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Título original What Is Cultural History Tradução autorizada da primeira edição inglesa publicada em 2004 por Polity Press de Cambridge Inglaterra Copyright 2004 Peter Burke Copyright da edição em língua portuguesa 2005 2ª edição 2008 revista e ampliada Jorge Zahar Editor Ltda rua México 31 sobreloja 20031144 Rio de Janeiro RJ tel 21 21080808 fax 21 21080800 email jzezaharcombr site wwwzaharcombr Todos os direitos reservados A reprodução nãoautorizada desta publicação no todo ou em parte constitui violação de direitos autorais Lei 961098 Edição anterior 2005 Tradução do Posfácio Maria Luiza X de A Borges Capa Sérgio Campante CIPBrasil Catalogaçãonafonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros RJ Burke Peter 1937 B973q O que é história cultural Peter Burke tradução Sergio Goes de 2ed Paula 2ed rev e ampl Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2008 Tradução de What is cultural history Inclui bibliografia e índice ISBN 9788571108387 1 História Metodologia 2 História Filosofia 3 Cultura História I Título CDD 30609 CDU 316709 083834 Sumário Introdução 7 1 A GRANDE TRADIÇÃO 15 História cultural clássica 16 Cultura e sociedade 26 A descoberta do povo 29 2 PROBLEMAS DA HISTÓRIA CULTURAL 32 Os clássicos revisitados 32 Debates marxistas 36 Os paradoxos da tradição 38 Cultura popular em questão 40 O que é cultura 42 3 A VEZ DA ANTROPOLOGIA HISTÓRICA 44 A expansão da cultura 45 A hora da antropologia histórica 48 Ao microscópio 60 Póscolonialismo e feminismo 64 4 UM NOVO PARADIGMA 68 Quatro teóricos 70 Práticas 78 Representações 84 Cultura material 90 A história do corpo 94 5 DA REPRESENTAÇÃO À CONSTRUÇÃO 99 A ascensão do construtivismo 100 Novas construções 106 Performances e ocasiões 119 Desconstrução 127 6 ALÉM DA VIRADA CULTURAL 131 O retorno de Burckhardt 132 Política violência e emoções 134 A vingança da história social 146 Fronteiras e encontros 151 Narrativa na história cultural 157 Conclusão 162 POSFÁCIO HISTÓRIA CULTURAL NO SÉCULO XXI 164 Um cenário cambiante 166 A história cultural e seus vizinhos 170 A cultura em questão 178 Notas 181 Publicações selecionadas 201 Leituras complementares 206 Agradecimentos 209 Índice remissivo 210 Introdução A história cultural outrora uma Cinderella entre as disciplinas desprezada por suas irmãs mais bemsucedidas foi redescoberta nos anos 1970 como sugere a lista cronológica das publicações ao final deste volume Desde então vem desfrutando de uma renovação sobretudo no mundo acadêmico a história apresentada na televisão pelo menos na GrãBretanha continua sendo em sua maior parte militar política e em menor extensão social Para alguém como eu que vem praticando a disciplina há cerca de 40 anos essa renovação de interesse é extremamente gratificante mas ainda exige uma explicação O propósito deste livro é exatamente explicar não apenas a redescoberta mas também o que é história cultural ou melhor o que os historiadores culturais fazem Para isso dedicase às diferenças aos debates e conflitos mas também aos interesses e tradições compartilhados Assim tentase aqui combinar duas abordagens opostas embora complementares uma delas interna preocupada em resolver os sucessivos problemas no interior da disciplina e outra externa relacionando o que os historiadores fazem ao tempo em que vivem A abordagem interna trata da presente renovação da história cultural como uma reação às tentativas anteriores de estudar o passado que deixavam de fora algo ao mesmo tempo difícil e importante de se compreender De acordo com esse ponto de vista o historiador cultural abarca artes do passado que outros historiadores não conseguem alcançar A ênfase em culturas inteiras oferece uma saída para a atual fragmentação da disciplina em especialistas de história de população diplomacia mulheres idéias negócios guerra e assim por diante A abordagem externa ou visão de fora também tem algo a oferecer Em primeiro lugar vincula a ascensão da história cultural a uma virada cultural mais ampla em termos de ciência política geografia economia psicologia antropologia arqueologia e estudos culturais tema discutido em mais detalhes na Conclusão Houve um deslocamento nessas disciplinas pelo menos entre uma minoria de acadêmicos que passaram da suposição de uma racionalidade imutável a teoria da escolha racional em eleições ou em atos de consumo por exemplo para um interesse crescente nos valores defendidos por grupos particulares em locais e períodos específicos Um sinal dos tempos é a conversão do cientista político norteamericano Samuel P Huntington à idéia de que no mundo de hoje as distinções culturais são mais importantes que as políticas e econômicas de modo que desde o fim da Guerra Fria o que vemos não é tanto um conflito internacional de interesses mas um choque de civilizações Outro indicador do clima intelectual é o sucesso internacional dos estudos culturais Na Rússia da década de 1990 por exemplo a Kulturologija como lá se chama tornouse disciplina obrigatória nos cursos superiores particularmente preocupada com a identidade russa e muitas vezes ministrada por exprofessores de marxismoleninismo que antes tinham uma interpretação econômica da história e se converteram a uma interpretação cultural1 Essa virada cultural é ela mesma parte da história cultural da última geração Fora do domínio acadêmico está ligada a uma mudança na percepção manifestada em expressões cada vez mais comuns como cultura da pobreza cultura do medo cultura das armas cultura dos adolescentes ou cultura corporativa ver p456 e também nas chamadas guerras de culturas nos Estados Unidos e no debate sobre o multiculturalismo em muitos países Diversas pessoas atualmente falam de cultura a respeito de situações cotidianas que há 20 ou 30 anos teriam merecido o substantivo sociedade Como sugere a popularidade de expressões como essas é cada vez mais difícil dizer o que não faz parte da cultura O estudo de história não é exceção a essa tendência geral O que é história cultural A pergunta foi feita publicamente há mais de um século em 1897 por um historiador alemão pioneiro e de certo modo também um dissidente Karl Lamprecht Para o bem ou para o mal a questão ainda espera uma resposta definitiva Nos últimos tempos foram apresentadas aos leitores histórias culturais da longevidade do pênis do arame farpado e da masturbação As fronteiras do tema certamente se ampliaram mas está ficando cada vez mais difícil dizer exatamente o que elas encerram Uma solução para o problema da definição de história cultural poderia ser deslocar a atenção dos objetos para os métodos de estudo Aqui também no entanto o que encontramos é variedade e controvérsia Alguns historiadores culturais trabalham intuitivamente como Jacob Burckhardt declarou fazer Poucos tentam usar métodos quantitativos Alguns descrevem seu trabalho em termos de uma procura de significado outros focalizam as práticas e as representações Alguns vêem seu objetivo como essencialmente descritivo ou acreditam que a história cultural como a história política pode e deve ser apresentada como uma narrativa O terreno comum dos historiadores culturais pode ser descrito como a preocupação com o simbólico e suas interpretações Símbolos conscientes ou não podem ser encontrados em todos os lugares da arte à vida cotidiana mas a abordagem do passado em termos de simbolismo é apenas uma entre outras Uma história cultural das calças por exemplo é diferente de uma história econômica sobre o mesmo tema assim como uma história cultural do Parlamento seria diversa de uma história política da mesma instituição Nessa situação confusa segundo aqueles que a desaprovaram ou de diálogo para aqueles que a julgam estimulante o caminho mais sábio pode ser adaptar a epigrama de JeanPaul Sartre sobre a humanidade e declarar que embora a história cultural não tenha essência ela possui uma história própria As atividades de ler e escrever sobre o passado estão tão presas ao tempo quanto outras Portanto este livro fará ocasionalmente comentários sobre a história cultural da história cultural tratandoa como exemplo de uma tradição da cultura em perpétua transformação constantemente adaptada a novas circunstâncias Para ser um pouco mais preciso o trabalho individual dos historiadores culturais precisa ser localizado em uma das diferentes tradições culturais geralmente definidas em termos nacionais A importância da tradição germânica do final do século XVIII em diante ficará evidente nas páginas que se seguem embora a ausência relativa de uma contribuição alemã de peso para esse tipo de história nos últimos 50 anos constitua um problema a ser tratado por um futuro historiador cultural A tradição holandesa pode ser vista como um produto da alemã mas continuou a florescer No mundo de língua inglesa ocorre um contraste significativo entre a tradição da América do Norte de interesse pela história cultural e a tradição inglesa de resistência a ela De modo semelhante por muitos anos os antropólogos britânicos descreveram a si mesmos como sociais enquanto seus colegas norteamericanos se denominaram culturais No caso da história cultural foram acima de tudo os norteamericanos especialmente os descendentes dos imigrantes de língua alemã de Peter Gay a Carl Schorske que assumiram a tradição alemã transformandoa durante esse processo A ligação entre o interesse americano pela cultura e a tradição da imigração parece ser muito próxima Se assim for a história cultural na Inglaterra deverá ter um grande futuro A tradição francesa é distinta entre outras coisas por evitar o termo cultura pelo menos até época bem recente e por dirigir o foco em vez disso para civilisation mentalités collectives e imaginaire social Há três ou quatro gerações os historiadores associados à revista Annales vêm fazendo uma série notável de contribuições importantes nesse campo para a história das mentalidades sensibilidades ou representações coletivas na época de Marc Bloch e Lucien Febvre para a história da cultura material civilisation matérielle na época de Fernand Braudel e para a história das mentalidades de novo e da imaginação social na época de Jacques Le Goff Emmanuel Le Roy Ladurie e Alain Corbin A permanente criatividade de uma escola de historiadores durante três ou quatro gerações é tão notável que requer uma explicação histórica Minha hipótese se é que ela tem importância é que os líderes eram suficientemente carismáticos para atrair seguidores talentosos mas também abertos o bastante para deixálos se desenvolver a seu modo Essa tradição distinta estava associada ao que se pode chamar de resistência ao estilo alemão de história cultural embora o entusiasmo de Febvre por Johan Huizinga mereça ser mencionado Tal resistência parece estar sendo rompida à proporção que a tradição historiográfica francesa se torna menos visível Como na história da cultura em geral veremos nas próximas páginas que movimentos ou tendências muitas vezes che gam a um fim abrupto não por esgotarem seu potencial mas porque foram suplantados pelos concorrentes Esses concorrentes os filhos podese dizer normalmente exageram a diferença entre sua própria abordagem e a de seus pais e mães deixando para a geração seguinte a tarefa de perceber que seus avós intelectuais eram afinal capazes de ter alguns insights Como historiador cultural que há anos vem pondo em prática várias das diferentes abordagens discutidas nas próximas páginas história social da cultura elevada e da cultura popular antropologia histórica e história da performance gostaria de dizer como Edith Piaf je ne regrette rien e acho que todas essas abordagens continuam a produzir insights Os capítulos que se seguem irão tratar em ordem cronológica de algumas das principais maneiras pelas quais a história cultural costumava ser é será pode ou deve ser escrita no futuro Ao discutir exemplos concretos tentei à medida que meu conhecimento parcial de um campo fragmentado permite atingir uma espécie de equilíbrio entre diferentes períodos históricos partes do mundo e departamentos acadêmicos incluindo os de arte arquitetura geografia literatura música e ciência além do departamento de história O preço dessa decisão foi omitir necessariamente boa parcela do estimulante trabalho mais atual grande parte dele realizada por amigos e colegas meus No entanto quero deixar claro desde logo que há aqui um levantamento de tendências ilustradas por meio de exemplos e não uma tentativa de listar ou discutir todos os melhores trabalhos produzidos pela última geração Os estudos citados no texto são apresentados com a data da publicação original Quando nas obras citadas em notas não aparecer o lugar da publicação este é sempre Londres As informações sobre termos técnicos e pessoas mencionadas no texto podem ser encontradas no índice As obras mencionadas no texto que já se encontram traduzidas para o português tiveram seu título citado de acordo com a tradução para facilitar a identificação e consulta Mantevese no entanto a data da publicação original tendo em vista a perspectiva cronológica seguida pelo autor NT 1 A Grande Tradição A história cultural não é uma descoberta ou invenção nova Já era praticada na Alemanha com esse nome Kulturgeschichte há mais de 200 anos Antes disso havia histórias separadas da filosofia pintura literatura química linguagem e assim por diante A partir de 1780 encontramos histórias da cultura humana ou de determinadas regiões ou nações No século XIX o termo Culture ou Kultur foi empregado com frequência cada vez maior na Inglaterra e na Alemanha os franceses preferiam falar em civilisation Assim o poeta Matthew Arnold publicou Culture and Anarchy em 1869 e o antropólogo Edward Tylor Primitive Culture em 1871 enquanto na Alemanha da década de 1870 um amargo conflito entre Igreja e Estado tornouse conhecido como a luta pela cultura Kulturkampf ou como dizemos hoje guerra cultural Em um capítulo breve como este há espaço apenas para esboçar a história da história cultural tomando algumas das linhas principais e mostrando como elas se entrelaçam A história pode ser dividida em quatro fases a fase clássica a da história social da arte que começou na década de 1930 a descoberta da história da cultura popular na década de 1960 e a 15 nova história cultural que será discutida em capítulos posteriores Entretanto é bom ter em mente que as divisões entre essas fases não eram tão claras na época quanto se costuma lembrar após o acontecimento e irá se mostrar uma série de semelhanças ou continuidades entre novos e velhos estilos quando for apropriado História cultural clássica Retratos de uma época O período entre 1800 e 1950 foi uma etapa que poderia se chamar de história cultural clássica Usando a frase cunhada pelo crítico inglês FR Leavis para descrever o romance podemos falar de uma grande tradição Essa tradição incluiu clássicos como A cultura do Renascimento na Itália do historiador suíço Jacob Burckhardt publicado pela primeira vez em 1860 e Outono da Idade Média 1919 do historiador holandês Johan Huizinga dois livros que continuam valendo a pena ler Em ambos está implícita a idéia de que o historiador pinta o retrato de uma época para citar o subtítulo de um terceiro clássico Victorian England 1936 de GM Young Esse período também poderia ser chamado de clássico no sentido de que foi um tempo em que os historiadores culturais concentravamse na história dos clássicos um cânone de obrasprimas da arte literatura filosofia ciência e assim por diante Burckhardt e Huizinga tanto eram artistas amadores como amantes da arte e davam início a seus famosos livros para entender certas obras colocandoas em seu contexto histórico as pinturas dos irmãos van Eyck no caso de Huizinga e as de Rafael no caso de Burckhardt³ A diferença entre esses acadêmicos e os historiadores especializados em arte ou literatura era que os historiadores culturais estavam particularmente preocupados com as conexões entre as diferentes artes Eles concentravamse no todo mais que nas partes discutindo a relação entre as diferentes artes e o que muitas vezes era chamado seguindo Hegel e outros filósofos o espírito da época ou Zeitgeist Dessa forma alguns historiadores alemães consideravam o que faziam Geistesgeschichte termo que muitas vezes é traduzido por história do espírito ou história da mente mas que também pode ser expresso por história da cultura Seus praticantes liam pinturas poemas etc específicos como evidências da cultura e do período em que foram produzidos Ao fazer isso ampliavam a idéia de hermenêutica a arte da interpretação O termo hermenêutica se referia originalmente a interpretações de textos especialmente da Bíblia mas no século XIX foi ampliado para incluir a interpretação de artefatos e ações Certamente não é por acaso que os maiores historiadores culturais do período Jacob Burckhardt e Johan Huizinga embora acadêmicos profissionais tenham escrito seus livros principalmente para o grande público Nem é por acaso que a história cultural tenha se desenvolvido no mundo de língua alemã antes da unificação da Alemanha quando a nação era uma comunidade cultural mais do que política ou que a história cultural e a história política tenham sido vistas como alternativas ou mesmo opostas Na Prússia entretanto a história política era dominante A história cultural foi descartada pelos seguidores de Leopold Von Ranke considerada marginal ou amadorística já que não era baseada em documentos oficiais dos arquivos e não ajudava na tarefa de construção do Estado⁴ Em seu trabalho acadêmico Burckhardt variava amplamente começando na Grécia Antiga passando pelos primeiros séculos cristãos e pelo Renascimento italiano e chegando ao mundo do pintor flamengo Peter Paul Rubens Deu relativamente pouca ênfase à história dos acontecimentos preferindo evocar uma cultura passada e salientar o que chamou de seus elementos recorrentes constantes e típicos Trabalhava intuitivamente mergulhando na arte e na literatura do período que estava estudando e produzindo generalizações que ilustrava com exemplos anedotas e citações apresentados em sua prosa vigorosa Em seu livro mais famoso por exemplo Burckhardt descreveu o que chamou de individualismo competitividade autoconsciência e modernidade na arte literatura filosofia e até na política da Itália renascentista Em História cultural da Grécia publicado postumamente Burckhardt voltou a esse tema marcando o lugar da luta agon na vida da Grécia Antiga na guerra na política e na música assim como nas corridas de carros ou nos Jogos Olímpicos Enquanto o primeiro livro enfatizava o desenvolvimento do indivíduo o último salientava a tensão entre de um lado o que o autor chama de individualismo incorrigível e a paixão pela fama e de outro a exigência de que o indivíduo se subordine à cidade Huizinga também pesquisou extensamente da Índia antiga ao Ocidente da França no século XII à cultura holandesa no século XVII e os Estados Unidos de seus dias Foi ao mesmo tempo crítico da interpretação de Burckhardt sobre o Renascimento que segundo ele a separava muito radicalmente da Idade Média e seguidor de seu método Em um ensaio publicado em 1915 Huizinga discutia uma variedade de ideais de vida visões da idade de ouro por exemplo o culto do cavalheirismo ou o ideal clássico de tão forte apelo para as elites europeias entre a Renascença e a Revolução Francesa Em outro ensaio publicado em 1929 Huizinga declarava que o principal objetivo do historiador cultural era retratar padrões de cultura em outras palavras descrever os pensamentos e sentimentos característicos de uma época e suas expressões ou incorporações nas obras de literatura e arte O historiador sugeria ele descobre esses padrões de cultura estudando temas símbolos sentimentos e formas As formas ou as regras culturais eram importantes para Huizinga tanto na vida como no trabalho e ele achava que a ausência de um sentido de forma como ele chamou impediao de gostar da literatura norteamericana⁵ O livro Outono da Idade Média coloca em prática as recomendações que ele fazia em seus ensaios programáticos Estava preocupado com os ideais de vida como a fidalguia Tratava de temas como o sentido do declínio o lugar do simbolismo na arte e no pensamento do final do período medieval e de sentimentos como o medo da morte O livro atribui um lugar central às formas ou padrões de comportamento Segundo Huizinga a mente apaixonada e violenta daquele tempo precisava de uma estrutura de formalidade Como a piedade o amor e a guerra eram ritualizados estetizados e submetidos a regras Nesse período cada acontecimento e cada ação ainda estavam incorporados a formas expressivas e solenes que os elevavam à dignidade de um ritual Podese dizer que a abordagem de Huizinga à história cultural era essencialmente morfológica Estava preocupado com o estilo de toda uma cultura bem como com o estilo de pinturas e poemas individuais Esse programa para a história cultural não era tão abstrato quanto pode parecer quando brevemente resumido Que tipo de idéia podemos formar de uma época escreveu certa vez Huizinga se não vemos pessoa alguma nela Se só pudermos fazer relatos generalizados vamos apresentar apenas um deserto a que chamamos de história De fato Outono da Idade Média fervilha de indivíduos do poeta picaresco François Villon ao místico Heinrich Suso do pregador popular Olivier Maillard ao cronista da corte Georges Chastellain A prosa é sensual atenta a sons como os dos sinos e dos tambores e às imagens visuais O livro é uma obraprima literária ao estilo findesiècle além de um clássico de história Da sociologia à história da arte Algumas das maiores contribuições à história cultural desse período especialmente na Alemanha vieram de acadêmicos que não trabalhavam nos departamentos de história O sociólogo Max Weber publicou uma obra famosa A ética protestante e o espírito do capitalismo 1904 em que analisa as raízes culturais do que chamou de sistema econômico dominante na Europa Ocidental e na América O ensaio de Weber poderia igualmente se chamar Capitalismo e cultura do protestantismo ou Protestantismo e cultura do capitalismo O ponto central do texto era essencialmente apresentar uma explicação cultural para a mudança econômica Weber acentuava o papel do ethos ou sistema de valor protestante especialmente a idéia de chamada na acumulação de capital e na ascensão do comércio e da indústria em grande escala Em outro estudo Weber argumentou que o ethos do confucionismo assim como o do catolicismo era hostil ao capitalismo ele teria ficado surpreso ao saber da ascensão econômica dos tigres asiáticos Na geração seguinte outro sociólogo alemão Norbert Elias um seguidor de Weber em certos aspectos escreveu um estudo O processo civilizador 1939 que é essencialmente uma história cultural Ele também utilizou Malestar na civilização 1930 de Freud que argumenta que a cultura exige sacrifícios do indivíduo nas esferas do sexo e da agressividade Apoiado na pesquisa de Huizinga sobre a mente apaixonada e violenta daquele tempo Elias dirigiu o foco para a história dos modos à mesa a fim de mostrar o desenvolvimento gradual do autocontrole ou do controle sobre as emoções nas cortes da Europa Ocidental ligando o que ele chamou de pressões sociais pelo autocontrole entre os séculos XV e XVIII à centralização do Estado e à submissão ou domesticação de uma nobreza guerreira Elias afirmava escrever sobre a civilização e não sobre a cultura sobre a superfície da existência humana e não sobre suas profundezas sobre a história do garfo e do lenço e não sobre a história do espírito humano De qualquer forma ele deu uma importante contribuição para o estudo do que hoje pode ser descrito como a cultura do autocontrole Uma das figuras mais originais e em última análise mais influentes da história cultural no estilo alemão não seguiu qualquer carreira acadêmica Aby Warburg era um homem de recursos próprios filho de banqueiro que deixou sua herança para o irmão mais novo em troca de uma mesada suficientemente grande para comprar todos os livros de que precisasse e ele acabou precisando de muitos já que seus interesses extensos incluíam filosofia psicologia e antropologia bem como história cultural do Ocidente desde a Grécia antiga até o século XVII Seu principal objetivo era contribuir para uma ciência da cultura geral Kulturwissenschaft evitando o que chamou de polícia de fronteira nos limites entre as disciplinas acadêmicas Warburg era um grande admirador de Burckhardt e de suas certeiras generalizações intuitivas mas seu próprio trabalho era mais rico e fragmentado Convencido de que Deus está no detalhe preferiu escrever ensaios sobre aspectos particulares do Renascimento italiano e não sobre o que chamou de o grande objetivo de uma síntese da história cultural⁶ War burg estava particularmente interessado na tradição clássica e em suas transformações a longo prazo Ao estudar essa tradição dirigiu o foco para os esquemas ou as fórmulas culturais e perceptivas os gestos que expressam emoções particulares por exemplo ou a maneira pela qual poetas e pintores representavam o vento no cabelo de uma moça A idéia do esquema mostrouse muito estimulante para historiadores culturais e outros Os psicólogos afirmam que é impossível perceber ou lembrar de qualquer coisa sem esquemas Alguns filósofos concordam Karl Popper argumentou que é impossível observar a natureza adequadamente sem uma hipótese para testar um princípio de seleção que permita que o observador veja um padrão e não uma barafunda De maneira semelhante HansGeorg Gadamer afirmava que a interpretação de textos dependia do que ele chamava de Vorurteil em outras palavras preconceito ou mais precisamente préjulgamento Os estudiosos da literatura caminharam em direção semelhante Em Literatura européia e Idade Média Latina 1948 livro dedicado à memória de Warburg ErnstRobert Curtius demonstrou a importância duradoura de topoi retóricos ou lugarescomuns tais como paisagem ideal o mundo de cabeça para baixo ou a metáfora do livro da natureza O estudo de William Tindall sobre John Bunyan discutido no Capítulo 5 p1178 é outro exemplo de um estudo de textos que se concentra em esquemas Mas certamente foi na obra de Ernst Gombrich que a idéia de esquema cultural de forma mais completa se desenvolveu Gombrich que escreveu a biografia intelectual de Warburg também lançou mão da psicologia experimental e da filosofia de Popper Em Arte e ilusão 1960 o tema central era a relação entre o que ele chamava alternativamente de verdade e estereótipo fórmula e experiência ou esquema e correção Ele discutia essa conexão não em termos de espírito da época porém mais precisamente em termos da difusão da filosofia para a arquitetura do que ele chama de hábito mental ou habitus um conjunto de suposições sobre a necessidade de organização transparente e de reconciliação das contradições Sabedor de que poderia ser acusado e foi na verdade de mero especulador Panofsky se agarrou a um fragmento de prova uma observação registrada em um álbum de desenhos sobre dois arquitetos que mantiveram uma disputa mostrando assim que pelo menos alguns dos arquitetos franceses do século XIII pensavam e agiam em termos estritamente escolásticos A grande diáspora Na época em que sua conferência sobre a arquitetura gótica e escolástica foi apresentada Panofsky morava nos Estados Unidos havia alguns anos Quando Hitler chegou ao poder em 1933 Aby Warburg havia morrido mas os outros estudiosos associados a seu Instituto se refugiaram no exterior O próprio Instituto sob ameaça porque seu fundador era judeu foi transferido ou podese dizer traduzido para Londres junto com Saxl e Wind enquanto Cassirer como Panofsky e Ernst Kantorowicz outro estudioso preocupado com a história dos símbolos foi parar nos Estados Unidos Para os dois países hospedeiros para a história cultural em geral e a história da arte em particular essa mudança teve consequências muito importantes O episódio é uma parcela essencial da história da grande diáspora da década de 1930 de residentes da Europa Central a maior parcela deles judeus incluindo cientistas escritores músicos e também acadêmicos Além disso também ilustra um dos temas favoritos de Warburg o da transmissão e transformação das tradições culturais escrito num período em que o autor era conferencista em história da cultura na Universidade de Exeter os muitos volumes de Estudos de história 193461 de Arnold Toynbee focalizando 21 civilizações independentes e escritos pelo diretor do Royal Institute of International Affairs e o estudo monumental do bioquímico Joseph Needham Science and Civilization in China planejado na década de 1930 embora o primeiro volume só viesse a aparecer em 1954 Vale a pena observar que uma das raras contribuições explícitas à história cultural publicada na GrãBretanha em meados do século XX foi escrita por um cientista Como nos Estados Unidos a grande diáspora foi importante para a ascensão da história cultural na GrãBretanha assim como da história da arte da sociologia e de certos estilos de filosofia Como exemplo dos efeitos do encontro podese citar o caso de Frances Yates uma estudiosa muito inglesa e originalmente especialista em Shakespeare Um encontro de jantar no final da década de 1930 teve como consequência sua entrada no círculo Warburg num momento em que como disse ela mais tarde estudiosos instigantes e uma biblioteca inspiradora haviam acabado de chegar da Alemanha Yates foi iniciada na técnica warburguiana de usar aspectos visuais como evidências históricas Seu interesse por estudos ocultos neoplatonismo mágica cabala foi outro resultado do encontro A diáspora também incluiu um grupo de marxistas preocupados com a relação entre cultura e sociedade Cultura e sociedade Nos Estados Unidos como na GrãBretanha mesmo antes da grande diáspora já era evidente um certo interesse pela relação entre cultura e sociedade Exemplo pioneiro de uma história social da cultura são os Beard casal que ocupa um importante lugar na história do radicalismo norteamericano Quando era aluno de Oxford Charles Beard ajudou a fundar o Ruskin Hall para dar à classe operária acesso à educação superior muito apropriadamente essa instituição que na época era conhecida como Ruskin College foi o berço do movimento History Workshop De volta aos Estados Unidos Beard se tornou conhecido por seu controverso estudo An Economic Interpretation of the Constitution of the United States 1913 Juntamente com a esposa Mary Ritter Beard importante sufragista e defensora dos estudos sobre as mulheres Charles Beard escreveu The Rise of American Civilization 1927 que apresentava uma interpretação econômica e social para as mudanças culturais O capítulo final sobre a Era da Máquina por exemplo discutia o papel do automóvel na difusão dos valores urbanos e dos estímulos mentais estereotipados o patronato das artes por milionários a ênfase prática e popular da ciência norteamericana e a ascensão do jazz O fato é que a chegada de um grupo de acadêmicos emigrados da Europa Central fez com que os estudiosos britânicos e norteamericanos tomassem uma consciência mais aguda da relação entre cultura e sociedade No caso britânico um papel crucial foi desempenhado por três húngaros o sociólogo Karl Mannheim seu amigo Arnold Hauser e o historiador de arte Frederick Antal Os três haviam sido membros de um grupo de discussão ou círculo dominical que tinha como centro o crítico Georg Lukács e que se encontrava durante a Primeira Guerra Mundial Todos migraram para a Inglaterra na década de 1930 Mannheim passou de uma cátedra em Frankfurt para uma posição de conferencista na London School of Economics Antal de uma cátedra na Europa Central para a função de conferencista no Courtauld Institute e Hauser tornouse um escritor sem emprego fixo Mannheim mais um admirador de Marx que marxista em sentido estrito tinha particular interesse na sociologia do conhecimento que ele abordava de uma forma histórica estudando por exemplo a mentalidade dos conservadores alemães Quando morou na Alemanha teve alguma influência intelectual sobre duas figuras já mencionadas neste capítulo Norbert Elias e Erwin Panofsky embora este último tenha abandonado a perspectiva social Em seus livros e artigos Antal tratava a cultura como expressão ou mesmo como reflexo da sociedade Ele encarava a arte da Florença renascentista como reflexo da visão de mundo da burguesia e achava William Hogarth interessante porque sua arte revela as visões e os gostos de uma ampla parcela da sociedade Entre os discípulos britânicos de Antal estão Francis Klingender autor de Art and the Industrial Revolution 1947 Anthony Blunt famoso como historiador da arte muito antes de se tornar um notório espião e John Berger que também abordava a arte a partir de uma perspectiva social Já Arnold Hauser um marxista mais convencional foi muito importante na divulgação da abordagem do grupo ao escrever História social da arte 1951 vinculando estreitamente a cultura aos conflitos e mudanças sociais e econômicos e discutindo por exemplo as lutas de classe na Itália ao final da Idade Média o Romantismo como movimento da classe média e a relação entre a era do cinema e a crise do capitalismo Klingender Blunt e Berger devem ser vistos não como simples casos de influência húngara mas sim como assimilação ou encontros culturais Por um lado havia o problema da resistência cultural que levou Mannheim a se queixar da dificuldade de transplantar ou traduzir a sociologia para a GrãBretanha Por outro alguns círculos intelectuais já estavam preparados para receber suas idéias Um pequeno grupo de intelectuais marxistas britânicos foi muito ativo nas décadas de 1930 e 1940 tanto dentro como fora da academia Roy Pascal professor de alemão em Birmingham de 1939 a 1969 escreveu sobre a história social da literatura Aeschylus and Athens 1941 famoso estudo sobre drama e sociedade escrito pelo classicista George Thomson foi claramente inspirado em Marx Joseph Needham usou uma estrutura marxista para seu Science and Civilization in China FR Leavis autor de The Great Tradition 1948 também estava profundamente interessado na relação entre a cultura e seu ambiente Sua ênfase na idéia de que a literatura dependia de uma cultura social e de uma arte do viver deve menos a Marx que à nostalgia pelas comunidades orgânicas tradicionais No entanto não é difícil combinar uma abordagem leavisita com a marxista como fez Raymond Williams em The Long Revolution 1961 livro que discutia a história social do teatro e em que além disso foi cunhada a famosa expressão estruturas de sentimento A GRANDE TRADIÇÃO um famoso historiador econômico e social o autor discutia não apenas a música mas também seu público abordando o jazz como negócio e forma de protesto político e social Ele concluía que o jazz exemplificava a situação em que uma música popular não submerge mas se mantém no ambiente da moderna civilização urbana e industrial Repleto de observações perspicazes sobre a história da cultura popular esse livro jamais causou no mundo acadêmico o impacto que merecia O mais influente dos estudos feitos na década de 1960 foi A formação da classe operária inglesa 1963 de Edward Thompson Nesse livro Thompson não se limita a analisar o papel desempenhado pelas mudanças econômicas e políticas na formação de classe mas examina o lugar da cultura popular nesse processo Seu livro inclui descrições vigorosas dos rituais de iniciação de artesãos do lugar das feiras na vida cultural dos pobres do simbolismo dos alimentos e da iconografia das agitações sociais indo de bandeiras e pedaços de pão presos a um pau até o enforcamento de efígies de pessoas odiadas Foram analisadas poesias em dialeto para chegar ao que Thompson descreveu na expressão de Raymond Williams como a estrutura de sentimento da classe trabalhadora A religião metodista recebia grande atenção do estilo de pregação laico às imagens dos hinos com ênfase especial no deslocamento de energias emocionais e espirituais que eram confiscadas a serviço da Igreja A influência de Thompson sobre historiadores mais jovens foi muito grande Ela é óbvia no movimento History Workshop fundado na década de 1960 sob a liderança de Raphael Samuel que dava aulas no Ruskin College em Oxford um centro para alunos mais velhos da classe trabalhadora Ele organizou muitas conferências que preferia chamar de workshops fundou uma revista History Workshop e com seus inúmeros artigos e seminários inspirou muitas pessoas a escrever história inclusive história cultural a partir de baixo O carismático Thompson também inspirou historiadores da cultura popular desde a Alemanha até a Índia ver p1367 Foi nesse momento que as contribuições de historiadores franceses associados à inovadora publicação Annales passaram a convergir com as de seus colegas de outros países O medievalista Jacques Le Goff por exemplo e JeanClaude Schmitt deram importantes subsídios para a história da cultura popular Por que uma preocupação com a história da cultura popular surgiu nesse momento Existem como sempre duas explicações principais a interna e a externa Os que estão dentro se vêem reagindo às deficiências de abordagens anteriores especialmente à história cultural em que as pessoas comuns são deixadas de fora e à história política e econômica em que a cultura é deixada de fora Eles também tendem a se ver e à sua rede como os únicos inovadores e raramente percebem as tendências paralelas em outras partes da disciplina quanto mais em outras disciplinas ou no mundo exterior à academia Os de fora tendem a ver um quadro mais amplo a observar que na GrãBretanha por exemplo a ascensão da história da cultura popular na década de 1960 coincidiu com a ascensão dos estudos culturais seguindo o modelo do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos na Universidade de Birmingham dirigido por Stuart Hall O sucesso internacional do movimento próestudos culturais sugere que ele atendeu a uma demanda correspondeu a uma crítica à ênfase sobre a alta cultura tradicional dada pelas escolas e universidades e também satisfaz a necessidade de entender o cambiante mundo de mercadorias publicidade e televisão Como a grande tradição e a abordagem marxista a história da cultura popular colocou problemas que foram ficando cada vez mais aparentes ao longo dos anos Tais problemas serão discutidos no próximo capítulo A GRANDE TRADIÇÃO Problemas da história cultural Como acontece em tantas atividades humanas todas as soluções para o problema de escrever história cultural mais cedo ou mais tarde geram questões próprias Se deixarmos de ler Burckhardt vamos sair perdendo Mas seria um erro imitar muito de perto a sua obra e não apenas porque seu caminho é difícil de seguir e exige um grau de sensibilidade que falta à maior parte de nós Vistos à distância de mais de um século seus livros como também os de Huizinga e outros clássicos mostram de modo muito claro suas fraquezas As fontes os métodos e as suposições desses estudos precisam ser questionados Os clássicos revisitados Tomemos por exemplo a maneira pela qual as evidências são tratadas nos clássicos da história cultural Em Outono da Idade Média em particular Huizinga lançou mão repetidas vezes de poucas fontes literárias Se recorresse a outros escritores poderia ter produzido um quadro da época muito diferente A tentação a que o historiador cultural não deve sucumbir é a de tratar os textos e as imagens de um certo período como espelhos reflexos não problemáticos de seu tempo Em seu livro sobre a Grécia Burckhardt defendia a confiabilidade relativa das conclusões de historiadores culturais A história política da Grécia Antiga dizia ele estava cheia de incertezas porque os gregos exageravam ou até mesmo mentiam Em contraste a história cultural tem um grau primário de certeza já que consiste em sua grande parte em materiais gerados de modo não intencional desinteressado ou mesmo involuntário pelas fontes e monumentos No que se refere à confiabilidade relativa Burckhardt sem dúvida tem uma certa razão Seu argumento em favor do testemunho involuntário também é convincente testemunhas do passado podem nos dizer coisas que não sabiam que sabiam De qualquer forma não seria correto supor que digamos os romances e as pinturas sejam sempre desinteressados livres de paixão ou de propaganda Como seus colegas de história política ou econômica os historiadores culturais têm de praticar a crítica das fontes perguntar por que um dado texto ou imagem veio a existir e se por exemplo seu propósito era convencer o público a realizar alguma ação No que se refere ao método Burckhardt e Huizinga foram muitas vezes criticados chamados de impressionistas ou mesmo anedóticos Sabese muito bem que observamos ou lembramos aquilo que nos interessa pessoalmente ou que se encaixa no que já acreditamos mas nem sempre os historiadores refletiram sobre a moral dessa observação Trinta anos atrás confessou certa vez o historiador econômico John Clapham li e sublinhei Travels in France de Arthur Young e dei aulas a partir das passagens sublinhadas Há cinco anos li o livro de novo e descobri que eu havia marcado todas as vezes que Young falava de um francês infeliz mas que muitas de suas referências a franceses felizes ou prósperos ficaram sem sublinhar Podese suspeitar 33 PROBLEMAS DA HISTÓRIA CULTURAL que Huizinga fez algo parecido ao ilustrar sua afirmação de que em nenhuma outra época as pessoas pensaram tanto na morte quanto nos últimos anos da Idade Média A história cultural está condenada a ser impressionista Se não qual é a alternativa Uma possibilidade é o que os franceses chamam de história serial ou seja a análise de uma série cronológica de documentos Na década de 1960 alguns historiadores franceses já trabalhavam dessa maneira na questão da difusão da alfabetização e na história do livro Eles comparavam por exemplo o número de livros publicados sobre diferentes assuntos em diferentes décadas na França do século XVIII2 A abordagem serial dos textos é adequada em muitos domínios da história cultural e já foi empregada na análise de testamentos escrituras panfletos políticos e assim por diante As imagens também foram assim analisadas por exemplo imagens votivas de uma determinada região como a Provence que revelam mudanças em atitudes religiosas ou sociais ao longo dos séculos3 O problema levantado por Clapham acerca das leituras subjetivas dos textos é bem mais difícil de resolver Mas há uma alternativa possível a esse tipo de leitura Ela acabou sendo conhecida como análise de conteúdo um método usado nas faculdades norteamericanas de jornalismo no começo do século XX antes de ser adotado durante a Segunda Guerra Mundial como um modo de obter informações confiáveis dos boletins de notícias alemães O procedimento é escolher um texto ou corpus de textos contar a frequência de referências a um dado tema ou temas e analisar sua covariância ou seja a associação entre temas Por exemplo podemse analisar dessa maneira os escritos históricos de Tácito observando a notável frequência de palavras referentes a medo metus pavor e tratandoos como mostras da insegurança consciente ou inconsciente do autor4 primeiro a crítica marxista dos clássicos e depois os problemas levantados por uma história marxista da cultura Debates marxistas A principal crítica marxista sobre a abordagem clássica da cultura é que ela fica no ar faltandolhe contato com qualquer base econômica ou social Burckhardt tinha pouco a dizer como ele mesmo admitiu posteriormente acerca das fundações econômicas do Renascimento italiano enquanto Huizinga virtualmente ignorou a peste negra em seu relato sobre o sentimento de mortalidade do final da Idade Média O ensaio de Panofsky também tinha pouco a dizer acerca dos contatos entre os dois grupos sociais responsáveis pelas realizações da arquitetura e da escolástica góticas os mestresdeobras e os mestres das artes Uma segunda crítica marxista aos historiadores clássicos da cultura acusaos de superestimar a homogeneidade cultural e ignorar os conflitos Uma expressão muito contundente dessa crítica encontrase em um ensaio de Edward Thompson no qual ele chama a cultura de termo desajeitado que amontoa as coisas esconde as distinções e tende a nos empurrar para noções excessivamente consensuais e holísticas8 Seria preciso traçar as distinções entre as culturas das diferentes classes sociais as culturas dos homens e das mulheres e as culturas das diferentes gerações que vivem na mesma sociedade Outra distinção útil é a que se faz entre o que pode ser chamado de zonas temporais Como sugeriu o historiador marxista alemão Ernst Bloch na década de 1930 nem todas as pessoas existem no mesmo Agora Isso só acontece externamente pelo fato de poderem ser vistas hoje Na verdade elas carregam consigo um elemento anterior e isso interfere9 Bloch pensava nos camponeses alemães da década de 1930 e na empobrecida classe média de seu tempo que viviam ambas no pas sado No entanto a contemporaneidade do nãocoetâneo como chamou ele é um fenômeno histórico muito mais geral que solapa a velha suposição da unidade cultural de uma era Esse ponto pode ser ilustrado pela própria história da história cultural já que a abordagem clássica a história social da cultura e a história da cultura popular coexistem há muito tempo Problemas da história marxista A própria abordagem marxista levanta problemas complicados Ser um historiador marxista da cultura é viver um paradoxo se não uma contradição Por que os marxistas deveriam se preocupar com o que Marx descartou por considerar uma mera superestrutura Retrospectivamente o famoso estudo de Edward Thompson A formação da classe operária inglesa 1963 aparece como um marco na história cultural britânica Por outro lado quando foi publicado o livro recebeu críticas de alguns colegas marxistas pelo que eles chamavam de culturalismo ou seja por colocar ênfase nas experiências e nas idéias e não nas duras realidades econômicas sociais e políticas A reação do autor foi criticar seus críticos pelo economicismo Essa tensão entre culturalismo e economicismo foi criativa pelo menos na ocasião Encorajou uma crítica interna aos conceitos marxistas centrais de uma fundação econômica e social ou base e uma superestrutura cultural Para Raymond Williams por exemplo a fórmula de base e superestrutura era rígida e ele preferia estudar o que chamou de relações entre elementos no modo de vida como um todo Atraíalhe a idéia de hegemonia cultural ou seja a sugestão feita pelo marxista italiano Antonio Gramsci entre outros de que as classes dominantes exercem poder não apenas diretamente pela cionismo e o daoísmo torna mais fácil para as pessoas aceitarem mais uma religião ou pelo menos mais um culto Inversamente os signos externos da tradição podem mascarar a inovação tema enfatizado no volume coletivo sobre A invenção da tradição discutido adiante O chiste de Marx ao afirmar que não era marxista é bem conhecido Ele parecia se referir a um problema recorrente que pode ser descrito como o problema dos fundadores e seguidores A mensagem do fundador bemsucedido de um movimento filosofia ou religião raramente é simples Ela atrai muitas pessoas porque tem muitos aspectos Alguns seguidores enfatizam um aspecto alguns enfatizam outro segundo seus próprios interesses ou a situação em que se encontram Ainda mais fundamental é o problema do conflito interior das tradições a disputa inevitável entre regras universais e situações específicas sempre em transformação Em outras palavras o legado muda na verdade deve mudar no decorrer de sua transmissão para uma nova geração A grande fraqueza do estudo sobre a literatura européia feito por Curtius é a relutância do autor em reconhecer esse fato tratando como constantes os lugarescomuns que estudou Warburg ao contrário estava bem ciente das modificações produzidas na tradição clássica ao longo dos séculos Atualmente os historiadores culturais estão ainda mais interessados na questão da recepção como veremos no Capítulo 5 Cultura popular em questão Uma outra alternativa óbvia para a suposição da homogeneidade cultural é distinguir entre cultura erudita e cultura popular em uma dada sociedade No entanto como o conceito de Zeitgeist e a idéia de superestrutura a noção de cultura popular tornouse ela própria uma questão em debate para o qual teóricos como Michel de Certeau e Stuart Hall e historiadores como Roger Chartier e Jacques Revel deram contribuições valiosas Para começar é difícil definir o tema Quem é o povo Todos ou apenas quem não é da elite Neste último caso estaremos empregando uma categoria residual e como acontece muitas vezes em se tratando dessas categorias corremos o risco de supor a homogeneidade dos excluídos Talvez seja melhor seguir o exemplo de vários historiadores e teóricos recentes e pensar as culturas populares ou como os sociólogos costumam chamar subculturas no plural urbana e rural masculina e feminina velha e jovem e assim por diante O termo subcultura parece estar caindo em desuso talvez porque esteja associado à delinqüência ou porque erradamente tenha passado a significar mais posição inferior em uma hierarquia cultural do que a parte de um todo A pluralidade contudo continua em discussão No entanto essa solução plural gera um novo problema Existe na mesma sociedade por exemplo uma cultura feminina autônoma distinta da cultura dos homens Responder não é negar diferenças palpáveis mas responder sim talvez seja exagerálas Pode ser mais esclarecedor pensar em termos de culturas ou subculturas femininas mais ou menos autônomas ou demarcadas Serão mais autônomas sempre que as mulheres forem mais segregadas dos homens no mundo mediterrâneo tradicional por exemplo ou na cultura islâmica ou nos conventos alguns estudiosos recentes falam de cultura de convento No caso da Grécia Antiga um classicista inspirado pela antropologia cultural John Winkler mostrou que embora as fontes sobreviventes sejam quase inteiramente resultado do trabalho de homens elas podem ser vistas sob a ótica contrária revelando pontos de vista claramente femininos sobre sexo e outros assuntos Ele trata a lírica de Safo e o festival feminino de Adonia como evidências particularmente valiosas de uma consciência por parte das mulheres gregas no que se refere aos significados de sexo e gênero diferentes dos enunciados por seus maridos e pais Outro problema para os historiadores da cultura popular é definir se devem ou não incluir as elites pelo menos em certos períodos O que torna a exclusão problemática é o fato de que as pessoas de status elevado grande riqueza ou poder substancial não são necessariamente diferentes no que diz respeito à cultura das pessoas comuns Na França do século XVII os leitores dos livrinhos baratos tradicionalmente descritos como exemplos de cultura popular incluíam mulheres nobres e até mesmo uma duquesa Isso não é de surpreender já que na época as oportunidades educacionais das mulheres eram muito limitadas Sendo assim Roger Chartier argumentava que era praticamente impossível rotular objetos ou práticas culturais como populares Focalizando os grupos sociais e não os objetos ou práticas podese argumentar que as elites da Europa Ocidental no começo dos tempos modernos eram biculturais participando do que os historiadores chamam de cultura popular e também de uma cultura erudita de que as pessoas comuns estavam excluídas Só depois de meados do século XVII as elites deixaram em geral de participar da cultura popular Os especialistas várias vezes sugeriram que as muitas interações entre cultura erudita e popular eram uma razão para abandonar de vez os dois adjetivos O problema é que sem eles é impossível descrever as interações entre o erudito e o popular Talvez a melhor política seja empregar os dois termos sem tornar muito rígida a oposição binária colocando tanto o erudito como o popular em uma estrutura mais ampla O historiador francês Georges Duby por exemplo fez isso em um artigo desbravador sobre a difusão dos modelos culturais na sociedade feudal examinando o movimento para cima e para baixo dos objetos e práticas sem dividir a cultura em dois compartimentos O que é cultura O termo cultura é ainda mais problemático que o termo popular Como observou Burckhardt em 1882 história cultural é um conceito vago Em geral é usado para se referir à alta cultura Foi estendido para baixo continuando a metáfora de modo a incluir a baixa cultura ou cultura popular Mais recentemente também se ampliou para os lados O termo cultura costumava se referir às artes e às ciências Depois foi empregado para descrever seus equivalentes populares música folclórica medicina popular e assim por diante Na última geração a palavra passou a se referir a uma ampla gama de artefatos imagens ferramentas casas e assim por diante e práticas conversar ler jogar Falando estritamente esse novo uso não tem nada de novo Em 1948 em Notas para uma definição de cultura T S Eliot um norteamericano que observava a Inglaterra com um olhar antropológico descreveu a cultura inglesa como incluindo entre outros elementos O Dia do Derby o alvo de dardos repolho cozido e picado beterraba ao vinagrete igrejas góticas do século XIX e a música de Elgar O antropólogo Bronislaw Malinowski já havia definido cultura de maneira ampla em um artigo que marcou sua colaboração na Encyclopaedia of the Social Sciences em 1931 abrangendo as heranças de artefatos bens processos técnicos idéias hábitos e valores Na verdade em 1871 em seu Primitive Culture outro antropólogo Edward Tylor apresentou uma definição semelhante de cultura tomada em seu sentido etnográfico amplo como o todo complexo que inclui conhecimento crença arte moral lei costume e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade A preocupação antropológica com o cotidiano e com sociedades em que há relativamente pouca divisão de trabalho encorajou o emprego do termo cultura em um sentido amplo Os historiadores culturais e outros membros de sua cultura se apropriaram dessa noção antropológica na última geração a era da antropologia histórica e da nova história cultural Esses movimentos gêmeos são o tema dos próximos capítulos 3 A vez da antropologia histórica Um dos aspectos mais característicos da prática da história cultural entre as décadas de 1960 e 1990 foi a virada em direção à antropologia Mas ela não se limitou à história cultural alguns historiadores econômicos por exemplo estudaram antropologia econômica Mesmo nesse caso a principal lição que aprenderam foi cultural acerca da importância dos valores para explicar a produção a acumulação e o consumo da riqueza Muitos historiadores aprenderam a usar o termo cultura no sentido amplo tal como discutido no final do capítulo anterior Alguns deles especialmente na França nos Estados Unidos e na GrãBretanha freqüentaram seminários de antropologia tomaram de empréstimo alguns conceitos e construíram uma abordagem que veio a ser conhecida como antropologia histórica muito embora história antropológica talvez fosse mais apropriada Uma das mudanças mais significativas que se seguiu a esse longo momento de encontro entre história e antropologia encontro que ainda não chegou ao fim embora provavelmente esteja menos estreito foi o uso do termo cultura no plural e em um sentido cada vez mais amplo A expansão da cultura O interesse por cultura história cultural e estudos culturais ficou cada vez mais visível nas décadas de 1980 e 1990 No entanto essa virada cultural teve efeitos e talvez até mesmo significados distintos nas diferentes disciplinas No caso da psicologia cultural por exemplo ela significa um distanciamento da idéia de que os seres humanos têm impulsos idênticos e uma aproximação da sociologia e da antropologia Na geografia cultural o desafio é não voltar à idéia tradicional de áreas culturais que não leva em conta as diferenças e os conflitos sociais em uma determinada região No caso da economia a atração exercida pela cultura está associada ao crescente interesse no consumo e à percepção de que as tendências não podem ser satisfatoriamente explicadas em termos de um modelo simples de consumidor racional Na ciência política a despeito do domínio do modelo de eleitor racional há uma tendência crescente a ver a política como uma ação simbólica e a estudar a comunicação política em diferentes mídias Até mesmo conservadores analistas de política mundial como Samuel P Huntington falam hoje em choque de culturas ver p9 No caso da história alguns acadêmicos que construíram sua reputação escrevendo história política como John Elliott em seu Revolt of the Catalans 1963 deram uma virada cultural Elliott em particular o fez colaborando com um historiador da arte Jonathan Brown em A Palace for a King 1980 um estudo sobre a construção e a decoração do palácio Buen Retiro perto de Madri como local de exibição do poder dos Habsburgo Hoje mais que nas décadas passadas os historiadores tendem a usar expressões como cultura da imprensa cultura de corte ou cultura do absolutismo Os exemplos seguintes tirados de títulos de livros publicados na década de Feb 07 2024 Plagiarism Scan Report Excluded URL None Content Checked for Plagiarism O sucesso editorial o que é história cultural livro escrito pelo grande historiador inglês Peter Burke publicado em 2004 e traduzido para a língua portuguesa em 2005 Traz um estudo introdutório quanto a historiograa presente na cultura dedicandose a apresentar características fundamentais na cultura divergências conitos e práticas culturais Em sua introdução o livro enfatiza a lista cronológica de fatos históricos que se iniciaram em 1970 O autor também apresenta ao leitor o objetivo principal do livro sendo esse repassar a redescoberta da história cultural e o papel que os historiadores desempenharam dentro desse processo além disso é visto inicialmente que existem duas abordagens dentro da percepção de cultura uma delas é a interna que trata sobre os acontecimentos anteriores e a externa que envolve os atos de historiadores para a cultura no período em que esses vivem Os choques das civiim da Segunda Guerra Mundial Na visão de Burke os historiadores culturais tem a função de proteger artes passadas que outros historiadores seriam incapazes de fazer As linguagea a preservação dos meios e formas culturais Burke ainda utiliza de outros cientistas e estudiosos como Samuel Huntington Karl Lumprecht e Jean Paul Sartre para fundamentar seu estudo Os historiadores culturais focados no período clássico analisam então esses artistas e associam seus trabalhos com o contexto histórico vivido por eles Uma preocupação desses historiadores culturais é focada na representação dos símbolos e as interpretações que podem surgir a partir deles assim como destaca Peter Burke os símbolos podem ser encontrados em momentos cotidianos O trabalho dos historiadores culturais deve ser localizado em divergentes esferas culturais Na história clássica o autor cita algumas obras literárias fundamentais para demonstrar e ilustrar sua percepção sobre a cronologia da percepção da cultura dentro de elementos antes postos como irrelevantes Um dos livros apresentados por Peter Burke é o outono da idade média onde o enfoque central é a vivência da sociedade nesta época seus anseios e fadigas O autor destacou ainda na introdução que o simbolismo está presente de uma forma descritiva não sendo tanto quantitativa Para Jean Paul um dos nomes usados por Burke a história cultural não deve ser considerada como uma das fontes de essência apresentando ainda o exemplo dos franceses que preferem a história das civilizações evitando assim o termo cultura O segundo capítulo do livro intitulado como problemas da história cultural traz uma análise de Burke quanto a 0 Plagiarized 100 Unique Characters6559 Words999 Sentences41 Speak Time 8 Min Page 1 of 3 diculdade encontrada dentro da produção provas da história da cultura seja por meios de atividades e práticas humanas ou por limitação na escrita dessa história O capítulo dividese em os clássicos revisitados onde o autor aborda as evidências e como elas são tratadas dentro da história cultural além disso essa parte do livro é voltada a instigar a percepção quanto a conclusões consideradas relativas uma saída eciente segundo o autor seria a análise de documentações e busca por palavras produzidas ao longo da busca averiguando assim o conteúdo produzido Burke apresenta ainda o debate marxista onde é visto que uma das principais críticas presentes nas teorias marxistas sobre a abordagem clássica dentro da cultura trata sobre como a cultura e a história cam no ar Como os historiadores clássicos muitas vezes superestimavam a homogeneidade cultural Como os conitos culturais forma também muitas das vezes negligenciados por esses historiadores outra crítica está relacionada a colocação da cultura como uma forma estruturada Os historiadores da cultura popular são apresentados pelo autor ao longo das seções do capítulo sendo visto a diculdade que esses encontravam em entender a função de acrescentar a elite em certos períodos Adiante o capítulo traz ainda como a economia se trona dominante não apensas socialmente mas também na produção de história apensar de muitos autores criticarem tal ideia Estudar as tradições e demais singularidades de um povo torna a cultura ainda mais valorizada embora tudo se modica com a passagem dos anos Portanto capítulo dois se encerra com a visão do autor sobre o conceito de cultura sendo ele apresentado com base no estudo de Edward Taylor como um complexo formado de arte comida crenças e hábitos O capítulo três a vez da antropologia histórica estuda o período entre 1960 a 1990 onde a história cultural se voltou a primeira vez para um viés mais antropológico Essa proximidade trouxe reexões quanto a valores éticos relações de consumo e acumulação que muitas vezes passa a ser parte da cultura de um povo O autor destacou ainda como muitos historiadores econômicos também estudaram a antropologia econômica embora o que mais tenha se descoberto foram traços culturais Visto ainda que os historiadores em diversos momentos formam inuenciados pelo conceito plural de cultura ampliando assim o sentido da palavra A expansão cultural e os estudos sobre a cultura caram cada vez mais intensicados durante 1980 e 1990 Burke trouxe durante este capítulo o exemplo de historiadores como Jonh Elliott e Roger Charttier que também estudaram e se renderam a nova história cultural e também as variações em seus conceitos A geograa cultural também é abordada uma vez que se faz necessária a observação sobre conitos e divergências presentes dentro de determinadas regiões onde inuenciam nos hábitos culturais da civilização assim como a atração da cultura pelo crescimento do consumo hoje os historiadores usam expressões como cultura impressa Ainda o autor traz a visão de outros historiadores como Robert Darnton que estuda acontecimentos vividos em Paris em 1730 e como existem diferentes formas de interpretação das relações sociais O capítulo três portanto estuda os acontecimentos vividos por mulheres a inuência da antropologia dentro do estudo cultural e a Page 2 of 3 história cultural dentro do nal do século XX O livro e seus os capítulos 2 e 3 tratam sobre conceitos complexos da cultura discutindo a história cultural a partir de práticas historiográcas da história cultural além de trazer a visão de importantes pesquisadores e sociólogos auxiliando assim a fundamentação de tal obra Ademais o autor apresentou a história cultural com base nas narrativas históricas do passado e presente preenchendo lacunas existentes no conceito de cultura Sources Home Blog Testimonials About Us Privacy Policy Copyright 2024 Plagiarism Detector All right reserved Page 3 of 3 Dessa forma ele descreveu a ascensão do naturalismo na antiga arte grega como a acumulação gradual de correções graças à observação da realidade As inovações culturais são muitas vezes obra de pequenos grupos mais que de indivíduos A importância de Aby Warburg não decorre apenas de seus ensaios por mais brilhantes que sejam mas também de sua posição central em um grupo de estudiosos que costumavam se encontrar em sua biblioteca em Hamburgo núcleo do que depois veio a ser o Instituto Warburg Entre esses estudiosos unidos por meio do interesse pela história dos símbolos e pela tradição clássica estavam o filósofo Ernst Cassirer autor de Filosofia das formas simbólicas 19239 e os historiadores da arte Fritz Saxl Edgar Wind e Erwin Panofsky Panofsky por exemplo escreveu um ensaio clássico sobre a interpretação de imagens uma hermenêutica visual que distinguia iconografia a interpretação do tema da Última Ceia por exemplo de iconologia mais ampla que desvela a visão de mundo de uma cultura ou grupo social condensada em uma obra Outro exemplo famoso da abordagem iconológica escrito mais tarde na carreira de Panofsky foi sua provocadora conferência Arquitetura gótica e escolástica 1951 Essa conferência é exemplar em seu foco explícito e consciente sobre as possíveis conexões entre diferentes domínios culturais Panofsky partia da observação de que a arquitetura gótica e a filosofia escolástica associada a Tomás de Aquino haviam surgido ao mesmo tempo nos séculos XII e XIII e no mesmo lugar em Paris ou seus arredores Os dois movimentos se desenvolveram em paralelo No entanto o objetivo da conferência não era simplesmente traçar uma comparação entre arquitetura e filosofia Panofsky também defendia a existência de uma conexão entre os dois movimentos RESUMO O QUE É HISTÓRIA CULTURAL Capítulo 2 e 3 de Peter Burke BURKE Peter O que é história Cultural Trad Sérgio Góes de Paula Rio de Janeiro Zahar 2005 O sucesso editorial o que é história cultural livro escrito pelo grande historiador inglês Peter Burke publicado em 2004 e traduzido para a língua portuguesa em 2005 Traz um estudo introdutório quanto a historiografia presente na cultura dedicandose a apresentar características fundamentais na cultura divergências conflitos e práticas culturais Em sua introdução o livro enfatiza a lista cronológica de fatos históricos que se iniciaram em 1970 O autor também apresenta ao leitor o objetivo principal do livro sendo esse repassar a redescoberta da história cultural e o papel que os historiadores desempenharam dentro desse processo além disso é visto inicialmente que existem duas abordagens dentro da percepção de cultura uma delas é a interna que trata sobre os acontecimentos anteriores e a externa que envolve os atos de historiadores para a cultura no período em que esses vivem Os choques das civilizações surgiram após o fim da Segunda Guerra Mundial Na visão de Burke os historiadores culturais tem a função de proteger artes passadas que outros historiadores seriam incapazes de fazer As linguagens práticas e símbolos são essenciais para a preservação dos meios e formas culturais Burke ainda utiliza de outros cientistas e estudiosos como Samuel Huntington Karl Lumprecht e Jean Paul Sartre para fundamentar seu estudo Os historiadores culturais focados no período clássico analisam então esses artistas e associam seus trabalhos com o contexto histórico vivido por eles Uma preocupação desses historiadores culturais é focada na representação dos símbolos e as interpretações que podem surgir a partir deles assim como destaca Peter Burke os símbolos podem ser encontrados em momentos cotidianos O trabalho dos historiadores culturais deve ser localizado em divergentes esferas culturais O QUE É HISTÓRIA CULTURAL Ele discutia essa conexão não em termos de espírito da época porém mais precisamente em termos da difusão da filosofia para a arquitetura do que ele chama de hábito mental ou habitus um conjunto de suposições sobre a necessidade de organização transparente e de reconciliação das contradições Sabedor de que poderia ser acusado e foi na verdade de mero especulador Panofsky se agarrou a um fragmento de prova uma observação registrada em um álbum de desenhos sobre dois arquitetos que mantiveram uma disputa mostrando assim que pelo menos alguns dos arquitetos franceses do século XIII pensavam e agiam em termos estritamente escolásticos A grande diáspora Na época em que sua conferência sobre a arquitetura gótica e escolástica foi apresentada Panofsky morava nos Estados Unidos havia alguns anos Quando Hitler chegou ao poder em 1933 Aby Warburg havia morrido mas os outros estudiosos associados a seu Instituto se refugiaram no exterior O próprio Instituto sob ameaça porque seu fundador era judeu foi transferido ou podese dizer traduzido para Londres junto com Saxl e Wind enquanto Cassirer como Panofsky e Ernst Kantorowicz outro estudioso preocupado com a história dos símbolos foi parar nos Estados Unidos Para os dois países hospedeiros para a história cultural em geral e a história da arte em particular essa mudança teve consequências muito importantes O episódio é uma parcela essencial da história da grande diáspora da década de 1930 de residentes da Europa Central a maior parcela deles judeus incluindo cientistas escritores músicos e também acadêmicos Além disso também ilustra um dos temas favoritos de Warburg o da transmissão e transformação das tradições culturais Na história clássica o autor cita algumas obras literárias fundamentais para demonstrar e ilustrar sua percepção sobre a cronologia da percepção da cultura dentro de elementos antes postos como irrelevantes Um dos livros apresentados por Peter Burke é o outono da idade média onde o enfoque central é a vivência da sociedade nesta época seus anseios e fadigas O autor destacou ainda na introdução que o simbolismo está presente de uma forma descritiva não sendo tanto quantitativa Para Jean Paul um dos nomes usados por Burke a história cultural não deve ser considerada como uma das fontes de essência apresentando ainda o exemplo dos franceses que preferem a história das civilizações evitando assim o termo cultura O segundo capítulo do livro intitulado como problemas da história cultural traz uma análise de Burke quanto a dificuldade encontrada dentro da produção provas da história da cultura seja por meios de atividades e práticas humanas ou por limitação na escrita dessa história O capítulo dividese em os clássicos revisitados onde o autor aborda as evidências e como elas são tratadas dentro da história cultural além disso essa parte do livro é voltada a instigar a percepção quanto a conclusões consideradas relativas uma saída eficiente segundo o autor seria a análise de documentações e busca por palavras produzidas ao longo da busca averiguando assim o conteúdo produzido Burke apresenta ainda o debate marxista onde é visto que uma das principais críticas presentes nas teorias marxistas sobre a abordagem clássica dentro da cultura trata sobre como a cultura e a história ficam no ar Como os historiadores clássicos muitas vezes superestimavam a homogeneidade cultural Como os conflitos culturais forma também muitas das vezes negligenciados por esses historiadores outra crítica está relacionada a colocação da cultura como uma forma estruturada Os historiadores da cultura popular são apresentados pelo autor ao longo das seções do capítulo sendo visto a dificuldade que esses encontravam em entender a função de acrescentar a elite em certos períodos Adiante o capítulo traz ainda como a economia se trona dominante não apensas socialmente mas também na produção de história apensar de muitos autores criticarem tal ideia Estudar as tradições e demais singularidades de um povo torna a cultura ainda mais valorizada embora tudo se modifica com a passagem dos anos Portanto capítulo dois se encerra com a visão do autor sobre A GRANDE TRADIÇÃO Nos Estados Unidos do começo do século XX a palavrachave era civilização mais que cultura como no livro de Charles e Mary Beard The Rise of American Civilization 1927 Nessa época começaram os cursos sobre civilização graças ao movimento conhecido como nova história em que os Beards e outros historiadores radicais estavam envolvidos No Columbia College por exemplo na década de 1920 havia um curso obrigatório para alunos do primeiro ano sobre civilização contemporânea Em meados do século muitas universidades norteamericanas exigiam cursos em civilização ocidental mais ou menos uma história breve do mundo ocidental dos gregos antigos até o presente de Platão a Otan No plano da pesquisa por outro lado uma tradição norteamericana mais forte ou pelo menos mais visível que a da história cultural era a história das idéias exemplificada pelo livro de Perry Miller The New England Mind 1939 e pelo círculo de Arthur Lovejoy na Universidade Johns Hopkins centrado no Journal of the History of Ideas fundado em 1940 como um projeto interdisciplinar para vincular filosofia literatura e história Na GrãBretanha da década de 1930 estava se escrevendo uma história intelectual e cultural geralmente fora dos departamentos de história Entre as contribuições mais importantes dadas a essa tradição está o livro de Basil Willey The SeventeenthCentury Background 1934 estudos sobre o pensamento da época escrito por um professor de inglês e apresentado como panorama para a literatura o de EMW Tillyard The Elizabethan World Picture 1943 outra contribuição da Faculdade de Inglês de Cambridge e o livro de GM Young Victorian England 1936 obra de um amador encarregado de pintar o retrato de uma era As principais exceções à ênfase sobre as idéias foram o livro de Christopher Dawson The Making of Europe 1932 o conceito de cultura sendo ele apresentado com base no estudo de Edward Taylor como um complexo formado de arte comida crenças e hábitos O capítulo três a vez da antropologia histórica estuda o período entre 1960 a 1990 onde a história cultural se voltou a primeira vez para um viés mais antropológico Essa proximidade trouxe reflexões quanto a valores éticos relações de consumo e acumulação que muitas vezes passa a ser parte da cultura de um povo O autor destacou ainda como muitos historiadores econômicos também estudaram a antropologia econômica embora o que mais tenha se descoberto foram traços culturais Visto ainda que os historiadores em diversos momentos formam influenciados pelo conceito plural de cultura ampliando assim o sentido da palavra A expansão cultural e os estudos sobre a cultura ficaram cada vez mais intensificados durante 1980 e 1990 Burke trouxe durante este capítulo o exemplo de historiadores como Jonh Elliott e Roger Charttier que também estudaram e se renderam a nova história cultural e também as variações em seus conceitos A geografia cultural também é abordada uma vez que se faz necessária a observação sobre conflitos e divergências presentes dentro de determinadas regiões onde influenciam nos hábitos culturais da civilização assim como a atração da cultura pelo crescimento do consumo hoje os historiadores usam expressões como cultura impressa Ainda o autor traz a visão de outros historiadores como Robert Darnton que estuda acontecimentos vividos em Paris em 1730 e como existem diferentes formas de interpretação das relações sociais O capítulo três portanto estuda os acontecimentos vividos por mulheres a influência da antropologia dentro do estudo cultural e a história cultural dentro do final do século XX O livro e seus capítulos 2 e 3 tratam sobre conceitos complexos da cultura discutindo a história cultural a partir de práticas historiográficas da história cultural além de trazer a visão de importantes pesquisadores e sociólogos auxiliando assim a fundamentação de tal obra Ademais o autor apresentou a história cultural com base nas narrativas históricas do passado e presente preenchendo lacunas existentes no conceito de cultura 4240 Oak Street Unit 2 515000 2 bds 1 ba 715 sf 1 Block to Hospitals San Antonio Valley Square Save This Unit We have only 1 unit like it Walk score of 80 only 1 block to hospitals 1 block to Galaxy Open airy Would love to show you today Please submit ALL 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