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GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 pp 15 31 2007 GENTRIFICAÇÃO A FRONTEIRA E A REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO Neil Smith1 Tradução Daniel de Mello Sanfelici Mestrando em Geografia Humana pela FFLCH USP Email danielsanfeliciyahoocombr RESUMO Neste ensaio o autor procura explicar o processo da gentrificação situando o fenômeno no quadro mais amplo do desenvolvimento desigual da economia capitalista Coloca em evidência nesse sentido a articulação das diferentes escalas as mudanças sociais recentes e os ciclos econômicos fatores que atuam na determinação da natureza da forma assumida e dos limites do processo Por fim o autor identifica tendências e obstáculos associados ao desdobramento futuro da gentrificação PALAVRASCHAVE gentrificação fronteira desenvolvimento desigual ABSTRACT In this essay the author tries to explain the process of gentrification situating the phenomenon in the broader scope of the uneven development in the space economy of capitalism In this sense he puts in evidence the articulation of different scales the recent social changes and the economic cycles factors which act upon the determination of nature the assumed form and the limits of the process Finally the author identifies tendencies and obstacles associated with the unfolding future of gentrification KEY WORDS gentrification frontier uneven development Em seu ensaio seminal The significance of the frontier in American history escrito em 1893 Frederick Jackson Turner 1958 escreveu O desenvolvimento americano exibiu não apenas um avanço sobre uma linha única mas um retorno a condições primitivas em uma linha de fronteira que avança continuamente e um novo desenvolvimento para aquela área O desenvolvimento social americano tem reiniciado continuamente na fronteira Neste avanço a fronteira é o limite externo deste movimento o ponto de encontro entre a barbárie e a civilização O mundo selvagem tem sido perpassado por linhas de civilização que são cada vez mais numerosas Para Turner a expansão da fronteira e o recuo da natureza virgem e da barbárie foram uma tentativa de criar um espaço habitável a partir de uma natureza hostil e não cooperativa Isto compreendeu não apenas um processo de expansão espacial e a progressiva dominação do mundo físico O desenvolvimento da fronteira sem dúvida realizou isto mas para Turner este desenvolvimento também foi a experiência central que definiu a singularidade da identidade nacional americana Em cada avanço do limite externo realizado por pioneiros robustos não apenas novas terras eram acrescentadas mas novo sangue era inserido nas veias do ideal democrático americano Cada nova onda em direção ao oeste na conquista da natureza devolve para leste ondas de retorno no sentido 16 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N da democratização na natureza humana Durante o século XX a imagem do lugar selvagem e da fronteira foi aplicada menos às planícies montanhas e florestas do Oeste e mais às cidades do país todo mas especialmente àquelas do Leste Como parte da experiência da suburbanização a cidade americana veio a ser vista pela classe média branca como um lugar selvagem a cidade era e ainda é para muitos o habitat da morbidade social e do crime do perigo e da desordem Warner 1972 De fato estes eram medos manifestados durante os anos 50 e 60 por teóricos urbanos que punham em evidência a influência maléfica e a decadência urbana o malestar social na área central a patologia da vida urbana em resumo a cidade infernal Banfield 1968 A cidade se torna um lugar selvagem ou pior uma selva Long 1971 Sternlieb 1971 ver também Castells 1976a Mais ainda do que nos noticiários e na teoria social este tema é recorrente em produções hollywoodianas do gênero selva urbana desde Amor sublime amor e King Kong até Warriors os selvagens da noite O antiurbanismo tem sido uma teoria dominante na cultura americana Em um padrão análogo à experiência original da conquista do Oeste selvagem os últimos 20 anos assistiram a um deslocamento do medo em direção ao romantismo e uma progressão da imagem urbana de lugar selvagem para a idéia de fronteira Cotton Mather e os puritanos da Nova Inglaterra no século XIX temiam a floresta como o mal impenetrável uma perigosa selva mas com a progressiva dominação da floresta e sua transformação através do trabalho humano a imagem mais suave de fronteira de Turner tornase uma sucessora óbvia desta imagem de floresta do mal de Mather Existe um otimismo e uma perspectiva de expansão associada à fronteira a barbárie dá lugar à fronteira quando a conquista está em curso Portanto na cidade americana do século XX a imagem da selva urbana foi substituída por aquela da fronteira urbana Esta transformação pode ser identificada nas origens da renovação urbana ver especialmente Abrams 1965 mas se intensificou nas últimas duas décadas quando a restauração de habitações unifamiliares virou moda na esteira da renovação urbana Na linguagem da gentrificação o apelo à imagem de fronteira é exato pioneiros urbanos proprietários urbanos e caubóis urbanos são os novos heróis folclóricos da fronteira urbana Assim como Turner reconheceu a existência dos nativos mas os incluiu do lado selvagem a imagem contemporânea da fronteira urbana implicitamente trata os atuais moradores da área central como um elemento natural do meio físico a que pertencem Portanto o termo pioneiro urbano é tão arrogante quanto a noção original de pioneiro visto que ele transmite a idéia de uma cidade que ainda não é socialmente habitada assim como os americanos nativos a classe trabalhadora urbana de hoje é vista como menos do que social como uma simples parte do meio físico Turner foi explícito a esse respeito quando definiu a fronteira como o ponto de encontro entre a barbárie e a civilização e embora o vocabulário contemporâneo da fronteira aplicado à gentrificação seja raramente tão explícito ele trata a população das áreas centrais da mesma maneira Stratton 1977 Os paralelos vão mais longe Para Turner o avanço geográfico da linha de fronteira em direção ao oeste é associado à construção do espírito nacional Uma esperança espiritual expressase também no discurso entusiástico que apresenta a gentrificação como a ponta delança de um renascimento urbano americano no cenário mais extremo espera se que os novos pioneiros façam pelo espírito nacional o mesmo que os antigos fizeram conduzirnos a um novo mundo no qual os problemas do mundo velho são deixados para trás Nas palavras de uma publicação do governo federal o apelo da gentrificação à história envolve a necessidade psicológica de experimentar novamente os êxitos do passado em virtude das decepções dos anos recentes a guerra do Vietnam o caso Watergate a crise de energia a inflação as altas taxas de juros Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 17 etc Advisory Council on Historic Preservation 19809 Ninguém até o momento propôs que James Rouse o investidor americano responsável por muitos visíveis shoppings centros comerciais mercados e galerias para turistas fosse visto como o John Wayne 2 da gentrificação mas a proposta estaria em harmonia com muito da atual imagem retórica da gentrificação Por fim e esta é a conclusão importante a imagem de fronteira serve para racionalizar e legitimar um processo de conquista tanto no caso do Oeste americano nos séculos XVIII e XIX quanto no caso das áreas centrais das cidades do século XX A imagem se apóia em muitos mitos mas também tem uma base parcial na realidade Parte da mitologia já foi sugerida mas antes de prosseguir para examinar a base realista da imagem de fronteira gostaria de discutir um aspecto da mitologia da fronteira ainda não considerado o nacionalismo O processo de gentrificação com o qual estamos preocupados aqui é essencialmente internacional Ele está ocorrendo na América do Norte e em grande parte da Europa ocidental assim como na Austrália e na Nova Zelândia ou seja nas cidades da maior parte do mundo capitalista ocidental avançado Apesar disto em nenhum lugar o processo é tão pouco compreendido quanto nos Estados Unidos onde o nacionalismo americano presente na ideologia de fronteira incitou um entendimento provinciano da gentrificação A experiência original de fronteira anterior ao século XX não foi restrita aos Estados Unidos mas sim exportada para o mundo todo da mesma forma embora não esteja em nenhum lugar tão enraizada como está nos Estados Unidos a ideologia de fronteira também surge em outros locais associada à gentrificação A influência internacional da experiência americana anterior de fronteira é repetida no caso do panorama urbano do século XX a imagem de gentrificação é ao mesmo tempo cosmopolita e paroquial geral e local É geral em imagem mas geralmente diferente nos detalhes Por estas razões a crítica da imagem de fronteira não nos obriga a repetir o nacionalismo de Turner e não deve ser vista como uma base nacionalista para a discussão da gentrificação A experiência australiana da fronteira por exemplo certamente foi diferente da americana mas também foi responsável juntamente com a importação da cultura americana por produzir uma forte ideologia da fronteira E a própria fronteira americana era tão intensamente real para imigrantes potenciais da Escandinávia ou Irlanda quanto o era para imigrantes franceses ou britânicos que viviam em Baltimore ou Boston Entretanto como em toda ideologia há um embasamento real ainda que parcial e distorcido para o tratamento da gentrificação como uma nova fronteira urbana Nesta idéia de fronteira vêse uma combinação evocativa das dimensões econômica e espacial do desenvolvimento A potência da imagem de fronteira depende da sutileza presente nesta combinação do econômico com o espacial No século XIX a expansão da fronteira geográfica nos EUA e em outros lugares foi também uma expansão econômica do capital Contudo o individualismo social fixado e incorporado à idéia de fronteira é em um aspecto importante um mito a linha de fronteira de Turner foi expandida em direção oeste menos por pioneiros e proprietários individuais do que por bancos estradas de ferro o Estado e outros especuladores e esses por sua vez venderam suas terras com lucro para empresas e famílias ver por exemplo Swierenga 1968 Nesse período a expansão econômica foi realizada em parte por meio da expansão geográfica absoluta ou seja a expansão da economia significou a expansão da arena geográfica na qual a economia operava Hoje o vínculo entre o desenvolvimento econômico e geográfico persiste conferindo à imagem de fronteira sua atualidade mas a forma deste vínculo é bem diferente No que diz respeito à base espacial a expansão econômica ocorre hoje não por meio da expansão geográfica absoluta mas pela diferenciação interna do espaço geográfico N Smith 1982 A produção atual do espaço ou do 18 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N desenvolvimento geográfico é portanto um processo acentuadamente desigual A gentrificação a renovação urbana e o mais amplo e complexo processo de reestruturação urbana são todos parte da diferenciação do espaço geográfico na escala urbana e embora estes processos tenham sua origem em um período anterior à atual crise econômica mundial sua função hoje é reservar uma pequena parte do substrato geográfico para um futuro período de expansão Smith 1984 E assim como no caso da fronteira original a mitologia afirma ser a gentrificação um processo liderado por pioneiros e proprietários individuais cujo suor ousadia e visão estão preparando o caminho para aqueles entre nós que são mais temerosos Mas mesmo que ignoremos a renovação urbana e o redesenvolvimento comercial administrativo e recreacional que vem ocorrendo e concentremosnos apenas na reabilitação residencial é patente o fato de que onde quer que os pioneiros urbanos se aventurem os bancos as incorporadoras o Estado e outros atores econômicos coletivos geralmente chegam antes Neste sentido parece ser mais apropriado ver a James Rouse Company não como o John Wayne mas como a Wells Fargo3 da gentrificação Na mídia a gentrificação tem sido apresentada como o maior símbolo do amplo processo de renovação urbana que vem ocorrendo Sua importância simbólica ultrapassa em muito sua importância real é uma pequena parte embora muito visível de um processo muito mais amplo O verdadeiro processo de gentrificação prestase a tal abuso cultural da mesma forma que ocorreu com a fronteira original Quaisquer que sejam as reais forças econômicas sociais e políticas que pavimentam o caminho para a gentrificação e quaisquer que sejam os bancos e imobiliárias governos e empreiteiros que estão por trás do processo o fato é que a gentrificação aparece à primeira vista e especialmente nos EUA como um maravilhoso testemunho dos valores do individualismo da família da oportunidade econômica e da dignidade do trabalho o ganho pelo suor Aparentemente ao menos a gentrificação pode ser tocada de forma a executar alguns dos acordes mais ressonantes de nosso piano ideológico Já em 1961 Jean Gottmann não apenas percebeu a existência de configurações urbanas em transformação mas também falou em uma linguagem receptiva à ideologia emergente quando afirmou que a fronteira da economia americana é nos dias de hoje urbana e suburbana em vez de uma fronteira periférica às áreas civilizadas Gottmann 1961 78 Com duas importantes condições que se tornaram mais visíveis nas últimas duas décadas este insight é correto Em primeiro lugar a fronteira urbana é antes de mais nada uma fronteira no sentido econômico As transformações políticas sociais e culturais nas áreas centrais são amiúde intensas e são certamente importantes no que diz respeito à experiência imediata da vida cotidiana mas elas estão associadas ao desenvolvimento de uma fronteira econômica Em segundo lugar a fronteira urbana é hoje apenas uma dentre várias fronteiras existentes visto que a diferenciação interna do espaço geográfico ocorre em diferentes escalas No contexto da atual crise econômica global é evidente que tanto o capital internacional quanto aquele de origem americana se defrontam com uma fronteira global que abrange a assim chamada fronteira urbana Este vínculo entre diferentes escalas e a importância do desenvolvimento urbano para a recuperação nacional e internacional ficaram claramente evidentes no linguajar entusiástico usado por apoiadores das Zonas Empresariais Enterprise zone urbanas uma idéia surgida nas administrações Reagan e Thatcher Para citar apenas um apologista Stuart Butler um economista britânico que trabalha para um grupo americano de direita a Heritage Foundation4 Podese sustentar que pelo menos parte do problema com o qual se defrontam muitas áreas urbanas hoje reside no fracasso em aplicar o mecanismo explicado por Turner o contínuo desenvolvimento e renovação locais de idéias Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 19 para a fronteira das áreas urbanas centrais As cidades estão enfrentando mudanças fundamentais e no entanto as medidas utilizadas para lidar com estas mudanças são ordenadas na sua maioria por governos distantes Nós falhamos em avaliar que podem existir oportunidades nas próprias cidades e nós escrupulosamente evitamos conceder às forças locais a chance de aproveitálas Os proponentes da Zona Empresarial visam proporcionar um ambiente onde o processo de fronteira possa ser colocado em prática na própria cidade Butler 1981 3 A observação circunspecta de Gottmann e outros abriu espaço vinte anos mais tarde para a adoção escancarada da fronteira urbana como o núcleo de um programa político e econômico de reestruturação urbana de acordo com os interesses do capital A linha de fronteira hoje possui uma definição essencialmente econômica como a fronteira da lucratividade mas adquire uma expressão geográfica bastante acentuada em diferentes escalas espaciais Isto é basicamente o que a fronteira do século XX sic e a assim chamada fronteira urbana têm em comum Na realidade ambas estão associadas à acumulação e expansão do capital Mas enquanto a fronteira do século XIX representou a realização de uma expansão geográfica absoluta como a principal expressão espacial da acumulação de capital a gentrificação e a renovação urbana representam o exemplo mais desenvolvido da rediferenciação do espaço geográfico com vistas ao mesmo resultado É possível que para compreender o presente o que seja necessário hoje é a substituição de uma falsa história por uma geografia verdadeira A reestruturação do espaço urbano É importante compreender a dimensão atual da gentrificação de modo a entender a natureza e a importância real do processo de reestruturação Se por gentrificação entendermos estritamente a renovação residencial em bairros da classe trabalhadora então nos Estados Unidos onde este processo é provavelmente mais intenso ela aparece claramente no nível dos distritos censitários mas não ainda em estatísticas metropolitanas Chall 1984 Schaffer e Smith 1984 Para um certo número de cidades nível de renda aluguéis e outros indicadores do censo de 1980 oferecem evidências claras de gentrificação nas áreas centrais Entretanto o processo ainda não se tornou suficientemente importante a ponto de reverter ou ao menos obstar de forma considerável as tendências atuais de suburbanização residencial Embora seja um padrão empírico interessante de forma isolada este processo dificilmente significa uma transformação de maior alcance nos padrões de desenvolvimento urbano Se contudo afastarmos a ideologia estreita promovida pela gentrificação e vermos o processo a partir de algumas mudanças urbanas mais amplas embora menos visíveis se em outras palavras examinarmos o impulso do processo e não dados empíricos estáticos surge então um padrão coerente de uma reestruturação urbana muito mais significativa Antes de examinar as tendências exatas que estão conduzindo a um processo de reestruturação é importante observar que a questão da escala espacial é fundamental em qualquer explicação relevante Podemos afirmar que a reestruturação da economia espacial urbana é um produto do desenvolvimento desigual do capitalismo ou da operação de um rent gap que ela é o resultado de uma economia de serviços em processo de desenvolvimento ou de mudanças nas preferências por estilos de vida que esta reestruturação é resultado da suburbanização do capital ou da desvalorização do capital investido no ambiente construído Obviamente a reestruturação é um resultado em alguma medida de todas estas forças mas afirmar isto acrescenta muito pouco Estes processos ocorrem em escalas espaciais diferentes e embora tentativas anteriores de explicação tenderam a se fixar a uma ou outra destas forças elas podem na verdade não ser 20 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N mutuamente excludentes Autores que tentaram incorporar mais de uma destas forças geralmente se contentaram em listálas como fatores Esta versão da análise de fatores é contudo bastante desprovida de ambição Todo o problema da explicação reside não em identificar fatores mas em compreender a importância relativa e a relação estabelecida entre os assim chamados fatores Em parte tratase de uma questão de escala Mas existe uma segunda questão de escala concernente aos níveis de generalidade Aceitamos aqui que a reestruturação do espaço urbano é geral mas de forma alguma universal Que significa dizer isto Significa em primeiro lugar que a reestruturação do espaço urbano não é estritamente falando um fenômeno novo Todo o processo de crescimento e desenvolvimento urbano consiste em um constante arranjo estruturação e reestruturação do espaço urbano O que é novo hoje é a intensidade em que esta reestruturação do espaço se apresenta como um componente imediato de uma ampla reestruturação social e econômica das economias capitalistas avançadas Determinado ambiente construído expressa uma organização específica da produção e reprodução do consumo e da circulação e conforme esta organização se modifica também se modifica a configuração do ambiente construído A cidade dos pedestres afirmase não é a cidade do automóvel mas de forma ainda mais significativa talvez a cidade do pequeno artesanato não é a metrópole do capital multinacional A reestruturação geográfica da economia espacial é sempre desigual portanto a reestruturação urbana em uma região da economia nacional ou internacional pode não ser acompanhada tanto em qualidade ou quantidade natureza ou intensidade por uma reestruturação em outra região Isto é imediatamente evidente na comparação entre partes desenvolvidas e subdesenvolvidas da economia mundial A estrutura básica da maioria das cidades do Terceiro Mundo e os processos em operação são muito diferentes da realidade na Europa Oceania ou América do Norte Mas igualmente no interior das economias desenvolvidas há fortes disparidades regionais Se Baltimore e Los Angeles estão ambas experimentando rápidas transformações em suas economias espaciais também se pode afirmar que existem tantas diferenças quanto similaridades entre elas Outras cidades como Gary em Indiana podem estar sofrendo um declínio inexorável e mínima reestruturação no lugar disso uma contínua deterioração Em resumo há sobreposição de arranjos regionais e internacionais que complicam as configurações urbanas Embora dêem ênfase às causas gerais e ao pano de fundo da reestruturação urbana contemporânea as explanações oferecidas só poderão ter êxito na medida em que comecem a esclarecer a diversidade das formas urbanas que resultam do processo assim como totais exceções à regra aparente Isto de novo requer não uma análise fatorial uma lista dos fatores mas uma explanação integrada devemos esclarecer não apenas a localização mas também a temporalidade desta profunda transformação urbana Mas talvez a distinção mais básica que surgirá é aquela entre as tendências que são predominantemente responsáveis pela ocorrência da reestruturação urbana e aquelas responsáveis pela forma que o processo assume Os mais importantes processos responsáveis pela origem e pela forma da reestruturação urbana podem talvez ser resumidos nos seguintes itens a a suburbanização e o surgimento de um diferencial de renda rent gap b a desindustrialização das economias capitalistas avançadas e o crescimento do emprego no setor de serviços c a centralização espacial e simultânea descentralização do capital d a queda na taxa de lucro e os movimentos cíclicos do capital e as mudanças demográficas e nos Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 21 padrões de consumo Em conjunto estas transformações e processos podem proporcionar uma primeira aproximação de uma explicação integrada das diferentes facetas da gentrificação e da reestruturação urbana Suburbanização e o surgimento do rent gap A explanação do desenvolvimento da suburbanização é mais complexa do que comumente se supõe e uma alternativa revisionista às explicações tradicionais baseadas no transporte está começando a surgir Walker 1978 1981 O objetivo aqui não é fornecer uma descrição minuciosa da suburbanização mas sintetizar algumas das conclusões mais importantes O processo de suburbanização representa uma simultânea centralização e descentralização do capital e da atividade humana no espaço geográfico Em uma escala nacional a suburbanização é a expansão para além das áreas centrais e este processo deve ser entendido de forma geral como um produto necessário da centralização do capital É o crescimento dos vilarejos em cidades e das cidades em metrópoles Na escala urbana no entanto da perspectiva do centro urbano a suburbanização é um processo de descentralização É produto não do impulso elementar em direção à centralização mas do impulso em direção a uma elevada taxa de lucro A taxa de lucro varia conforme a localização e na escala urbana como tal o indicador econômico que diferencia um local do outro é a renda da terra Muitas outras forças estiveram envolvidas na suburbanização do capital mas a disponibilidade de terras mais baratas na periferia menor renda da terra foi primordial para o processo todo Não havia nenhuma necessidade natural de a expansão da atividade econômica tomar a forma do desenvolvimento suburbano não havia nenhum impedimento técnico que impossibilitasse um movimento do capital moderno de larga escala para o interior rural ou impedindo que este capital redesenvolvesse a cidade industrial que herdou mas em vez disto a expansão do capital conduziu a um processo de suburbanização Isto em parte tem relação com o ímpeto à centralização ver abaixo mas dada a economia da centralização é a estrutura da renda da terra que determinou a expansão da atividade econômica para as áreas suburbanas O movimento do capital que leva ao desenvolvimento de atividades industriais comerciais residenciais e recreacionais nas áreas suburbanas resulta em uma mudança recíproca dos níveis de renda da terra nas áreas centrais e nas áreas suburbanas Enquanto o preço da terra nas áreas suburbanas elevase com a proliferação de novas construções o preço relativo da terra nas áreas centrais cai Cada vez menores quantidades de capital são canalizadas para a manutenção e restauração dos edifícios localizados na área central Isto resulta naquilo que denominamos um diferencial rent gap entre a atual renda da terra capitalizada pelo uso presente deteriorado e a renda da terra potencial que poderia ser capitalizada pelo mais elevado e melhor uso da terra ou ao menos comparativamente mais elevado e melhor uso em virtude da sua localização centralizada Esta suburbanização ocorre paralelamente a mudanças estruturais nas economias avançadas Alguns dos outros processos que examinaremos são mais limitados em abrangência o que é digno de nota no que diz respeito ao rent gap é sua quase onipresença A maior parte das cidades no mundo capitalista avançado experimentou tal fenômeno em maior ou menor intensidade Onde o processo é desobstruído para trilhar seu caminho em nome do livre mercado ele leva a um abandono substancial das propriedades localizadas nas áreas centrais Esta desvalorização do capital investido no ambiente construído afeta as propriedades de todos os gêneros comercial e industrial bem como residencial Diferentes intensidades e formas de envolvimento do Estado conferem ao processo características muito diferentes em diversas economias e o abandono a conclusão lógica 22 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N do processo é mais marcante nos EUA onde o envolvimento do Estado tem sido menos consistente e mais esporádico Em um nível mais básico é o deslocamento do capital para a construção de paisagens suburbanas e o conseqüente surgimento de um rent gap o que cria a oportunidade econômica para a reestruturação das áreas urbanas centrais A desvalorização da área central cria a oportunidade para a revalorização desta parte subdesenvolvida do espaço urbano A realização efetiva do processo e a determinação de sua forma específica incluem os outros itens listados acima Desindustrialização e o crescimento da economia terciária Associado à desvalorização do capital investido nas áreas centrais está o enfraquecimento de certos setores econômicos e usos do solo em comparação com outros Isto é resultado essencialmente de amplas transformações na estrutura econômica As economias capitalistas avançadas a grande exceção sendo o Japão em particular têm experimentado um início de uma desindustrialização ao passo que houve uma paralela ainda que parcial industrialização de certas economias do Terceiro Mundo A partir dos anos 1960 a maioria das economias industriais tiveram redução na proporção de trabalhadores empregados nos setores industriais Blackaby 1978 Harris 1980 1983 Bluestone and Harrison 1982 Mas muitas áreas urbanas começaram a sofrer os efeitos da desindustrialização muito antes das últimas duas décadas Assim o crescimento da indústria em escala nacional desde a II Guerra Mundial foi bastante assimétrico entre as regiões Enquanto em algumas regiões tais como a Midlands Ocidental e o sudoeste da Inglaterra ou como muitos dos estados do sul e sudoeste dos EUA houve um rápido crescimento da indústria moderna outras regiões sofreram um desinvestimento relativo do capital investido na indústria Na escala urbana o processo se mostra ainda mais marcante a maior parte da expansão da capacidade industrial durante o boom do pós guerra não se instalou nas áreas mais centrais das cidades o lugar tradicional da indústria segundo o modelo de Chicago de estrutura urbana mas se localizou em áreas suburbanas e periféricas O resultado disto foi um período de desinvestimento sistemático na produção industrial urbana que data no caso de algumas cidades britânicas mesmo de antes da I Guerra Mundial Lenman 1977 E isto ocorreu apesar de ter havido um aumento na produção industrial global da economia do Reino Unido mesmo depois da II Guerra A conseqüência desta desindustrialização é o crescimento do emprego em outros setores da economia especialmente daquelas ocupações que têm sido definidas imprecisamente como de colarinho branco ou de serviços No interior destas categorias amplas muitos tipos de empregos diferentes estão incluídos desde empregos em escritórios serviços de comunicação e varejo até carreiras profissionais de gestão e de pesquisa No âmbito deste movimento abrangente em direção a um crescimento da força de trabalho no setor de serviços portanto existem tendências muito diversificadas cada qual com expressões espaciais específicas como veremos mais adiante Por si só os processos de desindustrialização e crescimento do emprego nos serviços não explicam de modo algum a reestruturação dos centros urbanos Na verdade esses processos ajudam a explicar em primeiro lugar os tipos de estoques de edifícios e usos do solo envolvidos no desenvolvimento do rent gap e em segundo lugar os novos usos do solo que devem surgir quando houver a oportunidade para o redesenvolvimento Portanto embora a ênfase da mídia tem sido na gentrificação recente e na renovação de habitações da classe trabalhadora também ocorreu considerável transformação de uso em antigas áreas industriais Isto não começou com a conversão de antigos armazéns industriais em finos lofts muito mais significativo foi a anterior atividade de renovação urbana que embora Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 23 certamente se tratasse de um processo de remoção de cortiços também foi a remoção de estruturas industriais obsoletas isto significando também desvalorizadas tais como fábricas depósitos e ancoradouros locais onde muitos dos moradores dos cortiços haviam um dia trabalhado Embora a desvalorização do capital e o surgimento do rent gap expliquem a possibilidade do reinvestimento na área central ao redor da qual áreas gentrificadas estão se desenvolvendo e embora as transformações econômicas e na estrutura de empregos indiquem os tipos de atividade que provavelmente se desenvolverão a partir deste reinvestimento ainda persiste a questão de saber por que razão o crescente número de empregos no setor de serviços está pelo menos em parte sendo concentrado nas áreas centrais A existência do rent gap é apenas uma explicação parcial existe afinal terras baratas disponíveis em outros locais por toda a periferia rural Centralização espacial e descentralização do capital Com o surgimento do modo capitalista de produção aquilo que até então havia sido contingente desaparece é desconsiderado ou então é convertido em uma necessidade A acumulação da riqueza havia sido uma contingência no sentido de que por mais que fosse um objetivo dos indivíduos não era nas sociedades précapitalistas uma regra social geral da qual a sobrevivência da sociedade dependia Com o advento do capitalismo a acumulação de capital se converte em necessidade social exatamente desta maneira Marx 1967 edn vol 1 cap 25 demonstrou que uma certa concentração social e centralização do capital eram ao mesmo tempo um pré requisito e um produto da acumulação de capital Em resumo isto significa dizer que proporções progressivamente maiores de capital são controladas por um número cada vez menor de capitalistas A centralização social é realizada apenas através da produção de ordenamentos geográficos específicos mas os arranjos espaciais resultantes são complexos Basicamente a centralização do capital conduz a uma dialética da centralização e descentralização espacial N Smith 1982 Se a expansão do capital no século XIX é a manifestação mais clara do último processo da descentralização o desenvolvimento das metrópoles é o produto mais visível da centralização espacial A centralização do capital ocorre em algumas escalas contudo diferentes da escala urbana Ela ocorre na escala do chão da fábrica e na escala dos capitais nacionais em uma economia global e em cada escala existem mecanismos bastante específicos que engendram o processo Na escala urbana as teorias tradicionais deram ênfase às economias de aglomeração A expansão do capital compreende uma progressiva divisão do trabalho também em diferentes escalas e portanto um número cada vez maior de atividades separadas devem ser combinadas a fim de prover as mercadorias e serviços necessários Quanto menor for a distância entre estas diferentes atividades menor será o custo e o tempo da produção e do transporte Inserida neste contexto da acumulação de capital esta explicação é essencialmente correta no que concerne à centralização original do capital em aglomerações urbanas Em um interessante insight Walker 1981 388 observa que à medida que o capitalismo se desenvolveu as economias de aglomeração diminuíram elas são uma força historicamente contingente Mas elas são em parte substituídas por economias organizacionais de escala com a concentração do capital de modo que gigantescos nós de atividade ainda estruturam a paisagem urbana A idéia central aqui é que tais forças como as economias de aglomeração são historicamente contingentes Vista da perspectiva do centro da cidade a suburbanização da indústria representa um 24 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N claro enfraquecimento das economias de aglomeração e ela foi facilitada e não causada por avanços nos meios de transporte Vista da perspectiva da economia nacional contudo a suburbanização da indústria representou uma aglomeração de gigantescas e não tão gigantescas instalações industriais ao redor dos centros urbanos consolidados e foi portanto uma reafirmação nesta escala do funcionamento das economias de aglomeração ainda que enfraquecidas O que Walker percebe entretanto é real as economias de aglomeração operam de forma diferente hoje com claras conseqüências espaciais A mais óbvia destas conseqüências diz respeito às rápidas transformações nas configurações locacionais associadas à expansão do emprego no setor de serviços O problema no que tange ao emprego nos serviços é que uma forte tendência para a centralização se combina com uma igualmente forte ou até mais forte tendência à descentralização o movimento dos escritórios e outros empregos de serviços para os subúrbios Como podem estas tendências aparentemente opostas coexistir Como podem a suburbanização e a aglomeração ser coexistentes A explicação para este aparente paradoxo reside na consideração de duas questões interrelacionadas A primeira é a relação entre espaço e tempo visàvis às diferentes formas de capital e a segunda diz respeito à divisão do trabalho no interior dos assim chamados setores de serviços É um clichê hoje sugerir que a revolução nas tecnologias de comunicação levará a uma descentralização espacial dos escritórios Esta aniquilação do espaço pelo tempo como dizia Marx de fato levou a uma enorme suburbanização dos empregos nos serviços seguindo a suburbanização industrial Com o uso do computador nos escritórios este movimento continua Mas em consonância com a ideologia da sociedade sem classes que embasou a noção de colarinho branco este movimento é geralmente tratado como a suburbanização de todo e qualquer tipo de trabalho em escritórios desde altos cargos executivos até digitadores Contudo quanto mais o movimento de suburbanização se desenvolve mais fica claro que esta noção é incorreta Deste modo a simultânea centralização e descentralização das atividades de escritórios é a expressão espacial da divisão do trabalho no interior da chamada economia de serviços Geralmente as atividades de escritórios que são descentralizadas são os sistemas e operações mais rotineiras associadas à administração organização e gestão das atividades governamentais e corporativas Estas representam os back offices as fábricas de papel ou mais precisamente as fábricas de comunicação Muito menos comum é a suburbanização de centros decisórios como sedes de empresas e de órgãos governamentais O boom dos escritórios experimentado por muitas cidades no mundo capitalista avançado nos últimos 15 anos parece ter sido deste tipo tratase da contínua centralização espacial dos centros decisórios mais importantes assim como de uma miríade de serviços auxiliares a estas atividades assessoria jurídica serviços de publicidade hotéis e centros de conferências editoras escritórios de arquitetura bancos e serviços financeiros e muitos outros serviços relacionados aos negócios Há exceções a esta regra e uma das mais óbvias é Stamford em Connecticut que atraiu muitas novas sedes de corporações Contudo Stamford não é de forma alguma um caso comum É ao contrário singular justamente por ter atraído a descentralização de atividades administrativas e profissionais auxiliares fundamentais às sedes corporativas O resultado é menos um processo de descentralização do que uma recentralização de funções executivas em Stamford Se isto fortalece a tendência a uma metrópole multi modal Muller 1976 resta ainda a ser observado A questão que fica então é saber por que razão com a descentralização de fábricas industriais e de comunicação continua ocorrendo a centralização de núcleos decisórios Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 25 como sedes de empresas As explicações tradicionais punham em evidência a importância do contato face a face No entanto embora a explicação baseada na necessidade do contato visual comece a identificar as questões relevantes ainda é muito genérica Esta explicação tende a evocar um certo sentimentalismo em relação ao contato visual mas podemos ter certeza de que nenhum sentimentalismo pode explicar a concentração de arranhacéus nos distritos centrais de negócios CBDs contemporâneos Por trás deste sentimentalismo encontrase uma justificativa mais utilitária para o contato pessoal e isso envolve as diferentes formas de administração do tempo nos diferentes setores da produção e circulação total do capital Resumidamente na fábrica industrial e nas fábricas de comunicação o sistema em si seja o maquinário seja a agenda administrativa determina os ritmos diários semanais e mensais do processo de trabalho Mudanças significativas nesta estabilidade de longo prazo advêm ou de decisões externas ou de rupturas internas periódicas como greves falhas mecânicas ou falhas de sistema A regularidade temporal destes sistemas de produção e administração além do fato de dependerem de qualificações prontamente disponíveis na força de trabalho e de facilidades de transporte e comunicação com atividades auxiliares torna a suburbanização uma decisão racional Estas atividades têm pouco a ganhar ao se instalarem nas áreas centrais e com os elevados aluguéis teriam muito a perder Mas o ritmo temporal da administração superior da economia e de suas diversas unidades corporativas não é estável e regular desta maneira para o desgosto dos administradores e executivos Alterações nas taxas de juros e nos preços das ações acordos financeiros negociações trabalhistas e socorros financeiros bailouts transações internacionais no mercado de câmbio e no mercado de ouro contratos comerciais o comportamento imprevisível dos governos e dos competidores todas estas atividades podem exigir uma rápida resposta por parte dos gestores de empresas e isso por sua vez exige um contato próximo e imediato com uma série de sistemas de apoio profissionais e administrativos assim como com empresas concorrentes Nesse setor e de formas múltiplas o clichê tempo é dinheiro realizase de forma intensa sobre a relação tempo e juros ver Harvey 1982258 Menos comumente enunciada é a conseqüência de que o espaço também é dinheiro a proximidade espacial reduz os tempos de decisão quando o sistema de decisão é suficientemente irregular a ponto de não poder ser reduzido à lógica de rotina do computador O regime temporal anárquico da tomada de decisões financeiras na sociedade capitalista requer uma certa centralização espacial Não se trata apenas do fato de que os executivos se sintam mais seguros quando enlatados como sardinhas em arranhacéus repletos de parceiros e concorrentes Na verdade eles estão mais seguros na medida em que a rápida tomada de decisões requer contato direto informação e negociação Quanto mais a economia mostrase propensa a crises e portanto à administração de crises de curto prazo mais se pode esperar das sedes de empresas uma busca por segurança espacial Juntamente com a expansão per se do setor e com o movimento cíclico do capital investido no ambiente construído esta resposta espacial à irregularidade temporal e financeira ajuda a explicar o recente boom na construção de escritórios nas áreas centrais Colarinho branco é um conceito visivelmente caótico Sayer 1982 com dois componentes distintos cada qual possuindo uma expressão espacial Enquanto que na cidade précapitalista foram as necessidades da troca mercantil que ditaram o movimento de centralização espacial e na cidade industrial capitalista foi a aglomeração do capital produtivo na cidade capitalista avançada são os ditames financeiros e administrativos que perpetuam a tendência à centralização Isto ajuda a explicar por que certas atividades chamadas de serviços são centralizadas e outras são suburbanizadas e por que a reestruturação das áreas centrais assume esta forma corporativaprofissional 26 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N A queda da taxa de lucro e o movimento cíclico do capital Tendo em vista então a natureza espacial do processo como podemos explicar o momento específico desta reestruturação urbana Esta questão depende do momento histórico do rent gap e do retorno espacial do capital para a área central Longe de serem acontecimentos fortuitos esses eventos são parte integrante do ritmo mais amplo da acumulação de capital Em um nível mais abstrato o rent gap resulta da dialética dos padrões espaciais e temporais do investimento de capital mais concretamente é o produto espacial dos processos complementares de valorização e desvalorização A acumulação de capital não ocorre de forma linear tratase de um processo cíclico formado por períodos de expansão e períodos de crise O rent gap se desenvolve durante um longo período de expansão econômica mas uma expansão que se dá em outro lugar Portanto a valorização do capital na construção dos subúrbios do pósguerra ocorreu paralelamente à desvalorização do capital investido nas áreas centrais Mas a acumulação de capital durante este período de crescimento leva a uma queda na taxa de lucro que começa nos setores industriais e que conduz em última instância às crises Marx 1967 edn vol III Como um meio de afastar a crise ao menos temporariamente o capital é retirado da esfera industrial e como mostrou Harvey 1978 1982 há uma tendência ao capital ser deslocado para a produção do ambiente construído onde as taxas de lucro permanecem mais altas e onde é possível através da especulação a apropriação de renda da terra apesar de nada ser produzido Duas coisas se unem então no final de um período de expansão no qual o rent gap surge e cria a oportunidade para o reinvestimento há uma tendência simultânea do capital em buscar uma saída no ambiente construído A remoção de cortiços e os projetos de renovação urbana em muitas cidades ocidentais no período posterior à II Guerra Mundial foram iniciados e conduzidos pelo Estado e embora não sem relação com o surgim ento do rent gap eles não podem ser explicados de forma adequada apenas nestes termos econômicos Contudo a função da renovação urbana foi preparar o caminho para a futura reestruturação que surgiria nos anos 60 e se tornaria mais visível nos anos 70 Em termos econômicos o Estado absorveu os riscos iniciais associados à gentrificação como no caso da Society Hill na Philadelphia que era um projeto de renovação urbana propriamente dito O Estado também revelou ao capital privado a possibilidade de reestruturação em larga escala das áreas centrais pavimentando o caminho para investimentos futuros de capital O momento desta reestruturação espacial portanto está intimamente relacionado à reestruturação econômica que ocorre durante as crises econômicas como aquelas que a economia mundial experimentou a partir do início dos anos 1970 Uma economia reestruturada compreende um ambiente construído reestruturado Mas não há transição gradual para uma economia reestruturada a última crise econômica encontrou solução somente após uma destruição gigantesca de capital na II Guerra Mundial representando uma desvalorização cataclísmica de capital e uma destruição que antecede uma reestruturação do espaço urbano Hoje 50 anos mais tarde nos defrontamos novamente com a mesma ameaça Mudanças demográficas e padrões de consumo O envelhecimento da geração baby boom o elevado número de mulheres construindo carreira a proliferação de famílias com uma ou duas pessoas e a popularidade do estilo de vida solteiro urbano são comumente considerados como os fatores que estão por trás da gentrificação Em harmonia com a ideologia de fronteira o processo é visto aqui como o resultado de escolhas individuais Mas na verdade esta explicação não é suficiente Estamos assistindo a uma reestruturação Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 27 urbana muito mais ampla em abrangência do que a reabilitação residencial e é difícil ver como estas explicações poderiam ser na melhor das hipóteses mais do que parciais Enquanto estas explicações podem ser apenas concebíveis no caso da St Katherines Dock em Londres elas são irrelevantes para compreender o boom de escritórios e a renovação das docas No entanto tudo isto está associado As mudanças nos padrões demográficos e nas preferências de estilo de vida não são completamente irrelevantes mas é crucial que entendamos o que estas transformações podem e o que elas não podem explicar A importância das questões demográficas e de estilo de vida parece ser fundamental na determinação da forma superficial assumida pela reestruturação em vez de explicar a ocorrência da transformação urbana Em vista do movimento do capital em direção às áreas centrais e a ênfase nas funções executivas profissionais administrativas e de gestão assim como outras atividades auxiliares as mudanças demográficas e de estilo de vida podem auxiliar a explicar por que ocorre a proliferação de cafés chiques em vez de Harry Johnsons de butiques de roupas de grife e gourmet shops requintados em vez de minimercados de placas da American Express em vez de placas aceitamos apenas dinheiro Como sugere Jager 1986 a arquitetura das habitações gentrificadas é também um produto de uma cultura de classe específica e de um conjunto de estilos de vida Portanto alguns dos projetos de gentrificação mais recentes e menos elitizados especialmente aqueles envolvendo novas construções estão começando a reproduzir as piores habitações suburbanas do tipo caixa de fósforos levando a uma suburbanização social e estética da cidade Sharon Zukin 1982a 1982b oferece uma ilustração excelente desta questão em sua análise do desenvolvimento da habitação em lofts no SoHo e em toda a área da Lower Manhattan Sob o Lower Manhattan Plan inspirado em Rockfeller e idealizado nos anos 1960 os antigos armazéns ancoradouros e moradias de trabalhadores nesta área seriam demolidos em benefício dos usuais modos de construção centralizados verticalizados financeirizados e de alta tecnologia A luta exitosa contra o redesenvolvimento foi travada em nome da preservação histórica e das artes e em 1971 em decisão extraordinária o SoHo foi considerado no zoneamento como distrito de artistas Entretanto como aponta Zukin isso não representa uma vitória da cultura muito menos da preferência do consumidor sobre o capital Na verdade ela representou uma estratégia alternativa envolvendo diferentes frações de capital para a recapitalização da Lower Manhattan revalorização pela preservação em vez de por meio de nova construção se tornou um compromisso histórico nas áreas centrais Na Lower Manhattan a luta para legalizar a moradia em lofts para artistas apenas antecipou em alguma medida uma resposta conjuntural à crise nos modos tradicionais do mercado imobiliário Na verdade a ampliação do mercado de lofts depois de 1973 proveu uma base para a acumulação de capital entre novos ainda que pequenos investidores Desde 1973 obviamente grandes incorporadoras passaram a se envolver nesta área Enquanto que antes cooperativas de lofts eram espontaneamente criadas por grupos de residentes interessados hoje as incorporadoras renovam e adaptam um edifício e em seguida colocamno no mercado já acabado como cooperativa Coop 8 E evidentemente cada vez menos moradores do SoHo são artistas apesar do zoneamento que ainda persiste A questão aqui é que mesmo o SoHo um dos símbolos mais vívidos da expressão artística na paisagem da gentrificação deve a sua existência às mais básicas forças econômicas ver também Stevens 1982 A concentração de artistas no SoHo hoje é mais uma fachada do que a causa da popularidade 28 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N da área Isto fica evidente na exploração do simbolismo artístico da área na publicidade imobiliária agressiva Direção e limites da reestruturação urbana Se a reestruturação que se iniciou prosseguir em sua atual direção então podemos esperar mudanças significativas na estrutura urbana Por mais preciso que o modelo de Chicago da estrutura urbana tenha sido existe um consenso de que ele não é mais pertinente O desenvolvimento urbano superou o modelo A conclusão lógica da atual reestruturação que permanece hoje incipiente seria um centro urbano dominado por funções executivas financeiras e administrativas de alto nível habitações para a classe média e classe média alta e um complexo de hotéis restaurantes cinemas lojas e espaços de cultura oferecendo lazer a esta população Em resumo poderíamos esperar a criação de uma área de recreação burguesa a Manhattanização social da área central para combinar com a Manhattanização arquitetônica que prenunciou a estrutura de empregos em transformação A provável conseqüência disto é um deslocamento substancial da classe trabalhadora para os subúrbios mais antigos e para a periferia urbana Isto não pode ser entendido como seguidamente o é como um indício de que o processo de suburbanização está se encaminhando para um fim Ao contrário a agitação durante os anos 1970 em torno do assim chamado crescimento não metropolitano nos EUA representa menos uma reversão dos padrões de urbanização estabelecidos Berry 1976 Beale 1977 do que um prosseguimento da expansão metropolitana muito para além dos limites estatísticos estabelecidos AbuLughod 1982 Não há muito sentido em supor que a suburbanização não será mais ampla do que nunca caso venha a ocorrer um outro período de forte expansão econômica Também não deve ser vista esta configuração como uma exclusão absoluta da classe trabalhadora das áreas centrais Assim como firmes enclaves de habitações de classe média alta subsistiram nas áreas centrais amplamente habitadas pela classe trabalhadoras durante os anos 1960 e 1970 enclaves de comunidades da classe trabalhadora também permanecerão De fato estas comunidades terão sua função na medida em que os equipamentos e os serviços da área de recreação burguesa requerem uma população trabalhadora A comparação e o contraste com a África do Sul é instrutiva a este respeito Western 1981 A alternativa oposta de que as áreas centrais prosseguiriam em seu declínio absoluto em direção a um abandono amplo pode ser viável apenas nos Estados Unidos E ela é de fato uma possibilidade para algumas cidades nos EUA Na medida em que a reestruturação do centro depende de uma contínua concentração e recentralização de funções econômicas de controle podese esperar que isto ocorra com intensidade em centros nacionais e regionais Mas a situação é menos evidente no caso de cidades industriais menores como Gary em Indiana onde as funções administrativas e financeiras associadas às indústrias da cidade estão localizadas em outro lugar Detroit fornece um exemplo ainda mais significativo porque a suburbanização dos escritórios atingiu não apenas os back offices mas muitas das sedes corporativas e os consideráveis esforços de recentralização através do Renaissance Center inspirado em Ford ainda não atraíram quantia substancial de capital para o centro de Detroit Não há também muito sentido em duvidar de que a rápida desvalorização do capital investido no ambiente construído das áreas centrais prosseguirá apesar do início de um reinvestimento Na atual crise econômica com altas taxas de juros não são apenas as novas construções que são adversamente afetadas As mesmas forças provocam uma redução do capital investido na manutenção e reparo dos edifícios existentes e a conseqüente desvalorização levará a uma expansão do vale Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 29 do valor da terra8 dos edifícios fisicamente deteriorados a extensão espacial na qual o rent gap opera é então estendida Portanto a reestruturação do espaço urbano conduz a uma simultânea assim como subseqüente decadência e redesenvolvimento desvalorização e revalorização Em conclusão salientamos que a reestruturação do espaço urbano é parte de uma evolução mais ampla da economia capitalista contemporânea Assim sendo no atual contexto de uma crise econômica que se aprofunda nossas conclusões e especulações devem ser provisórias É bem possível que a atual crise econômica resultará em forças políticas e econômicas instituições e modos de controle muito diferentes e isto poderia muito bem resultar em padrões de crescimento urbano muito diversificados Em particular pus ênfase aqui no pano de fundo econômico da reestruturação em vez de tentar examinar as coalizões políticas para o crescimento Mollenkopt 1978 1983 que executam planos de redesenvolvimento específicos Isto foi em parte uma escolha de escala não importa o quão geral seja o processo as experiências locais diferem enormemente Além disso a ênfase na lógica da acumulação e no seu papel na reestruturação urbana de forma alguma pressupõe uma adesão filosófica a uma abordagem fundada na lógica do capital ao invés de uma abordagem que coloque em evidência a luta de classes Como uma dicotomia filosófica esta questão é falsa mas como uma dialética histórica ela é tudo A verdade lamentável é que os níveis comparativamente baixos das lutas da classe trabalhadora desde a Guerra Fria com exceção daquelas durante o fim dos anos 1960 e em grande parte da Europa no início dos anos 1970 significaram que o capital teve em boa medida mãos livres na estruturação e reestruturação do espaço urbano Isto não invalida o papel da luta de classes significa que com poucas exceções se tratou de uma luta tão desequilibrada que a classe capitalista foi em geral capaz de levar a batalha a cabo por meio de suas estratégias econômicas de investimento de capital O investimento de capital é a primeira arma de batalha no arsenal da classe dominante Uma exceção importante à hegemonia completa do capital diz respeito ao papel dos governos socialdemocratas na Europa em fornecer habitação pública às lutas contra a privatização da habitação e às revoltas em várias cidades européias em torno da questão da habitação no início dos anos 80 Estas questões não são abordadas aqui e isto é uma omissão importante O que esta experiência sugere contudo é uma progressão no nosso entendimento da fronteira urbana A selva urbana produzida pelo movimento cíclico do capital e sua desvalorização se tornaram do ponto de vista do capital novas fronteiras urbanas da lucratividade A gentrificação é uma fronteira na qual fortunas são criadas Do ponto de vista dos moradores da classe trabalhadora e de suas comunidades contudo a fronteira urbana é mais diretamente política do que econômica Ameaçados de serem desalojados pelo avanço da fronteira da lucratividade a questão para eles é lutar pelo estabelecimento de uma fronteira política por trás da qual moradores da classe trabalhadora possam retomar o controle de seus lares existem dois lados em qualquer fronteira A tarefa mais ampla é de organizar o avanço da fronteira política e como em qualquer fronteira seja a de Turner ou a urbana há períodos de calmaria e de agitação neste processo Agradecimentos Peter Marcuse Damaris Rose e Bob Beauregard fizeram valiosos comentários sobre os primeiros esboços deste trabalho Também gostaria de agradecer aos membros de um seminário na Harvard University que ofereceram comentários e membros dos departamentos de Geografia em Rutgers e Ohio State que auxiliaram a aprimorar os argumentos 30 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N 1 Fonte Smith N Gentrification the Frontier and the Restructuring of Urban Space In Readings in Urban Theory edited by Susan S Fainstein and Scott Campbell Cambridge Massachusetts Blackwell Publishers 1996 2 John Wayne 19071979 foi ator de cinema e fez fama em filmes de faroeste NT 3 A Wells Fargo é uma instituição financeira estadunidense que esteve envolvida com a corrida pelo ouro na Califórnia durante o século XIX naquela época atuava além do ramo financeiro propriamente dito no ramo de transporte principalmente administrando linhas férreas A instituição conserva o mesmo nome e um poder imenso até hoje depois de múltiplas aquisições e fusões NT 4Aqui é provável que o autor queira se referir à fronteira do século XIX como aparece ao longo do texto e não do século XX NT 5 O autor utiliza a expressão whitecollar economy literalmente economia de colarinho branco Por se tratar de uma expressão de uso incomum no português preferimos traduzir por economia terciária NT 6 Original whitecollar employment NT 7Expressão já utilizada no vocabulário dos negócios para se referir às funções mais rotineiras de administração na divisão do trabalho no interior das empresas NT 8Coop em inglês designa um apartamento adquirido em regime de cooperativa em muitos casos em edifícios de padrão elevado o morador se torna membro da cooperativa proprietária do edifício NT 9 No original land value valley NT Notas Bibliografia Abrams C 1965 The city is the Frontier New York Harper Row AbuLughod J 1982 The myth of Demetropolitanization Paper presented at the Symposimum on Social Change University of Cincinnati Advisory Council on Historic Preservation 1980 Report to the President and the Congress of the United States Washington DC Government Printing Office Anderson J 1983 Geography as ideology and the politics of crisis the Enterprise Zones experiment In Redundant Spaces in Cities and Regions J Anderson and R Hudson eds 31350 London Academic Press Banfield E C 1968 The unheavenly city The nature and future of our urban crisis Boston Little and Brown Beale C 1977 The recent shift of the United Sates population to nonmetropolitan areas 197075 International Regional Science Review 2 2 11322 Berry B J L 1976 The counterurbanization process urban America since 1970 In Urbanization and Counterurbanization 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International Journal of Urban and Regional Research 2 1 10031 Harvey D 1982 The Limits to Capital Oxford Basil Blackwell Jager M 1986 Class definition and the esthetics of gentrification Victoriana in Melbourne In Gentrification of the City N Smith and P Williams eds 7891 Boston London and Sydney Allen Unwin Lenman B 1977 An Economic History of Modern Scotland 16601976 Hamden Conn Archon Books Long 1971 The city as reservation Public Interest 25 2238 Marx K 1967 edn Capital 3 volumes New York International Publishers Mollenkopt J H 1978 The postwar politics of urban development In Marxism and the Metropolis New perspectives in urban political economy W K Tabb and L Sawyers eds 11752 New York Oxford University Press Muller P 1976 The outer city Resource Paper 752 Association of American Geographers Washington DC Sayer A 1982 Explanation in economic geography abstraction versus generalization Progress in Human Geography 6 March 6888 Schaffer R and N Smith 1984 The gentrification of 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intervenção estatal longe de se restringirem a um momento encerrado na préhistória do capitalismo constituem ao lado da reprodução ampliada um dos eixos fundamentais da expansão deste modo de produção e seu exame é imprescindível para a compreensão do novo imperialismo A longa sobrevivência do capitalismo apesar de múltiplas crises e reorganizações acompanhadas por terríveis prognósticos tanto da esquerda quanto da direita sobre sua iminente extinção é um mistério que requer esclarecimento Lefebvre acreditava ter encontrado a chave em sua famosa tese de que o capitalismo sobrevive através da produção do espaço mas não explicou exatamente como isto ocorria Tanto Lênin quanto Luxemburgo por diferentes razões e argumentos consideravam que o imperialismo uma determinada forma de produção de espaço era a resposta para o enigma ainda que ambos argumentassem que esta solução fosse limitada devido às suas próprias contradições Nos anos 70 tentei abordar este problema à luz da análise dos ajustes espaciais e seu papel no interior das contradições da acumulação de capital1 Argumentava que um minucioso exame das formas em que o capital produz espaço ajudaria a construir uma teoria do desenvolvimento desigual e integrar melhor os fenômenos geográficos de expansão e desenvolvimento nas várias reformulações e revisões da teoria da acumulação de capital de Marx que então apareciam e conseqüentemente integrar tais teorias com aquelas do imperialismo e dependência as quais também eram objetos de sérios debates naquele momento Agora com o reexame do discurso tanto à esquerda quanto à direita no que se refere ao chamado novo Artigo publicado originalmente em Socialist Register julho03 Tradução de Maria Izabel Lagoa pesquisadora do NEILS Revisão técnica de Lúcio F R Almeida Neste número publicamos a primeira parte do presente artigo A segunda sairá no número 15 Geógrafo autor de A condição pósmoderna The Limits to Capital Espaços de esperança e O novo imperialismo 1 A maioria destes trabalhos dos anos 70 e 80 foi reeditada em Harvey 1999 e 2001 10 imperialismo2 parece útil reexaminar essas idéias gerais à luz dos acontecimentos atuais A tese do ajuste espacial somente tem sentido se relacionada com a tendência expansiva do capitalismo entendida teoricamente mediante a teoria marxista da queda da taxa de lucros que produz crises de superacumulação Harvey 1999 Tais crises manifestamse em excedentes simultâneos de capital e de força de trabalho sem que aparentemente exista nenhuma forma de coordenálos para realizar alguma tarefa socialmente produtiva Portanto se a desvalorização e mesmo a destruição de capital e de força de trabalho não se seguirem então devem ser encontradas formas para absorver o excedente Expansão geográfica e reorganização espacial são a saída possível Mas isto tampouco pode se dissociar dos ajustes temporais uma vez que expansão geográfica freqüentemente acarreta investimentos em infraestruturas físicas e sociais de longo prazo redes de transporte e de comunicações educação e pesquisa por exemplo que demorariam muitos anos para realizar seu valor através da atividade produtiva que apoiavam Proponho então aceitar o argumento de Brenner 2002 de que o capitalismo global tem sofrido um crônico problema de superacumulação desde os anos 70 Interpreto a volatilidade do capitalismo internacional durante esses anos como uma série de ajustes espaçotemporais que fracassaram mesmo a médio prazo ao tratar de problemas de superacumulação Foi entretanto através da orquestração de tal volatilidade que os Estados Unidos pretendiam preservar sua posição hegemônica dentro do capitalismo mundial Gowan 1999 A recente guinada rumo a um imperialismo aberto respaldado pela força militar por parte dos Estados Unidos pode ser visto como um sinal de fraqueza na dita hegemonia frente às sérias ameaças de recessão e ampla desvalorização em sua própria casa como oposição aos diversos ataques de desvalorização anteriormente infligidos em outras zonas América Latina nos anos 80 e no início dos anos 90 e ainda mais seriamente a crise que consumiu o Leste e o Sudeste Asiáticos em 1997 e se arrastou até a Rússia e boa parte da América do Sul Mas eu também gostaria de argumentar que a incapacidade de acumular por meio da reprodução ampliada tem sido compensada por um aumento das tentativas de acumulação mediante desapossamento Estas são em definitivo as características principais das novas formas do imperialismo Uma vez que o debate sobre este tema excede este artigo continuo a exposição de maneira esquemática e simplificada deixando a análise mais detalhada para uma publicação posterior Harvey 2004 O ajuste espaçotemporal e suas contradições 2 O tema do novo imperialismo foi tratado pela esquerda por Panitch 2000 520 ver também Gowan Panitch e Shaw 2001 Outras observações importantes são feitas por Petras e Veltmeyer 2001 Went 200203 Amin 2001 Ignatieff 2003 e Cooper 2002 11 A idéia principal sobre o ajuste espaçotemporal é bastante simples Superacumulação em um dado território implica em um excedente de mão deobra aumento do desemprego e excedente de capital que se manifesta num mercado abarrotado de bens de consumo que não podem ser vendidos sem perdas como uma alta improdutividade eou como excedente de capital líquido carente de possibilidades de investimento produtivo Tais excedentes podem ser absorvidos por a uma reorientação temporal por meio de investimentos de capital em longo prazo ou gastos sociais como educação e pesquisa que adiam a reentrada na circulação do excesso de capital até um futuro distante b reorientações espaciais por meio da abertura de novos mercados novas capacidades produtivas e novas possibilidades de recursos e mãodeobra em outro lugar c alguma combinação de a e b A combinação de a e b é particularmente importante quando focamos o capital fixo de natureza independente imobilizado em um ambiente construído Isto providencia as infraestruturas físicas necessárias para que a produção e o consumo se mantenham no espaço e no tempo tudo desde parques industriais portos e aeroportos sistemas de transporte e comunicação água e esgoto moradia hospitais e escolas Em suma não se trata de um setor econômico menor mas capaz de absorver massivas quantidades de capital e de mãodeobra particularmente sob condições de rápida expansão e intensificação geográfica A realocação do excedente de mãodeobra e capital por tais investimentos requer a mediação das instituições financeiras eou estatais que têm capacidade de gerar e oferecer crédito A quantidade de valores fictícios criados equivale à superacumulação de capital na produção de camisas e sapatos Tal capital fictício pode ser realocado fora do circuito de consumo em projetos futuramente orientados como construção de estradas ou na educação revigorando assim a economia incluindo talvez o aumento da demanda por camisas e sapatos por parte dos professores e trabalhadores da construção3 Se os gastos em construções ou melhoras sociais se revelarem produtivos facilitando no futuro formas mais eficientes de acumulação de capital então os valores fictícios são reduzidos seja diretamente por amortização da dívida ou indiretamente por maiores retornos através de impostos que permitem pagar a dívida pública De outra forma a superacumulação na construção ou educação pode tornarse evidente com a desvalorização destes bens moradia escritórios parques industriais aeroportos etc ou em dificuldades para pagar a dívida estatal originada com as infraestruturas física e social crise fiscal do Estado O papel de tais investimentos na estabilização e desestabilização do capitalismo tem sido significante Por exemplo a origem da crise de 1973 foi um colapso mundial dos mercados imobiliários começando com o Herstatt Bank na Alemanha que arrastou o Franklin National nos Estados Unidos 3 Os conceitos marxianos de capital fixo independente e capital fictício são elaborados em Harvey 1999 capítulos 8 e 10 respectivamente e sua importância política é considerada em Harvey 2001 capítulo 15 The geopolitics of capitalism 12 seguido imediatamente pela falência virtual da cidade de Nova Iorque em 1975 Por sua vez a longa década de estagnação no Japão em 1990 iniciou se com o estouro da bolha especulativa existente em ativos aplicados no mercado imobiliário e em outros bens que pôs em risco todo o sistema bancário o colapso asiático em 1997 começou com o rompimento das bolhas na Tailândia e Indonésia e o vigor especulativo nos mercados imobiliários após o início de uma recessão geral em todos os outros setores desde meados de 2001 foi o mais importante impulso para as economias estadunidense e inglesa Desde 1998 a China tem mantido sua economia em crescimento e tem buscado absorver seu grande excedente de trabalho controlando a ameaça de descontentamento social mediante financiamentos com endividamento de investimentos em megaprojetos que deixam pequena a imensa represa das Três Gargantas 8500 milhas de ferrovias rodovias e projetos de urbanização trabalhos de engenharia massivos para desviar água do rio Yangtze para o Amarelo novos aeroportos etc Surpreendeme que a maioria das análises sobre a acumulação de capital incluindo a de Brenner ignore completamente estes temas ou os tratem como epifenômenos O termo ajuste tem entretanto um duplo sentido Uma certa quantidade do capital total tornase literalmente fixada em alguma forma física por um período de tempo relativamente longo dependendo de seu tempo de vida físico e econômico Existe um sentido no qual gastos sociais também se tornam territorializados e permanecem geograficamente imóveis através de compromissos estatais de qualquer forma não irei considerar explicitamente as infraestruturas sociais uma vez que o tema é complexo e requer um espaço maior para discutilo Parte do capital fixo é geograficamente móvel como a maquinaria que pode facilmente ser deslocada de um lugar para o outro mas o resto esta tão fixado ao solo que não se pode movêlo sem destruílo Os aviões são móveis entretanto os aeroportos aos quais eles voam não O ajuste espaçotemporal por outro lado é uma metáfora para soluções das crises capitalistas mediante adiamento temporal e expansão geográfica A produção do espaço a organização de novas divisões territoriais de trabalho a abertura de novos e mais baratos complexos de recursos de novos espaços dinâmicos de acumulação de capital e a penetração em formações sociais préexistentes pelas relações sociais capitalistas e acordos institucionais tais como regras contratuais e acordos de propriedade privada são formas de absorver excedentes de capital e mão deobra Tais expansões geográficas reorganizações e reconstruções freqüentemente ameaçam os valores fixos mas ainda não realizados Vastas quantidades de capital fixo em um lugar atuam como um obstáculo na busca por ajuste espacial em outro lugar Os valores dos ativos que constituem a cidade de Nova Iorque não eram e não são triviais e a ameaça de sua desvalorização massiva em 1975 e agora de novo em 2003 foi e é vista por muitos como a maior ameaça ao futuro do capitalismo Se o capital sai dali deixa um rastro de devastação a desindustrialização experimentada no 13 coração do capitalismo como Pittsburgh e Sheffield assim como em muitas outras partes do mundo como Bombaim nos anos 70 e 80 é um exemplo disso Por outro lado se o capital sobreacumulado não se move ou não pode se mover será diretamente desvalorizado Resumo do processo o capital necessariamente cria em um primeiro momento um ambiente físico à sua própria imagem unicamente para destruílo depois quando busca expansões geográficas e deslocamentos temporais como soluções para as crises de superacumulação que o afetam ciclicamente Esta é a história da destruição criativa com todas as suas conseqüências sociais e ambientais negativas escrita na evolução da paisagem física e social do capitalismo Outra série de contradições geralmente surge dentro da dinâmica das transformações espaçotemporais Se o excesso de capital e de força de trabalho existe em dado território como uma nação ou Estado e não pode ser absorvida internamente tanto por ajustes geográficos ou gastos sociais então devem ser enviados a outro lugar a fim de encontrar um novo terreno para sua realização rentável para não serem desvalorizados Isto pode ocorrer de diversas formas Mercados para excedentes de produtos podem ser encontrados mas os espaços aos quais se enviam os excedentes devem possuir reservas de meio de pagamentos como o ouro ou dinheiro dólar ou bens intercambiáveis O problema de superacumulação é aliviado apenas por pouco tempo pois se troca meramente o excedente de bens por dinheiro ou outros bens ainda que no caso de a troca se realizar em matériasprimas ou outros insumos mais baratos seja possível aliviar temporariamente a pressão da baixa taxa de lucro no lugar Se o território não possuir reservas ou bens para trocar ele ou deve achálas os ingleses obrigaram a Índia a abrir o comércio de ópio com a China no século XIX e extraindo ouro chinês através do comércio indiano ou deve receber crédito ou assistência Neste caso um território recebe o empréstimo ou a doação do dinheiro com que compra o excedente de mercadorias geradas no território em questão A Inglaterra fez isto com a Argentina no século XIX e o excedente do comércio japonês durante os anos 90 foi largamente absorvido por empréstimos aos Estados Unidos destinados a sustentar o consumo dos produtos japoneses Simples transações comerciais e de créditos deste tipo podem aliviar problemas de superacumulação ao menos em curto prazo Elas funcionam muito bem sob condições de desenvolvimento geográfico desigual em que os excedentes disponíveis de um território são compensados pela carência dos mesmos em outro local Mas simultaneamente o recurso ao sistema de créditos volta aos territórios vulneráveis aos fluxos de capital especulativo e fictício que podem tanto estimular como minar o desenvolvimento capitalista e mesmo como ocorreu recentemente ser usado para impor selvagens desvalorizações nesses territórios vulneráveis A exportação de capital particularmente quando acompanhada pela exportação de força de trabalho opera de maneira bastante distinta e freqüentemente surte efeitos em prazos mais longos Neste caso excessos de capital geralmente capitaldinheiro e trabalho são enviados a outros lugares 14 para pôr em movimento a acumulação de capital no novo espaço Excedentes gerados na Inglaterra no século XIX e enviados para os Estados Unidos para as colônias no sul da África Austrália e Canadá criaram novos e dinâmicos centros de acumulação nestes territórios gerando uma demanda de bens da Inglaterra Uma vez que podem transcorrer muitos anos para que o capitalismo amadureça nestes novos territórios isso se algum dia o fizer até o ponto onde eles também comecem a produzir superacumulação de capital o país de origem pode esperar beneficiarse por um período considerável de tempo Este é particularmente o caso quando os bens demandados em outra parte são de tipo imobiliário Investimentos de portfólio podem manter a construção do capital fixo ferrovias e represas requeridas como base para uma sólida acumulação no futuro Mas a taxa de retorno destes investimentos a longo prazo no ambiente construído depende da evolução de uma forte dinâmica de acumulação no país receptor A GrãBretanha foi assim financiadora da Argentina na última parte do século XIX Os Estados Unidos por meio do Plano Marshall para a Europa Alemanha em particular e Japão viu claramente que sua própria segurança econômica deixando de lado o aspecto militar derivado da Guerra Fria dependia da revitalização da atividade capitalista em tais lugares As contradições surgem porque os novos espaços dinâmicos de acumulação de capital geram excedentes que devem ser absorvidos através da expansão geográfica Japão e Alemanha tornaramse competidores do capital estadunidense desde o final dos anos 60 em diante de modo parecido ao como os Estados Unidos superaram o capital inglês e colaboraram para derrubada do império britânico no transcurso do século XX É sempre interessante delimitar o momento em que o sólido desenvolvimento interno transborda em uma busca por ajustes espaçotemporais O Japão fez isso durante os anos 60 primeiro através do comércio e em seguida por meio da exportação de capital como investimentos diretos primeiro para a Europa e os Estados Unidos e mais recentemente na forma de investimentos massivos diretos e de portfólio para o Leste e Sudeste da Ásia e por último mediante empréstimos particularmente para os Estados Unidos A Coréia do Sul de repente se voltou para o exterior nos anos 80 seguida por Taiwan nos anos 90 O dois países exportaram não apenas capital financeiro mas algumas das mais impiedosas práticas de gerenciamento do trabalho imagináveis como a terceirização feita pelo capital multinacional ao redor do mundo na América Central na África assim como no resto do Sul e Leste da Ásia Mesmo recentemente países que tiveram sucesso ao aderirem ao desenvolvimento capitalista rapidamente se encontraram frente à necessidade de ajustes espaçotemporais devido a sua superacumulação de capital A rapidez com a qual certos territórios como Coréia do Sul Singapura Taiwan e agora até mesmo a China deixaram de ser receptores líquidos para serem territórios exportadores tem sido surpreendente comparada ao ritmo lento de períodos anteriores Mas pela mesma razão tais territórios devem adaptarse rapidamente à pressão interna de seus próprios ajustes espaçotemporais A 15 China absorvendo excedentes na forma de investimentos diretos estrangeiros do Japão Coréia e Taiwan está rapidamente suplantando estes países em muitos setores de produção e exportação particularmente aqueles de baixo valor agregado e de trabalho intensivo mas também está se movendo em direção aos bens de consumo de alto valor agregado A generalizada sobrecapacidade que Brenner identifica pode desta forma decomporse e proliferarse em uma cascata de ajustes espaçotemporais primeiro no Sul e Leste da Ásia mas com elementos adicionais na América Latina Brasil México e Chile em particular e somados agora com a Europa Oriental E em uma estranha reviravolta explicável em grande parte pelo papel do dólar como moeda de reserva global que confere o poder de senhoriagem os Estados Unidos com o imenso endividamento nos últimos anos têm absorvido capitais excedentes principalmente do Leste e Sudeste da Ásia De qualquer maneira o resultado final é um aumento na ferocidade da concorrência internacional na medida em que múltiplos e dinâmicos centros de acumulação de capital emergem para competir no cenário mundial em meio a importantes correntes de superacumulação Como nem todos podem ter sucesso em longo prazo ou os mais fracos sucumbem e caem em sérias crises de desvalorização ou confrontos geopolíticos emergem na forma de guerras comerciais guerras monetárias e até mesmo confrontos militares do tipo que nos deram duas guerras entre potências capitalistas no século XX Neste caso o que se exporta é desvalorização e destruição do tipo que as instituições financeiras estadunidenses induziram o Leste e o Sudeste da Ásia em 19978 e os ajustes espaçotemporais assumem formas mais sinistras Existem entretanto outros pontos que precisam ser assinalados para melhor compreender este processo Contradições internas Em sua Filosofia do Direito Hegel 1967 aponta como a dialética interna da sociedade burguesa que produz uma superacumulação de riqueza por um lado e uma multidão de pobres por outro leva à busca por soluções através do comércio externo e das práticas coloniais e imperiais Hegel rejeita a idéia de que possam existir formas de solucionar os problemas de desigualdade sociais e instabilidade através de mecanismos internos de redistribuição Lênin sd cita Cecil Rhodes ao dizer que o colonialismo e o imperialismo eram a única maneira possível de evitar a guerra civil Relações e lutas de classes em uma formação social ligada a um território causam impulsos de buscar ajustes espaçotemporais em algum outro lugar Um exemplo ilustrativo do final do século XIX é o de Joseph Chamberlain Conhecido como Joe o radical se identificava estreitamente com os interesses liberais manufatureiros de Birmingham e inicialmente durante as guerras afegãs da década de 1850 se opunha ao imperialismo Dedicouse à reforma educativa e à melhoria das infraestruturas físicas e sociais da produção e do consumo em sua cidade natal Pensava que isto ofereceria uma saída produtiva para os excedentes que devolveriam seu 16 valor a longo prazo Figura importante dentro do movimento liberal conservador foi testemunha de primeira mão do ressurgimento da luta de classes na GrãBretanha e em 1885 realizou um celebrado discurso no qual convocava as classes proprietárias a assumir suas responsabilidades sociais melhorar as condições de vida dos menos favorecidos e investir em infraestruturas sociais e físicas em nome do interesse nacional em lugar de preocuparse apenas com seus direitos individuais como proprietários O escândalo que isto originou entre as referidas classes forçouo a se retratar e deste momento em diante tornouse o mais ardente defensor do imperialismo como secretário colonial levou a GrãBretanha ao desastre da guerra dos Boers Esta trajetória profissional foi bastante comum no período Jules Ferry na França um ardente defensor das reformas internas especialmente da educação nos anos 60 assumiu a defesa do colonialismo logo após a Comuna de 1871 levando a França ao atoleiro do Sudeste Asiático que culminou com a derrota de Dien BienPhu em 1954 Francesco Crispi procurou resolver o problema agrário no sul da Itália por meio da expansão imperialista na África e até Theodore Roosevelt nos Estados Unidos preferiu apoiar as práticas coloniais ao invés das reformas internas depois que Frederic Jackson declarou erroneamente ao menos no que se refere às oportunidades de investimentos que a fronteira americana estava fechada4 Em todos esses casos a mudança para uma forma liberal de imperialismo associada a uma ideologia de progresso e a uma missão civilizatória não foi resultado de imperativos econômicos absolutos mas da falta de vontade política por parte da burguesia para renunciar a determinados privilégios de classe bloqueando assim qualquer possibilidade de absorver a superacumulação através de reformas sociais internas A feroz oposição a qualquer política redistributiva ou de melhoria social que existe nos Estados Unidos não deixa outra opção do que procurar no exterior soluções para suas dificuldades econômicas Políticas internas de classe deste tipo forçaram muitas potências européias a buscar no exterior soluções para seus problemas desde 1884 até 1945 e isto deu uma tonalidade especial às formas que o imperialismo europeu adotou Muitas figuras liberais e mesmo radicais tornaramse orgulhosos imperialistas durante estes anos e grande parte do movimento operário foi persuadido a apoiar o projeto imperialista como um fator essencial ao seu próprio bemestar Isto requeria que os interesses burgueses se colocassem à frente do Estado do aparato ideológico e do poder militar Dessa forma em minha opinião Arendt 1968 18 interpreta corretamente este imperialismo eurocêntrico como a primeira etapa do domínio político da burguesia e não a última fase do capitalismo 4 Toda esta história de mudanças radicais das soluções internas até as externas para os problemas sóciopolíticos derivados da dinâmica da luta de classe está explicado em uma pouco conhecida mas fascinante coleção de Julien CA Bruhat J Bourgin C Crouzet M and Renouvin P Les politiques dexpansion imperialiste Paris PUF 1949 na qual são examinados e comparados detalhadamente Ferry Chamberlain Roosevelt Crispi e outros 17 como foi descrito por Lênin5 Examinarei mais detalhadamente esta idéia na conclusão Medidas institucionais de mediação para a projeção de poder sobre o espaço Em um artigo recente Henderson 1999 327368 reconhece a importância dos ajustes espaçotemporais como uma solução para a superacumulação mas observa que a diferença em 199798 entre Taiwan e Cingapura que escaparam relativamente ilesos da crise com exceção de uma desvalorização da moeda e Tailândia e Indonésia que sofreram um colapso econômico e político quase total se explica pelas diferenças nas políticas estatais e financeiras Os primeiros territórios se mantiveram isolados dos fluxos especulativos em seus mercados imobiliários e financeiros mediante fortes controles estatais enquanto os últimos não o fizeram Diferenças deste tipo são muito importantes As formas assumidas pelas instituições mediadoras são produto da dinâmica da acumulação de capital Claramente o conjunto de turbulências nas relações entre Estado supraestado e poderes financeiros por um lado e por outro a dinâmica geral de acumulação de capital através da produção e das desvalorizações seletivas tem sido um dos mais característicos e mais complexos elementos na dinâmica do desenvolvimento geográfico desigual e na política imperialista do período iniciado em 19736 Acredito que Gowan esta correto ao analisar a reestruturação radical do capitalismo internacional pós1973 como uma série de apostas desesperadas por parte dos Estados Unidos para tentar manter sua posição hegemônica no cenário internacional frente à Europa Japão e mais tarde ao Leste e Sudeste Asiático Isto começou durante a crise de 1973 com a dupla estratégia de Nixon baseada na elevação do preço do petróleo e na desregulamentação financeira Os bancos estadunidenses receberam o direito exclusivo de reciclar a grande quantidade de petrodólares que era acumulada na região do Golfo Isto contribuiu para voltar a centralizar nos Estados Unidos a atividade financeira e em 5 Existem muitos paralelismos entre a análise de Arendt no século XIX e a nossa situação atual Consideremos por exemplo o seguinte trecho A expansão imperialista tem sido impulsionada por uma curiosa forma de crise econômica a sobreprodução de capital e a criação de dinheiro supérfluo produto do sobrepoupança que não pode mais encontrar investimentos produtivos dentro das fronteiras nacionais Pela primeira vez investimentos de poder não abriam caminho para o investimento de dinheiro mas a exportação de poder se limitava a seguir timidamente a exportação de dinheiro visto que os investimentos incontroláveis em países distantes ameaçavam transformar longos estratos sociais em apostadores para mudar toda a economia capitalista de sistema de produção para sistema de especulação financeira e realocar os benefícios da produção pelos benefícios das comissões A década imediatamente anterior a era imperialista a de setenta do século XIX testemunhou um aumento sem precedentes nas fraudes nos escândalos financeiros e especulações nas bolsas de valores p 15 6 Brenner 2002 apresenta o relato mais geral e sintético desta turbulência Detalhes sobre o desmoronamento do Leste Asiático podem ser encontrados em Wade Veneroso 1999 323 Henderson op cit Johnson C Blowback 2000 capítulo 9 o artigo especial da Historical Materialism n 2 2001 Focus on East Asia after the crisis particularmente Burkett HartLandsberg Crisis and recovery in East Asia the limits of capitalist development pp 348 18 contrapartida resgatou Nova Iorque de sua própria crise econômica Criou um poderoso regime financeiro Wall StreetFederal Reserve7 com poderes de controle sobre as instituições financeiras globais tais como o FMI e capaz de fazer ou quebrar muitas economias mais fracas através da manipulação do crédito e das práticas de administração da dívida De acordo com Gowan este regime monetário e financeiro foi utilizado por sucessivas administrações estadunidenses como um formidável instrumento de políticas de estado e controle econômico para impulsionar tanto o processo de globalização quanto as transformações nacionais neoliberais O regime se desenvolveu através das crises O FMI cobre os riscos e assegura que os bancos estadunidenses não percam os países pagam através de ajustes estruturais etc e a fuga de capitais provenientes de crises localizadas no resto do mundo acaba reforçando o poder de Wall Street Gowan 2001 23 e 35 O efeito disto foi a projeção do poder econômico estadunidense para o exterior em aliança com outros quando possível para forçar a abertura de mercados particularmente aos fluxos financeiro e de capital atualmente um requisito para integrar o FMI e impor outras políticas neoliberais culminando com a OMC sobre boa parte do resto do mundo Existem dois aspectos importantes a serem destacados sobre este sistema Primeiro o livre comércio de mercadorias é freqüentemente descrito como uma abertura do mundo a uma concorrência livre e aberta Mas como Lênin observou há muito tempo este argumento falha frente ao poder de monopólio ou oligopólio tanto na produção quanto no consumo Os Estados Unidos por exemplo têm repetidamente utilizado a arma de negar o acesso ao enorme mercado estadunidense para forçar outras nações a aceitar seus desejos O mais recente e crasso exemplo disto nos é oferecido por Robert Zoellick representante de comércio dos Estados Unidos ao anunciar que se Lula o recente presidente eleito no Brasil pelo Partido dos Trabalhadores não se alinhasse com os planos de livre mercado para a América seria forçado a exportar para a Antártida Taiwan e Cingapura foram forçadas a aderir à OMC e conseqüentemente a abrir seu mercado financeiro ao capital especulativo frente às ameaças americanas de negar o acesso ao seu mercado Diante da insistência do Federal Reserve a Coréia do Sul foi forçada a fazer o mesmo como condição para que o FMI a financiasse em 1998 Os Estados Unidos planejam agora agregar uma cláusula de livre acesso aos mercados segundo o modelo estadunidense nas ajudas de risco que oferecem aos países pobres Na esfera produtiva os oligopólios localizados majoritariamente nas regiões capitalistas centrais controlam efetivamente a produção de sementes fertilizantes eletrônicos programas de computador produtos farmacêuticos produtos do petróleo e muito mais Sob estas condições a abertura dos mercados não amplia a concorrência mas apenas cria oportunidades para a proliferação de poderes de monopólio com todas suas conseqüências sociais ecológicas econômicas 7 Vários nomes foram propostos para isto Gowan opta por chamar de Dollar Wall Street Regime mas eu prefiro a denominação mais complexa WallStreetTreasuryIMF sugerida por Wade and Veneroso 19 e políticas O fato de que aproximadamente dois terços do comércio exterior se concentram atualmente em transações dentro e entre as principais corporações transnacionais é um indicador desta situação Até mesmo algo aparentemente benigno como a Revolução Verde como a maioria dos comentadores concorda acompanhou o incremento da produtividade agrícola com uma maior concentração de riqueza neste setor e um maior nível de dependência dos monopólios através de todo o Sul e Leste da Ásia A penetração no mercado da China pelas companhias de tabaco estadunidense compensa as perdas em seu próprio mercado e isto certamente gerará uma crise da saúde pública nas próximas décadas Em todos estes aspectos os argumentos que apresentam o neoliberalismo como uma concorrência ao invés de um controle monopólico revelamse fraudulentos camuflados como de costume pelo fetichismo da liberdade de mercado Livre mercado não significa mercado justo Existe também como reconhecem até mesmo defensores do mercado livre uma imensa diferença entre o livre mercado de mercadorias e a liberdade de movimento do capital financeiro Bahgwati 1998 712 Isto propõe imediatamente o problema de qual forma de liberdade de mercado de que se esta falando Alguns como Baghwati defendem ferozmente o livre comércio de bens mas resistem à idéia de que isto necessariamente seja positivo para os fluxos financeiros A dificuldade aqui é a seguinte De um lado os fluxos de capital são vitais para os investimentos produtivos e para as realocações de capital de uma linha ou lugar de produção a outros Eles também jogam um importante papel ao equilibrar as necessidades de consumo de moradia por exemplo com as atividades produtivas em um mundo espacialmente desintegrado com excedentes em um lugar e déficits em outro Em todos esses aspectos o sistema financeiro com ou sem participação do Estado é vital para coordenar a dinâmica da acumulação de capital em um contexto de desenvolvimento geográfico desigual Mas o capital financeiro também engloba uma grande quantidade de atividades improdutivas nas quais dinheiro é simplesmente utilizado para gerar mais dinheiro através da especulação em mercados de futuro valores monetários dívidas e outros Quando grandes quantidades de capital se tornam disponíveis para tais propósitos então mercados de capital abertos se convertem em veículos para atividades especulativas algumas das quais se tornam profecias autorealizáveis como ocorreu durante os anos 90 com os pontocom e as bolhas dos mercados de ações ou os hedge funds que contavam com trilhões de dólares à sua disposição e forçaram a bancarrota da Indonésia e até mesmo da Coréia do Sul independentemente da força de suas economias Muito do que aconteceu em Wall Street não tem nada a ver com facilitar o investimento em atividades produtivas É puramente especulação Daí as descrições do capitalismo como cassino predatório ou mesmo de rapina com o fracasso da gestão do capital a longo prazo que precisou de um socorro de US23 bilhões o que aponta aos Estados Unidos que a especulação pode fracassar facilmente Esta atividade tem 20 entretanto profundos impactos sobre toda a dinâmica de acumulação de capital Sobretudo isto facilitou a que o poder político e econômico voltasse a se centrar nos Estados Unidos mas também em mercados financeiros de outros países centrais Tóquio Londres Frankfurt Como isto ocorre depende da forma das alianças intraclasse dominante existentes nos paises centrais da relação de forças entre eles nas negociações de acordos internacionais como a nova arquitetura financeira internacional implementada depois de 199798 para substituir o chamado Consenso de Washington de meados dos anos 90 e das estratégias político econômicas postas em marcha pelos agentes dominantes com respeito ao capital excedente A emergência do complexo Wall StreetFederal Reserve FMI dentro dos Estados Unidos capaz de controlar as instituições globais e projetar um vasto poder financeiro ao redor do mundo através de uma rede de outras instituições financeiras e governamentais tem jogado um papel determinante e problemático na dinâmica do capitalismo global recentemente Mas este centro de poder pode apenas operar da forma que faz porque o resto do mundo está interconectado e enquadrado na estrutura das instituições financeiras e governamentais incluindo as supranacionais Daí a importância da colaboração entre por exemplo bancos centrais das nações do G7 e os vários acordos internacionais temporários no caso de estratégias monetárias e mais permanentes no caso da OMC designados para lidar com dificuldades particulares8 E se o poder do mercado não for suficiente para alcançar objetivos particulares e colocar elementos recalcitrantes ou estados delinquentes rogue States na linha então o inigualável poder militar estadunidense direto ou indireto está preparado para resolver a situação Este complexo de acordos institucionais deveria no melhor de todos os capitalismos possíveis ser utilizado para sustentar e apoiar a reprodução ampliada crescimento Mas assim como a guerra em relação à diplomacia a intervenção do capital financeiro respaldada pelo poder de Estado equivale à acumulação por outrosmeios Uma aliança non sancta entre os poderes de Estado e os aspectos predatórios do capital financeiro forma a ponta da lança de um capitalismo de rapina muito mais dedicado à apropriação e desvalorização de ativos do que à sua construção por meio de investimentos produtivos Sob as condições de superacumulação estes outros meios podem ser dirigidos para forçar desvalorizações e práticas canibais preferentemente praticadas em espaços alheios e sobre aqueles que têm menos capacidade de reação Mas como devemos interpretar estes outros meios de acumulação ou desvalorização Bibliografia AMIM S 2001 Imperialism and globalization Monthly Review vol 53 n 2 ARENDT H 1968 Imperialism Harcourt Brace New York 8 Embora um autor não se refira ao outro Gowan 1999 e Brenner 2002 tecem considerações paralelas a respeito deste assunto 21 BAHGWATI J 1998 The capital myth the difference between trade in widgets and dollars Foreign Affairs 773 BRENNER R 2002 The boom and the bubble the US in the world economy London Verso COOPER R 2002 The new liberal imperialism The Observer 7abril GOWAN P 1999 The global gamble Washingtons bid for world dominance London Verso GOWAN P PANITCH L SHAW M 2001 The state globalization and the new imperialism a round table discussion Historical Materialism 9 HARVEY D 1999 The Limits to Capital Basil Blackwell LondonVerso 2001 A Spaces of capital towards a critical geography New York Routledge 2004 The new imperialism Oxford Oxford University Press HEGEL GW 1967 The philosophy of right New York Oxford University Press HENDERSON J 1999 Uneven crises institutional foundations of East Asian economic turmoil Economy and Society 28 3 LÊNIN Vladimir sd Imperialismo estágio supremo do capitalismo Várias edições IGNATIEFF M 2003 The burden New York Times Magazine 5 de janeiro PANITCH L 2000 The new imperial state New Left Review 11 PETRAS J VELTMEYER 2001 Globalization unmasked imperialism in the 21st century London Zed Books WENT R 20022003 Globalization in the perspective of imperialism Science and Society 66 n4 Resenha Crítica Os textos Gentrificação a Fronteira e a Reestruturação do Espaço Urbano de Neil Smith e O novo imperialismo ajustes espaçotemporais e acumulação por desapossamento de David Harvey abordam a reestruturação do espaço urbano sob a ótica do capitalismo e das forças sociais que impulsionam esse processo Ambos os autores argumentam que a acumulação de capital é central para essa reestruturação mas abordam fenômenos diferentes Smith concentrase na gentrificação que é o processo pelo qual áreas urbanas degradadas são transformadas em áreas residenciais de alta qualidade para atrair os novos ricos expulsando os antigos habitantes Ele argumenta que a gentrificação é impulsionada pela competição capitalista global e incentivada pelos governos locais que buscam promover o desenvolvimento econômico e melhorar a imagem da cidade Para Smith a gentrificação é um exemplo claro de como o capitalismo pode reestruturar o espaço urbano para servir aos interesses do capital em detrimento dos interesses das pessoas Por outro lado Harvey aborda a acumulação por desapossamento que é o processo de expropriação de recursos naturais e dos meios de produção de outros povos que é central para a acumulação capitalista Ele argumenta que a acumulação por desapossamento não se limita aos bens materiais mas inclui a privatização de serviços públicos o controle da informação e a mercantilização da cultura Para Harvey a acumulação por desapossamento é uma forma mais ampla de acumulação de capital que envolve a expropriação de recursos em todo o mundo e que é uma consequência inevitável do capitalismo Apesar de abordarem fenômenos diferentes ambos os autores destacam o papel central da acumulação de capital na reestruturação do espaço urbano Enquanto a gentrificação como descrita por Smith é uma forma de acumulação de capital incentivada pelos governos locais a acumulação por desapossamento conforme argumenta Harvey é um processo mais amplo que envolve a expropriação de recursos em todo o mundo Ambos os autores oferecem uma análise crítica da relação entre capitalismo e espaço urbano enfatizando a necessidade de uma compreensão mais completa das forças subjacentes que moldam nossas cidades Em conclusão os textos de Smith e Harvey destacam a complexidade das forças sociais que impulsionam a reestruturação do espaço urbano e destacam que essa reestruturação não é uma questão isolada mas está intimamente ligada à competição capitalista global e às dinâmicas de poder que a impulsionam Ambos os autores oferecem uma crítica ao modo como o capitalismo reestrutura o espaço urbano e ressaltam a importância de se pensar em alternativas para um modelo econômico mais justo e igualitário Resenha Crítica Os textos Gentrificação a Fronteira e a Reestruturação do Espaço Urbano de Neil Smith e O novo imperialismo ajustes espaçotemporais e acumulação por desapossamento de David Harvey abordam a reestruturação do espaço urbano sob a ótica do capitalismo e das forças sociais que impulsionam esse processo Ambos os autores argumentam que a acumulação de capital é central para essa reestruturação mas abordam fenômenos diferentes Smith concentrase na gentrificação que é o processo pelo qual áreas urbanas degradadas são transformadas em áreas residenciais de alta qualidade para atrair os novos ricos expulsando os antigos habitantes Ele argumenta que a gentrificação é impulsionada pela competição capitalista global e incentivada pelos governos locais que buscam promover o desenvolvimento econômico e melhorar a imagem da cidade Para Smith a gentrificação é um exemplo claro de como o capitalismo pode reestruturar o espaço urbano para servir aos interesses do capital em detrimento dos interesses das pessoas Por outro lado Harvey aborda a acumulação por desapossamento que é o processo de expropriação de recursos naturais e dos meios de produção de outros povos que é central para a acumulação capitalista Ele argumenta que a acumulação por desapossamento não se limita aos bens materiais mas inclui a privatização de serviços públicos o controle da informação e a mercantilização da cultura Para Harvey a acumulação por desapossamento é uma forma mais ampla de acumulação de capital que envolve a expropriação de recursos em todo o mundo e que é uma consequência inevitável do capitalismo Apesar de abordarem fenômenos diferentes ambos os autores destacam o papel central da acumulação de capital na reestruturação do espaço urbano Enquanto a gentrificação como descrita por Smith é uma forma de acumulação de capital incentivada pelos governos locais a acumulação por desapossamento conforme argumenta Harvey é um processo mais amplo que envolve a expropriação de recursos em todo o mundo Ambos os autores oferecem uma análise crítica da relação entre capitalismo e espaço urbano enfatizando a necessidade de uma compreensão mais completa das forças subjacentes que moldam nossas cidades Em conclusão os textos de Smith e Harvey destacam a complexidade das forças sociais que impulsionam a reestruturação do espaço urbano e destacam que essa reestruturação não é uma questão isolada mas está intimamente ligada à competição capitalista global e às dinâmicas de poder que a impulsionam Ambos os autores oferecem uma crítica ao modo como o capitalismo reestrutura o espaço urbano e ressaltam a importância de se pensar em alternativas para um modelo econômico mais justo e igualitário
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GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 pp 15 31 2007 GENTRIFICAÇÃO A FRONTEIRA E A REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO Neil Smith1 Tradução Daniel de Mello Sanfelici Mestrando em Geografia Humana pela FFLCH USP Email danielsanfeliciyahoocombr RESUMO Neste ensaio o autor procura explicar o processo da gentrificação situando o fenômeno no quadro mais amplo do desenvolvimento desigual da economia capitalista Coloca em evidência nesse sentido a articulação das diferentes escalas as mudanças sociais recentes e os ciclos econômicos fatores que atuam na determinação da natureza da forma assumida e dos limites do processo Por fim o autor identifica tendências e obstáculos associados ao desdobramento futuro da gentrificação PALAVRASCHAVE gentrificação fronteira desenvolvimento desigual ABSTRACT In this essay the author tries to explain the process of gentrification situating the phenomenon in the broader scope of the uneven development in the space economy of capitalism In this sense he puts in evidence the articulation of different scales the recent social changes and the economic cycles factors which act upon the determination of nature the assumed form and the limits of the process Finally the author identifies tendencies and obstacles associated with the unfolding future of gentrification KEY WORDS gentrification frontier uneven development Em seu ensaio seminal The significance of the frontier in American history escrito em 1893 Frederick Jackson Turner 1958 escreveu O desenvolvimento americano exibiu não apenas um avanço sobre uma linha única mas um retorno a condições primitivas em uma linha de fronteira que avança continuamente e um novo desenvolvimento para aquela área O desenvolvimento social americano tem reiniciado continuamente na fronteira Neste avanço a fronteira é o limite externo deste movimento o ponto de encontro entre a barbárie e a civilização O mundo selvagem tem sido perpassado por linhas de civilização que são cada vez mais numerosas Para Turner a expansão da fronteira e o recuo da natureza virgem e da barbárie foram uma tentativa de criar um espaço habitável a partir de uma natureza hostil e não cooperativa Isto compreendeu não apenas um processo de expansão espacial e a progressiva dominação do mundo físico O desenvolvimento da fronteira sem dúvida realizou isto mas para Turner este desenvolvimento também foi a experiência central que definiu a singularidade da identidade nacional americana Em cada avanço do limite externo realizado por pioneiros robustos não apenas novas terras eram acrescentadas mas novo sangue era inserido nas veias do ideal democrático americano Cada nova onda em direção ao oeste na conquista da natureza devolve para leste ondas de retorno no sentido 16 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N da democratização na natureza humana Durante o século XX a imagem do lugar selvagem e da fronteira foi aplicada menos às planícies montanhas e florestas do Oeste e mais às cidades do país todo mas especialmente àquelas do Leste Como parte da experiência da suburbanização a cidade americana veio a ser vista pela classe média branca como um lugar selvagem a cidade era e ainda é para muitos o habitat da morbidade social e do crime do perigo e da desordem Warner 1972 De fato estes eram medos manifestados durante os anos 50 e 60 por teóricos urbanos que punham em evidência a influência maléfica e a decadência urbana o malestar social na área central a patologia da vida urbana em resumo a cidade infernal Banfield 1968 A cidade se torna um lugar selvagem ou pior uma selva Long 1971 Sternlieb 1971 ver também Castells 1976a Mais ainda do que nos noticiários e na teoria social este tema é recorrente em produções hollywoodianas do gênero selva urbana desde Amor sublime amor e King Kong até Warriors os selvagens da noite O antiurbanismo tem sido uma teoria dominante na cultura americana Em um padrão análogo à experiência original da conquista do Oeste selvagem os últimos 20 anos assistiram a um deslocamento do medo em direção ao romantismo e uma progressão da imagem urbana de lugar selvagem para a idéia de fronteira Cotton Mather e os puritanos da Nova Inglaterra no século XIX temiam a floresta como o mal impenetrável uma perigosa selva mas com a progressiva dominação da floresta e sua transformação através do trabalho humano a imagem mais suave de fronteira de Turner tornase uma sucessora óbvia desta imagem de floresta do mal de Mather Existe um otimismo e uma perspectiva de expansão associada à fronteira a barbárie dá lugar à fronteira quando a conquista está em curso Portanto na cidade americana do século XX a imagem da selva urbana foi substituída por aquela da fronteira urbana Esta transformação pode ser identificada nas origens da renovação urbana ver especialmente Abrams 1965 mas se intensificou nas últimas duas décadas quando a restauração de habitações unifamiliares virou moda na esteira da renovação urbana Na linguagem da gentrificação o apelo à imagem de fronteira é exato pioneiros urbanos proprietários urbanos e caubóis urbanos são os novos heróis folclóricos da fronteira urbana Assim como Turner reconheceu a existência dos nativos mas os incluiu do lado selvagem a imagem contemporânea da fronteira urbana implicitamente trata os atuais moradores da área central como um elemento natural do meio físico a que pertencem Portanto o termo pioneiro urbano é tão arrogante quanto a noção original de pioneiro visto que ele transmite a idéia de uma cidade que ainda não é socialmente habitada assim como os americanos nativos a classe trabalhadora urbana de hoje é vista como menos do que social como uma simples parte do meio físico Turner foi explícito a esse respeito quando definiu a fronteira como o ponto de encontro entre a barbárie e a civilização e embora o vocabulário contemporâneo da fronteira aplicado à gentrificação seja raramente tão explícito ele trata a população das áreas centrais da mesma maneira Stratton 1977 Os paralelos vão mais longe Para Turner o avanço geográfico da linha de fronteira em direção ao oeste é associado à construção do espírito nacional Uma esperança espiritual expressase também no discurso entusiástico que apresenta a gentrificação como a ponta delança de um renascimento urbano americano no cenário mais extremo espera se que os novos pioneiros façam pelo espírito nacional o mesmo que os antigos fizeram conduzirnos a um novo mundo no qual os problemas do mundo velho são deixados para trás Nas palavras de uma publicação do governo federal o apelo da gentrificação à história envolve a necessidade psicológica de experimentar novamente os êxitos do passado em virtude das decepções dos anos recentes a guerra do Vietnam o caso Watergate a crise de energia a inflação as altas taxas de juros Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 17 etc Advisory Council on Historic Preservation 19809 Ninguém até o momento propôs que James Rouse o investidor americano responsável por muitos visíveis shoppings centros comerciais mercados e galerias para turistas fosse visto como o John Wayne 2 da gentrificação mas a proposta estaria em harmonia com muito da atual imagem retórica da gentrificação Por fim e esta é a conclusão importante a imagem de fronteira serve para racionalizar e legitimar um processo de conquista tanto no caso do Oeste americano nos séculos XVIII e XIX quanto no caso das áreas centrais das cidades do século XX A imagem se apóia em muitos mitos mas também tem uma base parcial na realidade Parte da mitologia já foi sugerida mas antes de prosseguir para examinar a base realista da imagem de fronteira gostaria de discutir um aspecto da mitologia da fronteira ainda não considerado o nacionalismo O processo de gentrificação com o qual estamos preocupados aqui é essencialmente internacional Ele está ocorrendo na América do Norte e em grande parte da Europa ocidental assim como na Austrália e na Nova Zelândia ou seja nas cidades da maior parte do mundo capitalista ocidental avançado Apesar disto em nenhum lugar o processo é tão pouco compreendido quanto nos Estados Unidos onde o nacionalismo americano presente na ideologia de fronteira incitou um entendimento provinciano da gentrificação A experiência original de fronteira anterior ao século XX não foi restrita aos Estados Unidos mas sim exportada para o mundo todo da mesma forma embora não esteja em nenhum lugar tão enraizada como está nos Estados Unidos a ideologia de fronteira também surge em outros locais associada à gentrificação A influência internacional da experiência americana anterior de fronteira é repetida no caso do panorama urbano do século XX a imagem de gentrificação é ao mesmo tempo cosmopolita e paroquial geral e local É geral em imagem mas geralmente diferente nos detalhes Por estas razões a crítica da imagem de fronteira não nos obriga a repetir o nacionalismo de Turner e não deve ser vista como uma base nacionalista para a discussão da gentrificação A experiência australiana da fronteira por exemplo certamente foi diferente da americana mas também foi responsável juntamente com a importação da cultura americana por produzir uma forte ideologia da fronteira E a própria fronteira americana era tão intensamente real para imigrantes potenciais da Escandinávia ou Irlanda quanto o era para imigrantes franceses ou britânicos que viviam em Baltimore ou Boston Entretanto como em toda ideologia há um embasamento real ainda que parcial e distorcido para o tratamento da gentrificação como uma nova fronteira urbana Nesta idéia de fronteira vêse uma combinação evocativa das dimensões econômica e espacial do desenvolvimento A potência da imagem de fronteira depende da sutileza presente nesta combinação do econômico com o espacial No século XIX a expansão da fronteira geográfica nos EUA e em outros lugares foi também uma expansão econômica do capital Contudo o individualismo social fixado e incorporado à idéia de fronteira é em um aspecto importante um mito a linha de fronteira de Turner foi expandida em direção oeste menos por pioneiros e proprietários individuais do que por bancos estradas de ferro o Estado e outros especuladores e esses por sua vez venderam suas terras com lucro para empresas e famílias ver por exemplo Swierenga 1968 Nesse período a expansão econômica foi realizada em parte por meio da expansão geográfica absoluta ou seja a expansão da economia significou a expansão da arena geográfica na qual a economia operava Hoje o vínculo entre o desenvolvimento econômico e geográfico persiste conferindo à imagem de fronteira sua atualidade mas a forma deste vínculo é bem diferente No que diz respeito à base espacial a expansão econômica ocorre hoje não por meio da expansão geográfica absoluta mas pela diferenciação interna do espaço geográfico N Smith 1982 A produção atual do espaço ou do 18 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N desenvolvimento geográfico é portanto um processo acentuadamente desigual A gentrificação a renovação urbana e o mais amplo e complexo processo de reestruturação urbana são todos parte da diferenciação do espaço geográfico na escala urbana e embora estes processos tenham sua origem em um período anterior à atual crise econômica mundial sua função hoje é reservar uma pequena parte do substrato geográfico para um futuro período de expansão Smith 1984 E assim como no caso da fronteira original a mitologia afirma ser a gentrificação um processo liderado por pioneiros e proprietários individuais cujo suor ousadia e visão estão preparando o caminho para aqueles entre nós que são mais temerosos Mas mesmo que ignoremos a renovação urbana e o redesenvolvimento comercial administrativo e recreacional que vem ocorrendo e concentremosnos apenas na reabilitação residencial é patente o fato de que onde quer que os pioneiros urbanos se aventurem os bancos as incorporadoras o Estado e outros atores econômicos coletivos geralmente chegam antes Neste sentido parece ser mais apropriado ver a James Rouse Company não como o John Wayne mas como a Wells Fargo3 da gentrificação Na mídia a gentrificação tem sido apresentada como o maior símbolo do amplo processo de renovação urbana que vem ocorrendo Sua importância simbólica ultrapassa em muito sua importância real é uma pequena parte embora muito visível de um processo muito mais amplo O verdadeiro processo de gentrificação prestase a tal abuso cultural da mesma forma que ocorreu com a fronteira original Quaisquer que sejam as reais forças econômicas sociais e políticas que pavimentam o caminho para a gentrificação e quaisquer que sejam os bancos e imobiliárias governos e empreiteiros que estão por trás do processo o fato é que a gentrificação aparece à primeira vista e especialmente nos EUA como um maravilhoso testemunho dos valores do individualismo da família da oportunidade econômica e da dignidade do trabalho o ganho pelo suor Aparentemente ao menos a gentrificação pode ser tocada de forma a executar alguns dos acordes mais ressonantes de nosso piano ideológico Já em 1961 Jean Gottmann não apenas percebeu a existência de configurações urbanas em transformação mas também falou em uma linguagem receptiva à ideologia emergente quando afirmou que a fronteira da economia americana é nos dias de hoje urbana e suburbana em vez de uma fronteira periférica às áreas civilizadas Gottmann 1961 78 Com duas importantes condições que se tornaram mais visíveis nas últimas duas décadas este insight é correto Em primeiro lugar a fronteira urbana é antes de mais nada uma fronteira no sentido econômico As transformações políticas sociais e culturais nas áreas centrais são amiúde intensas e são certamente importantes no que diz respeito à experiência imediata da vida cotidiana mas elas estão associadas ao desenvolvimento de uma fronteira econômica Em segundo lugar a fronteira urbana é hoje apenas uma dentre várias fronteiras existentes visto que a diferenciação interna do espaço geográfico ocorre em diferentes escalas No contexto da atual crise econômica global é evidente que tanto o capital internacional quanto aquele de origem americana se defrontam com uma fronteira global que abrange a assim chamada fronteira urbana Este vínculo entre diferentes escalas e a importância do desenvolvimento urbano para a recuperação nacional e internacional ficaram claramente evidentes no linguajar entusiástico usado por apoiadores das Zonas Empresariais Enterprise zone urbanas uma idéia surgida nas administrações Reagan e Thatcher Para citar apenas um apologista Stuart Butler um economista britânico que trabalha para um grupo americano de direita a Heritage Foundation4 Podese sustentar que pelo menos parte do problema com o qual se defrontam muitas áreas urbanas hoje reside no fracasso em aplicar o mecanismo explicado por Turner o contínuo desenvolvimento e renovação locais de idéias Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 19 para a fronteira das áreas urbanas centrais As cidades estão enfrentando mudanças fundamentais e no entanto as medidas utilizadas para lidar com estas mudanças são ordenadas na sua maioria por governos distantes Nós falhamos em avaliar que podem existir oportunidades nas próprias cidades e nós escrupulosamente evitamos conceder às forças locais a chance de aproveitálas Os proponentes da Zona Empresarial visam proporcionar um ambiente onde o processo de fronteira possa ser colocado em prática na própria cidade Butler 1981 3 A observação circunspecta de Gottmann e outros abriu espaço vinte anos mais tarde para a adoção escancarada da fronteira urbana como o núcleo de um programa político e econômico de reestruturação urbana de acordo com os interesses do capital A linha de fronteira hoje possui uma definição essencialmente econômica como a fronteira da lucratividade mas adquire uma expressão geográfica bastante acentuada em diferentes escalas espaciais Isto é basicamente o que a fronteira do século XX sic e a assim chamada fronteira urbana têm em comum Na realidade ambas estão associadas à acumulação e expansão do capital Mas enquanto a fronteira do século XIX representou a realização de uma expansão geográfica absoluta como a principal expressão espacial da acumulação de capital a gentrificação e a renovação urbana representam o exemplo mais desenvolvido da rediferenciação do espaço geográfico com vistas ao mesmo resultado É possível que para compreender o presente o que seja necessário hoje é a substituição de uma falsa história por uma geografia verdadeira A reestruturação do espaço urbano É importante compreender a dimensão atual da gentrificação de modo a entender a natureza e a importância real do processo de reestruturação Se por gentrificação entendermos estritamente a renovação residencial em bairros da classe trabalhadora então nos Estados Unidos onde este processo é provavelmente mais intenso ela aparece claramente no nível dos distritos censitários mas não ainda em estatísticas metropolitanas Chall 1984 Schaffer e Smith 1984 Para um certo número de cidades nível de renda aluguéis e outros indicadores do censo de 1980 oferecem evidências claras de gentrificação nas áreas centrais Entretanto o processo ainda não se tornou suficientemente importante a ponto de reverter ou ao menos obstar de forma considerável as tendências atuais de suburbanização residencial Embora seja um padrão empírico interessante de forma isolada este processo dificilmente significa uma transformação de maior alcance nos padrões de desenvolvimento urbano Se contudo afastarmos a ideologia estreita promovida pela gentrificação e vermos o processo a partir de algumas mudanças urbanas mais amplas embora menos visíveis se em outras palavras examinarmos o impulso do processo e não dados empíricos estáticos surge então um padrão coerente de uma reestruturação urbana muito mais significativa Antes de examinar as tendências exatas que estão conduzindo a um processo de reestruturação é importante observar que a questão da escala espacial é fundamental em qualquer explicação relevante Podemos afirmar que a reestruturação da economia espacial urbana é um produto do desenvolvimento desigual do capitalismo ou da operação de um rent gap que ela é o resultado de uma economia de serviços em processo de desenvolvimento ou de mudanças nas preferências por estilos de vida que esta reestruturação é resultado da suburbanização do capital ou da desvalorização do capital investido no ambiente construído Obviamente a reestruturação é um resultado em alguma medida de todas estas forças mas afirmar isto acrescenta muito pouco Estes processos ocorrem em escalas espaciais diferentes e embora tentativas anteriores de explicação tenderam a se fixar a uma ou outra destas forças elas podem na verdade não ser 20 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N mutuamente excludentes Autores que tentaram incorporar mais de uma destas forças geralmente se contentaram em listálas como fatores Esta versão da análise de fatores é contudo bastante desprovida de ambição Todo o problema da explicação reside não em identificar fatores mas em compreender a importância relativa e a relação estabelecida entre os assim chamados fatores Em parte tratase de uma questão de escala Mas existe uma segunda questão de escala concernente aos níveis de generalidade Aceitamos aqui que a reestruturação do espaço urbano é geral mas de forma alguma universal Que significa dizer isto Significa em primeiro lugar que a reestruturação do espaço urbano não é estritamente falando um fenômeno novo Todo o processo de crescimento e desenvolvimento urbano consiste em um constante arranjo estruturação e reestruturação do espaço urbano O que é novo hoje é a intensidade em que esta reestruturação do espaço se apresenta como um componente imediato de uma ampla reestruturação social e econômica das economias capitalistas avançadas Determinado ambiente construído expressa uma organização específica da produção e reprodução do consumo e da circulação e conforme esta organização se modifica também se modifica a configuração do ambiente construído A cidade dos pedestres afirmase não é a cidade do automóvel mas de forma ainda mais significativa talvez a cidade do pequeno artesanato não é a metrópole do capital multinacional A reestruturação geográfica da economia espacial é sempre desigual portanto a reestruturação urbana em uma região da economia nacional ou internacional pode não ser acompanhada tanto em qualidade ou quantidade natureza ou intensidade por uma reestruturação em outra região Isto é imediatamente evidente na comparação entre partes desenvolvidas e subdesenvolvidas da economia mundial A estrutura básica da maioria das cidades do Terceiro Mundo e os processos em operação são muito diferentes da realidade na Europa Oceania ou América do Norte Mas igualmente no interior das economias desenvolvidas há fortes disparidades regionais Se Baltimore e Los Angeles estão ambas experimentando rápidas transformações em suas economias espaciais também se pode afirmar que existem tantas diferenças quanto similaridades entre elas Outras cidades como Gary em Indiana podem estar sofrendo um declínio inexorável e mínima reestruturação no lugar disso uma contínua deterioração Em resumo há sobreposição de arranjos regionais e internacionais que complicam as configurações urbanas Embora dêem ênfase às causas gerais e ao pano de fundo da reestruturação urbana contemporânea as explanações oferecidas só poderão ter êxito na medida em que comecem a esclarecer a diversidade das formas urbanas que resultam do processo assim como totais exceções à regra aparente Isto de novo requer não uma análise fatorial uma lista dos fatores mas uma explanação integrada devemos esclarecer não apenas a localização mas também a temporalidade desta profunda transformação urbana Mas talvez a distinção mais básica que surgirá é aquela entre as tendências que são predominantemente responsáveis pela ocorrência da reestruturação urbana e aquelas responsáveis pela forma que o processo assume Os mais importantes processos responsáveis pela origem e pela forma da reestruturação urbana podem talvez ser resumidos nos seguintes itens a a suburbanização e o surgimento de um diferencial de renda rent gap b a desindustrialização das economias capitalistas avançadas e o crescimento do emprego no setor de serviços c a centralização espacial e simultânea descentralização do capital d a queda na taxa de lucro e os movimentos cíclicos do capital e as mudanças demográficas e nos Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 21 padrões de consumo Em conjunto estas transformações e processos podem proporcionar uma primeira aproximação de uma explicação integrada das diferentes facetas da gentrificação e da reestruturação urbana Suburbanização e o surgimento do rent gap A explanação do desenvolvimento da suburbanização é mais complexa do que comumente se supõe e uma alternativa revisionista às explicações tradicionais baseadas no transporte está começando a surgir Walker 1978 1981 O objetivo aqui não é fornecer uma descrição minuciosa da suburbanização mas sintetizar algumas das conclusões mais importantes O processo de suburbanização representa uma simultânea centralização e descentralização do capital e da atividade humana no espaço geográfico Em uma escala nacional a suburbanização é a expansão para além das áreas centrais e este processo deve ser entendido de forma geral como um produto necessário da centralização do capital É o crescimento dos vilarejos em cidades e das cidades em metrópoles Na escala urbana no entanto da perspectiva do centro urbano a suburbanização é um processo de descentralização É produto não do impulso elementar em direção à centralização mas do impulso em direção a uma elevada taxa de lucro A taxa de lucro varia conforme a localização e na escala urbana como tal o indicador econômico que diferencia um local do outro é a renda da terra Muitas outras forças estiveram envolvidas na suburbanização do capital mas a disponibilidade de terras mais baratas na periferia menor renda da terra foi primordial para o processo todo Não havia nenhuma necessidade natural de a expansão da atividade econômica tomar a forma do desenvolvimento suburbano não havia nenhum impedimento técnico que impossibilitasse um movimento do capital moderno de larga escala para o interior rural ou impedindo que este capital redesenvolvesse a cidade industrial que herdou mas em vez disto a expansão do capital conduziu a um processo de suburbanização Isto em parte tem relação com o ímpeto à centralização ver abaixo mas dada a economia da centralização é a estrutura da renda da terra que determinou a expansão da atividade econômica para as áreas suburbanas O movimento do capital que leva ao desenvolvimento de atividades industriais comerciais residenciais e recreacionais nas áreas suburbanas resulta em uma mudança recíproca dos níveis de renda da terra nas áreas centrais e nas áreas suburbanas Enquanto o preço da terra nas áreas suburbanas elevase com a proliferação de novas construções o preço relativo da terra nas áreas centrais cai Cada vez menores quantidades de capital são canalizadas para a manutenção e restauração dos edifícios localizados na área central Isto resulta naquilo que denominamos um diferencial rent gap entre a atual renda da terra capitalizada pelo uso presente deteriorado e a renda da terra potencial que poderia ser capitalizada pelo mais elevado e melhor uso da terra ou ao menos comparativamente mais elevado e melhor uso em virtude da sua localização centralizada Esta suburbanização ocorre paralelamente a mudanças estruturais nas economias avançadas Alguns dos outros processos que examinaremos são mais limitados em abrangência o que é digno de nota no que diz respeito ao rent gap é sua quase onipresença A maior parte das cidades no mundo capitalista avançado experimentou tal fenômeno em maior ou menor intensidade Onde o processo é desobstruído para trilhar seu caminho em nome do livre mercado ele leva a um abandono substancial das propriedades localizadas nas áreas centrais Esta desvalorização do capital investido no ambiente construído afeta as propriedades de todos os gêneros comercial e industrial bem como residencial Diferentes intensidades e formas de envolvimento do Estado conferem ao processo características muito diferentes em diversas economias e o abandono a conclusão lógica 22 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N do processo é mais marcante nos EUA onde o envolvimento do Estado tem sido menos consistente e mais esporádico Em um nível mais básico é o deslocamento do capital para a construção de paisagens suburbanas e o conseqüente surgimento de um rent gap o que cria a oportunidade econômica para a reestruturação das áreas urbanas centrais A desvalorização da área central cria a oportunidade para a revalorização desta parte subdesenvolvida do espaço urbano A realização efetiva do processo e a determinação de sua forma específica incluem os outros itens listados acima Desindustrialização e o crescimento da economia terciária Associado à desvalorização do capital investido nas áreas centrais está o enfraquecimento de certos setores econômicos e usos do solo em comparação com outros Isto é resultado essencialmente de amplas transformações na estrutura econômica As economias capitalistas avançadas a grande exceção sendo o Japão em particular têm experimentado um início de uma desindustrialização ao passo que houve uma paralela ainda que parcial industrialização de certas economias do Terceiro Mundo A partir dos anos 1960 a maioria das economias industriais tiveram redução na proporção de trabalhadores empregados nos setores industriais Blackaby 1978 Harris 1980 1983 Bluestone and Harrison 1982 Mas muitas áreas urbanas começaram a sofrer os efeitos da desindustrialização muito antes das últimas duas décadas Assim o crescimento da indústria em escala nacional desde a II Guerra Mundial foi bastante assimétrico entre as regiões Enquanto em algumas regiões tais como a Midlands Ocidental e o sudoeste da Inglaterra ou como muitos dos estados do sul e sudoeste dos EUA houve um rápido crescimento da indústria moderna outras regiões sofreram um desinvestimento relativo do capital investido na indústria Na escala urbana o processo se mostra ainda mais marcante a maior parte da expansão da capacidade industrial durante o boom do pós guerra não se instalou nas áreas mais centrais das cidades o lugar tradicional da indústria segundo o modelo de Chicago de estrutura urbana mas se localizou em áreas suburbanas e periféricas O resultado disto foi um período de desinvestimento sistemático na produção industrial urbana que data no caso de algumas cidades britânicas mesmo de antes da I Guerra Mundial Lenman 1977 E isto ocorreu apesar de ter havido um aumento na produção industrial global da economia do Reino Unido mesmo depois da II Guerra A conseqüência desta desindustrialização é o crescimento do emprego em outros setores da economia especialmente daquelas ocupações que têm sido definidas imprecisamente como de colarinho branco ou de serviços No interior destas categorias amplas muitos tipos de empregos diferentes estão incluídos desde empregos em escritórios serviços de comunicação e varejo até carreiras profissionais de gestão e de pesquisa No âmbito deste movimento abrangente em direção a um crescimento da força de trabalho no setor de serviços portanto existem tendências muito diversificadas cada qual com expressões espaciais específicas como veremos mais adiante Por si só os processos de desindustrialização e crescimento do emprego nos serviços não explicam de modo algum a reestruturação dos centros urbanos Na verdade esses processos ajudam a explicar em primeiro lugar os tipos de estoques de edifícios e usos do solo envolvidos no desenvolvimento do rent gap e em segundo lugar os novos usos do solo que devem surgir quando houver a oportunidade para o redesenvolvimento Portanto embora a ênfase da mídia tem sido na gentrificação recente e na renovação de habitações da classe trabalhadora também ocorreu considerável transformação de uso em antigas áreas industriais Isto não começou com a conversão de antigos armazéns industriais em finos lofts muito mais significativo foi a anterior atividade de renovação urbana que embora Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 23 certamente se tratasse de um processo de remoção de cortiços também foi a remoção de estruturas industriais obsoletas isto significando também desvalorizadas tais como fábricas depósitos e ancoradouros locais onde muitos dos moradores dos cortiços haviam um dia trabalhado Embora a desvalorização do capital e o surgimento do rent gap expliquem a possibilidade do reinvestimento na área central ao redor da qual áreas gentrificadas estão se desenvolvendo e embora as transformações econômicas e na estrutura de empregos indiquem os tipos de atividade que provavelmente se desenvolverão a partir deste reinvestimento ainda persiste a questão de saber por que razão o crescente número de empregos no setor de serviços está pelo menos em parte sendo concentrado nas áreas centrais A existência do rent gap é apenas uma explicação parcial existe afinal terras baratas disponíveis em outros locais por toda a periferia rural Centralização espacial e descentralização do capital Com o surgimento do modo capitalista de produção aquilo que até então havia sido contingente desaparece é desconsiderado ou então é convertido em uma necessidade A acumulação da riqueza havia sido uma contingência no sentido de que por mais que fosse um objetivo dos indivíduos não era nas sociedades précapitalistas uma regra social geral da qual a sobrevivência da sociedade dependia Com o advento do capitalismo a acumulação de capital se converte em necessidade social exatamente desta maneira Marx 1967 edn vol 1 cap 25 demonstrou que uma certa concentração social e centralização do capital eram ao mesmo tempo um pré requisito e um produto da acumulação de capital Em resumo isto significa dizer que proporções progressivamente maiores de capital são controladas por um número cada vez menor de capitalistas A centralização social é realizada apenas através da produção de ordenamentos geográficos específicos mas os arranjos espaciais resultantes são complexos Basicamente a centralização do capital conduz a uma dialética da centralização e descentralização espacial N Smith 1982 Se a expansão do capital no século XIX é a manifestação mais clara do último processo da descentralização o desenvolvimento das metrópoles é o produto mais visível da centralização espacial A centralização do capital ocorre em algumas escalas contudo diferentes da escala urbana Ela ocorre na escala do chão da fábrica e na escala dos capitais nacionais em uma economia global e em cada escala existem mecanismos bastante específicos que engendram o processo Na escala urbana as teorias tradicionais deram ênfase às economias de aglomeração A expansão do capital compreende uma progressiva divisão do trabalho também em diferentes escalas e portanto um número cada vez maior de atividades separadas devem ser combinadas a fim de prover as mercadorias e serviços necessários Quanto menor for a distância entre estas diferentes atividades menor será o custo e o tempo da produção e do transporte Inserida neste contexto da acumulação de capital esta explicação é essencialmente correta no que concerne à centralização original do capital em aglomerações urbanas Em um interessante insight Walker 1981 388 observa que à medida que o capitalismo se desenvolveu as economias de aglomeração diminuíram elas são uma força historicamente contingente Mas elas são em parte substituídas por economias organizacionais de escala com a concentração do capital de modo que gigantescos nós de atividade ainda estruturam a paisagem urbana A idéia central aqui é que tais forças como as economias de aglomeração são historicamente contingentes Vista da perspectiva do centro da cidade a suburbanização da indústria representa um 24 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N claro enfraquecimento das economias de aglomeração e ela foi facilitada e não causada por avanços nos meios de transporte Vista da perspectiva da economia nacional contudo a suburbanização da indústria representou uma aglomeração de gigantescas e não tão gigantescas instalações industriais ao redor dos centros urbanos consolidados e foi portanto uma reafirmação nesta escala do funcionamento das economias de aglomeração ainda que enfraquecidas O que Walker percebe entretanto é real as economias de aglomeração operam de forma diferente hoje com claras conseqüências espaciais A mais óbvia destas conseqüências diz respeito às rápidas transformações nas configurações locacionais associadas à expansão do emprego no setor de serviços O problema no que tange ao emprego nos serviços é que uma forte tendência para a centralização se combina com uma igualmente forte ou até mais forte tendência à descentralização o movimento dos escritórios e outros empregos de serviços para os subúrbios Como podem estas tendências aparentemente opostas coexistir Como podem a suburbanização e a aglomeração ser coexistentes A explicação para este aparente paradoxo reside na consideração de duas questões interrelacionadas A primeira é a relação entre espaço e tempo visàvis às diferentes formas de capital e a segunda diz respeito à divisão do trabalho no interior dos assim chamados setores de serviços É um clichê hoje sugerir que a revolução nas tecnologias de comunicação levará a uma descentralização espacial dos escritórios Esta aniquilação do espaço pelo tempo como dizia Marx de fato levou a uma enorme suburbanização dos empregos nos serviços seguindo a suburbanização industrial Com o uso do computador nos escritórios este movimento continua Mas em consonância com a ideologia da sociedade sem classes que embasou a noção de colarinho branco este movimento é geralmente tratado como a suburbanização de todo e qualquer tipo de trabalho em escritórios desde altos cargos executivos até digitadores Contudo quanto mais o movimento de suburbanização se desenvolve mais fica claro que esta noção é incorreta Deste modo a simultânea centralização e descentralização das atividades de escritórios é a expressão espacial da divisão do trabalho no interior da chamada economia de serviços Geralmente as atividades de escritórios que são descentralizadas são os sistemas e operações mais rotineiras associadas à administração organização e gestão das atividades governamentais e corporativas Estas representam os back offices as fábricas de papel ou mais precisamente as fábricas de comunicação Muito menos comum é a suburbanização de centros decisórios como sedes de empresas e de órgãos governamentais O boom dos escritórios experimentado por muitas cidades no mundo capitalista avançado nos últimos 15 anos parece ter sido deste tipo tratase da contínua centralização espacial dos centros decisórios mais importantes assim como de uma miríade de serviços auxiliares a estas atividades assessoria jurídica serviços de publicidade hotéis e centros de conferências editoras escritórios de arquitetura bancos e serviços financeiros e muitos outros serviços relacionados aos negócios Há exceções a esta regra e uma das mais óbvias é Stamford em Connecticut que atraiu muitas novas sedes de corporações Contudo Stamford não é de forma alguma um caso comum É ao contrário singular justamente por ter atraído a descentralização de atividades administrativas e profissionais auxiliares fundamentais às sedes corporativas O resultado é menos um processo de descentralização do que uma recentralização de funções executivas em Stamford Se isto fortalece a tendência a uma metrópole multi modal Muller 1976 resta ainda a ser observado A questão que fica então é saber por que razão com a descentralização de fábricas industriais e de comunicação continua ocorrendo a centralização de núcleos decisórios Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 25 como sedes de empresas As explicações tradicionais punham em evidência a importância do contato face a face No entanto embora a explicação baseada na necessidade do contato visual comece a identificar as questões relevantes ainda é muito genérica Esta explicação tende a evocar um certo sentimentalismo em relação ao contato visual mas podemos ter certeza de que nenhum sentimentalismo pode explicar a concentração de arranhacéus nos distritos centrais de negócios CBDs contemporâneos Por trás deste sentimentalismo encontrase uma justificativa mais utilitária para o contato pessoal e isso envolve as diferentes formas de administração do tempo nos diferentes setores da produção e circulação total do capital Resumidamente na fábrica industrial e nas fábricas de comunicação o sistema em si seja o maquinário seja a agenda administrativa determina os ritmos diários semanais e mensais do processo de trabalho Mudanças significativas nesta estabilidade de longo prazo advêm ou de decisões externas ou de rupturas internas periódicas como greves falhas mecânicas ou falhas de sistema A regularidade temporal destes sistemas de produção e administração além do fato de dependerem de qualificações prontamente disponíveis na força de trabalho e de facilidades de transporte e comunicação com atividades auxiliares torna a suburbanização uma decisão racional Estas atividades têm pouco a ganhar ao se instalarem nas áreas centrais e com os elevados aluguéis teriam muito a perder Mas o ritmo temporal da administração superior da economia e de suas diversas unidades corporativas não é estável e regular desta maneira para o desgosto dos administradores e executivos Alterações nas taxas de juros e nos preços das ações acordos financeiros negociações trabalhistas e socorros financeiros bailouts transações internacionais no mercado de câmbio e no mercado de ouro contratos comerciais o comportamento imprevisível dos governos e dos competidores todas estas atividades podem exigir uma rápida resposta por parte dos gestores de empresas e isso por sua vez exige um contato próximo e imediato com uma série de sistemas de apoio profissionais e administrativos assim como com empresas concorrentes Nesse setor e de formas múltiplas o clichê tempo é dinheiro realizase de forma intensa sobre a relação tempo e juros ver Harvey 1982258 Menos comumente enunciada é a conseqüência de que o espaço também é dinheiro a proximidade espacial reduz os tempos de decisão quando o sistema de decisão é suficientemente irregular a ponto de não poder ser reduzido à lógica de rotina do computador O regime temporal anárquico da tomada de decisões financeiras na sociedade capitalista requer uma certa centralização espacial Não se trata apenas do fato de que os executivos se sintam mais seguros quando enlatados como sardinhas em arranhacéus repletos de parceiros e concorrentes Na verdade eles estão mais seguros na medida em que a rápida tomada de decisões requer contato direto informação e negociação Quanto mais a economia mostrase propensa a crises e portanto à administração de crises de curto prazo mais se pode esperar das sedes de empresas uma busca por segurança espacial Juntamente com a expansão per se do setor e com o movimento cíclico do capital investido no ambiente construído esta resposta espacial à irregularidade temporal e financeira ajuda a explicar o recente boom na construção de escritórios nas áreas centrais Colarinho branco é um conceito visivelmente caótico Sayer 1982 com dois componentes distintos cada qual possuindo uma expressão espacial Enquanto que na cidade précapitalista foram as necessidades da troca mercantil que ditaram o movimento de centralização espacial e na cidade industrial capitalista foi a aglomeração do capital produtivo na cidade capitalista avançada são os ditames financeiros e administrativos que perpetuam a tendência à centralização Isto ajuda a explicar por que certas atividades chamadas de serviços são centralizadas e outras são suburbanizadas e por que a reestruturação das áreas centrais assume esta forma corporativaprofissional 26 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N A queda da taxa de lucro e o movimento cíclico do capital Tendo em vista então a natureza espacial do processo como podemos explicar o momento específico desta reestruturação urbana Esta questão depende do momento histórico do rent gap e do retorno espacial do capital para a área central Longe de serem acontecimentos fortuitos esses eventos são parte integrante do ritmo mais amplo da acumulação de capital Em um nível mais abstrato o rent gap resulta da dialética dos padrões espaciais e temporais do investimento de capital mais concretamente é o produto espacial dos processos complementares de valorização e desvalorização A acumulação de capital não ocorre de forma linear tratase de um processo cíclico formado por períodos de expansão e períodos de crise O rent gap se desenvolve durante um longo período de expansão econômica mas uma expansão que se dá em outro lugar Portanto a valorização do capital na construção dos subúrbios do pósguerra ocorreu paralelamente à desvalorização do capital investido nas áreas centrais Mas a acumulação de capital durante este período de crescimento leva a uma queda na taxa de lucro que começa nos setores industriais e que conduz em última instância às crises Marx 1967 edn vol III Como um meio de afastar a crise ao menos temporariamente o capital é retirado da esfera industrial e como mostrou Harvey 1978 1982 há uma tendência ao capital ser deslocado para a produção do ambiente construído onde as taxas de lucro permanecem mais altas e onde é possível através da especulação a apropriação de renda da terra apesar de nada ser produzido Duas coisas se unem então no final de um período de expansão no qual o rent gap surge e cria a oportunidade para o reinvestimento há uma tendência simultânea do capital em buscar uma saída no ambiente construído A remoção de cortiços e os projetos de renovação urbana em muitas cidades ocidentais no período posterior à II Guerra Mundial foram iniciados e conduzidos pelo Estado e embora não sem relação com o surgim ento do rent gap eles não podem ser explicados de forma adequada apenas nestes termos econômicos Contudo a função da renovação urbana foi preparar o caminho para a futura reestruturação que surgiria nos anos 60 e se tornaria mais visível nos anos 70 Em termos econômicos o Estado absorveu os riscos iniciais associados à gentrificação como no caso da Society Hill na Philadelphia que era um projeto de renovação urbana propriamente dito O Estado também revelou ao capital privado a possibilidade de reestruturação em larga escala das áreas centrais pavimentando o caminho para investimentos futuros de capital O momento desta reestruturação espacial portanto está intimamente relacionado à reestruturação econômica que ocorre durante as crises econômicas como aquelas que a economia mundial experimentou a partir do início dos anos 1970 Uma economia reestruturada compreende um ambiente construído reestruturado Mas não há transição gradual para uma economia reestruturada a última crise econômica encontrou solução somente após uma destruição gigantesca de capital na II Guerra Mundial representando uma desvalorização cataclísmica de capital e uma destruição que antecede uma reestruturação do espaço urbano Hoje 50 anos mais tarde nos defrontamos novamente com a mesma ameaça Mudanças demográficas e padrões de consumo O envelhecimento da geração baby boom o elevado número de mulheres construindo carreira a proliferação de famílias com uma ou duas pessoas e a popularidade do estilo de vida solteiro urbano são comumente considerados como os fatores que estão por trás da gentrificação Em harmonia com a ideologia de fronteira o processo é visto aqui como o resultado de escolhas individuais Mas na verdade esta explicação não é suficiente Estamos assistindo a uma reestruturação Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 27 urbana muito mais ampla em abrangência do que a reabilitação residencial e é difícil ver como estas explicações poderiam ser na melhor das hipóteses mais do que parciais Enquanto estas explicações podem ser apenas concebíveis no caso da St Katherines Dock em Londres elas são irrelevantes para compreender o boom de escritórios e a renovação das docas No entanto tudo isto está associado As mudanças nos padrões demográficos e nas preferências de estilo de vida não são completamente irrelevantes mas é crucial que entendamos o que estas transformações podem e o que elas não podem explicar A importância das questões demográficas e de estilo de vida parece ser fundamental na determinação da forma superficial assumida pela reestruturação em vez de explicar a ocorrência da transformação urbana Em vista do movimento do capital em direção às áreas centrais e a ênfase nas funções executivas profissionais administrativas e de gestão assim como outras atividades auxiliares as mudanças demográficas e de estilo de vida podem auxiliar a explicar por que ocorre a proliferação de cafés chiques em vez de Harry Johnsons de butiques de roupas de grife e gourmet shops requintados em vez de minimercados de placas da American Express em vez de placas aceitamos apenas dinheiro Como sugere Jager 1986 a arquitetura das habitações gentrificadas é também um produto de uma cultura de classe específica e de um conjunto de estilos de vida Portanto alguns dos projetos de gentrificação mais recentes e menos elitizados especialmente aqueles envolvendo novas construções estão começando a reproduzir as piores habitações suburbanas do tipo caixa de fósforos levando a uma suburbanização social e estética da cidade Sharon Zukin 1982a 1982b oferece uma ilustração excelente desta questão em sua análise do desenvolvimento da habitação em lofts no SoHo e em toda a área da Lower Manhattan Sob o Lower Manhattan Plan inspirado em Rockfeller e idealizado nos anos 1960 os antigos armazéns ancoradouros e moradias de trabalhadores nesta área seriam demolidos em benefício dos usuais modos de construção centralizados verticalizados financeirizados e de alta tecnologia A luta exitosa contra o redesenvolvimento foi travada em nome da preservação histórica e das artes e em 1971 em decisão extraordinária o SoHo foi considerado no zoneamento como distrito de artistas Entretanto como aponta Zukin isso não representa uma vitória da cultura muito menos da preferência do consumidor sobre o capital Na verdade ela representou uma estratégia alternativa envolvendo diferentes frações de capital para a recapitalização da Lower Manhattan revalorização pela preservação em vez de por meio de nova construção se tornou um compromisso histórico nas áreas centrais Na Lower Manhattan a luta para legalizar a moradia em lofts para artistas apenas antecipou em alguma medida uma resposta conjuntural à crise nos modos tradicionais do mercado imobiliário Na verdade a ampliação do mercado de lofts depois de 1973 proveu uma base para a acumulação de capital entre novos ainda que pequenos investidores Desde 1973 obviamente grandes incorporadoras passaram a se envolver nesta área Enquanto que antes cooperativas de lofts eram espontaneamente criadas por grupos de residentes interessados hoje as incorporadoras renovam e adaptam um edifício e em seguida colocamno no mercado já acabado como cooperativa Coop 8 E evidentemente cada vez menos moradores do SoHo são artistas apesar do zoneamento que ainda persiste A questão aqui é que mesmo o SoHo um dos símbolos mais vívidos da expressão artística na paisagem da gentrificação deve a sua existência às mais básicas forças econômicas ver também Stevens 1982 A concentração de artistas no SoHo hoje é mais uma fachada do que a causa da popularidade 28 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N da área Isto fica evidente na exploração do simbolismo artístico da área na publicidade imobiliária agressiva Direção e limites da reestruturação urbana Se a reestruturação que se iniciou prosseguir em sua atual direção então podemos esperar mudanças significativas na estrutura urbana Por mais preciso que o modelo de Chicago da estrutura urbana tenha sido existe um consenso de que ele não é mais pertinente O desenvolvimento urbano superou o modelo A conclusão lógica da atual reestruturação que permanece hoje incipiente seria um centro urbano dominado por funções executivas financeiras e administrativas de alto nível habitações para a classe média e classe média alta e um complexo de hotéis restaurantes cinemas lojas e espaços de cultura oferecendo lazer a esta população Em resumo poderíamos esperar a criação de uma área de recreação burguesa a Manhattanização social da área central para combinar com a Manhattanização arquitetônica que prenunciou a estrutura de empregos em transformação A provável conseqüência disto é um deslocamento substancial da classe trabalhadora para os subúrbios mais antigos e para a periferia urbana Isto não pode ser entendido como seguidamente o é como um indício de que o processo de suburbanização está se encaminhando para um fim Ao contrário a agitação durante os anos 1970 em torno do assim chamado crescimento não metropolitano nos EUA representa menos uma reversão dos padrões de urbanização estabelecidos Berry 1976 Beale 1977 do que um prosseguimento da expansão metropolitana muito para além dos limites estatísticos estabelecidos AbuLughod 1982 Não há muito sentido em supor que a suburbanização não será mais ampla do que nunca caso venha a ocorrer um outro período de forte expansão econômica Também não deve ser vista esta configuração como uma exclusão absoluta da classe trabalhadora das áreas centrais Assim como firmes enclaves de habitações de classe média alta subsistiram nas áreas centrais amplamente habitadas pela classe trabalhadoras durante os anos 1960 e 1970 enclaves de comunidades da classe trabalhadora também permanecerão De fato estas comunidades terão sua função na medida em que os equipamentos e os serviços da área de recreação burguesa requerem uma população trabalhadora A comparação e o contraste com a África do Sul é instrutiva a este respeito Western 1981 A alternativa oposta de que as áreas centrais prosseguiriam em seu declínio absoluto em direção a um abandono amplo pode ser viável apenas nos Estados Unidos E ela é de fato uma possibilidade para algumas cidades nos EUA Na medida em que a reestruturação do centro depende de uma contínua concentração e recentralização de funções econômicas de controle podese esperar que isto ocorra com intensidade em centros nacionais e regionais Mas a situação é menos evidente no caso de cidades industriais menores como Gary em Indiana onde as funções administrativas e financeiras associadas às indústrias da cidade estão localizadas em outro lugar Detroit fornece um exemplo ainda mais significativo porque a suburbanização dos escritórios atingiu não apenas os back offices mas muitas das sedes corporativas e os consideráveis esforços de recentralização através do Renaissance Center inspirado em Ford ainda não atraíram quantia substancial de capital para o centro de Detroit Não há também muito sentido em duvidar de que a rápida desvalorização do capital investido no ambiente construído das áreas centrais prosseguirá apesar do início de um reinvestimento Na atual crise econômica com altas taxas de juros não são apenas as novas construções que são adversamente afetadas As mesmas forças provocam uma redução do capital investido na manutenção e reparo dos edifícios existentes e a conseqüente desvalorização levará a uma expansão do vale Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 29 do valor da terra8 dos edifícios fisicamente deteriorados a extensão espacial na qual o rent gap opera é então estendida Portanto a reestruturação do espaço urbano conduz a uma simultânea assim como subseqüente decadência e redesenvolvimento desvalorização e revalorização Em conclusão salientamos que a reestruturação do espaço urbano é parte de uma evolução mais ampla da economia capitalista contemporânea Assim sendo no atual contexto de uma crise econômica que se aprofunda nossas conclusões e especulações devem ser provisórias É bem possível que a atual crise econômica resultará em forças políticas e econômicas instituições e modos de controle muito diferentes e isto poderia muito bem resultar em padrões de crescimento urbano muito diversificados Em particular pus ênfase aqui no pano de fundo econômico da reestruturação em vez de tentar examinar as coalizões políticas para o crescimento Mollenkopt 1978 1983 que executam planos de redesenvolvimento específicos Isto foi em parte uma escolha de escala não importa o quão geral seja o processo as experiências locais diferem enormemente Além disso a ênfase na lógica da acumulação e no seu papel na reestruturação urbana de forma alguma pressupõe uma adesão filosófica a uma abordagem fundada na lógica do capital ao invés de uma abordagem que coloque em evidência a luta de classes Como uma dicotomia filosófica esta questão é falsa mas como uma dialética histórica ela é tudo A verdade lamentável é que os níveis comparativamente baixos das lutas da classe trabalhadora desde a Guerra Fria com exceção daquelas durante o fim dos anos 1960 e em grande parte da Europa no início dos anos 1970 significaram que o capital teve em boa medida mãos livres na estruturação e reestruturação do espaço urbano Isto não invalida o papel da luta de classes significa que com poucas exceções se tratou de uma luta tão desequilibrada que a classe capitalista foi em geral capaz de levar a batalha a cabo por meio de suas estratégias econômicas de investimento de capital O investimento de capital é a primeira arma de batalha no arsenal da classe dominante Uma exceção importante à hegemonia completa do capital diz respeito ao papel dos governos socialdemocratas na Europa em fornecer habitação pública às lutas contra a privatização da habitação e às revoltas em várias cidades européias em torno da questão da habitação no início dos anos 80 Estas questões não são abordadas aqui e isto é uma omissão importante O que esta experiência sugere contudo é uma progressão no nosso entendimento da fronteira urbana A selva urbana produzida pelo movimento cíclico do capital e sua desvalorização se tornaram do ponto de vista do capital novas fronteiras urbanas da lucratividade A gentrificação é uma fronteira na qual fortunas são criadas Do ponto de vista dos moradores da classe trabalhadora e de suas comunidades contudo a fronteira urbana é mais diretamente política do que econômica Ameaçados de serem desalojados pelo avanço da fronteira da lucratividade a questão para eles é lutar pelo estabelecimento de uma fronteira política por trás da qual moradores da classe trabalhadora possam retomar o controle de seus lares existem dois lados em qualquer fronteira A tarefa mais ampla é de organizar o avanço da fronteira política e como em qualquer fronteira seja a de Turner ou a urbana há períodos de calmaria e de agitação neste processo Agradecimentos Peter Marcuse Damaris Rose e Bob Beauregard fizeram valiosos comentários sobre os primeiros esboços deste trabalho Também gostaria de agradecer aos membros de um seminário na Harvard University que ofereceram comentários e membros dos departamentos de Geografia em Rutgers e Ohio State que auxiliaram a aprimorar os argumentos 30 GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo Nº 21 2007 SMITH N 1 Fonte Smith N Gentrification the Frontier and the Restructuring of Urban Space In Readings in Urban Theory edited by Susan S Fainstein and Scott Campbell Cambridge Massachusetts Blackwell Publishers 1996 2 John Wayne 19071979 foi ator de cinema e fez fama em filmes de faroeste NT 3 A Wells Fargo é uma instituição financeira estadunidense que esteve envolvida com a corrida pelo ouro na Califórnia durante o século XIX naquela época atuava além do ramo financeiro propriamente dito no ramo de transporte principalmente administrando linhas férreas A instituição conserva o mesmo nome e um poder imenso até hoje depois de múltiplas aquisições e fusões NT 4Aqui é provável que o autor queira se referir à fronteira do século XIX como aparece ao longo do texto e não do século XX NT 5 O autor utiliza a expressão whitecollar economy literalmente economia de colarinho branco Por se tratar de uma expressão de uso incomum no português preferimos traduzir por economia terciária NT 6 Original whitecollar employment NT 7Expressão já utilizada no vocabulário dos negócios para se referir às funções mais rotineiras de administração na divisão do trabalho no interior das empresas NT 8Coop em inglês designa um apartamento adquirido em regime de cooperativa em muitos casos em edifícios de padrão elevado o morador se torna membro da cooperativa proprietária do edifício NT 9 No original land value valley NT Notas Bibliografia Abrams C 1965 The city is the Frontier New York Harper Row AbuLughod J 1982 The myth of Demetropolitanization Paper presented at the Symposimum on Social Change University of Cincinnati Advisory Council on Historic Preservation 1980 Report to the President and the Congress of the United States Washington DC Government Printing Office Anderson J 1983 Geography as ideology and the politics of crisis the Enterprise Zones experiment In Redundant Spaces in Cities and Regions J Anderson and R Hudson eds 31350 London Academic Press Banfield E C 1968 The unheavenly city The nature and future of our urban crisis Boston Little and Brown Beale C 1977 The recent shift of the United Sates population to nonmetropolitan areas 197075 International Regional Science Review 2 2 11322 Berry B J L 1976 The counterurbanization process urban America since 1970 In Urbanization and Counterurbanization B Berry ed 1730 Urban Affairs Annual Review vol II Beverly Hills Sage Publications Blackaby F ed 1978 Deindustrialization London Heinemann Bluestone B and B Harrison 1982 The Deindustrialization of America Plant closing community abandonment and the dismantling of basic industry New York Basic Books Butler S 1981 Enterprise Zones Greenlining the inner cities New York Universe Books Castells M 1976a The wild city Kapitalistate 4 5 Summer 230 Chall D 1984 Neighborhood changes in New York City during the 1970s Quarterly Review of the Federal Reserve Bank of New York Winter 198384 3848 Gottmann J 1961 Megalopolis The urbanized notheastern seabord of the United States New York Twentieth Century Fund Harris N 1980 Deindustrialization International Socialism 7 7281 Harris N 1983 Of Bread and Guns The world economy in crisis Harmondsworth Penguin Gentrificação a fronteira e a reestruturação do espaço urbano pp 15 31 31 Harvey D 1978 The urban process under capitalism a framework for analysis International Journal of Urban and Regional Research 2 1 10031 Harvey D 1982 The Limits to Capital Oxford Basil Blackwell Jager M 1986 Class definition and the esthetics of gentrification Victoriana in Melbourne In Gentrification of the City N Smith and P Williams eds 7891 Boston London and Sydney Allen Unwin Lenman B 1977 An Economic History of Modern Scotland 16601976 Hamden Conn Archon Books Long 1971 The city as reservation Public Interest 25 2238 Marx K 1967 edn Capital 3 volumes New York International Publishers Mollenkopt J H 1978 The postwar politics of urban development In Marxism and the Metropolis New perspectives in urban political economy W K Tabb and L Sawyers eds 11752 New York Oxford University Press Muller P 1976 The outer city Resource Paper 752 Association of American Geographers Washington DC Sayer A 1982 Explanation in economic geography abstraction versus generalization Progress in Human Geography 6 March 6888 Schaffer R and N Smith 1984 The gentrification of 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intervenção estatal longe de se restringirem a um momento encerrado na préhistória do capitalismo constituem ao lado da reprodução ampliada um dos eixos fundamentais da expansão deste modo de produção e seu exame é imprescindível para a compreensão do novo imperialismo A longa sobrevivência do capitalismo apesar de múltiplas crises e reorganizações acompanhadas por terríveis prognósticos tanto da esquerda quanto da direita sobre sua iminente extinção é um mistério que requer esclarecimento Lefebvre acreditava ter encontrado a chave em sua famosa tese de que o capitalismo sobrevive através da produção do espaço mas não explicou exatamente como isto ocorria Tanto Lênin quanto Luxemburgo por diferentes razões e argumentos consideravam que o imperialismo uma determinada forma de produção de espaço era a resposta para o enigma ainda que ambos argumentassem que esta solução fosse limitada devido às suas próprias contradições Nos anos 70 tentei abordar este problema à luz da análise dos ajustes espaciais e seu papel no interior das contradições da acumulação de capital1 Argumentava que um minucioso exame das formas em que o capital produz espaço ajudaria a construir uma teoria do desenvolvimento desigual e integrar melhor os fenômenos geográficos de expansão e desenvolvimento nas várias reformulações e revisões da teoria da acumulação de capital de Marx que então apareciam e conseqüentemente integrar tais teorias com aquelas do imperialismo e dependência as quais também eram objetos de sérios debates naquele momento Agora com o reexame do discurso tanto à esquerda quanto à direita no que se refere ao chamado novo Artigo publicado originalmente em Socialist Register julho03 Tradução de Maria Izabel Lagoa pesquisadora do NEILS Revisão técnica de Lúcio F R Almeida Neste número publicamos a primeira parte do presente artigo A segunda sairá no número 15 Geógrafo autor de A condição pósmoderna The Limits to Capital Espaços de esperança e O novo imperialismo 1 A maioria destes trabalhos dos anos 70 e 80 foi reeditada em Harvey 1999 e 2001 10 imperialismo2 parece útil reexaminar essas idéias gerais à luz dos acontecimentos atuais A tese do ajuste espacial somente tem sentido se relacionada com a tendência expansiva do capitalismo entendida teoricamente mediante a teoria marxista da queda da taxa de lucros que produz crises de superacumulação Harvey 1999 Tais crises manifestamse em excedentes simultâneos de capital e de força de trabalho sem que aparentemente exista nenhuma forma de coordenálos para realizar alguma tarefa socialmente produtiva Portanto se a desvalorização e mesmo a destruição de capital e de força de trabalho não se seguirem então devem ser encontradas formas para absorver o excedente Expansão geográfica e reorganização espacial são a saída possível Mas isto tampouco pode se dissociar dos ajustes temporais uma vez que expansão geográfica freqüentemente acarreta investimentos em infraestruturas físicas e sociais de longo prazo redes de transporte e de comunicações educação e pesquisa por exemplo que demorariam muitos anos para realizar seu valor através da atividade produtiva que apoiavam Proponho então aceitar o argumento de Brenner 2002 de que o capitalismo global tem sofrido um crônico problema de superacumulação desde os anos 70 Interpreto a volatilidade do capitalismo internacional durante esses anos como uma série de ajustes espaçotemporais que fracassaram mesmo a médio prazo ao tratar de problemas de superacumulação Foi entretanto através da orquestração de tal volatilidade que os Estados Unidos pretendiam preservar sua posição hegemônica dentro do capitalismo mundial Gowan 1999 A recente guinada rumo a um imperialismo aberto respaldado pela força militar por parte dos Estados Unidos pode ser visto como um sinal de fraqueza na dita hegemonia frente às sérias ameaças de recessão e ampla desvalorização em sua própria casa como oposição aos diversos ataques de desvalorização anteriormente infligidos em outras zonas América Latina nos anos 80 e no início dos anos 90 e ainda mais seriamente a crise que consumiu o Leste e o Sudeste Asiáticos em 1997 e se arrastou até a Rússia e boa parte da América do Sul Mas eu também gostaria de argumentar que a incapacidade de acumular por meio da reprodução ampliada tem sido compensada por um aumento das tentativas de acumulação mediante desapossamento Estas são em definitivo as características principais das novas formas do imperialismo Uma vez que o debate sobre este tema excede este artigo continuo a exposição de maneira esquemática e simplificada deixando a análise mais detalhada para uma publicação posterior Harvey 2004 O ajuste espaçotemporal e suas contradições 2 O tema do novo imperialismo foi tratado pela esquerda por Panitch 2000 520 ver também Gowan Panitch e Shaw 2001 Outras observações importantes são feitas por Petras e Veltmeyer 2001 Went 200203 Amin 2001 Ignatieff 2003 e Cooper 2002 11 A idéia principal sobre o ajuste espaçotemporal é bastante simples Superacumulação em um dado território implica em um excedente de mão deobra aumento do desemprego e excedente de capital que se manifesta num mercado abarrotado de bens de consumo que não podem ser vendidos sem perdas como uma alta improdutividade eou como excedente de capital líquido carente de possibilidades de investimento produtivo Tais excedentes podem ser absorvidos por a uma reorientação temporal por meio de investimentos de capital em longo prazo ou gastos sociais como educação e pesquisa que adiam a reentrada na circulação do excesso de capital até um futuro distante b reorientações espaciais por meio da abertura de novos mercados novas capacidades produtivas e novas possibilidades de recursos e mãodeobra em outro lugar c alguma combinação de a e b A combinação de a e b é particularmente importante quando focamos o capital fixo de natureza independente imobilizado em um ambiente construído Isto providencia as infraestruturas físicas necessárias para que a produção e o consumo se mantenham no espaço e no tempo tudo desde parques industriais portos e aeroportos sistemas de transporte e comunicação água e esgoto moradia hospitais e escolas Em suma não se trata de um setor econômico menor mas capaz de absorver massivas quantidades de capital e de mãodeobra particularmente sob condições de rápida expansão e intensificação geográfica A realocação do excedente de mãodeobra e capital por tais investimentos requer a mediação das instituições financeiras eou estatais que têm capacidade de gerar e oferecer crédito A quantidade de valores fictícios criados equivale à superacumulação de capital na produção de camisas e sapatos Tal capital fictício pode ser realocado fora do circuito de consumo em projetos futuramente orientados como construção de estradas ou na educação revigorando assim a economia incluindo talvez o aumento da demanda por camisas e sapatos por parte dos professores e trabalhadores da construção3 Se os gastos em construções ou melhoras sociais se revelarem produtivos facilitando no futuro formas mais eficientes de acumulação de capital então os valores fictícios são reduzidos seja diretamente por amortização da dívida ou indiretamente por maiores retornos através de impostos que permitem pagar a dívida pública De outra forma a superacumulação na construção ou educação pode tornarse evidente com a desvalorização destes bens moradia escritórios parques industriais aeroportos etc ou em dificuldades para pagar a dívida estatal originada com as infraestruturas física e social crise fiscal do Estado O papel de tais investimentos na estabilização e desestabilização do capitalismo tem sido significante Por exemplo a origem da crise de 1973 foi um colapso mundial dos mercados imobiliários começando com o Herstatt Bank na Alemanha que arrastou o Franklin National nos Estados Unidos 3 Os conceitos marxianos de capital fixo independente e capital fictício são elaborados em Harvey 1999 capítulos 8 e 10 respectivamente e sua importância política é considerada em Harvey 2001 capítulo 15 The geopolitics of capitalism 12 seguido imediatamente pela falência virtual da cidade de Nova Iorque em 1975 Por sua vez a longa década de estagnação no Japão em 1990 iniciou se com o estouro da bolha especulativa existente em ativos aplicados no mercado imobiliário e em outros bens que pôs em risco todo o sistema bancário o colapso asiático em 1997 começou com o rompimento das bolhas na Tailândia e Indonésia e o vigor especulativo nos mercados imobiliários após o início de uma recessão geral em todos os outros setores desde meados de 2001 foi o mais importante impulso para as economias estadunidense e inglesa Desde 1998 a China tem mantido sua economia em crescimento e tem buscado absorver seu grande excedente de trabalho controlando a ameaça de descontentamento social mediante financiamentos com endividamento de investimentos em megaprojetos que deixam pequena a imensa represa das Três Gargantas 8500 milhas de ferrovias rodovias e projetos de urbanização trabalhos de engenharia massivos para desviar água do rio Yangtze para o Amarelo novos aeroportos etc Surpreendeme que a maioria das análises sobre a acumulação de capital incluindo a de Brenner ignore completamente estes temas ou os tratem como epifenômenos O termo ajuste tem entretanto um duplo sentido Uma certa quantidade do capital total tornase literalmente fixada em alguma forma física por um período de tempo relativamente longo dependendo de seu tempo de vida físico e econômico Existe um sentido no qual gastos sociais também se tornam territorializados e permanecem geograficamente imóveis através de compromissos estatais de qualquer forma não irei considerar explicitamente as infraestruturas sociais uma vez que o tema é complexo e requer um espaço maior para discutilo Parte do capital fixo é geograficamente móvel como a maquinaria que pode facilmente ser deslocada de um lugar para o outro mas o resto esta tão fixado ao solo que não se pode movêlo sem destruílo Os aviões são móveis entretanto os aeroportos aos quais eles voam não O ajuste espaçotemporal por outro lado é uma metáfora para soluções das crises capitalistas mediante adiamento temporal e expansão geográfica A produção do espaço a organização de novas divisões territoriais de trabalho a abertura de novos e mais baratos complexos de recursos de novos espaços dinâmicos de acumulação de capital e a penetração em formações sociais préexistentes pelas relações sociais capitalistas e acordos institucionais tais como regras contratuais e acordos de propriedade privada são formas de absorver excedentes de capital e mão deobra Tais expansões geográficas reorganizações e reconstruções freqüentemente ameaçam os valores fixos mas ainda não realizados Vastas quantidades de capital fixo em um lugar atuam como um obstáculo na busca por ajuste espacial em outro lugar Os valores dos ativos que constituem a cidade de Nova Iorque não eram e não são triviais e a ameaça de sua desvalorização massiva em 1975 e agora de novo em 2003 foi e é vista por muitos como a maior ameaça ao futuro do capitalismo Se o capital sai dali deixa um rastro de devastação a desindustrialização experimentada no 13 coração do capitalismo como Pittsburgh e Sheffield assim como em muitas outras partes do mundo como Bombaim nos anos 70 e 80 é um exemplo disso Por outro lado se o capital sobreacumulado não se move ou não pode se mover será diretamente desvalorizado Resumo do processo o capital necessariamente cria em um primeiro momento um ambiente físico à sua própria imagem unicamente para destruílo depois quando busca expansões geográficas e deslocamentos temporais como soluções para as crises de superacumulação que o afetam ciclicamente Esta é a história da destruição criativa com todas as suas conseqüências sociais e ambientais negativas escrita na evolução da paisagem física e social do capitalismo Outra série de contradições geralmente surge dentro da dinâmica das transformações espaçotemporais Se o excesso de capital e de força de trabalho existe em dado território como uma nação ou Estado e não pode ser absorvida internamente tanto por ajustes geográficos ou gastos sociais então devem ser enviados a outro lugar a fim de encontrar um novo terreno para sua realização rentável para não serem desvalorizados Isto pode ocorrer de diversas formas Mercados para excedentes de produtos podem ser encontrados mas os espaços aos quais se enviam os excedentes devem possuir reservas de meio de pagamentos como o ouro ou dinheiro dólar ou bens intercambiáveis O problema de superacumulação é aliviado apenas por pouco tempo pois se troca meramente o excedente de bens por dinheiro ou outros bens ainda que no caso de a troca se realizar em matériasprimas ou outros insumos mais baratos seja possível aliviar temporariamente a pressão da baixa taxa de lucro no lugar Se o território não possuir reservas ou bens para trocar ele ou deve achálas os ingleses obrigaram a Índia a abrir o comércio de ópio com a China no século XIX e extraindo ouro chinês através do comércio indiano ou deve receber crédito ou assistência Neste caso um território recebe o empréstimo ou a doação do dinheiro com que compra o excedente de mercadorias geradas no território em questão A Inglaterra fez isto com a Argentina no século XIX e o excedente do comércio japonês durante os anos 90 foi largamente absorvido por empréstimos aos Estados Unidos destinados a sustentar o consumo dos produtos japoneses Simples transações comerciais e de créditos deste tipo podem aliviar problemas de superacumulação ao menos em curto prazo Elas funcionam muito bem sob condições de desenvolvimento geográfico desigual em que os excedentes disponíveis de um território são compensados pela carência dos mesmos em outro local Mas simultaneamente o recurso ao sistema de créditos volta aos territórios vulneráveis aos fluxos de capital especulativo e fictício que podem tanto estimular como minar o desenvolvimento capitalista e mesmo como ocorreu recentemente ser usado para impor selvagens desvalorizações nesses territórios vulneráveis A exportação de capital particularmente quando acompanhada pela exportação de força de trabalho opera de maneira bastante distinta e freqüentemente surte efeitos em prazos mais longos Neste caso excessos de capital geralmente capitaldinheiro e trabalho são enviados a outros lugares 14 para pôr em movimento a acumulação de capital no novo espaço Excedentes gerados na Inglaterra no século XIX e enviados para os Estados Unidos para as colônias no sul da África Austrália e Canadá criaram novos e dinâmicos centros de acumulação nestes territórios gerando uma demanda de bens da Inglaterra Uma vez que podem transcorrer muitos anos para que o capitalismo amadureça nestes novos territórios isso se algum dia o fizer até o ponto onde eles também comecem a produzir superacumulação de capital o país de origem pode esperar beneficiarse por um período considerável de tempo Este é particularmente o caso quando os bens demandados em outra parte são de tipo imobiliário Investimentos de portfólio podem manter a construção do capital fixo ferrovias e represas requeridas como base para uma sólida acumulação no futuro Mas a taxa de retorno destes investimentos a longo prazo no ambiente construído depende da evolução de uma forte dinâmica de acumulação no país receptor A GrãBretanha foi assim financiadora da Argentina na última parte do século XIX Os Estados Unidos por meio do Plano Marshall para a Europa Alemanha em particular e Japão viu claramente que sua própria segurança econômica deixando de lado o aspecto militar derivado da Guerra Fria dependia da revitalização da atividade capitalista em tais lugares As contradições surgem porque os novos espaços dinâmicos de acumulação de capital geram excedentes que devem ser absorvidos através da expansão geográfica Japão e Alemanha tornaramse competidores do capital estadunidense desde o final dos anos 60 em diante de modo parecido ao como os Estados Unidos superaram o capital inglês e colaboraram para derrubada do império britânico no transcurso do século XX É sempre interessante delimitar o momento em que o sólido desenvolvimento interno transborda em uma busca por ajustes espaçotemporais O Japão fez isso durante os anos 60 primeiro através do comércio e em seguida por meio da exportação de capital como investimentos diretos primeiro para a Europa e os Estados Unidos e mais recentemente na forma de investimentos massivos diretos e de portfólio para o Leste e Sudeste da Ásia e por último mediante empréstimos particularmente para os Estados Unidos A Coréia do Sul de repente se voltou para o exterior nos anos 80 seguida por Taiwan nos anos 90 O dois países exportaram não apenas capital financeiro mas algumas das mais impiedosas práticas de gerenciamento do trabalho imagináveis como a terceirização feita pelo capital multinacional ao redor do mundo na América Central na África assim como no resto do Sul e Leste da Ásia Mesmo recentemente países que tiveram sucesso ao aderirem ao desenvolvimento capitalista rapidamente se encontraram frente à necessidade de ajustes espaçotemporais devido a sua superacumulação de capital A rapidez com a qual certos territórios como Coréia do Sul Singapura Taiwan e agora até mesmo a China deixaram de ser receptores líquidos para serem territórios exportadores tem sido surpreendente comparada ao ritmo lento de períodos anteriores Mas pela mesma razão tais territórios devem adaptarse rapidamente à pressão interna de seus próprios ajustes espaçotemporais A 15 China absorvendo excedentes na forma de investimentos diretos estrangeiros do Japão Coréia e Taiwan está rapidamente suplantando estes países em muitos setores de produção e exportação particularmente aqueles de baixo valor agregado e de trabalho intensivo mas também está se movendo em direção aos bens de consumo de alto valor agregado A generalizada sobrecapacidade que Brenner identifica pode desta forma decomporse e proliferarse em uma cascata de ajustes espaçotemporais primeiro no Sul e Leste da Ásia mas com elementos adicionais na América Latina Brasil México e Chile em particular e somados agora com a Europa Oriental E em uma estranha reviravolta explicável em grande parte pelo papel do dólar como moeda de reserva global que confere o poder de senhoriagem os Estados Unidos com o imenso endividamento nos últimos anos têm absorvido capitais excedentes principalmente do Leste e Sudeste da Ásia De qualquer maneira o resultado final é um aumento na ferocidade da concorrência internacional na medida em que múltiplos e dinâmicos centros de acumulação de capital emergem para competir no cenário mundial em meio a importantes correntes de superacumulação Como nem todos podem ter sucesso em longo prazo ou os mais fracos sucumbem e caem em sérias crises de desvalorização ou confrontos geopolíticos emergem na forma de guerras comerciais guerras monetárias e até mesmo confrontos militares do tipo que nos deram duas guerras entre potências capitalistas no século XX Neste caso o que se exporta é desvalorização e destruição do tipo que as instituições financeiras estadunidenses induziram o Leste e o Sudeste da Ásia em 19978 e os ajustes espaçotemporais assumem formas mais sinistras Existem entretanto outros pontos que precisam ser assinalados para melhor compreender este processo Contradições internas Em sua Filosofia do Direito Hegel 1967 aponta como a dialética interna da sociedade burguesa que produz uma superacumulação de riqueza por um lado e uma multidão de pobres por outro leva à busca por soluções através do comércio externo e das práticas coloniais e imperiais Hegel rejeita a idéia de que possam existir formas de solucionar os problemas de desigualdade sociais e instabilidade através de mecanismos internos de redistribuição Lênin sd cita Cecil Rhodes ao dizer que o colonialismo e o imperialismo eram a única maneira possível de evitar a guerra civil Relações e lutas de classes em uma formação social ligada a um território causam impulsos de buscar ajustes espaçotemporais em algum outro lugar Um exemplo ilustrativo do final do século XIX é o de Joseph Chamberlain Conhecido como Joe o radical se identificava estreitamente com os interesses liberais manufatureiros de Birmingham e inicialmente durante as guerras afegãs da década de 1850 se opunha ao imperialismo Dedicouse à reforma educativa e à melhoria das infraestruturas físicas e sociais da produção e do consumo em sua cidade natal Pensava que isto ofereceria uma saída produtiva para os excedentes que devolveriam seu 16 valor a longo prazo Figura importante dentro do movimento liberal conservador foi testemunha de primeira mão do ressurgimento da luta de classes na GrãBretanha e em 1885 realizou um celebrado discurso no qual convocava as classes proprietárias a assumir suas responsabilidades sociais melhorar as condições de vida dos menos favorecidos e investir em infraestruturas sociais e físicas em nome do interesse nacional em lugar de preocuparse apenas com seus direitos individuais como proprietários O escândalo que isto originou entre as referidas classes forçouo a se retratar e deste momento em diante tornouse o mais ardente defensor do imperialismo como secretário colonial levou a GrãBretanha ao desastre da guerra dos Boers Esta trajetória profissional foi bastante comum no período Jules Ferry na França um ardente defensor das reformas internas especialmente da educação nos anos 60 assumiu a defesa do colonialismo logo após a Comuna de 1871 levando a França ao atoleiro do Sudeste Asiático que culminou com a derrota de Dien BienPhu em 1954 Francesco Crispi procurou resolver o problema agrário no sul da Itália por meio da expansão imperialista na África e até Theodore Roosevelt nos Estados Unidos preferiu apoiar as práticas coloniais ao invés das reformas internas depois que Frederic Jackson declarou erroneamente ao menos no que se refere às oportunidades de investimentos que a fronteira americana estava fechada4 Em todos esses casos a mudança para uma forma liberal de imperialismo associada a uma ideologia de progresso e a uma missão civilizatória não foi resultado de imperativos econômicos absolutos mas da falta de vontade política por parte da burguesia para renunciar a determinados privilégios de classe bloqueando assim qualquer possibilidade de absorver a superacumulação através de reformas sociais internas A feroz oposição a qualquer política redistributiva ou de melhoria social que existe nos Estados Unidos não deixa outra opção do que procurar no exterior soluções para suas dificuldades econômicas Políticas internas de classe deste tipo forçaram muitas potências européias a buscar no exterior soluções para seus problemas desde 1884 até 1945 e isto deu uma tonalidade especial às formas que o imperialismo europeu adotou Muitas figuras liberais e mesmo radicais tornaramse orgulhosos imperialistas durante estes anos e grande parte do movimento operário foi persuadido a apoiar o projeto imperialista como um fator essencial ao seu próprio bemestar Isto requeria que os interesses burgueses se colocassem à frente do Estado do aparato ideológico e do poder militar Dessa forma em minha opinião Arendt 1968 18 interpreta corretamente este imperialismo eurocêntrico como a primeira etapa do domínio político da burguesia e não a última fase do capitalismo 4 Toda esta história de mudanças radicais das soluções internas até as externas para os problemas sóciopolíticos derivados da dinâmica da luta de classe está explicado em uma pouco conhecida mas fascinante coleção de Julien CA Bruhat J Bourgin C Crouzet M and Renouvin P Les politiques dexpansion imperialiste Paris PUF 1949 na qual são examinados e comparados detalhadamente Ferry Chamberlain Roosevelt Crispi e outros 17 como foi descrito por Lênin5 Examinarei mais detalhadamente esta idéia na conclusão Medidas institucionais de mediação para a projeção de poder sobre o espaço Em um artigo recente Henderson 1999 327368 reconhece a importância dos ajustes espaçotemporais como uma solução para a superacumulação mas observa que a diferença em 199798 entre Taiwan e Cingapura que escaparam relativamente ilesos da crise com exceção de uma desvalorização da moeda e Tailândia e Indonésia que sofreram um colapso econômico e político quase total se explica pelas diferenças nas políticas estatais e financeiras Os primeiros territórios se mantiveram isolados dos fluxos especulativos em seus mercados imobiliários e financeiros mediante fortes controles estatais enquanto os últimos não o fizeram Diferenças deste tipo são muito importantes As formas assumidas pelas instituições mediadoras são produto da dinâmica da acumulação de capital Claramente o conjunto de turbulências nas relações entre Estado supraestado e poderes financeiros por um lado e por outro a dinâmica geral de acumulação de capital através da produção e das desvalorizações seletivas tem sido um dos mais característicos e mais complexos elementos na dinâmica do desenvolvimento geográfico desigual e na política imperialista do período iniciado em 19736 Acredito que Gowan esta correto ao analisar a reestruturação radical do capitalismo internacional pós1973 como uma série de apostas desesperadas por parte dos Estados Unidos para tentar manter sua posição hegemônica no cenário internacional frente à Europa Japão e mais tarde ao Leste e Sudeste Asiático Isto começou durante a crise de 1973 com a dupla estratégia de Nixon baseada na elevação do preço do petróleo e na desregulamentação financeira Os bancos estadunidenses receberam o direito exclusivo de reciclar a grande quantidade de petrodólares que era acumulada na região do Golfo Isto contribuiu para voltar a centralizar nos Estados Unidos a atividade financeira e em 5 Existem muitos paralelismos entre a análise de Arendt no século XIX e a nossa situação atual Consideremos por exemplo o seguinte trecho A expansão imperialista tem sido impulsionada por uma curiosa forma de crise econômica a sobreprodução de capital e a criação de dinheiro supérfluo produto do sobrepoupança que não pode mais encontrar investimentos produtivos dentro das fronteiras nacionais Pela primeira vez investimentos de poder não abriam caminho para o investimento de dinheiro mas a exportação de poder se limitava a seguir timidamente a exportação de dinheiro visto que os investimentos incontroláveis em países distantes ameaçavam transformar longos estratos sociais em apostadores para mudar toda a economia capitalista de sistema de produção para sistema de especulação financeira e realocar os benefícios da produção pelos benefícios das comissões A década imediatamente anterior a era imperialista a de setenta do século XIX testemunhou um aumento sem precedentes nas fraudes nos escândalos financeiros e especulações nas bolsas de valores p 15 6 Brenner 2002 apresenta o relato mais geral e sintético desta turbulência Detalhes sobre o desmoronamento do Leste Asiático podem ser encontrados em Wade Veneroso 1999 323 Henderson op cit Johnson C Blowback 2000 capítulo 9 o artigo especial da Historical Materialism n 2 2001 Focus on East Asia after the crisis particularmente Burkett HartLandsberg Crisis and recovery in East Asia the limits of capitalist development pp 348 18 contrapartida resgatou Nova Iorque de sua própria crise econômica Criou um poderoso regime financeiro Wall StreetFederal Reserve7 com poderes de controle sobre as instituições financeiras globais tais como o FMI e capaz de fazer ou quebrar muitas economias mais fracas através da manipulação do crédito e das práticas de administração da dívida De acordo com Gowan este regime monetário e financeiro foi utilizado por sucessivas administrações estadunidenses como um formidável instrumento de políticas de estado e controle econômico para impulsionar tanto o processo de globalização quanto as transformações nacionais neoliberais O regime se desenvolveu através das crises O FMI cobre os riscos e assegura que os bancos estadunidenses não percam os países pagam através de ajustes estruturais etc e a fuga de capitais provenientes de crises localizadas no resto do mundo acaba reforçando o poder de Wall Street Gowan 2001 23 e 35 O efeito disto foi a projeção do poder econômico estadunidense para o exterior em aliança com outros quando possível para forçar a abertura de mercados particularmente aos fluxos financeiro e de capital atualmente um requisito para integrar o FMI e impor outras políticas neoliberais culminando com a OMC sobre boa parte do resto do mundo Existem dois aspectos importantes a serem destacados sobre este sistema Primeiro o livre comércio de mercadorias é freqüentemente descrito como uma abertura do mundo a uma concorrência livre e aberta Mas como Lênin observou há muito tempo este argumento falha frente ao poder de monopólio ou oligopólio tanto na produção quanto no consumo Os Estados Unidos por exemplo têm repetidamente utilizado a arma de negar o acesso ao enorme mercado estadunidense para forçar outras nações a aceitar seus desejos O mais recente e crasso exemplo disto nos é oferecido por Robert Zoellick representante de comércio dos Estados Unidos ao anunciar que se Lula o recente presidente eleito no Brasil pelo Partido dos Trabalhadores não se alinhasse com os planos de livre mercado para a América seria forçado a exportar para a Antártida Taiwan e Cingapura foram forçadas a aderir à OMC e conseqüentemente a abrir seu mercado financeiro ao capital especulativo frente às ameaças americanas de negar o acesso ao seu mercado Diante da insistência do Federal Reserve a Coréia do Sul foi forçada a fazer o mesmo como condição para que o FMI a financiasse em 1998 Os Estados Unidos planejam agora agregar uma cláusula de livre acesso aos mercados segundo o modelo estadunidense nas ajudas de risco que oferecem aos países pobres Na esfera produtiva os oligopólios localizados majoritariamente nas regiões capitalistas centrais controlam efetivamente a produção de sementes fertilizantes eletrônicos programas de computador produtos farmacêuticos produtos do petróleo e muito mais Sob estas condições a abertura dos mercados não amplia a concorrência mas apenas cria oportunidades para a proliferação de poderes de monopólio com todas suas conseqüências sociais ecológicas econômicas 7 Vários nomes foram propostos para isto Gowan opta por chamar de Dollar Wall Street Regime mas eu prefiro a denominação mais complexa WallStreetTreasuryIMF sugerida por Wade and Veneroso 19 e políticas O fato de que aproximadamente dois terços do comércio exterior se concentram atualmente em transações dentro e entre as principais corporações transnacionais é um indicador desta situação Até mesmo algo aparentemente benigno como a Revolução Verde como a maioria dos comentadores concorda acompanhou o incremento da produtividade agrícola com uma maior concentração de riqueza neste setor e um maior nível de dependência dos monopólios através de todo o Sul e Leste da Ásia A penetração no mercado da China pelas companhias de tabaco estadunidense compensa as perdas em seu próprio mercado e isto certamente gerará uma crise da saúde pública nas próximas décadas Em todos estes aspectos os argumentos que apresentam o neoliberalismo como uma concorrência ao invés de um controle monopólico revelamse fraudulentos camuflados como de costume pelo fetichismo da liberdade de mercado Livre mercado não significa mercado justo Existe também como reconhecem até mesmo defensores do mercado livre uma imensa diferença entre o livre mercado de mercadorias e a liberdade de movimento do capital financeiro Bahgwati 1998 712 Isto propõe imediatamente o problema de qual forma de liberdade de mercado de que se esta falando Alguns como Baghwati defendem ferozmente o livre comércio de bens mas resistem à idéia de que isto necessariamente seja positivo para os fluxos financeiros A dificuldade aqui é a seguinte De um lado os fluxos de capital são vitais para os investimentos produtivos e para as realocações de capital de uma linha ou lugar de produção a outros Eles também jogam um importante papel ao equilibrar as necessidades de consumo de moradia por exemplo com as atividades produtivas em um mundo espacialmente desintegrado com excedentes em um lugar e déficits em outro Em todos esses aspectos o sistema financeiro com ou sem participação do Estado é vital para coordenar a dinâmica da acumulação de capital em um contexto de desenvolvimento geográfico desigual Mas o capital financeiro também engloba uma grande quantidade de atividades improdutivas nas quais dinheiro é simplesmente utilizado para gerar mais dinheiro através da especulação em mercados de futuro valores monetários dívidas e outros Quando grandes quantidades de capital se tornam disponíveis para tais propósitos então mercados de capital abertos se convertem em veículos para atividades especulativas algumas das quais se tornam profecias autorealizáveis como ocorreu durante os anos 90 com os pontocom e as bolhas dos mercados de ações ou os hedge funds que contavam com trilhões de dólares à sua disposição e forçaram a bancarrota da Indonésia e até mesmo da Coréia do Sul independentemente da força de suas economias Muito do que aconteceu em Wall Street não tem nada a ver com facilitar o investimento em atividades produtivas É puramente especulação Daí as descrições do capitalismo como cassino predatório ou mesmo de rapina com o fracasso da gestão do capital a longo prazo que precisou de um socorro de US23 bilhões o que aponta aos Estados Unidos que a especulação pode fracassar facilmente Esta atividade tem 20 entretanto profundos impactos sobre toda a dinâmica de acumulação de capital Sobretudo isto facilitou a que o poder político e econômico voltasse a se centrar nos Estados Unidos mas também em mercados financeiros de outros países centrais Tóquio Londres Frankfurt Como isto ocorre depende da forma das alianças intraclasse dominante existentes nos paises centrais da relação de forças entre eles nas negociações de acordos internacionais como a nova arquitetura financeira internacional implementada depois de 199798 para substituir o chamado Consenso de Washington de meados dos anos 90 e das estratégias político econômicas postas em marcha pelos agentes dominantes com respeito ao capital excedente A emergência do complexo Wall StreetFederal Reserve FMI dentro dos Estados Unidos capaz de controlar as instituições globais e projetar um vasto poder financeiro ao redor do mundo através de uma rede de outras instituições financeiras e governamentais tem jogado um papel determinante e problemático na dinâmica do capitalismo global recentemente Mas este centro de poder pode apenas operar da forma que faz porque o resto do mundo está interconectado e enquadrado na estrutura das instituições financeiras e governamentais incluindo as supranacionais Daí a importância da colaboração entre por exemplo bancos centrais das nações do G7 e os vários acordos internacionais temporários no caso de estratégias monetárias e mais permanentes no caso da OMC designados para lidar com dificuldades particulares8 E se o poder do mercado não for suficiente para alcançar objetivos particulares e colocar elementos recalcitrantes ou estados delinquentes rogue States na linha então o inigualável poder militar estadunidense direto ou indireto está preparado para resolver a situação Este complexo de acordos institucionais deveria no melhor de todos os capitalismos possíveis ser utilizado para sustentar e apoiar a reprodução ampliada crescimento Mas assim como a guerra em relação à diplomacia a intervenção do capital financeiro respaldada pelo poder de Estado equivale à acumulação por outrosmeios Uma aliança non sancta entre os poderes de Estado e os aspectos predatórios do capital financeiro forma a ponta da lança de um capitalismo de rapina muito mais dedicado à apropriação e desvalorização de ativos do que à sua construção por meio de investimentos produtivos Sob as condições de superacumulação estes outros meios podem ser dirigidos para forçar desvalorizações e práticas canibais preferentemente praticadas em espaços alheios e sobre aqueles que têm menos capacidade de reação Mas como devemos interpretar estes outros meios de acumulação ou desvalorização Bibliografia AMIM S 2001 Imperialism and globalization Monthly Review vol 53 n 2 ARENDT H 1968 Imperialism Harcourt Brace New York 8 Embora um autor não se refira ao outro Gowan 1999 e Brenner 2002 tecem considerações paralelas a respeito deste assunto 21 BAHGWATI J 1998 The capital myth the difference between trade in widgets and dollars Foreign Affairs 773 BRENNER R 2002 The boom and the bubble the US in the world economy London Verso COOPER R 2002 The new liberal imperialism The Observer 7abril GOWAN P 1999 The global gamble Washingtons bid for world dominance London Verso GOWAN P PANITCH L SHAW M 2001 The state globalization and the new imperialism a round table discussion Historical Materialism 9 HARVEY D 1999 The Limits to Capital Basil Blackwell LondonVerso 2001 A Spaces of capital towards a critical geography New York Routledge 2004 The new imperialism Oxford Oxford University Press HEGEL GW 1967 The philosophy of right New York Oxford University Press HENDERSON J 1999 Uneven crises institutional foundations of East Asian economic turmoil Economy and Society 28 3 LÊNIN Vladimir sd Imperialismo estágio supremo do capitalismo Várias edições IGNATIEFF M 2003 The burden New York Times Magazine 5 de janeiro PANITCH L 2000 The new imperial state New Left Review 11 PETRAS J VELTMEYER 2001 Globalization unmasked imperialism in the 21st century London Zed Books WENT R 20022003 Globalization in the perspective of imperialism Science and Society 66 n4 Resenha Crítica Os textos Gentrificação a Fronteira e a Reestruturação do Espaço Urbano de Neil Smith e O novo imperialismo ajustes espaçotemporais e acumulação por desapossamento de David Harvey abordam a reestruturação do espaço urbano sob a ótica do capitalismo e das forças sociais que impulsionam esse processo Ambos os autores argumentam que a acumulação de capital é central para essa reestruturação mas abordam fenômenos diferentes Smith concentrase na gentrificação que é o processo pelo qual áreas urbanas degradadas são transformadas em áreas residenciais de alta qualidade para atrair os novos ricos expulsando os antigos habitantes Ele argumenta que a gentrificação é impulsionada pela competição capitalista global e incentivada pelos governos locais que buscam promover o desenvolvimento econômico e melhorar a imagem da cidade Para Smith a gentrificação é um exemplo claro de como o capitalismo pode reestruturar o espaço urbano para servir aos interesses do capital em detrimento dos interesses das pessoas Por outro lado Harvey aborda a acumulação por desapossamento que é o processo de expropriação de recursos naturais e dos meios de produção de outros povos que é central para a acumulação capitalista Ele argumenta que a acumulação por desapossamento não se limita aos bens materiais mas inclui a privatização de serviços públicos o controle da informação e a mercantilização da cultura Para Harvey a acumulação por desapossamento é uma forma mais ampla de acumulação de capital que envolve a expropriação de recursos em todo o mundo e que é uma consequência inevitável do capitalismo Apesar de abordarem fenômenos diferentes ambos os autores destacam o papel central da acumulação de capital na reestruturação do espaço urbano Enquanto a gentrificação como descrita por Smith é uma forma de acumulação de capital incentivada pelos governos locais a acumulação por desapossamento conforme argumenta Harvey é um processo mais amplo que envolve a expropriação de recursos em todo o mundo Ambos os autores oferecem uma análise crítica da relação entre capitalismo e espaço urbano enfatizando a necessidade de uma compreensão mais completa das forças subjacentes que moldam nossas cidades Em conclusão os textos de Smith e Harvey destacam a complexidade das forças sociais que impulsionam a reestruturação do espaço urbano e destacam que essa reestruturação não é uma questão isolada mas está intimamente ligada à competição capitalista global e às dinâmicas de poder que a impulsionam Ambos os autores oferecem uma crítica ao modo como o capitalismo reestrutura o espaço urbano e ressaltam a importância de se pensar em alternativas para um modelo econômico mais justo e igualitário Resenha Crítica Os textos Gentrificação a Fronteira e a Reestruturação do Espaço Urbano de Neil Smith e O novo imperialismo ajustes espaçotemporais e acumulação por desapossamento de David Harvey abordam a reestruturação do espaço urbano sob a ótica do capitalismo e das forças sociais que impulsionam esse processo Ambos os autores argumentam que a acumulação de capital é central para essa reestruturação mas abordam fenômenos diferentes Smith concentrase na gentrificação que é o processo pelo qual áreas urbanas degradadas são transformadas em áreas residenciais de alta qualidade para atrair os novos ricos expulsando os antigos habitantes Ele argumenta que a gentrificação é impulsionada pela competição capitalista global e incentivada pelos governos locais que buscam promover o desenvolvimento econômico e melhorar a imagem da cidade Para Smith a gentrificação é um exemplo claro de como o capitalismo pode reestruturar o espaço urbano para servir aos interesses do capital em detrimento dos interesses das pessoas Por outro lado Harvey aborda a acumulação por desapossamento que é o processo de expropriação de recursos naturais e dos meios de produção de outros povos que é central para a acumulação capitalista Ele argumenta que a acumulação por desapossamento não se limita aos bens materiais mas inclui a privatização de serviços públicos o controle da informação e a mercantilização da cultura Para Harvey a acumulação por desapossamento é uma forma mais ampla de acumulação de capital que envolve a expropriação de recursos em todo o mundo e que é uma consequência inevitável do capitalismo Apesar de abordarem fenômenos diferentes ambos os autores destacam o papel central da acumulação de capital na reestruturação do espaço urbano Enquanto a gentrificação como descrita por Smith é uma forma de acumulação de capital incentivada pelos governos locais a acumulação por desapossamento conforme argumenta Harvey é um processo mais amplo que envolve a expropriação de recursos em todo o mundo Ambos os autores oferecem uma análise crítica da relação entre capitalismo e espaço urbano enfatizando a necessidade de uma compreensão mais completa das forças subjacentes que moldam nossas cidades Em conclusão os textos de Smith e Harvey destacam a complexidade das forças sociais que impulsionam a reestruturação do espaço urbano e destacam que essa reestruturação não é uma questão isolada mas está intimamente ligada à competição capitalista global e às dinâmicas de poder que a impulsionam Ambos os autores oferecem uma crítica ao modo como o capitalismo reestrutura o espaço urbano e ressaltam a importância de se pensar em alternativas para um modelo econômico mais justo e igualitário