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IO Uma Tentativa de Definição do Espaço Q uando se está mais preocupado com a geografia em si mesma como ciência formalizada e pouco ou nada com aquilo que é na realidade seu objeto de estudo ou seja o espaço correse o fctainjv risco de cair no erro condenado por Durkheim 1898 1962 p 18 em relação aos sociólogos do seu tempo o erro de trabalhar mais ou menos exclusivamente com conceitos do que com coisas Definir a Geografia ou o Espaço O problema é aqui o da definição do objeto de cada disciplina no universo do saber No caso da geografia chegarse a esse objetivo apresenta um certo número de riscos mas nenhum é mais grave que o de confundir nesse exercício teórico e metodológico a ciência ela mesma e o seu objeto Quando em 1925 De Martonne se referia aos laços de nossa disciplina com os demais ramos do saber fazia sobretudo alusão às relações entre essas outras ciências e a geografia ao invés de preocu parse com as relações entre o objeto da geografia que é o espaço e U3 os outros aspectos tangíveis ou não da realidade social Tal posição conduz necessariamente a uma falsa interpretação O que se quer conhecer por intermédio das ciências particulares são os diversos aspectos da realidade que compete estudar globalmente É o correto conhecimento dos diversos aspectos dessa realidade que nos permite a um dado momento da evolução do pensamento científico definir melhor cada aspecto e paralelamente toda a realidade Tal operação é em si mesma multiplicadora porque cada nova síntese obtida per mite igualmente um novo avanço no trabalho analítico e viceversa Desgraçadamente porém de todas as disciplinas sociais a geografia foi a que mais se atrasou na definição do seu objeto e passou mesmo a negligenciar completamente esse problema Um dos geógrafos mais influentes dos Estados Unidos pelo vigor de sua vocação como teórico Hartshorne 1939 p 374 asseverou que a geografia deveria ser definida antes pelo seu método próprio e particular de aproximação ou de enfoque do que em termos do seu objeto O geógrafo francês Le Lannou foi mais longe para afirmar ca tegoricamente que a geografia era unicamente um ponto de vista Tal forma de definir ou não definir o campo de interesse da geografia influenciou o julgamento de nossa disciplina por outros es pecialistas Em 1969 o geólogo P Rat escrevendo sobre a geografia disse o seguinte podese dizer que não há fatos geográficos mas uma maneira geográfica de considerar cada conjunto de fatos1 Mas há os que como C R Dryer pensam em termos de distribuição das coisas sobre a face da terra mas também no seu contexto ver Freemann 1961 p 70 z A multiplicidade de definições da geografia está assim longe de í ajudar o seu próprio desenvolvimento F Lukermann 1964 por S exemplo pensa que nem o conteúdo nem o método são coisas impor tantes e que a geografia se define pelas questões que coloca citado por Minshull 1970 p 11 Essas questões seriam para o geógrafo inglês 1 Citado por Marc Boyé 1970 1974 p 8 Clements Markham 1905 p 58 as seguintes Onde está isto Que é isto Quando isto se passou2 Reproduzir uma lista de definições da geografia é sempre cansati vo talvez contraproducente3 Se uma ciência se define por seu objeto nem sempre a definição da disciplina leva em conta esse objeto Este é particularmente o caso da geografia cuja preocupação com o seu objeto explícito o espaço social foi sempre deixada em segundo plano Insistimos em que essa falha é uma das causas do seu atraso no campo teóricometodológico e tem responsabilidade pelo seu isolamento Insistimos em que não pode haver progresso científico sem meditação a propósito da forma como os diferentes aspectos da realidade são estudados4 2 Geographical Journal 26 p 581905 3 A Allix 1948 A geografia é a ciência digamos mais modestamente o estudo da repar tição e da coordenação dos fatos que têm por sede campo a porção da crosta terrestre e da atmosfera acessível ao homem De Martonne a geografia moderna estuda a repar tição à superfície do globo dos fenômenos físicos biológicos e humanos as causas dessa repartição e as relações locais desses fenômenos Ela tem caráter essencialmente científico c filosófico mas também um caráter descritivo e realista Apud O Tulippe Cours de géographie humaine 2a parte tomo I p 80 Para Fr Ruellan a geografia é uma ciência que procura definir as associações de fatos na sua forma sintética para melhor aprender suas relações complexas isto é para compreender um conjunto coerente de manifestações de vida física e humana na superfície do globo Convém pois marcar com precisão a ex tensão dos fenômenos que entram na composição de um meio geográfico procurar suas causas e consequências e traçar sua evolução As Normas da Elaboração e da Redação de um Trabalho Geográfico Rev Bras de Geog Ano V n 4 Para Cholley a questão é saber se a gênese a estrutura e a evolução das combinações são suscetíveis de um co nhecimento científico isto é se em suma podem ser medidas Para as combinações da geografia humana isto não oferece dúvidas uma combinação se mede pelos seus efeitos produção coeficiente demográfico nível de vida etc Podese então fixar o momento em que ela aparece e seguir a sua evolução Para as combinações da geografia física a coisa é igualmente possível La Géographie p 77 Temse querido reduzir a geografia a uma maneira de considerar as coisas a um simples estado de espírito Nós acabamos de ver que ela pode representar uma ordem de conhecimentos Ela tem seu domínio sua realidade e um método que lhe é próprio op cit p 25 Uma ciência jovem ou uma ciência do futuro tal nos parece ser a posição da geografia op cit p 78 4 Para Hayek o objeto do estudo científico jamais é a totalidade de todos os fenômenos observáveis num dado momento e num dado lugar mas sempre e somente certos de seus aspetos abstratos Para ele segundo citação de K Kosik 1967 p 62 o espírito humano não seria capaz de abraçar conjuntos quer dizer a totalidade dos diversos aspectos da situação real os outros aspectos tangíveis ou não da realidade social Tal posição conduz necessariamente a uma falsa interpretação O que se quer conhecer por intermédio das ciências particulares são os diversos aspectos da realidade que compete estudar globalmente É o correto conhecimento dos diversos aspectos dessa realidade que nos permite a um dado momento da evolução do pensamento científico definir melhor cada aspecto e paralelamente toda a realidade Tal operação é em si mesma multiplicadora porque cada nova síntese obtida per mite igualmente um novo avanço no trabalho analítico e viceversa Desgraçadamente porém de todas as disciplinas sociais a geografia foi a que mais se atrasou na definição do seu objeto e passou mesmo a negligenciar completamente esse problema Um dos geógrafos mais influentes dos Estados Unidos pelo vigor de sua vocação como teórico Hartshorne 1939 p 374 asseverou que a geografia deveria ser definida antes pelo seu método próprio e particular de aproximação ou de enfoque do que em termos do seu objeto O geógrafo francês Le Lannou foi mais longe para afirmar ca tegoricamente que a geografia era unicamente um ponto de vista Tal forma de definir ou não definir o campo de interesse da geografia influenciou o julgamento de nossa disciplina por outros es pecialistas Em 1969 o geólogo P Rat escrevendo sobre a geografia disse o seguinte podese dizer que não há fatos geográficos mas uma maneira geográfica de considerar cada conjunto de fatos1 Mas há os que como C R Dryer pensam em termos de distribuição das coisas sobre a face da terra mas também no seu contexto ver Freemann 1961 p 70 z A multiplicidade de definições da geografia está assim longe de í ajudar o seu próprio desenvolvimento F Lukermann 1964 por S exemplo pensa que nem o conteúdo nem o método são coisas impor tantes e que a geografia se define pelas questões que coloca citado por Minshull 1970 p 11 Essas questões seriam para o geógrafo inglês 1 Citado por Marc Boyé 1970 1974 p 8 Clements Markham 1905 p 58 as seguintes Onde está isto Que é isto Quando isto se passou2 Reproduzir uma lista de definições da geografia é sempre cansati vo talvez contraproducente3 Se uma ciência se define por seu objeto nem sempre a definição da disciplina leva em conta esse objeto Este é particularmente o caso da geografia cuja preocupação com o seu objeto explícito o espaço social foi sempre deixada em segundo plano Insistimos em que essa falha é uma das causas do seu atraso no campo teóricometodológico e tem responsabilidade pelo seu isolamento Insistimos em que não pode haver progresso científico sem meditação a propósito da forma como os diferentes aspectos da realidade são estudados4 2 Geographical Journal 26 p 581905 3 A Allix 1948 A geografia é a ciência digamos mais modestamente o estudo da repar tição e da coordenação dos fatos que têm por sede campo a porção da crosta terrestre e da atmosfera acessível ao homem De Martonne a geografia moderna estuda a repar tição à superfície do globo dos fenômenos físicos biológicos e humanos as causas dessa repartição e as relações locais desses fenômenos Ela tem caráter essencialmente científico c filosófico mas também um caráter descritivo e realista Apud O Tulippe Cours de géographie humaine 2a parte tomo I p 80 Para Fr Ruellan a geografia é uma ciência que procura definir as associações de fatos na sua forma sintética para melhor aprender suas relações complexas isto é para compreender um conjunto coerente de manifestações de vida física e humana na superfície do globo Convém pois marcar com precisão a ex tensão dos fenômenos que entram na composição de um meio geográfico procurar suas causas e consequências e traçar sua evolução As Normas da Elaboração e da Redação de um Trabalho Geográfico Rev Bras de Geog Ano V n 4 Para Cholley a questão é saber se a gênese a estrutura e a evolução das combinações são suscetíveis de um co nhecimento científico isto é se em suma podem ser medidas Para as combinações da geografia humana isto não oferece dúvidas uma combinação se mede pelos seus efeitos produção coeficiente demográfico nível de vida etc Podese então fixar o momento em que ela aparece e seguir a sua evolução Para as combinações da geografia física a coisa é igualmente possível La Géographie p 77 Temse querido reduzir a geografia a uma maneira de considerar as coisas a um simples estado de espírito Nós acabamos de ver que ela pode representar uma ordem de conhecimentos Ela tem seu domínio sua realidade e um método que lhe é próprio op cit p 25 Uma ciência jovem ou uma ciência do futuro tal nos parece ser a posição da geografia op cit p 78 4 Para Hayek o objeto do estudo científico jamais é a totalidade de todos os fenômenos observáveis num dado momento e num dado lugar mas sempre e somente certos de seus aspetos abstratos Para ele segundo citação de K Kosik 1967 p 62 o espírito humano não seria capaz de abraçar conjuntos quer dizer a totalidade dos diversos aspectos da situação real A sociedade que deve ser finalmente a preocupação fundamental de todo e qualquer ramo do saber humano é uma sociedade total Cada ciência particular se ocupa de um dos seus aspectos O fato de a sociedade ser global consagra o princípio da unidade da ciência O fato de essa realidade total que é a sociedade não se apresentar a cada um de nós em cada momento e em cada lugar senão sob um ou alguns dos seus aspectos justifica a existência de disciplinas particulares Isso não desdiz o princípio da unidade da ciência apenas entroniza outro princípio fundamental que é o da divisão do trabalho científico De acordo com P Fraisse 1976 p 11 cada ciência corresponde a um nível de organização da natureza Entre esses níveis há continuidades e descontinuidades Cada ciência é por suas divisões reduzível a apli cações de um nível inferior Cada uma delas em sua organização específica permanece porém não reduzível A psicologia não pode ser reduzida à biologia nem esta à quími ca ainda que haja lugar para uma bioquímica e uma psicobiologia A cada nível não corresponde uma entidade ontológica nova mas uma organização cujas propriedades se revelam pelos comportamentos que comanda Em sociologia coube a Simmel 1894 1898 dentre outros realizar um grande esforço para delimitar o objeto dandolhe assim contor nos diferentes daquelas outras disciplinas humanas Em geografia a preocupação com os princípios e as classificações fez com que fosse perdido de vista o próprio conteúdo do qual deveria ocuparse a ciência recentemente criada Não se trata assim como escreveu E Durkheim 1900 de se querer dar limites muito precisos a uma ciência porque a parte da realidade que ela se propõe a estudar jamais é separada das outras por uma delimitação precisa Na realidade cada coisa na natureza encontrase unida com as outras de tal maneira que aí não pode ha ver solução de continuidade entre as diferentes ciências em fronteiras muito precisas Mas se não se é capaz de reconhecer o domínio de uma ciência podese cair naquilo que Durkheim falava em relação à sociologia o perigo de ver sua esfera de ação estenderse ao infinito 1900 1953 p 179 O Problema da Autonomia e das Categorias Analíticas A relativa autonomia de cada disciplina só pode ser encontrada dentro do sistema de ciências cuja coerência é dada pela própria unidade do objeto de estudo que é a sociedade total Mas a coerên cia de cada disciplina particular também exige a construção de um sistema que lhe seja particular ou específico formulado a partir do conhecimento prévio da parcela de realidade social considerada como uma totalidade menor Essa parcela ou aspecto da vida social assim considerado vem a ser o objeto de cada disciplina particular Sem essa atitude nem mesmo estaríamos em condições de saber aquilo que estamos estudando e queremos conhecer melhor Em nosso caso particular isto supõe o reconhecimento de um objeto próprio ao estudo geográfico mas isso não basta A identificação do objeto será de pouca significação se não formos capazes de definirlhe as categorias fundamentais Sem nenhuma dúvida as categorias sob um ângulo puramente nominal mudam de significação com a histó ria mas elas também constituem uma base permanente e por isso mesmo um guia permanente para a teorização Se queremos alcançar bons resultados nesse exercício indispensável devemos centralizar nossas preocupações em torno da categoria espaço tal qual ele c se apresenta como um produto histórico São os fatos referentes à gênese ao funcionamento e à evolução do espaço que nos interessam S em primeiro lugar5 í A interpretação de espaço e sua gênese ou seu funcionamento e sua evolução depende de como façamos antes a correta definição de suas ca I tegorias analíticas sem a qual estaríamos impossibilitados de desmem brar o todo através de um processo de análise para reconstruílo depois através de um processo de síntese Sem isso não seria mesmo possível pensar em trabalho interdisciplinar porque não teríamos os meios para reconhecer em cada ocasião quais as outras disciplinas científicas que 5 A geografia não pode dedicarse aos homens ou ao mundo em geral Ela deve limi tarse ao que lhe é específico ou seja o espaço a ser explicado e teorizado é o campo da geografia científica ponto de partida para sua definição J Levy 1975 p 58 Zbi A sociedade que deve ser finalmente a preocupação fundamental de todo e qualquer ramo do saber humano é uma sociedade total Cada ciência particular se ocupa de um dos seus aspectos O fato de a sociedade ser global consagra o princípio da unidade da ciência O fato de essa realidade total que é a sociedade não se apresentar a cada um de nós em cada momento e em cada lugar senão sob um ou alguns dos seus aspectos justifica a existência de disciplinas particulares Isso não desdiz o princípio da unidade da ciência apenas entroniza outro princípio fundamental que é o da divisão do trabalho científico De acordo com P Fraisse 1976 p 11 cada ciência corresponde a um nível de organização da natureza Entre esses níveis há continuidades e descontinuidades Cada ciência é por suas divisões reduzível a apli cações de um nível inferior Cada uma delas em sua organização específica permanece porém não reduzível A psicologia não pode ser reduzida à biologia nem esta à quími ca ainda que haja lugar para uma bioquímica e uma psicobiologia A cada nível não corresponde uma entidade ontológica nova mas uma organização cujas propriedades se revelam pelos comportamentos que comanda Em sociologia coube a Simmel 1894 1898 dentre outros realizar um grande esforço para delimitar o objeto dandolhe assim contor nos diferentes daquelas outras disciplinas humanas Em geografia a preocupação com os princípios e as classificações fez com que fosse perdido de vista o próprio conteúdo do qual deveria ocuparse a ciência recentemente criada Não se trata assim como escreveu E Durkheim 1900 de se querer dar limites muito precisos a uma ciência porque a parte da realidade que ela se propõe a estudar jamais é separada das outras por uma delimitação precisa Na realidade cada coisa na natureza encontrase unida com as outras de tal maneira que aí não pode ha ver solução de continuidade entre as diferentes ciências em fronteiras muito precisas Mas se não se é capaz de reconhecer o domínio de uma ciência podese cair naquilo que Durkheim falava em relação à sociologia o perigo de ver sua esfera de ação estenderse ao infinito 1900 1953 p 179 O Problema da Autonomia e das Categorias Analíticas A relativa autonomia de cada disciplina só pode ser encontrada dentro do sistema de ciências cuja coerência é dada pela própria unidade do objeto de estudo que é a sociedade total Mas a coerên cia de cada disciplina particular também exige a construção de um sistema que lhe seja particular ou específico formulado a partir do conhecimento prévio da parcela de realidade social considerada como uma totalidade menor Essa parcela ou aspecto da vida social assim considerado vem a ser o objeto de cada disciplina particular Sem essa atitude nem mesmo estaríamos em condições de saber aquilo que estamos estudando e queremos conhecer melhor Em nosso caso particular isto supõe o reconhecimento de um objeto próprio ao estudo geográfico mas isso não basta A identificação do objeto será de pouca significação se não formos capazes de definirlhe as categorias fundamentais Sem nenhuma dúvida as categorias sob um ângulo puramente nominal mudam de significação com a histó ria mas elas também constituem uma base permanente e por isso mesmo um guia permanente para a teorização Se queremos alcançar bons resultados nesse exercício indispensável devemos centralizar nossas preocupações em torno da categoria espaço tal qual ele c se apresenta como um produto histórico São os fatos referentes à gênese ao funcionamento e à evolução do espaço que nos interessam S em primeiro lugar5 í A interpretação de espaço e sua gênese ou seu funcionamento e sua evolução depende de como façamos antes a correta definição de suas ca I tegorias analíticas sem a qual estaríamos impossibilitados de desmem brar o todo através de um processo de análise para reconstruílo depois através de um processo de síntese Sem isso não seria mesmo possível pensar em trabalho interdisciplinar porque não teríamos os meios para reconhecer em cada ocasião quais as outras disciplinas científicas que 5 A geografia não pode dedicarse aos homens ou ao mundo em geral Ela deve limi tarse ao que lhe é específico ou seja o espaço a ser explicado e teorizado é o campo da geografia científica ponto de partida para sua definição J Levy 1975 p 58 Zbi podem vir em nosso auxílio e trazernos uma colaboração Que tipo de colaboração pode cada uma delas nos oferecer Que uso podemos fazer de seus ensinamentos Em outras palavras não são todas as ciências particulares nem é toda uma ciência particular que entram como com ponentes da interdisciplinaridade própria a cada outra ciência Como a realidade é uma totalidade em permanente movimento e mudança a lista das disciplinas que participam da elaboração de um enfoque interdisciplinar está sempre mudando E isso se faz tanto por razões objetivas como por motivos ligados ao julgamento do pes quisador A lista das razões por que as ciências que colaboram para a construção de um método interdisciplinar está sempre mudando é vasta e damos aqui apenas alguns dos seus elementos como a o progresso científico responsável de um lado pela criação de novas disciplinas e de outro pela evolução das já existentes b a posição filosófica ideológica do pesquisador que vai guiarlhe os mecanismos de escolha a própria visão do objeto de sua disciplina feita por cada pesquisador c o momento histórico que lhe sugere atribuirlhe maior ou menor ênfase a tal ou qual aspecto se bem que confiar demasiada mente nos aspectos conjunturais em detrimento do aspecto estrutural constitui um grande risco o risco de deformar a realidade cuja imagem se deseja reproduzir corretamente Não é pois difícil estabelecerse uma relação que é direta entre a interdisciplinaridade e a epistemologia própria a cada ciência A epistemologia é uma reflexão filosófica particular a cada domínio do saber Embora não seja imutável ela funciona como uma espécie de gendarme de tal forma que o uso de ingredientes de origens múltiplas não confunde o especialista e lhe permite manterse dentro do âmbito de sua própria busca Isso não significa de forma alguma que o objeto de cada disciplina particular seja algo de rígido incapaz de evoluir e de mudar O grande mérito de uma interdisciplinaridade bem entendida é que ao mesmo tempo que ela disciplina o trabalho interior a cada ciência particular está sempre a abrirlhe novos caminhos graças ao contato fecundo dos outros compartimentos do saber Whitehead 1938 pp 136137 o exprime de forma magistral quando escreve que as diversidades de funcionamento da realidade não podem ser explicadas em termos de cada ciência particular mas somente quando levarmos em consideração a variedade de relações bem mais extensas do modelo correspondente Objeto Científico e Teorização Repetimos que o ato de definir claramente o objeto de uma ciência é também o ato de construirlhe um sistema próprio de identificação das categorias analíticas que reproduzem no âmbito da idéia a tota lidade dos processos tal como eles se produzem na realidade A construção de um sistema interior a cada ciência particular só pode ser feita se as categorias da análise são ajustadas às categorias do real E o chegar a uma síntese e ninguém ignora que sem síntese não há ciência O que finalmente se quer conhecer é a coisa toda A análise é uma violência raciocinada indispensável para ultrapassar o nível das operações puramente descritivas incompatíveis como o conhecimento dos fatos dinâmicos das coisas que têm vida A sedução do enfoque interdisciplinar vem exatamente desse desafio Tratase de reunir uma variedade muito extensa de conhecimentos extremamente diversos e às vezes aparentemente díspares dificuldade que é praticamente ilimi tada porque a cada dia o conhecimento se amplia e diversifica Dificuldade ainda maior é a manipulação dos elementos assim re colhidos de maneira correta para com eles construir um conjunto co erente dotado de uma lógica interna Sem esse conteúdo qualquer que seja o esforço interdisciplinar com o intuito de permitir um progresso teórico da geografia não irá mais além do que a formulação de um catálogo de citações ou de uma lista de comparações sustentadas por analogias Proceder dessa forma levanos a uma oposição fundamental entre uma geografia geral renovada e a geografia geral tradicional pelo fato de ter sido esta última incapaz de elevarse ao nível de uma verdadeira teorização A busca desse nível de teorização é somente possível através um esforço de abstração ao qual só é possível chegarse por intermédio podem vir em nosso auxílio e trazernos uma colaboração Que tipo de colaboração pode cada uma delas nos oferecer Que uso podemos fazer de seus ensinamentos Em outras palavras não são todas as ciências particulares nem é toda uma ciência particular que entram como com ponentes da interdisciplinaridade própria a cada outra ciência Como a realidade é uma totalidade em permanente movimento e mudança a lista das disciplinas que participam da elaboração de um enfoque interdisciplinar está sempre mudando E isso se faz tanto por razões objetivas como por motivos ligados ao julgamento do pes quisador A lista das razões por que as ciências que colaboram para a construção de um método interdisciplinar está sempre mudando é vasta e damos aqui apenas alguns dos seus elementos como a o progresso científico responsável de um lado pela criação de novas disciplinas e de outro pela evolução das já existentes b a posição filosófica ideológica do pesquisador que vai guiarlhe os mecanismos de escolha a própria visão do objeto de sua disciplina feita por cada pesquisador c o momento histórico que lhe sugere atribuirlhe maior ou menor ênfase a tal ou qual aspecto se bem que confiar demasiada mente nos aspectos conjunturais em detrimento do aspecto estrutural constitui um grande risco o risco de deformar a realidade cuja imagem se deseja reproduzir corretamente Não é pois difícil estabelecerse uma relação que é direta entre a interdisciplinaridade e a epistemologia própria a cada ciência A epistemologia é uma reflexão filosófica particular a cada domínio do saber Embora não seja imutável ela funciona como uma espécie de gendarme de tal forma que o uso de ingredientes de origens múltiplas não confunde o especialista e lhe permite manterse dentro do âmbito de sua própria busca Isso não significa de forma alguma que o objeto de cada disciplina particular seja algo de rígido incapaz de evoluir e de mudar O grande mérito de uma interdisciplinaridade bem entendida é que ao mesmo tempo que ela disciplina o trabalho interior a cada ciência particular está sempre a abrirlhe novos caminhos graças ao contato fecundo dos outros compartimentos do saber Whitehead 1938 pp 136137 o exprime de forma magistral quando escreve que as diversidades de funcionamento da realidade não podem ser explicadas em termos de cada ciência particular mas somente quando levarmos em consideração a variedade de relações bem mais extensas do modelo correspondente Objeto Científico e Teorização Repetimos que o ato de definir claramente o objeto de uma ciência é também o ato de construirlhe um sistema próprio de identificação das categorias analíticas que reproduzem no âmbito da idéia a tota lidade dos processos tal como eles se produzem na realidade A construção de um sistema interior a cada ciência particular só pode ser feita se as categorias da análise são ajustadas às categorias do real E o chegar a uma síntese e ninguém ignora que sem síntese não há ciência O que finalmente se quer conhecer é a coisa toda A análise é uma violência raciocinada indispensável para ultrapassar o nível das operações puramente descritivas incompatíveis como o conhecimento dos fatos dinâmicos das coisas que têm vida A sedução do enfoque interdisciplinar vem exatamente desse desafio Tratase de reunir uma variedade muito extensa de conhecimentos extremamente diversos e às vezes aparentemente díspares dificuldade que é praticamente ilimi tada porque a cada dia o conhecimento se amplia e diversifica Dificuldade ainda maior é a manipulação dos elementos assim re colhidos de maneira correta para com eles construir um conjunto co erente dotado de uma lógica interna Sem esse conteúdo qualquer que seja o esforço interdisciplinar com o intuito de permitir um progresso teórico da geografia não irá mais além do que a formulação de um catálogo de citações ou de uma lista de comparações sustentadas por analogias Proceder dessa forma levanos a uma oposição fundamental entre uma geografia geral renovada e a geografia geral tradicional pelo fato de ter sido esta última incapaz de elevarse ao nível de uma verdadeira teorização A busca desse nível de teorização é somente possível através um esforço de abstração ao qual só é possível chegarse por intermédio I5 o das categorias que definem uma dada realidade Em nossos dias onde cada fato concreto é o resultado de uma multiplicidade de determi nações a apreensão do fato em si mesmo é cada vez menos eficiente para ajudarnos a deduzir O fato é somente um exemplo o exemplo não é mais do que uma coisa entre outras Isso exige um trabalho de construção sistemática o qual só pode aparecer depois de um esforço para elaborar idéias que é de uma certa maneira independente dos exemplos que lhes serviram de base Mais uma vez nos valemos dos ensinamentos de Whitehead 1938 p 196 quando ele nos diz que o tópico de cada ciência é uma abstração tirada do funcionamento concreto e completo da natureza O espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho A concepção de uma natureza natural onde o homem não existisse ou não fora o seu centro cede lugar à idéia de uma construção permanente da natureza artificial ou social sinônimo de espaço humano Um Esforço de Definição do Espaço Não sejamos injustos Compreendese porque os geógrafos se dedicaram muito mais à definição de geografia do que à definição de espaço Esta última é uma tarefa extremamente árdua Assim como Santo Agostinho disse do tempo Se me perguntam se sei o que é respondo que sim mas se me pedem para definilo respondo que não sei o mesmo pode ser dito do espaço Objeto da preocupação dos filósofos desde Platão e Aristóteles a z noção de espaço todavia cobre uma variedade tão ampla de objetos e i significações os utensílios comuns à vida doméstica como um cinzei 5 ro um bule são espaço uma estátua ou uma escultura qualquer que S seja a sua dimensão são espaço uma casa é espaço como uma cidade 7 também o é Há o espaço de uma nação sinônimo de território de Estado há o espaço terrestre da velha definição da geografia como crosta do nosso planeta e há igualmente o espaço extraterrestre re centemente conquistado pelo homem e até mesmo o espaço sideral parcialmente um mistério O espaço que nos interessa é o espaço humano ou espaço social que contém ou é contido por todos esses múltiplos de espaço Estes são o objeto de disciplinas particulares como a semiótica a escultura a pintura o urbanismo a física a astronomia etc que os definem de uma forma particular O fato é que a dimensão de cada um desses outros espaços importaria pouco se o conteúdo se impusesse de forma mais simples à sensibilidade do homem Não há grande dificuldade em definir um vaso de flores um arranhacéu um planeta ou uma conste lação O espírito humano rapidamente se satisfaz com tais definições Mas quando a nossa curiosidade se transfere para o espaço humano enormes dificuldades se levantam porque ele é a morada do homem é o seu lugar de vida e de trabalho As formas com que se apresenta e o seu conteúdo são tão variados que a tarefa de incluir em uma unida de de definição uma tão grande multiplicidade fatual surge como um obstáculo de peso sobretudo porque tanto a terminologia cotidiana como a própria conceituação estão carregadas das múltiplas acepções correspondentes aos outros tipos de espaço Que é então o espaço do homem E o espaço geográfico podese responder Mas o que é esse espaço geográfico Sua definição é árdua porque a sua tendência é mudar com o processo histórico uma vez que o espaço geográfico é também o espaço social c Para abrir um debate válido a primeira pergunta que devemos fazer é a seguinte podemos encontrar uma definição única dessa categoria espaço Ou temos à nossa frente duas coisas diferentes a definir isto d é o espaço como categoria permanente ou seja o espaço o espaço í de todos os tempos e o espaço tal como hoje se apresenta diante de nós nosso espaço o espaço de nosso tempo 2 O espaço como categoria permanente seria uma categoria universal preenchida por relações permanentes entre elementos lógicos encon í trados através da pesquisa do que é imanente isto é do que atravessa o tempo e não daquilo que pertence a um tempo dado e a um dado lugar quer dizer o propriamente histórico o transitório fruto de uma combinação topograficamente delimitada específica de cada lugar A noção de sistema social atravessa a noção desse tempo e desse lugar I5 o das categorias que definem uma dada realidade Em nossos dias onde cada fato concreto é o resultado de uma multiplicidade de determi nações a apreensão do fato em si mesmo é cada vez menos eficiente para ajudarnos a deduzir O fato é somente um exemplo o exemplo não é mais do que uma coisa entre outras Isso exige um trabalho de construção sistemática o qual só pode aparecer depois de um esforço para elaborar idéias que é de uma certa maneira independente dos exemplos que lhes serviram de base Mais uma vez nos valemos dos ensinamentos de Whitehead 1938 p 196 quando ele nos diz que o tópico de cada ciência é uma abstração tirada do funcionamento concreto e completo da natureza O espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho A concepção de uma natureza natural onde o homem não existisse ou não fora o seu centro cede lugar à idéia de uma construção permanente da natureza artificial ou social sinônimo de espaço humano Um Esforço de Definição do Espaço Não sejamos injustos Compreendese porque os geógrafos se dedicaram muito mais à definição de geografia do que à definição de espaço Esta última é uma tarefa extremamente árdua Assim como Santo Agostinho disse do tempo Se me perguntam se sei o que é respondo que sim mas se me pedem para definilo respondo que não sei o mesmo pode ser dito do espaço Objeto da preocupação dos filósofos desde Platão e Aristóteles a z noção de espaço todavia cobre uma variedade tão ampla de objetos e i significações os utensílios comuns à vida doméstica como um cinzei 5 ro um bule são espaço uma estátua ou uma escultura qualquer que S seja a sua dimensão são espaço uma casa é espaço como uma cidade 7 também o é Há o espaço de uma nação sinônimo de território de Estado há o espaço terrestre da velha definição da geografia como crosta do nosso planeta e há igualmente o espaço extraterrestre re centemente conquistado pelo homem e até mesmo o espaço sideral parcialmente um mistério O espaço que nos interessa é o espaço humano ou espaço social que contém ou é contido por todos esses múltiplos de espaço Estes são o objeto de disciplinas particulares como a semiótica a escultura a pintura o urbanismo a física a astronomia etc que os definem de uma forma particular O fato é que a dimensão de cada um desses outros espaços importaria pouco se o conteúdo se impusesse de forma mais simples à sensibilidade do homem Não há grande dificuldade em definir um vaso de flores um arranhacéu um planeta ou uma conste lação O espírito humano rapidamente se satisfaz com tais definições Mas quando a nossa curiosidade se transfere para o espaço humano enormes dificuldades se levantam porque ele é a morada do homem é o seu lugar de vida e de trabalho As formas com que se apresenta e o seu conteúdo são tão variados que a tarefa de incluir em uma unida de de definição uma tão grande multiplicidade fatual surge como um obstáculo de peso sobretudo porque tanto a terminologia cotidiana como a própria conceituação estão carregadas das múltiplas acepções correspondentes aos outros tipos de espaço Que é então o espaço do homem E o espaço geográfico podese responder Mas o que é esse espaço geográfico Sua definição é árdua porque a sua tendência é mudar com o processo histórico uma vez que o espaço geográfico é também o espaço social c Para abrir um debate válido a primeira pergunta que devemos fazer é a seguinte podemos encontrar uma definição única dessa categoria espaço Ou temos à nossa frente duas coisas diferentes a definir isto d é o espaço como categoria permanente ou seja o espaço o espaço í de todos os tempos e o espaço tal como hoje se apresenta diante de nós nosso espaço o espaço de nosso tempo 2 O espaço como categoria permanente seria uma categoria universal preenchida por relações permanentes entre elementos lógicos encon í trados através da pesquisa do que é imanente isto é do que atravessa o tempo e não daquilo que pertence a um tempo dado e a um dado lugar quer dizer o propriamente histórico o transitório fruto de uma combinação topograficamente delimitada específica de cada lugar A noção de sistema social atravessa a noção desse tempo e desse lugar e é o fundamento da definição desse nosso espaço o segundo tipo de espaço a definir De qualquer maneira tanto num caso como no outro as definições não podem ser imutáveis fixas eternas6 No caso do espaço como categoria universal e permanente são os progressos filosóficos e científicos que permitem definilo diferente mente a cada momento As ciências naturais não são exatas porque a cada momento histórico os fenômenos chamados naturais têm uma de finição diferente como resultado dos progressos obtidos pelas ciências chamadas exatas e pelas ciências do conhecimento como a filosofia e pelas próprias ciências sociais E quanto ao espaço como categoria histórica é a própria significação dos objetos do seu conteúdo e das relações entre eles que muda com a história Feuerbach dizia que o mundo social ao derredor de nós não é uma coisa dada para toda a eternidade Na realidade ambos os caminhos se cruzam e o conheci mento do espaço como categoria universal se inclui no conhecimento do espaço como categoria histórica e viceversa A interação entre leis universais e comportamentos históricos portanto individualizados contribui para a elaboração senão de uma definição ao menos de um conceito de espaço que sendo operacional não o é menos filosófico O conceito de lugar porção discreta de espaço total teria prece dido o conceito de espaço Aristóteles já havia formulado esta idéia e Einstein insiste nela Prefácio a Jammer 1969 p 13 Para o criador da teoria da relatividade parece que o conceito de espaço teria sido precedido pelo conceito psicológico mais simples de lugar O lugar é antes de tudo uma porção da face da terra identificada por um z nome Aquilo que torna o lugar específico é um objeto material ou 2 um corpo Uma análise simples mostra que um lugar é também um í grupo de objetos materiais Mas se de um ponto de vista puramente 6 As categorias ou como prefere E Mandei 1975 p 39 as variáveis de base adqui rem cada uma um valor diferente segundo o ângulo pelo qual os fenômenos são estudados as aparências Se a explicação a essência é o ponto de sua análise de conjunto o que ninguém salvo pequena exceção para poucos segundo E Mandei teria feito os fenômenos os aspectos particulares dão a certas variáveis um papel maior na explicação e isto segundo as diferentes épocas históricas psicológico o conceito de lugar nos é imposto antes do conceito de es paço do ponto de vista teórico e epistemológico o conceito de espaço precede o conceito de lugar Um dos filósofos da geografia William Bunge 1963 pp 125147 acentua que o universo não é um amontoado de coisas e sim um sis tema formado de sistemas que agem entre si como se fossem simples elementos O que se passa em um lugar depende da totalidade de lugares que constróem o espaço Não foi esse o mesmo princípio da epistemologia do historiador árabe doublé de historiador e geógrafo Ibn Kaldun Essa não foi também mais tarde a base do pensamento de Leplay e o fundamento do princípio de geografia geral de Vidal de La Blache É a este último geógrafo que também se deve a noção de unidade da terra que Demangeon na França e Chauncey Harris nos Estados Unidos utilizaram nos seus estudos de geografia tomando como base a realidade internacional Ainda recentemente T G McGee em Jakobson e Prakash p 160 referindose aos estudos urbanos disse que a primeira afirmação a ser feita é a de que as cidades são parte de um sistema econômico e social total que não é somente na cional mas igualmente internacional O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações rea lizadas através de funções e de formas que se apresentam como teste munho de uma história escrita por processos do passado e do presente 2 Isto é o espaço se define como um conjunto de formas representativas 2 de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura repre sentada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares Mais uma vez aqui a noção de relatividade introduzida por Einstein aparece como fundamental porque substitui o conceito de matéria pelo conceito de campo o que supõe a existência de relações entre a maté ria e a energia Numa comparação talvez grosseira as formas seriam comparáveis à matéria e a energia à dinâmica social AÇO 153 e é o fundamento da definição desse nosso espaço o segundo tipo de espaço a definir De qualquer maneira tanto num caso como no outro as definições não podem ser imutáveis fixas eternas6 No caso do espaço como categoria universal e permanente são os progressos filosóficos e científicos que permitem definilo diferente mente a cada momento As ciências naturais não são exatas porque a cada momento histórico os fenômenos chamados naturais têm uma de finição diferente como resultado dos progressos obtidos pelas ciências chamadas exatas e pelas ciências do conhecimento como a filosofia e pelas próprias ciências sociais E quanto ao espaço como categoria histórica é a própria significação dos objetos do seu conteúdo e das relações entre eles que muda com a história Feuerbach dizia que o mundo social ao derredor de nós não é uma coisa dada para toda a eternidade Na realidade ambos os caminhos se cruzam e o conheci mento do espaço como categoria universal se inclui no conhecimento do espaço como categoria histórica e viceversa A interação entre leis universais e comportamentos históricos portanto individualizados contribui para a elaboração senão de uma definição ao menos de um conceito de espaço que sendo operacional não o é menos filosófico O conceito de lugar porção discreta de espaço total teria prece dido o conceito de espaço Aristóteles já havia formulado esta idéia e Einstein insiste nela Prefácio a Jammer 1969 p 13 Para o criador da teoria da relatividade parece que o conceito de espaço teria sido precedido pelo conceito psicológico mais simples de lugar O lugar é antes de tudo uma porção da face da terra identificada por um z nome Aquilo que torna o lugar específico é um objeto material ou 2 um corpo Uma análise simples mostra que um lugar é também um í grupo de objetos materiais Mas se de um ponto de vista puramente 6 As categorias ou como prefere E Mandei 1975 p 39 as variáveis de base adqui rem cada uma um valor diferente segundo o ângulo pelo qual os fenômenos são estudados as aparências Se a explicação a essência é o ponto de sua análise de conjunto o que ninguém salvo pequena exceção para poucos segundo E Mandei teria feito os fenômenos os aspectos particulares dão a certas variáveis um papel maior na explicação e isto segundo as diferentes épocas históricas psicológico o conceito de lugar nos é imposto antes do conceito de es paço do ponto de vista teórico e epistemológico o conceito de espaço precede o conceito de lugar Um dos filósofos da geografia William Bunge 1963 pp 125147 acentua que o universo não é um amontoado de coisas e sim um sis tema formado de sistemas que agem entre si como se fossem simples elementos O que se passa em um lugar depende da totalidade de lugares que constróem o espaço Não foi esse o mesmo princípio da epistemologia do historiador árabe doublé de historiador e geógrafo Ibn Kaldun Essa não foi também mais tarde a base do pensamento de Leplay e o fundamento do princípio de geografia geral de Vidal de La Blache É a este último geógrafo que também se deve a noção de unidade da terra que Demangeon na França e Chauncey Harris nos Estados Unidos utilizaram nos seus estudos de geografia tomando como base a realidade internacional Ainda recentemente T G McGee em Jakobson e Prakash p 160 referindose aos estudos urbanos disse que a primeira afirmação a ser feita é a de que as cidades são parte de um sistema econômico e social total que não é somente na cional mas igualmente internacional O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações rea lizadas através de funções e de formas que se apresentam como teste munho de uma história escrita por processos do passado e do presente 2 Isto é o espaço se define como um conjunto de formas representativas 2 de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura repre sentada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares Mais uma vez aqui a noção de relatividade introduzida por Einstein aparece como fundamental porque substitui o conceito de matéria pelo conceito de campo o que supõe a existência de relações entre a maté ria e a energia Numa comparação talvez grosseira as formas seriam comparáveis à matéria e a energia à dinâmica social AÇO 153 O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente Isto é o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares SANTOS p153 A partir da sua leitura do capítulo Uma Tentativa de Definição Do Espaço de Milton Santos contextualize e apresente uma resenha crítica da sua interpretação com base na citação acima RESENHA CRÍTICA Uma tentativa de definição do espaço O capítulo inicia abordando algumas formas de conceituar a palavra espaço sendo umas delas a ótica da geografia O autor aponta então que para compreender melhor seus diversos contextos é preciso desmembrar a palavra e assim a ir caracterizando em diversos contextos para assim sua compreensão ser mais elegível O espaço não deve ser delimitado apenas pela ótica geográfica tendo em vista que pode ser inserido em diversos contextos como por exemplo o espaço humano em si ou aquele ocupado pelos seres humanos em determinado nível social Ou também aquele caracterizado por uma visão mais urbanista e projetista A partir da análise do texto em uma ótica filosófica é possível compreender que espaço pode remeter a transformações históricas e culturais pois se refere tanto a algo sólido e palpável como algo a se questionar Pois é nele que ocorrem as diversas interações entre os seres e as matérias resultando em diversas transformações sejam elas ecológicas sociais e culturais O espaço por sua vez é então um local vulnerável a diversas mutações como reflexões decisões construções e renovações Portanto sempre que há interação entre matéria sólida moléculas por exemplo pessoas culturas e animais há transformação e evolução de espaço seja em um contexto abstrato ou palpável A partir de diversos pontos iniciais estudados por diversas ciências e a mistura de todo esse conhecimento dá lugar aos variados contextos sobre espaço em que suas reflexões podem ser inseridas em um formato mais exato ou então biológico As mudanças ocorrem de forma constante e assimétrica nesse ambiente dando origem a diversas outras transformações Por isso é interessante afirmar que seu conceito é relativo pois está diretamente ligado ao contexto que será inserido e analisado Dessa forma concluir o que é avanço e o que é retrocesso é questionável sendo assim espaço não é algo fixo e sim totalmente flexível Está aqui hoje e nesse momento e num piscar de olhos já não é mais igual ao espaço anterior A partir disso definir espaço a partir de uma palavra é limitar a sua infinitude de possibilidades e aplicações tendo em vista suas diversas transformações constantes e interações ao longo do tempo Finalizo essa resenha crítica apontando que a tentativa de definir a palavra espaço ainda está presente pois sua definição é impossível
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IO Uma Tentativa de Definição do Espaço Q uando se está mais preocupado com a geografia em si mesma como ciência formalizada e pouco ou nada com aquilo que é na realidade seu objeto de estudo ou seja o espaço correse o fctainjv risco de cair no erro condenado por Durkheim 1898 1962 p 18 em relação aos sociólogos do seu tempo o erro de trabalhar mais ou menos exclusivamente com conceitos do que com coisas Definir a Geografia ou o Espaço O problema é aqui o da definição do objeto de cada disciplina no universo do saber No caso da geografia chegarse a esse objetivo apresenta um certo número de riscos mas nenhum é mais grave que o de confundir nesse exercício teórico e metodológico a ciência ela mesma e o seu objeto Quando em 1925 De Martonne se referia aos laços de nossa disciplina com os demais ramos do saber fazia sobretudo alusão às relações entre essas outras ciências e a geografia ao invés de preocu parse com as relações entre o objeto da geografia que é o espaço e U3 os outros aspectos tangíveis ou não da realidade social Tal posição conduz necessariamente a uma falsa interpretação O que se quer conhecer por intermédio das ciências particulares são os diversos aspectos da realidade que compete estudar globalmente É o correto conhecimento dos diversos aspectos dessa realidade que nos permite a um dado momento da evolução do pensamento científico definir melhor cada aspecto e paralelamente toda a realidade Tal operação é em si mesma multiplicadora porque cada nova síntese obtida per mite igualmente um novo avanço no trabalho analítico e viceversa Desgraçadamente porém de todas as disciplinas sociais a geografia foi a que mais se atrasou na definição do seu objeto e passou mesmo a negligenciar completamente esse problema Um dos geógrafos mais influentes dos Estados Unidos pelo vigor de sua vocação como teórico Hartshorne 1939 p 374 asseverou que a geografia deveria ser definida antes pelo seu método próprio e particular de aproximação ou de enfoque do que em termos do seu objeto O geógrafo francês Le Lannou foi mais longe para afirmar ca tegoricamente que a geografia era unicamente um ponto de vista Tal forma de definir ou não definir o campo de interesse da geografia influenciou o julgamento de nossa disciplina por outros es pecialistas Em 1969 o geólogo P Rat escrevendo sobre a geografia disse o seguinte podese dizer que não há fatos geográficos mas uma maneira geográfica de considerar cada conjunto de fatos1 Mas há os que como C R Dryer pensam em termos de distribuição das coisas sobre a face da terra mas também no seu contexto ver Freemann 1961 p 70 z A multiplicidade de definições da geografia está assim longe de í ajudar o seu próprio desenvolvimento F Lukermann 1964 por S exemplo pensa que nem o conteúdo nem o método são coisas impor tantes e que a geografia se define pelas questões que coloca citado por Minshull 1970 p 11 Essas questões seriam para o geógrafo inglês 1 Citado por Marc Boyé 1970 1974 p 8 Clements Markham 1905 p 58 as seguintes Onde está isto Que é isto Quando isto se passou2 Reproduzir uma lista de definições da geografia é sempre cansati vo talvez contraproducente3 Se uma ciência se define por seu objeto nem sempre a definição da disciplina leva em conta esse objeto Este é particularmente o caso da geografia cuja preocupação com o seu objeto explícito o espaço social foi sempre deixada em segundo plano Insistimos em que essa falha é uma das causas do seu atraso no campo teóricometodológico e tem responsabilidade pelo seu isolamento Insistimos em que não pode haver progresso científico sem meditação a propósito da forma como os diferentes aspectos da realidade são estudados4 2 Geographical Journal 26 p 581905 3 A Allix 1948 A geografia é a ciência digamos mais modestamente o estudo da repar tição e da coordenação dos fatos que têm por sede campo a porção da crosta terrestre e da atmosfera acessível ao homem De Martonne a geografia moderna estuda a repar tição à superfície do globo dos fenômenos físicos biológicos e humanos as causas dessa repartição e as relações locais desses fenômenos Ela tem caráter essencialmente científico c filosófico mas também um caráter descritivo e realista Apud O Tulippe Cours de géographie humaine 2a parte tomo I p 80 Para Fr Ruellan a geografia é uma ciência que procura definir as associações de fatos na sua forma sintética para melhor aprender suas relações complexas isto é para compreender um conjunto coerente de manifestações de vida física e humana na superfície do globo Convém pois marcar com precisão a ex tensão dos fenômenos que entram na composição de um meio geográfico procurar suas causas e consequências e traçar sua evolução As Normas da Elaboração e da Redação de um Trabalho Geográfico Rev Bras de Geog Ano V n 4 Para Cholley a questão é saber se a gênese a estrutura e a evolução das combinações são suscetíveis de um co nhecimento científico isto é se em suma podem ser medidas Para as combinações da geografia humana isto não oferece dúvidas uma combinação se mede pelos seus efeitos produção coeficiente demográfico nível de vida etc Podese então fixar o momento em que ela aparece e seguir a sua evolução Para as combinações da geografia física a coisa é igualmente possível La Géographie p 77 Temse querido reduzir a geografia a uma maneira de considerar as coisas a um simples estado de espírito Nós acabamos de ver que ela pode representar uma ordem de conhecimentos Ela tem seu domínio sua realidade e um método que lhe é próprio op cit p 25 Uma ciência jovem ou uma ciência do futuro tal nos parece ser a posição da geografia op cit p 78 4 Para Hayek o objeto do estudo científico jamais é a totalidade de todos os fenômenos observáveis num dado momento e num dado lugar mas sempre e somente certos de seus aspetos abstratos Para ele segundo citação de K Kosik 1967 p 62 o espírito humano não seria capaz de abraçar conjuntos quer dizer a totalidade dos diversos aspectos da situação real os outros aspectos tangíveis ou não da realidade social Tal posição conduz necessariamente a uma falsa interpretação O que se quer conhecer por intermédio das ciências particulares são os diversos aspectos da realidade que compete estudar globalmente É o correto conhecimento dos diversos aspectos dessa realidade que nos permite a um dado momento da evolução do pensamento científico definir melhor cada aspecto e paralelamente toda a realidade Tal operação é em si mesma multiplicadora porque cada nova síntese obtida per mite igualmente um novo avanço no trabalho analítico e viceversa Desgraçadamente porém de todas as disciplinas sociais a geografia foi a que mais se atrasou na definição do seu objeto e passou mesmo a negligenciar completamente esse problema Um dos geógrafos mais influentes dos Estados Unidos pelo vigor de sua vocação como teórico Hartshorne 1939 p 374 asseverou que a geografia deveria ser definida antes pelo seu método próprio e particular de aproximação ou de enfoque do que em termos do seu objeto O geógrafo francês Le Lannou foi mais longe para afirmar ca tegoricamente que a geografia era unicamente um ponto de vista Tal forma de definir ou não definir o campo de interesse da geografia influenciou o julgamento de nossa disciplina por outros es pecialistas Em 1969 o geólogo P Rat escrevendo sobre a geografia disse o seguinte podese dizer que não há fatos geográficos mas uma maneira geográfica de considerar cada conjunto de fatos1 Mas há os que como C R Dryer pensam em termos de distribuição das coisas sobre a face da terra mas também no seu contexto ver Freemann 1961 p 70 z A multiplicidade de definições da geografia está assim longe de í ajudar o seu próprio desenvolvimento F Lukermann 1964 por S exemplo pensa que nem o conteúdo nem o método são coisas impor tantes e que a geografia se define pelas questões que coloca citado por Minshull 1970 p 11 Essas questões seriam para o geógrafo inglês 1 Citado por Marc Boyé 1970 1974 p 8 Clements Markham 1905 p 58 as seguintes Onde está isto Que é isto Quando isto se passou2 Reproduzir uma lista de definições da geografia é sempre cansati vo talvez contraproducente3 Se uma ciência se define por seu objeto nem sempre a definição da disciplina leva em conta esse objeto Este é particularmente o caso da geografia cuja preocupação com o seu objeto explícito o espaço social foi sempre deixada em segundo plano Insistimos em que essa falha é uma das causas do seu atraso no campo teóricometodológico e tem responsabilidade pelo seu isolamento Insistimos em que não pode haver progresso científico sem meditação a propósito da forma como os diferentes aspectos da realidade são estudados4 2 Geographical Journal 26 p 581905 3 A Allix 1948 A geografia é a ciência digamos mais modestamente o estudo da repar tição e da coordenação dos fatos que têm por sede campo a porção da crosta terrestre e da atmosfera acessível ao homem De Martonne a geografia moderna estuda a repar tição à superfície do globo dos fenômenos físicos biológicos e humanos as causas dessa repartição e as relações locais desses fenômenos Ela tem caráter essencialmente científico c filosófico mas também um caráter descritivo e realista Apud O Tulippe Cours de géographie humaine 2a parte tomo I p 80 Para Fr Ruellan a geografia é uma ciência que procura definir as associações de fatos na sua forma sintética para melhor aprender suas relações complexas isto é para compreender um conjunto coerente de manifestações de vida física e humana na superfície do globo Convém pois marcar com precisão a ex tensão dos fenômenos que entram na composição de um meio geográfico procurar suas causas e consequências e traçar sua evolução As Normas da Elaboração e da Redação de um Trabalho Geográfico Rev Bras de Geog Ano V n 4 Para Cholley a questão é saber se a gênese a estrutura e a evolução das combinações são suscetíveis de um co nhecimento científico isto é se em suma podem ser medidas Para as combinações da geografia humana isto não oferece dúvidas uma combinação se mede pelos seus efeitos produção coeficiente demográfico nível de vida etc Podese então fixar o momento em que ela aparece e seguir a sua evolução Para as combinações da geografia física a coisa é igualmente possível La Géographie p 77 Temse querido reduzir a geografia a uma maneira de considerar as coisas a um simples estado de espírito Nós acabamos de ver que ela pode representar uma ordem de conhecimentos Ela tem seu domínio sua realidade e um método que lhe é próprio op cit p 25 Uma ciência jovem ou uma ciência do futuro tal nos parece ser a posição da geografia op cit p 78 4 Para Hayek o objeto do estudo científico jamais é a totalidade de todos os fenômenos observáveis num dado momento e num dado lugar mas sempre e somente certos de seus aspetos abstratos Para ele segundo citação de K Kosik 1967 p 62 o espírito humano não seria capaz de abraçar conjuntos quer dizer a totalidade dos diversos aspectos da situação real A sociedade que deve ser finalmente a preocupação fundamental de todo e qualquer ramo do saber humano é uma sociedade total Cada ciência particular se ocupa de um dos seus aspectos O fato de a sociedade ser global consagra o princípio da unidade da ciência O fato de essa realidade total que é a sociedade não se apresentar a cada um de nós em cada momento e em cada lugar senão sob um ou alguns dos seus aspectos justifica a existência de disciplinas particulares Isso não desdiz o princípio da unidade da ciência apenas entroniza outro princípio fundamental que é o da divisão do trabalho científico De acordo com P Fraisse 1976 p 11 cada ciência corresponde a um nível de organização da natureza Entre esses níveis há continuidades e descontinuidades Cada ciência é por suas divisões reduzível a apli cações de um nível inferior Cada uma delas em sua organização específica permanece porém não reduzível A psicologia não pode ser reduzida à biologia nem esta à quími ca ainda que haja lugar para uma bioquímica e uma psicobiologia A cada nível não corresponde uma entidade ontológica nova mas uma organização cujas propriedades se revelam pelos comportamentos que comanda Em sociologia coube a Simmel 1894 1898 dentre outros realizar um grande esforço para delimitar o objeto dandolhe assim contor nos diferentes daquelas outras disciplinas humanas Em geografia a preocupação com os princípios e as classificações fez com que fosse perdido de vista o próprio conteúdo do qual deveria ocuparse a ciência recentemente criada Não se trata assim como escreveu E Durkheim 1900 de se querer dar limites muito precisos a uma ciência porque a parte da realidade que ela se propõe a estudar jamais é separada das outras por uma delimitação precisa Na realidade cada coisa na natureza encontrase unida com as outras de tal maneira que aí não pode ha ver solução de continuidade entre as diferentes ciências em fronteiras muito precisas Mas se não se é capaz de reconhecer o domínio de uma ciência podese cair naquilo que Durkheim falava em relação à sociologia o perigo de ver sua esfera de ação estenderse ao infinito 1900 1953 p 179 O Problema da Autonomia e das Categorias Analíticas A relativa autonomia de cada disciplina só pode ser encontrada dentro do sistema de ciências cuja coerência é dada pela própria unidade do objeto de estudo que é a sociedade total Mas a coerên cia de cada disciplina particular também exige a construção de um sistema que lhe seja particular ou específico formulado a partir do conhecimento prévio da parcela de realidade social considerada como uma totalidade menor Essa parcela ou aspecto da vida social assim considerado vem a ser o objeto de cada disciplina particular Sem essa atitude nem mesmo estaríamos em condições de saber aquilo que estamos estudando e queremos conhecer melhor Em nosso caso particular isto supõe o reconhecimento de um objeto próprio ao estudo geográfico mas isso não basta A identificação do objeto será de pouca significação se não formos capazes de definirlhe as categorias fundamentais Sem nenhuma dúvida as categorias sob um ângulo puramente nominal mudam de significação com a histó ria mas elas também constituem uma base permanente e por isso mesmo um guia permanente para a teorização Se queremos alcançar bons resultados nesse exercício indispensável devemos centralizar nossas preocupações em torno da categoria espaço tal qual ele c se apresenta como um produto histórico São os fatos referentes à gênese ao funcionamento e à evolução do espaço que nos interessam S em primeiro lugar5 í A interpretação de espaço e sua gênese ou seu funcionamento e sua evolução depende de como façamos antes a correta definição de suas ca I tegorias analíticas sem a qual estaríamos impossibilitados de desmem brar o todo através de um processo de análise para reconstruílo depois através de um processo de síntese Sem isso não seria mesmo possível pensar em trabalho interdisciplinar porque não teríamos os meios para reconhecer em cada ocasião quais as outras disciplinas científicas que 5 A geografia não pode dedicarse aos homens ou ao mundo em geral Ela deve limi tarse ao que lhe é específico ou seja o espaço a ser explicado e teorizado é o campo da geografia científica ponto de partida para sua definição J Levy 1975 p 58 Zbi A sociedade que deve ser finalmente a preocupação fundamental de todo e qualquer ramo do saber humano é uma sociedade total Cada ciência particular se ocupa de um dos seus aspectos O fato de a sociedade ser global consagra o princípio da unidade da ciência O fato de essa realidade total que é a sociedade não se apresentar a cada um de nós em cada momento e em cada lugar senão sob um ou alguns dos seus aspectos justifica a existência de disciplinas particulares Isso não desdiz o princípio da unidade da ciência apenas entroniza outro princípio fundamental que é o da divisão do trabalho científico De acordo com P Fraisse 1976 p 11 cada ciência corresponde a um nível de organização da natureza Entre esses níveis há continuidades e descontinuidades Cada ciência é por suas divisões reduzível a apli cações de um nível inferior Cada uma delas em sua organização específica permanece porém não reduzível A psicologia não pode ser reduzida à biologia nem esta à quími ca ainda que haja lugar para uma bioquímica e uma psicobiologia A cada nível não corresponde uma entidade ontológica nova mas uma organização cujas propriedades se revelam pelos comportamentos que comanda Em sociologia coube a Simmel 1894 1898 dentre outros realizar um grande esforço para delimitar o objeto dandolhe assim contor nos diferentes daquelas outras disciplinas humanas Em geografia a preocupação com os princípios e as classificações fez com que fosse perdido de vista o próprio conteúdo do qual deveria ocuparse a ciência recentemente criada Não se trata assim como escreveu E Durkheim 1900 de se querer dar limites muito precisos a uma ciência porque a parte da realidade que ela se propõe a estudar jamais é separada das outras por uma delimitação precisa Na realidade cada coisa na natureza encontrase unida com as outras de tal maneira que aí não pode ha ver solução de continuidade entre as diferentes ciências em fronteiras muito precisas Mas se não se é capaz de reconhecer o domínio de uma ciência podese cair naquilo que Durkheim falava em relação à sociologia o perigo de ver sua esfera de ação estenderse ao infinito 1900 1953 p 179 O Problema da Autonomia e das Categorias Analíticas A relativa autonomia de cada disciplina só pode ser encontrada dentro do sistema de ciências cuja coerência é dada pela própria unidade do objeto de estudo que é a sociedade total Mas a coerên cia de cada disciplina particular também exige a construção de um sistema que lhe seja particular ou específico formulado a partir do conhecimento prévio da parcela de realidade social considerada como uma totalidade menor Essa parcela ou aspecto da vida social assim considerado vem a ser o objeto de cada disciplina particular Sem essa atitude nem mesmo estaríamos em condições de saber aquilo que estamos estudando e queremos conhecer melhor Em nosso caso particular isto supõe o reconhecimento de um objeto próprio ao estudo geográfico mas isso não basta A identificação do objeto será de pouca significação se não formos capazes de definirlhe as categorias fundamentais Sem nenhuma dúvida as categorias sob um ângulo puramente nominal mudam de significação com a histó ria mas elas também constituem uma base permanente e por isso mesmo um guia permanente para a teorização Se queremos alcançar bons resultados nesse exercício indispensável devemos centralizar nossas preocupações em torno da categoria espaço tal qual ele c se apresenta como um produto histórico São os fatos referentes à gênese ao funcionamento e à evolução do espaço que nos interessam S em primeiro lugar5 í A interpretação de espaço e sua gênese ou seu funcionamento e sua evolução depende de como façamos antes a correta definição de suas ca I tegorias analíticas sem a qual estaríamos impossibilitados de desmem brar o todo através de um processo de análise para reconstruílo depois através de um processo de síntese Sem isso não seria mesmo possível pensar em trabalho interdisciplinar porque não teríamos os meios para reconhecer em cada ocasião quais as outras disciplinas científicas que 5 A geografia não pode dedicarse aos homens ou ao mundo em geral Ela deve limi tarse ao que lhe é específico ou seja o espaço a ser explicado e teorizado é o campo da geografia científica ponto de partida para sua definição J Levy 1975 p 58 Zbi podem vir em nosso auxílio e trazernos uma colaboração Que tipo de colaboração pode cada uma delas nos oferecer Que uso podemos fazer de seus ensinamentos Em outras palavras não são todas as ciências particulares nem é toda uma ciência particular que entram como com ponentes da interdisciplinaridade própria a cada outra ciência Como a realidade é uma totalidade em permanente movimento e mudança a lista das disciplinas que participam da elaboração de um enfoque interdisciplinar está sempre mudando E isso se faz tanto por razões objetivas como por motivos ligados ao julgamento do pes quisador A lista das razões por que as ciências que colaboram para a construção de um método interdisciplinar está sempre mudando é vasta e damos aqui apenas alguns dos seus elementos como a o progresso científico responsável de um lado pela criação de novas disciplinas e de outro pela evolução das já existentes b a posição filosófica ideológica do pesquisador que vai guiarlhe os mecanismos de escolha a própria visão do objeto de sua disciplina feita por cada pesquisador c o momento histórico que lhe sugere atribuirlhe maior ou menor ênfase a tal ou qual aspecto se bem que confiar demasiada mente nos aspectos conjunturais em detrimento do aspecto estrutural constitui um grande risco o risco de deformar a realidade cuja imagem se deseja reproduzir corretamente Não é pois difícil estabelecerse uma relação que é direta entre a interdisciplinaridade e a epistemologia própria a cada ciência A epistemologia é uma reflexão filosófica particular a cada domínio do saber Embora não seja imutável ela funciona como uma espécie de gendarme de tal forma que o uso de ingredientes de origens múltiplas não confunde o especialista e lhe permite manterse dentro do âmbito de sua própria busca Isso não significa de forma alguma que o objeto de cada disciplina particular seja algo de rígido incapaz de evoluir e de mudar O grande mérito de uma interdisciplinaridade bem entendida é que ao mesmo tempo que ela disciplina o trabalho interior a cada ciência particular está sempre a abrirlhe novos caminhos graças ao contato fecundo dos outros compartimentos do saber Whitehead 1938 pp 136137 o exprime de forma magistral quando escreve que as diversidades de funcionamento da realidade não podem ser explicadas em termos de cada ciência particular mas somente quando levarmos em consideração a variedade de relações bem mais extensas do modelo correspondente Objeto Científico e Teorização Repetimos que o ato de definir claramente o objeto de uma ciência é também o ato de construirlhe um sistema próprio de identificação das categorias analíticas que reproduzem no âmbito da idéia a tota lidade dos processos tal como eles se produzem na realidade A construção de um sistema interior a cada ciência particular só pode ser feita se as categorias da análise são ajustadas às categorias do real E o chegar a uma síntese e ninguém ignora que sem síntese não há ciência O que finalmente se quer conhecer é a coisa toda A análise é uma violência raciocinada indispensável para ultrapassar o nível das operações puramente descritivas incompatíveis como o conhecimento dos fatos dinâmicos das coisas que têm vida A sedução do enfoque interdisciplinar vem exatamente desse desafio Tratase de reunir uma variedade muito extensa de conhecimentos extremamente diversos e às vezes aparentemente díspares dificuldade que é praticamente ilimi tada porque a cada dia o conhecimento se amplia e diversifica Dificuldade ainda maior é a manipulação dos elementos assim re colhidos de maneira correta para com eles construir um conjunto co erente dotado de uma lógica interna Sem esse conteúdo qualquer que seja o esforço interdisciplinar com o intuito de permitir um progresso teórico da geografia não irá mais além do que a formulação de um catálogo de citações ou de uma lista de comparações sustentadas por analogias Proceder dessa forma levanos a uma oposição fundamental entre uma geografia geral renovada e a geografia geral tradicional pelo fato de ter sido esta última incapaz de elevarse ao nível de uma verdadeira teorização A busca desse nível de teorização é somente possível através um esforço de abstração ao qual só é possível chegarse por intermédio podem vir em nosso auxílio e trazernos uma colaboração Que tipo de colaboração pode cada uma delas nos oferecer Que uso podemos fazer de seus ensinamentos Em outras palavras não são todas as ciências particulares nem é toda uma ciência particular que entram como com ponentes da interdisciplinaridade própria a cada outra ciência Como a realidade é uma totalidade em permanente movimento e mudança a lista das disciplinas que participam da elaboração de um enfoque interdisciplinar está sempre mudando E isso se faz tanto por razões objetivas como por motivos ligados ao julgamento do pes quisador A lista das razões por que as ciências que colaboram para a construção de um método interdisciplinar está sempre mudando é vasta e damos aqui apenas alguns dos seus elementos como a o progresso científico responsável de um lado pela criação de novas disciplinas e de outro pela evolução das já existentes b a posição filosófica ideológica do pesquisador que vai guiarlhe os mecanismos de escolha a própria visão do objeto de sua disciplina feita por cada pesquisador c o momento histórico que lhe sugere atribuirlhe maior ou menor ênfase a tal ou qual aspecto se bem que confiar demasiada mente nos aspectos conjunturais em detrimento do aspecto estrutural constitui um grande risco o risco de deformar a realidade cuja imagem se deseja reproduzir corretamente Não é pois difícil estabelecerse uma relação que é direta entre a interdisciplinaridade e a epistemologia própria a cada ciência A epistemologia é uma reflexão filosófica particular a cada domínio do saber Embora não seja imutável ela funciona como uma espécie de gendarme de tal forma que o uso de ingredientes de origens múltiplas não confunde o especialista e lhe permite manterse dentro do âmbito de sua própria busca Isso não significa de forma alguma que o objeto de cada disciplina particular seja algo de rígido incapaz de evoluir e de mudar O grande mérito de uma interdisciplinaridade bem entendida é que ao mesmo tempo que ela disciplina o trabalho interior a cada ciência particular está sempre a abrirlhe novos caminhos graças ao contato fecundo dos outros compartimentos do saber Whitehead 1938 pp 136137 o exprime de forma magistral quando escreve que as diversidades de funcionamento da realidade não podem ser explicadas em termos de cada ciência particular mas somente quando levarmos em consideração a variedade de relações bem mais extensas do modelo correspondente Objeto Científico e Teorização Repetimos que o ato de definir claramente o objeto de uma ciência é também o ato de construirlhe um sistema próprio de identificação das categorias analíticas que reproduzem no âmbito da idéia a tota lidade dos processos tal como eles se produzem na realidade A construção de um sistema interior a cada ciência particular só pode ser feita se as categorias da análise são ajustadas às categorias do real E o chegar a uma síntese e ninguém ignora que sem síntese não há ciência O que finalmente se quer conhecer é a coisa toda A análise é uma violência raciocinada indispensável para ultrapassar o nível das operações puramente descritivas incompatíveis como o conhecimento dos fatos dinâmicos das coisas que têm vida A sedução do enfoque interdisciplinar vem exatamente desse desafio Tratase de reunir uma variedade muito extensa de conhecimentos extremamente diversos e às vezes aparentemente díspares dificuldade que é praticamente ilimi tada porque a cada dia o conhecimento se amplia e diversifica Dificuldade ainda maior é a manipulação dos elementos assim re colhidos de maneira correta para com eles construir um conjunto co erente dotado de uma lógica interna Sem esse conteúdo qualquer que seja o esforço interdisciplinar com o intuito de permitir um progresso teórico da geografia não irá mais além do que a formulação de um catálogo de citações ou de uma lista de comparações sustentadas por analogias Proceder dessa forma levanos a uma oposição fundamental entre uma geografia geral renovada e a geografia geral tradicional pelo fato de ter sido esta última incapaz de elevarse ao nível de uma verdadeira teorização A busca desse nível de teorização é somente possível através um esforço de abstração ao qual só é possível chegarse por intermédio I5 o das categorias que definem uma dada realidade Em nossos dias onde cada fato concreto é o resultado de uma multiplicidade de determi nações a apreensão do fato em si mesmo é cada vez menos eficiente para ajudarnos a deduzir O fato é somente um exemplo o exemplo não é mais do que uma coisa entre outras Isso exige um trabalho de construção sistemática o qual só pode aparecer depois de um esforço para elaborar idéias que é de uma certa maneira independente dos exemplos que lhes serviram de base Mais uma vez nos valemos dos ensinamentos de Whitehead 1938 p 196 quando ele nos diz que o tópico de cada ciência é uma abstração tirada do funcionamento concreto e completo da natureza O espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho A concepção de uma natureza natural onde o homem não existisse ou não fora o seu centro cede lugar à idéia de uma construção permanente da natureza artificial ou social sinônimo de espaço humano Um Esforço de Definição do Espaço Não sejamos injustos Compreendese porque os geógrafos se dedicaram muito mais à definição de geografia do que à definição de espaço Esta última é uma tarefa extremamente árdua Assim como Santo Agostinho disse do tempo Se me perguntam se sei o que é respondo que sim mas se me pedem para definilo respondo que não sei o mesmo pode ser dito do espaço Objeto da preocupação dos filósofos desde Platão e Aristóteles a z noção de espaço todavia cobre uma variedade tão ampla de objetos e i significações os utensílios comuns à vida doméstica como um cinzei 5 ro um bule são espaço uma estátua ou uma escultura qualquer que S seja a sua dimensão são espaço uma casa é espaço como uma cidade 7 também o é Há o espaço de uma nação sinônimo de território de Estado há o espaço terrestre da velha definição da geografia como crosta do nosso planeta e há igualmente o espaço extraterrestre re centemente conquistado pelo homem e até mesmo o espaço sideral parcialmente um mistério O espaço que nos interessa é o espaço humano ou espaço social que contém ou é contido por todos esses múltiplos de espaço Estes são o objeto de disciplinas particulares como a semiótica a escultura a pintura o urbanismo a física a astronomia etc que os definem de uma forma particular O fato é que a dimensão de cada um desses outros espaços importaria pouco se o conteúdo se impusesse de forma mais simples à sensibilidade do homem Não há grande dificuldade em definir um vaso de flores um arranhacéu um planeta ou uma conste lação O espírito humano rapidamente se satisfaz com tais definições Mas quando a nossa curiosidade se transfere para o espaço humano enormes dificuldades se levantam porque ele é a morada do homem é o seu lugar de vida e de trabalho As formas com que se apresenta e o seu conteúdo são tão variados que a tarefa de incluir em uma unida de de definição uma tão grande multiplicidade fatual surge como um obstáculo de peso sobretudo porque tanto a terminologia cotidiana como a própria conceituação estão carregadas das múltiplas acepções correspondentes aos outros tipos de espaço Que é então o espaço do homem E o espaço geográfico podese responder Mas o que é esse espaço geográfico Sua definição é árdua porque a sua tendência é mudar com o processo histórico uma vez que o espaço geográfico é também o espaço social c Para abrir um debate válido a primeira pergunta que devemos fazer é a seguinte podemos encontrar uma definição única dessa categoria espaço Ou temos à nossa frente duas coisas diferentes a definir isto d é o espaço como categoria permanente ou seja o espaço o espaço í de todos os tempos e o espaço tal como hoje se apresenta diante de nós nosso espaço o espaço de nosso tempo 2 O espaço como categoria permanente seria uma categoria universal preenchida por relações permanentes entre elementos lógicos encon í trados através da pesquisa do que é imanente isto é do que atravessa o tempo e não daquilo que pertence a um tempo dado e a um dado lugar quer dizer o propriamente histórico o transitório fruto de uma combinação topograficamente delimitada específica de cada lugar A noção de sistema social atravessa a noção desse tempo e desse lugar I5 o das categorias que definem uma dada realidade Em nossos dias onde cada fato concreto é o resultado de uma multiplicidade de determi nações a apreensão do fato em si mesmo é cada vez menos eficiente para ajudarnos a deduzir O fato é somente um exemplo o exemplo não é mais do que uma coisa entre outras Isso exige um trabalho de construção sistemática o qual só pode aparecer depois de um esforço para elaborar idéias que é de uma certa maneira independente dos exemplos que lhes serviram de base Mais uma vez nos valemos dos ensinamentos de Whitehead 1938 p 196 quando ele nos diz que o tópico de cada ciência é uma abstração tirada do funcionamento concreto e completo da natureza O espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho A concepção de uma natureza natural onde o homem não existisse ou não fora o seu centro cede lugar à idéia de uma construção permanente da natureza artificial ou social sinônimo de espaço humano Um Esforço de Definição do Espaço Não sejamos injustos Compreendese porque os geógrafos se dedicaram muito mais à definição de geografia do que à definição de espaço Esta última é uma tarefa extremamente árdua Assim como Santo Agostinho disse do tempo Se me perguntam se sei o que é respondo que sim mas se me pedem para definilo respondo que não sei o mesmo pode ser dito do espaço Objeto da preocupação dos filósofos desde Platão e Aristóteles a z noção de espaço todavia cobre uma variedade tão ampla de objetos e i significações os utensílios comuns à vida doméstica como um cinzei 5 ro um bule são espaço uma estátua ou uma escultura qualquer que S seja a sua dimensão são espaço uma casa é espaço como uma cidade 7 também o é Há o espaço de uma nação sinônimo de território de Estado há o espaço terrestre da velha definição da geografia como crosta do nosso planeta e há igualmente o espaço extraterrestre re centemente conquistado pelo homem e até mesmo o espaço sideral parcialmente um mistério O espaço que nos interessa é o espaço humano ou espaço social que contém ou é contido por todos esses múltiplos de espaço Estes são o objeto de disciplinas particulares como a semiótica a escultura a pintura o urbanismo a física a astronomia etc que os definem de uma forma particular O fato é que a dimensão de cada um desses outros espaços importaria pouco se o conteúdo se impusesse de forma mais simples à sensibilidade do homem Não há grande dificuldade em definir um vaso de flores um arranhacéu um planeta ou uma conste lação O espírito humano rapidamente se satisfaz com tais definições Mas quando a nossa curiosidade se transfere para o espaço humano enormes dificuldades se levantam porque ele é a morada do homem é o seu lugar de vida e de trabalho As formas com que se apresenta e o seu conteúdo são tão variados que a tarefa de incluir em uma unida de de definição uma tão grande multiplicidade fatual surge como um obstáculo de peso sobretudo porque tanto a terminologia cotidiana como a própria conceituação estão carregadas das múltiplas acepções correspondentes aos outros tipos de espaço Que é então o espaço do homem E o espaço geográfico podese responder Mas o que é esse espaço geográfico Sua definição é árdua porque a sua tendência é mudar com o processo histórico uma vez que o espaço geográfico é também o espaço social c Para abrir um debate válido a primeira pergunta que devemos fazer é a seguinte podemos encontrar uma definição única dessa categoria espaço Ou temos à nossa frente duas coisas diferentes a definir isto d é o espaço como categoria permanente ou seja o espaço o espaço í de todos os tempos e o espaço tal como hoje se apresenta diante de nós nosso espaço o espaço de nosso tempo 2 O espaço como categoria permanente seria uma categoria universal preenchida por relações permanentes entre elementos lógicos encon í trados através da pesquisa do que é imanente isto é do que atravessa o tempo e não daquilo que pertence a um tempo dado e a um dado lugar quer dizer o propriamente histórico o transitório fruto de uma combinação topograficamente delimitada específica de cada lugar A noção de sistema social atravessa a noção desse tempo e desse lugar e é o fundamento da definição desse nosso espaço o segundo tipo de espaço a definir De qualquer maneira tanto num caso como no outro as definições não podem ser imutáveis fixas eternas6 No caso do espaço como categoria universal e permanente são os progressos filosóficos e científicos que permitem definilo diferente mente a cada momento As ciências naturais não são exatas porque a cada momento histórico os fenômenos chamados naturais têm uma de finição diferente como resultado dos progressos obtidos pelas ciências chamadas exatas e pelas ciências do conhecimento como a filosofia e pelas próprias ciências sociais E quanto ao espaço como categoria histórica é a própria significação dos objetos do seu conteúdo e das relações entre eles que muda com a história Feuerbach dizia que o mundo social ao derredor de nós não é uma coisa dada para toda a eternidade Na realidade ambos os caminhos se cruzam e o conheci mento do espaço como categoria universal se inclui no conhecimento do espaço como categoria histórica e viceversa A interação entre leis universais e comportamentos históricos portanto individualizados contribui para a elaboração senão de uma definição ao menos de um conceito de espaço que sendo operacional não o é menos filosófico O conceito de lugar porção discreta de espaço total teria prece dido o conceito de espaço Aristóteles já havia formulado esta idéia e Einstein insiste nela Prefácio a Jammer 1969 p 13 Para o criador da teoria da relatividade parece que o conceito de espaço teria sido precedido pelo conceito psicológico mais simples de lugar O lugar é antes de tudo uma porção da face da terra identificada por um z nome Aquilo que torna o lugar específico é um objeto material ou 2 um corpo Uma análise simples mostra que um lugar é também um í grupo de objetos materiais Mas se de um ponto de vista puramente 6 As categorias ou como prefere E Mandei 1975 p 39 as variáveis de base adqui rem cada uma um valor diferente segundo o ângulo pelo qual os fenômenos são estudados as aparências Se a explicação a essência é o ponto de sua análise de conjunto o que ninguém salvo pequena exceção para poucos segundo E Mandei teria feito os fenômenos os aspectos particulares dão a certas variáveis um papel maior na explicação e isto segundo as diferentes épocas históricas psicológico o conceito de lugar nos é imposto antes do conceito de es paço do ponto de vista teórico e epistemológico o conceito de espaço precede o conceito de lugar Um dos filósofos da geografia William Bunge 1963 pp 125147 acentua que o universo não é um amontoado de coisas e sim um sis tema formado de sistemas que agem entre si como se fossem simples elementos O que se passa em um lugar depende da totalidade de lugares que constróem o espaço Não foi esse o mesmo princípio da epistemologia do historiador árabe doublé de historiador e geógrafo Ibn Kaldun Essa não foi também mais tarde a base do pensamento de Leplay e o fundamento do princípio de geografia geral de Vidal de La Blache É a este último geógrafo que também se deve a noção de unidade da terra que Demangeon na França e Chauncey Harris nos Estados Unidos utilizaram nos seus estudos de geografia tomando como base a realidade internacional Ainda recentemente T G McGee em Jakobson e Prakash p 160 referindose aos estudos urbanos disse que a primeira afirmação a ser feita é a de que as cidades são parte de um sistema econômico e social total que não é somente na cional mas igualmente internacional O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações rea lizadas através de funções e de formas que se apresentam como teste munho de uma história escrita por processos do passado e do presente 2 Isto é o espaço se define como um conjunto de formas representativas 2 de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura repre sentada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares Mais uma vez aqui a noção de relatividade introduzida por Einstein aparece como fundamental porque substitui o conceito de matéria pelo conceito de campo o que supõe a existência de relações entre a maté ria e a energia Numa comparação talvez grosseira as formas seriam comparáveis à matéria e a energia à dinâmica social AÇO 153 e é o fundamento da definição desse nosso espaço o segundo tipo de espaço a definir De qualquer maneira tanto num caso como no outro as definições não podem ser imutáveis fixas eternas6 No caso do espaço como categoria universal e permanente são os progressos filosóficos e científicos que permitem definilo diferente mente a cada momento As ciências naturais não são exatas porque a cada momento histórico os fenômenos chamados naturais têm uma de finição diferente como resultado dos progressos obtidos pelas ciências chamadas exatas e pelas ciências do conhecimento como a filosofia e pelas próprias ciências sociais E quanto ao espaço como categoria histórica é a própria significação dos objetos do seu conteúdo e das relações entre eles que muda com a história Feuerbach dizia que o mundo social ao derredor de nós não é uma coisa dada para toda a eternidade Na realidade ambos os caminhos se cruzam e o conheci mento do espaço como categoria universal se inclui no conhecimento do espaço como categoria histórica e viceversa A interação entre leis universais e comportamentos históricos portanto individualizados contribui para a elaboração senão de uma definição ao menos de um conceito de espaço que sendo operacional não o é menos filosófico O conceito de lugar porção discreta de espaço total teria prece dido o conceito de espaço Aristóteles já havia formulado esta idéia e Einstein insiste nela Prefácio a Jammer 1969 p 13 Para o criador da teoria da relatividade parece que o conceito de espaço teria sido precedido pelo conceito psicológico mais simples de lugar O lugar é antes de tudo uma porção da face da terra identificada por um z nome Aquilo que torna o lugar específico é um objeto material ou 2 um corpo Uma análise simples mostra que um lugar é também um í grupo de objetos materiais Mas se de um ponto de vista puramente 6 As categorias ou como prefere E Mandei 1975 p 39 as variáveis de base adqui rem cada uma um valor diferente segundo o ângulo pelo qual os fenômenos são estudados as aparências Se a explicação a essência é o ponto de sua análise de conjunto o que ninguém salvo pequena exceção para poucos segundo E Mandei teria feito os fenômenos os aspectos particulares dão a certas variáveis um papel maior na explicação e isto segundo as diferentes épocas históricas psicológico o conceito de lugar nos é imposto antes do conceito de es paço do ponto de vista teórico e epistemológico o conceito de espaço precede o conceito de lugar Um dos filósofos da geografia William Bunge 1963 pp 125147 acentua que o universo não é um amontoado de coisas e sim um sis tema formado de sistemas que agem entre si como se fossem simples elementos O que se passa em um lugar depende da totalidade de lugares que constróem o espaço Não foi esse o mesmo princípio da epistemologia do historiador árabe doublé de historiador e geógrafo Ibn Kaldun Essa não foi também mais tarde a base do pensamento de Leplay e o fundamento do princípio de geografia geral de Vidal de La Blache É a este último geógrafo que também se deve a noção de unidade da terra que Demangeon na França e Chauncey Harris nos Estados Unidos utilizaram nos seus estudos de geografia tomando como base a realidade internacional Ainda recentemente T G McGee em Jakobson e Prakash p 160 referindose aos estudos urbanos disse que a primeira afirmação a ser feita é a de que as cidades são parte de um sistema econômico e social total que não é somente na cional mas igualmente internacional O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações rea lizadas através de funções e de formas que se apresentam como teste munho de uma história escrita por processos do passado e do presente 2 Isto é o espaço se define como um conjunto de formas representativas 2 de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura repre sentada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares Mais uma vez aqui a noção de relatividade introduzida por Einstein aparece como fundamental porque substitui o conceito de matéria pelo conceito de campo o que supõe a existência de relações entre a maté ria e a energia Numa comparação talvez grosseira as formas seriam comparáveis à matéria e a energia à dinâmica social AÇO 153 O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente Isto é o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares SANTOS p153 A partir da sua leitura do capítulo Uma Tentativa de Definição Do Espaço de Milton Santos contextualize e apresente uma resenha crítica da sua interpretação com base na citação acima RESENHA CRÍTICA Uma tentativa de definição do espaço O capítulo inicia abordando algumas formas de conceituar a palavra espaço sendo umas delas a ótica da geografia O autor aponta então que para compreender melhor seus diversos contextos é preciso desmembrar a palavra e assim a ir caracterizando em diversos contextos para assim sua compreensão ser mais elegível O espaço não deve ser delimitado apenas pela ótica geográfica tendo em vista que pode ser inserido em diversos contextos como por exemplo o espaço humano em si ou aquele ocupado pelos seres humanos em determinado nível social Ou também aquele caracterizado por uma visão mais urbanista e projetista A partir da análise do texto em uma ótica filosófica é possível compreender que espaço pode remeter a transformações históricas e culturais pois se refere tanto a algo sólido e palpável como algo a se questionar Pois é nele que ocorrem as diversas interações entre os seres e as matérias resultando em diversas transformações sejam elas ecológicas sociais e culturais O espaço por sua vez é então um local vulnerável a diversas mutações como reflexões decisões construções e renovações Portanto sempre que há interação entre matéria sólida moléculas por exemplo pessoas culturas e animais há transformação e evolução de espaço seja em um contexto abstrato ou palpável A partir de diversos pontos iniciais estudados por diversas ciências e a mistura de todo esse conhecimento dá lugar aos variados contextos sobre espaço em que suas reflexões podem ser inseridas em um formato mais exato ou então biológico As mudanças ocorrem de forma constante e assimétrica nesse ambiente dando origem a diversas outras transformações Por isso é interessante afirmar que seu conceito é relativo pois está diretamente ligado ao contexto que será inserido e analisado Dessa forma concluir o que é avanço e o que é retrocesso é questionável sendo assim espaço não é algo fixo e sim totalmente flexível Está aqui hoje e nesse momento e num piscar de olhos já não é mais igual ao espaço anterior A partir disso definir espaço a partir de uma palavra é limitar a sua infinitude de possibilidades e aplicações tendo em vista suas diversas transformações constantes e interações ao longo do tempo Finalizo essa resenha crítica apontando que a tentativa de definir a palavra espaço ainda está presente pois sua definição é impossível