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ARTIGOS Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 ARTIGOS 11 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL Marcel Van der Linden Resumo O artigo apresenta uma nova fase da História Social do Trabalho caracterizada pela tentativa de superação do nacionalismo metodológico e do Eurocentrismo cujo potencial vem se revelando extremamente rico no estabelecimento de uma perspectiva global de entendimento da classe trabalhadora e de sua história Uma nova História Global do Trabalho vem se estabelecendo como uma área de interesse caracterizada por certo pluralismo teórico e pelo interesse temático no estudo transnacional e mesmo transcontinental das relações de trabalho e nos movimentos sociais de trabalhadores no sentido mais amplo da palavra Trabalho livre e nãolivre remunerado e não remunerado organizações formais e informais em um recorte cronológico mais amplo constituem os objetos desses novos estudos Por fim o artigo fornece alguns exemplos de trabalhos de pesquisa que caminham na direção de uma História Global do Trabalho Palavraschave História do Trabalho História Global Abstract The article presents a new moment of Labor History characterized by the attempt of overcoming the methodological nationalism and the Eurocentrism This field has a great potential to establish a global perspective of knowledge of the working class and its history A new Global Labor History is been constructed as a area of concern characterized by a certain theoretical pluralism and by the transnational and even transcontinental approach to labor relations and workers social movements in the broadest sense of the word Free and unfree labor paid and unpaid formal or informal organizations and movements in a large temporal perspective constitutes the subjects of these new studies Finally the article puts some examples of recent researches that walks in the direction of a Global Labor History Keywords Labor History Global History I A Formação da Classe Operária Inglesa de E P Thompson foi um marco para a disciplina de história social David Brody corretamente concluiu que esse trabalho primeiramente publicado em 1963 ofereceu à nova história do trabalho um modelo que Tradução Renata Meirelles Revisão Marcelo Badaró Mattos Originalmente publicado em inglês History The Old the New and the Global African Studies 66 2 2007 1 12 Também publicado em Alemão Was ist neu an der globalen Arbeitsgeschichte Sozial Geschichte 22 2 2007 3144 Diretor de Pesquisas do Instituto Internacional de História Social Amsterdã Professor da Universidade de Amsterdã e Presidente do Conselho Editorial da International Review of Social History Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 12 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL esta muito precisava1 Uma vez assimilada sua mensagem o grande livro de Thompson ao enfatizar cultura e consciência transformou a história do trabalho em história da classe trabalhadora Nos países de língua inglesa o livro de Thompson foi a mais importante referência que marcou a transição da chamada Velha História do Trabalho para a Nova História do Trabalho Nos dias de hoje há um amplo consenso sobre a natureza dessa transição 2 A Velha História do Trabalho era institucional focada na descrição organizacional de desenvolvimentos debates políticos líderes e greves Era representada por Sidney e Beatrice Webb a Escola Wisconsin de John Commons dentre outros mas também por marxistas como Philip Foner A Nova História do Trabalho tentou contextualizar as lutas dos trabalhadores Conforme Eric Hobsbawm afirmou em 1964 em Labouring Men ela enfatizou as classes trabalhadoras como tais e as condições técnicas e econômicas que permitiram ou impediram que os movimentos trabalhistas fossem eficazes As diferenças entre Velha e Nova História do Trabalho são freqüentemente exageradas uma vez que também na Velha História do Trabalho não foram poucas as vezes em que foi dada atenção às classes trabalhadoras como tais visível por exemplo na magnífica trilogia de John e Barbara Hammonds The Village Labourer 1912 The Town Labourer 1917 and The Skilled Labourer 1920 que cobre aproximadamente o mesmo período de A Formação da Classe Operária Inglesa de Thompson Ainda assim não se pode negar que a Nova História do Trabalho dos anos 1970 e 1980 introduziu uma drástica renovação da disciplina Não apenas os processos de trabalho e cultura cotidiana mas também as relações de gênero etnia raça e idade finalmente ganharam a atenção que mereciam ao lado das estruturas domésticas sexualidade e políticas informais A Nova História do Trabalho assinalou uma genuína revolução intelectual 1 David Brody Reconciling the Old Labor History and the New Pacific Historical Review 62 February 1993 118 reprinted as Responsibilities of the Labor Historian In Brodys Labor Embattled History Power Rights Urbana IL University of Illinois Press 2005 115 at 11 2 Os termos Velha e Nova História do Trabalho parecem ter sido criados nos Estados Unidos por volta de 1970 Ver Thomas A Krueger American Labor Historiography Old and New A Review Essay Journal of Social History 4 1971 p 27785 Um tipo de codificação da distinção pode ser encontrado no artigo de David Brody The Old Labor History and the New In Search of an American Working Class Labor History 20 Winter 1979 p 11126 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 ARTIGOS 13 II A História do trabalho utilizo o termo aqui em sentido amplo incluindo a história da classe trabalhadora foi por muito tempo estudada sobretudo nos países de capitalismo avançado ademais com um foco restrito ao âmbito político nos chamados países socialistas Entretanto desde os anos 1990 essa disciplina tem se desenvolvido no sentido de um verdadeiro projeto global Para ser preciso muitos estudos anteriores já foram publicados sobre a história da proletarização e de movimentos de trabalhadores no hemisfério Sul poderia citar como um brilhante exemplo Rajani Kanta Das que em 1923 publicou nada menos que três volumes sobre o trabalho no sudeste asiático3 Mas o verdadeiro salto em termos de conferências associações etc é de surgimento recente Após uma importante tentativa sulafricana em 1977 o History Workshop sobre história do trabalho daquele ano o processo deslanchou em 1995 com a fundação da Associação de Historiadores do Trabalho Indianos uma organização dinâmica que não apenas organiza conferências a cada dois anos como também se envolve com uma série de outras atividades Pouco depois o grupo Mundos do Trabalho foi estabelecido no Brasil e conferências nacionais ocorreram em Karachi 1999 Seoul 2001 Jogjakarta 2005 e Johannesburg 2006 Essa expansão geográfica e as substanciais reflexões por ela suscitadas nos permitiram perceber a Velha e a Nova História do Trabalho sob uma nova perspectiva Tomemos como exemplo o livro de Thompson A Formação da Classe Operária Inglesa De uma nova perspectiva global há algo de peculiar sobre este livro algo que provavelmente não foi notado anteriormente mas que agora sob diferentes circunstâncias demanda a nossa atenção Thompson reconstrói o processo inglês de formação da classe no período de 17921832 como um processo fechado em si mesmo A Inglaterra é de acordo com sua análise a unidade lógica de análise enquanto forças externas certamente influenciaram esse processo estas são especificamente retratadas como influências estrangeiras Assim a Revolução Francesa desempenha um importante papel de fundo na narrativa de Thompson como uma fonte de inspiração para as atividades da classe trabalhadora mas os 3 Rajani Kanta Das Factory Labor in India Berlin and Leipzig W de Gruyter Co 1923 Idem Factory Legislation in India Com a introdução de John R Commons Berlin and Leipzig W de Gruyter Co 1923 Idem The Labor Movement in India Berlin and Leipzig W de Gruyter Co 1923 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 14 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL desenvolvimentos nos países vizinhos sempre permanecem externos Ademais Thompson não atenta para as conexões com o imperialismo O colonialismo com sua crescente e significativa influência sobre as vidas das classes subalternas ao longo do século XIX é simplesmente ignorado Peter Linebaugh e Marcus Rediker assinalaram que a Sociedade Londrina de Correspondência London Corresponding Society SLC mencionada nas primeiras páginas de A Formação da Classe Operária Inglesa declarouse em sua fundação em 1792 a favor da igualdade quer se tratassem de negros ou brancos ricos ou pobres Contudo em agosto do mesmo ano a SLC declarou Companheiros cidadãos de todos os níveis e de todas as situações de vida ricos pobres classes altas ou baixas nós nos dirigimos a todos vocês como nossos irmãos Aqui a frase negros ou brancos tinha desaparecido Linebaugh and Rediker argumentam de maneira persuasiva que essa repentina mudança da frase deve ser explicada a partir da referência à revolta no Haiti recentemente começada Raça tinha se tornado assim um assunto delicado e para muitos na Inglaterra uma questão ameaçadora algo que a liderança da SLC agora preferia evitar4 Tais conexões transatlânticas não podem ser encontradas na escrita de Thompson A abordagem insular de Thompson é ainda mais surpreendente dado que politicamente ele era claramente um internacionalista familiarizado desde a infância com histórias sobre a Índia britânica onde seus pais tinham vivido por algum tempo5 III Nesse sentido apesar de seu feito inovador A Formação da Classe Operária Inglesa nos mostra que houve importantes continuidades em relação à Velha História do Trabalho 4 Peter Linebaugh and Marcus Rediker The ManyHeaded Hydra The Hidden History of the Revolutionary Atlantic Boston Beacon Press 2000 p 274 Tradução brasileira A Hidra de Muitas Cabeças marinheiros escravos plebeus e a história oculta do Atlântico revolucionário São Paulo Companhia das Letras 2008 5 O conhecimento de Thompson sobre a Índia é evidente em sua palestra História e Antropologia em 1976 reimpressa em EP Thompson Making History Writings on History and Culture New York The New Press 1994 p 200225 No Brasil publicada como Folclore Antropologia e História Social In As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas Ed Unicamp 2001 Sobre um plano de fundo da família de Thompson ver Bryan D Palmer E P Thompson Objections and Oppositions London and New York Verso 1994 p 1151 Edição brasileira E P Thompson objeções e oposições Rio de Janeiro Paz e Terra 1996 Tom Nairn considera o trabalho de Thompson como um exemplo da variedade da cultura popular nacionalista de esquerda britânica Tom Nairn The BreakUp of Britain Crisis and NeoNationalism Second Expanded Edition London and New York Verso 1977 p 3034 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 ARTIGOS 15 O campo de estudos emergente de história do trabalho na Europa do século XIX e pouco depois na América do Norte foi caracterizado de início por uma combinação de nacionalismo metodológico a invenção deste conceito é até onde sei devida a Anthony D Smith e eurocentrismo uma combinação que apenas recentemente tornouse um tema para debate O nacionalismo metodológico funde sociedade e Estado e conseqüentemente considera os diferentes estados nacionais como espécies de mônadas leibnizianas para a pesquisa histórica O eurocentrismo é a ordenação mental do mundo do ponto de vista da região do Atlântico norte sob este ponto de vista o período moderno tem início na Europa e na América do Norte e se estende aos poucos para o restante do mundo a temporalidade desta região central determina a periodização dos desenvolvimentos do restante do mundo Historiadores reconstruíram a história das classes trabalhadoras e dos movimentos operários na França GrãBretanha Estados Unidos etc como desenvolvimentos separados À medida que passaram a prestar atenção às classes e movimentos sociais na América Latina África ou Ásia estes foram interpretados de acordo com as perspectivas do Atlântico Norte Isso não significa afirmar que os historiadores do trabalho não olharam para além das fronteiras nacionais É claro que o fizeram e já anteriormente mas a abordagem entretanto permaneceu monadológica o mundo europeu civilizado foi visto como um conjunto de povos que se desenvolveram mais ou menos na mesma direção ainda que cada qual em um ritmo diferente Uma nação foi vista como mais avançada que a outra e é por isso que as nações mais atrasadas poderiam ver o futuro em maior ou menor medida refletido nas nações mais avançadas Inicialmente esse pensamento era interpretado de maneira simplista e movimentos trabalhistas de outros países foram estudados por exemplo para descobrir estratégias políticas para a política cotidiana de um determinado país Essa abordagem pode ser observada por exemplo nos escritos de Lorenz Stein um pioneiro alemão na história social do movimento trabalhista transnacional Em seu estudo de 1842 sobre correntes socialistas e comunistas no proletariado francês ele considerou inicialmente que a história se desenvolve por meio de diferentes nações Nesse sentido ele se posicionou firmemente sobre o terreno do pensamento monadológico Stein assumiu que cada movimento profundo em determinada nação cedo ou tarde repetiria a si próprio em outra nação Por esta razão um estudo sobre desenvolvimentos na França pareceu uma tarefa urgente para ele um movimento radical aparecendo em um país vizinho ameaçaria Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 16 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL igualmente a Alemanha em algum momento e questionou retoricamente Podemos esperar passivamente e observar como o movimento cresce entre nós e permanece sem rumo porque não é compreendido6 Essa atitude algo instrumentalista levou a um forte interesse aparentemente para os povos altamente desenvolvidos Logo entretanto tornouse evidente como era difícil extrair receitas políticas úteis de outra parte Quando Werner Sombart reconstruiu a história do proletariado italiano meio século após Stein ele concluiu que tais estudos comparativos dificilmente ofereciam alguma diretriz política útil para a política doméstica cotidiana Embora Sombart acreditasse que as nações poderiam aprender a partir dos exemplos das outras ele argumentou em favor de uma abordagem mais fundamental que focasse centralmente em questões puramente teóricas de onde para onde Uma abordagem modificada como esta significou uma expansão expressiva do terreno para pesquisa porque agora um estudo dos países mais avançados não era mais suficiente havendo a necessidade de mergulhar nos países menos desenvolvidos contanto que pertencessem às mesmas áreas culturais Kulturkreise Afinal se regularidades no desenvolvimento social podem ser identificadas de todo estas devem ocorrer também nos mais atrasados é aí que deve ser confirmado o acerto da hipótese formulada com base em experiências anteriores em outros países7 Dessa forma Sombart representou a elevação da história do trabalho monadológico ao status científico Gradativamente no entanto as mônadas ganharam espaço O próprio Sombart era consciente da influência da exemplaridade dos países mais avançados nos locais que os seguiram8 Ao longo do século XX foi dada maior atenção para as influências recíprocas entre diferentes povos ainda que esses povos separadamente tenham permanecido como unidades fundamentais de análise De James Guillaume a Julius Braunthal organizações internacionais do movimento trabalhista foram por exemplo interpretadas como elos colaborativos entre trabalhadores que representavam diferentes países entre patriotas com diferentes países de origem uma interpretação que também 6 L Stein Der Socialismus und Communismus des heutigen Frankreichs Ein Beitrag zur Zeitgeschichte Leipzig 1842 S iv ix 7 Werner Sombart Studien zur Entwicklungsgeschichte des italienischen Proletariats Archiv für soziale Gesetzgebung und Statistik 6 1893 S 177258 hier 178 8 Ibid Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 ARTIGOS 17 permaneceu viva no movimento9 E nos estudos sobre a migração internacional de trabalho os imigrantes eram vistos como pessoas ou que preservavam a cultura de seu país de origem ou que assimilavam a cultura do país para o qual haviam emigrado IV Apenas nas últimas décadas a monadologia eurocêntrica tem sido questionada como um todo Por um lado caiu por terra a idéia de Sombart de que apenas povos pertencendo à mesma área cultural poderiam ser significativamente comparados Por outro lado o Estadonação foi crescentemente historicizado e por isso relativizado Ambas tendências subversivas devem ser claramente distinguidas mas em maior ou menor medida correm lado a lado A aparência destas está relacionada a uma série de mudanças que ocorreram desde a Segunda Guerra Mundial ou que começaram até antes São elas A descolonização gerou muitos países independentes especialmente na África e Ásia que começaram a investigar suas próprias histórias nesse sentido a história do trabalho adquiriu não apenas um importante e crescente componente periférico o número de mônadas mas também tornouse evidente que a história periférica obviamente não poderia ser escrita sem constantemente referirse à história metropolitana ver por exemplo o trabalho de Walter Rodney Comunidades imaginadas transcontinentais se desenvolveram tal como o Pan Africanismo Na pesquisa sobre migrações históricas surgiu o insight que a perspectiva nação etniaencrave interpretou erroneamente a realidade dos imigrantes porque estes freqüentemente vivem transculturalmente As culturas fronteiriças que foram descobertas não se encaixaram no esquema monodológico creolização etc O mesmo ocorreu para os ciclos transnacionais de protestos e greves 9 James Guillaume LInternationale 4 Bände Paris 190510 Julius Braunthal Geschichte der Internationale 3 Bände Hannover 19611971 Sobre o InterNationalism no movimento trabalhista ver por exemplo Kevin Callahan Performing InterNationalism in Stuttgart in 1907 French and German Socialist Nationalism and the Political Culture of an International Socialist Congress International Review of Social History 45 2000 5187 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 18 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL Todos esses desenvolvimentos além do contato muito intenso entre historiadores de diferentes países e continentes levaram a uma situação em que as premissas da história do trabalho tradicional são agora claramente visíveis e se tornaram portanto um tema para debate Estamos agora diante de uma situação transitória interessante na qual a disciplina se encontra comprometida com a reinvenção de si mesma A Nova História do Trabalho começa a dar lugar à História Global do Trabalho10 V A que se refere o termo História Global do Trabalho Todos é claro podem associála aos significados que gostam mas eu pessoalmente entendo o seguinte Em termos de status metodológico sugeriria que uma área de interesse é envolvida ao invés de uma teoria à qual todos devem aderir Sabemos e devemos aceitar o fato de que nossas concepções de pesquisa e nossas perspectivas interpretativas diferem Esse pluralismo não é apenas inevitável como é também igualmente intelectualmente estimulante contanto que estejamos preparados para a qualquer momento entrar em uma discussão séria sobre nossas visões divergentes Independentemente de nossos diferentes pontos de partida no entanto devemos nos esforçar por trabalhar produtivamente nos mesmos campos de pesquisa No que diz respeito a temas a História Global do Trabalho focaliza o estudo transnacional e mesmo transcontinental das relações de trabalho e nos movimentos sociais de trabalhadores no sentido mais amplo da palavra Por transnacional quero dizer situar no contexto mais amplo de todos os processos históricos não importa quão pequenos em comparação com processos em outras partes o estudo de processos de interação ou a combinação de ambos O estudo das relações de trabalho engloba trabalho que é tanto livre quanto não livre remunerado e nãoremunerado Os movimentos sociais dos trabalhadores 10 Marcel van der Linden Global Labor History and the Modern World System Thoughts at the TwentyFifth Anniversary of the Fernand Braudel Center International Review of Social History 46 2001 p 423459 Idem The Globalization of Labor and Working Class History and its Consequences International Labor and Working Class History 65 Spring 2004 p 136156 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 ARTIGOS 19 consistem tanto de organizações formais quanto de atividades informais O estudo tanto das relações de trabalho quanto dos movimentos sociais requer que seja dada igual atenção ao outro lado empregadores autoridades públicas O estudo das relações de trabalho diz respeito não só ao trabalhador individual mas também à sua família Relações de gênero desempenham um papel importante dentro da família e em relações de trabalho envolvendo membros familiares individuais Em relação ao período estudado penso que na História Global do Trabalho a princípio não há limites em relação à perspectiva temporal no entanto diria que na prática a ênfase está no estudo das relações de trabalho e dos movimentos sociais trabalhistas que se desenvolveram ao longo do crescimento do mercado global desde o século XIV Entretanto onde quer que indicado para fins de comparação estudos que recuem ainda mais no tempo não devem ser de maneira alguma excluídos Esse é afinal um projeto extremamente ambicioso que apenas começou Muitos dos objetivos deste novo enfoque permanecem obscuros ou necessitam de maiores elucidações VI O desenvolvimento da História Global do Trabalho terá que enfrentar diversos obstáculos para florescer Estes obstáculos incluem problemas práticos tais como o fato de que em muitos países do Hemisfério Sul não há arquivos adequadamente climatizados11 Eu não quero me deter nestas questões técnicas agora ainda que possamos obviamente colocálas na discussão quero concentrarme nos desafios substanciais Porque o maior obstáculo que temos somos nós mesmos com nossas teorias e interpretações tradicionais Já mencionei as duas mais importantes armadilhas nacionalismo metodológico e eurocentrismo 11 O exemplo do Instituto VV Giri National Labour em Noida na Índia mostra como é possível construir um arquivo de bom funcionamento com recursos financeiros limitados Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 20 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL Nacionalistas metodológicos são vítimas de dois erros intelectuais importantes Primeiramente naturalizam o Estado nacional Por isso quero dizer que consideram o Estadonação uma unidade básica de análise para a pesquisa histórica Ainda que reconheçam que os Estados nacionais apenas floresceram nos séculos XIX e XX eles mesmo assim ainda interpretam a história mais antiga como a préhistória do Estadonação posterior e consideram processos transfronteiriços ou processos que subvertem fronteiras como desvios do modelo puro Estamos portanto lidando com uma teleologia que deveria ser abandonada radicalmente De uma perspectiva global a existência de estados nação obviamente continua sendo um aspecto essencial do sistema mundial mas este é um aspecto que precisa ser exaustivamente historicizado em conexão com aspectos sub supra e transnacionais Em segundo lugar os nacionalistas metodológicos misturam sociedade com Estado e com território nacional12 Isso significa eles pensam que as sociedades são geograficamente idênticas aos estados nacionais Os Estados Unidos têm sua própria sociedade o México tem sua própria sociedade a China tem sua própria sociedade e assim por diante Aqui também uma abordagem totalmente nova é necessária Talvez devêssemos pensar mais profundamente sobre a sugestão de Micheal Mann de encarar as sociedades como múltiplas redes sócioespaciais de poder ideológico econômico militar e político que se sobrepõem e se interseccionam A implicação é que as Sociedades não são unitárias Elas não são sistemas sociais fechados ou abertos não são totalidades Não encontramos nunca uma única sociedade delimitada no espaço geográfico ou social13 Há três variantes de Eurocentrismo que devo mencionar A primeira variante é simplesmente negligência atenção é dada somente para parte do mundo o autor assume que a história do seu pedaço de mundo pode ser escrita sem dar atenção ao restante Esta atitude é bem evidente na distinção popular entre Oeste e o Resto14 mencionada por Samuel Huntington e outros15 A segunda variante é claramente preconceito os autores levam em consideração conexões globais mas no entanto acreditam que a Grande Europa incluindo América do Norte e Oceania aponta para o caminho Este eurocentrismo é 12 Isso não significa que eles eram identificados um com o outro Em vez disso eles freqüentemente funcionaram como counterpoles como na Alemanha por volta de 1848 quando a concepção de sociedade era utilizada para mostrar oposição ao Estado 13 Michael Mann The Sources of Social Power vol I Cambridge Cambridge University Press 1986p 12 14 NT A expressão original do inglês contém um jogo de palavras entre West oeste e Rest Resto 15 O inventor desta expressão parece ter sido o diplomata de Singapura Kishore Mahbubani Ver seu artigo The West and the Rest The National Interest Summer 1992 p 313 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 ARTIGOS 21 especialmente evidente entre teóricos da modernização16 Robert Nisbet caracterizou esta abordagem ao desenvolvimento desta forma A Humanidade é comparada a uma vasta procissão com todos ou ao menos um grande número de povos feitos membros da procissão Naturalmente a Europa Ocidental e seu padrão específico de valores econômicos políticos morais e religiosos adquiridos historicamente foi encarada como estando à frente na vanguarda da procissão Todos os outros povos apesar de ricos em suas próprias civilizações como a China e a Índia foram vistos por assim dizer como estágios em uma procissão que os levaria também algum dia à completude de desenvolvimento que o sagrado Ocidente representava17 A terceira variante consiste em crenças empíricas Esta variante é mais difícil de reconhecer e combater Estamos lidando aqui com pontosdevista científicos que aparentemente foram confirmados repetidas vezes por pesquisas Eurocentristas empíricos fazem asserções porque pensam que tudo se resume a fatos Acreditam por exemplo que os sindicatos são sempre mais eficientes quando se concentram em alguma forma de acordo coletivo Isso pensam eles foi provado repetidas vezes Historiadores que defendem tal visão negariam enfaticamente guardar quaisquer preconceitos eurocêntricos e muito poucos deles de fato guardam tais preconceitos Como o Jim Blaut da maturidade escreveu o eurocentrismo é algo muito complexo Podemos banir todos os significados valorativos da palavra todos os preconceitos e ainda o teremos como um conjunto de 16 Leonard Binder The Natural History of Modernization Theory Comparative Studies in Society and History 28 1 January 1986 p 333 Obviamente essa observação também é aplicada ao marxismo dominante que também possui uma teoria da modernização 17 Robert Nisbet Ethnocentrism and the Comparative Method In AR Desai ed Essays on Modernization of Underdeveloped Societies Bombay Thacker Co 1971 vol I p 95114 at 101 Nisbet notou que o eurocentrismo naquela época ainda chamado de etnocentrismo é simbolizado de acordo com uma metáfora biológica a qual afirma que o crescimento e desenvolvimento das sociedades se parece um pouco com o das plantas originandose das sementes e posteriormente desenvolvendose em organismos maduros Esta metáfora do crescimento é baseada em pelo menos mais cinco pressupostos Isso significou em primeiro lugar que mudanças são normalmente contínuas Isto é cada condição identificável de algo seja uma árvore um homem ou uma cultura é para ser entendido como algo que se originou desta mesma coisa Em segundo lugar grandes mudanças devem ser compreendidas como sendo cumulativas assim como conseqüência de pequenas mudanças Terceiro a mudança social é caracterizada por diferenciação Assim como a semente ou germe fertilizado é marcado por diferenciação e variação de função e forma em sua história o mesmo ocorre para a cultura humana ou instituição marcada por este tipo de manifestação ao longo do tempo Quarto a mudança em termos de desenvolvimento é encarada como resultado na maioria dos casos de uma espécie de propriedade uniforme ou grupo de propriedades Da doutrina da uniformidade veio a crença de que conflito social cooperação localização geográfica raça ou outras causas alegadas espalhadas entre as páginas da história social são a principal causa de todo desenvolvimento Quinto é evidente que uma espécie de teleologia está presente em todas essas teorias de desenvolvimento social Há sempre um fim em vista O fim é sempre concebido em termos essencialmente ocidentais Ibid p 100 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 22 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL crenças empíricas18 Atacar as duas primeiras variantes negligência e preconceito é relativamente simples mas a terceira variante representa um obstáculo maior Lucien Fèbvre já havia formulado isso meio século atrás qualquer categoria intelectual que possamos forjar nas oficinas da mente é capaz de se impor com a mesma força e a mesma tirania e se agarra ainda mais obstinadamente à sua existência do que as máquinas feitas m nossas fábricas19 Todos os conceitos centrais da História do Trabalho tradicional são principalmente baseados em experiências da região do Atlântico Norte e portanto devem ser criticamente reconsiderados Isto se aplica para começar ao próprio conceito de trabalho labor20 Nas mais importantes línguas ocidentais inglês francês espanhol italiano etc uma distinção é freqüentemente feita entre labor e work na qual labor referese a um tipo de esforço manual ou um tipo de trabalho pesado como em labor feminino enquanto work referese a um processo mais criativo Este significado binário ao qual uma filósofa como Hannah Arendt conferiu conseqüências analíticas de longo alcance21 simplesmente não existe em muitas outras línguas e algumas vezes não há mesmo uma palavra específica para labor porque estas concepções são abstraídas das características específicas de processos separados de trabalho labor Devemos portanto investigar cuidadosamente até que ponto os conceitos de labor e work são transculturalmente utilizáveis ou ao menos deveríamos definir seu conteúdo muito mais precisamente do que o que estamos acostumados a fazer Onde labor começa e onde termina Como exatamente traçamos a fronteira entre labor e work ou é esta fronteira menos óbvia do que comumente se considera A concepção de classe trabalhadora é também digna de um estudo crítico Parece que este termo foi inventado no século XIX para identificar um grupo dos chamados trabalhadores respeitáveis em oposição a escravos e outros trabalhadores sem liberdade os autoempregados pequenaburguesia e pobres excluídos o lumpemproletariado Por diversas razões as quais não posso discutir agora esta interpretação não é apropriada para 18 James Blaut The Colonizers Model of the World New York The Guilford Press 1993 p 9 19 Lucien Febvre How Jules Michelet Invented the Renaissance 1950 In Peter Burke ed A New Kind of History From the Writings of Febvre Trans K Folca London Routledge Kegan Paul 1973 p 25867 at 258 20 NT Em português não há uma distinção significativa como há em inglês entre as palavras labor e work ambas traduzidas como trabalho o que confirma a observação do autor 21 Hannah Arendt The Human Condition Chicago The University of Chicago Press 1958 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 ARTIGOS 23 o hemisfério sul Os grupos sociais os quais aos olhos da Velha e Nova História do Trabalho são quantitativamente insignificantes exceções que provam a regra são a regra em grande parte da Ásia África e América Latina Teremos que vislumbrar uma nova conceituação que seja menos orientada para a exclusão que para a inclusão de vários grupos de trabalhadores dependentes ou marginalizados Temos que reconhecer que os trabalhadores assalariados reais que estavam no centro das atenções de Marx isto é trabalhadores que como indivíduos livres podem dispor de sua própria força de trabalho como sua própria mercadoria e não têm outra mercadoria para venda22 são apenas uma das formas que o capitalismo encontra para transformar força de trabalho em mercadoria Há muitas outras formas que demandam igualmente atenção como escravos aprendizes meeiros etc A necessidade de reconsiderar nossos pressupostos teóricos e metodológicos não implica é claro afastarnos de enfrentar a pesquisa empírica Provavelmente na realidade é precisamente por meio da interação entre renovação conceitual e pesquisas que seremos capazes de construir uma História Global do Trabalho Com o que a pesquisa empírica deste tipo poderia parecer Acho que podemos promover atividades em diferentes etapas Em primeiro lugar há a etapa de coleta de dados e aqui vejo duas tarefas estreitamente interligadas Por um lado a coleta de grande quantidade de informações quantitativas e qualitativas sobre assuntos tais quais a estrutura da força mundial de trabalho salários reais desenvolvimentos demográficos e movimentos de trabalhadores e por outro lado o desenvolvimento de técnicas capazes de comparar dados reunidos de diferentes contextos Basta expor dois exemplos deste tipo de coleta de dados Meu primeiro exemplo há planos avançados para a construção de um centro de dados sobre trabalhadores por contrato indentured indianos em todo o mundo Entre 1834 e 1937 30 milhões de pessoas da Índia britânica migraram para outras partes do mundo sendo que 80 retornou Comunidades Hindustani agora existem no sudeste asiático América do Sul América do Norte África e Europa O centro de dados é direcionado para cobrir toda esta diáspora mas com uma precisão própria para cada região Para algumas regiões por exemplo Suriname na América do Sul grupos de dados individualizados 22 Karl Marx Capital vol I Trans Ben Fowkes Harmondsworth Penguin 1976 p 272 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 24 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL podem ser produzidos enquanto em outras regiões apenas grupos de um nível maior de concentração parecem possíveis no momento23 Segundo exemplo desde 1985 o Grupo de Pesquisa sobre Trabalho no Mundo no Centro Braudel em Binghamton nos Estados Unidos montou um centro de dados utilizando os índices e números dos jornais The Times Londres de 1906 em diante e New York Times de 1870 em diante Informações sobre ano tipo de ação país cidade e indústria foram registradas para cada menção de perturbação relacionados ao trabalho ocorridas em qualquer parte do mundo De início todos os dados numéricos recolhidos dessa forma referentes ao período de 18701895 foram utilizados em análises posteriores Os mais importantes resultados foram publicados no livro de Beverly Silver Forças de Trabalho 2003 Outros acadêmicos têm seguido esta iniciativa Há poucos meses atrás uma conferência em Amsterdã posteriormente desenvolveu estatísticas sobre greves para um grande número de países Tais projetos exigem que desenvolvamos técnicas capazes de tornar comparáveis dados de diferentes contextos históricos e geográficos Um exemplo é o chamado projeto HISCO que tem por objetivo a criação de um sistema de informação ocupacional que é ao mesmo tempo internacional e histórico e simultaneamente ligado a classificações existentes usadas para as condições atuais O sistema de informação tornará disponível na Internet uma classificação internacional e histórica de ocupações HISCO combinada com informações sobre tarefas e deveres em contextos históricos assim como imagens sobre a história do trabalho24 Atualmente o projeto HISCO é baseado na codificação das 1000 ocupações mais freqüentes entre homens e mulheres em dados disponíveis de oito países diferentes Canadá e mais sete países europeus cobrindo o período de 16701970 mas principalmente do século XIX em diante A codificação de novos dados é agora realizada na Colômbia Nova Zelândia Rússia e Estados Unidos e planejada para a Índia Portugal e Espanha Um segundo estágio no qual podemos ser ativos é obviamente na pesquisa histórica real que revela as interações entre diferentes regiões do mundo e por isso é capaz de responder questões que até então não poderiam nem ao menos ser feitas O número de 23 wwwnationaalarchiefnlsuriname é um grupo de dados deste projeto 24 httphistoryofworkiisgnl Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 ARTIGOS 25 questões de pesquisa que podem ser feitas dentro dessa nova abordagem é ilimitado Em outra ocasião publiquei uma lista de idéias sobre esse assunto25 Aqui quero limitarme não a apenas um exemplo que chamo de cadeias globais de trabalho Esse conceito dá continuidade a uma velha idéia da teoria econômica que em essência pode remeter a Adam Smith Frank Taussig economista conservador de Harvard sintetizou esta idéia nos anos 1920 dessa forma Comumente referimonos a um alfaiate como aquele que faz roupas um carpinteiro como aquele que faz mesas um sapateiro como aquele que faz botas Tal frase como muitas desse tipo é elíptica e leva facilmente a malentendidos O trabalho do alfaiate apenas dá o toque final ao trabalho previamente realizado por uma longa cadeia de pessoas o pastor que cuidou do rebanho o tosquiador de lã aqueles que transportaram a lã por terra e por mar o penteador de lã tecelão etc sem mencionar aqueles que fizeram as ferramentas e maquinaria destes trabalhadores Similarmente o carpinteiro é o último de uma sucessão de pessoas que trabalharam para um mesmo fim o lenhador nos bosques o cortador de madeira no moinho o maquinista e o engenheiro na ferrovia e assim por diante Muitos trabalhadores distribuídos em longas series se combinam a fim de produzir mesmo as mais simples mercadorias26 Quando Taussig escreveu isso ele pensava dentro da perspectiva do estadonação dos Estados Unidos para ser preciso Mas nesse meio tempo todos sabemos que as cadeias de trabalho abarcam todo o planeta Tomese por exemplo o jeans que muitos de nós usamos O algodão para o denim é cultivado por pequenos fazendeiros no Benim oeste da África O algodão para os bolsos é cultivado no Paquistão O índigo sintético é feito em uma fábrica de produtos químicos em Frankfurt Alemanha Os rebites e botões contêm zinco extraído por mineiros australianos A linha é um poliéster manufaturado a partir de produtos de petróleo por trabalhadores da indústria química no Japão Todas as partes são montadas na Tunísia O produto final é vendido na Europa Nossos jeans são portanto o resultado de uma combinação global de processos de trabalho27 Uma questão relevante especialmente importante do pontodevista do internacionalismo sindical seria como esses diferentes processos de trabalho se relacionam uns com os outros Poderseia por exemplo levantar a hipótese de que quanto mais 25 Marcel van der Linden The Globalization of Labor and WorkingClass History and Its Consequences International Labor and Working Class History 65 Spring 2004 p 13656 26 Frank W Taussig Principles of Economics vol I New York Macmillan 1921 p 15 27 Fran Abrams and James Astill Story of the Blues The Guardian Europe 29 May 2001 Revista Mundos do Trabalho vol1 n 1 janeirojunho de 2009 26 HISTÓRIA DO TRABALHO O VELHO O NOVO E O GLOBAL próximos do produto final estão os trabalhadores maior é seu interesse por uma baixa remuneração para trabalhadores nos estágios iniciais da produção Trabalhadores numa fábrica de automóveis ganham mais no curto prazo se os metalúrgicos recebem baixos salários por que isso aumenta a margem de lucro dos carros e resulta em estabilidade e talvez salários mais altos Em outras palavras estudando o desenvolvimento histórico das cadeias de trabalho poderíamos desenvolver uma teoria empírica e histórica sobre os problemas e possibilidades da solidariedade internacional Isso é evidentemente só um exemplo Muitas outras questões importantes surgem A História Global do Trabalho não nos permitirá somente enxergar os desenvolvimentos transcontinentais em sua conexão mútua Ela também nos permitirá ver a história em nossas próprias regiões sob uma nova luz O desafio será transcender a Velha e a Nova História do Trabalho em uma nova abordagem o que coloca os insights já adquiridos em um novo e mais amplo contexto Através disso nossa habilidade para entender o mundo e explicálo só pode aumentar Como E P Thompson observou em seu A Miséria da Teoria cada evento histórico é único Porém muitos eventos largamente separados no tempo e no espaço revelam regularidades de processo quando relacionados uns com os outros28 28 E P Thompson The Poverty of Theory and Other Essays London The Merlin Press 1978 p 84 Tradução brasileira A miséria da teoria ou um planetário de erros Rio de Janeiro Zahar 1981 Charles Tilly Movimentos sociais como política Em seu editorial de 5 de dezembro de 2002 o Harare Daily News do Zimbábue afirmava que Construir um forte movimento social pródemocracia é sempre uma tarefa da sociedade civil quando operando sob um ambiente político opressivo Um ponto de partida seria ser capaz de definir o que é um movimento social Como o nome sugere movimentos sociais são organizações inclusivas compostas por vários grupos de interesses Os movimentos sociais devem envolver os estratos significativos da sociedade como os trabalhadores os grupos de mulheres os estudantes os jovens e o componente intelectual Esses vários setores de inte resses da sociedade serão articulados em torno de uma insatisfação comum que na maioria dos casos será a percepção comum da falta de democracia em um contexto político específico Foi este particularmente o caso da luta antiapartheid das duas últimas décadas na África do Sul e o que é mais relevante dos últimos quatro anos no Zimbábue A única diferença significativa entre a situação zim babuana e o movimento social antiapartheid sulafricano é que a primeira tende a ser menos definida e menos focalizada Na verdade no Zimbábue as pessoas às vezes podem ser desculpadas por pensar que o movimento social se dividiu Harare Daily News 2002 p 11 1 Do original Social movements as politics publicado como o primeiro capítulo do livro Social mo vements 17682004 Copyright BoulderLondon Paradigm Publishers 2009 Para respeitar o sentido original as referências ao livro foram mantidas Traduzido por André Villalobos Revista Brasileira de Ciência Política nº 3 Brasília janeirojulho de 2010 pp 133160 RBCPed3 artefinalindd 133 12042010 090559 134 Charles Tilly No Zimbábue de 2002 os líderes da oposição ao violento e vingativo regime de Robert Mugabe deploraram as divisões entre os sofridos cidadãos de seu atormentado país produzidas pelo regime através de uma combinação de repressão e cooptação Eles viam como modelo as mobilizações massivas mais antigas e mais bem sucedidas contra o apartheid na África do Sul E conclamavam para um movimento social mais amplo e mais efetivo contra a tirania e em favor da democracia Em consequência de sua ousadia em dar voz à oposição o Harare Daily News foi fechado pelo regime de Mugabe em setembro de 2003 No dia 17 desse mesmo mês as forças do regime pren deram cerca de cem pessoas que tiveram a audácia de realizar uma marcha pelas ruas de Harare em protesto contra o fechamento do jornal e em favor de uma nova constituição Economist 2003b p 46 Ao conclamar por um movimento social para procurar resolver um problema político a oposição zimbabuana estava acompanhada por muitas iniciativas similares em outras partes Em 1997 o periódico socialista Inter national Viewpoint sediado em Manchester convocou um movimento social europeu para defender os direitos dos trabalhadores em face da política de cortes de gastos sociais da Comissão Européia International Viewpoint 1997 Ao longo dos anos seguintes ativistas europeus socialistas e de outras orientações continuaram a clamar por um movimento genuíno em escala continental Uma rede denominada Jubilee 2000 centrada na Europa mas de escopo mundial desenvolveu uma campanha pela eliminação da dívida do Terceiro Mundo Segundo seus organizadores Um movimento social global constituiuse de forma unificada em torno dessa questão Por volta do ano 2000 após apenas quatro anos de atividades organizacionais havia campanhas Jubilee 2000 em 68 países conquanto de força e características variáveis As campanhas nacionais eram autônomas mas compartilhavam objetivos símbolos e informações gerais e um extraordinário sentimento de solidariedade Elas estavam baseadas em países tão diversos quanto Angola e Japão Colômbia e Suécia Honduras e Israel Togo e Estados Unidos A capacidade de cooperação e coordenação de nossas campanhas foi grandemente aumentada pelo uso da internet PETTIFOR 2000 p 62 ênfases no original Na altura de 2004 muitos europeus viam com esperança a mobilização contra o capital global como o movimento que poderia redimir as depri RBCPed3 artefinalindd 134 12042010 090559 135 Movimentos sociais como política midas expectativas dos trabalhadores europeus e as dificuldades dos países do Terceiro Mundo A América Latina e a Ásia também entraram nessa sintonia em março de 2002 o site do Rehydration Project Projeto Reidratação de um grupo de combate à diarreia baseado na Costa Rica postou um artigo de Sabir Mustafa editor associado do Financial Express de Daca O artigo intitulado O controle da diarréia tornase um movimento social em Bangladesh MUSTAFA 2002 informava que numerosos professores primários líderes religiosos organizações voluntárias médicos de aldeia grupos rurais e até mesmo forças policiais auxiliares locais de Bangladesh estavam promovendo ativamente medidas contra a doença especialmente a terapia de reidratação oral para salvar vidas de crianças O apelo esperançoso aos movimentos sociais também cresce pela América do Norte Em 1999 o ativista canadense Murray Dobbin conclamou pela construção de um movimento social no Canadá com vistas a assegurar que onde quer que efetivamente assumisse o poder o Novo Partido Demo crático New Democratic Party NDP de tendência esquerdista não viesse a abandonar seus eleitores A mais elementar compreensão da teoria do Estado nos diz que quando um partido social democrático conquista o poder em uma eleição ele não o conquista efeti vamente Altos burocratas virtualmente todos atualmente educados na ideologia neoliberal atuam como quinta coluna na sabotagem a políticas progressistas Do mesmo modo quando as corporações internacionais ameaçam cancelar planos de investimentos realizar capital strikes como fizeram em Ontário e na Columbia Britânica os governos do NDP não têm o poder de impedílas É aí que entram os movimentos sociais E se não pudermos levar milhares de pessoas às ruas sem ter de gastar centenas de milhares de dólares e meses de organização podemos esperar que os governos do NDP sucumbam ao poder real das corporações que é exercido diariamente e com uma ferocidade espantosa No que diz respeito a movimentos sociais que efetivamente confrontem o poder das corporações temos falhado quase tanto quanto o NDP DOBBIN 1999 p 2 Na virada para o século XXI no mundo todo o termo movimento social foi reconhecido como um toque de clarim como um contrapeso ao poder opressivo como uma convocação à ação popular contra um amplo espectro de flagelos RBCPed3 artefinalindd 135 12042010 090600 136 Charles Tilly Não foi sempre assim Conquanto levantes populares de um tipo ou de outro tenham ocorrido pelo mundo ao longo de milhares de anos há três séculos aquilo que o Harare Daily News descreveu como organizações inclusivas compostas por vários grupos de interesse não existia em lugar algum do planeta Então no último quartel do século XVIII na Europa Ocidental e na América do Norte as pessoas começaram a criar um novo e promissor fenômeno político Elas começaram a criar movimentos sociais Este livro traça a história dessa forma política inventada Trata os movimentos sociais como uma forma específica de política contenciosa contenciosa no sentido de que os movimentos sociais envolvem a elaboração coletiva de reivindicações que alcançando sucesso conflitariam com os interesses de outrem política no sentido de que governos de um ou outro tipo fi guram de alguma forma nesse processo seja como demandantes alvos das reivindicações aliados desses alvos ou monitores da contenda McADAM TARROW e TILLY 2001 Social Movements 17682004 mostra que essa versão específica de política contenciosa requer compreensão histórica A história ajuda na medida em que explica porque os movimentos sociais incorporaram algumas caracterís ticas cruciais por exemplo a marcha disciplinada pelas ruas que os distin guiram de outras formas de política Ajuda também por identificar mudanças significativas no funcionamento dos movimentos sociais por exemplo o surgimento de funcionários profissionais bem remunerados e organizações especializadas na busca da realização dos programas dos movimentos sociais alertandonos assim para a possibilidade de novas mudanças no futuro A his tória ajuda finalmente porque chama a atenção para as condições políticas cambiantes que tornam possíveis os movimentos sociais Se os movimentos sociais começarem a desaparecer seu desaparecimento será um indicativo de estar chegando ao fim um importante veículo de participação das pessoas na política A ascensão e a queda dos movimentos sociais marcam a expansão e a contração das oportunidades democráticas Em seu desenvolvimento no Ocidente após 1750 o movimento social surgiu como uma influente e inovadora síntese de três elementos Um esforço público sustentado de elaboração de reivindicações coletivas direcionadas a determinadas autoridades esforço que pode ser chamado de campanha O emprego de combinações dentre as seguintes formas de ação política criação de RBCPed3 artefinalindd 136 12042010 090600 137 Movimentos sociais como política associações e coalizões para finalidades específicas reuniões públicas desfiles solenes vigílias comícios demonstrações iniciativas reivindicatórias declarações para e nos meios de comunicação de massa e panfletagem esse conjunto variável de atividades pode ser chamado de repertório dos movimentos sociais e Representações públicas concertadas de VUNC valor unidade números e comprometimento por parte dos participantes demonstrações de valor worthiness de unidade de números e de comprometimento por parte dos participantes eou de seus partidários demonstrações de VUNC Diferentemente de uma petição uma declaração ou uma reunião de massa ocasionais uma campanha estendese para além de um evento úni co muito embora movimentos sociais frequentemente incluam petições declarações e reuniões de massa Uma campanha articula sempre pelo menos três elementos um grupo de demandantes autodesignados algum alvo ou alguns alvos de demanda e algum tipo de público As demandas podem ter como alvo autoridades governamentais mas as autoridades podem também incluir donos de propriedades funcionários religiosos e outros cujas ações ou omissões afetam significativamente o bemestar de muitas pessoas O que constitui um movimento social não são apenas as ações dos demandantes os objetos de demanda ou o público mas a interação entre esses três elementos Mesmo que alguns entusiastas se dediquem dia e noite ao movimento o grosso dos participantes se move alternadamente entre a apresentação de demandas públicas e outras atividades incluindo o trabalho cotidiano de organização que sustenta uma campanha O repertório do movimento social se justapõe aos repertórios de outros fenômenos políticos tais como a atividade sindical e as campanhas eleitorais Durante o século XX associações com finalidades específicas e especialmente coalizões entrecruzadas começaram a realizar uma enorme variedade de funções políticas pelo mundo Mas a integração da maior parte ou da tota lidade dessas atuações em campanhas sustentadas distingue os movimentos sociais de outras variedades de atuação política O termo VUNC soa estranho mas representa algo bastante familiar Demonstrações de VUNC podem assumir a forma de declarações slogans ou rótulos que implicam valor unidade números e comprometimento Cidadãos Unidos pela Justiça Signatários do Compromisso Defensores da Constituição e assim por diante Além disso as representações coletivas RBCPed3 artefinalindd 137 12042010 090600 138 Charles Tilly expressamse muitas vezes por meio de formas peculiares reconhecíveis pelos públicos locais como por exemplo valor comportamento sóbrio roupas asseadas presença de clérigos digna tários e mães com crianças unidade emblemas faixas bandeiras ou vestimentas combinadas marchas em formações organizadas canções e cantos números contagem de participantes número de assinaturas em petições quantidade de mensagens dos partidários capacidade de encher as ruas comprometimento enfrentamento do mau tempo participação visível de idosos e portadores de deficiências resistência à repressão sacrifícios subs crições eou atos de benemerência ostensivos As formas particulares de expressão variam enormemente de um con texto para outro mas a comunicação geral de VUNC interconecta essas expressões Naturalmente todos esses três elementos e suas subdivisões tiveram precedentes históricos Bem antes de 1750 para tomar um exemplo óbvio os protestantes europeus recorrentemente organizaram campanhas públicas contra as autoridades católicas em nome do direito de praticar sua fé herética Os europeus engajaramse em dois séculos de guerras civis e rebeliões nas quais figuraram em lugar central as divisões entre protestantes e católicos TE BRAKE 1998 No que diz respeito aos repertórios versões de associa ções de finalidade específica reuniões públicas marchas e outras formas de ação política existiram isoladamente muito antes de sua combinação no interior de movimentos sociais Logo veremos como os pioneiros dos movimentos sociais adaptaram ampliaram e conectaram essas formas de ação2 Demonstrações de VUNC ocorreram por longo tempo em martírios religiosos sacrifícios cívicos e resistência à conquista mas somente a sua regularização e integração com o repertório padrão distinguiu as demons trações dos movimentos de suas predecessoras Nenhum elemento singular mas a combinação do repertório com as demonstrações de VUNC no interior das campanhas criou a característica distintiva do movimento social Alguns fenômenos políticos justapostos também surgiram na época dos movimentos sociais Como os próximos capítulos mostram em detalhe campanhas políticas com seus partidos e disputas eleitorais por vezes in 2 Nota dos editores o autor faz referência aqui aos capítulos que se seguem a este artigo no livro Social movements 17682004 RBCPed3 artefinalindd 138 12042010 090600 139 Movimentos sociais como política teragiram extensivamente com os movimentos sociais mas desenvolveram seus próprios conjuntos de direitos obrigações pessoal e práticas Em vários momentos no século XIX nos países capitalistas os trabalhadores geralmente adquiriram os direitos de organizarse reunirse fazer greve e expressar se coletivamente algumas vezes conquistando esses direitos por meio de campanhas atuações e demonstrações de VUNC de movimentos sociais Grupos de interesse organizados como industriais e profissionais de medi cina igualmente conquistaram direitos de expressarse e agir coletivamente mas raramente o fizeram por meio de movimentos sociais Na maioria das vezes os grupos que já possuíam recursos substanciais conexões e prestígio adquiriram direitos por meio de negociações diretas com os governos Durante os séculos XIX e XX a maioria dos Estados que possuíam igrejas estabelecidas concedeu às novas seitas religiosas pelo menos os direitos de reunião e expressão quando não o de impor suas doutrinas ou práticas a seus membros Comunidades separatistas religiosas políticas ou de estilo de vida surgiram por vezes de movimentos sociais conquanto a maioria dos regimes tenha reprimido ou contido energicamente tais comunidades Além disso organizações participantes de movimentos sociais se deslocaram algumas vezes para essas outras esferas políticas conduzindo campanhas políticas organizando sindicatos criando grupos de interesse duradouros transformandose em seitas religiosas ou formando comunidades separatis tas Essas sobreposições não nos devem impedir de reconhecer que depois de 1750 um conjunto característico de legislação e de práticas desenvolveuse em torno de movimentos sociais como tais Interpretações de movimentos sociais Em um livro intitulado History of the French Social Movement from 1789 to the Present 1850 História do Movimento Social Francês de 1789 até o Presente o sociólogo alemão Lorenz von Stein introduziu o termo mo vimento social na discussão acadêmica sobre as lutas políticas populares VON STEIN 1959 Inicialmente ele transmitiu a ideia de um processo unitário contínuo pelo qual a classe trabalhadora em seu conjunto ganhava consciência e poder Quando von Stein escreveu o Manifesto Comunista 1848 de Marx e Engels acabara de adotar exatamente esse significado em sua declaração de que Todos os movimentos históricos anteriores foram movimentos de minorias ou no interesse de minorias O movimento pro RBCPed3 artefinalindd 139 12042010 090600 140 Charles Tilly letário é o movimento independente autoconsciente da imensa maioria no interesse da imensa maioria MARX e ENGELS 1958 I p 44 Não obstante analistas políticos também falaram em movimentos sociais no plural em 1848 o jornal alemão Die Gegenwart O Presente declarou que os movimentos sociais são geralmente nada mais do que uma primeira busca por um resultado histórico válido WIRTZ 1981 p 20 A maioria dos analistas de movimentos sociais no século XIX distinguiuos por programa organização e contexto O próprio Engels adotou o plural em seu prefácio à edição inglesa de 1888 do Manifesto observando que Onde quer que movi mentos proletários independentes continuaram a mostrar sinais de vida eles foram implacavelmente perseguidos MARX e ENGELS 1958 I p 26 A partir do final do século XIX os analistas políticos não apenas regularmen te pluralizaram os movimentos sociais como também os estenderam para além dos proletários organizados para camponeses mulheres e uma ampla variedade de outros demandantes HEBERLE 1951 p 211 As denominações dos episódios políticos ganham peso quando implicam avaliações amplamente reconhecidas e quando da aquisição do nome ou do fracasso em adquirilo se seguem nítidas consequências Chamar um evento de tumulto de uma rixa ou de um caso de genocídio estigmatiza seus participantes Rotular um evento como uma eleição avassaladora uma vitória militar ou um acordo de paz geralmente confere brilho à reputação de seus organizadores Quando qualquer deles acontece com certa amplitude os críticos ou defensores das ações controvertidas regularmente tentam fazer com que peguem os rótulos que lhes atribuem rotular como um tumulto o con fronto de um inimigo com a polícia interpretar um impasse como uma vitória militar e assim por diante Como sugerem nossos informes sobre o Zimbábue a União Européia Bangladesh e Canadá o termo movimento social adquiriu nuances atraentes pelo mundo Consequentemente participantes observadores e analistas que aprovam um episódio de ação coletiva popular muitas vezes o chamam hoje em dia de movimento social envolva ele ou não a combinação de campanha repertório e demonstrações de VUNC Além disso nos casos de episódios cujas partes claramente cumprem com os requisitos três tipos de confusão são comuns 1 Frequentemente analistas e ativistas estendem imprecisamente o termo movimento social a qualquer ação coletiva popular RBCPed3 artefinalindd 140 12042010 090600 141 Movimentos sociais como política relevante ou pelo menos àquelas que contam com sua aprovação As feministas por exemplo incorporam retroativamente ao movimento feminista as mulheres heróicas de séculos anteriores a 1750 enquanto para os ativistas ambientalistas qualquer iniciativa popular em favor do meio ambiente ocorrida em qualquer lugar se torna parte do movimento ambientalista mundial 2 Os analistas muitas vezes confundem a ação coletiva de um movimento com as organizações e redes que apóiam a ação ou até mesmo consideram as organizações e redes como aquilo que constitui o movimento identificando por exemplo o movimento ambientalista com as pessoas as redes interpessoais e as organizações defensoras da proteção ao meio ambiente ao invés das campanhas nas quais estão engajadas 3 Os analistas muitas vezes tratam o movimento como um ator unitário singular obscurecendo com isso a as incessantes manobras e realinhamentos que sempre ocorrem no interior dos movimentos sociais e b a interação entre ativistas componentes alvos autoridades aliados rivais inimigos e audiências que constituem a textura cambiante dos movimentos sociais O inchamento do termo de modo a incluir quaisquer espécies de ação co letiva popular passada e presente a confusão do movimento com a população as redes ou as organizações que o apoiam e o tratamento dos movimentos como atores unitários não causam muito dano na discussão política casual Na verdade no interior dos movimentos sociais frequentemente ajudam no recrutamento na mobilização e no moral Mas prejudicam grandemente qualquer esforço para definir e explicar como os movimentos sociais de fato funcionam especialmente quando se trata de situar os movimentos sociais na história Essa é a tarefa que agora se coloca Deixemme tornar minhas próprias pretensões absolutamente claras Ninguém é dono do termo movimento social analistas ativistas e críticos mantêmse livres para usálo como quiserem Mas uma maneira característica de fazer política começou a tomar forma nos países do Ocidente no final do século XVIII adquiriu amplo reconhecimento na Europa Ocidental e na América do Norte no início do século XIX consolidouse em um conjunto RBCPed3 artefinalindd 141 12042010 090600 142 Charles Tilly durável de elementos por volta da metade desse mesmo século alterouse mais vagarosa e incrementalmente depois desse ponto difundiuse ampla mente pelo mundo ocidental e veio a ser chamada de movimento social Esse complexo político combinou três elementos 1 campanhas de reivindicações coletivas dirigidas a autoridadesalvo 2 um conjunto de empreendimentos reivindicativos incluindo associações com finalidades específicas reuniões públicas declarações à imprensa e demonstrações 3 representações públicas de valor unidade números e comprometimento referentes à causa A esse complexo historicamente específico denomino movimento social Este livro traça a história desse complexo A despeito de incessante inovação e variação em pequena escala de um contexto político para outro os elementos do movimento social desenvolve ramse e difundiramse conectados como um todo Nesse sentido o movi mento social tem uma história A história do movimento social o distingue da história de outras formas políticas como campanhas eleitorais celebrações patrióticas demonstrações de força militar investiduras de autoridades pú blicas e luto coletivo Assim quando este livro se refere a movimentos sociais não está se referindo a qualquer ação popular a quaisquer ações alguma vez empreendidas em favor de uma causa a todas as pessoas e organizações que apoiam as mesmas causas ou a atores heróicos com posição destacada na história Referese a um conjunto particular interconectado em evolução e histórico de interações e práticas Referese à combinação característica de campanha repertório e demonstrações de VUNC Segundo esses padrões rigorosos poderiam ser considerados movimen tos sociais as manifestações no Zimbábue na Europa em Bangladesh e no Canadá com as quais iniciamos este texto Na maior parte sim Em 2002 e 2003 a oposição no Zimbábue utilizavase dos procedimentos característicos do processo reivindicatório dos movimentos sociais tais como as demons trações reuniões públicas e comunicados à imprensa em face de um regime que tratava quaisquer dessas atitudes e reivindicações como subversivas A campanha pela reidratação em Bangladesh ficou numa posição mais ambí gua na fronteira entre as medidas governamentais rotineiras de saúde pública e a mobilização popular por meio de associações marchas e concentrações Confrontados com uma União Européia cada vez mais poderosa e com a internacionalização do capital os trabalhadores europeus realizavam difíceis experiências no sentido de estender para uma escala internacional as rotinas RBCPed3 artefinalindd 142 12042010 090600 143 Movimentos sociais como política que lhes eram familiares no movimento social nacional como organizado res europeus envolveramse vigorosamente na coordenação de campanhas mundiais a respeito da dívida do Terceiro Mundo da AIDS e de centenas de outras questões Por volta da passagem para o século XXI os ativistas ca nadenses inclusive ponderados partidários do Novo Partido Democrático New Democratic Party voltandose para o passado podiam contemplar quase duzentos anos de atividade associativa de protestos e reuniões e de realização de demandas por meio de demonstrações de VUNC Em impor tantes partes do mundo o movimento social tornouse um veículo familiar e confiável para a política popular BUECHLER 2000 EDELMAN 2001 IBARRA e TEJERINA 1998 MAMDANI e WAMBADIAWAMBA 1996 RAY e KORTEWEG 1999 TARROW 1998 WIGNARAJA 1993 Em parte devido à inquestionável prevalência contemporânea do movi mento social estudiosos de movimentos sociais específicos mostraram pouco interesse em situálos no âmbito da história mais ampla dos movimentos sociais como forma de política De forma geral os analistas dos movimentos sociais os tratam mais propriamente como expressões de atitudes e interesses correntes ou de condições sociais do que como elementos de histórias de mais longa duração É verdade que os estudiosos de movimentos do século XIX tais como os movimentos contra a escravidão pela abstinência de bebidas alcoólicas ou a favor da extensão do sufrágio tiveram que situálos em seus contextos históricos e acompanhar seus desenvolvimentos históricos ver por exemplo DANJOU 1996 BUECHLER 1990 DRESCHER 1986 1994 ELTIS 1993 GUSFIELD 1996 McCAMMON e CAMPBELL 2000 YOUNG 2002 Muitas vezes histórias de um estilo mais peculiar sobre movimentos trabalhistas regionais nacionais ou internacionais recuam até bem antes dos gloriosos dias do século XIX em busca de precedentes e frequentemente se estendem para uma maior variedade de movimentos sociais do que aqueles especificamente focados no bemestar dos trabalhadores ver BOGOLYU BOV RIZHKOVA POPOV e DUBINSKII 1962 DOLLÉANS e CROZIER 1950 KUCZYNSKI 1967a KUCZYNSKI 1967b ZALESKI 1956 Do mesmo modo amplos levantamentos sobre protestos violência e conflito político regularmente ultrapassam a zona de atividade do movimento social ver ACKERMAN e DU VALL 2000 BOTZ 1976 BOTZ 1987 BRO WN 1975 GILJE 1987 GILJE 1996 GRIMSTED 1998 LINDENBERGER 1995 McKIVIGAN e HARROLD 1999 MIKKELSEN 1986 TILLY TILLY e RBCPed3 artefinalindd 143 12042010 090600 144 Charles Tilly TILLY 1975 TILLY 1980 WALTON e SEDDON 1994 WILLIAMS 2003 Nas proximidades os reflexos nos espelhos de uma abundante literatura his tórica sobre policiamento vigilância e repressão frequentemente captam os movimentos sociais sob ângulos inusitados ver BALBUS 1973 BROEKER 1970 BRUNETEAUX 1993 EARL SOULE e McCARTHY 2003 EMSLEY 1983 EMSLEY e WEINBERGER 1991 FILLIEULE 1997b GOLDSTEIN 1983 GOLDSTEIN 2000 GOLDSTEIN 2001 GURR 2000 HUGGINS 1985 HUGGINS 1998 HUSUNG 1983 JESSEN 1994 LIANG 1992 LÜDTKE 1989 LÜDTKE 1992 MONJARDET 1996 MUNGER 1979 MUNGER 1981 PALMER 1988 STORCH 1976 WILSON 1969 Algumas performances específicas de movimentos sociais notadamen te as marchas e demonstrações francesas e irlandesas atraíram histórias de primeira linha BLACKSTOCK 2000 FARRELL 2000 FAVRE 1990 FILLIEULE 1997a JARMAN 1997 MIRALA 2000 PIGENET e TARTAKO WSKY 2003 ROBERT 1996 TARTAKOWSKY 1997 TARTAKOWSKY 1999 Histórias sociais e políticas mais amplas além disso comumente atentam para movimentos sociais na medida em que investigam as tendências históricas gerais por exemplo ANDERSON e ANDERSON 1967 CRONIN e SCHNEER 1982 GONZÁLES CALLEJA 1998 1999 HOBSBAWM 1975 HOBSBAWM 1988 HOBSBAWM 1994 MONTGOMERY 1993 Todos esses tipos de estudos históricos serão de utilidade para nós nos próximos capítulos Mesmo tomados em conjunto entretanto eles não proporcionam uma história coerente do movimento social como um fenômeno político paralelo digamos às histórias das eleições legislativas dos partidos políticos das revoluções ou dos golpes de Estado Para países e períodos particulares existem efetivamente alguns levanta mentos históricos gerais sobre os movimentos sociais enquanto tais ver por exemplo ASH 1972 BRIGHT e HARDING 1984 BURKE 1988 CASTELLS 1983 CLARK 1959 CLARK GRAYSON e GRAYSON 1975 DUYVENDAK VAN DER HEIJDEN KOOPMANS e WIJMANS 1992 FREDRICKSON 1997 GAMSON 1990 KAPLAN 1992 KLAUSEN e MIKKELSEN 1988 KRIESI KOOPMANS DUYVENDAK e GIUGNI 1995 LUNDQVIST 1977 NICOLAS 1985 TARROW 1996 WIRTZ 1981 Em uma das mais agudas assertivas sobre o assunto John Markoff coloca habilmente o problema explanatório RBCPed3 artefinalindd 144 12042010 090600 145 Movimentos sociais como política Os movimentos sociais tais como os conhecemos hoje estavam começando a florescer na Inglaterra por volta do final do século XVIII e durante o século XIX fincaram raízes na Europa na América do Norte e em outras partes Para entender o porquê precisamos considerar muitas mudanças interligadas um governo fortalecido mas um rei enfraquecido um povo se organizando para afirmar suas reivindicações perante esse governo uma elite política propensa a demandar que ele governe em nome do povo melhorias no transporte e relações comerciais interligando povos distantes inícios de uma alfabetização disseminada e de novos meios de comunicação levando a que pessoas espacialmente separadas sintam que estão movimentandose no mesmo ritmo MARKOFF 1996b p 45 Geralmente entretanto tais levantamentos subordinam a história a alguma outra linha de análise como a demonstração feita por S D Clark quanto à divergência nas trajetórias dos movimentos do Canadá e dos Estados Unidos após os anos 1830 e a pesquisa de William Gamson para verificar se as oportunidades políticas americanas teriam ficado mais estreitas durante o século XX O próprio Markoff subordina sua análise da formação e transformação dos movimentos sociais à expansão da democracia Valho me repetidamente desses levantamentos assim como de estudos históricos de movimentos específicos Dou especial atenção a cronologias e catálogos como os de Gamson porque proporcionam material para comparação e comprovação sistemática da mudança TILLY 2002b Não obstante a análise histórica que se segue exigiu muitas interpolações sínteses e empréstimos de minha própria pesquisa histórica A história do movimento social coloca uma aguda versão de um problema característico da análise política Os movimentos sociais têm inquestionavel mente uma história específica e interrelacionada Este livro está interessado nessa história Essa busca traz à tona duas tentações fortes e bastante opostas De um lado ela acena com a sedutora tentação de tratar o movimento social como um fenômeno sui generis e de procurar encontrar leis gerais de seu funcionamento Tentações similares afetam estudiosos de revoluções ondas de greves e campanhas eleitorais Nos assuntos humanos todavia fracas sou completamente a busca por grandes leis comparáveis às da mecânica newtoniana É concebível que algumas dessas leis possam existir na forma digamos de universais evolucionários eou genéticos mas elas certamente não operam nos níveis de estruturas ou processos particulares tais como RBCPed3 artefinalindd 145 12042010 090600 146 Charles Tilly igrejas corporações revoluções ou movimentos sociais No presente estado do conhecimento quem quiser explicar estruturas e processos políticos se sairá muito melhor esclarecendo os mecanismos causais mais limitados que produzem mudança e variação bem como as características relevantes dessas estruturas e processos O esforço depende necessariamente de afastarse das leis dos movimentos sociais em direção a analogias e conexões causais entre aspectos distintivos dos movimentos sociais e de outras variedades de política GOLDSTONE 2003 TILLY 2001a TILLY 2001b As explicações dos movimentos sociais e sua história precisam estar entrelaçadas com ex plicações de outros tipos de política contenciosa Esse esforço entretanto traz à consideração a tentação oposta tendo observado regularidades de menor escala nos movimentos sociais podemse ver movimentos sociais por toda parte Considerados separadamente cam panhas performances como reuniões públicas ou petições e demonstrações de VUNC como o uso de distintivos e os sacrifícios ostentosos ocorrem frequentemente fora dos movimentos sociais em igrejas escolas corpo rações comunidades intelectuais e outros lugares BINDER 2002 DAVIS McADAM SCOTT e ZALD 2005 DAVIS e THOMPSON 1994 Algumas vezes por analogia eles até atraem o rótulo de movimento Considere o chamado movimento de milícias nos Estados Unidos da década de 1990 Por todo o país centenas de vagamente conectados pequenos grupos usavam vestimentas militares promoviam jogos de guerra distribuíam textos apo calípticos declaravam sua independência da jurisdição dos EUA inclusive quanto à obrigação de pagar impostos e se preparavam para o Armagedon que seus líderes previam para o ano 2000 O Southern Poverty Law Center que exerce vigilância sobre esses grupos contava 858 milícias pelo país no seu momento de pico em 1996 um número que por volta de 2003 havia encolhido para 143 Economist 2003a p 22 Se tais grupos assumissem a combinação plena de campanhas perfor mances de movimentos sociais e demonstrações de VUNC deveriam então ser considerados parte do campo dos movimentos sociais propriamente ditos Se por outro lado alguns deles organizados como Partido de Milícia começassem a apresentar candidatos em eleições municipais ou estaduais e começassem a comprar horários nas estações de televisão locais eles teriam optado por uma outra forma disponível de política a campanha eleitoral Na ausência dessas improváveis mudanças de estratégia ao invés de declarar RBCPed3 artefinalindd 146 12042010 090600 147 Movimentos sociais como política que as atividades de milícias são realmente movimentos sociais o trabalho de explicação avança mais efetivamente se elas forem reconhecidas como constituindo outra forma de política contenciosa Esse reconhecimento nos permite estudar suas similaridades com os movimentos sociais mas também ver que problemas explicativos distintos eles colocam De tempos em tempos os respeitáveis mundos da ciência e da medi cina igualmente geram analogias a movimentos sociais mas em sua maioria sem formar movimentos sociais propriamente consistentes Consideremos um exemplo o das disputas recentes sobre água na bacia do rio Klamath nas proximidades da fronteira entre a Califórnia e o Oregon A cabeceira do Klamath incluindo o Upper Klamath um lago cercado por desertos fornece irrigação para muitos agricultores nas terras secas do planalto mas também diminui o fluxo de água para a região de planície onde o salmão se reproduz e onde as tribos Klamath insistem em seu direito à pesca estabelecido por um acordo com os Estados Unidos em 1864 Um relatório de 2002 da Academia Nacional de Ciências concluiu não haver nenhuma base científica sólida que justificasse acabar com os fluxos de irrigação em proveito de enviar mais água para os viveiros de peixes rio abaixo A declaração dos cientistas não satisfez nenhuma das partes até mesmo os biólogos se alinharam com um ou outro dos grupos de usuários da água Segundo observou o repórter do periódico Science de Klamath Falls Oregon A conclusão do relatório provocou nessa comunidade de pequenos agricultores o clamor de que os órgãos federais estão defendendo ciência de má qualidade e esti mulou apelos pela reforma ou desconsideração da Lei sobre as Espécies Ameaçadas Endangered Species Act ESA Mas ao longo do ano passado ela também provocou outro protesto menos estridente entre os biólogos ligados à pesca Eles sustentam que as análises do relatório foram simplistas suas conclusões exageradas e pior do que tudo talvez que o relatório corrói a credibilidade de grande parte da ciência que está sendo desenvolvida na região quando não estimula um sentimento inteiramente contrário à ciência SERVICE 2003 p 36 Grupos em lados opostos estão claramente conduzindo campanhas e ocasionalmente se valendo de atividades como as entrevistas à imprensa com vistas a dar publicidade a suas reivindicações Se os agricultores os biólogos ou os membros das tribos Klamath começassem a combinar RBCPed3 artefinalindd 147 12042010 090600 148 Charles Tilly campanhas públicas performances características de movimentos sociais e demonstrações de VUNC em demandas perante as autoridades federais ou a Academia Nacional de Ciências eles transporiam suas lutas para o terreno dos movimentos sociais propriamente ditos Poderiam também assumir a política das campanhas eleitorais ou com vistas a isso moverse no sentido da constituição regular de grupos de interesse por meio do estabelecimento de lobistas de escritórios de representação em Washington e da criação de boletins informativos para divulgação de suas causas Enquanto isso entretanto entenderemos melhor suas ações se reconhecermos analogias e diferenças sem tratar simplesmente a controvérsia da bacia do Klamath como mais uma variedade de movimento social O mesmo se aplica a lutas análogas no interior de corporações igrejas escolas disciplinas intelectuais no mundo das artes e nos grupos de vizinhança DAVIS McADAM SCOTT e ZALD 2005 Exatamente no mesmo sentido o projeto histórico de rastrear a política característica do movimento social faz parte de um programa mais amplo de explicação do confronto político como um todo Em direção às explicações históricas Este projeto tem portanto quatro aspectos interdependentes Em pri meiro lugar precisamos rastrear as origens e transformações dos elementos principais do movimento social campanhas repertórios e demonstrações de VUNC Como por exemplo o hoje familiar protesto de rua tomou forma e até mesmo adquiriu um incômodo status legal na maioria dos pa íses democráticos Em segundo lugar precisamos desvendar os processos sociais que encorajam ou inibem a proliferação dos movimentos sociais Dada a significativa embora ainda incompleta correspondência entre democratização e movimentos sociais por exemplo que conexões causais explicam essa correspondência Em terceiro lugar precisamos examinar como os elementos dos movimentos sociais interagiram com outras formas de fazer política Até que ponto e como por exemplo as greves industriais as campanhas eleitorais e os movimentos sociais se intersectam e influen ciam mutuamente Finalmente precisamos mostrar o que causa aspectos importantes de mudança e variação nos movimentos sociais O surgimento de agentes políticos profissionais por exemplo ajuda a explicar a formação de um setor especializado e conectado das organizações de movimentos sociais nas principais democracias capitalistas IBARRA 2003 MEYER e RBCPed3 artefinalindd 148 12042010 090600 149 Movimentos sociais como política TARROW 1998 A análise histórica rigorosa auxilia na resposta a todos esses quatro tipos de questões Em consonância com essa linha de investigação eis os principais argu mentos deste livro De suas origens no século XVIII em diante os movimentos sociais pros seguiram não apenas como performances isoladas mas como campanhas interativas Assim como as campanhas eleitorais as rebeliões populares e as mobilizações religiosas consistem em interações entre grupos reivindicantes temporariamente conectados e cambiantes e os objetos de suas deman das com terceiros tais como representantes aliados reivindicadores rivais inimigos autoridades e vários públicos que muitas vezes exercem papéis significativos no desenrolar da campanha Nunca poderemos explicar a variação e mudança nos movimentos sociais se não dedicarmos cuidadosa atenção aos outros atores políticos além dos reivindicantes centrais como por exemplo a polícia com a qual os demonstrantes tenham lutado cola borado e desenvolvido suas estratégias Os movimentos sociais combinam três tipos de reivindicação programa identidade e posição As reivindicações de programa envolvem o apoio expresso ou a oposição a ações presentes ou propostas pelos objetos das reivindicações do movimento As reivindicações de identidade consistem em declarações de que nós os reivindicadores constituímos uma força unificada a ser enfrentada Demonstrações de VUNC valor unidade nú meros e comprometimento constituem um apoio para as reivindicações de identidade Reivindicações de posição afirmam laços e similaridades com outros atores políticos como por exemplo minorias excluídas grupos de cidadãos propriamente constituídos ou leais defensores do regime Algu mas vezes elas dizem respeito à posição de outros atores políticos como por exemplo nos reclamos para a expulsão de imigrantes ou para negar seu direito à cidadania Reivindicações de programa identidade e posição conformamse a códigos parcialmente separados construídos a partir da história política particular de um regime zimbabuanos e canadenses não sinalizam e não podem sinalizar exatamente da mesma maneira o valor worthiness coletivo A proeminência relativa das reivindicações de programa identidade e po sição variam significativamente entre movimentos sociais entre reivindicantes dentro do movimento e entre fases de movimentos Uma grande parte da RBCPed3 artefinalindd 149 12042010 090600 150 Charles Tilly negociação no interior dos movimentos sociais centrase de fato na ênfase relativa atribuída às diferentes demandas apresentamonos por exemplo como uma aliança durável de pessoas privadas de direitos que estamos nos alinhando contra esse programa governamental mas que pode amanhã alinharse em apoio a outro ou como um grupo heterogêneo que faz parte da população em geral cuja conexão consiste no dano que todos nós sofre remos com esse programa específico e que portanto pode não vir jamais se unir novamente como reivindicante A democratização promove a formação de movimentos sociais Entenda mos por democratização o desenvolvimento de regimes caracterizados por uma cidadania relativamente ampla e igualitária vinculando consulta aos cidadãos com respeito à política ao pessoal e aos recursos governamentais e pelo menos alguma proteção aos cidadãos contra ações arbitrárias dos agentes governamentais TILLY 2004 A democratização efetivamente limita a extensão das ações coletivas populares factíveis e efetivas Por exemplo as instituições democráticas geralmente inibem as rebeliões populares violentas TILLY 2003 cap 3 Mas o empoderamento empowerment dos cidadãos por meio de eleições competitivas e outras formas de consulta se vincula à proteção das liberdades civis tais como a de associação e reunião para canalizar as demandas populares em formas de movimento social Os movimentos sociais afirmam a soberania popular Embora os movi mentos singulares discordem ardentemente entre si a respeito de quem pode ser considerado como o povo o aparato conjunto de campanha repertório e demonstrações de VUNC corporifica a alegação mais geral de que os assuntos públicos dependem e devem depender do consenti mento dos governados A alegação não é necessariamente democrática visto que algumas vezes os movimentos étnicos religiosos e nacionalistas investem seus poderes em líderes carismáticos ao invés de fazêlo na deliberação democrática conquanto ainda insistam em que tais líderes corporificam a vontade do povo como um todo Esses movimentos além disso frequentemente rejeitam categorias inteiras da população local como não merecedoras de pertencer ao povo Mas a ênfase no consen timento popular se opõe de maneira fundamental ao direito divino dos reis à herança tradicional do poder de governar ao controle dos senhores da guerra e à predominância aristocrática Até mesmo nos sistemas de governo representativo os movimentos sociais colocam uma questão RBCPed3 artefinalindd 150 12042010 090600 151 Movimentos sociais como política crucial a soberania e sua sabedoria acumulada residem no legislativo ou no povo que ele alega representar Comparados com as formas de política popular de base local os movimentos sociais dependem fortemente de empreendedores políticos para sua escala dura bilidade e efetividade As rotinas locais de retaliação rebelião e resistência que prevaleceram pela maior parte do mundo antes da era dos movimentos sociais valeramse amplamente do conhecimento local disponível e das redes inter pessoais existentes Em contraste a combinação produzida pelos movimentos sociais entre campanhas demonstrações de VUNC e atuações coordenadas resulta sempre pelo menos em parte de planejamento prévio construção de coalizões e mitigação das diferenças locais Como logo veremos talentosos em preendedores figuraram em campanhas performances dos movimentos sociais e demonstrações de VUNC desde o próprio nascimento dos movimentos sociais Durante os séculos XX e XXI contudo organizadores políticos profissionais intermediários e organizações nãogovernamentais parcialmente autônomas assumiram papéis crescentemente proeminentes na promoção dos movimentos sociais para desalento dos críticos populistas Ironicamente por causa disso boa parte do trabalho dos movimentos sociais durante esses séculos desenvolveu se no sentido de disfarçar esse esforço empreendedor em favor de imagens que retratavam o surgimento espontâneo de VUNC Uma vez que os movimentos sociais tenham se estabelecido em um determinado cenário político a modelagem a comunicação e a colaboração facilitam sua adoção em outros cenários conexos No interior de um mesmo regime ocorrem muitas vezes transferências dos focos iniciais dos movimentos sociais mais frequen temente demandas dirigidas aos governos nacionais para outros objetos de demanda ou de apoio tais como líderes locais latifundiários capitalistas ou figuras religiosas As estratégias de movimentos sociais também se transferem entre regimes na medida em que organizadores exilados e membros de gru pos religiosos internacionais colaboram através das fronteiras nacionais e que governantes de regimes autoritários especialmente os que alegam governar em nome de um povo unido e coerente se encontram sob pressão de outros países para fazer concessões a seus críticos Colônias de países que já estabeleceram movimentos sociais proporcionam ambientes convidativos para a introdução da atividade dos movimentos sociais As formas o pessoal e as demandas dos movimentos sociais variam e evoluem historicamente Três fontes distinguíveis mas interagentes de mudança e RBCPed3 artefinalindd 151 12042010 090600 152 Charles Tilly variação nos movimentos sociais produzem variação no tempo e no espaço Em primeiro lugar ambientes políticos globais incluindo democratização e desde mocratização alteramse de forma parcialmente independente dos movimentos sociais e afetam seu caráter Em segundo lugar nas interações que ocorrem no curso dos movimentos sociais por exemplo interações entre os manifestantes e a polícia a mudança ocorre incrementalmente como consequência de cons tante inovação negociação e conflito Em terceiro lugar os participantes nos movimentos sociais aí incluídos não apenas ativistas mas também autoridades e outros objetos de demandas comunicamse entre si tomando emprestadas e adaptando uns dos outros ideias pessoal assistências retórica e modelos de ação Também procedem a empréstimos inovam e adaptam na medida em que competem entre si por vantagens ou apoiadores Algumas vezes o empréstimo e a adaptação ocorrem a grandes distâncias e entre movimentos sociais bastante díspares CHABOT 2000 CHABOT e DUYVENDAK 2002 SCALMER 2202b Mudanças nos ambientes políticos mudanças incrementais no interior da esfera do movimento social e transferências entre movimentos interagem para produzir mudanças e variações substanciais no caráter dos movimentos sociais Tratandose de uma instituição inventada o movimento social poderia desaparecer ou sofrer uma mutação para alguma forma de política totalmente diferente Da mesma maneira que desapareceram completamente muitas formas de justiça e rebelião popular que prevaleceram no passado não temos nenhuma garantia de que o movimento social tal como prevaleceu por dois séculos continuará para sempre Assim como o movimento social se difundiu com o desenvolvimento de estados centralizados relativamente democráticos a descentralização governamental a extensiva privatização das atividades governamentais o eclipse do Estado pelas potências transnacionais ou a extensiva desdemocratização poderiam todas elas eliminar da cena política os movimentos sociais tais como os conhecemos hoje De fato com a ocorrência do conjunto de mudanças que as pessoas chamam vagamente de globalização os cidadãos que contam com os movimentos sociais para se fazerem ouvidos precisam se preocupar seriamente com o futuro Referências bibliográficas Ackerman Peter Du Vall Jack 2000 A force more powerful a century of nonviolent conflict New York Palgrave Anderson Eugene N Anderson Pauline R 1967 Political institutions RBCPed3 artefinalindd 152 12042010 090600 153 Movimentos sociais como política and social change in continental Europe in the nineteenth century Berkely University of California Press Ash Roberta 1972 Social movements in 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símbolos de unidade quantidade compromisso e valor Palavraschave movimentos sociais história campanhas repertórios Abstract Social movements are a form of making politics invented in Western Europe and North America in the end of the eighteenth century This text shows how the social movements have incorporated in this period certain fundamental characteristics allowing for distin guishing them from other phenomena In particular the social movements that emerged after 1750 are the synthesis of three elements the accomplishment of campaigns based on collective demands the employment of a specific repertoire of forms of political action and the public representation of symbols of unity quantity commitment and value Key words social movements history campaigns repertoires RBCPed3 artefinalindd 160 12042010 090601