influenciaram de forma decisiva a escrita de Bloch e Febvre pois tinham um diálogo constante com os colegas de trabalho tais como o psicólogo Charles Blondel o sociólogo Maurice Halbwachs Henri Bremond e os historiadores Georges Lefebvre Gabriel Le Bas e André Piganiol Essa equipe de docentes e pesquisadores tinha contatos permanentes o que os auxiliou na construção de um novo espírito acadêmico o da interdisciplinaridade 22 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Mas a influência desse meio intelectual sobre os Annales não se reduz somente à interdisciplinaridade Ali também eles definiram sua tendência política Aquela universidade estava em uma encruzilhada de tensões entre França e Alemanha cruzamento de um mundo católico e protestante onde se discutem duas ou três verdades sobre a origem da guerra verdades sobre o cristianismo verdades sobre a identidade dos alsacianos A orientação explicitamente laica e científica da universidade confrontavase com a Faculdade da teologia católica e com meio profundamente religiosos protestante e católico da AlsaceLoraine A população quase não falava inglês As tensões eram numerosas franceses x alemães religiosos x laicos população de origem alemã x estado francês autonomistas x francófilos x germanófilos republicanos e liberais x socialistas e comunistas Diante desse quadro intimidador a universidade se isolou e a pesquisa ali produzida tornouse cética quanto à possibilidade de uma intervenção científica em tensões voluntaristas apaixonadas políticas e religiosas Dessa forma os Annales receberam dali o outro componente de seu espírito a recusa do engajamento político a prudência na tomada de posições públicas Como tomar posições públicas em um mundo assim explosivo A Alsace era um meio social político religioso cultural linguístico pequeno e ameaçador A posição weberiana embora não seja a fundadora dessa tendência tomada pela pesquisa produzida na Universidade de Estrasburgo e pelos Annales expressa bem essa posição Não é função da ciência social fazer juízos de valor mas juízos de fato Enquanto cientista o pesquisador não precisa defender causas públicas e assumir posições políticas Cidadão e cientista são personagens que atuariam em esferas distintas cada uma com sua racionalidade específica Adotando o ponto de vista da ciência social a história se recusou a continuar servindo aos nacionalismos guerreiros expansionistas e tornouse um conhecimento distanciado objetivante dos conflitos e tensões sociais políticas e culturais Estamos diante do nascimento da Escola dos Annales isto é da história sob a influência das ciências sociais O movimento apresenta três direções às quais a história deveria orientarse para se tornar uma ciência social Abandonar o ídolo político a preocupação central com a história política dos fatos políticos das guerras com o político Abandonar o ídolo individual para se voltar para o estudo de fatos sociais institucionais repetitivos e não mais biográficos Abandonar o ídolo cronológico que leva o historiador a se perder no estudo das origens para realizar um caminho retrospectivo do presente ao passado 23 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A Escola dos Annales foi dividida em três gerações Em cada uma delas foram sendo trazidas reflexões sobre a História onde os historiadores passaram a produzir uma variada gama de obra para a historiografia 1ª geração 19291945 os fundadores Lucien Febvre e Marc Bloch 2ª geração 1945 1968 A era Braudel 3ª geração 1968 1989 Continuidade e descontinuidade ligadas a vários historiadores 32 Primeira geração dos Annales Além de fundadores da revista Marc Bloch e Lucien Febvre são fundamentais para a consolidação dos Annales enquanto movimento de renovação historiográfica Os dois historiadores são responsáveis pela primeira geração que inicia em 1929 e vai praticamente até o final da Segunda Guerra Mundial onde então assume a direção da escola Fernand Braudel A originalidade de Marc Bloch e Lucien Febvre foi a intuição da inatualidade da história positivista Eles iniciaram então o combate pelo resgate da história através de sua readequação à nova realidade mundial Certamente não foram eles que descobriram essa inadequação da história Mas compreenderam e desenvolveram o ataque dos sociólogos contra a história metódica Portanto a nova abordagem significou a aceitação por parte dos novos historiadores das críticas dos sociólogos que exigiam a aproximação da história das ciências sociais para que ela se renovasse se atualizasse e se tornasse também uma ciência social Essa adoção do ponto de vista das ciências sociais levará a uma luta a um combate entre os historiadores novos e tradicionais estes ainda controlando todas as instituições de ensino pesquisa edição e administração da história na França Essa influência das ciências sociais fez com que a história rompesse com uma longa tradição e se renovasse completamente Renovarse completamente não significa negar tudo que se fazia antes mas submeter o que fazia antes a um novo olhar a novos problemas a novos instrumentos a novos fins Esta primeira geração é responsável pelos diálogos interdisciplinares Conforme apontado no item anterior esse estreitamento de relações com outras disciplinas decorreu das críticas no campo teórico mas também do ambiente da Universidade de Estrasburgo Assim uma nova perspectiva histórica foi consolidada pois os historiadores desta geração procuraram escrever trabalhos em que as barreiras entre a história e as ciências sociais estavam praticamente rompidas 24 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Bloch e Febvre almejavam a constituição de uma história com uma visão global recusando uma história mais fragmentada Sua intenção era entender o homem em sua totalidade Esta foi uma das características mais importantes da Escola dos Annales pelo menos na primeira e segunda geração 321 Marc Bloch Marc Bloch viveu em um período conturbado na Europa Nasceu em 1886 na França e foi fuzilado na Segunda Guerra Mundial em 1944 Participou das duas guerras mundiais dedicandose à libertação da França durante a ocupação nazista Sua família era de origem judaica Bloch estudou na Escola Normal Superior depois na Sorbonne Também estudou durante um período na Alemanha nas universidades de Leipzig e de Berlim Retornou formado à França para lecionar história nos liceus de Montpellier e de Amiens até o ano de 1914 Foi oficial combatente na Primeira Guerra Mundial Após o fim da guerra foi convidado para trabalhar na Universidade de Estrasburgo onde permaneceu de 1919 a 1936 Nessa época conheceu Lucien Febvre e começaram os debates para a criação da Revista dos Annales Fonte httpmigremeoY2Zx Bloch escreveu diversos artigos científicos defendendo que a utilização dos documentos para a construção do conhecimento histórico deve ser bastante diversificada contrapondose aos metódicos que embasavam seus estudos somente nos documentos escritos Assim para Bloch os materiais arqueológicos artísticos numismáticos dentre outros constituíamse como matériaprima para o historiador Salientava que era necessário investigar cartas crônicas vestígios funerários imagens pintadas esculturas etc Sinalizou portanto a ampliação do conceito de fonte histórica Entretanto explorar uma documentação diversificada não bastava Era preciso abrir novos domínios na história Suas pesquisas orientaramse para a análise das dimensões econômicas das sociedades Teve influências diversas inclusive de F Simiand H Hauser e Karl Marx para tentar explicar as relações entre economia e classes sociais Buscou evidenciar a noção de totalidade uma abordagem que sintetiza o peso das estruturas para o entendimento de uma determinada sociedade em suas várias dimensões econômica social cultural etc 25 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Barros 2010 afirma que Marc Bloch influencia de forma decisiva as posteriores gerações dos Annales Sua primeira pesquisa publicada de caráter regional IledeFrance 1913 questionava o conceito fechado de região em áreas políticoadministrativas pré estabelecidas Argumentava que o que deveria definir o recorte da região em estudo era o problema examinado Entretanto sua grande obra viria com Les róis thaumatuges Os reis taumaturgos publicada em 1933 Com ela o historiador lança as bases de um novo campo historiográfico que se desenvolveria a História Comparada Também já mostrou a tendência de trabalhar de uma forma interdisciplinar utilizando conhecimentos de antropologia medicina psicologia e iconografia A obra discutia qual a origem da crença na Inglaterra e na França até o século XVIII de que o toque do rei nos súditos poderia curar doenças mais especificamente curar a escrófula uma doença infecciosa nos gânglios linfáticos do pescoço Bloch trabalhou com os conceitos de consciência coletiva e de representações que influenciaram as gerações posteriores da Escola do Annales Outra obra fundamental de sua carreira é Les caracteres originaux de lhistorie rurale française Os caracteres originais da história rural francesa editada em 1931 Nessa pesquisa o historiador discute a evolução das estruturas agrárias no Ocidente medieval e moderno entre os séculos XI e XVIII Utilizou uma série notavelmente grande de fontes e fez uso de vários mapas A obra La societé féodale A sociedade feudal é também uma das mais marcantes obras de Marc Bloch editada em 1939 Esta obra abrange um período extenso da história cerca de quatro séculos de história europeia de 900 a 1300 A proposta é o estudo de temas como servidão e a liberdade monarquia sagrada a importância do dinheiro dentre outros A interdisciplinaridade é uma das características da obra bem como sua pretensão de recuperar a sociedade feudal em sua totalidade Nesta obra também se encontra um capítulo sobre a memória coletiva marcando a influência de seu amigo Maurice Halbwachs que escreveu um livro sobre este tema O livro A Sociedade Feudal é ainda hoje considerado como uma contribuição fundamental para o entendimento daquela sociedade Depois de trabalhar em Estrasburgo a partir de 1936 Bloch assume a cadeira de história econômica na Universidade Sorbonne em Paris Neste período Lucien Febvre já estava trabalhando no prestigiado Collège de France A transferência de ambos para Paris foi essencial para a ampliação da Escola dos Annales que ia se afirmando como uma nova abordagem historiográfica pautada pela interdisciplinaridade objetivando uma história problema a partir das sensibilidades das representações sociais 26 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Aos poucos os Annales foram conquistando mais adeptos principalmente os historiadores mais jovens que acreditavam nas proposições de Bloch e Febvre Dentre eles podemos destacar Fernand Braudel Pierre Goubert Maurice Agulhon Georges Duby e outros Durante a Segunda Guerra o grupo dos Annales sofre um retrocesso Bloch que contava então 53 anos alistouse no exército para defender a França da invasão da Alemanha Como era judeu ele sofreu várias perseguições sendo obrigado a deixar Paris Foi novamente trabalhar na Universidade de Estrasburgo e depois na Universidade de Monpellier entretanto com o antissemitismo declarado pelos alemães Bloch fugiu para Fourgéres Bloch foi executado pelos soldados alemães em 16 de junho de 1944 sendo acusado de ter participado do Movimento Unidos da Resistência MUR que lutou contra a ocupação nazista na França Deixou uma obra inacabada intitulada Apologie pour lhistorie Apologia da história ou o ofício do historiador publicada somente em 1949 É uma obra singular na qual o autor explica o método histórico utilizado por ele e suas considerações sobre o trabalho do historiador No começo do livro Bloch tenta responder uma pergunta de um de seus filhos Papai então me explica para que serve a história Assim um garoto de quem gosto muito interrogava há poucos anos um pai historiador Sobre o livro que se vai ler gostaria de poder dizer que é minha resposta Pois não imagino para um escritor elogio mais belo do que saber falar no mesmo tom aos doutos e aos escolares Mas simplicidade tão apurada é privilégio de alguns raros eleitos Pelo menos conservarei aqui de bom grado essa pergunta como epígrafe pergunta de uma criança cuja sede de saber eu talvez não tenha naquele momento conseguido satisfazer muito bem Alguns provavelmente julgarão sua formulação ingênua Pareceme ao contrário mais que pertinente O problema que ela coloca com a incisiva objetividade dessa idade implacável não é nada menos do que o da legitimidade da história BLOCH 1997 p 17 É dessa legitimidade que trata a obra bem como do papel historiador para a difusão do conhecimento histórico cabendolhe ainda o papel de libertar a história da opressão transformandoa em instrumento da própria cidadania 27 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 322 Lucien Febvre Lucien Febvre nasceu na França em 1878 E juntamente com Marc Bloch renovou os métodos historiográficos impulsionando as reflexões sobre as novas abordagens novos objetos e novos problemas para a história Iniciou sua formação na cidade francesa de Nancy depois continuou em Paris na Escola Normal Superior e posteriormente na Universidade de Sorbonne Quando Febvre iniciou seus estudos a escola metódica era predominante no campo historiográfico Sua preocupação principal era com a erudição privilegiando a história política e os acontecimentos históricos Febvre foi um autodidata lia os clássicos da historiografia como Fustel de Coulanges Jules Michelet Jacob Burkhardt Louis Courajod e Jean Jaurès Com a influência destas leituras saía do estreitamento da história metódica Fonte httpmigremeoY32i No ano de 1919 Febvre começou a lecionar história moderna na Universidade de Estrasburgo Em sua aula inaugural fez um discurso sobre o papel da história em um mundo em ruínas pós Primeira Guerra Mundial que durara de 1914 a 1918 Neste período conheceu Marc Bloch e iniciou uma amizade e uma parceria no campo historiográfico que duraria para o resto de sua vida Os dois compartilhavam do anseio por uma história mais ampla e mais humana diferente da história fragmentada propagada pela escola metódica Em Estrasburgo Febvre tem contato com importantes pesquisadores como o geógrafo H Baulig o sociólogo G le Brás o psicólogo C Blondel e outros colegas abertos ao diálogo entre as disciplinas Em 1929 Febvre e Bloch fundaram a revista Les Annales dHistorie Économique et Sociale Os Anais de História Econômica e Social marcando o início do grupo dos Annales Nos anos iniciais de trabalho em Estrasburgo o historiador publicou a sua obra La terre et levolution humaine A terra e a evolução humana em 1922 marcando a relação interdisciplinar entre a história e a geografia Outro aspecto importante trazido pela historiografia de Lucien Febvre já desde os primeiros tempos é a valorização do quadro geográfico um traço de escritura da história que seria retomado por Braudel e repassado nos anos 1960 para toda uma geração que passaria a iniciar seus estudos historiográficos com a descrição geográfica BARROS 2010 p 9 28 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Lucien Febvre também buscava uma história mais ampla sem a exclusiva preocupação com eventos políticos e militares Seus trabalhos também primaram pela interdisciplinaridade aproximandose da geografia da sociologia da antropologia da filologia e da economia Sua tese de doutorado foi um estudo sobre a região da francesa FrancheComté no período em que essa região era dominada pelo rei da Espanha Felipe II no século XVII Ele tratou da revolta dos holandeses contra Felipe II e também da Reforma religiosa A abordagem traz as características sociogeográficas da região as disputas políticas econômicas e mesmo emocionais entre a decadente nobreza e a burguesia emergente Febvre dedicou atenção especial aos estudos das ideias francesas sobre o Renascimento e a Reforma Marcou presença nos estudos sobre a história da religião destacando que esta não deveria estar baseada nas instituições religiosas mas que as ideias religiosas das pessoas deveriam ser levadas em conta assim como suas tendências e emoções Em 1928 escreveu uma biografia de Martin Lutero o incentivador da Reforma Protestante No ano de 1933 Febvre mudouse de Estrasburgo para Paris e assumiu uma cadeira na renomada universidade Collège de France Colégio da França Após assumir o seu cargo foi convidado para ser o presidente da comissão organizadora da Encyclopédie française Enciclopédia francesa Este trabalho constituiu num importante projeto interdisciplinar indo ao encontro de suas pesquisas A influência de Febvre está evidente no volume da enciclopédia dedicada ao tema da outillage mental aparato mental no qual os pesquisadores escreveram sobre o aparato mental ou conceitual das sociedades e dos indivíduos Em 1939 quando começa a Segunda Guerra Mundial Febvre assume sozinho a direção da Revista dos Annales pois como mencionado anteriormente Marc Bloch deixou a coordenação da revista em virtude das perseguições nazistas Nessa época Febvre escreveu um de seus mais famosos livros intitulado Le problème de Lincroyance au XVI siècle La Religion de Rabelais O problema da descrença no século XVI a religião de Rabelais publicado em 1942 O foco da pesquisa é François Rabelais que já havia sido trabalhado por outros historiadores que o consideravam um ateu Febvre entretanto procurou desmistificar essa imagem de Rabelais contestando a ideia de que ele era ateu A mais importante contribuição de Lucien Febvre é o trabalho O Problema da Descrença no século XVI a religião de Rabelais publicado em 1942 A obra é um verdadeiro modelo para a HistóriaProblema a partir da qual os primeiros annalistas 29 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 buscaram se confrontar contra os modelos historiográficos factuais O texto abriu caminho para a História das Mentalidades que iria surgir na década de 1960 BARROS 2010 p 10 Após o final da Segunda Guerra Mundial Febvre foi convidado a reorganizar uma renomada instituição francesa de ensino a École Pratique de Hautes Études Escola Prática de Altos Estudos fundada em 1884 Foi eleito como membro da escola e também foi convidado pela Unesco para exercer a função de delegado francês sendo organizador da coleção sobre a História Cultural e Científica da Humanidade Na reorganização da Escola Febvre criou a VI Seção da École Pratique de Hautes Études VI Seção da escola prática de altos estudos em 1947 dedicada às ciências sociais Nesse departamento ficou situada a Escola dos Annales que neste período já contava com vários colaboradores entre eles Fernand Braudel Charles Morazé e Robert Mandrou Em 1956 Febvre morreu e Fernand Braudel tornouse o responsável pela Escola dos Annales Assim termina a primeira geração da Escola dos Annales 33 Segunda Geração dos Annales Fernand Braudel O historiador nasceu em agosto de 1902 no povoado de LumévilleenOrnois Logo se mudou para Paris estudou no Liceu Voltaire e depois na Universidade de Sorbonne Em 1923 conquistou o grau de agrégé concurso público para lecionar tendo o direito de exercer o cargo de professor universitário Trabalhou na Universidade de Algeries de 1923 a 1932 na Argélia então colônia da França Essa experiência o influenciou na sua ampliação dos horizontes profissionais Nessa fase Braudel escreveu um importante artigo sobre a presença dos Espanhóis no Norte da África no século XVI Fonte httpmigremeoY34v No começo de sua vida profissional Braudel começou a fazer pesquisas para sua tese de doutoramento sobre o rei Felipe II e o Mediterrâneo No começo dos anos de 1930 ele retornou a Paris e trabalhou no Liceu Condorcet e no Liceu Henrique IV Ainda na década de 1930 ele aceitou o convite para trabalhar no Brasil na Universidade de São Paulo USP onde permaneceu de 1935 a 1937 O historiador definiu este período como um dos mais felizes de sua vida 30 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Na sua volta para a França Braudel conheceu Lucien Febvre o que influenciou de forma decisiva sua pesquisa de doutorado Durante a Segunda Guerra Mundial Braudel foi prisioneiro num campo de concentração perto de Lübeck Neste período continuou a escrever sua tese pois tinha consigo vários cadernos de rascunho nos quais escrevia e depois os enviava para Febvre revisar A tese somente foi concluída em 1947 e em 1949 foi publicada com o título La Méditerranéeetle monde méditerranéen à lépoque de Philippe II O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo à época de Felipe II Esta obra foi fruto do intenso trabalho de quase vinte anos de pesquisa Foi feita uma segunda versão para a publicação em 1966 O livro é uma obra monumental com mais de mil páginas O Mediterrâneo de Braudel apresenta uma verdadeira inovação metodológica e reflete o espírito da Escola dos Annales pois o historiador seguiu os princípios da tentativa de uma história total O destaque da obra não é para Felipe II mas sim para o mar Mediterrâneo Fica evidente a importância do diálogo com a geografia em especial a partir de geógrafos como P Vidal de La Blanche R Blachard J Sion e A Demangeon os quais estudaram a formação das paisagens Também foram importantes as obras do historiador medievalista Henri Pirenne e de Lucien Febvre que já apresentava uma inclinação à geografia A tese é dividida em três partes A primeira é dedicada à história quase sem tempo ou seja a longa duração da história analisando a relação do homem com o ambiente É apresentado um verdadeiro ensaio de geohistória no qual Braudel analisa tanto a parte física como os habitantes que ocupam as regiões estudadas ou seja o espaço mediterrâneo A segunda parte trata da estrutura econômica social e política A história lentamente ritmada ou seja uma história estrutural e conjuntural É a história social a dos grupos e agrupamentos sendo analisado o nível de duração cíclica A terceira parte analisa a história dos acontecimentos Segue uma dimensão não do indivíduo mas dos acontecimentos situados no contexto histórico Braudel teve uma excepcional carreira universitária lecionou no College de France a partir de 1949 e na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais presidindo a VI Seção dedicada às ciências sociais onde ficava hospedada a Escola dos Annales e onde trabalharam seus principais adeptos Fernando Braudel domina amplamente a segunda geração dos Annales De 1946 e até a morte de Febvre em 1956 será o segundo nome do movimento A partir daí e até 1969 praticamente reinará absoluto quando 31 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 então resolve partilhar o poder com outros historiadores do grupo através de uma ampliação de cargos de direção da Revista dos Annales BARROS 2010 p 13 Em 1963 Braudel criou uma nova entidade dedicada à pesquisa interdisciplinar Maison dês Sciences de lHomme Casa das ciências do homem Neste período todas as entidades a Maison e a VI Seção mudaram para o Boulevard Raspail num local onde puderam conviver com um grupo mais interdisciplinar com a frequente realização de seminários colóquios e demais eventos Dessa forma os historiadores dos Annales conviveram com pesquisadores referenciais de outras áreas como o antropólogo Claude LéviStrauss e o sociólogo Pierre Bourdieu Braudel dedicou parte de seu tempo para escrever outra obra em parceria com Lucien Febvre mas este morre em 1956 não concluindo a sua parte Braudel terminou a obra entre 1967 e 1979 publicandoa com o título de Civilization matérielle et capitalisme Civilização material e capitalismo Também é uma obra extensa e que abarca um período muito longo da história A primeira parte trata da história econômica ou a civilização material A segunda aborda a vida cotidiana no domínio da história Pode ser considerada como uma síntese entre a história do cotidiano e a história das grandes tendências socioeconômicas Em 1980 a obra é novamente publicada em uma versão mais ampla com o título Civilização material economia e capitalismo do século XV ao século XVII Embora considerado um dos historiadores mais importantes no contexto da renovação historiográfica Braudel como qualquer outro historiador ou estudioso das ciências humanas não ficou livre de críticas Uma vez que o debate entre diferentes pesquisadores e mesmo a crítica são fundamentais para a construção do conhecimento histórico Mas Burke 1997 p 54 salienta que Fernand Braudel contribuiu mais do que qualquer outro historiador deste século XX para transformar nossas noções de tempo e espaço Em O Mediterrâneo são desenvolvidas três noções de tempo histórico as estruturas longa duração as conjunturas média duração e os acontecimentos curta duração 331 Outros historiadores A segunda geração da Escola dos Annales também contou com o trabalho e a influência de outros historiadores Destacase nessa fase a difusão de métodos da história quantitativa especialmente entre os anos de 1950 a 1970 Há diversos historiadores que trabalharam com esta história quantitativa inclusive Braudel 32 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A metodologia da história quantitativa foi aplicada nos estudos de caso de história econômica e posteriormente foi utilizada também na história social e em estudos de história populacional Trabalhos com abordagem quantitativa já tinham espaço desde o século XIX na França e retornam a partir de 1930 Nessa tendência situamse as pesquisas de Ernest Labrousse com temas relacionados à história econômica trabalhando com estatísticas e história dos preços Esse historiador lecionou na Sorbonne e trabalhou na VI seção da Escola de Altos Estudos impulsionando uma geração de historiadores econômicos entre os anos de 1946 e 1966 Fonte httpmigremeoY37t Nas suas pesquisas utilizou os termos história da conjuntura e geohistória Estas definições estão inseridas em investigações em relação às trocas comerciais e aos espaços e de longa duração Suas obras não se limitam a uma história serial somente em sua dimensão econômica mas abrangem uma dimensão social Labrousse teve influência das ideias de Marx e Jaurès e também de Marc Bloch e Lucien Febvre Burke 1997 p 69 afirma que com Labrousse o marxismo começou a penetrar nos Annales Os estudos sobre a demografia histórica também marcaram presença na segunda geração dos Annales A partir da Segunda Guerra Mundial começaram a surgir os artigos sobre essa temática Em 1946 Jean Mouvret publica um artigo sobre as crises de subsistência e a demografia do antigo regime O pesquisador mostrou que a má colheita originava uma crise no preço dos cereais resultando em períodos de fome para a população e a consequente queda dos casamentos e da natalidade Desta forma foi possível correlacionar as questões demográficas e questões socioeconômicas Destacase também a obra de P Goubert intitulada Beauvaisis e o Beauvaisis de 1600 a 1739 na qual o autor construiu um modelo para avaliar o movimento da população A obra é dividida em duas partes seguindo a divisão entre estrutura e conjuntura Há ainda outros autores importantes desta geração como Georges Duby que escreveu sobre temas como a propriedade a estrutura social e a questão da família nos séculos XI e XII Foi considerado um dos medievalistas mais influentes escrevendo também para a clássica coleção História da Vida Privada Ainda sobre esta geração é importante mencionar Emmanuel Le Roy Ladurie considerado um dos mais importantes discípulos de Braudel Dedicouse à pesquisa sobre o meio físico realizou um estudo comparativo da história do clima na longa duração seguindo os passos de Braudel Destacouse por fazer estudos regionais no círculo da Escola dos 33 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Annales Trabalhou com história quantitativa e econômica com história religiosa política e psicológica em uma perspectiva efetivamente interdisciplinar A geração dos Annales também influenciou historiadores em toda a Europa e Estados Unidos pois havia vários historiadores estrangeiros como bolsistas na França Alguns historiadores da segunda geração dos Annales conseguiram romper com algumas determinações e limitações implantadas por Braudel que pretendia construir uma história total Todas estas alterações na forma de conceber e construir a história contribuem para o surgimento da terceira geração dos Annales 34 Terceira Geração dos Annales A terceira geração dos Annales iniciouse após o emblemático ano de 1968 quando ocorreram na Europa grandes protestos em que os estudantes pediam reformas significativas no sistema de ensino dentre outras reivindicações Em Paris os protestos de maio de 1968 foram marcados pela oposição a todas as formas de conservadorismo do sistema educacional francês As mudanças ocorridas após 1968 influenciaram e repercutiram também nas ciências sociais na historiografia e consequentemente na Escola dos Annales A partir desse período foram incorporados novos direcionamentos na sua forma de construir a escrita da história Nesta terceira geração não existia mais um consenso em torno de um ou de alguns nomes O número de historiadores que se tornaram influentes na Escola dos Annales se multiplicou Essa geração é bem mais diversificada contando também com a presença de mulheres Os temas objetos e abordagens também serão bem mais diversificados contemplando a própria multiplicidade dos diversos historiadores André Burguière Fonte httpmigremeoY3bZ Jacques Le Goff Fonte httpmigremeoY3fL 34 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Destacase a presença de jovens historiadores discípulos de Braudel ou admiradores de Febvre e de Bloch André Burguière e Jacques Ravel que substituíram Braudel na direção da Revista dos Annales O medievalista Jacques Le Goff também foi um historiador destacado pois se tornou presidente da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e depois foi sucedido por François Furet É imprescindível destacar as mulheres tais como Christiane Klapisch Arlette Farge Mona Ozout e Michele Perrot foto dentre outras Esta geração teve uma influência decisiva de ideias do exterior pois alguns dos pesquisadores dos Annales foram morar nos Estados Unidos e trouxeram novas ideias com destaque para as tendências da psicohistória história econômica antropologia simbólica e cultura popular Fonte httpmigremeoY3s9 Burke 1997 utiliza a expressão do porão ao sótão para ilustrar a amplitude das mudanças ocorrida em relação às gerações anteriores Algumas dimensões que não eram trabalhadas anteriormente nos Annales foram valorizadas nesta geração Exemplo disso é o interesse pela história das mentalidades e pela história cultural Ambas ficaram na ordem do dia para os historiadores deslocaram seus interesses da base econômica para a superestrutura cultural Neste aspecto podemos destacar as notáveis pesquisas de Philippe Áries e sua abordagem centrada nas mentalidades A obra de Áries intitulada LEnfante et La vie familiale sous lAnciene Regime no Brasil editada com o título A história social da criança e da família é uma obra emblemática das mentalidades tratou do surgimento da ideia de infância A diversidade de objetos e abordagens ficou evidente na terceira geração com o aprofundamento da interdisciplinaridade A psicologia foi uma das disciplinas que mais se aproximaram da história Destacase o livro de Robert Mandrou Introducion à La France Moderne Introdução à França Moderna considerado como um verdadeiro ensaio em psicologia histórica A obra abrange questões relacionadas à saúde mentalidades e emoções Podemos encontrar outros historiadores que também trabalham com a Psicologia como Jean Delumeau e Alain Besançon As ideologias o imaginário e as mentalidades também podem ser mencionados como dimensões importantes para esta geração Dois grandes historiadores que 35 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 trabalharam com as mentalidades desde a década de 1960 são Jacques Le Goff e Georges Duby Le Goff já no começo dos anos de 1960 tem publicações sobre as mentalidades em especial sobre o imaginário medieval com o livro La naissance Du purgatorie O nascimento do purgatório Na obra ele faz uma análise sobre o surgimento da ideia do purgatório no período medieval discutindo o cristianismo e as relações entre as mudanças intelectuais e sociais no medievo Georges Duby trabalhou com Robert Mandrou na construção de uma história cultural da França O autor trabalhou com a história das ideologias do imaginário social e da reprodução cultural Duby inspirouse em Althusser que definiu ideologia como uma relação imaginária dos indivíduos com as condições reais de sua vida As mentalidades foram um ponto forte de atenções por parte desta geração dos Annales Mas história serial também aparece como uma tendência significativa nessa fase A abordagem quantitativa ou serial aparece com nitidez na obra de Pierre Chaunu Entretanto é importante fazer a ressalva de que desde as obras de Lucien Febvre já se utilizavam as estatísticas assim como nas pesquisas de Labrousse Também são importantes as pesquisas sobre a história das práticas religiosas Nesta tendência é possível situar a obra de Michel Vovelle que tratou da descristianização Seus estudos baseavamse em dados estatísticos a respeito das atitudes em relação à morte Importante destacar ainda os estudos sobre a história cultural nas pesquisas que trabalharam com o problema da alfabetização utilizandose igualmente de dados estatísticos 341 Direcionamento às novas perspectivas novas abordagens novos objetos e novas fontes Nesta terceira geração as fontes de pesquisa são bem variadas escritas imagéticas e orais introduzindose assim novas fontes como a fotografia a pintura o cinema cultura material a imprensa os inquéritos policiais e demais documentos todos considerados igualmente importantes para a construção do conhecimento histórico Os historiadores desta geração principalmente os que trabalham com história cultural mantiveram um relacionamento especial com a antropologia Esta aproximação já começou com as gerações anteriores mas na terceira tornouse ainda mais profícua originando inclusive expressões como antropologia histórica ou etnohistória Estas inclinações são encontradas nos livros de Roger Chartier e outros historiadores que abordam história cultural e representações sociais 36 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A aproximação com a sociologia foi marcante pois alguns historiadores buscavam os conceitos de capital simbólico especialmente nos trabalhos que abordam a história do consumo A principal influência da Sociologia é a do sociólogo Pierre Bourdieu Outra tendência foi explorar a relação entre a história e psicanálise neste sentido destacamse as obras de Michel de Certeau especialista em história da religião A obra deste historiador também reflete as preocupações sobre a escrita da história Um dos historiadores mais destacados da terceira geração dos Annales é Roger Chartier Sua obra é bastante vasta e influencia até a atualidade diversos historiadores que se interessam pela história cultural Chartier dedica parte de seus estudos para a investigação da questão dos livros e da leitura na sociedade moderna É especialista em história da alfabetização considerado um dos maiores expoentes da história cultural francesa Seus trabalhos também discutem as representações refletindo sobre as práticas culturais de diversos grupos sociais Suas pesquisas seguem a direção da antropologia cultural Pierre Nora também é dos historiadores de destaque da terceira geração Sua obra mais importante aborda a memória e o conceito de apropriação A coleção intitulada Leslieux de La mémorie Os lugares da memória dirigida por Pierre Nora reflete essa preocupação em analisar todos os lugares consagrados para a memória Sua obra tem influência das reflexões de Maurice Halbwachs precursor nos debates sobre a memória coletiva A história política que de forma geral não havia recebido as atenções dos historiadores dos Annales retorna na terceira geração A política aparece de uma forma mais elaborada radicalmente diferente daquela apresentada pela escola metódica Surge o conceito de cultura política mais próximo da história das ideias e das mentalidades As obras históricas desta geração apontam para a possibilidade de se trabalhar um certo retorno da narrativa oposto à tendência de determinismos históricos Novas abordagens emergem como a preocupação com a liberdade humana Inserese aí a micro história e a perspectiva de se trabalhar com as biografias históricas Dentre os trabalhos biográficos estão os de Georges Duby e de Jacques Le Goff que fez a biografia histórica de São Luis e de São Francisco de Assis A biografia histórica não é apenas um mero relato cronológico da vida de alguém mas um trabalho que inclusive analisa a mentalidade e contexto da época em que o personagem viveu Uma das características marcantes da terceira geração dos Annales é a tentativa de popularização da leitura histórica Os autores escrevem com uma linguagem mais acessível para o público em geral Os historiadores saíram das universidades participaram dos programas de rádio e de televisão na perspectiva de divulgar o conhecimento histórico 37 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Alguns historiadores dos Annales também escreveram para jornais franceses Le Figaro Le Monde LExpress e Le Nouvel Observater Esta participação também possibilitou uma certa popularização da história por meio de artigos entrevistas e programas de rádio e televisão Nesta perspectiva de popularização da história algumas obras foram publicadas pelas grandes editoras francesas o tornou seu preço mais acessível A Escola dos Annales iniciada com a publicação de uma revista em 1929 continua até a atualidade como uma escola importantíssima para a reflexão do conhecimento histórico Não é uma escola homogênea e nesse sentido é mais correto entendêla como um movimento dinâmico Atualmente já possível falar em quarta geração dos Annales A influência da Escola dos Annales na historiografia foi decisiva para o direcionamento às novas perspectivas novas abordagens novos objetos e novas fontes Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 3 e a Atividade 31 Dicas de Aprofundamento Assista ao vídeo O que é A Escola Dos Annales acessando httpsyoutube2IKOIT67ALc Acesso em 08 abr 2020 Leia o livro A Escola dos Annales e a Nova História O livro está á sua disposição na Biblioteca Virtual Universitária 38 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 4 NOVAS ABORDAGENS OBJETIVO DA UNIDADE Apresentar as novas abordagens na perspectiva da interdisciplinaridade e da históriaproblema A Escola dos Annales inseriu dois importantes elementos para o trabalho dos historiadores a interdisciplinaridade e a históriaproblema 41 Históriaproblema A HistóriaProblema proposta pelos Annales opunhase ao antigo historicismo e seu modo de escrever a história qual seja o da organização do caos de eventos em uma Trama da qual antes mesmo da pesquisa o historiador já conhece o seu fim É contra essa narrativa linear a chamada história factual que Bloch e Febvre dirigiram seus ataques Eles eram contra uma história que se compraz em extrair dos documentos os fatos geralmente políticos ou militares e em ordenálos cronologicamente de forma compreensível para o leitor Diferentemente deste modelo que buscava reconstituir o passado a História Problema dos Annales propõe reconstruir o passado em cada momento presente O problema e é esta a ideia que está por trás desta expressão é precisamente o elemento em torno do qual se dá esta reconstrução BARROS 2010 Portanto o propósito é reconstruir o vivido através de problemas e motivações da época vivenciada pelo historiador Além disso trabalhar com um problema pressupõe a ação de reconhecer e explicitar para os leitores os conceitos e fundamentos que estão por trás do problema e das escolhas historiográficas e não aparentar uma neutralidade que de fato não existe Barros 2010 destaca que na HistóriaProblema tudo deve ser explícito como as fontes os métodos e mesmo o lugar de onde o historiador escreve Na historiografia da HistóriaProblema também as hipóteses adquirem uma especial importância Após a instituição de uma HistóriaProblema é necessário trazer uma nova noção do fato histórico No historicismo mais tradicional o fato histórico existia externamente à ação do historiador era um dado objetivo É contra este modelo que a HistóriaProblema se oporá Se a operação historiográfica é regida por um problema colocado pelo próprio historiador 39 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 a partir das motivações de sua própria época e dos novos horizontes de apreensão da História por ela liberados todo fato histórico passa a ser consequentemente uma construção do historiador O que vai instituir como fato histórico uma informação um dado ou um aspecto qualquer da realidade vivida e registrada em fontes diversas é o problema proposto pelo historiador o recorte histórico por ele construído para além do horizonte teórico constituído De igual maneira os fatos históricos não se restringem mais ao mundo político uma vez que as problematizações propostas pelo historiador dizem também respeito à cultura à economia aos modos de pensar e de sentir aos movimentos demográficos BARROS 2010 p 93 A possibilidade de ultrapassar os estreitos limites dos fatos políticos também ensejou uma ampliação no repertório de fontes dos historiadores Não mais lhes interessarão somente as fontes de arquivo e as crônicas que dizem respeito à historiografia tradicional Qualquer evidência desde objetos da cultura material até as obras literárias séries de dados estatísticos às imagens iconográficas etc podia ser agora legitimamente utilizado pelos historiadores A revolução documental e ampliação do conceito de fonte histórica era uma das inovações trazidas pelas primeiras gerações da Escola dos Annales 42 Interdisciplinaridade Outro aspecto da crítica dos Annales ao Historicismo e a outras correntes historiográficas de sua época diz respeito à sua ênfase na Interdisciplinaridade Esse é o grande traço de identidade que de alguma maneira unifica esse heterogêneo movimento dos Annales A Interdisciplinaridade garante a possibilidade de unir a HistóriaProblema ao caráter construtivo e não reconstitutivo da História à ampliação da noção de fontes históricas e consequentemente de metodologias para a sua abordagem e finalmente à expansão dos campos históricos e das possibilidades de objetos de estudo Evidentemente a interdisciplinaridade não foi exclusiva dos Annales uma vez que os novos tempos a requeriam de alguma forma e vários historiadores dialogaram com outros campos disciplinares sobretudo no âmbito do Materialismo Histórico Entretanto o movimento historiográfico dos Annales insistiu ostensivamente neste aspecto como um elemento constituinte de sua identidade BARROS 2010 Assim para os Annales a interdisciplinaridade além de uma prática assumiu um lugar importante no contexto da representação de sua própria imagem Originalmente interdisciplinaridade é uma expressão que se refere ao diálogo entre disciplinas Atualmente já se utilizam palavras como transdisciplinaridade para definir uma cooperação entre várias áreas do saber em um Projeto Integrado 40 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Já interdisciplinaridade referese à prática de no interior de um certo campo de saber no caso a História lançarse mão de metodologias ou aportes teóricos apropriados de outras disciplinas estabelecer diálogos com outros campos de saber enriquecer uma disciplina com pontos de vista oriundos de outras e o que é particularmente importante para o tipo de Interdisciplinaridade que seria construída pelos Annales abordar um certo objeto de análise comum a outros campos de saber BARROS 2010 p 95 Do diálogo e da constituição de um objeto em comum entre a História e a Economia a Sociologia a Geografia surgem como novas modalidades históricas como a História Econômica a História Social e a GeoHistória Posteriormente com a ampliação desse diálogo em direção à Antropologia surgiriam de um lado a História Antropológica a EtnoHistória e a História Cultural Estes novos espaços intradisciplinares são resultados mais importantes de uma Historiografia herdeira dos Annales 43 Dimensões e abordagens da história Já tratamos das mudanças que ocorreram no campo historiográfico e das diversas correntes que influenciaram a escrita da história A partir daqui serão abordadas as diversas possibilidades domínios e abordagens que os historiadores atuais podem explorar a partir da diversidade de objetos e fontes disponíveis ao ofício historiográfico DIMENSÕES DOMÍNIOS ABORDAGENS Implica em um tipo de enfoque ou um modo de ver ou em algo que se pretende ver em primeiro plano na sua observação de uma sociedade historicamente localizada Corresponde a uma escolha mais específica orientada em relação a determinados sujeitos ou objetos para os quais será dirigida a atenção do historiador campos temáticos como a História das Mulheres por exemplo Implica em um modo de fazer a História a partir dos materiais com os quais deve trabalhar o historiador determinadas fontes determinados métodos e determinados campos de observação Fonte adaptado de BARROS 2004 Dicas de Aprofundamento Aprofunde sobre o conceito de interdisciplinaridade buscando o conceito no Dicionário de Conceitos Históricos disponível na Biblioteca Virtual Universitária 41 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 431 Dimensões historiográficas Barros 2004 pontua que a história apresenta as seguintes dimensões historiográficas História Social Configurase como um ramo da história que analisa a dimensão social de uma sociedade abrangendo temas como hierarquia social os conflitos entre diversos grupos e classes sociais as ideologias e os movimentos sociais Alguns pesquisadores de história social dialogam com a história política principalmente em temas ligados aos processos de transformação da sociedade colonização e descolonização burocratização urbanização modernização industrialização movimentos sociais Fonte httpmigremeoZDeZ Outra parceria possível é com a história econômica em especial para a análise das comunidades rurais e urbanas das populações do cotidiano das relações familiares Os debates da história social também podem ser relacionados à história demográfica abordando temas como migrações os círculos de sociabilidade religiosos e profissionais os meios educacionais os agrupamentos culturais os sindicatos estudos de gênero grupos étnicos diferenciados minorias etc Nessas discussões é possível ainda dialogar com a história cultural história das mentalidades e etnohistória História econômica A história econômica foi um dos ramos mais abordados com a ascensão do capitalismo e com a influência do marxismo na historiografia Entretanto esse campo não se restringe à abordagem marxista 42 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Trabalhador no corte da canadeaçúcar Fonte httpmigremeoZDiF Esta dimensão privilegia o âmbito material da vida humana ou seja os modos de produção consumo e circulação de bens Pode abranger os sistemas produtivos os meios de produção os agentes de produção e suas relações por vezes conflituosas os regimes de trabalho os salários os sistemas de propriedade as preferências de consumo de determinados grupos São importantes em relação à circulação de bens as moedas em circulação em determinado período as trocas os preços os ritmos e os ciclos econômicos A economia centrase nas formas de comportamento humano derivadas das relações entre as necessidades dos seres humanos e os recursos empregados para satisfazêlas À medida que busca entender como funcionam os sistemas econômicos e as relações dos agentes econômicos dialoga também com outros ramos seja história cultural história social história política etc História cultural Os objetos da história cultural são a cultura material letrada e popular Barros 2002 destaca que os sujeitos e agências da história cultural são as instituições de educação os veículos de comunicação a indústria cultural as massas consumidoras as instituições socioculturais e religiosas Fonte httpmigremeoZDml Em seus aspectos antropológicos abrange a cultura das minorias dos grupos étnicos diversos e dos povos ágrafos abordando temas como as tradições os rituais as 43 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 comemorações os sistemas normativos as famílias os mitos relações de parentesco a alteridade etc Os discursos os padrões de conduta as crenças a consciência de classe os sistemas simbólicos as cosmovisões tudo isso são objetos de reflexão e análise para a história cultural Seu estudo foi impulsionado a partir das mudanças empreendidas pela Escola dos Annales mas especificamente com as inovações da terceira geração História política Fonte httpmigremeoZDnQ O principal objeto da história política é o poder Esse ramo da história passou por algumas mudanças desde a escola metódica onde os chefes de estado eram o único alvo das reflexões até a escola dos Annales e as abordagens mais recentes que buscam compreender o poder como algo presente em diversos âmbitos da sociedade Os processos políticos relações políticas entre grupos sociais relações interindividuais organizações das unidades políticas e as representações políticas Outras dimensões historiográficas História das mentalidadespsicohistória Barros 2000 assinala que esta dimensão se propõe enfocar a dimensão da sociedade relacionada ao mundo mental e aos modos de sentir partindo do pressuposto da existência de mentalidades coletivas História demográfica entre os novos campos desenvolvidos pelos estudos históricos na segunda metade do século XX a demografia histórica ocupou um lugar especial Ela incorporou fontes até então ignoradas ou pouco utilizadas e desenvolveu procedimentos técnicos e metodológicos inovadores Fontes como dados coletados com propósitos estritamente demográficos onde é possível verificar variáveis demográficas de fecundidade mortalidade cruzando com dados socioeconômicos Surgem assim trabalhos que procuram conectar envelhecimento 44 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 e trajetória de vida ocupação e matrimônio fecundidade e estratégias familiares fecundidade e migração mobilidade social e outros O estudo da família a partir de uma abordagem demográfica do matrimônio abriria perspectivas interessantes para se compreender aspectos centrais da constituição da população brasileira História antropológicaetnohistória essa modalidade busca no diálogo intenso com a antropologia o estudo de grupos étnicos minoritários povos tradicionais e comunidades ágrafas São exemplos disso os estudos sobre os povos indígenas sobre as comunidades quilombolas sobre os ribeirinhos etc Na perspectiva da história tradicional estes grupos permaneceram invisíveis pois em geral não eram contemplados pelas fontes escritas usadas pelos historiadores É com a renovação historiográfica a ampliação do conceito de fonte e a interdisciplinaridade que esses grupos passaram a ser percebidos como sujeitos históricos plenos Os historiadores que estudam sociedades ágrafas ou seja sem escrita onde seus conhecimentos são transmitidos pela oralidade Freire 1992 diz que a etnohistória reconhece as profundas diferenças entre as sociedades essencialmente orais e as sociedades onde predomina a escrita cada uma delas com formas distintas de armazenamento transmissão e produção do saber o que exige procedimentos particulares de abordagem No entanto considera tais sociedades como equivalentes no sentido de que ambas possuem uma memória institucionalizada Ao descobrir a existência nas sociedades ágrafas de mecanismos de conservação e transmissão da memória coletiva a etnohistória reconhece e valoriza a tradição oral o que permite a integração de novas fontes a serem trabalhadas pelo historiador com novos métodos reformulando o sentimento de impossibilidade de reconstruir a memória dos povos sem escrita História do imaginário surge como derivação das investigações ligadas à história das mentalidades estuda essencialmente as imagens produzidas por uma sociedade mas não apenas as imagens visuais como também as imagens verbais e em última instância as imagens mentais BARROS 2000 s p Desnecessário dizer que os historiadores podem unir em uma única perspectiva historiográfica uma dimensão por exemplo a História Econômica uma determinada abordagem a História Serial e um certo domínio a História dos Camponeses Na verdade muitos outros tipos de combinações serão possíveis até mesmo no interior de um grupo de critérios mas deixaremos para mencionar isto no momento apropriado BARROS 2004 p 25 45 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Evidentemente essas dimensões aqui apresentadas não representam ramos isolados fechados em si mesmos Estão constantemente em diálogo e os objetos de estudo de um campo teórico não são exclusivos deste mas frequentemente compartilhados com outras dimensões investigativas 44 Abordagens historiográficas As abordagens historiográficas se apresentam como metodologias de trabalho adotadas para execução da pesquisa Podemos citar como abordagens históricas a História Serial a História Quantitativa a História Qualitativa a Análise do Discurso a História Oral a História RegionalLocal a História Imediata a MicroHistória a Biografia Cada uma dessas abordagens apoiase em diversas fontes históricas compreendendo assim uma multiplicidade de materiais que podem ser analisados pelo historiador desde os documentos escritos até as fontes orais iconográficas e audiovisuais Também é possível correlacionar as dimensões domínios e abordagens DIMENSÕES DOMÍNIOS ABORDAGENS História da Cultura Material História Social História Demográfica GeoHistória História Política História Cultural História Antropológica ÉtnoHistória História das Mentalidades PsicoHistória História do Imaginário História e Poder Com relação aos ambientes sociais ou objetos História da Religião História das Ideias História do Direito História da Sexualidade História da Arte História das Representações História Rural História Urbana História da Vida Privada História do Cotidiano Com relação ao tipo ou tratamento das fontes Arqueologia História Oral História do Discurso História Imediata História Quantitativa História Serial Com relação aos agentes históricos História das Mulheres História dos Marginais História das Massas Biografia Com relação ao campo de observação História Local História Regional Microhistória Fonte adaptado de BARROS 2004 Na história serial o pesquisador trata de serializar o fato histórico ou seja medi lo em sua repetição e variação através de um período que em geral é o da longa duração 46 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Na verdade a duração longa ou pelo menos a média duração relativa às conjunturas predominaram nos primeiros trabalhos de História Serial voltados inicialmente para a História Econômica e para a História Demográfica Todavia podese proceder a uma serialização relacionada também a um período mais curto desde que o conjunto de fontes estabelecidas seja suficientemente denso A partir de 1930 começa um movimento de reconstituir e analisar uma série de estatísticas históricas assim possibilitando novos estudos referentes às conjunturas econômicas Para trabalhar com a história serial o ponto de partida é levantar fontes para encontrar ricas e valiosas informações em inventários testamentos compra e venda de bens e imóveis na sua maioria documentos encontrados em cartórios registros de terras anotações paroquiais nos registros de batismo casamento processos diversos de natureza fiscal dízimos registros de óbitos como guias de sepultura As fontes produzidas e conservadas nos cartórios em cada município têm se mostrado extremamente ricas uma vez analisadas com precisão A essa documentação acrescenta se aquela de cunho oficial fontes como relatórios correspondências legislação estatísticas oficiais já tradicionalmente utilizadas pelo historiador Dependendo do período há que considerar os depoimentos contemporâneos de viajantes bem como correspondência articular contabilidades diversas etc A microhistória é uma abordagem surgida com a publicação na Itália da coleção Microstorie sob a coordenação de Carlo Ginzburg e Giovanni Levi entre 1981 e 1988 A microhistória não pode ser definida em relação à microdimensões de seu objeto de estudo Na verdade muitos historiadores que aderem à microhistória têm se envolvido em contínuos intercâmbios com as Ciências Sociais e estabelecido teorias historiográficas É uma prática essencialmente baseada na redução da escala da observação em uma análise microscópica e em um estudo intensivo do material documental A redução de escala é um procedimento analítico que pode ser aplicado em qualquer lugar independente das dimensões do objeto analisado BURKE 1992 Burke 1992 destaca que o recorte em microhistória deve ser temático e mesmo assim relacionado com um assunto mais amplo O autor assinala que a microhistória deveria servir como um zoom em uma fotografia O historiador observa um pequeno espaço bastante ampliado mas sem desconsiderar o restante da paisagem apesar de não estar ampliada Essa abordagem tenta superar uma interpretação tradicional dos documentos históricos Dessa forma o historiador busca nas entrelinhas dos documentos ou entre figuras de um quadro as ações e estratégias de indivíduos antes invisibilizados ou vistos como atores meramente passivos ou indiferentes nos processos da escrita historiográfica 47 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A História Imediata ou História do Tempo Presente se constituiu como um novo campo disciplinar após 1945 com o final da Segunda Guerra Mundial A Europa buscava uma interpretação de sua história recente Os acontecimentos da guerra e o genocídio nazista tornaram necessário surgimento dessa abordagem da história Diante das incertezas e dúvidas que cercam o homem contemporâneo o historiador está orientado a produzir uma interpretação historiográfica A imediata mostra como nosso olhar é construído socialmente e que mesmo diante da proximidade dos acontecimentos não podemos deixar de analisálos Antes de continuar seu estudo realize a Atividade 41 Dicas de Aprofundamento Aprofunde sobre o conceito de interdisciplinaridade buscando o conceito no Dicionário de Conceitos Históricos disponível na Biblioteca Virtual Universitária 48 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 5 O ESTUDO DA HISTÓRIA E AS FONTES HISTÓRICAS OBJETIVO DA UNIDADE Compreender o estudo da história e as fontes históricas 51 As fontes históricas Apresentam os registros da ação do homem no decorrer da sua trajetória pessoal e com suas identidades culturais Todo historiador precisa ter sensibilidade no tratamento das fontes pois dela depende a construção convincente de seu discurso As primeiras fontes de registro da vida humana foram os grafitos nas cavernas Após milênios comunidades ágrafas deixaram indícios permitindo a arqueólogos e antropólogos levantarem hipóteses sobre diferentes modos de vida como das sociedades do Oriente Antigo Destacase a invenção da escrita responsável pela produção documental dos períodos históricos subsequentes constituindose nas fontes mais valorizadas pelos pesquisadores até os meados do século XX A História pode ser feita com todos os documentos que registram os vestígios da passagem humana O Historiador precisa preencher as lacunas na informação documental Para isto recorre aos poemas materiais arqueológicos dados estatísticos fotografias entre outras fontes que veremos a seguir Os historiadores se apropriam das fontes por meio de abordagens específicas métodos diferentes técnicas variadas Seu uso também tem uma história porque os interesses dos historiadores variaram no tempo e no espaço em relação direta com as circunstâncias de suas trajetórias pessoais e com suas identidades culturais Com a História nova o historiador lança mão das mais diversificadas fontes como fontes documentais fontes orais fontes arqueológicas fontes audiovisuais fontes impressas e fontes biográficas 52 Fontes documentais Os arquivos são o destino de muitos estudantes de História e de muitos historiadores recémformados Grandes obras historiográficas originaramse nas salas de arquivo O historiador encantase lendo os testemunhos de pessoas do passado 49 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 percebendo seus pontos de vista seus sofrimentos suas lutas cotidianas Com o passar dos dias o pesquisador ganha familiaridade ou até intimidade com escrivães ou personagens que se repetem nos papéis consultados Dessa forma é possível sentir o peso das restrições da sociedade ou da miséria ou a má sorte de alguém e desejase ler mais documentos para acompanhar aquela história de vida o seu desenrolar Bacellar 2008 salienta que a relação entre os historiadores e as fontes documentais principalmente as de arquivos não foi sempre a mesma como nos mostram importantes e divulgados trabalhos de Historiografia Inicialmente os documentos escritos eram vistos pelos historiadores como neutros portadores da verdade absoluta Entretanto é preciso entender que os documentos são como monumentos ou seja vestígios intencionais do passado De acordo com Bacellar 2008 a documentação produzida nas esferas do Poder Executivo é normalmente encontrada nos Arquivos Públicos municipais e estaduais Os principais documentos são correspondências como ofícios e requerimentos enviados ou recebidos pelas autoridades no exercício de suas funções e que formam grandes conjuntos documentais em todos os arquivos Listas nominativas de habitantes que podem ser usadas nas pesquisas que tratam de demografia desde o Império Matrícula de classificação de escravos isto é listagens que permitem conhecer a organização de força de trabalho escrava nos anos finais do Império Lista de qualificação de votantes que permite perceber os grupos rivais locais no jogo político imperial Documentos sobre a imigração e núcleos coloniais referentes ao processo imigratório Matrículas e frequências de alunos que possibilitam saber sobre a educação nos vários períodos Documentos de polícia como fonte para pesquisar sobre a atuação da polícia na sociedade Documentos de obras públicas com plantas e projetos de edificações de órgãos públicos Documentos sobre terras muito procuradas por pesquisadores que pesquisam sobre questões agrárias e habitacionais A seguir apresentamos um quadro com outros tipos de documentos e os arquivos 50 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Arquivos Documentos Arquivos do Poder Executivo Correspondência Ofícios e requerimentos Listas normativas Matrículas de classificação de escravos Listas de qualificação de votantes Documentos sobre imigração e núcleos coloniais Matrículas e frequências de alunos Documentos de polícia Documentos sobre obras públicas Documentos sobre terras Arquivos do Poder Legislativo Atas Registros Arquivos do Poder Judiciário Inventários e testamentos Processos cíveis Processos crimes Arquivos cartoriais Notas Registro civil Arquivos eclesiásticos Registros paroquiais Processos Correspondência Arquivos privados Documentos particulares de indivíduos família grupos de interesse ou empresas Fonte Bacellar 2008 p 26 Para trabalhar com esse tipo de fonte o historiador precisa conhecer o nascedouro dos documentos onde como e por quem foram produzidos É fundamental contextualizá los procurar entender termos e expressões específicos da época tomar cuidado com as medidas dinheiro peso volume etc que nem sempre correspondem às atuais É importante saber dos desafios que esperam o pesquisador na maioria dos arquivos como falta de pessoal de instalações adequadas e de recursos dificuldades para fazer consultas aos acervos más condições de armazenamento Bacellar 2008 menciona que essa situação decorre do fato de que os arquivos não são prioridade nem do poder público de forma geral nem da iniciativa privada A seguir um exemplo do que se pode encontrar nos arquivos 51 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Fonte Tibiriçã 1907 Algumas sugestões para utilizar as fontes documentais de acordo com Bacellar 2008 p 72 Conhecer a origem dos documentos estudar o funcionamento da máquina administrativa que produziu os documentos Descobrir onde se encontram os papéis que podem ser úteis para a pesquisa Prepararse para enfrentar as condições do arquivo escolhido Localizar as fontes no arquivo com base em instrumentos de pesquisa e investigações adicionais com paciência Usar luvas máscara e avental no contato direto com os documentos Manusear os papéis com cuidado respeitando seus limites Manter os documentos guardados na ordem encontrada Assenhorearse da caligrafia e das formas de escrita do material Observar as regras existentes para transcrições e edições Anotar a referência do documento transcrito e indicar todos os dados que permitam identificálo Diferenciar com rigor o texto não copiado do texto cuja leitura foi impossível Contextualizar o documento Atentar para as medidas utilizadas no documento assim como para problemas de identificação de pessoas Cruzar fontes cotejar informações justapor documentos Dica de Aprofundamento Visite o Centro de Documentação Antônio Brand O Centro leva o nome de um importante historiador que dedicou seus estudos na documentação histórica sobre os povos ameríndios Disponível httpneppisiteocentrodedocumentacao indigenaantoniobrand Acesso em 08 Abr 2020 52 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 53 Fontes orais Heródoto Tucídides e Políbio já utilizavam testemunhos orais Mais tarde os historiadores profissionais passaram a utilizar majoritariamente documentos escritos desconsiderando a oralidade Alberti 2008 considera o ano de 1948 como marco para a utilização das fontes orais na História moderna devido à invenção do gravador Essa fonte abre espaço para diversas possibilidades de pesquisa Evidentemente o historiador deve considerar o teor de subjetividade das fontes orais Entretanto nenhuma fonte nem mesmo os documentos oficiais estão isentos de subjetividade parcialidade intencionalidade Nesse sentido é possível aproveitar as distorções da memória para compreender valores individuais e coletivos É preciso lembrar que a entrevista de história oral tem no mínimo dois autores o entrevistador e o entrevistado Portanto a entrevista não é um retrato do passado Mesmo porque a situação de entrevista com câmera ou gravador cria um ambiente artificial que também influencia na fala do entrevistado Para pesquisas com oralidade convém contar com entrevistados de diferentes origens e que desempenhem diferentes papéis no universo estudado O pesquisador deve elaborar um roteiro geral para as entrevistas contatar e explicar sobre a pesquisa para os possíveis entrevistados Se possível estudar sobre sua biografia e depois elaborar roteiros individuais que não são questionários mas servem para nortear o entrevistador As perguntas devem ser flexíveis e abertas simples e diretas O historiador deve aprender a lidar com recuos e avanços no tempo e com as repetições do entrevistado Além de buscar compreender os conceitos utilizados pelo seu interlocutor as formas como se refere a um determinado acontecimento cacoetes lembranças cristalizadas etc é preciso compreender a entrevista como um todo e o contexto de participação do entrevistado no tema pesquisado Pode ser útil comparar as fontes orais com outros tipos de fontes Fonte httpmigremeoZDrK Fonte httpmigremeoZDsU 53 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O trabalho com as fontes orais envolve falar escutar e escrever A seguir apresentamos um exemplo de roteiro de entrevista Fonte httpmigremeoZDtJ Algumas sugestões para utilizar as fontes orais de acordo com Alberti 2008 p 190 191 Ter bem claro por que como e para que se fará uma pesquisa utilizando História oral Familiarizarse com as discussões acadêmicas em torno do tema e da metodologia de História oral e levar em conta as reflexões dos estudiosos a respeito de evitar a polaridade simplificadora entre memória oficial e memória dominada 54 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Elaborar o projeto de pesquisa explicitar claramente o tema de pesquisa e qual questão está sendo perseguida Estudar exaustivamente o assunto Definir que tipo de pessoa será entrevistada quantos serão entrevistados e qual tipo de entrevista será realizada Elaborar uma listagem extensa e flexível dos entrevistados em potencial Contactar os entrevistados e providenciar todo o material necessário à realização da entrevista equipamento técnico documento de cessão de direitos Elaborar os roteiros das entrevistas o roteiro geral e os roteiros individuais Contar com entrevistados de diferentes origens assim como atuantes em diferentes papéis no universo estudado Reservar um tempo relativamente longo para a realização da entrevista Ao iniciar a gravação gravar uma espécie de cabeçalho da entrevista informando o nome do entrevistado dos entrevistadores a data o local e o projeto no qual a entrevista se insere Usar de preferência perguntas abertas Ser simples e direto ao formular as perguntas Aproveitar outros recursos que estimulem o depoimento fotografias recortes de jornal documentos e menção a fatos específicos Reservar uma parte da entrevista para a discussão e a análise de alguns temas mais relevantes Avaliar e analisar constantemente a entrevista enquanto é gravada e mais tarde quando é objeto de análise Decidir sobre quando encerrar a realização de entrevistas com base no avanço da investigação Duplicar a gravação Transcrever o material se for necessário Produzir instrumentos de auxílio à consulta como sumários e índices temáticos Ajustar a transcrição para a atividade de leitura Editar o texto se for publicado Analisar os depoimentos levando em conta as seguintes sugestões fazer a crítica do documento lidar com recuos e avanços no tempo refletir sobre a parcimônia do discurso dos entrevistados se for o caso estar atento às repetições como uma possível fonte de informações importantes ouvir o que as entrevistas dizem narrativa do entrevistado e condições de sua produção atentar também para relatos interpretações e pontos de vista desviantes ser fiel à lógica e às escolhas do entrevistado chegar a alguns padrões estabelecer tipologias se for o caso comparar o que dizem as entrevistas com outros documentos tomar os fatos o que realmente aconteceu e suas representações simultaneamente Dica de Aprofundamento O Centro de Pesquisa e documentação de História contemporânea do Brasil CPDOCFGV dispõe de um acervo importante sobre História Oral Disponível httpscpdocfgvbracervohistoriaoral Acesso em 08 Abr 2020 55 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 54 Fontes audiovisuais Atualmente o mundo está dominado por imagens e sons obtidos diretamente da realidade como cinema televisão e registros sonoros em geral Essas também são fontes históricas Entretanto apresentam alguns desafios para a análise do historiador Uma das armadilhas é o falso efeito de realidade que algumas fontes podem produzir especialmente documentários e reportagens Ou seja mesmo nesses materiais há vestígios da subjetividade de quem os produziu Por outro lado os filmes e produções de ficção também podem ser analisados pelo historiador inclusive em sala de aula É preciso ressaltar que nem sempre as produções cinematográficas são fiéis à história Mas mesmo as adaptações e desvios são matéria prima para o trabalho historiográfico Para entender uma produção audiovisual do ponto de vista histórico é preciso conhecer um pouco do processo de produção dessa fonte A 1ª questão a ser observada é o aspecto técnicoestético Ou seja quais os mecanismos formais específicos mobilizados pela linguagem cinematográfica televisual ou musical A 2ª questão é representacional quais os eventos personagens e processos históricos nela representados As armadilhas de um documento audiovisual ou musical podem ser da mesma natureza das de um texto escrito As fontes audiovisuais também têm intencionalidades Não podemos esquecer que o filme histórico se ancora no presente produção distribuiçãoexibição e no passado dataseventospersonagens Napolitano 2008 cita algumas pesquisas feitas com fontes dessa natureza Um tema interessante são os enredos melodramáticos das décadas de 1930 e 1940 que faziam parte da estratégia propagandística de Getúlio Vargas para divulgar os ideais do Estado Novo A produção ligada aos movimentos sociais urbanos e rurais também pode ser considerada uma rica fonte histórica e pode ajudar os historiadores a ampliar o escopo documental das pesquisas A música também pode ser explorada nas pesquisas da História Há diversas abordagens como Musicologia histórica vida e obra dos compositores e das formas eruditas Etnomusicologia manifestações musicais dos grupos comunitários de caráter socialmente integrador ou ritualístico cuja prática musical não está voltada a priori à industrialização e ao consumo massificado Estudos de música popular As análises podem centrarse nas melodias ou nas letras Mas outros elementos musicais devem ser abordados tais como harmonia ritmo melodia arranjo instrumentação a interpretação e os signos visuais que formam a imagem do 56 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 intérprete a performance envolvida os efeitos timbrísticos e os recursos sonoros utilizados na gravação a letra e o gênero da canção Um exemplo da utilização da música para a compreensão da história pode ser evidenciada com as análises das músicas do período da República Velha conforme segue Música Café com leite 1927 Autor Freire Júnior Intérprete Fernando Gênero Maxixe Gravadora Casa Edison Nosso Mestre Cuca movimentou O Brasil inteiro Cada um estado pra cá mandou O seu cozinheiro Mexeuse a panela fezse a comida Com perfeição Assim foi a boia bem escolhida Com precaução Café paulista Leite mineiro Nacionalista Bem brasileiro bis Preto com branco Café com leite Cor democrata É preto com branco Meu bem aceite Cor da mulata O leite é bem grosso café é forte Aguenta a mão As novas comidas têm que dar sorte Na situação Análise A mensagem da música conforme análise disponível no site da Secretaria de Educação de Londrina era a respeito das eleições de 1922 quando o esquema do café 57 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 com leite através do qual São Paulo e Minas revezavamse na Presidência da República começou a apresentar fissuras O País já assistiu a uma verdadeira batalha musical opondo Ai seu Mé e Goiabada As composições embora tomassem partido na campanha eleitoral não eram jingles e tampouco pareciam encomendadas Na verdade não apoiavam candidatos Simplesmente eram do contra mas sem perder o bom humor e sempre revelando certa dose de ingenuidade Bernardes sofreu na pele de seu Mé e Peçanha pagou seus pecados como uma goiabada estragada Algumas sugestões para utilizar as fontes audiovisuais segundo Napolitano 2008 p 281 Considerar as fontes audiovisuais e musicais um outro tipo qualquer de documento histórico portadoras de uma tensão entre evidência e representação Não isolar os códigos canais e parâmetros verbais dos outros códigos canais e parâmetros mobilizados pela fonte audiovisual registro e edição de imagens e sons e estruturas e gravação musicais Perceber as fontes audiovisuais e musicais em suas estruturas internas de linguagem e seus mecanismos de representação da realidade analisando a partir daí sua condição de testemunho de uma dada experiência histórica e social Empreender dois tipos de decodificação a de natureza técnicoestética e a de natureza representacional Articular a linguagem técnicoestética das fontes audiovisuais e musicais e as representações da realidade histórica ou social nela contidas Delimitar o corpus documental Localizar os documentos Organizar a ficha técnica das fontes identificando gênero suporte origem data autoria conteúdo referente acervo 55 Fontes arqueológicas Derivam da História como forma de disponibilizar fontes escritas da Antiguidade a partir do início do século XIX É o estudo da cultura material ou seja de tudo o que é feito ou utilizado pelo homem Dica de Aprofundamento Essa e outras composições e seus respectivos arquivos sonoros podem ser consultados acessando httphistorianreldnapbworkscomwpage48261071MC39ASICAS Acesso em 13 mar 2020 58 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As inscrições em pedra cerâmica sarcófagos etc formaram a primeira categoria substancial de fontes arqueológicas utilizadas nas primeiras décadas do século XIX Influenciou nas pesquisas sobre o Egito Antigo e a civilização romana por exemplo No final do século XIX e início do século XX houve um aumento significativo do conjunto de fontes arqueológicas O avanço da expansão imperialista dos EUA e da Europa incentivaram escavações e pesquisas na América Ásia e África No campo teórico contribuíam o surgimento de outras disciplinas e questionamento da hegemonia do Positivismo As análises não se centravam mais somente nas autoridades Dessa forma passa a ganhar importância a utilização de outras fontes da cultura material em especial de objetos do cotidiano A Escola dos Annales contribui com esse avanço uma vez que buscava Novos problemas novos objetos novas abordagens Para o trabalho com fontes arqueológicas é necessário buscar ferramentas interpretativas utilizar informações de outras disciplinas e estudar se houver informações já registradas sobre o tema pesquisado As fontes arqueológicas podem ser usadas para pesquisa de períodos recuados ou recentes e são especialmente significativas para historiadores que procuram ter acesso a segmentos sociais pouco visíveis ou conhecidos dos quais há pouco ou nenhum registro escrito O historiador pode participar das escavações consultar coleções arqueológicas em museus ou utilizarse de estudos já publicados relatórios de escavação catálogo de peças etc Fonte httpmigremeoZDxW Fonte httpmigremeoZDyl Algumas sugestões para utilizar fontes arqueológicas de acordo com Funari 2008 p 108 Buscar ferramentas interpretativas Estudar as informações já registradas sobre a sociedade analisada 59 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Abordar as fontes arqueológicas tendo em vista a possibilidade do paralelo etnográfico Estudar os indícios materiais e os textos em conjunto Estar atento às diferenças e contradições entre as fontes arqueológicas escritas e outras Explorar também as fontes arqueológicas referentes aos segmentos sociais pouco presentes nas fontes escritas Atentar para os indícios de conflitos e tensões sociais presentes nas fontes arqueológicas Fichar o conteúdo das fontes arqueológicas em separado com procedimentos próprios 56 Fontes impressas Até a década de 1970 os trabalhos utilizando os jornais como fontes ainda eram pouco comuns Luca 2008 destaca que embora já se admitisse o uso dos jornais por volta da década de 1970 os manuais de História sempre alertavam para o uso ingênuo que tomava os periódicos como meros receptáculos de informações a serem selecionadas extraídas e utilizadas A partir da Terceira Geração dos Annales final do século XX as fontes impressas ganham destaque em parte devido à interdisciplinaridade e a busca por novos problemas novos objetos novas abordagens Temas como o inconsciente o mito as mentalidades as práticas culinárias o corpo as festas os filmes os jovens e as crianças as mulheres aspectos do cotidiano etc passam a ganhar atenção na historiografia Contribuíam também o fortalecimento da História cultural a Microhistória e renovação marxista A partir da década de 1970 o próprio jornal se tornou objeto das pesquisas em História A imprensa passou a ser entendida como instrumento de manipulação de interesses e de intervenção na vida social não somente como mero veículo de informações Mas também como fonte para a História de diversos temas movimento operário em especial com uso de jornais militantes imigração aceleração do tempo e novos artefatos da modernidade automóveis bondes eletricidade cinemas casas noturnas câmaras fotográficas difusão de novos hábitos e valores conflitos e esforços das elites políticas para impor sua visão de mundo e controlar as classes perigosas as intervenções em nome do sanitarismo e da higiene as páginas policiais O novo cenário citadino do início do século xx abrigava uma infinidade de publicações periódicas almanaques folhetos publicitários de casas comerciais e indústrias jornais de associações recreativas de bairros folhas editadas por ligas e sindicatos operários os grandes matutinos e as revistas ditas de variedades As revistas se destacavam pela apresentação cuidadosa de leitura fácil e agradável amplo espaço para as imagens conteúdo diversificado acontecimentos sociais 60 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 crônicas poesias fatos curiosos humor conselhos médicos moda e regras de etiqueta notas policiais jogos charadas e literatura para crianças Renovação significativa ocorreria no âmbito jornalístico com O Cruzeiro 1928 quando a fotografia e a reportagem ganharam novos sentidos e asseguraram à revista a liderança no mercado nacional Há semanários de destaque como o Manchete 1952 e Fatos e Fotos 1961 que não romperam com o padrão herdado de décadas anteriores efetivamente alterado mais tarde pelas revistas semanais de informação como Veja 1968 Há importantes pesquisas historiográficas sobre as fotonovelas as revistas femininas como Cláudia Querida Jornal das Moças as revistas infantis como TicoTico as histórias em quadrinhos etc Sobre os jornais e as demais publicações jornalísticas é essencial compreender os aspectos que envolvem a materialidade dos impressos Por exemplo o tamanho das letras a posição das imagens etc têm intencionalidades conforme alerta Luca 2008 É fundamental historicizar a fonte ter em conta as condições técnicas de produção vigentes e a averiguação dentre tudo que se dispunha do que foi escolhido e por quê Além de atentar para o aspecto mercadológico da maioria dos veículos de comunicação atuais Ou seja a ideia de que o jornal cumpre a somente função de informar de forma neutra é um mito Fonte httpmigremeoZDJN Fonte httpmigremeoZDM5 Algumas sugestões para utilizar as fontes impressas segundo Luca 2008 p 142 Encontrar as fontes e constituir uma longa e representativa série Localizar as publicação ções na história da imprensa Atentar para as características de ordem material periodicidade impressão papel usoausência de iconografia e de publicidade Assenhorarse da forma de organização interna do conteúdo 61 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Caracterizar o material iconográfico presente atentando para as opções estéticas e funções cumpridas por ele na publicação Caracterizar o grupo responsável pela publicação Identificar os principais colaboradores Identificar o público a que se destinava Identificar as fontes de receita Analisar todo o material de acordo com a problemática escolhida 57 Fontes biográficas A partir do século XIX aumentam as biografias literárias ou biografias românticas No amplo campo da Literatura do romance à autobiografia debateuse a possibilidade de se escrever a vida de um indivíduo Com o Positivismo a História nacional personificava o percurso político pelos grandes homens assim produziramse inúmeras biografias de heróis políticos ou militares Borges 2008 p208 salienta que narrações de vidas lineares e factuais sempre existiram por meio de uma cronologia ordenada na narração uma personalidade coerente e estável ações sem inércia e decisões sem incerteza Tentando inutilmente abarcar toda a riqueza de uma vida na verdade resulta em uma visão simplificada e por isso mesmo falsificada do biografado Mas o chamado retorno da biografia no campo acadêmico foi a utilização do conceito de história de vida a partir da década de 1970 utilizado pela Sociologia e pela Antropologia Na França começaram a surgir na década de 1980 ensaios e colóquios sobre biografia No final dos anos 80 e início de 1990 historiadores como Georges Duby e Le Goff escreveram sobre a importância da biografia para a História Cada vez mais o indivíduo tem seu espaço na sociedade e cada vez mais o homem se detém sobre ele mesmo Também tem seu papel a discussão sobre a liberdade do indivíduo e sua relação com a sociedade Percebemse reações contra conceitos totalizantes como classe e mentalidades e um favorecimento da experiência Próximo a isso surgiu o interesse pelos excluídos ou os vencidos da história como as ditas minorias sociológicas negros mulheres homossexuais Por outro lado ainda há poucos trabalhos historiográficos com biografias se considerarmos que no Brasil a quase totalidade das biografias não é escrita por historiadores mas por jornalistas e outros intelectuais As fontes biográficas podem ser A memória ou a tradição oral familiar Memórias autobiografias correspondência ativa e passiva diários Entrevistas na mídia orais escritas ou em filmes vídeos 62 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Os chamados objetos da cultura material fotos objetos pessoais a biblioteca etc que alguns chamam de teatro da memória Fonte httpmigremeoZDSJ Fonte httpmigremeoZDW7 No entanto todos esses materiais devem passar pela análise e pela crítica do pesquisador assim como os demais documentos históricos A biografia histórica hoje não tem por vocação esgotar o absoluto do eu de um personagem Mas ela é o melhor meio de se mostrar os laços entre passado e presente memória e projeto indivíduo e sociedade Algumas sugestões para utilizar as fontes biográficas de acordo com Borges 2008 p 228 Conhecer o debate historiográfico a respeito da biografia e sua relação com os historiadores Localizar seu projeto de pesquisa nesse debate Dispor de tempo para uma longa e exaustiva pesquisa Reconhecer o impulso biográfico Levantar e estudar as fontes documentais incluindo os relativos à escrita de si Estudar e analisar o que já foi escrito antes sobre o indivíduo biografado e procurar formar uma opinião a respeito a partir de sua própria pesquisa Ao fazer afirmações preocuparse com a verossimilhança na história de vida relatada e deixar claro o que são as aferições seguras e comprovadas as afirmações hipotéticas e as afirmações baseadas na intuição do pesquisador Ter em mente e procurar registrar os diversos aspectos da relação sujeito da pesquisa historiadorobjeto da pesquisa biografado Buscar a objetividade tão cara à História com um levantamento consistente de provas documentais e com o questionamento e a contraposição da documentação obtida Aceitar e destacar a subjetividade evitando o psicologismo Estabelecer critérios e selecionar fatos significativos para a narração Aproveitar também as ausências e vazios existentes na documentação Estabelecer uma cronologia um esquema de parentesco uma árvore genealógica e outros instrumentos necessários à melhor compreensão da vida do biografado Atentar para os condicionamentos sociais do biografado Definir como o contexto social será apresentado na narrativa biográfica Evitar finalismos buscando as possibilidades com as quais o biografado pode ter se defrontado 63 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Trabalhar com as diferentes temporalidades Desenvolver uma narrativa atraente e de qualidade em termos historiográficos e literários Para finalizar esta unidade sugiro a leitura do texto a seguir A autora Laura de Mello e Souza é professora titular de História Moderna da Universidade de São Paulo É autora de O Diabo e A Terra de Santa Cruz 1986 e O Sol e a Sombra 2006 entre outros livros Organizou e foi coautora do primeiro volume de A História da Vida Privada no Brasil Por que estudar História Para responder esta pergunta a primeira frase que me ocorre é a resposta clássica dada pelo grande Marc Bloch a seu neto quando o menino lhe perguntou para que servia a História e ele disse que pelo menos servia para divertir Após 35 anos de vida profissional efetiva como pesquisadora durante seis anos e desde então 29 anos também como docente na Universidade de São Paulo considero que a diversão é essencial entendida no sentido de prazer pessoal a melhor coisa do mundo é fazer algo que gostamos de fato e eu sempre adorei História sempre foi minha matéria preferida na escola junto com as línguas em geral sobretudo italiano e português e sempre mais a literatura que a gramática Mas a História é tenho certeza disso uma forma de conhecimento essencial para o entendimento de tudo quanto diz respeito ao que somos aos homens Os humanistas do renascimento diziam que tudo o que era humano lhes interessava A História é a essência de um conhecimento secularizado toda reflexão sobre o destino humano passa de uma forma ou de outra pela História Sociologia Antropologia Psicologia Política todas essas disciplinas têm de se reportar à História incessantemente e com tal intensidade que o historiador francês Paul Veyne afirmou com boa dose de provocação que como tudo era História a História não existia em Como escrever a História Quando os homens da primeira Época Moderna começaram a enfrentar para valer a questão de uma história secular que pudesse reconstruir o passado humano independente da história da criação dos livros sagrados sobretudo da Bíblia eles desenvolveram a erudição e a preocupação com os detalhes os fatos os vestígios humanos as escavações arqueológicas por exemplo e criaram as bases dos procedimentos que até hoje norteiam os historiadores Mesmo que hoje os historiadores sejam descrentes quanto à possibilidade de reconstruir o passado tal como ele foi qualquer historiador responsável procura compreender o passado do modo mais cuidadoso e acurado possível prestando atenção aos filtros que se interpõem entre ele historiador e o passado Qualquer historiador digno do nome busca como aprendi com meu mestre Fernando Novais compreender mesmo se por meio de aproximações Compreender importa muito mais do que arquitetar explicações engenhosas ou espetaculares e que podem ser datadas pois cada geração almeja se afirmar com relação às anteriores ancorandose numa pseudo Dica de Aprofundamento Sugestão de leitura do livro Prática profissional no ensino de História linguagens e fontes Uma reflexão sobre o uso das fontes históricas e diferentes linguagens na aula de História Disponível na Biblioteca Virtual Universitária 64 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 originalidade Sem querer provocar meus companheiros das outras humanidades eu diria que a Antropologia nasce a partir da História e porque os homens dos séculos XVI XVII e XVIII começaram a perceber que os povos tinham costumes diferentes uns dos outros e que esses costumes deviam ser entendidos nas suas peculiaridades sem serem julgados aprioristicamente É justamente a partir desse conhecimento específico que os observadores podem estabelecer relações gerais comparativas e tecer considerações enveredar por reflexões mais abstratas Portanto a História permite lidar com as duas pontas do fio que possibilita a compreensão do que é humano o particular e o geral A História é fundamental para o pleno exercício da cidadania Se conhecermos nosso passado remoto e recente teremos melhores condições de refletir sobre nosso destino coletivo e de tomar decisões Quando dizemos que tal povo não tem memória dizemos isso frequentemente de nós mesmos brasileiros estamos a meu ver querendo dizer que não nos lembramos da nossa história do que aconteceu por que aconteceu e daí escolhermos nossos representantes de modo um tanto irrefletido na história recente do país o caso de meu estado e de minha cidade são patéticos de nos sentirmos livres para demolirmos monumentos significativos fazermos uma avenida suspensa que atravessa um dos trechos mais eloquentes em termos históricos da cidade do Rio de Janeiro o coração da administração colonial a partir de 1763 o palácio dos vicereis Quando olho para a cidade onde nasci onde vivo e que amo profundamente fico perplexa com a destruição sistemática do passado histórico dela que foi fundada em 1554 e é dos mais antigos centros urbanos da América refirome a São Paulo Se administradores e elites econômicas tivessem maior consciência histórica talvez São Paulo pudesse ter um centro antigo como o de cidades mais recentes que ela Boston Quebec até Washington para falar das cidades grandes que são mais difíceis de preservar Não acho que se toda a humanidade fosse alimentada desde o berço com doses maciças de conhecimento histórico o mundo poderia estar muito melhor do que está Mas a falta do conhecimento histórico é a meu ver uma limitação grave e no limite desumanizadora Acho interessante o fato de muitas pesquisas indicarem que excluindo os historiadores obviamente o segmento profissional mais interessado em História é o dos médicos Justamente os médicos que lidam com pessoas doentes frágeis e amedrontadas diante da falibilidade de seu corpo e da inexorabilidade do destino humano E que têm que reconstituir a história da vida daquelas pessoas com base na anamnese para poder ajudá las a enfrentar seus percalços Carlo Ginzburg escreveu um ensaio verdadeiramente genial sobre as afinidades do conhecimento médico e do conhecimento histórico ambos assentados num paradigma indiciário refirome ao ensaio Sinais raízes de um paradigma indiciário que faz parte do livro Mitos emblemas sinais Portanto volto ao início à diversão e acrescento o conhecimento histórico humaniza no sentido mais amplo porque ajuda a enxergar os outros homens a enfrentar a própria condição humana SOUZA Melo e Laura Por que estudar História Disponível em httpafolhadogragoatablogspotcombr201204porqueestudarhistorialaurade mello09html Acesso em mar 2020 65 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 4 66 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 6 TAREFA DO HISTORIADOR OBJETIVO DA UNIDADE Refletir sobre ofício do historiador e a sua importância na produção do conhecimento 61 O historiador e seu ofício Antes de refletirmos sobre o ofício do historiador é preciso questionar que é história É a narrativa de um fato de uma situação de uma vida A escrita do passado A recordação dos fatos tal qual aconteceram Essas e outras proposições surgem quando mencionamos a palavra história Entretanto vamos buscar a acepção acadêmica do termo O que seria a história enquanto uma disciplina acadêmica Também para essa pergunta as respostas são múltiplas Glénisson 1977 destaca que esta é uma questãoproblema escorregadia uma vez lançada teve mil respostas diferentes March Bloch 2001 p 21 define história como a ciência que estuda o Homem no Tempo Carr afirma que a História se constitui de um processo contínuo de interação entre o historiador e seus fatos um diálogo interminável entre o presente e passado CARR 1996 p 65 Le Goff destaca que a história não é uma ciência como as outras Falar de história não é fácil mas estas dificuldades de linguagem introduzemnos no próprio âmago das ambiguidades da história 1992 p 17 Portanto não é possível apresentar uma definição fechada para o conceito história O mais importante é estabelecer as linhas gerais do debate em torno da natureza da história E é precisamente nesse ponto que a teoria da história pode nos auxiliar A historiografia ou seja a escrita da história também é produto de seu tempo Por isso a produção dos historiadores não é definitiva pois também muda de acordo com as transformações sociais políticas econômicas e culturais da sociedade onde se insere Conhecer teoria da história possibilita ao pesquisador e ao professor de história compreender como este conhecimento é produzido Dessa forma este profissional passa a ter mais autonomia para produzir por si mesmo análises reflexões e pesquisas sobre a história Ou seja é importante não só para o trabalho com a pesquisa em si mas também é fundamental para o profissional que vai atuar em sala de aula Conhecendo os meandros da produção historiográfica o professor tem plenas condições de desenvolver uma postura crítica diante das explicações historiográficas transformando a história em sala de aula em 67 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 algo muito além da mera memorização de datas e nomes O ofício do historiador consiste então na produção reflexão ou mesmo divulgação do conhecimento histórico Está numa relação permanente entre presente e passado Ginzburg 1989 p 151 ao tratar do trabalho do historiador faz uma referência a este antigo conto Um condutor de camelos perdeu seu camelo e encontrando um homem perguntou Por acaso o senhor não encontrou um camelo extraviado O homem respondeu Não é um camelo cego do olho esquerdo Sim Que perdeu o dente de cima Sim Que mancava da perna esquerda traseira Sim Que carrega milho de um lado e mel do outro Sim O senhor não precisa apresentar mais detalhes É exatamente o camelo que procuro Estou com pressa Onde o senhor viu Eu não vi camelo nenhum respondeu o homem O senhor não viu E como pode descrevêlo tão detalhadamente Por que sei me servir dos olhos para observar as coisas A maioria das pessoas tem olhos que não lhes servem pra nada Eu sabia que um camelo havia passado porque vi seus rastros Sabia que mancava da pata esquerda traseira pelas marcas diferentes deixadas no chão do lado esquerdo Sabia que era cego de um olho porque só pastou o capim do lado direito do caminho Sabia que perdeu um dente de cima porque deixou falha nas raízes que mordeu Notei que as aves comiam os grãos de milho que foram caindo do lado esquerdo Sei que o mel escorreu do lado direito porque observei muitas moscas juntas desse lado Sei sobre seu camelo mas não o vi TWAIN sd Assim como o personagem do conto o historiador não tem o passado diante de seus olhos apenas encontra os indícios desse passado Esses indícios são matériaprima do pesquisador e mesmo do professor de história são os documentos ou as fontes os vestígios do passado O texto histórico é o resultado de todo um investimento a começar pelo trabalho empírico de pesquisa que não pode ser dissociado da teoria até o seu produto final ou seja o texto propriamente dito Este texto ou a explicação do historiador não está totalmente livre de sua subjetividade sua visão de mundo suas experiências O dilema do historiador é um reflexo da natureza do ser humano que não é totalmente conduzido pelo seu meio Mas também não é totalmente independente dele A relação do ser humano com seu meio é a relação do historiador com seu tema O historiador não é um escravo humilde mas também não é um senhor tirânico do seu tema 68 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 É uma relação de igualdade e reciprocidade O historiador entra num processo contínuo de moldar seus fatos segundo sua interpretação e sua interpretação segundo seus fatos É impossível determinar a primazia de um sobre o outro CARR 1996 p 65 Entretanto o profissional que trabalha com a história precisa estar consciente da responsabilidade de seu ofício seja no âmbito da pesquisa seja em sala de aula A historiografia imortalizou personagens registrou acontecimentos analisou estruturas preservou memórias Mas o trabalho do historiador atual está muito além dessas questões conforme frase atribuída ao historiador Peter Burke A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer Para finalizar seu estudo realize o Exercício 5 Dica de Aprofundamento Ao finalizar a disciplina de Teoria de História deixo uma sugestão de leitura do livro Os desafios do ensino de História problemas teorias e métodos A leitura traz uma reflexão sobre a atuação do professor e do aluno na construção do saber histórico em sala O livro encontrase á sua disposição na Biblioteca Virtual Universitária 69 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 REFERÊNCIAS ALBERTI Verena Fontes orais histórias dentro da História In PINSKY Carla Bassanezi org Fontes Históricas São Paulo Contexto 2005 p 155202 ANTHONY Grafton As origens trágicas da erudição Pequeno tratado sobre a nota de rodapé Tradução Enid Abreu Dobránszky Campinas SP Papirus 1998 BARROS José DAssunção O campo da história especialidades e abordagens Petrópolis Vozes 2004 A Escola dos Annales considerações sobre a história do movimento In Revista História em Reflexão Vol 4 n 8 UFGD Dourados juldez 2010 BLOCH Marc Apologia da História ou o Ofício de Historiador Rio de Janeiro Zahar 2001 160p BORGES Vavy Pacheco Fontes biográficas grandezas e misérias da biografia In PINSKY Carla Bassanezi org Fontes Históricas São Paulo Contexto 2005 p 155202 BURKE Peter org A escrita da História novas perspectivas São Paulo Editora da Unesp 1992 A Escola dos Annales 19291989 a Revolução Francesa da Historiografia São Paulo Fundação Editora da UNESP 1997 CARR Edward Hallett O Historiador e seus Fatos In Que é História Rio de Janeiro Paz e Terra 1996 FEBVRE Lucien Combates pela História Trad Leonor Martinho Simões 3 ed Lisboa Sta Maria da Feira 1989 FREIRE José R Bessa Tradição oral e memória indígena a canoa do tempo In América Descoberta ou invenção 138164 4º Colóquio UERJ Rio de Janeiro Imago 1992 FUNARI Pedro Paulo A SILVA Glaydson José da Teoria da História São Paulo Brasiliense 2008 Tudo é História 153 GINZBURG Carlo Sinais raízes de um paradigma indiciário In Mitos emblemas sinais morfologia e história São Paulo Cia das Letras 1989 GLÉNISSON J Uma introdução à História São Paulo Brasiliense 1977 GUIMARÃES Manoel Luiz Salgado Escrever a história domesticar o passado In LOPES Antonio Herculano org História e Linguagens texto oralidades e representações Ed 7 letras Rio de Janeiro Editora 7 2006 LE GOFF Jacques História e Memória Trad Bernardo Leitão et all 2 ed CampinasSP UNICAMP 1992 MARX Karl ENGELS Friederich Manifesto do Partido Comunista 2 ed São Paulo Editora Escala 2009 70 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 NAPOLITANO Marcos Fontes audiovisuais a História depois do papel In PINSKY Carla Bassanezi org Fontes Históricas São Paulo Contexto 2005 p 235290 PINSKY Carla Bassanezi org Fontes Históricas São Paulo Contexto 2005 REIS José Carlos Annales A Renovação da História Ouro Preto Editora UFOP1996 TIBIRIÇÁ Jorge Carta a João Tibiriça Neto Resaca 23 set 1907 Acervo APESP Coleção DAESP C10280 Disponível em httpwwwarquivoestadospgovbrexposicaomanuscritopdfASOS03pdf Acesso em mar 2019 TWAIN Mark O camelo extraviado Disponível em httpsalto15vermelhoblogspotcombr201011ocameloextraviadohtml Acesso em mar 2019 VASCONCELOS José Antonio Metodologia do ensino de História e Geografia Fundamentos epistemológicos da História livro eletrônico Curitiba Intersaberes 2012 Coleção Metodologia de ensino História e Geografia v5 VIANA Nildo A Consciência da História Ensaios sobre o Materialismo Histórico Dialético 2 ed Rio de Janeiro Achiamé VIEIRA Maria do Pilar Araújo et al A pesquisa em História 5 ed São Paulo Ed Ática 2007 XAVIER Antonio Roberto Positivismo e marxismo uma indicação de análise 2009 Disponível em httpwwwwebartigoscomartigospositivismoemarxismo22634 Acesso em mar 2019 71 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 EXERCÍCIOS E ATIVIDADES EXERCÍCIO 1 1 Assinale a alternativa INCORRETA sobre a narrativa de Tucídides a Totalmente analítica b Cronologia imprecisa c Preza os discursos d Narrativa isenta de retórica 2 Como os historiadores antigos viam os pares históriapoesia e históriaretórica a Como complementares b Como dicotômicos c Como opostos d Como conjunto de regras Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem ATIVIDADE 11 Heródoto e Tucídides situamse cronologicamente em uma relação não muito diversa daquela existente entre Sófocles e Eurípides Heródoto é o mais velho segundo um cálculo antigo embora muitas vezes contestado e que jamais foi substituído por outro que oferecesse melhor certeza ele tinha nos inícios da Guerra do Peloponeso cinquenta e três e Tucídides quarenta anos Mas a situação social e os destinos dos dois fundadores de toda ciência e arte histórica foram muito diversos e de fato opostos Heródoto foi considerado o pai da História e Tucídides um orador e historiador Responda 1 O que significa Teoria e História 2 Quais as semelhanças e diferenças no trabalho historiográfico feito por Heródoto e Tucídides 3 Por que Heródoto foi considerado o pai da História Para ajudálo la na elaboração da atividade solicitamos que leia os artigos Heródoto e Tucídides Disponível em httprevistaaledominiotemporariocomdochaggstronpdf Acesso em 19 dez 72 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 2020 História e Historiografia antigas e a construção de gênero discursivo Disponível em httpssilotipsdownloadhistoriaehistoriografiaantigasa construaodeumgenerodiscursivo Acesso em 19 dez 2020 Submeta a atividade pela ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 2 1 Analise os enunciados a seguir considerando a historiografia positivista 11 Combatia a tradição literária e religiosa a Verdadeiro b Falso 12 A única habilidade do historiador era questionar o que continha nos documentos a Verdadeiro b Falso 13 O documento escrito como verdadeiro e fidedigno a Verdadeiro b Falso 14 Documento oficial como peso de prova histórica a Verdadeiro b Falso 15 Conhecimento positivo do passado a Verdadeiro b Falso 16 Relevância para os atos do governo atuação de grandes personalidades a Verdadeiro b Falso 17 Ampliação das fontes históricas como exemplo a oralidade a Verdadeiro 73 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 b Falso 18 O testemunho falaria por si só a Verdadeiro b Falso 19 Documento como peso de prova histórica a Verdadeiro b Falso 2 Assinale a alternativa que indica o fundador da moderna disciplina histórica universitária tanto do ponto de vista epistemológico como administrativo a Auguste Comte b Fustel de Coulanges c Émile Durkheim d Leopold Von Ranke 3 Para definir objetividade na escrita positivista o historiador necessitava I Distanciar diante do fato histórico II Narrar o passado sem acréscimo de interpretação III Valorizar a autenticidade do documento IV Estabelecer um compromisso metódico diante aos documentos a Apenas o enunciado I está correto b Apenas os enunciados I e II estão corretos c Apenas os enunciados I e III estão corretos d Todos os enunciados estão corretos Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem 74 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 EXERCÍCIO 3 1 Os historiadores positivistas baseavam seus estudos I Nas ações individuais provocadoras de transformações e mudanças II Nos documentos oficiais escritos compondo uma história das elites políticas III Nas relações de trabalho condição material da vida em sociedade a Apenas o enunciado I está correto b Apenas os enunciados II e III estão corretos c Apenas os enunciados I e II estão corretos d Todos os enunciados estão corretos 2 Várias correntes historiográficas produziram conceitos diferenciados que subsidiam a escrita historiográfica a realizar reflexões das mudanças históricas Duas importantes correntes uma que explicava a História por meio de uma escrita tradicional a outra buscava explicar as mudanças a partir das classes sociais e os modos de produção Indique a resposta correta a Marxismo e Escola dos Annales b Positivismo e Marxismo c Positivismo e Escola dos Annales d Escola dos Annales e Historicismo 3 Luta de classes ideologia alienação mais valia proletariado fetichismo socialismo e comunismo são palavras comumente ligadas ao vocabulário da corrente a Positivista b Historicista c Marxista d Marxista e Positivista Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem 75 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 ATIVIDADE 31 Leia o texto de Xavier 2009 Positivismo e Marxismo uma indicação de análise As vertentes do Positivismo e do Marxismo foram desenvolvidas em seus respectivos contextos por teóricos que visavam compreender e explicar o mundo ocidental em desenvolvimento à base de um racionalismo lógico herdado do mundo moderno É válido ressaltar em linhas gerais que essas duas vertentes clássicas do conhecimento estão vinculadas às origens de um tradicional dualismo idealismo materialismo Especificamente o positivismo é pertinente ao idealismo e o marxismo está vinculado ao materialismo Através de uma ou outra dessas vertentes o sujeito pesquisador observa um objeto captandolhe a realidade aparente Ao intensificar seu trabalho de investigação sobre esse objeto e dependendo da concepção dispensada o sujeito definirá ao final a maneira de olhar e de interpretar seu objeto de pesquisa Procurase fazer contrapontos entre essas duas vertentes levandose em consideração os contextos nos quais o positivismo e o marxismo estão inseridos Constatase que tanto o Positivismo como o Marxismo são tendências ideológicas historicamente construídas para atender demandas racionais do homem em seus respectivos contextos Essas vertentes de pensamento foram e ainda são pujantes na sociedade ocidental como um todo É a partir dessas tendências que o pesquisador se debruça sobre seu objeto de pesquisa para ao final tirar suas conclusões sobre a realidade perquirida Após a leitura responda as questões abaixo 1 O que é Marxismo 2 Quais as diferenças e semelhanças sobre o Positivismo e Marxismo Submeta a atividade pela ferramenta Tarefa ATIVIDADE 41 Assistir o filme Os narradores de Javé O filme narra a história de um lugarejo no interior da Bahia que brevemente será alagado pelas águas de uma represa e de seus moradores que lutam para que suas memórias e histórias não sejam inundadas e se percam no esquecimento do progresso Na perspectiva de evitar essa catástrofe seus moradores encontram uma solução a de escrever um livro sobre o Vale do Javé o que tornaria o lugarejo patrimônio da humanidade evitando assim sua destruição 76 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Mas como escrever se os moradores de Javé são analfabetos A população procura o carteiro para escrever a história da comunidade a partir de depoimentos dos habitantes e que de repente percebe que as lembranças de uns muitas vezes não batem com as dos outros Direção Eliane Caffé Produção Bananeira Filmes Brasil Lumière Riofilme 2003 103 min Disponível em wwwyoutubecombrwatchvTrmCyihYs8 Acesso em mar 2019 Após assistir o filme responda as seguintes questões 1 A oralidade só pode ser usada como fonte histórica nas comunidades sem domínio da escrita Justifique 2 No início do filme uma das personagens questiona como seria possível escrever a história da comunidade E como vamos juntar as histórias se tá tudo aí espalhada na cabeça do povo Dessa forma teria sido possível Antonio Biá escrever a história de Javé Justifique 3 Antonio Biá afirma para um dos moradores de Javé A história é de vocês mas a escrita é minha e em outra cena Uma coisa é o fato acontecido outra coisa é o fato escrito O que isso significa no trabalho de escrita acadêmica da história 4 Analise a questão da ética e da imparcialidade no trabalho do historiador a partir das relações do personagem Antonio Biá 5 Como o filme retrata a questão objetividade X subjetividade na escrita da história Submeta a atividade pela ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 4 1 Qual o nome da importante obra deixada por Marc Bloch que explica o método histórico utilizado por ele e suas considerações sobre o trabalho do historiador a O Mediterrâneo b A Escrita da História novas perspectivas c Apologia da história ou o ofício do historiador d Cidade Antiga 2 É correto afirmar que a Escola dos Annales é 77 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 a Uma Instituição de ensino b Um periódico c Um grupo de pesquisa d Um campo historiográfico 3 Analise os enunciados sobre as principais diretrizes da Escola dos Annales I Substituição da tradicional narrativa dos acontecimentos por uma História problema II A história de todas as atividades humanas e não apenas históricapolítica III Colaboração com outras disciplinas tais como geografia antropologia sociologia entre outras a Apenas o enunciado I está correto b Apenas o enunciado II está correto c Apenas os enunciados I e III estão corretos d Todos os enunciados estão corretos Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem EXERCÍCIO 5 1 Como podemos chamar os vestígios produzidos pelo passado humano como documentos pinturas rupestres registros cartoriais correspondências públicas e privadas etc que permitem o historiador reconstruir acontecimentos e formas de vida do passado a Fonte Histórica b Fato Histórico c Escrita da História d Evento Histórico 2 Assinale a alternativa que indica corretamente como o historiador pode usar a entrevista como fonte a A Entrevista como fonte só tem validade ser for gravada e não escrita b Exclusivamente para uso de trabalhos historiográficos c Usar apenas para trabalhos com pessoas que não dominam a escrita d As entrevistas podem ser úteis para comparar as fontes orais com outros tipos de fontes 3 Com a História nova o historiador lança mão das mais diversificadas 78 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 fontes como I Fontes documentais e fontes orais II Fontes arqueológicas fontes audiovisuais III Fontes impressas e fontes biográficas IV Etnomusicologia e Musicologia Histórica a Apenas o enunciado I está correto b Apenas os enunciados I e II estão corretos c Apenas os enunciados II e III estão corretos d Todos os enunciados estão corretos Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem