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8 VOLUME 1 Filosofia Organizador 8amdfilosofiavol121indd 1 15122020 073024 8º ano do Ensino Fundamental volume 1 Filosofia Todos os direitos reservados à CNEC Campanha Nacional de Escolas da Comunidade Impressão e acabamento Editora e Gráfica Cenecista Dr José Ferreira Av Frei Paulino nº 530 Bairro Abadia Uberaba MG CEP 38025180 PABX 34 21030700 0046edigrafcnecbr Diretor e produção editorial Erlei José de Araújo Gerente editorial Wellington Silva Sporck Capa Fabiano Morais Fábio Salum Projeto gráfico Carlos R Moura Fabiano Morais Fábio Salum Revisão de prova Adriana da Silva Ribeiro Patrícia Calixto Tatiana Miranda Lilian Lopes de Brito Revisão Neusa Patrícia Oliveira Cardoso Diagramação Lucimar Lopes de Brito Moreira Ilustração Andréa Vieira Pires Angélica Rosa de Freitas Bruno Mituro de Paula Hatano Eduardo Maurício de Freitas Felipe Mendes dos Santos Jeferson Martins Jéssica Caroline Costa Silva Marlon Augusto Rodolfo Nascimento Silva Samuel Tomaz Manzan Sheila de Oliveira Assis Autor Danilo Borges Medeiros Revisão de texto Bárbara Beatriz Tiveron Pinto Ferreira Marília Martins Ferreira Diagramação Ketely Julie Lucas Leal 8amdfilosofiavol121indd 2 15122020 073024 Sumário Unidade 1 A fi losofi a no contexto da Idade Média Capítulo 1 Idade Média contexto histórico Capítulo 2 A fi losofi a de Agostinho de Hipona Capítulo 3 O tempo em Agostinho Capítulo 4 A escolástica e a fi losofi a de Tomás de Aquino O pensamento tomista Capítulo 5 O tempo em Tomás de Aquino Unidade 2 A transição da idade média para a idade moderna Capítulo 6 O alquimismo de Roger Bacon Capítulo 7 Idade Moderna Unidade 3 O desenvolvimento de métodos e instrumentos de análises científi cas uma revolução no pensamento Capítulo 8 Galileu Galilei Capítulo 9 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina 7 7 10 13 17 21 25 25 31 34 34 38 Filosofi a 8amdfilosofiavol121indd 3 15122020 073024 8amdfilosofiavol121indd 4 15122020 073027 8amdfilosofiavol121indd 5 15122020 073032 8amdfilosofiavol121indd 6 15122020 073032 7 8º ano do Ensino Fundamental Filosofi a I A Filosofi a no contexto da Idade Média P rezado aluno neste capítulo iremos primeiramente fazer uma breve contextualização histórica do período da Idade Média e posteriormente adentraremos nas questões fi losófi cas a partir das duas grandes correntes do pensamento fi losófi co medieval a Patrística e a Escolástica A partir destes dois grandes movimentos tematizaremos importantes questões da Filosofi a que perpassaram o contexto medieval e culminaram em uma tradição fi losófi ca rica e complexa Juntos trilharemos um caminho de descobertas a respeito das especifi cidades da fi losofi a medieval 1 Idade Média contexto histórico A Idade Média enquanto período histórico foi determinada entre outros aspectos por fatores sociopolíticos que surgiram do desmembramento do Império Romano do Ocidente no século V 476 d C Essa cisão ocorreu em razão dos intensos e sucessivos ataques dos povos bárbaros denominação dada porque estes habitavam fora das fronteiras do Império Romano e falavam línguas diferentes do latim Apesar desse signifi cativo processo de mudança na estrutura social que abalou profundamente o Império uma instituição conseguiu se manter e ganhou mais força nesse novo cenário a Igreja Católica A ascensão desta instituição implicará uma nova forma de organização do quadro social político religioso e sobretudo intelectual da época O fi m da Idade Média e consequente início da Idade Moderna foi marcado principalmente pela queda de Constantinopla que pôs fi m ao Império Romano do Oriente também chamado de Império Bizantino no século XV 1453 dC Esse acontecimento foi concomitante à chegada dos europeus à América A partir de tal contextualização é notório perceber que os fatores que propiciaram a transição do período antigo para o medieval também contribuíram para o desenvolvimento de uma nova mentalidade especialmente no que se refere ao aspecto religioso pois ele implicará novos formatos para a cultura dessa época marcando uma profunda e particular perspectiva fi losófi ca Um dos grandes fatores que fortaleceu a Igreja Católica durante essa transição histórica é a promulgação do Édito de Milão em latim Edictum mediolanense em 13 de junho de 313 pelo Imperador Constantino que cessa as perseguições contra os cristãos que antes eram martirizados por conta de sua fé Este tratado de paz será de suma importância pois a partir daí a Igreja sai das catacumbas ou da situação de ilegalidade clandestinidade e marginalidade e começa a sua afi rmação no plano da organização social jurídica e administrativa Organizase em dioceses seguindo o próprio modelo imperial Ao mesmo tempo começa a difusão do monaquismo vida ou estado monástico Dioceses e mosteiros serão os dois grandes pilares da civilização nos primeiros e mais difíceis séculos da Idade Média COUTINHO 2008 p 5 8amdfilosofiavol121indd 7 15122020 073032 Filosofi a 8 Volume 1 Toda essa estrutura que vai ganhando corpo fortalece a Igreja enquanto instituição que se expande progressivamente perpassando aspectos relacionados à organização social da época sobretudo no campo intelectual com o desenvolvimento de uma fi losofi a marcada pela íntima relação com os dogmas ou conjunto de doutrinas cristãos Para o desenvolvimento de tal fundamentação fi losófi ca os pensadores medievais irão buscar na fi losofi a clássica grega a referênciabase de conciliação com a fé Dessa forma no que se refere ao aspecto fi losófi co alguns pensadores se apropriaram por meio de releituras do pensamento grego clássico para fundamentar o pensamento religioso cristão que se estruturava à medida que a Igreja Católica expandia seus domínios Em outras palavras os pensadores medievais fi zeram um grande esforço nesse longo período histórico para estabelecer uma harmonia que buscasse conciliar a fé e a razão A fé e a razão fi des et ratio constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e em última análise de O conhecer a Ele para que conhecendoO e amandoO possa chegar também à verdade plena sobre si próprio JOÃO PAULO II 1998 p 1 Este pequeno trecho da encíclica uma carta circular do papa intitulada Fé e razão apresenta de maneira simples e objetiva a relação estabelecida entre os elementos constitutivos da fé e a razão fi losófi ca especialmente no contexto medieval O objetivo dessa carta é conduzir o homem à Verdade na qual se encontra a partir de uma complexa experiência individual marcada por uma profunda religiosidade Fica evidente que a experiência com o sagrado se alicerça em uma compreensão de natureza espiritual e fi losófi ca de tal forma que a Idade Média viverá em larga medida da herança fi losófi ca grega primeiro de Platão e do neoplatonismo mais tarde também de Aristóteles Não todavia sem que sobre essa herança tenha exercido o seu próprio labor fi losofante COUTINHO 2008 p 5 Vale ressaltar que as referências a respeito do platonismo e do aristotelismo medieval não se limitaram apenas a uma reprodução do legado deixado pelos clássicos Estes foram retomados com o intuito de produzir novos conceitos e problemas centrais para a tradição da fi losofi a assim não podemos reafi rmar a errônea concepção de Idade Média enquanto Período de Trevas uma vez que houve uma complexa riqueza cultural e fi losófi ca deixada por tais pensadores Toda essa produção fi losófi coteológica pode ser compreendida em quatro momentos essenciais para a caracterização do pensamento medieval Entre os séculos I e III dC marco inicial do surgimento do cristianismo os padres apostólicos destacaramse com a missão de difundir os ideais cristãos Dentre esses padres os mais notórios são Inácio de Antioquia martirizado no Coliseu em Roma Policarpo de Esmirna martirizado na Turquia e por suas inúmeras cartas deixadas durante suas peregrinações Paulo de Tarso decapitado em Roma A partir do século III até aproximadamente o século IV os padres apologistas ganharam destaque justamente por seu trabalho de defesa e exaltação do ideário cristão Dentre eles há os atenienses Kodratos ou Quadrato e Aristides o palestino Justino etc Da metade do século IV até o século VIII a Patrística destacouse com a fi gura de Agostinho de Hipona que buscava suas referências em Platão em uma tentativa de conciliar a fé com a razão Por fi m do século IX até o século XVI fi m da Idade Média prevaleceu a Escolástica com destaque para a produção intelectual de Tomás de Aquino a partir do referencial fi losófi co de Aristóteles 8amdfilosofiavol121indd 8 15122020 073032 Idade Média contexto histórico 9 8º ano do Ensino Fundamental A partir dessa breve contextualização e problematização do ponto central da fi losofi a medieval iremos em um primeiro momento direcionar o nosso foco para a Patrística e para a fi losofi a de Agostinho de Hipona Posteriormente discutiremos a Escolástica e o pensamento de Tomás de Aquino 8 Exercícios de sala 1 O cristianismo é uma religião empregando por vezes termos fi losófi cos para exprimir sua fé os escritores sacros cediam a uma necessidade humana mas substituíam o sentido fi losófi co antigo desses termos por um sentido religioso novo É esse sentido que lhes devemos atribuir quando os encontramos nos livros cristãos GILSON Etienne A Filosofi a na Idade Média Tradução de Eduardo Brandão São Paulo Martins Fontes 1998 p XV A partir do fragmento e de seus conhecimentos sobre o assunto responda qual a importância dos pensadores gregos clássicos para a tentativa de conciliação entre a fé e a razão proposta pelos medievais Justifi que sua resposta 8amdfilosofiavol121indd 9 15122020 073032 Filosofi a 10 Volume 1 2 A Filosofi a de Agostinho de Hipona A ureliano Agostinho 354430 ou apenas Agostinho foi um bispo que nasceu em Tagaste e faleceu em Hipona Uma das grandes referências intelectuais da Idade Média Agostinho foi o principal representante da Patrística Já adulto ele se converteu ao cristianismo ao entrar em contato com as obras e pregações do bispo Ambrósio de Milão tornandose um grande defensor dessa religião Antes de sua conversão Agostinho se declarava seguidor das doutrinas maniqueístas que defendiam uma compreensão do universo governado por forças opostas bem e mal que estariam em constante confl ito AURELIANO AGOSTINHO Disponível em httpscleofascombrdezensinamentosdesantoagostinhosobreaconfi ssao Acesso em 27 jul 2019 O adjetivo patrística que muitas vezes também é usado como substantivo indica quer a época quer a teologia a fi losofi a e a cultura em geral ligadas aos chamados Padres da Igreja ou simplesmente Padres Esta palavra conserva aqui o signifi cado originário do termo latino patres pais É a era dos pais da teologia ou da fé cristã racionalmente elaborada No Ocidente prolongase até Santo Isidoro de Sevilha séc VII no Oriente até São João Damasceno séc VIII COUTINHO 2008 p 32 Neste fi lme é possível compreender de maneira mais ampla a vida de Agostinho e sua importância para o pensamento medieval Título SantAgostino Original Ano de produção 2010 Dirigido por Christian Duguay Duração 200 minutos Disponível em httpswwwpaulinascombrdefaultsantoagostinhohtml Acesso em 24 jul 2019 8amdfilosofiavol121indd 10 15122020 073034 A Filosofi a de Agostinho de Hipona 11 8º ano do Ensino Fundamental Agostinho buscará em Platão e nos neoplatônicos a referênciabase para a conciliação da fi losofi a com a teologia O ponto central para o pensador cristão é afi rmar que a verdade é uma questão de fé comunicada por Deus ao homem Essa comunicação acontece de forma íntima e pessoal uma vez que ao criar a natureza humana Deus deixou impresso uma espécie de centelha na alma dos homens que age como um canal de comunicação que permite a manifestação divina iluminando a inteligência humana que sozinha é limitada e incapaz de conhecer a verdade Essa tese agostiniana denominada Teoria da Iluminação demonstra que apesar de a compreensão sobre a verdade ser um exercício que coloca a fé em primeiro plano ela não descarta o papel da razão mas a coloca em um patamar secundário em relação às verdades divinas que se revelam ao homem pela bondade de Deus Assim podemos concluir que é necessário que o homem creia e exerça sua fé para então compreender as verdades reveladas por Deus de tal forma que essa compreensão enquanto exercício constitutivo da razão exerça um papel posterior esclarecendo aquilo que a fé já antecipou Percebam aqui a clara distinção entre o conhecimento humano e o conhecimento divino pois este último comporta a verdade eterna e imutável para além da transitoriedade do conhecimento sensível A Teoria da Iluminação é importante pois é o ponto nerval de toda a construção fi losófi ca de Agostinho e justifi ca dentre muitas de suas proposições sua concepção política que se sustenta na noção elementar de que o último objetivo do exercício político é garantir o bem coletivo para que as pessoas sejam guiadas por preceitos divinos que assegurem a justiça com vistas à salvação eterna Nesse sentido Agostinho reforça uma perspectiva que subordina o Estado e o seu governo à autoridade da Igreja já que ela tem a função de por meio de sua tradição comunicar aos homens o caminho a se seguir Logo se a Igreja pelo seu magistério possui tal autoridade ela seria a grande guia e mentora das ações do Estado a fi m de conduzir o povo à salvação O governante justo é aquele que busca agir em consonância com os preceitos cristãos No entanto é de suma importância retomar o fato de que apesar de Deus revelar a verdade ao homem cabe a ele decidir se vai ou não acreditar nela No caso da política por exemplo o governante tem o livrearbítrio para decidir se vai conduzir suas ações com base na ética cristã Assim há uma questão central a ser respondia se Deus revela aos homens a verdade quais são as consequências das escolhas feitas Que eu ouça e entenda de que modo no princípio fi zeste o céu e a terra Moisés o escreveu escreveu e se foi passou daqui contigo para junto a ti e agora não está diante de mim Pois se estivesse eu o pararia e o interrogaria e suplicaria por ti para que desvendasse essas coisas a mim e abriria bem os ouvidos do meu corpo aos sons que irrompessem de sua boca E se falasse hebraico em vão atingiria meus sentidos e por isso nada tocaria minha mente Mas se falasse latim eu saberia o que ele diria Porém de onde eu saberia se diria o que é verdadeiro Se soubesse também isso acaso saberia por ele Com efeito dentro de mim dentro no domicílio do pensamento a verdade nem hebraica nem grega nem latina nem bárbara diria sem os órgãos da boca e da língua sem o estrépito de sílabas ele diz o verdadeiro e eu de pronto certo e confi ante diria àquele teu homem dizes o verdadeiro Então embora eu não possa interrogálo rogo a ti Verdade da qual está pleno aquele que disse coisas verdadeiras rogo a ti meu Deus perdoa meus pecados e assim como deste ao teu servo dizêlas dá também a mim entendêlas SANTO AGOSTINHO CONFISSÕES LIVRO XI Capítulo 3 5 Comentário do texto Nessa passagem Agostinho demonstra que o exercício da fé revela ao homem verdades de maneira intuitiva e pessoal Posteriormente a razão esclarecerá o que foi revelado pela fé 8amdfilosofiavol121indd 11 15122020 073034 Filosofi a 12 Volume 1 Para essa questão Agostinho irá propor a ideia de livrearbítrio cada indivíduo possui a escolha de agir segundo sua própria decisão Se o indivíduo faz a livre escolha de aproximarse de Deus aceitando as verdades reveladas ele estaria agindo com o Bem Caso opte por negar tais verdades ele estaria se afastando da Luz Divina e consequentemente caminhando para as sombras do mal Perceba aqui que o mal não é uma criação de Deus mas uma consequência da não aceitação das verdades divinas ou seja o mal é decorrente do uso inconsequente do livrearbítrio humano A questão do livrearbítrio está diretamente relacionada à noção de bem e mal Por fi m como um dos temas diferenciais do pensamento Agostiniano discutiremos de uma forma aprofundada o Tempo uma questão de suma importância pois é para a época única Além disso refl ete fi losofi a de René Descartes Immanuel Kant Bertrand Russell William Russell e outros autores da tradição Para tal discussão consideraremos todo o capítulo XI da obra Confi ssões Exercícios de sala 1 A vida de Agostinho desvela por si mesma o essencial perfi l da sua personalidade Destaquemos ainda assim alguns traços mais salientes Em primeiro lugar a sua insaciável sede de verdade ou de sabedoria que faz dele um verdadeiro fi lósofo no sentido originário do termo Não era todavia um temperamento cerebral mas um homem de coração que soube devolver o próprio pensamento à sua raiz afetiva e vivencial Possuía uma inteligência intuitiva e penetrante sem deixar de revelar grande poder de análise refl exiva servida por uma memória feliz e fi el e uma enorme capacidade de trabalho Tinha o instinto da metafísica mas também uma admirável capacidade psicológica de analisar a alma humana Como escritor foi um estilista esmerado COUTINHO 2008 p 41 a Explique a relação entre fé e razão para Santo Agostinho b Elabore uma pequena pesquisa e transcreva suas descobertas para este espaço explicando com suas palavras a infl uência da Teoria da Reminiscência de Platão na doutrina da Iluminação Divina de Agostinho Justifi que sua resposta Deus sumamente bom criou os seres humanos à sua imagem e semelhança ou seja eles possuem num certo grau a mesma racionalidade divina Sem contrariar sua boa natureza Deus permitiu ao homem o livrearbítrio Na medida em que os seres humanos esco lhem seguir as revelações divinas estão agindo no caminho do bem No entanto quando negam por escolha estão agindo pelo mal Assim o mal não é criação de Deus 8amdfilosofiavol121indd 12 15122020 073034 O tempo em Agostinho 13 8º ano do Ensino Fundamental 3 O tempo em Agostinho N o livro XI das Confi ssões Agostinho tematiza o tempo a partir de duas perspectivas centrais o tempo enquanto uma criação de Deus e a diferença entre tempo e eternidade Agostinho introduz a temporalidade a partir de uma relação entre o homem e o tempo utilizando uma passagem do livro do Gênesis para ressaltar a noção do tempo e de todas as coisas enquanto uma criação divina Existem pois o céu e a terra Em voz alta dizemnos que foram criados porque estão sujeitos a mudanças e vicissitudes Ainda mesmo o que não foi criado e todavia existe nada tem em si antes não existisse Portanto sofreu mudança e passou por vicissitudes Proclamem todas estas coisas que não se fi zeram a si próprias Existimos porque fomos criados Portanto não existíamos antes de existir para que nos pudéssemos criar A mesma evidência é a voz com o céu e a terra nos falam Vós Senhor os criastes Porque sois belo eles são belos porque sois bom eles são bons porque existis eles existem Não são tão formosos nem tão bons nem existem do mesmo modo que vós seu Criador Comparados convosco nem são belos nem são bons nem existem Graças vos sejam dadas por sabermos estas coisas Mas a nossa ciência compara com a vossa é ignorância AGOSTINHO 1980 p 237238 Tal afi rmação reforça a tese Agostiniana de que nada existe a não ser pela vontade de Deus e este por um ato de vontade criou todas as coisas do nada negando assim qualquer noção de que algo tenha existido antes da criação Ainda a respeito dessa passagem o fi lósofo de Tagaste continua sua refl exão discorrendo em um primeiro momento sobre a forma da criação Deus por meio da palavra do verbo criador fez com que todas as coisas existissem Esse verbo de natureza coeterna a Deus foi a forma utilizada pelo criador para dar origem a todas as coisas É importante ressaltar dois problemas centrais em Agostinho sua resposta aos questionamentos dos seguidores do maniqueísmo pois ele rompe com as doutrinas maniqueístas após a sua conversão e sua superação em relação às teses de Platão pois Agostinho não se limita a cristianizar a fi losofi a platônica mas de certo modo a supera propondo perspectivas diferentes como no tema da cosmologia Todas estas criaturas Vos louvam como Criador de tudo Mas de que modo as fazeis Como fi zestes meu Deus o céu e a terra Sem dúvida não fi zestes o céu e a terra no céu ou na terra nem no ar ou nas águas porque também pertencem ao céu e à terra Nem criastes o Universo no Universo porque antes de o criardes não havia espaço onde pudesse existir Nem tínheis à mão matéria alguma com que modelásseis o céu e a terra Nesse caso de onde viria essa matéria que Vós não criáreis e com a qual pudésseis fabricar alguma coisa Que criatura que não exija a vossa existência Portanto é necessário concluir que falastes e os seres foram criados Vós os criastes pela vossa palavra AGOSTINHO 1980 p 238239 Interrogado pelos maniqueus sobre o que fazia Deus antes da criação Agostinho fugindo de respostas evasivas propõe a impossibilidade de se pensar em uma noção do tempo antes da criação uma vez que o próprio tempo é uma criação divina ou seja o tempo é uma criação que passou a existir com a manifestação da vontade divina Dessa forma Deus não está sujeito 8amdfilosofiavol121indd 13 15122020 073034 Filosofi a 14 Volume 1 ao tempo pois ele é anterior e também o seu criador Assim em resposta aos maniqueus Agostinho demostra que Deus não fazia nada antes da criação pois sendo o tempo sua criatura é impossível pensar sob qualquer possibilidade de temporalidade antes de Deus criar o tempo em si A respeito da diferença entre o conceito de criação para Agostinho e Platão fi ca evidente na contraposição dos autores o seguinte aspecto o demiurgo platônico entidade metafísica criadora da realidade sensível partiu de uma matéria sem forma denominada Khôra Khora ou Chora em grego antigo χώρα para realizar o seu ato criador Além da necessidade de uma matéria preexistente o demiurgo precisou levar em consideração um modelo também preexistente no mundo das ideias para dar forma à matéria ao passo que o Deus criador em Agostinho fez todas as coisas do nada Assim enquanto o demiurgo platônico copia a tese Agostiniana respaldada na literatura bíblica demonstra que Deus cria Admitindo o tempo enquanto uma criatura como podemos defi nilo Seria o tempo na concepção de Agostinho três realidades distintas passado presente e futuro Para deixar essa questão bem clara precisamos compreender o tempo sob três pontos centrais o tempo no aspecto ontológico metafísico e psicológico A ontologia enquanto um ramo da Filosofi a trata do ser enquanto ser portanto o tempo na perspectiva ontológica seria estudado enquanto um ser que possui uma natureza defi nida restando assim o desafi o de defi nila A metafísica amplia as questões ontológicas não se preocupando apenas com a natureza do tempo mas em compreendêlo a partir de várias relações interligadas O aspecto psicológico é o tempo enquanto algo pertencente à percepção do sujeito Apesar de Agostinho não discutir de forma tão ampla o tempo em seu sentido ontológico podemos defi nir sua natureza como um todo indivisível ou seja o tempo é único e não possui divisões negando portanto qualquer perspectiva fragmentada Já no sentido metafísico o tempo poderia ser defi nido como algo que além de possuir uma natureza indivisível está em permanente mudança um constante vir a ser que condiciona todas as coisas a passarem por transformações ininterruptas Vale ressaltar que essas duas noções não são contraditórias mas pensam o tempo sob perspectivas diferentes Enquanto a primeira busca defi nir o tempo e sua natureza a segunda compreenderá sua relação com todas as coisas existentes Por fi m analisaremos com maior detalhe o tempo no seu sentido psicológico Pelo que pareceume que o tempo não é outra senão distensão mas de que coisa o seja ignoroo Seria para admirar que não fosse a da própria alma Portanto dizeime eu Volo suplico meu Deus que coisa meço eu quando declaro indeterminadamente Este tempo é mais longo do que aquele ou quando digo determinadamente Este é duplo daquele outro Sei perfeitamente que meço o tempo mas não o futuro porque ainda não existe Também não avalio o presente pois não tem extensão nem o passado que não existe Que meço eu então O tempo que presentemente decorre e não o que já passou Assim o tinha dito eu AGOSTINHO 1980 p 252 Em seu sentido psicológico o tempo referese ao modo como o homem apreende e ressignifi ca sua realidade para que a divisão do tempo em passado presente e futuro exista apenas para o sujeito não enquanto realidades distintas uma vez que o tempo é algo único indivisível e em constante processo de transformação Essa divisão da realidade temporal do homem se dá em função da capacidade de sua alma realizar distensões ou seja apreender brevemente o presente guardar na memória as lembranças passadas ou criar expectativas 8amdfilosofiavol121indd 14 15122020 073034 O tempo em Agostinho 15 8º ano do Ensino Fundamental futuras Assim falar de uma realidade temporal múltipla fora da capacidade de distensão da alma é impossível para Agostinho Em relação ao passado a alma guarda vestígios das lembranças memorizandoas tornandose capaz de sempre que possível revivêlas A alma também tem a capacidade de desenvolver a atenção pois ela apreende toda a mudança temporal constante tornando possível falar de um presente mesmo que ele seja tão breve e logo se torne passado Por fi m a alma também é capaz de criar expectativas futuras baseadas no que aconteceu e no que está armazenado na memória O que agora transparece é que nem há tempos futuros nem pretéritos É impróprio afi rmar que os tempos são três pretérito presente e futuro Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três presente das coisas passadas presente das presentes e presente das coisas futuras Existem pois estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte lembrança presente das coisas passadas visão presente das coisas passadas visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras AGOSTINHO 1980 p 248 Portanto não há na perspectiva Agostiniana presente passado ou futuro enquanto realidades distintas mas apenas o presente temporal enquanto um constante devir Agostinho encerra o Livro XI das Confi ssões ressaltando a capacidade limitada da razão humana de compreender os mistérios divinos e a impossibilidade de se falar em qualquer ideia de tempo que não seja pelo pressuposto da criação Encerramos nosso debate sobre a fi losofi a de Agostinho evidenciando conforme sua discussão sobre o tempo a atualidade e a grande contribuição dessa perspectiva para a tradição fi losófi ca Tal perspectiva infl uenciou especialmente autores como Kant o qual ampliou a discussão ao pensar no tempo enquanto parte essencial da sensibilidade do homem Exercícios de sala 1 Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra Se estava ocioso e nada realizava dizem eles por que não fi cou sempre assim no decurso dos séculos abstendose como antes de toda ação Se existiu em Deus um novo movimento uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara como pode haver verdadeira eternidade se nEle aparece uma vontade que antes não existia AGOSTINHO Confi ssões São Paulo Abril Cultural 1984 a Como Agostinho compreende o tempo sob o aspecto psicológico Justifi que sua reposta 8amdfilosofiavol121indd 15 15122020 073035 Filosofi a 16 Volume 1 DE VOLTA PARA O FUTURO 2 EUA 1989 Robert Zemeckis Com Michael J Fox Christopher Lloyd Lea Thompson Thomas F Wilson No fi m dos anos de 1980 parecia tão distante adentrar e se estabelecer no século 21 Mas como tudo chega e o tempo não para chegamos enfi m ao futuro da trilogia De volta para o futuro Mais precisamente no dia 21 de outubro de 2015 data da chegada de Marty Mcfl y a um tempo além do seu presente Assim foi com os fi lmes que também tentaram imaginar o mundo anos à frente 1984 de Michael Radford devastado pela guerra atômica e 2001 Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick dominado pela tecnologia e pela conquista do espaço Disponível em httpfsindicalorgbrfi lmesdicadefi lmedevoltaparaofuturo2 backtothefuture2 Acesso em 26 jul 2019 b Levando em consideração a tese Agostiniana sobre o tempo por que não é possível viajar entre as dimensões do tempo como propõe a fi cção científi ca De volta para o futuro Justifi que sua resposta 8amdfilosofiavol121indd 16 15122020 073037 A Escolástica e a fi losofi a de Tomás de Aquino 17 8º ano do Ensino Fundamental 4 A Escolástica e a fi losofi a de Tomás de Aquino P osterior à Patrística o período da Escolástica do século VIII ao XIV foi marcado pelo ápice da estruturação e hegemonia da Igreja Católica sobretudo pela sua forte ligação com as monarquias e a organização de cruzadas à Terra Santa Além disso esse período se caracterizou pela organização e fundação de escolas fi nanciadas principalmente pelo Rei Carlos Magno coroado pelo Papa Leão III Seu reinado foi marcado pela íntima relação com a Igreja como forma de garantir o poder político e econômico Assim surge o termo Escolástica derivado de escolas que buscavam a formação integral do indivíduo por meio da conciliação de aspectos humanísticos e religiosos Nesses centros de formação adotouse o modelo de formação romana ensinando matérias como o trivium gramática retórica e dialética e o quadrivium geometria aritmética música e astronomia Vale ressaltar que além de todas essas disciplinas estarem direcionadas aos aspectos teológicos elas também buscavam a formação do sacerdote de forma integral preparandoo para a missão de evangelizar e expandir os números de fi éis da igreja É nesse ambiente de intensa produção e formação intelectual que surgem as primeiras universidades com o formato que conhecemos hoje O termo escolástica deriva de escola A Escolástica foi um vasto fenómeno cultural com especial incidência na teologia e na fi losofi a que se desenvolveu na base e a partir da estrutura escolar da Idade Média A organização escolar da Idade Média foi decalcada no modelo romano tal como este o fora já no modelo grego Como tudo porém nesta época ela está intimamente vinculada à Igreja por ela instituída e sustentada em função dos seus objetivos humanistas e religiosos Para isso contribuíram especialmente Santo Agostinho Boécio e Marciano Capela além de Carlos Magno com o seu movimento restaurador das instituições romanas Desde os últimos tempos do Império Romano com a organização da Igreja em paróquias e dioceses e a difusão dos mosteiros foram se também multiplicando as escolas criadas e sustentadas por estas instituições eclesiásticas que assim iam compensando o progressivo desaparecimento das escolas imperiais submersas pela onda barbarizante COUTINHO 2008 p 95 Disponível em httpcneclk0bt9 Acesso em 29 jul 2019 As Sete Artes Liberais 1450 Artista Pesellino Francesco di Stefano 14221457 8amdfilosofiavol121indd 17 15122020 073038 Filosofi a 18 Volume 1 No início da Escolástica prevaleceu fortemente a infl uência de Platão trazida pela Patrística no entanto a partir do século XIII o pensamento de Aristóteles predominou no interior das escolas por conta de uma redescoberta das obras aristotélicas traduzidas para o latim infl uenciando de maneira incisiva a fi losofi a desse tempo Vale destacar nessa difusão do pensamento aristotélico a grande contribuição das traduções e comentários dos fi lósofos árabes Avicena 9801037 e Averróis 11261198 que tiveram contato com a fi losofi a aristotélica a partir do século VI O período da Escolástica foi muito importante porque além de deixar como legado grandes centros de formação e produção intelectual também ampliou a difusão da fi losofi a de Aristóteles já iniciada pelos árabes É a partir da Escolástica e de sua importância para o contexto fi losófi co da Idade Média que iremos discutir alguns dos aspectos elementares da fi losofi a de Tomás de Aquino Exercícios de sala 1 Qual é a importância da educação no contexto da Escolástica Justifi que sua resposta 41 O pensamento tomista N ascido em 1226 no feudo de Roccasecca na Sicília Tomás teve seus estudos iniciais conduzidos pelos monges beneditinos e posteriormente ingressou no seminário dos dominicanos em 1244 Considerado ao lado de Agostinho um dos grandes doutores da Igreja sua vasta produção intelectual inclui 60 obras destacandose as Sumas Teológicas um conjunto de tratados em que o autor sintetiza e organiza temas centrais do cristianismo com base na lógica e na metafísica aristotélica Se Agostinho fundamentou sua leitura em Platão é por meio de releituras do pensamento de Aristóteles que Tomás procurou conciliar a fé e a razão readequando muitos dos elementos do pensamento aristotélico sob a perspectiva cristã Tomás de Aquino 12261274 Filósofo e teólogo italiano da Idade Média e membro da Ordem Dominicana Disponível em httpfsindicalorgbrfi lmesdicadefi lmedevoltaparaofuturo2backtothefuture2 Acesso em 29Jul 2019 8amdfilosofiavol121indd 18 15122020 073039 A Escolástica e a fi losofi a de Tomás de Aquino 19 8º ano do Ensino Fundamental Tal como Santo Agostinho se aproxima de Platão não só no pensamento mas também no estilo dos seus escritos assim São Tomás anda próximo de Aristóteles numa e noutra destas duas linhas Agostinho personalidade emotiva e mística inteligência intuitiva sintética formado na escola da retórica fortemente empenhado na sua missão episcopal escrevendo muito ao sabor das exigências da vida pessoal e pastoral deixou nas obras que escreveu as suas marcas de autor na forte carga emotiva na tensão vivencial na relativa desordem em que o pensamento progride e se expande Tomás de Aquino diferentemente foi um homem cerebral um espírito sereno um investigador e professor a tempo inteiro um fi lósofo e teólogo profi ssional ou de laboratório verdadeiramente científi co servido por uma inteligência racional e analítica fria e rigorosa modelada e estruturada pela lógica aristotélica COUTINHO 2008 p 123 Apesar de Agostinho e Tomás terem como propósito a tentativa de conciliação entre fé e razão é notória a tendência de Agostinho de se voltar para questões espirituais devido à sua referência platônica Há entretanto uma tendência mais racional e lógica nas obras de Tomás de Aquino em virtude da sua referência aristotélica O ponto de partida do pensamento tomista está diretamente ligado à relação e à distinção entre os conceitos de Ente e Ser essência as quais demonstram que o Ser de Deus é a essência de todos os Entes que são os seres humanos os objetos do mundo natural e os seres irracionais Logo para Tomás uma vez que Deus enquanto Ser é a essência de tudo ou seja graças a Ele tudo existe então todas as criaturas são qualifi cadas como Entes pois elas existem devido à criação de um Ser superior denominado Deus Fica evidente a superioridade da natureza divina em relação às suas criaturas conforme demonstra a tabela a seguir DEUS ESSÊNCIA CRIATURAS ENTES Ser necessário Ser contingente pode ser ou não Ato puro Ato e potência está sujeito a transformações Imutável e infi nito Mutável e fi nito Sempre existiu Existência criada Intelecto Puro Onisciente Intelecto passivo e ativo carece de conhecer Na natureza humana existem dois níveis de intelectos que constituem o conhecimento Tomás fundamenta sua teoria a respeito do processo de conhecer a partir da relação entre Intelecto Passivo e Ativo o intelecto passivo a sensibilidade ou seja os sentidos capta em um primeiro momento os dados apreendidos na realidade e os conduz para o Intelecto Ativo a razão que no segundo momento opera com tais informações organizandoas sistematicamente a fi m de produzir o conhecimento Em relação ao aspecto ético e político Tomás afi rma que o caminho para a felicidade do homem deveria estar sujeito a uma lei divina que conduz ao justo equilíbrio na ordenação da sociedade Essa lei divina é revelada aos homens por Deus como fonte de justiça e igualdade a exemplo dos Dez Mandamentos Cabe ao homem e sobretudo ao governante estabelecer a harmonização no plano social e político entre o poder temporal e espiritual ou seja orientar suas ações com base nos preceitos revelados por Deus Nesse sentido Tomás retoma o pensamento aristotélico de uma felicidade como fi m último mas vincula a ideia do sagrado a uma parte integrante de um projeto ético e político com vistas à felicidade 8amdfilosofiavol121indd 19 15122020 073040 Filosofi a 20 Volume 1 Todo ser humano possui naturalmente em si a luz da razão que o dirige em suas ações para um fi m Assim se ele pudesse viver solitariamente como ocorre com muitos animais não precisaria de um dirigente que o guiasse Cada um seria um rei para si mesmo abaixo de Deus Rei supremo uma vez que dirigiria a si mesmo em seus atos através da luz da razão que lhe foi concedida pela divindade Todavia mais do que para qualquer outro animal é natural para o ser humano ser um animal social e político ou seja viver junto a muitos como o demonstra a necessidade natural Com efeito no caso dos demais animais a natureza preparoulhes a comida como vestimento proveuos de pelos para sua defesa dotouos de dentes chifres unhas ou ao menos de velocidade para fuga Mas a natureza não dotou o ser humano dessas coisas Ao invés disso foilhe dada a razão que o habilita a preparar tudo isso com suas mãos Porém como um único ser humano não é sufi ciente para fazer todas essas coisas então um ser humano sozinho não pode levar de maneira sufi ciente sua vida Logo é natural ao ser humano que ele viva em sociedade junto a muitos SÃO TOMAS DE AQUINO Do Reino ou do Governo dos Príncipes ao Rei de Chipre In Escritos Políticos de Santo Tomás de Aquino Exercícios de sala 2 Faça uma pesquisa sobre as 5 provas da existência de Deus e explique cada uma delas a partir da fi losofi a de Tomás de Aquino Organize sua pesquisa de maneira clara e objetiva transcrevendoa para as linhas dispostas a seguir 8amdfilosofiavol121indd 20 15122020 073040 O tempo em Tomás de Aquino 21 8º ano do Ensino Fundamental 5 O tempo em Tomás de Aquino E m relação à questão do tempo Tomás irá basicamente fazer uma releitura cristã dessa temática segundo a fi losofi a de Aristóteles compreendendo o tempo enquanto uma representação numérica do movimento a partir de toda transformação ocorrida na realidade Em outras palavras o tempo é uma expressão matemática da relação da passagem do antes e do depois de determinada mudança ocorrida Exemplo Vou da minha casa para a escola Neste exemplo existe uma expressão numérica temporal que pode representar o antes de iniciar o meu percurso e outra expressão numérica que pode representar o depois de ter iniciado Assim como em Aristóteles Tomás também constata que o movimento expresso pelo tempo é algo inerente a todas as coisas entes No entanto se tudo está em constante movimento em uma permanente mudança então é necessário um agente motor imóvel primum mobile immotum pois se ele movesse cairíamos em uma redução ao infi nito fonte de todo o movimento De quanto expusemos até aqui evidenciase que não há Deus qualquer sucessão temporal senão que Deus existe totalmente e simultaneamente A sucessão temporal ocorre exclusivamente nas coisas que de um modo ou de outro estão sujeitas ao movimento de vez que são o antes e o depois no movimento que constituem a sucessão temporal Ora Deus não está em absoluto sujeito ao movimento Donde se infere que não há nEle qualquer sucessão de tempo AQUINO 1973 p79 Esse agente primeiro motor imóvel de toda a realidade é Deus ou seja Ele move toda a realidade sem se mover Fica evidente que uma vez que Deus é o motor de todas as coisas e possui uma natureza imóvel então não é possível expressar temporalmente a realidade divina já que esta não sofre mudança Qual seria então a medida para expressar Deus já que não é possível calcular temporalmente suas ações A resposta dada por Tomás é a eternidade pois ela não só representa a realidade divina mas constitui a sua própria essência isto é Deus é eterno por natureza Assim é possível perceber que Tomás retoma quase que integralmente a noção de tempo em Aristóteles defi nindoa sob a perspectiva de quantidade ou seja uma expressão numérica do movimento segundo as noções de antes e depois No entanto acrescenta a diferença entre temporalidade e eternidade Exercícios de sala 1 Explique com suas palavras o conceito de tempo segundo a fi losofi a tomista 8amdfilosofiavol121indd 21 15122020 073040 Filosofi a 22 Volume 1 Exercícios resolvidos 2 UFU A fi losofi a de Agostinho 354430 é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio cujo espiritualismo devia aproximálo do cristianismo Ouvindo sermões de Ambrósio infl uenciados por Plotino que Agostinho venceu suas últimas resistências de tornarse cristão PEPIN Jean Santo Agostinho e a patrística ocidental In CHÂTELET François Org A Filosofi a medieval Rio de Janeiro Zahar Editores 1983 p77 Apesar de ter sido infl uenciado pela fi losofi a de Platão por meio dos escritos de Plotino o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão Assinale a alternativa que apresenta corretamente uma dessas diferenças a Para Agostinho é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro enquanto para Platão a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano b Para Platão a verdadeira realidade encontrase no mundo das Ideias enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos c Para Agostinho a alma é imortal enquanto para Platão a alma não é imortal já que é apenas a forma do corpo d Para Platão o conhecimento é na verdade reminiscência a alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina a centelha de Deus que existe em cada um Resposta Gabarito D A ideia central do conhecimento em Platão gira em torno da noção de reminiscência a qual remete à percepção de relembrar o conhecimento já adquirido pela alma no mundo das ideias que ao ser encarnada nos corpos esqueceuse de tudo o que sabia Em Agostinho tal perspectiva platônica não é compartilhada pois o conhecimento surge de uma relação que o homem tem com Deus fonte de todo o saber Deus portanto é capaz de iluminar a limitada razão humana e revelar as verdades sobre a existência Exercícios propostos 3 UFU Na medida em que o Cristianismo se consolidava a partir do século II vários pensadores convertidos à nova fé e aproveitandose de elementos da fi losofi a grecoromana que eles conheciam bem começaram a elaborar textos sobre a fé e a revelação cristãs tentando uma síntese com elementos da fi losofi a grega ou utilizandose de técnicas e conceitos da fi losofi a grega para melhor expor as verdades reveladas do Cristianismo Esses pensadores fi caram conhecidos como os Padres da Igreja dos quais o mais importante a escrever na língua latina foi Santo Agostinho COTRIM Gilberto Fundamentos de Filosofi a Ser Saber e Fazer São Paulo Saraiva 1996 p 128 Adaptado Esse primeiro período da fi losofi a medieval que durou do século II ao século X fi cou conhecido como a Escolástica b Neoplatonismo c Antiguidade tardia d Patrística 8amdfilosofiavol121indd 22 15122020 073040 O tempo em Tomás de Aquino 23 8º ano do Ensino Fundamental 4 ENEM Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra Se estava ocioso e nada realizava dizem eles por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos abstendose como antes de toda ação Se existiu em Deus um novo movimento uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara como pode haver verdadeira eternidade se nEle aparece uma vontade que antes não existia AGOSTINHO Confi ssões São Paulo Abril Cultural 1984 A questão da eternidade tal como abordada pelo autor é um exemplo de refl exão fi losófi ca sobre as a essência da ética cristã b natureza universal da tradição c certezas inabaláveis da experiência d abrangência da compreensão humana e interpretações da realidade circundante 5 ENEM Se os nossos adversários que admitem a existência de uma natureza não criada por Deus o Sumo Bem quisessem admitir que essas considerações estão certas deixariam de proferir tantas blasfêmias como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos males Pois sendo Ele fonte suprema de Bondade nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza AGOSTINHO A natureza do Bem Rio de Janeiro Sétimo Selo 2005 Adaptado Para Agostinho não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque a o surgimento do mal é anterior à existência de Deus b o mal enquanto princípio ontológico independe de Deus c Deus apenas transforma a matéria que é por natureza má d por ser bom Deus não pode criar o que lhe é oposto o mal e Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem e o mal 6 ENEM Ora em todas as coisas ordenadas a algum fim é preciso haver algum dirigente pelo qual se atinja diretamente o devido fim Com efeito um navio que se move para diversos lados pelo impulso dos ventos contrários não chegaria ao fim de destino se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto ora tem o homem um fim para o qual se ordenam toda a sua vida e ação Acontece porém agirem os homens de modos diversos em vista do fim o que a própria diversidade dos esforços e ações humanas comprova Portanto precisa o homem de um dirigente para o fim AQUINO T Do reino ou do governo dos homens ao rei do Chipre Escritos políticos de São Tomás de Aquino Petrópolis Vozes 1995 Adaptado No trecho citado Tomás de Aquino justifi ca a monarquia como o regime de governo capaz de a refrear os movimentos religiosos contestatórios b promover a atuação da sociedade civil na vida política c unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum d reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística e dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual 7 UFU Considere o seguinte texto sobre Tomás de Aquino 12261274 Fique claro que Tomás não aristoteliza o cristianismo mas cristianiza Aristóteles Fique claro que ele nunca pensou que com a razão se pudesse entender tudo não ele continuou acreditando que tudo se compreende pela fé só quis dizer que a fé não estava em desacordo com a razão e que portanto era possível darse ao luxo de raciocinar saindo do universo da alucinaçãoEco Umberto Elogio de santo Tomás de Aquino In Viagem na irrealidade cotidiana p339 8amdfilosofiavol121indd 23 15122020 073040 Filosofi a 24 Volume 1 É correto afi rmar segundo esse texto que a Tomás de Aquino com a ajuda da fi losofi a de Aristóteles conseguiu uma prova científi ca para as certezas da fé por exemplo a existência de Deus b Tomás de Aquino se empenha em mostrar os erros da fi losofi a de Aristóteles para mostrar que esta fi losofi a é incompatível com a doutrina cristã c O estudo da fi losofi a de Aristóteles levou Tomás de Aquino a rejeitar as verdades da fé cristã que não fossem compatíveis com a razão natural d A atitude de Tomás de Aquino diante da fi losofi a de Aristóteles é de conciliação desta fi losofi a com as certezas da fé cristã 8amdfilosofiavol121indd 24 15122020 073040 O alquimismo de Roger Bacon 25 8º ano do Ensino Fundamental II A transição da Idade Média para a Idade Moderna 6 O alquimismo de Roger Bacon A transição do Período Medieval para o Moderno foi marcado por um processo de profundas mudanças tanto na perspectiva social e política quanto na fi losófi ca sobretudo pela nova forma como o homem moderno estabeleceu suas novas relações com o mundo natural No entanto antes mesmo de apresentarmos os principais pontos desta transição enfatizando os elementos históricos e políticos e suas estreitas relações com o fi losófi co é bom ressaltar a importância da tradição alquimista para a constituição dessa nova mentalidade precursora do pensamento científi co Nesse sentido os alquimistas herdeiros de uma tradição mística que encontra suas origens na cultura oriental irão com suas práticas experimentais propor uma nova relação com a natureza até então compreendida pela Igreja Católica como intocável dada a sua sacralidade São várias também as versões sobre a etimologia da palavra alquimia Parece referirse ao Egito Khem ou khan nome antigo do Egito e o artigo defi nido árabe al dandoalchimia a terra negra Pode também prover da raiz grega chemeia do egípcio chem negro que pode referirse tanto à terra negra Egito quanto ao negro da oxidação dos metais ou ainda ao negro cor sagrada dos sacerdotes egípcios que como tintura a preparavam secretamente o que resultou no termo Arte Negra como arte do aperfeiçoamento em busca do divino VARGAS Nairo de Souza Aspectos históricos da alquimia São Paulo Junguiana 2017 v 35 n 2 p 6976 Disponível em httppepsicbvsaludorg scielophpscriptsciarttextpidS010308252017000200008lngptnrmiso Acesso em 17 ago 2019 Em laboratórios escondidos da inquisição católica esses químicos realizavam seus experimentos de manipulação dos elementos naturais com o objetivo de melhor compreenderem a ordem cósmica Nesse processo fundamentado em práticas experimentais e observacionais muitos instrumentos de pesquisa foram criados bem como seus preciosos registros que oportunizaram signifi cativas contribuições para o surgimento da ciência moderna No entanto muitos desses projetos também foram interrompidos e não se desenvolveram Nesse contexto houve a hegemonia do controle exercido pela Igreja que após o seu enfraquecimento e declínio no fi m da Idade Média permitiu o nascimento da ciência com a constituição de métodos baseados na análise e na repetição É importante destacar o quanto a préciência alquímica irá contribuir para Disponível em httpswwwarabbritishcentreorgukalchemyinthemiddleeastbychristopherdanieli Acesso em 17 ago 2019 8amdfilosofiavol121indd 25 15122020 073042 Filosofi a 26 Volume 1 o desenvolvimento de métodos investigativos da ciência como os trabalhos realizados por Roger Bacon Antes de adentrarmos nos elementos da fi losofi a de Bacon façamos uma leitura atenta do texto sobre a importância e infl uência da alquimia na ciência moderna RESULTADOS DO PENSAMENTO MÁGICOHERMÉTICO SOBRE A CIÊNCIA MODERNA Não se deve pensar que durante o período que estamos tratando a magia tenha estado de um lado e a ciência de outro A ciência moderna com a imagem que dela nos apresentou Galileu e que Newton consolidará constitui como observamos anteriormente o resultado do processo da revolução científi ca Por essa razão no curso desse processo à medida que assume consistência a nova forma de saber que a ciência moderna a outra forma de saber isto é a magia passa a ser combatida como forma de pseudociência e de saber espúrio No entanto os vínculos entre fi losofi a neoplatônica hermetismo tradição cabalística magia astrologia e alquimia por um lado e as teorias empíricas e a nova ideia de saber que avança nesse sentido cultural por outro lado são vínculos cujos elos só se dissolvem com lentidão e esforço Com efeito deixando de lado o componente neoplatônico que constitui o fundamento de toda a revolução astronômica ninguém pode hoje negar o peso relevante que o pensamento mágico hermético exerceu também sobre os expoentes mais representativos da revolução cientifi ca Além de astrônomo Copérnico também foi médico tendo praticado sua medicina por meio da teoria da infl uência dos astros E não é o caso de um Copérnico médico que se comporta como astrólogo e um Copérnico astrônomo que se comporta como cientista puro assim como nos concebemos o cientista pois quando Copérnico trata de justifi car a centralidade do sol no universo ele se remete também à autoridade de Hermes Trismegisto que chama o sol de Deus visível Por seu turno Kepler conhecia muito bem o Corpus Hermeticum muito do seu trabalho consistiu em compilar efemérides quando se casou pela segunda vez aconselhouse com os amigos mas consultou também as estrelas e sobretudo a sua visão da harmonia das esferas está preenchida de misticismo neopitagórico REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 152 É possível compreender a partir do texto como a tradição antiga do Hermetismo ou Hermeticismo o qual trata do estudo e da prática tanto da fi losofi a oculta quanto da magia associados aos escritos atribuídos a Hermes Trismegisto foi importante para o surgimento da ciência moderna A cisão entre os aspectos místicos dos estudos alquimistas e a ciência ocorreu de maneira gradual ao longo do desenvolvimento de métodos investigativos apoiados na tecnologia Nesse aspecto iremos tratar de algumas concepções gerais de Roger Bacon e sua colaboração para a ciência moderna Pertencente à ordem dos franciscanos Roger Bacon foi uma das fi guras mais signifi cativas que contribuíram para a alquimia e posteriormente para o surgimento da ciência contribuindo para a mecânica a química e outras áreas do pensamento moderno Conhecido como Doctor Mirabilis Admirável Doutor esse frade foi um grande estudioso do pensamento aristotélico e buscou em seus estudos a reafi rmação de uma investigação empírica sobre os fatos naturais como forma de compreender o universo tornandose um dos precursores do empirismo moderno Ele propôs a necessidade de se constituir um método de investigação natural composto pela observação hipótese experimentação e necessidade de verifi cação Ao estabelecer em sua proposta a necessidade de uma investigação calcada no critério de verifi cabilidade ou seja verifi car quantas vezes forem necessárias a validade dos resultados Bacon ofereceu às bases Roger Bacon 1214 1294 Disponível em httpswwwbritannicacombiographyRogerBacon Acesso em 17 de agosto de 2019 8amdfilosofiavol121indd 26 15122020 073042 O alquimismo de Roger Bacon 27 8º ano do Ensino Fundamental metodológicas que serão posteriormente usadas por grandes cientistas modernos O diagrama ao lado evidencia a importância da proposta vislumbrada por Bacon que posteriormente foi melhor desenvolvida pela ciência com experimentos mais precisos e análises tecnológicas mais avançadas encontrando conclusões mais seguras No entanto a base elementar do método surgiu graças à proposta baconiana Em razão das suas pesquisas e do seu forte envolvimento com a alquimia ele foi condenado por bruxaria pela Igreja permaneceu em cárcere privado durante 14 anos e morreu posteriormente em Oxford Bacon escreveu obras bastante signifi cativas como Opus majus 1257 a única completa Opus minus e Opus tertium Sem os instrumentos de astronomia de geometria de ótica e de outras ciências não se pode realizar nada apenas através desses instrumentos podemos conhecer com exatidão os corpos celestes que são causas dos acontecimentos no mundo inferior isto é na terra porque o efeito não se pode conhecer sem conhecer suas causas Sem esses instrumentos portanto não se pode saber nada de extraordinário por isso é preciso possuílos mas bem poucos deles são confeccionados pelos latinos é indispensável também possuir abundância de livros de todas as ciências seja de autores ou de comentadores antigos BACON R Obras escolhidas Tradução de Jan Ter Reegen e Luís Alberto de Boni Porto Alegre São Francisco 2006 v 8 p 53 Ressaltase ainda o destaque que o autor franciscano conferiu à ciência experimental e à necessidade de haver critérios bem estabelecidos na busca pela verdade Herdeiro das refl exões aristotélicas sua posição demonstra com clareza o início de um percurso científi co que na Idade Média e auxiliado pelo desenvolvimento da tecnologia ganhou um corpo maior com o surgimento do método analítico de investigação A proposta baconiana de investigação demonstra que não é possível a construção de qualquer conhecimento seguro se ele não estiver fundamentado em uma investigação empírica amparada por uma múltipla relação de conhecimentos matemáticos e de outras ciências Assim ao alicerçar as bases da ciência moderna Bacon também foi um dos grandes idealizadores das invenções tecnológicas MÉTODO CIENTÍFICO PERGUNTA OBSERVAÇÃO HIPÓTESE EXPERIMENTO ANÁLISE CONCLUSÕES design by Freepik adaptado 8amdfilosofiavol121indd 27 15122020 073042 Filosofi a 28 Volume 1 Podem ser feitos instrumentos de navegação sem homens remando como navios muito grandes tanto fl uviais como marítimos dirigidos por um único piloto numa velocidade maior do que estivessem cheios de remadores Da mesma forma podem ser feitos carros para serem movidos com inestimável velocidade sem animais pensamos que desse jeito devem ter sido os carros armados de foices com que se combatia antigamente Também podem ser feitas máquinas para voar de forma que o homem sentase no meio máquina e aciona algum instrumento através do qual asas mecânicas se movimentam no ar como aves quando voam BACON R Obras escolhidas Tradução de Jan Ter Reegen e Luís Alberto de Boni Porto Alegre São Francisco 2006 v 8 p 53 A proposta baconiana de uma ciência experimental ganhou realidade com o avanço tecnológico pois essa circunstância permitiu uma maior verifi cabilidade da investigação dos fatos o que oportunizou a constituição da ciência moderna Exercícios de sala 1 Qual é a importância das investigações realizadas pelos alquimistas para a constituição da ciência moderna Justifi que sua resposta 2 Qual elemento da proposta de investigação de Roger Bacon contribuiu para o método científi co Justifi que sua resposta Exercícios resolvidos 3 ENEM O franciscano Roger Bacon foi condenado entre 1277 e 1279 por dirigir ataques aos teólogos por uma suposta crença na alquimia na astrologia e no método experimental e também por introduzir no ensino as ideias de Aristóteles Em 1260 Roger Bacon escreveu Pode ser que se fabriquem máquinas graças às quais os maiores navios dirigidos por um único homem se desloquem mais depressa do que se fossem cheios de remadores que se construam carros que avancem a uma velocidade incrível sem a ajuda de animais que se fabriquem máquinas voadoras nas quais um homem bata o ar com asas como um pássaro Máquinas que permitam ir ao fundo dos mares e dos rios apud BRAUDEL Fernand Civilização material economia e capitalismo séculos XVXVIII São Paulo Martins Fontes 1996 v 3 8amdfilosofiavol121indd 28 15122020 073043 O alquimismo de Roger Bacon 29 8º ano do Ensino Fundamental Considerando a dinâmica do processo histórico podese afi rmar que as ideias de Roger Bacon a inseriamse plenamente no espírito da Idade Média ao privilegiarem a crença em Deus como o principal meio para antecipar as descobertas da humanidade b estavam em atraso com relação ao seu tempo ao desconsiderarem os instrumentos intelectuais oferecidos pela Igreja para o avanço científi co da humanidade c opunhamse ao desencadeamento da Primeira Revolução Industrial ao rejeitarem a aplicação da matemática e do método experimental nas invenções industriais d eram fundamentalmente voltadas para o passado pois não apenas seguiam Aristóteles como também baseavamse na tradição e na teologia e inseriamse num movimento que convergiria mais tarde para o Renascimento ao contemplarem a possibilidade de o ser humano controlar a natureza por meio das invenções Resposta GABARITO E Roger Bacon foi um pensador inglês que apesar de ser um frade franciscano e de viver em um período no qual existia um poder de censura e perseguição por parte da Igreja atacou a postura da Igreja em relação à produção do conhecimento e foi condenado por heresia Ele desenvolveu um estudo sobre metodologia científi ca fortemente apoiado na matemática e no empirismo como questões referentes às observações hipóteses experimentação e verifi cação de elementos da natureza Bacon foi um visionário ao trazer elementos para a metodologia científi ca que até então não eram considerados como possibilidades de verifi cação e reprodução dos eventos de uma pesquisa de forma independente isto é o cientista não poderia por si mesmo verifi car através de cálculos e experimentos as leis que regem determinado evento da natureza Entretanto ele abriu espaço para a ideia moderna e contemporânea de um mundo natural regido por leis fi xas e decifráveis que podem ser dominadas e controladas pelo homem Suas principais referências fi losófi cas foram Aristóteles e o seu contemporâneo Robert Grosseteste Exercícios propostos 4 ENEM Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço geográfi co através da pesquisa científi ca e da invenção tecnológica os cientistas também iriam se atirar nessa aventura tentando conquistar a forma o movimento o espaço a luz a cor e mesmo a expressão e o sentimento SEVCENKO N O Renascimento Campinas Unicamp 1984 O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística marcada pela constante relação entre a fé e misticismo b ciência e arte c cultura e comércio d política e economia e astronomia e religião 5 ENEM Leia o texto e em seguida assinale a alternativa correta A base da teoria da visão de Roger Bacon 12141292 é extraída dos aspectos anatômicos fi losófi cos e matemáticos de Alhazen Em suas principais obras sobre óptica Perspectiva e De multiplicatione specierum Acerca da multiplicação das espécies o objeto visto transmite espécies pelos raios 8amdfilosofiavol121indd 29 15122020 073043 Filosofi a 30 Volume 1 luminosos em todas as direções alcançando a superfície do olho Cada ponto na superfície do olho é o vértice de uma pirâmide visual com a base na superfície do objeto Portanto deve haver uma correspondência ponto a ponto entre os pontos da superfície do olho e os do campo visual TOSSATO Claudemir Roque A função do olho humano na óptica do fi nal do século XVI São Paulo Sci Stud v 3 n 3 p 433434 Podemos dizer que o desenvolvimento de teorias sobre a Ótica por parte do cientista medieval Roger Bacon a provocou um enorme retrocesso na ciência ocidental b contribuiu grandemente para o desenvolvimento posterior das teorias modernas sobre ótica c não teve nenhuma infl uência do conhecimento científi co árabe d era fantasioso sem nenhum critério científi co sério e não tinha nenhuma conexão com a realidade física 6 ENEM Na linha de uma tradição antiga o astrônomo grego Ptolomeu 100170 dC afi rmou a tese do geocentrismo segundo a qual a Terra seria o centro do universo sendo que o Sol a Lua e os planetas girariam em seu redor em órbitas circulares A teoria de Ptolomeu resolvia de modo razoável os problemas astronômicos da sua época Vários séculos mais tarde o clérigo e astrônomo polonês Nicolau Copérnico 14731543 ao encontrar inexatidões na teoria de Ptolomeu formulou a teoria do heliocentrismo segundo a qual o Sol deveria ser considerado o centro do universo com a Terra a Lua e os planetas girando circularmente em torno dele Por fi m o astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler 15711630 depois de estudar o planeta Marte por cerca de trinta anos verifi cou que a sua órbita é elíptica Esse resultado generalizouse para os demais planetas A respeito dos estudiosos citados no texto é correto afi rmar que a Ptolomeu apresentou as ideias mais valiosas por serem mais antigas e tradicionais b Copérnico desenvolveu a teoria do heliocentrismo inspirado no contexto político do Rei Sol c Copérnico viveu em uma época em que a pesquisa científi ca era livre e amplamente incentivada pelas autoridades d Kepler estudou o planeta Marte para atender às necessidades de expansão econômica e científi ca da Alemanha e Kepler apresentou uma teoria científi ca que graças aos métodos aplicados pôde ser testada e generalizada 8amdfilosofiavol121indd 30 15122020 073043 Idade Moderna 31 8º ano do Ensino Fundamental 7 Idade Moderna O período da Idade Moderna tem como marco histórico inicial a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos de 1453 a 1789 que foi o início da Revolução Francesa O Renascimento cultural e científi co o surgimento da burguesia e o fi m da Idade Média foram fatores determinantes para a mudança das formas de pensar o mundo e o Universo Assim temos no campo do conhecimento uma nova perspectiva que deixa de ser religiosa e se torna racional e científi ca Logo problemas acerca do homem e de como conhecêlo ganham centralidade na racionalidade moderna Além disso a centralidade de uma visão antropocêntrica perfaz as várias áreas do conhecimento promovendo uma mentalidade racionalista acerca do homem e do mundo Nesse contexto destacase o Renascimento cultural que ocorreu entre os séculos XV e XVI na Europa e foi um movimento inspirado no Humanismo itálico ocorrido no século XIV encabeçado por intelectuais que defendiam o resgate da cultura e do conhecimento grecoromano fundamentado nas noções de razão e liberdade Assim como o próprio nome sugere o Renascimento por meio dos intelectuais da arte da ciência e a da fi losofi a buscou reavivar a cultura clássica da Antiguidade sem considerar as adequações promovidas pelos pensadores medievais os quais alinharam o pensamento fi losófi co aos moldes do Cristianismo Dessa forma buscouse reascender os elementos da racionalidade fi losófi ca em sua essência como forma de compreender o homem e o mundo a partir de novos métodos de investigação Ora toda essa nova mentalidade oportunizou uma reconfi guração do conhecimento e promoveu o que se denominou Revolução Científi ca O resultado do processo cultural que passou a ser denominado revolução cientifi ca foi uma nova imagem do mundo que entre outras coisas propôs problemas religiosos e antropológicos não indiferentes Ao mesmo tempo representou a proposta de nova imagem da ciência autônoma pública controlável e progressiva Mas a revolução cientifi ca foi precisamente um processo um processo que para ser compreendido deve ser dissecado em todos os seus componentes inclusive a tradição hermética a alquimia a astrologia ou a magia posteriormente abandonadas pela ciência moderna mas que bem ou mal infl uíram sobre sua gênese ou pelo menos sobre seu desenvolvimento inicial E preciso contudo ir mais além já que outra característica fundamental da revolução cientifi ca foi a formação de um saber a ciência precisamente que ao contrário do saber medieval reúne teoria e prática ciência e técnica dando assim origem a um novo tipo de douto bem diferente do fi losofo medieval do humanista do mago do astrólogo ou também do artesão ou do artista da Renascença A revolução científi ca cria o cientista experimental moderno cuja experiência e o experimento tornado sempre mais rigoroso por novos instrumentos de medida cada vez mais precisos REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 146 Essa nova imagem de um mundo organizado e fundamentado no paradigma de uma observação direta sobre os fenômenos naturais sob a ótica das representações matemáticas revolucionou a visão do homem sobre o Cosmos ou seja o Universo passou a ser entendido como um fenômeno natural e não mais divino Entre as novas perspectivas que surgiram durante a Idade Moderna a respeito do Universo encontrase como marco inicial a Teoria Heliocêntrica de Nicolau Copérnico Nascido na cidade polonesa de Torun Copérnico inicia seus estudos em Cracóvia e se especializa em direito canônico ao tornarse sacerdote Terminada sua formação religiosa ele volta para a Polônia e redige sua mais célebre obra De revolutionibus orbium coelestium Das revoluções das esferas celestes Nessa obra Copérnico lança as bases da sua teoria heliocêntrica fundamentada em seis princípios básicos 8amdfilosofiavol121indd 31 15122020 073043 Filosofi a 32 Volume 1 1 o mundo deve ser esférico 2 a terra deve ser esférica 3 a terra com a água forma uma única esfera 4 o movimento dos corpos celestes é uniforme circular e perpétuo ou então composto por movimentos circulares 5 a terra se move em um círculo orbital em torno do centro girando também sobre seu eixo 6 a dimensão dos céus se comparada com a dimensão da terra é enorme REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 166 Ora tal perspectiva cosmológica revolucionou não apenas a visão fechada e dogmática da perspectiva geocêntrica defendida pela Igreja Católica e apoiada em uma tradição aristotélica mas revolucionou sobretudo a Filosofi a ao apresentar para o homem um esquema cósmico que descentralizava a terra do Universo Assim Copérnico expandiu os níveis da ciência e da mentalidade humana de forma surpreendente para época Ao deslocar a posição da terra Copérnico também retirou o homem do centro do universo Em seu conhecido livro A revolução copernicana 1957 escreve ainda Kuhn Sua doutrina planetária e a concepção a ela ligada de um universo centrado no sol foram instrumentos da passagem da sociedade medieval para a moderna sociedade ocidental enquanto atingiam a relação do homem com o universo e com Deus Desenvolvida com uma revisão estritamente técnica de alto nível matemático da astronomia clássica a teoria copernicana tornouse um centro focal das terríveis controvérsias no campo religioso fi losófi co e das doutrinas sociais que nos dois séculos posteriores a descoberta da América fi xaram a orientação do pensamento europeu Em suma a revolução copernicana foi também uma revolução no mundo das ideias a transformação de ideias inveteradas que o homem tinha do universo de sua relação com ele e do seu lugar nele REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 168 Disponível em httpwwwgrupomeiodoceucominternas20190125nicolaucopernicoeosistemaheliocentrico Acesso em 19082019 Nicolau Copérnico e o seu esquema heliocêntrico 8amdfilosofiavol121indd 32 15122020 073043 Idade Moderna 33 8º ano do Ensino Fundamental Exercícios de sala NICOLAU COPÉRNICO Copérnico explicava que o modelo ptolemaico era incorreto por não satisfazer a exigência fundamental segundo a qual cada planeta deveria se deslocar com velocidade uniforme descrevendo um círculo perfeito Para resolver esse problema difícil de modo mais simples do que o de Ptolomeu Copérnico estabeleceu sete princípios fundamentais 1 os corpos celestes não se deslocam ao redor do mesmo centro 2 a Terra não é o centro do sistema do mundo mas somente da órbita lunar 3 o Sol é o centro do sistema do mundo 4 a distância do Sol à Terra é desprezível quando comparada à distância das estrelas fi xas 5 o movimento aparente do céu se deve à rotação da Terra em torno do seu próprio eixo 6 o movimento anual aparente do Sol no céu se deve ao movimento da Terra e dos planetas ao seu redor 7 as estações e os movimentos retrógrados aparentes dos planetas se devem aos movimentos da Terra e dos planetas ao redor do Sol Disponível em httpwwwihuunisinosbrimagesstoriescadernosideias049cadernosihuideiaspdf Acesso em 02 Set 2019 1 A partir da leitura do texto responda às questões a Qual é o ponto fundamental das teses copernicanas em relação à proposta de Ptolomeu Justifi que sua resposta b Considerando o pensamento científi co moderno qual é o legado deixado por Copérnico Justifi que sua resposta 8amdfilosofiavol121indd 33 15122020 073043 Filosofi a 34 Volume 1 III O desenvolvimento de métodos e instrumentos de análises científi cas uma revolução no pensamento 8 Galileu Galilei G alileu Galilei desenvolveu pesquisas por meio do legado de Copérnico Ele nasceu em Pisa no dia 15 de fevereiro de 1564 e faleceu em Florença no dia 8 de janeiro de 1642 Galileu deu continuidade às teses copernicanas ao propor uma investigação mais profunda acerca do Universo apoiado em um instrumento científi co de investigação que ele mesmo criou a luneta As suas pesquisas alicerçadas na possibilidade de demonstração empírica dos fatos não apenas colocaram ainda mais em dúvida as posições geocêntricas do universo que eram fundamentadas na tradição aristotélicoptolomaica fortemente defendida pela Igreja mas também causaram uma verdadeira revolução na astronomia e tornaram irrefutável a teoria heliocêntrica apresentada por seu antecessor Na primavera de 1609 Galileu teve a informação de que certo fl amengo denominação dada àquele que é natural do condado de Flandres na Bélgica fabricara uma lente através da qual os objetos visíveis mesmo muito distantes do olho do observador podiam ser vistos distintamente como se estivessem próximos A notícia foilhe confi rmada logo depois de Paris por um exdiscípulo Tiago Badoukre o que constituiu por fi m o motivo que me impeliu a dedicarme totalmente a procurar as razões e cogitar os meios pelos quais eu poderia chegar à invenção de um instrumento semelhante Então Galileu preparou um tubo de chumbo a cujas extremidades aplicou duas lentes ambas planas de um lado ao passo que do outro uma era convexa e outra côncava aproximando o olho da côncava vi os objetos bastante grandes e próximo já que apareciam três vezes mais próximos e nove vezes maiores do que quando eram vistos apenas com a visão natural Depois preparei outro mais exato que representava os objetos mais de sessenta vezes maiores E por fi m diz ainda Galileu sem poupar esforço nem despesa alguma cheguei a ponto de construir um instrumento tão excelente que as coisas vistas por meio dele aparecem quase mil vezes maiores e mais de trinta vezes mais próximas do que quando olhadas apenas com a faculdade natural Seria inteiramente supérfl uo enumerar quantas e quais são as vantagens desse instrumento tanto na terra como no mar REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 196 Editado Disp onív el e m h ttp s jorn alu sp br atua lid ade sca rta esc rita porg alile oga lileie des cobe rtap ora caso A cess o em 01 de Set 2019 alileu Galilei desenvolveu pesquisas por meio do legado de Copérnico Ele nasceu em Pisa no dia 15 de fevereiro de 1564 e faleceu em Florença no dia 8 de janeiro de 1642 Galileu deu continuidade às teses copernicanas ao propor mais em dúvida as posições geocêntricas do universo que eram fundamentadas na tradição aristotélicoptolomaica fortemente defendida pela Igreja mas também causaram uma verdadeira revolução na astronomia e tornaram irrefutável a teoria Disp onív el e m h ttttt p s jorn alu sp br atua lid ad lileie des cobe rtap ora caso A cess o em 01 de Set 2019 8amdfilosofiavol121indd 34 15122020 073044 Galileu Galilei 35 8º ano do Ensino Fundamental 1 O acréscimo à multidão das estrelas fi xas visíveis também a olho nu de outras inumeráveis estrelas jamais vistas antes O universo portanto tornase maior 2 Com a certeza que é dada pela experiência sensível é possível apreender que a lua não é em absoluto feita de uma superfície lisa e polida mas escalavrada e desigual e da mesma forma que a face da terra apresentase em grande parte coberta de grandes proeminências profundos vales e sinuosidades Esse resultado é de grande relevância pois destrói a distinção entre corpos terrestres e corpos celestes uma distinção que era um verdadeiro pilar de sustentação da cosmologia aristotélicoptolomaica 3 O dado de que a galáxia nada mais é do que um amontoado de inumeráveis estrelas disseminadas aos punhados para qualquer região dela que se dirija a luneta logo grande multidão de estrelas apresentasse à vista Através dessa observação Galileu sustenta fi carem resolvidas com a certeza que é dada pelos olhos todas as disputas que por tantos séculos atormentaram os fi lósofos libertandonos de discussões verbosas 4 Ademais maravilha ainda maior as estrelas chamadas até hoje pelos astrônomos individualmente como nebulosas são amontoados de pequenas estrelas disseminadas de modo admirável 5 Mas o argumento mais importante do Sidereus Nuncius para Galileu é a descoberta dos satélites de Júpiter que em homenagem a Cosme II dos Médici ele chamou de estrelas mediceanas pois dava a possibilidade de revelar e divulgar quatro planetas nunca vistos desde as origens do mundo até nossos dias dando ocasião de descobrilos e estudálos além de sua posição e das observações feitas durante os dois últimos meses sobre seus movimentos e suas transformações Essa descoberta oferecia a Galileu a inesperada visão no céu de um modelo menor que o universo copernicano REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 197 Editado Do ponto de vista científi co qual é a real importância da criação da luneta desenvolvida por Galileu A criação de tal objeto possibilitou à ciência potencializar os sentidos durante a observação dos astros e dos movimentos planetários Como um instrumento óptico ele permitiu a observação de grandes objetos a longas distâncias como estrelas planetas galáxias e constelações com uma precisão que seria impossível apenas com a visão como afi rmado por Galileu sem poupar esforço nem despesa alguma cheguei a ponto de construir um instrumento tão excelente que as coisas vistas por meio dele aparecem quase mil vezes maiores e mais de trinta vezes mais próximas do que quando olhadas apenas com a faculdade natural Seria inteiramente supérfl uo enumerar quantas e quais são as vantagens desse instrumento tanto na terra como no mar A partir das observações por meio da luneta foram elaborados diversos registros a fi m de compor um corpo sistemático de análises científi cas que deixaram uma importante herança para o pensamento Grande parte de todas essas observações compuseram uma obra publicada em 12 de março de 1610 por Galileu na cidade de Veneza intitulada em Sidereus Nuncius O Mensageiro das Estrelas Nessa obra o pensador revolucionou as observações astronômicas e reforçou ainda mais as teses copernicanas de perspectiva heliocêntrica e derrubou o paradigma de uma antiga concepção geocêntrica apoiada nas teses de Aristóteles e Ptolomeu estabelecendo cinco princípios básicos O objeto maior representa a luneta Disponível em httpwwwviafanzinejorbrsitevfastrovtelescopios2htm Acesso em 01 de Set 2019 8amdfilosofiavol121indd 35 15122020 073045 Filosofi a 36 Volume 1 Posteriormente Galileu publicou outras obras que deram continuidade às suas pesquisas mas não foram bemvindas pela Igreja Católica que após manifestar algumas advertências contra Galileu acusao de heresia em 1633 durante o governo do papa Urbano VIII que o obrigou a renegar suas teorias caso não quisesse ser sentenciado à morte Galileu acata a decisão do Tribunal de Inquisição e vai viver o resto de sua vida em Florência na Itália em uma espécie de prisão domiciliar Somente em 1992 o papa João Paulo II reconheceu o erro da Igreja na condenação de Galileu e pediu desculpas publicamente sobre tal fato e admitiu o equívoco em relação ao pensador italiano Exercícios de sala 1 Galileu e seus sucessores atirando objetos de alturas para o solo e fazendo rolar esferas sobre planos inclinados contrastavam nitidamente seus métodos com a anterior e habitual especulação inspirada na Metafísica Aristotélica Achavamse pois abertamente em jogo os procedimentos adequados para a elaboração do Conhecimento E era preciso não somente determinar esses procedimentos mas trazer a sua justifi cação e reeducarse na condução dos novos métodos Tanto mais que tais métodos iam chocarse em última instância com preconceitos profundamente implantados em concepções tradicionais que traziam o poderoso selo de convicções religiosas As necessidades do momento levavam assim os homens de pensamento a se deterem atentamente nos problemas do Conhecimento O que afora as estéreis manipulações verbais a que se reduzira a Lógica formal clássica praticamente já não detinha a atenção de ninguém Registros em forma de desenhos da Lua feitos por Galileu Galilei em 1610 Disponível em httpsourplntcommoondrawingsgalileogalileiaxzz64b9BuxxY Acesso em 01 de Set 2019 8amdfilosofiavol121indd 36 15122020 073046 Galileu Galilei 37 8º ano do Ensino Fundamental a Qual é a discussão central levantada pelo texto Justifi que sua resposta b Qual é a principal contribuição da luneta deixada por Galileu Galilei Justifi que sua resposta 8amdfilosofiavol121indd 37 15122020 073047 Filosofi a 38 Volume 1 9 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina N o mesmo ano da morte de Galileu nasceu na cidade de Woolsthorpe em Lincolnshire Isaac Newton que não apenas deu continuidade ao processo de revolução científi ca iniciada na transição do período medieval para o moderno mas também ressignifi cou a física clássica Autor de várias obras profundas acerca da dinâmica do universo Newton propôs uma nova compreensão a partir de suas teses a respeito de várias questões destacandose os seus postulados voltados para o estudo sobre óptica e teoria gravitacional Mas antes de adentrarmos no pilar de seu pensamento por meio de um resumo das suas teorias é mister destacar como a partir de suas análises fundamentadas na ciência física o pensador contribuiu decisivamente para o pensamento fi losófi cocientífi co ao estabelecer regras basilares para a construção da ciência Essas regras podem ser descritas de maneira objetiva da seguinte forma Regra I Não devemos admitir mais causas para as coisas naturais do que aquelas que são tanto verdadeiras como sufi cientes para explicar suas aparências Regra II Por isso tanto quanto possível aos mesmos efeitos devemos atribuir às mesmas causas Como na questão da respiração no homem e no animal no caso da queda das pedras na Europa e na América no problema da luz do nosso fogo de cozinha e do sol ou no fato do refl exo da luz sobre a terra e sobre os planetas Regra III As qualidades dos corpos que não admitem aumento nem diminuição de grau e que se descobre pertencerem a todos os corpos no interior do âmbito dos nossos experimentos devem ser consideradas qualidades universais de todos os corpos Regra IV Na fi losofi a experimental as proposições inferidas por indução geral dos fenômenos devem ser consideradas como estritamente verdadeiras ou como muito próximas da verdade apesar das hipóteses contrárias que possam ser imaginadas até quando se verifi quem outros fenômenos pelos quais se tornem mais exatas ou então sejam submetidas a exceções REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 236 Editado A partir dessas regras metodológicas estabelecidas por Newton é possível pressupor primeiramente que a natureza é simples uniforme e objetiva Logo não cabe àqueles que desejam conhecêla ir além daquilo que ela apresenta como fenômeno Uma vez compreendida sua dinamicidade e simplicidade como estrutura devem ser estabelecidas algumas qualidades fundamentais dos corpos a partir daquilo que é manifestado na experiência como a extensão a dureza o movimento e outras características básicas Disp onível em htt psbrp interes tcomp in704 250460 452359 616lp true Acess o em 02 Se t 2019 asceu na cidade de Woolsthorpe em Lincolnshire Isaac Newton que não apenas deu continuidade ao processo de revolução científi ca iniciada na fi losófi cocientífi co ao estabelecer regras basilares para a construção da ciência Essas regras podem ser descritas de maneira objetiva da seguinte Disp onível em htt psbrp i t t ue A cesso em 0 2 Set 2019 8amdfilosofiavol121indd 38 15122020 073047 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina 39 8º ano do Ensino Fundamental Ora as qualidades que são atribuídas a fi m de melhor ilustrar a dinâmica do real são fundamentadas a partir da relação estabelecida entre o sujeito e o objeto Essa compreensão alicerçada na dinâmica do universo leva Newton a afi rmar que o sistema do mundo é uma grande máquina estruturada por complexas leis passíveis de serem compreendidas por meio de uma observação sistemática dos fenômenos O mundo é um conjunto de sistemas ordenados suscetíveis à verifi cação e à comprovação Essas concepções quando analisadas sob a perspectiva mecânica do universo levam Newton entre outras teses a formular a teoria da gravidade A força de gravidade portanto existe E é a observação que a atesta Mas se quisermos nos aprofundar mais há uma pergunta que não pode ser evitada qual a razão a causa ou se preferirmos a essência da gravidade Responde Newton Na verdade ainda não consegui deduzir dos fenômenos as razões dessas propriedades da gravidade E não invento hipóteses Hypotheses non fi ngo não invento hipóteses essa é a famosa e conhecida sentença metodológica de Newton tradicionalmente citada como irrevogável chamado aos fatos e como condenação decidida e motivada das hipóteses ou conjecturas REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 239 Editado A expressão Hypotheses non fi ngo não invento hipóteses demonstra a clareza da fi losofi a newtoniana e a fi delidade à experiência por ser a fonte de fundamentação das teses Esse exame por meio da observação não cria apenas teorias mas comprovações de modo que seu pensamento não se limita apenas à especulação à criação de hipóteses mas busca comprovar aquilo que se afi rma com base na experimentação A fi m de elucidar melhor o conceito de teoria gravitacional a seguir há uma pequena explicação da principal e revolucionária tese de Newton De acordo com a lei gravitacional a força de gravitação que faz dois corpos se atraírem é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado de sua distância Em símbolos essa lei se expressa na conhecida fórmula F G m1 m2 D2 Nela F é a força de atração m1 e m2 são as duas massas D é a distância que separa as duas massas e G é uma constante que vale em todos os casos tanto na atração recíproca entre terra e lua como entre a terra e uma maçã etc Com a lei da gravidade Newton encontrou um único princípio capaz de explicar uma quantidade ilimitada de fenômenos Com efeito a força que faz cair uma pedra ou uma maçã ao chão tem a mesma natureza que a força que mantém a lua vinculada a terra e a terra vinculada ao sol E essa força é a mesma que explica o fenômeno das marés um efeito combinado da atração do sol e da lua sobre a massa da água dos mares REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 241 Dessa forma Newton além de conduzir o desenvolvimento do pensamento científi co sustentado na observação e na comprovação dos fatos também foi o responsável por estabelecer uma complexa unifi cação dos modelos astronômicos na perspectiva heliocêntrica postulada pelos trabalhos de Galileu Kepler e Copérnico A partir dessa unifi cação proposta por Newton o cientista fez surgir uma nova ferramenta matemática que ofereceu a possibilidade de um instrumento mais preciso e sistemático no processo de investigação o Cálculo Diferencial e Integral 8amdfilosofiavol121indd 39 15122020 073047 Filosofi a 40 Volume 1 Os trabalhos de Newton contribuíram decisivamente para o desenvolvimento de tecnologias científi cas e infl uenciou os primeiros projetos de foguetes que foram determinantes para a conquista da chegada do homem à Lua Newton faleceu em Londres no dia 20 de março de 1727 Seu corpo foi levado em um longo cortejo carregado de honrarias e homenagens da sociedade inglesa até a Abadia de Westminster onde até hoje encontramse seus restos mortais Evidenciando a importância desses autores da Idade Moderna procuraremos no próximo capítulo dar continuidade aos grandes pensadores da ciência e da política desse período esclarecendo a complexa contribuição do pensamento fi losófi co para a Ciência Exercícios de sala 1 A maior parte dos sábios como Isaac Newton era profundamente crente e pensava que descobrir as leis da natureza graças à física é descobrir a obra de uma providência absolutamente divina e convencerse de que a organização do mundo não é produto do acaso Muito antes das Luzes é no declínio das antigas hierarquias e no turbilhão suscitado pela chegada ao Novo Mundo que devemos buscar a fonte da revolução científi ca É nesse contexto que as novas ciências abandonam a concepção de natureza como algo maravilhoso governado por princípios ocultos e passam a imaginála como uma máquina gigantesca A tal engrenagem seguiria leis reguladoras e necessárias passíveis de serem traduzidas em linguagem matemática Isso não impediria contudo que a visão mecanicista da natureza continuasse por muito tempo como um ato de fé incapaz de explicar fenômenos tão familiares como a coesão de materiais a queda dos corpos ou a maré Adaptado de JENSEN P O saber não é neutro Le Monde Diplomatique Brasil Institudo Polis jun 2010 ano 3 n 35 p 34 A partir do excerto dos seus conhecimentos e da concepção newtoniana o que signifi ca dizer que o universo é uma máquina Justifi que sua resposta Exercício modelo vestibular 2 ENEM A fi losofi a encontrase escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos isto é o universo que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito Ele está escrito em língua matemática os caracteres são triângulos circunferências e outras fi guras geométricas sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras sem eles vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto GALILEI G O ensaiador Os pensadores São Paulo Abril Cultural 1978 No contexto da Revolução Científi ca do século XVII assumir a posição de Galileu signifi cava defender a a continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante na Idade Média b necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do exame matemático c oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da fi losofi a escolástica 8amdfilosofiavol121indd 40 15122020 073047 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina 41 8º ano do Ensino Fundamental d importância da independência da investigação científi ca pretendida pela Igreja e inadequação da matemática para elaborar uma explicação racional da natureza 3 ENEM Assentado portanto que a Escritura em muitas passagens não apenas admite mas necessita de exposições diferentes do signifi cado aparente das palavras pareceme que nas discussões naturais deveria ser deixada em último lugar GALILEI G Carta a Benedetto Castelli In Ciência e fé cartas de Galileu sobre o acordo do sistema copernicano com a Bíblia São Paulo Unesp 2009 Adaptado O texto extraído da carta escrita por Galileu 15641642 cerca de trinta anos antes de sua condenação pelo Tribunal do Santo Ofi cio discute a relação entre ciência e fé problemática cara no século XVII A declaração de Galileu defende que a a bíblia por registrar literalmente a palavra divina apresenta a verdade dos fatos naturais tornandose guia para a ciência b o signifi cado aparente daquilo que é lido acerca da natureza na bíblia constitui uma referência primeira c as diferentes exposições quanto ao signifi cado das palavras bíblicas devem evitar confrontos com os dogmas da Igreja d a bíblia deve receber uma interpretação literal porque desse modo não será desviada a verdade natural e os intérpretes precisam propor para as passagens bíblicas sentidos que ultrapassem o signifi cado imediato das palavras 4 UELAdaptada Em 2012 o Vaticano permitiu o acesso do público a vários documentos entre eles o Sumário do julgamento de Giordano Bruno e os Atos do processo de Galileu As teorias desses estudiosos juntamente com o Homem Vitruviano são exemplos de uma profunda transformação no modo de conceber e explicar o conhecimento da natureza design by Freepik Com base nos conhecimentos sobre a investigação da natureza no início da ciência moderna particularmente em Galileu atribua V verdadeiro ou F falso às afi rmativas a seguir A nova atitude de investigação rendeuse ao poder de convencimento argumentativo da Igreja a ponto de o próprio Galileu ao abjurar suas teses ter se convencido dos equívocos da sua teoria 8amdfilosofiavol121indd 41 15122020 073050 Filosofi a 42 Volume 1 A observação dos fenômenos a experimentação e a noção de regularidade matemática da natureza abalaram as concepções que fundamentavam a visão medieval de mundo O abandono da especulação levou Galileu a adotar pressupostos da fi losofi a de Aristóteles pois esse pensador possuía uma concepção de experimentação similar à sua O método de investigação da natureza restringiase àquilo que podia ser apreendido imediatamente pelos sentidos uma vez que o que está além dos sentidos é mera especulação Uma das razões mais fortes para a condenação de Galileu foi sua identifi cação da imperfeição dos corpos celestes o que contrariava os dogmas da igreja Assinale a alternativa que contém de cima para baixo a sequência correta a V V V F F b V V F V F c V F V F V d F V F F V e F F V F V 5 UFSJ Galileu e seus sucessores atirando objetos de alturas para o solo e fazendo rolar esferas sobre planos inclinados contrastavam nitidamente seus métodos com a anterior e habitual especulação inspirada na Metafísica Aristotélica Achavamse pois abertamente em jogo os procedimentos adequados para a elaboração do Conhecimento E era preciso não somente determinar esses procedimentos mas trazer a sua justifi cação e reeducarse na condução dos novos métodos Tanto mais que tais métodos iam chocarse em última instância com preconceitos profundamente implantados em concepções tradicionais que traziam o poderoso selo de convicções religiosas As necessidades do momento levavam assim os homens de pensamento a se deterem atentamente nos problemas do Conhecimento O que afora as estéreis manipulações verbais a que se reduzira a Lógica formal clássica praticamente já não detinha a atenção de ninguém Assinale a alternativa que expressa o problema central desse fragmento de texto a A tentativa dos modernos em empreender uma nova metodologia para a Ciência e para a Filosofi a b A iminente necessidade de se praticar uma Filosofi a conduzida por novos métodos e técnicas de aprimoramento da metafísica aristotélica c A grande emergência de se fazer uma total integração da Filosofi a com a Ciência através de uma tentativa de equiparação dos seus métodos d A constatação de que a Filosofi a passaria a assumir o comprometimento com as questões relativas ao problema da retórica aristotélica bem como do conhecimento teológico 6 UFF Galileu Galilei é considerado um dos grandes nomes da história da ciência graças às suas revolucionárias observações astronômicas por meio do telescópio e aos seus estudos sobre a a economia política b a composição da luz c a anatomia humana d o movimento dos corpos e a circulação do sangue 7 UEL A obra de Galileu Galilei está indissoluvelmente ligada à revolução científi ca do século XVII a qual implicou uma mutação intelectual radical cujo produto e expressão mais genuína foi o desenvolvimento da ciência moderna no pensamento ocidental Neste sentido destacamse dois traços entrelaçados que caracterizam esta revolução inauguradora da modernidade científi ca a dissolução da ideia grecomedieval do Cosmos e a geometrização do espaço e do movimento KOYRÉ A Estudos Galilaicos Lisboa Dom Quixote 1986 pp 1320 KOYRÉ A Estudos de História do Pensamento Científi co Brasília Editora UnB 1982 pp 152154 8amdfilosofiavol121indd 42 15122020 073050 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina 43 8º ano do Ensino Fundamental Com base no texto e nos conhecimentos sobre as características que marcam revolução científi ca no pensamento de Galileu Galilei assinale a alternativa correta a A dissolução do Cosmos representa a ruptura com a ideia do Universo como sistema imutável heterogêneo hierarquicamente ordenado da física aristotélica b A crença na existência do Cosmos na física aristotélica se situa na concepção de um Universo aberto indefi nido e até infi nito unifi cado e governado pelas mesmas leis universais c Contrária à concepção tradicional de ciência de orientação aristotélica a física galilaica distingue e opõe os dois mundos do Céu e da Terra e suas respectivas leis d A geometrização do espaço e do movimento na física galilaica aprimora a concepção matemática do Universo cósmico qualitativamente diferenciado e concreto da física aristotélica e A física galilaica identifi ca o movimento a partir da concepção de uma totalidade cósmica em cuja ordem cada coisa possui um lugar próprio conforme sua natureza 8 UFPA Galileu ao conceber a ciência valoriza a experiência e se preocupa com a descrição quantifi cada dos fenômenos Tal descrição tornase possível porque ele faz a distinção entre qualidades primárias e secundárias ARANHA M L MARTINS M H P Filosofando p 179 De acordo com o exposto acima é correto afi rmar que a somente as qualidades primárias devem ser levadas em consideração pelos cientistas b somente as qualidades secundárias são relevantes para o conhecimento científi co c as qualidades primárias não são suscetíveis de receberem tratamento matemático d somente as qualidades secundárias devem ser tratadas cientifi camente por serem consideradas matematizáveis e nenhuma das qualidades dos corpos pode ser tratada quantitativamente 9 UNICENTRO A fi losofi a encontrase escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos isto é o Universo Ele está escrito em língua matemática os caracteres são triângulos circunferências e outras fi guras geométricas Sem estes meios é impossível entender humanamente as palavras sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto GALILEU Apud COTRIM Fundamentos da Filosofi a história e grandes temas 16 ed São Paulo Saraiva 2006 p133 De acordo com o texto acima e com seus conhecimentos sobre a ciência da natureza em Galileu assinale a alternativa correta a De acordo com os princípios de sua ciência Galileu depositava grande crédito no método indutivo pois este possuiria melhor alcance nos resultados da investigação da natureza b O passo decisivo da física galileana concentravase na realização de experimentos para comprovar uma tese sem a necessidade de recorrer às elaborações do raciocínio matemático c Quanto ao movimento Galileu seguiu as teorias de Aristóteles que distinguia o movimento qualitativo do movimento quantitativo para considerar toda mudança apenas do ponto de vista qualitativo corpos pesados ou leves d Um dos aspectos centrais da ciência da natureza em Galileu está na realização de experimentos com o auxílio indispensável da matemática pois para ele a matemática é o meio instrumental capaz de enunciar e traduzir as regularidades observadas nos fenômenos naturais e O que dá validade científi ca aos processos intelectuais de Galileu é que os resultados de suas pesquisas jamais precisariam ser submetidos à comprovação empírica bastando apenas se localizarem no campo da abstração 8amdfilosofiavol121indd 43 15122020 073050 Filosofi a 44 Volume 1 Referências ABBAGNANO Nicola Dicionário de Filosofi a São Paulo Martins Fontes 1998 AGOSTINHO Confi ssões 2 ed Tradução de J Oliveira Santos e A Ambrósio de Pina São Paulo Abril Cultural 1980 AQUINO São Tomás de Do Reino ou do Governo dos Príncipes ao Rei de Chipre In Escritos Políticos de Santo Tomás de Aquino Tradução de Arlindo Veiga dos Santos Rev Carlos Arthur R Nascimento Rio de Janeiro Vozes 1997 AUGUSTINUS S Aurelius Confessionum Libri XIII Edição de Martin Skutella 1934 corrigida por H Juergens e W Schaub Stuttgart Teubner 1981 Bibliotheca scriptorum Graecorum et Romanorum Teubneriana COUTINHO Jorge Elementos de História da Filosofi a Medieval Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa Braga 2008 JOÃO PAULO II Fides et Ratio 88 Disponível em httpw2vaticanvacontentjohnpauliipt encyclicalsdocumentshfjpiienc14091998fi desetratiohtml Acesso 23 jul 2019 8amdfilosofiavol121indd 44 15122020 073050 Organizador CNEC Sistema de Ensino 8 VOLUME 2 Ano do Ensino Fundamental Filosofia 8º ano do Ensino Fundamental volume 2 Filosofia Todos os direitos reservados à CNEC Campanha Nacional de Escolas da Comunidade Diretor editorial Gerente editorial Supervisão Educação Básica Coordenação de área Capa Projeto gráfico Revisão ortogramatical Diagramação Ilustração Autor Erlei José de Araújo Wellington Silva Sporck Érica Regina Tomazinho Zanetti Matheus Bortoleto Rodrigues Fabiano Morais Fábio Salum Carlos R Moura Fabiano Morais Fábio Salum Equipe do Sistema de Ensino Cnec Danilo Borges Medeiros Impressão e acabamento Editora e Gráfica Cenecista Dr José Ferreira Av Frei Paulino nº 530 Bairro Abadia Uberaba MG CEP 38025180 PABX 34 21030700 0046edigrafcnecbr Sumário Unidade IV A filosofia da ciência e a validação de um conhecimento seguro Capítulo 10 A filosofia da ciência Academia dos Linceus Academia do Cimento A Sociedade Real de Londres Academia Real das Ciências Unidade V A importância do método no contexto moderno princípios do racionalismo e do empirismo Capítulo 11 A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista Capítulo 12 O racionalismo de René Descartes Capítulo 13 O racionalismo teocêntrico de Nicolas Malembranche Capítulo 14 As mônadas em Leibniz Capítulo 15 O monismo racionalista de Baruch Spinoza 7 7 10 11 18 26 30 34 Filosofia Filosofia Justin Xiao Breedlove Community High School and HyTech Clinical Services and Wellness Center Longmont CO Reply ASAP Mailed 02102024 Denied Reason Clinical Information Additional clinical info approved extension until 05202024 Please provide clinical information related to the need for this service This information must come from the treating provider and cannot be filled out by the healthcare facilitycoding center Failure to provide the additional clinical information will result in a denied claim Additional clinical information includes but is not limited to Documentation showing specific clinical information related to the medical necessity for the required service Documents may include but not be limited to Office notes treatment notes chart evaluations history and physical discharge summary specialist consultation notes diagnostic test results lab results admission notes diagnostic imaging reports or any other documentation that supports the medical necessity for the requested service To submit the clinical information you may use the fax electronic submission link if applicable email or review the Health Portal for the ability to upload additional documents for review If there are any clinical questions please call the telephone number above Please include the Request Number in top right corner on all correspondence MUE limits and the Adjusted Allowed Amount are subject to change based on additional documentation received Notifications are usually made to the provider first Payments could be adjusted and may result in recoupment If you have any questions about this notice please contact Health Care Service Corporation directly or the Health Plan listed above This is a message from Health Care Service Corporation a Mutual Legal Reserve Company an Independent Licensee of the Blue Cross Blue Shield Association This is an administrative communication Do not respond to this fax If you do not wish to receive future fax messages please follow instructions on the enclosed fax cover page 8400238116313403441 Jan 15 2024 1108 AM PAGE 1 of 1 7 8º ano do Ensino Fundamental Filosofia Unidade IV A filosofia da ciência e a validação de um conhecimento seguro 10 A filosofia da ciência R etomando nossas discussões acerca do florescimento do pensamento moderno com a introdução de uma nova forma de pensar a partir do método proposto pela ciência superando o dogmatismo religioso da Idade Média neste primeiro momento daremos continuidade à apresentação dos elementos essenciais dos pensadores modernos que contribuirão significativamente para o desenvolvimento da ciência Nesse contexto de fortalecimento do pensamento filosófico com base na metodologia científica é válido destacar o surgimento das Academias Científicas na França na Itália e em Londres como ponto fundamental para o desenvolvimento de toda uma tradição científica antes mesmo de adentrarmos nas particularidades dos filósofos de tais períodos Em todo o transcorrer deste volume perceberemos uma notável mudança na forma como o pensamento moderno se desenvolve em contraposição ao pensamento medieval Dessa forma na Idade Média se a filosofia ficou fechada em seus mosteiros e círculos de debates limitados aos clérigos na Idade Moderna o pensamento se constrói no debate acadêmico promovido por grandes cientistas que são herdeiros de uma tradição que se refaz no novo modelo de escolas instaurado na Europa fazendo surgir as academias e as primeiras sociedades científicas A fim de contextualizarmos e destacarmos a importância de tais academias apontaremos de forma objetiva as principais que se fizeram na Europa 101 Academia dos Linceus A ciência é um fato social em sua gênese em suas aplicações e sobretudo no método pois o conhecimento científico para ser tal deve ser controlável publicamente controlável em teoria controlável por todos Ora justamente com a finalidade de satisfazer esta característica essencial da ciência moderna o jovem príncipe Federico Cesi 15851630 fundou em 1603 em Roma a Academia dos Linceus provida de biblioteca de laboratório de história natural e com jardim botânico anexo Galileu foi membro da Academia dos Linceus Tal instituição encerrou sua atividade em 1651 e tornou a funcionar em 1847 REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 253 Fig101 Academia dos Linceus Filosofia 8 Volume 2 102 Academia do Cimento Em 1657 o príncipe Leopoldo de Toscana quis a instituição da Academia do Cimento Foram acadêmicos entre outros Vincenzo Viviani Afonso Borelli e Francisco Redi Entre os sócios estrangeiros correspondentes devemos recordar Stenon As pesquisas dos acadêmicos do Cimento contemplaram todo o leque das ciências naturais fisiologia farmacologia mecânica ótica etc O lema da Academia foi provando e reprovando Devemos salientar a grande atenção que os acadêmicos deram à construção e ao uso de instrumentos sempre mais exatos termômetros microscópios pêndulos etc REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 253 Fig102 Brasão com o lema da Academia do Cimento provando e reprovando 103 A Sociedade Real de Londres A Sociedade real de Londres para a promoção dos conhecimentos naturais Royal Society for the Promotion of Natural Knowledge teve seu estatuto em 1662 por Carlos II Tal estatuto estabelece que a finalidade da Sociedade é o de redigir com linguagem clara próxima da dos artesãos dos camponeses dos mercadores mais que da dos filósofos Nullius in verba foi e é o lema da Royal Society Contra os fatos e os experimentos disse Newton que foi o primeiro membro e depois presidente da Academia não se pode discutir De 1662 a 1677 ano em que morreu o secretário da Sociedade foi Henry Oldenburg que em 1665 iniciou a publicação das Atas da Sociedade as Philosophical Transactions que saem ainda hoje Na intenção de Oldenburg as Transactions eram um convite aos estudiosos a pesquisar experimentar e descobrir coisas novas a comunicarse mutuamente os próprios conhecimentos Isso obviamente com o fito de contribuir com o crescimento do conhecimento humano REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 253 Fig103 Foto da Sociedade Real de Londres Fig104 Brasão da Sociedade Real de Londres não acredite em ninguém ou não tome como verdade a palavra de alguém A filosofia da ciência 9 8º ano do Ensino Fundamental 104 Academia Real das Ciências Em 1666 sob o reinado do Luís XIV é instituída e por interesse do ministro Colbert a Academia real das ciências Académie royale des sciences E no Memorandum de Christian Huygens ao ministro Colbert afirmase que a ocupação fundamental e mais útil dos membros da Academia é a de trabalhar para a história natural conforme o plano traçado por Bacon REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 253 Fig105 Academia Real das Ciências na França Anotações Filosofia 10 Volume 2 Unidade V A importância do método no contexto moderno princípios do racionalismo e do empirismo 11 A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista Nascido em Londres em 1561 filho de Sir Nicholas Bacon lorde tabelião da Rainha Elizabeth Francis Bacon gozou do privilégio de ser introduzido na corte desde pequeno Em 1584 foi eleito para a Câmara dos Comuns onde permaneceu cerca de vinte anos Sua carreira política aconteceu de forma rápida e brilhante a partir de 1603 com a ascensão ao trono de Jaime I culminando na nomeação como lorde chanceler Com Bacon iniciase uma nova atmosfera intelectual na história do Ocidente Ele indagou e escreveu sobre a função da ciência na vida e na história humana formulou uma ética da pesquisa científica que confrontava de modo claro o pensamento mágico que ainda em seu tempo era largamente dominante tentou teorizar a nova técnica de pesquisa da realidade natural e lançou as bases da moderna enciclopédia das ciências que se tornou um dos empreendimentos mais importantes da filosofia europeia REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 263 Fig111 Sem dúvidas o legado do pensamento baconiano no período moderno foi de extrema importância dado que o pensador inglês propõe uma filosofia voltada para a compreensão dos fatos a partir da experiência Dessa filosofia surgiu o termo empirismo que é referente à proposta de conhecimento enquanto resultado da experiência opondose ao racionalismo e à metafísica EMPIRISMO Corrente filosófica para a qual a experiência é critério ou norma da verdade considerandose a palavra experiência no significado ABBAGNANO Nicola Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 1998 p 326 Autor de várias obras Bacon revolucionou a ciência moderna ao estabelecer novos caminhos para o método em sua principal obra Novum Organum De forma geral nessa obra enquanto síntese central de sua filosofia Bacon aterseá a duas coisas centrais a As antecipações da natureza são noções construídas e obtidas de modo prematuro e temerário são noções que alcançam fácil concordância porque extraídas de poucos dados sobretudo daqueles que se repetem habitualmente logo ocupam o intelecto e preenchem a fantasia em suma são noções produzidas com método equivocado A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista 11 8º ano do Ensino Fundamental b As interpretações da natureza ao contrário são resultado daquele outro modo de indagar que se desenvolve a partir das próprias coisas segundo os modos devidos recolhidas de dados diversos e muito distantes entre si elas não podem logo atingir o intelecto por isso parecem difíceis e estranhas à opinião comum quase semelhantes aos mistérios da fé Entretanto são as interpretações da natureza e não suas antecipações que constituem o verdadeiro saber o saber obtido com o verdadeiro método REALE 2004 p 268 De forma clara o que representam esses dois pontos centrais da filosofia de Bacon Tanto no primeiro aspecto quanto no segundo Bacon evidencia a necessidade de se construir claramente o conhecimento a partir da experiência real com os fenômenos fatos ou eventos ou seja um conhecimento seguro que somente pode ser fundamentado a partir da relação imediata que o sujeito constitui com os fatos logo toda e qualquer antecipação ou interpretação fora da experiência constitui um erro em que o filósofo inglês chama de conhecer Veja um exemplo ontem ao acordar por volta das 6h da manhã o jornaleiro deixou o jornal na porta de sua casa Hoje no mesmo horário aconteceu o mesmo fato Seria possível antecipar com toda a certeza que amanhã o jornaleiro deixará o jornal em sua casa nesse mesmo horário A resposta claramente é negativa pois não há qualquer garantia que tal evento ocorrerá O que existe é uma antecipação equivocada de um evento que ainda não aconteceu e que não há como prever que se repetirá É justamente para esse assunto que Bacon chama a atenção somente é possível ter completa segurança sobre as experiências que constituem a base de nosso conhecer à medida que realizamos tal experiência Qualquer antecipação está no campo da possibilidade não havendo nenhuma garantia segura para sua realização Por isso pode ser classificada como falsa noção ou pseudoconhecimento Constando a ideia que nossa mente está povoada de conhecimentos adquiridos ao longo da vida mas que são fundamentados sem o rigor do crivo da experiência como fonte segura para a validação da verdade Bacon proporá um método que em um primeiro momento buscará afirmar a necessidade de limparmos nossa mente dessas falsas noções sobre os fatos chamados também de ídolos Aqui está o ponto central da filosofia baconiana a Teoria dos Ídolos Para o filósofo inglês os ídolos são falsas noções que ocupam a mente humana impedindo o homem de construir um conhecimento verdadeiro representando assim um verdadeiro obstáculo para o processo de conhecer inclusive da própria ciência de se desenvolver A palavra ídolos foi utilizada por Bacon a partir da noção de um falso deus uma ideia de idolatria cuja referência o filósofo buscará na literatura bíblica conforme se constata na passagem bíblica do livro de Êxodo 20 34 Não terás outros deuses além de mim Não farás para ti nenhum ídolo nenhuma imagem de qualquer coisa no céu na terra ou nas águas debaixo da terra No total os ídolos são de quatro tipos da tribo da caverna do foro e do teatro A fim de conhecermos com detalhes cada uma das espécies de ídolos convido você a visitar um fragmento da principal obra de Bacon denominada Novum Organum Em seguida realizaremos uma leitura significativa do texto filosófico a partir de uma análise sequencial da estrutura literária Fig112 Capa da primeira edição da obra de Francis Bacon Novum Organum 1620 Filosofia 12 Volume 2 Compreendendo os sentidos do texto Analisando a Teoria dos Ídolos a partir da obra de Bacon São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana Para melhor apresentálos lhes assinamos nomes a saber Ídolos da Tribo Ídolos da Caverna Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro A formação de noções e axiomas pela verdadeira indução é sem dúvida o remédio apropriado para afastar e repelir os ídolos Será contudo de grande préstimo indicar no que consistem posto que a doutrina dos ídolos tem a ver com a interpretação da natureza o mesmo que a doutrina dos elencos sofísticos com a dialética vulgar Comentário Nesse fragmento Bacon faz uma apresentação prévia sobre os ídolos e afirma que somente pelo processo de indução podemos impedir que tais falsas noções povoem nossa mente afastandonos da verdade A indução consiste em uma forma de construir o raciocínio a partir da observação de casos particulares para chegar a uma conclusão final por exemplo Carlos fez uma experiência no laboratório e concluiu que o ouro um exemplo de metal conduz eletricidade Posteriormente utilizou o cobre outro metal e constatou que ele também conduz eletricidade Por fim utilizou o ferro elemento da família dos metais e observou que ele é um condutor de eletricidade Logo após essa experiência Carlos pôde afirmar que todo metal é condutor de eletricidade Os ídolos da tribo estão fundados na própria natureza humana na própria tribo ou espécie humana É falsa a asserção de que os sentidos do homem são a medida das coisas Muito ao contrário todas as percepções tanto dos sentidos como da mente guardam analogia com a natureza humana e não com o universo O intelecto humano é semelhante a um espelho que reflete desigualmente os raios das coisas e dessa forma as distorce e corrompe Comentário Os ídolos da tribo referência aos agrupamentos construídos pelos homens em suas primeiras formas de organização são chamados assim porque fazem referência a uma tendência que temos naturalmente em distorcer os fatos da experiência como forma de conhecer aquilo que nos é conveniente Por esse motivo é que se chama tribo pois se refere a essa tendência natural da espécie humana de distorcer o que é apreendido por meio da experiência levandonos a um conhecimento limitado Como exemplo de tais ídolos podemos citar as crenças supersticiosas que desenvolvemos ao longo da vida Os ídolos da caverna são os dos homens enquanto indivíduos Pois cada um além das aberrações próprias da natureza humana em geral tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza seja devido à natureza própria e singular de cada um seja devido à educação ou conversação com os outros seja pela leitura dos livros ou pela autoridade daqueles que se respeitam e admiram seja pela diferença de impressões segundo ocorram em ânimo preocupado e predisposto ou em ânimo equânime e tranquilo de tal forma que o espírito humano tal como se acha disposto em cada um é coisa vária sujeita a múltiplas perturbações e até certo ponto sujeita ao acaso Por isso bem proclamou Heráclito que os homens buscam em seus pequenos mundos e não no grande ou universal A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista 13 8º ano do Ensino Fundamental Comentário Esse ídolo faz referência ao Mito da Caverna de Platão Diferentemente do ídolo da tribo que consiste em um erro comum da espécie humana o da caverna aborda um problema particular que cada indivíduo possui ter a tendência de conhecer as coisas a partir de cada particularidade É como se cada homem possuísse uma caverna particular projetando o conhecimento que lhe convém Perceba aqui um problema complexo constatado por Bacon se já somos naturalmente predispostos a distorcer a realidade ídolo da tribo temos o agravante de distorcêla ainda mais de acordo com as nossas visões particulares tornandonos distantes da verdade no sentido empírico Há também os ídolos provenientes de certa forma do intercurso e da associação recíproca dos indivíduos do gênero humano entre si a que chamamos de ídolos do foro devido ao comércio e consórcio entre os homens Com efeito os homens se associam graças ao discurso e as palavras são cunhadas pelo vulgo E as palavras impostas de maneira imprópria e inepta bloqueiam espantosamente o intelecto Nem as definições nem as explicações com que os homens doutos se munem e se defendem em certos domínios restituem as coisas ao seu lugar Ao contrário as palavras forçam o intelecto e o perturbam por completo E os homens são assim arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias Comentário Esses ídolos são gerados pelos erros de comunicação existentes entre os homens Em um processo de comunicação uma mesma palavra pode ser utilizada de diversas maneiras o que gera inúmeras interpretações sobre os fatos mas que na maioria das vezes devido a tais equívocos de interpretação não permite o real conhecimento do fato O ídolo foro ainda pode ser entendido como a capacidade limitada que as palavras têm para expressar as experiências não sendo capazes de abarcar a totalidade real do fato experienciado Há por fim ídolos que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas e também pelas regras viciosas da demonstração São os ídolos do teatro por parecer que as filosofias adotadas ou inventadas são outras tantas fábulas produzidas e representadas que figuram mundos fictícios e teatrais Não nos referimos apenas às que ora existem ou às filosofias e seitas dos antigos Inúmeras fábulas do mesmo teor se podem reunir e compor por que as causas dos erros mais diversos são quase sempre as mesmas Ademais não pensamos apenas nos sistemas filosóficos na universalidade mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em vigor mercê da tradição da credulidade e da negligência Contudo falaremos de forma mais ampla e precisa de cada gênero de ídolo para que o intelecto humano esteja acautelado BACON Francis Versão eletrônica do livro Novum Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza Tradução e notas ANDRADE José Aluysio Reis de Créditos da digitalização Membros do grupo de discussão Acrópolis Filosofia Disponível em https edisciplinasuspbrpluginfi lephp4344026modfoldercontent0francisbaconnovumorganumpdfforcedownload1 Acesso em 2 dez 2019 Comentário Por fim temos os ídolos do teatro que representam uma tradição equívoca de conhecimento que se perdurou ao longo da filosofia como sendo puras invenções que beiram à fantasia não demonstrando a realidade de fato A expressão teatro referese à ilusão da arte ao retratar a existência de forma distorcida De fato Bacon chega ao extremo de suas críticas filosóficas ao assimilar as teorias de Aristóteles e Platão com uma representação equivocada e distorcida do real Nessa crítica Bacon vai expor os prejuízos da tradição filosófica para a ciência ao demonstrar a grande influência da tradição platônica e aristotélica para o conhecimento ocidental Filosofia 14 Volume 2 Dessa forma Bacon afirmará que descongestionada a mente dos ídolos isto é libertado o espírito das apressadas antecipações da natureza o homem pode então encaminharse para o estudo da natureza Portanto a obra e o fim da força humana está em gerar e introduzir em um dado corpo uma nova natureza ou mais naturezas diversas A obra e o fim da ciência humana estão na descoberta da forma de uma natureza dada isto é de sua verdadeira diferença natureza naturante ou fonte de emanação REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 272 Podemos concluir que o método de Bacon apoiado substancialmente na necessidade de revisão e purificação da mente dos ídolos revolucionará o pensamento moderno e para muitos inaugurará a ciência como conhecemos Tal método proposto ampliará a forma como a indução deve ser aplicada pois antes de Bacon induzir significava apenas organizar os fatos partindo do particular e construindo as teorias gerais Agora a partir da filosofia baconiana não basta apenas organizarmos os fatos da experiência conhecidos de forma indutiva é necessário analisar sistematicamente todo o processo a fim de eliminar as falsas noções que nos impedem de alcançar a verdade dos fatos Exercícios de sala 1 Neste momento você terá uma missão em grupo explicar a partir de exemplos a Teoria dos Ídolos de Francis Bacon Lembrese de que são 4 ídolos Ídolos da Tribo Ídolos da Caverna Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro Após a discussão em grupo registre no espaço a seguir os exemplos criados a partir da construção de um texto ressaltando o empirismo baconiano Depois compartilhe com todos da sala em forma de debate Use a criatividade e bom trabalho A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista 15 8º ano do Ensino Fundamental Exercícios resolvidos 2 ENEM Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza No entanto essa expectativa convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo não surgiu de um prazer de poder de um mero imperialismo humano mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida física e culturalmente CUPANI A A tecnologia como problema filosófico três enfoques Scientiae Studia São Paulo v 2 n 4 2004 Adaptado Autores da filosofia moderna notadamente Descartes e Bacon e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza Nesse contexto a investigação científica consiste em a expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes b oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia c ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso d explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos e explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos Resposta A resposta correta é a letra c Considerando o contexto do pensamento moderno e a tradição de valorização de uma nova forma de pensar a partir do método de Francis Bacon fica evidente o enaltecimento da razão como emancipação do homem em contraposição ao pensamento dogmático da religião que perdurou durante a predominância da tradição religiosa cristã Assim a ciência nasce como forma de legitimar o domínio do homem sobre a natureza não mais como um objeto intocado do sagrado mas manipulável e conhecível pelo homem inaugurando uma nova mentalidade progressista a partir do avanço dos métodos científicos Exercícios modelo vestibular 3 PUCPR São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana Para melhor apresentálos assinalamos os nomes Ídolos da Tribo Ídolos da Caverna Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro BACON Novum Organum São Paulo Nova Cultural 1999 p 33 É correto afirmar que para Bacon a Os Ídolos da Tribo e da Caverna são os conhecimentos primitivos que herdamos dos nossos antepassados mais notáveis b Os Ídolos do Teatro são todos os grandes atores que nos influenciam na vida cotidiana c Os Ídolos do Foro são as ideias formadas em nós por meio dos nossos sentidos d Através dos Ídolos mesmo considerando que temos a mente bloqueada podemos chegar à verdade e Os Ídolos são falsas noções e retratam os principais motivos pelos quais erramos quando buscamos conhecer 4 UFSJ Sobre os ídolos preconizados por Francis Bacon é correto afirmar que a A consequência imediata da ação dos ídolos é a inscrição do Homem num universo de massacre e sofrimento racionalindutivo onde o conhecimento científico se distancia da filosofia se deteriora e se amesquinha b Toda idolatria é forjada no hábito e na subjetividade humanos Filosofia 16 Volume 2 c Os ídolos invadem a mente humana e para derrogálos é necessário um esforço racionaldedutivo de análise como bem advertiu Aristóteles d Os ídolos da caverna são os homens enquanto indivíduos pois cada um tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza 5 UEL Segundo Francis Bacon são de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana Para melhor apresentálos lhes assinamos nomes a saber Ídolos da Tribo Ídolos da Caverna Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro BACON F Novum Organum Tradução de José Aluysio Reis de Andrade São Paulo Nova Cultural 1988 p 21 Com base nos conhecimentos sobre Bacon os Ídolos da Tribo são a Os ídolos dos homens enquanto indivíduos b Aqueles provenientes do intercurso e da associação recíproca dos indivíduos c Aqueles que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas d Aqueles que chegam ao espírito humano por meio de regras viciosas de demonstração e Aqueles fundados na própria natureza humana 6 PUCPR Ciência e poder do homem coincidem uma vez que sendo a causa ignorada frustra se o efeito Pois a natureza não se vence se não quando se lhe obedece E o que à contemplação apresentase como causa é regra na prática BACON Novum Organum São Paulo Nova Cultural 1999 p 40 Com relação ao texto acima assinale a alternativa correta a Bacon estabelece que a melhor maneira de explicar os fenômenos naturais é recorrer aos princípios inatos da razão b Através do conhecimento científico o homem aprende a aceitar o domínio dos princípios metafísicos de causalidade sobre a natureza c O conhecimento da natureza depende do poder do homem Assim um rei conhece mais sobre a natureza do que um pobre estudante d Através da contemplação observação da natureza o homem aprende a conhecêla e então reúne condições para dominar a natureza e Devemos ser práticos e obedecer à natureza pois o conhecimento das relações de causa e efeito é impossível e sempre frustrante 7 UEL Leia o texto a seguir O pensamento moderno caracterizase pelo crescente abandono da ciência aristotélica Um dos pensadores modernos desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristóteles considerando que esta não permitia explicar o progresso do conhecimento científico foi Francis Bacon No livro Novum Organum Bacon formulou o método indutivo como alternativa ao método lógicodedutivo aristotélico Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Bacon é correto afirmar que o método indutivo consiste a na derivação de consequências lógicas com base no corpo de conhecimento de um dado período histórico b no estabelecimento de leis universais e necessárias com base nas formas válidas do silogismo tal como preservado pelos medievais c na postulação de leis universais com base em casos observados na experiência os quais apresentam regularidade A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista 17 8º ano do Ensino Fundamental d na inferência de leis naturais baseadas no testemunho de autoridades científicas aceitas universalmente e na observação de casos particulares revelados pela experiência os quais impedem a necessidade e a universalidade no estabelecimento das leis naturais 8 UEL é necessário ainda introduzirse um método completamente novo uma ordem diferente e um novo processo para continuar e promover a experiência Pois a experiência vaga deixada a si mesma é um mero tateio e prestase mais a confundir os homens que a informálos Mas quando a experiência proceder de acordo com leis seguras e de forma gradual e constante poderseá esperar algo de melhor da ciência A infeliz situação em que se encontra a ciência humana transparece até nas manifestações do vulgo Afirmase corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas causas E não indevidamente estabelecem se quatro coisas a matéria a forma a causa eficiente a causa final Destas a causa final longe está de fazer avançar as ciências pois na verdade as corrompe mas pode ser de interesse para as ações humanas BACON F Novo Organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza São Paulo Abril Cultural 1973 p 72 99100 Com base no texto e no pensamento de Francis Bacon acerca da verdadeira indução experimental como interpretação da natureza é correto afirmar a Na busca do conhecimento não se podem encontrar verdades indubitáveis sem submeter as hipóteses ao crivo da experimentação e da observação b A formulação do novo método científico exige submeter a experiência e a razão ao princípio de autoridade para a conquista do conhecimento c O desacordo entre a experiência e a razão prevalecendo esta sobre aquela constitui o fundamento para o novo método científico d Bacon admite o finalismo no processo natural por considerar necessário ao método perguntar para que as coisas são e como são e O estabelecimento de um método experimental baseado na observação e na medida aprimora o método escolástico Anotações Filosofia 18 Volume 2 12 O racionalismo de René Descartes R ené Descartes latinizado Cartesius nasceu em La Haye em 1596 Enviado ao colégio jesuíta de La Fléche em Anjou licenciouse depois em direito pela Universidade de Poitiers De 1618 a 1620 arrolouse em vários exércitos que participavam da Guerra dos Trinta Anos Em novembro de 1619 houve uma revelação intelectual a respeito dos fundamentos de nova ciência o papel da intuição no processo de conhecer sobretudo nas incompletas Regras para a guia do intelecto 16271628 De 1629 a 1649 viveu na Holanda onde publicou suas obras mais importantes o da vida Discurso sobre o método 1637 as Meditações metafísicas com as Respostas às objeções 1641 os Princípios de filosofia 1644 e As paixões da alma 1649 Em 1649 aceitou o convite da rainha Cristina da Suécia e deixou definitivamente a Holanda mas em fevereiro de 1650 foi acometido de uma pneumonia que em uma semana o levou à morte Seus despojos transladados para a França em 1667 repousam na igreja de SaintGermaindesPrés em Paris REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 283 Adaptado Sem dúvidas o pensamento cartesiano marcou uma verdadeira revolução na filosofia moderna Descartes é considerado por muitos até mesmo o fundador da ciência com o desenvolvimento do método Entretanto antes de adentrarmos especificadamente no método como o ápice do pensamento cartesiano tornase fundamental entendermos qual o ponto de partida crucial da filosofia desse filósofo Em um tempo em que haviam se afirmado e se desenvolvido com vigor novas perspectivas científicas e se abriam novos horizontes filosóficos Descartes percebe a falta de um método de novo saber ordenador e que seja também instrumento fundacional verdadeiramente eficaz O novo método deve se apresentar como o início de novo saber e do fundamento deste saber depende a amplitude e a solidez do edifício que é preciso construir em contraposição ao edifício aristotélico sobre o qual toda a tradição se apoia REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 286 Adaptado Descartes inicia sua filosofia a partir da dúvida Para o filósofo francês somente a partir da dúvida não apenas como um exercício simples de questionar mas enquanto atividade do próprio pensar que podemos buscar constituir um conhecimento seguro Assim a dúvida cartesiana é um processo fundamental para a constituição do conhecimento bem como para a constatação do exercício da razão como condição essencial para o conhecer Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez DESCARTES R Meditações Metafísicas São Paulo Abril Cultural 1979 p86 Fig121 O racionalismo de René Descartes 19 8º ano do Ensino Fundamental Outro elemento fundamental do exercício racional da dúvida em Descartes estabelecese no fato de ela ser de natureza hiperbólica Como assim a dúvida cartesiana possui como característica uma hipérbole A expressão hipérbole pode ter dois significados o matemático e o linguístico Na Matemática é uma curva em que é constante a diferença das distâncias de cada um dos seus pontos a dois pontos fixos ou focos Em termos linguísticos a expressão faz referência a algo exagerado É nesse último sentido do termo que a dúvida cartesiana é hiperbólica é uma dúvida exagerada pois abarca vários aspectos do sistema proposto por Descartes seja pelo ponto de partida de constituição de sua filosofia seja pela própria estrutura das regras metodológicas desenvolvidas pelo filósofo como veremos a adiante Assim é possível afirmar que o valor dado por Descartes à dúvida como exercício da razão tem como objetivo eliminar de forma gradativa toda e qualquer fonte de erro no processo de construção do conhecimento buscando com isso estabelecer um fundamento claro e distinto Nesse sentido a dúvida sistemática é aplicada a partir de um sistema metodológico que segundo Descartes possui um valor tão estimado para o conhecer que o filósofo francês estabelece uma divisão na natureza humana como fonte de conhecimento o conhecimento sensível advindo das sensações res extensa substância sensível e o conhecimento racional advindo da razão res cogitans substância pensante Tudo o que recebi até presentemente como o mais verdadeiro e seguro aprendio dos sentidos ou pelos sentidos ora experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos e é da prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez DESCARTES R Meditações Metafísicas São Paulo Nova Cultural 1996 p 18 Essa divisão proposta por Descartes também denominada dualismo apresenta a mente e o corpo como substâncias que possuem natureza realidade e funcionalidade diferentes cabendo confiar portanto apenas na razão como fonte válida para o conhecimento O fundador do dualismo seria Descartes que reconheceu a existência de duas espécies diferentes de substâncias a corpórea e a espiritual Essa palavra todavia muitas vezes foi estendida para indicar outras oposições reais que os filósofos descobriram no universo p ex a oposição aristotélica entre matéria e forma a medieval entre existência e essência e uma oposição que ocorre em todos os tempos entre aparência e realidade ABBAGNANO Nicola Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 1998 p 294 No entanto cabe salientar que a dúvida como exercício da razão em Descartes não se limita apenas ao duvidar pelo duvidar até porque se há o exercício da dúvida consequentemente há o exercício do pensar e se eu Penso logo existo Cogito ergo sun O filósofo francês revolucionará o pensamento moderno ao propor regras de aplicação dessa dúvida com o objetivo de chegar a um conhecimento seguro Eis aqui o ponto nerval da filosofia cartesiana o método Assim meu propósito não é ensinar aqui o método que cada um deve seguir para bem conduzir sua razão mas somente mostrar de que modo procurei conduzir a minha Aqueles que se metem a dar preceitos devem acharse mais hábeis do que aqueles a quem os dão se falham na menor coisa são por isso censuráveis DESCARTES René Discurso sobre o método Tradução de Maria Ermantina Galvão Martins Fontes São Paulo 2001 p 07 Filosofia 20 Volume 2 No esquema exposto na imagem a seguir podemos ver de forma clara e dinâmica cada uma das etapas do método cartesiano e sua ordem de aplicação Basicamente o método cartesiano vai se estruturar em 4 regras básicas evidência análise síntese e enumeração Cada uma dessas regras possui uma característica particular mas no entanto estão todas conjuntamente relacionadas para a aplicação do método uma vez que a ausência de qualquer uma das partes compromete todo o sistema pensado por Descartes São regras simples que destacam a necessidade de se ter plena consciência dos momentos em que se articula qualquer pesquisa rigorosa Elas constituem o modelo do saber precisamente porque a clareza e a distinção garantem contra possíveis equívocos ou generalizações apressadas Com tal objetivo diante de problemas complexos como de fenômenos confusos É preciso chegar aos elementos simples que não sejam mais decomponíveis para que possam ser totalmente invadidos pela luz da razão REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 290 Sentimentos 1ª Regra Evidência Só aceitar o que não pode ser colocado em dúvida Divisão Dividir a dificuldade no maior número de partes possíveis e estudar cada uma individualmente Parte I 1º 1 É evidente Foi dividido Partimos do mais simples ao complexo A revisão não deixou nada passar 2 3 4 2º 3º Parte II Parte III Ordem Partir dos fatos mais simples para os mais complexos Princípio da dedução do geral para o particular como reto pensar Enumeração Revisão de todo o processo uma visão do todo que garante que nada tenha sido deixado de lado 2ª Regra 3ª Regra 4ª Regra Fenômenos Naturais Pensamento Fig122 A primeira regra a evidência consiste basicamente em não aceitar como verdade qualquer informação que não seja evidentemente verdadeira A segunda regra da divisão também conhecida como análise ou decomposição consiste em dividir o problema no maior número possível de partes a fim de ser possível ter uma compreensão mais objetiva e pontual A regra da síntese também conhecida como ordem ou composição demonstrará a necessidade de ordenar organizar o pensamento iniciandose dos assuntos mais fáceis aos mais difíceis E por fim a enumeração também conhecida como verificação ou revisão buscará garantir que nada tenha sido omitido ou deixado à parte no decorrer de todo o processo Com o intuito de encerrarmos nossa discussão sobre os fundamentos essenciais da teoria do conhecimento em Descartes e discutirmos sua teoria ética tornase necessário compreendermos as suas diferentes noções de ideias Para Descartes existem basicamente três tipos de ideias adventícias fictícias e inatas Essas ideias não apenas se diferenciam quanto à natureza do conhecimento mas possuem uma hierarquia entre si No nível mais baixo do processo de conhecer estão as ideias adventícias que nada mais são que noções que surgem por meio dos sentidos Tais ideias não possuem na perspectiva racionalista cartesiana uma segurança evidente para se afirmar um conhecimento claro e distinto No segundo plano da hierarquia encontramse as ideias fictícias que possuem O racionalismo de René Descartes 21 8º ano do Ensino Fundamental sua origem na nossa imaginação estas são resultados da combinação de imagens fornecidas pelos nossos sentidos e guardadas na memória que se combinam com outras imagens permitindo criar imaginar ideias ainda não vistas pelo homem Por fim no maior grau hierárquico temos as ideias inatas De forma mais ampla as ideias inatas correspondem às ideias que são naturais no homem já estão presentes nele desde o seu nascimento Em Descartes essas ideias são naturais no homem e dadas por Deus daí porque o filósofo afirma que estas independem da experiência e apresentam se com maior grau de objetividade clareza e distinção em relação às outras ideias A primeira e a principal das ideias inatas é a de que há um Deus de quem todas as coisas dependem Assim além de um sistema de conhecimento apoiado na valorização da razão Descartes também reflete sobre o valor do pensar para a condução das escolhas do homem em relação à sua vida moral procurando demonstrar que nossa razão deve dominar nossas vontades e nossas paixões Para favorecer o domínio da razão sobre a tirania das paixões no Discurso sobre o método Descartes propõe como moral provisória quatro normas que depois se revelaram válidas e para ele definitivas 1 obedecer às leis aos costumes e à religião do próprio país acolhendo as opiniões comuns mais moderadas 2 perseverar nas ações com a maior firmeza e resolução possível 3 vencer de preferência a si mesmos do que o destino e mudar preferentemente os próprios desejos do que a ordem do mundo 4 cultivar a razão e o conhecimento da verdade Do conjunto tornase evidente a direção da ética cartesiana isto é a submissão lenta e fatigante da vontade à razão como forçaguia de todo o homem a liberdade da vontade se realiza apenas pela submissão à lógica da ordem que o intelecto é chamado a descobrir fora e dentro de si REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 303 Adaptado Assim a ética e a moral cartesiana mostramse totalmente coerentes com a teoria do filósofo acerca do conhecimento reafirmando a todo momento o valor da razão na condução das nossas ações no mundo Para ele a razão deve sobreporse à vontade já que esta está limitada ao campo dos desejos sensíveis Aqui novamente podemos perceber que o dualismo se faz presente quando Descartes propõe pensar a forma como o homem deve agir no mundo Podemos concluir que o racionalismo cartesiano inaugura uma nova forma de pensar o mundo e o próprio homem por meio da razão O racionalismo cartesiano não apenas renova a tradição racionalista desde os Pré Socráticos mas inaugura uma nova forma de pensar com a construção do método como forma de conduzir nossos pensamentos de forma segura Exercícios resolvidos 1 ENEM Nunca nos tornaremos matemáticos por exemplo embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas não nos tornaríamos filósofos por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto Assim de fato pareceríamos ter aprendido não ciências mas histórias DESCARTES R Regras para a orientação do espírito São Paulo Martins Fontes 1999 Filosofia 22 Volume 2 Em sua busca pelo saber verdadeiro o autor considera o conhecimento de modo crítico como resultado da a investigação de natureza empírica b retomada da tradição intelectual c imposição de valores ortodoxos d autonomia do sujeito pensante e liberdade do agente moral Resposta A alternativa correta é a d porque o racionalismo cartesiano fundamentado na dúvida hiperbólica buscava chegar a um conhecimento inabalável Sua teoria do Cogito demonstra a autonomia do homem como ser racional capaz de conduzir seu pensar de forma reta e sistemática destacando a autonomia do eu pensante Exercícios de sala 2 Mas eu o que sou eu agora que suponho que há alguém que é extremamente poderoso e se ouso dizêlo malicioso e ardiloso que emprega todas as suas forças e toda a sua indústria em enganarme Posso estar certo de possuir a menor de todas as coisas que atribuí há pouco à natureza corpórea Detenhome em pensar nisto Com atenção passo e repasso todas essas coisas em meu espírito e não encontro nenhuma que possa dizer que exista em mim Não é necessário que me demore a enumerálas Passemos pois aos atributos da alma e vejamos se há alguns que existam em mim Os primeiros são alimentarme e caminhar mas se é verdade que não possuo corpo algum é verdade também que não posso nem caminhar nem alimentarme Um outro é sentir mas não se pode também sentir sem o corpo além do que pensei sentir outrora muitas coisas durante o sono as quais reconheci ao despertar não ter sentido efetivamente Um outro é pensar e verifico aqui que o pensamento é um atributo que me pertence só ele não pode ser separado de mim Eu sou eu existo isto é certo mas por quanto tempo A saber por todo o tempo em que eu penso pois poderia talvez ocorrer que se eu deixasse de pensar deixaria ao mesmo tempo de ser ou de existir Nada admito agora que não seja necessariamente verdadeiro nada sou pois falando precisamente senão uma coisa que pensa isto é um espírito um entendimento ou uma razão que são termos cuja significação me era anteriormente desconhecida Ora eu sou uma coisa verdadeira e verdadeiramente existente mas que coisa Eu não sou essa reunião de membros que se chama o corpo humano não sou um ar tênue e penetrante disseminado por todos esses membros não sou um vento um sopro um vapor nem algo que posso fingir e imaginar posto que supus que tudo isso não era nada e que sem mudar essa suposição verifico que não deixo de estar seguro de que sou alguma coisa DESCARTES Meditações Meditação Segunda 7 Adaptado No texto acima Descartes emprega um tradicional procedimento filosófico que consiste em identificar as coisas por meio de seus atributos Por meio desse procedimento ele identifica duas espécies de coisas substâncias Quais são essas duas espécies de coisas substâncias assim identificadas e quais os principais atributos de cada uma delas O racionalismo de René Descartes 23 8º ano do Ensino Fundamental Exercícios modelo vestibular 3 UNICAMP A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pensamento filosófico moderno Neste comportamento a verdade é atingida através da supressão provisória de todo conhecimento que passa a ser considerado como mera opinião A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia BORNHEIM Gerd A Introdução ao filosofar Porto Alegre Globo 1970 p 11 Adaptado A partir do texto é correto afirmar que a A Filosofia estabelece que opinião conhecimento e verdade são conceitos equivalentes b A dúvida é necessária para o pensamento filosófico por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico c O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades são coincidentes d A dúvida o questionamento rigoroso e o espírito crítico são fundamentos do pensamento filosófico moderno 4 UFSJ Ao analisar o cogito ergo sum penso logo existo de René Descartes concluise que a o pensamento é algo mais certo que a própria matéria corporal b a subjetividade científica só pode ser pensada a partir da aceitação de uma relação empírica fundada em valores concretos c o eu cartesiano é uma ideia emblemática e representativa da ética que insurgia já no século XVI d Descartes consegue infirmar todos os sistemas científicos e filosóficos ao lançar a dúvida sistemáticoindutiva respaldada pelas ideias iluministas e métodos incipientes da revolução científica 5 ENEM TEXTO I Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez DESCARTES R Meditações Metafísicas São Paulo Abril Cultural 1979 TEXTO II Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado precisaremos apenas indagar de que impressão deriva esta suposta ideia E se for impossível atribuirlhe qualquer impressão sensorial isso servirá para confirmar nossa suspeita HUME D Uma investigação sobre o entendimento São Paulo Unesp 2004 adaptado Nos textos ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume a defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo b entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica c são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento d concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos e atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento Filosofia 24 Volume 2 6 UFU Na obra Discurso sobre o método René Descartes propôs um novo método de investigação baseado em quatro regras fundamentais inspiradas na geometria evidência análise síntese controle Assinale a alternativa que contenha corretamente a descrição das regras de análise e síntese a A regra da análise orienta a enumerar todos os elementos analisados a regra da síntese orienta decompor o problema em seus elementos últimos ou mais simples b A regra da análise orienta a decompor cada problema em seus elementos últimos ou mais simples a regra da síntese orienta ir dos objetos mais simples aos mais complexos c A regra da análise orienta a remontar dos objetos mais simples até os mais complexos a regra da síntese orienta prosseguir dos objetos mais complexos aos mais simples d A regra da síntese orienta a acolher como verdadeiro apenas aquilo que é evidente a regra da análise orienta descartar o que é evidente e só orientarse firmemente pela opinião 7 UEL O principal problema de Descartes pode ser formulado do seguinte modo Como poderemos garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro Como o cético ele parte da dúvida mas ao contrário do cético não permanece nela Na Meditação Terceira Descartes afirma enganeme quem puder ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que sou algo ou que algum dia seja verdade eu não tenha jamais existido sendo verdade agora que eu existo DESCARTES René Meditações Metafísicas Meditação Terceira São Paulo Nova Cultural 1991 p 182 Coleção Os Pensadores Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por Descartes para fundamentar o conhecimento é correto afirmar a Todas as coisas se equivalem não podendo ser discerníveis pelos sentidos nem pela razão já que ambos são falhos e limitados portanto o conhecimento seguro detémse nas opiniões que se apresentam certas e indubitáveis b O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresentase como algo relativo tanto ao sujeito como às próprias coisas que são percebidas de acordo com as circunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados c Pela dúvida metódica reconhecese a contingência do conhecimento uma vez que somente as coisas percebidas por meio da experiência sensível possuem existência real d A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento das coisas sendo a existência de Deus a única certeza que se pode alcançar e A condição necessária para alcançar o conhecimento seguro consiste em submetêlo sistematicamente a todas as possibilidades de erro de modo que ele resista à dúvida mais obstinada 8 UNIOESTE Considerandose as primeiras linhas das Meditações sobre a filosofia primeira de René Descartes Há já algum tempo deime conta de que desde meus primeiros anos recebera muitas falsas opiniões por verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei sobre princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito duvidoso e incerto de modo que era preciso tentar seriamente uma vez em minha vida desfazerme de todas as opiniões que recebera até então em minha crença e começar tudo novamente desde os fundamentos se eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de constante nas ciências Agora pois que meu espírito está livre de todas as preocupações e que obtive um repouso seguro numa solidão tranquila aplicarmeei seriamente e com liberdade a destruir em geral todas as minhas antigas opiniões O racionalismo de René Descartes 25 8º ano do Ensino Fundamental É correto afirmar sobre a teoria do conhecimento cartesiana que a Descartes não utiliza um método ou uma estratégia para estabelecer algo de firme e certo no conhecimento já que suas opiniões antigas eram incertas b Descartes considera que não é possível encontrar algo de firme e certo nas ciências pois até então esse objetivo não foi atingido c Descartes ao rejeitar o que a tradição filosófica considerou como conhecimento busca fundamentar nos sentidos uma base segura para as ciências d ao investigar uma base firme e indestrutível para o conhecimento Descartes inicia rejeitando suas antigas opiniões e utiliza o método da dúvida até encontrar algo de firme e certo e Descartes necessitou de solidão para investigar as suas antigas opiniões e encontrar entre elas aquela que seria o verdadeiro fundamento do conhecimento 9 UFU Em O Discurso sobre o método Descartes afirma Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que não se reconhece ser tal pela evidência ou seja evitar acuradamente a precipitação e a prevenção assim como nunca se deve abranger entre nossos juízos aquilo que não se apresente tão clara e distintamente à nossa inteligência a ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida REALE G ANTISERI D História da filosofia Do humanismo a Descartes Tradução de Ivo Storniolo São Paulo Paulus 2004 p 289 Após a leitura do texto acima assinale a alternativa correta a A evidência apesar de apreciada por Descartes permanece uma noção indefinível b A evidência é a primeira regra do método cartesiano mas não é o princípio metódico fundamental c Ideias claras e distintas são o mesmo que ideias evidentes d A evidência não é um princípio do método cartesiano Anotações Filosofia 26 Volume 2 13 O racionalismo teocêntrico de Nicolas Malembranche Tendo nascido em Paris em 1638 Nicolas Malebranche entrou em 1660 na Congregação dos Padres do Oratório onde estudou sobretudo a Escritura e o agostinismo e em 1664 tornouse sacerdote No mesmo ano iniciou a leitura sistemática de Descartes que marcou de modo decisivo seu pensamento e sua produção filosófica A Busca da Verdade 16741675 o Tratado da Natureza e da Graça 1680 o Tratado de Moral 1684 As conversas sobre metafísica 1688 Morreu em 1715 REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 4 São Paulo Paulus 2004 p 5 Fig131 O filósofo moderno Malebranche promoveu uma nova perspectiva filosófica ao estabelecer em seu pensamento uma relação entre as teses de Agostinho de Hipona e as de René Descartes Por isso podemos caracterizar o seu racionalismo de caráter teocêntrico ao entender que sua perspectiva sobre o conhecimento de natureza racionalista se justifica pela existência de Deus Partindo inicialmente da ideia de que Deus é a causa de todas as coisas existentes portanto nada é possível sem a existência absoluta de Deus o filósofo francês concentrou grande parte de suas investigações para tratar sobre as questões do conhecimento e como Deus está diretamente vinculado a tal questão Com relação à filosofia de René Descartes Malebranche retomou o dualismo entre Razão res cogitans e Corpo res extensa promovendo uma nova perspectiva uma vez que no Tratado da Natureza e da Graça Malebranche considerou extremamente reveladora a clara distinção feita por Descartes entre alma e corpo à primeira eram atribuídos o intelecto puro e a vontade pura ao passo que todas as outras funções físicas e psicofísicas eram atribuídas ao corpo e explicados de forma mecanicista REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 6 O racionalismo teocêntrico de Nicolas Malembranche 27 8º ano do Ensino Fundamental Esta ilustração de Descartes de sua obra denominada De Homine Sobre o Homem de 1662 mostra que as informações captadas pela visão são levadas ao corpo por nervos ópticos ocos Essas informações são então transmitidas para a glândula Pineal que teria a função de regular o fluxo de informações entre a mente e o corpo por meio dos nervos REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 4 São Paulo Paulus 2004 p 5 Fig132 Fig133 Malebranche reforça o dualismo proposto por Descartes que separa radicalmente o corpo da mente no entanto afirma que é Deus e não um órgão em específico que estabelece a relação entre essas duas instâncias possibilitando a organização das informações e consequentemente do conhecimento Nesse sentido o filósofo parisiense ressalta ainda mais o papel de Deus que não apenas justifica existência do mundo mas também de todo o conhecimento humano evidenciando de maneira clara que somente podemos conhecer pela ação divina Nós conhecemos portanto os corpos através das ideias em Deus e as almas através do sentimento E como conhecemos Deus Nós conhecemos Deus por si mesmo A proposição existe um Deus é tão certa quanto esta outra proposição penso logo existo Malebranche retoma o argumento ontológico baseandose particularmente no atributo da infinitude Mas não é o caso de insistir nesse ponto tratandose de variações sobre temas que já conhecemos bem E assim que Malebranche resume o seu argumento Se pensamos Deus então ele deve existir REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 8 Filosofia 28 Volume 2 Assim podemos concluir que a filosofia de Malebranche marcou decisivamente uma nova configuração do pensamento moderno sobretudo pela retomada das questões da filosofia de Agostinho de Hipona e da discussão a respeito do dualismo cartesiano Vale ainda ressaltar sua importância para o desenvolvimento do pensamento de Baruch de Espinosa autor que será apresentado nos próximos capítulos Exercícios de sala 1 As verdades podem ser portanto descobertas de dois modos 1 pela união do espírito com a Razão universal isto é Deus 2 pela união do corpo com o espírito ou alma No primeiro caso são as próprias ideias presentes na Razão universal que afetam e imprimem diretamente sobre o espírito suas verdades No segundo caso o espírito é afetado pelos supostos objetos externos ou com maior precisão pelos órgãos sensoriais visão tato olfato etc cujas informações transmitidas ao cérebro são chamadas por Malebranche de espíritos animais aquilo que com os conhecimentos de fisiologia de hoje em dia chamaríamos de impulsos dos terminais nervosos do corpo captados pelo cérebro Mas reparem que são apenas traços desses objetos que são assim transmitidos ao cérebro Sendo apenas traços eles podem ser enganadores e necessitarem de correções Logo não podem conter a percepção dos próprios objetos algo que somente é possível por meio das ideias desses objetos contidas na Razão universal Esses traços são meras ocasiões para que o espírito volte a sua atenção para as suas verdadeiras ideias e possa vez ou outra inclusive corrigir os traços percebidos pelos sentidos MALEBRANCHE Nicolas Diálogos sobre a metafísica e a religião primeiro diálogo Oficinas de tradução Departamento de Filosofia Universidade Federal do Paraná Curitiba SCHLAUFPR 2011 p 42 Segundo o texto o que é a Razão universal em Malebranche e qual a importância dela para a relação entre o corpo e a mente Justifique sua resposta utilizando fragmentos do texto O racionalismo teocêntrico de Nicolas Malembranche 29 8º ano do Ensino Fundamental Trabalhando com pesquisa 2 Após nossos estudos sobre Descartes e Malebranche percebemos o tema da glândula pineal como algo comum entre os pensadores Diante da importância de tal questão faça uma pesquisa a respeito dessa glândula a partir de três abordagens diferentes uma religiosa uma científica e uma filosófica que não seja a dos autores já estudados Não se esqueça de colocar no final de sua pesquisa os sites ou livros utilizados Anotações Filosofia 30 Volume 2 14 As mônadas em Leibniz Gottfried Wilhelm Leibniz nasceu em Leipzig em 1646 de uma família de ascendência eslava Depois dos cursos de filosofia em Leipzig e de matemática em Jena em 1666 laureouse em jurisprudência em Altdorf perto de Nuremberg A partir de 1668 foi introduzido à corte do Eleitor de Mogúncia e de 1672 a 1676 morou em Paris onde conheceu os filósofos Arnauld e Malebranche e o matemático Huygens e aprendeu perfeitamente a língua francesa que adotou em seus escritos A partir de 1676 entrou para o serviço da corte do duque de Hannover a quem permaneceu ligado até a morte tornandose também historiógrafo oficial da dinastia Frequentemente em viagem hospedouse nas mais prestigiosas cortes europeias e foi grande animador cultural promovendo também a fundação da Academia das Ciências de Berlim mas os últimos anos de sua vida foram amargados pela polêmica suscitada em 1713 pela Royal Society de Londres sobre a prioridade da descoberta do cálculo infinitesimal em que havia intensamente trabalhado atribuída a Newton Morreu em 1716 Suas obras mais importantes escrito em latim ou francês Discurso de metafisica 1686 Novo sistema da natureza 1695 Novos ensaios sobre o intelecto humano 1703 Ensaios de teodiceia 1710 Princípios racionais da natureza e da graça 1 71 4 Monadologia composta em 1714 REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 37 Fig141 No que se refere à filosofia racionalista sem dúvidas um dos grandes pensadores que marcaram o pensamento moderno e que foi fortemente influenciado pela filosofia de Descartes e também pela tradição escolástica na Idade Média foi Gottfried Wilhelm Von Leibniz que viveu de 1646 até 1716 Apesar de sua grande referência ser a filosofia cartesiana Leibniz discordou da posição de Descartes de um mundo mecanicista ou seja um mundo a partir de uma concepção geométrica e mecânica das coisas existentes conforme vimos nos capítulos anteriores A filosofia leibniziana entendeu a realidade a partir de uma dinâmica natural não como uma máquina mas sim como uma força viva Fig142 O racionalismo cartesiano defendeu a ideia de que tanto o homem quanto o mundo seriam como máquinas no sentido de que se conhecêssemos as partes que compõem essas máquinas seria possível conhecêlas como um todo Descartes inclusive usou a ideia do relógio para explicar a realidade do homem e do mundo Assim como um relógio essa realidade mecânica poderia ser consertada à medida que fosse possível compreender os problemas das engrenagens As mônadas em Leibniz 31 8º ano do Ensino Fundamental Dessa forma ao compreender que toda a realidade tem como característica uma dinâmica própria Leibniz concluiu que o Universo é então estruturado a partir de uma força chamada Mônada Eis aqui o ponto central da filosofia de Leibniz a noção de que toda a criação e a dinâmica do existente se constituem por essa força que é única e indivisível Vale destacar um ponto fundamental da estrutura do Universo pensado por Leibniz o Universo é concebido à semelhança de um organismo pleno cujas partes convivem em uma harmonia natural No entanto restanos uma questão fundamental como poderíamos nos referenciar a essa Mônada una e indivisível responsável por todas as coisas existentes Na concepção de Leibniz tratase de Deus MÔNADA Mônada é a expressão com que Leibniz traduz o termo grego monás que significa a unidade ou aquilo que é uno a palavra de origem pitagórica fora retomada pelos neoplatônicos e depois por Giordano Bruno A mônada é propriamente uma substância simples isto é uma entidade individual capaz de ações e os princípios de suas ações são as percepções representações e as apetições vontade Por via de sua unidade e simplicidade diz Leibniz as mônadas são representáveis como os átomos de Demócrito porém com a diferença de que não se trata de átomos materiais ou físicos e sim de átomos formais não extensos Leibniz designa a mônada também com o termo aristotélico enteléquia que indica a substância simples enquanto tem em si a próprias determinações e perfeição essencial ou seja a própria autonomia e finalidade interior Deus é a mônada originária e suprema da qual todas as outras são criadas segundo uma hierarquia que espelhando o grau de clareza e distinção das representações vai das mônadas espirituais às simples mônadasalmas até as mônadas nuas ou inferiores REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 43 Para o filósofo alemão nossa própria capacidade de perceber racionalmente a realidade existente nos leva a concluir que tudo somente poderia existir graças a um Ser superior a uma força Mônada capaz de criar tudo Enquanto Deus é a Mônada superior todos os outros seres existentes seriam as mônadas inferiores criadas a partir de uma organização perfeita e dinâmica Por esse motivo podemos afirmar que a compreensão acerca do Universo em Leibniz é racionalista uma vez que para o filósofo nada existe sem uma causa uma finalidade e uma ordem Tudo foi previamente estabelecido por uma força inteligente superior responsável por colocar cada coisa em seu lugar Ao mesmo tempo em que tudo tem a sua função específica no Universo todas as coisas estão conectadas de uma forma lógica e racional E assim a razão última das coisas deve estar em uma substância necessária na qual o detalhe das mudanças só esteja eminentemente como em sua origem e isto é o que denominamos Deus Ora sendo esta substância uma razão suficiente de todo este detalhe que também está vinculado em toda parte só há um Deus e esse Deus é suficiente Podemos também julgar que essa substância suprema que é única universal e necessária nada havendo fora dela que lhe seja independente e que é uma simples consequência do ser possível deve ser incapaz de limites e há de conter tanta realidade quanto possível Disto se segue que Deus é absolutamente perfeito não sendo a perfeição outra coisa senão a grandeza da realidade positiva tomada de forma precisa excluindose os limites ou restrições nas coisas que os têm E onde não há limites ou seja em Deus a perfeição é absolutamente infinita LEIBNIZ GW Princípios da Filosofia ou a Monadologia Disponível em httpsleibnizbrasilprobrleibnizpdfmonadologiapdf Acesso em 2 dez 2019 Filosofia 32 Volume 2 Assim tornase de fundamental importância compreender que nós vivemos no melhor dos mundos possíveis não apenas pelo fato de este ser fruto da ação racional de Deus mas também pela necessidade lógica de que as outras realidades não nos sejam acessíveis mas continuidades racionais da existência atual com as quais não necessariamente entramos em relação Por fim podemos concluir que a noção de mônada em Leibniz nos apresenta uma compreensão racional do mundo por meio da percepção de que existe lógica racional no todo existente a partir da criação de um de Ser supremo denominado Deus Exercícios resolvidos 1 ENEM A substância é um Ser capaz de Ação Ela é simples ou composta A substância simples é aquela que não tem partes O composto é a reunião das substâncias simples ou Mônadas Monas é uma palavra grega que significa unidade ou o que é uno Os compostos ou os corpos são Multiplicidades e as Substâncias simples as Vidas as Almas os Espíritos são unidades É preciso que em toda parte haja substâncias simples porque sem as simples não haveria as compostas nem movimento Por conseguinte toda natureza está plena de vida LEIBNIZ G W Discurso de metafísicas e outros textos São Paulo Martins Fontes 2004 Adaptado Dentre suas diversas reflexões Leibniz voltou sua atenção para o tema da metafísica que trata basicamente do fundamento de realidade das coisas do mundo A busca por esse fundamento muitas vezes é resumida a partir do conceito de substância que para ele se refere a algo que é a complexo por natureza constituindo a unidade mínima do cosmo b estabilizador da realidade dada a exigência de permanência desta c desdobrado no composto em vez de gerálo unindose a outras substâncias simples d considerado simples e múltiplo a um só tempo por ser um todo indecomponível constituído de partes e essencial na estrutura do que existe no mundo sem deixar de contribuir para o movimento Resposta A alternativa correta é a e porque segundo Leibniz toda estrutura racional do existente incluindo a sua própria dinâmica é constituída a partir da noção de mônada Exercícios propostos 2 Cada substância é como um mundo inteiro como um espelho de Deus ou de todo o Universo que ela representa à sua maneira quase como uma cidade que é representada diferentemente dependendo da posição em que se encontra aquele que a observa LEIBNIZ Discurso de Metafísica Pg 261 In NICOLA Ubaldo Antologia Ilustrada de Filosofia das origens à idade moderna São Paulo Editora Globo 2005 O texto apresenta uma elaboração teórica de Leibniz que pode ser compreendia num viés racionalista pois a desvaloriza a experiência b estabelece a preeminência da cidade c valoriza a observação d aborda princípios medievais em torno da fé principalmente por caracterizar Deus como criador e utiliza metaforicamente Deus como filtro racional da observação do mundo As mônadas em Leibniz 33 8º ano do Ensino Fundamental Exercícios de sala 3 Em dupla construa um mapa mental colaborativo resumindo a filosofia de Leibniz Esse mapa pode ser começado em sala com a orientação do professor e terminado em casa Use as cores e a criatividade O ideal é que o mapa seja feito em uma folha A4 na horizontal 4 A estrutura metafísica do mundo para Leibniz é formada por substâncias simples sem partes que entram na formação dos compostos são os elementos das coisas Essa substância contém em si toda a sua realidade e nada lhe pode vir de fora portanto tudo o que ocorre com ela está contido na sua essência A que substância estamos nos referindo Justifique sua resposta Anotações Filosofia 34 Volume 2 15 O monismo racionalista de Baruch Spinoza Benedito Spinoza Baruch Espinoza nasceu em Amsterdã em 1632 de uma família de hebreus espanhóis que se refugiaram na Holanda para escapar das perseguições da Inquisição Aprendeu o hebraico leu a fundo a Bíblia e o Talmude estudou latim e ciências e em 1656 tornou evidente a inconciliabilidade de seu pensamento com o credo da religião hebraica Spinoza foi excomungado e expulso da Sinagoga e foi abandonado por amigos hebreus e parentes Transferiuse para diversas aldeias onde compôs suas obras mais importantes O tratado sobre a emenda do intelecto 1661 deixado incompleto Ética a obra de toda a sua vida publicada postumamente em 1677 Os princípios da filosofia de R Descartes publicados em 1663 com um ápice de Pensamentos metafísicos Tratado teológicopolítico publicado anonimamente em 1670 A partir de 1670 estabeleceuse em Haia onde entrou em relação com o pintor van der Spyck com o matemático Huygens e com o político Jan de Witt Em 1673 recusou uma cátedra universitária em Heidelberg que Ihe fora oferecida pelo Eleitor do Palatinado Morreu de tuberculose em 1677 REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 11 Fig151 Dando continuidade ao pensamento racionalista moderno não poderíamos deixar de lado um dos mais importantes e polêmicos pensadores do século XVII Vindo de uma família judaica extremamente conservadora Spinoza foi acusado pela comunidade judaica e cristã de ser herege por sua posição em relação à fé e fundamentalmente em relação a Deus tema central do seu pensamento A existência de Deus é o ponto elementar de Spinoza a partir do qual o pensador holandês desenvolveu outros aspectos centrais de seu pensamento Basicamente a ideia de Deus segundo o filósofo estruturase sobre dois fundamentos a saber 1 Existe uma substância única daí o termo monismo monismo do gregov μόνος mónossozinho único a qual é responsável pela existência tudo Deus Essa substância denominada Deus tem como característica ser infinita e eterna responsável portanto por todas as coisas existentes Nesse sentido não podemos falar de nada que exista sem a presença dessa substância infinita Tudo é necessariamente determinado pela natureza de Deus e não existe nada de contingente ou seja incerto duvidoso o mundo é a consequência necessária de Deus Deus como causa livre é para Spinoza natura naturans criador da natureza ao passo que o mundo é natura naturata manifestação do criador O monismo racionalista de Baruch Spinoza 35 8º ano do Ensino Fundamental INFINITO E ETERNO DEUS É A SUBSTÂNCIA ÚNICA FONTE DE TUDO O EXISTE DEUS É O MUNDO DEUS É A NATUREZA DEUS SUBSTÂNCIA PRIMORDIAL SER NECESSÁRIO E CAUSA DE SI MESMO MUNDONATUREZA PODEMOS UTILIZAR A SEGUINTE EXPRESSÃO EM SPINOZA UNIVERSO DEUS Fig152 2 O segundo aspecto sem dúvidas o ponto central de sua filosofia consiste em afirmar que as coisas existentes não foram criadas por Deus no sentido de outras perspectivas religiosas ao passo que também não estão fora da existência dele mas são a manifestação do próprio Deus ou seja tudo que existe é Deus ele é o próprio Universo Aqui temos dois princípios basilares do pensamento espinosano o imanentismo e o panteísmo O imanentismo divino do latim in e manere no qual significa de forma conjunta existir ou permanecer no interior segundo o filósofo consiste em dizer que Deus é inseparável e implicado em toda a realidade Já o panteísmo consequência do imanentismo afirma que tudo o que existe deve sua existência a Deus e em última análise se identifica com Deus Deus é assim um ser imanente no mundo à natureza e não um ser exterior e transcendente Na filosofia clássica os estoicos defenderam uma posição na qual Deus se confundia com a Alma do Mundo No pensamento moderno Spinoza é o principal representante do panteísmo afirmando que Deus é a única substância infinita e eterna da qual todas as coisas existentes são apenas modos Disponível em httpssitesgooglecomviewsbgdicionariodefilosofiapanteC3ADsmo Adaptado Acesso em 12 dez 2019 Tudo o que existe existe em Deus e por meio de Deus deve ser concebido portanto Deus é causa das coisas que nele existem que era o primeiro ponto Ademais além de Deus não pode existir nenhuma substância isto é nenhuma coisa além de Deus existe em si mesma que era o segundo ponto Logo Deus é causa imanente e não transitiva de todas as coisas SPINOZA Benedictus de 1632 1677 Ética demonstrada à maneira dos geômetras 3ªedição Bilíngue latimportuguês Belo Horizonte Autêntica 2010 p 14 In ALMEIDA Pablo Joel A concepção imanente de Deus em Espinosa Disponível em httpwwwuelbreventossepech sumariostemasaconcepcaoimanentededeusemespinosapdf Acesso em 12 dez 2019 Filosofia 36 Volume 2 Fica evidente para nós que tal posição adotada por Spinoza não só foi ousada para sua época como também não foi bem acolhida tanto no interior da comunidade judaica da qual ele participava com sua família quanto em outras denominações religiosas afins Tal ousadia promoveu no pensamento moderno uma nova perspectiva que até então era desconhecida Assim sendo segundo Espinosa Deus é aquilo que existe por si só e por mais nada é determinado a existir e todo o mundo ou tudo aquilo que existe existe em Deus e é parte essencial de Deus ou seja Deus é tudo e tudo é Deus ao mesmo tempo Dessa forma chegamos à clássica afirmação de Espinosa do Deus Sive Natura Deus ou seja a Natureza que em outras palavras corresponde à ideia da totalidade de Deus como única substância existente Se levarmos em consideração que Espinosa admite que o mundo todo exista em Deus e tudo o que existe é parte de Deus então essa assimilação e aproximação que o filósofo faz relacionando os dois conceitos se mostra totalmente correta já que se Deus está presente em tudo e esse todo é a natureza então a natureza é o próprio Deus ou Deus é a própria natureza ALMEIDA Pablo Joel A concepção imanente de Deus em Espinosa Disponível em httpwwwuelbreventossepechsumariostemasa concepcaoimanentededeusemespinosapdf Acesso em 12 dez 2019 Portanto como todo o Universo é uma única coisa em Deus Spinoza rompeu definitivamente com a posição dualista que prevaleceu durante o período da Idade Antiga Média e grande parte do período Moderno especialmente com Descartes Nesse aspecto rompendo com a fragmentação dualista cartesiana entre mente e corpo Spinoza afirmou que não há separação entre tais instâncias pensando portanto a natureza humana como um todo complexo No entanto Spinoza adverte em seu tratado ético que veremos a seguir que é a razão que deve dirigir as ações e o conhecimento do homem Em se tratando da ética Spinoza abandonou toda a tradição judaica pela qual ele foi educado Ele referenciou sua filosofia pelos princípios do pensamento de Descartes e do pensamento racionalista Em sua obra intitulada Ética demonstrada à maneira dos geômetras Spinoza reforçou a ideia de que o Universo é organizado de forma lógica e racional ou seja há um princípio sistemático que estrutura o Universo que faz com que tudo exista dentro de uma lógica Logo para entendermos a ordem do Universo não devemos nos apoiar na religião nem em crendices irracionais mas na razão como forma de buscar compreender nossa realidade e orientar nossas ações Aqui o pensador destacou a importância das ciências matemáticas como instrumento de auxílio de compreensão do homem com relação ao Universo A razão neste aspecto deve fundamentar o processo de conhecer bem como as ações do homem na coletividade Ora se o Universo é Razão no seu sentido mais pleno somente pelo caminho do pensar vamos entendêlo Assim para agir de maneira ética buscando viver nossa liberdade como seres humanos devemos nos orientar pela razão Quanto mais o homem buscar se autoconhecer e conhecer a Deus mais livre ele será Desse modo em Spinoza liberdade não consiste em fazer o que se deseja mas o que se pode fazer escolhendo o bem comum segundo a razão Não devemos portanto deixarnos guiar pelos nossos desejos ou pelas nossas paixões mas pela nossa razão uma vez que o objetivo do homem que se guia pela razão é compreender não apenas o bem para si mesmo mas para todas as pessoas Dessa forma agir de maneira ética é buscar a consciência sobre nossas ações por meio do entendimento de que nem tudo o que podemos fazer devemos realizar Por exemplo se nos deparamos com a situação de alguém deixar cair uma carteira na rua enquanto estamos caminhando poderíamos simplesmente ignorar o fato de ela pertencer a esse alguém e nos apropriarmos dela No entanto tal ação contraria a necessidade de seguir o dever de buscar agir de forma honesta Dessa forma a razão deve prevalecer em relação ao desejo de ficar com o possível dinheiro para o nosso proveito Diante de tal compromisso ético Spinoza afirma O monismo racionalista de Baruch Spinoza 37 8º ano do Ensino Fundamental É lícito que afastemos de nós pelo meio que nos parece mais seguro tudo aquilo que existe na natureza das coisas que julgamos poder impedir que existamos e que desfrutemos de uma vida racional E contrariamente é lícito tomar para nosso uso e utilizar de qualquer maneira tudo aquilo que existe e que julgamos ser bom ou seja que julgamos ser útil para conservar nosso ser e desfrutar de uma vida racional E mais geralmente é lícito que cada um em virtude do supremo direito da natureza faça o que julga serlhe útil SPINOZA B Ética Tradução Tomaz Tadeu Belo Horizonte Autêntica 2007 Desse modo podemos concluir que a filosofia de Baruch Spinoza marcou uma verdadeira mudança na perspectiva de Deus na Idade Moderna sendo o filósofo acusado erroneamente de ser ateu Em vez de usar a crítica de ateísmo para o pensamento spinoziano devemos entender que sua filosofia é mais uma crítica às teorias teológicas de Deus e da própria religião como visões fechadas e limitadas de Deus propondo assim uma ampliação da relação do homem com Deus a partir de suas ações e das consequências delas para a vida coletiva Assim poderemos enxergálo como um trabalho de reflexão sobre Deus sobre a Escritura e sobre a liberdade de pensar Vivemos ainda em tempos de forte fundamentalismo e intolerância Por esse motivo é preciso destacar a atualidade de Espinosa enquanto um crítico severo das autoridades eclesiásticas que buscavam usar a Escritura a fim de extorquir dos Livros Sagrados as suas próprias fantasias e arbitrariedades corroborandoos com a autoridade divina ESPINOSA 2008 p 114 fomentando o fanatismo a superstição e a supressão da liberdade de pensar MEDEIROS Jonas Torres Benedictus de Spinoza nas primícias do movimento hermenêutico em Filosofia Um estudo a partir do Tractatus Theologicopoliticus Disponível em httpwwwuecebreduecedmdocumentsOlhares20eCC81tico20e20poliCC81tico20 sobre20a20Filosofi a20de20Benedictus20de20Spinozapdf Acesso em 12 dez 2019 SPINOZA B Ética Tradução Tomaz Tadeu Belo Horizonte Autêntica 2007 Mapa Mental Spinoza DEUS NATUREZA DEUS IMANENTE faz parte do mundo Tudo que existe no universo faz parte de uma realidade fez existir todas as coisas do Universo produz não cria efeitos de sua potência infinita o ser humano tem experiência direta e conhecimento de duas potências extenção corpo pensamento ideias substância infinita indivisível mesma origem causa de si mesma Fig153 Filosofia 38 Volume 2 Com exceção de Francis Bacon estudamos de forma predominante os pensadores racionalistas da filosofia moderna destacando as especificidades de cada autor e observamos o quanto a temática a respeito do dualismo gerou e ainda gera questões filosóficas a serem resolvidas No próximo volume abordaremos a importância e as problemáticas filosóficas de autores do Empirismo como Thomas Hobbes David Hume John Locke e outros Exercícios resolvidos 1 ENEC Texto I Em sua tese Spinoza apresenta o corpo de forma bem diferente de como o viam até então ele afirma que não há diferença de natureza entre o corpo e a alma e sim que esses dois princípios constituem juntos um único ser Com essa afirmação ele vai contra todo um pensamento antigo que valorizava esse dualismo em que normalmente havia presente a intenção de desvalorização do corpo e o enobrecimento da alma ou se preferirmos do pensamento em detrimento dos sentidos Como exemplo podemos citar Descartes Meditações sobre Filosofia Primeira p 39 que dizia o corpo morre muito facilmente enquanto a mente ou a alma do homem o que não distingo é imortal por sua natureza Disponível em httpwwwexistencialismoorgbrjornalexistencialpaulaspinizahtm Adaptado Acesso em 2 jul 2016 Texto II Disponível em http4bpblogspotcom VcuZen9OnOUUpvOlxVMSoIAAAAAAAADDwhmdSBdC2yFss1600539709631426130233856169292096 1njpg Acesso em 2 jul 2016 O problema das relações entre a alma e o corpo entre o cérebro e o coração entre a razão e a emoção foi exaustivamente trabalhado em diferentes sistemas filosóficos Tendose em vista o Texto I e levandose em consideração que o cérebro expressa a mente a imagem do Texto II pode ser relacionada com o pensamento de O monismo racionalista de Baruch Spinoza 39 8º ano do Ensino Fundamental a Descartes pois tanto o coração quanto o cérebro nada mais são que corpo são portanto indissociáveis b Descartes pois a separação entre res cogitans e res extensa é simbolizada pelas cordas entre o cérebro e o coração c Spinoza pois a metáfora da afinação oferece simbolicamente o monismo com relação à natureza una do homem d Spinoza pois ao tomar a mente como superior ao corpo esse filósofo holandês determina uma relação claramente dualista e Spinoza pois apresenta que o corpo pode ser reduzido a relações simétricas e harmônicas entre duas substâncias distintas o cérebro e o coração Resposta A alternativa correta é a c A imagem como representação metafórica alinhase ao monismo espinosano entendendo o homem como algo uno rompendo assim com o dualismo cartesiano Perceba que o pontochave de compreensão do que se pede no comando da questão localizase no texto motivador de Spinoza bem como na imagem como metáfora de ligação entre mente e corpo Exercícios modelo vestibular 2 UEL A idéia ilusória da vontade livre deriva de percepções inadequadas confusas a liberdade entendida corretamente no entanto não é o estar livre da necessidade mas sim a consciência da necessidade SCRUTON Roger Espinosa Trad De Angélica Elisabeth Könke São Paulo Unesp 2000 p 41 Com base no texto e nos conhecimentos sobre liberdade em Espinosa considere as afirmativas a seguir I A liberdade identificase com escolha voluntária II A liberdade significa a capacidade de agir espontaneamente segundo a causualidade interna do sujeito III A liberdade e a necessidade são compatíveis IV A liberdade baseiase na contingência pois se tudo no Universo fosse necessário não haveria espaço para ações livres Estão corretas apenas as afirmativas a I e II b I e IV c II e III d I III e IV e II III e IV 3 UFPA No contexto da cultura ocidental e na história do pensamento político e filosófico as considerações sobre a necessidade de valores morais prévios na organização do Estado e das instituições sociais sempre foi um tema fundamental devido à importância para esse tipo de questão dos conceitos de bem e de mal indispensáveis à vida em comum Diante desse fato da história do pensamento político e filosófico a afirmação de Espinosa segundo a qual Se os homens nascessem livres não formariam nenhum conceito de bem e de mal enquanto permanecessem livres ESPINOSA 1983 p 264 quer dizer o seguinte a O homem é por instinto moralmente livre fato que condiciona sua ideia de ética social b Assim como o indivíduo é anterior à sociedade a liberdade moral antecede noções como bem e mal Filosofia 40 Volume 2 c Os valores morais que servem de base para nossa socialização são tão naturais quanto nossos direitos d Não poderíamos falar de bem e de mal se não nos colocássemos além da liberdade natural e Não há nenhum vínculo necessário entre viver livre e saber o que são bem e mal Exercícios propostos 4 Escolha dois filósofos modernos e produza um mapa mental sintetizando os aspectos centrais de sua filosofia Esse mapa deverá ser feito manualmente em uma folha A4 na posição horizontal Use a criatividade e as cores Atenção Peça orientação ao seu professor para a criação desse mapa Anotações O monismo racionalista de Baruch Spinoza 41 8º ano do Ensino Fundamental Referências ABBAGNANO Nic ola Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 1998 ALMEIDA Pablo Joel A concepção imanente de Deus em Espinosa Disponível em httpwww uelbreventossepechsumariostemasaconcepcaoimanentededeusemespinosapdf BACON Francis Versã o eletrônica do livro Novum Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza Tradução e notas José Aluysio Reis de Andrade Créditos da digitalização Membros do grupo de discussão Acrópol is Filosofia BACON Francis Novum Organum Tradu ção de José Aluysio Reis de Andrade São Paulo Nova Cultural CUPANI A A tecnologia como problema filosófico três enfoques Scientiae Studia São Paulo v 2 n 4 2004 DESCARTES René Discurso sobre o método Tradução de Maria Ermantina Galvão Martins Fontes São Paulo 2001 DESCARTES René Meditações Metafísicas Meditação Terceira São Paulo Nova Cultural 1991 Gerd A Bornheim Introdução ao filosofar Porto Alegre Globo 1970 LEIBNIZ GW Princípios da Filosofia ou a Monadologia Disponível em httpsleibnizbrasilprobr leibnizpdfmonadologiapdf LEIBNIZ G W Discurso de metafísicas e outros textos São Paulo Matins Fontes 2004 Adaptado MALEBRANCHE Nicolas Diálogos sobre a metafísica e a religião primeiro diálogo Oficinas de tradução Departamento de Filosofia Universidade Federal do Paraná Curitiba SCHLAUFPR 2011 NICOLA Ubaldo Antologia Ilustrada de Filosofia das origens à idade moderna São Paulo Globo 2005 REALE Giovanni DARIO Antiseri Historia da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 SPINOZA Benedictus de 1632 1677 Ética demonstrada à maneira dos geômetras 3ª edição Bilíngue latimportuguês Belo Horizonte Autêntica 2010 p14 In ALMEIDA Pablo Joel A concepção imanente de Deus em Espinosa Disponível em httpwwwuelbreventossepech sumariostemasaconcepcaoimanentededeusemespinosapdf Créditos nas ilustrações Figura 101 Disponível em httpswwwcorriereitcultura17gennaio05tulliodemauro accademialinceiscuolaocsee46ee682d33c11e69dc7b8de3918521ashtml Acesso em 2 dez 2019 Filosofia 42 Volume 2 Figura 102 Disponível em httpswwwfacarospaulscomappsflorenceartandculture4269 accademiadelcimento Acesso em 2 dez 2019 Figura 103 Disponível em httpswwwvenuemapcoukpropertydetails250london london81 Acesso em 2 dez 2019 Figura 104 Disponível em httpswwwacademiadearmascom201808nulliusinverbanas palavrasdeninguem Acesso em 2 dez 2019 Figura 105 Disponível em httpsoperamundiuolcombrhistoria26831hojenahistoria1635 richelieucriaaacademiafrancesa Acesso em 2 dez 2019 Figura 111 Disponível em httpswwwbiographycomscholarfrancisbacon Acesso em 2 dez 2019 Figura 112 Disponível em httpsedisciplinasuspbrmodresourceviewphpid2537947 Acesso em 2 dez 2019 Figura 121 Disponível em httpsconhecimentocientificor7comrenedescartes Acesso em 2 dez 2019 Figura 122 Disponível em httpsslideplayercombrslide5618869 adaptado Acesso em 2 dez 2019 Figura 131 Disponível em httpsanthrowikiatNicolasMalebranche Domínio Público Figura 132 Por René Descartes Domínio público Disponível em httpscommonswikimedia orgwindexphpcurid1918592 Acesso em 2 dez 2019 Figura 133 Disponível em httpswwwhiperculturacomfuncoesdaglandulapineal Acesso em 2 dez 2019 Figura 141 Shutterstock Figura 142 By Loon J van Johannes ca 16111686 Domínio Público httpscommons wikimediaorgwindexphpcurid566379 Figura 151 Door Barend Graat Domínio Público Disponível em httpscommonswikimedia orgwindexphpcurid48217390 Acesso em 2 dez 2019 Figura 152 O autor Figura 153 Disponível em httpsipinimgcom originals2c62622c6262de7e99f702d4e52803bb5d2590jpg Adaptado Acesso em 2 dez 2019 Anotações Apostila sobre Galileu e Isaac Newton Questões Objetivas Qual das seguintes descobertas é atribuída a Galileu Galilei a Lei da gravitação universal b Teoria da relatividade c As fases de Vênus d Estrutura do DNA Resposta correta c As fases de Vênus Isaac Newton é conhecido por ter formulado quais das seguintes leis a Leis da hereditariedade b Leis do movimento c Leis da termodinâmica d Leis da eletromagnetismo Resposta correta b Leis do movimento Qual é o nome do livro onde Newton apresentou suas leis do movimento e a lei da gravitação universal a Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo b De Revolutionibus Orbium Coelestium c Principia Mathematica d A Origem das Espécies Resposta correta c Principia Mathematica Questões Abertas Descreva como as observações astronômicas de Galileu desafiaram as crenças tradicionais sobre o universo Resposta correta Galileu utilizando seu telescópio aprimorado fez várias observações que desafiaram as crenças tradicionais da época especialmente o modelo geocêntrico Ele observou as luas de Júpiter provando que nem todos os corpos celestes orbitam a Terra Também viu as fases de Vênus que só podem ser explicadas se Vênus orbitar o Sol e não a Terra Além disso ele observou manchas solares e montanhas na Lua demonstrando que os corpos celestes não eram perfeitos como se acreditava Explique a importância das leis do movimento de Newton para a física Resposta correta As leis do movimento de Newton são fundamentais porque fornecem uma base para entender como os objetos se movem sob a ação de forças A primeira lei a lei da inércia afirma que um objeto permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme a menos que uma força externa atue sobre ele A segunda lei relaciona a força massa e aceleração de um objeto Fma A terceira lei diz que para cada ação há uma reação igual e oposta Juntas essas leis descrevem o comportamento dos objetos e são aplicáveis em uma vasta gama de situações desde o movimento de planetas até a engenharia de veículos Como as descobertas de Newton no Principia Mathematica influenciaram o pensamento científico Resposta Sugerida Principia Mathematica de Newton revolucionou o pensamento científico ao fornecer uma descrição matemática rigorosa das leis do movimento e da gravitação Sua obra unificou a física terrestre e celeste mostrando que as mesmas leis governam tanto o movimento dos corpos celestes quanto dos objetos na Terra Isso estabeleceu uma base sólida para a física clássica e promoveu a ideia de que o universo opera de acordo com leis naturais compreensíveis e previsíveis influenciando profundamente a ciência e a filosofia da ciência nos séculos seguintes Apostila 1 sobre Racionalismo e Empirismo na Filosofia da Ciência Questões Objetivas O que o empirismo enfatiza como fonte principal de conhecimento a Razão b Intuição c Experiência sensorial d Revelação divina Resposta c Experiência sensorial Qual filósofo é conhecido por sua defesa do racionalismo a John Locke b David Hume c René Descartes d Francis Bacon Resposta correta c René Descartes Qual das seguintes afirmações reflete uma perspectiva empirista a Todo conhecimento é inato e derivado da razão b Conhecimento é adquirido através da observação e experiência c A verdade pode ser alcançada apenas por meio da meditação d A lógica é a única fonte de conhecimento confiável Resposta correta b Conhecimento é adquirido através da observação e experiência Questões Abertas Explique a diferença entre racionalismo e empirismo na aquisição de conhecimento Resposta correta O racionalismo e o empirismo são duas abordagens distintas para a aquisição de conhecimento O racionalismo representado por filósofos como René Descartes argumenta que a razão e a lógica são as principais fontes de conhecimento e que certas verdades são inatas acessíveis através da introspecção e do raciocínio dedutivo Em contraste o empirismo defendido por filósofos como John Locke e David Hume sustenta que todo conhecimento deriva da experiência sensorial Para os empiristas o conhecimento é adquirido através da observação do mundo e da experimentação e a mente humana começa como uma tábua rasa preenchida pelas impressões sensoriais Dê um exemplo de um avanço científico que se baseou em princípios empiristas Resposta correta Um exemplo de um avanço científico baseado em princípios empiristas é a teoria da evolução por seleção natural proposta por Charles Darwin Darwin coletou uma vasta quantidade de dados observacionais durante sua viagem no HMS Beagle estudando diversas espécies e suas variações em diferentes ambientes Suas observações empíricas das adaptações das espécies ao meio ambiente e das similaridades entre espécies levaram à formulação de sua teoria que se baseia na evidência acumulada a partir da experiência sensorial e observação Como o método científico incorpora tanto o racionalismo quanto o empirismo Resposta correta O método científico incorpora elementos do racionalismo e do empirismo Ele começa com a observação empirismo onde dados e fatos são coletados a partir do mundo natural A partir dessas observações os cientistas formam hipóteses e teorias utilizando o raciocínio lógico e a dedução racionalismo para elaborar explicações e previsões Essas hipóteses são então testadas por experimentos controlados empirismo e os resultados são analisados para confirmar ou refutar as hipóteses Assim o método científico depende tanto da experiência sensorial quanto do raciocínio lógico para desenvolver e validar o conhecimento científico Fonte Apostilas
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8 VOLUME 1 Filosofia Organizador 8amdfilosofiavol121indd 1 15122020 073024 8º ano do Ensino Fundamental volume 1 Filosofia Todos os direitos reservados à CNEC Campanha Nacional de Escolas da Comunidade Impressão e acabamento Editora e Gráfica Cenecista Dr José Ferreira Av Frei Paulino nº 530 Bairro Abadia Uberaba MG CEP 38025180 PABX 34 21030700 0046edigrafcnecbr Diretor e produção editorial Erlei José de Araújo Gerente editorial Wellington Silva Sporck Capa Fabiano Morais Fábio Salum Projeto gráfico Carlos R Moura Fabiano Morais Fábio Salum Revisão de prova Adriana da Silva Ribeiro Patrícia Calixto Tatiana Miranda Lilian Lopes de Brito Revisão Neusa Patrícia Oliveira Cardoso Diagramação Lucimar Lopes de Brito Moreira Ilustração Andréa Vieira Pires Angélica Rosa de Freitas Bruno Mituro de Paula Hatano Eduardo Maurício de Freitas Felipe Mendes dos Santos Jeferson Martins Jéssica Caroline Costa Silva Marlon Augusto Rodolfo Nascimento Silva Samuel Tomaz Manzan Sheila de Oliveira Assis Autor Danilo Borges Medeiros Revisão de texto Bárbara Beatriz Tiveron Pinto Ferreira Marília Martins Ferreira Diagramação Ketely Julie Lucas Leal 8amdfilosofiavol121indd 2 15122020 073024 Sumário Unidade 1 A fi losofi a no contexto da Idade Média Capítulo 1 Idade Média contexto histórico Capítulo 2 A fi losofi a de Agostinho de Hipona Capítulo 3 O tempo em Agostinho Capítulo 4 A escolástica e a fi losofi a de Tomás de Aquino O pensamento tomista Capítulo 5 O tempo em Tomás de Aquino Unidade 2 A transição da idade média para a idade moderna Capítulo 6 O alquimismo de Roger Bacon Capítulo 7 Idade Moderna Unidade 3 O desenvolvimento de métodos e instrumentos de análises científi cas uma revolução no pensamento Capítulo 8 Galileu Galilei Capítulo 9 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina 7 7 10 13 17 21 25 25 31 34 34 38 Filosofi a 8amdfilosofiavol121indd 3 15122020 073024 8amdfilosofiavol121indd 4 15122020 073027 8amdfilosofiavol121indd 5 15122020 073032 8amdfilosofiavol121indd 6 15122020 073032 7 8º ano do Ensino Fundamental Filosofi a I A Filosofi a no contexto da Idade Média P rezado aluno neste capítulo iremos primeiramente fazer uma breve contextualização histórica do período da Idade Média e posteriormente adentraremos nas questões fi losófi cas a partir das duas grandes correntes do pensamento fi losófi co medieval a Patrística e a Escolástica A partir destes dois grandes movimentos tematizaremos importantes questões da Filosofi a que perpassaram o contexto medieval e culminaram em uma tradição fi losófi ca rica e complexa Juntos trilharemos um caminho de descobertas a respeito das especifi cidades da fi losofi a medieval 1 Idade Média contexto histórico A Idade Média enquanto período histórico foi determinada entre outros aspectos por fatores sociopolíticos que surgiram do desmembramento do Império Romano do Ocidente no século V 476 d C Essa cisão ocorreu em razão dos intensos e sucessivos ataques dos povos bárbaros denominação dada porque estes habitavam fora das fronteiras do Império Romano e falavam línguas diferentes do latim Apesar desse signifi cativo processo de mudança na estrutura social que abalou profundamente o Império uma instituição conseguiu se manter e ganhou mais força nesse novo cenário a Igreja Católica A ascensão desta instituição implicará uma nova forma de organização do quadro social político religioso e sobretudo intelectual da época O fi m da Idade Média e consequente início da Idade Moderna foi marcado principalmente pela queda de Constantinopla que pôs fi m ao Império Romano do Oriente também chamado de Império Bizantino no século XV 1453 dC Esse acontecimento foi concomitante à chegada dos europeus à América A partir de tal contextualização é notório perceber que os fatores que propiciaram a transição do período antigo para o medieval também contribuíram para o desenvolvimento de uma nova mentalidade especialmente no que se refere ao aspecto religioso pois ele implicará novos formatos para a cultura dessa época marcando uma profunda e particular perspectiva fi losófi ca Um dos grandes fatores que fortaleceu a Igreja Católica durante essa transição histórica é a promulgação do Édito de Milão em latim Edictum mediolanense em 13 de junho de 313 pelo Imperador Constantino que cessa as perseguições contra os cristãos que antes eram martirizados por conta de sua fé Este tratado de paz será de suma importância pois a partir daí a Igreja sai das catacumbas ou da situação de ilegalidade clandestinidade e marginalidade e começa a sua afi rmação no plano da organização social jurídica e administrativa Organizase em dioceses seguindo o próprio modelo imperial Ao mesmo tempo começa a difusão do monaquismo vida ou estado monástico Dioceses e mosteiros serão os dois grandes pilares da civilização nos primeiros e mais difíceis séculos da Idade Média COUTINHO 2008 p 5 8amdfilosofiavol121indd 7 15122020 073032 Filosofi a 8 Volume 1 Toda essa estrutura que vai ganhando corpo fortalece a Igreja enquanto instituição que se expande progressivamente perpassando aspectos relacionados à organização social da época sobretudo no campo intelectual com o desenvolvimento de uma fi losofi a marcada pela íntima relação com os dogmas ou conjunto de doutrinas cristãos Para o desenvolvimento de tal fundamentação fi losófi ca os pensadores medievais irão buscar na fi losofi a clássica grega a referênciabase de conciliação com a fé Dessa forma no que se refere ao aspecto fi losófi co alguns pensadores se apropriaram por meio de releituras do pensamento grego clássico para fundamentar o pensamento religioso cristão que se estruturava à medida que a Igreja Católica expandia seus domínios Em outras palavras os pensadores medievais fi zeram um grande esforço nesse longo período histórico para estabelecer uma harmonia que buscasse conciliar a fé e a razão A fé e a razão fi des et ratio constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e em última análise de O conhecer a Ele para que conhecendoO e amandoO possa chegar também à verdade plena sobre si próprio JOÃO PAULO II 1998 p 1 Este pequeno trecho da encíclica uma carta circular do papa intitulada Fé e razão apresenta de maneira simples e objetiva a relação estabelecida entre os elementos constitutivos da fé e a razão fi losófi ca especialmente no contexto medieval O objetivo dessa carta é conduzir o homem à Verdade na qual se encontra a partir de uma complexa experiência individual marcada por uma profunda religiosidade Fica evidente que a experiência com o sagrado se alicerça em uma compreensão de natureza espiritual e fi losófi ca de tal forma que a Idade Média viverá em larga medida da herança fi losófi ca grega primeiro de Platão e do neoplatonismo mais tarde também de Aristóteles Não todavia sem que sobre essa herança tenha exercido o seu próprio labor fi losofante COUTINHO 2008 p 5 Vale ressaltar que as referências a respeito do platonismo e do aristotelismo medieval não se limitaram apenas a uma reprodução do legado deixado pelos clássicos Estes foram retomados com o intuito de produzir novos conceitos e problemas centrais para a tradição da fi losofi a assim não podemos reafi rmar a errônea concepção de Idade Média enquanto Período de Trevas uma vez que houve uma complexa riqueza cultural e fi losófi ca deixada por tais pensadores Toda essa produção fi losófi coteológica pode ser compreendida em quatro momentos essenciais para a caracterização do pensamento medieval Entre os séculos I e III dC marco inicial do surgimento do cristianismo os padres apostólicos destacaramse com a missão de difundir os ideais cristãos Dentre esses padres os mais notórios são Inácio de Antioquia martirizado no Coliseu em Roma Policarpo de Esmirna martirizado na Turquia e por suas inúmeras cartas deixadas durante suas peregrinações Paulo de Tarso decapitado em Roma A partir do século III até aproximadamente o século IV os padres apologistas ganharam destaque justamente por seu trabalho de defesa e exaltação do ideário cristão Dentre eles há os atenienses Kodratos ou Quadrato e Aristides o palestino Justino etc Da metade do século IV até o século VIII a Patrística destacouse com a fi gura de Agostinho de Hipona que buscava suas referências em Platão em uma tentativa de conciliar a fé com a razão Por fi m do século IX até o século XVI fi m da Idade Média prevaleceu a Escolástica com destaque para a produção intelectual de Tomás de Aquino a partir do referencial fi losófi co de Aristóteles 8amdfilosofiavol121indd 8 15122020 073032 Idade Média contexto histórico 9 8º ano do Ensino Fundamental A partir dessa breve contextualização e problematização do ponto central da fi losofi a medieval iremos em um primeiro momento direcionar o nosso foco para a Patrística e para a fi losofi a de Agostinho de Hipona Posteriormente discutiremos a Escolástica e o pensamento de Tomás de Aquino 8 Exercícios de sala 1 O cristianismo é uma religião empregando por vezes termos fi losófi cos para exprimir sua fé os escritores sacros cediam a uma necessidade humana mas substituíam o sentido fi losófi co antigo desses termos por um sentido religioso novo É esse sentido que lhes devemos atribuir quando os encontramos nos livros cristãos GILSON Etienne A Filosofi a na Idade Média Tradução de Eduardo Brandão São Paulo Martins Fontes 1998 p XV A partir do fragmento e de seus conhecimentos sobre o assunto responda qual a importância dos pensadores gregos clássicos para a tentativa de conciliação entre a fé e a razão proposta pelos medievais Justifi que sua resposta 8amdfilosofiavol121indd 9 15122020 073032 Filosofi a 10 Volume 1 2 A Filosofi a de Agostinho de Hipona A ureliano Agostinho 354430 ou apenas Agostinho foi um bispo que nasceu em Tagaste e faleceu em Hipona Uma das grandes referências intelectuais da Idade Média Agostinho foi o principal representante da Patrística Já adulto ele se converteu ao cristianismo ao entrar em contato com as obras e pregações do bispo Ambrósio de Milão tornandose um grande defensor dessa religião Antes de sua conversão Agostinho se declarava seguidor das doutrinas maniqueístas que defendiam uma compreensão do universo governado por forças opostas bem e mal que estariam em constante confl ito AURELIANO AGOSTINHO Disponível em httpscleofascombrdezensinamentosdesantoagostinhosobreaconfi ssao Acesso em 27 jul 2019 O adjetivo patrística que muitas vezes também é usado como substantivo indica quer a época quer a teologia a fi losofi a e a cultura em geral ligadas aos chamados Padres da Igreja ou simplesmente Padres Esta palavra conserva aqui o signifi cado originário do termo latino patres pais É a era dos pais da teologia ou da fé cristã racionalmente elaborada No Ocidente prolongase até Santo Isidoro de Sevilha séc VII no Oriente até São João Damasceno séc VIII COUTINHO 2008 p 32 Neste fi lme é possível compreender de maneira mais ampla a vida de Agostinho e sua importância para o pensamento medieval Título SantAgostino Original Ano de produção 2010 Dirigido por Christian Duguay Duração 200 minutos Disponível em httpswwwpaulinascombrdefaultsantoagostinhohtml Acesso em 24 jul 2019 8amdfilosofiavol121indd 10 15122020 073034 A Filosofi a de Agostinho de Hipona 11 8º ano do Ensino Fundamental Agostinho buscará em Platão e nos neoplatônicos a referênciabase para a conciliação da fi losofi a com a teologia O ponto central para o pensador cristão é afi rmar que a verdade é uma questão de fé comunicada por Deus ao homem Essa comunicação acontece de forma íntima e pessoal uma vez que ao criar a natureza humana Deus deixou impresso uma espécie de centelha na alma dos homens que age como um canal de comunicação que permite a manifestação divina iluminando a inteligência humana que sozinha é limitada e incapaz de conhecer a verdade Essa tese agostiniana denominada Teoria da Iluminação demonstra que apesar de a compreensão sobre a verdade ser um exercício que coloca a fé em primeiro plano ela não descarta o papel da razão mas a coloca em um patamar secundário em relação às verdades divinas que se revelam ao homem pela bondade de Deus Assim podemos concluir que é necessário que o homem creia e exerça sua fé para então compreender as verdades reveladas por Deus de tal forma que essa compreensão enquanto exercício constitutivo da razão exerça um papel posterior esclarecendo aquilo que a fé já antecipou Percebam aqui a clara distinção entre o conhecimento humano e o conhecimento divino pois este último comporta a verdade eterna e imutável para além da transitoriedade do conhecimento sensível A Teoria da Iluminação é importante pois é o ponto nerval de toda a construção fi losófi ca de Agostinho e justifi ca dentre muitas de suas proposições sua concepção política que se sustenta na noção elementar de que o último objetivo do exercício político é garantir o bem coletivo para que as pessoas sejam guiadas por preceitos divinos que assegurem a justiça com vistas à salvação eterna Nesse sentido Agostinho reforça uma perspectiva que subordina o Estado e o seu governo à autoridade da Igreja já que ela tem a função de por meio de sua tradição comunicar aos homens o caminho a se seguir Logo se a Igreja pelo seu magistério possui tal autoridade ela seria a grande guia e mentora das ações do Estado a fi m de conduzir o povo à salvação O governante justo é aquele que busca agir em consonância com os preceitos cristãos No entanto é de suma importância retomar o fato de que apesar de Deus revelar a verdade ao homem cabe a ele decidir se vai ou não acreditar nela No caso da política por exemplo o governante tem o livrearbítrio para decidir se vai conduzir suas ações com base na ética cristã Assim há uma questão central a ser respondia se Deus revela aos homens a verdade quais são as consequências das escolhas feitas Que eu ouça e entenda de que modo no princípio fi zeste o céu e a terra Moisés o escreveu escreveu e se foi passou daqui contigo para junto a ti e agora não está diante de mim Pois se estivesse eu o pararia e o interrogaria e suplicaria por ti para que desvendasse essas coisas a mim e abriria bem os ouvidos do meu corpo aos sons que irrompessem de sua boca E se falasse hebraico em vão atingiria meus sentidos e por isso nada tocaria minha mente Mas se falasse latim eu saberia o que ele diria Porém de onde eu saberia se diria o que é verdadeiro Se soubesse também isso acaso saberia por ele Com efeito dentro de mim dentro no domicílio do pensamento a verdade nem hebraica nem grega nem latina nem bárbara diria sem os órgãos da boca e da língua sem o estrépito de sílabas ele diz o verdadeiro e eu de pronto certo e confi ante diria àquele teu homem dizes o verdadeiro Então embora eu não possa interrogálo rogo a ti Verdade da qual está pleno aquele que disse coisas verdadeiras rogo a ti meu Deus perdoa meus pecados e assim como deste ao teu servo dizêlas dá também a mim entendêlas SANTO AGOSTINHO CONFISSÕES LIVRO XI Capítulo 3 5 Comentário do texto Nessa passagem Agostinho demonstra que o exercício da fé revela ao homem verdades de maneira intuitiva e pessoal Posteriormente a razão esclarecerá o que foi revelado pela fé 8amdfilosofiavol121indd 11 15122020 073034 Filosofi a 12 Volume 1 Para essa questão Agostinho irá propor a ideia de livrearbítrio cada indivíduo possui a escolha de agir segundo sua própria decisão Se o indivíduo faz a livre escolha de aproximarse de Deus aceitando as verdades reveladas ele estaria agindo com o Bem Caso opte por negar tais verdades ele estaria se afastando da Luz Divina e consequentemente caminhando para as sombras do mal Perceba aqui que o mal não é uma criação de Deus mas uma consequência da não aceitação das verdades divinas ou seja o mal é decorrente do uso inconsequente do livrearbítrio humano A questão do livrearbítrio está diretamente relacionada à noção de bem e mal Por fi m como um dos temas diferenciais do pensamento Agostiniano discutiremos de uma forma aprofundada o Tempo uma questão de suma importância pois é para a época única Além disso refl ete fi losofi a de René Descartes Immanuel Kant Bertrand Russell William Russell e outros autores da tradição Para tal discussão consideraremos todo o capítulo XI da obra Confi ssões Exercícios de sala 1 A vida de Agostinho desvela por si mesma o essencial perfi l da sua personalidade Destaquemos ainda assim alguns traços mais salientes Em primeiro lugar a sua insaciável sede de verdade ou de sabedoria que faz dele um verdadeiro fi lósofo no sentido originário do termo Não era todavia um temperamento cerebral mas um homem de coração que soube devolver o próprio pensamento à sua raiz afetiva e vivencial Possuía uma inteligência intuitiva e penetrante sem deixar de revelar grande poder de análise refl exiva servida por uma memória feliz e fi el e uma enorme capacidade de trabalho Tinha o instinto da metafísica mas também uma admirável capacidade psicológica de analisar a alma humana Como escritor foi um estilista esmerado COUTINHO 2008 p 41 a Explique a relação entre fé e razão para Santo Agostinho b Elabore uma pequena pesquisa e transcreva suas descobertas para este espaço explicando com suas palavras a infl uência da Teoria da Reminiscência de Platão na doutrina da Iluminação Divina de Agostinho Justifi que sua resposta Deus sumamente bom criou os seres humanos à sua imagem e semelhança ou seja eles possuem num certo grau a mesma racionalidade divina Sem contrariar sua boa natureza Deus permitiu ao homem o livrearbítrio Na medida em que os seres humanos esco lhem seguir as revelações divinas estão agindo no caminho do bem No entanto quando negam por escolha estão agindo pelo mal Assim o mal não é criação de Deus 8amdfilosofiavol121indd 12 15122020 073034 O tempo em Agostinho 13 8º ano do Ensino Fundamental 3 O tempo em Agostinho N o livro XI das Confi ssões Agostinho tematiza o tempo a partir de duas perspectivas centrais o tempo enquanto uma criação de Deus e a diferença entre tempo e eternidade Agostinho introduz a temporalidade a partir de uma relação entre o homem e o tempo utilizando uma passagem do livro do Gênesis para ressaltar a noção do tempo e de todas as coisas enquanto uma criação divina Existem pois o céu e a terra Em voz alta dizemnos que foram criados porque estão sujeitos a mudanças e vicissitudes Ainda mesmo o que não foi criado e todavia existe nada tem em si antes não existisse Portanto sofreu mudança e passou por vicissitudes Proclamem todas estas coisas que não se fi zeram a si próprias Existimos porque fomos criados Portanto não existíamos antes de existir para que nos pudéssemos criar A mesma evidência é a voz com o céu e a terra nos falam Vós Senhor os criastes Porque sois belo eles são belos porque sois bom eles são bons porque existis eles existem Não são tão formosos nem tão bons nem existem do mesmo modo que vós seu Criador Comparados convosco nem são belos nem são bons nem existem Graças vos sejam dadas por sabermos estas coisas Mas a nossa ciência compara com a vossa é ignorância AGOSTINHO 1980 p 237238 Tal afi rmação reforça a tese Agostiniana de que nada existe a não ser pela vontade de Deus e este por um ato de vontade criou todas as coisas do nada negando assim qualquer noção de que algo tenha existido antes da criação Ainda a respeito dessa passagem o fi lósofo de Tagaste continua sua refl exão discorrendo em um primeiro momento sobre a forma da criação Deus por meio da palavra do verbo criador fez com que todas as coisas existissem Esse verbo de natureza coeterna a Deus foi a forma utilizada pelo criador para dar origem a todas as coisas É importante ressaltar dois problemas centrais em Agostinho sua resposta aos questionamentos dos seguidores do maniqueísmo pois ele rompe com as doutrinas maniqueístas após a sua conversão e sua superação em relação às teses de Platão pois Agostinho não se limita a cristianizar a fi losofi a platônica mas de certo modo a supera propondo perspectivas diferentes como no tema da cosmologia Todas estas criaturas Vos louvam como Criador de tudo Mas de que modo as fazeis Como fi zestes meu Deus o céu e a terra Sem dúvida não fi zestes o céu e a terra no céu ou na terra nem no ar ou nas águas porque também pertencem ao céu e à terra Nem criastes o Universo no Universo porque antes de o criardes não havia espaço onde pudesse existir Nem tínheis à mão matéria alguma com que modelásseis o céu e a terra Nesse caso de onde viria essa matéria que Vós não criáreis e com a qual pudésseis fabricar alguma coisa Que criatura que não exija a vossa existência Portanto é necessário concluir que falastes e os seres foram criados Vós os criastes pela vossa palavra AGOSTINHO 1980 p 238239 Interrogado pelos maniqueus sobre o que fazia Deus antes da criação Agostinho fugindo de respostas evasivas propõe a impossibilidade de se pensar em uma noção do tempo antes da criação uma vez que o próprio tempo é uma criação divina ou seja o tempo é uma criação que passou a existir com a manifestação da vontade divina Dessa forma Deus não está sujeito 8amdfilosofiavol121indd 13 15122020 073034 Filosofi a 14 Volume 1 ao tempo pois ele é anterior e também o seu criador Assim em resposta aos maniqueus Agostinho demostra que Deus não fazia nada antes da criação pois sendo o tempo sua criatura é impossível pensar sob qualquer possibilidade de temporalidade antes de Deus criar o tempo em si A respeito da diferença entre o conceito de criação para Agostinho e Platão fi ca evidente na contraposição dos autores o seguinte aspecto o demiurgo platônico entidade metafísica criadora da realidade sensível partiu de uma matéria sem forma denominada Khôra Khora ou Chora em grego antigo χώρα para realizar o seu ato criador Além da necessidade de uma matéria preexistente o demiurgo precisou levar em consideração um modelo também preexistente no mundo das ideias para dar forma à matéria ao passo que o Deus criador em Agostinho fez todas as coisas do nada Assim enquanto o demiurgo platônico copia a tese Agostiniana respaldada na literatura bíblica demonstra que Deus cria Admitindo o tempo enquanto uma criatura como podemos defi nilo Seria o tempo na concepção de Agostinho três realidades distintas passado presente e futuro Para deixar essa questão bem clara precisamos compreender o tempo sob três pontos centrais o tempo no aspecto ontológico metafísico e psicológico A ontologia enquanto um ramo da Filosofi a trata do ser enquanto ser portanto o tempo na perspectiva ontológica seria estudado enquanto um ser que possui uma natureza defi nida restando assim o desafi o de defi nila A metafísica amplia as questões ontológicas não se preocupando apenas com a natureza do tempo mas em compreendêlo a partir de várias relações interligadas O aspecto psicológico é o tempo enquanto algo pertencente à percepção do sujeito Apesar de Agostinho não discutir de forma tão ampla o tempo em seu sentido ontológico podemos defi nir sua natureza como um todo indivisível ou seja o tempo é único e não possui divisões negando portanto qualquer perspectiva fragmentada Já no sentido metafísico o tempo poderia ser defi nido como algo que além de possuir uma natureza indivisível está em permanente mudança um constante vir a ser que condiciona todas as coisas a passarem por transformações ininterruptas Vale ressaltar que essas duas noções não são contraditórias mas pensam o tempo sob perspectivas diferentes Enquanto a primeira busca defi nir o tempo e sua natureza a segunda compreenderá sua relação com todas as coisas existentes Por fi m analisaremos com maior detalhe o tempo no seu sentido psicológico Pelo que pareceume que o tempo não é outra senão distensão mas de que coisa o seja ignoroo Seria para admirar que não fosse a da própria alma Portanto dizeime eu Volo suplico meu Deus que coisa meço eu quando declaro indeterminadamente Este tempo é mais longo do que aquele ou quando digo determinadamente Este é duplo daquele outro Sei perfeitamente que meço o tempo mas não o futuro porque ainda não existe Também não avalio o presente pois não tem extensão nem o passado que não existe Que meço eu então O tempo que presentemente decorre e não o que já passou Assim o tinha dito eu AGOSTINHO 1980 p 252 Em seu sentido psicológico o tempo referese ao modo como o homem apreende e ressignifi ca sua realidade para que a divisão do tempo em passado presente e futuro exista apenas para o sujeito não enquanto realidades distintas uma vez que o tempo é algo único indivisível e em constante processo de transformação Essa divisão da realidade temporal do homem se dá em função da capacidade de sua alma realizar distensões ou seja apreender brevemente o presente guardar na memória as lembranças passadas ou criar expectativas 8amdfilosofiavol121indd 14 15122020 073034 O tempo em Agostinho 15 8º ano do Ensino Fundamental futuras Assim falar de uma realidade temporal múltipla fora da capacidade de distensão da alma é impossível para Agostinho Em relação ao passado a alma guarda vestígios das lembranças memorizandoas tornandose capaz de sempre que possível revivêlas A alma também tem a capacidade de desenvolver a atenção pois ela apreende toda a mudança temporal constante tornando possível falar de um presente mesmo que ele seja tão breve e logo se torne passado Por fi m a alma também é capaz de criar expectativas futuras baseadas no que aconteceu e no que está armazenado na memória O que agora transparece é que nem há tempos futuros nem pretéritos É impróprio afi rmar que os tempos são três pretérito presente e futuro Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três presente das coisas passadas presente das presentes e presente das coisas futuras Existem pois estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte lembrança presente das coisas passadas visão presente das coisas passadas visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras AGOSTINHO 1980 p 248 Portanto não há na perspectiva Agostiniana presente passado ou futuro enquanto realidades distintas mas apenas o presente temporal enquanto um constante devir Agostinho encerra o Livro XI das Confi ssões ressaltando a capacidade limitada da razão humana de compreender os mistérios divinos e a impossibilidade de se falar em qualquer ideia de tempo que não seja pelo pressuposto da criação Encerramos nosso debate sobre a fi losofi a de Agostinho evidenciando conforme sua discussão sobre o tempo a atualidade e a grande contribuição dessa perspectiva para a tradição fi losófi ca Tal perspectiva infl uenciou especialmente autores como Kant o qual ampliou a discussão ao pensar no tempo enquanto parte essencial da sensibilidade do homem Exercícios de sala 1 Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra Se estava ocioso e nada realizava dizem eles por que não fi cou sempre assim no decurso dos séculos abstendose como antes de toda ação Se existiu em Deus um novo movimento uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara como pode haver verdadeira eternidade se nEle aparece uma vontade que antes não existia AGOSTINHO Confi ssões São Paulo Abril Cultural 1984 a Como Agostinho compreende o tempo sob o aspecto psicológico Justifi que sua reposta 8amdfilosofiavol121indd 15 15122020 073035 Filosofi a 16 Volume 1 DE VOLTA PARA O FUTURO 2 EUA 1989 Robert Zemeckis Com Michael J Fox Christopher Lloyd Lea Thompson Thomas F Wilson No fi m dos anos de 1980 parecia tão distante adentrar e se estabelecer no século 21 Mas como tudo chega e o tempo não para chegamos enfi m ao futuro da trilogia De volta para o futuro Mais precisamente no dia 21 de outubro de 2015 data da chegada de Marty Mcfl y a um tempo além do seu presente Assim foi com os fi lmes que também tentaram imaginar o mundo anos à frente 1984 de Michael Radford devastado pela guerra atômica e 2001 Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick dominado pela tecnologia e pela conquista do espaço Disponível em httpfsindicalorgbrfi lmesdicadefi lmedevoltaparaofuturo2 backtothefuture2 Acesso em 26 jul 2019 b Levando em consideração a tese Agostiniana sobre o tempo por que não é possível viajar entre as dimensões do tempo como propõe a fi cção científi ca De volta para o futuro Justifi que sua resposta 8amdfilosofiavol121indd 16 15122020 073037 A Escolástica e a fi losofi a de Tomás de Aquino 17 8º ano do Ensino Fundamental 4 A Escolástica e a fi losofi a de Tomás de Aquino P osterior à Patrística o período da Escolástica do século VIII ao XIV foi marcado pelo ápice da estruturação e hegemonia da Igreja Católica sobretudo pela sua forte ligação com as monarquias e a organização de cruzadas à Terra Santa Além disso esse período se caracterizou pela organização e fundação de escolas fi nanciadas principalmente pelo Rei Carlos Magno coroado pelo Papa Leão III Seu reinado foi marcado pela íntima relação com a Igreja como forma de garantir o poder político e econômico Assim surge o termo Escolástica derivado de escolas que buscavam a formação integral do indivíduo por meio da conciliação de aspectos humanísticos e religiosos Nesses centros de formação adotouse o modelo de formação romana ensinando matérias como o trivium gramática retórica e dialética e o quadrivium geometria aritmética música e astronomia Vale ressaltar que além de todas essas disciplinas estarem direcionadas aos aspectos teológicos elas também buscavam a formação do sacerdote de forma integral preparandoo para a missão de evangelizar e expandir os números de fi éis da igreja É nesse ambiente de intensa produção e formação intelectual que surgem as primeiras universidades com o formato que conhecemos hoje O termo escolástica deriva de escola A Escolástica foi um vasto fenómeno cultural com especial incidência na teologia e na fi losofi a que se desenvolveu na base e a partir da estrutura escolar da Idade Média A organização escolar da Idade Média foi decalcada no modelo romano tal como este o fora já no modelo grego Como tudo porém nesta época ela está intimamente vinculada à Igreja por ela instituída e sustentada em função dos seus objetivos humanistas e religiosos Para isso contribuíram especialmente Santo Agostinho Boécio e Marciano Capela além de Carlos Magno com o seu movimento restaurador das instituições romanas Desde os últimos tempos do Império Romano com a organização da Igreja em paróquias e dioceses e a difusão dos mosteiros foram se também multiplicando as escolas criadas e sustentadas por estas instituições eclesiásticas que assim iam compensando o progressivo desaparecimento das escolas imperiais submersas pela onda barbarizante COUTINHO 2008 p 95 Disponível em httpcneclk0bt9 Acesso em 29 jul 2019 As Sete Artes Liberais 1450 Artista Pesellino Francesco di Stefano 14221457 8amdfilosofiavol121indd 17 15122020 073038 Filosofi a 18 Volume 1 No início da Escolástica prevaleceu fortemente a infl uência de Platão trazida pela Patrística no entanto a partir do século XIII o pensamento de Aristóteles predominou no interior das escolas por conta de uma redescoberta das obras aristotélicas traduzidas para o latim infl uenciando de maneira incisiva a fi losofi a desse tempo Vale destacar nessa difusão do pensamento aristotélico a grande contribuição das traduções e comentários dos fi lósofos árabes Avicena 9801037 e Averróis 11261198 que tiveram contato com a fi losofi a aristotélica a partir do século VI O período da Escolástica foi muito importante porque além de deixar como legado grandes centros de formação e produção intelectual também ampliou a difusão da fi losofi a de Aristóteles já iniciada pelos árabes É a partir da Escolástica e de sua importância para o contexto fi losófi co da Idade Média que iremos discutir alguns dos aspectos elementares da fi losofi a de Tomás de Aquino Exercícios de sala 1 Qual é a importância da educação no contexto da Escolástica Justifi que sua resposta 41 O pensamento tomista N ascido em 1226 no feudo de Roccasecca na Sicília Tomás teve seus estudos iniciais conduzidos pelos monges beneditinos e posteriormente ingressou no seminário dos dominicanos em 1244 Considerado ao lado de Agostinho um dos grandes doutores da Igreja sua vasta produção intelectual inclui 60 obras destacandose as Sumas Teológicas um conjunto de tratados em que o autor sintetiza e organiza temas centrais do cristianismo com base na lógica e na metafísica aristotélica Se Agostinho fundamentou sua leitura em Platão é por meio de releituras do pensamento de Aristóteles que Tomás procurou conciliar a fé e a razão readequando muitos dos elementos do pensamento aristotélico sob a perspectiva cristã Tomás de Aquino 12261274 Filósofo e teólogo italiano da Idade Média e membro da Ordem Dominicana Disponível em httpfsindicalorgbrfi lmesdicadefi lmedevoltaparaofuturo2backtothefuture2 Acesso em 29Jul 2019 8amdfilosofiavol121indd 18 15122020 073039 A Escolástica e a fi losofi a de Tomás de Aquino 19 8º ano do Ensino Fundamental Tal como Santo Agostinho se aproxima de Platão não só no pensamento mas também no estilo dos seus escritos assim São Tomás anda próximo de Aristóteles numa e noutra destas duas linhas Agostinho personalidade emotiva e mística inteligência intuitiva sintética formado na escola da retórica fortemente empenhado na sua missão episcopal escrevendo muito ao sabor das exigências da vida pessoal e pastoral deixou nas obras que escreveu as suas marcas de autor na forte carga emotiva na tensão vivencial na relativa desordem em que o pensamento progride e se expande Tomás de Aquino diferentemente foi um homem cerebral um espírito sereno um investigador e professor a tempo inteiro um fi lósofo e teólogo profi ssional ou de laboratório verdadeiramente científi co servido por uma inteligência racional e analítica fria e rigorosa modelada e estruturada pela lógica aristotélica COUTINHO 2008 p 123 Apesar de Agostinho e Tomás terem como propósito a tentativa de conciliação entre fé e razão é notória a tendência de Agostinho de se voltar para questões espirituais devido à sua referência platônica Há entretanto uma tendência mais racional e lógica nas obras de Tomás de Aquino em virtude da sua referência aristotélica O ponto de partida do pensamento tomista está diretamente ligado à relação e à distinção entre os conceitos de Ente e Ser essência as quais demonstram que o Ser de Deus é a essência de todos os Entes que são os seres humanos os objetos do mundo natural e os seres irracionais Logo para Tomás uma vez que Deus enquanto Ser é a essência de tudo ou seja graças a Ele tudo existe então todas as criaturas são qualifi cadas como Entes pois elas existem devido à criação de um Ser superior denominado Deus Fica evidente a superioridade da natureza divina em relação às suas criaturas conforme demonstra a tabela a seguir DEUS ESSÊNCIA CRIATURAS ENTES Ser necessário Ser contingente pode ser ou não Ato puro Ato e potência está sujeito a transformações Imutável e infi nito Mutável e fi nito Sempre existiu Existência criada Intelecto Puro Onisciente Intelecto passivo e ativo carece de conhecer Na natureza humana existem dois níveis de intelectos que constituem o conhecimento Tomás fundamenta sua teoria a respeito do processo de conhecer a partir da relação entre Intelecto Passivo e Ativo o intelecto passivo a sensibilidade ou seja os sentidos capta em um primeiro momento os dados apreendidos na realidade e os conduz para o Intelecto Ativo a razão que no segundo momento opera com tais informações organizandoas sistematicamente a fi m de produzir o conhecimento Em relação ao aspecto ético e político Tomás afi rma que o caminho para a felicidade do homem deveria estar sujeito a uma lei divina que conduz ao justo equilíbrio na ordenação da sociedade Essa lei divina é revelada aos homens por Deus como fonte de justiça e igualdade a exemplo dos Dez Mandamentos Cabe ao homem e sobretudo ao governante estabelecer a harmonização no plano social e político entre o poder temporal e espiritual ou seja orientar suas ações com base nos preceitos revelados por Deus Nesse sentido Tomás retoma o pensamento aristotélico de uma felicidade como fi m último mas vincula a ideia do sagrado a uma parte integrante de um projeto ético e político com vistas à felicidade 8amdfilosofiavol121indd 19 15122020 073040 Filosofi a 20 Volume 1 Todo ser humano possui naturalmente em si a luz da razão que o dirige em suas ações para um fi m Assim se ele pudesse viver solitariamente como ocorre com muitos animais não precisaria de um dirigente que o guiasse Cada um seria um rei para si mesmo abaixo de Deus Rei supremo uma vez que dirigiria a si mesmo em seus atos através da luz da razão que lhe foi concedida pela divindade Todavia mais do que para qualquer outro animal é natural para o ser humano ser um animal social e político ou seja viver junto a muitos como o demonstra a necessidade natural Com efeito no caso dos demais animais a natureza preparoulhes a comida como vestimento proveuos de pelos para sua defesa dotouos de dentes chifres unhas ou ao menos de velocidade para fuga Mas a natureza não dotou o ser humano dessas coisas Ao invés disso foilhe dada a razão que o habilita a preparar tudo isso com suas mãos Porém como um único ser humano não é sufi ciente para fazer todas essas coisas então um ser humano sozinho não pode levar de maneira sufi ciente sua vida Logo é natural ao ser humano que ele viva em sociedade junto a muitos SÃO TOMAS DE AQUINO Do Reino ou do Governo dos Príncipes ao Rei de Chipre In Escritos Políticos de Santo Tomás de Aquino Exercícios de sala 2 Faça uma pesquisa sobre as 5 provas da existência de Deus e explique cada uma delas a partir da fi losofi a de Tomás de Aquino Organize sua pesquisa de maneira clara e objetiva transcrevendoa para as linhas dispostas a seguir 8amdfilosofiavol121indd 20 15122020 073040 O tempo em Tomás de Aquino 21 8º ano do Ensino Fundamental 5 O tempo em Tomás de Aquino E m relação à questão do tempo Tomás irá basicamente fazer uma releitura cristã dessa temática segundo a fi losofi a de Aristóteles compreendendo o tempo enquanto uma representação numérica do movimento a partir de toda transformação ocorrida na realidade Em outras palavras o tempo é uma expressão matemática da relação da passagem do antes e do depois de determinada mudança ocorrida Exemplo Vou da minha casa para a escola Neste exemplo existe uma expressão numérica temporal que pode representar o antes de iniciar o meu percurso e outra expressão numérica que pode representar o depois de ter iniciado Assim como em Aristóteles Tomás também constata que o movimento expresso pelo tempo é algo inerente a todas as coisas entes No entanto se tudo está em constante movimento em uma permanente mudança então é necessário um agente motor imóvel primum mobile immotum pois se ele movesse cairíamos em uma redução ao infi nito fonte de todo o movimento De quanto expusemos até aqui evidenciase que não há Deus qualquer sucessão temporal senão que Deus existe totalmente e simultaneamente A sucessão temporal ocorre exclusivamente nas coisas que de um modo ou de outro estão sujeitas ao movimento de vez que são o antes e o depois no movimento que constituem a sucessão temporal Ora Deus não está em absoluto sujeito ao movimento Donde se infere que não há nEle qualquer sucessão de tempo AQUINO 1973 p79 Esse agente primeiro motor imóvel de toda a realidade é Deus ou seja Ele move toda a realidade sem se mover Fica evidente que uma vez que Deus é o motor de todas as coisas e possui uma natureza imóvel então não é possível expressar temporalmente a realidade divina já que esta não sofre mudança Qual seria então a medida para expressar Deus já que não é possível calcular temporalmente suas ações A resposta dada por Tomás é a eternidade pois ela não só representa a realidade divina mas constitui a sua própria essência isto é Deus é eterno por natureza Assim é possível perceber que Tomás retoma quase que integralmente a noção de tempo em Aristóteles defi nindoa sob a perspectiva de quantidade ou seja uma expressão numérica do movimento segundo as noções de antes e depois No entanto acrescenta a diferença entre temporalidade e eternidade Exercícios de sala 1 Explique com suas palavras o conceito de tempo segundo a fi losofi a tomista 8amdfilosofiavol121indd 21 15122020 073040 Filosofi a 22 Volume 1 Exercícios resolvidos 2 UFU A fi losofi a de Agostinho 354430 é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio cujo espiritualismo devia aproximálo do cristianismo Ouvindo sermões de Ambrósio infl uenciados por Plotino que Agostinho venceu suas últimas resistências de tornarse cristão PEPIN Jean Santo Agostinho e a patrística ocidental In CHÂTELET François Org A Filosofi a medieval Rio de Janeiro Zahar Editores 1983 p77 Apesar de ter sido infl uenciado pela fi losofi a de Platão por meio dos escritos de Plotino o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão Assinale a alternativa que apresenta corretamente uma dessas diferenças a Para Agostinho é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro enquanto para Platão a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano b Para Platão a verdadeira realidade encontrase no mundo das Ideias enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos c Para Agostinho a alma é imortal enquanto para Platão a alma não é imortal já que é apenas a forma do corpo d Para Platão o conhecimento é na verdade reminiscência a alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina a centelha de Deus que existe em cada um Resposta Gabarito D A ideia central do conhecimento em Platão gira em torno da noção de reminiscência a qual remete à percepção de relembrar o conhecimento já adquirido pela alma no mundo das ideias que ao ser encarnada nos corpos esqueceuse de tudo o que sabia Em Agostinho tal perspectiva platônica não é compartilhada pois o conhecimento surge de uma relação que o homem tem com Deus fonte de todo o saber Deus portanto é capaz de iluminar a limitada razão humana e revelar as verdades sobre a existência Exercícios propostos 3 UFU Na medida em que o Cristianismo se consolidava a partir do século II vários pensadores convertidos à nova fé e aproveitandose de elementos da fi losofi a grecoromana que eles conheciam bem começaram a elaborar textos sobre a fé e a revelação cristãs tentando uma síntese com elementos da fi losofi a grega ou utilizandose de técnicas e conceitos da fi losofi a grega para melhor expor as verdades reveladas do Cristianismo Esses pensadores fi caram conhecidos como os Padres da Igreja dos quais o mais importante a escrever na língua latina foi Santo Agostinho COTRIM Gilberto Fundamentos de Filosofi a Ser Saber e Fazer São Paulo Saraiva 1996 p 128 Adaptado Esse primeiro período da fi losofi a medieval que durou do século II ao século X fi cou conhecido como a Escolástica b Neoplatonismo c Antiguidade tardia d Patrística 8amdfilosofiavol121indd 22 15122020 073040 O tempo em Tomás de Aquino 23 8º ano do Ensino Fundamental 4 ENEM Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra Se estava ocioso e nada realizava dizem eles por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos abstendose como antes de toda ação Se existiu em Deus um novo movimento uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara como pode haver verdadeira eternidade se nEle aparece uma vontade que antes não existia AGOSTINHO Confi ssões São Paulo Abril Cultural 1984 A questão da eternidade tal como abordada pelo autor é um exemplo de refl exão fi losófi ca sobre as a essência da ética cristã b natureza universal da tradição c certezas inabaláveis da experiência d abrangência da compreensão humana e interpretações da realidade circundante 5 ENEM Se os nossos adversários que admitem a existência de uma natureza não criada por Deus o Sumo Bem quisessem admitir que essas considerações estão certas deixariam de proferir tantas blasfêmias como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos males Pois sendo Ele fonte suprema de Bondade nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza AGOSTINHO A natureza do Bem Rio de Janeiro Sétimo Selo 2005 Adaptado Para Agostinho não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque a o surgimento do mal é anterior à existência de Deus b o mal enquanto princípio ontológico independe de Deus c Deus apenas transforma a matéria que é por natureza má d por ser bom Deus não pode criar o que lhe é oposto o mal e Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem e o mal 6 ENEM Ora em todas as coisas ordenadas a algum fim é preciso haver algum dirigente pelo qual se atinja diretamente o devido fim Com efeito um navio que se move para diversos lados pelo impulso dos ventos contrários não chegaria ao fim de destino se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto ora tem o homem um fim para o qual se ordenam toda a sua vida e ação Acontece porém agirem os homens de modos diversos em vista do fim o que a própria diversidade dos esforços e ações humanas comprova Portanto precisa o homem de um dirigente para o fim AQUINO T Do reino ou do governo dos homens ao rei do Chipre Escritos políticos de São Tomás de Aquino Petrópolis Vozes 1995 Adaptado No trecho citado Tomás de Aquino justifi ca a monarquia como o regime de governo capaz de a refrear os movimentos religiosos contestatórios b promover a atuação da sociedade civil na vida política c unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum d reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística e dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual 7 UFU Considere o seguinte texto sobre Tomás de Aquino 12261274 Fique claro que Tomás não aristoteliza o cristianismo mas cristianiza Aristóteles Fique claro que ele nunca pensou que com a razão se pudesse entender tudo não ele continuou acreditando que tudo se compreende pela fé só quis dizer que a fé não estava em desacordo com a razão e que portanto era possível darse ao luxo de raciocinar saindo do universo da alucinaçãoEco Umberto Elogio de santo Tomás de Aquino In Viagem na irrealidade cotidiana p339 8amdfilosofiavol121indd 23 15122020 073040 Filosofi a 24 Volume 1 É correto afi rmar segundo esse texto que a Tomás de Aquino com a ajuda da fi losofi a de Aristóteles conseguiu uma prova científi ca para as certezas da fé por exemplo a existência de Deus b Tomás de Aquino se empenha em mostrar os erros da fi losofi a de Aristóteles para mostrar que esta fi losofi a é incompatível com a doutrina cristã c O estudo da fi losofi a de Aristóteles levou Tomás de Aquino a rejeitar as verdades da fé cristã que não fossem compatíveis com a razão natural d A atitude de Tomás de Aquino diante da fi losofi a de Aristóteles é de conciliação desta fi losofi a com as certezas da fé cristã 8amdfilosofiavol121indd 24 15122020 073040 O alquimismo de Roger Bacon 25 8º ano do Ensino Fundamental II A transição da Idade Média para a Idade Moderna 6 O alquimismo de Roger Bacon A transição do Período Medieval para o Moderno foi marcado por um processo de profundas mudanças tanto na perspectiva social e política quanto na fi losófi ca sobretudo pela nova forma como o homem moderno estabeleceu suas novas relações com o mundo natural No entanto antes mesmo de apresentarmos os principais pontos desta transição enfatizando os elementos históricos e políticos e suas estreitas relações com o fi losófi co é bom ressaltar a importância da tradição alquimista para a constituição dessa nova mentalidade precursora do pensamento científi co Nesse sentido os alquimistas herdeiros de uma tradição mística que encontra suas origens na cultura oriental irão com suas práticas experimentais propor uma nova relação com a natureza até então compreendida pela Igreja Católica como intocável dada a sua sacralidade São várias também as versões sobre a etimologia da palavra alquimia Parece referirse ao Egito Khem ou khan nome antigo do Egito e o artigo defi nido árabe al dandoalchimia a terra negra Pode também prover da raiz grega chemeia do egípcio chem negro que pode referirse tanto à terra negra Egito quanto ao negro da oxidação dos metais ou ainda ao negro cor sagrada dos sacerdotes egípcios que como tintura a preparavam secretamente o que resultou no termo Arte Negra como arte do aperfeiçoamento em busca do divino VARGAS Nairo de Souza Aspectos históricos da alquimia São Paulo Junguiana 2017 v 35 n 2 p 6976 Disponível em httppepsicbvsaludorg scielophpscriptsciarttextpidS010308252017000200008lngptnrmiso Acesso em 17 ago 2019 Em laboratórios escondidos da inquisição católica esses químicos realizavam seus experimentos de manipulação dos elementos naturais com o objetivo de melhor compreenderem a ordem cósmica Nesse processo fundamentado em práticas experimentais e observacionais muitos instrumentos de pesquisa foram criados bem como seus preciosos registros que oportunizaram signifi cativas contribuições para o surgimento da ciência moderna No entanto muitos desses projetos também foram interrompidos e não se desenvolveram Nesse contexto houve a hegemonia do controle exercido pela Igreja que após o seu enfraquecimento e declínio no fi m da Idade Média permitiu o nascimento da ciência com a constituição de métodos baseados na análise e na repetição É importante destacar o quanto a préciência alquímica irá contribuir para Disponível em httpswwwarabbritishcentreorgukalchemyinthemiddleeastbychristopherdanieli Acesso em 17 ago 2019 8amdfilosofiavol121indd 25 15122020 073042 Filosofi a 26 Volume 1 o desenvolvimento de métodos investigativos da ciência como os trabalhos realizados por Roger Bacon Antes de adentrarmos nos elementos da fi losofi a de Bacon façamos uma leitura atenta do texto sobre a importância e infl uência da alquimia na ciência moderna RESULTADOS DO PENSAMENTO MÁGICOHERMÉTICO SOBRE A CIÊNCIA MODERNA Não se deve pensar que durante o período que estamos tratando a magia tenha estado de um lado e a ciência de outro A ciência moderna com a imagem que dela nos apresentou Galileu e que Newton consolidará constitui como observamos anteriormente o resultado do processo da revolução científi ca Por essa razão no curso desse processo à medida que assume consistência a nova forma de saber que a ciência moderna a outra forma de saber isto é a magia passa a ser combatida como forma de pseudociência e de saber espúrio No entanto os vínculos entre fi losofi a neoplatônica hermetismo tradição cabalística magia astrologia e alquimia por um lado e as teorias empíricas e a nova ideia de saber que avança nesse sentido cultural por outro lado são vínculos cujos elos só se dissolvem com lentidão e esforço Com efeito deixando de lado o componente neoplatônico que constitui o fundamento de toda a revolução astronômica ninguém pode hoje negar o peso relevante que o pensamento mágico hermético exerceu também sobre os expoentes mais representativos da revolução cientifi ca Além de astrônomo Copérnico também foi médico tendo praticado sua medicina por meio da teoria da infl uência dos astros E não é o caso de um Copérnico médico que se comporta como astrólogo e um Copérnico astrônomo que se comporta como cientista puro assim como nos concebemos o cientista pois quando Copérnico trata de justifi car a centralidade do sol no universo ele se remete também à autoridade de Hermes Trismegisto que chama o sol de Deus visível Por seu turno Kepler conhecia muito bem o Corpus Hermeticum muito do seu trabalho consistiu em compilar efemérides quando se casou pela segunda vez aconselhouse com os amigos mas consultou também as estrelas e sobretudo a sua visão da harmonia das esferas está preenchida de misticismo neopitagórico REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 152 É possível compreender a partir do texto como a tradição antiga do Hermetismo ou Hermeticismo o qual trata do estudo e da prática tanto da fi losofi a oculta quanto da magia associados aos escritos atribuídos a Hermes Trismegisto foi importante para o surgimento da ciência moderna A cisão entre os aspectos místicos dos estudos alquimistas e a ciência ocorreu de maneira gradual ao longo do desenvolvimento de métodos investigativos apoiados na tecnologia Nesse aspecto iremos tratar de algumas concepções gerais de Roger Bacon e sua colaboração para a ciência moderna Pertencente à ordem dos franciscanos Roger Bacon foi uma das fi guras mais signifi cativas que contribuíram para a alquimia e posteriormente para o surgimento da ciência contribuindo para a mecânica a química e outras áreas do pensamento moderno Conhecido como Doctor Mirabilis Admirável Doutor esse frade foi um grande estudioso do pensamento aristotélico e buscou em seus estudos a reafi rmação de uma investigação empírica sobre os fatos naturais como forma de compreender o universo tornandose um dos precursores do empirismo moderno Ele propôs a necessidade de se constituir um método de investigação natural composto pela observação hipótese experimentação e necessidade de verifi cação Ao estabelecer em sua proposta a necessidade de uma investigação calcada no critério de verifi cabilidade ou seja verifi car quantas vezes forem necessárias a validade dos resultados Bacon ofereceu às bases Roger Bacon 1214 1294 Disponível em httpswwwbritannicacombiographyRogerBacon Acesso em 17 de agosto de 2019 8amdfilosofiavol121indd 26 15122020 073042 O alquimismo de Roger Bacon 27 8º ano do Ensino Fundamental metodológicas que serão posteriormente usadas por grandes cientistas modernos O diagrama ao lado evidencia a importância da proposta vislumbrada por Bacon que posteriormente foi melhor desenvolvida pela ciência com experimentos mais precisos e análises tecnológicas mais avançadas encontrando conclusões mais seguras No entanto a base elementar do método surgiu graças à proposta baconiana Em razão das suas pesquisas e do seu forte envolvimento com a alquimia ele foi condenado por bruxaria pela Igreja permaneceu em cárcere privado durante 14 anos e morreu posteriormente em Oxford Bacon escreveu obras bastante signifi cativas como Opus majus 1257 a única completa Opus minus e Opus tertium Sem os instrumentos de astronomia de geometria de ótica e de outras ciências não se pode realizar nada apenas através desses instrumentos podemos conhecer com exatidão os corpos celestes que são causas dos acontecimentos no mundo inferior isto é na terra porque o efeito não se pode conhecer sem conhecer suas causas Sem esses instrumentos portanto não se pode saber nada de extraordinário por isso é preciso possuílos mas bem poucos deles são confeccionados pelos latinos é indispensável também possuir abundância de livros de todas as ciências seja de autores ou de comentadores antigos BACON R Obras escolhidas Tradução de Jan Ter Reegen e Luís Alberto de Boni Porto Alegre São Francisco 2006 v 8 p 53 Ressaltase ainda o destaque que o autor franciscano conferiu à ciência experimental e à necessidade de haver critérios bem estabelecidos na busca pela verdade Herdeiro das refl exões aristotélicas sua posição demonstra com clareza o início de um percurso científi co que na Idade Média e auxiliado pelo desenvolvimento da tecnologia ganhou um corpo maior com o surgimento do método analítico de investigação A proposta baconiana de investigação demonstra que não é possível a construção de qualquer conhecimento seguro se ele não estiver fundamentado em uma investigação empírica amparada por uma múltipla relação de conhecimentos matemáticos e de outras ciências Assim ao alicerçar as bases da ciência moderna Bacon também foi um dos grandes idealizadores das invenções tecnológicas MÉTODO CIENTÍFICO PERGUNTA OBSERVAÇÃO HIPÓTESE EXPERIMENTO ANÁLISE CONCLUSÕES design by Freepik adaptado 8amdfilosofiavol121indd 27 15122020 073042 Filosofi a 28 Volume 1 Podem ser feitos instrumentos de navegação sem homens remando como navios muito grandes tanto fl uviais como marítimos dirigidos por um único piloto numa velocidade maior do que estivessem cheios de remadores Da mesma forma podem ser feitos carros para serem movidos com inestimável velocidade sem animais pensamos que desse jeito devem ter sido os carros armados de foices com que se combatia antigamente Também podem ser feitas máquinas para voar de forma que o homem sentase no meio máquina e aciona algum instrumento através do qual asas mecânicas se movimentam no ar como aves quando voam BACON R Obras escolhidas Tradução de Jan Ter Reegen e Luís Alberto de Boni Porto Alegre São Francisco 2006 v 8 p 53 A proposta baconiana de uma ciência experimental ganhou realidade com o avanço tecnológico pois essa circunstância permitiu uma maior verifi cabilidade da investigação dos fatos o que oportunizou a constituição da ciência moderna Exercícios de sala 1 Qual é a importância das investigações realizadas pelos alquimistas para a constituição da ciência moderna Justifi que sua resposta 2 Qual elemento da proposta de investigação de Roger Bacon contribuiu para o método científi co Justifi que sua resposta Exercícios resolvidos 3 ENEM O franciscano Roger Bacon foi condenado entre 1277 e 1279 por dirigir ataques aos teólogos por uma suposta crença na alquimia na astrologia e no método experimental e também por introduzir no ensino as ideias de Aristóteles Em 1260 Roger Bacon escreveu Pode ser que se fabriquem máquinas graças às quais os maiores navios dirigidos por um único homem se desloquem mais depressa do que se fossem cheios de remadores que se construam carros que avancem a uma velocidade incrível sem a ajuda de animais que se fabriquem máquinas voadoras nas quais um homem bata o ar com asas como um pássaro Máquinas que permitam ir ao fundo dos mares e dos rios apud BRAUDEL Fernand Civilização material economia e capitalismo séculos XVXVIII São Paulo Martins Fontes 1996 v 3 8amdfilosofiavol121indd 28 15122020 073043 O alquimismo de Roger Bacon 29 8º ano do Ensino Fundamental Considerando a dinâmica do processo histórico podese afi rmar que as ideias de Roger Bacon a inseriamse plenamente no espírito da Idade Média ao privilegiarem a crença em Deus como o principal meio para antecipar as descobertas da humanidade b estavam em atraso com relação ao seu tempo ao desconsiderarem os instrumentos intelectuais oferecidos pela Igreja para o avanço científi co da humanidade c opunhamse ao desencadeamento da Primeira Revolução Industrial ao rejeitarem a aplicação da matemática e do método experimental nas invenções industriais d eram fundamentalmente voltadas para o passado pois não apenas seguiam Aristóteles como também baseavamse na tradição e na teologia e inseriamse num movimento que convergiria mais tarde para o Renascimento ao contemplarem a possibilidade de o ser humano controlar a natureza por meio das invenções Resposta GABARITO E Roger Bacon foi um pensador inglês que apesar de ser um frade franciscano e de viver em um período no qual existia um poder de censura e perseguição por parte da Igreja atacou a postura da Igreja em relação à produção do conhecimento e foi condenado por heresia Ele desenvolveu um estudo sobre metodologia científi ca fortemente apoiado na matemática e no empirismo como questões referentes às observações hipóteses experimentação e verifi cação de elementos da natureza Bacon foi um visionário ao trazer elementos para a metodologia científi ca que até então não eram considerados como possibilidades de verifi cação e reprodução dos eventos de uma pesquisa de forma independente isto é o cientista não poderia por si mesmo verifi car através de cálculos e experimentos as leis que regem determinado evento da natureza Entretanto ele abriu espaço para a ideia moderna e contemporânea de um mundo natural regido por leis fi xas e decifráveis que podem ser dominadas e controladas pelo homem Suas principais referências fi losófi cas foram Aristóteles e o seu contemporâneo Robert Grosseteste Exercícios propostos 4 ENEM Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço geográfi co através da pesquisa científi ca e da invenção tecnológica os cientistas também iriam se atirar nessa aventura tentando conquistar a forma o movimento o espaço a luz a cor e mesmo a expressão e o sentimento SEVCENKO N O Renascimento Campinas Unicamp 1984 O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística marcada pela constante relação entre a fé e misticismo b ciência e arte c cultura e comércio d política e economia e astronomia e religião 5 ENEM Leia o texto e em seguida assinale a alternativa correta A base da teoria da visão de Roger Bacon 12141292 é extraída dos aspectos anatômicos fi losófi cos e matemáticos de Alhazen Em suas principais obras sobre óptica Perspectiva e De multiplicatione specierum Acerca da multiplicação das espécies o objeto visto transmite espécies pelos raios 8amdfilosofiavol121indd 29 15122020 073043 Filosofi a 30 Volume 1 luminosos em todas as direções alcançando a superfície do olho Cada ponto na superfície do olho é o vértice de uma pirâmide visual com a base na superfície do objeto Portanto deve haver uma correspondência ponto a ponto entre os pontos da superfície do olho e os do campo visual TOSSATO Claudemir Roque A função do olho humano na óptica do fi nal do século XVI São Paulo Sci Stud v 3 n 3 p 433434 Podemos dizer que o desenvolvimento de teorias sobre a Ótica por parte do cientista medieval Roger Bacon a provocou um enorme retrocesso na ciência ocidental b contribuiu grandemente para o desenvolvimento posterior das teorias modernas sobre ótica c não teve nenhuma infl uência do conhecimento científi co árabe d era fantasioso sem nenhum critério científi co sério e não tinha nenhuma conexão com a realidade física 6 ENEM Na linha de uma tradição antiga o astrônomo grego Ptolomeu 100170 dC afi rmou a tese do geocentrismo segundo a qual a Terra seria o centro do universo sendo que o Sol a Lua e os planetas girariam em seu redor em órbitas circulares A teoria de Ptolomeu resolvia de modo razoável os problemas astronômicos da sua época Vários séculos mais tarde o clérigo e astrônomo polonês Nicolau Copérnico 14731543 ao encontrar inexatidões na teoria de Ptolomeu formulou a teoria do heliocentrismo segundo a qual o Sol deveria ser considerado o centro do universo com a Terra a Lua e os planetas girando circularmente em torno dele Por fi m o astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler 15711630 depois de estudar o planeta Marte por cerca de trinta anos verifi cou que a sua órbita é elíptica Esse resultado generalizouse para os demais planetas A respeito dos estudiosos citados no texto é correto afi rmar que a Ptolomeu apresentou as ideias mais valiosas por serem mais antigas e tradicionais b Copérnico desenvolveu a teoria do heliocentrismo inspirado no contexto político do Rei Sol c Copérnico viveu em uma época em que a pesquisa científi ca era livre e amplamente incentivada pelas autoridades d Kepler estudou o planeta Marte para atender às necessidades de expansão econômica e científi ca da Alemanha e Kepler apresentou uma teoria científi ca que graças aos métodos aplicados pôde ser testada e generalizada 8amdfilosofiavol121indd 30 15122020 073043 Idade Moderna 31 8º ano do Ensino Fundamental 7 Idade Moderna O período da Idade Moderna tem como marco histórico inicial a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos de 1453 a 1789 que foi o início da Revolução Francesa O Renascimento cultural e científi co o surgimento da burguesia e o fi m da Idade Média foram fatores determinantes para a mudança das formas de pensar o mundo e o Universo Assim temos no campo do conhecimento uma nova perspectiva que deixa de ser religiosa e se torna racional e científi ca Logo problemas acerca do homem e de como conhecêlo ganham centralidade na racionalidade moderna Além disso a centralidade de uma visão antropocêntrica perfaz as várias áreas do conhecimento promovendo uma mentalidade racionalista acerca do homem e do mundo Nesse contexto destacase o Renascimento cultural que ocorreu entre os séculos XV e XVI na Europa e foi um movimento inspirado no Humanismo itálico ocorrido no século XIV encabeçado por intelectuais que defendiam o resgate da cultura e do conhecimento grecoromano fundamentado nas noções de razão e liberdade Assim como o próprio nome sugere o Renascimento por meio dos intelectuais da arte da ciência e a da fi losofi a buscou reavivar a cultura clássica da Antiguidade sem considerar as adequações promovidas pelos pensadores medievais os quais alinharam o pensamento fi losófi co aos moldes do Cristianismo Dessa forma buscouse reascender os elementos da racionalidade fi losófi ca em sua essência como forma de compreender o homem e o mundo a partir de novos métodos de investigação Ora toda essa nova mentalidade oportunizou uma reconfi guração do conhecimento e promoveu o que se denominou Revolução Científi ca O resultado do processo cultural que passou a ser denominado revolução cientifi ca foi uma nova imagem do mundo que entre outras coisas propôs problemas religiosos e antropológicos não indiferentes Ao mesmo tempo representou a proposta de nova imagem da ciência autônoma pública controlável e progressiva Mas a revolução cientifi ca foi precisamente um processo um processo que para ser compreendido deve ser dissecado em todos os seus componentes inclusive a tradição hermética a alquimia a astrologia ou a magia posteriormente abandonadas pela ciência moderna mas que bem ou mal infl uíram sobre sua gênese ou pelo menos sobre seu desenvolvimento inicial E preciso contudo ir mais além já que outra característica fundamental da revolução cientifi ca foi a formação de um saber a ciência precisamente que ao contrário do saber medieval reúne teoria e prática ciência e técnica dando assim origem a um novo tipo de douto bem diferente do fi losofo medieval do humanista do mago do astrólogo ou também do artesão ou do artista da Renascença A revolução científi ca cria o cientista experimental moderno cuja experiência e o experimento tornado sempre mais rigoroso por novos instrumentos de medida cada vez mais precisos REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 146 Essa nova imagem de um mundo organizado e fundamentado no paradigma de uma observação direta sobre os fenômenos naturais sob a ótica das representações matemáticas revolucionou a visão do homem sobre o Cosmos ou seja o Universo passou a ser entendido como um fenômeno natural e não mais divino Entre as novas perspectivas que surgiram durante a Idade Moderna a respeito do Universo encontrase como marco inicial a Teoria Heliocêntrica de Nicolau Copérnico Nascido na cidade polonesa de Torun Copérnico inicia seus estudos em Cracóvia e se especializa em direito canônico ao tornarse sacerdote Terminada sua formação religiosa ele volta para a Polônia e redige sua mais célebre obra De revolutionibus orbium coelestium Das revoluções das esferas celestes Nessa obra Copérnico lança as bases da sua teoria heliocêntrica fundamentada em seis princípios básicos 8amdfilosofiavol121indd 31 15122020 073043 Filosofi a 32 Volume 1 1 o mundo deve ser esférico 2 a terra deve ser esférica 3 a terra com a água forma uma única esfera 4 o movimento dos corpos celestes é uniforme circular e perpétuo ou então composto por movimentos circulares 5 a terra se move em um círculo orbital em torno do centro girando também sobre seu eixo 6 a dimensão dos céus se comparada com a dimensão da terra é enorme REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 166 Ora tal perspectiva cosmológica revolucionou não apenas a visão fechada e dogmática da perspectiva geocêntrica defendida pela Igreja Católica e apoiada em uma tradição aristotélica mas revolucionou sobretudo a Filosofi a ao apresentar para o homem um esquema cósmico que descentralizava a terra do Universo Assim Copérnico expandiu os níveis da ciência e da mentalidade humana de forma surpreendente para época Ao deslocar a posição da terra Copérnico também retirou o homem do centro do universo Em seu conhecido livro A revolução copernicana 1957 escreve ainda Kuhn Sua doutrina planetária e a concepção a ela ligada de um universo centrado no sol foram instrumentos da passagem da sociedade medieval para a moderna sociedade ocidental enquanto atingiam a relação do homem com o universo e com Deus Desenvolvida com uma revisão estritamente técnica de alto nível matemático da astronomia clássica a teoria copernicana tornouse um centro focal das terríveis controvérsias no campo religioso fi losófi co e das doutrinas sociais que nos dois séculos posteriores a descoberta da América fi xaram a orientação do pensamento europeu Em suma a revolução copernicana foi também uma revolução no mundo das ideias a transformação de ideias inveteradas que o homem tinha do universo de sua relação com ele e do seu lugar nele REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 168 Disponível em httpwwwgrupomeiodoceucominternas20190125nicolaucopernicoeosistemaheliocentrico Acesso em 19082019 Nicolau Copérnico e o seu esquema heliocêntrico 8amdfilosofiavol121indd 32 15122020 073043 Idade Moderna 33 8º ano do Ensino Fundamental Exercícios de sala NICOLAU COPÉRNICO Copérnico explicava que o modelo ptolemaico era incorreto por não satisfazer a exigência fundamental segundo a qual cada planeta deveria se deslocar com velocidade uniforme descrevendo um círculo perfeito Para resolver esse problema difícil de modo mais simples do que o de Ptolomeu Copérnico estabeleceu sete princípios fundamentais 1 os corpos celestes não se deslocam ao redor do mesmo centro 2 a Terra não é o centro do sistema do mundo mas somente da órbita lunar 3 o Sol é o centro do sistema do mundo 4 a distância do Sol à Terra é desprezível quando comparada à distância das estrelas fi xas 5 o movimento aparente do céu se deve à rotação da Terra em torno do seu próprio eixo 6 o movimento anual aparente do Sol no céu se deve ao movimento da Terra e dos planetas ao seu redor 7 as estações e os movimentos retrógrados aparentes dos planetas se devem aos movimentos da Terra e dos planetas ao redor do Sol Disponível em httpwwwihuunisinosbrimagesstoriescadernosideias049cadernosihuideiaspdf Acesso em 02 Set 2019 1 A partir da leitura do texto responda às questões a Qual é o ponto fundamental das teses copernicanas em relação à proposta de Ptolomeu Justifi que sua resposta b Considerando o pensamento científi co moderno qual é o legado deixado por Copérnico Justifi que sua resposta 8amdfilosofiavol121indd 33 15122020 073043 Filosofi a 34 Volume 1 III O desenvolvimento de métodos e instrumentos de análises científi cas uma revolução no pensamento 8 Galileu Galilei G alileu Galilei desenvolveu pesquisas por meio do legado de Copérnico Ele nasceu em Pisa no dia 15 de fevereiro de 1564 e faleceu em Florença no dia 8 de janeiro de 1642 Galileu deu continuidade às teses copernicanas ao propor uma investigação mais profunda acerca do Universo apoiado em um instrumento científi co de investigação que ele mesmo criou a luneta As suas pesquisas alicerçadas na possibilidade de demonstração empírica dos fatos não apenas colocaram ainda mais em dúvida as posições geocêntricas do universo que eram fundamentadas na tradição aristotélicoptolomaica fortemente defendida pela Igreja mas também causaram uma verdadeira revolução na astronomia e tornaram irrefutável a teoria heliocêntrica apresentada por seu antecessor Na primavera de 1609 Galileu teve a informação de que certo fl amengo denominação dada àquele que é natural do condado de Flandres na Bélgica fabricara uma lente através da qual os objetos visíveis mesmo muito distantes do olho do observador podiam ser vistos distintamente como se estivessem próximos A notícia foilhe confi rmada logo depois de Paris por um exdiscípulo Tiago Badoukre o que constituiu por fi m o motivo que me impeliu a dedicarme totalmente a procurar as razões e cogitar os meios pelos quais eu poderia chegar à invenção de um instrumento semelhante Então Galileu preparou um tubo de chumbo a cujas extremidades aplicou duas lentes ambas planas de um lado ao passo que do outro uma era convexa e outra côncava aproximando o olho da côncava vi os objetos bastante grandes e próximo já que apareciam três vezes mais próximos e nove vezes maiores do que quando eram vistos apenas com a visão natural Depois preparei outro mais exato que representava os objetos mais de sessenta vezes maiores E por fi m diz ainda Galileu sem poupar esforço nem despesa alguma cheguei a ponto de construir um instrumento tão excelente que as coisas vistas por meio dele aparecem quase mil vezes maiores e mais de trinta vezes mais próximas do que quando olhadas apenas com a faculdade natural Seria inteiramente supérfl uo enumerar quantas e quais são as vantagens desse instrumento tanto na terra como no mar REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 196 Editado Disp onív el e m h ttp s jorn alu sp br atua lid ade sca rta esc rita porg alile oga lileie des cobe rtap ora caso A cess o em 01 de Set 2019 alileu Galilei desenvolveu pesquisas por meio do legado de Copérnico Ele nasceu em Pisa no dia 15 de fevereiro de 1564 e faleceu em Florença no dia 8 de janeiro de 1642 Galileu deu continuidade às teses copernicanas ao propor mais em dúvida as posições geocêntricas do universo que eram fundamentadas na tradição aristotélicoptolomaica fortemente defendida pela Igreja mas também causaram uma verdadeira revolução na astronomia e tornaram irrefutável a teoria Disp onív el e m h ttttt p s jorn alu sp br atua lid ad lileie des cobe rtap ora caso A cess o em 01 de Set 2019 8amdfilosofiavol121indd 34 15122020 073044 Galileu Galilei 35 8º ano do Ensino Fundamental 1 O acréscimo à multidão das estrelas fi xas visíveis também a olho nu de outras inumeráveis estrelas jamais vistas antes O universo portanto tornase maior 2 Com a certeza que é dada pela experiência sensível é possível apreender que a lua não é em absoluto feita de uma superfície lisa e polida mas escalavrada e desigual e da mesma forma que a face da terra apresentase em grande parte coberta de grandes proeminências profundos vales e sinuosidades Esse resultado é de grande relevância pois destrói a distinção entre corpos terrestres e corpos celestes uma distinção que era um verdadeiro pilar de sustentação da cosmologia aristotélicoptolomaica 3 O dado de que a galáxia nada mais é do que um amontoado de inumeráveis estrelas disseminadas aos punhados para qualquer região dela que se dirija a luneta logo grande multidão de estrelas apresentasse à vista Através dessa observação Galileu sustenta fi carem resolvidas com a certeza que é dada pelos olhos todas as disputas que por tantos séculos atormentaram os fi lósofos libertandonos de discussões verbosas 4 Ademais maravilha ainda maior as estrelas chamadas até hoje pelos astrônomos individualmente como nebulosas são amontoados de pequenas estrelas disseminadas de modo admirável 5 Mas o argumento mais importante do Sidereus Nuncius para Galileu é a descoberta dos satélites de Júpiter que em homenagem a Cosme II dos Médici ele chamou de estrelas mediceanas pois dava a possibilidade de revelar e divulgar quatro planetas nunca vistos desde as origens do mundo até nossos dias dando ocasião de descobrilos e estudálos além de sua posição e das observações feitas durante os dois últimos meses sobre seus movimentos e suas transformações Essa descoberta oferecia a Galileu a inesperada visão no céu de um modelo menor que o universo copernicano REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 197 Editado Do ponto de vista científi co qual é a real importância da criação da luneta desenvolvida por Galileu A criação de tal objeto possibilitou à ciência potencializar os sentidos durante a observação dos astros e dos movimentos planetários Como um instrumento óptico ele permitiu a observação de grandes objetos a longas distâncias como estrelas planetas galáxias e constelações com uma precisão que seria impossível apenas com a visão como afi rmado por Galileu sem poupar esforço nem despesa alguma cheguei a ponto de construir um instrumento tão excelente que as coisas vistas por meio dele aparecem quase mil vezes maiores e mais de trinta vezes mais próximas do que quando olhadas apenas com a faculdade natural Seria inteiramente supérfl uo enumerar quantas e quais são as vantagens desse instrumento tanto na terra como no mar A partir das observações por meio da luneta foram elaborados diversos registros a fi m de compor um corpo sistemático de análises científi cas que deixaram uma importante herança para o pensamento Grande parte de todas essas observações compuseram uma obra publicada em 12 de março de 1610 por Galileu na cidade de Veneza intitulada em Sidereus Nuncius O Mensageiro das Estrelas Nessa obra o pensador revolucionou as observações astronômicas e reforçou ainda mais as teses copernicanas de perspectiva heliocêntrica e derrubou o paradigma de uma antiga concepção geocêntrica apoiada nas teses de Aristóteles e Ptolomeu estabelecendo cinco princípios básicos O objeto maior representa a luneta Disponível em httpwwwviafanzinejorbrsitevfastrovtelescopios2htm Acesso em 01 de Set 2019 8amdfilosofiavol121indd 35 15122020 073045 Filosofi a 36 Volume 1 Posteriormente Galileu publicou outras obras que deram continuidade às suas pesquisas mas não foram bemvindas pela Igreja Católica que após manifestar algumas advertências contra Galileu acusao de heresia em 1633 durante o governo do papa Urbano VIII que o obrigou a renegar suas teorias caso não quisesse ser sentenciado à morte Galileu acata a decisão do Tribunal de Inquisição e vai viver o resto de sua vida em Florência na Itália em uma espécie de prisão domiciliar Somente em 1992 o papa João Paulo II reconheceu o erro da Igreja na condenação de Galileu e pediu desculpas publicamente sobre tal fato e admitiu o equívoco em relação ao pensador italiano Exercícios de sala 1 Galileu e seus sucessores atirando objetos de alturas para o solo e fazendo rolar esferas sobre planos inclinados contrastavam nitidamente seus métodos com a anterior e habitual especulação inspirada na Metafísica Aristotélica Achavamse pois abertamente em jogo os procedimentos adequados para a elaboração do Conhecimento E era preciso não somente determinar esses procedimentos mas trazer a sua justifi cação e reeducarse na condução dos novos métodos Tanto mais que tais métodos iam chocarse em última instância com preconceitos profundamente implantados em concepções tradicionais que traziam o poderoso selo de convicções religiosas As necessidades do momento levavam assim os homens de pensamento a se deterem atentamente nos problemas do Conhecimento O que afora as estéreis manipulações verbais a que se reduzira a Lógica formal clássica praticamente já não detinha a atenção de ninguém Registros em forma de desenhos da Lua feitos por Galileu Galilei em 1610 Disponível em httpsourplntcommoondrawingsgalileogalileiaxzz64b9BuxxY Acesso em 01 de Set 2019 8amdfilosofiavol121indd 36 15122020 073046 Galileu Galilei 37 8º ano do Ensino Fundamental a Qual é a discussão central levantada pelo texto Justifi que sua resposta b Qual é a principal contribuição da luneta deixada por Galileu Galilei Justifi que sua resposta 8amdfilosofiavol121indd 37 15122020 073047 Filosofi a 38 Volume 1 9 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina N o mesmo ano da morte de Galileu nasceu na cidade de Woolsthorpe em Lincolnshire Isaac Newton que não apenas deu continuidade ao processo de revolução científi ca iniciada na transição do período medieval para o moderno mas também ressignifi cou a física clássica Autor de várias obras profundas acerca da dinâmica do universo Newton propôs uma nova compreensão a partir de suas teses a respeito de várias questões destacandose os seus postulados voltados para o estudo sobre óptica e teoria gravitacional Mas antes de adentrarmos no pilar de seu pensamento por meio de um resumo das suas teorias é mister destacar como a partir de suas análises fundamentadas na ciência física o pensador contribuiu decisivamente para o pensamento fi losófi cocientífi co ao estabelecer regras basilares para a construção da ciência Essas regras podem ser descritas de maneira objetiva da seguinte forma Regra I Não devemos admitir mais causas para as coisas naturais do que aquelas que são tanto verdadeiras como sufi cientes para explicar suas aparências Regra II Por isso tanto quanto possível aos mesmos efeitos devemos atribuir às mesmas causas Como na questão da respiração no homem e no animal no caso da queda das pedras na Europa e na América no problema da luz do nosso fogo de cozinha e do sol ou no fato do refl exo da luz sobre a terra e sobre os planetas Regra III As qualidades dos corpos que não admitem aumento nem diminuição de grau e que se descobre pertencerem a todos os corpos no interior do âmbito dos nossos experimentos devem ser consideradas qualidades universais de todos os corpos Regra IV Na fi losofi a experimental as proposições inferidas por indução geral dos fenômenos devem ser consideradas como estritamente verdadeiras ou como muito próximas da verdade apesar das hipóteses contrárias que possam ser imaginadas até quando se verifi quem outros fenômenos pelos quais se tornem mais exatas ou então sejam submetidas a exceções REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 236 Editado A partir dessas regras metodológicas estabelecidas por Newton é possível pressupor primeiramente que a natureza é simples uniforme e objetiva Logo não cabe àqueles que desejam conhecêla ir além daquilo que ela apresenta como fenômeno Uma vez compreendida sua dinamicidade e simplicidade como estrutura devem ser estabelecidas algumas qualidades fundamentais dos corpos a partir daquilo que é manifestado na experiência como a extensão a dureza o movimento e outras características básicas Disp onível em htt psbrp interes tcomp in704 250460 452359 616lp true Acess o em 02 Se t 2019 asceu na cidade de Woolsthorpe em Lincolnshire Isaac Newton que não apenas deu continuidade ao processo de revolução científi ca iniciada na fi losófi cocientífi co ao estabelecer regras basilares para a construção da ciência Essas regras podem ser descritas de maneira objetiva da seguinte Disp onível em htt psbrp i t t ue A cesso em 0 2 Set 2019 8amdfilosofiavol121indd 38 15122020 073047 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina 39 8º ano do Ensino Fundamental Ora as qualidades que são atribuídas a fi m de melhor ilustrar a dinâmica do real são fundamentadas a partir da relação estabelecida entre o sujeito e o objeto Essa compreensão alicerçada na dinâmica do universo leva Newton a afi rmar que o sistema do mundo é uma grande máquina estruturada por complexas leis passíveis de serem compreendidas por meio de uma observação sistemática dos fenômenos O mundo é um conjunto de sistemas ordenados suscetíveis à verifi cação e à comprovação Essas concepções quando analisadas sob a perspectiva mecânica do universo levam Newton entre outras teses a formular a teoria da gravidade A força de gravidade portanto existe E é a observação que a atesta Mas se quisermos nos aprofundar mais há uma pergunta que não pode ser evitada qual a razão a causa ou se preferirmos a essência da gravidade Responde Newton Na verdade ainda não consegui deduzir dos fenômenos as razões dessas propriedades da gravidade E não invento hipóteses Hypotheses non fi ngo não invento hipóteses essa é a famosa e conhecida sentença metodológica de Newton tradicionalmente citada como irrevogável chamado aos fatos e como condenação decidida e motivada das hipóteses ou conjecturas REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 239 Editado A expressão Hypotheses non fi ngo não invento hipóteses demonstra a clareza da fi losofi a newtoniana e a fi delidade à experiência por ser a fonte de fundamentação das teses Esse exame por meio da observação não cria apenas teorias mas comprovações de modo que seu pensamento não se limita apenas à especulação à criação de hipóteses mas busca comprovar aquilo que se afi rma com base na experimentação A fi m de elucidar melhor o conceito de teoria gravitacional a seguir há uma pequena explicação da principal e revolucionária tese de Newton De acordo com a lei gravitacional a força de gravitação que faz dois corpos se atraírem é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado de sua distância Em símbolos essa lei se expressa na conhecida fórmula F G m1 m2 D2 Nela F é a força de atração m1 e m2 são as duas massas D é a distância que separa as duas massas e G é uma constante que vale em todos os casos tanto na atração recíproca entre terra e lua como entre a terra e uma maçã etc Com a lei da gravidade Newton encontrou um único princípio capaz de explicar uma quantidade ilimitada de fenômenos Com efeito a força que faz cair uma pedra ou uma maçã ao chão tem a mesma natureza que a força que mantém a lua vinculada a terra e a terra vinculada ao sol E essa força é a mesma que explica o fenômeno das marés um efeito combinado da atração do sol e da lua sobre a massa da água dos mares REALE Giovanni DARIO Antiseri História da fi losofi a do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 241 Dessa forma Newton além de conduzir o desenvolvimento do pensamento científi co sustentado na observação e na comprovação dos fatos também foi o responsável por estabelecer uma complexa unifi cação dos modelos astronômicos na perspectiva heliocêntrica postulada pelos trabalhos de Galileu Kepler e Copérnico A partir dessa unifi cação proposta por Newton o cientista fez surgir uma nova ferramenta matemática que ofereceu a possibilidade de um instrumento mais preciso e sistemático no processo de investigação o Cálculo Diferencial e Integral 8amdfilosofiavol121indd 39 15122020 073047 Filosofi a 40 Volume 1 Os trabalhos de Newton contribuíram decisivamente para o desenvolvimento de tecnologias científi cas e infl uenciou os primeiros projetos de foguetes que foram determinantes para a conquista da chegada do homem à Lua Newton faleceu em Londres no dia 20 de março de 1727 Seu corpo foi levado em um longo cortejo carregado de honrarias e homenagens da sociedade inglesa até a Abadia de Westminster onde até hoje encontramse seus restos mortais Evidenciando a importância desses autores da Idade Moderna procuraremos no próximo capítulo dar continuidade aos grandes pensadores da ciência e da política desse período esclarecendo a complexa contribuição do pensamento fi losófi co para a Ciência Exercícios de sala 1 A maior parte dos sábios como Isaac Newton era profundamente crente e pensava que descobrir as leis da natureza graças à física é descobrir a obra de uma providência absolutamente divina e convencerse de que a organização do mundo não é produto do acaso Muito antes das Luzes é no declínio das antigas hierarquias e no turbilhão suscitado pela chegada ao Novo Mundo que devemos buscar a fonte da revolução científi ca É nesse contexto que as novas ciências abandonam a concepção de natureza como algo maravilhoso governado por princípios ocultos e passam a imaginála como uma máquina gigantesca A tal engrenagem seguiria leis reguladoras e necessárias passíveis de serem traduzidas em linguagem matemática Isso não impediria contudo que a visão mecanicista da natureza continuasse por muito tempo como um ato de fé incapaz de explicar fenômenos tão familiares como a coesão de materiais a queda dos corpos ou a maré Adaptado de JENSEN P O saber não é neutro Le Monde Diplomatique Brasil Institudo Polis jun 2010 ano 3 n 35 p 34 A partir do excerto dos seus conhecimentos e da concepção newtoniana o que signifi ca dizer que o universo é uma máquina Justifi que sua resposta Exercício modelo vestibular 2 ENEM A fi losofi a encontrase escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos isto é o universo que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito Ele está escrito em língua matemática os caracteres são triângulos circunferências e outras fi guras geométricas sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras sem eles vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto GALILEI G O ensaiador Os pensadores São Paulo Abril Cultural 1978 No contexto da Revolução Científi ca do século XVII assumir a posição de Galileu signifi cava defender a a continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante na Idade Média b necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do exame matemático c oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da fi losofi a escolástica 8amdfilosofiavol121indd 40 15122020 073047 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina 41 8º ano do Ensino Fundamental d importância da independência da investigação científi ca pretendida pela Igreja e inadequação da matemática para elaborar uma explicação racional da natureza 3 ENEM Assentado portanto que a Escritura em muitas passagens não apenas admite mas necessita de exposições diferentes do signifi cado aparente das palavras pareceme que nas discussões naturais deveria ser deixada em último lugar GALILEI G Carta a Benedetto Castelli In Ciência e fé cartas de Galileu sobre o acordo do sistema copernicano com a Bíblia São Paulo Unesp 2009 Adaptado O texto extraído da carta escrita por Galileu 15641642 cerca de trinta anos antes de sua condenação pelo Tribunal do Santo Ofi cio discute a relação entre ciência e fé problemática cara no século XVII A declaração de Galileu defende que a a bíblia por registrar literalmente a palavra divina apresenta a verdade dos fatos naturais tornandose guia para a ciência b o signifi cado aparente daquilo que é lido acerca da natureza na bíblia constitui uma referência primeira c as diferentes exposições quanto ao signifi cado das palavras bíblicas devem evitar confrontos com os dogmas da Igreja d a bíblia deve receber uma interpretação literal porque desse modo não será desviada a verdade natural e os intérpretes precisam propor para as passagens bíblicas sentidos que ultrapassem o signifi cado imediato das palavras 4 UELAdaptada Em 2012 o Vaticano permitiu o acesso do público a vários documentos entre eles o Sumário do julgamento de Giordano Bruno e os Atos do processo de Galileu As teorias desses estudiosos juntamente com o Homem Vitruviano são exemplos de uma profunda transformação no modo de conceber e explicar o conhecimento da natureza design by Freepik Com base nos conhecimentos sobre a investigação da natureza no início da ciência moderna particularmente em Galileu atribua V verdadeiro ou F falso às afi rmativas a seguir A nova atitude de investigação rendeuse ao poder de convencimento argumentativo da Igreja a ponto de o próprio Galileu ao abjurar suas teses ter se convencido dos equívocos da sua teoria 8amdfilosofiavol121indd 41 15122020 073050 Filosofi a 42 Volume 1 A observação dos fenômenos a experimentação e a noção de regularidade matemática da natureza abalaram as concepções que fundamentavam a visão medieval de mundo O abandono da especulação levou Galileu a adotar pressupostos da fi losofi a de Aristóteles pois esse pensador possuía uma concepção de experimentação similar à sua O método de investigação da natureza restringiase àquilo que podia ser apreendido imediatamente pelos sentidos uma vez que o que está além dos sentidos é mera especulação Uma das razões mais fortes para a condenação de Galileu foi sua identifi cação da imperfeição dos corpos celestes o que contrariava os dogmas da igreja Assinale a alternativa que contém de cima para baixo a sequência correta a V V V F F b V V F V F c V F V F V d F V F F V e F F V F V 5 UFSJ Galileu e seus sucessores atirando objetos de alturas para o solo e fazendo rolar esferas sobre planos inclinados contrastavam nitidamente seus métodos com a anterior e habitual especulação inspirada na Metafísica Aristotélica Achavamse pois abertamente em jogo os procedimentos adequados para a elaboração do Conhecimento E era preciso não somente determinar esses procedimentos mas trazer a sua justifi cação e reeducarse na condução dos novos métodos Tanto mais que tais métodos iam chocarse em última instância com preconceitos profundamente implantados em concepções tradicionais que traziam o poderoso selo de convicções religiosas As necessidades do momento levavam assim os homens de pensamento a se deterem atentamente nos problemas do Conhecimento O que afora as estéreis manipulações verbais a que se reduzira a Lógica formal clássica praticamente já não detinha a atenção de ninguém Assinale a alternativa que expressa o problema central desse fragmento de texto a A tentativa dos modernos em empreender uma nova metodologia para a Ciência e para a Filosofi a b A iminente necessidade de se praticar uma Filosofi a conduzida por novos métodos e técnicas de aprimoramento da metafísica aristotélica c A grande emergência de se fazer uma total integração da Filosofi a com a Ciência através de uma tentativa de equiparação dos seus métodos d A constatação de que a Filosofi a passaria a assumir o comprometimento com as questões relativas ao problema da retórica aristotélica bem como do conhecimento teológico 6 UFF Galileu Galilei é considerado um dos grandes nomes da história da ciência graças às suas revolucionárias observações astronômicas por meio do telescópio e aos seus estudos sobre a a economia política b a composição da luz c a anatomia humana d o movimento dos corpos e a circulação do sangue 7 UEL A obra de Galileu Galilei está indissoluvelmente ligada à revolução científi ca do século XVII a qual implicou uma mutação intelectual radical cujo produto e expressão mais genuína foi o desenvolvimento da ciência moderna no pensamento ocidental Neste sentido destacamse dois traços entrelaçados que caracterizam esta revolução inauguradora da modernidade científi ca a dissolução da ideia grecomedieval do Cosmos e a geometrização do espaço e do movimento KOYRÉ A Estudos Galilaicos Lisboa Dom Quixote 1986 pp 1320 KOYRÉ A Estudos de História do Pensamento Científi co Brasília Editora UnB 1982 pp 152154 8amdfilosofiavol121indd 42 15122020 073050 A física de Isaac Newton o mundo é uma máquina 43 8º ano do Ensino Fundamental Com base no texto e nos conhecimentos sobre as características que marcam revolução científi ca no pensamento de Galileu Galilei assinale a alternativa correta a A dissolução do Cosmos representa a ruptura com a ideia do Universo como sistema imutável heterogêneo hierarquicamente ordenado da física aristotélica b A crença na existência do Cosmos na física aristotélica se situa na concepção de um Universo aberto indefi nido e até infi nito unifi cado e governado pelas mesmas leis universais c Contrária à concepção tradicional de ciência de orientação aristotélica a física galilaica distingue e opõe os dois mundos do Céu e da Terra e suas respectivas leis d A geometrização do espaço e do movimento na física galilaica aprimora a concepção matemática do Universo cósmico qualitativamente diferenciado e concreto da física aristotélica e A física galilaica identifi ca o movimento a partir da concepção de uma totalidade cósmica em cuja ordem cada coisa possui um lugar próprio conforme sua natureza 8 UFPA Galileu ao conceber a ciência valoriza a experiência e se preocupa com a descrição quantifi cada dos fenômenos Tal descrição tornase possível porque ele faz a distinção entre qualidades primárias e secundárias ARANHA M L MARTINS M H P Filosofando p 179 De acordo com o exposto acima é correto afi rmar que a somente as qualidades primárias devem ser levadas em consideração pelos cientistas b somente as qualidades secundárias são relevantes para o conhecimento científi co c as qualidades primárias não são suscetíveis de receberem tratamento matemático d somente as qualidades secundárias devem ser tratadas cientifi camente por serem consideradas matematizáveis e nenhuma das qualidades dos corpos pode ser tratada quantitativamente 9 UNICENTRO A fi losofi a encontrase escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos isto é o Universo Ele está escrito em língua matemática os caracteres são triângulos circunferências e outras fi guras geométricas Sem estes meios é impossível entender humanamente as palavras sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto GALILEU Apud COTRIM Fundamentos da Filosofi a história e grandes temas 16 ed São Paulo Saraiva 2006 p133 De acordo com o texto acima e com seus conhecimentos sobre a ciência da natureza em Galileu assinale a alternativa correta a De acordo com os princípios de sua ciência Galileu depositava grande crédito no método indutivo pois este possuiria melhor alcance nos resultados da investigação da natureza b O passo decisivo da física galileana concentravase na realização de experimentos para comprovar uma tese sem a necessidade de recorrer às elaborações do raciocínio matemático c Quanto ao movimento Galileu seguiu as teorias de Aristóteles que distinguia o movimento qualitativo do movimento quantitativo para considerar toda mudança apenas do ponto de vista qualitativo corpos pesados ou leves d Um dos aspectos centrais da ciência da natureza em Galileu está na realização de experimentos com o auxílio indispensável da matemática pois para ele a matemática é o meio instrumental capaz de enunciar e traduzir as regularidades observadas nos fenômenos naturais e O que dá validade científi ca aos processos intelectuais de Galileu é que os resultados de suas pesquisas jamais precisariam ser submetidos à comprovação empírica bastando apenas se localizarem no campo da abstração 8amdfilosofiavol121indd 43 15122020 073050 Filosofi a 44 Volume 1 Referências ABBAGNANO Nicola Dicionário de Filosofi a São Paulo Martins Fontes 1998 AGOSTINHO Confi ssões 2 ed Tradução de J Oliveira Santos e A Ambrósio de Pina São Paulo Abril Cultural 1980 AQUINO São Tomás de Do Reino ou do Governo dos Príncipes ao Rei de Chipre In Escritos Políticos de Santo Tomás de Aquino Tradução de Arlindo Veiga dos Santos Rev Carlos Arthur R Nascimento Rio de Janeiro Vozes 1997 AUGUSTINUS S Aurelius Confessionum Libri XIII Edição de Martin Skutella 1934 corrigida por H Juergens e W Schaub Stuttgart Teubner 1981 Bibliotheca scriptorum Graecorum et Romanorum Teubneriana COUTINHO Jorge Elementos de História da Filosofi a Medieval Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa Braga 2008 JOÃO PAULO II Fides et Ratio 88 Disponível em httpw2vaticanvacontentjohnpauliipt encyclicalsdocumentshfjpiienc14091998fi desetratiohtml Acesso 23 jul 2019 8amdfilosofiavol121indd 44 15122020 073050 Organizador CNEC Sistema de Ensino 8 VOLUME 2 Ano do Ensino Fundamental Filosofia 8º ano do Ensino Fundamental volume 2 Filosofia Todos os direitos reservados à CNEC Campanha Nacional de Escolas da Comunidade Diretor editorial Gerente editorial Supervisão Educação Básica Coordenação de área Capa Projeto gráfico Revisão ortogramatical Diagramação Ilustração Autor Erlei José de Araújo Wellington Silva Sporck Érica Regina Tomazinho Zanetti Matheus Bortoleto Rodrigues Fabiano Morais Fábio Salum Carlos R Moura Fabiano Morais Fábio Salum Equipe do Sistema de Ensino Cnec Danilo Borges Medeiros Impressão e acabamento Editora e Gráfica Cenecista Dr José Ferreira Av Frei Paulino nº 530 Bairro Abadia Uberaba MG CEP 38025180 PABX 34 21030700 0046edigrafcnecbr Sumário Unidade IV A filosofia da ciência e a validação de um conhecimento seguro Capítulo 10 A filosofia da ciência Academia dos Linceus Academia do Cimento A Sociedade Real de Londres Academia Real das Ciências Unidade V A importância do método no contexto moderno princípios do racionalismo e do empirismo Capítulo 11 A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista Capítulo 12 O racionalismo de René Descartes Capítulo 13 O racionalismo teocêntrico de Nicolas Malembranche Capítulo 14 As mônadas em Leibniz Capítulo 15 O monismo racionalista de Baruch Spinoza 7 7 10 11 18 26 30 34 Filosofia Filosofia Justin Xiao Breedlove Community High School and HyTech Clinical Services and Wellness Center Longmont CO Reply ASAP Mailed 02102024 Denied Reason Clinical Information Additional clinical info approved extension until 05202024 Please provide clinical information related to the need for this service This information must come from the treating provider and cannot be filled out by the healthcare facilitycoding center Failure to provide the additional clinical information will result in a denied claim Additional clinical information includes but is not limited to Documentation showing specific clinical information related to the medical necessity for the required service Documents may include but not be limited to Office notes treatment notes chart evaluations history and physical discharge summary specialist consultation notes diagnostic test results lab results admission notes diagnostic imaging reports or any other documentation that supports the medical necessity for the requested service To submit the clinical 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8400238116313403441 Jan 15 2024 1108 AM PAGE 1 of 1 7 8º ano do Ensino Fundamental Filosofia Unidade IV A filosofia da ciência e a validação de um conhecimento seguro 10 A filosofia da ciência R etomando nossas discussões acerca do florescimento do pensamento moderno com a introdução de uma nova forma de pensar a partir do método proposto pela ciência superando o dogmatismo religioso da Idade Média neste primeiro momento daremos continuidade à apresentação dos elementos essenciais dos pensadores modernos que contribuirão significativamente para o desenvolvimento da ciência Nesse contexto de fortalecimento do pensamento filosófico com base na metodologia científica é válido destacar o surgimento das Academias Científicas na França na Itália e em Londres como ponto fundamental para o desenvolvimento de toda uma tradição científica antes mesmo de adentrarmos nas particularidades dos filósofos de tais períodos Em todo o transcorrer deste volume perceberemos uma notável mudança na forma como o pensamento moderno se desenvolve em contraposição ao pensamento medieval Dessa forma na Idade Média se a filosofia ficou fechada em seus mosteiros e círculos de debates limitados aos clérigos na Idade Moderna o pensamento se constrói no debate acadêmico promovido por grandes cientistas que são herdeiros de uma tradição que se refaz no novo modelo de escolas instaurado na Europa fazendo surgir as academias e as primeiras sociedades científicas A fim de contextualizarmos e destacarmos a importância de tais academias apontaremos de forma objetiva as principais que se fizeram na Europa 101 Academia dos Linceus A ciência é um fato social em sua gênese em suas aplicações e sobretudo no método pois o conhecimento científico para ser tal deve ser controlável publicamente controlável em teoria controlável por todos Ora justamente com a finalidade de satisfazer esta característica essencial da ciência moderna o jovem príncipe Federico Cesi 15851630 fundou em 1603 em Roma a Academia dos Linceus provida de biblioteca de laboratório de história natural e com jardim botânico anexo Galileu foi membro da Academia dos Linceus Tal instituição encerrou sua atividade em 1651 e tornou a funcionar em 1847 REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 253 Fig101 Academia dos Linceus Filosofia 8 Volume 2 102 Academia do Cimento Em 1657 o príncipe Leopoldo de Toscana quis a instituição da Academia do Cimento Foram acadêmicos entre outros Vincenzo Viviani Afonso Borelli e Francisco Redi Entre os sócios estrangeiros correspondentes devemos recordar Stenon As pesquisas dos acadêmicos do Cimento contemplaram todo o leque das ciências naturais fisiologia farmacologia mecânica ótica etc O lema da Academia foi provando e reprovando Devemos salientar a grande atenção que os acadêmicos deram à construção e ao uso de instrumentos sempre mais exatos termômetros microscópios pêndulos etc REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 253 Fig102 Brasão com o lema da Academia do Cimento provando e reprovando 103 A Sociedade Real de Londres A Sociedade real de Londres para a promoção dos conhecimentos naturais Royal Society for the Promotion of Natural Knowledge teve seu estatuto em 1662 por Carlos II Tal estatuto estabelece que a finalidade da Sociedade é o de redigir com linguagem clara próxima da dos artesãos dos camponeses dos mercadores mais que da dos filósofos Nullius in verba foi e é o lema da Royal Society Contra os fatos e os experimentos disse Newton que foi o primeiro membro e depois presidente da Academia não se pode discutir De 1662 a 1677 ano em que morreu o secretário da Sociedade foi Henry Oldenburg que em 1665 iniciou a publicação das Atas da Sociedade as Philosophical Transactions que saem ainda hoje Na intenção de Oldenburg as Transactions eram um convite aos estudiosos a pesquisar experimentar e descobrir coisas novas a comunicarse mutuamente os próprios conhecimentos Isso obviamente com o fito de contribuir com o crescimento do conhecimento humano REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 253 Fig103 Foto da Sociedade Real de Londres Fig104 Brasão da Sociedade Real de Londres não acredite em ninguém ou não tome como verdade a palavra de alguém A filosofia da ciência 9 8º ano do Ensino Fundamental 104 Academia Real das Ciências Em 1666 sob o reinado do Luís XIV é instituída e por interesse do ministro Colbert a Academia real das ciências Académie royale des sciences E no Memorandum de Christian Huygens ao ministro Colbert afirmase que a ocupação fundamental e mais útil dos membros da Academia é a de trabalhar para a história natural conforme o plano traçado por Bacon REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 253 Fig105 Academia Real das Ciências na França Anotações Filosofia 10 Volume 2 Unidade V A importância do método no contexto moderno princípios do racionalismo e do empirismo 11 A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista Nascido em Londres em 1561 filho de Sir Nicholas Bacon lorde tabelião da Rainha Elizabeth Francis Bacon gozou do privilégio de ser introduzido na corte desde pequeno Em 1584 foi eleito para a Câmara dos Comuns onde permaneceu cerca de vinte anos Sua carreira política aconteceu de forma rápida e brilhante a partir de 1603 com a ascensão ao trono de Jaime I culminando na nomeação como lorde chanceler Com Bacon iniciase uma nova atmosfera intelectual na história do Ocidente Ele indagou e escreveu sobre a função da ciência na vida e na história humana formulou uma ética da pesquisa científica que confrontava de modo claro o pensamento mágico que ainda em seu tempo era largamente dominante tentou teorizar a nova técnica de pesquisa da realidade natural e lançou as bases da moderna enciclopédia das ciências que se tornou um dos empreendimentos mais importantes da filosofia europeia REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 263 Fig111 Sem dúvidas o legado do pensamento baconiano no período moderno foi de extrema importância dado que o pensador inglês propõe uma filosofia voltada para a compreensão dos fatos a partir da experiência Dessa filosofia surgiu o termo empirismo que é referente à proposta de conhecimento enquanto resultado da experiência opondose ao racionalismo e à metafísica EMPIRISMO Corrente filosófica para a qual a experiência é critério ou norma da verdade considerandose a palavra experiência no significado ABBAGNANO Nicola Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 1998 p 326 Autor de várias obras Bacon revolucionou a ciência moderna ao estabelecer novos caminhos para o método em sua principal obra Novum Organum De forma geral nessa obra enquanto síntese central de sua filosofia Bacon aterseá a duas coisas centrais a As antecipações da natureza são noções construídas e obtidas de modo prematuro e temerário são noções que alcançam fácil concordância porque extraídas de poucos dados sobretudo daqueles que se repetem habitualmente logo ocupam o intelecto e preenchem a fantasia em suma são noções produzidas com método equivocado A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista 11 8º ano do Ensino Fundamental b As interpretações da natureza ao contrário são resultado daquele outro modo de indagar que se desenvolve a partir das próprias coisas segundo os modos devidos recolhidas de dados diversos e muito distantes entre si elas não podem logo atingir o intelecto por isso parecem difíceis e estranhas à opinião comum quase semelhantes aos mistérios da fé Entretanto são as interpretações da natureza e não suas antecipações que constituem o verdadeiro saber o saber obtido com o verdadeiro método REALE 2004 p 268 De forma clara o que representam esses dois pontos centrais da filosofia de Bacon Tanto no primeiro aspecto quanto no segundo Bacon evidencia a necessidade de se construir claramente o conhecimento a partir da experiência real com os fenômenos fatos ou eventos ou seja um conhecimento seguro que somente pode ser fundamentado a partir da relação imediata que o sujeito constitui com os fatos logo toda e qualquer antecipação ou interpretação fora da experiência constitui um erro em que o filósofo inglês chama de conhecer Veja um exemplo ontem ao acordar por volta das 6h da manhã o jornaleiro deixou o jornal na porta de sua casa Hoje no mesmo horário aconteceu o mesmo fato Seria possível antecipar com toda a certeza que amanhã o jornaleiro deixará o jornal em sua casa nesse mesmo horário A resposta claramente é negativa pois não há qualquer garantia que tal evento ocorrerá O que existe é uma antecipação equivocada de um evento que ainda não aconteceu e que não há como prever que se repetirá É justamente para esse assunto que Bacon chama a atenção somente é possível ter completa segurança sobre as experiências que constituem a base de nosso conhecer à medida que realizamos tal experiência Qualquer antecipação está no campo da possibilidade não havendo nenhuma garantia segura para sua realização Por isso pode ser classificada como falsa noção ou pseudoconhecimento Constando a ideia que nossa mente está povoada de conhecimentos adquiridos ao longo da vida mas que são fundamentados sem o rigor do crivo da experiência como fonte segura para a validação da verdade Bacon proporá um método que em um primeiro momento buscará afirmar a necessidade de limparmos nossa mente dessas falsas noções sobre os fatos chamados também de ídolos Aqui está o ponto central da filosofia baconiana a Teoria dos Ídolos Para o filósofo inglês os ídolos são falsas noções que ocupam a mente humana impedindo o homem de construir um conhecimento verdadeiro representando assim um verdadeiro obstáculo para o processo de conhecer inclusive da própria ciência de se desenvolver A palavra ídolos foi utilizada por Bacon a partir da noção de um falso deus uma ideia de idolatria cuja referência o filósofo buscará na literatura bíblica conforme se constata na passagem bíblica do livro de Êxodo 20 34 Não terás outros deuses além de mim Não farás para ti nenhum ídolo nenhuma imagem de qualquer coisa no céu na terra ou nas águas debaixo da terra No total os ídolos são de quatro tipos da tribo da caverna do foro e do teatro A fim de conhecermos com detalhes cada uma das espécies de ídolos convido você a visitar um fragmento da principal obra de Bacon denominada Novum Organum Em seguida realizaremos uma leitura significativa do texto filosófico a partir de uma análise sequencial da estrutura literária Fig112 Capa da primeira edição da obra de Francis Bacon Novum Organum 1620 Filosofia 12 Volume 2 Compreendendo os sentidos do texto Analisando a Teoria dos Ídolos a partir da obra de Bacon São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana Para melhor apresentálos lhes assinamos nomes a saber Ídolos da Tribo Ídolos da Caverna Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro A formação de noções e axiomas pela verdadeira indução é sem dúvida o remédio apropriado para afastar e repelir os ídolos Será contudo de grande préstimo indicar no que consistem posto que a doutrina dos ídolos tem a ver com a interpretação da natureza o mesmo que a doutrina dos elencos sofísticos com a dialética vulgar Comentário Nesse fragmento Bacon faz uma apresentação prévia sobre os ídolos e afirma que somente pelo processo de indução podemos impedir que tais falsas noções povoem nossa mente afastandonos da verdade A indução consiste em uma forma de construir o raciocínio a partir da observação de casos particulares para chegar a uma conclusão final por exemplo Carlos fez uma experiência no laboratório e concluiu que o ouro um exemplo de metal conduz eletricidade Posteriormente utilizou o cobre outro metal e constatou que ele também conduz eletricidade Por fim utilizou o ferro elemento da família dos metais e observou que ele é um condutor de eletricidade Logo após essa experiência Carlos pôde afirmar que todo metal é condutor de eletricidade Os ídolos da tribo estão fundados na própria natureza humana na própria tribo ou espécie humana É falsa a asserção de que os sentidos do homem são a medida das coisas Muito ao contrário todas as percepções tanto dos sentidos como da mente guardam analogia com a natureza humana e não com o universo O intelecto humano é semelhante a um espelho que reflete desigualmente os raios das coisas e dessa forma as distorce e corrompe Comentário Os ídolos da tribo referência aos agrupamentos construídos pelos homens em suas primeiras formas de organização são chamados assim porque fazem referência a uma tendência que temos naturalmente em distorcer os fatos da experiência como forma de conhecer aquilo que nos é conveniente Por esse motivo é que se chama tribo pois se refere a essa tendência natural da espécie humana de distorcer o que é apreendido por meio da experiência levandonos a um conhecimento limitado Como exemplo de tais ídolos podemos citar as crenças supersticiosas que desenvolvemos ao longo da vida Os ídolos da caverna são os dos homens enquanto indivíduos Pois cada um além das aberrações próprias da natureza humana em geral tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza seja devido à natureza própria e singular de cada um seja devido à educação ou conversação com os outros seja pela leitura dos livros ou pela autoridade daqueles que se respeitam e admiram seja pela diferença de impressões segundo ocorram em ânimo preocupado e predisposto ou em ânimo equânime e tranquilo de tal forma que o espírito humano tal como se acha disposto em cada um é coisa vária sujeita a múltiplas perturbações e até certo ponto sujeita ao acaso Por isso bem proclamou Heráclito que os homens buscam em seus pequenos mundos e não no grande ou universal A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista 13 8º ano do Ensino Fundamental Comentário Esse ídolo faz referência ao Mito da Caverna de Platão Diferentemente do ídolo da tribo que consiste em um erro comum da espécie humana o da caverna aborda um problema particular que cada indivíduo possui ter a tendência de conhecer as coisas a partir de cada particularidade É como se cada homem possuísse uma caverna particular projetando o conhecimento que lhe convém Perceba aqui um problema complexo constatado por Bacon se já somos naturalmente predispostos a distorcer a realidade ídolo da tribo temos o agravante de distorcêla ainda mais de acordo com as nossas visões particulares tornandonos distantes da verdade no sentido empírico Há também os ídolos provenientes de certa forma do intercurso e da associação recíproca dos indivíduos do gênero humano entre si a que chamamos de ídolos do foro devido ao comércio e consórcio entre os homens Com efeito os homens se associam graças ao discurso e as palavras são cunhadas pelo vulgo E as palavras impostas de maneira imprópria e inepta bloqueiam espantosamente o intelecto Nem as definições nem as explicações com que os homens doutos se munem e se defendem em certos domínios restituem as coisas ao seu lugar Ao contrário as palavras forçam o intelecto e o perturbam por completo E os homens são assim arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias Comentário Esses ídolos são gerados pelos erros de comunicação existentes entre os homens Em um processo de comunicação uma mesma palavra pode ser utilizada de diversas maneiras o que gera inúmeras interpretações sobre os fatos mas que na maioria das vezes devido a tais equívocos de interpretação não permite o real conhecimento do fato O ídolo foro ainda pode ser entendido como a capacidade limitada que as palavras têm para expressar as experiências não sendo capazes de abarcar a totalidade real do fato experienciado Há por fim ídolos que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas e também pelas regras viciosas da demonstração São os ídolos do teatro por parecer que as filosofias adotadas ou inventadas são outras tantas fábulas produzidas e representadas que figuram mundos fictícios e teatrais Não nos referimos apenas às que ora existem ou às filosofias e seitas dos antigos Inúmeras fábulas do mesmo teor se podem reunir e compor por que as causas dos erros mais diversos são quase sempre as mesmas Ademais não pensamos apenas nos sistemas filosóficos na universalidade mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em vigor mercê da tradição da credulidade e da negligência Contudo falaremos de forma mais ampla e precisa de cada gênero de ídolo para que o intelecto humano esteja acautelado BACON Francis Versão eletrônica do livro Novum Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza Tradução e notas ANDRADE José Aluysio Reis de Créditos da digitalização Membros do grupo de discussão Acrópolis Filosofia Disponível em https edisciplinasuspbrpluginfi lephp4344026modfoldercontent0francisbaconnovumorganumpdfforcedownload1 Acesso em 2 dez 2019 Comentário Por fim temos os ídolos do teatro que representam uma tradição equívoca de conhecimento que se perdurou ao longo da filosofia como sendo puras invenções que beiram à fantasia não demonstrando a realidade de fato A expressão teatro referese à ilusão da arte ao retratar a existência de forma distorcida De fato Bacon chega ao extremo de suas críticas filosóficas ao assimilar as teorias de Aristóteles e Platão com uma representação equivocada e distorcida do real Nessa crítica Bacon vai expor os prejuízos da tradição filosófica para a ciência ao demonstrar a grande influência da tradição platônica e aristotélica para o conhecimento ocidental Filosofia 14 Volume 2 Dessa forma Bacon afirmará que descongestionada a mente dos ídolos isto é libertado o espírito das apressadas antecipações da natureza o homem pode então encaminharse para o estudo da natureza Portanto a obra e o fim da força humana está em gerar e introduzir em um dado corpo uma nova natureza ou mais naturezas diversas A obra e o fim da ciência humana estão na descoberta da forma de uma natureza dada isto é de sua verdadeira diferença natureza naturante ou fonte de emanação REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 272 Podemos concluir que o método de Bacon apoiado substancialmente na necessidade de revisão e purificação da mente dos ídolos revolucionará o pensamento moderno e para muitos inaugurará a ciência como conhecemos Tal método proposto ampliará a forma como a indução deve ser aplicada pois antes de Bacon induzir significava apenas organizar os fatos partindo do particular e construindo as teorias gerais Agora a partir da filosofia baconiana não basta apenas organizarmos os fatos da experiência conhecidos de forma indutiva é necessário analisar sistematicamente todo o processo a fim de eliminar as falsas noções que nos impedem de alcançar a verdade dos fatos Exercícios de sala 1 Neste momento você terá uma missão em grupo explicar a partir de exemplos a Teoria dos Ídolos de Francis Bacon Lembrese de que são 4 ídolos Ídolos da Tribo Ídolos da Caverna Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro Após a discussão em grupo registre no espaço a seguir os exemplos criados a partir da construção de um texto ressaltando o empirismo baconiano Depois compartilhe com todos da sala em forma de debate Use a criatividade e bom trabalho A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista 15 8º ano do Ensino Fundamental Exercícios resolvidos 2 ENEM Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza No entanto essa expectativa convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo não surgiu de um prazer de poder de um mero imperialismo humano mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida física e culturalmente CUPANI A A tecnologia como problema filosófico três enfoques Scientiae Studia São Paulo v 2 n 4 2004 Adaptado Autores da filosofia moderna notadamente Descartes e Bacon e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza Nesse contexto a investigação científica consiste em a expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes b oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia c ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso d explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos e explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos Resposta A resposta correta é a letra c Considerando o contexto do pensamento moderno e a tradição de valorização de uma nova forma de pensar a partir do método de Francis Bacon fica evidente o enaltecimento da razão como emancipação do homem em contraposição ao pensamento dogmático da religião que perdurou durante a predominância da tradição religiosa cristã Assim a ciência nasce como forma de legitimar o domínio do homem sobre a natureza não mais como um objeto intocado do sagrado mas manipulável e conhecível pelo homem inaugurando uma nova mentalidade progressista a partir do avanço dos métodos científicos Exercícios modelo vestibular 3 PUCPR São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana Para melhor apresentálos assinalamos os nomes Ídolos da Tribo Ídolos da Caverna Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro BACON Novum Organum São Paulo Nova Cultural 1999 p 33 É correto afirmar que para Bacon a Os Ídolos da Tribo e da Caverna são os conhecimentos primitivos que herdamos dos nossos antepassados mais notáveis b Os Ídolos do Teatro são todos os grandes atores que nos influenciam na vida cotidiana c Os Ídolos do Foro são as ideias formadas em nós por meio dos nossos sentidos d Através dos Ídolos mesmo considerando que temos a mente bloqueada podemos chegar à verdade e Os Ídolos são falsas noções e retratam os principais motivos pelos quais erramos quando buscamos conhecer 4 UFSJ Sobre os ídolos preconizados por Francis Bacon é correto afirmar que a A consequência imediata da ação dos ídolos é a inscrição do Homem num universo de massacre e sofrimento racionalindutivo onde o conhecimento científico se distancia da filosofia se deteriora e se amesquinha b Toda idolatria é forjada no hábito e na subjetividade humanos Filosofia 16 Volume 2 c Os ídolos invadem a mente humana e para derrogálos é necessário um esforço racionaldedutivo de análise como bem advertiu Aristóteles d Os ídolos da caverna são os homens enquanto indivíduos pois cada um tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza 5 UEL Segundo Francis Bacon são de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana Para melhor apresentálos lhes assinamos nomes a saber Ídolos da Tribo Ídolos da Caverna Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro BACON F Novum Organum Tradução de José Aluysio Reis de Andrade São Paulo Nova Cultural 1988 p 21 Com base nos conhecimentos sobre Bacon os Ídolos da Tribo são a Os ídolos dos homens enquanto indivíduos b Aqueles provenientes do intercurso e da associação recíproca dos indivíduos c Aqueles que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas d Aqueles que chegam ao espírito humano por meio de regras viciosas de demonstração e Aqueles fundados na própria natureza humana 6 PUCPR Ciência e poder do homem coincidem uma vez que sendo a causa ignorada frustra se o efeito Pois a natureza não se vence se não quando se lhe obedece E o que à contemplação apresentase como causa é regra na prática BACON Novum Organum São Paulo Nova Cultural 1999 p 40 Com relação ao texto acima assinale a alternativa correta a Bacon estabelece que a melhor maneira de explicar os fenômenos naturais é recorrer aos princípios inatos da razão b Através do conhecimento científico o homem aprende a aceitar o domínio dos princípios metafísicos de causalidade sobre a natureza c O conhecimento da natureza depende do poder do homem Assim um rei conhece mais sobre a natureza do que um pobre estudante d Através da contemplação observação da natureza o homem aprende a conhecêla e então reúne condições para dominar a natureza e Devemos ser práticos e obedecer à natureza pois o conhecimento das relações de causa e efeito é impossível e sempre frustrante 7 UEL Leia o texto a seguir O pensamento moderno caracterizase pelo crescente abandono da ciência aristotélica Um dos pensadores modernos desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristóteles considerando que esta não permitia explicar o progresso do conhecimento científico foi Francis Bacon No livro Novum Organum Bacon formulou o método indutivo como alternativa ao método lógicodedutivo aristotélico Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Bacon é correto afirmar que o método indutivo consiste a na derivação de consequências lógicas com base no corpo de conhecimento de um dado período histórico b no estabelecimento de leis universais e necessárias com base nas formas válidas do silogismo tal como preservado pelos medievais c na postulação de leis universais com base em casos observados na experiência os quais apresentam regularidade A revolução do pensamento de Francis Bacon uma proposta empirista 17 8º ano do Ensino Fundamental d na inferência de leis naturais baseadas no testemunho de autoridades científicas aceitas universalmente e na observação de casos particulares revelados pela experiência os quais impedem a necessidade e a universalidade no estabelecimento das leis naturais 8 UEL é necessário ainda introduzirse um método completamente novo uma ordem diferente e um novo processo para continuar e promover a experiência Pois a experiência vaga deixada a si mesma é um mero tateio e prestase mais a confundir os homens que a informálos Mas quando a experiência proceder de acordo com leis seguras e de forma gradual e constante poderseá esperar algo de melhor da ciência A infeliz situação em que se encontra a ciência humana transparece até nas manifestações do vulgo Afirmase corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas causas E não indevidamente estabelecem se quatro coisas a matéria a forma a causa eficiente a causa final Destas a causa final longe está de fazer avançar as ciências pois na verdade as corrompe mas pode ser de interesse para as ações humanas BACON F Novo Organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza São Paulo Abril Cultural 1973 p 72 99100 Com base no texto e no pensamento de Francis Bacon acerca da verdadeira indução experimental como interpretação da natureza é correto afirmar a Na busca do conhecimento não se podem encontrar verdades indubitáveis sem submeter as hipóteses ao crivo da experimentação e da observação b A formulação do novo método científico exige submeter a experiência e a razão ao princípio de autoridade para a conquista do conhecimento c O desacordo entre a experiência e a razão prevalecendo esta sobre aquela constitui o fundamento para o novo método científico d Bacon admite o finalismo no processo natural por considerar necessário ao método perguntar para que as coisas são e como são e O estabelecimento de um método experimental baseado na observação e na medida aprimora o método escolástico Anotações Filosofia 18 Volume 2 12 O racionalismo de René Descartes R ené Descartes latinizado Cartesius nasceu em La Haye em 1596 Enviado ao colégio jesuíta de La Fléche em Anjou licenciouse depois em direito pela Universidade de Poitiers De 1618 a 1620 arrolouse em vários exércitos que participavam da Guerra dos Trinta Anos Em novembro de 1619 houve uma revelação intelectual a respeito dos fundamentos de nova ciência o papel da intuição no processo de conhecer sobretudo nas incompletas Regras para a guia do intelecto 16271628 De 1629 a 1649 viveu na Holanda onde publicou suas obras mais importantes o da vida Discurso sobre o método 1637 as Meditações metafísicas com as Respostas às objeções 1641 os Princípios de filosofia 1644 e As paixões da alma 1649 Em 1649 aceitou o convite da rainha Cristina da Suécia e deixou definitivamente a Holanda mas em fevereiro de 1650 foi acometido de uma pneumonia que em uma semana o levou à morte Seus despojos transladados para a França em 1667 repousam na igreja de SaintGermaindesPrés em Paris REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 283 Adaptado Sem dúvidas o pensamento cartesiano marcou uma verdadeira revolução na filosofia moderna Descartes é considerado por muitos até mesmo o fundador da ciência com o desenvolvimento do método Entretanto antes de adentrarmos especificadamente no método como o ápice do pensamento cartesiano tornase fundamental entendermos qual o ponto de partida crucial da filosofia desse filósofo Em um tempo em que haviam se afirmado e se desenvolvido com vigor novas perspectivas científicas e se abriam novos horizontes filosóficos Descartes percebe a falta de um método de novo saber ordenador e que seja também instrumento fundacional verdadeiramente eficaz O novo método deve se apresentar como o início de novo saber e do fundamento deste saber depende a amplitude e a solidez do edifício que é preciso construir em contraposição ao edifício aristotélico sobre o qual toda a tradição se apoia REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 286 Adaptado Descartes inicia sua filosofia a partir da dúvida Para o filósofo francês somente a partir da dúvida não apenas como um exercício simples de questionar mas enquanto atividade do próprio pensar que podemos buscar constituir um conhecimento seguro Assim a dúvida cartesiana é um processo fundamental para a constituição do conhecimento bem como para a constatação do exercício da razão como condição essencial para o conhecer Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez DESCARTES R Meditações Metafísicas São Paulo Abril Cultural 1979 p86 Fig121 O racionalismo de René Descartes 19 8º ano do Ensino Fundamental Outro elemento fundamental do exercício racional da dúvida em Descartes estabelecese no fato de ela ser de natureza hiperbólica Como assim a dúvida cartesiana possui como característica uma hipérbole A expressão hipérbole pode ter dois significados o matemático e o linguístico Na Matemática é uma curva em que é constante a diferença das distâncias de cada um dos seus pontos a dois pontos fixos ou focos Em termos linguísticos a expressão faz referência a algo exagerado É nesse último sentido do termo que a dúvida cartesiana é hiperbólica é uma dúvida exagerada pois abarca vários aspectos do sistema proposto por Descartes seja pelo ponto de partida de constituição de sua filosofia seja pela própria estrutura das regras metodológicas desenvolvidas pelo filósofo como veremos a adiante Assim é possível afirmar que o valor dado por Descartes à dúvida como exercício da razão tem como objetivo eliminar de forma gradativa toda e qualquer fonte de erro no processo de construção do conhecimento buscando com isso estabelecer um fundamento claro e distinto Nesse sentido a dúvida sistemática é aplicada a partir de um sistema metodológico que segundo Descartes possui um valor tão estimado para o conhecer que o filósofo francês estabelece uma divisão na natureza humana como fonte de conhecimento o conhecimento sensível advindo das sensações res extensa substância sensível e o conhecimento racional advindo da razão res cogitans substância pensante Tudo o que recebi até presentemente como o mais verdadeiro e seguro aprendio dos sentidos ou pelos sentidos ora experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos e é da prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez DESCARTES R Meditações Metafísicas São Paulo Nova Cultural 1996 p 18 Essa divisão proposta por Descartes também denominada dualismo apresenta a mente e o corpo como substâncias que possuem natureza realidade e funcionalidade diferentes cabendo confiar portanto apenas na razão como fonte válida para o conhecimento O fundador do dualismo seria Descartes que reconheceu a existência de duas espécies diferentes de substâncias a corpórea e a espiritual Essa palavra todavia muitas vezes foi estendida para indicar outras oposições reais que os filósofos descobriram no universo p ex a oposição aristotélica entre matéria e forma a medieval entre existência e essência e uma oposição que ocorre em todos os tempos entre aparência e realidade ABBAGNANO Nicola Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 1998 p 294 No entanto cabe salientar que a dúvida como exercício da razão em Descartes não se limita apenas ao duvidar pelo duvidar até porque se há o exercício da dúvida consequentemente há o exercício do pensar e se eu Penso logo existo Cogito ergo sun O filósofo francês revolucionará o pensamento moderno ao propor regras de aplicação dessa dúvida com o objetivo de chegar a um conhecimento seguro Eis aqui o ponto nerval da filosofia cartesiana o método Assim meu propósito não é ensinar aqui o método que cada um deve seguir para bem conduzir sua razão mas somente mostrar de que modo procurei conduzir a minha Aqueles que se metem a dar preceitos devem acharse mais hábeis do que aqueles a quem os dão se falham na menor coisa são por isso censuráveis DESCARTES René Discurso sobre o método Tradução de Maria Ermantina Galvão Martins Fontes São Paulo 2001 p 07 Filosofia 20 Volume 2 No esquema exposto na imagem a seguir podemos ver de forma clara e dinâmica cada uma das etapas do método cartesiano e sua ordem de aplicação Basicamente o método cartesiano vai se estruturar em 4 regras básicas evidência análise síntese e enumeração Cada uma dessas regras possui uma característica particular mas no entanto estão todas conjuntamente relacionadas para a aplicação do método uma vez que a ausência de qualquer uma das partes compromete todo o sistema pensado por Descartes São regras simples que destacam a necessidade de se ter plena consciência dos momentos em que se articula qualquer pesquisa rigorosa Elas constituem o modelo do saber precisamente porque a clareza e a distinção garantem contra possíveis equívocos ou generalizações apressadas Com tal objetivo diante de problemas complexos como de fenômenos confusos É preciso chegar aos elementos simples que não sejam mais decomponíveis para que possam ser totalmente invadidos pela luz da razão REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 290 Sentimentos 1ª Regra Evidência Só aceitar o que não pode ser colocado em dúvida Divisão Dividir a dificuldade no maior número de partes possíveis e estudar cada uma individualmente Parte I 1º 1 É evidente Foi dividido Partimos do mais simples ao complexo A revisão não deixou nada passar 2 3 4 2º 3º Parte II Parte III Ordem Partir dos fatos mais simples para os mais complexos Princípio da dedução do geral para o particular como reto pensar Enumeração Revisão de todo o processo uma visão do todo que garante que nada tenha sido deixado de lado 2ª Regra 3ª Regra 4ª Regra Fenômenos Naturais Pensamento Fig122 A primeira regra a evidência consiste basicamente em não aceitar como verdade qualquer informação que não seja evidentemente verdadeira A segunda regra da divisão também conhecida como análise ou decomposição consiste em dividir o problema no maior número possível de partes a fim de ser possível ter uma compreensão mais objetiva e pontual A regra da síntese também conhecida como ordem ou composição demonstrará a necessidade de ordenar organizar o pensamento iniciandose dos assuntos mais fáceis aos mais difíceis E por fim a enumeração também conhecida como verificação ou revisão buscará garantir que nada tenha sido omitido ou deixado à parte no decorrer de todo o processo Com o intuito de encerrarmos nossa discussão sobre os fundamentos essenciais da teoria do conhecimento em Descartes e discutirmos sua teoria ética tornase necessário compreendermos as suas diferentes noções de ideias Para Descartes existem basicamente três tipos de ideias adventícias fictícias e inatas Essas ideias não apenas se diferenciam quanto à natureza do conhecimento mas possuem uma hierarquia entre si No nível mais baixo do processo de conhecer estão as ideias adventícias que nada mais são que noções que surgem por meio dos sentidos Tais ideias não possuem na perspectiva racionalista cartesiana uma segurança evidente para se afirmar um conhecimento claro e distinto No segundo plano da hierarquia encontramse as ideias fictícias que possuem O racionalismo de René Descartes 21 8º ano do Ensino Fundamental sua origem na nossa imaginação estas são resultados da combinação de imagens fornecidas pelos nossos sentidos e guardadas na memória que se combinam com outras imagens permitindo criar imaginar ideias ainda não vistas pelo homem Por fim no maior grau hierárquico temos as ideias inatas De forma mais ampla as ideias inatas correspondem às ideias que são naturais no homem já estão presentes nele desde o seu nascimento Em Descartes essas ideias são naturais no homem e dadas por Deus daí porque o filósofo afirma que estas independem da experiência e apresentam se com maior grau de objetividade clareza e distinção em relação às outras ideias A primeira e a principal das ideias inatas é a de que há um Deus de quem todas as coisas dependem Assim além de um sistema de conhecimento apoiado na valorização da razão Descartes também reflete sobre o valor do pensar para a condução das escolhas do homem em relação à sua vida moral procurando demonstrar que nossa razão deve dominar nossas vontades e nossas paixões Para favorecer o domínio da razão sobre a tirania das paixões no Discurso sobre o método Descartes propõe como moral provisória quatro normas que depois se revelaram válidas e para ele definitivas 1 obedecer às leis aos costumes e à religião do próprio país acolhendo as opiniões comuns mais moderadas 2 perseverar nas ações com a maior firmeza e resolução possível 3 vencer de preferência a si mesmos do que o destino e mudar preferentemente os próprios desejos do que a ordem do mundo 4 cultivar a razão e o conhecimento da verdade Do conjunto tornase evidente a direção da ética cartesiana isto é a submissão lenta e fatigante da vontade à razão como forçaguia de todo o homem a liberdade da vontade se realiza apenas pela submissão à lógica da ordem que o intelecto é chamado a descobrir fora e dentro de si REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 p 303 Adaptado Assim a ética e a moral cartesiana mostramse totalmente coerentes com a teoria do filósofo acerca do conhecimento reafirmando a todo momento o valor da razão na condução das nossas ações no mundo Para ele a razão deve sobreporse à vontade já que esta está limitada ao campo dos desejos sensíveis Aqui novamente podemos perceber que o dualismo se faz presente quando Descartes propõe pensar a forma como o homem deve agir no mundo Podemos concluir que o racionalismo cartesiano inaugura uma nova forma de pensar o mundo e o próprio homem por meio da razão O racionalismo cartesiano não apenas renova a tradição racionalista desde os Pré Socráticos mas inaugura uma nova forma de pensar com a construção do método como forma de conduzir nossos pensamentos de forma segura Exercícios resolvidos 1 ENEM Nunca nos tornaremos matemáticos por exemplo embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas não nos tornaríamos filósofos por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto Assim de fato pareceríamos ter aprendido não ciências mas histórias DESCARTES R Regras para a orientação do espírito São Paulo Martins Fontes 1999 Filosofia 22 Volume 2 Em sua busca pelo saber verdadeiro o autor considera o conhecimento de modo crítico como resultado da a investigação de natureza empírica b retomada da tradição intelectual c imposição de valores ortodoxos d autonomia do sujeito pensante e liberdade do agente moral Resposta A alternativa correta é a d porque o racionalismo cartesiano fundamentado na dúvida hiperbólica buscava chegar a um conhecimento inabalável Sua teoria do Cogito demonstra a autonomia do homem como ser racional capaz de conduzir seu pensar de forma reta e sistemática destacando a autonomia do eu pensante Exercícios de sala 2 Mas eu o que sou eu agora que suponho que há alguém que é extremamente poderoso e se ouso dizêlo malicioso e ardiloso que emprega todas as suas forças e toda a sua indústria em enganarme Posso estar certo de possuir a menor de todas as coisas que atribuí há pouco à natureza corpórea Detenhome em pensar nisto Com atenção passo e repasso todas essas coisas em meu espírito e não encontro nenhuma que possa dizer que exista em mim Não é necessário que me demore a enumerálas Passemos pois aos atributos da alma e vejamos se há alguns que existam em mim Os primeiros são alimentarme e caminhar mas se é verdade que não possuo corpo algum é verdade também que não posso nem caminhar nem alimentarme Um outro é sentir mas não se pode também sentir sem o corpo além do que pensei sentir outrora muitas coisas durante o sono as quais reconheci ao despertar não ter sentido efetivamente Um outro é pensar e verifico aqui que o pensamento é um atributo que me pertence só ele não pode ser separado de mim Eu sou eu existo isto é certo mas por quanto tempo A saber por todo o tempo em que eu penso pois poderia talvez ocorrer que se eu deixasse de pensar deixaria ao mesmo tempo de ser ou de existir Nada admito agora que não seja necessariamente verdadeiro nada sou pois falando precisamente senão uma coisa que pensa isto é um espírito um entendimento ou uma razão que são termos cuja significação me era anteriormente desconhecida Ora eu sou uma coisa verdadeira e verdadeiramente existente mas que coisa Eu não sou essa reunião de membros que se chama o corpo humano não sou um ar tênue e penetrante disseminado por todos esses membros não sou um vento um sopro um vapor nem algo que posso fingir e imaginar posto que supus que tudo isso não era nada e que sem mudar essa suposição verifico que não deixo de estar seguro de que sou alguma coisa DESCARTES Meditações Meditação Segunda 7 Adaptado No texto acima Descartes emprega um tradicional procedimento filosófico que consiste em identificar as coisas por meio de seus atributos Por meio desse procedimento ele identifica duas espécies de coisas substâncias Quais são essas duas espécies de coisas substâncias assim identificadas e quais os principais atributos de cada uma delas O racionalismo de René Descartes 23 8º ano do Ensino Fundamental Exercícios modelo vestibular 3 UNICAMP A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pensamento filosófico moderno Neste comportamento a verdade é atingida através da supressão provisória de todo conhecimento que passa a ser considerado como mera opinião A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia BORNHEIM Gerd A Introdução ao filosofar Porto Alegre Globo 1970 p 11 Adaptado A partir do texto é correto afirmar que a A Filosofia estabelece que opinião conhecimento e verdade são conceitos equivalentes b A dúvida é necessária para o pensamento filosófico por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico c O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades são coincidentes d A dúvida o questionamento rigoroso e o espírito crítico são fundamentos do pensamento filosófico moderno 4 UFSJ Ao analisar o cogito ergo sum penso logo existo de René Descartes concluise que a o pensamento é algo mais certo que a própria matéria corporal b a subjetividade científica só pode ser pensada a partir da aceitação de uma relação empírica fundada em valores concretos c o eu cartesiano é uma ideia emblemática e representativa da ética que insurgia já no século XVI d Descartes consegue infirmar todos os sistemas científicos e filosóficos ao lançar a dúvida sistemáticoindutiva respaldada pelas ideias iluministas e métodos incipientes da revolução científica 5 ENEM TEXTO I Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez DESCARTES R Meditações Metafísicas São Paulo Abril Cultural 1979 TEXTO II Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado precisaremos apenas indagar de que impressão deriva esta suposta ideia E se for impossível atribuirlhe qualquer impressão sensorial isso servirá para confirmar nossa suspeita HUME D Uma investigação sobre o entendimento São Paulo Unesp 2004 adaptado Nos textos ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume a defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo b entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica c são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento d concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos e atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento Filosofia 24 Volume 2 6 UFU Na obra Discurso sobre o método René Descartes propôs um novo método de investigação baseado em quatro regras fundamentais inspiradas na geometria evidência análise síntese controle Assinale a alternativa que contenha corretamente a descrição das regras de análise e síntese a A regra da análise orienta a enumerar todos os elementos analisados a regra da síntese orienta decompor o problema em seus elementos últimos ou mais simples b A regra da análise orienta a decompor cada problema em seus elementos últimos ou mais simples a regra da síntese orienta ir dos objetos mais simples aos mais complexos c A regra da análise orienta a remontar dos objetos mais simples até os mais complexos a regra da síntese orienta prosseguir dos objetos mais complexos aos mais simples d A regra da síntese orienta a acolher como verdadeiro apenas aquilo que é evidente a regra da análise orienta descartar o que é evidente e só orientarse firmemente pela opinião 7 UEL O principal problema de Descartes pode ser formulado do seguinte modo Como poderemos garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro Como o cético ele parte da dúvida mas ao contrário do cético não permanece nela Na Meditação Terceira Descartes afirma enganeme quem puder ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que sou algo ou que algum dia seja verdade eu não tenha jamais existido sendo verdade agora que eu existo DESCARTES René Meditações Metafísicas Meditação Terceira São Paulo Nova Cultural 1991 p 182 Coleção Os Pensadores Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por Descartes para fundamentar o conhecimento é correto afirmar a Todas as coisas se equivalem não podendo ser discerníveis pelos sentidos nem pela razão já que ambos são falhos e limitados portanto o conhecimento seguro detémse nas opiniões que se apresentam certas e indubitáveis b O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresentase como algo relativo tanto ao sujeito como às próprias coisas que são percebidas de acordo com as circunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados c Pela dúvida metódica reconhecese a contingência do conhecimento uma vez que somente as coisas percebidas por meio da experiência sensível possuem existência real d A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento das coisas sendo a existência de Deus a única certeza que se pode alcançar e A condição necessária para alcançar o conhecimento seguro consiste em submetêlo sistematicamente a todas as possibilidades de erro de modo que ele resista à dúvida mais obstinada 8 UNIOESTE Considerandose as primeiras linhas das Meditações sobre a filosofia primeira de René Descartes Há já algum tempo deime conta de que desde meus primeiros anos recebera muitas falsas opiniões por verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei sobre princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito duvidoso e incerto de modo que era preciso tentar seriamente uma vez em minha vida desfazerme de todas as opiniões que recebera até então em minha crença e começar tudo novamente desde os fundamentos se eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de constante nas ciências Agora pois que meu espírito está livre de todas as preocupações e que obtive um repouso seguro numa solidão tranquila aplicarmeei seriamente e com liberdade a destruir em geral todas as minhas antigas opiniões O racionalismo de René Descartes 25 8º ano do Ensino Fundamental É correto afirmar sobre a teoria do conhecimento cartesiana que a Descartes não utiliza um método ou uma estratégia para estabelecer algo de firme e certo no conhecimento já que suas opiniões antigas eram incertas b Descartes considera que não é possível encontrar algo de firme e certo nas ciências pois até então esse objetivo não foi atingido c Descartes ao rejeitar o que a tradição filosófica considerou como conhecimento busca fundamentar nos sentidos uma base segura para as ciências d ao investigar uma base firme e indestrutível para o conhecimento Descartes inicia rejeitando suas antigas opiniões e utiliza o método da dúvida até encontrar algo de firme e certo e Descartes necessitou de solidão para investigar as suas antigas opiniões e encontrar entre elas aquela que seria o verdadeiro fundamento do conhecimento 9 UFU Em O Discurso sobre o método Descartes afirma Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que não se reconhece ser tal pela evidência ou seja evitar acuradamente a precipitação e a prevenção assim como nunca se deve abranger entre nossos juízos aquilo que não se apresente tão clara e distintamente à nossa inteligência a ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida REALE G ANTISERI D História da filosofia Do humanismo a Descartes Tradução de Ivo Storniolo São Paulo Paulus 2004 p 289 Após a leitura do texto acima assinale a alternativa correta a A evidência apesar de apreciada por Descartes permanece uma noção indefinível b A evidência é a primeira regra do método cartesiano mas não é o princípio metódico fundamental c Ideias claras e distintas são o mesmo que ideias evidentes d A evidência não é um princípio do método cartesiano Anotações Filosofia 26 Volume 2 13 O racionalismo teocêntrico de Nicolas Malembranche Tendo nascido em Paris em 1638 Nicolas Malebranche entrou em 1660 na Congregação dos Padres do Oratório onde estudou sobretudo a Escritura e o agostinismo e em 1664 tornouse sacerdote No mesmo ano iniciou a leitura sistemática de Descartes que marcou de modo decisivo seu pensamento e sua produção filosófica A Busca da Verdade 16741675 o Tratado da Natureza e da Graça 1680 o Tratado de Moral 1684 As conversas sobre metafísica 1688 Morreu em 1715 REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 4 São Paulo Paulus 2004 p 5 Fig131 O filósofo moderno Malebranche promoveu uma nova perspectiva filosófica ao estabelecer em seu pensamento uma relação entre as teses de Agostinho de Hipona e as de René Descartes Por isso podemos caracterizar o seu racionalismo de caráter teocêntrico ao entender que sua perspectiva sobre o conhecimento de natureza racionalista se justifica pela existência de Deus Partindo inicialmente da ideia de que Deus é a causa de todas as coisas existentes portanto nada é possível sem a existência absoluta de Deus o filósofo francês concentrou grande parte de suas investigações para tratar sobre as questões do conhecimento e como Deus está diretamente vinculado a tal questão Com relação à filosofia de René Descartes Malebranche retomou o dualismo entre Razão res cogitans e Corpo res extensa promovendo uma nova perspectiva uma vez que no Tratado da Natureza e da Graça Malebranche considerou extremamente reveladora a clara distinção feita por Descartes entre alma e corpo à primeira eram atribuídos o intelecto puro e a vontade pura ao passo que todas as outras funções físicas e psicofísicas eram atribuídas ao corpo e explicados de forma mecanicista REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 6 O racionalismo teocêntrico de Nicolas Malembranche 27 8º ano do Ensino Fundamental Esta ilustração de Descartes de sua obra denominada De Homine Sobre o Homem de 1662 mostra que as informações captadas pela visão são levadas ao corpo por nervos ópticos ocos Essas informações são então transmitidas para a glândula Pineal que teria a função de regular o fluxo de informações entre a mente e o corpo por meio dos nervos REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia do humanismo a Descartes v 4 São Paulo Paulus 2004 p 5 Fig132 Fig133 Malebranche reforça o dualismo proposto por Descartes que separa radicalmente o corpo da mente no entanto afirma que é Deus e não um órgão em específico que estabelece a relação entre essas duas instâncias possibilitando a organização das informações e consequentemente do conhecimento Nesse sentido o filósofo parisiense ressalta ainda mais o papel de Deus que não apenas justifica existência do mundo mas também de todo o conhecimento humano evidenciando de maneira clara que somente podemos conhecer pela ação divina Nós conhecemos portanto os corpos através das ideias em Deus e as almas através do sentimento E como conhecemos Deus Nós conhecemos Deus por si mesmo A proposição existe um Deus é tão certa quanto esta outra proposição penso logo existo Malebranche retoma o argumento ontológico baseandose particularmente no atributo da infinitude Mas não é o caso de insistir nesse ponto tratandose de variações sobre temas que já conhecemos bem E assim que Malebranche resume o seu argumento Se pensamos Deus então ele deve existir REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 8 Filosofia 28 Volume 2 Assim podemos concluir que a filosofia de Malebranche marcou decisivamente uma nova configuração do pensamento moderno sobretudo pela retomada das questões da filosofia de Agostinho de Hipona e da discussão a respeito do dualismo cartesiano Vale ainda ressaltar sua importância para o desenvolvimento do pensamento de Baruch de Espinosa autor que será apresentado nos próximos capítulos Exercícios de sala 1 As verdades podem ser portanto descobertas de dois modos 1 pela união do espírito com a Razão universal isto é Deus 2 pela união do corpo com o espírito ou alma No primeiro caso são as próprias ideias presentes na Razão universal que afetam e imprimem diretamente sobre o espírito suas verdades No segundo caso o espírito é afetado pelos supostos objetos externos ou com maior precisão pelos órgãos sensoriais visão tato olfato etc cujas informações transmitidas ao cérebro são chamadas por Malebranche de espíritos animais aquilo que com os conhecimentos de fisiologia de hoje em dia chamaríamos de impulsos dos terminais nervosos do corpo captados pelo cérebro Mas reparem que são apenas traços desses objetos que são assim transmitidos ao cérebro Sendo apenas traços eles podem ser enganadores e necessitarem de correções Logo não podem conter a percepção dos próprios objetos algo que somente é possível por meio das ideias desses objetos contidas na Razão universal Esses traços são meras ocasiões para que o espírito volte a sua atenção para as suas verdadeiras ideias e possa vez ou outra inclusive corrigir os traços percebidos pelos sentidos MALEBRANCHE Nicolas Diálogos sobre a metafísica e a religião primeiro diálogo Oficinas de tradução Departamento de Filosofia Universidade Federal do Paraná Curitiba SCHLAUFPR 2011 p 42 Segundo o texto o que é a Razão universal em Malebranche e qual a importância dela para a relação entre o corpo e a mente Justifique sua resposta utilizando fragmentos do texto O racionalismo teocêntrico de Nicolas Malembranche 29 8º ano do Ensino Fundamental Trabalhando com pesquisa 2 Após nossos estudos sobre Descartes e Malebranche percebemos o tema da glândula pineal como algo comum entre os pensadores Diante da importância de tal questão faça uma pesquisa a respeito dessa glândula a partir de três abordagens diferentes uma religiosa uma científica e uma filosófica que não seja a dos autores já estudados Não se esqueça de colocar no final de sua pesquisa os sites ou livros utilizados Anotações Filosofia 30 Volume 2 14 As mônadas em Leibniz Gottfried Wilhelm Leibniz nasceu em Leipzig em 1646 de uma família de ascendência eslava Depois dos cursos de filosofia em Leipzig e de matemática em Jena em 1666 laureouse em jurisprudência em Altdorf perto de Nuremberg A partir de 1668 foi introduzido à corte do Eleitor de Mogúncia e de 1672 a 1676 morou em Paris onde conheceu os filósofos Arnauld e Malebranche e o matemático Huygens e aprendeu perfeitamente a língua francesa que adotou em seus escritos A partir de 1676 entrou para o serviço da corte do duque de Hannover a quem permaneceu ligado até a morte tornandose também historiógrafo oficial da dinastia Frequentemente em viagem hospedouse nas mais prestigiosas cortes europeias e foi grande animador cultural promovendo também a fundação da Academia das Ciências de Berlim mas os últimos anos de sua vida foram amargados pela polêmica suscitada em 1713 pela Royal Society de Londres sobre a prioridade da descoberta do cálculo infinitesimal em que havia intensamente trabalhado atribuída a Newton Morreu em 1716 Suas obras mais importantes escrito em latim ou francês Discurso de metafisica 1686 Novo sistema da natureza 1695 Novos ensaios sobre o intelecto humano 1703 Ensaios de teodiceia 1710 Princípios racionais da natureza e da graça 1 71 4 Monadologia composta em 1714 REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 37 Fig141 No que se refere à filosofia racionalista sem dúvidas um dos grandes pensadores que marcaram o pensamento moderno e que foi fortemente influenciado pela filosofia de Descartes e também pela tradição escolástica na Idade Média foi Gottfried Wilhelm Von Leibniz que viveu de 1646 até 1716 Apesar de sua grande referência ser a filosofia cartesiana Leibniz discordou da posição de Descartes de um mundo mecanicista ou seja um mundo a partir de uma concepção geométrica e mecânica das coisas existentes conforme vimos nos capítulos anteriores A filosofia leibniziana entendeu a realidade a partir de uma dinâmica natural não como uma máquina mas sim como uma força viva Fig142 O racionalismo cartesiano defendeu a ideia de que tanto o homem quanto o mundo seriam como máquinas no sentido de que se conhecêssemos as partes que compõem essas máquinas seria possível conhecêlas como um todo Descartes inclusive usou a ideia do relógio para explicar a realidade do homem e do mundo Assim como um relógio essa realidade mecânica poderia ser consertada à medida que fosse possível compreender os problemas das engrenagens As mônadas em Leibniz 31 8º ano do Ensino Fundamental Dessa forma ao compreender que toda a realidade tem como característica uma dinâmica própria Leibniz concluiu que o Universo é então estruturado a partir de uma força chamada Mônada Eis aqui o ponto central da filosofia de Leibniz a noção de que toda a criação e a dinâmica do existente se constituem por essa força que é única e indivisível Vale destacar um ponto fundamental da estrutura do Universo pensado por Leibniz o Universo é concebido à semelhança de um organismo pleno cujas partes convivem em uma harmonia natural No entanto restanos uma questão fundamental como poderíamos nos referenciar a essa Mônada una e indivisível responsável por todas as coisas existentes Na concepção de Leibniz tratase de Deus MÔNADA Mônada é a expressão com que Leibniz traduz o termo grego monás que significa a unidade ou aquilo que é uno a palavra de origem pitagórica fora retomada pelos neoplatônicos e depois por Giordano Bruno A mônada é propriamente uma substância simples isto é uma entidade individual capaz de ações e os princípios de suas ações são as percepções representações e as apetições vontade Por via de sua unidade e simplicidade diz Leibniz as mônadas são representáveis como os átomos de Demócrito porém com a diferença de que não se trata de átomos materiais ou físicos e sim de átomos formais não extensos Leibniz designa a mônada também com o termo aristotélico enteléquia que indica a substância simples enquanto tem em si a próprias determinações e perfeição essencial ou seja a própria autonomia e finalidade interior Deus é a mônada originária e suprema da qual todas as outras são criadas segundo uma hierarquia que espelhando o grau de clareza e distinção das representações vai das mônadas espirituais às simples mônadasalmas até as mônadas nuas ou inferiores REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 43 Para o filósofo alemão nossa própria capacidade de perceber racionalmente a realidade existente nos leva a concluir que tudo somente poderia existir graças a um Ser superior a uma força Mônada capaz de criar tudo Enquanto Deus é a Mônada superior todos os outros seres existentes seriam as mônadas inferiores criadas a partir de uma organização perfeita e dinâmica Por esse motivo podemos afirmar que a compreensão acerca do Universo em Leibniz é racionalista uma vez que para o filósofo nada existe sem uma causa uma finalidade e uma ordem Tudo foi previamente estabelecido por uma força inteligente superior responsável por colocar cada coisa em seu lugar Ao mesmo tempo em que tudo tem a sua função específica no Universo todas as coisas estão conectadas de uma forma lógica e racional E assim a razão última das coisas deve estar em uma substância necessária na qual o detalhe das mudanças só esteja eminentemente como em sua origem e isto é o que denominamos Deus Ora sendo esta substância uma razão suficiente de todo este detalhe que também está vinculado em toda parte só há um Deus e esse Deus é suficiente Podemos também julgar que essa substância suprema que é única universal e necessária nada havendo fora dela que lhe seja independente e que é uma simples consequência do ser possível deve ser incapaz de limites e há de conter tanta realidade quanto possível Disto se segue que Deus é absolutamente perfeito não sendo a perfeição outra coisa senão a grandeza da realidade positiva tomada de forma precisa excluindose os limites ou restrições nas coisas que os têm E onde não há limites ou seja em Deus a perfeição é absolutamente infinita LEIBNIZ GW Princípios da Filosofia ou a Monadologia Disponível em httpsleibnizbrasilprobrleibnizpdfmonadologiapdf Acesso em 2 dez 2019 Filosofia 32 Volume 2 Assim tornase de fundamental importância compreender que nós vivemos no melhor dos mundos possíveis não apenas pelo fato de este ser fruto da ação racional de Deus mas também pela necessidade lógica de que as outras realidades não nos sejam acessíveis mas continuidades racionais da existência atual com as quais não necessariamente entramos em relação Por fim podemos concluir que a noção de mônada em Leibniz nos apresenta uma compreensão racional do mundo por meio da percepção de que existe lógica racional no todo existente a partir da criação de um de Ser supremo denominado Deus Exercícios resolvidos 1 ENEM A substância é um Ser capaz de Ação Ela é simples ou composta A substância simples é aquela que não tem partes O composto é a reunião das substâncias simples ou Mônadas Monas é uma palavra grega que significa unidade ou o que é uno Os compostos ou os corpos são Multiplicidades e as Substâncias simples as Vidas as Almas os Espíritos são unidades É preciso que em toda parte haja substâncias simples porque sem as simples não haveria as compostas nem movimento Por conseguinte toda natureza está plena de vida LEIBNIZ G W Discurso de metafísicas e outros textos São Paulo Martins Fontes 2004 Adaptado Dentre suas diversas reflexões Leibniz voltou sua atenção para o tema da metafísica que trata basicamente do fundamento de realidade das coisas do mundo A busca por esse fundamento muitas vezes é resumida a partir do conceito de substância que para ele se refere a algo que é a complexo por natureza constituindo a unidade mínima do cosmo b estabilizador da realidade dada a exigência de permanência desta c desdobrado no composto em vez de gerálo unindose a outras substâncias simples d considerado simples e múltiplo a um só tempo por ser um todo indecomponível constituído de partes e essencial na estrutura do que existe no mundo sem deixar de contribuir para o movimento Resposta A alternativa correta é a e porque segundo Leibniz toda estrutura racional do existente incluindo a sua própria dinâmica é constituída a partir da noção de mônada Exercícios propostos 2 Cada substância é como um mundo inteiro como um espelho de Deus ou de todo o Universo que ela representa à sua maneira quase como uma cidade que é representada diferentemente dependendo da posição em que se encontra aquele que a observa LEIBNIZ Discurso de Metafísica Pg 261 In NICOLA Ubaldo Antologia Ilustrada de Filosofia das origens à idade moderna São Paulo Editora Globo 2005 O texto apresenta uma elaboração teórica de Leibniz que pode ser compreendia num viés racionalista pois a desvaloriza a experiência b estabelece a preeminência da cidade c valoriza a observação d aborda princípios medievais em torno da fé principalmente por caracterizar Deus como criador e utiliza metaforicamente Deus como filtro racional da observação do mundo As mônadas em Leibniz 33 8º ano do Ensino Fundamental Exercícios de sala 3 Em dupla construa um mapa mental colaborativo resumindo a filosofia de Leibniz Esse mapa pode ser começado em sala com a orientação do professor e terminado em casa Use as cores e a criatividade O ideal é que o mapa seja feito em uma folha A4 na horizontal 4 A estrutura metafísica do mundo para Leibniz é formada por substâncias simples sem partes que entram na formação dos compostos são os elementos das coisas Essa substância contém em si toda a sua realidade e nada lhe pode vir de fora portanto tudo o que ocorre com ela está contido na sua essência A que substância estamos nos referindo Justifique sua resposta Anotações Filosofia 34 Volume 2 15 O monismo racionalista de Baruch Spinoza Benedito Spinoza Baruch Espinoza nasceu em Amsterdã em 1632 de uma família de hebreus espanhóis que se refugiaram na Holanda para escapar das perseguições da Inquisição Aprendeu o hebraico leu a fundo a Bíblia e o Talmude estudou latim e ciências e em 1656 tornou evidente a inconciliabilidade de seu pensamento com o credo da religião hebraica Spinoza foi excomungado e expulso da Sinagoga e foi abandonado por amigos hebreus e parentes Transferiuse para diversas aldeias onde compôs suas obras mais importantes O tratado sobre a emenda do intelecto 1661 deixado incompleto Ética a obra de toda a sua vida publicada postumamente em 1677 Os princípios da filosofia de R Descartes publicados em 1663 com um ápice de Pensamentos metafísicos Tratado teológicopolítico publicado anonimamente em 1670 A partir de 1670 estabeleceuse em Haia onde entrou em relação com o pintor van der Spyck com o matemático Huygens e com o político Jan de Witt Em 1673 recusou uma cátedra universitária em Heidelberg que Ihe fora oferecida pelo Eleitor do Palatinado Morreu de tuberculose em 1677 REALE Giovanni DARIO Antiseri História da filosofia de Spinoza a Kant v 4 São Paulo Paulus 2005 p 11 Fig151 Dando continuidade ao pensamento racionalista moderno não poderíamos deixar de lado um dos mais importantes e polêmicos pensadores do século XVII Vindo de uma família judaica extremamente conservadora Spinoza foi acusado pela comunidade judaica e cristã de ser herege por sua posição em relação à fé e fundamentalmente em relação a Deus tema central do seu pensamento A existência de Deus é o ponto elementar de Spinoza a partir do qual o pensador holandês desenvolveu outros aspectos centrais de seu pensamento Basicamente a ideia de Deus segundo o filósofo estruturase sobre dois fundamentos a saber 1 Existe uma substância única daí o termo monismo monismo do gregov μόνος mónossozinho único a qual é responsável pela existência tudo Deus Essa substância denominada Deus tem como característica ser infinita e eterna responsável portanto por todas as coisas existentes Nesse sentido não podemos falar de nada que exista sem a presença dessa substância infinita Tudo é necessariamente determinado pela natureza de Deus e não existe nada de contingente ou seja incerto duvidoso o mundo é a consequência necessária de Deus Deus como causa livre é para Spinoza natura naturans criador da natureza ao passo que o mundo é natura naturata manifestação do criador O monismo racionalista de Baruch Spinoza 35 8º ano do Ensino Fundamental INFINITO E ETERNO DEUS É A SUBSTÂNCIA ÚNICA FONTE DE TUDO O EXISTE DEUS É O MUNDO DEUS É A NATUREZA DEUS SUBSTÂNCIA PRIMORDIAL SER NECESSÁRIO E CAUSA DE SI MESMO MUNDONATUREZA PODEMOS UTILIZAR A SEGUINTE EXPRESSÃO EM SPINOZA UNIVERSO DEUS Fig152 2 O segundo aspecto sem dúvidas o ponto central de sua filosofia consiste em afirmar que as coisas existentes não foram criadas por Deus no sentido de outras perspectivas religiosas ao passo que também não estão fora da existência dele mas são a manifestação do próprio Deus ou seja tudo que existe é Deus ele é o próprio Universo Aqui temos dois princípios basilares do pensamento espinosano o imanentismo e o panteísmo O imanentismo divino do latim in e manere no qual significa de forma conjunta existir ou permanecer no interior segundo o filósofo consiste em dizer que Deus é inseparável e implicado em toda a realidade Já o panteísmo consequência do imanentismo afirma que tudo o que existe deve sua existência a Deus e em última análise se identifica com Deus Deus é assim um ser imanente no mundo à natureza e não um ser exterior e transcendente Na filosofia clássica os estoicos defenderam uma posição na qual Deus se confundia com a Alma do Mundo No pensamento moderno Spinoza é o principal representante do panteísmo afirmando que Deus é a única substância infinita e eterna da qual todas as coisas existentes são apenas modos Disponível em httpssitesgooglecomviewsbgdicionariodefilosofiapanteC3ADsmo Adaptado Acesso em 12 dez 2019 Tudo o que existe existe em Deus e por meio de Deus deve ser concebido portanto Deus é causa das coisas que nele existem que era o primeiro ponto Ademais além de Deus não pode existir nenhuma substância isto é nenhuma coisa além de Deus existe em si mesma que era o segundo ponto Logo Deus é causa imanente e não transitiva de todas as coisas SPINOZA Benedictus de 1632 1677 Ética demonstrada à maneira dos geômetras 3ªedição Bilíngue latimportuguês Belo Horizonte Autêntica 2010 p 14 In ALMEIDA Pablo Joel A concepção imanente de Deus em Espinosa Disponível em httpwwwuelbreventossepech sumariostemasaconcepcaoimanentededeusemespinosapdf Acesso em 12 dez 2019 Filosofia 36 Volume 2 Fica evidente para nós que tal posição adotada por Spinoza não só foi ousada para sua época como também não foi bem acolhida tanto no interior da comunidade judaica da qual ele participava com sua família quanto em outras denominações religiosas afins Tal ousadia promoveu no pensamento moderno uma nova perspectiva que até então era desconhecida Assim sendo segundo Espinosa Deus é aquilo que existe por si só e por mais nada é determinado a existir e todo o mundo ou tudo aquilo que existe existe em Deus e é parte essencial de Deus ou seja Deus é tudo e tudo é Deus ao mesmo tempo Dessa forma chegamos à clássica afirmação de Espinosa do Deus Sive Natura Deus ou seja a Natureza que em outras palavras corresponde à ideia da totalidade de Deus como única substância existente Se levarmos em consideração que Espinosa admite que o mundo todo exista em Deus e tudo o que existe é parte de Deus então essa assimilação e aproximação que o filósofo faz relacionando os dois conceitos se mostra totalmente correta já que se Deus está presente em tudo e esse todo é a natureza então a natureza é o próprio Deus ou Deus é a própria natureza ALMEIDA Pablo Joel A concepção imanente de Deus em Espinosa Disponível em httpwwwuelbreventossepechsumariostemasa concepcaoimanentededeusemespinosapdf Acesso em 12 dez 2019 Portanto como todo o Universo é uma única coisa em Deus Spinoza rompeu definitivamente com a posição dualista que prevaleceu durante o período da Idade Antiga Média e grande parte do período Moderno especialmente com Descartes Nesse aspecto rompendo com a fragmentação dualista cartesiana entre mente e corpo Spinoza afirmou que não há separação entre tais instâncias pensando portanto a natureza humana como um todo complexo No entanto Spinoza adverte em seu tratado ético que veremos a seguir que é a razão que deve dirigir as ações e o conhecimento do homem Em se tratando da ética Spinoza abandonou toda a tradição judaica pela qual ele foi educado Ele referenciou sua filosofia pelos princípios do pensamento de Descartes e do pensamento racionalista Em sua obra intitulada Ética demonstrada à maneira dos geômetras Spinoza reforçou a ideia de que o Universo é organizado de forma lógica e racional ou seja há um princípio sistemático que estrutura o Universo que faz com que tudo exista dentro de uma lógica Logo para entendermos a ordem do Universo não devemos nos apoiar na religião nem em crendices irracionais mas na razão como forma de buscar compreender nossa realidade e orientar nossas ações Aqui o pensador destacou a importância das ciências matemáticas como instrumento de auxílio de compreensão do homem com relação ao Universo A razão neste aspecto deve fundamentar o processo de conhecer bem como as ações do homem na coletividade Ora se o Universo é Razão no seu sentido mais pleno somente pelo caminho do pensar vamos entendêlo Assim para agir de maneira ética buscando viver nossa liberdade como seres humanos devemos nos orientar pela razão Quanto mais o homem buscar se autoconhecer e conhecer a Deus mais livre ele será Desse modo em Spinoza liberdade não consiste em fazer o que se deseja mas o que se pode fazer escolhendo o bem comum segundo a razão Não devemos portanto deixarnos guiar pelos nossos desejos ou pelas nossas paixões mas pela nossa razão uma vez que o objetivo do homem que se guia pela razão é compreender não apenas o bem para si mesmo mas para todas as pessoas Dessa forma agir de maneira ética é buscar a consciência sobre nossas ações por meio do entendimento de que nem tudo o que podemos fazer devemos realizar Por exemplo se nos deparamos com a situação de alguém deixar cair uma carteira na rua enquanto estamos caminhando poderíamos simplesmente ignorar o fato de ela pertencer a esse alguém e nos apropriarmos dela No entanto tal ação contraria a necessidade de seguir o dever de buscar agir de forma honesta Dessa forma a razão deve prevalecer em relação ao desejo de ficar com o possível dinheiro para o nosso proveito Diante de tal compromisso ético Spinoza afirma O monismo racionalista de Baruch Spinoza 37 8º ano do Ensino Fundamental É lícito que afastemos de nós pelo meio que nos parece mais seguro tudo aquilo que existe na natureza das coisas que julgamos poder impedir que existamos e que desfrutemos de uma vida racional E contrariamente é lícito tomar para nosso uso e utilizar de qualquer maneira tudo aquilo que existe e que julgamos ser bom ou seja que julgamos ser útil para conservar nosso ser e desfrutar de uma vida racional E mais geralmente é lícito que cada um em virtude do supremo direito da natureza faça o que julga serlhe útil SPINOZA B Ética Tradução Tomaz Tadeu Belo Horizonte Autêntica 2007 Desse modo podemos concluir que a filosofia de Baruch Spinoza marcou uma verdadeira mudança na perspectiva de Deus na Idade Moderna sendo o filósofo acusado erroneamente de ser ateu Em vez de usar a crítica de ateísmo para o pensamento spinoziano devemos entender que sua filosofia é mais uma crítica às teorias teológicas de Deus e da própria religião como visões fechadas e limitadas de Deus propondo assim uma ampliação da relação do homem com Deus a partir de suas ações e das consequências delas para a vida coletiva Assim poderemos enxergálo como um trabalho de reflexão sobre Deus sobre a Escritura e sobre a liberdade de pensar Vivemos ainda em tempos de forte fundamentalismo e intolerância Por esse motivo é preciso destacar a atualidade de Espinosa enquanto um crítico severo das autoridades eclesiásticas que buscavam usar a Escritura a fim de extorquir dos Livros Sagrados as suas próprias fantasias e arbitrariedades corroborandoos com a autoridade divina ESPINOSA 2008 p 114 fomentando o fanatismo a superstição e a supressão da liberdade de pensar MEDEIROS Jonas Torres Benedictus de Spinoza nas primícias do movimento hermenêutico em Filosofia Um estudo a partir do Tractatus Theologicopoliticus Disponível em httpwwwuecebreduecedmdocumentsOlhares20eCC81tico20e20poliCC81tico20 sobre20a20Filosofi a20de20Benedictus20de20Spinozapdf Acesso em 12 dez 2019 SPINOZA B Ética Tradução Tomaz Tadeu Belo Horizonte Autêntica 2007 Mapa Mental Spinoza DEUS NATUREZA DEUS IMANENTE faz parte do mundo Tudo que existe no universo faz parte de uma realidade fez existir todas as coisas do Universo produz não cria efeitos de sua potência infinita o ser humano tem experiência direta e conhecimento de duas potências extenção corpo pensamento ideias substância infinita indivisível mesma origem causa de si mesma Fig153 Filosofia 38 Volume 2 Com exceção de Francis Bacon estudamos de forma predominante os pensadores racionalistas da filosofia moderna destacando as especificidades de cada autor e observamos o quanto a temática a respeito do dualismo gerou e ainda gera questões filosóficas a serem resolvidas No próximo volume abordaremos a importância e as problemáticas filosóficas de autores do Empirismo como Thomas Hobbes David Hume John Locke e outros Exercícios resolvidos 1 ENEC Texto I Em sua tese Spinoza apresenta o corpo de forma bem diferente de como o viam até então ele afirma que não há diferença de natureza entre o corpo e a alma e sim que esses dois princípios constituem juntos um único ser Com essa afirmação ele vai contra todo um pensamento antigo que valorizava esse dualismo em que normalmente havia presente a intenção de desvalorização do corpo e o enobrecimento da alma ou se preferirmos do pensamento em detrimento dos sentidos Como exemplo podemos citar Descartes Meditações sobre Filosofia Primeira p 39 que dizia o corpo morre muito facilmente enquanto a mente ou a alma do homem o que não distingo é imortal por sua natureza Disponível em httpwwwexistencialismoorgbrjornalexistencialpaulaspinizahtm Adaptado Acesso em 2 jul 2016 Texto II Disponível em http4bpblogspotcom VcuZen9OnOUUpvOlxVMSoIAAAAAAAADDwhmdSBdC2yFss1600539709631426130233856169292096 1njpg Acesso em 2 jul 2016 O problema das relações entre a alma e o corpo entre o cérebro e o coração entre a razão e a emoção foi exaustivamente trabalhado em diferentes sistemas filosóficos Tendose em vista o Texto I e levandose em consideração que o cérebro expressa a mente a imagem do Texto II pode ser relacionada com o pensamento de O monismo racionalista de Baruch Spinoza 39 8º ano do Ensino Fundamental a Descartes pois tanto o coração quanto o cérebro nada mais são que corpo são portanto indissociáveis b Descartes pois a separação entre res cogitans e res extensa é simbolizada pelas cordas entre o cérebro e o coração c Spinoza pois a metáfora da afinação oferece simbolicamente o monismo com relação à natureza una do homem d Spinoza pois ao tomar a mente como superior ao corpo esse filósofo holandês determina uma relação claramente dualista e Spinoza pois apresenta que o corpo pode ser reduzido a relações simétricas e harmônicas entre duas substâncias distintas o cérebro e o coração Resposta A alternativa correta é a c A imagem como representação metafórica alinhase ao monismo espinosano entendendo o homem como algo uno rompendo assim com o dualismo cartesiano Perceba que o pontochave de compreensão do que se pede no comando da questão localizase no texto motivador de Spinoza bem como na imagem como metáfora de ligação entre mente e corpo Exercícios modelo vestibular 2 UEL A idéia ilusória da vontade livre deriva de percepções inadequadas confusas a liberdade entendida corretamente no entanto não é o estar livre da necessidade mas sim a consciência da necessidade SCRUTON Roger Espinosa Trad De Angélica Elisabeth Könke São Paulo Unesp 2000 p 41 Com base no texto e nos conhecimentos sobre liberdade em Espinosa considere as afirmativas a seguir I A liberdade identificase com escolha voluntária II A liberdade significa a capacidade de agir espontaneamente segundo a causualidade interna do sujeito III A liberdade e a necessidade são compatíveis IV A liberdade baseiase na contingência pois se tudo no Universo fosse necessário não haveria espaço para ações livres Estão corretas apenas as afirmativas a I e II b I e IV c II e III d I III e IV e II III e IV 3 UFPA No contexto da cultura ocidental e na história do pensamento político e filosófico as considerações sobre a necessidade de valores morais prévios na organização do Estado e das instituições sociais sempre foi um tema fundamental devido à importância para esse tipo de questão dos conceitos de bem e de mal indispensáveis à vida em comum Diante desse fato da história do pensamento político e filosófico a afirmação de Espinosa segundo a qual Se os homens nascessem livres não formariam nenhum conceito de bem e de mal enquanto permanecessem livres ESPINOSA 1983 p 264 quer dizer o seguinte a O homem é por instinto moralmente livre fato que condiciona sua ideia de ética social b Assim como o indivíduo é anterior à sociedade a liberdade moral antecede noções como bem e mal Filosofia 40 Volume 2 c Os valores morais que servem de base para nossa socialização são tão naturais quanto nossos direitos d Não poderíamos falar de bem e de mal se não nos colocássemos além da liberdade natural e Não há nenhum vínculo necessário entre viver livre e saber o que são bem e mal Exercícios propostos 4 Escolha dois filósofos modernos e produza um mapa mental sintetizando os aspectos centrais de sua filosofia Esse mapa deverá ser feito manualmente em uma folha A4 na posição horizontal Use a criatividade e as cores Atenção Peça orientação ao seu professor para a criação desse mapa Anotações O monismo racionalista de Baruch Spinoza 41 8º ano do Ensino Fundamental Referências ABBAGNANO Nic ola Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 1998 ALMEIDA Pablo Joel A concepção imanente de Deus em Espinosa Disponível em httpwww uelbreventossepechsumariostemasaconcepcaoimanentededeusemespinosapdf BACON Francis Versã o eletrônica do livro Novum Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza Tradução e notas José Aluysio Reis de Andrade Créditos da digitalização Membros do grupo de discussão Acrópol is Filosofia BACON Francis Novum Organum Tradu ção de José Aluysio Reis de Andrade São Paulo Nova Cultural CUPANI A A tecnologia como problema filosófico três enfoques Scientiae Studia São Paulo v 2 n 4 2004 DESCARTES René Discurso sobre o método Tradução de Maria Ermantina Galvão Martins Fontes São Paulo 2001 DESCARTES René Meditações Metafísicas Meditação Terceira São Paulo Nova Cultural 1991 Gerd A Bornheim Introdução ao filosofar Porto Alegre Globo 1970 LEIBNIZ GW Princípios da Filosofia ou a Monadologia Disponível em httpsleibnizbrasilprobr leibnizpdfmonadologiapdf LEIBNIZ G W Discurso de metafísicas e outros textos São Paulo Matins Fontes 2004 Adaptado MALEBRANCHE Nicolas Diálogos sobre a metafísica e a religião primeiro diálogo Oficinas de tradução Departamento de Filosofia Universidade Federal do Paraná Curitiba SCHLAUFPR 2011 NICOLA Ubaldo Antologia Ilustrada de Filosofia das origens à idade moderna São Paulo Globo 2005 REALE Giovanni DARIO Antiseri Historia da filosofia do humanismo a Descartes v 3 1 São Paulo Paulus 2004 SPINOZA Benedictus de 1632 1677 Ética demonstrada à maneira dos geômetras 3ª edição Bilíngue latimportuguês Belo Horizonte Autêntica 2010 p14 In ALMEIDA Pablo Joel A concepção imanente de Deus em Espinosa Disponível em httpwwwuelbreventossepech sumariostemasaconcepcaoimanentededeusemespinosapdf Créditos nas ilustrações Figura 101 Disponível em httpswwwcorriereitcultura17gennaio05tulliodemauro accademialinceiscuolaocsee46ee682d33c11e69dc7b8de3918521ashtml Acesso em 2 dez 2019 Filosofia 42 Volume 2 Figura 102 Disponível em httpswwwfacarospaulscomappsflorenceartandculture4269 accademiadelcimento Acesso em 2 dez 2019 Figura 103 Disponível em httpswwwvenuemapcoukpropertydetails250london london81 Acesso em 2 dez 2019 Figura 104 Disponível em httpswwwacademiadearmascom201808nulliusinverbanas palavrasdeninguem Acesso em 2 dez 2019 Figura 105 Disponível em httpsoperamundiuolcombrhistoria26831hojenahistoria1635 richelieucriaaacademiafrancesa Acesso em 2 dez 2019 Figura 111 Disponível em httpswwwbiographycomscholarfrancisbacon Acesso em 2 dez 2019 Figura 112 Disponível em httpsedisciplinasuspbrmodresourceviewphpid2537947 Acesso em 2 dez 2019 Figura 121 Disponível em httpsconhecimentocientificor7comrenedescartes Acesso em 2 dez 2019 Figura 122 Disponível em httpsslideplayercombrslide5618869 adaptado Acesso em 2 dez 2019 Figura 131 Disponível em httpsanthrowikiatNicolasMalebranche Domínio Público Figura 132 Por René Descartes Domínio público Disponível em httpscommonswikimedia orgwindexphpcurid1918592 Acesso em 2 dez 2019 Figura 133 Disponível em httpswwwhiperculturacomfuncoesdaglandulapineal Acesso em 2 dez 2019 Figura 141 Shutterstock Figura 142 By Loon J van Johannes ca 16111686 Domínio Público httpscommons wikimediaorgwindexphpcurid566379 Figura 151 Door Barend Graat Domínio Público Disponível em httpscommonswikimedia orgwindexphpcurid48217390 Acesso em 2 dez 2019 Figura 152 O autor Figura 153 Disponível em httpsipinimgcom originals2c62622c6262de7e99f702d4e52803bb5d2590jpg Adaptado Acesso em 2 dez 2019 Anotações Apostila sobre Galileu e Isaac Newton Questões Objetivas Qual das seguintes descobertas é atribuída a Galileu Galilei a Lei da gravitação universal b Teoria da relatividade c As fases de Vênus d Estrutura do DNA Resposta correta c As fases de Vênus Isaac Newton é conhecido por ter formulado quais das seguintes leis a Leis da hereditariedade b Leis do movimento c Leis da termodinâmica d Leis da eletromagnetismo Resposta correta b Leis do movimento Qual é o nome do livro onde Newton apresentou suas leis do movimento e a lei da gravitação universal a Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo b De Revolutionibus Orbium Coelestium c Principia Mathematica d A Origem das Espécies Resposta correta c Principia Mathematica Questões Abertas Descreva como as observações astronômicas de Galileu desafiaram as crenças tradicionais sobre o universo Resposta correta Galileu utilizando seu telescópio aprimorado fez várias observações que desafiaram as crenças tradicionais da época especialmente o modelo geocêntrico Ele observou as luas de Júpiter provando que nem todos os corpos celestes orbitam a Terra Também viu as fases de Vênus que só podem ser explicadas se Vênus orbitar o Sol e não a Terra Além disso ele observou manchas solares e montanhas na Lua demonstrando que os corpos celestes não eram perfeitos como se acreditava Explique a importância das leis do movimento de Newton para a física Resposta correta As leis do movimento de Newton são fundamentais porque fornecem uma base para entender como os objetos se movem sob a ação de forças A primeira lei a lei da inércia afirma que um objeto permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme a menos que uma força externa atue sobre ele A segunda lei relaciona a força massa e aceleração de um objeto Fma A terceira lei diz que para cada ação há uma reação igual e oposta Juntas essas leis descrevem o comportamento dos objetos e são aplicáveis em uma vasta gama de situações desde o movimento de planetas até a engenharia de veículos Como as descobertas de Newton no Principia Mathematica influenciaram o pensamento científico Resposta Sugerida Principia Mathematica de Newton revolucionou o pensamento científico ao fornecer uma descrição matemática rigorosa das leis do movimento e da gravitação Sua obra unificou a física terrestre e celeste mostrando que as mesmas leis governam tanto o movimento dos corpos celestes quanto dos objetos na Terra Isso estabeleceu uma base sólida para a física clássica e promoveu a ideia de que o universo opera de acordo com leis naturais compreensíveis e previsíveis influenciando profundamente a ciência e a filosofia da ciência nos séculos seguintes Apostila 1 sobre Racionalismo e Empirismo na Filosofia da Ciência Questões Objetivas O que o empirismo enfatiza como fonte principal de conhecimento a Razão b Intuição c Experiência sensorial d Revelação divina Resposta c Experiência sensorial Qual filósofo é conhecido por sua defesa do racionalismo a John Locke b David Hume c René Descartes d Francis Bacon Resposta correta c René Descartes Qual das seguintes afirmações reflete uma perspectiva empirista a Todo conhecimento é inato e derivado da razão b Conhecimento é adquirido através da observação e experiência c A verdade pode ser alcançada apenas por meio da meditação d A lógica é a única fonte de conhecimento confiável Resposta correta b Conhecimento é adquirido através da observação e experiência Questões Abertas Explique a diferença entre racionalismo e empirismo na aquisição de conhecimento Resposta correta O racionalismo e o empirismo são duas abordagens distintas para a aquisição de conhecimento O racionalismo representado por filósofos como René Descartes argumenta que a razão e a lógica são as principais fontes de conhecimento e que certas verdades são inatas acessíveis através da introspecção e do raciocínio dedutivo Em contraste o empirismo defendido por filósofos como John Locke e David Hume sustenta que todo conhecimento deriva da experiência sensorial Para os empiristas o conhecimento é adquirido através da observação do mundo e da experimentação e a mente humana começa como uma tábua rasa preenchida pelas impressões sensoriais Dê um exemplo de um avanço científico que se baseou em princípios empiristas Resposta correta Um exemplo de um avanço científico baseado em princípios empiristas é a teoria da evolução por seleção natural proposta por Charles Darwin Darwin coletou uma vasta quantidade de dados observacionais durante sua viagem no HMS Beagle estudando diversas espécies e suas variações em diferentes ambientes Suas observações empíricas das adaptações das espécies ao meio ambiente e das similaridades entre espécies levaram à formulação de sua teoria que se baseia na evidência acumulada a partir da experiência sensorial e observação Como o método científico incorpora tanto o racionalismo quanto o empirismo Resposta correta O método científico incorpora elementos do racionalismo e do empirismo Ele começa com a observação empirismo onde dados e fatos são coletados a partir do mundo natural A partir dessas observações os cientistas formam hipóteses e teorias utilizando o raciocínio lógico e a dedução racionalismo para elaborar explicações e previsões Essas hipóteses são então testadas por experimentos controlados empirismo e os resultados são analisados para confirmar ou refutar as hipóteses Assim o método científico depende tanto da experiência sensorial quanto do raciocínio lógico para desenvolver e validar o conhecimento científico Fonte Apostilas