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UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO BRASILEIRA INSTITUTO DE LINGUAGENS E LITERATURAS CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA AVALIAÇÃO PARCIAL I LITERATURA E CULTURA AFROBRASILEIRA PROFA LUANA ANTUNES COSTA NOMEDATA NOTA 010 ENUNCIADO Desenvolva uma análise crítica do seguinte trecho da obra Quarto de despejo diário de uma favelada de Carolina Maria de Jesus Ed Ática2014 Todo o material estudado durante o nosso curso e demais estudos poderão ser consultados Empregue em seu texto as normas da ABNT e coloque as referências ao final Em caso de plágio a avaliação receberá nota 00 Avaliação individual e com consulta Máximo de páginas 3 páginas Link para acesso à obra httpswwwcoletivoleitorcombrwpcontentuploads201911quartodedespejopdf 20 de julho Deixei o leito as 4 horas para escrever Abri a porta e contemplei o céu estrelado Quando o astrorei começou despontar eu fui buscar agua Tive sorte As mulheres não estavam na torneira Enchi minha lata e zarpei Fui no Arnaldo buscar o leite e o pão Quando retornava encontrei o senhor Ismael com uma faca de 30 centimetros mais ou menos Disse me que estava a espera do Binidito e do Miguel para matálos que eles lhe expancaram quando ele estava embriagado Lhe aconselhei a não brigar que o crime não trás vantagens a ninguem apenas deturpa a vida Senti o cheiro de alcool disisti Sei que os ebrios não atende O senhor Ismael quando não está alcoolizado demonstra sua sapiencia Já foi telegrafsta E do Circulo Exoterico Tem conhecimentos biblicos gosta de dar conselhos Mas não tem valor Deixou o alcool lhe dominar embora seu conselho seja util para os que gostam de levar vida decente Preparei a refeição matinal Cada flho prefere uma coisa A Vera mingau de farinha de trigo torrada O João José café puro O José Carlos leite branco E eu mingau de aveia 22 Já que não posso dar aos meus flhos uma casa decente para residir procuro lhe dar uma refeição condigna Terminaram a refeição Lavei os utensilios Depois fui lavar roupas Eu não tenho homem em casa É só eu e meus flhos Mas eu não pretendo relaxar O meu sonho era andar bem limpinha usar roupas de alto preço residir numa casa confortavel mas não é possivel Eu não estou descontente com a profssão que exerço Já habitueime andar suja Já faz oito anos que cato papel O desgosto que tenho é residir em favela Durante o dia os jovens de 15 e 18 anos sentam na grama e falam de roubo E já tentaram assaltar o emporio do senhor Raymundo Guello E um fcou carimbando com uma bala O assalto teve inicio as 4 horas Quando o dia clareou as crianças catava dinheiro na rua e no capinzal Teve criança que catou vinte cruzeiros em moeda E sorria exibindo o dinheiro Mas o juiz foi severo Castigou impiedosamente Fui no rio lavar as roupas e encontrei D Mariana Uma mulher agradavel e decente Tem 9 flhos e um lar modelo Ela e o esposo tratamse com iducação Visam apenas viver em paz E criar flhos Ela tambem ia lavar roupas Ela disseme que o Binidito da D Geralda todos os dias ia preso Que a Radio Patrulha cançou de vir buscálo Arranjou serviço para ele na cadeia Achei graça Dei risada Estendi as roupas rapidamente e fui catar papel Que suplicio catar papel atualmente Tenho que levar a minha flha Vera Eunice Ela está com dois anos e não gosta de fcar em casa Eu ponho o saco na cabeça e levoa nos braços Suporto o peso do saco na cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos braços Tem hora que revoltome Depois dominome Ela não tem culpa de estar no mundo Refeti preciso ser tolerante com os meus flhos Eles não tem ninguem no mundo a não ser eu Como é pungente a condição de mulher sozinha sem um homem no lar Aqui todas impricam comigo Dizem que falo muito bem Que sei atrair os homens Quando fco nervosa não gosto de discutir Prefro escrever Todos os dias eu escrevo Sento no quintal e escrevo JESUS 2014 p 2122 UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO BRASILEIRA INSTITUTO DE LINGUAGENS E LITERATURAS CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA AVALIAÇÃO PARCIAL I LITERATURA E CULTURA AFROBRASILEIRA PROFA LUANA ANTUNES COSTA NOMEDATA NOTA 010 ENUNCIADO Desenvolva uma análise crítica do seguinte trecho da obra Quarto de despejo diário de uma favelada de Carolina Maria de Jesus Ed Ática2014 Todo o material estudado durante o nosso curso e demais estudos poderão ser consultados Empregue em seu texto as normas da ABNT e coloque as referências ao final Em caso de plágio a avaliação receberá nota 00 Avaliação individual e com consulta Máximo de páginas 3 páginas Link para acesso à obra httpswwwcoletivoleitorcombrwpcontentuploads201911quartodedespejopdf 20 de julho Deixei o leito as 4 horas para escrever Abri a porta e contemplei o céu estrelado Quando o astrorei começou despontar eu fui buscar agua Tive sorte As mulheres não estavam na torneira Enchi minha lata e zarpei Fui no Arnaldo buscar o leite e o pão Quando retornava encontrei o senhor Ismael com uma faca de 30 centimetros mais ou menos Disse me que estava a espera do Binidito e do Miguel para matálos que eles lhe expancaram quando ele estava embriagado Lhe aconselhei a não brigar que o crime não trás vantagens a ninguem apenas deturpa a vida Senti o cheiro de alcool disisti Sei que os ebrios não atende O senhor Ismael quando não está alcoolizado demonstra sua sapiencia Já foi telegrafsta E do Circulo Exoterico Tem conhecimentos biblicos gosta de dar conselhos Mas não tem valor Deixou o alcool lhe dominar embora seu conselho seja util para os que gostam de levar vida decente Preparei a refeição matinal Cada flho prefere uma coisa A Vera mingau de farinha de trigo torrada O João José café puro O José Carlos leite branco E eu mingau de aveia 22 Já que não posso dar aos meus flhos uma casa decente para residir procuro lhe dar uma refeição condigna Terminaram a refeição Lavei os utensilios Depois fui lavar roupas Eu não tenho homem em casa É só eu e meus flhos Mas eu não pretendo relaxar O meu sonho era andar bem limpinha usar roupas de alto preço residir numa casa confortavel mas não é possivel Eu não estou descontente com a profssão que exerço Já habitueime andar suja Já faz oito anos que cato papel O desgosto que tenho é residir em favela Durante o dia os jovens de 15 e 18 anos sentam na grama e falam de roubo E já tentaram assaltar o emporio do senhor Raymundo Guello E um fcou carimbando com uma bala O assalto teve inicio as 4 horas Quando o dia clareou as crianças catava dinheiro na rua e no capinzal Teve criança que catou vinte cruzeiros em moeda E sorria exibindo o dinheiro Mas o juiz foi severo Castigou impiedosamente Fui no rio lavar as roupas e encontrei D Mariana Uma mulher agradavel e decente Tem 9 flhos e um lar modelo Ela e o esposo tratamse com iducação Visam apenas viver em paz E criar flhos Ela tambem ia lavar roupas Ela disseme que o Binidito da D Geralda todos os dias ia preso Que a Radio Patrulha cançou de vir buscálo Arranjou serviço para ele na cadeia Achei graça Dei risada Estendi as roupas rapidamente e fui catar papel Que suplicio catar papel atualmente Tenho que levar a minha flha Vera Eunice Ela está com dois anos e não gosta de fcar em casa Eu ponho o saco na cabeça e levoa nos braços Suporto o peso do saco na cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos braços Tem hora que revoltome Depois dominome Ela não tem culpa de estar no mundo Refeti preciso ser tolerante com os meus flhos Eles não tem ninguem no mundo a não ser eu Como é pungente a condição de mulher sozinha sem um homem no lar Aqui todas impricam comigo Dizem que falo muito bem Que sei atrair os homens Quando fco nervosa não gosto de discutir Prefro escrever Todos os dias eu escrevo Sento no quintal e escrevo JESUS 2014 p 2122 ANÁLISE O trecho do diário de Carolina Maria de Jesus presente em Quarto de Despejo é uma narrativa que oferece uma visão crítica e realista da vida na favela do Canindé em São Paulo A autora apresenta uma perspectiva única sobre a vida cotidiana na favela expondo a violência a pobreza e a discriminação que as pessoas enfrentam diariamente Um dos aspectos mais importantes do trecho é a representação da literatura e cultura afrobrasileira A literatura marginalizada é uma forma de dar voz às pessoas que são frequentemente excluídas da narrativa dominante e oferecer uma perspectiva alternativa sobre a vida CANDIDO 1975 p 25 Carolina Maria de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras a alcançar proeminência na literatura brasileira e seu trabalho é considerado um marco na literatura afrobrasileira A autora apresenta uma visão crítica da sociedade brasileira expondo as desigualdades e injustiças que afetam as pessoas negras e pobres Além disso o diário de Carolina Maria de Jesus é um exemplo importante da literatura marginalizada no Brasil A autora escreveu sua obra em um momento em que a maioria dos escritores brasileiros eram homens brancos de classe média Seu trabalho desafia as convenções literárias dominantes e oferece uma perspectiva única sobre a vida na favela Outro aspecto importante do trecho é a representação da maternidade na favela A maternidade na favela é uma forma de resistência contra as condições precárias de vida e a falta de oportunidades As mães na favela são frequentemente sobrecarregadas com a responsabilidade de cuidar dos filhos sozinhas enquanto enfrentam a pobreza e a violência BUTLER 1990 p 78 Carolina Maria de Jesus descreve a sua luta diária para prover o sustento dos seus filhos e oferecerlhes uma vida melhor Ela mostra como as mães na favela são frequentemente sobrecarregadas com a responsabilidade de cuidar dos filhos sozinhas enquanto enfrentam a pobreza e a violência Por fim o trecho também destaca a questão da violência na favela Carolina Maria de Jesus descreve a presença constante da violência e da criminalidade na favela expondo como as pessoas vivem em um estado constante de medo e insegurança Ela mostra como a falta de recursos e oportunidades limita as escolhas das pessoas e as impede de alcançar uma vida melhor A violência na favela é um sintoma da desigualdade social e econômica que afeta as pessoas mais vulneráveis da sociedade A falta de recursos e oportunidades limita as escolhas das pessoas e as impede de alcançar seus sonhos FANON 1963 p 45 Logo o trecho do diário de Carolina Maria de Jesus é uma narrativa importante que oferece uma visão crítica e realista da vida na favela do Canindé A obra destaca a importância da literatura e cultura afrobrasileira bem como a representação da maternidade e da violência na favela REFERÊNCIAS BUTLER Judith Gender Trouble Feminism and the Subversion of Identity New York Routledge 1990 CANDIDO Antonio Literatura e Sociedade Estudos de Teoria e História Literária São Paulo Companhia Editora Nacional 1975 FANON Frantz The Wretched of the Earth New York Grove Press 1963 JESUS Carolina Maria de Quarto de despejo diário de uma favelada São Paulo Ática 2014
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UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO BRASILEIRA INSTITUTO DE LINGUAGENS E LITERATURAS CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA AVALIAÇÃO PARCIAL I LITERATURA E CULTURA AFROBRASILEIRA PROFA LUANA ANTUNES COSTA NOMEDATA NOTA 010 ENUNCIADO Desenvolva uma análise crítica do seguinte trecho da obra Quarto de despejo diário de uma favelada de Carolina Maria de Jesus Ed Ática2014 Todo o material estudado durante o nosso curso e demais estudos poderão ser consultados Empregue em seu texto as normas da ABNT e coloque as referências ao final Em caso de plágio a avaliação receberá nota 00 Avaliação individual e com consulta Máximo de páginas 3 páginas Link para acesso à obra httpswwwcoletivoleitorcombrwpcontentuploads201911quartodedespejopdf 20 de julho Deixei o leito as 4 horas para escrever Abri a porta e contemplei o céu estrelado Quando o astrorei começou despontar eu fui buscar agua Tive sorte As mulheres não estavam na torneira Enchi minha lata e zarpei Fui no Arnaldo buscar o leite e o pão Quando retornava encontrei o senhor Ismael com uma faca de 30 centimetros mais ou menos Disse me que estava a espera do Binidito e do Miguel para matálos que eles lhe expancaram quando ele estava embriagado Lhe aconselhei a não brigar que o crime não trás vantagens a ninguem apenas deturpa a vida Senti o cheiro de alcool disisti Sei que os ebrios não atende O senhor Ismael quando não está alcoolizado demonstra sua sapiencia Já foi telegrafsta E do Circulo Exoterico Tem conhecimentos biblicos gosta de dar conselhos Mas não tem valor Deixou o alcool lhe dominar embora seu conselho seja util para os que gostam de levar vida decente Preparei a refeição matinal Cada flho prefere uma coisa A Vera mingau de farinha de trigo torrada O João José café puro O José Carlos leite branco E eu mingau de aveia 22 Já que não posso dar aos meus flhos uma casa decente para residir procuro lhe dar uma refeição condigna Terminaram a refeição Lavei os utensilios Depois fui lavar roupas Eu não tenho homem em casa É só eu e meus flhos Mas eu não pretendo relaxar O meu sonho era andar bem limpinha usar roupas de alto preço residir numa casa confortavel mas não é possivel Eu não estou descontente com a profssão que exerço Já habitueime andar suja Já faz oito anos que cato papel O desgosto que tenho é residir em favela Durante o dia os jovens de 15 e 18 anos sentam na grama e falam de roubo E já tentaram assaltar o emporio do senhor Raymundo Guello E um fcou carimbando com uma bala O assalto teve inicio as 4 horas Quando o dia clareou as crianças catava dinheiro na rua e no capinzal Teve criança que catou vinte cruzeiros em moeda E sorria exibindo o dinheiro Mas o juiz foi severo Castigou impiedosamente Fui no rio lavar as roupas e encontrei D Mariana Uma mulher agradavel e decente Tem 9 flhos e um lar modelo Ela e o esposo tratamse com iducação Visam apenas viver em paz E criar flhos Ela tambem ia lavar roupas Ela disseme que o Binidito da D Geralda todos os dias ia preso Que a Radio Patrulha cançou de vir buscálo Arranjou serviço para ele na cadeia Achei graça Dei risada Estendi as roupas rapidamente e fui catar papel Que suplicio catar papel atualmente Tenho que levar a minha flha Vera Eunice Ela está com dois anos e não gosta de fcar em casa Eu ponho o saco na cabeça e levoa nos braços Suporto o peso do saco na cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos braços Tem hora que revoltome Depois dominome Ela não tem culpa de estar no mundo Refeti preciso ser tolerante com os meus flhos Eles não tem ninguem no mundo a não ser eu Como é pungente a condição de mulher sozinha sem um homem no lar Aqui todas impricam comigo Dizem que falo muito bem Que sei atrair os homens Quando fco nervosa não gosto de discutir Prefro escrever Todos os dias eu escrevo Sento no quintal e escrevo JESUS 2014 p 2122 UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO BRASILEIRA INSTITUTO DE LINGUAGENS E LITERATURAS CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA AVALIAÇÃO PARCIAL I LITERATURA E CULTURA AFROBRASILEIRA PROFA LUANA ANTUNES COSTA NOMEDATA NOTA 010 ENUNCIADO Desenvolva uma análise crítica do seguinte trecho da obra Quarto de despejo diário de uma favelada de Carolina Maria de Jesus Ed Ática2014 Todo o material estudado durante o nosso curso e demais estudos poderão ser consultados Empregue em seu texto as normas da ABNT e coloque as referências ao final Em caso de plágio a avaliação receberá nota 00 Avaliação individual e com consulta Máximo de páginas 3 páginas Link para acesso à obra httpswwwcoletivoleitorcombrwpcontentuploads201911quartodedespejopdf 20 de julho Deixei o leito as 4 horas para escrever Abri a porta e contemplei o céu estrelado Quando o astrorei começou despontar eu fui buscar agua Tive sorte As mulheres não estavam na torneira Enchi minha lata e zarpei Fui no Arnaldo buscar o leite e o pão Quando retornava encontrei o senhor Ismael com uma faca de 30 centimetros mais ou menos Disse me que estava a espera do Binidito e do Miguel para matálos que eles lhe expancaram quando ele estava embriagado Lhe aconselhei a não brigar que o crime não trás vantagens a ninguem apenas deturpa a vida Senti o cheiro de alcool disisti Sei que os ebrios não atende O senhor Ismael quando não está alcoolizado demonstra sua sapiencia Já foi telegrafsta E do Circulo Exoterico Tem conhecimentos biblicos gosta de dar conselhos Mas não tem valor Deixou o alcool lhe dominar embora seu conselho seja util para os que gostam de levar vida decente Preparei a refeição matinal Cada flho prefere uma coisa A Vera mingau de farinha de trigo torrada O João José café puro O José Carlos leite branco E eu mingau de aveia 22 Já que não posso dar aos meus flhos uma casa decente para residir procuro lhe dar uma refeição condigna Terminaram a refeição Lavei os utensilios Depois fui lavar roupas Eu não tenho homem em casa É só eu e meus flhos Mas eu não pretendo relaxar O meu sonho era andar bem limpinha usar roupas de alto preço residir numa casa confortavel mas não é possivel Eu não estou descontente com a profssão que exerço Já habitueime andar suja Já faz oito anos que cato papel O desgosto que tenho é residir em favela Durante o dia os jovens de 15 e 18 anos sentam na grama e falam de roubo E já tentaram assaltar o emporio do senhor Raymundo Guello E um fcou carimbando com uma bala O assalto teve inicio as 4 horas Quando o dia clareou as crianças catava dinheiro na rua e no capinzal Teve criança que catou vinte cruzeiros em moeda E sorria exibindo o dinheiro Mas o juiz foi severo Castigou impiedosamente Fui no rio lavar as roupas e encontrei D Mariana Uma mulher agradavel e decente Tem 9 flhos e um lar modelo Ela e o esposo tratamse com iducação Visam apenas viver em paz E criar flhos Ela tambem ia lavar roupas Ela disseme que o Binidito da D Geralda todos os dias ia preso Que a Radio Patrulha cançou de vir buscálo Arranjou serviço para ele na cadeia Achei graça Dei risada Estendi as roupas rapidamente e fui catar papel Que suplicio catar papel atualmente Tenho que levar a minha flha Vera Eunice Ela está com dois anos e não gosta de fcar em casa Eu ponho o saco na cabeça e levoa nos braços Suporto o peso do saco na cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos braços Tem hora que revoltome Depois dominome Ela não tem culpa de estar no mundo Refeti preciso ser tolerante com os meus flhos Eles não tem ninguem no mundo a não ser eu Como é pungente a condição de mulher sozinha sem um homem no lar Aqui todas impricam comigo Dizem que falo muito bem Que sei atrair os homens Quando fco nervosa não gosto de discutir Prefro escrever Todos os dias eu escrevo Sento no quintal e escrevo JESUS 2014 p 2122 ANÁLISE O trecho do diário de Carolina Maria de Jesus presente em Quarto de Despejo é uma narrativa que oferece uma visão crítica e realista da vida na favela do Canindé em São Paulo A autora apresenta uma perspectiva única sobre a vida cotidiana na favela expondo a violência a pobreza e a discriminação que as pessoas enfrentam diariamente Um dos aspectos mais importantes do trecho é a representação da literatura e cultura afrobrasileira A literatura marginalizada é uma forma de dar voz às pessoas que são frequentemente excluídas da narrativa dominante e oferecer uma perspectiva alternativa sobre a vida CANDIDO 1975 p 25 Carolina Maria de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras a alcançar proeminência na literatura brasileira e seu trabalho é considerado um marco na literatura afrobrasileira A autora apresenta uma visão crítica da sociedade brasileira expondo as desigualdades e injustiças que afetam as pessoas negras e pobres Além disso o diário de Carolina Maria de Jesus é um exemplo importante da literatura marginalizada no Brasil A autora escreveu sua obra em um momento em que a maioria dos escritores brasileiros eram homens brancos de classe média Seu trabalho desafia as convenções literárias dominantes e oferece uma perspectiva única sobre a vida na favela Outro aspecto importante do trecho é a representação da maternidade na favela A maternidade na favela é uma forma de resistência contra as condições precárias de vida e a falta de oportunidades As mães na favela são frequentemente sobrecarregadas com a responsabilidade de cuidar dos filhos sozinhas enquanto enfrentam a pobreza e a violência BUTLER 1990 p 78 Carolina Maria de Jesus descreve a sua luta diária para prover o sustento dos seus filhos e oferecerlhes uma vida melhor Ela mostra como as mães na favela são frequentemente sobrecarregadas com a responsabilidade de cuidar dos filhos sozinhas enquanto enfrentam a pobreza e a violência Por fim o trecho também destaca a questão da violência na favela Carolina Maria de Jesus descreve a presença constante da violência e da criminalidade na favela expondo como as pessoas vivem em um estado constante de medo e insegurança Ela mostra como a falta de recursos e oportunidades limita as escolhas das pessoas e as impede de alcançar uma vida melhor A violência na favela é um sintoma da desigualdade social e econômica que afeta as pessoas mais vulneráveis da sociedade A falta de recursos e oportunidades limita as escolhas das pessoas e as impede de alcançar seus sonhos FANON 1963 p 45 Logo o trecho do diário de Carolina Maria de Jesus é uma narrativa importante que oferece uma visão crítica e realista da vida na favela do Canindé A obra destaca a importância da literatura e cultura afrobrasileira bem como a representação da maternidade e da violência na favela REFERÊNCIAS BUTLER Judith Gender Trouble Feminism and the Subversion of Identity New York Routledge 1990 CANDIDO Antonio Literatura e Sociedade Estudos de Teoria e História Literária São Paulo Companhia Editora Nacional 1975 FANON Frantz The Wretched of the Earth New York Grove Press 1963 JESUS Carolina Maria de Quarto de despejo diário de uma favelada São Paulo Ática 2014