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Estilística Prof Luciano Taveira de Azevedo 2a edição Nead UPE 2013 Dados Internacionais de CatalogaçãonaPublicação CIP Núcleo de Educação à Distância Universidade de Pernambuco Recife Azevedo Luciano Taveira de Letras Estilística Luciano Taveira de Azevedo Recife UPENEAD 2012 44 p Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx Universidade de Pernambuco Núcleo de Educação à Distância II Título XXX xxx xxxxxx Xxxxxxxxxxxxx Xxxx XXXxxxxx xxxxxxxxxxxx XXXX Reitor ViceReitor PróReitor Administrativo PróReitor de Planejamento PróReitor de Graduação PróReitora de PósGraduação e Pesquisa PróReitor de Extensão e Cultura PróReitor de Integração e Fortalecimento da Interiorização Prof Carlos Fernando de Araújo Calado Prof Rivaldo Mendes de Albuquerque Prof Rosângela Prof Béda Barkokébas Jr Profa Izabel Christina de Avelar Silva Profa Viviane Colares S de Andrade Amorim Prof Rivaldo Mendes de Albuquerque Prof Pedro Henrique de Barros Falcão UNIVERsIDADE DE PERNAmbUCo UPE NEAD NÚCLEo DE EDUCAÇÃo A DIsTÂNCIA Coordenador Geral Coordenador Adjunto Assessora da Coordenação Geral Coordenação de Curso Coordenação Pedagógica Coordenação de Revisão Gramatical Gerente de Projetos Administração do Ambiente Coordenação de Design e Produção Equipe de design Coordenação de suporte EDIÇÃo 2013 Prof Renato Medeiros de Moraes Prof Walmir Soares da Silva Júnior Profa Waldete Arantes Profa Francisca Núbia Bezerra e Silva Profa Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Profa Angela Maria Borges Cavalcanti Profa Eveline Mendes Costa Lopes Profa Geruza Viana da Silva Prof Valdemar Vieira de Melo José Alexandro Viana Fonseca Prof José Lopes Ferreira Júnior Valquíria de Oliveira Leal Prof Marcos Leite Anita Sousa Gabriela Castro Renata Moraes Rodrigo Sotero Afonso Bione Wilma Sali Impresso no Brasil Tiragem 150 exemplares Av Agamenon Magalhães sn Santo Amaro Recife Pernambuco CEP 50103010 Fone 81 31833691 Fax 81 31833664 5 Estilística Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 60 horas EmEnta Componentes estilísticos da Língua Portuguesa fonético lexical morfológico e sintático linguagem figurada o vocabulário Português figuras de linguagem fraseologia clichê artigos nomes e outras classes gramaticais na perspectiva estilística ObjEtivO GEral Contribuir com a formação do aluno de Letras no que diz respeito à reflexão acerca dos processos que envolvem a expressão estética da palavra aprEsEntaçãO da disciplina Estimado estudante É com muita alegria que elaboramos mais um livro que procura atender às ne cessidades do curso de Letras na modalidade a distância Desta vez a disciplina sobre a qual este livro discorrerá é a Estilística Como veremos ao longo destas páginas a Estilística voltase para aquilo que no nível da forma e do conteúdo constitui um uso individual da língua É o estilo individual de cada produtor de textos que permite reconhecermos a produção literária por exemplo de um determinado escritor Em Aristóteles 384322 aC já encontramos as primeiras reflexões acerca do estilo quando discorre sobre retórica de maneira que o in teresse pelo estudo acerca da expressividade não é recente Em nosso material decidimos apresentar por um lado os conceitos gerais e tradicionais dos casos compreendidos no âmbito da Estilística e por outro desenvolver uma discussão acerca da relação entre texto expressividade e discurso Valendose de teorias que advêm do estudo sobre texto e discurso proporemos uma reflexão que não se restrinja apenas à palavra eou à frase mas assuma também o texto em seus aspectos enunciativos e discursivos É com esse objetivo em mente que damos início à escritura deste livro Bons estudos 7 Capítulo 1 7 Capítulo 1 ObjEtivOs EspEcíficOs Apresentar ao aluno os fundamentos históricos da Estilística Refletir acerca dos recursos estilísticos disponíveis na Língua Portuguesa Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos expressivos agenciados na produção de sentido intrOduçãO Caríssimo estudante Neste capítulo traçaremos o percurso histórico e teórico da Estilística Nessa direção apresentaremos os diferentes conceitos que foram sendo agregados ao campo da Estilística de acordo com a orientação teórica na qual figurava Para en tendermos o conceito de Estilística palavra que aparece pela primeira vez em lín gua portuguesa no ano de 1899 fazse necessário remontarmos ao antigo estudo de Retórica e Poética uma vez que o seu conceito moderno deve a esses conceitos seu caráter vinculado à expressão do pensamento e do sentimento Em seguida passearemos pelos diferentes entendimentos do termo estilística na história das Ciências da Linguagem e por fim apresentaremos suas duas grandes correntes a estilística descritiva e idealista Vamos começar nossa viagem Bons estudos Prof Luciano Azevedo 1 para iníciO dE cOnvErsa Afinal de contas o que é estilo É com essa pergunta que damos início à nos sa jornada rumo ao conhecimento dos processos que singularizam as práticas Estilística brEvE ExcursO tEóricO E HistóricO Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 15 horas 8 Capítulo 1 de escrita Assim começaremos trazendo algumas definições tradicionais ou melhor de estilo para depois apresentarmos a que mais se aproxima da abordagem que daremos às questões relacionadas à estilística Assim Estilo vem do latim stilus e em seu sentido originário signi fica qualquer objeto em forma de haste pontiaguda ponta de ferro que serve para escrever sobre tabuinhas enceradas Com o decorrer do tempo de objeto utilizado para escrever o termo estilo passou a significar a pró pria escrita e depois aquilo que essa escrita tem de característico Atualmente entendese por estilo Tudo aquilo que individualiza obra criada pelo homem como resultado de um esforço mental de uma elaboração do espírito traduzido em ideias imagens ou formas con cretas Garcia 2010123 É importante salientar que o que individualiza a escrita do produtor de textos não é o desvio mas a escolha que esse produtor faz das palavras que comporão o arranjo textual Nessa direção Gui raud 1978140 afirma ser o estilo o aspecto do enunciado que resulta da escolha dos meios de expressão determinada pela natureza e intenções do indivíduo que fala ou escreve Essa escolha lin guística da qual fala o autor até pode vir por meio de um desvio mas não é este que define o estilo de um texto Numa definição um pouco mais recente que a do professor Othon M Garcia Estilo é o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos fonológicos morfológicos sintáticos lexicais semânticos discursivos da língua para expressar oralmente ou por es crito pensamentos sentimentos opiniões etc Henriques 201127 A definição de Henriques 2011 por ser mais abrangente uma vez que não se restringe aos as pectos meramente linguísticos mas alcança os as pectos semânticos e discursivos ganha prioridade neste trabalho de maneira que abordaremos os fe nômenos estilísticos em seus aspectos linguísticos mas desdobraremos nossa abordagem de modo a considerarmos os aspectos do discurso que deter minam o estilo de uma produção linguística seja oral seja escrita Acreditamos com Beaugrande apud Marcuschi 200880 que é essencial tomar o texto como um evento comunicativo no qual convergem ações lin guísticas cognitivas e sociais e além do que o texto é um sistema atualizado de escolhas extraído de sistemas virtuais entre os quais a língua é o sis tema mais importante Beaugrande apud Marcus chi 200879 Dessa maneira o texto é resultado das escolhas linguísticas que fazemos ao longo da produção textual mas elas não resultam de um ato abstraído da situação de produção Toda produção se dá na perspectiva da situação social em que é realizada de modo que o estilo é também determi nado pelos parâmetros e atividades dessa situação 11 a rEtórica VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA Estilo O estilo definido pelo período clássico como um não sei quê constitui a marca da in dividualidade do sujeito na fala noção fun damental fortemente ideológica que cabe à estilística depurar para tornála operatória e fazêla passar da intuição ao saber A linguística saussuriana em sua primeira manifestação não perturba profundamente essa concepção O estilo pertence à fala ele é a escolha feita pelos usuários em todos os comportamentos da língua Cressot Seja esta escolha consciente e deliberada ou um simples desvio o estilo reside na distin ção entre língua e fala individual A teoria da informação a análise mais avan çada das funções da linguagem os desen volvimentos do estruturalismo aprofundam a noção Existe uma função estilística que su blinha os traços significativos da mensagem e que põe em relevo as estruturas represen tantes das outras funções A língua exprime o estilo sublinha Riffaterre Os efeitos em que se manifestam essa função formam uma estrutura particular o estilo Dubois et alii 2006237238 243 SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para saber mais sobre a definição de estilísti ca e estilo recomendo a leitura do capítulo 3 do livro Estilística e Discurso de Claudio Cezar Henriques HENRIQUES C C Estilística e Discurso estu dos produtivos sobre texto e expressividade Rio de Janeiro Elsevier 2011 GARCIA O M Comunicação em prosa moder na 27ª ed Rio de Janeiro FGV Editora 2010 9 Capítulo 1 É pelo discurso que persuadimos sempre que demonstramos a verdade ou o que parece ser verdade de acordo com o que sobre cada assunto é suscetível de persuadir Aristóteles Para traçarmos a história da Estilística fazse ne cessário entendermos como o homem num dado momento histórico começou a preocuparse com a maneira de dizer o que diz ou seja como esse homem voltouse para o seu discurso a fim de entendêlo e organizálo para atingir fins específi cos É dessa necessidade parecenos que nasce o que se convencionou chamar de Retórica palavra originada do latim rethorica cujas raízes vêm do grego rhetor significando orador Assim Rhetor deriva de rhema cujo significado é palavra ou seja aquilo que se diz Seu primeiro registro no Português data do século XIV Em Atenas a democracia serviuse da retórica como instrumento de reivindicação uma vez que sua organização política e social possibilitava a contenda judicial Assim a Retórica assumiu um papel importante já que implicava a arte de fa lar bem para envolver e convencer o outro Em seus primeiros momentos a Retórica tinha um objetivo preciso convencer o outro da justeza de uma causa Para isso seria necessário ter um co nhecimento amplo das propriedades do discurso que se decompunha em quatro partes inventio dispositio elocutio pronuntiatio Cada uma dessas partes representa uma etapa que não deve ser re ligiosamente cumprida Essas etapas podem sem assim explicitadas a Invenção a busca de todos os argumentos e de outros meios de persuasão relativos ao tema do seu discurso b Disposição a ordenação organização desses argumentos seu planejamento c Elocução a escolha e disposição das palavras na frase d Enunciação a proferição efetiva do discurso Segundo Aristóteles o orador deve adequar o es tilo às diferentes situações evitando sempre que possível o estilo afetado Ainda para Aristóteles o que produz o discurso deve buscar a melhor es tratégia para apresentar um argumento a determi nado público Nessa época havia três gêneros do discurso 1 deliberativo cuja finalidade é aconselhar o público acerca de algo que se pretende fazer 2 judicial que apresenta uma acusação ou defe sa em relação às ações consideradas justas ou injustas 3 epidíctico ou demonstrativo que procura louvar ou reprovar atos ou temas de conheci mento geral De acordo com o exposto vêse que a retórica ti nha uma estrutura a ser seguida de maneira que o discurso deveria ser estrategicamente organizado Desse modo ao organizar o discurso recomenda se seguir a seguinte subdivisão a exórdio introdução do discurso cujo objeti vo é preparar o auditório de maneira a deixálo atento ao que será proferido pelo orador b a narração exposição dos fatos relacionados ao tema do discurso c a confirmação apresentação dos argumentos d a digressão inserção de uma ilustração no processo discursivo com a intenção de distrair o auditório e a peroração conclusão do discurso Esta últi ma pode subdividirse em amplificação cuja finalidade é rever os argumentos paixão pro vocar comoção no auditório e a recapitulação sintetizar a argumentação Diante do exposto chegamos à conclusão de que o exercício da retórica era voltado à preocupação em produzir determinados efeitos estilísticos a fim de convencer o público hoje temos a figura do lei tor que substitui a de público ou plateia de uma verdade ou daquilo em que se acreditava ser uma verdade Assim a Retórica visa à construção de um estilo que percorre o texto e produz um efeito de verdade com fins de convencimento 12 a pOética 10 Capítulo 1 A poesia é a arte que se manifesta pela palavra Janilto Andrade Póetica vem do latim poeticus que por sua vez tem origem no grego poiétikos cujo significado é que tem a virtude de fazer O primeiro uso escrito dessa pala vra no Português data de 1697 Desde Aristóteles 384322 aC o termo Poética vem recebendo diferentes definições formuladas conforme o lugar teórico de sua configuração As sim recebe uma definição quando pensado por formalistas russos outra quando aparece em tex tos sobre a Antiguidade clássica ou em manuais de literatura Segundo Roberto Acízelo de Souza apud Henriques 201137 há pelo menos três acepções a considerar quando nos referimos à Poética 1 Disciplina antiga dedicada aos estudos de lite ratura e por esse motivo chamada de poética clássica 2 Disciplina contemporânea dedicada ao estudo sistemático da literatura 3 Abreviação do sintagma arte poética equiva lente ao termo metapoema usado para rotular composições em que se expõe explicitamente uma concepção de poesia Para Henriques 201137 se optarmos pela segun da definição eremos que na tradição de estudos literários a Poética en globa a designação de toda a teoria interna da literatura a escolha feita por um autor entre todas as possibilidades literárias e o conjunto de regras práticas construídas por uma escola literária A essas definições acrescentase a consideração de Tadié 1992 afirmando a distinção de três poéti cas assim denominadas poética da prosa poética da poesia e poética da leitura De acordo com o autor a poética da prosa daria conta dos proces sos de construção do romance enquanto a poética da poesia se encarregaria dos elementos e dos ins trumentos necessários à compreensão da poesia Entre a poética da prosa e a poética da poesia te mos a poética da leitura incumbida dos processos relacionados à estética da recepção e de como o leitor interpreta um texto literário levandose em consideração os fatores externos que determinam essa leitura como o momento histórico no qual se encontra inserido Mais próximo dessa poética da leitura a definição de Andrade 20023334 diz que uma poética é um conjunto de razões que delimitam uma concepção do artístico Por conseguinte dizendo respeito à investigação da obra literária uma poética será entendida como um corpo de razões que dão conta de uma forma de pensar sobre a literatura Tratase de uma espécie de fio condutor da interpretação dos textos poéticos No en tanto tendo em vista que a obra literária recusa qualquer leitura doutrinária que se queira fazer a partir de critérios a priori devese ter na poética uma construção de intenções teóricas a que o leitorintérprete recorre para lastrear os caminhos da sua leitura Seja um corpo teórico que permite a análise sis SAIBA MAIS SAIBA MAIS DUBOIS et alii Retórica Geral São Paulo Cultrix e EdUSP 1974 TRIGALI D Introdução à Retórica a retórica como crítica literária São Paulo Duas Cida des 1988 HALLIDAY T L O Que é Retórica São Pau lo Brasiliense nº 232 da Coleção Primeiros Passos 1990 Reboul O Introdução à Retórica São Paulo Martins Fontes 1998 ARISTÓTELES Retórica Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda Bibliotecas de Autores Clássicos 2005 Fontehttpwwwcentrofilosofiaorgpublicacoes phppagina8criterio 11 Capítulo 1 temática das formas poéticas seja uma chave que abre para a reflexão acerca dos processos relaciona dos à interpretação do texto literário a Poética se configura como um campo de estudos preocupado com os elementos implicados com a construção do texto literário Assim procedendo a Poética desbrava caminhos e sugere temas que mais tar de interessarão à Estilística uma vez que antecipa reflexões e problemáticas referentes ao estilo e ao modo de escrever 13 a Estilística 18651947 fala da Estilística como disciplina que permite identificar na fala traços afetivos que se deixam refletir na língua considerada como ex pressão do pensamento Vale lembrar que Char les Bally foi discípulo do linguista genebrino Fer dinand de Saussure 18571913 e suas reflexões partem desse lugar inaugurado por Saussure qual seja a linguística estrutural Enquanto Bally voltavase para a expressão de ele mentos afetivos que se deixam marcar na fala Vos sler 18721947 e Spitzer 18871960 decidiram estudar as relações entre expressão e indivíduo So bre o pensamento de Bally Henriques 201153 afirma que inspirado pelos ensinamentos de Saus sure Bally cunhou o termo Estilística cuja teoria se baseia num conceitochave que serve de suporte para todas as estilísticas posteriores a linguagem não se presta apenas para expressar ideias mas também sentimentos Numa outra direção cami nham Vossler e Spitizer pois esses privilegiam o componente literário Na perspectiva desses teóri cos tudo o que é determinado pela fantasia só se manifesta genuinamente na literatura Desses dois lugares teóricos que dizem sobre a es tilística surgem dois segmentos dos estudos esti lísticos um mais próximo da gramática descritiva influenciado pelo pensamento de Bally e o ou tro caminhando em direção aos estudos literários Vossler e Sitzer Desses encaminhamentos temos as duas grandes vertentes da Estilística denomina das descritiva e idealista 131 Estilística DEscritiva linguística A Estilística Descritiva ocupase dos aspectos afe tivos da língua que se encontram à disposição do homem de maneira espontânea A tarefa dessa ver tente dos estudos estilísticos é a sistematização e ou descrição das possibilidades que a língua ofe rece para expressarmos os elementos afetivos que se encontram na cadeia do enunciado Dito isso os elementos afetivos disponíveis na língua encon tramse sujeitos à descrição uma vez que partici pam de um sistema expressivo Conforme Henriques 201156 afirma a Estilística Linguística obviamente procura parceria com todos os componentes linguísticos do texto desde os fo nemas que constroem os morfemas e as palavras até os períodos e parágrafos que constroem a totalidade do texto sempre levando em conta os valores semânticos pragmáti SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para conhecer mais a história da Poética re comendo SPINA S Introdução à Poética Clássica São Paulo Martins Fontes 1967 SUHAMY H A Poética Rio de Janeiro Jorge Zahar nº 10 da coleção Cultura Contempo rânea 1988 ANDRADE J Procurando o Poético 3ª ed Ed Ideia 2002 SOUZA R A Império da eloquência estudos de retórica e poética no Brasil oitocentista Rio de Janeiro e Niterói EdUERJ e EdUFF 1999 A Estilística teve seu primeiro registro escrito em português no ano de 1899 e aqueles que traba lham nesse campo de estudo ocupamse do texto ou seja dos fenômenos relacionados às caracterís ticas em qualquer nível da língua individuais que singularizam os textos O termo Estilística sur giu no âmbito do Romantismo via tradição da re tórica e se consagrou na França dando ao campo outro direcionamento que não mais aquele recla mado pela Retórica Afirmamos de saída que o objeto principal do qual se ocupa a Estilística é a linguagem poética que implica a manifestação estética expressiva e ou apelativa praticada em texto com literariedade Henriques 201152 Mas é importante salientar que embora a estilística priorize os textos literá rios não se ocupará apenas deles Segundo Karl Bühler 1950 a Estilística é a dis ciplina que estuda a língua nas suas funções ex pressiva e apelativa O seu criador Charles Bally 12 Capítulo 1 cos e discursivos Nesse sentido Mattoso Câmara Jr 1978 acrescenta ser ela a Estilística Linguística um ramo de estudos que pretende organizar e interpretar dados expres sivos que se integram nos traços da língua e fazem da linguagem esse conjunto complexo e amplo Vejamos um exemplo 1 Hoje eu tenho apenas umapedra no meu peito Exijo respeito não sou mais um sonhadorChego a mudar de calçadaQuando aparece uma florE dou risada do grande amorMentira Samba do grande amor Chico Buarque 2 A pedra lhe caiu sobre o peito e esmagou a caixa torácica Não obstante a proximidade de sentido entre o enunciado 2 e o início do 1 apenas o 1 carrega uma bagagem expressiva e emocionada quando Chico Buarque se utiliza de uma metáfora para falar da dor causada pela a ausência da mulher amada Desse modo a Estilística Descritiva dará atenção a esses recursos linguísticos que expressam as emoções do usuário da língua 132 Estilística iDEalista A Estilística Idealista de cunho psicológico pro cura refletir acerca dos desvios da linguagem em relação ao uso comum Essa vertente afirma que qualquer desvio identificado no uso comum da linguagem corresponde a uma alteração no estado psíquico do escritor Baseada nesses pressupos tos a Estilística Idealista entende o estilo como a expressão pessoal do escritor conforme reflexo do seu universo interior e experiência de vida A produção literária ganhará centralidade no progra ma de estudos desse campo de investigação a qual considera que toda obra encerra um mistério cuja compreensão depende basicamente da intuição de quem se investe do desejo de desvendar os mis térios de criação de uma obra e dos efeitos dessa obra sobre os leitores NS Martins 200826 Henriques 201165 Vejamos este exemplo Fonte httpwwwjobimorgchicobitstreamhandle20102656CB320PrJ12460jpgsequence1 13 Capítulo 1 Esse texto de Chico Buarque de Holanda foi pu blicado num caderno suplemento do jornal O Globo em 08 de outubro de 1966 Nesse artigo de opinião Chico fala acerca da Bossa Nova do sam ba enfim daquilo que se convencionou chamar Música Popular Brasileira No decorrer do texto Chico expressa seu reconhecimento à contribuição dada pela Bossa Nova à música popular e faz consi derações sobre o samba dizendo que já não é mais aquele samba de letras fáceis e representante da va riedade popular da língua Antes diz que o nosso bom samba aparece agora vestido de novo rico e metido a falar difícil Logo em seguida diz que a situação atual do samba é promover um resgate das características originárias ou seja a simplicidade das letras e elaboração calcada no cotidiano e na fala coloquial dos brasileiros Essa abordagem con siderando os aspectos linguísticos componente temático e elaboração formal é ilustrativa de uma abordagem dentro dos parâmetros da Estilística Idealista Outro trecho que exemplifica essa abor dagem se encontra no fim do texto quando Chico se volta para sua própria produção musical e diz que seu Refrão é o refrão urbano do moleque e do pedreiro da janela e do baião em outras palavras é a música que canta os detalhes da vida do povo brasileiro sem adornos e requintes SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para aprofundamento na história da Esti lística e sua aplicação recomendo a leitu ra do artigo PARENTE M C M O domínio da Estilís tica num convite a pesquisas e criações autônomas Caderno Discente do Instituto Superior de Educação Ano 2 nº 2 Apare cida de Goiânia 2008 VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA Estilística Charles Bally definiu a estilística deste modo Estudos dos fatos de expressão da linguagem organizada do ponto de vista de seu conteúdo afetivo isto é expressão dos fatos da sensi bilidade pela linguagem sobre a sensibilidade A estilística ramo da linguística consiste portanto num inventário das potencialidades estilísticas da língua efeitos de estilo no sentido saussuriano e não no estudo do estilo de tal autor que é um emprego voluntário e consis tente desses valores Essa definição vincula o estilo à sensibilidade que é definida assim O sentimento é uma deformação cuja natureza é causada pelo nosso eu desse modo a metá fora existe porque podemos tornar o espírito vítima da associação de duas representações A estilística é mais amiúde o estado científico do estilo das obras literárias tendo como jus tificativa primeira esta tomada de posição de Roman Jakobson Se existem ainda críticas que põem em dúvida a competência da linguística em matéria de poesia penso por mim que elas devem prenderse à incompetência de alguns linguistas limitados por uma incapacidade fun damental em relação à própria ciência da linguística Um linguista surdo à função poética como um especialista em literatura indiferente aos problemas e ignorante dos métodos da linguística constituem daqui por diante ambos um anacronismo flagrante 2 línGua tExtO E discursO Os fatos estilísticos podem ser observados descri tos e analisados no texto já que é no texto que eles ganham vida e se realizam Para entendermos os fenômenos estilísticos devemos nos apropriar de uma concepção de língua e texto mais ampla que a apreendida durante os anos escolares e que nos foi legada pelos gramáticos e professores de língua materna e estrangeira A noção de discurso que muito tem contribuído com os estudos linguísti cos e do texto pode nos fazer entender os fatos estilísticos como os que são determinados por fa tores mais amplos que não apenas linguísticos e ou gramaticais Assim nossa intenção é abordar esses fatos nos próximos capítulos à luz das teorias do discurso de maneira que julgamos necessário discorrer brevemente acerca da noção de língua texto e discurso norteando a apresentação e abor dagem das manifestações estilísticas apresentadas neste livro 14 Capítulo 1 21 a línGua Na história dos estudos linguísticos a língua objeto de sistematização e de especulações científicas de cunho positivista sofre um des locamento naquilo que diz respeito à sua con cepção como produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções neces sárias adotadas pelo corpo social para permi tir o exercício dessa faculdade nos indivíduos SAUSSURE 200417 e passa a figurar em contextos epistemológicos que a veem como uma forma de atividade entre dois protagonis tas POSSENTI 198848 Esse deslocamento aparece nos trabalhos de Benve niste 1989 1991 Ducrot 1988 e Austin 1990 que embasados no viés específico postulado por cada teórico trazem para os estudos linguísticos elementos que haviam sido deixados de fora de uma análise linguística de cunho estruturalista Assim esses trabalhos ampliam as perspectivas de abordagem que agora não mais se atêm tão somente à forma linguística mas se ocupam dos usos feitos pelos falantes ou seja da enunciação em situações efetivas de comunicação Não obstante os estudos pragmáticos tenham oferecido uma contribuição bastante significati va à inclusão do sujeito e da situação de fala às reflexões desenvolvidas sobre os processos enun ciativos o alcance das suas pesquisas iniciais não ia além da situação empírica de interação ver bal entre interlocutores e o contexto imediato Nessa direção a Análise do Discurso de linha francesa doravante AD produziu estudos concretos que fizeram avançar a questão do su jeito arrancandoo a uma visão psicologizante por um lado e à empiricidade imediata das situ ações de comunicação por outro GUILHAU MOU MALDIDIER 198962 Assim sendo a abordagem da enunciação na perspectiva da te oria do discurso tem seus horizontes alargados posto que a análise dos processos de produção de sentido nessa perspectiva não recai apenas sobre o contexto imediato em que o enunciado é produzido mas implica as condições amplas de sua produção A AD desloca a análise das con dições de enunciação de um contexto restrito à situação de fala e a situa em outro lugar ou em outro plano por assim dizer o dos processos sóciohistóricos de produção de sentidos 22 O tExtO Hoje há praticamente um consenso entre os estu diosos da linguagem de que o enunciado é produ zido em uma condição sóciohistórica dada Desse modo os processos enunciativos se inscrevem em um contexto imediato que é aquele da situação efe tiva em que ocorre a enunciação e em um contexto mediato ou seja o arranjo sóciohistórico mais am plo com suas regras crenças costumes etc Temos então isso a linguagem é produzida e os sentidos são construídos dentro de um processo que impli ca um jogo de relações dos sujeitos enunciadores com as condições de produção do enunciado Numa perspectiva enunciativodiscursiva o texto deslocase de uma concepção centrada na estrutura e passa a ser visto como o lugar por excelência em que se dá a interação entre sujeitos Mediada pela linguagem essa interação se configura em textos formulados numa dada instância sóciohistórica e passam a circular socialmente Esse aspecto inte racional do texto que constitui sua textualidade é possível porque todo texto tem um sujeito um autor BAKHTIN 2006308 que se inscreve nas malhas textuais e com o qual o sujeito leitor ne cessariamente interage quando da produção da lei tura É nessa relação intersubjetiva que o diálogo se estabelece e abre para a possibilidade de uma resposta que por sua vez cria as condições para que novos textos se constituam Acerca do autor e do leitor Bakhtin 2006311 diz que o acon tecimento da vida do texto isto é sua verdadeira essência sempre se desenvolve na fronteira de duas consciências de dois sujeitos Em seus aspectos estruturais organizadores do cor po textual apresenta coerência coesão não con tradição progressão etc Na perspectiva dos primei ros trabalhos elaborados no campo da Linguística Textual esses aspectos dentre outros asseguram a textualidade de um texto Embora concordemos que um texto se caracteriza também por seus aspec tos estruturais e linguísticos acreditamos em que não se define apenas por eles mesmos nem como objeto fechado Conceber o texto como um artefa to construído com base na realização de regras de boa formação textual é reduzilo ao nível linguísti co sem remetêlo às condições de produção Desse modo não conceituamos o texto nos seus aspectos estritamente linguísticos mas procuramos redefi nir a noção de texto como materialidade do dis curso isto é da materialidade linguísticohistóri 15 Capítulo 1 ca ORLANDI 200174 Assim os processos de textualização vistos por um viés discursivo não se reduzem aos aspectos meramente formais mas são definidos em relação ao discurso ou seja aos interlocutores em interação discursiva à situação pragmática ao contexto sóciohistórico etc 23 O discursO Em Orlandi 1999 lemos que o discurso é palavra em movimento prática de linguagem De acordo com a autora o discurso se caracteriza como pro cesso histórico de produção de sentidos em que a língua intervém como pressuposto Pensado como um complexo processo de constituição dos sujeitos em interação pela linguagem e dos sentidos histo ricamente situados o discurso é entendido como um objeto sóciohistórico que tem sua regularida de seu funcionamento Essa relação constitutiva dos processos de signifi cação permeia todo e qualquer enunciado desde o mais simples como um aviso para não fumar colocado na parede de um hospital aos mais com plexos como um romance De um a outro enun ciado temos determinantes sóciohistóricos que atravessam a cadeia do dizer e fazem se dizer de uma determinada forma e não de outra que toda atividade comunicativa que se organiza em torno do texto verbal ou não verbal se insere em uma categoria genérica determinada por fato res linguísticos e extralinguísticos Além disso os gêneros discursivos medeiam o processo de interação verbal entre interlocutores de tal modo que podemos afirmar com Marcus chi 200522 que é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero O processo comunicativo só é bem sucedido porque há regularidades na forma dos gêneros que são de terminadas por fatores sociocomunicativos e fun cionais de modo que se a língua não elaborasse seus tipos relativamente estáveis de enunciados BAKHTIN 2006 a comunicação certamente ficaria comprometida uma vez que o falante se uti lizaria de formas diferentes a cada acontecimento comunicativo A estrutura relativamente estável do gênero discursivo permite que o falante recorra à forma mais apropriada para realizar com compe tência seu projeto de dizer atividadE Leia o texto abaixo VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA a estrutura ou regularidade de uma lín gua surge do discurso e é configurada pelo discurso mas o discurso também é configu rado pela estrutura ou regularidade da lín gua Não há de se entender então a gramá tica como um prérequisito do discurso um bem anterior que se atribui de forma idênti ca tanto ao falante quanto ao seu interlocu tor As formas linguísticas que estruturam os discursos não são padrões fixos são compo nentes negociáveis na interação emissorre ceptor com base em escolhas que refletem as experiências vividas pelos falantes com essas formas linguísticas Henriques 20114 3 GênErOs discursivOs As práticas comunicativas dos sujeitos interactan tes nunca se dão desvinculadas de um gênero dis cursivo que configura igualmente um modo de enunciar Maingueneau 2005 afirma que todo texto pertence a um gênero do discurso de modo Fonte 1 Agora identifique o gênero discursivo no qual o texto se realiza 2 Para processar e entender o anúncio o lei tor levanta hipóteses acerca de alguns conheci mentos que se encontram no nível do discurso como possíveis enunciadores lugar e tempo de enunciação Mobilize hipóteses e diga quem são os enunciadores o lugar de enunciação e o mo mento histórico de produção do texto acima 3 Como o anunciante explora a polissemia implicada na palavra burro 4 Uma vez que o estilo não se manifesta ape nas na obra literária reflita sobre a relação en tre elementos extralinguísticos e construção do estilo nesse anúncio publicitário 16 Capítulo 1 rEfErências ANDRADE J Procurando o poético 3 ed João Pessoa Ideia 2002 AUSTIN J L Quando dizer é fazer palavras e ações Porto Alegre Artes Médicas 1990 BAKHTIN Mikhail Estética da criação verbal 4ª ed São Paulo Martins Fontes 2006 BENVENISTE E Problemas de Linguística Geral I 3ª ed São Paulo Pontes 1991 Problemas de Linguística Geral II 3ª ed São Paulo Pontes 1989 BÜHLER K Teoría Del Lenguaje Madrid Revis ta de Ocidente 1950 CÂMARA JR J M Contribuição à Estilística Portuguesa Rio de Janeiro Ao Livro Técnico 1978 DUBOIS J et alii Dicionário de linguística São Paulo Cultrix 2006 DUCROT O O Dizer e o Dito Campinas Pon tes 1988 GARCIA O M Comunicação em prosa moder na 27ª ed Rio de Janeiro FGV Editora 2010 GUIRAUD P A Estilística São Paulo Mestre Jou 1978 GUILHAUMOU J MALDIDIER D Da enuncia ção ao acontecimento discursivo em Análise do Discurso In GUIMARÃES E História e sentido na linguagem Campinas Pontes 1989 HENRIQUES C C Estilística e discurso estu dos produtivos sobre texto e expressividade Rio de Janeiro Elsevier 2011 JORNAL O GLOBO Meu refrão Caderno Su plemento 1966 Disponível em httpwww jobimorgchicohandle20102656 MAINGUENEAU D Análise de textos de comu nicação 4 ed São Paulo Cortez 2005 MARCUSCHI L A Produção textual análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola Editorial 2008 Gêneros textuais definição e funcio nalidade In DIONÍSIO A P MACHADO A R BEZERRA M A Orgs Gêneros textuais e ensino 4ª ed Rio de Janeiro Lucerna 2005 ORLANDI E Discurso e texto formulação e cir culação dos sentidos São Paulo Pontes 2001 Análise de Discurso princípios e proce dimentos São Paulo Pontes 1999 POSSENTI Sírio Discurso estilo e subjetivida de São Paulo Martins Fontes 1988 SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguística Geral 26 ed São Paulo Cultrix 2004
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Estilística Prof Luciano Taveira de Azevedo 2a edição Nead UPE 2013 Dados Internacionais de CatalogaçãonaPublicação CIP Núcleo de Educação à Distância Universidade de Pernambuco Recife Azevedo Luciano Taveira de Letras Estilística Luciano Taveira de Azevedo Recife UPENEAD 2012 44 p Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx Universidade de Pernambuco Núcleo de Educação à Distância II Título XXX xxx xxxxxx Xxxxxxxxxxxxx Xxxx XXXxxxxx xxxxxxxxxxxx XXXX Reitor ViceReitor PróReitor Administrativo PróReitor de Planejamento PróReitor de Graduação PróReitora de PósGraduação e Pesquisa PróReitor de Extensão e Cultura PróReitor de Integração e Fortalecimento da Interiorização Prof Carlos Fernando de Araújo Calado Prof Rivaldo Mendes de Albuquerque Prof Rosângela Prof Béda Barkokébas Jr Profa Izabel Christina de Avelar Silva Profa Viviane Colares S de Andrade Amorim Prof Rivaldo Mendes de Albuquerque Prof Pedro Henrique de Barros Falcão UNIVERsIDADE DE PERNAmbUCo UPE NEAD NÚCLEo DE EDUCAÇÃo A DIsTÂNCIA Coordenador Geral Coordenador Adjunto Assessora da Coordenação Geral Coordenação de Curso Coordenação Pedagógica Coordenação de Revisão Gramatical Gerente de Projetos Administração do Ambiente Coordenação de Design e Produção Equipe de design Coordenação de suporte EDIÇÃo 2013 Prof Renato Medeiros de Moraes Prof Walmir Soares da Silva Júnior Profa Waldete Arantes Profa Francisca Núbia Bezerra e Silva Profa Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Profa Angela Maria Borges Cavalcanti Profa Eveline Mendes Costa Lopes Profa Geruza Viana da Silva Prof Valdemar Vieira de Melo José Alexandro Viana Fonseca Prof José Lopes Ferreira Júnior Valquíria de Oliveira Leal Prof Marcos Leite Anita Sousa Gabriela Castro Renata Moraes Rodrigo Sotero Afonso Bione Wilma Sali Impresso no Brasil Tiragem 150 exemplares Av Agamenon Magalhães sn Santo Amaro Recife Pernambuco CEP 50103010 Fone 81 31833691 Fax 81 31833664 5 Estilística Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 60 horas EmEnta Componentes estilísticos da Língua Portuguesa fonético lexical morfológico e sintático linguagem figurada o vocabulário Português figuras de linguagem fraseologia clichê artigos nomes e outras classes gramaticais na perspectiva estilística ObjEtivO GEral Contribuir com a formação do aluno de Letras no que diz respeito à reflexão acerca dos processos que envolvem a expressão estética da palavra aprEsEntaçãO da disciplina Estimado estudante É com muita alegria que elaboramos mais um livro que procura atender às ne cessidades do curso de Letras na modalidade a distância Desta vez a disciplina sobre a qual este livro discorrerá é a Estilística Como veremos ao longo destas páginas a Estilística voltase para aquilo que no nível da forma e do conteúdo constitui um uso individual da língua É o estilo individual de cada produtor de textos que permite reconhecermos a produção literária por exemplo de um determinado escritor Em Aristóteles 384322 aC já encontramos as primeiras reflexões acerca do estilo quando discorre sobre retórica de maneira que o in teresse pelo estudo acerca da expressividade não é recente Em nosso material decidimos apresentar por um lado os conceitos gerais e tradicionais dos casos compreendidos no âmbito da Estilística e por outro desenvolver uma discussão acerca da relação entre texto expressividade e discurso Valendose de teorias que advêm do estudo sobre texto e discurso proporemos uma reflexão que não se restrinja apenas à palavra eou à frase mas assuma também o texto em seus aspectos enunciativos e discursivos É com esse objetivo em mente que damos início à escritura deste livro Bons estudos 7 Capítulo 1 7 Capítulo 1 ObjEtivOs EspEcíficOs Apresentar ao aluno os fundamentos históricos da Estilística Refletir acerca dos recursos estilísticos disponíveis na Língua Portuguesa Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos expressivos agenciados na produção de sentido intrOduçãO Caríssimo estudante Neste capítulo traçaremos o percurso histórico e teórico da Estilística Nessa direção apresentaremos os diferentes conceitos que foram sendo agregados ao campo da Estilística de acordo com a orientação teórica na qual figurava Para en tendermos o conceito de Estilística palavra que aparece pela primeira vez em lín gua portuguesa no ano de 1899 fazse necessário remontarmos ao antigo estudo de Retórica e Poética uma vez que o seu conceito moderno deve a esses conceitos seu caráter vinculado à expressão do pensamento e do sentimento Em seguida passearemos pelos diferentes entendimentos do termo estilística na história das Ciências da Linguagem e por fim apresentaremos suas duas grandes correntes a estilística descritiva e idealista Vamos começar nossa viagem Bons estudos Prof Luciano Azevedo 1 para iníciO dE cOnvErsa Afinal de contas o que é estilo É com essa pergunta que damos início à nos sa jornada rumo ao conhecimento dos processos que singularizam as práticas Estilística brEvE ExcursO tEóricO E HistóricO Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 15 horas 8 Capítulo 1 de escrita Assim começaremos trazendo algumas definições tradicionais ou melhor de estilo para depois apresentarmos a que mais se aproxima da abordagem que daremos às questões relacionadas à estilística Assim Estilo vem do latim stilus e em seu sentido originário signi fica qualquer objeto em forma de haste pontiaguda ponta de ferro que serve para escrever sobre tabuinhas enceradas Com o decorrer do tempo de objeto utilizado para escrever o termo estilo passou a significar a pró pria escrita e depois aquilo que essa escrita tem de característico Atualmente entendese por estilo Tudo aquilo que individualiza obra criada pelo homem como resultado de um esforço mental de uma elaboração do espírito traduzido em ideias imagens ou formas con cretas Garcia 2010123 É importante salientar que o que individualiza a escrita do produtor de textos não é o desvio mas a escolha que esse produtor faz das palavras que comporão o arranjo textual Nessa direção Gui raud 1978140 afirma ser o estilo o aspecto do enunciado que resulta da escolha dos meios de expressão determinada pela natureza e intenções do indivíduo que fala ou escreve Essa escolha lin guística da qual fala o autor até pode vir por meio de um desvio mas não é este que define o estilo de um texto Numa definição um pouco mais recente que a do professor Othon M Garcia Estilo é o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos fonológicos morfológicos sintáticos lexicais semânticos discursivos da língua para expressar oralmente ou por es crito pensamentos sentimentos opiniões etc Henriques 201127 A definição de Henriques 2011 por ser mais abrangente uma vez que não se restringe aos as pectos meramente linguísticos mas alcança os as pectos semânticos e discursivos ganha prioridade neste trabalho de maneira que abordaremos os fe nômenos estilísticos em seus aspectos linguísticos mas desdobraremos nossa abordagem de modo a considerarmos os aspectos do discurso que deter minam o estilo de uma produção linguística seja oral seja escrita Acreditamos com Beaugrande apud Marcuschi 200880 que é essencial tomar o texto como um evento comunicativo no qual convergem ações lin guísticas cognitivas e sociais e além do que o texto é um sistema atualizado de escolhas extraído de sistemas virtuais entre os quais a língua é o sis tema mais importante Beaugrande apud Marcus chi 200879 Dessa maneira o texto é resultado das escolhas linguísticas que fazemos ao longo da produção textual mas elas não resultam de um ato abstraído da situação de produção Toda produção se dá na perspectiva da situação social em que é realizada de modo que o estilo é também determi nado pelos parâmetros e atividades dessa situação 11 a rEtórica VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA Estilo O estilo definido pelo período clássico como um não sei quê constitui a marca da in dividualidade do sujeito na fala noção fun damental fortemente ideológica que cabe à estilística depurar para tornála operatória e fazêla passar da intuição ao saber A linguística saussuriana em sua primeira manifestação não perturba profundamente essa concepção O estilo pertence à fala ele é a escolha feita pelos usuários em todos os comportamentos da língua Cressot Seja esta escolha consciente e deliberada ou um simples desvio o estilo reside na distin ção entre língua e fala individual A teoria da informação a análise mais avan çada das funções da linguagem os desen volvimentos do estruturalismo aprofundam a noção Existe uma função estilística que su blinha os traços significativos da mensagem e que põe em relevo as estruturas represen tantes das outras funções A língua exprime o estilo sublinha Riffaterre Os efeitos em que se manifestam essa função formam uma estrutura particular o estilo Dubois et alii 2006237238 243 SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para saber mais sobre a definição de estilísti ca e estilo recomendo a leitura do capítulo 3 do livro Estilística e Discurso de Claudio Cezar Henriques HENRIQUES C C Estilística e Discurso estu dos produtivos sobre texto e expressividade Rio de Janeiro Elsevier 2011 GARCIA O M Comunicação em prosa moder na 27ª ed Rio de Janeiro FGV Editora 2010 9 Capítulo 1 É pelo discurso que persuadimos sempre que demonstramos a verdade ou o que parece ser verdade de acordo com o que sobre cada assunto é suscetível de persuadir Aristóteles Para traçarmos a história da Estilística fazse ne cessário entendermos como o homem num dado momento histórico começou a preocuparse com a maneira de dizer o que diz ou seja como esse homem voltouse para o seu discurso a fim de entendêlo e organizálo para atingir fins específi cos É dessa necessidade parecenos que nasce o que se convencionou chamar de Retórica palavra originada do latim rethorica cujas raízes vêm do grego rhetor significando orador Assim Rhetor deriva de rhema cujo significado é palavra ou seja aquilo que se diz Seu primeiro registro no Português data do século XIV Em Atenas a democracia serviuse da retórica como instrumento de reivindicação uma vez que sua organização política e social possibilitava a contenda judicial Assim a Retórica assumiu um papel importante já que implicava a arte de fa lar bem para envolver e convencer o outro Em seus primeiros momentos a Retórica tinha um objetivo preciso convencer o outro da justeza de uma causa Para isso seria necessário ter um co nhecimento amplo das propriedades do discurso que se decompunha em quatro partes inventio dispositio elocutio pronuntiatio Cada uma dessas partes representa uma etapa que não deve ser re ligiosamente cumprida Essas etapas podem sem assim explicitadas a Invenção a busca de todos os argumentos e de outros meios de persuasão relativos ao tema do seu discurso b Disposição a ordenação organização desses argumentos seu planejamento c Elocução a escolha e disposição das palavras na frase d Enunciação a proferição efetiva do discurso Segundo Aristóteles o orador deve adequar o es tilo às diferentes situações evitando sempre que possível o estilo afetado Ainda para Aristóteles o que produz o discurso deve buscar a melhor es tratégia para apresentar um argumento a determi nado público Nessa época havia três gêneros do discurso 1 deliberativo cuja finalidade é aconselhar o público acerca de algo que se pretende fazer 2 judicial que apresenta uma acusação ou defe sa em relação às ações consideradas justas ou injustas 3 epidíctico ou demonstrativo que procura louvar ou reprovar atos ou temas de conheci mento geral De acordo com o exposto vêse que a retórica ti nha uma estrutura a ser seguida de maneira que o discurso deveria ser estrategicamente organizado Desse modo ao organizar o discurso recomenda se seguir a seguinte subdivisão a exórdio introdução do discurso cujo objeti vo é preparar o auditório de maneira a deixálo atento ao que será proferido pelo orador b a narração exposição dos fatos relacionados ao tema do discurso c a confirmação apresentação dos argumentos d a digressão inserção de uma ilustração no processo discursivo com a intenção de distrair o auditório e a peroração conclusão do discurso Esta últi ma pode subdividirse em amplificação cuja finalidade é rever os argumentos paixão pro vocar comoção no auditório e a recapitulação sintetizar a argumentação Diante do exposto chegamos à conclusão de que o exercício da retórica era voltado à preocupação em produzir determinados efeitos estilísticos a fim de convencer o público hoje temos a figura do lei tor que substitui a de público ou plateia de uma verdade ou daquilo em que se acreditava ser uma verdade Assim a Retórica visa à construção de um estilo que percorre o texto e produz um efeito de verdade com fins de convencimento 12 a pOética 10 Capítulo 1 A poesia é a arte que se manifesta pela palavra Janilto Andrade Póetica vem do latim poeticus que por sua vez tem origem no grego poiétikos cujo significado é que tem a virtude de fazer O primeiro uso escrito dessa pala vra no Português data de 1697 Desde Aristóteles 384322 aC o termo Poética vem recebendo diferentes definições formuladas conforme o lugar teórico de sua configuração As sim recebe uma definição quando pensado por formalistas russos outra quando aparece em tex tos sobre a Antiguidade clássica ou em manuais de literatura Segundo Roberto Acízelo de Souza apud Henriques 201137 há pelo menos três acepções a considerar quando nos referimos à Poética 1 Disciplina antiga dedicada aos estudos de lite ratura e por esse motivo chamada de poética clássica 2 Disciplina contemporânea dedicada ao estudo sistemático da literatura 3 Abreviação do sintagma arte poética equiva lente ao termo metapoema usado para rotular composições em que se expõe explicitamente uma concepção de poesia Para Henriques 201137 se optarmos pela segun da definição eremos que na tradição de estudos literários a Poética en globa a designação de toda a teoria interna da literatura a escolha feita por um autor entre todas as possibilidades literárias e o conjunto de regras práticas construídas por uma escola literária A essas definições acrescentase a consideração de Tadié 1992 afirmando a distinção de três poéti cas assim denominadas poética da prosa poética da poesia e poética da leitura De acordo com o autor a poética da prosa daria conta dos proces sos de construção do romance enquanto a poética da poesia se encarregaria dos elementos e dos ins trumentos necessários à compreensão da poesia Entre a poética da prosa e a poética da poesia te mos a poética da leitura incumbida dos processos relacionados à estética da recepção e de como o leitor interpreta um texto literário levandose em consideração os fatores externos que determinam essa leitura como o momento histórico no qual se encontra inserido Mais próximo dessa poética da leitura a definição de Andrade 20023334 diz que uma poética é um conjunto de razões que delimitam uma concepção do artístico Por conseguinte dizendo respeito à investigação da obra literária uma poética será entendida como um corpo de razões que dão conta de uma forma de pensar sobre a literatura Tratase de uma espécie de fio condutor da interpretação dos textos poéticos No en tanto tendo em vista que a obra literária recusa qualquer leitura doutrinária que se queira fazer a partir de critérios a priori devese ter na poética uma construção de intenções teóricas a que o leitorintérprete recorre para lastrear os caminhos da sua leitura Seja um corpo teórico que permite a análise sis SAIBA MAIS SAIBA MAIS DUBOIS et alii Retórica Geral São Paulo Cultrix e EdUSP 1974 TRIGALI D Introdução à Retórica a retórica como crítica literária São Paulo Duas Cida des 1988 HALLIDAY T L O Que é Retórica São Pau lo Brasiliense nº 232 da Coleção Primeiros Passos 1990 Reboul O Introdução à Retórica São Paulo Martins Fontes 1998 ARISTÓTELES Retórica Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda Bibliotecas de Autores Clássicos 2005 Fontehttpwwwcentrofilosofiaorgpublicacoes phppagina8criterio 11 Capítulo 1 temática das formas poéticas seja uma chave que abre para a reflexão acerca dos processos relaciona dos à interpretação do texto literário a Poética se configura como um campo de estudos preocupado com os elementos implicados com a construção do texto literário Assim procedendo a Poética desbrava caminhos e sugere temas que mais tar de interessarão à Estilística uma vez que antecipa reflexões e problemáticas referentes ao estilo e ao modo de escrever 13 a Estilística 18651947 fala da Estilística como disciplina que permite identificar na fala traços afetivos que se deixam refletir na língua considerada como ex pressão do pensamento Vale lembrar que Char les Bally foi discípulo do linguista genebrino Fer dinand de Saussure 18571913 e suas reflexões partem desse lugar inaugurado por Saussure qual seja a linguística estrutural Enquanto Bally voltavase para a expressão de ele mentos afetivos que se deixam marcar na fala Vos sler 18721947 e Spitzer 18871960 decidiram estudar as relações entre expressão e indivíduo So bre o pensamento de Bally Henriques 201153 afirma que inspirado pelos ensinamentos de Saus sure Bally cunhou o termo Estilística cuja teoria se baseia num conceitochave que serve de suporte para todas as estilísticas posteriores a linguagem não se presta apenas para expressar ideias mas também sentimentos Numa outra direção cami nham Vossler e Spitizer pois esses privilegiam o componente literário Na perspectiva desses teóri cos tudo o que é determinado pela fantasia só se manifesta genuinamente na literatura Desses dois lugares teóricos que dizem sobre a es tilística surgem dois segmentos dos estudos esti lísticos um mais próximo da gramática descritiva influenciado pelo pensamento de Bally e o ou tro caminhando em direção aos estudos literários Vossler e Sitzer Desses encaminhamentos temos as duas grandes vertentes da Estilística denomina das descritiva e idealista 131 Estilística DEscritiva linguística A Estilística Descritiva ocupase dos aspectos afe tivos da língua que se encontram à disposição do homem de maneira espontânea A tarefa dessa ver tente dos estudos estilísticos é a sistematização e ou descrição das possibilidades que a língua ofe rece para expressarmos os elementos afetivos que se encontram na cadeia do enunciado Dito isso os elementos afetivos disponíveis na língua encon tramse sujeitos à descrição uma vez que partici pam de um sistema expressivo Conforme Henriques 201156 afirma a Estilística Linguística obviamente procura parceria com todos os componentes linguísticos do texto desde os fo nemas que constroem os morfemas e as palavras até os períodos e parágrafos que constroem a totalidade do texto sempre levando em conta os valores semânticos pragmáti SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para conhecer mais a história da Poética re comendo SPINA S Introdução à Poética Clássica São Paulo Martins Fontes 1967 SUHAMY H A Poética Rio de Janeiro Jorge Zahar nº 10 da coleção Cultura Contempo rânea 1988 ANDRADE J Procurando o Poético 3ª ed Ed Ideia 2002 SOUZA R A Império da eloquência estudos de retórica e poética no Brasil oitocentista Rio de Janeiro e Niterói EdUERJ e EdUFF 1999 A Estilística teve seu primeiro registro escrito em português no ano de 1899 e aqueles que traba lham nesse campo de estudo ocupamse do texto ou seja dos fenômenos relacionados às caracterís ticas em qualquer nível da língua individuais que singularizam os textos O termo Estilística sur giu no âmbito do Romantismo via tradição da re tórica e se consagrou na França dando ao campo outro direcionamento que não mais aquele recla mado pela Retórica Afirmamos de saída que o objeto principal do qual se ocupa a Estilística é a linguagem poética que implica a manifestação estética expressiva e ou apelativa praticada em texto com literariedade Henriques 201152 Mas é importante salientar que embora a estilística priorize os textos literá rios não se ocupará apenas deles Segundo Karl Bühler 1950 a Estilística é a dis ciplina que estuda a língua nas suas funções ex pressiva e apelativa O seu criador Charles Bally 12 Capítulo 1 cos e discursivos Nesse sentido Mattoso Câmara Jr 1978 acrescenta ser ela a Estilística Linguística um ramo de estudos que pretende organizar e interpretar dados expres sivos que se integram nos traços da língua e fazem da linguagem esse conjunto complexo e amplo Vejamos um exemplo 1 Hoje eu tenho apenas umapedra no meu peito Exijo respeito não sou mais um sonhadorChego a mudar de calçadaQuando aparece uma florE dou risada do grande amorMentira Samba do grande amor Chico Buarque 2 A pedra lhe caiu sobre o peito e esmagou a caixa torácica Não obstante a proximidade de sentido entre o enunciado 2 e o início do 1 apenas o 1 carrega uma bagagem expressiva e emocionada quando Chico Buarque se utiliza de uma metáfora para falar da dor causada pela a ausência da mulher amada Desse modo a Estilística Descritiva dará atenção a esses recursos linguísticos que expressam as emoções do usuário da língua 132 Estilística iDEalista A Estilística Idealista de cunho psicológico pro cura refletir acerca dos desvios da linguagem em relação ao uso comum Essa vertente afirma que qualquer desvio identificado no uso comum da linguagem corresponde a uma alteração no estado psíquico do escritor Baseada nesses pressupos tos a Estilística Idealista entende o estilo como a expressão pessoal do escritor conforme reflexo do seu universo interior e experiência de vida A produção literária ganhará centralidade no progra ma de estudos desse campo de investigação a qual considera que toda obra encerra um mistério cuja compreensão depende basicamente da intuição de quem se investe do desejo de desvendar os mis térios de criação de uma obra e dos efeitos dessa obra sobre os leitores NS Martins 200826 Henriques 201165 Vejamos este exemplo Fonte httpwwwjobimorgchicobitstreamhandle20102656CB320PrJ12460jpgsequence1 13 Capítulo 1 Esse texto de Chico Buarque de Holanda foi pu blicado num caderno suplemento do jornal O Globo em 08 de outubro de 1966 Nesse artigo de opinião Chico fala acerca da Bossa Nova do sam ba enfim daquilo que se convencionou chamar Música Popular Brasileira No decorrer do texto Chico expressa seu reconhecimento à contribuição dada pela Bossa Nova à música popular e faz consi derações sobre o samba dizendo que já não é mais aquele samba de letras fáceis e representante da va riedade popular da língua Antes diz que o nosso bom samba aparece agora vestido de novo rico e metido a falar difícil Logo em seguida diz que a situação atual do samba é promover um resgate das características originárias ou seja a simplicidade das letras e elaboração calcada no cotidiano e na fala coloquial dos brasileiros Essa abordagem con siderando os aspectos linguísticos componente temático e elaboração formal é ilustrativa de uma abordagem dentro dos parâmetros da Estilística Idealista Outro trecho que exemplifica essa abor dagem se encontra no fim do texto quando Chico se volta para sua própria produção musical e diz que seu Refrão é o refrão urbano do moleque e do pedreiro da janela e do baião em outras palavras é a música que canta os detalhes da vida do povo brasileiro sem adornos e requintes SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para aprofundamento na história da Esti lística e sua aplicação recomendo a leitu ra do artigo PARENTE M C M O domínio da Estilís tica num convite a pesquisas e criações autônomas Caderno Discente do Instituto Superior de Educação Ano 2 nº 2 Apare cida de Goiânia 2008 VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA Estilística Charles Bally definiu a estilística deste modo Estudos dos fatos de expressão da linguagem organizada do ponto de vista de seu conteúdo afetivo isto é expressão dos fatos da sensi bilidade pela linguagem sobre a sensibilidade A estilística ramo da linguística consiste portanto num inventário das potencialidades estilísticas da língua efeitos de estilo no sentido saussuriano e não no estudo do estilo de tal autor que é um emprego voluntário e consis tente desses valores Essa definição vincula o estilo à sensibilidade que é definida assim O sentimento é uma deformação cuja natureza é causada pelo nosso eu desse modo a metá fora existe porque podemos tornar o espírito vítima da associação de duas representações A estilística é mais amiúde o estado científico do estilo das obras literárias tendo como jus tificativa primeira esta tomada de posição de Roman Jakobson Se existem ainda críticas que põem em dúvida a competência da linguística em matéria de poesia penso por mim que elas devem prenderse à incompetência de alguns linguistas limitados por uma incapacidade fun damental em relação à própria ciência da linguística Um linguista surdo à função poética como um especialista em literatura indiferente aos problemas e ignorante dos métodos da linguística constituem daqui por diante ambos um anacronismo flagrante 2 línGua tExtO E discursO Os fatos estilísticos podem ser observados descri tos e analisados no texto já que é no texto que eles ganham vida e se realizam Para entendermos os fenômenos estilísticos devemos nos apropriar de uma concepção de língua e texto mais ampla que a apreendida durante os anos escolares e que nos foi legada pelos gramáticos e professores de língua materna e estrangeira A noção de discurso que muito tem contribuído com os estudos linguísti cos e do texto pode nos fazer entender os fatos estilísticos como os que são determinados por fa tores mais amplos que não apenas linguísticos e ou gramaticais Assim nossa intenção é abordar esses fatos nos próximos capítulos à luz das teorias do discurso de maneira que julgamos necessário discorrer brevemente acerca da noção de língua texto e discurso norteando a apresentação e abor dagem das manifestações estilísticas apresentadas neste livro 14 Capítulo 1 21 a línGua Na história dos estudos linguísticos a língua objeto de sistematização e de especulações científicas de cunho positivista sofre um des locamento naquilo que diz respeito à sua con cepção como produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções neces sárias adotadas pelo corpo social para permi tir o exercício dessa faculdade nos indivíduos SAUSSURE 200417 e passa a figurar em contextos epistemológicos que a veem como uma forma de atividade entre dois protagonis tas POSSENTI 198848 Esse deslocamento aparece nos trabalhos de Benve niste 1989 1991 Ducrot 1988 e Austin 1990 que embasados no viés específico postulado por cada teórico trazem para os estudos linguísticos elementos que haviam sido deixados de fora de uma análise linguística de cunho estruturalista Assim esses trabalhos ampliam as perspectivas de abordagem que agora não mais se atêm tão somente à forma linguística mas se ocupam dos usos feitos pelos falantes ou seja da enunciação em situações efetivas de comunicação Não obstante os estudos pragmáticos tenham oferecido uma contribuição bastante significati va à inclusão do sujeito e da situação de fala às reflexões desenvolvidas sobre os processos enun ciativos o alcance das suas pesquisas iniciais não ia além da situação empírica de interação ver bal entre interlocutores e o contexto imediato Nessa direção a Análise do Discurso de linha francesa doravante AD produziu estudos concretos que fizeram avançar a questão do su jeito arrancandoo a uma visão psicologizante por um lado e à empiricidade imediata das situ ações de comunicação por outro GUILHAU MOU MALDIDIER 198962 Assim sendo a abordagem da enunciação na perspectiva da te oria do discurso tem seus horizontes alargados posto que a análise dos processos de produção de sentido nessa perspectiva não recai apenas sobre o contexto imediato em que o enunciado é produzido mas implica as condições amplas de sua produção A AD desloca a análise das con dições de enunciação de um contexto restrito à situação de fala e a situa em outro lugar ou em outro plano por assim dizer o dos processos sóciohistóricos de produção de sentidos 22 O tExtO Hoje há praticamente um consenso entre os estu diosos da linguagem de que o enunciado é produ zido em uma condição sóciohistórica dada Desse modo os processos enunciativos se inscrevem em um contexto imediato que é aquele da situação efe tiva em que ocorre a enunciação e em um contexto mediato ou seja o arranjo sóciohistórico mais am plo com suas regras crenças costumes etc Temos então isso a linguagem é produzida e os sentidos são construídos dentro de um processo que impli ca um jogo de relações dos sujeitos enunciadores com as condições de produção do enunciado Numa perspectiva enunciativodiscursiva o texto deslocase de uma concepção centrada na estrutura e passa a ser visto como o lugar por excelência em que se dá a interação entre sujeitos Mediada pela linguagem essa interação se configura em textos formulados numa dada instância sóciohistórica e passam a circular socialmente Esse aspecto inte racional do texto que constitui sua textualidade é possível porque todo texto tem um sujeito um autor BAKHTIN 2006308 que se inscreve nas malhas textuais e com o qual o sujeito leitor ne cessariamente interage quando da produção da lei tura É nessa relação intersubjetiva que o diálogo se estabelece e abre para a possibilidade de uma resposta que por sua vez cria as condições para que novos textos se constituam Acerca do autor e do leitor Bakhtin 2006311 diz que o acon tecimento da vida do texto isto é sua verdadeira essência sempre se desenvolve na fronteira de duas consciências de dois sujeitos Em seus aspectos estruturais organizadores do cor po textual apresenta coerência coesão não con tradição progressão etc Na perspectiva dos primei ros trabalhos elaborados no campo da Linguística Textual esses aspectos dentre outros asseguram a textualidade de um texto Embora concordemos que um texto se caracteriza também por seus aspec tos estruturais e linguísticos acreditamos em que não se define apenas por eles mesmos nem como objeto fechado Conceber o texto como um artefa to construído com base na realização de regras de boa formação textual é reduzilo ao nível linguísti co sem remetêlo às condições de produção Desse modo não conceituamos o texto nos seus aspectos estritamente linguísticos mas procuramos redefi nir a noção de texto como materialidade do dis curso isto é da materialidade linguísticohistóri 15 Capítulo 1 ca ORLANDI 200174 Assim os processos de textualização vistos por um viés discursivo não se reduzem aos aspectos meramente formais mas são definidos em relação ao discurso ou seja aos interlocutores em interação discursiva à situação pragmática ao contexto sóciohistórico etc 23 O discursO Em Orlandi 1999 lemos que o discurso é palavra em movimento prática de linguagem De acordo com a autora o discurso se caracteriza como pro cesso histórico de produção de sentidos em que a língua intervém como pressuposto Pensado como um complexo processo de constituição dos sujeitos em interação pela linguagem e dos sentidos histo ricamente situados o discurso é entendido como um objeto sóciohistórico que tem sua regularida de seu funcionamento Essa relação constitutiva dos processos de signifi cação permeia todo e qualquer enunciado desde o mais simples como um aviso para não fumar colocado na parede de um hospital aos mais com plexos como um romance De um a outro enun ciado temos determinantes sóciohistóricos que atravessam a cadeia do dizer e fazem se dizer de uma determinada forma e não de outra que toda atividade comunicativa que se organiza em torno do texto verbal ou não verbal se insere em uma categoria genérica determinada por fato res linguísticos e extralinguísticos Além disso os gêneros discursivos medeiam o processo de interação verbal entre interlocutores de tal modo que podemos afirmar com Marcus chi 200522 que é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero O processo comunicativo só é bem sucedido porque há regularidades na forma dos gêneros que são de terminadas por fatores sociocomunicativos e fun cionais de modo que se a língua não elaborasse seus tipos relativamente estáveis de enunciados BAKHTIN 2006 a comunicação certamente ficaria comprometida uma vez que o falante se uti lizaria de formas diferentes a cada acontecimento comunicativo A estrutura relativamente estável do gênero discursivo permite que o falante recorra à forma mais apropriada para realizar com compe tência seu projeto de dizer atividadE Leia o texto abaixo VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA a estrutura ou regularidade de uma lín gua surge do discurso e é configurada pelo discurso mas o discurso também é configu rado pela estrutura ou regularidade da lín gua Não há de se entender então a gramá tica como um prérequisito do discurso um bem anterior que se atribui de forma idênti ca tanto ao falante quanto ao seu interlocu tor As formas linguísticas que estruturam os discursos não são padrões fixos são compo nentes negociáveis na interação emissorre ceptor com base em escolhas que refletem as experiências vividas pelos falantes com essas formas linguísticas Henriques 20114 3 GênErOs discursivOs As práticas comunicativas dos sujeitos interactan tes nunca se dão desvinculadas de um gênero dis cursivo que configura igualmente um modo de enunciar Maingueneau 2005 afirma que todo texto pertence a um gênero do discurso de modo Fonte 1 Agora identifique o gênero discursivo no qual o texto se realiza 2 Para processar e entender o anúncio o lei tor levanta hipóteses acerca de alguns conheci mentos que se encontram no nível do discurso como possíveis enunciadores lugar e tempo de enunciação Mobilize hipóteses e diga quem são os enunciadores o lugar de enunciação e o mo mento histórico de produção do texto acima 3 Como o anunciante explora a polissemia implicada na palavra burro 4 Uma vez que o estilo não se manifesta ape nas na obra literária reflita sobre a relação en tre elementos extralinguísticos e construção do estilo nesse anúncio publicitário 16 Capítulo 1 rEfErências ANDRADE J Procurando o poético 3 ed João Pessoa Ideia 2002 AUSTIN J L Quando dizer é fazer palavras e ações Porto Alegre Artes Médicas 1990 BAKHTIN Mikhail Estética da criação verbal 4ª ed São Paulo Martins Fontes 2006 BENVENISTE E Problemas de Linguística Geral I 3ª ed São Paulo Pontes 1991 Problemas de Linguística Geral II 3ª ed São Paulo Pontes 1989 BÜHLER K Teoría Del Lenguaje Madrid Revis ta de Ocidente 1950 CÂMARA JR J M Contribuição à Estilística Portuguesa Rio de Janeiro Ao Livro Técnico 1978 DUBOIS J et alii Dicionário de linguística São Paulo Cultrix 2006 DUCROT O O Dizer e o Dito Campinas Pon tes 1988 GARCIA O M Comunicação em prosa moder na 27ª ed Rio de Janeiro FGV Editora 2010 GUIRAUD P A Estilística São Paulo Mestre Jou 1978 GUILHAUMOU J MALDIDIER D Da enuncia ção ao acontecimento discursivo em Análise do Discurso In GUIMARÃES E História e sentido na linguagem Campinas Pontes 1989 HENRIQUES C C Estilística e discurso estu dos produtivos sobre texto e expressividade Rio de Janeiro Elsevier 2011 JORNAL O GLOBO Meu refrão Caderno Su plemento 1966 Disponível em httpwww jobimorgchicohandle20102656 MAINGUENEAU D Análise de textos de comu nicação 4 ed São Paulo Cortez 2005 MARCUSCHI L A Produção textual análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola Editorial 2008 Gêneros textuais definição e funcio nalidade In DIONÍSIO A P MACHADO A R BEZERRA M A Orgs Gêneros textuais e ensino 4ª ed Rio de Janeiro Lucerna 2005 ORLANDI E Discurso e texto formulação e cir culação dos sentidos São Paulo Pontes 2001 Análise de Discurso princípios e proce dimentos São Paulo Pontes 1999 POSSENTI Sírio Discurso estilo e subjetivida de São Paulo Martins Fontes 1988 SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguística Geral 26 ed São Paulo Cultrix 2004