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Texto de pré-visualização
Paulo Freire A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER em três artigos que se completam 4 COLEÇÃO POLÊMICAS DO NOSSO TEMPO CORTEZ EDITORA Freire Paulo 1921 F934i A importância do ato de ler em três artigos que se completam Paulo Freire São Paulo Autores Associados Cortez 1989 Coleção polêmicas do nosso tempo 4 1 Alfabetização Educação de adultos 2 Alfabetização Educação de adultos São Tomé e Príncipe 3 Freire Paulo 1921 4 Leitura I Título 821130 A Importância do ato de ler Rara tem sido a vez ao longo de tantos anos de prática pedagógica por isso política em que me tenho permitido a tarefa de abrir de inaugurar ou de encerrar encontros ou congressos Aceitei fazêla agora da maneira porém menos formal possível Aceitei vir aqui para falar um pouco da importância do ato de ler Me parece indispensável ao procurar falar de tal importância dizer algo do momento mesmo em que me preparava para aqui estar hoje dizer algo do processo em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler eu me senti levado e até gostosamente a reler momentos fundamentais de minha prática guardados na memória desde as experiências mais remotas de minha infância de minha adolescência de minha mocidade em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo Ao ir escrevendo este texto ia tomando distância dos diferentes momentos em que o ato de ler se viu dando na minha experiência existencial Primeiro a leitura do mundo do pequeno mundo em que me movia depois a leitura da palavra que vem sempre ao longo de minha escolarização foi a leitura da palavramundo A retomada da infância distante buscando a compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia e até onde não sou traído pela memória me é absolutamente significativa Neste esforço a que me vou entregando recrio e revivo no texto que escrevo a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra Me vejo então na casa mediana em que nasci no Recife rodeada de árvores algumas delas como se fossem gente tal a intimidade entre nós a sua sombra brincava e em seus galhos mais doces a minha altura eu me experimentava em riscos menores que me preparavam para riscos e aventuras maiores A velha casa seus quartos seu corredor seu sótão seu terrácio o sítio das avencas de minha mãe o quintal amplo em que se achava tudo isso foi o meu primeiro mundo Nele engatinhei balbuciei me pus de pé andei falei Na verdade aquele mundo especial se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva por isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras Os textos as palavras as letras daquele contexto se encarnavam no canto dos pássaros o do sanhaçu o do olhaprocaminhoquemvem o do bemtevi o do Na medida porém em que me fui tomando íntimo do meu mundo em que melhor o percebia e o entendia na leitura que dele ia fazendo os meus temores iam diminuindo Na dança das copas das árvores sopradas por fortes ventanias que anunciavam tempestades trovões relâmpagos as águas da chuva brincando de geografia inventando lagos ilhas rios riachos Os textos as palavras os letras daquele contexto se entrecruzavam também no assobio do vento nas nuvens do céu nas suas cores nos seus movimentos na cor das folhagens na forma das folhas no cheiro das flores das rosas dos jasmins no corpo das árvores na casca dos frutos Na tonalidade diferente de cores de um mesmo fruto em momentos distintos o verde da mangaespada verde o verde da mangaespada inchada o amarelo esverdado da mesma manga amadurecendo as pintas negras da manga mais além de madura A relação entre estas cores o desenvolvimento do fruto a sua resistência à nossa manipulação e o seu gosto Foi nesse tempo possivelmente que eu fazendo e vendo fazer aprendi a significação da ação de amealgar perfil eu descrevesse Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto mas aprender a sua significação profunda Só aprendendoa seriam capazes de saber por isso de memorizála de fixála A memorização mecânica da descrição de elo não só constitui em conhecimento do objeto Por isso é que a leitura de um texto tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizarleit nem é real leitura nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala Inicialmente me parece interessante reafirmar que sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento por isso mesmo como um ato criador Para mim seria impossível engajarme num trabalho de memorização mecânica dos babebibobu dos lelalilolu Dai que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra das sílabas ou das letras Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse enchendo com suas palavras as cabeças supostamente vazias dos alfabetizando Pelo contrário enquanto ato de conhecimento e ato criador o processo da alfabetização tem no alfabetizando o seu sujeito O fato de ele necessitar da ajuda do educador como ocorre em qualquer relação pedagógica não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem Na verdade tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando ao pegarem por exemplo um objeto como logo agora com o que tenho entre os dedos sentem o objeto percebem o objeto sentido e são capazes de expressar verbalmente o objeto sentido e percebido Como eu o alfabetizado é capaz de sentir a caneta de perceber a caneta e de dizer caneta Eu porém sou capaz de não apenas sentir a caneta de perceber a caneta de dizer caneta mas também de escrever caneta e consequentemente de ler caneta A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando Aí tem ele um momento de sua tarefa criada Creio desnecessário me alongar mais aqui agora sobre o que tenho desenvolvido em diferentes momentos a propósito da complexidade deste processo A um ponto porém referindo várias vezes neste texto gostaria de voltar pela significação que tem para a compreensão crítica do ato de ler e consequentemente para a proposta de alfabetização a que me consagrei Refirome a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele Na proposta a que me referi acima este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos De alguma maneira porém podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de escrevêlo ou de rescrevêlo quer dizer de transformalo através de nossa prática consciente Este movimento dinâmico é um dos aspectos centrais para mim do processo de alfabetização Daí que sempre tenha insistido em que as palavras com que organizar o programa da alfabetização deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares expressando a sua real linguagem os seus anseios as suas inquietudes as suas reinvindicações os seus sonhos Deveriam vir carregadas de significação de sua experiência existencial e não da experiência do educador A pesquisa do que chamava universo vocabular nos dava assim as palavras do Povo grávidas de mundo Elas nos vinham através da leitura do mundo que os grupos populares faziam Depois voltavam a eles inseridos no que chamava e chamo de codificações que são representações da realidade A palavra tijolo por exemplo se inseriria numa representação pictórica a de um grupo de pedreiros por exemplo construindo uma casa Mas antes da devolução em forma escrita da palavra oral dos grupos populares a eles para o processo de sua apreensão e não de sua memorização mecânica costumávamos desafiar os alfabetizando com um conjunto de situações codificadas de cuja decodificação ou leitura resultava a percepção crítica do que é cultura pela compreensão da prática ou do trabalho humano transformador do mundo No fundo esse conjunto de representaçõe de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma leitura da leitura anterior do mundo antes da leitura palavra Esta leitura mais crítica da leitura anterior menos crítica do mundo possibilitava aos grupos populares às vezes em posição fatalista em face das injustiças uma compreensão diferente de sua indigença É neste sentido que a leitura critica da realidade dandose num processo de alfabetização ou não é associada sobretudo a certas práticas claramente políticas de mobilização e de organização pode constituirse num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contrahegemónica Concluindo estas reflexões em torno da importância do ato de ler que implica sempre percepção crítica interpretação e reescrita do lido gostaria de dizer que depois de hesitar um pouco resolvi adotar o procedimento que usei no tratamento do tema em consonância com a minha forma de ser e com o que posso fazer Finalmente quero felicitar os idealizadores e os organizadores deste Congresso Nunca possivelmente temos necessitado tanto de encontros como este como agora Paulo Freire 12 de novembro de 1981
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mundo do pequeno mundo em que me movia depois a leitura da palavra que vem sempre ao longo de minha escolarização foi a leitura da palavramundo A retomada da infância distante buscando a compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia e até onde não sou traído pela memória me é absolutamente significativa Neste esforço a que me vou entregando recrio e revivo no texto que escrevo a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra Me vejo então na casa mediana em que nasci no Recife rodeada de árvores algumas delas como se fossem gente tal a intimidade entre nós a sua sombra brincava e em seus galhos mais doces a minha altura eu me experimentava em riscos menores que me preparavam para riscos e aventuras maiores A velha casa seus quartos seu corredor seu sótão seu terrácio o sítio das avencas de minha mãe o quintal amplo em que se achava tudo isso foi o meu primeiro mundo Nele engatinhei balbuciei me pus de pé andei falei Na verdade aquele mundo especial se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva por isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras Os textos as palavras as letras daquele contexto se encarnavam no canto dos pássaros o do sanhaçu o do olhaprocaminhoquemvem o do bemtevi o do Na medida porém em que me fui tomando íntimo do meu mundo em que melhor o percebia e o entendia na leitura que dele ia fazendo os meus temores iam diminuindo Na dança das copas das árvores sopradas por fortes ventanias que anunciavam tempestades trovões relâmpagos as águas da chuva brincando de geografia inventando lagos ilhas rios riachos Os textos as palavras os letras daquele contexto se entrecruzavam também no assobio do vento nas nuvens do céu nas suas cores nos seus movimentos na cor das folhagens na forma das folhas no cheiro das flores das rosas dos jasmins no corpo das árvores na casca dos frutos Na tonalidade diferente de cores de um mesmo fruto em momentos distintos o verde da mangaespada verde o verde da mangaespada inchada o amarelo esverdado da mesma manga amadurecendo as pintas negras da manga mais além de madura A relação entre estas cores o desenvolvimento do fruto a sua resistência à nossa manipulação e o seu gosto Foi nesse tempo possivelmente que eu fazendo e vendo fazer aprendi a significação da ação de amealgar perfil eu descrevesse Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto mas aprender a sua significação profunda Só aprendendoa seriam capazes de saber por isso de memorizála de fixála A memorização mecânica da descrição de elo não só constitui em conhecimento do objeto Por isso é que a leitura de um texto tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizarleit nem é real leitura nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala Inicialmente me parece interessante reafirmar que sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento por isso mesmo como um ato criador Para mim seria impossível engajarme num trabalho de memorização mecânica dos babebibobu dos lelalilolu Dai que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra das sílabas ou das letras Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse enchendo com suas palavras as cabeças supostamente vazias dos alfabetizando Pelo contrário enquanto ato de conhecimento e ato criador o processo da alfabetização tem no alfabetizando o seu sujeito O fato de ele necessitar da ajuda do educador como ocorre em qualquer relação pedagógica não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem Na verdade tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando ao pegarem por exemplo um objeto como logo agora com o que tenho entre os dedos sentem o objeto percebem o objeto sentido e são capazes de expressar verbalmente o objeto sentido e percebido Como eu o alfabetizado é capaz de sentir a caneta de perceber a caneta e de dizer caneta Eu porém sou capaz de não apenas sentir a caneta de perceber a caneta de dizer caneta mas também de escrever caneta e consequentemente de ler caneta A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando Aí tem ele um momento de sua tarefa criada Creio desnecessário me alongar mais aqui agora sobre o que tenho desenvolvido em diferentes momentos a propósito da complexidade deste processo A um ponto porém referindo várias vezes neste texto gostaria de voltar pela significação que tem para a compreensão crítica do ato de ler e consequentemente para a proposta de alfabetização a que me consagrei Refirome a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele Na proposta a que me referi acima este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos De alguma maneira porém podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de escrevêlo ou de rescrevêlo quer dizer de transformalo através de nossa prática consciente Este movimento dinâmico é um dos aspectos centrais para mim do processo de alfabetização Daí que sempre tenha insistido em que as palavras com que organizar o programa da alfabetização deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares expressando a sua real linguagem os seus anseios as suas inquietudes as suas reinvindicações os seus sonhos Deveriam vir carregadas de significação de sua experiência existencial e não da experiência do educador A pesquisa do que chamava universo vocabular nos dava assim as palavras do Povo grávidas de mundo Elas nos vinham através da leitura do mundo que os grupos populares faziam Depois voltavam a eles inseridos no que chamava e chamo de codificações que são 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não é associada sobretudo a certas práticas claramente políticas de mobilização e de organização pode constituirse num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contrahegemónica Concluindo estas reflexões em torno da importância do ato de ler que implica sempre percepção crítica interpretação e reescrita do lido gostaria de dizer que depois de hesitar um pouco resolvi adotar o procedimento que usei no tratamento do tema em consonância com a minha forma de ser e com o que posso fazer Finalmente quero felicitar os idealizadores e os organizadores deste Congresso Nunca possivelmente temos necessitado tanto de encontros como este como agora Paulo Freire 12 de novembro de 1981