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CO MISSÃO CIENTÍFICA IV FESTIVAL OCUPAÇÃO PRETA A HISTÓRIA DE UM É A NARRATIVA DE TODOS CO MISSÃO CIENTÍFICA IV FESTIVAL OCUPAÇÃO PRETA A HISTÓRIA DE UM É A NARRATIVA DE TODOS RESISTÊNCIA QUILOMBOLA NO VALE DO RIBEIRA HISTÓRIA ORGANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM IVAPORUNDUVA Autor Helber Henrique Guedes Unesp Faculdade de Ciências e Tecnologia FCT Email helberguedesunespbr Coautor Nome e sobrenome Instituição Email xxx Agência de Fomento XXXXX Eixo temático XXXXX RESUMO O presente artigo investiga a organização os desafios e a resistência da comunidade Quilombola de Ivaporunduva no Vale do Ribeira São Paulo Com base em entrevistas com líderes locais a pesquisa examina a formação histórica da comunidade sua luta contínua por direitos territoriais e culturais e as adversidades enfrentadas frente às pressões do sistema capitalista A metodologia utilizada inclui entrevistas e pesquisa documental Os resultados parciais mostram a importância da agricultura orgânica e do turismo de base comunitária como fontes de renda além de destacar a atuação política da comunidade A luta pela terra somada à resistência cultural permanece central na trajetória de Ivaporunduva PALAVRASCHAVE Quilombos Ivaporunduva Resistência Agricultura orgânica Direitos quilombolas QUILOMBOLA RESISTANCE IN THE VALE DO RIBEIRA HISTORY ORGANIZATION AND SUSTAINABILITY IN IVAPORUNDUVA ABSTRACT This article explores the organization challenges and resistance of the Quilombola community of Ivaporunduva in the Vale do Ribeira São Paulo Based on interviews with local leaders the research examines the historical formation of the community its ongoing struggle for territorial and cultural rights and the adversities faced in response to capitalist pressures The methodology includes interviews and documentary research Preliminary results highlight the importance of organic agriculture and communitybased tourism as sources of income while also emphasizing the communitys political engagement The fight for land combined with cultural resistance remains central to Ivaporunduvas history KEYWORDS Quilombos Ivaporunduva Resistance Organic agriculture Quilombola rights RESISTENCIA QUILOMBOLA EN EL VALE DO RIBEIRA HISTORIA ORGANIZACIÓN Y SOSTENIBILIDAD EN IVAPORUNDUVA RESUMEN Este artículo explora la organización los desafíos y la resistencia de la comunidad Quilombola de Ivaporunduva en el Vale do Ribeira São Paulo Basado en entrevistas con líderes locales la investigación examina la formación histórica de la comunidad su lucha continua por los derechos territoriales y culturales y las adversidades enfrentadas ante las presiones del sistema capitalista La metodología utilizada incluye entrevistas y investigación documental Los resultados parciales destacan la importancia de la agricultura orgánica y el turismo comunitario como fuentes de ingresos además de subrayar la actuación política de la comunidad La lucha por la tierra sumada a la resistencia cultural sigue siendo central en la trayectoria de Ivaporunduva PALABRAS CLAVE Quilombos Ivaporunduva Resistencia Agricultura orgánica Derechos quilombolas INTRODUÇÃO Este artigo resultado da disciplina de Trabalho de Campo voltada à Dinâmica Territorial realizada pela UNESP Faculdade de Ciências e Tecnologia FCT entre os dias 23 e 24 de setembro de 2024 examina as dinâmicas sociais culturais e econômicas da comunidade Quilombola de Ivaporunduva situada no Vale do Ribeira São Paulo A pesquisa sobre essa comunidade proporciona uma visão abrangente da organização interna dessa população que não apenas simbolizam a resistência histórica das pessoas escravizadas mas também ilustram a constante luta por direitos territoriais pela preservação cultural e por uma sustentabilidade econômica O Quilombo de Ivaporunduva sendo uma das comunidades quilombolas mais antigas da região destacase como um emblema vivo dessa resistência e um exemplo de perseverança na busca por autonomia e reconhecimento Sustentamos esta pesquisa pela importância de evidenciar às comunidades quilombolas que historicamente foram marginalizadas e cujas vozes muitas vezes não têm espaço no debate público Ao examinar a organização interna da comunidade suas práticas de sustentabilidade e os desafios que enfrentam diante das pressões do sistema capitalista a pesquisa contribui para o entendimento das estratégias de resistência e sobrevivência dessas populações Os principais objetivos deste trabalho são i compreender a formação histórica do Quilombo de Ivaporunduva ii analisar sua organização social e econômica atual com foco nas práticas de agricultura orgânica e turismo de base comunitária e iii identificar os principais desafios enfrentados pela comunidade em relação à preservação de seu território e cultura A estrutura do texto está dividida em quatro seções principais A primeira seção apresenta o contexto histórico do Quilombo de Ivaporunduva seguido por uma análise de sua organização e práticas comunitárias na segunda seção A terceira seção discute os desafios contemporâneos enfrentados pela comunidade especialmente relacionados às questões econômicas e políticas Por fim a última seção traz as considerações parciais sobre os resultados da pesquisa destacando a importância da continuidade da luta quilombola METODOLOGIA Este estudo caracterizase como uma pesquisa qualitativa investigativa e descritiva com o objetivo de analisar a organização social econômica e cultural da comunidade Quilombola de Ivaporunduva A escolha por uma abordagem qualitativa permite uma compreensão mais profunda das experiências vividas pelos membros da comunidade bem como de seus processos de resistência e adaptação frente aos desafios contemporâneos Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram entrevistas semiestruturadas e pesquisa documental As entrevistas foram realizadas com líderes comunitários e membros da comunidade de Ivaporunduva buscando captar suas percepções sobre a história da comunidade suas práticas econômicas e sociais e os desafios enfrentados em relação à preservação de seu território e cultura Foram selecionados dois entrevistados incluindo o presidente da associação quilombola local e agricultor e o guia de turismo comunitário A seleção dos sujeitos ocorreu com base na sua relevância dentro da comunidade e na sua participação ativa em atividades políticas e econômicas locais A pesquisa documental incluiu a análise de documentos históricos legislação sobre direitos quilombolas estudos prévios sobre a comunidade e relatórios de organizações não governamentais que atuam no Vale do Ribeira Esses documentos permitiram contextualizar as falas dos entrevistados e compreender o cenário legal e político em que a comunidade se insere Os procedimentos de coleta de dados seguiram uma abordagem de observação participante permitindo maior imersão no cotidiano da comunidade e uma compreensão mais direta das práticas de sustentabilidade como a agricultura orgânica e o turismo de base comunitária O contato direto com a comunidade também possibilitou captar nuances culturais e práticas de resistência que muitas vezes não aparecem em documentos escritos Para a análise dos dados utilizouse a técnica de análise de conteúdo organizada em três etapas i leitura flutuante dos depoimentos e documentos buscando identificar temas recorrentes ii categorização dos dados com base em eixos temáticos como resistência cultural práticas sustentáveis e desafios territoriais e iii análise interpretativa confrontando as falas dos entrevistados com o referencial teórico sobre quilombos resistência e sustentabilidade Esta metodologia permitiu uma abordagem integrada da pesquisa garantindo que as vozes da comunidade fossem expressadas e que as análises fossem contextualizadas dentro da realidade local de Ivaporunduva FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Os Quilombolas Conforme o art 2º do Decreto nº 4887 de 20 de novembro de 2003 consideramse remanescentes das comunidades dos quilombos para os fins deste Decreto os grupos étnicoraciais segundo critérios de autoatribuição com trajetória histórica própria dotados de relações territoriais específicas com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida São de modo geral comunidades oriundas daquelas que resistiram à brutalidade do regime escravocrata e se rebelaram frente a quem acreditava serem eles sua propriedade Brasil 2023 As comunidades quilombolas remanescentes adaptaramse a viver em regiões muitas vezes adversas preservando suas tradições culturais Ao longo do tempo desenvolveram a habilidade de obter sustento dos recursos naturais disponíveis assumindo também a responsabilidade direta por sua preservação Além disso essas comunidades interagem tanto com outros povos e comunidades tradicionais quanto com a sociedade ao seu redor fortalecendo laços culturais e sociais Seus membros são agricultores seringueiros pescadores extrativistas e dentre outras desenvolvem atividades de turismo de base comunitária em seus territórios pelos quais continuam a lutar Brasil 2018 Embora a maioria encontremse na zona rural também existem quilombos em áreas urbanas e periurbanas Em algumas regiões do país as comunidades quilombolas mesmo aquelas já certificadas são conhecidas e se autodefinem de outras maneiras como terras de preto terras de santo comunidade negra rural ou ainda pelo nome da própria comunidade Gorutubanos Kalunga Negros do Riacho etc De todo modo temos que comunidade remanescente de quilombo é um conceito políticojurídico que tenta dar conta de uma realidade extremamente complexa e diversa que implica na valorização de nossa memória e no reconhecimento da dívida histórica e presente que o Estado brasileiro tem com a população negra Segundo o Censo Demográfico de 2022 há 1330186 quilombolas no Brasil espalhados por diversos estados incluindo Amazonas Bahia Maranhão Minas Gerais e São Paulo A Bahia e o Maranhão concentram mais da metade dessa população com 397502 e 269168 quilombolas respectivamente Brasil 2023 Os quilombos formados por pessoas escravizadas que resistiram à escravidão surgiram de diversas formas como fugas para terras livres heranças e doações A resistência e a busca por autonomia caracterizam a formação dessas comunidades Os quilombos continuam a existir após a abolição da escravidão em 1888 e são uma realidade em vários países da América Latina onde seus direitos territoriais são reconhecidos pela legislação A identidade étnica das comunidades quilombolas é fundamental para sua organização social e política Apenas em 1988 a Constituição brasileira reconheceu oficialmente os direitos dessas comunidades assegurandolhes a propriedade coletiva de suas terras Contudo a efetivação desse direito ainda enfrenta muitos desafios com a primeira titulação de terras ocorrendo somente em 1995 quando o Quilombo Boa Vista se tornou proprietário de seu território O ensaio de Denise Almeida Silva e Tani Gobbi dos Reis propõe uma análise da ressignificação da figura de Zumbi e do conceito de quilombo em poemas afrobrasileiros contemporâneos enfatizando seu valor simbólico e mobilizador Silva Reis 2016 A origem do conceito de quilombo que remonta às sociedades africanas bantos é discutida revelando sua evolução de um espaço de acolhimento para negros escravizados fugitivos a um símbolo de resistência Nascimento 2006 Os quilombos frequentemente vistos como perigos para o Império serviram como locais de sobrevivência e resistência onde os negros buscavam não apenas escapar do cativeiro mas também recuperar sua identidade e cultura Nascimento 2009 Abdias Nascimento argumenta que o quilombo não é meramente um refúgio mas uma reunião fraterna e livre um espaço de solidariedade e comunhão Nascimento 1980 A busca por identidade e resistência dos descendentes africanos é fundamental para entender o impacto do quilombismo O conceito transcende a mera sobrevivência física representando uma luta por dignidade e reconhecimento conforme enfatizado por Beatriz Nascimento Nascimento 2006 Essa ideia de quilombismo como ideiaforça mobilizadora inspira não apenas a literatura mas também a luta social e política dos afrobrasileiros evidenciando a continuidade da resistência diante da opressão Nascimento 1980 A transformação do quilombo de uma instituição a um símbolo de resistência é também uma crítica às narrativas históricas que marginalizam a experiência negra no Brasil Essa revisão histórica impulsionou o movimento negro e resultou em conquistas significativas como a proposta de reconhecer o dia 20 de novembro como um marco de resistência Nascimento 2006 Em conclusão o estudo de Silva e Reis destaca a relevância do quilombismo na literatura e na luta pela valorização da identidade afrobrasileira O quilombismo representa um modelo de organização e resistência que ainda se faz presente servindo como uma plataforma para a busca de direitos e cidadania no Brasil contemporâneo Nascimento 1980 Assim a reflexão sobre a mística quilombola se torna um poderoso instrumento de autoafirmação e resistência contra a desigualdade social permitindo que a história dos afrobrasileiros seja recontada sob uma nova luz Histórico do Quilombo de Ivaporunduva O Quilombo de Ivaporunduva está localizado no município de Eldorado no estado de São Paulo às margens do Rio Ribeira de Iguape O acesso à comunidade se dá pela rodovia SP165 que liga Eldorado a Iporanga Essa localização estratégica próxima ao rio teve um papel fundamental no desenvolvimento da comunidade tanto no aspecto econômico quanto no cultural A presença do Rio Ribeira de Iguape permitiu à comunidade de Ivaporunduva tirar proveito dos recursos naturais da região ao mesmo tempo em que promoveu a preservação ambiental e o fortalecimento de suas práticas tradicionais de subsistência QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Figura 01 Localização geográfica de Ivaporundava Fonte Oliveira 2016 O Quilombo de Ivaporunduva possui uma rica e complexa história que remonta ao século XVI Segundo registros uma antiga proprietária de terras e escravos dona Maria Joana faleceu enquanto se tratava no exterior Sem herdeiros suas terras foram deixadas para os negros que ali estavam escravizados o que estimulou a vinda de escravos fugitivos que resistiram à captura dos capitães do mato formando o quilombo por volta de 1690 QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 O livro de tombo da paróquia de Xiririca datado de 1813 destaca Ivaporunduva como a mais antiga comunidade do vale do Ribeira surgindo como povoado no século XVII impulsionada pela mineração de ouro que atraía mineradores e seus escravizados como Domingos e Antonio Rodrigues Cunha QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 A história da Ivaporunduva remonta ao século XVI quando a região foi explorada por Martin Afonso de Souza em uma expedição que margeou o litoral brasileiro É importante ressaltar que ao chegarem aqui os colonizadores encontraram povos originários já estabelecidos que utilizavam o território há gerações O processo de colonização não foi portanto uma descoberta mas sim uma série de invasões e expropriações Em 1531 Martin Afonso reportou à Coroa Portuguesa sobre as riquezas potenciais da região Essa informação atraiu mais expedições e contribuiu para o surgimento dos primeiros povoados e fazendas que formaram a base da economia local predominantemente ligada à exploração de recursos naturais como o ouro A partir desse contexto surgem também as primeiras famílias quilombolas A figura de Maria Joana uma portuguesa que chegou à região no século XVII é central para a história de Ivaporunduva Ela trouxe consigo um grupo de africanos escravizados para explorar os recursos da região principalmente o ouro Os registros históricos indicam que mais de 400 arrobas de ouro foram extraídas aqui evidenciando a riqueza mineral da área A construção da igreja de Nossa Senhora do Rosário no coração da comunidade é um símbolo de resistência Erguida por mãos africanas escravizadas a igreja representa tanto a opressão sofrida quanto a resiliência dos nossos ancestrais Ao longo dos anos essa construção se tornou um espaço de acolhimento e resistência cultural onde práticas religiosas variadas coexistem refletindo um sincretismo único Com a crise da exploração do ouro os mineradores abandonaram a região em busca de oportunidades em Minas Gerais A comunidade que permaneceu passaram a cultivar a terra dedicandose ao cultivo de arroz feijão milho mandioca entre outros QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 As casas eram construídas utilizando técnicas tradicionais como o pauapique com barro madeira e cipós disponíveis na própria localidade Para caçar a comunidade utilizava laços e armadilhas QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 O vestuário era simples e prático e as trocas comerciais eram realizadas com fazendeiros de café onde parte da produção era trocada por produtos essenciais para o dia a dia QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Nos anos seguintes após a abolição formal da escravidão em 1888 muitos negros libertos encontraram dificuldades para se estabelecer em novas terras enfrentando a exclusão territorial A Constituição Federal de 1988 com o artigo 68 garantiu o reconhecimento dos quilombos mas a luta pela valorização da cultura e história quilombola continua A Fundação Cultural Palmares criada em 1989 foi um marco na luta pelo reconhecimento das comunidades quilombolas e na promoção de políticas públicas que visam à valorização cultural e social desse povo Em 1994 Ivaporunduva foi oficialmente reconhecida como comunidade quilombola um passo significativo na nossa busca por justiça e dignidade Os primeiros núcleos familiares de Ivaporunduva foram formados por Francisco Marinho e Salvador Pupo Esses pioneiros organizavam mutirões para a roça construção de casas e manutenção dos caminhos da comunidade QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Além disso celebravam festas tradicionais como a do Divino Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Sebastião QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 A luta pela terra e a resistência contra as barragens planejadas para o Rio Ribeira contribuíram para fortalecer a organização da comunidade levando à fundação da Associação Quilombo de Ivaporunduva em 1994 QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Esses eventos históricos não apenas refletem a resistência e a adaptação da comunidade quilombola mas também evidenciam a importância da preservação da cultura e da identidade dos povos que por gerações lutaram por seus direitos e por sua terra QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 A Resistência Cultural e a Luta por Direitos na Comunidade Quilombola de Ivaporunduva No Vale do Ribeira a comunidade quilombola de Ivaporunduva se destaca pela resistência cultural e pela luta por direitos desde a época da colonização Este artigo busca narrar a formação histórica desse quilombo destacar a importância da organização comunitária e analisar os desafios enfrentados pela comunidade na contemporaneidade A origem de Ivaporunduva remonta ao século XVI quando um grupo de pessoas escravizadas que fugiu da brutalidade do regime escravocrata formou a comunidade De acordo com relatos a antiga proprietária de terras e escravizados dona Maria Joana deixou suas terras para as pessoas escravizados ao falecer no exterior sem deixar herdeiros incentivando a formação do quilombo por volta de 1690 QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Desde então os habitantes de Ivaporunduva têm se organizado em associações e conselhos que promovem a luta pelos direitos quilombolas Essas instituições desempenham um papel central na defesa da terra e na promoção da cultura atuando como intermediárias entre a comunidade e o poder público OLIVEIRA BORGES 2024 A organização social e política da comunidade de Ivaporunduva é fundamentada em princípios de cooperação e solidariedade As associações quilombolas se tornaram espaços de discussão e ação onde a comunidade se reúne para debater questões importantes como a preservação de suas tradições e a luta por políticas públicas que atendam suas necessidades ALMEIDA 2024 A criação da Associação Quilombo de Ivaporunduva em 1994 exemplifica esse esforço organizacional que visa não apenas a reivindicação de direitos mas também a valorização da identidade cultural quilombola Atualmente a comunidade enfrenta desafios significativos incluindo questões ambientais e a pressão de práticas capitalistas nas áreas de agricultura e turismo A expansão do agronegócio e a exploração de recursos naturais na região têm ameaçado a terra e os modos de vida tradicionais gerando tensões e conflitos e exigindo uma mobilização constante para a defesa do território SILVA REIS sd As mudanças climáticas por sua vez afetam diretamente a vida da comunidade comprometendo a agricultura e a segurança alimentar Os efeitos das secas e das inundações são sentidos na produção rural o que impõe um desafio adicional à luta por direitos e à preservação cultural A ascensão de políticas negacionistas como as implementadas durante o governo Bolsonaro de 2019 a 2022 exacerbou a vulnerabilidade da população dificultando o acesso a recursos e a implementação de políticas públicas eficazes ALMEIDA 2024 Essa situação é especialmente crítica pois muitos quilombolas ainda enfrentam barreiras no reconhecimento de suas terras o que coloca em risco sua sobrevivência e autonomia A educação desempenha um papel fundamental na resistência quilombola Em Ivaporunduva a transmissão de saberes tradicionais e acadêmicos é importante para a continuidade da luta pela preservação do território e da cultura quilombola A comunidade tem buscado integrar saberes locais com conhecimentos acadêmicos fortalecendo sua identidade e empoderamento OLIVEIRA BORGES 2024 Essa educação comunitária não apenas preserva as tradições mas também forma os jovens para se tornarem agentes de mudança capazes de articular suas demandas e se posicionar diante das adversidades A resistência quilombola em Ivaporunduva é uma expressão de luta pela autonomia e pela preservação da cultura Apesar dos desafios contemporâneos a organização comunitária e a educação se mostram fundamentais para garantir a continuidade dessa luta A história de Ivaporunduva nos ensina que a resistência é um caminho de construção coletiva e afirmação de identidade A História da Comunidade de Ivaporunduva pela perspectiva dos residentes A entrevista realizada com membros da comunidade Quilombola de Ivaporunduva fornece um olhar aprofundado sobre a organização os desafios e a resistência dessa comunidade contra o sistema capitalista A seguir destacamse as falas de dois importantes líderes locais Elson historiador e coordenador da comunidade e Laudessandro Marinho da Silva coordenador geral do grupo de agricultura orgânica Figura 02 Foto retirada no momento da fala de Elson Foto Daniele Henares 2024 Elson começa sua fala apresentando sua atuação tanto localmente quanto em esferas estaduais e nacionais Ele menciona seu envolvimento com a Coordenação Nacional de Quilombos CONAQ e a Comissão Nacional de Educação Escolar Quilombola além de seu papel como membro do Conselho Nacional de Educação onde discute currículos das ciências humanas Nós éramos excluídos desses programas O CONAF abriu as portas do Banco do Brasil aqui na região em 2002 a fundação do Instituto Terras de São Paulo nós não tínhamos acesso Passamos a ter acessos após os nossos terem acesso à universidade e voltarem Nós fortalecemos o conhecimento da Academia com o conhecimento prático nosso do dia a dia e passamos a dizer não Figura 03 Elson na roda de conversa Foto G iovanna Angeli 2024 Em sua explicação Elson destaca a história da comunidade Ivaporunduva localizada no Vale do Ribeira no município de Eldorado São Paulo a mais antiga da região e seu papel como um símbolo de resistência Ele menciona como a comunidade preservou suas tradições e cultura ao longo dos anos enfrentando desafios impostos pela modernização e pela exploração econômica A história da comunidade é narrada desde o período colonial com a chegada de Martin Afonso de Souza à região no século XVI e a posterior exploração do ouro Segundo Elson registros indicam que mais de 400 arrobas de ouro foram extraídas da região liderados pela portuguesa Maria Joana que utilizou mão de obra africana escravizada Durante este período foi construída a Igreja de Nossa Senhora do Rosário que ainda existe como um marco da história quilombola e é um símbolo da resistência à imposição do catolicismo A igreja erguida pelos escravizados é hoje tombada como patrimônio cultural e recebe visitas Elson também explica a transição de Ivaporunduva após o abandono da fazendeira Maria Joana quando os africanos escravizados que ali estavam começaram a se organizar e formar as primeiras famílias quilombolas Ele critica as leis abolicionistas brasileiras chamandoas de falsas leis abolicionistas argumentando que as leis como a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários não ofereciam reais condições de liberdade e dignidade aos negros escravizados Laudessandro Marinho da Silva por sua vez explica como a comunidade se organiza atualmente Meu nome é Laudessandro Marinho da Silva tenho 40 anos formação técnica em agricultura e Barachel em Administração de empresas Hoje sou coordenador geral do grupo de agricultura orgânica Trabalho no processo de controle gerenciamento prestação de contas e entregas dos alimentos que saem da comunidade para a alimentação escolar Hoje nós entregamos para as escolas estaduais pelo projeto PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar que é um projeto estadual Então entregamos para a região centro centrosul e Mogi das Cruzes E esse processo de prestação de contas emissão de nota fiscal e controle das entregas é a minha função e também participar dos eventos e reuniões dentro do território quilombola Figura 04 Foto retirada no momento da entrevista com o Laudessandro Fonte G iovanna Angeli 2024 Ele é responsável pelo controle e gerenciamento da produção agrícola orgânica além da prestação de contas e da emissão de notas fiscais dos alimentos que saem da comunidade para o Programa Nacional de Alimentação Escolar PNAE O PNAE permite que a comunidade quilombola forneça alimentos para as escolas da região centrosul de São Paulo incluindo Mogi das Cruzes Laudessandro destaca que a agricultura orgânica é uma das principais fontes de renda da comunidade junto com a venda de banana turismo e artesanato Em relação à resistência ao sistema capitalista Laudessandro aponta o desafio de manter a agricultura orgânica frente às pressões do mercado convencional O maior desafio é trabalhar contra o sistema capital O nosso trabalho aqui é mais de proteção do ambiente natureza e nós fazemos parte dela e a dificuldade é que o sistema é contrário a isso Sempre quer buscar o lucro Aqui para a valorização da cultura quilombola às vezes a gente tem que contrapor esse sistema Basicamente a produção do agronegócio não é para a alimentação de pessoas é para suprir outras coisas E a gente contrapõe isso por isso falamos agricultura de subsistência A comunidade busca se organizar de forma coletiva promovendo o compartilhamento de renda entre todas as famílias que somam cerca de 110 Ele também menciona o impacto negativo do governo Bolsonaro para as políticas quilombolas citando a ausência de certificações e registros de território durante os quatro anos de sua gestão além da repressão política A entrevista revela não só a resiliência da comunidade Quilombola de Ivaporunduva mas também a importância da preservação de seu território e suas tradições mesmo diante dos desafios socioeconômicos e ambientais A luta pela terra e pelo reconhecimento pleno de seus direitos permanece uma constante sendo um dos principais eixos da resistência quilombola DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A análise dos dados coletados na pesquisa revela uma complexa rede de resistência e resiliência da comunidade Quilombola de Ivaporunduva que se expressa por meio de práticas sustentáveis e uma forte mobilização política Os depoimentos dos entrevistados destacam a importância da agricultura orgânica e do turismo de base comunitária como estratégias de sustento além de serem formas de resistência cultural e territorial frente à pressão do sistema capitalista Os agricultores locais mencionam a agricultura orgânica não apenas como uma alternativa econômica mas também como uma prática que reforça sua identidade cultural e promove a preservação do meio ambiente A escolha por métodos de cultivo sustentáveis está diretamente ligada à valorização de conhecimentos ancestrais e ao desejo de manter a autonomia sobre suas terras Esta prática não só gera renda mas também fortalece a coesão social da comunidade ao envolver diversos membros em atividades coletivas como feiras e oficinas de capacitação Figura 05 Quilombo Ivaporunduva atualmente Fonte Autores 2024 Fotos G iovanna Angeli 2024 Figura 06 Atividade demonstrada por Laudessandro de caça e pesca sabedoria tradicionais Fotos G iovanna Angeli 2024 Além disso o turismo de base comunitária se apresenta como uma estratégia fundamental para a geração de renda e a promoção da cultura local Os guias entrevistados relataram que o turismo não apenas proporciona uma nova fonte de renda mas também promove o reconhecimento da identidade quilombola Através de experiências culturais como danças culinária e artesanato a comunidade consegue compartilhar sua história e fortalecer os laços com visitantes o que por sua vez fomenta uma maior consciência sobre os direitos dos povos quilombolas e suas lutas Entretanto os desafios enfrentados pela comunidade são evidentes Os entrevistados destacaram a constante ameaça de exploração econômica e a pressão por parte de empresas que buscam expandir suas atividades na região muitas vezes ignorando os direitos territoriais da comunidade Essa realidade traz à tona a luta contínua por reconhecimento e proteção dos direitos quilombolas que conforme evidenciado pela legislação brasileira ainda enfrenta barreiras significativas para a efetivação A análise dos dados também revela uma forte consciência política entre os membros da comunidade A mobilização em torno de direitos territoriais e culturais tem sido uma constante na trajetória de Ivaporunduva Os líderes comunitários ressaltaram a importância da articulação com organizações externas e movimentos sociais para fortalecer suas reivindicações e buscar apoio na defesa de seus direitos Esse aspecto da pesquisa corrobora a literatura sobre movimentos sociais que enfatiza a relevância da organização coletiva e da solidariedade como fatores essenciais para a luta por justiça social Os resultados da pesquisa evidenciam que a comunidade Quilombola de Ivaporunduva apesar dos desafios enfrentados mantém uma trajetória de resistência que se expressa através de práticas sustentáveis mobilização política e uma forte identidade cultural Essa discussão não apenas contribui para a compreensão das dinâmicas sociais e econômicas da comunidade mas também destaca a importância da valorização dos saberes tradicionais e da autonomia dos povos quilombolas na construção de um futuro sustentável e justo CONCLUSÕESOU CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa realizada sobre a comunidade Quilombola de Ivaporunduva localizada no Vale do Ribeira trouxe à luz aspectos cruciais sobre a resistência organização e sustentabilidade dessa população Os objetivos propostos foram plenamente alcançados revelando como a comunidade tem se articulado para enfrentar os desafios impostos pelo sistema capitalista ao mesmo tempo em que preserva sua identidade cultural e territorial Os dados obtidos por meio das entrevistas com líderes e membros da comunidade evidenciam que a agricultura orgânica e o turismo de base comunitária não são apenas fontes de renda mas também práticas que fortalecem a coesão social e promovem a autonomia da população Essas iniciativas permitem que os integrantes da comunidade garantam sua subsistência resgatem saberes ancestrais e promovam a valorização da cultura local contribuindo significativamente para a resistência cultural em face das adversidades contemporâneas A pesquisa destacou a importância da mobilização política e da articulação com movimentos sociais e organizações externas A luta pela terra e pelos direitos culturais se configura como um elemento central na trajetória de Ivaporunduva e a consciência política manifestada pelos líderes e membros da comunidade é fundamental na busca por reconhecimento e proteção dos direitos quilombolas Entretanto os desafios enfrentados pela comunidade são significativos especialmente diante das pressões externas e da exploração econômica que ameaçam sua integridade territorial É imperativo que as políticas públicas sejam mais efetivas na proteção dos direitos dos povos quilombolas assegurando a implementação de legislações que respeitem e reconheçam suas reivindicações históricas A resistência Quilombola em Ivaporunduva representa uma luta por dignidade e direitos refletindo a necessidade de um olhar atento e respeitoso para as práticas e saberes de comunidades historicamente marginalizadas O fortalecimento das vozes quilombolas e a valorização de suas contribuições são passos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa inclusiva e sustentável A continuidade da pesquisa e do apoio às iniciativas locais são fundamentais para garantir que a história e as lutas dessas comunidades sejam reconhecidas e respeitadas contribuindo assim para um futuro em que a diversidade cultural e a justiça social sejam pilares inegociáveis REFERÊNCIAS ALMEIDA Mariléa de Território de afetos práticas femininas antirracistas nos quilombos contemporâneos do Rio de Janeiro Núcleo de Pesquisa da Mandata Quilombola Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo São Paulo Brasil Disponível em httpsorcidorg0000000160153226 Acesso em 09 out 2024 BRASIL Comunidades Quilombolas Disponível em httpswwwgovbrmdhptbrnavegueportemasigualdadeetnicoracialacoeseprogramasdegestoesanterioresartigosigualdaderacialcomunidadesquilombolas Acesso em 09 abr 2018 BRASIL Informações Quilombolas Disponível em httpswwwgovbrpalmaresptbrdepartamentosprotecaopreservacaoearticulacaoinformacoesquilombolas Acesso em 09 out 2024 BRASIL Decreto nº 4887 de 20 de novembro de 2003 Regulamenta o procedimento para identificação reconhecimento delimitação demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos Diário Oficial da União seção 1 Brasília DF p 4 21 nov 2003 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03decreto2003d4887htm Acesso em 15 out 2024 FRIZERO Mariana Gonçalves Quilombo Ivaporunduva Mariana Gonçalves Frizero Belo Horizonte FAFICH 2016 Disponível em httpswwwgovbrincraptbrassuntosgovernancafundiariaivaporunduvapdf INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE Censo 2022 Brasil possui 8441 localidades quilombolas 24 delas no Maranhão Editoria Vinícius Britto Arte Helena Pontes Agência de Notícias IBGE 19 jul 2024 Atualizado em 26 jul 2024 Disponível em httpsagenciadenoticiasibgegovbragencianoticias2012agenciadenoticiasnoticias40704censo2022brasilpossui8441localidadesquilombolas24delasnomaranhaotextEm2020222C20existiam20844120localidadespelos20informantes20do20Censo20DemogrC3A1fico Acesso em 15 out 2024 NASCIMENTO Beatriz Quilombismo documentos de uma militância negra Rio de Janeiro Fundação Palmares 1980 NASCIMENTO Beatriz O conceito de quilombo e a resistência africana Sujeito negro corpo negro 2 ed São Paulo Imprensa Oficial 2006 p 4560 OLIVEIRA Samuel Silva Rodrigues de BORGES Roberto Carlos da Silva Ruth Pinheiro trajetória de vida e movimento negro contemporâneo no Rio de Janeiro 19481988 Revista do Programa de PósGraduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Disponível em httpsseerufrgsbranos90 Acesso em 09 out 2024 QUILOMBOS DO RIBEIRA Ivaporunduva Disponível em httpswwwquilombosdoribeiraorgbrivaporunduvahistoricotextSurge20como20povoado20no20sC3A9culoum20grupo20de201020escravos Acesso em 09 out 2024 SILVA Denise Almeida REIS Tani Gobbi dos Um outro Zumbi de Palmares o quilombismo como valor simbólico em poemas afrobrasileiros contemporâneos
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Redes Urbanas Cidades Medias e Pequenas na Globalizacao - Resumo
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Edital Proec 07-2024: Projetos de Extensão Universitária - Produção e Difusão Artístico-Cultural 2025-2026
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CO MISSÃO CIENTÍFICA IV FESTIVAL OCUPAÇÃO PRETA A HISTÓRIA DE UM É A NARRATIVA DE TODOS CO MISSÃO CIENTÍFICA IV FESTIVAL OCUPAÇÃO PRETA A HISTÓRIA DE UM É A NARRATIVA DE TODOS RESISTÊNCIA QUILOMBOLA NO VALE DO RIBEIRA HISTÓRIA ORGANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM IVAPORUNDUVA Autor Helber Henrique Guedes Unesp Faculdade de Ciências e Tecnologia FCT Email helberguedesunespbr Coautor Nome e sobrenome Instituição Email xxx Agência de Fomento XXXXX Eixo temático XXXXX RESUMO O presente artigo investiga a organização os desafios e a resistência da comunidade Quilombola de Ivaporunduva no Vale do Ribeira São Paulo Com base em entrevistas com líderes locais a pesquisa examina a formação histórica da comunidade sua luta contínua por direitos territoriais e culturais e as adversidades enfrentadas frente às pressões do sistema capitalista A metodologia utilizada inclui entrevistas e pesquisa documental Os resultados parciais mostram a importância da agricultura orgânica e do turismo de base comunitária como fontes de renda além de destacar a atuação política da comunidade A luta pela terra somada à resistência cultural permanece central na trajetória de Ivaporunduva PALAVRASCHAVE Quilombos Ivaporunduva Resistência Agricultura orgânica Direitos quilombolas QUILOMBOLA RESISTANCE IN THE VALE DO RIBEIRA HISTORY ORGANIZATION AND SUSTAINABILITY IN IVAPORUNDUVA ABSTRACT This article explores the organization challenges and resistance of the Quilombola community of Ivaporunduva in the Vale do Ribeira São Paulo Based on interviews with local leaders the research examines the historical formation of the community its ongoing struggle for territorial and cultural rights and the adversities faced in response to capitalist pressures The methodology includes interviews and documentary research Preliminary results highlight the importance of organic agriculture and communitybased tourism as sources of income while also emphasizing the communitys political engagement The fight for land combined with cultural resistance remains central to Ivaporunduvas history KEYWORDS Quilombos Ivaporunduva Resistance Organic agriculture Quilombola rights RESISTENCIA QUILOMBOLA EN EL VALE DO RIBEIRA HISTORIA ORGANIZACIÓN Y SOSTENIBILIDAD EN IVAPORUNDUVA RESUMEN Este artículo explora la organización los desafíos y la resistencia de la comunidad Quilombola de Ivaporunduva en el Vale do Ribeira São Paulo Basado en entrevistas con líderes locales la investigación examina la formación histórica de la comunidad su lucha continua por los derechos territoriales y culturales y las adversidades enfrentadas ante las presiones del sistema capitalista La metodología utilizada incluye entrevistas y investigación documental Los resultados parciales destacan la importancia de la agricultura orgánica y el turismo comunitario como fuentes de ingresos además de subrayar la actuación política de la comunidad La lucha por la tierra sumada a la resistencia cultural sigue siendo central en la trayectoria de Ivaporunduva PALABRAS CLAVE Quilombos Ivaporunduva Resistencia Agricultura orgánica Derechos quilombolas INTRODUÇÃO Este artigo resultado da disciplina de Trabalho de Campo voltada à Dinâmica Territorial realizada pela UNESP Faculdade de Ciências e Tecnologia FCT entre os dias 23 e 24 de setembro de 2024 examina as dinâmicas sociais culturais e econômicas da comunidade Quilombola de Ivaporunduva situada no Vale do Ribeira São Paulo A pesquisa sobre essa comunidade proporciona uma visão abrangente da organização interna dessa população que não apenas simbolizam a resistência histórica das pessoas escravizadas mas também ilustram a constante luta por direitos territoriais pela preservação cultural e por uma sustentabilidade econômica O Quilombo de Ivaporunduva sendo uma das comunidades quilombolas mais antigas da região destacase como um emblema vivo dessa resistência e um exemplo de perseverança na busca por autonomia e reconhecimento Sustentamos esta pesquisa pela importância de evidenciar às comunidades quilombolas que historicamente foram marginalizadas e cujas vozes muitas vezes não têm espaço no debate público Ao examinar a organização interna da comunidade suas práticas de sustentabilidade e os desafios que enfrentam diante das pressões do sistema capitalista a pesquisa contribui para o entendimento das estratégias de resistência e sobrevivência dessas populações Os principais objetivos deste trabalho são i compreender a formação histórica do Quilombo de Ivaporunduva ii analisar sua organização social e econômica atual com foco nas práticas de agricultura orgânica e turismo de base comunitária e iii identificar os principais desafios enfrentados pela comunidade em relação à preservação de seu território e cultura A estrutura do texto está dividida em quatro seções principais A primeira seção apresenta o contexto histórico do Quilombo de Ivaporunduva seguido por uma análise de sua organização e práticas comunitárias na segunda seção A terceira seção discute os desafios contemporâneos enfrentados pela comunidade especialmente relacionados às questões econômicas e políticas Por fim a última seção traz as considerações parciais sobre os resultados da pesquisa destacando a importância da continuidade da luta quilombola METODOLOGIA Este estudo caracterizase como uma pesquisa qualitativa investigativa e descritiva com o objetivo de analisar a organização social econômica e cultural da comunidade Quilombola de Ivaporunduva A escolha por uma abordagem qualitativa permite uma compreensão mais profunda das experiências vividas pelos membros da comunidade bem como de seus processos de resistência e adaptação frente aos desafios contemporâneos Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram entrevistas semiestruturadas e pesquisa documental As entrevistas foram realizadas com líderes comunitários e membros da comunidade de Ivaporunduva buscando captar suas percepções sobre a história da comunidade suas práticas econômicas e sociais e os desafios enfrentados em relação à preservação de seu território e cultura Foram selecionados dois entrevistados incluindo o presidente da associação quilombola local e agricultor e o guia de turismo comunitário A seleção dos sujeitos ocorreu com base na sua relevância dentro da comunidade e na sua participação ativa em atividades políticas e econômicas locais A pesquisa documental incluiu a análise de documentos históricos legislação sobre direitos quilombolas estudos prévios sobre a comunidade e relatórios de organizações não governamentais que atuam no Vale do Ribeira Esses documentos permitiram contextualizar as falas dos entrevistados e compreender o cenário legal e político em que a comunidade se insere Os procedimentos de coleta de dados seguiram uma abordagem de observação participante permitindo maior imersão no cotidiano da comunidade e uma compreensão mais direta das práticas de sustentabilidade como a agricultura orgânica e o turismo de base comunitária O contato direto com a comunidade também possibilitou captar nuances culturais e práticas de resistência que muitas vezes não aparecem em documentos escritos Para a análise dos dados utilizouse a técnica de análise de conteúdo organizada em três etapas i leitura flutuante dos depoimentos e documentos buscando identificar temas recorrentes ii categorização dos dados com base em eixos temáticos como resistência cultural práticas sustentáveis e desafios territoriais e iii análise interpretativa confrontando as falas dos entrevistados com o referencial teórico sobre quilombos resistência e sustentabilidade Esta metodologia permitiu uma abordagem integrada da pesquisa garantindo que as vozes da comunidade fossem expressadas e que as análises fossem contextualizadas dentro da realidade local de Ivaporunduva FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Os Quilombolas Conforme o art 2º do Decreto nº 4887 de 20 de novembro de 2003 consideramse remanescentes das comunidades dos quilombos para os fins deste Decreto os grupos étnicoraciais segundo critérios de autoatribuição com trajetória histórica própria dotados de relações territoriais específicas com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida São de modo geral comunidades oriundas daquelas que resistiram à brutalidade do regime escravocrata e se rebelaram frente a quem acreditava serem eles sua propriedade Brasil 2023 As comunidades quilombolas remanescentes adaptaramse a viver em regiões muitas vezes adversas preservando suas tradições culturais Ao longo do tempo desenvolveram a habilidade de obter sustento dos recursos naturais disponíveis assumindo também a responsabilidade direta por sua preservação Além disso essas comunidades interagem tanto com outros povos e comunidades tradicionais quanto com a sociedade ao seu redor fortalecendo laços culturais e sociais Seus membros são agricultores seringueiros pescadores extrativistas e dentre outras desenvolvem atividades de turismo de base comunitária em seus territórios pelos quais continuam a lutar Brasil 2018 Embora a maioria encontremse na zona rural também existem quilombos em áreas urbanas e periurbanas Em algumas regiões do país as comunidades quilombolas mesmo aquelas já certificadas são conhecidas e se autodefinem de outras maneiras como terras de preto terras de santo comunidade negra rural ou ainda pelo nome da própria comunidade Gorutubanos Kalunga Negros do Riacho etc De todo modo temos que comunidade remanescente de quilombo é um conceito políticojurídico que tenta dar conta de uma realidade extremamente complexa e diversa que implica na valorização de nossa memória e no reconhecimento da dívida histórica e presente que o Estado brasileiro tem com a população negra Segundo o Censo Demográfico de 2022 há 1330186 quilombolas no Brasil espalhados por diversos estados incluindo Amazonas Bahia Maranhão Minas Gerais e São Paulo A Bahia e o Maranhão concentram mais da metade dessa população com 397502 e 269168 quilombolas respectivamente Brasil 2023 Os quilombos formados por pessoas escravizadas que resistiram à escravidão surgiram de diversas formas como fugas para terras livres heranças e doações A resistência e a busca por autonomia caracterizam a formação dessas comunidades Os quilombos continuam a existir após a abolição da escravidão em 1888 e são uma realidade em vários países da América Latina onde seus direitos territoriais são reconhecidos pela legislação A identidade étnica das comunidades quilombolas é fundamental para sua organização social e política Apenas em 1988 a Constituição brasileira reconheceu oficialmente os direitos dessas comunidades assegurandolhes a propriedade coletiva de suas terras Contudo a efetivação desse direito ainda enfrenta muitos desafios com a primeira titulação de terras ocorrendo somente em 1995 quando o Quilombo Boa Vista se tornou proprietário de seu território O ensaio de Denise Almeida Silva e Tani Gobbi dos Reis propõe uma análise da ressignificação da figura de Zumbi e do conceito de quilombo em poemas afrobrasileiros contemporâneos enfatizando seu valor simbólico e mobilizador Silva Reis 2016 A origem do conceito de quilombo que remonta às sociedades africanas bantos é discutida revelando sua evolução de um espaço de acolhimento para negros escravizados fugitivos a um símbolo de resistência Nascimento 2006 Os quilombos frequentemente vistos como perigos para o Império serviram como locais de sobrevivência e resistência onde os negros buscavam não apenas escapar do cativeiro mas também recuperar sua identidade e cultura Nascimento 2009 Abdias Nascimento argumenta que o quilombo não é meramente um refúgio mas uma reunião fraterna e livre um espaço de solidariedade e comunhão Nascimento 1980 A busca por identidade e resistência dos descendentes africanos é fundamental para entender o impacto do quilombismo O conceito transcende a mera sobrevivência física representando uma luta por dignidade e reconhecimento conforme enfatizado por Beatriz Nascimento Nascimento 2006 Essa ideia de quilombismo como ideiaforça mobilizadora inspira não apenas a literatura mas também a luta social e política dos afrobrasileiros evidenciando a continuidade da resistência diante da opressão Nascimento 1980 A transformação do quilombo de uma instituição a um símbolo de resistência é também uma crítica às narrativas históricas que marginalizam a experiência negra no Brasil Essa revisão histórica impulsionou o movimento negro e resultou em conquistas significativas como a proposta de reconhecer o dia 20 de novembro como um marco de resistência Nascimento 2006 Em conclusão o estudo de Silva e Reis destaca a relevância do quilombismo na literatura e na luta pela valorização da identidade afrobrasileira O quilombismo representa um modelo de organização e resistência que ainda se faz presente servindo como uma plataforma para a busca de direitos e cidadania no Brasil contemporâneo Nascimento 1980 Assim a reflexão sobre a mística quilombola se torna um poderoso instrumento de autoafirmação e resistência contra a desigualdade social permitindo que a história dos afrobrasileiros seja recontada sob uma nova luz Histórico do Quilombo de Ivaporunduva O Quilombo de Ivaporunduva está localizado no município de Eldorado no estado de São Paulo às margens do Rio Ribeira de Iguape O acesso à comunidade se dá pela rodovia SP165 que liga Eldorado a Iporanga Essa localização estratégica próxima ao rio teve um papel fundamental no desenvolvimento da comunidade tanto no aspecto econômico quanto no cultural A presença do Rio Ribeira de Iguape permitiu à comunidade de Ivaporunduva tirar proveito dos recursos naturais da região ao mesmo tempo em que promoveu a preservação ambiental e o fortalecimento de suas práticas tradicionais de subsistência QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Figura 01 Localização geográfica de Ivaporundava Fonte Oliveira 2016 O Quilombo de Ivaporunduva possui uma rica e complexa história que remonta ao século XVI Segundo registros uma antiga proprietária de terras e escravos dona Maria Joana faleceu enquanto se tratava no exterior Sem herdeiros suas terras foram deixadas para os negros que ali estavam escravizados o que estimulou a vinda de escravos fugitivos que resistiram à captura dos capitães do mato formando o quilombo por volta de 1690 QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 O livro de tombo da paróquia de Xiririca datado de 1813 destaca Ivaporunduva como a mais antiga comunidade do vale do Ribeira surgindo como povoado no século XVII impulsionada pela mineração de ouro que atraía mineradores e seus escravizados como Domingos e Antonio Rodrigues Cunha QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 A história da Ivaporunduva remonta ao século XVI quando a região foi explorada por Martin Afonso de Souza em uma expedição que margeou o litoral brasileiro É importante ressaltar que ao chegarem aqui os colonizadores encontraram povos originários já estabelecidos que utilizavam o território há gerações O processo de colonização não foi portanto uma descoberta mas sim uma série de invasões e expropriações Em 1531 Martin Afonso reportou à Coroa Portuguesa sobre as riquezas potenciais da região Essa informação atraiu mais expedições e contribuiu para o surgimento dos primeiros povoados e fazendas que formaram a base da economia local predominantemente ligada à exploração de recursos naturais como o ouro A partir desse contexto surgem também as primeiras famílias quilombolas A figura de Maria Joana uma portuguesa que chegou à região no século XVII é central para a história de Ivaporunduva Ela trouxe consigo um grupo de africanos escravizados para explorar os recursos da região principalmente o ouro Os registros históricos indicam que mais de 400 arrobas de ouro foram extraídas aqui evidenciando a riqueza mineral da área A construção da igreja de Nossa Senhora do Rosário no coração da comunidade é um símbolo de resistência Erguida por mãos africanas escravizadas a igreja representa tanto a opressão sofrida quanto a resiliência dos nossos ancestrais Ao longo dos anos essa construção se tornou um espaço de acolhimento e resistência cultural onde práticas religiosas variadas coexistem refletindo um sincretismo único Com a crise da exploração do ouro os mineradores abandonaram a região em busca de oportunidades em Minas Gerais A comunidade que permaneceu passaram a cultivar a terra dedicandose ao cultivo de arroz feijão milho mandioca entre outros QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 As casas eram construídas utilizando técnicas tradicionais como o pauapique com barro madeira e cipós disponíveis na própria localidade Para caçar a comunidade utilizava laços e armadilhas QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 O vestuário era simples e prático e as trocas comerciais eram realizadas com fazendeiros de café onde parte da produção era trocada por produtos essenciais para o dia a dia QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Nos anos seguintes após a abolição formal da escravidão em 1888 muitos negros libertos encontraram dificuldades para se estabelecer em novas terras enfrentando a exclusão territorial A Constituição Federal de 1988 com o artigo 68 garantiu o reconhecimento dos quilombos mas a luta pela valorização da cultura e história quilombola continua A Fundação Cultural Palmares criada em 1989 foi um marco na luta pelo reconhecimento das comunidades quilombolas e na promoção de políticas públicas que visam à valorização cultural e social desse povo Em 1994 Ivaporunduva foi oficialmente reconhecida como comunidade quilombola um passo significativo na nossa busca por justiça e dignidade Os primeiros núcleos familiares de Ivaporunduva foram formados por Francisco Marinho e Salvador Pupo Esses pioneiros organizavam mutirões para a roça construção de casas e manutenção dos caminhos da comunidade QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Além disso celebravam festas tradicionais como a do Divino Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Sebastião QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 A luta pela terra e a resistência contra as barragens planejadas para o Rio Ribeira contribuíram para fortalecer a organização da comunidade levando à fundação da Associação Quilombo de Ivaporunduva em 1994 QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Esses eventos históricos não apenas refletem a resistência e a adaptação da comunidade quilombola mas também evidenciam a importância da preservação da cultura e da identidade dos povos que por gerações lutaram por seus direitos e por sua terra QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 A Resistência Cultural e a Luta por Direitos na Comunidade Quilombola de Ivaporunduva No Vale do Ribeira a comunidade quilombola de Ivaporunduva se destaca pela resistência cultural e pela luta por direitos desde a época da colonização Este artigo busca narrar a formação histórica desse quilombo destacar a importância da organização comunitária e analisar os desafios enfrentados pela comunidade na contemporaneidade A origem de Ivaporunduva remonta ao século XVI quando um grupo de pessoas escravizadas que fugiu da brutalidade do regime escravocrata formou a comunidade De acordo com relatos a antiga proprietária de terras e escravizados dona Maria Joana deixou suas terras para as pessoas escravizados ao falecer no exterior sem deixar herdeiros incentivando a formação do quilombo por volta de 1690 QUILOMBOS DO RIBEIRA 2024 Desde então os habitantes de Ivaporunduva têm se organizado em associações e conselhos que promovem a luta pelos direitos quilombolas Essas instituições desempenham um papel central na defesa da terra e na promoção da cultura atuando como intermediárias entre a comunidade e o poder público OLIVEIRA BORGES 2024 A organização social e política da comunidade de Ivaporunduva é fundamentada em princípios de cooperação e solidariedade As associações quilombolas se tornaram espaços de discussão e ação onde a comunidade se reúne para debater questões importantes como a preservação de suas tradições e a luta por políticas públicas que atendam suas necessidades ALMEIDA 2024 A criação da Associação Quilombo de Ivaporunduva em 1994 exemplifica esse esforço organizacional que visa não apenas a reivindicação de direitos mas também a valorização da identidade cultural quilombola Atualmente a comunidade enfrenta desafios significativos incluindo questões ambientais e a pressão de práticas capitalistas nas áreas de agricultura e turismo A expansão do agronegócio e a exploração de recursos naturais na região têm ameaçado a terra e os modos de vida tradicionais gerando tensões e conflitos e exigindo uma mobilização constante para a defesa do território SILVA REIS sd As mudanças climáticas por sua vez afetam diretamente a vida da comunidade comprometendo a agricultura e a segurança alimentar Os efeitos das secas e das inundações são sentidos na produção rural o que impõe um desafio adicional à luta por direitos e à preservação cultural A ascensão de políticas negacionistas como as implementadas durante o governo Bolsonaro de 2019 a 2022 exacerbou a vulnerabilidade da população dificultando o acesso a recursos e a implementação de políticas públicas eficazes ALMEIDA 2024 Essa situação é especialmente crítica pois muitos quilombolas ainda enfrentam barreiras no reconhecimento de suas terras o que coloca em risco sua sobrevivência e autonomia A educação desempenha um papel fundamental na resistência quilombola Em Ivaporunduva a transmissão de saberes tradicionais e acadêmicos é importante para a continuidade da luta pela preservação do território e da cultura quilombola A comunidade tem buscado integrar saberes locais com conhecimentos acadêmicos fortalecendo sua identidade e empoderamento OLIVEIRA BORGES 2024 Essa educação comunitária não apenas preserva as tradições mas também forma os jovens para se tornarem agentes de mudança capazes de articular suas demandas e se posicionar diante das adversidades A resistência quilombola em Ivaporunduva é uma expressão de luta pela autonomia e pela preservação da cultura Apesar dos desafios contemporâneos a organização comunitária e a educação se mostram fundamentais para garantir a continuidade dessa luta A história de Ivaporunduva nos ensina que a resistência é um caminho de construção coletiva e afirmação de identidade A História da Comunidade de Ivaporunduva pela perspectiva dos residentes A entrevista realizada com membros da comunidade Quilombola de Ivaporunduva fornece um olhar aprofundado sobre a organização os desafios e a resistência dessa comunidade contra o sistema capitalista A seguir destacamse as falas de dois importantes líderes locais Elson historiador e coordenador da comunidade e Laudessandro Marinho da Silva coordenador geral do grupo de agricultura orgânica Figura 02 Foto retirada no momento da fala de Elson Foto Daniele Henares 2024 Elson começa sua fala apresentando sua atuação tanto localmente quanto em esferas estaduais e nacionais Ele menciona seu envolvimento com a Coordenação Nacional de Quilombos CONAQ e a Comissão Nacional de Educação Escolar Quilombola além de seu papel como membro do Conselho Nacional de Educação onde discute currículos das ciências humanas Nós éramos excluídos desses programas O CONAF abriu as portas do Banco do Brasil aqui na região em 2002 a fundação do Instituto Terras de São Paulo nós não tínhamos acesso Passamos a ter acessos após os nossos terem acesso à universidade e voltarem Nós fortalecemos o conhecimento da Academia com o conhecimento prático nosso do dia a dia e passamos a dizer não Figura 03 Elson na roda de conversa Foto G iovanna Angeli 2024 Em sua explicação Elson destaca a história da comunidade Ivaporunduva localizada no Vale do Ribeira no município de Eldorado São Paulo a mais antiga da região e seu papel como um símbolo de resistência Ele menciona como a comunidade preservou suas tradições e cultura ao longo dos anos enfrentando desafios impostos pela modernização e pela exploração econômica A história da comunidade é narrada desde o período colonial com a chegada de Martin Afonso de Souza à região no século XVI e a posterior exploração do ouro Segundo Elson registros indicam que mais de 400 arrobas de ouro foram extraídas da região liderados pela portuguesa Maria Joana que utilizou mão de obra africana escravizada Durante este período foi construída a Igreja de Nossa Senhora do Rosário que ainda existe como um marco da história quilombola e é um símbolo da resistência à imposição do catolicismo A igreja erguida pelos escravizados é hoje tombada como patrimônio cultural e recebe visitas Elson também explica a transição de Ivaporunduva após o abandono da fazendeira Maria Joana quando os africanos escravizados que ali estavam começaram a se organizar e formar as primeiras famílias quilombolas Ele critica as leis abolicionistas brasileiras chamandoas de falsas leis abolicionistas argumentando que as leis como a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários não ofereciam reais condições de liberdade e dignidade aos negros escravizados Laudessandro Marinho da Silva por sua vez explica como a comunidade se organiza atualmente Meu nome é Laudessandro Marinho da Silva tenho 40 anos formação técnica em agricultura e Barachel em Administração de empresas Hoje sou coordenador geral do grupo de agricultura orgânica Trabalho no processo de controle gerenciamento prestação de contas e entregas dos alimentos que saem da comunidade para a alimentação escolar Hoje nós entregamos para as escolas estaduais pelo projeto PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar que é um projeto estadual Então entregamos para a região centro centrosul e Mogi das Cruzes E esse processo de prestação de contas emissão de nota fiscal e controle das entregas é a minha função e também participar dos eventos e reuniões dentro do território quilombola Figura 04 Foto retirada no momento da entrevista com o Laudessandro Fonte G iovanna Angeli 2024 Ele é responsável pelo controle e gerenciamento da produção agrícola orgânica além da prestação de contas e da emissão de notas fiscais dos alimentos que saem da comunidade para o Programa Nacional de Alimentação Escolar PNAE O PNAE permite que a comunidade quilombola forneça alimentos para as escolas da região centrosul de São Paulo incluindo Mogi das Cruzes Laudessandro destaca que a agricultura orgânica é uma das principais fontes de renda da comunidade junto com a venda de banana turismo e artesanato Em relação à resistência ao sistema capitalista Laudessandro aponta o desafio de manter a agricultura orgânica frente às pressões do mercado convencional O maior desafio é trabalhar contra o sistema capital O nosso trabalho aqui é mais de proteção do ambiente natureza e nós fazemos parte dela e a dificuldade é que o sistema é contrário a isso Sempre quer buscar o lucro Aqui para a valorização da cultura quilombola às vezes a gente tem que contrapor esse sistema Basicamente a produção do agronegócio não é para a alimentação de pessoas é para suprir outras coisas E a gente contrapõe isso por isso falamos agricultura de subsistência A comunidade busca se organizar de forma coletiva promovendo o compartilhamento de renda entre todas as famílias que somam cerca de 110 Ele também menciona o impacto negativo do governo Bolsonaro para as políticas quilombolas citando a ausência de certificações e registros de território durante os quatro anos de sua gestão além da repressão política A entrevista revela não só a resiliência da comunidade Quilombola de Ivaporunduva mas também a importância da preservação de seu território e suas tradições mesmo diante dos desafios socioeconômicos e ambientais A luta pela terra e pelo reconhecimento pleno de seus direitos permanece uma constante sendo um dos principais eixos da resistência quilombola DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A análise dos dados coletados na pesquisa revela uma complexa rede de resistência e resiliência da comunidade Quilombola de Ivaporunduva que se expressa por meio de práticas sustentáveis e uma forte mobilização política Os depoimentos dos entrevistados destacam a importância da agricultura orgânica e do turismo de base comunitária como estratégias de sustento além de serem formas de resistência cultural e territorial frente à pressão do sistema capitalista Os agricultores locais mencionam a agricultura orgânica não apenas como uma alternativa econômica mas também como uma prática que reforça sua identidade cultural e promove a preservação do meio ambiente A escolha por métodos de cultivo sustentáveis está diretamente ligada à valorização de conhecimentos ancestrais e ao desejo de manter a autonomia sobre suas terras Esta prática não só gera renda mas também fortalece a coesão social da comunidade ao envolver diversos membros em atividades coletivas como feiras e oficinas de capacitação Figura 05 Quilombo Ivaporunduva atualmente Fonte Autores 2024 Fotos G iovanna Angeli 2024 Figura 06 Atividade demonstrada por Laudessandro de caça e pesca sabedoria tradicionais Fotos G iovanna Angeli 2024 Além disso o turismo de base comunitária se apresenta como uma estratégia fundamental para a geração de renda e a promoção da cultura local Os guias entrevistados relataram que o turismo não apenas proporciona uma nova fonte de renda mas também promove o reconhecimento da identidade quilombola Através de experiências culturais como danças culinária e artesanato a comunidade consegue compartilhar sua história e fortalecer os laços com visitantes o que por sua vez fomenta uma maior consciência sobre os direitos dos povos quilombolas e suas lutas Entretanto os desafios enfrentados pela comunidade são evidentes Os entrevistados destacaram a constante ameaça de exploração econômica e a pressão por parte de empresas que buscam expandir suas atividades na região muitas vezes ignorando os direitos territoriais da comunidade Essa realidade traz à tona a luta contínua por reconhecimento e proteção dos direitos quilombolas que conforme evidenciado pela legislação brasileira ainda enfrenta barreiras significativas para a efetivação A análise dos dados também revela uma forte consciência política entre os membros da comunidade A mobilização em torno de direitos territoriais e culturais tem sido uma constante na trajetória de Ivaporunduva Os líderes comunitários ressaltaram a importância da articulação com organizações externas e movimentos sociais para fortalecer suas reivindicações e buscar apoio na defesa de seus direitos Esse aspecto da pesquisa corrobora a literatura sobre movimentos sociais que enfatiza a relevância da organização coletiva e da solidariedade como fatores essenciais para a luta por justiça social Os resultados da pesquisa evidenciam que a comunidade Quilombola de Ivaporunduva apesar dos desafios enfrentados mantém uma trajetória de resistência que se expressa através de práticas sustentáveis mobilização política e uma forte identidade cultural Essa discussão não apenas contribui para a compreensão das dinâmicas sociais e econômicas da comunidade mas também destaca a importância da valorização dos saberes tradicionais e da autonomia dos povos quilombolas na construção de um futuro sustentável e justo CONCLUSÕESOU CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa realizada sobre a comunidade Quilombola de Ivaporunduva localizada no Vale do Ribeira trouxe à luz aspectos cruciais sobre a resistência organização e sustentabilidade dessa população Os objetivos propostos foram plenamente alcançados revelando como a comunidade tem se articulado para enfrentar os desafios impostos pelo sistema capitalista ao mesmo tempo em que preserva sua identidade cultural e territorial Os dados obtidos por meio das entrevistas com líderes e membros da comunidade evidenciam que a agricultura orgânica e o turismo de base comunitária não são apenas fontes de renda mas também práticas que fortalecem a coesão social e promovem a autonomia da população Essas iniciativas permitem que os integrantes da comunidade garantam sua subsistência resgatem saberes ancestrais e promovam a valorização da cultura local contribuindo significativamente para a resistência cultural em face das adversidades contemporâneas A pesquisa destacou a importância da mobilização política e da articulação com movimentos sociais e organizações externas A luta pela terra e pelos direitos culturais se configura como um elemento central na trajetória de Ivaporunduva e a consciência política manifestada pelos líderes e membros da comunidade é fundamental na busca por reconhecimento e proteção dos direitos quilombolas Entretanto os desafios enfrentados pela comunidade são significativos especialmente diante das pressões externas e da exploração econômica que ameaçam sua integridade territorial É imperativo que as políticas públicas sejam mais efetivas na proteção dos direitos dos povos quilombolas assegurando a implementação de legislações que respeitem e reconheçam suas reivindicações históricas A resistência Quilombola em Ivaporunduva representa uma luta por dignidade e direitos refletindo a necessidade de um olhar atento e respeitoso para as práticas e saberes de comunidades historicamente marginalizadas O fortalecimento das vozes quilombolas e a valorização de suas contribuições são passos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa inclusiva e sustentável A continuidade da pesquisa e do apoio às iniciativas locais são fundamentais para garantir que a história e as lutas dessas comunidades sejam reconhecidas e respeitadas contribuindo assim para um futuro em que a diversidade cultural e a justiça social sejam pilares inegociáveis REFERÊNCIAS ALMEIDA Mariléa de Território de afetos práticas femininas antirracistas nos quilombos contemporâneos do Rio de Janeiro Núcleo de Pesquisa da Mandata Quilombola Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo São Paulo Brasil Disponível em httpsorcidorg0000000160153226 Acesso em 09 out 2024 BRASIL Comunidades Quilombolas Disponível em httpswwwgovbrmdhptbrnavegueportemasigualdadeetnicoracialacoeseprogramasdegestoesanterioresartigosigualdaderacialcomunidadesquilombolas Acesso em 09 abr 2018 BRASIL Informações Quilombolas Disponível em httpswwwgovbrpalmaresptbrdepartamentosprotecaopreservacaoearticulacaoinformacoesquilombolas Acesso em 09 out 2024 BRASIL Decreto nº 4887 de 20 de novembro de 2003 Regulamenta o procedimento para identificação reconhecimento delimitação demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos Diário Oficial da União seção 1 Brasília DF p 4 21 nov 2003 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03decreto2003d4887htm Acesso em 15 out 2024 FRIZERO Mariana Gonçalves Quilombo Ivaporunduva Mariana Gonçalves Frizero Belo Horizonte FAFICH 2016 Disponível em httpswwwgovbrincraptbrassuntosgovernancafundiariaivaporunduvapdf INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE Censo 2022 Brasil possui 8441 localidades quilombolas 24 delas no Maranhão Editoria Vinícius Britto Arte Helena Pontes Agência de Notícias IBGE 19 jul 2024 Atualizado em 26 jul 2024 Disponível em httpsagenciadenoticiasibgegovbragencianoticias2012agenciadenoticiasnoticias40704censo2022brasilpossui8441localidadesquilombolas24delasnomaranhaotextEm2020222C20existiam20844120localidadespelos20informantes20do20Censo20DemogrC3A1fico Acesso em 15 out 2024 NASCIMENTO Beatriz Quilombismo documentos de uma militância negra Rio de Janeiro Fundação Palmares 1980 NASCIMENTO Beatriz O conceito de quilombo e a resistência africana Sujeito negro corpo negro 2 ed São Paulo Imprensa Oficial 2006 p 4560 OLIVEIRA Samuel Silva Rodrigues de BORGES Roberto Carlos da Silva Ruth Pinheiro trajetória de vida e movimento negro contemporâneo no Rio de Janeiro 19481988 Revista do Programa de PósGraduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Disponível em httpsseerufrgsbranos90 Acesso em 09 out 2024 QUILOMBOS DO RIBEIRA Ivaporunduva Disponível em httpswwwquilombosdoribeiraorgbrivaporunduvahistoricotextSurge20como20povoado20no20sC3A9culoum20grupo20de201020escravos Acesso em 09 out 2024 SILVA Denise Almeida REIS Tani Gobbi dos Um outro Zumbi de Palmares o quilombismo como valor simbólico em poemas afrobrasileiros contemporâneos