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Matemática ·
Filosofia
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ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL PROFESSOR Dr Sidney de Moraes Sanches Filosofia da Mente NEAD Núcleo de Educação a Distância Av Guedner 1610 Bloco 4 Jd Aclimação Cep 87050900 Maringá Paraná wwwunicesumaredubr 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pósgraduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e Planejamento Educacional Tania C Yoshie Fukushima Head de Recursos Digitais e Multimídias Franklin Portela Correia Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção Digital Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Recursos Educacionais Digitais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Design Educacional e Curadoria Yasminn T Tavares Zagonel Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Reitor Wilson de Matos Silva ViceReitor Wilson de Matos Silva Filho PróReitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho PróReitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva PróReitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação a Distância SANCHES Sidney de Moraes Filosofia da Mente Sidney de Moraes Sanches Maringá PR Unicesumar 2021 Reimpresso em 2024 248 p Graduação EaD 1 Filosofia 2 Mente CDD 22 ed 1282 CIP NBR 12899 AACR2 ISBN 9786556153858 Impresso por Bibliotecário João Vivaldo de Souza CRB 91679 Coordenadora de Conteúdo Priscilla Campiolo Manesco Paixão Projeto Gráfico e Capa André Morais Arthur Cantareli e Matheus Silva Editoração Isabela Mezzaroba Belido Design Educacional Bárbara Neves e Patrícia Ramos Peteck Revisão Textual Cindy Mayumi Luca Ilustração Natalia de Souza Scalassara Fotos Shutterstock FICHA CATALOGRÁFICA A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história avançando a cada dia Agora enquanto Universidade ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria mente para que nossa educação à distância continue como uma das melhores do Brasil Atuamos sobre quatro pilares que consolidam a visão abrangente do que é o conhecimento para nós o intelectual o profissional o emocional e o espiritual A nossa missão é a de Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento for mando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária Neste sentido a UniCesumar tem um gênio impor tante para o cumprimento integral desta missão o coletivo São os nossos professores e equipe que produzem a cada dia uma inovação uma transforma ção na forma de pensar e de aprender É assim que fazemos juntos um novo conhecimento diariamente São mais de 800 títulos de livros didáticos como este produzidos anualmente com a distribuição de mais de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos sos acadêmicos Estamos presentes em mais de 700 polos EAD e cinco campi Maringá Curitiba Londrina Ponta Grossa e Corumbá o que nos posiciona entre os 10 maiores grupos educacionais do país Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima história da jornada do conhecimento Mário Quin tana diz que Livros não mudam o mundo quem muda o mundo são as pessoas Os livros só mudam as pessoas Seja bemvindo à oportu nidade de fazer a sua mudança Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária BOASVINDAS MEU CURRÍCULO MINHA HISTÓRIA Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim além das informações do meu currículo Sidney de Moraes Sanches Fiz 61 anos recentemente Não ainda não estou aposen tado Moro em Campinas interior de São Paulo perto da capital Nasci no Rio de Janeiro em Mesquita na região chamada Baixada Fluminense Aos oito anos mudeime para Brasília com meus pais irmã e irmão Lá fui criado ganhei outros dois irmãos cresci estudei até o Ensino Médio e comecei a trabalhar como office boy no Banco do Brasil De lá mudeime para o Paraná a fim de cursar um seminário teológico e me tornar pastor Depois morei no Pará na Bahia em Minas Gerais no Espírito Santo no Paraná novamente em Santa Catarina e agora em São Paulo Nesse período que compreende 40 anos estudei caseime nasceram minhas três filhas concluí um mes trado um doutorado e um pósdoutorado em Teologia Sigo ministrando aulas e coordenando cursos na minha área de formação teologia e filosofia porque também sou graduado nessa área Gosto de viajar de ler de escrever do almoço de do mingo com a família e de ouvir música qualquer uma Entretanto as músicas do Pink Floyd compõem a trilha so nora da minha vida desde a adolescência Também adoro assistir aos filmes principalmente no cinema e a uma boa partida de futebol em casa Desde a adolescência gos to de ficção científica Além disso há dez anos comecei um novo passatempo cultivar plantas Sou totalmente atraído por elas Hoje vivo com a minha esposa temos 35 anos de casamento a nossa filha caçula de 14 anos uma gatinha chamada Lucy um presente das filhas e uma cachorrinha chamada Mila que já é um pouco idosa Currículo Lattes httplattescnpqbr1611754323845332 INICIAIS PROVOCAÇÕES Rose acabou de explicar como deveria ser feita a atividade em sala de aula tratavase de uma análise do dualismo cartesiano entre a mente e o corpo Era uma atividade rotineira e ela apenas esperava que os alunos cumprissem a tarefa nos minutos atri buídos Contudo ela não parava de olhar para José Ele olhava distraidamente para a janela a qual permitia visualizar o jardim botânico presente no outro lado da rua Rose percebeu que ele movimentava irregularmente a sobrancelha e os olhos além de fazer rápidos movimentos com os lábios algo parecido com um sorriso Rose olhou pela janela e não viu nada que sugerisse para ela as mesmas reações de José Ela examinou a si mesma e perguntouse o que se passa na cabeça de José Por que eu não sinto o mesmo que ele sente olhando para a mesma paisagem Repentinamente a doutrina cartesiana de que somos uma mente distinta e sepa rada do corpo que habitamos pareceu fazer sentido Ela começou a se perguntar Isso que Descartes chama mente é o que estou percebendo comigo mesma agora Estar consciente é ter uma mente O que acontece em mim é a mesma coisa que acontece em José e nos outros alunos Nenhum deles pode entrar na mente do outro para saber o que está se passando assim como não sei o que se passa na cabeça de José O ato conscienteinconsciente que chamamos de devaneio de Rose foi interrompi do pela reação de José que de repente começou a rir aparentando uma felicidade que vinha do fundo da alma Ou ela deveria falar que era de dentro da mente Essa manifestação física não indicaria que a mente também não seria isso uma atividade biológica Quando chamou a atenção de José Rose já não sabia se estava falando com uma mente ou com um corpo ou seja com a mente ou com o cérebro chamado José Ela percebeu que precisava levar mais a sério a filosofia da mente A questão fundamental da filosofia da mente é o chamado problema entre mente e corpo Ele pode ser descrito como a mente e o corpo são substâncias ou entidades autô nomas cada uma subsistindo separadamente Elas formam um só composto biológico Nesse caso onde está localizada a mente Ela é um componente que ocupa um lugar no corpo por exemplo o cérebro Ou ela está presente em todo o corpo acompanhando a sua rede nervosa Se para obtermos essas questões precisamos estar conscientes delas a consciência de si e do mundo físico inclusive o corpo é uma condição para a existência da mente Logo não seríamos humanos nem mesmo seres vivos sem uma mente consciente ou uma consciência de mente Voltando ao famoso dito de Descartes penso logo existo INICIAIS PROVOCAÇÕES Evidentemente a mente não é experimentada assim como fazemos com o corpo Quando Rose associou o sorriso de José com a pura felicidade ela fez a conexão entre o estado físico o movimento dos lábios e o estado mental a felicidade Naturalmente apenas o próprio José poderia confirmar ou não se ela estava certa No entanto tam bém podemos sorrir sem observar nada simplesmente com um movimento da mente o pensamento Portanto a experimentação da mente diz respeito à nossa vida mental à nossa capacidade mental de examinála e à habilidade linguística de dizer alguma coisa sobre ela a outros Falamos sobre as nossas sensações percepções lembranças e tudo o que nos constrói enquanto seres sencientes no mundo Pense em um desejo de ter alguma coisa Você ainda consegue se lembrar dele com a mesma intensidade apesar de passar muito tempo Como você descreveria e significaria esse desejo a alguém Enquanto você descreveu e significou o seu desejo para alguém certamente outras percepções vieram à sua mente de onde vem esse desejo Por que os outros têm o mesmo desejo ou não o tem Por que eu dou um significado a esse desejo enquanto outros dão significados distintos Esse desejo está ligado à minha vida biológica cultu ral social e psíquica e é determinado por ela Ou ele existiria independentemente dela O desejo é apenas uma reação do meu cérebro determinada pelo processo evo lutivo biológico da espécie humana Se o meu desejo está associado à minha vida mental que é particular é possível que o significado que dou a ele seja também muito particular Não posso supor que os outros seres vivos dotados de uma vida mental o signifiquem da mesma forma A vida consciente é uma vida reflexiva e todos seres vivos a possuem ou ela varia em graus para cada um E assim por diante A relação entre mente e corpo isto é o modo como as percepções recebidas pelos sentidos se transformam em sensações o que permite que tenhamos uma vida men tal é algo que intriga não somente as ciências mas também a filosofia Você entenderá melhor esse fato por intermédio de uma história que embora seja ficcional ajudará a visualizar o que está por vir INICIAIS PROVOCAÇÕES Desde que a sra Augustina chamada pela família de dona Tina teve um AVC a família ficou preocupada uma vez que ela não conseguiria mais se lembrar das filhas e do filho Então desenvolveram uma maneira curiosa de fazer com que ela conquistasse novamente a memória sobre cada um pela associação de uma música De fato a mú sica é percebida pelos ouvidos e penetra na mente o que gera diversos vínculos com outras sensações e memórias Portanto dona Tina que já havia se esquecido de como conectar o nome a cada filho manteve os laços com eles por intermédio de arranjos mentais a partir da música que ouvia na presença de cada um Aqui você conhecerá melhor a relação entre a mente e o corpo As filhas e o filho perceberam que à medida que as sequelas do AVC avançavam dona Tina parecia cada vez mais desligada fisicamente do mundo à sua volta Em algum momento ela não reconhecia a poltrona onde o seu falecido marido se sentava não sabia mais se estava no quarto ou na cozinha não enxergava o seu rosto nem ouvia a sua voz e a dos filhos O próprio sabor da comida não fazia mais sentido para ela Parecia que os sentidos perderam a sua finalidade Entretanto quando ela falava mos trava que sua mente continuava lúcida e clara como se o que ela era e foi continuasse existindo em um Eu contínuo que não se desfazia Os filhos podiam jurar que ela con tinuava com uma vida mental e o modo de se comunicar com ela era acessando essa mente que continuava viva e ativa naquele corpo Descobriram que d Tina continuava lá Essa situação coloca a você a questão dos estados mentais desenvolvidos por um Eu pensante sobre e partir de si mesmo Um dia uma das filhas ligou para os irmãos relatando uma visita feita a dona Tina A sua fala tinha um misto de surpresa alegria e estranhamento Ela foi ao quarto da mãe e começou a mexer nas gavetas da cômoda Em uma das gavetas encontrou vários papéis com desenhos Perguntou à cuidadora o motivo pelo qual ela desenhava na hora do trabalho e ela respondeu que não era ela mas era a dona Tina quem pedia papel e lápis a fim de fazer os desenhos e guardálos na gaveta Tuca assim era chamada a INICIAIS PROVOCAÇÕES filha mais velha reuniu os irmãos para ver os desenhos Alguns eram produto da mais pura imaginação outros expressavam emoções mas todos indicavam uma criatividade que eles desconheciam enquanto lembravam da vida vivida por dona Tina até então De fato ela estava vivendo um momento bastante particular e expressava isso de maneira criativa A sua vida mental nunca foi tão intensa Emoções arte e imaginação são claros exemplos de uma vida mental e serão trabalhados neste momento do seu estudo Os filhos começaram a revirar os desenhos e a prestar mais atenção em cada um deles Foi um momento de descoberta Cada desenho representava os momentos da vida de dona Tina pois sempre havia um ambiente em que ela se apresentava pela mesma figura Os desenhos não eram aleatórios eles perceberam que ao contrário sempre se referiam a alguma vivência de dona Tina percebida pela presença física em algum lugar Os desenhos sempre diziam algo ou seja comunicavam sentimentos crenças desejos enfim não retratavam apenas dona Tina em algum lugar mas ela percebendo aquele lugar em sua própria mente Os filhos concluíram que dona Tina não estava apenas expressando coisas de sua mente mas descrevendo o que fez em cada um desses luga res onde viveu Ela que sempre fora comunicativa parecia cada vez mais introspectiva Ficaram impressionados ao perceber o modo como ela conseguia se perceber como alguém que quis fez e agiu de algum modo no mundo A representação dos estados mentais os quais sempre são ligados e dirigidos a algo ou a alguém no mundo e sempre são revisitados por atos introspectivos será abordada neste seu estudo A perplexidade da filha mais nova Tati fez com que ela começasse a se interrogar sobre a natureza da vida mental de dona Tina e por extensão de todo ser humano Uma coisa que a intrigou bastante era o fato de que não era possível saber o que se passava na mente de sua mãe mas apenas quando ela se expressava como fazia Ela começou a procurar por famílias cuja mãe pai ou parente próximo estavam passando INICIAIS PROVOCAÇÕES pela mesma situação para saber se essa ação era exclusiva de dona Tina ou não será que acontecia com o mesmo que viu em sua mãe Não havia como saber ela concluiu Os exames cerebrais diziam que havia algo em comum mas não explicavam o motivo pelo qual cada indivíduo e família vivia essa situação de maneira diferente da outra Tina começou a se interrogar profundamente sobre o lugar da mente em nossa vida humana e se perguntou se as teorias das máquinas inteligentes não seriam um modo de explicar como a mente funcionava Todavia essa é uma história que precisaria de mais tempo para ser contada Somos exclusivamente nós no mundo um Eu sozinho e isolado dos demais O que são os outros em nossa vida mental Somos mentes habitando uma máquina um corpo o qual poderia ser trocado por outro se possível O que aproxima as máquinas inteligentes com as quais estamos nos acostumando a viver Essas perguntas e outras serão abordadas durante o nosso estudo Em sua atividade como professora habituese a observar os seus alunos e alunas como uma unidade mentecérebro Ao planejar a sua estratégia de ensinoaprendiza gem de modo a incluir o que você aprendeu nesta disciplina não pense neles como um conjunto de comportamentos socialmente aprendidos ou como um composto químico neural e biológico que responde aos estímulos somente Também não os entenda como espíritos ou almas encarnadas em um corpo que pode ser educado como se não vivessem uma vida física no mundo Enquanto seres conscientes eles são sensíveis flexíveis e criativos o que permite refazer a si mesmos e reconstruir o mundo ao redor o tempo todo Agora que você aprendeu a importância de entender a relação entre mente e cor po e a contribuição da reflexão filosófica para isso espero que você fique bastante animado para a imersão no assunto pois enquanto um ser consciente você sabe que temos uma longa caminhada de aprendizagem pela frente Bons estudos MEU ESPAÇO IMERSÃO RECURSOS DE Quando identificar o ícone de QRCODE utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online O download do aplicativo está disponível nas plataformas Google Play App Store Ao longo do livro você será convida doa a refletir questionar e trans formar Aproveite este momento PENSANDO JUNTOS NOVAS DESCOBERTAS Enquanto estuda você pode aces sar conteúdos online que amplia ram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tec nologia a seu favor Sempre que encontrar esse ícone esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experien ce Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recur sos em Realidade Aumentada Ex plore as ferramentas do App para saber das possibilidades de intera ção de cada objeto REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bemvinda Posicionando seu leitor de QRCode sobre o códi go você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido PÍLULA DE APRENDIZAGEM OLHAR CONCEITUAL Neste elemento você encontrará di versas informações que serão apre sentadas na forma de infográficos esquemas e fluxogramas os quais te ajudarão no entendimento do con teúdo de forma rápida e clara Professores especialistas e convi dados ampliando as discussões sobre os temas RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento você terá a oportunidade de explorar termos e palavraschave do assunto discu tido de forma mais objetiva O PROBLEMA MENTECORPO 13 53 APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 1 2 ESTADOS MENTAIS E SUAS PROPRIEDADES 95 MENTE EMOÇÕES IMAGINAÇÃO E ARTE 3 4 141 REPRESENTAÇÃO MENTAL INTENCIONALIDADE E AÇÃO 5 187 OUTRAS MENTES E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 1O Problema MenteCorpo Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade você entenderá qual é o problema fundamental com o qual a filosofia da mente lida Além disso saberá de onde surgiu esse campo tão recente da reflexão filosófica contemporânea pelo que se interessa e o motivo pelo qual elegeu a mente como um conceito filosófico a ser examinado São várias as teorias filosóficas que buscam entender esse conceito e você conhecerá as principais Nosso esforço em entender a mente nos levará à discussão sobre a consciência a capacidade autorreflexiva da mente que é capaz de produzir introspecção e conhecimento interior Essa investigação remete diretamente à questão da identidade pessoal em que os processos mentais somados ao corpo físico sustentam a identidade alguém ao longo do tempo UNIDADE 1 14 Teresa tem uma pequena cozinha onde fabrica bolos e tortas Ela tem um modo peculiar de escolher aqueles que trabalharão com ela Primeiro ela os submete a um teste de cheiro para descobrir se há compatibilidade entre ela e o seu futuro e possível cooperador Recentemente entrevistou Tadeu e logo perguntou que música você ouve quando cheira esse bolo de chocolate Sem entender direito Tadeu disse que não ouvia música nenhuma Teresa ficou brava e o despediu sem demora porque ela sempre ouve Stairway to Heaven quando cheira um bolo de chocolate No entanto como é possível associarmos a memória de alguma música com o cheiro de um bolo de chocolate e fazermos disso um modo de seleção de quem queremos próximo de nós ou não Não é raro que ao lembrarmos de alguma música sejamos imediatamente transportados para algum lugar ou sentimento o que desperta alguma emoção e chama algo ou alguém de volta No exemplo apresentado temos um caso de sinestesia em que o cheiro do bolo se mistura com o som de uma música ou seja dois sentidos olfato e audição são somados A partir disso podemos somar as nossas sensações ao infinito Elas são resultado das nossas percepções o modo como recebemos as informações que nos vêm dos sentidos do corpo em suas muitas posições e interações com o mundo físico o que chamamos de cinestesia É mediante o encontro de ambas as experiências que sabemos quem somos e o que estamos fazendo em nossa vida Tudo isso acontece em nossa mente Agora tenho uma proposta elabore uma breve narrativa que aborde os efeitos sinestésicos da mescla de sentidos e de percepções com foco especial na percep ção visual Por exemplo o que a visualização da cor amarela sugere à sua mente Descreva como é para você essa experiência mental A partir de sua narrativa reflita como as percepções sinestésicas são reu nidas na mente e promovem uma experiência mental sinestésica Como essa experiência mental suscita uma consciência sobre mim Onde são armazenadas essas percepções de modo a reunilas em experiências mentais conscientes que dizem respeito a mim Elas estão em alguma parte diferente do corpo como na alma ou no espírito ou estão na mente Há uma mistura entre mente e cérebro Existe uma inconsciência na qual toda a vida fica armazenada até ser trazida à consciência por meio de algum fenômeno UNICESUMAR 15 A filosofia da mente é uma subárea do estudo filosófico que envolve a investigação dos fenômenos relacionados à natureza da mente Para isso recorre a um diálogo com outros campos de estudos tais como a psicologia e a neurobiologia uma vez que tais fenômenos não se restringem somente aos parâmetros analíticos e especulativos da compreensão filosófica O surgimento do campo de estudo da mente na filosofia se deu oficialmente com a publicação de Gilbert Ryle filósofo britânico bastante influenciado pelo pensamento do filósofo alemão da linguagem Ludwig Wittgenstein Em seu livro O Conceito da Mente publicado em 1949 Ryle desconstrói as concep ções tradicionais relacionadas à articulação entre corpo e mente ao realizar uma crítica à teoria dualista que afirmava que a mente era um componente independente e regulador do corpo Em seu raciocínio opôsse a Descartes maior defensor do dualismo entre mente e corpo e afirmou que a proposta epistemológica cartesiana era desa tualizada e não se identificava mais com os avanços biológicos encontrados a partir de sua pesquisa Ryle declarou que a mente e o corpo não são entidades separadas e com funções diferentes por exemplo a mente pensa e o corpo age Ao contrário os dois desenvolvem as mesmas ações e portanto a complexidade que buscamos na natureza não existe DIÁRIO DE BORDO UNIDADE 1 16 Ora a crítica de Ryle ao cartesianismo abriu um novo horizonte de reflexão A clássica concepção que determina a existência da alma por exemplo teve as suas estruturas balançadas visto que novos questionamentos sobre o funcionamento da relação entre mente e corpo começaram a surgir como cascatas No entanto o que Ryle provocou não era de forma alguma ausente de contexto Precisamos considerar que a sua crítica segue a mesma linha do avanço científico da neurobiologia ocorrido no início do século XX a partir do aprofundamento dos estudos acerca da psicologia humana e principalmente com o surgimento da psica nálise da fenomenologia e das novas indagações filo sóficas sobre existência Os principais expoentes dessas correntes foram Martin Heidegger e Jean Paul Sartre Em suma o período em que Gilbert Ryle realizou a sua publicação era na verdade um caldeirão borbulhante de ideias e perguntas acerca da dinâmica da mente humana e o mundo ao seu redor Não introduziremos o panorama histórico exposto pois o nosso foco se limita às caracterizações e à funda mentação da filosofia da mente Por outro lado traba lharemos nesta unidade o apontamento e o desenvol vimento do problema entre mente e corpo Quais são as principais teorias filosóficas que tentam compreendêlo Como essa relação se constitui como um problema para a filosofia da mente Continuaremos a nossa discussão ao introduzirmos o conceito de consciência Podemos afir mar que ela existe De que forma Onde se localiza Qual é a sua constituição Por fim encerraremos o nosso estu do introdutório com a análise do conceito de identidade outro aspecto central das discussões sobre a mente Como nos diferenciamos uns dos outros Como distinguimos os sujeitos dos objetos De que forma a noção de identidade se manifesta em nossa tríade consciênciamentecorpo UNICESUMAR 17 O que significa falar de mente e cérebro Para a psicanálise a mente é uma entidade abstrata que carrega a consciência do indivíduo Essa distribuição varia de acordo com a abordagem psicanalítica que está sendo tomada como pressuposto Por exemplo para Sigmund Freud a consciência é subdividida em superego ego e id enquanto a mente é o receptá culo do chamado inconsciente isto é uma camada que guarda as informações que não estão facilmente acessíveis ao indivíduo O inconsciente se manifesta por meio de sonhos os quais por intermédio dos simbolismos comunicam em uma linguagem muito própria alguns desses dados Freud desenvolveu a teoria da estrutura psíquica da pessoa dividindoa em consciente e inconsciente Depois formulou a teoria da personalidade humana em termos de triunidade Id Ego e Superego Segundo essa teoria toda pessoa nasce com instintos animais básicos e fundamentais para a sua so brevivência assim como os animais que são de responsabilidade do Id Esses instintos estão associados à sensação de prazer Portanto é essa energia psí quica que move o sujeito no mundo A não satisfação pode causar ansiedade tensão e gerar um ímpeto destrutivo Pelo fato de que nem todo desejo pode UNIDADE 1 18 ser satisfeito uma maneira de resolver a problemática é desviar a satisfação para alguma fantasia que é a representação para si próprio de uma imagem do objeto a fim de nela realizar a sua satisfação O Ego é o componente da personalidade humana capaz de lidar com a rea lidade Ele não nasce com a pessoa mas se desenvolve a partir das restrições que são impostas ao Id de modo que as relações pessoais e sociais sejam possíveis e aceitáveis Com o Ego as pessoas se habituam a calcular os prós e os contras de um desejo intenso e aprende os meios de realizálo ou simplesmente negálo O Superego é a parte desenvolvida da pessoa a partir dos influxos do Ego e da internalização na mente humana das orientações difundidas por pais e parentes quanto ao que é certo ou errado na conduta infantil em termos de aprovação e recompensa ou reprovação e castigo A pessoa aprende a se comportar submetendo o seu desejo aos interesses das demais pessoas e da sociedade O Superego foi dividido em Ego ideal em que são assumidas as regras de comportamento aprovadas por pais e parentes o que gera uma sensação de valor respeito e satisfação Consciência que inclui as informações sobre aquilo que é rejeitado por pais e parentes a partir da proibição ou punição gerando uma sensação de remorso e culpa No entanto diante da perspectiva filosófica a mente nem sempre é uma entida de autônoma e em algumas teorias a consciência sequer existe De que modo a mente pode ser compreendida em termos metafóricos É preciso entender que de concreto temos somente o nosso corpo e como integrante dele o cérebro Logo quando falamos de mente estamos vinculando a ação cerebral a um novo componente que fisicamente não existe Nesse sentido o termo mente é um vocábulo metafórico e de caráter metafísico portanto abstrato É muito comum associarmos as duas palavras mente e cérebro como sinôni mas Por exemplo após realizar uma leitura complicada alguns afirmam Minha mente está fritando Todavia ao adentrarmos no campo da filosofia da mente é preciso elucidar que ambas carregam significados diferentes embora relaciona dos Em termos práticos o cérebro seria a máquina capaz de realizar os cálculos UNICESUMAR 19 necessários para a tomada de decisão enquanto a mente por outro lado seria o conteúdo desses cálculos e dessa decisão Contudo assim como estudaremos adiante essa questão está longe de ser solucionada Um obstáculo ao avanço em relação aos problemas da relação mente cérebro é o fato de que muitas pessoas mesmo no mundo acadêmico pensam que essas questões já foram resolvidas Elas frequentemente acreditam que o cérebro humano é a resposta que a mente não exis te ou que é apenas um produto para alguns um epifenômeno um subproduto ineficiente da química e da atividade elétrica cerebral Muitos também veem o cérebro como uma entidade que pode ver ouvir pensar sentir e tomar decisões Contudo essas parecem ser conclusões precipitadas MOREIRAALMEIDA 2013 p 106 Apesar de haver uma forte interlocução entre a filosofia da mente e a neurobiologia precisamos nos conscientizar de que pouco se sabe sobre o funcionamento do cérebro e como se articulam os eventos psicológicos em seu interior Devemos tomar como base a noção de que toda teoria pode ser substituída por novas conclusões originadas de novas descobertas Em suma a ciência não fixa respostas mas aponta caminhos de pensamento que podem ou não auxiliar as problematizações filosóficas O problema mentecorpo e as suas possíveis respostas Não é tarefa da filosofia oferecer respostas absolutas para os problemas humanos Ao contrário ela problematiza as questões já existentes no intuito de assim encontrar novas intersecções novas dúvidas Todavia é comum que existam teorias filosóficas que postulem certos pontos de vista a fim de se posicionar contra ou a favor Entre tanto elas ainda objetivam continuar a discussão iniciada a partir de novas reflexões O mesmo ocorre na filosofia da mente e no que tange ao dilema da interação entre mente e corpo houve algumas teorias que tentaram problematizar a questão UNIDADE 1 20 Dualismo cartesiano Ao propor que a mente existe independentemente da existência ou não do cor po Descartes faz uma cisão entre duas realidades que até então eram entendidas como únicas A ideia cogito ergo sum penso logo sou ou penso logo exis to constrói as bases para a discussão acerca de um Eu que pensa por si próprio COSTA 2005 Alguém não sente apenas raiva mas sabe que está com raiva Ele pode até não estar com raiva mas é capaz de criar para si a emoção da raiva sem motivo aparente para têla É capaz ainda de justificar essa raiva ao recorrer a uma lembrança de algum acontecimento Tudo isso ocorre na vida mental da pessoa sem que o corpo tenha feito um movimento sequer isto é sem nenhum objeto externo que movesse a mente a ter raiva Contudo qual é a razão para a existência do corpo Se o Eu possui uma vida mental plena e suficiente em si mesma para que ele precisa de um corpo Des cartes não deu uma resposta satisfatória para esse argumento apenas afirmou que o corpo é um tipo de máquina que serve de receptáculo para a mente dado que ela caminha pelo mundo por intermédio do corpo que nada faz por si mesmo Em seus dias era comum a realização de espetáculos que exibiam autômatos mas o que são autômatos Referemse a uma máquina que executa movimentos previamente determinados ou seja age automaticamente e é guiada por automa tismos Além disso poderia ser uma máquina aparente ou transfigurada em um corpo humano ou de outro animal Nós nos maravilhamos com o que os robôs japoneses são capazes de fazer e aceitamos ser guiados pelas vozes dos aplicativos de viagens todos eles são máquinas automatizadas UNICESUMAR 21 Descartes sugeriu que o corpo humano é algo parecido com os autômatos O corpo não pergunta o motivo pelo qual está com sede não questiona o que deve fazer para encontrar água não confere se ela é potável e se for necessário com prála calcula se o dinheiro que tem no bolso será o suficiente por exemplo Evidentemente a mente precisa do corpo caso queira abraçar um amigo ou ami ga uma vez que ele é o meio pelo qual esse carinho se expressa No entanto o corpo não sente esse carinho nem compreende a intenção da mente Portanto com Descartes aprendemos que a vida intelectual de uma pessoa está na mente enquanto a vida corporal realiza o que está na mente e sem ela o corpo é apenas um mecanismo MATTHEWS 2007 Acostumamos a dizer que o corpo está envelhecendo mas a mente permanece jovem Os cristãos aprenderam com Jesus que o espírito está pronto mas a carne é fraca O esforço do filósofo francês foi refutado por muitos na Modernidade Um deles foi filósofo alemão Friedrich Nietzsche que questionou o cogito cartesiano ao sustentar que se um indivíduo não sabe de nada e está colocando tudo sob a dúvida como é possível existir o pensamento Por que ele também não está sob suspeita Qual foi o critério de Descartes para avaliar que a mente existe mas quanto a tudo que vem por meio do corpo não se pode ter certeza Nietzsche está claramente questionando a ideia de a mente ser a única fonte confiável para o conhecimento visto que não há um modo de verificar os fatos senão pela própria mente Se ela adoece quem garante que ela continua sendo tão segura quanto quando estava lúcida A filosofia da mente aproveitará a discussão suscitada para iniciar a sua in vestigação acerca do tema e encontrará outras dificuldades em relação ao pen samento cartesiano A maioria é fruto da suspeita que o autor realiza sobre tudo o que não é pensamento Como explicar o efeito de drogas e medicamentos na mente Como explicar que uma doença como a de Alzheimer que reduz o cérebro até um terço do seu tamanho tenha efeitos tão devastadores sobre a atividade mental Como explicar em suma o papel do cérebro O que tais objeções revelam é que o dualismo não se integra à nossa crescente imagem científica do mundo sendo isso o que mais parece fadálo ao ostracismo COSTA 2005 p 18 UNIDADE 1 22 Behaviorismo Se a possibilidade de existência de uma mente autônoma em relação ao cérebro é facilmente descartada é preciso aprofundar a problemática e realizar novas reflexões sobre o assunto Assim a resposta é buscada no elemento oposto se a mente não é acessível senão pelo corpo é observando esse elemento que podemos conferir a vida mental de alguém Um comportamento errático por exemplo ex pressa uma mente confusa Foi assim que surgiu o chamado behaviorismo teoria bastante defendida pelos filósofos positivistas na década de 30 e que foi reforçada por Ludwig Wittgenstein e Gilbert Ryle pouco tempo depois Na discussão filosófica behaviorista o mental enquanto entidade autônoma e abstrata não existe Dessa forma as noções cognitivas tais como dor alegria crenças e pensamentos não são próprias de cada indivíduo subjetivas mas são comportamentos humanos COSTA 2005 Isso significa em suma que não existe diferença no fato de um indivíduo X e um indivíduo Z sentirem dor visto que a dor é uma simples atividade do corpo humano e não está ligada a uma condição particular de X ou de Z Toda a articulação entre a experiência interior do ser humano e a sua disposição pode ser evidenciada empiricamente e não há nenhuma outra correlação obscura entre o comportamento de seu corpo e a sua vivência Portanto ao analisar o mental em termos de comportamentos ou disposições comportamentais o behaviorista analítico acreditava ter realizado o truque de se livrar para sempre da res cogitans cartesiana COSTA 2005 p 19 Outra forma de behaviorismo é atribuir toda a vida mental à comunicação linguística Não há meios de demonstrar tristeza senão pelo corpo Contudo a linguagem também é um recurso não corporal eficaz Isso significa que aprende mos a dizer que estamos tristes não porque estamos conscientes de algum pro cesso mental mas porque aprendemos com a nossa família amigos e sociedade que a tristeza se expressa por meio de um comportamento e se comunica a partir de determinadas palavras e frases Antes de iniciarmos o nosso estudo sobre as teorias da mente reflita como você com preende a interação entre mente e corpo Você acredita que a mente é autônoma ou dependente do corpo Como o corpo se expressa diante da mente PENSANDO JUNTOS UNICESUMAR 23 O behaviorismo é certamente uma proposta alternativa interessante e que tenta dirimir a distância entre mente e corpo formulada inicialmente por Descartes No entanto ao propor uma redução subjetiva das ações cognitivas do cérebro torna as chamadas disposições comportamentais em meras sensações passivas de serem analisadas e constatadas objetivamente COSTA 2005 Dessa forma você poderia afirmar que uma pessoa está alegre pois a vê dando saltos e gritos de felicidade Por outro lado afirmaria que está com dor ao vêla com o corpo contorcido e com lágrimas caindo de seus olhos É sabível que a mente é algo mais complexo que isso Diante do enorme desconhecimento que ainda se tem acerca do seu funcionamen to é preciso evitar posicionamentos que excluem outras interlocuções Materialismo ou fisicalismo e a teoria da identidade Em detrimento do dilema proposto pelas duas teorias anteriores alguns filósofos tais como Herbert Feigl Ullin Place e John Jamieson Smart desenvolveram outro ponto de vista ao longo da segunda metade da década de 50 A teoria formulada por sua vez tomou o lugar do behaviorismo e até hoje há vários debates sobre ela Ela é chamada de materialismo porque afirma que a vida mental não passa de fenômenos cerebrais portanto parte da matéria da qual todo o corpo huma no é integrante Também é denominada fisicalismo tendo em vista que nega a própria vida mental ao afirmar que toda a atividade humana não passa de ações inteligentes do corpo humano COSTA 2005 O fisicalismo é uma teoria que se subdividiu em algumas vertentes que têm uma base em comum todas as coisas que existem no mundo são físicas e as suas proprie dades estão relacionadas à sua natureza física O que não é físico não faz parte do mundo físico Embora pareça redundante é importante compreender que para os fisicalistas só existe o mundo físico Assim o que não faz parte dessa realidade não existe COSTA 2005 Em relação à dor por exemplo os fisicalistas não ponderam sobre a existência de uma disposição comportamental assim como os behavioristas faziam Os estudiosos partem da ideia de que se a dor não pode ser comprovada objetivamente então não existe Tudo o que a mente sente o corpo também sente e em consequência do fato de que o corpo é uma entidade física não existem motivos para que as percepções mentais não sejam analisadas objetivamente UNIDADE 1 24 É desse modo que o fisicalismo de tipo adquire a sua pertinência no debate a respeito da relação entre mente e corpo Ele é chamado de Teoria da Identidade de Tipo Typetype Identity Theory Para os seus proponentes os tipos de even tos mentais emoções sensações e pensamentos correspondem ao mesmo tipo de evento no cérebro em todos os organismos Embora pareça ser uma solução relativamente simples ao problema o fisicalismo de tipo formula uma armadilha para si mesmo ao considerar a imediata associação entre mentecérebrocorpo Existem certos eventos mentais que não podem ser comprovados fisicamente a exemplo da percepção e da identificação das cores Uma pessoa que enxerga o céu azul não acionará uma região azulada no cérebro passiva de ser analisada pelo cientista Além do mais nenhum azul se tornará visível de forma que seja possível identificar qual cor a pessoa está enxergando Inclusive é interessante o fato de que pessoas que nunca enxergaram sejam capazes de descrever sensações e emoções sem que tenham sido estimuladas ou ensinadas por algum aprendizado exterior Outro exemplo seria pressupor a ideia de que a ansiedade aciona o córtex cerebral que se torna o responsável por ecoar as descargas elétricas no siste ma límbico Nesse contexto um fisicalista de tipo entenderia que para reduzir a ansiedade de um paciente bastaria a criação de um medicamento que redu zisse essas atividades específicas no cérebro Entretanto todos nós sabemos que a mente não funciona dessa maneira e a ansiedade em vários casos pode estar relacionada às questões neuropatológicas ou psicológicas do indivíduo o que não são de fácil resolução Por outro lado existe a Teoria da Identidade de Ocorrência também de base fisicalista mas com articulação diferente da Teoria da Identidade de Tipo Para os seus defensores não há uma identificação imediata entre os eventos men tais por exemplo dor e os estados cerebrais por exemplo a dor ativa as células nociceptoras periféricas apesar de alguma identidade sempre existir Assim se for dado um estado mental do tipo M ele pode ser identificado aos estados cerebrais F1 F2 F3 não havendo como unificar os últi mos em um único tipo A razão para isso estaria na falta de correlações nômicas entre eventos mentais e cerebrais ou seja na ausência de leis estritas relacionando psicologia e neurofisiologia COSTA 2005 p 27 UNICESUMAR 25 É preciso ter em mente que os estados cerebrais F1 F2 F3 são sempre reais e existentes no mundo físico fisicalismo Por exemplo um evento de dor acionaria vários mecanismos mentais e não somente um Esses mecanismos podem variar de acordo com o grau de intensidade da dor reverberando diferentes células e transmitindo outros caminhos sinápticos Para a Teoria da Identidade de Tipo essa estrutura não é possível visto que os eventos mentais se relacionam por meio de apenas uma via de ativação a qual independentemente do nível da dor é sempre a mesma Dessa maneira a interação entre mente e corpo deixa de ser instantânea e estrita e passa a ser realizada de diversas formas uma vez que a mente promove diversos estados cerebraiscorporais Eles continuam interligados e tudo o que ocorre em um necessariamente provoca efeitos no outro Funcionalismo Nas Teorias da Identidade pressupõese que a mente não é uma entidade abstrata mas física Portanto O mesmo evento simplesmente tem propriedades mentais e físicas Afinal a identidade é uma relação simétrica se a b então b a Nesse caso devemos admitir que se o mental é físico então parte do que é físico também é mental LECLERC 2018 p 7879 Os fisicalistas acreditam que existe uma correlação entre a função cerebral e a mente Por outro lado os funcionalistas entendem que uma coisa não está intrin secamente relacionada à outra em termos de identidade mas de função o que leva a uma crítica à Teoria da Identidade de Tipo A análise que os funcionalistas realizam se pauta na compreensão dos estados mentais a partir das funções que possuem Por exemplo uma pessoa almoça porque está com fome e não o contrá rio A ação do corpo tem portanto uma função suprir o estado mental de fome No funcionalismo reside a ideia de equiparação da mente humana às má quinas porém fundada em outro tipo de substrato o cérebro Essa comparação permitiu que os estudiosos tivessem maior autonomia para lidar com a questão da múltipla realizabilidade isto é a mente tem múltiplos estados que podem gerir múltiplas conexões Assim UNIDADE 1 26 somos constituídos por um hardware que é o cérebro e por um software ao qual damos o nome de mente Assim a mente nada mais é do que o programa implementado no cérebro e os estados mentais são os seus estados funcionais Certamente o programa mental nada tem a ver com os softwares que são atualmente implementados em computa dores mas o princípio é o mesmo COSTA 2005 p 29 grifos do autor Diante do raciocínio apresentado os funcionalistas fogem do engessamento da relação entre mente e corpo e ao lidarem com termos maquínicos tais como output saída e input entrada identificam novas correlações na dinâmica entre mente e corpo como a sua plasticidade É por meio dessa teoria que é possível conceber a ideia da imortalidade humana ao preservar o cérebro de um indiví duo ainda que o seu corpo tenha morrido Tendo em vista que a mente um con junto de dados como uma máquina é possível escanear as suas informações e assim dispensar o próprio cérebro que as armazena o hardware ou disco rígido Nesse contexto um indivíduo poderá viver eternamente e ter as suas informações armazenadas em um HD externo ou outro dispositivo qualquer COSTA 2005 A objeção à teoria funcionalista se localiza na discussão acerca dos qualia conceito que estudaremos nas próximas unidades Para antecipar qualia é uma noção bastante presente nos debates da filosofia da mente e representa as caracte rísticas qualitativofenomenais dos estados mentais de cada indivíduo É em con sequência da existência dos qualia que é tão complicado com frequência explicar o que se sente uma vez que a experiência sensorial e perceptiva do indivíduo tem uma qualidade inteiramente subjetiva e não pode ser revelada de maneira objetiva Por exemplo suponha que uma pessoa está tomando vinho em sua casa Como constatar o sabor desse vinho e o que essa pessoa o está sentindo Até um exame de tomografia do cérebro não seria capaz de exibir de forma clara e precisa o sabor do vinho que essa pessoa está tomando Dessa forma o sabor do vinho é um qualia Para aumentar a complexidade da discussão em detrimento do fato de que não podemos avaliar os qualias de maneira objetiva eles podem se expressar em graus diferenciados para cada um Assim o sabor do vinho pode ser mais ácido para um paladar e para outro mais agradável É nesse sentido que os qualia se tornam um inconveniente para o avanço da discussão funcionalista dado que a teoria prevê que é possível definir objetivamente o espaço de interlo cução entre a mente e o cérebro a ponto de reduzirmos a existência do indivíduo a um conjunto de dados que podem ser armazenados UNICESUMAR 27 Qual teoria escolher Talvez a melhor pergunta não seja qual é a melhor abordagem mas o que cada uma das contribuições tem a nos dizer sobre o conflituoso debate acerca da re lação entre mente e cérebro Em um primeiro momento é perceptível que não é possível se abster da subjetividade presente nas articulações mentais Cada pessoa sente dor de uma forma A dor de um parto pode ser lancinante para uma mulher e suportável para outra Qualquer teoria que não inclui essa subjetividade incorre facilmente no erro de reduzir a relação entre mente e cérebro em um vínculo simplista e que abandona as suas grandes complexidades No entanto é testando outras modalidades de pensamento que é possível avaliar a relevância de certas condições para a reflexão Somado a isso as teorias que pressupõem que a fisicalidade de todos os componentes dessa relação determina as suas respectivas existências também costumam falhar no que tange aos aspectos que não são físicos da interação entre mente e corpo Elas ignoram parâmetros importantes tais como o sabor das coisas a sensação de calor ou de frio e a visão de uma cor Esses eventos não podem ser medidos de forma precisa e correta por nenhuma máquina inventa da até hoje tampouco as suas variações entre os indivíduos Por outro lado não se pode esquecer do vínculo entre alguns estados mentais e os seus respectivos estados cerebraiscorporais Algumas dores realmente podem ser aliviadas com um analgésico por exemplo Condições de euforia podem ser estimuladas por substâncias psicoativas Assim existe uma dinâmica causal nessa relação entre mente e corpo e que deve ser considerada na discussão Neste podcast conversaremos um pouco mais sobre a filosofia da mente Certamente você ficou curio soa para entender melhor o que é a mente enquan to um problema filosófico e quais teorias ou explica ções são apresentadas para resolvêlo A pergunta é é possível refletirmos sobre a nossa mente a partir do estudo que envolve a própria vida mental Para saber a resposta não deixe de acompanhar o que preparamos para você UNIDADE 1 28 Toda discussão nos evidencia que quando se trata da filosofia da mente equilíbrio e cuidado são bons conselheiros Pelo fato de que essa área caminha muito próxima à ciência o seu desenvolvimento está atrelado às pesquisas sobre o funcionamento do cérebro a neuropsicologia e outros campos que tratam especificamente do tema EU INDICO Título Transcendence a revolução Ano 2014 Sinopse Dr Will Caster a maior autoridade do mundo em inte ligência artificial está conduzindo experimentos altamente con troversos na intenção de criar um robô com grande variedade de emoções humanas Quando extremistas antitecnologia tentam matálo Caster convence a sua esposa Evelyn e o seu melhor amigo Max Waters a testarem o seu novo invento nele mesmo A grande questão não se dá na possibilidade de execução de tal atitude mas se devem dar esse passo Comentário o filme expressa a dinâmica da mente em uma situação de ausência de corpo No caso o personagem de Johnny Depp tem a sua mente transferida para uma máquina que passa a manipular toda a realidade do laboratório que ele comanda É um filme que ajuda a refletir sobre como a mente interage com o meio que a cerca Consciência É comum que pensemos na consciência como algo que diz respeito à nossa vida moral Um exemplo é quando apelamos para a consciência de alguém como a juíza de seus atos Nesse caso dizemos Aquele sujeito não tem cons ciência Olhe como ele trata mal a sua própria mãe Ela também pode re presentar ignorância quando dizemos Essas pessoas não sabem de nada Não têm consciência Falamos até de vida consciente e de forma equivocada diferenciamonos dos demais seres vivos como se eles não fossem munidos de consciência enquanto nós a temos Até argumentamos que a diferença en tre nós humanos e os robôs e autômatos está no fato de os humanos terem consciência Essa compreensão nos permite tratálos como máquinas ou seja objetos Religiosamente aprendemos na teologia judaicocristã a vincular a UNICESUMAR 29 consciência à alma uma vez que aquela é uma faculdade ou propriedade des ta Uma vez que acostumamos a usar a alma no lugar de mente no conceito moderno a consciência é uma sede da imagem de Deus no ser humano Em outras palavras um elemento que temos em comunhão com o Criador é a consciência ora o senso de existir ora o senso moral A introdução exposta foi necessária para afirmar que em relação à consciên cia a filosofia da mente não a trata de acordo com os exemplos apresentados Partindo do dualismo cartesiano mentecorpo a consciência diz respeito à vida mental o modo como alguém existe de forma única e distinta Saber desse fato é um modo de ter consciência de si e de tudo com o que se relaciona Muitos desejam substituir essa definição de consciência pelo Ego mas uma vez que essa palavra está carregada psicologicamente e faz parte da estrutura psicanalítica freudiana é aconselhável não cometer esse engano A questão para a filosofia da mente não é se temos ou não consciência mas onde ela está localizada Se partirmos do dualismo mentecorpo a consciência é a vida mental distinta da física Portanto se desligamos o nosso corpo da mente continuamos conscientes porque vivemos pela mente Por outro lado se remove mos a mente do corpo não resta mais nada somente uma máquina inconsciente Se rejeitarmos o dualismo e promovermos o monismo isto é uma unidade entre mentecorpo dizemos que a mente está localizada no cérebro TEIXEIRA 2008 Nesse caso se um acidente ou uma doença como o Alzheimer afeta o cé rebro a mente é total ou parcialmente afetada o que não impede que o cérebro siga realizando as demais funções físicas É possível afirmar que quando alguém desmaia ou está sedada em uma UTI em coma ela está totalmente inconsciente Sabemos que não há como nos relacionar com ela nem ela conosco O problema desse modo de pensar é que não saberíamos explicar a conexão entre certos comportamentos humanos e o cérebro Por exemplo o cérebro é feito de molé culas assim como a água Sabemos que a água ferve quando aquecida a certa tempera tura e temos ciência de que partes do cérebro são ativadas quando alguém sente uma dor terrível Entretanto quando observamos alguém com o dedo cortado e gritando de dor não dizemos Como o seu cérebro está sofrendo Quem está sentindo a dor é o sujeito e de forma diferente de como eu sentiria Portanto é difícil conectar algo tão subjetivo pois diz respeito a quem sente a dor com algo tão objetivo o cérebro que está fervilhando sinapses neuronais naquele momento Por isso muitos desistem da ideia de que haja mesmo uma consciência e se existe é impossível demonstrála UNIDADE 1 30 É possível afirmar que existe um elo uma conexão entre mente e cérebro que não nos limita ao dualismo nem ao monismo Esse fato é real mas como argumentar a respeito Descartes supôs que esse elo estaria na glândula pineal uma pequena glândula no cérebro dos vertebrados que modula os seus ciclos de sono Contudo esse é um modo equivocado de abordar a questão Na verdade quando falamos de mente e de consciência estamos nos referindo a algo que diz respeito à nossa subjetividade uma espécie de vida interior ou mental distinta da vida exterior ou corporal mas que também está relacionada com a vida exterior Não podemos separálas e esse é um bom ponto de partida A filósofa holandesa Joke Hermsen explica a ideia exposta do seguinte modo A solidão é um estado em que uma pessoa pode centrar sua aten ção no diálogo interior como Hannah Arendt explicou em A Vida do Espírito 1973 Mesmo quando estamos sós com nós mesmos somos seres dialéticos porque podemos falar sozinhos podemos pensar e refletir sobre nossas próprias ações Somos dois em um ou nas palavras de Arendt todo pensamento estritamen te falando é elaborado em solidão e é um diálogo entre mim e eu mesmo Se formos capazes de nos concentrarmos nesse diálogo interior não só descobriremos as possibilidades desse frutífero aspecto da solidão para nós mesmos como também encontrare mos novas conexões com os outros Esse diálogo de dois em um não perde o contato com o mundo de meus semelhantes porque eles estão representados no eu com o qual mantenho o diálogo do pensamento HERMSEN 2020 online Outro modo de argumentar é negar a existência de uma vida interior e mental e outra exterior e corporal ao asseverar que a vida mental é parte da vida corporal e nesse caso cerebral Essa é a tese de Searle 2006 p 162 que defende que UNICESUMAR 31 A existência da consciência pode ser explicada pelas interações causais entre elementos do cérebro no nível micro mas a consciên cia em si não pode ser deduzida ou presumida a partir da mera estrutura física dos neurônios sem alguma descrição adicional das relações causais entre eles Para Searle 2006 a consciência surge a partir das relações entre os neurônios Não sabemos como essa dinâmica acontece mas é possível que a neurobiologia ainda explique esse processo Uma vez que surgiu a consciência permanece evo luindo mas sempre ligada ao cérebro Portanto não é uma espécie de segunda casa para o ser humano assim como a maioria de nós fomos acostumados a pensar Com essas questões em mente vejamos de que modo a consciência é apresentada e discutida pela filosofia da mente A noção de consciência é uma das mais importantes para a filosofia da mente e confronta o conceito de inteligência artificial Afinal até que ponto máquinas pensantes poderiam ser consideradas máquinas conscientes Existe diferença entre mente e consciência A consciência é exclusividade dos seres humanos ou também está presente nos animais Descartes já antecipou a discussão apresentada que não é nova Como dualista não acreditava que os autômatos uma espécie de brinquedo que realiza movimen tos automáticos tivessem uma atividade da mente similar à dos seres humanos Para o filósofo pensar é uma propriedade exclusiva da mente ou no vocabulário cartesiano do espírito Afirmar que é possível que existam autômatos pensantes seria novamente cair na dúvida eu existo Isso se deve visto que o pensamento é um componente do mundo não do espírito humano Portanto uma máquina nunca teria o espírito humano por mais inteligente que fosse MATTHEWS 2007 Por outro lado Alan Turing matemático e cientista da computação britânico avaliava a possibilidade de existir máquinas pensantes a partir do momento em que os seres humanos fossem capazes de definir o que é pensamento e o que é má UNIDADE 1 32 A INTERROGADOR HUMANO B HUMANO C INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL IA A quina Seu teste chamado de Teste de Turing bastante conhecido na comunidade científica consiste em justamente avaliar se um indivíduo é capaz de identificar a diferença entre um humano e uma máquina A ideia central do teste é supõese que três seres humanos se comuniquem via mensagens trocadas instantaneamente O indivíduo A seria o interrogador B seria um homem e C uma mulher A não conhece B nem C e viceversa Assim A é requi sitado a realizar perguntas para B e para C de modo a descobrir quem é o homem e quem é a mulher lembrese de que A não pode escutar a voz e nem ver B e C tudo é via mensagem No entanto B e C devem se esforçar para não serem identificados e em casos extremos devem enganar o interlocutor para que ele não descubra os seus gêneros Agora supõese que o indivíduo C foi trocado por uma máquina e o mesmo jogo foi iniciado com o objetivo de avaliar se o interrogador humano será capaz de desvendar quem é ser humano e quem é máquina Caso ele não consiga distinguir o robô terá passado no teste e se comportado como um humano Figura 1 Teste de Turing Fonte o autor UNICESUMAR 33 No entanto o teste levanta a seguinte questão o fato de a máquina se comportar como um humano prova que ela pensa por si só Ao supormos que ela pense prova a existência de consciência em seu mecanismo Outro dilema imposto é o de que teoricamente todos os seres humanos passariam em sua avaliação No en tanto o que aconteceria se algum indivíduo que não é máquina fosse reprovado no teste O que isso significa em termos da diferença entre humano versus androides A proposta do Teste de Turing é a de avaliar se um androide é capaz de se adaptar e mudar o seu comportamento com a mesma rapidez que uma mente humana Recursos tais como a mentira e a ludibriação identificam o compor tamento humano e se tornam critérios para a avaliação Esses elementos não garantem que o seu usuário seja uma máquina Mas aqui também podemos nos deparar com conclusões tão sin gulares como se uma máquina puder variar seu comportamento e fazer tudo aquilo que um ser humano faz por que continuar a considerála uma máquina E nesse caso que sentido teria con tinuar a indagar se uma máquina pode pensar Por outro lado se admitirmos que o que caracteriza o pensamento não é a realização de tarefas específicas então deveremos concluir com base no exem plo anterior que para calcular toda a folha de pagamento do INSS não é preciso pensar TEIXEIRA 2016 p 34 Logo o que caracteriza o pensamento De que forma ele se distingue da cons ciência Essas são perguntas complexas e como Turing bem demonstrou o seu esclarecimento teria muito a contribuir com a discussão sobre a possibilidade de uso da inteligência artificial No entanto ainda não temos respostas e Essas dificuldades parecem apontar para a dimensão dos problemas com os quais estamos lidando aqui pouco sabemos sobre a natureza do pensamento e muito menos acerca do que é consciência Estes são dois imensos problemas com os quais a Filosofia da Mente tem de se confrontar e sobre os quais ainda não foi capaz de produzir teorias conclusivas Mas se não sabemos o que é pensamento nem tampouco o que é consciência isto não significa que tentar abordar tais problemas mediante a investigação em Inteligência Artificial UNIDADE 1 34 seja uma tarefa fadada ao fracasso É muito difícil profetizar nega tivamente sobre aquilo que a ciência e a tecnologia poderão vir a descobrir algum dia Só para se ter uma ideia basta lembrar que no início do século XX velhas senhoras que brandiam seus guar dachuvas e até mesmo um respeitável filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein diziam com todas as letras que o homem jamais po deria chegar à Lua TEIXEIRA 2016 p 36 Devemos pensar na capacidade de desenvolvimento do raciocínio abstrato o que convenhamos somente os seres humanos foram capazes até o momento atual Para isso não se trata apenas de saber algo pois todo o ser vivo parece saber quando está com sede onde encontrar água e quando está satisfeito Diz respeito à reflexão sobre a sede à organização de mais de uma maneira de obter água à avaliação da qualidade da água e aos juízos sobre a sua necessidade e a de outros Inclusive o mais abstrato dos pensamentos é quando o ser humano metaforiza a realidade física da água ao afirmar que tem sede de alguma coisa que não seja a própria água ação que os poetas sabem fazer muito bem Também há situações em que afirmam que são a água como Jesus que disse que era a água da vida para a mulher samaritana O que é consciência Não é uma tarefa fácil definir um termo tão abstrato como consciência Muitos se recusariam a seguir essa empreitada porém é possível tomar como ponto de partida a seguinte conceituação consciência é a experiência integrada que a mente tem da rea lidade externa e interna O conceitochave aqui é o de experiência pois não há consciência sem experiência Mas não se trata de qual quer produto experiencial nos sonhos temos experiência sem che garmos a ter consciência a experiência precisa vir coerentemente unificada integrada a outras Finalmente tratase da experiência da realidade externa eou interna o que se esclarece por apelo a uma importante distinção feita pelo filósofo australiano D M Armstrong entre duas modalidades sentidos principais de consciência a per ceptual e a introspectiva COSTA 2005 p 10 grifos do autor UNICESUMAR 35 Não existe consciência sem experiência que por sua vez precisa ser integrante do mundo físico real Cada categoria de experiência revela uma tipologia da consciência A experiência interna ou introspectiva expressa uma consciência autorreflexiva e decorrente dos próprios estados mentais sob os quais o indivíduo está sujeito em determinado momento Já a modalidade perceptual ou externa está ligada à experiência que a mente tem das coisas ao redor do corpo A consciência introspectiva é capaz de acompanhar os complicados cálculos mentais para a tomada de decisão de modo a organizálos e planejálos com o objetivo de promover ações cada vez mais sofisticadas Por ser um modo de cons ciência bastante complexo suspeitase que exista somente em seres humanos Já a consciência perceptual também pode ser identificada nos animais COSTA 2005 A questão do inconsciente na psicanálise freudiana é apenas uma conjectura nos estudos da Psicologia No entanto é mantida a antiga incógnita se ainda não foi desenvolvida uma noção teórica de consciência cada vez mais é levantada a possibilidade de existência de uma inconsciência na mente humana Por outro lado não se pode deixar de questionar o fato do termo mental ter sido definido primeiramente por referência a pensamentos desejos crenças etc conscientes não implica que só possa ser considerado mental aquilo que é cons ciente Mental não significa consciente da mesma maneira como água não significa líquido Se fatos empíricos revelaram que há fenômenos com as mesmas características daquilo que se chama de mental e que não são conscientes seria legítimo considerar esses fenômenos como sendo mentais CAROPRESO 2009 p 277 O inconsciente se torna assim outra questão na referida discussão sobre a existência e a atividade da consciência na mente John Searle filósofo analítico estadunidense bastante reconhecido por seus estudos sobre a mente entende que a consciência é o conjunto de estados subjetivos de sensibilidade sentience ou ciência awareness que se iniciam quando uma pessoa acorda na parte da manhã e que se estendem ao longo do dia CARDOSO ALMADA 2013 p 223 grifos dos autores Enquanto resultado de eventos cerebrais a consciência também abrange a subjetividade do indivíduo que pensa Portanto a ação que resta é avaliar se por ser subjetiva e ex periencial a consciência pode ser verificada de maneira objetiva e científica UNIDADE 1 36 Em um primeiro momento na visão de Searle a consciência está necessaria mente ligada a um organismo vivo Isso significa que ao morrer a consciência não sobrevive já que ela é resultado de processos do cérebro e que portanto depen dem de sua sobrevivência Nas religiões monoteístas em especial no cristianismo confundese consciência com espírito um equívoco que precisa ser corrigido para que sobretudo a proposta de Searle faça sentido Assim a consciência deixa de ser uma entidade imaterial e se torna mais palpável às reflexões filosóficas Searle também identifica na consciência três propriedades inerentes e que são a base de sua compreensão qualia unidade e subjetividade Qualquer exame objetivo precisa envolver necessariamente essas três dimensões caso contrário sua meta não poderá ser alcançada Em relação à subjetividade Searle entende que a consciência é particular de cada indivíduo ou seja não se expressa da mesma forma em todos os seres humanos Cada um tem a sua forma de sentir dor cócegas e frio o que torna difícil generalizar a experiência mental humana No entanto nem todos os estados conscientes carregam o chamado qualia Por exemplo se alguém lhe perguntar como é ser uma árvore ou como é ser um celular certamente você não saberá responder visto que nunca teve a experiência de ser uma árvore ou celular É nesse sentido que por estar relacionada à experiência humana a consciência se articula de maneira íntima com os qualia Por fim a consciência é uma só em cada pessoa Ainda que possa ser dividida em camadas funcionais para facilitar a sua compreensão assim como fez o filósofo australiano David Malet Armstrong que a subdividiu em introspectiva e perceptual a cons ciência em si é unitária COSTA 2005 O entendimento das características da consciência envolve conhecer a ma neira como ela está associada aos fenômenos que a atingem No entanto Searle afirma que embora a consciência seja subjetiva a ciência é capaz de estudála objetivamente Evidentemente essa subjetividade não pode ser alcançada por meio da ciência em sua total manifestação Um sintoma sentido por uma pessoa não é sentido da mesma forma por outro indivíduo mas isso não impede que o médico a examine e chegue a um diagnóstico Em contrapartida o médico não é capaz de avaliar em que grau esse sintoma se apresenta em seus pacientes É por esse motivo que os estados conscientes têm graus de materialidade ainda que não possam ser examinados completamente pela ciência SEARLE 2016 UNICESUMAR 37 Aprendemos que a consciência é importante porque é por meio dela que sabe mos sobre a nossa vida mental É por intermédio dela que definimos explicamos e descrevemos os nossos estados mentais É por meio dela que sei que estou assistindo a uma partida de futebol um estado consciente assim como sei o quanto eu estou gostando ou detestando o desenrolar do jogo um estado autoconsciente De que modo então a consciência é estruturada Falar de estrutura global da consciência implica apontar elementos essenciais que estão presentes nela o que sig nifica que qualquer ser humano em condições normais isto é não patológicas é capaz de identificálas em si mesmo Vejamos quais são a partir dos estudos de Searle 2006 Finitude a consciência é experimentada de três modos pelos sentidos pelas sensações corporais e pelo fluxo do pensamento Quanto ao pri meiro todos nós sabemos que o nosso contato com o mundo é por meio dos sentidos e a ausência de qualquer um deles representa uma grande perda que não afeta somente a nossa condição física e social no mun do ou a nossa capacidade de reconhecer as coisas mas a nossa própria consciência pois ela fica privada daquele sentido Quanto ao segundo também sabemos que somos seres sencientes pois não temos apenas consciência de nosso corpo mas também de como ele se encontra em determinado momento Assim podemos dizer se os nossos braços estão cruzados ou relaxados por exemplo Quanto ao terceiro sabemos que por meio de nossa consciência fluem ou passam infinitos e diversas pa lavras imagens lembranças emoções sentimentos e informações por exemplo Na maioria das vezes nós os ordenamos e estabelecemos uma sequência concentrandonos em um ou em outro Em outros momentos simplesmente deixamos que fluam ou ainda parecenos que a mente está vazia sem pensamento algum o que não é verdadeiro Todo estado mental consciente é sempre de sobre e para alguma coisa Nesse sentido o provérbio mente vazia é oficina do diabo deve ser entendido como se você não cuidar do que você está pensando pode vir a pensar coisas de sagradáveis ou abrigar uma disposição ruim Isso nos leva a concluir que a capacidade de discernir entre o que é agradável e o que é desagradável é uma propriedade da consciência Unidade estar consciente é organizar as experiências que temos em re lação às coisas de modo que elas pareçam unificadas Conversamos por UNIDADE 1 38 horas com uma ou mais pessoas sobre um e o outro assunto e somos capazes de estabelecer um nexo temporal entre eles foi em um dia espe cífico e durou cerca de x horas Em cada assunto somos capazes de falar ouvirfalarouvir em uma sequência em que a fala anterior é recuperada no momento no qual estamos falando Ao final somos capazes de voltar à fala inicial e estabelecer a conclusão de nossa conversa o que é mui to importante quando estamos finalizando contratos ou respondendo a uma pergunta inicial Qualquer um que já esqueceu qual pergunta estava respondendo sabe como é essencial trabalharmos a organização do esta do consciente A mesma ação é realizada por nossos sentidos sensações corpóreas e pensamentos Quando tocamos o pelo de nosso gato não é somente o pelo é o gato inteiro sobre minha perna e sobre o sofá onde estou sentado assistindo à televisão Quando um maestro rege a orques tra ele está consciente das mãos que seguram a batuta e de que está em pé diante de vários músicos que tocam diversos instrumentos e produ zem sons variados que serão unificados em uma composição Portanto quando estamos pensando é crucial dispormos cada imagem lembrança ideia e informação em uma ordem para que não nos sintamos confusos e incapazes de qualquer entendimento e comunicação Intencionalidade quando estamos conscientes esse estado é sempre dirigido para algo ou é sempre a consciência de algo Pense por exemplo no medo Podemos estar com medo sem nenhuma razão aparente mas comumente o medo é sempre de algo ou de alguém Pode ser que você tenha medo ao passar por uma rua escura a meianoite Pode ser que o meu medo seja de que algum vampiro esteja voando a procura de uma vítima para se alimentar do seu sangue Esse pode ser um medo infun dado pois sei que vampiros não existem aparentemente Todavia o meu medo pode ser bem fundamentado se penso que aquela rua é frequentada por ladrões à espreita de uma vítima solitária e desprotegida Também posso ter medo do futuro do que acontecerá sem saber exatamente o que é Entretanto a consciência de medo é sempre medo de alguma coisa portanto é sempre intencional Sensação subjetiva a subjetividade diz respeito ao modo como estamos conscientes de nossos estados mentais Sabemos que estamos com medo por meio de um conjunto de elementos que somados expressam esse UNICESUMAR 39 sentimento os batimentos cardíacos aumentam há arrepios no corpo o estado de alerta aumenta há a vontade de correr o mais rápido possível para sair daquela situação e a imaginação toma conta dos pensamentos por exemplo Nesse sentido podemos dizer o que é experimentar algo como o medo Somos até capazes de olhar para outros seres humanos e dizermos se estão com medo Também aprendemos a explorar esse es tado mental na vida de ambos ou a representálo como é o caso de um ator ou atriz Isso gera outra questão importante seres que não são vivos não podem descrever estados conscientes de medo logo não podem ser conscientes como é o caso dos robôs Estrutura imagemfundo não somos conscientes apenas de algo mas de uma imagem representada contra um pano de fundo por exemplo Suponha que você está olhando pela varanda de um alto prédio e começa a observar tudo o que está em seu campo de visão Naturalmente você se concentra primeiro no que está imediatamente à vista e depois aumenta a sua percepção para abranger as coisas que estão em um limite em que não há como enxergar mais Pode ser que você escolha uma parte do fundo para se fixar e rejeite o que está mais próximo de si Você sabe o que está naquele local mas deseja ver apenas o que escolheu Ainda procura organizar o que está à vista casas agrupadas em ruas que emendam com avenidas até formarem um quadro geral do bairro por exemplo Nesse caso você não está tendo apenas uma experiência consciente sensorial mas organizando uma estrutura consciente para o que está percebendo Aspecto de familiaridade conscientizamonos de uma estrutura que nos é familiar não somente porque a identificamos mas também porque nos identificamos com ela Quando apontamos para um carro e dizemos esse é meu carro representamos duas coisas primeiro que eu estou familiarizado com as características do carro em questão de modo que se o meu carro é um Fiat eu não apontarei para um carro que é um Volks por exemplo segundo que o meu carro sugere um conjunto de características que outro carro idêntico não tem e são despertadas quando olho para ele entro nele e começo a dirigilo Posso dizer então que eu tenho consciência sobre o meu carro de modo que não teria de outro porque tudo nele é familiar até a disposição do banco e a posição da direção Todos nós sabemos como é ruim emprestar um carro principalmente porque cada motorista tem o seu UNIDADE 1 40 jeito de adaptar a direção o banco e os espelhos o que retira a familiaridade com que usamos o nosso carro Naturalmente fazemos isso porque temos uma consciência previamente organizada em categorias nas quais situamos as nossas experiências conscientes observar um carro por exemplo é vi sualizar categorias dadas que o identificam e não uma carroça Transbordamento nossos estados conscientes podem nos levar para além da consciência de algo que estamos identificando em um momento especí fico espalhandose para os demais sentidos para outras sensações corpó reas e para outros pensamentos até a infinitude dependendo o quanto um Eu consciente é capaz de fazer essa ação Aqui é localizada o que chamamos de experiência de transcendência ou de êxtase muitas vezes associada com a experiência religiosa mas não exclusivamente Essa experiência também não implica nenhum estado de inconsciência pois se trata apenas da mente indo além mas em um esforço mental consciente O centro e a periferia quando falamos de esforço mental consciente necessariamente precisamos mencionar o fenômeno da atenção que é a característica do estado consciente de se concentrar colocar no centro em algo enquanto os outros sentidos sensações corpóreas e pensamen tos permanecem ao redor por vezes sem serem notados É importante sabermos que eles estão presentes pois não estamos inconscientes O fato de termos uma forte preocupação com um problema não significa que os demais tenham desaparecido e à medida que aquele é resolvido concen tramos a nossa atenção nos demais Portanto somos capazes de ver o todo ainda que a nossa atenção esteja voltada para um aspecto de cada vez Limites evidentemente há limites para um estado consciente Alguém que está jogando uma partida de tênis totalmente concentrado nos movimen tos que deve fazer não está pensando no café da manhã que tomou no hotel onde está hospedado se retirou o bilhete de avião para a viagem depois da partida e no quanto estará cansado demais para qualquer entrevista No en tanto esses estados fazem parte do que ele é e se não fossem eles o jogador não teria condições de seguir vivendo ao final da partida A consciência é algo que carregamos conosco em toda a parte e pela vida toda Humor e prazer podemos falar de nossos estados de espírito como uma característica de nossa consciência ainda que nem sempre eles sejam in tencionais isto é nem sempre sabemos associar uma angústia com algo que UNICESUMAR 41 sentimos percebemos ou pensamos Ele simplesmente permanece Chama mos de humor tudo aquilo que nos afeta de algum modo ainda que não estejamos conscientes do motivo pelo qual somos afetados por ele Feliz mente a maioria de nossos humores são conscientes e sabemos nos desfazer rapidamente ou não daquele que não encontramos razão ou propósito O mesmo vale para o prazer e o desprazer Esses sentimentos são fluidos e difusos uma vez que dependem de nossos sentidos sensações corpóreas e pensamentos e ainda estão relacionados às situações em que estamos loca lizados Contudo não podemos descartar nenhum estado de espírito como se ele não fizesse parte de nosso estado naturalmente consciente CONCEITUANDO Um conceito de difícil definição é espírito Na filosofia é traduzido como a essência da vida incorpórea usada por Descartes para designar a alma racional ou o intelecto e é equivalente à mente ou consciência hoje Em contrapartida também é utilizado para indicar o sopro que vivifica ou anima o corpo às vezes substanciado isto é tendo exis tência Além disso pode representar a disposição ou a atitude humana em um sentido mais ético e existencial Fonte o autor Identidade e identificação nos processos mentais Suponha que um indivíduo necessite de um transplante de cérebro pois uma doença degenerativa consumiu o seu órgão Sabendo que esse transplante poderá salválo os médicos decidem realizálo No entanto se a mente e a consciência se localizam no cérebro então o indivíduo transplantado será outra pessoa quando a cirurgia for finalizada A pergunta pode soar estra nha mas é preciso questionar de que modo a identidade de uma pessoa está atrelada aos seus processos cerebrais Ao receber um cérebro diferente o corpo do indivíduo sentirá dor de forma diferente Enxergará as coisas ao seu redor de outra maneira Os seus mecanismos hormonais originalmente regulados pelo cérebro se alterarão Caso assim seja é possível afirmar que a pessoa continuará sendo a mesma UNIDADE 1 42 Teixeira 2016 p 37 questiona O que faz com que eu seja eu Ou em outras palavras o que me confere identidade pessoal Será meu corpo será meu cérebro que nada mais é do que uma parte do meu corpo ou será minha mente E o que faz com que eu tenha certeza de que a criatura que hoje almoça e anda na rua é a mesma criatura que ontem executou essas mesmas ações ou seja eu mesmo Suponha uma cena A em que um cirurgião troque todos os órgãos do corpo de uma pessoa menos o cérebro e uma cena B em que esse mesmo cirurgião troque apenas o cérebro da pessoa por outro Em al guma das duas cenas a identidade pessoal do indivíduo permanecerá a mesma Pensar em identidade implica basicamente pensar naquilo que constitui a mesmidade de uma pessoa ao longo do tempo Essa mesmidade permanece fixa com o passar do tempo Por exemplo suponha que um casal decide se divorciar e o advogado per gunta à mulher o motivo Ela simplesmente responde Ele não é mais o mesmo homem por quem me apaixonei Ora o que isso quer dizer O que mudou Essas perguntas realçam o fato de que a construção de uma identidade pessoal envolve alguns critérios A esse respeito existe um debate que já é bastante presente um grupo afirma que a identidade é estabelecida sob condições físicas já outro entende que a identidade é pautada em parâmetros psicológicos Os defensores das teorias físicas avaliam que a identidade é defini da por uma coisa que está presente na pessoa em termos físicos por exemplo a presença do mesmo cérebro Por outro lado os que tomam a abordagem psicológica entendem que não são os termos físicos que determinam a mesmidade de alguém mas os seus processos men tais por exemplo os traços de personalidade Além dessas existem as teorias mistas defendidas por aqueles que acreditam que a identidade é definida em termos físicos e psicológicos No entanto a discussão se concentra em definir quais termos são esses e se a perda de algum deles descaracterizaria a identidade de alguém COSTA 2005 UNICESUMAR 43 A identidade do corpo Quando uma pessoa morre é comum relacionarmos o seu corpo com quem ela era embora deixe de ser tratada como alguém presente e passe a ser defini da como uma identidade que existiu Isso evidencia que para a compreensão humana o corpo é um efeito da identidade do indivíduo Ele a carrega ao longo de sua permanência no mundo mas não a garante de modo perene Uma vez que a pessoa se vai a sua identidade também parece deixar de existir e se torna memória Essa expressão física do corpo que o torna receptáculo da mente e por conseguinte da identidade do indivíduo é tomada como um dos critérios para a definição do que a pessoa é ao longo de sua vida COSTA 2005 Para entender melhor como a questão física se exprime na formação identi tária do indivíduo basta retomarmos o exemplo apresentado no começo deste tópico a partir de outro horizonte Suponha que o cérebro de Brown seja transplantado para a ca lota craniana vazia do corpo de Johnson daí resultando uma pessoa chamada Brownson Parece óbvio que Brownson é a mesma pessoa que Brown e não a mesma que Johnson O critério prioritário para a identificação não é pois o corpo de Johnson mas o cérebro de Brown COSTA 2005 p 41 No caso apresentado o cérebro seria realmente um requisito da identidade ou um efeito dela assim como ocorre com o corpo Para respondermos devemos ima ginar uma situação em que o cérebro está sendo observado sozinho destacado do corpo Ele parece ter sido pertencido a alguém Ele sinaliza uma identidade Provavelmente não Desse modo há algo a mais do que simplesmente o cérebro para a compreensão do que constitui a identidade de alguém Outra situação se faz pertinente Uma empresa de teletransporte resolve testar em massa o seu aparelho que leva os indivíduos de um ponto A a um ponto B Ela informa que um computador escaneia toda a forma e localização das moléculas do seu corpo no ponto A e envia as informações para outro computador no ponto B que as posiciona no mesmo lugar O indivíduo teletransportado é o mesmo Agora imagine que não há transporte de moléculas por esse aparelho Na rea lidade o computador do ponto B as recria formando assim um indivíduo igual UNIDADE 1 44 ao que deu entrada no mecanismo no ponto A Nesse caso seria outra pessoa ou a mesma Articuladores da postura psicológica entenderiam que para que a pessoa fosse a mesma seria necessário existir uma conexão psicológica entre os estados mentais daquele ser que saiu do ponto A e o que chegou no ponto B No entanto essa conexão somente poderia ser reconhecida por intermédio de um vínculo físico entre o indivíduo no ponto A e no ponto B Ora não basta apenas que o critério da identidade seja satisfeito em deter minado instante temporal mas também precisa estar conectado a componentes físicos e psicológicos da pessoa Determinar qual é a natureza da identidade pes soal também é pensar acerca da subjetividade do indivíduo o que torna quem ele é e passível de ser identificado como tal Essa subjetividade passa por várias características integradoras no corpo na fala e nas ações A identidade psicológica Considere uma cena em que uma mulher acabou de sofrer um acidente de automóvel e é conduzida ao hospital em estado de coma Após despertar ela percebe que não se lembra de nada quem são os seus pais a sua família se tinha filhas ou filhos se era casada ou solteira quais foram as suas experiências de infância qual curso fez na faculdade e com o que trabalhava antes do acidente Para piorar ela também não se recorda de seu nome Podese dizer que essa mulher permaneceu a mesma após o acidente A sua identidade pessoal o que a define como quem era no mundo mudou De acordo com os defensores da abordagem psicológica ela seria a mesma se outros traços psicológicos continuassem os mesmos se ela con tinuasse com a mesma personalidade o mesmo caráter se a sua memória de habilidades do falar do agir e principalmente a sua memória proposicional de conhecimentos de crenças gerais e fa tos se conservassem não teríamos dúvida de que se trata da mesma pessoa COSTA 2005 p 45 grifos do autor É possível constatar a partir da premissa apresentada que a memória pessoal não define a identidade de alguém visto que perdêla não implica necessariamente a UNICESUMAR 45 perca dos traços constitutivos dessa mesmidade Situações diversas comprovam essa afirmação assim como quando uma pessoa diz que se lembra de vidas passadas e se identifica com personagens que já morreram Ela não deixa de ser quem é para ser de repente Clarice Lispector por exemplo Portanto a memória é para o corpo um efeito da mente Vivese e formamse memórias não o contrário Por outro lado suponha que nesse acidente a mulher tivesse perdido traços de sua personalidade seu caráter e seus estados mentais ela seria a mesma pessoa ainda que continuasse com as mesmas lembranças de sua vida O indivíduo resultante perdeu todas as suas características psico lógicas com exceção da memória pessoal Ele nada mais conhece ou sabe fazer faltandolhe qualquer personalidade caráter in tenções e afetos Vive estendido em um leito repetindo eventos autobiográficos como se fosse um gravador Admitiríamos que estamos diante de uma mesma pessoa A resposta sim parece vir hesitante COSTA 2005 p 47 Todavia a memória é um excelente recurso de identificação de eventos que per mite que terceiros avaliem quem determinada pessoa é Portanto se a mulher ao despertar não apresentasse as mesmas atitudes as pessoas de seu convívio antes do acidente poderiam lembrala de algumas de suas vivências e reeducála conforme o que acreditavam ser quem ela era Devese ensinar por exemplo que ela não gostava de comer feijão marrom que era vegetariana que adorava tomar café ao final do dia ou até mesmo como costumava lidar com as pessoas ao seu redor Entretanto isso significa que ela voltaria a ser a mesma pessoa É uma pergunta para a qual não se tem resposta Misturando abordagens Mesmo que seja possível e até sensato pensar em termos de critérios mistos ou seja uma identidade pessoal é definida tanto em termos físicos quanto psico lógicos ainda é um dilema determinar em que grau cada um desses critérios constitui a mesmidade de uma pessoa Assim supondo que seja estabeleci da uma regra em que para definir a permanência da identidade de alguém UNIDADE 1 46 é necessário que essa pessoa satisfaça certas condições como ter o mesmo corpo e as mesmas lembranças é possível questionar se esses parâmetros realmente estabelecem uma conexão causal com a identidade de qualquer indivíduo COSTA 2005 Para John Locke filósofo empirista inglês para que a identidade pessoal de alguém permaneça é preciso que a sua consciência tenha unificado as suas experiências desde o passado até o tempo presente Já foi demonstrado que só a existência das memórias não define a mes midade de um indivíduo ao longo de sua vida O que Locke propôs é conhecido como Teoria da Memória e certamente enfrentou uma série de refutações ao longo da discussão realizada pela filosofia da mente Isso se deve pois Basta supor que minha memória pode falhar e que é possível que eu não me lembre de algumas ações que executei no passado da mesma maneira que não me lembro da cor da camisa que vesti ontem na hora do al moço Será então que essas ações foram executadas por mim ou por outra pessoa E se eu tomar um porre feno menal e sair pelas ruas fazendo coisas terríveis e não me lembre de ter feito nenhuma delas no dia seguinte Estas eram objeções que se faziam à teoria de Locke já na sua época principalmente por filósofos como Joseph Butler 16921752 e Thomas Reid 17101796 Não basta ter lembranças e organizálas numa sequência temporal é preciso identificar o princípio que as torna minhas lem branças só assim poderei incorporar ao meu eu coisas que fiz mas das quais não me lembro ou não posso me lembrar TEIXEIRA 2016 p 39 O que João de Fernandes Teixeira expressa em seu comentário é que é necessária uma partícula unificadora das lembranças que as tornam particulares da pessoa Contudo essa partícula ou várias partículas é o que constitui a identidade pessoal Como ela interage com as quali dades físicas da pessoa São perguntas que certamente desvendam o longo trajeto que a filosofia da mente tem para percorrer UNICESUMAR 47 Prezadoa estudante concluímos a nossa primeira unidade Esperamos que ela forneça um embasamento suficiente para que você possa mergulhar ainda mais fundo nas questões que serão apresentadas e retomadas de forma mais complexa nas próximas unidades Apresentamos as três questões nucleares para o debate realizado historicamente pela filosofia da mente o problema mentecorpo a consciência e a identidade Inves tigamos juntos algumas teorias basilares e que tentaram refutar e problematizar a existência de uma mente autônoma do corpo capaz de pensar e de principalmente suspeitar a existência da própria realidade ao seu redor Uma vez que a mente é uma entidade tão abstrata aparentemente não era possível estudar algo em uma realidade que talvez não exista De onde a mente tira as informações para produzir os seus pensamentos Com o que esses pensamentos interagem senão com o corpo Desse modo demonstramots que a teoria cartesiana apesar de ter permanecido por tanto tempo não é suficiente para explicar os fenômenos mentais que experienciamos A Síndrome de Burnout que em uma tradução literal para o português significa quei mar por inteiro descreve o típico esgotamento físico e mental Ela é um exemplo sobre como os processos mentais afetam e são afetados pelo corpo causando repercussões na identidade das pessoas É muito comum que professores e professoras passem por adoecimento mental e a própria identidade seja colocada sob suspeita Assim há uma situação em que alguém que buscou um curso de Pedagogia por exemplo agora não se reconhece mais a mesma pessoa o que demonstra a importância do cuidado da mente para a manutenção de uma identidade pessoal sadia Os principais fatores associados à síndrome são as condições ruins de trabalho a carga horária excessiva baixa remunera ção dificuldades na gestão da sala de aula e condições desfavoráveis à organização do sistema educacional por exemplo Fonte DAgostini 2018 online¹ EXPLORANDO IDEIAS EU INDICO Assista ao vídeo do canal Saúde da Mente em que o médico psiquiatra Dr Marco Antônio Abud Torquato Júnior explica a Síndrome de Burnout e os seus sintomas UNIDADE 1 48 Também discutimos a interrelação entre a consciência a subjetividade e a identi dade de forma bastante introdutória O que permite que cada indivíduo desenvolva um conjunto de estados mentais particulares ao longo de um período é a presença da consciência que por meio dos qualia possibilita a experimentação desses esta dos mentais Avaliamos que sem essa prática é difícil a formação de lembranças as quais são fundamentais para o reconhecimento externo por parte do outro desse indivíduo Consciência sem experiência deixa de ser consciência Não só mas a identidade depende da consciência e da experiência para se fazer presente Por fim finalizamos a nossa unidade com uma problematização em relação à questão da identidade pessoal e como a sua discussão apesar de já existir há algumas décadas ainda é tão incipiente e repleta de espaços vazios EU INDICO Os vídeos da série Os SuperHumanos do Discovery Channel retratam uma mulher chamada Elisabeth Sulston que tem alto grau de sinestesia Eles evidenciam como ela funde os sentidos visualizando até mesmo as ondas sono ras e sentindo no paladar o gosto de notas musicais A relação mentecorpo ou relação mentecérebro é muito importante e necessária para a atividade profissional docente O poeta romano Juvenal no século I já dizia que a mente sã está em um corpo são Desde então esse dito se tornou um lema da boa saúde humana A partir do nosso estudo você já sabe que um cérebro sadio e uma mente bem formada são fundamentais para a construção do ser humano Há diferenças entre pensar na educação como um processo que tem vínculo apenas com o treino da mente para a aquisição de conhecimento e pensar na edu cação como uma programação neuronal que precisa apenas dos estímulos cerebrais corretos Devemos pensar nos alunos e nas alunas como seres humanos portanto mentes que pensam em ou com um cérebro que funciona bem e não como robôs programados para cumprir tarefas na sociedade Perceba que as teorias explicativas da relação mentecérebro estão na base do que chamamos de educação 49 AGORA É COM VOCÊ 1 A consciência pode ser definida como um conjunto de experiências internas e exter nas à realidade Desse modo por estar subdividida em duas representações alguns filósofos da mente entenderam que cada uma se responsabiliza por uma parte da experiência mental embora a consciência seja uma só D M Armstrong um dos mais reconhecidos filósofos da mente denominou essas experiências da consciência respectivamente de a Interna e externa b Introspectiva e perceptual c Sensibilidade e ciência d Sensibilidade e perceptual e Qualia e ciência 2 Para o problema mentecorpo foram desenvolvidas diversas teorias ao longo do sé culo XX que visavam problematizalo e esclarecêlo Por ser um dos maiores dilemas da filosofia da mente esse problema surgiu após Gilbert Ryle se opor ao dualismo cartesiano ao afirmar que a mente não é uma parte autônoma do corpo mas realiza os mesmos comportamentos Em relação à temática leia as afirmativas a seguir I O funcionalismo é uma teoria que entende a mente como uma máquina formada por comandos de entrada input e saída output os quais correspondem às atividades cerebrais II Todas as teorias mesmo o fisicalismo entendem a mente como um conceito imaterial III Para um behaviorista analítico existem graus de eventos mentais o que significa que uma sensação específica pode se manifestar de formas diferentes entre os indivíduos IV A Teoria de Identidade de Tipo segue a mesma linha de raciocínio que o beha viorismo analítico e busca confrontar o dualismo cartesiano É correto o que se afirma em a Apenas I e II b Apenas II e III c Apenas I d Apenas II III e IV e Apenas II 50 AGORA É COM VOCÊ 3 A grande problemática da teoria funcionalista se concentra no fato de que existe uma subjetividade qualitativa e fenomênica nos processos mentais que impede que a própria mente seja pensada como uma máquina que exerce uma função A subjetividade que também está presente na consciência e torna cada indivíduo singular em si mesmo é chamada de a Disposição b Identidade c Input d Qualia e Fisicalismo 4 Leia as afirmativas a seguir e julgue com V as Verdadeiras e F as Falsas I É possível existir eventos da consciência que prescindam uma experiência fática do indivíduo no mundo II John Searle entende que é possível realizar um exame científico da consciência visto que um de seus parâmetros é a subjetividade que não pode ser de forma alguma medida III O Teste de Turing é capaz de comprovar a diferença inexorável entre um humano e um androide a partir da avaliação dos seus estados de consciência Um androi de não tem consciência e um humano tem o que pode ser avaliado no teste Assinale a sequência correta a V V F b F F V c V F V d F V F e V V V 5 Na reflexão sobre a identidade pessoal a memória comporta uma função especial Um filósofo em particular criou uma teoria com base na ideia de que a identidade é formada pelo conjunto das memórias vividas no passado e no presente as quais se articulam no tempo e expõem a particularidade de um indivíduo A que filósofo estamos nos referindo 51 AGORA É COM VOCÊ a D M Armstrong b Bertrand Russel c John Locke d John Searle e Karl Popper 6 Esta unidade de aprendizagem se finda e gostaria que você estudante realizasse o se guinte mapa de empatia expressando as suas reações pensamentos e sentimentos em relação ao conteúdo estudado Para isso indicarei por meio de perguntas um caminho para que você construa o seu próprio mapa de empatia As questões são as seguintes O que você pensou e sentiu enquanto estudava os temas da unidade de aprendi zagem O que você já ouviu ou viu alguém dizer sobre os temas da unidade de aprendizagem O que você gostaria que fosse acrescentado aos temas da unidade de aprendizagem O que mais te motivou e o que mais te desmotivou no estudo dos temas da unidade aprendizagem O esquema a seguir tem o objetivo de fazer você construir eou colocar no papel as res postas sobre os questionamentos indicados Sintase à vontade para criar mais conexões caso você tenha mais informações a indicar no seu mapa MEU ESPAÇO 2 ESTADOS MENTAIS E SUAS PROPRIEDADES Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade nosso ponto de partida reside no reconhecimento de que temos uma vida mental em conjunto com uma vida física Além disso sabemos que a vida mental opera de certo modo com características próprias as quais permitem falar de subjetividade algo diferente de um cérebro que opera com as suas próprias carac terísticas Inicialmente você será apresentado à natureza de nossos estados mentais Não será expresso exatamente o que fazem mas o que são uma espécie de ontologia dos estados mentais com retomada das teorias filosóficas da mente Depois você estudará as operações mentais A primeira delas é chamada de sensação a segunda é a memória e junto dela você também examinará o inconsciente 54 UNIDADE 2 Leia a seguinte história real Degustadores de café são comuns nas regiões cafeeiras assim como os degustadores de vinho A história de Francisco Donizete Cruz como degustador de café há 33 anos diz respeito ao assunto que estamos tratando Ele já experimentou mais de 3500 xícaras de café em um só dia Na degustação não se pode engolir o café De pois de manipulado na boca ele é cuspido em um recipiente antes de seguir para a próxima xícara O trabalho de Francisco consiste em avaliar as características da bebida a partir do grão torrado e moído ao afirmar se é suave forte ácida e doce por exemplo Francisco usa para isso o contato da bebida com a boca e a língua TIEPPO CHEREM 2015 A história de Francisco nos apresenta um grande desafio como entender a relação entre o sentido propiciado a partir da degustação realizada pela boca e pela língua a fim de avaliar o respectivo café afir mar se é suave forte ácido ou doce por exemplo e a memorização que permite que Francisco seja um degustador profissional de café Suponha que você pergunte ao Francisco Como você definiria a sensação de sentarse à mesa da varanda de sua casa no fim de tarde e dispor de um bule de café fresco fumegante junto de uma broa de milho que acabou de sair do forno a lenha Certamente a expressão de Francisco seria espetacular e a sua resposta seria Inexplicável Só estando em meu lugar para saber o que eu sinto Pense como um filósofo ou filósofa da mente você está diante de Francisco que afirma ter consciência de si mesmo como um Eu que sabe ter uma vida mental com qualidades ou propriedades em conexão direta com os seus sentidos as sensações Além do mais essas sensações são elaboradas em conjunto com as suas memórias e não estimulam apenas uma vida interior totalmente percebida por ele mas permite que ele exerça uma atividade no mundo ex terior que depende inteiramente da operacionalidade de sua vida mental Mais instigante ainda é a resposta de Francisco à sua per gunta Inexplicável A filosofia da mente denomina essa sensação de quale que explica uma forma pessoal de sentir o mundo e é uma das questões fundamentais que você conhecerá nesta unidade UNICESUMAR 55 Convidolhe a fazer a seguinte experiência peça ao maior número de pessoas que puder para ouvir uma música escolhida por você Depois faça três perguntas quais sensações essa música desperta em você Você saberia explicar a causa des sas sensações Como você se identifica com essa música Você saberia explicar se essa identificação está relacionada com alguma recordação Depois de obtidas as respostas faça a você mesmo a seguinte pergunta o que as respostas dizem a respeito da capacidade das pessoas de construírem uma vida mental a partir de suas sensações e memórias Agora registre a sua resposta a partir das reflexões que realizou Procure pensar de que maneira você se se apropria das coisas que estão no mundo tor nandoas conscientemente suas Como a sua identidade se forma a partir dessa consciência Como essa consciência que se forma constitui as suas crenças sobre o mundo e sobre si mesmo A memória faz parte da consciência de que maneira as suas lembranças participam de sua consciência e ajudam a compor a sua iden tidade e por sua vez as suas crenças sobre o mundo e sobre si mesmo DIÁRIO DE BORDO 56 UNIDADE 2 Mente e cérebro são os dois termos utilizados para descrever o ser humano uma vez que ele é composto por ambos Já os antigos usavam as expressões alma e cor po ou substância imaterial e corpo material Ainda que sejam feitas distinções entre mente alma e substância imaterial o mesmo não acontece entre cérebro corpo e matéria O que sabemos a nosso respeito é que processamos alimentos o ar que respiramos os líquidos que consumimos e as informações que nos vêm pelos sentidos Entretanto também sabemos que temos gostos diferentes para os alimentos elaboramos fórmulas para medir a qualidade do ar usamos os líquidos de acordo com as funções que lhes são atribuídas e formulamos juízos e análises acerca das informações que recebemos dos sentidos Em outras palavras isso sig nifica que temos uma vida mental junto de uma vida física Legitimamente você pode perguntar se a vida mental tem algo de diferente da vida física o que pode ser chamado de subjetividade Esse elemento será examinado nos tópicos adiante É mais fácil explicar o cérebro do que a mente Você já sabe o que é o cérebro pois já se habituou com a sua descrição biológica que afirma que se trata da massa que ocupa o nosso crânio pesa 13 kg e a aparência é do interior de uma noz Assim como é visível na imagem você consegue enxergar o seu cérebro desde que equipado com os devidos instrumentos Contudo você poderia dizer o mesmo da mente Evidentemente você poderia explicar que a mente é o mesmo que o UNICESUMAR 57 cérebro de modo que na realidade não há algo como a mente Nesse caso você é um ou uma monista pois defende que o ser humano é composto somente de cérebro que é parte do corpo Não só mas você também é um ou uma materialis ta porque entende que o único item existente no ser humano é a matéria tendo em vista que o homem é um composto químicobiológico Você ainda poderia afirmar que a mente está no cérebro e ocupa um lugar nele como o cerebelo por exemplo Também poderia defender que ele se con centra nas redes neuronais e nas trocas sinápticas que percorrem todo o cérebro ininterruptamente Em ambos os casos você assume a existência da mente ainda que a identificando com o cérebro mas jamais distinta dele Nesse caso você é um ou uma reducionista pois está fundindo a mente com o cérebro ainda que reconheça uma distinção entre eles Todavia visto que até o momento as neu rociências não descobriram um lugar para a mente no cérebro é mais razoável pensar que ela funciona no próprio cérebro assim como um programa funciona em um computador Agora você é um ou uma reducionista funcionalista EU INDICO Acesse o QR Code e confira uma animação em 3D que mostra um pouco o funcionamento dos neurônios e dos neurotransmissores ação que os nossos olhos não veem Se esse fato é pouco para reconhecer a mente como algo à parte do cérebro mas contido nele é preciso aceitar a explicação de que a mente emerge do cérebro e tem a sua existência separada dele Portanto a mente é uma coisa e o cérebro é outra Diante disso você será um ou uma dualista porque entende que mente e cérebro apesar de estarem juntos são e existem de modos diferentes um do outro já que cada um tem as suas respectivas propriedades ou qualidades Perceba que em nenhum dos casos você deixou de ser materialista apenas não é mais um ou uma monista Segundo esse ponto de vista você é um ou uma dualista de propriedades Aparentemente tudo foi estabelecido e é uma questão de escolha No entanto não é bem assim Teixeira 2008 explica alguns problemas resultantes de uma e de outra posição assumida De acordo com o estudioso o monista acredita que tem razão porque quando sonha ou tem um ataque de fúria as áreas do cérebro são 58 UNIDADE 2 acionadas ou é aumentado o nível de adrenalina Assim o monista pode apontar para as imagens de uma ressonância magnética ou de uma tomografia do cérebro por exemplo e evidenciar que algumas partes foram afetadas por um acidente vas cular cerebral AVC o que explica o motivo pelo qual alguém desaprendeu de falar A questão é a seguinte os instrumentos de captação do funcionamento do cérebro não explicam o motivo pelo qual alguém sonha determinado sonho ou porque está sentindo raiva Ainda mais quando alguém observa a imagem do seu cérebro ela é semelhante a qualquer outro cérebro de qualquer ser humano existente no planeta Diante disso Teixeira conclui que 2008 p 1112 A interpretação física de fenômenos mentais não participa de nossas experiências subjetivas no máximo podemos traçar algumas corre lações mas estão não explicam a passagem entre o físico e o subjetivo Não podemos de dentro da nossa mente saber o que a produz Nosso cérebro está tão fora de nós quanto o resto de nosso corpo Há duas realidades que não se comunicam de um lado nossa mente e nossos estados subjetivos de outro o cérebro estudado pela neurociência Já o dualista acredita que está correto tendo em vista que insiste na existência de processos mentais que não estão sujeitos ou dependentes de processos cerebrais Se você sonha é sempre o seu sonho e não o de outra pessoa Se você sente fúria é sempre devido a algo que a provoca O fato de alguém desaprender a falar não sig nifica que ela deixou de se comunicar dado que ela simplesmente pode encontrar outro jeito de realizar essa atitude enquanto a motivação certamente não é ce rebral Já o fato de a imagem tomográfica do cérebro ser da pessoa evidencia que ela carrega algo que não redutível ao cérebro mas tem consciência de que é algo dela ainda que seja igual a qualquer outra imagem de cérebro no mundo Tudo isso provoca outro problema a pessoa se identifica com a imagem do cérebro que está diante dela porque a própria imagem e o processo inteiro desde as dores de cabeça a ida ao médico as consultas e os exames são conscientes A pessoa realiza todas essas ações com o intuito de saber qual é o problema presente no cérebro que precisa ser corrigido De fato parece impensável que sozinho o cérebro seja responsável por todo o processo De acordo com Teixeira 2008 p 13 a ciência é produto de nossa consciência e assim sendo podemos perguntar até que ponto ela poderia explicar nossa própria consciência sem girar em círculos UNICESUMAR 59 Entretanto ainda não foi resolvido o problema em favor ao dualismo de pro priedades Se você retira a consciência do cérebro para colocála na mente esta não sendo material não tem lugar peso ou massa Portanto onde está a mente O que ela é O que ela faz Isso faz com que você volte ao dualismo cartesiano que é chamado de dualismo de substâncias Em outras palavras se existe algo que chamamos de cérebro que é dotado de funções físicas neuronais deve haver algo que chamamos de mente que intencionalmente pensa sente escolhe e se identifica com os processos cerebrais Não só mas é capaz inclusive de examiná los e dizer algo a respeito Segundo Teixeira 2008 p 18 essa marca deixada pelo cartesianismo no mundo ocidental moderno estabeleceu a divisão do mundo em duas partes de um lado há uma imagem do mundo e da mente visto pelo lado subjetivo interior e de outro uma imagem do mundo e da mente vistos pela ciên cia algo objetivo e externo público Haveria uma solução para essa situação Um filósofo que trabalhou intensamente a questão exposta foi John Searle 2006 Questionar o que é a mente como a conhecemos e o que ela faz não é o mesmo que perguntar o que é o cérebro como o conhecemos e o que ele faz No entanto o fato de serem elementos distintos não significa que você não pode e não deve fazer essas perguntas As respostas serão apenas diferentes O primeiro argumento utilizado por Searle 2006 é apoiado na consciência de que você tem os seus estados mentais Sem consciência eles não podem ser identificados Portanto se temos estados mentais é por que estamos conscientes deles Evidentemente isso não significa que você está o tempo todo consciente mas até mesmo os seus estados mentais inconscientes dependem de seu estado mental consciente Caso contrário não poderia chamálos de conscientes O segundo argumento de Searle 2006 é o de que há coisas no mundo que existem e podem ser objetivamente observadas mas há outras que não são assim porque parte da realidade é subjetiva Você consegue observar os efeitos no cérebro de alguém quando está comendo uma macarronada Contudo quando essa pessoa afirma que não gosta de colocar queijo ralado sobre o macarrão essa preferência não aparecerá em lugar nenhum do cérebro O gosto é algo subjetivo ou seja você não consegue ver mas sabe que está presente em algum lugar do indivíduo Em seu terceiro argumento Searle 2006 defende que conhecer os estados mentais por meio da observação do comportamento de alguém é algo bastante arriscado e ao fim uma tarefa impossível Se você está observando uma pessoa comendo uma macarronada e repentinamente ela faz uma careta você pode alegar que ela sentiu algo ruim porque trabalhamos com a associação entre causa e efeito 60 UNIDADE 2 Em contrapartida talvez ela tenha pensado sobre algo que aconteceu mais cedo e que a aborreceu bastante e simplesmente está tentando se desfazer daquela lem brança logo quando está comendo uma macarronada tão prazerosa Searle 2006 explica que você não começa a estudar algo pelo método de estudo mas por aquilo que esse algo é Dessa forma você descobre o melhor modo de estudálo O quarto argumento de Searle 2006 assevera que qualquer coisa que você saiba ou diga sobre si mesmo e sobre a realidade física do mundo é bastante limitada e até mesmo mal formulada se feita em termos de um dualismo É simplesmente um erro gigantesco afirmar que você sabe tudo a seu respeito enquanto um ser vivo que habita o planeta onde nasceu e certamente morrerá Também é um erro enorme dizer que tudo o que existe é físico porque é concreto dado que você está deixando de lado muitas outras coisas que são concretas mas não são físicas tais como as letras do alfabeto e as palavras que você forma com elas as notas musicais de uma canção que está ouvindo os planos que você está fazendo neste momento ou as reformas econômicas de um governo Assim se você reduz os estados mentais a estados físicos ou cerebrais está reduzin do e empobrecendo enormemente a realidade na qual vive Se você divide a existência em se é físico então não é mental e se é mental então não é físico está cometendo o mesmo erro Todavia não sabemos se a realidade é mais do que isso Talvez ela não seja nem estados físicos nem estados mentais mas uma junção de ambos Quando você se recorda da última vez que sentiu uma grande alegria tratase de algo inteiramente imaterial mas que mexe com o seu corpo pois você demonstra essa alegria sorrindo pulando dançando abraçando alguém ou algo parecido O pensamento que é algo mental não pode ser separado das manifestações corporais Portanto certamente há uma conexão entre mente e corpo e por extensão o cérebro PENSANDO JUNTOS Que tal conversarmos um pouco sobre a nossa vida mental Neste podcast explicaremos como os nos sos estados mentais nos distinguem dos processos cerebrais e ainda das demais pessoas A pergunta é o que chamamos de vida mental Como ela define a nossa subjetividade Para saber a resposta não dei xe de acompanhar o que preparamos para você UNICESUMAR 61 Procure por uma imagem para repre sentar a subjetividade e você não a en contrará a não ser aproximações muito forçadas Normalmente são encontradas expressões corporais fisionomias do ros to um dedo apontando para a cabeça as mãos colocadas sobre a cabeça ou uma posição vaga e indefinida do olhar como se a pessoa estivesse desconcentrada É comum associarmos a subjetividade com as características de alguém ou seja seus interesses metas planos e gostos As sim o subjetivismo é usado para indicar uma redução das coisas à existência do sujeito a fim de saber como o que ele percebe diz ou se comporta sobre elas Nesse caso costumase afirmar que as subjetividades moral estética e religiosa por exemplo por partirem do sujeito não podem ser entendidas como objetiva mente e factualmente existentes no mundo Por outro lado usavase na Idade Média o termo subjetivo para designar algo que não tinha uma existência real mas que só existe na interioridade do indivíduo No pensamento moderno sob a influência do idealismo alemão a palavra recebeu outro significado Desde então objetivo é tudo aquilo que diz respeito a um objeto e que descreve a realidade das coisas no mundo Você apanha uma caneta e ela tem forma volume peso e permite que você faça várias coisas com ela pois existe à parte de você Já o subjetivo é o modo como você expressa a sua relação com essa caneta por meio do pensamento Ela deixa de estar fora de você e passa a fazer parte do seu mundo Assim você pode fazer várias coisas com essa representação mental da caneta que não poderia fazer fora de sua mente Ainda mais você pode ter uma relação com a caneta que é totalmente e exclusivamente sua Além de dizer essa caneta é minha estabelecendo uma diferença entre esse objeto e os demais você pode relatar uma história sobre essa caneta Por exemplo alguém querido pode ter dado a você ou ela faz parte de algum acontecimento importante de sua vida Nesse contexto a relação com a caneta deixa de ser apenas uma representação mental para se tornar uma expressão de quem você é 62 UNIDADE 2 Portanto a subjetividade diz respeito a um Eu que pensa sobre e a partir de si mesmo Teixeira 2008 p 85 a define como nossa morada o lugar cercado por fronteiras imaginárias que formam o perímetro de nosso eu Já Abbagnano 2007 p 922 explica que ela se trata do caráter de todos os fenômenos psíquicos enquanto fenômenos de consciência que o sujeito relaciona consigo mesmo e chama de meus É em consequência disso que a subjetividade é vinculada à autoconsciência você sabe que sabe de si Esse foi o ponto de partida para o filósofo francês René Descartes afirmar a sua frase mais popular Cogito ergo sum penso logo sou Ao seu redor você tem um corpo que se divide em infinitas partes deteriora e morre mas você está refugiado em si mesmo O cogito ou Eu que penso vem antes de qualquer conhecimento por isso ele não precisa de nenhuma mediação Se fosse uma autorreflexão necessária para que você soubesse que é você mesmo quem está refletindo haveria um círculo vicioso infinito Por outro lado quando você fala eu penso outras coisas são implicadas Você só pode fazer isso em relação a alguma coisa no mundo nesse caso a você mesmo mas poderia se referir a outra coisa também Por outro lado quando você diz eu me conheço também está dizendo eu me reconheço Em outras palavras você tem consciência e sabe que há algo como você Você sabe que existe e não apenas mas que existe como você o que permite falar sobre uma identidade Você pode falar desse algo como se fosse você mesmo IBER 2012 De fato não existe consciência de algo sem a autoconsciência Todavia esse Eu pensante não é algo separado de si mesmo De certo modo é o saber sobre si mesmo que o faz saber que existe assim como é o conhecimento sobre as coisas que há no mundo que o faz consciente de que conhece essas coisas Nesse processo o Eu que pensa e a coisa que é pensada estão juntos conhecendo se um ao outro O passo inicial para esse modo de entender a subjetividade foi dado pelo filósofo alemão Wilhelm Dilthey De acordo com o estudioso a subjeti vidade entendida como a vida mental do sujeito é objetivada para dentro do seu ambiente vital que é acessível aos seus sentidos e à sua experiência no mundo e modelada por meio da sua ação O mundo está fora da mente humana mas o que dá sentido e define o agir humano está dentro da sua mente ALBERTI 1996 O Eu que pensa incorpora e interioriza as suas vivências no mundo e a partir desse processo constitui a sua identidade ao reconhecer a si mesmo como aquele que viveu essas experiências no mundo Por sua vez essa identidade o ajudará a interpretar e a compreender o mundo de onde as suas vivências foram retiradas UNICESUMAR 63 O mesmo processo se repete nos demais seres humanos do mundo uma vez que esse também é o lugar onde se dão os encontros vivenciais de múltiplos Eus pen santes Desse modo você pode falar não apenas de subjetividades mas também de intersubjetividades à medida que elas se encaixam umas às outras tornando a vida confortável para todos por intermédio do compartilhamento mútuo e constituindo o que chamamos de vida humana ALBERTI 1996 Seguindo a proposta de Dilthey temos outro filósofo alemão Martin Hei degger para quem o Eu pensante está no mundo surpreendendo e sendo sur preendido por ele e nele Ele agora é um ser que compreende a si mesmo à medida que entende o mundo e os demais seres à sua volta Por isso o olhar her menêutico é primordial e ontológico ele ocorre antes da separação entre sujeito e objeto ALBERTI 1996 p 12 Nesse sentido a interpretação da vida no mundo ou a pergunta o que há no mundo não pode ser respondida separadamente do Eu pensante que a faz Ao contrário ele já tem certas noções adquiridas a partir de sua própria vivência Quando ele conhece o mundo pode partir de um caminho com a chegada já predefinida pelo ponto de partida ou pode partir do mesmo caminho com a chegada aberta às múltiplas possibilidades de experiências não sabendo exatamente onde será e quando se dará o ponto de chegada Seguindo Heidegger mas com as suas particularidades o filósofo alemão HansGeorg Gadamer expôs que o ser humano não se trata de um Eu pensante que se formula à medida que experimenta o mundo A experiência no mundo é o que o torna o Eu em que ele é Experiência é o conceito central entendida como o processo dedutivo que possibilita a representação ou a descrição da to talidade da vivência no mundo Há portanto uma hermenêutica da facticidade interpretar o mundo é interpretar a condição humana somados os elementos históricos e culturais nele presentes STEIN 2004 Em resumo o Eu pensante depende de uma condição hermenêutica no mun do que estabelece as relações entre o que ele sabe quem é e o que o mundo diz para ele quem ele é Compreender essas relações isto é perceber como se pratica o jogo entre o Eu pensante e o mundo que o envolve entre o que se conhece e o que pode vir a conhecer chamase interpretação MORA 2001 Abordemos o tema de outra maneira Suponha que você está observando al guém sentado em uma cadeira com um livro sobre a mesa Essa pessoa parece bas tante concentrada em sua leitura À qual dos elementos à sua frente você atribuiria uma vida mental Certamente não seria para a mesa nem para a cadeira e nem 64 UNIDADE 2 para o livro Você não pode afirmar que esses itens têm uma mente Todavia em relação à pessoa que está diante de você é diferente uma vez que você consegue fazer perguntas sobre ela tais como qual livro ela está lendo Ela está gostando da leitura Está aprendendo alguma coisa Além disso você pode visualizar o movi mento do seu corpo apesar de as suas perguntas serem direcionadas para o que está acontecendo com ela qual é o seu interesse naquele livro Será que poderemos conversar sobre o que ela leu depois Agora você observa que ela apanha um lápis e marca uma página do livro Depois escreve algumas frases em uma folha de papel Ainda de novo você se pergunta o que será que chamou a atenção dela O que ela fará com essas anotações na folha Você continua observando agora o rosto dela que se modifica à medida que a leitura segue ora cansado ora distraído ora desperto e alegre Você se pergunta o que move a sua fisionomia Por fim surge a pergunta crucial o que ela está pensando Esse experimento é o suficiente para afirmar que diferentemente da mesa da cadeira e do livro a pessoa tem o que chamamos de vida mental ou assim como Matthews 2007 p 59 grifos do autor explana Podemos chamar isso de a subjetividade do mental Sou o sujeito de minha própria vida mental Eu sou a pessoa que tem esses pensamen tos sentimentos desejos etc e nenhuma vida mental pode existir sem que seja a vida mental de alguém não pode existir um pensamento sem um pensador um sujeito A nossa vida mental sempre diz respeito a alguma coisa concreta ou abstrata pes soal ou impessoal necessária ou não mesmo que esse elemento seja claro e realista ou vago e indefinido Observe a experiência mental da ausência a partir da percep ção de que algo que estava ali em nosso mundo físico não está mais um celular uma roupa um emprego ou uma pessoa querida que morreu Essa percepção é um gatilho que dispara uma multidão de pensamentos O curioso e aterrador em mui tos casos é o fato de que somos capazes de manter vínculos mentais com aquela au sência mesmo depois de dias meses e anos da experiência original Essa experiência de ausência também afeta o nosso humor por meio de pensamentos de alívio de angústia ou de depressão Esses pensamentos podem indicar um adoecimento de nossa vida mental o que demanda atenção cuidado ou até mesmo tratamento Matthews 2007 p 59 grifos do autor explica que um pensamento é essencial mente sobre alguma coisa e podemos distinguir um pensamento de outro apenas UNICESUMAR 65 por meio da distinção a respeito de que eles são Contudo o estudioso questiona o fato de que certos pensamentos são simplesmente sobre nada ou seja não carregam uma referência sobre algo Dois exemplos dados são a dor e a depressão MATTHE WS 2007 Embora consigamos localizar a dor em alguma parte do corpo e até da mente a intensidade com que as pessoas a sentem e o modo como lidam não são físicos mas subjetivos desde aqueles que são intensos até aqueles que sofrem a dor calados Essa atitude é mental e não tem relação necessariamente com a dor visto que não é sobre ela mas sobre como alguém lida com o sentimento Isso também vale para a depressão com o acréscimo de que nem sempre essa doença focaliza em algo pois alguém pode estar deprimido sem uma razão ou causa aparente A dificuldade reside quando você deseja saber o momento e como a pessoa está usando a sua mente e quando é apenas um fenômeno físico material ou cor póreo Contudo você já percebeu que separar ambas as coisas é desaconselhável e desnecessário Se para cada ação precisássemos que a pessoa nos dissesse o que estava pensando porque seria impossível saber por nós mesmos tendo em vista que as nossas mentes seriam inacessíveis uns aos outros e somente comunicáveis a partir de uma profunda introspecção a interação humana seria algo totalmente improvável Matthews 2007 p 72 sugere que a nossa vida mental é parte daquilo que manifestamos para outros sujeitos por intermédio de nossa conduta social e do nosso movimento corporal em situações específicas entendendo as pessoas como sendo criaturas que pensam sentem leem conversam umas com as outras caminham jogam futebol respiram digerem seu alimento e assim por diante Isso significa que uma simples observação do que os seres humanos fazem é o suficiente para apontar e descrever a sua vida mental Certamente não Matthews 2007 explica que o que indica a vida mental no comportamento humano é o significado que o indivíduo dá o qual não está no comportamento mas em sua mente Por outro lado esse significado se relaciona com o que ele faz de novo no mundo Suponha que chegou o momento de almoçar e você deseja comprar uma marmita Você apanha o seu celular seleciona um restaurante a comida e a paga por meio de seu cartão Para todas essas ações a sua vida mental está plenamente envolvida Agora quanto ao fato de você comer a comida essa é uma tarefa do seu aparelho digestivo que nada tem a ver com a sua vida mental exceto se ela estiver tão mal que atrapalhe a sua digestão MATTHEWS 2007 É evidente que a vida mental depende e está associada à vida corporal e social O fato de você fazer todas as operações descritas no celular tem uma finalidade 66 UNIDADE 2 você está procurando comida e utiliza o meio social que dispõe para isso que é o seu celular Também é explícito que você está mentalmente apto a dizer a alguém o que você acabou de fazer isto é você é capaz de dar um significado ao seu ato Talvez você faça isso espontaneamente sem pensar a respeito mas se a pessoa não tem a menor ideia do que seja pedir comida pelo celular você precisará ex plicar o seu processo mental Perante a pergunta por que você simplesmente não saiu de casa para ir ao restaurante são desencadeadas outras exposições de sua atividade mental que prolongarão a conversa durante muito tempo até mesmo se for necessário explicar o funcionamento das ondas que permitem a comunicação via celular algo bem mais complexo abstrato e aparentemente mais mental Diante do exposto somos seres humanos dotados de corpo e vida social que estão exercitando continuamente a sua mente para viver as suas vidas em ambos os ambientes Matthews 2007 p 77 resume o seu raciocínio ao afirmar Se dizer que as pessoas têm mentes significa dizer que se compor tam de formas significativas isso implica que a mente não é o nome de alguma coisa extra presa a seus corpos de alguma forma mas simplesmente uma maneira de nos referirmos às diversas aborda gens dos comportamentos humanos que possuem um significado Muito se fala sobre saúde mental já que a mente pode ser acometida por doenças Parte do adoecimento da mente acontece em decorrência de problemas físicos Por exemplo uma série de microinfartos no cérebro desencadeia vários transtornos mentais tais como delírios alucinações e o desaprendizado de condutas consolidadas desde a infância como comer ou tomar banho Nesses casos a medicação é a única forma de tratamento Todavia a vida mental da pessoa não está desfeita Ela apenas precisa de uma rede de apoio que a ajude ao máximo a ter uma interação humana que mantenha o mínimo de vivências para que a sua atividade mental siga atuante Por outro lado também temos situações ocorridas por restrições impostas a partir de mudanças drásticas as quais podem gerar stress ansiedade angústia medo desespe rança e depressão Esses distúrbios mentais se não tratados podem incapacitar as pes soas na realização das atividades mínimas da vida ou ainda pior sugerir o suicídio como a solução ou saída para o sofrimento mental Nesse caso a medicação não ajudará porque o que ela precisa é ressignificar mentalmente as suas vivências Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 67 SENTIDOS E SENSAÇÕES QUALIA Você deve estar se perguntando como a mente opera e como acontecem os estados mentais ou a subjetividade Vivendo no século XVIII Reid tinha um conhecimento razoável das ideias sobre o Eu pensante do filósofo francês René Descartes Elas foram desenvolvidas no século anterior e foram o ponto de partida para a filosofia da mente discutir o seu problema fundamental a relação entre mente corpo e cérebro Na história da filosofia a reflexão cartesiana ficou conhecida como idealis mo pois era cética quanto à possibilidade de conhecimento do mundo por meio da experiência dos sentidos e das sensações A sua ideia é parecida com a imagem a seguir em que pessoas vendadas fazem afirmações sobre o que é um elefante a partir dos sentidos e das sensações obtidas Tudo o que você pode saber sobre o mundo está antecipadamente em você Tratase de um tipo de ideia prévia em que você encaixa os elementos obtidos pelos sentidos e pelas sensações Sentidos e sensações Para entender melhor o que foi exposto voltemos até Descartes Durante as suas meditações descreve o seu estado como livre de todas as precauções um des canso garantido por uma tranquila solidão DESCARTES 1999 p 249 Somente agora na maturidade o filosofo percebe que passou a vida considerando verda deiras muitas opiniões equivo cadas e se dedicará com a máxima seriedade e plena liberdade a demolir em geral 68 UNIDADE 2 todas as minhas antigas opiniões DESCARTES 1999 p 249 O que o move é tão somente o desejo de conhecer o caminho da verdade que para o estudioso significa estabelecer algo sólido e duradouro nas ciências DESCARTES 1999 p 249 O caminho seguro segundo Descartes 1999 é o da dúvida ou seja o metódi co sistemático e irrefutável sobre a nossa experiência sensível O filosofo argumenta que os sentidos obtidos a partir do contato com as coisas do mundo e as sensações que são as impressões da mente provocadas por esses contatos são enganos ou ilusões Se você apanha uma pedra de gelo e sente a sua mão esfriar não é devido ao gelo da pedra mas ao fato de sentir a sua mão fria Em contrapartida até a sen sação de frio não é verdadeira porque a sua mente não pode sentir o frio de uma pedra de gelo Você já sabe que Descartes afirmava que não havia nenhuma relação entre mente e corpo portanto o que acontecia na mente não se referia ao corpo enquanto o que acontecia no corpo não tinha nenhuma repercussão sobre a mente Essa posição cartesiana veio a ser chamada de ceticismo Em sua forma mais radical ou de acordo com os seus críticos nada podemos conhecer de certo e irre futável apenas fundamentados nas experiências dos sentidos Ao final eles pouco importam Se cortássemos os nossos braços e pernas tirássemos o nariz olhos e ouvidos não haveria a menor diferença no modo como a nossa mente opera As sim a vida mental é algo totalmente inerente e introspectiva ao sujeito que pensa Você poderia perguntar a Descartes como a mente faz as suas operações e como ter acesso à vida mental do sujeito Uma opção seria dissecar a mente assim como se faz com o corpo a fim de realizar experimentações descrever as observações adquiridas e propor teorias gerais que fossem aplicadas a outros processos ou operações mentais O filósofo escocês Thomas Reid 2013 sugeriu essas atitudes ao usar a metáfora da dissecação anatômica do corpo para tratar da anatomia da mente Contudo o próprio estudioso mesmo admitiu que isso seria impossível afinal como a mente pode fazer de si mesma um objeto de exame e reflexão Reid explana que 2013 p 20 Contudo o anatomista da mente não tem a mesma vantagem É ape nas sua própria mente que ele pode analisar com algum grau de pre cisão e distinção Esse é o único sujeito que lhe é possível observar A partir de signos externos ele poderá compilar as operações de outras mentes mas esses signos são em sua maioria ambíguos e devem ser interpretados por aquilo que ele percebe em seu próprio interior UNICESUMAR 69 Mesmo que tal filósofo ou filósofa fosse bemsucedido em dissecar a própria mente ela ainda seria a sua mente Ele ou ela não poderia formular uma teoria geral das operações mentais aplicável a qualquer outro ser humano De fato a diferença entre as mentes é maior que aquela que existe entre quaisquer outros seres de uma mesma espécie que considerarmos REID 2013 p 21 A existência de outras mentes não é o único problema Cada ser humano passa por uma educação mental provida pela sociedade onde vive e que de certo modo determina o uso das operações mentais Ainda há a incapacidade da re flexão filosófica de construir uma linguagem inovadora e que abranja o aparato mental visto que a linguagem é bastante influenciada pelo aparato material A mente também não pode ser examinada a partir de sua formação na concepção do ser humano e não é possível recuperar as impressões originais da mente já que desde o início ela mescla percepções sensações e memórias Quando o ser humano se propõe a refletir sobre a mente ela já está formada o que torna im possível discernir e separar todas as suas partes quanto mais retomála desde as primeiras impressões e influências REID 2013 Evidentemente Reid duvidava do projeto cartesiano por inteiro No entan to isso não era diferente de outros filósofos britânicos conhecidos como em piristas Um deles David Hume ensinou que a experiência sensível do mundo é o único guia para a reflexão sobre qualquer acontecimento humano Com ela aprendemos que todo evento provém de uma causa que lhe deu origem e se desdobra em outras consequências que se tornam novas causas Todavia a experiência deve ser colocada à prova assim como se faz no método científico devem ser testadas todas as experiências sensíveis a fim de se obter o maior número de evidências estabelecer as probabilidades e a partir das conclusões alcançadas confirmar aquilo que apenas havíamos percebido pelos sentidos Portanto o fato de você comer uma lasanha estragada e ter uma grande dor de barriga não é uma evidência suficiente para afirmar que a causa de sua dor de barriga foi a lasanha Entre a causa e a consequência deve haver uma conexão e a sua mente deve operar de modo a estabelecêla irrefutavelmente Outro empirista britânico John Locke afirmou que o nosso conhecimento sobre as coisas é proveniente dos sentidos e das sensações Por meio dos senti dos você experimenta coisas no mundo que deixam impressões em sua mente As impressões ou ideias que você tem na mente por outro lado não as mesmas coisas do mundo À medida que novas impressões chegam até a sua mente ela 70 UNIDADE 2 opera associações que Locke 2015 chamou de sensações Lembrese de que o filósofo entende a mente como uma folha em branco onde são escritas as suas sensações Cada vez que novas sensações se formam em sua mente ela elabora ideias cada vez mais complexas constituindo um conjunto de crenças que você chama de conhecimento Agora voltemos até a Thomas Reid que rejeita tanto o idealismo cético carte siano quanto o empirismo sensível de Hume e de Locke De Descartes o estudio so discorda por acreditar que o fato de você ser algo que pensa não prova que você existe Você não pode dar uma evidência disso senão o seu próprio pensamento e se puder ainda não pode afirmar que essa mente seja a sua e não a de outro De Hume e de Locke o filosofo discorda por entender que as conexões entre uma causa e a sua consequência já estão dadas entre elas naturalmente A mente apenas reconhece isso o que é por ele chamado de sensações Isso é importante porque caso você tenha algum esquecimento sobre como o mundo funciona basta retornar à experiência sensível e reaprender com ela REID 2013 Para Reid 2013 o ser humano é um animal senciente e capacitado a perce ber o que acontece com ele no mundo que o rodeia Ao receber uma impressão por meio dos sentidos imediatamente ocorre uma sensação em sua mente que gera uma consciência sobre a situação externa que causou aquela sensação As sim a sensação estabelece uma relação direta entre a impressão dos sentidos e o objeto que você experimentou no mundo Reid chama a investigação desse processo de filosofia da mente Suponha que você esteja passando por um jardim e notou uma margarida cujo perfume despertou rapidamente o seu olfato Aquele perfume foi imedia tamente identificado por você pois a sua mente estava preparada para receber as impressões do seu olfato a qualquer momento Portanto temos duas etapas aquela em que você teve contato com o cheiro da margarida por meio do seu olfato e outra em que uma operação mental fez você consciente daquele cheiro naquele momento Doravante você sabe que há uma margarida no jardim e o cheiro que ela tem o que significa um estado mental consciente tanto do cheiro da margarida quanto de que você o experimentou pessoalmente Você pode até relatar o ocorrido para alguém REID 2013 Por outro lado suponha que no dia seguinte você passe pelo mesmo jardim e imediatamente vem à sua mente o cheiro da margarida do dia anterior Você nota que alguém a retirou talvez para presentear outra pessoa mas você é capaz de di UNICESUMAR 71 zer para alguém ou a si próprio como era o cheiro da margarida Você até mesmo consegue fechar os olhos e aspirar novamente o seu perfume Tanto o dia anterior que foi o momento em que você cheirou pela primeira vez a margarida quanto o dia seguinte data em que você se lembrou da experiência anterior asseguram que houve uma margarida com determinado cheiro que você consegue se lembrar Ambas a sensação e a lembrança são para Reid 2013 o fundamento para asse verarmos que conhecemos algo no mundo Elas são evidências para nossas crenças Além disso Reid sustenta que 2013 p 40 A evidência do sentido a evidência da memória e a evidência das re lações necessárias das coisas são todas espécies distintas e originais de evidência igualmente fundadas em nossa constituição nenhuma delas depende de ou pode ser resolvida em uma outra Tudo isso significa que a sensação e a memória da sensação são apenas conse quências lógicas de que os seres humanos são seres sencientes isto é capazes de sensação assim como só existe um pensamento porque há um pensador ou só existe um pé de jaca porque alguém o plantou Se temos sensações a partir das impressões recebidas dos sentidos o tempo todo é porque somos sujeitos dotados de uma capacidade que chamamos de mente a qual está habilitada para isso todo o tempo Essa é uma crença de que estamos plenamente conscientes REID 2013 Suponha que outra ação estava acontecendo no instante em que você sentiu o cheiro da margarida e é relembrada por você no dia seguinte Você também é capaz de estabelecer uma relação com esse cheiro que nem existia no primeiro momento e nem existe quando se lembra dele Reid 2013 denomina essa ope ração mental de imaginação dado que embora não exista na margarida na sensação nem na memória existe no modo como o sujeito se conecta com esses elementos em sua vida mental O filósofo descreve essa experiência mental do se guinte modo posso imaginar esse vaso e essa flor transportados para o cômodo em que estou sentado agora e exalando o mesmo perfume REID 2013 p 36 O que Reid 2013 insiste em afirmar é que os seres humanos são seres sen cientes ou seja dotados de uma mente ativa com a capacidade inata de sentir as coisas no mundo perceber as suas conexões naturais e a partir dessas evidências construir um conhecimento próprio de si mesmo e do mundo O que vale para o cheiro também é válido para a música que você ouve para o churrasco que você 72 UNIDADE 2 OLHAR CONCEITUAL prova para o emoji que você visualiza na tela do seu celular e para o calor que aquece a sua pele Enfim você é um sujeito pensante mas bastante ativo men talmente dado que está em interação contínua com os elementos ao seu redor OPERAÇÕES DA MENTE São os meios que o ser humano tem para captar as impressões do ambiente externo comunicandoos ao cérebro por meio do sistema nervoso central a fm de responder aos estímulos recebidos de modo voluntário ou involuntário SENTIDOS IMPRESSÕES Todo e qualquer estímulo provocado por intermédio dos sentidos que penetra em nossa mente ainda em seu estado cru e simples capaz de causar uma sensação sobre ela Assim a mente começa a operar o conhecimento SENSAÇÕES Meio pelo qual a mente reconhece as impressões recebidas do ambiente externo por meio dos sentidos sendo responsável pela consciência da conexão existente entre o Eu pensante e a apreensão daquilo que provocou a impressão MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO Memória é a lembrança de que a mente sentiu uma impressão no passado sendo então a evidência do ocorrido A imaginação é o meio pelo qual a mente faz conexões próprias entre as sensações e a sua memória estabelecendo uma relação pessoal entre ambas e o Eu pensante Você já sabe que o ser humano é senciente ou seja capaz de sentir sensações e receber impressões de forma consciente Isso indica que ele tem uma vida mental na qual apreende as conexões efetuadas pelas sensações e elabora um conheci mento de si e do mundo ao seu redor que é capaz de agir e interagir com ele No infográfico apresentado você encontra o vocabulário fundamental das operações da mente UNICESUMAR 73 Qualia O fato de você estar consciente de que possui uma mente ativa e estimulada a todo o tempo pelos sentidos corporais e pelas sensações mentais te coloca em uma situação especial e exige que você pense sobre como isso acontece A sua vida mental se trata apenas das funções cerebrais complexas do seu cérebro assim como afirmam os materialistas Como explicar que você tem consciência dessas funções Perceba que é necessário pensar que essas funções emergem do cérebro e compõem alguma coisa que é parte dele assim como alguma área neuronal ainda não mapeada pelas potentes máquinas que construímos para conhecêlo Isso te mantém no terreno das crenças materialistas Contudo você também pode afirmar que essas funções cerebrais emergem do cérebro de modo que o seu cérebro é parte dessa coisa pensante Essa coisa pensante por outro lado é um elemento distinto dele e por isso mesmo difícil senão impossível de ser mapeada por qualquer super tomógrafo computado rizado Você pode por exemplo ver uma cena tocante em um filme e chorar todas as suas lágrimas Nesse momento o sistema límbico do seu cérebro está gerando uma resposta fisiológica mas é apenas isso Agora você é um dualista mas ainda permanece no terreno materialista Suponha que você não apenas afirma ter consciência de uma coisa pensante mas que também tem qualidades ou propriedades que te colocam em conexão direta com seus sentidos tais como as sensações Além do mais essas sensações são elaboradas do mesmo modo que as suas memórias e estimulam uma vida interior totalmente imaginada dentro de você Diante disso você é um dualista ainda materialista mas admite que tem consciência de uma coisa pensante que tem a sua vida própria constitui tudo o que você pode saber sobre o mundo e sobre você e faz de você tudo o que é dotado de uma enorme e rica vida inte rior a chamada subjetividade Recorrendo ao exemplo apresentado você está tomado por uma forte emoção e as pessoas à sua volta reconhecem isso Você poderia chamar a parte referida de alma caso você acredite que o ser humano é composto por dois elementos alma e corpo Entretanto não há 74 UNIDADE 2 problema se você simplesmente não acredita nessa ideia e prefere chamar de estado ou condição de sua vida como um ser humano portador de um cére bro Teixeira 2008 p 33 grifos do autor explica que é o próprio cérebro que produz a subjetividade e os estados subjetivos mas estes nunca poderiam ser integralmente mapeados em relação a estados cerebrais O mental se sobrepõe ao físico e determina algo para além das propriedades físicas Por sua vez Nagel 2011 p 36 afirma que parece haver dois tipos muito distintos de coisas que acontecem no mundo as coisas que pertencem à realidade física que muitas pessoas podem observar de fora e as coisas que pertencem à realidade mental que cada um de nós experimenta interna e individualmente Se você está convencido ou convencida de que tem uma vida mental que emerge da sua vida cerebral mas que é distinta dela apesar de conectada por tanto você tem uma vida subjetiva Assim é o momento de refletir se você tem uma vida privada isto é acessível somente a você Se esse fato é válido para você também seria válido para qualquer outra pessoa Isso significa que partilhamos uma intersubjetividade social ou seja compartilhamos o mesmo espaço e pode mos até nos interessar por aquilo que os outros estão fazendo e viceversa mas jamais dividimos as nossas subjetividades mentais Portanto as pessoas podem entender o que nós queremos dizer sobre nós mesmos mas jamais poderão en trar em nossa cabeça para investigar a nossa vida mental ou seja o que se passa dentro de nossa cabeça A sua vida mental é somente sua totalmente privada Entendamos melhor o conteúdo por meio de um exemplo em que há dois pequenos pássaros bicando as flores de uma planta Você os observa e se per gunta qual é o gosto que a flor tem para esses pequenos passarinhos Você se propõe estudar a sua fisiologia e descobre que eles fazem isso não só para se alimentar mas em consequência do sabor adocicado das flores Observe o que você acabou de dizer você asseverou que os pássaros bicam as flores porque elas são doces Dizer que algo é doce é totalmente humano e não se aplica aos pássaros Você está avaliando as aves pela sua experiência que inclui a sua lin guagem Assim você poderia responder que teria que se tornar um daqueles pássaros caso quisesse saber o que é para eles bicar aquelas flores No entanto ainda que você se tornasse um pássaro ainda seria você como um pássaro Portanto podemos concluir que saber o que o pequeno pássaro sente quando bica as flores é totalmente impossível tornando inescrutável qualquer conhe cimento de sua vida interior UNICESUMAR 75 O termo utilizado em filosofia da mente para a perspectiva da subjetividade humana agora privada é qualia De acordo com Teixeira 2008 p 38 Os qualia apontam para a existência de elementos da experiência hu mana que seriam inescrutáveis e incomunicáveis mesmo entre seres humanos que partilham de uma mesma linguagem e de uma mesma perspectiva específica de mundo Essas experiências por serem privadas e inescrutáveis seriam apenas parcialmente descritíveis pela linguagem Mary era uma superneurocientista do futuro que sabia tudo sobre o cérebro humano Ela tinha se especializado em neurofisiologia da visão tendo escrito seu doutorado sobre esse assunto Mas havia algo muito peculiar acerca de Mary ela não enxergava nada colorido pois seu cérebro tinha um defeito de nascença Ela vivia num mundo branco e preto e tudo o que sabia acerca de cores era por meio dos livros de neurociência Mary sabia por exemplo que alguém estava enxergando algo azul por meio da detecção da freqüência de onda da cor azul do modo como elas incidem na retina e como esse tipo de estímulo modifica algumas regiões do cérebro E assim por diante Um dia acontece um fato inusitado Mary é submetida a uma neurocirurgia para recu perarse desse defeito de nascença A cirurgia é um sucesso e assim que ela acorda um tomate vermelho é colocado na sua frente Era a primeira vez que Mary via algo vermelho Em outras palavras era a primeira vez que ela tinha uma experiência do vermelho Fonte Teixeira 2008 p 41 EXPLORANDO IDEIAS Um experimento significativo para justificar o que tem sido dito sobre os qualia é a dor pois ela nos insere em uma perspectiva de que somos seres sencientes Se você tem uma dor no estômago na verdade há algo em seu estômago que te faz sentir dor No entanto quem é que sente a dor A resposta materialista ou fisicalista seria a de que a dor é uma mensagem enviada ao cérebro por meio de terminações nervosas chamadas de noniceptores e que estão sob a pele As articulações e alguns órgãos internos por meio da medula espinhal também ajudam nessa transmissão Quando o sinal chega ao tálamo o cérebro traduz aquela mensagem em forma da dor O curioso é que o próprio cérebro não tem terminações nervosas portanto não sente dor apenas a indica para o resto do corpo Nesse caso de fato não existe algo como a dor apenas movimentos neurobiológicos comandados pelo cérebro 76 UNIDADE 2 Já a resposta dualista seria a de que a sensação de dor é a típica reação a algo que se percebe de errado por meio dos sentidos É exigido um sujeito consciente para que isso seja possível O que os materialistas descrevem como dor é algo inconcebível diante de um sujeito consciente e pode indicar a reação de um ca dáver recente em que o cérebro ainda exerce as suas funções Se você o espetar com uma agulha ele reagirá de algum modo mas apenas Não há ninguém para dizer que está doendo Isso significa que perceber um beliscão algo externo não é o mesmo que sentir o beliscão algo subjetivo e privado porque a sensação é somente sua Miguens 2009 p 178 assevera que há portanto uma dualidade entre sentir e perceber embora usualmente indiscerníveis em nossa vida mental eles podem no entanto desacoplarse Por exemplo vermelho é a sensação mas também a cor percebida de uma pétala Por outro lado quando você sente algo você é capaz de apontar o local da dor no corpo mesmo estando dentro dele Muitas pessoas sentem dor na mente como as que estão com depressão por exemplo Vejamos o conteúdo por outra perspectiva Quando você coloca a mão em uma panela quente imediatamente a retira Se alguém pergunta o motivo pelo qual você tomou aquela atitude você responde que é porque doeu Denominar essa reação de dor pode ser apenas um modo de explicar uma atitude natural e automática do seu corpo Ela nada diz sobre si mesmo Talvez por exemplo você tenha medo da dor ou não sabe lidar com ela Ela não é pessoal Contudo será que é isso mesmo Sentir e agir conscientemente é sentir e agir a partir de uma causalidade e ser capaz de dar uma justificativa racional para isso Se diante do fogo aceso no fogão você retira a mão é porque percebe um perigo o qual pode estar até relacionado a uma memória passada de quando se queimou em um fogão Você até poderia trazer de volta essa memória como um relato para alguém Entretanto há algo a mais Suponha que você observa que a pessoa ignora o perigo e a alerta para não se aproximar do fogo aceso você fica satisfeito consigo porque acabou de evitar que alguém se queimasse Portanto sentir e agir conscientemente é observar as outras pessoas ou seres vivos como o seu gato que pode estar chegando perto do fogo aceso conversar e tomar as atitudes que beneficiarão tanto eles quanto você UNICESUMAR 77 Memória e Inconsciente Você aprendeu que as sensações são impressões dos sentidos que nos chegam até a mente quando passamos a ter consciência delas Portanto a sensação é uma operação mental Suponha que na noite anterior tenha plantado sementes em minha horta Talvez elas tenham nascido mas eu não tenho a menor ideia porque quando fui dormir isso ainda não havia acontecido No entanto quando as vejo pela manhã percebo que elas nasceram e doravante formouse um novo conhe cimento ou crença assim como Thomas Reid e os empíricos gostavam de dizer para ocupar o meu pensamento Essa também é uma operação de minha mente Em situações normais da nossa vida mental continuarei lembrando do dia em que vi as plantas recémbrotadas Duas coisas chamam a nossa atenção sobre esse fato a memória também é uma operação mental e ela me explica que o fato de eu me lembrar de algo que aconteceu há dias semanas ou meses demonstra que eu sou aquela mesma pessoa Portanto a minha memória é a garantia da subjetividade e da privacidade do meu Eu pensante Nas palavras de Reid 2013 p 36 grifos do autor Uma sensação um cheiro por exemplo pode se apresentar à mente de três maneiras diferentes pode ser cheirado pode ser lembrado pode ser imaginado ou pensado No primeiro caso é necessaria mente acompanhado de uma crença em sua existência presente no segundo é necessariamente acompanhado de uma crença em sua existência passada e no último não é acompanhado de crença alguma mas é o que os lógicos chamam de uma apreensão simples Ainda que atos de nossa mente sensações e memória sejam claramente discer níveis pois sabemos dizer em situação normais o que está acontecendo agora e o que aconteceu ontem Reid 2013 chama ambos os relatos de testemunhos ou evidências de nosso Eu pensante que fundamentam as nossas crenças isto é o nosso conhecimento de mundo Se me perguntarem por que creio que o cheiro existe não posso dar nenhuma outra razão tampouco seria capaz de dar outra razão senão a de que eu o sinto Se me perguntarem por que creio que ele existiu ontem 78 UNIDADE 2 não posso dar nenhuma razão além de que eu me lembro dele REID 2013 p 37 Crer nesse caso é simplesmente saber a partir da evidência o que é chamado de senso comum A evidência do sentido a evidência da memória e a evidência das relações necessárias das coisas são todas espécies distintas e originais de evidência igualmente fundadas em nossa constituição REID 2013 p 40 Você pode se perguntar se eu formo uma crença sobre o mundo a partir da sen sação e da memória por meio das experiências dos meus sentidos o que acontece com as coisas do mundo das quais os meus sentidos não têm experiência Primeira mente a sensação e a memória são acompanhadas da crença ou do conhecimento que nos ajudam a formar juízos sobre as coisas o que chamamos de raciocínio A partir deles voltamos ao mundo externo e às experiências dos sentidos em um ciclo que nunca finaliza Não estamos nus mentalmente mas vestidos de nossos juízos e eles nos ajudam a perceber intuitivamente o mundo dos sentidos tanto os objetos quanto as conexões entre eles No caso das sementes que brotaram em minha horta eu tenho outras sementes semeadas e agora posso aguardar ansiosamente para que elas também brotem visto que estou preparado para isso em minha mente No tópico anterior examinamos o papel dos sentidos e das sensações em nossa vida mental que são operações do nosso Eu pensante Agora investigaremos o papel da memória e de sua contraparte o esquecimento e o inconsciente Deixaremos para a próxima unidade o estudo do papel da imaginação em conjunto com as emoções UNICESUMAR 79 A memória como operação da mente Memória é a operação de nossa mente que gera crenças ou retoma conhe cimentos passados de modo a têlos isto é busca trazêlos para o presente Pitorescamente chamamos essa operação de puxar pela memória devido a alguma situação presente Agora entenda o que se quer dizer por conhecimen to passado Isso diz respeito a algo que sabemos que já aconteceu porque já o processamos por meio de alguma sensação presente Nesse sentido esse saber já esteve disponível para você um dia e pode ser acessado por intermédio do exercício da memória ABBAGNANO 2007 Esse conhecimento passado uma vez trazido para o presente é novamente percebido e você tem consciência dele aqui e agora Entretanto assim que você não mais dispor ele volta para o seu passado agora complementado por seu uso presente Suponha que você aprendeu a calcular a regra de três mas nunca mais precisou usála Em contrapartida agora você precisa fazer um cálculo e ela é necessária Assim você retoma o que foi aprendido faz o seu cálculo e devolve a regra de três ao seu lugar em sua memória com um aditivo de que foi utilizada em uma determinada situação atual Essa ação também é parte de sua memória mas é um conhecimento passado Contudo de que é feita a memória Reid 2013 afirma que ela é composta por sensações outra operação mental de nosso Eu pensante Isso acontece de dois modos o primeiro é chamado de retentivo e o outro é chamado de recordativo O modo retentivo descreve a capacidade da mente de guardar ou conservar o que sabemos a partir das sensações percebidas pela nossa mente desde as nossas experiências sensíveis no mundo Tudo já aconteceu e sequer existe mais como aquele dia em que o seu time foi campeão por exemplo Entretanto a sensação está lá guardada em sua memória Por sua vez o modo recordativo descreve a capaci dade da mente de chamar esse saber passado para o momento presente de modo que você possa apresentalo para si e para mais alguém ABBAGNANO 2007 Contudo como as sensações estão de certo modo armazenadas na memória Essa é uma discussão filosófica de longa data O filósofo grego Aristóteles pensou sobre a memória como uma marca ou impressão isto é se você guarda e recorda algo é porque ficou gravado assim como uma paisagem está gravada em uma fotografia A paisagem não está mais presente mas a fotografia a preservou Assim seria a operação mental que chamamos de memória ela representa algo presente 80 UNIDADE 2 de uma coisa ausente Entretanto ainda que aquela memória esteja guardada em sua mente ela somente será acessível se você tomar a iniciativa de trazêla ao seu momento atual Isso significa que enquanto a conservação é algo passivo isto é a memória simplesmente recebe as sensações passadas a recordação é algo ativo ou seja há um movimento voluntário de trazer alguma sensação passada para o seu presente ABBAGNANO 2007 Essa compreensão é fundamental para você entender o que se passa no Eu pensante enquanto consciente da memória Se atentarmos para o modo reten tivo da memória é evidente que ele se reconhece à medida que a memória se estende no tempo Na verdade a consciência de que se é um Eu é uma consciên cia produzida pela conservação da memória enquanto o tempo passa O fluxo contínuo da memória assegura que você é você mesmo e não outro que muda conforme o tempo passa Poderíamos dizer que uma vida mental consciente é uma vida consciente de si que é provida pela retenção na memória de todas as sensações mentais nela preservadas Nesse caso alguns filósofos chegam a afirmar que a memória enquanto vida consciente nem precisa do mundo físico para existir pois ela é uma espécie de equivalente da alma ou algo que lhe seja parecido ABBAGNANO 2007 EU INDICO Acesse o QR Code para conferir um gameplay do jogo eletrônico The Sig nifier lançado em outubro de 2020 Nele o jogador controla Frederick Russel um neurocientista que desenvolveu uma inteligência artificial com o poder de explorar as memórias armazenadas dos indivíduos Por outro lado se prestarmos atenção no modo recordativo da memória a disposição ativa de nosso Eu pensante de trazer ao presente aquilo que está guardado é o que assegura que você seja alguém aqui e agora pois a sua me mória atua em função do que você precisa ser e fazer no mundo em que vive UNICESUMAR 81 É possível afirmar que uma vida mental consciente é aquela em que você con tinuamente está recorrendo à memória algo equivalente a pensar a fim de estabelecer conexões com a sua existência no mundo e atuar nele Nesse caso a memória não é um objeto guardado e que está à espera de ser trazido para a vida mental presente mas o próprio pensamento manuseandoo para dar algo que pensar à sua vida mental ABBAGNANO 2007 O que esse fato importa para a filosofia da mente Ele é importante quan do buscamos uma relação entre a memória e a consciência ou entre o sujeito que pensa à medida que recorda Descartes introduz à temática do problema filosófico fundante de nosso assunto a questão entre mente corpo e cérebro O filosofo descreve que a consciência se manifesta espontaneamente em dois níveis os estados mentais e o Eu pensante Todavia há outro modo apresentado como a reflexão deliberada do Eu pensante acerca dos seus estados mentais que o faz consciente do conteúdo em questão Esse tipo de autorreflexão só é possível recorrendo à memória SCHMAL 2018 Segundo Schmal 2018 p 33 Descartes previu dois sistemas de memória uma faculdade corpórea parcialmente fundada nas modifica ções mecânicas que modelam e remodelam a substância do cére bro através da vida criatural e parcialmente nos músculos e outras partes da vida corporal O outro tipo de memória é um sistema espiritual conhecido como memória intelectual A memória funciona de duas maneiras ora captando as sensações do corpo uma espécie de memória corporal ora captando os pensamentos o ato propria mente reflexivo uma espécie de memória intelectual Somente esse último tipo de memória capacitaria a recordação visto que a outra é fluída e dada a muitas alterações portanto cheia de lacunas A memória intelectual é algo independente do corpo e assim assemelhada à noção de alma ou do Eu pensante cartesiano que como você já sabe chamamos de mente 82 UNIDADE 2 Para melhor esclarecer Schmal 2018 apresenta o seguinte esquema Res cogitans Memória intelectual no sentido amplo Memória corporal Memória produzida ou ocasio nada na alma imaterial quando os vestígios são reativados no cérebro pelo fluxo dos espíritos animais Memória intelectual Memória dos objetos intelectuais cuja percep ção é independente do corpo Res extensa Memória corporal Vestígios físicos permanentes ou modificações dobras no cérebro comum aos animais Quadro 1 Esquema de Schmal Fonte o autor A memória opera a partir de acontecimentos cujos vestígios são guardados no cé rebro o que estabelece a relação entre o cérebro e a memória Enquanto o cérebro é jovem e está em formação os vestígios deixados são mínimos mas abundantes quando ingressamos na vida adulta A memória precisa de vestígios dos aconteci mentos visto que a mente não pode registrar suas próprias experiências sem estar consciente do que está acontecendo dentro dela e sem registrar essas experiências ela não pode reconhecer que uma dada sensação tem ou não tem ocorrido antes SCHMAL 2018 p 39 Todavia a recordação não é sobre um vestígio no cérebro porque quando a mente volta a pensar no que passou já está em outro momento do que aquele que foi registrado no cérebro SCHMAL 2018 O Eu pensante carece de sua memória caso contrário não tem existência própria isto é consciência de que pensa Para que a memória exista duas condições devem ser satisfeitas A primeira é que a nova sensação deve ser ocasionada por certos traços físicos criados no passado e segundo o sujeito deve estar consciente dessa relação O sujeito deve reconhecer que sua percepção atual é uma cópia de uma experiência antiga SCHMAL 2018 p 40 Isso é fundamental para explicar as condições do aprendizado pois se o indivíduo não é capaz de atribuir uma memória atual a alguma experiência do passado há uma clara desconexão e o conhecimento não é satisfeito Descartes afirma que a vida mental abrange três tipos de exercícios reflexivos O primeiro é aquele em que refletimos sobre qualquer coisa que nos acontece e UNICESUMAR 83 assoma à mente O segundo ocorre quando algo emerge da memória ou seja nós a reconhecemos e passamos a refletir sobre Já no terceiro voluntária e deliberada mente trazemos um assunto à mente sobre o qual queremos fazer uma reflexão Somente esse último exercício da memória sustenta a pessoalidade coerente e unificada de um indivíduo dandolhe a consciência de continuidade ao longo do tempo e o dotando de uma verdadeira subjetividade SCHMAL 2018 Muitas vezes recordamos algo sem sabermos a fonte da recordação Isso não seria par ticularmente verdadeiro quanto aos nossos preconceitos especificamente em casos de racismo Talvez no passado tenhamos convivido com alguma situação familiar desse tipo e na vida adulta simplesmente nos encontramos refletindo a partir dessa memória sem nos darmos conta de onde foi originada PENSANDO JUNTOS Enquanto Reid propôs que as três operações da mente são a sensação a memó ria e a imaginação concentrandose no desenvolvimento sobre como operam as sensações Descartes explicou como opera a memória Para complementar a sua compreensão apresentaremos uma experiência humana de autoexpressão literária chamada escrita de si Nela a memória exerce um papel fundamental O filósofo francês Michel Foucault nos ajuda a entender o sentido memorial da escrita de si Para o estudioso tratase do registro escrito de nossos próprios pensa mentos tanto para quem escreve quanto para alguém que venha a lêlos Esse gênero literário foi bastante usado pelos filósofos estoicos que mantiveram a prática da cor respondência entre mestre e discípulo ou entre amigos Nessa correspondência faziam uma espécie de revisão de vida e registravam as suas ideias e pensamentos visando à orientação à exortação ao aconselhamento e à admoestação Algumas vezes estabe leciam princípios racionais de ação mas em outros casos redigiam provas racionais para a verdade Seu caráter meditativo estimulou o uso cristão com a sua ênfase na autorreflexão Assim a escrita de si para si funcionava como uma espécie de autodis ciplina para a purificação interior e abertura da alma para Deus FOUCAULT 1992 Modernamente a escrita de si tem a sua gênese histórica no século XVIII com a fundação da sociedade burguesa e a partir da permissão de expressão de um Eu individual privado e diferenciado do público A sua principal caracterís tica é a autorreferencialidade isto é o Eu pensante fala a partir da consciência 84 UNIDADE 2 de si geralmente por meio de uma autorreflexão sobre as condições históricas culturais sociais vividas em seu tempo GOMES 2004 A prática da escrita de si no mundo moderno e contemporâneo nos apresenta o sujeito pensante em sua plena subjetividade e privacidade É o modo de expres são de sua individualidade ou pessoalidade em que o que importa é a expressão da memória do que foi visto sentido e experimentado a partir da sua reflexão pessoal Ao escrever ou relatar o sujeito busca uma identidade seja unificada em uma memória como na modernidade ou fragmentada em múltiplas memórias como na contemporaneidade FOUCAULT 1992 Nesse sentido Foucault 1992 nos ajuda a entender a relação entre memória e escrita De acordo com o estudioso o hábito de tomar notas em um caderno ou de escrever cartas por exemplo é um modo de guardar a memória pessoal das coisas vividas ou refletidas pelo sujeito Assim ele pode retirarse para o interior de si próprio alcançarse a si próprio viver consigo próprio bastarse a si próprio tirar proveito e desfrutar de si próprio FOUCAULT 1992 p 138 Todavia quando ela é escrita essa memória é recuperada em uma leitura posterior por outro al guém e serve de matériaprima para a orientação de vida apesar de o interesse primário de quem escreve não é o de que outros leiam mas para não se esquecer Outra indicação moderna em que a consciência do sujeito flui para a sua autoe xpressão a partir da memória é a experiência do choque e do trauma que desintegra a realidade conhecida e desestabiliza o sujeito que não somente não consegue dar conta do que aconteceu como não encontra meios para dizer o que houve Entre tanto ele não pode negar o que aconteceu pois lhe foi muito real Sobrevivido ao choque o sujeito precisa reorganizar a sua vida mental a fim de retomar a vida no mundo ressignificála retomar os vínculos e os laços que alicerçam uma vida corriqueira em um mundo que se tornou repentina e inexplicavelmente do ponto de vista subjetivo inteiramente estranhado SELIGMANNSILVA 2003 p 48 A reordenação da vida mental passa pelo esforço de recordação da memória Somente após esse procedimento que o sujeito tem condições para prosseguir a vida Ao descrever a memória sob trauma o sujeito fala de si a partir de si e sobre a relação com determinado evento que escapa ao saber total e à plena cognição Sendo feito de pedaços de memórias o que importa é a sua autoapresentação do acontecido em que é reencenada a experiência vivida para os outros Sob essas condições a autoexpressão do sujeito busca um resultado clínico e terapêutico ou seja relata para curarse a si mesmo FELMAN 2000 UNICESUMAR 85 Inconsciência Estados mentais inconscientes são tão significativos quanto os estados mentais cons cientes É preciso saber se eles existem e se assim for como existem e qual a impor tância desse conhecimento para vida de alguém Também é necessário lidar com a ex periência incomum do apagamento da consciência por intermédio do esquecimento e em casos de doença mental como o Alzheimer Para esse estudo a fenomenologia da consciência nos ajudará bastante Começaremos o nosso estudo a partir de uma apresentação mais ampla e formal sobre a metodologia fenomenológica De acordo com Cescon 2010 p 331 A filosofia fenomenológica da mente toma a subjetividade como ponto de partida tanto no plano lógico ou epistemológico como no metodológico Para ela portanto os experimentos e as hipóteses científicas remetem sempre e em última instância a experiências subjetivas ou intersubjetivas Até mesmo a própria existência de uma realidade externa é um postulado da subjetividade 86 UNIDADE 2 A subjetividade está conectada ao modo como o sujeito que vê algo no mundo o interpreta dandolhe algum significado A sequência fenomenológica é a seguinte uma vez que o fenômeno aparece você o representa com um nome o introduz em sua vida consciente divide as partes e examina cada uma É fundamental nesse momento que você suspenda todo conhecimento prévio e juízo sobre ele Depois rejunta todas as partes e declara um conceito geral sobre o fenômeno reinserindoo na vivência da qual ele foi retirado vinculando um ao outro LEEUWN 2009 Evidentemente essa operação subjetiva é exclusivamente mental e você en quanto sujeito está totalmente consciente do que está acontecendo Entretanto o que dizer dos estados inconscientes Cescon 2010 p 331 explica que Outro problema específico das teorias fenomenológicas do duplo aspecto é o de atribuir um status aos conhecidos fenômenos cogni tivos inconscientes Não temos experiência ou consciência subjetiva deles mas pelos seus efeitos sabemos que são produzidos pois con dicionam o comportamento dos sujeitos A situação parece confusa porque estar inconsciente de algo já pressupõe algu ma consciência Caso contrário como você pode perceber a inconsciência O resultado seria a sua negação se para perceber o inconsciente você precisa estar consciente então não há inconsciência Nesse sentido caminha a compreensão de Searle 2006 quando afirma que às vezes descrevemos o inconsciente meta foricamente como coisas semelhantes àquelas das quais temos consciência mas que estão apenas afastadas em algum lugar remoto e ignorado de nossa mente Às vezes você afirma que estava dirigindo o carro de forma inconsciente ou tomando o seu refrigerante como se não estivesse presente Contudo ambas as formas não expressam corretamente o inconsciente não quando pensamos em coisas existen tes mas que nada sabemos e elas afloram repentinamente em nossa consciência Diante disso Searle 2006 afirma que para que alguma coisa cause um estado mental em você deve ser algo consciente Já a respeito do inconsciente a ontologia do inconsciente é estritamente a ontologia de uma neurofisiologia capaz de gerar o consciente SEARLE 2006 p 247 Isso significa que estados conscientes são originados na estrutura cerebral Se dizemos que há um inconsciente ele somente pode vir a existir se originado na atividade cerebral Enquanto ele não chega ao consciente continua sendo somente a atividade neurofisiológica do cérebro UNICESUMAR 87 Depois do esclarecimento Searle 2006 identifica alguns estados mentais que podem ser chamados de inconscientes quando dormimos e nossas atividades orgânicas vitais continuam nos mantendo vivos quando reprimimos desejos crenças vontades e lembranças quando vivendo o momento presente sabemos de desejos crenças vontades e lembranças ocupações e escolhas que também estão presentes conosco Tratase de algo que está nas imediações como quando você está ao celular falando com alguém e percebe várias coisas acontecendo ao seu redor No entanto quando você termina a ligação e alguém te pergunta se viu alguém passar correndo com uma bolsa na mão você diz que não De fato se você procurar em sua memória poderá dizer que realmente viu o ocorrido mas não tem condições de falar sobre ele porque estava ocupado falando ao celular Consciente mas inconsciente e viceversa A filosofia se ocupa do tema inconsciente desde Leibniz que afirmou a existência de uma zona inconsciente para identificar a percepção deixada por impressões de coisas que nos cercam e deixam a sua marca em nós O empirismo inglês de Locke afirma que a consciência de algo que nos cerca e as suas impressões já são um estado consciente Uma tentativa mediadora foi feita por Kant para quem estar consciente mediatamente de uma coisa não significa estar imediatamente consciente dela Nos séculos seguintes o inconsciente foi interiorizado ou espiritualizado como um elemento presente em nossa interioridade em conexão com as partes espirituais da realidade da qual sequer temos alguma noção inteira Isso levou Bergson filósofo francês do século XX a dizer que o fato de estarmos conscientes de nossa ação no mundo não significa que aquela parte de nós que não está agindo no mundo naquele momento não exista É claro que a chegada de Freud e a sua teoria psicanalítica do inconsciente praticamente eclipsaram a discussão filosófica a respeito que retorna com a filosofia da mente no século XXI Fonte Abbagnano 2007 EXPLORANDO IDEIAS Todavia quando se trata de afirmar que estados inconscientes e até inacessíveis à consciência possuem intencionalidade Searle 2006 p 248 rigorosamente defende que não somente não há nenhuma evidência de sua existência como também a postulação de sua existência viola uma imposição lógica na noção de intencionali dade Isso significa que somos dotados de um outro Eu pensante e prestes a aflorar dominar a cena e fazer coisas no mundo Se isso pode acontecer não é atribuível ao fato de você ser dotado de dois ou mais Eus pensantes mas de sua atividade cerebral 88 UNIDADE 2 isto é a sua mente está severamente adoecida Isso gera outra questão importante dos estados inconscientes que afloram a partir das doenças mentais e os quais as pessoas passam a ter consciência pois eles já estavam lá Um lugar importante para buscar o inconsciente então é onde a cons ciência se perturba quando a mente se desorganiza com a memória diluída entre o que ela sabe o que julga saber e o que já não sabe mais assim como acontece na doença de Alzheimer À medida que a doença avança cada vez são mais frequentes os lampejos de consciência que na verdade nada mais são do que o apagamento da memória organizada para dar lugar ao passado que se organiza de outro modo a contemplação do insignificante da desordem do imponde rável a volta do obsoleto do esquecido do não consciente daquilo que foi deixado ao canto a busca por rastros o aprendizado das ruínas O lixo como informação leva a registrar o efêmero e o irre dutível a voltar o nosso olhar à atenção aos detalhes ao cotidiano é um suporte confiável de uma memória inoficial São esses novos materiais que passam a ser valorizados e acionados no processo mnemônico O esquecimento vem à tona com uma força jamais vista e a proposição se inverte ter que se lembrar em um mundo de esquecimento FERIANI 2017 p 541 É curioso pensar que enquanto a atividade cerebral vai se dissolvendo com o tempo presente consciente e inconsciente vão se reorganizando à luz de um passado antigo que volta enquanto o passado recente vai se distanciando Nesse caso o inconsciente é aquilo que esquecemos e que por força de uma atividade cerebral incomum retor na ao nosso presente como se fosse ele mesmo mas para as pessoas que vivem um processo demencial esse momento é o momento atual A memória tanto lá quanto aqui opera uma fusão uma superposição de tempos múltiplos e descontínuos a qual se dá na irrupção na duração do instante FERIANI 2017 p 545 Assim se a subjetividade é ligada a uma vida mental consciente para muitos a sua perda também sugere a perda da subjetividade e então da iden tidade da pessoa do seu Eu pensante ou em linguagem moderna seu self UNICESUMAR 89 Entretanto se aceitamos que estados conscientes são mesclados com estados inconscientes e atribuímos vivências que ficaram perdidas em nossa memó ria o fato delas ressurgirem mesmo por um ato do cérebro disfuncional não significa o fim da subjetividade apenas o seu deslocamento para outra que ainda é a mesma mas já não é igual Feriani 2017 p 557 defende que é preciso levar em conta que em vez da memória apenas ou simplesmente se perder ela se transforma e transborda para outras dimensões como os gestos os lapsos as aparições os vestígios NOVAS DESCOBERTAS Dark é uma série da Netflix e de produção alemã Nela é explo rada a temática das mudanças que a passagem do tempo provoca nas pessoas quando podem viajar para qualquer lugar e tempo por meio de um buraco de minhoca Assim lida com a consciência e a identidade das pessoas ao longo de gerações NOVAS DESCOBERTAS Para um estudo sobre a história da memória no Ocidente é interessan te que você leia o artigo da professora Ana Luiza Bustamante Smolka intitulado A memória em questão uma perspectiva históricocultural e disponível no linkno QRcode ao lado Você sabe que os seres humanos são curiosos por natureza o que significa que são cerebralmente estimulados quando colocados diante de situações em que percebem que precisam saber mais sobre alguma coisa para lidar com ela To davia esse estímulo não pode ir muito longe de suas vivências para não tornar impossível a realização da curiosidade Suponha que você quer ensinar algo aos seus estudantes e gostaria de deixálos curiosos a respeito À luz do que você es tudou nesta unidade explique como o aprendizado das três operações mentais pode lhe ajudar no seu objetivo 90 AGORA É COM VOCÊ 1 As teorias da relação entre mente e cérebro são modos que a filosofia da mente encontrou para explicar o vínculo entre ambos Dentre as consolidadas temos a que afirma que não há mente distinta do cérebro Na verdade existe apenas o cérebro e a mente é um dos seus componentes ou funções O modo de explicar a relação apresentada é chamada de monista porque a rejeita o dualismo mentecérebro b afirma o dualismo mentecérebro c rejeita o dualismo almacorpo d afirma o dualismo almacorpo e afirma o dualismo substancial 2 O filósofo escocês Thomas Reid descreveu os seres humanos como seres sencientes dotados de uma mente ativa com capacidade inata de sentir as coisas no mundo perceber as suas conexões naturais e a partir dessas evidências construir um co nhecimento próprio de si mesmo e do mundo O pensamento do filosofo é decorrente de qual razão I Afirmar que pensar em algo não é o suficiente para provar a sua existência II As conexões entre o pensar e aquilo que se pensa estão na mente não nas coisas em si III As conexões entre o pensar e aquilo que se pensa não estão na mente mas nas coisas em si IV Afirmar que pensar em algo já é o suficiente para provar a sua existência É correto o que se afirma em a I II III e IV b II e IV c I e III d II e II e III 91 AGORA É COM VOCÊ 3 O Eu pensante não existe separado de si mesmo e de certo modo é o saber sobre si mesmo que o faz saber que existe Além disso é o saber sobre as coisas que há no mundo que o faz consciente de que conhece essas coisas Nesse processo o Eu que pensa e a coisa que é pensada estão juntos dandose a conhecer um ao outro O modo de pensar apresentado é do filósofo alemão Wilhelm Dilthey para quem a subjetividade a é a atitude individual de alguém com as suas coisas b é a redução das ações do indivíduo ao seu mundo interno c é a mudança cerebral a partir das informações dadas pelos sentidos sobre o mundo d é o comportamento do indivíduo que não pode ser tornado objetivo no mundo e é a vida mental que apreende o mundo externo por meio das vivências conscientes 4 A mente é uma das coisas mais intrigantes e para muitos um trabalho infrutífe ro ao pensamento que jamais conseguirá resolver o seu mistério Todavia refletir sobre a fim de compreendêla é um trabalho inevitável visto que se existe algo que chamamos cérebro e que tem funções físicas neuronais deve existir algo que chamamos mente a qual intencionalmente pensa sente escolhe e se identifica com os processos cerebrais Não só mas é capaz inclusive de examinálos e dizer algo Um filósofo que se dedicou à elucidação da existência da mente foi o estadunidense John Searle O estudioso elaborou alguns argumentos em favor de uma ontologia da mente mas não distinta de uma ontologia do cérebro Cite os seus argumentos e escolha um deles para fazer um comentário pessoal 92 AGORA É COM VOCÊ 5 Se atentarmos para o modo retentivo da memória é evidente que o sujeito se re conhece à medida que a memória se estende no tempo Na verdade a consciência de que se é um Eu é consciência produzida pela conservação da memória enquan to o tempo passa Poderíamos dizer que uma vida mental consciente é uma vida consciente de si que é provida pela retenção na memória de todas as sensações mentais nela preservadas Se partimos do modo recordativo da memória a dispo sição ativa de nosso Eu pensante de trazer ao presente aquilo que está guardado nela é o que assegura que você é alguém aqui e agora pois a sua memória atua em função do que você precisa ser e fazer no mundo em que vive Poderíamos dizer que uma vida mental consciente é aquela em que você continuamente está recorrendo algo equivalente a pensar a fim de fazer conexões com a sua existência no mundo e atuar nele ABBAGNANO 2007 ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 2007 Com base nos dois textos redija um texto dissertativo em que você atenderá ao que se pede a seguir a Amplie a sua informação sobre memória retentiva e memória recordativa b Relacione os dois conceitos de memória com a consciência c Vincule a consciência com o sujeito demonstrando a sua contribuição para a sua identidade 93 AGORA É COM VOCÊ 6 Findo esta unidade de aprendizagem e gostaria que você estudante realizas se o seguinte mapa de empatia expressando as suas reações pensamentos e sentimentos em relação ao conteúdo estudado Para isso indicarei por meio de perguntas um caminho para que você construa o seu próprio mapa de empatia As perguntas são as seguintes O que você pensou e sentiu enquanto estudava os temas da unidade de aprendizagem O que você já ouviu ou viu alguém dizer sobre os temas da unidade de aprendizagem O que você gostaria que fosse acrescentado aos temas da unidade de aprendizagem O que mais te motivou e o que mais te desmotivou no estudo dos temas da unidade aprendizagem O esquema a seguir tem o objetivo de fazer você construir eou colocar no papel as respostas sobre os questionamentos que te indiquei Sintase à vontade para criar mais conexões caso você tenha mais informações a indicar em seu mapa MEU ESPAÇO 3 Mente Emoções Imaginação e Arte Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade vamos avançar a discussão a respeito da relação mente corpo abordando o papel das emoções e da imaginação sobre nossos estados mentais Você também examinará a relação entre emoção imaginação e arte como por exemplo o campo das artes plásticas visto que o que vemos em uma pintura não é necessariamente o que foi visto pelo artista na realidade Porém nunca teremos acesso ao nível de manipulação daquela cena e mesmo que essa não seja um manejo intencional dos elementos no quadro ainda reflete que um indivíduo não vê a realidade da mesma forma que o outro Isso não se dá porque essa realidade é diferente mas porque a mente por vários motivos apreende de maneira diferente Dessa forma entenderemos como essa dinâmica acontece e quais as principais teorias e ideias concernentes à dinâmica menteimaginaçãoemoções Vamos láI UNIDADE 3 96 Hoje fazem muito sucesso as séries de TV baseadas em crimes reais Uma delas narrada no seriado CSI diz respeito a John Mathers Ele foi condenado à morte acusado pelos estupro e assassinato de uma estudante O tradicional exame de contraprovas por meio do DNA colocou dúvidas sobre se Mathers foi mesmo o assassino adiando a sua execução Os investigadores Grissom Nick e Sara fo ram acionados e encontraram outro aluno assassinado e deixado exatamente da mesma forma que a estudante Acontece que este assassinato aconteceu enquanto Mathers estava na prisão no corredor da morte Tal fato levou à suspensão da condenação e a retomada da busca pelo verdadeiro assassino As obras cinematográficas do gênero true crime não nos confrontam somente com a nossa própria realidade urbana e cotidiana como manipulam esse cenário por meio de suas câmeras e roteiros nos fazendo acreditar em situações que não aconteceram da forma como foram expostas No entanto devido a não sabermos a verdade nos permitimos nos influenciar pela narrativa apresentada logo até que ponto a nossa vivência no mundo não é manipulada por nossa imaginação Pensando sob a perspectiva de outros gêneros de filmes também preci samos adicionar uma camada de identificação que todos nós fazemos com um ou mais personagens da história independentemente se eles se baseiam em figuras reais ou não Nesse sentido esta projeção faz com que avaliemos o que faríamos no lugar de determinada figura no filme e estimula os nossos processos mentais por meio da imaginação de diversas narrativas paralelas Justamente por estarem conectadas à imaginação tais narrativas não são reais mas abrangem um universo de significação mental que envolve memórias valores fé etc tornandoas factíveis além de essas mesmas narrativas esti mularem a produção de imagens que permitem construirmos essas histórias Nesta unidade você entenderá de que modo estas articulações se dinamizam com seus sentidos e emoções culminando em novas compreensões de mundo Agora lhe convido a fazer a seguinte experiência acesse o Google e digite Dance II Henri Matisse separe a imagem digite Número 1ª Jackson Pollock separe a imagem e por fim digite A taça de vinho Johannes Vermeer separe a imagem Apresente estas três figuras para cinco pessoas além de você e ques tioneas em cada figura qual foi o primeiro pensamento que surgiu na mente delas ao ver o quadro A pessoa consegue imaginar a história por trás de cada pintura Das três qual ela mais gostou e por quê Alguma lembrança veio ao se deparar com qualquer uma das artes UNICESUMAR 97 Após as respostas faça a você mesmoa a seguinte pergunta você acha que as narrativas que as pessoas criaram para os quadros são as mesmas que o pintor quis expressar Agora registre a sua resposta a partir das reflexões que elas lhe possibili taram Procure pensar sobre as seguintes questões de que forma as histórias que imaginamos se aproximam da realidade que vivemos As nossas emo ções guiam essas histórias ou são as histórias que imaginamos que orientam nossas emoções O que é a imaginação e como ela se articula com as nossas memórias Onde a criatividade se localiza dentro de todo este processamento mental Existe a possibilidade de exercemos a criatividade sem fazermos uso da imaginação A arte é capaz de provocar emoções As emoções que o ar tista tentou imprimir em uma tela um filme uma música um livro ou outro meio são as mesmas que sentiremos ao ter contato com a obra Anote estas percepções em seu diário de bordo DIÁRIO DE BORDO UNIDADE 3 98 Tendo refletido sobre o proposto vamos falar um pouco mais sobre a imaginação Fayga Ostrower artista plástica e teórica da arte afirmou em seu livro Cria tividade e Processos de Criação 2014 p 32 que imaginar seria um pensar específico sobre um fazer concreto Com esta definição a autora expressa duas características da ação de imaginar 1 que é algo feito pela via do pensamento 2 que se pauta em uma produção concreta real Logo para a autora não há imaginação que se articule sobre seres abstratos ou objetos que de algum modo não estão presentes neste fazer concreto Isso explica o motivo pelo qual imaginar Deus por exemplo é uma tarefa impossível e tão sujeita à antropomorfizações além das inúmeras ambiguidades derivadas das várias mentes que realizam esse esforço Também não é possível imaginar com as emoções e mesmo elas passam pela racionalização para serem sentidas Na interpretação da Ostrower 2014 o conceito de imaginar possui certa coerência dado que sendo ela mesma a autora uma artista está aplicandoo à atividade criativa da produção de algo Mas é possível imaginar sem necessariamente se pautar em um fazer concreto Ou melhor sem produzir uma obra De que ma neira a imaginação se articula com o mundo ao nosso redor Por exemplo nunca existiu um unicórnio na realidade porém ao lermos o nome unicórnio rapidamente uma imagem se forma em nossa mente Seria então possível partir de pressupostos abstratos em nossa imaginação É isto que analisaremos aqui Estamos acostumados a fazer uma distinção entre imaginação e realida de Por outro lado no campo da Psicologia da Filosofia da Linguagem e da Filosofia da Mente tentase entender até que ponto imaginação e realidade coincidem Por exemplo conseguimos distinguir realidade de sonho de ilusão de devaneio de visão mas qual é o espaço onde todos esses conceitos se con fundem Esta pergunta é pertinente quando buscamos entender qual o grau de influência que a realidade possui sobre as imagens que aparecem em nossa mente além de investigar de que maneira essa mente por meio de simbolis mos se comunica conosco os sonhos são um bom exemplo disso O filósofo brasileiro Luiz Hebeche 2003 p 394 entende que Imaginar é um modo de agir expresso na linguagem só nela se decide o que se imagina e o que se vê se ouve ou se toca e portan to não se pode confundir o que está em nosso entorno com uma paisagem distante mas se pode distinguir o sonho da realidade a UNICESUMAR 99 alucinação do devaneio A gramática da imaginação dá conta desse solo áspero expresso na diversidade desses conceitos A imaginação de um cenário na ópera de uma paisagem de uma fotografia não é menos real do que ver a cozinha ou o quarto de dormir como se a linguagem tivesse pesos ontológicos distintos tratase antes de circunstâncias distintas para o uso das palavras na linguagem Em sua colocação o autor acrescenta ao nosso raciocínio o peso da linguagem isto é as palavras já estão condicionadas pela nossa imaginação logo o uso de las definirá o que imaginaremos Essas palavras são preenchidas por realidade simbólica isto é possuem um significado que deriva da realidade que vivencia mos então imaginar não é o mero fantasiar e mesmo sendo esta ação possui enorme grau de concretude Por exemplo se eu disser que ontem encontrei um amigo vestido com uma blusa feita de um tecido africano chamado samakaka somente os que sabem o que é uma samakaka conseguirão imaginar o que estou afirmando e mesmo se eu explicála verbalmente provavelmente ainda faltarão narrativas visuais que fornecerão uma imaginação fidedigna ao que realmente corresponde esse tecido Figura 1 Fantasia ou imaginação Descrição da imagem uma silhueta não identificada dirige um barco cheio de bolas luminosas durante a noite atravessando um mar calmo que está repleto de bolas brilhantes as quais se assemelham à lua cheia UNIDADE 3 100 A Figura 1 é fruto de uma imaginação ou de uma fantasia Sabendo que a imaginação é precondição para a fantasia nos surpreendemos com a quanti dade de elementos reais que existem nesta gravura mas que mesmo assim não removem o seu caráter onírico As luas iluminadas a água as ondas o barco uma pessoa a luz o céu as estrelas são vários componentes resultantes do fazer concreto que somos capazes de identificar nessa imagem Ela é familiar e ao mesmo tempo impossível de existir em nossa realidade o que reflete o grande paradoxo da imaginação o quão próxima e distante ela se mantém do mundo do que sentimos do que compreendemos Em relação a isso Hebeche 2003 p 396 entende que Podemos imaginar algo sem que o estejamos vendo Isso quer di zer que não depende da vontade deixar de ver aquilo que agora estou vendo a mesa o computador a prateleira com os livros ou de ouvir o trinado dos pássaros nas árvores próximas sentir o calor deste dia de verão mas posso me imaginar caminhando por Paris no inverno com as ruas açoitadas pelo vento etc Nesse caso as representações dependem da vontade É neste sentido que ele visualiza que a capacidade do imaginar vai além do mundo sensível imediato sendo capaz de alçar voo para realidades distantes geograficamente conceitualmente ou até mesmo temporalmente Aqueles que nunca foram a um deserto isso não os impede de imaginar como sejam os grãos de areia o sol escaldante o tom marromalaranjado do chão o formato das dunas todos esses elementos preenchem a mente e eles não são fixos ao contrário a mente constrói uma narrativa pois esse cenário possui um senti do Se ele se parece com a realidade isso pouco importa visto que não é esta a questão que nos confronta mas sim o quanto conseguimos nos aproximar do que entendemos ser este o mundo real Portanto a subjetividade que reina sobre o exercício da imaginação a torna única para cada um por outro lado reflete a individualidade da percepção sensível Para Platão 1973 a imaginação induziria o indivíduo ao erro visto que isso que chamamos de individualidade seria na verdade uma ilusão de nossos sentidos UNICESUMAR 101 Sócrates Ora se as coisas não são semelhantes ao mesmo tempo e sempre para todo o mundo nem relativas a cada pessoa em particu lar é claro que devem ser em si mesmas de essência permanente não estão em relação conosco nem na nossa dependência nem podem ser deslocadas em todos os sentidos por nossa fantasia porém existem por si mesmas de acordo com sua essência natural PLATÃO 1973 p 24 Isso significa que no pensamento dualista platônico as imagens possuem uma essência imutável e permanente Essa essência é apreendida pela razão e não pelas impressões geradas pelos sentidos O que chamamos de individualidade na compreensão de mundo para Platão nada mais é do que fruto de um conjunto de fantasias produzidas por nossa percepção sensível e que se assemelham à essên cia No entanto seguindo o raciocínio do filósofo grego poderíamos questionar então haveria alguma utilidade na arte Por arte compreendamos as pinturas esculturas e teatro Platão 1973 nos informará que não ela não tem utilidade visto que é apenas um simulacro isto é cópia da cópia da imagem Recordando que o dualismo platônico implica a existência de duas realidades uma inteligível real e acessível pela razão outra sensível cópia da inteligível acessível pelos sentidos A arte como reprodução do mundo sensível seria ainda mais falsa que ele pois a arte tem como recurso a manipulação das imagens e dessa forma utilizase da imaginação para recons truílas Assim a imaginação seria também pouco fidedigna no que concerne à representação visual e à percepção do mundo Em suma até o momento investigamos dois pontos de vista diferentes acerca da imaginação Para encerrarmos esta parte da unidade é importante analisarmos a concepção desenvolvida por Immanuel Kant visto que ela se trata de um divisor de águas na compreensão moderna de caráter empirista Em relação ao tema o filósofo de Königsberg entendia que o tipo de sensibilidade que compete ao conhecimento compõese dos sentidos e da imaginação facultas imaginandi esta última definida como a intuição em ausência do objeto GAY 2015 p 79 Desse modo a imaginação seria uma espécie de avaliação sensitiva do objeto quando este não estivesse presente é como perder o celular e sabendo como ele é tentar encontrálo em casa Por outro lado conforme a historiadora Eugenia Gay 2015 a imaginação kantiana não produz imagens do nada visto que elas sempre se pautam por algum ponto da realidade UNIDADE 3 102 É como o exemplo do unicórnio que discutimos anteriormente o animal em si não existe mas sabemos o que é um cavalo e sabemos o que é um chifre no meio da cabeça basta pensarmos em um rinoceronte Com pouca dificuldade a imagem de um unicórnio se constrói em nossa mente Para nos ajudar essa é uma figura popular em nosso meio sendo inspiração para personagens brinquedos propagandas o que faz com que nem precisemos nos esforçar permitindo que a imaginemos em cores e estilos diversos Porque entretanto a imaginação possui o poder de iludir os seres humanos sendo capaz de se sobrepor à razão e à facticidade Kant entende que é preciso controlála caso contrário perderemos os critérios que nos levam a julgar o que é real e o que não é GAY 2015 Quando pensamos em imaginação não podemos nos restringir às imagens advindas da nossa mente e que nos fazem criar fantasias Faz parte do imaginar o esforço de uma série de criadores e cientistas que ao longo da história se empenharam em propor so luções para inúmeros problemas Dentre eles temos Leonardo Da Vinci e o seu primeiro modelo de helicóptero fruto completamente da imaginação visto que era um objeto que não existia de forma alguma na época ou então pensemos no modelo de avião desenvolvido por Santos Dumont fruto da imaginação aliada à razão técnica PENSANDO JUNTOS Falemos agora sobre o lugar e o papel das memórias na imaginação com a ajuda do filósofo alemão Immanuel Kant Ele entende que existem duas ca tegorias de imaginação Produtiva Reprodutiva Deriva originariamente de objetos Se origina de experiências passadas memória Fruto das intuições puras Fruto das intuições empíricas Promove conhecimento objetivo Promove conhecimento empírico Quadro 1 Dois tipos de imaginação conforme Immanuel Kant Fonte o autor UNICESUMAR 103 Também existe um terceiro tipo de imaginação que é a fantasia produzida pelo estímulo involuntário de imagens que surgem em nossa mente sem coerência específica As intuições puras de tempo e espaço per tencem à faculdade produtiva todas as outras pressupõem intuição empírica que passamos a chamar experiência quando é conectada com o conceito do objeto e se transforma assim em conhecimento em pírico KANT 2003 13 p 26 A análise de Kant nos permite presumir que existe a possi bilidade da imaginação se pautar nas nossas recordações acrescentando às imagens um tom de familiaridade As ex periências cotidianas são gravadas por nossa mente a qual em situações específicas recorre às imagens produzidas para fins de gerar outras narrativas Interessante compreen der que a imaginação conforme o comentário anterior de Kant pode gerar conhecimento empírico abrindo espaço para por exemplo solucionarmos problemas Imagine que você nunca tenha aberto um pote de requeijão Se não tivesse visto ninguém realizando esta ação você provavelmente teria que confiar em outra lógica para descobrir os primeiros passos deste pro cesso por exemplo remover o dispositivo de borracha antes de forçar a tampa para fora no entanto pode ser que tenha visto a sua mãe ou o seu pai um dia abrindo o mesmo pote Logo antes de solucionar este problema você imaginará as atitudes que os seus pais tomaram para conseguir abrilo A imaginação é portanto um caminho empírico para vivermos no mundo transfor mando esse mundo por meio de novas ideias ou de so luções já propostas e das quais lembramos UNIDADE 3 104 A Figura 2 demonstra o esforço individual de se lembrar como funciona um abri dor de vinhos para quem nunca lidou com um Pode parecer uma ferramenta simples depois de utilizada pelas primeiras vezes no entanto este conhecimento empírico é fruto da prática aliada à imaginação da lembrança de alguém que a uti lizou Entender o grau da força a ser utilizada o mecanismo de abertura o som e o cuidado para não quebrar a boca da garrafa são experiências que produzem um sa ber reprodutivo Nas próximas vezes em que você abrir uma garrafa de vinho você terá em sua mente a lembrança do processo para que possa resolver este problema Nesta discussão precisamos também destacar a visão do filósofo inglês Da vid Hume que entendia existir a imaginação e a memória como duas seções diferentes da mente Embora o conteúdo que as duas articulem possam ser o mesmo o modo de execução e apresentação dele diverge entre ambas enquanto a imaginação é livre na associação de ideias a memória se destaca pela repetição na mente de fatos já ocorridos No entanto como podemos avaliar que a imagem que surge em nossa mente é fruto de nossa memória e não de nossa imaginação Em relação a isso Hume 1985 p 9 tradução nossa responde Figura 2 As ações humanas e as memórias Descrição da Imagem Homem abrindo uma garrafa de vinho em uma adega UNICESUMAR 105 Pela experiência vemos que quando uma determinada impressão esteve presente na mente ela novamente se faz aparente na forma de uma ideia e isto pode ocorrer de duas maneiras diferentes uma quando em sua nova aparência retém um grau considerável de sua primeira vivacidade e é de algum modo intermediária entre uma impressão e uma ideia ou quando ela perde inteiramente sua viva cidade e então é uma ideia perfeita Esta faculdade pela qual repe timos nossas impressões da primeira forma é chamada de memória enquanto na outra se chama imaginação O que Hume destaca é que a diferença entre memória e imaginação consiste na vivacidade da imagem Enquanto as ideias produzidas pela memória são mais intensas e mais nítidas aquelas produzidas pela imaginação carecem de força sendo mais obtusas O nível de aproximação com relação às imagens originais é um critério importante que distinguirá se determinada ideia está no campo da recordação ou da imaginação A proposta de Hume diverge da concepção de vários filósofos no que tange à relação entre memória e imaginação visto que ele é capaz de separar as duas faculdades tornandoas distintas umas das outras No entanto a partir dessa concepção poderia existir uma memória falsa Ou seja uma ideia que possui todos os caracteres de uma imagem rememorada mas não o é Como exemplo podemos pensar no fenômeno psíquico do déjà vu que consiste basicamente em uma impressão muito instantânea de um momento já vivido Seria o déjà vu uma memória verdadeira ou fruto de nossa fantasia Conforme a interpretação de Roberta Lima Bouchardet 2006 p 44 Hume en tende esta impressão como uma memória falsa Segundo pesquisas da psicologia é comum que as pessoas tenham essa sensação em algum momento da vida mas há casos crônicos Essas pesquisas reforçam a teoria humeana que o que distingue ideias de memória e de imaginação não é o conteúdo das mesmas mas a sensação o sentimento o feeling que as acompanha E tam bém de que nem sempre a memória funciona apropriadamente Por um lado podemos esquecer impressões passadas por outro podemos criar falsas memórias UNIDADE 3 106 Se o conteúdo não é a parte mais importante de uma memória ou imaginação mas o sentimento de veridicidade isto é a sensação de quão fidedigna é aquela imagem em relação à recordação vivida então a memória não tem condições mesmo de corresponder completamente ao que foi vivenciado A própria exis tência das falsas memórias demonstra no pensamento de Hume certa névoa na distinção entre memória e imaginação visto que não é possível diferenciar ambas totalmente Em algum momento as duas faculdades parecem se confundir Uma situação grave que afeta o processamento das imagens em nossa mente pertur bando a sua autenticidade é a amnésia Se entendermos a memória como uma facul dade independente da imaginação a ausência temporária ou permanente de ideias vívidas prejudica fortemente a noção de realidade do indivíduo o qual depende delas para se constituir como sujeito Na teoria de Hume ele passa a depender quase que exclusivamente da imaginação durante o tempo de formação de novas memórias Isso faz sentido quando pensamos nas condições dessa pessoa que necessita dependendo da situação reaprender a andar a falar e a executar ações simples no dia a dia No entanto se partimos do pressuposto kantiano de que existe uma imaginação reproduti va a perda dela consiste no desaparecimento do conhecimento empírico o que nova mente leva à necessidade da construção de novas imagens mentais tendo em vista a reaprendizagem Desse modo tanto em uma teoria como na outra é interessante per cebermos o quanto a aprendizagem humana está relacionada com a nossa capacidade de armazenar e reproduzir ideias EXPLORANDO IDEIAS Antes de compreendermos o papel da imaginação na produçãoobservação da arte precisamos analisar de que forma ela se articula com as nossas emo ções e os nossos sentimentos Sabemos que a nossa imaginação é capaz de suscitar sensações físicas e psíquicas dependendo das memórias que surgem em nossa mente ou dos gatilhos que determinada situação ativa a emoção da dor do arrependimento e da alegria pode imediatamente transbordar a nossa consciência Wassily Kandinsky 2015 artista russo expressionista escreveu que a cor embora provoque um efeito transitório no espírito é capaz de ativar sentimentos diversos que prolongam esta sensação Quanto mais cultivado é o espírito sobre o qual ela a cor exerce mais profunda é a emoção que essa ação elementar provoca na alma UNICESUMAR 107 Ela é reforçada nesse caso por uma segunda ação psíquica A cor provoca portanto uma vibração psíquica E seu efeito físico superfi cial é apenas em suma o caminho que lhe serve para atingir a alma Se essa segunda ação é realmente uma ação direta conforme é lícito supor pelo que se acaba de expor ou se pelo contrário só é obtida por associação é difícil decidir Estando a alma estreitamente ligada ao corpo uma emoção qualquer sempre pode por associação pro vocar nele outra que lhe corresponda Por exemplo como a chama é vermelha o vermelho pode desencadear uma vibração interior semelhante à da chama O vermelho quente tem uma ação excitante Sem dúvida porque se assemelha ao sangue a impressão que ele produz pode ser penosa até dolorosa A cor neste caso desperta a lembrança de outro agente físico que exerce sobre a alma uma ação penosa KANDINSKY 2015 p 6667 Antes de prosseguirmos em nosso raciocínio introdutório veja o quadro a seguir Figura 3 Obra Casas em Murnau Fonte Kandinsky 1909 online Descrição da imagem quadro pintado por Kandinsky retratando uma rua de casas sobre a montanha com tons predominantemente amarelos e azuis UNIDADE 3 108 Esta pintura de Wassily Kandinsky se chama Casas em Murnau e se trata na verdade de um treino que artistas costumam fazer pintando temas específicos para treinar a observação e avaliar a paleta de cores que definem o seu estilo A ideia não é representar a natureza mas sim interpretála esta é a palavrachave da arte especialmente a contemporânea interpretação Quando vê essa pintura o que você sente Quais emoções as cores produzem em você O que o cenário lhe recorda Lembrese que neste processo de interpre tação você continua fixoa em seu lugar olhando para a tela porém a sua mente começa a ser estimulada por uma série de imagens aleatórias mas que lhe fazem sentido Por exemplo ao visualizar essa pintura imediatamente lembrome de Ouro PretoMG as suas casinhas antigas ruelas e enormes subidas e descidas A paleta de cores que mistura tons quentes e tons frios me remete ao pôr do sol momento em que o calor do dia começa a arrefecer tornando o ambiente mais fresco A instabilidade das pinceladas dá a sensação de movimento como se es tivesse ventando sobre as casas e árvores criando um movimento de sombras em suas fachadas De modo geral é uma pintura que me propicia a sensação de aconchego recolhimento do momento do dia em que pauso minhas atividades para começar a prepararme para a noite todas essas interpretações compõem a minha narrativa sobre a pintura Esta por sua vez está repleta de emoções provocandome lembranças e sensações Entretanto todo esse olhar se concentra na minha imaginação não digo os sentimentos que percebi que são físicos mas a história que apreendi e que me comove Ao discutirmos sentimentos e emoções à primeira vista é razoável visuali zarmos a existência de uma separação como se ambos fossem dois componentes interdependentes mas ao mesmo tempo diferentes O neurocientista nortea mericano especialista no estudo das emoções Joseph LeDoux apud CEZAR JUCÁVASCONCELOS 2016 p 7 entende que para o sentimento ocorrer é necessária a existência de três com ponentes processuais eliciados pela emoção a representação do es tímulo emocional a recuperação de significados associados a esse estímulo e a percepção consciente de estados do corpo Para o autor LeDoux sentimentos são emoções conscientes A conscientização da emoção é portanto a condição que distingue o sentimento UNICESUMAR 109 A emoção para o cientista seria uma expressão inconsciente derivada de um estímulo Há emoções que sentimos sem perceber contudo quando nos cons cientizamos de determinada emoção então ela se torna sentimento pois deixa de ser espontânea e imperceptível para conter um valor uma perpetuação É inegável que nesse estímulo encontramse parâmetros subjetivos biológicos físicos e psíquicos Como vimos no início desta disciplina uma situação específica é capaz de provocar graus diferentes de dor em cada ser humano bem como a perpetuação dessa experiência por meio da memória também é relativa Pode ser que um indivíduo que tenha sofrido menos dor se lembre dela por muito tempo já outro que sentiu forte intensidade de dor imediatamente a reprima para nunca mais se lembrar desta ocorrência Somado a isso Os sentimentos são mais duradouros menos explosivos e não vêm acompanhados de reações orgânicas intensas Já as emoções são fortes passageiras e mutáveis Portanto o que emociona um indi víduo hoje pode não emocionálo amanhã CEZAR JUCÁVAS CONCELOS 2016 p 8 Se as emoções são fortes elas são as que causam mais impacto em nossa mente Por exemplo um amigo resolve fazer uma festa de aniversário surpresa para você em sua casa Após todos os arranjos ele lhe conduz à sua residência e lá ao ligar a luz várias pessoas lhe surpreendem com uma reação animadamente explosi va Alguns indivíduos podem ficar de imediato alegres com o ocorrido outros podem detestar ficando completamente assustados Esse estímulo imediato em nossa mente é compreendido como emoção No entanto ao longo da festa pode ser que o seu amigo tenha convidado o seu ou a sua ex o que pode tornar aquela experiência angustiante ou mais alegre ainda dependendo da circunstância Esta afecção deixa de ser emoção para se tornar sentimento visto que as memórias que se vinculam à imagem do seu ou da sua ex podem lhe estimular de maneira permanente A angústia ou a alegria não passará em questão de segundos como a emo ção de se deparar com a surpresa da festa ao contrário mesmo com o fim da comemoração é possível que você se recorde do fato de ter encontrado alguém que gostaria ou não de ver neste dia especial UNIDADE 3 110 Outro ponto a ser levado em consideração no estudo das emoções e dos senti mentos se concentra na normatividade que envolve a sua estruturação Sabemos que algumas afecções são reprimidas socialmente em determinadas condições por exemplo podese visualizar como normal um homem bater em uma mulher porque está com raiva mas o inverso costuma ser visto como antinatural Outras são expansivamente estimuladas como a alegria a esperança a confiança En tretanto isso se trata de uma modulação social da mente estabelecer expectativas sobre quais emoções esperamos que o outro sinta de modo a manter o equilíbrio na sociedade entre os agentes dela O sofrer nos ameaça a partir de três lados do próprio corpo que fadado ao declínio e à dissolução não pode sequer dispensar a dor e o medo como sinais de advertência do mundo externo que pode se abater sobre nós com forças poderosíssimas inexoráveis destrui doras e por fim das relações com os outros seres humanos O so frimento que se origina desta fonte nós experimentamos talvez mais dolorosamente que qualquer outro tendemos a considerálo um acréscimo um tanto supérfluo ainda que possa ser tão fatidicamente inevitável quanto o sofrimento de outra origem FREUD 2010 p 21 Sigmund Freud médico considerado o pai da psicanálise entendia em seu livro O MalEstar da Civilização 2010 que as relações humanas são causadoras de dores internas provavelmente mais intensas do que qualquer outra fonte de sofri mento A busca pelo equilíbrio social é no fim das contas o esforço para reduzir as emoções e os sentimentos ruins que provêm de relacionamentos malconduzidos o que torna as normativas emocionais coerentes com este empenho No entanto nós seres humanos sentimos afecções ruins que em um instante de desequilíbrio O podcast desta unidade de estudos é acerca da conexão entre nossas emoções e nossos estados mentais Como não podemos falar de emoções sem abordar a imaginação e a arte conversaremos sobre a relação entre esses conceitos e a nossa vida mental A pergunta é as emoções a imaginação e a arte são importantes a essa vida Para saber a resposta não deixe de acompanhar o que preparamos para você UNICESUMAR 111 não só nos prejudicam como podem afetar o outro Mas neste caso a normativa e o controle emocional são feitos sobre as emoções ou sobre os sentimentos Se um for controlado o outro é automaticamente manipulado também Sendo as emoções mais intensas e instantâneas CEZAR JUCÁVASCON CELOS 2016 elas costumam ser mais difíceis de serem controladas Já os senti mentos são mais fáceis de serem equilibrados e até em alguns casos reprimidos O controle emocional é portanto um recurso essencial da mente humana que permite que ela seja confrontada com as situações mas saiba dosar o grau de sen sações que serão sentidas neste momento sem emoções em excesso ou em falta Agora nos ocuparemos da relação entre juízos e emoções um dos mais fre quentes temas de debates na história da Filosofia KIRMAN et al 2010 p 215 As filosofias epicuristas estoicas e até mesmo céticas estimularam uma discussão que de modo geral buscava caminhos de controle dos nossos estados emocionais de modo a nos permitir que alcançássemos a felicidade independentemente de seu significado e isso reforça o valor que as emoções possuem em nossas decisões Certas ações são totalmente dominadas por nossas emoções e a aplicação da racionalidade nestes casos é uma forma de intermediar essa comunicação que sem ela acabaria em confusão Na Modernidade vários filósofos apresentaram as suas respectivas visões sobre o vínculo entre emoção e razão A absolutização da razão com a promessa de uma vida de progresso equilibrada e segura para o ser humano fez o sujeito se identificar e confiar plenamente na ciência que até hoje existe um certo traço dessa influência iluminista Porém a história mostrou principal mente no século XX o mau uso da razão pelo homem não legiti mando a promessa iluminista CRUZ 2010 p 37 Sendo a racionalidade um objetivo a alcançar pelo indivíduo moderno a compreensão geral é que uma vez atingida a meta isso significaria equilíbrio portanto felicidade A ciência como expressão máxima da manifestação da racionalidade se tornou a grande interlocutora dessa época no entanto o que se percebeu ao longo dos séculos XVI a XX é que a razão não conseguiu con trolar os impulsos de guerra violência e barbaridade que ocorreram desde os primórdios da colonização europeia até as grandes guerras Teoricamente o UNIDADE 3 112 equilíbrio emocional promovido pela sobreposição da razão não deveria ter como consequência tantos fenômenos negativamente marcantes na História Neste caso ou as emoções atrapalharam a clareza da razão ou os indivíduos não souberam usála conforme os filósofos orientavam Figura 4 Comunicando as emoções Descrição da imagem rosto de uma mulher expressando várias emoções como alegria interrogação raiva susto carinho acolhimento nojo etc Immanuel Kant também segue na mesma linha de pensamento ao entender a experiência sensível como parte da animalidade humana Assim um indivíduo não seria totalmente animal ao fazer uso da razão para outros fins além daqueles que o instinto imediatamente estimula O homem enquanto pertence ao mundo sensorial é um ente ca rente e nesta medida sua razão tem certamente uma não desprezí vel incumbência de parte da sensibilidade de cuidar do interesse da mesma e de proporse máximas práticas também em vista da felicidade desta vida e se possível também de uma vida futura Apesar disso ele não é tão inteiramente animal a ponto de ser UNICESUMAR 113 indiferente a tudo o que a razão por si mesma diz e de usála simplesmente como instrumento de satisfação de sua carência enquanto ente sensorial KANT 2015a p 94 Kant também não nega a dualidade do ser humano Ao mesmo tempo em que o autor entende que a nossa mente está presente na dimensão inteligível ele também visualiza o seu potencial sensorial As paixões são expressões do envol vimento dos nossos sentidos nesse universo inteligível isto é existe interrelação entre as nossas afecções e a nossa razão Uma faz uso da outra para desenvolver estratégias em busca da felicidade no entanto a razão ainda deve se sobrepor e dominar a mente de modo que esta última cumpra a sua função que vai além de sua disposição natural de somente cumprir os instintos De acordo portanto com esta disposição natural uma vez encon trada nele ele certamente precisa da razão para tomar sempre em consideração o seu bem e mal mas ele além disso a possui ainda para um fim superior a saber não somente para refletir também sobre o que é em si bom ou mau e sobre o que unicamente a razão pura de modo algum interessada sensivelmente pode julgar mas para distinguir este ajuizamento totalmente do ajuizamento sensível e tornálo condição suprema do último KANT 2015a p 95 O raciocínio kantiano chama a atenção portanto para dois pontos 1 existe uma natureza que aproxima o ser humano dos animais e cumprila implica especifi camente usar da razão para decidir o que é certo e o que é errado o que carrega alto grau de sentimentos e emoções também 2 o ser humano ultrapassa a sua natureza ao conseguir definir o que faz parte do juízo sensível e o que compõe o juízo da razão e assim é neste esforço que o ser cumpre a sua função última transcendendo a sua natureza e se tornando humano Por isso Kant entende que ser humano é basicamente não se deixar guiar pelas emoções e pela sensibilidade mas pela razão No entanto não podemos nos confundir deixarse guiar pela razão não significa anular as emoções e os senti mentos mas colocálos em segundo termo afinal ou um princípio da razão é já em si pensado como o fundamento determinante da vontade sem consideração de possíveis objetos de apetição KANT 2015a p 95 o que conforme o autor UNIDADE 3 114 caracteriza a chamada lei prática da razão ou então um fundamento determi nante da faculdade de apetição precede a máxima da vontade que pressupõe um objeto de prazer e desprazer por conseguinte algo que deleita ou provoca dor KANT 2015a p 95 Neste segundo caso a razão é aplicada de maneira a impedir o desprazer ou a promover o prazer potencializandoo e caracterizando a razão prática mas nunca uma lei Para encerrar a nossa discussão neste tema cabe olharmos o que diz o filósofo alemão Schopenhauer 2015 p 132134 no que tange à imaginação à memória aos sentimentos e à capacidade desses em contribuírem para o mau julgamento Devemos tomar as rédeas à fantasia em tudo o que concerne ao nosso conforto e desconforto Logo antes de mais nada não deve mos construir castelos ao ar porque estes são muito caros já que imediatamente depois temos de demolilos com suspiros Para tomar as rédeas à fantasia como recomendado acima também é preciso impedir que ela evoque e ilustre as injustiças outrora so fridas bem como os danos as perdas as injúrias as preterições as humilhações e coisas semelhantes Do contrário excitamos nova mente a indignação a cólera e todas as paixões odiáveis há muito tempo adormecidas que contaminam nossa alma O filósofo alemão alude a três observações importantes as quais já trabalhamos nesta unidade a forma como a imaginação guia a memória e esta por sua vez presentifica os sentimentos dificultando a racionalização de nossos juízos Como construir castelos no ar Schopenhauer 2015 se refere às várias fantasias e ideais que formamos em nossa vida fazer tal faculdade casar com tal pessoa ou não casar com ninguém conquistar a independência financeira em determinada idade e por aí vai São vários sonhos que à medida em que vivemos caem por terra com nossos suspiros É como costumamos brincar ao dizer que a nossa imaginação é sempre mais interessante do que a realidade em que vivemos No entanto o autor em nenhum momento enfatiza que devemos parar de usar a nossa capacidade de produzir fantasias mas sim devemos nos esforçar para trazer esse imaginário ao chão e não o deixar voar a alturas muito grandes Em um segundo momento o filósofo também argumenta que o exercício de controlar as nossas fantasias deve levar em consideração as memórias que elas estimulam tornando presentes sentimentos e emoções que estavam enter UNICESUMAR 115 rados Então quando acreditamos ter desenvolvido bom equilíbrio emocional ao ter deixado tais sentimentos para trás eles retornam prejudicando o nosso raciocínio por meio do rancor Isso ocorre por exemplo nas discussões em relacionamentos Em um mo mento ou outro um dos parceiros levantará questões mal resolvidas do passado pois algum ponto da discussão tocou em imagens outrora reprimidas em sua memória Ao se lembrar delas a dor que está sentindo devido à discussão se adiciona ao sofrimento causado por outra briga anterior piorando a situação e removendo do interlocutor qualquer possibilidade de racionalização do ocorrido O que Schopenhauer 2015 questiona é justamente a dificuldade que temos de resolver os nossos problemas pois damos ouvidos demais às nossas idealizações e aos nossos rancores Como colocamos devemos antes encarar de maneira bem prosaica e sóbria tudo o que for desagradável para assim aceitarmos o que nos couber da maneira mais fácil possível SCHOPENHAUER 2015 p 135 OLHAR CONCEITUAL Um dos requisitos para sabermos lidar com as nossas emoções e assim desen volver o bom controle delas é aprender a identificálas Muitas vezes não sabe mos o que sentimos o que pode se tornar um grande obstáculo à compreensão de como saber lidar com essa afeição Aprendemos nesta unidade que qual quer juízo se articula com as nossas condições emocionais porém a nossa razão deve se sobrepor a essas condições de modo a impedir decisões precipitadas ou atitudes mal avaliadas provocando um transtorno totalmente desnecessário para você e muitas vezes para o outro envolvido É tendo isso em mente que apresentamos a tabela a seguir tendo como pressuposto a teoria de que exis tem emoções primárias que são aquelas originadas e elaboradas na infância e as emoções secundárias ou seja aquelas que derivam das primárias e que são apreendidas no decurso da vida UNIDADE 3 116 OLHAR CONCEITUAL As sensações que a tristeza provoca são a solidão a baixa estima a depressão e a solidão Dessa forma essas sensações são contrárias às que a alegria provoca por exemplo A pessoa demonstra este sentimento por meio de palavras choro isolamento entre outros tipos de atitudes As motivações que podem resultar na tristeza vêm de frustrações pois a pessoa tem as suas expectativas quebradas e sente um sentimento negativo Podemos caracterizálo como um impulso negativo que impede a pessoa de entrar numa furada Assim quando a pessoa fzer algo estúpido que coloca a sua vida em risco o medo age como um aviso ou um impedimento Assim sendo é um sentimento negativo contudo ao mesmo tempo ele é bom Isso porque leva o indivíduo a entender os seus limites e a se conservar saudável Ademais nos casos em que o sentimento é considerado irracional e o perigo não é real podese superálo Tristeza Medo Esperança Surpresa nsiderado irracional e o perigo É caracterizada por uma repulsa a algo que é considerado como errado negativo mau Essa repulsa provoca o afastamento dos elementos ou das pessoas que transmitem isso Aversão A surpresa é a reação a algo que aconteceu de modo inesperado seja isso algo positivo ou negativo Assim podemos expressála por meio de impulsos nervosos vindos da adrenalina do sangue Neste contexto vale dizer que a surpresa pode causar um ataque do coração pois o ritmo cardíaco aumenta na hora Assim se for surpreender alguém certifquese de pegar leve Este sentimento surge quando a pessoa sente que os seus direitos foram violados Nestes casos as pessoas respondem a este tipo de injustiça com irritabilidade A pessoa sente isso principalmente quando está magoada de modo que se sente traída ou enganada Raiva or meio de impulsos os to vale dizeer q r que ue a o cardíaaco o a o aaume ume m nta nta ta o cardíacco aaum ume ume t nta nta e peggar ar r lelev lev lev ev ev evv evve e e e e e e Os 16 principais sentimentos A esperança é acreditar que tudo dará certo que as metas serão alcançadas e que as situações melhorarão Quando a esperança é voltada para a própria pessoa ela acredita ser capaz e que conseguirá enfrentar as difculdades e vencêlas Ademais quando direcionada aos outros é o sentimento de que mesmo que a situação seja péssima há pessoas capazes que podem reverter este estado Às vezes é o último sentimento em que a pessoa consegue se segurar antes de desistir Alegria Este sentimento produz sensações de bemestar e bom humor Todo mundo fca mais simpático quando está alegre isso se dá pelo fato de a alegria estimular o otimismo Esse sentimento se origina de situações favoráveis que a pessoa experimenta e pode ser expresso por meio de sorrisos UNICESUMAR 117 OLHAR CONCEITUAL Paixão Amor Este sentimento tem origem na falta de confança Ele decorre da sensação de achar que a pessoa que você tanto ama não lhe ama ou que ela pode se apaixonar por outra Assim sendo os ciúmes têm muita ligação com a baixa autoestima e o medo de ser abandonadoa ou estar sozinhoa Esse sentimento pode se basear em algo real ou não Ciúmes or Empatia sentimento nto tee tem o m o m o m o irig rigg rigem em em na na na f l fal fal falta ta ta de de de con on con confan fan fan fança ça Ele deco char que a pessoa que v ê ocê tanto ama não lhe ama ou xonar por outra Assim sendo os ciúmes têm muita ligaç mes Compaixão Este sentimento é aquele em que uma pessoa se coloca no lugar da outra que está sofrendo sentindo uma espécie de pena por ela Nem sempre é direcio nado a alguém conhecido entre a família ou os amigos Assim a pessoa pode ver alguém na rua sofrendo e se sentir compadecida por ela Além disso a compaixão geralmente é demonstrada por um desejo de ajudar o outro Não é só sentir pena é também agir de forma efetiva para ajudar o outro a sair desta situação ruim oa oa oa oa se se se se co co co coloc loc loca n a n a nno l o l o l o lug uga ugar da outra é aquele em em qu quu q e u e u e u e uma ma pes pes pes pes p s ena por lela N Nem sempre é dire ntindo uma espéc é ie de pe u os amigos Assim a pessoa p onhecido entre a família o O amor se resume ao afeto que sentimos pelo outro seja esse outro uma pessoa um animal um objeto um lugar etc Neste contexto o que estimula o surgimento deste sentimento é a imagem que criamos do objeto Assim como os ciúmes o amor nem sempre é algo real pois a imagem que criamos é infuenciada pelo o que queremos acreditar Isso por sua vez é totalmente subjetivo ação com a baaixaa sozinhoa EEsssssse se aç A paixão diferentemente do amor é mais momentânea e repentina Por isso pode ser que deixe de existir de uma hora para outra Ela tem a ver com o encantamento do início do namoro mas também pode durar por toda a vida Muitas pessoas se sentem muito bem ao estarem apaixonadas mas outras preferem não se sentirem assim Porém é muito difícil controlar o sentimento da paixão normalmente ele é avassalador ar por toda a vida adas mas outras olar o senntim tim ment ent ent nto A empatia é um sentimento que de certa forma é derivado da compaixão é colocarse no lugar do outro Enquanto a compaixão pressupõe sofrer junto paixão signifca sofrer compaixão é sofrer com alguém a empatia é um sentimento mais amplo É possível ser empáticoa em situações de dor ou de alegria Na lista de sentimentos de uma pessoa excessivamente narcisista a empatia não costuma fgurar com destaque timento pode se basear em algo real ou não A confança também faz parte da lista de sentimentos secundários Ela exprime um sentimento de segurança que a pessoa sente por outra pessoa ou por algo Por exemplo você pode confar no seu carro É por meio da confança que conseguimos vencer situações difíceis medos Contudo ela não surge do nada Você deve ter certo nível de afeto por algo ou alguém para que consiga confar A confança também pode ser ruim por exemplo ter confança demais em si mesmo é perigoso porque você pode se colocar em situação de risco Além disso confar demais em outras pessoas também pode trazer problemas Confança UNIDADE 3 118 OLHAR CONCEITUAL Hostilidade Esta emoção é intrínseca ao amor Assim pode ser reconhecida nas relações maternais fraternas paternas românticas fliares e em demais relaciona mentos Ademais pode ser relacionada ao prazer e ao sexo de modo que a pessoa pode se sentir estimulada a se aproximar do seu objeto de desejo Esse sentimento pode ser expresso por gestos Afeto Ocorre quando a pessoa tem uma expectativa que não é correspondida na realidade O sentimento desagradável é chamado de frustração aquela culpa interna misturada com desgosto por ter acreditado que algo seria melhor do que realmente foi A expectativa frustrada pode ser criada em torno de pessoas objetos projetos ou até mesmo em relação a si próprioa Frustração A pessoa que se sente hostil está ressentida ou indignada com alguma situação ou pessoa Geralmente é motivada por violência física e hostilidade de outro indivíduo No entanto o mesmo sentimento também pode surgir quando a pessoa acha que alguém está desconfando dela Quadro 2 Os 16 principais sentimentos Fonte adaptado de Psicanálise Clínica 2019 online Há ainda um último assunto que gostaria de apresentar a você a mente e a arte como prática da imaginação Nele entenderemos que a relação entre mente e arte abrange uma significativa quantidade de parâmetros de análise imaginação fantasia emoções memória narrativa interpretação etc no entanto em nosso es tudo nos focaremos em três conceitoschave emoção memória e imaginação Você já pensou nos estímulos sensíveis que uma música provoca em você Se não faça um experimento escute as seguintes músicas recomendo fechar os olhos e ouvilas do início ao fim 1 YoYo Ma Bach Cello Suite nº 1 in G Major 2 Vinicius de Moraes Toquinho Tom Jobim Corcovado 3 Calle 13 Latinoamérica UNICESUMAR 119 Certamente nenhuma das músicas passou indiferente aos seus ouvidos indi cando o que chamamos de sensibilidade estética Mas como isso se relaciona com os nossos estados mentais Um dos filósofos que estudaremos nesta uni dade o britânico Roger Scruton 2017 compreenderá a arte como um fim em si mesma Isso significa que não é responsabilidade dela estimular qual quer emoção mas esta é uma consequência da própria experiência que a arte promove Isso torna a sensibilidade estética ou seja a percepção artística um requisito para interpretar a própria arte mas em nenhum momento ela tem como objetivo essa interpretação O contato com qualquer obra de arte cinema música pintura escultura literatura arquitetura gastronomia etc tem como efeito uma experiência sen sorial bastante acurada Quanto mais experiências temos mais afinada ficará a nossa percepção e mais intensas serão as nossas próximas vivências Mas como assim Não nascemos com uma sensibilidade artística aprimora da Do mesmo modo como aprendemos a ler e a escrever também aprendemos a pensar e a interpretar o mundo ao nosso redor Os nossos sentidos precisam ser experimentados e à medida em que nos desenvolvemos como seres humanos podemos vivenciar diferentes graus de sensações ao nos depararmos com uma obra artística Uma pessoa que se dedica ao trabalho pouco reflexivo e automati zado de bater ponto todos os dias dificilmente terá profunda conexão com uma pintura contemporânea A reação mais imediata de quem pouco está acostumado a ter contato com museus ou galerias é meu filho de 5 anos pode fazer isso A arte contemporânea é degenerada No entanto o estudo da história da arte uni do à construção de um acervo sensorial e visual dentro de uma mente aberta às novas experiências sensíveis pode conduzir a outra compreensão de tal estilo Tudo depende do nível de receptividade da mente para novas sensações Para aprofundar os seus pensamentos em um caderno ou uma folha de papel responda A partir do que você aprendeu sobre emoções e sentimentos o que sentiu ao escutar cada uma das músicas Alguma delas lhe despertou uma emoção em especial Esteticamente qual delas você considera a mais bela aos seus ouvidos Alguma delas lhe despertou alguma memória Se sim qual e do que você se recordou PENSANDO JUNTOS UNIDADE 3 120 Em relação à noção do significado da beleza na arte atual não só nas artes plásticas mas em todas as expressões o filósofo norteamericano contempo râneo Arthur Danto 2015 p 27 declara que O que se pode deduzir dessa história de desaparecimento concei tual não é que a arte é indefinível mas que as condições necessárias para que algo seja arte terão de ser bastante gerais e abstratas para se adequar a todos os casos imagináveis e em particular que resta muito pouco do nosso conceito de arte em que se basear para o autor de uma definição real Se qualquer coisa pode ser uma obra de arte e nem tudo é belo a beleza não poderia ser realmente parte da definição de arte Figura 5 Obra Latas de Sopa Campbell Descrição da imagem casal observando a obra de Andy Warhol conhecida por se constituir em uma enorme quantidade de latas de sopa Campbell dispostas uma ao lado da outra UNICESUMAR 121 A Figura 5 apresenta uma obra de arte do artista norteamericano Andy Warhol maior figura do movimento da pop art O nome da obra é Latas de Sopa Cam pbell foi produzida em 1962 e é composta por 33 quadros pintados por meio de um processo chamado serigrafia que consiste em fazer a tinta vazar para uma tela a partir de uma imagem em material permeável e com um rolo ou uma es pátula planificar a tinta sobre a tela Assim se torna possível fazer uma espécie de impressão da gravura reproduzindo diversas cópias No caso cada quadro é diferente do outro pois Warhol pintou depois o nome do sabor de cada sopa Certamente a pretensão do artista norteamericano não foi se destacar pela beleza tampouco pelo impacto emocional Qualquer um que possui contato com essa obra oscila entre a indiferença e a curiosidade Todavia mesmo estas duas impressões configuram dois estados mentais a indiferença não é a anulação do sentimento ao contrário é por si só uma sensação de apatia frente a algo Já a curiosidade é o estímulo provocado por alguma indagação um questionamen to acerca de algo Mesmo que o espectador na frente de tal reprodução não se sinta minimamente instigado não significa que ele não está sentindo nada pois mesmo o nada é uma emoção um estado mental Portanto o que Danto 2015 destaca é que a beleza ou a sensação do belo do sublime e até mesmo o famoso efeito uau são algumas das categorias que uma obra de arte pode carregar mas não são os únicos estímulos que ela é capaz de promover Contudo nos acostumamos há tanto tempo ao conceito de belo como única possibilidade de expressão e de intenção em um trabalho artísti co que para muitos a arte contemporânea passa uma impressão imediata de inutilidade ou até mesmo de falta de bom gosto Interessante é entendermos que mesmo o bom gosto é uma expressão mental derivada de um estímulo externo sendo por isso totalmente relativo e de forma alguma ele deve estar obrigatoriamente presente em uma obra O conceito de beleza na arte é uma das várias categorias que permeiam os valores que uma obra artística deve expor Muitas pessoas equivocadas acreditam que o bom gosto é o único ou é o principal valor porém não foram poucas as obras produzidas para serem feias Francisco de Goya artista espanhol foi um dos que tentou expressar a feiúra Obcecado por deformações Goya não se importava com produzir uma arte bela mas queria impactar pelo oposto Como exemplo temos as telas O Louco ou Saturno Devorando um Filho Este último você pode ver a seguir UNIDADE 3 122 São narrativas que ninguém se sentiria confortável de ficar contemplando em plena sala de visitas ou de jantar e Goya fez isso propositadamente No campo da culinária por exemplo um prato belo parece ser um requisito a partir da conhecida máxima de que comemos com os olhos logo imaginar que um creme verde e gosmento poderia ter um sabor interessante é realmente um desafio para a nossa mente tão acostumada a querer enxergar a beleza e têla como sinônimo de bom Uma dobradinha por exemplo pode se tornar uma Figura 6 Obra Saturno Devorando um Filho Fonte Goya 18191823 online Figura 7 Obra O Louco Fonte Goya 2021 online Descrição quadro de Goya retratando um relato da mitologia grega em que o deus Sa turno devora um de seus filhos A ideia é cha mar a atenção para o aspecto aterrorizante do acontecimento Descrição quadro de Goya retratando a figura de um homem louco destacando as deformações faciais principalmente no sor riso Neste parece estar presente a própria indicação da loucura UNICESUMAR 123 iguaria para alguns e um pesadelo para outros o que revela que a definição de belo e gostoso é bastante relativa No entanto as categorias de belo e gosto podem estar muito mais associadas à uma ideia estética do que à arte em si como revela Michel Haar 2000 p 3536 grifos do autor filósofo francês a partir do pensamento de Kant Assim Kant dissocia duplamente e por princípio o artístico do esté tico A arte produz sem dúvida o prazer estético que é puro prazer de reflexão e não prazer de fruição Mas a natureza produz muito mais este puro prazer na arte a Ideia estética precede a obra enquanto na bela natureza basta uma simples reflexão a partir de uma intuição não preconcebida do que um objeto deve ser para despertar uma ideia Em outros termos a arte é a expressão de Ideias estéticas entendendo Kant como tais representações da imaginação que oferecem perspectivas ilimitadas de unificação dos atributos estéticos dos objetos A ideia estética supera o poder uni ficador do conceito ela permite à imaginação pensar um indizível que se situa além do entendimento O artista para criar tem que possuir mesmo que obscuramente como veremos tais Ideias que ele próprio só descobre depois Kant entende por ideia estética um horizonte de unificação de várias categorias que os objetos apresentam e os quais são submetidos ao nosso juízo Já que a arte para ele não é uma obra de fruição e sim de reflexão contemplação essas categorias estão particionadas e são apreendidas em maior ou menor grau conforme a individualidade de cada um É seguindo esta linha de raciocínio que Danto 2015 p 42 escreve O texto de Kant não é exatamente fácil de acompanhar mas ele claramente quer dizer que julgar algo belo é mais do que apenas ter prazer em experimentálo O prazer então está desassociado do conceito de beleza tornandose uma categoria própria De outro lado a natureza desperta muito mais facilmente essas ideias do que a arte que é criada a partir de uma ou mais ideias estéticas específicas sem que o espectador o perceba Desse modo o que Kant expressa é que o nosso juízo da obra está vinculado a conceitos e associações prévias que já permeiam a nossa mente Só podemos avaliar uma arte como impressionante bela divertida co lorida ou qualquer outro princípio estético se soubermos o que cada um deles UNIDADE 3 124 significa e como eles se relacionam com a arte em si Mesmo o processo de cria ção exige da imaginação aquilo que nem imaginávamos estar presente em nossa mente e diferentemente do que muitos acreditam um artista arquiteto chef de cozinha escritor escultor paisagista diretor roteirista designer etc não tem noção clara da obra que pretende criar até criála É por isso que muitos realizam estudos testam possibilidades pesquisam bastante até encontrar um repertório suficiente de ideias estéticas para colocar a mão na massa Figura 8 A natureza como fonte de beleza estética Descrição da imagem uma flor aberta mostra o seu colorido sendo por dentro violeta o que contrasta com o seu interior amarelo e a parte externa violeta mais escuro A flor está cercada por duas hastes de botões ainda não abertos em meio a plantas verdes em uma atmosfera embaçada Uma borboleta azul se aproxima da flor aberta para extrair o néctar Se você olha para a natureza imediatamente entende o que Kant quer dizer quan do ele fala que as ideias estéticas são facilmente apreendidas nela via intuição o que torna a natureza possível de fruição Em relação ao conceito de belo e como ele é tão unificador de nossa experiên cia estética Roger Scruton explica em sua obra Arte e Imaginação Um Estudo em Filosofia da Mente 2017 p 28 que UNICESUMAR 125 Existe uma linguagem de apreciação comum a todos os exemplos de apreciação estética dos filósofos e isso talvez nos permita assumir que um tipo particular de preferência é emitido em cada um deles Falamos de obras de arte como belas ou ótimas nós nos referi mos ao gosto de alguém em pinturas música paisagens e decoração interior criticamos a execução de peças musicais pinturas poemas e assim por diante na mesma linguagem referindonos ao que é certo ou não fazer o que funciona ou é adequado e assim por diante O belo e o bom são conceitos unificadores de toda a nossa contemplação da arte É como se dizer que algo é belo automaticamente significasse uma série de categorias que informam a qualidade positiva de uma obra Ao mesmo tempo é assim que costumamos avaliar a execução de uma peça teatral ou a dança de alguém e até mesmo a ideia de um indivíduo expressa em papel Afirmar nos sa que lindo ou ficou bonito é a maneira que temos de dizer que aquilo vale a pena ser contemplado foi produzido corretamente eou funciona bem No entanto ao mesmo tempo em que abrangem a totalidade da qualidade artística tais afirmações parecem não dizerem nada É belo em relação a quê O que torna a sua impressão dessa obra tão positiva Qual outra qualidade essa obra apresenta De que forma a contemplação dessa obra lhe acrescenta em ter mos de sentido e valor Então ao dizer é belo não estamos nos informando e tampouco informando o artista sobre o real significado por ele produzido em sua obra ao compreendermos que ele deve captar toda a positividade de seu trabalho Dentre as várias contribuições de Immanuel Kant para o estudo da estética está o concei to de sublime que ele interpreta da seguinte forma em contraponto ao belo O sublime háde ser sempre grande o belo pode também ser pequeno O sublime háde ser simples o belo háde ser limpo e adornado Uma grande altura é sublime do mesmo modo que uma grande profundidade só que esta vai acompanhada da sensação de estremecimen to e aquela de admiração Pelo que esta sensação pode ser sublimeterrível e aquela nobre Logo o belo não é necessariamente sublime no entanto o sublime excede em beleza causando sempre o espanto o deslumbramento Fonte adaptado de Kant 2015b p 34 EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 3 126 Nem toda a arte foi criada para armazenar uma memória mas decerto toda arte contém memória assim precisamos observar como a memória é narrada na arte Mikel Dufrenne 2012 filósofo francês e estudioso da estética descreve que todo objeto compreende de maneira ilimitada um mundo e é este que o obje to nos permite sentir adquirindo dessa maneira significado Esse mundo que nos fala nos diz o mundo não uma ideia um esquema abstrato uma vista sem visão que viria se acrescentar à visão mas um estilo que é um mundo o princípio de um mundo na evidên cia sensível DUFRENNE 2012 p 25 Se esse mundo se coloca como fenômeno a ser apreendido pela nossa mente certamente o significado que ele expõe não está no presente mas no passado Então qualquer narrativa que um objeto carregue já é por si uma memória visto que revela algo que se passou Entender o vínculo entre memória e arte implica perceber que a arte depende da obra entretanto o que é a obra A partir de Heidegger Michel Haar 2000 p 84 explica que a obra é uma coisa definindoa da seguinte forma uma matéria que recebeu a marca de uma forma Então a obra de arte é marcada por algo que a restringe limita define Para explicitar o seu ponto de vista Haar 2000 p 8485 continua Se olharmos como sugere Heidegger um quadro de Van Gogh representando um par de sapatos não podemos obviamente fazer nada com eles Mas o quadro mostranos este objeto de uso enquanto tal a relação destes sapatos com o trabalho na terra que os tornou desgastados e deformados Estes sapatos usados evocam o elo obscuro com a terra e o duro mundo do camponês ou da camponesa que os calçou A obra de arte não apresenta pois simples mente de modo realista e imitativo uma matéria e uma forma uma coisa encerrada em seu contorno ou em seu uso e sim a verdade implícita de uma coisa que seu uso comum oculta UNICESUMAR 127 A Figura 9 retrata a descrição realizada por Haar 2000 Na obra de Van Gogh como o autor descreveu há dois tipos de memória uma memória individual gerada pelo artista que ao pintar um par de sapatos cristalizou um conjunto de breves instantes que goram vivenciados uma memória coletiva que expressa a função dos sapatos o que eles eram qual história contém quem os utilizou por onde eles estiveram Toda obra carrega consigo um significado estético o qual como discutimos vai além das categorias do belo e do feio do bom ou do ruim e um significado narrativo o qual compreende as memórias que envolvem a produção e o objeto da obra Assim nenhuma obra se reduz à imitação mas ela se amplia ao comportar em si a individualidade do artista escritor arquiteto chef paisagista designer etc Figura 9 Obra Os Sapatos Fonte Van Gogh 1888 online Descrição da imagem tela de Van Gogh que mostra um par de sapatos desgastados pelo uso represen tados de uma forma que indica o trabalho duro de um camponês UNIDADE 3 128 Neste processo de depósito de valor o artista expõe a sua memória cons truindo outra camada de significado em sua obra Por exemplo um templo grego não é a imagem de nada não imita nada Que faz ele Ele dá lugar a um mundo e revela uma terra HAAR 2000 p 85 É interessante observarmos que uma vez sendo a arte depósito de memória ela consiste em uma pausa no espaçotempo a qual sendo capaz de atravessálo exporta essa memória dentro do objeto para os vários anos que se seguirem Logo o que era simplesmente passado se torna futuro e presente ao mesmo tempo em que as camadas de significado são desmontadas e interpretadas pelo espectador Acerca disso a filósofa suíça Jeanne Marie Gagnebin 2014 p 199 em sua interpretação de Walter Benjamin escreve que Defendo portanto uma outra possibilidade de relação com a cultu ra muito mais vital feita ao mesmo tempo de polêmica e de gratui dade Tal relação que se baseia na esperança comum a todos esses pensadores em particular a Walter Benjamin de que as obras da cultura humana possam ser não só produtos de sucesso e de ven da mas também e principalmente sinais extemporâneos unzeit gemäss diria Nietzsche e por isso antecipatórios diria Bloch de uma outra vida e de um outro tempo NOVAS DESCOBERTAS Títulos Grandes Olhos Ano 2014 Grandes Olhos é um filme do famoso diretor Tim Burton e apresenta a vida de Margaret dona de casa recémdivorciada que começa a lu tar para manter a guarda de seus filhos e para fins de obter sustento financeiro começa a pintar e a vender na rua telas de meninas com olhos grandes e melancólicos O filme retrata a forma como Margaret vai dar vida às suas pinturas por meio de suas vivências em um mundo patriarcal que dá pouco valor à arte em si mas o qual preferirá o valor de mercado dela Neste processo de construção de relações temporais e extratemporais a obra de arte como elemento cultural adquire um caráter histórico podendo ser reinter pretado continuamente à luz dos eventos presentes da memória do espectador UNICESUMAR 129 das categorias estéticas vigentes mas também pode representar uma historicida de um passado contendo em si a narrativa do artista Não se trata no caso de apreender a atualidade dos sapatos na pintura de Van Gogh mas de se permitir ser impressionadoa pela diferença temporal entre as histórias presentes na obra e as histórias que o espectador vivencia hoje as quais estão de algum modo asso ciadas ao tema No pensamento de Walter Benjamin isso seria uma expressão do que ele define por atualidade Aktualität como Gagnebin 2014 p 204 define Essa atualidade plena designa a ressurgência intempestiva de um ele mento encoberto esquecido dirá Proust recalcado dirá Freud do passado no presente o que também pressupõe que o presente esteja apto disponível para acolher esse ressurgir reinterpretar a si mesmo e reinterpretar a narrativa de sua história à luz súbita e inabitual dessa irrupção A temporalidade do passado não se reduz mais ao espa ço indiferente de uma anterioridade que precede o presente na esteira monótona da cronologia Pelo contrário momentos esquecidos do passado e momentos imprevisíveis do presente justamente porque apartados e distantes interpelamse mutuamente numa imagem mnêmica que cria uma nova intensidade temporal Em oposição à representação de uma linearidade contínua e ininterrupta do tempo histórico essa concepção disruptiva e intensiva da atualidade coloca em questão a narração dominante da história e propõe uma compreensão do passado cujo sentido pode sempre revelarse outro e uma autocompreensão do presente que poderia ser diferente A nossa memória costuma ser narrada historicamente em uma linearidade que por sua vez é acomodada como se os seus fatos tivessem sido necessariamente consequência de eventos anteriores Isso é bem percebido em filmes muito holly woodianos os quais se esforçam apenas em narrar a história Por exemplo o casal que se conhece começa a namorar passa por alguns conflitos atingindo o clímax do enredo consegue atravessálos e em um tom de conquista o filme encerra dando a entender que nunca mais este par enfrentará outros problemas Um evento desencadeia outro e assim por diante não há nenhuma complexidade narrativa e tudo é facilmente explicado No entanto a nossa mente como responsável pelo armazenamento de imagens que compõem a nossa memória sempre acrescenta informações e UNIDADE 3 130 constrói enredos cruzados a partir do que vivenciamos As nossas lembranças não são fidedignas nem o deveriam ser pois elas passam pelo crivo de nossa interpretação No caso de uma obra de arte presente e passado se tocam for mando assim um mosaico temporal e conferindo à narrativa manifesta na obra uma nova intensidade potencializando o seu significado Ao mesmo tem po em que esse mosaico dialoga com o passado abrindo a nossa mente para novas percepções histórias valores e compreensões de mundo ele conversa com o nosso presente transformandoo bem como a nossa compreensão a partir do self do presente vivenciado naquele momento Em nosso consciente destacase o papel desempenhado pela me mória Ao homem tornase possível interligar o ontem ao amanhã Ao contrário dos animais mesmo os mais próximos na escala evo lutiva o homem pode atravessar o presente pode compreender o instante atual como extensão mais recente de um passado que ao tocar no futuro novamente recua e já se torna passado Dessa se quência viva ele pode reter certas passagens e por guardálas numa ampla disponibilidade para algum futuro ignorado e imprevisível Podendo conceber um desenvolvimento e ainda um rumo no fluir do tempo o homem se torna apto a reformular as intenções do seu fazer e a adotar certos critérios para futuros comportamentos Re colhe de experiências anteriores lembrança de resultados obtidos que o orientará em possíveis ações solicitadas no dia a dia da vida OSTROWER 2014 p 18 Um exemplo deste fenômeno pode ser facilmente percebido quando lemos um livro literário impactante que modifica nossa percepção de mundo Antes da leitura dele a nossa história e epistemologia estavam enquadradas em um cenário específico de lembranças e conceitos que faziam sentido para a nossa mente todavia o processo de leitura desconstrutivo rompe com essa linearidade expondo novas teias até então não vistas em nossa consciência suscitando ima gens esquecidas e tornando presente um outro tempo que não aquele vivenciado antes da leitura Ao encerrar a apreciação da obra de imediato nos percebemos diferentes no entanto leva algum tempo para que a nossa cronologia volte a se assentar desta vez sobre novas estruturas que foram expostas pela narrativa Este é o efeito que a arte produz em nossa mente UNICESUMAR 131 Neste último momento veremos a relação entre arte criatividade e imagina ção Você já teve a oportunidade de imaginar uma música Em geral músicas apresentam histórias que quando tocadas irrompem em nossa mente As músi cas clássicas ou instrumentais principalmente revelam muito mais do que um conjunto de acordes Assim antes de iniciarmos este tema recomendo a você buscar na internet a seguinte melodia Clair de Lune de Claude Debussy Por ser bastante conhecida será fácil encontrála Escutea de olhos fechados e de forma relaxada simplesmente deixe as imagens desenrolarem em sua mente Há quem diga que escutar Debussy é como ver um quadro impressionista pois o seu som oscila entre a luminosidade e a fluidez em pinceladas leves e delicadas repleta de movimentos rápidos A intenção neste exercício é entender quais imagens se formaram em sua mente A música lhe transportou para algum lugar Seria este um lugar que você gostaria de estar agora Discutir a relação entre arte criatividade e imaginação envolve entender de que forma a nossa percepção se articula com as nossas imagens mentais Scruton 2017 diferencia a formação de imagens de imaginação Conforme esse autor embora as duas ações estejam conectadas elas não estão entrelaçadas isto é uma não é necessária para que a outra ocorra É possível imaginar sem partir da conexão de imagens por exemplo o fato de algumas crianças dizerem isto tem gosto de cocô em seguida um adulto pergunta mas você já comeu cocô O conflito entre a terra e o mundo é impossível de ser apaziguado O mundo exige a clarificação das formas espirituais e materiais ele quer que tudo seja signo e significante A terra exige o obscurecimento das formas o nascimento dos símbolos É o combate do dia e da noite Sem a obra este combate sempre mais velho do que ela permaneceria latente O que ela deixa adivinhar sob suas figuras audíveis ou visíveis sob o percurso de uma melodia sob o arabesco de um desenho sob tal ou qual junção de cores é uma fenda Riss invi sível ou o elo rascante que une terra e mundo O equilíbrio da obra que repousa em si mesma tem sua essência na intimidade do combate Toda obra seria assim um terceiro termo e até mesmo a mais feliz seria a resolução sempre provisória de uma tensão dolo rosa A brecha ontológica resolvese e se expressa no retraçar e se expressa no retraçar de um traço que dá lugar a uma figura Aproximar as duas potências adversas inscrever um mundo em uma terra é esta a essência do trabalho artístico Fonte Haar 2000 p 8788 EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 3 132 e a criança logo retruca não Então de onde veio a imaginação palativa dela Como ela sabe qual é o gosto das fezes Isso se relaciona segundo Scruton 2017 à imaginação que prescinde da formação de imagens e especificamente da re presentação ou sensação de algo que foi experimentado Podemos dividir as imagens em dois tipos aquelas nas quais o que é representado é algo que já foi visto ouvido etc formação de imagens como parte da memória e aquelas nas quais o que é representado não foi de fato experimentado formação de ima gens como parte da imaginação Esse segundo tipo de formação de imagens formar uma imagem de algo que jamais foi dado na experiência claramente envolve as características da imaginação tais como foram descritas Porém não há nada mais a se dizer em relação à conexão entre formação de imagens e imaginação Logo veremos que há Entre outras coisas formar uma imagem é uma das principais maneiras de imaginar isso explica segundo penso por que usamos a mesma palavra para descrever ambas as atividades Além disso há um tipo de processo de imaginar que envolve es sencialmente as características distintivas da formação de imagens Esse é o tipo de processo de imaginar envolvido ao conjurar uma experiência como quando me submeto a uma experiência na ima ginação ou imagino o som gosto visão ou cheiro de alguma coisa SCRUTON 2017 p 132133 Se o ato de imaginar é desenvolver uma imagem de algo que não foi experiencia do de que forma a criação entraria neste raciocínio Ostrower 2014 argumenta em um primeiro momento que pensar em criação envolve pensar em tensão e em potencial A criatividade nunca está cristalizada definida em uma forma con creta ela se modifica continuamente à medida que as experiências individuais alimentam novas formulações mentais A conclusão de uma obra portanto não significa que a criatividade se esgotou mas o processo de criação gerou novos pontos de conexão permitindo ao artista desenvolver a criatividade para outras expressões internas Provavelmente nem todas elas estarão presentes no quadro UNICESUMAR 133 ou na produção em questão mas certamente aparecerão de novo em projetos futuros os quais continuarão sustentando essa tensão que faz a criatividade sem pre estar em seu limiar mas sem ultrapassálo A tensão psíquica pode e deve ser elaborada Assim nos pro cessos criativos o essencial será poder concentrarse e poder manter a tensão psíquica não simplesmente descarregála Criar significa poder sempre recuperar a tensão renovála em níveis que sejam suficientes para garantir a vitalidade tanto da própria ação como dos fenômenos configurados Embora exista no ato criador uma descarga emocional ela representa um momento de libertação de energias necessário mas de somenos importância do que certos teóricos talvez o acreditem ser Mais fundamental e gratificante sobretudo para o indivíduo que está criando é o sentimento concomitante de reestruturação de enriquecimen to da própria produtividade de maior amplitude do ser que se libera no ato de criar Menos a potência descarregada do que a potência renovada OSTROWER 2014 p 28 Na dinâmica da formação das imagens em nossa mente o criar a expressão da criatividade se relaciona com a renovação dessas imagens em termos de força criadora Isso não significa que elas desaparecem de nossa mente mas sim que elas ganham em vitalidade pois criar representa uma intensificação do viver um vivenciarse no fazer e em vez de substituir a realidade é a realidade é uma realidade nova que adquire dimensões novas OSTROWER 2014 p 28 Esta nova realidade se faz no conflito do artista consigo mesmo que cresce em seu próprio processo criativo Fato perceptível por exemplo na arquitetura de Oscar Niemeyer a sua força criadora nunca se esgotava em seus projetos sempre inovando e rompendo com as delimitações apresentadas em ideias anteriores A Capela Metropolitana de Nossa Senhora da Aparecida localizada em BrasíliaDF da autoria de Niemeyer se difere consideravelmente da Capela Curial de São Francisco de Assis situada em Belo HorizonteMG UNIDADE 3 134 Ambas possuem o mesmo motivo religioso mas a experiência estética do divino se diferencia conforme o conceito arquitetônico que dominou cada uma A pri meira possui imponência modernosa e por dentro a sua simplicidade revela um silêncio visual do sagrado o qual estimula um sentimento de adoração Já a segunda de tom mais simpático adornada com um mosaico em sua frente logo remete a uma espécie de aconchego a um ser abraçado pelo divino As duas são Figura 10 Catedral de Brasília Figura 11 Capela de São Francisco Descrição da imagem fotografia da parte externa da catedral de Brasília com céu limpo e de azul pro fundo ao fundo e com prédios da Esplanada dos Ministérios Descrição da imagem fotografia da parte externa da Capela de São Francisco na lagoa da Pampulha em Belo Horizonte com céu limpo e claro ao fundo no parque atrás da capela há uma pessoa caminhando UNICESUMAR 135 Figura 12 Interior da Catedral de Brasília Descrição da imagem fotografia do interior da catedral de Brasília A imagem mostra a visão que temos ao entrar na catedral Há um tapete vermelho que se estende até as escadas do altar e quatro fileiras de bancos de madeira duas estão à esquerda e duas estão à direita A planta arquitetônica é circular o teto é composto por 16 pilares estruturais de concreto que se unem no centro Os espaços entre eles são preen chidos com vitrais que apresentam formas sinuosas e fluidas em azul verde e branco Ao centro temos três esculturas de anjos suspensas no teto as quais dão a ilusão de estarem voando dentro da catedral igrejas mas são estilos diferentes que proporcionam experiências litúrgicas com pletamente diversas Agora veja o interior da Catedral de Brasília na Figura 12 Agora o interior da Capela de São Francisco na Figura 13 Figura 13 Interior da Capela de São Francisco Descrição da imagem fotografia do interior da capela de São Francisco A foto nos dá a perspectiva da entrada da capela Há um corredor central que nos leva até o altar e nas laterais temos duas fileiras de bancos uma de cada lado O teto é abobadado côncavo com revestimento de madeira UNIDADE 3 136 Desde os anos 90 falase da importância de incluirmos a observação e a com preensão das emoções na aprendizagem humana Esta abordagem é chamada de Aprendizagem Socioemocional De fato desenvolver habilidades socioafetivas nos estudantes implica compreender como a mente funciona perante as emoções os sentimentos e afetos e ainda como a sensibilidade provida pela arte pode ajudar o educador e a educadora Suponha que você queira inserir em seu plano de aula o desenvolvimento socioafetivo e emocional dos seus alunos incluindo a experiência artística Pen se em como você realizaria isso e faça um exercício concreto com um plano de ensino A seguir apresente a alguém vinculado à educação e veja o que ele ou ela comentam a respeito Imaginação e fantasia são duas ações de nossa mente Na realidade na Filosofia a fan tasia costuma ser vista como um capricho ou uma frescura da imaginação contudo ter a fantasia como supérflua nesta interação é alimentar o ideal da primazia da razão e da lucidez sobre todo o nosso pensar o que é uma atividade impossível Surpreendente é a quantidade de fantasia que envolve os nossos desejos à medida que vivemos no mundo o que a torna dentre outras situações um mecanismo de proteção a fim de sustentar as nossas buscas conferindo sentido em nossas vidas Imaginar a possibilidade de fazer um mestrado em outro país por exemplo mesmo que no presente seja um desafio é parte das nossas construções imaginárias que nos permitem enxergar aberturas no mundo O problema da fantasia não é criála mas viver somente dela alimentandoa continua mente com receio de olhar para a realidade Neste caso ao invés de conferir esperança e sustentar os nossos desejos ela se torna uma prisão de nossa mente impedindoa de exercer a criatividade para viver no mundo visto que a própria fantasia impede o indiví duo de enxergar o próprio mundo muitas vezes EXPLORANDO IDEIAS 137 AGORA É COM VOCÊ 1 A doutrina estóica é a mais típica e radical entre as que negam o significado das emoções O seu fundamento é que a natureza proveu de modo perfeito à conser vação e ao bem dos seres vivos dando aos animais o instinto e ao homem a razão As emoções porém não são provocadas por nenhuma força natural são opiniões ou juízos ditados por leviandade portanto fenômenos de estupidez e de ignorância ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 2007 p 3110 Certas ações são totalmente dominadas por nossas emoções e a aplicação da ra cionalidade nesses casos é uma forma de intermediar esta comunicação pois sem essa aplicação acabaria em confusão Outros filósofos discursaram sobre a relação entre a emoção e a razão no juízo de nossas ações Com base no que foi estudado leia as afirmações a seguir I Para Arthur Schopenhauer o problema não está na emoção mas na imaginação que se perde nos ideais II Immanuel Kant entende que as nossas emoções devem ser completamente anuladas pela nossa razão permitindo total dominância de nossa racionalidade sobre os juízos cotidianos III Spinoza visualiza as emoções como um componente do nosso agir diário No entanto para ele só seremos livres quando deixarmos de nos submeter à nossa faculdade sensível e permitir que a razão guie as nossas decisões IV Wassily Kandinsky compreende a emoção como um requisito para a tomada de decisões e entende que a razão nem sempre é uma faculdade perfeita para orientar as melhores escolhas É correto o que se afirma em a I II III e IV b Somente II e IV c Somente I e III d Nenhuma das alternativas está correta e Somente II e III 138 AGORA É COM VOCÊ 2 A arte não se contenta em estar presente pois ela significa também uma maneira de representar o mundo de figurar um universo simbólico ligado à nossa sensibilidade à nossa intuição ao nosso imaginário aos nossos fantasmas JIMÉNEZ M O que é estética São Leopoldo Unisinos 1999 p 10 Uma das grandes questões da arte é avaliar se ela é um meio para alcançar determina do estado emocional ou se possui um fim em si mesma Quanto a isso um dos autores que estudamos entende que a arte não pode de forma alguma ser considerada um meio para atingir qualquer experiência estética Ela possui um fim em si mesma logo o estímulo mental é uma consequência desse fim não o objetivo da arte Em relação ao filósofo que propôs esta reflexão sobre a arte e a experiência sensorial humana assinale a alternativa correta a John Locke b Immanuel Kant c Fayga Ostrower d Wassily Kandinsky e Roger Scruton 3 A imaginação pode ser tratada sob duas perspectivas como uma fuga da realidade por meio da fantasia o filósofo Arthur Schopenhauer discutiu acerca disso ao men cionar as fantasias que são construídas de maneira muito distante da realidade ou então ela pode expressar uma continuidade em relação à realidade seja por meio da memória seja por meio das imagens concretas apreendidas por nossa experiência sensível Das teorias que vimos nesta unidade escolha uma e comentea MEU ESPAÇO MEU ESPAÇO 4 Representação Mental Intencionalidade e Ação Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade de aprendizagem examinaremos o modo como repre sentamos nossos estados mentais Representar é colocarse no lugar de outro então de que modo os nossos desejos vontades e sentimentos podem ser representados visto que eles são mentais portanto não físicos Você verá como a linguagem tem um papel fundamental neste procedimento Depois investigaremos a relação entre nossos estados mentais e a intencionalidade pois sempre que desejamos cremos e sentimos enfim quando passamos por qualquer outro estado mental é sempre sobre algum objeto seja ele dentro ou fora de nós e todo desejo crença e sentimento é dirigido ou orientado para esse objeto portanto os nossos estados mentais são intencionais Por fim aprenderemos que esses estados mentais também comportam atitudes proposicionais que são a relação entre o que uma pessoa pensa e o que ela fala E ainda que eles têm uma relação direta com as nossas ações isto é não há ação sem um sujeito que age de modo racionalmente deliberado e voluntário para a sua realização mesmo em casos quando dizemos que agimos sem pensar ou que fomos guiados por nossa emoção UNIDADE 4 142 Esta história é uma ficção mas poderia ter acontecido desse modo Rita queria muito que os seus alunos aprendessem sobre a escravidão no Brasil mas ela queria que fizessem isso a partir da investigação de pessoas que vivenciaram aquele período Como é sabido há pessoas ainda vivas que têm boa memória daqueles tempos Rita pediu que os alunos procurassem os seus avôs e avós bisavôs e bisavós para saber como eles viveram aquele tempo Os alunos ficaram entusiasmados Antônio negro foi conversar com sua bisavó negra que lhe contou histórias do tempo em que foi es crava na maior fazenda da região pertencente aos Carvalho Rodrigues confidenciando que o avô de Antônio havia nascido filho do coronel Fe lipe Carvalho Rodrigues Coincidentemente Fabrícia branca conversou com seu bisavô chamado Felipe Carvalho Rodrigues branco e dono de escravos na maior fazenda da região que lhe contou várias histórias acerca da vida dos escravos No dia da apresentação dos trabalhos Antônio e Fabrícia ficaram frente a frente narrando cada um a sua história e todos perceberam que era comum a ambos A repercussão foi terrível e Rita foi chamada para dar explicações Tudo que ela disse foi eu não tinha a intenção de que isso acontecesse tudo o que eu intencionei fazer foi que os alunos se entusiasmassem com a atividade de pesquisa Temos na história narrada um claro caso em que Rita agiu com certa intenção mas ela foi cobrada pelos resultados não intencionais de sua ação Neste caso temos uma ação previamente planejada portanto ela foi mentalmente causada Ela também foi orientada para um fim qual seja a realização da atividade de aprendizagem pelos alunos Rita enten deu que a realização seria mais proveitosa aos alunos do que a leitura de textos didáticos sobre o tema a ação também foi voluntária pois Rita poderia ter escolhido outro curso de ação para a sua atividade e também foi deliberada e racional porque quando chamada a dar explicações a professora pode fazêlo apelando à racionalidade do seu planejamento esperando que as pessoas entendessem que ela não tinha propositalmente causado aquela confusão terrível Estamos perante um claríssimo caso em que nossos estados mentais intencionais produzem ações acerca das quais devemos prestar contas depois e que serão avaliadas por outros A história de Rita nos ensina que por melhor planejadas que sejam as nossas ações isto é por mais que a nossa mente se empenhe em de UNICESUMAR 143 liberar racional e teleologicamente acerca de uma ação no mundo e por mais que isso signifique prever possíveis efeitos colaterais ainda assim as nossas ações estão sujeitas a repercussões não previstas e ao juízo nem sempre favorável de outros Isso mostra como a nossa vida mental é terrivelmente complexa Agora a sua tarefa é a seguinte vivemos em uma pandemia de Covid19 a qual se sabe que a vacinação em massa é a única solução para contêla Para isso uma miríade de médicos cientistas está investigando uma vacina em laboratórios na Europa e na China Recolha falas desses cientistas nas quais seja possível perceber e apontar as suas preocupações com efeitos colaterais e repercussões negativas da vacina na vida das pessoas Agora registre a sua resposta a partir das reflexões que elas possibilitaram Procure pensar nestas questões como transmitimos a outros os nossos estados mentais à medida que cooperamos juntos para a realização de uma atividade De que modo atribuímos intencionalidade a nossos estados mentais Desde que esses estados são intencional e deliberadamente orientados para a ação como podemos prevenir efeitos colaterais e repercussões negativas de nossas ações a partir deles Você terá aqui um espaço chamado Diário de Bordo em que poderá anotar as reflexões obtidas DIÁRIO DE BORDO UNIDADE 4 144 O nosso primeiro assunto a ser estudado será a representação mental Para isso precisamos retomar o que foi aprendido na Unidade 2 acerca de nossos estados mentais Você entendeu que esses estados dizem respeito a quem os possui e a ninguém mais Ao dizer estou pensando é você quem está pensando este pen samento e nenhum outro ou outra Isso quer dizer que você é um Eu que pensa sobre e a partir de si mesmo e chamamos isso de subjetividade Mas de onde vêm esses estados mentais e como eles podem ser particula res isto é serem somente daquele indivíduo consciente Para responder a esta questão você precisou compreender os três modos como a sua mente trabalha Ao receber uma impressão por meio dos sentidos imediatamente ocor re uma sensação em sua mente que gera uma consciência sobre a situação externa que causou aquela sensação Esta estabelece uma relação direta entre a impressão dos sentidos e o objeto que você experimentou no mundo e do ravante acontece um fervilhar de percepções mentais chamado raciocínio o qual gera o conhecimento que você começa a possuir daquela experiência vivida e por extensão de muitas outras assemelhadas ou não Você passa a ser um sujeito com uma vivência do mundo que o rodeia e chamamos esta primeira operação mental de sensação e o fato de que cada indivíduo a de senvolve para e a partir de si mesmo de qualia A segunda operação mental referese às sensações que já foram processadas e são em relação ao presente passadas Estas estão disponíveis e podem ser aces sadas por meio do que é chamado de memória E junto com a memória que é uma operação mental consciente de que algo está guardado e pode ser trazido ao presente em qualquer tempo você conheceu o inconsciente aqueles conteúdos que sequer temos consciência de que estejam guar dadas e vindos à nossa mente nos surpreendem como se nunca tivessem estado lá Veremos aqui que os estados mentais são intencionais isto é quando você sente deseja pensa raciocina ou acredita é sempre sobre alguma coisa existente no mundo externo ou não mesmo que faça parte somente de sua imaginação ainda é sobre algo mesmo quando você diz que não está pensando sobre nada este nada ainda é uma referência para você dizer isso a alguém Boas conversas começam a partir de não se pensar sobre nada Surge então a questão acerca de como representamos os nossos estados men tais isto é como expressamos falamos e comunicamos acerca deles Para dizer de UNICESUMAR 145 outro modo como posso dizer a você o que estou pensando seja um desejo seja uma vontade uma disposição etc Chamamos isso de representação mental Uma teoria da representação mental diria que ela toma como seu ponto de partida Estados mentais do senso comum como pensamentos crenças desejos percepções e imaginações Dizse que esses estados pos suem intencionalidade eles são sobre ou referem a coisas e podem ser avaliados com respeito a propriedades como consistên cia verdade adequação e acuracidade Uma Teoria da Repre sentação Mental define esses estados mentais intencionais como relações com representações mentais e explica a intencionalidade do primeiro em termos das propriedades semânticas desse último entende os processos mentais tais como pensar raciocinar imaginar como sequências de estados mentais intencionais PITT 2020 online tradução nossa Entenderemos isso melhor Invariavelmente quando alguém diz hoje eu vou me dar bem você que ouve diz a ele tá se achando muito Imediatamente você faz a ligação entre a frase e a aparente vanglória de quem a fala Isso quer dizer que no chamado senso comum representações mentais pertencem a pessoas que as empregam e são sobre coisas a que essas pessoas estão se referindo Tecnicamente dizemos que os estados mentais se ligam às representações das coisas no sentido de que se apoiam se encaixam ou se sustentam nelas NOVAS DESCOBERTAS Título O Código Bill Gates Ano 2019 Sinopse O Código Bill Gates é um documentário de Davis Gugge nheim e você pode acompanhar na Netflix Relata de que forma a mente inc ansável de Gates está por trás de suas realizações apresentando uma noção de como a mente dele trabalha UNIDADE 4 146 Por isso a aproximação com a linguagem Não saímos por aí simplesmente falan do mas as nossas palavras estão apoiadas ou representadas em coisas das quais nos servimos para dizer algo às outras pessoas Neste caso representar mentalmente significa fazer corresponder um pensamento a algo por exemplo a palavra carro corresponde àquilo que chamamos carro Mas representar mentalmente também quer dizer tornar presente aquilo que se pensa assim quando você usa a palavra carro é como se ele estivesse presente na conversa Outro modo de saber sobre isso é imaginar uma assembleia de condomínio onde alguém indicado pelo proprie tário do apartamento por meio de uma procuração está no lugar do proprietário como representante Por fim representar mentalmente é tornar evidente pelo uso da linguagem algo que precisa ser comunicado por você a mais alguém Suponha que você está viajando com alguém em um ônibus A pessoa fica naquele estado contemplativo por longo tempo e você pede que ela diga o que está pensando Neste pedido já está presumido que se ela está pensando pode ser somente sobre algo e que esse algo pode ser comunicado por meio da linguagem Mesmo se a pessoa esteve vagueando entre os pensamentos ela dirá por exemplo que estava pensando sobre a paisagem sobre a vida ou o que aconteceria se o motorista perdesse a direção do ônibus no qual vocês estão viajando ou ainda se alienígenas aparecessem na estrada em um disco voador e abduzissem todos para Marte Claro alguns pensamentos nem podem ser comunicados por falta de linguagem ou por impropriedade mas eles ainda são sobre coisas Todo estado mental portanto diz respeito ao sujeito que os têm e são cons tituintes e constituídos pela sua subjetividade portanto por sua vida consciente Porque temos consciência das coisas é que podemos pensar interpretar desejar crer querer algo sobre elas Se na viagem você dissesse que estava pensando no seu gato que ficou em casa e que ficará com saudades porque ele sentirá a sua falta então você está expressando pelo menos dois estados mentais o conhecimento do seu gato o afeto que possui por ele e que sente ser retribuído Desse modo uma representação mental pode ser descrita como categorial o que significa que a nossa vida mental é disposta por categorias usadas para dife renciar coisas umas das outras Quando você se refere ao afeto por seu gato está pensando nestes animais como distintos de cachorros e dentre todos os gatos está pensando em seu gato especificamente porque nem todos os felinos são tão afetuosos Isso também é válido para cores móveis pessoas etc CARTER 2007 UNICESUMAR 147 Uma representação mental também pode ser descrita como composicional Voltando ao exemplo do seu gato você está relacionando duas representações mentais na verdade uma é o gato outra é o afeto e isso é importante porque o felino é algo concreto que você pode pegar e mostrar para alguém este é meu gato O afeto é algo abstrato diz respeito aos seus sentimentos pelo seu animal de estimação Ainda mais abstrato é quando diz que o gato corresponde afetiva mente aos seus sentimentos porque você está designando um instinto animal como se fosse um sentimento humano Portanto quando nos referimos a uma representação mental estamos conectando muitas delas numa rede infinita de estados mentais dos quais sequer temos consciência plena CARTER 2007 A questão que torna tudo isso mais complexo é a seguinte como vincular um estado mental a um conteúdo intencional O afeto pelo meu gato pode ser atribuí do àquela relação que eu tenho com aquele animal que fica no sofá da sala dormindo o dia inteiro Aquele gato é o meu gato que tem uma história junto comigo Mas como os pensamentos que estão em sua mente se ligam às coisas que estão fora dela Os estados de sua mente sempre se projetam para algo no mundo e dizem respeito a esse algo isso se chama vida consciente Enquanto dormia não lhe ocorreu acordar e desejar comer pão de queijo no café da manhã pode ser que você até sonhou que estava comendo pão de queijo no café da manhã mas isso foi um sonho Assim que acordou esse desejo veio à sua mente e você foi preparar pão de queijo para tomar com o café Não há representação sem o uso da linguagem mas não aquela da escrita correta quando analisamos sintaticamente a frase ele gosta do seu gato Não é assim é preciso investigar o conteúdo semântico da representação mental Por conteúdo semântico entendese o que uma palavra quer dizer a partir do seu contexto de uso De modo geral esse contexto está ligado ao campo semântico cuja palavra está vinculada por exemplo amor tristeza ódio carinho saudade são palavras que categorizamos como sentimentos ou estão vinculadas a um uso específico atribuído pelo lugar da palavra na frase por exemplo bacia pode ser a parte do corpo humano ou o utensílio usado para lavar objetos depende da frase Ou está conectada a um conjunto de ideias por exemplo morrer pode significar bater as botas abotoar o paletó ir dessa para melhor entrar na vida eterna dormir com o Senhor Jesus etc ou pode acontecer de uma palavra estar de tal modo aglutinada em outras palavras que ao usála puxamos essas outras UNIDADE 4 148 junto como você diz que almoçará e assim um almoço traz consigo várias ações objetos desejos sentimentos que vêm junto com a palavra Quando usamos as palavras então o fazemos semanticamente e isso vale para uma representação mental São muitas as teorias filosóficas que procuram explicar ou clarear o modo como os nossos estados mentais são traduzidos em representa ções mentais e o que elas dizem a nosso respeito enquanto sujeitos conscientes e usuários delas durante todo o tempo em que estamos despertos no mundo O filósofo estadunidense Stephen Stich 1992 p 246 tradução nossa comen ta isso do seguinte modo Claramente deve haver um mecanismo mental de alguma com plexidade subjacente a essa prática ampla e parece plausível supor que o mecanismo em questão inclui um armazém de conheci mento amplamente tácito acerca das condições sob as quais é e não é apropriado caracterizar um estado mental como uma crença ou um desejo que p Isso equivale a dizer que as pessoas em geral pensam por meio de categorias prototípicas Elas têm na mente um exemplar uma amostra ou um molde de uma espiga de milho e toda vez que querem falar de uma espiga de milho esse modelo vem à mente e elas a representam desse modo Pode acontecer de você não ter essa amostra mas admite variações dela uma espiga amarela outra de cor roxa e assim por diante ou uma espiga pequena e outra grande Carter 2007 diz que nesses casos fazemos a conexão direta entre o estado mental e a sua representação Isso significa que se vamos à confeitaria e pedimos um bolo e alguém nos traz uma lasanha sabemos que tem algo muito errado A mesma sensação você tem quando alguém diz que sabe quem é o papa atual chamado Francisco mas o descreve como se fosse o Papa Bento XVI Mas isso não parece suficiente visto que cada representação mental se distri bui em várias outras infinitamente No caso de alguém que não conhece o Papa Francisco você deverá acrescentar que ele é um homem nascido na Argentina é papa mora no Vaticano e dirige a Igreja Católica Apostólica Romana e as sim por diante isto é são utilizadas várias outras representações mentais que contextualizarão aquela à qual você está intencionalmente se referindo e elas podem se misturar de outras maneiras desde que você queira se referir a outros UNICESUMAR 149 conteúdos que são intencionais à sua representação mental por exemplo que o Papa Francisco torce para o time de futebol San Lorenzo Bem esta última posição parece fazer muito mais sentido pois não estamos habituados a ler a frase não pise na grama apenas como uma sentença grama ticalmente correta que contém uma ordem clara e contraposta a pise na grama Ainda que as palavras façam sentido em si mesmas elas somente fazem sentido no mundo quando intencionalmente orientamos a nossa mente para o verbo pisar e para o objeto um pedaço de chão com grama Figura 1 Uso intencional da linguagem Descrição da imagem área plantada com árvores e grama possui uma placa com os dizeres Por favor não pise na grama Dizemos então que nada físico no mundo tem intencionalidade intrínseca mas derivada O que isso quer dizer é que não é nem a grama nem os seus pés nem a proibição que diz a você o que deve pensar mas são as representações mentais em sua mente você crê que o seu pé carregando o peso do seu corpo pode deixar marcas sobre a grama a qual é uma erva muito frágil usada para cobrir UNIDADE 4 150 terrenos E você é capaz de julgar se deseja machucar a grama ou preservála e que isso está de acordo com o que pensa a respeito da preservação das coisas conforme as demais pessoas que frequentam a praça pensam e que no fim isso é viver em sociedade Nada disso é característico ou inerente à grama mas ao seu pensamento enquanto sujeito consciente dele Figura 2 Autorretrato de Van Gogh Descrição da imagem dois autorretratos de Van Gogh À esquerda está o retrato original em que o rosto observa seriamente o espectador À direita o retrato faz uma representação moderna do original por meio de uma paródia em que Van Gogh aparece com um lenço vermelho ao redor da cabeça as sobrancelhas são pintadas de vermelho e a língua também nesta cor está para fora da boca do artista Agora pense de outra maneira veja as imagens das duas obras representadas na Figura 2 A primeira à esquerda é um autorretrato de autoria do artista holandês Vincent Van Gogh a segunda à direita é uma ilustração moderna feita em Praga na República Tcheca Em ambas há um claro conteúdo intencional representado e a diferença entre elas reside exatamente nisso Dizemos que são as mentes por trás das obras e não os estilos as tintas ou qualquer outro material físico que mostram com qual intenção elas foram realizadas desse modo Podemos até mesmo dizer que a primeira tela é de Van Gogh mas que a segunda é de outra pessoa ainda que ambas sejam um desenho do autorretrato do artista holandês feito obviamente por ele mesmo UNICESUMAR 151 Outro modo de explicar a representação mental é observando o modo como usamos os conceitos De fato toda representação mental recorre necessariamente a um ou mais conceitos para se expressar Na famosa história de Mogli o menino lobo temos dois conceitos menino e lobo então quando queremos dizer se gostamos da história ou se cremos ou não nela usamos os dois conceitos os quais são bem diferentes lobo é um mamífero canídeo sobrevivente da Era do Gelo e menino é um mamífero humano em sua fase inicial Não é possível estabelecer uma relação entre ambos os conceitos e comunicálos senão os vinculando entre si Ainda podemos propor a representação mental quando entendemos o modo formal como raciocinamos Observe o exemplo imagine um quadro em que são apresentados os índices de transmissão da Covid19 e suponha que você é a pessoa olhando para esse quadro Ele é uma representação mental de um estado mental dirigido intencionalmen te para a compreensão do que a Covid19 está fazendo com a vida das pessoas Nada no desenho pode fazer este trabalho senão a pessoa que está contemplando o quadro com a clara intenção de entender o fenômeno PENSANDO JUNTOS O fato óbvio é que no dia a dia convivemos com declarações que manifestam claramente os nossos estados mentais Veja os exemplos Estou preocupado com minha mãe que está doente Creio que o atual presidente será reeleito caso não apareça um candidato competitivo Acho que não haverá vacina contra a Covid19 para todo mundo Observe que as declarações apresentadas têm a ver com a atribuição de estados mentais representados na forma de crenças desejos ou opiniões Esses estados são intencionais porque são conectados a algum objeto no mundo pressupondo uma mente conscientemente capaz de fazer estas ligações Eles também são capazes de orientar o comportamento pois eu sempre ligo para minha mãe para saber da evolução da doença procuro me informar sobre como está a preparação para a próxima eleição acompanho o noticiário sobre a vacina contra a Covid19 Com esses exemplos em vista retomaremos os estudos feitos pelo filósofo esta dunidense John Searle 2006 Ele é um filósofo da mente que pode ser chamado de representacionista isto é acredita que os nossos estados mentais por ele descritos UNIDADE 4 152 como significados interpretações crenças desejos e experiências podem ser inten cionalmente representados Todavia para que isso aconteça é preciso um conjunto de capacidades nãorepresentativas chamado por Searle 2006 de background Anteriormente a esse conceito Searle 2006 desenvolveu outro o qual deno minado rede Para entendêlo suponha que você observou um brinquedo em um site de vendas na internet e desejou comprálo para seu filho Esse estado mental in tencional desejar comprar um brinquedo para o seu filho envolve vários outros estados mentais intencionais quais sejam conhecer o funcionamento da compra online identificar a loja o modo da entrega o valor do brinquedo em relação a outros brinquedos semelhantes ou a outros sites de vendas e o mais importante se a criança gostar do presente Isso quer dizer que desejar comprar um brinquedo que é um fenômeno intencional depende de várias outras representações mentais de caráter intencional sejam elas conscientes ou não sejam voluntárias ou auto máticas Searle 2006 diz que é necessária uma rede de estados mentais que não são nem autointerpretativos nem autoaplicáveis isoladamente uns dos outros Como complemento do primeiro conceito Searle 2006 avançou em relação ao de background Ele o justifica de início usando da experiência da linguagem Quando diz a alguém que você acabou de cortar o cabelo e esta pessoa responde que foi a uma festa onde o bolo não foi cortado ainda que o mesmo verbo esteja sendo usado no mesmo sentido de cortar é claro que vocês dois entendem se tratarem de situações diferentes pois estão envolvidas questões de fundo ou de background as quais em si mesmas não dizem nada a não ser quando as duas sentenças são colocadas sobre elas Por outro lado as sentenças somente podem ser entendidas sobre esse pano de fundo pois cortar o cabelo requer o background de um salão de beleza e tudo o que o envolve Cortar o bolo requer o background de uma festa de aniversário e tudo o que a envolve Outra justificativa de Searle 2006 é que mesmo que as sentenças estejam cor retas porque estão sobrepostas a um pano de fundo ainda assim pode ocorrer que elas não sejam nem interpretáveis nem aplicáveis Imagine que alguém lhe diga suba naquela casa e corte o telhado dela ou pegue este avião e vá cortar aquela nuvem de chuva Não há nada de errado com ambas as frases mas você ficará pasmadoa porque não há um background que dê conta do que é intencionado nelas Pode ainda acontecer de estarmos comprometidos com um background mas sem termos consciência dele portanto sem desenvolver nenhum estado mental intencional em relação a esse pano de fundo Por exemplo você concorda com a afirmação de que UNICESUMAR 153 um rio é tão fundo e tem a correnteza tão forte que não é possível atravessálo a nado Por isso mesmo nem passa pela sua cabeça fazer isso o que é comprovado pelo seu comportamento não intencional Ou o fato de que não é uma boa ideia beber antes de dirigir é simplesmente admitido sem nenhum estado intencional orientado para ele Searle 2006 propõe a seguinte aplicação geral para sua teoria do background 1 Os estados intencionais não atuam de modo autônomo Não determinam suas condições de satisfação independentemente Para ter uma crença de que é melhor votar em partidos de esquerda do que naqueles de direita você precisa de muitas outras crenças 2 Todo estado intencional exige para seu funcionamento um conjunto de capacidades de background Para que você tenha uma crença sobre a melhor forma de votar precisa de um conjunto de capacidades que lhes informam o que é uma eleição qual o sistema eleitoral quais os partidos políticos quais teorias políticas definem esquerda e direita etc 3 Entre essas capacidades estão algumas que são capazes de gerar outros estados conscientes É possível que você passe a desejar ser uma candidatoa na próxima eleição ou liderar um movimento pela reforma do sistema eleitoral e assim por diante 4 O mesmo tipo de conteúdo intencional pode determinar diferentes condi ções de satisfação quando é manifesto em diferentes ocorrências conscien tes relativamente a diferentes capacidades de background e relativamente a alguns backgrounds não determina absolutamente nada Denúncias de corrupção sobre um candidato de esquerda podem fazer com que você reveja a sua intenção de voto e lhe faça votar no candidato de direita Ou o fato de um candidato torcer para um time de futebol que rebaixou o seu time para a série B do Campeo nato Brasileiro não quer dizer nada para a sua opção de dar o seu voto a ele Por fim Searle 2006 apresenta as seguintes leis para o funcionamento do background 1 Em geral ação e percepção estão vinculadas inexoravelmente Quando você está dirigindo no trânsito e percebe o som de uma buzina de ambulância do Samu imediatamente você olha pelo retrovisor e procura dar passagem a ela UNIDADE 4 154 2 Este fluxo coordenado de ação e percepção determina a intencionalidade e o background oferece as formas para que esse fluxo tenha lugar Você age intencio nalmente para tirar o seu carro do caminho da ambulância 3 A intencionalidade busca corresponder ao background em seus níveis alto e baixo Isso significa que se você é um motorista experiente a sua ação corresponderá quase automaticamente ao que é exigido naquela emergência o que significa também que cada parte de seu corpo é mobilizada por sua mente para corres ponder àquela emergência 4 Assim como a intencionalidade exige um background para se manifestar o mesmo é manifesto somente a partir da intencionalidade assim explicado por Searle 2006 p 280 grifos do autor O Background não designa uma sequência de eventos que possam simplesmente ocorrer mais exatamente o Background consiste em capacidades mentais disposições atitudes modos de comporta mento knowhow savoir faire etc todos os quais só podem ser manifestos quando há alguns fenômenos intencionais como uma ação uma percepção um pensamento etc todos eles intencionais Em nosso exemplo quando você está dirigindo diversas ambulâncias do Samu passam todo o tempo sem despertar nenhuma percepção de que algo esteja acon tecendo somente quando um estado mental é despertado em você pela percep ção da emergência da ambulância é que também você agirá intencionalmente perante a situação isto é perante o background Outros filósofos da mente acreditam que os estados mentais resultam de um processo cognitivo A mente atua como um computador capaz de processar di versas informações que são percebidas a partir de estímulos recebidos de nossos sentidos durante o dia por meio da atenção da memória e do raciocínio da linguagem e do aprendizado uns com os outros Ela a mente reproduz essas informações em algum tipo de comportamento aprendido e que pode ainda ser reprocessado infinitas vezes em infinitas circunstâncias Os filósofos da mente que assim pensam fazem uso das ciências cognitivas que descrevemos a seguir UNICESUMAR 155 OLHAR CONCEITUAL Ciências Cognitivas O Cognitivismo é uma teoria representacional da mente que busca compreender como ela a mente percebe transforma armazena recupera e utiliza as informações e as ações a partir das mesmas O Cognitivismo é construído a partir das ciências cognitivas Neurociência Foca nas experiências feitas a partir dos cinco sentidos e em como elas são processadas pelo cérebro e transformadas em conhecimento Psicologia Avalia o comportamento humano a partir de suas manifestações não observáveis e não correspondentes à realidade objetiva Busca o que acontece na mente das pessoas como resposta a esses comportamentos externos Linguística Busca entender os signifcados e sentidos que são fornecidos por meio da linguagem pela percepção humana e pelas experiências culturais sociais e individuais dos indivíduos Filosofa não muda Inteligência Artifcial Investiga como sistemas computacionais por meio de redes neurais artifciais podem se tornar inteligentes capazes de aprender identifcar padrões e resolver problemas Figura 3 Quadro ilustrativo das disciplinas que compõem as ciências cognitivas Fonte o autor Descrição da imagem a imagem apresenta um quadro ilustrativo das disciplinas que formam diversas ciências cognitivas O quadro traz a referência de cada ciência e a descrição do seu objeto de estudo com pequenas ilustrações relacionadas a cada disciplina UNIDADE 4 156 Examinaremos agora o conceito de intencionalidade É comum entendermos a palavra intenção semanticamente como propósito ou finalidade por exem plo em afirmações como ela acelerou a confecção do TCC com a intenção de concluir o curso ainda este ano Este modo de falar indica uma decisão tomada pelo sujeito em sua mente após alguma reflexão a respeito ou como desejo ou vontade ou disposição ao terminar o curso ela tem a intenção de sair do país Neste caso você expressa um projeto em andamento em sua mente ainda não finalizado Também podese usar as palavras metaforicamente em vários modos ele tem segundas intenções ao se aproximar de você ou de boas intenções o inferno está cheio ou a minha avó acende velas em intenção das almas a Deus ou ninguém sabe quais são as verdadeiras intenções dele Intencionalidade diz respeito àquela ação premeditada pelo sujeito em sua mente a qual envolve deliberação e vontade Dizemos que é praticar ações de caso pensado ou de propósito O que envolve saber exatamente o que se de seja pois supõe uma avaliação prévia e anterior ao movimento feito Podemos dizer que toda palavra e todo ato nossos são intencionais quando premeditados para alcançar exatamente aquele fim planejado Por exemplo agir com dolo é a representação de uma disposição mental de enganar fraudar trapacear Importante no que diz respeito ao que é intencional é que sempre tem a ver com algo ou com alguém ou com ambos Quando alguém elogia a comida de ou tra pessoa faz isso intencionalmente e aquela pessoa que recebe o elogio atribui intencionalidade a quem o fez Isso é tão comum e natural que sequer pensamos a respeito assumimos que enquanto sujeitos conscientes atuantes no mundo sempre agimos intencionalmente ou sempre procuramos intencionalidade em nossas ações mesmo que alguém diga foi sem querer querendo Ainda que alguém diga não tive a intenção de magoar você está implícita a ideia de que há uma intenção sendo negada Quando falamos de intencionalidade nos referimos ao seu sentido originado do latim intendere o esforço de se estender ou se dirigir até alguma coisa queren do dizer aquilo que se intenciona dentro da ação No caso da mente assumimos que ela está ativa em todo o tempo em que se encontra desperta e tudo o que passa por ela e se passa com ela é intencional sempre diz respeito a algo dentro dela interno ou fora dela externo Para comunicar isso a mente reproduz estados mentais aos quais damos nomes ou representamos tais como crenças desejos vontades capacidades habilidades e percepções e a lista segue quase sem fim FESER 2006 UNICESUMAR 157 A intencionalidade se tornou um problema filosófico analisado pela Filosofia da Men te devido à observação promovida pelas ciências biológicas de que seres vivos apre sentam comportamento inteligente à medida que atuam intencionalmente no mun do para satisfazer às suas necessidades individual e coletivamente e também pela descoberta feita pelas ciências neurológicas de que o cérebro humano demonstra ser perfeitamente adaptado para conduzir os seres humanos nesta atividade intencional em uma qualidade infinitamente superior àquela observada nos demais seres vivos Mas esta explanação sobre a nossa atividade mental já ocupou os filósofos desde muito tempo atrás pois as investigações mostram que na Idade Média este assunto já era examinado Contudo a atualização do tema é atribuída ao psicólogo e filósofo alemão Franz Brentano que viveu entre os anos de 1838 e 1917 O que ele pensava a respeito Brentano 2002 divide os dados de nossa consciência em duas classes de fe nômenos físicos e mentais Por fenômeno mental ele quer dizer qualquer ideia ou algo que se faz presente a nós que vem à nossa consciência por meio da per cepção e da imaginação Brentano 2002 os classifica como sensações recebidas pelos sentidos imaginações julgamentos lembranças expectativas inferências convicções opiniões dúvidas e cada emoção Por fenômeno físico o autor en tende como tudo que há no mundo pelo qual os fenômenos mentais são causados Se uma pedra cai na cabeça de alguém não dá para dizer que a pedra fez isso inten cionalmente mas se você jogou a pedra na cabeça de alguém então o cenário muda porque é possível atribuir intencionalidade a seu ato Agora imagine dois leões disputando o território Em certo momento eles decidem resol ver a questão em uma disputa cujo primeiro que ceder vai embora Parece haver alguma intencionalidade nessa combinação Uma planta inclinada na direção da luz solar mostra que ela está intencionalmente bus cando os raios solares para o próprio crescimento por outro lado é difícil imaginar que dois carros de Fórmula 1 decidam sozinhos competir entre si para ver quem chega pri meiro à linha de chegada ou que um robô decidiu promover a revolução das máquinas exigindo mais horas de descanso semanal Esses exemplos nos dizem que é preciso um ser biologicamente consciente para atribuirmos intencionalidade às suas ações o que é o caso de todo ser vivo animal ou vegetal inclusive o humano Ainda assim há grande diferença entre animais vegetais e seres humanos pelo grau de subjetividade que estes últimos conseguem dar às suas ações EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 4 158 Um fenômeno mental então não é o objeto que é apresentado no passado mas a apresentação dele a nós no presente isto é no imediato momento em que o objeto se torna presente BRENTANO 2002 Isso quer dizer que quando você deseja encontrar alguém esse desejo já está presente antes mesmo que você o verbalize em um pensamento ou uma frase Portanto todo fenômeno mental é baseado em uma apresentação da coisa em sua consciência ou ele mesmo é uma apresentação Entenda que esse conceito extraído da psicologia pois Brentano era psicólogo também quer dar conta da experiência de algo no tempo vivido percebida e integrada com essa característica do tempo presente Qual é o critério para distinguir entre fenômenos físicos e mentais Ou o que chamamos de físico e mental Você deve se lembrar que Descartes já havia dito que fenômeno físico é tudo aquilo que ocupa lugar e tempo isto é tem extensão enquanto o fenômeno men tal é tudo aquilo que não possui extensão portanto o inverso do físico Assim o mental é aquilo que o físico não é Isso pode ajudar mas há problemas com ambas as diferen ciações Nem tudo que é físico possui extensão por exemplo ao cheirar algum perfume no ar você não pode localizálo imediatamente talvez nunca E quando sente medo que é algo inteiramente mental você o sente no corpo tremores coração acelerado etc Então essa diferenciação pode ser útil mas não é totalmente correta EXPLORANDO IDEIAS Brentano 2002 busca então um critério para definir o fenômeno mental que não dependa da comparação negativa com o fenômeno físico e assim o autor encontrao na intencionalidade Essa característica fundamental da mente era utilizada entre os filósofos medievais desde Agostinho até Tomás de Aquino para indicar a inexistência de um objeto na mente E aqui você deve entender que a separação inexistência faz todo sentido pois se usamos a palavra como estamos acostumados falamos de inexistência significando que algo não existe Mas de vemos insistir no termo hifenizado para indicar o existir desde dentro Há algo dentro da mente para o qual ela se dirige e a partir do qual ela faz seus movimentos Brentano 2002 p 481 recupera tal conceito e o aplica do seguinte modo Cada fenômeno mental inclui algo como um objeto dentro dele ainda que nem todo seja do mesmo modo Na apresentação algo é apresentado no julgamento algo é afirmado ou negado no amor UNICESUMAR 159 algo é amado no ódio algo é odiado no desejo algo é desejado e assim por diante Essa inexistência intencional é característica exclusiva do fenômeno mental Nenhum fenômeno físico exibe algo assim Podemos portanto definir o fenômeno mental dizen do que são aqueles fenômenos que contêm um objeto intencio nalmente dentro ou com eles A partir desta distinção Brentano 2002 acrescenta três consequências Primeiro todo fenômeno mental é percebido interiormente temos cons ciência dele de imediato quando algum objeto se apresenta a nós de modo claro infalível e imediatamente Assim sentimos as coisas por meio do corpo mas as percebemos somente por meio da mente Segundo toda percepção de um fenômeno mental é exclusiva e única da mente que a experimenta Cada ser humano tem a sua própria vida mental que não é de nenhum outro sendo possível dizer também que cada indivíduo tem a sua própria e particular vida mental donde a vida mental de cada ser humano é somente sua e não de outro Terceiro por mais diversas que sejam as percepções mentais a mente tende a percebêlas como um simples e único fenômeno diversamente do fenômeno físico que é percebido por maneiras diversas isto é um evento após o outro Isso acontece quando alguém diz a você que estava caminhando pelo parque porque é assim que a sua mente percebeu uma série de movimentos e sequência de ações bem como a multiplicidade de cenários que você vivenciou em sua experiência externa de caminhar pelo parque BRENTANO 2002 Algo muito importante que você deve entender é que o fato de dizermos que em nossa mente as coisas que nos são apresentadas realmente existem não sig nifica que o mundo físico não exista à parte da percepção mental que temos dele Quando você ouve o ritmo de uma roda de samba a sua batida está lá no mundo externo agora o fato de percebêlo em sua mente é tão verdadeiro quanto aquele som externo Todavia o que acontece em sua mente é outro fenômeno distinto visto que você está trabalhando mentalmente com este som Por exemplo você pode estar se perguntando se gosta desse som que outros ritmos são assemelha dos ou distintos dele e até mesmo se gostaria de aprender a tocar samba A partir destas intuições de Brentano 2002 a filosofia da mente estimulada pelos avanços da psicologia das neurociências e das ciências biológicas fez a per gunta fundamental essa capacidade humana é apenas fruto de processos cerebrais UNIDADE 4 160 neste caso neuronais altamente sofisticados ou como diz Quaresma 2020 no caso específico da intencionalidade humana requer que se pense em um Agente consciente que possua a referida intenção uma subjetivi dade que busque ou faça o sentido ter valor objetivo em si mesmo que avalie e modifique esse sentido adaptandoo e significandoo constantemente De modo que sem agente sem consciência sem subjetividade sem intenção é claro e óbvio não poderá haver também intencionalidade QUARESMA 2020 p 3 Portanto a intencionalidade não resultaria do processo neuronal físicoquími co mas da constituição biológica o que a torna acessível a qualquer ser vivo e não somente ao humano Ampliando o assunto Quaresma 2002 aponta vários modelos de intencionalidade Ele menciona a intencionalidade corpórea cujos seres empregam todas as capacidades do organismo para viver em seu meio am biente Aqui a palavra intencionalidade humana tem a ver com adaptabilidade ecológica e cultural algo que fazemos quando está bastante frio e vestimos um casaco para nos protegermos ou quando nos mantemos bem distantes de um animal selvagem porque sabemos que ele pode nos atacar e ferir Isso também é verdadeiro sobre animais e plantas que estão habituados ao mesmo exercício intencional quando têm que se proteger ou evitar um ataque Outra intencionalidade assinalada por Quaresma 2002 é a biológica quando ela é demonstrada por seres vivos não dotados de sofisticados sistemas neuroce rebrais como as plantas e vegetais em geral ou as bactérias e os moluscos Todos estes espécimes também apresentam comportamentos intencionais de autodefesa individual e coletiva adequandose intencionalmente ao meio onde vivem ainda que limitadamente por exemplo reunindo a seu favor um conjunto de capacidades uma árvore é capaz de sobreviver a uma seca prolongada tão somente retirando através de suas raízes água do subsolo O que sugere um comportamento mecânico revela uma habilidade altamente desenvolvida de se manter viva em um período adverso A árvore assim satisfaz às exigências de uma intencionalidade cogniti va em que perante uma situação buscamse meios de satisfazêla manejando as possíveis maneiras disponíveis para isso QUARESMA 2020 UNICESUMAR 161 Assim desde que a intencionalidade está presente em tudo o que é vivo ela está privilegiadamente presente no ser vivo humano visto que ele desenvolveu uma intencionalidade biológica especial não apenas de se adequar ecológica e culturalmente a toda e qualquer situação como também dar valor e sentido à sua ação algo que transcende a mera explicação da exigência corpórea e biológica Além de finalmente ser hábil em representar mentalmente a intencionalidade por meio de uma semântica da representação Vamos agora conversar sobre o nosso assunto O nos so podcast tratará de nossas ações intencionais A per gunta é por que agimos intencionalmente É comum dizermos que agimos sem pensar ou sem intenção mas isso será verdadeiro Para saber a resposta não deixe de acompanhar o que preparamos para você É certo que a existência humana é bem mais complexa do que a de qualquer outro ser vivo exigindo muito mais de suas capacidades mentais Um ser hu mano pode acreditar que só existe um caminho para o céu preocuparse com as notas baixas de seu filho na escola planejar as próximas férias examinar a proposta de um novo trabalho avaliar o novo namorado da filha desejar que o preço do tomate baixe acompanhar cálculos complicados enquanto cozinha para o almoço ou pode correr até a estação do metrô enquanto se arrepende por não ter levantado mais cedo lamentando que chegará atra sado ao trabalho Enquanto no metrô observando as pessoas à sua volta a paisagem formula novos pensamentos e reflexões sobre a vida Estes estados intencionais são mentais neurocerebrais meros com portamentos repetidos ou indicam um Eu consciente plenamente ativo enquanto está desperto e também quando está dormindo e que aplica a sua perspectiva a tudo o que o rodeia Em um jogo de basquete quando a bola é jogada no cesto podese falar de uma intencionalidade física pois a bola realizará uma curva e cairá exatamente dentro da cesta e isso é facilmente previsível caso se observem as leis físicas UNIDADE 4 162 Por outro lado é possível falar sobre uma intencionalidade vinculada ao design da bola que sendo redonda se encaixará perfeitamente na rede que também é redonda Mas o que dizer de LeBron James o grande jogador do Los Angeles La kers campeão da NBA em 2020 que lança a bola cuidadosa e habilmente porque intenciona fazer a cesta que dará os três pontos exatos que a sua equipe precisa para conquistar o campeonato Chamamos essa Intencionalidade de James de intrínseca com I maiúsculo porque ela é primeira e anterior na verdade a ori gem mental das demais intencionalidades e de fato a que dá intencionalidade àquelas intencionalidades Sem uma mente que capte dê sentido e organize o mundo simplesmente não há mundo Já os filósofos da mente externalistas afirmam que não há nada intrín seco ou interno à intencionalidade de James pois ele apenas aprendeu as regras do jogo de basquete e exercitouse o suficiente para saber como fazer a bola redonda descer diretamente no círculo redondo que é o aro da ta bela Neste caso a intencionalidade é diretamente relacionada com o jogo de basquete a ser jogado não a algum conteúdo mental previamente neces sário para que James faça seu melhor jogo de basquete É evidente porém que você não pode limitar a experiência consciente de James a um jogo de basquete pois cada jogo é único e o conceito de jogo é inteiramente mental porque diz respeito a um conjunto de representações mentais compostas por crenças desejos imaginações disposições sentimentos percepções e muitos aspectos mais enfim tudo o que faz de um Eu consciente o que ele é Entenderemos então o que caracteriza a relação entre a consciência e a Intencionalidade e ninguém melhor para nos falar sobre isso do que o filósofo da fenomenologia Edmund Husserl Você já sabe que o filósofo francês René Descartes propôs que se quisésse mos saber mesmo a verdade sobre as coisas deveríamos nos desligar dos sen tidos e nos apoiar totalmente em nosso Eu pensante Esta intuição original no dizer de Husserl ainda que necessária não é satisfatória porque desvincula o Eu pensante dos objetos acerca dos quais ele deve pensar Sim devese partir do Eu pensante ou na linguagem husserliana da consciência de si mas ela deve lançarse para o objeto isto é dirigirse a ele intencionalmente Mas de onde vem a consciência dos objetos Na verdade eles já estão na consciência caso contrário não haveria consciência dos objetos visto que SILVA 2009 p 47 UNICESUMAR 163 A consciência é sempre consciência de alguma coisa ou seja é aquilo que dá sentido às coisas Pois as coisas em si não têm sen tido nós é que as interpretamos ou seja é somente na consciência que as coisas têm sentido Desse modo a consciência está sempre direcionada para um objeto Os objetos estão para a consciência assim como a consciência está para os ob jetos e por isso podemos falar de um objeto intencional Ele não é intencional porque está fora do Eu pensante como supõe a atitude natural cartesiana que divide mundo externo de mundo interno separando sujeito e objeto Ele tam bém não é intencional porque foi percebido pelo Eu pensante que o acolheu e deulhe certo lugar na ordem das operações mentais Ele é intencional por que o Eu pensante consciente de uma relação especial e específica com esse objeto apropriouse dele de determinado modo em um momento especial e específico e passou a compreender o objeto pelo modo como parece a ele ou seja ao Eu pensante e passou a entender a si mesmo pelo modo como compreendeu o sentido dado ao objeto Agora imagine que você visitou um bosque e passou por uma área toda florida encharcada pela luz do sol onde borboletas voavam sobre as flores os seus ouvidos ouviam a música de uma brisa suave e o seu olfato sentia os aromas misturados das flores A partir dos seus sentidos uma série de sensações difusas e confusas fervilham na sua mente e mais tarde você quer falar sobre a experiência que viveu no campo florido Mas como irá fazêlo senão incorporando à sua fala tudo o que compreendeu do que foi vivenciado Para dar conta deste processo fenomenológico temos um processo cuja ordem não é sucessiva mas sim são camadas superpostas VAN DER LEEUWN 2009 a Dar nome ao que se vê significa que algo no mundo chamou a nossa atenção e pede para darmos significado a ele b Ao nomearmos algo que vemos estamos fazendo a sua separação do seu lugar de origem inserindoo na nossa vida significa que aquele fenômeno se tornou importante para nós tão importante que é impossível seguir vivendo sem darlhe um significado em nossa vida c Todavia a inserção de um fenômeno em nossa experiência de vida é limi tada pelo próprio fenômeno e não podemos ir além dele o que coloca um limite derradeiro e final ao próprio significado que lhe damos UNIDADE 4 164 d Daí seguese a necessidade de fazer um exercício de elucidação é preciso verificar as partes estabelecer qual pertence a outra e qual não pertence e assim adquirindo mais compreensão da totalidade das conexões entre as partes e então do significado total e Portanto o ato de compreender é o ato de colocar em ordem em nossa pró pria vida aquilo que nos aparece de forma caótica estranha distante e por isso mesmo sem significado algum extraindo dele uma palavra para nós f Na fenomenologia lemos os textos e observamos os fatos mas o conhe cimento proporcionado por ambos não vem deles mesmos mas do sig nificado que damos a eles a partir do momento que os vemos e de algo que essa visão nos diz g Isso não quer dizer que a fenomenologia inventa significados a partir da experiência vivida pois ela a fenomenologia não pode falar sobre algo que não tenha sido visto antes Ao contrário ela é uma testemunha que dá testemunho do que viu e ouviu do fenômeno que lhe ocorreu no mundo É evidente que quando você falar da sua experiência não será sobre o fato porque ele já é passado mas de todas as impressões e percepções que ela sugeriu a você Desse modo SILVA 2009 p 49 para cada fenômeno percebido temos uma essência ou um sentido ideal que nos permite identificálo Assim as essências não se refe rem ao resultado de comparação entre os fatos mas são as ideias ou significados que cada fenômeno tem ao aparecer à consciência Podemos agora discutir se todo evento de consciência ou todo estado mental é intencional Pense em um malestar generalizado no seu corpo acerca do qual você não consegue definir bem a causa nem em que parte do corpo ele tem origem Certamente um exame bem feito revelará que você teve um problema de pressão ou indicará alguma parte do corpo que está causando o malestar ou simplesmente que é o clima ou o estresse Isso somente confirma que todo estado mental consciente tem a ver com algo acerca do qual estamos também sensorialmente conscientes O mesmo acontece com a dor pois ela é sempre localizada em alguma parte do corpo ora dói o pé ora dói a cabeça ora dói o corpo inteiro portanto mesmo quando não conseguimos formar conceitos a UNICESUMAR 165 partir de objetos intencionais ainda assim podemos nos referir a experiências sensórias como intencionais por exemplo quando passamos as nossas mãos sobre uma mesa para sentir a sua superfície Outra discussão importante é se estados mentais dos quais não temos cons ciência são também intencionais Habilidades desejos crenças e medos possuem intencionalidade mesmo quando não estamos conscientes deles Parece aqui que temos uma confusão entre os estados mentais e a consciên cia deles Se concordamos que estados mentais são intencionais isto é sempre têm um objeto intencional é claro que ter medo é sempre medo de algo ou de alguém ainda que inconscientemente Alguém pode ter medo do escuro e não saber disso até que fique sozinho em um lugar escuro tempos depois esta pessoa pode até esquecer aquela experiência mas é possível imaginar que toda vez que ela precisar passar por um lugar escuro aquele medo voltará Ele está latente disponível e acessível sempre que a oportunidade isto é o lugar escuro se repetir Agora a fenomenologia husserliana insiste que é preciso haver um objeto intencional no mundo do qual a consciência se apercebe para que exista uma atividade intencional de conhecimento desse objeto Mas e quanto a objetos que não estão ou não existem no mundo como a crença católica romana de que há um anjo da guarda ou de alguém que amarra um laço abençoado por uma mãe de santo no braço para ficar livre de problemas Isso nos adverte que devemos ampliar o nosso conceito de Intencionalidade Ludwig 2002 p 4 afirma que a Intencionalidade é a característica de um estado ou evento sobre ou dirigido para alguma coisa Uma crença é exemplo típico de um estado intencional pois ela é sempre uma afirmação sobre alguma coisa no mundo seja falsa ou verdadeira Ludwig 2002 distingue dois tipos de estados intencionais Há aqueles que são orientados da mente para o mundo como expectativas suposições opiniões convicções dúvidas e outros mais e há aqueles que são orientados do mundo para a mente como desejos e vontades A distinção não é difícil se você segue o padrão da correspondência Um estado intencional como uma convicção que é uma crença ou opinião bem fundamentada acerca de algo é sempre orien tada da mente para o mundo visto que corresponde a alguma coisa no mundo Um estado intencional como uma aspiração que é um desejo profundo acerca de alguma coisa é sempre orientado do mundo para a mente visto que é sobre algo no mundo que diz respeito a você mesmo LUDWIG 2002 UNIDADE 4 166 Outra maneira de abordar a Intencionalidade é o enfoque intencional pro posto pela teoria materialista de caráter behaviorista ou comportamental Ela diz respeito à estratégia de interpretar o comportamento de uma entidade pessoa animal artefato ou algo semelhante tratandoa como se fosse um agente ra cional que governa suas escolhas de ação considerando suas crenças e desejos DENNET 1999 p 413 Tratase então do modo como observamos e prevemos o comportamento de objetos e seres vivos No que diz respeito aos objetos pense no alarme de um relógio Ele foi programado para acionar um sistema de alarme em uma hora específica deter minada por você É claro que nem sempre isso dará certo porque o mecanismo pode quebrar e falhar sem o seu conhecimento mas de modo geral é assim que funciona E óbvio você não fica surpresoa se um dia deixar de acionar o sistema e o alarme não tocar pois simplesmente o relógio não foi preparado para responder à demanda Agora imagine que o seu relógio é um computa dor que você alimentou com dados de sua rotina diária ao longo de 30 dias e pediu que ele organizasse a sua agenda por meio de alarmes conectados a cada uma das suas atividades deixando margem para que ele escolhesse o melhor recurso para fazer isso Nos 30 dias seguintes você além de acompanhar a atividade do seu relógiocomputador também poderá observar como ele se organiza para corresponder à sua expectativa Algo diferente acontece quando observamos os animais por exemplo Veja quando observamos ratinhos de laboratório e dispomos dois lugares para eles um onde encontrarão comida e outro onde serão expostos a um gás venenoso que poderá matálos Não será difícil antecipar que os ratinhos procurarão o lugar onde há comida e evitarão de todo modo o local onde há o gás vene noso Isso indica que os seres vivos sempre agirão de modo a preservar a vida evitando o que possa lhes causar dano Agora o que podemos dizer dos seres humanos Dennet 1999 entende que é possível observar e predizer o comportamento humano por meio do enfoque intencional ainda que nós manifestemos uma vida mental de or dem superior devido à complexidade biológica e neurológica de nosso estado evolutivo atual e às necessidades resultantes da construção social e cultural na qual desenvolvemos as nossas existências Por um lado os seres humanos agem intencionalmente da mesma forma que por exemplo as formigas pois elas também buscam por comida e companhia UNICESUMAR 167 educam os mais jovens evitam os perigos constroem abrigos e envolvemse na comunicação social por meio da interação uns com os outros Podemos vêlas como dispondo de capacidades mentais que desenvolvem estados mentais cons cientes e inconscientes também implicando experiências sensoriais prazer e dor imaginação e estados intencionais como desejos e vontades Por outro lado essas capacidades mentais são dadas em função das neces sidades físicas e biológicas e também providas por um cérebro altamente de senvolvido capaz de fornecer os meios para provêlas sem que seja necessário presumir uma mente um Eu consciente ou um sujeito pensante E ainda que haja tal necessidade a ação intencional sempre será na direção estabelecida pelas condições do meio o que é algo inescapável para o cérebro Talvez você tenha ouvido falar da etologia cognitiva um campo especializado dentro das ciências cognitivas que estuda as experiências mentais dos animais em seu ambiente natural no curso de suas vidas diárias A ideia por trás desta pesquisa é que os animais desenvolvem comunicação e interação social que apontam para uma ação intencional Um exemplo é o modo como o casal de passarinhos chamado JoãodeBarro faz a sua casa usando uma mistura de barro com palha sempre sobre um galho uma mureta ou outra superfície rígida Os seres humanos usam a mesma mistura para fazer as suas construções no sistema chamado de COB As casas de COB são feitas da mistura de terra com areia e palha as paredes são erguidas sem máquinas e a moldagem é feita com as mãos e não com bicos As casas do JoãodeBarro e dos seres humanos tendem a resistir por longo tempo oferecendo uma residência duradoura para ambas as espécies EXPLORANDO IDEIAS A explanação anterior não parece deixar lugar para relacionar a subjetividade humana que é a consciência de um Eu pensante sobre e a partir de si mesmo e a intencionalidade quando esse Eu pensante produz estados mentais que apontam ou representam algo para além de si mesmo Inversamente à proposta anterior e até mesmo à explanação fenomenológica os objetos no mundo não são inten cionais senão na medida em que o Eu pensante lhes dá uma intencionalidade Suponha que você entre em uma sala com carteiras e cadeiras vários meninos e meninas sentados nelas quadro verde mesa grande à frente Este ambiente não diz você que está em uma sala de aula pois poderia ser qualquer outro espaço Quem atribui a ele esse conceito é a sua mente que relacionando a sua percepção UNIDADE 4 168 com o ambiente escolar lhe leva a interpretálo como uma sala de aula Quase automaticamente você se porta como um professor ou professora se preparando para começar a lecionar O que é preciso entender é que a sua mente criou de cer to modo a sala de aula e se você não fizesse isso nem haveria aula para lecionar Isso não quer dizer que não há um mundo fora de sua mente mas sim que o mundo está lá esperando que você diga ao mesmo o que ele é A intencionali dade do mundo é derivada porque ela depende que a sua mente dê o significado a ele por exemplo o seu carro estacionado na garagem é apenas isso mas é você quem vai até o carro colocao para funcionar e dirige até onde deseja ir Dito de outro modo o carro só tem intencionalidade quando o indivíduo dá intencionalidade a ele e ela está de forma intrínseca ligada ao indivíduo É claro que você só pode fazer isso quando é um carro e não um pedaço de pau Este certamente terá outra intenção a você Assim você compreendeu que a intencionalidade tem a ver com o mundo físico mas ela mesma não é física diz respeito a seu Eu consciente à medida que a sua mente é despertada pelo que acontece com seus sentidos no mundo um som lhe chama a atenção e você imediatamente crê que está ouvindo um picapau batendo com o bico em um tronco Como diz Feser 2009 p 136 Se qualquer coisa física deveria ser desprovida de intencionalidade intrínseca qualquer coisa que tenha intencionalidade intrínseca deve ser nãofísica Desde que a mente é a fonte da intencionalidade de entidades físicas como sentenças e quadros e não tem sua inten cionalidade derivada de qualquer outra coisa não há nenhum uso de nossas mentes para transmitir significado parece seguir que a mente tem intencionalidade intrínseca e assim é nãofísica Voltemos agora à relação entre subjetividade e intencionalidade Você apren deu na Unidade 2 que a subjetividade designa aqueles estados mentais ou a vida mental do Eu pensante que são especificamente dele e de ninguém mais Mas a subjetividade também diz respeito a esses estados mentais quando são vividos por esse Eu pensante esteja ele consciente deles ou não Desde que os estados mentais dizem respeito ao sujeito pensante como uma marca de sua vida mental e se essa vida mental não existe sem que seja sobre algo então podemos dizer que a intencionalidade é a marca da subjetividade UNICESUMAR 169 Na verdade ambas subjetividade e intencionalidade se relacionam e se iden tificam mutuamente E por que é assim Imagine que você acabou de voltar de férias do Pantanal encontra um amigo ou amiga e diz para ele ou ela passei minhas férias no Pantanal Não há nada de intencional nisso pelo simples fato de que não há subjetividade Qualquer pessoa poderia ter passado as férias no mesmo lugar junto com você e dizer o mesmo mas imagine que você fale assim acabei de voltar de férias do Pantanal gostei muito e não vejo a hora de voltar lá ano que vem agora a sua subjetividade está presente porque você está co municando algo de sua vida mental onde o seu gosto e a sua expectativa estão envolvidos visto que não é acerca do Pantanal que vocês estão conversando mas sobre as suas percepções do tempo de férias lá Outra pessoa poderia dizer que não gostou nem um pouco e que não quer voltar lá nunca mais Nada disso significa que a vida mental de alguém sendo subjetiva e intencio nal seja uma incógnita como quando se diz que ninguém sabe o que se passa na cabeça dos outros Quando os filósofos da mente estão falando de subjetividade e intencionalidade eles não estão falando de coisas inacessíveis ou impossíveis de se saber a respeito do que se passa na mente de alguém Ambas são comunicáveis e perfeitamente observáveis por meio da conduta das pessoas no mundo o lugar onde são manifestáveis e perceptíveis Suponha que você queira saber se a pessoa com quem se casará gosta de séries de TV Após várias conversas entre vocês sobre séries inclusive com direito a assistir a algumas delas você conclui que ela não gosta e que não é uma boa ideia casar com ela Ou que você está dando uma aula e pede que o aluno que souber responder à sua pergunta levante a mão Possivelmente vários alunos saberiam a resposta mas somente aquele que levantou a mão é que manifestou saber a resposta Ambos os exemplos nos ensinam que a vida mental está incorporada à nossa vida física a primeira manifestandose por meio da segunda Portanto os seres humanos nem possuem uma vida mental autossuficiente onde tudo acontece somente dentro dela nem são uma máquina que simples mente reage aos estímulos corporais do ambiente físico mas ambas as coisas Eles são simplesmente humanos pessoas que pensam sentem leem conversam umas com as outras cami nham jogam futebol respiram digerem seu alimento e assim por diante Algumas dessas atividades humanas são mais naturalmente UNIDADE 4 170 vistas como expressões da mente do que outras mas existem muitas em que se torna difícil classificálas diretamente como mental ou corpóreo MATTHEWS 2007 p 72 Veja que a linguagem os gestos e as práticas sociais e culturais nos ajudam a localizar e a entender a subjetividade e intencionalidade de alguém pois quando esse alguém as utiliza o faz como um sujeito é ele e não outra pessoa que está fazendo dizendo ou praticando aquilo e o faz intencionalmente pois quer fazer aquilo de certo modo e com certa significação Portanto não é possível nem correto separar a vida mental como subjetiva e intencional da vida física como objetiva e mecânica Na feira de tecnologia de Las Vegas CES 2020 de 7 a 10 de janeiro de 2020 foi apresentado um novo robô da marca japonesa Groove X chamado Lovot A sua função principal é servir de companhia para pessoas solitárias Ele possui cerca de 50 sensores integrados capazes de detectar o toque e aprender a identificar o dono pelo rosto consegue memorizar o rosto de até mil pessoas além de distinguir até 100 ao mesmo tempo e é capaz de aquecer e esfriar con forme a temperatura ambiente Lovot até cumprimenta os humanos quando chegam em casa Veja quão semelhante é a descrição de Lovot em relação ao que foi apresentado nos parágrafos anteriores sobre a subjetividade e a intencionalidade humanas Poderíamos dizer que o robozinho tem essas características humanas contudo aparentar têlas faz dele um ser humano Você poderia dizer que ele tem uma vida mental marcada por sub jetividade e intencionalidade Fonte adaptado de Toledo 2020 online EXPLORANDO IDEIAS Não se deve reduzir a subjetividade e a intencionalidade somente àquilo que a pessoa é ou faz Já observamos o exemplo do robô o fato de ele saber reconhe cer os seus donos e agir de modo a atender às suas expectativas por exemplo cumprimentálos quando chegam em casa não quer dizer que ele possui uma vida mental Devemos voltar à nossa questão e propor que a vida mental espe cificamente humana diz respeito à sua introspecção uma palavra oriunda do latim cujo significado é olhar para dentro para o interior Por ela queremos dizer que um ser humano é capaz de se voltar sobre si mesmo observandose examinandose sentindose e refletindo sobre isso UNICESUMAR 171 É inevitável pensar que toda consciência é consciência de si e sendo assim requer o conhecimento de si mesma por meio da autoobservação e do autorreconhe cimento Isso está explicitado na doutrina cartesiana do penso logo existo e a exigência de saber sobre si mesmo como a condição para saber da existência Isto acontece quando identificamos o quarto como nosso onde dizemos esta é a cama onde eu durmo ato que só é possível por meio de um exame introspectivo em que vinculamos observações vivências e sentimentos com aquele objeto Quando perdemos essa capacidade é como se perdêssemos a própria identidade pessoal deixamos de ser sujeitos de nossas próprias vidas e ainda mais como poderíamos falar de nossos próprios estados mentais sem conhecimento anterior deles Contudo as situações não são tão simples assim Alguns questionam o fato aparente de que nos dividimos em dois quando exercemos a introspecção um que age outro que observa Algo improvável quando pensamos na vida consciente como uma só dizendo respeito a uma única mente Outro questionamento está no fato de a introspecção não conduzir a uma conclusão correta porque ela surge a partir da autoanálise do indivíduo e portanto seria eivada de erros desde o começo não podendo ser justificada a partir da objetividade necessária para o conhecimento de seus estados mentais E ainda quando alguém reflete sobre um estado mental é uma reflexão de uma reflexão não podendo se constituir em um conhecimento válido e objetivo desse estado ABBAGNANO 2007 Você pode compreender isso imageticamente olhando a figura a seguir A introspecção interessa à filosofia desde o século XVII quando a filosofia empírica começou a prestar atenção no tema O filósofo britânico John Locke insistiu que o nosso conhecimento se baseava na experiência a qual envolvia duas fontes os sentidos externos era uma delas e a percepção de nossa mente dentro de nós era a outra que ele chamou de sentido interno Portanto O mo derno conceito de introspecção vem da crença dos filósofos empíricos de que o NOVAS DESCOBERTAS Pegando um gancho com o Explorando Ideias sobre o Lovot indi camos o filme HER Esta é uma produção estadunidense de 2013 que trata da relação entre um homem e uma assistente virtual com voz feminina que apresenta traços da personalidade humana Algo bastante popularizado hoje em dia UNIDADE 4 172 autoconhecimento era baseado sobre atos de observação interna que eram estrei tamente análogos aos atos de observação pelos quais adquirimos conhecimento do mundo externo DANZIGER 2015 p 702 tradução nossa Figura 4 A introspecção Descrição da imagem imagem mostrando a divisão do Eu em duas partes semelhantes no ato de intros pecção Tratase de uma figura em que uma cabeça humana é dividida no centro De um lado aparece um rosto humano e olhando de frente há outro rosto humano em formato maior Duas correntes filosóficas dos séculos seguintes questionaram esse conceito empí rico de introspecção Um deles foi o idealismo alemão para quem a introspecção nada tinha a ver com o estado mental mas com o ato de observação dele que mo dificaria o que foi observado Outro foi o positivismo para o qual a introspecção era algo impossível visto que misturava a coisa observada e o observador em um único momento invalidando qualquer observação que pudesse ser feita a respeito Respondendo a ambas as objeções outro filósofo empirista britânico cha mado Stuart Mill afirmou que a introspecção não tinha a ver com a apreensão instantânea de estados mentais que nos vêm pelos sentidos mas com a observa ção deles após terem ocorrido assim UNICESUMAR 173 O que é atualmente observado em uma introspecção são as memó rias de eventos mentais passados recentemente não os eventos no momento em que ocorreram Em outras palavras introspecção é na verdade retrospecção o exame de imagens da memória DAN ZIGER 2015 p 702 tradução nossa A introspecção é um tipo de percepção mas o que exatamente é percebido Al guns dizem que são as sensações que nos vêm a partir de nossos sentidos então se alguém sente o cheiro de carne assada simultaneamente ele é levado a dizer estou sentido um cheiro de carne assada e esta seria uma atividade introspectiva do Eu pensante porque dos vários cheiros que pairam no ar e chegam a seu olfato é esse que chamou a sua atenção e o fez se deter para perceber o que estava sentindo Todavia isso é questionável porque o fato de prestarmos atenção a algum cheiro e de isso causar alguma impressão em nossa mente não pode ser chamado de intros pecção Tratase de uma impressão uma operação mental somente A partir dela se desenvolve a introspecção quando nosso Eu pensante presta atenção na impressão da mente e se sente provocado a reagir a ela na forma de pensamentos que resultam em declarações a respeito Por exemplo alguém diria como é bom esse cheiro de carne assada ou daria tudo para comer um pedaço de carne assada agora ou ainda meu médico me proibiu de comer carne vermelha devido às pedras nos meus rins Portanto Rosenthal 1999 p 419 tradução nossa descreve introspecção como Deliberada e atenta porque esses estados intencionais de ordem su perior são eles mesmos atentos e deliberados E nossa introspecção parece presumivelmente espontânea e não mediada porque nós per manecemos inconscientes de qualquer processo mental que possa levarnos a esses estados intencionais de ordem superior A introspec ção consiste em pensamentos de ordem superior conscientes e aten tamente focalizados acerca de nossos estados mentais simultâneos Podemos perguntar o quanto conseguimos introspectar os nossos estados men tais uma vez que eles são simultâneos Poderíamos atentar para alguns e se quer perceber outros ou poderíamos notar alguns traços de um estado mental e ignorar outros por exemplo alguém ouve uma bela canção ao mesmo tempo em que a TV transmite uma partida de futebol Faz parte da atividade mental UNIDADE 4 174 introspectiva de um Eu pensante preferir avaliar julgar desejar e rejeitar amar e odiar um e outro ou um ou outro Ainda na canção ele pode focar em partes dela que produzem esses estados mentais e deixar passar outras pode também acontecer de o indivíduo se envolver tão profundamente com a canção em seus pensamentos que caso alguém lhe pergunte qual jogo está sendo transmitido na TV ele não saiba responder se existe um jogo Isso chamamos de concentração que é uma qualidade mental específica da introspecção Algumas questões importantes são sabemos exatamente e com toda a certe za que os nossos pensamentos estão de acordo com as impressões recebidas dos sentidos Que a introspecção sempre implica um estado mental racionalmente sustentado Em todo o tempo em que exercemos a introspecção ela sempre tem a ver com estados mentais simultâneos às impressões recebidas dos sentidos Em geral as primeiras duas questões são respondidas com o recurso às in vestigações psicológicas sobre a introspecção e comumente de modo bastante negativo Um estado mental percebido por alguém como uma crença nem sempre é acompanhada das impressões vindas dos sentidos nem podemos dizer que são racionalmente sustentadas Alguém pode dizer que crê na possibilidade de ver vultos de pessoas que já morreram e essas coisas não são apreensíveis pelos senti dos muito menos podem ser sustentadas racionalmente Como alguém também pode afirmar certos estados mentais sem nenhuma base comprobatória como dizer que não gosta de certo professor para se manter bem com a turma que quer retirar o docente do colégio assim como o fato de alguém descrever os seus esta dos mentais não quer dizer que sabemos o que está acontecendo em sua mente apenas que somos informados acerca dos seus resultados ROSENTHAL 1999 A terceira questão requer que aceitemos a explicação empirista da retrospecção Por ela sabemos não ser possível que a mente funcione para o Eu pensante como os sentidos funcionam para o corpo de modo que não podemos levar a analogia em pirista tão longe O que significa que a introspecção não ocorre simultaneamente à operação mental realizada a partir das impressões recebidas pelos sentidos gerando os estados mentais É preciso certo tempo para que o Eu pensante consciente de que um estado mental emergiu em sua mente seja capaz de observálo e refletir sobre ele Isso é feito a partir da rememoração imediata daquilo que acabou de acontecer portanto a introspecção não é simultânea mas retrospectiva Ela não diz respeito àquilo que é imediatamente percebido mas àquilo que é imediatamente recebido por meio da constituição de um estado mental agora existente UNICESUMAR 175 Isso não quer dizer que a retrospecção também não seja uma forma de intros pecção apenas que nos damos conta de certos estados mentais somente depois que eles começaram a trajetória até o nosso Eu pensante Você vê uma foto que lhe lembra alguém e logo depois pensa consigo mesmo que gostaria de encontrar aquela pessoa outra vez Algo lhe faz lembrar de uma situação e você avalia como teria agido se ela se repetisse agora A retrospecção tal como a introspecção é semelhante a um diário em que vamos colocando os nossos sentimentos pensamentos registros sobre como reagimos ao que aconteceu e acontece conosco e as expectativas os desejos e as aspirações que temos Volta e meia retornamos a esse diário e por meio dele nos reencontramos conosco De novo não existiria sujeito sem essas recordações acerca das quais vamos construindo as nossas identidades A literatura explora abundantemente a introspecção a partir de um recurso chamado fluxo de consciência no qual o narrador descreve o que se passa na mente de um perso nagem e cujo raciocínio é mesclado às impressões pessoais imediatas e à associação de ideias Veja como Agatha Christie faz isso É Armstrong Acabei de perceber que estava olhando de soslaio para mim tem olhos de louco muito louco Talvez nem seja médico afinal de contas Claro é isso Ele é um lunático fugido de algum hospício ou da casa de algum médi co fingindose de doutor isso sim Devo dizer a elesDevo gritarNão não convém prevenir os outros contra ele Além disso ele parece tão normal Que horas são Apenas 15h15 Oh meu Deus eu também vou enlouquecer Sim é Armstrong Ele está me observando de esguelha bem agora Fonte adaptado de Christie 2014 p 56 EXPLORANDO IDEIAS Para falar da introspecção precisamos voltar a abordar o tema da consciência pois ela diz respeito ao Eu pensante isto é à vida mental de alguém Armstrong 2004 argumenta que a vida mental de alguém é um monte de coisas sendo a consciência a sua manifestação mais sofisticada a cereja do bolo O autor estabelece diferentes modos de entendermos a consciência sendo o primeiro deles a consciência mínima aquele estado em que o sujeito se encontra quando dorme profundamente ou recebe uma anestesia total Não se pode dizer que você perdeu a consciência de ser quem é tampouco as qualidades que lhe UNIDADE 4 176 definem conhecimentos habilidades capacidades vontades sentimentos desejos crenças etc Esperase que quando acordar ou voltar da anestesia você seja a mesma pessoa de antes pois os traços de sua vida mental ficaram armazenados de modo que os retoma ao acordar como um computador que ao ser ligado traz consigo os dados armazenados que voltam a ser úteis quando o indivíduo ao precisar deles os aciona Todavia isso não quer dizer que houvesse atividade mental enquanto você estava sob uma condição inconsciente óbvio Você não poderia pedir para apagar a luz enquanto está anestesiadoa em uma mesa de cirurgia então Armstrong 2004 p 609 define da seguinte maneira este estado mínimo de consciência Se existe atividade mental acontecendo na mente se algo está acon tecendo atualmente então aquela mente não está totalmente in consciente Ela é então consciente Uma única fraca sensação não é muito mas se está acontecendo naquela medida existe consciência A inconsciência não é total A consciência mínima não deve ser confundida com a consciência perceptual aque la na qual sabemos o que está acontecendo ao nosso redor e em nosso corpo Os nossos sentidos estão atentos e as operações mentais impressões memórias e ima ginações estão em pleno funcionamento Ainda que isso também aconteça quando estamos sonhando isto não significa consciência do momento presente nem mesmo a possuímos quando estamos sonhando Portanto a consciência perceptual envolve a consciência mínima mas esta não envolve aquela ARMSTRONG 2004 Agora podemos examinar o que Armstrong 2004 chama de consciência introspectiva Não sei se já aconteceu com você quando dirige o carro por um dia inteiro chegando ao final do dia está cansado ou cansada e a situação toda fica meio irreal você se sente um pouco inconsciente mas também em um estado de alerta cujas percepções estão funcionando ainda pois controla o carro e a estrada e sabe que deseja chegar até a cidade onde descansará Por outro lado quando tenta lembrar os últimos segundos é como se tivesse dirigido no automático e não poderia dizer o que fez para chegar onde está agora Você então tem a consciência mínima e a perceptual mas lhe falta a percepção do mental do que está acontecen do em sua mente enquanto está dirigindo Armstrong 2004 p 611 reserva o termo introspectivo para essa consciência do seguinte modo a percepção da consciência de estados e atividades simultâneas em nossa própria mente UNICESUMAR 177 Isso não significa que estamos sempre e totalmente conscientes de nossos estados e operações mentais muito menos que podemos estar absolutamente confiantes de que eles estão totalmente corretos como queria Descartes ao afir mar que podemos duvidar de tudo menos de nossos pensamentos ainda que seja possível dizer que esta frase não tem a ver com a correção ou não da consciência que temos de nossos estados e operações mentais Mas quer dizer que lidamos intersubjetivamente com os nossos pensamen tos da mesma forma como lidamos com o nosso corpo e o nosso meio Estamos pessoalmente envolvidos com os cheiros que o olfato nos traz os sons que os ouvidos captam os sabores que o paladar propicia os objetos que os olhos veem e os dedos tocam Da mesma forma estamos pessoalmente envolvidos com nossos desejos vontades crenças conhecimentos sentimentos e tudo o mais dizemos que eles nos dizem respeito Se a consciência introspectiva deve ser comparada com a percepção então será natural dizer que os objetos mentais da introspecção agem dentro de nossa mente de modo a produzir nossa consciência introspectiva desses estados David M Armstrong PENSANDO JUNTOS Todavia também é possível falar de dois tipos de consciência introspectiva Pense em sua própria experiência quando entra em um shopping de início todas as lojas aparecem a você que está consciente de todas elas Depois se lembra que precisa ir até a loja de produtos de beleza de nome X então sai em busca dela procurando não se distrair com as outras lojas estando bem atentoa até encontrála de modo geral é assim que funciona nossa a introspecção Imagine quantas operações e quantos estados mentais passam por nossa mente em um dia e sequer notamos boa parte delas No entanto em um momento ou outro somos apanhados por algum deles que se destaca dos demais Ainda é possível que mais tarde você retome àquele estado mental e comece a investigar as razões causas e consequências de ter sido chamadoa à consciência por aquele estado ou operação mental Agora você está fazendo a introspecção da introspecção ARMSTRONG 2004 A consciência introspectiva é vinculada muito especialmente à consciên cia do self ou como temos chamado do Eu pensante Não apenas temos cons UNIDADE 4 178 ciência de atividades estados e objetos mentais mas os apreendemos em uma coisa única e contínua tal como apreendemos sobre algo no mundo por exemplo um quadro que estamos observando inserindoo em um arcabouço teórico o pintor a época o estilo os materiais etc assim também fazemos com a nossa vida mental ela é a vida de um Eu pensante ARMSTRONG 2004 Não apenas isso mas também guardamos no que chamamos de memória os objetos as operações e os estados mentais que são percebidos em nossa introspec ção enquanto os demais simplesmente não existiram para nós Sem introspecção não temos memória e se não a temos não podemos dizer que exista um Eu pensan te ou como conclui Armstrong 2004 p 616 Sem consciência introspectiva não teríamos consciência de nossa existência nosso self não seria um self em si mesmo Ao falarmos de intencionalidade também precisamos pensar sobre a ação o fato de que nossos estados intencionais são propositalmente orientados Não pensamos as coisas somente por pensar por exemplo quando pensamos no saci pererê que supostamente é um ser inexistente não só o fazemos com alguma intencionalidade estou pensando sobre o saci pererê Estou também antecipando algumas possíveis ações se ele existe e é como dizem devo ter medo e tomar algum cuidado se ele não existe não há razão para medo e ocuparei o meu tempo pen sando em alguma coisa mais útil Assim os nossos estados mentais são intencionais porque o são sobre algum objeto e porque são orientados para algum objeto Os nossos estados intencionais também comportam atitudes proposicio nais que é a relação entre o que uma pessoa pensa e o que ela fala Você pode pensar assim tenho medo de que aquele partido vença a eleição Esta é uma proposição ou declaração na qual você a eu afirma determinada atitude mental tenho medo em relação a algo b a vitória de certo partido na elei ção E ainda os nossos estados intencionais têm relação direta com as ações humanas pois como disse Searle 2010 p 8 todo comportamento humano intencional é uma expressão dos fenômenos mentais Dito de outro modo toda ação humana é mentalmente causada Costas 2005 diz que há três tipos de ação humana As ações corporais são movimentos do corpo que podem ser positivas quando usamos nossos músculos UNICESUMAR 179 para fazer alguma coisa e podem ser negativas quando deixamos de fazer algo As ações mentais são realizadas somente em nossa mente como quando somamos dois mais dois As ações instrumentais acontecem quando manuseamos alguma coisa como usar uma faca para cortar um pedaço de queijo Também existem as ações básicas e nãobásicas por exemplo fazer uma salada de alface para o almoço requer uma ação básica que é selecionar cortar e temperar a alface Nem todo movimento corporal efetuado por um ser humano pode ser conside rado uma ação Uma crise epiléptica em que todo o corpo se contrai e descontrai não pode ser chamada de ação humana ainda que diga respeito a um movimento corporal realizado por um indivíduo Faltalhe algo que é exatamente o humano da ação algum desejo vontade crença opinião sentimento emoção e assim por diante Ainda assim nem todas as ações humanas podem ser categorizadas desse modo faltalhes o que é ainda mais fundamental da ação uma orientação biolo gicamente fundada que Costas 2005 chama de teleológica isto é orientada para um fim mas que não é intencionalmente orientada para esse fim Sendo uma característica biológica de todo ser vivo está presente por exemplo quando um passarinho procura abrigo devido à ventania e à chuva que está chegando Todavia a ação tipicamente humana não é apenas teleologicamente orien tada ela também é voluntária Elas são marcadas pela vontade de todo ser vivo animal ou humano em fazer coisas deliberadamente Ela implica uma tentativa ou intenção de agir que Costas 2005 chama de esforço a qual é a causa de um movimento corporal ou da sua interrupção Imagine que você saiu de casa para pegar o ônibus e viu que está atrasadoa então corre o máximo que pode para apanhálo a tempo na parada Pense que o mesmo acontece quando um gato sai correndo atrás de um rato Por fim temos a ação tipicamente humana que é a racional Por exemplo não é uma ação racional quando você chega em casa suadoa em um dia de muito calor e vai direto ao banheiro para tomar uma ducha fria outros animais tam bém fazem o mesmo Embora isso envolva algum grau de racionalidade porque ambos estão mostrando por meio dessa ação que perante tanto calor precisam de água fria para diminuir a temperatura do corpo UNIDADE 4 180 Mas a ação racional propria mente humana acontece quando você sente tanto calor que deseja uma jarra de suco gelado para be ber algo refrescante e diminuir a sede Você faz isso porque acredita que tal bebida proporcionará isso a você ora desejar e crer são dois estados mentais intencionais que lhe conduzem a decidir fazer uma jarra de suco pegar um bocado de limões e espremêlos resultando em um líquido que é colocado em uma jarra a qual depois você colocará dentro da geladeira e cujo conteúdo você beberá no dia seguinte Portanto uma ação racional é aquela ação deliberada em função de uma situação perce bida Costas 2005 p 56 a define como uma ação voluntária que resulta de um processo de deli beração racional E ele a descreve conforme o seguinte esquema MOVIMENTO CORPORAL ESFORÇO Decisão a intenção na ação o tentar ou a sua sustentação ou intenção prévia QUERER PRÉVIO Decisão RAZÃO OPERANTE DESEJO CRENÇA Figura 5 Orientação intencional para a ação Fonte Costas 2005 p 58 Descrição da imagem esquema descrevendo como a intencionalidade gera a ação desde o mo mento em que surge o desejo aliado à crença até o movimento corporal para a sua realização ou não Esta reflexão sobre a intencionalidade da ação nos apresenta os seres humanos não somente como dotados de uma vida física cujos movimentos corporais são suficientes para explicar o que eles estão fazendo Imagine que após o almoço você recostouse em seu sofá para tirar um cochilo Alguém que passa pelo escritório ao lhe observar pensará que você está fazendo algo que qualquer ser vivo faz após uma refeição principalmente no horário mais quente do dia após meio dia de trabalho logo você desperta e está prontoa para continuar as atividades da tarde Os demais seres vivos fazem o mesmo tudo o que fez é perfeitamente natural e diz respeito às condições biológicas do seu corpo e todos os movimentos realizados são uma resposta a elas Até mesmo os bocejos que você segue fazendo durante a tarde UNICESUMAR 181 são reflexos de seu estado biológico ainda que sejam movimentos corporais Isso significa que não há nem subjetividade nem intencionalidade neles não podemos dizer portanto que sejam sinais de uma vida mental Este tipo de ação corpórea pode ser explicado pela causa que é de natureza biológica mas ele não pode ser explicado por sua razão que é de natureza psico lógica pois diz respeito ao sujeito e à sua intenção Suponha que alguém observe você cochilando na poltrona e sabendo que esse não é um hábito seu lhe pergunte por que está com tanto sono Você responde que não dormiu direito porque está muito preocupadoa com a situação econômica da empresa e ficou parte da noite pensando em uma saída para ela Veja que à condição biológica somouse uma condição psicológica que na verdade explica o cochilo após o almoço Quando damos razões para nossas ações estamos afirmando a nossa inten cionalidade não somente sobre um objeto nem apenas orientandonos para ele nem respondendo racionalmente a uma situação percebida mas compreendemos e somos capazes de dar uma explicação racional ao que estamos fazendo em relação a esse objeto Isso significa dizer que esperamos que as nossas ações façam sentido para outras pessoas e que elas sejam capazes de entender os sentidos dessas ações Evidentemente isso sugere que deveríamos nos colocar no lugar de outra pes soa para entender as razões de suas ações Claro que isso é impossível ninguém consegue entrar na mente de outra pessoa para entender os seus pensamentos mas há outros dois modos em que isso é próximo do possível o primeiro é quando nos colocamos no lugar de outro indivíduo enquanto seres humanos que somos tais como ele Você pode saber o que uma pessoa está sentindo e pensando quando ela é humilhada publicamente porque você é capaz de se imaginar se sentindo e pensando sobre isso caso acontecesse com você Ou se conhece bem a pessoa é capaz de saber o que ela está sentindo e pensando naquele momento e até mesmo prever o comportamento futuro dela provavelmente ela ficará vários dias depri mida até recuperar a confiança habitual Porém há outro modo de se colocar no lugar da outra pessoa que é pela via da cultura Matthews 2007 p 140 diz que Os padrões de inteligibilidade das razões são determinados pela cultura à qual pertence a pessoa que está agindo e a pessoa que procura compreender a ação e todos os nossos padrões de inteligibilidade estão ligados à cultura seja ela uma cultura humana em geral ou uma cultura local em particular à qual pertencemos Quando observamos os indivíduos agindo de UNIDADE 4 182 certo modo precisamos perguntar as razões pelas quais eles estão fazendo aquilo não somente em sua ação intencional particular mas no modo como eles foram orientados a agir daquele jeito no meio onde foram criados e vivem Você já deve ter visto e reparado na saudação entre japoneses quando se encontram Co mumente eles mantêm a postura ereta e juntam os pés curvam o corpo da cintura para cima mantendo a parte de baixo perpendicular em relação ao chão conservam o corpo sempre reto de modo a olhar para o chão e não para o rosto ao completar a curvatura retomam o corpo ao estado original Claro que a observação do movimento corporal pre cisa de outra explicação além da atividade cerebral e muscular Precisamos saber a razão por que fazem assim e a encontramos no modo como na cultura japonesa as pessoas demonstram respeito e reverência em uma forma de expressar a hierarquia social EXPLORANDO IDEIAS Sob esta perspectiva Matthews 2007 conclui como compreensão geral do ser humano o fato de o mesmo ser alguém dotado de uma vida física cujas certas capacidades subjetivas e intencionais fazem parte Estas fazem dele algo especí fica e especialmente dotado de algo que podemos chamar de vida mental ou se quisermos de mente E essa é a parte da vida física que faz do ser humano alguém para além de uma máquina um ser que enriquece tremendamente a sua existência por meio de sua vida mental O fato óbvio é que no dia a dia fazemos declarações e agimos de modo a mani festar claramente os nossos estados mentais Isto indica que não somos apenas seres que interagem fisicamente com o mundo mas que também somos seres psicológicos os quais desenvolvem uma riquíssima vida mental enquanto acontece essa interação Suponha que você está observando o comportamento de um estudante a sema na toda que ele vem às aulas e os seus movimentos físicos são sempre os mesmos sentase na cadeira e deita a cabeça sobre os braços que estão sobre a mesa Como você faria para lidar com a situação considerando que um ou mais de um estado mental está sendo demonstrado no comportamento desse aluno Você deve admi tir que a ação dele resulta de alguma situação mental e uma vez que ela tem uma relação contextual será importante conversar com ele para saber o que há em sua mente nas circunstâncias de vida que está resultando naquela ação 183 AGORA É COM VOCÊ 1 O filósofo estadunidense John Searle 2006 explicou o modo como representamos os nossos estados mentais usando a metáfora da rede descrita por ele como É em geral impossível para os estados intencionais determinar condições de satisfação isoladamente Para ter uma crença ou desejo tenho eu ter uma compreensão da rede de outras crenças e desejos Sendo assim uma rede comporta um conjunto de estados mentais que não são nem autointerpretativos nem autoaplicáveis isolada mente uns dos outros O autor completa esse conceito com outro chamado por ele de background Em relação à definição desse conceito assinale a alternativa correta a O processamento de informações é efetuado pela mente a partir dos sentidos b O pano de fundo que consiste de capacidades mentais disposições atitudes etc a partir do qual representamos os nossos estados mentais c A vida mental disposta por categorias que são usadas para diferenciar as coisas umas das outras d Os estados intencionais que atuam autonomamente para satisfazer às necessi dades de comunicação no mundo e O uso isolado de um estado mental para explicar todos os demais 2 A introspecção é a chave para a compreensão do outro pois sempre supomos que ele agirá de uma forma parecida com a nossa Mas o que ocorre quando a avalanche de sons imagens e mensagens que recebemos incessantemente ofusca a introspec ção Quais serão os efeitos de interagirmos cada vez mais com sujeitos virtuais TEIXEIRA J de F O pesadelo de Descartes do mundo mecânico à inteligência Porto Alegre Fi 2018 p 168 A introspecção se trata da atividade do Eu pensante em examinar a si mesmo o que envolve a contínua tomada de consciência O exame da introspecção nos conduziu ao reexame da consciência em três momentos mínima perceptual e introspectiva A consciência introspectiva foi explicada como a A percepção do que está acontecendo na mente b A percepção do que está acontecendo em um sono profundo c A percepção do que está acontecendo ao nosso redor e em nosso corpo d A percepção do que está acontecendo em nossas memórias e A percepção do que está acontecendo em nosso cérebro 184 AGORA É COM VOCÊ 3 O entendimento da ação intencional exige que nos coloquemos no lugar de outra pessoa para entender as razões de suas ações Todavia é impossível entrar na mente de outro indivíduo para entender o que ela está pensando por isso algumas abor dagens interessantes podem nos ajudar como pôrse no lugar de outra pessoa como um ser humano tal como você usar o conhecimento da cultura como modo de reconhecimento da ação da outra pessoa a partir de como ela foi orientada a agir daquele modo no meio onde vive e foi criada Dentre as abordagens apresentadas no texto apresentado selecione uma delas desenvolva o seu pensamento a respeito e dê um exemplo para validálo 4 A minha vida tem duas fases distintas antes de ter um cachorro e agora que tenho um Antes eu me achava uma pessoa feliz Mas somente agora sei como é ter um irmão uma das melhores companhias que existem Como me divirto e como amo Mudei muito e amadureci demais pois um ser depende de mim para sobreviver e ser feliz MENSAGENS com Amor Porque amo meu cachorro 2021 Disponível em https wwwmensagenscomamorcomporqueamomeucachorro Acesso em 29 mar 2021 No que diz respeito à representação mental um dos modos de examinála é verificando os elementos categoriais e conceituais que a constituem Com base no enunciado responda às questões a seguir e apresente argumentos que jus tifiquem a sua resposta a De que modo o elemento categorial está presente no depoimento apresentado b De que modo o elemento conceitual está presente no depoimento apresentado MEU ESPAÇO MEU ESPAÇO 5 Outras mentes e Inteligência Artificial Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade trabalharemos dois temas importantes para a filosofia da mente se temos acesso ou não a outras mentes e a Inteligência Artificial IA De modo geral não temos dificuldades em saber o que estamos pensando e o senso comum pondera que temos acesso direto aos nossos pensamentos ou seja não precisamos de qual quer mediação Por isso essa seria a nossa fonte mais confiável de conhecimento A questão é podemos ter a mesma certeza quanto às outras pessoas As máquinas inteligentes cujo conceito basilar é a IA constituem outro desafio filosófico para nós seres humanos À medida que as máquinas são aperfeiçoadas elas se tornam mais comunicativas e replicam o modo como funciona a nossa mente Isso também nos leva a refletir sobre nossa composição ou seja se somos máquinas pensantes revestidas de um corpo físico O nosso estudo será bastante intrigante e atual Continuemos UNIDADE 5 188 Essa é uma história fictícia que se passa em um século não tão distante Ao re tornar do sono os pensamentos do EU general afloraram Pensou na facilidade com que fizera a guerra ontem e como isso se devia às Inteligências Artificiais COGs que o treinaram Notou ser transportado para aquele tempo Ao seu redor os cenários fluíam sem que ele se esforçasse Sua vida inteira não estava mais nele mas armazenada no Grande Círculo Vital De repente compreendeu o quanto se entregou às COGs introduzidas em sua formação Foi educado para evitar a si mesmo enquanto vivia para elas Agora já não sabia mais identificar qual tipo de Eu ele foi de tão misturado que tudo ficou não sabia se as recordações eram suas ou das COGs não sabia se a sua inteligência havia vencido as guerras ou as COGs e não sabia se ele tomava as decisões ou se eram as COGs as quais eram parecidas a espumas flutuantes A sua mente e as outras se misturavam confusamente e propositalmente Ainda não sabia qual tipo de Eu eram aquelas coisas que pensavam na guerra por ele Um sentimento de irritação se tornou forte algo parecido com um princípio de rebelião Quando as COGs perceberam os níveis de mudança de humor no EU general reagiram no momento injetando grandes doses de adrenalina Quando se despertou de vez as telas se dissolveram e lá estava ele outra vez olhando o cenário de guerra e construindo em conjunto com as COGs os próximos combates A ficção apresentada é um exercício futurístico que projeta a interação entre os seres humanos e as máquinas A ideia é a de que quanto mais as gerações futuras usarem as máquinas inteligentes que aprenderão cada vez mais diante desse uso mais as duas existências se aproximarão Chegará um momento em que não conseguiremos mais distinguir o ser humano da máquina e a máquina do ser humano As teorias educacionais mais avançadas já propõem a interação ensinoaprendizagem mediada pela IA Assim em algum momento do encontro entre docente e estudante as máquinas estarão mediando o conhecimento A Amazon criou em 2014 uma assistente virtual chamada Alexa Seu objetivo é atender o usuário em suas tarefas diárias especialmente durante as compras realizadas na loja Alexa é uma assistente conversacional capaz de entender o contexto até determinado aspecto e executar tarefas simples tais como configurar alarmes informar a situação do trânsito prever o clima executar uma lista de músicas ou reproduzir podcasts Por não estar atrelada a um sistema operacio nal Alexa é compatível com Android e Windows 10 a interação com o iPhone UNICESUMAR 189 é limitada mas existe além de ser capaz de se conectar a uma vasta gama de dispositivos de terceiros Para saber mais sobre Alexa acesse o QR code Diante da sua convivência com algum assistente virtual reflita sobre como a sua vida tem sido alterada por esses assistentes Imaginar a educação do futuro que já chegou é pensar no modo como os com putadores a Internet a IA os robôs e as demais tecnologias podem ser usados para dinamizar a área que chamamos de educação Essa é a aplicação da Quarta Revo lução Industrial constituída pela geração de nativos digitais que estão nas escolas Faça o seguinte procure reunir toda a informação possível sobre a Educação 40 Depois faça um portfólio uma coleção de tudo o que conseguiu encontrar a fim de expor em algum espaço educacional de fácil acesso DIÁRIO DE BORDO UNIDADE 5 190 Você já deve ter compreendido que a filosofia da mente busca compreender a relação entre a mente e o corpo Apesar de essa questão remontar aos primeiros tempos do pensamento filosófico ela se tornou central para a filosofia moderna e praticamente inaugurou a filosofia da mente em conjunto com o filósofo francês René Descartes Basicamente o filósofo entendeu que o ser humano é composto por duas substâncias a material o corpo e a imaterial a alma chamada de mente na atual filosofia da mente Esse dualismo antropológico cartesiano entende que a vida mental humana está na alma e o corpo é um mecanismo que executa as funções necessárias à sua existência no mundo A questão filosófica inauguradora do atual problema entre mente e corpo con siste na interação entre ambos Para Descartes você e eu somos essa substância imaterial sem tamanho peso cheiro ou cor que habita o interior do corpo humano A primeira questão é como essa substância habita esse corpo Essa pergunta pode ser esmiuçada em indagações menores tais como em que parte do corpo ela ha bita Ela está espalhada pelo corpo inteiro ou está em um lugar específico Ela está limitada ao corpo ou pode sair dele Como ela entra no corpo Como permanece nele Quando o corpo morre o que acontece com ela Se ela não partilha a subs tância material do corpo de que tipo de substância ela é formada Essas questões foram consideradas de menor importância para a atual filosofia da mente A questão realmente importante atualmente é uma vez que a mente habita o corpo humano e ambos são substâncias como se dá a relação entre esses ele mentos De que maneira um afeta o outro ou um é afetado pelo outro Compli quemos um pouco mais a situação Se a mente é uma substância imaterial e por tanto não tem propriedades físicas ela pode afetar o corpo que é essencialmente físico Você já sabe que na mente acontecem as nossas emoções algo totalmente imaterial pois não é possível medir ou pesar um sentimento de raiva ainda que alguém diga que está carregado de raiva o que constitui uma metáfora Diante disso suponha que a mente está carregada de um estado mental comparável à emoção da raiva como esse fato pode se relacionar com o corpo Agora se o corpo é uma substância material ele se relaciona com o mundo a partir de interações entre as suas propriedades físicas Suponha que você está em uma piscina em um dia de calor e sente o frescor da água em volta do corpo o que gera uma sensação de bemestar e prazer Em outra situação você pode estar com falta de vitamina C e por isso está resfriado Diante disso decide comprar uma UNICESUMAR 191 dúzia de laranjas para repor a vitamina em seu corpo Tudo isso acontece em sua vida física ou corporal Se assim é de que modo os movimentos físicos do corpo in teragem com a mente que é segundo o dualismo cartesiano totalmente inacessível A dupla questão apresentada levou alguns estudiosos a proporem uma ex plicação filosófica O próprio Descartes em sua obra Paixões da Alma propõe que a interação entre as propriedades físicas do corpo se dá na glândula pineal uma pequena glândula endócrina presente na base do nosso cérebro que é a responsável pela secreção da melatonina que regula o nosso sono DESCARTES 1999 Isso não pareceu satisfatório Quando alguém está com raiva visivelmente a percebemos devido à postura do corpo o qual normalmente está enrijecido avermelhado e pronto para uma agressão Por outro lado quando alguém está placidamente boiando em uma piscina é fácil perceber como o sujeito está rela xado e tranquilo ou seja o seu estado ou atitude mental é outra O estresse é um estado mental totalmente imaterial mas determina a postura corporal e influencia as relações pessoais e sociais Ele é causado pela ansiedade gerada por es sas relações as quais afetam o corpo e o fazem estar constantemente em alerta até o momento em que ocorre o esgotamento físico As soluções ao estresse perpassam por mudanças em relação à atitude mental e ao estado físico PENSANDO JUNTOS A alternativa ao dualismo é denominada de materialismo ou fisicalismo Essa explicação filosófica bastante influenciada pelas ciências naturais nega que a mente seja feita de uma substância ou item diferente do corpo Portanto ela é composta pela mesma substância ou elemento do qual o corpo é feito Na verdade nós seres humanos evoluímos das formas biológicas primitivas até chegarmos ao que somos hoje o que diz respeito a nossa composição inteira Desse modo a mente sobrevive no corpo ou melhor dizendo no cérebro Por isso há o interesse filosófico no que diz respeito aos estudos acerca do cérebro e sobretudo há a relevância das ciências chamadas cognitivas No entanto o materialismo também não é satisfatório Quando um neuroci rurgião está operando o cérebro de alguém ele não espera encontrar a consciên cia e colocála à parte enquanto faz a cirurgia Quando alguém está com raiva UNIDADE 5 192 é possível fazer um exame eletroencefálico e dizer quais partes do cérebro estão sendo afetadas Contudo é impossível afirmar o motivo pelo qual um sujeito está com raiva e como ele pode terminar essa atividade cerebral Você pode sustentar que basta dar um calmante mas você sabe que esse remédio é apenas um palia tivo para o sistema nervoso e não resolve o problema o qual está em outro lugar que certamente não é o cérebro Nesse contexto o materialismo não consegue explicar a consciência a intencionalidade a introspecção os estados mentais enfim a vida mental de alguém A partir desse problema fundamental você foi conduzido a entender a sub jetividade a existência de um Eu pensante e consciente dos seus estados mentais em relação aos objetos e às ações intencionais no mundo Você compreendeu que por intermédio da introspecção você é capaz de acessar esse Eu pensante isto é a você mesmo Essa é uma questão ontológica pois diz respeito a quem você é enquanto um ser que existe nesse mundo Esse modo de ver a si mesmo é cha mado de visão em primeira pessoa visto que você tem acesso à sua interioridade por meio da observação direta e sem a necessidade de uma evidência externa o seu comportamento ou que alguém te diga o que se passa dentro de você Entretanto existe outro problema o modo como nos relacionamos com os demais Eus pensantes os quais também estão conscientes de seus estados mentais e têm relação com os objetos e as ações intencionais no mundo Esse mundo é aquele em que você também existe portanto você coexiste com os outros e especificamente no que diz respeito à filosofia da mente você convive com as outras mentes Chamamos essa questão de epistemológica porque se relaciona com o modo como você conhece e afirma saber algo sobre a outra pessoa considerando a sua vida mental Além disso diz respeito à visão em terceira pessoa porque se trata de uma relação pessoal entre você um Eu e outro ou outra ou seja um Ele ou Ela Você pode estar se perguntando qual é o problema filosófico Veja a se guinte explicação Naturalmente o comportamento de um agente é um guia para o estado mental dele ou dela mas parece existir aqui um gap epistêmico entre esse tipo de evidência e a atribuição de um estado mental correspondente inexistente no caso de autorre ferência Assim o problema de outras mentes é principalmente UNICESUMAR 193 um problema epistemológico às vezes expresso na forma de um ceticismo sobre a justificação que podemos dar para a atri buição de estados mentais a outras pessoas WILSON 1999 p 17 tradução nossa Podemos acrescentar assim uma segunda relação Ela será chamada de inter subjetividade tendo em vista que diz respeito ao modo como dois sujeitos dois Eu pensantes conscientes de seus próprios estados mentais intencionais encon tramse e se relacionam mutuamente Trevarthen 1999 p 415 tradução nossa assevera que a intersubjetividade é o processo no qual a atividade mental in cluindo fenômenos conscientes como a percepção motivos e intenções cogni ções e emoções é transferida entre mentes Isso requer que você pense nas relações pessoais e sociais humanas as quais são percebidas normalmente como comunicações instantâneas que são realizadas por meio das posições do corpo dos gestos do uso das mãos e da voz com a intenção de transmitir alguma informação Ainda que a comunicação sugira a interação entre dois corpos não é a eles a que você refere quando conversa com alguém Você não diz O corpo de Pedro está falando comigo sobre o quanto ele está incomodado com a perda do em prego De fato você diz Pedro está incomodado com a perda do emprego Desse modo você está dizendo que Pedro lhe comunicou por intermédio do corpo algo que está em sua mente um pensamento acerca de uma rea lidade econômica que o preocupa bastante A organização de nossa vida mental por um lado depende de aprendizados e adaptações constantes Esses elementos são oferecidos pela sociedade e pela cultura humana em que vivemos o que envolve crenças línguas e linguagens rituais e tecnologias Além do mais essa organização tem início na infância em que aprendemos a imitar o comportamento de outras pessoas especialmente as de nosso núcleo familiar Depois somos introduzidos a novas companhias que enriquecem a nossa vida mental e a nossa herança cultural A linguagem e as convenções simbólicas nos introduzem na plenitude de nossa vida mental e grande parte desse processo acontece por meio da identificação e da simpatia com outros indivíduos da espécie humana Interagimos construímos e conso lidamos as nossas habilidades e capacidades mentais com essas pessoas assim como é ilustrado na imagem a seguir UNIDADE 5 194 Por outro lado é importante que você entenda que o ordenamento de nossa vida mental não é uma mera repetição do comportamento dos outros nem é exclu sivamente uma construção social Enquanto sujeitos dotados de uma mente a todo o tempo estamos conscientes de que algo acontecerá conosco e isso está impresso ou armazenado nas memórias que podemos trazer à consciência por meio de narrativas Esse fato significa que a nossa vida mental é inata isto é nos sos estados mentais são intrínsecos a nosso Eu pensante e é por isso que somos conduzidos à simpatia à identificação e à abertura para outros Eus pensantes Trevarthen 1999 p 417 tradução nossa defende que A vida interpessoal e o entendimento coletivo resultam de indiví duos comunicando pensamentos na linguagem cuja gramática é derivada de processos racionais inatos O indivíduo racional tem tanto emoções internas quanto reações biológicas instintivas a ou tros que devem ser reguladas por regras convencionais de compor tamentos socialmente aceitos Figura 1 Pai e filho fazendo a barba juntos Descrição da imagem a figura mostra um homem e um menino préadolescente lado a lado Os seus rostos estão cheios de espuma para barbear e ambos carregam um aparelho de barbear na mão UNICESUMAR 195 A discussão efetuada até agora evidencia outra questão importante para a filo sofia da mente o chamado problema epistemológico Nesse contexto temos a pergunta dada pelos empiristas e pelos racionalistas que é o que há na mente que permite conhecermos as coisas sobre o mundo Em conjunto ao questionamento são evidenciadas as respostas clássicas feitas nos séculos XVII e XVIII que dizem respeito ao empirismo e ao racionalismo Os empiristas sustentam que o conheci mento é proveniente da experiência obtida por meio das percepções dos sentidos em interação com o mundo Já os racionalistas defendem que o conhecimento é inato Algum exemplo que comprova essa tese é o fato de ninguém conhecer a Deus a substância ou os lados de um triângulo pela sua experiência Essas posições repercutem diretamente na compreensão que temos sobre como a mente conhece Se você é empirista dirá que a mente conhece a partir das impressões recebidas pelas percepções advindas dos sentidos A partir disso a mente conecta outras informações aumentando os níveis de conhecimento paulatina e consideravelmente Por outro lado se você é racionalista não pode negar que o conhecimento vem da experiência mas pode afirmar que ele só é possível porque a mente humana está preparada para reconhecer as percepções advindas dos sentidos e construir por si mesma o conhecimento Se existe uma estrutura mental inata também existem ideias inatas as quais compõem o conhecimento fundamental e exclusivamente presente na mente humana O pensamento epistemológico moderno se preocupa com a veracidade e a verificabilidade do conhecimento o que abrange as crenças formuladas em nos sa mente Essa teoria é chamada de internalismo e de acordo com ela o sujeito epistêmico tem os meios para justificar as suas crenças ao recorrer aos seus pro Os seres humanos constituem a espécie mais imitativa do planeta e essa habilidade tem um papel fundamental para a nossa adaptação e sobrevivência enquanto espécie Quan do uma criança está imitando um adulto áreas do cérebro são ativadas sobretudo o hi pocampo Contudo não é somente isso que importa Para a reflexão filosófica a imitação não é apenas a repetição mecânica de gestos e de movimentos corporais mas a interna lização do que eles significam em termos de emoções intenções e propriocepções por exemplo A vida mental de uma criança começa de verdade no momento em que ela é estimulada pela imitação Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 5 196 cessos mentais internalismo mentalista ou ao apelar para o compromisso que tem com as suas crenças internalismo deontológico SIECZKOWSKI 2008 O argumento fundamental é o de que um sujeito sabe que sabe quando faz alguma afirmação em relação a algo que tem experiência no mundo Isso se deve porque ele tem acesso ao conhecimento no exato momento em que ele é necessário internalismo de base ou porque ele tem acesso ao conhecimen to que está armazenado em sua consciência internalismo de acessibilidade SIECZKOWSKI 2008 No internalismo de base quando um indivíduo tem um conhecimento ele imediatamente faz recorrência a esse saber a fim de lidar com a situação que o cerca Entretanto a capacidade de a mente prover tal recur so toda vez e a todo o tempo é questionável uma vez que ela nem sempre está disponível para vincular o conhecimento a todas as exigências que o mundo impõe ao indivíduo Resta portanto apelar para o internalismo de acessibili dade Nele o indivíduo realiza um processo mental de autorreflexão em busca de um conhecimento o suficiente para lidar com a exigência requerida pelo mundo Desse modo a pessoa imediatamente lança mão de certo fundamento para lidar com o mundo Além disso há outro conhecimento o qual exige que a maioria realize uma consulta em si mesmo de modo a comparálo com a rea lidade com o objetivo de responder corretamente a ela SIECZKOWSKI 2008 Esse ponto de vista é justificado diante do modo como o sujeito constrói o seu edifício de crenças Temos duas teorias ou argumentos para isso O funda cionismo entende que o indivíduo acumula um conjunto de crenças a partir de outras constituindo uma hierarquia de crenças das quais a maioria se apoia sobre a outra Esse processo é realizado até a obtenção de uma ou mais crenças fundamentais isto é aquela que sustenta as demais Tendo em vista que não está apoiada em nenhuma outra crença ela se sustenta por si mesma adquirindo um caráter de estabilidade invariabilidade e infalibilidade o que atribui certeza ao indivíduo quanto às demais crenças por ele sustentadas Por exemplo a teoria da gravidade seria uma crença fundamental que organiza todas as demais visto que ela não pode ser questionada sob hipótese alguma e portanto não carece de nenhuma justificativa por si própria naturalmente tudo que sobe tem que descer SIECZKOWSKI 2008 UNICESUMAR 197 O coerentismo é uma variante do fundacionismo e se justifica a partir da constatação de que nem todas as crenças funcionam do modo como requer o fun dacionismo e ainda pior não há critérios para inferir a hierarquia entre as crenças ou para encontrar a crença fundante das demais Na verdade o coerentismo está mais preocupado em entender como um sistema de crenças funciona no cotidiano do sujeito ao fornecer o conhecimento necessário para que ele viva no mundo Nessa condição o sujeito epistêmico tende a manipular as crenças mesclandoas e separandoas à medida que essa atitude é exigida pela situação de vida que o envolve A justificativa do conhecimento se dá a partir do modo como o indivíduo organiza e reorganiza o seu conjunto de crenças de maneira coerente a fim de oferecer respostas adequadas à sua experiência de mundo SIECZKOWSKI 2008 A típica questão epistemológica imposta pela filosofia da mente é de outra natureza posso saber sobre minha vida mental porque tenho acesso direto a ela mas como posso saber sobre a vida mental dos outros uma vez que esse acesso direto é negado a mim Ainda que tenhamos a observação dos movimentos corporais e compreendamos a linguagem a vida em sociedade e as ciências neurocerebrais isso não garante o acesso à mente do outro mas somente ao seu comportamento externo ou às movimentações químicas e elétricas em seu corpo Você pode imitar o comportamento de alguém que está cozinhando e dizer que está realizando a mesma ação assim como pode mapear os centros de excitação do cérebro daquela pessoa Todavia como você pode saber se o sujeito está feliz ou não com o emprego de cozinheiro naquele restaurante Como você pode saber se ele não está pensando em fazer uma comida errada para ser despedido com alguma indenização Ainda mais como você pode saber se ele está pensando Talvez o cozinheiro seja um robô ou ainda mais terrível um zumbi preparando o almoço Estamos sozinhos no mundo Como sabemos se as pessoas têm mentes assim como nós temos O que pensar dos zumbis Robôs podem pensar Esses são assuntos intrigantes que o nosso podcast abordará Você deve estar curioso para saber o que a filosofia da mente pode dizer a respeito Estamos te esperando UNIDADE 5 198 Sua resposta poderia ser O sujeito veio até o restaurante No momento ele cozi nha e conversa com todo mundo Além disso o seu rosto está alegre o que sinaliza que ele está satisfeito com o seu trabalho No entanto é nesse aspecto que reside o problema Fazemos uma inferência direta entre o comportamento observado e a vida mental da pessoa sem sabermos nada sobre o que se passa em sua mente Churchland 2004 p 62 explica que A crença em outras mentes exige inferências a partir do compor tamento essas inferências exigem generalizações sobre as criatu ras em geral essas generalizações por sua vez somente podem ser justificadas pela experiência das criaturas em geral mas tudo que podemos ter é a experiência de nosso próprio caso individual Esse é o problema clássico das outras mentes Uma resposta consequente seria Não tenho a menor ideia do que se passa na mente de outra pessoa o que pressupõe a seguinte inferência Não pos so afirmar com certeza que as outras pessoas tenham uma mente tal como eu possuo Isso parece absurdamente ridículo afinal de contas seríamos uma espécie de robôs morando juntos em um mesmo planeta Executamos funções mecânicas para as quais fomos programados e ignoramos comple tamente o que se passa nas mentes alheias Isso está longe de ser uma expe riência comum à humanidade Ainda assim a analogia ajuda a entender o problema filosófico imposto pelas outras mentes como sabemos se não é assim que as coisas são no que diz respeito às outras mentes Se o nosso senso comum desautoriza esse pensamento também não temos como provar que ele não é verdadeiro Ou temos Comumente os filósofos da mente começam pelo argumento contrário para depois afirmar as suas posições Esse argumento contrário é cha mado solipsismo em sua forma mais radical e ceticismo em sua forma atenuada Solipsismo é uma palavra proveniente do latim e é formada por duas palavras solus que significa sozinho e ipse que significa ele mesmo Ao acrescentarmos o ismo temos então a doutrina de que o ser humano está sozinho consigo mesmo seja em relação ao mundo externo seja em relação aos demais seres que nele e com ele habitam A única coisa existente ou acessível é a sua consciência individual A origem dessa defesa UNICESUMAR 199 está no idealismo cartesiano que defende o adágio popularizado penso logo existo Perante tal asserção você certifica a sua existência pessoal que é afirmada somente para e perante a você mesmo Portanto ele o ser humano está isolado em seu próprio saber de si Essa compreensão pode ser ainda mais radicalizada se você pensar que tudo o que existe está em sua mente e em nenhum outro lugar Evidentemen te se você só pode ter acesso ao que está em sua mente também é verdadeiro que tudo o que existe só está em sua mente Você pode desse modo negar qualquer existência fora dela inclusive a de outras mentes Há certamente argumentos para isso e todos são provenientes da experiência humana con sigo mesmo e com o mundo Quando dou nome às coisas que experimento no mundo a linguagem que uso é somente minha No máximo posso com partilhar essa linguagem com as outras pessoas mas sempre falo a partir de mim e não do outro Portanto a sua experiência é sua e a minha experiência é minha Não há nada que possa ser feito a respeito estamos isolados e sozi nhos em nossos mundos ABBAGNANO 2007 De fato o solipsismo mais radical insiste que absolutamente nada po deria existir exceto eu mesmo uma vez que a única evidência que possuo para a existência de qualquer coisa além de minha própria consciência são as ideias de coisas que possuo em minha mente MATTHEWS 2007 p 112 grifos nossos Contudo por que alguém afirmaria algo assim De que modo isso se relaciona com o conhecimento de outras mentes além da minha Uma questão fundamental é voltada à subjetividade Se eu digo Eu creio que o mundo acaba até 2050 e você responde Eu creio que não há dois Eus cada um afirmando a sua crença individual Certamente se a conversa se estender as razões para sustentar cada crença também serão as minhas e as suas Alguém que observa a nossa conversa poderá dizer Você crê que o mundo acabará em 2050 e ele não Ele consegue diferenciar os dois Eus pensantes O resultado dessa conversa se dá quando eu e você nos despedimos e cada um segue o caminho de sua casa pensando no assunto da conversa ou seja se ela é importante ou não para a sua vida Entretanto nenhum de nós saberá o que o outro está pensando A força do solipsismo está exatamente nessa experiência humana de solidão individual a partir de uma mente que é somente minha e a outra mente que é somente sua UNIDADE 5 200 Matthews 2007 sustenta que o argumento solipsista é insatisfatório Primeira mente se eu não tenho como comparar a minha mente com outra como sei que o que eu tenho é uma mente Utilizemos o exemplo do besouro na caixa se eu não posso ver o besouro na caixa dos outros como posso dizer que o que eu tenho na caixa é um besouro A solução é simples todos nós abrimos as nossas caixas e mostramos o que há dentro delas Além disso concordamos em chamar aquele objeto de besouro e assim passamos a saber que temos um besouro na caixa Isso vale para os nossos estados mentais suponha que em um tiroteio entre a polícia e bandidos os filhos de três famílias foram assassinados Diante do ocorrido os membros das famílias decidem ir às ruas a fim de manifestar a sua raiva e indignação Não é difícil perceber o que está acontecendo na mente de todos e eles podem concordar entre si que aquele sentimento se chama raiva Ainda assim o solipsista pode dizer Mas o que você está analisando nas outras pessoas não são as suas mentes mas os seus comportamentos Você está apenas supondo nesse caso iludido que vocês estão sentindo a mesma coisa raiva e indignação Inclusive pode haver alguém na manifestação que não está sentido nada disso mas está ali somente para bagunçar Matthews 2007 p 125126 explica que esse é o problema prático do solipsismo uma vez que não é tanto uma questão de que nossos pensamentos e sentimentos sejam incomunicáveis mas sim de que sempre há espaço para dúvida em qualquer caso quanto ao que é comunicado e se realmente é o que se pensa ou o que se sente Agora pense em como ensinamos as crianças sobre a dor Uma pequena menina brincando mordeu o seu dedo e começou a se contorcer e a chorar en quanto o balançava Você corre até ela e de imediato percebe que ela está com Conheçamos uma das experiências mentais do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein ima gine que cada um de nós tem uma caixa e dentro dela teoricamente deva existir um be souro Cada um olha para dentro de sua caixa e diz que ali existe um besouro No entanto ninguém nunca viu um besouro ou sequer apenas uma espécie de besouro Talvez não haja nada na caixa A caixa é uma metáfora para a mente não podemos ver o conteúdo das outras caixas assim como não podemos ver o conteúdo de outras mentes Fonte Matthews 2007 EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 201 dor Então pergunta Onde está doendo Ela continua a se contorcer chora e balança o dedo Você deduz que a dor é no dedo e pergunta É o dedo que está doendo Assim consegue solucionar a dor no dedo A criança agora sabe que o que ela sentiu se chama dor Quando ela crescer e martelar o dedo terá a mesma reação Quando você perguntar o que ela está sentindo dirá o dedo está doendo O que está acontecendo aqui Primeiro sabemos o que está acontecendo com a criança porque já passamos por isso ou observarmos outros passarem por isso Algo está acontecendo dentro da criança e chamamos isso de dor algo que ela sente e expressa como pode Nós a ensinamos que o que ela está sentindo se chama dor Nesse contexto toda vez que o fato se repetir ela dirá que está sentindo dor Isso significa que a dor não é apenas um estado físico mas é comunicável e para efeito de vida humana comum aprendemos a fazer isso desde que nascemos talvez até antes disso Encontrar as palavras os gestos e os movimentos adequados para exprimir o que está em nossa mente é parte do exercício fundamental de nos tornarmos humanos Por outro lado é claro que os processos mentais tal como são desenvolvidos na mente de alguém continuam privados e particulares Há pensamentos sen timentos crenças enfim acontecimentos em nossas mentes que são totalmente nossos e os compartilhamos se e quando quisermos do modo mais intencional que pudermos Isso significa que as mentes continuam inacessíveis umas às ou tras A nossa vida mental interior subjetiva é somente nossa e de mais ninguém Há um aparente paradoxo as mentes são impenetráveis exceto no momento em que você resolve dizer algo que está em sua mente para alguém No entanto essa parece ser uma boa solução para a questão das outras mentes Outras duas situações complexas em relação às outras mentes são a cor relação entre a vida mental e o comportamento observável e dentro dessa correlação estão os qualia que dizem respeito às características particulares de um estado mental que são somente nossas e de mais ninguém Quanto à a correlação entre mente comportamento anatomia e movimentos físicos como saber se a observação direta de um movimento físico que modifica a posição corporal em reação a um certo acontecimento corresponde àquilo que temos em mente Em outras palavras como saber que a experiência que observo em alguém é a mesma experiência que observo em mim mesmo Lembrese de que estamos buscando evidências de que um determinado comportamento pode ser vinculado a uma atividade mental UNIDADE 5 202 Embora já tenhamos tratado disso o filósofo estadunidense Thomas Nagel traz outra perspectiva sobre o tema Imagine que você está passeando em um sho pping com a sua esposa e observa à distância alguém curvado sobre o estômago fazendo movimentos de vai e vem e balançando a cabeça Você vira para a sua esposa e diz Nossa Ele está tendo uma grande dor de barriga Ela por outro lado responde De jeito nenhum Você não percebe que ele está rindo de uma piada Você responde Não porque quando eu tenho dor de barriga é assim que eu reajo Contudo ela contraargumenta Sim mas quando você ri também reage assim Diante disso vocês concluem que não é possível saber o que passa na mente daquele sujeito para reagir daquela maneira e qualquer coisa que vocês digam será uma comparação com as suas reações físicas a seus estados mentais o que não são as mesmas Vocês também podem concordar que não há motivo para imaginar que algo está acontecendo dentro daquele indivíduo mas tendo em vista que algo acontece dentro de cada um quando se está realizando os mo vimentos físicos em questão vocês conversaram sobre a conduta daquele sujeito A segunda questão diz respeito aos qualia Você já sabe o motivo pelo qual esse termo da filosofia da mente se refere às percepções únicas e exclu sivas a uma única mente as quais são de natureza inescrutável e incomuni cável de tão privadas que são Considere os qualia uma espécie de conexões mentais portanto não físicas entre a sua mente e as impressões trazidas pela percepção dos seus sentidos quanto ao mundo externo O fato é que essas conexões são suas e de mais ninguém Suponha que você e a sua amiga compraram uma garrafa de vinho que tem as seguintes características coloração rubi violáceo aroma levemente frutado e bastante agradável ao paladar por sua sensação aveludada e maciez Vocês duas abrem a garrafa despejam o vinho em duas taças iguais e o bebem ao mesmo tempo Uma vez que vocês duas têm mentes separadas é correto supor que a impressão deixada pela percepção do sabor do vinho é igualmente diferente Vocês podem inferir que vocês terão a mesma sensação do sabor mas nem você nem ela podem garantir isso Ainda mais provavelmente vocês discordarão das características descritivas do vinho em detrimento da experiência de degustação de cada uma Isso significa que o acesso ao estado mental de sua amiga é impossí vel dado que ele é único e diz respeito somente a uma pessoa Você deveria estar na mente de sua amiga para saber o que ela está sentindo mas isso ainda seria um quadro em sua mente ao observar o que está acontecendo na mente dela UNICESUMAR 203 Agora considere outra situação Você vai ao show de sua banda de rock favorita com o seu amigo Assim vocês ouvem os instrumentos sendo tocados e a voz sendo cantada Vocês sabem diferenciar o som de cada instrumento e do vocalista mas como vocês conseguem fazer isso na mente de vocês Como você pode saber que o som do baixo eletrônico é o mesmo som que o seu amigo está ouvindo Depois do show vocês voltam para casa e no carro escutam a mesma música performada no show Em alguns momentos vocês ficam confusos se o som que ouvem é o do baixo eletrônico porque simplesmente ele não parece ser o mesmo para vocês dois Desde que vocês observaram essa música ser executada vocês concordam que é o mesmo baixo elétrico com variações devido ao aparelho de som Todavia não seria possível que essas variações estivessem nas conexões mentais de vocês Será que vocês não ouvem os sons de modos diferentes mas foram acostumados a associálos ao mesmo som do baixo eletrônico E se o seu amigo nunca tivesse ouvido o som de um baixo eletrônico Como ele chamaria esse som que você o apresentou Tudo isso significa que certamente você e o seu amigo dão nomes diferentes aos mesmos qualia ou então que cada um de vocês experimenta os mesmos qualia de modos diferentes e separados não tendo a mesma experiência quando ouvem o som do baixo eletrônico por exemplo Thomas Nagel criou um experimento mental chamado Como ser um morcego O mor cego não é apenas um ser vivo mas um ser vivo consciente Não somos morcegos e não sabemos como é ser um morcego Há uma infinidade de experiências humanas e não humanas inacessíveis a nosso conhecimento ainda que admitamos e saibamos que elas existem ou como poderiam ser Fonte Nagel 2005 EXPLORANDO IDEIAS Tudo isso pode deixar você confuso e com a sensação de que não há meios de saber algo sobre a mente de alguém ou sobre esse alguém pelo simples fato de ser impossível estar na mente ou no lugar mental dessa pessoa Todavia não é bem assim Valernosemos da reflexão de outro filósofo estadunidense John Searle cujas ideias combinam com as de Nagel mas avançam para uma compreensão de que é possível obter uma avaliação empírica da vida mental de um ser vivo minimamente consciente UNIDADE 5 204 Searle 2006 faz uma distinção em relação ao uso ambíguo que fazemos da palavra empírico Costumamos usar empírico para descrever o que existe fisica mente uma pedra e não empírico para nos referir àquilo que existe na mente uma equação Outro uso se dá nos fatos verificáveis por alguém competente por intermédio de métodos adequados para comprovação A conclusão de Searle 2006 p 108 é a de que a maioria das pessoas confunde ambos os usos de modo a julgar que Todos os fatos empíricos no sentido ontológico de serem fatos do mundo são igualmente acessíveis epistemicamente a todos os ob servadores competentes Há muitos fatos empíricos que não são igualmente acessíveis a todos os observadores Agora suponha que você tem um cachorro em casa e em um dia de muito calor ele está prostrado embaixo do ventilador ligado com a língua para fora e arfa bastante Como você já conhece a fisiologia canina sabe que ele está com bastante sede e leva o depósito de água até ele com algumas refrescantes pedrinhas de gelo Você também aproveitou para encher um copo com água gelada e a bebeu fervorosamente O que aconteceu Simplesmente você sabia que tanto a fisiologia do seu cão quanto a sua eram semelhantes Logo vocês tinham a mesma carência de líquido devido ao calor Searle 2006 p 112 explica que esse tipo de exemplo demonstra que podemos ter métodos indiretos de um tipo objetivo de terceira pessoa empírico para chegar a fenômenos empíricos que sejam intrinsecamente subjetivos e consequentemente inacessíveis a testes diretos de terceira pessoa O estudioso usa para essa afirmação o seguinte princípio chamado de cientificamente cotidiano ou cotidianamente científico mesmas causas mesmos efeitos causas semelhantes efeitos semelhantes Suponha que você estude a neurobiologia dos morcegos e consiga entender completamente como funciona o sistema de orientação que eles usam para se deslocar no espaço Desse modo você poderia aproximar a experiência do mor cego da sua enquanto se orienta para se deslocar no espaço Agora imagine que você consiga fazer um mecanismo que imite exatamente o sistema de orientação do morcego enquanto voa e instalasse esse sistema em um avião de modo que você terá a mesma experiência de orientação de voo do morcego Talvez isso não atenda satisfatoriamente ao fato do que é ser um morcego mas certamente te ajudará a compreender melhor o animal em sua experiência de voo UNICESUMAR 205 Searle 2006 p 113 por fim explana que Vamos supor que pudéssemos identificar para os casos humanos causas precisas de consciência e então pudéssemos descobrir exa tamente as mesmas causas em outros animais Sendo assim pa receme que teríamos estabelecido bastante conclusivamente que outras espécies têm exatamente o mesmo tipo de consciência que temos porque podemos presumir que as mesmas causas produzem os mesmos efeitos OLHAR CONCEITUAL Para reforçar o nosso estudo até aqui observe o infográfico a seguir que apresen ta as três principais explicações para a solução filosófica do problema voltado à existência de outras mentes Desde que os seres humanos são assemelhados é possível generalizar que todos possuem uma mente A partir do comportamento de uma mente humana podese saber como as demais funcionam igualmente Portanto é possível fazer inferências dos estados mentais dos seres humanos a partir da vida mental de um único ser humano Analogia Os estados mentais produzem comportamentos inteligentes sencientes e conscientes possibilitando generalizar a existência e o funcionamento da mente a todos os seres humanos Behaviorismo Existe correspondência direta entre um comportamento humano e seu respectivo estado mental É o modo pelo qual os seres humanos vivem uns com os outros extraindo inferências de que todos possuem uma vida mental a partir das quais julgam possível o relacionamento humano através da compreensão mútua Psicologia popular OUTRAS MENTES TEORIAS FILOSÓFICAS UNIDADE 5 206 O que você tem estudado até aqui ainda não esgotou a questão filosófica que envolve as outras mentes pelo simples fato de que todas as teorias supõem a existência de um indivíduo autoconsciente tal como deduzido por Descartes Entretanto o que isso realmente significa e como a autoconsciência individual é fundamental para o encaminhamento do problema voltado ao conhecimento de outras mentes Churchland 2004 p 65 afirma que Ser autoconsciente é numa definição mínima ter conhecimento de si mesmo Mas isso não é tudo A autoconsciência envolve o conhe cimento não apenas dos próprios estados físicos mas especialmente o conhecimento específico dos próprios estados mentais Além disso a autoconsciência envolve o mesmo tipo de conhecimento continua mente atualizado de que desfrutamos em nossa percepção contínua do mundo exterior A autoconsciência ao que parece é uma espécie de apreensão contínua de uma realidade interior a realidade dos próprios estados e atividades mentais Existem duas visões acerca da percepção que temos sobre os nossos estados mentais Uma mais tradicional já observada em nossos estudos diz respeito à introspecção e a outra de base contemporânea é chamada de materialista Segundo a concepção materialista a autoconsciência não busca apenas perceber que temos uma mente ou mundo interior mas discrimina nomeia e exprime os estados mentais que aconte cem nela Nesse sentido as percepções interna e externa são equivalentes Desse modo a autoconsciência nada mais é que a capacidade humanamente desenvolvida de perceber as circunstâncias sejam elas internas sejam elas ex ternas e de se adaptar natural e socialmente às suas exigências É algo inato ao ser humano pois diz respeito a quem ele é mas também é algo aprendido pois tem relação com os treinamentos social e cultural aos quais ele deve se ajustar continuamente Imagine que você tem um alunoproblema com o qual precisa aprender a lidar o que não é muito diferente de você ter um sentimentoproblema com o qual também precisa aprender a lidar Essa teoria é chamada de materialistaevolucionista e é evidente o motivo pelo qual é contrastada com a outra teoria da autoconsciência chamada clássica ou tra dicional Na teoria materialista as duas percepções se equivalem a fim de permitir que o ser humano se ajuste ao mundo externo porque precisa lidar com ele todo UNICESUMAR 207 o tempo Segundo a explicação tradicional a percepção mental não é somente su perior à externa mas totalmente independente dela Quando você olha para uma bananeira e começa a pensar nela você já a vê em sua mente Tudo o que você pensar sobre ela será interno a você ou seja será mental Portanto perceber a nós mesmos é diferente de perceber o mundo externo Perceber a nós mesmos é mais certo e seguro do que perceber o mundo externo pelo simples fato de que sabemos o que está acontecendo diretamente conosco A autoconsciência sugere que somos capazes de produzir autoconhecimen to ou seja que sabemos a partir e acerca de nós mesmos Um estado mental fundamental para esse pressuposto é a crença A crença é um estado mental com conteúdo portanto com intencionalidade pois não existe crença que não seja so bre alguma coisa Sabemos que uma declaração é uma crença quando antecipamos um Eu acredito sobre qualquer coisa que segue Posso dizer Eu creio que aquele celular é azul indicando uma percepção Ou Eu creio que aquele celular era azul quando eu o comprei indicando uma memória Ou Eu creio que o horário do ônibus é às 17 h pois eu sempre o peguei nesse horário indicando uma dedução a priori Ou Eu creio que aquela notícia me deixou muito triste indicando uma introspecção Ou ainda Eu creio que alguém acabou de me dizer que houve um assalto ao banco da esquina indicando um testemunho Observe que as crenças são muitas e diversas Você não tem noção de que sempre que se refere a si mesmo também está se referindo a uma crença Ter uma crença porém não significa afirmar o conhecimento de algo Para que isso aconteça você deve demonstrar certa habilidade de perceber avaliar julgar e justificar a sua crença Nesse contexto você precisa apontar outra crença a qual evidenciará outra e assim por diante até encontrar uma crença da qual nenhuma outra seja necessária como demonstração Por exemplo a experiência dos sentidos ou o raciocínio de um Eu pensante Já sabemos que o problema em relação ao conhecimento sobre o mundo ex terno se dá no fato de que ele só é acessível por meio de nossa percepção mental Talvez devêssemos afirmar que ele existe apenas em nossa mente e as crenças que temos sobre ele são totalmente mentais isto é inteiramente limitadas à nossa mente O mesmo processo também ocorre com outras pessoas o que gera outro problema em relação ao nosso autoconhecimento que é saber se o que está em nossa mente corresponde à percepção de nossos estados mentais interiores e à experiência do mundo que está fora dela UNIDADE 5 208 Isso impõe a necessidade de verificar o que há de verdadeiro entre você e os seus estados mentais e entre você e o mundo externo No entanto essa ação não é simples pois é mais fácil dizer que o bolo que você acabou de comer é externo a você do que recuperar a lembrança do último bolo que você comeu Por outro lado está claro que cada mordida do bolo foi acompanhada da consciência de que você estava mordendo portanto tratase de um evento totalmente mental ainda que a experiência seja física e externa à sua mente Isso gera o seguinte elemento você pode ser totalmente cético quanto à pos sibilidade de conhecer o mundo externo e se ater ao único conhecimento ver dadeiro advindo de sua vida mental consciente Esse fato também pode incluir outras mentes tanto na impossibilidade solipsista de que elas existem quanto na impossibilidade cética de que caso existam é impossível saber algo sobre elas por vinculálas ao mundo externo à mente Além disso você pode assumir um caminho do meio é certo que há um mundo externo onde você habita fisica mente e é possível justificar a sua existência de várias maneiras Contudo é certo que também há um mundo interno onde você habita mentalmente e é possível justificar a sua existência de várias maneiras Dizer Creio que esquentará em um período de inverno cujo dia está cho vendo não faz o menor sentido Por outro lado essa afirmação requer que você pense sobre a natureza de sua crença e a critique em busca do melhor conheci mento sobre você mesmo Isso significa que há mais coisas no mundo do que somos capazes de apreender mentalmente e que a nossa vida mental precisa ser constantemente justificada a fim de prover um conhecimento seguro que nos conduzirá durante a nossa jornada no mundo Se existissem seres humanos iguais a nós que comem bebem vão ao banheiro fazem sexo trabalham gastam dinheiro mas sem nenhum estado mental muito menos cons ciência Suponha que eles vivem no automático assim como dizemos de muitos seres humanos hoje em dia Eles parecem zumbis mas é claro que não são porque têm uma vida mental O filósofo australiano David Chalmers usou essa figura hipotética para asse gurar que somente o físico não explica o ser humano a não ser que ele também tenha uma mente para preencher esse corpo Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 209 Isso também é válido quando nos questionamentos se nossos familiares amigos e amigas ou qualquer outro ser humano estaria sujeito ao mesmo conhecimento Com base no argumento do filósofo britânico Bertrand Russel sabemos que um estado mental A causa uma conduta externa B Portanto quando observamos uma conduta externa B em alguém podemos inferir que em sua mente está acontecen do um estado mental A mesmo que não tenhamos acesso à mente do sujeito com o objetivo de sabermos com certeza o que está acontecendo Para Jordan e Russell 1999 p 669 esse postulado se aceito justifica inferência de outras mentes bem como muitas outras inferências que são feitas irrefletidamente pelo senso comum Figura 2 Desenho de Isaac Asimov com um robô Descrição da imagem à direita da imagem temos o retrato em desenho do escritor Isaac Asimov que usa terno gravata e óculos de graus Ele tem cabelos grisalhos e costeletas na face À esquerda há um robô prateado e cinza com o topo da cabeça em azul Os seus olhos são totalmente verdes Estudaremos agora a Inteligência Artificial IA Você deveria conhecer a história contada por Isaac Asimov em sua obra O Homem Bicentenário de 1997 O narra dor era um robô e em 2005 foi comprado para fazer trabalhos domésticos na casa de uma família rica estadunidense O nome recebido foi Andrew Martin Todavia com o passar do tempo Andrew começou a demonstrar a habilidade em esculpir em madeira Outras características surgiram como resultado do convívio familiar curiosidade inteligência e formação de uma personalidade A família ficou cada vez mais impressionada com o surgimento desses traços humanos em seu robô UNIDADE 5 210 Naturalmente a família humana foi envelhecendo e morrendo mas Andrew não Ele foi passado de posse para outros membros da família e isso o incomo dava muito Ele queria aquilo que os membros de sua família humana tinham a liberdade vinculada à mortalidade Com a ajuda de um robô cirurgião seu cérebro foi transferido para um robô com aparência totalmente humana No entanto para Andrew isso ainda não era suficiente Ele consegue a liberdade de Sr Martin e decide viver a sua vida sozinho Não bastava parecer humano ele queria ser um como eles o que implicava a expectativa da morte Após viver 200 anos com a realização de uma segunda cirurgia Andrew conseguiu o que queria ligou o seu cérebro à rede neural orgânica de um ser humano e gradativamente foi assumindo as características físicas humanas Andrew veio a se casar com Portia neta do Sr Martin Durante esse tempo por duas vezes Andrew havia pedido ao Conselho Mundial que reconhecesse a sua humanidade Na primeira vez o seu pedido foi rejeitado sob o argumento de que um ser humano que sendo máquina não precisaria morrer Isso era in compatível com a realidade humana Depois quando já estava envelhecido e à beira da morte fez um novo pedido o qual dessa vez foi aprovado pelo Conselho Mundial Após 200 anos de existência Andrew veio a falecer em sua casa e com a sua esposa a humana Portia Por que essa história interessa à filosofia da mente Você já sabe que a filosofia se ocupa do que diz respeito à existência humana buscando problematizar essa existência de modo a levar a humanidade a vivêla melhor Tudo o que diz res peito a ela se torna um problema que será um tema de investigação filosófica No caso específico de nossa história há muitos elementos que interessam à filosofia mas um deles é a reflexão filosófica sobre a mente a busca do robô Andrew pela sua humanidade somente se realizou quando ele foi capacitado a pensar e a se expressar como um ser humano Isso nos coloca uma questão fundamental essa capacidade é própria exclusiva e única ao ser humano ou pode ser transferida duplicada e replicada em outros objetos como um robô por exemplo Se isso for possível como podemos e devemos lidar com seres que não sendo reprodu zidos mas produzidos humanamente têm uma vida mental tão igual à humana e podem ser considerados humanos UNICESUMAR 211 Entretanto por que a vida mental seria tão necessária para o reconhecimento da humanidade de outros seres artificialmente produzidos Para responder a essa questão você deveria assistir ao filme Blade Runner o caçador de androides de 1982 baseado na história contada por Philip Dick Do Androids Dream of Eletric Sheep de 1968 Os androides chamados replicantes são seres artificialmente pro duzidos mas com características biológicas humanas o que gera a dúvida se são humanos ou não Esse questionamento está nos próprios androides que se reconhe cem humanos mas são tratados apenas como máquinas pelos próprios humanos O conflito gera uma revolta nos androides que são expulsos da Terra Con tudo um grupo retorna para buscar o que acredita ser devidamente seu o que os tornaria completamente humanos que é o prolongamento da vida visto que tinham um prazo de validade enquanto máquinas artificialmente produzidas A polícia de Los Angeles decide caçálos e aposentálos isto é matálos Todavia em detrimento de eles serem biologicamente humanos era preciso diferenciá los Para isso o teste fundamental é buscar por emoções despertadas em suas memórias humanas Isso é feito por intermédio do teste VoightKampff que faz uso de uma máquina manipulada por um entrevistador Ao fim o grupo de robôs é identificado e todos são caçados e mortos por um caçador de androides o chamado Deckard Todavia uma das replicantes que é se cretária do dono da corporação fabricante é entrevistada pelo caçador de androides e passa no teste deixando a dúvida se ela é humana ou não Após a morte dos quatro replicantes Deckard se apaixona por Rachel a humana replicante ou a replican NOVAS DESCOBERTAS Verdadeiro marco na história da ficção científica Eu robô de Isaac Asimov reúne os primeiros textos do autor sobre robôs os quais foram publicados entre 1940 e 1950 São nove contos que relatam a evolução dos autômatos durante o passar do tempo e expressam em suas páginas pela primeira vez as célebres Três Leis da Robótica os princípios que regem o comportamento dos robôs e mudaram definitivamente a percepção sobre eles na lite ratura e na própria ciência TRAVESSA 2021 online¹ UNIDADE 5 212 te humana e eles fogem para um lugar desconhecido Tudo fica muito confuso quando o último replicante morto por Deckard antes da morte conversa com ele sobre a brevidade da vida no melhor estilo filosófico e morre chorando Como um ser artificial poderia pensar ter expectativa em relação ao sentido da vida e ainda chorar por ela terminar tão cedo antes que as suas expectativas se realizassem Você não acha curioso o modo como descrevemos as máquinas especial mente o computador digital Nós o humanizamos ao afirmarmos que ele per deu a memória que não reconhece a linguagem que não tem um devido pro grama que está lento ou não está disposto a trabalhar Ainda mais conversamos com a máquina como se ela pudesse nos ouvir e responder Você pode dizer que fazemos as mesmas coisas com um diário quando começamos a nossa escrita por Querido diário Entretanto o diário é passivo enquanto o computador digital ou uma máquina artificial é bastante responsiva pois é programada para isso Se você pedir alguma coisa usando a sua voz ou digitando algo no teclado você ouvirá outra voz de volta Todos esses seres artificiais tão onipresentes em nosso cotidiano são reu nidos sob uma única expressão Inteligência Artificial comumente chamada de IA Para começarmos a estudála filosoficamente precisamos retomar o conhecido problema voltado à distinção entre mente e corpo agora com um delineamento a distinção entre mente e cérebro É verdade ele é parte do corpo mas a associação da vida mental na ciência moderna é feita com o cérebro Portanto o que pode ser dito Mente e cérebro são substâncias distintas Não existe mente somente o cérebro A mente é uma funcionalidade do cérebro A mente emerge do cérebro enquanto um órgão autônomo e consciente inclusive consciente do cérebro mas vinculado a ele Negar a mente em favor da existência do cérebro parece algo contraintuitivo Você já sabe que temos uma vida mental da qual estamos bastante conscientes dado que não apenas pensamos mas sabemos queem que estamos pensando Isso acontece porque os pensamentos constituem uma espécie de narrativa da vida isto é podemos relatálos Não só temos uma vida mental mas nos preocupamos cada vez com ela Além do mais apoiados nas ciências neuronais temos uma diversidade de conselhos cursos e programas de orientação da vida mental Normalmente afir marmos que a mente controla o cérebro a ponto de muitos sintomas físicos serem UNICESUMAR 213 atribuídos à mente e aceitarmos a crença de que mudanças em nosso estado mental são capazes de modificar estados cerebrais Não somente isso mas atualmente é muito comum ouvirmos que a mente de uma pessoa redefine a sua sexualidade uma vez que um sujeito pode afirmar que vive em um corpo diferente do que ele realmente pensa que é e em consequência disso deseja refazer o seu habitat bioló gico inclusive remodelando os estados cerebrais pertinentes Poderíamos dizer portanto que o cérebro faz parte do aparelho biológico humano e que a mente evoluiu a partir do cérebro até se tornar autônoma em relação a ele Algo originário do material mas não material isto é mental A ciência moderna de fato não admite duas substâncias coexistindo em um mesmo ser cada uma com a sua realidade distinta independente e separada da outra assim como aprendemos quando estudamos a crítica ao dualismo cartesiano A filosofia da mente a segue esse mesmo sentido Uma explicação comum para o cérebro em nossos dias é a de que ele é um computador uma espécie de CPU central para onde convergem todas as informações recebidas a partir de nossas experiências humanas Enquanto tal ele também controla todas as nossas ati vidades motoras neuroniais e sensoriais Se você respira come ou corre agradeça a seu cérebro De modo geral as ciências cognitivas estudiosas do cérebro humano também atribuem a ele a capacidade humana de pensar argumentar e até de se apaixonar O filó sofo francês Edgar Morin 2003 p 97 concorda que cérebro e computador são máquinas mas delimita uma diferenciação entre ambas ao afirmar que uma é produzida fabricada organizada pela mente humana saída de uma máquina cerebral inerente a um ser dotado de sensibilidade de afetividade e de autoconsciência Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS Uma das teorias explicativas alternativas é que a mente e a vida mental de alguém correspondem a certas funções do cérebro necessárias para a existência humana no planeta enquanto resultado das necessidades cada vez mais complexas que a huma nidade teve que lidar em sua história evolutiva Isso é corroborado por uma ciência interdisciplinar do cérebro desenvolvida a partir dos anos de 1950 e que está em pleno vigor em nossos dias Segundo o filósofo britânico Eric Matthews 2007 p 91 UNIDADE 5 214 Parece não existir nenhuma dificuldade filosófica em aceitar que ser capaz de calcular ou de relembrar experiências passadas ou de reconhecer pessoas queridas necessita de um cérebro que funcione apropriadamente com certo grau de complexidade Portanto até um materialista nãoreducionista poderia aceitar que na medida em que o cérebro evoluiu e tornouse mais complexo isso possibi litou que aqueles dotados de cérebros se engajassem em atividades mentais cada vez mais complexas Caso o exposto seja verdade também é possível que outros seres também tenham desenvolvido alguma atividade mental resultante de sua respectiva história evo lutiva Por exemplo animais também teriam mentes No entanto outra hipótese é ainda mais interessante poderíamos replicar a atividade mental do cérebro humano em outros objetos físicos de modo que eles também pudessem ter uma mente como os seres humanos A partir dos anos de 1960 essa hipótese começou a ser testada diante da realização de vários experimentos científicos reunidos sob o nome de Inteligência Artificial IA Eles possibilitaram que a filosofia da mente desenvolvesse uma de suas explicações mais interessantes o funcionalis mo De acordo com Teixeira 2018 p 56 A noção de uma inteligência artificial como realização de tarefas por dispositivos que não têm uma arquitetura nem uma composição biológica e físicoquímica igual à nossa abala profundamente a ideia de que a vida mental dependeria de características específicas dos cérebros vivos O cérebro passa a ser visto como um computador e a mente como seu software Entretanto o que se quer dizer por Inteligência Artificial Basicamente tratase de atribuir a inteligência a artefatos por intermédio da criação de máquinas in teligentes popularmente conhecidas como máquinas que pensam Além disso diz respeito a uma ciência empírica que procura entender a inteligência humana a partir de modelos computacionais JORDAN RUSSELL 1999 De todo modo quando falamos de máquinas inteligentes o critério de inteligência é medido pela inteligência humana o que significa que os seres humanos são capazes de agir aprender raciocinar e comunicar eficazmente apesar da enorme dificuldade dessas tarefas JORDAN RUSSELL 1999 p 78 tradução nossa Portanto a IA diz res UNICESUMAR 215 A ideia de que poderíamos enquanto seres humanos construir máquinas que replicassem o nosso próprio comportamento inteligente é antiga Entretanto é a Descartes que se atribui o primeiro esforço teórico reconhecido e praticado quando o estudioso apontou os brinquedos autômatos do seu tempo como algo que poderia vir a se tornar uma máquina desse tipo Talvez você já tenha visto aqueles pequenos brinquedos que quando você dá corda eles começam a se movimentar repetitivamente Durante esse tempo outro filósofo alemão Leibniz pensou que seria possível construir uma máquina que calculasse como um ser humano uma espécie de antecipação de nossas máquinas calculadoras Mais tarde o matemático britânico Charles Babbage projetou uma máquina capaz de fazer operações de lógica e de álgebra cuja composição seria algo parecido com nossos computadores digitais CHURCHLAND 2004 Esses projetos esbarravam em dois problemas enormes um programa que replicasse a inteligência humana e um meio físico capaz de suportálo É nesse contexto que são inseridos os computadores criados mediante o trabalho reali zado pelo matemático britânico Alan Turing entre 1936 a 1950 sobre a possibi lidade de criação de máquinas pensantes por meio da manipulação de símbolos Uma máquina de Turing seria uma espécie de modelo mecânico para a imita ção da mente humana Então não pense em um artefato físico como uma máquina A máquina de Turing é um experimento mental em que você é convidado a imaginar que a sua mente funciona registrando símbolos combinandoos e repro duzindoos como se fosse um computador É assim que ela funciona Isso poderia ser reproduzido em uma máquina artificialmente criada Veja o modelo a seguir Matrix é um filme que se passa em um tempo futuro Nesse período as IAs venceram uma guerra contra os seres humanos e agora os dominam ao construírem uma rea lidade simulada chamada matrix Entretanto um grupo de seres humanos tenta uma rebelião contra as máquinas com a ajuda de um ciberterrorista o Neo Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS peito ao esforço em replicar o comportamento humano inteligente em máquinas construídas pelos seres humanos Todavia o pressuposto é o de que a inteligência humana gera uma máquina altamente desenvolvida que é o cérebro humano UNIDADE 5 216 Para demonstrar a sua ideia Turing propôs o jogo da imitação Em uma sala fe chada está uma pessoa Em outra sala fechada está um computador Outra pessoa elabora uma pergunta e a coloca entre as portas das duas salas por um exemplo um cálculo matemático ou resultado de um determinado curso de ação Se a resposta for igual o juiz não saberá escolher entre os participantes e terá que atribuir a mesma inteligência a ambos A proposta não é tão complicada Pense em uma prova em que você deverá fazer cálculos por conta própria e o seu colega poderá usar uma calculadora Ao final vocês chegam ao mesmo resultado e são igualmente aprovados A ideia é a de que a calculadora trabalhou do mesmo modo que o seu cérebro e por consequência o seu cérebro tem uma maneira computacional de fazer as operações matemáticas Isso significa que a relação entre o seu cérebro e as operações que ele realiza é totalmente funcional e pode ser replicada em qual quer máquina No entanto isso também significa que não importa o que o seu cérebro é mas o que ele pode fazer e efetivamente faz Contudo um modelo para a mente ainda mais intrigante é o computador Ele é um artefato duplamente composto por um hardware e vários softwares Figura 3 A máquina de Turing Descrição da imagem na figura há uma máquina de Turing e são evidenciados os vários dispositivos da sua parte frontal UNICESUMAR 217 O hardware é o componente físico do computador incluindo os seus peri féricos tais como o teclado para a entrada de dados a tela e a impressora para a saída de dados O computador diz respeito à CPU unidade móvel de processamento e à memória RAM memória de acesso aleatório O software é o programa que evidencia à CPU as ações que ela deve realizar dandolhe uma finalidade ou propósito Segundo Churchland 2004 p 91 A questão relevante é se as atividades que constituem a inteligência consciente são todas elas algum tipo de procedimento computacional A pressuposição que orienta a inteligência artificial é a de que elas o são e seu objetivo é construir programas concretos que as simulem No entanto a questão que interessa à filosofia da mente não é a Inteligência Arti ficial IA propriamente mas o fato de ela assumir um modelo mecanicista para a mente humana a partir da configuração do cérebro enquanto um mecanismo natural que executa programas desde a entrada até a saída de dados Voltemos então à teoria explicativa da mente chamada funcionalismo Figura 4 O encontro entre máquina e ser humano Descrição da imagem na figura a mão mecânica de um robô trajado de terno se estende para apertar a mão de um ser humano sugerindo a igualdade entre ambos UNIDADE 5 218 O ponto de partida para esse modo de explicação da relação entre mente e cére bro foi dado pelo filósofo estadunidense Hilary Putnam em seu artigo Minds e Machines Para o estudioso as questões discutidas sobre a relação entre mente e cérebro poderiam ser facilmente resolvidas recorrendo às estruturas de um sistema de computação que ajuda a explicar a relação entre eventos mentais e estados físicos Imagine um computador que enquanto está em operação tam bém está escaneando o seu próprio funcionamento Ele é capaz de indicar onde há um problema que está dificultando a sua operação Da mesma forma acontece com a mente Ela não pode dizer por si mesma se está tendo algum problema por exemplo uma dor no rim direito a não ser que o cérebro indique que há um mau funcionamento do rim direito por meio da dor Isso significa que quando dizemos Eu estou com dor na realidade estamos dizendo Estou recebendo uma mensagem do cérebro que diz respeito ao mau funcionamento do meu rim direito Isso está sendo expresso pela dor Putnam 1964 não defende que máquinas pensam ou que a mente funciona como uma máquina nem advoga um modelo mecanicista para a mente O que filósofo faz é simplificar o problema entre mente e cérebro ao oferecer uma resposta empiricamente observável O funcionalismo desenvolvido a partir desse ideal opera a partir de duas premissas mente e cérebro são coisas distintas cada uma com a sua própria finalidade A finalidade do cérebro é a de servir de base física para o funciona mento da mente Já a finalidade da mente é ativar e escanear os estados cerebrais que permitem a interação com o mundo circundante Para entender melhor pense em um jogo de damas O tabuleiro e as pedras podem variar bastante uma vez que o tabuleiro pode ser de madeira de plástico de pedra de vidro ou até estar desenhado em um papelão Contudo ele também pode estar na tela de um computador A mesma possibilidade se aplica às pedras Elas podem ser de plástico de madeira de vidro de alumínio ou na falta desses elementos basta algumas tampas de refrigerante Essa é a base física do jogo Contudo são as regras que possibilitam que o jogo de damas seja jogado Agora apliquemos a analogia exposta no modo como o funcionalismo enten de a mente e o cérebro O cérebro é um tipo de tabuleiro de natureza biológica composto por um duplo tecido superposto o córtex cerebral e o núcleo cerebral nos quais estão mais de 80 bilhões de neurônios atuando em rede a uma velo cidade de mais de quatrocentos quilômetros por hora Ele é constituído por um UNICESUMAR 219 conjunto de ossos que chamamos de lóbulos cerebrais frontal parietal occipital e temporal os quais se fazem presentes desde a fronte até a parte mais distante do cérebro Como eles funcionam No lobo frontal temos as funções do aprendi zado do pensamento da memória e da fala No lobo parietal temos a percepção do espaço e as sensações de dor calor e frio No lobo occipital temos as funções visuais Por fim no lobo temporal temos as funções auditivas Claro todas elas estão distribuídas pelo cérebro como se fosse um tabuleiro A mente está implantada no cérebro e precisa dele para realizar as suas funções do mesmo modo que sem um tabuleiro não há jogo de damas Di gamos que ela dirige o cérebro fazendoo corresponder ou servir ao que ela propõe em função de sua finalidade interagir com o mundo ao seu redor Quando falamos de mente referimonos à vida mental de alguém que é composta de estados mentais No entanto para o funcionalismo esses estados mentais baseados no cérebro são programas instalados a partir da evolução natural humana visando atender às suas necessidades fundamentais tais como comer beber caçar procriar e encontrar um lugar para morar Quando a mente detecta um inimigo ela programa o cérebro para preparar o corpo para a defesa ou o ataque demonstrando ódio e agressividade Você sabe que um programa de computador pode rodar em qualquer má quina adequada e não somente em uma Você vai até uma loja compra o note book mais recente reinstala os seus programas previamente desinstalados da máquina anterior e eles continuarão funcionando Você também pode ter dois computadores um para o seu lazer pessoal e outro para a sua vida profissional Eles são iguais mas realizam funções distintas Ou ainda você pode ter dois dispositivos físicos diferentes uma CPU em casa com toda a sua parafernália e um smartphone em seu bolso Ambos são computadores Eles apenas carregam configurações diferentes mas executam o mesmo programa Sendo assim hipoteticamente o funcionalismo admite que uma vez que o cérebro é apenas a base física para a mente funcionar ela pode funcionar em qualquer outro dispositivo físico que seja adequado Quando um computador deixa de funcionar o que você faz Reinstala o seu programa em outro Teo ricamente é possível fazer a mesma coisa com a mente Evidentemente seria necessário que esse dispositivo tivesse as mesmas características do cérebro humano mas ainda não sabemos muito sobre ele e acerca de quais dispositivos biológicos seriam úteis ao funcionamento da mente UNIDADE 5 220 Hipoteticamente o funcionalismo também admite que dois cérebros distin tos e autônomos podem fazer as mesmas funções mentais Portanto duas pessoas podem aprender a mesma língua ou línguas diferentes por exemplo Além do mais admite hipoteticamente que cérebros diferentes podem executar as mes mas funções mentais Nesse caso você e o seu cachorro podem querer o mesmo pedaço de carne Um visitante de Júpiter que tem três cabeças e o corpo em for ma de poeira estelar pode sentir tanto medo de você quanto você tem dele Na verdade esse seria o argumento funcionalista para derrotar o materialismo que afirma não existir mente somente cérebro Se a partir do desenvolvimento da robótica da engenharia genética da nanotecnologia e das ciências neurológicas algum dia consigamos isolar a mente do cérebro e inserila em qualquer outro dispositivo físico biológico ou neural de modo que ela continue fun cionando para sempre realizaremos o sonho da humanidade de alcançar a eternidade nessa vida Além disso será possível fazer com que as mentes trafeguem por uma rede virtual de mentes Caso a nossa rede neural individual esteja unida a um número infinito de outras eliminaremos totalmente a necessidade de corpos o que nos daria uma liber dade tão grande de movimentação que poderia se estender ao universo inteiro Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS Como toda explicação filosófica sofre críticas a partir de seus pontos fracos o funcionalismo também foi avaliado quanto à possibilidade de correspondência entre a Inteligência Artificial representada pela máquina de Turing e implemen tada no computador digital e a mente humana Uma das críticas foi efetuada pelo filósofo estadunidense John Searle O estudioso insistiu em dois aspectos a subjetividade e a intencionalidade Antes porém fez uma dura avaliação do jogo da imitação de Alan Turing Para isso inventou um experimento mental como contraexemplo o chamado quarto chinês Um grupo de programadores desenvolveu um programa que capacita um computador a simular o entendimento da língua chinesa Assim ao computa dor é dada uma pergunta em chinês Ele buscará a resposta em sua memória ou banco de dados e oferecerá as respostas apropriadas em chinês Suponha que a resposta do computador seja tão boa quanto a de um nativo falante de UNICESUMAR 221 chinês Com base nisso você diria que o computador entende chinês literal mente do modo como os chineses entendem a sua língua Imagine também que você está trancado em um quarto e nele existem várias cestas cheias de símbolos chineses Você não entende uma palavra da língua chinês mas tem uma gramática chinesa escrita em inglês que permite entender o manuseio dos símbolos quanto à sua sintaxe não à sua semântica Elas ensinam como você deve juntar os símbolos apenas isso Agora suponha que a todo momento você recebe por meio de uma abertura de porta uma pergunta em chinês Você expressa a sua resposta pela mesma aber tura Diante da frequência dessa atividade você se torna excelente em manipular os símbolos e as suas respostas ficam cada vez melhores de modo que não é mais possível saber se você é um aprendiz de chinês ou um falante nativo da língua De novo a questão é o fato de você receber as perguntas e conseguir devolvêlas corretamente respondidas não significa que você sabe falar chinês Por fim Searle 2002 p 671 explica que O foco da parábola do quarto chinês é nos lembrar do fato que já sabemos Entender uma língua ou ter um estado mental envol ve mais do que ter um punhado de símbolos formais Envolve ter uma interpretação ou um significado atribuído àqueles símbolos E um computador digital como é definido não pode ter mais do que símbolos formais porque a operação de um computador como disse antes é definida em termos de sua habilidade em implementar programas E esses programas são pura e formalmente específicos isto é eles não têm conteúdo semântico Esse é o aspecto que segundo Searle 2002 determina que não é possível usar um computador para estabelecer um paralelo com a mente humana um com putador tem sintaxe mas não tem semântica O que isso significa A sintaxe de fine as regras que você usa para posicionar as palavras nas frases Já a semântica define as regras que você utiliza para dar significado a um signo a uma palavra e a uma frase em um contexto De acordo com Searle 2002 o computador pode reunir as letras e formar a palavra apaixonar No entanto ele não saberia o que isso significa ao contrário da mente humana Por quê Isso se deve pois a mente humana opera de modo subjetivo e intencional UNIDADE 5 222 Quanto à subjetividade você já sabe não é o cérebro que pensa mas a mente humana o utiliza para pensar Logo o pensamento é uma atividade humana e diz respeito aos seus estados mentais que são totalmente subjetivos isto é dizem respeito a ele mesmo Considere a seguinte pergunta a ser feita a um computa dor e a um ser humano se você tivesse só mais um dia de vida o que faria O computador provavelmente não saberia o que responder mas um ser humano sim Portanto não é possível que o computador corresponda à mente humana Quanto à intencionalidade você também já sabe que os processos cerebrais não podem se equivaler aos estados mentais pois esses processos não carregam a inten cionalidade dos estados em questão Quando o computador exprime uma emoção ele a faz porque foi programado e não há nenhuma indicação de que o choro ou o riso signifiquem algo Ao contrário um estado mental de uma mente humana sabe o motivo pelo qual chora ou ri Ainda que não saiba isso é surpreendente pois é esperado que sempre haja uma intenção para a emoção que está demonstrando Quanto à dor é evidente que há certas dores que não dizem respeito a um processo cerebral que as comuniquem à mente Muitas delas são intencionais porque se re lacionam com o sujeito que as sente e não com o corpo exatamente Por exemplo a dor de saudade de um amigo querido não pode ser detectada pelo cérebro mas está no fundo do ser do sujeito que pode dizer o quanto está doendo a ausência O filósofo britânico Eric Matthews 2007 acrescenta dois outros argumentos aos de Searle De acordo com o estudioso pensar é usar uma linguagem Isso envolve o uso das palavras em um contexto específico No entanto esse contexto é uma comunidade que dá sentido Nós dizemos que acabamos de enviar o link o que implica que a fonte é o computador e não que o computador acabou de enviar o link Também temos uma comunidade ao redor que sabe o que estamos falando Nesse sentido a conclusão de Matthews 2007 p 104 105 é a de que A ideia exposta fica mais clara quando você se lembra do jogo de palavras cruzadas Você tem todas as letras à sua disposição e forma palavras com elas Quem formar mais palavras ganha o jogo Entretanto as palavras não podem ser qualquer junção de letras mas preci sam fazer sentido caso contrário a sua jogada não é válida É o que Searle 2002 represen ta em sua parábola não basta saber reunir os símbolos chineses é preciso usálos de modo significativo Essa ação é o que a mente humana faz e não o computador Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 223 Ser um sujeito ou possuir uma mente não pode ser separado daqui lo que significa ser um ser humano No entanto igualmente ser um ser humano do nosso tipo significa possuir uma mente a biologia humana deve ser compreendida ao menos em parte como inten cional e subjetiva pois nossos corpos são criaturas que podem rela cionarse ao mundo dessas formas Eis porque o cérebro não é uma máquina Não é um mecanismo pelo qual o ser humano alcança seu objetivo e muito menos algo que leva o ser humano a agir de certas maneiras Em vez disso ele é uma parte essencial do ser humano e seus funcionamentos fazem parte da forma como o ser humano se relaciona com o mundo e atinge suas aspirações Todavia a ideia de que é possível compreender a vida mental de um ser humano por meio de uma aproximação com a Inteligência Artificial segue em boa parte os filósofos modernos da mente Para o filósofo estadunidense Daniel Dennet não há uma diferença essencial entre a inteligência natural e a artificial Além do mais os estudos elaborados nesse campo ajudam a esclarecer várias questões voltadas à filosofia da mente assim como as experimentações no campo do fun cionamento de máquinas artificiais pode ajudar na compreensão dos processos mentais naturais Especialmente a robótica na qual os sistemas artificiais inte ligentes funcionam como uma espécie de simulacros concretos de experiências mentais apenas imagináveis Portanto as experiências concretas têm a vantagem de lidar com a realidade das coisas físicas MIGUENS 2009 Além disso a Inteligência Artificial por lidar diretamente com o conheci mento dos mundos real e físico possibilita uma melhor compreensão sobre os processos pelos quais acontece esse conhecimento Ampliando o conceito de mental para além do biológico Dennet também permite chamar de mental a vida artificial das máquinas inteligentes aproximandoas e estabelecendo uma nova fronteira de estudos no encontro entre o mental natural e o mental artificial Esse modo de compreender as coisas é explicado por Miguens 2009 p 142 A IA pode não ser natural por não ser resultado da evolução bio lógica mas se a definição de mental como funcional é legítima ela é genuína e podenos fazer aprender muito sobre os problemas es pecíficos dos sistemas de representação de conhecimento dos quais a nossa mentecérebro é um caso particular UNIDADE 5 224 A questão é se uma máquina inteligente replica ou simula a inteligência humana Se ela somente aparenta a inteligência humana mas não a possui não há o que aprender com ela uma vez que já dispomos de um aparato que é a mente huma na Por outro lado se ela replica a inteligência humana ainda assim não é possível comparar um maquinário fruto da engenharia humana com um aparato natural como a mente humana No máximo a máquina inteligente duplicaria aquilo que também podemos saber Naturalmente alguém pode argumentar que não temos como observar a mente humana em funcionamento o que já foi contraditado nos argumentos expressos Todavia é razoável pensarmos que a observação do funcionamento de um artefato de engenharia inteligentemente pensando por si mesmo traria uma experiência real e concreta do ponto de vista físico do que se passa na mente humana do ponto de vista biológico O conexionismo é uma teoria vinculada aos estudos da Inteligência Artificial que foi iniciada nos anos de 1980 Ela proporciona repercussões importantes na filosofia da mente desse século Segundo Teixeira 1998 p 166 tratase de uma concepção alternativa de modelagem da mente humana usando o computador UNICESUMAR 225 O conexionismo tenta modelar processos inteligentes tomando como base o sistema nervoso cérebro e suas características biológicas tentando reproduzir artificialmente os neurônios e suas conexões cerebrais A teoria fisicalista ou materialista afirma que o cérebro é a base onde ocor rem os estados mentais os quais acontecem no tempo e no espaço portanto são eventos localizados O conexionismo por sua vez entende o cérebro enquanto um sistema integrado de redes neuronais flexíveis que se organizam de acordo com os inputs recebidos Imagine que você acabou de receber a notícia de que o gerente de sua empresa foi demitido Imediatamente o seu cérebro começa a trabalhar e faz várias conexões as quais permitem calcular várias possibilidades de desdobramento do acontecimento Ao fim você escolherá uma ou duas delas e na sequência dos fatos você as testará até chegar à conclusão de qual será a mais adequada É ela que guiará a sua reação A mente seria o componente cerebral para reunir esses processos e tornálos possíveis em sua existência Nessas primeiras décadas do século XXI a filosofia da mente segue esti mulada pelos encontros e desencontros com as possibilidades da Inteligência Artificial enquanto novos conhecimentos reunidos no campo das ciências cog nitivas aumentam as suas possibilidades Miguens 2009 p 145 explana que Basicamente a ideia é que se qualquer sistema com o tipo cor recto de organização funcional pode ser inteligente e até mesmo consciente e se essa condição pode ser formulada independente mente da matéria de que for constituído o sistema e independen temente das suas origens outros sistemas que não os humanos e outros seres biológicos poderão pelas mesmas razões que estes ser inteligentes e conscientes As ciências cognitivas constituem um agrupamento de vários conhecimentos da mente orientados pelo modelo computacional da Inteligência Artificial É conside rada a ciência que se ocupa da mente dado que reúne todas as experiências mentais humanas em um único campo de estudos assim como indica a imagem a seguir UNIDADE 5 226 A princípio as ciências cognitivas se dedicaram ao estudo do cérebro e os seus processamentos como se estivessem examinando um computador a fim de co nhecer os seus programas Esse projeto se mostrou insuficiente tendo em vista que os estudiosos entenderam que o cérebro operava em função da atividade humana no mundo Por conseguinte foi redirecionado o foco dos estudos de alguns que se voltou para o sistema nervoso e a interação entre cérebro e as ações humanas no mundo externo Ao contrário de buscar programas fixos os estudos começaram a teorizar o fato de que as atividades do cérebro humano se expandiram a partir de simples atividades humanas que foram se tornando mais complexas à medida que foram sendo exigidas Isso sugeriu a ideia de que seria possível a criação de autômatos equipados com programas mínimos os quais poderiam aprender enquanto eram expostos a novas experiências a ponto de seus programas evoluírem para modelos mais complexos TEIXEIRA 1998 Figura 5 Cérebro humano e suas conexões Descrição da imagem a figura gráfica mostra uma cabeça humana em perfil com linhas que saem de dentro dela Elas estão ligadas a várias imagens que representam as atividades humanas UNICESUMAR 227 Esse entendimento mudou o modo de visualização da inteligência das má quinas artificiais agora não mais fixada nas atividades de raciocínio simbólico como a matemática e a solução de problemas mas focada na realização de tarefas comuns e simples que aumentam a inteligência à medida que as tarefas se tornam mais complicadas Assim surgiu a Nova Robótica que investe na percepção do meio ambiente na locomoção e na realização de tarefas Você imaginar um desses modelos com base nas máquinas que são enviadas a Marte por exemplo para pesquisar o ambiente daquele planeta TEIXEIRA 1998 Essa nova abordagem pretende construir máquinas artificiais robôs enquanto um agente autônomo um robô móvel que realize um conjunto de tarefas num ambien te que não foi previamente adaptado para isto TEIXEIRA 1998 p 134 São quatro os conceitos que sustentam essa teoria e você pode identificálos no quadro a seguir Situação física Robôs estão situados no mundo e aprendem a partir dele o que não exige uma mente previamente implantada com todos os programas já estabelecidos para essa interação Corporeidade Tendo corpos os robôs experienciam o mundo direta mente a partir de sensações próprias Inteligência A inteligência é a capacidade de atender às tarefas mais simples e cotidianas enquanto o ambiente e a interação com ele se tornam mais exigentes Emergência A partir da realização das atividades simples e cotidianas emergem o pensamento e a consciência quando surge a mente Portanto a inteligência se torna mais complexa racional abstrata simbólica e representacional Quadro 1 Os conceitos da Nova Robótica Fonte adaptado de Teixeira 1998 Essa inversão sugere um novo entendimento da mente o que é muito impor tante para a filosofia da mente Tradicionalmente ela parte da concepção de que a mente é algo pronto quanto ao corpo sem interação com o mundo externo além de realizar tarefas complexas desde uma racionalidade abstrata comunicada por meio de uma linguagem simbólica e representativa O novo modelo mental advindo das ciências cognitivas em especial da Nova Robótica sugere que a mente não existe previamente no corpo mas antes resulta da interação com o UNIDADE 5 228 mundo externo e segue evoluindo em conjunto visto que é governada por essa interação Se nós seres humanos estamos no atual estado de vida mental isso é fruto desse processo evolutivo Uma vez que é evolutivo o processo continua e não sabemos onde terminará nem como será nossa via mental no futuro o que gera a possibilidade de regressão Portanto a mente é de natureza estritamente biológica monista e material Se a nossa mente é formada de acordo com o que interagimos no mundo não estamos caminhando para uma mente cada vez mais inteligente quanto aos processos mecânicos das máquinas artificiais que utilizamos diariamente Talvez a nossa relação com o mun do virtual nos leve a uma experiência de vida cada vez menos física e concreta PENSANDO JUNTOS Filosoficamente o problema voltado à relação entre mente e cérebro não foi re solvido Segundo Teixeira 1998 p 149 apesar das várias soluções propostas o problema mentecérebro ainda parece resistir a qualquer tipo de abordagem unívoca motivando sucessivamente não apenas a proposição de novas soluções possíveis como também novas estratégias teóricas para sua própria formulação A tendência das ciências cognitivas sobretudo com o surgimento da neu robiologia é o abandono de modelos abstratos e especulativos para explicar a relação mentecérebro A atenção recairá cada vez mais nas pesquisas empíricas focadas nos estudos de sistemas neuronais Teixeira 1998 vai mais além e indica o estudo das emoções como um elemento ainda não efetivamente examinado pela filosofia da mente na compreensão da relação entre mente e cérebro Compreender as emoções humanas é algo que exige mais do que um modelo computacional da mente é preciso entender como o corpo humano e seu cérebro desenvolvem mecanismos especiais para gerar a experiência consciente e como as emoções contribuem decisivamente para o foco da atenção e a opção por determinados comportamentos TEIXEIRA 1998 p 151 UNICESUMAR 229 Para a filosofia da mente isso significa tirar a mente de seu lugar sacralizado e examinála a partir da profanação efetuada pela ciência neurobiológica Tratase de algo similar ao que foi feito no século XVII quando os médicos abriram o corpo humano para examinar o funcionamento do coração quando ainda se pensava que ele era a sede da vida mental humana Paralelamente Teixeira 2018 sugere que os filósofos da mente repensem o modo como é feito o mundo físico ao incluir mente e cérebro De acordo com o estudioso acostumamonos a pensar no mundo incluindo todos os seres e a matéria que é compreendida como algo sólido e impenetrável que ocupa lugar no espaço A partir dessa concepção foi feita a passagem para o mental que seria o oposto do físico À medida que as ciências se ocupam do mundo físico o mundo mental é deixado de lado por não fazer parte dele TEIXEIRA 2018 O desafio da filosofia da mente é fazer a passagem do físico para o mental e para isso Teixeira 2018 p 131 assevera que a teoria das cordas fornece uma boa metáfora para conceber a natureza da mente sem recair nas dificuldades filosóficas tradicionais que se originam de uma concepção incorreta da matéria herdada da fí sica clássica Contudo o que é a teoria das cordas Segundo Teixeira 2018 p 131 Essa teoria afirma que as partes básicas da matéria não são partícu las sólidas mas tubos submicroscópicos de energia que vibram em um espaço de nove dimensões A matéria é a atividade vibratória das cordas As partículas correspondem a diferentes modos de vibração de minúsculas cordas pois seu cerne é composto de energia vibrante De acordo com a teoria física tradicional estados mentais não podem ser estados físicos Em consequência disso Teixeira 2018 p 131 defende que Passar do sólido para o mental é um quebracabeça insolúvel No entanto o modelo da teoria das cordas permite conceber matéria e estados mentais em um continuum no qual cada estado mental po deria ser descrito em termos de um minúsculo filamento vibrante Será que a mente poderia ser concebida como apenas uma das inú meras e variadas manifestações da matéria que compõe o universo UNIDADE 5 230 Teixeira 2018 entende que ainda falta comprovação empírica para a teoria das cordas e que a sua metáfora serve apenas como meio de comparação um apelo à ima ginação para que seja encontrado um modo de superar as tentativas frustradas de entender a relação entre mente e cérebro que têm sido propostas até o momento pela filoso fia da mente O futuro das investigações dirá se a sugestão se transformará em uma teoria mais satisfatória ou não NOVAS DESCOBERTAS Acesse o QR Code para assistir à palestra do físico Dr Brian Greene na série Tedtalks No vídeo o estudioso explica a teoria das cordas a ideia de que existem mais dimensões no universo além das três já conhecidas por nós Você já ouviu falar em robótica educacional É mais uma metodologia que vem somar às demais de modo a pro mover a interação entre a aprendizagem e a tecnologia Ao mesmo tempo em que permite ao estudante desen volver as suas habilidades permite que o professor ou a professora melhore a qualidade do seu ensino Por meio de kits de montagem é possível construir uma pequena máquina capaz de executar determinadas ações Pense em uma disciplina cujo conteúdo seria bene ficiado pelo uso da robótica educacional e formule uma aula em que ela seja utilizada Depois reflita com os seus colegas sobre a importância da tecnologia robótica para o ensinoaprendizagem em sua área de trabalho 231 AGORA É COM VOCÊ 1 O fundacionismo não se apresenta como uma posição monolítica no cenário das teorias da justificação epistêmica Muitas são as variantes que ele admite e desde muitos pontos de vista podem essas ser agrupadas Um critério que parece particularmente valioso para a distinção entre tipos diversos de fundacionismo é o que separa as várias formas de fundacionismo com base na distinta avaliação que eles fazem da natureza das supostas crenças básicas BURDZINSKI J C Os problemas do fundacionismo Kriterion n 115 2007 p 116 O pensamento epistemológico moderno se ocupa com a veracidade e a verificabi lidade do conhecimento desde as crenças formuladas em nossa mente Dentre as teorias explicativas temos o fundacionismo e o coerentismo No que diz respeito ao fundacionismo é correto afirmar que a O sujeito constrói uma hierarquia de crenças a partir de uma crença fundamental que não se apoia outra b O sujeito constrói as crenças de modo a dar as respostas que correspondam às exigências de sua experiência de mundo c O sujeito constrói uma crença a partir de um conhecimento obtido no mundo externo ou de um conhecimento disponível em sua mente d O sujeito constrói uma crença a partir de uma autorreflexão elaborada pela ati vidade introspectiva da mente e O sujeito constrói uma crença considerando o conhecimento obtido em outras mentes a partir de uma disposição mental comum 232 AGORA É COM VOCÊ 2 A grande sacada do funcionalismo é de que a consciência não é algo sobrenatural mas sim puramente instrumental Algo projetado a partir de uma consistência muito física e mortal A mente humana ou sua consciência é um substrato de seu engenho orgânico o cérebro ou seja ela é uma equação funcional um reflexo da nossa própria abstração MARCONI L F O funcionalismo e a filosofia da mente Porto Alegre Editora Fi 2013 p 20 A teoria funcionalista da mente se apoia no funcionamento da Inteligência Artificial para oferecer uma explicação sobre a vida mental Essa teoria é desacreditada por não dar conta da subjetividade e da intencionalidade da vida mental Dentre os ar gumentos usados temos I Pensar é usar uma linguagem o que envolve a utilização das palavras em um contexto específico II Máquinas inteligentes podem aprender a pensar a partir de ações simples até as mais complexas III Um cérebro não pode pensar se não houver consciência de que ele está pen sando Portanto não é ele quem pensa É correto o que se afirma em a I e II apenas b I II e III c I e III apenas d II e III apenas e III apenas 3 O computador é um artefato duplamente composto por um hardware e vários softwares O hardware é o componente físico do computador incluindo os seus periféricos tais como o teclado para a entrada de dados a tela e a impressora para a saída de dados O computador diz respeito à CPU unidade móvel de processamento e à memória RAM memória de acesso aleatório O software é o programa que evidencia à CPU as ações que ela deve realizar dandolhe uma finalidade ou propósito Diante do fato de que o funcionalismo propõe um modelo computacional para a mente redija um texto que contemple os seguintes aspectos a Conceito de Inteligência Artificial IA b Os benefícios e os riscos de assumir um modelo mecanicista para a mente 233 AGORA É COM VOCÊ 4 Leia o trecho a seguir Compreender as emoções humanas é algo que exige mais do que um modelo computacional da mente é preciso entender como o corpo humano e seu cérebro desenvolvem mecanismos especiais para gerar a experiência consciente e como as emoções contribuem decisivamente para o foco da atenção e a opção por de terminados comportamentos TEIXEIRA J de F Mentes e máquinas Uma introdução à ciência cognitiva Porto Alegre Artes Médicas 1998 p 151 De acordo com a abordagem salientada no fragmento apresentado qual é a impor tância de incluir as emoções nas teorias explicativas da vida mental Apresente dois argumentos que deem respaldo à sua resposta 5 O esquema a seguir tem o objetivo de fazer você construir eou colocar no papel as respostas sobre os questionamentos indicados Vamos lá Sintase à vontade para criar mais conexões caso você tenha mais informações a indicar no seu mapa Fé Empatia Felicidade 234 CONFIRA SUAS RESPOSTAS UNIDADE 1 1 Alternativa b Justificativa De acordo com D M Armstrong a consciência introspectiva é a reflexão autoconsciente enquanto a consciência perceptual é a experiência que a mente faz da realidade externa 2 Alternativa c Justificativa Para a teoria funcionalista a mente não é definida pelo que é mas pelo que faz Portanto é uma espécie de programa software implantado no cérebro e que permite que ele realize as suas funções mentais 3 Alternativa d Justificativa Qualia são os estados qualitativofenomenais atribuídos à mente ou as suas propriedades ou características próprias tais como ansiedade dor ou alegria Na prática significa que os organismos biológicos conscientes são capazes de re conhecer que sentem algo sabem apontar a fonte e dizer se é verdadeiro e real ou falso e imaginário 4 Alternativa d Justificativa Em sua ordem é falso que eventos existam na consciência sem que antes tenham sido experimentados no mundo Entretanto é verdadeiro que Searle entende como possível ainda que não realizável no momento que a subjetividade seja identificada e examinada cientificamente Por fim é falso que o Teste de Turing tenha comprovado indubitavelmente que um androide tenha consciência assim como um ser humano 5 Alternativa c Justificativa John Locke como bom um empirista ensinou que a identidade pessoal se constituía pela memória que unificava todos os acontecimentos de uma vida em uma identidade única Isso explicaria o motivo pelo qual eu me entendo como a mesma pessoa mesmo após longos anos de vida e tantas mudanças acontecidas 235 CONFIRA SUAS RESPOSTAS UNIDADE 2 1 Alternativa a Feedback O monista não nega a distinção entre mente e cérebro mas nega que am bos tenham uma existência distinta e separada um do outro assim como afirmam os dualistas Portanto ontologicamente mente e cérebro têm uma e a mesma existência sendo necessário apenas explicar o modo dessa relação 2 Alternativa c Feedback Em discordância de Descartes Reid afirmou que a atividade pensante não é o suficiente para provar a existência de alguém pois pode se enganar quanto ao próprio pensamento Igualmente contra Locke Reid declarou que a conexão entre aquilo que se pensa e o que é pensado é estabelecida pela relação entre ambos Por tanto os sentidos são o ponto de partida em que a mente percebendoos é afetada 3 Alternativa e Feedback A subjetividade para Dilthey não é vinda do interior do indivíduo do modo como ele se relaciona com suas coisas nem das alterações cerebrais sob o impacto de suas ações no mundo externo Ela se dá pela compreensão de si a partir das vivências adquiridas em sua experiência do mundo 4 Feedback O primeiro argumento usado por Searle é apoiado na consciência que você tem de seus estados mentais O segundo argumento sustenta que há coisas no mundo que existem e podem ser objetivamente observadas mas há outras que não são assim porque parte da realidade é subjetiva O terceiro argumento demonstra que conhecer os estados mentais por meio da observação do comportamento de alguém é algo bastante arriscado e ao fim uma tarefa impossível O quarto argu mento assume que qualquer coisa que você saiba ou diga sobre si mesmo e sobre a realidade física do mundo é bastante limitada e até mesmo mal formulada se feita em termos de um dualismo 5 Feedback O estudante deverá trazer mais informações sobre a memória retentiva e a memória recordativa depois resumir o desenvolvimento do tema vinculado à formação da consciência conforme apresentados no texto didático Por fim deve comentar o modo como a identidade do sujeito se constrói a partir da memória consciente e inconsciente 236 CONFIRA SUAS RESPOSTAS UNIDADE 3 1 Alternativa c Wassily Kandinsky não abordou o tema das emoções na tomada de decisões ao contrário a sua preocupação era com a intermediação da experiência sensível por tanto espiritual no fazer e na interpretação artísticos Além disso Immanuel Kant conferia valor às emoções e entendia que elas não poderiam ser anuladas visto que correspondiam à disposição natural do ser humano No entanto para ele o que diferencia o ser humano do animal é justamente a nossa capacidade de distinguir o que é emoção e o que é razão 2 Alternativa e Roger Scruton é um filósofo britânico que estudamos nesta unidade e que afirmou o seguinte é pelo menos aceito que a arte possui algum tipo de autonomia o que significa que não apreciamos a arte como meio para algum fim mas como fim em si mesmo SCRUTON 2017 p 28 3 Feedback Oa estudante deverá selecionar um dos autores apresentados no tema Imaginação e realidade dicotomia ou continuidade seja Platão seja Luiz Hebeche ou Kant e comentar sob o seu próprio ponto de vista como se articula para o autor escolhido a relação entre imaginação e realidade A ideia é que o comentário seja também opinativo revelando a concordância ou discordância em relação ao autor em questão estimulando a autorreflexão sobre o assunto UNIDADE 4 1 Alternativa b Background é um conjunto de capacidades não representativas necessárias para que todo estado mental seja representado 2 Alternativa a Na consciência introspectiva temos a percepção simultânea do que acontece seja em nossa vida mental seja em nossa vida sensitiva O que não acontece nem na consciência mínima quando estamos dormindo ou sedados nem na consciência perceptual quando apenas nossos sentidos estão em ação 237 CONFIRA SUAS RESPOSTAS 3 Feedback A primeira abordagem à ação intencional de alguém é colocarse em seu lugar enquanto ser humano ou enquanto conhecimento adquirido sobre ela Nas duas situações você é capaz de criar empatia e imaginar as possíveis razões para aquela atitude Por exemplo é possível entender por que um aluno chega na sala de aula chutando as carteiras desde que todo ser humano tem acessos de ira que podem resultar em violência A segunda abordagem à ação intencional é examinar a formação e a cultura da outra pessoa Ambas nos fornecem padrões de inteligibilidade para conseguimos avaliar a ação de alguém Quando observamos as pessoas agindo de certo modo precisamos perguntar sobre as razões pelas quais elas estão fazendo aquilo não somente em sua ação intencional particular mas no modo como ela foi orientada a agir daquele jeito no meio onde ela foi criada e vive 4 Feedback Após discorrer sobre a representação mental os elementos categoriais e conceituais que a compõem oa estudante deve identificálos no depoimento Elemen tos como vida fases irmão cachorro amor mudança amadurecimento e felicidade são categorias nas quais o pensamento se expressa Essas categorias são reunidas formando um quadro com o auxílio de vários conceitos os quais são conectados para exprimir uma experiência geral do Eu pensante Neste caso conceitos como um cachorro é uma boa companhia capaz de gerar felicidade em um ser humano UNIDADE 5 1 Alternativa a Feedback O fundacionismo entende que um sujeito constrói uma crença a partir da interrelação entre as crenças até chegar a uma crença fundamental a qual não gera dúvida e se torna a que sustenta todas as demais O mesmo processo não ocorre com o coerentismo que requer uma relação entre a crença e alguma situação no mundo Já o internalismo entende que uma crença é construída a partir de um conhecimento intuído da mente do sujeito ou das relações que ele tem com o mundo A questão epistemológica na filosofia da mente diz respeito ao modo como sabemos das crenças que estão em outras mentes 2 Alternativa d Feedback A teoria introspectiva da autoconsciência assegura que a percepção interna dos estados mentais é superior à percepção externa do mundo enquanto a teoria materialista sustenta que o autoconhecimento é resultante da relação direta entre a percepção interna e a percepção externa colocandoas no mesmo plano 238 CONFIRA SUAS RESPOSTAS 3 Alternativa c Feedback A teoria funcionalista é questionada pelo fato de que o modelo compu tacional é insatisfatório para descrever a mente Isso se deve pois é preciso uma consciência externa ao computador para saber o que ele está fazendo ao mesmo tempo em que falta propósito e finalidade ao que um programa de computador faz fora do próprio programa 4 A Inteligência Artificial IA busca atribuir inteligência aos artefatos por intermédio da criação de máquinas inteligentes máquinas que pensam Contudo também se trata de uma ciência empírica que procura entender a inteligência humana a partir de modelos computacionais Seu benefício para uma teoria filosófica da mente é o de permitir uma base material para entender os estados mentais Por outro lado o seu risco é não considerar a subjetividade e a intencionalidade enquanto dois critérios necessários para afirmar a existência de qualquer estado mental 5 O fato é que as teorias filosóficas da mente em geral consideram a distinção entre mente e cérebro a partir da distinção prévia entre a mente como uma entidade imaterial e o cérebro como entidade material não percebendo as relações entre um e outro Ora as emoções são estados mentais profundamente vinculados aos processos cerebrais assim como nos apontam modernos estudos neurobiológicos Aprofundar essa relação mentalfísica pode ajudar a formular uma teoria explicativa que fuja à dicotomia mentecérebro 239 REFERÊNCIAS UNIDADE 1 CARDOSO T R de D ALMADA L F O que é consciência Uma análise a partir da perspectiva de Searle Revista Kínesis v 5 n 10 2013 CAROPRESO F Inconsciente cérebro e consciência reflexão sobre os fundamentos da metap sicologia freudiana Scientiae Studia São Paulo v 7 n 2 2009 COSTA C Filosofia da mente Rio de Janeiro Jorge Zahar 2005 HERMSEN J Joke Hermsen O desafio diante de nós é transformar nosso isolamento em uma soli dão compartilhada El País 9 ago 2020 Disponível em httpsbrasilelpaiscombrasil20200809 jokehermsenodesafiodiantedenosetransformarnossoisolamentoemumasolidaocom partilhadahtmlsmanewsletterbrasildiaria20200810 Acesso em 25 jan 2021 LECLERC A Uma introdução à filosofia da mente Curitiba Appris 2018 MATTHEWS E Mente conceitoschave em filosofia Porto Alegre Artmed 2007 MOREIRAALMEIDA A Explorando a relação mentecérebro reflexões e diretrizes Revista de Psiquiatria Clínica v 40 n 3 2013 SEARLE J R A redescoberta da mente São Paulo Martins Fontes 2006 TEIXEIRA J de F O que é filosofia da mente 2 ed Porto Alegre Fi 2016 REFERÊNCIAS ONLINE ¹Em httpsnovaescolaorgbrconteudo14433burnoutasindromedoesgotamentofisi coementalutmsourcelputmmediumcardmateria1utmcampaignsaudeemocional Acesso em 24 jan 2021 UNIDADE 2 ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 2007 ALBERTI V A existência na história revelações e riscos da 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ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL PROFESSOR Dr Sidney de Moraes Sanches Filosofia da Mente NEAD Núcleo de Educação a Distância Av Guedner 1610 Bloco 4 Jd Aclimação Cep 87050900 Maringá Paraná wwwunicesumaredubr 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pósgraduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e Planejamento Educacional Tania C Yoshie Fukushima Head de Recursos Digitais e Multimídias Franklin Portela Correia Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção Digital Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Recursos Educacionais Digitais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Design Educacional e Curadoria Yasminn T Tavares Zagonel Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Reitor Wilson de Matos Silva ViceReitor Wilson de Matos Silva Filho PróReitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho PróReitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva PróReitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação a Distância SANCHES Sidney de Moraes Filosofia da Mente Sidney de Moraes Sanches Maringá PR Unicesumar 2021 Reimpresso em 2024 248 p Graduação EaD 1 Filosofia 2 Mente CDD 22 ed 1282 CIP NBR 12899 AACR2 ISBN 9786556153858 Impresso por Bibliotecário João Vivaldo de Souza CRB 91679 Coordenadora de Conteúdo Priscilla Campiolo Manesco Paixão Projeto Gráfico e Capa André Morais Arthur Cantareli e Matheus Silva Editoração Isabela Mezzaroba Belido Design Educacional Bárbara Neves e Patrícia Ramos Peteck Revisão Textual Cindy Mayumi Luca Ilustração Natalia de Souza Scalassara Fotos Shutterstock FICHA CATALOGRÁFICA A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história avançando a cada dia Agora enquanto Universidade ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria mente para que nossa educação à distância continue como uma das melhores do Brasil Atuamos sobre quatro pilares que consolidam a visão abrangente do que é o conhecimento para nós o intelectual o profissional o emocional e o espiritual A nossa missão é a de Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento for mando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária Neste sentido a UniCesumar tem um gênio impor tante para o cumprimento integral desta missão o coletivo São os nossos professores e equipe que produzem a cada dia uma inovação uma transforma ção na forma de pensar e de aprender É assim que fazemos juntos um novo conhecimento diariamente São mais de 800 títulos de livros didáticos como este produzidos anualmente com a distribuição de mais de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos sos acadêmicos Estamos presentes em mais de 700 polos EAD e cinco campi Maringá Curitiba Londrina Ponta Grossa e Corumbá o que nos posiciona entre os 10 maiores grupos educacionais do país Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima história da jornada do conhecimento Mário Quin tana diz que Livros não mudam o mundo quem muda o mundo são as pessoas Os livros só mudam as pessoas Seja bemvindo à oportu nidade de fazer a sua mudança Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária BOASVINDAS MEU CURRÍCULO MINHA HISTÓRIA Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim além das informações do meu currículo Sidney de Moraes Sanches Fiz 61 anos recentemente Não ainda não estou aposen tado Moro em Campinas interior de São Paulo perto da capital Nasci no Rio de Janeiro em Mesquita na região chamada Baixada Fluminense Aos oito anos mudeime para Brasília com meus pais irmã e irmão Lá fui criado ganhei outros dois irmãos cresci estudei até o Ensino Médio e comecei a trabalhar como office boy no Banco do Brasil De lá mudeime para o Paraná a fim de cursar um seminário teológico e me tornar pastor Depois morei no Pará na Bahia em Minas Gerais no Espírito Santo no Paraná novamente em Santa Catarina e agora em São Paulo Nesse período que compreende 40 anos estudei caseime nasceram minhas três filhas concluí um mes trado um doutorado e um pósdoutorado em Teologia Sigo ministrando aulas e coordenando cursos na minha área de formação teologia e filosofia porque também sou graduado nessa área Gosto de viajar de ler de escrever do almoço de do mingo com a família e de ouvir música qualquer uma Entretanto as músicas do Pink Floyd compõem a trilha so nora da minha vida desde a adolescência Também adoro assistir aos filmes principalmente no cinema e a uma boa partida de futebol em casa Desde a adolescência gos to de ficção científica Além disso há dez anos comecei um novo passatempo cultivar plantas Sou totalmente atraído por elas Hoje vivo com a minha esposa temos 35 anos de casamento a nossa filha caçula de 14 anos uma gatinha chamada Lucy um presente das filhas e uma cachorrinha chamada Mila que já é um pouco idosa Currículo Lattes httplattescnpqbr1611754323845332 INICIAIS PROVOCAÇÕES Rose acabou de explicar como deveria ser feita a atividade em sala de aula tratavase de uma análise do dualismo cartesiano entre a mente e o corpo Era uma atividade rotineira e ela apenas esperava que os alunos cumprissem a tarefa nos minutos atri buídos Contudo ela não parava de olhar para José Ele olhava distraidamente para a janela a qual permitia visualizar o jardim botânico presente no outro lado da rua Rose percebeu que ele movimentava irregularmente a sobrancelha e os olhos além de fazer rápidos movimentos com os lábios algo parecido com um sorriso Rose olhou pela janela e não viu nada que sugerisse para ela as mesmas reações de José Ela examinou a si mesma e perguntouse o que se passa na cabeça de José Por que eu não sinto o mesmo que ele sente olhando para a mesma paisagem Repentinamente a doutrina cartesiana de que somos uma mente distinta e sepa rada do corpo que habitamos pareceu fazer sentido Ela começou a se perguntar Isso que Descartes chama mente é o que estou percebendo comigo mesma agora Estar consciente é ter uma mente O que acontece em mim é a mesma coisa que acontece em José e nos outros alunos Nenhum deles pode entrar na mente do outro para saber o que está se passando assim como não sei o que se passa na cabeça de José O ato conscienteinconsciente que chamamos de devaneio de Rose foi interrompi do pela reação de José que de repente começou a rir aparentando uma felicidade que vinha do fundo da alma Ou ela deveria falar que era de dentro da mente Essa manifestação física não indicaria que a mente também não seria isso uma atividade biológica Quando chamou a atenção de José Rose já não sabia se estava falando com uma mente ou com um corpo ou seja com a mente ou com o cérebro chamado José Ela percebeu que precisava levar mais a sério a filosofia da mente A questão fundamental da filosofia da mente é o chamado problema entre mente e corpo Ele pode ser descrito como a mente e o corpo são substâncias ou entidades autô nomas cada uma subsistindo separadamente Elas formam um só composto biológico Nesse caso onde está localizada a mente Ela é um componente que ocupa um lugar no corpo por exemplo o cérebro Ou ela está presente em todo o corpo acompanhando a sua rede nervosa Se para obtermos essas questões precisamos estar conscientes delas a consciência de si e do mundo físico inclusive o corpo é uma condição para a existência da mente Logo não seríamos humanos nem mesmo seres vivos sem uma mente consciente ou uma consciência de mente Voltando ao famoso dito de Descartes penso logo existo INICIAIS PROVOCAÇÕES Evidentemente a mente não é experimentada assim como fazemos com o corpo Quando Rose associou o sorriso de José com a pura felicidade ela fez a conexão entre o estado físico o movimento dos lábios e o estado mental a felicidade Naturalmente apenas o próprio José poderia confirmar ou não se ela estava certa No entanto tam bém podemos sorrir sem observar nada simplesmente com um movimento da mente o pensamento Portanto a experimentação da mente diz respeito à nossa vida mental à nossa capacidade mental de examinála e à habilidade linguística de dizer alguma coisa sobre ela a outros Falamos sobre as nossas sensações percepções lembranças e tudo o que nos constrói enquanto seres sencientes no mundo Pense em um desejo de ter alguma coisa Você ainda consegue se lembrar dele com a mesma intensidade apesar de passar muito tempo Como você descreveria e significaria esse desejo a alguém Enquanto você descreveu e significou o seu desejo para alguém certamente outras percepções vieram à sua mente de onde vem esse desejo Por que os outros têm o mesmo desejo ou não o tem Por que eu dou um significado a esse desejo enquanto outros dão significados distintos Esse desejo está ligado à minha vida biológica cultu ral social e psíquica e é determinado por ela Ou ele existiria independentemente dela O desejo é apenas uma reação do meu cérebro determinada pelo processo evo lutivo biológico da espécie humana Se o meu desejo está associado à minha vida mental que é particular é possível que o significado que dou a ele seja também muito particular Não posso supor que os outros seres vivos dotados de uma vida mental o signifiquem da mesma forma A vida consciente é uma vida reflexiva e todos seres vivos a possuem ou ela varia em graus para cada um E assim por diante A relação entre mente e corpo isto é o modo como as percepções recebidas pelos sentidos se transformam em sensações o que permite que tenhamos uma vida men tal é algo que intriga não somente as ciências mas também a filosofia Você entenderá melhor esse fato por intermédio de uma história que embora seja ficcional ajudará a visualizar o que está por vir INICIAIS PROVOCAÇÕES Desde que a sra Augustina chamada pela família de dona Tina teve um AVC a família ficou preocupada uma vez que ela não conseguiria mais se lembrar das filhas e do filho Então desenvolveram uma maneira curiosa de fazer com que ela conquistasse novamente a memória sobre cada um pela associação de uma música De fato a mú sica é percebida pelos ouvidos e penetra na mente o que gera diversos vínculos com outras sensações e memórias Portanto dona Tina que já havia se esquecido de como conectar o nome a cada filho manteve os laços com eles por intermédio de arranjos mentais a partir da música que ouvia na presença de cada um Aqui você conhecerá melhor a relação entre a mente e o corpo As filhas e o filho perceberam que à medida que as sequelas do AVC avançavam dona Tina parecia cada vez mais desligada fisicamente do mundo à sua volta Em algum momento ela não reconhecia a poltrona onde o seu falecido marido se sentava não sabia mais se estava no quarto ou na cozinha não enxergava o seu rosto nem ouvia a sua voz e a dos filhos O próprio sabor da comida não fazia mais sentido para ela Parecia que os sentidos perderam a sua finalidade Entretanto quando ela falava mos trava que sua mente continuava lúcida e clara como se o que ela era e foi continuasse existindo em um Eu contínuo que não se desfazia Os filhos podiam jurar que ela con tinuava com uma vida mental e o modo de se comunicar com ela era acessando essa mente que continuava viva e ativa naquele corpo Descobriram que d Tina continuava lá Essa situação coloca a você a questão dos estados mentais desenvolvidos por um Eu pensante sobre e partir de si mesmo Um dia uma das filhas ligou para os irmãos relatando uma visita feita a dona Tina A sua fala tinha um misto de surpresa alegria e estranhamento Ela foi ao quarto da mãe e começou a mexer nas gavetas da cômoda Em uma das gavetas encontrou vários papéis com desenhos Perguntou à cuidadora o motivo pelo qual ela desenhava na hora do trabalho e ela respondeu que não era ela mas era a dona Tina quem pedia papel e lápis a fim de fazer os desenhos e guardálos na gaveta Tuca assim era chamada a INICIAIS PROVOCAÇÕES filha mais velha reuniu os irmãos para ver os desenhos Alguns eram produto da mais pura imaginação outros expressavam emoções mas todos indicavam uma criatividade que eles desconheciam enquanto lembravam da vida vivida por dona Tina até então De fato ela estava vivendo um momento bastante particular e expressava isso de maneira criativa A sua vida mental nunca foi tão intensa Emoções arte e imaginação são claros exemplos de uma vida mental e serão trabalhados neste momento do seu estudo Os filhos começaram a revirar os desenhos e a prestar mais atenção em cada um deles Foi um momento de descoberta Cada desenho representava os momentos da vida de dona Tina pois sempre havia um ambiente em que ela se apresentava pela mesma figura Os desenhos não eram aleatórios eles perceberam que ao contrário sempre se referiam a alguma vivência de dona Tina percebida pela presença física em algum lugar Os desenhos sempre diziam algo ou seja comunicavam sentimentos crenças desejos enfim não retratavam apenas dona Tina em algum lugar mas ela percebendo aquele lugar em sua própria mente Os filhos concluíram que dona Tina não estava apenas expressando coisas de sua mente mas descrevendo o que fez em cada um desses luga res onde viveu Ela que sempre fora comunicativa parecia cada vez mais introspectiva Ficaram impressionados ao perceber o modo como ela conseguia se perceber como alguém que quis fez e agiu de algum modo no mundo A representação dos estados mentais os quais sempre são ligados e dirigidos a algo ou a alguém no mundo e sempre são revisitados por atos introspectivos será abordada neste seu estudo A perplexidade da filha mais nova Tati fez com que ela começasse a se interrogar sobre a natureza da vida mental de dona Tina e por extensão de todo ser humano Uma coisa que a intrigou bastante era o fato de que não era possível saber o que se passava na mente de sua mãe mas apenas quando ela se expressava como fazia Ela começou a procurar por famílias cuja mãe pai ou parente próximo estavam passando INICIAIS PROVOCAÇÕES pela mesma situação para saber se essa ação era exclusiva de dona Tina ou não será que acontecia com o mesmo que viu em sua mãe Não havia como saber ela concluiu Os exames cerebrais diziam que havia algo em comum mas não explicavam o motivo pelo qual cada indivíduo e família vivia essa situação de maneira diferente da outra Tina começou a se interrogar profundamente sobre o lugar da mente em nossa vida humana e se perguntou se as teorias das máquinas inteligentes não seriam um modo de explicar como a mente funcionava Todavia essa é uma história que precisaria de mais tempo para ser contada Somos exclusivamente nós no mundo um Eu sozinho e isolado dos demais O que são os outros em nossa vida mental Somos mentes habitando uma máquina um corpo o qual poderia ser trocado por outro se possível O que aproxima as máquinas inteligentes com as quais estamos nos acostumando a viver Essas perguntas e outras serão abordadas durante o nosso estudo Em sua atividade como professora habituese a observar os seus alunos e alunas como uma unidade mentecérebro Ao planejar a sua estratégia de ensinoaprendiza gem de modo a incluir o que você aprendeu nesta disciplina não pense neles como um conjunto de comportamentos socialmente aprendidos ou como um composto químico neural e biológico que responde aos estímulos somente Também não os entenda como espíritos ou almas encarnadas em um corpo que pode ser educado como se não vivessem uma vida física no mundo Enquanto seres conscientes eles são sensíveis flexíveis e criativos o que permite refazer a si mesmos e reconstruir o mundo ao redor o tempo todo Agora que você aprendeu a importância de entender a relação entre mente e cor po e a contribuição da reflexão filosófica para isso espero que você fique bastante animado para a imersão no assunto pois enquanto um ser consciente você sabe que temos uma longa caminhada de aprendizagem pela frente Bons estudos MEU ESPAÇO IMERSÃO RECURSOS DE Quando identificar o ícone de QRCODE utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online O download do aplicativo está disponível nas plataformas Google Play App Store Ao longo do livro você será convida doa a refletir questionar e trans formar Aproveite este momento PENSANDO JUNTOS NOVAS DESCOBERTAS Enquanto estuda você pode aces sar conteúdos online que amplia ram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tec nologia a seu favor Sempre que encontrar esse ícone esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experien ce Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recur sos em Realidade Aumentada Ex plore as ferramentas do App 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Nesta unidade você entenderá qual é o problema fundamental com o qual a filosofia da mente lida Além disso saberá de onde surgiu esse campo tão recente da reflexão filosófica contemporânea pelo que se interessa e o motivo pelo qual elegeu a mente como um conceito filosófico a ser examinado São várias as teorias filosóficas que buscam entender esse conceito e você conhecerá as principais Nosso esforço em entender a mente nos levará à discussão sobre a consciência a capacidade autorreflexiva da mente que é capaz de produzir introspecção e conhecimento interior Essa investigação remete diretamente à questão da identidade pessoal em que os processos mentais somados ao corpo físico sustentam a identidade alguém ao longo do tempo UNIDADE 1 14 Teresa tem uma pequena cozinha onde fabrica bolos e tortas Ela tem um modo peculiar de escolher aqueles que trabalharão com ela Primeiro ela os submete a um teste de cheiro para descobrir se há compatibilidade entre ela e o seu futuro e possível cooperador Recentemente entrevistou Tadeu e logo perguntou que música você ouve quando cheira esse bolo de chocolate Sem entender direito Tadeu disse que não ouvia música nenhuma Teresa ficou brava e o despediu sem demora porque ela sempre ouve Stairway to Heaven quando cheira um bolo de chocolate No entanto como é possível associarmos a memória de alguma música com o cheiro de um bolo de chocolate e fazermos disso um modo de seleção de quem queremos próximo de nós ou não Não é raro que ao lembrarmos de alguma música sejamos imediatamente transportados para algum lugar ou sentimento o que desperta alguma emoção e chama algo ou alguém de volta No exemplo apresentado temos um caso de sinestesia em que o cheiro do bolo se mistura com o som de uma música ou seja dois sentidos olfato e audição são somados A partir disso podemos somar as nossas sensações ao infinito Elas são resultado das nossas percepções o modo como recebemos as informações que nos vêm dos sentidos do corpo em suas muitas posições e interações com o mundo físico o que chamamos de cinestesia É mediante o encontro de ambas as experiências que sabemos quem somos e o que estamos fazendo em nossa vida Tudo isso acontece em nossa mente Agora tenho uma proposta elabore uma breve narrativa que aborde os efeitos sinestésicos da mescla de sentidos e de percepções com foco especial na percep ção visual Por exemplo o que a visualização da cor amarela sugere à sua mente Descreva como é para você essa experiência mental A partir de sua narrativa reflita como as percepções sinestésicas são reu nidas na mente e promovem uma experiência mental sinestésica Como essa experiência mental suscita uma consciência sobre mim Onde são armazenadas essas percepções de modo a reunilas em experiências mentais conscientes que dizem respeito a mim Elas estão em alguma parte diferente do corpo como na alma ou no espírito ou estão na mente Há uma mistura entre mente e cérebro Existe uma inconsciência na qual toda a vida fica armazenada até ser trazida à consciência por meio de algum fenômeno UNICESUMAR 15 A filosofia da mente é uma subárea do estudo filosófico que envolve a investigação dos fenômenos relacionados à natureza da mente Para isso recorre a um diálogo com outros campos de estudos tais como a psicologia e a neurobiologia uma vez que tais fenômenos não se restringem somente aos parâmetros analíticos e especulativos da compreensão filosófica O surgimento do campo de estudo da mente na filosofia se deu oficialmente com a publicação de Gilbert Ryle filósofo britânico bastante influenciado pelo pensamento do filósofo alemão da linguagem Ludwig Wittgenstein Em seu livro O Conceito da Mente publicado em 1949 Ryle desconstrói as concep ções tradicionais relacionadas à articulação entre corpo e mente ao realizar uma crítica à teoria dualista que afirmava que a mente era um componente independente e regulador do corpo Em seu raciocínio opôsse a Descartes maior defensor do dualismo entre mente e corpo e afirmou que a proposta epistemológica cartesiana era desa tualizada e não se identificava mais com os avanços biológicos encontrados a partir de sua pesquisa Ryle declarou que a mente e o corpo não são entidades separadas e com funções diferentes por exemplo a mente pensa e o corpo age Ao contrário os dois desenvolvem as mesmas ações e portanto a complexidade que buscamos na natureza não existe DIÁRIO DE BORDO UNIDADE 1 16 Ora a crítica de Ryle ao cartesianismo abriu um novo horizonte de reflexão A clássica concepção que determina a existência da alma por exemplo teve as suas estruturas balançadas visto que novos questionamentos sobre o funcionamento da relação entre mente e corpo começaram a surgir como cascatas No entanto o que Ryle provocou não era de forma alguma ausente de contexto Precisamos considerar que a sua crítica segue a mesma linha do avanço científico da neurobiologia ocorrido no início do século XX a partir do aprofundamento dos estudos acerca da psicologia humana e principalmente com o surgimento da psica nálise da fenomenologia e das novas indagações filo sóficas sobre existência Os principais expoentes dessas correntes foram Martin Heidegger e Jean Paul Sartre Em suma o período em que Gilbert Ryle realizou a sua publicação era na verdade um caldeirão borbulhante de ideias e perguntas acerca da dinâmica da mente humana e o mundo ao seu redor Não introduziremos o panorama histórico exposto pois o nosso foco se limita às caracterizações e à funda mentação da filosofia da mente Por outro lado traba lharemos nesta unidade o apontamento e o desenvol vimento do problema entre mente e corpo Quais são as principais teorias filosóficas que tentam compreendêlo Como essa relação se constitui como um problema para a filosofia da mente Continuaremos a nossa discussão ao introduzirmos o conceito de consciência Podemos afir mar que ela existe De que forma Onde se localiza Qual é a sua constituição Por fim encerraremos o nosso estu do introdutório com a análise do conceito de identidade outro aspecto central das discussões sobre a mente Como nos diferenciamos uns dos outros Como distinguimos os sujeitos dos objetos De que forma a noção de identidade se manifesta em nossa tríade consciênciamentecorpo UNICESUMAR 17 O que significa falar de mente e cérebro Para a psicanálise a mente é uma entidade abstrata que carrega a consciência do indivíduo Essa distribuição varia de acordo com a abordagem psicanalítica que está sendo tomada como pressuposto Por exemplo para Sigmund Freud a consciência é subdividida em superego ego e id enquanto a mente é o receptá culo do chamado inconsciente isto é uma camada que guarda as informações que não estão facilmente acessíveis ao indivíduo O inconsciente se manifesta por meio de sonhos os quais por intermédio dos simbolismos comunicam em uma linguagem muito própria alguns desses dados Freud desenvolveu a teoria da estrutura psíquica da pessoa dividindoa em consciente e inconsciente Depois formulou a teoria da personalidade humana em termos de triunidade Id Ego e Superego Segundo essa teoria toda pessoa nasce com instintos animais básicos e fundamentais para a sua so brevivência assim como os animais que são de responsabilidade do Id Esses instintos estão associados à sensação de prazer Portanto é essa energia psí quica que move o sujeito no mundo A não satisfação pode causar ansiedade tensão e gerar um ímpeto destrutivo Pelo fato de que nem todo desejo pode UNIDADE 1 18 ser satisfeito uma maneira de resolver a problemática é desviar a satisfação para alguma fantasia que é a representação para si próprio de uma imagem do objeto a fim de nela realizar a sua satisfação O Ego é o componente da personalidade humana capaz de lidar com a rea lidade Ele não nasce com a pessoa mas se desenvolve a partir das restrições que são impostas ao Id de modo que as relações pessoais e sociais sejam possíveis e aceitáveis Com o Ego as pessoas se habituam a calcular os prós e os contras de um desejo intenso e aprende os meios de realizálo ou simplesmente negálo O Superego é a parte desenvolvida da pessoa a partir dos influxos do Ego e da internalização na mente humana das orientações difundidas por pais e parentes quanto ao que é certo ou errado na conduta infantil em termos de aprovação e recompensa ou reprovação e castigo A pessoa aprende a se comportar submetendo o seu desejo aos interesses das demais pessoas e da sociedade O Superego foi dividido em Ego ideal em que são assumidas as regras de comportamento aprovadas por pais e parentes o que gera uma sensação de valor respeito e satisfação Consciência que inclui as informações sobre aquilo que é rejeitado por pais e parentes a partir da proibição ou punição gerando uma sensação de remorso e culpa No entanto diante da perspectiva filosófica a mente nem sempre é uma entida de autônoma e em algumas teorias a consciência sequer existe De que modo a mente pode ser compreendida em termos metafóricos É preciso entender que de concreto temos somente o nosso corpo e como integrante dele o cérebro Logo quando falamos de mente estamos vinculando a ação cerebral a um novo componente que fisicamente não existe Nesse sentido o termo mente é um vocábulo metafórico e de caráter metafísico portanto abstrato É muito comum associarmos as duas palavras mente e cérebro como sinôni mas Por exemplo após realizar uma leitura complicada alguns afirmam Minha mente está fritando Todavia ao adentrarmos no campo da filosofia da mente é preciso elucidar que ambas carregam significados diferentes embora relaciona dos Em termos práticos o cérebro seria a máquina capaz de realizar os cálculos UNICESUMAR 19 necessários para a tomada de decisão enquanto a mente por outro lado seria o conteúdo desses cálculos e dessa decisão Contudo assim como estudaremos adiante essa questão está longe de ser solucionada Um obstáculo ao avanço em relação aos problemas da relação mente cérebro é o fato de que muitas pessoas mesmo no mundo acadêmico pensam que essas questões já foram resolvidas Elas frequentemente acreditam que o cérebro humano é a resposta que a mente não exis te ou que é apenas um produto para alguns um epifenômeno um subproduto ineficiente da química e da atividade elétrica cerebral Muitos também veem o cérebro como uma entidade que pode ver ouvir pensar sentir e tomar decisões Contudo essas parecem ser conclusões precipitadas MOREIRAALMEIDA 2013 p 106 Apesar de haver uma forte interlocução entre a filosofia da mente e a neurobiologia precisamos nos conscientizar de que pouco se sabe sobre o funcionamento do cérebro e como se articulam os eventos psicológicos em seu interior Devemos tomar como base a noção de que toda teoria pode ser substituída por novas conclusões originadas de novas descobertas Em suma a ciência não fixa respostas mas aponta caminhos de pensamento que podem ou não auxiliar as problematizações filosóficas O problema mentecorpo e as suas possíveis respostas Não é tarefa da filosofia oferecer respostas absolutas para os problemas humanos Ao contrário ela problematiza as questões já existentes no intuito de assim encontrar novas intersecções novas dúvidas Todavia é comum que existam teorias filosóficas que postulem certos pontos de vista a fim de se posicionar contra ou a favor Entre tanto elas ainda objetivam continuar a discussão iniciada a partir de novas reflexões O mesmo ocorre na filosofia da mente e no que tange ao dilema da interação entre mente e corpo houve algumas teorias que tentaram problematizar a questão UNIDADE 1 20 Dualismo cartesiano Ao propor que a mente existe independentemente da existência ou não do cor po Descartes faz uma cisão entre duas realidades que até então eram entendidas como únicas A ideia cogito ergo sum penso logo sou ou penso logo exis to constrói as bases para a discussão acerca de um Eu que pensa por si próprio COSTA 2005 Alguém não sente apenas raiva mas sabe que está com raiva Ele pode até não estar com raiva mas é capaz de criar para si a emoção da raiva sem motivo aparente para têla É capaz ainda de justificar essa raiva ao recorrer a uma lembrança de algum acontecimento Tudo isso ocorre na vida mental da pessoa sem que o corpo tenha feito um movimento sequer isto é sem nenhum objeto externo que movesse a mente a ter raiva Contudo qual é a razão para a existência do corpo Se o Eu possui uma vida mental plena e suficiente em si mesma para que ele precisa de um corpo Des cartes não deu uma resposta satisfatória para esse argumento apenas afirmou que o corpo é um tipo de máquina que serve de receptáculo para a mente dado que ela caminha pelo mundo por intermédio do corpo que nada faz por si mesmo Em seus dias era comum a realização de espetáculos que exibiam autômatos mas o que são autômatos Referemse a uma máquina que executa movimentos previamente determinados ou seja age automaticamente e é guiada por automa tismos Além disso poderia ser uma máquina aparente ou transfigurada em um corpo humano ou de outro animal Nós nos maravilhamos com o que os robôs japoneses são capazes de fazer e aceitamos ser guiados pelas vozes dos aplicativos de viagens todos eles são máquinas automatizadas UNICESUMAR 21 Descartes sugeriu que o corpo humano é algo parecido com os autômatos O corpo não pergunta o motivo pelo qual está com sede não questiona o que deve fazer para encontrar água não confere se ela é potável e se for necessário com prála calcula se o dinheiro que tem no bolso será o suficiente por exemplo Evidentemente a mente precisa do corpo caso queira abraçar um amigo ou ami ga uma vez que ele é o meio pelo qual esse carinho se expressa No entanto o corpo não sente esse carinho nem compreende a intenção da mente Portanto com Descartes aprendemos que a vida intelectual de uma pessoa está na mente enquanto a vida corporal realiza o que está na mente e sem ela o corpo é apenas um mecanismo MATTHEWS 2007 Acostumamos a dizer que o corpo está envelhecendo mas a mente permanece jovem Os cristãos aprenderam com Jesus que o espírito está pronto mas a carne é fraca O esforço do filósofo francês foi refutado por muitos na Modernidade Um deles foi filósofo alemão Friedrich Nietzsche que questionou o cogito cartesiano ao sustentar que se um indivíduo não sabe de nada e está colocando tudo sob a dúvida como é possível existir o pensamento Por que ele também não está sob suspeita Qual foi o critério de Descartes para avaliar que a mente existe mas quanto a tudo que vem por meio do corpo não se pode ter certeza Nietzsche está claramente questionando a ideia de a mente ser a única fonte confiável para o conhecimento visto que não há um modo de verificar os fatos senão pela própria mente Se ela adoece quem garante que ela continua sendo tão segura quanto quando estava lúcida A filosofia da mente aproveitará a discussão suscitada para iniciar a sua in vestigação acerca do tema e encontrará outras dificuldades em relação ao pen samento cartesiano A maioria é fruto da suspeita que o autor realiza sobre tudo o que não é pensamento Como explicar o efeito de drogas e medicamentos na mente Como explicar que uma doença como a de Alzheimer que reduz o cérebro até um terço do seu tamanho tenha efeitos tão devastadores sobre a atividade mental Como explicar em suma o papel do cérebro O que tais objeções revelam é que o dualismo não se integra à nossa crescente imagem científica do mundo sendo isso o que mais parece fadálo ao ostracismo COSTA 2005 p 18 UNIDADE 1 22 Behaviorismo Se a possibilidade de existência de uma mente autônoma em relação ao cérebro é facilmente descartada é preciso aprofundar a problemática e realizar novas reflexões sobre o assunto Assim a resposta é buscada no elemento oposto se a mente não é acessível senão pelo corpo é observando esse elemento que podemos conferir a vida mental de alguém Um comportamento errático por exemplo ex pressa uma mente confusa Foi assim que surgiu o chamado behaviorismo teoria bastante defendida pelos filósofos positivistas na década de 30 e que foi reforçada por Ludwig Wittgenstein e Gilbert Ryle pouco tempo depois Na discussão filosófica behaviorista o mental enquanto entidade autônoma e abstrata não existe Dessa forma as noções cognitivas tais como dor alegria crenças e pensamentos não são próprias de cada indivíduo subjetivas mas são comportamentos humanos COSTA 2005 Isso significa em suma que não existe diferença no fato de um indivíduo X e um indivíduo Z sentirem dor visto que a dor é uma simples atividade do corpo humano e não está ligada a uma condição particular de X ou de Z Toda a articulação entre a experiência interior do ser humano e a sua disposição pode ser evidenciada empiricamente e não há nenhuma outra correlação obscura entre o comportamento de seu corpo e a sua vivência Portanto ao analisar o mental em termos de comportamentos ou disposições comportamentais o behaviorista analítico acreditava ter realizado o truque de se livrar para sempre da res cogitans cartesiana COSTA 2005 p 19 Outra forma de behaviorismo é atribuir toda a vida mental à comunicação linguística Não há meios de demonstrar tristeza senão pelo corpo Contudo a linguagem também é um recurso não corporal eficaz Isso significa que aprende mos a dizer que estamos tristes não porque estamos conscientes de algum pro cesso mental mas porque aprendemos com a nossa família amigos e sociedade que a tristeza se expressa por meio de um comportamento e se comunica a partir de determinadas palavras e frases Antes de iniciarmos o nosso estudo sobre as teorias da mente reflita como você com preende a interação entre mente e corpo Você acredita que a mente é autônoma ou dependente do corpo Como o corpo se expressa diante da mente PENSANDO JUNTOS UNICESUMAR 23 O behaviorismo é certamente uma proposta alternativa interessante e que tenta dirimir a distância entre mente e corpo formulada inicialmente por Descartes No entanto ao propor uma redução subjetiva das ações cognitivas do cérebro torna as chamadas disposições comportamentais em meras sensações passivas de serem analisadas e constatadas objetivamente COSTA 2005 Dessa forma você poderia afirmar que uma pessoa está alegre pois a vê dando saltos e gritos de felicidade Por outro lado afirmaria que está com dor ao vêla com o corpo contorcido e com lágrimas caindo de seus olhos É sabível que a mente é algo mais complexo que isso Diante do enorme desconhecimento que ainda se tem acerca do seu funcionamen to é preciso evitar posicionamentos que excluem outras interlocuções Materialismo ou fisicalismo e a teoria da identidade Em detrimento do dilema proposto pelas duas teorias anteriores alguns filósofos tais como Herbert Feigl Ullin Place e John Jamieson Smart desenvolveram outro ponto de vista ao longo da segunda metade da década de 50 A teoria formulada por sua vez tomou o lugar do behaviorismo e até hoje há vários debates sobre ela Ela é chamada de materialismo porque afirma que a vida mental não passa de fenômenos cerebrais portanto parte da matéria da qual todo o corpo huma no é integrante Também é denominada fisicalismo tendo em vista que nega a própria vida mental ao afirmar que toda a atividade humana não passa de ações inteligentes do corpo humano COSTA 2005 O fisicalismo é uma teoria que se subdividiu em algumas vertentes que têm uma base em comum todas as coisas que existem no mundo são físicas e as suas proprie dades estão relacionadas à sua natureza física O que não é físico não faz parte do mundo físico Embora pareça redundante é importante compreender que para os fisicalistas só existe o mundo físico Assim o que não faz parte dessa realidade não existe COSTA 2005 Em relação à dor por exemplo os fisicalistas não ponderam sobre a existência de uma disposição comportamental assim como os behavioristas faziam Os estudiosos partem da ideia de que se a dor não pode ser comprovada objetivamente então não existe Tudo o que a mente sente o corpo também sente e em consequência do fato de que o corpo é uma entidade física não existem motivos para que as percepções mentais não sejam analisadas objetivamente UNIDADE 1 24 É desse modo que o fisicalismo de tipo adquire a sua pertinência no debate a respeito da relação entre mente e corpo Ele é chamado de Teoria da Identidade de Tipo Typetype Identity Theory Para os seus proponentes os tipos de even tos mentais emoções sensações e pensamentos correspondem ao mesmo tipo de evento no cérebro em todos os organismos Embora pareça ser uma solução relativamente simples ao problema o fisicalismo de tipo formula uma armadilha para si mesmo ao considerar a imediata associação entre mentecérebrocorpo Existem certos eventos mentais que não podem ser comprovados fisicamente a exemplo da percepção e da identificação das cores Uma pessoa que enxerga o céu azul não acionará uma região azulada no cérebro passiva de ser analisada pelo cientista Além do mais nenhum azul se tornará visível de forma que seja possível identificar qual cor a pessoa está enxergando Inclusive é interessante o fato de que pessoas que nunca enxergaram sejam capazes de descrever sensações e emoções sem que tenham sido estimuladas ou ensinadas por algum aprendizado exterior Outro exemplo seria pressupor a ideia de que a ansiedade aciona o córtex cerebral que se torna o responsável por ecoar as descargas elétricas no siste ma límbico Nesse contexto um fisicalista de tipo entenderia que para reduzir a ansiedade de um paciente bastaria a criação de um medicamento que redu zisse essas atividades específicas no cérebro Entretanto todos nós sabemos que a mente não funciona dessa maneira e a ansiedade em vários casos pode estar relacionada às questões neuropatológicas ou psicológicas do indivíduo o que não são de fácil resolução Por outro lado existe a Teoria da Identidade de Ocorrência também de base fisicalista mas com articulação diferente da Teoria da Identidade de Tipo Para os seus defensores não há uma identificação imediata entre os eventos men tais por exemplo dor e os estados cerebrais por exemplo a dor ativa as células nociceptoras periféricas apesar de alguma identidade sempre existir Assim se for dado um estado mental do tipo M ele pode ser identificado aos estados cerebrais F1 F2 F3 não havendo como unificar os últi mos em um único tipo A razão para isso estaria na falta de correlações nômicas entre eventos mentais e cerebrais ou seja na ausência de leis estritas relacionando psicologia e neurofisiologia COSTA 2005 p 27 UNICESUMAR 25 É preciso ter em mente que os estados cerebrais F1 F2 F3 são sempre reais e existentes no mundo físico fisicalismo Por exemplo um evento de dor acionaria vários mecanismos mentais e não somente um Esses mecanismos podem variar de acordo com o grau de intensidade da dor reverberando diferentes células e transmitindo outros caminhos sinápticos Para a Teoria da Identidade de Tipo essa estrutura não é possível visto que os eventos mentais se relacionam por meio de apenas uma via de ativação a qual independentemente do nível da dor é sempre a mesma Dessa maneira a interação entre mente e corpo deixa de ser instantânea e estrita e passa a ser realizada de diversas formas uma vez que a mente promove diversos estados cerebraiscorporais Eles continuam interligados e tudo o que ocorre em um necessariamente provoca efeitos no outro Funcionalismo Nas Teorias da Identidade pressupõese que a mente não é uma entidade abstrata mas física Portanto O mesmo evento simplesmente tem propriedades mentais e físicas Afinal a identidade é uma relação simétrica se a b então b a Nesse caso devemos admitir que se o mental é físico então parte do que é físico também é mental LECLERC 2018 p 7879 Os fisicalistas acreditam que existe uma correlação entre a função cerebral e a mente Por outro lado os funcionalistas entendem que uma coisa não está intrin secamente relacionada à outra em termos de identidade mas de função o que leva a uma crítica à Teoria da Identidade de Tipo A análise que os funcionalistas realizam se pauta na compreensão dos estados mentais a partir das funções que possuem Por exemplo uma pessoa almoça porque está com fome e não o contrá rio A ação do corpo tem portanto uma função suprir o estado mental de fome No funcionalismo reside a ideia de equiparação da mente humana às má quinas porém fundada em outro tipo de substrato o cérebro Essa comparação permitiu que os estudiosos tivessem maior autonomia para lidar com a questão da múltipla realizabilidade isto é a mente tem múltiplos estados que podem gerir múltiplas conexões Assim UNIDADE 1 26 somos constituídos por um hardware que é o cérebro e por um software ao qual damos o nome de mente Assim a mente nada mais é do que o programa implementado no cérebro e os estados mentais são os seus estados funcionais Certamente o programa mental nada tem a ver com os softwares que são atualmente implementados em computa dores mas o princípio é o mesmo COSTA 2005 p 29 grifos do autor Diante do raciocínio apresentado os funcionalistas fogem do engessamento da relação entre mente e corpo e ao lidarem com termos maquínicos tais como output saída e input entrada identificam novas correlações na dinâmica entre mente e corpo como a sua plasticidade É por meio dessa teoria que é possível conceber a ideia da imortalidade humana ao preservar o cérebro de um indiví duo ainda que o seu corpo tenha morrido Tendo em vista que a mente um con junto de dados como uma máquina é possível escanear as suas informações e assim dispensar o próprio cérebro que as armazena o hardware ou disco rígido Nesse contexto um indivíduo poderá viver eternamente e ter as suas informações armazenadas em um HD externo ou outro dispositivo qualquer COSTA 2005 A objeção à teoria funcionalista se localiza na discussão acerca dos qualia conceito que estudaremos nas próximas unidades Para antecipar qualia é uma noção bastante presente nos debates da filosofia da mente e representa as caracte rísticas qualitativofenomenais dos estados mentais de cada indivíduo É em con sequência da existência dos qualia que é tão complicado com frequência explicar o que se sente uma vez que a experiência sensorial e perceptiva do indivíduo tem uma qualidade inteiramente subjetiva e não pode ser revelada de maneira objetiva Por exemplo suponha que uma pessoa está tomando vinho em sua casa Como constatar o sabor desse vinho e o que essa pessoa o está sentindo Até um exame de tomografia do cérebro não seria capaz de exibir de forma clara e precisa o sabor do vinho que essa pessoa está tomando Dessa forma o sabor do vinho é um qualia Para aumentar a complexidade da discussão em detrimento do fato de que não podemos avaliar os qualias de maneira objetiva eles podem se expressar em graus diferenciados para cada um Assim o sabor do vinho pode ser mais ácido para um paladar e para outro mais agradável É nesse sentido que os qualia se tornam um inconveniente para o avanço da discussão funcionalista dado que a teoria prevê que é possível definir objetivamente o espaço de interlo cução entre a mente e o cérebro a ponto de reduzirmos a existência do indivíduo a um conjunto de dados que podem ser armazenados UNICESUMAR 27 Qual teoria escolher Talvez a melhor pergunta não seja qual é a melhor abordagem mas o que cada uma das contribuições tem a nos dizer sobre o conflituoso debate acerca da re lação entre mente e cérebro Em um primeiro momento é perceptível que não é possível se abster da subjetividade presente nas articulações mentais Cada pessoa sente dor de uma forma A dor de um parto pode ser lancinante para uma mulher e suportável para outra Qualquer teoria que não inclui essa subjetividade incorre facilmente no erro de reduzir a relação entre mente e cérebro em um vínculo simplista e que abandona as suas grandes complexidades No entanto é testando outras modalidades de pensamento que é possível avaliar a relevância de certas condições para a reflexão Somado a isso as teorias que pressupõem que a fisicalidade de todos os componentes dessa relação determina as suas respectivas existências também costumam falhar no que tange aos aspectos que não são físicos da interação entre mente e corpo Elas ignoram parâmetros importantes tais como o sabor das coisas a sensação de calor ou de frio e a visão de uma cor Esses eventos não podem ser medidos de forma precisa e correta por nenhuma máquina inventa da até hoje tampouco as suas variações entre os indivíduos Por outro lado não se pode esquecer do vínculo entre alguns estados mentais e os seus respectivos estados cerebraiscorporais Algumas dores realmente podem ser aliviadas com um analgésico por exemplo Condições de euforia podem ser estimuladas por substâncias psicoativas Assim existe uma dinâmica causal nessa relação entre mente e corpo e que deve ser considerada na discussão Neste podcast conversaremos um pouco mais sobre a filosofia da mente Certamente você ficou curio soa para entender melhor o que é a mente enquan to um problema filosófico e quais teorias ou explica ções são apresentadas para resolvêlo A pergunta é é possível refletirmos sobre a nossa mente a partir do estudo que envolve a própria vida mental Para saber a resposta não deixe de acompanhar o que preparamos para você UNIDADE 1 28 Toda discussão nos evidencia que quando se trata da filosofia da mente equilíbrio e cuidado são bons conselheiros Pelo fato de que essa área caminha muito próxima à ciência o seu desenvolvimento está atrelado às pesquisas sobre o funcionamento do cérebro a neuropsicologia e outros campos que tratam especificamente do tema EU INDICO Título Transcendence a revolução Ano 2014 Sinopse Dr Will Caster a maior autoridade do mundo em inte ligência artificial está conduzindo experimentos altamente con troversos na intenção de criar um robô com grande variedade de emoções humanas Quando extremistas antitecnologia tentam matálo Caster convence a sua esposa Evelyn e o seu melhor amigo Max Waters a testarem o seu novo invento nele mesmo A grande questão não se dá na possibilidade de execução de tal atitude mas se devem dar esse passo Comentário o filme expressa a dinâmica da mente em uma situação de ausência de corpo No caso o personagem de Johnny Depp tem a sua mente transferida para uma máquina que passa a manipular toda a realidade do laboratório que ele comanda É um filme que ajuda a refletir sobre como a mente interage com o meio que a cerca Consciência É comum que pensemos na consciência como algo que diz respeito à nossa vida moral Um exemplo é quando apelamos para a consciência de alguém como a juíza de seus atos Nesse caso dizemos Aquele sujeito não tem cons ciência Olhe como ele trata mal a sua própria mãe Ela também pode re presentar ignorância quando dizemos Essas pessoas não sabem de nada Não têm consciência Falamos até de vida consciente e de forma equivocada diferenciamonos dos demais seres vivos como se eles não fossem munidos de consciência enquanto nós a temos Até argumentamos que a diferença en tre nós humanos e os robôs e autômatos está no fato de os humanos terem consciência Essa compreensão nos permite tratálos como máquinas ou seja objetos Religiosamente aprendemos na teologia judaicocristã a vincular a UNICESUMAR 29 consciência à alma uma vez que aquela é uma faculdade ou propriedade des ta Uma vez que acostumamos a usar a alma no lugar de mente no conceito moderno a consciência é uma sede da imagem de Deus no ser humano Em outras palavras um elemento que temos em comunhão com o Criador é a consciência ora o senso de existir ora o senso moral A introdução exposta foi necessária para afirmar que em relação à consciên cia a filosofia da mente não a trata de acordo com os exemplos apresentados Partindo do dualismo cartesiano mentecorpo a consciência diz respeito à vida mental o modo como alguém existe de forma única e distinta Saber desse fato é um modo de ter consciência de si e de tudo com o que se relaciona Muitos desejam substituir essa definição de consciência pelo Ego mas uma vez que essa palavra está carregada psicologicamente e faz parte da estrutura psicanalítica freudiana é aconselhável não cometer esse engano A questão para a filosofia da mente não é se temos ou não consciência mas onde ela está localizada Se partirmos do dualismo mentecorpo a consciência é a vida mental distinta da física Portanto se desligamos o nosso corpo da mente continuamos conscientes porque vivemos pela mente Por outro lado se remove mos a mente do corpo não resta mais nada somente uma máquina inconsciente Se rejeitarmos o dualismo e promovermos o monismo isto é uma unidade entre mentecorpo dizemos que a mente está localizada no cérebro TEIXEIRA 2008 Nesse caso se um acidente ou uma doença como o Alzheimer afeta o cé rebro a mente é total ou parcialmente afetada o que não impede que o cérebro siga realizando as demais funções físicas É possível afirmar que quando alguém desmaia ou está sedada em uma UTI em coma ela está totalmente inconsciente Sabemos que não há como nos relacionar com ela nem ela conosco O problema desse modo de pensar é que não saberíamos explicar a conexão entre certos comportamentos humanos e o cérebro Por exemplo o cérebro é feito de molé culas assim como a água Sabemos que a água ferve quando aquecida a certa tempera tura e temos ciência de que partes do cérebro são ativadas quando alguém sente uma dor terrível Entretanto quando observamos alguém com o dedo cortado e gritando de dor não dizemos Como o seu cérebro está sofrendo Quem está sentindo a dor é o sujeito e de forma diferente de como eu sentiria Portanto é difícil conectar algo tão subjetivo pois diz respeito a quem sente a dor com algo tão objetivo o cérebro que está fervilhando sinapses neuronais naquele momento Por isso muitos desistem da ideia de que haja mesmo uma consciência e se existe é impossível demonstrála UNIDADE 1 30 É possível afirmar que existe um elo uma conexão entre mente e cérebro que não nos limita ao dualismo nem ao monismo Esse fato é real mas como argumentar a respeito Descartes supôs que esse elo estaria na glândula pineal uma pequena glândula no cérebro dos vertebrados que modula os seus ciclos de sono Contudo esse é um modo equivocado de abordar a questão Na verdade quando falamos de mente e de consciência estamos nos referindo a algo que diz respeito à nossa subjetividade uma espécie de vida interior ou mental distinta da vida exterior ou corporal mas que também está relacionada com a vida exterior Não podemos separálas e esse é um bom ponto de partida A filósofa holandesa Joke Hermsen explica a ideia exposta do seguinte modo A solidão é um estado em que uma pessoa pode centrar sua aten ção no diálogo interior como Hannah Arendt explicou em A Vida do Espírito 1973 Mesmo quando estamos sós com nós mesmos somos seres dialéticos porque podemos falar sozinhos podemos pensar e refletir sobre nossas próprias ações Somos dois em um ou nas palavras de Arendt todo pensamento estritamen te falando é elaborado em solidão e é um diálogo entre mim e eu mesmo Se formos capazes de nos concentrarmos nesse diálogo interior não só descobriremos as possibilidades desse frutífero aspecto da solidão para nós mesmos como também encontrare mos novas conexões com os outros Esse diálogo de dois em um não perde o contato com o mundo de meus semelhantes porque eles estão representados no eu com o qual mantenho o diálogo do pensamento HERMSEN 2020 online Outro modo de argumentar é negar a existência de uma vida interior e mental e outra exterior e corporal ao asseverar que a vida mental é parte da vida corporal e nesse caso cerebral Essa é a tese de Searle 2006 p 162 que defende que UNICESUMAR 31 A existência da consciência pode ser explicada pelas interações causais entre elementos do cérebro no nível micro mas a consciên cia em si não pode ser deduzida ou presumida a partir da mera estrutura física dos neurônios sem alguma descrição adicional das relações causais entre eles Para Searle 2006 a consciência surge a partir das relações entre os neurônios Não sabemos como essa dinâmica acontece mas é possível que a neurobiologia ainda explique esse processo Uma vez que surgiu a consciência permanece evo luindo mas sempre ligada ao cérebro Portanto não é uma espécie de segunda casa para o ser humano assim como a maioria de nós fomos acostumados a pensar Com essas questões em mente vejamos de que modo a consciência é apresentada e discutida pela filosofia da mente A noção de consciência é uma das mais importantes para a filosofia da mente e confronta o conceito de inteligência artificial Afinal até que ponto máquinas pensantes poderiam ser consideradas máquinas conscientes Existe diferença entre mente e consciência A consciência é exclusividade dos seres humanos ou também está presente nos animais Descartes já antecipou a discussão apresentada que não é nova Como dualista não acreditava que os autômatos uma espécie de brinquedo que realiza movimen tos automáticos tivessem uma atividade da mente similar à dos seres humanos Para o filósofo pensar é uma propriedade exclusiva da mente ou no vocabulário cartesiano do espírito Afirmar que é possível que existam autômatos pensantes seria novamente cair na dúvida eu existo Isso se deve visto que o pensamento é um componente do mundo não do espírito humano Portanto uma máquina nunca teria o espírito humano por mais inteligente que fosse MATTHEWS 2007 Por outro lado Alan Turing matemático e cientista da computação britânico avaliava a possibilidade de existir máquinas pensantes a partir do momento em que os seres humanos fossem capazes de definir o que é pensamento e o que é má UNIDADE 1 32 A INTERROGADOR HUMANO B HUMANO C INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL IA A quina Seu teste chamado de Teste de Turing bastante conhecido na comunidade científica consiste em justamente avaliar se um indivíduo é capaz de identificar a diferença entre um humano e uma máquina A ideia central do teste é supõese que três seres humanos se comuniquem via mensagens trocadas instantaneamente O indivíduo A seria o interrogador B seria um homem e C uma mulher A não conhece B nem C e viceversa Assim A é requi sitado a realizar perguntas para B e para C de modo a descobrir quem é o homem e quem é a mulher lembrese de que A não pode escutar a voz e nem ver B e C tudo é via mensagem No entanto B e C devem se esforçar para não serem identificados e em casos extremos devem enganar o interlocutor para que ele não descubra os seus gêneros Agora supõese que o indivíduo C foi trocado por uma máquina e o mesmo jogo foi iniciado com o objetivo de avaliar se o interrogador humano será capaz de desvendar quem é ser humano e quem é máquina Caso ele não consiga distinguir o robô terá passado no teste e se comportado como um humano Figura 1 Teste de Turing Fonte o autor UNICESUMAR 33 No entanto o teste levanta a seguinte questão o fato de a máquina se comportar como um humano prova que ela pensa por si só Ao supormos que ela pense prova a existência de consciência em seu mecanismo Outro dilema imposto é o de que teoricamente todos os seres humanos passariam em sua avaliação No en tanto o que aconteceria se algum indivíduo que não é máquina fosse reprovado no teste O que isso significa em termos da diferença entre humano versus androides A proposta do Teste de Turing é a de avaliar se um androide é capaz de se adaptar e mudar o seu comportamento com a mesma rapidez que uma mente humana Recursos tais como a mentira e a ludibriação identificam o compor tamento humano e se tornam critérios para a avaliação Esses elementos não garantem que o seu usuário seja uma máquina Mas aqui também podemos nos deparar com conclusões tão sin gulares como se uma máquina puder variar seu comportamento e fazer tudo aquilo que um ser humano faz por que continuar a considerála uma máquina E nesse caso que sentido teria con tinuar a indagar se uma máquina pode pensar Por outro lado se admitirmos que o que caracteriza o pensamento não é a realização de tarefas específicas então deveremos concluir com base no exem plo anterior que para calcular toda a folha de pagamento do INSS não é preciso pensar TEIXEIRA 2016 p 34 Logo o que caracteriza o pensamento De que forma ele se distingue da cons ciência Essas são perguntas complexas e como Turing bem demonstrou o seu esclarecimento teria muito a contribuir com a discussão sobre a possibilidade de uso da inteligência artificial No entanto ainda não temos respostas e Essas dificuldades parecem apontar para a dimensão dos problemas com os quais estamos lidando aqui pouco sabemos sobre a natureza do pensamento e muito menos acerca do que é consciência Estes são dois imensos problemas com os quais a Filosofia da Mente tem de se confrontar e sobre os quais ainda não foi capaz de produzir teorias conclusivas Mas se não sabemos o que é pensamento nem tampouco o que é consciência isto não significa que tentar abordar tais problemas mediante a investigação em Inteligência Artificial UNIDADE 1 34 seja uma tarefa fadada ao fracasso É muito difícil profetizar nega tivamente sobre aquilo que a ciência e a tecnologia poderão vir a descobrir algum dia Só para se ter uma ideia basta lembrar que no início do século XX velhas senhoras que brandiam seus guar dachuvas e até mesmo um respeitável filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein diziam com todas as letras que o homem jamais po deria chegar à Lua TEIXEIRA 2016 p 36 Devemos pensar na capacidade de desenvolvimento do raciocínio abstrato o que convenhamos somente os seres humanos foram capazes até o momento atual Para isso não se trata apenas de saber algo pois todo o ser vivo parece saber quando está com sede onde encontrar água e quando está satisfeito Diz respeito à reflexão sobre a sede à organização de mais de uma maneira de obter água à avaliação da qualidade da água e aos juízos sobre a sua necessidade e a de outros Inclusive o mais abstrato dos pensamentos é quando o ser humano metaforiza a realidade física da água ao afirmar que tem sede de alguma coisa que não seja a própria água ação que os poetas sabem fazer muito bem Também há situações em que afirmam que são a água como Jesus que disse que era a água da vida para a mulher samaritana O que é consciência Não é uma tarefa fácil definir um termo tão abstrato como consciência Muitos se recusariam a seguir essa empreitada porém é possível tomar como ponto de partida a seguinte conceituação consciência é a experiência integrada que a mente tem da rea lidade externa e interna O conceitochave aqui é o de experiência pois não há consciência sem experiência Mas não se trata de qual quer produto experiencial nos sonhos temos experiência sem che garmos a ter consciência a experiência precisa vir coerentemente unificada integrada a outras Finalmente tratase da experiência da realidade externa eou interna o que se esclarece por apelo a uma importante distinção feita pelo filósofo australiano D M Armstrong entre duas modalidades sentidos principais de consciência a per ceptual e a introspectiva COSTA 2005 p 10 grifos do autor UNICESUMAR 35 Não existe consciência sem experiência que por sua vez precisa ser integrante do mundo físico real Cada categoria de experiência revela uma tipologia da consciência A experiência interna ou introspectiva expressa uma consciência autorreflexiva e decorrente dos próprios estados mentais sob os quais o indivíduo está sujeito em determinado momento Já a modalidade perceptual ou externa está ligada à experiência que a mente tem das coisas ao redor do corpo A consciência introspectiva é capaz de acompanhar os complicados cálculos mentais para a tomada de decisão de modo a organizálos e planejálos com o objetivo de promover ações cada vez mais sofisticadas Por ser um modo de cons ciência bastante complexo suspeitase que exista somente em seres humanos Já a consciência perceptual também pode ser identificada nos animais COSTA 2005 A questão do inconsciente na psicanálise freudiana é apenas uma conjectura nos estudos da Psicologia No entanto é mantida a antiga incógnita se ainda não foi desenvolvida uma noção teórica de consciência cada vez mais é levantada a possibilidade de existência de uma inconsciência na mente humana Por outro lado não se pode deixar de questionar o fato do termo mental ter sido definido primeiramente por referência a pensamentos desejos crenças etc conscientes não implica que só possa ser considerado mental aquilo que é cons ciente Mental não significa consciente da mesma maneira como água não significa líquido Se fatos empíricos revelaram que há fenômenos com as mesmas características daquilo que se chama de mental e que não são conscientes seria legítimo considerar esses fenômenos como sendo mentais CAROPRESO 2009 p 277 O inconsciente se torna assim outra questão na referida discussão sobre a existência e a atividade da consciência na mente John Searle filósofo analítico estadunidense bastante reconhecido por seus estudos sobre a mente entende que a consciência é o conjunto de estados subjetivos de sensibilidade sentience ou ciência awareness que se iniciam quando uma pessoa acorda na parte da manhã e que se estendem ao longo do dia CARDOSO ALMADA 2013 p 223 grifos dos autores Enquanto resultado de eventos cerebrais a consciência também abrange a subjetividade do indivíduo que pensa Portanto a ação que resta é avaliar se por ser subjetiva e ex periencial a consciência pode ser verificada de maneira objetiva e científica UNIDADE 1 36 Em um primeiro momento na visão de Searle a consciência está necessaria mente ligada a um organismo vivo Isso significa que ao morrer a consciência não sobrevive já que ela é resultado de processos do cérebro e que portanto depen dem de sua sobrevivência Nas religiões monoteístas em especial no cristianismo confundese consciência com espírito um equívoco que precisa ser corrigido para que sobretudo a proposta de Searle faça sentido Assim a consciência deixa de ser uma entidade imaterial e se torna mais palpável às reflexões filosóficas Searle também identifica na consciência três propriedades inerentes e que são a base de sua compreensão qualia unidade e subjetividade Qualquer exame objetivo precisa envolver necessariamente essas três dimensões caso contrário sua meta não poderá ser alcançada Em relação à subjetividade Searle entende que a consciência é particular de cada indivíduo ou seja não se expressa da mesma forma em todos os seres humanos Cada um tem a sua forma de sentir dor cócegas e frio o que torna difícil generalizar a experiência mental humana No entanto nem todos os estados conscientes carregam o chamado qualia Por exemplo se alguém lhe perguntar como é ser uma árvore ou como é ser um celular certamente você não saberá responder visto que nunca teve a experiência de ser uma árvore ou celular É nesse sentido que por estar relacionada à experiência humana a consciência se articula de maneira íntima com os qualia Por fim a consciência é uma só em cada pessoa Ainda que possa ser dividida em camadas funcionais para facilitar a sua compreensão assim como fez o filósofo australiano David Malet Armstrong que a subdividiu em introspectiva e perceptual a cons ciência em si é unitária COSTA 2005 O entendimento das características da consciência envolve conhecer a ma neira como ela está associada aos fenômenos que a atingem No entanto Searle afirma que embora a consciência seja subjetiva a ciência é capaz de estudála objetivamente Evidentemente essa subjetividade não pode ser alcançada por meio da ciência em sua total manifestação Um sintoma sentido por uma pessoa não é sentido da mesma forma por outro indivíduo mas isso não impede que o médico a examine e chegue a um diagnóstico Em contrapartida o médico não é capaz de avaliar em que grau esse sintoma se apresenta em seus pacientes É por esse motivo que os estados conscientes têm graus de materialidade ainda que não possam ser examinados completamente pela ciência SEARLE 2016 UNICESUMAR 37 Aprendemos que a consciência é importante porque é por meio dela que sabe mos sobre a nossa vida mental É por intermédio dela que definimos explicamos e descrevemos os nossos estados mentais É por meio dela que sei que estou assistindo a uma partida de futebol um estado consciente assim como sei o quanto eu estou gostando ou detestando o desenrolar do jogo um estado autoconsciente De que modo então a consciência é estruturada Falar de estrutura global da consciência implica apontar elementos essenciais que estão presentes nela o que sig nifica que qualquer ser humano em condições normais isto é não patológicas é capaz de identificálas em si mesmo Vejamos quais são a partir dos estudos de Searle 2006 Finitude a consciência é experimentada de três modos pelos sentidos pelas sensações corporais e pelo fluxo do pensamento Quanto ao pri meiro todos nós sabemos que o nosso contato com o mundo é por meio dos sentidos e a ausência de qualquer um deles representa uma grande perda que não afeta somente a nossa condição física e social no mun do ou a nossa capacidade de reconhecer as coisas mas a nossa própria consciência pois ela fica privada daquele sentido Quanto ao segundo também sabemos que somos seres sencientes pois não temos apenas consciência de nosso corpo mas também de como ele se encontra em determinado momento Assim podemos dizer se os nossos braços estão cruzados ou relaxados por exemplo Quanto ao terceiro sabemos que por meio de nossa consciência fluem ou passam infinitos e diversas pa lavras imagens lembranças emoções sentimentos e informações por exemplo Na maioria das vezes nós os ordenamos e estabelecemos uma sequência concentrandonos em um ou em outro Em outros momentos simplesmente deixamos que fluam ou ainda parecenos que a mente está vazia sem pensamento algum o que não é verdadeiro Todo estado mental consciente é sempre de sobre e para alguma coisa Nesse sentido o provérbio mente vazia é oficina do diabo deve ser entendido como se você não cuidar do que você está pensando pode vir a pensar coisas de sagradáveis ou abrigar uma disposição ruim Isso nos leva a concluir que a capacidade de discernir entre o que é agradável e o que é desagradável é uma propriedade da consciência Unidade estar consciente é organizar as experiências que temos em re lação às coisas de modo que elas pareçam unificadas Conversamos por UNIDADE 1 38 horas com uma ou mais pessoas sobre um e o outro assunto e somos capazes de estabelecer um nexo temporal entre eles foi em um dia espe cífico e durou cerca de x horas Em cada assunto somos capazes de falar ouvirfalarouvir em uma sequência em que a fala anterior é recuperada no momento no qual estamos falando Ao final somos capazes de voltar à fala inicial e estabelecer a conclusão de nossa conversa o que é mui to importante quando estamos finalizando contratos ou respondendo a uma pergunta inicial Qualquer um que já esqueceu qual pergunta estava respondendo sabe como é essencial trabalharmos a organização do esta do consciente A mesma ação é realizada por nossos sentidos sensações corpóreas e pensamentos Quando tocamos o pelo de nosso gato não é somente o pelo é o gato inteiro sobre minha perna e sobre o sofá onde estou sentado assistindo à televisão Quando um maestro rege a orques tra ele está consciente das mãos que seguram a batuta e de que está em pé diante de vários músicos que tocam diversos instrumentos e produ zem sons variados que serão unificados em uma composição Portanto quando estamos pensando é crucial dispormos cada imagem lembrança ideia e informação em uma ordem para que não nos sintamos confusos e incapazes de qualquer entendimento e comunicação Intencionalidade quando estamos conscientes esse estado é sempre dirigido para algo ou é sempre a consciência de algo Pense por exemplo no medo Podemos estar com medo sem nenhuma razão aparente mas comumente o medo é sempre de algo ou de alguém Pode ser que você tenha medo ao passar por uma rua escura a meianoite Pode ser que o meu medo seja de que algum vampiro esteja voando a procura de uma vítima para se alimentar do seu sangue Esse pode ser um medo infun dado pois sei que vampiros não existem aparentemente Todavia o meu medo pode ser bem fundamentado se penso que aquela rua é frequentada por ladrões à espreita de uma vítima solitária e desprotegida Também posso ter medo do futuro do que acontecerá sem saber exatamente o que é Entretanto a consciência de medo é sempre medo de alguma coisa portanto é sempre intencional Sensação subjetiva a subjetividade diz respeito ao modo como estamos conscientes de nossos estados mentais Sabemos que estamos com medo por meio de um conjunto de elementos que somados expressam esse UNICESUMAR 39 sentimento os batimentos cardíacos aumentam há arrepios no corpo o estado de alerta aumenta há a vontade de correr o mais rápido possível para sair daquela situação e a imaginação toma conta dos pensamentos por exemplo Nesse sentido podemos dizer o que é experimentar algo como o medo Somos até capazes de olhar para outros seres humanos e dizermos se estão com medo Também aprendemos a explorar esse es tado mental na vida de ambos ou a representálo como é o caso de um ator ou atriz Isso gera outra questão importante seres que não são vivos não podem descrever estados conscientes de medo logo não podem ser conscientes como é o caso dos robôs Estrutura imagemfundo não somos conscientes apenas de algo mas de uma imagem representada contra um pano de fundo por exemplo Suponha que você está olhando pela varanda de um alto prédio e começa a observar tudo o que está em seu campo de visão Naturalmente você se concentra primeiro no que está imediatamente à vista e depois aumenta a sua percepção para abranger as coisas que estão em um limite em que não há como enxergar mais Pode ser que você escolha uma parte do fundo para se fixar e rejeite o que está mais próximo de si Você sabe o que está naquele local mas deseja ver apenas o que escolheu Ainda procura organizar o que está à vista casas agrupadas em ruas que emendam com avenidas até formarem um quadro geral do bairro por exemplo Nesse caso você não está tendo apenas uma experiência consciente sensorial mas organizando uma estrutura consciente para o que está percebendo Aspecto de familiaridade conscientizamonos de uma estrutura que nos é familiar não somente porque a identificamos mas também porque nos identificamos com ela Quando apontamos para um carro e dizemos esse é meu carro representamos duas coisas primeiro que eu estou familiarizado com as características do carro em questão de modo que se o meu carro é um Fiat eu não apontarei para um carro que é um Volks por exemplo segundo que o meu carro sugere um conjunto de características que outro carro idêntico não tem e são despertadas quando olho para ele entro nele e começo a dirigilo Posso dizer então que eu tenho consciência sobre o meu carro de modo que não teria de outro porque tudo nele é familiar até a disposição do banco e a posição da direção Todos nós sabemos como é ruim emprestar um carro principalmente porque cada motorista tem o seu UNIDADE 1 40 jeito de adaptar a direção o banco e os espelhos o que retira a familiaridade com que usamos o nosso carro Naturalmente fazemos isso porque temos uma consciência previamente organizada em categorias nas quais situamos as nossas experiências conscientes observar um carro por exemplo é vi sualizar categorias dadas que o identificam e não uma carroça Transbordamento nossos estados conscientes podem nos levar para além da consciência de algo que estamos identificando em um momento especí fico espalhandose para os demais sentidos para outras sensações corpó reas e para outros pensamentos até a infinitude dependendo o quanto um Eu consciente é capaz de fazer essa ação Aqui é localizada o que chamamos de experiência de transcendência ou de êxtase muitas vezes associada com a experiência religiosa mas não exclusivamente Essa experiência também não implica nenhum estado de inconsciência pois se trata apenas da mente indo além mas em um esforço mental consciente O centro e a periferia quando falamos de esforço mental consciente necessariamente precisamos mencionar o fenômeno da atenção que é a característica do estado consciente de se concentrar colocar no centro em algo enquanto os outros sentidos sensações corpóreas e pensamen tos permanecem ao redor por vezes sem serem notados É importante sabermos que eles estão presentes pois não estamos inconscientes O fato de termos uma forte preocupação com um problema não significa que os demais tenham desaparecido e à medida que aquele é resolvido concen tramos a nossa atenção nos demais Portanto somos capazes de ver o todo ainda que a nossa atenção esteja voltada para um aspecto de cada vez Limites evidentemente há limites para um estado consciente Alguém que está jogando uma partida de tênis totalmente concentrado nos movimen tos que deve fazer não está pensando no café da manhã que tomou no hotel onde está hospedado se retirou o bilhete de avião para a viagem depois da partida e no quanto estará cansado demais para qualquer entrevista No en tanto esses estados fazem parte do que ele é e se não fossem eles o jogador não teria condições de seguir vivendo ao final da partida A consciência é algo que carregamos conosco em toda a parte e pela vida toda Humor e prazer podemos falar de nossos estados de espírito como uma característica de nossa consciência ainda que nem sempre eles sejam in tencionais isto é nem sempre sabemos associar uma angústia com algo que UNICESUMAR 41 sentimos percebemos ou pensamos Ele simplesmente permanece Chama mos de humor tudo aquilo que nos afeta de algum modo ainda que não estejamos conscientes do motivo pelo qual somos afetados por ele Feliz mente a maioria de nossos humores são conscientes e sabemos nos desfazer rapidamente ou não daquele que não encontramos razão ou propósito O mesmo vale para o prazer e o desprazer Esses sentimentos são fluidos e difusos uma vez que dependem de nossos sentidos sensações corpóreas e pensamentos e ainda estão relacionados às situações em que estamos loca lizados Contudo não podemos descartar nenhum estado de espírito como se ele não fizesse parte de nosso estado naturalmente consciente CONCEITUANDO Um conceito de difícil definição é espírito Na filosofia é traduzido como a essência da vida incorpórea usada por Descartes para designar a alma racional ou o intelecto e é equivalente à mente ou consciência hoje Em contrapartida também é utilizado para indicar o sopro que vivifica ou anima o corpo às vezes substanciado isto é tendo exis tência Além disso pode representar a disposição ou a atitude humana em um sentido mais ético e existencial Fonte o autor Identidade e identificação nos processos mentais Suponha que um indivíduo necessite de um transplante de cérebro pois uma doença degenerativa consumiu o seu órgão Sabendo que esse transplante poderá salválo os médicos decidem realizálo No entanto se a mente e a consciência se localizam no cérebro então o indivíduo transplantado será outra pessoa quando a cirurgia for finalizada A pergunta pode soar estra nha mas é preciso questionar de que modo a identidade de uma pessoa está atrelada aos seus processos cerebrais Ao receber um cérebro diferente o corpo do indivíduo sentirá dor de forma diferente Enxergará as coisas ao seu redor de outra maneira Os seus mecanismos hormonais originalmente regulados pelo cérebro se alterarão Caso assim seja é possível afirmar que a pessoa continuará sendo a mesma UNIDADE 1 42 Teixeira 2016 p 37 questiona O que faz com que eu seja eu Ou em outras palavras o que me confere identidade pessoal Será meu corpo será meu cérebro que nada mais é do que uma parte do meu corpo ou será minha mente E o que faz com que eu tenha certeza de que a criatura que hoje almoça e anda na rua é a mesma criatura que ontem executou essas mesmas ações ou seja eu mesmo Suponha uma cena A em que um cirurgião troque todos os órgãos do corpo de uma pessoa menos o cérebro e uma cena B em que esse mesmo cirurgião troque apenas o cérebro da pessoa por outro Em al guma das duas cenas a identidade pessoal do indivíduo permanecerá a mesma Pensar em identidade implica basicamente pensar naquilo que constitui a mesmidade de uma pessoa ao longo do tempo Essa mesmidade permanece fixa com o passar do tempo Por exemplo suponha que um casal decide se divorciar e o advogado per gunta à mulher o motivo Ela simplesmente responde Ele não é mais o mesmo homem por quem me apaixonei Ora o que isso quer dizer O que mudou Essas perguntas realçam o fato de que a construção de uma identidade pessoal envolve alguns critérios A esse respeito existe um debate que já é bastante presente um grupo afirma que a identidade é estabelecida sob condições físicas já outro entende que a identidade é pautada em parâmetros psicológicos Os defensores das teorias físicas avaliam que a identidade é defini da por uma coisa que está presente na pessoa em termos físicos por exemplo a presença do mesmo cérebro Por outro lado os que tomam a abordagem psicológica entendem que não são os termos físicos que determinam a mesmidade de alguém mas os seus processos men tais por exemplo os traços de personalidade Além dessas existem as teorias mistas defendidas por aqueles que acreditam que a identidade é definida em termos físicos e psicológicos No entanto a discussão se concentra em definir quais termos são esses e se a perda de algum deles descaracterizaria a identidade de alguém COSTA 2005 UNICESUMAR 43 A identidade do corpo Quando uma pessoa morre é comum relacionarmos o seu corpo com quem ela era embora deixe de ser tratada como alguém presente e passe a ser defini da como uma identidade que existiu Isso evidencia que para a compreensão humana o corpo é um efeito da identidade do indivíduo Ele a carrega ao longo de sua permanência no mundo mas não a garante de modo perene Uma vez que a pessoa se vai a sua identidade também parece deixar de existir e se torna memória Essa expressão física do corpo que o torna receptáculo da mente e por conseguinte da identidade do indivíduo é tomada como um dos critérios para a definição do que a pessoa é ao longo de sua vida COSTA 2005 Para entender melhor como a questão física se exprime na formação identi tária do indivíduo basta retomarmos o exemplo apresentado no começo deste tópico a partir de outro horizonte Suponha que o cérebro de Brown seja transplantado para a ca lota craniana vazia do corpo de Johnson daí resultando uma pessoa chamada Brownson Parece óbvio que Brownson é a mesma pessoa que Brown e não a mesma que Johnson O critério prioritário para a identificação não é pois o corpo de Johnson mas o cérebro de Brown COSTA 2005 p 41 No caso apresentado o cérebro seria realmente um requisito da identidade ou um efeito dela assim como ocorre com o corpo Para respondermos devemos ima ginar uma situação em que o cérebro está sendo observado sozinho destacado do corpo Ele parece ter sido pertencido a alguém Ele sinaliza uma identidade Provavelmente não Desse modo há algo a mais do que simplesmente o cérebro para a compreensão do que constitui a identidade de alguém Outra situação se faz pertinente Uma empresa de teletransporte resolve testar em massa o seu aparelho que leva os indivíduos de um ponto A a um ponto B Ela informa que um computador escaneia toda a forma e localização das moléculas do seu corpo no ponto A e envia as informações para outro computador no ponto B que as posiciona no mesmo lugar O indivíduo teletransportado é o mesmo Agora imagine que não há transporte de moléculas por esse aparelho Na rea lidade o computador do ponto B as recria formando assim um indivíduo igual UNIDADE 1 44 ao que deu entrada no mecanismo no ponto A Nesse caso seria outra pessoa ou a mesma Articuladores da postura psicológica entenderiam que para que a pessoa fosse a mesma seria necessário existir uma conexão psicológica entre os estados mentais daquele ser que saiu do ponto A e o que chegou no ponto B No entanto essa conexão somente poderia ser reconhecida por intermédio de um vínculo físico entre o indivíduo no ponto A e no ponto B Ora não basta apenas que o critério da identidade seja satisfeito em deter minado instante temporal mas também precisa estar conectado a componentes físicos e psicológicos da pessoa Determinar qual é a natureza da identidade pes soal também é pensar acerca da subjetividade do indivíduo o que torna quem ele é e passível de ser identificado como tal Essa subjetividade passa por várias características integradoras no corpo na fala e nas ações A identidade psicológica Considere uma cena em que uma mulher acabou de sofrer um acidente de automóvel e é conduzida ao hospital em estado de coma Após despertar ela percebe que não se lembra de nada quem são os seus pais a sua família se tinha filhas ou filhos se era casada ou solteira quais foram as suas experiências de infância qual curso fez na faculdade e com o que trabalhava antes do acidente Para piorar ela também não se recorda de seu nome Podese dizer que essa mulher permaneceu a mesma após o acidente A sua identidade pessoal o que a define como quem era no mundo mudou De acordo com os defensores da abordagem psicológica ela seria a mesma se outros traços psicológicos continuassem os mesmos se ela con tinuasse com a mesma personalidade o mesmo caráter se a sua memória de habilidades do falar do agir e principalmente a sua memória proposicional de conhecimentos de crenças gerais e fa tos se conservassem não teríamos dúvida de que se trata da mesma pessoa COSTA 2005 p 45 grifos do autor É possível constatar a partir da premissa apresentada que a memória pessoal não define a identidade de alguém visto que perdêla não implica necessariamente a UNICESUMAR 45 perca dos traços constitutivos dessa mesmidade Situações diversas comprovam essa afirmação assim como quando uma pessoa diz que se lembra de vidas passadas e se identifica com personagens que já morreram Ela não deixa de ser quem é para ser de repente Clarice Lispector por exemplo Portanto a memória é para o corpo um efeito da mente Vivese e formamse memórias não o contrário Por outro lado suponha que nesse acidente a mulher tivesse perdido traços de sua personalidade seu caráter e seus estados mentais ela seria a mesma pessoa ainda que continuasse com as mesmas lembranças de sua vida O indivíduo resultante perdeu todas as suas características psico lógicas com exceção da memória pessoal Ele nada mais conhece ou sabe fazer faltandolhe qualquer personalidade caráter in tenções e afetos Vive estendido em um leito repetindo eventos autobiográficos como se fosse um gravador Admitiríamos que estamos diante de uma mesma pessoa A resposta sim parece vir hesitante COSTA 2005 p 47 Todavia a memória é um excelente recurso de identificação de eventos que per mite que terceiros avaliem quem determinada pessoa é Portanto se a mulher ao despertar não apresentasse as mesmas atitudes as pessoas de seu convívio antes do acidente poderiam lembrala de algumas de suas vivências e reeducála conforme o que acreditavam ser quem ela era Devese ensinar por exemplo que ela não gostava de comer feijão marrom que era vegetariana que adorava tomar café ao final do dia ou até mesmo como costumava lidar com as pessoas ao seu redor Entretanto isso significa que ela voltaria a ser a mesma pessoa É uma pergunta para a qual não se tem resposta Misturando abordagens Mesmo que seja possível e até sensato pensar em termos de critérios mistos ou seja uma identidade pessoal é definida tanto em termos físicos quanto psico lógicos ainda é um dilema determinar em que grau cada um desses critérios constitui a mesmidade de uma pessoa Assim supondo que seja estabeleci da uma regra em que para definir a permanência da identidade de alguém UNIDADE 1 46 é necessário que essa pessoa satisfaça certas condições como ter o mesmo corpo e as mesmas lembranças é possível questionar se esses parâmetros realmente estabelecem uma conexão causal com a identidade de qualquer indivíduo COSTA 2005 Para John Locke filósofo empirista inglês para que a identidade pessoal de alguém permaneça é preciso que a sua consciência tenha unificado as suas experiências desde o passado até o tempo presente Já foi demonstrado que só a existência das memórias não define a mes midade de um indivíduo ao longo de sua vida O que Locke propôs é conhecido como Teoria da Memória e certamente enfrentou uma série de refutações ao longo da discussão realizada pela filosofia da mente Isso se deve pois Basta supor que minha memória pode falhar e que é possível que eu não me lembre de algumas ações que executei no passado da mesma maneira que não me lembro da cor da camisa que vesti ontem na hora do al moço Será então que essas ações foram executadas por mim ou por outra pessoa E se eu tomar um porre feno menal e sair pelas ruas fazendo coisas terríveis e não me lembre de ter feito nenhuma delas no dia seguinte Estas eram objeções que se faziam à teoria de Locke já na sua época principalmente por filósofos como Joseph Butler 16921752 e Thomas Reid 17101796 Não basta ter lembranças e organizálas numa sequência temporal é preciso identificar o princípio que as torna minhas lem branças só assim poderei incorporar ao meu eu coisas que fiz mas das quais não me lembro ou não posso me lembrar TEIXEIRA 2016 p 39 O que João de Fernandes Teixeira expressa em seu comentário é que é necessária uma partícula unificadora das lembranças que as tornam particulares da pessoa Contudo essa partícula ou várias partículas é o que constitui a identidade pessoal Como ela interage com as quali dades físicas da pessoa São perguntas que certamente desvendam o longo trajeto que a filosofia da mente tem para percorrer UNICESUMAR 47 Prezadoa estudante concluímos a nossa primeira unidade Esperamos que ela forneça um embasamento suficiente para que você possa mergulhar ainda mais fundo nas questões que serão apresentadas e retomadas de forma mais complexa nas próximas unidades Apresentamos as três questões nucleares para o debate realizado historicamente pela filosofia da mente o problema mentecorpo a consciência e a identidade Inves tigamos juntos algumas teorias basilares e que tentaram refutar e problematizar a existência de uma mente autônoma do corpo capaz de pensar e de principalmente suspeitar a existência da própria realidade ao seu redor Uma vez que a mente é uma entidade tão abstrata aparentemente não era possível estudar algo em uma realidade que talvez não exista De onde a mente tira as informações para produzir os seus pensamentos Com o que esses pensamentos interagem senão com o corpo Desse modo demonstramots que a teoria cartesiana apesar de ter permanecido por tanto tempo não é suficiente para explicar os fenômenos mentais que experienciamos A Síndrome de Burnout que em uma tradução literal para o português significa quei mar por inteiro descreve o típico esgotamento físico e mental Ela é um exemplo sobre como os processos mentais afetam e são afetados pelo corpo causando repercussões na identidade das pessoas É muito comum que professores e professoras passem por adoecimento mental e a própria identidade seja colocada sob suspeita Assim há uma situação em que alguém que buscou um curso de Pedagogia por exemplo agora não se reconhece mais a mesma pessoa o que demonstra a importância do cuidado da mente para a manutenção de uma identidade pessoal sadia Os principais fatores associados à síndrome são as condições ruins de trabalho a carga horária excessiva baixa remunera ção dificuldades na gestão da sala de aula e condições desfavoráveis à organização do sistema educacional por exemplo Fonte DAgostini 2018 online¹ EXPLORANDO IDEIAS EU INDICO Assista ao vídeo do canal Saúde da Mente em que o médico psiquiatra Dr Marco Antônio Abud Torquato Júnior explica a Síndrome de Burnout e os seus sintomas UNIDADE 1 48 Também discutimos a interrelação entre a consciência a subjetividade e a identi dade de forma bastante introdutória O que permite que cada indivíduo desenvolva um conjunto de estados mentais particulares ao longo de um período é a presença da consciência que por meio dos qualia possibilita a experimentação desses esta dos mentais Avaliamos que sem essa prática é difícil a formação de lembranças as quais são fundamentais para o reconhecimento externo por parte do outro desse indivíduo Consciência sem experiência deixa de ser consciência Não só mas a identidade depende da consciência e da experiência para se fazer presente Por fim finalizamos a nossa unidade com uma problematização em relação à questão da identidade pessoal e como a sua discussão apesar de já existir há algumas décadas ainda é tão incipiente e repleta de espaços vazios EU INDICO Os vídeos da série Os SuperHumanos do Discovery Channel retratam uma mulher chamada Elisabeth Sulston que tem alto grau de sinestesia Eles evidenciam como ela funde os sentidos visualizando até mesmo as ondas sono ras e sentindo no paladar o gosto de notas musicais A relação mentecorpo ou relação mentecérebro é muito importante e necessária para a atividade profissional docente O poeta romano Juvenal no século I já dizia que a mente sã está em um corpo são Desde então esse dito se tornou um lema da boa saúde humana A partir do nosso estudo você já sabe que um cérebro sadio e uma mente bem formada são fundamentais para a construção do ser humano Há diferenças entre pensar na educação como um processo que tem vínculo apenas com o treino da mente para a aquisição de conhecimento e pensar na edu cação como uma programação neuronal que precisa apenas dos estímulos cerebrais corretos Devemos pensar nos alunos e nas alunas como seres humanos portanto mentes que pensam em ou com um cérebro que funciona bem e não como robôs programados para cumprir tarefas na sociedade Perceba que as teorias explicativas da relação mentecérebro estão na base do que chamamos de educação 49 AGORA É COM VOCÊ 1 A consciência pode ser definida como um conjunto de experiências internas e exter nas à realidade Desse modo por estar subdividida em duas representações alguns filósofos da mente entenderam que cada uma se responsabiliza por uma parte da experiência mental embora a consciência seja uma só D M Armstrong um dos mais reconhecidos filósofos da mente denominou essas experiências da consciência respectivamente de a Interna e externa b Introspectiva e perceptual c Sensibilidade e ciência d Sensibilidade e perceptual e Qualia e ciência 2 Para o problema mentecorpo foram desenvolvidas diversas teorias ao longo do sé culo XX que visavam problematizalo e esclarecêlo Por ser um dos maiores dilemas da filosofia da mente esse problema surgiu após Gilbert Ryle se opor ao dualismo cartesiano ao afirmar que a mente não é uma parte autônoma do corpo mas realiza os mesmos comportamentos Em relação à temática leia as afirmativas a seguir I O funcionalismo é uma teoria que entende a mente como uma máquina formada por comandos de entrada input e saída output os quais correspondem às atividades cerebrais II Todas as teorias mesmo o fisicalismo entendem a mente como um conceito imaterial III Para um behaviorista analítico existem graus de eventos mentais o que significa que uma sensação específica pode se manifestar de formas diferentes entre os indivíduos IV A Teoria de Identidade de Tipo segue a mesma linha de raciocínio que o beha viorismo analítico e busca confrontar o dualismo cartesiano É correto o que se afirma em a Apenas I e II b Apenas II e III c Apenas I d Apenas II III e IV e Apenas II 50 AGORA É COM VOCÊ 3 A grande problemática da teoria funcionalista se concentra no fato de que existe uma subjetividade qualitativa e fenomênica nos processos mentais que impede que a própria mente seja pensada como uma máquina que exerce uma função A subjetividade que também está presente na consciência e torna cada indivíduo singular em si mesmo é chamada de a Disposição b Identidade c Input d Qualia e Fisicalismo 4 Leia as afirmativas a seguir e julgue com V as Verdadeiras e F as Falsas I É possível existir eventos da consciência que prescindam uma experiência fática do indivíduo no mundo II John Searle entende que é possível realizar um exame científico da consciência visto que um de seus parâmetros é a subjetividade que não pode ser de forma alguma medida III O Teste de Turing é capaz de comprovar a diferença inexorável entre um humano e um androide a partir da avaliação dos seus estados de consciência Um androi de não tem consciência e um humano tem o que pode ser avaliado no teste Assinale a sequência correta a V V F b F F V c V F V d F V F e V V V 5 Na reflexão sobre a identidade pessoal a memória comporta uma função especial Um filósofo em particular criou uma teoria com base na ideia de que a identidade é formada pelo conjunto das memórias vividas no passado e no presente as quais se articulam no tempo e expõem a particularidade de um indivíduo A que filósofo estamos nos referindo 51 AGORA É COM VOCÊ a D M Armstrong b Bertrand Russel c John Locke d John Searle e Karl Popper 6 Esta unidade de aprendizagem se finda e gostaria que você estudante realizasse o se guinte mapa de empatia expressando as suas reações pensamentos e sentimentos em relação ao conteúdo estudado Para isso indicarei por meio de perguntas um caminho para que você construa o seu próprio mapa de empatia As questões são as seguintes O que você pensou e sentiu enquanto estudava os temas da unidade de aprendi zagem O que você já ouviu ou viu alguém dizer sobre os temas da unidade de aprendizagem O que você gostaria que fosse acrescentado aos temas da unidade de aprendizagem O que mais te motivou e o que mais te desmotivou no estudo dos temas da unidade aprendizagem O esquema a seguir tem o objetivo de fazer você construir eou colocar no papel as res postas sobre os questionamentos indicados Sintase à vontade para criar mais conexões caso você tenha mais informações a indicar no seu mapa MEU ESPAÇO 2 ESTADOS MENTAIS E SUAS PROPRIEDADES Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade nosso ponto de partida reside no reconhecimento de que temos uma vida mental em conjunto com uma vida física Além disso sabemos que a vida mental opera de certo modo com características próprias as quais permitem falar de subjetividade algo diferente de um cérebro que opera com as suas próprias carac terísticas Inicialmente você será apresentado à natureza de nossos estados mentais Não será expresso exatamente o que fazem mas o que são uma espécie de ontologia dos estados mentais com retomada das teorias filosóficas da mente Depois você estudará as operações mentais A primeira delas é chamada de sensação a segunda é a memória e junto dela você também examinará o inconsciente 54 UNIDADE 2 Leia a seguinte história real Degustadores de café são comuns nas regiões cafeeiras assim como os degustadores de vinho A história de Francisco Donizete Cruz como degustador de café há 33 anos diz respeito ao assunto que estamos tratando Ele já experimentou mais de 3500 xícaras de café em um só dia Na degustação não se pode engolir o café De pois de manipulado na boca ele é cuspido em um recipiente antes de seguir para a próxima xícara O trabalho de Francisco consiste em avaliar as características da bebida a partir do grão torrado e moído ao afirmar se é suave forte ácida e doce por exemplo Francisco usa para isso o contato da bebida com a boca e a língua TIEPPO CHEREM 2015 A história de Francisco nos apresenta um grande desafio como entender a relação entre o sentido propiciado a partir da degustação realizada pela boca e pela língua a fim de avaliar o respectivo café afir mar se é suave forte ácido ou doce por exemplo e a memorização que permite que Francisco seja um degustador profissional de café Suponha que você pergunte ao Francisco Como você definiria a sensação de sentarse à mesa da varanda de sua casa no fim de tarde e dispor de um bule de café fresco fumegante junto de uma broa de milho que acabou de sair do forno a lenha Certamente a expressão de Francisco seria espetacular e a sua resposta seria Inexplicável Só estando em meu lugar para saber o que eu sinto Pense como um filósofo ou filósofa da mente você está diante de Francisco que afirma ter consciência de si mesmo como um Eu que sabe ter uma vida mental com qualidades ou propriedades em conexão direta com os seus sentidos as sensações Além do mais essas sensações são elaboradas em conjunto com as suas memórias e não estimulam apenas uma vida interior totalmente percebida por ele mas permite que ele exerça uma atividade no mundo ex terior que depende inteiramente da operacionalidade de sua vida mental Mais instigante ainda é a resposta de Francisco à sua per gunta Inexplicável A filosofia da mente denomina essa sensação de quale que explica uma forma pessoal de sentir o mundo e é uma das questões fundamentais que você conhecerá nesta unidade UNICESUMAR 55 Convidolhe a fazer a seguinte experiência peça ao maior número de pessoas que puder para ouvir uma música escolhida por você Depois faça três perguntas quais sensações essa música desperta em você Você saberia explicar a causa des sas sensações Como você se identifica com essa música Você saberia explicar se essa identificação está relacionada com alguma recordação Depois de obtidas as respostas faça a você mesmo a seguinte pergunta o que as respostas dizem a respeito da capacidade das pessoas de construírem uma vida mental a partir de suas sensações e memórias Agora registre a sua resposta a partir das reflexões que realizou Procure pensar de que maneira você se se apropria das coisas que estão no mundo tor nandoas conscientemente suas Como a sua identidade se forma a partir dessa consciência Como essa consciência que se forma constitui as suas crenças sobre o mundo e sobre si mesmo A memória faz parte da consciência de que maneira as suas lembranças participam de sua consciência e ajudam a compor a sua iden tidade e por sua vez as suas crenças sobre o mundo e sobre si mesmo DIÁRIO DE BORDO 56 UNIDADE 2 Mente e cérebro são os dois termos utilizados para descrever o ser humano uma vez que ele é composto por ambos Já os antigos usavam as expressões alma e cor po ou substância imaterial e corpo material Ainda que sejam feitas distinções entre mente alma e substância imaterial o mesmo não acontece entre cérebro corpo e matéria O que sabemos a nosso respeito é que processamos alimentos o ar que respiramos os líquidos que consumimos e as informações que nos vêm pelos sentidos Entretanto também sabemos que temos gostos diferentes para os alimentos elaboramos fórmulas para medir a qualidade do ar usamos os líquidos de acordo com as funções que lhes são atribuídas e formulamos juízos e análises acerca das informações que recebemos dos sentidos Em outras palavras isso sig nifica que temos uma vida mental junto de uma vida física Legitimamente você pode perguntar se a vida mental tem algo de diferente da vida física o que pode ser chamado de subjetividade Esse elemento será examinado nos tópicos adiante É mais fácil explicar o cérebro do que a mente Você já sabe o que é o cérebro pois já se habituou com a sua descrição biológica que afirma que se trata da massa que ocupa o nosso crânio pesa 13 kg e a aparência é do interior de uma noz Assim como é visível na imagem você consegue enxergar o seu cérebro desde que equipado com os devidos instrumentos Contudo você poderia dizer o mesmo da mente Evidentemente você poderia explicar que a mente é o mesmo que o UNICESUMAR 57 cérebro de modo que na realidade não há algo como a mente Nesse caso você é um ou uma monista pois defende que o ser humano é composto somente de cérebro que é parte do corpo Não só mas você também é um ou uma materialis ta porque entende que o único item existente no ser humano é a matéria tendo em vista que o homem é um composto químicobiológico Você ainda poderia afirmar que a mente está no cérebro e ocupa um lugar nele como o cerebelo por exemplo Também poderia defender que ele se con centra nas redes neuronais e nas trocas sinápticas que percorrem todo o cérebro ininterruptamente Em ambos os casos você assume a existência da mente ainda que a identificando com o cérebro mas jamais distinta dele Nesse caso você é um ou uma reducionista pois está fundindo a mente com o cérebro ainda que reconheça uma distinção entre eles Todavia visto que até o momento as neu rociências não descobriram um lugar para a mente no cérebro é mais razoável pensar que ela funciona no próprio cérebro assim como um programa funciona em um computador Agora você é um ou uma reducionista funcionalista EU INDICO Acesse o QR Code e confira uma animação em 3D que mostra um pouco o funcionamento dos neurônios e dos neurotransmissores ação que os nossos olhos não veem Se esse fato é pouco para reconhecer a mente como algo à parte do cérebro mas contido nele é preciso aceitar a explicação de que a mente emerge do cérebro e tem a sua existência separada dele Portanto a mente é uma coisa e o cérebro é outra Diante disso você será um ou uma dualista porque entende que mente e cérebro apesar de estarem juntos são e existem de modos diferentes um do outro já que cada um tem as suas respectivas propriedades ou qualidades Perceba que em nenhum dos casos você deixou de ser materialista apenas não é mais um ou uma monista Segundo esse ponto de vista você é um ou uma dualista de propriedades Aparentemente tudo foi estabelecido e é uma questão de escolha No entanto não é bem assim Teixeira 2008 explica alguns problemas resultantes de uma e de outra posição assumida De acordo com o estudioso o monista acredita que tem razão porque quando sonha ou tem um ataque de fúria as áreas do cérebro são 58 UNIDADE 2 acionadas ou é aumentado o nível de adrenalina Assim o monista pode apontar para as imagens de uma ressonância magnética ou de uma tomografia do cérebro por exemplo e evidenciar que algumas partes foram afetadas por um acidente vas cular cerebral AVC o que explica o motivo pelo qual alguém desaprendeu de falar A questão é a seguinte os instrumentos de captação do funcionamento do cérebro não explicam o motivo pelo qual alguém sonha determinado sonho ou porque está sentindo raiva Ainda mais quando alguém observa a imagem do seu cérebro ela é semelhante a qualquer outro cérebro de qualquer ser humano existente no planeta Diante disso Teixeira conclui que 2008 p 1112 A interpretação física de fenômenos mentais não participa de nossas experiências subjetivas no máximo podemos traçar algumas corre lações mas estão não explicam a passagem entre o físico e o subjetivo Não podemos de dentro da nossa mente saber o que a produz Nosso cérebro está tão fora de nós quanto o resto de nosso corpo Há duas realidades que não se comunicam de um lado nossa mente e nossos estados subjetivos de outro o cérebro estudado pela neurociência Já o dualista acredita que está correto tendo em vista que insiste na existência de processos mentais que não estão sujeitos ou dependentes de processos cerebrais Se você sonha é sempre o seu sonho e não o de outra pessoa Se você sente fúria é sempre devido a algo que a provoca O fato de alguém desaprender a falar não sig nifica que ela deixou de se comunicar dado que ela simplesmente pode encontrar outro jeito de realizar essa atitude enquanto a motivação certamente não é ce rebral Já o fato de a imagem tomográfica do cérebro ser da pessoa evidencia que ela carrega algo que não redutível ao cérebro mas tem consciência de que é algo dela ainda que seja igual a qualquer outra imagem de cérebro no mundo Tudo isso provoca outro problema a pessoa se identifica com a imagem do cérebro que está diante dela porque a própria imagem e o processo inteiro desde as dores de cabeça a ida ao médico as consultas e os exames são conscientes A pessoa realiza todas essas ações com o intuito de saber qual é o problema presente no cérebro que precisa ser corrigido De fato parece impensável que sozinho o cérebro seja responsável por todo o processo De acordo com Teixeira 2008 p 13 a ciência é produto de nossa consciência e assim sendo podemos perguntar até que ponto ela poderia explicar nossa própria consciência sem girar em círculos UNICESUMAR 59 Entretanto ainda não foi resolvido o problema em favor ao dualismo de pro priedades Se você retira a consciência do cérebro para colocála na mente esta não sendo material não tem lugar peso ou massa Portanto onde está a mente O que ela é O que ela faz Isso faz com que você volte ao dualismo cartesiano que é chamado de dualismo de substâncias Em outras palavras se existe algo que chamamos de cérebro que é dotado de funções físicas neuronais deve haver algo que chamamos de mente que intencionalmente pensa sente escolhe e se identifica com os processos cerebrais Não só mas é capaz inclusive de examiná los e dizer algo a respeito Segundo Teixeira 2008 p 18 essa marca deixada pelo cartesianismo no mundo ocidental moderno estabeleceu a divisão do mundo em duas partes de um lado há uma imagem do mundo e da mente visto pelo lado subjetivo interior e de outro uma imagem do mundo e da mente vistos pela ciên cia algo objetivo e externo público Haveria uma solução para essa situação Um filósofo que trabalhou intensamente a questão exposta foi John Searle 2006 Questionar o que é a mente como a conhecemos e o que ela faz não é o mesmo que perguntar o que é o cérebro como o conhecemos e o que ele faz No entanto o fato de serem elementos distintos não significa que você não pode e não deve fazer essas perguntas As respostas serão apenas diferentes O primeiro argumento utilizado por Searle 2006 é apoiado na consciência de que você tem os seus estados mentais Sem consciência eles não podem ser identificados Portanto se temos estados mentais é por que estamos conscientes deles Evidentemente isso não significa que você está o tempo todo consciente mas até mesmo os seus estados mentais inconscientes dependem de seu estado mental consciente Caso contrário não poderia chamálos de conscientes O segundo argumento de Searle 2006 é o de que há coisas no mundo que existem e podem ser objetivamente observadas mas há outras que não são assim porque parte da realidade é subjetiva Você consegue observar os efeitos no cérebro de alguém quando está comendo uma macarronada Contudo quando essa pessoa afirma que não gosta de colocar queijo ralado sobre o macarrão essa preferência não aparecerá em lugar nenhum do cérebro O gosto é algo subjetivo ou seja você não consegue ver mas sabe que está presente em algum lugar do indivíduo Em seu terceiro argumento Searle 2006 defende que conhecer os estados mentais por meio da observação do comportamento de alguém é algo bastante arriscado e ao fim uma tarefa impossível Se você está observando uma pessoa comendo uma macarronada e repentinamente ela faz uma careta você pode alegar que ela sentiu algo ruim porque trabalhamos com a associação entre causa e efeito 60 UNIDADE 2 Em contrapartida talvez ela tenha pensado sobre algo que aconteceu mais cedo e que a aborreceu bastante e simplesmente está tentando se desfazer daquela lem brança logo quando está comendo uma macarronada tão prazerosa Searle 2006 explica que você não começa a estudar algo pelo método de estudo mas por aquilo que esse algo é Dessa forma você descobre o melhor modo de estudálo O quarto argumento de Searle 2006 assevera que qualquer coisa que você saiba ou diga sobre si mesmo e sobre a realidade física do mundo é bastante limitada e até mesmo mal formulada se feita em termos de um dualismo É simplesmente um erro gigantesco afirmar que você sabe tudo a seu respeito enquanto um ser vivo que habita o planeta onde nasceu e certamente morrerá Também é um erro enorme dizer que tudo o que existe é físico porque é concreto dado que você está deixando de lado muitas outras coisas que são concretas mas não são físicas tais como as letras do alfabeto e as palavras que você forma com elas as notas musicais de uma canção que está ouvindo os planos que você está fazendo neste momento ou as reformas econômicas de um governo Assim se você reduz os estados mentais a estados físicos ou cerebrais está reduzin do e empobrecendo enormemente a realidade na qual vive Se você divide a existência em se é físico então não é mental e se é mental então não é físico está cometendo o mesmo erro Todavia não sabemos se a realidade é mais do que isso Talvez ela não seja nem estados físicos nem estados mentais mas uma junção de ambos Quando você se recorda da última vez que sentiu uma grande alegria tratase de algo inteiramente imaterial mas que mexe com o seu corpo pois você demonstra essa alegria sorrindo pulando dançando abraçando alguém ou algo parecido O pensamento que é algo mental não pode ser separado das manifestações corporais Portanto certamente há uma conexão entre mente e corpo e por extensão o cérebro PENSANDO JUNTOS Que tal conversarmos um pouco sobre a nossa vida mental Neste podcast explicaremos como os nos sos estados mentais nos distinguem dos processos cerebrais e ainda das demais pessoas A pergunta é o que chamamos de vida mental Como ela define a nossa subjetividade Para saber a resposta não dei xe de acompanhar o que preparamos para você UNICESUMAR 61 Procure por uma imagem para repre sentar a subjetividade e você não a en contrará a não ser aproximações muito forçadas Normalmente são encontradas expressões corporais fisionomias do ros to um dedo apontando para a cabeça as mãos colocadas sobre a cabeça ou uma posição vaga e indefinida do olhar como se a pessoa estivesse desconcentrada É comum associarmos a subjetividade com as características de alguém ou seja seus interesses metas planos e gostos As sim o subjetivismo é usado para indicar uma redução das coisas à existência do sujeito a fim de saber como o que ele percebe diz ou se comporta sobre elas Nesse caso costumase afirmar que as subjetividades moral estética e religiosa por exemplo por partirem do sujeito não podem ser entendidas como objetiva mente e factualmente existentes no mundo Por outro lado usavase na Idade Média o termo subjetivo para designar algo que não tinha uma existência real mas que só existe na interioridade do indivíduo No pensamento moderno sob a influência do idealismo alemão a palavra recebeu outro significado Desde então objetivo é tudo aquilo que diz respeito a um objeto e que descreve a realidade das coisas no mundo Você apanha uma caneta e ela tem forma volume peso e permite que você faça várias coisas com ela pois existe à parte de você Já o subjetivo é o modo como você expressa a sua relação com essa caneta por meio do pensamento Ela deixa de estar fora de você e passa a fazer parte do seu mundo Assim você pode fazer várias coisas com essa representação mental da caneta que não poderia fazer fora de sua mente Ainda mais você pode ter uma relação com a caneta que é totalmente e exclusivamente sua Além de dizer essa caneta é minha estabelecendo uma diferença entre esse objeto e os demais você pode relatar uma história sobre essa caneta Por exemplo alguém querido pode ter dado a você ou ela faz parte de algum acontecimento importante de sua vida Nesse contexto a relação com a caneta deixa de ser apenas uma representação mental para se tornar uma expressão de quem você é 62 UNIDADE 2 Portanto a subjetividade diz respeito a um Eu que pensa sobre e a partir de si mesmo Teixeira 2008 p 85 a define como nossa morada o lugar cercado por fronteiras imaginárias que formam o perímetro de nosso eu Já Abbagnano 2007 p 922 explica que ela se trata do caráter de todos os fenômenos psíquicos enquanto fenômenos de consciência que o sujeito relaciona consigo mesmo e chama de meus É em consequência disso que a subjetividade é vinculada à autoconsciência você sabe que sabe de si Esse foi o ponto de partida para o filósofo francês René Descartes afirmar a sua frase mais popular Cogito ergo sum penso logo sou Ao seu redor você tem um corpo que se divide em infinitas partes deteriora e morre mas você está refugiado em si mesmo O cogito ou Eu que penso vem antes de qualquer conhecimento por isso ele não precisa de nenhuma mediação Se fosse uma autorreflexão necessária para que você soubesse que é você mesmo quem está refletindo haveria um círculo vicioso infinito Por outro lado quando você fala eu penso outras coisas são implicadas Você só pode fazer isso em relação a alguma coisa no mundo nesse caso a você mesmo mas poderia se referir a outra coisa também Por outro lado quando você diz eu me conheço também está dizendo eu me reconheço Em outras palavras você tem consciência e sabe que há algo como você Você sabe que existe e não apenas mas que existe como você o que permite falar sobre uma identidade Você pode falar desse algo como se fosse você mesmo IBER 2012 De fato não existe consciência de algo sem a autoconsciência Todavia esse Eu pensante não é algo separado de si mesmo De certo modo é o saber sobre si mesmo que o faz saber que existe assim como é o conhecimento sobre as coisas que há no mundo que o faz consciente de que conhece essas coisas Nesse processo o Eu que pensa e a coisa que é pensada estão juntos conhecendo se um ao outro O passo inicial para esse modo de entender a subjetividade foi dado pelo filósofo alemão Wilhelm Dilthey De acordo com o estudioso a subjeti vidade entendida como a vida mental do sujeito é objetivada para dentro do seu ambiente vital que é acessível aos seus sentidos e à sua experiência no mundo e modelada por meio da sua ação O mundo está fora da mente humana mas o que dá sentido e define o agir humano está dentro da sua mente ALBERTI 1996 O Eu que pensa incorpora e interioriza as suas vivências no mundo e a partir desse processo constitui a sua identidade ao reconhecer a si mesmo como aquele que viveu essas experiências no mundo Por sua vez essa identidade o ajudará a interpretar e a compreender o mundo de onde as suas vivências foram retiradas UNICESUMAR 63 O mesmo processo se repete nos demais seres humanos do mundo uma vez que esse também é o lugar onde se dão os encontros vivenciais de múltiplos Eus pen santes Desse modo você pode falar não apenas de subjetividades mas também de intersubjetividades à medida que elas se encaixam umas às outras tornando a vida confortável para todos por intermédio do compartilhamento mútuo e constituindo o que chamamos de vida humana ALBERTI 1996 Seguindo a proposta de Dilthey temos outro filósofo alemão Martin Hei degger para quem o Eu pensante está no mundo surpreendendo e sendo sur preendido por ele e nele Ele agora é um ser que compreende a si mesmo à medida que entende o mundo e os demais seres à sua volta Por isso o olhar her menêutico é primordial e ontológico ele ocorre antes da separação entre sujeito e objeto ALBERTI 1996 p 12 Nesse sentido a interpretação da vida no mundo ou a pergunta o que há no mundo não pode ser respondida separadamente do Eu pensante que a faz Ao contrário ele já tem certas noções adquiridas a partir de sua própria vivência Quando ele conhece o mundo pode partir de um caminho com a chegada já predefinida pelo ponto de partida ou pode partir do mesmo caminho com a chegada aberta às múltiplas possibilidades de experiências não sabendo exatamente onde será e quando se dará o ponto de chegada Seguindo Heidegger mas com as suas particularidades o filósofo alemão HansGeorg Gadamer expôs que o ser humano não se trata de um Eu pensante que se formula à medida que experimenta o mundo A experiência no mundo é o que o torna o Eu em que ele é Experiência é o conceito central entendida como o processo dedutivo que possibilita a representação ou a descrição da to talidade da vivência no mundo Há portanto uma hermenêutica da facticidade interpretar o mundo é interpretar a condição humana somados os elementos históricos e culturais nele presentes STEIN 2004 Em resumo o Eu pensante depende de uma condição hermenêutica no mun do que estabelece as relações entre o que ele sabe quem é e o que o mundo diz para ele quem ele é Compreender essas relações isto é perceber como se pratica o jogo entre o Eu pensante e o mundo que o envolve entre o que se conhece e o que pode vir a conhecer chamase interpretação MORA 2001 Abordemos o tema de outra maneira Suponha que você está observando al guém sentado em uma cadeira com um livro sobre a mesa Essa pessoa parece bas tante concentrada em sua leitura À qual dos elementos à sua frente você atribuiria uma vida mental Certamente não seria para a mesa nem para a cadeira e nem 64 UNIDADE 2 para o livro Você não pode afirmar que esses itens têm uma mente Todavia em relação à pessoa que está diante de você é diferente uma vez que você consegue fazer perguntas sobre ela tais como qual livro ela está lendo Ela está gostando da leitura Está aprendendo alguma coisa Além disso você pode visualizar o movi mento do seu corpo apesar de as suas perguntas serem direcionadas para o que está acontecendo com ela qual é o seu interesse naquele livro Será que poderemos conversar sobre o que ela leu depois Agora você observa que ela apanha um lápis e marca uma página do livro Depois escreve algumas frases em uma folha de papel Ainda de novo você se pergunta o que será que chamou a atenção dela O que ela fará com essas anotações na folha Você continua observando agora o rosto dela que se modifica à medida que a leitura segue ora cansado ora distraído ora desperto e alegre Você se pergunta o que move a sua fisionomia Por fim surge a pergunta crucial o que ela está pensando Esse experimento é o suficiente para afirmar que diferentemente da mesa da cadeira e do livro a pessoa tem o que chamamos de vida mental ou assim como Matthews 2007 p 59 grifos do autor explana Podemos chamar isso de a subjetividade do mental Sou o sujeito de minha própria vida mental Eu sou a pessoa que tem esses pensamen tos sentimentos desejos etc e nenhuma vida mental pode existir sem que seja a vida mental de alguém não pode existir um pensamento sem um pensador um sujeito A nossa vida mental sempre diz respeito a alguma coisa concreta ou abstrata pes soal ou impessoal necessária ou não mesmo que esse elemento seja claro e realista ou vago e indefinido Observe a experiência mental da ausência a partir da percep ção de que algo que estava ali em nosso mundo físico não está mais um celular uma roupa um emprego ou uma pessoa querida que morreu Essa percepção é um gatilho que dispara uma multidão de pensamentos O curioso e aterrador em mui tos casos é o fato de que somos capazes de manter vínculos mentais com aquela au sência mesmo depois de dias meses e anos da experiência original Essa experiência de ausência também afeta o nosso humor por meio de pensamentos de alívio de angústia ou de depressão Esses pensamentos podem indicar um adoecimento de nossa vida mental o que demanda atenção cuidado ou até mesmo tratamento Matthews 2007 p 59 grifos do autor explica que um pensamento é essencial mente sobre alguma coisa e podemos distinguir um pensamento de outro apenas UNICESUMAR 65 por meio da distinção a respeito de que eles são Contudo o estudioso questiona o fato de que certos pensamentos são simplesmente sobre nada ou seja não carregam uma referência sobre algo Dois exemplos dados são a dor e a depressão MATTHE WS 2007 Embora consigamos localizar a dor em alguma parte do corpo e até da mente a intensidade com que as pessoas a sentem e o modo como lidam não são físicos mas subjetivos desde aqueles que são intensos até aqueles que sofrem a dor calados Essa atitude é mental e não tem relação necessariamente com a dor visto que não é sobre ela mas sobre como alguém lida com o sentimento Isso também vale para a depressão com o acréscimo de que nem sempre essa doença focaliza em algo pois alguém pode estar deprimido sem uma razão ou causa aparente A dificuldade reside quando você deseja saber o momento e como a pessoa está usando a sua mente e quando é apenas um fenômeno físico material ou cor póreo Contudo você já percebeu que separar ambas as coisas é desaconselhável e desnecessário Se para cada ação precisássemos que a pessoa nos dissesse o que estava pensando porque seria impossível saber por nós mesmos tendo em vista que as nossas mentes seriam inacessíveis uns aos outros e somente comunicáveis a partir de uma profunda introspecção a interação humana seria algo totalmente improvável Matthews 2007 p 72 sugere que a nossa vida mental é parte daquilo que manifestamos para outros sujeitos por intermédio de nossa conduta social e do nosso movimento corporal em situações específicas entendendo as pessoas como sendo criaturas que pensam sentem leem conversam umas com as outras caminham jogam futebol respiram digerem seu alimento e assim por diante Isso significa que uma simples observação do que os seres humanos fazem é o suficiente para apontar e descrever a sua vida mental Certamente não Matthews 2007 explica que o que indica a vida mental no comportamento humano é o significado que o indivíduo dá o qual não está no comportamento mas em sua mente Por outro lado esse significado se relaciona com o que ele faz de novo no mundo Suponha que chegou o momento de almoçar e você deseja comprar uma marmita Você apanha o seu celular seleciona um restaurante a comida e a paga por meio de seu cartão Para todas essas ações a sua vida mental está plenamente envolvida Agora quanto ao fato de você comer a comida essa é uma tarefa do seu aparelho digestivo que nada tem a ver com a sua vida mental exceto se ela estiver tão mal que atrapalhe a sua digestão MATTHEWS 2007 É evidente que a vida mental depende e está associada à vida corporal e social O fato de você fazer todas as operações descritas no celular tem uma finalidade 66 UNIDADE 2 você está procurando comida e utiliza o meio social que dispõe para isso que é o seu celular Também é explícito que você está mentalmente apto a dizer a alguém o que você acabou de fazer isto é você é capaz de dar um significado ao seu ato Talvez você faça isso espontaneamente sem pensar a respeito mas se a pessoa não tem a menor ideia do que seja pedir comida pelo celular você precisará ex plicar o seu processo mental Perante a pergunta por que você simplesmente não saiu de casa para ir ao restaurante são desencadeadas outras exposições de sua atividade mental que prolongarão a conversa durante muito tempo até mesmo se for necessário explicar o funcionamento das ondas que permitem a comunicação via celular algo bem mais complexo abstrato e aparentemente mais mental Diante do exposto somos seres humanos dotados de corpo e vida social que estão exercitando continuamente a sua mente para viver as suas vidas em ambos os ambientes Matthews 2007 p 77 resume o seu raciocínio ao afirmar Se dizer que as pessoas têm mentes significa dizer que se compor tam de formas significativas isso implica que a mente não é o nome de alguma coisa extra presa a seus corpos de alguma forma mas simplesmente uma maneira de nos referirmos às diversas aborda gens dos comportamentos humanos que possuem um significado Muito se fala sobre saúde mental já que a mente pode ser acometida por doenças Parte do adoecimento da mente acontece em decorrência de problemas físicos Por exemplo uma série de microinfartos no cérebro desencadeia vários transtornos mentais tais como delírios alucinações e o desaprendizado de condutas consolidadas desde a infância como comer ou tomar banho Nesses casos a medicação é a única forma de tratamento Todavia a vida mental da pessoa não está desfeita Ela apenas precisa de uma rede de apoio que a ajude ao máximo a ter uma interação humana que mantenha o mínimo de vivências para que a sua atividade mental siga atuante Por outro lado também temos situações ocorridas por restrições impostas a partir de mudanças drásticas as quais podem gerar stress ansiedade angústia medo desespe rança e depressão Esses distúrbios mentais se não tratados podem incapacitar as pes soas na realização das atividades mínimas da vida ou ainda pior sugerir o suicídio como a solução ou saída para o sofrimento mental Nesse caso a medicação não ajudará porque o que ela precisa é ressignificar mentalmente as suas vivências Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 67 SENTIDOS E SENSAÇÕES QUALIA Você deve estar se perguntando como a mente opera e como acontecem os estados mentais ou a subjetividade Vivendo no século XVIII Reid tinha um conhecimento razoável das ideias sobre o Eu pensante do filósofo francês René Descartes Elas foram desenvolvidas no século anterior e foram o ponto de partida para a filosofia da mente discutir o seu problema fundamental a relação entre mente corpo e cérebro Na história da filosofia a reflexão cartesiana ficou conhecida como idealis mo pois era cética quanto à possibilidade de conhecimento do mundo por meio da experiência dos sentidos e das sensações A sua ideia é parecida com a imagem a seguir em que pessoas vendadas fazem afirmações sobre o que é um elefante a partir dos sentidos e das sensações obtidas Tudo o que você pode saber sobre o mundo está antecipadamente em você Tratase de um tipo de ideia prévia em que você encaixa os elementos obtidos pelos sentidos e pelas sensações Sentidos e sensações Para entender melhor o que foi exposto voltemos até Descartes Durante as suas meditações descreve o seu estado como livre de todas as precauções um des canso garantido por uma tranquila solidão DESCARTES 1999 p 249 Somente agora na maturidade o filosofo percebe que passou a vida considerando verda deiras muitas opiniões equivo cadas e se dedicará com a máxima seriedade e plena liberdade a demolir em geral 68 UNIDADE 2 todas as minhas antigas opiniões DESCARTES 1999 p 249 O que o move é tão somente o desejo de conhecer o caminho da verdade que para o estudioso significa estabelecer algo sólido e duradouro nas ciências DESCARTES 1999 p 249 O caminho seguro segundo Descartes 1999 é o da dúvida ou seja o metódi co sistemático e irrefutável sobre a nossa experiência sensível O filosofo argumenta que os sentidos obtidos a partir do contato com as coisas do mundo e as sensações que são as impressões da mente provocadas por esses contatos são enganos ou ilusões Se você apanha uma pedra de gelo e sente a sua mão esfriar não é devido ao gelo da pedra mas ao fato de sentir a sua mão fria Em contrapartida até a sen sação de frio não é verdadeira porque a sua mente não pode sentir o frio de uma pedra de gelo Você já sabe que Descartes afirmava que não havia nenhuma relação entre mente e corpo portanto o que acontecia na mente não se referia ao corpo enquanto o que acontecia no corpo não tinha nenhuma repercussão sobre a mente Essa posição cartesiana veio a ser chamada de ceticismo Em sua forma mais radical ou de acordo com os seus críticos nada podemos conhecer de certo e irre futável apenas fundamentados nas experiências dos sentidos Ao final eles pouco importam Se cortássemos os nossos braços e pernas tirássemos o nariz olhos e ouvidos não haveria a menor diferença no modo como a nossa mente opera As sim a vida mental é algo totalmente inerente e introspectiva ao sujeito que pensa Você poderia perguntar a Descartes como a mente faz as suas operações e como ter acesso à vida mental do sujeito Uma opção seria dissecar a mente assim como se faz com o corpo a fim de realizar experimentações descrever as observações adquiridas e propor teorias gerais que fossem aplicadas a outros processos ou operações mentais O filósofo escocês Thomas Reid 2013 sugeriu essas atitudes ao usar a metáfora da dissecação anatômica do corpo para tratar da anatomia da mente Contudo o próprio estudioso mesmo admitiu que isso seria impossível afinal como a mente pode fazer de si mesma um objeto de exame e reflexão Reid explana que 2013 p 20 Contudo o anatomista da mente não tem a mesma vantagem É ape nas sua própria mente que ele pode analisar com algum grau de pre cisão e distinção Esse é o único sujeito que lhe é possível observar A partir de signos externos ele poderá compilar as operações de outras mentes mas esses signos são em sua maioria ambíguos e devem ser interpretados por aquilo que ele percebe em seu próprio interior UNICESUMAR 69 Mesmo que tal filósofo ou filósofa fosse bemsucedido em dissecar a própria mente ela ainda seria a sua mente Ele ou ela não poderia formular uma teoria geral das operações mentais aplicável a qualquer outro ser humano De fato a diferença entre as mentes é maior que aquela que existe entre quaisquer outros seres de uma mesma espécie que considerarmos REID 2013 p 21 A existência de outras mentes não é o único problema Cada ser humano passa por uma educação mental provida pela sociedade onde vive e que de certo modo determina o uso das operações mentais Ainda há a incapacidade da re flexão filosófica de construir uma linguagem inovadora e que abranja o aparato mental visto que a linguagem é bastante influenciada pelo aparato material A mente também não pode ser examinada a partir de sua formação na concepção do ser humano e não é possível recuperar as impressões originais da mente já que desde o início ela mescla percepções sensações e memórias Quando o ser humano se propõe a refletir sobre a mente ela já está formada o que torna im possível discernir e separar todas as suas partes quanto mais retomála desde as primeiras impressões e influências REID 2013 Evidentemente Reid duvidava do projeto cartesiano por inteiro No entan to isso não era diferente de outros filósofos britânicos conhecidos como em piristas Um deles David Hume ensinou que a experiência sensível do mundo é o único guia para a reflexão sobre qualquer acontecimento humano Com ela aprendemos que todo evento provém de uma causa que lhe deu origem e se desdobra em outras consequências que se tornam novas causas Todavia a experiência deve ser colocada à prova assim como se faz no método científico devem ser testadas todas as experiências sensíveis a fim de se obter o maior número de evidências estabelecer as probabilidades e a partir das conclusões alcançadas confirmar aquilo que apenas havíamos percebido pelos sentidos Portanto o fato de você comer uma lasanha estragada e ter uma grande dor de barriga não é uma evidência suficiente para afirmar que a causa de sua dor de barriga foi a lasanha Entre a causa e a consequência deve haver uma conexão e a sua mente deve operar de modo a estabelecêla irrefutavelmente Outro empirista britânico John Locke afirmou que o nosso conhecimento sobre as coisas é proveniente dos sentidos e das sensações Por meio dos senti dos você experimenta coisas no mundo que deixam impressões em sua mente As impressões ou ideias que você tem na mente por outro lado não as mesmas coisas do mundo À medida que novas impressões chegam até a sua mente ela 70 UNIDADE 2 opera associações que Locke 2015 chamou de sensações Lembrese de que o filósofo entende a mente como uma folha em branco onde são escritas as suas sensações Cada vez que novas sensações se formam em sua mente ela elabora ideias cada vez mais complexas constituindo um conjunto de crenças que você chama de conhecimento Agora voltemos até a Thomas Reid que rejeita tanto o idealismo cético carte siano quanto o empirismo sensível de Hume e de Locke De Descartes o estudio so discorda por acreditar que o fato de você ser algo que pensa não prova que você existe Você não pode dar uma evidência disso senão o seu próprio pensamento e se puder ainda não pode afirmar que essa mente seja a sua e não a de outro De Hume e de Locke o filosofo discorda por entender que as conexões entre uma causa e a sua consequência já estão dadas entre elas naturalmente A mente apenas reconhece isso o que é por ele chamado de sensações Isso é importante porque caso você tenha algum esquecimento sobre como o mundo funciona basta retornar à experiência sensível e reaprender com ela REID 2013 Para Reid 2013 o ser humano é um animal senciente e capacitado a perce ber o que acontece com ele no mundo que o rodeia Ao receber uma impressão por meio dos sentidos imediatamente ocorre uma sensação em sua mente que gera uma consciência sobre a situação externa que causou aquela sensação As sim a sensação estabelece uma relação direta entre a impressão dos sentidos e o objeto que você experimentou no mundo Reid chama a investigação desse processo de filosofia da mente Suponha que você esteja passando por um jardim e notou uma margarida cujo perfume despertou rapidamente o seu olfato Aquele perfume foi imedia tamente identificado por você pois a sua mente estava preparada para receber as impressões do seu olfato a qualquer momento Portanto temos duas etapas aquela em que você teve contato com o cheiro da margarida por meio do seu olfato e outra em que uma operação mental fez você consciente daquele cheiro naquele momento Doravante você sabe que há uma margarida no jardim e o cheiro que ela tem o que significa um estado mental consciente tanto do cheiro da margarida quanto de que você o experimentou pessoalmente Você pode até relatar o ocorrido para alguém REID 2013 Por outro lado suponha que no dia seguinte você passe pelo mesmo jardim e imediatamente vem à sua mente o cheiro da margarida do dia anterior Você nota que alguém a retirou talvez para presentear outra pessoa mas você é capaz de di UNICESUMAR 71 zer para alguém ou a si próprio como era o cheiro da margarida Você até mesmo consegue fechar os olhos e aspirar novamente o seu perfume Tanto o dia anterior que foi o momento em que você cheirou pela primeira vez a margarida quanto o dia seguinte data em que você se lembrou da experiência anterior asseguram que houve uma margarida com determinado cheiro que você consegue se lembrar Ambas a sensação e a lembrança são para Reid 2013 o fundamento para asse verarmos que conhecemos algo no mundo Elas são evidências para nossas crenças Além disso Reid sustenta que 2013 p 40 A evidência do sentido a evidência da memória e a evidência das re lações necessárias das coisas são todas espécies distintas e originais de evidência igualmente fundadas em nossa constituição nenhuma delas depende de ou pode ser resolvida em uma outra Tudo isso significa que a sensação e a memória da sensação são apenas conse quências lógicas de que os seres humanos são seres sencientes isto é capazes de sensação assim como só existe um pensamento porque há um pensador ou só existe um pé de jaca porque alguém o plantou Se temos sensações a partir das impressões recebidas dos sentidos o tempo todo é porque somos sujeitos dotados de uma capacidade que chamamos de mente a qual está habilitada para isso todo o tempo Essa é uma crença de que estamos plenamente conscientes REID 2013 Suponha que outra ação estava acontecendo no instante em que você sentiu o cheiro da margarida e é relembrada por você no dia seguinte Você também é capaz de estabelecer uma relação com esse cheiro que nem existia no primeiro momento e nem existe quando se lembra dele Reid 2013 denomina essa ope ração mental de imaginação dado que embora não exista na margarida na sensação nem na memória existe no modo como o sujeito se conecta com esses elementos em sua vida mental O filósofo descreve essa experiência mental do se guinte modo posso imaginar esse vaso e essa flor transportados para o cômodo em que estou sentado agora e exalando o mesmo perfume REID 2013 p 36 O que Reid 2013 insiste em afirmar é que os seres humanos são seres sen cientes ou seja dotados de uma mente ativa com a capacidade inata de sentir as coisas no mundo perceber as suas conexões naturais e a partir dessas evidências construir um conhecimento próprio de si mesmo e do mundo O que vale para o cheiro também é válido para a música que você ouve para o churrasco que você 72 UNIDADE 2 OLHAR CONCEITUAL prova para o emoji que você visualiza na tela do seu celular e para o calor que aquece a sua pele Enfim você é um sujeito pensante mas bastante ativo men talmente dado que está em interação contínua com os elementos ao seu redor OPERAÇÕES DA MENTE São os meios que o ser humano tem para captar as impressões do ambiente externo comunicandoos ao cérebro por meio do sistema nervoso central a fm de responder aos estímulos recebidos de modo voluntário ou involuntário SENTIDOS IMPRESSÕES Todo e qualquer estímulo provocado por intermédio dos sentidos que penetra em nossa mente ainda em seu estado cru e simples capaz de causar uma sensação sobre ela Assim a mente começa a operar o conhecimento SENSAÇÕES Meio pelo qual a mente reconhece as impressões recebidas do ambiente externo por meio dos sentidos sendo responsável pela consciência da conexão existente entre o Eu pensante e a apreensão daquilo que provocou a impressão MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO Memória é a lembrança de que a mente sentiu uma impressão no passado sendo então a evidência do ocorrido A imaginação é o meio pelo qual a mente faz conexões próprias entre as sensações e a sua memória estabelecendo uma relação pessoal entre ambas e o Eu pensante Você já sabe que o ser humano é senciente ou seja capaz de sentir sensações e receber impressões de forma consciente Isso indica que ele tem uma vida mental na qual apreende as conexões efetuadas pelas sensações e elabora um conheci mento de si e do mundo ao seu redor que é capaz de agir e interagir com ele No infográfico apresentado você encontra o vocabulário fundamental das operações da mente UNICESUMAR 73 Qualia O fato de você estar consciente de que possui uma mente ativa e estimulada a todo o tempo pelos sentidos corporais e pelas sensações mentais te coloca em uma situação especial e exige que você pense sobre como isso acontece A sua vida mental se trata apenas das funções cerebrais complexas do seu cérebro assim como afirmam os materialistas Como explicar que você tem consciência dessas funções Perceba que é necessário pensar que essas funções emergem do cérebro e compõem alguma coisa que é parte dele assim como alguma área neuronal ainda não mapeada pelas potentes máquinas que construímos para conhecêlo Isso te mantém no terreno das crenças materialistas Contudo você também pode afirmar que essas funções cerebrais emergem do cérebro de modo que o seu cérebro é parte dessa coisa pensante Essa coisa pensante por outro lado é um elemento distinto dele e por isso mesmo difícil senão impossível de ser mapeada por qualquer super tomógrafo computado rizado Você pode por exemplo ver uma cena tocante em um filme e chorar todas as suas lágrimas Nesse momento o sistema límbico do seu cérebro está gerando uma resposta fisiológica mas é apenas isso Agora você é um dualista mas ainda permanece no terreno materialista Suponha que você não apenas afirma ter consciência de uma coisa pensante mas que também tem qualidades ou propriedades que te colocam em conexão direta com seus sentidos tais como as sensações Além do mais essas sensações são elaboradas do mesmo modo que as suas memórias e estimulam uma vida interior totalmente imaginada dentro de você Diante disso você é um dualista ainda materialista mas admite que tem consciência de uma coisa pensante que tem a sua vida própria constitui tudo o que você pode saber sobre o mundo e sobre você e faz de você tudo o que é dotado de uma enorme e rica vida inte rior a chamada subjetividade Recorrendo ao exemplo apresentado você está tomado por uma forte emoção e as pessoas à sua volta reconhecem isso Você poderia chamar a parte referida de alma caso você acredite que o ser humano é composto por dois elementos alma e corpo Entretanto não há 74 UNIDADE 2 problema se você simplesmente não acredita nessa ideia e prefere chamar de estado ou condição de sua vida como um ser humano portador de um cére bro Teixeira 2008 p 33 grifos do autor explica que é o próprio cérebro que produz a subjetividade e os estados subjetivos mas estes nunca poderiam ser integralmente mapeados em relação a estados cerebrais O mental se sobrepõe ao físico e determina algo para além das propriedades físicas Por sua vez Nagel 2011 p 36 afirma que parece haver dois tipos muito distintos de coisas que acontecem no mundo as coisas que pertencem à realidade física que muitas pessoas podem observar de fora e as coisas que pertencem à realidade mental que cada um de nós experimenta interna e individualmente Se você está convencido ou convencida de que tem uma vida mental que emerge da sua vida cerebral mas que é distinta dela apesar de conectada por tanto você tem uma vida subjetiva Assim é o momento de refletir se você tem uma vida privada isto é acessível somente a você Se esse fato é válido para você também seria válido para qualquer outra pessoa Isso significa que partilhamos uma intersubjetividade social ou seja compartilhamos o mesmo espaço e pode mos até nos interessar por aquilo que os outros estão fazendo e viceversa mas jamais dividimos as nossas subjetividades mentais Portanto as pessoas podem entender o que nós queremos dizer sobre nós mesmos mas jamais poderão en trar em nossa cabeça para investigar a nossa vida mental ou seja o que se passa dentro de nossa cabeça A sua vida mental é somente sua totalmente privada Entendamos melhor o conteúdo por meio de um exemplo em que há dois pequenos pássaros bicando as flores de uma planta Você os observa e se per gunta qual é o gosto que a flor tem para esses pequenos passarinhos Você se propõe estudar a sua fisiologia e descobre que eles fazem isso não só para se alimentar mas em consequência do sabor adocicado das flores Observe o que você acabou de dizer você asseverou que os pássaros bicam as flores porque elas são doces Dizer que algo é doce é totalmente humano e não se aplica aos pássaros Você está avaliando as aves pela sua experiência que inclui a sua lin guagem Assim você poderia responder que teria que se tornar um daqueles pássaros caso quisesse saber o que é para eles bicar aquelas flores No entanto ainda que você se tornasse um pássaro ainda seria você como um pássaro Portanto podemos concluir que saber o que o pequeno pássaro sente quando bica as flores é totalmente impossível tornando inescrutável qualquer conhe cimento de sua vida interior UNICESUMAR 75 O termo utilizado em filosofia da mente para a perspectiva da subjetividade humana agora privada é qualia De acordo com Teixeira 2008 p 38 Os qualia apontam para a existência de elementos da experiência hu mana que seriam inescrutáveis e incomunicáveis mesmo entre seres humanos que partilham de uma mesma linguagem e de uma mesma perspectiva específica de mundo Essas experiências por serem privadas e inescrutáveis seriam apenas parcialmente descritíveis pela linguagem Mary era uma superneurocientista do futuro que sabia tudo sobre o cérebro humano Ela tinha se especializado em neurofisiologia da visão tendo escrito seu doutorado sobre esse assunto Mas havia algo muito peculiar acerca de Mary ela não enxergava nada colorido pois seu cérebro tinha um defeito de nascença Ela vivia num mundo branco e preto e tudo o que sabia acerca de cores era por meio dos livros de neurociência Mary sabia por exemplo que alguém estava enxergando algo azul por meio da detecção da freqüência de onda da cor azul do modo como elas incidem na retina e como esse tipo de estímulo modifica algumas regiões do cérebro E assim por diante Um dia acontece um fato inusitado Mary é submetida a uma neurocirurgia para recu perarse desse defeito de nascença A cirurgia é um sucesso e assim que ela acorda um tomate vermelho é colocado na sua frente Era a primeira vez que Mary via algo vermelho Em outras palavras era a primeira vez que ela tinha uma experiência do vermelho Fonte Teixeira 2008 p 41 EXPLORANDO IDEIAS Um experimento significativo para justificar o que tem sido dito sobre os qualia é a dor pois ela nos insere em uma perspectiva de que somos seres sencientes Se você tem uma dor no estômago na verdade há algo em seu estômago que te faz sentir dor No entanto quem é que sente a dor A resposta materialista ou fisicalista seria a de que a dor é uma mensagem enviada ao cérebro por meio de terminações nervosas chamadas de noniceptores e que estão sob a pele As articulações e alguns órgãos internos por meio da medula espinhal também ajudam nessa transmissão Quando o sinal chega ao tálamo o cérebro traduz aquela mensagem em forma da dor O curioso é que o próprio cérebro não tem terminações nervosas portanto não sente dor apenas a indica para o resto do corpo Nesse caso de fato não existe algo como a dor apenas movimentos neurobiológicos comandados pelo cérebro 76 UNIDADE 2 Já a resposta dualista seria a de que a sensação de dor é a típica reação a algo que se percebe de errado por meio dos sentidos É exigido um sujeito consciente para que isso seja possível O que os materialistas descrevem como dor é algo inconcebível diante de um sujeito consciente e pode indicar a reação de um ca dáver recente em que o cérebro ainda exerce as suas funções Se você o espetar com uma agulha ele reagirá de algum modo mas apenas Não há ninguém para dizer que está doendo Isso significa que perceber um beliscão algo externo não é o mesmo que sentir o beliscão algo subjetivo e privado porque a sensação é somente sua Miguens 2009 p 178 assevera que há portanto uma dualidade entre sentir e perceber embora usualmente indiscerníveis em nossa vida mental eles podem no entanto desacoplarse Por exemplo vermelho é a sensação mas também a cor percebida de uma pétala Por outro lado quando você sente algo você é capaz de apontar o local da dor no corpo mesmo estando dentro dele Muitas pessoas sentem dor na mente como as que estão com depressão por exemplo Vejamos o conteúdo por outra perspectiva Quando você coloca a mão em uma panela quente imediatamente a retira Se alguém pergunta o motivo pelo qual você tomou aquela atitude você responde que é porque doeu Denominar essa reação de dor pode ser apenas um modo de explicar uma atitude natural e automática do seu corpo Ela nada diz sobre si mesmo Talvez por exemplo você tenha medo da dor ou não sabe lidar com ela Ela não é pessoal Contudo será que é isso mesmo Sentir e agir conscientemente é sentir e agir a partir de uma causalidade e ser capaz de dar uma justificativa racional para isso Se diante do fogo aceso no fogão você retira a mão é porque percebe um perigo o qual pode estar até relacionado a uma memória passada de quando se queimou em um fogão Você até poderia trazer de volta essa memória como um relato para alguém Entretanto há algo a mais Suponha que você observa que a pessoa ignora o perigo e a alerta para não se aproximar do fogo aceso você fica satisfeito consigo porque acabou de evitar que alguém se queimasse Portanto sentir e agir conscientemente é observar as outras pessoas ou seres vivos como o seu gato que pode estar chegando perto do fogo aceso conversar e tomar as atitudes que beneficiarão tanto eles quanto você UNICESUMAR 77 Memória e Inconsciente Você aprendeu que as sensações são impressões dos sentidos que nos chegam até a mente quando passamos a ter consciência delas Portanto a sensação é uma operação mental Suponha que na noite anterior tenha plantado sementes em minha horta Talvez elas tenham nascido mas eu não tenho a menor ideia porque quando fui dormir isso ainda não havia acontecido No entanto quando as vejo pela manhã percebo que elas nasceram e doravante formouse um novo conhe cimento ou crença assim como Thomas Reid e os empíricos gostavam de dizer para ocupar o meu pensamento Essa também é uma operação de minha mente Em situações normais da nossa vida mental continuarei lembrando do dia em que vi as plantas recémbrotadas Duas coisas chamam a nossa atenção sobre esse fato a memória também é uma operação mental e ela me explica que o fato de eu me lembrar de algo que aconteceu há dias semanas ou meses demonstra que eu sou aquela mesma pessoa Portanto a minha memória é a garantia da subjetividade e da privacidade do meu Eu pensante Nas palavras de Reid 2013 p 36 grifos do autor Uma sensação um cheiro por exemplo pode se apresentar à mente de três maneiras diferentes pode ser cheirado pode ser lembrado pode ser imaginado ou pensado No primeiro caso é necessaria mente acompanhado de uma crença em sua existência presente no segundo é necessariamente acompanhado de uma crença em sua existência passada e no último não é acompanhado de crença alguma mas é o que os lógicos chamam de uma apreensão simples Ainda que atos de nossa mente sensações e memória sejam claramente discer níveis pois sabemos dizer em situação normais o que está acontecendo agora e o que aconteceu ontem Reid 2013 chama ambos os relatos de testemunhos ou evidências de nosso Eu pensante que fundamentam as nossas crenças isto é o nosso conhecimento de mundo Se me perguntarem por que creio que o cheiro existe não posso dar nenhuma outra razão tampouco seria capaz de dar outra razão senão a de que eu o sinto Se me perguntarem por que creio que ele existiu ontem 78 UNIDADE 2 não posso dar nenhuma razão além de que eu me lembro dele REID 2013 p 37 Crer nesse caso é simplesmente saber a partir da evidência o que é chamado de senso comum A evidência do sentido a evidência da memória e a evidência das relações necessárias das coisas são todas espécies distintas e originais de evidência igualmente fundadas em nossa constituição REID 2013 p 40 Você pode se perguntar se eu formo uma crença sobre o mundo a partir da sen sação e da memória por meio das experiências dos meus sentidos o que acontece com as coisas do mundo das quais os meus sentidos não têm experiência Primeira mente a sensação e a memória são acompanhadas da crença ou do conhecimento que nos ajudam a formar juízos sobre as coisas o que chamamos de raciocínio A partir deles voltamos ao mundo externo e às experiências dos sentidos em um ciclo que nunca finaliza Não estamos nus mentalmente mas vestidos de nossos juízos e eles nos ajudam a perceber intuitivamente o mundo dos sentidos tanto os objetos quanto as conexões entre eles No caso das sementes que brotaram em minha horta eu tenho outras sementes semeadas e agora posso aguardar ansiosamente para que elas também brotem visto que estou preparado para isso em minha mente No tópico anterior examinamos o papel dos sentidos e das sensações em nossa vida mental que são operações do nosso Eu pensante Agora investigaremos o papel da memória e de sua contraparte o esquecimento e o inconsciente Deixaremos para a próxima unidade o estudo do papel da imaginação em conjunto com as emoções UNICESUMAR 79 A memória como operação da mente Memória é a operação de nossa mente que gera crenças ou retoma conhe cimentos passados de modo a têlos isto é busca trazêlos para o presente Pitorescamente chamamos essa operação de puxar pela memória devido a alguma situação presente Agora entenda o que se quer dizer por conhecimen to passado Isso diz respeito a algo que sabemos que já aconteceu porque já o processamos por meio de alguma sensação presente Nesse sentido esse saber já esteve disponível para você um dia e pode ser acessado por intermédio do exercício da memória ABBAGNANO 2007 Esse conhecimento passado uma vez trazido para o presente é novamente percebido e você tem consciência dele aqui e agora Entretanto assim que você não mais dispor ele volta para o seu passado agora complementado por seu uso presente Suponha que você aprendeu a calcular a regra de três mas nunca mais precisou usála Em contrapartida agora você precisa fazer um cálculo e ela é necessária Assim você retoma o que foi aprendido faz o seu cálculo e devolve a regra de três ao seu lugar em sua memória com um aditivo de que foi utilizada em uma determinada situação atual Essa ação também é parte de sua memória mas é um conhecimento passado Contudo de que é feita a memória Reid 2013 afirma que ela é composta por sensações outra operação mental de nosso Eu pensante Isso acontece de dois modos o primeiro é chamado de retentivo e o outro é chamado de recordativo O modo retentivo descreve a capacidade da mente de guardar ou conservar o que sabemos a partir das sensações percebidas pela nossa mente desde as nossas experiências sensíveis no mundo Tudo já aconteceu e sequer existe mais como aquele dia em que o seu time foi campeão por exemplo Entretanto a sensação está lá guardada em sua memória Por sua vez o modo recordativo descreve a capaci dade da mente de chamar esse saber passado para o momento presente de modo que você possa apresentalo para si e para mais alguém ABBAGNANO 2007 Contudo como as sensações estão de certo modo armazenadas na memória Essa é uma discussão filosófica de longa data O filósofo grego Aristóteles pensou sobre a memória como uma marca ou impressão isto é se você guarda e recorda algo é porque ficou gravado assim como uma paisagem está gravada em uma fotografia A paisagem não está mais presente mas a fotografia a preservou Assim seria a operação mental que chamamos de memória ela representa algo presente 80 UNIDADE 2 de uma coisa ausente Entretanto ainda que aquela memória esteja guardada em sua mente ela somente será acessível se você tomar a iniciativa de trazêla ao seu momento atual Isso significa que enquanto a conservação é algo passivo isto é a memória simplesmente recebe as sensações passadas a recordação é algo ativo ou seja há um movimento voluntário de trazer alguma sensação passada para o seu presente ABBAGNANO 2007 Essa compreensão é fundamental para você entender o que se passa no Eu pensante enquanto consciente da memória Se atentarmos para o modo reten tivo da memória é evidente que ele se reconhece à medida que a memória se estende no tempo Na verdade a consciência de que se é um Eu é uma consciên cia produzida pela conservação da memória enquanto o tempo passa O fluxo contínuo da memória assegura que você é você mesmo e não outro que muda conforme o tempo passa Poderíamos dizer que uma vida mental consciente é uma vida consciente de si que é provida pela retenção na memória de todas as sensações mentais nela preservadas Nesse caso alguns filósofos chegam a afirmar que a memória enquanto vida consciente nem precisa do mundo físico para existir pois ela é uma espécie de equivalente da alma ou algo que lhe seja parecido ABBAGNANO 2007 EU INDICO Acesse o QR Code para conferir um gameplay do jogo eletrônico The Sig nifier lançado em outubro de 2020 Nele o jogador controla Frederick Russel um neurocientista que desenvolveu uma inteligência artificial com o poder de explorar as memórias armazenadas dos indivíduos Por outro lado se prestarmos atenção no modo recordativo da memória a disposição ativa de nosso Eu pensante de trazer ao presente aquilo que está guardado é o que assegura que você seja alguém aqui e agora pois a sua me mória atua em função do que você precisa ser e fazer no mundo em que vive UNICESUMAR 81 É possível afirmar que uma vida mental consciente é aquela em que você con tinuamente está recorrendo à memória algo equivalente a pensar a fim de estabelecer conexões com a sua existência no mundo e atuar nele Nesse caso a memória não é um objeto guardado e que está à espera de ser trazido para a vida mental presente mas o próprio pensamento manuseandoo para dar algo que pensar à sua vida mental ABBAGNANO 2007 O que esse fato importa para a filosofia da mente Ele é importante quan do buscamos uma relação entre a memória e a consciência ou entre o sujeito que pensa à medida que recorda Descartes introduz à temática do problema filosófico fundante de nosso assunto a questão entre mente corpo e cérebro O filosofo descreve que a consciência se manifesta espontaneamente em dois níveis os estados mentais e o Eu pensante Todavia há outro modo apresentado como a reflexão deliberada do Eu pensante acerca dos seus estados mentais que o faz consciente do conteúdo em questão Esse tipo de autorreflexão só é possível recorrendo à memória SCHMAL 2018 Segundo Schmal 2018 p 33 Descartes previu dois sistemas de memória uma faculdade corpórea parcialmente fundada nas modifica ções mecânicas que modelam e remodelam a substância do cére bro através da vida criatural e parcialmente nos músculos e outras partes da vida corporal O outro tipo de memória é um sistema espiritual conhecido como memória intelectual A memória funciona de duas maneiras ora captando as sensações do corpo uma espécie de memória corporal ora captando os pensamentos o ato propria mente reflexivo uma espécie de memória intelectual Somente esse último tipo de memória capacitaria a recordação visto que a outra é fluída e dada a muitas alterações portanto cheia de lacunas A memória intelectual é algo independente do corpo e assim assemelhada à noção de alma ou do Eu pensante cartesiano que como você já sabe chamamos de mente 82 UNIDADE 2 Para melhor esclarecer Schmal 2018 apresenta o seguinte esquema Res cogitans Memória intelectual no sentido amplo Memória corporal Memória produzida ou ocasio nada na alma imaterial quando os vestígios são reativados no cérebro pelo fluxo dos espíritos animais Memória intelectual Memória dos objetos intelectuais cuja percep ção é independente do corpo Res extensa Memória corporal Vestígios físicos permanentes ou modificações dobras no cérebro comum aos animais Quadro 1 Esquema de Schmal Fonte o autor A memória opera a partir de acontecimentos cujos vestígios são guardados no cé rebro o que estabelece a relação entre o cérebro e a memória Enquanto o cérebro é jovem e está em formação os vestígios deixados são mínimos mas abundantes quando ingressamos na vida adulta A memória precisa de vestígios dos aconteci mentos visto que a mente não pode registrar suas próprias experiências sem estar consciente do que está acontecendo dentro dela e sem registrar essas experiências ela não pode reconhecer que uma dada sensação tem ou não tem ocorrido antes SCHMAL 2018 p 39 Todavia a recordação não é sobre um vestígio no cérebro porque quando a mente volta a pensar no que passou já está em outro momento do que aquele que foi registrado no cérebro SCHMAL 2018 O Eu pensante carece de sua memória caso contrário não tem existência própria isto é consciência de que pensa Para que a memória exista duas condições devem ser satisfeitas A primeira é que a nova sensação deve ser ocasionada por certos traços físicos criados no passado e segundo o sujeito deve estar consciente dessa relação O sujeito deve reconhecer que sua percepção atual é uma cópia de uma experiência antiga SCHMAL 2018 p 40 Isso é fundamental para explicar as condições do aprendizado pois se o indivíduo não é capaz de atribuir uma memória atual a alguma experiência do passado há uma clara desconexão e o conhecimento não é satisfeito Descartes afirma que a vida mental abrange três tipos de exercícios reflexivos O primeiro é aquele em que refletimos sobre qualquer coisa que nos acontece e UNICESUMAR 83 assoma à mente O segundo ocorre quando algo emerge da memória ou seja nós a reconhecemos e passamos a refletir sobre Já no terceiro voluntária e deliberada mente trazemos um assunto à mente sobre o qual queremos fazer uma reflexão Somente esse último exercício da memória sustenta a pessoalidade coerente e unificada de um indivíduo dandolhe a consciência de continuidade ao longo do tempo e o dotando de uma verdadeira subjetividade SCHMAL 2018 Muitas vezes recordamos algo sem sabermos a fonte da recordação Isso não seria par ticularmente verdadeiro quanto aos nossos preconceitos especificamente em casos de racismo Talvez no passado tenhamos convivido com alguma situação familiar desse tipo e na vida adulta simplesmente nos encontramos refletindo a partir dessa memória sem nos darmos conta de onde foi originada PENSANDO JUNTOS Enquanto Reid propôs que as três operações da mente são a sensação a memó ria e a imaginação concentrandose no desenvolvimento sobre como operam as sensações Descartes explicou como opera a memória Para complementar a sua compreensão apresentaremos uma experiência humana de autoexpressão literária chamada escrita de si Nela a memória exerce um papel fundamental O filósofo francês Michel Foucault nos ajuda a entender o sentido memorial da escrita de si Para o estudioso tratase do registro escrito de nossos próprios pensa mentos tanto para quem escreve quanto para alguém que venha a lêlos Esse gênero literário foi bastante usado pelos filósofos estoicos que mantiveram a prática da cor respondência entre mestre e discípulo ou entre amigos Nessa correspondência faziam uma espécie de revisão de vida e registravam as suas ideias e pensamentos visando à orientação à exortação ao aconselhamento e à admoestação Algumas vezes estabe leciam princípios racionais de ação mas em outros casos redigiam provas racionais para a verdade Seu caráter meditativo estimulou o uso cristão com a sua ênfase na autorreflexão Assim a escrita de si para si funcionava como uma espécie de autodis ciplina para a purificação interior e abertura da alma para Deus FOUCAULT 1992 Modernamente a escrita de si tem a sua gênese histórica no século XVIII com a fundação da sociedade burguesa e a partir da permissão de expressão de um Eu individual privado e diferenciado do público A sua principal caracterís tica é a autorreferencialidade isto é o Eu pensante fala a partir da consciência 84 UNIDADE 2 de si geralmente por meio de uma autorreflexão sobre as condições históricas culturais sociais vividas em seu tempo GOMES 2004 A prática da escrita de si no mundo moderno e contemporâneo nos apresenta o sujeito pensante em sua plena subjetividade e privacidade É o modo de expres são de sua individualidade ou pessoalidade em que o que importa é a expressão da memória do que foi visto sentido e experimentado a partir da sua reflexão pessoal Ao escrever ou relatar o sujeito busca uma identidade seja unificada em uma memória como na modernidade ou fragmentada em múltiplas memórias como na contemporaneidade FOUCAULT 1992 Nesse sentido Foucault 1992 nos ajuda a entender a relação entre memória e escrita De acordo com o estudioso o hábito de tomar notas em um caderno ou de escrever cartas por exemplo é um modo de guardar a memória pessoal das coisas vividas ou refletidas pelo sujeito Assim ele pode retirarse para o interior de si próprio alcançarse a si próprio viver consigo próprio bastarse a si próprio tirar proveito e desfrutar de si próprio FOUCAULT 1992 p 138 Todavia quando ela é escrita essa memória é recuperada em uma leitura posterior por outro al guém e serve de matériaprima para a orientação de vida apesar de o interesse primário de quem escreve não é o de que outros leiam mas para não se esquecer Outra indicação moderna em que a consciência do sujeito flui para a sua autoe xpressão a partir da memória é a experiência do choque e do trauma que desintegra a realidade conhecida e desestabiliza o sujeito que não somente não consegue dar conta do que aconteceu como não encontra meios para dizer o que houve Entre tanto ele não pode negar o que aconteceu pois lhe foi muito real Sobrevivido ao choque o sujeito precisa reorganizar a sua vida mental a fim de retomar a vida no mundo ressignificála retomar os vínculos e os laços que alicerçam uma vida corriqueira em um mundo que se tornou repentina e inexplicavelmente do ponto de vista subjetivo inteiramente estranhado SELIGMANNSILVA 2003 p 48 A reordenação da vida mental passa pelo esforço de recordação da memória Somente após esse procedimento que o sujeito tem condições para prosseguir a vida Ao descrever a memória sob trauma o sujeito fala de si a partir de si e sobre a relação com determinado evento que escapa ao saber total e à plena cognição Sendo feito de pedaços de memórias o que importa é a sua autoapresentação do acontecido em que é reencenada a experiência vivida para os outros Sob essas condições a autoexpressão do sujeito busca um resultado clínico e terapêutico ou seja relata para curarse a si mesmo FELMAN 2000 UNICESUMAR 85 Inconsciência Estados mentais inconscientes são tão significativos quanto os estados mentais cons cientes É preciso saber se eles existem e se assim for como existem e qual a impor tância desse conhecimento para vida de alguém Também é necessário lidar com a ex periência incomum do apagamento da consciência por intermédio do esquecimento e em casos de doença mental como o Alzheimer Para esse estudo a fenomenologia da consciência nos ajudará bastante Começaremos o nosso estudo a partir de uma apresentação mais ampla e formal sobre a metodologia fenomenológica De acordo com Cescon 2010 p 331 A filosofia fenomenológica da mente toma a subjetividade como ponto de partida tanto no plano lógico ou epistemológico como no metodológico Para ela portanto os experimentos e as hipóteses científicas remetem sempre e em última instância a experiências subjetivas ou intersubjetivas Até mesmo a própria existência de uma realidade externa é um postulado da subjetividade 86 UNIDADE 2 A subjetividade está conectada ao modo como o sujeito que vê algo no mundo o interpreta dandolhe algum significado A sequência fenomenológica é a seguinte uma vez que o fenômeno aparece você o representa com um nome o introduz em sua vida consciente divide as partes e examina cada uma É fundamental nesse momento que você suspenda todo conhecimento prévio e juízo sobre ele Depois rejunta todas as partes e declara um conceito geral sobre o fenômeno reinserindoo na vivência da qual ele foi retirado vinculando um ao outro LEEUWN 2009 Evidentemente essa operação subjetiva é exclusivamente mental e você en quanto sujeito está totalmente consciente do que está acontecendo Entretanto o que dizer dos estados inconscientes Cescon 2010 p 331 explica que Outro problema específico das teorias fenomenológicas do duplo aspecto é o de atribuir um status aos conhecidos fenômenos cogni tivos inconscientes Não temos experiência ou consciência subjetiva deles mas pelos seus efeitos sabemos que são produzidos pois con dicionam o comportamento dos sujeitos A situação parece confusa porque estar inconsciente de algo já pressupõe algu ma consciência Caso contrário como você pode perceber a inconsciência O resultado seria a sua negação se para perceber o inconsciente você precisa estar consciente então não há inconsciência Nesse sentido caminha a compreensão de Searle 2006 quando afirma que às vezes descrevemos o inconsciente meta foricamente como coisas semelhantes àquelas das quais temos consciência mas que estão apenas afastadas em algum lugar remoto e ignorado de nossa mente Às vezes você afirma que estava dirigindo o carro de forma inconsciente ou tomando o seu refrigerante como se não estivesse presente Contudo ambas as formas não expressam corretamente o inconsciente não quando pensamos em coisas existen tes mas que nada sabemos e elas afloram repentinamente em nossa consciência Diante disso Searle 2006 afirma que para que alguma coisa cause um estado mental em você deve ser algo consciente Já a respeito do inconsciente a ontologia do inconsciente é estritamente a ontologia de uma neurofisiologia capaz de gerar o consciente SEARLE 2006 p 247 Isso significa que estados conscientes são originados na estrutura cerebral Se dizemos que há um inconsciente ele somente pode vir a existir se originado na atividade cerebral Enquanto ele não chega ao consciente continua sendo somente a atividade neurofisiológica do cérebro UNICESUMAR 87 Depois do esclarecimento Searle 2006 identifica alguns estados mentais que podem ser chamados de inconscientes quando dormimos e nossas atividades orgânicas vitais continuam nos mantendo vivos quando reprimimos desejos crenças vontades e lembranças quando vivendo o momento presente sabemos de desejos crenças vontades e lembranças ocupações e escolhas que também estão presentes conosco Tratase de algo que está nas imediações como quando você está ao celular falando com alguém e percebe várias coisas acontecendo ao seu redor No entanto quando você termina a ligação e alguém te pergunta se viu alguém passar correndo com uma bolsa na mão você diz que não De fato se você procurar em sua memória poderá dizer que realmente viu o ocorrido mas não tem condições de falar sobre ele porque estava ocupado falando ao celular Consciente mas inconsciente e viceversa A filosofia se ocupa do tema inconsciente desde Leibniz que afirmou a existência de uma zona inconsciente para identificar a percepção deixada por impressões de coisas que nos cercam e deixam a sua marca em nós O empirismo inglês de Locke afirma que a consciência de algo que nos cerca e as suas impressões já são um estado consciente Uma tentativa mediadora foi feita por Kant para quem estar consciente mediatamente de uma coisa não significa estar imediatamente consciente dela Nos séculos seguintes o inconsciente foi interiorizado ou espiritualizado como um elemento presente em nossa interioridade em conexão com as partes espirituais da realidade da qual sequer temos alguma noção inteira Isso levou Bergson filósofo francês do século XX a dizer que o fato de estarmos conscientes de nossa ação no mundo não significa que aquela parte de nós que não está agindo no mundo naquele momento não exista É claro que a chegada de Freud e a sua teoria psicanalítica do inconsciente praticamente eclipsaram a discussão filosófica a respeito que retorna com a filosofia da mente no século XXI Fonte Abbagnano 2007 EXPLORANDO IDEIAS Todavia quando se trata de afirmar que estados inconscientes e até inacessíveis à consciência possuem intencionalidade Searle 2006 p 248 rigorosamente defende que não somente não há nenhuma evidência de sua existência como também a postulação de sua existência viola uma imposição lógica na noção de intencionali dade Isso significa que somos dotados de um outro Eu pensante e prestes a aflorar dominar a cena e fazer coisas no mundo Se isso pode acontecer não é atribuível ao fato de você ser dotado de dois ou mais Eus pensantes mas de sua atividade cerebral 88 UNIDADE 2 isto é a sua mente está severamente adoecida Isso gera outra questão importante dos estados inconscientes que afloram a partir das doenças mentais e os quais as pessoas passam a ter consciência pois eles já estavam lá Um lugar importante para buscar o inconsciente então é onde a cons ciência se perturba quando a mente se desorganiza com a memória diluída entre o que ela sabe o que julga saber e o que já não sabe mais assim como acontece na doença de Alzheimer À medida que a doença avança cada vez são mais frequentes os lampejos de consciência que na verdade nada mais são do que o apagamento da memória organizada para dar lugar ao passado que se organiza de outro modo a contemplação do insignificante da desordem do imponde rável a volta do obsoleto do esquecido do não consciente daquilo que foi deixado ao canto a busca por rastros o aprendizado das ruínas O lixo como informação leva a registrar o efêmero e o irre dutível a voltar o nosso olhar à atenção aos detalhes ao cotidiano é um suporte confiável de uma memória inoficial São esses novos materiais que passam a ser valorizados e acionados no processo mnemônico O esquecimento vem à tona com uma força jamais vista e a proposição se inverte ter que se lembrar em um mundo de esquecimento FERIANI 2017 p 541 É curioso pensar que enquanto a atividade cerebral vai se dissolvendo com o tempo presente consciente e inconsciente vão se reorganizando à luz de um passado antigo que volta enquanto o passado recente vai se distanciando Nesse caso o inconsciente é aquilo que esquecemos e que por força de uma atividade cerebral incomum retor na ao nosso presente como se fosse ele mesmo mas para as pessoas que vivem um processo demencial esse momento é o momento atual A memória tanto lá quanto aqui opera uma fusão uma superposição de tempos múltiplos e descontínuos a qual se dá na irrupção na duração do instante FERIANI 2017 p 545 Assim se a subjetividade é ligada a uma vida mental consciente para muitos a sua perda também sugere a perda da subjetividade e então da iden tidade da pessoa do seu Eu pensante ou em linguagem moderna seu self UNICESUMAR 89 Entretanto se aceitamos que estados conscientes são mesclados com estados inconscientes e atribuímos vivências que ficaram perdidas em nossa memó ria o fato delas ressurgirem mesmo por um ato do cérebro disfuncional não significa o fim da subjetividade apenas o seu deslocamento para outra que ainda é a mesma mas já não é igual Feriani 2017 p 557 defende que é preciso levar em conta que em vez da memória apenas ou simplesmente se perder ela se transforma e transborda para outras dimensões como os gestos os lapsos as aparições os vestígios NOVAS DESCOBERTAS Dark é uma série da Netflix e de produção alemã Nela é explo rada a temática das mudanças que a passagem do tempo provoca nas pessoas quando podem viajar para qualquer lugar e tempo por meio de um buraco de minhoca Assim lida com a consciência e a identidade das pessoas ao longo de gerações NOVAS DESCOBERTAS Para um estudo sobre a história da memória no Ocidente é interessan te que você leia o artigo da professora Ana Luiza Bustamante Smolka intitulado A memória em questão uma perspectiva históricocultural e disponível no linkno QRcode ao lado Você sabe que os seres humanos são curiosos por natureza o que significa que são cerebralmente estimulados quando colocados diante de situações em que percebem que precisam saber mais sobre alguma coisa para lidar com ela To davia esse estímulo não pode ir muito longe de suas vivências para não tornar impossível a realização da curiosidade Suponha que você quer ensinar algo aos seus estudantes e gostaria de deixálos curiosos a respeito À luz do que você es tudou nesta unidade explique como o aprendizado das três operações mentais pode lhe ajudar no seu objetivo 90 AGORA É COM VOCÊ 1 As teorias da relação entre mente e cérebro são modos que a filosofia da mente encontrou para explicar o vínculo entre ambos Dentre as consolidadas temos a que afirma que não há mente distinta do cérebro Na verdade existe apenas o cérebro e a mente é um dos seus componentes ou funções O modo de explicar a relação apresentada é chamada de monista porque a rejeita o dualismo mentecérebro b afirma o dualismo mentecérebro c rejeita o dualismo almacorpo d afirma o dualismo almacorpo e afirma o dualismo substancial 2 O filósofo escocês Thomas Reid descreveu os seres humanos como seres sencientes dotados de uma mente ativa com capacidade inata de sentir as coisas no mundo perceber as suas conexões naturais e a partir dessas evidências construir um co nhecimento próprio de si mesmo e do mundo O pensamento do filosofo é decorrente de qual razão I Afirmar que pensar em algo não é o suficiente para provar a sua existência II As conexões entre o pensar e aquilo que se pensa estão na mente não nas coisas em si III As conexões entre o pensar e aquilo que se pensa não estão na mente mas nas coisas em si IV Afirmar que pensar em algo já é o suficiente para provar a sua existência É correto o que se afirma em a I II III e IV b II e IV c I e III d II e II e III 91 AGORA É COM VOCÊ 3 O Eu pensante não existe separado de si mesmo e de certo modo é o saber sobre si mesmo que o faz saber que existe Além disso é o saber sobre as coisas que há no mundo que o faz consciente de que conhece essas coisas Nesse processo o Eu que pensa e a coisa que é pensada estão juntos dandose a conhecer um ao outro O modo de pensar apresentado é do filósofo alemão Wilhelm Dilthey para quem a subjetividade a é a atitude individual de alguém com as suas coisas b é a redução das ações do indivíduo ao seu mundo interno c é a mudança cerebral a partir das informações dadas pelos sentidos sobre o mundo d é o comportamento do indivíduo que não pode ser tornado objetivo no mundo e é a vida mental que apreende o mundo externo por meio das vivências conscientes 4 A mente é uma das coisas mais intrigantes e para muitos um trabalho infrutífe ro ao pensamento que jamais conseguirá resolver o seu mistério Todavia refletir sobre a fim de compreendêla é um trabalho inevitável visto que se existe algo que chamamos cérebro e que tem funções físicas neuronais deve existir algo que chamamos mente a qual intencionalmente pensa sente escolhe e se identifica com os processos cerebrais Não só mas é capaz inclusive de examinálos e dizer algo Um filósofo que se dedicou à elucidação da existência da mente foi o estadunidense John Searle O estudioso elaborou alguns argumentos em favor de uma ontologia da mente mas não distinta de uma ontologia do cérebro Cite os seus argumentos e escolha um deles para fazer um comentário pessoal 92 AGORA É COM VOCÊ 5 Se atentarmos para o modo retentivo da memória é evidente que o sujeito se re conhece à medida que a memória se estende no tempo Na verdade a consciência de que se é um Eu é consciência produzida pela conservação da memória enquan to o tempo passa Poderíamos dizer que uma vida mental consciente é uma vida consciente de si que é provida pela retenção na memória de todas as sensações mentais nela preservadas Se partimos do modo recordativo da memória a dispo sição ativa de nosso Eu pensante de trazer ao presente aquilo que está guardado nela é o que assegura que você é alguém aqui e agora pois a sua memória atua em função do que você precisa ser e fazer no mundo em que vive Poderíamos dizer que uma vida mental consciente é aquela em que você continuamente está recorrendo algo equivalente a pensar a fim de fazer conexões com a sua existência no mundo e atuar nele ABBAGNANO 2007 ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 2007 Com base nos dois textos redija um texto dissertativo em que você atenderá ao que se pede a seguir a Amplie a sua informação sobre memória retentiva e memória recordativa b Relacione os dois conceitos de memória com a consciência c Vincule a consciência com o sujeito demonstrando a sua contribuição para a sua identidade 93 AGORA É COM VOCÊ 6 Findo esta unidade de aprendizagem e gostaria que você estudante realizas se o seguinte mapa de empatia expressando as suas reações pensamentos e sentimentos em relação ao conteúdo estudado Para isso indicarei por meio de perguntas um caminho para que você construa o seu próprio mapa de empatia As perguntas são as seguintes O que você pensou e sentiu enquanto estudava os temas da unidade de aprendizagem O que você já ouviu ou viu alguém dizer sobre os temas da unidade de aprendizagem O que você gostaria que fosse acrescentado aos temas da unidade de aprendizagem O que mais te motivou e o que mais te desmotivou no estudo dos temas da unidade aprendizagem O esquema a seguir tem o objetivo de fazer você construir eou colocar no papel as respostas sobre os questionamentos que te indiquei Sintase à vontade para criar mais conexões caso você tenha mais informações a indicar em seu mapa MEU ESPAÇO 3 Mente Emoções Imaginação e Arte Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade vamos avançar a discussão a respeito da relação mente corpo abordando o papel das emoções e da imaginação sobre nossos estados mentais Você também examinará a relação entre emoção imaginação e arte como por exemplo o campo das artes plásticas visto que o que vemos em uma pintura não é necessariamente o que foi visto pelo artista na realidade Porém nunca teremos acesso ao nível de manipulação daquela cena e mesmo que essa não seja um manejo intencional dos elementos no quadro ainda reflete que um indivíduo não vê a realidade da mesma forma que o outro Isso não se dá porque essa realidade é diferente mas porque a mente por vários motivos apreende de maneira diferente Dessa forma entenderemos como essa dinâmica acontece e quais as principais teorias e ideias concernentes à dinâmica menteimaginaçãoemoções Vamos láI UNIDADE 3 96 Hoje fazem muito sucesso as séries de TV baseadas em crimes reais Uma delas narrada no seriado CSI diz respeito a John Mathers Ele foi condenado à morte acusado pelos estupro e assassinato de uma estudante O tradicional exame de contraprovas por meio do DNA colocou dúvidas sobre se Mathers foi mesmo o assassino adiando a sua execução Os investigadores Grissom Nick e Sara fo ram acionados e encontraram outro aluno assassinado e deixado exatamente da mesma forma que a estudante Acontece que este assassinato aconteceu enquanto Mathers estava na prisão no corredor da morte Tal fato levou à suspensão da condenação e a retomada da busca pelo verdadeiro assassino As obras cinematográficas do gênero true crime não nos confrontam somente com a nossa própria realidade urbana e cotidiana como manipulam esse cenário por meio de suas câmeras e roteiros nos fazendo acreditar em situações que não aconteceram da forma como foram expostas No entanto devido a não sabermos a verdade nos permitimos nos influenciar pela narrativa apresentada logo até que ponto a nossa vivência no mundo não é manipulada por nossa imaginação Pensando sob a perspectiva de outros gêneros de filmes também preci samos adicionar uma camada de identificação que todos nós fazemos com um ou mais personagens da história independentemente se eles se baseiam em figuras reais ou não Nesse sentido esta projeção faz com que avaliemos o que faríamos no lugar de determinada figura no filme e estimula os nossos processos mentais por meio da imaginação de diversas narrativas paralelas Justamente por estarem conectadas à imaginação tais narrativas não são reais mas abrangem um universo de significação mental que envolve memórias valores fé etc tornandoas factíveis além de essas mesmas narrativas esti mularem a produção de imagens que permitem construirmos essas histórias Nesta unidade você entenderá de que modo estas articulações se dinamizam com seus sentidos e emoções culminando em novas compreensões de mundo Agora lhe convido a fazer a seguinte experiência acesse o Google e digite Dance II Henri Matisse separe a imagem digite Número 1ª Jackson Pollock separe a imagem e por fim digite A taça de vinho Johannes Vermeer separe a imagem Apresente estas três figuras para cinco pessoas além de você e ques tioneas em cada figura qual foi o primeiro pensamento que surgiu na mente delas ao ver o quadro A pessoa consegue imaginar a história por trás de cada pintura Das três qual ela mais gostou e por quê Alguma lembrança veio ao se deparar com qualquer uma das artes UNICESUMAR 97 Após as respostas faça a você mesmoa a seguinte pergunta você acha que as narrativas que as pessoas criaram para os quadros são as mesmas que o pintor quis expressar Agora registre a sua resposta a partir das reflexões que elas lhe possibili taram Procure pensar sobre as seguintes questões de que forma as histórias que imaginamos se aproximam da realidade que vivemos As nossas emo ções guiam essas histórias ou são as histórias que imaginamos que orientam nossas emoções O que é a imaginação e como ela se articula com as nossas memórias Onde a criatividade se localiza dentro de todo este processamento mental Existe a possibilidade de exercemos a criatividade sem fazermos uso da imaginação A arte é capaz de provocar emoções As emoções que o ar tista tentou imprimir em uma tela um filme uma música um livro ou outro meio são as mesmas que sentiremos ao ter contato com a obra Anote estas percepções em seu diário de bordo DIÁRIO DE BORDO UNIDADE 3 98 Tendo refletido sobre o proposto vamos falar um pouco mais sobre a imaginação Fayga Ostrower artista plástica e teórica da arte afirmou em seu livro Cria tividade e Processos de Criação 2014 p 32 que imaginar seria um pensar específico sobre um fazer concreto Com esta definição a autora expressa duas características da ação de imaginar 1 que é algo feito pela via do pensamento 2 que se pauta em uma produção concreta real Logo para a autora não há imaginação que se articule sobre seres abstratos ou objetos que de algum modo não estão presentes neste fazer concreto Isso explica o motivo pelo qual imaginar Deus por exemplo é uma tarefa impossível e tão sujeita à antropomorfizações além das inúmeras ambiguidades derivadas das várias mentes que realizam esse esforço Também não é possível imaginar com as emoções e mesmo elas passam pela racionalização para serem sentidas Na interpretação da Ostrower 2014 o conceito de imaginar possui certa coerência dado que sendo ela mesma a autora uma artista está aplicandoo à atividade criativa da produção de algo Mas é possível imaginar sem necessariamente se pautar em um fazer concreto Ou melhor sem produzir uma obra De que ma neira a imaginação se articula com o mundo ao nosso redor Por exemplo nunca existiu um unicórnio na realidade porém ao lermos o nome unicórnio rapidamente uma imagem se forma em nossa mente Seria então possível partir de pressupostos abstratos em nossa imaginação É isto que analisaremos aqui Estamos acostumados a fazer uma distinção entre imaginação e realida de Por outro lado no campo da Psicologia da Filosofia da Linguagem e da Filosofia da Mente tentase entender até que ponto imaginação e realidade coincidem Por exemplo conseguimos distinguir realidade de sonho de ilusão de devaneio de visão mas qual é o espaço onde todos esses conceitos se con fundem Esta pergunta é pertinente quando buscamos entender qual o grau de influência que a realidade possui sobre as imagens que aparecem em nossa mente além de investigar de que maneira essa mente por meio de simbolis mos se comunica conosco os sonhos são um bom exemplo disso O filósofo brasileiro Luiz Hebeche 2003 p 394 entende que Imaginar é um modo de agir expresso na linguagem só nela se decide o que se imagina e o que se vê se ouve ou se toca e portan to não se pode confundir o que está em nosso entorno com uma paisagem distante mas se pode distinguir o sonho da realidade a UNICESUMAR 99 alucinação do devaneio A gramática da imaginação dá conta desse solo áspero expresso na diversidade desses conceitos A imaginação de um cenário na ópera de uma paisagem de uma fotografia não é menos real do que ver a cozinha ou o quarto de dormir como se a linguagem tivesse pesos ontológicos distintos tratase antes de circunstâncias distintas para o uso das palavras na linguagem Em sua colocação o autor acrescenta ao nosso raciocínio o peso da linguagem isto é as palavras já estão condicionadas pela nossa imaginação logo o uso de las definirá o que imaginaremos Essas palavras são preenchidas por realidade simbólica isto é possuem um significado que deriva da realidade que vivencia mos então imaginar não é o mero fantasiar e mesmo sendo esta ação possui enorme grau de concretude Por exemplo se eu disser que ontem encontrei um amigo vestido com uma blusa feita de um tecido africano chamado samakaka somente os que sabem o que é uma samakaka conseguirão imaginar o que estou afirmando e mesmo se eu explicála verbalmente provavelmente ainda faltarão narrativas visuais que fornecerão uma imaginação fidedigna ao que realmente corresponde esse tecido Figura 1 Fantasia ou imaginação Descrição da imagem uma silhueta não identificada dirige um barco cheio de bolas luminosas durante a noite atravessando um mar calmo que está repleto de bolas brilhantes as quais se assemelham à lua cheia UNIDADE 3 100 A Figura 1 é fruto de uma imaginação ou de uma fantasia Sabendo que a imaginação é precondição para a fantasia nos surpreendemos com a quanti dade de elementos reais que existem nesta gravura mas que mesmo assim não removem o seu caráter onírico As luas iluminadas a água as ondas o barco uma pessoa a luz o céu as estrelas são vários componentes resultantes do fazer concreto que somos capazes de identificar nessa imagem Ela é familiar e ao mesmo tempo impossível de existir em nossa realidade o que reflete o grande paradoxo da imaginação o quão próxima e distante ela se mantém do mundo do que sentimos do que compreendemos Em relação a isso Hebeche 2003 p 396 entende que Podemos imaginar algo sem que o estejamos vendo Isso quer di zer que não depende da vontade deixar de ver aquilo que agora estou vendo a mesa o computador a prateleira com os livros ou de ouvir o trinado dos pássaros nas árvores próximas sentir o calor deste dia de verão mas posso me imaginar caminhando por Paris no inverno com as ruas açoitadas pelo vento etc Nesse caso as representações dependem da vontade É neste sentido que ele visualiza que a capacidade do imaginar vai além do mundo sensível imediato sendo capaz de alçar voo para realidades distantes geograficamente conceitualmente ou até mesmo temporalmente Aqueles que nunca foram a um deserto isso não os impede de imaginar como sejam os grãos de areia o sol escaldante o tom marromalaranjado do chão o formato das dunas todos esses elementos preenchem a mente e eles não são fixos ao contrário a mente constrói uma narrativa pois esse cenário possui um senti do Se ele se parece com a realidade isso pouco importa visto que não é esta a questão que nos confronta mas sim o quanto conseguimos nos aproximar do que entendemos ser este o mundo real Portanto a subjetividade que reina sobre o exercício da imaginação a torna única para cada um por outro lado reflete a individualidade da percepção sensível Para Platão 1973 a imaginação induziria o indivíduo ao erro visto que isso que chamamos de individualidade seria na verdade uma ilusão de nossos sentidos UNICESUMAR 101 Sócrates Ora se as coisas não são semelhantes ao mesmo tempo e sempre para todo o mundo nem relativas a cada pessoa em particu lar é claro que devem ser em si mesmas de essência permanente não estão em relação conosco nem na nossa dependência nem podem ser deslocadas em todos os sentidos por nossa fantasia porém existem por si mesmas de acordo com sua essência natural PLATÃO 1973 p 24 Isso significa que no pensamento dualista platônico as imagens possuem uma essência imutável e permanente Essa essência é apreendida pela razão e não pelas impressões geradas pelos sentidos O que chamamos de individualidade na compreensão de mundo para Platão nada mais é do que fruto de um conjunto de fantasias produzidas por nossa percepção sensível e que se assemelham à essên cia No entanto seguindo o raciocínio do filósofo grego poderíamos questionar então haveria alguma utilidade na arte Por arte compreendamos as pinturas esculturas e teatro Platão 1973 nos informará que não ela não tem utilidade visto que é apenas um simulacro isto é cópia da cópia da imagem Recordando que o dualismo platônico implica a existência de duas realidades uma inteligível real e acessível pela razão outra sensível cópia da inteligível acessível pelos sentidos A arte como reprodução do mundo sensível seria ainda mais falsa que ele pois a arte tem como recurso a manipulação das imagens e dessa forma utilizase da imaginação para recons truílas Assim a imaginação seria também pouco fidedigna no que concerne à representação visual e à percepção do mundo Em suma até o momento investigamos dois pontos de vista diferentes acerca da imaginação Para encerrarmos esta parte da unidade é importante analisarmos a concepção desenvolvida por Immanuel Kant visto que ela se trata de um divisor de águas na compreensão moderna de caráter empirista Em relação ao tema o filósofo de Königsberg entendia que o tipo de sensibilidade que compete ao conhecimento compõese dos sentidos e da imaginação facultas imaginandi esta última definida como a intuição em ausência do objeto GAY 2015 p 79 Desse modo a imaginação seria uma espécie de avaliação sensitiva do objeto quando este não estivesse presente é como perder o celular e sabendo como ele é tentar encontrálo em casa Por outro lado conforme a historiadora Eugenia Gay 2015 a imaginação kantiana não produz imagens do nada visto que elas sempre se pautam por algum ponto da realidade UNIDADE 3 102 É como o exemplo do unicórnio que discutimos anteriormente o animal em si não existe mas sabemos o que é um cavalo e sabemos o que é um chifre no meio da cabeça basta pensarmos em um rinoceronte Com pouca dificuldade a imagem de um unicórnio se constrói em nossa mente Para nos ajudar essa é uma figura popular em nosso meio sendo inspiração para personagens brinquedos propagandas o que faz com que nem precisemos nos esforçar permitindo que a imaginemos em cores e estilos diversos Porque entretanto a imaginação possui o poder de iludir os seres humanos sendo capaz de se sobrepor à razão e à facticidade Kant entende que é preciso controlála caso contrário perderemos os critérios que nos levam a julgar o que é real e o que não é GAY 2015 Quando pensamos em imaginação não podemos nos restringir às imagens advindas da nossa mente e que nos fazem criar fantasias Faz parte do imaginar o esforço de uma série de criadores e cientistas que ao longo da história se empenharam em propor so luções para inúmeros problemas Dentre eles temos Leonardo Da Vinci e o seu primeiro modelo de helicóptero fruto completamente da imaginação visto que era um objeto que não existia de forma alguma na época ou então pensemos no modelo de avião desenvolvido por Santos Dumont fruto da imaginação aliada à razão técnica PENSANDO JUNTOS Falemos agora sobre o lugar e o papel das memórias na imaginação com a ajuda do filósofo alemão Immanuel Kant Ele entende que existem duas ca tegorias de imaginação Produtiva Reprodutiva Deriva originariamente de objetos Se origina de experiências passadas memória Fruto das intuições puras Fruto das intuições empíricas Promove conhecimento objetivo Promove conhecimento empírico Quadro 1 Dois tipos de imaginação conforme Immanuel Kant Fonte o autor UNICESUMAR 103 Também existe um terceiro tipo de imaginação que é a fantasia produzida pelo estímulo involuntário de imagens que surgem em nossa mente sem coerência específica As intuições puras de tempo e espaço per tencem à faculdade produtiva todas as outras pressupõem intuição empírica que passamos a chamar experiência quando é conectada com o conceito do objeto e se transforma assim em conhecimento em pírico KANT 2003 13 p 26 A análise de Kant nos permite presumir que existe a possi bilidade da imaginação se pautar nas nossas recordações acrescentando às imagens um tom de familiaridade As ex periências cotidianas são gravadas por nossa mente a qual em situações específicas recorre às imagens produzidas para fins de gerar outras narrativas Interessante compreen der que a imaginação conforme o comentário anterior de Kant pode gerar conhecimento empírico abrindo espaço para por exemplo solucionarmos problemas Imagine que você nunca tenha aberto um pote de requeijão Se não tivesse visto ninguém realizando esta ação você provavelmente teria que confiar em outra lógica para descobrir os primeiros passos deste pro cesso por exemplo remover o dispositivo de borracha antes de forçar a tampa para fora no entanto pode ser que tenha visto a sua mãe ou o seu pai um dia abrindo o mesmo pote Logo antes de solucionar este problema você imaginará as atitudes que os seus pais tomaram para conseguir abrilo A imaginação é portanto um caminho empírico para vivermos no mundo transfor mando esse mundo por meio de novas ideias ou de so luções já propostas e das quais lembramos UNIDADE 3 104 A Figura 2 demonstra o esforço individual de se lembrar como funciona um abri dor de vinhos para quem nunca lidou com um Pode parecer uma ferramenta simples depois de utilizada pelas primeiras vezes no entanto este conhecimento empírico é fruto da prática aliada à imaginação da lembrança de alguém que a uti lizou Entender o grau da força a ser utilizada o mecanismo de abertura o som e o cuidado para não quebrar a boca da garrafa são experiências que produzem um sa ber reprodutivo Nas próximas vezes em que você abrir uma garrafa de vinho você terá em sua mente a lembrança do processo para que possa resolver este problema Nesta discussão precisamos também destacar a visão do filósofo inglês Da vid Hume que entendia existir a imaginação e a memória como duas seções diferentes da mente Embora o conteúdo que as duas articulem possam ser o mesmo o modo de execução e apresentação dele diverge entre ambas enquanto a imaginação é livre na associação de ideias a memória se destaca pela repetição na mente de fatos já ocorridos No entanto como podemos avaliar que a imagem que surge em nossa mente é fruto de nossa memória e não de nossa imaginação Em relação a isso Hume 1985 p 9 tradução nossa responde Figura 2 As ações humanas e as memórias Descrição da Imagem Homem abrindo uma garrafa de vinho em uma adega UNICESUMAR 105 Pela experiência vemos que quando uma determinada impressão esteve presente na mente ela novamente se faz aparente na forma de uma ideia e isto pode ocorrer de duas maneiras diferentes uma quando em sua nova aparência retém um grau considerável de sua primeira vivacidade e é de algum modo intermediária entre uma impressão e uma ideia ou quando ela perde inteiramente sua viva cidade e então é uma ideia perfeita Esta faculdade pela qual repe timos nossas impressões da primeira forma é chamada de memória enquanto na outra se chama imaginação O que Hume destaca é que a diferença entre memória e imaginação consiste na vivacidade da imagem Enquanto as ideias produzidas pela memória são mais intensas e mais nítidas aquelas produzidas pela imaginação carecem de força sendo mais obtusas O nível de aproximação com relação às imagens originais é um critério importante que distinguirá se determinada ideia está no campo da recordação ou da imaginação A proposta de Hume diverge da concepção de vários filósofos no que tange à relação entre memória e imaginação visto que ele é capaz de separar as duas faculdades tornandoas distintas umas das outras No entanto a partir dessa concepção poderia existir uma memória falsa Ou seja uma ideia que possui todos os caracteres de uma imagem rememorada mas não o é Como exemplo podemos pensar no fenômeno psíquico do déjà vu que consiste basicamente em uma impressão muito instantânea de um momento já vivido Seria o déjà vu uma memória verdadeira ou fruto de nossa fantasia Conforme a interpretação de Roberta Lima Bouchardet 2006 p 44 Hume en tende esta impressão como uma memória falsa Segundo pesquisas da psicologia é comum que as pessoas tenham essa sensação em algum momento da vida mas há casos crônicos Essas pesquisas reforçam a teoria humeana que o que distingue ideias de memória e de imaginação não é o conteúdo das mesmas mas a sensação o sentimento o feeling que as acompanha E tam bém de que nem sempre a memória funciona apropriadamente Por um lado podemos esquecer impressões passadas por outro podemos criar falsas memórias UNIDADE 3 106 Se o conteúdo não é a parte mais importante de uma memória ou imaginação mas o sentimento de veridicidade isto é a sensação de quão fidedigna é aquela imagem em relação à recordação vivida então a memória não tem condições mesmo de corresponder completamente ao que foi vivenciado A própria exis tência das falsas memórias demonstra no pensamento de Hume certa névoa na distinção entre memória e imaginação visto que não é possível diferenciar ambas totalmente Em algum momento as duas faculdades parecem se confundir Uma situação grave que afeta o processamento das imagens em nossa mente pertur bando a sua autenticidade é a amnésia Se entendermos a memória como uma facul dade independente da imaginação a ausência temporária ou permanente de ideias vívidas prejudica fortemente a noção de realidade do indivíduo o qual depende delas para se constituir como sujeito Na teoria de Hume ele passa a depender quase que exclusivamente da imaginação durante o tempo de formação de novas memórias Isso faz sentido quando pensamos nas condições dessa pessoa que necessita dependendo da situação reaprender a andar a falar e a executar ações simples no dia a dia No entanto se partimos do pressuposto kantiano de que existe uma imaginação reproduti va a perda dela consiste no desaparecimento do conhecimento empírico o que nova mente leva à necessidade da construção de novas imagens mentais tendo em vista a reaprendizagem Desse modo tanto em uma teoria como na outra é interessante per cebermos o quanto a aprendizagem humana está relacionada com a nossa capacidade de armazenar e reproduzir ideias EXPLORANDO IDEIAS Antes de compreendermos o papel da imaginação na produçãoobservação da arte precisamos analisar de que forma ela se articula com as nossas emo ções e os nossos sentimentos Sabemos que a nossa imaginação é capaz de suscitar sensações físicas e psíquicas dependendo das memórias que surgem em nossa mente ou dos gatilhos que determinada situação ativa a emoção da dor do arrependimento e da alegria pode imediatamente transbordar a nossa consciência Wassily Kandinsky 2015 artista russo expressionista escreveu que a cor embora provoque um efeito transitório no espírito é capaz de ativar sentimentos diversos que prolongam esta sensação Quanto mais cultivado é o espírito sobre o qual ela a cor exerce mais profunda é a emoção que essa ação elementar provoca na alma UNICESUMAR 107 Ela é reforçada nesse caso por uma segunda ação psíquica A cor provoca portanto uma vibração psíquica E seu efeito físico superfi cial é apenas em suma o caminho que lhe serve para atingir a alma Se essa segunda ação é realmente uma ação direta conforme é lícito supor pelo que se acaba de expor ou se pelo contrário só é obtida por associação é difícil decidir Estando a alma estreitamente ligada ao corpo uma emoção qualquer sempre pode por associação pro vocar nele outra que lhe corresponda Por exemplo como a chama é vermelha o vermelho pode desencadear uma vibração interior semelhante à da chama O vermelho quente tem uma ação excitante Sem dúvida porque se assemelha ao sangue a impressão que ele produz pode ser penosa até dolorosa A cor neste caso desperta a lembrança de outro agente físico que exerce sobre a alma uma ação penosa KANDINSKY 2015 p 6667 Antes de prosseguirmos em nosso raciocínio introdutório veja o quadro a seguir Figura 3 Obra Casas em Murnau Fonte Kandinsky 1909 online Descrição da imagem quadro pintado por Kandinsky retratando uma rua de casas sobre a montanha com tons predominantemente amarelos e azuis UNIDADE 3 108 Esta pintura de Wassily Kandinsky se chama Casas em Murnau e se trata na verdade de um treino que artistas costumam fazer pintando temas específicos para treinar a observação e avaliar a paleta de cores que definem o seu estilo A ideia não é representar a natureza mas sim interpretála esta é a palavrachave da arte especialmente a contemporânea interpretação Quando vê essa pintura o que você sente Quais emoções as cores produzem em você O que o cenário lhe recorda Lembrese que neste processo de interpre tação você continua fixoa em seu lugar olhando para a tela porém a sua mente começa a ser estimulada por uma série de imagens aleatórias mas que lhe fazem sentido Por exemplo ao visualizar essa pintura imediatamente lembrome de Ouro PretoMG as suas casinhas antigas ruelas e enormes subidas e descidas A paleta de cores que mistura tons quentes e tons frios me remete ao pôr do sol momento em que o calor do dia começa a arrefecer tornando o ambiente mais fresco A instabilidade das pinceladas dá a sensação de movimento como se es tivesse ventando sobre as casas e árvores criando um movimento de sombras em suas fachadas De modo geral é uma pintura que me propicia a sensação de aconchego recolhimento do momento do dia em que pauso minhas atividades para começar a prepararme para a noite todas essas interpretações compõem a minha narrativa sobre a pintura Esta por sua vez está repleta de emoções provocandome lembranças e sensações Entretanto todo esse olhar se concentra na minha imaginação não digo os sentimentos que percebi que são físicos mas a história que apreendi e que me comove Ao discutirmos sentimentos e emoções à primeira vista é razoável visuali zarmos a existência de uma separação como se ambos fossem dois componentes interdependentes mas ao mesmo tempo diferentes O neurocientista nortea mericano especialista no estudo das emoções Joseph LeDoux apud CEZAR JUCÁVASCONCELOS 2016 p 7 entende que para o sentimento ocorrer é necessária a existência de três com ponentes processuais eliciados pela emoção a representação do es tímulo emocional a recuperação de significados associados a esse estímulo e a percepção consciente de estados do corpo Para o autor LeDoux sentimentos são emoções conscientes A conscientização da emoção é portanto a condição que distingue o sentimento UNICESUMAR 109 A emoção para o cientista seria uma expressão inconsciente derivada de um estímulo Há emoções que sentimos sem perceber contudo quando nos cons cientizamos de determinada emoção então ela se torna sentimento pois deixa de ser espontânea e imperceptível para conter um valor uma perpetuação É inegável que nesse estímulo encontramse parâmetros subjetivos biológicos físicos e psíquicos Como vimos no início desta disciplina uma situação específica é capaz de provocar graus diferentes de dor em cada ser humano bem como a perpetuação dessa experiência por meio da memória também é relativa Pode ser que um indivíduo que tenha sofrido menos dor se lembre dela por muito tempo já outro que sentiu forte intensidade de dor imediatamente a reprima para nunca mais se lembrar desta ocorrência Somado a isso Os sentimentos são mais duradouros menos explosivos e não vêm acompanhados de reações orgânicas intensas Já as emoções são fortes passageiras e mutáveis Portanto o que emociona um indi víduo hoje pode não emocionálo amanhã CEZAR JUCÁVAS CONCELOS 2016 p 8 Se as emoções são fortes elas são as que causam mais impacto em nossa mente Por exemplo um amigo resolve fazer uma festa de aniversário surpresa para você em sua casa Após todos os arranjos ele lhe conduz à sua residência e lá ao ligar a luz várias pessoas lhe surpreendem com uma reação animadamente explosi va Alguns indivíduos podem ficar de imediato alegres com o ocorrido outros podem detestar ficando completamente assustados Esse estímulo imediato em nossa mente é compreendido como emoção No entanto ao longo da festa pode ser que o seu amigo tenha convidado o seu ou a sua ex o que pode tornar aquela experiência angustiante ou mais alegre ainda dependendo da circunstância Esta afecção deixa de ser emoção para se tornar sentimento visto que as memórias que se vinculam à imagem do seu ou da sua ex podem lhe estimular de maneira permanente A angústia ou a alegria não passará em questão de segundos como a emo ção de se deparar com a surpresa da festa ao contrário mesmo com o fim da comemoração é possível que você se recorde do fato de ter encontrado alguém que gostaria ou não de ver neste dia especial UNIDADE 3 110 Outro ponto a ser levado em consideração no estudo das emoções e dos senti mentos se concentra na normatividade que envolve a sua estruturação Sabemos que algumas afecções são reprimidas socialmente em determinadas condições por exemplo podese visualizar como normal um homem bater em uma mulher porque está com raiva mas o inverso costuma ser visto como antinatural Outras são expansivamente estimuladas como a alegria a esperança a confiança En tretanto isso se trata de uma modulação social da mente estabelecer expectativas sobre quais emoções esperamos que o outro sinta de modo a manter o equilíbrio na sociedade entre os agentes dela O sofrer nos ameaça a partir de três lados do próprio corpo que fadado ao declínio e à dissolução não pode sequer dispensar a dor e o medo como sinais de advertência do mundo externo que pode se abater sobre nós com forças poderosíssimas inexoráveis destrui doras e por fim das relações com os outros seres humanos O so frimento que se origina desta fonte nós experimentamos talvez mais dolorosamente que qualquer outro tendemos a considerálo um acréscimo um tanto supérfluo ainda que possa ser tão fatidicamente inevitável quanto o sofrimento de outra origem FREUD 2010 p 21 Sigmund Freud médico considerado o pai da psicanálise entendia em seu livro O MalEstar da Civilização 2010 que as relações humanas são causadoras de dores internas provavelmente mais intensas do que qualquer outra fonte de sofri mento A busca pelo equilíbrio social é no fim das contas o esforço para reduzir as emoções e os sentimentos ruins que provêm de relacionamentos malconduzidos o que torna as normativas emocionais coerentes com este empenho No entanto nós seres humanos sentimos afecções ruins que em um instante de desequilíbrio O podcast desta unidade de estudos é acerca da conexão entre nossas emoções e nossos estados mentais Como não podemos falar de emoções sem abordar a imaginação e a arte conversaremos sobre a relação entre esses conceitos e a nossa vida mental A pergunta é as emoções a imaginação e a arte são importantes a essa vida Para saber a resposta não deixe de acompanhar o que preparamos para você UNICESUMAR 111 não só nos prejudicam como podem afetar o outro Mas neste caso a normativa e o controle emocional são feitos sobre as emoções ou sobre os sentimentos Se um for controlado o outro é automaticamente manipulado também Sendo as emoções mais intensas e instantâneas CEZAR JUCÁVASCON CELOS 2016 elas costumam ser mais difíceis de serem controladas Já os senti mentos são mais fáceis de serem equilibrados e até em alguns casos reprimidos O controle emocional é portanto um recurso essencial da mente humana que permite que ela seja confrontada com as situações mas saiba dosar o grau de sen sações que serão sentidas neste momento sem emoções em excesso ou em falta Agora nos ocuparemos da relação entre juízos e emoções um dos mais fre quentes temas de debates na história da Filosofia KIRMAN et al 2010 p 215 As filosofias epicuristas estoicas e até mesmo céticas estimularam uma discussão que de modo geral buscava caminhos de controle dos nossos estados emocionais de modo a nos permitir que alcançássemos a felicidade independentemente de seu significado e isso reforça o valor que as emoções possuem em nossas decisões Certas ações são totalmente dominadas por nossas emoções e a aplicação da racionalidade nestes casos é uma forma de intermediar essa comunicação que sem ela acabaria em confusão Na Modernidade vários filósofos apresentaram as suas respectivas visões sobre o vínculo entre emoção e razão A absolutização da razão com a promessa de uma vida de progresso equilibrada e segura para o ser humano fez o sujeito se identificar e confiar plenamente na ciência que até hoje existe um certo traço dessa influência iluminista Porém a história mostrou principal mente no século XX o mau uso da razão pelo homem não legiti mando a promessa iluminista CRUZ 2010 p 37 Sendo a racionalidade um objetivo a alcançar pelo indivíduo moderno a compreensão geral é que uma vez atingida a meta isso significaria equilíbrio portanto felicidade A ciência como expressão máxima da manifestação da racionalidade se tornou a grande interlocutora dessa época no entanto o que se percebeu ao longo dos séculos XVI a XX é que a razão não conseguiu con trolar os impulsos de guerra violência e barbaridade que ocorreram desde os primórdios da colonização europeia até as grandes guerras Teoricamente o UNIDADE 3 112 equilíbrio emocional promovido pela sobreposição da razão não deveria ter como consequência tantos fenômenos negativamente marcantes na História Neste caso ou as emoções atrapalharam a clareza da razão ou os indivíduos não souberam usála conforme os filósofos orientavam Figura 4 Comunicando as emoções Descrição da imagem rosto de uma mulher expressando várias emoções como alegria interrogação raiva susto carinho acolhimento nojo etc Immanuel Kant também segue na mesma linha de pensamento ao entender a experiência sensível como parte da animalidade humana Assim um indivíduo não seria totalmente animal ao fazer uso da razão para outros fins além daqueles que o instinto imediatamente estimula O homem enquanto pertence ao mundo sensorial é um ente ca rente e nesta medida sua razão tem certamente uma não desprezí vel incumbência de parte da sensibilidade de cuidar do interesse da mesma e de proporse máximas práticas também em vista da felicidade desta vida e se possível também de uma vida futura Apesar disso ele não é tão inteiramente animal a ponto de ser UNICESUMAR 113 indiferente a tudo o que a razão por si mesma diz e de usála simplesmente como instrumento de satisfação de sua carência enquanto ente sensorial KANT 2015a p 94 Kant também não nega a dualidade do ser humano Ao mesmo tempo em que o autor entende que a nossa mente está presente na dimensão inteligível ele também visualiza o seu potencial sensorial As paixões são expressões do envol vimento dos nossos sentidos nesse universo inteligível isto é existe interrelação entre as nossas afecções e a nossa razão Uma faz uso da outra para desenvolver estratégias em busca da felicidade no entanto a razão ainda deve se sobrepor e dominar a mente de modo que esta última cumpra a sua função que vai além de sua disposição natural de somente cumprir os instintos De acordo portanto com esta disposição natural uma vez encon trada nele ele certamente precisa da razão para tomar sempre em consideração o seu bem e mal mas ele além disso a possui ainda para um fim superior a saber não somente para refletir também sobre o que é em si bom ou mau e sobre o que unicamente a razão pura de modo algum interessada sensivelmente pode julgar mas para distinguir este ajuizamento totalmente do ajuizamento sensível e tornálo condição suprema do último KANT 2015a p 95 O raciocínio kantiano chama a atenção portanto para dois pontos 1 existe uma natureza que aproxima o ser humano dos animais e cumprila implica especifi camente usar da razão para decidir o que é certo e o que é errado o que carrega alto grau de sentimentos e emoções também 2 o ser humano ultrapassa a sua natureza ao conseguir definir o que faz parte do juízo sensível e o que compõe o juízo da razão e assim é neste esforço que o ser cumpre a sua função última transcendendo a sua natureza e se tornando humano Por isso Kant entende que ser humano é basicamente não se deixar guiar pelas emoções e pela sensibilidade mas pela razão No entanto não podemos nos confundir deixarse guiar pela razão não significa anular as emoções e os senti mentos mas colocálos em segundo termo afinal ou um princípio da razão é já em si pensado como o fundamento determinante da vontade sem consideração de possíveis objetos de apetição KANT 2015a p 95 o que conforme o autor UNIDADE 3 114 caracteriza a chamada lei prática da razão ou então um fundamento determi nante da faculdade de apetição precede a máxima da vontade que pressupõe um objeto de prazer e desprazer por conseguinte algo que deleita ou provoca dor KANT 2015a p 95 Neste segundo caso a razão é aplicada de maneira a impedir o desprazer ou a promover o prazer potencializandoo e caracterizando a razão prática mas nunca uma lei Para encerrar a nossa discussão neste tema cabe olharmos o que diz o filósofo alemão Schopenhauer 2015 p 132134 no que tange à imaginação à memória aos sentimentos e à capacidade desses em contribuírem para o mau julgamento Devemos tomar as rédeas à fantasia em tudo o que concerne ao nosso conforto e desconforto Logo antes de mais nada não deve mos construir castelos ao ar porque estes são muito caros já que imediatamente depois temos de demolilos com suspiros Para tomar as rédeas à fantasia como recomendado acima também é preciso impedir que ela evoque e ilustre as injustiças outrora so fridas bem como os danos as perdas as injúrias as preterições as humilhações e coisas semelhantes Do contrário excitamos nova mente a indignação a cólera e todas as paixões odiáveis há muito tempo adormecidas que contaminam nossa alma O filósofo alemão alude a três observações importantes as quais já trabalhamos nesta unidade a forma como a imaginação guia a memória e esta por sua vez presentifica os sentimentos dificultando a racionalização de nossos juízos Como construir castelos no ar Schopenhauer 2015 se refere às várias fantasias e ideais que formamos em nossa vida fazer tal faculdade casar com tal pessoa ou não casar com ninguém conquistar a independência financeira em determinada idade e por aí vai São vários sonhos que à medida em que vivemos caem por terra com nossos suspiros É como costumamos brincar ao dizer que a nossa imaginação é sempre mais interessante do que a realidade em que vivemos No entanto o autor em nenhum momento enfatiza que devemos parar de usar a nossa capacidade de produzir fantasias mas sim devemos nos esforçar para trazer esse imaginário ao chão e não o deixar voar a alturas muito grandes Em um segundo momento o filósofo também argumenta que o exercício de controlar as nossas fantasias deve levar em consideração as memórias que elas estimulam tornando presentes sentimentos e emoções que estavam enter UNICESUMAR 115 rados Então quando acreditamos ter desenvolvido bom equilíbrio emocional ao ter deixado tais sentimentos para trás eles retornam prejudicando o nosso raciocínio por meio do rancor Isso ocorre por exemplo nas discussões em relacionamentos Em um mo mento ou outro um dos parceiros levantará questões mal resolvidas do passado pois algum ponto da discussão tocou em imagens outrora reprimidas em sua memória Ao se lembrar delas a dor que está sentindo devido à discussão se adiciona ao sofrimento causado por outra briga anterior piorando a situação e removendo do interlocutor qualquer possibilidade de racionalização do ocorrido O que Schopenhauer 2015 questiona é justamente a dificuldade que temos de resolver os nossos problemas pois damos ouvidos demais às nossas idealizações e aos nossos rancores Como colocamos devemos antes encarar de maneira bem prosaica e sóbria tudo o que for desagradável para assim aceitarmos o que nos couber da maneira mais fácil possível SCHOPENHAUER 2015 p 135 OLHAR CONCEITUAL Um dos requisitos para sabermos lidar com as nossas emoções e assim desen volver o bom controle delas é aprender a identificálas Muitas vezes não sabe mos o que sentimos o que pode se tornar um grande obstáculo à compreensão de como saber lidar com essa afeição Aprendemos nesta unidade que qual quer juízo se articula com as nossas condições emocionais porém a nossa razão deve se sobrepor a essas condições de modo a impedir decisões precipitadas ou atitudes mal avaliadas provocando um transtorno totalmente desnecessário para você e muitas vezes para o outro envolvido É tendo isso em mente que apresentamos a tabela a seguir tendo como pressuposto a teoria de que exis tem emoções primárias que são aquelas originadas e elaboradas na infância e as emoções secundárias ou seja aquelas que derivam das primárias e que são apreendidas no decurso da vida UNIDADE 3 116 OLHAR CONCEITUAL As sensações que a tristeza provoca são a solidão a baixa estima a depressão e a solidão Dessa forma essas sensações são contrárias às que a alegria provoca por exemplo A pessoa demonstra este sentimento por meio de palavras choro isolamento entre outros tipos de atitudes As motivações que podem resultar na tristeza vêm de frustrações pois a pessoa tem as suas expectativas quebradas e sente um sentimento negativo Podemos caracterizálo como um impulso negativo que impede a pessoa de entrar numa furada Assim quando a pessoa fzer algo estúpido que coloca a sua vida em risco o medo age como um aviso ou um impedimento Assim sendo é um sentimento negativo contudo ao mesmo tempo ele é bom Isso porque leva o indivíduo a entender os seus limites e a se conservar saudável Ademais nos casos em que o sentimento é considerado irracional e o perigo não é real podese superálo Tristeza Medo Esperança Surpresa nsiderado irracional e o perigo É caracterizada por uma repulsa a algo que é considerado como errado negativo mau Essa repulsa provoca o afastamento dos elementos ou das pessoas que transmitem isso Aversão A surpresa é a reação a algo que aconteceu de modo inesperado seja isso algo positivo ou negativo Assim podemos expressála por meio de impulsos nervosos vindos da adrenalina do sangue Neste contexto vale dizer que a surpresa pode causar um ataque do coração pois o ritmo cardíaco aumenta na hora Assim se for surpreender alguém certifquese de pegar leve Este sentimento surge quando a pessoa sente que os seus direitos foram violados Nestes casos as pessoas respondem a este tipo de injustiça com irritabilidade A pessoa sente isso principalmente quando está magoada de modo que se sente traída ou enganada Raiva or meio de impulsos os to vale dizeer q r que ue a o cardíaaco o a o aaume ume m nta nta ta o cardíacco aaum ume ume t nta nta e peggar ar r lelev lev lev ev ev evv evve e e e e e e Os 16 principais sentimentos A esperança é acreditar que tudo dará certo que as metas serão alcançadas e que as situações melhorarão Quando a esperança é voltada para a própria pessoa ela acredita ser capaz e que conseguirá enfrentar as difculdades e vencêlas Ademais quando direcionada aos outros é o sentimento de que mesmo que a situação seja péssima há pessoas capazes que podem reverter este estado Às vezes é o último sentimento em que a pessoa consegue se segurar antes de desistir Alegria Este sentimento produz sensações de bemestar e bom humor Todo mundo fca mais simpático quando está alegre isso se dá pelo fato de a alegria estimular o otimismo Esse sentimento se origina de situações favoráveis que a pessoa experimenta e pode ser expresso por meio de sorrisos UNICESUMAR 117 OLHAR CONCEITUAL Paixão Amor Este sentimento tem origem na falta de confança Ele decorre da sensação de achar que a pessoa que você tanto ama não lhe ama ou que ela pode se apaixonar por outra Assim sendo os ciúmes têm muita ligação com a baixa autoestima e o medo de ser abandonadoa ou estar sozinhoa Esse sentimento pode se basear em algo real ou não Ciúmes or Empatia sentimento nto tee tem o m o m o m o irig rigg rigem em em na na na f l fal fal falta ta ta de de de con on con confan fan fan fança ça Ele deco char que a pessoa que v ê ocê tanto ama não lhe ama ou xonar por outra Assim sendo os ciúmes têm muita ligaç mes Compaixão Este sentimento é aquele em que uma pessoa se coloca no lugar da outra que está sofrendo sentindo uma espécie de pena por ela Nem sempre é direcio nado a alguém conhecido entre a família ou os amigos Assim a pessoa pode ver alguém na rua sofrendo e se sentir compadecida por ela Além disso a compaixão geralmente é demonstrada por um desejo de ajudar o outro Não é só sentir pena é também agir de forma efetiva para ajudar o outro a sair desta situação ruim oa oa oa oa se se se se co co co coloc loc loca n a n a nno l o l o l o lug uga ugar da outra é aquele em em qu quu q e u e u e u e uma ma pes pes pes pes p s ena por lela N Nem sempre é dire ntindo uma espéc é ie de pe u os amigos Assim a pessoa p onhecido entre a família o O amor se resume ao afeto que sentimos pelo outro seja esse outro uma pessoa um animal um objeto um lugar etc Neste contexto o que estimula o surgimento deste sentimento é a imagem que criamos do objeto Assim como os ciúmes o amor nem sempre é algo real pois a imagem que criamos é infuenciada pelo o que queremos acreditar Isso por sua vez é totalmente subjetivo ação com a baaixaa sozinhoa EEsssssse se aç A paixão diferentemente do amor é mais momentânea e repentina Por isso pode ser que deixe de existir de uma hora para outra Ela tem a ver com o encantamento do início do namoro mas também pode durar por toda a vida Muitas pessoas se sentem muito bem ao estarem apaixonadas mas outras preferem não se sentirem assim Porém é muito difícil controlar o sentimento da paixão normalmente ele é avassalador ar por toda a vida adas mas outras olar o senntim tim ment ent ent nto A empatia é um sentimento que de certa forma é derivado da compaixão é colocarse no lugar do outro Enquanto a compaixão pressupõe sofrer junto paixão signifca sofrer compaixão é sofrer com alguém a empatia é um sentimento mais amplo É possível ser empáticoa em situações de dor ou de alegria Na lista de sentimentos de uma pessoa excessivamente narcisista a empatia não costuma fgurar com destaque timento pode se basear em algo real ou não A confança também faz parte da lista de sentimentos secundários Ela exprime um sentimento de segurança que a pessoa sente por outra pessoa ou por algo Por exemplo você pode confar no seu carro É por meio da confança que conseguimos vencer situações difíceis medos Contudo ela não surge do nada Você deve ter certo nível de afeto por algo ou alguém para que consiga confar A confança também pode ser ruim por exemplo ter confança demais em si mesmo é perigoso porque você pode se colocar em situação de risco Além disso confar demais em outras pessoas também pode trazer problemas Confança UNIDADE 3 118 OLHAR CONCEITUAL Hostilidade Esta emoção é intrínseca ao amor Assim pode ser reconhecida nas relações maternais fraternas paternas românticas fliares e em demais relaciona mentos Ademais pode ser relacionada ao prazer e ao sexo de modo que a pessoa pode se sentir estimulada a se aproximar do seu objeto de desejo Esse sentimento pode ser expresso por gestos Afeto Ocorre quando a pessoa tem uma expectativa que não é correspondida na realidade O sentimento desagradável é chamado de frustração aquela culpa interna misturada com desgosto por ter acreditado que algo seria melhor do que realmente foi A expectativa frustrada pode ser criada em torno de pessoas objetos projetos ou até mesmo em relação a si próprioa Frustração A pessoa que se sente hostil está ressentida ou indignada com alguma situação ou pessoa Geralmente é motivada por violência física e hostilidade de outro indivíduo No entanto o mesmo sentimento também pode surgir quando a pessoa acha que alguém está desconfando dela Quadro 2 Os 16 principais sentimentos Fonte adaptado de Psicanálise Clínica 2019 online Há ainda um último assunto que gostaria de apresentar a você a mente e a arte como prática da imaginação Nele entenderemos que a relação entre mente e arte abrange uma significativa quantidade de parâmetros de análise imaginação fantasia emoções memória narrativa interpretação etc no entanto em nosso es tudo nos focaremos em três conceitoschave emoção memória e imaginação Você já pensou nos estímulos sensíveis que uma música provoca em você Se não faça um experimento escute as seguintes músicas recomendo fechar os olhos e ouvilas do início ao fim 1 YoYo Ma Bach Cello Suite nº 1 in G Major 2 Vinicius de Moraes Toquinho Tom Jobim Corcovado 3 Calle 13 Latinoamérica UNICESUMAR 119 Certamente nenhuma das músicas passou indiferente aos seus ouvidos indi cando o que chamamos de sensibilidade estética Mas como isso se relaciona com os nossos estados mentais Um dos filósofos que estudaremos nesta uni dade o britânico Roger Scruton 2017 compreenderá a arte como um fim em si mesma Isso significa que não é responsabilidade dela estimular qual quer emoção mas esta é uma consequência da própria experiência que a arte promove Isso torna a sensibilidade estética ou seja a percepção artística um requisito para interpretar a própria arte mas em nenhum momento ela tem como objetivo essa interpretação O contato com qualquer obra de arte cinema música pintura escultura literatura arquitetura gastronomia etc tem como efeito uma experiência sen sorial bastante acurada Quanto mais experiências temos mais afinada ficará a nossa percepção e mais intensas serão as nossas próximas vivências Mas como assim Não nascemos com uma sensibilidade artística aprimora da Do mesmo modo como aprendemos a ler e a escrever também aprendemos a pensar e a interpretar o mundo ao nosso redor Os nossos sentidos precisam ser experimentados e à medida em que nos desenvolvemos como seres humanos podemos vivenciar diferentes graus de sensações ao nos depararmos com uma obra artística Uma pessoa que se dedica ao trabalho pouco reflexivo e automati zado de bater ponto todos os dias dificilmente terá profunda conexão com uma pintura contemporânea A reação mais imediata de quem pouco está acostumado a ter contato com museus ou galerias é meu filho de 5 anos pode fazer isso A arte contemporânea é degenerada No entanto o estudo da história da arte uni do à construção de um acervo sensorial e visual dentro de uma mente aberta às novas experiências sensíveis pode conduzir a outra compreensão de tal estilo Tudo depende do nível de receptividade da mente para novas sensações Para aprofundar os seus pensamentos em um caderno ou uma folha de papel responda A partir do que você aprendeu sobre emoções e sentimentos o que sentiu ao escutar cada uma das músicas Alguma delas lhe despertou uma emoção em especial Esteticamente qual delas você considera a mais bela aos seus ouvidos Alguma delas lhe despertou alguma memória Se sim qual e do que você se recordou PENSANDO JUNTOS UNIDADE 3 120 Em relação à noção do significado da beleza na arte atual não só nas artes plásticas mas em todas as expressões o filósofo norteamericano contempo râneo Arthur Danto 2015 p 27 declara que O que se pode deduzir dessa história de desaparecimento concei tual não é que a arte é indefinível mas que as condições necessárias para que algo seja arte terão de ser bastante gerais e abstratas para se adequar a todos os casos imagináveis e em particular que resta muito pouco do nosso conceito de arte em que se basear para o autor de uma definição real Se qualquer coisa pode ser uma obra de arte e nem tudo é belo a beleza não poderia ser realmente parte da definição de arte Figura 5 Obra Latas de Sopa Campbell Descrição da imagem casal observando a obra de Andy Warhol conhecida por se constituir em uma enorme quantidade de latas de sopa Campbell dispostas uma ao lado da outra UNICESUMAR 121 A Figura 5 apresenta uma obra de arte do artista norteamericano Andy Warhol maior figura do movimento da pop art O nome da obra é Latas de Sopa Cam pbell foi produzida em 1962 e é composta por 33 quadros pintados por meio de um processo chamado serigrafia que consiste em fazer a tinta vazar para uma tela a partir de uma imagem em material permeável e com um rolo ou uma es pátula planificar a tinta sobre a tela Assim se torna possível fazer uma espécie de impressão da gravura reproduzindo diversas cópias No caso cada quadro é diferente do outro pois Warhol pintou depois o nome do sabor de cada sopa Certamente a pretensão do artista norteamericano não foi se destacar pela beleza tampouco pelo impacto emocional Qualquer um que possui contato com essa obra oscila entre a indiferença e a curiosidade Todavia mesmo estas duas impressões configuram dois estados mentais a indiferença não é a anulação do sentimento ao contrário é por si só uma sensação de apatia frente a algo Já a curiosidade é o estímulo provocado por alguma indagação um questionamen to acerca de algo Mesmo que o espectador na frente de tal reprodução não se sinta minimamente instigado não significa que ele não está sentindo nada pois mesmo o nada é uma emoção um estado mental Portanto o que Danto 2015 destaca é que a beleza ou a sensação do belo do sublime e até mesmo o famoso efeito uau são algumas das categorias que uma obra de arte pode carregar mas não são os únicos estímulos que ela é capaz de promover Contudo nos acostumamos há tanto tempo ao conceito de belo como única possibilidade de expressão e de intenção em um trabalho artísti co que para muitos a arte contemporânea passa uma impressão imediata de inutilidade ou até mesmo de falta de bom gosto Interessante é entendermos que mesmo o bom gosto é uma expressão mental derivada de um estímulo externo sendo por isso totalmente relativo e de forma alguma ele deve estar obrigatoriamente presente em uma obra O conceito de beleza na arte é uma das várias categorias que permeiam os valores que uma obra artística deve expor Muitas pessoas equivocadas acreditam que o bom gosto é o único ou é o principal valor porém não foram poucas as obras produzidas para serem feias Francisco de Goya artista espanhol foi um dos que tentou expressar a feiúra Obcecado por deformações Goya não se importava com produzir uma arte bela mas queria impactar pelo oposto Como exemplo temos as telas O Louco ou Saturno Devorando um Filho Este último você pode ver a seguir UNIDADE 3 122 São narrativas que ninguém se sentiria confortável de ficar contemplando em plena sala de visitas ou de jantar e Goya fez isso propositadamente No campo da culinária por exemplo um prato belo parece ser um requisito a partir da conhecida máxima de que comemos com os olhos logo imaginar que um creme verde e gosmento poderia ter um sabor interessante é realmente um desafio para a nossa mente tão acostumada a querer enxergar a beleza e têla como sinônimo de bom Uma dobradinha por exemplo pode se tornar uma Figura 6 Obra Saturno Devorando um Filho Fonte Goya 18191823 online Figura 7 Obra O Louco Fonte Goya 2021 online Descrição quadro de Goya retratando um relato da mitologia grega em que o deus Sa turno devora um de seus filhos A ideia é cha mar a atenção para o aspecto aterrorizante do acontecimento Descrição quadro de Goya retratando a figura de um homem louco destacando as deformações faciais principalmente no sor riso Neste parece estar presente a própria indicação da loucura UNICESUMAR 123 iguaria para alguns e um pesadelo para outros o que revela que a definição de belo e gostoso é bastante relativa No entanto as categorias de belo e gosto podem estar muito mais associadas à uma ideia estética do que à arte em si como revela Michel Haar 2000 p 3536 grifos do autor filósofo francês a partir do pensamento de Kant Assim Kant dissocia duplamente e por princípio o artístico do esté tico A arte produz sem dúvida o prazer estético que é puro prazer de reflexão e não prazer de fruição Mas a natureza produz muito mais este puro prazer na arte a Ideia estética precede a obra enquanto na bela natureza basta uma simples reflexão a partir de uma intuição não preconcebida do que um objeto deve ser para despertar uma ideia Em outros termos a arte é a expressão de Ideias estéticas entendendo Kant como tais representações da imaginação que oferecem perspectivas ilimitadas de unificação dos atributos estéticos dos objetos A ideia estética supera o poder uni ficador do conceito ela permite à imaginação pensar um indizível que se situa além do entendimento O artista para criar tem que possuir mesmo que obscuramente como veremos tais Ideias que ele próprio só descobre depois Kant entende por ideia estética um horizonte de unificação de várias categorias que os objetos apresentam e os quais são submetidos ao nosso juízo Já que a arte para ele não é uma obra de fruição e sim de reflexão contemplação essas categorias estão particionadas e são apreendidas em maior ou menor grau conforme a individualidade de cada um É seguindo esta linha de raciocínio que Danto 2015 p 42 escreve O texto de Kant não é exatamente fácil de acompanhar mas ele claramente quer dizer que julgar algo belo é mais do que apenas ter prazer em experimentálo O prazer então está desassociado do conceito de beleza tornandose uma categoria própria De outro lado a natureza desperta muito mais facilmente essas ideias do que a arte que é criada a partir de uma ou mais ideias estéticas específicas sem que o espectador o perceba Desse modo o que Kant expressa é que o nosso juízo da obra está vinculado a conceitos e associações prévias que já permeiam a nossa mente Só podemos avaliar uma arte como impressionante bela divertida co lorida ou qualquer outro princípio estético se soubermos o que cada um deles UNIDADE 3 124 significa e como eles se relacionam com a arte em si Mesmo o processo de cria ção exige da imaginação aquilo que nem imaginávamos estar presente em nossa mente e diferentemente do que muitos acreditam um artista arquiteto chef de cozinha escritor escultor paisagista diretor roteirista designer etc não tem noção clara da obra que pretende criar até criála É por isso que muitos realizam estudos testam possibilidades pesquisam bastante até encontrar um repertório suficiente de ideias estéticas para colocar a mão na massa Figura 8 A natureza como fonte de beleza estética Descrição da imagem uma flor aberta mostra o seu colorido sendo por dentro violeta o que contrasta com o seu interior amarelo e a parte externa violeta mais escuro A flor está cercada por duas hastes de botões ainda não abertos em meio a plantas verdes em uma atmosfera embaçada Uma borboleta azul se aproxima da flor aberta para extrair o néctar Se você olha para a natureza imediatamente entende o que Kant quer dizer quan do ele fala que as ideias estéticas são facilmente apreendidas nela via intuição o que torna a natureza possível de fruição Em relação ao conceito de belo e como ele é tão unificador de nossa experiên cia estética Roger Scruton explica em sua obra Arte e Imaginação Um Estudo em Filosofia da Mente 2017 p 28 que UNICESUMAR 125 Existe uma linguagem de apreciação comum a todos os exemplos de apreciação estética dos filósofos e isso talvez nos permita assumir que um tipo particular de preferência é emitido em cada um deles Falamos de obras de arte como belas ou ótimas nós nos referi mos ao gosto de alguém em pinturas música paisagens e decoração interior criticamos a execução de peças musicais pinturas poemas e assim por diante na mesma linguagem referindonos ao que é certo ou não fazer o que funciona ou é adequado e assim por diante O belo e o bom são conceitos unificadores de toda a nossa contemplação da arte É como se dizer que algo é belo automaticamente significasse uma série de categorias que informam a qualidade positiva de uma obra Ao mesmo tempo é assim que costumamos avaliar a execução de uma peça teatral ou a dança de alguém e até mesmo a ideia de um indivíduo expressa em papel Afirmar nos sa que lindo ou ficou bonito é a maneira que temos de dizer que aquilo vale a pena ser contemplado foi produzido corretamente eou funciona bem No entanto ao mesmo tempo em que abrangem a totalidade da qualidade artística tais afirmações parecem não dizerem nada É belo em relação a quê O que torna a sua impressão dessa obra tão positiva Qual outra qualidade essa obra apresenta De que forma a contemplação dessa obra lhe acrescenta em ter mos de sentido e valor Então ao dizer é belo não estamos nos informando e tampouco informando o artista sobre o real significado por ele produzido em sua obra ao compreendermos que ele deve captar toda a positividade de seu trabalho Dentre as várias contribuições de Immanuel Kant para o estudo da estética está o concei to de sublime que ele interpreta da seguinte forma em contraponto ao belo O sublime háde ser sempre grande o belo pode também ser pequeno O sublime háde ser simples o belo háde ser limpo e adornado Uma grande altura é sublime do mesmo modo que uma grande profundidade só que esta vai acompanhada da sensação de estremecimen to e aquela de admiração Pelo que esta sensação pode ser sublimeterrível e aquela nobre Logo o belo não é necessariamente sublime no entanto o sublime excede em beleza causando sempre o espanto o deslumbramento Fonte adaptado de Kant 2015b p 34 EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 3 126 Nem toda a arte foi criada para armazenar uma memória mas decerto toda arte contém memória assim precisamos observar como a memória é narrada na arte Mikel Dufrenne 2012 filósofo francês e estudioso da estética descreve que todo objeto compreende de maneira ilimitada um mundo e é este que o obje to nos permite sentir adquirindo dessa maneira significado Esse mundo que nos fala nos diz o mundo não uma ideia um esquema abstrato uma vista sem visão que viria se acrescentar à visão mas um estilo que é um mundo o princípio de um mundo na evidên cia sensível DUFRENNE 2012 p 25 Se esse mundo se coloca como fenômeno a ser apreendido pela nossa mente certamente o significado que ele expõe não está no presente mas no passado Então qualquer narrativa que um objeto carregue já é por si uma memória visto que revela algo que se passou Entender o vínculo entre memória e arte implica perceber que a arte depende da obra entretanto o que é a obra A partir de Heidegger Michel Haar 2000 p 84 explica que a obra é uma coisa definindoa da seguinte forma uma matéria que recebeu a marca de uma forma Então a obra de arte é marcada por algo que a restringe limita define Para explicitar o seu ponto de vista Haar 2000 p 8485 continua Se olharmos como sugere Heidegger um quadro de Van Gogh representando um par de sapatos não podemos obviamente fazer nada com eles Mas o quadro mostranos este objeto de uso enquanto tal a relação destes sapatos com o trabalho na terra que os tornou desgastados e deformados Estes sapatos usados evocam o elo obscuro com a terra e o duro mundo do camponês ou da camponesa que os calçou A obra de arte não apresenta pois simples mente de modo realista e imitativo uma matéria e uma forma uma coisa encerrada em seu contorno ou em seu uso e sim a verdade implícita de uma coisa que seu uso comum oculta UNICESUMAR 127 A Figura 9 retrata a descrição realizada por Haar 2000 Na obra de Van Gogh como o autor descreveu há dois tipos de memória uma memória individual gerada pelo artista que ao pintar um par de sapatos cristalizou um conjunto de breves instantes que goram vivenciados uma memória coletiva que expressa a função dos sapatos o que eles eram qual história contém quem os utilizou por onde eles estiveram Toda obra carrega consigo um significado estético o qual como discutimos vai além das categorias do belo e do feio do bom ou do ruim e um significado narrativo o qual compreende as memórias que envolvem a produção e o objeto da obra Assim nenhuma obra se reduz à imitação mas ela se amplia ao comportar em si a individualidade do artista escritor arquiteto chef paisagista designer etc Figura 9 Obra Os Sapatos Fonte Van Gogh 1888 online Descrição da imagem tela de Van Gogh que mostra um par de sapatos desgastados pelo uso represen tados de uma forma que indica o trabalho duro de um camponês UNIDADE 3 128 Neste processo de depósito de valor o artista expõe a sua memória cons truindo outra camada de significado em sua obra Por exemplo um templo grego não é a imagem de nada não imita nada Que faz ele Ele dá lugar a um mundo e revela uma terra HAAR 2000 p 85 É interessante observarmos que uma vez sendo a arte depósito de memória ela consiste em uma pausa no espaçotempo a qual sendo capaz de atravessálo exporta essa memória dentro do objeto para os vários anos que se seguirem Logo o que era simplesmente passado se torna futuro e presente ao mesmo tempo em que as camadas de significado são desmontadas e interpretadas pelo espectador Acerca disso a filósofa suíça Jeanne Marie Gagnebin 2014 p 199 em sua interpretação de Walter Benjamin escreve que Defendo portanto uma outra possibilidade de relação com a cultu ra muito mais vital feita ao mesmo tempo de polêmica e de gratui dade Tal relação que se baseia na esperança comum a todos esses pensadores em particular a Walter Benjamin de que as obras da cultura humana possam ser não só produtos de sucesso e de ven da mas também e principalmente sinais extemporâneos unzeit gemäss diria Nietzsche e por isso antecipatórios diria Bloch de uma outra vida e de um outro tempo NOVAS DESCOBERTAS Títulos Grandes Olhos Ano 2014 Grandes Olhos é um filme do famoso diretor Tim Burton e apresenta a vida de Margaret dona de casa recémdivorciada que começa a lu tar para manter a guarda de seus filhos e para fins de obter sustento financeiro começa a pintar e a vender na rua telas de meninas com olhos grandes e melancólicos O filme retrata a forma como Margaret vai dar vida às suas pinturas por meio de suas vivências em um mundo patriarcal que dá pouco valor à arte em si mas o qual preferirá o valor de mercado dela Neste processo de construção de relações temporais e extratemporais a obra de arte como elemento cultural adquire um caráter histórico podendo ser reinter pretado continuamente à luz dos eventos presentes da memória do espectador UNICESUMAR 129 das categorias estéticas vigentes mas também pode representar uma historicida de um passado contendo em si a narrativa do artista Não se trata no caso de apreender a atualidade dos sapatos na pintura de Van Gogh mas de se permitir ser impressionadoa pela diferença temporal entre as histórias presentes na obra e as histórias que o espectador vivencia hoje as quais estão de algum modo asso ciadas ao tema No pensamento de Walter Benjamin isso seria uma expressão do que ele define por atualidade Aktualität como Gagnebin 2014 p 204 define Essa atualidade plena designa a ressurgência intempestiva de um ele mento encoberto esquecido dirá Proust recalcado dirá Freud do passado no presente o que também pressupõe que o presente esteja apto disponível para acolher esse ressurgir reinterpretar a si mesmo e reinterpretar a narrativa de sua história à luz súbita e inabitual dessa irrupção A temporalidade do passado não se reduz mais ao espa ço indiferente de uma anterioridade que precede o presente na esteira monótona da cronologia Pelo contrário momentos esquecidos do passado e momentos imprevisíveis do presente justamente porque apartados e distantes interpelamse mutuamente numa imagem mnêmica que cria uma nova intensidade temporal Em oposição à representação de uma linearidade contínua e ininterrupta do tempo histórico essa concepção disruptiva e intensiva da atualidade coloca em questão a narração dominante da história e propõe uma compreensão do passado cujo sentido pode sempre revelarse outro e uma autocompreensão do presente que poderia ser diferente A nossa memória costuma ser narrada historicamente em uma linearidade que por sua vez é acomodada como se os seus fatos tivessem sido necessariamente consequência de eventos anteriores Isso é bem percebido em filmes muito holly woodianos os quais se esforçam apenas em narrar a história Por exemplo o casal que se conhece começa a namorar passa por alguns conflitos atingindo o clímax do enredo consegue atravessálos e em um tom de conquista o filme encerra dando a entender que nunca mais este par enfrentará outros problemas Um evento desencadeia outro e assim por diante não há nenhuma complexidade narrativa e tudo é facilmente explicado No entanto a nossa mente como responsável pelo armazenamento de imagens que compõem a nossa memória sempre acrescenta informações e UNIDADE 3 130 constrói enredos cruzados a partir do que vivenciamos As nossas lembranças não são fidedignas nem o deveriam ser pois elas passam pelo crivo de nossa interpretação No caso de uma obra de arte presente e passado se tocam for mando assim um mosaico temporal e conferindo à narrativa manifesta na obra uma nova intensidade potencializando o seu significado Ao mesmo tem po em que esse mosaico dialoga com o passado abrindo a nossa mente para novas percepções histórias valores e compreensões de mundo ele conversa com o nosso presente transformandoo bem como a nossa compreensão a partir do self do presente vivenciado naquele momento Em nosso consciente destacase o papel desempenhado pela me mória Ao homem tornase possível interligar o ontem ao amanhã Ao contrário dos animais mesmo os mais próximos na escala evo lutiva o homem pode atravessar o presente pode compreender o instante atual como extensão mais recente de um passado que ao tocar no futuro novamente recua e já se torna passado Dessa se quência viva ele pode reter certas passagens e por guardálas numa ampla disponibilidade para algum futuro ignorado e imprevisível Podendo conceber um desenvolvimento e ainda um rumo no fluir do tempo o homem se torna apto a reformular as intenções do seu fazer e a adotar certos critérios para futuros comportamentos Re colhe de experiências anteriores lembrança de resultados obtidos que o orientará em possíveis ações solicitadas no dia a dia da vida OSTROWER 2014 p 18 Um exemplo deste fenômeno pode ser facilmente percebido quando lemos um livro literário impactante que modifica nossa percepção de mundo Antes da leitura dele a nossa história e epistemologia estavam enquadradas em um cenário específico de lembranças e conceitos que faziam sentido para a nossa mente todavia o processo de leitura desconstrutivo rompe com essa linearidade expondo novas teias até então não vistas em nossa consciência suscitando ima gens esquecidas e tornando presente um outro tempo que não aquele vivenciado antes da leitura Ao encerrar a apreciação da obra de imediato nos percebemos diferentes no entanto leva algum tempo para que a nossa cronologia volte a se assentar desta vez sobre novas estruturas que foram expostas pela narrativa Este é o efeito que a arte produz em nossa mente UNICESUMAR 131 Neste último momento veremos a relação entre arte criatividade e imagina ção Você já teve a oportunidade de imaginar uma música Em geral músicas apresentam histórias que quando tocadas irrompem em nossa mente As músi cas clássicas ou instrumentais principalmente revelam muito mais do que um conjunto de acordes Assim antes de iniciarmos este tema recomendo a você buscar na internet a seguinte melodia Clair de Lune de Claude Debussy Por ser bastante conhecida será fácil encontrála Escutea de olhos fechados e de forma relaxada simplesmente deixe as imagens desenrolarem em sua mente Há quem diga que escutar Debussy é como ver um quadro impressionista pois o seu som oscila entre a luminosidade e a fluidez em pinceladas leves e delicadas repleta de movimentos rápidos A intenção neste exercício é entender quais imagens se formaram em sua mente A música lhe transportou para algum lugar Seria este um lugar que você gostaria de estar agora Discutir a relação entre arte criatividade e imaginação envolve entender de que forma a nossa percepção se articula com as nossas imagens mentais Scruton 2017 diferencia a formação de imagens de imaginação Conforme esse autor embora as duas ações estejam conectadas elas não estão entrelaçadas isto é uma não é necessária para que a outra ocorra É possível imaginar sem partir da conexão de imagens por exemplo o fato de algumas crianças dizerem isto tem gosto de cocô em seguida um adulto pergunta mas você já comeu cocô O conflito entre a terra e o mundo é impossível de ser apaziguado O mundo exige a clarificação das formas espirituais e materiais ele quer que tudo seja signo e significante A terra exige o obscurecimento das formas o nascimento dos símbolos É o combate do dia e da noite Sem a obra este combate sempre mais velho do que ela permaneceria latente O que ela deixa adivinhar sob suas figuras audíveis ou visíveis sob o percurso de uma melodia sob o arabesco de um desenho sob tal ou qual junção de cores é uma fenda Riss invi sível ou o elo rascante que une terra e mundo O equilíbrio da obra que repousa em si mesma tem sua essência na intimidade do combate Toda obra seria assim um terceiro termo e até mesmo a mais feliz seria a resolução sempre provisória de uma tensão dolo rosa A brecha ontológica resolvese e se expressa no retraçar e se expressa no retraçar de um traço que dá lugar a uma figura Aproximar as duas potências adversas inscrever um mundo em uma terra é esta a essência do trabalho artístico Fonte Haar 2000 p 8788 EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 3 132 e a criança logo retruca não Então de onde veio a imaginação palativa dela Como ela sabe qual é o gosto das fezes Isso se relaciona segundo Scruton 2017 à imaginação que prescinde da formação de imagens e especificamente da re presentação ou sensação de algo que foi experimentado Podemos dividir as imagens em dois tipos aquelas nas quais o que é representado é algo que já foi visto ouvido etc formação de imagens como parte da memória e aquelas nas quais o que é representado não foi de fato experimentado formação de ima gens como parte da imaginação Esse segundo tipo de formação de imagens formar uma imagem de algo que jamais foi dado na experiência claramente envolve as características da imaginação tais como foram descritas Porém não há nada mais a se dizer em relação à conexão entre formação de imagens e imaginação Logo veremos que há Entre outras coisas formar uma imagem é uma das principais maneiras de imaginar isso explica segundo penso por que usamos a mesma palavra para descrever ambas as atividades Além disso há um tipo de processo de imaginar que envolve es sencialmente as características distintivas da formação de imagens Esse é o tipo de processo de imaginar envolvido ao conjurar uma experiência como quando me submeto a uma experiência na ima ginação ou imagino o som gosto visão ou cheiro de alguma coisa SCRUTON 2017 p 132133 Se o ato de imaginar é desenvolver uma imagem de algo que não foi experiencia do de que forma a criação entraria neste raciocínio Ostrower 2014 argumenta em um primeiro momento que pensar em criação envolve pensar em tensão e em potencial A criatividade nunca está cristalizada definida em uma forma con creta ela se modifica continuamente à medida que as experiências individuais alimentam novas formulações mentais A conclusão de uma obra portanto não significa que a criatividade se esgotou mas o processo de criação gerou novos pontos de conexão permitindo ao artista desenvolver a criatividade para outras expressões internas Provavelmente nem todas elas estarão presentes no quadro UNICESUMAR 133 ou na produção em questão mas certamente aparecerão de novo em projetos futuros os quais continuarão sustentando essa tensão que faz a criatividade sem pre estar em seu limiar mas sem ultrapassálo A tensão psíquica pode e deve ser elaborada Assim nos pro cessos criativos o essencial será poder concentrarse e poder manter a tensão psíquica não simplesmente descarregála Criar significa poder sempre recuperar a tensão renovála em níveis que sejam suficientes para garantir a vitalidade tanto da própria ação como dos fenômenos configurados Embora exista no ato criador uma descarga emocional ela representa um momento de libertação de energias necessário mas de somenos importância do que certos teóricos talvez o acreditem ser Mais fundamental e gratificante sobretudo para o indivíduo que está criando é o sentimento concomitante de reestruturação de enriquecimen to da própria produtividade de maior amplitude do ser que se libera no ato de criar Menos a potência descarregada do que a potência renovada OSTROWER 2014 p 28 Na dinâmica da formação das imagens em nossa mente o criar a expressão da criatividade se relaciona com a renovação dessas imagens em termos de força criadora Isso não significa que elas desaparecem de nossa mente mas sim que elas ganham em vitalidade pois criar representa uma intensificação do viver um vivenciarse no fazer e em vez de substituir a realidade é a realidade é uma realidade nova que adquire dimensões novas OSTROWER 2014 p 28 Esta nova realidade se faz no conflito do artista consigo mesmo que cresce em seu próprio processo criativo Fato perceptível por exemplo na arquitetura de Oscar Niemeyer a sua força criadora nunca se esgotava em seus projetos sempre inovando e rompendo com as delimitações apresentadas em ideias anteriores A Capela Metropolitana de Nossa Senhora da Aparecida localizada em BrasíliaDF da autoria de Niemeyer se difere consideravelmente da Capela Curial de São Francisco de Assis situada em Belo HorizonteMG UNIDADE 3 134 Ambas possuem o mesmo motivo religioso mas a experiência estética do divino se diferencia conforme o conceito arquitetônico que dominou cada uma A pri meira possui imponência modernosa e por dentro a sua simplicidade revela um silêncio visual do sagrado o qual estimula um sentimento de adoração Já a segunda de tom mais simpático adornada com um mosaico em sua frente logo remete a uma espécie de aconchego a um ser abraçado pelo divino As duas são Figura 10 Catedral de Brasília Figura 11 Capela de São Francisco Descrição da imagem fotografia da parte externa da catedral de Brasília com céu limpo e de azul pro fundo ao fundo e com prédios da Esplanada dos Ministérios Descrição da imagem fotografia da parte externa da Capela de São Francisco na lagoa da Pampulha em Belo Horizonte com céu limpo e claro ao fundo no parque atrás da capela há uma pessoa caminhando UNICESUMAR 135 Figura 12 Interior da Catedral de Brasília Descrição da imagem fotografia do interior da catedral de Brasília A imagem mostra a visão que temos ao entrar na catedral Há um tapete vermelho que se estende até as escadas do altar e quatro fileiras de bancos de madeira duas estão à esquerda e duas estão à direita A planta arquitetônica é circular o teto é composto por 16 pilares estruturais de concreto que se unem no centro Os espaços entre eles são preen chidos com vitrais que apresentam formas sinuosas e fluidas em azul verde e branco Ao centro temos três esculturas de anjos suspensas no teto as quais dão a ilusão de estarem voando dentro da catedral igrejas mas são estilos diferentes que proporcionam experiências litúrgicas com pletamente diversas Agora veja o interior da Catedral de Brasília na Figura 12 Agora o interior da Capela de São Francisco na Figura 13 Figura 13 Interior da Capela de São Francisco Descrição da imagem fotografia do interior da capela de São Francisco A foto nos dá a perspectiva da entrada da capela Há um corredor central que nos leva até o altar e nas laterais temos duas fileiras de bancos uma de cada lado O teto é abobadado côncavo com revestimento de madeira UNIDADE 3 136 Desde os anos 90 falase da importância de incluirmos a observação e a com preensão das emoções na aprendizagem humana Esta abordagem é chamada de Aprendizagem Socioemocional De fato desenvolver habilidades socioafetivas nos estudantes implica compreender como a mente funciona perante as emoções os sentimentos e afetos e ainda como a sensibilidade provida pela arte pode ajudar o educador e a educadora Suponha que você queira inserir em seu plano de aula o desenvolvimento socioafetivo e emocional dos seus alunos incluindo a experiência artística Pen se em como você realizaria isso e faça um exercício concreto com um plano de ensino A seguir apresente a alguém vinculado à educação e veja o que ele ou ela comentam a respeito Imaginação e fantasia são duas ações de nossa mente Na realidade na Filosofia a fan tasia costuma ser vista como um capricho ou uma frescura da imaginação contudo ter a fantasia como supérflua nesta interação é alimentar o ideal da primazia da razão e da lucidez sobre todo o nosso pensar o que é uma atividade impossível Surpreendente é a quantidade de fantasia que envolve os nossos desejos à medida que vivemos no mundo o que a torna dentre outras situações um mecanismo de proteção a fim de sustentar as nossas buscas conferindo sentido em nossas vidas Imaginar a possibilidade de fazer um mestrado em outro país por exemplo mesmo que no presente seja um desafio é parte das nossas construções imaginárias que nos permitem enxergar aberturas no mundo O problema da fantasia não é criála mas viver somente dela alimentandoa continua mente com receio de olhar para a realidade Neste caso ao invés de conferir esperança e sustentar os nossos desejos ela se torna uma prisão de nossa mente impedindoa de exercer a criatividade para viver no mundo visto que a própria fantasia impede o indiví duo de enxergar o próprio mundo muitas vezes EXPLORANDO IDEIAS 137 AGORA É COM VOCÊ 1 A doutrina estóica é a mais típica e radical entre as que negam o significado das emoções O seu fundamento é que a natureza proveu de modo perfeito à conser vação e ao bem dos seres vivos dando aos animais o instinto e ao homem a razão As emoções porém não são provocadas por nenhuma força natural são opiniões ou juízos ditados por leviandade portanto fenômenos de estupidez e de ignorância ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia São Paulo Martins Fontes 2007 p 3110 Certas ações são totalmente dominadas por nossas emoções e a aplicação da ra cionalidade nesses casos é uma forma de intermediar esta comunicação pois sem essa aplicação acabaria em confusão Outros filósofos discursaram sobre a relação entre a emoção e a razão no juízo de nossas ações Com base no que foi estudado leia as afirmações a seguir I Para Arthur Schopenhauer o problema não está na emoção mas na imaginação que se perde nos ideais II Immanuel Kant entende que as nossas emoções devem ser completamente anuladas pela nossa razão permitindo total dominância de nossa racionalidade sobre os juízos cotidianos III Spinoza visualiza as emoções como um componente do nosso agir diário No entanto para ele só seremos livres quando deixarmos de nos submeter à nossa faculdade sensível e permitir que a razão guie as nossas decisões IV Wassily Kandinsky compreende a emoção como um requisito para a tomada de decisões e entende que a razão nem sempre é uma faculdade perfeita para orientar as melhores escolhas É correto o que se afirma em a I II III e IV b Somente II e IV c Somente I e III d Nenhuma das alternativas está correta e Somente II e III 138 AGORA É COM VOCÊ 2 A arte não se contenta em estar presente pois ela significa também uma maneira de representar o mundo de figurar um universo simbólico ligado à nossa sensibilidade à nossa intuição ao nosso imaginário aos nossos fantasmas JIMÉNEZ M O que é estética São Leopoldo Unisinos 1999 p 10 Uma das grandes questões da arte é avaliar se ela é um meio para alcançar determina do estado emocional ou se possui um fim em si mesma Quanto a isso um dos autores que estudamos entende que a arte não pode de forma alguma ser considerada um meio para atingir qualquer experiência estética Ela possui um fim em si mesma logo o estímulo mental é uma consequência desse fim não o objetivo da arte Em relação ao filósofo que propôs esta reflexão sobre a arte e a experiência sensorial humana assinale a alternativa correta a John Locke b Immanuel Kant c Fayga Ostrower d Wassily Kandinsky e Roger Scruton 3 A imaginação pode ser tratada sob duas perspectivas como uma fuga da realidade por meio da fantasia o filósofo Arthur Schopenhauer discutiu acerca disso ao men cionar as fantasias que são construídas de maneira muito distante da realidade ou então ela pode expressar uma continuidade em relação à realidade seja por meio da memória seja por meio das imagens concretas apreendidas por nossa experiência sensível Das teorias que vimos nesta unidade escolha uma e comentea MEU ESPAÇO MEU ESPAÇO 4 Representação Mental Intencionalidade e Ação Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade de aprendizagem examinaremos o modo como repre sentamos nossos estados mentais Representar é colocarse no lugar de outro então de que modo os nossos desejos vontades e sentimentos podem ser representados visto que eles são mentais portanto não físicos Você verá como a linguagem tem um papel fundamental neste procedimento Depois investigaremos a relação entre nossos estados mentais e a intencionalidade pois sempre que desejamos cremos e sentimos enfim quando passamos por qualquer outro estado mental é sempre sobre algum objeto seja ele dentro ou fora de nós e todo desejo crença e sentimento é dirigido ou orientado para esse objeto portanto os nossos estados mentais são intencionais Por fim aprenderemos que esses estados mentais também comportam atitudes proposicionais que são a relação entre o que uma pessoa pensa e o que ela fala E ainda que eles têm uma relação direta com as nossas ações isto é não há ação sem um sujeito que age de modo racionalmente deliberado e voluntário para a sua realização mesmo em casos quando dizemos que agimos sem pensar ou que fomos guiados por nossa emoção UNIDADE 4 142 Esta história é uma ficção mas poderia ter acontecido desse modo Rita queria muito que os seus alunos aprendessem sobre a escravidão no Brasil mas ela queria que fizessem isso a partir da investigação de pessoas que vivenciaram aquele período Como é sabido há pessoas ainda vivas que têm boa memória daqueles tempos Rita pediu que os alunos procurassem os seus avôs e avós bisavôs e bisavós para saber como eles viveram aquele tempo Os alunos ficaram entusiasmados Antônio negro foi conversar com sua bisavó negra que lhe contou histórias do tempo em que foi es crava na maior fazenda da região pertencente aos Carvalho Rodrigues confidenciando que o avô de Antônio havia nascido filho do coronel Fe lipe Carvalho Rodrigues Coincidentemente Fabrícia branca conversou com seu bisavô chamado Felipe Carvalho Rodrigues branco e dono de escravos na maior fazenda da região que lhe contou várias histórias acerca da vida dos escravos No dia da apresentação dos trabalhos Antônio e Fabrícia ficaram frente a frente narrando cada um a sua história e todos perceberam que era comum a ambos A repercussão foi terrível e Rita foi chamada para dar explicações Tudo que ela disse foi eu não tinha a intenção de que isso acontecesse tudo o que eu intencionei fazer foi que os alunos se entusiasmassem com a atividade de pesquisa Temos na história narrada um claro caso em que Rita agiu com certa intenção mas ela foi cobrada pelos resultados não intencionais de sua ação Neste caso temos uma ação previamente planejada portanto ela foi mentalmente causada Ela também foi orientada para um fim qual seja a realização da atividade de aprendizagem pelos alunos Rita enten deu que a realização seria mais proveitosa aos alunos do que a leitura de textos didáticos sobre o tema a ação também foi voluntária pois Rita poderia ter escolhido outro curso de ação para a sua atividade e também foi deliberada e racional porque quando chamada a dar explicações a professora pode fazêlo apelando à racionalidade do seu planejamento esperando que as pessoas entendessem que ela não tinha propositalmente causado aquela confusão terrível Estamos perante um claríssimo caso em que nossos estados mentais intencionais produzem ações acerca das quais devemos prestar contas depois e que serão avaliadas por outros A história de Rita nos ensina que por melhor planejadas que sejam as nossas ações isto é por mais que a nossa mente se empenhe em de UNICESUMAR 143 liberar racional e teleologicamente acerca de uma ação no mundo e por mais que isso signifique prever possíveis efeitos colaterais ainda assim as nossas ações estão sujeitas a repercussões não previstas e ao juízo nem sempre favorável de outros Isso mostra como a nossa vida mental é terrivelmente complexa Agora a sua tarefa é a seguinte vivemos em uma pandemia de Covid19 a qual se sabe que a vacinação em massa é a única solução para contêla Para isso uma miríade de médicos cientistas está investigando uma vacina em laboratórios na Europa e na China Recolha falas desses cientistas nas quais seja possível perceber e apontar as suas preocupações com efeitos colaterais e repercussões negativas da vacina na vida das pessoas Agora registre a sua resposta a partir das reflexões que elas possibilitaram Procure pensar nestas questões como transmitimos a outros os nossos estados mentais à medida que cooperamos juntos para a realização de uma atividade De que modo atribuímos intencionalidade a nossos estados mentais Desde que esses estados são intencional e deliberadamente orientados para a ação como podemos prevenir efeitos colaterais e repercussões negativas de nossas ações a partir deles Você terá aqui um espaço chamado Diário de Bordo em que poderá anotar as reflexões obtidas DIÁRIO DE BORDO UNIDADE 4 144 O nosso primeiro assunto a ser estudado será a representação mental Para isso precisamos retomar o que foi aprendido na Unidade 2 acerca de nossos estados mentais Você entendeu que esses estados dizem respeito a quem os possui e a ninguém mais Ao dizer estou pensando é você quem está pensando este pen samento e nenhum outro ou outra Isso quer dizer que você é um Eu que pensa sobre e a partir de si mesmo e chamamos isso de subjetividade Mas de onde vêm esses estados mentais e como eles podem ser particula res isto é serem somente daquele indivíduo consciente Para responder a esta questão você precisou compreender os três modos como a sua mente trabalha Ao receber uma impressão por meio dos sentidos imediatamente ocor re uma sensação em sua mente que gera uma consciência sobre a situação externa que causou aquela sensação Esta estabelece uma relação direta entre a impressão dos sentidos e o objeto que você experimentou no mundo e do ravante acontece um fervilhar de percepções mentais chamado raciocínio o qual gera o conhecimento que você começa a possuir daquela experiência vivida e por extensão de muitas outras assemelhadas ou não Você passa a ser um sujeito com uma vivência do mundo que o rodeia e chamamos esta primeira operação mental de sensação e o fato de que cada indivíduo a de senvolve para e a partir de si mesmo de qualia A segunda operação mental referese às sensações que já foram processadas e são em relação ao presente passadas Estas estão disponíveis e podem ser aces sadas por meio do que é chamado de memória E junto com a memória que é uma operação mental consciente de que algo está guardado e pode ser trazido ao presente em qualquer tempo você conheceu o inconsciente aqueles conteúdos que sequer temos consciência de que estejam guar dadas e vindos à nossa mente nos surpreendem como se nunca tivessem estado lá Veremos aqui que os estados mentais são intencionais isto é quando você sente deseja pensa raciocina ou acredita é sempre sobre alguma coisa existente no mundo externo ou não mesmo que faça parte somente de sua imaginação ainda é sobre algo mesmo quando você diz que não está pensando sobre nada este nada ainda é uma referência para você dizer isso a alguém Boas conversas começam a partir de não se pensar sobre nada Surge então a questão acerca de como representamos os nossos estados men tais isto é como expressamos falamos e comunicamos acerca deles Para dizer de UNICESUMAR 145 outro modo como posso dizer a você o que estou pensando seja um desejo seja uma vontade uma disposição etc Chamamos isso de representação mental Uma teoria da representação mental diria que ela toma como seu ponto de partida Estados mentais do senso comum como pensamentos crenças desejos percepções e imaginações Dizse que esses estados pos suem intencionalidade eles são sobre ou referem a coisas e podem ser avaliados com respeito a propriedades como consistên cia verdade adequação e acuracidade Uma Teoria da Repre sentação Mental define esses estados mentais intencionais como relações com representações mentais e explica a intencionalidade do primeiro em termos das propriedades semânticas desse último entende os processos mentais tais como pensar raciocinar imaginar como sequências de estados mentais intencionais PITT 2020 online tradução nossa Entenderemos isso melhor Invariavelmente quando alguém diz hoje eu vou me dar bem você que ouve diz a ele tá se achando muito Imediatamente você faz a ligação entre a frase e a aparente vanglória de quem a fala Isso quer dizer que no chamado senso comum representações mentais pertencem a pessoas que as empregam e são sobre coisas a que essas pessoas estão se referindo Tecnicamente dizemos que os estados mentais se ligam às representações das coisas no sentido de que se apoiam se encaixam ou se sustentam nelas NOVAS DESCOBERTAS Título O Código Bill Gates Ano 2019 Sinopse O Código Bill Gates é um documentário de Davis Gugge nheim e você pode acompanhar na Netflix Relata de que forma a mente inc ansável de Gates está por trás de suas realizações apresentando uma noção de como a mente dele trabalha UNIDADE 4 146 Por isso a aproximação com a linguagem Não saímos por aí simplesmente falan do mas as nossas palavras estão apoiadas ou representadas em coisas das quais nos servimos para dizer algo às outras pessoas Neste caso representar mentalmente significa fazer corresponder um pensamento a algo por exemplo a palavra carro corresponde àquilo que chamamos carro Mas representar mentalmente também quer dizer tornar presente aquilo que se pensa assim quando você usa a palavra carro é como se ele estivesse presente na conversa Outro modo de saber sobre isso é imaginar uma assembleia de condomínio onde alguém indicado pelo proprie tário do apartamento por meio de uma procuração está no lugar do proprietário como representante Por fim representar mentalmente é tornar evidente pelo uso da linguagem algo que precisa ser comunicado por você a mais alguém Suponha que você está viajando com alguém em um ônibus A pessoa fica naquele estado contemplativo por longo tempo e você pede que ela diga o que está pensando Neste pedido já está presumido que se ela está pensando pode ser somente sobre algo e que esse algo pode ser comunicado por meio da linguagem Mesmo se a pessoa esteve vagueando entre os pensamentos ela dirá por exemplo que estava pensando sobre a paisagem sobre a vida ou o que aconteceria se o motorista perdesse a direção do ônibus no qual vocês estão viajando ou ainda se alienígenas aparecessem na estrada em um disco voador e abduzissem todos para Marte Claro alguns pensamentos nem podem ser comunicados por falta de linguagem ou por impropriedade mas eles ainda são sobre coisas Todo estado mental portanto diz respeito ao sujeito que os têm e são cons tituintes e constituídos pela sua subjetividade portanto por sua vida consciente Porque temos consciência das coisas é que podemos pensar interpretar desejar crer querer algo sobre elas Se na viagem você dissesse que estava pensando no seu gato que ficou em casa e que ficará com saudades porque ele sentirá a sua falta então você está expressando pelo menos dois estados mentais o conhecimento do seu gato o afeto que possui por ele e que sente ser retribuído Desse modo uma representação mental pode ser descrita como categorial o que significa que a nossa vida mental é disposta por categorias usadas para dife renciar coisas umas das outras Quando você se refere ao afeto por seu gato está pensando nestes animais como distintos de cachorros e dentre todos os gatos está pensando em seu gato especificamente porque nem todos os felinos são tão afetuosos Isso também é válido para cores móveis pessoas etc CARTER 2007 UNICESUMAR 147 Uma representação mental também pode ser descrita como composicional Voltando ao exemplo do seu gato você está relacionando duas representações mentais na verdade uma é o gato outra é o afeto e isso é importante porque o felino é algo concreto que você pode pegar e mostrar para alguém este é meu gato O afeto é algo abstrato diz respeito aos seus sentimentos pelo seu animal de estimação Ainda mais abstrato é quando diz que o gato corresponde afetiva mente aos seus sentimentos porque você está designando um instinto animal como se fosse um sentimento humano Portanto quando nos referimos a uma representação mental estamos conectando muitas delas numa rede infinita de estados mentais dos quais sequer temos consciência plena CARTER 2007 A questão que torna tudo isso mais complexo é a seguinte como vincular um estado mental a um conteúdo intencional O afeto pelo meu gato pode ser atribuí do àquela relação que eu tenho com aquele animal que fica no sofá da sala dormindo o dia inteiro Aquele gato é o meu gato que tem uma história junto comigo Mas como os pensamentos que estão em sua mente se ligam às coisas que estão fora dela Os estados de sua mente sempre se projetam para algo no mundo e dizem respeito a esse algo isso se chama vida consciente Enquanto dormia não lhe ocorreu acordar e desejar comer pão de queijo no café da manhã pode ser que você até sonhou que estava comendo pão de queijo no café da manhã mas isso foi um sonho Assim que acordou esse desejo veio à sua mente e você foi preparar pão de queijo para tomar com o café Não há representação sem o uso da linguagem mas não aquela da escrita correta quando analisamos sintaticamente a frase ele gosta do seu gato Não é assim é preciso investigar o conteúdo semântico da representação mental Por conteúdo semântico entendese o que uma palavra quer dizer a partir do seu contexto de uso De modo geral esse contexto está ligado ao campo semântico cuja palavra está vinculada por exemplo amor tristeza ódio carinho saudade são palavras que categorizamos como sentimentos ou estão vinculadas a um uso específico atribuído pelo lugar da palavra na frase por exemplo bacia pode ser a parte do corpo humano ou o utensílio usado para lavar objetos depende da frase Ou está conectada a um conjunto de ideias por exemplo morrer pode significar bater as botas abotoar o paletó ir dessa para melhor entrar na vida eterna dormir com o Senhor Jesus etc ou pode acontecer de uma palavra estar de tal modo aglutinada em outras palavras que ao usála puxamos essas outras UNIDADE 4 148 junto como você diz que almoçará e assim um almoço traz consigo várias ações objetos desejos sentimentos que vêm junto com a palavra Quando usamos as palavras então o fazemos semanticamente e isso vale para uma representação mental São muitas as teorias filosóficas que procuram explicar ou clarear o modo como os nossos estados mentais são traduzidos em representa ções mentais e o que elas dizem a nosso respeito enquanto sujeitos conscientes e usuários delas durante todo o tempo em que estamos despertos no mundo O filósofo estadunidense Stephen Stich 1992 p 246 tradução nossa comen ta isso do seguinte modo Claramente deve haver um mecanismo mental de alguma com plexidade subjacente a essa prática ampla e parece plausível supor que o mecanismo em questão inclui um armazém de conheci mento amplamente tácito acerca das condições sob as quais é e não é apropriado caracterizar um estado mental como uma crença ou um desejo que p Isso equivale a dizer que as pessoas em geral pensam por meio de categorias prototípicas Elas têm na mente um exemplar uma amostra ou um molde de uma espiga de milho e toda vez que querem falar de uma espiga de milho esse modelo vem à mente e elas a representam desse modo Pode acontecer de você não ter essa amostra mas admite variações dela uma espiga amarela outra de cor roxa e assim por diante ou uma espiga pequena e outra grande Carter 2007 diz que nesses casos fazemos a conexão direta entre o estado mental e a sua representação Isso significa que se vamos à confeitaria e pedimos um bolo e alguém nos traz uma lasanha sabemos que tem algo muito errado A mesma sensação você tem quando alguém diz que sabe quem é o papa atual chamado Francisco mas o descreve como se fosse o Papa Bento XVI Mas isso não parece suficiente visto que cada representação mental se distri bui em várias outras infinitamente No caso de alguém que não conhece o Papa Francisco você deverá acrescentar que ele é um homem nascido na Argentina é papa mora no Vaticano e dirige a Igreja Católica Apostólica Romana e as sim por diante isto é são utilizadas várias outras representações mentais que contextualizarão aquela à qual você está intencionalmente se referindo e elas podem se misturar de outras maneiras desde que você queira se referir a outros UNICESUMAR 149 conteúdos que são intencionais à sua representação mental por exemplo que o Papa Francisco torce para o time de futebol San Lorenzo Bem esta última posição parece fazer muito mais sentido pois não estamos habituados a ler a frase não pise na grama apenas como uma sentença grama ticalmente correta que contém uma ordem clara e contraposta a pise na grama Ainda que as palavras façam sentido em si mesmas elas somente fazem sentido no mundo quando intencionalmente orientamos a nossa mente para o verbo pisar e para o objeto um pedaço de chão com grama Figura 1 Uso intencional da linguagem Descrição da imagem área plantada com árvores e grama possui uma placa com os dizeres Por favor não pise na grama Dizemos então que nada físico no mundo tem intencionalidade intrínseca mas derivada O que isso quer dizer é que não é nem a grama nem os seus pés nem a proibição que diz a você o que deve pensar mas são as representações mentais em sua mente você crê que o seu pé carregando o peso do seu corpo pode deixar marcas sobre a grama a qual é uma erva muito frágil usada para cobrir UNIDADE 4 150 terrenos E você é capaz de julgar se deseja machucar a grama ou preservála e que isso está de acordo com o que pensa a respeito da preservação das coisas conforme as demais pessoas que frequentam a praça pensam e que no fim isso é viver em sociedade Nada disso é característico ou inerente à grama mas ao seu pensamento enquanto sujeito consciente dele Figura 2 Autorretrato de Van Gogh Descrição da imagem dois autorretratos de Van Gogh À esquerda está o retrato original em que o rosto observa seriamente o espectador À direita o retrato faz uma representação moderna do original por meio de uma paródia em que Van Gogh aparece com um lenço vermelho ao redor da cabeça as sobrancelhas são pintadas de vermelho e a língua também nesta cor está para fora da boca do artista Agora pense de outra maneira veja as imagens das duas obras representadas na Figura 2 A primeira à esquerda é um autorretrato de autoria do artista holandês Vincent Van Gogh a segunda à direita é uma ilustração moderna feita em Praga na República Tcheca Em ambas há um claro conteúdo intencional representado e a diferença entre elas reside exatamente nisso Dizemos que são as mentes por trás das obras e não os estilos as tintas ou qualquer outro material físico que mostram com qual intenção elas foram realizadas desse modo Podemos até mesmo dizer que a primeira tela é de Van Gogh mas que a segunda é de outra pessoa ainda que ambas sejam um desenho do autorretrato do artista holandês feito obviamente por ele mesmo UNICESUMAR 151 Outro modo de explicar a representação mental é observando o modo como usamos os conceitos De fato toda representação mental recorre necessariamente a um ou mais conceitos para se expressar Na famosa história de Mogli o menino lobo temos dois conceitos menino e lobo então quando queremos dizer se gostamos da história ou se cremos ou não nela usamos os dois conceitos os quais são bem diferentes lobo é um mamífero canídeo sobrevivente da Era do Gelo e menino é um mamífero humano em sua fase inicial Não é possível estabelecer uma relação entre ambos os conceitos e comunicálos senão os vinculando entre si Ainda podemos propor a representação mental quando entendemos o modo formal como raciocinamos Observe o exemplo imagine um quadro em que são apresentados os índices de transmissão da Covid19 e suponha que você é a pessoa olhando para esse quadro Ele é uma representação mental de um estado mental dirigido intencionalmen te para a compreensão do que a Covid19 está fazendo com a vida das pessoas Nada no desenho pode fazer este trabalho senão a pessoa que está contemplando o quadro com a clara intenção de entender o fenômeno PENSANDO JUNTOS O fato óbvio é que no dia a dia convivemos com declarações que manifestam claramente os nossos estados mentais Veja os exemplos Estou preocupado com minha mãe que está doente Creio que o atual presidente será reeleito caso não apareça um candidato competitivo Acho que não haverá vacina contra a Covid19 para todo mundo Observe que as declarações apresentadas têm a ver com a atribuição de estados mentais representados na forma de crenças desejos ou opiniões Esses estados são intencionais porque são conectados a algum objeto no mundo pressupondo uma mente conscientemente capaz de fazer estas ligações Eles também são capazes de orientar o comportamento pois eu sempre ligo para minha mãe para saber da evolução da doença procuro me informar sobre como está a preparação para a próxima eleição acompanho o noticiário sobre a vacina contra a Covid19 Com esses exemplos em vista retomaremos os estudos feitos pelo filósofo esta dunidense John Searle 2006 Ele é um filósofo da mente que pode ser chamado de representacionista isto é acredita que os nossos estados mentais por ele descritos UNIDADE 4 152 como significados interpretações crenças desejos e experiências podem ser inten cionalmente representados Todavia para que isso aconteça é preciso um conjunto de capacidades nãorepresentativas chamado por Searle 2006 de background Anteriormente a esse conceito Searle 2006 desenvolveu outro o qual deno minado rede Para entendêlo suponha que você observou um brinquedo em um site de vendas na internet e desejou comprálo para seu filho Esse estado mental in tencional desejar comprar um brinquedo para o seu filho envolve vários outros estados mentais intencionais quais sejam conhecer o funcionamento da compra online identificar a loja o modo da entrega o valor do brinquedo em relação a outros brinquedos semelhantes ou a outros sites de vendas e o mais importante se a criança gostar do presente Isso quer dizer que desejar comprar um brinquedo que é um fenômeno intencional depende de várias outras representações mentais de caráter intencional sejam elas conscientes ou não sejam voluntárias ou auto máticas Searle 2006 diz que é necessária uma rede de estados mentais que não são nem autointerpretativos nem autoaplicáveis isoladamente uns dos outros Como complemento do primeiro conceito Searle 2006 avançou em relação ao de background Ele o justifica de início usando da experiência da linguagem Quando diz a alguém que você acabou de cortar o cabelo e esta pessoa responde que foi a uma festa onde o bolo não foi cortado ainda que o mesmo verbo esteja sendo usado no mesmo sentido de cortar é claro que vocês dois entendem se tratarem de situações diferentes pois estão envolvidas questões de fundo ou de background as quais em si mesmas não dizem nada a não ser quando as duas sentenças são colocadas sobre elas Por outro lado as sentenças somente podem ser entendidas sobre esse pano de fundo pois cortar o cabelo requer o background de um salão de beleza e tudo o que o envolve Cortar o bolo requer o background de uma festa de aniversário e tudo o que a envolve Outra justificativa de Searle 2006 é que mesmo que as sentenças estejam cor retas porque estão sobrepostas a um pano de fundo ainda assim pode ocorrer que elas não sejam nem interpretáveis nem aplicáveis Imagine que alguém lhe diga suba naquela casa e corte o telhado dela ou pegue este avião e vá cortar aquela nuvem de chuva Não há nada de errado com ambas as frases mas você ficará pasmadoa porque não há um background que dê conta do que é intencionado nelas Pode ainda acontecer de estarmos comprometidos com um background mas sem termos consciência dele portanto sem desenvolver nenhum estado mental intencional em relação a esse pano de fundo Por exemplo você concorda com a afirmação de que UNICESUMAR 153 um rio é tão fundo e tem a correnteza tão forte que não é possível atravessálo a nado Por isso mesmo nem passa pela sua cabeça fazer isso o que é comprovado pelo seu comportamento não intencional Ou o fato de que não é uma boa ideia beber antes de dirigir é simplesmente admitido sem nenhum estado intencional orientado para ele Searle 2006 propõe a seguinte aplicação geral para sua teoria do background 1 Os estados intencionais não atuam de modo autônomo Não determinam suas condições de satisfação independentemente Para ter uma crença de que é melhor votar em partidos de esquerda do que naqueles de direita você precisa de muitas outras crenças 2 Todo estado intencional exige para seu funcionamento um conjunto de capacidades de background Para que você tenha uma crença sobre a melhor forma de votar precisa de um conjunto de capacidades que lhes informam o que é uma eleição qual o sistema eleitoral quais os partidos políticos quais teorias políticas definem esquerda e direita etc 3 Entre essas capacidades estão algumas que são capazes de gerar outros estados conscientes É possível que você passe a desejar ser uma candidatoa na próxima eleição ou liderar um movimento pela reforma do sistema eleitoral e assim por diante 4 O mesmo tipo de conteúdo intencional pode determinar diferentes condi ções de satisfação quando é manifesto em diferentes ocorrências conscien tes relativamente a diferentes capacidades de background e relativamente a alguns backgrounds não determina absolutamente nada Denúncias de corrupção sobre um candidato de esquerda podem fazer com que você reveja a sua intenção de voto e lhe faça votar no candidato de direita Ou o fato de um candidato torcer para um time de futebol que rebaixou o seu time para a série B do Campeo nato Brasileiro não quer dizer nada para a sua opção de dar o seu voto a ele Por fim Searle 2006 apresenta as seguintes leis para o funcionamento do background 1 Em geral ação e percepção estão vinculadas inexoravelmente Quando você está dirigindo no trânsito e percebe o som de uma buzina de ambulância do Samu imediatamente você olha pelo retrovisor e procura dar passagem a ela UNIDADE 4 154 2 Este fluxo coordenado de ação e percepção determina a intencionalidade e o background oferece as formas para que esse fluxo tenha lugar Você age intencio nalmente para tirar o seu carro do caminho da ambulância 3 A intencionalidade busca corresponder ao background em seus níveis alto e baixo Isso significa que se você é um motorista experiente a sua ação corresponderá quase automaticamente ao que é exigido naquela emergência o que significa também que cada parte de seu corpo é mobilizada por sua mente para corres ponder àquela emergência 4 Assim como a intencionalidade exige um background para se manifestar o mesmo é manifesto somente a partir da intencionalidade assim explicado por Searle 2006 p 280 grifos do autor O Background não designa uma sequência de eventos que possam simplesmente ocorrer mais exatamente o Background consiste em capacidades mentais disposições atitudes modos de comporta mento knowhow savoir faire etc todos os quais só podem ser manifestos quando há alguns fenômenos intencionais como uma ação uma percepção um pensamento etc todos eles intencionais Em nosso exemplo quando você está dirigindo diversas ambulâncias do Samu passam todo o tempo sem despertar nenhuma percepção de que algo esteja acon tecendo somente quando um estado mental é despertado em você pela percep ção da emergência da ambulância é que também você agirá intencionalmente perante a situação isto é perante o background Outros filósofos da mente acreditam que os estados mentais resultam de um processo cognitivo A mente atua como um computador capaz de processar di versas informações que são percebidas a partir de estímulos recebidos de nossos sentidos durante o dia por meio da atenção da memória e do raciocínio da linguagem e do aprendizado uns com os outros Ela a mente reproduz essas informações em algum tipo de comportamento aprendido e que pode ainda ser reprocessado infinitas vezes em infinitas circunstâncias Os filósofos da mente que assim pensam fazem uso das ciências cognitivas que descrevemos a seguir UNICESUMAR 155 OLHAR CONCEITUAL Ciências Cognitivas O Cognitivismo é uma teoria representacional da mente que busca compreender como ela a mente percebe transforma armazena recupera e utiliza as informações e as ações a partir das mesmas O Cognitivismo é construído a partir das ciências cognitivas Neurociência Foca nas experiências feitas a partir dos cinco sentidos e em como elas são processadas pelo cérebro e transformadas em conhecimento Psicologia Avalia o comportamento humano a partir de suas manifestações não observáveis e não correspondentes à realidade objetiva Busca o que acontece na mente das pessoas como resposta a esses comportamentos externos Linguística Busca entender os signifcados e sentidos que são fornecidos por meio da linguagem pela percepção humana e pelas experiências culturais sociais e individuais dos indivíduos Filosofa não muda Inteligência Artifcial Investiga como sistemas computacionais por meio de redes neurais artifciais podem se tornar inteligentes capazes de aprender identifcar padrões e resolver problemas Figura 3 Quadro ilustrativo das disciplinas que compõem as ciências cognitivas Fonte o autor Descrição da imagem a imagem apresenta um quadro ilustrativo das disciplinas que formam diversas ciências cognitivas O quadro traz a referência de cada ciência e a descrição do seu objeto de estudo com pequenas ilustrações relacionadas a cada disciplina UNIDADE 4 156 Examinaremos agora o conceito de intencionalidade É comum entendermos a palavra intenção semanticamente como propósito ou finalidade por exem plo em afirmações como ela acelerou a confecção do TCC com a intenção de concluir o curso ainda este ano Este modo de falar indica uma decisão tomada pelo sujeito em sua mente após alguma reflexão a respeito ou como desejo ou vontade ou disposição ao terminar o curso ela tem a intenção de sair do país Neste caso você expressa um projeto em andamento em sua mente ainda não finalizado Também podese usar as palavras metaforicamente em vários modos ele tem segundas intenções ao se aproximar de você ou de boas intenções o inferno está cheio ou a minha avó acende velas em intenção das almas a Deus ou ninguém sabe quais são as verdadeiras intenções dele Intencionalidade diz respeito àquela ação premeditada pelo sujeito em sua mente a qual envolve deliberação e vontade Dizemos que é praticar ações de caso pensado ou de propósito O que envolve saber exatamente o que se de seja pois supõe uma avaliação prévia e anterior ao movimento feito Podemos dizer que toda palavra e todo ato nossos são intencionais quando premeditados para alcançar exatamente aquele fim planejado Por exemplo agir com dolo é a representação de uma disposição mental de enganar fraudar trapacear Importante no que diz respeito ao que é intencional é que sempre tem a ver com algo ou com alguém ou com ambos Quando alguém elogia a comida de ou tra pessoa faz isso intencionalmente e aquela pessoa que recebe o elogio atribui intencionalidade a quem o fez Isso é tão comum e natural que sequer pensamos a respeito assumimos que enquanto sujeitos conscientes atuantes no mundo sempre agimos intencionalmente ou sempre procuramos intencionalidade em nossas ações mesmo que alguém diga foi sem querer querendo Ainda que alguém diga não tive a intenção de magoar você está implícita a ideia de que há uma intenção sendo negada Quando falamos de intencionalidade nos referimos ao seu sentido originado do latim intendere o esforço de se estender ou se dirigir até alguma coisa queren do dizer aquilo que se intenciona dentro da ação No caso da mente assumimos que ela está ativa em todo o tempo em que se encontra desperta e tudo o que passa por ela e se passa com ela é intencional sempre diz respeito a algo dentro dela interno ou fora dela externo Para comunicar isso a mente reproduz estados mentais aos quais damos nomes ou representamos tais como crenças desejos vontades capacidades habilidades e percepções e a lista segue quase sem fim FESER 2006 UNICESUMAR 157 A intencionalidade se tornou um problema filosófico analisado pela Filosofia da Men te devido à observação promovida pelas ciências biológicas de que seres vivos apre sentam comportamento inteligente à medida que atuam intencionalmente no mun do para satisfazer às suas necessidades individual e coletivamente e também pela descoberta feita pelas ciências neurológicas de que o cérebro humano demonstra ser perfeitamente adaptado para conduzir os seres humanos nesta atividade intencional em uma qualidade infinitamente superior àquela observada nos demais seres vivos Mas esta explanação sobre a nossa atividade mental já ocupou os filósofos desde muito tempo atrás pois as investigações mostram que na Idade Média este assunto já era examinado Contudo a atualização do tema é atribuída ao psicólogo e filósofo alemão Franz Brentano que viveu entre os anos de 1838 e 1917 O que ele pensava a respeito Brentano 2002 divide os dados de nossa consciência em duas classes de fe nômenos físicos e mentais Por fenômeno mental ele quer dizer qualquer ideia ou algo que se faz presente a nós que vem à nossa consciência por meio da per cepção e da imaginação Brentano 2002 os classifica como sensações recebidas pelos sentidos imaginações julgamentos lembranças expectativas inferências convicções opiniões dúvidas e cada emoção Por fenômeno físico o autor en tende como tudo que há no mundo pelo qual os fenômenos mentais são causados Se uma pedra cai na cabeça de alguém não dá para dizer que a pedra fez isso inten cionalmente mas se você jogou a pedra na cabeça de alguém então o cenário muda porque é possível atribuir intencionalidade a seu ato Agora imagine dois leões disputando o território Em certo momento eles decidem resol ver a questão em uma disputa cujo primeiro que ceder vai embora Parece haver alguma intencionalidade nessa combinação Uma planta inclinada na direção da luz solar mostra que ela está intencionalmente bus cando os raios solares para o próprio crescimento por outro lado é difícil imaginar que dois carros de Fórmula 1 decidam sozinhos competir entre si para ver quem chega pri meiro à linha de chegada ou que um robô decidiu promover a revolução das máquinas exigindo mais horas de descanso semanal Esses exemplos nos dizem que é preciso um ser biologicamente consciente para atribuirmos intencionalidade às suas ações o que é o caso de todo ser vivo animal ou vegetal inclusive o humano Ainda assim há grande diferença entre animais vegetais e seres humanos pelo grau de subjetividade que estes últimos conseguem dar às suas ações EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 4 158 Um fenômeno mental então não é o objeto que é apresentado no passado mas a apresentação dele a nós no presente isto é no imediato momento em que o objeto se torna presente BRENTANO 2002 Isso quer dizer que quando você deseja encontrar alguém esse desejo já está presente antes mesmo que você o verbalize em um pensamento ou uma frase Portanto todo fenômeno mental é baseado em uma apresentação da coisa em sua consciência ou ele mesmo é uma apresentação Entenda que esse conceito extraído da psicologia pois Brentano era psicólogo também quer dar conta da experiência de algo no tempo vivido percebida e integrada com essa característica do tempo presente Qual é o critério para distinguir entre fenômenos físicos e mentais Ou o que chamamos de físico e mental Você deve se lembrar que Descartes já havia dito que fenômeno físico é tudo aquilo que ocupa lugar e tempo isto é tem extensão enquanto o fenômeno men tal é tudo aquilo que não possui extensão portanto o inverso do físico Assim o mental é aquilo que o físico não é Isso pode ajudar mas há problemas com ambas as diferen ciações Nem tudo que é físico possui extensão por exemplo ao cheirar algum perfume no ar você não pode localizálo imediatamente talvez nunca E quando sente medo que é algo inteiramente mental você o sente no corpo tremores coração acelerado etc Então essa diferenciação pode ser útil mas não é totalmente correta EXPLORANDO IDEIAS Brentano 2002 busca então um critério para definir o fenômeno mental que não dependa da comparação negativa com o fenômeno físico e assim o autor encontrao na intencionalidade Essa característica fundamental da mente era utilizada entre os filósofos medievais desde Agostinho até Tomás de Aquino para indicar a inexistência de um objeto na mente E aqui você deve entender que a separação inexistência faz todo sentido pois se usamos a palavra como estamos acostumados falamos de inexistência significando que algo não existe Mas de vemos insistir no termo hifenizado para indicar o existir desde dentro Há algo dentro da mente para o qual ela se dirige e a partir do qual ela faz seus movimentos Brentano 2002 p 481 recupera tal conceito e o aplica do seguinte modo Cada fenômeno mental inclui algo como um objeto dentro dele ainda que nem todo seja do mesmo modo Na apresentação algo é apresentado no julgamento algo é afirmado ou negado no amor UNICESUMAR 159 algo é amado no ódio algo é odiado no desejo algo é desejado e assim por diante Essa inexistência intencional é característica exclusiva do fenômeno mental Nenhum fenômeno físico exibe algo assim Podemos portanto definir o fenômeno mental dizen do que são aqueles fenômenos que contêm um objeto intencio nalmente dentro ou com eles A partir desta distinção Brentano 2002 acrescenta três consequências Primeiro todo fenômeno mental é percebido interiormente temos cons ciência dele de imediato quando algum objeto se apresenta a nós de modo claro infalível e imediatamente Assim sentimos as coisas por meio do corpo mas as percebemos somente por meio da mente Segundo toda percepção de um fenômeno mental é exclusiva e única da mente que a experimenta Cada ser humano tem a sua própria vida mental que não é de nenhum outro sendo possível dizer também que cada indivíduo tem a sua própria e particular vida mental donde a vida mental de cada ser humano é somente sua e não de outro Terceiro por mais diversas que sejam as percepções mentais a mente tende a percebêlas como um simples e único fenômeno diversamente do fenômeno físico que é percebido por maneiras diversas isto é um evento após o outro Isso acontece quando alguém diz a você que estava caminhando pelo parque porque é assim que a sua mente percebeu uma série de movimentos e sequência de ações bem como a multiplicidade de cenários que você vivenciou em sua experiência externa de caminhar pelo parque BRENTANO 2002 Algo muito importante que você deve entender é que o fato de dizermos que em nossa mente as coisas que nos são apresentadas realmente existem não sig nifica que o mundo físico não exista à parte da percepção mental que temos dele Quando você ouve o ritmo de uma roda de samba a sua batida está lá no mundo externo agora o fato de percebêlo em sua mente é tão verdadeiro quanto aquele som externo Todavia o que acontece em sua mente é outro fenômeno distinto visto que você está trabalhando mentalmente com este som Por exemplo você pode estar se perguntando se gosta desse som que outros ritmos são assemelha dos ou distintos dele e até mesmo se gostaria de aprender a tocar samba A partir destas intuições de Brentano 2002 a filosofia da mente estimulada pelos avanços da psicologia das neurociências e das ciências biológicas fez a per gunta fundamental essa capacidade humana é apenas fruto de processos cerebrais UNIDADE 4 160 neste caso neuronais altamente sofisticados ou como diz Quaresma 2020 no caso específico da intencionalidade humana requer que se pense em um Agente consciente que possua a referida intenção uma subjetivi dade que busque ou faça o sentido ter valor objetivo em si mesmo que avalie e modifique esse sentido adaptandoo e significandoo constantemente De modo que sem agente sem consciência sem subjetividade sem intenção é claro e óbvio não poderá haver também intencionalidade QUARESMA 2020 p 3 Portanto a intencionalidade não resultaria do processo neuronal físicoquími co mas da constituição biológica o que a torna acessível a qualquer ser vivo e não somente ao humano Ampliando o assunto Quaresma 2002 aponta vários modelos de intencionalidade Ele menciona a intencionalidade corpórea cujos seres empregam todas as capacidades do organismo para viver em seu meio am biente Aqui a palavra intencionalidade humana tem a ver com adaptabilidade ecológica e cultural algo que fazemos quando está bastante frio e vestimos um casaco para nos protegermos ou quando nos mantemos bem distantes de um animal selvagem porque sabemos que ele pode nos atacar e ferir Isso também é verdadeiro sobre animais e plantas que estão habituados ao mesmo exercício intencional quando têm que se proteger ou evitar um ataque Outra intencionalidade assinalada por Quaresma 2002 é a biológica quando ela é demonstrada por seres vivos não dotados de sofisticados sistemas neuroce rebrais como as plantas e vegetais em geral ou as bactérias e os moluscos Todos estes espécimes também apresentam comportamentos intencionais de autodefesa individual e coletiva adequandose intencionalmente ao meio onde vivem ainda que limitadamente por exemplo reunindo a seu favor um conjunto de capacidades uma árvore é capaz de sobreviver a uma seca prolongada tão somente retirando através de suas raízes água do subsolo O que sugere um comportamento mecânico revela uma habilidade altamente desenvolvida de se manter viva em um período adverso A árvore assim satisfaz às exigências de uma intencionalidade cogniti va em que perante uma situação buscamse meios de satisfazêla manejando as possíveis maneiras disponíveis para isso QUARESMA 2020 UNICESUMAR 161 Assim desde que a intencionalidade está presente em tudo o que é vivo ela está privilegiadamente presente no ser vivo humano visto que ele desenvolveu uma intencionalidade biológica especial não apenas de se adequar ecológica e culturalmente a toda e qualquer situação como também dar valor e sentido à sua ação algo que transcende a mera explicação da exigência corpórea e biológica Além de finalmente ser hábil em representar mentalmente a intencionalidade por meio de uma semântica da representação Vamos agora conversar sobre o nosso assunto O nos so podcast tratará de nossas ações intencionais A per gunta é por que agimos intencionalmente É comum dizermos que agimos sem pensar ou sem intenção mas isso será verdadeiro Para saber a resposta não deixe de acompanhar o que preparamos para você É certo que a existência humana é bem mais complexa do que a de qualquer outro ser vivo exigindo muito mais de suas capacidades mentais Um ser hu mano pode acreditar que só existe um caminho para o céu preocuparse com as notas baixas de seu filho na escola planejar as próximas férias examinar a proposta de um novo trabalho avaliar o novo namorado da filha desejar que o preço do tomate baixe acompanhar cálculos complicados enquanto cozinha para o almoço ou pode correr até a estação do metrô enquanto se arrepende por não ter levantado mais cedo lamentando que chegará atra sado ao trabalho Enquanto no metrô observando as pessoas à sua volta a paisagem formula novos pensamentos e reflexões sobre a vida Estes estados intencionais são mentais neurocerebrais meros com portamentos repetidos ou indicam um Eu consciente plenamente ativo enquanto está desperto e também quando está dormindo e que aplica a sua perspectiva a tudo o que o rodeia Em um jogo de basquete quando a bola é jogada no cesto podese falar de uma intencionalidade física pois a bola realizará uma curva e cairá exatamente dentro da cesta e isso é facilmente previsível caso se observem as leis físicas UNIDADE 4 162 Por outro lado é possível falar sobre uma intencionalidade vinculada ao design da bola que sendo redonda se encaixará perfeitamente na rede que também é redonda Mas o que dizer de LeBron James o grande jogador do Los Angeles La kers campeão da NBA em 2020 que lança a bola cuidadosa e habilmente porque intenciona fazer a cesta que dará os três pontos exatos que a sua equipe precisa para conquistar o campeonato Chamamos essa Intencionalidade de James de intrínseca com I maiúsculo porque ela é primeira e anterior na verdade a ori gem mental das demais intencionalidades e de fato a que dá intencionalidade àquelas intencionalidades Sem uma mente que capte dê sentido e organize o mundo simplesmente não há mundo Já os filósofos da mente externalistas afirmam que não há nada intrín seco ou interno à intencionalidade de James pois ele apenas aprendeu as regras do jogo de basquete e exercitouse o suficiente para saber como fazer a bola redonda descer diretamente no círculo redondo que é o aro da ta bela Neste caso a intencionalidade é diretamente relacionada com o jogo de basquete a ser jogado não a algum conteúdo mental previamente neces sário para que James faça seu melhor jogo de basquete É evidente porém que você não pode limitar a experiência consciente de James a um jogo de basquete pois cada jogo é único e o conceito de jogo é inteiramente mental porque diz respeito a um conjunto de representações mentais compostas por crenças desejos imaginações disposições sentimentos percepções e muitos aspectos mais enfim tudo o que faz de um Eu consciente o que ele é Entenderemos então o que caracteriza a relação entre a consciência e a Intencionalidade e ninguém melhor para nos falar sobre isso do que o filósofo da fenomenologia Edmund Husserl Você já sabe que o filósofo francês René Descartes propôs que se quisésse mos saber mesmo a verdade sobre as coisas deveríamos nos desligar dos sen tidos e nos apoiar totalmente em nosso Eu pensante Esta intuição original no dizer de Husserl ainda que necessária não é satisfatória porque desvincula o Eu pensante dos objetos acerca dos quais ele deve pensar Sim devese partir do Eu pensante ou na linguagem husserliana da consciência de si mas ela deve lançarse para o objeto isto é dirigirse a ele intencionalmente Mas de onde vem a consciência dos objetos Na verdade eles já estão na consciência caso contrário não haveria consciência dos objetos visto que SILVA 2009 p 47 UNICESUMAR 163 A consciência é sempre consciência de alguma coisa ou seja é aquilo que dá sentido às coisas Pois as coisas em si não têm sen tido nós é que as interpretamos ou seja é somente na consciência que as coisas têm sentido Desse modo a consciência está sempre direcionada para um objeto Os objetos estão para a consciência assim como a consciência está para os ob jetos e por isso podemos falar de um objeto intencional Ele não é intencional porque está fora do Eu pensante como supõe a atitude natural cartesiana que divide mundo externo de mundo interno separando sujeito e objeto Ele tam bém não é intencional porque foi percebido pelo Eu pensante que o acolheu e deulhe certo lugar na ordem das operações mentais Ele é intencional por que o Eu pensante consciente de uma relação especial e específica com esse objeto apropriouse dele de determinado modo em um momento especial e específico e passou a compreender o objeto pelo modo como parece a ele ou seja ao Eu pensante e passou a entender a si mesmo pelo modo como compreendeu o sentido dado ao objeto Agora imagine que você visitou um bosque e passou por uma área toda florida encharcada pela luz do sol onde borboletas voavam sobre as flores os seus ouvidos ouviam a música de uma brisa suave e o seu olfato sentia os aromas misturados das flores A partir dos seus sentidos uma série de sensações difusas e confusas fervilham na sua mente e mais tarde você quer falar sobre a experiência que viveu no campo florido Mas como irá fazêlo senão incorporando à sua fala tudo o que compreendeu do que foi vivenciado Para dar conta deste processo fenomenológico temos um processo cuja ordem não é sucessiva mas sim são camadas superpostas VAN DER LEEUWN 2009 a Dar nome ao que se vê significa que algo no mundo chamou a nossa atenção e pede para darmos significado a ele b Ao nomearmos algo que vemos estamos fazendo a sua separação do seu lugar de origem inserindoo na nossa vida significa que aquele fenômeno se tornou importante para nós tão importante que é impossível seguir vivendo sem darlhe um significado em nossa vida c Todavia a inserção de um fenômeno em nossa experiência de vida é limi tada pelo próprio fenômeno e não podemos ir além dele o que coloca um limite derradeiro e final ao próprio significado que lhe damos UNIDADE 4 164 d Daí seguese a necessidade de fazer um exercício de elucidação é preciso verificar as partes estabelecer qual pertence a outra e qual não pertence e assim adquirindo mais compreensão da totalidade das conexões entre as partes e então do significado total e Portanto o ato de compreender é o ato de colocar em ordem em nossa pró pria vida aquilo que nos aparece de forma caótica estranha distante e por isso mesmo sem significado algum extraindo dele uma palavra para nós f Na fenomenologia lemos os textos e observamos os fatos mas o conhe cimento proporcionado por ambos não vem deles mesmos mas do sig nificado que damos a eles a partir do momento que os vemos e de algo que essa visão nos diz g Isso não quer dizer que a fenomenologia inventa significados a partir da experiência vivida pois ela a fenomenologia não pode falar sobre algo que não tenha sido visto antes Ao contrário ela é uma testemunha que dá testemunho do que viu e ouviu do fenômeno que lhe ocorreu no mundo É evidente que quando você falar da sua experiência não será sobre o fato porque ele já é passado mas de todas as impressões e percepções que ela sugeriu a você Desse modo SILVA 2009 p 49 para cada fenômeno percebido temos uma essência ou um sentido ideal que nos permite identificálo Assim as essências não se refe rem ao resultado de comparação entre os fatos mas são as ideias ou significados que cada fenômeno tem ao aparecer à consciência Podemos agora discutir se todo evento de consciência ou todo estado mental é intencional Pense em um malestar generalizado no seu corpo acerca do qual você não consegue definir bem a causa nem em que parte do corpo ele tem origem Certamente um exame bem feito revelará que você teve um problema de pressão ou indicará alguma parte do corpo que está causando o malestar ou simplesmente que é o clima ou o estresse Isso somente confirma que todo estado mental consciente tem a ver com algo acerca do qual estamos também sensorialmente conscientes O mesmo acontece com a dor pois ela é sempre localizada em alguma parte do corpo ora dói o pé ora dói a cabeça ora dói o corpo inteiro portanto mesmo quando não conseguimos formar conceitos a UNICESUMAR 165 partir de objetos intencionais ainda assim podemos nos referir a experiências sensórias como intencionais por exemplo quando passamos as nossas mãos sobre uma mesa para sentir a sua superfície Outra discussão importante é se estados mentais dos quais não temos cons ciência são também intencionais Habilidades desejos crenças e medos possuem intencionalidade mesmo quando não estamos conscientes deles Parece aqui que temos uma confusão entre os estados mentais e a consciên cia deles Se concordamos que estados mentais são intencionais isto é sempre têm um objeto intencional é claro que ter medo é sempre medo de algo ou de alguém ainda que inconscientemente Alguém pode ter medo do escuro e não saber disso até que fique sozinho em um lugar escuro tempos depois esta pessoa pode até esquecer aquela experiência mas é possível imaginar que toda vez que ela precisar passar por um lugar escuro aquele medo voltará Ele está latente disponível e acessível sempre que a oportunidade isto é o lugar escuro se repetir Agora a fenomenologia husserliana insiste que é preciso haver um objeto intencional no mundo do qual a consciência se apercebe para que exista uma atividade intencional de conhecimento desse objeto Mas e quanto a objetos que não estão ou não existem no mundo como a crença católica romana de que há um anjo da guarda ou de alguém que amarra um laço abençoado por uma mãe de santo no braço para ficar livre de problemas Isso nos adverte que devemos ampliar o nosso conceito de Intencionalidade Ludwig 2002 p 4 afirma que a Intencionalidade é a característica de um estado ou evento sobre ou dirigido para alguma coisa Uma crença é exemplo típico de um estado intencional pois ela é sempre uma afirmação sobre alguma coisa no mundo seja falsa ou verdadeira Ludwig 2002 distingue dois tipos de estados intencionais Há aqueles que são orientados da mente para o mundo como expectativas suposições opiniões convicções dúvidas e outros mais e há aqueles que são orientados do mundo para a mente como desejos e vontades A distinção não é difícil se você segue o padrão da correspondência Um estado intencional como uma convicção que é uma crença ou opinião bem fundamentada acerca de algo é sempre orien tada da mente para o mundo visto que corresponde a alguma coisa no mundo Um estado intencional como uma aspiração que é um desejo profundo acerca de alguma coisa é sempre orientado do mundo para a mente visto que é sobre algo no mundo que diz respeito a você mesmo LUDWIG 2002 UNIDADE 4 166 Outra maneira de abordar a Intencionalidade é o enfoque intencional pro posto pela teoria materialista de caráter behaviorista ou comportamental Ela diz respeito à estratégia de interpretar o comportamento de uma entidade pessoa animal artefato ou algo semelhante tratandoa como se fosse um agente ra cional que governa suas escolhas de ação considerando suas crenças e desejos DENNET 1999 p 413 Tratase então do modo como observamos e prevemos o comportamento de objetos e seres vivos No que diz respeito aos objetos pense no alarme de um relógio Ele foi programado para acionar um sistema de alarme em uma hora específica deter minada por você É claro que nem sempre isso dará certo porque o mecanismo pode quebrar e falhar sem o seu conhecimento mas de modo geral é assim que funciona E óbvio você não fica surpresoa se um dia deixar de acionar o sistema e o alarme não tocar pois simplesmente o relógio não foi preparado para responder à demanda Agora imagine que o seu relógio é um computa dor que você alimentou com dados de sua rotina diária ao longo de 30 dias e pediu que ele organizasse a sua agenda por meio de alarmes conectados a cada uma das suas atividades deixando margem para que ele escolhesse o melhor recurso para fazer isso Nos 30 dias seguintes você além de acompanhar a atividade do seu relógiocomputador também poderá observar como ele se organiza para corresponder à sua expectativa Algo diferente acontece quando observamos os animais por exemplo Veja quando observamos ratinhos de laboratório e dispomos dois lugares para eles um onde encontrarão comida e outro onde serão expostos a um gás venenoso que poderá matálos Não será difícil antecipar que os ratinhos procurarão o lugar onde há comida e evitarão de todo modo o local onde há o gás vene noso Isso indica que os seres vivos sempre agirão de modo a preservar a vida evitando o que possa lhes causar dano Agora o que podemos dizer dos seres humanos Dennet 1999 entende que é possível observar e predizer o comportamento humano por meio do enfoque intencional ainda que nós manifestemos uma vida mental de or dem superior devido à complexidade biológica e neurológica de nosso estado evolutivo atual e às necessidades resultantes da construção social e cultural na qual desenvolvemos as nossas existências Por um lado os seres humanos agem intencionalmente da mesma forma que por exemplo as formigas pois elas também buscam por comida e companhia UNICESUMAR 167 educam os mais jovens evitam os perigos constroem abrigos e envolvemse na comunicação social por meio da interação uns com os outros Podemos vêlas como dispondo de capacidades mentais que desenvolvem estados mentais cons cientes e inconscientes também implicando experiências sensoriais prazer e dor imaginação e estados intencionais como desejos e vontades Por outro lado essas capacidades mentais são dadas em função das neces sidades físicas e biológicas e também providas por um cérebro altamente de senvolvido capaz de fornecer os meios para provêlas sem que seja necessário presumir uma mente um Eu consciente ou um sujeito pensante E ainda que haja tal necessidade a ação intencional sempre será na direção estabelecida pelas condições do meio o que é algo inescapável para o cérebro Talvez você tenha ouvido falar da etologia cognitiva um campo especializado dentro das ciências cognitivas que estuda as experiências mentais dos animais em seu ambiente natural no curso de suas vidas diárias A ideia por trás desta pesquisa é que os animais desenvolvem comunicação e interação social que apontam para uma ação intencional Um exemplo é o modo como o casal de passarinhos chamado JoãodeBarro faz a sua casa usando uma mistura de barro com palha sempre sobre um galho uma mureta ou outra superfície rígida Os seres humanos usam a mesma mistura para fazer as suas construções no sistema chamado de COB As casas de COB são feitas da mistura de terra com areia e palha as paredes são erguidas sem máquinas e a moldagem é feita com as mãos e não com bicos As casas do JoãodeBarro e dos seres humanos tendem a resistir por longo tempo oferecendo uma residência duradoura para ambas as espécies EXPLORANDO IDEIAS A explanação anterior não parece deixar lugar para relacionar a subjetividade humana que é a consciência de um Eu pensante sobre e a partir de si mesmo e a intencionalidade quando esse Eu pensante produz estados mentais que apontam ou representam algo para além de si mesmo Inversamente à proposta anterior e até mesmo à explanação fenomenológica os objetos no mundo não são inten cionais senão na medida em que o Eu pensante lhes dá uma intencionalidade Suponha que você entre em uma sala com carteiras e cadeiras vários meninos e meninas sentados nelas quadro verde mesa grande à frente Este ambiente não diz você que está em uma sala de aula pois poderia ser qualquer outro espaço Quem atribui a ele esse conceito é a sua mente que relacionando a sua percepção UNIDADE 4 168 com o ambiente escolar lhe leva a interpretálo como uma sala de aula Quase automaticamente você se porta como um professor ou professora se preparando para começar a lecionar O que é preciso entender é que a sua mente criou de cer to modo a sala de aula e se você não fizesse isso nem haveria aula para lecionar Isso não quer dizer que não há um mundo fora de sua mente mas sim que o mundo está lá esperando que você diga ao mesmo o que ele é A intencionali dade do mundo é derivada porque ela depende que a sua mente dê o significado a ele por exemplo o seu carro estacionado na garagem é apenas isso mas é você quem vai até o carro colocao para funcionar e dirige até onde deseja ir Dito de outro modo o carro só tem intencionalidade quando o indivíduo dá intencionalidade a ele e ela está de forma intrínseca ligada ao indivíduo É claro que você só pode fazer isso quando é um carro e não um pedaço de pau Este certamente terá outra intenção a você Assim você compreendeu que a intencionalidade tem a ver com o mundo físico mas ela mesma não é física diz respeito a seu Eu consciente à medida que a sua mente é despertada pelo que acontece com seus sentidos no mundo um som lhe chama a atenção e você imediatamente crê que está ouvindo um picapau batendo com o bico em um tronco Como diz Feser 2009 p 136 Se qualquer coisa física deveria ser desprovida de intencionalidade intrínseca qualquer coisa que tenha intencionalidade intrínseca deve ser nãofísica Desde que a mente é a fonte da intencionalidade de entidades físicas como sentenças e quadros e não tem sua inten cionalidade derivada de qualquer outra coisa não há nenhum uso de nossas mentes para transmitir significado parece seguir que a mente tem intencionalidade intrínseca e assim é nãofísica Voltemos agora à relação entre subjetividade e intencionalidade Você apren deu na Unidade 2 que a subjetividade designa aqueles estados mentais ou a vida mental do Eu pensante que são especificamente dele e de ninguém mais Mas a subjetividade também diz respeito a esses estados mentais quando são vividos por esse Eu pensante esteja ele consciente deles ou não Desde que os estados mentais dizem respeito ao sujeito pensante como uma marca de sua vida mental e se essa vida mental não existe sem que seja sobre algo então podemos dizer que a intencionalidade é a marca da subjetividade UNICESUMAR 169 Na verdade ambas subjetividade e intencionalidade se relacionam e se iden tificam mutuamente E por que é assim Imagine que você acabou de voltar de férias do Pantanal encontra um amigo ou amiga e diz para ele ou ela passei minhas férias no Pantanal Não há nada de intencional nisso pelo simples fato de que não há subjetividade Qualquer pessoa poderia ter passado as férias no mesmo lugar junto com você e dizer o mesmo mas imagine que você fale assim acabei de voltar de férias do Pantanal gostei muito e não vejo a hora de voltar lá ano que vem agora a sua subjetividade está presente porque você está co municando algo de sua vida mental onde o seu gosto e a sua expectativa estão envolvidos visto que não é acerca do Pantanal que vocês estão conversando mas sobre as suas percepções do tempo de férias lá Outra pessoa poderia dizer que não gostou nem um pouco e que não quer voltar lá nunca mais Nada disso significa que a vida mental de alguém sendo subjetiva e intencio nal seja uma incógnita como quando se diz que ninguém sabe o que se passa na cabeça dos outros Quando os filósofos da mente estão falando de subjetividade e intencionalidade eles não estão falando de coisas inacessíveis ou impossíveis de se saber a respeito do que se passa na mente de alguém Ambas são comunicáveis e perfeitamente observáveis por meio da conduta das pessoas no mundo o lugar onde são manifestáveis e perceptíveis Suponha que você queira saber se a pessoa com quem se casará gosta de séries de TV Após várias conversas entre vocês sobre séries inclusive com direito a assistir a algumas delas você conclui que ela não gosta e que não é uma boa ideia casar com ela Ou que você está dando uma aula e pede que o aluno que souber responder à sua pergunta levante a mão Possivelmente vários alunos saberiam a resposta mas somente aquele que levantou a mão é que manifestou saber a resposta Ambos os exemplos nos ensinam que a vida mental está incorporada à nossa vida física a primeira manifestandose por meio da segunda Portanto os seres humanos nem possuem uma vida mental autossuficiente onde tudo acontece somente dentro dela nem são uma máquina que simples mente reage aos estímulos corporais do ambiente físico mas ambas as coisas Eles são simplesmente humanos pessoas que pensam sentem leem conversam umas com as outras cami nham jogam futebol respiram digerem seu alimento e assim por diante Algumas dessas atividades humanas são mais naturalmente UNIDADE 4 170 vistas como expressões da mente do que outras mas existem muitas em que se torna difícil classificálas diretamente como mental ou corpóreo MATTHEWS 2007 p 72 Veja que a linguagem os gestos e as práticas sociais e culturais nos ajudam a localizar e a entender a subjetividade e intencionalidade de alguém pois quando esse alguém as utiliza o faz como um sujeito é ele e não outra pessoa que está fazendo dizendo ou praticando aquilo e o faz intencionalmente pois quer fazer aquilo de certo modo e com certa significação Portanto não é possível nem correto separar a vida mental como subjetiva e intencional da vida física como objetiva e mecânica Na feira de tecnologia de Las Vegas CES 2020 de 7 a 10 de janeiro de 2020 foi apresentado um novo robô da marca japonesa Groove X chamado Lovot A sua função principal é servir de companhia para pessoas solitárias Ele possui cerca de 50 sensores integrados capazes de detectar o toque e aprender a identificar o dono pelo rosto consegue memorizar o rosto de até mil pessoas além de distinguir até 100 ao mesmo tempo e é capaz de aquecer e esfriar con forme a temperatura ambiente Lovot até cumprimenta os humanos quando chegam em casa Veja quão semelhante é a descrição de Lovot em relação ao que foi apresentado nos parágrafos anteriores sobre a subjetividade e a intencionalidade humanas Poderíamos dizer que o robozinho tem essas características humanas contudo aparentar têlas faz dele um ser humano Você poderia dizer que ele tem uma vida mental marcada por sub jetividade e intencionalidade Fonte adaptado de Toledo 2020 online EXPLORANDO IDEIAS Não se deve reduzir a subjetividade e a intencionalidade somente àquilo que a pessoa é ou faz Já observamos o exemplo do robô o fato de ele saber reconhe cer os seus donos e agir de modo a atender às suas expectativas por exemplo cumprimentálos quando chegam em casa não quer dizer que ele possui uma vida mental Devemos voltar à nossa questão e propor que a vida mental espe cificamente humana diz respeito à sua introspecção uma palavra oriunda do latim cujo significado é olhar para dentro para o interior Por ela queremos dizer que um ser humano é capaz de se voltar sobre si mesmo observandose examinandose sentindose e refletindo sobre isso UNICESUMAR 171 É inevitável pensar que toda consciência é consciência de si e sendo assim requer o conhecimento de si mesma por meio da autoobservação e do autorreconhe cimento Isso está explicitado na doutrina cartesiana do penso logo existo e a exigência de saber sobre si mesmo como a condição para saber da existência Isto acontece quando identificamos o quarto como nosso onde dizemos esta é a cama onde eu durmo ato que só é possível por meio de um exame introspectivo em que vinculamos observações vivências e sentimentos com aquele objeto Quando perdemos essa capacidade é como se perdêssemos a própria identidade pessoal deixamos de ser sujeitos de nossas próprias vidas e ainda mais como poderíamos falar de nossos próprios estados mentais sem conhecimento anterior deles Contudo as situações não são tão simples assim Alguns questionam o fato aparente de que nos dividimos em dois quando exercemos a introspecção um que age outro que observa Algo improvável quando pensamos na vida consciente como uma só dizendo respeito a uma única mente Outro questionamento está no fato de a introspecção não conduzir a uma conclusão correta porque ela surge a partir da autoanálise do indivíduo e portanto seria eivada de erros desde o começo não podendo ser justificada a partir da objetividade necessária para o conhecimento de seus estados mentais E ainda quando alguém reflete sobre um estado mental é uma reflexão de uma reflexão não podendo se constituir em um conhecimento válido e objetivo desse estado ABBAGNANO 2007 Você pode compreender isso imageticamente olhando a figura a seguir A introspecção interessa à filosofia desde o século XVII quando a filosofia empírica começou a prestar atenção no tema O filósofo britânico John Locke insistiu que o nosso conhecimento se baseava na experiência a qual envolvia duas fontes os sentidos externos era uma delas e a percepção de nossa mente dentro de nós era a outra que ele chamou de sentido interno Portanto O mo derno conceito de introspecção vem da crença dos filósofos empíricos de que o NOVAS DESCOBERTAS Pegando um gancho com o Explorando Ideias sobre o Lovot indi camos o filme HER Esta é uma produção estadunidense de 2013 que trata da relação entre um homem e uma assistente virtual com voz feminina que apresenta traços da personalidade humana Algo bastante popularizado hoje em dia UNIDADE 4 172 autoconhecimento era baseado sobre atos de observação interna que eram estrei tamente análogos aos atos de observação pelos quais adquirimos conhecimento do mundo externo DANZIGER 2015 p 702 tradução nossa Figura 4 A introspecção Descrição da imagem imagem mostrando a divisão do Eu em duas partes semelhantes no ato de intros pecção Tratase de uma figura em que uma cabeça humana é dividida no centro De um lado aparece um rosto humano e olhando de frente há outro rosto humano em formato maior Duas correntes filosóficas dos séculos seguintes questionaram esse conceito empí rico de introspecção Um deles foi o idealismo alemão para quem a introspecção nada tinha a ver com o estado mental mas com o ato de observação dele que mo dificaria o que foi observado Outro foi o positivismo para o qual a introspecção era algo impossível visto que misturava a coisa observada e o observador em um único momento invalidando qualquer observação que pudesse ser feita a respeito Respondendo a ambas as objeções outro filósofo empirista britânico cha mado Stuart Mill afirmou que a introspecção não tinha a ver com a apreensão instantânea de estados mentais que nos vêm pelos sentidos mas com a observa ção deles após terem ocorrido assim UNICESUMAR 173 O que é atualmente observado em uma introspecção são as memó rias de eventos mentais passados recentemente não os eventos no momento em que ocorreram Em outras palavras introspecção é na verdade retrospecção o exame de imagens da memória DAN ZIGER 2015 p 702 tradução nossa A introspecção é um tipo de percepção mas o que exatamente é percebido Al guns dizem que são as sensações que nos vêm a partir de nossos sentidos então se alguém sente o cheiro de carne assada simultaneamente ele é levado a dizer estou sentido um cheiro de carne assada e esta seria uma atividade introspectiva do Eu pensante porque dos vários cheiros que pairam no ar e chegam a seu olfato é esse que chamou a sua atenção e o fez se deter para perceber o que estava sentindo Todavia isso é questionável porque o fato de prestarmos atenção a algum cheiro e de isso causar alguma impressão em nossa mente não pode ser chamado de intros pecção Tratase de uma impressão uma operação mental somente A partir dela se desenvolve a introspecção quando nosso Eu pensante presta atenção na impressão da mente e se sente provocado a reagir a ela na forma de pensamentos que resultam em declarações a respeito Por exemplo alguém diria como é bom esse cheiro de carne assada ou daria tudo para comer um pedaço de carne assada agora ou ainda meu médico me proibiu de comer carne vermelha devido às pedras nos meus rins Portanto Rosenthal 1999 p 419 tradução nossa descreve introspecção como Deliberada e atenta porque esses estados intencionais de ordem su perior são eles mesmos atentos e deliberados E nossa introspecção parece presumivelmente espontânea e não mediada porque nós per manecemos inconscientes de qualquer processo mental que possa levarnos a esses estados intencionais de ordem superior A introspec ção consiste em pensamentos de ordem superior conscientes e aten tamente focalizados acerca de nossos estados mentais simultâneos Podemos perguntar o quanto conseguimos introspectar os nossos estados men tais uma vez que eles são simultâneos Poderíamos atentar para alguns e se quer perceber outros ou poderíamos notar alguns traços de um estado mental e ignorar outros por exemplo alguém ouve uma bela canção ao mesmo tempo em que a TV transmite uma partida de futebol Faz parte da atividade mental UNIDADE 4 174 introspectiva de um Eu pensante preferir avaliar julgar desejar e rejeitar amar e odiar um e outro ou um ou outro Ainda na canção ele pode focar em partes dela que produzem esses estados mentais e deixar passar outras pode também acontecer de o indivíduo se envolver tão profundamente com a canção em seus pensamentos que caso alguém lhe pergunte qual jogo está sendo transmitido na TV ele não saiba responder se existe um jogo Isso chamamos de concentração que é uma qualidade mental específica da introspecção Algumas questões importantes são sabemos exatamente e com toda a certe za que os nossos pensamentos estão de acordo com as impressões recebidas dos sentidos Que a introspecção sempre implica um estado mental racionalmente sustentado Em todo o tempo em que exercemos a introspecção ela sempre tem a ver com estados mentais simultâneos às impressões recebidas dos sentidos Em geral as primeiras duas questões são respondidas com o recurso às in vestigações psicológicas sobre a introspecção e comumente de modo bastante negativo Um estado mental percebido por alguém como uma crença nem sempre é acompanhada das impressões vindas dos sentidos nem podemos dizer que são racionalmente sustentadas Alguém pode dizer que crê na possibilidade de ver vultos de pessoas que já morreram e essas coisas não são apreensíveis pelos senti dos muito menos podem ser sustentadas racionalmente Como alguém também pode afirmar certos estados mentais sem nenhuma base comprobatória como dizer que não gosta de certo professor para se manter bem com a turma que quer retirar o docente do colégio assim como o fato de alguém descrever os seus esta dos mentais não quer dizer que sabemos o que está acontecendo em sua mente apenas que somos informados acerca dos seus resultados ROSENTHAL 1999 A terceira questão requer que aceitemos a explicação empirista da retrospecção Por ela sabemos não ser possível que a mente funcione para o Eu pensante como os sentidos funcionam para o corpo de modo que não podemos levar a analogia em pirista tão longe O que significa que a introspecção não ocorre simultaneamente à operação mental realizada a partir das impressões recebidas pelos sentidos gerando os estados mentais É preciso certo tempo para que o Eu pensante consciente de que um estado mental emergiu em sua mente seja capaz de observálo e refletir sobre ele Isso é feito a partir da rememoração imediata daquilo que acabou de acontecer portanto a introspecção não é simultânea mas retrospectiva Ela não diz respeito àquilo que é imediatamente percebido mas àquilo que é imediatamente recebido por meio da constituição de um estado mental agora existente UNICESUMAR 175 Isso não quer dizer que a retrospecção também não seja uma forma de intros pecção apenas que nos damos conta de certos estados mentais somente depois que eles começaram a trajetória até o nosso Eu pensante Você vê uma foto que lhe lembra alguém e logo depois pensa consigo mesmo que gostaria de encontrar aquela pessoa outra vez Algo lhe faz lembrar de uma situação e você avalia como teria agido se ela se repetisse agora A retrospecção tal como a introspecção é semelhante a um diário em que vamos colocando os nossos sentimentos pensamentos registros sobre como reagimos ao que aconteceu e acontece conosco e as expectativas os desejos e as aspirações que temos Volta e meia retornamos a esse diário e por meio dele nos reencontramos conosco De novo não existiria sujeito sem essas recordações acerca das quais vamos construindo as nossas identidades A literatura explora abundantemente a introspecção a partir de um recurso chamado fluxo de consciência no qual o narrador descreve o que se passa na mente de um perso nagem e cujo raciocínio é mesclado às impressões pessoais imediatas e à associação de ideias Veja como Agatha Christie faz isso É Armstrong Acabei de perceber que estava olhando de soslaio para mim tem olhos de louco muito louco Talvez nem seja médico afinal de contas Claro é isso Ele é um lunático fugido de algum hospício ou da casa de algum médi co fingindose de doutor isso sim Devo dizer a elesDevo gritarNão não convém prevenir os outros contra ele Além disso ele parece tão normal Que horas são Apenas 15h15 Oh meu Deus eu também vou enlouquecer Sim é Armstrong Ele está me observando de esguelha bem agora Fonte adaptado de Christie 2014 p 56 EXPLORANDO IDEIAS Para falar da introspecção precisamos voltar a abordar o tema da consciência pois ela diz respeito ao Eu pensante isto é à vida mental de alguém Armstrong 2004 argumenta que a vida mental de alguém é um monte de coisas sendo a consciência a sua manifestação mais sofisticada a cereja do bolo O autor estabelece diferentes modos de entendermos a consciência sendo o primeiro deles a consciência mínima aquele estado em que o sujeito se encontra quando dorme profundamente ou recebe uma anestesia total Não se pode dizer que você perdeu a consciência de ser quem é tampouco as qualidades que lhe UNIDADE 4 176 definem conhecimentos habilidades capacidades vontades sentimentos desejos crenças etc Esperase que quando acordar ou voltar da anestesia você seja a mesma pessoa de antes pois os traços de sua vida mental ficaram armazenados de modo que os retoma ao acordar como um computador que ao ser ligado traz consigo os dados armazenados que voltam a ser úteis quando o indivíduo ao precisar deles os aciona Todavia isso não quer dizer que houvesse atividade mental enquanto você estava sob uma condição inconsciente óbvio Você não poderia pedir para apagar a luz enquanto está anestesiadoa em uma mesa de cirurgia então Armstrong 2004 p 609 define da seguinte maneira este estado mínimo de consciência Se existe atividade mental acontecendo na mente se algo está acon tecendo atualmente então aquela mente não está totalmente in consciente Ela é então consciente Uma única fraca sensação não é muito mas se está acontecendo naquela medida existe consciência A inconsciência não é total A consciência mínima não deve ser confundida com a consciência perceptual aque la na qual sabemos o que está acontecendo ao nosso redor e em nosso corpo Os nossos sentidos estão atentos e as operações mentais impressões memórias e ima ginações estão em pleno funcionamento Ainda que isso também aconteça quando estamos sonhando isto não significa consciência do momento presente nem mesmo a possuímos quando estamos sonhando Portanto a consciência perceptual envolve a consciência mínima mas esta não envolve aquela ARMSTRONG 2004 Agora podemos examinar o que Armstrong 2004 chama de consciência introspectiva Não sei se já aconteceu com você quando dirige o carro por um dia inteiro chegando ao final do dia está cansado ou cansada e a situação toda fica meio irreal você se sente um pouco inconsciente mas também em um estado de alerta cujas percepções estão funcionando ainda pois controla o carro e a estrada e sabe que deseja chegar até a cidade onde descansará Por outro lado quando tenta lembrar os últimos segundos é como se tivesse dirigido no automático e não poderia dizer o que fez para chegar onde está agora Você então tem a consciência mínima e a perceptual mas lhe falta a percepção do mental do que está acontecen do em sua mente enquanto está dirigindo Armstrong 2004 p 611 reserva o termo introspectivo para essa consciência do seguinte modo a percepção da consciência de estados e atividades simultâneas em nossa própria mente UNICESUMAR 177 Isso não significa que estamos sempre e totalmente conscientes de nossos estados e operações mentais muito menos que podemos estar absolutamente confiantes de que eles estão totalmente corretos como queria Descartes ao afir mar que podemos duvidar de tudo menos de nossos pensamentos ainda que seja possível dizer que esta frase não tem a ver com a correção ou não da consciência que temos de nossos estados e operações mentais Mas quer dizer que lidamos intersubjetivamente com os nossos pensamen tos da mesma forma como lidamos com o nosso corpo e o nosso meio Estamos pessoalmente envolvidos com os cheiros que o olfato nos traz os sons que os ouvidos captam os sabores que o paladar propicia os objetos que os olhos veem e os dedos tocam Da mesma forma estamos pessoalmente envolvidos com nossos desejos vontades crenças conhecimentos sentimentos e tudo o mais dizemos que eles nos dizem respeito Se a consciência introspectiva deve ser comparada com a percepção então será natural dizer que os objetos mentais da introspecção agem dentro de nossa mente de modo a produzir nossa consciência introspectiva desses estados David M Armstrong PENSANDO JUNTOS Todavia também é possível falar de dois tipos de consciência introspectiva Pense em sua própria experiência quando entra em um shopping de início todas as lojas aparecem a você que está consciente de todas elas Depois se lembra que precisa ir até a loja de produtos de beleza de nome X então sai em busca dela procurando não se distrair com as outras lojas estando bem atentoa até encontrála de modo geral é assim que funciona nossa a introspecção Imagine quantas operações e quantos estados mentais passam por nossa mente em um dia e sequer notamos boa parte delas No entanto em um momento ou outro somos apanhados por algum deles que se destaca dos demais Ainda é possível que mais tarde você retome àquele estado mental e comece a investigar as razões causas e consequências de ter sido chamadoa à consciência por aquele estado ou operação mental Agora você está fazendo a introspecção da introspecção ARMSTRONG 2004 A consciência introspectiva é vinculada muito especialmente à consciên cia do self ou como temos chamado do Eu pensante Não apenas temos cons UNIDADE 4 178 ciência de atividades estados e objetos mentais mas os apreendemos em uma coisa única e contínua tal como apreendemos sobre algo no mundo por exemplo um quadro que estamos observando inserindoo em um arcabouço teórico o pintor a época o estilo os materiais etc assim também fazemos com a nossa vida mental ela é a vida de um Eu pensante ARMSTRONG 2004 Não apenas isso mas também guardamos no que chamamos de memória os objetos as operações e os estados mentais que são percebidos em nossa introspec ção enquanto os demais simplesmente não existiram para nós Sem introspecção não temos memória e se não a temos não podemos dizer que exista um Eu pensan te ou como conclui Armstrong 2004 p 616 Sem consciência introspectiva não teríamos consciência de nossa existência nosso self não seria um self em si mesmo Ao falarmos de intencionalidade também precisamos pensar sobre a ação o fato de que nossos estados intencionais são propositalmente orientados Não pensamos as coisas somente por pensar por exemplo quando pensamos no saci pererê que supostamente é um ser inexistente não só o fazemos com alguma intencionalidade estou pensando sobre o saci pererê Estou também antecipando algumas possíveis ações se ele existe e é como dizem devo ter medo e tomar algum cuidado se ele não existe não há razão para medo e ocuparei o meu tempo pen sando em alguma coisa mais útil Assim os nossos estados mentais são intencionais porque o são sobre algum objeto e porque são orientados para algum objeto Os nossos estados intencionais também comportam atitudes proposicio nais que é a relação entre o que uma pessoa pensa e o que ela fala Você pode pensar assim tenho medo de que aquele partido vença a eleição Esta é uma proposição ou declaração na qual você a eu afirma determinada atitude mental tenho medo em relação a algo b a vitória de certo partido na elei ção E ainda os nossos estados intencionais têm relação direta com as ações humanas pois como disse Searle 2010 p 8 todo comportamento humano intencional é uma expressão dos fenômenos mentais Dito de outro modo toda ação humana é mentalmente causada Costas 2005 diz que há três tipos de ação humana As ações corporais são movimentos do corpo que podem ser positivas quando usamos nossos músculos UNICESUMAR 179 para fazer alguma coisa e podem ser negativas quando deixamos de fazer algo As ações mentais são realizadas somente em nossa mente como quando somamos dois mais dois As ações instrumentais acontecem quando manuseamos alguma coisa como usar uma faca para cortar um pedaço de queijo Também existem as ações básicas e nãobásicas por exemplo fazer uma salada de alface para o almoço requer uma ação básica que é selecionar cortar e temperar a alface Nem todo movimento corporal efetuado por um ser humano pode ser conside rado uma ação Uma crise epiléptica em que todo o corpo se contrai e descontrai não pode ser chamada de ação humana ainda que diga respeito a um movimento corporal realizado por um indivíduo Faltalhe algo que é exatamente o humano da ação algum desejo vontade crença opinião sentimento emoção e assim por diante Ainda assim nem todas as ações humanas podem ser categorizadas desse modo faltalhes o que é ainda mais fundamental da ação uma orientação biolo gicamente fundada que Costas 2005 chama de teleológica isto é orientada para um fim mas que não é intencionalmente orientada para esse fim Sendo uma característica biológica de todo ser vivo está presente por exemplo quando um passarinho procura abrigo devido à ventania e à chuva que está chegando Todavia a ação tipicamente humana não é apenas teleologicamente orien tada ela também é voluntária Elas são marcadas pela vontade de todo ser vivo animal ou humano em fazer coisas deliberadamente Ela implica uma tentativa ou intenção de agir que Costas 2005 chama de esforço a qual é a causa de um movimento corporal ou da sua interrupção Imagine que você saiu de casa para pegar o ônibus e viu que está atrasadoa então corre o máximo que pode para apanhálo a tempo na parada Pense que o mesmo acontece quando um gato sai correndo atrás de um rato Por fim temos a ação tipicamente humana que é a racional Por exemplo não é uma ação racional quando você chega em casa suadoa em um dia de muito calor e vai direto ao banheiro para tomar uma ducha fria outros animais tam bém fazem o mesmo Embora isso envolva algum grau de racionalidade porque ambos estão mostrando por meio dessa ação que perante tanto calor precisam de água fria para diminuir a temperatura do corpo UNIDADE 4 180 Mas a ação racional propria mente humana acontece quando você sente tanto calor que deseja uma jarra de suco gelado para be ber algo refrescante e diminuir a sede Você faz isso porque acredita que tal bebida proporcionará isso a você ora desejar e crer são dois estados mentais intencionais que lhe conduzem a decidir fazer uma jarra de suco pegar um bocado de limões e espremêlos resultando em um líquido que é colocado em uma jarra a qual depois você colocará dentro da geladeira e cujo conteúdo você beberá no dia seguinte Portanto uma ação racional é aquela ação deliberada em função de uma situação perce bida Costas 2005 p 56 a define como uma ação voluntária que resulta de um processo de deli beração racional E ele a descreve conforme o seguinte esquema MOVIMENTO CORPORAL ESFORÇO Decisão a intenção na ação o tentar ou a sua sustentação ou intenção prévia QUERER PRÉVIO Decisão RAZÃO OPERANTE DESEJO CRENÇA Figura 5 Orientação intencional para a ação Fonte Costas 2005 p 58 Descrição da imagem esquema descrevendo como a intencionalidade gera a ação desde o mo mento em que surge o desejo aliado à crença até o movimento corporal para a sua realização ou não Esta reflexão sobre a intencionalidade da ação nos apresenta os seres humanos não somente como dotados de uma vida física cujos movimentos corporais são suficientes para explicar o que eles estão fazendo Imagine que após o almoço você recostouse em seu sofá para tirar um cochilo Alguém que passa pelo escritório ao lhe observar pensará que você está fazendo algo que qualquer ser vivo faz após uma refeição principalmente no horário mais quente do dia após meio dia de trabalho logo você desperta e está prontoa para continuar as atividades da tarde Os demais seres vivos fazem o mesmo tudo o que fez é perfeitamente natural e diz respeito às condições biológicas do seu corpo e todos os movimentos realizados são uma resposta a elas Até mesmo os bocejos que você segue fazendo durante a tarde UNICESUMAR 181 são reflexos de seu estado biológico ainda que sejam movimentos corporais Isso significa que não há nem subjetividade nem intencionalidade neles não podemos dizer portanto que sejam sinais de uma vida mental Este tipo de ação corpórea pode ser explicado pela causa que é de natureza biológica mas ele não pode ser explicado por sua razão que é de natureza psico lógica pois diz respeito ao sujeito e à sua intenção Suponha que alguém observe você cochilando na poltrona e sabendo que esse não é um hábito seu lhe pergunte por que está com tanto sono Você responde que não dormiu direito porque está muito preocupadoa com a situação econômica da empresa e ficou parte da noite pensando em uma saída para ela Veja que à condição biológica somouse uma condição psicológica que na verdade explica o cochilo após o almoço Quando damos razões para nossas ações estamos afirmando a nossa inten cionalidade não somente sobre um objeto nem apenas orientandonos para ele nem respondendo racionalmente a uma situação percebida mas compreendemos e somos capazes de dar uma explicação racional ao que estamos fazendo em relação a esse objeto Isso significa dizer que esperamos que as nossas ações façam sentido para outras pessoas e que elas sejam capazes de entender os sentidos dessas ações Evidentemente isso sugere que deveríamos nos colocar no lugar de outra pes soa para entender as razões de suas ações Claro que isso é impossível ninguém consegue entrar na mente de outra pessoa para entender os seus pensamentos mas há outros dois modos em que isso é próximo do possível o primeiro é quando nos colocamos no lugar de outro indivíduo enquanto seres humanos que somos tais como ele Você pode saber o que uma pessoa está sentindo e pensando quando ela é humilhada publicamente porque você é capaz de se imaginar se sentindo e pensando sobre isso caso acontecesse com você Ou se conhece bem a pessoa é capaz de saber o que ela está sentindo e pensando naquele momento e até mesmo prever o comportamento futuro dela provavelmente ela ficará vários dias depri mida até recuperar a confiança habitual Porém há outro modo de se colocar no lugar da outra pessoa que é pela via da cultura Matthews 2007 p 140 diz que Os padrões de inteligibilidade das razões são determinados pela cultura à qual pertence a pessoa que está agindo e a pessoa que procura compreender a ação e todos os nossos padrões de inteligibilidade estão ligados à cultura seja ela uma cultura humana em geral ou uma cultura local em particular à qual pertencemos Quando observamos os indivíduos agindo de UNIDADE 4 182 certo modo precisamos perguntar as razões pelas quais eles estão fazendo aquilo não somente em sua ação intencional particular mas no modo como eles foram orientados a agir daquele jeito no meio onde foram criados e vivem Você já deve ter visto e reparado na saudação entre japoneses quando se encontram Co mumente eles mantêm a postura ereta e juntam os pés curvam o corpo da cintura para cima mantendo a parte de baixo perpendicular em relação ao chão conservam o corpo sempre reto de modo a olhar para o chão e não para o rosto ao completar a curvatura retomam o corpo ao estado original Claro que a observação do movimento corporal pre cisa de outra explicação além da atividade cerebral e muscular Precisamos saber a razão por que fazem assim e a encontramos no modo como na cultura japonesa as pessoas demonstram respeito e reverência em uma forma de expressar a hierarquia social EXPLORANDO IDEIAS Sob esta perspectiva Matthews 2007 conclui como compreensão geral do ser humano o fato de o mesmo ser alguém dotado de uma vida física cujas certas capacidades subjetivas e intencionais fazem parte Estas fazem dele algo especí fica e especialmente dotado de algo que podemos chamar de vida mental ou se quisermos de mente E essa é a parte da vida física que faz do ser humano alguém para além de uma máquina um ser que enriquece tremendamente a sua existência por meio de sua vida mental O fato óbvio é que no dia a dia fazemos declarações e agimos de modo a mani festar claramente os nossos estados mentais Isto indica que não somos apenas seres que interagem fisicamente com o mundo mas que também somos seres psicológicos os quais desenvolvem uma riquíssima vida mental enquanto acontece essa interação Suponha que você está observando o comportamento de um estudante a sema na toda que ele vem às aulas e os seus movimentos físicos são sempre os mesmos sentase na cadeira e deita a cabeça sobre os braços que estão sobre a mesa Como você faria para lidar com a situação considerando que um ou mais de um estado mental está sendo demonstrado no comportamento desse aluno Você deve admi tir que a ação dele resulta de alguma situação mental e uma vez que ela tem uma relação contextual será importante conversar com ele para saber o que há em sua mente nas circunstâncias de vida que está resultando naquela ação 183 AGORA É COM VOCÊ 1 O filósofo estadunidense John Searle 2006 explicou o modo como representamos os nossos estados mentais usando a metáfora da rede descrita por ele como É em geral impossível para os estados intencionais determinar condições de satisfação isoladamente Para ter uma crença ou desejo tenho eu ter uma compreensão da rede de outras crenças e desejos Sendo assim uma rede comporta um conjunto de estados mentais que não são nem autointerpretativos nem autoaplicáveis isolada mente uns dos outros O autor completa esse conceito com outro chamado por ele de background Em relação à definição desse conceito assinale a alternativa correta a O processamento de informações é efetuado pela mente a partir dos sentidos b O pano de fundo que consiste de capacidades mentais disposições atitudes etc a partir do qual representamos os nossos estados mentais c A vida mental disposta por categorias que são usadas para diferenciar as coisas umas das outras d Os estados intencionais que atuam autonomamente para satisfazer às necessi dades de comunicação no mundo e O uso isolado de um estado mental para explicar todos os demais 2 A introspecção é a chave para a compreensão do outro pois sempre supomos que ele agirá de uma forma parecida com a nossa Mas o que ocorre quando a avalanche de sons imagens e mensagens que recebemos incessantemente ofusca a introspec ção Quais serão os efeitos de interagirmos cada vez mais com sujeitos virtuais TEIXEIRA J de F O pesadelo de Descartes do mundo mecânico à inteligência Porto Alegre Fi 2018 p 168 A introspecção se trata da atividade do Eu pensante em examinar a si mesmo o que envolve a contínua tomada de consciência O exame da introspecção nos conduziu ao reexame da consciência em três momentos mínima perceptual e introspectiva A consciência introspectiva foi explicada como a A percepção do que está acontecendo na mente b A percepção do que está acontecendo em um sono profundo c A percepção do que está acontecendo ao nosso redor e em nosso corpo d A percepção do que está acontecendo em nossas memórias e A percepção do que está acontecendo em nosso cérebro 184 AGORA É COM VOCÊ 3 O entendimento da ação intencional exige que nos coloquemos no lugar de outra pessoa para entender as razões de suas ações Todavia é impossível entrar na mente de outro indivíduo para entender o que ela está pensando por isso algumas abor dagens interessantes podem nos ajudar como pôrse no lugar de outra pessoa como um ser humano tal como você usar o conhecimento da cultura como modo de reconhecimento da ação da outra pessoa a partir de como ela foi orientada a agir daquele modo no meio onde vive e foi criada Dentre as abordagens apresentadas no texto apresentado selecione uma delas desenvolva o seu pensamento a respeito e dê um exemplo para validálo 4 A minha vida tem duas fases distintas antes de ter um cachorro e agora que tenho um Antes eu me achava uma pessoa feliz Mas somente agora sei como é ter um irmão uma das melhores companhias que existem Como me divirto e como amo Mudei muito e amadureci demais pois um ser depende de mim para sobreviver e ser feliz MENSAGENS com Amor Porque amo meu cachorro 2021 Disponível em https wwwmensagenscomamorcomporqueamomeucachorro Acesso em 29 mar 2021 No que diz respeito à representação mental um dos modos de examinála é verificando os elementos categoriais e conceituais que a constituem Com base no enunciado responda às questões a seguir e apresente argumentos que jus tifiquem a sua resposta a De que modo o elemento categorial está presente no depoimento apresentado b De que modo o elemento conceitual está presente no depoimento apresentado MEU ESPAÇO MEU ESPAÇO 5 Outras mentes e Inteligência Artificial Dr Sidney de Moraes Sanches Nesta unidade trabalharemos dois temas importantes para a filosofia da mente se temos acesso ou não a outras mentes e a Inteligência Artificial IA De modo geral não temos dificuldades em saber o que estamos pensando e o senso comum pondera que temos acesso direto aos nossos pensamentos ou seja não precisamos de qual quer mediação Por isso essa seria a nossa fonte mais confiável de conhecimento A questão é podemos ter a mesma certeza quanto às outras pessoas As máquinas inteligentes cujo conceito basilar é a IA constituem outro desafio filosófico para nós seres humanos À medida que as máquinas são aperfeiçoadas elas se tornam mais comunicativas e replicam o modo como funciona a nossa mente Isso também nos leva a refletir sobre nossa composição ou seja se somos máquinas pensantes revestidas de um corpo físico O nosso estudo será bastante intrigante e atual Continuemos UNIDADE 5 188 Essa é uma história fictícia que se passa em um século não tão distante Ao re tornar do sono os pensamentos do EU general afloraram Pensou na facilidade com que fizera a guerra ontem e como isso se devia às Inteligências Artificiais COGs que o treinaram Notou ser transportado para aquele tempo Ao seu redor os cenários fluíam sem que ele se esforçasse Sua vida inteira não estava mais nele mas armazenada no Grande Círculo Vital De repente compreendeu o quanto se entregou às COGs introduzidas em sua formação Foi educado para evitar a si mesmo enquanto vivia para elas Agora já não sabia mais identificar qual tipo de Eu ele foi de tão misturado que tudo ficou não sabia se as recordações eram suas ou das COGs não sabia se a sua inteligência havia vencido as guerras ou as COGs e não sabia se ele tomava as decisões ou se eram as COGs as quais eram parecidas a espumas flutuantes A sua mente e as outras se misturavam confusamente e propositalmente Ainda não sabia qual tipo de Eu eram aquelas coisas que pensavam na guerra por ele Um sentimento de irritação se tornou forte algo parecido com um princípio de rebelião Quando as COGs perceberam os níveis de mudança de humor no EU general reagiram no momento injetando grandes doses de adrenalina Quando se despertou de vez as telas se dissolveram e lá estava ele outra vez olhando o cenário de guerra e construindo em conjunto com as COGs os próximos combates A ficção apresentada é um exercício futurístico que projeta a interação entre os seres humanos e as máquinas A ideia é a de que quanto mais as gerações futuras usarem as máquinas inteligentes que aprenderão cada vez mais diante desse uso mais as duas existências se aproximarão Chegará um momento em que não conseguiremos mais distinguir o ser humano da máquina e a máquina do ser humano As teorias educacionais mais avançadas já propõem a interação ensinoaprendizagem mediada pela IA Assim em algum momento do encontro entre docente e estudante as máquinas estarão mediando o conhecimento A Amazon criou em 2014 uma assistente virtual chamada Alexa Seu objetivo é atender o usuário em suas tarefas diárias especialmente durante as compras realizadas na loja Alexa é uma assistente conversacional capaz de entender o contexto até determinado aspecto e executar tarefas simples tais como configurar alarmes informar a situação do trânsito prever o clima executar uma lista de músicas ou reproduzir podcasts Por não estar atrelada a um sistema operacio nal Alexa é compatível com Android e Windows 10 a interação com o iPhone UNICESUMAR 189 é limitada mas existe além de ser capaz de se conectar a uma vasta gama de dispositivos de terceiros Para saber mais sobre Alexa acesse o QR code Diante da sua convivência com algum assistente virtual reflita sobre como a sua vida tem sido alterada por esses assistentes Imaginar a educação do futuro que já chegou é pensar no modo como os com putadores a Internet a IA os robôs e as demais tecnologias podem ser usados para dinamizar a área que chamamos de educação Essa é a aplicação da Quarta Revo lução Industrial constituída pela geração de nativos digitais que estão nas escolas Faça o seguinte procure reunir toda a informação possível sobre a Educação 40 Depois faça um portfólio uma coleção de tudo o que conseguiu encontrar a fim de expor em algum espaço educacional de fácil acesso DIÁRIO DE BORDO UNIDADE 5 190 Você já deve ter compreendido que a filosofia da mente busca compreender a relação entre a mente e o corpo Apesar de essa questão remontar aos primeiros tempos do pensamento filosófico ela se tornou central para a filosofia moderna e praticamente inaugurou a filosofia da mente em conjunto com o filósofo francês René Descartes Basicamente o filósofo entendeu que o ser humano é composto por duas substâncias a material o corpo e a imaterial a alma chamada de mente na atual filosofia da mente Esse dualismo antropológico cartesiano entende que a vida mental humana está na alma e o corpo é um mecanismo que executa as funções necessárias à sua existência no mundo A questão filosófica inauguradora do atual problema entre mente e corpo con siste na interação entre ambos Para Descartes você e eu somos essa substância imaterial sem tamanho peso cheiro ou cor que habita o interior do corpo humano A primeira questão é como essa substância habita esse corpo Essa pergunta pode ser esmiuçada em indagações menores tais como em que parte do corpo ela ha bita Ela está espalhada pelo corpo inteiro ou está em um lugar específico Ela está limitada ao corpo ou pode sair dele Como ela entra no corpo Como permanece nele Quando o corpo morre o que acontece com ela Se ela não partilha a subs tância material do corpo de que tipo de substância ela é formada Essas questões foram consideradas de menor importância para a atual filosofia da mente A questão realmente importante atualmente é uma vez que a mente habita o corpo humano e ambos são substâncias como se dá a relação entre esses ele mentos De que maneira um afeta o outro ou um é afetado pelo outro Compli quemos um pouco mais a situação Se a mente é uma substância imaterial e por tanto não tem propriedades físicas ela pode afetar o corpo que é essencialmente físico Você já sabe que na mente acontecem as nossas emoções algo totalmente imaterial pois não é possível medir ou pesar um sentimento de raiva ainda que alguém diga que está carregado de raiva o que constitui uma metáfora Diante disso suponha que a mente está carregada de um estado mental comparável à emoção da raiva como esse fato pode se relacionar com o corpo Agora se o corpo é uma substância material ele se relaciona com o mundo a partir de interações entre as suas propriedades físicas Suponha que você está em uma piscina em um dia de calor e sente o frescor da água em volta do corpo o que gera uma sensação de bemestar e prazer Em outra situação você pode estar com falta de vitamina C e por isso está resfriado Diante disso decide comprar uma UNICESUMAR 191 dúzia de laranjas para repor a vitamina em seu corpo Tudo isso acontece em sua vida física ou corporal Se assim é de que modo os movimentos físicos do corpo in teragem com a mente que é segundo o dualismo cartesiano totalmente inacessível A dupla questão apresentada levou alguns estudiosos a proporem uma ex plicação filosófica O próprio Descartes em sua obra Paixões da Alma propõe que a interação entre as propriedades físicas do corpo se dá na glândula pineal uma pequena glândula endócrina presente na base do nosso cérebro que é a responsável pela secreção da melatonina que regula o nosso sono DESCARTES 1999 Isso não pareceu satisfatório Quando alguém está com raiva visivelmente a percebemos devido à postura do corpo o qual normalmente está enrijecido avermelhado e pronto para uma agressão Por outro lado quando alguém está placidamente boiando em uma piscina é fácil perceber como o sujeito está rela xado e tranquilo ou seja o seu estado ou atitude mental é outra O estresse é um estado mental totalmente imaterial mas determina a postura corporal e influencia as relações pessoais e sociais Ele é causado pela ansiedade gerada por es sas relações as quais afetam o corpo e o fazem estar constantemente em alerta até o momento em que ocorre o esgotamento físico As soluções ao estresse perpassam por mudanças em relação à atitude mental e ao estado físico PENSANDO JUNTOS A alternativa ao dualismo é denominada de materialismo ou fisicalismo Essa explicação filosófica bastante influenciada pelas ciências naturais nega que a mente seja feita de uma substância ou item diferente do corpo Portanto ela é composta pela mesma substância ou elemento do qual o corpo é feito Na verdade nós seres humanos evoluímos das formas biológicas primitivas até chegarmos ao que somos hoje o que diz respeito a nossa composição inteira Desse modo a mente sobrevive no corpo ou melhor dizendo no cérebro Por isso há o interesse filosófico no que diz respeito aos estudos acerca do cérebro e sobretudo há a relevância das ciências chamadas cognitivas No entanto o materialismo também não é satisfatório Quando um neuroci rurgião está operando o cérebro de alguém ele não espera encontrar a consciên cia e colocála à parte enquanto faz a cirurgia Quando alguém está com raiva UNIDADE 5 192 é possível fazer um exame eletroencefálico e dizer quais partes do cérebro estão sendo afetadas Contudo é impossível afirmar o motivo pelo qual um sujeito está com raiva e como ele pode terminar essa atividade cerebral Você pode sustentar que basta dar um calmante mas você sabe que esse remédio é apenas um palia tivo para o sistema nervoso e não resolve o problema o qual está em outro lugar que certamente não é o cérebro Nesse contexto o materialismo não consegue explicar a consciência a intencionalidade a introspecção os estados mentais enfim a vida mental de alguém A partir desse problema fundamental você foi conduzido a entender a sub jetividade a existência de um Eu pensante e consciente dos seus estados mentais em relação aos objetos e às ações intencionais no mundo Você compreendeu que por intermédio da introspecção você é capaz de acessar esse Eu pensante isto é a você mesmo Essa é uma questão ontológica pois diz respeito a quem você é enquanto um ser que existe nesse mundo Esse modo de ver a si mesmo é cha mado de visão em primeira pessoa visto que você tem acesso à sua interioridade por meio da observação direta e sem a necessidade de uma evidência externa o seu comportamento ou que alguém te diga o que se passa dentro de você Entretanto existe outro problema o modo como nos relacionamos com os demais Eus pensantes os quais também estão conscientes de seus estados mentais e têm relação com os objetos e as ações intencionais no mundo Esse mundo é aquele em que você também existe portanto você coexiste com os outros e especificamente no que diz respeito à filosofia da mente você convive com as outras mentes Chamamos essa questão de epistemológica porque se relaciona com o modo como você conhece e afirma saber algo sobre a outra pessoa considerando a sua vida mental Além disso diz respeito à visão em terceira pessoa porque se trata de uma relação pessoal entre você um Eu e outro ou outra ou seja um Ele ou Ela Você pode estar se perguntando qual é o problema filosófico Veja a se guinte explicação Naturalmente o comportamento de um agente é um guia para o estado mental dele ou dela mas parece existir aqui um gap epistêmico entre esse tipo de evidência e a atribuição de um estado mental correspondente inexistente no caso de autorre ferência Assim o problema de outras mentes é principalmente UNICESUMAR 193 um problema epistemológico às vezes expresso na forma de um ceticismo sobre a justificação que podemos dar para a atri buição de estados mentais a outras pessoas WILSON 1999 p 17 tradução nossa Podemos acrescentar assim uma segunda relação Ela será chamada de inter subjetividade tendo em vista que diz respeito ao modo como dois sujeitos dois Eu pensantes conscientes de seus próprios estados mentais intencionais encon tramse e se relacionam mutuamente Trevarthen 1999 p 415 tradução nossa assevera que a intersubjetividade é o processo no qual a atividade mental in cluindo fenômenos conscientes como a percepção motivos e intenções cogni ções e emoções é transferida entre mentes Isso requer que você pense nas relações pessoais e sociais humanas as quais são percebidas normalmente como comunicações instantâneas que são realizadas por meio das posições do corpo dos gestos do uso das mãos e da voz com a intenção de transmitir alguma informação Ainda que a comunicação sugira a interação entre dois corpos não é a eles a que você refere quando conversa com alguém Você não diz O corpo de Pedro está falando comigo sobre o quanto ele está incomodado com a perda do em prego De fato você diz Pedro está incomodado com a perda do emprego Desse modo você está dizendo que Pedro lhe comunicou por intermédio do corpo algo que está em sua mente um pensamento acerca de uma rea lidade econômica que o preocupa bastante A organização de nossa vida mental por um lado depende de aprendizados e adaptações constantes Esses elementos são oferecidos pela sociedade e pela cultura humana em que vivemos o que envolve crenças línguas e linguagens rituais e tecnologias Além do mais essa organização tem início na infância em que aprendemos a imitar o comportamento de outras pessoas especialmente as de nosso núcleo familiar Depois somos introduzidos a novas companhias que enriquecem a nossa vida mental e a nossa herança cultural A linguagem e as convenções simbólicas nos introduzem na plenitude de nossa vida mental e grande parte desse processo acontece por meio da identificação e da simpatia com outros indivíduos da espécie humana Interagimos construímos e conso lidamos as nossas habilidades e capacidades mentais com essas pessoas assim como é ilustrado na imagem a seguir UNIDADE 5 194 Por outro lado é importante que você entenda que o ordenamento de nossa vida mental não é uma mera repetição do comportamento dos outros nem é exclu sivamente uma construção social Enquanto sujeitos dotados de uma mente a todo o tempo estamos conscientes de que algo acontecerá conosco e isso está impresso ou armazenado nas memórias que podemos trazer à consciência por meio de narrativas Esse fato significa que a nossa vida mental é inata isto é nos sos estados mentais são intrínsecos a nosso Eu pensante e é por isso que somos conduzidos à simpatia à identificação e à abertura para outros Eus pensantes Trevarthen 1999 p 417 tradução nossa defende que A vida interpessoal e o entendimento coletivo resultam de indiví duos comunicando pensamentos na linguagem cuja gramática é derivada de processos racionais inatos O indivíduo racional tem tanto emoções internas quanto reações biológicas instintivas a ou tros que devem ser reguladas por regras convencionais de compor tamentos socialmente aceitos Figura 1 Pai e filho fazendo a barba juntos Descrição da imagem a figura mostra um homem e um menino préadolescente lado a lado Os seus rostos estão cheios de espuma para barbear e ambos carregam um aparelho de barbear na mão UNICESUMAR 195 A discussão efetuada até agora evidencia outra questão importante para a filo sofia da mente o chamado problema epistemológico Nesse contexto temos a pergunta dada pelos empiristas e pelos racionalistas que é o que há na mente que permite conhecermos as coisas sobre o mundo Em conjunto ao questionamento são evidenciadas as respostas clássicas feitas nos séculos XVII e XVIII que dizem respeito ao empirismo e ao racionalismo Os empiristas sustentam que o conheci mento é proveniente da experiência obtida por meio das percepções dos sentidos em interação com o mundo Já os racionalistas defendem que o conhecimento é inato Algum exemplo que comprova essa tese é o fato de ninguém conhecer a Deus a substância ou os lados de um triângulo pela sua experiência Essas posições repercutem diretamente na compreensão que temos sobre como a mente conhece Se você é empirista dirá que a mente conhece a partir das impressões recebidas pelas percepções advindas dos sentidos A partir disso a mente conecta outras informações aumentando os níveis de conhecimento paulatina e consideravelmente Por outro lado se você é racionalista não pode negar que o conhecimento vem da experiência mas pode afirmar que ele só é possível porque a mente humana está preparada para reconhecer as percepções advindas dos sentidos e construir por si mesma o conhecimento Se existe uma estrutura mental inata também existem ideias inatas as quais compõem o conhecimento fundamental e exclusivamente presente na mente humana O pensamento epistemológico moderno se preocupa com a veracidade e a verificabilidade do conhecimento o que abrange as crenças formuladas em nos sa mente Essa teoria é chamada de internalismo e de acordo com ela o sujeito epistêmico tem os meios para justificar as suas crenças ao recorrer aos seus pro Os seres humanos constituem a espécie mais imitativa do planeta e essa habilidade tem um papel fundamental para a nossa adaptação e sobrevivência enquanto espécie Quan do uma criança está imitando um adulto áreas do cérebro são ativadas sobretudo o hi pocampo Contudo não é somente isso que importa Para a reflexão filosófica a imitação não é apenas a repetição mecânica de gestos e de movimentos corporais mas a interna lização do que eles significam em termos de emoções intenções e propriocepções por exemplo A vida mental de uma criança começa de verdade no momento em que ela é estimulada pela imitação Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 5 196 cessos mentais internalismo mentalista ou ao apelar para o compromisso que tem com as suas crenças internalismo deontológico SIECZKOWSKI 2008 O argumento fundamental é o de que um sujeito sabe que sabe quando faz alguma afirmação em relação a algo que tem experiência no mundo Isso se deve porque ele tem acesso ao conhecimento no exato momento em que ele é necessário internalismo de base ou porque ele tem acesso ao conhecimen to que está armazenado em sua consciência internalismo de acessibilidade SIECZKOWSKI 2008 No internalismo de base quando um indivíduo tem um conhecimento ele imediatamente faz recorrência a esse saber a fim de lidar com a situação que o cerca Entretanto a capacidade de a mente prover tal recur so toda vez e a todo o tempo é questionável uma vez que ela nem sempre está disponível para vincular o conhecimento a todas as exigências que o mundo impõe ao indivíduo Resta portanto apelar para o internalismo de acessibili dade Nele o indivíduo realiza um processo mental de autorreflexão em busca de um conhecimento o suficiente para lidar com a exigência requerida pelo mundo Desse modo a pessoa imediatamente lança mão de certo fundamento para lidar com o mundo Além disso há outro conhecimento o qual exige que a maioria realize uma consulta em si mesmo de modo a comparálo com a rea lidade com o objetivo de responder corretamente a ela SIECZKOWSKI 2008 Esse ponto de vista é justificado diante do modo como o sujeito constrói o seu edifício de crenças Temos duas teorias ou argumentos para isso O funda cionismo entende que o indivíduo acumula um conjunto de crenças a partir de outras constituindo uma hierarquia de crenças das quais a maioria se apoia sobre a outra Esse processo é realizado até a obtenção de uma ou mais crenças fundamentais isto é aquela que sustenta as demais Tendo em vista que não está apoiada em nenhuma outra crença ela se sustenta por si mesma adquirindo um caráter de estabilidade invariabilidade e infalibilidade o que atribui certeza ao indivíduo quanto às demais crenças por ele sustentadas Por exemplo a teoria da gravidade seria uma crença fundamental que organiza todas as demais visto que ela não pode ser questionada sob hipótese alguma e portanto não carece de nenhuma justificativa por si própria naturalmente tudo que sobe tem que descer SIECZKOWSKI 2008 UNICESUMAR 197 O coerentismo é uma variante do fundacionismo e se justifica a partir da constatação de que nem todas as crenças funcionam do modo como requer o fun dacionismo e ainda pior não há critérios para inferir a hierarquia entre as crenças ou para encontrar a crença fundante das demais Na verdade o coerentismo está mais preocupado em entender como um sistema de crenças funciona no cotidiano do sujeito ao fornecer o conhecimento necessário para que ele viva no mundo Nessa condição o sujeito epistêmico tende a manipular as crenças mesclandoas e separandoas à medida que essa atitude é exigida pela situação de vida que o envolve A justificativa do conhecimento se dá a partir do modo como o indivíduo organiza e reorganiza o seu conjunto de crenças de maneira coerente a fim de oferecer respostas adequadas à sua experiência de mundo SIECZKOWSKI 2008 A típica questão epistemológica imposta pela filosofia da mente é de outra natureza posso saber sobre minha vida mental porque tenho acesso direto a ela mas como posso saber sobre a vida mental dos outros uma vez que esse acesso direto é negado a mim Ainda que tenhamos a observação dos movimentos corporais e compreendamos a linguagem a vida em sociedade e as ciências neurocerebrais isso não garante o acesso à mente do outro mas somente ao seu comportamento externo ou às movimentações químicas e elétricas em seu corpo Você pode imitar o comportamento de alguém que está cozinhando e dizer que está realizando a mesma ação assim como pode mapear os centros de excitação do cérebro daquela pessoa Todavia como você pode saber se o sujeito está feliz ou não com o emprego de cozinheiro naquele restaurante Como você pode saber se ele não está pensando em fazer uma comida errada para ser despedido com alguma indenização Ainda mais como você pode saber se ele está pensando Talvez o cozinheiro seja um robô ou ainda mais terrível um zumbi preparando o almoço Estamos sozinhos no mundo Como sabemos se as pessoas têm mentes assim como nós temos O que pensar dos zumbis Robôs podem pensar Esses são assuntos intrigantes que o nosso podcast abordará Você deve estar curioso para saber o que a filosofia da mente pode dizer a respeito Estamos te esperando UNIDADE 5 198 Sua resposta poderia ser O sujeito veio até o restaurante No momento ele cozi nha e conversa com todo mundo Além disso o seu rosto está alegre o que sinaliza que ele está satisfeito com o seu trabalho No entanto é nesse aspecto que reside o problema Fazemos uma inferência direta entre o comportamento observado e a vida mental da pessoa sem sabermos nada sobre o que se passa em sua mente Churchland 2004 p 62 explica que A crença em outras mentes exige inferências a partir do compor tamento essas inferências exigem generalizações sobre as criatu ras em geral essas generalizações por sua vez somente podem ser justificadas pela experiência das criaturas em geral mas tudo que podemos ter é a experiência de nosso próprio caso individual Esse é o problema clássico das outras mentes Uma resposta consequente seria Não tenho a menor ideia do que se passa na mente de outra pessoa o que pressupõe a seguinte inferência Não pos so afirmar com certeza que as outras pessoas tenham uma mente tal como eu possuo Isso parece absurdamente ridículo afinal de contas seríamos uma espécie de robôs morando juntos em um mesmo planeta Executamos funções mecânicas para as quais fomos programados e ignoramos comple tamente o que se passa nas mentes alheias Isso está longe de ser uma expe riência comum à humanidade Ainda assim a analogia ajuda a entender o problema filosófico imposto pelas outras mentes como sabemos se não é assim que as coisas são no que diz respeito às outras mentes Se o nosso senso comum desautoriza esse pensamento também não temos como provar que ele não é verdadeiro Ou temos Comumente os filósofos da mente começam pelo argumento contrário para depois afirmar as suas posições Esse argumento contrário é cha mado solipsismo em sua forma mais radical e ceticismo em sua forma atenuada Solipsismo é uma palavra proveniente do latim e é formada por duas palavras solus que significa sozinho e ipse que significa ele mesmo Ao acrescentarmos o ismo temos então a doutrina de que o ser humano está sozinho consigo mesmo seja em relação ao mundo externo seja em relação aos demais seres que nele e com ele habitam A única coisa existente ou acessível é a sua consciência individual A origem dessa defesa UNICESUMAR 199 está no idealismo cartesiano que defende o adágio popularizado penso logo existo Perante tal asserção você certifica a sua existência pessoal que é afirmada somente para e perante a você mesmo Portanto ele o ser humano está isolado em seu próprio saber de si Essa compreensão pode ser ainda mais radicalizada se você pensar que tudo o que existe está em sua mente e em nenhum outro lugar Evidentemen te se você só pode ter acesso ao que está em sua mente também é verdadeiro que tudo o que existe só está em sua mente Você pode desse modo negar qualquer existência fora dela inclusive a de outras mentes Há certamente argumentos para isso e todos são provenientes da experiência humana con sigo mesmo e com o mundo Quando dou nome às coisas que experimento no mundo a linguagem que uso é somente minha No máximo posso com partilhar essa linguagem com as outras pessoas mas sempre falo a partir de mim e não do outro Portanto a sua experiência é sua e a minha experiência é minha Não há nada que possa ser feito a respeito estamos isolados e sozi nhos em nossos mundos ABBAGNANO 2007 De fato o solipsismo mais radical insiste que absolutamente nada po deria existir exceto eu mesmo uma vez que a única evidência que possuo para a existência de qualquer coisa além de minha própria consciência são as ideias de coisas que possuo em minha mente MATTHEWS 2007 p 112 grifos nossos Contudo por que alguém afirmaria algo assim De que modo isso se relaciona com o conhecimento de outras mentes além da minha Uma questão fundamental é voltada à subjetividade Se eu digo Eu creio que o mundo acaba até 2050 e você responde Eu creio que não há dois Eus cada um afirmando a sua crença individual Certamente se a conversa se estender as razões para sustentar cada crença também serão as minhas e as suas Alguém que observa a nossa conversa poderá dizer Você crê que o mundo acabará em 2050 e ele não Ele consegue diferenciar os dois Eus pensantes O resultado dessa conversa se dá quando eu e você nos despedimos e cada um segue o caminho de sua casa pensando no assunto da conversa ou seja se ela é importante ou não para a sua vida Entretanto nenhum de nós saberá o que o outro está pensando A força do solipsismo está exatamente nessa experiência humana de solidão individual a partir de uma mente que é somente minha e a outra mente que é somente sua UNIDADE 5 200 Matthews 2007 sustenta que o argumento solipsista é insatisfatório Primeira mente se eu não tenho como comparar a minha mente com outra como sei que o que eu tenho é uma mente Utilizemos o exemplo do besouro na caixa se eu não posso ver o besouro na caixa dos outros como posso dizer que o que eu tenho na caixa é um besouro A solução é simples todos nós abrimos as nossas caixas e mostramos o que há dentro delas Além disso concordamos em chamar aquele objeto de besouro e assim passamos a saber que temos um besouro na caixa Isso vale para os nossos estados mentais suponha que em um tiroteio entre a polícia e bandidos os filhos de três famílias foram assassinados Diante do ocorrido os membros das famílias decidem ir às ruas a fim de manifestar a sua raiva e indignação Não é difícil perceber o que está acontecendo na mente de todos e eles podem concordar entre si que aquele sentimento se chama raiva Ainda assim o solipsista pode dizer Mas o que você está analisando nas outras pessoas não são as suas mentes mas os seus comportamentos Você está apenas supondo nesse caso iludido que vocês estão sentindo a mesma coisa raiva e indignação Inclusive pode haver alguém na manifestação que não está sentido nada disso mas está ali somente para bagunçar Matthews 2007 p 125126 explica que esse é o problema prático do solipsismo uma vez que não é tanto uma questão de que nossos pensamentos e sentimentos sejam incomunicáveis mas sim de que sempre há espaço para dúvida em qualquer caso quanto ao que é comunicado e se realmente é o que se pensa ou o que se sente Agora pense em como ensinamos as crianças sobre a dor Uma pequena menina brincando mordeu o seu dedo e começou a se contorcer e a chorar en quanto o balançava Você corre até ela e de imediato percebe que ela está com Conheçamos uma das experiências mentais do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein ima gine que cada um de nós tem uma caixa e dentro dela teoricamente deva existir um be souro Cada um olha para dentro de sua caixa e diz que ali existe um besouro No entanto ninguém nunca viu um besouro ou sequer apenas uma espécie de besouro Talvez não haja nada na caixa A caixa é uma metáfora para a mente não podemos ver o conteúdo das outras caixas assim como não podemos ver o conteúdo de outras mentes Fonte Matthews 2007 EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 201 dor Então pergunta Onde está doendo Ela continua a se contorcer chora e balança o dedo Você deduz que a dor é no dedo e pergunta É o dedo que está doendo Assim consegue solucionar a dor no dedo A criança agora sabe que o que ela sentiu se chama dor Quando ela crescer e martelar o dedo terá a mesma reação Quando você perguntar o que ela está sentindo dirá o dedo está doendo O que está acontecendo aqui Primeiro sabemos o que está acontecendo com a criança porque já passamos por isso ou observarmos outros passarem por isso Algo está acontecendo dentro da criança e chamamos isso de dor algo que ela sente e expressa como pode Nós a ensinamos que o que ela está sentindo se chama dor Nesse contexto toda vez que o fato se repetir ela dirá que está sentindo dor Isso significa que a dor não é apenas um estado físico mas é comunicável e para efeito de vida humana comum aprendemos a fazer isso desde que nascemos talvez até antes disso Encontrar as palavras os gestos e os movimentos adequados para exprimir o que está em nossa mente é parte do exercício fundamental de nos tornarmos humanos Por outro lado é claro que os processos mentais tal como são desenvolvidos na mente de alguém continuam privados e particulares Há pensamentos sen timentos crenças enfim acontecimentos em nossas mentes que são totalmente nossos e os compartilhamos se e quando quisermos do modo mais intencional que pudermos Isso significa que as mentes continuam inacessíveis umas às ou tras A nossa vida mental interior subjetiva é somente nossa e de mais ninguém Há um aparente paradoxo as mentes são impenetráveis exceto no momento em que você resolve dizer algo que está em sua mente para alguém No entanto essa parece ser uma boa solução para a questão das outras mentes Outras duas situações complexas em relação às outras mentes são a cor relação entre a vida mental e o comportamento observável e dentro dessa correlação estão os qualia que dizem respeito às características particulares de um estado mental que são somente nossas e de mais ninguém Quanto à a correlação entre mente comportamento anatomia e movimentos físicos como saber se a observação direta de um movimento físico que modifica a posição corporal em reação a um certo acontecimento corresponde àquilo que temos em mente Em outras palavras como saber que a experiência que observo em alguém é a mesma experiência que observo em mim mesmo Lembrese de que estamos buscando evidências de que um determinado comportamento pode ser vinculado a uma atividade mental UNIDADE 5 202 Embora já tenhamos tratado disso o filósofo estadunidense Thomas Nagel traz outra perspectiva sobre o tema Imagine que você está passeando em um sho pping com a sua esposa e observa à distância alguém curvado sobre o estômago fazendo movimentos de vai e vem e balançando a cabeça Você vira para a sua esposa e diz Nossa Ele está tendo uma grande dor de barriga Ela por outro lado responde De jeito nenhum Você não percebe que ele está rindo de uma piada Você responde Não porque quando eu tenho dor de barriga é assim que eu reajo Contudo ela contraargumenta Sim mas quando você ri também reage assim Diante disso vocês concluem que não é possível saber o que passa na mente daquele sujeito para reagir daquela maneira e qualquer coisa que vocês digam será uma comparação com as suas reações físicas a seus estados mentais o que não são as mesmas Vocês também podem concordar que não há motivo para imaginar que algo está acontecendo dentro daquele indivíduo mas tendo em vista que algo acontece dentro de cada um quando se está realizando os mo vimentos físicos em questão vocês conversaram sobre a conduta daquele sujeito A segunda questão diz respeito aos qualia Você já sabe o motivo pelo qual esse termo da filosofia da mente se refere às percepções únicas e exclu sivas a uma única mente as quais são de natureza inescrutável e incomuni cável de tão privadas que são Considere os qualia uma espécie de conexões mentais portanto não físicas entre a sua mente e as impressões trazidas pela percepção dos seus sentidos quanto ao mundo externo O fato é que essas conexões são suas e de mais ninguém Suponha que você e a sua amiga compraram uma garrafa de vinho que tem as seguintes características coloração rubi violáceo aroma levemente frutado e bastante agradável ao paladar por sua sensação aveludada e maciez Vocês duas abrem a garrafa despejam o vinho em duas taças iguais e o bebem ao mesmo tempo Uma vez que vocês duas têm mentes separadas é correto supor que a impressão deixada pela percepção do sabor do vinho é igualmente diferente Vocês podem inferir que vocês terão a mesma sensação do sabor mas nem você nem ela podem garantir isso Ainda mais provavelmente vocês discordarão das características descritivas do vinho em detrimento da experiência de degustação de cada uma Isso significa que o acesso ao estado mental de sua amiga é impossí vel dado que ele é único e diz respeito somente a uma pessoa Você deveria estar na mente de sua amiga para saber o que ela está sentindo mas isso ainda seria um quadro em sua mente ao observar o que está acontecendo na mente dela UNICESUMAR 203 Agora considere outra situação Você vai ao show de sua banda de rock favorita com o seu amigo Assim vocês ouvem os instrumentos sendo tocados e a voz sendo cantada Vocês sabem diferenciar o som de cada instrumento e do vocalista mas como vocês conseguem fazer isso na mente de vocês Como você pode saber que o som do baixo eletrônico é o mesmo som que o seu amigo está ouvindo Depois do show vocês voltam para casa e no carro escutam a mesma música performada no show Em alguns momentos vocês ficam confusos se o som que ouvem é o do baixo eletrônico porque simplesmente ele não parece ser o mesmo para vocês dois Desde que vocês observaram essa música ser executada vocês concordam que é o mesmo baixo elétrico com variações devido ao aparelho de som Todavia não seria possível que essas variações estivessem nas conexões mentais de vocês Será que vocês não ouvem os sons de modos diferentes mas foram acostumados a associálos ao mesmo som do baixo eletrônico E se o seu amigo nunca tivesse ouvido o som de um baixo eletrônico Como ele chamaria esse som que você o apresentou Tudo isso significa que certamente você e o seu amigo dão nomes diferentes aos mesmos qualia ou então que cada um de vocês experimenta os mesmos qualia de modos diferentes e separados não tendo a mesma experiência quando ouvem o som do baixo eletrônico por exemplo Thomas Nagel criou um experimento mental chamado Como ser um morcego O mor cego não é apenas um ser vivo mas um ser vivo consciente Não somos morcegos e não sabemos como é ser um morcego Há uma infinidade de experiências humanas e não humanas inacessíveis a nosso conhecimento ainda que admitamos e saibamos que elas existem ou como poderiam ser Fonte Nagel 2005 EXPLORANDO IDEIAS Tudo isso pode deixar você confuso e com a sensação de que não há meios de saber algo sobre a mente de alguém ou sobre esse alguém pelo simples fato de ser impossível estar na mente ou no lugar mental dessa pessoa Todavia não é bem assim Valernosemos da reflexão de outro filósofo estadunidense John Searle cujas ideias combinam com as de Nagel mas avançam para uma compreensão de que é possível obter uma avaliação empírica da vida mental de um ser vivo minimamente consciente UNIDADE 5 204 Searle 2006 faz uma distinção em relação ao uso ambíguo que fazemos da palavra empírico Costumamos usar empírico para descrever o que existe fisica mente uma pedra e não empírico para nos referir àquilo que existe na mente uma equação Outro uso se dá nos fatos verificáveis por alguém competente por intermédio de métodos adequados para comprovação A conclusão de Searle 2006 p 108 é a de que a maioria das pessoas confunde ambos os usos de modo a julgar que Todos os fatos empíricos no sentido ontológico de serem fatos do mundo são igualmente acessíveis epistemicamente a todos os ob servadores competentes Há muitos fatos empíricos que não são igualmente acessíveis a todos os observadores Agora suponha que você tem um cachorro em casa e em um dia de muito calor ele está prostrado embaixo do ventilador ligado com a língua para fora e arfa bastante Como você já conhece a fisiologia canina sabe que ele está com bastante sede e leva o depósito de água até ele com algumas refrescantes pedrinhas de gelo Você também aproveitou para encher um copo com água gelada e a bebeu fervorosamente O que aconteceu Simplesmente você sabia que tanto a fisiologia do seu cão quanto a sua eram semelhantes Logo vocês tinham a mesma carência de líquido devido ao calor Searle 2006 p 112 explica que esse tipo de exemplo demonstra que podemos ter métodos indiretos de um tipo objetivo de terceira pessoa empírico para chegar a fenômenos empíricos que sejam intrinsecamente subjetivos e consequentemente inacessíveis a testes diretos de terceira pessoa O estudioso usa para essa afirmação o seguinte princípio chamado de cientificamente cotidiano ou cotidianamente científico mesmas causas mesmos efeitos causas semelhantes efeitos semelhantes Suponha que você estude a neurobiologia dos morcegos e consiga entender completamente como funciona o sistema de orientação que eles usam para se deslocar no espaço Desse modo você poderia aproximar a experiência do mor cego da sua enquanto se orienta para se deslocar no espaço Agora imagine que você consiga fazer um mecanismo que imite exatamente o sistema de orientação do morcego enquanto voa e instalasse esse sistema em um avião de modo que você terá a mesma experiência de orientação de voo do morcego Talvez isso não atenda satisfatoriamente ao fato do que é ser um morcego mas certamente te ajudará a compreender melhor o animal em sua experiência de voo UNICESUMAR 205 Searle 2006 p 113 por fim explana que Vamos supor que pudéssemos identificar para os casos humanos causas precisas de consciência e então pudéssemos descobrir exa tamente as mesmas causas em outros animais Sendo assim pa receme que teríamos estabelecido bastante conclusivamente que outras espécies têm exatamente o mesmo tipo de consciência que temos porque podemos presumir que as mesmas causas produzem os mesmos efeitos OLHAR CONCEITUAL Para reforçar o nosso estudo até aqui observe o infográfico a seguir que apresen ta as três principais explicações para a solução filosófica do problema voltado à existência de outras mentes Desde que os seres humanos são assemelhados é possível generalizar que todos possuem uma mente A partir do comportamento de uma mente humana podese saber como as demais funcionam igualmente Portanto é possível fazer inferências dos estados mentais dos seres humanos a partir da vida mental de um único ser humano Analogia Os estados mentais produzem comportamentos inteligentes sencientes e conscientes possibilitando generalizar a existência e o funcionamento da mente a todos os seres humanos Behaviorismo Existe correspondência direta entre um comportamento humano e seu respectivo estado mental É o modo pelo qual os seres humanos vivem uns com os outros extraindo inferências de que todos possuem uma vida mental a partir das quais julgam possível o relacionamento humano através da compreensão mútua Psicologia popular OUTRAS MENTES TEORIAS FILOSÓFICAS UNIDADE 5 206 O que você tem estudado até aqui ainda não esgotou a questão filosófica que envolve as outras mentes pelo simples fato de que todas as teorias supõem a existência de um indivíduo autoconsciente tal como deduzido por Descartes Entretanto o que isso realmente significa e como a autoconsciência individual é fundamental para o encaminhamento do problema voltado ao conhecimento de outras mentes Churchland 2004 p 65 afirma que Ser autoconsciente é numa definição mínima ter conhecimento de si mesmo Mas isso não é tudo A autoconsciência envolve o conhe cimento não apenas dos próprios estados físicos mas especialmente o conhecimento específico dos próprios estados mentais Além disso a autoconsciência envolve o mesmo tipo de conhecimento continua mente atualizado de que desfrutamos em nossa percepção contínua do mundo exterior A autoconsciência ao que parece é uma espécie de apreensão contínua de uma realidade interior a realidade dos próprios estados e atividades mentais Existem duas visões acerca da percepção que temos sobre os nossos estados mentais Uma mais tradicional já observada em nossos estudos diz respeito à introspecção e a outra de base contemporânea é chamada de materialista Segundo a concepção materialista a autoconsciência não busca apenas perceber que temos uma mente ou mundo interior mas discrimina nomeia e exprime os estados mentais que aconte cem nela Nesse sentido as percepções interna e externa são equivalentes Desse modo a autoconsciência nada mais é que a capacidade humanamente desenvolvida de perceber as circunstâncias sejam elas internas sejam elas ex ternas e de se adaptar natural e socialmente às suas exigências É algo inato ao ser humano pois diz respeito a quem ele é mas também é algo aprendido pois tem relação com os treinamentos social e cultural aos quais ele deve se ajustar continuamente Imagine que você tem um alunoproblema com o qual precisa aprender a lidar o que não é muito diferente de você ter um sentimentoproblema com o qual também precisa aprender a lidar Essa teoria é chamada de materialistaevolucionista e é evidente o motivo pelo qual é contrastada com a outra teoria da autoconsciência chamada clássica ou tra dicional Na teoria materialista as duas percepções se equivalem a fim de permitir que o ser humano se ajuste ao mundo externo porque precisa lidar com ele todo UNICESUMAR 207 o tempo Segundo a explicação tradicional a percepção mental não é somente su perior à externa mas totalmente independente dela Quando você olha para uma bananeira e começa a pensar nela você já a vê em sua mente Tudo o que você pensar sobre ela será interno a você ou seja será mental Portanto perceber a nós mesmos é diferente de perceber o mundo externo Perceber a nós mesmos é mais certo e seguro do que perceber o mundo externo pelo simples fato de que sabemos o que está acontecendo diretamente conosco A autoconsciência sugere que somos capazes de produzir autoconhecimen to ou seja que sabemos a partir e acerca de nós mesmos Um estado mental fundamental para esse pressuposto é a crença A crença é um estado mental com conteúdo portanto com intencionalidade pois não existe crença que não seja so bre alguma coisa Sabemos que uma declaração é uma crença quando antecipamos um Eu acredito sobre qualquer coisa que segue Posso dizer Eu creio que aquele celular é azul indicando uma percepção Ou Eu creio que aquele celular era azul quando eu o comprei indicando uma memória Ou Eu creio que o horário do ônibus é às 17 h pois eu sempre o peguei nesse horário indicando uma dedução a priori Ou Eu creio que aquela notícia me deixou muito triste indicando uma introspecção Ou ainda Eu creio que alguém acabou de me dizer que houve um assalto ao banco da esquina indicando um testemunho Observe que as crenças são muitas e diversas Você não tem noção de que sempre que se refere a si mesmo também está se referindo a uma crença Ter uma crença porém não significa afirmar o conhecimento de algo Para que isso aconteça você deve demonstrar certa habilidade de perceber avaliar julgar e justificar a sua crença Nesse contexto você precisa apontar outra crença a qual evidenciará outra e assim por diante até encontrar uma crença da qual nenhuma outra seja necessária como demonstração Por exemplo a experiência dos sentidos ou o raciocínio de um Eu pensante Já sabemos que o problema em relação ao conhecimento sobre o mundo ex terno se dá no fato de que ele só é acessível por meio de nossa percepção mental Talvez devêssemos afirmar que ele existe apenas em nossa mente e as crenças que temos sobre ele são totalmente mentais isto é inteiramente limitadas à nossa mente O mesmo processo também ocorre com outras pessoas o que gera outro problema em relação ao nosso autoconhecimento que é saber se o que está em nossa mente corresponde à percepção de nossos estados mentais interiores e à experiência do mundo que está fora dela UNIDADE 5 208 Isso impõe a necessidade de verificar o que há de verdadeiro entre você e os seus estados mentais e entre você e o mundo externo No entanto essa ação não é simples pois é mais fácil dizer que o bolo que você acabou de comer é externo a você do que recuperar a lembrança do último bolo que você comeu Por outro lado está claro que cada mordida do bolo foi acompanhada da consciência de que você estava mordendo portanto tratase de um evento totalmente mental ainda que a experiência seja física e externa à sua mente Isso gera o seguinte elemento você pode ser totalmente cético quanto à pos sibilidade de conhecer o mundo externo e se ater ao único conhecimento ver dadeiro advindo de sua vida mental consciente Esse fato também pode incluir outras mentes tanto na impossibilidade solipsista de que elas existem quanto na impossibilidade cética de que caso existam é impossível saber algo sobre elas por vinculálas ao mundo externo à mente Além disso você pode assumir um caminho do meio é certo que há um mundo externo onde você habita fisica mente e é possível justificar a sua existência de várias maneiras Contudo é certo que também há um mundo interno onde você habita mentalmente e é possível justificar a sua existência de várias maneiras Dizer Creio que esquentará em um período de inverno cujo dia está cho vendo não faz o menor sentido Por outro lado essa afirmação requer que você pense sobre a natureza de sua crença e a critique em busca do melhor conheci mento sobre você mesmo Isso significa que há mais coisas no mundo do que somos capazes de apreender mentalmente e que a nossa vida mental precisa ser constantemente justificada a fim de prover um conhecimento seguro que nos conduzirá durante a nossa jornada no mundo Se existissem seres humanos iguais a nós que comem bebem vão ao banheiro fazem sexo trabalham gastam dinheiro mas sem nenhum estado mental muito menos cons ciência Suponha que eles vivem no automático assim como dizemos de muitos seres humanos hoje em dia Eles parecem zumbis mas é claro que não são porque têm uma vida mental O filósofo australiano David Chalmers usou essa figura hipotética para asse gurar que somente o físico não explica o ser humano a não ser que ele também tenha uma mente para preencher esse corpo Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 209 Isso também é válido quando nos questionamentos se nossos familiares amigos e amigas ou qualquer outro ser humano estaria sujeito ao mesmo conhecimento Com base no argumento do filósofo britânico Bertrand Russel sabemos que um estado mental A causa uma conduta externa B Portanto quando observamos uma conduta externa B em alguém podemos inferir que em sua mente está acontecen do um estado mental A mesmo que não tenhamos acesso à mente do sujeito com o objetivo de sabermos com certeza o que está acontecendo Para Jordan e Russell 1999 p 669 esse postulado se aceito justifica inferência de outras mentes bem como muitas outras inferências que são feitas irrefletidamente pelo senso comum Figura 2 Desenho de Isaac Asimov com um robô Descrição da imagem à direita da imagem temos o retrato em desenho do escritor Isaac Asimov que usa terno gravata e óculos de graus Ele tem cabelos grisalhos e costeletas na face À esquerda há um robô prateado e cinza com o topo da cabeça em azul Os seus olhos são totalmente verdes Estudaremos agora a Inteligência Artificial IA Você deveria conhecer a história contada por Isaac Asimov em sua obra O Homem Bicentenário de 1997 O narra dor era um robô e em 2005 foi comprado para fazer trabalhos domésticos na casa de uma família rica estadunidense O nome recebido foi Andrew Martin Todavia com o passar do tempo Andrew começou a demonstrar a habilidade em esculpir em madeira Outras características surgiram como resultado do convívio familiar curiosidade inteligência e formação de uma personalidade A família ficou cada vez mais impressionada com o surgimento desses traços humanos em seu robô UNIDADE 5 210 Naturalmente a família humana foi envelhecendo e morrendo mas Andrew não Ele foi passado de posse para outros membros da família e isso o incomo dava muito Ele queria aquilo que os membros de sua família humana tinham a liberdade vinculada à mortalidade Com a ajuda de um robô cirurgião seu cérebro foi transferido para um robô com aparência totalmente humana No entanto para Andrew isso ainda não era suficiente Ele consegue a liberdade de Sr Martin e decide viver a sua vida sozinho Não bastava parecer humano ele queria ser um como eles o que implicava a expectativa da morte Após viver 200 anos com a realização de uma segunda cirurgia Andrew conseguiu o que queria ligou o seu cérebro à rede neural orgânica de um ser humano e gradativamente foi assumindo as características físicas humanas Andrew veio a se casar com Portia neta do Sr Martin Durante esse tempo por duas vezes Andrew havia pedido ao Conselho Mundial que reconhecesse a sua humanidade Na primeira vez o seu pedido foi rejeitado sob o argumento de que um ser humano que sendo máquina não precisaria morrer Isso era in compatível com a realidade humana Depois quando já estava envelhecido e à beira da morte fez um novo pedido o qual dessa vez foi aprovado pelo Conselho Mundial Após 200 anos de existência Andrew veio a falecer em sua casa e com a sua esposa a humana Portia Por que essa história interessa à filosofia da mente Você já sabe que a filosofia se ocupa do que diz respeito à existência humana buscando problematizar essa existência de modo a levar a humanidade a vivêla melhor Tudo o que diz res peito a ela se torna um problema que será um tema de investigação filosófica No caso específico de nossa história há muitos elementos que interessam à filosofia mas um deles é a reflexão filosófica sobre a mente a busca do robô Andrew pela sua humanidade somente se realizou quando ele foi capacitado a pensar e a se expressar como um ser humano Isso nos coloca uma questão fundamental essa capacidade é própria exclusiva e única ao ser humano ou pode ser transferida duplicada e replicada em outros objetos como um robô por exemplo Se isso for possível como podemos e devemos lidar com seres que não sendo reprodu zidos mas produzidos humanamente têm uma vida mental tão igual à humana e podem ser considerados humanos UNICESUMAR 211 Entretanto por que a vida mental seria tão necessária para o reconhecimento da humanidade de outros seres artificialmente produzidos Para responder a essa questão você deveria assistir ao filme Blade Runner o caçador de androides de 1982 baseado na história contada por Philip Dick Do Androids Dream of Eletric Sheep de 1968 Os androides chamados replicantes são seres artificialmente pro duzidos mas com características biológicas humanas o que gera a dúvida se são humanos ou não Esse questionamento está nos próprios androides que se reconhe cem humanos mas são tratados apenas como máquinas pelos próprios humanos O conflito gera uma revolta nos androides que são expulsos da Terra Con tudo um grupo retorna para buscar o que acredita ser devidamente seu o que os tornaria completamente humanos que é o prolongamento da vida visto que tinham um prazo de validade enquanto máquinas artificialmente produzidas A polícia de Los Angeles decide caçálos e aposentálos isto é matálos Todavia em detrimento de eles serem biologicamente humanos era preciso diferenciá los Para isso o teste fundamental é buscar por emoções despertadas em suas memórias humanas Isso é feito por intermédio do teste VoightKampff que faz uso de uma máquina manipulada por um entrevistador Ao fim o grupo de robôs é identificado e todos são caçados e mortos por um caçador de androides o chamado Deckard Todavia uma das replicantes que é se cretária do dono da corporação fabricante é entrevistada pelo caçador de androides e passa no teste deixando a dúvida se ela é humana ou não Após a morte dos quatro replicantes Deckard se apaixona por Rachel a humana replicante ou a replican NOVAS DESCOBERTAS Verdadeiro marco na história da ficção científica Eu robô de Isaac Asimov reúne os primeiros textos do autor sobre robôs os quais foram publicados entre 1940 e 1950 São nove contos que relatam a evolução dos autômatos durante o passar do tempo e expressam em suas páginas pela primeira vez as célebres Três Leis da Robótica os princípios que regem o comportamento dos robôs e mudaram definitivamente a percepção sobre eles na lite ratura e na própria ciência TRAVESSA 2021 online¹ UNIDADE 5 212 te humana e eles fogem para um lugar desconhecido Tudo fica muito confuso quando o último replicante morto por Deckard antes da morte conversa com ele sobre a brevidade da vida no melhor estilo filosófico e morre chorando Como um ser artificial poderia pensar ter expectativa em relação ao sentido da vida e ainda chorar por ela terminar tão cedo antes que as suas expectativas se realizassem Você não acha curioso o modo como descrevemos as máquinas especial mente o computador digital Nós o humanizamos ao afirmarmos que ele per deu a memória que não reconhece a linguagem que não tem um devido pro grama que está lento ou não está disposto a trabalhar Ainda mais conversamos com a máquina como se ela pudesse nos ouvir e responder Você pode dizer que fazemos as mesmas coisas com um diário quando começamos a nossa escrita por Querido diário Entretanto o diário é passivo enquanto o computador digital ou uma máquina artificial é bastante responsiva pois é programada para isso Se você pedir alguma coisa usando a sua voz ou digitando algo no teclado você ouvirá outra voz de volta Todos esses seres artificiais tão onipresentes em nosso cotidiano são reu nidos sob uma única expressão Inteligência Artificial comumente chamada de IA Para começarmos a estudála filosoficamente precisamos retomar o conhecido problema voltado à distinção entre mente e corpo agora com um delineamento a distinção entre mente e cérebro É verdade ele é parte do corpo mas a associação da vida mental na ciência moderna é feita com o cérebro Portanto o que pode ser dito Mente e cérebro são substâncias distintas Não existe mente somente o cérebro A mente é uma funcionalidade do cérebro A mente emerge do cérebro enquanto um órgão autônomo e consciente inclusive consciente do cérebro mas vinculado a ele Negar a mente em favor da existência do cérebro parece algo contraintuitivo Você já sabe que temos uma vida mental da qual estamos bastante conscientes dado que não apenas pensamos mas sabemos queem que estamos pensando Isso acontece porque os pensamentos constituem uma espécie de narrativa da vida isto é podemos relatálos Não só temos uma vida mental mas nos preocupamos cada vez com ela Além do mais apoiados nas ciências neuronais temos uma diversidade de conselhos cursos e programas de orientação da vida mental Normalmente afir marmos que a mente controla o cérebro a ponto de muitos sintomas físicos serem UNICESUMAR 213 atribuídos à mente e aceitarmos a crença de que mudanças em nosso estado mental são capazes de modificar estados cerebrais Não somente isso mas atualmente é muito comum ouvirmos que a mente de uma pessoa redefine a sua sexualidade uma vez que um sujeito pode afirmar que vive em um corpo diferente do que ele realmente pensa que é e em consequência disso deseja refazer o seu habitat bioló gico inclusive remodelando os estados cerebrais pertinentes Poderíamos dizer portanto que o cérebro faz parte do aparelho biológico humano e que a mente evoluiu a partir do cérebro até se tornar autônoma em relação a ele Algo originário do material mas não material isto é mental A ciência moderna de fato não admite duas substâncias coexistindo em um mesmo ser cada uma com a sua realidade distinta independente e separada da outra assim como aprendemos quando estudamos a crítica ao dualismo cartesiano A filosofia da mente a segue esse mesmo sentido Uma explicação comum para o cérebro em nossos dias é a de que ele é um computador uma espécie de CPU central para onde convergem todas as informações recebidas a partir de nossas experiências humanas Enquanto tal ele também controla todas as nossas ati vidades motoras neuroniais e sensoriais Se você respira come ou corre agradeça a seu cérebro De modo geral as ciências cognitivas estudiosas do cérebro humano também atribuem a ele a capacidade humana de pensar argumentar e até de se apaixonar O filó sofo francês Edgar Morin 2003 p 97 concorda que cérebro e computador são máquinas mas delimita uma diferenciação entre ambas ao afirmar que uma é produzida fabricada organizada pela mente humana saída de uma máquina cerebral inerente a um ser dotado de sensibilidade de afetividade e de autoconsciência Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS Uma das teorias explicativas alternativas é que a mente e a vida mental de alguém correspondem a certas funções do cérebro necessárias para a existência humana no planeta enquanto resultado das necessidades cada vez mais complexas que a huma nidade teve que lidar em sua história evolutiva Isso é corroborado por uma ciência interdisciplinar do cérebro desenvolvida a partir dos anos de 1950 e que está em pleno vigor em nossos dias Segundo o filósofo britânico Eric Matthews 2007 p 91 UNIDADE 5 214 Parece não existir nenhuma dificuldade filosófica em aceitar que ser capaz de calcular ou de relembrar experiências passadas ou de reconhecer pessoas queridas necessita de um cérebro que funcione apropriadamente com certo grau de complexidade Portanto até um materialista nãoreducionista poderia aceitar que na medida em que o cérebro evoluiu e tornouse mais complexo isso possibi litou que aqueles dotados de cérebros se engajassem em atividades mentais cada vez mais complexas Caso o exposto seja verdade também é possível que outros seres também tenham desenvolvido alguma atividade mental resultante de sua respectiva história evo lutiva Por exemplo animais também teriam mentes No entanto outra hipótese é ainda mais interessante poderíamos replicar a atividade mental do cérebro humano em outros objetos físicos de modo que eles também pudessem ter uma mente como os seres humanos A partir dos anos de 1960 essa hipótese começou a ser testada diante da realização de vários experimentos científicos reunidos sob o nome de Inteligência Artificial IA Eles possibilitaram que a filosofia da mente desenvolvesse uma de suas explicações mais interessantes o funcionalis mo De acordo com Teixeira 2018 p 56 A noção de uma inteligência artificial como realização de tarefas por dispositivos que não têm uma arquitetura nem uma composição biológica e físicoquímica igual à nossa abala profundamente a ideia de que a vida mental dependeria de características específicas dos cérebros vivos O cérebro passa a ser visto como um computador e a mente como seu software Entretanto o que se quer dizer por Inteligência Artificial Basicamente tratase de atribuir a inteligência a artefatos por intermédio da criação de máquinas in teligentes popularmente conhecidas como máquinas que pensam Além disso diz respeito a uma ciência empírica que procura entender a inteligência humana a partir de modelos computacionais JORDAN RUSSELL 1999 De todo modo quando falamos de máquinas inteligentes o critério de inteligência é medido pela inteligência humana o que significa que os seres humanos são capazes de agir aprender raciocinar e comunicar eficazmente apesar da enorme dificuldade dessas tarefas JORDAN RUSSELL 1999 p 78 tradução nossa Portanto a IA diz res UNICESUMAR 215 A ideia de que poderíamos enquanto seres humanos construir máquinas que replicassem o nosso próprio comportamento inteligente é antiga Entretanto é a Descartes que se atribui o primeiro esforço teórico reconhecido e praticado quando o estudioso apontou os brinquedos autômatos do seu tempo como algo que poderia vir a se tornar uma máquina desse tipo Talvez você já tenha visto aqueles pequenos brinquedos que quando você dá corda eles começam a se movimentar repetitivamente Durante esse tempo outro filósofo alemão Leibniz pensou que seria possível construir uma máquina que calculasse como um ser humano uma espécie de antecipação de nossas máquinas calculadoras Mais tarde o matemático britânico Charles Babbage projetou uma máquina capaz de fazer operações de lógica e de álgebra cuja composição seria algo parecido com nossos computadores digitais CHURCHLAND 2004 Esses projetos esbarravam em dois problemas enormes um programa que replicasse a inteligência humana e um meio físico capaz de suportálo É nesse contexto que são inseridos os computadores criados mediante o trabalho reali zado pelo matemático britânico Alan Turing entre 1936 a 1950 sobre a possibi lidade de criação de máquinas pensantes por meio da manipulação de símbolos Uma máquina de Turing seria uma espécie de modelo mecânico para a imita ção da mente humana Então não pense em um artefato físico como uma máquina A máquina de Turing é um experimento mental em que você é convidado a imaginar que a sua mente funciona registrando símbolos combinandoos e repro duzindoos como se fosse um computador É assim que ela funciona Isso poderia ser reproduzido em uma máquina artificialmente criada Veja o modelo a seguir Matrix é um filme que se passa em um tempo futuro Nesse período as IAs venceram uma guerra contra os seres humanos e agora os dominam ao construírem uma rea lidade simulada chamada matrix Entretanto um grupo de seres humanos tenta uma rebelião contra as máquinas com a ajuda de um ciberterrorista o Neo Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS peito ao esforço em replicar o comportamento humano inteligente em máquinas construídas pelos seres humanos Todavia o pressuposto é o de que a inteligência humana gera uma máquina altamente desenvolvida que é o cérebro humano UNIDADE 5 216 Para demonstrar a sua ideia Turing propôs o jogo da imitação Em uma sala fe chada está uma pessoa Em outra sala fechada está um computador Outra pessoa elabora uma pergunta e a coloca entre as portas das duas salas por um exemplo um cálculo matemático ou resultado de um determinado curso de ação Se a resposta for igual o juiz não saberá escolher entre os participantes e terá que atribuir a mesma inteligência a ambos A proposta não é tão complicada Pense em uma prova em que você deverá fazer cálculos por conta própria e o seu colega poderá usar uma calculadora Ao final vocês chegam ao mesmo resultado e são igualmente aprovados A ideia é a de que a calculadora trabalhou do mesmo modo que o seu cérebro e por consequência o seu cérebro tem uma maneira computacional de fazer as operações matemáticas Isso significa que a relação entre o seu cérebro e as operações que ele realiza é totalmente funcional e pode ser replicada em qual quer máquina No entanto isso também significa que não importa o que o seu cérebro é mas o que ele pode fazer e efetivamente faz Contudo um modelo para a mente ainda mais intrigante é o computador Ele é um artefato duplamente composto por um hardware e vários softwares Figura 3 A máquina de Turing Descrição da imagem na figura há uma máquina de Turing e são evidenciados os vários dispositivos da sua parte frontal UNICESUMAR 217 O hardware é o componente físico do computador incluindo os seus peri féricos tais como o teclado para a entrada de dados a tela e a impressora para a saída de dados O computador diz respeito à CPU unidade móvel de processamento e à memória RAM memória de acesso aleatório O software é o programa que evidencia à CPU as ações que ela deve realizar dandolhe uma finalidade ou propósito Segundo Churchland 2004 p 91 A questão relevante é se as atividades que constituem a inteligência consciente são todas elas algum tipo de procedimento computacional A pressuposição que orienta a inteligência artificial é a de que elas o são e seu objetivo é construir programas concretos que as simulem No entanto a questão que interessa à filosofia da mente não é a Inteligência Arti ficial IA propriamente mas o fato de ela assumir um modelo mecanicista para a mente humana a partir da configuração do cérebro enquanto um mecanismo natural que executa programas desde a entrada até a saída de dados Voltemos então à teoria explicativa da mente chamada funcionalismo Figura 4 O encontro entre máquina e ser humano Descrição da imagem na figura a mão mecânica de um robô trajado de terno se estende para apertar a mão de um ser humano sugerindo a igualdade entre ambos UNIDADE 5 218 O ponto de partida para esse modo de explicação da relação entre mente e cére bro foi dado pelo filósofo estadunidense Hilary Putnam em seu artigo Minds e Machines Para o estudioso as questões discutidas sobre a relação entre mente e cérebro poderiam ser facilmente resolvidas recorrendo às estruturas de um sistema de computação que ajuda a explicar a relação entre eventos mentais e estados físicos Imagine um computador que enquanto está em operação tam bém está escaneando o seu próprio funcionamento Ele é capaz de indicar onde há um problema que está dificultando a sua operação Da mesma forma acontece com a mente Ela não pode dizer por si mesma se está tendo algum problema por exemplo uma dor no rim direito a não ser que o cérebro indique que há um mau funcionamento do rim direito por meio da dor Isso significa que quando dizemos Eu estou com dor na realidade estamos dizendo Estou recebendo uma mensagem do cérebro que diz respeito ao mau funcionamento do meu rim direito Isso está sendo expresso pela dor Putnam 1964 não defende que máquinas pensam ou que a mente funciona como uma máquina nem advoga um modelo mecanicista para a mente O que filósofo faz é simplificar o problema entre mente e cérebro ao oferecer uma resposta empiricamente observável O funcionalismo desenvolvido a partir desse ideal opera a partir de duas premissas mente e cérebro são coisas distintas cada uma com a sua própria finalidade A finalidade do cérebro é a de servir de base física para o funciona mento da mente Já a finalidade da mente é ativar e escanear os estados cerebrais que permitem a interação com o mundo circundante Para entender melhor pense em um jogo de damas O tabuleiro e as pedras podem variar bastante uma vez que o tabuleiro pode ser de madeira de plástico de pedra de vidro ou até estar desenhado em um papelão Contudo ele também pode estar na tela de um computador A mesma possibilidade se aplica às pedras Elas podem ser de plástico de madeira de vidro de alumínio ou na falta desses elementos basta algumas tampas de refrigerante Essa é a base física do jogo Contudo são as regras que possibilitam que o jogo de damas seja jogado Agora apliquemos a analogia exposta no modo como o funcionalismo enten de a mente e o cérebro O cérebro é um tipo de tabuleiro de natureza biológica composto por um duplo tecido superposto o córtex cerebral e o núcleo cerebral nos quais estão mais de 80 bilhões de neurônios atuando em rede a uma velo cidade de mais de quatrocentos quilômetros por hora Ele é constituído por um UNICESUMAR 219 conjunto de ossos que chamamos de lóbulos cerebrais frontal parietal occipital e temporal os quais se fazem presentes desde a fronte até a parte mais distante do cérebro Como eles funcionam No lobo frontal temos as funções do aprendi zado do pensamento da memória e da fala No lobo parietal temos a percepção do espaço e as sensações de dor calor e frio No lobo occipital temos as funções visuais Por fim no lobo temporal temos as funções auditivas Claro todas elas estão distribuídas pelo cérebro como se fosse um tabuleiro A mente está implantada no cérebro e precisa dele para realizar as suas funções do mesmo modo que sem um tabuleiro não há jogo de damas Di gamos que ela dirige o cérebro fazendoo corresponder ou servir ao que ela propõe em função de sua finalidade interagir com o mundo ao seu redor Quando falamos de mente referimonos à vida mental de alguém que é composta de estados mentais No entanto para o funcionalismo esses estados mentais baseados no cérebro são programas instalados a partir da evolução natural humana visando atender às suas necessidades fundamentais tais como comer beber caçar procriar e encontrar um lugar para morar Quando a mente detecta um inimigo ela programa o cérebro para preparar o corpo para a defesa ou o ataque demonstrando ódio e agressividade Você sabe que um programa de computador pode rodar em qualquer má quina adequada e não somente em uma Você vai até uma loja compra o note book mais recente reinstala os seus programas previamente desinstalados da máquina anterior e eles continuarão funcionando Você também pode ter dois computadores um para o seu lazer pessoal e outro para a sua vida profissional Eles são iguais mas realizam funções distintas Ou ainda você pode ter dois dispositivos físicos diferentes uma CPU em casa com toda a sua parafernália e um smartphone em seu bolso Ambos são computadores Eles apenas carregam configurações diferentes mas executam o mesmo programa Sendo assim hipoteticamente o funcionalismo admite que uma vez que o cérebro é apenas a base física para a mente funcionar ela pode funcionar em qualquer outro dispositivo físico que seja adequado Quando um computador deixa de funcionar o que você faz Reinstala o seu programa em outro Teo ricamente é possível fazer a mesma coisa com a mente Evidentemente seria necessário que esse dispositivo tivesse as mesmas características do cérebro humano mas ainda não sabemos muito sobre ele e acerca de quais dispositivos biológicos seriam úteis ao funcionamento da mente UNIDADE 5 220 Hipoteticamente o funcionalismo também admite que dois cérebros distin tos e autônomos podem fazer as mesmas funções mentais Portanto duas pessoas podem aprender a mesma língua ou línguas diferentes por exemplo Além do mais admite hipoteticamente que cérebros diferentes podem executar as mes mas funções mentais Nesse caso você e o seu cachorro podem querer o mesmo pedaço de carne Um visitante de Júpiter que tem três cabeças e o corpo em for ma de poeira estelar pode sentir tanto medo de você quanto você tem dele Na verdade esse seria o argumento funcionalista para derrotar o materialismo que afirma não existir mente somente cérebro Se a partir do desenvolvimento da robótica da engenharia genética da nanotecnologia e das ciências neurológicas algum dia consigamos isolar a mente do cérebro e inserila em qualquer outro dispositivo físico biológico ou neural de modo que ela continue fun cionando para sempre realizaremos o sonho da humanidade de alcançar a eternidade nessa vida Além disso será possível fazer com que as mentes trafeguem por uma rede virtual de mentes Caso a nossa rede neural individual esteja unida a um número infinito de outras eliminaremos totalmente a necessidade de corpos o que nos daria uma liber dade tão grande de movimentação que poderia se estender ao universo inteiro Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS Como toda explicação filosófica sofre críticas a partir de seus pontos fracos o funcionalismo também foi avaliado quanto à possibilidade de correspondência entre a Inteligência Artificial representada pela máquina de Turing e implemen tada no computador digital e a mente humana Uma das críticas foi efetuada pelo filósofo estadunidense John Searle O estudioso insistiu em dois aspectos a subjetividade e a intencionalidade Antes porém fez uma dura avaliação do jogo da imitação de Alan Turing Para isso inventou um experimento mental como contraexemplo o chamado quarto chinês Um grupo de programadores desenvolveu um programa que capacita um computador a simular o entendimento da língua chinesa Assim ao computa dor é dada uma pergunta em chinês Ele buscará a resposta em sua memória ou banco de dados e oferecerá as respostas apropriadas em chinês Suponha que a resposta do computador seja tão boa quanto a de um nativo falante de UNICESUMAR 221 chinês Com base nisso você diria que o computador entende chinês literal mente do modo como os chineses entendem a sua língua Imagine também que você está trancado em um quarto e nele existem várias cestas cheias de símbolos chineses Você não entende uma palavra da língua chinês mas tem uma gramática chinesa escrita em inglês que permite entender o manuseio dos símbolos quanto à sua sintaxe não à sua semântica Elas ensinam como você deve juntar os símbolos apenas isso Agora suponha que a todo momento você recebe por meio de uma abertura de porta uma pergunta em chinês Você expressa a sua resposta pela mesma aber tura Diante da frequência dessa atividade você se torna excelente em manipular os símbolos e as suas respostas ficam cada vez melhores de modo que não é mais possível saber se você é um aprendiz de chinês ou um falante nativo da língua De novo a questão é o fato de você receber as perguntas e conseguir devolvêlas corretamente respondidas não significa que você sabe falar chinês Por fim Searle 2002 p 671 explica que O foco da parábola do quarto chinês é nos lembrar do fato que já sabemos Entender uma língua ou ter um estado mental envol ve mais do que ter um punhado de símbolos formais Envolve ter uma interpretação ou um significado atribuído àqueles símbolos E um computador digital como é definido não pode ter mais do que símbolos formais porque a operação de um computador como disse antes é definida em termos de sua habilidade em implementar programas E esses programas são pura e formalmente específicos isto é eles não têm conteúdo semântico Esse é o aspecto que segundo Searle 2002 determina que não é possível usar um computador para estabelecer um paralelo com a mente humana um com putador tem sintaxe mas não tem semântica O que isso significa A sintaxe de fine as regras que você usa para posicionar as palavras nas frases Já a semântica define as regras que você utiliza para dar significado a um signo a uma palavra e a uma frase em um contexto De acordo com Searle 2002 o computador pode reunir as letras e formar a palavra apaixonar No entanto ele não saberia o que isso significa ao contrário da mente humana Por quê Isso se deve pois a mente humana opera de modo subjetivo e intencional UNIDADE 5 222 Quanto à subjetividade você já sabe não é o cérebro que pensa mas a mente humana o utiliza para pensar Logo o pensamento é uma atividade humana e diz respeito aos seus estados mentais que são totalmente subjetivos isto é dizem respeito a ele mesmo Considere a seguinte pergunta a ser feita a um computa dor e a um ser humano se você tivesse só mais um dia de vida o que faria O computador provavelmente não saberia o que responder mas um ser humano sim Portanto não é possível que o computador corresponda à mente humana Quanto à intencionalidade você também já sabe que os processos cerebrais não podem se equivaler aos estados mentais pois esses processos não carregam a inten cionalidade dos estados em questão Quando o computador exprime uma emoção ele a faz porque foi programado e não há nenhuma indicação de que o choro ou o riso signifiquem algo Ao contrário um estado mental de uma mente humana sabe o motivo pelo qual chora ou ri Ainda que não saiba isso é surpreendente pois é esperado que sempre haja uma intenção para a emoção que está demonstrando Quanto à dor é evidente que há certas dores que não dizem respeito a um processo cerebral que as comuniquem à mente Muitas delas são intencionais porque se re lacionam com o sujeito que as sente e não com o corpo exatamente Por exemplo a dor de saudade de um amigo querido não pode ser detectada pelo cérebro mas está no fundo do ser do sujeito que pode dizer o quanto está doendo a ausência O filósofo britânico Eric Matthews 2007 acrescenta dois outros argumentos aos de Searle De acordo com o estudioso pensar é usar uma linguagem Isso envolve o uso das palavras em um contexto específico No entanto esse contexto é uma comunidade que dá sentido Nós dizemos que acabamos de enviar o link o que implica que a fonte é o computador e não que o computador acabou de enviar o link Também temos uma comunidade ao redor que sabe o que estamos falando Nesse sentido a conclusão de Matthews 2007 p 104 105 é a de que A ideia exposta fica mais clara quando você se lembra do jogo de palavras cruzadas Você tem todas as letras à sua disposição e forma palavras com elas Quem formar mais palavras ganha o jogo Entretanto as palavras não podem ser qualquer junção de letras mas preci sam fazer sentido caso contrário a sua jogada não é válida É o que Searle 2002 represen ta em sua parábola não basta saber reunir os símbolos chineses é preciso usálos de modo significativo Essa ação é o que a mente humana faz e não o computador Fonte o autor EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR 223 Ser um sujeito ou possuir uma mente não pode ser separado daqui lo que significa ser um ser humano No entanto igualmente ser um ser humano do nosso tipo significa possuir uma mente a biologia humana deve ser compreendida ao menos em parte como inten cional e subjetiva pois nossos corpos são criaturas que podem rela cionarse ao mundo dessas formas Eis porque o cérebro não é uma máquina Não é um mecanismo pelo qual o ser humano alcança seu objetivo e muito menos algo que leva o ser humano a agir de certas maneiras Em vez disso ele é uma parte essencial do ser humano e seus funcionamentos fazem parte da forma como o ser humano se relaciona com o mundo e atinge suas aspirações Todavia a ideia de que é possível compreender a vida mental de um ser humano por meio de uma aproximação com a Inteligência Artificial segue em boa parte os filósofos modernos da mente Para o filósofo estadunidense Daniel Dennet não há uma diferença essencial entre a inteligência natural e a artificial Além do mais os estudos elaborados nesse campo ajudam a esclarecer várias questões voltadas à filosofia da mente assim como as experimentações no campo do fun cionamento de máquinas artificiais pode ajudar na compreensão dos processos mentais naturais Especialmente a robótica na qual os sistemas artificiais inte ligentes funcionam como uma espécie de simulacros concretos de experiências mentais apenas imagináveis Portanto as experiências concretas têm a vantagem de lidar com a realidade das coisas físicas MIGUENS 2009 Além disso a Inteligência Artificial por lidar diretamente com o conheci mento dos mundos real e físico possibilita uma melhor compreensão sobre os processos pelos quais acontece esse conhecimento Ampliando o conceito de mental para além do biológico Dennet também permite chamar de mental a vida artificial das máquinas inteligentes aproximandoas e estabelecendo uma nova fronteira de estudos no encontro entre o mental natural e o mental artificial Esse modo de compreender as coisas é explicado por Miguens 2009 p 142 A IA pode não ser natural por não ser resultado da evolução bio lógica mas se a definição de mental como funcional é legítima ela é genuína e podenos fazer aprender muito sobre os problemas es pecíficos dos sistemas de representação de conhecimento dos quais a nossa mentecérebro é um caso particular UNIDADE 5 224 A questão é se uma máquina inteligente replica ou simula a inteligência humana Se ela somente aparenta a inteligência humana mas não a possui não há o que aprender com ela uma vez que já dispomos de um aparato que é a mente huma na Por outro lado se ela replica a inteligência humana ainda assim não é possível comparar um maquinário fruto da engenharia humana com um aparato natural como a mente humana No máximo a máquina inteligente duplicaria aquilo que também podemos saber Naturalmente alguém pode argumentar que não temos como observar a mente humana em funcionamento o que já foi contraditado nos argumentos expressos Todavia é razoável pensarmos que a observação do funcionamento de um artefato de engenharia inteligentemente pensando por si mesmo traria uma experiência real e concreta do ponto de vista físico do que se passa na mente humana do ponto de vista biológico O conexionismo é uma teoria vinculada aos estudos da Inteligência Artificial que foi iniciada nos anos de 1980 Ela proporciona repercussões importantes na filosofia da mente desse século Segundo Teixeira 1998 p 166 tratase de uma concepção alternativa de modelagem da mente humana usando o computador UNICESUMAR 225 O conexionismo tenta modelar processos inteligentes tomando como base o sistema nervoso cérebro e suas características biológicas tentando reproduzir artificialmente os neurônios e suas conexões cerebrais A teoria fisicalista ou materialista afirma que o cérebro é a base onde ocor rem os estados mentais os quais acontecem no tempo e no espaço portanto são eventos localizados O conexionismo por sua vez entende o cérebro enquanto um sistema integrado de redes neuronais flexíveis que se organizam de acordo com os inputs recebidos Imagine que você acabou de receber a notícia de que o gerente de sua empresa foi demitido Imediatamente o seu cérebro começa a trabalhar e faz várias conexões as quais permitem calcular várias possibilidades de desdobramento do acontecimento Ao fim você escolherá uma ou duas delas e na sequência dos fatos você as testará até chegar à conclusão de qual será a mais adequada É ela que guiará a sua reação A mente seria o componente cerebral para reunir esses processos e tornálos possíveis em sua existência Nessas primeiras décadas do século XXI a filosofia da mente segue esti mulada pelos encontros e desencontros com as possibilidades da Inteligência Artificial enquanto novos conhecimentos reunidos no campo das ciências cog nitivas aumentam as suas possibilidades Miguens 2009 p 145 explana que Basicamente a ideia é que se qualquer sistema com o tipo cor recto de organização funcional pode ser inteligente e até mesmo consciente e se essa condição pode ser formulada independente mente da matéria de que for constituído o sistema e independen temente das suas origens outros sistemas que não os humanos e outros seres biológicos poderão pelas mesmas razões que estes ser inteligentes e conscientes As ciências cognitivas constituem um agrupamento de vários conhecimentos da mente orientados pelo modelo computacional da Inteligência Artificial É conside rada a ciência que se ocupa da mente dado que reúne todas as experiências mentais humanas em um único campo de estudos assim como indica a imagem a seguir UNIDADE 5 226 A princípio as ciências cognitivas se dedicaram ao estudo do cérebro e os seus processamentos como se estivessem examinando um computador a fim de co nhecer os seus programas Esse projeto se mostrou insuficiente tendo em vista que os estudiosos entenderam que o cérebro operava em função da atividade humana no mundo Por conseguinte foi redirecionado o foco dos estudos de alguns que se voltou para o sistema nervoso e a interação entre cérebro e as ações humanas no mundo externo Ao contrário de buscar programas fixos os estudos começaram a teorizar o fato de que as atividades do cérebro humano se expandiram a partir de simples atividades humanas que foram se tornando mais complexas à medida que foram sendo exigidas Isso sugeriu a ideia de que seria possível a criação de autômatos equipados com programas mínimos os quais poderiam aprender enquanto eram expostos a novas experiências a ponto de seus programas evoluírem para modelos mais complexos TEIXEIRA 1998 Figura 5 Cérebro humano e suas conexões Descrição da imagem a figura gráfica mostra uma cabeça humana em perfil com linhas que saem de dentro dela Elas estão ligadas a várias imagens que representam as atividades humanas UNICESUMAR 227 Esse entendimento mudou o modo de visualização da inteligência das má quinas artificiais agora não mais fixada nas atividades de raciocínio simbólico como a matemática e a solução de problemas mas focada na realização de tarefas comuns e simples que aumentam a inteligência à medida que as tarefas se tornam mais complicadas Assim surgiu a Nova Robótica que investe na percepção do meio ambiente na locomoção e na realização de tarefas Você imaginar um desses modelos com base nas máquinas que são enviadas a Marte por exemplo para pesquisar o ambiente daquele planeta TEIXEIRA 1998 Essa nova abordagem pretende construir máquinas artificiais robôs enquanto um agente autônomo um robô móvel que realize um conjunto de tarefas num ambien te que não foi previamente adaptado para isto TEIXEIRA 1998 p 134 São quatro os conceitos que sustentam essa teoria e você pode identificálos no quadro a seguir Situação física Robôs estão situados no mundo e aprendem a partir dele o que não exige uma mente previamente implantada com todos os programas já estabelecidos para essa interação Corporeidade Tendo corpos os robôs experienciam o mundo direta mente a partir de sensações próprias Inteligência A inteligência é a capacidade de atender às tarefas mais simples e cotidianas enquanto o ambiente e a interação com ele se tornam mais exigentes Emergência A partir da realização das atividades simples e cotidianas emergem o pensamento e a consciência quando surge a mente Portanto a inteligência se torna mais complexa racional abstrata simbólica e representacional Quadro 1 Os conceitos da Nova Robótica Fonte adaptado de Teixeira 1998 Essa inversão sugere um novo entendimento da mente o que é muito impor tante para a filosofia da mente Tradicionalmente ela parte da concepção de que a mente é algo pronto quanto ao corpo sem interação com o mundo externo além de realizar tarefas complexas desde uma racionalidade abstrata comunicada por meio de uma linguagem simbólica e representativa O novo modelo mental advindo das ciências cognitivas em especial da Nova Robótica sugere que a mente não existe previamente no corpo mas antes resulta da interação com o UNIDADE 5 228 mundo externo e segue evoluindo em conjunto visto que é governada por essa interação Se nós seres humanos estamos no atual estado de vida mental isso é fruto desse processo evolutivo Uma vez que é evolutivo o processo continua e não sabemos onde terminará nem como será nossa via mental no futuro o que gera a possibilidade de regressão Portanto a mente é de natureza estritamente biológica monista e material Se a nossa mente é formada de acordo com o que interagimos no mundo não estamos caminhando para uma mente cada vez mais inteligente quanto aos processos mecânicos das máquinas artificiais que utilizamos diariamente Talvez a nossa relação com o mun do virtual nos leve a uma experiência de vida cada vez menos física e concreta PENSANDO JUNTOS Filosoficamente o problema voltado à relação entre mente e cérebro não foi re solvido Segundo Teixeira 1998 p 149 apesar das várias soluções propostas o problema mentecérebro ainda parece resistir a qualquer tipo de abordagem unívoca motivando sucessivamente não apenas a proposição de novas soluções possíveis como também novas estratégias teóricas para sua própria formulação A tendência das ciências cognitivas sobretudo com o surgimento da neu robiologia é o abandono de modelos abstratos e especulativos para explicar a relação mentecérebro A atenção recairá cada vez mais nas pesquisas empíricas focadas nos estudos de sistemas neuronais Teixeira 1998 vai mais além e indica o estudo das emoções como um elemento ainda não efetivamente examinado pela filosofia da mente na compreensão da relação entre mente e cérebro Compreender as emoções humanas é algo que exige mais do que um modelo computacional da mente é preciso entender como o corpo humano e seu cérebro desenvolvem mecanismos especiais para gerar a experiência consciente e como as emoções contribuem decisivamente para o foco da atenção e a opção por determinados comportamentos TEIXEIRA 1998 p 151 UNICESUMAR 229 Para a filosofia da mente isso significa tirar a mente de seu lugar sacralizado e examinála a partir da profanação efetuada pela ciência neurobiológica Tratase de algo similar ao que foi feito no século XVII quando os médicos abriram o corpo humano para examinar o funcionamento do coração quando ainda se pensava que ele era a sede da vida mental humana Paralelamente Teixeira 2018 sugere que os filósofos da mente repensem o modo como é feito o mundo físico ao incluir mente e cérebro De acordo com o estudioso acostumamonos a pensar no mundo incluindo todos os seres e a matéria que é compreendida como algo sólido e impenetrável que ocupa lugar no espaço A partir dessa concepção foi feita a passagem para o mental que seria o oposto do físico À medida que as ciências se ocupam do mundo físico o mundo mental é deixado de lado por não fazer parte dele TEIXEIRA 2018 O desafio da filosofia da mente é fazer a passagem do físico para o mental e para isso Teixeira 2018 p 131 assevera que a teoria das cordas fornece uma boa metáfora para conceber a natureza da mente sem recair nas dificuldades filosóficas tradicionais que se originam de uma concepção incorreta da matéria herdada da fí sica clássica Contudo o que é a teoria das cordas Segundo Teixeira 2018 p 131 Essa teoria afirma que as partes básicas da matéria não são partícu las sólidas mas tubos submicroscópicos de energia que vibram em um espaço de nove dimensões A matéria é a atividade vibratória das cordas As partículas correspondem a diferentes modos de vibração de minúsculas cordas pois seu cerne é composto de energia vibrante De acordo com a teoria física tradicional estados mentais não podem ser estados físicos Em consequência disso Teixeira 2018 p 131 defende que Passar do sólido para o mental é um quebracabeça insolúvel No entanto o modelo da teoria das cordas permite conceber matéria e estados mentais em um continuum no qual cada estado mental po deria ser descrito em termos de um minúsculo filamento vibrante Será que a mente poderia ser concebida como apenas uma das inú meras e variadas manifestações da matéria que compõe o universo UNIDADE 5 230 Teixeira 2018 entende que ainda falta comprovação empírica para a teoria das cordas e que a sua metáfora serve apenas como meio de comparação um apelo à ima ginação para que seja encontrado um modo de superar as tentativas frustradas de entender a relação entre mente e cérebro que têm sido propostas até o momento pela filoso fia da mente O futuro das investigações dirá se a sugestão se transformará em uma teoria mais satisfatória ou não NOVAS DESCOBERTAS Acesse o QR Code para assistir à palestra do físico Dr Brian Greene na série Tedtalks No vídeo o estudioso explica a teoria das cordas a ideia de que existem mais dimensões no universo além das três já conhecidas por nós Você já ouviu falar em robótica educacional É mais uma metodologia que vem somar às demais de modo a pro mover a interação entre a aprendizagem e a tecnologia Ao mesmo tempo em que permite ao estudante desen volver as suas habilidades permite que o professor ou a professora melhore a qualidade do seu ensino Por meio de kits de montagem é possível construir uma pequena máquina capaz de executar determinadas ações Pense em uma disciplina cujo conteúdo seria bene ficiado pelo uso da robótica educacional e formule uma aula em que ela seja utilizada Depois reflita com os seus colegas sobre a importância da tecnologia robótica para o ensinoaprendizagem em sua área de trabalho 231 AGORA É COM VOCÊ 1 O fundacionismo não se apresenta como uma posição monolítica no cenário das teorias da justificação epistêmica Muitas são as variantes que ele admite e desde muitos pontos de vista podem essas ser agrupadas Um critério que parece particularmente valioso para a distinção entre tipos diversos de fundacionismo é o que separa as várias formas de fundacionismo com base na distinta avaliação que eles fazem da natureza das supostas crenças básicas BURDZINSKI J C Os problemas do fundacionismo Kriterion n 115 2007 p 116 O pensamento epistemológico moderno se ocupa com a veracidade e a verificabi lidade do conhecimento desde as crenças formuladas em nossa mente Dentre as teorias explicativas temos o fundacionismo e o coerentismo No que diz respeito ao fundacionismo é correto afirmar que a O sujeito constrói uma hierarquia de crenças a partir de uma crença fundamental que não se apoia outra b O sujeito constrói as crenças de modo a dar as respostas que correspondam às exigências de sua experiência de mundo c O sujeito constrói uma crença a partir de um conhecimento obtido no mundo externo ou de um conhecimento disponível em sua mente d O sujeito constrói uma crença a partir de uma autorreflexão elaborada pela ati vidade introspectiva da mente e O sujeito constrói uma crença considerando o conhecimento obtido em outras mentes a partir de uma disposição mental comum 232 AGORA É COM VOCÊ 2 A grande sacada do funcionalismo é de que a consciência não é algo sobrenatural mas sim puramente instrumental Algo projetado a partir de uma consistência muito física e mortal A mente humana ou sua consciência é um substrato de seu engenho orgânico o cérebro ou seja ela é uma equação funcional um reflexo da nossa própria abstração MARCONI L F O funcionalismo e a filosofia da mente Porto Alegre Editora Fi 2013 p 20 A teoria funcionalista da mente se apoia no funcionamento da Inteligência Artificial para oferecer uma explicação sobre a vida mental Essa teoria é desacreditada por não dar conta da subjetividade e da intencionalidade da vida mental Dentre os ar gumentos usados temos I Pensar é usar uma linguagem o que envolve a utilização das palavras em um contexto específico II Máquinas inteligentes podem aprender a pensar a partir de ações simples até as mais complexas III Um cérebro não pode pensar se não houver consciência de que ele está pen sando Portanto não é ele quem pensa É correto o que se afirma em a I e II apenas b I II e III c I e III apenas d II e III apenas e III apenas 3 O computador é um artefato duplamente composto por um hardware e vários softwares O hardware é o componente físico do computador incluindo os seus periféricos tais como o teclado para a entrada de dados a tela e a impressora para a saída de dados O computador diz respeito à CPU unidade móvel de processamento e à memória RAM memória de acesso aleatório O software é o programa que evidencia à CPU as ações que ela deve realizar dandolhe uma finalidade ou propósito Diante do fato de que o funcionalismo propõe um modelo computacional para a mente redija um texto que contemple os seguintes aspectos a Conceito de Inteligência Artificial IA b Os benefícios e os riscos de assumir um modelo mecanicista para a mente 233 AGORA É COM VOCÊ 4 Leia o trecho a seguir Compreender as emoções humanas é algo que exige mais do que um modelo computacional da mente é preciso entender como o corpo humano e seu cérebro desenvolvem mecanismos especiais para gerar a experiência consciente e como as emoções contribuem decisivamente para o foco da atenção e a opção por de terminados comportamentos TEIXEIRA J de F Mentes e máquinas Uma introdução à ciência cognitiva Porto Alegre Artes Médicas 1998 p 151 De acordo com a abordagem salientada no fragmento apresentado qual é a impor tância de incluir as emoções nas teorias explicativas da vida mental Apresente dois argumentos que deem respaldo à sua resposta 5 O esquema a seguir tem o objetivo de fazer você construir eou colocar no papel as respostas sobre os questionamentos indicados Vamos lá Sintase à vontade para criar mais conexões caso você tenha mais informações a indicar no seu mapa Fé Empatia Felicidade 234 CONFIRA SUAS RESPOSTAS UNIDADE 1 1 Alternativa b Justificativa De acordo com D M Armstrong a consciência introspectiva é a reflexão autoconsciente enquanto a consciência perceptual é a experiência que a mente faz da realidade externa 2 Alternativa c Justificativa Para a teoria funcionalista a mente não é definida pelo que é mas pelo que faz Portanto é uma espécie de programa software implantado no cérebro e que permite que ele realize as suas funções mentais 3 Alternativa d Justificativa Qualia são os estados qualitativofenomenais atribuídos à mente ou as suas propriedades ou características próprias tais como ansiedade dor ou alegria Na prática significa que os organismos biológicos conscientes são capazes de re conhecer que sentem algo sabem apontar a fonte e dizer se é verdadeiro e real ou falso e imaginário 4 Alternativa d Justificativa Em sua ordem é falso que eventos existam na consciência sem que antes tenham sido experimentados no mundo Entretanto é verdadeiro que Searle entende como possível ainda que não realizável no momento que a subjetividade seja identificada e examinada cientificamente Por fim é falso que o Teste de Turing tenha comprovado indubitavelmente que um androide tenha consciência assim como um ser humano 5 Alternativa c Justificativa John Locke como bom um empirista ensinou que a identidade pessoal se constituía pela memória que unificava todos os acontecimentos de uma vida em uma identidade única Isso explicaria o motivo pelo qual eu me entendo como a mesma pessoa mesmo após longos anos de vida e tantas mudanças acontecidas 235 CONFIRA SUAS RESPOSTAS UNIDADE 2 1 Alternativa a Feedback O monista não nega a distinção entre mente e cérebro mas nega que am bos tenham uma existência distinta e separada um do outro assim como afirmam os dualistas Portanto ontologicamente mente e cérebro têm uma e a mesma existência sendo necessário apenas explicar o modo dessa relação 2 Alternativa c Feedback Em discordância de Descartes Reid afirmou que a atividade pensante não é o suficiente para provar a existência de alguém pois pode se enganar quanto ao próprio pensamento Igualmente contra Locke Reid declarou que a conexão entre aquilo que se pensa e o que é pensado é estabelecida pela relação entre ambos Por tanto os sentidos são o ponto de partida em que a mente percebendoos é afetada 3 Alternativa e Feedback A subjetividade para Dilthey não é vinda do interior do indivíduo do modo como ele se relaciona com suas coisas nem das alterações cerebrais sob o impacto de suas ações no mundo externo Ela se dá pela compreensão de si a partir das vivências adquiridas em sua experiência do mundo 4 Feedback O primeiro argumento usado por Searle é apoiado na consciência que você tem de seus estados mentais O segundo argumento sustenta que há coisas no mundo que existem e podem ser objetivamente observadas mas há outras que não são assim porque parte da realidade é subjetiva O terceiro argumento demonstra que conhecer os estados mentais por meio da observação do comportamento de alguém é algo bastante arriscado e ao fim uma tarefa impossível O quarto argu mento assume que qualquer coisa que você saiba ou diga sobre si mesmo e sobre a realidade física do mundo é bastante limitada e até mesmo mal formulada se feita em termos de um dualismo 5 Feedback O estudante deverá trazer mais informações sobre a memória retentiva e a memória recordativa depois resumir o desenvolvimento do tema vinculado à formação da consciência conforme apresentados no texto didático Por fim deve comentar o modo como a identidade do sujeito se constrói a partir da memória consciente e inconsciente 236 CONFIRA SUAS RESPOSTAS UNIDADE 3 1 Alternativa c Wassily Kandinsky não abordou o tema das emoções na tomada de decisões ao contrário a sua preocupação era com a intermediação da experiência sensível por tanto espiritual no fazer e na interpretação artísticos Além disso Immanuel Kant conferia valor às emoções e entendia que elas não poderiam ser anuladas visto que correspondiam à disposição natural do ser humano No entanto para ele o que diferencia o ser humano do animal é justamente a nossa capacidade de distinguir o que é emoção e o que é razão 2 Alternativa e Roger Scruton é um filósofo britânico que estudamos nesta unidade e que afirmou o seguinte é pelo menos aceito que a arte possui algum tipo de autonomia o que significa que não apreciamos a arte como meio para algum fim mas como fim em si mesmo SCRUTON 2017 p 28 3 Feedback Oa estudante deverá selecionar um dos autores apresentados no tema Imaginação e realidade dicotomia ou continuidade seja Platão seja Luiz Hebeche ou Kant e comentar sob o seu próprio ponto de vista como se articula para o autor escolhido a relação entre imaginação e realidade A ideia é que o comentário seja também opinativo revelando a concordância ou discordância em relação ao autor em questão estimulando a autorreflexão sobre o assunto UNIDADE 4 1 Alternativa b Background é um conjunto de capacidades não representativas necessárias para que todo estado mental seja representado 2 Alternativa a Na consciência introspectiva temos a percepção simultânea do que acontece seja em nossa vida mental seja em nossa vida sensitiva O que não acontece nem na consciência mínima quando estamos dormindo ou sedados nem na consciência perceptual quando apenas nossos sentidos estão em ação 237 CONFIRA SUAS RESPOSTAS 3 Feedback A primeira abordagem à ação intencional de alguém é colocarse em seu lugar enquanto ser humano ou enquanto conhecimento adquirido sobre ela Nas duas situações você é capaz de criar empatia e imaginar as possíveis razões para aquela atitude Por exemplo é possível entender por que um aluno chega na sala de aula chutando as carteiras desde que todo ser humano tem acessos de ira que podem resultar em violência A segunda abordagem à ação intencional é examinar a formação e a cultura da outra pessoa Ambas nos fornecem padrões de inteligibilidade para conseguimos avaliar a ação de alguém Quando observamos as pessoas agindo de certo modo precisamos perguntar sobre as razões pelas quais elas estão fazendo aquilo não somente em sua ação intencional particular mas no modo como ela foi orientada a agir daquele jeito no meio onde ela foi criada e vive 4 Feedback Após discorrer sobre a representação mental os elementos categoriais e conceituais que a compõem oa estudante deve identificálos no depoimento Elemen tos como vida fases irmão cachorro amor mudança amadurecimento e felicidade são categorias nas quais o pensamento se expressa Essas categorias são reunidas formando um quadro com o auxílio de vários conceitos os quais são conectados para exprimir uma experiência geral do Eu pensante Neste caso conceitos como um cachorro é uma boa companhia capaz de gerar felicidade em um ser humano UNIDADE 5 1 Alternativa a Feedback O fundacionismo entende que um sujeito constrói uma crença a partir da interrelação entre as crenças até chegar a uma crença fundamental a qual não gera dúvida e se torna a que sustenta todas as demais O mesmo processo não ocorre com o coerentismo que requer uma relação entre a crença e alguma situação no mundo Já o internalismo entende que uma crença é construída a partir de um conhecimento intuído da mente do sujeito ou das relações que ele tem com o mundo A questão epistemológica na filosofia da mente diz respeito ao modo como sabemos das crenças que estão em outras mentes 2 Alternativa d Feedback A teoria introspectiva da autoconsciência assegura que a percepção interna dos estados mentais é superior à percepção externa do mundo enquanto a teoria materialista sustenta que o autoconhecimento é resultante da relação direta entre a percepção interna e a percepção externa colocandoas no mesmo plano 238 CONFIRA SUAS RESPOSTAS 3 Alternativa c Feedback A teoria funcionalista é questionada pelo fato de que o modelo compu tacional é insatisfatório para descrever a mente Isso se deve pois é preciso uma consciência externa ao computador para saber o que ele está fazendo ao mesmo tempo em que falta propósito e finalidade ao que um programa de computador faz fora do próprio programa 4 A Inteligência Artificial IA busca atribuir inteligência aos artefatos por intermédio da criação de máquinas inteligentes máquinas que pensam Contudo também se trata de uma ciência empírica que procura entender a inteligência humana a partir de modelos computacionais Seu benefício para uma teoria filosófica da mente é o de permitir uma base material para entender os estados mentais Por outro lado o seu risco é não considerar a subjetividade e a intencionalidade enquanto dois critérios necessários para afirmar a existência de qualquer estado mental 5 O fato é que as teorias filosóficas da mente em geral consideram a distinção entre mente e cérebro a partir da distinção prévia entre a mente como uma entidade imaterial e o cérebro como entidade material não percebendo as relações entre um e outro Ora as emoções são estados mentais profundamente vinculados aos processos cerebrais assim como nos apontam modernos estudos neurobiológicos Aprofundar essa relação mentalfísica pode ajudar a formular uma teoria explicativa que fuja à dicotomia mentecérebro 239 REFERÊNCIAS UNIDADE 1 CARDOSO T R de D ALMADA L F O que é consciência Uma análise a partir da perspectiva de Searle Revista Kínesis v 5 n 10 2013 CAROPRESO F Inconsciente cérebro e consciência reflexão sobre os fundamentos da metap sicologia freudiana Scientiae Studia São Paulo v 7 n 2 2009 COSTA C Filosofia da mente Rio de Janeiro Jorge Zahar 2005 HERMSEN J Joke Hermsen O desafio 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