·
Matemática ·
Filosofia
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
216
Filosofia Política - Silvanir Aldá
Filosofia
UNICESUMAR
216
Tópicos em Ciência Política - Ed. 2020
Filosofia
UNICESUMAR
136
Inovacao Disruptiva Criatividade Unicesumar Livro Digital para Professores
Filosofia
UNICESUMAR
192
Prática de Ensino: Introdução aos Estudos Filosóficos
Filosofia
UNICESUMAR
248
Filosofia da Mente - Livro Digital Unicesumar NEAD
Filosofia
UNICESUMAR
128
Teoria do Conhecimento - Rafael Adilson Ribeiro
Filosofia
UNICESUMAR
7
MAPA ECO Filosofia e Ética - Análise e Reflexão Ética Profissional
Filosofia
UNICESUMAR
152
Filosofia e Ética - Samanta Elisa Martinelli
Filosofia
UNICESUMAR
6
MAPA-Filosofia-e-Etica-Profissional-Ciencias-Economicas
Filosofia
UNICESUMAR
60
O Novo Tempo do Mundo - Paulo Arantes - Análise da Era da Emergência
Filosofia
PUC
Preview text
METAFÍSICA PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO Núcleo de Educação a Distância DE MARINGÁ SILVA NETO Fernando Alves Metafísica Fernando Alves Silva Neto Maringá PR Unicesumar 2020 Reimpresso em 2023 200 p Graduação EaD 1 Metafísica 2 Filosofia 3 Pensamento Filosófico EaD I Título FICHA CATALOGRÁFICA NEAD Núcleo de Educação a Distância Av Guedner 1610 Bloco 4 Jd Aclimação Cep 87050900 Maringá Paraná wwwunicesumaredubr 0800 600 6360 Coordenadora de Conteúdo Roney de Carvalho Luiz Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Matheus Silva de Souza Design Educacional Ivana Cunha Martins Revisão Textual Carla Cristina Farinha Ilustração Bruno Cesar Pardinho Fotos Shutterstock CDD 22 ed 193 CIP NBR 12899 AACR2 ISBN Impresso por Bibliotecário João Vivaldo de Souza CRB 91679 Reitor Wilson de Matos Silva ViceReitor Wilson de Matos Silva Filho PróReitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho PróReitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva PróReitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pósgraduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de Contra tos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel BOASVINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico nós tra balhamos com princípios éticos e profissiona lismo não somente para oferecer educação de qualidade como acima de tudo gerar a con versão integral das pessoas ao conhecimento Baseamonos em 4 pilares intelectual profis sional emocional e espiritual Assim iniciamos a Unicesumar em 1990 com dois cursos de graduação e 180 alunos Hoje temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil nos quatro campi presenciais Maringá Londrina Curitiba e Ponta Grossa e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e também no exterior com dezenas de cursos de graduação e pósgraduação Por ano pro duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares Somos reconhe cidos pelo MEC como uma instituição de exce lência com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa cionais do Brasil A rapidez do mundo moderno exige dos edu cadores soluções inteligentes para as neces sidades de todos Para continuar relevante a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes inovação coragem e compromis so com a qualidade Por isso desenvolvemos para os cursos de Engenharia metodologias ati vas as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis são que é promover a educação de qua lidade nas diferentes áreas do conheci mento formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária P R O F I S S I O N A L T R A J E T Ó R I A Me Fernando Alves Silva Neto Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá 2017 Possui graduação em licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá 2014 Tem experiência na área de Filosofia com ênfase em Ética e Fenomenologia atuando principalmente nos seguintes temas Existencialismo Fenomenologia Ética Litera tura e Dramaturgia Atualmente é professor na Secretaria de Educação do Paraná lecionando nos anos finais do Ensino Médio httplattescnpqbr9886420284936386 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A METAFÍSICA Prezadoa alunoa é com muito prazer que lhe entregamos este livro de Metafísica o qual fará parte de sua formação acadêmica A história da metafísica tem início junto com surgimen to da filosofia na Grécia sendo assim estamos diante de um tema que acompanha mais de dois mil anos de história Dessa forma ao longo desses anos a metafísica aparece de várias formas e maneiras diferentes adaptandose aos problemas de cada período da humanidade Diante disso pretendemos mostrar a metafísica a partir da história do pensamento filosófi co procurando destacar as importantes características do conceito de metafísica presente em cada período histórico da filosofia Para tanto na Unidade 1 abordaremos a origem do termo metafísica para em seguida ver como a metafísica evoluiu desde os présocráticas até Platão e Aristóteles Na Unidade 2 estudaremos os aspectos característicos do pensamento filosófico cristão e como a metafísica grega se relaciona com a fé cristã Na Unidade 3 observaremos a ruptura com o pensamento medieval o que impulsionará uma nova metafísica Na Unidade 4 estu daremos os termos metafísica e ontologia que ganham grande destaque na filosofia contem porânea Por último na Unidade 5 apresentaremos a crítica à metafísica algo fundamental para compreender o pensamento pósmoderno Dentro desse trajeto veremos as principais teorias metafísicas de filósofos como Platão Aristóteles Tomás de Aquino Descartes Kant Sartre entre outros que contribuirão para sua compreensão do pensamento filosófico ocidental podendo assim fazer estudos futuros sobre o tema metafísica com confiança e segurança algo que é fundamental na sua formação enquanto graduando em filosofia Por fim o conhecimento de um tema tão presente na história da filosofia é essencial para reflexão filosófica pois é graças à metafísica que as discussões filosóficas não caem na su perficialidade Dessa forma é importante conhecer e compreender os fundamentos básicos da metafísica ao longo da história para que possa desenvolver seu pensamento filosófico Boa leitura ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece Este ele mento ajudará você a conceituálao melhor da maneira mais simples conceituando No fim da unidade o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos quadroresumo Neste elemento você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos explorando ideias Ao longo do livro você será convidadoa a refletir questionar e transformar Aproveite este momento pensando juntos Enquanto estuda você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno logia a seu favor conectese Quando identificar o ícone de QRCODE utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online O download do aplicativo está disponível nas plataformas Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO METAFÍSICA NA ANTIGUIDADE 8 METAFÍSICA NA IDADE MÉDIA 44 82 A METAFÍSICA NA MODERNIDADE 120 METAFÍSICA E ONTOLOGIA 158 CRÍTICA À METAFÍSICA 193 CONCLUSÃO GERAL 1 METAFÍSICA NA ANTIGUIDADE PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade O começo da metafísica grega Parmênides e Heráclito Platão e o mundo sensível e inteligível Aristóteles e a filosofia primeira OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender como os filósofos présocráticos contribuíram para metafísica Entender como a metafísi ca platônica é estruturada em mundo sensível e inteligível Conhecer a filosofia primeira de Aristóteles PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa nesta unidade você conhecerá o significado do conceito de metafísica qual seu papel dentro da filosofia antiga Para tanto nosso estudo terá início na Grécia Antiga com os filósofos Herá clito e Parmênides que melhor desenvolverem a metafísica no Período PréSocrático depois passamos a estudar Platão e Aristóteles os maio res metafísicos da Grécia Antiga A palavra metafísica significa aquilo que está para além da física Nesse sentido a metafísica é a parte da filosofia que estuda os principais problemas filosóficos estes são assuntos que estão além da sensibili dade como por exemplo essência do ser as ideias eternas o conheci mento humano a ideia de Deus alma os conceitos de justiça e de ética dentre outros temas A característica da metafísica ao longo da história da filosofia é tratar de assuntos que estão num plano inteligível puro porém observaremos que para alguns filósofos gregos a metafísica ain da não é completamente desassociada da sensibilidade e da natureza O que exporemos para você nesta unidade são os três momen tos mais significativos da metafísica grega O primeiro momento é da concepção da metafísica dentro da filosofia présocrática que possui a peculiaridade de não criar uma metafísica completamente voltada a uma realidade inteligível buscando seus fundamentos ainda na razão e na natureza O segundo momento é da filosofia platônica com sua divisão heterogênea entre mundo sensível e inteligível Por último a filosofia primeira de Aristóteles que procura criar uma ciência do ente enquanto ente ou seja uma metafísica que investiga as causas funda mentais do ser O objetivo desta unidade é que seja uma introdução para o estudo da metafísica grega Assim a unidade procura fornecer o essencial dos principais filósofos da antiguidade para que você possa se familiarizar com os problemas e teorias metafísicas desse período O estudo desta unidade lhe apresentará as bases da metafísica grega Boa leitura UNIDADE 1 10 1 O COMEÇO DA METAFÍSICA GREGA HERÁCLITO E PARMÊNIDES Começar um estudo sobre a metafísica pode assustar de início pois a própria palavra metafísica carrega em si mesma um significado confuso e obscuro em nosso cotidiano Por isso buscar o sentido correto do termo nos ajudará a enten der qual o papel e lugar da metafísica dentro da filosofia O que significa metafísica Responder a essa questão requer uma breve análi se do surgimento deste termo dentro da história da filosofia A palavra metafísica tem origem grega tà metá tà physikà que significa aquilo que está para além do plano físico Entretanto não há registro de nenhum filósofo grego ter feito utilização deste termo dentro da Filosofia Segundo Mora 1965 a palavra metafísica deve sua origem a uma ordenação especial das obras de Aristóteles realizada no século I por Andrônico de Rodes que ao organizar as obras do Estagirita colocou os escritos que tratavam da Filo sofia Primeira depois do livro da Física obra que trata dos assuntos relacionados às coisas do mundo físico physis Dessa maneira as obras que se localizavam depois da Física ganham a expressão grega tà metá tà physikà como referência àquilo que está depois do mundo das coisas físicas Por isso encontramos hoje dentro das obras de Aristóteles o conjunto de textos denominados Metafísica entretanto originalmente os textos que compõe essa obra são aqueles que tratam da Filosofia Primeira que precisamente abordam a ciência do ser enquanto ser O termo metafísica se assemelha à ciência do ser enquanto UNICESUMAR 11 ser pois enquanto na Física o filósofo trabalha os fenômenos do mundo físico a Filosofia Primeira busca investigar os primeiros princípios das coisas e suas causas mais elevadas ou seja aquilo que está para além das coisas físicas metafísica Dessa forma a metafísica é a parte da filosofia que estuda as categorias mais básicas e essen ciais do ser que são conhecidas por meio do intelecto razão e não da sensibilidade Para Iglésias 2005 a palavra archéprincípio em grego não significa so mente tempoinício para os filósofos mas possui um sentido mais específico que é o fundamento de todas as coisas em outras palavras o princípio é aquilo de que todas as coisas são derivadas A busca por princípios fundamentais é a marca registrada dos filósofos e é com ela que Aristóteles em suas anotações reconhece quem fora ou não filósofo Os filósofos da natureza possuíam uma característica única que era a es peculação sobre o mundo físico por meio da reflexão racional Tales de mileto Anaximandro Anaxímenes Heráclito Parmênides Pitágoras Demócrito e ou tros portanto possuíam uma preocupação por encontrar o princípio das coisas a partir de uma explicação metafísica porém a metafísica dos présocráticos não realizava uma divisão total entre mundo físico e mundo inteligível Desse modo o que eles apresentavam como os princípios racionais da origem das coisas não eram puramente inteligíveis visto que seus princípios eram ainda físicos Por exemplo Pitágoras um grande filósofo e matemático fundador da escola Pitagórica de filosofia foi capaz de perceber que as notas musicais poderiam ser descritas por números entretanto alega em sua explicação filosófica e metafísica que os números são seres físicos e que compõe todas as coisas do mundo Pode mos visualizar melhor essa ideia com a descrição de Aristóteles Metafísica A 5 985b 23 apud IGLÉSIAS 2005 sobre os pitagóricos Eles os pitagóricos viram ainda que os atributos e as proporções das escalas musicais eram exprimíveis por números e uma vez que portanto todas as outras coisas pareciam na sua natureza total ser modeladas segundo números e que os números pareciam ser as primeiras coisas no conjunto da natureza eles supunham que os elementos dos números eram os elementos de todas as coisas e que o céu inteiro era uma escala musical e um número É pois eviden te que esses pensadores também consideravam que o número é o princípio não só enquanto matéria das coisas mas também como agente das suas modificações e dos seus estados permanentes UNIDADE 1 12 Na passagem anterior Aristóteles ao descrever pensamento pitagórico frisa que os números para esses pensadores são as primeiras coisas do mundo e que compõe todas as outras coisas em suas matérias Com isso percebemos que Pitágoras por mais que apresente uma explicação da origem das coisas a partir de uma metafísica acreditava que deveria encontrar um princípio físico para sustentar a origem das coisas físicas Como salienta Inglésis 2005 a afirmação de Pitágoras de que os nú meros são entidades corpóreas parece estranha de início porém a noção de inteligível puro somente é desenvolvida completamente em Platão assim para esses primeiros filósofos as coisas são pensadas de certa forma como entidades físicas mas provenientes de uma reflexão metafísica Quando observamos os princípios metafísicos encontrados pelos outros filósofos como os quatros elementos água terra fogo ar e o átomo de De mócrito percebemos que a metafísica dos présocráticos não está totalmente dividida entre o plano físico e inteligível mas interligada entre os dois planos Entre os primeiros pensadores há dois filósofos que merecem nossa atenção Esses filósofos são Heráclito e Parmênides pois a filosofia dos dois influen ciará o pensamento de Platão e a teoria do mundo das ideias Heráclito filósofo grego que viveu no século VI aC possuía uma me tafísica estruturada no princípio do devir mudança que serve até hoje de inspiração para algumas especulações filosóficas O pensamento Heráclito consiste que o mundo é composto por uma eterna e permanente mudança que é o devir ou viraser O devir é o princípio que fundamenta todas as coisas do mundo logo não há nada dentro da realidade que possa escapar a mudança A razão do devir para Heráclito era o fogo um dos quatro elemen tos O fogo era a causa e o fundamento do devir Sobre isso explica Mondin 1981 p 26 que A causa do devir só pode ser homogênea com ele Por isso He ráclito lhe dá como princípio o fogo o qual existindo pela con sumação de outras coisas é o tipo mais apropriado de devir Do fogo mediante os movimentos ascendentes e descendentes pro cedem todas as coisas No movimento descendente o fogo con densase e tornase ar água e terra No movimento ascendente estes elementos se rarefazem e voltam a ser fogo UNICESUMAR 13 O devir existe enquanto está causando a mudança como o fogo que existe so mente quando consome o seu combustível ou seja a chama do fogo existe cons tantemente durante o movimento de degradação do outro Por exemplo quando observamos uma árvore no processo de sua vida ela dá frutos que ao amadu recerem caem de seus galhos e apodrecem no chão Dos frutos do chão novas árvores nascerão enquanto que a árvore envelhecerá até a chegada de sua morte O devir é esse movimento que está contido no ciclo da vida que descreve essa harmonia da contradição entre vida e morte quente e frio juventude e velhice etc Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substân cia mortal no mesmo estado por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança Heráclito pensando juntos A harmonia dos contrários é o viraser que perpassa todas as coisas do mundo que pode ser resumida no princípio metafísico do devir Entretanto lembra Reale e Antiseri que o devir está estritamente ligado ao logos grego em outras palavras com a racionalidade que é a lei suprema do universo a ideia de inteligência que nos filósofos de Mileto estava apenas implícita associase expressamente ao princípio de Heráclito REALE ANTISERI 2003 p 24 Com isso podemos dizer que Heráclito também inicia uma reflexão a respei to do conhecimento verdadeiro porque a verdade somente será aquela que está em conformidade com a razão lei suprema longe das percepções sensíveis As opiniões humanas verdadeiras serão então somente as que seguem o caminho da razão e deixam de lado o julgamento dos sentidos A respeito disso Mondin 1981 p 27 comenta que em Heráclito O homem pode tornase sábio bom e feliz se procurar unirse ao Logos O meio principal para se conseguir isto é o conhecimento de si mesmo porque o conhecimento de si mesmo leva ao Logos que age na alma Pelo conhecimento do Logos o homem compreende que as tensões da vida são contrabalançadas pela harmonia geral das coisas que é a virtude suprema O homem aproximase do Logos percor rendo a via ascendente da verdade e não a via descendente do prazer UNIDADE 1 14 O princípio das coisas o devir somente pode ser alcançado pelo Lógos que é a razão para entender a metafísica do devir o sujeito tem que buscar a elevação da razão via ascendente Dessa maneira quando o indivíduo percorre o ca minho ascendente para razão ele vai em direção ao conhecimento verdadeiro e por esse mesmo caminho o homem se torna capaz de compreender o devir A metafísica heraclitiana ainda mantém sua ligação com o plano físico e inteligível já que o princípio de tudo é descrito como um elemento da natureza o fogo todavia inicia uma leve ruptura entre físico e inteligível que não fora explorada pelos seus antecessores de Mileto quando descreve que somente por meio da via ascendente da verdade da elevação do indivíduo pela razão e não pelos sentidos o sujeito conseguirá o entendimento do devir Parmênides de Eléia nascido no século VI aC foi um dos grandes pensa dores da filosofia da natureza entretanto também um inovador dessa filosofia pois toma como partida para explicação da origem das coisas uma afirma ção sobre o ser o ser é e não pode não ser o nãoser não é e não pode ser de modo algum Esse argumento estabelece que toda a realidade está sujeita ao ser enquanto ele é ou melhor a realidade somente pode ser descrita pelo ser enquanto existente e nunca pela não existência do ser o nãoser Segundo Reale e Antiseri 2003 p 33 com Parmênides a cosmologia recebe como que um profundo e benéfico abalo do ponto de vista concei tual transformandose em uma ontologia teoria do ser visto que parte pela primeira vez para uma investigação do ser Com isso o filósofo de Eléia argumenta que a estrutura da realidade está sobre a lei da não contradição porque o ser e a realidade somente poderão ser descritos a partir do ser que é uma noção de positivo puro e nunca a partir do nãoser que é a oposição pura da sentença o ser é A compreensão da relação entre ser que é e o nãoser é essencial para entendermos a metafísica de Parmênides Em uma primeira análise de sua argumentação percebemos que somente é possível dizer ou pensar sobre aquilo que é essa é a afirmação inicial do filósofo não há a possibilidade de pensar ou dizer algo sobre o nãoser Todo pensamento que é formulado em nossas mentes é sempre referente ao ser que é e nunca ao nãoser UNICESUMAR 15 Sobre o nãoser é impossível proferir alguma palavra pois para Parmêni des não temos entendimento daquilo que é inexistente Portanto todo conhe cimento apenas pode ser verdadeiro quando é referente ao ser que é a verdade está ligada ao ser O filósofo apresenta o argumento da seguinte forma Vamos vou dizerte e tu escuta e fixa o relato que ouviste quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar um que é que não é para não ser é caminho de confiança pois acompanha a realidade o outro que não é que tem de não ser esse te indico ser o caminho em tudo ignoto pois não poderás conhecer o nãoser não é possível nem indicálo PARMÊNIDES 2013 p 14 Diante da citação anterior percebemos que diferente de Heráclito o ser de Parmênides não possui a mudança em sua essência O ser em suas caracterís ticas fundamentais é imóvel e imutável completamente isento de qualquer tipo de movimento Uma vez que o ser é não pode de nenhum modo vira ser pois já é em sua essência e se não é não poderia de maneira nenhuma viraser visto que do nada não surge nada Isso implica também que o ser de Parmênides não possui um provedor de sua existência já que simplesmente é sempre esteve sendo como é De acordo com Parmênides 2013 p 62 a argumentação de Parmênides descreve os três princípios lógicos que a tradição filosófica insistiu como tutelares do pensamento 1 identidade A A 2 contradição A A 3 terceiro excluído AV A A primeira colocação significa que a afirmação sempre será o que é afirmado na segunda colocação constitui que a afirmação nunca será sua negação e por último que entre essas duas possibilidades não haverá mais nenhuma Parmênides introduz na filosofia a importância da nãocontradição algo de grande importância para a validade da argumentação E com isso traz também a diferença entre os saberes derivados da razão e os dos sentidos Para trabalhar a diferença razão e sensibilidade o filósofo descreve duas vias para a verdade via da verdade absoluta e a via das opiniões UNIDADE 1 16 A primeira via trata da única verdade capaz de ser alcançada pelo homem que para Parmênides é a verdade do ser enquanto imutável imóvel e uno sem possibilidade nenhuma de ser alterado ou gerado por outro ser Esse ser completamente pleno de si mesmo é a única verdade nada além dela pode ser descrita como verdade Então qualquer argumento que permita uma contradição não pode ser verdadeiro pois o ser é não podendo não sêlo Esse pensamento não pode ser contraditório pois é derivado direto da razão Na segunda via o problema que envolve o conhecimento verdadeiro está no aparente movimento das coisas Ou melhor significa que o indivíduo não pode pensar que esse movimento nasce e morre das coisas faça parte da rea lidade porque não pode haver movimento naquilo que é Para Parmênides pensar num possível devir é ir pelo caminho dos sentidos visto que o mundo sensível pode dar a impressão de que há movimento nas coisas Assim confiar nos sentidos indubitavelmente leva ao nãoser Quando pensa em algo quando usa o nome deve ser o nome de algo Por conseguin te tanto o pensamento quanto a linguagem exigem objetos que lhes sejam extrínse cos Uma vez que é possível pensar e falar em algo tanto num momento quanto em outro tudo aquilo que podemos pensar e falar deve existir em todos os tempos Não pode haver portanto mudança uma vez que a mudança consiste em coisas ganhan do ou perdendo existência Para que a linguagem tenha sentido as palavras devem significar algo e em geral elas não significam outras palavras mas algo que se encontra ali quer falemos dele quer não Suponhamos por exemplo que você fale de George Washington Não existisse um personagem histórico assim batizado este nome não teria sentido e as frases que o contivessem seriam absurdas Parmênides defende não apenas que George Washington deve ter existido no passado mas também que em certo sentido conti nua a existir uma vez que ainda podemos utilizar seu nome Fonte Russell 2005 p 7879 explorando Ideias UNICESUMAR 17 Dessa forma o princípio metafísico do ser de Parmênides nos leva somente ao conhe cimento verdadeiro quando alcançamos o ser para além das suas aparências sensíveis A sensibilidade é um mundo enganoso em que o devir dá a sensação de verdades possíveis das coisas Para escapar desse mundo de engano o homem tem que fazer uso da sua racionalida de já que é somente por meio do pensamento que é possível a compreensão do ser imóvel uno e imutável Parmênides faz uso de uma divisão da realidade de um lado os conheci mentos prováveis pertencentes aos sentidos de outro o pensamento plano inteligível em que a razão é o guia para a verdade e conheci mento da impossibilidade do nãoser Em resumo podemos concluir que diante da exposição realizada os principais aspectos levantados nesta aula são primeiro a palavra metafísica possui como significado aquilo que está para além das coisas físicas que implica na investigação das coisas apenas compreen síveis a partir da razão intelecto segundo que o pensamento filosófico dos présocráti cos passou por um processo gradativo no qual os filósofos primeiramente realizavam uma metafísica com pouca divisão entre o mun do sensível e inteligível porém essa divisão tornase mais presente a partir das filosofias de Heráclito e Parmênides que buscam um conhecimento verdadeiro a partir da razão como guia para o entendimento do princípio metafísico de suas filosofias Por fim notamos que a conceito de cosmologia vai enfraquecen do dando início a uma divisão entre verdade sensível e verdade inteligível UNIDADE 1 18 Platão filósofo grego natural da cidade de Atenas nascido em 427 aC é conside rado um dos maiores gênios da história da filosofia Filho de aristocratas gregos que lhe deram uma excelente educação teve contato com a filosofia a partir de Crátilo que foi discípulo de Heráclito Porém seus estudos em filosofia foram marcados pelos ensinamentos de Sócrates que guiaram seus pensamentos sobre os conceitos de política ética e justiça A filosofia platônica floresce no momento do fim da cosmologia e o começo da preocupação dos problemas humanos A partir de Sócrates a filosofia encer ra a busca pela origem das coisas e toma como objeto de atenção o homem e suas relações em sociedade frisando como preocupação a forma de aquisição do conhecimento verdadeiro Platão segue o mesmo caminho de Sócrates pois segundo Pessanha 2005 p 57 procura explicar a situação atual do universo e dos seres não por meio de uma situação anterior cosmologia mas por meio de causas intemporais que explicam sempre por que cada coisa é o que é O pensamento de Platão é desenvolvido sobre duas grandes filosofias anterio res pela de Heráclito que afirmava o devirmudança como o princípio de tudo e de Parmênides que alegava que o ser é sendo imóvel e imutável A filosofia platônica tenta realizar uma conciliação entre essas duas teorias contraditórias Nessa tentativa de unir Heráclito e Parmênides o ateniense elabora a Teoria das Ideias que se torna a estrutura de todo seu pensamento filosófico que é capaz de trabalhar diversos temas de filosofia como metafísica epistemologia e política 2 PLATÃO E O MUNDO SENSÍVEL E INTELIGÍVEL UNICESUMAR 19 Para que possamos compreender a metafísica em Platão é necessária uma explicação da Teoria das Ideias Para tanto primeiramente temos que entender a divisão entre mundo sensível e mundo das ideias para depois explorar como Platão elabora sua argumentação e explicação de como o homem é capaz de conhecer as verdades metafísicas O mundo sensível é a realidade composta por coisas perceptíveis pelos nos sos sentidos tato olfato paladar visão e audição neste mundo tudo está repleto de imperfeições pois as coisas sensíveis estão sujeitas a sofrerem mudanças com o passar do tempo Por esse motivo são consideradas cópias das ideias perfeitas que existem numa realidade transcendente onde não sofrem alterações tem porais Esse mundo transcendente Plantão denomina de mundo das ideias As ideias são por essência perfeitas e imutáveis delas derivam a origem de todas as coisas do mundo sensível Sobre o conceito de ideias em Platão vale observar o comentário de Pessanha 2005 p 5960 Platão propõe que se afirme hipoteticamente a existência de formas ou essências ou ideias que seriam os modelos eternos das coisas sensí veis Embora Platão as chame também de ideias elas não existem na mente humana como conceitos ou representações mentais ao contrá rio existem em si nem nos objetos de que são os modelos nem nos sujeitos que conhecem esses objetos Cada coisa corpórea e mutável seria o que ela é uma cadeira por exemplo porque participa da es sência que lhe serve de modelo a cadeiraemsi a essência ou ideia de cadeira Uma cadeira que vemos ou tocamos pode ser de madeira ou metal desta ou daquela cor deste ou daquele formato ela muda envelhece é destruída com o tempo Já a essência de cadeira permanece sempre a mesma fora do tempo e do espaço E é sempre única Pois o que qualquer cadeira em qualquer época ou lugar tem de ser para sempre cadeira É o modelo perene de todas as cadeiras E é aquilo a que se refere a palavra cadeira em qualquer língua em qualquer tempo A citação anterior utiliza um dos maiores exemplos das aulas de filosofia que é a cadeira e a ideia de cadeira Primeiro concluímos conforme a citação que as ideias são os fundamentos das coisas sensíveis porque abarca suas característi cas universais Portanto podemos dizer que uma cadeira ideal possuirá certas características universais que a caracteriza como tal que podem ser o assento o encosto para costa e uma base UNIDADE 1 20 O assento para cadeira é necessário já que é construída para ser sentada O en costo serve para tornála uma cadeira visto que sem ele seria um banco A base que sustenta a cadeira seja de quatro seja de três pernas não afetará sua essência a cadeira emsimesma do mesmo jeito que a cor e o material também não afetarão já que o número de pernas não implicará no fato dela ser ou não cadeira visto que o importante em sua essência é ter uma base para mantêla em pé Entretanto para ser cadeira é necessário ter todas essas características atributos que podemos dizer que são universais da ideia de cadeira Essa universalidade da ideia é importante dentro da Teoria das Ideias porque mantém uma lógica dentro da metafísica de Platão mas também possibilita o con cílio do devir de Heráclito e da imobilidade de Parmênides Mantém uma lógica justamente pelo fato de conseguir abarcar toda diversidade das cadeiras que podem existir no mundo sensível e ainda garantir um conceito de cadeira imutável e eterna Platão com a criação da hipótese de uma ideia universal que é o molde das coisas sen síveis inaugura na História da Filosofia o problema da aquarela dos universais que será um dos temas mais abordados na Idade Média pensando juntos Com isso Platão consegue trabalhar em sua metafísica o movimento e a contingên cia das coisas vista na filosofia de Heráclito com o conceito de um mundo sensível e ainda tratar da imobilidade e imutabilidade do ser de Parmênides com a ideia perfeita e atemporal contida no mundo das ideias Toda essa discussão sobre as ideias transcendentes faz o filósofo criar também uma teoria do conhecimento Para Platão o problema sobre o conhecimento está em como o homem é capaz de conhecer as ideias perfeitas e imutáveis já que estas não es tão presentes no mundo sensível nem na mente humana Mesmo sendo um problema epistemológico Platão oferece uma solução a partir de sua teoria metafísica das ideias Russell 2015 comenta que em Platão há uma grande diferença entre opinião e conhecimento O conhecimento é todo aquele saber que é isento de estar equivocado enquanto a opinião é um saber que pode levar ao erro Desse modo a diferença reside nos objetos que cada saber visa A opinião realiza suas conclusões em cima do mundo que se apresenta para os sentidos sempre conhecendo as coisas como elas aparentam ser mas nunca como são realmente enquanto o conhecimento visa à coisa emsi mesma em sua essência imutável e eterna Russell 2015 p 162 ainda ressalta que UNICESUMAR 21 Considerese um homem que ama coisas belas que faz questão de ver novas tragédias contemplar novos quadros e ouvir novas músicas Esse homem não é um filósofo porque só ama as coisas belas e não ama a beleza em si Quem ama somente o que é belo está sonhando o que conhece a beleza absoluta se encontra desperto Aquele possui tão somente opinião este o conhecimento O portador do conhecimento para Platão é então o conhecedor das coisas emsi mesmas aquele que teve a visão do mundo das ideias Por isso o ateniense procura esclarecer a forma de aquisição do conhecimento verdadeiro a partir da recordação da alma Para os gregos influenciados pelas doutrinas órficas incluindo Platão a alma humana é imortal sendo assim ela passa por um ciclo constante de vida e morte Por causa disso a alma presenciou o mundo das ideias e o mundo dos sentidos por várias vezes durante esse ciclo eterno Logo resta apenas ao homem recordar o que a alma um dia contemplou Platão explica melhor o ciclo da alma com a alegoria do Carro Alado descrito no livro Fedro Vejamos como Montenegro 2010 p 447448 descreve essa alegoria A alma é agora comparada a uma força natural composta de um carro puxado por uma parelha alada de dois cavalos e conduzida por um cocheiro Como bem se conhece o mito enquanto a alma divina conta com dois cavalos de boa raça belos e obedientes à condução do auriga a alma dos outros seres entre os quais se encontra o ser humano seria formada por apenas um cavalo de boa raça junto a um outro mestiço e desobediente Dessa diferença fundamental decorreria a dificuldade intrínseca de guiarmos o nosso próprio carro Com efeito as almas divinas ocupamse de pôr em movimento ascendente aquilo que é pesado em direção à morada dos deuses no topo do mundo onde compartilham um banquete divino Dali elas atingem a superfície externa do céu de onde são conduzidas de volta por meio de um mo vimento circular que permite a contemplação das realidades eternas exteriores ao céu Já as almas humanas padecem da constante peleja contra a pusilanimidade do cavalo mestiço em persistente movimen to contrário ao do cavalo de boa raça estabelecendo com relação às almas semelhantes um embate competitivo no afã de alcançarem na frente a planície da verdade onde está situado o pasto mais adequado para nutrir as asas O resultado seria a impossibilidade de ver senão de muito longe e ainda de relance aquelas realidades supracelestes UNIDADE 1 22 Como podemos ver na citação a alma humana em determinado momento durante a viagem na carruagem consegue contemplar mesmo que de relance o mundo das ideias Entretanto no processo de cair para o mundo e se con ciliar com o corpo a alma esquece o que viu na viagem O homem surge no mundo sensível sem nenhuma lembrança assim deve fazer um processo de recordação das verdades eternas Essa recordação é algo importante para me tafísica platônica porque justifica a existência das verdades absolutas e tam bém revela como é possível o homem alcançar o conhecimento verdadeiro Para mais detalhes sobre a teoria da recordação da alma em Platão assista o vídeo feito pelo grupo do site HUMANAMENTE Vídeo intitulado Platão 2 Teoria da Reminiscência httpdidaticscombrindexphpparte2teoriadareminiscencia conectese Conforme Montenegro 2010 a metáfora utilizada por Platão também descreve de onde provém a racionalidade humana A alma é o fruto da ra cionalidade humana uma vez que a alma ainda que aprisionada dentro do corpo possui uma natureza divina desse modo mesmo com todos os desejos provenientes do corpo ela ainda anseia em voltar para a verdade absoluta A alma é como um guia do corpo durante sua vida no mundo dos senti dos Para Platão a razão está interligada com a alma humana logo é o instru mento mais importante do homem porque quando o sujeito a utiliza pode vir a recordar do mundo das ideias A razão humana mesmo com a possibilidade inevitável de levar o homem ao erro em alguns casos mantém uma busca constante de alcançar as verda des eternas que foram vistas antes de sua queda Dessa maneira o verdadeiro filósofo será aquele indivíduo que tem uma melhor recordação da visão das ideias Nisso Platão é muito categórico já que sempre argumenta em seus diálogos que o sujeito que sucumbir aos desejos do corpo possuirá uma dificuldade maior de alcançar o esplendor da verdade UNICESUMAR 23 O filósofo na filosofia platônica é aquele que segue sua alma Se a alma busca voltar às suas origens divinas ela segue portanto uma busca constante e incessante pela verdade Como a etimologia da palavra filosofia já diz amigo do saber o filósofo é aquele que está a procura por um conhecimento porém não significa que ele ama o conhecimento como talvez faça um curioso a curiosidade vulgar não faz o filósofo RUSSELL 2015 p 162 O amor do filósofo é pela verdade eterna e imutável Para exemplificar toda Teoria das Ideias Platão faz uso do Mito da Caverna me táfora que aparece na República Livro VII Conforme conta há uma caverna com homens que foram acorrentados desde seu nascimento e eles estão de costas para entrada da caverna virados de frente para a parede Atrás dos prisioneiros há um muro depois uma fogueira que ilumina a caverna e a luz criada pelas chamas pro jeta sombras na parede Além desses homens há um outro grupo de indivíduos que projeta objetos e animais a partir das sombras da luz da fogueira para os prisioneiros Qual o único objetivo da filosofia Qual é o fim que busca a filosofia A filosofia diferente da ciência não busca fins práticos o único objetivo dela é a verdade A sua finalidade é puramente teórica ou seja contemplativa busca da verdade pela verdade Batista Mondin pensando juntos UNIDADE 1 24 As sombras são compreendidas pelos habitantes da caverna como a rea lidade todas as coisas do mundo são as sombras que veem na parede Porém um dia um dos habitantes consegue se libertar das correntes e corre em di reção a saída da caverna A princípio a luz do sol ofusca a visão do sujeito depois de um momento seus olhos se acostumam com essa luz e o indivíduo percebe a verdadeira realidade Estupefato com a descoberta o homem corre para contar a novidade para seus companheiros de cativeiro entretanto ne nhum deles acredita em suas palavras Para que possamos compreender o mito é necessário saber o significado de cada coisa dentro dessa história Platão confere aos homens que estão acor rentados na caverna o significado de serem aqueles que vivem no domínio dos sentidos mundo sensível O muro representa a divisão entre o mundo sensível e o mundo das ideias assim para além do muro está o fogo fonte das sombras e a saída para o mundo real mundo das ideias As sombras funcionam como a representação das coisas do mundo sensí vel ou seja são as cópias imperfeitas das ideias O sujeito que foge da caverna é o filósofo aquele que a partir de um esforço individual consegue contemplar as ideias que no caso é o exterior da caverna O filósofo volta para dentro da caverna para revelar a verdade para os outros prisioneiros que por toda vida viveram numa realidade ilusória ou seja que as sombras refletidas na parede da caverna são somente cópias da verdadeira realidade De acordo com Mondin 1981 p 64 o mito é utilizado por Platão para ilustrar a passagem dos graus inferiores do conhecimento para os superiores Os graus do conhecimento são compostos por quatro estágios divididos em dois grupos O primeiro grupo é composto pelos dois graus do conhecimento sensitivo a eikasia que é a apreensão das imagens de pois pístis a percepção das coisas sensíveis acompanhada da confiança na realidade dos objetos apreendidos pelos sentidos MONDIN 1981 p 64 O segundo grupo é do conhecimento racional que possui diánoia que é a capacidade de conhecer os objetos matemáticos e a nóesis o conhecimento direto das ideias perfeitas UNICESUMAR 25 O mito da caverna serve para mostrar salienta Mondin 1981 que filosofia é um veículo que conduz o homem de um grau a outro do conhecimento As sombras na parede da caverna representam eikasia o primeiro estágio do conhecimento sensível depois que o sujeito se liberta das correntes alcança a pístis a compreen são da origem daquelas sombras fogueira A luz do sol que ofusca a visão do sujeito é a diánoia a visão mais próxima das verdades eternas que faz referência como a matemática Por último o descobrimento do exterior da caverna é a nóesis a visão da realidade verdadeira ideias Para concluirmos esta aula devemos pontuar algumas características im portantes da metafísica platônica Em primeiro lugar temos a Teoria das Ideias que incorpora na filosofia de Platão a dualidade entre mundo sensível e mundo inteligível dualidade que era tão importante nos filósofos présocráticos e tam bém inaugura uma forte divisão entre sensibilidade e razão Em segundo lugar a partir da teoria metafísica de ideias Platão é capaz de conciliar as teorias de Heráclito e Parmênides ambas tão opostas entre si já que uma é a mudança eterna e a outra imutabilidade permanente Por último dentro de sua metafísica Platão consegue desenvolver uma teoria do conhecimento que é fundamentada junto a divisão entre sensibilidade e razão Por fim Platão marca a história da filosofia antiga por inaugurar uma dicoto mia entre sensibilidade e razão que influenciará outros pensadores como Santo Agostinho Descartes Hegel Sartre entre outros A matemática é para Platão a base do pensamento filosófico Filosofar é procurar pen sar para além da matemática é fazer metamatemática No pórtico da Academia estava escrito Aqui não entre quem não sabe geometria E de fato é frequentemente com recursos inspirados na matemática que Platão procura ir além das posições assumidas por Sócrates para poder dar combate mais efetivo ao relativismo dos sofistas os quais afirmavam que não há verdade mas apenas opiniões circunstanciais e relativas Fonte Pessanha 2005 p 54 explorando Ideias UNIDADE 1 26 Aristóteles nasceu em 384 aC na cidade de Estágira na Trácia e sem sombra de dúvidas foi uma das maiores mentes da Grécia Antiga Durante sua juven tude foi discípulo de Platão frequentou a Academia platônica até a morte de seu mestre sendo grande conhecedor da Teoria das Ideias e depois acirrado crítico dela Aristóteles também foi fundador de uma academia de filosofia conhecida como Escola Peripatética que dedicava estudos acerca das ciências naturais O filósofo escreveu inúmeros livros sobre os mais diversos assuntos que não se limitavam somente a filosofia por exemplo Órganon tratado sobre lógica Física um tratado sobre as coisas da natureza Ética a Nicômaco um ensaio sobre teorias morais Reprodução dos animais um ensaio sobre biologia e Metafísica um tratado sobre a ciência do ente enquanto ente Como foi visto na primeira aula dessa unidade o termo metafísico sig nifica aquilo que está para além do plano físico este significado foi dado por Andrônico de Rodes no início do século I aC não para designar primeira mente a teoria filosófica de Aristóteles mas para indicar a posição de seus livros sobre a ciência do ente enquanto ente na prateleira da biblioteca Por acaso o significado da expressão condizia com o conteúdo contido nos livros assim a Filosofia Primeira de Aristóteles passa a ser chamada de Metafísica 3 ARISTÓTELES e a Filosofia Primeira UNICESUMAR 27 Aristóteles no Livro I da Metafísica começa sua reflexão com a seguinte frase todos os homens por natureza tende a saber ARISTÓTELES Metafísica I 980a A frase apresenta a ideia de que o homem naturalmente tem uma aptidão em conhecer Entretanto devemos perguntar como é possível adquirir um conhe cimento Aristóteles prossegue dizendo que as sensações são um dos meios pelos quais tanto o homem quanto os animais adquirem seus conhecimentos Ambos são capazes de ter recordação das experiências e utilizálas em suas vivências porém o homem está muito além dos animais pois é capaz de usar junto com a recordação a ciência e o raciocínio Para Aristóteles o homem somente adquire o conhecimento a partir da ex periência é a partir da observação de certos fatos que surge o saber Por exemplo é pela experiência que um médico percebe que determinado remédio é eficiente para certos casos de saúde mas para outros não Entretanto lembra o filósofo a experiência não garante ao sujeito a sapiência porque a experiência sem estar submetida ao conhecimento das causas não possui grande utilidade O médico que não conhece as causas da doença do paciente mesmo que aplique determinado remédio não terá garantias que o medicamento surtirá efeitos positivos Mesmo que cure o paciente contudo cura sem saber as causas da doença e o porquê o remédio é eficiente Por outro lado o médico que sabe a causa da doença de seu paciente aplica o remédio com êxito e eficiência O conhecimento das causas da doença permite ao médico emitir um laudo corre to ao paciente o fato conhece o que é a doença em si mesma permite ter um conhecimento preciso sobre como tratar o doente Da mesma maneira que o médico que conhece a doença em si mesma o fi lósofo tem que ter conhecimento das causas fundamentais do ser ou seja saber o que são as coisas em si mesmas Para Aristóteles fazer filosofia é fazer metafísica o que significa realizar uma investigação das causas fundamentais do ser é se perguntar o que é o ser enquanto si mesmo A Filosofia Primeira ou Metafísica porém não é a primeira forma de aquisição de conhecimento humano ou seja há antes os sentidos a experiência e as ativida des manuais Conforme descreve Aristóteles quem tem experiência é considerado mais sábio do que quem possui apenas algum conhecimento sensível quem tem a arte ciência mais do que quem tem experiência as ciências teóricas mais que as práticas ARISTÓTELES Metafísica I 981b 30 Entre todos esses tipos de conhecimentos existentes afirma o filósofo o mais elevado é a metafísica UNIDADE 1 28 As sensações podem dar um conhecimento como diria Platão um conhe cimento sensível Contudo elas não dizem ou revelam o porquê das coisas A característica de revelar o porquê é particular da metafísica pois é a ciência do conhecimento das causas Uma ciência que parte para compreensão das es sências do ser mas não de um ser completamente inteligível como em Platão mas de um ser que aparece diante de nossos olhos com suas características universais e particulares Para alcançar as essências do ser por meio da metafísica Aristóteles cria a teoria das quatro causas do ser As quatro causas aristotélica são material formal eficiente e final A primeira causa é a material o mármore no caso de uma estátua é sua causa material pois mármore é a substância que preenche toda forma da estátua A segunda causa é a formal referese à forma que a matéria possui por exemplo a estátua de La Pietà feita por Michelangelo representa com sua figura e seus traços toda a tristeza da morte de Jesus Cristo ao colo de Maria ou seja a causa formal faz referência ao que a estátua representa a partir de seus contornos que no caso é a morte de Cristo e o sentimento de tristeza que salta do mármore esculpido com aquela forma A terceira causa é a eficiente podemos descrever que a causa eficiente seria o escultor o sujeito que esculpe um bloco de mármore e o transforma numa estátua Logo a causa eficiente de Pièta seria Michelangelo A quarta causa é a final por definição diz respeito à finalidade do objeto Qual foi a finalidade que levou Michelangelo esculpir Pièta Podemos dizer que a finalidade foi retratar a tristeza em específico a tristeza da cena da Vir gem Maria segurar seu filho morto nos braços Se essa não fosse a finalidade a estátua teria outros contornos para expressar outro sentimento A causa final é definida pela característica de tratar o propósito que originou o ser Aristóteles quer demonstrar com sua teoria das causas que todo ser pode ter sua existência esclarecida e compreendida sem recorrer a uma explicação transcendente O estudo das causas do ser entretanto revela algo mais ao filósofo mostra que a matéria que compõe os seres é imutável Diante disso Aristóteles explora mais dois conceitos que permeiam a essência do ser os conceitos são matéria e forma UNICESUMAR 29 Por matéria devese entender toda substância que compõe os objetos e essa substância não sofre alterações por exemplo a peça de mármore que foi necessá ria para construção da estátua enquanto era uma peça possuía uma certa quan tidade maior de matéria depois de esculpida a quantidade de matéria é menor que antes Entretanto não houve alteração em sua matéria apenas modificou a sua quantidade de matéria e sua forma De acordo com Russell 2015 p 213 O que ele Aristóteles quer dizer parece advir pura e simplesmente do senso comum a coisa deve ter um limite e esse limite confere a ela uma forma Tomemos por exemplo o volume dágua qualquer porção pode ser delimitada pelo de uma vasilha tornandose assim coisa não é coisa porém quando não está isolada do resto da mas sa homogênea A estátua é uma coisa e em certo sentido o mármore de que ela é feita não se alterou em relação ao que era quando parte de um bloco ou quando parte de um conteúdo de uma pedreira Cada átomo porém sendo coisa só o é por estar determinado em relação ao conjunto tendo assim também uma forma A matéria é imutável não importa qual forma ela exerça ela será sempre a mesma o que pode ocorrer é uma variação em sua quantidade A forma por sua vez pode sofrer alterações como vimos é a partir de um bloco de már more que surge uma estátua A forma é o que resguarda a diferença das coisas no mundo Mondin 1981 salienta que a diferença entre um homem e um cachorro está em suas formas pois as diferenças de espécie são referentes à forma do ser A matéria não condiz com esse tipo de diferença já que é fonte das características individuais Assim que Cálias seja baixo corcunda e moreno devese à matéria MONDIN 1981 p 92 A matéria pode conter certas características individuais que são chama das por Aristóteles de acidentes Por acidente definimos aquilo que embora pertença necessariamente a um ser não permite identificálo como sendo este ou outro ser FARIA 2005 p 76 Os acidentes procuram explicar es sas peculiaridades individuais de peso altura e cor Particularidades que não possibilitam fazer ciência uma vez que afetam as coisas somente individual mente e não universalmente UNIDADE 1 30 A título de exemplo imaginemos um homem chamado Pedro que possui uma mancha de nascimento em seu rosto Não podemos inferir que todos os homens com nome Pedro também terão uma mancha Visto que a mancha é uma singularidade que não demonstra as características de Pedro enquanto Homem espécie humana Para ciência apenas atributos como espécies e categorias que são referentes a forma são materiais de conhecimento da ciência porque as características como bípede e mamífero são atribuídas a qualquer Homem existente não somente ao Pedro que tem uma mancha no rosto Para Aristóteles a ciência é somente feita por conceitos universais que po dem ser aplicados em todos os casos ou na maioria deles Por essa razão não é possível uma ciência dos acidentes já que não abrangem atributos universais do ser apenas atributos de um ser singular determinado das diferentes acepções do Ser devemos assinalar em primeiro lugar que o Ser por acidente não é nunca objeto de especulação Isto é demonstrado pelo fato de que nenhuma ciência seja ela prática produtora ou teórica se preocupa com ele O cons trutor de uma casa com efeito não produz os diversos acidentes dos quais a constru ção da casa sempre é acompanhada pois são em número infinito nada impede com efeito que a casa uma vez construída pareça agradável a uns e a outros incômoda a outros ainda útil ou que ela pareça diferente de todos outros seres nada disto de corre da arte de construir Fonte Faria 2005 p 76 explorando Ideias Para Aristóteles matéria e forma são duas coisas inseparáveis ambas não podem existir separadamente Se algo possui uma forma consequentemente possuirá matéria e viceversa O que também está em jogo dentro dessa relação entre matéria e forma é o movimento Se há uma mudança na passagem de um bloco de mármore a uma estátua tem que haver uma explicação para essa mudança acontecer a qual só pode vir do movimento devir Aristóteles adapta o viraser de Heráclito na sua meta física a partir das noções de ato e potência O conceito de ato é definido como as características definidas que o ser possui conforme aparece Por potência entendese tudo aquilo que é composto por matéria e tem uma forma mas que conserva em si mesmo a possibilidade de sofrer alterações UNICESUMAR 31 Dessa maneira podemos voltar ao exemplo da estátua de La Pièta antes de ser esculpida por Michelangelo era apenas um bloco de mármore em ato entretanto possuía em si mesma a propriedade de viraser uma estátua potência O ato é tudo aquilo que o ser é como aparece diante de nós mas que guarda em seu interior a possibilidade potência de ser outra coisa Mondin 1981 destaca que as explicações filosóficas de Aristóteles es barram com o senso comum Os conceitos de matériaforma e atopotência podem ser vivenciados com facilidade na realidade empírica não há uma preocupação no estagirita de criar uma realidade transcendental para sus tentar seus conceitos metafísicos Enquanto que a metafísica platônica faz uma divisão da realidade em dois mundos um mundo sensível em que as coisas são concebidas como imperfei tas e cópias das ideias perfeitas do mundo inteligível Aristóteles não consegue ver uma lógica dentro dessa divisão porque como é possível buscar a essência das coisas fora das coisas Se há uma essência ou substância que é fonte das coisas argumenta Aristóteles deve antes de tudo existir junto com as coisas Aristóteles recusa a Teoria das Ideias de seu mestre argumentando que dentro dessa concepção de ideias imutáveis e imóveis não há uma explicação coerente sobre o movimento e mudança do mundo sensível De tal modo elabora a metafísica como a ciência do ente enquanto ente que significa que é a ciência dos fenômenos físicos e suprasensíveis enquanto aparecem para nós na nossa realidade não enquanto frutos de uma realidade inteligível Por isso Aristóteles procura explicar todo o movimento das coisas do mundo a partir dos conceitos de matériaforma e atopotência pois estes trabalham as coisas nelas mesmas sem recorrer a algo exterior os conceitos são uma tentativa de explicar as coisas enquanto são o que são O último ponto abordado na Metafísica por Aristóteles é o Primeiro Motor Imóvel Começar uma explicação sobre o motor imóvel requer a compreensão que a teologia é importante para a filosofia aristotélica pois os pensadores antigos e modernos acreditavam que tudo que possuía mo vimento era movido por algo Os conceitos de ato e potência não dão uma explicação da origem do movimento especificamente não apontam quem deu o empurrão inicial no mundo Assim na procura por uma explicação da origem do movimento Aristóteles propõe a ideia da existência de um Deus que é a causa do movimento de todos os seres UNIDADE 1 32 O Deus aristotélico possuía as qualidades de ser eterno único imóvel e inteligível Um ser completamente desprovido de matéria existindo fora de toda realidade material um Deus que existe apenas em forma A forma de Deus não é compreensível ao ser humano mesmo com demasiado esforço o homem não é capaz de entender Deus Deus é também denominado como Primeiro Motor Imóvel pois diferen temente das coisas compostas por matéria que possuem as disposições de ato e potência o Motor Imóvel é privado de potencialidade existe apenas em ato puro significa que não sofre nenhuma mudança e não é capaz de se mover Para mais detalhes sobre a filosofia de Aristóteles assista o vídeo feito pelo grupo do site HUMANAMENTE Vídeo intitulado Aristóteles Motor Imóvel e a Razão Ativa httpdidaticscombrindexphpparte2motorimovelerazaoativa conectese O movimento das coisas no mundo necessita sempre que o corpo seja a causa do movimento do outro num ciclo infinito Logo se Deus possuísse movi mento necessitaria de algo além dele que fosse causa de seu movimento A essência do Motor Imóvel é o pensamento visto que sua existência reside no mais puro e perfeito pensamento sem contato com o mundo sensível Diferente do Deus cristão que criou o mundo e busca cuidar de sua cria ção o Deus descrito por Aristóteles não é criador e também não cuida do mundo inclusive não o conhece Entretanto Deus mesmo sendo imóvel é quem move o mundo porém move sem nenhum contato com ele Para Aristóteles o movimento do mundo acontece porque Deus é deseja do pelas coisas sensíveis Como é a perfeição absoluta a imperfeição movese naturalmente para perfeição A respeito disso Reale e Antiseri 2005 p 201 explicam UNICESUMAR 33 O objeto do desejo é aquilo que é belo e bom o belo e o bom atraem a vontade do homem sem de algum modo se moverem da mesma forma o inteligível move a inteligência sem se mover Analogamente o Primeiro Motor move como o objeto de amor atrai o amante e como tal permanece absolutamente imóvel Evidentemente a causa lidade do Primeiro Motor não é causalidade do tipo eficiente do tipo exercido pela mão que move um corpo pelo escultor que modela o imêmore ou pelo pai que gera o filho sendo mais propriamente cau salidade de tipo final Deus atrai e portanto move como perfeição Na citação anterior observamos que Deus não possui um movimento que em purra as outras coisas mas as coisas são atraídas para perto dele devido a sua perfeição Para Aristóteles as coisas compostas de matéria tende a evoluir quase como uma evolução biológica Os seres que possuem a imperfeição da matéria tendem a caminhar em direção a uma perfeição de forma assim Deus por ser perfeito e ausente de matéria que existindo apenas em forma seria o último degrau da evolução logo as coisas tendem a caminhar em direção a ele O Motor Imóvel não é a única substância celeste que existe dentro da cos mologia aristotélica Nos últimos capítulos da Metafísica o filósofo descreve a existência de 55 entidades celestes que são inferiores a Deus mas também pre sentes dentro do movimento dos corpos celestes Deus por ser superior às outras substâncias celestes é o motivo do movi mento delas Assim sendo a origem do movimento é justificada por Deus ou Motor Imóvel existe eternamente enquanto pensamento puro não sofre com o movimento mas é causa dele é perfeito e atraente a imperfeição Percebemos por meio do conceito de Deus que Aristóteles não exclui por completo a ideia de uma realidade inteligível apenas reformulaa colocando Deus como o centro dessa realidade e suprema inteligência Por fim nesta aula trabalhamos a metafísica de Aristóteles explorando os conceitos fundamentais as quatro causas matéria e forma ato e potência e Pri meiro Motor Imóvel Conceitos que serão muito estimados pelo cristianismo da filosofia medieval como veremos por conter o cerne da filosofia de Aristóteles UNIDADE 1 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa nesta unidade você teve contato com algumas das filo sofias gregas que desenvolveram teorias metafísicas Assim o fato importante na trajetória do pensamento grego que temos que lembrar é que a metafísica surge primeiro como uma busca por princípios que não está desassociada da natureza Para Heráclito e Parmênides a metafísica serve para refletir a partir da razão os problemas da realidade entretanto as respostas para esses pro blemas não devem estar no plano inteligível mas sensível pois se o objetivo é descobrir o princípio da origem do mundo logo este princípio também deve estar presente no mundo Depois que Platão diferente dos présocráticos não desenvolve uma metafísica com contato com a sensibilidade ele separa o conhecimento em dois tipos o sensível e o inteligível Esse ato de divisão do conhecimento é o primeiro na história da filosofia Dessa maneira Platão é o primeiro filósofo que cria uma teoria metafísica que busca por princípiosverdades num pla no inteligível puro Fator que contribuirá muito para construção do que é a metafísica na filosofia patrística e parte da medieval A filosofia de Aristóteles marca o pensamento metafísico grego porque é a primeira tentativa de transformar a metafísica em uma ciência que procura investigar as coisas de forma semelhante às ciências naturais ou seja cria uma teoria sobre o conhecimento das causas do ser Entretanto a caracte rística importante da filosofia aristotélica está na ideia de Deus ou Primeiro Motor Imóvel visto que tal conceito estimula toda a filosofia teológica da Idade Média Por fim a história da metafísica na Grécia Antiga apresentanos aspec tos importante da filosofia que fundamentarão a maneira de ver e pensar a metafísica nos outros períodos da filosofia em especial a Idade Média como veremos na próxima unidade 35 na prática 1 A palavra grega metafísica é um termo filosófico presente em toda história da filosofia Entretanto não é um termo originalmente utilizado pelos filósofos gregos a origem desta palavra vem do trabalho de Andrônico de Rodes organizador dos textos de Aris tóteles Rodes denominou de metafísica os escritos de Aristóteles que se localizavam depois da obra Física que trata das ciências naturais Por coincidência a palavra metafí sica conseguiu abarcar o significado da filosofia contida nos livros de Aristóteles A partir do enunciado qual o significado do termo metafísica Assinale a alternativa correta a O filósofo francês JeanPaul Sartre define o significado do termo metafísica como a capacidade de a consciência humana ser translúcida Em outras palavras signi fica que o homem é capaz de olhar para si mesmo como o sujeito que percebe as coisas do mundo Assim a metafísica é a capacidade da consciência de ser consciência do mundo e de si mesma b Homero e Hesíodo foram grandes poetas gregos que fundamentaram toda cul tura grega com seus contos Homero escreveu duas grandes epopeias famosas Ilíada que retrata a história da guerra de Tróia e Odisseia que conta a viagem mirabolante do herói Ulisses Hesíodo escreveu a Teogonia uma espécie de cosmologia que narra o surgimento dos Deuses e do mundo É diante do pen samento desses poetas que o pensamento filosófico surgiu como crítica ao mito e procurou por explicações metafísicas da origem do mundo c O início da filosofia grega é marcado pela busca constante por princípios Os filó sofos présocráticos procuram explicar a realidade por meio de uma explicação racional que era contrária à explicação mítica dos poetas A partir de uma argu mentação racional os filósofos criam pressupostos metafísicos para desvendar a origem das coisas entretanto sua metafísica ainda estava interligada com a física Assim é possível dizer que metafísica dos présocráticos não faz uma divisão completa entre realidade sensível e inteligível d A palavra metafísica é derivada da expressão tà metá tà physikà que significa aquilo que está para além da física Na história de filosofia essa expressão é utilizada pela primeira vez por Andrônico de Rodes no século I aC como refe rência aos livros de Filosofia Primeira de Aristóteles Entretanto o significado da expressão condiz com a filosofia aristotélica que tem como objetivo investigar aquilo que está para além das coisas físicas Dessa forma os tratados de filoso fia de Aristóteles foram denominados de Metafísica como também toda teoria filosófica que trata de assuntos que vão para além da realidade sensível 36 na prática e Platão é o primeiro filósofo a teorizar uma divisão do conhecimento em sensível e inteligível A partir da Teoria das Ideias ele define que somente pelo caminho da razão é possível adquirir um conhecimento verdadeiro porque o mundo sensível é corruptível e mutável assim nunca pode apresentar algo imutável e verdadeiro Com isso Platão pela primeira vez na história da filosofia faz utilização do termo metafísica com a finalidade de descrever o plano inteligível aquilo que está para além das coisas físicas 2 Parmênides e Heráclito foram dois dos maiores filósofos présocráticos que causa ram enorme influência nos pensamentos de Platão e Aristóteles A teoria de Parmê nides diz que as coisas do mundo são pura positividade não podendo existir nunca o nãoser o que define o princípio de identidade Já Heráclito possui uma filosofia oposta afirmando que tudo existe em movimento ou seja o mundo está sempre em mudança Com base em seus conhecimentos como Platão e Aristóteles tentam conciliar essas duas filosofias Analise as afirmativas a seguir I A metafísica de Platão sofreu grande influência do pensamento de Parmênides e Heráclito A Teoria das Ideias faz uma divisão da realidade em dois mundos sensível e inteligível o que define a forma de aquisição de conhecimento mas esta divisão também cria a possibilidade de conciliação entre o ser de Parmê nides e o devir mudança de Heráclito porque enquanto Platão preserva o ser parmenidiano no mundo inteligível onde as ideias são perfeitas imóveis e imutáveis o mundo sensível abre caminho para mudança de Heráclito já que as coisas sensíveis sofrem alterações por ser cópia das ideias perfeitas II Aristóteles em seu livro Metafísica descreve que todo conhecimento provém da razão Logo o homem somente cria uma ciência quando dedica seu tempo a uma vida reflexiva o que justifica a teoria aristotélica da reminiscência da alma Para o filósofo o homem possuidor de uma alma imortal passa por vários ciclos de vida e morte assim conhecendo as verdades eternas e as coisas mutáveis da sensibilidade É com essa teoria que Aristóteles consegue conciliar as filosofias de Parmênides e Heráclito III Platão e Aristóteles não conseguem achar uma solução para o conflito das filo sofias heraclitiana e parmenidiana IV A metafísica de Aristóteles procura investigar as causas fundamentais do ser Para isso o filósofo apresenta quatro conceitos que explicam as essências do 37 na prática ser sendo eles matéria e forma ato e potência Com esses conceitos ele conse gue criar uma ciência do ente enquanto ente como também conciliar a filosofia de Parmênides e Heráclito pois a matéria guarda em si a imutabilidade do ser parmenidiano enquanto a forma a mudança heraclitiana visto que a matéria em ato é impossibilitada de sofrer alterações Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I e IV estão corretas d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 3 Como o homem ser concreto que existe no tempo e espaço pode conhecer as essências incorpóreas e intemporais Essa possibilidade depende de outra hipó tese é preciso supor que ele possua algo também incorpóreo e indestrutível algo de natureza semelhante à natureza das ideias É necessário supor que ele abriga em seu corpo uma alma também pura forma imortal Essa alma já teria contem plado as essências antes de se prender a esse corpo ao qual está provisoriamente vinculada PESSANHA 2005 p 60 Nesta citação Pessanha 2005 faz um comentário sobre a filosofia de Platão Com base em seus conhecimentos em Platão assinale Verdadeiro V ou Falso F A citação diz respeito à teoria da reminiscência de Platão na qual o filósofo recorre à imortalidade da alma para explicar a possibilidade do homem conhe cer as ideias do mundo inteligível A alma em sua imortalidade faz um ciclo de passagem entre o mundo inteligível e sensível quando desce para o reino da sensibilidade a alma esquece das ideias que contemplou no mundo eterno Então o homem tem que exercitar sua racionalidade para poder se recordar das ideias vistas pela alma antes de ser fixada ao corpo A alma humana é por natureza divina porém está aprisionada no corpo substân cia corruptível Por causa de sua natureza divina a alma humana anseia para voltar ao lado das entidades eternas e imutáveis Por isso ela guia o homem pelo cami nho da razão e não da sensibilidade para poder se aproximar das ideias eternas 38 na prática A alma humana por ser imortal faz um ciclo de passagem entre o mundo sensível e inteligível Durante sua volta ao mundo sensível a alma cai no rio do esquecimento perdendo assim todo seu conhecimento das ideias inteligíveis Por essa razão Platão argumenta que é impossível ao homem conhecer as ideias o homem está fadado apenas imaginar a perfeição Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 4 Deus existe eternamente enquanto pensamento puro felicidade e autossatisfação completa isento de qualquer propósito irrealizado O mundo sensível por sua vez é imperfeito mas possui vida desejo um tipo de pensamento impuro e ambição Todas as coisas vivas têm em maior ou menor grau certa ciência de Deus sendo impelidas à ação por admiração e amor a Ele Desse modo Deus é a causa final de toda atividade RUSSELL 2015 p 217 A respeito dessa descrição do Deus aristotélico feita por Bertrand Russell é correto afirmar que a Aristóteles foi um grande filósofo cristão que tinha como fundamento de sua metafísica o amor de Deus para com o homem b O Deus aristotélico é criador das coisas e extremamente preocupado com o mundo sensível e sua imperfeição Por isso procura atrair para seu encontro todas as coisas do mundo sensível c Aristóteles também denomina Deus como Primeiro Motor Imóvel porque enquanto as coisas sensíveis permanecem em movimento constante Deus continua imóvel sendo afetado e modificado por esse movimento d Os pensadores antigos e modernos acreditavam que para existência do movi mento deveria existir sempre um movimento anterior Aristóteles segue esse mesmo pensamento assim Deus com sua perfeição atrai todos seres sensíveis 39 na prática e imperfeitos para si entretanto movimenta o mundo sem ter contato com ele Dessa forma Deus é o Primeiro Motor Imóvel o motivo do movimento do mundo e dos astros celestes e Aristóteles acredita que o movimento é um ciclo em que é necessário um movi mento anterior para impulsionar o seguinte e assim por diante Por essa razão que em sua metafísica existe um Deus que move e cuida com sua mão o mundo sensível porque um criador nunca deve esquecer sua criação Deus também é chamado de Primeiro Motor Imóvel pois é o primeiro movimento do mundo 5 Platão e Aristóteles foram os grandes metafísicos gregos que criaram filosofias que foram além de uma cosmologia A preocupação filosófica de Platão e Aristóteles era descobrir como é possível existir o conhecimento verdadeiro e como o homem o adquire Desse modo ambos os filósofos criaram novas formas de metafísica que não buscava a origem do mundo mas revelar como conhecemos as coisas deste mundo A partir deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F Platão foi o primeiro a criar uma metafísica que tinha como princípios objetos inteligíveis puros A metafísica de Aristóteles procura alcançar o mundo inteligível porque o co nhecimento verdadeiro não pode estar contido na matéria Aristóteles denomina de metafísica a ciência do ente enquanto ente que tem como objetivo alcançar as causas fundamentais do ser Para Platão conseguir conciliar os princípios metafísicos contraditórios de Herá clito e Parmênides foi necessária a criação da Teoria das Ideias e a divisão entre conhecimento sensível e inteligível O ato e potência são conceitos filosóficos aristotélicos os quais servem para explicar o movimento das coisas do mundo Assinale a alternativa correta a V V F F F b F F V V V c V F V V V d F F F V V e V V V F V 40 eu recomendo Confira o comentário de Bertrand Russell sobre Mito da Caverna de Platão Platão procura explicar a diferença entre clara visão intelectual e a confusa visão da percepção sensitiva e para tanto cria uma analogia com o sentido da visão A visão diz ele difere dos outros sentidos porque exige não somente o olho e o objeto mas também a luz Nós vemos com clareza os objetos sobre os quais o Sol incide no cre púsculo enxergamos de maneira confusa e na escuridão não vemos absolutamente nada Ora o mundo das ideias é aquilo que vemos quando está iluminado pelo Sol ao passo que o mundo das coisas passageiras é o mundo crepuscular confuso O olho é comparado à alma e o Sol na condição de fonte de luz à verdade ou à bondade Isso culmina na célebre alegoria da caverna segundo a qual os que carecem da filosofia se assemelham a prisioneiros que encerrados numa caverna po dem olhar apenas em uma só direção por estarem presos tendo atrás de si uma fogueira e diante dos olhos uma parede Entre eles e a parede nada há tudo o que veem são as sombras de si mesmo e dos objetos que se encontram às suas costas projetadas pela luz do fogo Inevitavelmente eles acreditam que tais sombras são reais e desconhecem os objetos que as geram Por fim um da queles homens consegue escapar e ver a luz do Sol pela primeira vez é capaz de contemplar as coisas reais e toma ciência de que até então fora enganado pelas sombras RUSSELL 2015 p 169 41 eu recomendo Confira um trecho do livro Aristóteles de William D Ross sobre a metafísica aristoté lica e a aquisição de conhecimento O motivo que inspira Aristóteles do começo ao fim da Metafísica é o desejo de adquirir a forma de conhecimento que mais merece o nome de sabedoria O desejo de conhecer diz ele é inato no homem Manifestase no grau mais baixo no prazer que experimentamos no uso dos sentidos O grau mais imediatamente superior está implicando no uso da memória que nos distingue dos animais inferiores O grau seguinte que somente o homem é capaz de alcançar está constituído pela experiência graças à fusão de muitas recordações relacionadas com um mesmo gênero de objetos Em grau superior está a técnica conhecimento de regras práticas que se baseiam em princípios gerais O mais alto de todos é a ciência que é o puro conhecimento das causas a sabedoria deve ser não somente a ciência ou o conhecimento das causas mas o conhecimento das causas primeiras e mais universais de todos os seres A sabedoria é o conhecimento que é mais difícil de conhecer porque seus objetos são os mais universais os mais distantes dos senti dos os primeiros princípios de todas as demonstrações as causas primeiras e cau sas finais de todas as coisas o ser em seus vários sentidos e o ser como verdadeiro ou Ser enquanto Ser ROSS 1957 p 220229 apud CHAUÍ 2016 p 206 Fonte Russel 2015 p169 e Ross 1957 p 220229 apud CHAUÍ 2016 p 206 42 eu recomendo História da Filosofia Ocidental Volume I Autor Bertrand Russell Editora Nova Fronteira Sinopse a obra História da Filosofia Ocidental de Bertrand Rus sell aborda a origem e desenvolvimento do pensamento filosófi co No primeiro volume o autor descreve o surgimento da filoso fia na Grécia antiga explorando a filosofia présocrática em seus pormenores com comentários extensos de Heráclito e Parmênides Também aborda o pensamento de Platão e Aristóteles procurando esclarecer os temas mais significativos desses dois grandes filósofos da antiguidade livro O mundo de sofia Ano 2000 Sinopse o filme é uma adaptação do livro O mundo de Sofia escrito por Jostein Gaarder A história é sobre Sofia uma menina que começa a ficar interessada por filosofia depois de algumas aulas sobre a Grécia Antiga O filme acompanha as aventuras de Sofia diante da sua procura por respostas às questões filosófi cas Dessa maneira o filme retrata Sofia numa viagem dentro da história da filosofia desde a Grécia à contemporaneidade filme Para um estudo mais profundo sobre a filosofia de Platão assista a palestra da Profa Lúcia Helena Galvão do grupo Nova Acrópole Vídeo intitulado Conceitos de Platão httpswwwyoutubecomwatchvsNotryWJio conectese anotações 2 METAFÍSICA NA IDADE MÉDIA PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade A Patrística latina e o encontro entre fé e razão Santo Agostinho e a metafísica da interioridade A Escolástica e o descobrimento de Aristóteles São Tomás de Aquino e a metafísica OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer a relação entre fé e razão na Patrística latina Compreender a metafísica da interioridade de Santo Agostinho Adquirir uma compreensão geral do encontro da Escolástica com Aristóteles Compreender os fundamentos da metafísica de Tomás de Aquino INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa esta unidade tem por objetivo apresentar para você os fundamentos da metafísica na Idade Média Para tanto iniciaremos o nosso estudo com o período da filosofia denominado Patrística no século IV dC para depois entrar no período da Escolástica no século XII que é marcado pelo momento de criação das primeiras universi dades da Europa A metafísica está presente em todo momento da história da filosofia Entretanto ela adquire aspectos diferentes em cada momento da histó ria da humanidade Nos primeiros séculos da Era Cristã a metafísica assume o papel de defender a doutrina cristã e principalmente ser a ciência que estuda os problemas divinos Nosso estudo acerca da metafísica será em dois momentos No pri meiro momento estudaremos a patrística com o encontro da fé e da razão O objetivo é compreender como os primeiros padres da Igreja interpretaram a relação entre fé e razão para tanto abordaremos o pen samento de grandes autores deste período Minúcio Félix Florentino Tertuliano e São Jerônimo Depois exploraremos a filosofia de Santo Agostinho pois é um marco dentro da história da filosofia por conciliar fé e razão bem como construir uma nova metafísica No segundo momento estudaremos a redescoberta da filosofia de Aristóteles pelo Ocidente no período denominado Escolástica Para tanto iniciaremos com uma reconstrução história do encontro do Oci dente com a filosofia árabe e seus comentários sobre Aristóteles por meio de dois filósofos árabes Avicena e Averróis Em seguida explo raremos a filosofia de São Tomás de Aquino considerado por muitos historiadores o maior filósofo e metafísico da escolástica Dessa forma o intuito é que esta unidade seja uma introdução ao pensamento filosófico medieval com foco nas principais teorias meta físicas deste período histórico para que você alunoa tenha o conheci mento dos problemas e soluções apresentados pela metafísica medieval Boa leitura UNIDADE 2 46 1 A PATRÍSTICA LATINA E O encontro entre Fé e Razão Caroa alunoa Iniciar um estudo sobre metafísica na Idade Média necessita primeiro de uma introdução ao pensamento filosófico cristão que tem seu de senvolvimento no período denominado de Patrística Dessa forma nesta aula exploraremos as principais características da patrística latina antes de Santo Agostinho com o intuito de contextualizar como era estabelecida a relação entre a cultura cristã e a grega pagã Segundo Abbagnano 2007 autor do Dicionário de Filosofia o termo patrística é referente aos primeiros séculos depois de Cristo nos quais foram elaboradas as doutrinas e crenças do cristianismo que culminou também mais tarde na imersão da filosofia pagã na teologia cristã A patrística inicialmente possuía como característica a investigação teológica e proclamação do evangelho com o propósito de defender o cristianismo dos ataques pagãos Assim no começo da Era Cristã os padres da Igreja não consideravam a filosofia grega um meio de alcançar o conhecimento mesmo admitindo que haviam algumas semelhanças da busca da verdade feita pelos gregos com a verdade cristã O pensamento filosófico grego era para os padres uma blasfêmia às escrituras sagradas UNICESUMAR 47 A diferença entre a cultura cristã e grega se constitui que enquanto os gregos pro curavam uma verdade eterna e imutável por meio da filosofia os cristãos já possuíam a verdade que veio ao mundo pela forma de Cristo Por essa razão o logos dos gregos era para os cristãos a figura de Cristo encarnado e revelado para os seres do mundo a verdade eterna que ganhou vida Desse modo enquanto os gregos especularam sobre uma possível verdade os cristãos já tinham vivenciado a verdade por meio de Cristo A patrística ao longo da história é dividida em três momentos Conforme des creve Abbagnano 2007 p 746 o primeiro momento é dedicado à defesa do Cris tianismo contra seus adversários pagãos e gnósticos o segundo é constituído pela conciliação da filosofia pagã com a teologia cristã que percorreu o século III até sé culo IV o terceiro momento é caracterizado pela reelaboração e pela sistematização das doutrinas já formuladas ABBAGNANO 2007 p 746 com início na metade do século V até fim do século VII Nossa atenção nesta aula está voltada para os pensadores Minúcio Félix Florentino Tertuliano e São Jerônimo que pertencem ao primeiro momento da patrística latina O que chama nossa atenção nesses pensadores é o conflito entre o pensamento cristão e a filosofia grega que é bem retratado nos escritos desses autores em especial no Tertuliano O advogado Minúcio de Félix foi o primeiro autor a escrever uma obra com características da filosofia pagã Seu livro Otávio é uma defesa dos ensinamentos da Bíblia e da verdade única de Cristo Minúcio de Félix foi um grande crítico da cultura grega argumentava que as conquistas dos filósofos em alguns aspectos são seme lhantes às dos cristãos não porque os cristãos estão seguindo os mesmos caminhos dos filósofos mas sim pelo fato dos filósofos terem recebido uma leve iluminação de Deus em suas investigações e com isso conseguirem alcançar um vislumbre da verdade porém os gregos não conseguem passar disso visto que faltava a eles fé Segundo Reale e Antiseri 2003 a obra de Minúcio de Félix Otavio é escrita no final do século II e para muitos historiadores marca o início de uma conci liação entre as culturas cristã e pagã Porém na realidade não é assim porque os ataques contra os filósofos gregos substancialmente são bastante duros REALE ANTISERI 2003 p 72 Portanto Minúcio de Félix invés de ser um conciliador entre as duas culturas é um pensador que defende uma ruptura entre elas Uma das críticas famosas de Minúcio de Félix é sobre a transmigração das almas Sobre isso comentam Reale e Antiseri 2003 p 72 que UNIDADE 2 48 a teoria da transmigração das almas propugnada por Pitá goras e Platão que ele Minúcio de Félix julga verdadeira aber ração doutrinária acrescenta o seguinte a propósito da admissão da ideia de que as almas podem assumir corpos também de ani mais Essa afirmação não parece de fato a tese de um filósofo parecendo muito mais a tirada injuriosa de um cômico Na citação anterior percebese que Minúcio de Félix não concordava com as ideias dos filósofos principalmente sobre a teoria das almas de Platão Além dessa crítica sempre que descrevia os filósofos gregos vinculava a imagem deles à corrupção e prepotência argumentando que tais filósofos afirmavam conhecer a sabedoria entretanto não sabiam de nada Sobre isso Félix cita Sócrates de Atenas pois o ateniense era o homem que diz não saber de nada entretanto que estava sempre a perambular pelas ruas de Atenas pronuncian do que conhecia a verdade nós não sabemos o que fazer com a teoria dos filósofos sabemos muito bem que são mestres de corrupção corruptos eles próprios prepotentes e além do mais tão descara dos que estão sempre a clamar contra aqueles vícios nos quais eles próprios se afunda ram Nós não trombeteamos sabedoria mas a levamos viva no coração não dissertamos sobre a virtude mas a praticamos em suma temos o orgulho de haver alcançado aquilo que eles procuraram com fatigante empenho e jamais conseguiram encontrar Fonte Minúcio de Félix 289 dc apud ANTISERI REALE 2003 explorando Ideias Dessa forma o pensamento de Minúcio de Félix não pretendia realizar uma conciliação com a filosofia pagã Muito menos fazer investigações filosóficas como os pagãos por isso suas ideias não contêm filosofia nem teoria meta física Para Félix o cristão verdadeiro não precisa se preocupar com o saber pois este já foi dado por Cristo O pensador Quinto Septímio Florente Tertuliano nasceu por volta da metade do século II na cidade de Cartago e foi também um acirrado crítico do pensamento filosófico grego Tertuliano acreditava que não havia forma de conciliação entre a cultura grega e a cristã UNICESUMAR 49 Tertuliano foi um grande escritor com famosas obras que defendiam o cristianismo dos ataques pagãos e gnósticos Seu livro intitulado Apologético é sua obra mais reconhecida pois apresenta uma sucessão de argumentos que apontam que o caminho da filosofia ou do conhecimento terreno não pode trazer nenhum tipo de benefício para o povo de Deus já que os saberes mun danos não levam a verdade são apenas especulações O indivíduo que segue o caminho do reino dos céus tem que ter como guia Cristo e as sagradas es crituras pois são as únicas verdades do mundo A doutrina dos escritos de Tertuliano segue o Pórtico de Salomão salientam Reale e Antiseri 2003 já que argumenta que para alcançar o conhecimento a respeito de Deus devese buscar a simplicidade O homem para alcançar o altíssimo não necessita de instrução na arte das letras nem de artifícios como a dialética filosofia e metafísica O homem cristão deve apenas ter um amor e uma fé incondicional em Deus visto que a fé torna inútil qualquer outra doutrina REALE ANTISERI 2003 p 72 A filosofia para Tertuliano atrapalha mais do que ajuda o cristão porque o conhecimento pode levar o homem a duvidar de sua fé Para alcançar o reino dos céus o homem deve possuir uma alma pura sem nenhum tipo de conhecimento cultural que possa vir a prover dúvidas a sua fé A frase credo quia absurdum que em português significa creio porque é absurdo representa o alicerce da fé para Tertuliano porque o homem não crê em Cristo por causa do seu sofrimento até a crucificação mas crê porque fez o impossível Cristo ressuscitou dos mortos pensando juntos Por mais que Tertuliano critique a filosofia argumentando a impossibilidade de uma conciliação com o cristianismo em sua obra De anima o pensador cria uma resposta filosófica para a tese de Platão sobre a alma imortal e incorpórea No Fédon Platão trabalha a alma e sua existência incorpórea expondo que a alma é eterna e imutável existindo primeiramente no mundo inteligível depois cai no mundo sensível e passa a viver num corpo Aprisionada ao corpo a alma é posta a buscar constantemente o conhecimento das ideias imutáveis ideias que são existentes no local de origem da alma UNIDADE 2 50 Tertuliano é contrário à Platão assim argumenta que a alma é um corpo material e não pode ser inteligível como dizia a metafísica platônica Sua tese pode ser resumida na máxima nihil enim si non corpus nihil est incorporale nisi quod non est que traduzida significa nada há de fato se não existe corpo nada é incorporal exceto o que não é Em outras palavras significa que a alma somente pode existir como um corpo material visto que aquilo que não tem corpo não pode existir corporalmente Tertuliano retira os argumentos para sua tese sobre a alma da Bíblia pois de acordo com as escrituras sagradas as almas no inferno sofrem as mesmas dores que o corpo pode sentir em vida assim não poderia ser outra coisa senão um ser corpo Argumenta também que a alma não pode ser incorpórea e alimentada por conhecimentos inteligíveis porque se a alma está em simbiose com o corpo deve ser nutrida com os mesmos alimentos ingeridos por esse corpo Portanto a alma não é uma entidade metafísica como diria Platão e outros filósofos gregos mas uma parte física do corpo humano existindo como um ser material O De anima de Tertuliano é a primeira explicação ontológica e metafísica escrita sobre um assunto cristão já que os grandes Pais da Igreja não realiza vam discursos filosóficos ou teológicos Logo podemos dizer que Tertuliano é o primeiro antes de Santo Agostinho a iniciar uma escrita com característica filosófica ontológica e metafísica Outro grande pensador da primeira fase da patrística latina é São Jerônimo Nas cido por volta de 345 dC numa região próxima a Aquileia na cidade de Strídon Jerônimo foi um grande estudioso da Igreja Quando se mudou para Constantinopla foi amigo do Papa Dâmaso ganhando o título de conselheiro papal e intérprete das escrituras sagradas Jerônimo era exímio conhecedor das línguas clássicas das quais foram es critos os textos bíblicos Por isso o Papa Dâmaso o conferiu a tarefa de realizar uma revisão dos textos bíblicos latinos entretanto havia muita incoerência nas traduções latinas existentes com os textos originais Por essa razão Jerônimo decidiu fazer uma nova tradução que fosse fiel aos textos originais assim surgiu a Vulgata a versão canônica da Bíblia Conforme Russell 2015 Jerônimo era um homem de extrema cultura gostava de ler autores como Cícero Virgílio Horácio Ovídio entre outros Foi também contemporâneo de Santo Agostinho com quem teve grandes divergências sobre questões teológicas Mas em especial foi um grande intérprete das passagens bíblicas escreveu ótimos textos de exegese do antigo e novo testamento UNICESUMAR 51 São Jerônimo porém não foi um filósofo cristão nem escreveu ensaios com teor filosóficos e metafísicos Dessa forma sua importância para a patrística é de ter feito uma excelente tradução da Bíblia com inúmeros comentários que foram de grande importância para os primeiros filósofos cristãos como Santo Agostinho Por fim é importante destacar alguns pontos desta aula Primeiro que no início da patrística não havia uma comunicação harmoniosa da cultura cristã com as outras culturas o que impossibilitou uma conciliação entre fé e razão Segundo que os gran des pensadores deste período não realizaram nenhuma contribuição significativa para filosofia ou para metafísica Por último que a primeira fase da patrística marca o cenário que Santo Agostinho encontrará para criar sua filosofia 2 SANTO AGOSTINHO e a Metafísica da Interioridade Caroa alunoa Nesta aula nosso objetivo é compreender as características da metafísica de Santo Agostinho Para tanto abordaremos o filósofo em duas temáticas que são centrais dentro do seu pensamento sendo elas a primeira é compreender o papel da razão e da fé dentro da discussão sobre o mal a segunda o que é a metafísica da interioridade Dessa forma primeiramente exploraremos uma breve biografia so bre Santo Agostinho para depois entrarmos nos assuntos pertinentes a sua filosofia UNIDADE 2 52 Aurélio Agostinho nasceu em 354 d C na cidade de Tagaste localizada na região da Numídia no continente africano Agostinho estudou em Cartago durante jovem onde apreendeu cultura latina e um pouco da cultura grega Quando terminou seus estudos já adulto tornouse professor de retórica lecionando em grandes cidades como Tagaste Cartago Roma e Milão Agos tinho passou um longo período de sua vida sem envolvimento com a Igreja e com fé cristã porém com grande incentivo de sua mãe Mônica o filósofo foi convertido ao cristianismo e batizado pelo bispo Ambrósio Agostinho dá início a sua vida cristã dedicando sua atenção a Igreja Pri meiro vendeu alguns de seus bens para fundar uma comunidade religiosa depois promoveu algumas pregações em viagens Alguns anos mais tarde foi consagrado bispo de Hipona neste período como bispo o filósofo intensifica sua produção de obras filosóficas Na filosofia Santo Agostinho é considerado o primeiro grande filósofo cristão e neoplatônico Por essa razão marca o fim da primeira fase da patrís tica que acreditava na impossibilidade de uma conciliação entre fé e razão para iniciar um período em que fé e razão caminham juntas para desvendar os mistérios humanos e divinos Agostinho é sem dúvidas um dos grandes metafísicos cristãos pois procura solucionar problemas como a origem do mal e a corrupção dos homens O livro Confissões 397 é considerado um dos melhores trabalhos de Santo Agostinho um dos motivos é que inaugura um novo estilo literário que é a autobiografia Nesta obra o filósofo aborda vários temas de sua filosofia entretanto o que mais impressiona os filósofos é sua discussão sobre o tempo Agostinho argumenta que conforme é descrita a Criação do mundo no livro do Gênesis o tempo só poderia começar a existir junto com o mundo nunca antes de criação Os gregos não possuíam culturalmente um mito da criação do mundo para eles o mundo sempre existiu algo que é muito diferente da cultura cristã que pensa o mundo como uma criação de Deus Os cristãos também não aceitam a explicação de Platão e de Aristóteles que afirmava a existência de uma matéria eterna e que Deus apenas moldavaa com sua vontade como ocorre no livro Timeu de Platão em que Demiurgo o grande artesão ao ver a matéria eterna e sem forma utilizaa para produzir as coisas do mundo UNICESUMAR 53 Para Agostinho a matéria não pode ter uma existência antes de Deus pois este é o criador do mundo e de toda matéria que o compõe Logo também é criador do tempo visto que Deus sendo atemporal não era afetado pelo tempo somente suas criações sofre com o tempo Ou seja o tempo somente começa a existir com a criação do mundo Para Cardoso 2009 p 84 é possível sintetizar o pensamento de Santo Agostinho da seguinte forma O momento da criação é o começo de todas as criaturas visto que o tempo é por definição mudança ou seja ele também é criatura Mesmo tudo sendo criado pelo eterno Deus Criador através do Verbo nem as coisas que duram nem o tempo são eternos Isto é posto por Santo Agostinho a fim de expor que não existe um tempo antes da criação e antes do momento em que Deus o teria criado Na citação anterior vemos que o tempo é uma criação de Deus que age so mente nas criaturas divinas Diante disso Santo Agostinho no livro XI das Confissões pergunta o que é o tempo para o homem A resposta dada pelo filósofo tem um caráter psicológico e não metafísico porque parte da percep ção humana de como o homem apreende o tempo e não de uma definição de tempo em si mesmo estudado em sua essência como um objeto Conforme Russell 2015 Agostinho entende que o tempo é um movi mento que pode ser dividido em três momentos passado presente e futuro Entretanto a compreensão do tempo é somente possível a partir da cons ciência do presente porque com ela o homem tem a percepção do passado e futuro Portanto o passado deve ser identificado com a memória e o futuro com a expectativa e tanto a memória quanto a expectativa são realidade do agora RUSSELL 2015 p 71 Dessa forma é somente com a percepção do instante presente que o homem se torna capaz de compreender o que é o tempo Entretanto essa teoria não soluciona todas as dificuldades do que é o tempo Para tentar solucionar Agostinho pede em orações para que Deus ilumine sua alma para alcançar futuramente uma resposta mais satisfatória UNIDADE 2 54 A partir dessa breve explicação sobre o conceito de tempo para Santo Agosti nho adquirimos a compreensão de que todas as coisas da realidade humana são criações de Deus Para Agostinho o Deus cristão é pura bondade logo as coisas do mundo sendo suas criações também são boas Todavia comenta o filósofo esse fato parece não acontecer no mundo pois somos capazes de presenciar o mal nas ações humanas Diante deste fato Agostinho formula outra pergunta como é possível o ho mem uma cria do bom Deus ser capaz de fazer o mal Nas Confissões a dis cussão da obra não caminha para uma solução desta questão mas para uma explicação da impossibilidade de um maniqueísmo Somente no Diálogo sobre o livrearbítrio que Santo Agostinho trabalhará de maneira mais extensa o pro blema do mal Porém a tese da inexistência de um maniqueísmo é complementar ao problema da origem do mal O maniqueísmo pode ser definido como a doutrina que admite dois princí pios um princípio do bem e outro do mal Os dois princípios existem no mundo desde o início dos tempos por isso que são possíveis as más ações e o pecado do homem porque o mal existe desde a criação ABBAGNANO 2007 Esta doutrina acaba sendo aceita por alguns padres porém Agostinho discorda com pletamente do maniqueísmo visto que implicaria aceitar que Deus teria criado também o mal quando criou o mundo Para Agostinho o homem é dotado de um livrearbítrio que o possibilita escolher seu caminho com liberdade podendo escolher seguir um caminho que seja bom ou mau Entretanto a escolha deve acompanhar duas características fundamentais sua fé em Cristo e a sua razão Se antes os pensadores da patrística não conseguiam conciliar fé e razão agora Santo Agostinho aproxima as duas de uma forma que seja impossível ter fé sem estar vinculada à razão e viceversa Agostinho é um filósofo neoplatônico que aprendeu com Plotino as bases da filosofia de Platão Na teoria do conhecimento de Platão o homem somente con segue alcançar as verdades metafísicas quando deixa de reconhecer as coisas da sensibilidade mundo sensível como verdades e assume que a verdade somente pode ser alcançada por meio do inteligível A filosofia agostiniana segue o mesmo princípio que a filosofia platônica para que o homem obtenha o conhecimento é necessário desapegar da sua paixão pelo mundo sensível e se concentrar em Deus UNICESUMAR 55 Para o filósofo a razão sozinha sem a fé não consegue alcançar a ilu minação do divino que implica na impossibilidade de conhecer a verdade eterna Deus Por outro lado a fé cega sem a retidão da razão também não consegue obter uma aproximação com Deus e conhecer a verdade Portanto fé e razão necessitam estar juntas para que o homem conheça o BemSupremo e faça bom uso do seu livrearbítrio Sobre isso comentam Reale e Antiseri 2003 p 88 que a fé não substitui nem elimina a inteligência pelo contrário a fé estimula e promove a in teligência A fé somente tem sua existência a partir do pensamento humano para Santo Agostinho a razão é o maior estímulo da fé e também aquilo que fortalece a crença em Deus O que torna portanto as duas coisas complemen tares dentro do pensamento agostiniano Para Agostinho não tem como crer no que é absurdo cremos naquilo que é compreensível a nossa razão O livrearbítrio é uma escolha que segue este princípio escolher livremente é seguir sua fé e sua razão para assim poder escolher o melhor dos caminhos A resposta de Agostinho para pergunta de onde vem o mal que fazemos É que o mal surge no mundo quando o homem tem uma vontade maior pelos desejos sensíveis pois estes induzem o homem a se afastar da fé e da razão Portanto o mal não nasce no mundo quando Deus cria o mundo mas sim quando o homem se afasta de Deus Para mais detalhes sobre o livrearbítrio assista o vídeo intitulado Debate Santo Agosti nho hoje referente a uma palestra do Prof Dr Luiz Felipe Pondé httpswwwyoutubecomwatchvEwNBtDPo3hI conectese Com isso Santo Agostinho refuta a tese maniqueísta de que o mal está pre sente desde a criação divina O filósofo também inaugura uma nova concep ção de metafísica que segue as bases da filosofia platônica mas um pouco diferente por não procurar uma verdade num plano transcendente já que a verdade na filosofia agostiniana está no interior do homem UNIDADE 2 56 O problema que a filosofia de Santo Agostinho procura solucionar é o homem e o mistério que ele é para a filosofia Entretanto não busca o homem em suas essências transcendentes mas o homem em sua particularidade e singularidade como pessoa Por isso as Confissões são escritas em forma de autobiografia porque Agostinho enquanto homem é também um mistério para si mesmo então sua filosofia deve tentar desvendar este mistério A metafísica da interioridade de Agostinho procura resolver este mistério a partir da compreensão da iluminação divina Em outras palavras como é possível o homem conhecer Deus e as verdades eternas sendo que sua livre escolha pode o levar a escolher as paixões sensíveis afastandose da verdade divina Para Agostinho o homem vive sempre em conflito com a vontade humana e a vontade divina por esse motivo às vezes afastase do divino O conhecimento das verdades eternas está interligado com Deus o ho mem somente adquire a verdade quando se volta para próximo do Senhor Para que isso ocorra é necessário olhar para o seu interior e descobrir a di ferença entre o corpo e a alma O homem deve reconhecer que a alma é de maior grandeza que o corpo sendo assim mais próxima de Deus De acordo com José Roberto Abreu de Mattos Santo Agostinho entende a alma anima como o princípio vital do homem este é composto de corpo e alma A interioridade hu mana se reporta à alma possuindo sua expressão mais elevada na mens substância imaterial hierarquicamente superior ao corpo A anima não é privilégio humano pois é comum a todo animal vivente entretanto apenas o homem possui animus isto é a facul dade de cognição a razão o poder de se reconhecer como alma reconhecendo a existência do seu Criador MATTOS 2018 p 17 Na citação anterior observamos que o homem não deve se prender às pai xões da sensibilidade mas apegarse à razão que é uma característica única da alma humana É preciso lembrar que a razão e a fé são complementares ambas caminham juntas são seres inseparáveis para o filósofo Portanto todo conhecimento derivado da razão somente tornase compreensivo quando a fé ilumina o pensamento e o torna nítido ao homem UNICESUMAR 57 A razão tem como finalidade conhecer a verdade a partir da reflexão porém sozinha não consegue direcionar o homem ao caminho do bem apenas com a fé é capaz de guiar o homem a Deus É com a fé guiando a razão que o homem consegue ter o vislumbre de Deus e com isso afirma Agostinho des vendar o mistério que é para si próprio visto que Deus é a revelação de que o homem é uma criatura que crê em seu Criador É portanto a união entre razão e fé que leva o homem a ter um pensa mento reflexivo de seus atos ou melhor ter discernimento de como dirigir a sua crença O ato reflexivo proveniente da razão e da fé faz a vontade humana alcançar a vontade divina que por sua vez faz a criatura alcan çar o Criador o conhecimento encontrar a Verdade Eterna Desse modo é conhecendo sua alma e as características próprias dela que o homem se reconhece diante do divino Nesse sentido o conhecimento humano somente é possível porque está vinculado à possibilidade de conhecer as verdades eternas igual ocorre em Platão porém com a diferença na filosofia agostiniana o conhecimento in teligível Deus encontrase no interior do sujeito na alma enquanto para o grego está numa realidade transcendente mundo inteligível Por fim podemos concluir que na metafísica agostiniana o processo de conhecimento humano está completamente interligado à relação entre fé e razão como também o problema sobre o mal Pois é a partir dessa relação que surge em Santo Agostinho um parâmetro ético já que a conduta que leva o homem em direção ao BemSupremo possibilita uma retidão moral Dessa forma para Agostinho a ação de conhecer seu interior ou seja sua alma é um ato intelectivo porque leva ao conhecimento de Deus que implica ne cessariamente ao encontro do conhecimento verdadeiro De modo algum Deus odiaria em nós aquilo que nos criou melhores do que os outros seres dotados de alma De modo algum repito devemos crer de tal forma a não acei tarmos ou procurarmos razão pois não poderíamos sequer crer se não tivéssemos almas racionais Fonte Agostinho 1998 p 37 explorando Ideias UNIDADE 2 58 A filosofia escolástica corresponde a um grande período da história da filosofia Nosso objetivo não é abranger toda a filosofia e metafísica desse período o que pretendemos nesta aula é compreender como foi a introdução do pensamento aris totélico dentro da filosofia medieval Para tanto exploraremos os filósofos árabes Avicena e Averróis que são os responsáveis por disseminar Aristóteles no Ocidente No século XIII a Igreja Católica adquiriu um grande espaço na sociedade que se estende por todas as classes sociais A expansão rápida da Igreja Católica fez com que fosse necessário criar uma doutrina católica que pudesse justificar e esclarecer todos os mistérios da fé Procurando alcançar esse objetivo a Igreja investiu nas primeiras universidades que rapidamente tornaramse os centros intelectuais das cidades europeias Essas universidades eram dirigidas por comunidades religiosas que buscavam zelar por duas coisas a qualidade do ensino e a doutrina da fé cristã Esse momento do surgimento das universidades é denominado de escolás tica A primeira universidade da escolástica é da cidade de Bolonha porém não era um centro exclusivo para o estudo de teologia e filosofia a especialidade desta instituição era o Direito Somente na universidade de Paris é que surgiu o primeiro centro de estudos de filosofia e teologia A filosofia que percorria as universidades no século XIII era formada por conhecimentos sobre lógicos e interpretações das obras de Platão juntamente com os escritos dos neoplatônicos que colocavam em harmonia a fé cristã e razão grega 3 A ESCOLÁSTICA E O Descobrimento de Aristóteles UNICESUMAR 59 Neste período da escolástica começou a surgir entre o meio acadêmico um novo autor grego Esse autor era Aristóteles pouco conhecido pelos intelectuais me dievais pois devido à destruição da biblioteca de Alexandria as obras de Estagira foram perdidas não chegando grandes fragmentos para os escolásticos Há outro fato histórico que contribuiu para o desaparecimento de Aristóteles que foi o decreto do fechamento das escolas de filosofia de Atenas De acordo com Gilson 1998 p 423 Em 529 d C o imperador Justiniano decreta o fechamento das es colas filosóficas de Atenas Portanto podia parecer que o Ocidente se recusava definitivamente à influência da especulação helênica mas o pensamento grego começara bem antes dessa data a ganhar terreno rumo ao Oriente ele já inaugura o movimento envolvente que devia trazer ao Ocidente do século XIII o pensamento de Aristóteles e do neoplatonismo por intermédio dos filósofos sírios árabes e judeus Na citação anterior o autor descreve que a filosofia grega ganhou grande espaço no Ocidente Fato muito importante na história da filosofia porque as escolas árabes de filosofia foram as encarregadas de realizar o trabalho de tradução e preservação de autores helênicos como Platão e Aristóteles enquanto que no mundo europeu havia apenas alguns fragmentos de Aristóteles contidos em algumas obras de Boécio e Marciano Capella O Ocidente continha traduções de obras completas de Aristóteles como por exemplo a tradução das Catego rias Primeiros e Segundos Analíticos e a Física O desenvolvimento filosófico e teológico do século XIII seguiu se à invasão do Ocidente latino pelas filosofias árabes e judaicas e quase simultaneamente pelas obras científicas metafísicas e morais de Aristóteles Etienne Gilson pensando juntos O Ocidente começa a perceber a importância de Aristóteles somente depois da aparição constante do filósofo nos escritos dos árabes A descoberta é uma revolução na filosofia pois a filosofia aristotélica apresenta para os medievais a autonomia da filosofia em outras palavras a filosofia pode se desenvolver sem es tar vinculada à teologia Sobre isso comentam Reale e Antiseri 2003 p 190 que UNIDADE 2 60 Com a descoberta das obras de física e metafísica de Aristóteles não somente passouse a ter instrumentos formais autônomos mas também conteúdos próprios e perspectivas novas elementos que levam a filosofia a pretender autonomia própria e distinção clara em relação à teologia Embora a fé tenha necessidade da razão esta porém possui âmbito independente com conteúdos próprios A marca da escolástica não é da autonomia da filosofia mas da submissão da filosofia à teologia cristã O trabalho dos filósofos escolásticos era buscar uma cristianização da filosofia aristotélica como é possível ver nas obras de São Tomás de Aquino que transformaram a filosofia aristotélica em uma filosofia cristã No momento não pretendemos tratar sobre Tomás de Aquino mas abordar os filósofos árabes que trouxeram Aristóteles ao Ocidente O primeiro filósofo árabe a ser estudado pelos escolásticos foi Avicena Nascido em 980 dC na cidade de Bukhara na Pérsia Avicena foi um médico e filósofo Teve grande popularidade na segunda metade do século XII com suas obras sendo traduzidas e comentadas com rapidez no ocidente Dentre suas obras uma tem grande destaque o famoso Livro da Cura que contém estudos sobre retórica física política e metafísica A filosofia e a metafísica de Avicena contém características do neopla tonismo e do aristotelismo com a finalidade de conseguir uma explicação teológica e cosmológica das questões humanas O problema mais explorado por Avicena foi a relação entre ente e essência Em resumo o filósofo entende por ente aquilo do qual sua existência deriva da essência por exemplo uma cadeira não depende de si mesma para sua existência pois sua existência deriva de um carpinteiro O carpinteiro é a essência do ente da cadeira pois sem ele não haveria uma cadeira Avicena inclui mais dois conceitos em sua metafísica ser possível e ser necessário Esses conceitos são derivados da lógica aristotélica possivelmente retirados do livro das Categorias O significado de ser possível é que há seres que têm sua existência derivada de outro ser por isso chamase ser possível este ser somente possui existência por causa de outro ser O ser necessário é aquele que possuía a causa da sua existência em si mesmo não necessitando de outro ser para que exista Em outras palavras é autossuficiente não precisa de ninguém para prover sua existência UNICESUMAR 61 Para Reale e Antiseri 2003 os conceitos de ente e essência da filosofia de Avicena são bem acolhidos pelos medievais pois estes separam o mundo humano de Deus enquanto um é apenas possível pois sua existência atual é contingente não postulada por sua essência ao passo que o outro é necessário o primeiro é dependente o segundo é independente REALE ANTISERI 2003 p 192 Essa visão filosófica de Avicena satisfaz alguns dos problemas dos escolásticos porque descreve bem a relação do homem com Deus porque justifica a criação do homem enquanto o ser possível tem sua essência derivada de outro ser Deus por sua vez Deus um ser necessário contém a impossibilidade de ser provido de outro ser Com isso Avicena com sua filosofia diz que as bases de Aristóteles servem de influência para os filósofosteólogos cristãos da escolástica principalmente para São Tomás de Aquino que escreve uma obra para tratar das questões referentes a ente e essência em Aristóteles Outro grande filósofo árabe é Averróis Nascido em 1126 dC na cidade Cór doba centro da Espanha muçulmana que concentrou durante alguns séculos o grande desenvolvimento da cultura árabe Averróis era médico e jurista também foi o maior comentador de Aristóteles da cultura árabe Obstinado em conhecer a verdadeira filosofia aristotélica não estudou por comentadores recorreu à leitura das obras de Aristóteles para conhecer com exatidão sua filosofia Se se coloca a questão desse modo e se tudo aquilo de que se tem necessidade para o estudo dos silogismos racionais foi realizado da melhor maneira pelos Antigos então por certo é preciso que avidamente tomemos em mãos seus livros a fim de verificar tudo o que disseram a respeito Se tudo for justo aceitaremos o que propõe e se se encontra algo que não seja justo nós o indicaremos Fonte Averróis 2005 p 11 explorando Ideias Averróis 2005 acredita que fé e razão não podem ser pensadas separadamente ambas devem estar juntas para conhecer a verdade Com isso o entendimento da filosofia grega é fundamental para a crença religiosa uma vez que os gregos foram os que melhor souberam trabalhar a lógica racional A respeito disso Bittar 2009 p 82 faz o seguinte comentário UNIDADE 2 62 A sabedoria para ser adquirida não se constrói na base da pura arrogância da razão humana e nem com base na cega subserviên cia aos textos sagrados A sabedoria na visão averroísta demanda posição ativa do pensamento iluminado pela fé e pela crença Em Averróis filosofia e religião não concorrem entre si mas se somam exatamente porque se voltam à construção da virtude Como podemos ver na citação filosofia e fé não disputam entre si para chegar na verdade ou seja não são rivais numa competição mas companheiras que visam o mesmo objetivo Logo elas andam juntas para construir um caminho até a verdade Averróis 2005 depois de estudar a cultura grega percebe que a verda deira filosofia é a aristotélica pois Aristóteles trabalha como ninguém a lógica racional em suas obras Averróis 2005 p 3 comenta sobre o ato de filosofar Se o ato de filosofar consiste na reflexão sobre os seres existentes e na consideração destes do ponto de vista de que constituem a prova da existência do Artesão quer dizer enquanto são artefatos pois certamente é na medida em que se conhece sua construção que os seres constituem uma prova da existência do Artesão Na citação anterior percebemos a importância do filosofar para Averróis E também percebemos uma sutil referência filosófica à Aristóteles em especí fico à Metafísica obra que descreve a ciência do ente enquanto ente Porque o filósofo árabe viu nessa obra a tese do Primeiro Motor Imóvel que possui uma grande similaridade com seu Deus Alah a partir de suas características do Primeiro Motor ser ato puro eterno contemplativo imóvel O Primeiro Motor Imóvel é uma grande contribuição de Aristóteles se gundo Averróis 2005 para a conciliação entre fé e razão Pois embora des creva de forma racional a origem dos seres e de Deus não é algo diferente do que a fé apresenta pela crença ou seja a filosofia aristotélica ainda procura a mesma verdade que a fé Averróis argumenta que é impossível a existência de duas verdades portanto a filosofia e a religião seguem caminhos diferentes para chegar ao mesmo objetivo UNICESUMAR 63 Para o filósofo o objetivo de investigação filosófica e metafísica deve ser conciliar essas duas coisas fé e razão para poder alcançar a verdade com maior precisão e con fiabilidade Desse modo o pensa mento de Averróis entra no mundo Ocidental apresentando a forte li gação entre fé e razão em específi co dentro da filosofia aristotélica e sua similaridade com as questões teológicas ato que será recriado pelos filósofos da escolástica Desse modo o Período Me dieval denominado de Escolástica apresenta três pontos importantes primeiro o surgimento das pri meiras universidades de teologia e filosofia da Europa segundo o ressurgimento de Aristóteles no contexto ocidental por meio das traduções e comentários árabes terceiro diante das obras de filóso fos como Avicena e Averróis que mostraram uma conciliação da fi losofia aristotélica com a fé muçul mana Os escolásticos encontraram uma forma de conciliar filosofia e fé cristã Foi neste contexto cultu ral que São Tomás de Aquino viveu e desenvolveu sua filosofia que ve remos na aula seguinte NASCIMENTO DA FILOSOFIA CRISTÃ No século V dC a invasão dos Bárbaros destrói grande parte dos centros culturais Os poucos filósofos pagãos que sobraram buscaram refúgio no cristianismo Neste período nasce a Filosofia Cristã com autores como Justino e Tertuliano Tertuliano de Cartago Justino Mártir Os cristãos procuraram dentro da filosofia pagã meios de conciliar fé e razão para assim defenderem as doutrinas cristãs FILOSOFIA PATRÍSTICA SÉC IIV DC A filosofia patrística marca o começo da conciliação entre fé e razão que impulsiona o surgimento de filosofias cristãs neoplatônicas como a filosofia agostiniana Santo Agostinho foi um dos filósofos mais importantes desse período Escreveu grandes obras de filosofia como As confissões Diálogo sobre livrearbítrio e Ensaio sobre a Trindade ESCOLÁSTICA SÉC IXXII São Tomás de Aquino A escolástica é um método de estudo especulativo de cunho filosóficoteólogo criado pela Igreja Católica que tinha como finalidade fundamentar as doutrinas do cristianismo Seus grandes representantes foram São Tomás de Aquino e Santo Anselmo Santo Anselmo FINAL DA ESCOLÁSTICA O final da escolástica marca também o término da Idade Média A ruína da escolástica tem início no século XIII com a perda da hegemonia cultural do cristianismo causada pelos avanços da ciência na sociedade Com isso no começo do século XIV as Universidades da Europa tinham uma preocupação maior com questões científicas do que religiosas Fé Ciência UNIDADE 2 66 São Tomás de Aquino é o maior filósofo da escolástica defendeu e criou os prin cípios da doutrina católica Nasceu em 1225 dC na Itália na cidade chamada Aquino Oriundo de uma família de nobres estudou em ótimas escolas ingres sou na Universidade de Nápoles lugar onde conheceu a ordem religiosa dos dominicanos a qual dedicou votos de fé para se tornar um monge dominicano Entretanto a ideia de uma vida religiosa era contrária à vontade de sua família que desejava que Tomás assumisse os negócios de seu pai Conforme conta Storck 2009 a família de Tomás de Aquino arquitetou um sequestro para tirar ele da ordem dominicana O sequestro resultou em êxito pois o filósofo foi sequestrado e aprisionado durante um ano Para forçar sua saída foi contratada uma prostituta para seduzilo e quebrar seus votos de castidade porém Tomás expulsou a prostituta e continuou firme com seus votos não de sistindo da vida religiosa Diante disso sua família soltouo e permitiu que ele fizesse seu caminho religioso 4 SÃO TOMÁS DE AQUINO e a Metafísica Para mais detalhes sobre a vida e obras de Tomás de Aquino assista o vídeo intitulado Tomás de Aquino filosofia e o ofício do sábio feito pelo grupo do site SUPERLEITURAS httpswwwyoutubecomwatchvWKC0LjVZ9Do conectese UNICESUMAR 67 Alguns anos depois Tomás de Aquino começou a lecionar na Universidade de Paris local em que conseguiu dedicar um bom tempo para produção de suas obras Os escritos de Tomás são divididos em dois grupos o primeiro referese aos escritos sobre filosofia que se consistem em comentários e explicações acerca das obras de Aristóteles o segundo referese a textos sobre teologia compostos por explicações das escrituras sagradas Na filosofia Tomás de Aquino trabalha vários temas a respeito de questões da doutrina cristã porém um dos mais relevantes é sobre o ente e a essência Nosso objetivo nesta aula é compreender as implicações filosóficas e metafísicas desses dois conceitos para o filósofo Para tanto começaremos por uma definição de cada conceito depois buscaremos entender onde cada um se encaixa dentro do sistema metafísico do filósofo Em sua obra de juventude O ente e essência Tomás de Aquino define pela pri meira vez os conceitos de ente e essência O intuito desta obra é estabelecer as bases da sua metafísica para posteriormente trabalhar com maiores detalhes sua teoria sobre Deus e sua existência em sua obra magna Suma Teológica Segundo Vicente 2014 os conceitos de ente e essência são fundamentais na filosofia de Tomás de Aquino pois eles estabelecem as bases de todo conhe cimento humano Dessa maneira uma definição correta do que seja cada um é de grande importância porque um simples erro pode acabar com toda estrutura ontológica criada por Tomás Então a princípio temos que entender que ente significa tudo aquilo que é com preensivo e apreendido pelo intelecto A definição de ente pode ser descrita como tudo aquilo que existe na realidade ou seja qualquer coisa existente é um ente Esse ente deve ser capaz de estar no campo da percepção inteligível do homem assim qualquer coisa do mundo que exista e seja compreensível pelo intelecto é denominado de ente Entretanto há dois tipos de ente que pode ser captado pelo intelecto o primeiro é ente lógico aquele que tem a função de juntar vários conceitos para formar um novo que pode não existir de fato na realidade Sobre o ente lógico comentam Reale e Antiseri 2003 p 216 que UNIDADE 2 68 Nós usamos o verbo ser para expressar conexões de conceitos que são verdadeiras enquanto ligam corretamente tais conceitos mas não expressam a existência dos conceitos que ligam Quando dize mos que a afirmação é contrária a negação ou que a cegueira está nos olhos falamos a verdade mas esse está não significa que existe a afirmação nem que existe a cegueira Existem homens que afirmam e existem coisas sobre as quais podemse pronunciar afirmações mas não existem afirmações Existem olhos privados de sua função normal mas não existe a cegueira a cegueira é o modo pelo qual o intelecto expressa o fato de que certos olhos não veem Na citação anterior os autores querem dizer que nossa capacidade intelectual é capaz de criar um ente a partir de vários seres existentes Em outras palavras exis tem entes lógicos que são a síntese de várias coisas que fazem referência a algo que existe por exemplo a condição de não enxergar é real entretanto a cegueira em si mesma não existe é uma derivação da condição de não enxergar Da síntese da situação o intelecto fórmula o ente cegueira pois logicamente é um conceito con dizente com o fato de não enxergar Assim o ente lógico é um objeto do pensamento criado a partir da abstração e capacidade do intelecto humano de criar conceitos O segundo tipo de ente é o ente real que por sua vez é tudo que é referente a ser Tudo que existe no mundo é um ser como também tudo que existe fora dele como Deus O ente real pode ser definido como sendo tudo o que é em forma de ser seja criatura ou criador Entretanto essa discussão sobre o ser real remete ao conceito de essência já que as diferenças dos seres serão definidas pela sua essência O tema do ente ocupou o pensamento de Tomás de Aquino desde a sua juventude quan do exerceu seu primeiro magistério no Studium Generale dos dominicanos na Univer sidade de Paris 12521256 Foi nessa época a pedido de seus colegas frades que ele escreveu O ente e a essência De ente et essentia que em todos os sentidos como quis o próprio Tomás de Aquino é um manual introdutório à obra Metafísica de Aristóteles que reúne a totalidade dos conhecimentos do filósofo em matéria de filosofia primeira isto é do ente enquanto ente uma fórmula traduzida para o latim por ens qua ens habitualmente empregada pelo Doutor Angélico Fonte Vicente 2014 p 183 explorando Ideias UNICESUMAR 69 Segundo Vicente 2014 Tomás de Aquino tem muito cuidado para formular sua metafísica visto que o objetivo dela é ser o instrumento de estudo das coi sas divinas De tal modo o filósofo procura criar um método na sua filosofia que vai da elucidação do mais fácil ao mais difícil compreender primeiro o que é o ente para depois investigar o que é a essência Seguindo o método de Tomás já definimos o que é o ente agora faltanos definir o que é essência Por essência podese entender tudo aquilo que é descrito como necessário para uma coisa ser o que é por exemplo o que é o homem A resposta para essa pergunta tem que conter o que é estritamente necessário para que algo um ser seja um homem Normalmente é respondida tal pergunta com a premissa o homem é um animal racional Para Tomás a essência se entende como a ordenação que a coisa tem para sua atuação ou seja o que a determina para agir de tal modo A essência é a definição do que é o ser em seus fundamentos no caso do homem é ser um animal racional O mundo criado por Deus é tomado pela contingência uma coisa pode ser e vir também a não ser visto que nada além de Deus é propriamente ne cessário A contingência impossibilita a ligação entre existência e essência na natureza O homem é uma criatura salienta Tomás de Aquino não contendo sua essência de si mesmo mas de outro ser Deus Logo é tomado pela falta de sua essência em si Deus é o único ser que tem sua existência e essência em si mesmo então uma filosofia que busca compreender o ente e sua essência tem que estar voltada ao único Ser que possuía existência e essência em si Lembrando que Tomás é um filósofo aristotélico dessa maneira é necessário recordar da definição de metafísica dada por Aristóteles a metafísica é a ciência do ente enquanto ente ciências das causas primeiras do ser Tomás de Aquino utiliza o mesmo método de Aristóteles porém faz uma pequena mudança Enquanto o grego se preocupa com as questões das essên cias e causas do ser Tomás tem sua atenção voltada para o ser Desse modo sua metafísica é uma investigação do Ser Deus buscando entender como é possível haver as existências e causas que derivam deste Ser Sobre isso comentam Reale e Antiseri 2003 p 2017 que UNIDADE 2 70 Sendo a metafísica do ser a metafísica de Tomás pretende nos oferecer um fundamento do saber mais profundo do que o das essências um fundamento que funda a realidade e a própria possibilidade das essências Tratase da redescoberta da es tupefação diante do mistério do ser fazendo renascer a estupe fação originária que é despertada em nós quando percebemos o dom inestimável e indizível do ato ao qual somos tirados do nada para o ser O que observamos na citação é que a metafísica enquanto uma investigação do ser leva o homem a procurar compreender o mistério da sua origem Com isso o homem é levado a investigar Deus e suas propriedades na esperança em entender como é o Criador deste mundo Para Tomás de Aquino tal investigação somente é possível com a me tafísica porque Deus é um ser transcendental que significa ser uno eterno e verdadeiro Entre as ciências existentes no mundo não há nenhuma outra ciência além da metafísica que estude um ser com essas características Como dizia Aristóteles todas as outras ciências do entendimento humano estudam os seres em suas particularidades porém somente a metafísica é capaz de estudar o ser em sua estrutura primordial Se o homem é uma criação divina a estrutura primordial de sua existência é divina portanto é sobre o divino que a metafísica deve estudar Para Aristóteles e Tomás os assuntos divinos devem ser trabalhados pela metafísica Entretanto há uma leve diferença salientam Reale e Antiseri 2003 enquanto que na metafísica aristotélica a verdade está no plano do intelecto e não no plano da realidade para a metafísica de Tomás é possível encontrar a verdade no plano da realidade Anteriormente foi dito que os seres do mundo existem na contingência já que eles não contêm em si mesmos suas essências pois estas derivam de ou tro ser Isso permite a Tomás de Aquino justificar sua teoria da criação divina entretanto isso também justifica sua argumentação acerca da possibilidade de a realidade conter a verdade Mattos 1988 p 21 descreve o processo da relação entre criação divina em Tomás da seguinte forma UNICESUMAR 71 Todos os seres estão em permanente transformação alguns sendo ge rados outros se corrompendo e deixando de existir Mas poder ou não existir não é possuir uma existência necessária e sim contingente já que aquilo que é necessário não precisa de causa para existir Assim o possível não teria em si razão suficiente de existência e se nas coisas houvesse apenas o possível não haveria nada Para que o possível exista é necessário portanto que algo o faça existir Ou seja se alguma coisa existe é porque participa do necessário Este por sua vez exige uma cadeia de causas que culmina no necessário absoluto ou seja Deus Conforme a citação tudo que existe existe porque participa do necessário Se Deus é a verdade suprema e suas criaturas participam dele então é possível a existência de uma verdade no plano real não apenas no inteligível como dizia Aristóteles Dessa maneira quando Tomás de Aquino afirma que algo dentro da realidade é uma verda de é porque é um projeto da verdade suprema fazendo parte também dela própria De acordo com Reale e Antiseri 2003 p 218 quando ele Tomás de Aquino afirma que todo ente é verdadeiro quer dizer que todo ente é expressão do arquiteto supremo que ao criar pretendeu realizar um projeto preciso E essa é a verdade ontológica isto é a adequação de um ente de todo ente ao intelecto divino O Criador sendo a pura verdade não pode criar algo falho mas uma derivação do que ele é ou seja também uma verdade Todavia é uma verdade que se encaixa dentro dos parâmetros do intelecto humano uma vez que a verdade ontológica Deus não pode ser compreendida pelo homem que não compartilha da mesma qualidade divina O termo verdade ontológica é referente a palavra ontologia Ontologia significa na filoso fia aristotélica estudo das propriedades gerais do ser assim verdade ontológica é aquilo que o define em sua essência Fonte o autor conceituando UNIDADE 2 72 Para Tomás de Aquino há dois tipos de formas de ser seres compostos e seres de forma simples Os seres compostos são os que possuem mais de uma uni dade em seu ser enquanto os seres simples possuem uma ou duas unidades Por exemplo o anjo não possui um corpo existindo apenas em espírito e intelecto porém ainda tem sua essência derivada de Deus O homem por sua vez é composto por três unidades corpo espírito e essência derivada de Deus Em comparação entre os homens e os anjos percebemos que os anjos são de uma forma mais simples possuindo apenas espírito e essência vinda de Deus os homens são mais compostos possuindo três unidades Por outro lado Deus é uno não deriva de ninguém em essência e é puro intelecto por tanto o ser mais elevado Segundo Tomás de Aquino o intelecto humano não é capaz de compreen der os seres de forma simples somente é capaz de entender os seres do mun do sensível que estão abaixo dele na hierarquia Nesse sentido o homem é incapaz de compreender totalmente Deus ou até mesmo de descrevêlo Vicente 2014 p 183 ressalta que De acordo com Tomás de Aquino somos criaturas temos muito pouco em comum com Deus que existe por sua própria nature za perfeitamente simples isto é simplicidade absoluta O que sabemos sobre o mundo não nos diz nada de positivo sobre a essência de Deus só podemos dizer o que Ele não é Em um sentido geral somente por analogia podemos falar de Deus isto equivale a dizer que os termos que usamos sobre Deus são sem pre inadequados para expressar sua realidade Na citação anterior vemos a descrição da incapacidade do homem de co nhecer Deus Mesmo sendo dotado de um intelecto capaz de compreender todas as coisas do mundo nunca será capaz de descrever Deus pelo que ele é somente conhecerá pelo que Ele criou Tomás de Aquino reconhece que a única forma de conhecer a Deus é pela ignorância ou seja conhecer a Deus é ignorar o que ele é em si mesmo UNICESUMAR 73 VAZ 1996 p 185 Esse reconhecimento de Tomás de Aquino é baseado num paradoxo Por exemplo quando o homem estuda sobre si mesmo e os seres do mundo consegue perceber seu elo com Deus assim aproximase de seu Criador Porém mesmo se aproximando não diminui a distância transcen dental entre eles É como se o homem estivesse a correr numa esteira elétrica caminhando sem cessar e sem nunca sair do lugar A metafísica de Tomás de Aquino parte para uma investigação do Ser Deus Porém essa investigação é realizada a partir das estruturas do ser finito uma vez que o ser infinito é incompreensível ao homem A metafísica procura estudar os seres que compõem o mundo pois eles aparentam possuir uma essência que os explica e os fundamenta em sua existência Entretanto essa essência não aparenta ser criada por esses seres da natu reza mas criada por um ser de intelecto superior Então conclui o filósofo que somente Deus pode ser causa dessa ordem porque Deus é aquele que determina toda a ordem da natureza Com isso a metafísica de Tomás de Aquino mostra que a existência de Deus somente pode ser percebida pelo homem a partir das criações divinas mas nunca por meio dela mesma Por essa razão o homem vive nesse paradoxo do reconhecimento da necessidade de Deus como princípio de sua existência já que sua essência deriva dele e da incapacidade de vir a conhecer a origem da sua essência A metafísica tomista pode parecer apresentar um cenário desanimador ao homem todavia é um otimismo para o homem de fé salienta Tomás porque revela que tudo é fruto da criação divina Logo o mundo é bom pois Deus é pura bondade esse destino paradoxal é o melhor de todos uma vez que o Criador seria incapaz de criar algo mal ou imperfeito Para encerrar esta aula devemos lembrar de três pontos importantes Pri meiro os conceitos de ente e essência são fundamentais dentro da metafísica tomista principalmente para construção de sua ontologia Segundo a exis tência do homem é justificada a partir da criação divina que é sustentada a partir da falta de essência do homem em si mesmo Terceiro a única maneira de conhecer Deus é a partir de suas criações assim a verdade que temos de Deus é provida do conhecimento das coisas do mundo criadas por Ele UNIDADE 2 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa nesta unidade você teve contato com alguns aspectos da filosofia medieval que foram determinantes para a construção da me tafísica neste período A característica fundamental da Era Medieval que a diferencia da filosofia grega é o encontro da filosofia com o cristianismo pois a religião cristã estabelece todos assuntos e problemas metafísicos da filosofia neste período No início do nosso estudo observamos que fé e razão eram como água e óleo pois para os primeiros pensadores da patrística uma não poderia colaborar com a outra Dessa forma nos primeiros séculos da Era Cristã não houve grandes contribuições filosóficas e o avanço da metafísica ficou estagnado Todavia com Santo Agostinho a fé cristã conseguiu alcançar uma conciliação com a filosofia E com isso a metafísica platônica ganhou um aspecto totalmente novo na história da filosofia Se antes a metafísica de Platão procurava alcançar as verdades eternas em um mundo transcendente fora do indivíduo com Agostinho a metafísi ca é interior o homem deve olhar para o seu interior e descobrir a diferença entre o corpo e a alma Deve reconhecer que a alma é de maior grandeza que o corpo sendo assim mais próxima de Deus Para isso deve conciliar sua racionalidade com sua fé pois somente uma alma dotada de razão é capaz de compreender os mistérios da fé No período da escolástica percebemos a importância dos filósofos árabes dentro da cultura Ocidental Entretanto o fator mais importante deste perío do é a interpretação da filosofia aristotélica por São Tomás de Aquino que traz um novo sentido para os conceitos de ente e essência Esses conceitos estruturam uma metafísica cristã que permitem Tomás de Aquino provar a existência de Deus e apontar o vínculo da criatura com o Criador Por fim nesta unidade fomos capazes de perceber a mudança de paradig ma que a doutrina cristã trouxe para filosofia e principalmente compreender quais são os problemas metafísicos enfrentados pelos filósofos deste período histórico 75 na prática 1 Tertuliano é um pensador da primeira fase da patrística latina período da história da filosofia marcado pela defesa da fé cristã junto com estudo evangelista das escrituras sagrada Outra marca importante desse momento é o conflito entre fé e razão A partir deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F Dentro dos pensadores da primeira fase da patrística está Minúcio de Félix que buscava conciliar fé e razão afirmando que o trabalho conjunto desses dois elementos ajudaria o homem a compreender a Bíblia e Deus Santo Agostinho marca a primeira fase da patrística latina com um grande discurso de impossibilidade da conciliação entre fé e razão Tertuliano foi um defensor da fé cristã acreditava que a filosofia era pre judicial à fé cristã pois o conhecimento de outras culturas poderia levar o homem ao pecado da dúvida ou seja duvidar de sua fé em Cristo Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 76 na prática 2 A lição platônica que Agostinho reteve pode ser assim resumida Ao desconfiar do que se apresenta aos sentidos e ao intelecto não devemos desesperar do acesso racional à verdade Devemos apostar que a verdade está mais além que a verdade será encontrada somente depois de um esforço racional que nega as verdades aparentes em proveito de uma verdade que transcende a aparência O trabalho da filosofia é um longo e penoso estudo de depuração para que a razão encontre as condições adequadas de conhecimento da verdade AYOUB NOVAES 2009 p 20 A partir dos seus conhecimentos sobre a filosofia de Santo Agostinho obtidos ao longo desta unidade é possível afirmar que a alternativa correta é a Santo Agostinho depois de estudar a filosofia platônica adquire uma visão diferente do maniqueísmo Agostinho encontra no platonismo a explicação de que o exercício da razão leva o homem ao conhecimento da verdade O filósofo conclui que o mal tem sua origem na vontade humana pois o homem escolhe não seguir o caminho da razão e consequentemente não alcança a verdade Assim Agostinho aproveitou desta teoria platônica dizendo que o mal tem sua origem no homem e na sua vontade de não seguir sua ra cionalidade e sua fé em Deus Esse ato de Agostinho também é o início da conciliação entre fé e razão b Santo Agostinho não era um filósofo neoplatônico Dessa forma não teve nenhuma influência da filosofia platônica c Para Agostinho a filosofia platônica representava uma enorme conquista do povo grego visto que descrevia com legitimidade muitos aspectos seme lhantes à fé cristã Todavia uma filosofia de uma cultura pagã não poderia ser aceita dentro do pensamento cristão Então Agostinho não leva em conside ração o pensamento platônico d O filósofo percebe que a filosofia platônica pode contribuir muito para o desenvolvimento da doutrina cristã Por isso que estuda nos por menores o livro da Metafísica de Platão e Tertuliano foi um grande pensador da patrística latina Escreveu grandes obras defendendo as doutrinas da Igreja porém não teve um grande conta to com as obras platônicas já que defendia a impossibilidade da conciliação entre fé e logos 77 na prática 3 Em linhas gerais o maniqueísmo pretendia que nosso mundo seria resultado de um embate entre dois princípios ou dois príncipes se quisermos uma linguagem alegórica De um lado o princípio do bem ou Príncipe da luz e de outro o princípio do mal Príncipe das trevas Um dos resultados desse combate seria justamente o homem com uma parte luminosa alma e outro parte tenebrosa o corpo AYOUB NOVAES 2009 p 20 A partir desse enunciado assinale a alternativa correta a Santo Agostinho é um grande filósofo da patrística latina escreveu inúmeras obras defendendo a doutrina cristã Entre suas obras estão as Confissões uma autobiografia Nesta obra defende o maniqueísmo e comprova a existência de duas naturezas no homem uma da luz e outra tenebrosa A primeira represen ta o bem e as boas ações do homem a segunda representa o mal e as ações pecaminosas do homem b Santo Agostinho foi um grande filósofo cristão Entre seus escritos o tema que mais se destaca é sobre o maniqueísmo que consiste na sua defesa da origem do mal no mundo a partir da criação divina c Na obra Confissões Santo Agostinho apresenta um ataque forte contra o ma niqueísmo argumentando a impossibilidade da existência do mal no mundo a partir da criação Para o filósofo a origem do mal não pode estar na criação uma vez que o Criador é infinitamente bom logo suas criações são por conse quências boas O mal somente pode ter origem nas ações humanas que vão em desencontro com Deus ou seja o mal surge no mundo quando o homem se afasta de Deus d No livro Diálogo sobre o livrearbítrio escrito por Santo Agostinho há a defesa de uma tese da predestinação do homem a qual descreve que o homem está destinado a cometer uma quantidade de ações boas e ruins ao longo de sua vida independentemente de sua escolha e Santo Agostinho junto com São Tomás de Aquino constitui o núcleo do pensa mento cristão da Idade Média Ambos formularam uma alegoria sobre a alma e o corpo que consistia que a alma é habitada por um Príncipe da Luz que decide sobre as ações boas do homem enquanto o corpo é habitado por um Príncipe das Trevas que é o pensamento por trás do pecado humano Essa alegoria tornouse muito popular na Idade Média influenciando todo o pensamento es colástico Entre os filósofos escolásticos mais adeptos a essa teoria está Boécio 78 na prática 4 A filosofia aristotélica foi um tema de grande repercussão da Idade Média Todos os grandes filósofos desse período tiveram influência da filosofia de Aristóteles principalmente São Tomás de Aquino Entretanto essa filosofia tão popular no Oci dente foi apresentada pelos pensadores árabes que conheciam e estudaram os escritos de Aristóteles Com base no enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F Durante o final do reinado de Alexandre Magno houve a destruição da bi blioteca de Alexandria Com isso as obras de grande parte do pensamento grego foram perdidas incluindo algumas de Aristóteles Entretanto houve outro fator histórico que contribuiu para o desaparecimento do filósofo no Ocidente que foi o decreto do Imperador Justiniano pedindo o fechamento das escolas de filosofia Devido a esses fatores históricos a filosofia aristoté lica passou alguns anos despercebida aos olhos do Ocidente Os árabes desde muito cedo perceberam a grandiosidade de Aristóteles Dessa forma procuraram traduzir as obras do filósofo grego para o árabe o que manteve viva a discussão no Oriente do pensamento aristotélico Devido à referência contínua dos árabes a Aristóteles muitos estudiosos da esco lástica tomaram interesse por sua filosofia Assim trouxeram aos poucos a discussão das teses aristotélicas para as universidades da Europa Entre os filósofos árabes mais influentes no Ocidente estão Avicena e Aver róis O primeiro foi um grande médico que possuía interesse na filosofia helênica estudou a Metafísica de Aristóteles escrevendo um comentário de nominado Livro da Cura Averróis era um estudioso das leis que desenvolveu grande interesse pela filosofia aristotélica realizando um trabalho grandioso de comentário dos textos de Aristóteles Assinale a alternativa correta a a V V V b b F F V c c V F V d d F F F e e V V V 79 na prática 5 A filosofia escolástica foi um período de estudo contínuo acerca da filosofia de Aristóteles Neste período destacase Tomás de Aquino como o grande intér prete e conciliador do aristotelismo com a doutrina cristã A partir disso leia as afirmações a seguir I Tomás de Aquino escreveu em sua juventude a obra Ente e Essência em que expõe uma explicação dos conceitos de ente e essência que encontrou na filosofia aristotélicas mas que servem como base de sua metafísica para a prova da existência de Deus II A metafísica de Tomás de Aquino consiste que para alcançar o conhecimento de Deus devese conhecer os seres da natureza pois são fruto do projeto divino Assim derivados da verdade absoluta III Dentro da metafísica ontológica de Tomás encontramos a possibilidade do homem contemplar a verdade absoluta Pois sua alma assim como em Pla tão é capaz de compreender o cerne do mundo inteligível IV A forma com que a metafísica de Tomás de Aquino é estruturada apresenta a impossibilidade do homem conhecer Deus pois o homem não é um ser de forma simples ou seja puro intelecto Dessa maneira o homem está limitado a conhecer Deus a partir das suas criações conhecendo bem os feitos divinos o homem compreende a ordenação do mundo feita por um ser superior entendendo então a necessidade da existência de Deus e sua incapacidade de compreendêlo Assinale a alternativa correta a Apenas I II e IV estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 80 aprimorese Nas Confissões de Santo Agostinho mais especificamente no Livro XI você en contrará a discussão sobre a origem do tempo No recorte a seguir está uma passagem do Livro XI no qual Agostinho descreve a impossibilidade de Deus conhecer o tempo já que existe de forma atemporal Confira o trecho extraído E me erguerei e solidificarei em ti na minha forma na tua verdade e não sofrerei com as questões de homens que punidos com uma doença têm mais sede do que são capazes de beber e dizem o que fazia Deus antes de fazer o céu e a terra ou o que lhe veio à mente para que fizesse algo embora nunca antes tivesse feito coisa alguma concede a eles Senhor bem pensar o que dizem e descobrir que não se diz nunca onde não existe tempo Portanto se disserem que alguém nunca fez o que dirão senão que fez em tempo nenhum Vejam então que nenhum tempo pode existir sem criatura e deixem de falar essas vacuidades Que também se estendam às coisas que são anteriores e entendam que és o criador eterno de todos os tempos anterior a todos os tem pos e que tempos nenhum são coeternos a ti e nenhuma criatura ainda que exista alguma acima do tempo Mas não é assim criador do universo criador das almas e dos corpos não é assim que tu conheces todas as coisas futuras e passadas De longe de longe mais maravilhosamente e de longe mais secretamente tu conheces Pois os co nhecimentos de quem canta ou a canção conhecida para quem ouve na expec tativa de notas futuras e na memória de notas passadas variam a sensibilidade e distendem a sensação não é assim que algo acontece para ti imutavelmente eterno criador das mentes Portanto assim como conheceste no princípio o céu e a terra sem variação de teu conhecimento assim também fizeste no prin cípio o céu e a terra sem distensão da tua ação Quem entender confesse a ti e quem não entender confesse a ti Ó quão excelso tu és e os humildes de coração são tua casa Pois tu erguerás os que tombarem e não caem aqueles para quem tu és a alteza Fonte Agostinho 2009 p 5355 81 eu recomendo A filosofia medieval Autor Alain de Libera Editora Loyola Sinopse o livro de Alain de Libera apresenta de forma breve a história da filosofia medieval Entretanto ser breve não signifi ca falta de profundidade nos assuntos mais importantes desse período da filosofia O que Libera faz é mais tratar de maneira clara e pertinente grandes aspectos do pensamento escolástico mostrando por exemplo a influência de Aristóteles nas universidades e nas obras de Tomás de Aquino livro O nome da rosa Ano 1986 Sinopse a história do filme acontece no ano de 1327 num mos teiro na Itália retratando a vida de William de Baskerville Sean Connery um monge franciscano que passa a investigar uma sé rie de assassinatos que acontecem no mosteiro A trama segue William tentando resolver este mistério em busca do verdadeiro assassino para provar sua inocência pois é visto como principal suspeito pelo Cardeal da Igreja enviado para investigar o caso Comentário o filme O nome da rosa é inspirado em um romance de Umberto Eco com o mesmo título filme Para mais detalhes sobre a metafísica de Tomás de Aquino assista o vídeo in titulado A Existência de Deus e a Criação do Mundo feito pelo Prof Dr Carlos Nougué Tomismo em seu canal no YouTube httpswwwyoutubecomwatchv2FdmSUqcXwt7s conectese 3 A METAFÍSICA NA MODERNIDADE PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Descartes o primeiro metafísico moderno Leibniz e a metafísica monadológica Kant e a filosofia transcendental OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender o surgimento da metafísica moderna com René Descartes Examinar a filosofia da mô nada de Leibniz Conhecer as bases da filosofia transcendental de Kant INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa esta unidade tem por objetivo apresentar a você os aspectos gerais da metafísica moderna Para tanto não pretendemos estender o conteúdo a um número grande de filósofos deste período da filosofia mas focar nossa atenção em três filósofos de extrema impor tância que são René Descartes Gottfried W Leibniz e Immanuel Kant Esses pensadores marcam o espírito da filosofia moderna por isso vale o estudo de suas teorias Na primeira aula apresentaremos o pensamento que inaugurou o período moderno da filosofia que é a filosofia de Descartes um filósofo francês que quebra a tradição escolástica impulsionando a filosofia num racionalismo e na busca por uma autonomia da filosofia como ciência Na segunda aula abordaremos a teoria da mônada de Leibniz uma forma de metafísica diferente que procura uma conciliação entre o pensa mento antigoescolástico com a nova filosofia moderna que até então pro curava estabelecer uma distância entre o pensamento antigo e o moderno Na terceira e última aula desta unidade falaremos sobre a filosofia transcendental de Kant considerada por muitos comentadores uma das maiores filosofias de todos os tempos influenciando e criando uma nova tradição dentro da história da filosofia Nesta aula observa remos a tentativa de Kant de transformar a metafísica em uma ciência por meio dos juízos sintéticos a priori o trajeto feito pelo autor nos ajudará a compreender a diferença entre ciência e metafísica Essa diferença entre as duas artes nos apresentará o campo específico de trabalho de cada uma Por fim exploraremos as principais teorias filosóficas que desenvol veram uma metafísica no período moderno A compreensão do pensa mento metafísico destes três filósofos proporcionará a você graduando em filosofia a capacidade de fazer referência e perceber a motivação dos metafísicos modernos pois Descartes Leibniz e Kant foram propulso res de importantes correntes filosóficas Boa leitura UNIDADE 3 84 1 DESCARTES o primeiro metafísico moderno Caroa alunoa nesta unidade estudaremos a metafísica na Idade Moderna Para tanto nosso estudo terá início com o primeiro filósofo moderno René Des cartes que desenvolveu um método investigativo com o intuito de alcançar um conhecimento seguro Dessa forma nossa tarefa será entender quais as carac terísticas que marcam o pensamento do primeiro filósofo moderno e também compreender qual a diferença de sua metafísica para metafísica medieval René Descartes nasceu em 1596 na cidade de La Haye na França Estudou durante a juventude no Colégio La Flèche considerado durante muitos anos o maior colégio da França Neste colégio guiado pela ordem jesuíta Descartes aprendeu as principais matérias ensinadas na escolástica gramática retórica latim grego filosofia lógica matemática física e metafísica Durante os anos de 1618 a 1619 Descartes participou do exército revolu cionário da Holanda do príncipe Maurício de Nassau Foi nesse período que o filósofo teve três sonhos nos quais tinha como tarefa exercer um papel especial na história da filosofia que era consolidar os saberes em apenas um tipo de conhecimento Depois de acabar sua tarefa no exército Descartes vai a Europa para se juntar ao grupo de pesquisadores que são contra o aristotelismo tomista Porém o foco de seus estudos e pesquisas era alcançar o objetivo revelado em sonho a unificação do conhecimento UNICESUMAR 85 O período histórico de Descartes foi rodeado de grandes renovações cien tíficas começando por Giordano Bruno 1585 que apresentou o universo como infinito e sem centro O que contrariava toda compreensão da realidade da antiguidade era principalmente a filosofia aristotélica centro do movimen to escolástico Depois houve mais grandes novidades com Johannes Kepler com a teoria do movimento elíptico dos planetas seguido de Galileu com a invenção da luneta que ajudou a comprovar a teoria de Copérnico de que o universo não é perfeito mostrando que os astros no céu não são circunferên cias perfeitas feitas de éter mas formas imperfeitas como a lua e suas crateras Essas novidades que circulavam o período de Descartes levaramno a pro curar uma nova maneira de fazer filosofia O filósofo busca criar um método científico que unifique todo o conhecimento aos parâmetros da razão Em 1637 Descartes publica sua mais importante obra Discurso do Método a primeira obra de filosofia escrita em francês Escrever uma obra em língua francesa nesse período da história é um feito sensacional pois todos os es critos filosóficos e teológicos veriam ser feitos em latim conforme as normas da escolástica Este feito de Descartes é uma forma de crítica ao sistema de ensino da época Algo que notamos não apenas no idioma da obra publicada mas em seu conteúdo porque o filósofo critica de forma dura os métodos de ensino da escolástica na primeira parte do Discurso do Método A obra Discurso do Método torna Descartes rapidamente famoso dentro do meio filosófico porque traz consigo quatro novas contribuições para filo sofia que mais tarde serão melhor desenvolvidas pelo filósofo nas Meditações Metafísicas Sobre isso comenta Battisti 2009 que a primeira contribuição é o esboço para um método de alcançar o conhecimento baseado em quatro regras a segunda é uma moral provisória a terceira um novo estilo de me tafísica que visa o eu como objeto de trabalho e quarta uma introdução à questão da relação do homem com as coisas do mundo Para mais detalhes sobre a filosofia de Descartes assista o vídeo intitulado René Descar tes penso logo existo feito pelo grupo HUMANAMENTE httpswwwyoutubecomwatchvEwNBtDPo3hI conectese UNIDADE 3 86 Essas contribuições estão ligadas à crítica cartesiana à formação escolástica Para Descartes a razão é algo universal presente em igual medida em todas as pessoas não há ninguém com mais aptidão racional do que outra logo todas as pessoas são capazes de aprender filosofia e teologia desde que consigam bem guiar essa razão Com isso não há a necessidade de apreender todos os dogmas escolásticos para ser capaz de buscar conhecimento É essa ideia que o filósofo apresenta no primeiro parágrafo do Discurso do Método Em suas palavras diz que O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada pois cada qual pensa estar tão bem provido dele que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar têlo mais do que já o têm E não é verossímil que todos se enganem a tal respeito mais isso antes testemunha que o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso que é propriamente o que se denomina o bom senso ou razão é natural igual em todos os homens e destarte que a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que outros mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não consideramos as mesmas coisas DESCARTES 1973 p 37 A passagem anterior demonstra a principal premissa da filosofia cartesiana que é a autonomia do pensamento onde a razão é o meio natural do homem alcançar a verdade se o homem não alcança a verdade não é por falta dos ensinos esco lásticos mas é que não sabe ainda bem dirigir sua razão Para bem dirigir a razão Descartes argumenta que o homem deve fazer uso de um método uma vez que com tal método o indivíduo saberá quais os melhores caminhos para chegar a verdade Por isso que na Primeira Parte de sua obra o filósofo faz um esboço de um método investigativo entretanto Descartes é sem pre enfático lembrando que o método é uma maneira de buscar o conhecimento e não uma regra necessária A preocupação de Descartes é como o homem é capaz de alcançar as verdades ou os princípios eternos e imutáveis que são as bases de todo o conhecimento humano Para o filósofo a maneira com que o homem obtém o conhecimento dos princípios imutáveis possui dois fatores importantes primeiro o fato do homem cultivar seu espírito para adquirir autonomia de pensamento sem ficar preso aos dogmas escolásticos segundo a utilização de um método simples que tem como finalidade conduzir o pensamento para acabar não caindo em equívocos UNICESUMAR 87 O método que aparece no Discurso do Método possuía quatro regras simples a primeira regra é nunca acolher nada como verdade de início sempre olhar cui dadosamente aquilo que é dado como uma verdade para poder aceitar somente coisas que aparecem com clareza e distinção Clareza no sentido da coisa estar nítida a mim com todos seus aspectos visíveis ao meu entendimento distinção significa que não há a possibilidade de ser outra coisa além do que aparece ou seja a coisa é diferente de qualquer outra A segunda regra é a divisão dos problemas ou seja procurar dividir uma questão difícil para resolvêla em partes A terceira é procurar resolver essas par tes divididas a partir das mais fáceis às mais difíceis para assim o pensamento ir subindo aos poucos até o conhecimento das coisas mais complexas sem ter o perigo de se perder em um problema muito grande de início Por último resta apenas realizar revisões dessas três primeiras regras para que nada passe des percebido pois assim não haverá a possibilidade de cair no erro Essas quatro regras são fundamentais na filosofia de Descartes pois é a par tir delas que ele estruturará suas reflexões metafísicas Entretanto no Discurso do Método o filósofo não faz um desenvolvimento tão profundo da metafísica apenas introduz as temáticas centrais alma e corpo Deus e a existência do Eu É somente em outra obra intitulada Meditações Metafísicas que o filósofo tra balhará com amplitude a metafísica A obra Meditações Metafísicas escrita em 1641 publicada primeiro em la tim depois em francês representa a maior obra de filosofia de Descartes O assunto central deste livro é sobre o que é possível ao homem conhecer ou como é possível ao homem adquirir o conhecimento dos princípios eternos Nesse sentido a filosofia cartesiana é uma teoria do conhecimento que dentro de si trata dos assuntos metafísicos de corpo e alma Deus e o Eu Para compreendermos a metafísica de Descartes é necessária a explicação do texto das Meditações Dessa forma tentaremos reconstituir os principais passos do filósofo nessa obra entretanto não explanando todos os aspectos de sua filoso fia contidos na obra visto que tal trabalho seria impossível de realizar aqui Para tanto focaremos nossa atenção em três assuntos importantes das Meditações primeiro a dúvida e a evidência da verdade segundo a prova da existência de Deus e por último a relação do homem com o mundo seguindo a explicação da divisão entre corpo e alma O texto das Meditações tem início com a radicalização da dúvida Porém de vemos entender que dúvida está vinculada com o método cartesiano A primeira UNIDADE 3 88 regra do método consiste em confiar apenas no que for claro e distinto com esse princípio Descartes põe em dúvida inicialmente a faculdade dos sentidos humanos por meio do argumento do sonho Segundo Silva 2005 o objetivo da dúvida não é apenas mostrar que os sentidos enganam mas apresentar a possibilidade de um conhecimento verda deiro dentro da realidade ou seja que tudo aquilo que é exigido como verdade pela razão possa existir no mundo real O objetivo é então mostrar que existe verdades no mundo sensível e para isso é necessário duvidar ao máximo dos sentidos para poder alcançar essas verdades É sabido que os sentidos humanos muitas vezes podem nos colocar em dúvi da por exemplo podemos ver de longe uma pessoa e achar que é um conhecido entretanto chegando perto percebemos que se trata de outra pessoa Ou ainda é possível ver de longe uma torre e pensar que sua forma é cilíndrica mas quando chegamos mais próximos percebemos que é um prédio de forma retangular De vido a estes erros o filósofo argumenta que não é possível confiar plenamente nos sentidos humanos pois constantemente somos levados ao erro pelos sentidos Descartes vai ainda mais fundo na crítica aos sentidos descrevendo o engano que o sonho traz à percepção humana Quantas vezes ocorreume sonhar durante a noite que estava neste lugar que estava vestido que estava junto ao fogo embora estives se inteiramente nu dentro de meu leito Pareceme agora que não é com os olhos adormecidos que contemplo este papel que esta cabeça que eu mexo não está dormente que é com desígnio e pro pósito deliberado que estendo esta mão e que a sinto o que ocorre no sonho não parece ser tão claro nem tão distinto quanto tudo isso Mas pensando cuidadosamente nisso lembrome de ter sido muitas vezes enganado quando dormia por semelhantes ilusões DESCARTES 1973 p 94 Na passagem o filósofo enfatiza que o sonho é como uma ilusão que engana o sujeito em determinados momentos O papel do argumento do sonho é mostrar que os sentidos também estão presentes no sonho Assim quando estamos sem muita atenção podemos ser induzidos a achar que estamos acordados quando em verdade estamos dormindo UNICESUMAR 89 Nessa argumentação Descartes quer afirmar a impossibilidade de alcançar qualquer verdade por meio dos sentidos pois não há como distinguir com legitimidade o sonho da realidade uma vez que as sensações sensíveis são idênticas em ambos Entretanto o importante do argumento é a passagem da dúvida dos sentidos para dúvida das verdades matemáticas Dentro do sonho e da realidade há certos elementos que aparentam os mesmos aspectos sem mudança e que fazem parte da sensibilidade e da ma temática sendo eles o espaço o tempo e os números A matemática possui um status de grande valia para Descartes visto que as coisas matemáticas são verdades universais sendo perceptíveis pelo intelecto Logo não importa qual lugar do mundo a matemática não poderá mudar os elementos pertencentes a ela continuam sempre os mesmos Sobre isso comenta Silva 2005 que as representações matemáticas não fazem parte da realidade sensível mas parte do intelecto Entretanto é percep tível na sensibilidade noções como profundidade comprimento largura e tempo Essas propriedades são naturalmente inteligíveis mas ainda possuem um vínculo com as representações sensíveis Dessa maneira surge a neces sidade de Descartes a incluir na dúvida a matemática uma vez que ainda possui essa característica A radicalização da dúvida levada ao limite portanto permite hipotetica mente à Descartes a duvidar da matemática Para muitos comentadores da filosofia moderna aqui tem início a metafísica cartesiana visto que parte para uma investigação de conceitos inteligíveis assim ganhando a denominação de dúvida metafísica para que a verdade surgida a partir da dúvida corresponda ao que é exigido pelo método é preciso que a dúvida seja radical isto é atinge cada uma das antigas certezas e hiperbólica ou seja deve ser levada ao limite extremo da generalização Quanto mais intensa for à dúvida quanto mais ela se estender e se radicalizar quanto mais firme será a certeza que a ela resistir A necessidade dessa firmeza justifica as características da dú vida pois o que se procura não é nada menos que o fundamento da ciência Fonte Leopoldo e Silva 2005 p 35 explorando Ideias UNIDADE 3 90 Como foi dito a dúvida metafísica é hipotética pois o filósofo supõe duas hi póteses para a matemática levar ao erro A primeira é a existência de um Gênio Maligno que estaria a pregar peça no ser humano a segunda é a suposição de um Deus enganador que engana sua criação desde o início dos tempos Diante dessas duas hipóteses poderia vir a ocorrer que a soma de 4 4 não seria 8 pois tal resposta que estamos habitualmente acostumados seria uma ilusão criada por alguma dessas entidades Dessa forma o problema de como adquirir um conhecimento verdadeiro chega ao seu ápice não há nada que ga ranta certeza no mundo nem a própria matemática que haveria de ser a ciência que nos apresenta como a mais clara e distinta Essa hipótese de Descarte representa o lado metódico da dúvida Em outras palavras significa que ela é um método utilizado para o filósofo alcançar uma verdade que seja capaz de sustentar toda a ciência Diante da impossibilidade de encontrar um porto seguro nos sentidos e na matemática a dúvida aparece como a única verdade possível Se há uma coisa verdadeira da qual é possível tirar uma conclusão é a dúvida A dúvida passa a sinalizar que mesmo diante de tudo que aparenta ser ilusório o pensamento se mantém firme para duvidar de tudo necessito pensar ou seja duvido somente porque penso Assim Descartes conclui que o fato de duvidar implica necessariamente no fato de pensar e deste posso inferir que existo estabelecendo a primeira verdade cartesiana penso logo existo Vale ressaltar o comentário de Battisti 2009 p 147 Na Segunda Meditação nos damos conta de que por mais que duvi demos de tudo é certo que duvidamos E como duvidar é um modo de pensar é absolutamente certo que pensamos Finalmente como pensar é um ato é preciso que haja um sujeito desse ato o sujeito que pensa existe Mais uma coisa quando o sujeito pensa dúvida ele necessaria mente sabe que pensa e ao saber que pensa se dá conta de que é ele que pensa e não outro ser Disso nasce a noção de eu e a de consciência quando penso tenho consciência imediata de que sou eu que penso E assim pelo ato de pensar o sujeito se denuncia a si mesmo Na citação anterior o autor explica que o ato de pensar revela o eu ou o sujeito que pensa Esta revelação é muito importante para Descartes pois revela sua pri meira certeza entretanto ela ainda não resolve o problema sobre o conhecimento das coisas sensíveis nem muito menos da matemática UNICESUMAR 91 Com isso resta a Descartes acabar com sua hipótese de um Gênio Maligno ou Deus Enganador provando a existência de Deus Oriundo de um colégio jesuíta e primeiro filósofo moderno a influência da doutrina cristã está presente em seu pensamento Deus para o filósofo não pode existir sem ser imensamente bom desprovido de qualquer qualidade maléfica como ser enganador Por decorrência disso se Deus existe ele necessariamente é Bom e jamais viria a enganar o homem A prova da existência de Deus para Descartes é essencial para seu projeto filosófico pois com a existência de Deus provada a compreensão das coisas sensíveis e matemáticas voltam a carregar valor de verdade uma vez que não existirá uma entidade capaz de iludir o homem Pensando assim provar Deus tornase necessário a criação de uma ciência que busca um conhecimento seguro Para o filósofo a prova da existência de Deus está nos efeitos dele que con seguimos captar O efeito que podemos facilmente perceber em nossa vida é a ideia de Deus que estamos habituados O problema dentro da ideia é como ela surgiu em nosso entendimento pois a ideia de Deus remete a um ser superior e infinito em todas as qualidades possíveis Tal ideia somente poderia vir de um ser com tais qualidades não da imaginação humana uma vez que o homem não é capaz de visualizar o infinito nem em imaginação Como diz Battisti 2009 p 148 como a causa não pode ser inferior ao efei to deve haver um ser que seja tão grande quanto o conteúdo da nossa ideia de Deus Nesse contexto a ideia de Deus seria introduzida na mente humana antes do homem surgir no mundo uma ideia a priori diferente de todas as outras que somos capazes de ter pois são a posteriori Assim Deus existe para Descartes porque Deus é a fonte da nossa própria ideia Dele Comprovada a existência de Deus Descartes pode agora ter confiança nova mente nos princípios matemáticos como também aceitar as certezas do sentido que aparecem claras e distintas Porém ainda fica suspensa a questão sobre a ori gem do erro humano ou melhor o que há no homem é uma criação divina que permite a ele errar sendo que é abençoado com razão que deriva diretamente Para mais detalhes sobre a filosofia de Descartes assista o vídeo intitulado René Descar tes penso logo existo feito pelo grupo HUMANAMENTE httpdidaticscombrindexphpfilosofiarenascimentorenedescartesparte1penso logoexisto conectese UNIDADE 3 92 do Criador Procurando responder a esta questão o filósofo entra no problema já abordado por Santo Agostinho que é a vontade humana O homem enquanto criação humana é perfeito lógico que dentro das suas limitações enquanto ser finito Para Descartes Deus não criaria um ser imperfeito pois sua imensa bondade não o permitiria tal façanha assim o erro humano somente pode ser justificado a partir da vontade humana diferente de Santo Agostinho que afirma a necessidade da união da fé e da razão para uma melhor direção da vontade humana para alcançar a verdade Descartes afirma que a vontade humana quando mal dirigida leva o homem ao erro Para evitar que isso aconteça é necessário ao homem a utilização de um método que busque sustentar sempre afirmações em cima do que é claro e dis tinto Aqui vemos a necessidade da aplicação do método para Descartes fazer ciência implica diretamente na utilização de um método que estabeleça bases seguras para aquisição do conhecimento Segundo Silva 2005 é importante lembrar que o método não é somente uma hipótese mas um pressuposto metafísico que sustenta toda filosofia de Des cartes O maior pressuposto metafísico encontrado é a unidade da razão ou seja todo conhecimento ou o que há para conhecer é apenas perceptível pela razão O conhecimento somente é possível porque o homem é dotado da razão uma vez que tudo no mundo é decodificado pela razão O método cartesiano é somente uma forma de conduzir melhor a razão ele não é o que possibilita a razão mas sim o que demonstra a capacidade da razão de conhecer O método como qualquer outra coisa criada pelo homem é um procedimento racional ou seja o próprio método é derivado da racionalidade Sobre isso comenta Battisti 2009 que René Descartes é o principal personagem do racionalismo moderno assim temos que observar que a razão é o motor de toda filosofia cartesiana como também o alicerce que sustenta o método de in vestigação que é encontrado nas Meditações Metafísicas O último tema da filosofia de Descartes que abordaremos é sobre a relação entre corpo e alma Para tanto partiremos inicialmente da prova da existência dos corpos que pode ser resumida com as seguintes palavras Como as ideias sensíveis se impõem a nós contra nossa vontade essa passividade que sentimos denuncia uma atividade extensa E embora tais ideias sejam obscuras e confusas a causalidade externa UNICESUMAR 93 é percebida clara e distintamente Ora possuímos uma inclinação natural a crer que são os corpos que as causam E como não pos suímos nenhuma capacidade dada por Deus que fosse corretiva dessa inclinação sua incorrigibilidade é sinal de verdade Portanto os corpos existem BATTISTI 2009 p 150 A existência dos corpos permite a Descartes fazer ciência dos fenômenos e obje tos físicos algo importante dentro da sua teoria do conhecimento entretanto a existência dos corpos apresenta outra coisa para a filosofia a divisão entre corpo e alma Entre um objeto que é percebido e o sujeito que percebe o objeto há a consciência algo muito explorado pelos filósofos contemporâneos da fenome nologia como JeanPaul Sartre e Maurice MerleauPonty Para mais detalhes sobre a relação entre corpo e alma em Descartes assista o vídeo intitulado Descartes mente e corpo feito pelo grupo HUMANAMENTE httpdidaticscombrindexphpfilosofiarenascimentorenedescartesparte2rela caomenteecorpo conectese A divisão entre corpo e alma portanto inaugura a concepção da existência de um eu pensante que é o sujeito que capta todos os estímulos os objetos físicos e também a divisão do que é conhecimento sensível compreensível pela alma humana racional e conhecimentos metafísicos apreensíveis somente por meio do intelecto Esses dois fatos moldam a filosofia depois de Descartes Há comen tadores que dizem que a separação cartesiana de corpo e alma é tão forte que não há nenhum filósofo posterior capaz de unir o que Descartes separou Portanto a filosofia e a metafísica de Descartes apresentam uma grande preo cupação com a aquisição do conhecimento mais especificamente como é possível o homem adquirir um conhecimento seguro Para finalizar esta aula temos que lembrar de três pontos importantes primeiro a dúvida é um método importante para o desenvolvimento do pensamento cartesiano segundo a dúvida é levada ao plano metafísico para conseguir alcançar certezas claras e distintas terceiro a dúvida não é somente um método mas um pressuposto metafísico que tem a finalidade de colocar toda forma de conhecimento humano em conformidade com a razão Tal proposta filosófica marcará o Período Moderno UNIDADE 3 94 Caroa alunoa nesta aula abordaremos a metafísica monadológica de Lei bniz Este filósofo nascido na cidade de Leipzig na Alemanha em 1646 é considerado um dos maiores matemáticos de seu século Ao lado de Isaac Newton Gottfried Wilhelm Leibniz possui formação em filosofia pela Uni versidade de Leipzig como também em matemática e álgebra na instituição de Jena Para muitos comentadores Leibniz foi mais brilhante na matemática porque sua simbolização matemática é simples e avançada para sua época Na filosofia o trabalho de Leibniz é também muito inovador pois assim como Descartes que procura transformar a metafísica em uma ciência a am bição de Leibniz é poder contribuir para criação de uma ciência universal a qual todas as disciplinas estão interligadas com o intuito de tal ciência servir como o meio de organizar universalmente a sociedade A vida de Leibniz foi deveras muito agitada participava de muitos eventos acadêmicos em várias cidades diferentes Devido a isso estava sempre em via gem pois também trabalhava como jurista que o consumia muito tempo já que tinha que trabalhar em várias cortes diferentes Mesmo em meio a tantas atividades Leibniz conseguiu escrever grandes obras de filosofia e matemá tica porém em número menor em relação aos outros filósofos de sua época Dentro do número pequeno de obras seus principais escritos são Discurso de Metafísica 1686 Novo Sistema da Natureza 1695 Princípios Racionais da 2 LEIBNIZ E A Metafísica Monadológica UNICESUMAR 95 Natureza e da Graça Ensaios de Teodicéia 1710 e Monadologia 1714 Nosso estudo vai ser dirigido para as reflexões apresentadas em obras como Discurso de Metafísica e Monadologia procurando compreender de forma sucinta a filosofia do autor para assim entender o conceito chave de sua metafísica a mônada O projeto filosófico de Leibniz é o oposto ao de Descartes porque enquanto René Descartes cria uma ruptura entre o pensamento antigoescolástico com o pensamento moderno afirmando que os métodos antigos estão ultrapassados investindo na criação um novo método de investigação para ciência baseado na matemática Leibniz procura criar uma conciliação com a tradição antiga e o pensamento moderno argumentando que as duas atuam em campos diferentes do conhecimento porém ambas são complementares para o surgimento de uma ciência universal Para Reale e Antiseri 2005 p 41 a filosofia de Leibniz brota dessa grandiosa tentativa de mediação e síntese entre antigo e novo dessa forma seu conheci mento baseado na filosofia de Platão e Aristóteles juntamente com o escolástico davao subsídio para trabalhar de maneira mais completa a nova filosofia que era o cartesianismo e os métodos da ciência que estavam dirigindo a Era Mo derna Procurava criar não apenas uma mediação entre eles mas tentar a partir deles criar uma ciência nova A primeira tarefa de Leibniz na tentativa de realizar seu objetivo de criar uma ciência universal é definir os conceitos de tempo e espaço Para o filósofo a compreensão cartesiana de tempo e espaço possui um erro que impede a progressão da ciência O erro consiste na compreensão mecânica de Descartes A filosofia cartesiana é considerada uma espécie de mecanicismo que trata o mundo e o homem como máquinas que tudo é movido por meio de uma força constante Leibniz dis corda de Descartes nesse ponto pois afirma que a força que seria o movimento dos fenômenos físicos não poderia ser constante visto que isso impossibilitaria o conceito de inércia o que seria uma impossibilidade física Essa compreensão cartesiana de um movimento constante é então um erro físico conclui Leibniz Erro que não pode ser sustentado pela física mas somente sustentado por meio de princípios metafísicos algo que não é bem visto pelos filósofos modernos que buscam uma resposta científica O que Leibniz espera é uma ciência que possa se sustentar tanto na metafísica quanto na ciência mo derna física geometria álgebra etc logo o conceito de movimento cartesiano estando apenas no campo da metafísica é inviável para uma ciência universal UNIDADE 3 96 Diante disso Leibniz pensa em resgatar os conceitos filosóficos antigos para explicar o princípio de movimento Assim Leibniz busca na metafísica de Platão e Aristóteles conceitos como substância e essência para explicar a origem do movimento mais especificamente Leibniz introduzirá em sua filosofia o con ceito de substância enquanto entidade que possibilita o movimento como uma força que move o mundo Como salientam Reale e Antiseri 2005 p 43 Leibniz reintroduz as subs tâncias entendidas como princípios de força como uma espécie de pontos meta físicos forças originárias as quais são denominadas de mônadas Essas mônadas serão como os átomos de Demócrito que compõem e dão forma a todas entida des do mundo que em Leibniz também são a origem do movimento Antes de entrarmos numa análise do conceito de mônada primeiro temos que ter a compreensão de que a natureza da verdade está interligada com a con cepção de razão suficiente ou seja todos os fatos ocorridos no mundo não são por acaso mas derivados de uma razão que arquitetou para que tudo fosse conforme é para Leibniz é a substância O conceito de substância na metafísica leibniziana assume o papel de ser a razão de todos os predicados dos entes enquanto fundamento de seus aspectos e características A substância é portanto a causa de todas as mudanças do ente excluindo Deus é claro que é fundamento dele mesmo Devemos lembrar que Deus é a fonte das substâncias do mundo Ele é a substância primária da qual todas tem sua origem isto é a sustância é a priori sendo existente antes do ente que Deus molda essa substância no ente assim ela acaba por ser o motivo de origem do mundo Nas palavras de Nogueira 2013 p 131 é necessário que haja um princípio interno da ação que não apenas garanta a passagem de uma ação à outra mas que também assegure uma diferença intrínseca A substância permite que seja possível diversos seres no mundo com aspectos e características únicas respei tando o princípio dos indiscerníveis mas também une duas noções fundamentais da filosofia unidade e força Unidade da substância significa que ela é una indivisível a força diz res peito de ser a razão do movimento e da mudança das coisas Esses dois fatos da substância levam Leibniz à criação do conceito de mônada que explicará com maior amplitude os alcances do seu conceito de substância De acordo com Reale e Antiseri 2005 p 43 UNICESUMAR 97 Mônada é a expressão com que Leibniz traduz o termo grego monás que significa a unidade ou aquilo que é uno a palavra de origem pitagórica fora retomada pelos neoplatônicos e depois por Giordano Bruno A mônada é propriamente urna substância simples isto é urna entidade individual capaz de ação e os princípios de suas ações são as percepções representações e as apetições vontade Leibniz de signa a mônada também com o termo aristotélico enteléquia que in dica a substância simples enquanto tem em si a própria determinação e perfeição essencial ou seja a própria autonomia e finalidade interior Como fora dito na citação a mônada é uma unidade simples que compõe todo o universo não há nada que não tenha em sua essência uma mônada Temos que lembrar que a mônada é um conceito metafísico não está ligada com nenhum preceito físico ou da matéria ela é puramente formal existente apenas no inte lecto em conformidade com a nossa racionalidade Por isso para Leibniz o seu conceito de mônada possui dois aspectos que estão ligados com nosso intelecto percepção e apetição O primeiro é a per cepção ou representação que significa que toda a mônada é uma percepção de algo enquanto a percepção é a apreensão de algo A apetição é a consciência da apreensão de algo é aquele tomar consciência que somente é possível para as mônadas dotadas de capacidade intelectiva Para Abbagnano 2007 a compreensão da apetição ou a percepção humana requer uma explicação do que é a alma humana dentro da filosofia leibniziana A alma é uma substância espiritual porém não deixa de ser uma mônada que possui a característica de compor todos os seres do universo Mas a alma possui uma leve diferença entre as outras mônadas isto é enquanto as outras mônadas compõem os seres a alma é um espírito ou seja ela é razão Dessa forma a alma é uma mônada que apenas está presente em entes racionais não haveria um mônada com aptidão racional numa mesa A alma é uma mônada mais ativa capaz de se elevar aos atos reflexivos ela não é limitada apenas à percepção mas provida da capacidade de ver as coisas de forma mais clara e distinta Com isso o homem é capaz de ter consciência daquilo que aparece a ele pois tem uma alma razão consigo Segundo Leibniz sem a alma o homem não seria capaz de adquirir consciên cia das mônadas portanto a racionalidade humana permite ao homem perceber as coisas do mundo sem ela as percepções humanas seriam sempre confusas a alma dá clareza às percepções Reale e Antiseri 2005 p 43 dizem que UNIDADE 3 98 São elas que formam aquele nãoseique aqueles gostos aquelas imagens das qualidades dos sentidos claras em seu conjunto mas confusas em suas partes aquelas impressões que os corpos externos provocam em nós e que encerram o infinito aquelas ligações que cada ser tem com todo o resto do universo Na passagem anterior os comentadores descrevem nossa percepção como corriqueira sem nossa tomada de consciência de perceber as mônadas são sempre confusas e incertas A alma racional é o que permite uma percepção clara e distintas das mônadas Entretanto há um problema no conceito de mônada de Leibniz que é a possibilidade da diversidade da mônada enquanto substância simples e única Se a mônada é una e simples sempre a mesma em todo universo como é possível haver diversidade dos seres no mundo Vimos anteriormente que a substância possui todos os aspectos e carac terísticas necessárias do ser que explicam a diferença dos seres do mundo Todavia Leibniz apresenta uma outra resposta a este problema com a qual procura demonstrar o limite do conhecimento humano Segundo Leibniz tais diferenças são frutos de perspectivas diferentes a mônada é una e simples entretanto pode ser percebida por várias perceptivas e isso permite que cada uma seja diferente o que possibilita a diversidade De acordo com Oliva 2005 p 89 tudo que não é simples como as mô nadas é obrigatoriamente visto como fenomênico e mesmo as modificações da substância por serem variáveis são fenomênicas Por essa razão podemos perceber uma diversidade de seres entre a sua própria espécie pois o ser apa rece como fenômeno individual e único para o ser humano A realidade humana apresenta uma variedade infinita de fenômenos que não podem nunca ser totalmente apreendida pelo homem A mente humana vê o mundo como ele aparece a si de forma fenomênica porque não há como a racionalidade humana enxergar a mônada em sua total clareza e distinção Tal capacidade é somente de Deus que é a origem das mônadas Leibniz 1993 apud OLIVA 2005 p 8889 ressalta que nós nada fazemos senão pensar e também nada buscamos para nós senão pensamentos e os fenômenos são apenas pensamentos Mas como nem todos os nossos pensamentos são eficazes nem ser vem para nos proporcionar outros pensamentos de certa natureza e como nos é impossível decifrar o mistério da conexão universal UNICESUMAR 99 dos fenômenos é preciso atentar por meio da experiência àqueles que nos proporcionaram outrora e eis em que consiste a utilidade dos sentidos e o que se chama ação fora de nós Na passagem anterior Leibniz está chamando atenção para os fenômenos pois mesmo os fenômenos não sendo um meio viável para um conhecimen to seguro eles não podem ser ignorados pela ciência Se o homem é incapaz de conhecer com clareza a mônada deve portanto conhecer o possível da realidade que lhe é apresentada como fenômeno Sobre isso comenta Oliva 2005 que se por acaso o homem possuir a capacidade de conhecer por completo as substâncias metafísicas não haverá a necessidade de ciências como física e matemática visto que conheceriam as essências de todos os fenômenos físicos como o homem não tem essa sapiência necessita olhar para os fenômenos e sua infinidade O homem em sua capacidade racional finita não é capaz de compreender a infinidade de fenômenos porém é capaz de criar métodos para investigar esses fenômenos Assim é que nascem as ciências para Leibniz pois a metafí sica que descreve toda estrutura da mônada admite que é inviável ao homem conhecer a mônada em sua nitidez completa Desse modo resta à ciência investigar a mônada por meio dos fenômenos A respeito disso Adams 1993 apud OLIVA 2005 p 91 diz que As mentes humanas são finitas e a marca definitiva das mentes fi nitas é que não podem conhecer distintamente uma complexidade infinita Deste modo se ciência é conhecimento distinto o único tipo de ciência que é possível mesmo em princípio para os seres humanos terá por objeto imediato uma representação finitamente complexa de uma realidade infinitamente complexa Ao menos nes ta medida os objetos do conhecimento científico serão fenômenos A mônada somente é apreensível como perspectivas ao homem em outras pa lavras como fenômeno Então para que seja possível um caminho para um co nhecimento seguro dentro da filosofia leibniziana há a necessidade de conciliar o conhecimento antigo e o moderno ou seja perceber o limite da metafísica para poder prosseguir com a física e matemática física e matemática como ciências dos fenômenos que possibilitam conhecer a realidade humana UNIDADE 3 100 Agora resta um último assunto para esclarecermos qual o papel de Deus dentro do universo leibniziano Leibniz cria uma espécie de hierarquia entre as mônadas que deriva da mônada mais baixa sem percepção que é apenas átomo dos seres depois de mônadas que são capazes de possuir memória até chegar nas que possuem razão Os níveis das mônadas derivam da sua capacidade de per cepção quanto mais clara e distinta a percepção mais alto é o nível da mônada no topo está Deus criador e consciência onipotente Para Leibniz Deus é a mônada em ato puro assim como em Aristóteles en quanto as outras mônadas não possuem um ato puro são limitadas de conhecer e agir de forma tão livre O fato de Deus não ter criado o homem como ato puro mas como uma atividade imperfeita é porque isso o colocaria no mesmo grau que Deus algo que é inconcebível Sendo um ato puro Deus é a mônada primitiva da qual todas as outras são criadas todas as criações divinas são eternas não podendo perecer por si mesma O final de cada mô nada é definido por Deus pensando juntos Leibniz 1979 apud OLIVA 2005 p 8990 descreve o ato divino como Deus virando por assim dizer de todos os lados e maneiras o siste ma geral dos fenômenos que julga conveniente produzir para mani festar sua glória e observando todos os aspectos do mundo de todas as formas possíveis porque não existe nenhuma relação que escape à sua onisciência faz com que o resultado de cada visão do univer so enquanto contemplado de certa maneira seja uma substância expressando o universo segundo este relance desde que Deus ache conveniente realizar o seu pensamento e produzir esta substância Na citação anterior observamos que Deus cria o universo conforme sua vontade e onipotência Entretanto o filósofo revela um aspecto importante da realidade Deus manifesta sua glória no campo no fenômeno não no campo das mônadas Então o homem enquanto criação está submetido ao entendimento dessa rea lidade fenomênica criada por Deus UNICESUMAR 101 Uma ciência que busca o conhecimento universal deve portanto procurar até o limite da razão a compreensão da mônada Compreensão que se dá a partir da investigação dos fenômenos que implica na necessidade da existên cia das ciências como física e geometria Portanto a conciliação almejada por Leibniz tornase necessária para a filosofia porque o homem é destinado a conhecer a mônada por meio dos fenômenos por isso os termos laibnzianos para o conhecimento das coisas é de percepção e apetiçãoapercepção Resta apenas dizer para conciliar os textos de Física e os de Metafísica que a explicita ção coerente do indivíduo se dá mecanicamente pela modificação da força primitiva em força derivativa que produz fenômenos regidos pelas leis da Física Com isso afastase da Física o perigo de ser vista como uma ficção útil Ao contrário ela está fundada meta fisicamente não apenas porque seus objetos os fenômenos resultam de substâncias mas também porque necessariamente resultam delas E mais ainda a existência delas consiste em desdobrarse em fenômenos como aponta a reflexão a respeito das forças primitiva e derivativa Fonte Oliva 2005 explorando Ideias O conhecimento é obtido por meio da percepção da realidade não por meio puramente da razão Um racionalismo igual de Descartes tornase para filosofia leibniziana algo enfadado ao fracasso pois não perceberia os limites da racionalidade que é a impossibilidade de conhecer claramente a mônada pela razão uma vez que ela é sempre uma perspectiva fenôme no aos olhos humano Portanto a conciliação de Leibniz não é somente necessária para alcançar uma ciência universal mas necessária devido à própria essência da alma humana que está limitada a conhecer somente a realidade do fenômeno Por fim para conclusão desta aula temos que lembrar algumas caracterís ticas fundamentais da metafísica leibniziana Primeiro que da mesma forma que Descartes Leibniz procura criar uma metafísica que sustenta uma nova forma de fazer ciência Segundo que o conceito de mônada é central dentro da metafísica de Leibniz por último que a questão epistemológica está in terligada com a metafísica moderna podendo ser percebida em Descartes filósofo estudado na aula anterior e agora em Leibniz UNIDADE 3 102 Estudar sobre a história da metafísica e não passar pela filosofia kantiana é algo incomum dentro da filosofia Immanuel Kant é considerado um dos maiores filó sofos da humanidade na filosofia alemã é um marco do pensamento iluminista alemão como também o propulsor da filosofia crítica Nesta aula explanaremos os principais aspectos da filosofia de Kant procurando compreender o que é a metafísica dentro da filosofia transcendental com o intuito de entender o que foi a revolução copernicana realizada por Kant Immanuel Kant nasceu em 1714 na Prússia Ocidental e teve sua formação acadêmica em ciência e filosofia pela Universidade de Königsberg sua cidade natal Trabalhou na mesma universidade que se formou como professor depois de defender sua tese de conclusão de curso Kant é considerado o símbolo do iluminismo alemão pois em 1783 publica o texto intitulado Resposta à per gunta o que é esclarecimento O tema central desta obra é mostrar que a razão é o caminho do homem para saída de sua minoridade ou melhor a razão dá ao homem a liberdade de pensar por si mesmo O iluminismo é um movimento histórico que tem como princípio a ca pacidade do homem de dominar as coisas da natureza uma fé no progresso da humanidade e exaltação da razão O texto de Kant representa muito bem o espírito do movimento iluminista pois a ideia de definir o que é esclarecimento tem como finalidade mostrar como a razão transforma o homem em um ser crítico que alcança a capacidade de pensar por si mesmo 3 KANT e a Filosofia Transcendental UNICESUMAR 103 Kant não apenas incorpora o espírito iluminista em suas obras enquanto um movimento de sua época mas como um projeto para reparação dos erros da filosofia porque a saída do homem da menoridade cria um cenário para um novo período da filosofia denominado como Período Crítico que é bem representa do pelas principais obras de Kant por exemplo Crítica da Razão Pura 1781 Crítica da Razão Prática 1788 e Crítica do Juízo 1790 O projeto filosófico de Kant pode ser definido como uma tentativa da resolu ção dos problemas relacionados à razão pura Por isso dedica três obras extensas com essa tentativa que pode ser percebida logo no título das obras Entretanto é importante compreender o que é essa crítica kantiana expressa nas suas obras por crítica entendemos uma arte de julgar que tem como finalidade realizar uma análise ou exame de algo Kant procura realizar então uma análise da história do pensamento filosófico para partir em busca de uma nova filosofia Na Crítica da razão pura crítica definese em relação ao que Kant denomina de tradição dogmática em filosofia designação sob a qual grosso modo Kant inclui quase todos os seus predecessores Podese adivinhar o que Kant compreende por isso dogmatismo é uma atitude filosófica caracterizada pela ausência da crítica em relação ao que podemos conhecer através da razão Crítica para Kant significa uma correção de rumo sem a qual os princípios que pautam nossa ação prática permaneceram reféns de um pseudo saber teórico cujo acesso seria privilegiado Fonte Figueiredo 2009 p 401402 explorando Ideias Para a autora e filósofa Temple 2009 o projeto iluminista kantiano coloca a razão como forma de alcançar a autonomia de pensamento uma vez que a razão está acima de qualquer autoridade há a necessidade de uma crítica sobre o que é possível conhecer a partir da razão ou seja o que é válido ou inválido para razão conhecer O lema do iluminismo é aude saber ouse saber Kant incorpora o ouse saber em sua atitude filosófica primeiro quando define que o esclarecimento é a saída do homem da menoridade depois com a atitude crítica quando se pergunta o que é possível conhecer O que devo fazer para conhecer O filósofo quer alcançar o conhecimento entretanto quer fundamentalmente saber o que é possível conhecer e quais maneiras pode levar a este conhecimento UNIDADE 3 104 Isso é um fato muito importante na filosofia de Kant pois ele quer compreen der qual o limite dos entendimentos da razão humana o que é possível conhecer como propriedade em conformidade com a razão A razão é o objeto central da investigação kantiana porém a atenção está voltada para única ciência que trabalha a razão em sua maior amplitude que é a metafísica Pensar no que é possível conhecer por meio da razão é pensar na ciência que investiga a racionalidade ou seja é pensar na metafísica Para Kant a metafísica é uma maneira de investigação utilizada pela humanidade durante vários séculos porém a metafísica não conseguiu ganhar o mesmo status que as demais ciências como a matemática a física e a lógica A matemática desde a antiguidade havia ganhado o título de ciência chegando a ser considerado obrigatório o domínio da mesma para entrar na academia platônica de filosofia Na Idade Média a lógica ganha reconheci mento a partir das releituras dos livros de Aristóteles sendo assim colocada como uma ciência necessária para o estudo de questões humanas e teológicas No final da Idade Medieval os avanços dos experimentos físicos elevaram a física a um patamar de ciência fundamental para compreensão da natureza Em suma o que estamos tentando dizer é que todas essas ciências consegui ram um reconhecimento ao longo dos séculos porém a metafísica nunca foi reconhecida oficialmente como uma ciência Kant no Prefácio de Prolegô menos descreve seu objetivo com a metafísica com as seguintes palavras Minha intenção é a de convencer a todos aqueles que conside ram valer a pena ocuparse com a metafísica é absolutamente necessário abandonar por enquanto o seu trabalho considerar tudo o que já aconteceu até agora como inexistente e antes de mais nada lançar a questão Será que algo como a metafísica é realmente possível Se ela é uma ciência como é que não obtém como as outras ciências aplauso unânime e duradouro Se ela não é uma ciência como ex plicar que se vanglorie incessantemente sob o brilho de uma ciência e iluda o entendimento humano com esperanças nunca saciadas e nunca realizadas É necessário portanto chegarse a uma conclu são segura a respeito da natureza desta pretensa ciência quer isto demonstre saber ou ignorância pois ela não pode permanecer por mais tempo no pé em que está KANT1980 p 7 UNICESUMAR 105 Na passagem anterior podemos ver nas palavras do filósofo que objetivo é co locar a metafísica no patamar de uma ciência da razão Para tanto Kant procura realizar um exame da metafísica dentro da história da filosofia com o intuito de observar os avanços e retrocessos que a metafísica teve ao longo dos séculos De pois dessa fase de revisão da metafísica Kant realiza uma revolução copernicana na filosofia como descreve no prefácio da Crítica da Razão Pura mudar o foco da atenção da filosofia do objeto para o sujeito A revolução copernicana realizada por Kant inverte a forma de pensar a me tafísica pois até então o sujeito era quem buscava compreender o objeto que se apresentava a ele O mundo está lá diante do homem restava ao sujeito com preender os fundamentos desse objeto Com Kant não é mais o objeto que é o centro da investigação mas o homem que gira em volta dele A metafísica sempre foi uma arte que apresenta conceitos universais e válidos em qualquer situação Utilizada para solucionar os grandes mistérios da humani dade como a existência de Deus a metafísica sempre proporcionou uma certeza inquestionável para casos que muitas vezes não faziam questão da necessidade de serem provados com dados empíricos Dessa forma Kant faz a seguinte pergunta como é possível transformar a metafísica em ciência Quando ela às vezes extrapola o limite do que acredita mos como ciência que é a sustentação na experiência de conceitos universais a resposta para essa pergunta segundo Kant é definir como são possíveis os juízos sintéticos a priori Pois se isso for possível então há como a metafísica ser uma ciência Conforme Sandoval 2014 p 183 A dificuldade da Metafísica a razão de ela estar rebaixada a uma ciência problemática a um mero desdobrar de conceitos a priori não havendo satisfação na experiência estaria no fato de que ela não produziria juízos sintéticos a priori estaria desprovida da mesma seguridade que possui a física e a matemática estaria portanto le vando a razão além de seus limites Na citação anterior observamos a necessidade de a metafísica adquirir a capa cidade de uma síntese entre um conceito universal do intelecto e a experiência sensível para ser tida como uma ciência Dessa forma antes de entendermos como Kant define essa síntese da metafísica temos que compreender os termos a priori e a posteriori utilizados pelo filósofo UNIDADE 3 106 Por priori entendese o conhecimento que não deriva da experiência sen sível sua compreensão já é intrínseca ao entendimento humano enquanto o conhecimento a posteriori é tudo que é derivado da experiência não con tendo caráter universal Kant descreve três tipos de juízos que estão relacionados com os conceitos a priori e posteriori que são juízo analítico a priori juízo sintético a poste riori e juízo sintético a priori O último é o mais importante pois como já vimos é com ele que a metafísica ganhará o status de ciência O juízo analítico a priori é descrito por Kant como aquilo que está isento de contradição ou seja que não pode contar em si mesmo sua própria nega ção Por exemplo quando uma figura geométrica é descrita como tendo três lados iguais temos a ideia de um triângulo uma vez que em sua composição essa característica é essencial Não existe um triângulo com menos ou mais de três lados logo qualquer figura geométrica que não siga esse padrão não é um triângulo O juízo analítico a priori segue uma regra em que não se afirma mais do que aquilo que está contido no sujeito SANDOVAL 2014 p 185 Um juízo sintético a posteriori é todo aquele juízo que não é universal e prin cipalmente que depende da experiência sensível Nesse tipo de juízo a verdade da proposição não é eterna é uma verdade provável que dependerá da comprovação empírica para ser aceita como verdade Fato que não ocorre com os juízos analí ticos a priori uma vez que estes são conceitos universais e jamais contraditórios Com isso temos dois tipos de juízos um que depende inteiramente do intelecto trabalhando com conceitos universais e outro que depende da expe riência para sua validade Se pensarmos bem esses dois juízos são semelhan tes à metafísica platônica que divide a realidade em dois mundos sensível e idealintelecto Para Kant o problema da metafísica reside nessa divisão pois as verdades metafísicas sempre ficaram no campo dos juízos sintéticos a priori e nunca conseguiram passar para a realidade sensível Diante deste cenário é necessária a criação de um novo tipo de juízo capaz de conter a universalidade e o contato com a experiência sensível Este é o juízo sintético a priori que tem como base uma verdade universal mas que necessita também realizar uma verificação empírica para sua concretude Sobre isso comenta Sandoval 2014 p 188 que UNICESUMAR 107 O que caracteriza os juízos sintéticos a priori é o fato que eles são além de necessários intuitivos assim sendo dependentes da intuição pura de espaço e tempo para adicionar uma nova infor mação por meio de conceitos construídos na intuição sensível para preencher um conceito puro do entendimento Eles não são totalmente puros no sentido de independentes da intuição sensível como são os juízos analíticos nem sequer totalmente empíricos como são os juízos sintéticos a posteriori A partir disso podemos dizer que os juízos sintéticos a priori são um meio termo entre intelecto e sensibilidade pois necessitam tanto do conhecimento intelectivo quanto do sensível Para prosseguirmos na explicação desse juízo é preciso primeiro compreender o que é o tempo e o espaço para Kant porém tal explicação precisa de uma elucidação do que é a filosofia transcendental De acordo Reale e Antiseri 2005 p 359 Para a metafísica clássica os transcendentais eram as condi ções do ser enquanto tal ou seja aquelas condições sem as quais deixa de existir o próprio objeto mas depois da revolução kan tiana não é mais possível falar de condições do objeto em si mas somente de condições do objetoemrelaçãoaosujeito o transcendental portanto se desloca do objeto para o sujeito Em conclusão transcendental é aquilo que o sujeito põe nas coisas no próprio ato de conhecêlas Os autores da citação anterior querem dizer que como em Copérnico a Terra não é mais o centro do universo os objetos não são mais o centro da metafísi ca agora é o homem o centro do universo O que significa que os fundamen tos dos objetos serão definidos conforme a percepção humana Isso implica também na mudança do significado do conceito de transcendental Na filo sofia antiga referimonos a transcendente tudo aquilo que estava num plano inteligível fora da realidade sensível Em Kant transcendental significa ter a condição de poder conhecer os objetos ou seja é a partir da transcendência que o homem conhece o mundo UNIDADE 3 108 Para compreendermos a filosofia transcendental de Kant é necessária uma introdução sobre dois conceitos fundamentais que são bem conhecidos na história da filosofia que são conhecimento dos sentidos e conhecimento do intelecto Desse modo primeiramente esclareceremos o cerne do conheci mento sensível para Kant para depois entender o conhecimento do intelecto Kant trabalha o conhecimento sensível na sua estética transcendental a partir dos conceitos de espaço e tempo já que tudo que é referente aos sentidos tem que existir dentro do mundo estando submetido a tais concei tos O termo estética é utilizado pelo filósofo com significado de percepção ou sensação referente a tudo aquilo que é percebido pelo homem a partir da sensibilidade Segundo Reale e Antiseri 2005 dentro da estética transcendental os termos kantianos importantes são sensação termo utilizado para descrever ação do objeto sobre o sujeito tipo quente e frio sensibilidade a capacidade de perceber as sensações como também a de modificar o objeto intuição a percepção imediata do objeto fenômeno a forma com que o objeto aparece para sensibilidade humana intuição empírica que é denominado como conhecimento sensível das sensações e intuição pura que é o entendimento de noções como espaço e tempo Esses conceitos estão em relação simultânea com a percepção humana do mundo são eles o fundamento de toda a percepção do homem Digamos que percebemos primeiro o objeto como um fenômeno que aparece diante de nós somente depois somos capazes de captar esse fenômeno com suas carac terísticas e aspectos porque temos a nossa sensibilidade que é a capacidade de perceber as sensações dos objetos Entretanto o conhecimento das sensações que interpretamos dos objetos é nossa intuição aquilo que percebemos de imediato ao ver o fenômeno surgir diante de nossos olhos Para o filósofo essa intuição pode ser dividida em duas A primeira é a intuição sensível que somente pode ser adquirida por meio da empiria ou a posteriori Essa intuição apenas é possível por meio da experiência existindo conforme o homem vai vivendo e percebendo os fenômenos no mundo A segunda intuição denominada de intuição pura referese a conceitos que possibilitam nossa sensibilidade em outras palavras os objetos por nós per cebidos como fenômenos apenas podem ser percebidos dentro do tempo e espaço Essas duas noções são importantes na filosofia kantiana justamente porque são o meio de possibilidade da percepção das coisas no mundo UNICESUMAR 109 Os conceitos de espaço e tempo em Kant recebem uma nova carac terística Se antes eram compreendidos como entidades presentes nos objetos agora são uma estrutura do pensamento humano Portanto os conceitos fazem parte da intuição humana e são a fonte da possibilidade da percepção dos objetos O espaço é definido como aquilo que torna possível a representação do objeto na realidade sensível nenhum objeto percebido pelo sujeito pode apa recer sem estar num espaço Todo objeto em geral ocupa um espaço O tempo é referente sentido interno do que é percebido por nós como também é o que garante o movimento do fenômeno o aparecer e desaparecer Para Reale e Antiseri 2005 esses conceitos não são absolutos para Kant podendo ser descartados em outras realidades ou para outros seres racionais além do humano Entretanto para o homem são extremamente necessários pois sem eles não haveria como o homem ter conhecimento empírico Portanto o espaço e tempo são conceitos a priori Nesse caso é a partir da intuição sensível que temos conhecimentos dos objetos que estão submetidos às condições a priori de tempo e espaço o que torna a intuição sensível uma possibilidade de compreensão da realidade por meio de con ceitos universais em outras palavras as noções de espaço e tempo criam o cenário possível para o juízo sintético a priori já que permite a aproximação de noções universais com a experiência empírica como acontece com a geometria matemática e a física Essas duas ciências são consideradas por Kant como criadoras de juízos sintéticos a priori A matemática e a física possuem seus fundamentos dentro dos conceitos a priori como os números e as formas que não dependem da realidade sensível podendo ser conferidos pelo intelecto em pensamento Entretanto essas ciências também possuem a característica de serem pos síveis dentro da realidade sensível pois elas não sofrem mudanças em seus conceitos puros quando estão na sensibilidade Por exemplo quando pensa mos numa forma geométrica um triângulo temos a noção a priori de seus três lados necessários que pode ser representado empiricamente com preci são Da mesma forma com uma adição podemos somar mentalmente 45 e chegar a 9 da mesma forma que contando nos dedos ou por pedras no chão A veracidade da certeza desses conceitos matemáticos é absoluta tanto mentalmente quanto empiricamente Por isso Kant diz que juízos matemáti cos e físicos são juízos sintéticos a priori por partir de uma intuição sensível UNIDADE 3 110 como o ato de contar nos dedos podendo chegar ao resultado da soma a partir desse ato empírico o que marca uma necessidade implícita entre esses con ceitos puros com a intuição sensível Para Kant é essa ligação entre conceitos puros e a intuição que falta para a metafísica Segundo Sandoval 2014 a matemática como uma ciência depende da experiência empírica para criação de conceitos a soma de um número acompanha a soma das unidades que podem ser representadas por objetos empíricos que estão dentro do espaço e tempo Por exemplo pedras que po demos vir a utilizar para uma soma estão dentro do campo da sensibilidade mas que ajudam a construir um conceito puro matemático A física segue o mesmo caminho da matemática com suas regras baseadas na experiência é capaz de provar conceitos puro e universais Essa capacidade de síntese entre a realidade sensível e a realidade do intelecto não é somente um requisito para uma ciência eficaz mas uma conformidade com a forma do raciocínio humano Para Kant as intuições sensíveis sozinhas são somente percepções dos objetos não podendo ser proferido nenhum juízo delas apenas quando as percepções encontram o entendimento dos conceitos que é possível a emissão de juízos Dessa maneira um juízo é quando o entendimento procura nas categorias puras as qualidades universais referentes a um objeto empírico a partir disso somos capazes de proferir juízos sobre o objeto Podemos proferir o seguinte juízo este livro a minha frente é velho pos sui as folhas todas amareladas A intuição sensível nos possibilita a apreensão deste livro que aparece à nossa frente entretanto para qualificálo como velho necessitamos da referência conceitual dele que está no entendimento puro depois fazemos uma comparação com o objeto à nossa frente No fim desse processo somos capazes de proferir um juízo sobre o livro A realização de um juízo como descrito no exemplo porém seria um juízo sintético a posteriori não um a priori pois não é via de regra que todos os livros que estiverem em nossa frente serão velhos Os juízos sintéticos a priori são derivados da experiência empírica mas são capazes de realizar antecipações precisas do que ocorrerá com o fenômeno que virá a aparecer O juízo sintético a priori é dotado da capacidade de realizar antecipações ou seja ele possui a capacidade de criar projeções do que virá a acontecer UNICESUMAR 111 em ações futuras É isso que Kant acha interessante na física newtoniana a possibilidade de criar leis gerais para eventos sensíveis e o que espera da me tafísica Entretanto o problema está em como conseguir superar a metafísica dos conceitos puros para uma metafísica de juízos sintéticos a priori A solução de Kant para a possibilidade desses juízos pode ser definida como a necessidade de a intuição sensível depender de conceitos puros Para ser mais claro isso quer dizer que a existência dos conceitos univer sais é necessária para o sujeito fazer referência aos dados captados pela intuição sensível Para o filósofo existem formas no pensamento que são preenchidas com os objetos percebidos pela sensibilidade As formas no pensamento são con ceitos que remetem às características universais dos seres sensíveis entretanto sozinhos carecem de significado no sentido de não serem referentes a algo além deles mesmos Assim tem que haver a ligação entre entendimento e intuição para as formas do pensamento terem significado As formas contendo significado possibilitam o sujeito a proferir um juízo sintético a priori expressar em palavras a intuição sensível e os con ceitos puros do entendimento Portanto é possível realizar juízos sinté ticos a priori porque toda experiência contém ainda o conceito de um objeto que é dado ou aparece na intuição conceitos de objetos em geral servirão de fundamento como condições a priori para todo conhecimento por experiência KANT 1980 apud SANDOVAL 2014 p 193 Mas a dúvida que fica é esses juízos sintéticos a priori são capazes de dar uma certeza absoluta como a física newtoniana é capaz Se isso é possível então a metafísica adquire o status de ciência Como vimos durante muito tempo a metafísica foi uma arte dos con ceitos e forma suprassensível que não dependiam em nada da experiência Uma ciência é diferente da metafísica porque consegue retirar da experiên cia empírica verdades absolutas e certas Por mais que o homem seja capaz de realizar em sua racionalidade juízos sintéticos a priori a metafísica não consegue se sustentar por si mesma nesses juízos A metafísica é em sua es sência uma arte de investigar conceitos sejam empíricos sejam inteligíveis no âmbito do absoluto o objeto de investigação da metafísica está fora das noções de tempo e espaço UNIDADE 3 112 Dessa forma Kant conclui que a investigação da metafísica contribui mais para análise de conceitos inteligíveis que servem para um tipo de conhecimento que não é para o conhecimento científico A investigação crítica de Kant mos tra que o homem é capaz de realizar juízos verdadeiros e universais com princí pios sensíveis e inteligíveis juízos sintéticos a priori algo que é característico da racionalidade humana mas que não são os fundamentos suficientes para metafísica Por conseguinte o filósofo faz uma divisão colocando a metafísica de um lado como a arte analítica de investigação do absoluto do outro lado a ciência capaz de realizar síntese entre conhecimentos gerais e empíricos Por fim temos que notar quatro aspectos importantes da filosofia kantiana apresentados nesta aula Primeiro que o espírito do iluminismo leva Kant a afirmar que a razão é a fonte da liberdade humana segundo que o projeto filosófico kantiano é transformar a metafísica em uma ciência terceiro é que mesmo existindo os juízos sintéticos a priori que possibilitam o conhecimen to científico não foi possível transformar a metafísica em uma ciência pois ambas são artes de campos diferentes Não se pode apresentar um único livro tal como se mostra um Euclides e dizer eis a metafísica aqui encontrareis o fim mais nobre desta ciência o conhecimento de um Ser supremo e de um mundo futuro demonstrado a partir de princípios da razão pura Pois podem sem dúvida indicarnos muitas proposições apodicticamente certas e que nunca foram contestadas mas todas elas são analíticas e concernem mais aos materiais e aos instrumentos de construção da metafísica do que à extensão do conhecimento que no entanto deve ser com ela o nosso verdadeiro propósito Fonte Kant 1980 p 32 explorando Ideias UNICESUMAR 113 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa na unidade você teve contato com algumas das principais teorias metafísicas da Idade Moderna Com isso apresentamos a característica principal da filosofia moderna o racionalismo que aparece na filosofia cartesiana até a filosofia kantiana Também percebeu a importância da revolução científica dentro do pensamento filosófico Para finalizar esta unidade faremos um resumo dos principais assuntos tra tados no livro A filosofia e metafísica de Descartes como vimos apresenta uma grande preocupação com a aquisição do conhecimento mais especificamente como é possível o homem adquirir um conhecimento seguro Os principais aspectos da filosofia e metafísica cartesiana são o desenvolvi mento da dúvida como um método Porém vimos que a dúvida vai para além de um método ela é um pressuposto metafísico que tem a finalidade de colocar toda forma de conhecimento humano em conformidade com a razão Tal proposta filosófica marcará o Período Moderno fazendo com que outros autores procurem criar uma filosofia baseada na racionalidade Depois estuda mos a metafísica leibniziana que da mesma forma que Descartes procura criar uma metafísica centralizada no conceito de mônada que sustente uma nova for ma de fazer ciência Por último estudamos a filosofia de Kant a qual afirma que a razão é a fonte da liberdade humana e princípio de todo conhecimento humano O objetivo kantiano é transformar a metafísica em uma ciência porém Kant percebe que mesmo existindo os juízos sintéticos a priori que possibilitam o conhecimento científico não foi possível transformar a metafísica em ciência pois ambas são artes de campos diferentes Portanto concluímos que a razão passou a ser o centro de todo pensamento filosófico e metafísico do Período Moderno 114 na prática 1 René Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno Sua filosofia tem como ponto de partida a dúvida como um método para chegar ao conhecimento verda deiro a partir da razão humana Entretanto a dúvida não é somente um método ela é um pressuposto metafísico para Descartes A partir deste enunciado assinale a alternativa correta a A dúvida para Descartes é algo importante porque apresenta a possibilidade da incerteza O filósofo não consegue em suas obras superar a dúvida assim nunca conseguiu alcançar uma verdade absoluta que não seja Deus b A dúvida em Descartes ganha o estatuto de pressuposto metafísica uma vez que leva o indivíduo a questionar verdades absolutas como Deus algo importante dentro do projeto metafísico cartesiano já que a prova da existência de um Deus bom permite o homem a alcançar certezas no mundo empírico c O imperativo hipotético kantiano é retomado por Descartes para poder reafirmar as estruturas do pensamento moderno A dúvida é a novidade de Descartes para teoria kantiana que tem como finalidade transformar a metafísica em uma ciência d A dúvida é somente uma forma de método para Descartes não possuindo nenhuma outra finalidade em sua filosofia e Quando Descartes coloca a possibilidade da existência de um Deus Enganador ou Gênio Maligno a dúvida entra como algo necessário pois sustenta a possibi lidade eterna do erro que o homem está submetido pela eternidade 2 Conforme seu conhecimento da filosofia de Descartes é correto afirmar que I Para Descartes o conhecimento empírico adquirido pelos sentidos pode levar o homem ao erro quando não utiliza dos critérios de clareza e distinção II O Deus Enganador ou Gênio Maligno introduzido por Descartes em sua obra Meditações é apenas uma maneira de colocar a universalidade da matemática em dúvida Descartes não acreditava nessas entidades apenas utilizouas como hipótese metodológica para alcançar a certeza da matemática III Descartes foi um grande filósofo escolástico que buscou na filosofia tomista os alicerces de seu racionalismo IV Como primeiro filósofo moderno Descartes inaugura a doutrina do empiris mo buscando mostrar para comunidade científica a superioridade do sensível diante da razão 115 na prática Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 3 Para Leibniz a alma é uma substância espiritual que não deixa de ser uma mônada que possui a característica de compor todos os seres do universo Mas a alma possui uma leve diferença entre as outras mônadas enquanto as outras mônadas com põem os seres a alma é um espírito ou seja ela é razão Segundo Leibniz há uma hierarquia entre as mônadas que no topo está Deus como criador das mônadas Diante deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F A alma humana é uma mônada que possui como qualidade a racionalidade que a permite ter consciência dos seres do mundo e de si mesma A alma humana dotada da razão tem a capacidade de compreender a mô nada em suas essências últimas assim como Deus também é racional percebe a mônada Deus é a mônada primária e está no topo da hierarquia leibniziana somen te Deus pode compreender a mônada em sua essência A alma humana conhece a mônada apenas como ela aparece enquanto fenômeno nunca em sua essência Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 116 na prática 4 A metafísica é uma arte da investigação utilizada pela humanidade durante vários séculos porém a metafísica não conseguiu ganhar o mesmo status que as demais ciências como a matemática a física e a lógica Conforme seu conhecimento na filosofia kantiana é correto afirmar que a metafísica não alcança o status de ciência Por quê Assinale a alternativa correta a A filosofia kantiana procura por princípios capazes de transformar a metafísica em uma ciência a maneira de alcançar este objetivo para Kant é por meio dos juízos sintéticos a priori b A metafísica para Kant sempre foi uma ciência entretanto diferente da mate mática e da física pois essas ciências tratam de assuntos sensíveis e inteligíveis enquanto a metafísica trabalha apenas com o inteligível c Kant depois de investigar os limites da razão humana descobre que mesmo com os juízos sintéticos a priori a metafísica não poderia ganhar o status de ciência pois não é da essência da metafísica trabalhar com a síntese entre co nhecimento sensível e inteligível A metafísica sempre será a arte que trata de assuntos do absoluto d Os juízos sintéticos a posteriori são os alicerces da filosofia como também o material de trabalho da metafísica e A metafísica é uma ciência teológica para Kant que trata apenas das questões referentes a Deus 117 na prática 5 Kant procura realizar dentro da filosofia uma revolução copernicana Colocar o ho mem como centro dos conceitos da realidade agora não seria mais o objeto que dita suas qualidades e essências mas o sujeito que ao perceber o mundo diante dele descreveo como percebe Diante deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F O homem nunca consegue conhecer o objeto em si mesmo apenas conhece a forma fenomênica do objeto Dessa forma as qualidades e aspectos do objeto são dados pelo homem quando o percebe como fenômeno Diante dessa mudança de paradigma na filosofia Kant acrescenta novos con ceitos na filosofia alguns deles são sensibilidade sensação fenômeno intuição pura e intuição sensível O objeto para Kant é o centro de todo conhecimento sensível o homem tem que utilizar sua racionalidade para compreender os aspectos do objeto A meta física somente será uma ciência quando conseguir entender verdadeiramente a essência dos objetos do mundo Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 118 aprimorese Confira a passagem das Meditações Metafísicas de Descartes acerca do descobri mento da primeira certeza O que sou eu então Sou uma coisa que pensa O que é uma coisa que pensa É uma coisa que duvida que concebe que afirma que nega que quer que não quer que imagina também e que sente Por certo não é pouco se todas essas coisas pertencem a minha natureza Por que não lhe pertenceriam então Não sou ainda eu esse mesmo que duvida de quase tudo que no entanto entende e concebe certas coisas que assegura e afirma serem só essas verdadeiras que nega todas as demais que quer e deseja conhecêlas ainda mais que não quer ser enganado que imagina muitas coisas por vezes até a despeito de querer e que sente também muitas delas como que por intermédio dos órgãos do corpo Há algo nisso tudo que não seja tão verdadeiro quanto é certo que sou e que existo ainda que dormisse sempre e que aquele que me deu o ser se servisse de todas as suas forças para iludirme Há também algum desses atributos que possa ser dis tinguido de meu pensamento ou que se possa dizer que exista separado de mim mesmo É por si tão evidente que sou eu quem duvida entende e deseja que não é necessário nada acrescentar aqui para explicálo E tenho também certamente o poder de imaginar pois ainda que possa ocorrer como supus anteriormente que as coisas que imagino não sejam verdadeiras este poder de imaginar não deixa no entanto de estar realmente em mim e de fazer parte de meu pensamento Enfim sou o mesmo que sente isto é que recebe e conhece as coisas como que pelos órgãos dos sentidos visto que de fato vejo a luz ouço o ruído sinto o calor Dirmeão que essas aparências são falsas e que eu durmo Que assim seja toda via ao menos é muito certo que me parece que vejo que ouço e que me aqueço e é isso propriamente que em mim se chama sentir o que tomando assim precisa mente não é outra coisa senão pensar A partir daí começo a conhecer o que sou com um pouco mais de luz e distinção do que antes Fonte Descartes 2009 p 163164 119 eu recomendo Descartes a metafísica da modernidade Autor Franklin Leopoldo e Silva Editora Moderna Sinopse neste livro o Professor Franklin Leopoldo e Silva faz inicialmente uma contextualização histórica sobre o começo da Era Moderna Depois o autor realiza de maneira simples e intelectual uma explicação que esclarece todos os pormenores do pensamento cartesiano entrando nos temas mais importantes como Deus alma corpo e razão O livro é uma excelente leitura para estudantes de filosofia pois apresenta a filosofia cartesiana de forma mais simples livro A origem Ano 2010 Sinopse o filme conta a história de Dom Cobb um habilidoso ladrão de informação que utiliza um método diferente de roubo Seu método consiste no roubo de informação do inconsciente da pessoa por meio do sonho Assim a história se passa numa alucinante viagem no mundo dos sonhos onde Dom Cobb ten ta roubar uma informação Porém uma dúvida sempre está com Dom Cobb o que é real e o que é sonho filme Para uma melhor compreensão da filosofia kantiana sobre a temática da metafísica é indicado a leitura do texto Sobre a certeza nos juízos sintéticos a priori do Prof Me Rafael Sandoval httpsperiodicosunbbrindexphppolemosarticleview11658 conectese 4 METAFÍSICA E ONTOLOGIA PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Ontologia A metafísica para Mar tin Heidegger Sartre e a ontologia fenomenológica Corpo fenômeno e ontologia em MerleauPonty OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender as diferenças e semelhanças entre metafísica e ontologia Examinar a compreensão de Martin Heidegger sobre metafísica Conhecer a ontologia fenomenológica de JeanPaul Sartre Adquirir uma breve noção da ontologia de MerleauPonty INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa esta unidade tem por objetivo apresentar a você os fundamentos da ontologia na história da filosofia contemporânea Podemos dizer que a história da ontologia dentro da filosofia começa na Grécia e percorre até a filosofia contemporânea Entretanto nossa atenção não será voltada para o período antigo da filosofia mas para o período contemporâneo mais especificamente para os filósofos Martin Heidegger JeanPaul Sartre e Maurice MerleauPonty Na primeira aula focaremos nossa atenção para a história do termo ontologia Assim você conhecerá como o conceito foi se definindo até chegar na contemporaneidade como também explorará as diferenças e semelhanças entre metafísica e ontologia Na segunda aula você en contrará a corrente filosófica denominada existencial a partir do pen samento de Martin Heidegger Nessa aula teremos como objetivo com preender qual o fundamento da metafísica para Heidegger procurando elucidar conceitos fundamentais da sua filosofia Na terceira aula desta unidade estudaremos o existencialismo de JeanPaul Sartre conhecendo a ontologia fenomenologia que o filósofo desenvolve em suas obras Para tanto procuraremos definir os princi pais conceitos sartrianos de ser emsi ser parasi e liberdade Na quarta e última aula conheceremos a fenomenologia ontológica de Maurice de MerleauPonty que diferente da fenomenologia de Sartre que apre senta um sujeito e um objetivo apresenta o conceito de corpo que é o fundamento de sua ontologia Por fim encontraremos nesta unidade as características gerais do conceito de ontologia como também estudaremos os pensadores que elaboraram grandes filosofias a partir da ontologia Embora haja muitos outros autores que trabalharam este tema os que aqui estão reunidos garantem para você graduando em filosofia uma ótima compreensão do que é uma filosofia ontológica Boa Leitura UNIDADE 4 122 1 ONTOLOGIA Caroa alunoa nesta aula pretendemos realizar uma exposição do conceito ontologia buscando elucidar seu significado dentro da história da filosofia Para tanto explicaremos inicialmente as diferenças e semelhanças entre metafísica e ontologia Tentaremos realizar um comentário breve e introdutório sobre esse tema porque nosso objetivo é nas próximas aulas trabalhar filosofias que abordam mais especificamente a questão da ontologia por exemplo a filosofia de JeanPaul Sartre e MerleauPonty Dessa forma retomaremos o conteúdo trazendo novamente a definição da história do termo metafísica para depois explicar o que é a ontologia A palavra metafísica tem origem grega tà metá tà physikà que significa aquilo que está para além do plano físico Entretanto não há registro de nenhum filósofo grego ter feito utilização deste termo dentro da Filosofia Conforme Mora 1965 a história por trás do termo metafísica está ligada ao trabalho de Andrônico de Rodes estudioso do século I aC De acordo com os livros de História Rodes foi encarregado de organizar as obras de Aris tóteles Ao organizar as obras Rodes colocou a série de livros de Aristóteles nomeados de Filosofia Primeira na prateleira da biblioteca depois da obra que se chama Física que trata da estrutura das coisas físicas Como as obras da Filosofia Primeira ficaram posicionadas após o livro sobre física foram denominadas com a expressão grega tà metá tà physikà para dizer que a Filosofia Primeira estava para além da Física UNICESUMAR 123 O conteúdo dos livros de Filosofia Primeira de Aristóteles por incrível que pareça possuíam um significado semelhante da expressão tà metá tà physikà Dessa maneira toda forma de estudo que busca compreender os fundamentos do ser que estavam para além das coisas físicas foram denominadas de metafísica Dentro da história da filosofia é possível dizer que toda investigação filosófica passa por uma metafísica pois a filosofia sempre procura alcançar uma resposta que em muitos casos não está para além no plano físico no plano metafísico ou como alguns filósofos dizem no plano inteligível As questões metafísicas pos suem como característica fundamental o objetivo de alcançar um princípio que descreva com precisão as essências do ente que seja isento de contradição ex pressando com clareza o que é o ente Assim ao longo dos séculos a ciência que dedica suas pesquisas na busca por princípios fundamentais do ente é denomi nada de metafísica porém alguns autores também denominamna de ontologia A ontologia já não tem uma história interessante da origem do termo como a metafísica O termo ontologia já era utilizado pelos gregos porém não com tama nha ênfase como é no final da Era Moderna Para entendermos o que é ontologia primeiro é necessária uma explicação da etimologia do termo Ontologia vem do grego das palavras ontos que significa ente e logoi que é estudo ou discurso Assim numa tradução mais precisa do termo é possível dizer que ontologia é um estudo do ente ou melhor é um estudo de tudo aquilo que é referente ao ente em seus fundamentos Sobre isso comenta Abbagnano 2007 p 662 que a ontologia é uma doutrina que estuda os caracteres fundamentais do ser os que todo ser tem e não pode deixar de ter Dessa forma enquanto as ciências procuram estudar uma das formas com que o ente se determina no mundo a ontologia procura estudar os fundamentos essenciais que torna possível o aparecimento deste ente na realidade o que é necessário para que o ente exista ou melhor o que torna o ente ele mesmo Para uma melhor compreensão sobre a temática ontologia assista o vídeo intitulado Ciência filosofia e ontologia da Profa Camila Haase da Universidade de Estudos Avan çados UEA httpswwwyoutubecomwatchvhLYAlfUT4k8 conectese UNIDADE 4 124 Compreendendo a ontologia dessa maneira podemos dizer que a metafísica de Aris tóteles denominada da ciência do ente enquanto ente que procura realizar uma investigação sobre os princípios fundamentais que estruturam o ser é também uma forma da ontologia porque Aristóteles tem como ambição filosófica entender o ente e seus fundamentos essenciais logo sua metafísica é uma ontologia Nesse sentido é possível dizer que para Aristóteles metafísica e ontologia são duas coisas complementares não chegam a um grau de diferença gritante como água e óleo Ambas caminham juntas e até misturadas em alguns momentos na filosofia aristotélica No Período Medieval São Tomás de Aquino considerado o maior intér prete cristão de Aristóteles também enxerga metafísica e ontológica como duas coisas complementares para compreender os entes finitos todavia entende que a ontologia não é viável ao plano divino que é um campo reservado somente para teologia Segundo São Tomás de Aquino o que a filosofia possui como instrumento de trabalho é uma metafísica ontológica enquanto estudo dos seres finitos criados por Deus que não pode ser atribuída ao estudo da substância primeira Deus porque Deus o criador de todos os seres deste mundo finito está separado de sua criação sendo assim não haveria como fazer uma ontologia daquilo que não é um ser mas a fonte de todos os seres Portanto resta apenas a teologia para investigar os assuntos referentes a Deus e para os seres ficam a metafísica e a ontologia A teologia então consagra o estudo das coisas divinas a metafísica investiga assuntos além da física porém que não são referentes ao divino A ontologia fica com as questões mais gerais do ser tanto físico quanto espiritual entretanto nunca do plano divino pensando juntos UNICESUMAR 125 Essa concepção de Tomás de Aquino nos revela o aspecto principal da ontolo gia que é ser o estudo do ente enquanto um ser não o estudo do ente enquanto divindade assim a preocupação da ontologia é desvendar os mistérios dos entes que povoam o mundo No século XVII esta divisão apresentada por Tomás ganha mais força sendo definida como essencial para o estudo filosó fico dessa forma devese dedicar a estudar Deus somente a arte da teologia enquanto que a ontologia estuda os seres do mundo A partir deste século a ontologia começa a ser considerada como a ex posição organizada e sistemática dos caracteres fundamentais do ser que a experiência revela de modo repetido ou constante ABBAGNANO 2007 p 661 Diante dessa visão o filósofo Christian Wolff apresenta uma definição de ontologia que persiste até a contemporaneidade Wolff expõe que as crenças em fundamentos essenciais do ser existem até no senso comum porém elas não são apresentadas de forma sistematizada A ontologia enquanto ciência tem o papel de sistematizar essas regras fundamentais do ser em geral Por tanto aquelas características adotadas pelo senso comum das propriedades em comuns dos seres tanto materiais quanto espirituais são o material de estudo da ontologia enquanto ramo específico da filosofia Assim a ontologia ganha um reconhecimento dentro da filosofia como a disciplina que estuda dos seres entes Na filosofia contemporânea a ontolo gia adquire uma outra característica que é a de ser fenomenológica O prin cipal filósofo que iniciou a doutrina da ontologia fenomenológica é Edmund Husserl que descreve a realidade humana composta por dois seres um ser que capta os fenômenos que são apreendidos por uma consciência transcendente e os seres que aparecem como fenômenos UNIDADE 4 126 Para Husserl a ontologia está completamente ligada à estrutura feno menológica da consciência humana como sendo capaz de sair de si mesma para perceber os seres do mundo Dessa forma a ontologia será um estudo do ser que é capaz de perceber os fenômenos aqui está uma diferença entre a ontologia aristotélica antiga e a ontologia contemporânea enquanto os antigos estavam preocupados com os seres em geral uma ciência do ente enquanto ente que é aplicável a qualquer ser a contemporânea se preocupa apenas com o fenômeno que aparece ao sujeito Os filósofos contemporâneos como Husserl estão preocupados em investi gar o homem enquanto ser que é capaz de perceber os outros seres A ontologia passa então a ser a investigação do homem enquanto ser transcendental É possível observar isso em Martin Heidegger filósofo que estudaremos na aula seguinte Para Heidegger o estudo ontológico tem que estar voltado para o ser que é capaz de interrogar o mundo aquele que é capaz de perguntar e ad quirir respostas a suas perguntas Tal ser somente pode ser o homem assim a filosofia se torna um estudo ontológico do homem para Heidegger Essa característica se repetirá com todos os filósofos da linha da fenomenologia Por fim podemos concluir nesta aula quatro aspectos importantes que guiarão nosso estudo nesta unidade O primeiro é que metafísica e onto logia têm uma leve diferença a metafísica referese a tudo aquilo que está para além do físico enquanto a ontologia trata do ente em geral O segundo ponto é que mesmo uma metafísica pode conter uma ontologia como é possível ver no caso de Aristóteles e Tomás de Aquino O terceiro é que as filosofias contemporâneas não buscam mais realizar uma metafísica do ser mas trabalhar o ser dentro do plano ontológico assim essas filosofias pro curam esclarecer as estruturas do ser transcendente o homem Por último devemos ressaltar que essa breve exposição do conceito de ontologia tem como finalidade servir de introdução às filosofias ontológicas que veremos nas próximas aulas por isso é importante a compreensão do significado e da amplitude do termo ontologia UNICESUMAR 127 Caroa alunoa Nesta aula estudaremos o filósofo que é considerado o pai da filosofia existencial Tal filósofo é Martin Heidegger nascido em 1889 em Messkirch Alemanha possui formação em filosofia e teologia Durante sua formação foi laureado no curso de filosofia depois de alguns anos como professor assumiu o cargo de reitor da Universidade de Friburgo porém so mente adquiriu este posto quando aderiu as doutrinas nazistas Durante sua estada na universidade produziu grande parte de suas obras sobre filosofia e comentários a respeito da filosofia antiga Heidegger escreveu um texto intitulado O que é metafísica 1929 pro curando explicar o que é a metafísica dentro da sua filosofia existencial po rém antes de analisarmos a metafísica heideggeriana é de suma importância compreender alguns conceitos importantes que aparecem constantemente em sua filosofia Para tanto exploraremos primeiro o conceito de ser dentro da obra Ser e Tempo 1927 2 A METAFÍSICA PARA MARTIN HEIDEGGER UNIDADE 4 128 Ser e Tempo é considerada sua maior obra sobre ontologia e metafísica Nesta obra Heidegger elabora de maneira original uma resposta à pergunta o que é o ser O filósofo não procura analisar quem é o ser que aparece diante do sujeito mas sim analisar qual o sentido do ser que propõe esta pergunta ou melhor o que é o homem Heidegger diferente dos filósofos antigos que tentavam alcançar uma explica ção das coisas do mundo por meio da metafísica procurava compreender o que tem de especial no homem que o torna capaz de captar as coisas do mundo e se questio nar sobre si mesmo e o mundo Diante disso Heidegger num primeiro momento tenta compreender o que é homem partindo para uma explicação existencial O homem é descrito pelo filósofo como seraí dasein isto é o homem é um ser que sempre está em relação com o mundo ou melhor o homem é um sernomundo O fundamento primeiro do seraí consiste na condição de não conseguir se ausentar da sua situação dentro do mundo por isso ganha essa denominação de dasein que em alemão significa literalmente seraí ser jogado dentro do mundo Seraí não é um sernomundo pelo fato de e apenas pelo fato de existir faticamente mas pelo contrário somente pode ser como existente isto é como seraí porque sua consti tuição essencial reside no sernomundo Martin Heidegger pensando juntos Segundo Reale e Antiseri 2006 a compreensão do ente parte do princípio que o seraí não é somente mais um ente objeto no meio do mundo O seraí é antes de tudo aquele ente que tem a capacidade de perceber as outras coisas o homem não é só mais uma pedra entre as outras pedras mas o ser que é capaz de perce berse como um ente no meio de outros entes e se questionar sobre sua condição O homem sempre será sernomundo em outras palavras significa que o seraí é um ser constituído pela transcendência ele está sempre em relação com as coisas do mundo constituise inteiramente por tal relação Por essa razão que o homem compreenderá as coisas do mundo como utensílios para completar aquilo que ele ainda não é porque para o filósofo o homem é um ser sempre em projeto um eterno viraser UNICESUMAR 129 A existência humana está vinculada fundamentalmente com o seraí pois enquanto é um projeto somente pode se realizar na existência nunca fora dela Dessa forma a existência pode ser descrita como o meio de possibilidade para o homem seraí pode se realizar por isso que o homem é um sernomundo justamente porque é no mundo que o homem age e projeta suas ambições fa zendo uso das coisas que estão neste mundo para se concretizar De acordo com Reale e Antiseri 2006 p 205 A transcendência institui o projeto ou esboço de um mundo ela é um ato de liberdade aliás para Heidegger é a própria liberdade Entretanto se é verdade que qualquer projeto radicase em um ato de liberdade também é verdade que todo projeto limita imediata mente o homem que se encontra dependente das necessidades e limitado pelo conjunto daqueles utensílios que é o mundo Estar nomundo pois significa para o homem cuidar das coisas neces sárias a seus projetos e ter a ver com uma realidadeutensílio meio para sua vida e para suas ações Na passagem anterior os comentadores apontam como a transcendência pos sibilita o mundo para o homem Digamos que a transcendência é um ato de liberdade uma vez que coloca o homem diante do mundo onde ele poderá agir e atuar para realizar a si mesmo enquanto um projeto O fato do homem estar no mundo o mergulha dentro do mar das possibilidades em que o permite concluir o projeto que tem de si mesmo Com isso o mundo é a realidade das possibilidades para o homem sem estar no mundo não haveria como ser em projeto Sendo assim o homem no mundo não é somente um espectador mas antes disso ele é um agente é o ser da ação que utiliza as coisas em seus propósitos Podemos lembrar aqui do conceito marxista de trabalho Marx quando des creve que é pelo trabalho que o homem modifica as coisas do mundo que molda o mundo conforme a sua vontade está se referindo a esta condição humana de sernomundo como ação Nesse sentido o homem é um ser que ao agir sobre omundo transformao conforme a sua vontade Onde antes havia uma enorme rocha que impedia a construção de uma estrada com a ação humana a rocha desaparece abrindo caminho para uma longa rodovia Esta é a compreensão heideggeriana da relação do homem com o UNIDADE 4 130 mundo que é semelhante à marxista Para Martin Heidegger o homem pode ter várias compreensões das coisas do mundo tanto estéticas quanto teóricas como também práticas entretanto o fator comum dessas compreensões é que todas dependem do homem é ele homem que decide o que fazer com as coisas do mundo Tal coisa pode ter uma utilizada estética ou prática porém quem decide isso é sempre o homem e nunca a coisa Dessa maneira começamos a compreender quem é o ser que formulou a pergunta inicial de Heidegger o que é o ser Em resposta podemos dizer que o ser que faz a pergunta é aquele que possui a capacidade de se relacionar livre mente com o mundo é o sujeito capaz de entender a utilidade de cada coisa do mundo Logo o ser que é capaz de interrogar é aquele que está largado no mundo procurando um jeito de se realizar como ser pois está sempre diante do nada que o rodeia e do nada que é enquanto projeto O homem durante seu período de existência no mundo procura questionar o ser numa tentativa constante de fugir do nada Em 1929 quando Heidegger obteve o título de professor na Universidade de Friburgo apresentou em uma aula inaugural o texto O que é metafísica Neste texto o filósofo procura esclarecer a definição de metafísica também tentando definir qual o objeto de trabalho dela enquanto uma ciência do ente O texto é estruturado de uma maneira diferente dos habituais textos de filosofia Heidegger não procura começar pela definição de metafísica mas pelo problema da exis tência do homem Segundo Heidegger a ciência está ligada sempre ao ato de interrogação da situação humana ou seja é a partir da ciência que o homem coloca em questão as coisas do mundo e sua própria existência todavia a ciência está sempre preo cupada com coisas relacionadas do mundo mas nunca possui uma preocupação para coisas além do mundo Sobre isso comenta Lima 2008 que a ciência se preocupou com o homem enquanto uma simples relação com o mundo deter minando a experiência científica como o estudo do comportamento do homem e não a ciência do homem enquanto um ente em sua totalidade Diante disso é papel da filosofia trabalhar com o homem em sua totalidade o que abordar o seraí como o ser capaz de perceberse no mundo e modificar tudo ao seu redor pois caminha dentro do campo das possibilidades já que é um projeto a ser realizado Dessa maneira a filosofia tem que voltar sua atenção à capacidade nadificante do homem A respeito da nadificação do homem Lima 2008 p 139 ressalta que UNICESUMAR 131 a ciência sempre se caracterizou pelo direcionamento ao ente mas há outra coisa que está presente nesse direcionamento é que quando corre atrás do ente a ciência foge do que seria para ela o elemento nadificante do ente Porém este elemento ele está im plicado na própria busca da ciência ele é o nada Como diz a passagem anterior o nada está junto com a própria busca da ciência por que somente com a capacidade nadificante o homem é capaz de interrogar o mundo e realizar o primeiro passo da ciência A ciência afirma o ente a partir da sua comparação com o nada seguindo o axioma de identidade lógica porém foca sua atenção exclu sivamente ao ente excluindo o nada de dentro de suas investigações Dessa forma a ciência tornase uma forma de conhecimento que compreende as relações do homem com as coisas do mundo porém não consegue compreender o homem enquanto um ente em relação ao nada pois exclui o nada de seu campo de investigação Para Heidegger a capacidade humana de questionar interrogar está com pletamente ligada à metafísica visto que o intuído de uma interrogação não é alcançar uma resposta em alguns casos mas mostrar que enquanto humanos seraí temos a capacidade de colocar as coisas em questão Essa capacidade interrogativa salienta Heidegger revela o nada para o homem o nada que é ig norado como objeto de trabalho para ciência Se o nada é excluído da ciência então ele será para Heidegger o material de trabalho da metafísica visto que ele aparece para a ciência como algo para além do ente e tudo que está para além dos entes físicos como diz a tradição filosófica é instrumento de trabalho da metafísica Portanto a metafísica investigará o nada Entretanto há um problema em relação ao entendimento do nada pois como seria possível ao homem compreender o nada sendo que o nada é o nada Sobre isso comenta Lima 2008 p 140 que se o pensamento fosse forçado a pensar o nada entraria em autodestruição por agir contra sua própria essência pensar no nada é uma impossibilidade lógica não é possível ao homem tal proeza Para Heidegger o homem não consegue ter um entendimento claro do nada consegue apenas ter uma leve apreensão do nada Essa apreensão tornase possível da mesma maneira que o homem tem a capacidade de apreender a sua totalidade Há segundo Heidegger momentos no cotidiano do homem que não se percebe apenas como uma figura individual mas como um ente entre os outros entes Tais momentos são reconhecidos por certos sentimentos como tédio alegria euforia em que o homem está em unidade com o mundo a sua volta Nesses momentos o ente se percebe em sua totalidade de seraí ou melhor sernomundo UNIDADE 4 132 Dessa mesma forma que o ente percebe sua totalidade no mundo também é capaz de perceber uma completa ausência que é a apreensão do nada O sentimento que exprime essa apreensão do nada é a angústia como Heidegger diz a angústia é o meio pelo qual o nada se manifesta no mundo Sobre o conceito de angústia em Heidegger Schiochett 2005 p 335336 realiza um rico comentário A angústia se mostra como a disposição que coloca o homem diante de sua existência cujo sentido último não é dado por nenhum ente Todo sentido toda razão todo fundamento na angústia foge Na angústia o ente em sua totalidade se torna caduco Por mais que o homem ofereça razões e fundamen tos para os entes e assim faça ciência e filosofia estas erraram fracassam põem novas respostas Isto ocorre porque a to talidade não objetivada o mundo em que o Dasein se move permanece como o âmbito que abre sempre e a cada vez novas possibilidades de objetivação e desse modo novas questões não antes pensadas Por isso Heidegger diz que o ente se torna caduco Mas se o ente se torna caduco muda ou deixa de ter sentido o ser insiste na existência E essa existência sem sentido ôntico angústia o Dasein Na passagem anterior o autor frisa logo de início a impossibilidade do ho mem se reconhecer diante dos outros entes Na angústia diferente da tota lidade que há um reconhecimento de unidade com todos os entes o ente se solta do mundo vê o mundo para além dele ou seja vêo um nada de mundo Por isso que a totalidade se torna caduca o ser humano seraí está fora do mundo mergulhado na completa ausência de tudo O nada é um exercício de transcendência o homem vê a si mesmo de longe numa distância tão absoluta em que somente o nada reina Com isso o seraí não tem uma percepção de si mesmo na angústia como tem na tota lidade porque tudo que é referente ao ente ôntico perde o sentido dentro do nada Entretanto devemos lembrar que o homem não sai do mundo ele continua no mundo a angústia somente é possível porque o seraí é ser nomundo contendo a capacidade de interrogarse para além deste mundo UNICESUMAR 133 Segundo Schiochett o que angustia na angústia é a própria condição do homem de ser sernomundo Sem tal condição seria impossível o homem ter uma apreensão do nada Consequentemente não é nenhum ente em específico que causa a angústia mas a própria condição de estar em situação que angustia o seraí o fato de serno mundo é a condição da angústia Diante disso podemos concluir que o seraí humano consegue alcançar a compreensão do nada quando se esvazia de toda sua relação com os entes físicos a partir da angústia Quando o homem começa voltar a perceberse como ser nomundo ele vai gradualmente afastandose do nada e se preenchendo com sua totalidade de ser Essa dinâmica é para Heidegger como acontece a apreensão do nada pelo homem A relação entre o nada e a metafísica segundo o filósofo é estabelecida quan do o nada está para além da compreensão física do ente Se metafísica significa aquilo que está para além da física consequentemente ela será a arte que tratará dos assuntos referentes ao nada Porém diferente de outros autores que colocam a metafísica com uma disciplina Heidegger a define como uma disposição natural do homem Dessa maneira a metafísica faz parte do seraí sendo fonte da possibi lidade da ciência e dos conhecimentos do homem pois o nada enquanto qualidade interrogativa do homem impulsiona o pensamento científico Por fim devemos lembrar de três características importantes da filosofia de Hei degger A primeira é a compreensão do homem como seraí que está situado dentro do mundo tal aspecto da filosofia heideggeriana é importante porque influenciará pensadores como Sartre e MerleauPonty A segunda é a preocupação de Heidegger com o homem enquanto ente que tem consciência de si mesmo e do mundo Por último é como a metafísica passa a ser disposição do homem enquanto ser que pos sui a capacidade de interrogar o mundo ou melhor perceber o mundo a sua volta e questionálo Algo que será também muito relevante em autores da fenomenologia O conceito de angústia pode ser definido da seguinte forma angústia é aquele sentimen to de esvaziamento do ser ou seja quando o homem percebe que não possui uma essên cia definida mas somente uma existência repleta de possibilidades de um viraser ou seja uma existência em projeto vinculada ao mundo conceituando UNIDADE 4 134 JeanPaul Sartre nasceu na cidade de Paris em 1905 Quando ainda era criança seu pai faleceu deixando sua mãe sozinha para criálo Diante disso Sartre e sua mãe foram obrigados a morar com Charles Schweitzer seu avô materno Durante sua estada na casa do avô foi nutrido pelas mais belas obras de literaturas já que Sch weitzer era apaixonado por literatura Com dez anos Sartre ganhou sua primeira máquina de escrever de seu avô porque sonhava em se tornar um grande escritor Durante grande parte de sua vida Sartre teve somente uma ambição tornarse um renomado romancista Sua primeira conquista foi a formação em Filosofia na Escola Normal Superior de Paris onde adquiriu reconhecimento como um dos melhores alunos da escola após defender sua tese de conclusão de curso Porém sua carreira como escritor tardou a chegar somente anos depois Sartre publicou A náusea 1938 seu primeiro romance que o destacou como escritor Porém logo em seguida vieram os anos de guerra o que ofuscou por um breve momento sua fama No período da Segunda Guerra Mundial Sartre começou suas publicações de ensaios de filosofia sendo num primeiro momento obras inspiradas na filosofia de Edmund Husserl entre tais obras estão A transcendência do Ego Esboço para uma teoria das Emoções e O imaginário Entretanto sua obra de filosofia mais original e importante vem em 1943 que é O ser e o nada escrita quando foi prisioneiro num campo de concentração nazista 3 SARTRE e a ontologia fenomenológica UNICESUMAR 135 Nesta obra Sartre apresenta uma nova concepção de liberdade fundada numa ontologia fenomenológica criada a partir das filosofias de Husserl e Heidegger Nesta aula o que pretendemos é expor de maneira breve as carac terísticas principais dessa ontologia sartreana que possui algumas diferenças da metafísica tradicional Para tanto analisaremos os conceitos de intencio nalidade emsi parasi e liberdade dentro da filosofia sartreana com o intuito de compreender sua ontologia A primeira vez que Sartre faz uso do conceito de intencionalidade é num pequeno texto a respeito da descoberta de Husserl Tal texto é intitulado como Uma ideia fundamental da fenomenologia de Husserl intencionalidade 1939 e o objetivo deste texto é apresentar o conceito de intencionalidade e realizar uma crítica às concepções da psicologia sobre a consciência No texto Sartre se refere às noções tradicionais de consciência como cai xas de conteúdo que guardam todas as imagens captadas pela percepção humana na consciência Porém argumenta o filósofo que o conceito de in tencionalidade de Husserl traz uma nova forma para consciência Agora ela não é mais uma caixa de conteúdo que absorve o que percebe mas uma per cepção do mundo Segundo Sartre a consciência é para fenomenologia um movimento de saída para fora dela mesmo em outras palavras a consciência sai de si para perceber o mundo Essa nova noção de consciência é determinada pelo conceito de intencio nalidade Sartre 2005 p 105 define tal conceito da seguinte forma Toda consciência é consciência de alguma coisa Não é preciso mais nada por colocar um fim à filosofia delicada da imanência onde tudo se faz por compromissos mudanças protoplásmicas por uma morna química celular A filosofia da transcendência nos lança sobre a grande estrada no meio de ameaças sob uma obcecante luz Ser diz Heidegger é ser no mundo Compreendeis este serno no sentido de movimento Ser é manifestarse no mundo é partir de um nada de mundo e da consciência para de repente se manifestarconsciêncianomundo Que a consciência tente se recuperar de coincidir enfim com ela mesma imediata mente se fecham às janelas ela se aniquila Essa necessidade para a consciência de existir como consciência de outra coisa que ela Husserl a nomeia de intencionalidade UNIDADE 4 136 Como podemos notar na passagem acima intencionalidade é a característica da consciência de ser consciência de alguma coisa Para ser mais claro a consciência necessita ser consciência de algo para existir ela é sempre consciência de Por essa razão a consciência somente é consciência de si mesma enquanto é consciência de algo no mundo sem esse movimento de evasão para o mundo ela não existiria este é o fator necessário para sua existência conforme a fenomenologia Nesse sentido o homem será o ser que se transcende em direção ao mundo no sentido de ir para além de si mesmo O homem sai de si mesmo para encon trar o mundo e as coisas contidas nele Como salienta Sartre 2005 p 105 ser é manifestarse no mundo é partir de um nada de mundo e da consciência para de repente se manifestarconsciêncianomundo A consciência humana sendo um nada descobrese quando descobre o mundo Sabemos agora que a consciência intencional na filosofia sartreana significa que a consciência é um nada que está sempre em movimento porém é um movimento de saída de si mesma para se perceber como consciência de alguma coisa Diante disso somos levados a pensar sobre o que é o homem em relação às coisas do mundo já que é um nada de consciência qual será a definição de homem para Sartre Para compreendermos o sernomundo na filosofia sartreana é necessária uma breve explicação dos dois seres que coexistem no mundo Para o filósofo o mundo é composto pelos seres emsi e parasi o primeiro deles referese às coisas do mundo mais especificamente aos objetos artificiais criados pelo homem e objetos naturais como rochas árvores animais etc O parasi é o que percebe as coisas do mundo é o que tem a capacidade de existir no mundo como consciência de percepção dos objetos O Emsi não tem segredos é maciço Em certo sentido podemos designálo como sín tese Mas a mais indissolúvel de todas síntese de si consigo mesmo Resulta evidente mente que o ser está isolado em seu ser e não mantém relação alguma com o que não é É o que é isso significa que por si mesmo sequer poderia não ser o que é vimos com efeito que não implicava nenhuma negação É plena positividade Desconhece pois a alteridade não se coloca jamais como o outro a não ser si mesmo não pode manter relação alguma com o outro Fonte Sartre 2014 p 39 explorando Ideias UNICESUMAR 137 O ser parasi dotado de uma consciência intencional é capaz de perce ber os objetos que aparecem a ele como fenômenos Entretanto sendo sua consciência um nada existindo apenas enquanto consciência dos fenô menos ela possui uma característica fundamental que é dizer o que é e o que não é O ser emsi é descrito por Sartre como positividade absoluta ou seja o emsi sempre é nunca aparece como nãoser algo semelhante a Parmênides em que as coisas do mundo são não podendo não ser Dessa maneira a diferença fundamental entre o emsi e o parasi consiste que um é pura positividade e o outro pura negatividade Sobre isso Sartre 2015 p 38 comenta que Cada uma de nossas percepções é acompanhada da consciência de que a realidade humana é desvendante isto quer dizer que através dela há o ser ou ainda que o homem é o meio pelo qual as coisas se manifestam e nossa presença no mundo que multiplica as relações somos nós que colocamos essa árvore em relação com aquele pedaço de céu graças a nós essa estrela morta há milênios essa lua nova e esse rio escuro se desvendam na unidade de uma paisagem é a velocidade de nosso automó vel de nosso avião que organiza as grandes massas terrestres a cada um de nossos atos o mundo se revela uma nova face Na passagem anterior Sartre descreve a relação do homem com o mundo o homem desvenda o mundo no qual está inserido Entretanto ao mesmo tempo que desvenda o homem é também quem coloca ordem no mun do sem sua consciência para perceber a paisagem não haveria paisagem portanto o parasi é quem introduz a negatividade Isso significa que o homem enquanto parasi é capaz de apontar o que é ou não uma cadeira Essa capacidade de descrever o que não é dá ao parasi a característica de também ser capaz de dizer o que ele é ou não é Se a consciência huma na é um nada o parasi também é um nada Logo o homem é definido como um nada diante do mundo É a partir dessa discussão que entramos no conceito de liberdade humana para JeanPaul Sartre pois se o homem é um nada uma constante impossibilidade de ser alguma coisa ele tem a liberdade de poder vir a ser o que ele quiser o homem é livre para ser UNIDADE 4 138 No texto O existencialismo é um humanismo 1943 escrito para ser uma breve explicação dos conceitos básicos de O ser e o nada apresenta de forma re sumida dois conceitos importantes o existencialismo e a liberdade A explicação sobre o existencialismo decorre da diferenciação entre existencialismo cristão e existencialismo ateu Segundo Sartre o que torna as coisas complicadas é a existência de dois tipos de existencialista SARTRE 1987 p 4 Para explicar o existencialismo cristão imagine mos como exemplo a fabricação de uma cadeira Para fabricála idealizamos todo um conceito de cadeira que define sua existência A cadeira a ser fabricada possuía sua finalidade e propósito já definidos pelo seu criador antes mesmo de sua existên cia assim ela não poderá ser outra coisa além do que foi planejada a ser Quando pensamos no conceito de Deus como criador do homem no existencia lismo cristão o homem é posto de forma semelhante a cadeira ou seja sua essência já é determinada por um criador Assim o homem para o cristão perde sua liberdade porque vivencia um destino já escrito por Deus antes de sua existência Com isso para os filósofos existencialistas cristãos a essência humana vem antes de sua existência Ao contrário da visão cristã no existencialismo ateu de Sartre a existência precede a essência isto é o homem primeiramente existe somente depois busca sua essência Com isso é livre e isento de qualquer conceito de um Deus criador portanto ele por si só constrói sua realidade em relação ao mundo e aos con ceitos nele existentes Conforme Sartre 1987 p 6 o homem nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo o que significa que o homem primeiramente é um nada não há nenhuma definição no mundo que ele possa seguir ele cria sua própria imagem de homem no decorrer de sua vida Desse modo no existencialismo não existem pessoas que nascem covardes ou corajosos mais sim uma pessoa que opta por ser uma das es colhas Também não existe a ideia de que o meio social possa determinar o homem Para Sartre o homem é lançado ao mundo sem nenhuma determinação pré via localidade temporal e social Neste contexto o homem se encontra submetido a nascer rico pobre escravo e é nessa situação indeterminada que ele vai exercer sua liberdade Anteriormente havíamos dito que a consciência é um nada Agora vimos que o homem é fundamentado num nada a partir da premissa de que a existência precede a essência UNICESUMAR 139 Dessa forma o que temos que compreender dentro da filosofia de Sartre é que o fundamento ontológico do parasi homem é o nada que se revela como liberdade visto que sendo um completo nada o homem possui a livre escolha de ser o que quiser ser Nesse sentido temos que lembrar de um fato importante da ontologia de Sartre que a liberdade faz parte de uma ação prática diferente das teorias metafísicas anteriores que discutiam sobre uma realidade suprassensível que buscavam explicar a realidade humana por meio de verdades eternas O existencialismo sartriano é uma descrição da realidade não tem a pretensão de explicar como funciona a realidade mas descrever como ela é em si mesma Como é uma descrição da realidade tornase uma filosofia da ação huma na Algo que podemos notar na definição de liberdade como negação Em O ser e o nada há uma parte dedicada somente para explicar como a negação surge no mundo Para Sartre o homem é quem introduz a negação no mundo o que proporciona o movimento para o mundo Sem a negação o mundo é parado uma vez que existe somente em pura positividade com os seres emsi O homem entra para apontar o que é e o que deixa de ser toda atividade humana é uma atividade negativa no mundo no sentido de ser descritiva da realidade Essa característica é muito impor tante para o ser parasi porque sem ela o homem não seria nada do que é ou seja não seria um ser contraditório que tem que escolher um caminho a seguir a cada minuto Sartre é e foi um escritor famoso por disseminar o conceito de engajamen to dentro da filosofia política e da literatura Durante o período da Segunda Guerra Mundial escreveu uma grande coletânea de peças de teatro como também romances que traziam um novo estilo de literatura intitulado de literatura engajada As principais características da literatura engajada é a utilização da liber dade humana como tema central das peças teatrais As personagens de suas histórias eram submetidas a situações extremas para explorar suas liberdades dentro de um cenário em que realizar uma escolha era algo inevitável O as pecto importante da liberdade retratada na literatura é a ação humana a per sonagem romanesca é obrigada a agir sempre nunca podendo ficar estagnada UNIDADE 4 140 É possível observar isso num romance de Sartre chamado Os dados es tão lançados em que o autor retrata um cenário de pósmorte Tal romance conta a história de um jovem casal apaixonado que estão vivendo uma vida após a morte Neste mundo dos mortos as personagens andam livremente no mundo dos vivos entretanto elas não podem interferir nas escolhas dos vivos O auge da história se dá quando o casal observando seus parentes vivos acaba descobrindo que estes estão em perigo Assim ficam com vontade de salvar seus parentes de um destino trágico Por causa de uma regra celeste o jovem casal ganha a oportunidade de voltar à vida para cumprir seu destino Destino que é viver um amor eterno em vida porém para que isso seja possível eles devem se encontrar no mun do dos vivos e dar um beijo de amor verdadeiro durante o prazo de vinte quatro horas Mas quando os dois voltam à vida pensam primeiro em uma coisa salvar seus parentes do que acontecerá a eles No final do romance as personagens não conseguem ficar juntas porque escolheram salvar seus entes queridos do que cumprir o destino que o céu havia traçado para eles Os dados estão lançados apresenta duas características importantes da filosofia sartreana A primeira é que o homem é livre e escolhe seu destino não pode uma lei celeste definir a escolha humana a escolha é algo intrínseco do homem A segunda característica é da ação as personagens enquanto estão mortas não podem agir sobre o mundo dos vivos a morte representa o fim da ação humana como também a impossibilidade da escolha livre a liberdade não é uma propriedade que pertença entre outras coisas à essência do ser humana Por outro lado já sublinhamos que a relação entre existência e essência não é igual no homem e nas coisas do mundo A liberdade humana precede a essência do homem e tornaa possível a essência do ser humano achase em suspensão na liberdade Logo aquilo que chamamos liberdade não pode se diferençar do ser da realidade humana O homem não é primeiro para ser livre depois não há diferença entre homem e o seu serlivre Fonte Sartre 2014 p 68 explorando Ideias UNICESUMAR 141 Dessa maneira a vida humana está completamente ligada à liberdade é com a liberdade como uma ação no mundo que o homem vive Ele que escolhe seu destino que escolhe as grandes paixões de sua vida Vimos que a liberdade é uma negação o homem é um ser da negação porque nunca pode ser definido por nada assim quando se descreve como algo logo em seguida também pode negar essa definição De acordo com Sartre 2014 p 107 Não posso dizer que sou quem está aqui nem não sou no sentido em que se diz o que está em cima da mesa é uma caixa de fósforo seria confundir meu sernomundo com sernomeiodomun do Nem dizer que sou quem está de pé ou sentido seria confundir meu corpo com a totalidade idiossincrática da qual é apenas uma das estruturas Por toda parte escapo ao ser e não obstante sou Na passagem anterior Sartre está se referindo à condição humana de estar sem pre em contradição assim não pode ser definida como emsi O homem é um sernomeiodomundo aquele que percebe e interage com as coisas pensálo como ser definido é contra sua estrutura ontológica Sartre não está se referindo a um ser suprassensível quando fala do homem mas de um homem concreto que está presente em nossa realidade Dessa ma neira podemos concluir que a ontologia sartreana procura descrever o homem em suas relações com o mundo Por isso que define a consciência como um intencional um movimento de saída de si para o encontro de algo em outras palavras descreve a consciência em relação com os objetos do mundo Em Sartre o homem nunca está parado em si mesmo como o Eu cartesiano mas em relação com o mundo a liberdade humana é com isso o combustível das ações humanas Por fim para finalizar esta aula podemos destacar três pontos importantes o primeiro que a filosofia de Sartre procura fazer uma descrição da condição humana o que implica numa elucidação da condição ontológica do homem enquanto ser livre O segundo ponto consiste que entre os seres do mundo o homem é o único com consciência capaz de se relacionar com o mundo Terceiro e último é que a liberdade humana é o fundamento ontológico do homem que garante a incapacidade de ser definido ou confundido com um emsi e também o que permite o homem a agir sobre o mundo UNIDADE 4 142 MerleauPonty nasceu na cidade de Rochefort na região de CharenteMaritime na França Estudou filosofia na Escola Normal Superior de Paris tendo como colega de academia JeanPaul Sartre e outros intelectuais importantes Em 1938 serviu no exército de resistência contra os nazistas na fronteira da França depois da derrota em 1940 ocorreu a ocupação da França pelos nazistas Neste período MerleauPonty participou junto com os intelectuais de uma resistência contra as propagandas nazis tas que circulavam nos veículos de comunicação franceses Foi junto com JeanPaul Sartre coeditor da revista Les Temps Modernes revista dedicada a expor as explo rações e horrores do nazismo Dentro da filosofia MerleauPonty escreveu obras significativas entre elas es tão A fenomenologia da percepção 1945 O visível e o invisível 1960 Nessas obras desenvolveu uma nova ontologia fenomenológica que difere das anteriores por colocar o corpo humano como o centro da relação entre consciência e objeto MerleauPonty enfatiza que o problema que se arrasta na filosofia há muito tempo é o da dualidade entre corpo e alma O objetivo desta aula é apresentar a ontologia de MerleauPonty a partir da exposição do conceito de corpo pois o conceito é fun damental nessas obras do filósofo MerleauPonty descreve que dentro da história da filosofia o problema da dua lidade entre corpo e alma tem início já em Platão com a Teoria das Ideias Segundo o filósofo para Platão antes da alma ser introduzida no corpo ela contemplou todo 4 CORPO FENÔMENO E ONTOLOGIA EM MERLEAUPONTY UNICESUMAR 143 um mundo espiritual que é puramente perfeito descrito como o mundo das ideias Assim quando a alma é introduzida no corpo perde um pouco da pureza de seu intelecto visto que o mundo sensível não permite um entendimento perfeito das coisas porque a verdade eterna só pode ser alcançada nas ideias Com isso a teoria platônica mostra que há um conflito entre o corpo e in telecto que impede a junção dos dois visto que são de realidades diferentes e produzem conhecimentos contrários um é mutável o outro é eterno Entre os filósofos antigos tal concepção platônica nunca foi superada apenas repassada adiante Na filosofia moderna observamos essa dualidade em Descartes com a separação entre substância pensante da natureza espiritual referente a tudo que é do pensamento e substância extensa referente às coisas da natureza ao domínio do corpo Descartes não procura resolver o problema por trás dessa dualidade antes ele a utiliza para fundar sua filosofia racionalista O empirismo também faz uso deste dualismo reforçandoo em alguns as pectos como reduzindo à dimensão corpórea as forças deterministas da natureza na qual a pessoa deixa de ser dona de seu destino sendo assim os meios naturais determinam a vida do indivíduo Com isso no empirismo todo conhecimento provém unicamente da experiência limitandose ao que pode ser captado do mundo externo pelos sentidos Dessa forma até o momento da história da filo sofia nenhuma teoria metafísica havia superado o dualismo em alguns casos a metafísica teria se apossado do dualismo para sustentar suas ideias A superação do dualismo somente é obtida com a fenomenologia e o concei to de intencionalidade Tal conceito é para MerleauPonty a maior descoberta de Husserl já que a intencionalidade sendo uma percepção do mundo consciência enquanto percepção de algo acaba por abandonar os problemas relacionados à dualidade sensível e inteligível focando sua atenção para o que há de mais im portante o meio entre os dois extremos que é para o filósofo o corpo subjetivismo e objetivismo idealismo e empirismo metafísica e positivismo são di cotomias que possuem a mesma fonte a separação sujeitoobjeto considerados como realidades heterogêneas distintas e açambarcadoras que tendem a reduzir seu oposto a uma aparência ilusória As dicotomias são portanto as faces complementares de um engano comum e originário Fonte Chauí 1989 p 10 explorando Ideias UNIDADE 4 144 A superação do dualismo afirmada por MerleauPonty é a tomada de consciência da existência de um corpo Um corpo que possui uma consciência intencional e per ceptiva do mundo a sua volta diferente da estrutura ontológica de Sartre que cria a relação de oposição entre emsi coisa e parasi consciência para compreensão do mundo em outras palavras uma ontologia em que existe uma consciência que per cebe o mundo sensível Na ontologia de MerleauPonty o objetivo é diferente aqui é uma questão de estabelecer uma relação de correspondência mútua entre objeto e sujeito com o que há no meio deles que é o corpo o intermediário da consciência Sobre isso comenta Peixoto 2011 p 158 que não é nos polos intelecto e sensibilidade mas entre eles na mediação que devemos buscar o sentido das coisas Dessa maneira o projeto de MerleauPonty que se destaca na Fenome nologia da Percepção é de realizar um trabalho de mistura entre consciência e corpo criando um enraizamento da consciência no corpo Diante disso para compreendermos MerleauPonty temos que entender o que é corpo e qual é seu papel no mundo Para o filósofo eu não estou diante do meu corpo estou em meu corpo ou antes sou meu corpo MERLEAUPONTY 1999 p 207208 Por essa razão podemos definir que o homem enquanto enti dade no mundo não exclui em nenhum minuto o seu corpo de suas atividades cotidianas pois é com ele que andamos até a padaria para comprar os pães é com o corpo que pedalamos de um lado a outro do Maracanã é com o corpo e justamente por têlo que digito este texto É com o corpo que possuímos as capacidades de perceber e modificar o mundo Nosso corpo não é uma simples máquina como dirá Descartes no Discurso do Método somos algo além de máquina visto que há significação no que faze mos não estamos determinados por um programador Como ressalta Peixoto 2011 p 158159 Não percebo como uma simples coisa em movimento como uma máquina mas como gesto expressivo o que possibilita a expressão da unidade entre pensamento e ação entre a dimensão física e psíquica O agir que tem seu pensamento não é agir mecânico destituído de sentido mas forte de significação Assim o gesto nunca é movimen to de uma coisa não é expressão apenas corporal mas expressão de uma pessoa é comunicação que revela a interioridade da pessoa nossa primeira comunicação com os outros e com o mundo quando nascemos é pelo gesto que revelam que estamos com dor fome frio Antes de sermos um ser que conhece somos um ser que vive e sente UNICESUMAR 145 Na passagem anterior percebemos que o corpo não pode ser concebido como uma máquina mas ele é uma consciência intencional que habita o corpo Por esse motivo o corpo humano é um criador de significado no mundo não é somente a fala que possui a capacidade de designar e apontar as coisas no mundo nossos gestos também possuem essa capacidade Dessa forma o corpo funciona como uma mediação entre a consciência e o mundo e a partir desta mediação somos capazes de interagir com o mundo Nesse sentido temos que pensar que o objeto percebido é um dado em que o objetivismo e o subjetivismo estão colados juntos um com o outro eles são os lados de uma mesma moeda pois a verdade não habita apenas o homem interior ou antes não existe homem interior o homem está no mundo é no mundo que ele se conhece MERLEAUPONTY 1999 p 6 Estar no mundo não significa apenas estar como consciência perceptiva do mundo mas como corpo que possui uma consciência que se relaciona direto com o mundo não há uma distância entre a consciência e o mundo ela é consciência enquanto é no mundo para MerleauPonty No Prefácio da Fenomenologia da Percepção e praticamente em toda a obra o objetivo do filósofo é demonstrar a ideia de um corpo ativo Elucidar que a consciência que constrói o mundo está dentro de um corpo assim é por habitar este corpo que ela possui a habilidade de construir o mundo Quando Merleau Ponty enfatiza a frase de Husserl sobre retorno às coisas a elas mesma está fazendo referência à sua tentativa de trazer a filosofia ao mundo vivido isto é voltar os olhos da filosofia ao homem e o mundo enquanto seu palco o homem como gente no mundo O mundo vivido para o filósofo é o fruto do conhecimento humano é uma realidade anterior a ciência pensar nele seria pensar no próprio surgimento do conhecimento O homem como uma consciência corpórea age sobre esse mun do produzindo as coisas da sociedade e os conhecimentos da ciência Sobre isso comenta MerleauPonty 1999 p 3 que Eu não posso pensarme como uma parte do mundo como simples objeto da biologia da psicologia e da sociologia nem fechar sobre mim o universo da ciência Tudo aquilo que sei do mundo mesmo por ciência eu sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido UNIDADE 4 146 Para MerleauPonty uma ontologia fenomenológica supera o dualismo entre psíquico e o físico porque o próprio corpo tornase uma inserção no mundo real e consequentemente também uma inserção no mundo imaginário pois o nosso corpo é habitado pela consciência Não há mais a superioridade de um lado sobre o outro o psíquico intelecto não é superior ao físico como seria em Platão Descartes e outros filósofos como também o físico não seria melhor que o intelecto para os empiristas O ser humano para sua existência ontológica necessita do corpo que de pende de ambos os lados psíquico e físico Este é um fator inovador da feno menologia de MerleauPonty pois diferente da de Sartre o homem enquanto um corpo faz parte do mundo enquanto também é um objeto presente nele Para uma explicação mais abrangente do conceito de corpo o filósofo descreve dois conceitos estruturais desta relação consciência perceptiva e consciência representativa Conforme Chauí 1989 p 11 consciência per ceptiva é solidária com o corpo enquanto corpo próprio ou vivido manei ra pela qual nos instalamos no mundo ganhando e doando significação A consciência perspectiva capta as percepções do homem no mundo a partir de sua capacidade intelectiva criando assim um conhecimento representativo que insere significação no mundo Digamos assim que duas consciências trabalham juntas uma cria o co nhecimento a partir das coisas captadas pela consciência enquanto a outra representa esse conhecimento em significado Entretanto o fato principal é que o sujeito se descobre como consciência quando introduz significado no mundo assim inserir significado é um movimento duplo de conhecimento e autoconhecimento da consciência para MerleauPonty a existência é sernomundo isto é certa maneira de enfrentar o mundo Mas esse sernomundo é anterior a contraposição entre alma e corpo entre o psíquico e o físico A interpretação causal das relações entre alma e corpo é rejeitada por MerleauPonty Ele vê nessa relação muito mais uma dualidade dialética de comporta mentos Ou melhor alma e corpo indicam níveis de comportamento do homem dotados de significado diverso Fonte Reale e Antiseri 2006 p 233 explorando Ideias UNICESUMAR 147 A consciência intencional se dá em junção com o corpo assim o corpo ao mesmo tempo que capta o objeto no mundo percebese no mundo O corpo é uma qualidade que se verifica na relação de um elemento com ele mesmo denominado Chauí 1989 como reflexividade assim o corpo é um visível que se vê um tocado que se toca um sentido que se sente CHAUÍ 1989 p 11 Em outras palavras consiste que o corpo possui uma certa ambiguidade que ao tocar um objeto percebese como ser que toca e ser que é tocado ao mesmo tempo isto é para MerleauPonty a reflexibilidade Essa capacidade de autorreconhecimento denominada de reflexividade é um fator contribuinte para a superação da dicotomia entre corpo e alma visto que mostra a necessidade da indissociabilidade dos dois tenho cons ciência do objeto ao mesmo instante que tenho consciência de ter um corpo O corpo e minha mente são um só não há como a mente existir separada do corpo ou o corpo existir sem a mente Dessa maneira o corpo é interpretado como uma expressão de sentidos porque é a fusão da consciência e do corpo numa relação inquebrável O corpo nas suas ações com o mundo demonstra sua capacidade de modificálo e criar toda uma sociedade e cultura O corpo abandona o status de ser passivo para ser um sujeito ativo em relação com os outro e o mundo Chauí 1989 p 12 afirma que a ciência e a filosofia da consciência são incapazes de mostrar a possibilidade da relação entre intersubjetiva na medida em que para a primeira cada um é um amontoado de ossos carne san gue e pele que se iguala a um autômato a uma coisa ou matéria inerte enquanto para a segunda é um eu penso único e total não havendo como sair de si encontrar o outro MerleauPonty vai contra essas duas noções descrita por Chauí contra uma ciência que vê o corpo apenas como amontoado de carne e contra a filo sofia que resume o homem somente ao eu pensante Para o filósofo o corpo é uma fonte dos sentidos porque em nossas ações está presente também o pensamento como por exemplo o olho olhando a mão gesticulando e o pensamento pensando Qualquer gesto humano é também um pensamen to não levanto minha mão sem pensar em levantála Antes disso levanto minha mão por pensar em levantála penso para agir não há ação sem um pensamento por trás UNIDADE 4 148 O pensamento consciência sempre esteve associado às ações que são reali zadas pelo corpo conceber o homem de forma dicotômica é um erro da ciência e da filosofia para MerleauPonty O sujeito que se vê não pode ser pensado fora do mundo já que isso implicaria em estar separado de seu corpo que está no mundo assim a filosofia deve pensar o homem numa relação direta com o mundo em que ambos consciência e corpo participam do mundo A reflexividade permite ao sujeito tomar consciência do que é o visível e também o vidente Portanto nossos gestos não são mecânicos eles possuem em si mesmo o pensamento A ideia de MerleauPonty é que em todas as ações do nosso corpo está constituída também o pensamento não há como desassociar os movimentos e expressões do nosso corpo do pensamento Por exemplo não é o fato de pensar em um ato de fúria que me lembrarei dos sentimentos de fú ria mas que o próprio ato é a própria fúria não é possível apenas pensar para vivenciar é necessário viver o ato para lembrar dele Dessa maneira as ações humanas são uma realização do corpo e da consciên cia que explodem em linguagem corporal É com o meu corpo que crio a histó ria da humanidade a cultura de uma sociedade é forjada a partir da linguagem corporal o corpo é a primeira instância de expressão de sentidos no mundo os gestos vêm antes da linguagem É somente pela experiência corporal que é pos sível trabalhar o mundo vivido já que primeiro vem o corpo inserindo sentido na realidade para depois vir a ciência e a filosofia frutos da linguagem corporal Para MerleauPonty a consciência intencional de Husserl está submersa na relação com o mundo vivido tudo que o homem realiza está em relação com o tempo espaço ou melhor ao mundo vivido Já que a consciência e o corpo formam uma única coisa que é o homem um ser ontologicamente constituído pela sua sensibilidade corpo e sua inteligência consciência logo será o corpo dentro do mundo que explicará a existência humana sem o corpo não haveria história nem muito menos as relações sociais Podemos concluir nesta aula dizendo que na ontologia merleaupontyana não há duas realidades do conhecimento espiritual e carnal mas que é marcada pela junção da consciência no corpo como foi dito com o enraizamento da consciência no corpo É a partir desta nova concepção de corpo que será traçada a fenomenologia de MerleauPonty num perfil mundano e histórico introduzindo a nossa existência corporal como o combustível de todas as situações humanas UNICESUMAR 149 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa nesta unidade você teve contato com algumas filoso fias que são fundamentadas na ontologia Em resumo você aprendeu que a ontologia é um estudo do ente ou seja uma parte da filosofia que dedica seu tempo para investigar o ser tanto físico quanto espiritual Algo que também era inicialmente realizado pela metafísica entretanto com o passar do tempo tornouse algo específico da ontologia Diferentemente da metafísica que procura investigar tudo aquilo que está para além do plano físico a ontologia foca sua atenção no ser ela e seu estudo são dirigidos para as questões fundamentais do ser Como foi possível observar no início da unidade quando descrevemos que a teologia é definida como o estudo das coisas divinas a metafísica fica com as coisas referente às essências do ser entretanto junto com a metafísica está a ontologia nesse estudo dos seres que não são divinos Dessa forma as filosofias que surgem no século XX com a filosofia da existência iniciada por Martin Heidegger procurariam estabelecer seus fun damentos numa ontologia que procura compreender o sentido do ser Porém essa corrente filosófica não trata do ser em geral mas do homem como o ente que é capaz de perceber a si mesmo e os outros entes do mundo Seguindo este caminho os filósofos Sartre e MerleauPonty criam suas filosofias feno menológicas numa tentativa de descrever o sentido do ser humano em suas relações intrínsecas com o mundo Esse conjunto de filosofias fenomenológicas proporcionou para a con temporaneidade uma vasta reflexão sobre o papel do homem no mundo principalmente na questão da relação do homem com sua situação no mun do A ontologia fenomenológica tentou revelar para o mundo as angústias e ambições desse ente possuidor de uma consciência perceptiva do mundo Portanto podemos concluir que ontologia sempre teve o objetivo de revelar os fundamentos do ente e que na contemporaneidade conseguiu desvendar o homem para o próprio homem 150 na prática 1 Para Mora 1990 p 578 por meio do nome ontologia se designa el estudo de todas as questões que afetam o chamado cerne do ente o conhecimento dos fundamentos supremos das coisas A partir do seu conhecimento sobre ontologia e do comentário de Mora assinale a alternativa correta a A ontologia junto com a teologia procura estudar os princípios dos entes divinos b A ontologia estuda o ente em seus aspectos essenciais com o intuito de explicar quais são os fundamentos que justificam a existência do ente c A ontologia faz parte da lógica matemática sendo assim tratada como um es tudo dos princípios matemáticos como a origem dos números d A metafísica ganha o nome de ontologia na Idade Moderna entretanto perma nece a mesma descrita nos livros de Aristóteles e Ontologia metafísica e teologia são três formas de ciência que estudam as mes mas coisas porém mudam a terminologia conforme a corrente filosófica 2 Durante século XVIII a ontologia adquire uma nova concepção dentro da filosofia agora ela é considerada a disciplina que trabalha o ente em seus fundamentos es senciais sendo diferente da teologia e metafísica Com base neste anunciado quais das afirmações abaixo estão corretas I A ontologia adquire o status de ciência diferente da metafísica quando São Tomás de Aquino a coloca como a ciência que trata dos fundamentos dos seres físicos não podendo opinar sobre os seres divinos II A partir do século XVIII alguns autores começaram a definir que a ontologia é diferente da lógica analítica Com isso procuraram vincular a ontologia à teoria do conhecimento com o intuito de criar um novo postulado da razão como ocorreu na Grécia Antiga III William Wolff é um filósofo que influenciou o conceito de ontologia que conhece mos hoje Este filósofo percebeu que mesmo dentro do senso comum os prin cípios essenciais que caracterizam os seres entes permaneciam os mesmos Diante disso dedicouse por sistematizar a ontologia em uma ciência definindo seu conceito como a arte que trabalha os fundamentos do ente definição que é utilizada até na contemporaneidade 151 na prática IV Metafísica e ontologia são duas coisas completamente diferentes Desde Aris tóteles quando o filósofo grego determina que metafísica será a ciência do ente enquanto ente acaba por colocar a ontologia como a arte que cuida dos fenômenos da natureza Assim enquanto a metafísica cuidava dos princípios primeiros do conhecimento a ontologia realiza um estudo aprofundado dos acontecimentos naturais Assinale a alternativa correta a Apenas I e III estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 3 Segundo Beaufret 1976 p 22 a filosofia de Heidegger é baseada no conceito de homem em situação que pode ser resumida como o sentimento abrupto de se encontrar aí sem nada de ter feito para isso A partir desse enunciado assinale a alternativa correta a O conceito de homem em Heidegger está interligado com a concepção platôni ca de conhecimento verdadeiro Com isso não é possível falar em homem em situação dentro da história universal para Heidegger mas sim de um homem inteligível numa realidade suprassensível como em Platão b O homem ganha em Heidegger uma definição como seraí que significa ser em situação Em outras palavras significa que o homem está numa comple ta relação com o mundo não podendo ser pensado fora deste Dessa forma Heidegger também define o homem como sernomundo um ser que está ontologicamente e fundamentalmente ligado numa relação com sua situação histórica no mundo c O homem em Heidegger é descrito como o ser das lonjuras que está sempre em uma transcendência perpétua com sua consciência Portanto longe de qualquer relação com o mundo 152 na prática d O conceito de angústia em Sartre está completamente ligado à liberdade hu mana É com a angústia que o homem percebe a responsabilidade que acom panha a liberdade e Angústia em Heidegger está relacionada à apreensão do nada É com a angústia que o homem consegue ter a percepção do nada que é o material de estudo da metafísica 4 O existencialismo ateu que eu represento é mais coerente Ele declara que se Deus não existe há pelo menos um ser em quem a existência precede a essência um ser que existe antes de poder ser definido por algum conceito e que este ser é o homem ou como diz Heidegger a realidade humana SARTRE 2009 p 619 A partir do comentário de Sartre assinale Verdadeiro V ou Falso F Dentro do existencialismo ateu de Sartre a ideia de destino ou essência humana não existe Dessa maneira Sartre descreve que o fundamento ontológico do homem é a liberdade que possibilita o homem vir a ser o que ele quiser ser em outras palavras o homem sartreano é o que ele faz de si mesmo Sartre não conhece sua filosofia dentro de uma visão cristã entretanto descreve o homem como estando ligado a um destino que não interfere diretamente em sua liberdade resguardando o que Santo Agostinho uma vez denominou como livrearbítrio A liberdade humana é o fundamento da relação do homem com o mundo pois ela dá movimento ao homem Sem a liberdade o homem seria como as outras coisas do mundo paradas estagnadas definidas determinadas etc A liberdade é a característica que fundamenta o homem como o ser de ação em busca de sua essência Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 153 na prática 5 O conceito de ontologia ao longo da história da filosofia adquire vários significa dos porém mantendo sempre uma única característica o fato de ser um estudo do ente Assim durante o século XX a ontologia ganha espaço dentro das filosofias existenciais e fenomenológicas de pensadores como Martin Heidegger JeanPaul Sartre e Maurice MerleauPonty Diante disso podemos afirmar que a ontologia ganha um significado específico para cada um desses autores Assinale Verdadeiro V ou Falso F A ontologia para MerleauPonty possui a característica única de ser um o enrai zamento da consciência no corpo É a partir da concepção de uma consciência e de um corpo unidos que o filósofo traça a fenomenologia introduzindo a nossa existência corporal como o combustível de todas as situações humanas Para Sartre a liberdade humana é o fundamento ontológico do homem que garante a capacidade de ser definido ou confundido com um emsi e também o que permite o homem a agir sobre o mundo A metafísica para Heidegger passa a ser disposição do homem enquanto ser que possui a capacidade de interrogar o mundo ou melhor de perceber o mundo a sua volta e ser capaz de questionálo Assinale a alternativa correta a V F F b F F V c V F V d F F F e V V V 154 aprimorese Confira o comentário de JeanPaul Sartre acerca da concepção ontológica de ho mem dentro de sua filosofia O existencialismo ateu que eu represento é mais coerente Ele declara que se Deus não existe há pelo menos um ser em quem a existência precede a essência um ser que existe antes de poder ser definido por algum conceito e que este ser é o homem ou como diz Heidegger a realidade humana Que significa dizer que a existência precede a essência Significa que o homem primeiro existe se encontra surge no mundo e que se define depois O homem tal como o existencialista o con cebe se não é definível é porque de início ele não é nada Ele só será em seguida e será como se tiver feito Assim não há natureza humana pois não há Deus para concebêla O homem é não apenas tal como ele se concebe mas como ele se quer e como ele se concebe depois da existência como ele se quer depois desse impulso para a existência o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo Tal é o primeiro princípio do existencialismo É também o que se chama a subjeti vidade e que nos reprovam sob esse mesmo nome Mas que queremos dizer com isso senão que o homem tem mais dignidade que a pedra ou que a mesa Pois nós queremos dizer que o homem primeiro existe isto é que ele é de início aquele que se lança para um porvir e que é consciente de se lançar no porvir O homem é de início um projeto que se vive subjetivamente ao invés de ser um musgo uma po dridão um couveflor nada existe antes desse projeto nada está no céu inteligível e o homem será aquilo que ele tiver projetado ser Não o que ele quiser ser Pois o que entendemos vulgarmente por querer é uma decisão consciente e que é para a maior parte de nós posterior àquilo que fizemos de nós mesmos Posso querer aderir a um partido escrever um livro casarme tudo isso é uma manifestação de uma escolha mais original mais espontânea do que aquilo que chamamos vontade Mas se verdadeiramente a existência precede a essência o homem é responsável por aquilo que ele é Assim o primeiro passo do existencialismo é colocar todo ho mem de posse daquilo que ele é e fazer cair sobre ele a responsabilidade total por sua existência Fonte Sartre 2009 p 619620 155 eu recomendo Sartre e a literatura engajada espelho crítico e consciência infeliz Autor Thana Mara de Souza Editora Edusp Sinopse JeanPaul Sartre não foi somente um filósofo também escreveu grandes obras de literatura Dessa forma sua filosofia existencial também percorre as páginas de sua literatura Nesta obra Thana Mara de Souza procura mostrar que dentro da ambiguidade da fic ção Sartre também consegue abordar as questões da existência humana livro Asas do Desejo Ano 1987 Sinopse o filme conta a história de dois anjos na gelada Berlim Durante suas caminhadas em meio às multidões de humanos Demiel e Cassiel começam a perceber o calor das relações huma nas a esperança que pulsa firme nas ações de cada ser humano Demiel um dia apaixonase por uma jovem humana observan do o calor dos outros casais Demiel começa a desejar experi mentar a existência humana filme Para mais detalhes sobre a filosofia existencial do século XX assista o vídeo in titulado A ética necessária responsabilidade e solidariedade do Prof Franklin Leopoldo e Silva feito pelo grupo Café Filosófico CPFL httpswwwyoutubecomwatchvdFRMFAgBLpQ conectese anotações anotações 5 CRÍTICA À METAFÍSICA PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Crítica à Metafísica A crítica de Marx à metafísica Friedrich Nietzsche e a crítica à metafísica Feuerbach e a reforma da filosofia OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Entender como foi fundamentada a crítica à metafísica Compreender a crítica de Marx à metafísica Conhecer as críticas de Nietzsche à metafísica Examinar a reforma da filosofia de Feuerbach PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa esta unidade tem por objetivo apresentar de forma breve a crítica à metafísica que foi desenvolvida com intensidade na modernidade e pósmodernidade Entretanto nosso foco está voltado para os filósofos pertencentes a estes períodos em especial Karl Marx Friedrich Nietzsche e Feuerbach É com tais pensadores exploraremos a crítica à metafísica desenvolvida pela filosofia Na primeira aula apresentaremos uma definição breve do que é a crítica à metafísica O intuito desta aula é contextualizar você alunoa para o cenário crítico filosófico que se estende sobre a metafísica as sim preparandooa para explorar as filosofias de Karl Marx Friedrich Nietzsche e Feuerbach que estão expostas nas aulas seguintes Na segunda aula abordaremos a filosofia de Karl Marx que se dedica a uma crítica ao espírito alemão procurando expor que a forma de fazer filosofia a partir de Hegel tomou um caminho que não condiz com a realidade humana Dessa forma Marx procura ir para além da meta física criando uma filosofia estruturada a partir da história humana Na terceira aula estudaremos a crítica de Nietzsche que tem como objetivo demolir o conceito de verdade metafísica Com isso explorare mos como Nietzsche expõe os malefícios da verdade dentro da história da filosofia Na quarta e última aula exploraremos de forma breve a reestruturação da filosofia feita por Feuerbach que apresenta uma outra perspectiva crítica à metafísica Assim estudaremos três filosofias importantes do Ocidente que criticam a metafísica Esta unidade portanto faz uma apresentação de como são desenvolvidas as filosofias contrárias a metafísica não de maneira extensa mas de uma forma essencial para você graduandoa em filosofia Boa leitura UNIDADE 5 160 1 CRÍTICA À METAFÍSICA Caroa alunoa a metafísica tem uma longa história dentro da filosofia contendo diversas formas de ser abordada e explorada Nesta aula abordaremos a crítica à metafísica realizada em grande escala pelos filósofos do Período Moderno e Con temporâneo Para tanto explicaremos o que significa realizar uma crítica à metafísica O termo metafísica é originário do grego e significa aquilo que está para além do plano físico Durante a história da filosofia o significado do conceito metafísica foi utilizado pelos filósofos como o caminho de alcançar as verdades fundamentais da realidade humana Por coincidir com a proposta original da filosofia que é a procura pelo Saber mas não qualquer saber A filosofia busca um conhecimento verdadeiro que está por trás da origem de toda realidade humana Nesse sentido a filosofia está para além da ciência convencional uma vez que busca um conhecimento que não pode ser encontrado somente com a análise das coisas físicas Isso implica diretamente na sua relação com a metafísica pois essa arte também busca algo que não pode ser dado pela ciência entretanto o aspecto mais importante da filosofia e da metafísica está na procura constante por respostas que não são de importância para a ciência A filosofia é descrita como possuidora de uma postura crítica de adquirir conhecimento algo que também é presente na metafísica Se ambas porém são possuidoras de uma natureza crítica como explicar a origem da crítica à metafísica A crítica à metafísica surge quando a filosofia percebe que a UNICESUMAR 161 metafísica se torna estagnada e não parte para novas questões sobre a realidade Em outras palavras quando a metafísica passa a ser sistematizada e definida a partir de um padrão a ser repetido para de ser considerada algo interessante para a filosofia porque a metafísica padronizada perde o caráter crítico que é importante para filosofia O que é a metafísica A metafísica pode ser definida como a ciência do ente enquanto ente entretanto ela é para filosofia algo mais importante A metafísica é para filosofia uma ferramenta que possibilita a reflexão filosófica pensando juntos Sem o caráter crítico a metafísica não tem nenhuma utilidade para filosofia Para uma melhor conceitualização do que é a crítica à metafísica vejamos a explicação de Nascimento 2016 p 26 A abordagem da crítica à metafísica deve mostrar que a atividade de pensar deve ser compreendida e definida como algo para além da designação da própria metafísica este caráter da crítica à me tafísica não se confunde com propósito de aniquilar a metafísica a favor ou contra a filosofia Na citação anterior o autor quer mostrar que a metafísica não pode ser padro nizada A metafísica em si mesma sempre tem que ser superação de si Como a filosofia sempre é um reinventar dela mesma isso implica na relação entre am bas a filosofia é sempre uma superação de si mesma ao longo da história dessa maneira não poderia manter relação com uma metafísica parada num único modelo De acordo com Nascimento 2016 p 26 a metafísica é o meio com que o homem estabelece aquilo que tende a ser superado É isto que se quer dizer por exemplo em relação ao fato de Tales de Mileto ter sido caracterizado como o primeiro filósofo Tales toma emprestado o conceito de água e postula o caráter de unidade para ser condição de manter como todo a diversidade Com isso ele estabelece mecanismo de cientificidade para fazer valer nisso o poder abstrair da multiplicidade ao mantêla permanente na unicidade da totalidade esta abstração de totalidade UNIDADE 5 162 Na citação anterior podemos ver como a metafísica influencia o processo de reflexão filosófica Sem uma abstração metafísica não seria possível a Tales colocar a água como um princípio universal da origem das coisas da natureza A metafísica aparece no nascimento da filosofia como utensílio da filosofia para realização do pensamento filosófico Para uma melhor compreensão sobre o assunto Assista vídeo da Plataforma de Educa ção Anísio Teixeira intitulado A filosofia contemporânea e crítica a metafísica httppateducacaobagovbremitecdisciplinasexibirid7867 conectese Sem a abstração da metafísica Tales não teria realizado sua filosofia como também os outros pensadores présocráticos não teriam conseguido elaborar suas filosofias sem pensar para além da ciência atual deles O pensamento filosófico é marcado pela superação do raciocínio convencional e a metafísica possui a mesma característica Dessa forma a metafísica aparece como algo essencial para a filosofia pois sem a metafísica a filosofia não passaria de uma ciência A única coisa que transforma a filosofia nela mesma é sua incapacidade de separação com a metafísica como exemplo há momentos da história da filosofia que a me tafísica se relaciona com a matemática física geometria e psicologia Porém tais ciências podem existir livremente sem estar vinculadas necessariamente com a metafísica caso que não ocorre com a filosofia Por conseguinte podemos concluir que a crítica à metafísica se torna ne cessária quando não há uma superação dos padrões científicos ou filosóficos de uma época ou seja quando a filosofia e metafísica são coisas determinadas que não podem ser superadas pois acreditam que alcançaram o ápice de sua excelência Assim para sair dessa ideologia surge a crítica à metafísica para redescobrir os princípios essenciais da metafísica UNICESUMAR 163 Caroa alunoa para você conseguir compreender como ocorre a crítica à metafísica de uma maneira mais concreta estudaremos nesta aula a filosofia de Karl Marx uma vez que este realiza uma formidável crítica à filosofia e à metafísica alemã de seu tempo Karl Marx nasceu no ano de 1818 na cidade de Trier na Alemanha Seus estudos foram inicialmente motivados pela paixão pelas leis nutrida pela pro fissão de seu pai Heinrich Pressburg um advogado Entretanto anos mais tarde quando vai morar em Berlim opta por estudar Filosofia e não Direito No curso de filosofia alcança o grau de louvor na Universidade de Berlim sendo laureado com a tese Diferença entre filosofia da natureza de Demócrito e a de Epicuro Entretanto Marx não seguiu o caminho universitário como professor acabou como jornalista tornandose redator do jornal Gazeta Renana Seu trabalho foi reconhecido e em pouco tempo era redator chefe do jornal Por conflitos políti cos o jornal foi fechado assim Marx optou em se dedicar ao estudo de filosofia durante alguns anos para aprimorar seu pensamento 2 A CRÍTICA DE MARX À METAFÍSICA UNIDADE 5 164 Marx é sem dúvidas um dos maiores escritores de filosofia da história con tendo um vasto número de livros e artigos publicados Entre suas obras mais importantes estão Manuscritos econômicofilosóficos 1844 mas publicado em 1932 A ideologia alemã 1845 Manifesto do Partido Comunista 1848 e O Capital 1867 Em suas obras Marx apresenta uma nova forma de filosofia estruturada dentro do conceito de materialismo histórico porém um fator de grande importância é seu caráter crítico Segundo Reale e Antiseri 2005 o contexto filosófico da época de Marx era dirigido pelo pensamento de Hegel considerado o maior pensador alemão daquele período Com isso os intelectuais alemães tanto os da direita quanto os da esquerda que frequentavam as universidades disseminavam a filosofia e política hegeliana O pensamento de Hegel que perpetuava nas universidades acreditava que as instituições existentes como herança Estado classe social etc eram derivações de necessidades racionais do homem assim sendo conceitos filosóficos puros do entendimento humano Hegel enxergava o mundo de forma ideológica sem levar em consideração os fatos históricos Para Marx Hegel transformava dados históricos em conceitos metafísicos que impedem o desenvolvimento de uma reflexão social Com isso o pensamento dos jovens nas faculdades não ultrapassou a forma lidade do pensamento Eles procuraram criticar a injustiça social ou a inconfor midade com as leis do Estado num plano completamente abstrato não dentro da história Isso motivou Karl Marx a realizar uma crítica à metafísica ou seja mostrar que o caminho em que a filosofia hegeliana se encontra não possibilita a filosofia de exercer seu papel de filosofia enquanto arte crítica Podemos ver que a metafísica está aprisionada num formalismo ideológico a partir das palavras de Reale e Antiseri 2005 p 174 Por tudo isso também a esquerda hegeliana vê o mundo de cabeça para baixo o pensamento dos jovens hegelianos portanto é um pensamento ideológico como o de Hegel Escreve Marx Não veio à mente de nenhum desses filósofos procurar o nexo existente entre a filosofia alemã e a realidade alemã o nexo entre sua crítica e seu próprio ambiente material UNICESUMAR 165 Como podemos ver na citação os intelectuais alemães perderam a postura crítica da filosofia Assim quando procuraram uma justiça social para o povo oprimido seguindo uma justiça abstrata que trabalha somente dentro dos conceitos abs tratos não estão caminhando para uma crítica da sociedade mas somente para uma reflexão deslocada da situação histórica Toda a assim chamada história universal nada mais é do que a produção do homem pelo trabalho humano Karl Marx pensando juntos Segundo Marx a liberdade somente poderia ser alcançada do ponto de vista his tórico uma vez que é dentro da história que ocorre a opressão e a desigualdade Assim a esquerda hegeliana quando critica conceitualmente não provoca mudan ças dentro da história Para que ocorra uma mudança na sociedade alemã argumenta Marx que há a necessidade de uma nova filosofia que possua uma postura crítica dentro da histó ria Diante deste contexto Marx escreve a obra Ideologia Alemã em que apresenta suas principais críticas e respostas à filosofia hegeliana A obra Ideologia Alemã foi escrita em 1845 com o objetivo de apresentar que as ideias não são entidades abstratas mas criações baseadas na historicidade do homem As ideias são um produto da vida humana sendo criadas a cada ação hu mana ao longo da história Dessa forma voltar nossa atenção para a explicação de Marx a respeito da materialidade das ideias é partir para uma crítica à metafísica clássica e o idealismo alemão hegeliano O conceito de ideia está presente desde os primórdios da filosofia Em Platão por exemplo observamos claramente a utilização das ideias como conceitos su prassensíveis que tem como objetivo explicar a realidade física Com isso Platão cria uma divisão da realidade por um lado o sensível que é a cópia das ideias perfeitas que são existentes somente no outro lado o mundo inteligível Essa con cepção da realidade não é apenas exclusiva do pensador grego na modernidade Descartes também presume uma superioridade do intelecto sobre a sensibilidade UNIDADE 5 166 A recusa da história como um meio de análise da realidade não foi desenvol vida por muitos filósofos antes de Marx Por isso Marx 1985 p 103104 profere o seguinte discurso sobre a abstração da realidade Há razão para se espantar se abandonando aos poucos tudo o que constitui a individualidade de uma casa abstraindo os materiais de que ela se compõe e a forma que a distingue chegase a ter apenas um corpo e se abstraindo os limites deste corpo obtémse somente um espaço e se enfim abstraindo as dimensões deste espaço aca base por ter apenas a pura quantidade a categoria lógica À força de abstrair assim de todo objeto os pretensos acidentes animados ou inanimados homens ou coisas temos razão de dizer que em último grau de abstração chegamos às categorias lógicas como substância Assim os metafísicos que fazendo estas abstrações acreditam fazer análise e que à medida que se afastam progressivamente dos objetos imaginam aproximarse deles para penetrálos estes metafísicos têm por sua vez razão de dizer que as coisas aqui na terra são bordados cujo panodefundo é constituído pelas categorias lógicas Que tudo o que existe tudo o que vive sobre a terra e sob a água possa ser reduzido à força de abstração a uma categoria lógica que deste modo todo o mundo real possa submergir no mundo das abstrações no mundo das categorias lógicas quem se espantará com isto Como é possível ver na citação acima Marx critica essa postura dos metafísicos de acreditarem que são capazes de analisar a história humana por meio da abs tração metafísica A filosofia hegeliana apresenta uma interpretação diferente da metafísica tradicional entretanto ainda mantém uma distância considerável da história humana em suas análises Segundo Zanella A filosofia hegeliana acreditava que a metafísica era estrutu rada por meio da concepção que o mundo é a materialização da ideia Absoluta que se transformava na história toma consciência de si mesma e retorna ao Ab soluto ZANELLA 2004 p 1314 O que implica que a história por si mesma não tem autonomia sendo subordinada ao Absoluto metafísico Dentro deste contexto Marx procura criar uma nova filosofia baseada no conceito de materialismo histórico que é uma crítica direta a esse idealismo metafísico hegeliano No materialismo histórico não é a consciência que irá de terminar a história mas a história que irá determinar a consciência UNICESUMAR 167 Se antes descia do céu a determinação da consciência agora tal determi nação irá subir da terra em direção ao céu É o homem enquanto situacional dentro de suas ações históricas na sociedade que irá determinar tanto a sociedade quanto sua maneira de pensar Dessa forma o importante é compreender como é essa história que este homem está inserido para entender sua consciência e o Estado que o governa O importante é saber os fatos que envolveram a situação que o homem está inserido em completa oposição à filosofia alemã a qual desce do céu à terra aqui sobese da terra ao céu Isto é não se parte daquilo que os homens dizem imaginam ou se represen tam e também não dos homens narrados pensados e imaginados representados para daí se chegar aos homens em carne e osso Karl Marx pensando juntos Para Marx o fator humano que diferencia o homem dos outros animais é o trabalho O homem é o único ser no mundo que tem a capacidade de pensar e imaginar tudo aquilo que irá fazer antes de iniciar suas atividades Os outros animais não possuem esta capacidade imaginativa eles simplesmente cons troem sem ter consciência do que estão a construir Marx O Capital secção III cap V apud REALE ANTISERI 2005 p 178 em suas palavras descreve esse ato da seguinte forma Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor das abelhas é que ele figura na mente sua construção antes de transformála em realidade No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador Ele não transfor ma apenas o material sobre o qual opera ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade E essa subordinação não é um ato fortuito Além do esforço dos órgãos que trabalham é mister a vontade adequada que se manifesta através da atenção durante todo o curso do trabalho UNIDADE 5 168 Na passagem anterior fica bem retratado como o trabalho é uma atividade in trínseca ao homem O homem dentro da história utiliza o trabalho para criar toda a sociedade o que ele idealiza em imaginação cria por meio de suas mãos pelo trabalho Assim para Marx fazer filosofia tem que ser buscar uma inter pretação de como as relações humanas de produção trabalho transformam a natureza e criam a sociedade Segundo Zanella 2004 a análise marxista da realidade humana não pro cura primeiramente determinar quem é o homem mas busca compreender como o homem se constrói historicamente Para o filósofo é dentro da práxis que a vida humana é revelada dessa maneira os mistérios metafísicos também são resolvidos dentro da práxis É a ação humana que constrói todo o mundo Devemos lembrar que é a vida humana que determina a consciência do ho mem Entretanto temos que nos perguntar como isso ocorre dentro da filosofia de Marx Como a vida determina a consciência humana Para responder a esta pergunta Karl Marx faz uso de quatro premissas que justificam a vida como o ponto de partida para o pensamento humano A primeira premissa consiste que viver implica necessariamente criar con dições de se manter vivo Isto é viver implica ter que providenciar alimento proteção casa vestuário formas de manter a saúde em dia entre outras coisas Isso mostra que para estar vivo o homem necessita produzir e criar condições para manterse vivo Então a história tem início com a necessidade humana de produzir recursos para ter uma condição favorável para vida Logo o ato histórico está interligado com a própria condição humana de ser vivo que biologicamente necessita de várias coisas para manter sua existência Ou como diz Marx a produção material em prol da vida é um ato histórico uma condição fundamental de toda a História que ainda hoje tal como há milhares de anos tem de ser realizado dia a dia hora a hora para ao menos manter os homens vivos MARX 1984 p 3031 A segunda premissa é descrita como a necessidade humana de satisfazer suas vontades que não ficam apenas presas nas necessidades fisiológicas do corpo Mas as vontades e desejos que vão para além do necessário o anseio por satisfazer tais vontades leva o homem a uma eterna produção material que consequentemente vai criando a história UNICESUMAR 169 A história vai caminhando conforme o homem procura satisfazer suas von tades Pegamos como exemplo a vontade humana de conhecer o desconhecido Num primeiro momento da humanidade a busca pelo desconhecido levou o homem a descobrir as Américas depois a pisar na lua agora o homem parte para desbravar Marte e outros planetas Na busca por satisfazer sua curiosidade o homem criou as civilizações nas Américas criou também toda uma história aeroespacial para conquistar a lua Aquilo que eles são coincide portanto com a sua produção com o que produzem e também com o como produzem Aquilo que os indivíduos são depende portanto das condições materiais da sua produção Karl Marx pensando juntos Marx vai um pouco mais longe em sua análise dizendo que o homem é um ser diferente do animal porque cria inventa necessidades Sendo assim as ações humanas em busca de suprir suas mais diversas necessidades é um ato legítimo da produção da história A terceira premissa é relacionada à construção dos relacionamentos sociais Diferente dos animais que procriam conforme seu instinto o homem cria o meio familiar e social conforme trabalha Dessa forma o homem é um produtor não apenas de meios materiais mas também de conceitos culturais ideológicos A quarta e última premissa tem a ver com a linguagem Dentro de um modo de produção material o homem inevitavelmente acaba por se relacionar com outros homens assim vê a necessidade de criar uma linguagem para manter suas relações sociais A consciência humana nasce junto com a linguagem com a tomada de consciência que é necessária para um relacionamento com os outros indivíduos para manter os meios de produção ativos Aqui podemos responder à pergunta feita anteriormente como a vida determina a consciência humana A vida irá determinar a consciência humana conforme sur gem as necessidades de manter a produção de materiais para a existência do homem Quando essa produção evolui e depende de outros indivíduos a consciência humana tomará consciência de si Como diz Marx 1984 p 3334 a consciência é pois logo desde o começo um produto social e continuará a sêlo enquanto existem homens UNIDADE 5 170 Diante de tudo que foi exposto sabemos o que é o materialismo histórico de Marx Em poucas palavras é uma análise feita a partir do trabalho humano como produção material e cultura Porém não vimos como a ideologia nasce dentro do processo histórico para que seja necessária uma crítica à ideologia Para tanto analisaremos de forma breve o conceito de ideologia em Marx Para Marx a melhor forma de se compreender uma sociedade é através do meio de produção desta É pelo meio de produção que toda a sociedade será estru turada tanto economicamente quanto culturalmente Sem uma noção completa do trabalho dentro da sociedade não é possível ter um esclarecimento da realidade Quando um filósofo busca realizar uma reflexão da sociedade deve primeiro saber como é a divisão do trabalho na sociedade que está inserido Como salienta Zanella 2004 p 19 o ponto fundamental é o conhecimento sobre as relações de trabalho na história da humanidade Sem tal conhecimento não é possível entender o momento de surgimento das ideologias nem também qual o papel do serviço intelectual na sociedade De acordo com Marx 1984 p 35 A divisão do trabalho só se torna realmente divisão a partir do momento em que surge uma divisão do trabalho material e espiri tual A partir deste momento a consciência pode realmente darse à fantasia de ser algo diferente da consciência da práxis existente de representar alguma coisa sem representar nada de real a partir deste momento a consciência é capaz de emancipar o mundo e pas sar à formação da teoria pura da teologia da filosofia da moral etc Como é dito na citação é no momento da divisão do trabalho que surgem as atividades que vão tratar dos assuntos abstratos Os indivíduos pertencentes a este grupo de trabalho espiritual serão os encarregados de elaborar os conceitos as normas e a ideologia da sociedade Para Marx quando esta divisão do trabalho é estabelecida também é es tabelecida a ideologia dominante que guiará todas as relações sociais porque as ideias ganham o status de serem superiores a práxis ou melhor superior ao trabalho físico Logo o quadro é invertido não é mais a ação histórica que molda a consciência mas as ideias abstratas UNICESUMAR 171 Como resultado disso as classes dos trabalhadores da sociedade tor namse alienadas presas dentro das regras e padrões sociais impostos por uma classe de pessoas que justificam suas ações de uma ideologia e não pelo trabalho humano Como vimos Marx foi um grande crítico dos estudantes hegelianos pois estes possuíam a atitude de tentar analisar a sociedade por conceitos mas não realizar uma análise por meio da história como fundamento da consciência humana Tal pensamento hegeliano salienta Marx é fruto da incompreensão da divisão do trabalho na sociedade Enquanto os intelectuais não olharem para a história como um fruto vin do do trabalho humano que acontece dentro do mundo por meio da ação humana não iram conseguir entender que suas análises abstratas do Absoluto são incoerentes com os fatos da sociedade que estão inseridos Esta é a crítica marxista para metafísica como também para filosofia porque ambas ficaram presas num formalismo conceitual que deixaram escapar o principal aspecto delas que é a capacidade de superação Portanto a metafísica e a filosofia he geliana que estavam na moda no tempo de Marx esqueceram de ir para além de si mesmas para alcançar uma compreensão da realidade Marx apresenta com o materialismo histórico uma crítica a esse forma lismo conceitual da filosofia da época Porém não consegue apontar uma superação eficaz da dominação ideológica na sociedade visto que tal coisa somente seria possível com a eliminação da divisão do trabalho com a im plantação de uma sociedade comunista Por fim para concluir esta aula devemos lembrar de três pontos importan tes O primeiro que uma crítica à metafísica consiste na quebra da estagnação da mesma isso significa lembrar a própria metafísica que ela não pode ser padronizada nem formalizada como as ciências Ela é sempre uma forma de análise que busca reflexões para além de si mesma como é a filosofia O segundo ponto consiste que Karl Marx desenvolve uma filosofia que trata do homem como um agente histórico através dos meios de produção trabalho Por último que a crítica à metafísica hegeliana feita por Marx é uma forma de superar a ideologia ou formalização que a metafísica tinha sofrido pelos hegelianos de seu tempo UNIDADE 5 172 Friedrich Nietzsche nasceu em 1844 numa cidade próxima à Lutzen na Ale manha Como alguns dos grandes filósofos sua formação não é em filosofia Nietzsche estudou filologia uma arte que procura compreender e estudar lín guas antigas que hoje em dia aparece como disciplina nas graduações de Letras Depois de sua formação foi convidado a lecionar na Universidade de Basiléia Durante sua estada em Basiléia teve contado com Richard Wagner um notó rio maestro e compositor de peças teatrais da Alemanha Nietzsche teve grande influência do pensamento de Wagner em suas primeiras obras principalmente em O nascimento da tragédia 1872 porém mais tarde rompe amizade com Wagner Em 1879 devido a motivos particulares e de saúde Nietzsche deixa de lecionar na Universidade dando início a suas viagens pela Europa que marcam sua vida como espírito livre Nietzsche entre os filósofos tem a postura mais crítica e áspera da história da filosofia A crítica de Nietzsche é abrangente a toda metafísica para ele toda a história da filosofia faz uma interpretação errônea da realidade Culpa disso é da metafísica que enquanto uma tese que desmerece a realidade física como podemos ver claramente em Platão com a Teoria das Ideias acaba mais por atrapalhar a filosofia do que ajudar porque dá ênfase para uma concepção de mundo abstrato que é incoerente com o real 3 FRIEDRICH NIETZSCHE e a crítica à Metafísica UNICESUMAR 173 Diante disso nesta aula exploraremos como Nietzsche desenvolve seu pen samento crítico da metafísica que é justificado pela premissa de uma necessi dade de retorno à vida terrena Para tanto investigaremos três momentos no pensamento nietzschiano no primeiro momento tentaremos compreender o que é a metafísica para Nietzsche no segundo apresentaremos de forma breve sua crítica à filosofia clássica e moderna no terceiro mostraremos como que a filosofia de Nietzsche é a superação da metafísica A história da filosofia é marcada por uma busca incessante pela verdade Não importa o momento histórico a busca pela verdade é sempre retomada como observamos com Sócrates filósofo grego e com Descartes filósofo moderno Logo não houve um único filósofo que não buscou uma verdade metafísica capaz de sustentar toda a realidade Para Nietzsche o problema da filosofia tem início nesta busca constante pela verdade metafísica A verdade é o que estaria matando toda a filosofia a verdade seria como um remédio ruim que em vez de curar o paciente está na verdade matandoo aos poucos O mais interessante ou o ponto máximo da construção do pensamento nietzschiano é a afirmação e exaltação da vida É partindo desta postura e negando aquilo que é contra ella que Nietzsche subverte toda a crença na ciência na filosofia e na religião Tal atitude coloca por terra alguns dos principais pilares daquilo que era considerado como verdade na sociedade moderna Para Nietzsche tudo aquilo que até então tinha sido contemplado como verdade passa a ser visto como mentira o que conhecemos como verdade é apenas o valor metafísico vulgarizado Assim a questão da verdade se apresenta como um dos pontos mais interessantes dentro da obra do filósofo alemão Fonte Grünewald 2013 p 5 explorando Ideias Nietzsche porém argumenta que a sociedade grega antes de Sócrates possuía uma harmonia que não encontramos mais mas que era capaz de compreender melhor a realidade do que a racionalidade moderna Para ele os gregos antigos com seus mitos e tragédias eram dotados de uma compreensão real do mundo Algo que a metafísica não é capaz de alcançar Nietzsche nomeia isso como a conciliação entre caráter racional e caráter instintivo UNIDADE 5 174 Quando Nietzsche escreve O nascimento da tragédia procura apresentar sua tese de que uma sociedade baseada na arte é uma melhor forma de compreensão da realidade Para ele somente a sociedade présocrática possuía essa qualidade pois os gregos entendiam que a vida não é completa felicidade mas sim uma tragédia repleta de dor e destruição Essa compreensão faz com que a arte trágica grega conseguisse transformar o horror da vida em algo belo Diante disso Nietzsche faz referência aos deuses grego Apolo e Dionísio O deus Apolo é descrito como o senhor da racionalidade aquele que tem a har monia em si mesmo nada de exageros ou extravagância O oposto de Apolo é Dionísio que é marcado pela embriaguez aquele que faz uso de sua instintividade de maneira mais densa em outras palavras Dionísio é o ser que vive seus instintos naturais Assim enquanto Apolo é ligado à razão Dionísio é ligado à natureza às vontades animalescas do homem Segundo Reale e Antiseri 2005 o espírito da sociedade grega présocrática está ligado ao espírito dionisíaco em que a humanidade está ligada fortemente com a natureza com seus instintos Entretanto a humanidade também possui seu lado racional que é representado pelo espírito apolíneo que é a moderação diante do exagero do dionisíaco A arte grega somente conseguiu alcançar um grau de compreensão excelente da sociedade porque vivia em harmonia com o espírito dionisíaco e espírito apolíneo O surgimento da filosofia para Nietzsche é algo danoso para os gregos A inven ção da verdade por via metafísica causa o rompimento com os espíritos dionisíaco e apolíneo O fim da compreensão real do mundo acontece então quando o milagre metafísico ganha vida a partir de Sócrates De acordo com Grünewald 2013 p 78 A dissociação entre Apolo e Dionísio gera um problema a cisão en tre os dois espíritos transforma toda a vida em superficialidade faz desmanchar a relação do homem com o homem do homem com a natureza e do homem com os instintos Perdese uma parte da vida Nietzsche enxerga que a metafísica clássica de Platão e Aristóteles como dois grandes empecilhos para a filosofia Quando Nietzsche faz essa leitura dos gregos procura adaptála para o contexto filosófico do século XIX porque as filosofias platônicas e aristotélicas disseminaram a ideia de que toda forma de conheci mento tem que ser embasada numa verdade metafísica UNICESUMAR 175 Com isso o ato de fazer ciência é definido como uma busca por uma verdade eterna e imutável O que excluía outra possibilidade de forma de interpretação da realidade Isso ocorre em toda filosofia medieval e grande parte da filosofia moderna Dessa maneira a filosofia ao longo da história não caminhou adiante depois de Sócrates apenas ficou estagnada atrás dessas verdades imutáveis sem olhar para o mundo em si mesmo Para Nietzsche a forma correta de interpretar o mundo é pelo contingente tal como é a mitologia que expressa o entrelaçamento entre instinto natural e razão O mundo não pode ser determinado ou previsto pela racionalidade ele escapa de qualquer forma de determinação O mundo é como retrata Herá clito um eterno viràser que está em mudança e conflito o tempo todo Por isso a verdade do mundo não pode ser eterna pois iria em contradição com a essência do mundo a vida do homem também é baseada em incertezas A vida do homem é rodeada de reviravoltas que a racionalidade não pode prever O homem está sujeito à tragédia e à tristeza mesmo planejando en contrar a felicidade ou o Bem Supremo não há garantias de conseguir o mais provável para Nietzsche é que o homem sofra e não consiga alcançar esse tão cobiçado bem eterno Ressalta Grünewald 2013 p 8 que Na concepção do autor Nietzsche a filosofia transformou tudo em um modelo específico e restrito de racionalidade e o mito acabou por ser em grande medida desconsiderado A ciência queria olhar para a realidade e tirar dali uma interpretação final e lógica Esse tipo de pensamento deixou que se perdesse algo com relação à vida Isto porque na passagem da Grécia mítica para o período da análise racional lógica o espírito apolíneo prevaleceu e o dionisíaco foi severamente reprimido Nesse sentido então o rompimento com um dos lados criou o cenário de abandono da vida Não é mais possível compreender a instintividade humana numa realidade onde apenas a racionalidade apolínea é utilizada O declí nio da filosofia grega toma conta de toda história da filosofia chegando aos modernos pelo sonho do mundo racional desassociado da sensível natural Reale e Antiseri ao comentarem Nietzsche descrevem esse declínio da filosofia com belas palavras UNIDADE 5 176 a mais crua luz diurna a racionalidade a qualquer custo a vida clara prudente consciente e sem instintos em contraste com os ins tintos isso era apenas doença diferente e de modo nenhum retor no a virtude saúde e felicidade Sócrates apenas esteve longamente doente Disse não à vida abriu uma época de decadência que esmaga também a nós Ele combateu e destruiu o fascínio dionisíaco que liga homem a homem e homem a natureza e desvela o mistério do uno primigênio REALE ANTISERI 2005 p 8 O comentário dos autores reforça essa ideia de que a verdade metafísica matou a interpretação da vida pela filosofia Podemos então dizer que somente a racionali dade sozinha não consegue dar conta da complexidade do homem para Nietzsche ela é somente metade da natureza humana O homem em sua própria descrição é um animal racional O que implica que possui um lado sensível e outro racional basear a interpretação do mundo somente num dos lados é ver somente metade do homem A crítica nietzschiana não é somente direcionada à filosofia mas também ao cristianismo Para Nietzsche o cristianismo segue o mesmo caminho que a filosofia porque procura buscar a perfeição humana longe da natureza ou seja o que a de bom na vida não está no mundo mas em Deus A ideia de Deus para Nietzsche é semelhante à ideia de verdade da filosofia Uma compreensão metafísica procura impor sobre o mundo uma visão que é in coerente com ele porque o homem digno da visão cristã é impossível de ser alcan çado pois pensar no homem dessa forma é recusar a própria natureza humana A moral cristã salienta Nietzsche baseada no ressentimento por aquilo que cometemos diante das tentações sensíveis é uma afirmação contrária à vida já que não há nada mais incoerente do que ir contra à fisiologia humana A compreensão platônica da realidade dentro do cristianismo argumenta o filósofo possibilitou a religião conceber a imortalidade da alma como algo de extremo valor para o homem A imortalidade da alma é algo que torna o homem como algo especial diante da religião e dele mesmo Sobre isso comenta Nietzsche 2007 p 50 que O fato de cada um sendo alma imortal ter o mesmo nível de qualquer outro de na totalidade dos seres a salvação de cada indivíduo reivindicar uma importância eterna de pequenos san tarrões e três quartos malucos podem presumir que as leis da natu reza são constantemente infringidas por sua causa uma tal exa UNICESUMAR 177 cerbação ao infinito ao despudorado de toda espécie de egoísmo não pode ser ferreteada com suficiente desprezo A salvação da alma em linguagem clara o mundo gira à minha volta A passagem anterior retrata dois pontos importantes da visão nietzschiana do cristianismo O primeiro ponto é que a ideia de salvação do cristianismo induz o homem a acreditar que a vida terrena está sempre levandoo a ruína que seus instintos e desejos são típicos da vida sensível logo é algo ruim Assim somente numa vida para além da terrena é possível encontrar a felicidade A interpretação da realidade a partir da salvação cristã é uma interpretação fraca pois não consegue abranger o homem em sua totalidade Dessa forma a salvação é uma recusa à vida para Nietzsche ir conforme as leis do céu é desejar estar fora do mundo Temos que lembrar que a vida humana é contingente não há leis para Niet zsche não há regras que possam garantir o bemestar do homem A religião com a concepção de salvação explora o desejo humano de bemestar que infelizmente nunca poderá ser alcançado pelo homem O segundo ponto é que o homem passa a ser visto como especial para si mesmo Na visão do cristianismo o mundo foi criado desde o início dos tempos como um terreno para ação humana o homem é o ser soberano no mundo em relação aos outros seres vivos pois é a imagem e semelhança de Deus Essa visão do homem como o centro do mundo também é presente dentro da filosofia moderna Em Descartes por exemplo o eu pensante é o veículo de compreensão de toda realidade é pelo eu que o mundo é revelado Kant com sua revolução copernicana também coloca o homem como o centro do universo aquele que percebe o mundo como fenômeno diante de si O pensamento filosófico e cristão em geral compreendia o homem como o centro do mundo Nietzsche tenta ir contra essa corrente de pensamento por isso quando busca compreender a verdade metafísica propõese a seguinte pergunta qual é o valor que está implícito na verdade metafísica Para com preendermos como o autor responde a esta pergunta temos que ver como são definidos o conhecimento e as forças de poder O conhecimento é uma invenção do homem para Nietzsche com a qual ele consegue sobreviver no mundo Sobre isso Vieira 2013 p 62 profere as seguintes palavras UNIDADE 5 178 O intelecto é para o humano assim como o chifre ou a presa pon tiaguda de qualquer outro animal predador é necessária à sua exis tência Para garantir a sobrevivência da espécie os indivíduos mais fracos menos robustos utilizam o estratagema do intelecto como força de dissimulação disfarce Para Nietzsche o intelecto é um meio auxiliar que o homem possui para sobreviver para antever o cubículo de sua consciência para fingir que é o centro do mundo para enganarse diante de um universo infinito O intelecto engana se a si mesmo através da invenção do conhecimento da linguagem Como é possível ver na passagem acima o conhecimento é somente uma fer ramenta da qual o homem utiliza para sobreviver É criada por ele diante da sua pouca capacidade física em comparação com os outros animais Entretanto o conhecimento possibilita a capacidade ao homem de se autoenganar ou seja o homem com o conhecimento cria a linguagem Dentro da história da humanidade a linguagem possui um papel muito im portante pois é graças a ela que o homem é capaz de realizar várias interações sociais como comércio navegações filosofia religião etc Dessa forma a lingua gem acaba por ter um papel muito importante para o homem na filosofia em especial é com ela que as grandes teorias e conceitos são definidos A verdade metafísica não poderia existir sem antes existir a linguagem para ser capaz de descrevêla Aqui entramos numa discussão na qual Nietzsche ar gumenta que todas as leis humanas assim como as verdades metafísicas são criações dentro do conhecimento e da sociedade Portanto como o conhecimento é uma invenção humana não há como as verdades metafísicas serem eternas e imutáveis Não há assim espaço para a filosofia clássica e moderna dentro da interpretação nietzschiana da linguagem O mundo verdadeiro uma ideia que para nada mais serve não mais obriga a nada ideia tornada inútil logo refutada vamos eliminála Dia claro café da manhã retorno do bon sens e da jovialidade rubor de Platão algazarra infernal de todos os espíritos livres Abolimos o mundo verdadeiro que mundo restou O aparente talvez Não Com o mundo verdadeiro abolimos também o mundo aparente Meio dia momento da sombra mais breve fim do longo erro apogeu da humanidade Fonte Nietzsche 2006 p 32 explorando Ideias UNICESUMAR 179 As leis e verdades são criações do homem para disseminar uma paz entre os homens Para que a sociedade não viva em guerras e conflitos é estipulado entre os homens uma negociação na qual valores são acrescentados em certas premissas para que a paz seja perpetuada Sobre isso comenta Vieira 2013 que a linguagem é uma maneira do ho mem representar aquilo que quer denominar É com ela que o homem legi timará as leis sociais e costumes de um povo Dessa forma a linguagem não possui nenhum traço metafísico em origem mas sim um aspecto histórico que é explorado por Nietzsche quando critica os filósofos clássicos e modernos Nietzsche interpreta que o mundo é em si mesmo um jogo de vontade de potência que permeia todo o devir Isso significa que a realidade humana é sempre um conflito entre forças portanto as forças que movem o mundo não são controladas ou definidas por nenhuma leientidade metafísica A realidade é um fluir em constante movimento nada pode prever assim é para o homem um tormento um despertar constante de um sentimento de insegurança Por isso que Nietzsche interpreta o mundo como algo trágico não há des tino que nos garanta uma linha tênue na vida A vida é uma contingência pura que o homem não consegue compreender ele pode ter uma interpretação de como irá em possibilidade caminhar as coisas mas isso não significa que esta rá certo A visão da filosofia clássica e moderna como também do cristianismo não consegue abranger este aspecto contingente da vida porque apenas obser va uma parte do homem a parte racional esquecendo que o homemé também um animal que está sempre em conflito com seu lado racional Por fim podemos concluir esta aula levando em conta duas características importantes A primeira que Nietzsche é um filósofo que busca por meio de uma crítica quebrar com o padrão da metafísica de olhar apenas para a ra cionalidade humana A segunda consiste que Nietzsche procura apresentar a realidade humana como contingente e compreensível o homem não pode definir sua condição apenas interpretála como um devir constante UNIDADE 5 180 Ludwig Feuerbach nasceu em 1804 e não possui uma formação inicial em filo sofia Sua formação é em teologia entretanto depois de uma viagem à Berlim conheceu Hegel e iniciou os estudos em filosofia Feuerbach viu em Hegel um exemplo de intelectual chegou a escrever que nunca havia apreendido tanto quanto apreendeu em suas aulas com Hegel Tendo sua formação em teologia o tema central de suas discussões filosófi cas é sobre a religião Dentro da filosofia Feuerbach possuía grande estima pela direita e esquerda hegeliana entretanto foi crítico da direita quando publicou o ensaio Pensamentos sobre a morte e imortalidade 1830 sua primeira obra a ganhar popularidade na academia Foi todavia uma popularidade negativa porque suas ideias críticas à con cepção de salvação divina lhe causou a expulsão da comunidade acadêmica Para Feuerbach a concepção de salvação não poderia ser individual como apontava a direita hegeliana mas haveria de ser salvação da humanidade A imortalidade da alma então era um presente dado a humanidade Não uma imortalidade individual Tal interpretação fez o meio acadêmico repudiar suas ideias porém mesmo assim não deixou de estudar a filosofia hegeliana Tanto que em 1839 escreveu uma obra crítica a Hegel intitulada Pela crítica da filosofia hegeliana Nesta obra o autor procurou apresentar um erro que Hegel e os hegelianos haviam cometido em suas interpretações da realidade 4 FEUERBACH e a reforma da filosofia UNICESUMAR 181 Segundo Reale e Antiseri 2005 a obra de Feuerbach explora a interpreta ção de Hegel da noção de ser Para o filósofo a filosofia hegeliana estrutura suas interpretações em cima de um ser abstrato que não possui nenhum contato com o real Tal postura acaba por definir a filosofia como uma vã especulação portanto deve haver uma reestruturação da filosofia antes de tudo Assim devese partir para investigação do real e conhecer o mundo A posição teológica de Feuerbach nunca foi suprimida de suas reflexões filosóficas esteve sempre presente no seu pensamento Dessa forma quando faz sua crítica a Hegel procurou criticar sua metafísica que recusa a materia lidade do real pelo idealismo abstrato a partir da compreensão da ideia de Deus porque este não deve ser entendido como um espírito absoluto como faz em Hegel mas visto como uma criação histórica do Homem É aqui onde se pode observar a principal reviravolta do pensamento europeu produzida por Feuerbach Nosso filósofo voltase contra a totalidade vigente e pensada por Hegel e esdivinizaa profanaa declararse ateu de tal ídolo Fonte Dussel 1986 p 141 explorando Ideias Uma reestruturação da filosofia e metafísica deveria partir então de uma in terpretação antropológica do mundo Feuerbach quando direciona uma crí tica à filosofia e metafísica está preocupado em mostrar que a compreensão da realidade não começa pelos conceitos absolutos metafísicos Pensar numa interpretação da realidade a partir do inteligível abstrato é erro fatal pois exclui toda a realidade física e sensível na qual o mundo está submergido Para Sousa 2016 a filosofia feuerbachiana vai na contramão de todo pensamento de seu tempo Essa filosofia apresenta uma crítica forte contra o pensamento sistemático que buscava explicar os mistérios da teologia a partir de especulações abstratas Feuerbach tem como objetivo criar uma filosofia que seja fundamentada na natureza Nesse sentido o conceito de homem para Feuerbach está ligado com a sensibili dade Para o filósofo o homem não pode ser concebido como um ser separado da sua natureza física o homem somente é compreendido em sua totalidade quando o ob servamos como objeto Um objeto dentro do mundo que se autorreconhececomo um eu no mundo logo ele é essencialmente sensível De acordo com Sousa 2016 p 87 UNIDADE 5 182 representa a descida dos céus transcendente em direção ao mundo material e a substituição da vida eterna pela vida concre ta com necessidades e potencialidades A filosofia de Feuerbach é feita para o homem e pelo homem um ser ativo que livre da razão especulativa apoiase na razão cuja essência é a essência humana não numa razão desprovida de essência de cor e de nome mas na razão impregnada com o sangue do homem Ao observar a citação anterior fica claro que a filosofia feuerbachiana realiza uma passagem do abstrato para o concreto Isto é trabalhar a teologia não mais dentro de um plano suprassensível mas num plano antropológico que busca compreender as questões divinas a partir de Deus ou melhor o homem como criador de Deus A filosofia inaugurada por Feuerbach é crítica de todo o pensamento fundado nos primórdios da filosofia começando com as ideias platônicas e neoplatônicas que fundamentam a realidade A partir da ideia de uma realidade perfeita e inteli gível Feuerbach recusa o pensamento kantiano e hegeliano porque esses filósofos acreditavam num mundo racionalista em que tudo tem uma explicação racional O filósofo também faz uma crítica às doutrinas do cristianismo por exaltar um Deus puramente racional e metafísico Como ressalta Sousa 2016 p 93 Se a religião especialmente o cristianismo procurou esvaziar os sentidos e determinações do ser humano transpondoos para um plano secundário a fim de dar significação ao Ser Supremo sendo aquele um mero reflexo Deste do mesmo modo a filosofia espe culativa nos encaminhou para uma harmonia puramente abstrata entre o indivíduo e a subjetividade em sua relação com o todo com o espírito Essa semelhança uniu a teologia à filosofia de onde fez surgir à teologia especulativa cerne do sistema hegeliano Na passagem anterior podemos ver como a filosofia feuerbachiana enxerga a relação entre teologia e Hegel Assim percebemos que a filosofia que trabalha com abstração ou a filosofia especulativa está completamente ligada à essência do significado de que Deus é o criador do homem e não o homem criador de Deus porque o homem em sua vontade de racionalizar o mundo cria um ser capaz de justificar toda a racionalidade que é imposta ao mundo Em outras palavras Deus é uma criação humana para Feuerbach que tem como finalidade ser a ideia que implanta a racionalidade no mundo Feuerbach 2005 p 89 ressalta que UNICESUMAR 183 Tal como na teologia o homem é a verdade a realidade de Deus pois todos os predicados que realizam Deus como Deus que fazem de Deus um ser real como sejam poder sabedoria bon dade amor e até infinitude e personalidade que aqueles que têm como condição a diferença em relação ao finito são primeira mente postos no homem e com o homem assim também na filosofia especulativa o finito é a verdade do infinito Se a filosofia de Feuerbach sai da especulação metafísica para ir de encontro com o homem completo isso significa que o homem não será interpretado somente pela racionalidade mas visto pelos seus sentimentos compreendido a partir de suas paixões e vontades tão repudiadas pelo cristianismo e pela filosofia racionalista Sobre isso comenta Feuerbach 2002 p 14 que A filosofia Hegeliana foi à síntese arbitrária de diversos sistemas de insuficiências sem força positiva porque sem negatividade absoluta Só quem tem coragem de ser absolutamente negativo que tem a força de criar a novidade O cristianismo já não corresponde nem ao homem teórico nem ao homem prático já não satisfaz o espírito nem sequer também satisfaz o coração porque temos outros interesses para nosso coração diverso da beatitude celeste e eterna Nesse sentido a filosofia não pode ser simplesmente resumida ao ser e ao pensamento Ela deve antes ser uma leitura da realidade concreta do homem Dentro da vivência humana há sentimentos que estão separados da racionalidade que também tomam conta das ações humanas e isso não pode ser simplesmente deixado de lado pela filosofia excluir isso é dizer não à vida humana A vida humana é um fato histórico que é realizado dentro do mundo Des sa maneira argumenta Feuerbach que o filósofo tem que criar uma filosofia capaz de analisar e interpretar essa vivência humana que não é abstrata mas sim histórica Se Hegel concebe tudo segundo a via do absoluto metafísico está enxergando as coisas de maneira confusa pois como conseguiria existir dentro da capacidade do homem um ser de natureza finito a ideia de Deus Algo tão incoerente somente aponta que na verdade o mundo esteja ao inverso do proposto por Hegel De acordo com Feuerbach 2005 p 86 UNIDADE 5 184 o absoluto pensado unicamente como ser não é outra coisa do que ser ao ser pensado sob esta ou aquela determinidade ou cate goria o absoluto é totalmente absorvido por esta categoria por esta determinidade de maneira que separado delas é um mero nome O absoluto ou a ideia de Deus é então fruto da criação humana ambos de pendem do homem para sua existência Entretanto se não é Deus o criador do mundo e do homem como é justificada a existência do mundo e das coisas Para Feuerbach o mundo não é mais fruto de uma racionalidade perfeita o mundo é fruto da natureza a força originária de toda a realidade humana Para Feuerbach 2007 p 109 a natureza a matéria não pode ser explicada pela inteligência ou derivada dela ela é antes a base da inteligên cia a base da personalidade sem ter ela mesma uma base É a natureza sem uma razão para justificar sua existência nem muito menos justificar as existências das coisas que é fonte de tudo no mundo A natureza é o que torna possível todas as coisas para o homem ela é a fonte dos meios pelos quais age o homem O homem como em Marx parte com sua racionalidade para cima da natureza logo pela força de seu trabalho cria todas as condições para sua existência Porém devemos lembrar que esta natureza feuerbachiana não está sujeita a nenhuma lei universal tratase da personalidade de Deus mas a personalidade de Deus é a personalidade do homem libertada de todas as determinações e limitações da natureza Ludwig Feuerbach pensando juntos UNICESUMAR 185 A natureza é isenta de comandos que justificam suas ações O homem e seu intelecto são criações dela logo não são capazes de exercer poder sobre a natureza O homem simplesmente faz uso da natureza para sua existência A natureza pode ser aqui comparada com o Deus cristão como o ser que cria e cuida do homem Segundo Reale e Antiseri 2005 a filosofia não possui o papel de excluir a religião da vida do homem mas deve compreender este fato tão importante da realidade humana Dessa maneira a religião deve ser entendida como o veículo pelo qual o homem descobre a si mesmo e cria a partir de seus sen timentos e angústias uma imagem perfeita de si que é Deus Sendo assim Feuerbach não tem a pretensão de acabar com religião quan do faz uma nova estruturação da filosofia e da teologia Mas mostrar que o homem enquanto ser consciente de si mesmo no seu ato consciente coloca todos seus anseios na religião Criando assim a imagem de um Ser perfeito e realizador de milagre impossíveis tudo isso por meio da religião A crítica de feuerbachiana é portanto uma crítica à filosofia especulati va que recusa o homem enquanto agente histórico Feuerbach tenta em sua filosofia fazer uma reestruturação do pensamento filosófico voltado para o concreto para o homem como o centro do mundo mas um homem que é somente racional mas sensível e histórico Por fim podemos concluir nesta aula que há três pontos importantes O primeiro é a crítica feita por Feuerbach à metafísica de Hegel porque argu menta que o mundo não pode ser apenas interpretado pela racionalidade mas deve antes de tudo ser visto também pela via da sensibilidade O segun do ponto é a compreensão de uma religião como fruto do homem ver o ho mem como criador da religião como um fenômeno social E por último que a tentativa de reestruturação da filosofia é na verdade uma crítica à metafísica UNIDADE 5 186 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa esta unidade teve como objetivo apresentar a crítica à metafísica que é um tema central dentro da história da filosofia mas que adquire forças como teoria a partir do período moderno Para tanto pro curamos num primeiro momento definir brevemente o que é a crítica à metafísica para depois expor as filosofias críticas de Karl Marx Nietzsche e Feuerbach pensadores que marcaram a história da filosofia pelos seus pen samentos críticos aos sistemas filosóficos de suas épocas Primeiro então vimos que a crítica à metafísica é sempre direcionada a um sistema filosófico dominante A filosofia quando se torna um padrão a ser seguido acaba por ficar estagnada ou seja perde sua essência de ser sempre busca constante por algo novo em outras palavras ela perde a ousadia de querer saber algo que está para além do que é estabelecido Assim a partir do pensamento de Karl Marx observamos como acontece uma superação da metafísica hegeliana que dominava o pensamento alemão para uma filosofia da história que possui como conceito chave o trabalho que é o meio de criação da história da humanidade Depois com a filosofia crítica de Nietzsche adquirimos a noção que dentro de uma interpretação histórica da realidade valores absolutos não podem ser tomados como verdade eternas porque tudo que há no mundo é uma valorização humana que pode mudar em decorrências de certas circunstâncias Por último estudamos a filosofia feuerbachiana que diferente de tudo que havíamos visto defende que Deus é uma criação humana e a forma de fazer filosofia deve ser repensada Ou melhor sair da abstração do hegelianismo e conhecer o homem enquanto concreto real físico e mundano Porém diante dessas reflexões percebemos que o debate contra a metafí sica parece ainda estar longe de acabar justamente porque a filosofia neces sita da metafísica para suas reflexões Por isso cabe a nós como estudantes de filosofia continuar a estudar sobre o tema para ver até onde a crítica à metafísica caminhará na história 187 na prática 1 O termo metafísica é originário do grego e significa aquilo que está para além do plano físico Durante a história da filosofia o significado do conceito metafísica foi utilizado pelos filósofos como o caminho de alcançar as verdades fundamentais da realidade humana Entretanto houve momentos em que a filosofia lançou críticas à metafísica A partir deste enunciado assinale a alternativa correta a A metafísica é uma ferramenta essencial para filosofia que não pode ser substi tuída Ao longo da história da filosofia não houve nenhum momento de críticas direcionadas à metafísica Assim filosofia e metafísica sempre foram parceiras sem conflito b A metafísica é uma parte de filosofia e ambas caminham juntas para superar os conhecimentos obtidos até o momento Com isso são marcadas por uma característica de superação delas mesmas estão sempre em direção ao além delas Dessa forma quando uma para de se renovar a outra critica tal postura como acontece com a metafísica vítima de críticas constantes da filosofia no Período Moderno c A crítica à metafísica é algo que acontece na filosofia somente no período pré socrático Depois a filosofia e metafísica alcançam uma harmonia tão sublime que temos o desabrochar das filosofias platônicas e aristotélicas d Somente Kant realiza uma crítica a respeito da metafísica em sua obra Crítica da razão pura e A crítica kantiana é retomada em vários momentos da história da filosofia Tal crítica pretende fazer uma reforma na metafísica com o intuito de ver até onde é possível alcançar o conhecimento metafísico 2 Aquilo que eles são coincide portanto com a sua produção com o que produzem e também com o como produzem Aquilo que os indivíduos são depende portanto das condições materiais da sua produção MARX 1984 p 15 A partir deste trecho da Ideologia alemã de Karl Marx leia as afirmações a seguir I Marx elabora uma filosofia diferente do hegelianismo que imperava na Alema nha Para Marx a sociedade não é mais definida a partir do Absoluto mas defini da a partir da história humana que é construída a partir dos meios de produção da humanidade 188 na prática II Karl Marx era um jovem de esquerda amante da filosofia de Hegel Dessa forma compreendia que a história da humanidade era provida da verdade absoluta guiada pelo intelecto humano III Marx faz uma renovação na filosofia alemã a partir de sua crítica à metafísica hegeliana Para o filósofo não é mais o intelecto que define a história humana mas o homem por meio de sua práxis que é vivenciado pelo trabalho IV Marx é um filósofo semelhante a Kant procura por meio de uma perspectiva crí tica repensar toda estrutura da metafísica moderna Apontando que o começo para isso é abraçar a concepção estética do mundo transcendental Assinale a alternativa correta a Apenas I e III estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas I III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 3 A divisão do trabalho só se torna realmente divisão a partir do momento em que surge uma divisão do trabalho material e espiritual A partir deste momento a cons ciência pode realmente darse à fantasia de ser algo diferente da consciência da práxis existente de representar alguma coisa sem representar nada de real MARX 1984 p 35 A partir deste trecho da obra de Karl Marx assinale o que for Verdadeiro V ou Falso F A divisão do trabalho cria categorias de trabalho que não fazem mais uso da força física como filosofia política religião etc Essas formas de trabalho acabam por nutrir discursos acerca de conceitos abstratos que não condizem com a realidade como ocorre com os jovenshegelianos que são alvos das críticas de Marx A divisão do trabalho possibilita o aumento da produção numa fábrica Com isso o desempenho do fabricante aumenta possibilitando suprir todas as demandas da sociedade 189 na prática Para Marx não há como uma filosofia compreender a sociedade sem antes en tender como funciona a divisão do trabalho Pois somente entendendo tal divisão o filósofo consegue compreender o afastamento da metafísica com a realidade Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 4 Nietzsche interpreta que o mundo é em si mesmo um jogo de vontade de potên cia que permeia todo o devir Isso significa que a realidade humana é sempre um conflito entre forças portanto as forças que movem o mundo não são controladas ou definidas por nenhuma leientidade metafísica A partir dessas informações a respeito do pensamento nietzschiano assinale Verdadeiro V ou Falso F Nietzsche é um filósofo crítico da verdade metafísica Para ele não é possível haver uma verdade universal que rege o mundo como podemos ver em Platão e Aristóteles Nietzsche busca por meio de uma crítica quebrar com o padrão da metafísica de olhar apenas para racionalidade humana Nietzsche procura apresentar a realidade humana como contingente e com preensível o homem não pode definir sua condição apenas interpretála como um devir constante Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 190 na prática 5 Para Feuerbach falar sobre a criação humana segundo o cristianismo tratase da personalidade de Deus mas a personalidade de Deus é a personalidade do ho mem libertada de todas as determinações e limitações da natureza FEUERBACH 2007 p 124 A partir deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F Feuerbach é um filósofo crítico da metafísica abstrata Para ele não é possível haver uma filosofia baseada no racionalismo puro a filosofia tem que compreen der o homem enquanto um ser concreto Feuerbach era um filósofo cristão que defendia as teorias neoplatônicas de Santo Agostinho Feuerbach afirma que Deus era uma criação do homem que o homem em sua completa consciência de suas limitações procura criar uma imagem perfeita de si mesmo Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 191 aprimorese Confira algumas palavras de Antônio Edmilson Paschoal sobre o problema da verdade em Nietzsche A verdade mesma pergunta de Pilatos contudo segundo Nietzsche é apenas uma ilusão que se produz por meio do uso da linguagem e do esquecimento ela é um produto da capacidade de dissimulação do intelecto As verdades são ilu sões das quais se esqueceu que o são metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível moedas que perderam sua efígie e agora só entram em conside ração como metal não mais como moedas Produtos que ganharam adornos que foram enfeitados e que com o uso prolongado foram parecendo sólidos e seguros para um determinado povo De fato o que o intelecto produz são metá foras utilizadas para dizer as coisas Com o passar do tempo porém o homem se esquece dessa característica metafórica daquilo que usa na linguagem e con fere às metáforas iniciais o status de conceitos que não são mais apresentados como afirmações provisórias mas com a função de dizerem o que as coisas são de fato Mais adiante o homem passa a acreditar que está designando as coisas mesmas por meio das palavras e no extremo desse movimento passa a falar na verdade em si o que é a verdade Tal movimento no entanto curiosamente acompanha a própria função ilusionista do intelecto Inicialmente ao produzir representações para algo ilusões disfarces e depois ao levar o homem a acre ditar que isto seja uma representação da coisa mesma Fonte Paschoal 2009 p 520521 192 eu recomendo Assim falou Zaratustra Autor Friedrich Nietzsche Editora Companhia das letras Sinopse Assim falou Zaratustra é uma obra literária de Nietzs che repleta de reflexões e críticas filosóficas Nesta obra o autor procura por meio da figura do incógnito do monge Zaratustra apresentar suas críticas à sociedade moderna e principalmente ao cristianismo livro O jovem Karl Marx Ano 2017 Sinopse o filme retrata o jovem Karl Marx que parte em busca de uma compreensão da sociedade em 1844 A história gira em torno de Marx procurando entender como a classe trabalhadora é explorada na sociedade retratando seu encontro com Friedrich Engels filho de um industrialista que investigou o nascimento da classe trabalhadora britânica Assim o filme tem o objetivo de mostrar o começo da jornada do homem que será mais tarde conhecido como um dos maiores filósofos da história da humanidade filme Quando Nietzsche chorou Ano 2007 Sinopse Quando Nietzsche chorou é uma obra que conta um fato fictício a respeito da vida do filósofo Neste filme Nietzsche teria encontrado o psicólogo Josef Breuer a pedido de Lou Salomé para cuidar de sua saúde mental que não estava boa devido às crises existenciais O filme também retrata o romance entre Nietzsche e Salomé amor que desencadeia as crises existências no filósofo filme 193 conclusão geral conclusão geral Prezadoa alunoa o estudo da metafísica é essencial para compreender a filosofia visto que não conseguimos conceber a história da filosofia sem mencionar a metafí sica Em resumo a metafísica é como uma ferramenta para filosofia utilizada a todo momento sem ela não seria possível as grandes reflexões filosóficas A metafísica é que possibilita a filosofia ser o que é dentro da história da humanidade Por isso a metafísica não pode passar despercebida por um estudante de gradua ção em filosofia Na filosofia présocrática a metafísica aparece como a ferramenta que possibilita os primeiros filósofos a alcançarem a origem de todas as coisas Mais tarde em Platão a metafísica ganha o estatuto de ciência das ideias perfeitas e imutáveis do qual deriva todo conhecimento verdadeiro Em Aristóteles também ganha o topo de todas as ciências descrita como a ciência que trata dos assuntos mais fundamentais do ente Na Idade Média a metafísica aparece novamente como importante agora como a ciência capaz de compreender os fundamentos das coisas divinas junto com a teolo gia aparecendo assim dentro dos mais importantes pensamentos desse período como Santo Agostinho e Tomás de Aquino Na Idade Moderna devido às novas des cobertas científicas a filosofia procura renovar a metafísica começando por Des cartes ao estabelecer uma metafísica da racionalidade e de estrutura matemática depois com Kant apresentando os limites da investigação metafísica Na contem poraneidade a metafísica retorna como o estudo do ser vinculada à ontologia e à fenomenologia Diante disso podemos dizer que aprender história da filosofia é também um exer cício de apreensão do que é um pensamento metafísico pois filosofia e metafísica nunca caminharam separadas Mesmo quando a filosofia procura criticar a metafí sica acaba por querer uma renovação da metafísica Dessa forma estudar filosofia é compreender o desenvolvimento do pensamento metafísico referências 194 ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia Tradução de Alfredo Bossi 5 ed São Paulo Martins Fontes 2007 AGOSTINHO Confissões Livro XI Tradução de Cristiane Abbud Ayoub e Moacyr Novaes Curitiba SEED 2009 AGOSTINHO Solilóquios e A Vida Feliz São Paulo Paulus 1998 ARISTÓTELES Metafísica 2 ed Tradução de Marcelo Perine São Paulo Loyola 2002 v 2 AVERRÓIS Discurso decisivo Tradução de Márcia Valéria M Aguiar São Paulo Martins Fontes 2005 AYOUB C A NOVAES M Agostinho razão em processo Curitiba SEED 2009 BATTISTI C A Meditando com Descartes da dúvida ao fundamento In MARÇAL J org Antologia de textos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 143152 BEAUFRET J Introdução às filosofias da existência São Paulo Duas Cidades 1976 BITTAR E C O aristotelismo e o pensamento árabe Averróis e a percepção de Aristóteles no mundo medieval Revista Portuguesa de História do Livro e da Edição Lisboaa 12 n 24 p 61103 2009 Disponível em httpwwwscielomecptpdfrphln24n24a04pdf Acesso em 17 ago 2020 CARDOSO G F Tempo e eternidade em Santo Agostinho Revista Filogenese Marília v 3 n 1 p 8191 2009 Disponível em httpswwwmariliaunespbrHomeRevistasEletro nicasFILOGENESEGiovaniFernandoCardoso8191pdf Acesso em 17 ago 2020 CHAUÍ M Iniciação à filosofia São Paulo Ática 2016 CHAUÍ M MerleauPonty Vida e obra In MERLEAUPONTY M Coleção Os Pensadores São Paulo Nova Cultura 1989 p 815 DESCARTES Discurso do método Tradução de J Guinsburg e Bento Prado Júnior São Paulo Abril 1973 Coleção Os Pensadores DESCARTES Meditações Metafísicas Tradução de César Augusto Battisti In MARÇAL J org Antologia de textos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 153188 DUSSEL E Método para uma filosofia da libertação Tradução de Jandir João Zanotelli São Paulo Loyola 1986 FARIA M do C B de O realismo em Aristóteles In REZENDE A org Introdução à Filo sofia Rio de Janeiro Zahar 2005 p 6987 FEUERBACH L A essência do cristianismo Tradução de José da Silva Brandão Petrópo lis Vozes 2007 referências 195 FEUERBACH L Princípios da filosofia do futuro Tradução de Artur Morão Lisboa Edi ções 70 2002 FEUERBACH L Teses provisórias para a reforma da filosofia Tradução de Adriana V Serrão Lisboa CFUL 2005 FIGUEIREDO V de Kant e a liberdade de pensar publicamente In MARÇAL J org Anto logia de textos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 399405 GILSON E A filosofia na Idade Média Tradução de Eduardo Brandão São Paulo Martins Fontes 1998 GRÜNEWALD A L Nietzsche crítica da verdade metafísica e afirmação da vida terrena Sacrilegens Juiz de Fora v10 n 1 p 421 2013 Disponível em httpswwwufjfbrsacri legensfiles2014011012pdf Acesso em 17 ago 2020 IGLÉSIAS M O que é filosofia e para que serve In REZENDE A org Introdução à Filo sofia Rio de Janeiro Zahar 2005 p 1118 KANT I Prolegômenos a toda metafísica futura Tradução de Tania Maria Bernkopf São Paulo Abril 1980 LIMA J dos S Resumo de A preleção 1929 O que é metafísica de Martin Heidegger Sa beres Natal v 1 n 1 dez 2008 Disponível em httpsperiodicosufrnbrsaberesarticle view558507 Acesso em 17 ago 2020 MARX K A miséria da filosofia São Paulo Global 1985 MARX K ENGELS F A ideologia alemã São Paulo Moraes 1984 MATTOS C L Tomás de Aquino vida e obra In AQUINO T de Coleção Os Pensadores São Paulo Nova Cultura 1988 p 15 20 MATTOS J A Fé razão e conhecimento em Santo Agostinho Revista Espaço Teológico São Paulo v 12 n 21 janjun 2018 Disponível em httpsrevistaspucspbrreveleteo articleview31454 Acesso em 17 ago 2020 MATTOS J A O problema do mal no livrearbítrio de Santo Agostinho 2013 146 f Dissertação Mestrado em Teologia PUC São Paulo 2013 Disponível em httpstede2 pucspbrbitstreamhandle183251Jose20Roberto20Abreu20de20Mattospdf Acesso em 17 ago 2020 MERLEAUPONTY M Fenomenologia da percepção São Paulo Martins Fontes 1999 MONDIN B Curso de filosofia São Paulo Paulinas 1981 MONTENEGRO M A de P Peri physeos psyches sobre a natureza da alma no Fedro de Platão Kriterion Belo Horizonte n 122 p 441457 dez 2010 referências 196 MORA J F Diccionario de Filosofia de bolsilio Compilado por Priscilla Cohn Madri Alianza Editorial 1990 MORA J F Diccionario de filosofia Buenos Aires Sudamericana 1965 NASCIMENTO M A do Sobre a motivação moderna de crítica à metafísica AUFLÄRUNG João Pessoa v3 n 1 p 2336 janjun 2016 Disponível em httpsperiodicosufpbbr ojsindexphparfarticleview2831915255 Acesso em 17 ago 2020 NIETZSCHE F Crepúsculo dos ídolos São Paulo Companhia das Letras 2006 NIETZSCHE F O anticristo maldição ao cristianismo São Paulo Companhia das Letras 2007 NOGUEIRA R Z Breves considerações sobre a metafísica de Leibniz Cadernos Esponzia nos São Paulo v 17 p 129145 2013 Disponível em httpwwwrevistasuspbrespino sanosarticleview8126384908 Acesso em 17 ago 2020 OLIVA L C G Fenômeno e corporeidade em Leibnz Revista Dois Pontos Curitiba v 2 n 1 p 8399 2005 Disponível em httpsrevistasufprbrdoispontosarticleview19521621 Acesso em 17 ago 2020 PARMÊNIDES Da natureza Tradução notas e comentários de José trindade Santos São Paulo Loyola 2013 PASCHOAL A E Entre a verdade e o impulso à verdade apresentação ao ensaio de Niet zsche sobre verdade e mentira o sentido extramoral In MARÇAL J org Antologia de textos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 517530 PEIXOTO A J Corpo e existência em MerleauPonty In TOURINHO C D C BICUDO M A V org Fenomenologia influxos e dissidências Rio de Janeiro Booklink 2011 p 140 170 PESSANHA J A M Platão e as Ideias In REZENDE A org Introdução à Filosofia Rio de Janeiro Zahar 2005 p 51 68 REALE G ANTISERI D História da filosofia filosofia pagã antiga Tradução de Ivo Stor niolo São Paulo Loyola 2003 v 1 REALE G ANTISERI D História da filosofia filosofia pagã antiga Tradução de Ivo Stornio lo São Paulo Loyola 2003 v 2 REALE G ANTISERI D História da filosofia filosofia pagã antiga Tradução de Ivo Stor niolo São Paulo Loyola 2005 v 4 REALE G ANTISERI D História da filosofia filosofia pagã antiga Tradução de Ivo Stor niolo São Paulo Loyola 2005 v 6 referências 197 REALE G ANTISERI D História da filosofia Tradução de Ivo Storniolo São Paulo Loyola 2006 v 6 RUSSELL B História da filosofia ocidental Tradução de Hugo Langone Rio de Janeiro Nova Fronteira 2005 v 1 RUSSELL B História da filosofia ocidental Tradução de Hugo Langone Rio de Janeiro Nova Fronteira 2015 v 2 SANDOVAL R Sobre a certeza nos juízos sintéticos a priori Revista Pólemos Brasíliav 3 n 6 dez 2014 Disponível em httpsperiodicosunbbrindexphppolemosarticle view1165810253 Acesso em 17 ago 2020 SARTRE JP O existencialismo é um humanismo In MARÇAL J org Antologia de tex tos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 619620 SARTRE JP O existencialismo é um humanismo Tradução de Rita Correia Guedes 3 ed São Paulo Nova Cultural 1987 SARTRE JP O ser e o nada ensaio de ontologia fenomenológica 23 ed Petrópolis Vo zes 2014 SARTRE JP Que é a literatura Petrópolis Vozes 2015 SARTRE JP Uma ideia fundamental da fenomenologia de Husserl intencionalidade Tra dução de Ricardo Leon Lopes VEREDAS FAVIP Caruaru v 2 n 1 p 102107 janjun 2005 Disponível em httpsgmeapsfileswordpresscom201205umaideiafundamen taldafenomenologiasartrepdf Acesso em 17 ago 2020 SCHIOCHETT D A metafísica como a essência do homem em Heidegger Pensando Re vista de Filosofia Teresinav 6 n 11 2005 Disponível em httpsrevistasufpibrindex phppensandoarticleview33252346 Acesso em 17 ago 2020 SILVA F L e Descartes a metafísica da modernidade São Paulo Moderna 2005 SOUSA K S dos S A filosofia do futuro como filosofia da sensibilidade em Ludwig Feuer bach Revista Brasileira de Filosofia da Religião Brasília v 3 n 2dez 2016 Disponível em httpsperiodicosunbbrindexphprbfrarticleview17365 Acesso em 15 out 2020 STORCK A Tomás de Aquino e o pensamento político medieval Curitiba SEED 2009 VAZ H C de L Tomás de Aquino pensar a metafísica na aurora de um novo século Sín tese Nova Fase Belo Horizonte v 23 n 73 p 159207 1996 Disponível em httpwww fajeedubrperiodicosindexphpSintesearticleview9871425 Acesso em 17 ago 2020 referências 198 VICENTE J J N B Tomás de Aquino o ente e a essência como concebidos primeiro pelo intelecto Griot Revista de Filosofia Bahia v 9 n 1 p 181189 2014 Disponível em httpswww3ufrbedubrseerindexphpgriotarticleview591307 Acesso em 17 ago 2020 VIEIRA M R de A A crítica de Nietzsche à noção de verdade da metafísica clássica Ca dernos PET de Filosofia Teresinav 4 n 8 p 6069juldez 2013 Disponível em https revistasufpibrindexphppetarticleview14081246 Acesso em 17 ago 2020 ZANELLA J L A crítica de Marx e Engels ao domínio das ideias a ideologia Revista Faz Ciência Toledo p 1127 2004 Disponível em httpsperiodicosunbbrindexphprbfr articleview1736515873 Acesso em 17 ago 2020 gabarito 199 UNIDADE 1 1 D 2 C 3 A 4 D 5 C UNIDADE 2 1 D 2 A 3 C 4 A 5 A UNIDADE 3 1 B 2 A 3 C 4 C 5 A UNIDADE 4 1 B 2 A 3 C 4 C 5 A UNIDADE 5 1 B 2 A 3 C 4 E 5 C anotações
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
216
Filosofia Política - Silvanir Aldá
Filosofia
UNICESUMAR
216
Tópicos em Ciência Política - Ed. 2020
Filosofia
UNICESUMAR
136
Inovacao Disruptiva Criatividade Unicesumar Livro Digital para Professores
Filosofia
UNICESUMAR
192
Prática de Ensino: Introdução aos Estudos Filosóficos
Filosofia
UNICESUMAR
248
Filosofia da Mente - Livro Digital Unicesumar NEAD
Filosofia
UNICESUMAR
128
Teoria do Conhecimento - Rafael Adilson Ribeiro
Filosofia
UNICESUMAR
7
MAPA ECO Filosofia e Ética - Análise e Reflexão Ética Profissional
Filosofia
UNICESUMAR
152
Filosofia e Ética - Samanta Elisa Martinelli
Filosofia
UNICESUMAR
6
MAPA-Filosofia-e-Etica-Profissional-Ciencias-Economicas
Filosofia
UNICESUMAR
60
O Novo Tempo do Mundo - Paulo Arantes - Análise da Era da Emergência
Filosofia
PUC
Preview text
METAFÍSICA PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO Núcleo de Educação a Distância DE MARINGÁ SILVA NETO Fernando Alves Metafísica Fernando Alves Silva Neto Maringá PR Unicesumar 2020 Reimpresso em 2023 200 p Graduação EaD 1 Metafísica 2 Filosofia 3 Pensamento Filosófico EaD I Título FICHA CATALOGRÁFICA NEAD Núcleo de Educação a Distância Av Guedner 1610 Bloco 4 Jd Aclimação Cep 87050900 Maringá Paraná wwwunicesumaredubr 0800 600 6360 Coordenadora de Conteúdo Roney de Carvalho Luiz Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Matheus Silva de Souza Design Educacional Ivana Cunha Martins Revisão Textual Carla Cristina Farinha Ilustração Bruno Cesar Pardinho Fotos Shutterstock CDD 22 ed 193 CIP NBR 12899 AACR2 ISBN Impresso por Bibliotecário João Vivaldo de Souza CRB 91679 Reitor Wilson de Matos Silva ViceReitor Wilson de Matos Silva Filho PróReitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho PróReitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva PróReitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pósgraduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de Contra tos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel BOASVINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico nós tra balhamos com princípios éticos e profissiona lismo não somente para oferecer educação de qualidade como acima de tudo gerar a con versão integral das pessoas ao conhecimento Baseamonos em 4 pilares intelectual profis sional emocional e espiritual Assim iniciamos a Unicesumar em 1990 com dois cursos de graduação e 180 alunos Hoje temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil nos quatro campi presenciais Maringá Londrina Curitiba e Ponta Grossa e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e também no exterior com dezenas de cursos de graduação e pósgraduação Por ano pro duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares Somos reconhe cidos pelo MEC como uma instituição de exce lência com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa cionais do Brasil A rapidez do mundo moderno exige dos edu cadores soluções inteligentes para as neces sidades de todos Para continuar relevante a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes inovação coragem e compromis so com a qualidade Por isso desenvolvemos para os cursos de Engenharia metodologias ati vas as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis são que é promover a educação de qua lidade nas diferentes áreas do conheci mento formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária P R O F I S S I O N A L T R A J E T Ó R I A Me Fernando Alves Silva Neto Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá 2017 Possui graduação em licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá 2014 Tem experiência na área de Filosofia com ênfase em Ética e Fenomenologia atuando principalmente nos seguintes temas Existencialismo Fenomenologia Ética Litera tura e Dramaturgia Atualmente é professor na Secretaria de Educação do Paraná lecionando nos anos finais do Ensino Médio httplattescnpqbr9886420284936386 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A METAFÍSICA Prezadoa alunoa é com muito prazer que lhe entregamos este livro de Metafísica o qual fará parte de sua formação acadêmica A história da metafísica tem início junto com surgimen to da filosofia na Grécia sendo assim estamos diante de um tema que acompanha mais de dois mil anos de história Dessa forma ao longo desses anos a metafísica aparece de várias formas e maneiras diferentes adaptandose aos problemas de cada período da humanidade Diante disso pretendemos mostrar a metafísica a partir da história do pensamento filosófi co procurando destacar as importantes características do conceito de metafísica presente em cada período histórico da filosofia Para tanto na Unidade 1 abordaremos a origem do termo metafísica para em seguida ver como a metafísica evoluiu desde os présocráticas até Platão e Aristóteles Na Unidade 2 estudaremos os aspectos característicos do pensamento filosófico cristão e como a metafísica grega se relaciona com a fé cristã Na Unidade 3 observaremos a ruptura com o pensamento medieval o que impulsionará uma nova metafísica Na Unidade 4 estu daremos os termos metafísica e ontologia que ganham grande destaque na filosofia contem porânea Por último na Unidade 5 apresentaremos a crítica à metafísica algo fundamental para compreender o pensamento pósmoderno Dentro desse trajeto veremos as principais teorias metafísicas de filósofos como Platão Aristóteles Tomás de Aquino Descartes Kant Sartre entre outros que contribuirão para sua compreensão do pensamento filosófico ocidental podendo assim fazer estudos futuros sobre o tema metafísica com confiança e segurança algo que é fundamental na sua formação enquanto graduando em filosofia Por fim o conhecimento de um tema tão presente na história da filosofia é essencial para reflexão filosófica pois é graças à metafísica que as discussões filosóficas não caem na su perficialidade Dessa forma é importante conhecer e compreender os fundamentos básicos da metafísica ao longo da história para que possa desenvolver seu pensamento filosófico Boa leitura ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece Este ele mento ajudará você a conceituálao melhor da maneira mais simples conceituando No fim da unidade o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos quadroresumo Neste elemento você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos explorando ideias Ao longo do livro você será convidadoa a refletir questionar e transformar Aproveite este momento pensando juntos Enquanto estuda você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno logia a seu favor conectese Quando identificar o ícone de QRCODE utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online O download do aplicativo está disponível nas plataformas Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO METAFÍSICA NA ANTIGUIDADE 8 METAFÍSICA NA IDADE MÉDIA 44 82 A METAFÍSICA NA MODERNIDADE 120 METAFÍSICA E ONTOLOGIA 158 CRÍTICA À METAFÍSICA 193 CONCLUSÃO GERAL 1 METAFÍSICA NA ANTIGUIDADE PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade O começo da metafísica grega Parmênides e Heráclito Platão e o mundo sensível e inteligível Aristóteles e a filosofia primeira OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender como os filósofos présocráticos contribuíram para metafísica Entender como a metafísi ca platônica é estruturada em mundo sensível e inteligível Conhecer a filosofia primeira de Aristóteles PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa nesta unidade você conhecerá o significado do conceito de metafísica qual seu papel dentro da filosofia antiga Para tanto nosso estudo terá início na Grécia Antiga com os filósofos Herá clito e Parmênides que melhor desenvolverem a metafísica no Período PréSocrático depois passamos a estudar Platão e Aristóteles os maio res metafísicos da Grécia Antiga A palavra metafísica significa aquilo que está para além da física Nesse sentido a metafísica é a parte da filosofia que estuda os principais problemas filosóficos estes são assuntos que estão além da sensibili dade como por exemplo essência do ser as ideias eternas o conheci mento humano a ideia de Deus alma os conceitos de justiça e de ética dentre outros temas A característica da metafísica ao longo da história da filosofia é tratar de assuntos que estão num plano inteligível puro porém observaremos que para alguns filósofos gregos a metafísica ain da não é completamente desassociada da sensibilidade e da natureza O que exporemos para você nesta unidade são os três momen tos mais significativos da metafísica grega O primeiro momento é da concepção da metafísica dentro da filosofia présocrática que possui a peculiaridade de não criar uma metafísica completamente voltada a uma realidade inteligível buscando seus fundamentos ainda na razão e na natureza O segundo momento é da filosofia platônica com sua divisão heterogênea entre mundo sensível e inteligível Por último a filosofia primeira de Aristóteles que procura criar uma ciência do ente enquanto ente ou seja uma metafísica que investiga as causas funda mentais do ser O objetivo desta unidade é que seja uma introdução para o estudo da metafísica grega Assim a unidade procura fornecer o essencial dos principais filósofos da antiguidade para que você possa se familiarizar com os problemas e teorias metafísicas desse período O estudo desta unidade lhe apresentará as bases da metafísica grega Boa leitura UNIDADE 1 10 1 O COMEÇO DA METAFÍSICA GREGA HERÁCLITO E PARMÊNIDES Começar um estudo sobre a metafísica pode assustar de início pois a própria palavra metafísica carrega em si mesma um significado confuso e obscuro em nosso cotidiano Por isso buscar o sentido correto do termo nos ajudará a enten der qual o papel e lugar da metafísica dentro da filosofia O que significa metafísica Responder a essa questão requer uma breve análi se do surgimento deste termo dentro da história da filosofia A palavra metafísica tem origem grega tà metá tà physikà que significa aquilo que está para além do plano físico Entretanto não há registro de nenhum filósofo grego ter feito utilização deste termo dentro da Filosofia Segundo Mora 1965 a palavra metafísica deve sua origem a uma ordenação especial das obras de Aristóteles realizada no século I por Andrônico de Rodes que ao organizar as obras do Estagirita colocou os escritos que tratavam da Filo sofia Primeira depois do livro da Física obra que trata dos assuntos relacionados às coisas do mundo físico physis Dessa maneira as obras que se localizavam depois da Física ganham a expressão grega tà metá tà physikà como referência àquilo que está depois do mundo das coisas físicas Por isso encontramos hoje dentro das obras de Aristóteles o conjunto de textos denominados Metafísica entretanto originalmente os textos que compõe essa obra são aqueles que tratam da Filosofia Primeira que precisamente abordam a ciência do ser enquanto ser O termo metafísica se assemelha à ciência do ser enquanto UNICESUMAR 11 ser pois enquanto na Física o filósofo trabalha os fenômenos do mundo físico a Filosofia Primeira busca investigar os primeiros princípios das coisas e suas causas mais elevadas ou seja aquilo que está para além das coisas físicas metafísica Dessa forma a metafísica é a parte da filosofia que estuda as categorias mais básicas e essen ciais do ser que são conhecidas por meio do intelecto razão e não da sensibilidade Para Iglésias 2005 a palavra archéprincípio em grego não significa so mente tempoinício para os filósofos mas possui um sentido mais específico que é o fundamento de todas as coisas em outras palavras o princípio é aquilo de que todas as coisas são derivadas A busca por princípios fundamentais é a marca registrada dos filósofos e é com ela que Aristóteles em suas anotações reconhece quem fora ou não filósofo Os filósofos da natureza possuíam uma característica única que era a es peculação sobre o mundo físico por meio da reflexão racional Tales de mileto Anaximandro Anaxímenes Heráclito Parmênides Pitágoras Demócrito e ou tros portanto possuíam uma preocupação por encontrar o princípio das coisas a partir de uma explicação metafísica porém a metafísica dos présocráticos não realizava uma divisão total entre mundo físico e mundo inteligível Desse modo o que eles apresentavam como os princípios racionais da origem das coisas não eram puramente inteligíveis visto que seus princípios eram ainda físicos Por exemplo Pitágoras um grande filósofo e matemático fundador da escola Pitagórica de filosofia foi capaz de perceber que as notas musicais poderiam ser descritas por números entretanto alega em sua explicação filosófica e metafísica que os números são seres físicos e que compõe todas as coisas do mundo Pode mos visualizar melhor essa ideia com a descrição de Aristóteles Metafísica A 5 985b 23 apud IGLÉSIAS 2005 sobre os pitagóricos Eles os pitagóricos viram ainda que os atributos e as proporções das escalas musicais eram exprimíveis por números e uma vez que portanto todas as outras coisas pareciam na sua natureza total ser modeladas segundo números e que os números pareciam ser as primeiras coisas no conjunto da natureza eles supunham que os elementos dos números eram os elementos de todas as coisas e que o céu inteiro era uma escala musical e um número É pois eviden te que esses pensadores também consideravam que o número é o princípio não só enquanto matéria das coisas mas também como agente das suas modificações e dos seus estados permanentes UNIDADE 1 12 Na passagem anterior Aristóteles ao descrever pensamento pitagórico frisa que os números para esses pensadores são as primeiras coisas do mundo e que compõe todas as outras coisas em suas matérias Com isso percebemos que Pitágoras por mais que apresente uma explicação da origem das coisas a partir de uma metafísica acreditava que deveria encontrar um princípio físico para sustentar a origem das coisas físicas Como salienta Inglésis 2005 a afirmação de Pitágoras de que os nú meros são entidades corpóreas parece estranha de início porém a noção de inteligível puro somente é desenvolvida completamente em Platão assim para esses primeiros filósofos as coisas são pensadas de certa forma como entidades físicas mas provenientes de uma reflexão metafísica Quando observamos os princípios metafísicos encontrados pelos outros filósofos como os quatros elementos água terra fogo ar e o átomo de De mócrito percebemos que a metafísica dos présocráticos não está totalmente dividida entre o plano físico e inteligível mas interligada entre os dois planos Entre os primeiros pensadores há dois filósofos que merecem nossa atenção Esses filósofos são Heráclito e Parmênides pois a filosofia dos dois influen ciará o pensamento de Platão e a teoria do mundo das ideias Heráclito filósofo grego que viveu no século VI aC possuía uma me tafísica estruturada no princípio do devir mudança que serve até hoje de inspiração para algumas especulações filosóficas O pensamento Heráclito consiste que o mundo é composto por uma eterna e permanente mudança que é o devir ou viraser O devir é o princípio que fundamenta todas as coisas do mundo logo não há nada dentro da realidade que possa escapar a mudança A razão do devir para Heráclito era o fogo um dos quatro elemen tos O fogo era a causa e o fundamento do devir Sobre isso explica Mondin 1981 p 26 que A causa do devir só pode ser homogênea com ele Por isso He ráclito lhe dá como princípio o fogo o qual existindo pela con sumação de outras coisas é o tipo mais apropriado de devir Do fogo mediante os movimentos ascendentes e descendentes pro cedem todas as coisas No movimento descendente o fogo con densase e tornase ar água e terra No movimento ascendente estes elementos se rarefazem e voltam a ser fogo UNICESUMAR 13 O devir existe enquanto está causando a mudança como o fogo que existe so mente quando consome o seu combustível ou seja a chama do fogo existe cons tantemente durante o movimento de degradação do outro Por exemplo quando observamos uma árvore no processo de sua vida ela dá frutos que ao amadu recerem caem de seus galhos e apodrecem no chão Dos frutos do chão novas árvores nascerão enquanto que a árvore envelhecerá até a chegada de sua morte O devir é esse movimento que está contido no ciclo da vida que descreve essa harmonia da contradição entre vida e morte quente e frio juventude e velhice etc Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substân cia mortal no mesmo estado por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança Heráclito pensando juntos A harmonia dos contrários é o viraser que perpassa todas as coisas do mundo que pode ser resumida no princípio metafísico do devir Entretanto lembra Reale e Antiseri que o devir está estritamente ligado ao logos grego em outras palavras com a racionalidade que é a lei suprema do universo a ideia de inteligência que nos filósofos de Mileto estava apenas implícita associase expressamente ao princípio de Heráclito REALE ANTISERI 2003 p 24 Com isso podemos dizer que Heráclito também inicia uma reflexão a respei to do conhecimento verdadeiro porque a verdade somente será aquela que está em conformidade com a razão lei suprema longe das percepções sensíveis As opiniões humanas verdadeiras serão então somente as que seguem o caminho da razão e deixam de lado o julgamento dos sentidos A respeito disso Mondin 1981 p 27 comenta que em Heráclito O homem pode tornase sábio bom e feliz se procurar unirse ao Logos O meio principal para se conseguir isto é o conhecimento de si mesmo porque o conhecimento de si mesmo leva ao Logos que age na alma Pelo conhecimento do Logos o homem compreende que as tensões da vida são contrabalançadas pela harmonia geral das coisas que é a virtude suprema O homem aproximase do Logos percor rendo a via ascendente da verdade e não a via descendente do prazer UNIDADE 1 14 O princípio das coisas o devir somente pode ser alcançado pelo Lógos que é a razão para entender a metafísica do devir o sujeito tem que buscar a elevação da razão via ascendente Dessa maneira quando o indivíduo percorre o ca minho ascendente para razão ele vai em direção ao conhecimento verdadeiro e por esse mesmo caminho o homem se torna capaz de compreender o devir A metafísica heraclitiana ainda mantém sua ligação com o plano físico e inteligível já que o princípio de tudo é descrito como um elemento da natureza o fogo todavia inicia uma leve ruptura entre físico e inteligível que não fora explorada pelos seus antecessores de Mileto quando descreve que somente por meio da via ascendente da verdade da elevação do indivíduo pela razão e não pelos sentidos o sujeito conseguirá o entendimento do devir Parmênides de Eléia nascido no século VI aC foi um dos grandes pensa dores da filosofia da natureza entretanto também um inovador dessa filosofia pois toma como partida para explicação da origem das coisas uma afirma ção sobre o ser o ser é e não pode não ser o nãoser não é e não pode ser de modo algum Esse argumento estabelece que toda a realidade está sujeita ao ser enquanto ele é ou melhor a realidade somente pode ser descrita pelo ser enquanto existente e nunca pela não existência do ser o nãoser Segundo Reale e Antiseri 2003 p 33 com Parmênides a cosmologia recebe como que um profundo e benéfico abalo do ponto de vista concei tual transformandose em uma ontologia teoria do ser visto que parte pela primeira vez para uma investigação do ser Com isso o filósofo de Eléia argumenta que a estrutura da realidade está sobre a lei da não contradição porque o ser e a realidade somente poderão ser descritos a partir do ser que é uma noção de positivo puro e nunca a partir do nãoser que é a oposição pura da sentença o ser é A compreensão da relação entre ser que é e o nãoser é essencial para entendermos a metafísica de Parmênides Em uma primeira análise de sua argumentação percebemos que somente é possível dizer ou pensar sobre aquilo que é essa é a afirmação inicial do filósofo não há a possibilidade de pensar ou dizer algo sobre o nãoser Todo pensamento que é formulado em nossas mentes é sempre referente ao ser que é e nunca ao nãoser UNICESUMAR 15 Sobre o nãoser é impossível proferir alguma palavra pois para Parmêni des não temos entendimento daquilo que é inexistente Portanto todo conhe cimento apenas pode ser verdadeiro quando é referente ao ser que é a verdade está ligada ao ser O filósofo apresenta o argumento da seguinte forma Vamos vou dizerte e tu escuta e fixa o relato que ouviste quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar um que é que não é para não ser é caminho de confiança pois acompanha a realidade o outro que não é que tem de não ser esse te indico ser o caminho em tudo ignoto pois não poderás conhecer o nãoser não é possível nem indicálo PARMÊNIDES 2013 p 14 Diante da citação anterior percebemos que diferente de Heráclito o ser de Parmênides não possui a mudança em sua essência O ser em suas caracterís ticas fundamentais é imóvel e imutável completamente isento de qualquer tipo de movimento Uma vez que o ser é não pode de nenhum modo vira ser pois já é em sua essência e se não é não poderia de maneira nenhuma viraser visto que do nada não surge nada Isso implica também que o ser de Parmênides não possui um provedor de sua existência já que simplesmente é sempre esteve sendo como é De acordo com Parmênides 2013 p 62 a argumentação de Parmênides descreve os três princípios lógicos que a tradição filosófica insistiu como tutelares do pensamento 1 identidade A A 2 contradição A A 3 terceiro excluído AV A A primeira colocação significa que a afirmação sempre será o que é afirmado na segunda colocação constitui que a afirmação nunca será sua negação e por último que entre essas duas possibilidades não haverá mais nenhuma Parmênides introduz na filosofia a importância da nãocontradição algo de grande importância para a validade da argumentação E com isso traz também a diferença entre os saberes derivados da razão e os dos sentidos Para trabalhar a diferença razão e sensibilidade o filósofo descreve duas vias para a verdade via da verdade absoluta e a via das opiniões UNIDADE 1 16 A primeira via trata da única verdade capaz de ser alcançada pelo homem que para Parmênides é a verdade do ser enquanto imutável imóvel e uno sem possibilidade nenhuma de ser alterado ou gerado por outro ser Esse ser completamente pleno de si mesmo é a única verdade nada além dela pode ser descrita como verdade Então qualquer argumento que permita uma contradição não pode ser verdadeiro pois o ser é não podendo não sêlo Esse pensamento não pode ser contraditório pois é derivado direto da razão Na segunda via o problema que envolve o conhecimento verdadeiro está no aparente movimento das coisas Ou melhor significa que o indivíduo não pode pensar que esse movimento nasce e morre das coisas faça parte da rea lidade porque não pode haver movimento naquilo que é Para Parmênides pensar num possível devir é ir pelo caminho dos sentidos visto que o mundo sensível pode dar a impressão de que há movimento nas coisas Assim confiar nos sentidos indubitavelmente leva ao nãoser Quando pensa em algo quando usa o nome deve ser o nome de algo Por conseguin te tanto o pensamento quanto a linguagem exigem objetos que lhes sejam extrínse cos Uma vez que é possível pensar e falar em algo tanto num momento quanto em outro tudo aquilo que podemos pensar e falar deve existir em todos os tempos Não pode haver portanto mudança uma vez que a mudança consiste em coisas ganhan do ou perdendo existência Para que a linguagem tenha sentido as palavras devem significar algo e em geral elas não significam outras palavras mas algo que se encontra ali quer falemos dele quer não Suponhamos por exemplo que você fale de George Washington Não existisse um personagem histórico assim batizado este nome não teria sentido e as frases que o contivessem seriam absurdas Parmênides defende não apenas que George Washington deve ter existido no passado mas também que em certo sentido conti nua a existir uma vez que ainda podemos utilizar seu nome Fonte Russell 2005 p 7879 explorando Ideias UNICESUMAR 17 Dessa forma o princípio metafísico do ser de Parmênides nos leva somente ao conhe cimento verdadeiro quando alcançamos o ser para além das suas aparências sensíveis A sensibilidade é um mundo enganoso em que o devir dá a sensação de verdades possíveis das coisas Para escapar desse mundo de engano o homem tem que fazer uso da sua racionalida de já que é somente por meio do pensamento que é possível a compreensão do ser imóvel uno e imutável Parmênides faz uso de uma divisão da realidade de um lado os conheci mentos prováveis pertencentes aos sentidos de outro o pensamento plano inteligível em que a razão é o guia para a verdade e conheci mento da impossibilidade do nãoser Em resumo podemos concluir que diante da exposição realizada os principais aspectos levantados nesta aula são primeiro a palavra metafísica possui como significado aquilo que está para além das coisas físicas que implica na investigação das coisas apenas compreen síveis a partir da razão intelecto segundo que o pensamento filosófico dos présocráti cos passou por um processo gradativo no qual os filósofos primeiramente realizavam uma metafísica com pouca divisão entre o mun do sensível e inteligível porém essa divisão tornase mais presente a partir das filosofias de Heráclito e Parmênides que buscam um conhecimento verdadeiro a partir da razão como guia para o entendimento do princípio metafísico de suas filosofias Por fim notamos que a conceito de cosmologia vai enfraquecen do dando início a uma divisão entre verdade sensível e verdade inteligível UNIDADE 1 18 Platão filósofo grego natural da cidade de Atenas nascido em 427 aC é conside rado um dos maiores gênios da história da filosofia Filho de aristocratas gregos que lhe deram uma excelente educação teve contato com a filosofia a partir de Crátilo que foi discípulo de Heráclito Porém seus estudos em filosofia foram marcados pelos ensinamentos de Sócrates que guiaram seus pensamentos sobre os conceitos de política ética e justiça A filosofia platônica floresce no momento do fim da cosmologia e o começo da preocupação dos problemas humanos A partir de Sócrates a filosofia encer ra a busca pela origem das coisas e toma como objeto de atenção o homem e suas relações em sociedade frisando como preocupação a forma de aquisição do conhecimento verdadeiro Platão segue o mesmo caminho de Sócrates pois segundo Pessanha 2005 p 57 procura explicar a situação atual do universo e dos seres não por meio de uma situação anterior cosmologia mas por meio de causas intemporais que explicam sempre por que cada coisa é o que é O pensamento de Platão é desenvolvido sobre duas grandes filosofias anterio res pela de Heráclito que afirmava o devirmudança como o princípio de tudo e de Parmênides que alegava que o ser é sendo imóvel e imutável A filosofia platônica tenta realizar uma conciliação entre essas duas teorias contraditórias Nessa tentativa de unir Heráclito e Parmênides o ateniense elabora a Teoria das Ideias que se torna a estrutura de todo seu pensamento filosófico que é capaz de trabalhar diversos temas de filosofia como metafísica epistemologia e política 2 PLATÃO E O MUNDO SENSÍVEL E INTELIGÍVEL UNICESUMAR 19 Para que possamos compreender a metafísica em Platão é necessária uma explicação da Teoria das Ideias Para tanto primeiramente temos que entender a divisão entre mundo sensível e mundo das ideias para depois explorar como Platão elabora sua argumentação e explicação de como o homem é capaz de conhecer as verdades metafísicas O mundo sensível é a realidade composta por coisas perceptíveis pelos nos sos sentidos tato olfato paladar visão e audição neste mundo tudo está repleto de imperfeições pois as coisas sensíveis estão sujeitas a sofrerem mudanças com o passar do tempo Por esse motivo são consideradas cópias das ideias perfeitas que existem numa realidade transcendente onde não sofrem alterações tem porais Esse mundo transcendente Plantão denomina de mundo das ideias As ideias são por essência perfeitas e imutáveis delas derivam a origem de todas as coisas do mundo sensível Sobre o conceito de ideias em Platão vale observar o comentário de Pessanha 2005 p 5960 Platão propõe que se afirme hipoteticamente a existência de formas ou essências ou ideias que seriam os modelos eternos das coisas sensí veis Embora Platão as chame também de ideias elas não existem na mente humana como conceitos ou representações mentais ao contrá rio existem em si nem nos objetos de que são os modelos nem nos sujeitos que conhecem esses objetos Cada coisa corpórea e mutável seria o que ela é uma cadeira por exemplo porque participa da es sência que lhe serve de modelo a cadeiraemsi a essência ou ideia de cadeira Uma cadeira que vemos ou tocamos pode ser de madeira ou metal desta ou daquela cor deste ou daquele formato ela muda envelhece é destruída com o tempo Já a essência de cadeira permanece sempre a mesma fora do tempo e do espaço E é sempre única Pois o que qualquer cadeira em qualquer época ou lugar tem de ser para sempre cadeira É o modelo perene de todas as cadeiras E é aquilo a que se refere a palavra cadeira em qualquer língua em qualquer tempo A citação anterior utiliza um dos maiores exemplos das aulas de filosofia que é a cadeira e a ideia de cadeira Primeiro concluímos conforme a citação que as ideias são os fundamentos das coisas sensíveis porque abarca suas característi cas universais Portanto podemos dizer que uma cadeira ideal possuirá certas características universais que a caracteriza como tal que podem ser o assento o encosto para costa e uma base UNIDADE 1 20 O assento para cadeira é necessário já que é construída para ser sentada O en costo serve para tornála uma cadeira visto que sem ele seria um banco A base que sustenta a cadeira seja de quatro seja de três pernas não afetará sua essência a cadeira emsimesma do mesmo jeito que a cor e o material também não afetarão já que o número de pernas não implicará no fato dela ser ou não cadeira visto que o importante em sua essência é ter uma base para mantêla em pé Entretanto para ser cadeira é necessário ter todas essas características atributos que podemos dizer que são universais da ideia de cadeira Essa universalidade da ideia é importante dentro da Teoria das Ideias porque mantém uma lógica dentro da metafísica de Platão mas também possibilita o con cílio do devir de Heráclito e da imobilidade de Parmênides Mantém uma lógica justamente pelo fato de conseguir abarcar toda diversidade das cadeiras que podem existir no mundo sensível e ainda garantir um conceito de cadeira imutável e eterna Platão com a criação da hipótese de uma ideia universal que é o molde das coisas sen síveis inaugura na História da Filosofia o problema da aquarela dos universais que será um dos temas mais abordados na Idade Média pensando juntos Com isso Platão consegue trabalhar em sua metafísica o movimento e a contingên cia das coisas vista na filosofia de Heráclito com o conceito de um mundo sensível e ainda tratar da imobilidade e imutabilidade do ser de Parmênides com a ideia perfeita e atemporal contida no mundo das ideias Toda essa discussão sobre as ideias transcendentes faz o filósofo criar também uma teoria do conhecimento Para Platão o problema sobre o conhecimento está em como o homem é capaz de conhecer as ideias perfeitas e imutáveis já que estas não es tão presentes no mundo sensível nem na mente humana Mesmo sendo um problema epistemológico Platão oferece uma solução a partir de sua teoria metafísica das ideias Russell 2015 comenta que em Platão há uma grande diferença entre opinião e conhecimento O conhecimento é todo aquele saber que é isento de estar equivocado enquanto a opinião é um saber que pode levar ao erro Desse modo a diferença reside nos objetos que cada saber visa A opinião realiza suas conclusões em cima do mundo que se apresenta para os sentidos sempre conhecendo as coisas como elas aparentam ser mas nunca como são realmente enquanto o conhecimento visa à coisa emsi mesma em sua essência imutável e eterna Russell 2015 p 162 ainda ressalta que UNICESUMAR 21 Considerese um homem que ama coisas belas que faz questão de ver novas tragédias contemplar novos quadros e ouvir novas músicas Esse homem não é um filósofo porque só ama as coisas belas e não ama a beleza em si Quem ama somente o que é belo está sonhando o que conhece a beleza absoluta se encontra desperto Aquele possui tão somente opinião este o conhecimento O portador do conhecimento para Platão é então o conhecedor das coisas emsi mesmas aquele que teve a visão do mundo das ideias Por isso o ateniense procura esclarecer a forma de aquisição do conhecimento verdadeiro a partir da recordação da alma Para os gregos influenciados pelas doutrinas órficas incluindo Platão a alma humana é imortal sendo assim ela passa por um ciclo constante de vida e morte Por causa disso a alma presenciou o mundo das ideias e o mundo dos sentidos por várias vezes durante esse ciclo eterno Logo resta apenas ao homem recordar o que a alma um dia contemplou Platão explica melhor o ciclo da alma com a alegoria do Carro Alado descrito no livro Fedro Vejamos como Montenegro 2010 p 447448 descreve essa alegoria A alma é agora comparada a uma força natural composta de um carro puxado por uma parelha alada de dois cavalos e conduzida por um cocheiro Como bem se conhece o mito enquanto a alma divina conta com dois cavalos de boa raça belos e obedientes à condução do auriga a alma dos outros seres entre os quais se encontra o ser humano seria formada por apenas um cavalo de boa raça junto a um outro mestiço e desobediente Dessa diferença fundamental decorreria a dificuldade intrínseca de guiarmos o nosso próprio carro Com efeito as almas divinas ocupamse de pôr em movimento ascendente aquilo que é pesado em direção à morada dos deuses no topo do mundo onde compartilham um banquete divino Dali elas atingem a superfície externa do céu de onde são conduzidas de volta por meio de um mo vimento circular que permite a contemplação das realidades eternas exteriores ao céu Já as almas humanas padecem da constante peleja contra a pusilanimidade do cavalo mestiço em persistente movimen to contrário ao do cavalo de boa raça estabelecendo com relação às almas semelhantes um embate competitivo no afã de alcançarem na frente a planície da verdade onde está situado o pasto mais adequado para nutrir as asas O resultado seria a impossibilidade de ver senão de muito longe e ainda de relance aquelas realidades supracelestes UNIDADE 1 22 Como podemos ver na citação a alma humana em determinado momento durante a viagem na carruagem consegue contemplar mesmo que de relance o mundo das ideias Entretanto no processo de cair para o mundo e se con ciliar com o corpo a alma esquece o que viu na viagem O homem surge no mundo sensível sem nenhuma lembrança assim deve fazer um processo de recordação das verdades eternas Essa recordação é algo importante para me tafísica platônica porque justifica a existência das verdades absolutas e tam bém revela como é possível o homem alcançar o conhecimento verdadeiro Para mais detalhes sobre a teoria da recordação da alma em Platão assista o vídeo feito pelo grupo do site HUMANAMENTE Vídeo intitulado Platão 2 Teoria da Reminiscência httpdidaticscombrindexphpparte2teoriadareminiscencia conectese Conforme Montenegro 2010 a metáfora utilizada por Platão também descreve de onde provém a racionalidade humana A alma é o fruto da ra cionalidade humana uma vez que a alma ainda que aprisionada dentro do corpo possui uma natureza divina desse modo mesmo com todos os desejos provenientes do corpo ela ainda anseia em voltar para a verdade absoluta A alma é como um guia do corpo durante sua vida no mundo dos senti dos Para Platão a razão está interligada com a alma humana logo é o instru mento mais importante do homem porque quando o sujeito a utiliza pode vir a recordar do mundo das ideias A razão humana mesmo com a possibilidade inevitável de levar o homem ao erro em alguns casos mantém uma busca constante de alcançar as verda des eternas que foram vistas antes de sua queda Dessa maneira o verdadeiro filósofo será aquele indivíduo que tem uma melhor recordação da visão das ideias Nisso Platão é muito categórico já que sempre argumenta em seus diálogos que o sujeito que sucumbir aos desejos do corpo possuirá uma dificuldade maior de alcançar o esplendor da verdade UNICESUMAR 23 O filósofo na filosofia platônica é aquele que segue sua alma Se a alma busca voltar às suas origens divinas ela segue portanto uma busca constante e incessante pela verdade Como a etimologia da palavra filosofia já diz amigo do saber o filósofo é aquele que está a procura por um conhecimento porém não significa que ele ama o conhecimento como talvez faça um curioso a curiosidade vulgar não faz o filósofo RUSSELL 2015 p 162 O amor do filósofo é pela verdade eterna e imutável Para exemplificar toda Teoria das Ideias Platão faz uso do Mito da Caverna me táfora que aparece na República Livro VII Conforme conta há uma caverna com homens que foram acorrentados desde seu nascimento e eles estão de costas para entrada da caverna virados de frente para a parede Atrás dos prisioneiros há um muro depois uma fogueira que ilumina a caverna e a luz criada pelas chamas pro jeta sombras na parede Além desses homens há um outro grupo de indivíduos que projeta objetos e animais a partir das sombras da luz da fogueira para os prisioneiros Qual o único objetivo da filosofia Qual é o fim que busca a filosofia A filosofia diferente da ciência não busca fins práticos o único objetivo dela é a verdade A sua finalidade é puramente teórica ou seja contemplativa busca da verdade pela verdade Batista Mondin pensando juntos UNIDADE 1 24 As sombras são compreendidas pelos habitantes da caverna como a rea lidade todas as coisas do mundo são as sombras que veem na parede Porém um dia um dos habitantes consegue se libertar das correntes e corre em di reção a saída da caverna A princípio a luz do sol ofusca a visão do sujeito depois de um momento seus olhos se acostumam com essa luz e o indivíduo percebe a verdadeira realidade Estupefato com a descoberta o homem corre para contar a novidade para seus companheiros de cativeiro entretanto ne nhum deles acredita em suas palavras Para que possamos compreender o mito é necessário saber o significado de cada coisa dentro dessa história Platão confere aos homens que estão acor rentados na caverna o significado de serem aqueles que vivem no domínio dos sentidos mundo sensível O muro representa a divisão entre o mundo sensível e o mundo das ideias assim para além do muro está o fogo fonte das sombras e a saída para o mundo real mundo das ideias As sombras funcionam como a representação das coisas do mundo sensí vel ou seja são as cópias imperfeitas das ideias O sujeito que foge da caverna é o filósofo aquele que a partir de um esforço individual consegue contemplar as ideias que no caso é o exterior da caverna O filósofo volta para dentro da caverna para revelar a verdade para os outros prisioneiros que por toda vida viveram numa realidade ilusória ou seja que as sombras refletidas na parede da caverna são somente cópias da verdadeira realidade De acordo com Mondin 1981 p 64 o mito é utilizado por Platão para ilustrar a passagem dos graus inferiores do conhecimento para os superiores Os graus do conhecimento são compostos por quatro estágios divididos em dois grupos O primeiro grupo é composto pelos dois graus do conhecimento sensitivo a eikasia que é a apreensão das imagens de pois pístis a percepção das coisas sensíveis acompanhada da confiança na realidade dos objetos apreendidos pelos sentidos MONDIN 1981 p 64 O segundo grupo é do conhecimento racional que possui diánoia que é a capacidade de conhecer os objetos matemáticos e a nóesis o conhecimento direto das ideias perfeitas UNICESUMAR 25 O mito da caverna serve para mostrar salienta Mondin 1981 que filosofia é um veículo que conduz o homem de um grau a outro do conhecimento As sombras na parede da caverna representam eikasia o primeiro estágio do conhecimento sensível depois que o sujeito se liberta das correntes alcança a pístis a compreen são da origem daquelas sombras fogueira A luz do sol que ofusca a visão do sujeito é a diánoia a visão mais próxima das verdades eternas que faz referência como a matemática Por último o descobrimento do exterior da caverna é a nóesis a visão da realidade verdadeira ideias Para concluirmos esta aula devemos pontuar algumas características im portantes da metafísica platônica Em primeiro lugar temos a Teoria das Ideias que incorpora na filosofia de Platão a dualidade entre mundo sensível e mundo inteligível dualidade que era tão importante nos filósofos présocráticos e tam bém inaugura uma forte divisão entre sensibilidade e razão Em segundo lugar a partir da teoria metafísica de ideias Platão é capaz de conciliar as teorias de Heráclito e Parmênides ambas tão opostas entre si já que uma é a mudança eterna e a outra imutabilidade permanente Por último dentro de sua metafísica Platão consegue desenvolver uma teoria do conhecimento que é fundamentada junto a divisão entre sensibilidade e razão Por fim Platão marca a história da filosofia antiga por inaugurar uma dicoto mia entre sensibilidade e razão que influenciará outros pensadores como Santo Agostinho Descartes Hegel Sartre entre outros A matemática é para Platão a base do pensamento filosófico Filosofar é procurar pen sar para além da matemática é fazer metamatemática No pórtico da Academia estava escrito Aqui não entre quem não sabe geometria E de fato é frequentemente com recursos inspirados na matemática que Platão procura ir além das posições assumidas por Sócrates para poder dar combate mais efetivo ao relativismo dos sofistas os quais afirmavam que não há verdade mas apenas opiniões circunstanciais e relativas Fonte Pessanha 2005 p 54 explorando Ideias UNIDADE 1 26 Aristóteles nasceu em 384 aC na cidade de Estágira na Trácia e sem sombra de dúvidas foi uma das maiores mentes da Grécia Antiga Durante sua juven tude foi discípulo de Platão frequentou a Academia platônica até a morte de seu mestre sendo grande conhecedor da Teoria das Ideias e depois acirrado crítico dela Aristóteles também foi fundador de uma academia de filosofia conhecida como Escola Peripatética que dedicava estudos acerca das ciências naturais O filósofo escreveu inúmeros livros sobre os mais diversos assuntos que não se limitavam somente a filosofia por exemplo Órganon tratado sobre lógica Física um tratado sobre as coisas da natureza Ética a Nicômaco um ensaio sobre teorias morais Reprodução dos animais um ensaio sobre biologia e Metafísica um tratado sobre a ciência do ente enquanto ente Como foi visto na primeira aula dessa unidade o termo metafísico sig nifica aquilo que está para além do plano físico este significado foi dado por Andrônico de Rodes no início do século I aC não para designar primeira mente a teoria filosófica de Aristóteles mas para indicar a posição de seus livros sobre a ciência do ente enquanto ente na prateleira da biblioteca Por acaso o significado da expressão condizia com o conteúdo contido nos livros assim a Filosofia Primeira de Aristóteles passa a ser chamada de Metafísica 3 ARISTÓTELES e a Filosofia Primeira UNICESUMAR 27 Aristóteles no Livro I da Metafísica começa sua reflexão com a seguinte frase todos os homens por natureza tende a saber ARISTÓTELES Metafísica I 980a A frase apresenta a ideia de que o homem naturalmente tem uma aptidão em conhecer Entretanto devemos perguntar como é possível adquirir um conhe cimento Aristóteles prossegue dizendo que as sensações são um dos meios pelos quais tanto o homem quanto os animais adquirem seus conhecimentos Ambos são capazes de ter recordação das experiências e utilizálas em suas vivências porém o homem está muito além dos animais pois é capaz de usar junto com a recordação a ciência e o raciocínio Para Aristóteles o homem somente adquire o conhecimento a partir da ex periência é a partir da observação de certos fatos que surge o saber Por exemplo é pela experiência que um médico percebe que determinado remédio é eficiente para certos casos de saúde mas para outros não Entretanto lembra o filósofo a experiência não garante ao sujeito a sapiência porque a experiência sem estar submetida ao conhecimento das causas não possui grande utilidade O médico que não conhece as causas da doença do paciente mesmo que aplique determinado remédio não terá garantias que o medicamento surtirá efeitos positivos Mesmo que cure o paciente contudo cura sem saber as causas da doença e o porquê o remédio é eficiente Por outro lado o médico que sabe a causa da doença de seu paciente aplica o remédio com êxito e eficiência O conhecimento das causas da doença permite ao médico emitir um laudo corre to ao paciente o fato conhece o que é a doença em si mesma permite ter um conhecimento preciso sobre como tratar o doente Da mesma maneira que o médico que conhece a doença em si mesma o fi lósofo tem que ter conhecimento das causas fundamentais do ser ou seja saber o que são as coisas em si mesmas Para Aristóteles fazer filosofia é fazer metafísica o que significa realizar uma investigação das causas fundamentais do ser é se perguntar o que é o ser enquanto si mesmo A Filosofia Primeira ou Metafísica porém não é a primeira forma de aquisição de conhecimento humano ou seja há antes os sentidos a experiência e as ativida des manuais Conforme descreve Aristóteles quem tem experiência é considerado mais sábio do que quem possui apenas algum conhecimento sensível quem tem a arte ciência mais do que quem tem experiência as ciências teóricas mais que as práticas ARISTÓTELES Metafísica I 981b 30 Entre todos esses tipos de conhecimentos existentes afirma o filósofo o mais elevado é a metafísica UNIDADE 1 28 As sensações podem dar um conhecimento como diria Platão um conhe cimento sensível Contudo elas não dizem ou revelam o porquê das coisas A característica de revelar o porquê é particular da metafísica pois é a ciência do conhecimento das causas Uma ciência que parte para compreensão das es sências do ser mas não de um ser completamente inteligível como em Platão mas de um ser que aparece diante de nossos olhos com suas características universais e particulares Para alcançar as essências do ser por meio da metafísica Aristóteles cria a teoria das quatro causas do ser As quatro causas aristotélica são material formal eficiente e final A primeira causa é a material o mármore no caso de uma estátua é sua causa material pois mármore é a substância que preenche toda forma da estátua A segunda causa é a formal referese à forma que a matéria possui por exemplo a estátua de La Pietà feita por Michelangelo representa com sua figura e seus traços toda a tristeza da morte de Jesus Cristo ao colo de Maria ou seja a causa formal faz referência ao que a estátua representa a partir de seus contornos que no caso é a morte de Cristo e o sentimento de tristeza que salta do mármore esculpido com aquela forma A terceira causa é a eficiente podemos descrever que a causa eficiente seria o escultor o sujeito que esculpe um bloco de mármore e o transforma numa estátua Logo a causa eficiente de Pièta seria Michelangelo A quarta causa é a final por definição diz respeito à finalidade do objeto Qual foi a finalidade que levou Michelangelo esculpir Pièta Podemos dizer que a finalidade foi retratar a tristeza em específico a tristeza da cena da Vir gem Maria segurar seu filho morto nos braços Se essa não fosse a finalidade a estátua teria outros contornos para expressar outro sentimento A causa final é definida pela característica de tratar o propósito que originou o ser Aristóteles quer demonstrar com sua teoria das causas que todo ser pode ter sua existência esclarecida e compreendida sem recorrer a uma explicação transcendente O estudo das causas do ser entretanto revela algo mais ao filósofo mostra que a matéria que compõe os seres é imutável Diante disso Aristóteles explora mais dois conceitos que permeiam a essência do ser os conceitos são matéria e forma UNICESUMAR 29 Por matéria devese entender toda substância que compõe os objetos e essa substância não sofre alterações por exemplo a peça de mármore que foi necessá ria para construção da estátua enquanto era uma peça possuía uma certa quan tidade maior de matéria depois de esculpida a quantidade de matéria é menor que antes Entretanto não houve alteração em sua matéria apenas modificou a sua quantidade de matéria e sua forma De acordo com Russell 2015 p 213 O que ele Aristóteles quer dizer parece advir pura e simplesmente do senso comum a coisa deve ter um limite e esse limite confere a ela uma forma Tomemos por exemplo o volume dágua qualquer porção pode ser delimitada pelo de uma vasilha tornandose assim coisa não é coisa porém quando não está isolada do resto da mas sa homogênea A estátua é uma coisa e em certo sentido o mármore de que ela é feita não se alterou em relação ao que era quando parte de um bloco ou quando parte de um conteúdo de uma pedreira Cada átomo porém sendo coisa só o é por estar determinado em relação ao conjunto tendo assim também uma forma A matéria é imutável não importa qual forma ela exerça ela será sempre a mesma o que pode ocorrer é uma variação em sua quantidade A forma por sua vez pode sofrer alterações como vimos é a partir de um bloco de már more que surge uma estátua A forma é o que resguarda a diferença das coisas no mundo Mondin 1981 salienta que a diferença entre um homem e um cachorro está em suas formas pois as diferenças de espécie são referentes à forma do ser A matéria não condiz com esse tipo de diferença já que é fonte das características individuais Assim que Cálias seja baixo corcunda e moreno devese à matéria MONDIN 1981 p 92 A matéria pode conter certas características individuais que são chama das por Aristóteles de acidentes Por acidente definimos aquilo que embora pertença necessariamente a um ser não permite identificálo como sendo este ou outro ser FARIA 2005 p 76 Os acidentes procuram explicar es sas peculiaridades individuais de peso altura e cor Particularidades que não possibilitam fazer ciência uma vez que afetam as coisas somente individual mente e não universalmente UNIDADE 1 30 A título de exemplo imaginemos um homem chamado Pedro que possui uma mancha de nascimento em seu rosto Não podemos inferir que todos os homens com nome Pedro também terão uma mancha Visto que a mancha é uma singularidade que não demonstra as características de Pedro enquanto Homem espécie humana Para ciência apenas atributos como espécies e categorias que são referentes a forma são materiais de conhecimento da ciência porque as características como bípede e mamífero são atribuídas a qualquer Homem existente não somente ao Pedro que tem uma mancha no rosto Para Aristóteles a ciência é somente feita por conceitos universais que po dem ser aplicados em todos os casos ou na maioria deles Por essa razão não é possível uma ciência dos acidentes já que não abrangem atributos universais do ser apenas atributos de um ser singular determinado das diferentes acepções do Ser devemos assinalar em primeiro lugar que o Ser por acidente não é nunca objeto de especulação Isto é demonstrado pelo fato de que nenhuma ciência seja ela prática produtora ou teórica se preocupa com ele O cons trutor de uma casa com efeito não produz os diversos acidentes dos quais a constru ção da casa sempre é acompanhada pois são em número infinito nada impede com efeito que a casa uma vez construída pareça agradável a uns e a outros incômoda a outros ainda útil ou que ela pareça diferente de todos outros seres nada disto de corre da arte de construir Fonte Faria 2005 p 76 explorando Ideias Para Aristóteles matéria e forma são duas coisas inseparáveis ambas não podem existir separadamente Se algo possui uma forma consequentemente possuirá matéria e viceversa O que também está em jogo dentro dessa relação entre matéria e forma é o movimento Se há uma mudança na passagem de um bloco de mármore a uma estátua tem que haver uma explicação para essa mudança acontecer a qual só pode vir do movimento devir Aristóteles adapta o viraser de Heráclito na sua meta física a partir das noções de ato e potência O conceito de ato é definido como as características definidas que o ser possui conforme aparece Por potência entendese tudo aquilo que é composto por matéria e tem uma forma mas que conserva em si mesmo a possibilidade de sofrer alterações UNICESUMAR 31 Dessa maneira podemos voltar ao exemplo da estátua de La Pièta antes de ser esculpida por Michelangelo era apenas um bloco de mármore em ato entretanto possuía em si mesma a propriedade de viraser uma estátua potência O ato é tudo aquilo que o ser é como aparece diante de nós mas que guarda em seu interior a possibilidade potência de ser outra coisa Mondin 1981 destaca que as explicações filosóficas de Aristóteles es barram com o senso comum Os conceitos de matériaforma e atopotência podem ser vivenciados com facilidade na realidade empírica não há uma preocupação no estagirita de criar uma realidade transcendental para sus tentar seus conceitos metafísicos Enquanto que a metafísica platônica faz uma divisão da realidade em dois mundos um mundo sensível em que as coisas são concebidas como imperfei tas e cópias das ideias perfeitas do mundo inteligível Aristóteles não consegue ver uma lógica dentro dessa divisão porque como é possível buscar a essência das coisas fora das coisas Se há uma essência ou substância que é fonte das coisas argumenta Aristóteles deve antes de tudo existir junto com as coisas Aristóteles recusa a Teoria das Ideias de seu mestre argumentando que dentro dessa concepção de ideias imutáveis e imóveis não há uma explicação coerente sobre o movimento e mudança do mundo sensível De tal modo elabora a metafísica como a ciência do ente enquanto ente que significa que é a ciência dos fenômenos físicos e suprasensíveis enquanto aparecem para nós na nossa realidade não enquanto frutos de uma realidade inteligível Por isso Aristóteles procura explicar todo o movimento das coisas do mundo a partir dos conceitos de matériaforma e atopotência pois estes trabalham as coisas nelas mesmas sem recorrer a algo exterior os conceitos são uma tentativa de explicar as coisas enquanto são o que são O último ponto abordado na Metafísica por Aristóteles é o Primeiro Motor Imóvel Começar uma explicação sobre o motor imóvel requer a compreensão que a teologia é importante para a filosofia aristotélica pois os pensadores antigos e modernos acreditavam que tudo que possuía mo vimento era movido por algo Os conceitos de ato e potência não dão uma explicação da origem do movimento especificamente não apontam quem deu o empurrão inicial no mundo Assim na procura por uma explicação da origem do movimento Aristóteles propõe a ideia da existência de um Deus que é a causa do movimento de todos os seres UNIDADE 1 32 O Deus aristotélico possuía as qualidades de ser eterno único imóvel e inteligível Um ser completamente desprovido de matéria existindo fora de toda realidade material um Deus que existe apenas em forma A forma de Deus não é compreensível ao ser humano mesmo com demasiado esforço o homem não é capaz de entender Deus Deus é também denominado como Primeiro Motor Imóvel pois diferen temente das coisas compostas por matéria que possuem as disposições de ato e potência o Motor Imóvel é privado de potencialidade existe apenas em ato puro significa que não sofre nenhuma mudança e não é capaz de se mover Para mais detalhes sobre a filosofia de Aristóteles assista o vídeo feito pelo grupo do site HUMANAMENTE Vídeo intitulado Aristóteles Motor Imóvel e a Razão Ativa httpdidaticscombrindexphpparte2motorimovelerazaoativa conectese O movimento das coisas no mundo necessita sempre que o corpo seja a causa do movimento do outro num ciclo infinito Logo se Deus possuísse movi mento necessitaria de algo além dele que fosse causa de seu movimento A essência do Motor Imóvel é o pensamento visto que sua existência reside no mais puro e perfeito pensamento sem contato com o mundo sensível Diferente do Deus cristão que criou o mundo e busca cuidar de sua cria ção o Deus descrito por Aristóteles não é criador e também não cuida do mundo inclusive não o conhece Entretanto Deus mesmo sendo imóvel é quem move o mundo porém move sem nenhum contato com ele Para Aristóteles o movimento do mundo acontece porque Deus é deseja do pelas coisas sensíveis Como é a perfeição absoluta a imperfeição movese naturalmente para perfeição A respeito disso Reale e Antiseri 2005 p 201 explicam UNICESUMAR 33 O objeto do desejo é aquilo que é belo e bom o belo e o bom atraem a vontade do homem sem de algum modo se moverem da mesma forma o inteligível move a inteligência sem se mover Analogamente o Primeiro Motor move como o objeto de amor atrai o amante e como tal permanece absolutamente imóvel Evidentemente a causa lidade do Primeiro Motor não é causalidade do tipo eficiente do tipo exercido pela mão que move um corpo pelo escultor que modela o imêmore ou pelo pai que gera o filho sendo mais propriamente cau salidade de tipo final Deus atrai e portanto move como perfeição Na citação anterior observamos que Deus não possui um movimento que em purra as outras coisas mas as coisas são atraídas para perto dele devido a sua perfeição Para Aristóteles as coisas compostas de matéria tende a evoluir quase como uma evolução biológica Os seres que possuem a imperfeição da matéria tendem a caminhar em direção a uma perfeição de forma assim Deus por ser perfeito e ausente de matéria que existindo apenas em forma seria o último degrau da evolução logo as coisas tendem a caminhar em direção a ele O Motor Imóvel não é a única substância celeste que existe dentro da cos mologia aristotélica Nos últimos capítulos da Metafísica o filósofo descreve a existência de 55 entidades celestes que são inferiores a Deus mas também pre sentes dentro do movimento dos corpos celestes Deus por ser superior às outras substâncias celestes é o motivo do movi mento delas Assim sendo a origem do movimento é justificada por Deus ou Motor Imóvel existe eternamente enquanto pensamento puro não sofre com o movimento mas é causa dele é perfeito e atraente a imperfeição Percebemos por meio do conceito de Deus que Aristóteles não exclui por completo a ideia de uma realidade inteligível apenas reformulaa colocando Deus como o centro dessa realidade e suprema inteligência Por fim nesta aula trabalhamos a metafísica de Aristóteles explorando os conceitos fundamentais as quatro causas matéria e forma ato e potência e Pri meiro Motor Imóvel Conceitos que serão muito estimados pelo cristianismo da filosofia medieval como veremos por conter o cerne da filosofia de Aristóteles UNIDADE 1 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa nesta unidade você teve contato com algumas das filo sofias gregas que desenvolveram teorias metafísicas Assim o fato importante na trajetória do pensamento grego que temos que lembrar é que a metafísica surge primeiro como uma busca por princípios que não está desassociada da natureza Para Heráclito e Parmênides a metafísica serve para refletir a partir da razão os problemas da realidade entretanto as respostas para esses pro blemas não devem estar no plano inteligível mas sensível pois se o objetivo é descobrir o princípio da origem do mundo logo este princípio também deve estar presente no mundo Depois que Platão diferente dos présocráticos não desenvolve uma metafísica com contato com a sensibilidade ele separa o conhecimento em dois tipos o sensível e o inteligível Esse ato de divisão do conhecimento é o primeiro na história da filosofia Dessa maneira Platão é o primeiro filósofo que cria uma teoria metafísica que busca por princípiosverdades num pla no inteligível puro Fator que contribuirá muito para construção do que é a metafísica na filosofia patrística e parte da medieval A filosofia de Aristóteles marca o pensamento metafísico grego porque é a primeira tentativa de transformar a metafísica em uma ciência que procura investigar as coisas de forma semelhante às ciências naturais ou seja cria uma teoria sobre o conhecimento das causas do ser Entretanto a caracte rística importante da filosofia aristotélica está na ideia de Deus ou Primeiro Motor Imóvel visto que tal conceito estimula toda a filosofia teológica da Idade Média Por fim a história da metafísica na Grécia Antiga apresentanos aspec tos importante da filosofia que fundamentarão a maneira de ver e pensar a metafísica nos outros períodos da filosofia em especial a Idade Média como veremos na próxima unidade 35 na prática 1 A palavra grega metafísica é um termo filosófico presente em toda história da filosofia Entretanto não é um termo originalmente utilizado pelos filósofos gregos a origem desta palavra vem do trabalho de Andrônico de Rodes organizador dos textos de Aris tóteles Rodes denominou de metafísica os escritos de Aristóteles que se localizavam depois da obra Física que trata das ciências naturais Por coincidência a palavra metafí sica conseguiu abarcar o significado da filosofia contida nos livros de Aristóteles A partir do enunciado qual o significado do termo metafísica Assinale a alternativa correta a O filósofo francês JeanPaul Sartre define o significado do termo metafísica como a capacidade de a consciência humana ser translúcida Em outras palavras signi fica que o homem é capaz de olhar para si mesmo como o sujeito que percebe as coisas do mundo Assim a metafísica é a capacidade da consciência de ser consciência do mundo e de si mesma b Homero e Hesíodo foram grandes poetas gregos que fundamentaram toda cul tura grega com seus contos Homero escreveu duas grandes epopeias famosas Ilíada que retrata a história da guerra de Tróia e Odisseia que conta a viagem mirabolante do herói Ulisses Hesíodo escreveu a Teogonia uma espécie de cosmologia que narra o surgimento dos Deuses e do mundo É diante do pen samento desses poetas que o pensamento filosófico surgiu como crítica ao mito e procurou por explicações metafísicas da origem do mundo c O início da filosofia grega é marcado pela busca constante por princípios Os filó sofos présocráticos procuram explicar a realidade por meio de uma explicação racional que era contrária à explicação mítica dos poetas A partir de uma argu mentação racional os filósofos criam pressupostos metafísicos para desvendar a origem das coisas entretanto sua metafísica ainda estava interligada com a física Assim é possível dizer que metafísica dos présocráticos não faz uma divisão completa entre realidade sensível e inteligível d A palavra metafísica é derivada da expressão tà metá tà physikà que significa aquilo que está para além da física Na história de filosofia essa expressão é utilizada pela primeira vez por Andrônico de Rodes no século I aC como refe rência aos livros de Filosofia Primeira de Aristóteles Entretanto o significado da expressão condiz com a filosofia aristotélica que tem como objetivo investigar aquilo que está para além das coisas físicas Dessa forma os tratados de filoso fia de Aristóteles foram denominados de Metafísica como também toda teoria filosófica que trata de assuntos que vão para além da realidade sensível 36 na prática e Platão é o primeiro filósofo a teorizar uma divisão do conhecimento em sensível e inteligível A partir da Teoria das Ideias ele define que somente pelo caminho da razão é possível adquirir um conhecimento verdadeiro porque o mundo sensível é corruptível e mutável assim nunca pode apresentar algo imutável e verdadeiro Com isso Platão pela primeira vez na história da filosofia faz utilização do termo metafísica com a finalidade de descrever o plano inteligível aquilo que está para além das coisas físicas 2 Parmênides e Heráclito foram dois dos maiores filósofos présocráticos que causa ram enorme influência nos pensamentos de Platão e Aristóteles A teoria de Parmê nides diz que as coisas do mundo são pura positividade não podendo existir nunca o nãoser o que define o princípio de identidade Já Heráclito possui uma filosofia oposta afirmando que tudo existe em movimento ou seja o mundo está sempre em mudança Com base em seus conhecimentos como Platão e Aristóteles tentam conciliar essas duas filosofias Analise as afirmativas a seguir I A metafísica de Platão sofreu grande influência do pensamento de Parmênides e Heráclito A Teoria das Ideias faz uma divisão da realidade em dois mundos sensível e inteligível o que define a forma de aquisição de conhecimento mas esta divisão também cria a possibilidade de conciliação entre o ser de Parmê nides e o devir mudança de Heráclito porque enquanto Platão preserva o ser parmenidiano no mundo inteligível onde as ideias são perfeitas imóveis e imutáveis o mundo sensível abre caminho para mudança de Heráclito já que as coisas sensíveis sofrem alterações por ser cópia das ideias perfeitas II Aristóteles em seu livro Metafísica descreve que todo conhecimento provém da razão Logo o homem somente cria uma ciência quando dedica seu tempo a uma vida reflexiva o que justifica a teoria aristotélica da reminiscência da alma Para o filósofo o homem possuidor de uma alma imortal passa por vários ciclos de vida e morte assim conhecendo as verdades eternas e as coisas mutáveis da sensibilidade É com essa teoria que Aristóteles consegue conciliar as filosofias de Parmênides e Heráclito III Platão e Aristóteles não conseguem achar uma solução para o conflito das filo sofias heraclitiana e parmenidiana IV A metafísica de Aristóteles procura investigar as causas fundamentais do ser Para isso o filósofo apresenta quatro conceitos que explicam as essências do 37 na prática ser sendo eles matéria e forma ato e potência Com esses conceitos ele conse gue criar uma ciência do ente enquanto ente como também conciliar a filosofia de Parmênides e Heráclito pois a matéria guarda em si a imutabilidade do ser parmenidiano enquanto a forma a mudança heraclitiana visto que a matéria em ato é impossibilitada de sofrer alterações Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I e IV estão corretas d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 3 Como o homem ser concreto que existe no tempo e espaço pode conhecer as essências incorpóreas e intemporais Essa possibilidade depende de outra hipó tese é preciso supor que ele possua algo também incorpóreo e indestrutível algo de natureza semelhante à natureza das ideias É necessário supor que ele abriga em seu corpo uma alma também pura forma imortal Essa alma já teria contem plado as essências antes de se prender a esse corpo ao qual está provisoriamente vinculada PESSANHA 2005 p 60 Nesta citação Pessanha 2005 faz um comentário sobre a filosofia de Platão Com base em seus conhecimentos em Platão assinale Verdadeiro V ou Falso F A citação diz respeito à teoria da reminiscência de Platão na qual o filósofo recorre à imortalidade da alma para explicar a possibilidade do homem conhe cer as ideias do mundo inteligível A alma em sua imortalidade faz um ciclo de passagem entre o mundo inteligível e sensível quando desce para o reino da sensibilidade a alma esquece das ideias que contemplou no mundo eterno Então o homem tem que exercitar sua racionalidade para poder se recordar das ideias vistas pela alma antes de ser fixada ao corpo A alma humana é por natureza divina porém está aprisionada no corpo substân cia corruptível Por causa de sua natureza divina a alma humana anseia para voltar ao lado das entidades eternas e imutáveis Por isso ela guia o homem pelo cami nho da razão e não da sensibilidade para poder se aproximar das ideias eternas 38 na prática A alma humana por ser imortal faz um ciclo de passagem entre o mundo sensível e inteligível Durante sua volta ao mundo sensível a alma cai no rio do esquecimento perdendo assim todo seu conhecimento das ideias inteligíveis Por essa razão Platão argumenta que é impossível ao homem conhecer as ideias o homem está fadado apenas imaginar a perfeição Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 4 Deus existe eternamente enquanto pensamento puro felicidade e autossatisfação completa isento de qualquer propósito irrealizado O mundo sensível por sua vez é imperfeito mas possui vida desejo um tipo de pensamento impuro e ambição Todas as coisas vivas têm em maior ou menor grau certa ciência de Deus sendo impelidas à ação por admiração e amor a Ele Desse modo Deus é a causa final de toda atividade RUSSELL 2015 p 217 A respeito dessa descrição do Deus aristotélico feita por Bertrand Russell é correto afirmar que a Aristóteles foi um grande filósofo cristão que tinha como fundamento de sua metafísica o amor de Deus para com o homem b O Deus aristotélico é criador das coisas e extremamente preocupado com o mundo sensível e sua imperfeição Por isso procura atrair para seu encontro todas as coisas do mundo sensível c Aristóteles também denomina Deus como Primeiro Motor Imóvel porque enquanto as coisas sensíveis permanecem em movimento constante Deus continua imóvel sendo afetado e modificado por esse movimento d Os pensadores antigos e modernos acreditavam que para existência do movi mento deveria existir sempre um movimento anterior Aristóteles segue esse mesmo pensamento assim Deus com sua perfeição atrai todos seres sensíveis 39 na prática e imperfeitos para si entretanto movimenta o mundo sem ter contato com ele Dessa forma Deus é o Primeiro Motor Imóvel o motivo do movimento do mundo e dos astros celestes e Aristóteles acredita que o movimento é um ciclo em que é necessário um movi mento anterior para impulsionar o seguinte e assim por diante Por essa razão que em sua metafísica existe um Deus que move e cuida com sua mão o mundo sensível porque um criador nunca deve esquecer sua criação Deus também é chamado de Primeiro Motor Imóvel pois é o primeiro movimento do mundo 5 Platão e Aristóteles foram os grandes metafísicos gregos que criaram filosofias que foram além de uma cosmologia A preocupação filosófica de Platão e Aristóteles era descobrir como é possível existir o conhecimento verdadeiro e como o homem o adquire Desse modo ambos os filósofos criaram novas formas de metafísica que não buscava a origem do mundo mas revelar como conhecemos as coisas deste mundo A partir deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F Platão foi o primeiro a criar uma metafísica que tinha como princípios objetos inteligíveis puros A metafísica de Aristóteles procura alcançar o mundo inteligível porque o co nhecimento verdadeiro não pode estar contido na matéria Aristóteles denomina de metafísica a ciência do ente enquanto ente que tem como objetivo alcançar as causas fundamentais do ser Para Platão conseguir conciliar os princípios metafísicos contraditórios de Herá clito e Parmênides foi necessária a criação da Teoria das Ideias e a divisão entre conhecimento sensível e inteligível O ato e potência são conceitos filosóficos aristotélicos os quais servem para explicar o movimento das coisas do mundo Assinale a alternativa correta a V V F F F b F F V V V c V F V V V d F F F V V e V V V F V 40 eu recomendo Confira o comentário de Bertrand Russell sobre Mito da Caverna de Platão Platão procura explicar a diferença entre clara visão intelectual e a confusa visão da percepção sensitiva e para tanto cria uma analogia com o sentido da visão A visão diz ele difere dos outros sentidos porque exige não somente o olho e o objeto mas também a luz Nós vemos com clareza os objetos sobre os quais o Sol incide no cre púsculo enxergamos de maneira confusa e na escuridão não vemos absolutamente nada Ora o mundo das ideias é aquilo que vemos quando está iluminado pelo Sol ao passo que o mundo das coisas passageiras é o mundo crepuscular confuso O olho é comparado à alma e o Sol na condição de fonte de luz à verdade ou à bondade Isso culmina na célebre alegoria da caverna segundo a qual os que carecem da filosofia se assemelham a prisioneiros que encerrados numa caverna po dem olhar apenas em uma só direção por estarem presos tendo atrás de si uma fogueira e diante dos olhos uma parede Entre eles e a parede nada há tudo o que veem são as sombras de si mesmo e dos objetos que se encontram às suas costas projetadas pela luz do fogo Inevitavelmente eles acreditam que tais sombras são reais e desconhecem os objetos que as geram Por fim um da queles homens consegue escapar e ver a luz do Sol pela primeira vez é capaz de contemplar as coisas reais e toma ciência de que até então fora enganado pelas sombras RUSSELL 2015 p 169 41 eu recomendo Confira um trecho do livro Aristóteles de William D Ross sobre a metafísica aristoté lica e a aquisição de conhecimento O motivo que inspira Aristóteles do começo ao fim da Metafísica é o desejo de adquirir a forma de conhecimento que mais merece o nome de sabedoria O desejo de conhecer diz ele é inato no homem Manifestase no grau mais baixo no prazer que experimentamos no uso dos sentidos O grau mais imediatamente superior está implicando no uso da memória que nos distingue dos animais inferiores O grau seguinte que somente o homem é capaz de alcançar está constituído pela experiência graças à fusão de muitas recordações relacionadas com um mesmo gênero de objetos Em grau superior está a técnica conhecimento de regras práticas que se baseiam em princípios gerais O mais alto de todos é a ciência que é o puro conhecimento das causas a sabedoria deve ser não somente a ciência ou o conhecimento das causas mas o conhecimento das causas primeiras e mais universais de todos os seres A sabedoria é o conhecimento que é mais difícil de conhecer porque seus objetos são os mais universais os mais distantes dos senti dos os primeiros princípios de todas as demonstrações as causas primeiras e cau sas finais de todas as coisas o ser em seus vários sentidos e o ser como verdadeiro ou Ser enquanto Ser ROSS 1957 p 220229 apud CHAUÍ 2016 p 206 Fonte Russel 2015 p169 e Ross 1957 p 220229 apud CHAUÍ 2016 p 206 42 eu recomendo História da Filosofia Ocidental Volume I Autor Bertrand Russell Editora Nova Fronteira Sinopse a obra História da Filosofia Ocidental de Bertrand Rus sell aborda a origem e desenvolvimento do pensamento filosófi co No primeiro volume o autor descreve o surgimento da filoso fia na Grécia antiga explorando a filosofia présocrática em seus pormenores com comentários extensos de Heráclito e Parmênides Também aborda o pensamento de Platão e Aristóteles procurando esclarecer os temas mais significativos desses dois grandes filósofos da antiguidade livro O mundo de sofia Ano 2000 Sinopse o filme é uma adaptação do livro O mundo de Sofia escrito por Jostein Gaarder A história é sobre Sofia uma menina que começa a ficar interessada por filosofia depois de algumas aulas sobre a Grécia Antiga O filme acompanha as aventuras de Sofia diante da sua procura por respostas às questões filosófi cas Dessa maneira o filme retrata Sofia numa viagem dentro da história da filosofia desde a Grécia à contemporaneidade filme Para um estudo mais profundo sobre a filosofia de Platão assista a palestra da Profa Lúcia Helena Galvão do grupo Nova Acrópole Vídeo intitulado Conceitos de Platão httpswwwyoutubecomwatchvsNotryWJio conectese anotações 2 METAFÍSICA NA IDADE MÉDIA PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade A Patrística latina e o encontro entre fé e razão Santo Agostinho e a metafísica da interioridade A Escolástica e o descobrimento de Aristóteles São Tomás de Aquino e a metafísica OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer a relação entre fé e razão na Patrística latina Compreender a metafísica da interioridade de Santo Agostinho Adquirir uma compreensão geral do encontro da Escolástica com Aristóteles Compreender os fundamentos da metafísica de Tomás de Aquino INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa esta unidade tem por objetivo apresentar para você os fundamentos da metafísica na Idade Média Para tanto iniciaremos o nosso estudo com o período da filosofia denominado Patrística no século IV dC para depois entrar no período da Escolástica no século XII que é marcado pelo momento de criação das primeiras universi dades da Europa A metafísica está presente em todo momento da história da filosofia Entretanto ela adquire aspectos diferentes em cada momento da histó ria da humanidade Nos primeiros séculos da Era Cristã a metafísica assume o papel de defender a doutrina cristã e principalmente ser a ciência que estuda os problemas divinos Nosso estudo acerca da metafísica será em dois momentos No pri meiro momento estudaremos a patrística com o encontro da fé e da razão O objetivo é compreender como os primeiros padres da Igreja interpretaram a relação entre fé e razão para tanto abordaremos o pen samento de grandes autores deste período Minúcio Félix Florentino Tertuliano e São Jerônimo Depois exploraremos a filosofia de Santo Agostinho pois é um marco dentro da história da filosofia por conciliar fé e razão bem como construir uma nova metafísica No segundo momento estudaremos a redescoberta da filosofia de Aristóteles pelo Ocidente no período denominado Escolástica Para tanto iniciaremos com uma reconstrução história do encontro do Oci dente com a filosofia árabe e seus comentários sobre Aristóteles por meio de dois filósofos árabes Avicena e Averróis Em seguida explo raremos a filosofia de São Tomás de Aquino considerado por muitos historiadores o maior filósofo e metafísico da escolástica Dessa forma o intuito é que esta unidade seja uma introdução ao pensamento filosófico medieval com foco nas principais teorias meta físicas deste período histórico para que você alunoa tenha o conheci mento dos problemas e soluções apresentados pela metafísica medieval Boa leitura UNIDADE 2 46 1 A PATRÍSTICA LATINA E O encontro entre Fé e Razão Caroa alunoa Iniciar um estudo sobre metafísica na Idade Média necessita primeiro de uma introdução ao pensamento filosófico cristão que tem seu de senvolvimento no período denominado de Patrística Dessa forma nesta aula exploraremos as principais características da patrística latina antes de Santo Agostinho com o intuito de contextualizar como era estabelecida a relação entre a cultura cristã e a grega pagã Segundo Abbagnano 2007 autor do Dicionário de Filosofia o termo patrística é referente aos primeiros séculos depois de Cristo nos quais foram elaboradas as doutrinas e crenças do cristianismo que culminou também mais tarde na imersão da filosofia pagã na teologia cristã A patrística inicialmente possuía como característica a investigação teológica e proclamação do evangelho com o propósito de defender o cristianismo dos ataques pagãos Assim no começo da Era Cristã os padres da Igreja não consideravam a filosofia grega um meio de alcançar o conhecimento mesmo admitindo que haviam algumas semelhanças da busca da verdade feita pelos gregos com a verdade cristã O pensamento filosófico grego era para os padres uma blasfêmia às escrituras sagradas UNICESUMAR 47 A diferença entre a cultura cristã e grega se constitui que enquanto os gregos pro curavam uma verdade eterna e imutável por meio da filosofia os cristãos já possuíam a verdade que veio ao mundo pela forma de Cristo Por essa razão o logos dos gregos era para os cristãos a figura de Cristo encarnado e revelado para os seres do mundo a verdade eterna que ganhou vida Desse modo enquanto os gregos especularam sobre uma possível verdade os cristãos já tinham vivenciado a verdade por meio de Cristo A patrística ao longo da história é dividida em três momentos Conforme des creve Abbagnano 2007 p 746 o primeiro momento é dedicado à defesa do Cris tianismo contra seus adversários pagãos e gnósticos o segundo é constituído pela conciliação da filosofia pagã com a teologia cristã que percorreu o século III até sé culo IV o terceiro momento é caracterizado pela reelaboração e pela sistematização das doutrinas já formuladas ABBAGNANO 2007 p 746 com início na metade do século V até fim do século VII Nossa atenção nesta aula está voltada para os pensadores Minúcio Félix Florentino Tertuliano e São Jerônimo que pertencem ao primeiro momento da patrística latina O que chama nossa atenção nesses pensadores é o conflito entre o pensamento cristão e a filosofia grega que é bem retratado nos escritos desses autores em especial no Tertuliano O advogado Minúcio de Félix foi o primeiro autor a escrever uma obra com características da filosofia pagã Seu livro Otávio é uma defesa dos ensinamentos da Bíblia e da verdade única de Cristo Minúcio de Félix foi um grande crítico da cultura grega argumentava que as conquistas dos filósofos em alguns aspectos são seme lhantes às dos cristãos não porque os cristãos estão seguindo os mesmos caminhos dos filósofos mas sim pelo fato dos filósofos terem recebido uma leve iluminação de Deus em suas investigações e com isso conseguirem alcançar um vislumbre da verdade porém os gregos não conseguem passar disso visto que faltava a eles fé Segundo Reale e Antiseri 2003 a obra de Minúcio de Félix Otavio é escrita no final do século II e para muitos historiadores marca o início de uma conci liação entre as culturas cristã e pagã Porém na realidade não é assim porque os ataques contra os filósofos gregos substancialmente são bastante duros REALE ANTISERI 2003 p 72 Portanto Minúcio de Félix invés de ser um conciliador entre as duas culturas é um pensador que defende uma ruptura entre elas Uma das críticas famosas de Minúcio de Félix é sobre a transmigração das almas Sobre isso comentam Reale e Antiseri 2003 p 72 que UNIDADE 2 48 a teoria da transmigração das almas propugnada por Pitá goras e Platão que ele Minúcio de Félix julga verdadeira aber ração doutrinária acrescenta o seguinte a propósito da admissão da ideia de que as almas podem assumir corpos também de ani mais Essa afirmação não parece de fato a tese de um filósofo parecendo muito mais a tirada injuriosa de um cômico Na citação anterior percebese que Minúcio de Félix não concordava com as ideias dos filósofos principalmente sobre a teoria das almas de Platão Além dessa crítica sempre que descrevia os filósofos gregos vinculava a imagem deles à corrupção e prepotência argumentando que tais filósofos afirmavam conhecer a sabedoria entretanto não sabiam de nada Sobre isso Félix cita Sócrates de Atenas pois o ateniense era o homem que diz não saber de nada entretanto que estava sempre a perambular pelas ruas de Atenas pronuncian do que conhecia a verdade nós não sabemos o que fazer com a teoria dos filósofos sabemos muito bem que são mestres de corrupção corruptos eles próprios prepotentes e além do mais tão descara dos que estão sempre a clamar contra aqueles vícios nos quais eles próprios se afunda ram Nós não trombeteamos sabedoria mas a levamos viva no coração não dissertamos sobre a virtude mas a praticamos em suma temos o orgulho de haver alcançado aquilo que eles procuraram com fatigante empenho e jamais conseguiram encontrar Fonte Minúcio de Félix 289 dc apud ANTISERI REALE 2003 explorando Ideias Dessa forma o pensamento de Minúcio de Félix não pretendia realizar uma conciliação com a filosofia pagã Muito menos fazer investigações filosóficas como os pagãos por isso suas ideias não contêm filosofia nem teoria meta física Para Félix o cristão verdadeiro não precisa se preocupar com o saber pois este já foi dado por Cristo O pensador Quinto Septímio Florente Tertuliano nasceu por volta da metade do século II na cidade de Cartago e foi também um acirrado crítico do pensamento filosófico grego Tertuliano acreditava que não havia forma de conciliação entre a cultura grega e a cristã UNICESUMAR 49 Tertuliano foi um grande escritor com famosas obras que defendiam o cristianismo dos ataques pagãos e gnósticos Seu livro intitulado Apologético é sua obra mais reconhecida pois apresenta uma sucessão de argumentos que apontam que o caminho da filosofia ou do conhecimento terreno não pode trazer nenhum tipo de benefício para o povo de Deus já que os saberes mun danos não levam a verdade são apenas especulações O indivíduo que segue o caminho do reino dos céus tem que ter como guia Cristo e as sagradas es crituras pois são as únicas verdades do mundo A doutrina dos escritos de Tertuliano segue o Pórtico de Salomão salientam Reale e Antiseri 2003 já que argumenta que para alcançar o conhecimento a respeito de Deus devese buscar a simplicidade O homem para alcançar o altíssimo não necessita de instrução na arte das letras nem de artifícios como a dialética filosofia e metafísica O homem cristão deve apenas ter um amor e uma fé incondicional em Deus visto que a fé torna inútil qualquer outra doutrina REALE ANTISERI 2003 p 72 A filosofia para Tertuliano atrapalha mais do que ajuda o cristão porque o conhecimento pode levar o homem a duvidar de sua fé Para alcançar o reino dos céus o homem deve possuir uma alma pura sem nenhum tipo de conhecimento cultural que possa vir a prover dúvidas a sua fé A frase credo quia absurdum que em português significa creio porque é absurdo representa o alicerce da fé para Tertuliano porque o homem não crê em Cristo por causa do seu sofrimento até a crucificação mas crê porque fez o impossível Cristo ressuscitou dos mortos pensando juntos Por mais que Tertuliano critique a filosofia argumentando a impossibilidade de uma conciliação com o cristianismo em sua obra De anima o pensador cria uma resposta filosófica para a tese de Platão sobre a alma imortal e incorpórea No Fédon Platão trabalha a alma e sua existência incorpórea expondo que a alma é eterna e imutável existindo primeiramente no mundo inteligível depois cai no mundo sensível e passa a viver num corpo Aprisionada ao corpo a alma é posta a buscar constantemente o conhecimento das ideias imutáveis ideias que são existentes no local de origem da alma UNIDADE 2 50 Tertuliano é contrário à Platão assim argumenta que a alma é um corpo material e não pode ser inteligível como dizia a metafísica platônica Sua tese pode ser resumida na máxima nihil enim si non corpus nihil est incorporale nisi quod non est que traduzida significa nada há de fato se não existe corpo nada é incorporal exceto o que não é Em outras palavras significa que a alma somente pode existir como um corpo material visto que aquilo que não tem corpo não pode existir corporalmente Tertuliano retira os argumentos para sua tese sobre a alma da Bíblia pois de acordo com as escrituras sagradas as almas no inferno sofrem as mesmas dores que o corpo pode sentir em vida assim não poderia ser outra coisa senão um ser corpo Argumenta também que a alma não pode ser incorpórea e alimentada por conhecimentos inteligíveis porque se a alma está em simbiose com o corpo deve ser nutrida com os mesmos alimentos ingeridos por esse corpo Portanto a alma não é uma entidade metafísica como diria Platão e outros filósofos gregos mas uma parte física do corpo humano existindo como um ser material O De anima de Tertuliano é a primeira explicação ontológica e metafísica escrita sobre um assunto cristão já que os grandes Pais da Igreja não realiza vam discursos filosóficos ou teológicos Logo podemos dizer que Tertuliano é o primeiro antes de Santo Agostinho a iniciar uma escrita com característica filosófica ontológica e metafísica Outro grande pensador da primeira fase da patrística latina é São Jerônimo Nas cido por volta de 345 dC numa região próxima a Aquileia na cidade de Strídon Jerônimo foi um grande estudioso da Igreja Quando se mudou para Constantinopla foi amigo do Papa Dâmaso ganhando o título de conselheiro papal e intérprete das escrituras sagradas Jerônimo era exímio conhecedor das línguas clássicas das quais foram es critos os textos bíblicos Por isso o Papa Dâmaso o conferiu a tarefa de realizar uma revisão dos textos bíblicos latinos entretanto havia muita incoerência nas traduções latinas existentes com os textos originais Por essa razão Jerônimo decidiu fazer uma nova tradução que fosse fiel aos textos originais assim surgiu a Vulgata a versão canônica da Bíblia Conforme Russell 2015 Jerônimo era um homem de extrema cultura gostava de ler autores como Cícero Virgílio Horácio Ovídio entre outros Foi também contemporâneo de Santo Agostinho com quem teve grandes divergências sobre questões teológicas Mas em especial foi um grande intérprete das passagens bíblicas escreveu ótimos textos de exegese do antigo e novo testamento UNICESUMAR 51 São Jerônimo porém não foi um filósofo cristão nem escreveu ensaios com teor filosóficos e metafísicos Dessa forma sua importância para a patrística é de ter feito uma excelente tradução da Bíblia com inúmeros comentários que foram de grande importância para os primeiros filósofos cristãos como Santo Agostinho Por fim é importante destacar alguns pontos desta aula Primeiro que no início da patrística não havia uma comunicação harmoniosa da cultura cristã com as outras culturas o que impossibilitou uma conciliação entre fé e razão Segundo que os gran des pensadores deste período não realizaram nenhuma contribuição significativa para filosofia ou para metafísica Por último que a primeira fase da patrística marca o cenário que Santo Agostinho encontrará para criar sua filosofia 2 SANTO AGOSTINHO e a Metafísica da Interioridade Caroa alunoa Nesta aula nosso objetivo é compreender as características da metafísica de Santo Agostinho Para tanto abordaremos o filósofo em duas temáticas que são centrais dentro do seu pensamento sendo elas a primeira é compreender o papel da razão e da fé dentro da discussão sobre o mal a segunda o que é a metafísica da interioridade Dessa forma primeiramente exploraremos uma breve biografia so bre Santo Agostinho para depois entrarmos nos assuntos pertinentes a sua filosofia UNIDADE 2 52 Aurélio Agostinho nasceu em 354 d C na cidade de Tagaste localizada na região da Numídia no continente africano Agostinho estudou em Cartago durante jovem onde apreendeu cultura latina e um pouco da cultura grega Quando terminou seus estudos já adulto tornouse professor de retórica lecionando em grandes cidades como Tagaste Cartago Roma e Milão Agos tinho passou um longo período de sua vida sem envolvimento com a Igreja e com fé cristã porém com grande incentivo de sua mãe Mônica o filósofo foi convertido ao cristianismo e batizado pelo bispo Ambrósio Agostinho dá início a sua vida cristã dedicando sua atenção a Igreja Pri meiro vendeu alguns de seus bens para fundar uma comunidade religiosa depois promoveu algumas pregações em viagens Alguns anos mais tarde foi consagrado bispo de Hipona neste período como bispo o filósofo intensifica sua produção de obras filosóficas Na filosofia Santo Agostinho é considerado o primeiro grande filósofo cristão e neoplatônico Por essa razão marca o fim da primeira fase da patrís tica que acreditava na impossibilidade de uma conciliação entre fé e razão para iniciar um período em que fé e razão caminham juntas para desvendar os mistérios humanos e divinos Agostinho é sem dúvidas um dos grandes metafísicos cristãos pois procura solucionar problemas como a origem do mal e a corrupção dos homens O livro Confissões 397 é considerado um dos melhores trabalhos de Santo Agostinho um dos motivos é que inaugura um novo estilo literário que é a autobiografia Nesta obra o filósofo aborda vários temas de sua filosofia entretanto o que mais impressiona os filósofos é sua discussão sobre o tempo Agostinho argumenta que conforme é descrita a Criação do mundo no livro do Gênesis o tempo só poderia começar a existir junto com o mundo nunca antes de criação Os gregos não possuíam culturalmente um mito da criação do mundo para eles o mundo sempre existiu algo que é muito diferente da cultura cristã que pensa o mundo como uma criação de Deus Os cristãos também não aceitam a explicação de Platão e de Aristóteles que afirmava a existência de uma matéria eterna e que Deus apenas moldavaa com sua vontade como ocorre no livro Timeu de Platão em que Demiurgo o grande artesão ao ver a matéria eterna e sem forma utilizaa para produzir as coisas do mundo UNICESUMAR 53 Para Agostinho a matéria não pode ter uma existência antes de Deus pois este é o criador do mundo e de toda matéria que o compõe Logo também é criador do tempo visto que Deus sendo atemporal não era afetado pelo tempo somente suas criações sofre com o tempo Ou seja o tempo somente começa a existir com a criação do mundo Para Cardoso 2009 p 84 é possível sintetizar o pensamento de Santo Agostinho da seguinte forma O momento da criação é o começo de todas as criaturas visto que o tempo é por definição mudança ou seja ele também é criatura Mesmo tudo sendo criado pelo eterno Deus Criador através do Verbo nem as coisas que duram nem o tempo são eternos Isto é posto por Santo Agostinho a fim de expor que não existe um tempo antes da criação e antes do momento em que Deus o teria criado Na citação anterior vemos que o tempo é uma criação de Deus que age so mente nas criaturas divinas Diante disso Santo Agostinho no livro XI das Confissões pergunta o que é o tempo para o homem A resposta dada pelo filósofo tem um caráter psicológico e não metafísico porque parte da percep ção humana de como o homem apreende o tempo e não de uma definição de tempo em si mesmo estudado em sua essência como um objeto Conforme Russell 2015 Agostinho entende que o tempo é um movi mento que pode ser dividido em três momentos passado presente e futuro Entretanto a compreensão do tempo é somente possível a partir da cons ciência do presente porque com ela o homem tem a percepção do passado e futuro Portanto o passado deve ser identificado com a memória e o futuro com a expectativa e tanto a memória quanto a expectativa são realidade do agora RUSSELL 2015 p 71 Dessa forma é somente com a percepção do instante presente que o homem se torna capaz de compreender o que é o tempo Entretanto essa teoria não soluciona todas as dificuldades do que é o tempo Para tentar solucionar Agostinho pede em orações para que Deus ilumine sua alma para alcançar futuramente uma resposta mais satisfatória UNIDADE 2 54 A partir dessa breve explicação sobre o conceito de tempo para Santo Agosti nho adquirimos a compreensão de que todas as coisas da realidade humana são criações de Deus Para Agostinho o Deus cristão é pura bondade logo as coisas do mundo sendo suas criações também são boas Todavia comenta o filósofo esse fato parece não acontecer no mundo pois somos capazes de presenciar o mal nas ações humanas Diante deste fato Agostinho formula outra pergunta como é possível o ho mem uma cria do bom Deus ser capaz de fazer o mal Nas Confissões a dis cussão da obra não caminha para uma solução desta questão mas para uma explicação da impossibilidade de um maniqueísmo Somente no Diálogo sobre o livrearbítrio que Santo Agostinho trabalhará de maneira mais extensa o pro blema do mal Porém a tese da inexistência de um maniqueísmo é complementar ao problema da origem do mal O maniqueísmo pode ser definido como a doutrina que admite dois princí pios um princípio do bem e outro do mal Os dois princípios existem no mundo desde o início dos tempos por isso que são possíveis as más ações e o pecado do homem porque o mal existe desde a criação ABBAGNANO 2007 Esta doutrina acaba sendo aceita por alguns padres porém Agostinho discorda com pletamente do maniqueísmo visto que implicaria aceitar que Deus teria criado também o mal quando criou o mundo Para Agostinho o homem é dotado de um livrearbítrio que o possibilita escolher seu caminho com liberdade podendo escolher seguir um caminho que seja bom ou mau Entretanto a escolha deve acompanhar duas características fundamentais sua fé em Cristo e a sua razão Se antes os pensadores da patrística não conseguiam conciliar fé e razão agora Santo Agostinho aproxima as duas de uma forma que seja impossível ter fé sem estar vinculada à razão e viceversa Agostinho é um filósofo neoplatônico que aprendeu com Plotino as bases da filosofia de Platão Na teoria do conhecimento de Platão o homem somente con segue alcançar as verdades metafísicas quando deixa de reconhecer as coisas da sensibilidade mundo sensível como verdades e assume que a verdade somente pode ser alcançada por meio do inteligível A filosofia agostiniana segue o mesmo princípio que a filosofia platônica para que o homem obtenha o conhecimento é necessário desapegar da sua paixão pelo mundo sensível e se concentrar em Deus UNICESUMAR 55 Para o filósofo a razão sozinha sem a fé não consegue alcançar a ilu minação do divino que implica na impossibilidade de conhecer a verdade eterna Deus Por outro lado a fé cega sem a retidão da razão também não consegue obter uma aproximação com Deus e conhecer a verdade Portanto fé e razão necessitam estar juntas para que o homem conheça o BemSupremo e faça bom uso do seu livrearbítrio Sobre isso comentam Reale e Antiseri 2003 p 88 que a fé não substitui nem elimina a inteligência pelo contrário a fé estimula e promove a in teligência A fé somente tem sua existência a partir do pensamento humano para Santo Agostinho a razão é o maior estímulo da fé e também aquilo que fortalece a crença em Deus O que torna portanto as duas coisas complemen tares dentro do pensamento agostiniano Para Agostinho não tem como crer no que é absurdo cremos naquilo que é compreensível a nossa razão O livrearbítrio é uma escolha que segue este princípio escolher livremente é seguir sua fé e sua razão para assim poder escolher o melhor dos caminhos A resposta de Agostinho para pergunta de onde vem o mal que fazemos É que o mal surge no mundo quando o homem tem uma vontade maior pelos desejos sensíveis pois estes induzem o homem a se afastar da fé e da razão Portanto o mal não nasce no mundo quando Deus cria o mundo mas sim quando o homem se afasta de Deus Para mais detalhes sobre o livrearbítrio assista o vídeo intitulado Debate Santo Agosti nho hoje referente a uma palestra do Prof Dr Luiz Felipe Pondé httpswwwyoutubecomwatchvEwNBtDPo3hI conectese Com isso Santo Agostinho refuta a tese maniqueísta de que o mal está pre sente desde a criação divina O filósofo também inaugura uma nova concep ção de metafísica que segue as bases da filosofia platônica mas um pouco diferente por não procurar uma verdade num plano transcendente já que a verdade na filosofia agostiniana está no interior do homem UNIDADE 2 56 O problema que a filosofia de Santo Agostinho procura solucionar é o homem e o mistério que ele é para a filosofia Entretanto não busca o homem em suas essências transcendentes mas o homem em sua particularidade e singularidade como pessoa Por isso as Confissões são escritas em forma de autobiografia porque Agostinho enquanto homem é também um mistério para si mesmo então sua filosofia deve tentar desvendar este mistério A metafísica da interioridade de Agostinho procura resolver este mistério a partir da compreensão da iluminação divina Em outras palavras como é possível o homem conhecer Deus e as verdades eternas sendo que sua livre escolha pode o levar a escolher as paixões sensíveis afastandose da verdade divina Para Agostinho o homem vive sempre em conflito com a vontade humana e a vontade divina por esse motivo às vezes afastase do divino O conhecimento das verdades eternas está interligado com Deus o ho mem somente adquire a verdade quando se volta para próximo do Senhor Para que isso ocorra é necessário olhar para o seu interior e descobrir a di ferença entre o corpo e a alma O homem deve reconhecer que a alma é de maior grandeza que o corpo sendo assim mais próxima de Deus De acordo com José Roberto Abreu de Mattos Santo Agostinho entende a alma anima como o princípio vital do homem este é composto de corpo e alma A interioridade hu mana se reporta à alma possuindo sua expressão mais elevada na mens substância imaterial hierarquicamente superior ao corpo A anima não é privilégio humano pois é comum a todo animal vivente entretanto apenas o homem possui animus isto é a facul dade de cognição a razão o poder de se reconhecer como alma reconhecendo a existência do seu Criador MATTOS 2018 p 17 Na citação anterior observamos que o homem não deve se prender às pai xões da sensibilidade mas apegarse à razão que é uma característica única da alma humana É preciso lembrar que a razão e a fé são complementares ambas caminham juntas são seres inseparáveis para o filósofo Portanto todo conhecimento derivado da razão somente tornase compreensivo quando a fé ilumina o pensamento e o torna nítido ao homem UNICESUMAR 57 A razão tem como finalidade conhecer a verdade a partir da reflexão porém sozinha não consegue direcionar o homem ao caminho do bem apenas com a fé é capaz de guiar o homem a Deus É com a fé guiando a razão que o homem consegue ter o vislumbre de Deus e com isso afirma Agostinho des vendar o mistério que é para si próprio visto que Deus é a revelação de que o homem é uma criatura que crê em seu Criador É portanto a união entre razão e fé que leva o homem a ter um pensa mento reflexivo de seus atos ou melhor ter discernimento de como dirigir a sua crença O ato reflexivo proveniente da razão e da fé faz a vontade humana alcançar a vontade divina que por sua vez faz a criatura alcan çar o Criador o conhecimento encontrar a Verdade Eterna Desse modo é conhecendo sua alma e as características próprias dela que o homem se reconhece diante do divino Nesse sentido o conhecimento humano somente é possível porque está vinculado à possibilidade de conhecer as verdades eternas igual ocorre em Platão porém com a diferença na filosofia agostiniana o conhecimento in teligível Deus encontrase no interior do sujeito na alma enquanto para o grego está numa realidade transcendente mundo inteligível Por fim podemos concluir que na metafísica agostiniana o processo de conhecimento humano está completamente interligado à relação entre fé e razão como também o problema sobre o mal Pois é a partir dessa relação que surge em Santo Agostinho um parâmetro ético já que a conduta que leva o homem em direção ao BemSupremo possibilita uma retidão moral Dessa forma para Agostinho a ação de conhecer seu interior ou seja sua alma é um ato intelectivo porque leva ao conhecimento de Deus que implica ne cessariamente ao encontro do conhecimento verdadeiro De modo algum Deus odiaria em nós aquilo que nos criou melhores do que os outros seres dotados de alma De modo algum repito devemos crer de tal forma a não acei tarmos ou procurarmos razão pois não poderíamos sequer crer se não tivéssemos almas racionais Fonte Agostinho 1998 p 37 explorando Ideias UNIDADE 2 58 A filosofia escolástica corresponde a um grande período da história da filosofia Nosso objetivo não é abranger toda a filosofia e metafísica desse período o que pretendemos nesta aula é compreender como foi a introdução do pensamento aris totélico dentro da filosofia medieval Para tanto exploraremos os filósofos árabes Avicena e Averróis que são os responsáveis por disseminar Aristóteles no Ocidente No século XIII a Igreja Católica adquiriu um grande espaço na sociedade que se estende por todas as classes sociais A expansão rápida da Igreja Católica fez com que fosse necessário criar uma doutrina católica que pudesse justificar e esclarecer todos os mistérios da fé Procurando alcançar esse objetivo a Igreja investiu nas primeiras universidades que rapidamente tornaramse os centros intelectuais das cidades europeias Essas universidades eram dirigidas por comunidades religiosas que buscavam zelar por duas coisas a qualidade do ensino e a doutrina da fé cristã Esse momento do surgimento das universidades é denominado de escolás tica A primeira universidade da escolástica é da cidade de Bolonha porém não era um centro exclusivo para o estudo de teologia e filosofia a especialidade desta instituição era o Direito Somente na universidade de Paris é que surgiu o primeiro centro de estudos de filosofia e teologia A filosofia que percorria as universidades no século XIII era formada por conhecimentos sobre lógicos e interpretações das obras de Platão juntamente com os escritos dos neoplatônicos que colocavam em harmonia a fé cristã e razão grega 3 A ESCOLÁSTICA E O Descobrimento de Aristóteles UNICESUMAR 59 Neste período da escolástica começou a surgir entre o meio acadêmico um novo autor grego Esse autor era Aristóteles pouco conhecido pelos intelectuais me dievais pois devido à destruição da biblioteca de Alexandria as obras de Estagira foram perdidas não chegando grandes fragmentos para os escolásticos Há outro fato histórico que contribuiu para o desaparecimento de Aristóteles que foi o decreto do fechamento das escolas de filosofia de Atenas De acordo com Gilson 1998 p 423 Em 529 d C o imperador Justiniano decreta o fechamento das es colas filosóficas de Atenas Portanto podia parecer que o Ocidente se recusava definitivamente à influência da especulação helênica mas o pensamento grego começara bem antes dessa data a ganhar terreno rumo ao Oriente ele já inaugura o movimento envolvente que devia trazer ao Ocidente do século XIII o pensamento de Aristóteles e do neoplatonismo por intermédio dos filósofos sírios árabes e judeus Na citação anterior o autor descreve que a filosofia grega ganhou grande espaço no Ocidente Fato muito importante na história da filosofia porque as escolas árabes de filosofia foram as encarregadas de realizar o trabalho de tradução e preservação de autores helênicos como Platão e Aristóteles enquanto que no mundo europeu havia apenas alguns fragmentos de Aristóteles contidos em algumas obras de Boécio e Marciano Capella O Ocidente continha traduções de obras completas de Aristóteles como por exemplo a tradução das Catego rias Primeiros e Segundos Analíticos e a Física O desenvolvimento filosófico e teológico do século XIII seguiu se à invasão do Ocidente latino pelas filosofias árabes e judaicas e quase simultaneamente pelas obras científicas metafísicas e morais de Aristóteles Etienne Gilson pensando juntos O Ocidente começa a perceber a importância de Aristóteles somente depois da aparição constante do filósofo nos escritos dos árabes A descoberta é uma revolução na filosofia pois a filosofia aristotélica apresenta para os medievais a autonomia da filosofia em outras palavras a filosofia pode se desenvolver sem es tar vinculada à teologia Sobre isso comentam Reale e Antiseri 2003 p 190 que UNIDADE 2 60 Com a descoberta das obras de física e metafísica de Aristóteles não somente passouse a ter instrumentos formais autônomos mas também conteúdos próprios e perspectivas novas elementos que levam a filosofia a pretender autonomia própria e distinção clara em relação à teologia Embora a fé tenha necessidade da razão esta porém possui âmbito independente com conteúdos próprios A marca da escolástica não é da autonomia da filosofia mas da submissão da filosofia à teologia cristã O trabalho dos filósofos escolásticos era buscar uma cristianização da filosofia aristotélica como é possível ver nas obras de São Tomás de Aquino que transformaram a filosofia aristotélica em uma filosofia cristã No momento não pretendemos tratar sobre Tomás de Aquino mas abordar os filósofos árabes que trouxeram Aristóteles ao Ocidente O primeiro filósofo árabe a ser estudado pelos escolásticos foi Avicena Nascido em 980 dC na cidade de Bukhara na Pérsia Avicena foi um médico e filósofo Teve grande popularidade na segunda metade do século XII com suas obras sendo traduzidas e comentadas com rapidez no ocidente Dentre suas obras uma tem grande destaque o famoso Livro da Cura que contém estudos sobre retórica física política e metafísica A filosofia e a metafísica de Avicena contém características do neopla tonismo e do aristotelismo com a finalidade de conseguir uma explicação teológica e cosmológica das questões humanas O problema mais explorado por Avicena foi a relação entre ente e essência Em resumo o filósofo entende por ente aquilo do qual sua existência deriva da essência por exemplo uma cadeira não depende de si mesma para sua existência pois sua existência deriva de um carpinteiro O carpinteiro é a essência do ente da cadeira pois sem ele não haveria uma cadeira Avicena inclui mais dois conceitos em sua metafísica ser possível e ser necessário Esses conceitos são derivados da lógica aristotélica possivelmente retirados do livro das Categorias O significado de ser possível é que há seres que têm sua existência derivada de outro ser por isso chamase ser possível este ser somente possui existência por causa de outro ser O ser necessário é aquele que possuía a causa da sua existência em si mesmo não necessitando de outro ser para que exista Em outras palavras é autossuficiente não precisa de ninguém para prover sua existência UNICESUMAR 61 Para Reale e Antiseri 2003 os conceitos de ente e essência da filosofia de Avicena são bem acolhidos pelos medievais pois estes separam o mundo humano de Deus enquanto um é apenas possível pois sua existência atual é contingente não postulada por sua essência ao passo que o outro é necessário o primeiro é dependente o segundo é independente REALE ANTISERI 2003 p 192 Essa visão filosófica de Avicena satisfaz alguns dos problemas dos escolásticos porque descreve bem a relação do homem com Deus porque justifica a criação do homem enquanto o ser possível tem sua essência derivada de outro ser Deus por sua vez Deus um ser necessário contém a impossibilidade de ser provido de outro ser Com isso Avicena com sua filosofia diz que as bases de Aristóteles servem de influência para os filósofosteólogos cristãos da escolástica principalmente para São Tomás de Aquino que escreve uma obra para tratar das questões referentes a ente e essência em Aristóteles Outro grande filósofo árabe é Averróis Nascido em 1126 dC na cidade Cór doba centro da Espanha muçulmana que concentrou durante alguns séculos o grande desenvolvimento da cultura árabe Averróis era médico e jurista também foi o maior comentador de Aristóteles da cultura árabe Obstinado em conhecer a verdadeira filosofia aristotélica não estudou por comentadores recorreu à leitura das obras de Aristóteles para conhecer com exatidão sua filosofia Se se coloca a questão desse modo e se tudo aquilo de que se tem necessidade para o estudo dos silogismos racionais foi realizado da melhor maneira pelos Antigos então por certo é preciso que avidamente tomemos em mãos seus livros a fim de verificar tudo o que disseram a respeito Se tudo for justo aceitaremos o que propõe e se se encontra algo que não seja justo nós o indicaremos Fonte Averróis 2005 p 11 explorando Ideias Averróis 2005 acredita que fé e razão não podem ser pensadas separadamente ambas devem estar juntas para conhecer a verdade Com isso o entendimento da filosofia grega é fundamental para a crença religiosa uma vez que os gregos foram os que melhor souberam trabalhar a lógica racional A respeito disso Bittar 2009 p 82 faz o seguinte comentário UNIDADE 2 62 A sabedoria para ser adquirida não se constrói na base da pura arrogância da razão humana e nem com base na cega subserviên cia aos textos sagrados A sabedoria na visão averroísta demanda posição ativa do pensamento iluminado pela fé e pela crença Em Averróis filosofia e religião não concorrem entre si mas se somam exatamente porque se voltam à construção da virtude Como podemos ver na citação filosofia e fé não disputam entre si para chegar na verdade ou seja não são rivais numa competição mas companheiras que visam o mesmo objetivo Logo elas andam juntas para construir um caminho até a verdade Averróis 2005 depois de estudar a cultura grega percebe que a verda deira filosofia é a aristotélica pois Aristóteles trabalha como ninguém a lógica racional em suas obras Averróis 2005 p 3 comenta sobre o ato de filosofar Se o ato de filosofar consiste na reflexão sobre os seres existentes e na consideração destes do ponto de vista de que constituem a prova da existência do Artesão quer dizer enquanto são artefatos pois certamente é na medida em que se conhece sua construção que os seres constituem uma prova da existência do Artesão Na citação anterior percebemos a importância do filosofar para Averróis E também percebemos uma sutil referência filosófica à Aristóteles em especí fico à Metafísica obra que descreve a ciência do ente enquanto ente Porque o filósofo árabe viu nessa obra a tese do Primeiro Motor Imóvel que possui uma grande similaridade com seu Deus Alah a partir de suas características do Primeiro Motor ser ato puro eterno contemplativo imóvel O Primeiro Motor Imóvel é uma grande contribuição de Aristóteles se gundo Averróis 2005 para a conciliação entre fé e razão Pois embora des creva de forma racional a origem dos seres e de Deus não é algo diferente do que a fé apresenta pela crença ou seja a filosofia aristotélica ainda procura a mesma verdade que a fé Averróis argumenta que é impossível a existência de duas verdades portanto a filosofia e a religião seguem caminhos diferentes para chegar ao mesmo objetivo UNICESUMAR 63 Para o filósofo o objetivo de investigação filosófica e metafísica deve ser conciliar essas duas coisas fé e razão para poder alcançar a verdade com maior precisão e con fiabilidade Desse modo o pensa mento de Averróis entra no mundo Ocidental apresentando a forte li gação entre fé e razão em específi co dentro da filosofia aristotélica e sua similaridade com as questões teológicas ato que será recriado pelos filósofos da escolástica Desse modo o Período Me dieval denominado de Escolástica apresenta três pontos importantes primeiro o surgimento das pri meiras universidades de teologia e filosofia da Europa segundo o ressurgimento de Aristóteles no contexto ocidental por meio das traduções e comentários árabes terceiro diante das obras de filóso fos como Avicena e Averróis que mostraram uma conciliação da fi losofia aristotélica com a fé muçul mana Os escolásticos encontraram uma forma de conciliar filosofia e fé cristã Foi neste contexto cultu ral que São Tomás de Aquino viveu e desenvolveu sua filosofia que ve remos na aula seguinte NASCIMENTO DA FILOSOFIA CRISTÃ No século V dC a invasão dos Bárbaros destrói grande parte dos centros culturais Os poucos filósofos pagãos que sobraram buscaram refúgio no cristianismo Neste período nasce a Filosofia Cristã com autores como Justino e Tertuliano Tertuliano de Cartago Justino Mártir Os cristãos procuraram dentro da filosofia pagã meios de conciliar fé e razão para assim defenderem as doutrinas cristãs FILOSOFIA PATRÍSTICA SÉC IIV DC A filosofia patrística marca o começo da conciliação entre fé e razão que impulsiona o surgimento de filosofias cristãs neoplatônicas como a filosofia agostiniana Santo Agostinho foi um dos filósofos mais importantes desse período Escreveu grandes obras de filosofia como As confissões Diálogo sobre livrearbítrio e Ensaio sobre a Trindade ESCOLÁSTICA SÉC IXXII São Tomás de Aquino A escolástica é um método de estudo especulativo de cunho filosóficoteólogo criado pela Igreja Católica que tinha como finalidade fundamentar as doutrinas do cristianismo Seus grandes representantes foram São Tomás de Aquino e Santo Anselmo Santo Anselmo FINAL DA ESCOLÁSTICA O final da escolástica marca também o término da Idade Média A ruína da escolástica tem início no século XIII com a perda da hegemonia cultural do cristianismo causada pelos avanços da ciência na sociedade Com isso no começo do século XIV as Universidades da Europa tinham uma preocupação maior com questões científicas do que religiosas Fé Ciência UNIDADE 2 66 São Tomás de Aquino é o maior filósofo da escolástica defendeu e criou os prin cípios da doutrina católica Nasceu em 1225 dC na Itália na cidade chamada Aquino Oriundo de uma família de nobres estudou em ótimas escolas ingres sou na Universidade de Nápoles lugar onde conheceu a ordem religiosa dos dominicanos a qual dedicou votos de fé para se tornar um monge dominicano Entretanto a ideia de uma vida religiosa era contrária à vontade de sua família que desejava que Tomás assumisse os negócios de seu pai Conforme conta Storck 2009 a família de Tomás de Aquino arquitetou um sequestro para tirar ele da ordem dominicana O sequestro resultou em êxito pois o filósofo foi sequestrado e aprisionado durante um ano Para forçar sua saída foi contratada uma prostituta para seduzilo e quebrar seus votos de castidade porém Tomás expulsou a prostituta e continuou firme com seus votos não de sistindo da vida religiosa Diante disso sua família soltouo e permitiu que ele fizesse seu caminho religioso 4 SÃO TOMÁS DE AQUINO e a Metafísica Para mais detalhes sobre a vida e obras de Tomás de Aquino assista o vídeo intitulado Tomás de Aquino filosofia e o ofício do sábio feito pelo grupo do site SUPERLEITURAS httpswwwyoutubecomwatchvWKC0LjVZ9Do conectese UNICESUMAR 67 Alguns anos depois Tomás de Aquino começou a lecionar na Universidade de Paris local em que conseguiu dedicar um bom tempo para produção de suas obras Os escritos de Tomás são divididos em dois grupos o primeiro referese aos escritos sobre filosofia que se consistem em comentários e explicações acerca das obras de Aristóteles o segundo referese a textos sobre teologia compostos por explicações das escrituras sagradas Na filosofia Tomás de Aquino trabalha vários temas a respeito de questões da doutrina cristã porém um dos mais relevantes é sobre o ente e a essência Nosso objetivo nesta aula é compreender as implicações filosóficas e metafísicas desses dois conceitos para o filósofo Para tanto começaremos por uma definição de cada conceito depois buscaremos entender onde cada um se encaixa dentro do sistema metafísico do filósofo Em sua obra de juventude O ente e essência Tomás de Aquino define pela pri meira vez os conceitos de ente e essência O intuito desta obra é estabelecer as bases da sua metafísica para posteriormente trabalhar com maiores detalhes sua teoria sobre Deus e sua existência em sua obra magna Suma Teológica Segundo Vicente 2014 os conceitos de ente e essência são fundamentais na filosofia de Tomás de Aquino pois eles estabelecem as bases de todo conhe cimento humano Dessa maneira uma definição correta do que seja cada um é de grande importância porque um simples erro pode acabar com toda estrutura ontológica criada por Tomás Então a princípio temos que entender que ente significa tudo aquilo que é com preensivo e apreendido pelo intelecto A definição de ente pode ser descrita como tudo aquilo que existe na realidade ou seja qualquer coisa existente é um ente Esse ente deve ser capaz de estar no campo da percepção inteligível do homem assim qualquer coisa do mundo que exista e seja compreensível pelo intelecto é denominado de ente Entretanto há dois tipos de ente que pode ser captado pelo intelecto o primeiro é ente lógico aquele que tem a função de juntar vários conceitos para formar um novo que pode não existir de fato na realidade Sobre o ente lógico comentam Reale e Antiseri 2003 p 216 que UNIDADE 2 68 Nós usamos o verbo ser para expressar conexões de conceitos que são verdadeiras enquanto ligam corretamente tais conceitos mas não expressam a existência dos conceitos que ligam Quando dize mos que a afirmação é contrária a negação ou que a cegueira está nos olhos falamos a verdade mas esse está não significa que existe a afirmação nem que existe a cegueira Existem homens que afirmam e existem coisas sobre as quais podemse pronunciar afirmações mas não existem afirmações Existem olhos privados de sua função normal mas não existe a cegueira a cegueira é o modo pelo qual o intelecto expressa o fato de que certos olhos não veem Na citação anterior os autores querem dizer que nossa capacidade intelectual é capaz de criar um ente a partir de vários seres existentes Em outras palavras exis tem entes lógicos que são a síntese de várias coisas que fazem referência a algo que existe por exemplo a condição de não enxergar é real entretanto a cegueira em si mesma não existe é uma derivação da condição de não enxergar Da síntese da situação o intelecto fórmula o ente cegueira pois logicamente é um conceito con dizente com o fato de não enxergar Assim o ente lógico é um objeto do pensamento criado a partir da abstração e capacidade do intelecto humano de criar conceitos O segundo tipo de ente é o ente real que por sua vez é tudo que é referente a ser Tudo que existe no mundo é um ser como também tudo que existe fora dele como Deus O ente real pode ser definido como sendo tudo o que é em forma de ser seja criatura ou criador Entretanto essa discussão sobre o ser real remete ao conceito de essência já que as diferenças dos seres serão definidas pela sua essência O tema do ente ocupou o pensamento de Tomás de Aquino desde a sua juventude quan do exerceu seu primeiro magistério no Studium Generale dos dominicanos na Univer sidade de Paris 12521256 Foi nessa época a pedido de seus colegas frades que ele escreveu O ente e a essência De ente et essentia que em todos os sentidos como quis o próprio Tomás de Aquino é um manual introdutório à obra Metafísica de Aristóteles que reúne a totalidade dos conhecimentos do filósofo em matéria de filosofia primeira isto é do ente enquanto ente uma fórmula traduzida para o latim por ens qua ens habitualmente empregada pelo Doutor Angélico Fonte Vicente 2014 p 183 explorando Ideias UNICESUMAR 69 Segundo Vicente 2014 Tomás de Aquino tem muito cuidado para formular sua metafísica visto que o objetivo dela é ser o instrumento de estudo das coi sas divinas De tal modo o filósofo procura criar um método na sua filosofia que vai da elucidação do mais fácil ao mais difícil compreender primeiro o que é o ente para depois investigar o que é a essência Seguindo o método de Tomás já definimos o que é o ente agora faltanos definir o que é essência Por essência podese entender tudo aquilo que é descrito como necessário para uma coisa ser o que é por exemplo o que é o homem A resposta para essa pergunta tem que conter o que é estritamente necessário para que algo um ser seja um homem Normalmente é respondida tal pergunta com a premissa o homem é um animal racional Para Tomás a essência se entende como a ordenação que a coisa tem para sua atuação ou seja o que a determina para agir de tal modo A essência é a definição do que é o ser em seus fundamentos no caso do homem é ser um animal racional O mundo criado por Deus é tomado pela contingência uma coisa pode ser e vir também a não ser visto que nada além de Deus é propriamente ne cessário A contingência impossibilita a ligação entre existência e essência na natureza O homem é uma criatura salienta Tomás de Aquino não contendo sua essência de si mesmo mas de outro ser Deus Logo é tomado pela falta de sua essência em si Deus é o único ser que tem sua existência e essência em si mesmo então uma filosofia que busca compreender o ente e sua essência tem que estar voltada ao único Ser que possuía existência e essência em si Lembrando que Tomás é um filósofo aristotélico dessa maneira é necessário recordar da definição de metafísica dada por Aristóteles a metafísica é a ciência do ente enquanto ente ciências das causas primeiras do ser Tomás de Aquino utiliza o mesmo método de Aristóteles porém faz uma pequena mudança Enquanto o grego se preocupa com as questões das essên cias e causas do ser Tomás tem sua atenção voltada para o ser Desse modo sua metafísica é uma investigação do Ser Deus buscando entender como é possível haver as existências e causas que derivam deste Ser Sobre isso comentam Reale e Antiseri 2003 p 2017 que UNIDADE 2 70 Sendo a metafísica do ser a metafísica de Tomás pretende nos oferecer um fundamento do saber mais profundo do que o das essências um fundamento que funda a realidade e a própria possibilidade das essências Tratase da redescoberta da es tupefação diante do mistério do ser fazendo renascer a estupe fação originária que é despertada em nós quando percebemos o dom inestimável e indizível do ato ao qual somos tirados do nada para o ser O que observamos na citação é que a metafísica enquanto uma investigação do ser leva o homem a procurar compreender o mistério da sua origem Com isso o homem é levado a investigar Deus e suas propriedades na esperança em entender como é o Criador deste mundo Para Tomás de Aquino tal investigação somente é possível com a me tafísica porque Deus é um ser transcendental que significa ser uno eterno e verdadeiro Entre as ciências existentes no mundo não há nenhuma outra ciência além da metafísica que estude um ser com essas características Como dizia Aristóteles todas as outras ciências do entendimento humano estudam os seres em suas particularidades porém somente a metafísica é capaz de estudar o ser em sua estrutura primordial Se o homem é uma criação divina a estrutura primordial de sua existência é divina portanto é sobre o divino que a metafísica deve estudar Para Aristóteles e Tomás os assuntos divinos devem ser trabalhados pela metafísica Entretanto há uma leve diferença salientam Reale e Antiseri 2003 enquanto que na metafísica aristotélica a verdade está no plano do intelecto e não no plano da realidade para a metafísica de Tomás é possível encontrar a verdade no plano da realidade Anteriormente foi dito que os seres do mundo existem na contingência já que eles não contêm em si mesmos suas essências pois estas derivam de ou tro ser Isso permite a Tomás de Aquino justificar sua teoria da criação divina entretanto isso também justifica sua argumentação acerca da possibilidade de a realidade conter a verdade Mattos 1988 p 21 descreve o processo da relação entre criação divina em Tomás da seguinte forma UNICESUMAR 71 Todos os seres estão em permanente transformação alguns sendo ge rados outros se corrompendo e deixando de existir Mas poder ou não existir não é possuir uma existência necessária e sim contingente já que aquilo que é necessário não precisa de causa para existir Assim o possível não teria em si razão suficiente de existência e se nas coisas houvesse apenas o possível não haveria nada Para que o possível exista é necessário portanto que algo o faça existir Ou seja se alguma coisa existe é porque participa do necessário Este por sua vez exige uma cadeia de causas que culmina no necessário absoluto ou seja Deus Conforme a citação tudo que existe existe porque participa do necessário Se Deus é a verdade suprema e suas criaturas participam dele então é possível a existência de uma verdade no plano real não apenas no inteligível como dizia Aristóteles Dessa maneira quando Tomás de Aquino afirma que algo dentro da realidade é uma verda de é porque é um projeto da verdade suprema fazendo parte também dela própria De acordo com Reale e Antiseri 2003 p 218 quando ele Tomás de Aquino afirma que todo ente é verdadeiro quer dizer que todo ente é expressão do arquiteto supremo que ao criar pretendeu realizar um projeto preciso E essa é a verdade ontológica isto é a adequação de um ente de todo ente ao intelecto divino O Criador sendo a pura verdade não pode criar algo falho mas uma derivação do que ele é ou seja também uma verdade Todavia é uma verdade que se encaixa dentro dos parâmetros do intelecto humano uma vez que a verdade ontológica Deus não pode ser compreendida pelo homem que não compartilha da mesma qualidade divina O termo verdade ontológica é referente a palavra ontologia Ontologia significa na filoso fia aristotélica estudo das propriedades gerais do ser assim verdade ontológica é aquilo que o define em sua essência Fonte o autor conceituando UNIDADE 2 72 Para Tomás de Aquino há dois tipos de formas de ser seres compostos e seres de forma simples Os seres compostos são os que possuem mais de uma uni dade em seu ser enquanto os seres simples possuem uma ou duas unidades Por exemplo o anjo não possui um corpo existindo apenas em espírito e intelecto porém ainda tem sua essência derivada de Deus O homem por sua vez é composto por três unidades corpo espírito e essência derivada de Deus Em comparação entre os homens e os anjos percebemos que os anjos são de uma forma mais simples possuindo apenas espírito e essência vinda de Deus os homens são mais compostos possuindo três unidades Por outro lado Deus é uno não deriva de ninguém em essência e é puro intelecto por tanto o ser mais elevado Segundo Tomás de Aquino o intelecto humano não é capaz de compreen der os seres de forma simples somente é capaz de entender os seres do mun do sensível que estão abaixo dele na hierarquia Nesse sentido o homem é incapaz de compreender totalmente Deus ou até mesmo de descrevêlo Vicente 2014 p 183 ressalta que De acordo com Tomás de Aquino somos criaturas temos muito pouco em comum com Deus que existe por sua própria nature za perfeitamente simples isto é simplicidade absoluta O que sabemos sobre o mundo não nos diz nada de positivo sobre a essência de Deus só podemos dizer o que Ele não é Em um sentido geral somente por analogia podemos falar de Deus isto equivale a dizer que os termos que usamos sobre Deus são sem pre inadequados para expressar sua realidade Na citação anterior vemos a descrição da incapacidade do homem de co nhecer Deus Mesmo sendo dotado de um intelecto capaz de compreender todas as coisas do mundo nunca será capaz de descrever Deus pelo que ele é somente conhecerá pelo que Ele criou Tomás de Aquino reconhece que a única forma de conhecer a Deus é pela ignorância ou seja conhecer a Deus é ignorar o que ele é em si mesmo UNICESUMAR 73 VAZ 1996 p 185 Esse reconhecimento de Tomás de Aquino é baseado num paradoxo Por exemplo quando o homem estuda sobre si mesmo e os seres do mundo consegue perceber seu elo com Deus assim aproximase de seu Criador Porém mesmo se aproximando não diminui a distância transcen dental entre eles É como se o homem estivesse a correr numa esteira elétrica caminhando sem cessar e sem nunca sair do lugar A metafísica de Tomás de Aquino parte para uma investigação do Ser Deus Porém essa investigação é realizada a partir das estruturas do ser finito uma vez que o ser infinito é incompreensível ao homem A metafísica procura estudar os seres que compõem o mundo pois eles aparentam possuir uma essência que os explica e os fundamenta em sua existência Entretanto essa essência não aparenta ser criada por esses seres da natu reza mas criada por um ser de intelecto superior Então conclui o filósofo que somente Deus pode ser causa dessa ordem porque Deus é aquele que determina toda a ordem da natureza Com isso a metafísica de Tomás de Aquino mostra que a existência de Deus somente pode ser percebida pelo homem a partir das criações divinas mas nunca por meio dela mesma Por essa razão o homem vive nesse paradoxo do reconhecimento da necessidade de Deus como princípio de sua existência já que sua essência deriva dele e da incapacidade de vir a conhecer a origem da sua essência A metafísica tomista pode parecer apresentar um cenário desanimador ao homem todavia é um otimismo para o homem de fé salienta Tomás porque revela que tudo é fruto da criação divina Logo o mundo é bom pois Deus é pura bondade esse destino paradoxal é o melhor de todos uma vez que o Criador seria incapaz de criar algo mal ou imperfeito Para encerrar esta aula devemos lembrar de três pontos importantes Pri meiro os conceitos de ente e essência são fundamentais dentro da metafísica tomista principalmente para construção de sua ontologia Segundo a exis tência do homem é justificada a partir da criação divina que é sustentada a partir da falta de essência do homem em si mesmo Terceiro a única maneira de conhecer Deus é a partir de suas criações assim a verdade que temos de Deus é provida do conhecimento das coisas do mundo criadas por Ele UNIDADE 2 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa nesta unidade você teve contato com alguns aspectos da filosofia medieval que foram determinantes para a construção da me tafísica neste período A característica fundamental da Era Medieval que a diferencia da filosofia grega é o encontro da filosofia com o cristianismo pois a religião cristã estabelece todos assuntos e problemas metafísicos da filosofia neste período No início do nosso estudo observamos que fé e razão eram como água e óleo pois para os primeiros pensadores da patrística uma não poderia colaborar com a outra Dessa forma nos primeiros séculos da Era Cristã não houve grandes contribuições filosóficas e o avanço da metafísica ficou estagnado Todavia com Santo Agostinho a fé cristã conseguiu alcançar uma conciliação com a filosofia E com isso a metafísica platônica ganhou um aspecto totalmente novo na história da filosofia Se antes a metafísica de Platão procurava alcançar as verdades eternas em um mundo transcendente fora do indivíduo com Agostinho a metafísi ca é interior o homem deve olhar para o seu interior e descobrir a diferença entre o corpo e a alma Deve reconhecer que a alma é de maior grandeza que o corpo sendo assim mais próxima de Deus Para isso deve conciliar sua racionalidade com sua fé pois somente uma alma dotada de razão é capaz de compreender os mistérios da fé No período da escolástica percebemos a importância dos filósofos árabes dentro da cultura Ocidental Entretanto o fator mais importante deste perío do é a interpretação da filosofia aristotélica por São Tomás de Aquino que traz um novo sentido para os conceitos de ente e essência Esses conceitos estruturam uma metafísica cristã que permitem Tomás de Aquino provar a existência de Deus e apontar o vínculo da criatura com o Criador Por fim nesta unidade fomos capazes de perceber a mudança de paradig ma que a doutrina cristã trouxe para filosofia e principalmente compreender quais são os problemas metafísicos enfrentados pelos filósofos deste período histórico 75 na prática 1 Tertuliano é um pensador da primeira fase da patrística latina período da história da filosofia marcado pela defesa da fé cristã junto com estudo evangelista das escrituras sagrada Outra marca importante desse momento é o conflito entre fé e razão A partir deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F Dentro dos pensadores da primeira fase da patrística está Minúcio de Félix que buscava conciliar fé e razão afirmando que o trabalho conjunto desses dois elementos ajudaria o homem a compreender a Bíblia e Deus Santo Agostinho marca a primeira fase da patrística latina com um grande discurso de impossibilidade da conciliação entre fé e razão Tertuliano foi um defensor da fé cristã acreditava que a filosofia era pre judicial à fé cristã pois o conhecimento de outras culturas poderia levar o homem ao pecado da dúvida ou seja duvidar de sua fé em Cristo Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 76 na prática 2 A lição platônica que Agostinho reteve pode ser assim resumida Ao desconfiar do que se apresenta aos sentidos e ao intelecto não devemos desesperar do acesso racional à verdade Devemos apostar que a verdade está mais além que a verdade será encontrada somente depois de um esforço racional que nega as verdades aparentes em proveito de uma verdade que transcende a aparência O trabalho da filosofia é um longo e penoso estudo de depuração para que a razão encontre as condições adequadas de conhecimento da verdade AYOUB NOVAES 2009 p 20 A partir dos seus conhecimentos sobre a filosofia de Santo Agostinho obtidos ao longo desta unidade é possível afirmar que a alternativa correta é a Santo Agostinho depois de estudar a filosofia platônica adquire uma visão diferente do maniqueísmo Agostinho encontra no platonismo a explicação de que o exercício da razão leva o homem ao conhecimento da verdade O filósofo conclui que o mal tem sua origem na vontade humana pois o homem escolhe não seguir o caminho da razão e consequentemente não alcança a verdade Assim Agostinho aproveitou desta teoria platônica dizendo que o mal tem sua origem no homem e na sua vontade de não seguir sua ra cionalidade e sua fé em Deus Esse ato de Agostinho também é o início da conciliação entre fé e razão b Santo Agostinho não era um filósofo neoplatônico Dessa forma não teve nenhuma influência da filosofia platônica c Para Agostinho a filosofia platônica representava uma enorme conquista do povo grego visto que descrevia com legitimidade muitos aspectos seme lhantes à fé cristã Todavia uma filosofia de uma cultura pagã não poderia ser aceita dentro do pensamento cristão Então Agostinho não leva em conside ração o pensamento platônico d O filósofo percebe que a filosofia platônica pode contribuir muito para o desenvolvimento da doutrina cristã Por isso que estuda nos por menores o livro da Metafísica de Platão e Tertuliano foi um grande pensador da patrística latina Escreveu grandes obras defendendo as doutrinas da Igreja porém não teve um grande conta to com as obras platônicas já que defendia a impossibilidade da conciliação entre fé e logos 77 na prática 3 Em linhas gerais o maniqueísmo pretendia que nosso mundo seria resultado de um embate entre dois princípios ou dois príncipes se quisermos uma linguagem alegórica De um lado o princípio do bem ou Príncipe da luz e de outro o princípio do mal Príncipe das trevas Um dos resultados desse combate seria justamente o homem com uma parte luminosa alma e outro parte tenebrosa o corpo AYOUB NOVAES 2009 p 20 A partir desse enunciado assinale a alternativa correta a Santo Agostinho é um grande filósofo da patrística latina escreveu inúmeras obras defendendo a doutrina cristã Entre suas obras estão as Confissões uma autobiografia Nesta obra defende o maniqueísmo e comprova a existência de duas naturezas no homem uma da luz e outra tenebrosa A primeira represen ta o bem e as boas ações do homem a segunda representa o mal e as ações pecaminosas do homem b Santo Agostinho foi um grande filósofo cristão Entre seus escritos o tema que mais se destaca é sobre o maniqueísmo que consiste na sua defesa da origem do mal no mundo a partir da criação divina c Na obra Confissões Santo Agostinho apresenta um ataque forte contra o ma niqueísmo argumentando a impossibilidade da existência do mal no mundo a partir da criação Para o filósofo a origem do mal não pode estar na criação uma vez que o Criador é infinitamente bom logo suas criações são por conse quências boas O mal somente pode ter origem nas ações humanas que vão em desencontro com Deus ou seja o mal surge no mundo quando o homem se afasta de Deus d No livro Diálogo sobre o livrearbítrio escrito por Santo Agostinho há a defesa de uma tese da predestinação do homem a qual descreve que o homem está destinado a cometer uma quantidade de ações boas e ruins ao longo de sua vida independentemente de sua escolha e Santo Agostinho junto com São Tomás de Aquino constitui o núcleo do pensa mento cristão da Idade Média Ambos formularam uma alegoria sobre a alma e o corpo que consistia que a alma é habitada por um Príncipe da Luz que decide sobre as ações boas do homem enquanto o corpo é habitado por um Príncipe das Trevas que é o pensamento por trás do pecado humano Essa alegoria tornouse muito popular na Idade Média influenciando todo o pensamento es colástico Entre os filósofos escolásticos mais adeptos a essa teoria está Boécio 78 na prática 4 A filosofia aristotélica foi um tema de grande repercussão da Idade Média Todos os grandes filósofos desse período tiveram influência da filosofia de Aristóteles principalmente São Tomás de Aquino Entretanto essa filosofia tão popular no Oci dente foi apresentada pelos pensadores árabes que conheciam e estudaram os escritos de Aristóteles Com base no enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F Durante o final do reinado de Alexandre Magno houve a destruição da bi blioteca de Alexandria Com isso as obras de grande parte do pensamento grego foram perdidas incluindo algumas de Aristóteles Entretanto houve outro fator histórico que contribuiu para o desaparecimento do filósofo no Ocidente que foi o decreto do Imperador Justiniano pedindo o fechamento das escolas de filosofia Devido a esses fatores históricos a filosofia aristoté lica passou alguns anos despercebida aos olhos do Ocidente Os árabes desde muito cedo perceberam a grandiosidade de Aristóteles Dessa forma procuraram traduzir as obras do filósofo grego para o árabe o que manteve viva a discussão no Oriente do pensamento aristotélico Devido à referência contínua dos árabes a Aristóteles muitos estudiosos da esco lástica tomaram interesse por sua filosofia Assim trouxeram aos poucos a discussão das teses aristotélicas para as universidades da Europa Entre os filósofos árabes mais influentes no Ocidente estão Avicena e Aver róis O primeiro foi um grande médico que possuía interesse na filosofia helênica estudou a Metafísica de Aristóteles escrevendo um comentário de nominado Livro da Cura Averróis era um estudioso das leis que desenvolveu grande interesse pela filosofia aristotélica realizando um trabalho grandioso de comentário dos textos de Aristóteles Assinale a alternativa correta a a V V V b b F F V c c V F V d d F F F e e V V V 79 na prática 5 A filosofia escolástica foi um período de estudo contínuo acerca da filosofia de Aristóteles Neste período destacase Tomás de Aquino como o grande intér prete e conciliador do aristotelismo com a doutrina cristã A partir disso leia as afirmações a seguir I Tomás de Aquino escreveu em sua juventude a obra Ente e Essência em que expõe uma explicação dos conceitos de ente e essência que encontrou na filosofia aristotélicas mas que servem como base de sua metafísica para a prova da existência de Deus II A metafísica de Tomás de Aquino consiste que para alcançar o conhecimento de Deus devese conhecer os seres da natureza pois são fruto do projeto divino Assim derivados da verdade absoluta III Dentro da metafísica ontológica de Tomás encontramos a possibilidade do homem contemplar a verdade absoluta Pois sua alma assim como em Pla tão é capaz de compreender o cerne do mundo inteligível IV A forma com que a metafísica de Tomás de Aquino é estruturada apresenta a impossibilidade do homem conhecer Deus pois o homem não é um ser de forma simples ou seja puro intelecto Dessa maneira o homem está limitado a conhecer Deus a partir das suas criações conhecendo bem os feitos divinos o homem compreende a ordenação do mundo feita por um ser superior entendendo então a necessidade da existência de Deus e sua incapacidade de compreendêlo Assinale a alternativa correta a Apenas I II e IV estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 80 aprimorese Nas Confissões de Santo Agostinho mais especificamente no Livro XI você en contrará a discussão sobre a origem do tempo No recorte a seguir está uma passagem do Livro XI no qual Agostinho descreve a impossibilidade de Deus conhecer o tempo já que existe de forma atemporal Confira o trecho extraído E me erguerei e solidificarei em ti na minha forma na tua verdade e não sofrerei com as questões de homens que punidos com uma doença têm mais sede do que são capazes de beber e dizem o que fazia Deus antes de fazer o céu e a terra ou o que lhe veio à mente para que fizesse algo embora nunca antes tivesse feito coisa alguma concede a eles Senhor bem pensar o que dizem e descobrir que não se diz nunca onde não existe tempo Portanto se disserem que alguém nunca fez o que dirão senão que fez em tempo nenhum Vejam então que nenhum tempo pode existir sem criatura e deixem de falar essas vacuidades Que também se estendam às coisas que são anteriores e entendam que és o criador eterno de todos os tempos anterior a todos os tem pos e que tempos nenhum são coeternos a ti e nenhuma criatura ainda que exista alguma acima do tempo Mas não é assim criador do universo criador das almas e dos corpos não é assim que tu conheces todas as coisas futuras e passadas De longe de longe mais maravilhosamente e de longe mais secretamente tu conheces Pois os co nhecimentos de quem canta ou a canção conhecida para quem ouve na expec tativa de notas futuras e na memória de notas passadas variam a sensibilidade e distendem a sensação não é assim que algo acontece para ti imutavelmente eterno criador das mentes Portanto assim como conheceste no princípio o céu e a terra sem variação de teu conhecimento assim também fizeste no prin cípio o céu e a terra sem distensão da tua ação Quem entender confesse a ti e quem não entender confesse a ti Ó quão excelso tu és e os humildes de coração são tua casa Pois tu erguerás os que tombarem e não caem aqueles para quem tu és a alteza Fonte Agostinho 2009 p 5355 81 eu recomendo A filosofia medieval Autor Alain de Libera Editora Loyola Sinopse o livro de Alain de Libera apresenta de forma breve a história da filosofia medieval Entretanto ser breve não signifi ca falta de profundidade nos assuntos mais importantes desse período da filosofia O que Libera faz é mais tratar de maneira clara e pertinente grandes aspectos do pensamento escolástico mostrando por exemplo a influência de Aristóteles nas universidades e nas obras de Tomás de Aquino livro O nome da rosa Ano 1986 Sinopse a história do filme acontece no ano de 1327 num mos teiro na Itália retratando a vida de William de Baskerville Sean Connery um monge franciscano que passa a investigar uma sé rie de assassinatos que acontecem no mosteiro A trama segue William tentando resolver este mistério em busca do verdadeiro assassino para provar sua inocência pois é visto como principal suspeito pelo Cardeal da Igreja enviado para investigar o caso Comentário o filme O nome da rosa é inspirado em um romance de Umberto Eco com o mesmo título filme Para mais detalhes sobre a metafísica de Tomás de Aquino assista o vídeo in titulado A Existência de Deus e a Criação do Mundo feito pelo Prof Dr Carlos Nougué Tomismo em seu canal no YouTube httpswwwyoutubecomwatchv2FdmSUqcXwt7s conectese 3 A METAFÍSICA NA MODERNIDADE PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Descartes o primeiro metafísico moderno Leibniz e a metafísica monadológica Kant e a filosofia transcendental OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender o surgimento da metafísica moderna com René Descartes Examinar a filosofia da mô nada de Leibniz Conhecer as bases da filosofia transcendental de Kant INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa esta unidade tem por objetivo apresentar a você os aspectos gerais da metafísica moderna Para tanto não pretendemos estender o conteúdo a um número grande de filósofos deste período da filosofia mas focar nossa atenção em três filósofos de extrema impor tância que são René Descartes Gottfried W Leibniz e Immanuel Kant Esses pensadores marcam o espírito da filosofia moderna por isso vale o estudo de suas teorias Na primeira aula apresentaremos o pensamento que inaugurou o período moderno da filosofia que é a filosofia de Descartes um filósofo francês que quebra a tradição escolástica impulsionando a filosofia num racionalismo e na busca por uma autonomia da filosofia como ciência Na segunda aula abordaremos a teoria da mônada de Leibniz uma forma de metafísica diferente que procura uma conciliação entre o pensa mento antigoescolástico com a nova filosofia moderna que até então pro curava estabelecer uma distância entre o pensamento antigo e o moderno Na terceira e última aula desta unidade falaremos sobre a filosofia transcendental de Kant considerada por muitos comentadores uma das maiores filosofias de todos os tempos influenciando e criando uma nova tradição dentro da história da filosofia Nesta aula observa remos a tentativa de Kant de transformar a metafísica em uma ciência por meio dos juízos sintéticos a priori o trajeto feito pelo autor nos ajudará a compreender a diferença entre ciência e metafísica Essa diferença entre as duas artes nos apresentará o campo específico de trabalho de cada uma Por fim exploraremos as principais teorias filosóficas que desenvol veram uma metafísica no período moderno A compreensão do pensa mento metafísico destes três filósofos proporcionará a você graduando em filosofia a capacidade de fazer referência e perceber a motivação dos metafísicos modernos pois Descartes Leibniz e Kant foram propulso res de importantes correntes filosóficas Boa leitura UNIDADE 3 84 1 DESCARTES o primeiro metafísico moderno Caroa alunoa nesta unidade estudaremos a metafísica na Idade Moderna Para tanto nosso estudo terá início com o primeiro filósofo moderno René Des cartes que desenvolveu um método investigativo com o intuito de alcançar um conhecimento seguro Dessa forma nossa tarefa será entender quais as carac terísticas que marcam o pensamento do primeiro filósofo moderno e também compreender qual a diferença de sua metafísica para metafísica medieval René Descartes nasceu em 1596 na cidade de La Haye na França Estudou durante a juventude no Colégio La Flèche considerado durante muitos anos o maior colégio da França Neste colégio guiado pela ordem jesuíta Descartes aprendeu as principais matérias ensinadas na escolástica gramática retórica latim grego filosofia lógica matemática física e metafísica Durante os anos de 1618 a 1619 Descartes participou do exército revolu cionário da Holanda do príncipe Maurício de Nassau Foi nesse período que o filósofo teve três sonhos nos quais tinha como tarefa exercer um papel especial na história da filosofia que era consolidar os saberes em apenas um tipo de conhecimento Depois de acabar sua tarefa no exército Descartes vai a Europa para se juntar ao grupo de pesquisadores que são contra o aristotelismo tomista Porém o foco de seus estudos e pesquisas era alcançar o objetivo revelado em sonho a unificação do conhecimento UNICESUMAR 85 O período histórico de Descartes foi rodeado de grandes renovações cien tíficas começando por Giordano Bruno 1585 que apresentou o universo como infinito e sem centro O que contrariava toda compreensão da realidade da antiguidade era principalmente a filosofia aristotélica centro do movimen to escolástico Depois houve mais grandes novidades com Johannes Kepler com a teoria do movimento elíptico dos planetas seguido de Galileu com a invenção da luneta que ajudou a comprovar a teoria de Copérnico de que o universo não é perfeito mostrando que os astros no céu não são circunferên cias perfeitas feitas de éter mas formas imperfeitas como a lua e suas crateras Essas novidades que circulavam o período de Descartes levaramno a pro curar uma nova maneira de fazer filosofia O filósofo busca criar um método científico que unifique todo o conhecimento aos parâmetros da razão Em 1637 Descartes publica sua mais importante obra Discurso do Método a primeira obra de filosofia escrita em francês Escrever uma obra em língua francesa nesse período da história é um feito sensacional pois todos os es critos filosóficos e teológicos veriam ser feitos em latim conforme as normas da escolástica Este feito de Descartes é uma forma de crítica ao sistema de ensino da época Algo que notamos não apenas no idioma da obra publicada mas em seu conteúdo porque o filósofo critica de forma dura os métodos de ensino da escolástica na primeira parte do Discurso do Método A obra Discurso do Método torna Descartes rapidamente famoso dentro do meio filosófico porque traz consigo quatro novas contribuições para filo sofia que mais tarde serão melhor desenvolvidas pelo filósofo nas Meditações Metafísicas Sobre isso comenta Battisti 2009 que a primeira contribuição é o esboço para um método de alcançar o conhecimento baseado em quatro regras a segunda é uma moral provisória a terceira um novo estilo de me tafísica que visa o eu como objeto de trabalho e quarta uma introdução à questão da relação do homem com as coisas do mundo Para mais detalhes sobre a filosofia de Descartes assista o vídeo intitulado René Descar tes penso logo existo feito pelo grupo HUMANAMENTE httpswwwyoutubecomwatchvEwNBtDPo3hI conectese UNIDADE 3 86 Essas contribuições estão ligadas à crítica cartesiana à formação escolástica Para Descartes a razão é algo universal presente em igual medida em todas as pessoas não há ninguém com mais aptidão racional do que outra logo todas as pessoas são capazes de aprender filosofia e teologia desde que consigam bem guiar essa razão Com isso não há a necessidade de apreender todos os dogmas escolásticos para ser capaz de buscar conhecimento É essa ideia que o filósofo apresenta no primeiro parágrafo do Discurso do Método Em suas palavras diz que O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada pois cada qual pensa estar tão bem provido dele que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar têlo mais do que já o têm E não é verossímil que todos se enganem a tal respeito mais isso antes testemunha que o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso que é propriamente o que se denomina o bom senso ou razão é natural igual em todos os homens e destarte que a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que outros mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não consideramos as mesmas coisas DESCARTES 1973 p 37 A passagem anterior demonstra a principal premissa da filosofia cartesiana que é a autonomia do pensamento onde a razão é o meio natural do homem alcançar a verdade se o homem não alcança a verdade não é por falta dos ensinos esco lásticos mas é que não sabe ainda bem dirigir sua razão Para bem dirigir a razão Descartes argumenta que o homem deve fazer uso de um método uma vez que com tal método o indivíduo saberá quais os melhores caminhos para chegar a verdade Por isso que na Primeira Parte de sua obra o filósofo faz um esboço de um método investigativo entretanto Descartes é sem pre enfático lembrando que o método é uma maneira de buscar o conhecimento e não uma regra necessária A preocupação de Descartes é como o homem é capaz de alcançar as verdades ou os princípios eternos e imutáveis que são as bases de todo o conhecimento humano Para o filósofo a maneira com que o homem obtém o conhecimento dos princípios imutáveis possui dois fatores importantes primeiro o fato do homem cultivar seu espírito para adquirir autonomia de pensamento sem ficar preso aos dogmas escolásticos segundo a utilização de um método simples que tem como finalidade conduzir o pensamento para acabar não caindo em equívocos UNICESUMAR 87 O método que aparece no Discurso do Método possuía quatro regras simples a primeira regra é nunca acolher nada como verdade de início sempre olhar cui dadosamente aquilo que é dado como uma verdade para poder aceitar somente coisas que aparecem com clareza e distinção Clareza no sentido da coisa estar nítida a mim com todos seus aspectos visíveis ao meu entendimento distinção significa que não há a possibilidade de ser outra coisa além do que aparece ou seja a coisa é diferente de qualquer outra A segunda regra é a divisão dos problemas ou seja procurar dividir uma questão difícil para resolvêla em partes A terceira é procurar resolver essas par tes divididas a partir das mais fáceis às mais difíceis para assim o pensamento ir subindo aos poucos até o conhecimento das coisas mais complexas sem ter o perigo de se perder em um problema muito grande de início Por último resta apenas realizar revisões dessas três primeiras regras para que nada passe des percebido pois assim não haverá a possibilidade de cair no erro Essas quatro regras são fundamentais na filosofia de Descartes pois é a par tir delas que ele estruturará suas reflexões metafísicas Entretanto no Discurso do Método o filósofo não faz um desenvolvimento tão profundo da metafísica apenas introduz as temáticas centrais alma e corpo Deus e a existência do Eu É somente em outra obra intitulada Meditações Metafísicas que o filósofo tra balhará com amplitude a metafísica A obra Meditações Metafísicas escrita em 1641 publicada primeiro em la tim depois em francês representa a maior obra de filosofia de Descartes O assunto central deste livro é sobre o que é possível ao homem conhecer ou como é possível ao homem adquirir o conhecimento dos princípios eternos Nesse sentido a filosofia cartesiana é uma teoria do conhecimento que dentro de si trata dos assuntos metafísicos de corpo e alma Deus e o Eu Para compreendermos a metafísica de Descartes é necessária a explicação do texto das Meditações Dessa forma tentaremos reconstituir os principais passos do filósofo nessa obra entretanto não explanando todos os aspectos de sua filoso fia contidos na obra visto que tal trabalho seria impossível de realizar aqui Para tanto focaremos nossa atenção em três assuntos importantes das Meditações primeiro a dúvida e a evidência da verdade segundo a prova da existência de Deus e por último a relação do homem com o mundo seguindo a explicação da divisão entre corpo e alma O texto das Meditações tem início com a radicalização da dúvida Porém de vemos entender que dúvida está vinculada com o método cartesiano A primeira UNIDADE 3 88 regra do método consiste em confiar apenas no que for claro e distinto com esse princípio Descartes põe em dúvida inicialmente a faculdade dos sentidos humanos por meio do argumento do sonho Segundo Silva 2005 o objetivo da dúvida não é apenas mostrar que os sentidos enganam mas apresentar a possibilidade de um conhecimento verda deiro dentro da realidade ou seja que tudo aquilo que é exigido como verdade pela razão possa existir no mundo real O objetivo é então mostrar que existe verdades no mundo sensível e para isso é necessário duvidar ao máximo dos sentidos para poder alcançar essas verdades É sabido que os sentidos humanos muitas vezes podem nos colocar em dúvi da por exemplo podemos ver de longe uma pessoa e achar que é um conhecido entretanto chegando perto percebemos que se trata de outra pessoa Ou ainda é possível ver de longe uma torre e pensar que sua forma é cilíndrica mas quando chegamos mais próximos percebemos que é um prédio de forma retangular De vido a estes erros o filósofo argumenta que não é possível confiar plenamente nos sentidos humanos pois constantemente somos levados ao erro pelos sentidos Descartes vai ainda mais fundo na crítica aos sentidos descrevendo o engano que o sonho traz à percepção humana Quantas vezes ocorreume sonhar durante a noite que estava neste lugar que estava vestido que estava junto ao fogo embora estives se inteiramente nu dentro de meu leito Pareceme agora que não é com os olhos adormecidos que contemplo este papel que esta cabeça que eu mexo não está dormente que é com desígnio e pro pósito deliberado que estendo esta mão e que a sinto o que ocorre no sonho não parece ser tão claro nem tão distinto quanto tudo isso Mas pensando cuidadosamente nisso lembrome de ter sido muitas vezes enganado quando dormia por semelhantes ilusões DESCARTES 1973 p 94 Na passagem o filósofo enfatiza que o sonho é como uma ilusão que engana o sujeito em determinados momentos O papel do argumento do sonho é mostrar que os sentidos também estão presentes no sonho Assim quando estamos sem muita atenção podemos ser induzidos a achar que estamos acordados quando em verdade estamos dormindo UNICESUMAR 89 Nessa argumentação Descartes quer afirmar a impossibilidade de alcançar qualquer verdade por meio dos sentidos pois não há como distinguir com legitimidade o sonho da realidade uma vez que as sensações sensíveis são idênticas em ambos Entretanto o importante do argumento é a passagem da dúvida dos sentidos para dúvida das verdades matemáticas Dentro do sonho e da realidade há certos elementos que aparentam os mesmos aspectos sem mudança e que fazem parte da sensibilidade e da ma temática sendo eles o espaço o tempo e os números A matemática possui um status de grande valia para Descartes visto que as coisas matemáticas são verdades universais sendo perceptíveis pelo intelecto Logo não importa qual lugar do mundo a matemática não poderá mudar os elementos pertencentes a ela continuam sempre os mesmos Sobre isso comenta Silva 2005 que as representações matemáticas não fazem parte da realidade sensível mas parte do intelecto Entretanto é percep tível na sensibilidade noções como profundidade comprimento largura e tempo Essas propriedades são naturalmente inteligíveis mas ainda possuem um vínculo com as representações sensíveis Dessa maneira surge a neces sidade de Descartes a incluir na dúvida a matemática uma vez que ainda possui essa característica A radicalização da dúvida levada ao limite portanto permite hipotetica mente à Descartes a duvidar da matemática Para muitos comentadores da filosofia moderna aqui tem início a metafísica cartesiana visto que parte para uma investigação de conceitos inteligíveis assim ganhando a denominação de dúvida metafísica para que a verdade surgida a partir da dúvida corresponda ao que é exigido pelo método é preciso que a dúvida seja radical isto é atinge cada uma das antigas certezas e hiperbólica ou seja deve ser levada ao limite extremo da generalização Quanto mais intensa for à dúvida quanto mais ela se estender e se radicalizar quanto mais firme será a certeza que a ela resistir A necessidade dessa firmeza justifica as características da dú vida pois o que se procura não é nada menos que o fundamento da ciência Fonte Leopoldo e Silva 2005 p 35 explorando Ideias UNIDADE 3 90 Como foi dito a dúvida metafísica é hipotética pois o filósofo supõe duas hi póteses para a matemática levar ao erro A primeira é a existência de um Gênio Maligno que estaria a pregar peça no ser humano a segunda é a suposição de um Deus enganador que engana sua criação desde o início dos tempos Diante dessas duas hipóteses poderia vir a ocorrer que a soma de 4 4 não seria 8 pois tal resposta que estamos habitualmente acostumados seria uma ilusão criada por alguma dessas entidades Dessa forma o problema de como adquirir um conhecimento verdadeiro chega ao seu ápice não há nada que ga ranta certeza no mundo nem a própria matemática que haveria de ser a ciência que nos apresenta como a mais clara e distinta Essa hipótese de Descarte representa o lado metódico da dúvida Em outras palavras significa que ela é um método utilizado para o filósofo alcançar uma verdade que seja capaz de sustentar toda a ciência Diante da impossibilidade de encontrar um porto seguro nos sentidos e na matemática a dúvida aparece como a única verdade possível Se há uma coisa verdadeira da qual é possível tirar uma conclusão é a dúvida A dúvida passa a sinalizar que mesmo diante de tudo que aparenta ser ilusório o pensamento se mantém firme para duvidar de tudo necessito pensar ou seja duvido somente porque penso Assim Descartes conclui que o fato de duvidar implica necessariamente no fato de pensar e deste posso inferir que existo estabelecendo a primeira verdade cartesiana penso logo existo Vale ressaltar o comentário de Battisti 2009 p 147 Na Segunda Meditação nos damos conta de que por mais que duvi demos de tudo é certo que duvidamos E como duvidar é um modo de pensar é absolutamente certo que pensamos Finalmente como pensar é um ato é preciso que haja um sujeito desse ato o sujeito que pensa existe Mais uma coisa quando o sujeito pensa dúvida ele necessaria mente sabe que pensa e ao saber que pensa se dá conta de que é ele que pensa e não outro ser Disso nasce a noção de eu e a de consciência quando penso tenho consciência imediata de que sou eu que penso E assim pelo ato de pensar o sujeito se denuncia a si mesmo Na citação anterior o autor explica que o ato de pensar revela o eu ou o sujeito que pensa Esta revelação é muito importante para Descartes pois revela sua pri meira certeza entretanto ela ainda não resolve o problema sobre o conhecimento das coisas sensíveis nem muito menos da matemática UNICESUMAR 91 Com isso resta a Descartes acabar com sua hipótese de um Gênio Maligno ou Deus Enganador provando a existência de Deus Oriundo de um colégio jesuíta e primeiro filósofo moderno a influência da doutrina cristã está presente em seu pensamento Deus para o filósofo não pode existir sem ser imensamente bom desprovido de qualquer qualidade maléfica como ser enganador Por decorrência disso se Deus existe ele necessariamente é Bom e jamais viria a enganar o homem A prova da existência de Deus para Descartes é essencial para seu projeto filosófico pois com a existência de Deus provada a compreensão das coisas sensíveis e matemáticas voltam a carregar valor de verdade uma vez que não existirá uma entidade capaz de iludir o homem Pensando assim provar Deus tornase necessário a criação de uma ciência que busca um conhecimento seguro Para o filósofo a prova da existência de Deus está nos efeitos dele que con seguimos captar O efeito que podemos facilmente perceber em nossa vida é a ideia de Deus que estamos habituados O problema dentro da ideia é como ela surgiu em nosso entendimento pois a ideia de Deus remete a um ser superior e infinito em todas as qualidades possíveis Tal ideia somente poderia vir de um ser com tais qualidades não da imaginação humana uma vez que o homem não é capaz de visualizar o infinito nem em imaginação Como diz Battisti 2009 p 148 como a causa não pode ser inferior ao efei to deve haver um ser que seja tão grande quanto o conteúdo da nossa ideia de Deus Nesse contexto a ideia de Deus seria introduzida na mente humana antes do homem surgir no mundo uma ideia a priori diferente de todas as outras que somos capazes de ter pois são a posteriori Assim Deus existe para Descartes porque Deus é a fonte da nossa própria ideia Dele Comprovada a existência de Deus Descartes pode agora ter confiança nova mente nos princípios matemáticos como também aceitar as certezas do sentido que aparecem claras e distintas Porém ainda fica suspensa a questão sobre a ori gem do erro humano ou melhor o que há no homem é uma criação divina que permite a ele errar sendo que é abençoado com razão que deriva diretamente Para mais detalhes sobre a filosofia de Descartes assista o vídeo intitulado René Descar tes penso logo existo feito pelo grupo HUMANAMENTE httpdidaticscombrindexphpfilosofiarenascimentorenedescartesparte1penso logoexisto conectese UNIDADE 3 92 do Criador Procurando responder a esta questão o filósofo entra no problema já abordado por Santo Agostinho que é a vontade humana O homem enquanto criação humana é perfeito lógico que dentro das suas limitações enquanto ser finito Para Descartes Deus não criaria um ser imperfeito pois sua imensa bondade não o permitiria tal façanha assim o erro humano somente pode ser justificado a partir da vontade humana diferente de Santo Agostinho que afirma a necessidade da união da fé e da razão para uma melhor direção da vontade humana para alcançar a verdade Descartes afirma que a vontade humana quando mal dirigida leva o homem ao erro Para evitar que isso aconteça é necessário ao homem a utilização de um método que busque sustentar sempre afirmações em cima do que é claro e dis tinto Aqui vemos a necessidade da aplicação do método para Descartes fazer ciência implica diretamente na utilização de um método que estabeleça bases seguras para aquisição do conhecimento Segundo Silva 2005 é importante lembrar que o método não é somente uma hipótese mas um pressuposto metafísico que sustenta toda filosofia de Des cartes O maior pressuposto metafísico encontrado é a unidade da razão ou seja todo conhecimento ou o que há para conhecer é apenas perceptível pela razão O conhecimento somente é possível porque o homem é dotado da razão uma vez que tudo no mundo é decodificado pela razão O método cartesiano é somente uma forma de conduzir melhor a razão ele não é o que possibilita a razão mas sim o que demonstra a capacidade da razão de conhecer O método como qualquer outra coisa criada pelo homem é um procedimento racional ou seja o próprio método é derivado da racionalidade Sobre isso comenta Battisti 2009 que René Descartes é o principal personagem do racionalismo moderno assim temos que observar que a razão é o motor de toda filosofia cartesiana como também o alicerce que sustenta o método de in vestigação que é encontrado nas Meditações Metafísicas O último tema da filosofia de Descartes que abordaremos é sobre a relação entre corpo e alma Para tanto partiremos inicialmente da prova da existência dos corpos que pode ser resumida com as seguintes palavras Como as ideias sensíveis se impõem a nós contra nossa vontade essa passividade que sentimos denuncia uma atividade extensa E embora tais ideias sejam obscuras e confusas a causalidade externa UNICESUMAR 93 é percebida clara e distintamente Ora possuímos uma inclinação natural a crer que são os corpos que as causam E como não pos suímos nenhuma capacidade dada por Deus que fosse corretiva dessa inclinação sua incorrigibilidade é sinal de verdade Portanto os corpos existem BATTISTI 2009 p 150 A existência dos corpos permite a Descartes fazer ciência dos fenômenos e obje tos físicos algo importante dentro da sua teoria do conhecimento entretanto a existência dos corpos apresenta outra coisa para a filosofia a divisão entre corpo e alma Entre um objeto que é percebido e o sujeito que percebe o objeto há a consciência algo muito explorado pelos filósofos contemporâneos da fenome nologia como JeanPaul Sartre e Maurice MerleauPonty Para mais detalhes sobre a relação entre corpo e alma em Descartes assista o vídeo intitulado Descartes mente e corpo feito pelo grupo HUMANAMENTE httpdidaticscombrindexphpfilosofiarenascimentorenedescartesparte2rela caomenteecorpo conectese A divisão entre corpo e alma portanto inaugura a concepção da existência de um eu pensante que é o sujeito que capta todos os estímulos os objetos físicos e também a divisão do que é conhecimento sensível compreensível pela alma humana racional e conhecimentos metafísicos apreensíveis somente por meio do intelecto Esses dois fatos moldam a filosofia depois de Descartes Há comen tadores que dizem que a separação cartesiana de corpo e alma é tão forte que não há nenhum filósofo posterior capaz de unir o que Descartes separou Portanto a filosofia e a metafísica de Descartes apresentam uma grande preo cupação com a aquisição do conhecimento mais especificamente como é possível o homem adquirir um conhecimento seguro Para finalizar esta aula temos que lembrar de três pontos importantes primeiro a dúvida é um método importante para o desenvolvimento do pensamento cartesiano segundo a dúvida é levada ao plano metafísico para conseguir alcançar certezas claras e distintas terceiro a dúvida não é somente um método mas um pressuposto metafísico que tem a finalidade de colocar toda forma de conhecimento humano em conformidade com a razão Tal proposta filosófica marcará o Período Moderno UNIDADE 3 94 Caroa alunoa nesta aula abordaremos a metafísica monadológica de Lei bniz Este filósofo nascido na cidade de Leipzig na Alemanha em 1646 é considerado um dos maiores matemáticos de seu século Ao lado de Isaac Newton Gottfried Wilhelm Leibniz possui formação em filosofia pela Uni versidade de Leipzig como também em matemática e álgebra na instituição de Jena Para muitos comentadores Leibniz foi mais brilhante na matemática porque sua simbolização matemática é simples e avançada para sua época Na filosofia o trabalho de Leibniz é também muito inovador pois assim como Descartes que procura transformar a metafísica em uma ciência a am bição de Leibniz é poder contribuir para criação de uma ciência universal a qual todas as disciplinas estão interligadas com o intuito de tal ciência servir como o meio de organizar universalmente a sociedade A vida de Leibniz foi deveras muito agitada participava de muitos eventos acadêmicos em várias cidades diferentes Devido a isso estava sempre em via gem pois também trabalhava como jurista que o consumia muito tempo já que tinha que trabalhar em várias cortes diferentes Mesmo em meio a tantas atividades Leibniz conseguiu escrever grandes obras de filosofia e matemá tica porém em número menor em relação aos outros filósofos de sua época Dentro do número pequeno de obras seus principais escritos são Discurso de Metafísica 1686 Novo Sistema da Natureza 1695 Princípios Racionais da 2 LEIBNIZ E A Metafísica Monadológica UNICESUMAR 95 Natureza e da Graça Ensaios de Teodicéia 1710 e Monadologia 1714 Nosso estudo vai ser dirigido para as reflexões apresentadas em obras como Discurso de Metafísica e Monadologia procurando compreender de forma sucinta a filosofia do autor para assim entender o conceito chave de sua metafísica a mônada O projeto filosófico de Leibniz é o oposto ao de Descartes porque enquanto René Descartes cria uma ruptura entre o pensamento antigoescolástico com o pensamento moderno afirmando que os métodos antigos estão ultrapassados investindo na criação um novo método de investigação para ciência baseado na matemática Leibniz procura criar uma conciliação com a tradição antiga e o pensamento moderno argumentando que as duas atuam em campos diferentes do conhecimento porém ambas são complementares para o surgimento de uma ciência universal Para Reale e Antiseri 2005 p 41 a filosofia de Leibniz brota dessa grandiosa tentativa de mediação e síntese entre antigo e novo dessa forma seu conheci mento baseado na filosofia de Platão e Aristóteles juntamente com o escolástico davao subsídio para trabalhar de maneira mais completa a nova filosofia que era o cartesianismo e os métodos da ciência que estavam dirigindo a Era Mo derna Procurava criar não apenas uma mediação entre eles mas tentar a partir deles criar uma ciência nova A primeira tarefa de Leibniz na tentativa de realizar seu objetivo de criar uma ciência universal é definir os conceitos de tempo e espaço Para o filósofo a compreensão cartesiana de tempo e espaço possui um erro que impede a progressão da ciência O erro consiste na compreensão mecânica de Descartes A filosofia cartesiana é considerada uma espécie de mecanicismo que trata o mundo e o homem como máquinas que tudo é movido por meio de uma força constante Leibniz dis corda de Descartes nesse ponto pois afirma que a força que seria o movimento dos fenômenos físicos não poderia ser constante visto que isso impossibilitaria o conceito de inércia o que seria uma impossibilidade física Essa compreensão cartesiana de um movimento constante é então um erro físico conclui Leibniz Erro que não pode ser sustentado pela física mas somente sustentado por meio de princípios metafísicos algo que não é bem visto pelos filósofos modernos que buscam uma resposta científica O que Leibniz espera é uma ciência que possa se sustentar tanto na metafísica quanto na ciência mo derna física geometria álgebra etc logo o conceito de movimento cartesiano estando apenas no campo da metafísica é inviável para uma ciência universal UNIDADE 3 96 Diante disso Leibniz pensa em resgatar os conceitos filosóficos antigos para explicar o princípio de movimento Assim Leibniz busca na metafísica de Platão e Aristóteles conceitos como substância e essência para explicar a origem do movimento mais especificamente Leibniz introduzirá em sua filosofia o con ceito de substância enquanto entidade que possibilita o movimento como uma força que move o mundo Como salientam Reale e Antiseri 2005 p 43 Leibniz reintroduz as subs tâncias entendidas como princípios de força como uma espécie de pontos meta físicos forças originárias as quais são denominadas de mônadas Essas mônadas serão como os átomos de Demócrito que compõem e dão forma a todas entida des do mundo que em Leibniz também são a origem do movimento Antes de entrarmos numa análise do conceito de mônada primeiro temos que ter a compreensão de que a natureza da verdade está interligada com a con cepção de razão suficiente ou seja todos os fatos ocorridos no mundo não são por acaso mas derivados de uma razão que arquitetou para que tudo fosse conforme é para Leibniz é a substância O conceito de substância na metafísica leibniziana assume o papel de ser a razão de todos os predicados dos entes enquanto fundamento de seus aspectos e características A substância é portanto a causa de todas as mudanças do ente excluindo Deus é claro que é fundamento dele mesmo Devemos lembrar que Deus é a fonte das substâncias do mundo Ele é a substância primária da qual todas tem sua origem isto é a sustância é a priori sendo existente antes do ente que Deus molda essa substância no ente assim ela acaba por ser o motivo de origem do mundo Nas palavras de Nogueira 2013 p 131 é necessário que haja um princípio interno da ação que não apenas garanta a passagem de uma ação à outra mas que também assegure uma diferença intrínseca A substância permite que seja possível diversos seres no mundo com aspectos e características únicas respei tando o princípio dos indiscerníveis mas também une duas noções fundamentais da filosofia unidade e força Unidade da substância significa que ela é una indivisível a força diz res peito de ser a razão do movimento e da mudança das coisas Esses dois fatos da substância levam Leibniz à criação do conceito de mônada que explicará com maior amplitude os alcances do seu conceito de substância De acordo com Reale e Antiseri 2005 p 43 UNICESUMAR 97 Mônada é a expressão com que Leibniz traduz o termo grego monás que significa a unidade ou aquilo que é uno a palavra de origem pitagórica fora retomada pelos neoplatônicos e depois por Giordano Bruno A mônada é propriamente urna substância simples isto é urna entidade individual capaz de ação e os princípios de suas ações são as percepções representações e as apetições vontade Leibniz de signa a mônada também com o termo aristotélico enteléquia que in dica a substância simples enquanto tem em si a própria determinação e perfeição essencial ou seja a própria autonomia e finalidade interior Como fora dito na citação a mônada é uma unidade simples que compõe todo o universo não há nada que não tenha em sua essência uma mônada Temos que lembrar que a mônada é um conceito metafísico não está ligada com nenhum preceito físico ou da matéria ela é puramente formal existente apenas no inte lecto em conformidade com a nossa racionalidade Por isso para Leibniz o seu conceito de mônada possui dois aspectos que estão ligados com nosso intelecto percepção e apetição O primeiro é a per cepção ou representação que significa que toda a mônada é uma percepção de algo enquanto a percepção é a apreensão de algo A apetição é a consciência da apreensão de algo é aquele tomar consciência que somente é possível para as mônadas dotadas de capacidade intelectiva Para Abbagnano 2007 a compreensão da apetição ou a percepção humana requer uma explicação do que é a alma humana dentro da filosofia leibniziana A alma é uma substância espiritual porém não deixa de ser uma mônada que possui a característica de compor todos os seres do universo Mas a alma possui uma leve diferença entre as outras mônadas isto é enquanto as outras mônadas compõem os seres a alma é um espírito ou seja ela é razão Dessa forma a alma é uma mônada que apenas está presente em entes racionais não haveria um mônada com aptidão racional numa mesa A alma é uma mônada mais ativa capaz de se elevar aos atos reflexivos ela não é limitada apenas à percepção mas provida da capacidade de ver as coisas de forma mais clara e distinta Com isso o homem é capaz de ter consciência daquilo que aparece a ele pois tem uma alma razão consigo Segundo Leibniz sem a alma o homem não seria capaz de adquirir consciên cia das mônadas portanto a racionalidade humana permite ao homem perceber as coisas do mundo sem ela as percepções humanas seriam sempre confusas a alma dá clareza às percepções Reale e Antiseri 2005 p 43 dizem que UNIDADE 3 98 São elas que formam aquele nãoseique aqueles gostos aquelas imagens das qualidades dos sentidos claras em seu conjunto mas confusas em suas partes aquelas impressões que os corpos externos provocam em nós e que encerram o infinito aquelas ligações que cada ser tem com todo o resto do universo Na passagem anterior os comentadores descrevem nossa percepção como corriqueira sem nossa tomada de consciência de perceber as mônadas são sempre confusas e incertas A alma racional é o que permite uma percepção clara e distintas das mônadas Entretanto há um problema no conceito de mônada de Leibniz que é a possibilidade da diversidade da mônada enquanto substância simples e única Se a mônada é una e simples sempre a mesma em todo universo como é possível haver diversidade dos seres no mundo Vimos anteriormente que a substância possui todos os aspectos e carac terísticas necessárias do ser que explicam a diferença dos seres do mundo Todavia Leibniz apresenta uma outra resposta a este problema com a qual procura demonstrar o limite do conhecimento humano Segundo Leibniz tais diferenças são frutos de perspectivas diferentes a mônada é una e simples entretanto pode ser percebida por várias perceptivas e isso permite que cada uma seja diferente o que possibilita a diversidade De acordo com Oliva 2005 p 89 tudo que não é simples como as mô nadas é obrigatoriamente visto como fenomênico e mesmo as modificações da substância por serem variáveis são fenomênicas Por essa razão podemos perceber uma diversidade de seres entre a sua própria espécie pois o ser apa rece como fenômeno individual e único para o ser humano A realidade humana apresenta uma variedade infinita de fenômenos que não podem nunca ser totalmente apreendida pelo homem A mente humana vê o mundo como ele aparece a si de forma fenomênica porque não há como a racionalidade humana enxergar a mônada em sua total clareza e distinção Tal capacidade é somente de Deus que é a origem das mônadas Leibniz 1993 apud OLIVA 2005 p 8889 ressalta que nós nada fazemos senão pensar e também nada buscamos para nós senão pensamentos e os fenômenos são apenas pensamentos Mas como nem todos os nossos pensamentos são eficazes nem ser vem para nos proporcionar outros pensamentos de certa natureza e como nos é impossível decifrar o mistério da conexão universal UNICESUMAR 99 dos fenômenos é preciso atentar por meio da experiência àqueles que nos proporcionaram outrora e eis em que consiste a utilidade dos sentidos e o que se chama ação fora de nós Na passagem anterior Leibniz está chamando atenção para os fenômenos pois mesmo os fenômenos não sendo um meio viável para um conhecimen to seguro eles não podem ser ignorados pela ciência Se o homem é incapaz de conhecer com clareza a mônada deve portanto conhecer o possível da realidade que lhe é apresentada como fenômeno Sobre isso comenta Oliva 2005 que se por acaso o homem possuir a capacidade de conhecer por completo as substâncias metafísicas não haverá a necessidade de ciências como física e matemática visto que conheceriam as essências de todos os fenômenos físicos como o homem não tem essa sapiência necessita olhar para os fenômenos e sua infinidade O homem em sua capacidade racional finita não é capaz de compreender a infinidade de fenômenos porém é capaz de criar métodos para investigar esses fenômenos Assim é que nascem as ciências para Leibniz pois a metafí sica que descreve toda estrutura da mônada admite que é inviável ao homem conhecer a mônada em sua nitidez completa Desse modo resta à ciência investigar a mônada por meio dos fenômenos A respeito disso Adams 1993 apud OLIVA 2005 p 91 diz que As mentes humanas são finitas e a marca definitiva das mentes fi nitas é que não podem conhecer distintamente uma complexidade infinita Deste modo se ciência é conhecimento distinto o único tipo de ciência que é possível mesmo em princípio para os seres humanos terá por objeto imediato uma representação finitamente complexa de uma realidade infinitamente complexa Ao menos nes ta medida os objetos do conhecimento científico serão fenômenos A mônada somente é apreensível como perspectivas ao homem em outras pa lavras como fenômeno Então para que seja possível um caminho para um co nhecimento seguro dentro da filosofia leibniziana há a necessidade de conciliar o conhecimento antigo e o moderno ou seja perceber o limite da metafísica para poder prosseguir com a física e matemática física e matemática como ciências dos fenômenos que possibilitam conhecer a realidade humana UNIDADE 3 100 Agora resta um último assunto para esclarecermos qual o papel de Deus dentro do universo leibniziano Leibniz cria uma espécie de hierarquia entre as mônadas que deriva da mônada mais baixa sem percepção que é apenas átomo dos seres depois de mônadas que são capazes de possuir memória até chegar nas que possuem razão Os níveis das mônadas derivam da sua capacidade de per cepção quanto mais clara e distinta a percepção mais alto é o nível da mônada no topo está Deus criador e consciência onipotente Para Leibniz Deus é a mônada em ato puro assim como em Aristóteles en quanto as outras mônadas não possuem um ato puro são limitadas de conhecer e agir de forma tão livre O fato de Deus não ter criado o homem como ato puro mas como uma atividade imperfeita é porque isso o colocaria no mesmo grau que Deus algo que é inconcebível Sendo um ato puro Deus é a mônada primitiva da qual todas as outras são criadas todas as criações divinas são eternas não podendo perecer por si mesma O final de cada mô nada é definido por Deus pensando juntos Leibniz 1979 apud OLIVA 2005 p 8990 descreve o ato divino como Deus virando por assim dizer de todos os lados e maneiras o siste ma geral dos fenômenos que julga conveniente produzir para mani festar sua glória e observando todos os aspectos do mundo de todas as formas possíveis porque não existe nenhuma relação que escape à sua onisciência faz com que o resultado de cada visão do univer so enquanto contemplado de certa maneira seja uma substância expressando o universo segundo este relance desde que Deus ache conveniente realizar o seu pensamento e produzir esta substância Na citação anterior observamos que Deus cria o universo conforme sua vontade e onipotência Entretanto o filósofo revela um aspecto importante da realidade Deus manifesta sua glória no campo no fenômeno não no campo das mônadas Então o homem enquanto criação está submetido ao entendimento dessa rea lidade fenomênica criada por Deus UNICESUMAR 101 Uma ciência que busca o conhecimento universal deve portanto procurar até o limite da razão a compreensão da mônada Compreensão que se dá a partir da investigação dos fenômenos que implica na necessidade da existên cia das ciências como física e geometria Portanto a conciliação almejada por Leibniz tornase necessária para a filosofia porque o homem é destinado a conhecer a mônada por meio dos fenômenos por isso os termos laibnzianos para o conhecimento das coisas é de percepção e apetiçãoapercepção Resta apenas dizer para conciliar os textos de Física e os de Metafísica que a explicita ção coerente do indivíduo se dá mecanicamente pela modificação da força primitiva em força derivativa que produz fenômenos regidos pelas leis da Física Com isso afastase da Física o perigo de ser vista como uma ficção útil Ao contrário ela está fundada meta fisicamente não apenas porque seus objetos os fenômenos resultam de substâncias mas também porque necessariamente resultam delas E mais ainda a existência delas consiste em desdobrarse em fenômenos como aponta a reflexão a respeito das forças primitiva e derivativa Fonte Oliva 2005 explorando Ideias O conhecimento é obtido por meio da percepção da realidade não por meio puramente da razão Um racionalismo igual de Descartes tornase para filosofia leibniziana algo enfadado ao fracasso pois não perceberia os limites da racionalidade que é a impossibilidade de conhecer claramente a mônada pela razão uma vez que ela é sempre uma perspectiva fenôme no aos olhos humano Portanto a conciliação de Leibniz não é somente necessária para alcançar uma ciência universal mas necessária devido à própria essência da alma humana que está limitada a conhecer somente a realidade do fenômeno Por fim para conclusão desta aula temos que lembrar algumas caracterís ticas fundamentais da metafísica leibniziana Primeiro que da mesma forma que Descartes Leibniz procura criar uma metafísica que sustenta uma nova forma de fazer ciência Segundo que o conceito de mônada é central dentro da metafísica de Leibniz por último que a questão epistemológica está in terligada com a metafísica moderna podendo ser percebida em Descartes filósofo estudado na aula anterior e agora em Leibniz UNIDADE 3 102 Estudar sobre a história da metafísica e não passar pela filosofia kantiana é algo incomum dentro da filosofia Immanuel Kant é considerado um dos maiores filó sofos da humanidade na filosofia alemã é um marco do pensamento iluminista alemão como também o propulsor da filosofia crítica Nesta aula explanaremos os principais aspectos da filosofia de Kant procurando compreender o que é a metafísica dentro da filosofia transcendental com o intuito de entender o que foi a revolução copernicana realizada por Kant Immanuel Kant nasceu em 1714 na Prússia Ocidental e teve sua formação acadêmica em ciência e filosofia pela Universidade de Königsberg sua cidade natal Trabalhou na mesma universidade que se formou como professor depois de defender sua tese de conclusão de curso Kant é considerado o símbolo do iluminismo alemão pois em 1783 publica o texto intitulado Resposta à per gunta o que é esclarecimento O tema central desta obra é mostrar que a razão é o caminho do homem para saída de sua minoridade ou melhor a razão dá ao homem a liberdade de pensar por si mesmo O iluminismo é um movimento histórico que tem como princípio a ca pacidade do homem de dominar as coisas da natureza uma fé no progresso da humanidade e exaltação da razão O texto de Kant representa muito bem o espírito do movimento iluminista pois a ideia de definir o que é esclarecimento tem como finalidade mostrar como a razão transforma o homem em um ser crítico que alcança a capacidade de pensar por si mesmo 3 KANT e a Filosofia Transcendental UNICESUMAR 103 Kant não apenas incorpora o espírito iluminista em suas obras enquanto um movimento de sua época mas como um projeto para reparação dos erros da filosofia porque a saída do homem da menoridade cria um cenário para um novo período da filosofia denominado como Período Crítico que é bem representa do pelas principais obras de Kant por exemplo Crítica da Razão Pura 1781 Crítica da Razão Prática 1788 e Crítica do Juízo 1790 O projeto filosófico de Kant pode ser definido como uma tentativa da resolu ção dos problemas relacionados à razão pura Por isso dedica três obras extensas com essa tentativa que pode ser percebida logo no título das obras Entretanto é importante compreender o que é essa crítica kantiana expressa nas suas obras por crítica entendemos uma arte de julgar que tem como finalidade realizar uma análise ou exame de algo Kant procura realizar então uma análise da história do pensamento filosófico para partir em busca de uma nova filosofia Na Crítica da razão pura crítica definese em relação ao que Kant denomina de tradição dogmática em filosofia designação sob a qual grosso modo Kant inclui quase todos os seus predecessores Podese adivinhar o que Kant compreende por isso dogmatismo é uma atitude filosófica caracterizada pela ausência da crítica em relação ao que podemos conhecer através da razão Crítica para Kant significa uma correção de rumo sem a qual os princípios que pautam nossa ação prática permaneceram reféns de um pseudo saber teórico cujo acesso seria privilegiado Fonte Figueiredo 2009 p 401402 explorando Ideias Para a autora e filósofa Temple 2009 o projeto iluminista kantiano coloca a razão como forma de alcançar a autonomia de pensamento uma vez que a razão está acima de qualquer autoridade há a necessidade de uma crítica sobre o que é possível conhecer a partir da razão ou seja o que é válido ou inválido para razão conhecer O lema do iluminismo é aude saber ouse saber Kant incorpora o ouse saber em sua atitude filosófica primeiro quando define que o esclarecimento é a saída do homem da menoridade depois com a atitude crítica quando se pergunta o que é possível conhecer O que devo fazer para conhecer O filósofo quer alcançar o conhecimento entretanto quer fundamentalmente saber o que é possível conhecer e quais maneiras pode levar a este conhecimento UNIDADE 3 104 Isso é um fato muito importante na filosofia de Kant pois ele quer compreen der qual o limite dos entendimentos da razão humana o que é possível conhecer como propriedade em conformidade com a razão A razão é o objeto central da investigação kantiana porém a atenção está voltada para única ciência que trabalha a razão em sua maior amplitude que é a metafísica Pensar no que é possível conhecer por meio da razão é pensar na ciência que investiga a racionalidade ou seja é pensar na metafísica Para Kant a metafísica é uma maneira de investigação utilizada pela humanidade durante vários séculos porém a metafísica não conseguiu ganhar o mesmo status que as demais ciências como a matemática a física e a lógica A matemática desde a antiguidade havia ganhado o título de ciência chegando a ser considerado obrigatório o domínio da mesma para entrar na academia platônica de filosofia Na Idade Média a lógica ganha reconheci mento a partir das releituras dos livros de Aristóteles sendo assim colocada como uma ciência necessária para o estudo de questões humanas e teológicas No final da Idade Medieval os avanços dos experimentos físicos elevaram a física a um patamar de ciência fundamental para compreensão da natureza Em suma o que estamos tentando dizer é que todas essas ciências consegui ram um reconhecimento ao longo dos séculos porém a metafísica nunca foi reconhecida oficialmente como uma ciência Kant no Prefácio de Prolegô menos descreve seu objetivo com a metafísica com as seguintes palavras Minha intenção é a de convencer a todos aqueles que conside ram valer a pena ocuparse com a metafísica é absolutamente necessário abandonar por enquanto o seu trabalho considerar tudo o que já aconteceu até agora como inexistente e antes de mais nada lançar a questão Será que algo como a metafísica é realmente possível Se ela é uma ciência como é que não obtém como as outras ciências aplauso unânime e duradouro Se ela não é uma ciência como ex plicar que se vanglorie incessantemente sob o brilho de uma ciência e iluda o entendimento humano com esperanças nunca saciadas e nunca realizadas É necessário portanto chegarse a uma conclu são segura a respeito da natureza desta pretensa ciência quer isto demonstre saber ou ignorância pois ela não pode permanecer por mais tempo no pé em que está KANT1980 p 7 UNICESUMAR 105 Na passagem anterior podemos ver nas palavras do filósofo que objetivo é co locar a metafísica no patamar de uma ciência da razão Para tanto Kant procura realizar um exame da metafísica dentro da história da filosofia com o intuito de observar os avanços e retrocessos que a metafísica teve ao longo dos séculos De pois dessa fase de revisão da metafísica Kant realiza uma revolução copernicana na filosofia como descreve no prefácio da Crítica da Razão Pura mudar o foco da atenção da filosofia do objeto para o sujeito A revolução copernicana realizada por Kant inverte a forma de pensar a me tafísica pois até então o sujeito era quem buscava compreender o objeto que se apresentava a ele O mundo está lá diante do homem restava ao sujeito com preender os fundamentos desse objeto Com Kant não é mais o objeto que é o centro da investigação mas o homem que gira em volta dele A metafísica sempre foi uma arte que apresenta conceitos universais e válidos em qualquer situação Utilizada para solucionar os grandes mistérios da humani dade como a existência de Deus a metafísica sempre proporcionou uma certeza inquestionável para casos que muitas vezes não faziam questão da necessidade de serem provados com dados empíricos Dessa forma Kant faz a seguinte pergunta como é possível transformar a metafísica em ciência Quando ela às vezes extrapola o limite do que acredita mos como ciência que é a sustentação na experiência de conceitos universais a resposta para essa pergunta segundo Kant é definir como são possíveis os juízos sintéticos a priori Pois se isso for possível então há como a metafísica ser uma ciência Conforme Sandoval 2014 p 183 A dificuldade da Metafísica a razão de ela estar rebaixada a uma ciência problemática a um mero desdobrar de conceitos a priori não havendo satisfação na experiência estaria no fato de que ela não produziria juízos sintéticos a priori estaria desprovida da mesma seguridade que possui a física e a matemática estaria portanto le vando a razão além de seus limites Na citação anterior observamos a necessidade de a metafísica adquirir a capa cidade de uma síntese entre um conceito universal do intelecto e a experiência sensível para ser tida como uma ciência Dessa forma antes de entendermos como Kant define essa síntese da metafísica temos que compreender os termos a priori e a posteriori utilizados pelo filósofo UNIDADE 3 106 Por priori entendese o conhecimento que não deriva da experiência sen sível sua compreensão já é intrínseca ao entendimento humano enquanto o conhecimento a posteriori é tudo que é derivado da experiência não con tendo caráter universal Kant descreve três tipos de juízos que estão relacionados com os conceitos a priori e posteriori que são juízo analítico a priori juízo sintético a poste riori e juízo sintético a priori O último é o mais importante pois como já vimos é com ele que a metafísica ganhará o status de ciência O juízo analítico a priori é descrito por Kant como aquilo que está isento de contradição ou seja que não pode contar em si mesmo sua própria nega ção Por exemplo quando uma figura geométrica é descrita como tendo três lados iguais temos a ideia de um triângulo uma vez que em sua composição essa característica é essencial Não existe um triângulo com menos ou mais de três lados logo qualquer figura geométrica que não siga esse padrão não é um triângulo O juízo analítico a priori segue uma regra em que não se afirma mais do que aquilo que está contido no sujeito SANDOVAL 2014 p 185 Um juízo sintético a posteriori é todo aquele juízo que não é universal e prin cipalmente que depende da experiência sensível Nesse tipo de juízo a verdade da proposição não é eterna é uma verdade provável que dependerá da comprovação empírica para ser aceita como verdade Fato que não ocorre com os juízos analí ticos a priori uma vez que estes são conceitos universais e jamais contraditórios Com isso temos dois tipos de juízos um que depende inteiramente do intelecto trabalhando com conceitos universais e outro que depende da expe riência para sua validade Se pensarmos bem esses dois juízos são semelhan tes à metafísica platônica que divide a realidade em dois mundos sensível e idealintelecto Para Kant o problema da metafísica reside nessa divisão pois as verdades metafísicas sempre ficaram no campo dos juízos sintéticos a priori e nunca conseguiram passar para a realidade sensível Diante deste cenário é necessária a criação de um novo tipo de juízo capaz de conter a universalidade e o contato com a experiência sensível Este é o juízo sintético a priori que tem como base uma verdade universal mas que necessita também realizar uma verificação empírica para sua concretude Sobre isso comenta Sandoval 2014 p 188 que UNICESUMAR 107 O que caracteriza os juízos sintéticos a priori é o fato que eles são além de necessários intuitivos assim sendo dependentes da intuição pura de espaço e tempo para adicionar uma nova infor mação por meio de conceitos construídos na intuição sensível para preencher um conceito puro do entendimento Eles não são totalmente puros no sentido de independentes da intuição sensível como são os juízos analíticos nem sequer totalmente empíricos como são os juízos sintéticos a posteriori A partir disso podemos dizer que os juízos sintéticos a priori são um meio termo entre intelecto e sensibilidade pois necessitam tanto do conhecimento intelectivo quanto do sensível Para prosseguirmos na explicação desse juízo é preciso primeiro compreender o que é o tempo e o espaço para Kant porém tal explicação precisa de uma elucidação do que é a filosofia transcendental De acordo Reale e Antiseri 2005 p 359 Para a metafísica clássica os transcendentais eram as condi ções do ser enquanto tal ou seja aquelas condições sem as quais deixa de existir o próprio objeto mas depois da revolução kan tiana não é mais possível falar de condições do objeto em si mas somente de condições do objetoemrelaçãoaosujeito o transcendental portanto se desloca do objeto para o sujeito Em conclusão transcendental é aquilo que o sujeito põe nas coisas no próprio ato de conhecêlas Os autores da citação anterior querem dizer que como em Copérnico a Terra não é mais o centro do universo os objetos não são mais o centro da metafísi ca agora é o homem o centro do universo O que significa que os fundamen tos dos objetos serão definidos conforme a percepção humana Isso implica também na mudança do significado do conceito de transcendental Na filo sofia antiga referimonos a transcendente tudo aquilo que estava num plano inteligível fora da realidade sensível Em Kant transcendental significa ter a condição de poder conhecer os objetos ou seja é a partir da transcendência que o homem conhece o mundo UNIDADE 3 108 Para compreendermos a filosofia transcendental de Kant é necessária uma introdução sobre dois conceitos fundamentais que são bem conhecidos na história da filosofia que são conhecimento dos sentidos e conhecimento do intelecto Desse modo primeiramente esclareceremos o cerne do conheci mento sensível para Kant para depois entender o conhecimento do intelecto Kant trabalha o conhecimento sensível na sua estética transcendental a partir dos conceitos de espaço e tempo já que tudo que é referente aos sentidos tem que existir dentro do mundo estando submetido a tais concei tos O termo estética é utilizado pelo filósofo com significado de percepção ou sensação referente a tudo aquilo que é percebido pelo homem a partir da sensibilidade Segundo Reale e Antiseri 2005 dentro da estética transcendental os termos kantianos importantes são sensação termo utilizado para descrever ação do objeto sobre o sujeito tipo quente e frio sensibilidade a capacidade de perceber as sensações como também a de modificar o objeto intuição a percepção imediata do objeto fenômeno a forma com que o objeto aparece para sensibilidade humana intuição empírica que é denominado como conhecimento sensível das sensações e intuição pura que é o entendimento de noções como espaço e tempo Esses conceitos estão em relação simultânea com a percepção humana do mundo são eles o fundamento de toda a percepção do homem Digamos que percebemos primeiro o objeto como um fenômeno que aparece diante de nós somente depois somos capazes de captar esse fenômeno com suas carac terísticas e aspectos porque temos a nossa sensibilidade que é a capacidade de perceber as sensações dos objetos Entretanto o conhecimento das sensações que interpretamos dos objetos é nossa intuição aquilo que percebemos de imediato ao ver o fenômeno surgir diante de nossos olhos Para o filósofo essa intuição pode ser dividida em duas A primeira é a intuição sensível que somente pode ser adquirida por meio da empiria ou a posteriori Essa intuição apenas é possível por meio da experiência existindo conforme o homem vai vivendo e percebendo os fenômenos no mundo A segunda intuição denominada de intuição pura referese a conceitos que possibilitam nossa sensibilidade em outras palavras os objetos por nós per cebidos como fenômenos apenas podem ser percebidos dentro do tempo e espaço Essas duas noções são importantes na filosofia kantiana justamente porque são o meio de possibilidade da percepção das coisas no mundo UNICESUMAR 109 Os conceitos de espaço e tempo em Kant recebem uma nova carac terística Se antes eram compreendidos como entidades presentes nos objetos agora são uma estrutura do pensamento humano Portanto os conceitos fazem parte da intuição humana e são a fonte da possibilidade da percepção dos objetos O espaço é definido como aquilo que torna possível a representação do objeto na realidade sensível nenhum objeto percebido pelo sujeito pode apa recer sem estar num espaço Todo objeto em geral ocupa um espaço O tempo é referente sentido interno do que é percebido por nós como também é o que garante o movimento do fenômeno o aparecer e desaparecer Para Reale e Antiseri 2005 esses conceitos não são absolutos para Kant podendo ser descartados em outras realidades ou para outros seres racionais além do humano Entretanto para o homem são extremamente necessários pois sem eles não haveria como o homem ter conhecimento empírico Portanto o espaço e tempo são conceitos a priori Nesse caso é a partir da intuição sensível que temos conhecimentos dos objetos que estão submetidos às condições a priori de tempo e espaço o que torna a intuição sensível uma possibilidade de compreensão da realidade por meio de con ceitos universais em outras palavras as noções de espaço e tempo criam o cenário possível para o juízo sintético a priori já que permite a aproximação de noções universais com a experiência empírica como acontece com a geometria matemática e a física Essas duas ciências são consideradas por Kant como criadoras de juízos sintéticos a priori A matemática e a física possuem seus fundamentos dentro dos conceitos a priori como os números e as formas que não dependem da realidade sensível podendo ser conferidos pelo intelecto em pensamento Entretanto essas ciências também possuem a característica de serem pos síveis dentro da realidade sensível pois elas não sofrem mudanças em seus conceitos puros quando estão na sensibilidade Por exemplo quando pensa mos numa forma geométrica um triângulo temos a noção a priori de seus três lados necessários que pode ser representado empiricamente com preci são Da mesma forma com uma adição podemos somar mentalmente 45 e chegar a 9 da mesma forma que contando nos dedos ou por pedras no chão A veracidade da certeza desses conceitos matemáticos é absoluta tanto mentalmente quanto empiricamente Por isso Kant diz que juízos matemáti cos e físicos são juízos sintéticos a priori por partir de uma intuição sensível UNIDADE 3 110 como o ato de contar nos dedos podendo chegar ao resultado da soma a partir desse ato empírico o que marca uma necessidade implícita entre esses con ceitos puros com a intuição sensível Para Kant é essa ligação entre conceitos puros e a intuição que falta para a metafísica Segundo Sandoval 2014 a matemática como uma ciência depende da experiência empírica para criação de conceitos a soma de um número acompanha a soma das unidades que podem ser representadas por objetos empíricos que estão dentro do espaço e tempo Por exemplo pedras que po demos vir a utilizar para uma soma estão dentro do campo da sensibilidade mas que ajudam a construir um conceito puro matemático A física segue o mesmo caminho da matemática com suas regras baseadas na experiência é capaz de provar conceitos puro e universais Essa capacidade de síntese entre a realidade sensível e a realidade do intelecto não é somente um requisito para uma ciência eficaz mas uma conformidade com a forma do raciocínio humano Para Kant as intuições sensíveis sozinhas são somente percepções dos objetos não podendo ser proferido nenhum juízo delas apenas quando as percepções encontram o entendimento dos conceitos que é possível a emissão de juízos Dessa maneira um juízo é quando o entendimento procura nas categorias puras as qualidades universais referentes a um objeto empírico a partir disso somos capazes de proferir juízos sobre o objeto Podemos proferir o seguinte juízo este livro a minha frente é velho pos sui as folhas todas amareladas A intuição sensível nos possibilita a apreensão deste livro que aparece à nossa frente entretanto para qualificálo como velho necessitamos da referência conceitual dele que está no entendimento puro depois fazemos uma comparação com o objeto à nossa frente No fim desse processo somos capazes de proferir um juízo sobre o livro A realização de um juízo como descrito no exemplo porém seria um juízo sintético a posteriori não um a priori pois não é via de regra que todos os livros que estiverem em nossa frente serão velhos Os juízos sintéticos a priori são derivados da experiência empírica mas são capazes de realizar antecipações precisas do que ocorrerá com o fenômeno que virá a aparecer O juízo sintético a priori é dotado da capacidade de realizar antecipações ou seja ele possui a capacidade de criar projeções do que virá a acontecer UNICESUMAR 111 em ações futuras É isso que Kant acha interessante na física newtoniana a possibilidade de criar leis gerais para eventos sensíveis e o que espera da me tafísica Entretanto o problema está em como conseguir superar a metafísica dos conceitos puros para uma metafísica de juízos sintéticos a priori A solução de Kant para a possibilidade desses juízos pode ser definida como a necessidade de a intuição sensível depender de conceitos puros Para ser mais claro isso quer dizer que a existência dos conceitos univer sais é necessária para o sujeito fazer referência aos dados captados pela intuição sensível Para o filósofo existem formas no pensamento que são preenchidas com os objetos percebidos pela sensibilidade As formas no pensamento são con ceitos que remetem às características universais dos seres sensíveis entretanto sozinhos carecem de significado no sentido de não serem referentes a algo além deles mesmos Assim tem que haver a ligação entre entendimento e intuição para as formas do pensamento terem significado As formas contendo significado possibilitam o sujeito a proferir um juízo sintético a priori expressar em palavras a intuição sensível e os con ceitos puros do entendimento Portanto é possível realizar juízos sinté ticos a priori porque toda experiência contém ainda o conceito de um objeto que é dado ou aparece na intuição conceitos de objetos em geral servirão de fundamento como condições a priori para todo conhecimento por experiência KANT 1980 apud SANDOVAL 2014 p 193 Mas a dúvida que fica é esses juízos sintéticos a priori são capazes de dar uma certeza absoluta como a física newtoniana é capaz Se isso é possível então a metafísica adquire o status de ciência Como vimos durante muito tempo a metafísica foi uma arte dos con ceitos e forma suprassensível que não dependiam em nada da experiência Uma ciência é diferente da metafísica porque consegue retirar da experiên cia empírica verdades absolutas e certas Por mais que o homem seja capaz de realizar em sua racionalidade juízos sintéticos a priori a metafísica não consegue se sustentar por si mesma nesses juízos A metafísica é em sua es sência uma arte de investigar conceitos sejam empíricos sejam inteligíveis no âmbito do absoluto o objeto de investigação da metafísica está fora das noções de tempo e espaço UNIDADE 3 112 Dessa forma Kant conclui que a investigação da metafísica contribui mais para análise de conceitos inteligíveis que servem para um tipo de conhecimento que não é para o conhecimento científico A investigação crítica de Kant mos tra que o homem é capaz de realizar juízos verdadeiros e universais com princí pios sensíveis e inteligíveis juízos sintéticos a priori algo que é característico da racionalidade humana mas que não são os fundamentos suficientes para metafísica Por conseguinte o filósofo faz uma divisão colocando a metafísica de um lado como a arte analítica de investigação do absoluto do outro lado a ciência capaz de realizar síntese entre conhecimentos gerais e empíricos Por fim temos que notar quatro aspectos importantes da filosofia kantiana apresentados nesta aula Primeiro que o espírito do iluminismo leva Kant a afirmar que a razão é a fonte da liberdade humana segundo que o projeto filosófico kantiano é transformar a metafísica em uma ciência terceiro é que mesmo existindo os juízos sintéticos a priori que possibilitam o conhecimen to científico não foi possível transformar a metafísica em uma ciência pois ambas são artes de campos diferentes Não se pode apresentar um único livro tal como se mostra um Euclides e dizer eis a metafísica aqui encontrareis o fim mais nobre desta ciência o conhecimento de um Ser supremo e de um mundo futuro demonstrado a partir de princípios da razão pura Pois podem sem dúvida indicarnos muitas proposições apodicticamente certas e que nunca foram contestadas mas todas elas são analíticas e concernem mais aos materiais e aos instrumentos de construção da metafísica do que à extensão do conhecimento que no entanto deve ser com ela o nosso verdadeiro propósito Fonte Kant 1980 p 32 explorando Ideias UNICESUMAR 113 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa na unidade você teve contato com algumas das principais teorias metafísicas da Idade Moderna Com isso apresentamos a característica principal da filosofia moderna o racionalismo que aparece na filosofia cartesiana até a filosofia kantiana Também percebeu a importância da revolução científica dentro do pensamento filosófico Para finalizar esta unidade faremos um resumo dos principais assuntos tra tados no livro A filosofia e metafísica de Descartes como vimos apresenta uma grande preocupação com a aquisição do conhecimento mais especificamente como é possível o homem adquirir um conhecimento seguro Os principais aspectos da filosofia e metafísica cartesiana são o desenvolvi mento da dúvida como um método Porém vimos que a dúvida vai para além de um método ela é um pressuposto metafísico que tem a finalidade de colocar toda forma de conhecimento humano em conformidade com a razão Tal proposta filosófica marcará o Período Moderno fazendo com que outros autores procurem criar uma filosofia baseada na racionalidade Depois estuda mos a metafísica leibniziana que da mesma forma que Descartes procura criar uma metafísica centralizada no conceito de mônada que sustente uma nova for ma de fazer ciência Por último estudamos a filosofia de Kant a qual afirma que a razão é a fonte da liberdade humana e princípio de todo conhecimento humano O objetivo kantiano é transformar a metafísica em uma ciência porém Kant percebe que mesmo existindo os juízos sintéticos a priori que possibilitam o conhecimento científico não foi possível transformar a metafísica em ciência pois ambas são artes de campos diferentes Portanto concluímos que a razão passou a ser o centro de todo pensamento filosófico e metafísico do Período Moderno 114 na prática 1 René Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno Sua filosofia tem como ponto de partida a dúvida como um método para chegar ao conhecimento verda deiro a partir da razão humana Entretanto a dúvida não é somente um método ela é um pressuposto metafísico para Descartes A partir deste enunciado assinale a alternativa correta a A dúvida para Descartes é algo importante porque apresenta a possibilidade da incerteza O filósofo não consegue em suas obras superar a dúvida assim nunca conseguiu alcançar uma verdade absoluta que não seja Deus b A dúvida em Descartes ganha o estatuto de pressuposto metafísica uma vez que leva o indivíduo a questionar verdades absolutas como Deus algo importante dentro do projeto metafísico cartesiano já que a prova da existência de um Deus bom permite o homem a alcançar certezas no mundo empírico c O imperativo hipotético kantiano é retomado por Descartes para poder reafirmar as estruturas do pensamento moderno A dúvida é a novidade de Descartes para teoria kantiana que tem como finalidade transformar a metafísica em uma ciência d A dúvida é somente uma forma de método para Descartes não possuindo nenhuma outra finalidade em sua filosofia e Quando Descartes coloca a possibilidade da existência de um Deus Enganador ou Gênio Maligno a dúvida entra como algo necessário pois sustenta a possibi lidade eterna do erro que o homem está submetido pela eternidade 2 Conforme seu conhecimento da filosofia de Descartes é correto afirmar que I Para Descartes o conhecimento empírico adquirido pelos sentidos pode levar o homem ao erro quando não utiliza dos critérios de clareza e distinção II O Deus Enganador ou Gênio Maligno introduzido por Descartes em sua obra Meditações é apenas uma maneira de colocar a universalidade da matemática em dúvida Descartes não acreditava nessas entidades apenas utilizouas como hipótese metodológica para alcançar a certeza da matemática III Descartes foi um grande filósofo escolástico que buscou na filosofia tomista os alicerces de seu racionalismo IV Como primeiro filósofo moderno Descartes inaugura a doutrina do empiris mo buscando mostrar para comunidade científica a superioridade do sensível diante da razão 115 na prática Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 3 Para Leibniz a alma é uma substância espiritual que não deixa de ser uma mônada que possui a característica de compor todos os seres do universo Mas a alma possui uma leve diferença entre as outras mônadas enquanto as outras mônadas com põem os seres a alma é um espírito ou seja ela é razão Segundo Leibniz há uma hierarquia entre as mônadas que no topo está Deus como criador das mônadas Diante deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F A alma humana é uma mônada que possui como qualidade a racionalidade que a permite ter consciência dos seres do mundo e de si mesma A alma humana dotada da razão tem a capacidade de compreender a mô nada em suas essências últimas assim como Deus também é racional percebe a mônada Deus é a mônada primária e está no topo da hierarquia leibniziana somen te Deus pode compreender a mônada em sua essência A alma humana conhece a mônada apenas como ela aparece enquanto fenômeno nunca em sua essência Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 116 na prática 4 A metafísica é uma arte da investigação utilizada pela humanidade durante vários séculos porém a metafísica não conseguiu ganhar o mesmo status que as demais ciências como a matemática a física e a lógica Conforme seu conhecimento na filosofia kantiana é correto afirmar que a metafísica não alcança o status de ciência Por quê Assinale a alternativa correta a A filosofia kantiana procura por princípios capazes de transformar a metafísica em uma ciência a maneira de alcançar este objetivo para Kant é por meio dos juízos sintéticos a priori b A metafísica para Kant sempre foi uma ciência entretanto diferente da mate mática e da física pois essas ciências tratam de assuntos sensíveis e inteligíveis enquanto a metafísica trabalha apenas com o inteligível c Kant depois de investigar os limites da razão humana descobre que mesmo com os juízos sintéticos a priori a metafísica não poderia ganhar o status de ciência pois não é da essência da metafísica trabalhar com a síntese entre co nhecimento sensível e inteligível A metafísica sempre será a arte que trata de assuntos do absoluto d Os juízos sintéticos a posteriori são os alicerces da filosofia como também o material de trabalho da metafísica e A metafísica é uma ciência teológica para Kant que trata apenas das questões referentes a Deus 117 na prática 5 Kant procura realizar dentro da filosofia uma revolução copernicana Colocar o ho mem como centro dos conceitos da realidade agora não seria mais o objeto que dita suas qualidades e essências mas o sujeito que ao perceber o mundo diante dele descreveo como percebe Diante deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F O homem nunca consegue conhecer o objeto em si mesmo apenas conhece a forma fenomênica do objeto Dessa forma as qualidades e aspectos do objeto são dados pelo homem quando o percebe como fenômeno Diante dessa mudança de paradigma na filosofia Kant acrescenta novos con ceitos na filosofia alguns deles são sensibilidade sensação fenômeno intuição pura e intuição sensível O objeto para Kant é o centro de todo conhecimento sensível o homem tem que utilizar sua racionalidade para compreender os aspectos do objeto A meta física somente será uma ciência quando conseguir entender verdadeiramente a essência dos objetos do mundo Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 118 aprimorese Confira a passagem das Meditações Metafísicas de Descartes acerca do descobri mento da primeira certeza O que sou eu então Sou uma coisa que pensa O que é uma coisa que pensa É uma coisa que duvida que concebe que afirma que nega que quer que não quer que imagina também e que sente Por certo não é pouco se todas essas coisas pertencem a minha natureza Por que não lhe pertenceriam então Não sou ainda eu esse mesmo que duvida de quase tudo que no entanto entende e concebe certas coisas que assegura e afirma serem só essas verdadeiras que nega todas as demais que quer e deseja conhecêlas ainda mais que não quer ser enganado que imagina muitas coisas por vezes até a despeito de querer e que sente também muitas delas como que por intermédio dos órgãos do corpo Há algo nisso tudo que não seja tão verdadeiro quanto é certo que sou e que existo ainda que dormisse sempre e que aquele que me deu o ser se servisse de todas as suas forças para iludirme Há também algum desses atributos que possa ser dis tinguido de meu pensamento ou que se possa dizer que exista separado de mim mesmo É por si tão evidente que sou eu quem duvida entende e deseja que não é necessário nada acrescentar aqui para explicálo E tenho também certamente o poder de imaginar pois ainda que possa ocorrer como supus anteriormente que as coisas que imagino não sejam verdadeiras este poder de imaginar não deixa no entanto de estar realmente em mim e de fazer parte de meu pensamento Enfim sou o mesmo que sente isto é que recebe e conhece as coisas como que pelos órgãos dos sentidos visto que de fato vejo a luz ouço o ruído sinto o calor Dirmeão que essas aparências são falsas e que eu durmo Que assim seja toda via ao menos é muito certo que me parece que vejo que ouço e que me aqueço e é isso propriamente que em mim se chama sentir o que tomando assim precisa mente não é outra coisa senão pensar A partir daí começo a conhecer o que sou com um pouco mais de luz e distinção do que antes Fonte Descartes 2009 p 163164 119 eu recomendo Descartes a metafísica da modernidade Autor Franklin Leopoldo e Silva Editora Moderna Sinopse neste livro o Professor Franklin Leopoldo e Silva faz inicialmente uma contextualização histórica sobre o começo da Era Moderna Depois o autor realiza de maneira simples e intelectual uma explicação que esclarece todos os pormenores do pensamento cartesiano entrando nos temas mais importantes como Deus alma corpo e razão O livro é uma excelente leitura para estudantes de filosofia pois apresenta a filosofia cartesiana de forma mais simples livro A origem Ano 2010 Sinopse o filme conta a história de Dom Cobb um habilidoso ladrão de informação que utiliza um método diferente de roubo Seu método consiste no roubo de informação do inconsciente da pessoa por meio do sonho Assim a história se passa numa alucinante viagem no mundo dos sonhos onde Dom Cobb ten ta roubar uma informação Porém uma dúvida sempre está com Dom Cobb o que é real e o que é sonho filme Para uma melhor compreensão da filosofia kantiana sobre a temática da metafísica é indicado a leitura do texto Sobre a certeza nos juízos sintéticos a priori do Prof Me Rafael Sandoval httpsperiodicosunbbrindexphppolemosarticleview11658 conectese 4 METAFÍSICA E ONTOLOGIA PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Ontologia A metafísica para Mar tin Heidegger Sartre e a ontologia fenomenológica Corpo fenômeno e ontologia em MerleauPonty OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender as diferenças e semelhanças entre metafísica e ontologia Examinar a compreensão de Martin Heidegger sobre metafísica Conhecer a ontologia fenomenológica de JeanPaul Sartre Adquirir uma breve noção da ontologia de MerleauPonty INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa esta unidade tem por objetivo apresentar a você os fundamentos da ontologia na história da filosofia contemporânea Podemos dizer que a história da ontologia dentro da filosofia começa na Grécia e percorre até a filosofia contemporânea Entretanto nossa atenção não será voltada para o período antigo da filosofia mas para o período contemporâneo mais especificamente para os filósofos Martin Heidegger JeanPaul Sartre e Maurice MerleauPonty Na primeira aula focaremos nossa atenção para a história do termo ontologia Assim você conhecerá como o conceito foi se definindo até chegar na contemporaneidade como também explorará as diferenças e semelhanças entre metafísica e ontologia Na segunda aula você en contrará a corrente filosófica denominada existencial a partir do pen samento de Martin Heidegger Nessa aula teremos como objetivo com preender qual o fundamento da metafísica para Heidegger procurando elucidar conceitos fundamentais da sua filosofia Na terceira aula desta unidade estudaremos o existencialismo de JeanPaul Sartre conhecendo a ontologia fenomenologia que o filósofo desenvolve em suas obras Para tanto procuraremos definir os princi pais conceitos sartrianos de ser emsi ser parasi e liberdade Na quarta e última aula conheceremos a fenomenologia ontológica de Maurice de MerleauPonty que diferente da fenomenologia de Sartre que apre senta um sujeito e um objetivo apresenta o conceito de corpo que é o fundamento de sua ontologia Por fim encontraremos nesta unidade as características gerais do conceito de ontologia como também estudaremos os pensadores que elaboraram grandes filosofias a partir da ontologia Embora haja muitos outros autores que trabalharam este tema os que aqui estão reunidos garantem para você graduando em filosofia uma ótima compreensão do que é uma filosofia ontológica Boa Leitura UNIDADE 4 122 1 ONTOLOGIA Caroa alunoa nesta aula pretendemos realizar uma exposição do conceito ontologia buscando elucidar seu significado dentro da história da filosofia Para tanto explicaremos inicialmente as diferenças e semelhanças entre metafísica e ontologia Tentaremos realizar um comentário breve e introdutório sobre esse tema porque nosso objetivo é nas próximas aulas trabalhar filosofias que abordam mais especificamente a questão da ontologia por exemplo a filosofia de JeanPaul Sartre e MerleauPonty Dessa forma retomaremos o conteúdo trazendo novamente a definição da história do termo metafísica para depois explicar o que é a ontologia A palavra metafísica tem origem grega tà metá tà physikà que significa aquilo que está para além do plano físico Entretanto não há registro de nenhum filósofo grego ter feito utilização deste termo dentro da Filosofia Conforme Mora 1965 a história por trás do termo metafísica está ligada ao trabalho de Andrônico de Rodes estudioso do século I aC De acordo com os livros de História Rodes foi encarregado de organizar as obras de Aris tóteles Ao organizar as obras Rodes colocou a série de livros de Aristóteles nomeados de Filosofia Primeira na prateleira da biblioteca depois da obra que se chama Física que trata da estrutura das coisas físicas Como as obras da Filosofia Primeira ficaram posicionadas após o livro sobre física foram denominadas com a expressão grega tà metá tà physikà para dizer que a Filosofia Primeira estava para além da Física UNICESUMAR 123 O conteúdo dos livros de Filosofia Primeira de Aristóteles por incrível que pareça possuíam um significado semelhante da expressão tà metá tà physikà Dessa maneira toda forma de estudo que busca compreender os fundamentos do ser que estavam para além das coisas físicas foram denominadas de metafísica Dentro da história da filosofia é possível dizer que toda investigação filosófica passa por uma metafísica pois a filosofia sempre procura alcançar uma resposta que em muitos casos não está para além no plano físico no plano metafísico ou como alguns filósofos dizem no plano inteligível As questões metafísicas pos suem como característica fundamental o objetivo de alcançar um princípio que descreva com precisão as essências do ente que seja isento de contradição ex pressando com clareza o que é o ente Assim ao longo dos séculos a ciência que dedica suas pesquisas na busca por princípios fundamentais do ente é denomi nada de metafísica porém alguns autores também denominamna de ontologia A ontologia já não tem uma história interessante da origem do termo como a metafísica O termo ontologia já era utilizado pelos gregos porém não com tama nha ênfase como é no final da Era Moderna Para entendermos o que é ontologia primeiro é necessária uma explicação da etimologia do termo Ontologia vem do grego das palavras ontos que significa ente e logoi que é estudo ou discurso Assim numa tradução mais precisa do termo é possível dizer que ontologia é um estudo do ente ou melhor é um estudo de tudo aquilo que é referente ao ente em seus fundamentos Sobre isso comenta Abbagnano 2007 p 662 que a ontologia é uma doutrina que estuda os caracteres fundamentais do ser os que todo ser tem e não pode deixar de ter Dessa forma enquanto as ciências procuram estudar uma das formas com que o ente se determina no mundo a ontologia procura estudar os fundamentos essenciais que torna possível o aparecimento deste ente na realidade o que é necessário para que o ente exista ou melhor o que torna o ente ele mesmo Para uma melhor compreensão sobre a temática ontologia assista o vídeo intitulado Ciência filosofia e ontologia da Profa Camila Haase da Universidade de Estudos Avan çados UEA httpswwwyoutubecomwatchvhLYAlfUT4k8 conectese UNIDADE 4 124 Compreendendo a ontologia dessa maneira podemos dizer que a metafísica de Aris tóteles denominada da ciência do ente enquanto ente que procura realizar uma investigação sobre os princípios fundamentais que estruturam o ser é também uma forma da ontologia porque Aristóteles tem como ambição filosófica entender o ente e seus fundamentos essenciais logo sua metafísica é uma ontologia Nesse sentido é possível dizer que para Aristóteles metafísica e ontologia são duas coisas complementares não chegam a um grau de diferença gritante como água e óleo Ambas caminham juntas e até misturadas em alguns momentos na filosofia aristotélica No Período Medieval São Tomás de Aquino considerado o maior intér prete cristão de Aristóteles também enxerga metafísica e ontológica como duas coisas complementares para compreender os entes finitos todavia entende que a ontologia não é viável ao plano divino que é um campo reservado somente para teologia Segundo São Tomás de Aquino o que a filosofia possui como instrumento de trabalho é uma metafísica ontológica enquanto estudo dos seres finitos criados por Deus que não pode ser atribuída ao estudo da substância primeira Deus porque Deus o criador de todos os seres deste mundo finito está separado de sua criação sendo assim não haveria como fazer uma ontologia daquilo que não é um ser mas a fonte de todos os seres Portanto resta apenas a teologia para investigar os assuntos referentes a Deus e para os seres ficam a metafísica e a ontologia A teologia então consagra o estudo das coisas divinas a metafísica investiga assuntos além da física porém que não são referentes ao divino A ontologia fica com as questões mais gerais do ser tanto físico quanto espiritual entretanto nunca do plano divino pensando juntos UNICESUMAR 125 Essa concepção de Tomás de Aquino nos revela o aspecto principal da ontolo gia que é ser o estudo do ente enquanto um ser não o estudo do ente enquanto divindade assim a preocupação da ontologia é desvendar os mistérios dos entes que povoam o mundo No século XVII esta divisão apresentada por Tomás ganha mais força sendo definida como essencial para o estudo filosó fico dessa forma devese dedicar a estudar Deus somente a arte da teologia enquanto que a ontologia estuda os seres do mundo A partir deste século a ontologia começa a ser considerada como a ex posição organizada e sistemática dos caracteres fundamentais do ser que a experiência revela de modo repetido ou constante ABBAGNANO 2007 p 661 Diante dessa visão o filósofo Christian Wolff apresenta uma definição de ontologia que persiste até a contemporaneidade Wolff expõe que as crenças em fundamentos essenciais do ser existem até no senso comum porém elas não são apresentadas de forma sistematizada A ontologia enquanto ciência tem o papel de sistematizar essas regras fundamentais do ser em geral Por tanto aquelas características adotadas pelo senso comum das propriedades em comuns dos seres tanto materiais quanto espirituais são o material de estudo da ontologia enquanto ramo específico da filosofia Assim a ontologia ganha um reconhecimento dentro da filosofia como a disciplina que estuda dos seres entes Na filosofia contemporânea a ontolo gia adquire uma outra característica que é a de ser fenomenológica O prin cipal filósofo que iniciou a doutrina da ontologia fenomenológica é Edmund Husserl que descreve a realidade humana composta por dois seres um ser que capta os fenômenos que são apreendidos por uma consciência transcendente e os seres que aparecem como fenômenos UNIDADE 4 126 Para Husserl a ontologia está completamente ligada à estrutura feno menológica da consciência humana como sendo capaz de sair de si mesma para perceber os seres do mundo Dessa forma a ontologia será um estudo do ser que é capaz de perceber os fenômenos aqui está uma diferença entre a ontologia aristotélica antiga e a ontologia contemporânea enquanto os antigos estavam preocupados com os seres em geral uma ciência do ente enquanto ente que é aplicável a qualquer ser a contemporânea se preocupa apenas com o fenômeno que aparece ao sujeito Os filósofos contemporâneos como Husserl estão preocupados em investi gar o homem enquanto ser que é capaz de perceber os outros seres A ontologia passa então a ser a investigação do homem enquanto ser transcendental É possível observar isso em Martin Heidegger filósofo que estudaremos na aula seguinte Para Heidegger o estudo ontológico tem que estar voltado para o ser que é capaz de interrogar o mundo aquele que é capaz de perguntar e ad quirir respostas a suas perguntas Tal ser somente pode ser o homem assim a filosofia se torna um estudo ontológico do homem para Heidegger Essa característica se repetirá com todos os filósofos da linha da fenomenologia Por fim podemos concluir nesta aula quatro aspectos importantes que guiarão nosso estudo nesta unidade O primeiro é que metafísica e onto logia têm uma leve diferença a metafísica referese a tudo aquilo que está para além do físico enquanto a ontologia trata do ente em geral O segundo ponto é que mesmo uma metafísica pode conter uma ontologia como é possível ver no caso de Aristóteles e Tomás de Aquino O terceiro é que as filosofias contemporâneas não buscam mais realizar uma metafísica do ser mas trabalhar o ser dentro do plano ontológico assim essas filosofias pro curam esclarecer as estruturas do ser transcendente o homem Por último devemos ressaltar que essa breve exposição do conceito de ontologia tem como finalidade servir de introdução às filosofias ontológicas que veremos nas próximas aulas por isso é importante a compreensão do significado e da amplitude do termo ontologia UNICESUMAR 127 Caroa alunoa Nesta aula estudaremos o filósofo que é considerado o pai da filosofia existencial Tal filósofo é Martin Heidegger nascido em 1889 em Messkirch Alemanha possui formação em filosofia e teologia Durante sua formação foi laureado no curso de filosofia depois de alguns anos como professor assumiu o cargo de reitor da Universidade de Friburgo porém so mente adquiriu este posto quando aderiu as doutrinas nazistas Durante sua estada na universidade produziu grande parte de suas obras sobre filosofia e comentários a respeito da filosofia antiga Heidegger escreveu um texto intitulado O que é metafísica 1929 pro curando explicar o que é a metafísica dentro da sua filosofia existencial po rém antes de analisarmos a metafísica heideggeriana é de suma importância compreender alguns conceitos importantes que aparecem constantemente em sua filosofia Para tanto exploraremos primeiro o conceito de ser dentro da obra Ser e Tempo 1927 2 A METAFÍSICA PARA MARTIN HEIDEGGER UNIDADE 4 128 Ser e Tempo é considerada sua maior obra sobre ontologia e metafísica Nesta obra Heidegger elabora de maneira original uma resposta à pergunta o que é o ser O filósofo não procura analisar quem é o ser que aparece diante do sujeito mas sim analisar qual o sentido do ser que propõe esta pergunta ou melhor o que é o homem Heidegger diferente dos filósofos antigos que tentavam alcançar uma explica ção das coisas do mundo por meio da metafísica procurava compreender o que tem de especial no homem que o torna capaz de captar as coisas do mundo e se questio nar sobre si mesmo e o mundo Diante disso Heidegger num primeiro momento tenta compreender o que é homem partindo para uma explicação existencial O homem é descrito pelo filósofo como seraí dasein isto é o homem é um ser que sempre está em relação com o mundo ou melhor o homem é um sernomundo O fundamento primeiro do seraí consiste na condição de não conseguir se ausentar da sua situação dentro do mundo por isso ganha essa denominação de dasein que em alemão significa literalmente seraí ser jogado dentro do mundo Seraí não é um sernomundo pelo fato de e apenas pelo fato de existir faticamente mas pelo contrário somente pode ser como existente isto é como seraí porque sua consti tuição essencial reside no sernomundo Martin Heidegger pensando juntos Segundo Reale e Antiseri 2006 a compreensão do ente parte do princípio que o seraí não é somente mais um ente objeto no meio do mundo O seraí é antes de tudo aquele ente que tem a capacidade de perceber as outras coisas o homem não é só mais uma pedra entre as outras pedras mas o ser que é capaz de perce berse como um ente no meio de outros entes e se questionar sobre sua condição O homem sempre será sernomundo em outras palavras significa que o seraí é um ser constituído pela transcendência ele está sempre em relação com as coisas do mundo constituise inteiramente por tal relação Por essa razão que o homem compreenderá as coisas do mundo como utensílios para completar aquilo que ele ainda não é porque para o filósofo o homem é um ser sempre em projeto um eterno viraser UNICESUMAR 129 A existência humana está vinculada fundamentalmente com o seraí pois enquanto é um projeto somente pode se realizar na existência nunca fora dela Dessa forma a existência pode ser descrita como o meio de possibilidade para o homem seraí pode se realizar por isso que o homem é um sernomundo justamente porque é no mundo que o homem age e projeta suas ambições fa zendo uso das coisas que estão neste mundo para se concretizar De acordo com Reale e Antiseri 2006 p 205 A transcendência institui o projeto ou esboço de um mundo ela é um ato de liberdade aliás para Heidegger é a própria liberdade Entretanto se é verdade que qualquer projeto radicase em um ato de liberdade também é verdade que todo projeto limita imediata mente o homem que se encontra dependente das necessidades e limitado pelo conjunto daqueles utensílios que é o mundo Estar nomundo pois significa para o homem cuidar das coisas neces sárias a seus projetos e ter a ver com uma realidadeutensílio meio para sua vida e para suas ações Na passagem anterior os comentadores apontam como a transcendência pos sibilita o mundo para o homem Digamos que a transcendência é um ato de liberdade uma vez que coloca o homem diante do mundo onde ele poderá agir e atuar para realizar a si mesmo enquanto um projeto O fato do homem estar no mundo o mergulha dentro do mar das possibilidades em que o permite concluir o projeto que tem de si mesmo Com isso o mundo é a realidade das possibilidades para o homem sem estar no mundo não haveria como ser em projeto Sendo assim o homem no mundo não é somente um espectador mas antes disso ele é um agente é o ser da ação que utiliza as coisas em seus propósitos Podemos lembrar aqui do conceito marxista de trabalho Marx quando des creve que é pelo trabalho que o homem modifica as coisas do mundo que molda o mundo conforme a sua vontade está se referindo a esta condição humana de sernomundo como ação Nesse sentido o homem é um ser que ao agir sobre omundo transformao conforme a sua vontade Onde antes havia uma enorme rocha que impedia a construção de uma estrada com a ação humana a rocha desaparece abrindo caminho para uma longa rodovia Esta é a compreensão heideggeriana da relação do homem com o UNIDADE 4 130 mundo que é semelhante à marxista Para Martin Heidegger o homem pode ter várias compreensões das coisas do mundo tanto estéticas quanto teóricas como também práticas entretanto o fator comum dessas compreensões é que todas dependem do homem é ele homem que decide o que fazer com as coisas do mundo Tal coisa pode ter uma utilizada estética ou prática porém quem decide isso é sempre o homem e nunca a coisa Dessa maneira começamos a compreender quem é o ser que formulou a pergunta inicial de Heidegger o que é o ser Em resposta podemos dizer que o ser que faz a pergunta é aquele que possui a capacidade de se relacionar livre mente com o mundo é o sujeito capaz de entender a utilidade de cada coisa do mundo Logo o ser que é capaz de interrogar é aquele que está largado no mundo procurando um jeito de se realizar como ser pois está sempre diante do nada que o rodeia e do nada que é enquanto projeto O homem durante seu período de existência no mundo procura questionar o ser numa tentativa constante de fugir do nada Em 1929 quando Heidegger obteve o título de professor na Universidade de Friburgo apresentou em uma aula inaugural o texto O que é metafísica Neste texto o filósofo procura esclarecer a definição de metafísica também tentando definir qual o objeto de trabalho dela enquanto uma ciência do ente O texto é estruturado de uma maneira diferente dos habituais textos de filosofia Heidegger não procura começar pela definição de metafísica mas pelo problema da exis tência do homem Segundo Heidegger a ciência está ligada sempre ao ato de interrogação da situação humana ou seja é a partir da ciência que o homem coloca em questão as coisas do mundo e sua própria existência todavia a ciência está sempre preo cupada com coisas relacionadas do mundo mas nunca possui uma preocupação para coisas além do mundo Sobre isso comenta Lima 2008 que a ciência se preocupou com o homem enquanto uma simples relação com o mundo deter minando a experiência científica como o estudo do comportamento do homem e não a ciência do homem enquanto um ente em sua totalidade Diante disso é papel da filosofia trabalhar com o homem em sua totalidade o que abordar o seraí como o ser capaz de perceberse no mundo e modificar tudo ao seu redor pois caminha dentro do campo das possibilidades já que é um projeto a ser realizado Dessa maneira a filosofia tem que voltar sua atenção à capacidade nadificante do homem A respeito da nadificação do homem Lima 2008 p 139 ressalta que UNICESUMAR 131 a ciência sempre se caracterizou pelo direcionamento ao ente mas há outra coisa que está presente nesse direcionamento é que quando corre atrás do ente a ciência foge do que seria para ela o elemento nadificante do ente Porém este elemento ele está im plicado na própria busca da ciência ele é o nada Como diz a passagem anterior o nada está junto com a própria busca da ciência por que somente com a capacidade nadificante o homem é capaz de interrogar o mundo e realizar o primeiro passo da ciência A ciência afirma o ente a partir da sua comparação com o nada seguindo o axioma de identidade lógica porém foca sua atenção exclu sivamente ao ente excluindo o nada de dentro de suas investigações Dessa forma a ciência tornase uma forma de conhecimento que compreende as relações do homem com as coisas do mundo porém não consegue compreender o homem enquanto um ente em relação ao nada pois exclui o nada de seu campo de investigação Para Heidegger a capacidade humana de questionar interrogar está com pletamente ligada à metafísica visto que o intuído de uma interrogação não é alcançar uma resposta em alguns casos mas mostrar que enquanto humanos seraí temos a capacidade de colocar as coisas em questão Essa capacidade interrogativa salienta Heidegger revela o nada para o homem o nada que é ig norado como objeto de trabalho para ciência Se o nada é excluído da ciência então ele será para Heidegger o material de trabalho da metafísica visto que ele aparece para a ciência como algo para além do ente e tudo que está para além dos entes físicos como diz a tradição filosófica é instrumento de trabalho da metafísica Portanto a metafísica investigará o nada Entretanto há um problema em relação ao entendimento do nada pois como seria possível ao homem compreender o nada sendo que o nada é o nada Sobre isso comenta Lima 2008 p 140 que se o pensamento fosse forçado a pensar o nada entraria em autodestruição por agir contra sua própria essência pensar no nada é uma impossibilidade lógica não é possível ao homem tal proeza Para Heidegger o homem não consegue ter um entendimento claro do nada consegue apenas ter uma leve apreensão do nada Essa apreensão tornase possível da mesma maneira que o homem tem a capacidade de apreender a sua totalidade Há segundo Heidegger momentos no cotidiano do homem que não se percebe apenas como uma figura individual mas como um ente entre os outros entes Tais momentos são reconhecidos por certos sentimentos como tédio alegria euforia em que o homem está em unidade com o mundo a sua volta Nesses momentos o ente se percebe em sua totalidade de seraí ou melhor sernomundo UNIDADE 4 132 Dessa mesma forma que o ente percebe sua totalidade no mundo também é capaz de perceber uma completa ausência que é a apreensão do nada O sentimento que exprime essa apreensão do nada é a angústia como Heidegger diz a angústia é o meio pelo qual o nada se manifesta no mundo Sobre o conceito de angústia em Heidegger Schiochett 2005 p 335336 realiza um rico comentário A angústia se mostra como a disposição que coloca o homem diante de sua existência cujo sentido último não é dado por nenhum ente Todo sentido toda razão todo fundamento na angústia foge Na angústia o ente em sua totalidade se torna caduco Por mais que o homem ofereça razões e fundamen tos para os entes e assim faça ciência e filosofia estas erraram fracassam põem novas respostas Isto ocorre porque a to talidade não objetivada o mundo em que o Dasein se move permanece como o âmbito que abre sempre e a cada vez novas possibilidades de objetivação e desse modo novas questões não antes pensadas Por isso Heidegger diz que o ente se torna caduco Mas se o ente se torna caduco muda ou deixa de ter sentido o ser insiste na existência E essa existência sem sentido ôntico angústia o Dasein Na passagem anterior o autor frisa logo de início a impossibilidade do ho mem se reconhecer diante dos outros entes Na angústia diferente da tota lidade que há um reconhecimento de unidade com todos os entes o ente se solta do mundo vê o mundo para além dele ou seja vêo um nada de mundo Por isso que a totalidade se torna caduca o ser humano seraí está fora do mundo mergulhado na completa ausência de tudo O nada é um exercício de transcendência o homem vê a si mesmo de longe numa distância tão absoluta em que somente o nada reina Com isso o seraí não tem uma percepção de si mesmo na angústia como tem na tota lidade porque tudo que é referente ao ente ôntico perde o sentido dentro do nada Entretanto devemos lembrar que o homem não sai do mundo ele continua no mundo a angústia somente é possível porque o seraí é ser nomundo contendo a capacidade de interrogarse para além deste mundo UNICESUMAR 133 Segundo Schiochett o que angustia na angústia é a própria condição do homem de ser sernomundo Sem tal condição seria impossível o homem ter uma apreensão do nada Consequentemente não é nenhum ente em específico que causa a angústia mas a própria condição de estar em situação que angustia o seraí o fato de serno mundo é a condição da angústia Diante disso podemos concluir que o seraí humano consegue alcançar a compreensão do nada quando se esvazia de toda sua relação com os entes físicos a partir da angústia Quando o homem começa voltar a perceberse como ser nomundo ele vai gradualmente afastandose do nada e se preenchendo com sua totalidade de ser Essa dinâmica é para Heidegger como acontece a apreensão do nada pelo homem A relação entre o nada e a metafísica segundo o filósofo é estabelecida quan do o nada está para além da compreensão física do ente Se metafísica significa aquilo que está para além da física consequentemente ela será a arte que tratará dos assuntos referentes ao nada Porém diferente de outros autores que colocam a metafísica com uma disciplina Heidegger a define como uma disposição natural do homem Dessa maneira a metafísica faz parte do seraí sendo fonte da possibi lidade da ciência e dos conhecimentos do homem pois o nada enquanto qualidade interrogativa do homem impulsiona o pensamento científico Por fim devemos lembrar de três características importantes da filosofia de Hei degger A primeira é a compreensão do homem como seraí que está situado dentro do mundo tal aspecto da filosofia heideggeriana é importante porque influenciará pensadores como Sartre e MerleauPonty A segunda é a preocupação de Heidegger com o homem enquanto ente que tem consciência de si mesmo e do mundo Por último é como a metafísica passa a ser disposição do homem enquanto ser que pos sui a capacidade de interrogar o mundo ou melhor perceber o mundo a sua volta e questionálo Algo que será também muito relevante em autores da fenomenologia O conceito de angústia pode ser definido da seguinte forma angústia é aquele sentimen to de esvaziamento do ser ou seja quando o homem percebe que não possui uma essên cia definida mas somente uma existência repleta de possibilidades de um viraser ou seja uma existência em projeto vinculada ao mundo conceituando UNIDADE 4 134 JeanPaul Sartre nasceu na cidade de Paris em 1905 Quando ainda era criança seu pai faleceu deixando sua mãe sozinha para criálo Diante disso Sartre e sua mãe foram obrigados a morar com Charles Schweitzer seu avô materno Durante sua estada na casa do avô foi nutrido pelas mais belas obras de literaturas já que Sch weitzer era apaixonado por literatura Com dez anos Sartre ganhou sua primeira máquina de escrever de seu avô porque sonhava em se tornar um grande escritor Durante grande parte de sua vida Sartre teve somente uma ambição tornarse um renomado romancista Sua primeira conquista foi a formação em Filosofia na Escola Normal Superior de Paris onde adquiriu reconhecimento como um dos melhores alunos da escola após defender sua tese de conclusão de curso Porém sua carreira como escritor tardou a chegar somente anos depois Sartre publicou A náusea 1938 seu primeiro romance que o destacou como escritor Porém logo em seguida vieram os anos de guerra o que ofuscou por um breve momento sua fama No período da Segunda Guerra Mundial Sartre começou suas publicações de ensaios de filosofia sendo num primeiro momento obras inspiradas na filosofia de Edmund Husserl entre tais obras estão A transcendência do Ego Esboço para uma teoria das Emoções e O imaginário Entretanto sua obra de filosofia mais original e importante vem em 1943 que é O ser e o nada escrita quando foi prisioneiro num campo de concentração nazista 3 SARTRE e a ontologia fenomenológica UNICESUMAR 135 Nesta obra Sartre apresenta uma nova concepção de liberdade fundada numa ontologia fenomenológica criada a partir das filosofias de Husserl e Heidegger Nesta aula o que pretendemos é expor de maneira breve as carac terísticas principais dessa ontologia sartreana que possui algumas diferenças da metafísica tradicional Para tanto analisaremos os conceitos de intencio nalidade emsi parasi e liberdade dentro da filosofia sartreana com o intuito de compreender sua ontologia A primeira vez que Sartre faz uso do conceito de intencionalidade é num pequeno texto a respeito da descoberta de Husserl Tal texto é intitulado como Uma ideia fundamental da fenomenologia de Husserl intencionalidade 1939 e o objetivo deste texto é apresentar o conceito de intencionalidade e realizar uma crítica às concepções da psicologia sobre a consciência No texto Sartre se refere às noções tradicionais de consciência como cai xas de conteúdo que guardam todas as imagens captadas pela percepção humana na consciência Porém argumenta o filósofo que o conceito de in tencionalidade de Husserl traz uma nova forma para consciência Agora ela não é mais uma caixa de conteúdo que absorve o que percebe mas uma per cepção do mundo Segundo Sartre a consciência é para fenomenologia um movimento de saída para fora dela mesmo em outras palavras a consciência sai de si para perceber o mundo Essa nova noção de consciência é determinada pelo conceito de intencio nalidade Sartre 2005 p 105 define tal conceito da seguinte forma Toda consciência é consciência de alguma coisa Não é preciso mais nada por colocar um fim à filosofia delicada da imanência onde tudo se faz por compromissos mudanças protoplásmicas por uma morna química celular A filosofia da transcendência nos lança sobre a grande estrada no meio de ameaças sob uma obcecante luz Ser diz Heidegger é ser no mundo Compreendeis este serno no sentido de movimento Ser é manifestarse no mundo é partir de um nada de mundo e da consciência para de repente se manifestarconsciêncianomundo Que a consciência tente se recuperar de coincidir enfim com ela mesma imediata mente se fecham às janelas ela se aniquila Essa necessidade para a consciência de existir como consciência de outra coisa que ela Husserl a nomeia de intencionalidade UNIDADE 4 136 Como podemos notar na passagem acima intencionalidade é a característica da consciência de ser consciência de alguma coisa Para ser mais claro a consciência necessita ser consciência de algo para existir ela é sempre consciência de Por essa razão a consciência somente é consciência de si mesma enquanto é consciência de algo no mundo sem esse movimento de evasão para o mundo ela não existiria este é o fator necessário para sua existência conforme a fenomenologia Nesse sentido o homem será o ser que se transcende em direção ao mundo no sentido de ir para além de si mesmo O homem sai de si mesmo para encon trar o mundo e as coisas contidas nele Como salienta Sartre 2005 p 105 ser é manifestarse no mundo é partir de um nada de mundo e da consciência para de repente se manifestarconsciêncianomundo A consciência humana sendo um nada descobrese quando descobre o mundo Sabemos agora que a consciência intencional na filosofia sartreana significa que a consciência é um nada que está sempre em movimento porém é um movimento de saída de si mesma para se perceber como consciência de alguma coisa Diante disso somos levados a pensar sobre o que é o homem em relação às coisas do mundo já que é um nada de consciência qual será a definição de homem para Sartre Para compreendermos o sernomundo na filosofia sartreana é necessária uma breve explicação dos dois seres que coexistem no mundo Para o filósofo o mundo é composto pelos seres emsi e parasi o primeiro deles referese às coisas do mundo mais especificamente aos objetos artificiais criados pelo homem e objetos naturais como rochas árvores animais etc O parasi é o que percebe as coisas do mundo é o que tem a capacidade de existir no mundo como consciência de percepção dos objetos O Emsi não tem segredos é maciço Em certo sentido podemos designálo como sín tese Mas a mais indissolúvel de todas síntese de si consigo mesmo Resulta evidente mente que o ser está isolado em seu ser e não mantém relação alguma com o que não é É o que é isso significa que por si mesmo sequer poderia não ser o que é vimos com efeito que não implicava nenhuma negação É plena positividade Desconhece pois a alteridade não se coloca jamais como o outro a não ser si mesmo não pode manter relação alguma com o outro Fonte Sartre 2014 p 39 explorando Ideias UNICESUMAR 137 O ser parasi dotado de uma consciência intencional é capaz de perce ber os objetos que aparecem a ele como fenômenos Entretanto sendo sua consciência um nada existindo apenas enquanto consciência dos fenô menos ela possui uma característica fundamental que é dizer o que é e o que não é O ser emsi é descrito por Sartre como positividade absoluta ou seja o emsi sempre é nunca aparece como nãoser algo semelhante a Parmênides em que as coisas do mundo são não podendo não ser Dessa maneira a diferença fundamental entre o emsi e o parasi consiste que um é pura positividade e o outro pura negatividade Sobre isso Sartre 2015 p 38 comenta que Cada uma de nossas percepções é acompanhada da consciência de que a realidade humana é desvendante isto quer dizer que através dela há o ser ou ainda que o homem é o meio pelo qual as coisas se manifestam e nossa presença no mundo que multiplica as relações somos nós que colocamos essa árvore em relação com aquele pedaço de céu graças a nós essa estrela morta há milênios essa lua nova e esse rio escuro se desvendam na unidade de uma paisagem é a velocidade de nosso automó vel de nosso avião que organiza as grandes massas terrestres a cada um de nossos atos o mundo se revela uma nova face Na passagem anterior Sartre descreve a relação do homem com o mundo o homem desvenda o mundo no qual está inserido Entretanto ao mesmo tempo que desvenda o homem é também quem coloca ordem no mun do sem sua consciência para perceber a paisagem não haveria paisagem portanto o parasi é quem introduz a negatividade Isso significa que o homem enquanto parasi é capaz de apontar o que é ou não uma cadeira Essa capacidade de descrever o que não é dá ao parasi a característica de também ser capaz de dizer o que ele é ou não é Se a consciência huma na é um nada o parasi também é um nada Logo o homem é definido como um nada diante do mundo É a partir dessa discussão que entramos no conceito de liberdade humana para JeanPaul Sartre pois se o homem é um nada uma constante impossibilidade de ser alguma coisa ele tem a liberdade de poder vir a ser o que ele quiser o homem é livre para ser UNIDADE 4 138 No texto O existencialismo é um humanismo 1943 escrito para ser uma breve explicação dos conceitos básicos de O ser e o nada apresenta de forma re sumida dois conceitos importantes o existencialismo e a liberdade A explicação sobre o existencialismo decorre da diferenciação entre existencialismo cristão e existencialismo ateu Segundo Sartre o que torna as coisas complicadas é a existência de dois tipos de existencialista SARTRE 1987 p 4 Para explicar o existencialismo cristão imagine mos como exemplo a fabricação de uma cadeira Para fabricála idealizamos todo um conceito de cadeira que define sua existência A cadeira a ser fabricada possuía sua finalidade e propósito já definidos pelo seu criador antes mesmo de sua existên cia assim ela não poderá ser outra coisa além do que foi planejada a ser Quando pensamos no conceito de Deus como criador do homem no existencia lismo cristão o homem é posto de forma semelhante a cadeira ou seja sua essência já é determinada por um criador Assim o homem para o cristão perde sua liberdade porque vivencia um destino já escrito por Deus antes de sua existência Com isso para os filósofos existencialistas cristãos a essência humana vem antes de sua existência Ao contrário da visão cristã no existencialismo ateu de Sartre a existência precede a essência isto é o homem primeiramente existe somente depois busca sua essência Com isso é livre e isento de qualquer conceito de um Deus criador portanto ele por si só constrói sua realidade em relação ao mundo e aos con ceitos nele existentes Conforme Sartre 1987 p 6 o homem nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo o que significa que o homem primeiramente é um nada não há nenhuma definição no mundo que ele possa seguir ele cria sua própria imagem de homem no decorrer de sua vida Desse modo no existencialismo não existem pessoas que nascem covardes ou corajosos mais sim uma pessoa que opta por ser uma das es colhas Também não existe a ideia de que o meio social possa determinar o homem Para Sartre o homem é lançado ao mundo sem nenhuma determinação pré via localidade temporal e social Neste contexto o homem se encontra submetido a nascer rico pobre escravo e é nessa situação indeterminada que ele vai exercer sua liberdade Anteriormente havíamos dito que a consciência é um nada Agora vimos que o homem é fundamentado num nada a partir da premissa de que a existência precede a essência UNICESUMAR 139 Dessa forma o que temos que compreender dentro da filosofia de Sartre é que o fundamento ontológico do parasi homem é o nada que se revela como liberdade visto que sendo um completo nada o homem possui a livre escolha de ser o que quiser ser Nesse sentido temos que lembrar de um fato importante da ontologia de Sartre que a liberdade faz parte de uma ação prática diferente das teorias metafísicas anteriores que discutiam sobre uma realidade suprassensível que buscavam explicar a realidade humana por meio de verdades eternas O existencialismo sartriano é uma descrição da realidade não tem a pretensão de explicar como funciona a realidade mas descrever como ela é em si mesma Como é uma descrição da realidade tornase uma filosofia da ação huma na Algo que podemos notar na definição de liberdade como negação Em O ser e o nada há uma parte dedicada somente para explicar como a negação surge no mundo Para Sartre o homem é quem introduz a negação no mundo o que proporciona o movimento para o mundo Sem a negação o mundo é parado uma vez que existe somente em pura positividade com os seres emsi O homem entra para apontar o que é e o que deixa de ser toda atividade humana é uma atividade negativa no mundo no sentido de ser descritiva da realidade Essa característica é muito impor tante para o ser parasi porque sem ela o homem não seria nada do que é ou seja não seria um ser contraditório que tem que escolher um caminho a seguir a cada minuto Sartre é e foi um escritor famoso por disseminar o conceito de engajamen to dentro da filosofia política e da literatura Durante o período da Segunda Guerra Mundial escreveu uma grande coletânea de peças de teatro como também romances que traziam um novo estilo de literatura intitulado de literatura engajada As principais características da literatura engajada é a utilização da liber dade humana como tema central das peças teatrais As personagens de suas histórias eram submetidas a situações extremas para explorar suas liberdades dentro de um cenário em que realizar uma escolha era algo inevitável O as pecto importante da liberdade retratada na literatura é a ação humana a per sonagem romanesca é obrigada a agir sempre nunca podendo ficar estagnada UNIDADE 4 140 É possível observar isso num romance de Sartre chamado Os dados es tão lançados em que o autor retrata um cenário de pósmorte Tal romance conta a história de um jovem casal apaixonado que estão vivendo uma vida após a morte Neste mundo dos mortos as personagens andam livremente no mundo dos vivos entretanto elas não podem interferir nas escolhas dos vivos O auge da história se dá quando o casal observando seus parentes vivos acaba descobrindo que estes estão em perigo Assim ficam com vontade de salvar seus parentes de um destino trágico Por causa de uma regra celeste o jovem casal ganha a oportunidade de voltar à vida para cumprir seu destino Destino que é viver um amor eterno em vida porém para que isso seja possível eles devem se encontrar no mun do dos vivos e dar um beijo de amor verdadeiro durante o prazo de vinte quatro horas Mas quando os dois voltam à vida pensam primeiro em uma coisa salvar seus parentes do que acontecerá a eles No final do romance as personagens não conseguem ficar juntas porque escolheram salvar seus entes queridos do que cumprir o destino que o céu havia traçado para eles Os dados estão lançados apresenta duas características importantes da filosofia sartreana A primeira é que o homem é livre e escolhe seu destino não pode uma lei celeste definir a escolha humana a escolha é algo intrínseco do homem A segunda característica é da ação as personagens enquanto estão mortas não podem agir sobre o mundo dos vivos a morte representa o fim da ação humana como também a impossibilidade da escolha livre a liberdade não é uma propriedade que pertença entre outras coisas à essência do ser humana Por outro lado já sublinhamos que a relação entre existência e essência não é igual no homem e nas coisas do mundo A liberdade humana precede a essência do homem e tornaa possível a essência do ser humano achase em suspensão na liberdade Logo aquilo que chamamos liberdade não pode se diferençar do ser da realidade humana O homem não é primeiro para ser livre depois não há diferença entre homem e o seu serlivre Fonte Sartre 2014 p 68 explorando Ideias UNICESUMAR 141 Dessa maneira a vida humana está completamente ligada à liberdade é com a liberdade como uma ação no mundo que o homem vive Ele que escolhe seu destino que escolhe as grandes paixões de sua vida Vimos que a liberdade é uma negação o homem é um ser da negação porque nunca pode ser definido por nada assim quando se descreve como algo logo em seguida também pode negar essa definição De acordo com Sartre 2014 p 107 Não posso dizer que sou quem está aqui nem não sou no sentido em que se diz o que está em cima da mesa é uma caixa de fósforo seria confundir meu sernomundo com sernomeiodomun do Nem dizer que sou quem está de pé ou sentido seria confundir meu corpo com a totalidade idiossincrática da qual é apenas uma das estruturas Por toda parte escapo ao ser e não obstante sou Na passagem anterior Sartre está se referindo à condição humana de estar sem pre em contradição assim não pode ser definida como emsi O homem é um sernomeiodomundo aquele que percebe e interage com as coisas pensálo como ser definido é contra sua estrutura ontológica Sartre não está se referindo a um ser suprassensível quando fala do homem mas de um homem concreto que está presente em nossa realidade Dessa ma neira podemos concluir que a ontologia sartreana procura descrever o homem em suas relações com o mundo Por isso que define a consciência como um intencional um movimento de saída de si para o encontro de algo em outras palavras descreve a consciência em relação com os objetos do mundo Em Sartre o homem nunca está parado em si mesmo como o Eu cartesiano mas em relação com o mundo a liberdade humana é com isso o combustível das ações humanas Por fim para finalizar esta aula podemos destacar três pontos importantes o primeiro que a filosofia de Sartre procura fazer uma descrição da condição humana o que implica numa elucidação da condição ontológica do homem enquanto ser livre O segundo ponto consiste que entre os seres do mundo o homem é o único com consciência capaz de se relacionar com o mundo Terceiro e último é que a liberdade humana é o fundamento ontológico do homem que garante a incapacidade de ser definido ou confundido com um emsi e também o que permite o homem a agir sobre o mundo UNIDADE 4 142 MerleauPonty nasceu na cidade de Rochefort na região de CharenteMaritime na França Estudou filosofia na Escola Normal Superior de Paris tendo como colega de academia JeanPaul Sartre e outros intelectuais importantes Em 1938 serviu no exército de resistência contra os nazistas na fronteira da França depois da derrota em 1940 ocorreu a ocupação da França pelos nazistas Neste período MerleauPonty participou junto com os intelectuais de uma resistência contra as propagandas nazis tas que circulavam nos veículos de comunicação franceses Foi junto com JeanPaul Sartre coeditor da revista Les Temps Modernes revista dedicada a expor as explo rações e horrores do nazismo Dentro da filosofia MerleauPonty escreveu obras significativas entre elas es tão A fenomenologia da percepção 1945 O visível e o invisível 1960 Nessas obras desenvolveu uma nova ontologia fenomenológica que difere das anteriores por colocar o corpo humano como o centro da relação entre consciência e objeto MerleauPonty enfatiza que o problema que se arrasta na filosofia há muito tempo é o da dualidade entre corpo e alma O objetivo desta aula é apresentar a ontologia de MerleauPonty a partir da exposição do conceito de corpo pois o conceito é fun damental nessas obras do filósofo MerleauPonty descreve que dentro da história da filosofia o problema da dua lidade entre corpo e alma tem início já em Platão com a Teoria das Ideias Segundo o filósofo para Platão antes da alma ser introduzida no corpo ela contemplou todo 4 CORPO FENÔMENO E ONTOLOGIA EM MERLEAUPONTY UNICESUMAR 143 um mundo espiritual que é puramente perfeito descrito como o mundo das ideias Assim quando a alma é introduzida no corpo perde um pouco da pureza de seu intelecto visto que o mundo sensível não permite um entendimento perfeito das coisas porque a verdade eterna só pode ser alcançada nas ideias Com isso a teoria platônica mostra que há um conflito entre o corpo e in telecto que impede a junção dos dois visto que são de realidades diferentes e produzem conhecimentos contrários um é mutável o outro é eterno Entre os filósofos antigos tal concepção platônica nunca foi superada apenas repassada adiante Na filosofia moderna observamos essa dualidade em Descartes com a separação entre substância pensante da natureza espiritual referente a tudo que é do pensamento e substância extensa referente às coisas da natureza ao domínio do corpo Descartes não procura resolver o problema por trás dessa dualidade antes ele a utiliza para fundar sua filosofia racionalista O empirismo também faz uso deste dualismo reforçandoo em alguns as pectos como reduzindo à dimensão corpórea as forças deterministas da natureza na qual a pessoa deixa de ser dona de seu destino sendo assim os meios naturais determinam a vida do indivíduo Com isso no empirismo todo conhecimento provém unicamente da experiência limitandose ao que pode ser captado do mundo externo pelos sentidos Dessa forma até o momento da história da filo sofia nenhuma teoria metafísica havia superado o dualismo em alguns casos a metafísica teria se apossado do dualismo para sustentar suas ideias A superação do dualismo somente é obtida com a fenomenologia e o concei to de intencionalidade Tal conceito é para MerleauPonty a maior descoberta de Husserl já que a intencionalidade sendo uma percepção do mundo consciência enquanto percepção de algo acaba por abandonar os problemas relacionados à dualidade sensível e inteligível focando sua atenção para o que há de mais im portante o meio entre os dois extremos que é para o filósofo o corpo subjetivismo e objetivismo idealismo e empirismo metafísica e positivismo são di cotomias que possuem a mesma fonte a separação sujeitoobjeto considerados como realidades heterogêneas distintas e açambarcadoras que tendem a reduzir seu oposto a uma aparência ilusória As dicotomias são portanto as faces complementares de um engano comum e originário Fonte Chauí 1989 p 10 explorando Ideias UNIDADE 4 144 A superação do dualismo afirmada por MerleauPonty é a tomada de consciência da existência de um corpo Um corpo que possui uma consciência intencional e per ceptiva do mundo a sua volta diferente da estrutura ontológica de Sartre que cria a relação de oposição entre emsi coisa e parasi consciência para compreensão do mundo em outras palavras uma ontologia em que existe uma consciência que per cebe o mundo sensível Na ontologia de MerleauPonty o objetivo é diferente aqui é uma questão de estabelecer uma relação de correspondência mútua entre objeto e sujeito com o que há no meio deles que é o corpo o intermediário da consciência Sobre isso comenta Peixoto 2011 p 158 que não é nos polos intelecto e sensibilidade mas entre eles na mediação que devemos buscar o sentido das coisas Dessa maneira o projeto de MerleauPonty que se destaca na Fenome nologia da Percepção é de realizar um trabalho de mistura entre consciência e corpo criando um enraizamento da consciência no corpo Diante disso para compreendermos MerleauPonty temos que entender o que é corpo e qual é seu papel no mundo Para o filósofo eu não estou diante do meu corpo estou em meu corpo ou antes sou meu corpo MERLEAUPONTY 1999 p 207208 Por essa razão podemos definir que o homem enquanto enti dade no mundo não exclui em nenhum minuto o seu corpo de suas atividades cotidianas pois é com ele que andamos até a padaria para comprar os pães é com o corpo que pedalamos de um lado a outro do Maracanã é com o corpo e justamente por têlo que digito este texto É com o corpo que possuímos as capacidades de perceber e modificar o mundo Nosso corpo não é uma simples máquina como dirá Descartes no Discurso do Método somos algo além de máquina visto que há significação no que faze mos não estamos determinados por um programador Como ressalta Peixoto 2011 p 158159 Não percebo como uma simples coisa em movimento como uma máquina mas como gesto expressivo o que possibilita a expressão da unidade entre pensamento e ação entre a dimensão física e psíquica O agir que tem seu pensamento não é agir mecânico destituído de sentido mas forte de significação Assim o gesto nunca é movimen to de uma coisa não é expressão apenas corporal mas expressão de uma pessoa é comunicação que revela a interioridade da pessoa nossa primeira comunicação com os outros e com o mundo quando nascemos é pelo gesto que revelam que estamos com dor fome frio Antes de sermos um ser que conhece somos um ser que vive e sente UNICESUMAR 145 Na passagem anterior percebemos que o corpo não pode ser concebido como uma máquina mas ele é uma consciência intencional que habita o corpo Por esse motivo o corpo humano é um criador de significado no mundo não é somente a fala que possui a capacidade de designar e apontar as coisas no mundo nossos gestos também possuem essa capacidade Dessa forma o corpo funciona como uma mediação entre a consciência e o mundo e a partir desta mediação somos capazes de interagir com o mundo Nesse sentido temos que pensar que o objeto percebido é um dado em que o objetivismo e o subjetivismo estão colados juntos um com o outro eles são os lados de uma mesma moeda pois a verdade não habita apenas o homem interior ou antes não existe homem interior o homem está no mundo é no mundo que ele se conhece MERLEAUPONTY 1999 p 6 Estar no mundo não significa apenas estar como consciência perceptiva do mundo mas como corpo que possui uma consciência que se relaciona direto com o mundo não há uma distância entre a consciência e o mundo ela é consciência enquanto é no mundo para MerleauPonty No Prefácio da Fenomenologia da Percepção e praticamente em toda a obra o objetivo do filósofo é demonstrar a ideia de um corpo ativo Elucidar que a consciência que constrói o mundo está dentro de um corpo assim é por habitar este corpo que ela possui a habilidade de construir o mundo Quando Merleau Ponty enfatiza a frase de Husserl sobre retorno às coisas a elas mesma está fazendo referência à sua tentativa de trazer a filosofia ao mundo vivido isto é voltar os olhos da filosofia ao homem e o mundo enquanto seu palco o homem como gente no mundo O mundo vivido para o filósofo é o fruto do conhecimento humano é uma realidade anterior a ciência pensar nele seria pensar no próprio surgimento do conhecimento O homem como uma consciência corpórea age sobre esse mun do produzindo as coisas da sociedade e os conhecimentos da ciência Sobre isso comenta MerleauPonty 1999 p 3 que Eu não posso pensarme como uma parte do mundo como simples objeto da biologia da psicologia e da sociologia nem fechar sobre mim o universo da ciência Tudo aquilo que sei do mundo mesmo por ciência eu sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido UNIDADE 4 146 Para MerleauPonty uma ontologia fenomenológica supera o dualismo entre psíquico e o físico porque o próprio corpo tornase uma inserção no mundo real e consequentemente também uma inserção no mundo imaginário pois o nosso corpo é habitado pela consciência Não há mais a superioridade de um lado sobre o outro o psíquico intelecto não é superior ao físico como seria em Platão Descartes e outros filósofos como também o físico não seria melhor que o intelecto para os empiristas O ser humano para sua existência ontológica necessita do corpo que de pende de ambos os lados psíquico e físico Este é um fator inovador da feno menologia de MerleauPonty pois diferente da de Sartre o homem enquanto um corpo faz parte do mundo enquanto também é um objeto presente nele Para uma explicação mais abrangente do conceito de corpo o filósofo descreve dois conceitos estruturais desta relação consciência perceptiva e consciência representativa Conforme Chauí 1989 p 11 consciência per ceptiva é solidária com o corpo enquanto corpo próprio ou vivido manei ra pela qual nos instalamos no mundo ganhando e doando significação A consciência perspectiva capta as percepções do homem no mundo a partir de sua capacidade intelectiva criando assim um conhecimento representativo que insere significação no mundo Digamos assim que duas consciências trabalham juntas uma cria o co nhecimento a partir das coisas captadas pela consciência enquanto a outra representa esse conhecimento em significado Entretanto o fato principal é que o sujeito se descobre como consciência quando introduz significado no mundo assim inserir significado é um movimento duplo de conhecimento e autoconhecimento da consciência para MerleauPonty a existência é sernomundo isto é certa maneira de enfrentar o mundo Mas esse sernomundo é anterior a contraposição entre alma e corpo entre o psíquico e o físico A interpretação causal das relações entre alma e corpo é rejeitada por MerleauPonty Ele vê nessa relação muito mais uma dualidade dialética de comporta mentos Ou melhor alma e corpo indicam níveis de comportamento do homem dotados de significado diverso Fonte Reale e Antiseri 2006 p 233 explorando Ideias UNICESUMAR 147 A consciência intencional se dá em junção com o corpo assim o corpo ao mesmo tempo que capta o objeto no mundo percebese no mundo O corpo é uma qualidade que se verifica na relação de um elemento com ele mesmo denominado Chauí 1989 como reflexividade assim o corpo é um visível que se vê um tocado que se toca um sentido que se sente CHAUÍ 1989 p 11 Em outras palavras consiste que o corpo possui uma certa ambiguidade que ao tocar um objeto percebese como ser que toca e ser que é tocado ao mesmo tempo isto é para MerleauPonty a reflexibilidade Essa capacidade de autorreconhecimento denominada de reflexividade é um fator contribuinte para a superação da dicotomia entre corpo e alma visto que mostra a necessidade da indissociabilidade dos dois tenho cons ciência do objeto ao mesmo instante que tenho consciência de ter um corpo O corpo e minha mente são um só não há como a mente existir separada do corpo ou o corpo existir sem a mente Dessa maneira o corpo é interpretado como uma expressão de sentidos porque é a fusão da consciência e do corpo numa relação inquebrável O corpo nas suas ações com o mundo demonstra sua capacidade de modificálo e criar toda uma sociedade e cultura O corpo abandona o status de ser passivo para ser um sujeito ativo em relação com os outro e o mundo Chauí 1989 p 12 afirma que a ciência e a filosofia da consciência são incapazes de mostrar a possibilidade da relação entre intersubjetiva na medida em que para a primeira cada um é um amontoado de ossos carne san gue e pele que se iguala a um autômato a uma coisa ou matéria inerte enquanto para a segunda é um eu penso único e total não havendo como sair de si encontrar o outro MerleauPonty vai contra essas duas noções descrita por Chauí contra uma ciência que vê o corpo apenas como amontoado de carne e contra a filo sofia que resume o homem somente ao eu pensante Para o filósofo o corpo é uma fonte dos sentidos porque em nossas ações está presente também o pensamento como por exemplo o olho olhando a mão gesticulando e o pensamento pensando Qualquer gesto humano é também um pensamen to não levanto minha mão sem pensar em levantála Antes disso levanto minha mão por pensar em levantála penso para agir não há ação sem um pensamento por trás UNIDADE 4 148 O pensamento consciência sempre esteve associado às ações que são reali zadas pelo corpo conceber o homem de forma dicotômica é um erro da ciência e da filosofia para MerleauPonty O sujeito que se vê não pode ser pensado fora do mundo já que isso implicaria em estar separado de seu corpo que está no mundo assim a filosofia deve pensar o homem numa relação direta com o mundo em que ambos consciência e corpo participam do mundo A reflexividade permite ao sujeito tomar consciência do que é o visível e também o vidente Portanto nossos gestos não são mecânicos eles possuem em si mesmo o pensamento A ideia de MerleauPonty é que em todas as ações do nosso corpo está constituída também o pensamento não há como desassociar os movimentos e expressões do nosso corpo do pensamento Por exemplo não é o fato de pensar em um ato de fúria que me lembrarei dos sentimentos de fú ria mas que o próprio ato é a própria fúria não é possível apenas pensar para vivenciar é necessário viver o ato para lembrar dele Dessa maneira as ações humanas são uma realização do corpo e da consciên cia que explodem em linguagem corporal É com o meu corpo que crio a histó ria da humanidade a cultura de uma sociedade é forjada a partir da linguagem corporal o corpo é a primeira instância de expressão de sentidos no mundo os gestos vêm antes da linguagem É somente pela experiência corporal que é pos sível trabalhar o mundo vivido já que primeiro vem o corpo inserindo sentido na realidade para depois vir a ciência e a filosofia frutos da linguagem corporal Para MerleauPonty a consciência intencional de Husserl está submersa na relação com o mundo vivido tudo que o homem realiza está em relação com o tempo espaço ou melhor ao mundo vivido Já que a consciência e o corpo formam uma única coisa que é o homem um ser ontologicamente constituído pela sua sensibilidade corpo e sua inteligência consciência logo será o corpo dentro do mundo que explicará a existência humana sem o corpo não haveria história nem muito menos as relações sociais Podemos concluir nesta aula dizendo que na ontologia merleaupontyana não há duas realidades do conhecimento espiritual e carnal mas que é marcada pela junção da consciência no corpo como foi dito com o enraizamento da consciência no corpo É a partir desta nova concepção de corpo que será traçada a fenomenologia de MerleauPonty num perfil mundano e histórico introduzindo a nossa existência corporal como o combustível de todas as situações humanas UNICESUMAR 149 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa nesta unidade você teve contato com algumas filoso fias que são fundamentadas na ontologia Em resumo você aprendeu que a ontologia é um estudo do ente ou seja uma parte da filosofia que dedica seu tempo para investigar o ser tanto físico quanto espiritual Algo que também era inicialmente realizado pela metafísica entretanto com o passar do tempo tornouse algo específico da ontologia Diferentemente da metafísica que procura investigar tudo aquilo que está para além do plano físico a ontologia foca sua atenção no ser ela e seu estudo são dirigidos para as questões fundamentais do ser Como foi possível observar no início da unidade quando descrevemos que a teologia é definida como o estudo das coisas divinas a metafísica fica com as coisas referente às essências do ser entretanto junto com a metafísica está a ontologia nesse estudo dos seres que não são divinos Dessa forma as filosofias que surgem no século XX com a filosofia da existência iniciada por Martin Heidegger procurariam estabelecer seus fun damentos numa ontologia que procura compreender o sentido do ser Porém essa corrente filosófica não trata do ser em geral mas do homem como o ente que é capaz de perceber a si mesmo e os outros entes do mundo Seguindo este caminho os filósofos Sartre e MerleauPonty criam suas filosofias feno menológicas numa tentativa de descrever o sentido do ser humano em suas relações intrínsecas com o mundo Esse conjunto de filosofias fenomenológicas proporcionou para a con temporaneidade uma vasta reflexão sobre o papel do homem no mundo principalmente na questão da relação do homem com sua situação no mun do A ontologia fenomenológica tentou revelar para o mundo as angústias e ambições desse ente possuidor de uma consciência perceptiva do mundo Portanto podemos concluir que ontologia sempre teve o objetivo de revelar os fundamentos do ente e que na contemporaneidade conseguiu desvendar o homem para o próprio homem 150 na prática 1 Para Mora 1990 p 578 por meio do nome ontologia se designa el estudo de todas as questões que afetam o chamado cerne do ente o conhecimento dos fundamentos supremos das coisas A partir do seu conhecimento sobre ontologia e do comentário de Mora assinale a alternativa correta a A ontologia junto com a teologia procura estudar os princípios dos entes divinos b A ontologia estuda o ente em seus aspectos essenciais com o intuito de explicar quais são os fundamentos que justificam a existência do ente c A ontologia faz parte da lógica matemática sendo assim tratada como um es tudo dos princípios matemáticos como a origem dos números d A metafísica ganha o nome de ontologia na Idade Moderna entretanto perma nece a mesma descrita nos livros de Aristóteles e Ontologia metafísica e teologia são três formas de ciência que estudam as mes mas coisas porém mudam a terminologia conforme a corrente filosófica 2 Durante século XVIII a ontologia adquire uma nova concepção dentro da filosofia agora ela é considerada a disciplina que trabalha o ente em seus fundamentos es senciais sendo diferente da teologia e metafísica Com base neste anunciado quais das afirmações abaixo estão corretas I A ontologia adquire o status de ciência diferente da metafísica quando São Tomás de Aquino a coloca como a ciência que trata dos fundamentos dos seres físicos não podendo opinar sobre os seres divinos II A partir do século XVIII alguns autores começaram a definir que a ontologia é diferente da lógica analítica Com isso procuraram vincular a ontologia à teoria do conhecimento com o intuito de criar um novo postulado da razão como ocorreu na Grécia Antiga III William Wolff é um filósofo que influenciou o conceito de ontologia que conhece mos hoje Este filósofo percebeu que mesmo dentro do senso comum os prin cípios essenciais que caracterizam os seres entes permaneciam os mesmos Diante disso dedicouse por sistematizar a ontologia em uma ciência definindo seu conceito como a arte que trabalha os fundamentos do ente definição que é utilizada até na contemporaneidade 151 na prática IV Metafísica e ontologia são duas coisas completamente diferentes Desde Aris tóteles quando o filósofo grego determina que metafísica será a ciência do ente enquanto ente acaba por colocar a ontologia como a arte que cuida dos fenômenos da natureza Assim enquanto a metafísica cuidava dos princípios primeiros do conhecimento a ontologia realiza um estudo aprofundado dos acontecimentos naturais Assinale a alternativa correta a Apenas I e III estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 3 Segundo Beaufret 1976 p 22 a filosofia de Heidegger é baseada no conceito de homem em situação que pode ser resumida como o sentimento abrupto de se encontrar aí sem nada de ter feito para isso A partir desse enunciado assinale a alternativa correta a O conceito de homem em Heidegger está interligado com a concepção platôni ca de conhecimento verdadeiro Com isso não é possível falar em homem em situação dentro da história universal para Heidegger mas sim de um homem inteligível numa realidade suprassensível como em Platão b O homem ganha em Heidegger uma definição como seraí que significa ser em situação Em outras palavras significa que o homem está numa comple ta relação com o mundo não podendo ser pensado fora deste Dessa forma Heidegger também define o homem como sernomundo um ser que está ontologicamente e fundamentalmente ligado numa relação com sua situação histórica no mundo c O homem em Heidegger é descrito como o ser das lonjuras que está sempre em uma transcendência perpétua com sua consciência Portanto longe de qualquer relação com o mundo 152 na prática d O conceito de angústia em Sartre está completamente ligado à liberdade hu mana É com a angústia que o homem percebe a responsabilidade que acom panha a liberdade e Angústia em Heidegger está relacionada à apreensão do nada É com a angústia que o homem consegue ter a percepção do nada que é o material de estudo da metafísica 4 O existencialismo ateu que eu represento é mais coerente Ele declara que se Deus não existe há pelo menos um ser em quem a existência precede a essência um ser que existe antes de poder ser definido por algum conceito e que este ser é o homem ou como diz Heidegger a realidade humana SARTRE 2009 p 619 A partir do comentário de Sartre assinale Verdadeiro V ou Falso F Dentro do existencialismo ateu de Sartre a ideia de destino ou essência humana não existe Dessa maneira Sartre descreve que o fundamento ontológico do homem é a liberdade que possibilita o homem vir a ser o que ele quiser ser em outras palavras o homem sartreano é o que ele faz de si mesmo Sartre não conhece sua filosofia dentro de uma visão cristã entretanto descreve o homem como estando ligado a um destino que não interfere diretamente em sua liberdade resguardando o que Santo Agostinho uma vez denominou como livrearbítrio A liberdade humana é o fundamento da relação do homem com o mundo pois ela dá movimento ao homem Sem a liberdade o homem seria como as outras coisas do mundo paradas estagnadas definidas determinadas etc A liberdade é a característica que fundamenta o homem como o ser de ação em busca de sua essência Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 153 na prática 5 O conceito de ontologia ao longo da história da filosofia adquire vários significa dos porém mantendo sempre uma única característica o fato de ser um estudo do ente Assim durante o século XX a ontologia ganha espaço dentro das filosofias existenciais e fenomenológicas de pensadores como Martin Heidegger JeanPaul Sartre e Maurice MerleauPonty Diante disso podemos afirmar que a ontologia ganha um significado específico para cada um desses autores Assinale Verdadeiro V ou Falso F A ontologia para MerleauPonty possui a característica única de ser um o enrai zamento da consciência no corpo É a partir da concepção de uma consciência e de um corpo unidos que o filósofo traça a fenomenologia introduzindo a nossa existência corporal como o combustível de todas as situações humanas Para Sartre a liberdade humana é o fundamento ontológico do homem que garante a capacidade de ser definido ou confundido com um emsi e também o que permite o homem a agir sobre o mundo A metafísica para Heidegger passa a ser disposição do homem enquanto ser que possui a capacidade de interrogar o mundo ou melhor de perceber o mundo a sua volta e ser capaz de questionálo Assinale a alternativa correta a V F F b F F V c V F V d F F F e V V V 154 aprimorese Confira o comentário de JeanPaul Sartre acerca da concepção ontológica de ho mem dentro de sua filosofia O existencialismo ateu que eu represento é mais coerente Ele declara que se Deus não existe há pelo menos um ser em quem a existência precede a essência um ser que existe antes de poder ser definido por algum conceito e que este ser é o homem ou como diz Heidegger a realidade humana Que significa dizer que a existência precede a essência Significa que o homem primeiro existe se encontra surge no mundo e que se define depois O homem tal como o existencialista o con cebe se não é definível é porque de início ele não é nada Ele só será em seguida e será como se tiver feito Assim não há natureza humana pois não há Deus para concebêla O homem é não apenas tal como ele se concebe mas como ele se quer e como ele se concebe depois da existência como ele se quer depois desse impulso para a existência o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo Tal é o primeiro princípio do existencialismo É também o que se chama a subjeti vidade e que nos reprovam sob esse mesmo nome Mas que queremos dizer com isso senão que o homem tem mais dignidade que a pedra ou que a mesa Pois nós queremos dizer que o homem primeiro existe isto é que ele é de início aquele que se lança para um porvir e que é consciente de se lançar no porvir O homem é de início um projeto que se vive subjetivamente ao invés de ser um musgo uma po dridão um couveflor nada existe antes desse projeto nada está no céu inteligível e o homem será aquilo que ele tiver projetado ser Não o que ele quiser ser Pois o que entendemos vulgarmente por querer é uma decisão consciente e que é para a maior parte de nós posterior àquilo que fizemos de nós mesmos Posso querer aderir a um partido escrever um livro casarme tudo isso é uma manifestação de uma escolha mais original mais espontânea do que aquilo que chamamos vontade Mas se verdadeiramente a existência precede a essência o homem é responsável por aquilo que ele é Assim o primeiro passo do existencialismo é colocar todo ho mem de posse daquilo que ele é e fazer cair sobre ele a responsabilidade total por sua existência Fonte Sartre 2009 p 619620 155 eu recomendo Sartre e a literatura engajada espelho crítico e consciência infeliz Autor Thana Mara de Souza Editora Edusp Sinopse JeanPaul Sartre não foi somente um filósofo também escreveu grandes obras de literatura Dessa forma sua filosofia existencial também percorre as páginas de sua literatura Nesta obra Thana Mara de Souza procura mostrar que dentro da ambiguidade da fic ção Sartre também consegue abordar as questões da existência humana livro Asas do Desejo Ano 1987 Sinopse o filme conta a história de dois anjos na gelada Berlim Durante suas caminhadas em meio às multidões de humanos Demiel e Cassiel começam a perceber o calor das relações huma nas a esperança que pulsa firme nas ações de cada ser humano Demiel um dia apaixonase por uma jovem humana observan do o calor dos outros casais Demiel começa a desejar experi mentar a existência humana filme Para mais detalhes sobre a filosofia existencial do século XX assista o vídeo in titulado A ética necessária responsabilidade e solidariedade do Prof Franklin Leopoldo e Silva feito pelo grupo Café Filosófico CPFL httpswwwyoutubecomwatchvdFRMFAgBLpQ conectese anotações anotações 5 CRÍTICA À METAFÍSICA PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Crítica à Metafísica A crítica de Marx à metafísica Friedrich Nietzsche e a crítica à metafísica Feuerbach e a reforma da filosofia OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Entender como foi fundamentada a crítica à metafísica Compreender a crítica de Marx à metafísica Conhecer as críticas de Nietzsche à metafísica Examinar a reforma da filosofia de Feuerbach PROFESSOR Me Fernando Alves Silva Neto INTRODUÇÃO Prezadoa alunoa esta unidade tem por objetivo apresentar de forma breve a crítica à metafísica que foi desenvolvida com intensidade na modernidade e pósmodernidade Entretanto nosso foco está voltado para os filósofos pertencentes a estes períodos em especial Karl Marx Friedrich Nietzsche e Feuerbach É com tais pensadores exploraremos a crítica à metafísica desenvolvida pela filosofia Na primeira aula apresentaremos uma definição breve do que é a crítica à metafísica O intuito desta aula é contextualizar você alunoa para o cenário crítico filosófico que se estende sobre a metafísica as sim preparandooa para explorar as filosofias de Karl Marx Friedrich Nietzsche e Feuerbach que estão expostas nas aulas seguintes Na segunda aula abordaremos a filosofia de Karl Marx que se dedica a uma crítica ao espírito alemão procurando expor que a forma de fazer filosofia a partir de Hegel tomou um caminho que não condiz com a realidade humana Dessa forma Marx procura ir para além da meta física criando uma filosofia estruturada a partir da história humana Na terceira aula estudaremos a crítica de Nietzsche que tem como objetivo demolir o conceito de verdade metafísica Com isso explorare mos como Nietzsche expõe os malefícios da verdade dentro da história da filosofia Na quarta e última aula exploraremos de forma breve a reestruturação da filosofia feita por Feuerbach que apresenta uma outra perspectiva crítica à metafísica Assim estudaremos três filosofias importantes do Ocidente que criticam a metafísica Esta unidade portanto faz uma apresentação de como são desenvolvidas as filosofias contrárias a metafísica não de maneira extensa mas de uma forma essencial para você graduandoa em filosofia Boa leitura UNIDADE 5 160 1 CRÍTICA À METAFÍSICA Caroa alunoa a metafísica tem uma longa história dentro da filosofia contendo diversas formas de ser abordada e explorada Nesta aula abordaremos a crítica à metafísica realizada em grande escala pelos filósofos do Período Moderno e Con temporâneo Para tanto explicaremos o que significa realizar uma crítica à metafísica O termo metafísica é originário do grego e significa aquilo que está para além do plano físico Durante a história da filosofia o significado do conceito metafísica foi utilizado pelos filósofos como o caminho de alcançar as verdades fundamentais da realidade humana Por coincidir com a proposta original da filosofia que é a procura pelo Saber mas não qualquer saber A filosofia busca um conhecimento verdadeiro que está por trás da origem de toda realidade humana Nesse sentido a filosofia está para além da ciência convencional uma vez que busca um conhecimento que não pode ser encontrado somente com a análise das coisas físicas Isso implica diretamente na sua relação com a metafísica pois essa arte também busca algo que não pode ser dado pela ciência entretanto o aspecto mais importante da filosofia e da metafísica está na procura constante por respostas que não são de importância para a ciência A filosofia é descrita como possuidora de uma postura crítica de adquirir conhecimento algo que também é presente na metafísica Se ambas porém são possuidoras de uma natureza crítica como explicar a origem da crítica à metafísica A crítica à metafísica surge quando a filosofia percebe que a UNICESUMAR 161 metafísica se torna estagnada e não parte para novas questões sobre a realidade Em outras palavras quando a metafísica passa a ser sistematizada e definida a partir de um padrão a ser repetido para de ser considerada algo interessante para a filosofia porque a metafísica padronizada perde o caráter crítico que é importante para filosofia O que é a metafísica A metafísica pode ser definida como a ciência do ente enquanto ente entretanto ela é para filosofia algo mais importante A metafísica é para filosofia uma ferramenta que possibilita a reflexão filosófica pensando juntos Sem o caráter crítico a metafísica não tem nenhuma utilidade para filosofia Para uma melhor conceitualização do que é a crítica à metafísica vejamos a explicação de Nascimento 2016 p 26 A abordagem da crítica à metafísica deve mostrar que a atividade de pensar deve ser compreendida e definida como algo para além da designação da própria metafísica este caráter da crítica à me tafísica não se confunde com propósito de aniquilar a metafísica a favor ou contra a filosofia Na citação anterior o autor quer mostrar que a metafísica não pode ser padro nizada A metafísica em si mesma sempre tem que ser superação de si Como a filosofia sempre é um reinventar dela mesma isso implica na relação entre am bas a filosofia é sempre uma superação de si mesma ao longo da história dessa maneira não poderia manter relação com uma metafísica parada num único modelo De acordo com Nascimento 2016 p 26 a metafísica é o meio com que o homem estabelece aquilo que tende a ser superado É isto que se quer dizer por exemplo em relação ao fato de Tales de Mileto ter sido caracterizado como o primeiro filósofo Tales toma emprestado o conceito de água e postula o caráter de unidade para ser condição de manter como todo a diversidade Com isso ele estabelece mecanismo de cientificidade para fazer valer nisso o poder abstrair da multiplicidade ao mantêla permanente na unicidade da totalidade esta abstração de totalidade UNIDADE 5 162 Na citação anterior podemos ver como a metafísica influencia o processo de reflexão filosófica Sem uma abstração metafísica não seria possível a Tales colocar a água como um princípio universal da origem das coisas da natureza A metafísica aparece no nascimento da filosofia como utensílio da filosofia para realização do pensamento filosófico Para uma melhor compreensão sobre o assunto Assista vídeo da Plataforma de Educa ção Anísio Teixeira intitulado A filosofia contemporânea e crítica a metafísica httppateducacaobagovbremitecdisciplinasexibirid7867 conectese Sem a abstração da metafísica Tales não teria realizado sua filosofia como também os outros pensadores présocráticos não teriam conseguido elaborar suas filosofias sem pensar para além da ciência atual deles O pensamento filosófico é marcado pela superação do raciocínio convencional e a metafísica possui a mesma característica Dessa forma a metafísica aparece como algo essencial para a filosofia pois sem a metafísica a filosofia não passaria de uma ciência A única coisa que transforma a filosofia nela mesma é sua incapacidade de separação com a metafísica como exemplo há momentos da história da filosofia que a me tafísica se relaciona com a matemática física geometria e psicologia Porém tais ciências podem existir livremente sem estar vinculadas necessariamente com a metafísica caso que não ocorre com a filosofia Por conseguinte podemos concluir que a crítica à metafísica se torna ne cessária quando não há uma superação dos padrões científicos ou filosóficos de uma época ou seja quando a filosofia e metafísica são coisas determinadas que não podem ser superadas pois acreditam que alcançaram o ápice de sua excelência Assim para sair dessa ideologia surge a crítica à metafísica para redescobrir os princípios essenciais da metafísica UNICESUMAR 163 Caroa alunoa para você conseguir compreender como ocorre a crítica à metafísica de uma maneira mais concreta estudaremos nesta aula a filosofia de Karl Marx uma vez que este realiza uma formidável crítica à filosofia e à metafísica alemã de seu tempo Karl Marx nasceu no ano de 1818 na cidade de Trier na Alemanha Seus estudos foram inicialmente motivados pela paixão pelas leis nutrida pela pro fissão de seu pai Heinrich Pressburg um advogado Entretanto anos mais tarde quando vai morar em Berlim opta por estudar Filosofia e não Direito No curso de filosofia alcança o grau de louvor na Universidade de Berlim sendo laureado com a tese Diferença entre filosofia da natureza de Demócrito e a de Epicuro Entretanto Marx não seguiu o caminho universitário como professor acabou como jornalista tornandose redator do jornal Gazeta Renana Seu trabalho foi reconhecido e em pouco tempo era redator chefe do jornal Por conflitos políti cos o jornal foi fechado assim Marx optou em se dedicar ao estudo de filosofia durante alguns anos para aprimorar seu pensamento 2 A CRÍTICA DE MARX À METAFÍSICA UNIDADE 5 164 Marx é sem dúvidas um dos maiores escritores de filosofia da história con tendo um vasto número de livros e artigos publicados Entre suas obras mais importantes estão Manuscritos econômicofilosóficos 1844 mas publicado em 1932 A ideologia alemã 1845 Manifesto do Partido Comunista 1848 e O Capital 1867 Em suas obras Marx apresenta uma nova forma de filosofia estruturada dentro do conceito de materialismo histórico porém um fator de grande importância é seu caráter crítico Segundo Reale e Antiseri 2005 o contexto filosófico da época de Marx era dirigido pelo pensamento de Hegel considerado o maior pensador alemão daquele período Com isso os intelectuais alemães tanto os da direita quanto os da esquerda que frequentavam as universidades disseminavam a filosofia e política hegeliana O pensamento de Hegel que perpetuava nas universidades acreditava que as instituições existentes como herança Estado classe social etc eram derivações de necessidades racionais do homem assim sendo conceitos filosóficos puros do entendimento humano Hegel enxergava o mundo de forma ideológica sem levar em consideração os fatos históricos Para Marx Hegel transformava dados históricos em conceitos metafísicos que impedem o desenvolvimento de uma reflexão social Com isso o pensamento dos jovens nas faculdades não ultrapassou a forma lidade do pensamento Eles procuraram criticar a injustiça social ou a inconfor midade com as leis do Estado num plano completamente abstrato não dentro da história Isso motivou Karl Marx a realizar uma crítica à metafísica ou seja mostrar que o caminho em que a filosofia hegeliana se encontra não possibilita a filosofia de exercer seu papel de filosofia enquanto arte crítica Podemos ver que a metafísica está aprisionada num formalismo ideológico a partir das palavras de Reale e Antiseri 2005 p 174 Por tudo isso também a esquerda hegeliana vê o mundo de cabeça para baixo o pensamento dos jovens hegelianos portanto é um pensamento ideológico como o de Hegel Escreve Marx Não veio à mente de nenhum desses filósofos procurar o nexo existente entre a filosofia alemã e a realidade alemã o nexo entre sua crítica e seu próprio ambiente material UNICESUMAR 165 Como podemos ver na citação os intelectuais alemães perderam a postura crítica da filosofia Assim quando procuraram uma justiça social para o povo oprimido seguindo uma justiça abstrata que trabalha somente dentro dos conceitos abs tratos não estão caminhando para uma crítica da sociedade mas somente para uma reflexão deslocada da situação histórica Toda a assim chamada história universal nada mais é do que a produção do homem pelo trabalho humano Karl Marx pensando juntos Segundo Marx a liberdade somente poderia ser alcançada do ponto de vista his tórico uma vez que é dentro da história que ocorre a opressão e a desigualdade Assim a esquerda hegeliana quando critica conceitualmente não provoca mudan ças dentro da história Para que ocorra uma mudança na sociedade alemã argumenta Marx que há a necessidade de uma nova filosofia que possua uma postura crítica dentro da histó ria Diante deste contexto Marx escreve a obra Ideologia Alemã em que apresenta suas principais críticas e respostas à filosofia hegeliana A obra Ideologia Alemã foi escrita em 1845 com o objetivo de apresentar que as ideias não são entidades abstratas mas criações baseadas na historicidade do homem As ideias são um produto da vida humana sendo criadas a cada ação hu mana ao longo da história Dessa forma voltar nossa atenção para a explicação de Marx a respeito da materialidade das ideias é partir para uma crítica à metafísica clássica e o idealismo alemão hegeliano O conceito de ideia está presente desde os primórdios da filosofia Em Platão por exemplo observamos claramente a utilização das ideias como conceitos su prassensíveis que tem como objetivo explicar a realidade física Com isso Platão cria uma divisão da realidade por um lado o sensível que é a cópia das ideias perfeitas que são existentes somente no outro lado o mundo inteligível Essa con cepção da realidade não é apenas exclusiva do pensador grego na modernidade Descartes também presume uma superioridade do intelecto sobre a sensibilidade UNIDADE 5 166 A recusa da história como um meio de análise da realidade não foi desenvol vida por muitos filósofos antes de Marx Por isso Marx 1985 p 103104 profere o seguinte discurso sobre a abstração da realidade Há razão para se espantar se abandonando aos poucos tudo o que constitui a individualidade de uma casa abstraindo os materiais de que ela se compõe e a forma que a distingue chegase a ter apenas um corpo e se abstraindo os limites deste corpo obtémse somente um espaço e se enfim abstraindo as dimensões deste espaço aca base por ter apenas a pura quantidade a categoria lógica À força de abstrair assim de todo objeto os pretensos acidentes animados ou inanimados homens ou coisas temos razão de dizer que em último grau de abstração chegamos às categorias lógicas como substância Assim os metafísicos que fazendo estas abstrações acreditam fazer análise e que à medida que se afastam progressivamente dos objetos imaginam aproximarse deles para penetrálos estes metafísicos têm por sua vez razão de dizer que as coisas aqui na terra são bordados cujo panodefundo é constituído pelas categorias lógicas Que tudo o que existe tudo o que vive sobre a terra e sob a água possa ser reduzido à força de abstração a uma categoria lógica que deste modo todo o mundo real possa submergir no mundo das abstrações no mundo das categorias lógicas quem se espantará com isto Como é possível ver na citação acima Marx critica essa postura dos metafísicos de acreditarem que são capazes de analisar a história humana por meio da abs tração metafísica A filosofia hegeliana apresenta uma interpretação diferente da metafísica tradicional entretanto ainda mantém uma distância considerável da história humana em suas análises Segundo Zanella A filosofia hegeliana acreditava que a metafísica era estrutu rada por meio da concepção que o mundo é a materialização da ideia Absoluta que se transformava na história toma consciência de si mesma e retorna ao Ab soluto ZANELLA 2004 p 1314 O que implica que a história por si mesma não tem autonomia sendo subordinada ao Absoluto metafísico Dentro deste contexto Marx procura criar uma nova filosofia baseada no conceito de materialismo histórico que é uma crítica direta a esse idealismo metafísico hegeliano No materialismo histórico não é a consciência que irá de terminar a história mas a história que irá determinar a consciência UNICESUMAR 167 Se antes descia do céu a determinação da consciência agora tal determi nação irá subir da terra em direção ao céu É o homem enquanto situacional dentro de suas ações históricas na sociedade que irá determinar tanto a sociedade quanto sua maneira de pensar Dessa forma o importante é compreender como é essa história que este homem está inserido para entender sua consciência e o Estado que o governa O importante é saber os fatos que envolveram a situação que o homem está inserido em completa oposição à filosofia alemã a qual desce do céu à terra aqui sobese da terra ao céu Isto é não se parte daquilo que os homens dizem imaginam ou se represen tam e também não dos homens narrados pensados e imaginados representados para daí se chegar aos homens em carne e osso Karl Marx pensando juntos Para Marx o fator humano que diferencia o homem dos outros animais é o trabalho O homem é o único ser no mundo que tem a capacidade de pensar e imaginar tudo aquilo que irá fazer antes de iniciar suas atividades Os outros animais não possuem esta capacidade imaginativa eles simplesmente cons troem sem ter consciência do que estão a construir Marx O Capital secção III cap V apud REALE ANTISERI 2005 p 178 em suas palavras descreve esse ato da seguinte forma Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor das abelhas é que ele figura na mente sua construção antes de transformála em realidade No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador Ele não transfor ma apenas o material sobre o qual opera ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade E essa subordinação não é um ato fortuito Além do esforço dos órgãos que trabalham é mister a vontade adequada que se manifesta através da atenção durante todo o curso do trabalho UNIDADE 5 168 Na passagem anterior fica bem retratado como o trabalho é uma atividade in trínseca ao homem O homem dentro da história utiliza o trabalho para criar toda a sociedade o que ele idealiza em imaginação cria por meio de suas mãos pelo trabalho Assim para Marx fazer filosofia tem que ser buscar uma inter pretação de como as relações humanas de produção trabalho transformam a natureza e criam a sociedade Segundo Zanella 2004 a análise marxista da realidade humana não pro cura primeiramente determinar quem é o homem mas busca compreender como o homem se constrói historicamente Para o filósofo é dentro da práxis que a vida humana é revelada dessa maneira os mistérios metafísicos também são resolvidos dentro da práxis É a ação humana que constrói todo o mundo Devemos lembrar que é a vida humana que determina a consciência do ho mem Entretanto temos que nos perguntar como isso ocorre dentro da filosofia de Marx Como a vida determina a consciência humana Para responder a esta pergunta Karl Marx faz uso de quatro premissas que justificam a vida como o ponto de partida para o pensamento humano A primeira premissa consiste que viver implica necessariamente criar con dições de se manter vivo Isto é viver implica ter que providenciar alimento proteção casa vestuário formas de manter a saúde em dia entre outras coisas Isso mostra que para estar vivo o homem necessita produzir e criar condições para manterse vivo Então a história tem início com a necessidade humana de produzir recursos para ter uma condição favorável para vida Logo o ato histórico está interligado com a própria condição humana de ser vivo que biologicamente necessita de várias coisas para manter sua existência Ou como diz Marx a produção material em prol da vida é um ato histórico uma condição fundamental de toda a História que ainda hoje tal como há milhares de anos tem de ser realizado dia a dia hora a hora para ao menos manter os homens vivos MARX 1984 p 3031 A segunda premissa é descrita como a necessidade humana de satisfazer suas vontades que não ficam apenas presas nas necessidades fisiológicas do corpo Mas as vontades e desejos que vão para além do necessário o anseio por satisfazer tais vontades leva o homem a uma eterna produção material que consequentemente vai criando a história UNICESUMAR 169 A história vai caminhando conforme o homem procura satisfazer suas von tades Pegamos como exemplo a vontade humana de conhecer o desconhecido Num primeiro momento da humanidade a busca pelo desconhecido levou o homem a descobrir as Américas depois a pisar na lua agora o homem parte para desbravar Marte e outros planetas Na busca por satisfazer sua curiosidade o homem criou as civilizações nas Américas criou também toda uma história aeroespacial para conquistar a lua Aquilo que eles são coincide portanto com a sua produção com o que produzem e também com o como produzem Aquilo que os indivíduos são depende portanto das condições materiais da sua produção Karl Marx pensando juntos Marx vai um pouco mais longe em sua análise dizendo que o homem é um ser diferente do animal porque cria inventa necessidades Sendo assim as ações humanas em busca de suprir suas mais diversas necessidades é um ato legítimo da produção da história A terceira premissa é relacionada à construção dos relacionamentos sociais Diferente dos animais que procriam conforme seu instinto o homem cria o meio familiar e social conforme trabalha Dessa forma o homem é um produtor não apenas de meios materiais mas também de conceitos culturais ideológicos A quarta e última premissa tem a ver com a linguagem Dentro de um modo de produção material o homem inevitavelmente acaba por se relacionar com outros homens assim vê a necessidade de criar uma linguagem para manter suas relações sociais A consciência humana nasce junto com a linguagem com a tomada de consciência que é necessária para um relacionamento com os outros indivíduos para manter os meios de produção ativos Aqui podemos responder à pergunta feita anteriormente como a vida determina a consciência humana A vida irá determinar a consciência humana conforme sur gem as necessidades de manter a produção de materiais para a existência do homem Quando essa produção evolui e depende de outros indivíduos a consciência humana tomará consciência de si Como diz Marx 1984 p 3334 a consciência é pois logo desde o começo um produto social e continuará a sêlo enquanto existem homens UNIDADE 5 170 Diante de tudo que foi exposto sabemos o que é o materialismo histórico de Marx Em poucas palavras é uma análise feita a partir do trabalho humano como produção material e cultura Porém não vimos como a ideologia nasce dentro do processo histórico para que seja necessária uma crítica à ideologia Para tanto analisaremos de forma breve o conceito de ideologia em Marx Para Marx a melhor forma de se compreender uma sociedade é através do meio de produção desta É pelo meio de produção que toda a sociedade será estru turada tanto economicamente quanto culturalmente Sem uma noção completa do trabalho dentro da sociedade não é possível ter um esclarecimento da realidade Quando um filósofo busca realizar uma reflexão da sociedade deve primeiro saber como é a divisão do trabalho na sociedade que está inserido Como salienta Zanella 2004 p 19 o ponto fundamental é o conhecimento sobre as relações de trabalho na história da humanidade Sem tal conhecimento não é possível entender o momento de surgimento das ideologias nem também qual o papel do serviço intelectual na sociedade De acordo com Marx 1984 p 35 A divisão do trabalho só se torna realmente divisão a partir do momento em que surge uma divisão do trabalho material e espiri tual A partir deste momento a consciência pode realmente darse à fantasia de ser algo diferente da consciência da práxis existente de representar alguma coisa sem representar nada de real a partir deste momento a consciência é capaz de emancipar o mundo e pas sar à formação da teoria pura da teologia da filosofia da moral etc Como é dito na citação é no momento da divisão do trabalho que surgem as atividades que vão tratar dos assuntos abstratos Os indivíduos pertencentes a este grupo de trabalho espiritual serão os encarregados de elaborar os conceitos as normas e a ideologia da sociedade Para Marx quando esta divisão do trabalho é estabelecida também é es tabelecida a ideologia dominante que guiará todas as relações sociais porque as ideias ganham o status de serem superiores a práxis ou melhor superior ao trabalho físico Logo o quadro é invertido não é mais a ação histórica que molda a consciência mas as ideias abstratas UNICESUMAR 171 Como resultado disso as classes dos trabalhadores da sociedade tor namse alienadas presas dentro das regras e padrões sociais impostos por uma classe de pessoas que justificam suas ações de uma ideologia e não pelo trabalho humano Como vimos Marx foi um grande crítico dos estudantes hegelianos pois estes possuíam a atitude de tentar analisar a sociedade por conceitos mas não realizar uma análise por meio da história como fundamento da consciência humana Tal pensamento hegeliano salienta Marx é fruto da incompreensão da divisão do trabalho na sociedade Enquanto os intelectuais não olharem para a história como um fruto vin do do trabalho humano que acontece dentro do mundo por meio da ação humana não iram conseguir entender que suas análises abstratas do Absoluto são incoerentes com os fatos da sociedade que estão inseridos Esta é a crítica marxista para metafísica como também para filosofia porque ambas ficaram presas num formalismo conceitual que deixaram escapar o principal aspecto delas que é a capacidade de superação Portanto a metafísica e a filosofia he geliana que estavam na moda no tempo de Marx esqueceram de ir para além de si mesmas para alcançar uma compreensão da realidade Marx apresenta com o materialismo histórico uma crítica a esse forma lismo conceitual da filosofia da época Porém não consegue apontar uma superação eficaz da dominação ideológica na sociedade visto que tal coisa somente seria possível com a eliminação da divisão do trabalho com a im plantação de uma sociedade comunista Por fim para concluir esta aula devemos lembrar de três pontos importan tes O primeiro que uma crítica à metafísica consiste na quebra da estagnação da mesma isso significa lembrar a própria metafísica que ela não pode ser padronizada nem formalizada como as ciências Ela é sempre uma forma de análise que busca reflexões para além de si mesma como é a filosofia O segundo ponto consiste que Karl Marx desenvolve uma filosofia que trata do homem como um agente histórico através dos meios de produção trabalho Por último que a crítica à metafísica hegeliana feita por Marx é uma forma de superar a ideologia ou formalização que a metafísica tinha sofrido pelos hegelianos de seu tempo UNIDADE 5 172 Friedrich Nietzsche nasceu em 1844 numa cidade próxima à Lutzen na Ale manha Como alguns dos grandes filósofos sua formação não é em filosofia Nietzsche estudou filologia uma arte que procura compreender e estudar lín guas antigas que hoje em dia aparece como disciplina nas graduações de Letras Depois de sua formação foi convidado a lecionar na Universidade de Basiléia Durante sua estada em Basiléia teve contado com Richard Wagner um notó rio maestro e compositor de peças teatrais da Alemanha Nietzsche teve grande influência do pensamento de Wagner em suas primeiras obras principalmente em O nascimento da tragédia 1872 porém mais tarde rompe amizade com Wagner Em 1879 devido a motivos particulares e de saúde Nietzsche deixa de lecionar na Universidade dando início a suas viagens pela Europa que marcam sua vida como espírito livre Nietzsche entre os filósofos tem a postura mais crítica e áspera da história da filosofia A crítica de Nietzsche é abrangente a toda metafísica para ele toda a história da filosofia faz uma interpretação errônea da realidade Culpa disso é da metafísica que enquanto uma tese que desmerece a realidade física como podemos ver claramente em Platão com a Teoria das Ideias acaba mais por atrapalhar a filosofia do que ajudar porque dá ênfase para uma concepção de mundo abstrato que é incoerente com o real 3 FRIEDRICH NIETZSCHE e a crítica à Metafísica UNICESUMAR 173 Diante disso nesta aula exploraremos como Nietzsche desenvolve seu pen samento crítico da metafísica que é justificado pela premissa de uma necessi dade de retorno à vida terrena Para tanto investigaremos três momentos no pensamento nietzschiano no primeiro momento tentaremos compreender o que é a metafísica para Nietzsche no segundo apresentaremos de forma breve sua crítica à filosofia clássica e moderna no terceiro mostraremos como que a filosofia de Nietzsche é a superação da metafísica A história da filosofia é marcada por uma busca incessante pela verdade Não importa o momento histórico a busca pela verdade é sempre retomada como observamos com Sócrates filósofo grego e com Descartes filósofo moderno Logo não houve um único filósofo que não buscou uma verdade metafísica capaz de sustentar toda a realidade Para Nietzsche o problema da filosofia tem início nesta busca constante pela verdade metafísica A verdade é o que estaria matando toda a filosofia a verdade seria como um remédio ruim que em vez de curar o paciente está na verdade matandoo aos poucos O mais interessante ou o ponto máximo da construção do pensamento nietzschiano é a afirmação e exaltação da vida É partindo desta postura e negando aquilo que é contra ella que Nietzsche subverte toda a crença na ciência na filosofia e na religião Tal atitude coloca por terra alguns dos principais pilares daquilo que era considerado como verdade na sociedade moderna Para Nietzsche tudo aquilo que até então tinha sido contemplado como verdade passa a ser visto como mentira o que conhecemos como verdade é apenas o valor metafísico vulgarizado Assim a questão da verdade se apresenta como um dos pontos mais interessantes dentro da obra do filósofo alemão Fonte Grünewald 2013 p 5 explorando Ideias Nietzsche porém argumenta que a sociedade grega antes de Sócrates possuía uma harmonia que não encontramos mais mas que era capaz de compreender melhor a realidade do que a racionalidade moderna Para ele os gregos antigos com seus mitos e tragédias eram dotados de uma compreensão real do mundo Algo que a metafísica não é capaz de alcançar Nietzsche nomeia isso como a conciliação entre caráter racional e caráter instintivo UNIDADE 5 174 Quando Nietzsche escreve O nascimento da tragédia procura apresentar sua tese de que uma sociedade baseada na arte é uma melhor forma de compreensão da realidade Para ele somente a sociedade présocrática possuía essa qualidade pois os gregos entendiam que a vida não é completa felicidade mas sim uma tragédia repleta de dor e destruição Essa compreensão faz com que a arte trágica grega conseguisse transformar o horror da vida em algo belo Diante disso Nietzsche faz referência aos deuses grego Apolo e Dionísio O deus Apolo é descrito como o senhor da racionalidade aquele que tem a har monia em si mesmo nada de exageros ou extravagância O oposto de Apolo é Dionísio que é marcado pela embriaguez aquele que faz uso de sua instintividade de maneira mais densa em outras palavras Dionísio é o ser que vive seus instintos naturais Assim enquanto Apolo é ligado à razão Dionísio é ligado à natureza às vontades animalescas do homem Segundo Reale e Antiseri 2005 o espírito da sociedade grega présocrática está ligado ao espírito dionisíaco em que a humanidade está ligada fortemente com a natureza com seus instintos Entretanto a humanidade também possui seu lado racional que é representado pelo espírito apolíneo que é a moderação diante do exagero do dionisíaco A arte grega somente conseguiu alcançar um grau de compreensão excelente da sociedade porque vivia em harmonia com o espírito dionisíaco e espírito apolíneo O surgimento da filosofia para Nietzsche é algo danoso para os gregos A inven ção da verdade por via metafísica causa o rompimento com os espíritos dionisíaco e apolíneo O fim da compreensão real do mundo acontece então quando o milagre metafísico ganha vida a partir de Sócrates De acordo com Grünewald 2013 p 78 A dissociação entre Apolo e Dionísio gera um problema a cisão en tre os dois espíritos transforma toda a vida em superficialidade faz desmanchar a relação do homem com o homem do homem com a natureza e do homem com os instintos Perdese uma parte da vida Nietzsche enxerga que a metafísica clássica de Platão e Aristóteles como dois grandes empecilhos para a filosofia Quando Nietzsche faz essa leitura dos gregos procura adaptála para o contexto filosófico do século XIX porque as filosofias platônicas e aristotélicas disseminaram a ideia de que toda forma de conheci mento tem que ser embasada numa verdade metafísica UNICESUMAR 175 Com isso o ato de fazer ciência é definido como uma busca por uma verdade eterna e imutável O que excluía outra possibilidade de forma de interpretação da realidade Isso ocorre em toda filosofia medieval e grande parte da filosofia moderna Dessa maneira a filosofia ao longo da história não caminhou adiante depois de Sócrates apenas ficou estagnada atrás dessas verdades imutáveis sem olhar para o mundo em si mesmo Para Nietzsche a forma correta de interpretar o mundo é pelo contingente tal como é a mitologia que expressa o entrelaçamento entre instinto natural e razão O mundo não pode ser determinado ou previsto pela racionalidade ele escapa de qualquer forma de determinação O mundo é como retrata Herá clito um eterno viràser que está em mudança e conflito o tempo todo Por isso a verdade do mundo não pode ser eterna pois iria em contradição com a essência do mundo a vida do homem também é baseada em incertezas A vida do homem é rodeada de reviravoltas que a racionalidade não pode prever O homem está sujeito à tragédia e à tristeza mesmo planejando en contrar a felicidade ou o Bem Supremo não há garantias de conseguir o mais provável para Nietzsche é que o homem sofra e não consiga alcançar esse tão cobiçado bem eterno Ressalta Grünewald 2013 p 8 que Na concepção do autor Nietzsche a filosofia transformou tudo em um modelo específico e restrito de racionalidade e o mito acabou por ser em grande medida desconsiderado A ciência queria olhar para a realidade e tirar dali uma interpretação final e lógica Esse tipo de pensamento deixou que se perdesse algo com relação à vida Isto porque na passagem da Grécia mítica para o período da análise racional lógica o espírito apolíneo prevaleceu e o dionisíaco foi severamente reprimido Nesse sentido então o rompimento com um dos lados criou o cenário de abandono da vida Não é mais possível compreender a instintividade humana numa realidade onde apenas a racionalidade apolínea é utilizada O declí nio da filosofia grega toma conta de toda história da filosofia chegando aos modernos pelo sonho do mundo racional desassociado da sensível natural Reale e Antiseri ao comentarem Nietzsche descrevem esse declínio da filosofia com belas palavras UNIDADE 5 176 a mais crua luz diurna a racionalidade a qualquer custo a vida clara prudente consciente e sem instintos em contraste com os ins tintos isso era apenas doença diferente e de modo nenhum retor no a virtude saúde e felicidade Sócrates apenas esteve longamente doente Disse não à vida abriu uma época de decadência que esmaga também a nós Ele combateu e destruiu o fascínio dionisíaco que liga homem a homem e homem a natureza e desvela o mistério do uno primigênio REALE ANTISERI 2005 p 8 O comentário dos autores reforça essa ideia de que a verdade metafísica matou a interpretação da vida pela filosofia Podemos então dizer que somente a racionali dade sozinha não consegue dar conta da complexidade do homem para Nietzsche ela é somente metade da natureza humana O homem em sua própria descrição é um animal racional O que implica que possui um lado sensível e outro racional basear a interpretação do mundo somente num dos lados é ver somente metade do homem A crítica nietzschiana não é somente direcionada à filosofia mas também ao cristianismo Para Nietzsche o cristianismo segue o mesmo caminho que a filosofia porque procura buscar a perfeição humana longe da natureza ou seja o que a de bom na vida não está no mundo mas em Deus A ideia de Deus para Nietzsche é semelhante à ideia de verdade da filosofia Uma compreensão metafísica procura impor sobre o mundo uma visão que é in coerente com ele porque o homem digno da visão cristã é impossível de ser alcan çado pois pensar no homem dessa forma é recusar a própria natureza humana A moral cristã salienta Nietzsche baseada no ressentimento por aquilo que cometemos diante das tentações sensíveis é uma afirmação contrária à vida já que não há nada mais incoerente do que ir contra à fisiologia humana A compreensão platônica da realidade dentro do cristianismo argumenta o filósofo possibilitou a religião conceber a imortalidade da alma como algo de extremo valor para o homem A imortalidade da alma é algo que torna o homem como algo especial diante da religião e dele mesmo Sobre isso comenta Nietzsche 2007 p 50 que O fato de cada um sendo alma imortal ter o mesmo nível de qualquer outro de na totalidade dos seres a salvação de cada indivíduo reivindicar uma importância eterna de pequenos san tarrões e três quartos malucos podem presumir que as leis da natu reza são constantemente infringidas por sua causa uma tal exa UNICESUMAR 177 cerbação ao infinito ao despudorado de toda espécie de egoísmo não pode ser ferreteada com suficiente desprezo A salvação da alma em linguagem clara o mundo gira à minha volta A passagem anterior retrata dois pontos importantes da visão nietzschiana do cristianismo O primeiro ponto é que a ideia de salvação do cristianismo induz o homem a acreditar que a vida terrena está sempre levandoo a ruína que seus instintos e desejos são típicos da vida sensível logo é algo ruim Assim somente numa vida para além da terrena é possível encontrar a felicidade A interpretação da realidade a partir da salvação cristã é uma interpretação fraca pois não consegue abranger o homem em sua totalidade Dessa forma a salvação é uma recusa à vida para Nietzsche ir conforme as leis do céu é desejar estar fora do mundo Temos que lembrar que a vida humana é contingente não há leis para Niet zsche não há regras que possam garantir o bemestar do homem A religião com a concepção de salvação explora o desejo humano de bemestar que infelizmente nunca poderá ser alcançado pelo homem O segundo ponto é que o homem passa a ser visto como especial para si mesmo Na visão do cristianismo o mundo foi criado desde o início dos tempos como um terreno para ação humana o homem é o ser soberano no mundo em relação aos outros seres vivos pois é a imagem e semelhança de Deus Essa visão do homem como o centro do mundo também é presente dentro da filosofia moderna Em Descartes por exemplo o eu pensante é o veículo de compreensão de toda realidade é pelo eu que o mundo é revelado Kant com sua revolução copernicana também coloca o homem como o centro do universo aquele que percebe o mundo como fenômeno diante de si O pensamento filosófico e cristão em geral compreendia o homem como o centro do mundo Nietzsche tenta ir contra essa corrente de pensamento por isso quando busca compreender a verdade metafísica propõese a seguinte pergunta qual é o valor que está implícito na verdade metafísica Para com preendermos como o autor responde a esta pergunta temos que ver como são definidos o conhecimento e as forças de poder O conhecimento é uma invenção do homem para Nietzsche com a qual ele consegue sobreviver no mundo Sobre isso Vieira 2013 p 62 profere as seguintes palavras UNIDADE 5 178 O intelecto é para o humano assim como o chifre ou a presa pon tiaguda de qualquer outro animal predador é necessária à sua exis tência Para garantir a sobrevivência da espécie os indivíduos mais fracos menos robustos utilizam o estratagema do intelecto como força de dissimulação disfarce Para Nietzsche o intelecto é um meio auxiliar que o homem possui para sobreviver para antever o cubículo de sua consciência para fingir que é o centro do mundo para enganarse diante de um universo infinito O intelecto engana se a si mesmo através da invenção do conhecimento da linguagem Como é possível ver na passagem acima o conhecimento é somente uma fer ramenta da qual o homem utiliza para sobreviver É criada por ele diante da sua pouca capacidade física em comparação com os outros animais Entretanto o conhecimento possibilita a capacidade ao homem de se autoenganar ou seja o homem com o conhecimento cria a linguagem Dentro da história da humanidade a linguagem possui um papel muito im portante pois é graças a ela que o homem é capaz de realizar várias interações sociais como comércio navegações filosofia religião etc Dessa forma a lingua gem acaba por ter um papel muito importante para o homem na filosofia em especial é com ela que as grandes teorias e conceitos são definidos A verdade metafísica não poderia existir sem antes existir a linguagem para ser capaz de descrevêla Aqui entramos numa discussão na qual Nietzsche ar gumenta que todas as leis humanas assim como as verdades metafísicas são criações dentro do conhecimento e da sociedade Portanto como o conhecimento é uma invenção humana não há como as verdades metafísicas serem eternas e imutáveis Não há assim espaço para a filosofia clássica e moderna dentro da interpretação nietzschiana da linguagem O mundo verdadeiro uma ideia que para nada mais serve não mais obriga a nada ideia tornada inútil logo refutada vamos eliminála Dia claro café da manhã retorno do bon sens e da jovialidade rubor de Platão algazarra infernal de todos os espíritos livres Abolimos o mundo verdadeiro que mundo restou O aparente talvez Não Com o mundo verdadeiro abolimos também o mundo aparente Meio dia momento da sombra mais breve fim do longo erro apogeu da humanidade Fonte Nietzsche 2006 p 32 explorando Ideias UNICESUMAR 179 As leis e verdades são criações do homem para disseminar uma paz entre os homens Para que a sociedade não viva em guerras e conflitos é estipulado entre os homens uma negociação na qual valores são acrescentados em certas premissas para que a paz seja perpetuada Sobre isso comenta Vieira 2013 que a linguagem é uma maneira do ho mem representar aquilo que quer denominar É com ela que o homem legi timará as leis sociais e costumes de um povo Dessa forma a linguagem não possui nenhum traço metafísico em origem mas sim um aspecto histórico que é explorado por Nietzsche quando critica os filósofos clássicos e modernos Nietzsche interpreta que o mundo é em si mesmo um jogo de vontade de potência que permeia todo o devir Isso significa que a realidade humana é sempre um conflito entre forças portanto as forças que movem o mundo não são controladas ou definidas por nenhuma leientidade metafísica A realidade é um fluir em constante movimento nada pode prever assim é para o homem um tormento um despertar constante de um sentimento de insegurança Por isso que Nietzsche interpreta o mundo como algo trágico não há des tino que nos garanta uma linha tênue na vida A vida é uma contingência pura que o homem não consegue compreender ele pode ter uma interpretação de como irá em possibilidade caminhar as coisas mas isso não significa que esta rá certo A visão da filosofia clássica e moderna como também do cristianismo não consegue abranger este aspecto contingente da vida porque apenas obser va uma parte do homem a parte racional esquecendo que o homemé também um animal que está sempre em conflito com seu lado racional Por fim podemos concluir esta aula levando em conta duas características importantes A primeira que Nietzsche é um filósofo que busca por meio de uma crítica quebrar com o padrão da metafísica de olhar apenas para a ra cionalidade humana A segunda consiste que Nietzsche procura apresentar a realidade humana como contingente e compreensível o homem não pode definir sua condição apenas interpretála como um devir constante UNIDADE 5 180 Ludwig Feuerbach nasceu em 1804 e não possui uma formação inicial em filo sofia Sua formação é em teologia entretanto depois de uma viagem à Berlim conheceu Hegel e iniciou os estudos em filosofia Feuerbach viu em Hegel um exemplo de intelectual chegou a escrever que nunca havia apreendido tanto quanto apreendeu em suas aulas com Hegel Tendo sua formação em teologia o tema central de suas discussões filosófi cas é sobre a religião Dentro da filosofia Feuerbach possuía grande estima pela direita e esquerda hegeliana entretanto foi crítico da direita quando publicou o ensaio Pensamentos sobre a morte e imortalidade 1830 sua primeira obra a ganhar popularidade na academia Foi todavia uma popularidade negativa porque suas ideias críticas à con cepção de salvação divina lhe causou a expulsão da comunidade acadêmica Para Feuerbach a concepção de salvação não poderia ser individual como apontava a direita hegeliana mas haveria de ser salvação da humanidade A imortalidade da alma então era um presente dado a humanidade Não uma imortalidade individual Tal interpretação fez o meio acadêmico repudiar suas ideias porém mesmo assim não deixou de estudar a filosofia hegeliana Tanto que em 1839 escreveu uma obra crítica a Hegel intitulada Pela crítica da filosofia hegeliana Nesta obra o autor procurou apresentar um erro que Hegel e os hegelianos haviam cometido em suas interpretações da realidade 4 FEUERBACH e a reforma da filosofia UNICESUMAR 181 Segundo Reale e Antiseri 2005 a obra de Feuerbach explora a interpreta ção de Hegel da noção de ser Para o filósofo a filosofia hegeliana estrutura suas interpretações em cima de um ser abstrato que não possui nenhum contato com o real Tal postura acaba por definir a filosofia como uma vã especulação portanto deve haver uma reestruturação da filosofia antes de tudo Assim devese partir para investigação do real e conhecer o mundo A posição teológica de Feuerbach nunca foi suprimida de suas reflexões filosóficas esteve sempre presente no seu pensamento Dessa forma quando faz sua crítica a Hegel procurou criticar sua metafísica que recusa a materia lidade do real pelo idealismo abstrato a partir da compreensão da ideia de Deus porque este não deve ser entendido como um espírito absoluto como faz em Hegel mas visto como uma criação histórica do Homem É aqui onde se pode observar a principal reviravolta do pensamento europeu produzida por Feuerbach Nosso filósofo voltase contra a totalidade vigente e pensada por Hegel e esdivinizaa profanaa declararse ateu de tal ídolo Fonte Dussel 1986 p 141 explorando Ideias Uma reestruturação da filosofia e metafísica deveria partir então de uma in terpretação antropológica do mundo Feuerbach quando direciona uma crí tica à filosofia e metafísica está preocupado em mostrar que a compreensão da realidade não começa pelos conceitos absolutos metafísicos Pensar numa interpretação da realidade a partir do inteligível abstrato é erro fatal pois exclui toda a realidade física e sensível na qual o mundo está submergido Para Sousa 2016 a filosofia feuerbachiana vai na contramão de todo pensamento de seu tempo Essa filosofia apresenta uma crítica forte contra o pensamento sistemático que buscava explicar os mistérios da teologia a partir de especulações abstratas Feuerbach tem como objetivo criar uma filosofia que seja fundamentada na natureza Nesse sentido o conceito de homem para Feuerbach está ligado com a sensibili dade Para o filósofo o homem não pode ser concebido como um ser separado da sua natureza física o homem somente é compreendido em sua totalidade quando o ob servamos como objeto Um objeto dentro do mundo que se autorreconhececomo um eu no mundo logo ele é essencialmente sensível De acordo com Sousa 2016 p 87 UNIDADE 5 182 representa a descida dos céus transcendente em direção ao mundo material e a substituição da vida eterna pela vida concre ta com necessidades e potencialidades A filosofia de Feuerbach é feita para o homem e pelo homem um ser ativo que livre da razão especulativa apoiase na razão cuja essência é a essência humana não numa razão desprovida de essência de cor e de nome mas na razão impregnada com o sangue do homem Ao observar a citação anterior fica claro que a filosofia feuerbachiana realiza uma passagem do abstrato para o concreto Isto é trabalhar a teologia não mais dentro de um plano suprassensível mas num plano antropológico que busca compreender as questões divinas a partir de Deus ou melhor o homem como criador de Deus A filosofia inaugurada por Feuerbach é crítica de todo o pensamento fundado nos primórdios da filosofia começando com as ideias platônicas e neoplatônicas que fundamentam a realidade A partir da ideia de uma realidade perfeita e inteli gível Feuerbach recusa o pensamento kantiano e hegeliano porque esses filósofos acreditavam num mundo racionalista em que tudo tem uma explicação racional O filósofo também faz uma crítica às doutrinas do cristianismo por exaltar um Deus puramente racional e metafísico Como ressalta Sousa 2016 p 93 Se a religião especialmente o cristianismo procurou esvaziar os sentidos e determinações do ser humano transpondoos para um plano secundário a fim de dar significação ao Ser Supremo sendo aquele um mero reflexo Deste do mesmo modo a filosofia espe culativa nos encaminhou para uma harmonia puramente abstrata entre o indivíduo e a subjetividade em sua relação com o todo com o espírito Essa semelhança uniu a teologia à filosofia de onde fez surgir à teologia especulativa cerne do sistema hegeliano Na passagem anterior podemos ver como a filosofia feuerbachiana enxerga a relação entre teologia e Hegel Assim percebemos que a filosofia que trabalha com abstração ou a filosofia especulativa está completamente ligada à essência do significado de que Deus é o criador do homem e não o homem criador de Deus porque o homem em sua vontade de racionalizar o mundo cria um ser capaz de justificar toda a racionalidade que é imposta ao mundo Em outras palavras Deus é uma criação humana para Feuerbach que tem como finalidade ser a ideia que implanta a racionalidade no mundo Feuerbach 2005 p 89 ressalta que UNICESUMAR 183 Tal como na teologia o homem é a verdade a realidade de Deus pois todos os predicados que realizam Deus como Deus que fazem de Deus um ser real como sejam poder sabedoria bon dade amor e até infinitude e personalidade que aqueles que têm como condição a diferença em relação ao finito são primeira mente postos no homem e com o homem assim também na filosofia especulativa o finito é a verdade do infinito Se a filosofia de Feuerbach sai da especulação metafísica para ir de encontro com o homem completo isso significa que o homem não será interpretado somente pela racionalidade mas visto pelos seus sentimentos compreendido a partir de suas paixões e vontades tão repudiadas pelo cristianismo e pela filosofia racionalista Sobre isso comenta Feuerbach 2002 p 14 que A filosofia Hegeliana foi à síntese arbitrária de diversos sistemas de insuficiências sem força positiva porque sem negatividade absoluta Só quem tem coragem de ser absolutamente negativo que tem a força de criar a novidade O cristianismo já não corresponde nem ao homem teórico nem ao homem prático já não satisfaz o espírito nem sequer também satisfaz o coração porque temos outros interesses para nosso coração diverso da beatitude celeste e eterna Nesse sentido a filosofia não pode ser simplesmente resumida ao ser e ao pensamento Ela deve antes ser uma leitura da realidade concreta do homem Dentro da vivência humana há sentimentos que estão separados da racionalidade que também tomam conta das ações humanas e isso não pode ser simplesmente deixado de lado pela filosofia excluir isso é dizer não à vida humana A vida humana é um fato histórico que é realizado dentro do mundo Des sa maneira argumenta Feuerbach que o filósofo tem que criar uma filosofia capaz de analisar e interpretar essa vivência humana que não é abstrata mas sim histórica Se Hegel concebe tudo segundo a via do absoluto metafísico está enxergando as coisas de maneira confusa pois como conseguiria existir dentro da capacidade do homem um ser de natureza finito a ideia de Deus Algo tão incoerente somente aponta que na verdade o mundo esteja ao inverso do proposto por Hegel De acordo com Feuerbach 2005 p 86 UNIDADE 5 184 o absoluto pensado unicamente como ser não é outra coisa do que ser ao ser pensado sob esta ou aquela determinidade ou cate goria o absoluto é totalmente absorvido por esta categoria por esta determinidade de maneira que separado delas é um mero nome O absoluto ou a ideia de Deus é então fruto da criação humana ambos de pendem do homem para sua existência Entretanto se não é Deus o criador do mundo e do homem como é justificada a existência do mundo e das coisas Para Feuerbach o mundo não é mais fruto de uma racionalidade perfeita o mundo é fruto da natureza a força originária de toda a realidade humana Para Feuerbach 2007 p 109 a natureza a matéria não pode ser explicada pela inteligência ou derivada dela ela é antes a base da inteligên cia a base da personalidade sem ter ela mesma uma base É a natureza sem uma razão para justificar sua existência nem muito menos justificar as existências das coisas que é fonte de tudo no mundo A natureza é o que torna possível todas as coisas para o homem ela é a fonte dos meios pelos quais age o homem O homem como em Marx parte com sua racionalidade para cima da natureza logo pela força de seu trabalho cria todas as condições para sua existência Porém devemos lembrar que esta natureza feuerbachiana não está sujeita a nenhuma lei universal tratase da personalidade de Deus mas a personalidade de Deus é a personalidade do homem libertada de todas as determinações e limitações da natureza Ludwig Feuerbach pensando juntos UNICESUMAR 185 A natureza é isenta de comandos que justificam suas ações O homem e seu intelecto são criações dela logo não são capazes de exercer poder sobre a natureza O homem simplesmente faz uso da natureza para sua existência A natureza pode ser aqui comparada com o Deus cristão como o ser que cria e cuida do homem Segundo Reale e Antiseri 2005 a filosofia não possui o papel de excluir a religião da vida do homem mas deve compreender este fato tão importante da realidade humana Dessa maneira a religião deve ser entendida como o veículo pelo qual o homem descobre a si mesmo e cria a partir de seus sen timentos e angústias uma imagem perfeita de si que é Deus Sendo assim Feuerbach não tem a pretensão de acabar com religião quan do faz uma nova estruturação da filosofia e da teologia Mas mostrar que o homem enquanto ser consciente de si mesmo no seu ato consciente coloca todos seus anseios na religião Criando assim a imagem de um Ser perfeito e realizador de milagre impossíveis tudo isso por meio da religião A crítica de feuerbachiana é portanto uma crítica à filosofia especulati va que recusa o homem enquanto agente histórico Feuerbach tenta em sua filosofia fazer uma reestruturação do pensamento filosófico voltado para o concreto para o homem como o centro do mundo mas um homem que é somente racional mas sensível e histórico Por fim podemos concluir nesta aula que há três pontos importantes O primeiro é a crítica feita por Feuerbach à metafísica de Hegel porque argu menta que o mundo não pode ser apenas interpretado pela racionalidade mas deve antes de tudo ser visto também pela via da sensibilidade O segun do ponto é a compreensão de uma religião como fruto do homem ver o ho mem como criador da religião como um fenômeno social E por último que a tentativa de reestruturação da filosofia é na verdade uma crítica à metafísica UNIDADE 5 186 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezadoa alunoa esta unidade teve como objetivo apresentar a crítica à metafísica que é um tema central dentro da história da filosofia mas que adquire forças como teoria a partir do período moderno Para tanto pro curamos num primeiro momento definir brevemente o que é a crítica à metafísica para depois expor as filosofias críticas de Karl Marx Nietzsche e Feuerbach pensadores que marcaram a história da filosofia pelos seus pen samentos críticos aos sistemas filosóficos de suas épocas Primeiro então vimos que a crítica à metafísica é sempre direcionada a um sistema filosófico dominante A filosofia quando se torna um padrão a ser seguido acaba por ficar estagnada ou seja perde sua essência de ser sempre busca constante por algo novo em outras palavras ela perde a ousadia de querer saber algo que está para além do que é estabelecido Assim a partir do pensamento de Karl Marx observamos como acontece uma superação da metafísica hegeliana que dominava o pensamento alemão para uma filosofia da história que possui como conceito chave o trabalho que é o meio de criação da história da humanidade Depois com a filosofia crítica de Nietzsche adquirimos a noção que dentro de uma interpretação histórica da realidade valores absolutos não podem ser tomados como verdade eternas porque tudo que há no mundo é uma valorização humana que pode mudar em decorrências de certas circunstâncias Por último estudamos a filosofia feuerbachiana que diferente de tudo que havíamos visto defende que Deus é uma criação humana e a forma de fazer filosofia deve ser repensada Ou melhor sair da abstração do hegelianismo e conhecer o homem enquanto concreto real físico e mundano Porém diante dessas reflexões percebemos que o debate contra a metafí sica parece ainda estar longe de acabar justamente porque a filosofia neces sita da metafísica para suas reflexões Por isso cabe a nós como estudantes de filosofia continuar a estudar sobre o tema para ver até onde a crítica à metafísica caminhará na história 187 na prática 1 O termo metafísica é originário do grego e significa aquilo que está para além do plano físico Durante a história da filosofia o significado do conceito metafísica foi utilizado pelos filósofos como o caminho de alcançar as verdades fundamentais da realidade humana Entretanto houve momentos em que a filosofia lançou críticas à metafísica A partir deste enunciado assinale a alternativa correta a A metafísica é uma ferramenta essencial para filosofia que não pode ser substi tuída Ao longo da história da filosofia não houve nenhum momento de críticas direcionadas à metafísica Assim filosofia e metafísica sempre foram parceiras sem conflito b A metafísica é uma parte de filosofia e ambas caminham juntas para superar os conhecimentos obtidos até o momento Com isso são marcadas por uma característica de superação delas mesmas estão sempre em direção ao além delas Dessa forma quando uma para de se renovar a outra critica tal postura como acontece com a metafísica vítima de críticas constantes da filosofia no Período Moderno c A crítica à metafísica é algo que acontece na filosofia somente no período pré socrático Depois a filosofia e metafísica alcançam uma harmonia tão sublime que temos o desabrochar das filosofias platônicas e aristotélicas d Somente Kant realiza uma crítica a respeito da metafísica em sua obra Crítica da razão pura e A crítica kantiana é retomada em vários momentos da história da filosofia Tal crítica pretende fazer uma reforma na metafísica com o intuito de ver até onde é possível alcançar o conhecimento metafísico 2 Aquilo que eles são coincide portanto com a sua produção com o que produzem e também com o como produzem Aquilo que os indivíduos são depende portanto das condições materiais da sua produção MARX 1984 p 15 A partir deste trecho da Ideologia alemã de Karl Marx leia as afirmações a seguir I Marx elabora uma filosofia diferente do hegelianismo que imperava na Alema nha Para Marx a sociedade não é mais definida a partir do Absoluto mas defini da a partir da história humana que é construída a partir dos meios de produção da humanidade 188 na prática II Karl Marx era um jovem de esquerda amante da filosofia de Hegel Dessa forma compreendia que a história da humanidade era provida da verdade absoluta guiada pelo intelecto humano III Marx faz uma renovação na filosofia alemã a partir de sua crítica à metafísica hegeliana Para o filósofo não é mais o intelecto que define a história humana mas o homem por meio de sua práxis que é vivenciado pelo trabalho IV Marx é um filósofo semelhante a Kant procura por meio de uma perspectiva crí tica repensar toda estrutura da metafísica moderna Apontando que o começo para isso é abraçar a concepção estética do mundo transcendental Assinale a alternativa correta a Apenas I e III estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas I III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 3 A divisão do trabalho só se torna realmente divisão a partir do momento em que surge uma divisão do trabalho material e espiritual A partir deste momento a cons ciência pode realmente darse à fantasia de ser algo diferente da consciência da práxis existente de representar alguma coisa sem representar nada de real MARX 1984 p 35 A partir deste trecho da obra de Karl Marx assinale o que for Verdadeiro V ou Falso F A divisão do trabalho cria categorias de trabalho que não fazem mais uso da força física como filosofia política religião etc Essas formas de trabalho acabam por nutrir discursos acerca de conceitos abstratos que não condizem com a realidade como ocorre com os jovenshegelianos que são alvos das críticas de Marx A divisão do trabalho possibilita o aumento da produção numa fábrica Com isso o desempenho do fabricante aumenta possibilitando suprir todas as demandas da sociedade 189 na prática Para Marx não há como uma filosofia compreender a sociedade sem antes en tender como funciona a divisão do trabalho Pois somente entendendo tal divisão o filósofo consegue compreender o afastamento da metafísica com a realidade Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 4 Nietzsche interpreta que o mundo é em si mesmo um jogo de vontade de potên cia que permeia todo o devir Isso significa que a realidade humana é sempre um conflito entre forças portanto as forças que movem o mundo não são controladas ou definidas por nenhuma leientidade metafísica A partir dessas informações a respeito do pensamento nietzschiano assinale Verdadeiro V ou Falso F Nietzsche é um filósofo crítico da verdade metafísica Para ele não é possível haver uma verdade universal que rege o mundo como podemos ver em Platão e Aristóteles Nietzsche busca por meio de uma crítica quebrar com o padrão da metafísica de olhar apenas para racionalidade humana Nietzsche procura apresentar a realidade humana como contingente e com preensível o homem não pode definir sua condição apenas interpretála como um devir constante Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 190 na prática 5 Para Feuerbach falar sobre a criação humana segundo o cristianismo tratase da personalidade de Deus mas a personalidade de Deus é a personalidade do ho mem libertada de todas as determinações e limitações da natureza FEUERBACH 2007 p 124 A partir deste enunciado assinale Verdadeiro V ou Falso F Feuerbach é um filósofo crítico da metafísica abstrata Para ele não é possível haver uma filosofia baseada no racionalismo puro a filosofia tem que compreen der o homem enquanto um ser concreto Feuerbach era um filósofo cristão que defendia as teorias neoplatônicas de Santo Agostinho Feuerbach afirma que Deus era uma criação do homem que o homem em sua completa consciência de suas limitações procura criar uma imagem perfeita de si mesmo Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 191 aprimorese Confira algumas palavras de Antônio Edmilson Paschoal sobre o problema da verdade em Nietzsche A verdade mesma pergunta de Pilatos contudo segundo Nietzsche é apenas uma ilusão que se produz por meio do uso da linguagem e do esquecimento ela é um produto da capacidade de dissimulação do intelecto As verdades são ilu sões das quais se esqueceu que o são metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível moedas que perderam sua efígie e agora só entram em conside ração como metal não mais como moedas Produtos que ganharam adornos que foram enfeitados e que com o uso prolongado foram parecendo sólidos e seguros para um determinado povo De fato o que o intelecto produz são metá foras utilizadas para dizer as coisas Com o passar do tempo porém o homem se esquece dessa característica metafórica daquilo que usa na linguagem e con fere às metáforas iniciais o status de conceitos que não são mais apresentados como afirmações provisórias mas com a função de dizerem o que as coisas são de fato Mais adiante o homem passa a acreditar que está designando as coisas mesmas por meio das palavras e no extremo desse movimento passa a falar na verdade em si o que é a verdade Tal movimento no entanto curiosamente acompanha a própria função ilusionista do intelecto Inicialmente ao produzir representações para algo ilusões disfarces e depois ao levar o homem a acre ditar que isto seja uma representação da coisa mesma Fonte Paschoal 2009 p 520521 192 eu recomendo Assim falou Zaratustra Autor Friedrich Nietzsche Editora Companhia das letras Sinopse Assim falou Zaratustra é uma obra literária de Nietzs che repleta de reflexões e críticas filosóficas Nesta obra o autor procura por meio da figura do incógnito do monge Zaratustra apresentar suas críticas à sociedade moderna e principalmente ao cristianismo livro O jovem Karl Marx Ano 2017 Sinopse o filme retrata o jovem Karl Marx que parte em busca de uma compreensão da sociedade em 1844 A história gira em torno de Marx procurando entender como a classe trabalhadora é explorada na sociedade retratando seu encontro com Friedrich Engels filho de um industrialista que investigou o nascimento da classe trabalhadora britânica Assim o filme tem o objetivo de mostrar o começo da jornada do homem que será mais tarde conhecido como um dos maiores filósofos da história da humanidade filme Quando Nietzsche chorou Ano 2007 Sinopse Quando Nietzsche chorou é uma obra que conta um fato fictício a respeito da vida do filósofo Neste filme Nietzsche teria encontrado o psicólogo Josef Breuer a pedido de Lou Salomé para cuidar de sua saúde mental que não estava boa devido às crises existenciais O filme também retrata o romance entre Nietzsche e Salomé amor que desencadeia as crises existências no filósofo filme 193 conclusão geral conclusão geral Prezadoa alunoa o estudo da metafísica é essencial para compreender a filosofia visto que não conseguimos conceber a história da filosofia sem mencionar a metafí sica Em resumo a metafísica é como uma ferramenta para filosofia utilizada a todo momento sem ela não seria possível as grandes reflexões filosóficas A metafísica é que possibilita a filosofia ser o que é dentro da história da humanidade Por isso a metafísica não pode passar despercebida por um estudante de gradua ção em filosofia Na filosofia présocrática a metafísica aparece como a ferramenta que possibilita os primeiros filósofos a alcançarem a origem de todas as coisas Mais tarde em Platão a metafísica ganha o estatuto de ciência das ideias perfeitas e imutáveis do qual deriva todo conhecimento verdadeiro Em Aristóteles também ganha o topo de todas as ciências descrita como a ciência que trata dos assuntos mais fundamentais do ente Na Idade Média a metafísica aparece novamente como importante agora como a ciência capaz de compreender os fundamentos das coisas divinas junto com a teolo gia aparecendo assim dentro dos mais importantes pensamentos desse período como Santo Agostinho e Tomás de Aquino Na Idade Moderna devido às novas des cobertas científicas a filosofia procura renovar a metafísica começando por Des cartes ao estabelecer uma metafísica da racionalidade e de estrutura matemática depois com Kant apresentando os limites da investigação metafísica Na contem poraneidade a metafísica retorna como o estudo do ser vinculada à ontologia e à fenomenologia Diante disso podemos dizer que aprender história da filosofia é também um exer cício de apreensão do que é um pensamento metafísico pois filosofia e metafísica nunca caminharam separadas Mesmo quando a filosofia procura criticar a metafí sica acaba por querer uma renovação da metafísica Dessa forma estudar filosofia é compreender o desenvolvimento do pensamento metafísico referências 194 ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia Tradução de Alfredo Bossi 5 ed São Paulo Martins Fontes 2007 AGOSTINHO Confissões Livro XI Tradução de Cristiane Abbud Ayoub e Moacyr Novaes Curitiba SEED 2009 AGOSTINHO Solilóquios e A Vida Feliz São Paulo Paulus 1998 ARISTÓTELES Metafísica 2 ed Tradução de Marcelo Perine São Paulo Loyola 2002 v 2 AVERRÓIS Discurso decisivo Tradução de Márcia Valéria M Aguiar São Paulo Martins Fontes 2005 AYOUB C A NOVAES M Agostinho razão em processo Curitiba SEED 2009 BATTISTI C A Meditando com Descartes da dúvida ao fundamento In MARÇAL J org Antologia de textos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 143152 BEAUFRET J Introdução às filosofias da existência São Paulo Duas Cidades 1976 BITTAR E C O aristotelismo e o pensamento árabe Averróis e a percepção de Aristóteles no mundo medieval Revista Portuguesa de História do Livro e da Edição Lisboaa 12 n 24 p 61103 2009 Disponível em httpwwwscielomecptpdfrphln24n24a04pdf Acesso em 17 ago 2020 CARDOSO G F Tempo e eternidade em Santo Agostinho Revista Filogenese Marília v 3 n 1 p 8191 2009 Disponível em httpswwwmariliaunespbrHomeRevistasEletro nicasFILOGENESEGiovaniFernandoCardoso8191pdf Acesso em 17 ago 2020 CHAUÍ M Iniciação à filosofia São Paulo Ática 2016 CHAUÍ M MerleauPonty Vida e obra In MERLEAUPONTY M Coleção Os Pensadores São Paulo Nova Cultura 1989 p 815 DESCARTES Discurso do método Tradução de J Guinsburg e Bento Prado Júnior São Paulo Abril 1973 Coleção Os Pensadores DESCARTES Meditações Metafísicas Tradução de César Augusto Battisti In MARÇAL J org Antologia de textos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 153188 DUSSEL E Método para uma filosofia da libertação Tradução de Jandir João Zanotelli São Paulo Loyola 1986 FARIA M do C B de O realismo em Aristóteles In REZENDE A org Introdução à Filo sofia Rio de Janeiro Zahar 2005 p 6987 FEUERBACH L A essência do cristianismo Tradução de José da Silva Brandão Petrópo lis Vozes 2007 referências 195 FEUERBACH L Princípios da filosofia do futuro Tradução de Artur Morão Lisboa Edi ções 70 2002 FEUERBACH L Teses provisórias para a reforma da filosofia Tradução de Adriana V Serrão Lisboa CFUL 2005 FIGUEIREDO V de Kant e a liberdade de pensar publicamente In MARÇAL J org Anto logia de textos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 399405 GILSON E A filosofia na Idade Média Tradução de Eduardo Brandão São Paulo Martins Fontes 1998 GRÜNEWALD A L Nietzsche crítica da verdade metafísica e afirmação da vida terrena Sacrilegens Juiz de Fora v10 n 1 p 421 2013 Disponível em httpswwwufjfbrsacri legensfiles2014011012pdf Acesso em 17 ago 2020 IGLÉSIAS M O que é filosofia e para que serve In REZENDE A org Introdução à Filo sofia Rio de Janeiro Zahar 2005 p 1118 KANT I Prolegômenos a toda metafísica futura Tradução de Tania Maria Bernkopf São Paulo Abril 1980 LIMA J dos S Resumo de A preleção 1929 O que é metafísica de Martin Heidegger Sa beres Natal v 1 n 1 dez 2008 Disponível em httpsperiodicosufrnbrsaberesarticle view558507 Acesso em 17 ago 2020 MARX K A miséria da filosofia São Paulo Global 1985 MARX K ENGELS F A ideologia alemã São Paulo Moraes 1984 MATTOS C L Tomás de Aquino vida e obra In AQUINO T de Coleção Os Pensadores São Paulo Nova Cultura 1988 p 15 20 MATTOS J A Fé razão e conhecimento em Santo Agostinho Revista Espaço Teológico São Paulo v 12 n 21 janjun 2018 Disponível em httpsrevistaspucspbrreveleteo articleview31454 Acesso em 17 ago 2020 MATTOS J A O problema do mal no livrearbítrio de Santo Agostinho 2013 146 f Dissertação Mestrado em Teologia PUC São Paulo 2013 Disponível em httpstede2 pucspbrbitstreamhandle183251Jose20Roberto20Abreu20de20Mattospdf Acesso em 17 ago 2020 MERLEAUPONTY M Fenomenologia da percepção São Paulo Martins Fontes 1999 MONDIN B Curso de filosofia São Paulo Paulinas 1981 MONTENEGRO M A de P Peri physeos psyches sobre a natureza da alma no Fedro de Platão Kriterion Belo Horizonte n 122 p 441457 dez 2010 referências 196 MORA J F Diccionario de Filosofia de bolsilio Compilado por Priscilla Cohn Madri Alianza Editorial 1990 MORA J F Diccionario de filosofia Buenos Aires Sudamericana 1965 NASCIMENTO M A do Sobre a motivação moderna de crítica à metafísica AUFLÄRUNG João Pessoa v3 n 1 p 2336 janjun 2016 Disponível em httpsperiodicosufpbbr ojsindexphparfarticleview2831915255 Acesso em 17 ago 2020 NIETZSCHE F Crepúsculo dos ídolos São Paulo Companhia das Letras 2006 NIETZSCHE F O anticristo maldição ao cristianismo São Paulo Companhia das Letras 2007 NOGUEIRA R Z Breves considerações sobre a metafísica de Leibniz Cadernos Esponzia nos São Paulo v 17 p 129145 2013 Disponível em httpwwwrevistasuspbrespino sanosarticleview8126384908 Acesso em 17 ago 2020 OLIVA L C G Fenômeno e corporeidade em Leibnz Revista Dois Pontos Curitiba v 2 n 1 p 8399 2005 Disponível em httpsrevistasufprbrdoispontosarticleview19521621 Acesso em 17 ago 2020 PARMÊNIDES Da natureza Tradução notas e comentários de José trindade Santos São Paulo Loyola 2013 PASCHOAL A E Entre a verdade e o impulso à verdade apresentação ao ensaio de Niet zsche sobre verdade e mentira o sentido extramoral In MARÇAL J org Antologia de textos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 517530 PEIXOTO A J Corpo e existência em MerleauPonty In TOURINHO C D C BICUDO M A V org Fenomenologia influxos e dissidências Rio de Janeiro Booklink 2011 p 140 170 PESSANHA J A M Platão e as Ideias In REZENDE A org Introdução à Filosofia Rio de Janeiro Zahar 2005 p 51 68 REALE G ANTISERI D História da filosofia filosofia pagã antiga Tradução de Ivo Stor niolo São Paulo Loyola 2003 v 1 REALE G ANTISERI D História da filosofia filosofia pagã antiga Tradução de Ivo Stornio lo São Paulo Loyola 2003 v 2 REALE G ANTISERI D História da filosofia filosofia pagã antiga Tradução de Ivo Stor niolo São Paulo Loyola 2005 v 4 REALE G ANTISERI D História da filosofia filosofia pagã antiga Tradução de Ivo Stor niolo São Paulo Loyola 2005 v 6 referências 197 REALE G ANTISERI D História da filosofia Tradução de Ivo Storniolo São Paulo Loyola 2006 v 6 RUSSELL B História da filosofia ocidental Tradução de Hugo Langone Rio de Janeiro Nova Fronteira 2005 v 1 RUSSELL B História da filosofia ocidental Tradução de Hugo Langone Rio de Janeiro Nova Fronteira 2015 v 2 SANDOVAL R Sobre a certeza nos juízos sintéticos a priori Revista Pólemos Brasíliav 3 n 6 dez 2014 Disponível em httpsperiodicosunbbrindexphppolemosarticle view1165810253 Acesso em 17 ago 2020 SARTRE JP O existencialismo é um humanismo In MARÇAL J org Antologia de tex tos filosóficos Curitiba SEED 2009 p 619620 SARTRE JP O existencialismo é um humanismo Tradução de Rita Correia Guedes 3 ed São Paulo Nova Cultural 1987 SARTRE JP O ser e o nada ensaio de ontologia fenomenológica 23 ed Petrópolis Vo zes 2014 SARTRE JP Que é a literatura Petrópolis Vozes 2015 SARTRE JP Uma ideia fundamental da fenomenologia de Husserl intencionalidade Tra dução de Ricardo Leon Lopes VEREDAS FAVIP Caruaru v 2 n 1 p 102107 janjun 2005 Disponível em httpsgmeapsfileswordpresscom201205umaideiafundamen taldafenomenologiasartrepdf Acesso em 17 ago 2020 SCHIOCHETT D A metafísica como a essência do homem em Heidegger Pensando Re vista de Filosofia Teresinav 6 n 11 2005 Disponível em httpsrevistasufpibrindex phppensandoarticleview33252346 Acesso em 17 ago 2020 SILVA F L e Descartes a metafísica da modernidade São Paulo Moderna 2005 SOUSA K S dos S A filosofia do futuro como filosofia da sensibilidade em Ludwig Feuer bach Revista Brasileira de Filosofia da Religião Brasília v 3 n 2dez 2016 Disponível em httpsperiodicosunbbrindexphprbfrarticleview17365 Acesso em 15 out 2020 STORCK A Tomás de Aquino e o pensamento político medieval Curitiba SEED 2009 VAZ H C de L Tomás de Aquino pensar a metafísica na aurora de um novo século Sín tese Nova Fase Belo Horizonte v 23 n 73 p 159207 1996 Disponível em httpwww fajeedubrperiodicosindexphpSintesearticleview9871425 Acesso em 17 ago 2020 referências 198 VICENTE J J N B Tomás de Aquino o ente e a essência como concebidos primeiro pelo intelecto Griot Revista de Filosofia Bahia v 9 n 1 p 181189 2014 Disponível em httpswww3ufrbedubrseerindexphpgriotarticleview591307 Acesso em 17 ago 2020 VIEIRA M R de A A crítica de Nietzsche à noção de verdade da metafísica clássica Ca dernos PET de Filosofia Teresinav 4 n 8 p 6069juldez 2013 Disponível em https revistasufpibrindexphppetarticleview14081246 Acesso em 17 ago 2020 ZANELLA J L A crítica de Marx e Engels ao domínio das ideias a ideologia Revista Faz Ciência Toledo p 1127 2004 Disponível em httpsperiodicosunbbrindexphprbfr articleview1736515873 Acesso em 17 ago 2020 gabarito 199 UNIDADE 1 1 D 2 C 3 A 4 D 5 C UNIDADE 2 1 D 2 A 3 C 4 A 5 A UNIDADE 3 1 B 2 A 3 C 4 C 5 A UNIDADE 4 1 B 2 A 3 C 4 C 5 A UNIDADE 5 1 B 2 A 3 C 4 E 5 C anotações