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ROUSSEAU EMÍLIO Prof Dr Julio Tomé Contratualismo Rousseau é visto como um autor do contratualismo social Hobbes Locke e Kant e Rawls Contratualismo designa toda teoria que pensa que a origem da sociedade e do poder político está num contrato um acordo tácito ou explícito entre aqueles que aceitam fazer parte dessa sociedade e se submeter a esse poder A origem da sociedade política deriva de um contrato Contratualismo Contrato é a relação contratual não a natureza que oferece os padrões e critérios de legitimação das relações políticas instituídas por ela O contrato que dá início à associação política é um ato jurídico pelo qual as partes contratantes estabelecem direitos e deveres recíprocos A tese contratualista implica que a política se funda sobre uma relação jurídica A sociedade política É um artifício uma forma de associação É uma comunidade Contratualismo O ponto de partida é a ideia de que o poder político ou as relações de poder de natureza política podem e devem ser legitimadas pelo recurso à noção de contrato O pressuposto comum é o de que o poder político para que seja legítimo possa ser pensado como se tivesse sido instituído por um ato contratual mesmo que efetivamente talvez não tenha sido O pressuposto é o de que o poder político é por natureza legitimável um pressuposto que prolonga e especifica a tradição jusnaturalista clássica sem dúvida predominante mas que não é a única a partir da qual se pensou a política Haveria uma diferenciacao entre Estado Civil e Estado de Natureza Hobbes Estado de natureza guerra de todos contra todos Locke juiz dos conflitos Rousseau corrupao da natureza humana Yi DACccanit A tarefa que Rousseau se coloca e diferente da de Hobbes ou de Locke Rousseau nao tenta descrever uma ordem social vista como uma situacao de paz Ve segue ao conflito do estado de natureza mas restabelecer numa certa forma a ordem natural destruida pelos homens Nao visltumbra uma volta ao estado natural No Estado de Natureza ha isolamento e autarquia 7 felicidade a As necessidades eram apenas de ordem animal A Wy Rousseau Segundo Discurso Rousseau contesta que os seres humanos sejam inerentemente sociais No estado de natureza os indivíduos estão despojados de qualquer sociabilidade mas reina um clima de igualdade e harmonia Esta igualdade e paz naturais dos seres humanos foram corrompidas pelos complexos eventos históricos que culminaram na sociedade civil da atualidade A sociedade moderna deve por isso ser reformada Rousseau O Contrato Social Denuncia os malefícios da sociedade contemporânea e a sua falta de legitimidade na medida em que foi instituída por um contrato espúrio que caucionou as desigualdades sociais A infelicidade decorre do afastamento do estado originário Infelicidade desigualdade e injustiça não são naturais Decorrem das instituições sociais Rousseau Com o Estado social Estado Civil os seres humanos procuram a honra glória e privilégios sociais Assim não poderão ser felizes e sempre viverão em conflitos Como dito com isso Rousseau não almeja a volta ao Estado de natureza se isso fosse possível o que não é Mas a criação de um Contrato Social justo e portanto um Estado Civil e uma sociedade bemordenada ie um contrato social legítimo Rousseau Mas o que fez a saída do Estado de Natureza para o Estado Civil corruptível Agricultura e metalúrgica Aperfeiçoamento e a propriedade privada Rousseau A metalurgia e a agricultura foram as duas artes cuja invenção produziu essa grande revolução Para o poeta foram o ouro e prata mas para o filósofo foram o ferro e o trigo que civilizaram os homens e perderam o gênero humano Tanto um como o outro eram desconhecidos para os selvagens da América que por isso permaneceram tal e qual os outros povos parecem inclusive ter permanecido bárbaros enquanto praticaram uma dessas artes sem a outra E uma das melhores razões por que a Europa se tornou se não mais cedo ao menos mais constantemente mais bem estruturada que as outras partes do mundo talvez resida em que é ao mesmo tempo a mais abundante em ferro e a mais fértil em trigo Surgimento da propriedade privada Carater duplo da propriedade privada Instituicao do Estado civil 9 cesigualdades sociais Il Um direito inalienavel 9 garante a vida e os pactos Apesar de Rousseau colocar a propriedade privada como a de partida para muitos males ele nao descarta a egitimidade da propriedade sobre a terra E apenas necessario que se esteja sob certas condicdes para y que a propriedade da terra nao possua consequencias Zz glares la Wich A Rousseau Liberdade e aperfeiçoamento Egoísmo dos ricos Rousseau crítica explicitamente a concepção hobbesiana do estado de natureza e se refere ao pacto tal como concebido por Hobbes como um passo na história da desigualdade pelo qual os ricos fizeram de uma usurpação a propriedade um direito e deste direito um instrumento de sujeição dos pobres Os homens nasceram livres e por toda parte se veem sob grilhões Rousseau AmorPróprio desigualdades AmorPróprio Amor de si mesmo AmorPróprio igualitarista X AmorPróprio inflamado As desigualdades dependem das instituições sociais O lazer a divisão do trabalho e a propriedade privada Dois tipos de desigualdades que sao independentes entre si A desigualdade natural ou fisica ll A desigualdade politica ou moral artificiais Estado Civil DA IRASNTL Contrato social 5 alienacao do individuo a um corpo politico Em Rousseau o contrato opera como uma ideia a partir da qual medimos o grau de legitimidade das instituicoes historicas em contraposicao ao modo como elas de fato sao A referencia ao contrato e o que permite instaurar a racionalidade a moralidade que as relacoes humanas nunca tiveram e que so podem ter como veremos por meio do contrato Segundo Rousseau o problema fundamental do contrato e o de i como formar um corpo politico sem dominacao como encontrar DT uma forma de associacao que nao envolva a submissao da vontade de uns a vontade de outros A Rousseau Assim buscase pelo recurso à ideia de contrato uma forma de associação que não envolva e que venha mesmo a expurgar a dominação É precisamente isso o que fará o contrato pensado nos termos de um ato pelo qual os indivíduos se dão inteiramente à comunidade e não se submetem senão à vontade coletiva que deste ato se origina Submeterse ao coletivo não é o mesmo que se submeter à vontade de um ou mais indivíduos Rousseau A ideia do contrato por outro lado oferece a solução do problema Ela indica o que deve ser o corpo político para que se coloque em conformidade com a vontade humana entendida como a fonte de todo o direito Ele tem de ser tal como se tivesse sido formado pelo ato de alienação total dos indivíduos ao corpo coletivo Só assim a formação desse corpo não envolve dominação e pode ser pensada como tendo sido formada pela vontade dos homens Só assim ela é racional Vontade geral nao e individual nao e soma das vontades nem a vontade de todos O Emilio e a formacao do sujeito pronto para viver nesse Estado onde reina a Vontade Geral Para Rousseau nao se mostrava YOSSI NAel ageless verdadeiramente da questao politica sem a postulacao de uma teoria educacional eo 7 O O od yy A educacao e 0 processo seguro para criar as condicoes de existencia de uma vida humana livre A 7 Emílio Tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas tudo degenera entre a mão dos homens p 11 A principal meta de educação é formar um agente livre a partir daquilo que já existe em cada homem O homem nasceu livre e por toda parte se encontra sob grilhões Rousseau 1964b p351 Emílio Amanhamse as plantas pela cultura e os homens pela educação p 11 A tarefa de cultivar a ordem natural e formar o homem conforme as características da natureza se inicia com o nascimento e se estende por toda a vida Para Rousseau a família principalmente os pais tem a responsabilidade de conduzir esse momento inicial de contato com a natureza Para isso bastaria observar as regras da natureza e o caminho que ela indica Emílio Três formas de educação A Educação da Natureza que é o desenvolvimento das faculdades e órgãos A Educação da Natureza seria uma forma de hábito pois não existem hábitos adquiridos apenas pela força que busca atingir uma meta meta essa que é a natureza ou o próprio hábito A Educação dos Homens que se refere ao uso das faculdades desenvolvidas pela natureza e A Educação das Coisas que é aprendida com a experiência Emílio Em sua época Rousseau afirma que havia duas educações pública comum e particular doméstica A educação pública os educandários ele chama de ridícula que forma homens de duas caras e critica o uso de métodos preestabelecidos Para Rousseau a educação pública induz à rivalidade ao ciúme à vaidade e ao temor e os alunos são convencidos da importância de sempre obedecer trabalhando sob ameaças promessas e recompensas Emílio Devido à cultura da época não era comum dar atenção às crianças que eram avaliadas de forma rígida O grande objetivo era conter os ânimos das mesmas e ensinarlhes que se deve obedecer aos mais velhos decorar textos aprender diferentes idiomas e ter uma boa oratória Emílio Quanto à educação doméstica geralmente era flexível no sentido de que na maioria dos casos seguia dois extremos Ou era oferecida pelos pais com conteúdos escolhidos à dedo e dessa maneira limitada e em que se escondiam as contradições e obstáculos presentes na realidade protegendo as crianças a ponto de formálas como um ser frágil medroso e egoísta ensinandose apenas o trivial Emílio Ou nas famílias mais abastadas um tutor era contratado e sob supervisão dos pais se encarregava de educar o pupilo Nesse caso os pais se mantinham distantes se abstendo da responsabilidade de educar os filhos e mesmo de sanar pequenas dúvidas ficando a criança à mercê de seu mestre Em algumas circunstâncias os pais interferiam frequentemente na metodologia do tutor impedindo ou limitando o desenvolvimento do aprendiz Emílio O filósofo não questiona entre educação doméstica e pública qual seria a correta porém defende que ambas possuem pontos de desequilíbrio E seu objetivo é justamente ressaltar que a fragilidade e a ineficiência da educação não estão no lugar onde se ensina ou em quem ensina Mas a deficiência da educação está na metodologia de ensino e no objetivo a ser alcançado quando se pretende educar Emílio A educação se não for aplicada de maneira humanizada e sensível pode ser facilmente uma ferramenta de dominação Por este motivo o filósofo reforça que é necessário preservar a criança e respeitar suas etapas de aprendizado para que posteriormente se torne um homem adulto e autônomo Respeitar o seu tempo de aprendizado e observar cada etapa demanda tempo por isso seria necessário que se aumentasse a duração da educação e por conseguinte diminuísse a intensidade da mesma de forma lenta e gradual a que o autor denominava educação negativa Emílio Todos os pilares necessários do conhecimento se encontram na natureza e estão disponíveis às descobertas ofertando uma condição saudável para o entendimento e a experiência Seguindo esse pensamento é possível destacar que a educação privada é propícia para uma estrutura pedagógica gradual enquanto que na educação pública é muito pouco provável que essa ideia possa vigorar devido a quantidade de estudantes de diferentes faixas etárias convivendo em um mesmo espaço e aprendendo cada um em seu ritmo Emílio Rousseau crítica a educação de sua época afirmando que era uma educação favorável aos homens ie sujeitos de uma sociedade corrompida e não as crianças Viase as crianças como pequenos adultos Tal modelo educacional teria como resultado invariavelmente a corrupção das crianças já que projetaria sobre a infância interesses e predileções próprias do universo adulto sem atenção a tudo que constitui o horizonte de desenvolvimento infantil Com efeito Rousseau postula a premência de que a criança fosse compreendida enquanto um ser completo em sua condição especial ao invés de apenas um adulto em miniatura Emílio Rousseau aponta o erro até então cometido na prática de ensino que se detém apenas às necessidades adultas a despeito do que as crianças estavam em condições de aprender Procuram sempre o homem na criança sem pensar no que esta é antes de ser homem Indicativo contrário à tentativa de traçar simplesmente um ideal normativo o de homem e procurar impôlo à realidade o mundo da criança procedimento que conduziria facilmente ao moralismo Emílio Rousseau critica os filósofos que procuraram falar do homem natural e no fundo descreveram o homem civil o homem com características sociais e não próprias de um estado primitivo Rousseau não duvida da necessidade e até mesmo da imprescindibilidade de um conceito de homem para pautar normativamente a relação do adulto com a criança pois ele pensa tal relação com base na ideia normativa do homem natural como sinônimo de homem bondoso No entanto e aí reside sua diferença em relação às pedagogias moralistas de sua época deixa claro que o ponto de partida para a execução deste ideal consiste em considerar a criança em seu mundo isto é o que ela é antes de ser homem e não partir simplesmente do ideal adulto para impôlo verticalmente à criança sem considerar suas manifestações próprias sua capacidade imaginativa e criativa Emílio O adulto deseja incessantemente ensinar a criança para si como um cavalo de picadeiro ou de querer moldála a seu jeito como uma árvore de seu jardim p 11 Ora tratála como um cavalo de picadeiro não é educação mas adestramento Sua crítica à ideia da moldagem adestramento tem como preocupação explícita o fato de evitar que as crianças sejam simplesmente domesticadas Emílio O modo de evitar isso é segundo ele procurar compreendêlas em seu mundo tratandoas como criança e não como um pequeno adulto defeituoso Tratar a criança como criança não significa deixála fazer o que bem entender Não significa enfraquecer o papel do adulto e muito menos isentálo de suas responsabilidades Emílio No Emílio o modelo de educação natural tem como uma de suas premissas fundamentais o respeito pela criança em seu próprio mundo Tal assertiva nos impõe a urgência de que a criança seja considerada um ser perfeito em sua condição peculiar com limitações e potencialidades que lhes são próprias A educação na primeira infância deve ser movida pelos sentidos devendose afastar tudo aquilo que impeça o educando de trilhar seu próprio caminho Elementos como a alimentação o banho a liberdade do movimento e a troca de afetos são primordiais para um bom desenvolvimento humano Nesse processo de desenvolvimento físico nos primeiros meses de vida o ambiente e os cuidadores são os principais educadores Emílio Entretanto na primeira infância a tensão constitutiva da relação entre as necessidades infantis e os cuidados adultos não é facilmente resolvida restando sempre a possibilidade de que a educação peque pela falta ou excesso Assim seria preciso que o adulto soubesse identificar entre as exigências infantis quais tinham origem na natureza e quais eram fruto de meros caprichos Por essa razão Rousseau deixa transparecer que a intervenção adulta deve se restringir ao atendimento das necessidades reais da criança permitindo que ela se desenvolva por si mesma seguindo a marcha da natureza Emílio Segundo o autor essa é a fase em que é preciso deixar que a natureza seja responsável pela formação física Alguns hábitos comuns como o de enrolar a criança com uma manta limitando seus movimentos mantêla no colo e colocálas em andadores são ações que impedem ou limitam o desenvolvimento e a formação física da criança É necessário que haja uma liberdade de movimento para que os músculos e os ossos se desenvolvam corretamente para que haja um esforço em se locomover para que consiga equilíbrio e firmeza Emílio Fazer de um filho uma espécie de ídolo e tentar protegêlo do mundo externo constituise num grande erro pois se é pouco o contato que a criança tem com a natureza e com os perigos que ela oferece terá restritos seus movimentos o que torna a criança fraca e inexperiente É neste momento que a natureza se encarrega da posição formadora ela contribui continuamente para o exercício físico e mental do indivíduo Emílio Revolução pedagógica estabelece uma abordagem centrada na criança tendo em vista as limitações e potencialidades que lhe são próprias contrariamente à prática tradicional que privilegiava a transmissão vertical de conhecimentos prédeterminados Emílio Máximas Longe de ter forças supérfluas as crianças não têm sequer as suficientes para tudo o que delas solicita a natureza cumpre portanto deixarlhes o emprego de todas as que ela lhes dá e de que não podem abusar É preciso ajudálas e suprir de que carecem seja em inteligência seja em força em tudo o que diz respeito às necessidades físicas É preciso no auxílio que se lhes dá restringirmonos unicamente ao útil real nada concedendo à fantasia ou ao desejo sem razão pois a fantasia não as atormentará enquanto não a tivermos feito nascer dado que não é da natureza É preciso estudar com cuidado sua linguagem e seus sinais a fim de que numa idade em que não sabem dissimular possamos distinguir em seus desejos o que vem imediatamente da natureza do que vem da opinião Emílio Com essas máximas Rousseau parece esclarecer que o papel do educador é não atrapalhar o desenvolvimento natural da criança O objetivo é fazer com que as crianças aprendam a fazer as coisas mais por si mesmas e menos com a ajuda dos outros Oferecer às crianças mais liberdade genuína e menos voluntariedade Emílio Todo o projeto de educação na primeira infância se desdobra em dois grandes princípios Primeiro devemos ajudar as crianças e satisfazer suas necessidades naturais e a desenvolver suas disposições naturais Segundo devemos ter cuidado para não projetar ideais adultos que possam contaminar seu mundo e criar desejos artificiais Emílio Por esse motivo a educação para a autonomia deve começar na primeira infância O processo educativo é em grande medida um regime autoformativo que se refere à potencialização do discípulo e não à sua submissão A formação humana em um sentido amplo era única via para vencer a corrupção social que cada vez mais forçava o homem a transmutarse em escravo Emílio Rousseau prega uma volta à natureza Voltar a ouvir a voz da natureza que em última análise é ouvir a própria consciência enquanto condição basilar de um modelo formativo que visasse fazer frente à corrupção imperante na sociedade Rousseau portanto defende uma educação natural revista pelo caráter político Emílio Uma leitura superficial do Emílio pode nos conduzir à ideia de que a obra não objetiva a formação social e sim a doméstica No entanto o objetivo que permeia a tarefa educacional mesmo trabalhada de forma particular e individual é o da formação do homem para o convívio com seus semelhantes O objetivo maior do projeto pedagógico rousseauniano sintetiza seus dois ideais fundindoos numa só máxima a de recriar o homem natural dentro da sociedade Emílio E a educação é o instrumento mais propício para essa recriação e transformação pessoal que invariavelmente poderá propiciar mudanças na sociedade Podemos afirmar dessa forma que educação para Rousseau não é uma tarefa que se limite ao ambiente escolar a programas ou a instituições específicos Mas sim uma ação global de desenvolvimento do homem em todas as suas necessidades Emílio Nascemos fracos precisamos de força nascemos desprovidos de tudo temos necessidade de assistência nascemos estúpidos precisamos de juízo Tudo o que não temos ao nascer e de que precisamos adultos é nos dado pela educação p 14 Tese central da filosofia social e conteúdo da educação natural a carência e a fragilidade humanas são forças impulsionadoras da socialização do homem É justamente esta fragilidade antropológica associada à capacidade humana de sair fora de si mesmo rompendo com o egoísmo racional surgido com o processo de socialização que dão origem a uma ética da solidariedade humana Emílio Ter a necessidade de cuidados parece ser o lema que melhor traduz o significado da primeira infância O conceito de necessidade remete também ao conceito de dor e ambos estão diretamente vinculados à ordem natural O conceito de natureza possui um significado normativo também e principalmente à primeira infância Emílio Sua normatividade reside num duplo aspecto 1º enquanto natureza externa representada por exemplo pela flora e fauna e pela própria sociedade Nela repousa o princípio pedagógico de que a formação integral do Emílio depende de seu contato direto com a natureza com animais e plantas e com a simplicidade da vida no campo 2º de sua natureza interna na qual repousam suas disposições naturais e de onde parte todo o impulso de sua socialização de sua capacidade ou incapacidade de conviver com os demais Esta é uma razão que leva Rousseau conceber o conceito de natureza como caminho a ser seguido pela educação natural Emílio O Emílio não pode ser lido de modo dissociado das demais obras de Rousseau sobretudo no que se refere ao Segundo Discurso e ao Contrato Social Isso significa que o Emílio não carrega apenas reflexões periféricas mas constitui parte fundamental de um todo coerente A concepção de que o pensamento de Rousseau pode ser entendido mediante a um marco teórico mais amplo indica a síntese educacional possível entre a perda da liberdade natural que leva ao crescente artificialismo e condicionalismo das relações sociais e a autenticidade subjetiva entendida a partir da liberdade jurídicomoral A possibilidade de um estado justo estaria subordinada à educação virtuosa da vontade Emílio Por conseguinte a proposta de Rousseau de regresso à natureza significaria o salutar retorno à interioridade humana Uma racionalidade interiorizada em condições de recuperar a voz da consciência frente à racionalidade iluminista toda exteriorizada A educação deveria efetivarse afastada da influência corruptora da sociedade mantendose ligada às exigências próprias da natureza Emílio A educação natural poderia ser entendida como o processo formativo que permite ao homem ser aquilo que efetivamente ele é que desenvolve suas capacidades intrínsecas e o torna apto para agir com autonomia nos termos da liberdade moral O projeto de uma educação natural quando voltada à infância visa à formação de uma criança capaz de ser rainha de si mesma O mundo infantil em seu estado inicial é sensitivo e não racional exigindo que a educação das crianças possua um caráter sensível com objetivo de fortalecer o julgamento crítico para que quando adultos sejam capazes de pensar por si mesmos O homem é um ser sensível e no Emílio o que temos é na verdade um tratado de como desenvolver sua sensibilidade Emílio Duas sensibilidades Física Capacidade orgânica e natural de apreensão das coisas por meio dos sentidos neurocorporais sensibilidade inata passiva e instintiva importante para a conservação da espécie e foi de suma importância para que o homem primitivo desenvolvesse o sentimento de sua existência Moral Ativa liga nossas afeições nossos sentimentos relativos e desenvolve a consciência tornandose o verdadeiro guia do homem Emílio O respeito pelo mundo da criança exige a intervenção do adulto no sentido de ser condutor do processo educativo e conduzir significa intervir deixando que o desenvolvimento natural da criança aconteça Ao afirmar isso Rousseau pode ser considerado em certo sentido como inventor do conceito moderno de infância Mas evidentemente não no sentido do século XX ie no âmbito da psicologia do desenvolvimento infantil e da sociologia da infância ambas amparadas em minuciosos estudos tanto empíricos como teóricos Emílio Rousseau não elabora uma teoria da infância propriamente dita no sentido de concebêla como uma categoria social constituindo um objeto sociológico ou psicológico próprio de análise e Nem desenvolveu estudos empíricos documentados por observações metodicamente realizadas sobre o desenvolvimento mental e a capacidade cognitiva da criança em seus diferentes estágios de desenvolvimento como farão tanto a sociologia da criança como a epistemologia genética do século XX Tudo o que disse sobre a infância foi com base em observações assistemáticas sobre o comportamento de crianças sobre a relação dos adultos com elas e sobre conversas freqüentes mantidas com mulheres mães de sua época RESUMO O tratado de educação ou os devaneios de um visionário sobre a educação foi compilado em cinco livros cheios de reflexões máximas diálogos passeios catecismo jogos brincadeiras confissões conselhos tudo num grande discurso minado de grandes ideias O livro I começa deixando patente que o homem é o fator de degeneração da natureza e de si mesmo Cabe à educação como arte e hábito resgatálo a partir de seu nascimento utilizandose de seus três mestres A natureza Os homens e As coisas RESUMO A opção pela educação doméstica é um protesto contra as vis condições das poucas instituições de instrução pública de sua época O livro delineia a primeira etapa da formação humana falando dos dois primeiros anos de vida da criança e dos cuidados que as mães devem ter para o bom desenvolvimento físico e mental RESUMO Chamado de idade da natureza esse período procura desenvolver os sentidos por meio de uma gradual adaptação da criança infans a todas as coisas que a cercam Para tanto é preciso deixála o mais livre possível em contato com a natureza seguindo o caminho que ela traça Observai a natureza e segui o caminho que ela vos indica Ela exercita continuamente as crianças Ela enrijece seu temperamento mediante experiências de toda a espécie ela lhes ensina desde cedo o que é pena e dor Emílio p22 RESUMO O Livro I do Emílio evidencia que a interferência adulta deve se resumir ao fornecimento dos cuidados indispensáveis ao desenvolvimento natural da criança que embora seja na primeira infância um ser ainda muito dependente precisa enfrentar as provações impostas pela natureza de maneira a forjar o seu corpo e o seu caráter No geral esse livro fala da importância e dos objetivos da educação infantil sem deixar de realçar que a tarefa se prolonga por toda a vida RESUMO Aliás as primeiras atitudes em relação à criança devem ter um caráter teleológico que projete no futuro um homem sem vícios e paixões deterioradas Eis por que deve ser uma educação negativa voltada para o esforço de evitar as más influências do meio e com vistas à formação da virtude Nesse aspecto o papel de condutor desse processo é de uma relevância extraordinária porque não se restringe à mera transmissão de conhecimentos mas abrange um conjunto de atividades pedagógicas que proporcionam o autodesenvolvimento do educando Ele não deve dar preceitos deve fazer com que os encontrem p 30 RESUMO Enfim o primeiro livro traça em poucas linhas os principais elementos da filosofia educacional de Rousseau e os fundamentos da educação moderna Pois desconstrói o conceito do pequeno adulto aceito até então E introduz o conceito de infância fala da importância da afetividade Comenta as sensações como primeiro material do conhecimento negando o inatismo e outras questões que fazem parte das discussões da atualidade como a reciprocidade no ato educativo Falando a respeito da língua natural Rousseau comenta Estudemos a criança e logo a reaprenderemos com ela RESUMO No livro II segunda etapa da idade da natureza temos a formação da criança puer dos dois aos doze anos Ela desenvolve a linguagem e todos os sentidos como a visão a audição etc e por eles constrói seu mundo de significados Período portanto de bem educar tanto a sensibilidade física quanto a moral A primeira deve ser a educação da sensibilidade porque a criança sente antes de pensar através de uma série de exercícios físicos próprios para sua idade É o conselho do filósofo Tratai vosso aluno segundo a idade Emílio p78 Porque a infância tem maneiras de ver de pensar de sentir que lhe são próprias Emílio p77 RESUMO Contra a concepção da maldade original do homem Rousseau brinda o segundo livro com uma de suas maiores máximas Ponhamos como máxima incontestável que os primeiros movimentos da natureza são sempre retos não existe perversidade original no coração humano p78 E é justamente por isso que a educação primeira deve portanto ser puramente negativa Ela consiste não em ensinar a virtude ou a verdade mas em preservar o coração do vício e o espírito do erro p80 RESUMO Nessa perspectiva a educação da sensibilidade moral deve ser gradualmente conduzida ao longo de seu desenvolvimento físico e intelectual de forma prática cheia de exemplos e não se deve converter numa espécie de pedantismo verbal e de uma retórica vazia A liberdade da criança deve estar restrita apenas à dependência das coisas pois é nela que a experiência concreta revela sua impotência por meios dos obstáculos físicos cujos meios a natureza sabe muito bem proporcionar RESUMO A formação intelectual depende inteiramente da realidade empírica e qualquer aprendizado de cunho abstrato e livresco será ineficaz É por essas experiências práticas que o educando terá condições de construir um conjunto de regras morais e de aprender a diferença entre o bem e o mal até atingir a obraprima de uma boa educação que está em fazer um homem razoável Emílio p74 Coisa que deve acontecer somente num nível posterior depois de ter compreendido as máximas gerais bem como os conceitos de verdade de propriedade de caridade e ter obtido a condição intelectual de criticar as palavras a história e os exemplos de vida que se lhe apresentam RESUMO Entretanto sendo o mundo moral uma faca de dois gumes ou nas palavras de Rousseau uma porta aberta ao vício Emílio p89 à mentira e à enganação tornase necessário desenvolver a sociabilidade da criança e sua formação crítica em relação às convenções sociais Tudo deve ser feito com a máxima valorização do aluno sem entretanto cair no nãodiretivismo ou no espontaneísmo que ele imagine ser sempre o mestre e que vós o sejais sempre Emílio p114 RESUMO E se isso é uma atividade que demanda tempo Rousseau deixanos seu conselho que serve como máxima a qualquer educador Não desanimei nem me apressei a instrução das crianças é uma profissão em que é preciso saber perder tempo para ganhálo Emílio p142 Enfim o segundo livro é rico em palavras expressões e ideia s que resumem a filosofia de Rousseau e seu ideal educativo da infância Nele está a semiologia rousseauniana da construção do conhecimento pela via da sensibilidade tanto física quanto moral RESUMO O livro III trata da educação de doze a quinze anos Nesse período o ser humano deixa a idade da natureza e engendra no que o autor chama de idade da força pois se desenvolvem nessa faixa etária tanto as forças físicas quanto as intelectuais e as morais O maior exemplo a ser buscado é o da experiência do náufrago Robinson Crusoé que solitário numa ilha deserta soube como ninguém direcionar suas forças para a satisfação de suas necessidades dentro dos limites da utilidade RESUMO Ou seja construiu seu mundo a partir dos recursos naturais que tinha ao seu alcance e expurgou os desejos inúteis e supérfluos para agir de forma objetiva a fim de providenciar o necessário para sua sobrevivência É portanto o período adequado para educar as paixões direcionandoas para o que é útil O meio mais seguro de elevarse acima dos preconceitos e de ordenar seus julgamentos sobre as verdadeiras relações das coisas está em colocarse no lugar de um homem isolado e tudo julgar como esse homem deve julgar ele próprio em razão de sua utilidade p200 RESUMO Nessa espécie de pragmatismo a educação deve ter duas características principais ser prática e útil Todo ato educativo deve ser desenvolvido através de experiências concretas contextualizadas e práticas e não através de discursos e reflexões abstratas Para se atingir a condição de homem o educando deve passar por uma formação manual através de um ofício agrícola ou artesanal Através desse tipo de ofício é possível desenvolver a arte mecânica e a aplicabilidade real dos conhecimentos humanos sem contudo prescindir das reflexões teóricas que toda essa experiência possa incrementar Disso podemos tirar a seguinte máxima trabalhar como camponês e pensar como filósofo RESUMO Rousseau aborda sutilmente as questões sociais deixando transparecer que no projeto educacional um dos preconceitos a ser combatido é o da desigualdade Pois para quem vive em sociedade não há coisa mais útil do que o desenvolvimento da igualdade porque a igualdade convencional entre os homens bem diferente da igualdade natural torna necessário o direito positivo isto é o governo e as leis Emílio p204 É um dos temas da formação de Emílio porque apesar de ser educado no campo sua preparação está voltada para a vida em sociedade RESUMO O livro IV trata da educação do estágio que vai dos quinze aos vinte anos o qual é chamado de idade da razão e das paixões Nele desenvolvemse as concepções de Rousseau quanto à formação moral e espiritual num constante direcionamento da sensibilidade Após um longo período de contemplação da natureza de passeios de brincadeiras e de jogos infantis o educando adentra a etapa de amadurecimento tanto dos órgãos físicos quanto de sua intelectualidade em face a um mundo depravado e cheio de paixões e ilusões RESUMO Se as paixões são os instrumentos de conservação da espécie não se trata de aniquilálas mas de saber educálas e aproveitar as paixões naturais como o amor a si mesmo a piedade e outras paixões que proporcionem uma boa convivência Diante disso eis a tese de Rousseau que nos faz lembrar o conceito de educação negativa RESUMO É verdade que não podendo viver sempre sós dificilmente viverão sempre bons essa dificuldade mesma aumentará necessariamente com suas relações e é nisso principalmente que os perigos da sociedade nos tornam a arte e os cuidados mais indispensáveis para prevenir no coração humano a depravação que nasce de suas necessidades p234 Assim as paixões perniciosas frutos do homem social devem ser evitadas RESUMO O ódio a contenda a inveja a mentira e tantas outras que a imaginação é capaz de engendrar para o declive da sensibilidade e a degeneração da própria espécie devem ser combatidas por amor à humanidade O projeto de Rousseau não é formar o homem esperto mas o sensível que possa compreender as misérias humanas e sábio o suficiente que possa dar sua contribuição à reconstrução do mundo social O método de preparação do aluno é a catharsis por meio de cenas reais do cotidiano e também dos espetáculos trágicos RESUMO Porque ao provocar a piedade e o terror a ação dramática propiciaria uma descarga imaginária de efeito psicológico purificante Depois de ter adquirido a capacidade da comiseração o jovem estará apto a compreender palavras deveras abstratas como justiça e bondade E adentrando dessa forma na ordem moral propriamente dita o educando deve ser capaz de se entender como ser moral e lançarse à tarefa de estudar os homens para compreender a fundo as relações humanas e os fundamentos da vida social RESUMO Outro método é o da análise histórica principalmente a partir de historiadores que apresentam os fatos sem o julgamento pessoal do autor Para bem julgar o processo histórico e entender os fundamentos do estado social de sua época Emílio já é capaz por si mesmo de fazer as relações necessárias entre as coisas e os homens sem ser obliterado pelos vícios e pelas paixões Até porque Para viver na sociedade é preciso saber tratar com os homens é preciso conhecer os instrumentos que têm influência sobre eles é preciso calcular a ação e a reação do interesse particular na sociedade civil e prever com tanta justeza os acontecimentos que raramente nos enganemos em nossos empreendimentos ou ao menos que tenhamos adotado os melhores meios para o êxito p281 RESUMO Criticando os dogmas doutrinários da Igreja e sua autoridade despótica como o fizeram todos os iluministas do século XVIII Rousseau defende não o ateísmo mas uma espécie de religião natural que deve ser introduzida apenas a partir dos quinze anos Rousseau revelase um deísta e apresenta uma forma de expressar sua religiosidade ou seja de tratar das coisas do espírito que não abandona seu referencial máximo a natureza Rousseau é naturalista na pedagogia e também na religião porque afinal a religião não deixa de ser uma instituição que auxilia na desnaturação do homem e em sua preparação da vida social portanto uma instituição educacional RESUMO Ela desenvolve nossa luz interior Emílio p303 e aponta o coração como guia das ações e dos pensamentos do homem Tal atitude não contradiz com o uso da razão mas a complementa e a redimensiona num plano mais humano e existencial Seu primeiro dogma e artigo de fé é que uma vontade move o universo e anima a natureza Emílio p309 RESUMO Dessa forma a vontade agindo segundo certas leis revela uma inteligência e um harmonioso ordenamento no universo bem como se revela como a força motriz das ações humanas Em sua vontade e liberdade o homem colocase fora do sistema da Providência e infelizmente degrada sua natureza Mas sendo o homem inteligente pode resgatar a ordem em busca da felicidade através da emanação do bem ao semelhante com o auxílio da consciência como guia da razão humana RESUMO O livro V trata da idade que vai dos vinte aos vinte e cinco anos denominada de idade da sabedoria e do matrimônio e do enlace matrimonial de Emílio e Sofia Para que isso aconteça Rousseau descreve como o preceptor e seu discípulo empreendem uma viagem pela região até serem hospedados numa casa de camponeses onde conhecem uma jovem de quinze anos pela qual Emílio se apaixona e com quem se casa Já que é bom que o homem não fique só o preceptor resolve guiar a escolha da companheira de Emílio uma mulher sensível bonita delicada bemeducada hospitaleira enfim uma mulher virtuosa RESUMO Desde o primeiro encontro ao primeiro beijo e aos preparativos das bodas o mestre proporciona ao aluno uma série de ações e reflexões que o conduzem a um comportamento sábio e prudente Antes do enlace o jovem é levado a relembrar tudo que aprendeu e ainda conduzido a uma viagem pela Europa para julgar os governos os povos e completar sua formação política Nesse assunto Rousseau insere um resumo do Contrato Social reflete com seu discípulo e o entrega à amada Sofia O romance termina com um encontro entre o mestre e o discípulo durante o qual é comunicado que Emílio será pai e pretende educar seu filho sob a orientação de Rousseau