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Matemática ·
Filosofia
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TEORIA DO CONHECIMENTO PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação a Distância RIBEIRO Rafael Adilson Teoria do Conhecimento Rafael Adilson Ribeiro Maringá PR UniCesumar 2020 Reimpresso em 2023 128 p Graduação EaD 1 História 2 Teoria 3 Conhecimento EaD I Título FICHA CATALOGRÁFICA NEAD Núcleo de Educação a Distância Av Guedner 1610 Bloco 4Jd Aclimação Cep 87050900 Maringá Paraná wwwunicesumaredubr 0800 600 6360 Coordenadora de Conteúdo Eder Rodrigo Gimenes Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Andreza Diniz Design Educacional Bárbara Neves Revisão Textual Monique Coloni Boer Fotos Shutterstock CDD 22 ed 3701 CIP NBR 12899 AACR2 ISBN 9788545920496 Impresso por Bibliotecário João Vivaldo de Souza CRB 91679 Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Pósgraduação Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Zagonel NEAD NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva ViceReitor Wilson de Matos Silva Filho PróReitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho PróReitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva PróReitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR BOASVINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico nós tra balhamos com princípios éticos e profissiona lismo não somente para oferecer educação de qualidade como acima de tudo gerar a con versão integral das pessoas ao conhecimento Baseamonos em 4 pilares intelectual profis sional emocional e espiritual Assim iniciamos a Unicesumar em 1990 com dois cursos de graduação e 180 alunos Hoje temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil nos quatro campi presenciais Maringá Londrina Curitiba e Ponta Grossa e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e também no exterior com dezenas de cursos de graduação e pósgraduação Por ano pro duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares Somos reconhe cidos pelo MEC como uma instituição de exce lência com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa cionais do Brasil A rapidez do mundo moderno exige dos edu cadores soluções inteligentes para as neces sidades de todos Para continuar relevante a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes inovação coragem e compromis so com a qualidade Por isso desenvolvemos para os cursos de Engenharia metodologias ati vas as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis são que é promover a educação de qua lidade nas diferentes áreas do conheci mento formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária P R O F I S S I O N A L T R A J E T Ó R I A Me Rafael Adilson Ribeiro Possui licenciatura plena em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá UEM2012 e mestrado em Filosofia pela mesma instituição UEM2015 Foi pro fessor de Filosofia na rede estadual do Paraná de 2011 a 2018 e produziu um material didático intitulado Fundamentos filosóficos do serviço social Atualmente é professor mediador dos cursos de Filosofia e Sociologia da Unicesumar e cursa especialização em Docência no Ensino Superior Unicesumar2019 httplattescnpqbr6034573072281459 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A TEORIA DO CONHECIMENTO Prezadoa alunoa a teoria do conhecimento ou epistemologia é um campo de estudos que permanece em desenvolvimento desde o início da filosofia na Grécia Antiga É uma de suas áreas de estudos estruturantes e certamente sua área mais própria contendo ramificações claras e diretas em diversos saberes pois é a partir de suas pesquisas e seus conceitos que se busca explicar e fundamentar questões sobre a produção do conhecimento humano como o que podemos conhecer Qual a origem e o alcance da nossa razão Como chegamos a conhecer algo Quão verdadeiro ou falível é o nosso conhecimento Quais processos mentais são movidos quando buscamos conhecer algo Em outras palavras quais os princípios do conhecimento humano Ou ainda como se correspondem sujeito e objeto pensamento e realidade Essas são as principais questões que uma teoria do conhecimento procura responder Com este material inicialmente veremos os aspectos elementares e fundamentais da teoria do conhecimento isto é no que consistem precisamente os conceitos básicos envolvidos em toda epistemologia e a história desta disciplina para que assim tenhamos adquirido os elemen tos suficientes para compreender a teoria de cada autor ou corrente filosófica em específico Faremos da mesma forma com o restante do material ou seja a apresentação e o estudo das principais teorias de conhecimento desde a Grécia Antiga às desenvolvidas na atualidade O termo teoria do conhecimento ou epistemologia palavra derivada do grego episteme traduzida por conhecimento e ciência a qual era utilizada por Platão em oposição à palavra doxa traduzida por crença e opinião bem gnosiologia gnose ato de conhecer po dem ser considerados sinônimos Ambos os termos são utilizados na tradição filosófica com o sentido de discurso sobre a ciência referindose aos conhecimentos científicos aqueles que objetivam a validação universal O enfoque da teoria do conhecimento é esclarecer os processos envolvidos na formulação dos conhecimentos em especial as origens os limites os elementos e as condições que o produzem ou seja trata das estruturas que sustentam e validam determinado tipo de saber Também significa dizer que uma teoria do conhecimento demonstra como uma verdade é alcançada ou seja como um sujeito afirma algo a respeito de um objeto D A D I S C I P L I N A A P R E S E N TA Ç Ã O Assim podemos definir o ato de conhecer como o modo pelo qual um sujeito se apropria mentalmente de um objeto O ato ou a relação entre sujeito e objeto é o primeiro momento é o que está na base de todo o conhecimento quer dizer a correspondência entre pensa mento e realidade Como resultado das investigações feitas pelos teóricos da área ao longo da história encontramos algumas ideias e conceitos já bastante difundidos por exemplo empirismo racionalismo realismo idealismo materialismo ceticismo dogmatismo criticismo relativismo entre outros Todos se referem a formas específicas de compreender e funda mentar o conhecimento Apresentar cada um deles em seus maiores representantes é um dos nossos principais objetivos com este material Esta área de estudos recebe estatuto de disciplina independente a partir da obra do filósofo John Locke Ensaio sobre o entendimento humano de 1690 na qual trata de maneira exclusiva as questões sobre a formação origem e certeza do conhecimento Antes disso na Antiguidade e na Idade Média sem dúvidas houve várias reflexões epistemológicas sobretudo em Platão e Aristóteles e no contexto religioso da medievalidade em Santo Agostinho e Tomás de Aquino Nestes autores as discussões aparecem inseridas em reflexões metafísicas maiores mas é perfeitamente possível lêlos e retirar suas concepções a respeito do conhecimento Dessa maneira na Unidade 1 teremos como objetivo explicitar questões elementares do conhecimento bem como os principais conceitos utilizados para que possamos estar aptos a conhecer qualquer teoria epistemológica que venha a interessarnos Na Unidade 2 no mesmo intuito veremos a teoria aristotélica de caráter naturalístico e como se relacionou com as teorias medievais de Santo Agostinho e Tomás de Aquino teorias de caráter religioso Na Unidade 3 estudaremos a possibilidade e a origem do conhecimento a partir das três principais correntes desses assuntos empirismo racionalismo e criticismo e dogmatismo e ceticismo Por sua vez estudaremos na Unidade 4 a teoria dos autores John Locke David Hume e a filosofia do positivismo E para finalizar na Unidade 5 conheceremos a corrente da fenomenologia e a intersubjetividade como novo paradigma epistemológico a filosofia analítica resultante da virada linguísticopragmática e a distinção entre teoria tradicional e teoria crítica Desejo que este material preencha sua formação no que diz respeito à teoria do conheci mento e a questões como o que é a ciência proporcionandolhe uma visão geral desses campos e os subsídios necessários para conhecer autores e teorias Bons estudos ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece Este ele mento ajudará você a conceituálao melhor da maneira mais simples conceituando No fim da unidade o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos quadroresumo Neste elemento você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos explorando Ideias Ao longo do livro você será convidadoa a refletir questionar e transformar Aproveite este momento pensando juntos Enquanto estuda você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno logia a seu favor conectese Quando identificar o ícone de QRCODE utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online O download do aplicativo está disponível nas plataformas Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO A QUESTÃO DA TEORIA DO CONHECIMENTO 10 ARISTÓTELES E A FILOSOFIA MEDIEVAL 36 57 ORIGEM E POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO 81 TEORIA DO CONHECIMENTO NA MODERNIDADE 100 TEORIA DO CONHECIMENTO NA ATUALIDADE 121 CONCLUSÃO GERAL 1 A QUESTÃO DA TEORIA do conhecimento PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade O que é a teoria do conhecimen to A história da teoria do conhecimento As formas de conhecimento A teoria de Platão sobre o conhecimento OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender em que consiste o estudo da teoria do conhecimento Conhecer a história da teoria do conhecimento Conhecer as formas de conhecimento existentes Entender a teoria de Platão sobre o conhecimento PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro INTRODUÇÃO Olá carosas estudantes Neste tópico compreenderemos o que há de mais fundamental na teoria do conhecimento também conhecida como epistemologia em que ela consiste e que tipo de problemas investiga Para isso veremos os principais conceitos que esta disciplina utiliza por meio dos quais os pensadores ao longo da tradição filosófica e até hoje utilizam para investigar o conhecimento e elaborar suas teorias Conceitos são como ferramentas básicas para pensar as discussões epistemológicas por isso é importante que os compreendamos correta mente pois estarão constantemente presentes nas teorias dos autores que estudaremos ao longo deste material Assim iniciaremos com o estudo das noções de sujeito e objeto Depois de entendermos como eles fazem partem das teorias faremos um sobrevoo pela história da teoria do conhecimento apontando seus principais momentos paradigmas e autores partindo de seu surgimento na Grécia Antiga até discussões atuais Em seguida veremos as principais formas de conhecimento elaboradas pela humanidade a saber o mítico o intuitivo o religioso o discursivo o científico etc Também entenderemos o que são e como são produzidos os conceitos No último tópico exploraremos a importante definição de conhecimento dada por Platão que será imprescindível para guiar nossa trajetória pelas teorias específicas de autores posteriores e correntes de pensamento ao longo da história Boa leitura UNIDADE 1 12 1 O QUE É A TEORIA do conhecimento O enfoque da teoria do conhecimento é esclarecer os processos envolvidos na formu lação dos conhecimentos principalmente suas origens seus limites seus elementos e as condições que os produzem ou seja trata das estruturas que sustentam e vali dam determinado tipo de conhecimento Isso também significa dizer que demonstra como uma verdade é alcançada como um sujeito afirma algo sobre um objeto Nesta simples formulação está chovendo encontramos os elementos bá sicos envolvidos para constituir um conhecimento a saber a ação de um sujeito frente ao objeto a ser conhecido o sujeito ter consciênciaperceber e captar que algo fora da própria mente está acontecendo a forma como o objeto chuva chegou até a mente do sujeito por meio dos sentidos visão audição ou tato e como esses dados foram transformados pelo sujeito até chegar ao juízo isto é a afirmação está chovendo Podemos iniciar por definir o ato de conhecer caracterizado pelo modo com o qual um sujeito se apropria mentalmente de um objeto O ato ou a relação entre um sujeito e um objeto é um primeiro momento e está na base de todo o conheci mento Em outros termos é a correspondência entre pensamento e realidade ou consciência e matéria Desse modo as seguintes palavras do professor Johannes Hessen nos ajudam a compreender a teoria do conhecimento UNICESUMAR 13 Podemos definila como teoria material da ciência ou como teoria dos princípios materiais do conhecimento humano Enquanto a lógica investiga os princípios formais do conhecimento as formas e leis gerais do pensamento a teoria do conhecimento dirigese aos pressupostos materiais gerais do conhecimento científico Ela tem os olhos fixos justamente na referência objetiva do pensamento na sua relação com os objetos Enquanto a lógica pergunta a respeito da correção formal do pensamento sobre sua concordância consigo mesmo com suas próprias formas e leis a teoria do conhecimento pergunta sobre a verdade do pensamento sobre sua concordância com o objeto Também podemos por isso definir a teoria do co nhecimento como a teoria do pensamento verdadeiro por oposição à lógica definida como a teoria do pensamento correto Tornase claro assim o significado fundamental da teoria do conhecimento para todo o campo da filosofia É com todo direito que ela será cha mada de philosophia fundamentalis ciência filosófica fundamental HESSEN 2003 p 13 grifo do autor Ainda sobre essa relação fundamental que subjaz em todo conhecimento que é a do sujeito com o objeto podemos também explicitála com estas indagações qual é a diferença entre um objeto concreto na realidade e este mesmo obje to representado em minha consciência Sua natureza na realidade é a mesma quando pensada por minha mente quer dizer na realidade exteriormaterial os objetos em si são os mesmos quando vistos por minha consciência Se sim então tenho um conhecimento absolutamente verdadeiro sobre o mundo po rém se na passagem dos objetos da realidade exterior para a minha mente eles sofrem alguma transformação então os objetos que estão em minha mente não mais correspondem perfeitamente aos objetos do mundo pois no processo de apreensão o pensamento modifica sua natureza por exemplo de material para imaterial Quer dizer na realidade exterior os objetos possuem materialidade mas quando representados em minha mente possuem natureza imaterial logo sofreram alguma modificação no processo de apreensão e portanto não posso afirmar que são absolutamente os mesmos em todos os aspectos Consequente mente meu conhecimento da realidade é imperfeito Em suma os objetos em si possuem natureza diferente em relação aos objetos representados por uma mente sendo este portanto o problema que permeia toda a teoria do conhecimento UNIDADE 1 14 Foram os gregos antigos que primeiro fizeram a pergunta dirigindose à na tureza de forma ampla e radical o que é isso E também os primeiros a tentar respondêla racionalmente com a lógica do próprio pensamento Ou seja não mais contando as histórias míticas como tradicionalmente se fazia desde tempos imemoriais A diferença na forma de explicar os acontecimentos ocorre na Gré cia Antiga pela primeira vez na história ocidental em torno do século VII aC quando a questão que inaugura a filosofia e a teoria do conhecimento foi feita e então iniciado o caminho que dura até nossos dias para tentar respondêla Nesse princípio a filosofia se dedica a investigar principalmente a physis ter mo grego traduzido por física e natureza isto é o mundo exterior e material Ao observarem a natureza e perceberem que esta sofre constantes transforma ções os gregos se questionaram sobre a essência da realidade e das coisas sobre o que há nelas que as fazem transformarse As indagações dirigidas à natureza eram motivo de admiração e espanto conforme nos deixa transparecer Platão em sua obra Teeteto s d Sócrates Eisaí por conseguinte três proposições aceitas por nós que contendem em nossa alma seja quando falamos de ossinhos de jogar seja quando imaginamos um caso como o seguinte com a idade que tenho sem crescer coisa alguma nem sofrer modificação contrária no decurso de um ano em relação a ti que és mais moço presentemente sou maior porém depois virei a ficar menor e isso sem que minha altura diminua mas pelo fato de aumentar a tua Sou portanto posteriormente sem me ter modificado o que antes não era Sem o devir nada vem a ser e nada havendo eu perdido do meu volume não poderia ter ficado menor O mesmo se passa em milhares de casos como esse se aceitarmos os presentes argumentos Sei que me acompanhas Teeteto Pelo menos tenho a impressão de que não és neófito nessas questões Teeteto Pelos deuses Sócrates causame grande admiração o que tudo isso possa ser e só de considerálo chego a ter vertigens Sócrates Estou vendo amigo que Teodoro não ajuizou errada mente tua natureza pois a admiração é a verdadeira característica do filósofo Não tem outra origem a filosofia PLATÃO s d p 1516 UNICESUMAR 15 Portanto o momento inicial da história da filosofia que traz também o início da teoria do conhecimento trata da atitude de perceber que não é possível ter com preensão do que está à frente mesmo que seja algo familiar De certo ponto de vista toma a realidade da natureza como admirável e inexplicável Para esclarecer e fina lizar este ponto cito as seguintes palavras do historiador da filosofia Julian Marías O filósofo présocrático enfrenta a natureza com uma pergunta teó rica pretende dizer o que é O que define primariamente a filosofia é a pergunta que a mobiliza que é tudo isso A esta pergunta não se pode responder com um mito e sim com uma filosofia Pois bem O que é que leva os gregos a se perguntarem o que são as coisas Qual é a raiz do assombro que levou pela primeira vez os gregos a filosofar Em outras palavras o que é que causa estranheza aos helenos e o faz sentirse estranho a esse mundo em que se encontra Ao se colocarem o problema os présocráticos têm de descartar as respostas oferecidas pela tradição ou pelo mito e recorrer a um novo instrumento que é justamente a razão O que estranha ou assombra o grego é o movimento Movimento em grego tem um sentido mais amplo que em nossas línguas equivale a mudança ou variação Mudança de forma lugar tamanho surgi mento e desaparecimento Todos esses movimentos perturbam e inquietam o homem grego porque tornam problemático o ser das coisas mergulhamno na incerteza de tal forma que não se sabe a que se ater em relação a elas Se as coisas mudam o que são na verdade Se uma coisa passa de branca a verde é e não é branca se algo que era deixa de ser disso resulta que a mesma coisa é e não é A multipli cidade e a contradição penetram no próprio ser das coisas o grego pergunta então o que são as coisas de verdade isto é sempre por trás de suas muitas aparências MARÍAS 2004 p 14 grifo do autor Seguindo as palavras de Marías 2004 vemos que a busca por aquilo que é sem pre de verdade a unidade por trás da dualidademultiplicidade a essência por trás da aparência o absoluto por trás do relativo é a busca que constitui o início da história da filosofia e da teoria do conhecimento UNIDADE 1 16 2 HISTÓRIA DA TEORIA do conhecimento Como visto na apresentação deste material a teoria do conhecimento se torna uma disciplina independente e acadêmica somente a partir da obra do filósofo John Locke Ensaio sobre o entendimento humano de 1690 na qual tratou de maneira individual das questões sobre a formação a origem e a certeza do conhe cimento Devemos ter claro que as reflexões sobre o conhecimento começaram com o início da filosofia na Grécia precisamente em Jônia na cidade de Mileto com o filósofo Tales Estavam todavia misturadas a uma discussão maior e hoje ao estudarmos os primeiros filósofos podemos recortar apenas a área da teoria do conhecimento para focar nossos estudos Dessa maneira iniciamos esta aula sobre a história da teoria do conhecimento pela retomada das primeiras respostas dadas pelos filósofos gregos aos problemas do conhecimento Tales assim como Anaximandro e outros filósofos de sua época estava preocu pado em descobrir qual era o elemento que fundamentava a realidade ou seja qual era o princípio que em última análise sustentava toda a realidade e toda a natureza Vale a pena lembrar que até a época de Tales a resposta para as questões da natu reza sempre indicava algum poder divino como causa para a existência das coisas Mais adiante quando estudarmos o positivismo do filósofo e sociólogo Auguste Comte veremos que ele nomeou esse período de infância da humanidade ou período mítico e religioso Quer dizer até aquela época as explicações dos fenô UNICESUMAR 17 menos naturais e seus impactos por exemplo na agricultura nas doenças humanas e animais o sucesso ou o infortúnio nas guerras as posições de poder político a naturalidade da escravidão e muitos outros aspectos da vida e da natureza eram justificados por meio de poderes divinos que tinham sido predeterminados desde o início dos tempos Os povos recorriam aos deuses para conhecer a realidade Os primeiros filósofos contudoimpulsionados pelas mudanças que ocorriam nas cidades gregas e por isso tendo a vida mais complicada em sociedade deram origem a uma nova forma de mentalidade iniciaram a busca por uma causa ou um elemento material para a fundamentação das coisas Quer dizer procuraram por justificativas para as mudanças dentro das próprias coisas Essa transforma ção na maneira de pensar define o começo da nossa cultura ocidental científica Dá início a uma nova forma de ver o mundo mais objetiva racional crítica teorética lógica reflexiva argumentativa enfim filosófica Em outras palavras o desvendar da natureza a partir do esforço do próprio pensamento lógico e racional Segundo Zilles 1994 Os pensadores présocráticos os filósofos jônios os eleáticos He ráclito e os pitagóricos confiavam plenamente na capacidade de co nhecer a verdade da razão humana Voltaramse totalmente para a natureza para a physis o ser ZILLES 1994 p 39 grifo do autor Tales deu a primeira resposta não mítica à pergunta sobre a origem de tudo Ele afirmou que a água era o fundamento de todas as coisas pois observara que a umidade era necessária para gerar vida que toda a terra estava sob águas e tudo dependia de seus ciclos de mudanças Um pouco mais tarde o filósofo Empé docles argumentou que as raízes de todas as coisas são os quatros elementos ar água terra e fogo e suas intertações Para o filósofo Heráclito o elemento fundamental seria como o fogo que transforma tudo pois tudo flui e tudo está em devir isto é vindo a ser em cons tante mutação Ainda nesta época século V aC o filósofo Demócrito afirmou que tudo é constituído por átomos isto é partes indivisíveis que não podem mais ser partidas ou reduzidas a outras as quais se combinam entre si para originar as coisas Demócrito foi o fundador do conceito de átomo e da primeira filosofia materialista LUCE 1994 Desse modo esses primeiros filósofos dentre muitos outros contemporâneos a eles os quais não me caberia citar aqui ficaram conhecidos como présocráti UNIDADE 1 18 A pintura A Escola de Atenas do pintor Rafael Sanzio apresenta Platão apontando para cima e Aristóteles para baixo indicando com isso onde suas teorias colocam o fundamen to da verdade Qual deles te representa Por quê Geraldo Balduino Horn pensando juntos cos naturalistas ou cosmólogos devido à ênfase de suas investigações terem sido sobre a origem e a organização do cosmos isto é da natureza Com a chegada de Sócrates um novo período se iniciou na filosofia pois ele inaugurou um campo de estudos voltado às questões humanas éticas e políticas Esse período ficou conhecido como socrático ou antropológico A partir dali seguiuse imediatamente o surgimento de dois grandes filósofos Platão e Aristó teles Ambos criaram sistemas filosóficos com novas teorias que buscaram reunir e superar em uma unidade coerente todo o conhecimento sobre cosmologia e antropologia Contudo seus sistemas se contrapõem em diversas partes princi palmente na teoria do conhecimento Platão foi e é um dos principais idealistas da história e Aristóteles é um dos maiores empiristas Na próxima aula veremos isoladamente a teoria do conhecimento de cada um deles Após esses dois grandes filósofos a filosofia entrou no período denominado he lenístico ou grecoromano que começou no final do século III aC e durou até o século VI dC Nesse período a Grécia sofreu diversas invasões principalmente a de Alexandre o Grande da Macedônia e depois do Império Romano com isso o desenvolvimento que a filosofia tinha até então foi interrompido Contudo algumas correntes de pensamento que produziram importantes estudos éticos como as de Epicuro dos estoicos e dos céticos continuaram seu trabalho O choque entre as duas culturas grega e romana promoveu forte embate que caracterizou e permaneceu por toda a Idade Média até seu final por volta do século XVI quando começou a modernidade Foi o embate entre fé e razão da tentativa de conciliar a filosofia cristã e seus dogmas ou seja da teologia com a filosofia grega Os dois principais representantes desse período foram Santo Agostinho e Tomás de Aquino Suas teorias do conhecimento que veremos com mais detalhes em um tópico específico passam pelo conceito de Deus como fonte que ilumina a razão e possibilita o conhecimento humano UNICESUMAR 19 Chegado o século XVI deuse o início do período moderno quando cidades cresceram navegações e comércio aumentaram profissões se desenvolveram a classe burguesa que buscava promover o renascimento cultural e artístico emergiu o feudalismo deu lugar ao capitalismo e o que mais interessa do ponto de vista da teoria do conhecimento a revolução científica e a questão do método sobressaíram Esse contexto deu origem ao primeiro filósofo moderno René Descartes Assim na modernidade a filosofia em vez de começar suas inves tigações por tentar compreender a natureza como fizeram os présocráticos ou conhecer a Deus como os medievais começa a analisar a capacidade do próprio intelecto e da razão humana em conhecer corretamente ou seja o método que se utiliza para conhecer se torna o próprio caminho que conduz ao conhecimento São traçados dois principais caminhos para a epistemologia enquanto possibilidades de alcançar o conhecimento o racionalismo Descartes e Espinosa e o empirismo Bacon Locke e Hume Um pouco mais tarde em 1781 Imanuel Kant publicou a Crítica da Razão Pura por meio da qual buscou superar o racionalismo e o empirismo ao estabe lecer uma revolução nas possiblidades de conhecer da razão humana e com isso fundou o criticismo Em meados do século XX Edmund Husserl se tornou o pai da fenomenologia que consiste em uma atitude e postura filosófica com método próprio e rigoroso de estabelecer o conhecimento sendo de grande influência na filosofia e nas ciências contemporâneas Fizemos um resumo da história da teoria do conhecimento com os principais momentos e teóricos que a formaram Desse modo as diferentes maneiras com as quais foram respondidas e solucionadas as questões sobre esse conteúdo nos mostram as variações que o problema inicial suscitou desde o seu surgimento na Grécia Antiga Para concluir cito as seguintes palavras da professora Marilena Chaui 2002 p 29 Como todas as criações e instituições humanas a filosofia está na história e tem uma história Está na história a filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões e em cada época de uma sociedade os homens colocam para si mesmos diante do que é novo e ainda não foi compreendido A filo sofia procura enfrentar essa novidade oferecendo caminhos respostas e sobretudo propondo novas perguntas num diálogo permanente UNIDADE 1 20 com a sociedade e a cultura de seu tempo do qual ela faz parte Tem uma história as respostas as soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornamse saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou frequentemente tornamse novos problemas que outros filósofos tentam resolver seja apro veitando o passado filosófico seja criticandoo e refutandoo Além disso as transformações no modo de conhecer podem ampliar os campos de investigação da filosofia fazendo surgir novas disciplinas filosóficas como também podem diminuir esses campos porque alguns de seus conhecimentos podem desligarse dela e formar disciplinas separadas Assim por exemplo a filosofia teve seu campo de atividade quando no século XVIII surge a filosofia da arte ou estética no século XIX a filosofia da história no século XX a filosofia das ciências ou epistemo logia e a filosofia da linguagem Por outro lado o campo da filosofia diminuiu quando as ciências particulares que dela faziam parte foram se desligando para constituir suas próprias esferas de investigação É o que acontece por exemplo no século XVIII quando se desligam da filosofia a biologia a física e a química e no século XX as chamadas ciências humanas psicologia antropologia história O conhecimento do mundo é portanto uma preocupação constante da huma nidade decorrente da necessidade de conhecer a realidade ao seu redor para garantir sua existência e sobrevivência Tal atitude lhe dá uma marca diferencia dora e coloca os seres humanos na categoria de seres pensantes possuidores de capacidade racional e simbólica que lhes permite refletir sobre o mundo que os rodeia conhecêlo adaptálo e transformálo de acordo com suas necessidades Conforme temos visto conhecer é uma atividade que se apresenta como possibilidade de apreensão da realidade que se expressa em uma reflexão a res peito daquilo que o homem investiga Isso implica como a professora Marilena Chaui 2002 pontuou que o conhecimento é produzido na história isto é em uma sociedade e cultura sob circunstâncias e relações específicas Possui então diferentes formas artísticas religiosas mitológicas ou científicas de conceber o mundo que predominam de acordo com o contexto histórico em que foram criadas Veremos na aula seguinte as principais formas de conhecimento UNICESUMAR 21 As fontes de estudo da filosofia grega baseiamse em três tipos principais em textos completos fragmentos ou citações e no trabalho de historiadores ou doxógrafos que são comentadores e colecionadores de ideias dos filósofos Textos completos sobrevive ram apenas os de Platão e Aristóteles Dos présocráticos estoicos e epicuristas foram conservados fragmentos e pequenos trechos em geral deteriorados Como doxógrafo Diógenes Laércio compilou uma das obras mais interessantes sobre os filósofos antigos chamada de Vida dos filósofos ilustres Fonte Luce 1994 explorando Ideias 3 AS FORMAS DE CONHECIMENTO Para iniciarmos esta aula retomaremos o essencial do capítulo I com as palavras do professor Johannes Hessen No conhecimento defrontamse consciência e objeto sujeito e objeto O conhecimento aparece como uma relação entre esses dois elementos Nessa relação sujeito e objeto permanecem eternamente separados O dualismo do objeto e do sujeito pertence à essência do conhecimento Ao mesmo tempo a relação entre os dois elementos é uma relação recíproca correlação O sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto só é objeto para um sujeito Ambos são o que são apenas na medida em que o são um para o outro Essa correlação porém não é reversí vel Ser sujeito é algo completamente diverso de ser objeto A função do sujeito é apreender o objeto a função do objeto é ser apreensível e ser apreendido pelo sujeito HESSEN 2003 p 20 grifo do autor UNIDADE 1 22 A relação fundamental entre sujeito e objeto está na base de todo o conhecimento ela contém uma série de atos e operações mentais implícitas Agora focaremos nos principais tipos de conhecimento que formamos a partir dela No discursivo a consciência procura observar seu objeto de todos os ân gulos possíveis comparao com outros e faz conclusões de forma semelhante a um pesquisador de uma ciência específica que busca conhecer e apreender completamente seu objeto de pesquisa Este tipo de conhecimento é chamado de discursivoreflexivo Ele necessita da palavra isto é da linguagem para ser elaborado Para compreender a realidade a mente supera as informações sensí veis concretas e imediatas recebidas por intuição e as organiza em conceitos ou ideias gerais que utilizamos para construir o conhecimento No intuitivo o objeto é apreendido imediatamente pela consciência quer dizer não é comparado nem pensado pois dáse na consciência de forma direta sem o esforço do pensamento quando capto o azul do céu uma emoção que sinto quando intuo a própria alma ou Deus por exemplo Portanto a intuição é um conhecimento imediato uma percepção direta que não segue lógica linear para ser produzida Ocorre de súbito Segundo Aranha e Martins a intuição pode ser dividida em três categorias principais 1 A intuição empírica é o conhecimento imediato baseado em uma experiência que independe de qualquer conceito Ela pode ser sensível quando percebemos pelos órgãos dos sentidos o calor do verão as cores da primavera o som do violino o odor do café o sabor do doce psicológica quando temos a experiência interna imediata de nossas percepções emoções sentimentos e desejos 2 A intuição inventiva é a intuição do sábio do artista do cien tista ao descobrirem soluções súbitas como uma hipótese fe cunda ou uma inspiração inovadora 3 A intuição intelectual procura captar diretamente a essência do objeto Descartes quando chegou à consciência do cogito o eu pensante considerou tratarse de uma primeira verdade que não podia ser provada mas da qual não se podia duvidar Cogito ergo sum que em latim significa penso logo existo ARANHA MARTINS 2009 p 109 grifo das autoras UNICESUMAR 23 O processo de abstração que produz o conceito ocorre desta maneira abstrair sig nifica isolar ou separar de Quando abstraímos isolamos um elemento que julga mos comum a partir da série de elementos encontrados na realidade Por exemplo se vejo um ipê uma mangueira e uma palmeira identifico que há algo em comum como tronco e folhas e a partir da abstração desses elementos chego ao conceito de árvore Se sinto o calor da churrasqueira ou do sol o frio da noite ou da água posso abstrair as sensações que me causam e conceber o conceito de temperatura se vejo o João a Maria e o Lucas posso conceber o conceito de pessoa ou de ser humano se vejo duas frutas ou dois carros posso formular o conceito de dois O conceito é portanto algo imaterial e geral um produto linguístico produ zido pela mente a partir da abstração mas que se refere a objetos particulares concretos e materiais existentes na realidade no exemplo a árvore a temperatura a pessoa ou o número dois Nunca encontraremos na realidade mas nos objetos específicos aos quais eles se referem São então termos gerais que se referem a objetos particulares da realidade e que expressam características e modos de ser desses objetos Por isso os conceitos são fundamentais para a elaboração do conhecimento pois partem da realidade da percepção do objeto São abstraídos pelo trabalho da mente e se tornam ideias comunicáveis e úteis para auxiliar no conhecimento e na explicação da realidade É o saber conceitual Conforme encontrado no dicionário de Nicola Abbagnano Conceito é o termo alcançado pelo trabalho da mente sobre os dados sensíveis recebidos pelos sentidos Este trabalho é o processo de abstra ção e seu produto é o conceito É um termo geral uma ideia que reúne vários elementos da realidade Tem importância fundamental para nossa linguagem e para o progresso do conhecimento Senso comum os gregos já costumavam diferenciar conhecimento e opinião episteme e doxa em que a diferença básica está no fato de o primeiro ser fruto de um trabalho racional e o segundo ser formulado diretamente das impressões sensíveis portanto tão variáveis a respeito da realidade e da subjetividade de quem os produz UNIDADE 1 24 Essa expressão tem o significado de costume gosto modo comum de viver ou de falar O S comum é um juízo sem reflexão comu mente sentido por toda uma ordem todo um povo toda uma nação ou por todo o gênero humano Sêneca afirma que a filosofia visa a desenvolver o senso comum Visto que os problemas e as indagações em torno do senso comum dizem respeito às interações entre os seres vivos e o ambiente com o fim de realizar objetos de uso e de fruição os símbolos empregados são determinados pela cultura corrente de um grupo social Eles formam um sistema mas tratase de um sistema de caráter mais prático que intelectual Esse sistema é constituído por tradições profissões técnicas interesses e instituições estabelecidas no grupo As significações que o compõem são efeito da linguagem cotidiana comum com a qual os membros do grupo se intercomunicam ABBAGNANO 2007 p 873 Para Urbano Zelles Raras vezes este conhecimento se faz acompanhar de explanações que esclareçam os fatos Quando as apresenta o faz sem indicar testes críticos que provem seu valor de explanação O saber ordinário é de um lado praxísticooperativo contendo uma visão do mundo em geral précientífica Articulase no contato imediato da vida O saber ordinário ou o senso comum exprime assim um saber de uso e um saber significativo da realidade Contudo muitas vezes deve ser superado e substituído pelo científico ZELLES 1994 p 154 O saber mítico é predominante nas culturas em que a escrita ainda não foi plenamente desenvolvida como nas sociedades antigas ou nos grupos indígenas Possui características bastante particulares contudo enquanto um tipo de saber tem a mesma função geral de outros conhecimentos ou seja de conhecer explicar e auxiliar os seres humanos a se organizarem no mundo Assim os mitos constituem um saber por conter explicações sobre a origem a forma as funções a finalidade das coisas e dos acontecimentos e principalmente como os poderes divinos agem sobre a natureza e sobre os humanos Não foram e não são apenas lendas ou fabulações para entre ter mas histórias construídas no decorrer do tempo formuladas a partir de profundas intuições da realidade e intensas necessidades da natureza hu mana expressas contudo de acordo com a mentalidade os simbolismos e a linguagem disponível em determinado período histórico UNICESUMAR 25 Marilena Chaui destaca três funções principais dos mitos a Explicativa o presente é explicado por alguma ação passada cujos efeitos permaneceram no tempo b Organizativa o mito organiza as relações sociais de parentesco de alianças de trocas de sexo de idade de poderetc de moda a legitimar e garantir a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões c Compensatória o mito narra uma situação passada que é a ne gação do presente e que serve tanto para compensar os humanos de alguma perda como para garantirlhes que um erro passado foi corrigido no presente de modo a oferecer uma visão estabi lizada e regularizada da natureza CHAUI 2002 p 80 Dessa maneira os mitos constituem um conhecimento que auxilia os homens a se situarem organizarem e interpretarem a realidade em que vivem imersos A história da ciência se confunde com a história da teoria do conhecimento no que diz respeito ao objetivo de conhecer os objetos do mundo a realidade a natureza e sua regularidade com o máximo de precisão Por isso agora iremos contentarnos em citar as características essenciais do conhecimento científico que foram acumuladas e reunidas desde os primeiros filósofos até os nossos dias Estas são características e exigências essenciais para que um conhecimento seja científico racionalidade objetividade demonstração descrição corrigi bilidade constituir leis sistema composto por ideias conceitos e juízos que combinados e ordenados metodicamente formam teorias reconhecidas por cientistas comunicabilidade verificabilidade previsibilidade regularidade universalidade entre outras O conhecimento científico como temos visto desde o início deste mate rial a ciência é uma forma de conhecimento que se iniciou com as reflexões filosóficas a respeito da natureza na Grécia antiga dando origem à episte me isto é ao conhecimento seguro com pretensão de universalidade quer dizer com validade em qualquer lugar a qualquer momento e sob quais quer circunstâncias Este é o ideal buscado pelo conhecimento científico UNIDADE 1 26 4 TEORIA DE PLATÃO SOBRE O CONHECIMENTO Em sua época Platão 427347 aC estava imbuído da problemática que os présocráticos haviam iniciado o problema do fundamento das coisas da natu reza Buscavam aquilo que fosse estável verdadeiro eterno e ao mesmo tempo a origem e o fundamento de tudo o que existe Em Sócrates e seu método questionador e dialético maiêutica Platão viu a busca pelo fundamento e pela essência com nova possibilidade a de que a razão carrega a essência dos objetos isto é a verdade das coisas Assim buscando uma solução para o problema da teoria do conhecimento tal como era proposta desde os primeiros filósofos ele descobriu e afirmou uma nova solução as ideias Para Platão as ideias são entes metafísicos puros e perfeitos que estão em uma realidade suprassensível também chamada de hiperurânio lugar acima do céu ou ainda o mundo das essências o mundo das ideias O lugar do qual se originam todos os elementos fundamentais que os présocráticos procuravam Um mundo não físico que no entanto contém as essências as ideias que dão origem ao mundo físico da natureza em que vivemos O mundo das ideias platônico possui as seguintes características uno imó vel eterno perfeito incorruptível verdadeiro e real É alcançado via razão pela intuição das essências e produz conhecimento verdadeiro Está em contraposição ao mundo da natureza múltiplo móvel finito variável perecível imperfeito corruptível sombras das ideias fenomênico e aparente É alcançado via sentidos e produz crenças e opiniões UNICESUMAR 27 Seguindo a solução de Platão para o problema do conhecimento podemos pen sar que estamos no mundo sensível e ao mesmo tempo temos as ideias perfeitas do mundo ideal Portanto os dois mundos se fazem presentes em nós Platão indagase por exemplo se encontro tantas coisas brancas na realidade sensível como a neve as nuvens etc mas nenhuma é perfeitamente branca como a ideia de brancura que tenho em mim logo esta ideia já estava em mim de alguma maneira e por isso permiteme identificar e reconhecer coisas brancas na realidade material Como as ideias perfeitas me ajudam a conhecer as coisas da realidade Como se dá a interação entre estas partes mundo sensível humanos e mundo das ideias Como é possível alcançar o mundo das ideias perfeitas e do conhecimento verda deiro Para Platão é pela lembrança e pela recordação Para explicar ele utiliza dois recursos o mito de Fedro que apresenta sua teoria conhecida como teoria da reminiscência anamnese e o mito da caverna Acompanhe nas palavras do historiador da filosofia Julian Marías O mito de Fedro explica simultaneamente a origem do homem o conhecimento das ideias e o método intelectual do platonismo Segundo o famoso mito que Sócrates conta a Fedro às margens do IIisso a alma em sua situação originária pode ser comparada a um carro puxado por dois cavalos alados um dócil e de boa raça o outro indócil os instintos sensuais e as paixões dirigido por um cocheiro a razão que se esforça por conduzilo bem Esse carro num lugar supraceleste circula pelo mundo das ideias que a alma assim contempla mas não sem custo As dificuldades para guiar a parelha de cavalos fazem com que a alma caia os cavalos perdem as asas e a alma fica encarnada num corpo Se a alma viu as ideias por pouco que seja esse corpo será humano e não animal conforme as tenham contemplado mais ou menos A origem do homem como tal é portanto a queda de uma alma de procedência celeste e que contemplou as ideias Mas o homem encarnado não as recorda De suas asas restam tão somente cotos doloridos que se excitam quando o homem vê as coisas porque estas lhe fazem recordar as ideias vistas na existência anterior É este o método do conhecimento o homem parte das coisas não para ficar nelas mas para que lhe provoquem uma lembrança ou reminiscên cia anamneses das ideias em outro tempo contempladas Conhecer portanto não é ver o que está fora mas ao contrário recordar o que está dentro de nós As coisas são apenas um estímulo para nos afastarmos delas e nos elevarmos às ideias MARÍAS 2004 p 53 UNIDADE 1 28 Percebemos que na teoria do conhecimento de Platão há um mundo suprassen sível que contém as ideias gerais os conceitos e as essências imutáveis enquan to as coisas da realidade sensível são cópias imperfeitas das ideias do mundo suprassensível Contudo as cópias são necessárias para estimular o raciocínio e leválo a recordar as essências ou seja o conhecimento verdadeiro Vemos também em que sentido a teoria do conhecimento aparece em au tores antigos dentro de uma discussão mais ampla o que não nos impede de recortar e compreender sua epistemologia nesses sistemas No caso de Platão o recorte se concentra na teoria da reminiscência o conhecimento como re cordação o mundo material como estímulo sensível para a razão e o intelecto intuírem as ideias puras Assim conseguimos responder perguntas básicas que uma teoria do conhecimento exige a saber a origem o fundamento e os meios que conduzem ao conhecimento Para ajudarnos a esclarecer esses pontos da teoria do conhecimento platô nica as seguintes passagens de Luce são importantes o caminho para o conhecimento tem de ser sistematicamente pavimentado com um entendimento progressivo de proposições e suas relações O filósofo deve ser capaz de dar uma explicação daquilo que pretende conhecer e faz isso por meio da dialética O termo dialé tica que talvez tenha sido cunhado por Platão percorreu um longo caminho a partir de seu significado de arte da discussão A dialé tica apareceu como uma maneira disciplinada de fazer e responder perguntas acerca da realidade Essa disciplina encorajava a percorrer os caminhos abstratos do pensamento e assim exercitava o espírito para ver além da aparência superficial das coisas Esse caminho de investigação leva para cima porque ela avança para estabelecer ge neralizações cada vez mais amplas que expressem a essência de Ideias cada vez mais compreensíveis LUCE 1994 p 109 UNICESUMAR 29 O mito da caverna que se encontra no livro VII da República também se soma para ampliar e complementar a explicação da epistemologia em Platão Na caver na há pessoas acorrentadas desde a infância o que representa o mundo sensível em que as coisas são sombras Uma pessoa consegue entretanto soltarse das correntes e sair da caverna e então contemplar o mundo exterior que representa o mundo verdadeiro das ideias E tendo esta pessoa que retornar à caverna seus companheiros lhe tratariam com desdém O importante papel da razão e do intelecto para alcançar a verdade em seu trabalho e esforço de recordação faz da teoria platônica também um racionalis mo mas apenas quanto ao método em decorrência da importância da razão e da inteligência para alcançar as ideias puras Porém a teoria é sobretudo e reconheci damente um idealismo ou como outros autores também a definem um realismo das ideias devido ao fato de que nela as ideias e a natureza metafísica são o fun damento último do qual todas as outras coisas dependem para serem conhecidas Assim a respeito do conhecimento em Platão finalizo com as palavras do historiador da filosofia Garcia Morente E então nosso conhecimento nossa ciência nossa episteme em que consiste Consiste em elevarnos por meio da dialética da discussão das teses que se contrapõem e se vão depurando na luta umas contra as outras para chegar desde o mundo sensível pela discussão a uma intuição intelectual desse mundo suprasensível composto todo ele pelas unidades sintéticas que são as idéias MORENTE 1980 p 90 Temos em Platão uma primeira teoria do conhecimento elaborada detalhada mente com o rigor lógico que as discussões filosóficas exigem tornandose por isso o principal exemplo de filosofia idealista da história ocidental UNIDADE 1 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo principal desta unidade foi apresentar os elementos fundamentais envolvidos nas teorias do conhecimento para que com eles estejamos aptos a compreender as teorias de diferentes autores Os dois principais elementos que servem como ferramentas básicas para com preender as teorias do conhecimento ao longo de toda a história são os conceitos de sujeito e objeto os quais indicam uma relação presente em todo e qualquer conhecimento Por isso dediqueime a apresentálo a você no início deste material Esta é uma das principais disciplinas da filosofia e suas investigações auxiliam na fundamentação de todas as áreas do saber pois como vimos busca esclarecer os princípios do conhecimento e os processos que estão na base de suas formulações Cada período da história da filosofia corresponde a determinado paradigma O primeiro que estudamos nesta unidade foi o paradigma da natureza postu lado na Grécia Antiga junto ao surgimento da filosofia que deu origem à teoria do conhecimento para a qual a transformação e a mudança das coisas no mundo constituíam a fonte dos problemas e das questões que originaram as teorias pela busca do conhecimento científico Veremos na unidade seguinte que após Aristóteles entraremos no paradig ma religioso ou medieval com os autores Santo Agostinho e Tomás de Aquino Estes acreditavam que questões da filosofia e a visão de mundo são referenciadas à existência de Deus Nesta unidade nosso principal objetivo foi esclarecer os conceitos básicos e elementares da teoria do conhecimento para que de agora em diante em posse deles estejamos preparados para compreender as teorias e discussões deste as sunto realizadas pelos pensadores no decorrer da história 31 na prática 1 As disciplinas científicas física química e biologia se tornaram matérias indepen dentes e acadêmicas somente na modernidade O mesmo ocorreu com a teoria do conhecimento a partir da obra do filósofo John Locke Ensaio sobre o entendimen to humano de 1690 que trata exclusivamente das questões sobre a formação a origem e a certeza do conhecimento Desde a antiguidade na Grécia Antiga tais matérias já eram investigadas mas inseridas em contextos filosóficos mais amplos Assim na história a temática da teoria do conhecimento foi tratada sob três nomes principais Assinale a alternativa que apresenta os três termos a Teoria do conhecimento dialética e ciência b Teoria do conhecimento gnosiologia e discurso c Epistemologia gnosiologia e ciência d Teoria do conhecimento gnosiologia e epistemologia e Epistemologia teoria do conhecimento e paradigma 2 Nos estudos de teoria do conhecimento duas ideias são fundamentais pois todo ato de conhecimento necessariamente envolve ao menos estes dois conceitos Quais são eles I Sujeito e objeto II Sentidos e imaterialidade III Objeto e transcendência IV Materialidade e sensibilidade Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 32 na prática 3 A história da ciência se confunde com a história da teoria do conhecimento no que diz respeito ao objetivo de conhecer os objetos do mundo Ao longo do tempo o conhecimento científico se consolidou com algumas características essenciais à sua constituição Assinale V para verdadeiro e F para falso de acordo com as caracterís ticas do conhecimento científico Previsibilidade universalidade e demonstração Verificabilidade opinião e comunicabilidade Regularidade constituição de leis e universalidade Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 4 De acordo com o que estudamos nesta unidade discorra sobre o que é e como se formam os conceitos 5 Explique por que a teoria do conhecimento platônica é denominada idealista ou um realismo das ideias 33 aprimorese Neste artigo Oswaldo Porchat Pereira professor de Epistemologia da Universidade de São Paulo USP apresenta e discute em um texto claro e didático alguns pontos fundamentais de uma teoria do conhecimento SOBRE O QUE APARECE A experiência do cotidiano nos brinda sempre com anomalias incongruências con tradições E quando tentamos explicálas explicações à primeira vista razoáveis acabam por revelarse insatisfatórias após exame mais acurado A natureza das coi sas e dos eventos não nos parece facilmente inteligível As opiniões e os pontos de vista dos homens são dificilmente conciliáveis ou mesmo uns com os outros incon sistentes Consensos porventura emergentes se mostram provisórios e precários Quem sente a necessidade de pensar com um espírito mais crítico e tenta melhor compreender essa diversidade toda o desnorteia Talvez a maioria dos homens conviva bem com esse espetáculo da anomalia mun dana Uns poucos não o conseguem e essa experiência muito os perturba Alguns des tes se fazem filósofos e buscam na filosofia o fim dessa perturbação e a tranquilidade de espírito Uma tranquilidade de espírito que esperam obter por exemplo graças à posse da verdade A filosofia lhes promete explicar o mundo dar conta da experiência cotidiana dissipar as contradições ou se isso não for possível desvendando os mistérios do conhecimento e deste delineando a natureza e os preciosos limites ou pelo menos esclarecendo a natureza e a função de nossa humana linguagem na qual dizemos o mundo e formulamos os problemas da filosofia A filosofia distingue e propõese ensinarnos a distinguir entre verdade e falsida de conhecimento e crença ser e aparência sujeito e objeto representação e repre sentado além de muitas outras distinções O ser humano parece no entanto um amante eterno da verdade Ele de fato nunca a descobre mas não se cansa ja mais de perseguila O espírito dogmático no sentido cético do termo exerce sobre ele um extraordinário fascínio 34 aprimorese Isso que não podemos rejeitar que se oferece irrecusavelmente a nossa sensibi lidade e entendimento se nos permitimos lançar mão de uma terminologia filosó fica consagrada é o que os céticos chamam de fenômeno tò phainómenon o que aparece O que nos aparece se nos impõe com necessidade a ele não podemos senão assentir é absolutamente inquestionável em seu aparecer Que as coisas nos apareçam como aparecem não depende de nossa deliberação ou escolha não se prende a uma decisão de nossa vontade Muito do que nos aparece como objeto de uma experiência comum a nós e a outros se não a boa parte dos seres humanos presentes no mundo de nossa ex periência fenomênica Isto é também a eles aparece que assim seja nos é então fenômeno inteligível Embora numerosos sejam por certo os fenômenos que se nos dão como objetos de uma experiência exclusivamente nossa Aqueles outros dizemolos fenômenos comuns Atendonos ciosamente aos fenômenos importanos distinguir claramente entre o fenômeno e o que se diz do fenômeno SEXTO EMPÍRICO 11 HP I 1920 isto é a interpretação filosófica que dele se faz ou do discurso que o exprime Assim dizendo relatamos como as coisas nos aparecem descrevemos o fenômeno servindonos da linguagem Fonte Pereira 1992 p 83122 35 eu recomendo A República Da Justiça Autor Platão Editora Edipro Comentário livro de leitura agradável e composto em forma de diálogos no qual o personagem Sócrates é responsável por apre sentar as ideias e os argumentos do autor enquanto debate com outros personagens diversos temas filosóficos É um clássico da literatura mundial tanto pela qualidade do estilo quanto pelo conteúdo que trata livro Sócrates Ano 1971 Sinopse Sócrates 469399 aC anda por Atenas num contexto político conturbado após a guerra questionando e buscando as definições precisas com seus interlocutores Se passa no final da vida de Sócrates e dá enfoque às suas discussões maiêutica seu julgamento e sua condenação à morte filme Com um acervo de mais de 123 mil obras e um registro de 184 milhões de visitas o Portal Domínio Público é a maior biblioteca virtual do Brasil dados de junho de 2009 Lançado em 2004 o portal oferece acesso gratuito a obras literárias artísticas e científicas na forma de textos sons imagens e vídeos que sejam de domínio público ou que tenham a sua divulgação autorizada httpwwwdominiopublicogovbr conectese 2 PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse os tópicos que você estudará nesta unidade A teoria de Aristóteles a respeito do conhecimento Santo Agostinho Tomás de Aquino OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender a teoria do conhecimento de Aristóteles Conhecer o paradigma filosófico religioso da Idade Média Entender a origem divina do conhecimento em Santo Agostinho e Tomás de Aquino ARISTÓTELES E A FILOSOFIA medieval PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro INTRODUÇÃO Olá caroa alunoa Nesta unidade estudaremos o essencial da teoria do conhecimento de três importantes pensadores Aristóteles Santo Agosti nho e Tomás de Aquino A teoria aristotélica é de fundamental importância para a compreensão da ciência e do que é conhecimento científico pois Aristóteles foi um dos primeiros autores a elaborar uma teoria que integra o conhecimento sensível ao conhecimento intelectual de maneira mui to eficaz e concordante estabelecendo as bases para as teorias científicas posteriores Segundo o filósofo o conhecimento se inicia na experiência sensível imediata mas é expandido e tornado científico a partir do tra balho conceitual do intelecto Como veremos ele forjou vários conceitos durante seu esforço e trabalho filosófico que estão registrados em seus livros e ainda estão plenamente presentes em nossa linguagem e cultura por exemplo substância essência ato e potência matéria e forma entre outros que são fundamentais nos discursos científicos Em seguida exploraremos os paradigmas da Idade Média e veremos como o conhecimento foi pensado em dois autores principais desse pe ríodo Santo Agostinho e Tomás de Aquino Estes autores escrevem dentro do contexto religioso portanto a partir de dogmas da igreja quer dizer algumas verdades e princípios já estavam descobertos e eram indiscutíveis como a criação do mundo pelo viés religioso o que faz suas reflexões pos suirem um fundamento dado que é Deus Assim a teologia e a filosofia ou a razão e a fé nesses autores alcançam o máximo de conciliação para determinar os conhecimentos e as verdades dentro desse contexto tão in fluente na história Em Santo Agostinho a teoria do conhecimento ficou conhecida como teoria da iluminação e em Tomás de Aquino por questão dos universais Desse modo para prosseguir com nossos estudos a respeito dos autores mencionados conheceremos suas teorias individualmente por meio de três tópicos nesta unidade Bons estudos UNIDADE 2 38 1 A TEORIA DE ARISTÓTELES a respeito do conhecimento Aristóteles 384322 aC foi discípulo de Platão e frequentou a Academia por muitos anos até fundar sua própria escola o Liceu Muito respeitosamente discor dou de partes da filosofia platônica e inventou suas próprias teorias em diversas áreas do saber tornandose a principal autoridade intelectual no Ocidente até o início da modernidade Antes de estudarmos com mais detalhes a teoria do conhecimento em Aristó teles podemos dizer resumidamente que ele trouxe as ideias de Platão do mundo ideal para a terra como explica Morente 1980 p 91 na seguinte passagem Compreendendo Platão na sua autêntica realidade metafísica en tendendoo como um realismo das ideias assim se pode entender Aristóteles por que o que este fará será dar uma lógica interna a todo o sistema e trazêlo por assim dizer do seu céu inacessível a esta terra para fazer que estas idéias que são transcendentes às coisas percebidas se tornem imanentes interna a elas Em suma Aristóteles colocará a ideia dentro da coisa sensível MORENTE 1980 p 91 A inversão que Aristóteles faz segundo Morente parte das seguintes críticas UNICESUMAR 39 A duplicação desnecessária das coisas A necessidade de um número infinito de idéias para explicar a semelhança das coisas sensíveis A doutrina das ideias não explica a produção a gê nese das coisas E a última e talvez mais importante objeção que Aristóteles opõe a Platão é de que as ideias são transcendentes MORENTE 1980 p 96 grifo do autor A partir dessas observações podemos concluir que a teoria de Aristóteles pro curou estabelecer o mesmo grau de verdade que as ideias platônicas possuíam porém sem a necessidade de pressupor a existência de outro mundo além do mundo natural isto é na teoria de Aristóteles elas se encontram nas próprias coisas do mundo material Não se preocupe caroa alunoa pois compreenderemos detalhadamente esse assunto a começar pelo conceito aristotélico de substância Nele Aristóteles reuniu o mundo sensível da natureza com o mundo ideal das essências e assim cada ser individual que existe na realidade do próprio mundo sensível é uma substância Substância segundo o dicionário de Ferrater Mora corresponde ao verbo latino substare e significa o fato de estar debaixo de e o que está debaixo de MORA 2001 p 644 Um exemplo deve facilitar a nossa compreensão desse conceito vejamos se observo uma mesa e verifico que ela é branca quadrada e dura tenho nesse caso a mesa como substância pois ela é capaz de suportar as características secundárias branca quadrada e dura que poderiam ser dife rentes Características secundárias recebem o nome de acidentes são variáveis e dependem de uma substância para existir Por sua vez a substância existe por si é independente e pode ser pensada isoladamente visto que contém a sua própria essência que a faz ser o que é Assim uma substância somente deixará de ser substância se lhe retirarem a sua essência porém os acidentes podem ser retirados ou mudados que mesmo assim a substância permanece Outro exemplo o homem está velho e magro Nesse caso homem é a substân cia velho e magro são os acidentes que variam Os acidentes ajudam a conhecer melhor o homem mas não o definem o que o define é a sua essência nesse caso a racionalidade A substância homem só deixaria de ser substância se mudasse a sua essência Os acidentes por sua vez podem ser amplamente variáveis e sempre dependem de uma substância para existir UNIDADE 2 40 A ideia de substância e acidente em termos gramaticais corresponde ao su jeito e ao predicado de uma frase Em nosso exemplo a mesa e o homem são os sujeitos enquanto as características são os predicados Então com os conceitos de substância essência e acidente Aristóteles determina uma base para estabelecer o conhecimento que parte dos objetos sensíveis da realidade e encontra os conceitos estreitamente ligados a eles mesmos sendo portanto a reali dade total uma multiplicidade de substâncias reais individuais concretas e existentes Para completar a concepção de substância de Aristóteles precisamos ver mais dois pares de conceitos matéria e forma ato e potência Por meio deste par Aris tóteles consegue explicar o movimento na natureza tal como os présocráticos o entendiam de uma forma inédita Pois bem pensando os dois conceitos juntos apreendemos que as coisas estão em movimento porque passam sempre de ato à potência ou atualizando suas potencialidades Quer dizer algo que está em um momento de determinada maneira em ato tem a potencialidade de estar diferente em outro momento e isso pode ser aplicado a todos os seres naturais que existem na natureza Um exemplo claro é o da semente que em ato é o que é mas em potência é uma árvore Para Aristóteles todo ser tende a tornar atual a forma que possui como potência Assim com este conceito o filósofo introduz uma nova forma de pensar as transformações da natureza Ato diz respeito à essência de uma coisa tal como ela é aqui e agora É o modo em que está a existência de uma coisa ou um objeto na atualidade o modo como é na efetividade do presente Potência diz respeito àquilo que uma coisa pode vir a ser a capacidade de algo passar para outro estado a possibilidade que uma coisa tem para vir a ser algo que ainda não é O outro par de conceitos que aparecem interligados é matéria e forma Por matéria Aristóteles entende como aquilo do qual o mundo físico é compos to A matéria é algo indeterminado mas se torna determinado e conhecido ao receber uma forma Por isso os conceitos de matéria e forma são inse paráveis um não pode existir sem o outro A forma é um conceito muito semelhante ao de essência ou seja corresponde aquilo que não pode ser retirado de um objeto é aquilo sem o qual ele deixa de ser o que é é o que lhe dá identidade e substância UNICESUMAR 41 A madeira por exemplo é uma matéria que pode receber várias formas como a de uma mesa ou uma porta assim como um bloco de pedra tem a potencialidade de ser atualizado para a forma de uma estátua Todo ser é uma substância constituída de matéria e forma a ma téria é potência o que tende a ser a forma é o ato O movimento é portanto a forma atualizando a matéria é a passagem da potência ao ato do possível ao real MARTINS ARANHA 2009 p 158 Portanto com estes conceitos que funcionam interligados a saber substância essência e acidente ato e potência matéria e forma Aristóteles concebeu uma nova visão de realidade de caráter mais realista e naturalista Até aqui foi necessário termos visto as conceituações para então compreen dermos na sequência a teoria do conhecimento de Aristóteles isto é sua con cepção de conhecimento científico e verdadeiro Os seguintes comentários do professor Luce nos ajudam nesta introdução Se nada percebêssemos não poderíamos aprender ou entender nada Com sentenças como essa Aristóteles está indicando sua fir me crença de que a percepção pelos sentidos é a base do conheci mento Nisso está em completa oposição a Platão que não confiava nos sentidos por serem uma fonte de ilusão e negava que a percep ção de alguma maneira constituísse conhecimento Para Aristóte les uma criatura dotada de sensibilidade é capaz de perceber fatos particulares acerca de objetos reais e é portanto capaz de distinguir aspectos do mundo exterior Mas o espírito tem de entrar em cena se deve resultar em conhecimento Aristóteles teria concordado com a observação de Kant de que os sentidos sem pensamento são cegos Aquilo que percebemos deve ser guardado na memória para com paração com percepções futuras LUCE 1994 p 117 A partir de memórias semelhantes devemos formar um arcabouço de determi nadas situações perceptivas que nos permite fazer generalizações a respeito do meio em que vivemos É o mesmo processo de abstração que produz os conceitos como visto anteriormente As generalizações também são chamadas de induções e são formas de conhecimento que pertencem ao âmbito do senso comum das opiniões e das crenças ou seja ainda não são ciência UNIDADE 2 42 Indução é o processo pelo qual nossa mente a partir da observação de acon tecimentos particulares na natureza formula ideias gerais com pretensão de que sejam válidas para inúmeros outros casos Em outras palavras o trabalho da nossa faculdade do intelecto isto é do nosso pensamento ou como preferiu Luce 1994 do nosso espírito realiza a reunião sintetizaçãoaglomeraçãoorganiza çãodivisão das informações e memórias captadas pelos sentidos e as nomeia em conceitos Portanto o conhecimento indutivo é o que parte da observação de casos particulares e formula conceitos com pretensão de obter validade universal Por exemplo observo que o sal mata a formiga observação particular e sensível comparo essa informação à outra de minha memória a de que a formiga é um inseto logo concluo que o sal mata insetos generalização um novo conhecimen to Portanto a indução parte da observação de um caso particular e propõe uma verdade de caráter mais amplo que serve para inúmeros outros casos particulares isto é uma verdade que tem pretensão de valer universalmente Todavia para que o conhecimento avance e ganhe cientificidade é necessário aplicar o processo inverso a dedução que significa partir dos conceitos universais e das generalizações e aplicálas para conhecer as coisas particulares Com base no nosso exemplo partindo do universal o sal mata insetos posso verificar e aplicar na realidade concreta procurando mais casos particulares em que posso confirmar a generalização ou corrigila se necessário Dessa maneira o conhecimento da realidade pode tornarse cada vez maior mais complexo mais regular mais previsível e mais seguro a respeito do mundo Assim se constrói o conhecimento científico para Aristóteles Portanto essa teoria se caracteriza por uma íntima colaboração entre as funções dos sentidos percepção cinco sentidos e do entendimento abstração sobre o ma terial percebido Ambos os aspectos são fundamentais para alcançar os conceitos que são a base para a ciência Com eles chegamos a conhecer as causas a origem o alcance e os processos que produzem o conhecimento a respeito da natureza Segundo o professor espanhol Manuel Morente UNICESUMAR 43 A primeira divisão do conhecimento foi idealizada por Aristóteles assim como as seguin tes características do conhecimento científico A distinção do conhecimento em três campos teorético referente aos seres que ape nas podemos contemplar sem agir sobre eles prático referente às ações humanas ética política e economia e técnico referente à fabricação e ao trabalho humano criar instrumentos ou artefatos medicina artesanato arquitetura poesia retórica etc As fontes e as formas do conhecimento sensação percepção imaginação memória raciocínio e intuição intelectual A diferença entre opinião e saber A definição da forma do conhecimento verdadeiro ideias conceitos e juízos e dos pro cedimentos para alcançar o conhecimento verdadeiro indução dedução e intuição Fonte adaptado de Chaui 2002 explorando Ideias Para Aristóteles conhecer significa primeiramente formar concei tos quer dizer chegar a constituir em nossa mente um conjunto de notas características para cada uma das essências que se realizam na substância individual Saber é ter muitos conceitos Conhe cimento significa também aplicar esses conceitos que formamos à cada coisa individual colocar cada coisa individual sob o conceito chegar à natureza contemplar a substância olhála e voltar logo para dentro de nós mesmos para procurar no arsenal de conceitos aquele conceito que se ajusta bem a essa singularíssima substância e formular o juízo isto é um cavalo MORENTE 1980 p 113 Com isso entendemos que a teoria do conhecimento aristotélica valoriza fun damentalmente a experiência com o mundo isto é as impressões sensíveis e a realidade do mundo natural Não menos importante é também o trabalho racional da mente sobre os conteúdos sensíveis a formação e a expansão dos conhecimentos encontrando a essência das coisas nelas mesmas por meio da experiência da abstração e dos conceitos Por sua teoria possuir tais traços Aris tóteles é denominado naturalista empirista e realista UNIDADE 2 44 2 SANTO AGOSTINHO Ao falarmos de Santo Agostinho que viveu entre os anos de 354 a 430 estamos situados na filosofia medieval mais precisamente na Patrística paradigma que produziu profundas discussões sobre a relação entre a fé e a razão Temas como a demonstração da existência de Deus a trindade a criação do mundo a eucaristia a imortalidade da alma a ética e muitos outros eram ora aprofundados e com plementados pelos argumentos da filosofia pagã principalmente de Aristóteles e Platão ora faziam que fossem rechaçados e acusados de heresia aqueles que os utilizassem De maneira geral a filosofia foi considerada auxiliar da fé porque a retórica e a dialética das argumentações dos filósofos gregos contribuíam para que os teólogos expandissem a própria argumentação a respeito dos dogmas religiosos Dogmas são verdades absolutas revelações que a razão humana pode intuir ao ser iluminada por Deus Assim os filósofos foram considerados estudiosos que obtiveram iluminação divina sobre seus intelectos o que os levou a conhecer verdades mas pela via da demonstração racional Nesse contexto Santo Agostinho elaborou sua teoria do conhecimento co nhecida como teoria da iluminação Iremos estudála e começaremos pelos co mentários do professor de filosofia medieval Carlos Arthur do Nascimento UNICESUMAR 45 Caroa leitora como você entende a relação entre razão e fé ao pensar a respeito da capacidade de cada uma em definir verdades absolutas São conciliáveis Ambas nos levam ao encontro do mistério e do limite do nosso conhecimento Quais tipo de ética e comportamento estão associados à forma como entendemos o conhecimento pensando juntos a fé na revelação divina proporciona o mais elevado conhecimento de que somos capazes e tais verdades não as poderíamos alcançar somente pela força da razão Daí a doutrina da iluminação divina último fundamento da verdade Isto também significa admitir que as verdades porventura contidas na filosofia pagã provém da mesma fon te de onde emanam as verdades cristãs A iluminação interior permite pois que alguns aspectos da filosofia pagã sejam ocasiões para que melhor nos compenetremos das verdades absolutas da religião assim como o som das palavras que por si só não é nada são ocasiões para que encontremos em nós o significado NASCIMENTO 1984 p 38 A partir dos comentários do professor Nascimento encontramos em Santo Agos tinho uma espécie de iluminação de origem divina que opera por meio da nossa mente fazendonos compreender corretamente os objetos do mundo sensível bem como o som das palavras proferidas por todos nós Portanto para Agostinho a hu manidade partilha de uma luz natural que lhe permite ter a inteligência iluminada e agindo sobre a inteligência humana tal iluminação permite conhecer corretamente De forma similar a Platão cujas ideias verdadeiras e perfeitas estavam em um mundo separado o qual os homens haviam vislumbrado conhecer é para Agostinho relembrar as ideias perfeitas Estas isto é as verdades estão na alma humana que foi criada por Deus O homem em contato com o mundo sensível pode então identificar reconhecer e dar significado às suas vivências por ter a inteligência iluminada Desse modo as verdades existem antes de serem desco bertas na realidade pois estão presentes já na alma humana mas é a vivência sensível na realidade material que lhes proporciona ocasiões para reconhecêla por meio da inteligência tal qual ocorreu com os filósofos gregos que encontra ram conhecimento mais pela razão do que pela fé UNIDADE 2 46 As verdades religiosas são principalmente os dogmas da igreja e as verdades contidas na Bíblia que por sua vez foram dadas aos homens por iluminação As verdades primordiais são superiores à razão e ao próprio intelec to apesar de pertenceremlhe por direito são intuídas pelo intelecto e daí a luz não são criadas por ele são dons recebidos pelo intelecto A verdade é doada à mente não posta pela mente Intrínseca ao sujeito humano enquanto tal não há nada na ordem natural supe rior e mais excelente que a mente mas na mente humana estão pre sentes verdades que são superiores à própria mente e não são criadas por ela logo existe Deus como Verdade absoluta fonte criadora da verdade da qual o homem participa CAPORALINI 2007 p 70 Portanto de acordo com essa visão recebemos de Deus o conhecimento das verdades eternas considerado o verdadeiro conhecimento que como um sol ilumina a razão e possibilita o pensamento correto Por isso encontramos no capítulo XI da obra De Magistro de Agostinho o título Não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente mas pela verdade que ensina interior mente Agostinho prossegue argumenta e exemplifica como opera a iluminação sob a inteligência humana Ensiname algo quem apresentar diante dos meus olhos ou a um dos sentidos do corpo ou também à própria mente as coisas que quero conhecer Com as palavras não aprendemos senão palavras antes o som e o ruído das palavras porque se o que não é sinal não pode ser palavra não sei também como possa ser palavra aquilo que ouvi pronunciado como palavra enquanto não lhe conhecer o significado Só depois de conhecer as coisas se consegue portan to o conhecimento completo das palavras ao contrário ouvindo somente as palavras não aprendemos nem sequer estas res ponderteei que todas as coisas significadas por aquelas palavras já eram de nosso conhecimento Pois eu já tinha na minha mente o que significa três jovens o que é forno o que é fogo o que é rei o que quer dizer ser preservado do fogo e finalmente todas as outras coisas significadas por aquelas palavras UNICESUMAR 47 No que diz respeito a todas as coisas que compreendemos não con sultamos a voz de quem fala a qual soa por fora mas a verdade que dentro de nós preside à própria mente incitados talvez pelas palavras a consultála Quem é consultado ensina verdadeiramente e este é Cristo que habita como foi dito no homem interior isto é a virtu de incomutável de Deus e a sempiterna Sabedoria que toda alma racional consulta mas que se revela a cada um quanto é permitido pela sua própria boa ou má vontade AGOSTINHO 1980 p 394 Vemos que para Agostinho as palavras e a linguagem de modo geral são ins trumentos que nos servem para comunicação que têm validade garantida pela já existência no interior da mente Nas palavras de Zilles 1994 Como o homem e seu intelecto são mutáveis e perecíveis não po dem ser os avalistas do conhecimento pois a verdade deve ser eter na imutável e universal A verdade só pode ser garantida por algo que se coloque acima dos homens e das coisas Deus Por isso a fé em Deus permite resgatar a dignidade da razão Compreender para crer e crer para compreender A fé não substitui nem elimina a inte ligência Ao contrário estimula e promove a inteligência Tampouco a inteligência elimina a fé mas a fortalece ZILLES 1994 p 79 E Morente 1980 afirma que A verdade racional e a verdade da fé não podem contradizerse Um só e mesmo Deus é o autor de nossa razão e o autor da reve lação Necessariamente portanto hão de coincidir a revelação e a razão que procedem da absoluta verdade de Deus A fé sabe que sabe por aceitação reverencial da autoridade divina A razão sabe o que sabe por própria atividade inteligente Porém ambos os saberes são verdades porque os princípios do raciocínio foram postos em nós por Deus que é o mesmo autor da revelação recebida por fé MORENTE 1980 p 131 Temos que para Agostinho fé e razão se complementam mutuamente Cabe ao homem desejar e ter vontade de conhecer a verdade encontrada em seu próprio interior Como explica Zilles UNIDADE 2 48 3 TOMÁS DE AQUINO A verdade habita no interior do homem in interiore hominis ha bitat veritas A verdade não se apreende de fora como por infusão extrínseca mas de dentro É preciso entrar dentro de si mesmo por um processo de interiorização sempre maior Essa interiorização deve ser dinamizada por um ardente desejo e amor da verdade Somente assim tornarmonos atentos à voz interior da verdade ZILLES 1994 p 80 grifo do autor Com isso podemos resumir que a teoria da iluminação de Agostinho é a sua teoria do conhecimento elaborada logicamente com as características de seu contexto re ligioso Nela o mundo e a alma humana são criados por Deus A inteligência humana é uma faculdade da mente que precisa ser iluminada para compreender reconhecer ordenar e distinguir as verdades das coisas do mundo material A iluminação consiste em uma intuição dessas verdades elas podem ser intuídas porque já estão contidas na alma humana criada por Deus e dependem da vontade humana unida à iluminação divina para serem conhecidas entre os fenômenos mundanos e materiais Portanto as verdades são os princípios eternos imutáveis e universais presentes na alma co nhecidos pela intuição humanam que é auxiliada pela iluminação Percebemos que a teoria de Santo Agostinho possui fortes semelhanças com a teoria platônica Por exemplo na maneira de compreender o mundo físico como algo fenomênico e na maneira de estabelecer um fundamento para o conheci mento que seja transcendente isto é um fundamento que está além da realidade sensível Para Platão é o mundo das ideias para Agostinho é o próprio Deus UNICESUMAR 49 Para Tomás de Aquino 12251274 em comum com Agostinho o fundamento do conhecimento também dependerá em última análise de Deus Porém no tomis mo como é chamada sua teoria que tem mais afinidades com a teoria aristotélica os sentidos e a racionalidade serão mais valorizados do que em Agostinho Tomás de Aquino foi também autor da filosofia medieval e sua obra trata a filosofia como auxiliar da teologia Contudo no período conhecido por Baixa Idade Média que vai do século X ao XV já próximo da modernidade ocorreram importantes mudanças culturais como o crescimento de cidades e o surgimento das universidades Assim surgiram muitos debates e autores que buscaram a autonomia da razão mas seu papel de complementar ou estar subordinada à fé persistiu por todo o período A teoria do conhecimento em Tomás de Aquino gira em torno do tema que ficou conhecido como a questão dos universais O que são os universais São os conceitos os produtos da abstração conforme vimos no início deste material são termos gerais que utilizamos para constituir o conhecimento Sem eles difi cilmente teríamos como comunicarnos e portanto fazer ciência e estabelecer conhecimentos Nunca passaríamos da compreensão de senso comum Na Ida de média essa problemática recebeu atenção especial e ficou conhecida como questão dos universais cujo núcleo é qual a forma de existência do universais e como eles se referem às coisas da realidade A questão dos universais ocupa toda a idade média Chegouse a dizer que toda a história da escolástica é a da disputa em torno dos universais isso não é correto mas o problema está presente em todos os outros problemas e se desenvolve em íntima conexão com a totalidade deles Os universais são os gêneros e as espécies e se opõe aos in divíduos a questão é saber que tipo de realidade corresponde a esses universais Os objetos que se apresentam a nossos sentidos são indivíduos este aquele em contrapartida os conceitos com que pensamos esses mesmos objetos são universais o homem a árvore As coisas que temos à vista são pensadas mediante suas espécies e seus gêneros qual a relação desses universais com elas Em outras palavras em que medida nossos conhecimentos se referem à reali dade Colocase portanto o problema de saber se os universais são ou não coisas e em que sentido MARÍAS 2004 p 143 UNIDADE 2 50 Para responder à questão dos universais encontramos três posições principais Assim o universal passa a ter fundamento em cada individualidade da realidade Então os universais são reais na mente e ao mesmo tempo dependem de cada O realismo que é a posição platônica ou seja os universais são entidades abstratas realmente existentes não são materiais nem estão no tempo e no espaço estão fora da natureza ou melhor transcendentes São portanto formas puras que permitem que nomeemos e entendamos as coisas particu lares da realidade Em última análise nesta posição o conhecimento depende de Deus pois os universais existem em Deus É uma posição defendida pelos mais tradicionais os quais viviam a autoridade da fé mais ardentemente e consideravam o mundo material menos fundamental A segunda posição é o nominalismo que considera os universais como me ros nomes ou como alguns defensores desta posição os chamavam flatus vocis que significa sopro de voz De tal forma não consideravam os univer sais como reais apenas palavras pronunciadas É uma posição que valoriza o mundo material e as existências individuais defendida por autores que por isso foram precursores da modernidade quer dizer que direcionaram os cri térios de verdade para o âmbito da razão mais do que da fé pois não faziam nenhuma relação entre universais e Deus A terceira posição é a em que se encontra Tomás de Aquino intermediária entre o realismo e o nominalismo o realismo moderado Nela os univer sais existem realmente mas apenas no espírito humano Assim para terem correspondência verdadeira com os objetos na realidade Tomás inseriu outro princípio o princípio da individuação responsável por determinar que cada objeto sensível conhecido esteja sob uma forma individualizada a qual se conecta ao universal Os escolásticos vivem numa extraordinária confiança na razão para penetrar as profundezas do mistério Para eles a fé não é um carisma extraordinário cuja transcendência se situe fora da maneira humana de pensar É antes a encarnação da verdade divina em nosso espírito Urbano Zilles pensando juntos UNICESUMAR 51 particularidade da realidade para que se fundamentem de forma objetiva Daí a moderação de seu realismo isto é os universais existem em primeiro lugar na mente humana mas dependem dos objetos particulares sensíveis para que tenham objetivi dade Por isso o tomismo é considerado uma posição moderada sobre os universais CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste material vimos que Aristóteles representa um ápice da filosofia grega Após ele devido a uma série de invasões territoriais que a Grécia sofreu a cultura e a filosofia grega foram modificadas para sempre dando início à história medieval O paradigma medieval era teológico por definição quer dizer muitos princípios já eram tomados como verdades absolutas principalmente o dogma que afirmava que o mundo e a alma humana são criações divinas Isso gerava outra forma de pensar a natureza diferente dos gregos Assim as teorias criadas na época se esforçaram para combinar os elementos do conhecimento com um mundo criado por Deus A filosofia enquanto esforço racional para compreender a natureza buscava o mesmo objeto que a teologia ou seja o fundamento e a causa primeira de todas as coisas A teologia porém a conhecia por intuição revelação e fé a filosofia apenas a buscava por outro caminho a razão a demonstração e a ciência Dessa maneira Tomás de Aquino posicionou a relação entre fé e razão ou seja o conhecimento começa na experiência sensível dos sentidos em seguida a mente abstrai as particularidades de cada objeto apreendido e chega ao universal isto é ao conceito que tem sua existência e validade dadas por Deus Além dos conceitos há também as verdades de fé que intuídas e dadas por revelação não tem origem nos sentidos como a ideia de salvação e de imortalidade da alma capazes de orientar e organizar a vida humana São intuições de verdades supe riores à razão que portanto só podem existir e ser dadas por Deus Nesta unidade entendemos como o tomismo colocou em uma relação de complementaridade o conhecimento racional e discursivo da razão com o co nhecimento por revelação e intuição da fé Esse paradigma religioso contudo começou a desgastarse no fim da Idade Média devido a uma série de mudanças sociais econômicas e culturais Surgiram o capitalismo comercial no lugar do feu dalismo os estadonações no lugar dos reinados novas classes econômicas etc que deram origem a um novo paradigma com pensadores de linha racionalista conforme veremos a seguir na unidade seguinte 52 na prática 1 Aristóteles determinou uma base para estabelecer o conhecimento que parte dos objetos sensíveis da realidade e encontra os conceitos estreitamente ligados sendo a realidade composta por uma multiplicidade de objetos reais individuais concre tos e existentes por si mesmos Tendo em consideração a filosofia aristotélica qual das alternativas a seguir apre senta o conceito que se refere a objetos reais individuais concretos e existentes por si mesmos a Substância b Acidente c Potência d Matéria e Dedução 2 Segundo Aristóteles no início da formação do conhecimento o trabalho da nossa faculdade do intelecto isto é do nosso raciocínio realiza reunião e organização das informações e memórias captadas pelos sentidos e as nomeia em conceitos que por sua vez são utilizados para conhecer outros objetos Esse processo inicial de formação do conhecimento é denominado por quais termos I Abstração e indução II Dedução e conclusão III Dedução e inferência IV Abstração e conclusão Assinale a alternativa que indica os termos corretos a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 53 na prática 3 Para Santo Agostinho as verdades existem antes de serem descobertas na realidade pois estão presentes já na alma humana mas é a vivência sensível na realidade ma terial que proporciona as ocasiões para reconhecêlas por meio de sua inteligência tal qual ocorreu com os filósofos gregos que encontraram conhecimento mais pela via da razão do que pela fé Assinale a alternativa que indica como na teoria de Agostinho a influência divina explica a obtenção de conhecimento verdadeiro a Revelação b Iluminação c Contemplação 4 Com base no que estudamos nesta unidade disserte sobre a relação entre filosofia e teologia na Idade Média 5 Explique o motivo pelo qual a posição de Tomás de Aquino em relação aos univer sais é considerada um realismo moderado 54 aprimorese O texto de Kant a seguir foi proferido em uma espécie de aula inaugural de semes tre Tornouse um clássico por retratar em um texto de fácil leitura o Iluminismo a modernidade e o papel da filosofia no espírito daquele tempo NÃO SE ENSINA A FILOSOFIA ENSINASE A FILOSOFAR Esperase que o professor desenvolva no seu aluno em primeiro lugar o homem de entendimento depois o homem de razão e finalmente o homem de instrução Este procedimento tem esta vantagem mesmo que como acontece habitualmente o aluno nunca alcance a fase final terá mesmo assim beneficiado da sua aprendi zagem Terá adquirido experiência e terseá tornado mais inteligente se não para a escola pelo menos para a vida Se invertermos este método o aluno imita uma espécie de razão ainda antes de o seu entendimento se ter desenvolvido Terá uma ciência emprestada que usa não como algo que por assim dizer cresceu nele mas como algo que lhe foi de pendurado A aptidão intelectual é tão infrutífera como sempre foi Mas ao mesmo tempo foi corrompida num grau muitíssimo maior pela ilusão de sabedoria É por esta razão que não é infrequente depararsenos homens de instrução estritamen te falando pessoas que têm estudos que mostram pouco entendimento É por esta razão também que as academias enviam para o mundo mais pessoas com as suas cabeças cheias de inanidades do que qualquer outra instituição pública Em suma o entendimento não deve aprender pensamentos mas a pensar Deve ser conduzido se assim nos quisermos exprimir mas não levado em ombros de maneira a que no futuro seja capaz de caminhar por si e sem tropeçar A natureza peculiar da própria filosofia exige um método de ensino assim Mas visto que a filosofia é estritamente falando uma ocupação apenas para aqueles que já atingiram a maturidade não é de espantar que se levantem dificuldades quando se tenta adaptála às capacidades menos exercitadas dos jovens O jovem que completou a sua instrução escolar habituouse a aprender Agora pensa que 55 aprimorese vai aprender filosofia Mas isso é impossível pois agora deve aprender a filosofar Para que pudesse aprender filosofia teria de começar por já haver uma filosofia Teria de ser possível apresentar um livro e dizer Vejase aqui há sabedoria aqui há conhecimento em que podemos confiar Se aprenderem a entendêlo e a com preendêlo se fizerem dele as vossas fundações e se construírem com base nele daqui para a frente serão filósofos Até me mostrarem tal livro de filosofia um livro a que eu possa apelar permitome fazer o seguinte comentário estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadureci da se em vez disso os enganássemos com uma filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício Tal pretensão criaria a ilusão de ciência Essa ilusão só em certos lugares e entre certas pessoas é aceite como moe da legítima Contudo em todos os outros lugares é rejeitada como moeda falsa O método de instrução próprio da filosofia é zetético como o disseram alguns filóso fos da antiguidade de ζητειν Por outras palavras o método da filosofia é o método da investigação Só quando a razão já adquiriu mais prática e apenas em algumas áreas é que este método se torna dogmático isto é decisivo Por exemplo o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo Ao invés deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós formar um juízo sobre ele e até mesmo na verdade contra ele O que o aluno realmente procura é proficiência no método de reflectir e fazer inferências por si E só essa pro ficiência lhe pode ser útil Quanto ao conhecimento positivo que ele poderá talvez vir a adquirir ao mesmo tempo isso terá de ser considerado uma consequência acidental Para que a colheita de tal conhecimento seja abundante basta que o alu no semeie em si as fecundas raízes deste método Fonte Kant 1992 56 eu recomendo História da Filosofia Autor Julian Marías Editora Martins Fontes Sinopse o livro trata dos autores filosóficos ao apresentar o fun damental da teoria de cada um desde o início da filosofia a autores contemporâneos Repleto de ótimos comentários e explicações Comentário é um livro de linguagem bastante acessível e que consegue transmitir com profundidade o essencial dos autores que trabalha Con sidero ótima fonte de estudos para conhecer o mais importante de cada filósofo auxiliar na elaboração de aulas e estudar os temas filosóficos de maneira geral livro O Silêncio Ano 2017 Sinopse o filme apresenta dois padres jesuítas que vão ao Japão para encontrar um colega que não retornara Os padres são bem recebidos por aqueles que foram convertidos ao cristianismo mas precisam viver escondidos porque as pessoas ligadas ao governo não são convertidas O choque entre as crenças trazidas pelos pa dres e as tradicionais daquele povo provoca inúmeros conflitos filme Link para baixar o livro Confissões de Santo Agostinho É uma autobiografia que relata sua vida antes de tornarse cristão sua evolução espiritual e a sua procura pela verdade httpssumateologicafileswordpresscom200907santoagostinhoconfis soespdf conectese 3 ORIGEM E POSSIBILIDADE do conhecimento PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Empirismo Racionalismo Criticismo A verdade dogmatismo e ceticismo OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Entender o empirismo Compreender o racionalismo Estudar o racionalismo Analisar o conceito de verdade o dogmatismo e o ceticismo PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro INTRODUÇÃO Caroa alunoa temos visto que conhecimento significa relação entre sujeito e objeto um objeto como fonte de informações que são dadas ao sujeito para que ele possa elaborálas e produzir conhecimento Entende mos que ambos os elementos funcionam de forma conectada e dependente Em suma o objeto fornece o conteúdo informações sensoriais e o sujeito organiza as informações conceitos desse processo resultam os juízos e as afirmações que podemos fazer os tipos de conhecimento Apesar da associação muito próxima entre sujeito e objeto um desses elementos de acordo com alguns pensadores é considerado fonte principal e determinante para estabelecer o conhecimento Podemos questionar será o objeto e a experiência sensível a origem e o fundamento para o co nhecimento ou será o sujeito e seu pensamento a origem Nesta unidade apresentarei a você as principais linhas de pensamento que elaboraram respostas para essas perguntas a saber empirismo e racionalismo O empirismo defende a tese de que a experiência sensível é o funda mento e a origem dos nossos conhecimentos que mesmo nossas ideias e conceitos mais universais e abstratos se originam na experiência O racio nalismo por sua vez defende a tese oposta ao empirismo ou seja para seus pensadores a verdadeira fonte de conhecimento é a razão e o pensamento Analisaremos ainda o criticismo corrente que considera tanto a ex periência quanto o pensamento como fontes de conhecimento Seus au tores buscam portanto conciliar o empirismo com o racionalismo Nos dois últimos tópicos deste material estudaremos o conceito de verdade e as duas principais posições que dizem respeito ao critério que define a verdade e a possibilidade do conhecimento o dogmatismo e o ceticismo Com isso teremos visto as principais posições filosóficas e correntes de pensamento que buscam explicar a origem e a possibilidade do conhe cimento humano Bons estudos UNICESUMAR 59 1 EMPIRISMO A tese empírica essencial afirma que nosso conhecimento tem origem na expe riência sensível A palavra empirismo tem origem no grego enteléquia e em peiria traduzidas por experiência referindose à experiência de contato com o mundo por meio dos cinco sentidos humanos No Dicionário de Filosofia de Abbagnano 2007 encontramos a seguinte definição para o termo empírico designa em primeiro lugar a espécie de saber que se adquire através da prática através da repetição e da memória Nesse sentido corres ponde ao significado primeiro de experiência e opõese a racional ABBAGNANO 2007 p 325 De acordo com o empirismo nosso saber começa a ser formado a partir do nascimen to ou seja nascemos com a alma vazia de conteúdo e conforme vivemos experiências com o mundo por meio dos sentidos formamos gradativamente o conhecimento UNIDADE 4 60 Desse modo segundo os empiristas o saber parte dos fatos concretos da realidade e de nossa percepção deles por meio dos cinco sentidos a começar pelo contato com o mundo a partir do nascimento e paulatinamente formar representações ideias e conceitos gerais o conhecimento Muitos empiristas estão presentes nas ciências naturais química física e biologia devido à absoluta importância que a observação e os experimentos possuem para constituir os conhecimentos nessas áreas O seguinte trecho do Dicionário de Filosofia de Ferrater Mora 2001 aju danos a esclarecer o que significa empirismo Todo conhecimento deve ser justificado recorrendo aos sentidos de modo que não é propriamente conhecimento a menos que o que se afirma seja confirmado atestado pelos sentidos Tem sido muito comum sustentar não só que o conhecimento se adqui re mediante a experiência e se justifica ou valida pela experiência mas também que não existe outra realidade senão a acessível pelos sentidos Indicouse por vezes que para os empiristas moder nos os empiristas ingleses a mente é como que uma espécie de receptáculo no qual se gravam as impressões procedentes do mundo externo MORA 2001 p 206 Portanto fica claro que o empirismo implica no papel fundamental dos sentidos para estabelecermos e verificarmos nossos conhecimentos Por empiristas mo dernos e ingleses citados no trecho de Mora 2001 o autor se refere a Bacon Hobbes Locke Berkeley e Hume Na próxima unidade veremos separadamente a teoria de alguns deles É esta corrente de pensamento que utiliza a ideia de que somos como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco para referirse à forma como nossa mente chega ao mundo isto é vazia sem nada escrito e pronta para receber conteúdo Tábula rasa é uma expressão do latim que significa tábua raspada ou tábua limpa Diz respeito ao tipo de escrita utilizado na Antiguidade quando em uma tábua coberta com uma camada de cera ou argila eram inseridos e escritos caracteres sobre a sua superfí cie Assim uma tábula rasa era uma tabuinha pronta para receber marca ções desenhos enfim conteúdos a serem registrados UNICESUMAR 61 Em tempos mais remotos certamente existiram empiristas como Aristóteles por exemplo que já estudamos neste material Vimos que na teoria aristotélica o co nhecimento começa na experiência sensível mas depende do trabalho da razão para ser demonstrado e expandido caracterizandoo como um empirista moderado Podemos resumir a corrente do empirismo como aquela composta pelos auto res que atribuem a origem do conhecimento à experiência com o mundo sensível a experiência por meio dos sentidos ou seja as ideias e os conceitos procedem necessariamente e em primeiro lugar por meio dos cinco sentidos Por mais com plexa e abstrata que seja alguma ideia que possuímos como as ideias de alma dos números ou de Deus que parecem não ter origem no mundo sensível ainda assim devem sua origem e seu fundamento último ao contato com a realidade sensível Mesmo as ideias complexas e abstratas são formadas a partir da experiência sensível e portanto não estão presentes de forma inata em nossa alma tal qual acreditam os racionalistas e idealistas como Platão Por isso o lema do empiris mo é não há nada no entendimento que não tenha estado antes nos sentidos Veremos detalhadamente o processo de formação desses conceitos no tópico sobre John Locke considerado o pai do empirismo moderno O racionalismo é fruto do início da Idade Moderna um período de profundas transformações Antes de vermos em que se trata na teoria do conhecimento precisamos entender um pouco melhor o contexto do qual surgiu De acordo com o professor Hilton Japiassu as mudanças nessa época foram tantas que podemos dizer que houve uma revolução espiritual no período 2 RACIONALISMO UNIDADE 4 62 Tratase de compreender como a revolução espiritual do século XVII de que a ciência moderna seria ao mesmo tempo a raiz e o fruto Esta revolução pode ser explicada de três modos diferentes pelos historiadores a alguns caracterizamna pela secularização da consciência por seu afastamento de metas transcendentes para objetivos imanentes a preocupação com o outro mundo e com a outra vida é substituída pela preocupação com este mundo e com esta vida b outros vêem nessa revolução a descoberta pela cons ciência humana de sua subjetividade essencial o objetivismo anti go é substituído pelo subjetivismo moderno c finalmente outros caracterizam essa revolução pela mudança de relação entre teoria e prática o ideal de vida contemplativa sendo substituído pela da vida ativa os antigos e os medievais dedicavamse à contemplação da natureza e do ser ao passo que os modernos querem dominar e subjugar a natureza JAPIASSU 1981 p 59 Podemos resumir este contexto como o de perda de referências e consequentemen te e ao mesmo tempo de busca por novas E onde os pensadores as encontraram Na própria razão Quer dizer surgiu a firme crença de que a razão humana é o fun damento último para determinar e conhecer as coisas Ela deve tornarse o centro Vemos assim que o fim da Idade Média e o início da modernidade foi uma verdadeira e ampla revolução É praticamente impossível reduzir tal trans formação a apenas uma causa Devemos pontuar algumas condições his tóricas que deram origem à Idade Moderna ou em outras palavras que levaram ao esgotamento do paradigma medieval desenvolvimentos marí timo comercial financeiro e industrial surgimento do primeiro capitalismo no lugar do feudalismo reforma protestante que dividiu e fragmentou o cristianismo crescimento das cidades e da classe burguesa que contratou artistas e filósofos renascimento artístico em que artistasengenheiros in ventavam e calculavam com o uso da matemática e portanto expandiram o trabalho artesão tese de Copérnico que substituiu o geocentrismo pelo heliocentrismo e abalou valores religiosos e morais entre várias outras mu danças históricas que afetaram todos os aspectos da vida UNICESUMAR 63 e assumir a função de reordenar o mundo Com esse intuito e a consideração do modelo matemático mais verdadeiro os pensadores iniciaram o desenvolvimento da ciência moderna pela observação experimentação e transformação da natureza Precisamente no campo filosófico surgiu o racionalismo cujo conhecido ini ciador foi René Descartes o qual partiu da dúvida sobretudo para construir o novo Marías 2004 explica que Não há nada certo exceto eu E eu não sou mais que uma coisa que pensa diz taxativamente Descartes je ne suis quune chose qui pense Portanto nem sequer homem corporal somente razão Pelo visto não é possível reter o mundo que escapa nem sequer o corpo só é seguro e certo o sujeito pensante O homem fica sozinho com seus pensamentos A filosofia vai fundarse em mim como cons ciência como razão a partir de então e durante séculos MARÍAS 2004 p 233 grifo do autor A citação de Marías 2004 nos aponta para a essência do racionalismo fundado por Descartes isto é na crença total que surge de que a razão é a faculdade primordial para alcançar o conhecimento pois seria a única forma segura para têla Para os modernos racionalistas o conhecimento verdadeiro só pode nascer do trabalho interior realizado pela razão da própria subjetividade e por conta de seu próprio esforço sem aceitar preconceitos e dados dos sentidos Somente a razão ela mesma pode conhecer julgar e ser a própria autoridade Nas palavras de Chaui 2002 A primeira intuição evidente verdade indubitável de onde partirá toda a filosofia moderna concentrase na célebre formulação de Descartes Penso logo existo O pensamento consciente de si como força nativa capaz de oferecer a si mesmo um método de intervir na realidade natural e política para modificála eis o ponto fixo encontrado pelos modernos CHAUI 2002 p 81 A partir das colocações postas podemos definir o racionalismo como a abordagem que coloca o próprio pensamento e a razão como únicas fontes e fundamentos capazes de estabelecer conhecimentos seguros com validade lógica e universal UNIDADE 4 64 Por exemplo as ideias de Platão conforme visto na Unidade 1 pertencem à teoria racionalista ou seja para ele o mundo da experiência está em permanente mudança e transformação Consequentemente o saber que formarmos apoiados somente na experiência sensível será uma opinião com validade local e temporária jamais um conhecimento universal Para ser universal é preciso que a razão a consciência ou o pensamento produza o conhecimento e o reconheça como verdadeiro a partir da própria lógica e das leis racionais quer dizer derivadas dela mesma estabelecidas como verdadeiras e evidentes pela própria capacidade de verificação da razão Na modernidade os racionalistas apresentaram o tema das ideias inatas Inata significa nascemos com portanto não dependem da experiência sensível pois estão presentes na razão e no espírito humano por exemplo a ideia de Deus o próprio cogito cartesiano as verdades da matemática e da geometria etc Assim as ideias inatas são verdadeiras claras e evidentes pois provêm puramente da razão e fazem parte do espírito humano Outro importante tema encontrado nos racionalistas modernos é a distinção do conhecimento em verdades de fato e verdades de razão Dessa maneira vemos que a crença no poder da razão e portanto na sua capaci dade de estabelecer o conhecimento científico como ocorreu na modernidade dá origem a teorias do conhecimento racionalistas que definem a própria razão como fonte e fundamento do conhecimento As verdades de razão são necessárias inatas universais e seu oposto é im possível Dependem da própria razão para concebêlas Por exemplo dois mais dois são quatro Esta é uma verdade de razão válida universalmente independe de confirmação na experiência As verdades de fato são dependentes da realidade exterior ou seja não têm razão de ser e dizem respeito ao mundo sensível Seu oposto é possí vel podem contradizerse Por exemplo a água ferve a 100 C Isto é ver dade sob determinadas circunstâncias sob outras pode ser que não seja logo é uma verdade que depende da experiência para ser estabelecida UNICESUMAR 65 A terceira posição em relação à origem dos nossos conhecimentos pode ser con siderada intermediária pois procura conciliar o racionalismo com o empirismo e afirma que nosso conhecimento possui tanto fatores racionais quanto empíricos Segundo o dicionário de Abbagnano 2007 crítica significa o processo através do qual a razão empreende o conhecimento de si o tribunal que garanta a razão em suas pretensões legítimas mas condene as que não têm fundamento ABBAGNANO 2007 p 223 Portanto no sentido filosófico quer dizer discernir distinguir separar realizar um exame minucioso e julgar Em outras palavras decidir o que a razão pode e o que não pode conhecer Por isso por meio do criticismo investigase a própria capacidade de conhecer da razão e consequen temente suas estruturas básicas e o quanto elas realmente podem conhecer algo O criticismo tem um autor moderno central que fundamentou esta corrente de pensamento de forma revolucionária na história da teoria do conhecimento Foi Immanuel Kant com sua Crítica da Razão Pura publicada em 1781 quem estabe leceu as bases do criticismo Nessa obra Kant realiza a crítica da razão portanto de termina novos parâmetros sobre como a própria razão procede ao conhecer Kant tem atitude diferente da tradição de pensadores da teoria do conhecimento pois inverte o foco na busca por este Enquanto a tradição se esforçou para determinar como os objetos são conhecidos objetivamente Kant olhou para as estruturas da mente que formam os objetos as estruturas anteriores ao próprio conhecimento que por sua vez possibilitamno moldamno e por isso limitamno 3 CRITICISMO UNIDADE 4 66 Kant designa as estruturas de categorias e intuições puras Elas são in tegrantes da própria razão pura e põem formas às coisas Se não fossem essas categorias teríamos apenas um caos de informações sensoriais porém por conta delas o conhecimento é possível Dentre todas as duas principais são tempo e espaço Assim para Kant tudo que podemos conhecer de forma científica precisa estar necessariamente no tempo e no espaço e quem faz isso é a própria mente pois dimensões temporais e espaciais são categorias da razão pertencem ao campo do sujeito sem as quais não se pode falar de conhecimento científico dos objetos Como explica Marías Kant distingue dois elementos no conhecer o dado e o posto Há algo que se dá a mim um caos de sensações e algo que eu ponho a espaçotemporalidade as categorias e da união desses dois ele mentos surge a coisa conhecida ou fenômeno Portanto o pensa mento ao ordenar o caos de sensações faz as coisas por isso Kant dizia que não era o pensamento que se adaptava às coisas mas sim o contrário Contudo não é o pensamento sozinho que faz as coisas ele as faz com o material dado MARÍAS 2004 p 314 Por isso o princípio que governa o criticismo afirma que conceitos sem intuições são vazios intuições sem conceitos são cegas Percebemos como nesta posição as informações dadas pela experiência sensível intuição são unidas pela razão em categorias conceitos de forma imediata Portanto o conhecimento se forma a partir de uma união imediata e direta entre a sensibilidade e o entendimento entre o dado informações sensíveis e o posto tempo e espaço de tal modo que quando tenho consciência sobre as coisas elas já estão sob estas formas da razão já foram transformadas e deformadas pelas categorias Logo determinam os objetos que se adaptam às categorias da razão pura e não o contrário Assim aquilo que conheço é formado pela minha razão é ela quem coloca as condições que possibilitam meu conhecimento Poderíamos dizer que para o criticismo a sensibilidade conectase indissociavelmente ao intelecto e que todo contato com o mundo é uma interpretação Portanto estando sob essas condições espaço e tempo posso falar em conhecimento verdadeiro Conse quentemente os objetos da metafísica por exemplo Deus e alma que não estão sob as condições não podem ser conhecidos verdadeiramente A crítica da razão UNICESUMAR 67 delimita os objetos sobre os quais podemos ou não fazer discursos científicos sobre eles conforme nos esclarecem as passagens a seguir Segundo Kant o nosso conhecimento é uma síntese de percepção sensível e de atividade espontânea da razão Todo o conteúdo deriva das percepções sensoriais a determinação formal decorre da es trutura do próprio sujeito formas a priori da sensibilidade espaço e tempo as categorias a priori do intelecto Na Crítica da Razão Pura limitou pois a capacidade da razão à mera interpretação da experiência ZILLES 1994 p 120 o material do conhecimento provém da experiência enquanto a forma provém do pensamento Com o material temse em vista as sensações Elas são completamente desprovidas de determinação e de ordem apresentamse como um puro caos Nosso pensamento produz ordem nesse caos na medida em que conecta os conteúdos sensíveis uns aos outros e faz com que eles se relacionem Espaço e tempo são as formas da intuição A consciência cognoscente introduz ordem no tumulto das sensações na medida em que as ordena espaço e temporalmente na simultaneidade ou sucessão Em seguida com a ajuda das formas do pensamento introduz uma outra conexão entre os conteúdos perceptivos Conectamos por exemplo dois conteú dos perceptivos por meio da forma de pensamento categoria da causalidade na medida em que consideramos um como a causa o outro como o efeito e estabelecemos assim uma conexão causal en tre eles Desse modo a consciência cognoscente constrói seu mundo de objetos Os tijolos são tomados como vimos da experiência No entanto a maneira de erguer o edifício bem como toda a estrutura da construção são condicionadas pelo pensamento pelas formas e fun ções a priori da consciência HESSEN 2003 p 6364 grifo do autor Vemos dessa forma como procede a formação do conhecimento segundo o cri ticismo Nele fatores sensíveis e racionais estão profundamente conectados por isso configurase como a síntese do empirismo com o racionalismo Ao mesmo tempo ao estabelecer essa relação ou melhor ao realizar a crítica da razão pura Kant e o criticismo determinam novos parâmetros a respeito da origem e do alcance do que a razão pode conhecer cientificamente UNIDADE 4 68 Ao longo deste material utilizamos o conceito de verdade pois é de fato inva riavelmente presente nas discussões epistemológicas Dizemos por exemplo que ciência é conhecimento verdadeiro ou que a verdade é encontrada pelo intelecto Devido ao uso extremamente frequente e necessário desse conceito iremos co nhecêlo isoladamente neste tópico Esse é o sentido de verdade de maior importância utilizado na teoria do conhe cimento isto é para referirse à realidade ao mundo No Dicionário de Filosofia de Ferrater Mora 2001 encontramos a seguinte definição de verdade O vocábulo verdade é empregado em dois sentidos para se referir a uma proposição e para referir a uma realidade No primeiro caso dizse de uma proposição que é verdadeira contrapondoa a falsa 4 A VERDADE DOGMATISMO e ceticismo Segundo o professor Morente 1980 p 149 a verdade do conhecimento consiste em sua concordância com o objeto ou melhor na relação do co nhecimento o pensamento formado pelo sujeito em vista do objeto con corde com este Portanto vemos que a verdade trata da relação de corres pondência adequação e concordância entre o pensamento e o objeto UNICESUMAR 69 No segundo caso dizse de uma realidade que é verdadeira dife renciandoa de aparente ilusória irreal inexistente etc Nos primórdios da filosofia os filósofos gregos começaram por buscar a verdade ou o verdadeiro diante da falsidade da ilusão da aparên cia etc A verdade era nesse caso idêntica à permanência ao que é no sentido de ser sempre quer se tratasse de uma substância material quer de números qualidades primárias átomos ideias etc O permanente era pois concebido como o verdadeiro em face do cambiante do mutável MORA 2001 p 700 O primeiro sentido de verdade que Mora 2007 nos coloca é utilizado e estu dado pela lógica que diz respeito à lógica correta de enunciar as proposições e à concordância entre os próprios enunciados São regidos pelos princípios de identidade e de não contradição Contudo investigamos aqui o segundo senti do empregado o epistemológico a verdade enquanto correspondência entre a realidade e o que pensamos dela É neste sentido que a verdade epistemológica é sinônimo de conhecimento científico ou conhecimento verdadeiro pois procura darnos mais conhecimento da realidade e portanto mais objetividade A verdade tal como buscada pelos gregos a busca pela arché era a bus ca pelo verdadeiro e imutável em oposição ao transitório e passageiro É neste conceito com a busca pela objetividade que se determina a relação entre sujeito e objeto entre mente e mundo Assim podemos definir a verdade como corres pondência ou adequação do pensamento com a realidade Vemos que a história da teoria do conhecimento se conecta em muitos pontos com a busca pela verdade e pela definição de verdade bem como pela colocação dos critérios de verdade Colocar um critério que determine o que é verdade ou não é ao mesmo tempo dá uma resposta para a pergunta da teoria do conheci mento ou seja como conhecer as coisas fielmente Devemos porém questionar é possível ter certeza sobre essa correspon dência O que o empirismo o racionalismo e o criticismo nos disseram so bre conhecer a realidade A verdade é como as coisas são de fato ou como nós as percebemos A correspondência pode ser perfeita Como garantir que nosso pensamento corresponde aos fatos Que critério devo usar para definir o que é verdadeiro UNIDADE 4 70 Diante desses questionamentos a história da filosofia produziu duas tendên cias principais sobre a possibilidade de conhecermos a verdade o dogmatismo e o ceticismo Vejamolas separadamente A verdade o dogmatismo Dogma é definido no Dicionário de Filosofia de Abbagnano 2007 como Opinião crença decisão juízo e portanto decreto ou ordem Nesse sentido essa palavra foi entendida na Antiguidade para indicar as crenças fundamentais das escolas filosóficas e depois usada para indicar as decisões dos concílios e das autoridades eclesiásticas so bre as matérias fundamentais da fé ABBAGNANO 2007 p 293 A palavra dogma tem origem no contexto religioso referindose à doutrina e aos ensinamentos que são baseados em verdades tidas como absolutas fundamentais e indiscutíveis O dogma da Santíssima Trindade por exemplo segundo o qual três pessoas Pai Filho e Espírito Santo não são três deuses mas somente um ou seja Deus é uno e trino ao mesmo tempo Isso é uma verdade um dogma provindo de iluminação divina que deve ser aceito pela fé independentemente se a razão o compreende ou não Vem daí a denominação de dogmático para aquele que se fixa firmemente a alguma verdade e a considera inabalável e absolutamente verdadeira O dogma tismo enquanto posição filosófica referente ao conhecimento abarca os filósofos que estão convencidos do poder da razão humana em conhecer a verdade absoluta Kant chama de dogmático os filósofos anteriores a ele por não te rem proposto como discussão primeira a crítica da faculdade de conhecer Ou seja aqueles filósofos não acordaram do sono dog mático no sentido de ainda manterem a confiança não questionada no poder que a razão tem de conhecer Neste rol estaria incluído Descartes que como vimos tinha em vista alcançar a verdade in dubitável MARTINS ARANHA 2009 p 112 Para o dogmático portanto o problema da apreensão da realidade pelo pen samento é sempre resolvido pela razão ou seja o sujeito apreende o objeto de UNICESUMAR 71 forma acabada e com o trabalho do pensamento alcança a verdade No dog matismo o campo da razão detém toda a verdade e o fundamento último do conhecimento Segundo Hessenn 2003 no dogmatismo A possibilidade e a realidade do contato entre sujeito e objeto são pura e simplesmente pressupostas É autoevidente que o sujeito apreende seu objeto que a consciência cognoscente apreende aquilo que está diante dela Esse ponto de vista é sustentado por uma con fiança na razão humana que ainda não foi acometida por nenhuma dúvida HESSEN 2003 p 29 Essa é a posição do dogmatismo que não compreende o conhecimento como uma re lação entre naturezas diferentes sujeito e objeto porque entende que o sujeito apreen de a realidade fielmente e a razão tem o fundamento e o poder de determinar o conhecimento verdadeiro O âmbito do objeto é completamente dependente da razão Dessa maneira não é feita uma crítica à razão isto é não há preocupação em examinar rigorosamente a capacidade da razão humana pois pressupõe que a razão tem toda a possibilidade de conhecer verdadeiramente as coisas Estuda mos assim o dogmatismo na teoria do conhecimento haja vista o nosso foco neste material Entretanto este conceito também pode ser encontrado em outras áreas do saber como a ética a moral e a religião A verdade o ceticismo O ceticismo é a posição filosófica sobre o conhecimento oposta ao dogmatismo Como afirma Hessen 2003 Para o ceticismo o sujeito não seria capaz de apreender o objeto O conhecimento como apreensão efetiva do objeto seria segundo ele impossível Por isso não podemos fazer juízo algum ao contrário devemos nos abster de toda e qualquer formulação de juízos HES SEN 2003 p 31 Nesse trecho o autor aponta os dois principais elementos que constituem a posição do ceticismo a impossibilidade de apreensão do objeto e a suspensão do juízo UNIDADE 4 72 Um conhecimento rigoroso e universal portanto é impossível para o cético É algo sempre muito limitado dependente das particularidades subjetivas do sujeito O cético prefere a suspensão do juízo quer dizer a não afirmação de verdades univer sais e absolutas e também a não negação ou seja suspender o juízo é não afirmar nem negar ele aceita e reconhece a dúvida e a própria limitação da capacidade do entendimento humano Nosso conhecimento é tido sempre como provisório limitado restrito relativo Não há verdades nem certezas absolutas é incerto Desse modo vemos o essencial do ceticismo referindose à possibilidade de conhecimento rigoroso do mundo ou seja o ceticismo epistemológico que investiga a relação entre sujeito e objeto como é o nosso foco com este material Tal qual o dogmatismo também pode referirse a posicionamentos éticos morais religiosos entre outros Para ajudarnos a concluir e esclarecer esta posição cito o trecho do livro do professor Hilton Japiassu 1981 A apropriação intelectual de um campo empírico ou ideal de da dos que constitui o conhecimento científico da realidade de forma alguma pode ser reduzida a uma simples operação fotográfica a uma mera reprodução ou cópia do real Nem mesmo a máquina fotográfica consegue o feito da completa isenção até mesmo a per feição da imagem depende da qualidade química do filme jamais podendo ser a cópia perfeita do real Ora em toda a captação ou apropriação do real entra em ação um sujeito que por definição é subjetivo Ele deve atingir a objetividade através de um projeto de construção da subjetividade Ademais a aproximação do real pode variar pois é dependente de um sujeito histórico E se admitirmos Enquanto o dogmatismo considera a razão plenamente capaz de apreender os objetos e determinar a verdade o ceticismo nega essa possibilidade Para ele o conhecimento está sempre condicionado por aspectos subjetivos do sujeito por suas capacidades naturais sua cultura e o meio em que vive UNICESUMAR 73 Juízo expressão linguística de um enunciado que pode ser verdadeiro ou falso O mesmo que proposição Conhecimento ato de conhecer Do latim cognoscere traduzido em português por cognoscente ou cognoscível o que chega à consciência Experiência apreensão de algo por um sujeito o modo de conhecer algo imedia tamente antes de todo juízo formulado a respeito do apreendido Fato de viver algo dado anteriormente a toda reflexão Fonte o autor explorando Ideias O filósofo francês Paul Ricouer cunhou a expressão mestres da suspeita para aludir aos autores que criticaram a finalidade da consciência humana Em sua opinião a nossa cons ciência está a serviço de quê Como ela é formada pensando juntos que a realidade também é histórica não temos o direito de negar uma variação em sua fenomenologia Portanto mesmo que admi tamos a invariância das leis lógicas somos forçados a reconhecer que elas são efetivamente aplicadas por sujeitos variantes sobre uma realidade que também é mutante Donde a impossibilidade de uma objetividade perfeita Quando a ciência acredita determinar completamente o real para apropriálo constrói sua objetividade sobre um objeto imóvel consequentemente morto Ora a ciência existe porque há problemas reais Ela nunca tem a certeza de que irá esgotálos determinalos por completo a não ser que faça de seu saber a promoção da morte além de já constituir a promoção do poder Por isso temos que definila como um processo inacabado de busca de verdades provisórias Nesta perspectiva a evidência só pode ser um engano ou um dogma E a certeza só pode credulidade ou cegueira JAPIASSU 1981 p 31 UNIDADE 4 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas três primeiras aulas desta unidade objetivamos estudar as três principais correntes filosóficas que investigam a origem do nosso conhecimento Vimos o empirismo cuja tese é a de que nossa principal fonte conhecedora é a experiência empírica por meio dos sentidos o racionalismo este sustenta que a razão é nossa principal fonte de conhecimento seguro e o criticismo que busca intermediar as duas posições e ao mesmo tempo fazer a crítica da própria faculdade da razão ao delimitar suas possibilidades Para cada uma das três posições que estudamos podemos encontrar os adjetivos radical ou moderado que significa o grau de certeza da teoria apresentada Por exemplo Platão e Descartes podem ser considerados racionalistas radicais pois suas teorias diminuem consideravelmente o valor do conhecimento obtido pelos sentidos e colocam a razão como plenamente capaz de alcançar a verdade Para o primeiro a razão alcança as ideias perfeitas e para segundo a verdade indubitável do eu penso Em seguida vimos que há duas posições principais a respeito da possibilidade do conhecimento o dogmatismo e o ceticismo que também podem receber as denominações de radical ou moderado No dogmatismo a verdade é encontrada fundamentalmente pela razão e para o ceticismo devemos suspender o juízo porque a verdade não pode ser encontrada Há ainda outras posições possíveis Uma delas é o pragmatismo que define a verdade a partir de um critério prático isto é quando a validade de um conhe cimento é determinada por sua utilidade resultado de aplicações práticas que podem ser verificadas na experiência sendo esta uma posição bastante reconhe cida na atualidade É possível porém notar que a pragmática pode ser reduzida ao ceticismo que afirma a relatividade do conhecimento São encontradas também as posições chamadas de subjetivismo intelectua lismo apriorismo entre outras que são a seu modo reduzíveis ao dogmatismo ou ao ceticismo Infelizmente a análise de cada uma estenderia excessivamente nosso material por isso analisamos as duas principais tradições filosóficas a res peito da origem e da possibilidade do conhecimento 75 na prática 1 Qual é a corrente filosófica que utiliza a expressão tábula rasa para referirse à for ma com a qual a mente humana chega ao conhecimento pela experiência sensível Assinale a alternativa indicativa a Racionalismo b Criticismo c Subjetivismo d Intelectualismo e Empirismo 2 A posição filosófica a respeito da origem dos nossos conhecimentos denominada criticismo é uma conciliação entre duas outras posições Quais são elas I Racionalismo e empirismo II Apriorismo e intelectualismo III Empirismo e dogmatismo IV Racionalismo e ceticismo Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 76 na prática 3 Para o criticismo nosso conhecimento é formado por estruturas da razão pura que ao formarem o conhecimento restringem ao mesmo tempo o seu alcance Para Immanuel Kant é correto afirmar que essas estruturas são denominadas Conceitos e causalidade Categorias e intuições puras Intuições puras e sensibilidade A sequência correta para a resposta da questão é a F V V b V V F c F V F d F F F e V V V 4 De acordo com o que estudamos nesta unidade explique o que é dogmatismo na teoria do conhecimento e cite o exemplo de uma teoria filosófica dogmática justificandoa 5 Explique a definição de conceito de verdade enquanto adequação e correspon dência do pensamento com o objeto pensado e descreva como o ceticismo se dá em relação à definição 77 aprimorese No artigo seguinte o professor Rogério José Schuck faz uma síntese da teoria do co nhecimento elaborada no período da modernidade apontando seus fundamentos e suas consequências bem como um caminho para sua superação A MODERNIDADE DIANTE DO PROBLEMA DO CONHECIMENTO A perspectiva de construção do conhecimento pelas vias do método cartesiano trouxe enormes benefícios à humanidade não podemos deixar de reconhecêlo sobretudo em termos de avanços tecnológicos e domínio de questões que ameaça vam a vida como é o caso do controle de doenças Em contrapartida trouxe a cres cente pretensão onipotente da razão humana que busca na ciência as respostas a todos os questionamentos do homem Tratase de um modelo de construção do saber que vem reivindicando o status de modelo por excelência na construção do conhecimento tido como resultado de um ato objetificador do pensar conseqüên cia da separação rígida entre sujeito e objeto sendo o primeiro aquele a quem cabe a tarefa de impor sobre o segundo as condições sobre as quais deve se manifestar Contemporaneamente têm crescido as críticas a tal modo de se relacionar com o conhecimento que busca na noção póscartesiana do saber o sujeito racional oni potente que quer ter a primazia do pensamento como exclusiva na produção do saber A crítica que se coloca está justamente nessa contradição ao percebermos que tal modelo não consegue dar conta de seus pressupostos a saber o domínio da razão sobre a totalidade do saber Diante do fracasso do uso meramente instrumental da razão que insiste em não reconhecer os problemas gerados por sua pretensão objetificadora surgem tentati vas de superação desse paradigma demonstrando que existe outro modo possível de chegar à compreensão com pretensão de verdade Nesse sentido podese falar em termos da realidade que não se deixa absorver plenamente sendo que algo es capa à razão calculante É justamente esse algo que escapa que desmascara a pre tensão absolutizadora de uma razão tencionando conduzir plenamente o saber 78 aprimorese A Teoria do Conhecimento no sentido clássico sustenta a necessária separação rígida entre sujeito e objeto processo esse que denominamos objetificação na me dida em que o sujeito é o determinador das condições de possibilidade do conhe cimento do próprio objeto Delineiase assim um horizonte de compreensão à base do qual podemos perceber o surgimento e a consolidação do paradigma moderno na construção do conhecimento com a sua pretensão de verdade Desde Bacon e Descartes passando pelo Iluminismo a legitimação do conheci mento vem sendo marcada pela separação rígida entre sujeito e objeto acreditan dose que a razão vai conseguir dar conta de uma reflexão absoluta não deixando espaço para a influência da postura humana na configuração do saber Gadamer colocou em xeque a metodologia objetificadora como base última da legitimação do conhecimento Não se trata de deixar de reconhecer o potencial reflexivo da razão mas reconhecer uma base préreflexiva a partir de onde tem início o movimento da compreensão enquanto experiência ontológica que precede o pensamento cientifi cista o qual se vê questionado na sua pretensão de ser a condição de possibilidade para todo o conhecimento verdadeiro Ao invés de a razão ser o centro criador do sentido de tudo a experiência do sujeito é a de não poder dominar o espaço dentro do qual sua compreensão se dá sendo este anterior ao campo da consciência enquanto percepção lógica Assim sendo o procedimento hermenêutico se estabelece enquanto procedimento inte rativo entre os parceiros do diálogo A subjetividade já se encontra desde sempre inserida na tradição Então é preciso dizer que toda compreensão é marcada por préconceitos que se gestaram na tradição Assim sendo dáse a superação da perspectiva objetificadora O sujeito não é a ponte a partir de onde o sentido se gera O sentido se revela na consciência do sujeito gerase na história e se transmite de geração em geração de modo que podemos afirmar que os préconceitos se gestaram na tradição e são condições de possibilidade da compreensão Através da compreensão da historicidade somos levados a perceber limites internos à preten são moderna na construção do conhecimento Fonte Schuck 2011 79 eu recomendo O cinema pensa uma introdução à filosofia através dos filmes Autor Julio Cabrera Editora Rocco Sinopse Julio Cabrera expõe discute e interroga a filosofia con tida em muitos filmes de diversos diretores evidenciando o pro fundo diálogo entre o pensamento filosófico e o cinema Comentário com a proposta de comentar a filosofia dos filmes relacionada à teoria dos principais filósofos o livro também pode ser um importante recurso didático a ser utilizado por professores em sala de aula livro Lutero Ano 2003 Sinopse o filme conta a história baseada em fatos reais da vida de Lutero um padre católico que teve um chamado transforma dor de Deus que viria a influenciar todo o mundo por meio da publicação de suas 95 teses apoiadas nas escrituras sagradas Comentário é possível notar o contexto de tensões sociais da época de transição da medievalidade para a modernidade bem como o impacto que a reforma de Lutero teve sobre o cristianismo dividindoo filme 80 eu recomendo Conheça o canal Quem somos nós no qual o apresentador entrevista importan tes estudiosos brasileiros que discorrem a respeito da teoria dos filósofos clássi cos a partir da pergunta quem somos nós httpswwwyoutubecomchannelUCIj7UmUVFTFC9yXNiZoRmEg Esta indicação se refere ao canal Casa do Saber que apresenta professores de universidades brasileiras explicando e comentando as principais ideias de muitos filósofos httpswwwyoutubecomusercasadosaber conectese 4 TEORIA DO CONHECIMENTO na modernidade PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade O empirismo de John Locke O empirismo de David Hume Auguste Comte o positivismo OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender a teoria do conhecimento de John Locke das ideias simples às mais complexas Inter pretar a teoria do conhecimento de David Hume suas impressões e associação de ideias Entender o que é a filosofia do positivismo PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro INTRODUÇÃO Caroa alunoa o paradigma medieval no qual Deus era uma referência de absoluto em que se poderia fundamentar tanto a validade do conhecimento quanto a organização social da vida ao findarse significou o surgimento de um novo paradigma o moderno Neste o homem buscou fazer de sua própria razão o referencial para organizar a vida e o conhecimento A razão se tornou a única instância que produz e que valida o conhecimento Co nhecer passou a ser conhecer o que se passa em mim minhas experiências conscientes quer dizer minhas ideias sensações impressões enfim As expe riências do campo da própria razão e do sujeito se tornam as bases da ciência O mesmo contexto deu origem ao racionalismo de Descartes ao criti cismo de Kant ao empirismo de John Locke e David Hume e ao positivismo de Auguste Comte Nesta unidade trataremos dos três últimos autores Na primeira aula estudaremos a filosofia de Locke fundador do empirismo moderno e da teoria do conhecimento como disciplina independente e os principais conceitos que a fundamentam Na segunda investigaremos a teoria do conhecimento de Hume que aprofundou o empirismo até suas consequências mais radicais E no terceiro tópico iremos dedicarnos à filosofia positivista de Auguste Comte As ideias desses filósofos constituem degraus imprescindíveis na evolução do pensamento de nossa cultura e influenciam muito além da filosofia Como veremos Locke e Hume lançaram bases para a psicologia que se formaria mais tarde e Comte inspirou o lema da bandeira do Brasil ordem e progresso Com esta unidade você prezadoa estudante verá conceitos e autores que fizeram o conhecimento de suas épocas avançar e propuseram novas bases para o desenvolvimento do pensamento posterior Bons estudos UNICESUMAR 83 1 O EMPIRISMO DE JOHN LOCKE Como vimos na introdução deste material John Locke é considerado o funda dor da teoria do conhecimento enquanto disciplina específica e independente É a partir da sua obra de 1690 Ensaio Sobre o Entendimento Humano que a disciplina passa a receber esse tratamento Nela Locke é explícito quanto ao seu objetivo como afirma na introdução do livro Sendo portanto meu propósito investigar a origem certeza e ex tensão do conhecimento humano juntamente com as bases e graus da crença opinião e assentimento Ao meu presente propósito será suficiente considerar as faculdades discernentes do homem e como elas são empregadas sobre os objetos que lhe dizem respeito E imaginarei que não terei divagado em pensamentos surgidos nessa ocasião se puder dar algum relato dos meios pelos quais nossos en tendimentos alcançam as noções das coisas que possuímos e puder estabelecer algumas medidas de certeza de nosso conhecimento ou as bases dessas persuasões que são encontradas entre os homens tão variados diferentes e inteiramente contraditórios LOCKE 1999 p 31 grifo do autor A investigação sobre o conhecimento e o próprio intelecto humano na qualidade da faculdade que produz o conhecimento tornamse o foco e o objeto de seus UNIDADE 4 84 estudos Essa é uma das principais características da filosofia na modernidade ou seja fazer da própria consciência humana que produz o conhecimento um objeto a ser investigado Anteriormente vimos Descartes um racionalista trabalhando neste contexto e agora veremos Locke um empirista investigando o conhecimento Ambos pela busca dos fundamentos para um conhecimento seguro no início da modernidade John Locke foi um crítico das ideias inatas do racionalismo no sentido de que nossas ideias e portanto nosso conhecimento é construído a partir do contato sensível com o mundo Para ele nenhuma ideia faz parte da razão ou do espírito humano em si pois todas provêm da experiência Neste pensador encontramos a metáfora da mente como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco pois como empirista ele enfatizou o papel dos sentidos e da experiência sensível no processo de conhecer Reflita como se origina exatamente o conhecimento segundo o empirismo de John Locke Para responder conheceremos primeiro os principais conceitos utilizados em sua teoria Sem dúvidas ideia é o conceitochave pois para ele tem sentido amplo e diz respeito a tudo o que é perceptível para a consciência quer dizer tudo o que podemos pensar sentir lembrar enfim qualquer coisa da qual a mente possa ter consciência é tomando como ideia Em seguida Locke dividiu as ideias em dois tipos de sensação ou reflexão As de sensação são aquelas que provêm de um estímulo externo captado por meio dos sentidos As de reflexão são aquelas produzidas internamente ou seja que a mente percebe que resultam de sua própria atividade e operação Em outras palavras como explica Morente 1980 Locke distingue duas fontes possíveis de nossas ideias a sensação e a reflexão Locke entende por sensação o elemento psicológico mínimo a modificação mínima da mente da alma quando algo por meio dos sentidos a excita lhe produz uma modificação e entende por reflexão o perceber na alma aquilo que nela própria acontece MORENTE 1980 p 182 Podemos resumir portanto que as ideias que possuímos provêm da experiência externa sensação ou da experiência interna reflexão Em seguida Locke realizou uma distinção entre os tipos de ideias classificandoas como simples ou complexas UNICESUMAR 85 A partir desses conceitos principais sensação reflexão ideias simples e comple xas Locke realizou a análise do conhecimento buscando os elementos compo nentes e assim fundamentando seu empirismo Nas palavras do próprio filósofo Suponhamos pois que a mente é como dissemos um papel em branco desprovida de todos os caracteres sem quaisquer ideias como ela será suprida De onde lhe provém este vasto estoque que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento A isso respondo numa palavra da expe riência Todo o nosso conhecimento está nela fundado e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes que são por nós mesmos percebidas e refletidas nossa ob servação supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas ideias ou as que possivelmente teremos LOCKE 1999 p 57 Evidentemente é possível notar o esforço e o objetivo de Locke em explicar as fontes e origens de nossas ideias bem como a explicação dos processos cognitivos envolvidos na produção Primeiro nossos sentidos familiarizados com os objetos sensíveis particulares levam para a mente várias e distintas percepções das coisas segundo os vários meios pelos quais aqueles objetos os impressionaram Recebemos assim as ideias de amarelo branco quente frio mole duro amargo doce e todas as ideias que deno minamos de qualidades sensíveis Quando digo que os sentidos levam para a mente entendo com isso que eles retiram dos objetos As simples correspondem às originadas pela sensação e as complexas por sua vez são formadas por composição de ideias simples A composição é realizada por operação da mente que reúne compara abstrai generaliza distingue associa relaciona combina as ideias e percepções simples e com isso forma as ideias complexas UNIDADE 4 86 O filósofo George Berkeley desenvolve uma filosofia de idealismo extremado Para ele não existe a matéria Por trás de todas as percepções não existe nenhuma substância material Existe apenas o eu espiritual e Deus As ideias procedem de Deus que é quem as põe em nosso espírito e agindo sobre ele faz com que exista um mundo material Fonte Marías 2004 explorando Ideias externos para a mente o que lhes produziu estas percepções A esta grande fonte da maioria de nossas ideias bastante dependente de nossos sentidos dos quais se encaminham para o entendimento denomino sensação Os objetos externos suprem a mente com as ideias das qualidades sensíveis que são todas as diferentes per cepções produzidas em nós e a mente supre o entendimento com ideias através de suas próprias operações Quando efetuarmos uma investigação completa de ambos de seus vários modos combinações e relações descobriremos que eles con têm todo o nosso estoque de ideias e que não temos nada em nossas mentes a não ser o derivado de um desses dois meios LOCKE 1999 p 57 grifo do autor Nesse sentido para Locke não podemos ter ideias inatas como pensava Des cartes As ideias complexas por serem resultado da síntese de ideias simples são somente nomes dos quais utilizamos para organizar e ordenar as coisas sem validade objetiva propriamente Desse modo com a teoria do conhecimento exposta em seu Ensaio sobre o Entendimento Humano Locke deu início ao empirismo moderno apresentan do como fundamentos os conceitos estudados neste tópico ideias de sensação reflexão simples e complexas UNICESUMAR 87 David Hume 17111776 faz parte dos fundadores da corrente empirista mo derna Neste escopo Hume escreveu duas obras muito estudadas Tratado da Natureza Humana e Investigação Acerca do Entendimento Humano Nelas o filósofo levou mais adiante o empirismo que se desenvolvia desde Francis Bacon John Locke e George Berkeley estabelecendo métodos claros e relativamente simples para investigar o alcance e os limites do conhecimento Tal qual os céticos para Hume o conhecimento não pode alcançar verdades metafísicas pois conhecer é ter impressões e formar ideias e crenças originadas ape nas pela regularidade pela constância e pelas semelhanças de nossas experiências não por causa de uma objetividade absoluta ou um contato direto com o mundo Entenderemos detalhadamente agora a posição epistemológica de Hume por meio dos conceitos que constituem a sua teoria do conhecimento O primeiro e ba silar conceito humeano é o das impressões Em Investigação Hume 1999 escreve Cada um admitirá prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções do espírito As menos fortes e menos vivas são geralmente denominadas pensamentos ou ideias A outra espé cie não possui um nome em nosso idioma e na maioria dos outros Deixenos portanto usar um pouco de liberdade e denominálas impressões empregando esta palavra num sentido de algum modo 2 O EMPIRISMO DE DAVID HUME UNIDADE 4 88 diferente do usual Pelo termo impressão entendo pois todas as nossas percepções mais vivas quando ouvimos vemos sentimos amamos odiamos desejamos ou queremos E as impressões dife renciamse das ideias que são as percepções menos vivas das quais temos consciência quando refletimos sobre qualquer das sensações acima mencionadas quando uma pessoa sente a dor do calor excessivo ou o prazer do calor moderado e quando depois recorda em sua memória esta sensação ou a antecipa por meio da imagi nação é mais fraca e embaçada em comparação com aquelas que revestiam nossas percepções originais O pensamento mais vivo é sempre inferior à sensação mais embaçada Ou melhor para expressarme em linguagem filosófica todas as nossas ideias ou per cepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas HUME 1999 p 3536 grifo do autor As impressões são para Hume o material primeiro do nosso pensamento Elas fornecem os conteúdos representam o meio pelo qual o conhecimen to é iniciado Podem ser impressões internas como a percepção de um estado emotivo ou externas como as coisas que vemos e ouvimos As impressões são para Hume o material primeiro do nosso pensamen to Elas fornecem os conteúdos representam o meio pelo qual o conhe cimento é iniciado Podem ser impressões internas como a percepção de um estado emotivo ou externas como as coisas que vemos e ouvimos São sempre o ponto de partida do conhecimento são o que a consciência possui para poder começar a pensar e formar ideias a partir de faculdades como racio cínio imaginação e memória Portanto as impressões são anteriores às ideias são derivadas das impressões Na sequência precisamos deixar claro o que Hume entende por ideia Se gundo ele essa é uma cópia pálida embaçada ou menos vivaz das impressões e percepções Derivam necessariamente das impressões distinguindose apenas pelo grau de vivacidade ou intensidade com que atingem nossa mente Tal diferença entre o grau de vivacidade das percepções que as distingue em impressões ou ideias dá um caráter fortemente psicológico à teoria de Hume UNICESUMAR 89 pois o que pode ser conhecido parte exclusivamente das impressões e sensa ções fornecidas pela experiência com o mundo Assim o conhecimento passa a ser a partir das experiências e impressões que minha mente é capaz de ter ou seja é o conhecimento das próprias experiências enquanto fatos mentais que me ocorrem e não das coisas no mundo externo Por isso o ceticismo quanto à possibilidade de conhecer objetivamente os objetos da realidade pois o dado de que parte meu conhecimento são minhas impressões internas subjetivas isto é algo no âmbito do próprio sujeito Esse é um princípio fundamental da teoria de Hume também denominada empirismo psicológico que o seguinte trecho de Morente 1980 nos ajuda a esclarecer Minhas vivências aludem a realidades fora de mim Porém eu não encontro em nenhuma parte substâncias nem corpos mas somente vivências Por conseguinte a única coisa que posso ter é crença belief num mundo exterior Eu creio que o mundo exterior existe creio que este copo existe que se bebo a água que contêm vou re frescar a boca creio que esta lâmpada existe porém creio porque estou acostumado a crer assim pelo hábito pela associação de ideias Todavia a existência metafísica em si e por si do mundo exterior além de minhas vivências isso não está dado naquilo que posso manejar naquilo que me é dado as impressões MORENTE 1980 p 189 grifo do autor Postos os conceitos basilares de Hume podemos perguntar se só tenho acesso às impressões então a realidade é representada por elas E pior as minhas im pressões subjetivas Então como fica o conhecimento objetivo a ciência Hume é cético quanto a essa possibilidade A ciência fica restrita e impossibilitada de conhecer fielmente os objetos externos e se torna então crença possível por causa da regularidade das impressões e ideias É preciso ter atenção ao sentido do termo crença em Hume para não con fundilo com o sentido do senso comum Este filósofo referese à crença na realidade das coisas externas devido exclusivamente à regularidade das nossas ideias E o que causa essa regularidade Os princípios de associação de ideias responderia ele como veremos na sequência UNIDADE 4 90 Para Hume de forma semelhante a Locke existem ideias simples e complexas As simples remetem diretamente a uma impressão e não são constituídas por partes ou seja não podem ter seus elementos separados Ao contrário as ideias complexas podem ser separadas em partes pois são resultado do trabalho da imaginação e do entendimento Em Investigação Hume 1999 cita como exemplo de ideias complexas a sereia o centauro e uma montanha de ouro Os três são originados e reduzíveis a ideias simples que são unidas pelo trabalho do entendimento formando assim ideias complexas Segundo o filósofo para formálas e associálas nossa mente segue três princípios associação por semelhança quando nossa mente une ideias parecidas e semelhantes por contiguidade devido ao surgimento sempre próxi mos das ideias levandonos inevitavelmente de uma a outra e por causalidade quando a sucessão e a sequência regular das ideias nos levam a associálas como pertencente a uma relação de causa e efeito Os três princípios de associação de ideias produzem em nós isto é na mente o hábito e o costume de observar a regularidade dos acontecimentos e dos fatos no mundo conduzindonos a um conhecimento suficientemente científico As sim na epistemologia de Hume o conhecimento é possível à proporção que os aspectos psicológicos da mente associam por meio de princípios constantes as impressões que recebem e com isso produzem a constância habitual e a regula ridade do mundo o que possibilita a cientificidade das nossas ideias Hume é claro não chega a pôr em interdição a ciência porém põelhe uma base um fundamento caprichoso o fundamento da ciência é o costume o hábito a associação de ideias fenômenos naturais biológicos psicológicos que provocam em mim a crença na realidade do mundo exterior MORENTE 1980 p 190 A partir do conceito de impressão como dado inicial do conhecimento e ligan doo aos princípios de associação de ideias podemos entender como funciona a teoria do conhecimento em Hume bem como seu empirismo e ceticismo UNICESUMAR 91 O positivismo surge plenamente na modernidade como mais uma expressão do novo período que vinha a sobrepor o paradigma teológico da medievalidade Após a Idade Média o racionalismo e o cientificismo pautavam o desenvolvimen to cultural e técnico da vida moderna Como fruto dessa época surgiu Auguste Comte 17981857 considerado o elaborador e fundador da doutrina positivista Antes de vermos a epistemologia do positivismo entenderemos algumas de suas particularidades devido à forte influência não só na filosofia mas em toda a cultura posterior Uma das principais características é sua compreensão histó rica do conhecimento quer dizer para o positivismo nossas ideias são relativas e dependentes além das capacidades individuais da situação de existência e da organização social em que se encontram aqueles que a produzem Dependem portanto da história social e coletiva da humanidade A partir dessa perspectiva Comte via a história humana passando por três momentos principais o teológico o metafísico e o positivo Tal interpretação é conhecida como a lei dos três estados O estado o positivo no qual Comte se encontra é o último e o conclusivo quando o desenvolvimento do espírito e da cultura humana superam as etapas anteriores e atingem as seguintes características 3 AUGUSTE COMTE O POSITIVISMO UNIDADE 4 92 A ciência é um projeto filosófico As ciências se originaram da filosofia Elas nunca se se pararam dela embora nossos melhores manuais de história afirmem que a formação das disciplinas científicas coincide com sua independência em relação à filosofia A ideia de aplicar a matemática para explicar e prever fenômenos naturais é uma hipótese metafísica A física moderna se originou da hipótese filosófica formulada por Galileu e que até hoje serve de fundamento para teorias físicas como a relatividade e a mecânica quântica Fonte Teixeira 2016 explorando Ideias O estado positivo ou real é o definitivo Nele a imaginação fica subordinada à observação A mente humana se atém às coisas O positivismo procura exclusivamente fatos e leis Não busca causas nem princípios das essências ou substâncias Tudo isso é inacessível O positivismo se atém ao positivo ao que é posto ou dado Renun cia àquilo que é inútil tentar conhecer e procura apenas as leis dos fenômenos O saber positivo se atém humildemente às coisas fica diante delas sem intervir sem pular por cima para lançarse em falaciosos jogos de ideias não pede mais causas tão somente leis MARÍAS 2004 p 391 O termo positivo designa o real em oposição ao quimérico a certe za em oposição à indecisão o preciso em oposição ao vago Portanto o estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano ARANHA MARTINS 2009 p 187 grifo das autoras Essas citações nos mostram a postura do positivismo diante da realidade Ba seandose no método das ciências naturais Hume propõe que nos apeguemos às coisas a partir do que elas contêm de positivo tal como as ciências naturais fazem com seus objetos de estudos que significa tomar como conhecimento seguro apenas as relações daquilo que pode ser observado como fenômeno real e mensurável em uma palavra positivo Por isso a metafísica e os objetos investigados como substância essência causa e princípios não têm sentido de serem investigadas porque pertencem às etapas teológica e metafísica que a humanidade já superou No positivismo devese man ter especial cuidado para afastar das investigações qualquer concepção metafísica de causa ou essência por exemplo pois são consideradas ilusórias vazias e estéreis UNICESUMAR 93 A ciência utiliza a matemática visto que numerar processos e objetos investigados traz segurança ao conhecimento que busca Contudo para a ética e as relações humanas você considera esse processo saudável pensando juntos Para o positivismo A ciência é o único conhecimento possível e o método da ciência é o único válido portanto o recurso a causas ou princípios não acessíveis ao método da ciência não dá origem a conhecimentos a metafísica que recorre a tal método não tem nenhum valor O método da ciência é puramente descritivo no sentido de descrever os fatos e mostrar as relações constantes entre os fatos expressos pelas leis que permitem a previsão dos próprios fatos ou no sentido de mostrar a gênese evolutiva dos fatos mais complexos a partir dos mais simples O método da ciência por ser o único válido deve ser estendido a todos os campos de indagação e da atividade humana toda a vida humana individual ou social deve ser guiada por ele ABBAGNA NO 2007 p 778 O método científico das ciências naturais portanto como a física a biologia e a química que se expandiam e apresentavam importantes conhecimentos na moder nidade é também o método do positivismo Por esse motivo Comte chamou de física social o estudo das leis que regem a sociedade o qual pouco tempo depois viria a chamar de sociologia sendo reconhecido como o fundador dessa disciplina Segundo o positivismo o conhecimento válido é aquele baseado nas relações do que é positivamente dado isto é a partir dos fatos imediatos e verificados na experiência sensível e objetiva do mesmo modo como as ciências particulares fazem para obter seus conhecimentos dos fenômenos naturais Em suma observase por toda parte o mecanismo do mundo ao invés de inventálo que acaba de nos convencer de que somos simples espectadores dos fenômenos exteriores independentes de nós e que não podemos modificar a ação destes sobre nós senão sub metendonos às leis que os regem RIBEIRO JÚNIOR 2001 p 14 UNIDADE 4 94 Dessa maneira tendo visto os principais elementos e as características do positi vismo iremos compreendêlo como uma filosofia ampla que abrange uma inter pretação sobre todos os aspectos da vida seja a história a cultura ou a sociedade ao mesmo tempo em que propõe um método para observar toda a realidade Ao considerarmos a teoria do conhecimento positivista concluímos que re sulta em um empirismo radical porque valoriza a experiência empírica como a única e principal fonte segura dos conhecimentos Ao mesmo tempo o positivismo é relativista isto é acredita que o conheci mento é dependente e originado das circunstâncias em que é produzido e cético quanto à possibilidade de conhecer a verdadeira natureza da existência das coisas Isso acontece devido à proximidade com o cientificismo ou seja tem total con fiança na ciência que é segura e basta conhecer as leis que regem os fenômenos CONSIDERAÇÕES FINAIS Tal como previsto na introdução desta unidade investigamos as bases do empiris mo moderno a partir dos pensadores John Locke David Hume e Auguste Comte Com os conceitos de ideia de Locke de impressões de Hume e de positivo em Comte percebemos que o paradigma da modernidade se expressa fortemente nesses autores Eles entendem que conhecer é um ato grandemente limitado e que se passa no próprio sujeito portanto é dependente deste isto é tanto da sua psicologia quanto da sociedade na qual se insere e forma seu conhecimento O alcance do conhecimento fica restrito ao que é dado ao sujeito como ideias impressões ou dados positivos Para Locke e Hume a realidade é reduzida a per cepções e experiências e o conhecimento é resultado das operações da mente sobre o conteúdo daquelas Comte por sua vez muito influenciado por Hume defendeu a aplicação do método das ciências naturais que tem na matemática seu rigor de certeza para todos os aspectos da vida em detrimento de qualquer ideia metafísica Por isso poderíamos caracterizar sua filosofia como dogmática Esses autores ao mesmo tempo em que desenvolveram métodos mais cien tíficos para conhecer limitaram o alcance do conhecimento Vimos então que reside aí o ceticismo e o relativismo de suas teorias 95 na prática 1 John Locke é um crítico das ideias inatas que acredita que o nosso conhecimento é formado a partir do contato sensível com o mundo Para representar o papel da mente em seu empirismo ele fez uso de uma metáfora A seguir assinale a alter nativa que a indica a Folha rasa b Tábula rasa c Tábula simples d Sensações e Reflexões 2 Para David Hume todo o conteúdo ou material que está em nossa mente é pro veniente da experiência e a partir dela formamos nossos pensamentos e nossas ideias Esse filósofo utilizou dois conceitos para designar a experiência primária da qual o conhecimento é iniciado Qual das alternativas a seguir contém os dois conceitos de Hume I Impressão e sensação II Experiência e faculdades III Sensação e imaginação IV Impressão e vivacidade Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 96 na prática 3 Segundo David Hume podemos ter uma crença suficiente e fazer ciência sobre o mundo porque nossas ideias são organizadas por alguns princípios estáveis que por sua vez regularizam nossa experiência Assim assinale com V para verdadeiro e F para falso quanto aos princípios que nossa mente utiliza para associar ideias Associação por semelhança Associação por contiguidade Associação por causalidade Associação por observação 4 De acordo com o que estudamos nesta unidade qual é a relação entre as ciências da natureza e o positivismo 5 Explique a diferença entre ideias de sensação e ideias de reflexão na teoria de John Locke 97 aprimorese A CONSTRUÇÃO DO HOMEM E AS MUDANÇAS PARADIGMÁTICAS Ao buscarmos uma definição para o termo Paradigma no dicionário encontraremos a seguinte definição modelo protótipo Avançando mais e procurando uma visão mais simples podemos dizer que paradigma é um modelo de pensamento um con junto de princípios regras e padrões que são compartilhados por toda a comunida de mundial de uma determinada época O primeiro autor a usar esse conceito foi Thomas Kuhn Clodoaldo divide a história humana em três paradigmas principais Paradigma Teocêntrico Paradigma Antropocêntrico e Paradigma Holístico Em nos so texto abordaremos a questão dos paradigmas juntamente com a visão que Ru bem Alves tem sobre o saber científico O autor compara a ciência com uma rede de pesca a qual quando jogada ao mar apanha várias espécies de peixes entretanto alguns não são apanhados com esta rede ou seja a ciência é um saber que explica muitas e variadas coisas uma explicação baseada na experiência empírica mas não consegue dar respostas a todas as indagações do homem Dessa maneira a edu cação científica é algo indispensável para a nossa vida mas não pode ser a única maneira de lermos a realidade A ciência à semelhança das vacas tem um estômago especializado que só é capaz de digerir um tipo de comida Se eu oferecer à ciência uma comida nãoapropriada ela a recusará e dirá Não é comida Ou na linguagem que lhe é própria Isso não é científico Que é a mesma coisa Quando se diz Isso não é científico estáse dizendo que aquela comida não pode ser digerida pelo estômago da ciência ALVES 2000 p 90 O cientista virou um mito E todo mito é perigoso porque ele induz o compor tamento e inibe o pensamento ALVES 1981 p 11 No paradigma antropocêntrico existe a noção de que por meio da Razão as coisas serão conhecidas com certezas de 98 aprimorese verdade Isso não é científico é um juízo que está estritamente ligado hoje ao que não é verdade A ciência é a nova inquisição do mundo atual que outrora fora ocupa da pela Igreja Aquilo que não é carimbado pela ciência não merece atenção Basta ver Auguste Comte a ciência se tornaria na religião da humanidade esta explicaria os efeitos pois perguntar de onde viemos e para onde vamos são questionamentos dos estágios teológico e metafísico A verdade está na ciência Entretanto tal veracidade e grau de certeza fora abalado Com a Teoria da Relatividade e a Física Quântica com provase que no campo subatômico reina a indeterminação Há apenas fenômenos probabilísticos O universo não é um relógio mas um grande sistema em forma de holograma É muito maior que se pensava Usemos novamente a metáfora da rede A ciência é uma rede que pesca alguns tipos de peixes O fato de sua malha apenas capturar carpas não retira a existência de lambaris traíras joaninhas etc Há os pia nos Há a música Ambos são absolutamente diferentes Os pianos moram no mundo das quantidades Deles se dizem Como são bemfeitos A música mora no mundo das qualidades Dela se diz Como é bela ALVES 2000 p 123 Embora se viva muito o paradigma newtonianocartesiano estamos num período de mudança de olhar A ciência normal do antigo paradigma admite falha fundamental e esse período é de crise de incertezas e espantos A ciência extraordinária parece ter sua rigidez mas em muitos âmbitos da sociedade ela é desconhecida Os caminhos que a ciência tomou devem ser revisados Com problemas ecológicos epistemológicos políticos sociais a ciência procura rever seus pressupostos Necessita de novos olhos de um novo paradigma capaz de responder as novas perguntas Esse novo paradigma procura a totalidade das coisas onde os eventos não são separados é uma teia de relações Cada parte está num todo maior e há uma interdependência entre ambos Dessa for ma o homem não é o centro mas um fio dessa grande teia Ele não é só razão mas também paixão sentimento sensação espírito Fonte Seleprin s d 99 eu recomendo Teoria do Conhecimento Autor Johannes Hessen Editora Martins Fontes Sinopse o livro contém uma introdução sobre o que é a teoria do conhecimento e qual é a sua história Apresenta também o conteúdo a partir dos conceitos utilizados nessa disciplina Comentário um clássico da teoria do conhecimento devido à clareza e à abrangência com que o autor realiza as explicações conseguindo con ciliar simplicidade com profundidade livro O Enigma Kaspar Hauser Ano 1974 Sinopse o filme apresenta Kaspar Hauser um jovem que foi trancado em um calabouço até seus 16 anos na Alemanha Sem contato com a sociedade ele precisará aprender desde as coisas mais básicas às mais complexas como a religião Comentário a obra evidencia os diferentes meios pelos quais se realiza a aprendizagem filme A Antologia de Textos Filosóficos é um livro organizado pela Secretaria de Educa ção do Paraná que reúne textos de filósofos tradicionais e comentários de pro fessores É voltado ao auxílio para o âmbito escolar httpwwweducadoresdiaadiaprgovbrarquivosFilecadernospedagogicos cadernofilopdf conectese 5 TEORIA DO CONHECIMENTO na atualidade PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Fenomenologia Virada linguística Pragmatismo Teoria tradicional e teoria crítica OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer as principais epistemologias da atualidade Compreender o novo paradigma epistemoló gicointersubjetivo Entender a virada linguísticopragmática e analítica Conhecer a ideia de teoria tradicional e teoria crítica PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiror INTRODUÇÃO Caroa alunoa após percorrermos quatro unidades e conhecermos algumas das principais teorias do conhecimento da história da filosofia chegamos à última unidade do nosso material prontos para conhecer as teorias elaboradas recentemente fruto do espírito de nosso tempo e que continuam a desenvolverse Aqui estudaremos quatro correntes contem porâneas a fenomenologia a virada linguística e sua filosofia analítica o pragmatismo e a teoria crítica A fenomenologia com raízes no criticismo de Immanuel Kant alcança nova consistência com Edmund Husserl superando e conciliando a tradi cional dualidade entre sujeito e objeto por meio do conceito de mundoda vida o que proporciona nova base para as reflexões Com isso a fenome nologia demonstrou a importância da linguagem na construção do nosso conhecimento contribuindo para uma mudança de paradigma na filosofia pela qual fazer análise da linguagem se tornou a atitude fundamental para filosofar Essa mudança ficou conhecida como a virada linguística Com os reflexos dessa mudança é acentuada a intersubjetividade do conhecimento que enlaça os indivíduos comunicativamente socializados e produz conhecimento a partir do compartilhamento intersubjetivo dos sujeitos O mesmo conhecimento contudo tornase fruto do contexto so cial e econômico formado por determinados indivíduos perdendo a uni versalidade e a imparcialidade que a ciência sempre buscou Desse modo o pragmatismo seu humanismo e a teoria crítica buscarão denunciar os limites e complementar as novas teorias Boa leitura UNIDADE 5 102 1 FENOMENOLOGIA A fenomenologia foi fundada pelo filósofo Edmund Husserl 18591938 a partir da publicação de sua obra Investigações Lógicas em 1900 O conceito de fenô meno tem origem no grego fainomenon e é utilizado na filosofia com o signi ficado de aquilo que aparece apresentase ou se mostra Assim fenomenologia se traduz por estudo do que aparece do manifesto O método consiste em colocarnos diante da realidade do ser do conjunto total de seres nas circunstâncias em que a própria vida nos coloca ou seja rodeados de informações e acontecimentos vivendo no mundo em contato direto com os proble mas conforme os superamos Esse é o ponto de partida de Martin Heidegger o maior filósofo alemão daquele século MORENTE 1980 p 280 bem como de outros fenomenólogos e existencialistas como JeanPaul Sartre e Maurice MerleauPonty Para esses autores a dualidade entre sujeito e objeto é dada como algo supe rado pois ao pensar os fenômenos que é o que de fato é tomado como reali dade a relação sujeitoobjeto já está pressuposta na sua construção tal como estudado no tópico sobre criticismo A partir de agora estudaremos com mais detalhes o estarnomundo no mun dodavida e da experiência conforme Husserl conceituou É a base de onde o investigador fenomenólogo parte e para onde também retorna pois ao pensar e refletir sobre o mundo deslocase mas sem se desvincular para usufruir do mundo da consciência e da linguagem e imprimir sentido e significado ao mundodavida UNICESUMAR 103 Husserl elaborou a fenomenologia com o desejo de superar uma crise que a filosofia vivia naquele período Ele acreditava que para Os racionalistas como Descartes não há pura consciência sepa rada do mundo porque toda consciência é consciência de alguma coisa E contra os empiristas como Locke A fenomenologia pre coniza que não há objeto em si já que o objeto é sempre para um sujeito que lhe dá significado ARANHA MARTINS 2009 p 198 Nesse sentido Husserl também se contrapôs à filosofia positivista a qual defendia uma visão de mundo demasiadamente objetiva e neutra Diante disso ele propôs a fenomenologia como nova abordagem dos problemas das ciências humanas uma nova compreensão da relação sujeito e objeto tendo como ponto de partida aquilo que é constatado em nossa consciência ou seja os fenômenos O que existe é um fluir temporal como o rio de Heráclito onde a de finição do mundo e a percepção dos objetos do conhecimento nunca se dão de uma mesma maneira É na intersubjetividade que o mundo do ser e da ciência podem ser entendidos É essa a contribuição de Husserl para o compreender do ser do homem NEVES 2005 p 47 A fenomenologia é uma filosofia do século XX que busca fundamentar uma nova base a respeito das condições do conhecimento a partir de dados imediatos da consciência com o objetivo de conciliar a dualidade e a oposição tradicional das ciências humanas entre sujeito e objeto objetivo e subjetivo matéria e espírito mente e corpo etc Tais dualidades serão superadas pelas ideias basais de vivên cia e intencionalidade A partir desses conceitos a fenomenologia descreve a estrutura do fenômeno a condição de possibilidade do conhecimento e portanto das significações e dos sentidos que a consciência dá às suas próprias vivências Vivência é um conceito que engloba a dualidade da relação sujeitoobjeto porque se refere à realidade préconsciente préreflexiva algo já dado pois é anterior ao ato de estar consciente Podemos dizer que ao termos algo em mente ao termos a consciência daquilo a correlação sujeitoobjeto já está dada no ato cognoscente pois nos estudos fenomenológicos sujeito e objeto são anteriores a quaisquer atos cognitivos São então indissociáveis no existir do mundo con creto o que Husserl chamou de mundodavida UNIDADE 5 104 Na fenomenologia o corpo é reconhecido como fundamento dos processos de vivência Corpo e realidade mente individual empírica e ser estão fundidos no mundodavida na cotidianidade na imediatez da existência Assim os fenô menos de que temos consciência e seus conteúdos são oriundos da nossa situa ção de estarnomundo que é a experiência originária na qual ocorrem nossas vivências e percepções é o sempre presente aqui e agora do mundodavida uma estrutura unitária a partir da qual nos dá conteúdos conscientes Conforme explicam Zilles e MerleauPonty O mundo da vida Lebenswelt é dado ao sujeito como horizonte de experiência centrada no seu eu Está fundado fisicamente cons tituindose em camadas desde o animal até o cultural podendo desenvolverse ontologias regionais das diferentes camadas Assim em última análise Husserl entende por mundo da vida algo espiri tual Como o conceito mais amplo de mundo também o conceito de mundo da vida é para ele um fenômeno dado na consciência É dado ao sujeito Consciência do mundo é consciência no modo da certeza da fé Experiência e juízo ZILLES 2007 p 220 O presente no sentido amplo com seus horizontes de passado e porvir tem um privilégio ele é a zona em que o ser e a consciência coincidem No presente na percepção meu ser e minha consciên cia são um e o mesmo É comunicandonos com o mundo que nos comunicamos com nós mesmos MERLEAUPONTY 1994 apud BICUDO 2000 p 51 É a partir dos conceitos de vivência e mundodavida que a fenomenologia busca superar a contradição mentecorpo e sujeitoobjeto que predominava na filosofia Para avançarmos na compreensão fenomenológica precisamos também en tender o conceito de intencionalidade A fenomenologia segundo a concepção husserliana do termo é a ciência que confere sentido ao ser e ao fenômeno em uma associação indissolúvel A relação entre fenômeno e ser experienciador des vela uma consciência intencional NEVES 2005 p 49 A intencionalidade é uma característica fundamental da consciência que diz respeito ao modo de ser da consciência humana e significa dirigirse a ou objetivar a alguma coisa pois toda consciência diz respeito a alguma coisa todo pensar é sempre pensar sobre algo MARÍAS 2004 essa é a característica UNICESUMAR 105 Em um mundo de múltiplas perspectivas a intersubjetividade se mostra como uma so lução Na sua opinião a intersubjetividade o consenso entre os discursos é um bom critério para estabelecer a verdade pensando juntos essencial da consciência ou seja sua intencionalidade que ao refletir acerca do que se passa nela mesma dá significado e sentido às suas vivências Se a consciência é sempre consciência de alguma coisa e se o objeto é sempre objeto para a consciência é impossível que possamos sair dessa correlação já que fora dela não haveria nem consciência nem objeto Assim se encontra delimitado o campo de análise da fenomenologia DARTIGUES 2002 p 19 O modo pelo qual entendemos a percepção e as modalidades de explicitação que a manifestam nos conduzem ao conhecimento intersubjetivo e a uma objetividade possível os quais são trama dos por uma rede de significações e de manifestações expressas por meio da linguagem BICUDO 2000 p 73 Dizer que o conhecimento é construído na intersubjetividade tal como a feno menologia propõe significa afirmar que a partir da soma das descrições das vi vências de cada indivíduo descrições subjetivas isto é formadas por linguagem história afeto palavras expressão cultura mundana e sentido que o indivíduo dá às suas vivências é que é formado o conhecimento intersubjetivo Portanto a partir das descrições das vivências e percepções dos sujeitos é cria da a rede de significações que constitui o conhecimento Em outras palavras a fenomenologia se mostra como a hermenêutica e a exegese da existência o que significa uma explicação que envolve contínua e dialeticamente as descrições dos sujeitos na busca pela construção conjunta do conhecimento alcançando com isso a objetividade O conhecimento pressupõe e se refere sempre ao mesmo ser para todos os envolvidos o que representa o mundodavida Foi a partir dos conceitos de mundodavida vivência intencionalidade des crição e intersubjetividade que Husserl consolidou a fenomenologia na expecta tiva de fornecer uma nova epistemologia para fundamentar a ciência Com isso esta área se tornou uma das principais metodologias da contemporaneidade UNIDADE 5 106 2 VIRADA LINGUÍSTICA No século atual a linguagem se transformou no interesse comum para todas as correntes e disciplinas filosóficas Em todas as áreas é possível perceber a sua importância tanto para descrever a realidade quanto para atribuir sentido e fundamentála Tornouse clara a anterioridade da importância de analisar a linguagem antes de tratar dos problemas em si o que significou uma mudança recente de paradigma para a filosofia A questão da linguagem isto é a questão pelo sentido do que queremos dizer recebe mais importância e se torna mais fundamental do que a questão essencial da teoria do conhecimento ou do que qualquer outra questão tradicional filosófica como a noção de substância de essência das coisasemsi das causas e dos fundamentos gerais Após a virada linguística chegase a identificar o fazer filosofia com o fazer crítica da linguagem Buscar as condições do conhecimento válido e seguro as condições de objetividade e a realidade ontológica dos objetos tal qual os filóso fos buscaram na modernidade recebeu certo aspecto secundário pois passou a ser necessária a realização de análise do conhecimento intersubjetivo a respeito do mundo e portanto linguístico Não existe mundo totalmente independente da linguagem ou seja não existe mundo que não seja exprimível por meio dela pois é o espaço de expressividade e de articulação do mundo PERIUS 2018 Então a virada linguística tem por base a tese de que todo e qualquer conhecimento ou saber humano é constituí UNICESUMAR 107 do linguisticamente por isso a partir do século XX passou a ser fundamental filosofar sobre a linguagem antes de pensar em outras questões Após o criticismo a fenomenologia e o existencialismo tornouse patente que a visão de mundo tradicional de conhecimento com uma relação entre sujeito e objeto é algo já posto ou já dado no conhecimento Para a filosofia da linguagem que vem a predominar na contemporaneidade o conhecimento é algo comple tamente construído pelos sujeitos resultado da manipulação que o indivíduo faz com sua interpretação dos fenômenos de como os organiza e os classifica Não é o caso de afirmar que o mundo exterior não existe mas o contrário está sempre e evidentemente pressuposto assim como a indissociabilidade de sujeito e objeto Qualquer análise entretanto é mediada pela linguagem logo o conhecimento é de natureza linguística pois se o que temos são pensamentos e interpretações da realidade pertencentes ao campo linguístico então é por meio dele que definimos o que as coisas são Saber como a lógica da linguagem funcio na é saber como o mundo funciona esse é o tema que norteia e caracteriza esta linha filosófica contemporânea também chamada de filosofia analítica Um dos principais nomes desta área é Ludwig Wittgenstein que teve seu livro Investigações Filosóficas publicado em 1953 dois anos após sua morte Nessa obra o filósofo elaborou o conceito de jogos de linguagem que quer dizer a linguagem tal como usada em contextos específicos por falantes e ouvintes para fins específicos A linguagem passa a ser vista então como uma prática social concreta sendo o significa do de termos e expressões linguísticos resultado dessa prática Daí o famoso lema o significado é o uso É precisamente na medida em que o significado não é fixo e definitivo que a análise filosófica da linguagem só pode ser elucidativa dos di versos usos de linguagem que fazemos remetendo o significado dos conceitos filosóficos que nos parecem problemáticos para o seu uso linguístico concreto quando então os equívocos e per plexidades deverão se desfazer MARCONDES 2007 p 170 Wittgenstein afirma que nós reconduzimos as palavras de seu emprego metafísi co para seu emprego cotidiano WITTGENSTEIN s d apud MARCONDES 2007 p180 A objetividade e a validade dos conceitos são definidas pela forma de uso cotidiano que uma sociedade faz deles logo seus significados são frutos de regras e convenções alcançadas por acordo uso e prática UNIDADE 5 108 3 PRAGMATISMO A filosofia de Wittgenstein e de outros importantes pensadores deste perío do como Gottlob Frege e Bertrand Russel é conhecida por filosofia analítica devido aos seus esforços em esclarecer logicamente o pensamento e o sentido dos termos e conceitos utilizados caracterizandose essencialmente pelo rigor lógico com que analisa a linguagem Ao mesmo tempo com tal atitude analítica verificamos que os significados dos conceitos são históricos e portanto resultado de práticas comunicativas situadas historicamente Isso dá a esta corrente um caráter de pensamento comum às correntes atuais o caráter antisistêmico ou seja de que nenhuma filosofia é atualmente composta por partes que se unem logicamente formando um sistema unitário capaz de abranger e explicar toda a realidade tal qual um sistema platônico faz Hoje confrontamonos com o desmoronamento de qualquer pensamento sistêmico e em contraposição com a exaltação do fragmento do particular da mudança permanente de paradigmas PERIUS 2018 Isso não implica em relati vismo ou ceticismo pois o uso que se faz dos conceitos produz uma objetividade como temos visto construída intersubjetivamente O pragmatismo é uma corrente filosófica da atualidade que se desenvolveu nos Estados Unidos Tem em comum com as filosofias contemporâneas a carac terística de além de analisar o rigor lógico do sentido dos conceitos superar as dicotomias tradicionais de mente e corpo sujeito e objeto ou pensamento e natureza buscando com isso evitar que as discussões filosóficas caíssem em abstrações vazias e sem sentido UNICESUMAR 109 O americano Charles Sanders Peirce é considerado seu iniciador Contudo o também americano William James ficou conhecido como fundador desta cor rente seguido de F C S Schiller Para James o método pragmatista consiste em determinar o valor de uma palavra um termo um conceito ou uma concepção de mundo pelas consequências que são derivadas quando utilizadas na prática Em outras palavras se uma concepção mostrarse útil valiosa e fomentadora da vida então é um conhecimento verdadeiro O pragmatismo se torna assim um grande método que busca considerar os objetos sob um ponto de vista prático orientando com isso o caminho ao co nhecimento de forma segura a partir de seu próprio método Esta vertente nega a visão de separação radical entre sujeito e objeto e insere o critério pragmático na busca do conhecimento isto é da utilidade de determinada ideia ou teoria Os autores desta corrente concordam com o fundamento básico do empi rismo segundo o qual o pensamento e as faculdades humanas são atuantes a partir da aprendizagem pela experiência a experimentação inicia a base para o conhecimento e o trabalho mental é a atividade de transformação da experiência em objetos de conhecimento É posto enfoque todavia na naturalização da mente A mente humana é entendida no interior dos processos da natureza e é daí que surge sua finalidade prática O conhecimento produzido pela mente humana tem sentido quando se volta para fins naturais que dizem respeito à prática e à ação da vida quer dizer fins pragmáticos pois a própria razão humana é uma faculdade natural subordinada aos aspectos naturais do ser humano É uma capacidade complexa desenvolvida pela necessidade de sobreviver às adversidades ambientais Por isso a razão humana é vista como imanente à natureza isto é de forma natu ralizada não transcendente Para os pragmáticos em geral as teorias que possuem elementos de transcen dência significam um corte qualitativo entre físico e mental entre pensamento e natureza excluindo assim a possibilidade de confirmação ou verificação em pírica Em outras palavras as teorias transcendentais que implicam em cortes epistemológicos radicais não poderiam seguir o caminho seguro da ciência Com isso os pragmáticos também repudiam e esperam superar todas as formas de idealismos transcendentais dualismos e inatismos como encon trados por exemplo em Platão e Descartes Logo para essa corrente a razão e seu produto o conhecimento são imanentes à natureza e à vida prática conforme explica Dazzani UNIDADE 5 110 Peirce sempre se posicionou contra o idealismo subjetivista e so lipsista implicado nesta perspectiva cartesiana que sustenta que o objeto do conhecimento e da certeza epistemológica do qual posso estar imediatamente certo é somente minha própria mente Cf PEIRCE 1992a pp 2855 Se seguirmos Descartes não poderemos estar certos de que há qualquer coisa existente fora da minha mente pois para este idealismo não existe conceito objetivo de mundo para além do eu plenamente autoconsciente e solitário Cf MOUNCE 1997 9 MERRELL 1997 297 e seg DAZZANI 2008 p 289 Desse modo assim como outras correntes contemporâneas que buscavam su perar as concepções tradicionais de conhecimento o pragmatismo tem sua especificidade justamente no ponto que dá origem ao termo pragmatismo que significa ação bem como ao entendimento da mente como faculdade imanente da natureza e do ser humano A corrente pragmática não considera a verdade como correspondência en tre pensamento e realidade pois segundo sua compreensão não há realidade independente do pensamento O mundo e a verdade estão em relação direta e recíproca com a ação entre ser vida humana e o mundo Em suma para a tese pragmática são verdadeiros os conceitos e as representações cujos efeitos prá ticos são proveitosos para o comportamento e a vida prática humana Por isso também é chamado de humanismo visto que a vida humana se torna a medida a finalidade e o critério para definir a verdade e o conhecimento Dessa maneira o pragmatismo possui a particularidade de acarretar em de terminada visão de natureza humana O ser humano é caracterizado primordial mente como ser ativo a razão e o intelecto existem não para conhecer a verdade mas para agir mais adequadamente em função de sua própria natureza de modo que todo conhecimento está no fundo subordinado à natureza humana e suas necessidades fundamentais O humanismo diz Schiller é simplesmente a compreensão de que o problema filosófico concerne a seres humanos que tentam compreender um mundo de experiência humana com os recursos da mente humana MARÍAS 2004 p 442 UNICESUMAR 111 4 TEORIA TRADICIONAL e teoria crítica Com a ideia de Schiller percebemos que o ser humano é um ser essencialmente prático e que seu intelecto e sua razão voltamse não para fins teóricos e racionais mas práticos que lhe sirvam para agir e orientarse na realidade Para o pragma tismo explica Hessen a seguir O conhecimento humano recebe o seu sentido e o seu valor de seu destino prático A sua verdade consiste na congruência dos pensa mentos com os fins práticos do homem em que aqueles resultem uteis e proveitosos para a vida humana e em particular para a vida social HESSEN 2003 p 51 Com a metodologia de observar as consequências práticas resultantes de tomar certas ideias como verdadeiras o pragmatismo buscou apresentar um novo cri tério de verdade para a filosofia contemporânea que é a praticidade Em outras palavras a verificação dos resultados práticos que se sucedem ao tomar certas ideias como verdadeiras A teoria crítica é uma corrente de pensamento de base marxista fundada em 1924 no Instituto de Pesquisas Sociais na universidade de Frankfurt e também é conhe cida como Escola de Frankfurt Nela reuniramse pensadores de diversas áreas principalmente sociólogos economistas cientistas políticos psicólogos críticos de arte e filósofos que trabalharam no intuito de realizar análises críticas e diagnósti cos da cultura presente ao mesmo em que propagaram um protesto humanístico UNIDADE 5 112 A característica de trabalhar com pensadores de diversas áreas é conhecida como interdisciplinaridade e ocorreu nesta escola em virtude do acompanha mento do processo de fragmentação dos saberes que ocorriam nos séculos XIX e XX Ao mesmo tempo eles desejavam atualizar e aprofundar a teoria marxista que era o ponto comum além de seguir a tese de que a existência social opera como determinante da consciência Os principais autores da teoria crítica foram Max Horkheimer Theodor Adorno Herbert Marcuse Walter Benjamin Erich Fromm e Jürgen Habermas sendo este ainda vivo Com este material dado nosso objetivo de tratar das teorias do conhecimento enfocaremos na obra de Horkheimer intitulada Teoria Tradicional e Teoria Crí tica Por teoria tradicional o filósofo e sociólogo alemão entendia aquela iniciada por Descartes dando origem a uma forma de interpretar a realidade que enxerga o indivíduo separado da sociedade uma forma geral de interpretação que tem raízes na tese de Descartes que dissocia mente e matéria NOBRE 2004 O racionalismo cartesiano influenciou toda a modernidade Como se sabe a metodologia cartesiana permeada pelo rigor matemáticodedutivo utilizado para encontrar as verdades e o conhecimento seguro contribui por sua vez para o avanço das chamadas ciências naturais principalmente a matemática e a física visto que os resultados alcançados por essas ciências expressavam um modelo seguro para buscar o conhecimento Tal concepção foi fortemente defendida pelo positivismo mais tarde Os fatos sensíveis por exemplo vistos pelos positivistas como pos suidores de um valor irredutível são para Horkheimer préformados socialmente de dois modos pelo caráter histórico do objeto percebido e pelo caráter histórico do órgão que percebe HUME 1999 p 21 Segundo Horkheimer o próprio conceito de teoria precisava passar por uma crítica Para o pensador a forma como as teorias eram criadas e impostas não levavam em conta as circunstâncias sociais e econômicas em que eram elabo radas principalmente quando eram aplicadas ao mundo social ou seja quando se utilizava os mesmos métodos das ciências naturais nas ciências humanas en tendendo as mesmas relações causais dos objetos naturais nos objetos sociais Esse processo ignorava muitos fatores humanos e sociais como a luta de classes UNICESUMAR 113 Um cientista ou pesquisador precisa primeiro escolher o que investigará Depois ele ne cessita de ajuda em vários sentidos para conduzir a pesquisa Assim diante dos pressu postos é possível que haja neutralidade Que os resultados da pesquisa sejam verdadeiros pensando juntos Assim a teoria tradicional classifica realidades sociais da mesma forma que clas sifica objetos físicos e inertes sempre aplica a mesma lógica descritiva O modo de operar e estabelecer conhecimentos tradicionais tão atuante desde o início da modernidade foi denominado por Horkheimer de razão instrumental cujo sentido de funcionamento estava voltado à utilização operativa e à aplicabilidade técnica que resultou no controle técnico da natureza mas deixou de lado a gênese histórica e social dos problemas e consequentemente reforçou uma realidade social de dominação desigual Este processo precisava ser criticado de acordo com Horkheimer Conforme explica a pesquisadora Maria Carnaúba Para a designação de Teoria Crítica essa classificação própria das ciências naturais que é transposta para as análises sociais inevitavel mente direciona a investigação no sentido de que a compreensão da sociedade como cindida em classes seja a forma de compreender a complexidade de seu funcionamento interno Nas palavras de Mar cos Nobre Em nome de uma pretensa neutralidade da descrição a Teoria Tradicional resignase à forma histórica presente da domina ção Em uma sociedade dividida em classes a concepção tradicional acaba por justificar essa divisão como necessária NOBRE 2004 p 34 apud CARNAÚBA 2010 p 198 Horkheimer vê a forma tradicional de interpretar a realidade e fazer teoria iniciada com Descartes e aprofundada com o positivismo como um meio que apenas descreve a realidade limitandose a descrevêla como algo exterior ao observador Com isso contribui com a ideia de que o modo de produção capitalista a cultura vigente e as relações de dominação devem ser entendidas como naturais e inalteráveis De acordo com Maria Carnaúba UNIDADE 5 114 Para os autores da teoria crítica principalmente Herbert Marcuse e Erich Fromm Karl Marx explicou como a consciência individual é formada pelo social e Sigmund Freud pe los instintos Com a união de ambas as teorias marxista e freudiana os críticos elabo raram diversas análises que podem ser conhecidas nas obras Meu encontro com Marx e Freud de Fromm e A Ideologia da Sociedade Industrial de Marcuse Fonte o autor explorando Ideias Na Teoria Tradicional o indivíduo não se vê como parte de um pro cesso contraditório em que suas potencialidades são desenvolvidas no trabalho ou em qualquer outra atividade ao contrário de forma geral ele aceita as determinações impostas pela teoria tradicional como um modelo natural e assim passa a guiar seu comportamento com o fim de preencher essas determinações Mais que isso o indi víduo encontra satisfação pessoal ao sentirse adaptado aplicando suas forças na realização de tarefas cotidianas cumprindo com afã a sua parte Contudo na Teoria Crítica são eliminadas essas barreiras verticalmente impostas à sociedade que a leva a atuações cegas e conjuntas em atividades isoladas CARNAÚBA 2010 p 200 A ciência para Horkheimer que tem a característica da universalidade era par cial pois ignorava a influência do poder socioeconômico sobre a produção do seu conhecimento Por isso era preciso fazer a crítica da teoria tradicional com o objetivo de mostrar seus limites isto é que não era neutra mas dependente de um contexto histórico e de condições sociais específicas Dessa maneira para realizar a crítica da teoria tradicional Horkheimer apre sentou a teoria crítica que tem por base o materialismo histórico marxista de fendendo a ideia de que a realidade social é resultado da ação e das decisões humanas portanto da participação ativa dos próprios sujeitos Uma teoria de natureza crítica deve então voltarse à conscientização de classe e do contexto de dominação com o objetivo de atingir a emancipação UNICESUMAR 115 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade vimos que Husserl desenvolveu a fenomenologia como uma nova metodologia para pensar os problemas filosóficos mas não apenas isso pois foi aproveitada por quase todas as áreas das ciências humanas Esse pensador trouxe um novo olhar que contém algo semelhante ao espanto que os primeiros filóso fos sentiam diante da transformação da natureza o que os motivava a filosofar a admiração diante do ser da cotidianidade e do aqui e agora Diante do mun dodavida como Husserl conceituou Percebemos o papel de mediação que a linguagem faz entre o mundo da experiência direta e o mundo do compartilhamento de ideias e pensamentos Logo o conhecimento segue alguns princípios da linguagem pois nos permite elaborar teses conceitos e teorias o que foi a preocupação da filosofia analítica Dessa maneira entendemos que a virada linguística não ocorreu por acaso já que uma grande parte da filosofia contemporânea veio a dedicarse à análise da linguagem como forma primeira de tratar os problemas do conhecimento Também analisamos que outra corrente de pensamento a teoria crítica da Escola de Frankfurt observou que o conhecimento buscado por pesquisadores pertencentes a um contexto socioeconômico específico influenciava na criação das teorias por exemplo na escolha dos objetos de interesse de suas pesquisas Tal comportamento foi denominado teoria tradicional governado por uma razão instrumental que lida com a natureza física e social de forma demasiadamente controladora rejeitando inúmeros fatores humanos e subjetivos Os pensadores frankfurtianos propuseram que a forma tradicional de teoria precisa adquirir maior rigor crítico fundamentado por uma razão comunicati va e plural no sentido de valorizar conhecimentos que levem mais em conta as questões propriamente humanas e sociais Vemos assim que a questão da teoria do conhecimento recebe diversas in fluências na contemporaneidade dando origem a várias correntes ora transpa recendo relativismo ora pela mesma razão mais rica mas certamente sempre a modificarse e a modificarnos 116 na prática 1 A questão pelo sentido do que queremos dizer recebe mais importância e se torna mais fundamental do que a questão da teoria do conhecimento e qualquer outra questão tradicional filosófica por exemplo sobre as noções de substância essência coisasemsi causa e fundamentos gerais Qual das alternativas a seguir se refere à mudança de paradigma ocorrida na filosofia a A fenomenologia b A pósmodernidade c O existencialismo d A comunicatividade e A virada linguística 2 Tendo em consideração o critério de praticidade e utilidade isto é tomar como verdadeiro somente o conhecimento cujas consequências práticas que resultariam no agir seriam proveitosas ao indivíduo e à sociedade Qual das alternativas a seguir exprime a corrente filosófica que o tem como fundamento I Pragmatismo II Existencialismo III Consequencialismo IV Criticismo Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 117 na prática 3 Uma teoria que leve em conta a influência do contexto econômico em quem conduz as pesquisas e opere pela racionalidade comunicativa é uma teoria de tipo Instrumental Crítica Tradicional Conforme nossos estudos assinale com V para verdadeiro e F para falso a F V F b F F F c V F V d V V F e V F F 4 De acordo com o que estudamos nesta unidade explique o motivo pelo qual a relação sujeitoobjeto está dada e superada no conceito de mundodavida de Ed mund Husserl 5 Por que segundo Max Horkheimer a teoria tradicional presente em Descartes e no positivismo é uma forma de teoria e ciência que corrobora para a permanência da sociedade vigente Discorra 118 aprimorese Os excertos a seguir presentes do texto de Cristiano Perius 2018 buscam ex plicar o caráter inovador pelo qual a abordagem fenomenológica foi recebida na contemporaneidade TRÊS DEFINIÇÕES DA FENOMENOLOGIA o artigo de E Fink que interessou a MerleauPonty descreve da seguinte manei ra o projeto de Husserl conforme citado por Lahbib 2010 p 1 O método de Husserl oferece um ponto de partida novo e radical na procura do sentido No espanto do retorno ao ente a existência de coisas o homem se redescobre por assim dizer originariamente ao mundo Ele se encontra na aurora de um novo dia onde ele mesmo e tudo o que é começa a aparecer sob uma nova luz onde a totalidade do ser se oferece a ele de maneira nova A novidade de Husserl está no método de pesquisa que propõe uma filosofia rigo rosa mobilizada pelo retorno aos fenômenos tais como aparecem à consciência O novo método inspirado na descrição originária da experiência é conduzido pela ideia de retorno às coisas mesmas Como se opera no interior da fenomenologia de Husserl o retorno às coisas mesmas Muito semelhante à inclinação do positivismo Husserl pretende pensar os fenômenos sem parti pris metafísico ou seja tomar estritamente o que se dá na experiência empírica razão pela qual dizia que os fenomenólogos são os verdadei ros positivistas Tratase de uma afirmação assaz irônica pois é uma ingenuidade acreditar que o conhecimento empírico não contém pressupostos metodológicos epistemológicos psicológicos etc A objetividade científica é a perspectiva segundo a qual a pluralidade subjetiva é neutralizada em favor do dado positivo O problema do positivismo é que ele não percebe que o dado é anterior ao simbolismo científi co a partir do qual ele é estruturado a partir de categorias que corrompem a estru tura originária da experiência O simbolismo científico as técnicas de manipulação 119 aprimorese em laboratório os aparelhos são dispositivos que geram informações em quadros fixos o que não quer dizer que o dado seja o que é disposto por esquemas e algo ritmos Entre o dado positivo e a experiência originária não há só uma diferença de grau mas de natureza Procura pensar o mundo sem nenhuma mediação o que já está aí compreendido sem saber Como afirma MerleauPonty 1945 p 3 Tratase de descrever não de explicar nem de analisar Semelhante a Bergson atento aos dados imediatos da consciência a questão de Hus serl não é discutir o realismo da matéria e o idealismo do espírito até saber qual deles é o mais correto mas entender como se dá a formação de ambos Ora é esta gênese que conduz aos olhos de Husserl o problema da constituição Husserl recua dos dados ma teriais e físicos tal como se dão ao realismo ingênuo ao aparecimento do mundo para nós Fenômeno para Husserl é o factum do mundo tal como aparece à consciência Em outras palavras ao proclamarse empirista autêntico Husserl delega todo o poder ao dado o que não quer dizer que o dado não contenha elementos intuitivos A experiência empírica pode ser tudo menos sensedata tal como a en tende o realismo ingênuo Há sempre elementos ideais na experiência perceptiva Concluise disso que se a fenomenologia for a atitude filosófica essencialmente des critiva determinada pela exigência de ausência de pressuposições e de renúncia a toda estratégia explicativa que conduza a extrapolar a estrutura do dado este dado para Husserl só é visível enquanto elemento imediato da consciência Evidentemen te todo problema é saber se o retorno ao dado é possível pela via da consciência Afinal de contas isto que o pensamento crê descobrir em si mesmo é na verdade a transposição intelectualizada da percepção O que é então a fenome nologia O pensamento da união entre reflexão e existência matéria e espírito alma e corpo sensível e inteligível Evidentemente que este projeto que começa na estrutura do comportamento incorpora à medida que avança novos elementos Permanece viável no entanto apesar das revoluções que opera as rubricas de filo sofia da ambiguidade do entrelaço do quiasma do ineinander enveloppement da imbricação empiètement Fonte Perius 2018 120 eu recomendo Ter ou Ser Autor Erich Fromm Editora Editorial Presença Sinopse Ter ou Ser resenha e representa a culminância da vasta obra anterior de Fromm Para ele a personalidade de um indiví duo era o resultado de fatores culturais e biológicos Fromm in tegrou os aspectos socioeconômicos na explicação das neuroses e estabeleceu um relacionamento entre o marxismo e a psicanálise A sua obra é um enorme protesto contra as diversas formas de totalitarismo e alienação social Polêmico sem dúvida como toda posição radical mas sobretudo pela sua inter pretação pessoal do dogma cristão e do marxismo aos quais despoja do caráter revolucionário e de doutrina social para convertêlos em metas do indivíduo livro Divertida Mente Ano 2015 Sinopse Riley é uma garota divertida de 11 anos de idade que deve enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal no estado de Minnesota para viver em San Francisco Dentro do cérebro de Riley convi vem várias emoções diferentes como a Alegria o Medo a Raiva o Nojinho e a Tristeza A líder deles é Alegria que se esforça bastante para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz Entretanto uma confusão na sala de controle faz com que ela e Tristeza sejam expelidas para fora do local Agora elas precisam percorrer as várias ilhas existentes nos pensamentos de Riley para que possam retornar à sala de controle e enquanto isto não acontece a vida da ga rota muda radicalmente filme Entrevista legendada com o teórico e crítico Erich Fromm em que comenta várias ideias com o objetivo de realizar um diagnóstico dos nossos tempos httpswwwyoutubecomwatchv9ozg2dhBnPYr conectese 121 conclusão geral conclusão geral 121 conclusão geral conclusão geral Prezadoa alunoa no decorrer deste livro preocupeime em apresentarlhe e ex plicarlhe as principais concepções de conhecimento elaboradas durante a história da civilização ocidental iniciada com os primeiros filósofos na Grécia Antiga no sé culo V aC e desenvolvida até os dias atuais Busquei esclarecer a área e o escopo de interesse isto é a parte que cabe a uma teoria do conhecimento investigar a saber as fontes o alcance os processos os elementos e as condições que dão origem às nossas ideias e verdades às teorias aos conceitos e conhecimentos gerais Dei início pelos conceitos mais elementares que se encontram em toda a teoria do conhecimento Em seguida busquei transmitirlhe as principais correntes e esco las do pensamento apresentando suas teses assim como as teorias e os conceitos dos principais autores e fundadores de cada vertente É interessante notarmos o ca ráter acumulativo da busca pelo conhecimento científico bem como a maneira com a qual um autor se utiliza das ideias de pensadores anteriores Dessa forma o co nhecimento ganha mais amplitude e ao mesmo tempo abre novas problemáticas Após a leitura deste livro é fundamental que você tenha adquirido olhar mais preciso sobre os fatores que compõem o conhecimento humano e consiga enxer gar nas mais variadas e específicas áreas o seu aspecto epistemológico ou seja os fundamentos e princípios que organizam influenciam e sustentam seus saberes Espero que este material tenha lhe fornecido os dados suficientes para com preender como o conhecimento humano é construído bem como as informações essenciais para compreender outros autores do seu interesse Desejo ter exposto uma visão do longo e importante caminho que a construção do conhecimento da humanidade realizou realiza e sempre realizará enquanto permanecermos curio sos a respeito do mundo e da realidade Um abraço referências 122 ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia Tradução de Alfredo Bosi 5 ed São Paulo Martins Fontes 2007 AGOSTINHO S De Magistro 2 ed Tradução de Ângelo Ricci São Paulo Abril Cultural 1980 ARANHA M L A MARTINS M H P Filosofando Introdução à Filosofia 4 ed São Paulo Moderna 2009 BICUDO M A V Fenomenologia confrontos e avanços São Paulo Cortez 2000 CAPORALINI J B O Essencial de Santo Agostinho Maringá Clichetec 2007 CARNAÚBA M E C Sobre a distinção entre teoria tradicional e teoria crítica em Max Hor kheimer Kínesis Marília v 2 n 3 p 195204 abr 2010 Disponível em httpswwwmarilia unespbrHomeRevistasEletronicasKinesis14MariaErbiaCassiaCarnaubapdf Acesso em 26 dez 2019 CHAUI M Filosofia São Paulo Ática 2002 CHAUI M Introdução à Filosofia dos présocráticos a Aristóteles São Paulo Companhia das Letras 2002 DARTIGUES A O que é a fenomenologia Tradução de Maria J J G de Almeida São Paulo Centauro 2002 DAZZANI M V M O pragmatismo de Peirce como teoria do conhecimento e da aprendiza gem Caderno Seminal Digital Rio de Janeiro v 10 n 10 p 283311 juldez 2008 HESSEN J Teoria do Conhecimento Tradução de João V G Cutter São Paulo Martins Fon tes 2003 HUME D Investigação Acerca do Entendimento Humano Tradução de Anoar Aiex São Paulo Nova Cultural 1999 JAPIASSU H Questões Epistemológicas Rio de Janeiro Imago 1981 KANT I Anúncio do Programa do Semestre de Inverno de 17651766 In WALFORD D MER BOTE R ed Theoretical Philosophy Tradução de Desidério Murcho Cambridge Cambrid ge University Press 1992 p 23067 LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano Tradução de Anoar Aiex São Paulo Nova Cultural 1999 LUCE J V Curso de filosofia grega do século VI aC ao século III dC Tradução de Mário da Gama Kury Rio de Janeiro Zahar 1994 MARCONDES D Textos básicos de filosofia Rio de Janeiro Zahar 2007 referências 123 MARÍAS J História da Filosofia Tradução de C Berliner São Paulo Martins Fontes 2004 MERLEAUPONTY M Fenomenologia da Percepção Tradução de Carlos R de Moura São Paulo Martins Fontes 1994 MORA J F Dicionário de Filosofia Tradução de Roberto L Ferreira e Álvaro Cabral São Pau lo Martins Fontes 2001 MORENTE M G Fundamentos de Filosofia Tradução de Guilhermo C Coronado São Paulo Mestre Jou 1980 NASCIMENTO C A R Primeira Filosofia Filosofia Medieval São Paulo Brasiliense 1984 NEVES M C D O que é isto a ciência Maringá Eduem 2005 NOBRE M A Teoria Crítica Rio de Janeiro Zahar 2004 PERIUS C Três definições da fenomenologia Princípios Natal v 25 n 47 p 121141 jun 2018 Disponível em httpsperiodicosufrnbrprincipiosarticleview12911pdf Acesso em 26 dez 2019 PLATÃO A República Tradução de Edson Bini Bauru Edipro 2006 PLATÃO Teeteto Tradução de Carlos Alberto Nunes São Paulo Grupo Acrópolis s d Dis ponível em 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corrigibilidade constituir leis sistema composto por ideias conceitos e juízos que combinados e ordenados metodica mente formam teorias reconhecidas por cientistas comunicabilidade verificabili dade previsibilidade regularidade univer salidade entre outras do texto Aula 2 4 Orientação de resposta conceito é o termo alcançado pelo trabalho da mente sobre os dados sensíveis recebidos pelos sentidos Este trabalho é o processo de abstração e seu produto é o conceito É um termo geral uma ideia que reúne vários elementos da realidade Tem importância fundamental para nossa linguagem e para o progresso do conhecimento O processo de abs tração que produz o conceito ocorre desta maneira abstrair significa iso lar ou separar de Quando abstraí mos isolamos um elemento que jul gamos comum a partir da série de elementos encontrados na realidade do texto Aula 3 5 Orientação de resposta a teoria pla tônica é sobretudo e reconhecida mente um idealismo ou como outros autores também a definem um realis mo das ideias devido ao fato de que nela as ideias e a natureza metafísica são o fundamento último do qual to das as outras coisas dependem para serem conhecidas do texto Aula 4 Unidade 2 1 Alternativa A Justificativa a substância existe por si mesma é independente e pode ser pen sada isoladamente pois contém a sua própria essência que a faz ser o que é a começar pelo conceito aristotélico de substância Nele Aristóteles reuniu o mundo sensível da natureza com o mun do ideal das essências e assim cada ser individual que existe na realidade do pró prio mundo sensível é uma substância Aristóteles determina uma base para es gabarito 125 tabelecer o conhecimento que parte dos objetos sensíveis da realidade e encontra os conceitos estreitamente ligados a eles mesmos sendo portanto a realidade to tal uma multiplicidade de substâncias reais individuais concretas e existentes do texto Aula 1 2 Alternativa C Justificativa A partir de memórias seme lhantes devemos formar um arcabouço de determinadas situações perceptivas que nos permite fazer generalizações a respeito do meio em que vivemos É o mesmo processo de abstração que pro duz os conceitos como visto anterior mente As generalizações também são chamadas de induções e são formas de conhecimento que pertencem ao âmbi to do senso comum das opiniões e das crenças ou seja ainda não são ciência Indução é o processo pelo qual nossa mente a partir da observação de acon tecimentos particulares na natureza for mula ideias gerais com pretensão de que sejam válidas para inúmeros outros casos do texto Aula1 3 Alternativa B Justificativa encontramos em Santo Agostinho uma espécie de iluminação de origem divina que opera por meio da nossa mente fazendonos compreender corretamente os objetos do mundo sensí vel bem como o som das palavras profe ridas por todos nós Portanto para Agos tinho a humanidade partilha de uma luz natural que lhe permite ter a inteligência iluminada e agindo sobre a inteligência humana tal iluminação permite conhe cer corretamente do texto Aula 1 4 Pontos a serem abordados na respos ta relação de complementaridade entre razão e fé filosofia grega e teolo gia cristã formas diferentes de alcan çar as mesmas verdades entre outras justificativas presentes nas considera ções finais da respectiva unidade 5 Resposta esperada é chamada de realismo moderado Nela os univer sais existem realmente mas apenas no espírito humano Assim para te rem correspondência verdadeira com os objetos na realidade Tomás inseriu outro princípio o princípio da indivi duação que faz que o universal ter fundamento em cada coisa da reali dade Portanto os universais são reais na mente e ao mesmo tempo de pendem de cada coisa particular da realidade para que se fundamentem objetivamente Por isso o tomismo é considerado uma posição moderada soa respeito dos universais Unidade 3 1 Alternativa E Justificativa De acordo com o empiris mo nosso saber começa a ser formado a partir do nascimento ou seja nascemos com a alma vazia de conteúdo e confor me vivemos experiências com o mundo por meio dos sentidos formamos grada tivamente o conhecimento gabarito 126 É esta corrente de pensamento que utiliza a ideia de que somos como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco para referirse à forma como nos sa mente chega ao mundo isto é vazia sem nada escrito e pronta para receber conteúdo do texto Aula 1 2 Alternativa C Justificativa A terceira posição em rela ção à origem dos nossos conhecimentos pode ser considerada intermediária pois procura conciliar o racionalismo com o empirismo e afirma que nosso conhe cimento possui tanto fatores racionais quanto empíricos do texto Aula 3 3 Alternativa C Justificativa Kant olhou para as estrutu ras da mente que formam os objetos as estruturas anteriores ao próprio conheci mento que por sua vez possibilitamno moldamno e por isso limitamno Kant designa as estruturas de categorias e in tuições puras Elas são integrantes da pró pria razão pura e põem formas às coisas Se não fossem essas categorias teríamos apenas um caos de informações senso riais porém por contas delas o conheci mento é possível do texto Aula 3 4 Resposta esperada dogmatismo é uma posição filosófica que afirma que a razão pode alcançar a verdade O dogma é uma verdade indiscutível e uma doutrina a ser seguida Platão e Descartes são exemplos de teorias dogmáticas pois estabelecem que a razão pode alcançar as verdades No primeiro as ideias puras No segundo as indubitáveis e o eu sou uma coisa que pensa MARÍAS 2004 p 233 gri fo do autor 5 Resposta esperada a verdade é defi nida por concordância correspondên cia e adequação do que é dito e pen sado a respeito de um objeto com a realidade da própria existência do ob jeto pensado Portanto é uma relação entre o fato e o que é pensado e dito sobre ele Para o ceticismo tal víncu lo nunca é perfeito sendo impossível o pensamento apreender totalmente seu objeto o que faz imperar a dúvida e a incerteza sendo por isso necessá ria a suspensão do juízo Unidade 4 1 Alternativa B Justificativa em Locke encontramos a metáfora da mente como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco pois como empirista ele enfatizou o pa pel dos sentidos e da experiência sensível no processo de conhecer 2 Alternativa C Justificativa as impressões são para Hume o material primeiro do nosso pen samento pois fornecem os conteúdos e por isso iniciam o conhecimento Podem ser internas como a percepção de um es tado emotivo ou externas como aquilo que vemos e ouvimos As impressões são sempre o ponto de partida do conheci mento são o que a consciência possui para poder começar a pensar e formar gabarito 127 ideias porque o que pode ser conhecido parte exclusivamente das impressões e sensações fornecidas pela experiência com o mundo 3 Ordem correta V V V F Justificativa segundo Hume para formar as ideias e associálas nossa mente segue três princípios associação por semelhan ça quando nossa mente une ideias pare cidas e semelhantes por contiguidade devido ao surgimento sempre próximos das ideias levandonos inevitavelmente de uma a outra e por causalidade quan do a sucessão e a sequência regular das ideias nos levam a associálas como per tencente a uma relação de causa e efeito Os três princípios de associação de ideias produzem em nós isto é na mente o hábito e o costume de observar a regu laridade dos acontecimentos e dos fatos no mundo conduzindonos a um conhe cimento suficientemente científico do texto Aula 2 4 A relação está no método Para o po sitivismo o método das ciências da natureza é o único correto capaz de auxiliarnos a determinar o conheci mento seguro a partir do qual deve mos organizar toda a vida social 5 A diferença essencial é a respeito da origem Ideias de sensação são aque las que provêm de um estímulo ex terno captado por meio dos sentidos as de reflexão são produzidas interna mente ou seja que a mente percebe que resultam de sua própria atividade e operação Então podemos resumir que as ideias que possuímos provêm da experiência externa sensação ou da experiência interna reflexão Unidade 5 1 Alternativa E Justificativa a mudança no trato dos pro blemas filosóficos que ficou conhecida como virada linguística tem por base a tese de que todo e qualquer conheci mento ou saber humano é constituído pela linguagem por isso no século XX passa a ser fundamental priorizar o filo sofar a respeito da linguagem antes de outras questões 2 Alternativa C Justificativa o método pragmático con siste em determinar o valor de uma pa lavra um termo um conceito ou uma concepção de mundo pelas consequên cias que são derivadas quando utilizadas na prática Se uma concepção mostrarse útil valiosa e fomentadora da vida então é um conhecimento verdadeiro 3 Alternativa A Justificativa ao observar que a elaboração das teorias e o conhecimento eram feitos por pesquisadores que pertenciam a con textos socioeconômicos específicos o que influenciava na criação das teorias perdia se a neutralidade Feita a crítica os pen sadores frankfurtianos propuseram que a forma tradicional de teoria precisa adquirir maior rigor crítico fundamentada por uma razão comunicativa e plural gabarito 128 4 Para os autores fenomenólogos a dualidade entre sujeito e objeto é dada como algo superado pois os fenômenos são tomados como a rea lidade A experiência originária que produz os fenômenos se refere à rea lidade préconsciente préreflexiva já estabelecida porque é anterior ao ato de estar consciente Assim ao termos algo em mente ao termos a consciên cia daquilo a correlação sujeitoobjeto já está dada no ato cognoscente Na fenomenologia sujeito e objeto são anteriores a qualquer ato cognitivo são indissociáveis no existir do mundo concreto o que Husserl chamou de mundodavida 5 A teoria tradicional parte de uma rígi da distinção entre sujeito e objeto Isso implica que formulações científicas os sujeitos tratam os objetos como estáticos e inertes não dialéticos pois se utilizam do rigor matemático para descrevêlos Ao aplicar o mesmo mé todo nas ciências humanas e sociais a teoria tradicional trata a sociedade como o mesmo rigor matemático desconsiderando com isso inúmeros fatores humanos ao fazer a estrutura da sociedade parecer natural e inalte rável como mecanismos físicos descri tos matematicamente
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TEORIA DO CONHECIMENTO PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação a Distância RIBEIRO Rafael Adilson Teoria do Conhecimento Rafael Adilson Ribeiro Maringá PR UniCesumar 2020 Reimpresso em 2023 128 p Graduação EaD 1 História 2 Teoria 3 Conhecimento EaD I Título FICHA CATALOGRÁFICA NEAD Núcleo de Educação a Distância Av Guedner 1610 Bloco 4Jd Aclimação Cep 87050900 Maringá Paraná wwwunicesumaredubr 0800 600 6360 Coordenadora de Conteúdo Eder Rodrigo Gimenes Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Andreza Diniz Design Educacional Bárbara Neves Revisão Textual Monique Coloni Boer Fotos Shutterstock CDD 22 ed 3701 CIP NBR 12899 AACR2 ISBN 9788545920496 Impresso por Bibliotecário João Vivaldo de Souza CRB 91679 Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Pósgraduação Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Zagonel NEAD NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva ViceReitor Wilson de Matos Silva Filho PróReitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho PróReitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva PróReitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR BOASVINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico nós tra balhamos com princípios éticos e profissiona lismo não somente para oferecer educação de qualidade como acima de tudo gerar a con versão integral das pessoas ao conhecimento Baseamonos em 4 pilares intelectual profis sional emocional e espiritual Assim iniciamos a Unicesumar em 1990 com dois cursos de graduação e 180 alunos Hoje temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil nos quatro campi presenciais Maringá Londrina Curitiba e Ponta Grossa e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e também no exterior com dezenas de cursos de graduação e pósgraduação Por ano pro duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares Somos reconhe cidos pelo MEC como uma instituição de exce lência com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa cionais do Brasil A rapidez do mundo moderno exige dos edu cadores soluções inteligentes para as neces sidades de todos Para continuar relevante a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes inovação coragem e compromis so com a qualidade Por isso desenvolvemos para os cursos de Engenharia metodologias ati vas as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis são que é promover a educação de qua lidade nas diferentes áreas do conheci mento formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária P R O F I S S I O N A L T R A J E T Ó R I A Me Rafael Adilson Ribeiro Possui licenciatura plena em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá UEM2012 e mestrado em Filosofia pela mesma instituição UEM2015 Foi pro fessor de Filosofia na rede estadual do Paraná de 2011 a 2018 e produziu um material didático intitulado Fundamentos filosóficos do serviço social Atualmente é professor mediador dos cursos de Filosofia e Sociologia da Unicesumar e cursa especialização em Docência no Ensino Superior Unicesumar2019 httplattescnpqbr6034573072281459 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A TEORIA DO CONHECIMENTO Prezadoa alunoa a teoria do conhecimento ou epistemologia é um campo de estudos que permanece em desenvolvimento desde o início da filosofia na Grécia Antiga É uma de suas áreas de estudos estruturantes e certamente sua área mais própria contendo ramificações claras e diretas em diversos saberes pois é a partir de suas pesquisas e seus conceitos que se busca explicar e fundamentar questões sobre a produção do conhecimento humano como o que podemos conhecer Qual a origem e o alcance da nossa razão Como chegamos a conhecer algo Quão verdadeiro ou falível é o nosso conhecimento Quais processos mentais são movidos quando buscamos conhecer algo Em outras palavras quais os princípios do conhecimento humano Ou ainda como se correspondem sujeito e objeto pensamento e realidade Essas são as principais questões que uma teoria do conhecimento procura responder Com este material inicialmente veremos os aspectos elementares e fundamentais da teoria do conhecimento isto é no que consistem precisamente os conceitos básicos envolvidos em toda epistemologia e a história desta disciplina para que assim tenhamos adquirido os elemen tos suficientes para compreender a teoria de cada autor ou corrente filosófica em específico Faremos da mesma forma com o restante do material ou seja a apresentação e o estudo das principais teorias de conhecimento desde a Grécia Antiga às desenvolvidas na atualidade O termo teoria do conhecimento ou epistemologia palavra derivada do grego episteme traduzida por conhecimento e ciência a qual era utilizada por Platão em oposição à palavra doxa traduzida por crença e opinião bem gnosiologia gnose ato de conhecer po dem ser considerados sinônimos Ambos os termos são utilizados na tradição filosófica com o sentido de discurso sobre a ciência referindose aos conhecimentos científicos aqueles que objetivam a validação universal O enfoque da teoria do conhecimento é esclarecer os processos envolvidos na formulação dos conhecimentos em especial as origens os limites os elementos e as condições que o produzem ou seja trata das estruturas que sustentam e validam determinado tipo de saber Também significa dizer que uma teoria do conhecimento demonstra como uma verdade é alcançada ou seja como um sujeito afirma algo a respeito de um objeto D A D I S C I P L I N A A P R E S E N TA Ç Ã O Assim podemos definir o ato de conhecer como o modo pelo qual um sujeito se apropria mentalmente de um objeto O ato ou a relação entre sujeito e objeto é o primeiro momento é o que está na base de todo o conhecimento quer dizer a correspondência entre pensa mento e realidade Como resultado das investigações feitas pelos teóricos da área ao longo da história encontramos algumas ideias e conceitos já bastante difundidos por exemplo empirismo racionalismo realismo idealismo materialismo ceticismo dogmatismo criticismo relativismo entre outros Todos se referem a formas específicas de compreender e funda mentar o conhecimento Apresentar cada um deles em seus maiores representantes é um dos nossos principais objetivos com este material Esta área de estudos recebe estatuto de disciplina independente a partir da obra do filósofo John Locke Ensaio sobre o entendimento humano de 1690 na qual trata de maneira exclusiva as questões sobre a formação origem e certeza do conhecimento Antes disso na Antiguidade e na Idade Média sem dúvidas houve várias reflexões epistemológicas sobretudo em Platão e Aristóteles e no contexto religioso da medievalidade em Santo Agostinho e Tomás de Aquino Nestes autores as discussões aparecem inseridas em reflexões metafísicas maiores mas é perfeitamente possível lêlos e retirar suas concepções a respeito do conhecimento Dessa maneira na Unidade 1 teremos como objetivo explicitar questões elementares do conhecimento bem como os principais conceitos utilizados para que possamos estar aptos a conhecer qualquer teoria epistemológica que venha a interessarnos Na Unidade 2 no mesmo intuito veremos a teoria aristotélica de caráter naturalístico e como se relacionou com as teorias medievais de Santo Agostinho e Tomás de Aquino teorias de caráter religioso Na Unidade 3 estudaremos a possibilidade e a origem do conhecimento a partir das três principais correntes desses assuntos empirismo racionalismo e criticismo e dogmatismo e ceticismo Por sua vez estudaremos na Unidade 4 a teoria dos autores John Locke David Hume e a filosofia do positivismo E para finalizar na Unidade 5 conheceremos a corrente da fenomenologia e a intersubjetividade como novo paradigma epistemológico a filosofia analítica resultante da virada linguísticopragmática e a distinção entre teoria tradicional e teoria crítica Desejo que este material preencha sua formação no que diz respeito à teoria do conheci mento e a questões como o que é a ciência proporcionandolhe uma visão geral desses campos e os subsídios necessários para conhecer autores e teorias Bons estudos ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece Este ele mento ajudará você a conceituálao melhor da maneira mais simples conceituando No fim da unidade o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos quadroresumo Neste elemento você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos explorando Ideias Ao longo do livro você será convidadoa a refletir questionar e transformar Aproveite este momento pensando juntos Enquanto estuda você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno logia a seu favor conectese Quando identificar o ícone de QRCODE utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online O download do aplicativo está disponível nas plataformas Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO A QUESTÃO DA TEORIA DO CONHECIMENTO 10 ARISTÓTELES E A FILOSOFIA MEDIEVAL 36 57 ORIGEM E POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO 81 TEORIA DO CONHECIMENTO NA MODERNIDADE 100 TEORIA DO CONHECIMENTO NA ATUALIDADE 121 CONCLUSÃO GERAL 1 A QUESTÃO DA TEORIA do conhecimento PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade O que é a teoria do conhecimen to A história da teoria do conhecimento As formas de conhecimento A teoria de Platão sobre o conhecimento OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender em que consiste o estudo da teoria do conhecimento Conhecer a história da teoria do conhecimento Conhecer as formas de conhecimento existentes Entender a teoria de Platão sobre o conhecimento PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro INTRODUÇÃO Olá carosas estudantes Neste tópico compreenderemos o que há de mais fundamental na teoria do conhecimento também conhecida como epistemologia em que ela consiste e que tipo de problemas investiga Para isso veremos os principais conceitos que esta disciplina utiliza por meio dos quais os pensadores ao longo da tradição filosófica e até hoje utilizam para investigar o conhecimento e elaborar suas teorias Conceitos são como ferramentas básicas para pensar as discussões epistemológicas por isso é importante que os compreendamos correta mente pois estarão constantemente presentes nas teorias dos autores que estudaremos ao longo deste material Assim iniciaremos com o estudo das noções de sujeito e objeto Depois de entendermos como eles fazem partem das teorias faremos um sobrevoo pela história da teoria do conhecimento apontando seus principais momentos paradigmas e autores partindo de seu surgimento na Grécia Antiga até discussões atuais Em seguida veremos as principais formas de conhecimento elaboradas pela humanidade a saber o mítico o intuitivo o religioso o discursivo o científico etc Também entenderemos o que são e como são produzidos os conceitos No último tópico exploraremos a importante definição de conhecimento dada por Platão que será imprescindível para guiar nossa trajetória pelas teorias específicas de autores posteriores e correntes de pensamento ao longo da história Boa leitura UNIDADE 1 12 1 O QUE É A TEORIA do conhecimento O enfoque da teoria do conhecimento é esclarecer os processos envolvidos na formu lação dos conhecimentos principalmente suas origens seus limites seus elementos e as condições que os produzem ou seja trata das estruturas que sustentam e vali dam determinado tipo de conhecimento Isso também significa dizer que demonstra como uma verdade é alcançada como um sujeito afirma algo sobre um objeto Nesta simples formulação está chovendo encontramos os elementos bá sicos envolvidos para constituir um conhecimento a saber a ação de um sujeito frente ao objeto a ser conhecido o sujeito ter consciênciaperceber e captar que algo fora da própria mente está acontecendo a forma como o objeto chuva chegou até a mente do sujeito por meio dos sentidos visão audição ou tato e como esses dados foram transformados pelo sujeito até chegar ao juízo isto é a afirmação está chovendo Podemos iniciar por definir o ato de conhecer caracterizado pelo modo com o qual um sujeito se apropria mentalmente de um objeto O ato ou a relação entre um sujeito e um objeto é um primeiro momento e está na base de todo o conheci mento Em outros termos é a correspondência entre pensamento e realidade ou consciência e matéria Desse modo as seguintes palavras do professor Johannes Hessen nos ajudam a compreender a teoria do conhecimento UNICESUMAR 13 Podemos definila como teoria material da ciência ou como teoria dos princípios materiais do conhecimento humano Enquanto a lógica investiga os princípios formais do conhecimento as formas e leis gerais do pensamento a teoria do conhecimento dirigese aos pressupostos materiais gerais do conhecimento científico Ela tem os olhos fixos justamente na referência objetiva do pensamento na sua relação com os objetos Enquanto a lógica pergunta a respeito da correção formal do pensamento sobre sua concordância consigo mesmo com suas próprias formas e leis a teoria do conhecimento pergunta sobre a verdade do pensamento sobre sua concordância com o objeto Também podemos por isso definir a teoria do co nhecimento como a teoria do pensamento verdadeiro por oposição à lógica definida como a teoria do pensamento correto Tornase claro assim o significado fundamental da teoria do conhecimento para todo o campo da filosofia É com todo direito que ela será cha mada de philosophia fundamentalis ciência filosófica fundamental HESSEN 2003 p 13 grifo do autor Ainda sobre essa relação fundamental que subjaz em todo conhecimento que é a do sujeito com o objeto podemos também explicitála com estas indagações qual é a diferença entre um objeto concreto na realidade e este mesmo obje to representado em minha consciência Sua natureza na realidade é a mesma quando pensada por minha mente quer dizer na realidade exteriormaterial os objetos em si são os mesmos quando vistos por minha consciência Se sim então tenho um conhecimento absolutamente verdadeiro sobre o mundo po rém se na passagem dos objetos da realidade exterior para a minha mente eles sofrem alguma transformação então os objetos que estão em minha mente não mais correspondem perfeitamente aos objetos do mundo pois no processo de apreensão o pensamento modifica sua natureza por exemplo de material para imaterial Quer dizer na realidade exterior os objetos possuem materialidade mas quando representados em minha mente possuem natureza imaterial logo sofreram alguma modificação no processo de apreensão e portanto não posso afirmar que são absolutamente os mesmos em todos os aspectos Consequente mente meu conhecimento da realidade é imperfeito Em suma os objetos em si possuem natureza diferente em relação aos objetos representados por uma mente sendo este portanto o problema que permeia toda a teoria do conhecimento UNIDADE 1 14 Foram os gregos antigos que primeiro fizeram a pergunta dirigindose à na tureza de forma ampla e radical o que é isso E também os primeiros a tentar respondêla racionalmente com a lógica do próprio pensamento Ou seja não mais contando as histórias míticas como tradicionalmente se fazia desde tempos imemoriais A diferença na forma de explicar os acontecimentos ocorre na Gré cia Antiga pela primeira vez na história ocidental em torno do século VII aC quando a questão que inaugura a filosofia e a teoria do conhecimento foi feita e então iniciado o caminho que dura até nossos dias para tentar respondêla Nesse princípio a filosofia se dedica a investigar principalmente a physis ter mo grego traduzido por física e natureza isto é o mundo exterior e material Ao observarem a natureza e perceberem que esta sofre constantes transforma ções os gregos se questionaram sobre a essência da realidade e das coisas sobre o que há nelas que as fazem transformarse As indagações dirigidas à natureza eram motivo de admiração e espanto conforme nos deixa transparecer Platão em sua obra Teeteto s d Sócrates Eisaí por conseguinte três proposições aceitas por nós que contendem em nossa alma seja quando falamos de ossinhos de jogar seja quando imaginamos um caso como o seguinte com a idade que tenho sem crescer coisa alguma nem sofrer modificação contrária no decurso de um ano em relação a ti que és mais moço presentemente sou maior porém depois virei a ficar menor e isso sem que minha altura diminua mas pelo fato de aumentar a tua Sou portanto posteriormente sem me ter modificado o que antes não era Sem o devir nada vem a ser e nada havendo eu perdido do meu volume não poderia ter ficado menor O mesmo se passa em milhares de casos como esse se aceitarmos os presentes argumentos Sei que me acompanhas Teeteto Pelo menos tenho a impressão de que não és neófito nessas questões Teeteto Pelos deuses Sócrates causame grande admiração o que tudo isso possa ser e só de considerálo chego a ter vertigens Sócrates Estou vendo amigo que Teodoro não ajuizou errada mente tua natureza pois a admiração é a verdadeira característica do filósofo Não tem outra origem a filosofia PLATÃO s d p 1516 UNICESUMAR 15 Portanto o momento inicial da história da filosofia que traz também o início da teoria do conhecimento trata da atitude de perceber que não é possível ter com preensão do que está à frente mesmo que seja algo familiar De certo ponto de vista toma a realidade da natureza como admirável e inexplicável Para esclarecer e fina lizar este ponto cito as seguintes palavras do historiador da filosofia Julian Marías O filósofo présocrático enfrenta a natureza com uma pergunta teó rica pretende dizer o que é O que define primariamente a filosofia é a pergunta que a mobiliza que é tudo isso A esta pergunta não se pode responder com um mito e sim com uma filosofia Pois bem O que é que leva os gregos a se perguntarem o que são as coisas Qual é a raiz do assombro que levou pela primeira vez os gregos a filosofar Em outras palavras o que é que causa estranheza aos helenos e o faz sentirse estranho a esse mundo em que se encontra Ao se colocarem o problema os présocráticos têm de descartar as respostas oferecidas pela tradição ou pelo mito e recorrer a um novo instrumento que é justamente a razão O que estranha ou assombra o grego é o movimento Movimento em grego tem um sentido mais amplo que em nossas línguas equivale a mudança ou variação Mudança de forma lugar tamanho surgi mento e desaparecimento Todos esses movimentos perturbam e inquietam o homem grego porque tornam problemático o ser das coisas mergulhamno na incerteza de tal forma que não se sabe a que se ater em relação a elas Se as coisas mudam o que são na verdade Se uma coisa passa de branca a verde é e não é branca se algo que era deixa de ser disso resulta que a mesma coisa é e não é A multipli cidade e a contradição penetram no próprio ser das coisas o grego pergunta então o que são as coisas de verdade isto é sempre por trás de suas muitas aparências MARÍAS 2004 p 14 grifo do autor Seguindo as palavras de Marías 2004 vemos que a busca por aquilo que é sem pre de verdade a unidade por trás da dualidademultiplicidade a essência por trás da aparência o absoluto por trás do relativo é a busca que constitui o início da história da filosofia e da teoria do conhecimento UNIDADE 1 16 2 HISTÓRIA DA TEORIA do conhecimento Como visto na apresentação deste material a teoria do conhecimento se torna uma disciplina independente e acadêmica somente a partir da obra do filósofo John Locke Ensaio sobre o entendimento humano de 1690 na qual tratou de maneira individual das questões sobre a formação a origem e a certeza do conhe cimento Devemos ter claro que as reflexões sobre o conhecimento começaram com o início da filosofia na Grécia precisamente em Jônia na cidade de Mileto com o filósofo Tales Estavam todavia misturadas a uma discussão maior e hoje ao estudarmos os primeiros filósofos podemos recortar apenas a área da teoria do conhecimento para focar nossos estudos Dessa maneira iniciamos esta aula sobre a história da teoria do conhecimento pela retomada das primeiras respostas dadas pelos filósofos gregos aos problemas do conhecimento Tales assim como Anaximandro e outros filósofos de sua época estava preocu pado em descobrir qual era o elemento que fundamentava a realidade ou seja qual era o princípio que em última análise sustentava toda a realidade e toda a natureza Vale a pena lembrar que até a época de Tales a resposta para as questões da natu reza sempre indicava algum poder divino como causa para a existência das coisas Mais adiante quando estudarmos o positivismo do filósofo e sociólogo Auguste Comte veremos que ele nomeou esse período de infância da humanidade ou período mítico e religioso Quer dizer até aquela época as explicações dos fenô UNICESUMAR 17 menos naturais e seus impactos por exemplo na agricultura nas doenças humanas e animais o sucesso ou o infortúnio nas guerras as posições de poder político a naturalidade da escravidão e muitos outros aspectos da vida e da natureza eram justificados por meio de poderes divinos que tinham sido predeterminados desde o início dos tempos Os povos recorriam aos deuses para conhecer a realidade Os primeiros filósofos contudoimpulsionados pelas mudanças que ocorriam nas cidades gregas e por isso tendo a vida mais complicada em sociedade deram origem a uma nova forma de mentalidade iniciaram a busca por uma causa ou um elemento material para a fundamentação das coisas Quer dizer procuraram por justificativas para as mudanças dentro das próprias coisas Essa transforma ção na maneira de pensar define o começo da nossa cultura ocidental científica Dá início a uma nova forma de ver o mundo mais objetiva racional crítica teorética lógica reflexiva argumentativa enfim filosófica Em outras palavras o desvendar da natureza a partir do esforço do próprio pensamento lógico e racional Segundo Zilles 1994 Os pensadores présocráticos os filósofos jônios os eleáticos He ráclito e os pitagóricos confiavam plenamente na capacidade de co nhecer a verdade da razão humana Voltaramse totalmente para a natureza para a physis o ser ZILLES 1994 p 39 grifo do autor Tales deu a primeira resposta não mítica à pergunta sobre a origem de tudo Ele afirmou que a água era o fundamento de todas as coisas pois observara que a umidade era necessária para gerar vida que toda a terra estava sob águas e tudo dependia de seus ciclos de mudanças Um pouco mais tarde o filósofo Empé docles argumentou que as raízes de todas as coisas são os quatros elementos ar água terra e fogo e suas intertações Para o filósofo Heráclito o elemento fundamental seria como o fogo que transforma tudo pois tudo flui e tudo está em devir isto é vindo a ser em cons tante mutação Ainda nesta época século V aC o filósofo Demócrito afirmou que tudo é constituído por átomos isto é partes indivisíveis que não podem mais ser partidas ou reduzidas a outras as quais se combinam entre si para originar as coisas Demócrito foi o fundador do conceito de átomo e da primeira filosofia materialista LUCE 1994 Desse modo esses primeiros filósofos dentre muitos outros contemporâneos a eles os quais não me caberia citar aqui ficaram conhecidos como présocráti UNIDADE 1 18 A pintura A Escola de Atenas do pintor Rafael Sanzio apresenta Platão apontando para cima e Aristóteles para baixo indicando com isso onde suas teorias colocam o fundamen to da verdade Qual deles te representa Por quê Geraldo Balduino Horn pensando juntos cos naturalistas ou cosmólogos devido à ênfase de suas investigações terem sido sobre a origem e a organização do cosmos isto é da natureza Com a chegada de Sócrates um novo período se iniciou na filosofia pois ele inaugurou um campo de estudos voltado às questões humanas éticas e políticas Esse período ficou conhecido como socrático ou antropológico A partir dali seguiuse imediatamente o surgimento de dois grandes filósofos Platão e Aristó teles Ambos criaram sistemas filosóficos com novas teorias que buscaram reunir e superar em uma unidade coerente todo o conhecimento sobre cosmologia e antropologia Contudo seus sistemas se contrapõem em diversas partes princi palmente na teoria do conhecimento Platão foi e é um dos principais idealistas da história e Aristóteles é um dos maiores empiristas Na próxima aula veremos isoladamente a teoria do conhecimento de cada um deles Após esses dois grandes filósofos a filosofia entrou no período denominado he lenístico ou grecoromano que começou no final do século III aC e durou até o século VI dC Nesse período a Grécia sofreu diversas invasões principalmente a de Alexandre o Grande da Macedônia e depois do Império Romano com isso o desenvolvimento que a filosofia tinha até então foi interrompido Contudo algumas correntes de pensamento que produziram importantes estudos éticos como as de Epicuro dos estoicos e dos céticos continuaram seu trabalho O choque entre as duas culturas grega e romana promoveu forte embate que caracterizou e permaneceu por toda a Idade Média até seu final por volta do século XVI quando começou a modernidade Foi o embate entre fé e razão da tentativa de conciliar a filosofia cristã e seus dogmas ou seja da teologia com a filosofia grega Os dois principais representantes desse período foram Santo Agostinho e Tomás de Aquino Suas teorias do conhecimento que veremos com mais detalhes em um tópico específico passam pelo conceito de Deus como fonte que ilumina a razão e possibilita o conhecimento humano UNICESUMAR 19 Chegado o século XVI deuse o início do período moderno quando cidades cresceram navegações e comércio aumentaram profissões se desenvolveram a classe burguesa que buscava promover o renascimento cultural e artístico emergiu o feudalismo deu lugar ao capitalismo e o que mais interessa do ponto de vista da teoria do conhecimento a revolução científica e a questão do método sobressaíram Esse contexto deu origem ao primeiro filósofo moderno René Descartes Assim na modernidade a filosofia em vez de começar suas inves tigações por tentar compreender a natureza como fizeram os présocráticos ou conhecer a Deus como os medievais começa a analisar a capacidade do próprio intelecto e da razão humana em conhecer corretamente ou seja o método que se utiliza para conhecer se torna o próprio caminho que conduz ao conhecimento São traçados dois principais caminhos para a epistemologia enquanto possibilidades de alcançar o conhecimento o racionalismo Descartes e Espinosa e o empirismo Bacon Locke e Hume Um pouco mais tarde em 1781 Imanuel Kant publicou a Crítica da Razão Pura por meio da qual buscou superar o racionalismo e o empirismo ao estabe lecer uma revolução nas possiblidades de conhecer da razão humana e com isso fundou o criticismo Em meados do século XX Edmund Husserl se tornou o pai da fenomenologia que consiste em uma atitude e postura filosófica com método próprio e rigoroso de estabelecer o conhecimento sendo de grande influência na filosofia e nas ciências contemporâneas Fizemos um resumo da história da teoria do conhecimento com os principais momentos e teóricos que a formaram Desse modo as diferentes maneiras com as quais foram respondidas e solucionadas as questões sobre esse conteúdo nos mostram as variações que o problema inicial suscitou desde o seu surgimento na Grécia Antiga Para concluir cito as seguintes palavras da professora Marilena Chaui 2002 p 29 Como todas as criações e instituições humanas a filosofia está na história e tem uma história Está na história a filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões e em cada época de uma sociedade os homens colocam para si mesmos diante do que é novo e ainda não foi compreendido A filo sofia procura enfrentar essa novidade oferecendo caminhos respostas e sobretudo propondo novas perguntas num diálogo permanente UNIDADE 1 20 com a sociedade e a cultura de seu tempo do qual ela faz parte Tem uma história as respostas as soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornamse saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou frequentemente tornamse novos problemas que outros filósofos tentam resolver seja apro veitando o passado filosófico seja criticandoo e refutandoo Além disso as transformações no modo de conhecer podem ampliar os campos de investigação da filosofia fazendo surgir novas disciplinas filosóficas como também podem diminuir esses campos porque alguns de seus conhecimentos podem desligarse dela e formar disciplinas separadas Assim por exemplo a filosofia teve seu campo de atividade quando no século XVIII surge a filosofia da arte ou estética no século XIX a filosofia da história no século XX a filosofia das ciências ou epistemo logia e a filosofia da linguagem Por outro lado o campo da filosofia diminuiu quando as ciências particulares que dela faziam parte foram se desligando para constituir suas próprias esferas de investigação É o que acontece por exemplo no século XVIII quando se desligam da filosofia a biologia a física e a química e no século XX as chamadas ciências humanas psicologia antropologia história O conhecimento do mundo é portanto uma preocupação constante da huma nidade decorrente da necessidade de conhecer a realidade ao seu redor para garantir sua existência e sobrevivência Tal atitude lhe dá uma marca diferencia dora e coloca os seres humanos na categoria de seres pensantes possuidores de capacidade racional e simbólica que lhes permite refletir sobre o mundo que os rodeia conhecêlo adaptálo e transformálo de acordo com suas necessidades Conforme temos visto conhecer é uma atividade que se apresenta como possibilidade de apreensão da realidade que se expressa em uma reflexão a res peito daquilo que o homem investiga Isso implica como a professora Marilena Chaui 2002 pontuou que o conhecimento é produzido na história isto é em uma sociedade e cultura sob circunstâncias e relações específicas Possui então diferentes formas artísticas religiosas mitológicas ou científicas de conceber o mundo que predominam de acordo com o contexto histórico em que foram criadas Veremos na aula seguinte as principais formas de conhecimento UNICESUMAR 21 As fontes de estudo da filosofia grega baseiamse em três tipos principais em textos completos fragmentos ou citações e no trabalho de historiadores ou doxógrafos que são comentadores e colecionadores de ideias dos filósofos Textos completos sobrevive ram apenas os de Platão e Aristóteles Dos présocráticos estoicos e epicuristas foram conservados fragmentos e pequenos trechos em geral deteriorados Como doxógrafo Diógenes Laércio compilou uma das obras mais interessantes sobre os filósofos antigos chamada de Vida dos filósofos ilustres Fonte Luce 1994 explorando Ideias 3 AS FORMAS DE CONHECIMENTO Para iniciarmos esta aula retomaremos o essencial do capítulo I com as palavras do professor Johannes Hessen No conhecimento defrontamse consciência e objeto sujeito e objeto O conhecimento aparece como uma relação entre esses dois elementos Nessa relação sujeito e objeto permanecem eternamente separados O dualismo do objeto e do sujeito pertence à essência do conhecimento Ao mesmo tempo a relação entre os dois elementos é uma relação recíproca correlação O sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto só é objeto para um sujeito Ambos são o que são apenas na medida em que o são um para o outro Essa correlação porém não é reversí vel Ser sujeito é algo completamente diverso de ser objeto A função do sujeito é apreender o objeto a função do objeto é ser apreensível e ser apreendido pelo sujeito HESSEN 2003 p 20 grifo do autor UNIDADE 1 22 A relação fundamental entre sujeito e objeto está na base de todo o conhecimento ela contém uma série de atos e operações mentais implícitas Agora focaremos nos principais tipos de conhecimento que formamos a partir dela No discursivo a consciência procura observar seu objeto de todos os ân gulos possíveis comparao com outros e faz conclusões de forma semelhante a um pesquisador de uma ciência específica que busca conhecer e apreender completamente seu objeto de pesquisa Este tipo de conhecimento é chamado de discursivoreflexivo Ele necessita da palavra isto é da linguagem para ser elaborado Para compreender a realidade a mente supera as informações sensí veis concretas e imediatas recebidas por intuição e as organiza em conceitos ou ideias gerais que utilizamos para construir o conhecimento No intuitivo o objeto é apreendido imediatamente pela consciência quer dizer não é comparado nem pensado pois dáse na consciência de forma direta sem o esforço do pensamento quando capto o azul do céu uma emoção que sinto quando intuo a própria alma ou Deus por exemplo Portanto a intuição é um conhecimento imediato uma percepção direta que não segue lógica linear para ser produzida Ocorre de súbito Segundo Aranha e Martins a intuição pode ser dividida em três categorias principais 1 A intuição empírica é o conhecimento imediato baseado em uma experiência que independe de qualquer conceito Ela pode ser sensível quando percebemos pelos órgãos dos sentidos o calor do verão as cores da primavera o som do violino o odor do café o sabor do doce psicológica quando temos a experiência interna imediata de nossas percepções emoções sentimentos e desejos 2 A intuição inventiva é a intuição do sábio do artista do cien tista ao descobrirem soluções súbitas como uma hipótese fe cunda ou uma inspiração inovadora 3 A intuição intelectual procura captar diretamente a essência do objeto Descartes quando chegou à consciência do cogito o eu pensante considerou tratarse de uma primeira verdade que não podia ser provada mas da qual não se podia duvidar Cogito ergo sum que em latim significa penso logo existo ARANHA MARTINS 2009 p 109 grifo das autoras UNICESUMAR 23 O processo de abstração que produz o conceito ocorre desta maneira abstrair sig nifica isolar ou separar de Quando abstraímos isolamos um elemento que julga mos comum a partir da série de elementos encontrados na realidade Por exemplo se vejo um ipê uma mangueira e uma palmeira identifico que há algo em comum como tronco e folhas e a partir da abstração desses elementos chego ao conceito de árvore Se sinto o calor da churrasqueira ou do sol o frio da noite ou da água posso abstrair as sensações que me causam e conceber o conceito de temperatura se vejo o João a Maria e o Lucas posso conceber o conceito de pessoa ou de ser humano se vejo duas frutas ou dois carros posso formular o conceito de dois O conceito é portanto algo imaterial e geral um produto linguístico produ zido pela mente a partir da abstração mas que se refere a objetos particulares concretos e materiais existentes na realidade no exemplo a árvore a temperatura a pessoa ou o número dois Nunca encontraremos na realidade mas nos objetos específicos aos quais eles se referem São então termos gerais que se referem a objetos particulares da realidade e que expressam características e modos de ser desses objetos Por isso os conceitos são fundamentais para a elaboração do conhecimento pois partem da realidade da percepção do objeto São abstraídos pelo trabalho da mente e se tornam ideias comunicáveis e úteis para auxiliar no conhecimento e na explicação da realidade É o saber conceitual Conforme encontrado no dicionário de Nicola Abbagnano Conceito é o termo alcançado pelo trabalho da mente sobre os dados sensíveis recebidos pelos sentidos Este trabalho é o processo de abstra ção e seu produto é o conceito É um termo geral uma ideia que reúne vários elementos da realidade Tem importância fundamental para nossa linguagem e para o progresso do conhecimento Senso comum os gregos já costumavam diferenciar conhecimento e opinião episteme e doxa em que a diferença básica está no fato de o primeiro ser fruto de um trabalho racional e o segundo ser formulado diretamente das impressões sensíveis portanto tão variáveis a respeito da realidade e da subjetividade de quem os produz UNIDADE 1 24 Essa expressão tem o significado de costume gosto modo comum de viver ou de falar O S comum é um juízo sem reflexão comu mente sentido por toda uma ordem todo um povo toda uma nação ou por todo o gênero humano Sêneca afirma que a filosofia visa a desenvolver o senso comum Visto que os problemas e as indagações em torno do senso comum dizem respeito às interações entre os seres vivos e o ambiente com o fim de realizar objetos de uso e de fruição os símbolos empregados são determinados pela cultura corrente de um grupo social Eles formam um sistema mas tratase de um sistema de caráter mais prático que intelectual Esse sistema é constituído por tradições profissões técnicas interesses e instituições estabelecidas no grupo As significações que o compõem são efeito da linguagem cotidiana comum com a qual os membros do grupo se intercomunicam ABBAGNANO 2007 p 873 Para Urbano Zelles Raras vezes este conhecimento se faz acompanhar de explanações que esclareçam os fatos Quando as apresenta o faz sem indicar testes críticos que provem seu valor de explanação O saber ordinário é de um lado praxísticooperativo contendo uma visão do mundo em geral précientífica Articulase no contato imediato da vida O saber ordinário ou o senso comum exprime assim um saber de uso e um saber significativo da realidade Contudo muitas vezes deve ser superado e substituído pelo científico ZELLES 1994 p 154 O saber mítico é predominante nas culturas em que a escrita ainda não foi plenamente desenvolvida como nas sociedades antigas ou nos grupos indígenas Possui características bastante particulares contudo enquanto um tipo de saber tem a mesma função geral de outros conhecimentos ou seja de conhecer explicar e auxiliar os seres humanos a se organizarem no mundo Assim os mitos constituem um saber por conter explicações sobre a origem a forma as funções a finalidade das coisas e dos acontecimentos e principalmente como os poderes divinos agem sobre a natureza e sobre os humanos Não foram e não são apenas lendas ou fabulações para entre ter mas histórias construídas no decorrer do tempo formuladas a partir de profundas intuições da realidade e intensas necessidades da natureza hu mana expressas contudo de acordo com a mentalidade os simbolismos e a linguagem disponível em determinado período histórico UNICESUMAR 25 Marilena Chaui destaca três funções principais dos mitos a Explicativa o presente é explicado por alguma ação passada cujos efeitos permaneceram no tempo b Organizativa o mito organiza as relações sociais de parentesco de alianças de trocas de sexo de idade de poderetc de moda a legitimar e garantir a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões c Compensatória o mito narra uma situação passada que é a ne gação do presente e que serve tanto para compensar os humanos de alguma perda como para garantirlhes que um erro passado foi corrigido no presente de modo a oferecer uma visão estabi lizada e regularizada da natureza CHAUI 2002 p 80 Dessa maneira os mitos constituem um conhecimento que auxilia os homens a se situarem organizarem e interpretarem a realidade em que vivem imersos A história da ciência se confunde com a história da teoria do conhecimento no que diz respeito ao objetivo de conhecer os objetos do mundo a realidade a natureza e sua regularidade com o máximo de precisão Por isso agora iremos contentarnos em citar as características essenciais do conhecimento científico que foram acumuladas e reunidas desde os primeiros filósofos até os nossos dias Estas são características e exigências essenciais para que um conhecimento seja científico racionalidade objetividade demonstração descrição corrigi bilidade constituir leis sistema composto por ideias conceitos e juízos que combinados e ordenados metodicamente formam teorias reconhecidas por cientistas comunicabilidade verificabilidade previsibilidade regularidade universalidade entre outras O conhecimento científico como temos visto desde o início deste mate rial a ciência é uma forma de conhecimento que se iniciou com as reflexões filosóficas a respeito da natureza na Grécia antiga dando origem à episte me isto é ao conhecimento seguro com pretensão de universalidade quer dizer com validade em qualquer lugar a qualquer momento e sob quais quer circunstâncias Este é o ideal buscado pelo conhecimento científico UNIDADE 1 26 4 TEORIA DE PLATÃO SOBRE O CONHECIMENTO Em sua época Platão 427347 aC estava imbuído da problemática que os présocráticos haviam iniciado o problema do fundamento das coisas da natu reza Buscavam aquilo que fosse estável verdadeiro eterno e ao mesmo tempo a origem e o fundamento de tudo o que existe Em Sócrates e seu método questionador e dialético maiêutica Platão viu a busca pelo fundamento e pela essência com nova possibilidade a de que a razão carrega a essência dos objetos isto é a verdade das coisas Assim buscando uma solução para o problema da teoria do conhecimento tal como era proposta desde os primeiros filósofos ele descobriu e afirmou uma nova solução as ideias Para Platão as ideias são entes metafísicos puros e perfeitos que estão em uma realidade suprassensível também chamada de hiperurânio lugar acima do céu ou ainda o mundo das essências o mundo das ideias O lugar do qual se originam todos os elementos fundamentais que os présocráticos procuravam Um mundo não físico que no entanto contém as essências as ideias que dão origem ao mundo físico da natureza em que vivemos O mundo das ideias platônico possui as seguintes características uno imó vel eterno perfeito incorruptível verdadeiro e real É alcançado via razão pela intuição das essências e produz conhecimento verdadeiro Está em contraposição ao mundo da natureza múltiplo móvel finito variável perecível imperfeito corruptível sombras das ideias fenomênico e aparente É alcançado via sentidos e produz crenças e opiniões UNICESUMAR 27 Seguindo a solução de Platão para o problema do conhecimento podemos pen sar que estamos no mundo sensível e ao mesmo tempo temos as ideias perfeitas do mundo ideal Portanto os dois mundos se fazem presentes em nós Platão indagase por exemplo se encontro tantas coisas brancas na realidade sensível como a neve as nuvens etc mas nenhuma é perfeitamente branca como a ideia de brancura que tenho em mim logo esta ideia já estava em mim de alguma maneira e por isso permiteme identificar e reconhecer coisas brancas na realidade material Como as ideias perfeitas me ajudam a conhecer as coisas da realidade Como se dá a interação entre estas partes mundo sensível humanos e mundo das ideias Como é possível alcançar o mundo das ideias perfeitas e do conhecimento verda deiro Para Platão é pela lembrança e pela recordação Para explicar ele utiliza dois recursos o mito de Fedro que apresenta sua teoria conhecida como teoria da reminiscência anamnese e o mito da caverna Acompanhe nas palavras do historiador da filosofia Julian Marías O mito de Fedro explica simultaneamente a origem do homem o conhecimento das ideias e o método intelectual do platonismo Segundo o famoso mito que Sócrates conta a Fedro às margens do IIisso a alma em sua situação originária pode ser comparada a um carro puxado por dois cavalos alados um dócil e de boa raça o outro indócil os instintos sensuais e as paixões dirigido por um cocheiro a razão que se esforça por conduzilo bem Esse carro num lugar supraceleste circula pelo mundo das ideias que a alma assim contempla mas não sem custo As dificuldades para guiar a parelha de cavalos fazem com que a alma caia os cavalos perdem as asas e a alma fica encarnada num corpo Se a alma viu as ideias por pouco que seja esse corpo será humano e não animal conforme as tenham contemplado mais ou menos A origem do homem como tal é portanto a queda de uma alma de procedência celeste e que contemplou as ideias Mas o homem encarnado não as recorda De suas asas restam tão somente cotos doloridos que se excitam quando o homem vê as coisas porque estas lhe fazem recordar as ideias vistas na existência anterior É este o método do conhecimento o homem parte das coisas não para ficar nelas mas para que lhe provoquem uma lembrança ou reminiscên cia anamneses das ideias em outro tempo contempladas Conhecer portanto não é ver o que está fora mas ao contrário recordar o que está dentro de nós As coisas são apenas um estímulo para nos afastarmos delas e nos elevarmos às ideias MARÍAS 2004 p 53 UNIDADE 1 28 Percebemos que na teoria do conhecimento de Platão há um mundo suprassen sível que contém as ideias gerais os conceitos e as essências imutáveis enquan to as coisas da realidade sensível são cópias imperfeitas das ideias do mundo suprassensível Contudo as cópias são necessárias para estimular o raciocínio e leválo a recordar as essências ou seja o conhecimento verdadeiro Vemos também em que sentido a teoria do conhecimento aparece em au tores antigos dentro de uma discussão mais ampla o que não nos impede de recortar e compreender sua epistemologia nesses sistemas No caso de Platão o recorte se concentra na teoria da reminiscência o conhecimento como re cordação o mundo material como estímulo sensível para a razão e o intelecto intuírem as ideias puras Assim conseguimos responder perguntas básicas que uma teoria do conhecimento exige a saber a origem o fundamento e os meios que conduzem ao conhecimento Para ajudarnos a esclarecer esses pontos da teoria do conhecimento platô nica as seguintes passagens de Luce são importantes o caminho para o conhecimento tem de ser sistematicamente pavimentado com um entendimento progressivo de proposições e suas relações O filósofo deve ser capaz de dar uma explicação daquilo que pretende conhecer e faz isso por meio da dialética O termo dialé tica que talvez tenha sido cunhado por Platão percorreu um longo caminho a partir de seu significado de arte da discussão A dialé tica apareceu como uma maneira disciplinada de fazer e responder perguntas acerca da realidade Essa disciplina encorajava a percorrer os caminhos abstratos do pensamento e assim exercitava o espírito para ver além da aparência superficial das coisas Esse caminho de investigação leva para cima porque ela avança para estabelecer ge neralizações cada vez mais amplas que expressem a essência de Ideias cada vez mais compreensíveis LUCE 1994 p 109 UNICESUMAR 29 O mito da caverna que se encontra no livro VII da República também se soma para ampliar e complementar a explicação da epistemologia em Platão Na caver na há pessoas acorrentadas desde a infância o que representa o mundo sensível em que as coisas são sombras Uma pessoa consegue entretanto soltarse das correntes e sair da caverna e então contemplar o mundo exterior que representa o mundo verdadeiro das ideias E tendo esta pessoa que retornar à caverna seus companheiros lhe tratariam com desdém O importante papel da razão e do intelecto para alcançar a verdade em seu trabalho e esforço de recordação faz da teoria platônica também um racionalis mo mas apenas quanto ao método em decorrência da importância da razão e da inteligência para alcançar as ideias puras Porém a teoria é sobretudo e reconheci damente um idealismo ou como outros autores também a definem um realismo das ideias devido ao fato de que nela as ideias e a natureza metafísica são o fun damento último do qual todas as outras coisas dependem para serem conhecidas Assim a respeito do conhecimento em Platão finalizo com as palavras do historiador da filosofia Garcia Morente E então nosso conhecimento nossa ciência nossa episteme em que consiste Consiste em elevarnos por meio da dialética da discussão das teses que se contrapõem e se vão depurando na luta umas contra as outras para chegar desde o mundo sensível pela discussão a uma intuição intelectual desse mundo suprasensível composto todo ele pelas unidades sintéticas que são as idéias MORENTE 1980 p 90 Temos em Platão uma primeira teoria do conhecimento elaborada detalhada mente com o rigor lógico que as discussões filosóficas exigem tornandose por isso o principal exemplo de filosofia idealista da história ocidental UNIDADE 1 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo principal desta unidade foi apresentar os elementos fundamentais envolvidos nas teorias do conhecimento para que com eles estejamos aptos a compreender as teorias de diferentes autores Os dois principais elementos que servem como ferramentas básicas para com preender as teorias do conhecimento ao longo de toda a história são os conceitos de sujeito e objeto os quais indicam uma relação presente em todo e qualquer conhecimento Por isso dediqueime a apresentálo a você no início deste material Esta é uma das principais disciplinas da filosofia e suas investigações auxiliam na fundamentação de todas as áreas do saber pois como vimos busca esclarecer os princípios do conhecimento e os processos que estão na base de suas formulações Cada período da história da filosofia corresponde a determinado paradigma O primeiro que estudamos nesta unidade foi o paradigma da natureza postu lado na Grécia Antiga junto ao surgimento da filosofia que deu origem à teoria do conhecimento para a qual a transformação e a mudança das coisas no mundo constituíam a fonte dos problemas e das questões que originaram as teorias pela busca do conhecimento científico Veremos na unidade seguinte que após Aristóteles entraremos no paradig ma religioso ou medieval com os autores Santo Agostinho e Tomás de Aquino Estes acreditavam que questões da filosofia e a visão de mundo são referenciadas à existência de Deus Nesta unidade nosso principal objetivo foi esclarecer os conceitos básicos e elementares da teoria do conhecimento para que de agora em diante em posse deles estejamos preparados para compreender as teorias e discussões deste as sunto realizadas pelos pensadores no decorrer da história 31 na prática 1 As disciplinas científicas física química e biologia se tornaram matérias indepen dentes e acadêmicas somente na modernidade O mesmo ocorreu com a teoria do conhecimento a partir da obra do filósofo John Locke Ensaio sobre o entendimen to humano de 1690 que trata exclusivamente das questões sobre a formação a origem e a certeza do conhecimento Desde a antiguidade na Grécia Antiga tais matérias já eram investigadas mas inseridas em contextos filosóficos mais amplos Assim na história a temática da teoria do conhecimento foi tratada sob três nomes principais Assinale a alternativa que apresenta os três termos a Teoria do conhecimento dialética e ciência b Teoria do conhecimento gnosiologia e discurso c Epistemologia gnosiologia e ciência d Teoria do conhecimento gnosiologia e epistemologia e Epistemologia teoria do conhecimento e paradigma 2 Nos estudos de teoria do conhecimento duas ideias são fundamentais pois todo ato de conhecimento necessariamente envolve ao menos estes dois conceitos Quais são eles I Sujeito e objeto II Sentidos e imaterialidade III Objeto e transcendência IV Materialidade e sensibilidade Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 32 na prática 3 A história da ciência se confunde com a história da teoria do conhecimento no que diz respeito ao objetivo de conhecer os objetos do mundo Ao longo do tempo o conhecimento científico se consolidou com algumas características essenciais à sua constituição Assinale V para verdadeiro e F para falso de acordo com as caracterís ticas do conhecimento científico Previsibilidade universalidade e demonstração Verificabilidade opinião e comunicabilidade Regularidade constituição de leis e universalidade Assinale a alternativa correta a V V F b F F V c V F V d F F F e V V V 4 De acordo com o que estudamos nesta unidade discorra sobre o que é e como se formam os conceitos 5 Explique por que a teoria do conhecimento platônica é denominada idealista ou um realismo das ideias 33 aprimorese Neste artigo Oswaldo Porchat Pereira professor de Epistemologia da Universidade de São Paulo USP apresenta e discute em um texto claro e didático alguns pontos fundamentais de uma teoria do conhecimento SOBRE O QUE APARECE A experiência do cotidiano nos brinda sempre com anomalias incongruências con tradições E quando tentamos explicálas explicações à primeira vista razoáveis acabam por revelarse insatisfatórias após exame mais acurado A natureza das coi sas e dos eventos não nos parece facilmente inteligível As opiniões e os pontos de vista dos homens são dificilmente conciliáveis ou mesmo uns com os outros incon sistentes Consensos porventura emergentes se mostram provisórios e precários Quem sente a necessidade de pensar com um espírito mais crítico e tenta melhor compreender essa diversidade toda o desnorteia Talvez a maioria dos homens conviva bem com esse espetáculo da anomalia mun dana Uns poucos não o conseguem e essa experiência muito os perturba Alguns des tes se fazem filósofos e buscam na filosofia o fim dessa perturbação e a tranquilidade de espírito Uma tranquilidade de espírito que esperam obter por exemplo graças à posse da verdade A filosofia lhes promete explicar o mundo dar conta da experiência cotidiana dissipar as contradições ou se isso não for possível desvendando os mistérios do conhecimento e deste delineando a natureza e os preciosos limites ou pelo menos esclarecendo a natureza e a função de nossa humana linguagem na qual dizemos o mundo e formulamos os problemas da filosofia A filosofia distingue e propõese ensinarnos a distinguir entre verdade e falsida de conhecimento e crença ser e aparência sujeito e objeto representação e repre sentado além de muitas outras distinções O ser humano parece no entanto um amante eterno da verdade Ele de fato nunca a descobre mas não se cansa ja mais de perseguila O espírito dogmático no sentido cético do termo exerce sobre ele um extraordinário fascínio 34 aprimorese Isso que não podemos rejeitar que se oferece irrecusavelmente a nossa sensibi lidade e entendimento se nos permitimos lançar mão de uma terminologia filosó fica consagrada é o que os céticos chamam de fenômeno tò phainómenon o que aparece O que nos aparece se nos impõe com necessidade a ele não podemos senão assentir é absolutamente inquestionável em seu aparecer Que as coisas nos apareçam como aparecem não depende de nossa deliberação ou escolha não se prende a uma decisão de nossa vontade Muito do que nos aparece como objeto de uma experiência comum a nós e a outros se não a boa parte dos seres humanos presentes no mundo de nossa ex periência fenomênica Isto é também a eles aparece que assim seja nos é então fenômeno inteligível Embora numerosos sejam por certo os fenômenos que se nos dão como objetos de uma experiência exclusivamente nossa Aqueles outros dizemolos fenômenos comuns Atendonos ciosamente aos fenômenos importanos distinguir claramente entre o fenômeno e o que se diz do fenômeno SEXTO EMPÍRICO 11 HP I 1920 isto é a interpretação filosófica que dele se faz ou do discurso que o exprime Assim dizendo relatamos como as coisas nos aparecem descrevemos o fenômeno servindonos da linguagem Fonte Pereira 1992 p 83122 35 eu recomendo A República Da Justiça Autor Platão Editora Edipro Comentário livro de leitura agradável e composto em forma de diálogos no qual o personagem Sócrates é responsável por apre sentar as ideias e os argumentos do autor enquanto debate com outros personagens diversos temas filosóficos É um clássico da literatura mundial tanto pela qualidade do estilo quanto pelo conteúdo que trata livro Sócrates Ano 1971 Sinopse Sócrates 469399 aC anda por Atenas num contexto político conturbado após a guerra questionando e buscando as definições precisas com seus interlocutores Se passa no final da vida de Sócrates e dá enfoque às suas discussões maiêutica seu julgamento e sua condenação à morte filme Com um acervo de mais de 123 mil obras e um registro de 184 milhões de visitas o Portal Domínio Público é a maior biblioteca virtual do Brasil dados de junho de 2009 Lançado em 2004 o portal oferece acesso gratuito a obras literárias artísticas e científicas na forma de textos sons imagens e vídeos que sejam de domínio público ou que tenham a sua divulgação autorizada httpwwwdominiopublicogovbr conectese 2 PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse os tópicos que você estudará nesta unidade A teoria de Aristóteles a respeito do conhecimento Santo Agostinho Tomás de Aquino OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender a teoria do conhecimento de Aristóteles Conhecer o paradigma filosófico religioso da Idade Média Entender a origem divina do conhecimento em Santo Agostinho e Tomás de Aquino ARISTÓTELES E A FILOSOFIA medieval PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro INTRODUÇÃO Olá caroa alunoa Nesta unidade estudaremos o essencial da teoria do conhecimento de três importantes pensadores Aristóteles Santo Agosti nho e Tomás de Aquino A teoria aristotélica é de fundamental importância para a compreensão da ciência e do que é conhecimento científico pois Aristóteles foi um dos primeiros autores a elaborar uma teoria que integra o conhecimento sensível ao conhecimento intelectual de maneira mui to eficaz e concordante estabelecendo as bases para as teorias científicas posteriores Segundo o filósofo o conhecimento se inicia na experiência sensível imediata mas é expandido e tornado científico a partir do tra balho conceitual do intelecto Como veremos ele forjou vários conceitos durante seu esforço e trabalho filosófico que estão registrados em seus livros e ainda estão plenamente presentes em nossa linguagem e cultura por exemplo substância essência ato e potência matéria e forma entre outros que são fundamentais nos discursos científicos Em seguida exploraremos os paradigmas da Idade Média e veremos como o conhecimento foi pensado em dois autores principais desse pe ríodo Santo Agostinho e Tomás de Aquino Estes autores escrevem dentro do contexto religioso portanto a partir de dogmas da igreja quer dizer algumas verdades e princípios já estavam descobertos e eram indiscutíveis como a criação do mundo pelo viés religioso o que faz suas reflexões pos suirem um fundamento dado que é Deus Assim a teologia e a filosofia ou a razão e a fé nesses autores alcançam o máximo de conciliação para determinar os conhecimentos e as verdades dentro desse contexto tão in fluente na história Em Santo Agostinho a teoria do conhecimento ficou conhecida como teoria da iluminação e em Tomás de Aquino por questão dos universais Desse modo para prosseguir com nossos estudos a respeito dos autores mencionados conheceremos suas teorias individualmente por meio de três tópicos nesta unidade Bons estudos UNIDADE 2 38 1 A TEORIA DE ARISTÓTELES a respeito do conhecimento Aristóteles 384322 aC foi discípulo de Platão e frequentou a Academia por muitos anos até fundar sua própria escola o Liceu Muito respeitosamente discor dou de partes da filosofia platônica e inventou suas próprias teorias em diversas áreas do saber tornandose a principal autoridade intelectual no Ocidente até o início da modernidade Antes de estudarmos com mais detalhes a teoria do conhecimento em Aristó teles podemos dizer resumidamente que ele trouxe as ideias de Platão do mundo ideal para a terra como explica Morente 1980 p 91 na seguinte passagem Compreendendo Platão na sua autêntica realidade metafísica en tendendoo como um realismo das ideias assim se pode entender Aristóteles por que o que este fará será dar uma lógica interna a todo o sistema e trazêlo por assim dizer do seu céu inacessível a esta terra para fazer que estas idéias que são transcendentes às coisas percebidas se tornem imanentes interna a elas Em suma Aristóteles colocará a ideia dentro da coisa sensível MORENTE 1980 p 91 A inversão que Aristóteles faz segundo Morente parte das seguintes críticas UNICESUMAR 39 A duplicação desnecessária das coisas A necessidade de um número infinito de idéias para explicar a semelhança das coisas sensíveis A doutrina das ideias não explica a produção a gê nese das coisas E a última e talvez mais importante objeção que Aristóteles opõe a Platão é de que as ideias são transcendentes MORENTE 1980 p 96 grifo do autor A partir dessas observações podemos concluir que a teoria de Aristóteles pro curou estabelecer o mesmo grau de verdade que as ideias platônicas possuíam porém sem a necessidade de pressupor a existência de outro mundo além do mundo natural isto é na teoria de Aristóteles elas se encontram nas próprias coisas do mundo material Não se preocupe caroa alunoa pois compreenderemos detalhadamente esse assunto a começar pelo conceito aristotélico de substância Nele Aristóteles reuniu o mundo sensível da natureza com o mundo ideal das essências e assim cada ser individual que existe na realidade do próprio mundo sensível é uma substância Substância segundo o dicionário de Ferrater Mora corresponde ao verbo latino substare e significa o fato de estar debaixo de e o que está debaixo de MORA 2001 p 644 Um exemplo deve facilitar a nossa compreensão desse conceito vejamos se observo uma mesa e verifico que ela é branca quadrada e dura tenho nesse caso a mesa como substância pois ela é capaz de suportar as características secundárias branca quadrada e dura que poderiam ser dife rentes Características secundárias recebem o nome de acidentes são variáveis e dependem de uma substância para existir Por sua vez a substância existe por si é independente e pode ser pensada isoladamente visto que contém a sua própria essência que a faz ser o que é Assim uma substância somente deixará de ser substância se lhe retirarem a sua essência porém os acidentes podem ser retirados ou mudados que mesmo assim a substância permanece Outro exemplo o homem está velho e magro Nesse caso homem é a substân cia velho e magro são os acidentes que variam Os acidentes ajudam a conhecer melhor o homem mas não o definem o que o define é a sua essência nesse caso a racionalidade A substância homem só deixaria de ser substância se mudasse a sua essência Os acidentes por sua vez podem ser amplamente variáveis e sempre dependem de uma substância para existir UNIDADE 2 40 A ideia de substância e acidente em termos gramaticais corresponde ao su jeito e ao predicado de uma frase Em nosso exemplo a mesa e o homem são os sujeitos enquanto as características são os predicados Então com os conceitos de substância essência e acidente Aristóteles determina uma base para estabelecer o conhecimento que parte dos objetos sensíveis da realidade e encontra os conceitos estreitamente ligados a eles mesmos sendo portanto a reali dade total uma multiplicidade de substâncias reais individuais concretas e existentes Para completar a concepção de substância de Aristóteles precisamos ver mais dois pares de conceitos matéria e forma ato e potência Por meio deste par Aris tóteles consegue explicar o movimento na natureza tal como os présocráticos o entendiam de uma forma inédita Pois bem pensando os dois conceitos juntos apreendemos que as coisas estão em movimento porque passam sempre de ato à potência ou atualizando suas potencialidades Quer dizer algo que está em um momento de determinada maneira em ato tem a potencialidade de estar diferente em outro momento e isso pode ser aplicado a todos os seres naturais que existem na natureza Um exemplo claro é o da semente que em ato é o que é mas em potência é uma árvore Para Aristóteles todo ser tende a tornar atual a forma que possui como potência Assim com este conceito o filósofo introduz uma nova forma de pensar as transformações da natureza Ato diz respeito à essência de uma coisa tal como ela é aqui e agora É o modo em que está a existência de uma coisa ou um objeto na atualidade o modo como é na efetividade do presente Potência diz respeito àquilo que uma coisa pode vir a ser a capacidade de algo passar para outro estado a possibilidade que uma coisa tem para vir a ser algo que ainda não é O outro par de conceitos que aparecem interligados é matéria e forma Por matéria Aristóteles entende como aquilo do qual o mundo físico é compos to A matéria é algo indeterminado mas se torna determinado e conhecido ao receber uma forma Por isso os conceitos de matéria e forma são inse paráveis um não pode existir sem o outro A forma é um conceito muito semelhante ao de essência ou seja corresponde aquilo que não pode ser retirado de um objeto é aquilo sem o qual ele deixa de ser o que é é o que lhe dá identidade e substância UNICESUMAR 41 A madeira por exemplo é uma matéria que pode receber várias formas como a de uma mesa ou uma porta assim como um bloco de pedra tem a potencialidade de ser atualizado para a forma de uma estátua Todo ser é uma substância constituída de matéria e forma a ma téria é potência o que tende a ser a forma é o ato O movimento é portanto a forma atualizando a matéria é a passagem da potência ao ato do possível ao real MARTINS ARANHA 2009 p 158 Portanto com estes conceitos que funcionam interligados a saber substância essência e acidente ato e potência matéria e forma Aristóteles concebeu uma nova visão de realidade de caráter mais realista e naturalista Até aqui foi necessário termos visto as conceituações para então compreen dermos na sequência a teoria do conhecimento de Aristóteles isto é sua con cepção de conhecimento científico e verdadeiro Os seguintes comentários do professor Luce nos ajudam nesta introdução Se nada percebêssemos não poderíamos aprender ou entender nada Com sentenças como essa Aristóteles está indicando sua fir me crença de que a percepção pelos sentidos é a base do conheci mento Nisso está em completa oposição a Platão que não confiava nos sentidos por serem uma fonte de ilusão e negava que a percep ção de alguma maneira constituísse conhecimento Para Aristóte les uma criatura dotada de sensibilidade é capaz de perceber fatos particulares acerca de objetos reais e é portanto capaz de distinguir aspectos do mundo exterior Mas o espírito tem de entrar em cena se deve resultar em conhecimento Aristóteles teria concordado com a observação de Kant de que os sentidos sem pensamento são cegos Aquilo que percebemos deve ser guardado na memória para com paração com percepções futuras LUCE 1994 p 117 A partir de memórias semelhantes devemos formar um arcabouço de determi nadas situações perceptivas que nos permite fazer generalizações a respeito do meio em que vivemos É o mesmo processo de abstração que produz os conceitos como visto anteriormente As generalizações também são chamadas de induções e são formas de conhecimento que pertencem ao âmbito do senso comum das opiniões e das crenças ou seja ainda não são ciência UNIDADE 2 42 Indução é o processo pelo qual nossa mente a partir da observação de acon tecimentos particulares na natureza formula ideias gerais com pretensão de que sejam válidas para inúmeros outros casos Em outras palavras o trabalho da nossa faculdade do intelecto isto é do nosso pensamento ou como preferiu Luce 1994 do nosso espírito realiza a reunião sintetizaçãoaglomeraçãoorganiza çãodivisão das informações e memórias captadas pelos sentidos e as nomeia em conceitos Portanto o conhecimento indutivo é o que parte da observação de casos particulares e formula conceitos com pretensão de obter validade universal Por exemplo observo que o sal mata a formiga observação particular e sensível comparo essa informação à outra de minha memória a de que a formiga é um inseto logo concluo que o sal mata insetos generalização um novo conhecimen to Portanto a indução parte da observação de um caso particular e propõe uma verdade de caráter mais amplo que serve para inúmeros outros casos particulares isto é uma verdade que tem pretensão de valer universalmente Todavia para que o conhecimento avance e ganhe cientificidade é necessário aplicar o processo inverso a dedução que significa partir dos conceitos universais e das generalizações e aplicálas para conhecer as coisas particulares Com base no nosso exemplo partindo do universal o sal mata insetos posso verificar e aplicar na realidade concreta procurando mais casos particulares em que posso confirmar a generalização ou corrigila se necessário Dessa maneira o conhecimento da realidade pode tornarse cada vez maior mais complexo mais regular mais previsível e mais seguro a respeito do mundo Assim se constrói o conhecimento científico para Aristóteles Portanto essa teoria se caracteriza por uma íntima colaboração entre as funções dos sentidos percepção cinco sentidos e do entendimento abstração sobre o ma terial percebido Ambos os aspectos são fundamentais para alcançar os conceitos que são a base para a ciência Com eles chegamos a conhecer as causas a origem o alcance e os processos que produzem o conhecimento a respeito da natureza Segundo o professor espanhol Manuel Morente UNICESUMAR 43 A primeira divisão do conhecimento foi idealizada por Aristóteles assim como as seguin tes características do conhecimento científico A distinção do conhecimento em três campos teorético referente aos seres que ape nas podemos contemplar sem agir sobre eles prático referente às ações humanas ética política e economia e técnico referente à fabricação e ao trabalho humano criar instrumentos ou artefatos medicina artesanato arquitetura poesia retórica etc As fontes e as formas do conhecimento sensação percepção imaginação memória raciocínio e intuição intelectual A diferença entre opinião e saber A definição da forma do conhecimento verdadeiro ideias conceitos e juízos e dos pro cedimentos para alcançar o conhecimento verdadeiro indução dedução e intuição Fonte adaptado de Chaui 2002 explorando Ideias Para Aristóteles conhecer significa primeiramente formar concei tos quer dizer chegar a constituir em nossa mente um conjunto de notas características para cada uma das essências que se realizam na substância individual Saber é ter muitos conceitos Conhe cimento significa também aplicar esses conceitos que formamos à cada coisa individual colocar cada coisa individual sob o conceito chegar à natureza contemplar a substância olhála e voltar logo para dentro de nós mesmos para procurar no arsenal de conceitos aquele conceito que se ajusta bem a essa singularíssima substância e formular o juízo isto é um cavalo MORENTE 1980 p 113 Com isso entendemos que a teoria do conhecimento aristotélica valoriza fun damentalmente a experiência com o mundo isto é as impressões sensíveis e a realidade do mundo natural Não menos importante é também o trabalho racional da mente sobre os conteúdos sensíveis a formação e a expansão dos conhecimentos encontrando a essência das coisas nelas mesmas por meio da experiência da abstração e dos conceitos Por sua teoria possuir tais traços Aris tóteles é denominado naturalista empirista e realista UNIDADE 2 44 2 SANTO AGOSTINHO Ao falarmos de Santo Agostinho que viveu entre os anos de 354 a 430 estamos situados na filosofia medieval mais precisamente na Patrística paradigma que produziu profundas discussões sobre a relação entre a fé e a razão Temas como a demonstração da existência de Deus a trindade a criação do mundo a eucaristia a imortalidade da alma a ética e muitos outros eram ora aprofundados e com plementados pelos argumentos da filosofia pagã principalmente de Aristóteles e Platão ora faziam que fossem rechaçados e acusados de heresia aqueles que os utilizassem De maneira geral a filosofia foi considerada auxiliar da fé porque a retórica e a dialética das argumentações dos filósofos gregos contribuíam para que os teólogos expandissem a própria argumentação a respeito dos dogmas religiosos Dogmas são verdades absolutas revelações que a razão humana pode intuir ao ser iluminada por Deus Assim os filósofos foram considerados estudiosos que obtiveram iluminação divina sobre seus intelectos o que os levou a conhecer verdades mas pela via da demonstração racional Nesse contexto Santo Agostinho elaborou sua teoria do conhecimento co nhecida como teoria da iluminação Iremos estudála e começaremos pelos co mentários do professor de filosofia medieval Carlos Arthur do Nascimento UNICESUMAR 45 Caroa leitora como você entende a relação entre razão e fé ao pensar a respeito da capacidade de cada uma em definir verdades absolutas São conciliáveis Ambas nos levam ao encontro do mistério e do limite do nosso conhecimento Quais tipo de ética e comportamento estão associados à forma como entendemos o conhecimento pensando juntos a fé na revelação divina proporciona o mais elevado conhecimento de que somos capazes e tais verdades não as poderíamos alcançar somente pela força da razão Daí a doutrina da iluminação divina último fundamento da verdade Isto também significa admitir que as verdades porventura contidas na filosofia pagã provém da mesma fon te de onde emanam as verdades cristãs A iluminação interior permite pois que alguns aspectos da filosofia pagã sejam ocasiões para que melhor nos compenetremos das verdades absolutas da religião assim como o som das palavras que por si só não é nada são ocasiões para que encontremos em nós o significado NASCIMENTO 1984 p 38 A partir dos comentários do professor Nascimento encontramos em Santo Agos tinho uma espécie de iluminação de origem divina que opera por meio da nossa mente fazendonos compreender corretamente os objetos do mundo sensível bem como o som das palavras proferidas por todos nós Portanto para Agostinho a hu manidade partilha de uma luz natural que lhe permite ter a inteligência iluminada e agindo sobre a inteligência humana tal iluminação permite conhecer corretamente De forma similar a Platão cujas ideias verdadeiras e perfeitas estavam em um mundo separado o qual os homens haviam vislumbrado conhecer é para Agostinho relembrar as ideias perfeitas Estas isto é as verdades estão na alma humana que foi criada por Deus O homem em contato com o mundo sensível pode então identificar reconhecer e dar significado às suas vivências por ter a inteligência iluminada Desse modo as verdades existem antes de serem desco bertas na realidade pois estão presentes já na alma humana mas é a vivência sensível na realidade material que lhes proporciona ocasiões para reconhecêla por meio da inteligência tal qual ocorreu com os filósofos gregos que encontra ram conhecimento mais pela razão do que pela fé UNIDADE 2 46 As verdades religiosas são principalmente os dogmas da igreja e as verdades contidas na Bíblia que por sua vez foram dadas aos homens por iluminação As verdades primordiais são superiores à razão e ao próprio intelec to apesar de pertenceremlhe por direito são intuídas pelo intelecto e daí a luz não são criadas por ele são dons recebidos pelo intelecto A verdade é doada à mente não posta pela mente Intrínseca ao sujeito humano enquanto tal não há nada na ordem natural supe rior e mais excelente que a mente mas na mente humana estão pre sentes verdades que são superiores à própria mente e não são criadas por ela logo existe Deus como Verdade absoluta fonte criadora da verdade da qual o homem participa CAPORALINI 2007 p 70 Portanto de acordo com essa visão recebemos de Deus o conhecimento das verdades eternas considerado o verdadeiro conhecimento que como um sol ilumina a razão e possibilita o pensamento correto Por isso encontramos no capítulo XI da obra De Magistro de Agostinho o título Não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente mas pela verdade que ensina interior mente Agostinho prossegue argumenta e exemplifica como opera a iluminação sob a inteligência humana Ensiname algo quem apresentar diante dos meus olhos ou a um dos sentidos do corpo ou também à própria mente as coisas que quero conhecer Com as palavras não aprendemos senão palavras antes o som e o ruído das palavras porque se o que não é sinal não pode ser palavra não sei também como possa ser palavra aquilo que ouvi pronunciado como palavra enquanto não lhe conhecer o significado Só depois de conhecer as coisas se consegue portan to o conhecimento completo das palavras ao contrário ouvindo somente as palavras não aprendemos nem sequer estas res ponderteei que todas as coisas significadas por aquelas palavras já eram de nosso conhecimento Pois eu já tinha na minha mente o que significa três jovens o que é forno o que é fogo o que é rei o que quer dizer ser preservado do fogo e finalmente todas as outras coisas significadas por aquelas palavras UNICESUMAR 47 No que diz respeito a todas as coisas que compreendemos não con sultamos a voz de quem fala a qual soa por fora mas a verdade que dentro de nós preside à própria mente incitados talvez pelas palavras a consultála Quem é consultado ensina verdadeiramente e este é Cristo que habita como foi dito no homem interior isto é a virtu de incomutável de Deus e a sempiterna Sabedoria que toda alma racional consulta mas que se revela a cada um quanto é permitido pela sua própria boa ou má vontade AGOSTINHO 1980 p 394 Vemos que para Agostinho as palavras e a linguagem de modo geral são ins trumentos que nos servem para comunicação que têm validade garantida pela já existência no interior da mente Nas palavras de Zilles 1994 Como o homem e seu intelecto são mutáveis e perecíveis não po dem ser os avalistas do conhecimento pois a verdade deve ser eter na imutável e universal A verdade só pode ser garantida por algo que se coloque acima dos homens e das coisas Deus Por isso a fé em Deus permite resgatar a dignidade da razão Compreender para crer e crer para compreender A fé não substitui nem elimina a inte ligência Ao contrário estimula e promove a inteligência Tampouco a inteligência elimina a fé mas a fortalece ZILLES 1994 p 79 E Morente 1980 afirma que A verdade racional e a verdade da fé não podem contradizerse Um só e mesmo Deus é o autor de nossa razão e o autor da reve lação Necessariamente portanto hão de coincidir a revelação e a razão que procedem da absoluta verdade de Deus A fé sabe que sabe por aceitação reverencial da autoridade divina A razão sabe o que sabe por própria atividade inteligente Porém ambos os saberes são verdades porque os princípios do raciocínio foram postos em nós por Deus que é o mesmo autor da revelação recebida por fé MORENTE 1980 p 131 Temos que para Agostinho fé e razão se complementam mutuamente Cabe ao homem desejar e ter vontade de conhecer a verdade encontrada em seu próprio interior Como explica Zilles UNIDADE 2 48 3 TOMÁS DE AQUINO A verdade habita no interior do homem in interiore hominis ha bitat veritas A verdade não se apreende de fora como por infusão extrínseca mas de dentro É preciso entrar dentro de si mesmo por um processo de interiorização sempre maior Essa interiorização deve ser dinamizada por um ardente desejo e amor da verdade Somente assim tornarmonos atentos à voz interior da verdade ZILLES 1994 p 80 grifo do autor Com isso podemos resumir que a teoria da iluminação de Agostinho é a sua teoria do conhecimento elaborada logicamente com as características de seu contexto re ligioso Nela o mundo e a alma humana são criados por Deus A inteligência humana é uma faculdade da mente que precisa ser iluminada para compreender reconhecer ordenar e distinguir as verdades das coisas do mundo material A iluminação consiste em uma intuição dessas verdades elas podem ser intuídas porque já estão contidas na alma humana criada por Deus e dependem da vontade humana unida à iluminação divina para serem conhecidas entre os fenômenos mundanos e materiais Portanto as verdades são os princípios eternos imutáveis e universais presentes na alma co nhecidos pela intuição humanam que é auxiliada pela iluminação Percebemos que a teoria de Santo Agostinho possui fortes semelhanças com a teoria platônica Por exemplo na maneira de compreender o mundo físico como algo fenomênico e na maneira de estabelecer um fundamento para o conheci mento que seja transcendente isto é um fundamento que está além da realidade sensível Para Platão é o mundo das ideias para Agostinho é o próprio Deus UNICESUMAR 49 Para Tomás de Aquino 12251274 em comum com Agostinho o fundamento do conhecimento também dependerá em última análise de Deus Porém no tomis mo como é chamada sua teoria que tem mais afinidades com a teoria aristotélica os sentidos e a racionalidade serão mais valorizados do que em Agostinho Tomás de Aquino foi também autor da filosofia medieval e sua obra trata a filosofia como auxiliar da teologia Contudo no período conhecido por Baixa Idade Média que vai do século X ao XV já próximo da modernidade ocorreram importantes mudanças culturais como o crescimento de cidades e o surgimento das universidades Assim surgiram muitos debates e autores que buscaram a autonomia da razão mas seu papel de complementar ou estar subordinada à fé persistiu por todo o período A teoria do conhecimento em Tomás de Aquino gira em torno do tema que ficou conhecido como a questão dos universais O que são os universais São os conceitos os produtos da abstração conforme vimos no início deste material são termos gerais que utilizamos para constituir o conhecimento Sem eles difi cilmente teríamos como comunicarnos e portanto fazer ciência e estabelecer conhecimentos Nunca passaríamos da compreensão de senso comum Na Ida de média essa problemática recebeu atenção especial e ficou conhecida como questão dos universais cujo núcleo é qual a forma de existência do universais e como eles se referem às coisas da realidade A questão dos universais ocupa toda a idade média Chegouse a dizer que toda a história da escolástica é a da disputa em torno dos universais isso não é correto mas o problema está presente em todos os outros problemas e se desenvolve em íntima conexão com a totalidade deles Os universais são os gêneros e as espécies e se opõe aos in divíduos a questão é saber que tipo de realidade corresponde a esses universais Os objetos que se apresentam a nossos sentidos são indivíduos este aquele em contrapartida os conceitos com que pensamos esses mesmos objetos são universais o homem a árvore As coisas que temos à vista são pensadas mediante suas espécies e seus gêneros qual a relação desses universais com elas Em outras palavras em que medida nossos conhecimentos se referem à reali dade Colocase portanto o problema de saber se os universais são ou não coisas e em que sentido MARÍAS 2004 p 143 UNIDADE 2 50 Para responder à questão dos universais encontramos três posições principais Assim o universal passa a ter fundamento em cada individualidade da realidade Então os universais são reais na mente e ao mesmo tempo dependem de cada O realismo que é a posição platônica ou seja os universais são entidades abstratas realmente existentes não são materiais nem estão no tempo e no espaço estão fora da natureza ou melhor transcendentes São portanto formas puras que permitem que nomeemos e entendamos as coisas particu lares da realidade Em última análise nesta posição o conhecimento depende de Deus pois os universais existem em Deus É uma posição defendida pelos mais tradicionais os quais viviam a autoridade da fé mais ardentemente e consideravam o mundo material menos fundamental A segunda posição é o nominalismo que considera os universais como me ros nomes ou como alguns defensores desta posição os chamavam flatus vocis que significa sopro de voz De tal forma não consideravam os univer sais como reais apenas palavras pronunciadas É uma posição que valoriza o mundo material e as existências individuais defendida por autores que por isso foram precursores da modernidade quer dizer que direcionaram os cri térios de verdade para o âmbito da razão mais do que da fé pois não faziam nenhuma relação entre universais e Deus A terceira posição é a em que se encontra Tomás de Aquino intermediária entre o realismo e o nominalismo o realismo moderado Nela os univer sais existem realmente mas apenas no espírito humano Assim para terem correspondência verdadeira com os objetos na realidade Tomás inseriu outro princípio o princípio da individuação responsável por determinar que cada objeto sensível conhecido esteja sob uma forma individualizada a qual se conecta ao universal Os escolásticos vivem numa extraordinária confiança na razão para penetrar as profundezas do mistério Para eles a fé não é um carisma extraordinário cuja transcendência se situe fora da maneira humana de pensar É antes a encarnação da verdade divina em nosso espírito Urbano Zilles pensando juntos UNICESUMAR 51 particularidade da realidade para que se fundamentem de forma objetiva Daí a moderação de seu realismo isto é os universais existem em primeiro lugar na mente humana mas dependem dos objetos particulares sensíveis para que tenham objetivi dade Por isso o tomismo é considerado uma posição moderada sobre os universais CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste material vimos que Aristóteles representa um ápice da filosofia grega Após ele devido a uma série de invasões territoriais que a Grécia sofreu a cultura e a filosofia grega foram modificadas para sempre dando início à história medieval O paradigma medieval era teológico por definição quer dizer muitos princípios já eram tomados como verdades absolutas principalmente o dogma que afirmava que o mundo e a alma humana são criações divinas Isso gerava outra forma de pensar a natureza diferente dos gregos Assim as teorias criadas na época se esforçaram para combinar os elementos do conhecimento com um mundo criado por Deus A filosofia enquanto esforço racional para compreender a natureza buscava o mesmo objeto que a teologia ou seja o fundamento e a causa primeira de todas as coisas A teologia porém a conhecia por intuição revelação e fé a filosofia apenas a buscava por outro caminho a razão a demonstração e a ciência Dessa maneira Tomás de Aquino posicionou a relação entre fé e razão ou seja o conhecimento começa na experiência sensível dos sentidos em seguida a mente abstrai as particularidades de cada objeto apreendido e chega ao universal isto é ao conceito que tem sua existência e validade dadas por Deus Além dos conceitos há também as verdades de fé que intuídas e dadas por revelação não tem origem nos sentidos como a ideia de salvação e de imortalidade da alma capazes de orientar e organizar a vida humana São intuições de verdades supe riores à razão que portanto só podem existir e ser dadas por Deus Nesta unidade entendemos como o tomismo colocou em uma relação de complementaridade o conhecimento racional e discursivo da razão com o co nhecimento por revelação e intuição da fé Esse paradigma religioso contudo começou a desgastarse no fim da Idade Média devido a uma série de mudanças sociais econômicas e culturais Surgiram o capitalismo comercial no lugar do feu dalismo os estadonações no lugar dos reinados novas classes econômicas etc que deram origem a um novo paradigma com pensadores de linha racionalista conforme veremos a seguir na unidade seguinte 52 na prática 1 Aristóteles determinou uma base para estabelecer o conhecimento que parte dos objetos sensíveis da realidade e encontra os conceitos estreitamente ligados sendo a realidade composta por uma multiplicidade de objetos reais individuais concre tos e existentes por si mesmos Tendo em consideração a filosofia aristotélica qual das alternativas a seguir apre senta o conceito que se refere a objetos reais individuais concretos e existentes por si mesmos a Substância b Acidente c Potência d Matéria e Dedução 2 Segundo Aristóteles no início da formação do conhecimento o trabalho da nossa faculdade do intelecto isto é do nosso raciocínio realiza reunião e organização das informações e memórias captadas pelos sentidos e as nomeia em conceitos que por sua vez são utilizados para conhecer outros objetos Esse processo inicial de formação do conhecimento é denominado por quais termos I Abstração e indução II Dedução e conclusão III Dedução e inferência IV Abstração e conclusão Assinale a alternativa que indica os termos corretos a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 53 na prática 3 Para Santo Agostinho as verdades existem antes de serem descobertas na realidade pois estão presentes já na alma humana mas é a vivência sensível na realidade ma terial que proporciona as ocasiões para reconhecêlas por meio de sua inteligência tal qual ocorreu com os filósofos gregos que encontraram conhecimento mais pela via da razão do que pela fé Assinale a alternativa que indica como na teoria de Agostinho a influência divina explica a obtenção de conhecimento verdadeiro a Revelação b Iluminação c Contemplação 4 Com base no que estudamos nesta unidade disserte sobre a relação entre filosofia e teologia na Idade Média 5 Explique o motivo pelo qual a posição de Tomás de Aquino em relação aos univer sais é considerada um realismo moderado 54 aprimorese O texto de Kant a seguir foi proferido em uma espécie de aula inaugural de semes tre Tornouse um clássico por retratar em um texto de fácil leitura o Iluminismo a modernidade e o papel da filosofia no espírito daquele tempo NÃO SE ENSINA A FILOSOFIA ENSINASE A FILOSOFAR Esperase que o professor desenvolva no seu aluno em primeiro lugar o homem de entendimento depois o homem de razão e finalmente o homem de instrução Este procedimento tem esta vantagem mesmo que como acontece habitualmente o aluno nunca alcance a fase final terá mesmo assim beneficiado da sua aprendi zagem Terá adquirido experiência e terseá tornado mais inteligente se não para a escola pelo menos para a vida Se invertermos este método o aluno imita uma espécie de razão ainda antes de o seu entendimento se ter desenvolvido Terá uma ciência emprestada que usa não como algo que por assim dizer cresceu nele mas como algo que lhe foi de pendurado A aptidão intelectual é tão infrutífera como sempre foi Mas ao mesmo tempo foi corrompida num grau muitíssimo maior pela ilusão de sabedoria É por esta razão que não é infrequente depararsenos homens de instrução estritamen te falando pessoas que têm estudos que mostram pouco entendimento É por esta razão também que as academias enviam para o mundo mais pessoas com as suas cabeças cheias de inanidades do que qualquer outra instituição pública Em suma o entendimento não deve aprender pensamentos mas a pensar Deve ser conduzido se assim nos quisermos exprimir mas não levado em ombros de maneira a que no futuro seja capaz de caminhar por si e sem tropeçar A natureza peculiar da própria filosofia exige um método de ensino assim Mas visto que a filosofia é estritamente falando uma ocupação apenas para aqueles que já atingiram a maturidade não é de espantar que se levantem dificuldades quando se tenta adaptála às capacidades menos exercitadas dos jovens O jovem que completou a sua instrução escolar habituouse a aprender Agora pensa que 55 aprimorese vai aprender filosofia Mas isso é impossível pois agora deve aprender a filosofar Para que pudesse aprender filosofia teria de começar por já haver uma filosofia Teria de ser possível apresentar um livro e dizer Vejase aqui há sabedoria aqui há conhecimento em que podemos confiar Se aprenderem a entendêlo e a com preendêlo se fizerem dele as vossas fundações e se construírem com base nele daqui para a frente serão filósofos Até me mostrarem tal livro de filosofia um livro a que eu possa apelar permitome fazer o seguinte comentário estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadureci da se em vez disso os enganássemos com uma filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício Tal pretensão criaria a ilusão de ciência Essa ilusão só em certos lugares e entre certas pessoas é aceite como moe da legítima Contudo em todos os outros lugares é rejeitada como moeda falsa O método de instrução próprio da filosofia é zetético como o disseram alguns filóso fos da antiguidade de ζητειν Por outras palavras o método da filosofia é o método da investigação Só quando a razão já adquiriu mais prática e apenas em algumas áreas é que este método se torna dogmático isto é decisivo Por exemplo o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo Ao invés deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós formar um juízo sobre ele e até mesmo na verdade contra ele O que o aluno realmente procura é proficiência no método de reflectir e fazer inferências por si E só essa pro ficiência lhe pode ser útil Quanto ao conhecimento positivo que ele poderá talvez vir a adquirir ao mesmo tempo isso terá de ser considerado uma consequência acidental Para que a colheita de tal conhecimento seja abundante basta que o alu no semeie em si as fecundas raízes deste método Fonte Kant 1992 56 eu recomendo História da Filosofia Autor Julian Marías Editora Martins Fontes Sinopse o livro trata dos autores filosóficos ao apresentar o fun damental da teoria de cada um desde o início da filosofia a autores contemporâneos Repleto de ótimos comentários e explicações Comentário é um livro de linguagem bastante acessível e que consegue transmitir com profundidade o essencial dos autores que trabalha Con sidero ótima fonte de estudos para conhecer o mais importante de cada filósofo auxiliar na elaboração de aulas e estudar os temas filosóficos de maneira geral livro O Silêncio Ano 2017 Sinopse o filme apresenta dois padres jesuítas que vão ao Japão para encontrar um colega que não retornara Os padres são bem recebidos por aqueles que foram convertidos ao cristianismo mas precisam viver escondidos porque as pessoas ligadas ao governo não são convertidas O choque entre as crenças trazidas pelos pa dres e as tradicionais daquele povo provoca inúmeros conflitos filme Link para baixar o livro Confissões de Santo Agostinho É uma autobiografia que relata sua vida antes de tornarse cristão sua evolução espiritual e a sua procura pela verdade httpssumateologicafileswordpresscom200907santoagostinhoconfis soespdf conectese 3 ORIGEM E POSSIBILIDADE do conhecimento PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Empirismo Racionalismo Criticismo A verdade dogmatismo e ceticismo OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Entender o empirismo Compreender o racionalismo Estudar o racionalismo Analisar o conceito de verdade o dogmatismo e o ceticismo PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro INTRODUÇÃO Caroa alunoa temos visto que conhecimento significa relação entre sujeito e objeto um objeto como fonte de informações que são dadas ao sujeito para que ele possa elaborálas e produzir conhecimento Entende mos que ambos os elementos funcionam de forma conectada e dependente Em suma o objeto fornece o conteúdo informações sensoriais e o sujeito organiza as informações conceitos desse processo resultam os juízos e as afirmações que podemos fazer os tipos de conhecimento Apesar da associação muito próxima entre sujeito e objeto um desses elementos de acordo com alguns pensadores é considerado fonte principal e determinante para estabelecer o conhecimento Podemos questionar será o objeto e a experiência sensível a origem e o fundamento para o co nhecimento ou será o sujeito e seu pensamento a origem Nesta unidade apresentarei a você as principais linhas de pensamento que elaboraram respostas para essas perguntas a saber empirismo e racionalismo O empirismo defende a tese de que a experiência sensível é o funda mento e a origem dos nossos conhecimentos que mesmo nossas ideias e conceitos mais universais e abstratos se originam na experiência O racio nalismo por sua vez defende a tese oposta ao empirismo ou seja para seus pensadores a verdadeira fonte de conhecimento é a razão e o pensamento Analisaremos ainda o criticismo corrente que considera tanto a ex periência quanto o pensamento como fontes de conhecimento Seus au tores buscam portanto conciliar o empirismo com o racionalismo Nos dois últimos tópicos deste material estudaremos o conceito de verdade e as duas principais posições que dizem respeito ao critério que define a verdade e a possibilidade do conhecimento o dogmatismo e o ceticismo Com isso teremos visto as principais posições filosóficas e correntes de pensamento que buscam explicar a origem e a possibilidade do conhe cimento humano Bons estudos UNICESUMAR 59 1 EMPIRISMO A tese empírica essencial afirma que nosso conhecimento tem origem na expe riência sensível A palavra empirismo tem origem no grego enteléquia e em peiria traduzidas por experiência referindose à experiência de contato com o mundo por meio dos cinco sentidos humanos No Dicionário de Filosofia de Abbagnano 2007 encontramos a seguinte definição para o termo empírico designa em primeiro lugar a espécie de saber que se adquire através da prática através da repetição e da memória Nesse sentido corres ponde ao significado primeiro de experiência e opõese a racional ABBAGNANO 2007 p 325 De acordo com o empirismo nosso saber começa a ser formado a partir do nascimen to ou seja nascemos com a alma vazia de conteúdo e conforme vivemos experiências com o mundo por meio dos sentidos formamos gradativamente o conhecimento UNIDADE 4 60 Desse modo segundo os empiristas o saber parte dos fatos concretos da realidade e de nossa percepção deles por meio dos cinco sentidos a começar pelo contato com o mundo a partir do nascimento e paulatinamente formar representações ideias e conceitos gerais o conhecimento Muitos empiristas estão presentes nas ciências naturais química física e biologia devido à absoluta importância que a observação e os experimentos possuem para constituir os conhecimentos nessas áreas O seguinte trecho do Dicionário de Filosofia de Ferrater Mora 2001 aju danos a esclarecer o que significa empirismo Todo conhecimento deve ser justificado recorrendo aos sentidos de modo que não é propriamente conhecimento a menos que o que se afirma seja confirmado atestado pelos sentidos Tem sido muito comum sustentar não só que o conhecimento se adqui re mediante a experiência e se justifica ou valida pela experiência mas também que não existe outra realidade senão a acessível pelos sentidos Indicouse por vezes que para os empiristas moder nos os empiristas ingleses a mente é como que uma espécie de receptáculo no qual se gravam as impressões procedentes do mundo externo MORA 2001 p 206 Portanto fica claro que o empirismo implica no papel fundamental dos sentidos para estabelecermos e verificarmos nossos conhecimentos Por empiristas mo dernos e ingleses citados no trecho de Mora 2001 o autor se refere a Bacon Hobbes Locke Berkeley e Hume Na próxima unidade veremos separadamente a teoria de alguns deles É esta corrente de pensamento que utiliza a ideia de que somos como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco para referirse à forma como nossa mente chega ao mundo isto é vazia sem nada escrito e pronta para receber conteúdo Tábula rasa é uma expressão do latim que significa tábua raspada ou tábua limpa Diz respeito ao tipo de escrita utilizado na Antiguidade quando em uma tábua coberta com uma camada de cera ou argila eram inseridos e escritos caracteres sobre a sua superfí cie Assim uma tábula rasa era uma tabuinha pronta para receber marca ções desenhos enfim conteúdos a serem registrados UNICESUMAR 61 Em tempos mais remotos certamente existiram empiristas como Aristóteles por exemplo que já estudamos neste material Vimos que na teoria aristotélica o co nhecimento começa na experiência sensível mas depende do trabalho da razão para ser demonstrado e expandido caracterizandoo como um empirista moderado Podemos resumir a corrente do empirismo como aquela composta pelos auto res que atribuem a origem do conhecimento à experiência com o mundo sensível a experiência por meio dos sentidos ou seja as ideias e os conceitos procedem necessariamente e em primeiro lugar por meio dos cinco sentidos Por mais com plexa e abstrata que seja alguma ideia que possuímos como as ideias de alma dos números ou de Deus que parecem não ter origem no mundo sensível ainda assim devem sua origem e seu fundamento último ao contato com a realidade sensível Mesmo as ideias complexas e abstratas são formadas a partir da experiência sensível e portanto não estão presentes de forma inata em nossa alma tal qual acreditam os racionalistas e idealistas como Platão Por isso o lema do empiris mo é não há nada no entendimento que não tenha estado antes nos sentidos Veremos detalhadamente o processo de formação desses conceitos no tópico sobre John Locke considerado o pai do empirismo moderno O racionalismo é fruto do início da Idade Moderna um período de profundas transformações Antes de vermos em que se trata na teoria do conhecimento precisamos entender um pouco melhor o contexto do qual surgiu De acordo com o professor Hilton Japiassu as mudanças nessa época foram tantas que podemos dizer que houve uma revolução espiritual no período 2 RACIONALISMO UNIDADE 4 62 Tratase de compreender como a revolução espiritual do século XVII de que a ciência moderna seria ao mesmo tempo a raiz e o fruto Esta revolução pode ser explicada de três modos diferentes pelos historiadores a alguns caracterizamna pela secularização da consciência por seu afastamento de metas transcendentes para objetivos imanentes a preocupação com o outro mundo e com a outra vida é substituída pela preocupação com este mundo e com esta vida b outros vêem nessa revolução a descoberta pela cons ciência humana de sua subjetividade essencial o objetivismo anti go é substituído pelo subjetivismo moderno c finalmente outros caracterizam essa revolução pela mudança de relação entre teoria e prática o ideal de vida contemplativa sendo substituído pela da vida ativa os antigos e os medievais dedicavamse à contemplação da natureza e do ser ao passo que os modernos querem dominar e subjugar a natureza JAPIASSU 1981 p 59 Podemos resumir este contexto como o de perda de referências e consequentemen te e ao mesmo tempo de busca por novas E onde os pensadores as encontraram Na própria razão Quer dizer surgiu a firme crença de que a razão humana é o fun damento último para determinar e conhecer as coisas Ela deve tornarse o centro Vemos assim que o fim da Idade Média e o início da modernidade foi uma verdadeira e ampla revolução É praticamente impossível reduzir tal trans formação a apenas uma causa Devemos pontuar algumas condições his tóricas que deram origem à Idade Moderna ou em outras palavras que levaram ao esgotamento do paradigma medieval desenvolvimentos marí timo comercial financeiro e industrial surgimento do primeiro capitalismo no lugar do feudalismo reforma protestante que dividiu e fragmentou o cristianismo crescimento das cidades e da classe burguesa que contratou artistas e filósofos renascimento artístico em que artistasengenheiros in ventavam e calculavam com o uso da matemática e portanto expandiram o trabalho artesão tese de Copérnico que substituiu o geocentrismo pelo heliocentrismo e abalou valores religiosos e morais entre várias outras mu danças históricas que afetaram todos os aspectos da vida UNICESUMAR 63 e assumir a função de reordenar o mundo Com esse intuito e a consideração do modelo matemático mais verdadeiro os pensadores iniciaram o desenvolvimento da ciência moderna pela observação experimentação e transformação da natureza Precisamente no campo filosófico surgiu o racionalismo cujo conhecido ini ciador foi René Descartes o qual partiu da dúvida sobretudo para construir o novo Marías 2004 explica que Não há nada certo exceto eu E eu não sou mais que uma coisa que pensa diz taxativamente Descartes je ne suis quune chose qui pense Portanto nem sequer homem corporal somente razão Pelo visto não é possível reter o mundo que escapa nem sequer o corpo só é seguro e certo o sujeito pensante O homem fica sozinho com seus pensamentos A filosofia vai fundarse em mim como cons ciência como razão a partir de então e durante séculos MARÍAS 2004 p 233 grifo do autor A citação de Marías 2004 nos aponta para a essência do racionalismo fundado por Descartes isto é na crença total que surge de que a razão é a faculdade primordial para alcançar o conhecimento pois seria a única forma segura para têla Para os modernos racionalistas o conhecimento verdadeiro só pode nascer do trabalho interior realizado pela razão da própria subjetividade e por conta de seu próprio esforço sem aceitar preconceitos e dados dos sentidos Somente a razão ela mesma pode conhecer julgar e ser a própria autoridade Nas palavras de Chaui 2002 A primeira intuição evidente verdade indubitável de onde partirá toda a filosofia moderna concentrase na célebre formulação de Descartes Penso logo existo O pensamento consciente de si como força nativa capaz de oferecer a si mesmo um método de intervir na realidade natural e política para modificála eis o ponto fixo encontrado pelos modernos CHAUI 2002 p 81 A partir das colocações postas podemos definir o racionalismo como a abordagem que coloca o próprio pensamento e a razão como únicas fontes e fundamentos capazes de estabelecer conhecimentos seguros com validade lógica e universal UNIDADE 4 64 Por exemplo as ideias de Platão conforme visto na Unidade 1 pertencem à teoria racionalista ou seja para ele o mundo da experiência está em permanente mudança e transformação Consequentemente o saber que formarmos apoiados somente na experiência sensível será uma opinião com validade local e temporária jamais um conhecimento universal Para ser universal é preciso que a razão a consciência ou o pensamento produza o conhecimento e o reconheça como verdadeiro a partir da própria lógica e das leis racionais quer dizer derivadas dela mesma estabelecidas como verdadeiras e evidentes pela própria capacidade de verificação da razão Na modernidade os racionalistas apresentaram o tema das ideias inatas Inata significa nascemos com portanto não dependem da experiência sensível pois estão presentes na razão e no espírito humano por exemplo a ideia de Deus o próprio cogito cartesiano as verdades da matemática e da geometria etc Assim as ideias inatas são verdadeiras claras e evidentes pois provêm puramente da razão e fazem parte do espírito humano Outro importante tema encontrado nos racionalistas modernos é a distinção do conhecimento em verdades de fato e verdades de razão Dessa maneira vemos que a crença no poder da razão e portanto na sua capaci dade de estabelecer o conhecimento científico como ocorreu na modernidade dá origem a teorias do conhecimento racionalistas que definem a própria razão como fonte e fundamento do conhecimento As verdades de razão são necessárias inatas universais e seu oposto é im possível Dependem da própria razão para concebêlas Por exemplo dois mais dois são quatro Esta é uma verdade de razão válida universalmente independe de confirmação na experiência As verdades de fato são dependentes da realidade exterior ou seja não têm razão de ser e dizem respeito ao mundo sensível Seu oposto é possí vel podem contradizerse Por exemplo a água ferve a 100 C Isto é ver dade sob determinadas circunstâncias sob outras pode ser que não seja logo é uma verdade que depende da experiência para ser estabelecida UNICESUMAR 65 A terceira posição em relação à origem dos nossos conhecimentos pode ser con siderada intermediária pois procura conciliar o racionalismo com o empirismo e afirma que nosso conhecimento possui tanto fatores racionais quanto empíricos Segundo o dicionário de Abbagnano 2007 crítica significa o processo através do qual a razão empreende o conhecimento de si o tribunal que garanta a razão em suas pretensões legítimas mas condene as que não têm fundamento ABBAGNANO 2007 p 223 Portanto no sentido filosófico quer dizer discernir distinguir separar realizar um exame minucioso e julgar Em outras palavras decidir o que a razão pode e o que não pode conhecer Por isso por meio do criticismo investigase a própria capacidade de conhecer da razão e consequen temente suas estruturas básicas e o quanto elas realmente podem conhecer algo O criticismo tem um autor moderno central que fundamentou esta corrente de pensamento de forma revolucionária na história da teoria do conhecimento Foi Immanuel Kant com sua Crítica da Razão Pura publicada em 1781 quem estabe leceu as bases do criticismo Nessa obra Kant realiza a crítica da razão portanto de termina novos parâmetros sobre como a própria razão procede ao conhecer Kant tem atitude diferente da tradição de pensadores da teoria do conhecimento pois inverte o foco na busca por este Enquanto a tradição se esforçou para determinar como os objetos são conhecidos objetivamente Kant olhou para as estruturas da mente que formam os objetos as estruturas anteriores ao próprio conhecimento que por sua vez possibilitamno moldamno e por isso limitamno 3 CRITICISMO UNIDADE 4 66 Kant designa as estruturas de categorias e intuições puras Elas são in tegrantes da própria razão pura e põem formas às coisas Se não fossem essas categorias teríamos apenas um caos de informações sensoriais porém por conta delas o conhecimento é possível Dentre todas as duas principais são tempo e espaço Assim para Kant tudo que podemos conhecer de forma científica precisa estar necessariamente no tempo e no espaço e quem faz isso é a própria mente pois dimensões temporais e espaciais são categorias da razão pertencem ao campo do sujeito sem as quais não se pode falar de conhecimento científico dos objetos Como explica Marías Kant distingue dois elementos no conhecer o dado e o posto Há algo que se dá a mim um caos de sensações e algo que eu ponho a espaçotemporalidade as categorias e da união desses dois ele mentos surge a coisa conhecida ou fenômeno Portanto o pensa mento ao ordenar o caos de sensações faz as coisas por isso Kant dizia que não era o pensamento que se adaptava às coisas mas sim o contrário Contudo não é o pensamento sozinho que faz as coisas ele as faz com o material dado MARÍAS 2004 p 314 Por isso o princípio que governa o criticismo afirma que conceitos sem intuições são vazios intuições sem conceitos são cegas Percebemos como nesta posição as informações dadas pela experiência sensível intuição são unidas pela razão em categorias conceitos de forma imediata Portanto o conhecimento se forma a partir de uma união imediata e direta entre a sensibilidade e o entendimento entre o dado informações sensíveis e o posto tempo e espaço de tal modo que quando tenho consciência sobre as coisas elas já estão sob estas formas da razão já foram transformadas e deformadas pelas categorias Logo determinam os objetos que se adaptam às categorias da razão pura e não o contrário Assim aquilo que conheço é formado pela minha razão é ela quem coloca as condições que possibilitam meu conhecimento Poderíamos dizer que para o criticismo a sensibilidade conectase indissociavelmente ao intelecto e que todo contato com o mundo é uma interpretação Portanto estando sob essas condições espaço e tempo posso falar em conhecimento verdadeiro Conse quentemente os objetos da metafísica por exemplo Deus e alma que não estão sob as condições não podem ser conhecidos verdadeiramente A crítica da razão UNICESUMAR 67 delimita os objetos sobre os quais podemos ou não fazer discursos científicos sobre eles conforme nos esclarecem as passagens a seguir Segundo Kant o nosso conhecimento é uma síntese de percepção sensível e de atividade espontânea da razão Todo o conteúdo deriva das percepções sensoriais a determinação formal decorre da es trutura do próprio sujeito formas a priori da sensibilidade espaço e tempo as categorias a priori do intelecto Na Crítica da Razão Pura limitou pois a capacidade da razão à mera interpretação da experiência ZILLES 1994 p 120 o material do conhecimento provém da experiência enquanto a forma provém do pensamento Com o material temse em vista as sensações Elas são completamente desprovidas de determinação e de ordem apresentamse como um puro caos Nosso pensamento produz ordem nesse caos na medida em que conecta os conteúdos sensíveis uns aos outros e faz com que eles se relacionem Espaço e tempo são as formas da intuição A consciência cognoscente introduz ordem no tumulto das sensações na medida em que as ordena espaço e temporalmente na simultaneidade ou sucessão Em seguida com a ajuda das formas do pensamento introduz uma outra conexão entre os conteúdos perceptivos Conectamos por exemplo dois conteú dos perceptivos por meio da forma de pensamento categoria da causalidade na medida em que consideramos um como a causa o outro como o efeito e estabelecemos assim uma conexão causal en tre eles Desse modo a consciência cognoscente constrói seu mundo de objetos Os tijolos são tomados como vimos da experiência No entanto a maneira de erguer o edifício bem como toda a estrutura da construção são condicionadas pelo pensamento pelas formas e fun ções a priori da consciência HESSEN 2003 p 6364 grifo do autor Vemos dessa forma como procede a formação do conhecimento segundo o cri ticismo Nele fatores sensíveis e racionais estão profundamente conectados por isso configurase como a síntese do empirismo com o racionalismo Ao mesmo tempo ao estabelecer essa relação ou melhor ao realizar a crítica da razão pura Kant e o criticismo determinam novos parâmetros a respeito da origem e do alcance do que a razão pode conhecer cientificamente UNIDADE 4 68 Ao longo deste material utilizamos o conceito de verdade pois é de fato inva riavelmente presente nas discussões epistemológicas Dizemos por exemplo que ciência é conhecimento verdadeiro ou que a verdade é encontrada pelo intelecto Devido ao uso extremamente frequente e necessário desse conceito iremos co nhecêlo isoladamente neste tópico Esse é o sentido de verdade de maior importância utilizado na teoria do conhe cimento isto é para referirse à realidade ao mundo No Dicionário de Filosofia de Ferrater Mora 2001 encontramos a seguinte definição de verdade O vocábulo verdade é empregado em dois sentidos para se referir a uma proposição e para referir a uma realidade No primeiro caso dizse de uma proposição que é verdadeira contrapondoa a falsa 4 A VERDADE DOGMATISMO e ceticismo Segundo o professor Morente 1980 p 149 a verdade do conhecimento consiste em sua concordância com o objeto ou melhor na relação do co nhecimento o pensamento formado pelo sujeito em vista do objeto con corde com este Portanto vemos que a verdade trata da relação de corres pondência adequação e concordância entre o pensamento e o objeto UNICESUMAR 69 No segundo caso dizse de uma realidade que é verdadeira dife renciandoa de aparente ilusória irreal inexistente etc Nos primórdios da filosofia os filósofos gregos começaram por buscar a verdade ou o verdadeiro diante da falsidade da ilusão da aparên cia etc A verdade era nesse caso idêntica à permanência ao que é no sentido de ser sempre quer se tratasse de uma substância material quer de números qualidades primárias átomos ideias etc O permanente era pois concebido como o verdadeiro em face do cambiante do mutável MORA 2001 p 700 O primeiro sentido de verdade que Mora 2007 nos coloca é utilizado e estu dado pela lógica que diz respeito à lógica correta de enunciar as proposições e à concordância entre os próprios enunciados São regidos pelos princípios de identidade e de não contradição Contudo investigamos aqui o segundo senti do empregado o epistemológico a verdade enquanto correspondência entre a realidade e o que pensamos dela É neste sentido que a verdade epistemológica é sinônimo de conhecimento científico ou conhecimento verdadeiro pois procura darnos mais conhecimento da realidade e portanto mais objetividade A verdade tal como buscada pelos gregos a busca pela arché era a bus ca pelo verdadeiro e imutável em oposição ao transitório e passageiro É neste conceito com a busca pela objetividade que se determina a relação entre sujeito e objeto entre mente e mundo Assim podemos definir a verdade como corres pondência ou adequação do pensamento com a realidade Vemos que a história da teoria do conhecimento se conecta em muitos pontos com a busca pela verdade e pela definição de verdade bem como pela colocação dos critérios de verdade Colocar um critério que determine o que é verdade ou não é ao mesmo tempo dá uma resposta para a pergunta da teoria do conheci mento ou seja como conhecer as coisas fielmente Devemos porém questionar é possível ter certeza sobre essa correspon dência O que o empirismo o racionalismo e o criticismo nos disseram so bre conhecer a realidade A verdade é como as coisas são de fato ou como nós as percebemos A correspondência pode ser perfeita Como garantir que nosso pensamento corresponde aos fatos Que critério devo usar para definir o que é verdadeiro UNIDADE 4 70 Diante desses questionamentos a história da filosofia produziu duas tendên cias principais sobre a possibilidade de conhecermos a verdade o dogmatismo e o ceticismo Vejamolas separadamente A verdade o dogmatismo Dogma é definido no Dicionário de Filosofia de Abbagnano 2007 como Opinião crença decisão juízo e portanto decreto ou ordem Nesse sentido essa palavra foi entendida na Antiguidade para indicar as crenças fundamentais das escolas filosóficas e depois usada para indicar as decisões dos concílios e das autoridades eclesiásticas so bre as matérias fundamentais da fé ABBAGNANO 2007 p 293 A palavra dogma tem origem no contexto religioso referindose à doutrina e aos ensinamentos que são baseados em verdades tidas como absolutas fundamentais e indiscutíveis O dogma da Santíssima Trindade por exemplo segundo o qual três pessoas Pai Filho e Espírito Santo não são três deuses mas somente um ou seja Deus é uno e trino ao mesmo tempo Isso é uma verdade um dogma provindo de iluminação divina que deve ser aceito pela fé independentemente se a razão o compreende ou não Vem daí a denominação de dogmático para aquele que se fixa firmemente a alguma verdade e a considera inabalável e absolutamente verdadeira O dogma tismo enquanto posição filosófica referente ao conhecimento abarca os filósofos que estão convencidos do poder da razão humana em conhecer a verdade absoluta Kant chama de dogmático os filósofos anteriores a ele por não te rem proposto como discussão primeira a crítica da faculdade de conhecer Ou seja aqueles filósofos não acordaram do sono dog mático no sentido de ainda manterem a confiança não questionada no poder que a razão tem de conhecer Neste rol estaria incluído Descartes que como vimos tinha em vista alcançar a verdade in dubitável MARTINS ARANHA 2009 p 112 Para o dogmático portanto o problema da apreensão da realidade pelo pen samento é sempre resolvido pela razão ou seja o sujeito apreende o objeto de UNICESUMAR 71 forma acabada e com o trabalho do pensamento alcança a verdade No dog matismo o campo da razão detém toda a verdade e o fundamento último do conhecimento Segundo Hessenn 2003 no dogmatismo A possibilidade e a realidade do contato entre sujeito e objeto são pura e simplesmente pressupostas É autoevidente que o sujeito apreende seu objeto que a consciência cognoscente apreende aquilo que está diante dela Esse ponto de vista é sustentado por uma con fiança na razão humana que ainda não foi acometida por nenhuma dúvida HESSEN 2003 p 29 Essa é a posição do dogmatismo que não compreende o conhecimento como uma re lação entre naturezas diferentes sujeito e objeto porque entende que o sujeito apreen de a realidade fielmente e a razão tem o fundamento e o poder de determinar o conhecimento verdadeiro O âmbito do objeto é completamente dependente da razão Dessa maneira não é feita uma crítica à razão isto é não há preocupação em examinar rigorosamente a capacidade da razão humana pois pressupõe que a razão tem toda a possibilidade de conhecer verdadeiramente as coisas Estuda mos assim o dogmatismo na teoria do conhecimento haja vista o nosso foco neste material Entretanto este conceito também pode ser encontrado em outras áreas do saber como a ética a moral e a religião A verdade o ceticismo O ceticismo é a posição filosófica sobre o conhecimento oposta ao dogmatismo Como afirma Hessen 2003 Para o ceticismo o sujeito não seria capaz de apreender o objeto O conhecimento como apreensão efetiva do objeto seria segundo ele impossível Por isso não podemos fazer juízo algum ao contrário devemos nos abster de toda e qualquer formulação de juízos HES SEN 2003 p 31 Nesse trecho o autor aponta os dois principais elementos que constituem a posição do ceticismo a impossibilidade de apreensão do objeto e a suspensão do juízo UNIDADE 4 72 Um conhecimento rigoroso e universal portanto é impossível para o cético É algo sempre muito limitado dependente das particularidades subjetivas do sujeito O cético prefere a suspensão do juízo quer dizer a não afirmação de verdades univer sais e absolutas e também a não negação ou seja suspender o juízo é não afirmar nem negar ele aceita e reconhece a dúvida e a própria limitação da capacidade do entendimento humano Nosso conhecimento é tido sempre como provisório limitado restrito relativo Não há verdades nem certezas absolutas é incerto Desse modo vemos o essencial do ceticismo referindose à possibilidade de conhecimento rigoroso do mundo ou seja o ceticismo epistemológico que investiga a relação entre sujeito e objeto como é o nosso foco com este material Tal qual o dogmatismo também pode referirse a posicionamentos éticos morais religiosos entre outros Para ajudarnos a concluir e esclarecer esta posição cito o trecho do livro do professor Hilton Japiassu 1981 A apropriação intelectual de um campo empírico ou ideal de da dos que constitui o conhecimento científico da realidade de forma alguma pode ser reduzida a uma simples operação fotográfica a uma mera reprodução ou cópia do real Nem mesmo a máquina fotográfica consegue o feito da completa isenção até mesmo a per feição da imagem depende da qualidade química do filme jamais podendo ser a cópia perfeita do real Ora em toda a captação ou apropriação do real entra em ação um sujeito que por definição é subjetivo Ele deve atingir a objetividade através de um projeto de construção da subjetividade Ademais a aproximação do real pode variar pois é dependente de um sujeito histórico E se admitirmos Enquanto o dogmatismo considera a razão plenamente capaz de apreender os objetos e determinar a verdade o ceticismo nega essa possibilidade Para ele o conhecimento está sempre condicionado por aspectos subjetivos do sujeito por suas capacidades naturais sua cultura e o meio em que vive UNICESUMAR 73 Juízo expressão linguística de um enunciado que pode ser verdadeiro ou falso O mesmo que proposição Conhecimento ato de conhecer Do latim cognoscere traduzido em português por cognoscente ou cognoscível o que chega à consciência Experiência apreensão de algo por um sujeito o modo de conhecer algo imedia tamente antes de todo juízo formulado a respeito do apreendido Fato de viver algo dado anteriormente a toda reflexão Fonte o autor explorando Ideias O filósofo francês Paul Ricouer cunhou a expressão mestres da suspeita para aludir aos autores que criticaram a finalidade da consciência humana Em sua opinião a nossa cons ciência está a serviço de quê Como ela é formada pensando juntos que a realidade também é histórica não temos o direito de negar uma variação em sua fenomenologia Portanto mesmo que admi tamos a invariância das leis lógicas somos forçados a reconhecer que elas são efetivamente aplicadas por sujeitos variantes sobre uma realidade que também é mutante Donde a impossibilidade de uma objetividade perfeita Quando a ciência acredita determinar completamente o real para apropriálo constrói sua objetividade sobre um objeto imóvel consequentemente morto Ora a ciência existe porque há problemas reais Ela nunca tem a certeza de que irá esgotálos determinalos por completo a não ser que faça de seu saber a promoção da morte além de já constituir a promoção do poder Por isso temos que definila como um processo inacabado de busca de verdades provisórias Nesta perspectiva a evidência só pode ser um engano ou um dogma E a certeza só pode credulidade ou cegueira JAPIASSU 1981 p 31 UNIDADE 4 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas três primeiras aulas desta unidade objetivamos estudar as três principais correntes filosóficas que investigam a origem do nosso conhecimento Vimos o empirismo cuja tese é a de que nossa principal fonte conhecedora é a experiência empírica por meio dos sentidos o racionalismo este sustenta que a razão é nossa principal fonte de conhecimento seguro e o criticismo que busca intermediar as duas posições e ao mesmo tempo fazer a crítica da própria faculdade da razão ao delimitar suas possibilidades Para cada uma das três posições que estudamos podemos encontrar os adjetivos radical ou moderado que significa o grau de certeza da teoria apresentada Por exemplo Platão e Descartes podem ser considerados racionalistas radicais pois suas teorias diminuem consideravelmente o valor do conhecimento obtido pelos sentidos e colocam a razão como plenamente capaz de alcançar a verdade Para o primeiro a razão alcança as ideias perfeitas e para segundo a verdade indubitável do eu penso Em seguida vimos que há duas posições principais a respeito da possibilidade do conhecimento o dogmatismo e o ceticismo que também podem receber as denominações de radical ou moderado No dogmatismo a verdade é encontrada fundamentalmente pela razão e para o ceticismo devemos suspender o juízo porque a verdade não pode ser encontrada Há ainda outras posições possíveis Uma delas é o pragmatismo que define a verdade a partir de um critério prático isto é quando a validade de um conhe cimento é determinada por sua utilidade resultado de aplicações práticas que podem ser verificadas na experiência sendo esta uma posição bastante reconhe cida na atualidade É possível porém notar que a pragmática pode ser reduzida ao ceticismo que afirma a relatividade do conhecimento São encontradas também as posições chamadas de subjetivismo intelectua lismo apriorismo entre outras que são a seu modo reduzíveis ao dogmatismo ou ao ceticismo Infelizmente a análise de cada uma estenderia excessivamente nosso material por isso analisamos as duas principais tradições filosóficas a res peito da origem e da possibilidade do conhecimento 75 na prática 1 Qual é a corrente filosófica que utiliza a expressão tábula rasa para referirse à for ma com a qual a mente humana chega ao conhecimento pela experiência sensível Assinale a alternativa indicativa a Racionalismo b Criticismo c Subjetivismo d Intelectualismo e Empirismo 2 A posição filosófica a respeito da origem dos nossos conhecimentos denominada criticismo é uma conciliação entre duas outras posições Quais são elas I Racionalismo e empirismo II Apriorismo e intelectualismo III Empirismo e dogmatismo IV Racionalismo e ceticismo Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 76 na prática 3 Para o criticismo nosso conhecimento é formado por estruturas da razão pura que ao formarem o conhecimento restringem ao mesmo tempo o seu alcance Para Immanuel Kant é correto afirmar que essas estruturas são denominadas Conceitos e causalidade Categorias e intuições puras Intuições puras e sensibilidade A sequência correta para a resposta da questão é a F V V b V V F c F V F d F F F e V V V 4 De acordo com o que estudamos nesta unidade explique o que é dogmatismo na teoria do conhecimento e cite o exemplo de uma teoria filosófica dogmática justificandoa 5 Explique a definição de conceito de verdade enquanto adequação e correspon dência do pensamento com o objeto pensado e descreva como o ceticismo se dá em relação à definição 77 aprimorese No artigo seguinte o professor Rogério José Schuck faz uma síntese da teoria do co nhecimento elaborada no período da modernidade apontando seus fundamentos e suas consequências bem como um caminho para sua superação A MODERNIDADE DIANTE DO PROBLEMA DO CONHECIMENTO A perspectiva de construção do conhecimento pelas vias do método cartesiano trouxe enormes benefícios à humanidade não podemos deixar de reconhecêlo sobretudo em termos de avanços tecnológicos e domínio de questões que ameaça vam a vida como é o caso do controle de doenças Em contrapartida trouxe a cres cente pretensão onipotente da razão humana que busca na ciência as respostas a todos os questionamentos do homem Tratase de um modelo de construção do saber que vem reivindicando o status de modelo por excelência na construção do conhecimento tido como resultado de um ato objetificador do pensar conseqüên cia da separação rígida entre sujeito e objeto sendo o primeiro aquele a quem cabe a tarefa de impor sobre o segundo as condições sobre as quais deve se manifestar Contemporaneamente têm crescido as críticas a tal modo de se relacionar com o conhecimento que busca na noção póscartesiana do saber o sujeito racional oni potente que quer ter a primazia do pensamento como exclusiva na produção do saber A crítica que se coloca está justamente nessa contradição ao percebermos que tal modelo não consegue dar conta de seus pressupostos a saber o domínio da razão sobre a totalidade do saber Diante do fracasso do uso meramente instrumental da razão que insiste em não reconhecer os problemas gerados por sua pretensão objetificadora surgem tentati vas de superação desse paradigma demonstrando que existe outro modo possível de chegar à compreensão com pretensão de verdade Nesse sentido podese falar em termos da realidade que não se deixa absorver plenamente sendo que algo es capa à razão calculante É justamente esse algo que escapa que desmascara a pre tensão absolutizadora de uma razão tencionando conduzir plenamente o saber 78 aprimorese A Teoria do Conhecimento no sentido clássico sustenta a necessária separação rígida entre sujeito e objeto processo esse que denominamos objetificação na me dida em que o sujeito é o determinador das condições de possibilidade do conhe cimento do próprio objeto Delineiase assim um horizonte de compreensão à base do qual podemos perceber o surgimento e a consolidação do paradigma moderno na construção do conhecimento com a sua pretensão de verdade Desde Bacon e Descartes passando pelo Iluminismo a legitimação do conheci mento vem sendo marcada pela separação rígida entre sujeito e objeto acreditan dose que a razão vai conseguir dar conta de uma reflexão absoluta não deixando espaço para a influência da postura humana na configuração do saber Gadamer colocou em xeque a metodologia objetificadora como base última da legitimação do conhecimento Não se trata de deixar de reconhecer o potencial reflexivo da razão mas reconhecer uma base préreflexiva a partir de onde tem início o movimento da compreensão enquanto experiência ontológica que precede o pensamento cientifi cista o qual se vê questionado na sua pretensão de ser a condição de possibilidade para todo o conhecimento verdadeiro Ao invés de a razão ser o centro criador do sentido de tudo a experiência do sujeito é a de não poder dominar o espaço dentro do qual sua compreensão se dá sendo este anterior ao campo da consciência enquanto percepção lógica Assim sendo o procedimento hermenêutico se estabelece enquanto procedimento inte rativo entre os parceiros do diálogo A subjetividade já se encontra desde sempre inserida na tradição Então é preciso dizer que toda compreensão é marcada por préconceitos que se gestaram na tradição Assim sendo dáse a superação da perspectiva objetificadora O sujeito não é a ponte a partir de onde o sentido se gera O sentido se revela na consciência do sujeito gerase na história e se transmite de geração em geração de modo que podemos afirmar que os préconceitos se gestaram na tradição e são condições de possibilidade da compreensão Através da compreensão da historicidade somos levados a perceber limites internos à preten são moderna na construção do conhecimento Fonte Schuck 2011 79 eu recomendo O cinema pensa uma introdução à filosofia através dos filmes Autor Julio Cabrera Editora Rocco Sinopse Julio Cabrera expõe discute e interroga a filosofia con tida em muitos filmes de diversos diretores evidenciando o pro fundo diálogo entre o pensamento filosófico e o cinema Comentário com a proposta de comentar a filosofia dos filmes relacionada à teoria dos principais filósofos o livro também pode ser um importante recurso didático a ser utilizado por professores em sala de aula livro Lutero Ano 2003 Sinopse o filme conta a história baseada em fatos reais da vida de Lutero um padre católico que teve um chamado transforma dor de Deus que viria a influenciar todo o mundo por meio da publicação de suas 95 teses apoiadas nas escrituras sagradas Comentário é possível notar o contexto de tensões sociais da época de transição da medievalidade para a modernidade bem como o impacto que a reforma de Lutero teve sobre o cristianismo dividindoo filme 80 eu recomendo Conheça o canal Quem somos nós no qual o apresentador entrevista importan tes estudiosos brasileiros que discorrem a respeito da teoria dos filósofos clássi cos a partir da pergunta quem somos nós httpswwwyoutubecomchannelUCIj7UmUVFTFC9yXNiZoRmEg Esta indicação se refere ao canal Casa do Saber que apresenta professores de universidades brasileiras explicando e comentando as principais ideias de muitos filósofos httpswwwyoutubecomusercasadosaber conectese 4 TEORIA DO CONHECIMENTO na modernidade PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade O empirismo de John Locke O empirismo de David Hume Auguste Comte o positivismo OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender a teoria do conhecimento de John Locke das ideias simples às mais complexas Inter pretar a teoria do conhecimento de David Hume suas impressões e associação de ideias Entender o que é a filosofia do positivismo PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiro INTRODUÇÃO Caroa alunoa o paradigma medieval no qual Deus era uma referência de absoluto em que se poderia fundamentar tanto a validade do conhecimento quanto a organização social da vida ao findarse significou o surgimento de um novo paradigma o moderno Neste o homem buscou fazer de sua própria razão o referencial para organizar a vida e o conhecimento A razão se tornou a única instância que produz e que valida o conhecimento Co nhecer passou a ser conhecer o que se passa em mim minhas experiências conscientes quer dizer minhas ideias sensações impressões enfim As expe riências do campo da própria razão e do sujeito se tornam as bases da ciência O mesmo contexto deu origem ao racionalismo de Descartes ao criti cismo de Kant ao empirismo de John Locke e David Hume e ao positivismo de Auguste Comte Nesta unidade trataremos dos três últimos autores Na primeira aula estudaremos a filosofia de Locke fundador do empirismo moderno e da teoria do conhecimento como disciplina independente e os principais conceitos que a fundamentam Na segunda investigaremos a teoria do conhecimento de Hume que aprofundou o empirismo até suas consequências mais radicais E no terceiro tópico iremos dedicarnos à filosofia positivista de Auguste Comte As ideias desses filósofos constituem degraus imprescindíveis na evolução do pensamento de nossa cultura e influenciam muito além da filosofia Como veremos Locke e Hume lançaram bases para a psicologia que se formaria mais tarde e Comte inspirou o lema da bandeira do Brasil ordem e progresso Com esta unidade você prezadoa estudante verá conceitos e autores que fizeram o conhecimento de suas épocas avançar e propuseram novas bases para o desenvolvimento do pensamento posterior Bons estudos UNICESUMAR 83 1 O EMPIRISMO DE JOHN LOCKE Como vimos na introdução deste material John Locke é considerado o funda dor da teoria do conhecimento enquanto disciplina específica e independente É a partir da sua obra de 1690 Ensaio Sobre o Entendimento Humano que a disciplina passa a receber esse tratamento Nela Locke é explícito quanto ao seu objetivo como afirma na introdução do livro Sendo portanto meu propósito investigar a origem certeza e ex tensão do conhecimento humano juntamente com as bases e graus da crença opinião e assentimento Ao meu presente propósito será suficiente considerar as faculdades discernentes do homem e como elas são empregadas sobre os objetos que lhe dizem respeito E imaginarei que não terei divagado em pensamentos surgidos nessa ocasião se puder dar algum relato dos meios pelos quais nossos en tendimentos alcançam as noções das coisas que possuímos e puder estabelecer algumas medidas de certeza de nosso conhecimento ou as bases dessas persuasões que são encontradas entre os homens tão variados diferentes e inteiramente contraditórios LOCKE 1999 p 31 grifo do autor A investigação sobre o conhecimento e o próprio intelecto humano na qualidade da faculdade que produz o conhecimento tornamse o foco e o objeto de seus UNIDADE 4 84 estudos Essa é uma das principais características da filosofia na modernidade ou seja fazer da própria consciência humana que produz o conhecimento um objeto a ser investigado Anteriormente vimos Descartes um racionalista trabalhando neste contexto e agora veremos Locke um empirista investigando o conhecimento Ambos pela busca dos fundamentos para um conhecimento seguro no início da modernidade John Locke foi um crítico das ideias inatas do racionalismo no sentido de que nossas ideias e portanto nosso conhecimento é construído a partir do contato sensível com o mundo Para ele nenhuma ideia faz parte da razão ou do espírito humano em si pois todas provêm da experiência Neste pensador encontramos a metáfora da mente como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco pois como empirista ele enfatizou o papel dos sentidos e da experiência sensível no processo de conhecer Reflita como se origina exatamente o conhecimento segundo o empirismo de John Locke Para responder conheceremos primeiro os principais conceitos utilizados em sua teoria Sem dúvidas ideia é o conceitochave pois para ele tem sentido amplo e diz respeito a tudo o que é perceptível para a consciência quer dizer tudo o que podemos pensar sentir lembrar enfim qualquer coisa da qual a mente possa ter consciência é tomando como ideia Em seguida Locke dividiu as ideias em dois tipos de sensação ou reflexão As de sensação são aquelas que provêm de um estímulo externo captado por meio dos sentidos As de reflexão são aquelas produzidas internamente ou seja que a mente percebe que resultam de sua própria atividade e operação Em outras palavras como explica Morente 1980 Locke distingue duas fontes possíveis de nossas ideias a sensação e a reflexão Locke entende por sensação o elemento psicológico mínimo a modificação mínima da mente da alma quando algo por meio dos sentidos a excita lhe produz uma modificação e entende por reflexão o perceber na alma aquilo que nela própria acontece MORENTE 1980 p 182 Podemos resumir portanto que as ideias que possuímos provêm da experiência externa sensação ou da experiência interna reflexão Em seguida Locke realizou uma distinção entre os tipos de ideias classificandoas como simples ou complexas UNICESUMAR 85 A partir desses conceitos principais sensação reflexão ideias simples e comple xas Locke realizou a análise do conhecimento buscando os elementos compo nentes e assim fundamentando seu empirismo Nas palavras do próprio filósofo Suponhamos pois que a mente é como dissemos um papel em branco desprovida de todos os caracteres sem quaisquer ideias como ela será suprida De onde lhe provém este vasto estoque que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento A isso respondo numa palavra da expe riência Todo o nosso conhecimento está nela fundado e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes que são por nós mesmos percebidas e refletidas nossa ob servação supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas ideias ou as que possivelmente teremos LOCKE 1999 p 57 Evidentemente é possível notar o esforço e o objetivo de Locke em explicar as fontes e origens de nossas ideias bem como a explicação dos processos cognitivos envolvidos na produção Primeiro nossos sentidos familiarizados com os objetos sensíveis particulares levam para a mente várias e distintas percepções das coisas segundo os vários meios pelos quais aqueles objetos os impressionaram Recebemos assim as ideias de amarelo branco quente frio mole duro amargo doce e todas as ideias que deno minamos de qualidades sensíveis Quando digo que os sentidos levam para a mente entendo com isso que eles retiram dos objetos As simples correspondem às originadas pela sensação e as complexas por sua vez são formadas por composição de ideias simples A composição é realizada por operação da mente que reúne compara abstrai generaliza distingue associa relaciona combina as ideias e percepções simples e com isso forma as ideias complexas UNIDADE 4 86 O filósofo George Berkeley desenvolve uma filosofia de idealismo extremado Para ele não existe a matéria Por trás de todas as percepções não existe nenhuma substância material Existe apenas o eu espiritual e Deus As ideias procedem de Deus que é quem as põe em nosso espírito e agindo sobre ele faz com que exista um mundo material Fonte Marías 2004 explorando Ideias externos para a mente o que lhes produziu estas percepções A esta grande fonte da maioria de nossas ideias bastante dependente de nossos sentidos dos quais se encaminham para o entendimento denomino sensação Os objetos externos suprem a mente com as ideias das qualidades sensíveis que são todas as diferentes per cepções produzidas em nós e a mente supre o entendimento com ideias através de suas próprias operações Quando efetuarmos uma investigação completa de ambos de seus vários modos combinações e relações descobriremos que eles con têm todo o nosso estoque de ideias e que não temos nada em nossas mentes a não ser o derivado de um desses dois meios LOCKE 1999 p 57 grifo do autor Nesse sentido para Locke não podemos ter ideias inatas como pensava Des cartes As ideias complexas por serem resultado da síntese de ideias simples são somente nomes dos quais utilizamos para organizar e ordenar as coisas sem validade objetiva propriamente Desse modo com a teoria do conhecimento exposta em seu Ensaio sobre o Entendimento Humano Locke deu início ao empirismo moderno apresentan do como fundamentos os conceitos estudados neste tópico ideias de sensação reflexão simples e complexas UNICESUMAR 87 David Hume 17111776 faz parte dos fundadores da corrente empirista mo derna Neste escopo Hume escreveu duas obras muito estudadas Tratado da Natureza Humana e Investigação Acerca do Entendimento Humano Nelas o filósofo levou mais adiante o empirismo que se desenvolvia desde Francis Bacon John Locke e George Berkeley estabelecendo métodos claros e relativamente simples para investigar o alcance e os limites do conhecimento Tal qual os céticos para Hume o conhecimento não pode alcançar verdades metafísicas pois conhecer é ter impressões e formar ideias e crenças originadas ape nas pela regularidade pela constância e pelas semelhanças de nossas experiências não por causa de uma objetividade absoluta ou um contato direto com o mundo Entenderemos detalhadamente agora a posição epistemológica de Hume por meio dos conceitos que constituem a sua teoria do conhecimento O primeiro e ba silar conceito humeano é o das impressões Em Investigação Hume 1999 escreve Cada um admitirá prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções do espírito As menos fortes e menos vivas são geralmente denominadas pensamentos ou ideias A outra espé cie não possui um nome em nosso idioma e na maioria dos outros Deixenos portanto usar um pouco de liberdade e denominálas impressões empregando esta palavra num sentido de algum modo 2 O EMPIRISMO DE DAVID HUME UNIDADE 4 88 diferente do usual Pelo termo impressão entendo pois todas as nossas percepções mais vivas quando ouvimos vemos sentimos amamos odiamos desejamos ou queremos E as impressões dife renciamse das ideias que são as percepções menos vivas das quais temos consciência quando refletimos sobre qualquer das sensações acima mencionadas quando uma pessoa sente a dor do calor excessivo ou o prazer do calor moderado e quando depois recorda em sua memória esta sensação ou a antecipa por meio da imagi nação é mais fraca e embaçada em comparação com aquelas que revestiam nossas percepções originais O pensamento mais vivo é sempre inferior à sensação mais embaçada Ou melhor para expressarme em linguagem filosófica todas as nossas ideias ou per cepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas HUME 1999 p 3536 grifo do autor As impressões são para Hume o material primeiro do nosso pensamento Elas fornecem os conteúdos representam o meio pelo qual o conhecimen to é iniciado Podem ser impressões internas como a percepção de um estado emotivo ou externas como as coisas que vemos e ouvimos As impressões são para Hume o material primeiro do nosso pensamen to Elas fornecem os conteúdos representam o meio pelo qual o conhe cimento é iniciado Podem ser impressões internas como a percepção de um estado emotivo ou externas como as coisas que vemos e ouvimos São sempre o ponto de partida do conhecimento são o que a consciência possui para poder começar a pensar e formar ideias a partir de faculdades como racio cínio imaginação e memória Portanto as impressões são anteriores às ideias são derivadas das impressões Na sequência precisamos deixar claro o que Hume entende por ideia Se gundo ele essa é uma cópia pálida embaçada ou menos vivaz das impressões e percepções Derivam necessariamente das impressões distinguindose apenas pelo grau de vivacidade ou intensidade com que atingem nossa mente Tal diferença entre o grau de vivacidade das percepções que as distingue em impressões ou ideias dá um caráter fortemente psicológico à teoria de Hume UNICESUMAR 89 pois o que pode ser conhecido parte exclusivamente das impressões e sensa ções fornecidas pela experiência com o mundo Assim o conhecimento passa a ser a partir das experiências e impressões que minha mente é capaz de ter ou seja é o conhecimento das próprias experiências enquanto fatos mentais que me ocorrem e não das coisas no mundo externo Por isso o ceticismo quanto à possibilidade de conhecer objetivamente os objetos da realidade pois o dado de que parte meu conhecimento são minhas impressões internas subjetivas isto é algo no âmbito do próprio sujeito Esse é um princípio fundamental da teoria de Hume também denominada empirismo psicológico que o seguinte trecho de Morente 1980 nos ajuda a esclarecer Minhas vivências aludem a realidades fora de mim Porém eu não encontro em nenhuma parte substâncias nem corpos mas somente vivências Por conseguinte a única coisa que posso ter é crença belief num mundo exterior Eu creio que o mundo exterior existe creio que este copo existe que se bebo a água que contêm vou re frescar a boca creio que esta lâmpada existe porém creio porque estou acostumado a crer assim pelo hábito pela associação de ideias Todavia a existência metafísica em si e por si do mundo exterior além de minhas vivências isso não está dado naquilo que posso manejar naquilo que me é dado as impressões MORENTE 1980 p 189 grifo do autor Postos os conceitos basilares de Hume podemos perguntar se só tenho acesso às impressões então a realidade é representada por elas E pior as minhas im pressões subjetivas Então como fica o conhecimento objetivo a ciência Hume é cético quanto a essa possibilidade A ciência fica restrita e impossibilitada de conhecer fielmente os objetos externos e se torna então crença possível por causa da regularidade das impressões e ideias É preciso ter atenção ao sentido do termo crença em Hume para não con fundilo com o sentido do senso comum Este filósofo referese à crença na realidade das coisas externas devido exclusivamente à regularidade das nossas ideias E o que causa essa regularidade Os princípios de associação de ideias responderia ele como veremos na sequência UNIDADE 4 90 Para Hume de forma semelhante a Locke existem ideias simples e complexas As simples remetem diretamente a uma impressão e não são constituídas por partes ou seja não podem ter seus elementos separados Ao contrário as ideias complexas podem ser separadas em partes pois são resultado do trabalho da imaginação e do entendimento Em Investigação Hume 1999 cita como exemplo de ideias complexas a sereia o centauro e uma montanha de ouro Os três são originados e reduzíveis a ideias simples que são unidas pelo trabalho do entendimento formando assim ideias complexas Segundo o filósofo para formálas e associálas nossa mente segue três princípios associação por semelhança quando nossa mente une ideias parecidas e semelhantes por contiguidade devido ao surgimento sempre próxi mos das ideias levandonos inevitavelmente de uma a outra e por causalidade quando a sucessão e a sequência regular das ideias nos levam a associálas como pertencente a uma relação de causa e efeito Os três princípios de associação de ideias produzem em nós isto é na mente o hábito e o costume de observar a regularidade dos acontecimentos e dos fatos no mundo conduzindonos a um conhecimento suficientemente científico As sim na epistemologia de Hume o conhecimento é possível à proporção que os aspectos psicológicos da mente associam por meio de princípios constantes as impressões que recebem e com isso produzem a constância habitual e a regula ridade do mundo o que possibilita a cientificidade das nossas ideias Hume é claro não chega a pôr em interdição a ciência porém põelhe uma base um fundamento caprichoso o fundamento da ciência é o costume o hábito a associação de ideias fenômenos naturais biológicos psicológicos que provocam em mim a crença na realidade do mundo exterior MORENTE 1980 p 190 A partir do conceito de impressão como dado inicial do conhecimento e ligan doo aos princípios de associação de ideias podemos entender como funciona a teoria do conhecimento em Hume bem como seu empirismo e ceticismo UNICESUMAR 91 O positivismo surge plenamente na modernidade como mais uma expressão do novo período que vinha a sobrepor o paradigma teológico da medievalidade Após a Idade Média o racionalismo e o cientificismo pautavam o desenvolvimen to cultural e técnico da vida moderna Como fruto dessa época surgiu Auguste Comte 17981857 considerado o elaborador e fundador da doutrina positivista Antes de vermos a epistemologia do positivismo entenderemos algumas de suas particularidades devido à forte influência não só na filosofia mas em toda a cultura posterior Uma das principais características é sua compreensão histó rica do conhecimento quer dizer para o positivismo nossas ideias são relativas e dependentes além das capacidades individuais da situação de existência e da organização social em que se encontram aqueles que a produzem Dependem portanto da história social e coletiva da humanidade A partir dessa perspectiva Comte via a história humana passando por três momentos principais o teológico o metafísico e o positivo Tal interpretação é conhecida como a lei dos três estados O estado o positivo no qual Comte se encontra é o último e o conclusivo quando o desenvolvimento do espírito e da cultura humana superam as etapas anteriores e atingem as seguintes características 3 AUGUSTE COMTE O POSITIVISMO UNIDADE 4 92 A ciência é um projeto filosófico As ciências se originaram da filosofia Elas nunca se se pararam dela embora nossos melhores manuais de história afirmem que a formação das disciplinas científicas coincide com sua independência em relação à filosofia A ideia de aplicar a matemática para explicar e prever fenômenos naturais é uma hipótese metafísica A física moderna se originou da hipótese filosófica formulada por Galileu e que até hoje serve de fundamento para teorias físicas como a relatividade e a mecânica quântica Fonte Teixeira 2016 explorando Ideias O estado positivo ou real é o definitivo Nele a imaginação fica subordinada à observação A mente humana se atém às coisas O positivismo procura exclusivamente fatos e leis Não busca causas nem princípios das essências ou substâncias Tudo isso é inacessível O positivismo se atém ao positivo ao que é posto ou dado Renun cia àquilo que é inútil tentar conhecer e procura apenas as leis dos fenômenos O saber positivo se atém humildemente às coisas fica diante delas sem intervir sem pular por cima para lançarse em falaciosos jogos de ideias não pede mais causas tão somente leis MARÍAS 2004 p 391 O termo positivo designa o real em oposição ao quimérico a certe za em oposição à indecisão o preciso em oposição ao vago Portanto o estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano ARANHA MARTINS 2009 p 187 grifo das autoras Essas citações nos mostram a postura do positivismo diante da realidade Ba seandose no método das ciências naturais Hume propõe que nos apeguemos às coisas a partir do que elas contêm de positivo tal como as ciências naturais fazem com seus objetos de estudos que significa tomar como conhecimento seguro apenas as relações daquilo que pode ser observado como fenômeno real e mensurável em uma palavra positivo Por isso a metafísica e os objetos investigados como substância essência causa e princípios não têm sentido de serem investigadas porque pertencem às etapas teológica e metafísica que a humanidade já superou No positivismo devese man ter especial cuidado para afastar das investigações qualquer concepção metafísica de causa ou essência por exemplo pois são consideradas ilusórias vazias e estéreis UNICESUMAR 93 A ciência utiliza a matemática visto que numerar processos e objetos investigados traz segurança ao conhecimento que busca Contudo para a ética e as relações humanas você considera esse processo saudável pensando juntos Para o positivismo A ciência é o único conhecimento possível e o método da ciência é o único válido portanto o recurso a causas ou princípios não acessíveis ao método da ciência não dá origem a conhecimentos a metafísica que recorre a tal método não tem nenhum valor O método da ciência é puramente descritivo no sentido de descrever os fatos e mostrar as relações constantes entre os fatos expressos pelas leis que permitem a previsão dos próprios fatos ou no sentido de mostrar a gênese evolutiva dos fatos mais complexos a partir dos mais simples O método da ciência por ser o único válido deve ser estendido a todos os campos de indagação e da atividade humana toda a vida humana individual ou social deve ser guiada por ele ABBAGNA NO 2007 p 778 O método científico das ciências naturais portanto como a física a biologia e a química que se expandiam e apresentavam importantes conhecimentos na moder nidade é também o método do positivismo Por esse motivo Comte chamou de física social o estudo das leis que regem a sociedade o qual pouco tempo depois viria a chamar de sociologia sendo reconhecido como o fundador dessa disciplina Segundo o positivismo o conhecimento válido é aquele baseado nas relações do que é positivamente dado isto é a partir dos fatos imediatos e verificados na experiência sensível e objetiva do mesmo modo como as ciências particulares fazem para obter seus conhecimentos dos fenômenos naturais Em suma observase por toda parte o mecanismo do mundo ao invés de inventálo que acaba de nos convencer de que somos simples espectadores dos fenômenos exteriores independentes de nós e que não podemos modificar a ação destes sobre nós senão sub metendonos às leis que os regem RIBEIRO JÚNIOR 2001 p 14 UNIDADE 4 94 Dessa maneira tendo visto os principais elementos e as características do positi vismo iremos compreendêlo como uma filosofia ampla que abrange uma inter pretação sobre todos os aspectos da vida seja a história a cultura ou a sociedade ao mesmo tempo em que propõe um método para observar toda a realidade Ao considerarmos a teoria do conhecimento positivista concluímos que re sulta em um empirismo radical porque valoriza a experiência empírica como a única e principal fonte segura dos conhecimentos Ao mesmo tempo o positivismo é relativista isto é acredita que o conheci mento é dependente e originado das circunstâncias em que é produzido e cético quanto à possibilidade de conhecer a verdadeira natureza da existência das coisas Isso acontece devido à proximidade com o cientificismo ou seja tem total con fiança na ciência que é segura e basta conhecer as leis que regem os fenômenos CONSIDERAÇÕES FINAIS Tal como previsto na introdução desta unidade investigamos as bases do empiris mo moderno a partir dos pensadores John Locke David Hume e Auguste Comte Com os conceitos de ideia de Locke de impressões de Hume e de positivo em Comte percebemos que o paradigma da modernidade se expressa fortemente nesses autores Eles entendem que conhecer é um ato grandemente limitado e que se passa no próprio sujeito portanto é dependente deste isto é tanto da sua psicologia quanto da sociedade na qual se insere e forma seu conhecimento O alcance do conhecimento fica restrito ao que é dado ao sujeito como ideias impressões ou dados positivos Para Locke e Hume a realidade é reduzida a per cepções e experiências e o conhecimento é resultado das operações da mente sobre o conteúdo daquelas Comte por sua vez muito influenciado por Hume defendeu a aplicação do método das ciências naturais que tem na matemática seu rigor de certeza para todos os aspectos da vida em detrimento de qualquer ideia metafísica Por isso poderíamos caracterizar sua filosofia como dogmática Esses autores ao mesmo tempo em que desenvolveram métodos mais cien tíficos para conhecer limitaram o alcance do conhecimento Vimos então que reside aí o ceticismo e o relativismo de suas teorias 95 na prática 1 John Locke é um crítico das ideias inatas que acredita que o nosso conhecimento é formado a partir do contato sensível com o mundo Para representar o papel da mente em seu empirismo ele fez uso de uma metáfora A seguir assinale a alter nativa que a indica a Folha rasa b Tábula rasa c Tábula simples d Sensações e Reflexões 2 Para David Hume todo o conteúdo ou material que está em nossa mente é pro veniente da experiência e a partir dela formamos nossos pensamentos e nossas ideias Esse filósofo utilizou dois conceitos para designar a experiência primária da qual o conhecimento é iniciado Qual das alternativas a seguir contém os dois conceitos de Hume I Impressão e sensação II Experiência e faculdades III Sensação e imaginação IV Impressão e vivacidade Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 96 na prática 3 Segundo David Hume podemos ter uma crença suficiente e fazer ciência sobre o mundo porque nossas ideias são organizadas por alguns princípios estáveis que por sua vez regularizam nossa experiência Assim assinale com V para verdadeiro e F para falso quanto aos princípios que nossa mente utiliza para associar ideias Associação por semelhança Associação por contiguidade Associação por causalidade Associação por observação 4 De acordo com o que estudamos nesta unidade qual é a relação entre as ciências da natureza e o positivismo 5 Explique a diferença entre ideias de sensação e ideias de reflexão na teoria de John Locke 97 aprimorese A CONSTRUÇÃO DO HOMEM E AS MUDANÇAS PARADIGMÁTICAS Ao buscarmos uma definição para o termo Paradigma no dicionário encontraremos a seguinte definição modelo protótipo Avançando mais e procurando uma visão mais simples podemos dizer que paradigma é um modelo de pensamento um con junto de princípios regras e padrões que são compartilhados por toda a comunida de mundial de uma determinada época O primeiro autor a usar esse conceito foi Thomas Kuhn Clodoaldo divide a história humana em três paradigmas principais Paradigma Teocêntrico Paradigma Antropocêntrico e Paradigma Holístico Em nos so texto abordaremos a questão dos paradigmas juntamente com a visão que Ru bem Alves tem sobre o saber científico O autor compara a ciência com uma rede de pesca a qual quando jogada ao mar apanha várias espécies de peixes entretanto alguns não são apanhados com esta rede ou seja a ciência é um saber que explica muitas e variadas coisas uma explicação baseada na experiência empírica mas não consegue dar respostas a todas as indagações do homem Dessa maneira a edu cação científica é algo indispensável para a nossa vida mas não pode ser a única maneira de lermos a realidade A ciência à semelhança das vacas tem um estômago especializado que só é capaz de digerir um tipo de comida Se eu oferecer à ciência uma comida nãoapropriada ela a recusará e dirá Não é comida Ou na linguagem que lhe é própria Isso não é científico Que é a mesma coisa Quando se diz Isso não é científico estáse dizendo que aquela comida não pode ser digerida pelo estômago da ciência ALVES 2000 p 90 O cientista virou um mito E todo mito é perigoso porque ele induz o compor tamento e inibe o pensamento ALVES 1981 p 11 No paradigma antropocêntrico existe a noção de que por meio da Razão as coisas serão conhecidas com certezas de 98 aprimorese verdade Isso não é científico é um juízo que está estritamente ligado hoje ao que não é verdade A ciência é a nova inquisição do mundo atual que outrora fora ocupa da pela Igreja Aquilo que não é carimbado pela ciência não merece atenção Basta ver Auguste Comte a ciência se tornaria na religião da humanidade esta explicaria os efeitos pois perguntar de onde viemos e para onde vamos são questionamentos dos estágios teológico e metafísico A verdade está na ciência Entretanto tal veracidade e grau de certeza fora abalado Com a Teoria da Relatividade e a Física Quântica com provase que no campo subatômico reina a indeterminação Há apenas fenômenos probabilísticos O universo não é um relógio mas um grande sistema em forma de holograma É muito maior que se pensava Usemos novamente a metáfora da rede A ciência é uma rede que pesca alguns tipos de peixes O fato de sua malha apenas capturar carpas não retira a existência de lambaris traíras joaninhas etc Há os pia nos Há a música Ambos são absolutamente diferentes Os pianos moram no mundo das quantidades Deles se dizem Como são bemfeitos A música mora no mundo das qualidades Dela se diz Como é bela ALVES 2000 p 123 Embora se viva muito o paradigma newtonianocartesiano estamos num período de mudança de olhar A ciência normal do antigo paradigma admite falha fundamental e esse período é de crise de incertezas e espantos A ciência extraordinária parece ter sua rigidez mas em muitos âmbitos da sociedade ela é desconhecida Os caminhos que a ciência tomou devem ser revisados Com problemas ecológicos epistemológicos políticos sociais a ciência procura rever seus pressupostos Necessita de novos olhos de um novo paradigma capaz de responder as novas perguntas Esse novo paradigma procura a totalidade das coisas onde os eventos não são separados é uma teia de relações Cada parte está num todo maior e há uma interdependência entre ambos Dessa for ma o homem não é o centro mas um fio dessa grande teia Ele não é só razão mas também paixão sentimento sensação espírito Fonte Seleprin s d 99 eu recomendo Teoria do Conhecimento Autor Johannes Hessen Editora Martins Fontes Sinopse o livro contém uma introdução sobre o que é a teoria do conhecimento e qual é a sua história Apresenta também o conteúdo a partir dos conceitos utilizados nessa disciplina Comentário um clássico da teoria do conhecimento devido à clareza e à abrangência com que o autor realiza as explicações conseguindo con ciliar simplicidade com profundidade livro O Enigma Kaspar Hauser Ano 1974 Sinopse o filme apresenta Kaspar Hauser um jovem que foi trancado em um calabouço até seus 16 anos na Alemanha Sem contato com a sociedade ele precisará aprender desde as coisas mais básicas às mais complexas como a religião Comentário a obra evidencia os diferentes meios pelos quais se realiza a aprendizagem filme A Antologia de Textos Filosóficos é um livro organizado pela Secretaria de Educa ção do Paraná que reúne textos de filósofos tradicionais e comentários de pro fessores É voltado ao auxílio para o âmbito escolar httpwwweducadoresdiaadiaprgovbrarquivosFilecadernospedagogicos cadernofilopdf conectese 5 TEORIA DO CONHECIMENTO na atualidade PLANO DE ESTUDO A seguir apresentamse as aulas que você estudará nesta unidade Fenomenologia Virada linguística Pragmatismo Teoria tradicional e teoria crítica OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer as principais epistemologias da atualidade Compreender o novo paradigma epistemoló gicointersubjetivo Entender a virada linguísticopragmática e analítica Conhecer a ideia de teoria tradicional e teoria crítica PROFESSOR Me Rafael Adilson Ribeiror INTRODUÇÃO Caroa alunoa após percorrermos quatro unidades e conhecermos algumas das principais teorias do conhecimento da história da filosofia chegamos à última unidade do nosso material prontos para conhecer as teorias elaboradas recentemente fruto do espírito de nosso tempo e que continuam a desenvolverse Aqui estudaremos quatro correntes contem porâneas a fenomenologia a virada linguística e sua filosofia analítica o pragmatismo e a teoria crítica A fenomenologia com raízes no criticismo de Immanuel Kant alcança nova consistência com Edmund Husserl superando e conciliando a tradi cional dualidade entre sujeito e objeto por meio do conceito de mundoda vida o que proporciona nova base para as reflexões Com isso a fenome nologia demonstrou a importância da linguagem na construção do nosso conhecimento contribuindo para uma mudança de paradigma na filosofia pela qual fazer análise da linguagem se tornou a atitude fundamental para filosofar Essa mudança ficou conhecida como a virada linguística Com os reflexos dessa mudança é acentuada a intersubjetividade do conhecimento que enlaça os indivíduos comunicativamente socializados e produz conhecimento a partir do compartilhamento intersubjetivo dos sujeitos O mesmo conhecimento contudo tornase fruto do contexto so cial e econômico formado por determinados indivíduos perdendo a uni versalidade e a imparcialidade que a ciência sempre buscou Desse modo o pragmatismo seu humanismo e a teoria crítica buscarão denunciar os limites e complementar as novas teorias Boa leitura UNIDADE 5 102 1 FENOMENOLOGIA A fenomenologia foi fundada pelo filósofo Edmund Husserl 18591938 a partir da publicação de sua obra Investigações Lógicas em 1900 O conceito de fenô meno tem origem no grego fainomenon e é utilizado na filosofia com o signi ficado de aquilo que aparece apresentase ou se mostra Assim fenomenologia se traduz por estudo do que aparece do manifesto O método consiste em colocarnos diante da realidade do ser do conjunto total de seres nas circunstâncias em que a própria vida nos coloca ou seja rodeados de informações e acontecimentos vivendo no mundo em contato direto com os proble mas conforme os superamos Esse é o ponto de partida de Martin Heidegger o maior filósofo alemão daquele século MORENTE 1980 p 280 bem como de outros fenomenólogos e existencialistas como JeanPaul Sartre e Maurice MerleauPonty Para esses autores a dualidade entre sujeito e objeto é dada como algo supe rado pois ao pensar os fenômenos que é o que de fato é tomado como reali dade a relação sujeitoobjeto já está pressuposta na sua construção tal como estudado no tópico sobre criticismo A partir de agora estudaremos com mais detalhes o estarnomundo no mun dodavida e da experiência conforme Husserl conceituou É a base de onde o investigador fenomenólogo parte e para onde também retorna pois ao pensar e refletir sobre o mundo deslocase mas sem se desvincular para usufruir do mundo da consciência e da linguagem e imprimir sentido e significado ao mundodavida UNICESUMAR 103 Husserl elaborou a fenomenologia com o desejo de superar uma crise que a filosofia vivia naquele período Ele acreditava que para Os racionalistas como Descartes não há pura consciência sepa rada do mundo porque toda consciência é consciência de alguma coisa E contra os empiristas como Locke A fenomenologia pre coniza que não há objeto em si já que o objeto é sempre para um sujeito que lhe dá significado ARANHA MARTINS 2009 p 198 Nesse sentido Husserl também se contrapôs à filosofia positivista a qual defendia uma visão de mundo demasiadamente objetiva e neutra Diante disso ele propôs a fenomenologia como nova abordagem dos problemas das ciências humanas uma nova compreensão da relação sujeito e objeto tendo como ponto de partida aquilo que é constatado em nossa consciência ou seja os fenômenos O que existe é um fluir temporal como o rio de Heráclito onde a de finição do mundo e a percepção dos objetos do conhecimento nunca se dão de uma mesma maneira É na intersubjetividade que o mundo do ser e da ciência podem ser entendidos É essa a contribuição de Husserl para o compreender do ser do homem NEVES 2005 p 47 A fenomenologia é uma filosofia do século XX que busca fundamentar uma nova base a respeito das condições do conhecimento a partir de dados imediatos da consciência com o objetivo de conciliar a dualidade e a oposição tradicional das ciências humanas entre sujeito e objeto objetivo e subjetivo matéria e espírito mente e corpo etc Tais dualidades serão superadas pelas ideias basais de vivên cia e intencionalidade A partir desses conceitos a fenomenologia descreve a estrutura do fenômeno a condição de possibilidade do conhecimento e portanto das significações e dos sentidos que a consciência dá às suas próprias vivências Vivência é um conceito que engloba a dualidade da relação sujeitoobjeto porque se refere à realidade préconsciente préreflexiva algo já dado pois é anterior ao ato de estar consciente Podemos dizer que ao termos algo em mente ao termos a consciência daquilo a correlação sujeitoobjeto já está dada no ato cognoscente pois nos estudos fenomenológicos sujeito e objeto são anteriores a quaisquer atos cognitivos São então indissociáveis no existir do mundo con creto o que Husserl chamou de mundodavida UNIDADE 5 104 Na fenomenologia o corpo é reconhecido como fundamento dos processos de vivência Corpo e realidade mente individual empírica e ser estão fundidos no mundodavida na cotidianidade na imediatez da existência Assim os fenô menos de que temos consciência e seus conteúdos são oriundos da nossa situa ção de estarnomundo que é a experiência originária na qual ocorrem nossas vivências e percepções é o sempre presente aqui e agora do mundodavida uma estrutura unitária a partir da qual nos dá conteúdos conscientes Conforme explicam Zilles e MerleauPonty O mundo da vida Lebenswelt é dado ao sujeito como horizonte de experiência centrada no seu eu Está fundado fisicamente cons tituindose em camadas desde o animal até o cultural podendo desenvolverse ontologias regionais das diferentes camadas Assim em última análise Husserl entende por mundo da vida algo espiri tual Como o conceito mais amplo de mundo também o conceito de mundo da vida é para ele um fenômeno dado na consciência É dado ao sujeito Consciência do mundo é consciência no modo da certeza da fé Experiência e juízo ZILLES 2007 p 220 O presente no sentido amplo com seus horizontes de passado e porvir tem um privilégio ele é a zona em que o ser e a consciência coincidem No presente na percepção meu ser e minha consciên cia são um e o mesmo É comunicandonos com o mundo que nos comunicamos com nós mesmos MERLEAUPONTY 1994 apud BICUDO 2000 p 51 É a partir dos conceitos de vivência e mundodavida que a fenomenologia busca superar a contradição mentecorpo e sujeitoobjeto que predominava na filosofia Para avançarmos na compreensão fenomenológica precisamos também en tender o conceito de intencionalidade A fenomenologia segundo a concepção husserliana do termo é a ciência que confere sentido ao ser e ao fenômeno em uma associação indissolúvel A relação entre fenômeno e ser experienciador des vela uma consciência intencional NEVES 2005 p 49 A intencionalidade é uma característica fundamental da consciência que diz respeito ao modo de ser da consciência humana e significa dirigirse a ou objetivar a alguma coisa pois toda consciência diz respeito a alguma coisa todo pensar é sempre pensar sobre algo MARÍAS 2004 essa é a característica UNICESUMAR 105 Em um mundo de múltiplas perspectivas a intersubjetividade se mostra como uma so lução Na sua opinião a intersubjetividade o consenso entre os discursos é um bom critério para estabelecer a verdade pensando juntos essencial da consciência ou seja sua intencionalidade que ao refletir acerca do que se passa nela mesma dá significado e sentido às suas vivências Se a consciência é sempre consciência de alguma coisa e se o objeto é sempre objeto para a consciência é impossível que possamos sair dessa correlação já que fora dela não haveria nem consciência nem objeto Assim se encontra delimitado o campo de análise da fenomenologia DARTIGUES 2002 p 19 O modo pelo qual entendemos a percepção e as modalidades de explicitação que a manifestam nos conduzem ao conhecimento intersubjetivo e a uma objetividade possível os quais são trama dos por uma rede de significações e de manifestações expressas por meio da linguagem BICUDO 2000 p 73 Dizer que o conhecimento é construído na intersubjetividade tal como a feno menologia propõe significa afirmar que a partir da soma das descrições das vi vências de cada indivíduo descrições subjetivas isto é formadas por linguagem história afeto palavras expressão cultura mundana e sentido que o indivíduo dá às suas vivências é que é formado o conhecimento intersubjetivo Portanto a partir das descrições das vivências e percepções dos sujeitos é cria da a rede de significações que constitui o conhecimento Em outras palavras a fenomenologia se mostra como a hermenêutica e a exegese da existência o que significa uma explicação que envolve contínua e dialeticamente as descrições dos sujeitos na busca pela construção conjunta do conhecimento alcançando com isso a objetividade O conhecimento pressupõe e se refere sempre ao mesmo ser para todos os envolvidos o que representa o mundodavida Foi a partir dos conceitos de mundodavida vivência intencionalidade des crição e intersubjetividade que Husserl consolidou a fenomenologia na expecta tiva de fornecer uma nova epistemologia para fundamentar a ciência Com isso esta área se tornou uma das principais metodologias da contemporaneidade UNIDADE 5 106 2 VIRADA LINGUÍSTICA No século atual a linguagem se transformou no interesse comum para todas as correntes e disciplinas filosóficas Em todas as áreas é possível perceber a sua importância tanto para descrever a realidade quanto para atribuir sentido e fundamentála Tornouse clara a anterioridade da importância de analisar a linguagem antes de tratar dos problemas em si o que significou uma mudança recente de paradigma para a filosofia A questão da linguagem isto é a questão pelo sentido do que queremos dizer recebe mais importância e se torna mais fundamental do que a questão essencial da teoria do conhecimento ou do que qualquer outra questão tradicional filosófica como a noção de substância de essência das coisasemsi das causas e dos fundamentos gerais Após a virada linguística chegase a identificar o fazer filosofia com o fazer crítica da linguagem Buscar as condições do conhecimento válido e seguro as condições de objetividade e a realidade ontológica dos objetos tal qual os filóso fos buscaram na modernidade recebeu certo aspecto secundário pois passou a ser necessária a realização de análise do conhecimento intersubjetivo a respeito do mundo e portanto linguístico Não existe mundo totalmente independente da linguagem ou seja não existe mundo que não seja exprimível por meio dela pois é o espaço de expressividade e de articulação do mundo PERIUS 2018 Então a virada linguística tem por base a tese de que todo e qualquer conhecimento ou saber humano é constituí UNICESUMAR 107 do linguisticamente por isso a partir do século XX passou a ser fundamental filosofar sobre a linguagem antes de pensar em outras questões Após o criticismo a fenomenologia e o existencialismo tornouse patente que a visão de mundo tradicional de conhecimento com uma relação entre sujeito e objeto é algo já posto ou já dado no conhecimento Para a filosofia da linguagem que vem a predominar na contemporaneidade o conhecimento é algo comple tamente construído pelos sujeitos resultado da manipulação que o indivíduo faz com sua interpretação dos fenômenos de como os organiza e os classifica Não é o caso de afirmar que o mundo exterior não existe mas o contrário está sempre e evidentemente pressuposto assim como a indissociabilidade de sujeito e objeto Qualquer análise entretanto é mediada pela linguagem logo o conhecimento é de natureza linguística pois se o que temos são pensamentos e interpretações da realidade pertencentes ao campo linguístico então é por meio dele que definimos o que as coisas são Saber como a lógica da linguagem funcio na é saber como o mundo funciona esse é o tema que norteia e caracteriza esta linha filosófica contemporânea também chamada de filosofia analítica Um dos principais nomes desta área é Ludwig Wittgenstein que teve seu livro Investigações Filosóficas publicado em 1953 dois anos após sua morte Nessa obra o filósofo elaborou o conceito de jogos de linguagem que quer dizer a linguagem tal como usada em contextos específicos por falantes e ouvintes para fins específicos A linguagem passa a ser vista então como uma prática social concreta sendo o significa do de termos e expressões linguísticos resultado dessa prática Daí o famoso lema o significado é o uso É precisamente na medida em que o significado não é fixo e definitivo que a análise filosófica da linguagem só pode ser elucidativa dos di versos usos de linguagem que fazemos remetendo o significado dos conceitos filosóficos que nos parecem problemáticos para o seu uso linguístico concreto quando então os equívocos e per plexidades deverão se desfazer MARCONDES 2007 p 170 Wittgenstein afirma que nós reconduzimos as palavras de seu emprego metafísi co para seu emprego cotidiano WITTGENSTEIN s d apud MARCONDES 2007 p180 A objetividade e a validade dos conceitos são definidas pela forma de uso cotidiano que uma sociedade faz deles logo seus significados são frutos de regras e convenções alcançadas por acordo uso e prática UNIDADE 5 108 3 PRAGMATISMO A filosofia de Wittgenstein e de outros importantes pensadores deste perío do como Gottlob Frege e Bertrand Russel é conhecida por filosofia analítica devido aos seus esforços em esclarecer logicamente o pensamento e o sentido dos termos e conceitos utilizados caracterizandose essencialmente pelo rigor lógico com que analisa a linguagem Ao mesmo tempo com tal atitude analítica verificamos que os significados dos conceitos são históricos e portanto resultado de práticas comunicativas situadas historicamente Isso dá a esta corrente um caráter de pensamento comum às correntes atuais o caráter antisistêmico ou seja de que nenhuma filosofia é atualmente composta por partes que se unem logicamente formando um sistema unitário capaz de abranger e explicar toda a realidade tal qual um sistema platônico faz Hoje confrontamonos com o desmoronamento de qualquer pensamento sistêmico e em contraposição com a exaltação do fragmento do particular da mudança permanente de paradigmas PERIUS 2018 Isso não implica em relati vismo ou ceticismo pois o uso que se faz dos conceitos produz uma objetividade como temos visto construída intersubjetivamente O pragmatismo é uma corrente filosófica da atualidade que se desenvolveu nos Estados Unidos Tem em comum com as filosofias contemporâneas a carac terística de além de analisar o rigor lógico do sentido dos conceitos superar as dicotomias tradicionais de mente e corpo sujeito e objeto ou pensamento e natureza buscando com isso evitar que as discussões filosóficas caíssem em abstrações vazias e sem sentido UNICESUMAR 109 O americano Charles Sanders Peirce é considerado seu iniciador Contudo o também americano William James ficou conhecido como fundador desta cor rente seguido de F C S Schiller Para James o método pragmatista consiste em determinar o valor de uma palavra um termo um conceito ou uma concepção de mundo pelas consequências que são derivadas quando utilizadas na prática Em outras palavras se uma concepção mostrarse útil valiosa e fomentadora da vida então é um conhecimento verdadeiro O pragmatismo se torna assim um grande método que busca considerar os objetos sob um ponto de vista prático orientando com isso o caminho ao co nhecimento de forma segura a partir de seu próprio método Esta vertente nega a visão de separação radical entre sujeito e objeto e insere o critério pragmático na busca do conhecimento isto é da utilidade de determinada ideia ou teoria Os autores desta corrente concordam com o fundamento básico do empi rismo segundo o qual o pensamento e as faculdades humanas são atuantes a partir da aprendizagem pela experiência a experimentação inicia a base para o conhecimento e o trabalho mental é a atividade de transformação da experiência em objetos de conhecimento É posto enfoque todavia na naturalização da mente A mente humana é entendida no interior dos processos da natureza e é daí que surge sua finalidade prática O conhecimento produzido pela mente humana tem sentido quando se volta para fins naturais que dizem respeito à prática e à ação da vida quer dizer fins pragmáticos pois a própria razão humana é uma faculdade natural subordinada aos aspectos naturais do ser humano É uma capacidade complexa desenvolvida pela necessidade de sobreviver às adversidades ambientais Por isso a razão humana é vista como imanente à natureza isto é de forma natu ralizada não transcendente Para os pragmáticos em geral as teorias que possuem elementos de transcen dência significam um corte qualitativo entre físico e mental entre pensamento e natureza excluindo assim a possibilidade de confirmação ou verificação em pírica Em outras palavras as teorias transcendentais que implicam em cortes epistemológicos radicais não poderiam seguir o caminho seguro da ciência Com isso os pragmáticos também repudiam e esperam superar todas as formas de idealismos transcendentais dualismos e inatismos como encon trados por exemplo em Platão e Descartes Logo para essa corrente a razão e seu produto o conhecimento são imanentes à natureza e à vida prática conforme explica Dazzani UNIDADE 5 110 Peirce sempre se posicionou contra o idealismo subjetivista e so lipsista implicado nesta perspectiva cartesiana que sustenta que o objeto do conhecimento e da certeza epistemológica do qual posso estar imediatamente certo é somente minha própria mente Cf PEIRCE 1992a pp 2855 Se seguirmos Descartes não poderemos estar certos de que há qualquer coisa existente fora da minha mente pois para este idealismo não existe conceito objetivo de mundo para além do eu plenamente autoconsciente e solitário Cf MOUNCE 1997 9 MERRELL 1997 297 e seg DAZZANI 2008 p 289 Desse modo assim como outras correntes contemporâneas que buscavam su perar as concepções tradicionais de conhecimento o pragmatismo tem sua especificidade justamente no ponto que dá origem ao termo pragmatismo que significa ação bem como ao entendimento da mente como faculdade imanente da natureza e do ser humano A corrente pragmática não considera a verdade como correspondência en tre pensamento e realidade pois segundo sua compreensão não há realidade independente do pensamento O mundo e a verdade estão em relação direta e recíproca com a ação entre ser vida humana e o mundo Em suma para a tese pragmática são verdadeiros os conceitos e as representações cujos efeitos prá ticos são proveitosos para o comportamento e a vida prática humana Por isso também é chamado de humanismo visto que a vida humana se torna a medida a finalidade e o critério para definir a verdade e o conhecimento Dessa maneira o pragmatismo possui a particularidade de acarretar em de terminada visão de natureza humana O ser humano é caracterizado primordial mente como ser ativo a razão e o intelecto existem não para conhecer a verdade mas para agir mais adequadamente em função de sua própria natureza de modo que todo conhecimento está no fundo subordinado à natureza humana e suas necessidades fundamentais O humanismo diz Schiller é simplesmente a compreensão de que o problema filosófico concerne a seres humanos que tentam compreender um mundo de experiência humana com os recursos da mente humana MARÍAS 2004 p 442 UNICESUMAR 111 4 TEORIA TRADICIONAL e teoria crítica Com a ideia de Schiller percebemos que o ser humano é um ser essencialmente prático e que seu intelecto e sua razão voltamse não para fins teóricos e racionais mas práticos que lhe sirvam para agir e orientarse na realidade Para o pragma tismo explica Hessen a seguir O conhecimento humano recebe o seu sentido e o seu valor de seu destino prático A sua verdade consiste na congruência dos pensa mentos com os fins práticos do homem em que aqueles resultem uteis e proveitosos para a vida humana e em particular para a vida social HESSEN 2003 p 51 Com a metodologia de observar as consequências práticas resultantes de tomar certas ideias como verdadeiras o pragmatismo buscou apresentar um novo cri tério de verdade para a filosofia contemporânea que é a praticidade Em outras palavras a verificação dos resultados práticos que se sucedem ao tomar certas ideias como verdadeiras A teoria crítica é uma corrente de pensamento de base marxista fundada em 1924 no Instituto de Pesquisas Sociais na universidade de Frankfurt e também é conhe cida como Escola de Frankfurt Nela reuniramse pensadores de diversas áreas principalmente sociólogos economistas cientistas políticos psicólogos críticos de arte e filósofos que trabalharam no intuito de realizar análises críticas e diagnósti cos da cultura presente ao mesmo em que propagaram um protesto humanístico UNIDADE 5 112 A característica de trabalhar com pensadores de diversas áreas é conhecida como interdisciplinaridade e ocorreu nesta escola em virtude do acompanha mento do processo de fragmentação dos saberes que ocorriam nos séculos XIX e XX Ao mesmo tempo eles desejavam atualizar e aprofundar a teoria marxista que era o ponto comum além de seguir a tese de que a existência social opera como determinante da consciência Os principais autores da teoria crítica foram Max Horkheimer Theodor Adorno Herbert Marcuse Walter Benjamin Erich Fromm e Jürgen Habermas sendo este ainda vivo Com este material dado nosso objetivo de tratar das teorias do conhecimento enfocaremos na obra de Horkheimer intitulada Teoria Tradicional e Teoria Crí tica Por teoria tradicional o filósofo e sociólogo alemão entendia aquela iniciada por Descartes dando origem a uma forma de interpretar a realidade que enxerga o indivíduo separado da sociedade uma forma geral de interpretação que tem raízes na tese de Descartes que dissocia mente e matéria NOBRE 2004 O racionalismo cartesiano influenciou toda a modernidade Como se sabe a metodologia cartesiana permeada pelo rigor matemáticodedutivo utilizado para encontrar as verdades e o conhecimento seguro contribui por sua vez para o avanço das chamadas ciências naturais principalmente a matemática e a física visto que os resultados alcançados por essas ciências expressavam um modelo seguro para buscar o conhecimento Tal concepção foi fortemente defendida pelo positivismo mais tarde Os fatos sensíveis por exemplo vistos pelos positivistas como pos suidores de um valor irredutível são para Horkheimer préformados socialmente de dois modos pelo caráter histórico do objeto percebido e pelo caráter histórico do órgão que percebe HUME 1999 p 21 Segundo Horkheimer o próprio conceito de teoria precisava passar por uma crítica Para o pensador a forma como as teorias eram criadas e impostas não levavam em conta as circunstâncias sociais e econômicas em que eram elabo radas principalmente quando eram aplicadas ao mundo social ou seja quando se utilizava os mesmos métodos das ciências naturais nas ciências humanas en tendendo as mesmas relações causais dos objetos naturais nos objetos sociais Esse processo ignorava muitos fatores humanos e sociais como a luta de classes UNICESUMAR 113 Um cientista ou pesquisador precisa primeiro escolher o que investigará Depois ele ne cessita de ajuda em vários sentidos para conduzir a pesquisa Assim diante dos pressu postos é possível que haja neutralidade Que os resultados da pesquisa sejam verdadeiros pensando juntos Assim a teoria tradicional classifica realidades sociais da mesma forma que clas sifica objetos físicos e inertes sempre aplica a mesma lógica descritiva O modo de operar e estabelecer conhecimentos tradicionais tão atuante desde o início da modernidade foi denominado por Horkheimer de razão instrumental cujo sentido de funcionamento estava voltado à utilização operativa e à aplicabilidade técnica que resultou no controle técnico da natureza mas deixou de lado a gênese histórica e social dos problemas e consequentemente reforçou uma realidade social de dominação desigual Este processo precisava ser criticado de acordo com Horkheimer Conforme explica a pesquisadora Maria Carnaúba Para a designação de Teoria Crítica essa classificação própria das ciências naturais que é transposta para as análises sociais inevitavel mente direciona a investigação no sentido de que a compreensão da sociedade como cindida em classes seja a forma de compreender a complexidade de seu funcionamento interno Nas palavras de Mar cos Nobre Em nome de uma pretensa neutralidade da descrição a Teoria Tradicional resignase à forma histórica presente da domina ção Em uma sociedade dividida em classes a concepção tradicional acaba por justificar essa divisão como necessária NOBRE 2004 p 34 apud CARNAÚBA 2010 p 198 Horkheimer vê a forma tradicional de interpretar a realidade e fazer teoria iniciada com Descartes e aprofundada com o positivismo como um meio que apenas descreve a realidade limitandose a descrevêla como algo exterior ao observador Com isso contribui com a ideia de que o modo de produção capitalista a cultura vigente e as relações de dominação devem ser entendidas como naturais e inalteráveis De acordo com Maria Carnaúba UNIDADE 5 114 Para os autores da teoria crítica principalmente Herbert Marcuse e Erich Fromm Karl Marx explicou como a consciência individual é formada pelo social e Sigmund Freud pe los instintos Com a união de ambas as teorias marxista e freudiana os críticos elabo raram diversas análises que podem ser conhecidas nas obras Meu encontro com Marx e Freud de Fromm e A Ideologia da Sociedade Industrial de Marcuse Fonte o autor explorando Ideias Na Teoria Tradicional o indivíduo não se vê como parte de um pro cesso contraditório em que suas potencialidades são desenvolvidas no trabalho ou em qualquer outra atividade ao contrário de forma geral ele aceita as determinações impostas pela teoria tradicional como um modelo natural e assim passa a guiar seu comportamento com o fim de preencher essas determinações Mais que isso o indi víduo encontra satisfação pessoal ao sentirse adaptado aplicando suas forças na realização de tarefas cotidianas cumprindo com afã a sua parte Contudo na Teoria Crítica são eliminadas essas barreiras verticalmente impostas à sociedade que a leva a atuações cegas e conjuntas em atividades isoladas CARNAÚBA 2010 p 200 A ciência para Horkheimer que tem a característica da universalidade era par cial pois ignorava a influência do poder socioeconômico sobre a produção do seu conhecimento Por isso era preciso fazer a crítica da teoria tradicional com o objetivo de mostrar seus limites isto é que não era neutra mas dependente de um contexto histórico e de condições sociais específicas Dessa maneira para realizar a crítica da teoria tradicional Horkheimer apre sentou a teoria crítica que tem por base o materialismo histórico marxista de fendendo a ideia de que a realidade social é resultado da ação e das decisões humanas portanto da participação ativa dos próprios sujeitos Uma teoria de natureza crítica deve então voltarse à conscientização de classe e do contexto de dominação com o objetivo de atingir a emancipação UNICESUMAR 115 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade vimos que Husserl desenvolveu a fenomenologia como uma nova metodologia para pensar os problemas filosóficos mas não apenas isso pois foi aproveitada por quase todas as áreas das ciências humanas Esse pensador trouxe um novo olhar que contém algo semelhante ao espanto que os primeiros filóso fos sentiam diante da transformação da natureza o que os motivava a filosofar a admiração diante do ser da cotidianidade e do aqui e agora Diante do mun dodavida como Husserl conceituou Percebemos o papel de mediação que a linguagem faz entre o mundo da experiência direta e o mundo do compartilhamento de ideias e pensamentos Logo o conhecimento segue alguns princípios da linguagem pois nos permite elaborar teses conceitos e teorias o que foi a preocupação da filosofia analítica Dessa maneira entendemos que a virada linguística não ocorreu por acaso já que uma grande parte da filosofia contemporânea veio a dedicarse à análise da linguagem como forma primeira de tratar os problemas do conhecimento Também analisamos que outra corrente de pensamento a teoria crítica da Escola de Frankfurt observou que o conhecimento buscado por pesquisadores pertencentes a um contexto socioeconômico específico influenciava na criação das teorias por exemplo na escolha dos objetos de interesse de suas pesquisas Tal comportamento foi denominado teoria tradicional governado por uma razão instrumental que lida com a natureza física e social de forma demasiadamente controladora rejeitando inúmeros fatores humanos e subjetivos Os pensadores frankfurtianos propuseram que a forma tradicional de teoria precisa adquirir maior rigor crítico fundamentado por uma razão comunicati va e plural no sentido de valorizar conhecimentos que levem mais em conta as questões propriamente humanas e sociais Vemos assim que a questão da teoria do conhecimento recebe diversas in fluências na contemporaneidade dando origem a várias correntes ora transpa recendo relativismo ora pela mesma razão mais rica mas certamente sempre a modificarse e a modificarnos 116 na prática 1 A questão pelo sentido do que queremos dizer recebe mais importância e se torna mais fundamental do que a questão da teoria do conhecimento e qualquer outra questão tradicional filosófica por exemplo sobre as noções de substância essência coisasemsi causa e fundamentos gerais Qual das alternativas a seguir se refere à mudança de paradigma ocorrida na filosofia a A fenomenologia b A pósmodernidade c O existencialismo d A comunicatividade e A virada linguística 2 Tendo em consideração o critério de praticidade e utilidade isto é tomar como verdadeiro somente o conhecimento cujas consequências práticas que resultariam no agir seriam proveitosas ao indivíduo e à sociedade Qual das alternativas a seguir exprime a corrente filosófica que o tem como fundamento I Pragmatismo II Existencialismo III Consequencialismo IV Criticismo Assinale a alternativa correta a Apenas I e II estão corretas b Apenas II e III estão corretas c Apenas I está correta d Apenas II III e IV estão corretas e Nenhuma das alternativas está correta 117 na prática 3 Uma teoria que leve em conta a influência do contexto econômico em quem conduz as pesquisas e opere pela racionalidade comunicativa é uma teoria de tipo Instrumental Crítica Tradicional Conforme nossos estudos assinale com V para verdadeiro e F para falso a F V F b F F F c V F V d V V F e V F F 4 De acordo com o que estudamos nesta unidade explique o motivo pelo qual a relação sujeitoobjeto está dada e superada no conceito de mundodavida de Ed mund Husserl 5 Por que segundo Max Horkheimer a teoria tradicional presente em Descartes e no positivismo é uma forma de teoria e ciência que corrobora para a permanência da sociedade vigente Discorra 118 aprimorese Os excertos a seguir presentes do texto de Cristiano Perius 2018 buscam ex plicar o caráter inovador pelo qual a abordagem fenomenológica foi recebida na contemporaneidade TRÊS DEFINIÇÕES DA FENOMENOLOGIA o artigo de E Fink que interessou a MerleauPonty descreve da seguinte manei ra o projeto de Husserl conforme citado por Lahbib 2010 p 1 O método de Husserl oferece um ponto de partida novo e radical na procura do sentido No espanto do retorno ao ente a existência de coisas o homem se redescobre por assim dizer originariamente ao mundo Ele se encontra na aurora de um novo dia onde ele mesmo e tudo o que é começa a aparecer sob uma nova luz onde a totalidade do ser se oferece a ele de maneira nova A novidade de Husserl está no método de pesquisa que propõe uma filosofia rigo rosa mobilizada pelo retorno aos fenômenos tais como aparecem à consciência O novo método inspirado na descrição originária da experiência é conduzido pela ideia de retorno às coisas mesmas Como se opera no interior da fenomenologia de Husserl o retorno às coisas mesmas Muito semelhante à inclinação do positivismo Husserl pretende pensar os fenômenos sem parti pris metafísico ou seja tomar estritamente o que se dá na experiência empírica razão pela qual dizia que os fenomenólogos são os verdadei ros positivistas Tratase de uma afirmação assaz irônica pois é uma ingenuidade acreditar que o conhecimento empírico não contém pressupostos metodológicos epistemológicos psicológicos etc A objetividade científica é a perspectiva segundo a qual a pluralidade subjetiva é neutralizada em favor do dado positivo O problema do positivismo é que ele não percebe que o dado é anterior ao simbolismo científi co a partir do qual ele é estruturado a partir de categorias que corrompem a estru tura originária da experiência O simbolismo científico as técnicas de manipulação 119 aprimorese em laboratório os aparelhos são dispositivos que geram informações em quadros fixos o que não quer dizer que o dado seja o que é disposto por esquemas e algo ritmos Entre o dado positivo e a experiência originária não há só uma diferença de grau mas de natureza Procura pensar o mundo sem nenhuma mediação o que já está aí compreendido sem saber Como afirma MerleauPonty 1945 p 3 Tratase de descrever não de explicar nem de analisar Semelhante a Bergson atento aos dados imediatos da consciência a questão de Hus serl não é discutir o realismo da matéria e o idealismo do espírito até saber qual deles é o mais correto mas entender como se dá a formação de ambos Ora é esta gênese que conduz aos olhos de Husserl o problema da constituição Husserl recua dos dados ma teriais e físicos tal como se dão ao realismo ingênuo ao aparecimento do mundo para nós Fenômeno para Husserl é o factum do mundo tal como aparece à consciência Em outras palavras ao proclamarse empirista autêntico Husserl delega todo o poder ao dado o que não quer dizer que o dado não contenha elementos intuitivos A experiência empírica pode ser tudo menos sensedata tal como a en tende o realismo ingênuo Há sempre elementos ideais na experiência perceptiva Concluise disso que se a fenomenologia for a atitude filosófica essencialmente des critiva determinada pela exigência de ausência de pressuposições e de renúncia a toda estratégia explicativa que conduza a extrapolar a estrutura do dado este dado para Husserl só é visível enquanto elemento imediato da consciência Evidentemen te todo problema é saber se o retorno ao dado é possível pela via da consciência Afinal de contas isto que o pensamento crê descobrir em si mesmo é na verdade a transposição intelectualizada da percepção O que é então a fenome nologia O pensamento da união entre reflexão e existência matéria e espírito alma e corpo sensível e inteligível Evidentemente que este projeto que começa na estrutura do comportamento incorpora à medida que avança novos elementos Permanece viável no entanto apesar das revoluções que opera as rubricas de filo sofia da ambiguidade do entrelaço do quiasma do ineinander enveloppement da imbricação empiètement Fonte Perius 2018 120 eu recomendo Ter ou Ser Autor Erich Fromm Editora Editorial Presença Sinopse Ter ou Ser resenha e representa a culminância da vasta obra anterior de Fromm Para ele a personalidade de um indiví duo era o resultado de fatores culturais e biológicos Fromm in tegrou os aspectos socioeconômicos na explicação das neuroses e estabeleceu um relacionamento entre o marxismo e a psicanálise A sua obra é um enorme protesto contra as diversas formas de totalitarismo e alienação social Polêmico sem dúvida como toda posição radical mas sobretudo pela sua inter pretação pessoal do dogma cristão e do marxismo aos quais despoja do caráter revolucionário e de doutrina social para convertêlos em metas do indivíduo livro Divertida Mente Ano 2015 Sinopse Riley é uma garota divertida de 11 anos de idade que deve enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal no estado de Minnesota para viver em San Francisco Dentro do cérebro de Riley convi vem várias emoções diferentes como a Alegria o Medo a Raiva o Nojinho e a Tristeza A líder deles é Alegria que se esforça bastante para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz Entretanto uma confusão na sala de controle faz com que ela e Tristeza sejam expelidas para fora do local Agora elas precisam percorrer as várias ilhas existentes nos pensamentos de Riley para que possam retornar à sala de controle e enquanto isto não acontece a vida da ga rota muda radicalmente filme Entrevista legendada com o teórico e crítico Erich Fromm em que comenta várias ideias com o objetivo de realizar um diagnóstico dos nossos tempos httpswwwyoutubecomwatchv9ozg2dhBnPYr conectese 121 conclusão geral conclusão geral 121 conclusão geral conclusão geral Prezadoa alunoa no decorrer deste livro preocupeime em apresentarlhe e ex plicarlhe as principais concepções de conhecimento elaboradas durante a história da civilização ocidental iniciada com os primeiros filósofos na Grécia Antiga no sé culo V aC e desenvolvida até os dias atuais Busquei esclarecer a área e o escopo de interesse isto é a parte que cabe a uma teoria do conhecimento investigar a saber as fontes o alcance os processos os elementos e as condições que dão origem às nossas ideias e verdades às teorias aos conceitos e conhecimentos gerais Dei início pelos conceitos mais elementares que se encontram em toda a teoria do conhecimento Em seguida busquei transmitirlhe as principais correntes e esco las do pensamento apresentando suas teses assim como as teorias e os conceitos dos principais autores e fundadores de cada vertente É interessante notarmos o ca ráter acumulativo da busca pelo conhecimento científico bem como a maneira com a qual um autor se utiliza das ideias de pensadores anteriores Dessa forma o co nhecimento ganha mais amplitude e ao mesmo tempo abre novas problemáticas Após a leitura deste livro é fundamental que você tenha adquirido olhar mais preciso sobre os fatores que compõem o conhecimento humano e consiga enxer gar nas mais variadas e específicas áreas o seu aspecto epistemológico ou seja os fundamentos e princípios que organizam influenciam e sustentam seus saberes Espero que este material tenha lhe fornecido os dados suficientes para com preender como o conhecimento humano é construído bem como as informações essenciais para compreender outros autores do seu interesse Desejo ter exposto uma visão do longo e importante caminho que a construção do conhecimento da humanidade realizou realiza e sempre realizará enquanto permanecermos curio sos a respeito do mundo e da realidade Um abraço referências 122 ABBAGNANO N Dicionário de Filosofia Tradução de Alfredo Bosi 5 ed São Paulo Martins Fontes 2007 AGOSTINHO S De Magistro 2 ed Tradução de Ângelo Ricci São Paulo Abril Cultural 1980 ARANHA M L A MARTINS M H P Filosofando Introdução à Filosofia 4 ed São Paulo Moderna 2009 BICUDO M A V Fenomenologia confrontos e avanços São Paulo Cortez 2000 CAPORALINI J B O Essencial de Santo Agostinho Maringá Clichetec 2007 CARNAÚBA M E C Sobre a distinção entre teoria tradicional e teoria crítica em Max Hor kheimer Kínesis Marília v 2 n 3 p 195204 abr 2010 Disponível em httpswwwmarilia unespbrHomeRevistasEletronicasKinesis14MariaErbiaCassiaCarnaubapdf Acesso em 26 dez 2019 CHAUI M Filosofia São Paulo Ática 2002 CHAUI M 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httppepsicbvsaludorgpdf ragv13n2v13n2a05pdf Acesso em 26 dez 2019 ZILLES U Teoria do Conhecimento Porto Alegre Edipucrs 1994 gabarito 124 Unidade 1 1 Alternativa D Justificativa a teoria do conhecimento ou como também é conhecida a epis temologia palavra derivada do grego episteme traduzida por conhecimento e ciência utilizada por Platão em oposi ção à palavra doxa traduzida por cren ça e opinião e a gnosiologia podem ser consideradas sinônimas Por sua vez a palavra epistemologia pode ser traduzi da por discurso sobre a ciência 2 Alternativa C Justificativa Podemos iniciar por definir o ato de conhecer caracterizado pelo modo com o qual um sujeito se apropria mentalmente de um objeto O ato ou a relação entre um sujeito e um objeto é um primeiro momento e está na base de todo o conhecimento do texto Aula 1 3 Alternativa C Justificativa Estas são características e exigências essenciais para que um co nhecimento seja científico racionalidade objetividade demonstração descrição corrigibilidade constituir leis sistema composto por ideias conceitos e juízos que combinados e ordenados metodica mente formam teorias reconhecidas por cientistas comunicabilidade verificabili dade previsibilidade regularidade univer salidade entre outras do texto Aula 2 4 Orientação de resposta conceito é o termo alcançado pelo trabalho da mente sobre os dados sensíveis recebidos pelos sentidos Este trabalho é o processo de abstração e seu produto é o conceito É um termo geral uma ideia que reúne vários elementos da realidade Tem importância fundamental para nossa linguagem e para o progresso do conhecimento O processo de abs tração que produz o conceito ocorre desta maneira abstrair significa iso lar ou separar de Quando abstraí mos isolamos um elemento que jul gamos comum a partir da série de elementos encontrados na realidade do texto Aula 3 5 Orientação de resposta a teoria pla tônica é sobretudo e reconhecida mente um idealismo ou como outros autores também a definem um realis mo das ideias devido ao fato de que nela as ideias e a natureza metafísica são o fundamento último do qual to das as outras coisas dependem para serem conhecidas do texto Aula 4 Unidade 2 1 Alternativa A Justificativa a substância existe por si mesma é independente e pode ser pen sada isoladamente pois contém a sua própria essência que a faz ser o que é a começar pelo conceito aristotélico de substância Nele Aristóteles reuniu o mundo sensível da natureza com o mun do ideal das essências e assim cada ser individual que existe na realidade do pró prio mundo sensível é uma substância Aristóteles determina uma base para es gabarito 125 tabelecer o conhecimento que parte dos objetos sensíveis da realidade e encontra os conceitos estreitamente ligados a eles mesmos sendo portanto a realidade to tal uma multiplicidade de substâncias reais individuais concretas e existentes do texto Aula 1 2 Alternativa C Justificativa A partir de memórias seme lhantes devemos formar um arcabouço de determinadas situações perceptivas que nos permite fazer generalizações a respeito do meio em que vivemos É o mesmo processo de abstração que pro duz os conceitos como visto anterior mente As generalizações também são chamadas de induções e são formas de conhecimento que pertencem ao âmbi to do senso comum das opiniões e das crenças ou seja ainda não são ciência Indução é o processo pelo qual nossa mente a partir da observação de acon tecimentos particulares na natureza for mula ideias gerais com pretensão de que sejam válidas para inúmeros outros casos do texto Aula1 3 Alternativa B Justificativa encontramos em Santo Agostinho uma espécie de iluminação de origem divina que opera por meio da nossa mente fazendonos compreender corretamente os objetos do mundo sensí vel bem como o som das palavras profe ridas por todos nós Portanto para Agos tinho a humanidade partilha de uma luz natural que lhe permite ter a inteligência iluminada e agindo sobre a inteligência humana tal iluminação permite conhe cer corretamente do texto Aula 1 4 Pontos a serem abordados na respos ta relação de complementaridade entre razão e fé filosofia grega e teolo gia cristã formas diferentes de alcan çar as mesmas verdades entre outras justificativas presentes nas considera ções finais da respectiva unidade 5 Resposta esperada é chamada de realismo moderado Nela os univer sais existem realmente mas apenas no espírito humano Assim para te rem correspondência verdadeira com os objetos na realidade Tomás inseriu outro princípio o princípio da indivi duação que faz que o universal ter fundamento em cada coisa da reali dade Portanto os universais são reais na mente e ao mesmo tempo de pendem de cada coisa particular da realidade para que se fundamentem objetivamente Por isso o tomismo é considerado uma posição moderada soa respeito dos universais Unidade 3 1 Alternativa E Justificativa De acordo com o empiris mo nosso saber começa a ser formado a partir do nascimento ou seja nascemos com a alma vazia de conteúdo e confor me vivemos experiências com o mundo por meio dos sentidos formamos grada tivamente o conhecimento gabarito 126 É esta corrente de pensamento que utiliza a ideia de que somos como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco para referirse à forma como nos sa mente chega ao mundo isto é vazia sem nada escrito e pronta para receber conteúdo do texto Aula 1 2 Alternativa C Justificativa A terceira posição em rela ção à origem dos nossos conhecimentos pode ser considerada intermediária pois procura conciliar o racionalismo com o empirismo e afirma que nosso conhe cimento possui tanto fatores racionais quanto empíricos do texto Aula 3 3 Alternativa C Justificativa Kant olhou para as estrutu ras da mente que formam os objetos as estruturas anteriores ao próprio conheci mento que por sua vez possibilitamno moldamno e por isso limitamno Kant designa as estruturas de categorias e in tuições puras Elas são integrantes da pró pria razão pura e põem formas às coisas Se não fossem essas categorias teríamos apenas um caos de informações senso riais porém por contas delas o conheci mento é possível do texto Aula 3 4 Resposta esperada dogmatismo é uma posição filosófica que afirma que a razão pode alcançar a verdade O dogma é uma verdade indiscutível e uma doutrina a ser seguida Platão e Descartes são exemplos de teorias dogmáticas pois estabelecem que a razão pode alcançar as verdades No primeiro as ideias puras No segundo as indubitáveis e o eu sou uma coisa que pensa MARÍAS 2004 p 233 gri fo do autor 5 Resposta esperada a verdade é defi nida por concordância correspondên cia e adequação do que é dito e pen sado a respeito de um objeto com a realidade da própria existência do ob jeto pensado Portanto é uma relação entre o fato e o que é pensado e dito sobre ele Para o ceticismo tal víncu lo nunca é perfeito sendo impossível o pensamento apreender totalmente seu objeto o que faz imperar a dúvida e a incerteza sendo por isso necessá ria a suspensão do juízo Unidade 4 1 Alternativa B Justificativa em Locke encontramos a metáfora da mente como uma tábula rasa ou uma folha de papel em branco pois como empirista ele enfatizou o pa pel dos sentidos e da experiência sensível no processo de conhecer 2 Alternativa C Justificativa as impressões são para Hume o material primeiro do nosso pen samento pois fornecem os conteúdos e por isso iniciam o conhecimento Podem ser internas como a percepção de um es tado emotivo ou externas como aquilo que vemos e ouvimos As impressões são sempre o ponto de partida do conheci mento são o que a consciência possui para poder começar a pensar e formar gabarito 127 ideias porque o que pode ser conhecido parte exclusivamente das impressões e sensações fornecidas pela experiência com o mundo 3 Ordem correta V V V F Justificativa segundo Hume para formar as ideias e associálas nossa mente segue três princípios associação por semelhan ça quando nossa mente une ideias pare cidas e semelhantes por contiguidade devido ao surgimento sempre próximos das ideias levandonos inevitavelmente de uma a outra e por causalidade quan do a sucessão e a sequência regular das ideias nos levam a associálas como per tencente a uma relação de causa e efeito Os três princípios de associação de ideias produzem em nós isto é na mente o hábito e o costume de observar a regu laridade dos acontecimentos e dos fatos no mundo conduzindonos a um conhe cimento suficientemente científico do texto Aula 2 4 A relação está no método Para o po sitivismo o método das ciências da natureza é o único correto capaz de auxiliarnos a determinar o conheci mento seguro a partir do qual deve mos organizar toda a vida social 5 A diferença essencial é a respeito da origem Ideias de sensação são aque las que provêm de um estímulo ex terno captado por meio dos sentidos as de reflexão são produzidas interna mente ou seja que a mente percebe que resultam de sua própria atividade e operação Então podemos resumir que as ideias que possuímos provêm da experiência externa sensação ou da experiência interna reflexão Unidade 5 1 Alternativa E Justificativa a mudança no trato dos pro blemas filosóficos que ficou conhecida como virada linguística tem por base a tese de que todo e qualquer conheci mento ou saber humano é constituído pela linguagem por isso no século XX passa a ser fundamental priorizar o filo sofar a respeito da linguagem antes de outras questões 2 Alternativa C Justificativa o método pragmático con siste em determinar o valor de uma pa lavra um termo um conceito ou uma concepção de mundo pelas consequên cias que são derivadas quando utilizadas na prática Se uma concepção mostrarse útil valiosa e fomentadora da vida então é um conhecimento verdadeiro 3 Alternativa A Justificativa ao observar que a elaboração das teorias e o conhecimento eram feitos por pesquisadores que pertenciam a con textos socioeconômicos específicos o que influenciava na criação das teorias perdia se a neutralidade Feita a crítica os pen sadores frankfurtianos propuseram que a forma tradicional de teoria precisa adquirir maior rigor crítico fundamentada por uma razão comunicativa e plural gabarito 128 4 Para os autores fenomenólogos a dualidade entre sujeito e objeto é dada como algo superado pois os fenômenos são tomados como a rea lidade A experiência originária que produz os fenômenos se refere à rea lidade préconsciente préreflexiva já estabelecida porque é anterior ao ato de estar consciente Assim ao termos algo em mente ao termos a consciên cia daquilo a correlação sujeitoobjeto já está dada no ato cognoscente Na fenomenologia sujeito e objeto são anteriores a qualquer ato cognitivo são indissociáveis no existir do mundo concreto o que Husserl chamou de mundodavida 5 A teoria tradicional parte de uma rígi da distinção entre sujeito e objeto Isso implica que formulações científicas os sujeitos tratam os objetos como estáticos e inertes não dialéticos pois se utilizam do rigor matemático para descrevêlos Ao aplicar o mesmo mé todo nas ciências humanas e sociais a teoria tradicional trata a sociedade como o mesmo rigor matemático desconsiderando com isso inúmeros fatores humanos ao fazer a estrutura da sociedade parecer natural e inalte rável como mecanismos físicos descri tos matematicamente