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Preciso que meu guru faça uma SINTESE desse texto Usar somente o texto não usar inteligência IA ou plagio será passado no detector ZEROCHAT FAZER TAMBEM UMA FALA DE EXPLICAÇÃO DESSE TEXTO PARA QUE EU POSSA EXPLICAR EU SEREI A RELATORA DO TEXTO ENTÃO TENHO EXPLICAR A CONCLUSÃO FAÇA A MINHA FALA COMO RELATORA Nilma Lino Gomes 40 SetOutNovDez 2002 Nº 21 Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural Nilma Lino Gomes Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educação Muito se tem discutido sobre a importância da escola como instituição formadora não só de saberes escolares como também sociais e culturais Tendo isso em vista alguns estudiosos do campo da educação e da cultura têm destacado o peso da cultura escolar no processo de construção das identidades sociais enfati zando a escola como mais um espaço presente na cons trução do complexo processo de humanização Arroyo 2000 Bruner 2001 Por essa perspectiva a institui ção escolar é vista como um espaço em que aprende mos e compartilhamos não só conteúdos e saberes es colares mas também valores crenças hábitos e preconceitos raciais de gênero de classe e de idade Aos poucos os educadores e as educadoras vêm interessandose cada vez mais pelos estudos que arti culam educação cultura e relações raciais Temas como a representação do negro nos livros didáticos o silêncio sobre a questão racial na escola a educação de mulheres negras relações raciais e educação in fantil negros e currículo entre outros começam a ser incorporados na produção teórica educacional Porém apesar desses avanços ainda nos falta equa cionar alguns aspectos e compreender as muitas nuances que envolvem a questão racial na escola destacando os mitos as representações e os valores em suma as formas simbólicas por meio das quais homens e mulheres crianças jovens e adultos negros constroem a sua identidade dentro e fora do ambiente escolar Lamentavelmente nem sempre damos a essas dimensões simbólicas a devida atenção dentro do ambiente escolar e quando o fazemos nem sempre as consideramos dignas de investigação científica e merecedoras de um trato pedagógico Dessa forma um dos caminhos para a ampliação do estudo da ques tão racial no campo da educação na tentativa de com preender a sua relação com o universo simbólico pode ser a construção de um olhar mais alargado sobre a educação como processo de humanização que inclua e incorpore os processos educativos nãoescolares Poderemos então captar as impressões representa ções e opiniões dos sujeitos negros sobre a escola ele gendo com base nesses dados temáticas que nem sem pre são destacadas em nosso campo de atuação e que mereceriam um estudo mais profundo A relação do negro com o corpo e o cabelo é uma dessas temáticas Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 41 Mas como captar as impressões e representações do negro sobre o próprio corpo articulandoas com as experiências escolares e não escolares Esta não é uma tarefa fácil porém não é impossível Um dos caminhos para a sua realização poderá ser o desen volvimento de uma escuta atenta por parte dos edu cadores e das educadoras ao que os negros e as ne gras têm a dizer sobre as suas vivências corpóreas dentro e fora dos muros da escola Ao desenvolver mos a pesquisa Corpo e cabelo como ícones de cons trução da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte Gomes 2002 para a rea lização do doutorado em antropologia social1 várias depoentes ao reportaremse ao corpo relembraram momentos significativos da sua história de vida dan do um destaque especial à trajetória escolar Para es sas pessoas na sua maioria mulheres negras jovens e adultas na faixa dos 20 aos 60 anos a experiência com o corpo negro e o cabelo crespo não se reduz ao espaço da família das amizades da militância ou dos relacionamentos afetivos A trajetória escolar apare ce em todos os depoimentos como um importante momento no processo de construção da identidade negra e lamentavelmente reforçando estereótipos e representações negativas sobre esse segmento étni coracial e o seu padrão estético O corpo surge en tão nesse contexto como suporte da identidade ne gra e o cabelo crespo como um forte ícone identitário Será que ao pensarmos a relação entre currículo mul ticulturalismo e relações raciais e de gênero levamos em conta a radicalidade dessas questões Na instituição escolar assim como na socieda de nós comunicamosnos por meio do corpo Um cor po que é construído biologicamente e simbolicamen te na cultura e na história A antropologia mostranos que as singularidades culturais são dadas não somen te pelas dimensões invisíveis das relações humanas São dadas também pelas posturas pelas predisposi ções pelos humores e pela manipulação de diferen tes partes do corpo Por isso a articulação entre edu cação e antropologia poderá trazernos novas luzes sobre o estudo das relações raciais e apontarnos no vos temas por meio dos quais a trama na qual a traje tória escolar é tecida desenvolvese de maneira lenta e complexa O corpo fala a respeito do nosso estar no mundo pois a nossa localização na sociedade dáse pela sua mediação no espaço e no tempo Estamos diante de uma realidade dupla e dialética ao mesmo tempo que é natural o corpo é também simbólico Ele pode ser a referência revolucionária da universalidade do ho mem no contraponto crítico e contestador à coisifica ção da pessoa e à exploração do homem pelo homem na mediação das coisas Martins 1999 p 54 As diferentes crenças e sentimentos que consti tuem o fundamento da vida social são aplicadas ao corpo Temos então no corpo a junção e a sobrepo sição do mundo das representações ao da natureza e da materialidade Ambos coexistem de maneira si multânea e separada Por isso não podemos apagar do corpo os comportamentos e motivações orgânicas que se fazem presentes em todos os seres humanos em qualquer tempo e lugar A fome o sono a fadiga do corpo o sexo são motivações biológicas às quais a cultura atribui uma significação especial e diferente É a cultura que à sua maneira inibirá ou exaltará esses impulsos selecionando dentre todos quais se rão os inibidos quais serão os exaltados e ainda quais serão os considerados sem importância e portanto 1 Os espaços pesquisados nos quais o cabelo crespo é a prin cipal matériaprima são quatro salões étnicos da cidade de Belo Horizonte Deles emergem concepções semelhantes diferentes e complementares sobre a beleza negra e a condição do negro na sociedade brasileira Dois deles localizamse no centro da cida de e os outros dois em bairros bem próximos dessa região Os sujeitos da pesquisa são 28 mulheres e homens negros Destes 17 são mulheres e 11 são homens São jovens e adultos da faixa etária dos 20 aos 60 anos Dentre estes destacamse as cabe leireiras e os cabeleireiros dos quais cinco são mulheres e quatro são homens Do total de cabeleireirasos seis são proprietáriasos e asos outrasos são funcionáriasos de confiança A parte mais intensa da etnografia com um acompanhamento diário de cada salão iniciouse em agostosetembro de 1999 e terminou em ja neiro de 2001 O trabalho estendeuse até 2002 porém nesse pe ríodo a ida ao campo tornouse mais esparsa Nilma Lino Gomes 42 SetOutNovDez 2002 Nº 21 tenderão a permanecer desconhecidos Assim a cul tura dita normas em relação ao corpo às quais o indi víduo tenderá a conformarse à custa de castigos e recompensas até o ponto de estes padrões de com portamento apresentaremse tão naturais quanto o desenvolvimento dos seres vivos ou o pôrdosol Rodrigues 1986 p 45 Quando pensamos nos africanos escravizados e trazidos para o Brasil sempre vem à nossa mente o processo de coisificação do escravo materializa do nas relações sociais daquele momento histórico Esse processo se objetivava não só na condição es crava mas na forma como os senhores se relaciona vam com o corpo dos escravos e como os tratavam os castigos corporais os açoites as marcas a ferro a mutilação do corpo os abusos sexuais são alguns exemplos desse tratamento Mesmo diante de tal si tuação em que a liberdade oficial estava condicio nada à carta de alforria os escravos e as escravas desenvolveram as mais diversas formas de rebelião de resistência e de busca da liberdade Naquele con texto a manipulação do corpo as danças os cultos os penteados as tranças a capoeira o uso de ervas medicinais para cura de doenças e cicatrização das feridas deixadas pelos açoites foram maneiras es pecíficas e libertadoras de trabalhar o corpo Por esses costumes é possível percebermos o corpo como uma referência revolucionária da universalidade do ho mem apontada por Martins 1999 p 54 Se o cor po fala a respeito do nosso estar no mundo a rela ção histórica do escravo com o corpo expressa muito mais do que a idéia de submissão insistentemente pregada pela sociedade da época e que ecoa até hoje em nossos ouvidos Será que a escola tem dado uma outra leitura a essa relação Ou as crianças negras e brancas quando estudam a questão racial ainda par ticipam da representação do corpo negro apenas como um corpo açoitado e acorrentado Será que hoje em pleno terceiro milênio os livros didáticos e as discussões sobre a história do negro no Brasil reali zadas pela escola destacam que o corpo negro des de a época da escravidão sempre foi um corpo con testador Durante séculos de escravidão a perversidade do regime escravista materializouse na forma como o corpo negro era visto e tratado A diferença impressa nesse mesmo corpo pela cor da pele e pelos demais sinais diacríticos serviu como mais um argumento para justificar a colonização e encobrir intencionalidades econômicas e políticas Foi a comparação dos sinais do corpo negro como o nariz a boca a cor da pele e o tipo de cabelo com os do branco europeu e coloni zador que naquele contexto serviu de argumento para a formulação de um padrão de beleza e de fealdade que nos persegue até os dias atuais Será que esse padrão está presente na escola A existência de um padrão de beleza que prima pela brancura numa sociedade miscigenada como a nossa afeta ou não a nossa vida nas diferentes instituições sociais em que vivemos Essas representações estão presentes na es cola Como A relação do homem com o corpo é pautada por um imperioso processo de alteração Manipular ador nar alterar pintar escarificar tatuar cortar são ações que fazem parte da dinâmica cultural e dos diferentes rituais de toda e qualquer sociedade À medida que o corpo vai sendo tocado e alterado ele é submetido a um processo de humanização e desumanização A experiência corporal é sempre modificada pela cultu ra segundo padrões culturalmente estabelecidos e relacionados à busca de afirmação de uma identidade grupal específica Segundo Queiroz e Otta 2000 marcas deixadas por escarificações perfurações ta tuagens e mesmo algumas mutilações circuncisão extração de clitóris etc são sinais de pertinência de identidade social ao mesmo tempo que assinalam a condição tida por autenticamente humana daqueles que a exibem p 21 O corpo evidencia diferentes padrões estéticos e percepções de mundo Pinturas corporais penteados maquiagem adquirem dentro de grupos culturais es pecíficos sentidos distintos para quem os adota e sig nificados diferenciados de uma cultura para outra E é justamente o olhar sobre o corpo negro na escola que nos leva a considerar como professoresas e alu nosas negros e brancos lidam com dois elementos Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 43 construídos culturalmente na sociedade brasileira como definidores do pertencimento étnicoracial dos sujeitos a cor da pele e o cabelo Destacaremos neste trabalho de maneira es pecial o peso da trajetória escolar na conformação da identidade negra dos sentimentos e das impres sões sobre o cabelo crespo na vida de mulheres ne gras jovens e adultas que freqüentam salões de be leza étnicos Parto do pressuposto de que a maneira como a escola assim como a nossa sociedade vêem o negro e a negra e emitem opiniões sobre o seu corpo o seu cabelo e sua estética deixa marcas pro fundas na vida desses sujeitos Muitas vezes só quan do se distanciam da escola ou quando se deparam com outros espaços sociais em que a questão racial é tratada de maneira positiva é que esses sujeitos conseguem falar sobre essas experiências e emitir opiniões sobre temas tão delicados que tocam a sua subjetividade O discurso pedagógico ao privilegiar a questão racial não gira somente em torno de conceitos disci plinas e saberes escolares Fala sobre o negro na sua totalidade referese ao seu pertencimento étnico à sua condição socioeconômica à sua cultura ao seu grupo geracional aos valores de gênero etc Tudo isso se dá de maneira consciente e inconsciente Muitas vezes é por intermédio desse discurso que estereóti pos e preconceitos sobre o corpo negro são reprodu zidos Será que eles são superados O discurso pedagógico proferido sobre o negro mesmo sem referirse explicitamente ao corpo abor da e expressa impressões e representações sobre esse corpo O cabelo tem sido um dos principais símbolos utilizados nesse processo pois desde a escravidão tem sido usado como um dos elementos definidores do lugar do sujeito dentro do sistema de classificação racial brasileiro Essa situação não se restringe ao discurso Ela impregna as práticas pedagógicas as vivências esco lares e socioculturais dos sujeitos negros e brancos É um processo complexo tenso e conflituoso e pode possibilitar tanto a construção de experiências de dis criminação racial quanto de superação do racismo Cabelo e trajetória de vida As experiências do negro em relação ao cabelo começam muito cedo Mas enganase quem pensa que tal processo iniciase com o uso de produtos quími cos ou com o alisamento do cabelo com pente ou fer ro quente As meninas negras durante a infância são submetidas a verdadeiros rituais de manipulação do cabelo realizados pela mãe tia irmã mais velha ou pelo adulto mais próximo As tranças são as primei ras técnicas utilizadas Porém nem sempre elas são eleitas pela então criança negra hoje uma mulher adulta como o penteado preferido da infância Talvez esse seja um dos motivos pelos quais al gumas dessas mulheres prefiram adotar alisamentos e alongamentos na atualidade A sensação de ter o cabelo constantemente desembaraçado e de não pre cisar sofrer as pressões do pente ou os puxões para destrançar o cabelo foram comentários constantes durante as entrevistas acompanhados de expressões de alívio quando o assunto era o uso das tranças du rante a infância sempre ouvíamos uma infinidade de reclamações Eu odiava Minha mãe fazia quatro tranças e junta va de duas a duas no alto da minha cabeça2 NU 26 anos cabeleireira étnica Puxava tanto o meu cabelo para ele ficar ajeitadinho que até esticava os meus olhos Parecia uma japonesa pre ta J 23 anos cabeleireira étnica Não nem sempre fui de bem com o meu cabelo não desde criança não Porque era aquele problema de puxar trançar aquela coisa toda Não tinha alisamento então na hora de mamãe pentear o cabelo era um drama Aí depois já mocinha é que eu fui me cuidando aquela coisa toda é que mudou Mas de criança não eu chorava não gostava de pentear o cabelo porque doía puxava da qui puxava dali mas depois depois ficou bom E está até agora SA 51 anos auxiliar de escritório 2 Na transcrição das entrevistas e de trechos do diário de campo todos os grifos são meus Nilma Lino Gomes 44 SetOutNovDez 2002 Nº 21 Minha mãe pra pentear o cabelo ela quase matava a gente Fazia aquelas trancinhas A gente eu ficava com a cabeça toda doendo Hoje em dia não tem isso mais não é Veja minha filha olha o cabelo dela e olha o meu na época dela não tem nem comparação Hoje em dia está bom para o lado da pessoa negra porque antigamente nossa Quando não era aquele ferro quente pente quente que passavam no cabelo da gente passavam aquele negó cio Ficava até bonito mas depois caia uma poeirinha nossa ficava um horror Isso foi até eu atingir a minha ida de de adulta Não tinha opção Tinha que usar isso mesmo Agora é que apareceu cabelo de tudo quanto é jeito M 25 anos dona de casa O uso de tranças é uma técnica corporal que acompanha a história do negro desde a África Po rém os significados de tal técnica foram alterados no tempo e no espaço Nas sociedades ocidentais con temporâneas algumas famílias negras ao arrumarem o cabelo das crianças sobretudo das mulheres fazem no na tentativa de romper com os estereótipos do ne gro descabelado e sujo Outras fazemno simplesmen te como uma prática cultural de cuidar do corpo Mas de um modo geral quando observamos crianças ne gras trançadas notamos duas coisas a variedade de tipos de tranças e o uso de adereços coloridos Tal prática explicita a existência de um estilo negro de pentearse e adornarse o qual é muito diferente das crianças brancas mesmo que estas se apresentem en feitadas Essas situações ilustram a estreita relação entre o negro o cabelo e a identidade negra A identidade negra compreende um complexo sistema estético Depois de adultas muitas mulheres negras recon ciliamse com as tranças Agora porém elas apresen tamse estilizadas desde as chamadas tranças africa nas ou agarradinhas que formam desenhos engenhosos no couro cabeludo até as jamaicanas de diferentes comprimentos Esses penteados são também usados pelos homens porém com menor freqüência Mesmo que reconheçamos que a manipulação do cabelo seja uma técnica corporal e um comportamen to social presente nas mais diversas culturas para o negro e mais especificamente para o negro brasilei ro esse processo não se dá sem conflitos Estes em bates podem expressar sentimentos de rejeição acei tação ressignificação e até mesmo de negação ao pertencimento étnicoracial As múltiplas representa ções construídas sobre o cabelo do negro no contexto de uma sociedade racista influenciam o comportamen to individual Existem em nossa sociedade espaços sociais nos quais o negro transita desde criança em que tais representações reforçam estereótipos e inten sificam as experiências do negro com o seu cabelo e o seu corpo Um deles é a escola Uma vez tenho muito cabelo mas antes eu tinha mais e sempre assim até uns sete anos pra nove anos eu não tinha problema com cabelo porque minhas tias como eu te falei mexiam com cabelo Então cada dia eu ia arrumadinha para o colégio Tinha vez que minha tia alisava o meu cabelo quando eu alisava não cortava mais aí ele ficava grande Minha tia alisava o meu cabelo tinha dia que eu ia de trancinha assim agarradinha Tinha vez que ela fazia as trancinhas acima assim Meu cabelo era grande aí as trancinhas ficavam lindas colocava bolinha A gente en chia de bolinha assim miçanguinha Eu colocava ficava balançando todo mundo achava lindo Eu era sempre baixi nha sempre miudinha Do grupo inteiro todo mundo até hoje tem retrato meu lá no grupo que eles guardam E não tinha problema não sabe Eles me chamavam de neguinha às vezes os meninos mexiam comigo mas eu não ligava não Eu não ligava eu gostava do jeito que eu era Eu fui me acostumei comigo me acostumei com o que eu era com mi nha raça Então me acostumei e não ligava não mas o pes soal mexia Isso aí eu tirava de ao pé da letra Não me atrapalhava não Eu gostava mesmo Então minha tia quan do arrumava o meu cabelo nossa eu ficava toda metida Cada dia um penteado nossa eu achava o máximo princi palmente porque chamava muita atenção As pessoas acha vam lindo o penteado J 23 anos cabeleireira Bom a minha mãe ela sempre cuidou quando ela cuidava do meu cabelo ela usava muita trancinha então colocava aquele tanto de badulaque e tal Aí os meninos fi cavam assim olhando olhava porque colocava aquilo e tal Mas apelido essas coisas não até que muita gente co Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 45 meçou a aderir também Tinha muita menininha da minha idade e tal também que as mães colocavam tranças Até porque os professores pediam pra evitar piolho né esse tipo de coisa então eu num eu nunca tive problema não Nun ca tive graças a Deus AD 25 anos auxiliar de escritório Na infância eu me senti assim uma verdadeira ja ponesa negra né Minha mãe apertava tanto a minha trancinha pra ir pra aula eu usava trancinha Sabe aque las trancinhas que faz tipo gominho emendando uma na outra Então eu sofria apertava demais eu sofria muito NU 26 anos cabeleireira Se antes a aparência da criança negra com sua cabeleira crespa solta e despenteada era algo comum entre a vizinhança e coleguinhas negros com a entra da para a escola essa situação muda A escola impõe padrões de currículo de conhecimento de comporta mentos e também de estética Para estar dentro da escola é preciso apresentarse fisicamente dentro de um padrão uniformizarse A exigência de cuidar da aparência é reiterada e os argumentos para tal nem sempre apresentam um conteúdo racial explícito Muitas vezes esse conteúdo é mascarado pelo apelo às normas e aos preceitos higienistas Existe no inte rior do espaço escolar uma determinada representa ção do que é ser negro presente nos livros didáticos nos discursos nas relações pedagógicas nos cartazes afixados nos murais da escola nas relações profes sora e alunoa e dos alunosas entre si Estudos como o de Gonçalves 1985 apontam para que na maioria das vezes a questão racial existe na escola por meio da sua ausência e do seu silenciamento Na escola também se encontra a exigência de ar rumar o cabelo o que não é novidade para a família negra Mas essa exigência muitas vezes chega até essa família com um sentido muito diferente daquele atri buído pelas mães ao cuidarem dos seus filhos e filhas Em alguns momentos o cuidado dessas mães não con segue evitar que mesmo apresentandose bem pentea da e arrumada a criança negra deixe de ser alvo das piadas e apelidos pejorativos no ambiente escolar Al guns se referem ao cabelo como ninho de guacho cabelo de bombril nega do cabelo duro cabelo de picumã Apelidos que expressam que o tipo de cabelo do negro é visto como símbolo de inferiorida de sempre associado à artificialidade esponja de bombril ou com elementos da natureza ninho de pas sarinhos teia de aranha enegrecida pela fuligem Esses apelidos recebidos na escola marcam a his tória de vida dos negros São talvez as primeiras experiências públicas de rejeição do corpo vividas na infância e adolescência A escola representa uma aber tura para a vida social mais ampla em que o contato é muito diferente daquele estabelecido na família na vizinhança e no círculo de amigos mais íntimos Uma coisa é nascer criança negra ter cabelo crespo e viver dentro da comunidade negra outra coisa é ser crian ça negra ter cabelo crespo e estar entre brancos A experiência da relação identidadealteridade colocase com maior intensidade nesse contato famí liaescola Para muitos negros essa é uma das pri meiras situações de contato interétnico É de onde emergem as diferenças e se torna possível pensar um nós criança e família negra em oposição aos outros colegas e professoresas brancos Embora o discurso que condiciona a discriminação do negro à sua localização na classe social ainda seja predomi nante na escola as práticas cotidianas mostram para a criança e para o adolescente negro que o status so cial não é determinado somente pelo emprego renda e grau de escolaridade mas também pela posição da pessoa na classificação racial Pertencer ou não a um segmento étnicoracial faz muita diferença nas relações estabelecidas entre os su jeitos da escola nos momentos de avaliação nas ex pectativas construídas em torno do desempenho esco lar e na maneira como as diferenças são tratadas Embora atualmente os currículos oficiais aos poucos incorporem leituras críticas sobre a situação do negro e alguns docentes se empenhem no trabalho com a ques tão racial no ambiente escolar o cabelo e os demais sinais diacríticos ainda são usados como critério para discriminar negros brancos e mestiços A questão da expressão estética negra ainda não é considerada um tema a ser discutido pela pedagogia brasileira Nilma Lino Gomes 46 SetOutNovDez 2002 Nº 21 Os sinais diacríticos operam como demarcadores da diferença Quanto mais aumentam as vivências da criança negra fora do universo familiar quanto mais essa criança ou adolescente inserese em círculos so ciais mais amplos como é o caso da escola mais manifestase a tensão vivida pelos negros na relação estabelecida entre a esfera privada vida familiar e a pública relações sociais mais amplas São nesses espaços que as oportunidades de com paração a presença de outros padrões estéticos estilos de vida e práticas culturais ganham destaque no coti diano da criança e doa adolescente negros muitas ve zes de maneira contrária àquela aprendida na família Em alguns casos é o cuidado da mãe a maneira como a criança é vista no meio familiar que lhe possibilitam a construção de uma autorepresentação positiva sobre o ser negroa e a elaboração de alternativas particula res para lidar com o cabelo crespo Diante disso pode mos inferir que saber lidar manusear e tratar do cabelo crespo está intimamente associado a estratégias indi viduais de construção da identidade negra Pra minha felicidade a minha relação pessoa mu lher e o meu cabelo crespo foi ótima pelo fato de ter tido a minha mãe que é uma cabeleireira conceituada aí já no mercado afro que cuidou sempre do meu cabelo eu nunca sofri E ela tentou fazer com que eu nunca passasse em situações que ela passou com o cabelo crespo com a difi culdade que ela teve com o cabelo dela Então assim eu nunca tive problemas com alisamento a vida inteira alisei o cabelo Nunca tive aqueles problemas famosos com quei maduras e tudo mais Sempre tive o meu cabelo saudável FA 26 anos cabeleireira A reação de cada pessoa negra diante do precon ceito é muito particular Essa particularidade está in timamente ligada à construção da identidade negra e às possibilidades de socialização e de informação Como nos disse uma depoente muitas vezes as pes soas são preconceituosas por causa da desinforma ção Elas precisam ser reeducadas Tenho amadurecimento pra isso Então essa ques tão da história do cabelo é muito em função disso Minha irmã ela trabalhava na Usiminas então ela tinha mais con tatos não muito com negros mas com pessoas que tinham outra visão que davam outro tipo de incentivo E eu custei a cair vamos dizer assim não vou chamar de mundo real não mas a encontrar essa história do negro pra me identi ficar legal Acho que por isso que foi esse processo lento Não sei foi esse processo passo a passo E eu estou aqui cabelo maravilhoso Que eu amo e eu ainda achei inte ressante que quando eu solto ele assim todo mundo fica escandalizado risos Aí um dia eu fui na padaria e a meni na olhou pro meu cabelo Por que cê num corta seu cabe lo risos Eu achei tão fantástico Por que cê num corta seu cabelo Eu falei assim Porque eu gosto dele as sim de uma forma muito tranqüila E eu achei legal que ela virou e falou assim Deve dar muito trabalho Na visão dela para eu colocar o meu coque assim simples mente amarrar Aí ninguém entende esse coque no meu cabelo e todo mundo fica principalmente os brancos que não sabem como que é o simples amarrado Todo mundo quer pegar e ver Como é que seu cabelo fica assim pra cima Entendeu Então o porquê porque nós sabemos como que ele fica pra cima mas as pessoas que olham Gente são inúmeras as pessoas Às vezes a cabeleireira B até me chama a atenção por causa disso que as pessoas querem pegar ver É diferente Como é que cê faz pro seu cabelo ficar armado dessa forma Então eu explico que o meu cabelo é crespo que ele não é liso por isso que ele fica pra cima se eu alisasse com certeza ele cairia E eu amar ro Aí que as pessoas Ah então ele tá amarrado né Na cabeça das pessoas eu acho que elas não conseguem ver que eu jogo esse cabelo todo pra cima e amarro E aí eu achei interessante e aí ela comentou Ah não isso assim dá muito trabalho Aí eu expliquei pra ela que não dava trabalho aí eu mostrei pra ela Olha tá vendo ele tá amar rado É só eu pentear Ainda olhei pra ela e falei assim Tem como pentear Eu penteio meu cabelo e amarro E ao invés de amarrar ele pra baixo como as pessoas têm o costume de amarrar amarro ele pra cima Tá diferente é só você perguntar gargalhadas Mas é claro fico bem tran qüila porque eu acho legal as pessoas terem essa liberdade de questionar Porque se de repente entro numa de porque meu cabelo é assim eu quero é assim pronto e acabou e você não tem nada com isso A pessoa nem sabe como é o processo de um cabelo do negro E aí a gente vai infor Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 47 mando de uma forma tranqüila porque é uma informa ção D 38 anos contabilista Embora existam aspectos comuns que remetem à construção da identidade negra no Brasil cada vez mais entendese que para discutila precisamos sempre considerar como os sujeitos a constroem não somente no nível coletivo mas também no individual O mais difícil é após conhecer essas estratégias individuais interpretálas não julgálas e nem classificálas como mais ou menos politizadas mais ou menos corretas Quem sabe assim compreenderemos como o negro constrói a sua identidade nos seus próprios termos Há então um campo mais íntimo que se refere à esfera da subjetividade que nem mesmo a interven ção familiar e um debate crítico produzido no espaço da militância ou da escola conseguem alcançálo na sua totalidade Isso não significa ignorar o peso da história da sociedade e da cultura mas destacar que a subjetividade também tem a sua importância no pro cesso do tornarse negro A relação do negro com o cabelo nos aproxima dessa esfera mais íntima É nesse sentido que o olhar sobre a adolescência dos sujeitos negros se faz importante A adolescência é um dos momentos fortes na construção da subjeti vidade negra Algunsmas depoentes ao falarem so bre a sua relação com o cabelo relembraram as expe riências vividas nesse ciclo da vida e falaram da sensação de desencontro de malestar e de descon forto em relação ao seu tipo físico seu cabelo sua pele e sua cor vivida na adolescência Dependendo do sujeito e da sua forma de lidar com essa experiên cia temos hoje um adulto que acumula certos trau mas raciais ou que lida com desenvoltura diante dos seus dilemas étnicos e raciais Para oa adolescente negroa a insatisfação com a imagem com o padrão estético com a textura do cabelo é mais do que uma experiência comum dos que vivem esse ciclo da vida Essas experiências são acrescidas do aspecto racial o qual tem na cor da pele e no cabelo os seus principais representantes Tais si nais diacríticos assumem um lugar diferente e de des taque no processo identitário de negros e brancos brasileiros A rejeição do cabelo pode levar a uma sensação de inferioridade e de baixa autoestima con tra a qual fazse necessária a construção de outras estratégias diferentes daquelas usadas durante a in fância e aprendidas em família Muitas vezes essas experiências acontecem ao longo da trajetória esco lar A escola pode atuar tanto na reprodução de este reótipos sobre o negro o corpo e o cabelo quanto na superação dos mesmos E eu cresci assim é é constrangida porque na escola eu fui barrada também Teve bailado e eu quis par ticipar do bailado e diziam que não que não podia não Que só iam as meninas brancas as meninas bonitas Pesquisadora E falaram isso com vocês claramente Falaram falaram falaram falaram pausa Eu cus tei eu sofri muito muito muito a entender que negro era gente também Eu vim descobrir que negro tinha história quando fui pro colégio porque até então pra mim negro era um bicho era um uma um defeito sabe E morria de vontade de ser branca por causa do cabelo pra fre qüentar assim essas coisas pra aproveitar Pesquisadora Isso te lembra alguma coisa Você sen te Por que essa ênfase tão grande no nosso cabelo Porque assim o branco tem o cabelo liso né Então o negro tem o cabelo já crespo às vezes chega a ser carapinha mesmo Mas vem daí a influência do branco so bre o negro eu acho que quando você não tem noção do que é ser negro você se cobra muito aquele cabelo mara vilhoso né aquela coisa bonita de passar a mão de cair de Ai o meu cabelo é lindo maravilhoso Quando a gente tem uma noção do que é ser realmente negro aí a gente se aceita com o cabelo que a gente tem Eu por exemplo eu daria tudo pra ter o meu cabelo anelado sabe eu daria tudo para ter o meu cabelo anelado Mas não consigo têlo crespo Num sei te explicar por que mas não consigo Talvez seja nem seja por mim mesma seja pela cobran ça cê chega num lugar pra trabalhar se você eles olham Você chega num lugar pra se divertir às vezes cê tá pas sando na rua aí um grita de lá Vamos pentear o cabelo Ou então cantam aquela musiquinha assim Nega do ca Nilma Lino Gomes 48 SetOutNovDez 2002 Nº 21 belo duro qual é o pente que te penteia Quer dizer é muita coisinha é é muita ironia mesmo às vezes das pessoas É muito complicado muito complexo né F 36 anos professora Outras mulheres negras e clientes dos salões pes quisados quando perguntadas sobre a importância que o cabelo passou a ter depois de sua infância e adoles cência assim se pronunciaram É porque aí você já assumiu uma identidade diferen te você já entra no caso da aparência quer competir com as pessoas no mesmo ponto de vista Então se você vai a uma festa ou mesmo no diaadia você quer ter uma aparência melhor você vai se cuidar Na época eu já deixei os meus cachos já parti pra um alisamento já parti pra um bobe no cabelo e aquilo se identificava comigo pra mim assumiu uma aparência de competição com as outras pessoas se fu lano fazia assim eu não queria fazer igual mas eu queria ficar de maneira comparativa ela na dela e eu na minha Como minhas colegas umas usavam seu rabo de cavalo seus penteados da época pigmaleão touca holandesa essas coisas então eu procurava ir atrás disso dentro daquilo que meu cabelo permitia SG 60 anos aposentada Aí depois que eu comecei a ficar mocinha esse pe ríodo é que foi difícil Que aí é que eu tinha que trabalhar não tinha ninguém pra arrumar o meu cabelo mais Tinha uma época que eu não queria nem saber nem cuidar de cabe lo Ele ficava todo espetadinho pra cima Era muito cabelo era difícil de arrumar Então eu amarrava ele pra cima as sim ficava aquela bucha sabe Eu não ligava não estava nem aí também não era meio desligada mesmo Tinha vez também que igual na época dos doze treze eu gostava muito de brincar de casinha já tinha esse trem de Salão tam bém Eu colocava aqueles pegava blusas e colocava assim na cabeça e ficava na frente do espelho e falava que era meu cabelo Me lembro que pegava as toalhas da minha tia e colocava na cabeça risos J 23 anos cabeleireira Na adolescência era uma tragédia Porque a testa era marcada de dentinho de pente de ferro quente Aquele cabelo é aquele cheiro de gordura Porque hoje em dia tem as coisas assim aperfeiçoou e tem o creme certo pra passar Antigamente não a gente assentava no fogão e vi nha aquela coisa na cabeça cheia de fumaça a gente quei mava tudo É babyliss que eu usava também Era um trau ma janela do ônibus jamais pedia para abrir Nossa pelo amor aquele calor com as janelas porque meu cabelo vai espetar Quando eu ia na danceteria aquelas colegas tudo com cabelo lindo Ia no banheiro aquele calor mo lhava o cabelo Eu jamais podia uma que não precisava que já estava todo escorrido de de aquela fumaça que tinha na danceteria já caía tudo então não tinha como mesmo É clube não podia jamais porque nossa como é que ia molhar o cabelo Nossa Não gosto tenho pavor de água não sei nadar Porque é lógico como que ia mo lhar o cabelo não tinha como risos e na época tipo assim umas eu tinha mais ou menos uns 17 anos eu co nheci um rapaz Eu achei ele uma gracinha e tal Nessa época eu já usava aí já passou o tempo do cabelo alisado usava trancinha africana E eu colocava um aplique E es tava assim o nosso namoro tinha uns dois meses ele ado rava minha trança aí teve um dia que ele falou assim Nos sa É tão lindo o seu cabelo solta o seu cabelo risos Eu falava Pra que você quer que eu solto o meu cabe lo Ele falava assim Não solta o seu cabelo Ah Ele nem imaginava que era aplique porque era tão bem feito Cabelo idêntico ao meu e tal Eu falei Não não vou sol tar meu cabelo não Só que a gente ia num pagode e tinha umas meninas que usavam trancinha Aí não sei o que acon teceu alguém falou com ele que era aplique Que deve ter falado Ah Aquele cabelo dela é falso Um dia ele falou assim Eu sei por que Ele falou Solta o seu cabelo Eu sei porque você nunca vai soltar o seu cabelo não é Eu disse Ih Alexandre pelo amor de Deus vamos mu dar de assunto Ele disse assim Ah Eu sei por que você não vai soltar o seu cabelo sua amiga me falou que você usa peruca que você é careca não é Nossa Foi uma tragédia Eu tomei pavor mortal tomei um ódio mortal dele Ele falou assim passando a mão assim no meu rosto Eu sei tudo bem É porque você não tem cabelo você é care ca você usa peruca risos NU 26 anos cabeleireira A manipulação do próprio cabelo e a visão do outro sobre o cabelo do negro assumem contornos Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 49 diferentes de acordo com o gênero e a geração Deslindar os impactos desse processo sobre os sujei tos implica compreender as práticas culturais o pro cesso histórico e a construção do racismo no Brasil Contudo há uma implicação mais profunda e desa fiadora sobre a qual nos falam os depoimentos aci ma entender a construção da questão racial na subje tividade e no cotidiano dos indivíduos e o peso da educação escolar nesse processo Quando conversamos com osas entrevistadosas sobre a sua opinião hoje a respeito da relação do ne gro com o cabelo deparamosnos com momentos ten sos discursos ambíguos e respostas confusas A per gunta remetia também ao lugar do negro na esfera da subjetividade e não somente ao sujeito político e cul tural Nesse momento homens e mulheres negras eram convidados a falar de si a partir de seu interior da sua própria pele É possível que essa ebulição de sentimen tos e emoções tenha trazido à tona ao âmbito da cons ciência aquilo que está submerso na esfera do incons ciente e por isso mesmo não é tão fácil de ser dito A nosso ver essa situação apresenta algo mais comple xo a construção da identidade negra no Brasil passa pelo que Mauss 1974 ao estudar as técnicas corpo rais chamou de fatores fisiopsicosociológicos Essa maneira particular de relacionarse com o corpo com a subjetividade e à cultura dáse em um determinado contexto social histórico e político E é esse contexto juntamente com a experiência indivi dual que vai compor o complexo terreno da identida de negra Homens e mulheres negras de diversas par tes do mundo constroemna de formas variadas embora tragam consigo algo que os une um perten cimento racial oriundo de uma mesma ancestralidade africana cuja maneira de lidar com o cabelo é uma forte expressão da cultura Esse ponto comum que atravessa a história dos negros remete a uma questão que se apresenta coti dianamente na sociedade e no universo escolar nas sociedades em que a questão racial é um dos aspectos estruturantes das relações sociais de poder o cabelo e a cor da pele sendo os sinais mais visíveis da dife rença racial e possuidores de uma forte dimensão sim bólica são vistos como símbolos de inferioridade Kobena 1994 p 4 O racismo sendo um código ideológico que toma atributos biológicos como valo res e significados sociais impõe ao negro uma série de conotações negativas que o afetam social e subje tivamente No entanto no movimento dialético das relações sociais a ação do racismo sobre os negros resulta em formas variadas sutis e explícitas de rea ção e resistência Nesse contexto o cabelo e a cor da pele podem sair do lugar da inferioridade e ocupar o lugar da beleza negra assumindo uma significação política Esse é mais um dos motivos pelos quais con sideramos que a escola deve superar os preconceitos em relação à estética negra Mas para além de tanta particularidade quais seriam os significados universais da relação do ho mem e da mulher com o cabelo Segundo Queiroz 2000 p 28 o estado dos cabelos pode revelar a tra jetória de vida de uma pessoa sua condição de exis tência e o momento vivido no interior de um determi nado grupo social O autor chama a atenção para o fato de que é comum cortar ou raspar os cabelos por ocasião dos ritos de passagem o que também é co mum entre nós quando do ingresso na universidade em prisões em instituições militares ou religiosas Há também uma relação entre cabelo poder e potência sexual Por isso cortálo ou raspálo pode equivaler simbolicamente à castração Essa é a condição dos novatos dos recémadmitidos em determinadas ins tituições No entanto os cabelos rebeldes soltos e des cuidados podem expressar independência ou mesmo relutância às normas sociais como é o caso de líderes religiosos profetas rastafaris É muito comum en contrarmos entre osas docentes a presença de relatos que associam os cabelos rastafaris e a estética dos integrantes do movimento hiphop à sujeira e à marginalidade No ambiente escolar essas associa ções muitas vezes extrapolam a esfera individual e transformamse em representações coletivas negati vas sobre o negro seu cabelo e sua estética Dessa forma consideramos importante para nós do campo da educação compreender que para além do significado social mais amplo e mais genérico do Nilma Lino Gomes 50 SetOutNovDez 2002 Nº 21 cabelo existem variações de acordo com a cultura classe raça idade sexo nacionalidade contexto his tórico e político Cortar o cabelo alisálo raspálo mudálo pode significar não só uma mudança de es tado dentro de um grupo mas também a maneira como as pessoas se vêem e são vistas pelo outro o cabelo compõe um estilo político de moda e de vida Em suma o cabelo é um veículo capaz de transmitir dife rentes mensagens por isso possibilita as mais dife rentes leituras e interpretações Desse modo para muitos o cabelo é a moldura do rosto e um dos pri meiros sinais a serem observados no corpo humano Circulando pelo salão fui até a sala da manicure onde I fazia a unha de S uma vendedora de tecidos S é negra tem o cabelo cortado bem curto estilo máquina 1 Ao con versarmos ela me disse que resolveu cortar o cabelo bem curto porque ele dava muito trabalho Quando acordava o marido ficava brincando com ela chamandoa de Os Simpsons Ela disse que quando cortou o cabelo sentiuse mais bonita e que até vendeu melhor os seus produtos Ela disse O cabelo é a moldura do rosto A gente pode estar com uma roupa linda mas se o cabelo não estiver bonito não dá Essa é uma opinião comum a todas as pessoas que encontro no salão Diário de campo 16101999 Chegou uma senhora negra com a filha e o neto Ela assentou perto de mim quando eu estava no banho infraver melho e conversou sobre o cabelo o que é comum no salão Faloume de como o seu cabelo era maltratado de como ele caiu e que quando chegou no Salão D ela esta va quase sem cabelo Agora é que ele está melhor dis se ela toda satisfeita E continuou Porque você sabe minha filha quando a gente vai sair a gente vê só o cabe lo A senhora acha mesmo pergunteilhe Mas é claro respondeume enfaticamente Diário de cam po 12052000 Consideramos então que o estudo sobre as re presentações do corpo negro no cotidiano escolar po derá ser uma contribuição não só para o desvelamento do preconceito e da discriminação racial na escola como também poderá ajudarnos a construir estraté gias pedagógicas alternativas que nos possibilitem compreender a importância do corpo na construção da identidade negra de alunosas professoresas ne gros mestiços e brancos e como esses fatores inter ferem nas relações estabelecidas entre esses diferen tes sujeitos no ambiente escolar Na escola não só aprendemos a reproduzir as representações negativas sobre o cabelo crespo e o corpo negro podemos tam bém aprender a superálas Para isso elas terão que ser consideradas temáticas merecedoras de um lugar em nosso currículo e em nossas discussões pedagógi cas Mas quais serão as representações sobre a rela ção negro corpo e cabelo presentes na escola Em que momentos elas aparecem e como elas aparecem Como tais representações se manifestam no currícu lo Como os sujeitos negros e brancos vivem suas experiências corpóreas dentro e fora da escola Mui tas vezes esses processos delicados e tensos passam despercebidos pela instituição escolar e pelosas pro fissionais da educação e não são incluídos nos deba tes e nas discussões desenvolvidas nos cursos de for mação de professoresas O estudo sobre o corpo e o cabelo como ícones da identidade negra presentes nos processos educati vos escolares e não escolares poderá apontarnos ou tros caminhos além da denúncia da reprodução de pre conceitos e estereótipos A manipulação do cabelo do negro e da negra nessa perspectiva pode ser vista como continuidade de elementos culturais africanos ressignificados no Brasil Parafraseando Munanga 2000 p 99 quando este autor escreve a respeito da arte afrobrasileira podemos dizer que descobrir a africanidade presente ou escondida na manipulação do cabelo do negro e da negra da atualidade e nos pentea dos por eles realizados constitui uma das preocupa ções primordiais para a definição da força histórica e cultural desse segmento étnicoracial Esses são aspec tos a serem considerados pela educação escolar NILMA LINO GOMES doutora em antropologia social pela USP é professora adjunta na Faculdade de Educação da Universi dade Federal de Minas Gerais Além de vários artigos e capítulos Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 51 de livros publicou A mulher negra que vi de perto o processo de construção da identidade racial de professoras negras Belo Hori zonte Mazza 1995 e organizou em colaboração com Lilia K M Schwartz Antropologia e história debate em região de fron teira Belo Horizonte Autêntica 2000 e com Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva Experiências étnicoculturais para a forma ção de professores Belo Horizonte Autêntica 2002 Atualmen te junto com o professor Juarez T Dayrell desenvolve o projeto de pesquisa Juventude práticas culturais e identidade negra Email nilmagomesuolcombr Referências bibliográficas ARROYO Miguel G 2000 Ofício de mestre Petrópolis Vozes BRUNER Jerome 2001 A cultura da educação Porto Alegre Artmed GOMES Nilma Lino 2002 Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte Tese de Doutorado Faculdade de Filoso fia Letras e Ciências Humanas USP GONÇALVES Luiz Alberto Oliveira 1985 O silêncio um ri tual pedagógico a favor da discriminação racial Dissertação de mestrado Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais 2000 Diário de campo KOBENA Mercer 1994 Black hair style politics In Welcome to the jungle new positions in Black cultural studies New York Routledge p 97128 MARTINS José de Souza 1999 A dialética do corpo no imagi nário popular Sextafeira antropologia artes humanidades São Paulo Editora Pletora n 4 p 4654 MAUSS Marcel 1974 As técnicas corporais In So ciologia e antropologia São Paulo EPU p 209233 MUNANGA Kabengele 2000 Arte afrobrasileira o que é afinal In Associação 500 anos Brasil artes visuais Mostra do redescobrimento Arte afrobrasileira São Paulo Fundação Bienal de São Paulo p 98111 QUEIROZ Renato da Silva org 2000 O corpo do brasileiro estudos de estética e beleza São Paulo SENAC QUEIROZ Renato da Silva OTTA Emma 2000 A beleza em foco condicionantes culturais e psicológicos na definição da estética corporal In QUEIROZ Renato da Silva org O corpo do brasileiro estudos de estética e beleza São Paulo SENAC p 1366 RODRIGUES José Carlos 1986 O tabu do corpo Rio de Ja neiro Dois Pontos Recebido em agosto de 2002 Aprovado em outubro de 2002 ResumosAbstracts 168 SetOutNovDez 2002 Nº 21 mechanisms operate to govern childhood This research inspired by Michel Foucaults ideas seeks to show how mechanisms of powerknowledge concerning childhood are produced within pedagogical relationships In this article an analysis of the government of childhood is undertaken examining propositions presented in the document and stressing the ways technologies of the self operate Related to political technologies and governmental rationalities this work emphasises the RCN as a mechanism that proposes to produce childrens subjectivities and that aims to organise impart and control the circulation of knowledge in early childhood institutions Keywords early childhood education childrens subjectivities technologies of the self power mechanisms Nilma Lino Gomes Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo reprodução de estereótipos eou ressignificação cultural O trabalho estabelece uma arti culação entre os processos educativos escolares e nãoescolares e a constru ção da identidade negra Discutemse as representações e as concepções se melhantes diferentes e complementa res sobre o corpo negro e o cabelo crespo construídas dentro e fora do ambiente escolar a partir de lembran ças de adolescentes e jovens negras entrevistadas durante a realização de uma pesquisa etnográfica sobre corpo e cabelo como ícones identitários em salões étnicos Pretendese compreen der o significado social do cabelo e do corpo e os sentidos a eles atribuídos pela escola e pelos sujeitos negros en trevistados O entendimento desse contexto revela que o corpo como su porte de construção da identidade ain da não tem sido uma temática privile giada nos estudos sobre relações ra ciais e educação Palavraschave educação identidade negra corpo School trajectories black skin and Afro hair reproduction of stereotypes andor cultural resignificance This study establishes an articulation between school and nonschool educational processes and the construction of Negro identity It discusses the representations and simi lar different and complementary conceptions about the Negro body and afro hair constructed within and without the school environment based on the memories of adolescent and young Negros interviewed during an ethnographic research on body and hair as identity icons in ethnic hairdressing salons The intention is to understand the social significance of hair and body and the meanings attributed to them by the school and by the Negro subjects interviewed The understanding of this context reveals that the body as a support for the construction of identity has not been a theme given prominence in studies on racial relations and education Keywords education negro identity body Maria Helena Rodrigues Paes A questão da língua na escola indígena em aldeias Paresi de Tangará da SerraMT Os índios Paresi de Tangará da SerraMT embora de grande apego aos elementos da sua cultura tradicio nal vivem um processo de intensas relações com a sociedade envolvente ressignificando seus hábitos tradicio nais e os incorporados da cultura ocidentalizada sendo a escolarização formal um instrumento essencial para transmissão dos códigos simbólicos da cultura ocidentalizada Em um mo mento de transição entre um modelo de escola tradicional para um modelo que atenda às especificidades da reali dade local este trabalho propõe uma reflexão à luz dos estudos culturais do discurso da valorização da língua portuguesa na rotina escolar não en tendendo esta opção como sobreposi ção aos valores da cultura tradicional num processo de homogeneização mas como uma ferramenta e um ins trumento de poder que visa marcar o lugar do Paresi na sociedade envolvente Palavraschave educação indígena hibridização linguagem The language question in the present dilemmas of the indigenous school in paresi villages in Tangará da Serra in the State of Mato Grosso The Paresi Indians from Tangará da Serra in the State of Mato Grosso although greatly attached to elements of their cultural tradition experience a process of intense relations with the society by which they are surrounded giving new meaning to their traditions and to those incorporated from the westernised culture In this process formal schooling has proved an essential instrument for the transmission of symbolic codes of westernised culture In a phase of transition from a traditional school model to a model which attends the specificities of local reality this paper proposes a reflection in the light of cultural studies on the discourse which values the use of Portuguese language in school routine not understanding this option as an imposition on the values of the traditional culture as part of a process of homogenisation but as a tool and powerful instrument which aims to establish the place of the Paresi in the surrounding society Keywords indigenous education hybridisation language TRAJETÓRIAS ESCOLARES CORPO NEGRO E CABELO CRESPO REPRODUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS OU RESSIGNIFICAÇÃO CULTURAL DE NILMA LINO GOMES O artigo escrito por Nilma Lino Gomes traz aspectos primordiais para a compreensão sobre a importância da escola como um espaço que vai muito além de aprendizagens teóricas e formais em outras palavras a escola tem um papel notório dentro da formação da identidade social cultural e simbólica dos sujeitos Segundo a autora esse ambiente age na formação do conhecimento acadêmico ordem racial gênero formação de classes sociais e estereótipos Inicialmente são tratados pontos sobre os avanços no campo da educação relações raciais e culturais como por exemplo os debates relativos à representação dos negros nos livros didáticos assim como à diversidade Embora esses avanços sejam observados é importante lembrar que ainda existem lacunas que devem ser vencidas principalmente no tocante as experiências vivenciadas pelos indivíduos negros no espaço escolar sobretudo no tocante os aspectos representativos da relação do corpo e o cabelo crespo Além disso a construção da identidade de mulheres homens e crianças constroem suas identidades pessoais dentro e fora do ambiente escolar como dito ao longo do estudo nem sempre essas dimensões simbólicas recebem as considerações devidas dentro da área pedagógica Assim a partir da pesquisa realizada a autora trouxe depoimentos de mulheres e homens em idades entre 20 e 60 anos isso reforçou o entendimento de que as pessoas constroem suas identidades raciais e estéticas com base nessas vivências Dentre esses relatos muitas experiencias negativas foram descritas como ligadas ao corpo negro e cabelo crespo dentro das escolas onde muitas vezes os padrões eurocêntricos de beleza eram dados como os esperados além disso também estavam presentes estigmas sobre a aparência negra A autora ainda propõe que a escola deve sempre procurar desenvolver uma atenção minuciosa as narrativas negras isso significa reconhecer o corpo como um simbolismo de resistência Nesse contexto reconhecer esse simbolismo ainda garante que a educação seja um veículo para tornar o processo de aprender mais humanizado dentro das práticas escolares Podese dizer ainda que por diversas vezes as opiniões e representações negras nem sempre recebem um estudo aprofundado Para Nina a escola deve sempre se atentar ao reconhecimento da necessidade de uma valorização da identidade negra Com isso o cabelo crespo passa a não ser somente um traço físico mas sim um aspecto político e cultural Ao negligenciar isso a escola pode auxiliar fortemente na criação de mais preconceitos além de estereótipos que afetam a autoestima dos estudantes negros além disso fortalecendo o racismo estrutural que muitas vezes é aplicado de maneira velada Isso porque dentro da sociedade o corpo funciona também como um mecanismo de comunicação isso porque a antropologia revela que a singularidade cultural é atribuída como uma dimensão visível da relação existencial dos sujeitos Assim a relação entre a educação e a antropologia releva como os fatores raciais e culturais são apontados dentro das trajetórias escolares como também seu desenvolvimento que é sempre complexo Como dito na medida em que o corpo vai sendo modificado e tocado ele passa a ser desenvolvido dentro do processo de humanização e desumanização Ao longo do estudo o cabelo crespo é demonstrado como um dos principais aspectos ligados a trajetória de vida esse processo não se inicia somente com o processo de alisamento químico as garotas negras ao longo da história foram submetidas a pressões estéticas da sociedade Outro aspecto citado são as tranças nos cabelos que foram colocadas ao longo da história desde os navios negreiros isso representa mais do que fatores estéticos o relato de resistências busca por igualdade e valorização dos traços negros Ademais a antropologia pode ser um fator que explica que o corpo não é apenas biológico sendo a maneira de se posicionar no mundo comunicar e destacar os valores pessoais Por isso a cultura define tais aspectos como normas que moldam os indivíduos Assim dentro do contexto da escravidão e da história de resistência negra o corpo pode ser caracterizado como um fator de simbolismo Dentro da opressão da escravidão os africanos desenvolveram métodos de ressignificação corporal por meio de penteados danças e cuidados com seus corpos por isso essas práticas devem ser reconhecidas para garantir a valorização da identidade subjetiva e grupal Dado o exposto o artigo defende principalmente a necessidade de uma urgência quanto a métodos de lidar com a diversidade corporal REFERÊNCIAS GOMES Nilma Lino Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural Cadernos Pagu Campinas n 21 p 119138 setoutnovdez 2002 Disponível em fileCUserseurafDownloads1746184975883corponegrocabelocresponelmali nogomespdf acesso em 03 de maio de 2025 Seguindo a análise abordada pela professora Nina Lino Gomes é possível compreender a necessidade de reconhecer a escola como um campo no qual não se dissemina apenas um conhecimento teórico limitado a aprendizagem formal mas sim como um ambiente pautado em reconhecer a formação da identidade individual subjetividade e valores de cada indivíduo O artigo trouxe um estudo realizado com pessoas negras de divergentes idades onde foi possível visualizar as dificuldades enfrentadas devido ao preconceito associado aos seus corpos e cabelos e a maneira como estes são tratados dentro do ambiente escolar notase o reforço dos estereótipos racistas que podem surgir dentro desses locais assim se faz necessário a implementação de metodologias que trazem a valorização cultural desses sujeitos Uma vez que o cabelo crespo e o corpo negro não simbolizam apenas traços biológicos mas sim fatores históricos de resistência Com isso é possível reconhecer ainda que apesar dos avanços a escola ainda se limita em relação ao reconhecimento sobre a valorização das características dos corpos negros isso contribui de modo silencioso para o racismo estrutural Assim o texto traz a urgência na criação de métodos pedagógicos que reforcem a conscientização sobre o preconceito vivenciado por esses indivíduos Por meio do texto é possível ressaltar ainda que o corpo negro representa um simbolismo relativo à resistência e luta muitas vezes o cabelo é colocado como uma representação da divergência racial historicamente ele é colocado como uma representação negativa associada à marginalidade ou sujeira em passos lentos o cabelo passou a se tornar um movimento de resignação onde passa a sair de um local de inferioridade e se torna símbolo de orgulho e identidade coletiva Além disso é reforçado também que tal debate deve sempre ser colocado dentro da sala de aula uma vez que tais representações são fundamentais para acabar com o racismo e preconceito os professores são profissionais que devem sempre incluir tais reflexões sobre o corpo e sobre a identidade negra A escola é um espaço de desconstrução acolhimento e aprendizado isso alinhado a valorização da diversidade garante a produção de uma sociedade mais consciente e justa
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Texto de pré-visualização
Preciso que meu guru faça uma SINTESE desse texto Usar somente o texto não usar inteligência IA ou plagio será passado no detector ZEROCHAT FAZER TAMBEM UMA FALA DE EXPLICAÇÃO DESSE TEXTO PARA QUE EU POSSA EXPLICAR EU SEREI A RELATORA DO TEXTO ENTÃO TENHO EXPLICAR A CONCLUSÃO FAÇA A MINHA FALA COMO RELATORA Nilma Lino Gomes 40 SetOutNovDez 2002 Nº 21 Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural Nilma Lino Gomes Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educação Muito se tem discutido sobre a importância da escola como instituição formadora não só de saberes escolares como também sociais e culturais Tendo isso em vista alguns estudiosos do campo da educação e da cultura têm destacado o peso da cultura escolar no processo de construção das identidades sociais enfati zando a escola como mais um espaço presente na cons trução do complexo processo de humanização Arroyo 2000 Bruner 2001 Por essa perspectiva a institui ção escolar é vista como um espaço em que aprende mos e compartilhamos não só conteúdos e saberes es colares mas também valores crenças hábitos e preconceitos raciais de gênero de classe e de idade Aos poucos os educadores e as educadoras vêm interessandose cada vez mais pelos estudos que arti culam educação cultura e relações raciais Temas como a representação do negro nos livros didáticos o silêncio sobre a questão racial na escola a educação de mulheres negras relações raciais e educação in fantil negros e currículo entre outros começam a ser incorporados na produção teórica educacional Porém apesar desses avanços ainda nos falta equa cionar alguns aspectos e compreender as muitas nuances que envolvem a questão racial na escola destacando os mitos as representações e os valores em suma as formas simbólicas por meio das quais homens e mulheres crianças jovens e adultos negros constroem a sua identidade dentro e fora do ambiente escolar Lamentavelmente nem sempre damos a essas dimensões simbólicas a devida atenção dentro do ambiente escolar e quando o fazemos nem sempre as consideramos dignas de investigação científica e merecedoras de um trato pedagógico Dessa forma um dos caminhos para a ampliação do estudo da ques tão racial no campo da educação na tentativa de com preender a sua relação com o universo simbólico pode ser a construção de um olhar mais alargado sobre a educação como processo de humanização que inclua e incorpore os processos educativos nãoescolares Poderemos então captar as impressões representa ções e opiniões dos sujeitos negros sobre a escola ele gendo com base nesses dados temáticas que nem sem pre são destacadas em nosso campo de atuação e que mereceriam um estudo mais profundo A relação do negro com o corpo e o cabelo é uma dessas temáticas Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 41 Mas como captar as impressões e representações do negro sobre o próprio corpo articulandoas com as experiências escolares e não escolares Esta não é uma tarefa fácil porém não é impossível Um dos caminhos para a sua realização poderá ser o desen volvimento de uma escuta atenta por parte dos edu cadores e das educadoras ao que os negros e as ne gras têm a dizer sobre as suas vivências corpóreas dentro e fora dos muros da escola Ao desenvolver mos a pesquisa Corpo e cabelo como ícones de cons trução da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte Gomes 2002 para a rea lização do doutorado em antropologia social1 várias depoentes ao reportaremse ao corpo relembraram momentos significativos da sua história de vida dan do um destaque especial à trajetória escolar Para es sas pessoas na sua maioria mulheres negras jovens e adultas na faixa dos 20 aos 60 anos a experiência com o corpo negro e o cabelo crespo não se reduz ao espaço da família das amizades da militância ou dos relacionamentos afetivos A trajetória escolar apare ce em todos os depoimentos como um importante momento no processo de construção da identidade negra e lamentavelmente reforçando estereótipos e representações negativas sobre esse segmento étni coracial e o seu padrão estético O corpo surge en tão nesse contexto como suporte da identidade ne gra e o cabelo crespo como um forte ícone identitário Será que ao pensarmos a relação entre currículo mul ticulturalismo e relações raciais e de gênero levamos em conta a radicalidade dessas questões Na instituição escolar assim como na socieda de nós comunicamosnos por meio do corpo Um cor po que é construído biologicamente e simbolicamen te na cultura e na história A antropologia mostranos que as singularidades culturais são dadas não somen te pelas dimensões invisíveis das relações humanas São dadas também pelas posturas pelas predisposi ções pelos humores e pela manipulação de diferen tes partes do corpo Por isso a articulação entre edu cação e antropologia poderá trazernos novas luzes sobre o estudo das relações raciais e apontarnos no vos temas por meio dos quais a trama na qual a traje tória escolar é tecida desenvolvese de maneira lenta e complexa O corpo fala a respeito do nosso estar no mundo pois a nossa localização na sociedade dáse pela sua mediação no espaço e no tempo Estamos diante de uma realidade dupla e dialética ao mesmo tempo que é natural o corpo é também simbólico Ele pode ser a referência revolucionária da universalidade do ho mem no contraponto crítico e contestador à coisifica ção da pessoa e à exploração do homem pelo homem na mediação das coisas Martins 1999 p 54 As diferentes crenças e sentimentos que consti tuem o fundamento da vida social são aplicadas ao corpo Temos então no corpo a junção e a sobrepo sição do mundo das representações ao da natureza e da materialidade Ambos coexistem de maneira si multânea e separada Por isso não podemos apagar do corpo os comportamentos e motivações orgânicas que se fazem presentes em todos os seres humanos em qualquer tempo e lugar A fome o sono a fadiga do corpo o sexo são motivações biológicas às quais a cultura atribui uma significação especial e diferente É a cultura que à sua maneira inibirá ou exaltará esses impulsos selecionando dentre todos quais se rão os inibidos quais serão os exaltados e ainda quais serão os considerados sem importância e portanto 1 Os espaços pesquisados nos quais o cabelo crespo é a prin cipal matériaprima são quatro salões étnicos da cidade de Belo Horizonte Deles emergem concepções semelhantes diferentes e complementares sobre a beleza negra e a condição do negro na sociedade brasileira Dois deles localizamse no centro da cida de e os outros dois em bairros bem próximos dessa região Os sujeitos da pesquisa são 28 mulheres e homens negros Destes 17 são mulheres e 11 são homens São jovens e adultos da faixa etária dos 20 aos 60 anos Dentre estes destacamse as cabe leireiras e os cabeleireiros dos quais cinco são mulheres e quatro são homens Do total de cabeleireirasos seis são proprietáriasos e asos outrasos são funcionáriasos de confiança A parte mais intensa da etnografia com um acompanhamento diário de cada salão iniciouse em agostosetembro de 1999 e terminou em ja neiro de 2001 O trabalho estendeuse até 2002 porém nesse pe ríodo a ida ao campo tornouse mais esparsa Nilma Lino Gomes 42 SetOutNovDez 2002 Nº 21 tenderão a permanecer desconhecidos Assim a cul tura dita normas em relação ao corpo às quais o indi víduo tenderá a conformarse à custa de castigos e recompensas até o ponto de estes padrões de com portamento apresentaremse tão naturais quanto o desenvolvimento dos seres vivos ou o pôrdosol Rodrigues 1986 p 45 Quando pensamos nos africanos escravizados e trazidos para o Brasil sempre vem à nossa mente o processo de coisificação do escravo materializa do nas relações sociais daquele momento histórico Esse processo se objetivava não só na condição es crava mas na forma como os senhores se relaciona vam com o corpo dos escravos e como os tratavam os castigos corporais os açoites as marcas a ferro a mutilação do corpo os abusos sexuais são alguns exemplos desse tratamento Mesmo diante de tal si tuação em que a liberdade oficial estava condicio nada à carta de alforria os escravos e as escravas desenvolveram as mais diversas formas de rebelião de resistência e de busca da liberdade Naquele con texto a manipulação do corpo as danças os cultos os penteados as tranças a capoeira o uso de ervas medicinais para cura de doenças e cicatrização das feridas deixadas pelos açoites foram maneiras es pecíficas e libertadoras de trabalhar o corpo Por esses costumes é possível percebermos o corpo como uma referência revolucionária da universalidade do ho mem apontada por Martins 1999 p 54 Se o cor po fala a respeito do nosso estar no mundo a rela ção histórica do escravo com o corpo expressa muito mais do que a idéia de submissão insistentemente pregada pela sociedade da época e que ecoa até hoje em nossos ouvidos Será que a escola tem dado uma outra leitura a essa relação Ou as crianças negras e brancas quando estudam a questão racial ainda par ticipam da representação do corpo negro apenas como um corpo açoitado e acorrentado Será que hoje em pleno terceiro milênio os livros didáticos e as discussões sobre a história do negro no Brasil reali zadas pela escola destacam que o corpo negro des de a época da escravidão sempre foi um corpo con testador Durante séculos de escravidão a perversidade do regime escravista materializouse na forma como o corpo negro era visto e tratado A diferença impressa nesse mesmo corpo pela cor da pele e pelos demais sinais diacríticos serviu como mais um argumento para justificar a colonização e encobrir intencionalidades econômicas e políticas Foi a comparação dos sinais do corpo negro como o nariz a boca a cor da pele e o tipo de cabelo com os do branco europeu e coloni zador que naquele contexto serviu de argumento para a formulação de um padrão de beleza e de fealdade que nos persegue até os dias atuais Será que esse padrão está presente na escola A existência de um padrão de beleza que prima pela brancura numa sociedade miscigenada como a nossa afeta ou não a nossa vida nas diferentes instituições sociais em que vivemos Essas representações estão presentes na es cola Como A relação do homem com o corpo é pautada por um imperioso processo de alteração Manipular ador nar alterar pintar escarificar tatuar cortar são ações que fazem parte da dinâmica cultural e dos diferentes rituais de toda e qualquer sociedade À medida que o corpo vai sendo tocado e alterado ele é submetido a um processo de humanização e desumanização A experiência corporal é sempre modificada pela cultu ra segundo padrões culturalmente estabelecidos e relacionados à busca de afirmação de uma identidade grupal específica Segundo Queiroz e Otta 2000 marcas deixadas por escarificações perfurações ta tuagens e mesmo algumas mutilações circuncisão extração de clitóris etc são sinais de pertinência de identidade social ao mesmo tempo que assinalam a condição tida por autenticamente humana daqueles que a exibem p 21 O corpo evidencia diferentes padrões estéticos e percepções de mundo Pinturas corporais penteados maquiagem adquirem dentro de grupos culturais es pecíficos sentidos distintos para quem os adota e sig nificados diferenciados de uma cultura para outra E é justamente o olhar sobre o corpo negro na escola que nos leva a considerar como professoresas e alu nosas negros e brancos lidam com dois elementos Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 43 construídos culturalmente na sociedade brasileira como definidores do pertencimento étnicoracial dos sujeitos a cor da pele e o cabelo Destacaremos neste trabalho de maneira es pecial o peso da trajetória escolar na conformação da identidade negra dos sentimentos e das impres sões sobre o cabelo crespo na vida de mulheres ne gras jovens e adultas que freqüentam salões de be leza étnicos Parto do pressuposto de que a maneira como a escola assim como a nossa sociedade vêem o negro e a negra e emitem opiniões sobre o seu corpo o seu cabelo e sua estética deixa marcas pro fundas na vida desses sujeitos Muitas vezes só quan do se distanciam da escola ou quando se deparam com outros espaços sociais em que a questão racial é tratada de maneira positiva é que esses sujeitos conseguem falar sobre essas experiências e emitir opiniões sobre temas tão delicados que tocam a sua subjetividade O discurso pedagógico ao privilegiar a questão racial não gira somente em torno de conceitos disci plinas e saberes escolares Fala sobre o negro na sua totalidade referese ao seu pertencimento étnico à sua condição socioeconômica à sua cultura ao seu grupo geracional aos valores de gênero etc Tudo isso se dá de maneira consciente e inconsciente Muitas vezes é por intermédio desse discurso que estereóti pos e preconceitos sobre o corpo negro são reprodu zidos Será que eles são superados O discurso pedagógico proferido sobre o negro mesmo sem referirse explicitamente ao corpo abor da e expressa impressões e representações sobre esse corpo O cabelo tem sido um dos principais símbolos utilizados nesse processo pois desde a escravidão tem sido usado como um dos elementos definidores do lugar do sujeito dentro do sistema de classificação racial brasileiro Essa situação não se restringe ao discurso Ela impregna as práticas pedagógicas as vivências esco lares e socioculturais dos sujeitos negros e brancos É um processo complexo tenso e conflituoso e pode possibilitar tanto a construção de experiências de dis criminação racial quanto de superação do racismo Cabelo e trajetória de vida As experiências do negro em relação ao cabelo começam muito cedo Mas enganase quem pensa que tal processo iniciase com o uso de produtos quími cos ou com o alisamento do cabelo com pente ou fer ro quente As meninas negras durante a infância são submetidas a verdadeiros rituais de manipulação do cabelo realizados pela mãe tia irmã mais velha ou pelo adulto mais próximo As tranças são as primei ras técnicas utilizadas Porém nem sempre elas são eleitas pela então criança negra hoje uma mulher adulta como o penteado preferido da infância Talvez esse seja um dos motivos pelos quais al gumas dessas mulheres prefiram adotar alisamentos e alongamentos na atualidade A sensação de ter o cabelo constantemente desembaraçado e de não pre cisar sofrer as pressões do pente ou os puxões para destrançar o cabelo foram comentários constantes durante as entrevistas acompanhados de expressões de alívio quando o assunto era o uso das tranças du rante a infância sempre ouvíamos uma infinidade de reclamações Eu odiava Minha mãe fazia quatro tranças e junta va de duas a duas no alto da minha cabeça2 NU 26 anos cabeleireira étnica Puxava tanto o meu cabelo para ele ficar ajeitadinho que até esticava os meus olhos Parecia uma japonesa pre ta J 23 anos cabeleireira étnica Não nem sempre fui de bem com o meu cabelo não desde criança não Porque era aquele problema de puxar trançar aquela coisa toda Não tinha alisamento então na hora de mamãe pentear o cabelo era um drama Aí depois já mocinha é que eu fui me cuidando aquela coisa toda é que mudou Mas de criança não eu chorava não gostava de pentear o cabelo porque doía puxava da qui puxava dali mas depois depois ficou bom E está até agora SA 51 anos auxiliar de escritório 2 Na transcrição das entrevistas e de trechos do diário de campo todos os grifos são meus Nilma Lino Gomes 44 SetOutNovDez 2002 Nº 21 Minha mãe pra pentear o cabelo ela quase matava a gente Fazia aquelas trancinhas A gente eu ficava com a cabeça toda doendo Hoje em dia não tem isso mais não é Veja minha filha olha o cabelo dela e olha o meu na época dela não tem nem comparação Hoje em dia está bom para o lado da pessoa negra porque antigamente nossa Quando não era aquele ferro quente pente quente que passavam no cabelo da gente passavam aquele negó cio Ficava até bonito mas depois caia uma poeirinha nossa ficava um horror Isso foi até eu atingir a minha ida de de adulta Não tinha opção Tinha que usar isso mesmo Agora é que apareceu cabelo de tudo quanto é jeito M 25 anos dona de casa O uso de tranças é uma técnica corporal que acompanha a história do negro desde a África Po rém os significados de tal técnica foram alterados no tempo e no espaço Nas sociedades ocidentais con temporâneas algumas famílias negras ao arrumarem o cabelo das crianças sobretudo das mulheres fazem no na tentativa de romper com os estereótipos do ne gro descabelado e sujo Outras fazemno simplesmen te como uma prática cultural de cuidar do corpo Mas de um modo geral quando observamos crianças ne gras trançadas notamos duas coisas a variedade de tipos de tranças e o uso de adereços coloridos Tal prática explicita a existência de um estilo negro de pentearse e adornarse o qual é muito diferente das crianças brancas mesmo que estas se apresentem en feitadas Essas situações ilustram a estreita relação entre o negro o cabelo e a identidade negra A identidade negra compreende um complexo sistema estético Depois de adultas muitas mulheres negras recon ciliamse com as tranças Agora porém elas apresen tamse estilizadas desde as chamadas tranças africa nas ou agarradinhas que formam desenhos engenhosos no couro cabeludo até as jamaicanas de diferentes comprimentos Esses penteados são também usados pelos homens porém com menor freqüência Mesmo que reconheçamos que a manipulação do cabelo seja uma técnica corporal e um comportamen to social presente nas mais diversas culturas para o negro e mais especificamente para o negro brasilei ro esse processo não se dá sem conflitos Estes em bates podem expressar sentimentos de rejeição acei tação ressignificação e até mesmo de negação ao pertencimento étnicoracial As múltiplas representa ções construídas sobre o cabelo do negro no contexto de uma sociedade racista influenciam o comportamen to individual Existem em nossa sociedade espaços sociais nos quais o negro transita desde criança em que tais representações reforçam estereótipos e inten sificam as experiências do negro com o seu cabelo e o seu corpo Um deles é a escola Uma vez tenho muito cabelo mas antes eu tinha mais e sempre assim até uns sete anos pra nove anos eu não tinha problema com cabelo porque minhas tias como eu te falei mexiam com cabelo Então cada dia eu ia arrumadinha para o colégio Tinha vez que minha tia alisava o meu cabelo quando eu alisava não cortava mais aí ele ficava grande Minha tia alisava o meu cabelo tinha dia que eu ia de trancinha assim agarradinha Tinha vez que ela fazia as trancinhas acima assim Meu cabelo era grande aí as trancinhas ficavam lindas colocava bolinha A gente en chia de bolinha assim miçanguinha Eu colocava ficava balançando todo mundo achava lindo Eu era sempre baixi nha sempre miudinha Do grupo inteiro todo mundo até hoje tem retrato meu lá no grupo que eles guardam E não tinha problema não sabe Eles me chamavam de neguinha às vezes os meninos mexiam comigo mas eu não ligava não Eu não ligava eu gostava do jeito que eu era Eu fui me acostumei comigo me acostumei com o que eu era com mi nha raça Então me acostumei e não ligava não mas o pes soal mexia Isso aí eu tirava de ao pé da letra Não me atrapalhava não Eu gostava mesmo Então minha tia quan do arrumava o meu cabelo nossa eu ficava toda metida Cada dia um penteado nossa eu achava o máximo princi palmente porque chamava muita atenção As pessoas acha vam lindo o penteado J 23 anos cabeleireira Bom a minha mãe ela sempre cuidou quando ela cuidava do meu cabelo ela usava muita trancinha então colocava aquele tanto de badulaque e tal Aí os meninos fi cavam assim olhando olhava porque colocava aquilo e tal Mas apelido essas coisas não até que muita gente co Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 45 meçou a aderir também Tinha muita menininha da minha idade e tal também que as mães colocavam tranças Até porque os professores pediam pra evitar piolho né esse tipo de coisa então eu num eu nunca tive problema não Nun ca tive graças a Deus AD 25 anos auxiliar de escritório Na infância eu me senti assim uma verdadeira ja ponesa negra né Minha mãe apertava tanto a minha trancinha pra ir pra aula eu usava trancinha Sabe aque las trancinhas que faz tipo gominho emendando uma na outra Então eu sofria apertava demais eu sofria muito NU 26 anos cabeleireira Se antes a aparência da criança negra com sua cabeleira crespa solta e despenteada era algo comum entre a vizinhança e coleguinhas negros com a entra da para a escola essa situação muda A escola impõe padrões de currículo de conhecimento de comporta mentos e também de estética Para estar dentro da escola é preciso apresentarse fisicamente dentro de um padrão uniformizarse A exigência de cuidar da aparência é reiterada e os argumentos para tal nem sempre apresentam um conteúdo racial explícito Muitas vezes esse conteúdo é mascarado pelo apelo às normas e aos preceitos higienistas Existe no inte rior do espaço escolar uma determinada representa ção do que é ser negro presente nos livros didáticos nos discursos nas relações pedagógicas nos cartazes afixados nos murais da escola nas relações profes sora e alunoa e dos alunosas entre si Estudos como o de Gonçalves 1985 apontam para que na maioria das vezes a questão racial existe na escola por meio da sua ausência e do seu silenciamento Na escola também se encontra a exigência de ar rumar o cabelo o que não é novidade para a família negra Mas essa exigência muitas vezes chega até essa família com um sentido muito diferente daquele atri buído pelas mães ao cuidarem dos seus filhos e filhas Em alguns momentos o cuidado dessas mães não con segue evitar que mesmo apresentandose bem pentea da e arrumada a criança negra deixe de ser alvo das piadas e apelidos pejorativos no ambiente escolar Al guns se referem ao cabelo como ninho de guacho cabelo de bombril nega do cabelo duro cabelo de picumã Apelidos que expressam que o tipo de cabelo do negro é visto como símbolo de inferiorida de sempre associado à artificialidade esponja de bombril ou com elementos da natureza ninho de pas sarinhos teia de aranha enegrecida pela fuligem Esses apelidos recebidos na escola marcam a his tória de vida dos negros São talvez as primeiras experiências públicas de rejeição do corpo vividas na infância e adolescência A escola representa uma aber tura para a vida social mais ampla em que o contato é muito diferente daquele estabelecido na família na vizinhança e no círculo de amigos mais íntimos Uma coisa é nascer criança negra ter cabelo crespo e viver dentro da comunidade negra outra coisa é ser crian ça negra ter cabelo crespo e estar entre brancos A experiência da relação identidadealteridade colocase com maior intensidade nesse contato famí liaescola Para muitos negros essa é uma das pri meiras situações de contato interétnico É de onde emergem as diferenças e se torna possível pensar um nós criança e família negra em oposição aos outros colegas e professoresas brancos Embora o discurso que condiciona a discriminação do negro à sua localização na classe social ainda seja predomi nante na escola as práticas cotidianas mostram para a criança e para o adolescente negro que o status so cial não é determinado somente pelo emprego renda e grau de escolaridade mas também pela posição da pessoa na classificação racial Pertencer ou não a um segmento étnicoracial faz muita diferença nas relações estabelecidas entre os su jeitos da escola nos momentos de avaliação nas ex pectativas construídas em torno do desempenho esco lar e na maneira como as diferenças são tratadas Embora atualmente os currículos oficiais aos poucos incorporem leituras críticas sobre a situação do negro e alguns docentes se empenhem no trabalho com a ques tão racial no ambiente escolar o cabelo e os demais sinais diacríticos ainda são usados como critério para discriminar negros brancos e mestiços A questão da expressão estética negra ainda não é considerada um tema a ser discutido pela pedagogia brasileira Nilma Lino Gomes 46 SetOutNovDez 2002 Nº 21 Os sinais diacríticos operam como demarcadores da diferença Quanto mais aumentam as vivências da criança negra fora do universo familiar quanto mais essa criança ou adolescente inserese em círculos so ciais mais amplos como é o caso da escola mais manifestase a tensão vivida pelos negros na relação estabelecida entre a esfera privada vida familiar e a pública relações sociais mais amplas São nesses espaços que as oportunidades de com paração a presença de outros padrões estéticos estilos de vida e práticas culturais ganham destaque no coti diano da criança e doa adolescente negros muitas ve zes de maneira contrária àquela aprendida na família Em alguns casos é o cuidado da mãe a maneira como a criança é vista no meio familiar que lhe possibilitam a construção de uma autorepresentação positiva sobre o ser negroa e a elaboração de alternativas particula res para lidar com o cabelo crespo Diante disso pode mos inferir que saber lidar manusear e tratar do cabelo crespo está intimamente associado a estratégias indi viduais de construção da identidade negra Pra minha felicidade a minha relação pessoa mu lher e o meu cabelo crespo foi ótima pelo fato de ter tido a minha mãe que é uma cabeleireira conceituada aí já no mercado afro que cuidou sempre do meu cabelo eu nunca sofri E ela tentou fazer com que eu nunca passasse em situações que ela passou com o cabelo crespo com a difi culdade que ela teve com o cabelo dela Então assim eu nunca tive problemas com alisamento a vida inteira alisei o cabelo Nunca tive aqueles problemas famosos com quei maduras e tudo mais Sempre tive o meu cabelo saudável FA 26 anos cabeleireira A reação de cada pessoa negra diante do precon ceito é muito particular Essa particularidade está in timamente ligada à construção da identidade negra e às possibilidades de socialização e de informação Como nos disse uma depoente muitas vezes as pes soas são preconceituosas por causa da desinforma ção Elas precisam ser reeducadas Tenho amadurecimento pra isso Então essa ques tão da história do cabelo é muito em função disso Minha irmã ela trabalhava na Usiminas então ela tinha mais con tatos não muito com negros mas com pessoas que tinham outra visão que davam outro tipo de incentivo E eu custei a cair vamos dizer assim não vou chamar de mundo real não mas a encontrar essa história do negro pra me identi ficar legal Acho que por isso que foi esse processo lento Não sei foi esse processo passo a passo E eu estou aqui cabelo maravilhoso Que eu amo e eu ainda achei inte ressante que quando eu solto ele assim todo mundo fica escandalizado risos Aí um dia eu fui na padaria e a meni na olhou pro meu cabelo Por que cê num corta seu cabe lo risos Eu achei tão fantástico Por que cê num corta seu cabelo Eu falei assim Porque eu gosto dele as sim de uma forma muito tranqüila E eu achei legal que ela virou e falou assim Deve dar muito trabalho Na visão dela para eu colocar o meu coque assim simples mente amarrar Aí ninguém entende esse coque no meu cabelo e todo mundo fica principalmente os brancos que não sabem como que é o simples amarrado Todo mundo quer pegar e ver Como é que seu cabelo fica assim pra cima Entendeu Então o porquê porque nós sabemos como que ele fica pra cima mas as pessoas que olham Gente são inúmeras as pessoas Às vezes a cabeleireira B até me chama a atenção por causa disso que as pessoas querem pegar ver É diferente Como é que cê faz pro seu cabelo ficar armado dessa forma Então eu explico que o meu cabelo é crespo que ele não é liso por isso que ele fica pra cima se eu alisasse com certeza ele cairia E eu amar ro Aí que as pessoas Ah então ele tá amarrado né Na cabeça das pessoas eu acho que elas não conseguem ver que eu jogo esse cabelo todo pra cima e amarro E aí eu achei interessante e aí ela comentou Ah não isso assim dá muito trabalho Aí eu expliquei pra ela que não dava trabalho aí eu mostrei pra ela Olha tá vendo ele tá amar rado É só eu pentear Ainda olhei pra ela e falei assim Tem como pentear Eu penteio meu cabelo e amarro E ao invés de amarrar ele pra baixo como as pessoas têm o costume de amarrar amarro ele pra cima Tá diferente é só você perguntar gargalhadas Mas é claro fico bem tran qüila porque eu acho legal as pessoas terem essa liberdade de questionar Porque se de repente entro numa de porque meu cabelo é assim eu quero é assim pronto e acabou e você não tem nada com isso A pessoa nem sabe como é o processo de um cabelo do negro E aí a gente vai infor Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 47 mando de uma forma tranqüila porque é uma informa ção D 38 anos contabilista Embora existam aspectos comuns que remetem à construção da identidade negra no Brasil cada vez mais entendese que para discutila precisamos sempre considerar como os sujeitos a constroem não somente no nível coletivo mas também no individual O mais difícil é após conhecer essas estratégias individuais interpretálas não julgálas e nem classificálas como mais ou menos politizadas mais ou menos corretas Quem sabe assim compreenderemos como o negro constrói a sua identidade nos seus próprios termos Há então um campo mais íntimo que se refere à esfera da subjetividade que nem mesmo a interven ção familiar e um debate crítico produzido no espaço da militância ou da escola conseguem alcançálo na sua totalidade Isso não significa ignorar o peso da história da sociedade e da cultura mas destacar que a subjetividade também tem a sua importância no pro cesso do tornarse negro A relação do negro com o cabelo nos aproxima dessa esfera mais íntima É nesse sentido que o olhar sobre a adolescência dos sujeitos negros se faz importante A adolescência é um dos momentos fortes na construção da subjeti vidade negra Algunsmas depoentes ao falarem so bre a sua relação com o cabelo relembraram as expe riências vividas nesse ciclo da vida e falaram da sensação de desencontro de malestar e de descon forto em relação ao seu tipo físico seu cabelo sua pele e sua cor vivida na adolescência Dependendo do sujeito e da sua forma de lidar com essa experiên cia temos hoje um adulto que acumula certos trau mas raciais ou que lida com desenvoltura diante dos seus dilemas étnicos e raciais Para oa adolescente negroa a insatisfação com a imagem com o padrão estético com a textura do cabelo é mais do que uma experiência comum dos que vivem esse ciclo da vida Essas experiências são acrescidas do aspecto racial o qual tem na cor da pele e no cabelo os seus principais representantes Tais si nais diacríticos assumem um lugar diferente e de des taque no processo identitário de negros e brancos brasileiros A rejeição do cabelo pode levar a uma sensação de inferioridade e de baixa autoestima con tra a qual fazse necessária a construção de outras estratégias diferentes daquelas usadas durante a in fância e aprendidas em família Muitas vezes essas experiências acontecem ao longo da trajetória esco lar A escola pode atuar tanto na reprodução de este reótipos sobre o negro o corpo e o cabelo quanto na superação dos mesmos E eu cresci assim é é constrangida porque na escola eu fui barrada também Teve bailado e eu quis par ticipar do bailado e diziam que não que não podia não Que só iam as meninas brancas as meninas bonitas Pesquisadora E falaram isso com vocês claramente Falaram falaram falaram falaram pausa Eu cus tei eu sofri muito muito muito a entender que negro era gente também Eu vim descobrir que negro tinha história quando fui pro colégio porque até então pra mim negro era um bicho era um uma um defeito sabe E morria de vontade de ser branca por causa do cabelo pra fre qüentar assim essas coisas pra aproveitar Pesquisadora Isso te lembra alguma coisa Você sen te Por que essa ênfase tão grande no nosso cabelo Porque assim o branco tem o cabelo liso né Então o negro tem o cabelo já crespo às vezes chega a ser carapinha mesmo Mas vem daí a influência do branco so bre o negro eu acho que quando você não tem noção do que é ser negro você se cobra muito aquele cabelo mara vilhoso né aquela coisa bonita de passar a mão de cair de Ai o meu cabelo é lindo maravilhoso Quando a gente tem uma noção do que é ser realmente negro aí a gente se aceita com o cabelo que a gente tem Eu por exemplo eu daria tudo pra ter o meu cabelo anelado sabe eu daria tudo para ter o meu cabelo anelado Mas não consigo têlo crespo Num sei te explicar por que mas não consigo Talvez seja nem seja por mim mesma seja pela cobran ça cê chega num lugar pra trabalhar se você eles olham Você chega num lugar pra se divertir às vezes cê tá pas sando na rua aí um grita de lá Vamos pentear o cabelo Ou então cantam aquela musiquinha assim Nega do ca Nilma Lino Gomes 48 SetOutNovDez 2002 Nº 21 belo duro qual é o pente que te penteia Quer dizer é muita coisinha é é muita ironia mesmo às vezes das pessoas É muito complicado muito complexo né F 36 anos professora Outras mulheres negras e clientes dos salões pes quisados quando perguntadas sobre a importância que o cabelo passou a ter depois de sua infância e adoles cência assim se pronunciaram É porque aí você já assumiu uma identidade diferen te você já entra no caso da aparência quer competir com as pessoas no mesmo ponto de vista Então se você vai a uma festa ou mesmo no diaadia você quer ter uma aparência melhor você vai se cuidar Na época eu já deixei os meus cachos já parti pra um alisamento já parti pra um bobe no cabelo e aquilo se identificava comigo pra mim assumiu uma aparência de competição com as outras pessoas se fu lano fazia assim eu não queria fazer igual mas eu queria ficar de maneira comparativa ela na dela e eu na minha Como minhas colegas umas usavam seu rabo de cavalo seus penteados da época pigmaleão touca holandesa essas coisas então eu procurava ir atrás disso dentro daquilo que meu cabelo permitia SG 60 anos aposentada Aí depois que eu comecei a ficar mocinha esse pe ríodo é que foi difícil Que aí é que eu tinha que trabalhar não tinha ninguém pra arrumar o meu cabelo mais Tinha uma época que eu não queria nem saber nem cuidar de cabe lo Ele ficava todo espetadinho pra cima Era muito cabelo era difícil de arrumar Então eu amarrava ele pra cima as sim ficava aquela bucha sabe Eu não ligava não estava nem aí também não era meio desligada mesmo Tinha vez também que igual na época dos doze treze eu gostava muito de brincar de casinha já tinha esse trem de Salão tam bém Eu colocava aqueles pegava blusas e colocava assim na cabeça e ficava na frente do espelho e falava que era meu cabelo Me lembro que pegava as toalhas da minha tia e colocava na cabeça risos J 23 anos cabeleireira Na adolescência era uma tragédia Porque a testa era marcada de dentinho de pente de ferro quente Aquele cabelo é aquele cheiro de gordura Porque hoje em dia tem as coisas assim aperfeiçoou e tem o creme certo pra passar Antigamente não a gente assentava no fogão e vi nha aquela coisa na cabeça cheia de fumaça a gente quei mava tudo É babyliss que eu usava também Era um trau ma janela do ônibus jamais pedia para abrir Nossa pelo amor aquele calor com as janelas porque meu cabelo vai espetar Quando eu ia na danceteria aquelas colegas tudo com cabelo lindo Ia no banheiro aquele calor mo lhava o cabelo Eu jamais podia uma que não precisava que já estava todo escorrido de de aquela fumaça que tinha na danceteria já caía tudo então não tinha como mesmo É clube não podia jamais porque nossa como é que ia molhar o cabelo Nossa Não gosto tenho pavor de água não sei nadar Porque é lógico como que ia mo lhar o cabelo não tinha como risos e na época tipo assim umas eu tinha mais ou menos uns 17 anos eu co nheci um rapaz Eu achei ele uma gracinha e tal Nessa época eu já usava aí já passou o tempo do cabelo alisado usava trancinha africana E eu colocava um aplique E es tava assim o nosso namoro tinha uns dois meses ele ado rava minha trança aí teve um dia que ele falou assim Nos sa É tão lindo o seu cabelo solta o seu cabelo risos Eu falava Pra que você quer que eu solto o meu cabe lo Ele falava assim Não solta o seu cabelo Ah Ele nem imaginava que era aplique porque era tão bem feito Cabelo idêntico ao meu e tal Eu falei Não não vou sol tar meu cabelo não Só que a gente ia num pagode e tinha umas meninas que usavam trancinha Aí não sei o que acon teceu alguém falou com ele que era aplique Que deve ter falado Ah Aquele cabelo dela é falso Um dia ele falou assim Eu sei por que Ele falou Solta o seu cabelo Eu sei porque você nunca vai soltar o seu cabelo não é Eu disse Ih Alexandre pelo amor de Deus vamos mu dar de assunto Ele disse assim Ah Eu sei por que você não vai soltar o seu cabelo sua amiga me falou que você usa peruca que você é careca não é Nossa Foi uma tragédia Eu tomei pavor mortal tomei um ódio mortal dele Ele falou assim passando a mão assim no meu rosto Eu sei tudo bem É porque você não tem cabelo você é care ca você usa peruca risos NU 26 anos cabeleireira A manipulação do próprio cabelo e a visão do outro sobre o cabelo do negro assumem contornos Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 49 diferentes de acordo com o gênero e a geração Deslindar os impactos desse processo sobre os sujei tos implica compreender as práticas culturais o pro cesso histórico e a construção do racismo no Brasil Contudo há uma implicação mais profunda e desa fiadora sobre a qual nos falam os depoimentos aci ma entender a construção da questão racial na subje tividade e no cotidiano dos indivíduos e o peso da educação escolar nesse processo Quando conversamos com osas entrevistadosas sobre a sua opinião hoje a respeito da relação do ne gro com o cabelo deparamosnos com momentos ten sos discursos ambíguos e respostas confusas A per gunta remetia também ao lugar do negro na esfera da subjetividade e não somente ao sujeito político e cul tural Nesse momento homens e mulheres negras eram convidados a falar de si a partir de seu interior da sua própria pele É possível que essa ebulição de sentimen tos e emoções tenha trazido à tona ao âmbito da cons ciência aquilo que está submerso na esfera do incons ciente e por isso mesmo não é tão fácil de ser dito A nosso ver essa situação apresenta algo mais comple xo a construção da identidade negra no Brasil passa pelo que Mauss 1974 ao estudar as técnicas corpo rais chamou de fatores fisiopsicosociológicos Essa maneira particular de relacionarse com o corpo com a subjetividade e à cultura dáse em um determinado contexto social histórico e político E é esse contexto juntamente com a experiência indivi dual que vai compor o complexo terreno da identida de negra Homens e mulheres negras de diversas par tes do mundo constroemna de formas variadas embora tragam consigo algo que os une um perten cimento racial oriundo de uma mesma ancestralidade africana cuja maneira de lidar com o cabelo é uma forte expressão da cultura Esse ponto comum que atravessa a história dos negros remete a uma questão que se apresenta coti dianamente na sociedade e no universo escolar nas sociedades em que a questão racial é um dos aspectos estruturantes das relações sociais de poder o cabelo e a cor da pele sendo os sinais mais visíveis da dife rença racial e possuidores de uma forte dimensão sim bólica são vistos como símbolos de inferioridade Kobena 1994 p 4 O racismo sendo um código ideológico que toma atributos biológicos como valo res e significados sociais impõe ao negro uma série de conotações negativas que o afetam social e subje tivamente No entanto no movimento dialético das relações sociais a ação do racismo sobre os negros resulta em formas variadas sutis e explícitas de rea ção e resistência Nesse contexto o cabelo e a cor da pele podem sair do lugar da inferioridade e ocupar o lugar da beleza negra assumindo uma significação política Esse é mais um dos motivos pelos quais con sideramos que a escola deve superar os preconceitos em relação à estética negra Mas para além de tanta particularidade quais seriam os significados universais da relação do ho mem e da mulher com o cabelo Segundo Queiroz 2000 p 28 o estado dos cabelos pode revelar a tra jetória de vida de uma pessoa sua condição de exis tência e o momento vivido no interior de um determi nado grupo social O autor chama a atenção para o fato de que é comum cortar ou raspar os cabelos por ocasião dos ritos de passagem o que também é co mum entre nós quando do ingresso na universidade em prisões em instituições militares ou religiosas Há também uma relação entre cabelo poder e potência sexual Por isso cortálo ou raspálo pode equivaler simbolicamente à castração Essa é a condição dos novatos dos recémadmitidos em determinadas ins tituições No entanto os cabelos rebeldes soltos e des cuidados podem expressar independência ou mesmo relutância às normas sociais como é o caso de líderes religiosos profetas rastafaris É muito comum en contrarmos entre osas docentes a presença de relatos que associam os cabelos rastafaris e a estética dos integrantes do movimento hiphop à sujeira e à marginalidade No ambiente escolar essas associa ções muitas vezes extrapolam a esfera individual e transformamse em representações coletivas negati vas sobre o negro seu cabelo e sua estética Dessa forma consideramos importante para nós do campo da educação compreender que para além do significado social mais amplo e mais genérico do Nilma Lino Gomes 50 SetOutNovDez 2002 Nº 21 cabelo existem variações de acordo com a cultura classe raça idade sexo nacionalidade contexto his tórico e político Cortar o cabelo alisálo raspálo mudálo pode significar não só uma mudança de es tado dentro de um grupo mas também a maneira como as pessoas se vêem e são vistas pelo outro o cabelo compõe um estilo político de moda e de vida Em suma o cabelo é um veículo capaz de transmitir dife rentes mensagens por isso possibilita as mais dife rentes leituras e interpretações Desse modo para muitos o cabelo é a moldura do rosto e um dos pri meiros sinais a serem observados no corpo humano Circulando pelo salão fui até a sala da manicure onde I fazia a unha de S uma vendedora de tecidos S é negra tem o cabelo cortado bem curto estilo máquina 1 Ao con versarmos ela me disse que resolveu cortar o cabelo bem curto porque ele dava muito trabalho Quando acordava o marido ficava brincando com ela chamandoa de Os Simpsons Ela disse que quando cortou o cabelo sentiuse mais bonita e que até vendeu melhor os seus produtos Ela disse O cabelo é a moldura do rosto A gente pode estar com uma roupa linda mas se o cabelo não estiver bonito não dá Essa é uma opinião comum a todas as pessoas que encontro no salão Diário de campo 16101999 Chegou uma senhora negra com a filha e o neto Ela assentou perto de mim quando eu estava no banho infraver melho e conversou sobre o cabelo o que é comum no salão Faloume de como o seu cabelo era maltratado de como ele caiu e que quando chegou no Salão D ela esta va quase sem cabelo Agora é que ele está melhor dis se ela toda satisfeita E continuou Porque você sabe minha filha quando a gente vai sair a gente vê só o cabe lo A senhora acha mesmo pergunteilhe Mas é claro respondeume enfaticamente Diário de cam po 12052000 Consideramos então que o estudo sobre as re presentações do corpo negro no cotidiano escolar po derá ser uma contribuição não só para o desvelamento do preconceito e da discriminação racial na escola como também poderá ajudarnos a construir estraté gias pedagógicas alternativas que nos possibilitem compreender a importância do corpo na construção da identidade negra de alunosas professoresas ne gros mestiços e brancos e como esses fatores inter ferem nas relações estabelecidas entre esses diferen tes sujeitos no ambiente escolar Na escola não só aprendemos a reproduzir as representações negativas sobre o cabelo crespo e o corpo negro podemos tam bém aprender a superálas Para isso elas terão que ser consideradas temáticas merecedoras de um lugar em nosso currículo e em nossas discussões pedagógi cas Mas quais serão as representações sobre a rela ção negro corpo e cabelo presentes na escola Em que momentos elas aparecem e como elas aparecem Como tais representações se manifestam no currícu lo Como os sujeitos negros e brancos vivem suas experiências corpóreas dentro e fora da escola Mui tas vezes esses processos delicados e tensos passam despercebidos pela instituição escolar e pelosas pro fissionais da educação e não são incluídos nos deba tes e nas discussões desenvolvidas nos cursos de for mação de professoresas O estudo sobre o corpo e o cabelo como ícones da identidade negra presentes nos processos educati vos escolares e não escolares poderá apontarnos ou tros caminhos além da denúncia da reprodução de pre conceitos e estereótipos A manipulação do cabelo do negro e da negra nessa perspectiva pode ser vista como continuidade de elementos culturais africanos ressignificados no Brasil Parafraseando Munanga 2000 p 99 quando este autor escreve a respeito da arte afrobrasileira podemos dizer que descobrir a africanidade presente ou escondida na manipulação do cabelo do negro e da negra da atualidade e nos pentea dos por eles realizados constitui uma das preocupa ções primordiais para a definição da força histórica e cultural desse segmento étnicoracial Esses são aspec tos a serem considerados pela educação escolar NILMA LINO GOMES doutora em antropologia social pela USP é professora adjunta na Faculdade de Educação da Universi dade Federal de Minas Gerais Além de vários artigos e capítulos Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo Revista Brasileira de Educação 51 de livros publicou A mulher negra que vi de perto o processo de construção da identidade racial de professoras negras Belo Hori zonte Mazza 1995 e organizou em colaboração com Lilia K M Schwartz Antropologia e história debate em região de fron teira Belo Horizonte Autêntica 2000 e com Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva Experiências étnicoculturais para a forma ção de professores Belo Horizonte Autêntica 2002 Atualmen te junto com o professor Juarez T Dayrell desenvolve o projeto de pesquisa Juventude práticas culturais e identidade negra Email nilmagomesuolcombr Referências bibliográficas ARROYO Miguel G 2000 Ofício de mestre Petrópolis Vozes BRUNER Jerome 2001 A cultura da educação Porto Alegre Artmed GOMES Nilma Lino 2002 Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte Tese de Doutorado Faculdade de Filoso fia Letras e Ciências Humanas USP GONÇALVES Luiz Alberto Oliveira 1985 O silêncio um ri tual pedagógico a favor da discriminação racial Dissertação de mestrado Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais 2000 Diário de campo KOBENA Mercer 1994 Black hair style politics In Welcome to the jungle new positions in Black cultural studies New York Routledge p 97128 MARTINS José de Souza 1999 A dialética do corpo no imagi nário popular Sextafeira antropologia artes humanidades São Paulo Editora Pletora n 4 p 4654 MAUSS Marcel 1974 As técnicas corporais In So ciologia e antropologia São Paulo EPU p 209233 MUNANGA Kabengele 2000 Arte afrobrasileira o que é afinal In Associação 500 anos Brasil artes visuais Mostra do redescobrimento Arte afrobrasileira São Paulo Fundação Bienal de São Paulo p 98111 QUEIROZ Renato da Silva org 2000 O corpo do brasileiro estudos de estética e beleza São Paulo SENAC QUEIROZ Renato da Silva OTTA Emma 2000 A beleza em foco condicionantes culturais e psicológicos na definição da estética corporal In QUEIROZ Renato da Silva org O corpo do brasileiro estudos de estética e beleza São Paulo SENAC p 1366 RODRIGUES José Carlos 1986 O tabu do corpo Rio de Ja neiro Dois Pontos Recebido em agosto de 2002 Aprovado em outubro de 2002 ResumosAbstracts 168 SetOutNovDez 2002 Nº 21 mechanisms operate to govern childhood This research inspired by Michel Foucaults ideas seeks to show how mechanisms of powerknowledge concerning childhood are produced within pedagogical relationships In this article an analysis of the government of childhood is undertaken examining propositions presented in the document and stressing the ways technologies of the self operate Related to political technologies and governmental rationalities this work emphasises the RCN as a mechanism that proposes to produce childrens subjectivities and that aims to organise impart and control the circulation of knowledge in early childhood institutions Keywords early childhood education childrens subjectivities technologies of the self power mechanisms Nilma Lino Gomes Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo reprodução de estereótipos eou ressignificação cultural O trabalho estabelece uma arti culação entre os processos educativos escolares e nãoescolares e a constru ção da identidade negra Discutemse as representações e as concepções se melhantes diferentes e complementa res sobre o corpo negro e o cabelo crespo construídas dentro e fora do ambiente escolar a partir de lembran ças de adolescentes e jovens negras entrevistadas durante a realização de uma pesquisa etnográfica sobre corpo e cabelo como ícones identitários em salões étnicos Pretendese compreen der o significado social do cabelo e do corpo e os sentidos a eles atribuídos pela escola e pelos sujeitos negros en trevistados O entendimento desse contexto revela que o corpo como su porte de construção da identidade ain da não tem sido uma temática privile giada nos estudos sobre relações ra ciais e educação Palavraschave educação identidade negra corpo School trajectories black skin and Afro hair reproduction of stereotypes andor cultural resignificance This study establishes an articulation between school and nonschool educational processes and the construction of Negro identity It discusses the representations and simi lar different and complementary conceptions about the Negro body and afro hair constructed within and without the school environment based on the memories of adolescent and young Negros interviewed during an ethnographic research on body and hair as identity icons in ethnic hairdressing salons The intention is to understand the social significance of hair and body and the meanings attributed to them by the school and by the Negro subjects interviewed The understanding of this context reveals that the body as a support for the construction of identity has not been a theme given prominence in studies on racial relations and education Keywords education negro identity body Maria Helena Rodrigues Paes A questão da língua na escola indígena em aldeias Paresi de Tangará da SerraMT Os índios Paresi de Tangará da SerraMT embora de grande apego aos elementos da sua cultura tradicio nal vivem um processo de intensas relações com a sociedade envolvente ressignificando seus hábitos tradicio nais e os incorporados da cultura ocidentalizada sendo a escolarização formal um instrumento essencial para transmissão dos códigos simbólicos da cultura ocidentalizada Em um mo mento de transição entre um modelo de escola tradicional para um modelo que atenda às especificidades da reali dade local este trabalho propõe uma reflexão à luz dos estudos culturais do discurso da valorização da língua portuguesa na rotina escolar não en tendendo esta opção como sobreposi ção aos valores da cultura tradicional num processo de homogeneização mas como uma ferramenta e um ins trumento de poder que visa marcar o lugar do Paresi na sociedade envolvente Palavraschave educação indígena hibridização linguagem The language question in the present dilemmas of the indigenous school in paresi villages in Tangará da Serra in the State of Mato Grosso The Paresi Indians from Tangará da Serra in the State of Mato Grosso although greatly attached to elements of their cultural tradition experience a process of intense relations with the society by which they are surrounded giving new meaning to their traditions and to those incorporated from the westernised culture In this process formal schooling has proved an essential instrument for the transmission of symbolic codes of westernised culture In a phase of transition from a traditional school model to a model which attends the specificities of local reality this paper proposes a reflection in the light of cultural studies on the discourse which values the use of Portuguese language in school routine not understanding this option as an imposition on the values of the traditional culture as part of a process of homogenisation but as a tool and powerful instrument which aims to establish the place of the Paresi in the surrounding society Keywords indigenous education hybridisation language TRAJETÓRIAS ESCOLARES CORPO NEGRO E CABELO CRESPO REPRODUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS OU RESSIGNIFICAÇÃO CULTURAL DE NILMA LINO GOMES O artigo escrito por Nilma Lino Gomes traz aspectos primordiais para a compreensão sobre a importância da escola como um espaço que vai muito além de aprendizagens teóricas e formais em outras palavras a escola tem um papel notório dentro da formação da identidade social cultural e simbólica dos sujeitos Segundo a autora esse ambiente age na formação do conhecimento acadêmico ordem racial gênero formação de classes sociais e estereótipos Inicialmente são tratados pontos sobre os avanços no campo da educação relações raciais e culturais como por exemplo os debates relativos à representação dos negros nos livros didáticos assim como à diversidade Embora esses avanços sejam observados é importante lembrar que ainda existem lacunas que devem ser vencidas principalmente no tocante as experiências vivenciadas pelos indivíduos negros no espaço escolar sobretudo no tocante os aspectos representativos da relação do corpo e o cabelo crespo Além disso a construção da identidade de mulheres homens e crianças constroem suas identidades pessoais dentro e fora do ambiente escolar como dito ao longo do estudo nem sempre essas dimensões simbólicas recebem as considerações devidas dentro da área pedagógica Assim a partir da pesquisa realizada a autora trouxe depoimentos de mulheres e homens em idades entre 20 e 60 anos isso reforçou o entendimento de que as pessoas constroem suas identidades raciais e estéticas com base nessas vivências Dentre esses relatos muitas experiencias negativas foram descritas como ligadas ao corpo negro e cabelo crespo dentro das escolas onde muitas vezes os padrões eurocêntricos de beleza eram dados como os esperados além disso também estavam presentes estigmas sobre a aparência negra A autora ainda propõe que a escola deve sempre procurar desenvolver uma atenção minuciosa as narrativas negras isso significa reconhecer o corpo como um simbolismo de resistência Nesse contexto reconhecer esse simbolismo ainda garante que a educação seja um veículo para tornar o processo de aprender mais humanizado dentro das práticas escolares Podese dizer ainda que por diversas vezes as opiniões e representações negras nem sempre recebem um estudo aprofundado Para Nina a escola deve sempre se atentar ao reconhecimento da necessidade de uma valorização da identidade negra Com isso o cabelo crespo passa a não ser somente um traço físico mas sim um aspecto político e cultural Ao negligenciar isso a escola pode auxiliar fortemente na criação de mais preconceitos além de estereótipos que afetam a autoestima dos estudantes negros além disso fortalecendo o racismo estrutural que muitas vezes é aplicado de maneira velada Isso porque dentro da sociedade o corpo funciona também como um mecanismo de comunicação isso porque a antropologia revela que a singularidade cultural é atribuída como uma dimensão visível da relação existencial dos sujeitos Assim a relação entre a educação e a antropologia releva como os fatores raciais e culturais são apontados dentro das trajetórias escolares como também seu desenvolvimento que é sempre complexo Como dito na medida em que o corpo vai sendo modificado e tocado ele passa a ser desenvolvido dentro do processo de humanização e desumanização Ao longo do estudo o cabelo crespo é demonstrado como um dos principais aspectos ligados a trajetória de vida esse processo não se inicia somente com o processo de alisamento químico as garotas negras ao longo da história foram submetidas a pressões estéticas da sociedade Outro aspecto citado são as tranças nos cabelos que foram colocadas ao longo da história desde os navios negreiros isso representa mais do que fatores estéticos o relato de resistências busca por igualdade e valorização dos traços negros Ademais a antropologia pode ser um fator que explica que o corpo não é apenas biológico sendo a maneira de se posicionar no mundo comunicar e destacar os valores pessoais Por isso a cultura define tais aspectos como normas que moldam os indivíduos Assim dentro do contexto da escravidão e da história de resistência negra o corpo pode ser caracterizado como um fator de simbolismo Dentro da opressão da escravidão os africanos desenvolveram métodos de ressignificação corporal por meio de penteados danças e cuidados com seus corpos por isso essas práticas devem ser reconhecidas para garantir a valorização da identidade subjetiva e grupal Dado o exposto o artigo defende principalmente a necessidade de uma urgência quanto a métodos de lidar com a diversidade corporal REFERÊNCIAS GOMES Nilma Lino Trajetórias escolares corpo negro e cabelo crespo reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural Cadernos Pagu Campinas n 21 p 119138 setoutnovdez 2002 Disponível em fileCUserseurafDownloads1746184975883corponegrocabelocresponelmali nogomespdf acesso em 03 de maio de 2025 Seguindo a análise abordada pela professora Nina Lino Gomes é possível compreender a necessidade de reconhecer a escola como um campo no qual não se dissemina apenas um conhecimento teórico limitado a aprendizagem formal mas sim como um ambiente pautado em reconhecer a formação da identidade individual subjetividade e valores de cada indivíduo O artigo trouxe um estudo realizado com pessoas negras de divergentes idades onde foi possível visualizar as dificuldades enfrentadas devido ao preconceito associado aos seus corpos e cabelos e a maneira como estes são tratados dentro do ambiente escolar notase o reforço dos estereótipos racistas que podem surgir dentro desses locais assim se faz necessário a implementação de metodologias que trazem a valorização cultural desses sujeitos Uma vez que o cabelo crespo e o corpo negro não simbolizam apenas traços biológicos mas sim fatores históricos de resistência Com isso é possível reconhecer ainda que apesar dos avanços a escola ainda se limita em relação ao reconhecimento sobre a valorização das características dos corpos negros isso contribui de modo silencioso para o racismo estrutural Assim o texto traz a urgência na criação de métodos pedagógicos que reforcem a conscientização sobre o preconceito vivenciado por esses indivíduos Por meio do texto é possível ressaltar ainda que o corpo negro representa um simbolismo relativo à resistência e luta muitas vezes o cabelo é colocado como uma representação da divergência racial historicamente ele é colocado como uma representação negativa associada à marginalidade ou sujeira em passos lentos o cabelo passou a se tornar um movimento de resignação onde passa a sair de um local de inferioridade e se torna símbolo de orgulho e identidade coletiva Além disso é reforçado também que tal debate deve sempre ser colocado dentro da sala de aula uma vez que tais representações são fundamentais para acabar com o racismo e preconceito os professores são profissionais que devem sempre incluir tais reflexões sobre o corpo e sobre a identidade negra A escola é um espaço de desconstrução acolhimento e aprendizado isso alinhado a valorização da diversidade garante a produção de uma sociedade mais consciente e justa