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Filosofia ·

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CRÍTICA DA RAZÃO PURA 4a Edição A à EDITORA VOZES O EDITORA UNIVERSITÁRIA SÃO FRANCISCO 3 o p e n s a m e n t O sistema de todos os conhecimentos filosóficos é a filosofia Ela tem de ser tomada objetivamente quando por ela se entende o modelo para o julgamento de todas as tentativas de filosofar deven do servir para julgar todas as filosofias subjetivas cujos edifícios são com frequência tão diversos e cambiantes A filosofia nesse senti do é uma mera ideia de uma possível ciência que não é dada in con creto em parte alguma mas da qual procuramos aproximarnos por inúmeros caminhos até que seja descoberta a única vereda muito escondida pela sensibilidade e a cópia até aqui defeituosa seja na medida em que isso é concedido aos seres humanos tornada igual ao modelo Até aí não se pode aprender filosofia alguma Pois onde está ela Quem está em sua posse Como se pode reconhecêla Só se pode aprender a filosofar isto é exercitar o talento da razão na observância de seus princípios universais em certas tentativas dadas mas sempre guardando o direito da razão de investigar esses princípios em suas fontes e confirmálos ou rejeitálos Crítica da razão pura B 866 A EDITORA VOZES www vozes combr vendasvozescombr Não seria exagerado dizer que a Crítica da razão pura principal obra de Immanuel Kant divide a história da filosofia em duas antes da Crítica depois da Crítica Não à toa foi o próprio autor antevendo o impacto de seu empreendimento filosófico quem comparou sua transformação da filosofia à revolução efetuada por Cope mico no âmbito da física afirmando tratarse de uma inversão análoga de perspectiva do mesmo modo como o astrónomo polonês deslocara o Sol para o centro do universo deixando a Terra orbitar em torno dele Kant propõe tomar não mais o objeto como centro do conhecimento mas o sujeito e suas faculdades cognitivas Num momento em que a filosofia procurando compreender as transformações por que vinha passando a ciência da natureza dividiase em nacionalistas de um lado a defender a origem puramente racional de nossos conhecimentos e empiristas de outro a defender que eles se originam na experiência procurou Kant demonstrar a partir de tal rcvolijção copcrnicana que o nosso conhecimento é necessariamente tanto empírico como racional isto é tem de resultar da conjunção da intuição sensível pela qual apreendemos o objeto na experiência com o conceito do entendimento por meio do qual pensamos o mesmo objeto Com isso a Crítica inauguraria uma posição bastante singular no debate filosófico criando as bases para a Teoria do Conhecimento como disciplina filosófica Entrar no universo da Titica da razão pura é aceitar o desafio colocado pelo próprio Kant de evitar o dogmatismo sem cair no relativismo ou por outras palavras evitar o fanatismo sem cair na descrença evitar o absoluto sem cair no nada ü autor Immanuel Kant nasceu aos 22 de abril de 1724 na cidade universitária de Königsberg pertencente ao então Império da Prússia hoje Kaliningrado Ali estudou aprendeu latim e línguas clássicas obteve seu doutorado 1755 escreveu ensinou e passou toda a sua vida Em 1770 tornouse professor de Lógica e Metafísica c lecionou durante os 27 anos seguintes conquistando o afeto c a admiração de seus alunos que acorriam a Königsberg como a Meca da f ilosofia Morreu aos 79 anos de idade cm 12 de fevereiro de 1S04 Entre suas principais obras além da Crítica da razão pura estão a Fundamentação da metafísica dos costumes Crítica da razão prática e Crítica da faculdade de julgar Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Kant Immanuel 17241804 Crítica da razão pura Immanuel Kant tradução e notas de Fernando Costa Mattos 4 ed Petrópolis RJ Vozes Bragança Paulista SP Editora Universitária São Francisco 2015 Coleção Pensamento Humano Título original Kritik der reinen Vernunft 4a reimpressão 2018 ISBN 9788532643247 1 Causalidade 2 Conhecimento Teoria 3 Filosofia alemã 4 Kant Immanuel 17241804 5 Razão I Título II Série 1200040 CDD193 índices para catálogo sistemático 1 Kant Filosofia alemã Obras filosóficas 193 Immanuel Kant Professor em Königsberg membro da Real Academia das Ciências de Berlim CRÍTICA DA RAZÃO PURA Tradução e notas de Fernando Costa Mattos Úà EDITORA VOZES Petrópolis O EDITORA UNIVERSITÁRIA SÃO FRANCISCO Bragança Paulista NOTA SOBRE A TRADUÇÃO A tradução de um livro como Crítica da razão pura não é tarefa das mais fáceis Além das dificuldades apresentadas pelo texto origi nal escrito há mais de duzentos anos numa língua que começava a firmarse em termos literários era preciso levar em conta as muitas versões já feitas para tantas línguas diferentes Além é claro das duas edições mais conhecidas em português a tradução de Valério Roh den e Udo Moosburger para a Coleção Pensadores lançada pela Abril Cultural em 1974 e aquela dos portugueses Manuela Pinto dos San tos e Alexandre Fradique Morujão para a Calouste Gulbenkian publi cada pela primeira vez em 1985 consultei também ao longo do tra balho diversas versões em outras línguas todas elas listadas abaixo Foram particularmente importantes porque recentes e extremamen te precisas aquela de Paul Guyer e Allen Wood para o inglês a de Costantino Esposito para o italiano e sobretudo a de Mario Caimi para o espanhol Evidentemente este não é um trabalho que se faça sozinho Des de o princípio já lá se vão mais de dois anos contei com a ajuda de muitos colegas aos quais gostaria agora de agradecer Antes de tudo agradeço aos colegas do Grupo de Traduções Kantianas Ricardo Ter ra Maurício Keinert Monique Hulshof Bruno Nadai Nathalie Bres siani e Diego Kosbiau Trevisan Muitas de nossas reuniões ao longo desse período foram dedicadas a discutir tanto algumas passagens da tradução em curso como as principais dificuldades terminológicas apresentadas pelo léxico kantiano boa parte delas refletidas no glos sário que vem publicado ao final da presente edição Agradeço tam bém à Raquel Weiss que me incentivou a assumir essa empreitada e ao Grupo de Filosofia Alemã da USP onde também se travaram algu mas importantes discussões sobre trechos e terminologias da presen te tradução Foi por iniciativa desse grupo aliás que se realizou em março de 2011 na FFLCHUSP um colóquio de tradutores da Crítica da razão 7 pura contando com a participação dos já citados Mario Caimi UBA Argentina e Costantino Esposito U Bari Itália além de Christian Hamm USM Brasil aos quais deixo aqui meusmais sinceros agrade cimentos Tendo em vista que Caimi e Esposito são os mais recentes tradutores da CRP para respectivamente o espanhol e o italiano tra touse de uma oportunidade ímpar para que em meio a ricas discus sões e reuniões de trabalho em cima do texto kantiano eu absorvesse um pouco da experiência que eles tiveram ao enfrentar essa mesma tarefa e pudesse amadurecer algumas decisões conceituais e termi nológicas Sabese que um dos grandes desafios do tradutor é estabelecer um texto que sem perder fidelidade à língua de origem consiga fa zerse ao mesmo tempo preciso e palatável na língua de chegada Nes te sentido procurei não ser tão estrito na uniformização de certas pa lavras de modo a ter sensibilidade para o contexto em que se inscre vem e busquei contornar as dificuldades que são típicas do texto kan tiano como as frases excessivamente longas com recursos pouco invasivos mas capazes de assegurar a legibilidade no português de certas passagens mais complicadas Apesar dessa flexibilidade não deixei de estabelecer certos padrões e com vistas a auxiliar o leitor em seu trabalho um trabalho que também não é nada fácil elabo rei um glossário que embora longe de ser exaustivo serve para deixar claras as minhas principais decisões terminológicas parte delas justi ficadas em notas ao longo do texto É claro que sendo esta a nossa primeira edição algumas dessas decisões poderão revelarse não tão boas aos olhos do leitor e tam bém alguns erros ou imprecisões que nos passaram despercebidos poderão ser por ele notados Neste sentido convidamos a todos que enviem à Vozes comentários críticas ou sugestões de modo que pos samos aperfeiçoar o trabalho em edições posteriores É preciso dizer por outro lado que algumas de nossas opções editoriais levaram em conta as necessidades do leitor brasileiro não especializado Embora tenhamos traduzido os trechos da primeira edição conhecida como edição A que Kant omitiu na segunda edi ção B ajustandonos assim àquela que tem sido a praxe nas novas versões da Crítica da razão pura evitamos carregar o texto de notas técnicas relativas a diferenças pontuais seja entre as duas edições 8 seja entre as diferentes edições alemãs Tomamos por base a edição canônica da Academia Real Academia Prussiana das Ciências de 1904 consultada também em sua versão digital mais recente Kant im Kontext III e procuramos limitarnos nas notas de tradução a al gumas questões terminológicas mais relevantes deixando tantas ou tras para o glossário No que diz respeito à paginação indicada ao lon go do texto tratase da numeração da segunda edição de Kant de 1787 sempre acompanhada da letra B ou no caso dos trechos nela omitidos da numeração da primeira de 1781 sempre acompanhada da letra A Tal paginação foi incorporada à Edição da Academia man tida portanto na versão digital Kant im Kontext e se tornou a refe rência habitual para as novas edições da Crítica da razão pura Listamos a seguir as edições consultadas ao longo do trabalho Grifamos em negrito as mais importantes para o nosso trabalho Alemão Kritik der reinen Vernunft Kants Gesammelte Schriften Heraus gegeben von der Preussischen Akademie der Wissenschaften Vol III Berlim se 1904 Ediçãobase para a tradução Kritik der reinen Vernunft Hamburgo Felix Meiner 1998 Kritik der reinen Vernunft Kant im Kontext III Komplettausgabe Werke Briefwechsel Nachlass Vorlesungen InfoSoftWare 2009 Português Crítica da razão pura São Paulo Brasil Ed 1959 1 ed 1958 Trad de J Rodrigues de Mereje Crítica da razão pura 2 vols São Paulo Abril 1991 Coleção Os Pen sadores 1 ed 1974 Trad de Valério Rohden e Udo Moosburger Crítica da razão pura Lisboa Calouste Gulbenkian 2008 1 ed 1985 Trad de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Mo rujão Crítica da razão pura São Paulo Martin Claret 2009 1 ed ícone 2007 Trad de Lucimar A Coghi Anselmi e Fulvio Lubisco a partir do francês 9 Espanhol Crítica de la razón pura Madri Tecnos 2002 1 ed 1928 Trad de Manuel García Morente Crítica de la razón pura Madri Alfaguara 1993 1 ed 1978 Trad de Pedro Ribas Crítica de la razón pura Ciudad de Mexico Fondo de Cultura Eco nómica 2009 1 ed Colihue 2007 Trad de Mario Caimi Italiano Critica delia ragion pura RomaBari Laterza 2010 1 ed 1909 Trad de Giovanni Gentile e Giuseppe LombardoRadice Critica della ragion pura Milão Adelphi 2007 1 ed 1957 Trad de Giorgio Colli Critica della ragion pura Milão Bompiani 2007 1 ed 2004 Trad de Costantino Esposito Francês Critique de la raison pure Paris Gallimard 1980 1 ed 1869 Trad de Jules Barni atualizada por Alexandre Delamarre e François Marty Critique de la raison pure Paris PUF 2008 1 ed 1905 Trad de A Tremesaygues e B Pacaud Critique de la raison pure Paris Flammarion 2006 1 ed Aubier 1997 Tradde Alain Renaut Inglês Critique of Pure Reason In Kant Chicago Encyclopaedia Britan nica 1990 Coleção Great Books of the Western World vol 39 1 ed 1855 Trad de JMD Meiklejohn Critique of Pure Reason Nova York Random House 1958 1 ed 1929 Trad de Norman Kemp Smith 10 Critique of Pure Reason Indianapolis Hackett 1996 Trad de Wer ner Pluhar Critique of Pure Reason Nova York Cambridge University Press 1998 Trad de Paul Guyer e Allen Wood Holandês Kritiek van de zuivere rede Amsterdam Boom 2004 Trad de Jabik Veenbas e Willem Visser 11 Baco de Verulamio Instauratio Magna Praefatio De nobis ipsis silemus De re autem quae agitur petimus ut ho mines earn non Opinionem sed Opus esse cogitent ac pro certo ha beant non Sectae nos alicujus aut Placiti sed utilitatis et amplitu dinis humanae fundamenta moliri Deinde utsuis commodis aequi in commune consulant et ipsi in partem veniant Praeterea ut bene sperent neque Instaurationem nostram ut quiddam infini tum et ultra mortale fingant et animo concipiant quum revera sit infiniti erroris finis et terminus legitimus Bacon de Verulämio Instaurado Magna Grande Restauração Prefácio De nossa parte silenciamos quanto àquilo de que aqui se trata no en tanto pedimos que os homens não o considerem uma opinião mas um tra balho sério e que estejam convencidos de que lutamos para assentar os fun damentos não de alguma seita ou opinião arbitrária mas sim para a utilida de e o engrandecimento da humanidade E então que se preocupem com o bem comum segundo a medida de seus próprios interesses e que por si mesmos tomem parte nele além disso que esperem o bem e não imagi nem ou pensem que a nossa Instaurado renovação das ciênciasf seja algo interminável e sobrehumano pois ela é na verdade o fim e o legítimo térmi no de um erro interminável 1 Adicionado em B Traduzido a partir do latim em cotejo com a versão alemã do editor NT 2 Bacon repete aí o título da obra abreviado Instauratio Restauração de lnstauratio Mag na Grande Restauração O editor alemão o traduziu e como que explicou ao leitor usando a expressão Erneuerung der Wissenschaften renovação das ciências Julgamos interes sante colocála entre colchetes para que o leitor lusófono tenha a mesma informação que o lei tor alemão NT B III À Sua Excelência o Ministro de Estado do Rei Barão de Zedlitz 14 Generoso Senhor B V Fomentar por conta própria o crescimento das ciências significa trabalhar pelo próprio interesse de Sua Excelência pois este está in trinsecamente ligado àquele não apenas na elevada posição de um guardião mas pela mais íntima relação de um esclarecido amante do conhecimento Por isso me sirvo também do único meio de que em certa medida disponho para manifestar o meu agradecimento pela ge nerosa confiança com que Sua Excelência me honra como se eu pu desse contribuir em algo para esse propósito3 Aos mesmos cuidados generosos com que Sua Excelência honrou a primeira edição deste trabalho dedico agora também esta segunda e com isso todas as demais circunstâncias de minha carreira literá ria e sou com a mais profunda veneração Königsberg 23 de abril 1787 De Sua Excelência o leal e obediente servidor Immanuel Kant 3 A partir desse ponto a edição A trazia o seguinte A VVI Para quem frui uma vida especulativa os elogios de um juiz esclarecido e legítimo são frente a seus modestos desejos um forte estímulo para esforços cuja utilidade é grande porém dis tante e por isso inteiramente desconhecida dos olhos vulgares A tal juiz e sua generosa atenção dedico agora este escrito e do mesmo modo todas as demais circunstâncias de minha carreira literária e sou com a mais profunda veneração De Sua Excelência Königsberg o leal e obediente 29 de março servidor 1781 Immanuel Kant NTI B VI 15 A VII PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO A razão humana tem o peculiar destino em um dos gêneros de seus conhecimentos de ser atormentada por perguntas que não pode recusar posto que lhe são dadas pela natureza da própria razão mas que também não pode responder posto ultrapassarem todas as facul dades da razão humana Ela não tem culpa por cair nesse embaraço Ela começa por prin cípios cujo uso inevitável no curso da experiência é também suficien temente confirmado por esta Com eles ela sobe então como tam bém é próprio de sua natureza cada vez mais alto a condições mais longínquas Como no entanto ela se torna consciente de que desse modo visto que as perguntas nunca cessam seu trabalho teria de permanecer inacabado ela se vê então forçada a buscar refúgio em princípios que ultrapassam todo uso possível da experiência e ao mesmo tempo parecem tão insuspeitos que mesmo a razão humana comum está de acordo com eles Com isso porém ela se lança na es curidão e em contradições que pode até dirimir supondo que alguns erros estejam ocultos em seu fundamento mas não consegue desco brilos porque os princípios de que se serve na medida em que extra polam todos os limites da experiência já não reconhecem nesta qual quer pedra de toque 0 campo de batalha dessas intermináveis quere las chamase metafísica Houve um tempo em que ela era chamada a rainha de todas as ciências e se a intenção for tomada pelo ato então ela merecia de fato devido à elevada importância de seu objeto esse título honorífi co Hoje em dia é próprio à moda da época dirigir todas as suspeitas contra ela e a matrona ofendida e abandonada queixase como Hé cuba modo maxima rerum totgeneris natisque potens nunc trahor exul inops Ovídio Metamorfoses 1 Ainda há pouco a maior de todas poderosa entre tantos genros e filhos e agora exilada en fraquecida NT A VIII A IX 17 No começo sob a administração dos dogmáticos seu governo era despótico Como no entanto a legislação continha ainda tra ços da antiga barbárie ela degenerou gradativamente por meio de guerras internas em uma completa anarquia e os céticos uma es pécie de nômades que abominam todo cultivo duradouro do solo desfaziam de tempos em tempos a união civil Como porém eram felizmente poucos eles não puderam impedir que os dogmáticos buscassem sempre ainda que sem seguir um plano unânime entre eles reconstruir novamente essa união Nos tempos modernos pa receu por um momento de fato que todas essas querelas teriam fim com uma certa fisiologia do entendimento humano do famoso Locke e que se decidiria de maneira completa sobre a legitimida de daquelas pretensões mas ocorreu que embora o nascimento daquela supostajainha tivesse sido derivado da vulgaridade da ex periência comum e dessa forma a sua pretensão tivesse de ser posta sob suspeita com justiça ela seguiu a afirmar suas preten A X sões porque essa genealogia lhe fora falsamente imputada e com isso tudo voltou de novo ao velho e carunchoso dogmatismo e a partir daí a um desprezo do qual se poderia ter salvo a ciência Agora quando todos os caminhos segundo se crê foram tentados em vão reinam nas ciências o tédio e o completo indiferentismo mãe do caos e da noite na ciência mas ao mesmo tempo a origem ou ao menos o prelúdio de uma iminente transformação e esclare cimento das mesmas que se tornaram obscuras confusas e estéreis por meio de esforços mal conduzidos E certamente vão querer aparentar indiferença em relação a tais investigações cujo objeto não pode ser indiferente à natureza huma na Também oß supostos indiferentistas por mais que pretendam dis farçarse com a transformação da linguagem escolástica em um tom popular acabam por recair inevitavelmente onde quer que apenas pensem algo em geral nas afirmações metafísicas contra as quais mostravam tanto desprezo Essa indiferença no entanto que ocorre em meio ao florescimento de todas as ciências e atinge justamente aquela cujos conhecimentos se estivessem à disposição seriam os A xi menos renunciáveis de todos é um fenômeno Phänomen que mere ce cuidado e ponderação Ele é claramente um efeito não da negli 18 gência mas da amadurecida faculdade de julgar da época que já não se deixa deter por um saber ilusório e é um estímulo à razão para que assuma novamente o mais árduo de seus trabalhos qual seja o do au toconhecimento e instaure um tribunal capaz tanto de assegurála em suas pretensões legítimas como por outro lado de ajudála a li vrarse de todas as suposições infundadas e isso não por meio de decre tos arbitrários mas segundo suas leis eternas e imutáveis e este tri bunal não é outro senão a própria critica da razão pura Eu entendo aqui contudo não uma crítica dos livros e sistemas mas sim da faculdade da razão em geral com vistas a todos os conhe cimentos que ela pode tentar atingir independentemente de toda ex periência e portanto a decisão sobre a possibilidade ou impossibili dade de uma metafísica em geral e a determinação sempre a partir de princípios tanto das fontes como do começo e dos limites da mesma Eu adentrei então este caminho o único que restou e me orgu lho de ter encontrado nele o modo de suprimir todos os erros que ti nham até aqui cindido a razão consigo mesma em seu uso fora da ex periência Eu não me esquivei com isso de suas perguntas usando como desculpa a incapacidade da razão humana eu antes as especifi quei completamente segundo princípios e depois de ter descoberto o ponto preciso do malentendido da razão consigo mesma solucio neias de um modo plenamente satisfatório para a razão A resposta àquelas perguntas não é de fato tão extraordinária como pediria a delirante sede de saber dos dogmáticos pois esta só poderia ser satis feita com passes de mágica e disso eu não entendo muita coisa Além disso tal não era por certo o propósito da destinação natural de nos sa razão e o dever da filosofia era suprimir as fantasias surgidas da 2 Ouvemse muitas queixas sobre a superficialidade do modo de pensar de nossa época e o declí nio da ciência rigorosa Eu não creio porém que aquelas que têm seu fundamento bem esta belecido como a matemática a ciência da natureza etc mereçam sequer minimamente essa acusação elas antes afirmam a velha reputação de profundidade e no caso da última chegam até a superála Esse mesmo espírito poderia provarse real também em outros tipos de conhe cimento desde que se cuidasse primeiramente de retificar os seus princípios Na falta desta correção a indiferença a dúvida e afinal uma forte crítica são antes as provas de um modo de pensar rigoroso Nossa época é a verdadeira época da critica a que tudo tem de submeterse A religião por meio de sua sacralidade e a legislação por meio de sua majestade querem em geral escapar a ela Desse modo porém levantam contra si uma legítima suspeita e não po dem aspirar ao sincero respeito que a razão dedica apenas àquele que pôde suportar o seu li vre e público teste NA A XII A XIII 19 falta de clareza por mais que muitas ilusões apreciadas e amadas se vissem assim reduzidas a nada Com vistas a isso procurei dar a maior atenção à questão do rigor e me arrisco a dizer que não deve haver uma única tarefa metafísica que não tenha sido aqui solucionada ou para cuja solução eu não tenha pelo menos fornecido a chave Na ver dade a razão pura é uma unidade tão perfeita que se um princípio seu fosse insuficiente para uma única de todas as perguntas que lhe são postas por sua própria natureza seria preciso descartálo pois já não poderia ser aplicado com plena confiabilidade a nenhuma das demais Ao dizer isso acredito perceber no rosto do leitor diante de tão A xiv pretensiosas e imodestas afirmações um semblante que mistura des prezo e contrariedade e no entanto elas são incomparavelmente mais modestas do que as de qualquer autor do programa mais usual que pretende provar coisas como a natureza simples da alma ou a ne cessidade de um primeiro começo do mundo Pois ele se empenha em alargar o conhecimento humano para além de todos os limites da experiência possível enquanto eu humildemente sustento que isso ultrapassa inteiramente as minhas faculdades em vez disso ocupo me apenas com a razão mesma e seu puro pensar cujo conhecimento completo não preciso procurar muito além de mim mesmo pois ele se encontra em mim e já a lógica comum me fornece um exemplo de como as suas ações mais simples podem ser enumeradas de maneira completa e sistemática apenas se poderia perguntar aqui o quão longe espero chegar com isso uma vez que me sejam tirados todo ma terial e apoio da experiência Mas chega de falar sobre a completude no atingimento de cada um dos fins e sobre a exaustividade no atingimento de todos eles em conjunto queçonstituem a matéria de nossa investigação crítica por que nos são dados não por um objetivo fortuito mas pela natureza do próprio conhecimento A xv Também a certeza e a clareza duas coisas que dizem respeito à forma de tal investigação devem ser vistas como exigências funda mentais que se podem fazer com justiça ao autor que se arrisca numa tão incerta empreitada No que diz respeito à certeza eu mesmo me ditei a sentença que nesse tipo de estudo não seja permitido de modo algum opinar e que 20 tudo que aqui simplesmente pareça uma hipótese seja mercadoria proibida que não pode ser vendida nem pelo menor preço mas tenha isto sim de ser confiscada tão logo descoberta Pois o que se espera de todo conhecimento que deve ser a priori seguro é que ele seja to mado por absolutamente necessário e que uma determinação de to dos os conhecimentos puros a priori com tanto mais razão deva ser o padrão de medida e portanto o exemplo mesmo de toda certeza apodítica filosófica Se quanto a isso eu consegui realizar aquilo a que me propus é algo que cabe somente ao leitor julgar pois ao autor incumbe apenas assentar os fundamentos e não julgar os efeitos pe rante os seus juízes De modo a evitar porém que algo se torne aqui de maneira inadvertida a origem de uma fraqueza teórica tem de ser permitido ao autor indicar por si mesmo aqueles pontos mesmo atinentes a fins secundários que poderiam dar ensejo a alguma des confiança prevenindo a tempo assim a influência que uma dúvida mínima que fosse poderia ter sobre o juízo do leitor relativamente ao fim principal Não conheço nenhuma investigação que seja mais importante quanto à investigação da faculdade a que chamamos entendimento e ao mesmo tempo quanto à determinação das regras e limites de seu uso do que aquelas que realizei sob o título de Dedução dos concei tos puros do entendimento na segunda parte da Analítica Transcen dental elas também me custaram os maiores esforços mas estes se gundo espero não foram em vão Sedimentado com considerável pro fundidade este estudo tem todavia dois lados Um diz respeito aos objetos do entendimento puro e deve estabelecer e tornar compreen sível a validade objetiva de seus conceitos a priori justamente por isso é algo intrínseco a meus fins O outro parte de uma considera ção do próprio entendimento puro uma consideração subjetiva portanto segundo suas próprias possibilidades e os poderes cogniti vos em que está assentado e embora esta elucidação seja de grande importância com vistas a meu fim principal ela não lhe é intrínseca porque a questão principal persiste independentemente de toda ex periência o que e como podem o entendimento e a razão conhecer E não esta como é possível a própria faculdade de pensar Visto que a última é de certo modo a investigação da causa de um dado efeito e na medida em que tem em si algo de similar a uma hipótese ainda A XVI A XVII 21 que não se comporte de fato assim como mostrarei em outra oca sião então parece que eu tomei aqui a liberdade de opinar e deixei também ao leitor a possibilidade de opinar diferentemente Quanto a isso tenho de lembrar ao leitor antecipadamente que caso a minha dedução subjetiva não produza nele a plena convicção que espero a objetiva que é aqui a mais importante tem de receber toda a sua for ça para o que de qualquer modo pode ser inteiramente suficiente aquilo que é dito às páginas 92 e 93 B 123124 No que diz respeito à clareza por fim o leitor tem o direito de exigir não apenas em primeiro lugar uma clareza discursiva lógica por meio de conceitos mas também em seguida uma clareza intui A xviii tiva estética por meio de intuições i e exemplos ou outras eluci dações in concreto Da primeira eu cuidei suficientemente Mas isto que dizia respeito à essência de meu projeto acabou sendo também a causa contingente de eu não poder dar a devida atenção à segunda exigência que embora não tão forte é todavia justa Em quase todo o curso de meu trabalho fiquei constantemente em dúvida quanto a como lidar com isso Exemplos e elucidações me pareciam sempre ne cessários e assim encontraram de fato no primeiro esboço os seus devidos lugares Eu logo percebi contudo a grandeza de minha tare fa e a variedade dos objetos com que teria de lidar e como me dei conta de que estes talvez fossem suficientes para numa linguagem seca e meramente escolástica completar o trabalho julguei pouco aconselhável estendêlo ainda mais com exemplos e elucidações que somente são necessários de um ponto de vista popular afinal este trabalho não poderia pautarse de modo algum pelos costumes popu lares e os verdadeiros conhecedores das ciências não necessitam tan to assim dessa suavização que é sempre agradável mas aqui poderia até mesmoir contra os fins do trabalho O Abade Terrasson diz com A xix efeito que se a grandeza de um livro não se mede pela quantidade de páginas mas pelo tempo que se gasta para compreendêlo então se poderia dizer de muitos livros que eles poderiam ser bem mais curtos se já não fossem tão curtos Se por outro lado a atenção for dirigida à inteligibilidade de um todo de conhecimento especulativo que seja extenso mas concatenado segundo um princípio então se poderia dizer com o mesmo grau de justiça que muitos livros poderiam tornarse bem mais claros se não tentassem ser tão claros Pois os mei os auxiliares da clareza que de fato ajudam no detalhe com frequên 22 cia atrapalham no geral na medida em que não permitem ao leitor chegar rápido o suficiente a uma visão de conjunto do todo e mesmo com todas as suas cores brilhantes acabam por embaralhar e tornar irreconhecível a articulação ou estrutura do sistema da qual em geral depende todavia a possibilidade de julgar sobre a unidade e a solidez do mesmo Segundo me parece o interesse do leitor poderia ser considera velmente ampliado se ele unisse seus esforços àqueles do autor no sentido de segundo o projeto apresentado executar até o fim e de maneira duradoura uma obra grandiosa e importante E a metafísica segundo os conceitos que dela forneceremos aqui é a única de todas as ciências de que podemos em pouco tempo e com esforços pequenos mas unificados esperar tal acabamento perfeito de tal modo que não sobre nada para a posteridade a não ser adequála didaticamente a seus propósitos sem por isso ampliar em nada o seu conteúdo Pois ela não é senão o inventário de tudo aquilo que possuímos por meio da ra zão pura organizado sistematicamente Nada nos pode aqui escapar pois aquilo que a razão produz apenas por si mesma não pode escon derse mas é antes tão logo o seu princípio tenha sido descoberto tra zido à luz pela própria razão A unidade completa desse tipo de conhe cimento constituído de conceitos inteiramente puros sem que algo da experiência ou mesmo uma intuição particular que devesse conduzir a uma determinada experiência tenham qualquer influência no senti do de estendêla ou aumentála é não apenas possível mas necessária Tecum habita et noris quam sit tibi curta supellex Pérsio3 Eu mesmo espero poder oferecer tal sistema da razão pura espe culativa sob o título de Metafísica da natureza o qual deve ter um conteúdo muito mais rico com menos da metade da extensão que tem aqui a Crítica que tinha de estabelecer primeiro as fontes e condi ções de sua possibilidade e precisava limpar e aplainar um solo total mente irregular Aqui eu espero de meu leitor a paciência e a imparci alidade de um juiz e lá a solicitude e o apoio de um ajudante pois por mais que todos os princípios sejam completamente reunidos sob um sistema na Crítica pertence ainda à perfectibilidade do próprio 3 Cuida de teu próprio lar e verás como são poucas as tuas coisas Pérsio Sátiras 4 52 NT A XX A XXI 23 sistema que não faltem também os conceitos derivados que não po dem ser introduzidos de súbito a priori mas têm antes de ser exami nados gradativamente domesmo modo como lá foi esgotada a sínte se completa dos conceitos aqui se exige além disso que aconteça o mesmo com a análise em que tudo é fácil e mais entretenimento do que trabalho Só tenho algo a acrescentar com relação à impressão Como o iní cio da mesma foi um pouco atrasado só recebi para revisar em torno A xxii de metade das provas nas quais encontrei alguns erros de impressão que no entanto não interferem no sentido a não ser aquele da pági na A 379 linha 4 de baixo para cima em que específico tem de ser lido no lugar de cético A antinomia da razão pura da página A 425 à A 461 está disposta na forma de uma tábua de tal modo que tudo aquilo qu faz parte da tese continue do lado esquerdo e tudo aquilo que faz parte da antítese do lado direito ambas assim ordena das para que a tese e a antítese pudessem ser mais facilmente compa radas uma à outra 24 PREFACIO A SEGUNDA EDIÇÃO B VII Se a elaboração dos conhecimentos que pertencem ao ofício da razão está ou não no caminho seguro de uma ciência é algo que se po derá julgar agora em função do resultado Se ela depois de muitos preparativos e arranjos feitos encontrase em apuros no que diz res peito a seu fim ou se tem de muitas vezes voltar atrás e adentrar um outro caminho para atingilo e se também não é possível trazer os di ferentes colaboradores a um acordo quanto ao modo como o propósi to comum deve ser seguido então se pode ter certeza de que tal estu do está longe de adentrar o caminho seguro de uma ciência sendo an tes um mero tatear às cegas e já será um ganho para a razão encon trar esse caminho onde quer que seja mesmo que se tenha de aban donar como inútil muito do que fazia parte irrefletidamente dos fins antes assumidos Que a lógica tenha entrado nesse caminho seguro desde os mais remotos tempos é algo que se mostra no fato de que desde Aristóteles ela não precisou dar sequer um passo atrás a não ser que se contem como efetivos melhoramentos coisas como a remoção de sutilezas dispensáveis ou a determinação mais clara do exposto que perten cem mais à elegância do que à segurança da ciência É igualmente no tável que até aqui ela também não tenha podido dar um passo sequer adiante e pareça assim ao que tudo indica estar concluída e comple ta Pois se alguns modernos contaram ampliála introduzindo capítu los em parte psicológicos sobre as diferentes forças cognitivas a ima ginação o humor em parte metafísicos sobre a origem do conheci mento ou os diferentes tipos de certeza conforme a diferença dos objetos idealismo ceticismo etc e em parte antropológicos so bre os preconceitos as causas dos mesmos e os seus antídotos isso se deveu à sua ignorância quanto à natureza própria desta ciência Deixar que os limites de uma ciência se confundam com os de outra não constitui um aumento mas sim uma deformação da mesma o li mite da lógica contudo está firmemente determinado pelo fato de ela ser uma ciência que apenas apresenta e prova com toda força as B VIII B IX 25 regras formais de todo pensar seja este pensar a priori ou empírico tenha a origem ou o objeto que seja encontre obstáculos contingen tes ou naturais em nossa mente Que tudo tenha corrido tão bem para a lógica é uma vantagem que ela tem de agradecer apenas à sua limitação pela qual é autoriza da ou na verdade obrigada a fazer abstração de todos os objetos do conhecimento e de suas diferenças de tal modo que o entendimento não tenha de ocuparse nela com nada além de si mesmo e de suas for mas Tinha de ser muito mais difícil para a razão naturalmente aden trar o caminho seguro da ciência quando tem de lidar não apenas con sigo mesma mas também com objetos daí a lógica constituir en quanto propedêutica como que o átrio das ciências sendo pressupos ta toda vez que se tem de julgar os conhecimentos muito embora se tenha de recorrer às ciências assim chamadas com propriedade e ob jetividade quando se trata da aquisição dos mesmos Na medida em que a razão deve estar presente em tais ciências algo nelas tem de ser conhecido a priori e tal conhecimento pode es tar relacionado a seu objeto de dois modos seja simplesmente deter minando a este e seu conceito que tem de ser dado de outro modo B x seja também tornandoo real O primeiro é o conhecimento teórico da razão o último é o prático Quer contenha muito ou pouco a par te pura de ambos que é aquela em que a razão determina seu objeto inteiramente a priori tem de ser apresentada sozinha de antemão e não pode misturarse àquilo que vem de outras fontes pois é um mau negócio gastar cegamente aquilo que se recebe sem poder distinguir depois quando os negócios não vão bem qual parte da receita pode ria cobrir os gastos e de qual estes deveriam ser separados A matemática e a física são os dois conhecimentos teóricos da ra zão que devem determinar seus objetos a priori a primeira de modo inteiramente puro a última de modo pelo menos parcialmente puro mas em seguida também segundo a medida de outras fontes do co nhecimento que não a razão A matemática entrou no caminho seguro da ciência já nos tem pos mais antigos que a história da razão humana alcança junto ao ad mirável povo grego Mas não se deve pensar que para ela foi tão fácil B xi encontrar essa estrada real ou antes pavimentála por si mesma como 26 o foi para a lógica em que a razão só tem de lidar consigo mesma acredito antes que ela permaneceu por muito tempo sobretudo ainda entre os egípcios num tatear às cegas sendo tal transformação atri buível a uma revolução em que a feliz inspiração de um único ho mem a partir de uma tentativa gerou condições tais que o trajeto a ser seguido não seria mais errado e o caminho seguro de uma ciência seria adentrado e estabelecido de maneira infinita para todos os tempos A história dessa revolução no modo de pensar que foi muito mais importante do que a descoberta do caminho para o famoso cabo e do feliz indivíduo que a engendrou não chegou aos nossos tempos No entanto a lenda que nos foi transmitida por Diógenes La ércio apontando o suposto descobridor dos menores elementos das demonstrações geométricas que segundo o juízo comum não neces sitam de prova alguma evidencia que a lembrança dessa modificação ocasionada pelo primeiro sinal da descoberta do novo caminho deve ter parecido aos matemáticos da mais extrema importância e assim terse tornado inesquecível Ao primeiro que demonstrou o triângulo isósceles quer se chamasse Tales ou o que fosse ocorreu uma luz pois ele descobriu que não tinha de investigar aquilo que via numa fi gura nem tampouco o conceito da mesma para como que aprender assim as suas propriedades mas sim produzilas por construção a partir daquilo que ele mesmo segundo conceitos pensava e apresen tava a priori na figura e descobriu também que para saber algo a priori com segurança não deveria acrescentar nada à coisa a não ser aquilo que se seguisse necessariamente ao que ele próprio havia pos to nessa coisa em conformidade com seu conceito A ciência da natureza1 demorou bem mais para encontrar o gran dioso caminho da ciência pois faz apenas cerca de um século e meio que a proposta do engenhoso Bacon de Verulâmio em parte engen drou e como muitos já a estavam perseguindo em parte estimulou ainda mais essa descoberta o que só pode ser explicado por uma céle re revolução no modo de pensar Aqui só levarei em conta a ciência da natureza enquanto fundada em princípios empíricos 1 Muitos tradutores entre eles Santos e Morujão optaram por traduzir Naturwissenschaft por física deduzindo pelo contexto e também a partir da equivalência entre Naturwissenschaft e o termo latino physica feita na Introdução B 17 que Kant usou esse termo como sinôni mo da Physik de dois parágrafos antes Neste ponto nos alinhamos a Rohden Cuyer e Allen e a Caimi que preferiram a literalidade conservada em ciência da natureza NTj B XII 27 Quando Galileu fez rolar suas esferas em um plano inclinado com um peso por ele mesmo escolhido ou quando Torricelli fez com que o ar suportasse um peso que ele acreditara de antemão ser igual ao de uma coluna de água por ele conhecida ou quando Stahl em tempos B xiii mais recentes transformou metal em cal e esta novamente em metal simplesmente retirando e devolvendo algo a esses materiais2 assim ocorreu uma luz a todos os pesquisadores da natureza Eles compre enderam que a razão só entende aquilo que ela mesma produz segun do seu projeto e que ela tem de colocarse à frente com os princípios de seus juízos segundo leis constantes e forçar a natureza a respon der às suas perguntas em vez de apenas deixarse conduzir por ela como que puxada por uma corda pois do contrário as observações contingentes e feitas sem nenhum plano previamente concebido não seriam articuladas sob uma lei necessária algo que a razão busca e necessita A ràzão tem de dirigirse à natureza com seus princípios numa mão os únicos sob os quais fenômenos coincidentes podem va ler como leis e com o experimento que concebeu a partir deles na ou tra e isso para de fato aprender com ela mas não na qualidade de um aluno que recita tudo o que o professor quer e sim na de um juiz constituído que força as testemunhas a responder às perguntas que lhes faz E assim até mesmo a física no que diz respeito à tão frutífe ra revolução no seu modo de pensar tem de agradecer unicamente à b xiv circunstância de procurar não imputar na natureza aquilo que a pró pria razão nela introduziu para assim aprender com esta algo que não aprenderia por si mesma Desse modo a ciência da natureza de pois de muitos séculos sem ser nada mais que um tatear às cegas foi trazida pela primeira vez para o caminho seguro de uma ciência O destino não foi até agora tão benevolente com a metafísica um conhecimento especulativo da razão inteiramente isolado que se ele va por completo para além dos ensinamentos da experiência por meio de meros conceitos não pela aplicação dos mesmos à intuição como faz a matemática e em que a razão deve ser portanto sua própria aluna ela não pôde adentrar ainda o caminho seguro de uma ciência mesmo sendo mais velha que todas as demais e capaz de sobrevi 2 Eu não sigo aqui à risca o fio da história do método experimental cujos primórdios de qual quer forma não são bem conhecidos NA 28 verlhes caso elas fossem todas inteiramente engolidas por uma bar bárie avassaladora Nela de fato a razão se vê em constantes apuros mesmo quando quer discernir a priori tal como se julga capaz de fa zer aquelas leis que são confirmadas pela mais vulgar experiência Na metafísica é preciso voltar inúmeras vezes sobre o caminho pois se percebe que ele não conduz aonde se quer chegar e no que diz respeito à unanimidade de seus defensores nas afirmações que fazem ela está tão longe disso que mais parece um campo de batalha um campo destinado a exercitar as forças em jogos de combate mas onde até hoje nenhum combatente conseguiu conquistar o menor lugar para si nem fundar uma posse duradoura a partir de uma vitória Não há nenhuma dúvida portanto de que o seu procedimento foi até aqui um tatear às cegas e o que é pior um tatear entre conceitos puros A que se deve então que aqui não se tenha podido encontrar o ca minho seguro da ciência Será ele impossível Por que então a nature za importunou a nossa razão com a inquietante aspiração a procurálo como uma de suas mais importantes preocupações E mais até que ponto devemos confiar em nossa razão se em um dos mais importan tes aspectos de nosso anseio por conhecimento ela não apenas nos abandona mas nos entretém com simulações e ao final nos engana Ou caso nos tenhamos apenas desviado do rumo qual a indicação por que podemos pautarnos para em uma renovada tentativa esperar que tenhamos mais sorte do que outros tiveram antes de nós Quero crer que os exemplos da matemática e da ciência da natureza que se tornaram o que são hoje por meio de uma revolução subitamente desencadeada sejam interessantes o suficiente tanto para fazernos me ditar sobre o elemento essencial na transformação do modo de pensar que lhes foi tão proveitosa quanto para tomálas como exemplo pelo me nos a título de tentativa na medida em que o permita a sua analogia en quanto conhecimentos racionais com a metafísica Até hoje se assumiu que todo o nosso conhecimento teria de regularse pelos objetos mas to das as tentativas de descobrir algo sobre eles a priori por meio de concei tos para assim alargar nosso conhecimento fracassaram sob essa pressu posição E preciso verificar pelo menos uma vez portanto se não nos sa iremos melhor nas tarefas da metafísica assumindo que os objetos têm de regularse por nosso conhecimento o que já se coaduna melhor com a possibilidade aí visada de um conhecimento a priori dos mesmos ca B xv B XVI 29 B XVII B XVIII paz de estabelecer algo sobre os objetos antes que nos sejam dados Isso guarda uma semelhança com os primeiros pensamentos de Copérnico que não conseguindo avançar muito na explicação dos movimentos ce lestes sob a suposição de que toda a multidão de estrelas giraria em tor no do espectador verificou se não daria mais certo fazer girar o especta dor e do outro lado deixar as estrelas em repouso Podese agora na me tafísica tentar algo similar no que diz respeito à intuição dos objetos Se a intuição tivesse de regularse pela constituição dos objetos eu não vejo como se poderia saber algo sobre ela a priori se no entanto o objeto Ge genstand como objeto Object dos sentidos3 regularse pela constitui ção de nossa faculdade intuitiva então eu posso perfeitamente me repre sentar essa possibilidade Uma vez porém que não posso permanecer nessas intuições caso elas devam tornarse conhecimentos mas tenho antes de referilas enquanto representações a um algo como objeto e determinar a este por meio daquelas então eu posso ou assumir que os conceitos com que realizo esta determinação se regulam também pelo objeto e me lanço de volta à mesma dificuldade quanto ao modo de poder conhecer algo a priori ou então eu assumo que os objetos ou o que dá no mesmo a experiência em que eles podem ser conhe cidos como objetos dados são reguladas por esses conceitos e as sim vejo logo uma saída mais fácil pois a experiência é ela própria um tipo de conhecimento que exige o entendimento cuja regra que eu tenho de pressupor em mim antes que os objetos me sejam da dos portanto a priori é expressa em conceitos a priori pelos quais assim todos os objetos da experiência se regulam necessariamente e aos quais têm de ajustarse No que diz respeito aos objetos que são pensados apenas pela razão e de fato necessariamente mas que não podem ser dados em experiência alguma não pelo menos como a razão os peijsa as tentativas de pensálos pois eles têm ao menos de deixarse pensar fornecerão a partir de agora uma excelente pedra de to que para isso que assumimos como o método modificado do modo de 3 Nesta passagem Kant parece estabelecer uma sutil diferença de significado entre Gegenstand e Object duas palavras que a rigor só comportam a tradução por objeto Sempre que Kant usar ambos os termos no mesmo contexto como ocorre aí indicaremos entre parênteses a pa lavra alemã correspondente a cada objeto Nas demais ocorrências porém manteremos sempre objeto pois Kant não parece preocupado em manter essa diferença entre os dois ter mos Foi esta a opção adotada também por entre outros Caimi e Esposito NT 30 pensar a saber que nós só podemos conhecer a priori das coisas aquilo que nós mesmos nelas colocamos4 No que diz respeito à primeira parte da metafísica em que ela se ocupa de conceitos a priori para os quais podem ser dados na expe riência os objetos correspondentes essa tentativa é tão bemsucedida quanto poderíamos esperar e promete à metafísica o caminho seguro de uma ciência Pois se pode perfeitamente esclarecer a partir dessa mudança no modo de pensar a possibilidade de um conhecimento a priori e o que é mais importante fornecer suficientes provas às leis que a priori servem de fundamento à natureza enquanto conjunto completo de todos os objetos da experiência duas coisas que eram impossíveis segundo o modo de proceder adotado até aqui Dessa de dução da nossa faculdade de conhecer a priori na primeira parte da metafísica decorre contudo um resultado perturbador e a julgar pela aparência extremamente negativo para o fim inteiro da mesma que constitui a sua segunda parte a saber que nós não poderemos nunca com essa faculdade ultrapassar os limites da experiência possível que é o que perfaz no entanto o interesse mais essencial dessa ciên cia Neste ponto porém reside também o experimento de uma con traprova da verdade que resulta dessa primeira apreciação de nosso conhecimento racional a priori a saber que ele só se aplica a fenôme nos5 e deixa de fora a coisa em si como uma coisa efetivamente real por si mesma mas por nós desconhecida Pois aquilo que nos impul 4 Este método imitado do pesquisador da natureza consiste portanto no seguinte procurar pelos elementos da razão pura naquilo que possa ser confirmado ou refutado por um experi mento Ora as proposições da razão pura sobretudo quando se arriscam para além de todos os limites da experiência possível não permitem que se faça qualquer experimento com seus objetos tal como se faz na ciência da natureza assim só se poderá trabalhar com conceitos e princípios que assumimos a priori na medida de fato em que eles sejam estruturados de tal forma que os mesmos objetos possam ser considerados por um lado como objetos dos senti dos e do entendimento para a experiência mas por outro como objetos próprios à razão isola da que ultrapassou todos os limites da experiência que só podem ser pensados os objetos são portanto considerados de dois lados distintos Se se verifica então quando as coisas são consideradas desse duplo ponto de vista que ocorre uma concordância com o princípio da ra zão pura ao passo que de um único ponto de vista surge um conflito inevitável da razão consi go mesma então o experimento decide pela legitimidade de tal distinção NAj 5 Erscheinungen Literalmente a palavra Erscheinung poderia ser traduzida por aparição aquilo que aparece por oposição ao que se oculta No entanto ela também corresponde no alemão e no vocabulário kantiano à palavra latina Phaenomenon fenômeno cuja contra partida é o Noumenon númeno O próprio Kant acusou a sinonímia em A 249 circunstân cia a que Rohden e Moosburger chamam a atenção p 39 Por essa razão consagrouse nos estudos kantianos a tradução de Erscheinung por fenômeno que mantemos aqui Indicamos entre parênteses contudo as ocasiões em que Kant usou a versão germanizada da palavra Phaenomenon Phänomen Phänomene no plural NT B XIX B XX B XIX 31 siona necessariamente a ir além dos limites da experiência é o incon dicionado que a razão exige necessariamente nas coisas em si mes mas e com toda justiça em todos os condicionados e portanto na sé rie das condições como uma série completa Se quando se assume que o nosso conhecimento por experiência se regula pelos objetos como coisas em si mesmas verificase que o incondicionado não po deria ser pensado sem contradição se ao contrário quando se assu me que a nossa representação das coisas tal como nos são dadas não se regula por estas como coisas em si mesmas mas os objetos é que se regulam pelo nosso modo de representação verificase que a contra dição desaparece e se portanto o incondicionado tem de ser encon trado não nas coisas enquanto as conhecemos enquanto nos são da das mas sim nelas enquanto não as conhecemos enquanto coisas em si mesmas assim se evidencia que tem fundamento aquilo que no B xxi começo assumíamos apenas a título de tentativa6 Permanece então para nós depois que à razão especulativa foi recusado todo progresso nesse campo do suprassensível a necessidade de verificar se não há em seu conhecimento prático dados para determinar aquele conceito racional transcendente do incondicionado e desse modo satisfazer ao desejo da metafísica de ir além de todos os limites da experiência possível com os nossos conhecimentos a priori que todavia só são possíveis de um ponto de vista prático E com tal procedimento a ra zão especulativa ainda que o tivesse de deixar vazio nos reservou pelo menos algum espaço para essa extensão de modo que nos é per B xxii mitido e mesmo exigido por ela preencher tal espaço se pudermos com os seus dados práticos7 6 Este experimento da razão pura tem muito de similar àquele que os químicos chamam muitas ve zes de experimento da redução mas em geral de procedimento sintético A análise do metafísico dividia o conhecimento puro a priori em dois elementos muito desiguais quais sejam aquele das coisas como fenômenos e então aquele das coisas em si mesmas A dialética liga ambos novamen te para concordar com a ideia racional necessária de um incondicionado e descobre que esta con cordância somente ocorre por meio daquela diferença a qual é portanto verdadeira NA 7 Assim as leis centrais dos movimentos dos corpos celestes forneceram certeza completa àquilo que Copérnico assumira inicialmente como mera hipótese e ao mesmo tempo provaram a força invisível que articula a estrutura do universo a atração newtoniana a qual não seria jamais des coberta se um primeiro não tivesse ousado contra as evidências sensoriais mas ainda assim de modo correto procurar os movimentos observados não nos objetos celestes mas em seu espec tador De modo a chamar a atenção para as primeiras tentativas de tal modificação que são sem pre hipotéticas neste prefácio eu apresento como mera hipótese a mudança no modo de pensar análoga à hipótese de Copérnico que é levada a cabo na Crítica muito embora no próprio trata do ela seja a partir da constituição de nossas representações do espaço e do tempo e dos concei tos elementares do entendimento provada não hipotética mas apoditicamente NA 32 A tarefa principal desta crítica da razão pura especulativa reside nessa tentativa de modificar o procedimento até hoje adotado na me tafísica e isso de tal modo que operemos uma verdadeira revolução da mesma a partir do exemplo dos geômetras e dos pesquisadores da natureza Ela é um tratado do método não um sistema da própria ciência mas ela circunscreve ao mesmo tempo o seu inteiro contorno tanto com relação aos seus limites quanto com relação a toda a sua es trutura interna Pois a razão pura especulativa tem isso de próprio ela pode e deve medir a sua própria faculdade segundo a diversi dade dos modos pelos quais escolhe objetos para o pensamento e também enumerar completamente os diversos modos de colocarse tarefas delineando assim o esboço completo para um sistema da me tafísica no que diz respeito ao primeiro ponto de fato nada pode ser extraído dos objetos no conhecimento a priori a não ser aquilo que o sujeito pensante toma de si mesmo e no que diz respeito ao segun do ela constitui uma unidade inteiramente separada subsistente por si mesma em que cada membro como num corpo organizado existe em função de todos os demais e todos em função de um de tal modo que nenhum princípio pode ser extraído com segurança de uma rela ção sem ter sido investigado na relação completa com o uso inteiro da razão pura Quanto a isso porém a metafísica tem também a rara sor te não compartilhada por nenhuma outra ciência racional que lide com objetos pois a lógica se ocupa apenas com a forma do pensamen to em geral de uma vez colocada por esta Crítica no caminho seguro de uma ciência poder conquistar todo o campo dos conhecimentos a ela pertencentes e assim completar a sua obra deixandoa para a pos teridade como uma moldura nunca mais alargável pois ela só tem de li dar com princípios e com a limitação de seu uso que é por seu turno determinada por esses mesmos princípios Ela é obrigada a essa com pletude portanto também como ciência rigorosa e dela se tem de po der dizer nil actum reputans si quid superesset agendum Mas que tesouro é esse podese perguntar que contamos deixar à posteridade com essa metafísica purificada pela Crítica que no entanto foi trazida por isso mesmo a uma situação definitiva Podese ter a impressão num exame apressado deste trabalho de 8 8 Nada considerar como feito quando há algo por fazer NT B XXIII B XXIV 33 que a sua utilidade seja apenas negativa a saber de não nos arris carmos jamais com a razão especulativa para além dos limites da experiência e tal é de fato a sua primeira utilidade Esta logo se torna positiva porém quando se percebe que os princípios com que a razão especulativa se arrisca para além dos seus limites têm por re sultado inevitável não de fato a ampliação mas sim se os observa mais de perto a contração do uso de nossa razão já que eles amea çam alargar indefinidamente os limites da sensibilidade aos quais B xxv eles próprios pertencem e assim anular o uso puro prático da ra zão Assim uma Crítica que limita aquele primeiro uso é realmente negativa mas na medida em que suprime ao mesmo tempo um obs táculo que limita o segundo uso ou mesmo que ameaça destruílo ela tem de fato uma utilidade positiva e muito importante reconhe cível tão logo se estga convencido de que há um uso prático absolu tamente necessário da razão pura o moral no qual ela se estende inevitavelmente além dos limites da sensibilidade sem necessitar de qualquer assistência da especulativa mas assegurada contra o efei to contrário desta para não cair em contradição consigo mesma Re cusar utilidade positiva a este serviço prestado pela Crítica seria o mesmo que dizer que a polícia não oferece nenhuma utilidade posi tiva porque seu papel principal é apenas o de impor limites à violên cia pela qual os cidadãos têm de temer uns aos outros de modo que cada um possa administrar seus interesses em paz e segurança Que o espaço e o tempo sejam apenas formas da intuição sensível por tanto condições da existência das coisas como fenômenos que além disso nós não possamos ter nenhum conceito do entendimento portanto também nenhum elemento para o conhecimento das coi B xxvi sas a não ser na medida em que a esse conceito possa ser dada a in tuição correspondente que portanto nós não possamos ter qual quer conhecimento das coisas em si mesmas mas apenas enquanto sejam objetos da intuição sensível i e fenômenos tudo isso será provado na parte analítica da Crítica donde se segue então natu ralmente a limitação de todo conhecimento especulativo meramen te possível da razão a simples objetos da experiência Do mesmo modo porém e isto tem de ser bem enfatizado ressalvase aí que mesmo sem poder conhecêlos nós temos de poder pensar esses 34 mesmos objetos como coisas em si mesmas9 10 Pois do contrário se seguiria a absurda proposição de que o fenômeno existe sem algo que nele apareça Supondo agora que não fosse feita a distinção entre coisas como objetos da experiência e as mesmas coisas como coisas em si mesmas distinção que a nossa Crítica fez de maneira necessária então o princípio da causalidade e portanto do mecanis mo natural na determinação das mesmas teria de valer para todas as coisas em geral como causas eficientes Eu não poderia neste caso dizer do mesmo ente p ex a alma humana que a sua vontade é livre e ao mesmo tempo subordinada à necessidade da natureza i e não livre sem cair numa evidente contradição já que tomei a alma nas duas proposições com exatamente o mesmo significado qual seja como coisa em geral como coisa em si mesma até porque não me era de fato possível sem uma crítica prévia têlas tomado de outro modo Se no entanto a Crítica não errou em ensinar que o objeto tem de ser tomado sob dois significados a saber como fenô meno e como coisa em si mesma se a dedução dos conceitos do en tendimento está correta e portanto o princípio da causalidade só se aplica às coisas tomadas no primeiro sentido i e enquanto objetos da experiência mas não no segundo sentido quando não se subor dinam a ele então a mesmíssima vontade no fenômeno a ação visí vel pode ser pensada como necessariamente conforme às leis natu rais portanto como não livre e de outro lado enquanto pertencen te a uma coisa em si mesma como não subordinada àquelas portan to como livre sem que suceda aí qualquer contradição Se não pos so conhecer minha alma considerada por este último lado através de uma razão especulativa mas menos ainda pela observação empí 9 Para conhecer um objeto é necessário que eu possa provar a sua possibilidade seja pelo teste munho da experiência a partir de sua realidade seja a priori pela razão Eu posso porém pensaroquequerqueeu queira desde que apenas não caia em contradição comigo mesmo i e desde que meu conceito apenas seja um pensamento possível mesmo que eu não possa garantir que um objeto lhe corresponda no conjunto completo de todas as possibilidades Para no en tanto dar a esse conceito validade objetiva possibilidade real já que a primeira era meramen te lógica algo mais é requerido Este mais porém não precisa ser buscado em fontes cogniti vas teóricas ele pode localizarse em fontes práticas NAJ 10 O leitor deve ter em mente que fenômeno como explicado anteriormente traduz Erschei nung cuja tradução literal seria aparição Kant faz um jogo aí com o verbo e o substanti vo dass Erscheinung ohne etwas wäre was da erscheint que a aparição existe sem algo que nela apareça NT B XXVII B XXVIII 35 rica nem portanto a liberdade como propriedade de um ente a que atribuo efeitos no mundo sensível e isto porque eu não teria como conhecêlo no que diz respeito à sua existência e ao mesmo tempo sem ser determinado no tempo o que como eu não posso subsumir nenhuma intuição sob meu conceito é impossível ainda assim eu posso pensar a liberdade Ou seja se procede a nossa distinção críti ca entre ambos os tipos de representação a sensível e a intelectual e a consequente limitação dos conceitos puros do entendimento portanto também dos princípios deles derivados a representação da liberdade ao menos não contém em si qualquer contradição Assu mindose porém que a moral pressupõe necessariamente a liberda de no sentido mais estrito como propriedade de nossa vontade aduzindo princípios práticos originários da razão como dados a prio B xxix ri da mesma os quais seriam inteiramente impossíveis sem a pressu posição da liberdade mas assumindose também que a razão espe culativa tivesse provado não ser possível pensar esta última então essa pressuposição i e a moral teria de renderse àquela outra cujo oposto contém uma evidente contradição e portanto a liberda de e com ela a moralidade cujo oposto se a liberdade ainda não foi pensada não contém nenhuma contradição teriam de dar lugar ao mecanismo da natureza Uma vez porém que para a moral preciso apenas que a liberdade não se contradiga a si mesma e portanto dei xese ao menos pensar sem que seja necessário discernila mais pro fundamente e que portanto ela não coloque quanto à mesma ação tomada em outra relação nenhum obstáculo no caminho do meca nismo natural a doutrina da moralidade afirma assim o seu lugar e a da natureza o seu o que não teria ocorrido se a Crítica não nos ti vesse instruído antes sobre a nossa inevitável ignorância quanto às coisas em si mesmas e se não tivesse limitado tudo aquilo que pode mos conhecer de um modo teórico aos meros fenômenos Esta mes ma elucidação da utilidade positiva dos princípios críticos da razão pura se mostra em relação aos conceitos de Deus e da natureza sim ples de nossa alma os quais em nome da brevidade tratarei apenas B xxx de passagem Eu não posso portanto sequer supor Deus liberdade e imortalidade em nome do uso prático necessário de minha razão a não ser que tire ao mesmo tempo da razão especulativa a preten são a percepções extravagantes pois ao tentar atingilas ela tem de 36 servirse de princípios tais que por abranger apenas objetos da ex periência possível transformam sempre em fenômeno aquilo que não pode ser objeto da experiência e assim declaram impossível toda extensão prática da razão pura Eu tive de suspender o saber portanto para dar lugar à fé e o dogmatismo da metafísica i e o preconceito de nela prosseguir sem uma crítica da razão pura é a verdadeira fonte de toda descrença contrária à moralidade descren ça esta que é por seu turno extremamente dogmática Mesmo portanto que não seja tão difícil legar à posteridade como herança uma metafísica sistemática construída segundo a medida da crítica da razão pura tratase de uma dádiva que não deve ser tida em bai xa conta basta comparar o cultivo da razão através do caminho se guro de uma ciência em geral ao seu tatear sem fundamento o seu B xxxi dar voltas à toa sem crítica ou então considerar como se poderia empregar melhor o tempo dessa juventude sedenta de saber que no dogmatismo habitual recebe tão cedo tanto estímulo para racioci nar confortavelmente sobre coisas de que não entende nada e das quais portanto tem tanto discernimento quanto qualquer um in ventando novos pensamentos e opiniões e desprezando o aprendiza do das ciências fundamentais ou então e sobretudo ter em conta a vantagem inestimável de pôr fim às objeções contra a moralidade e a religião para todo o tempo futuro de maneira socrática i e por meio da prova mais clara da ignorância do adversário Pois alguma metafísica sempre houve no mundo e continuará a haver mas com ela haverá também uma dialética da razão pura posto lhe ser natu ral A primeira e mais importante tarefa da filosofia portanto é fa zer cessar a fonte dos erros e assim livrála de uma vez por todas de toda influência nociva Com essa importante modificação no campo das ciências e a per da que a razão especulativa tem de sofrer quanto à posse que até aqui imaginava ter permanecem todavia nas mesmas condições vantajo sas tal como antes se encontravam os interesses humanos universais b x x x ii e os ganhos que o mundo até aqui extraiu dos ensinamentos da razão pura de modo que a perda atinge apenas o monopólio das escolas e de modo algum o interesse dos seres humanos Pergunto ao mais in flexível dogmático se depois de saírem das escolas a prova da conti nuação de nossa alma após a morte a partir da simplicidade da subs 37 tância ou aquela da liberdade da vontade contra o mecanismo uni versal por meio das sutis mas impotentes distinções entre a necessi dade prática subjetiva e a objetiva òu aquela da existência de Deus a partir do conceito de um ente realíssimo a partir da contingência do mutável e da necessidade de um primeiro motor alcançaram alguma vez o público ou tiveram a mínima influência sobre a sua convicção Se isto não aconteceu contudo e não pode jamais ser esperado devi do à inabilidade do entendimento humano para uma tão sutil especu lação se o que ocorre na verdade é que somente a circunstância de nossa natureza observável em cada ser humano de nunca sentirse inteiramente satisfeito com a temporalidade inadequada às condi ções de sua inteira determinação poderia ter ocasionado no que diz respeito àquela primeira prova a esperança em uma vida futura se no xxxm que diz respeito à seguiada somente a clara apresentação dos deveres em contraposição a todas as pretensões das inclinações poderia ter ocasionado a consciência da liberdade e se por fim no que diz res peito à terceira somente a gloriosa ordem a beleza e a providência que se deixam vislumbrar na natureza poderiam ter ocasionado a crença em um grande e sábio criador do mundo convicção difundida no público como assente em fundamentos racionais então aquela posse não apenas permanece imperturbada como chega com isso a ganhar em prestígio pois as escolas serão instruídas a partir de agora a não arrogarse nenhum discernimento mais elevado e amplo no que diz respeito aos interesses humanos universais do que aquele a que também a grande multidão para nós a mais digna de respeito pode ascender com facilidade e a limitarse assim a cultivar essas demons trações que são universalmente compreensíveis e suficientes do pon to de vista moral A modificação atinge apenas portanto as preten sões arrogantes daescolas que gostariam de valer aqui tal como va lem com razão em muitos outros pontos como únicas conhecedoras e guardiãs de tais verdades transferindo ao público somente o uso das mesmas mas guardando as chaves para si quod mecum nescit solus vult scire videri Ao mesmo tempo porém é também levada 1 11 Segundo Cuyer e Allen citação de Horário Epístolas 2187 cujo texto correto seria quod mecum ignorat solus volt scire videri aquilo que é desconhecido de mim é o que ele unica mente quer aparentar que sabe A tradução da frase usada por Kant é a seguinte aquilo que ele como eu não sabe ele quer aparentar que é o único a saber NT 38 em conta uma pretensão mais justa do filósofo especulativo Ele per b xxxiv manece o depositário exclusivo de uma ciência que é útil ao público sem que este o saiba qual seja a crítica da razão pois esta não pode nunca tornarse popular o que aliás não precisa ser já que por me nos que o povo queira encher a cabeça com argumentos finamente trabalhados para verdades úteis vêmlhe menos ainda à mente as igualmente sutis objeções contra eles como as escolas pelo contrá rio assim como todo homem voltado à especulação chegam necessa riamente a ambas as posições elas são obrigadas a prevenir de uma vez por todas através de uma investigação rigorosa dos direitos da ra zão especulativa o escândalo que mais cedo ou mais tarde acaba por atingir o próprio povo a partir das querelas em que sem a crítica os metafísicos e enquanto tais também afinal os religiosos se envolvem inevitavelmente acabando depois por deturpar suas próprias doutri nas Apenas por meio da crítica portanto podem ser cortadas as raí zes do materialismo do fatalismo do ateísmo da descrença livre pensante da visionariedade e da superstição que podem ser univer salmente prejudiciais mas também afinal do idealismo e do cetici mo que são mais perigosos para as escolas e dificilmente podem che gar ao público Se os governos julgam apropriado ocuparse até mes B xxxv mo com as atividades dos eruditos então seria bem mais condizente com a sua sábia preocupação com as ciências e os homens favorecer a liberdade de tal crítica a única pela qual os trabalhos da razão podem ser trazidos a um passo seguro do que sustentar o ridículo despotis mo das escolas que fazem uma enorme gritaria acerca do perigo pú blico quando são rasgadas as suas teias de aranha das quais o públi co nunca tomou conhecimento e cuja perda portanto não poderia ja mais sofrer A crítica não se opõe ao procedimento dogmático da razão em seu conhecimento puro como ciência pois esta tem de ser sempre dogmática i e estritamente demonstrativa a partir de princípios se guros a priori mas sim ao dogmatismo i e à pretensão de progre dir apenas com um conhecimento puro a partir de conceitos o filosó fico de acordo com princípios tal como a razão está há muito habitu ada sem uma investigação do modo e do direito pelos quais teria che gado a ele O dogmatismo portanto é o procedimento dogmático da razão pura sem uma crítica prévia de sua própria faculdade Tal 39 oposição não deve portanto favorecer a causa da superficialidade ta xxxvi garela que se apresenta sob o nome da popularidade nem muito me nos a do ceticismo que condena sumariamente toda a metafísica a crítica é antes a organização provisória necessária para a promoção de uma metafísica fundamental enquanto ciência a qual tem de ser conduzida de maneira necessariamente dogmática e segundo a mais estrita exigência sistemática portanto segundo os padrões não po pulares das escolas e tal exigência uma vez que a metafísica se esfor ça para conduzir seus interesses inteiramente a priori portanto com vistas à satisfação completa da razão especulativa é uma exigência que não pode ser negligenciada Assim na execução do plano que a crítica prescreve i e no futuro sistema da metafísica temos de se guir a partir de agora o método estrito do famoso Wolff o maior en tre todos os filósofos dogmáticos que foi o primeiro a dar o exemplo e se tornou por esse exemplo o fundador do espírito de rigor até hoje não extinto na Alemanha de como se deve tomar o caminho seguro de uma ciência por meiò do legítimo estabelecimento dos princípios da clara determinação dos conceitos da busca de rigor nas provas e da prevenção de saltos audaciosos nas inferências e que justamente por isso era alguém perfeitamente talhado para colocar uma ciência como a metafísica nessas condições desde que lhe tivesse ocorrido preparar o terreno para isso previamente por meio de uma crítica do bxxxvii órgão qual seja a própria razão pura uma carência que deve ser atri buída não tanto a ele mas sim ao modo dogmático de pensar de sua época razão pela qual os filósofos tanto dessa como de todas as épo cas anteriores não têm nada de que acusarse uns aos outros Aqueles que rejeitam o seu método de ensino e ao mesmo tempo também o procedimento da crítica da razão pura não podem ter nada em mente a não ser a intençãotle livrarse das amarras da ciência e de transformar o trabalho em jogo a certeza em opinião e a filosofia em filodoxia No que diz respeito a esta segunda edição eu não quis deixar passar a oportunidade como é justo de remover ao máximo as difi culdades e obscuridades de que podem terse originado os muitos malentendidos que talvez não sem minha culpa alguns homens pers picazes manifestaram ao julgar este livro Nas proposições mesmas e em suas demonstrações assim como na forma e na completude do plano não encontrei nada que tivesse de ser modificado o que é atri 40 buível em parte ao extenso exame a que submeti o livro antes de apresentálo ao público e em parte à constituição do próprio assunto qual seja a natureza de uma razão especulativa pura que contém uma verdadeira estrutura em que tudo é um órgão ie em que tudo ocorre em função de cada particular e cada particular em função de todos de modo que qualquer mínima fragilidade seja ela uma falha erro ou uma carência tem de denunciarse inevitavelmente durante o uso 0 sistema se manterá nesta imutabilidade segundo espero também no futuro 0 que justifica esta minha confiança não é uma vai dade mas tão somente a evidência fornecida pelo experimento da igual dade dos resultados quando se vai dos menores elementos ao todo da razão pura e inversamente quando se volta do todo a cada parte pois também o todo é dado por meio do fim último da razão no âmbi to prático na medida em que qualquer tentativa de mudar algo mes mo que seja a menor parte desse algo acarreta de imediato contradi ções não apenas para o sistema mas para a razão humana universal Na exposição contudo há ainda muito por fazer e neste ponto pro curei fazer melhoramentos com esta edição que devem corrigir por um lado os malentendidos relativos à estética sobretudo ao conceito de tempo por outro a obscuridade da Dedução dos conceitos do en tendimento por outro a suposta carência de uma evidência suficien te nas provas dos princípios do entendimento puro e por outro en fim a má compreensão dos paralogismos aduzidos pela psicologia ra cional As minhas alterações no modo da exposição12 se estendem até 12 Eu só poderia chamar de uma efetiva ampliação ainda que somente no modo de provar aque la que fiz à página 275 por meio de uma nova refutação do idealismo psicológico e uma rigo rosa prova também a única possível segundo creio da realidade objetiva da intuição externa O idealismo pode ser tido por inofensivo embora na verdade não o seja no que diz respeito aos fins essenciais da metafísica mas permanece escandaloso para a filosofia e a razão huma na universal ter de aceitar por mera crença a existência das coisas fora de nós das quais con tudo retiramos todo material para nossos conhecimentos inclusive para nosso sentido interno e caso seja do agrado de alguém duvidar de sua existência não poder oporlhe nenhuma pro va suficiente Como há alguma obscuridade nos termos da prova da terceira à sexta linha peço que o seguinte período seja assim modificado Mas este permanente não pode ser uma intuição em mim Pois todos os fundamentos de determinação de minha existência que po dem ser encontrados em mim são representações e enquanto tais necessitam elas mesmas de algo permanente delas distinto em relação ao qual possam ser determinadas a mudança das mesmas e portanto a minha existência no tempo em que elas mudam Contra esta pro va se pode presumivelmente dizer eu só sou imediatamente consciente daquilo que está em mim i e da minha representação das coisas externas permaneceria indecidido portanto se há ou não algo correspondente a ela fora de mim Mas eu sou consciente de minha existência BXXXVI BXL 41 xxxix esse ponto ie somente até o fim do primeiro capítulo da Dialética XL transcendental e não além dele pois o tempo era curto e eu não soube de nenhum malentendido com relação ao restante da obra XLi junto a examinadores competentes e imparciais os quais mesmo que eu não tenha podido nomeálos com o devido louvor perceberão por XLii si mesmos nos trechos em questão a atenção que dispensei a suas observações Tais melhoramentos estão ligados no entanto a um pe queno prejuízo para o leitor que não pôde ser evitado sob pena de tornar o livro volumoso demais muito do que os leitores não gostariam de perder porque útil em vários sentidos mas inessencial à perfeição do todo teve de ser retirado ou encurtado para dar lugar à minha as sim espero mais compreensível exposição que no fundo não muda ri no tempo portanto tambémda sua determinabilidade neste por meio da experiência inter na e isto é mais do que ser meramente consciente de minha representação mas é a mesma co isa que a consciência empírica de minha existência que só é determinável por meio da rela ção com algo que seja ligado fora de mim à minha existência Assim esta consciência de mi nha existência no tempo é idêntica à consciência de uma relação a algo fora de mim e é por tanto experiência não ficção sentido e não imaginação e liga meu sentido externo ao interno de maneira indissociável pois o sentido externo já está numa relação da intuição a algo real fora de mim e a realidade do mesmo à diferença da imagem consiste simplesmente em que ele seja tal como ocorrerá aqui indissociavelmente ligado à própria experiência interna como condição de sua possibilidade Se eu pudesse ligar à consciência intelectual de minha existên cia na representação Eu sou que acompanha todos os meus juízos e ações intelectuais tam bém a determinação de minha existência por meio de uma intuição intelectual então não per tenceria necessariamente a ela a consciência de uma relação a algo fora de mim Se de fato a consciência intelectual vem primeiro mas a intuição interna a única em que minha existência pode ser determinada é sensível e está atrelada a uma condição temporal esta última determi nação contudo e portanto a própria experiência interna dependem de algo persistente que XLI não está em mim que está pois em algo fora de mim com que eu tenho de considerarme em relação assim a realidade do sentido externo se liga necessariamente à do interno com vistas à possibilidade de uma experiência em geral i e eu sou tão seguramente consciente de que há coisas fora de mim referidas ao meu sentido quanto sou consciente de que eu mesmo existo determinadamente no tjjmpo Quais intuições dadas contudo correspondem a objetos reais fora de mim quais portanto pertencem aos sentidos externos quais são atribuíveis a eles e não à imaginação isso é algo que tem de ser decidido em cada caso particular segundo as re gras pelas quais se diferencia a experiência em geral inclusive a interna da imagem tendose sempre por fundamento o princípio de que existe uma efetiva experiência externa Aqui se pode ainda acrescentar a seguinte observação a representação de algo persistente na existên cia não é idêntica à representação persistente pois esta pode como todas as nossas represen tações inculsive as da matéria ser bastante mutável e cambiável e se refere todavia a algo persistente que tem de ser portanto uma coisa externa e distinta de todas as minhas repre sentações uma coisa cuja existência está necessariamente incluída na determinação de mi nha própria existência constituindo ambas uma única experiência que não ocorreria interna mente se não fosse ao mesmo tempo em parte externa O como é tão pouco elucidável aqui quanto o como em geral pensamos no tempo o fixo cuja simultaneidade com o cambi ante produz o conceito de mudança NA 42 gorosamente nada com relação às proposições ou mesmo às suas de monstrações mas no método da exposição se distancia de tal modo da anterior que não poderia ser conseguida por meio de simples in terpolações Este pequeno prejuízo que pode ser facilmente sanado conforme se queira por meio da comparação com a primeira edição é amplamente compensado segundo espero pela maior compreensibi lidade Eu reconheci com grato prazer em diversas publicações em parte nas recensões de muitos livros em parte em tratados especiais que o espírito de rigor longe de morrer na Alemanha foi apenas sufo cado por um pequeno tempo pela moda de uma liberdade de pensa mento supostamente genial e que as trilhas espinhosas da crítica b xl iii que levam a uma ciência da razão pura conforme aos padrões escolás ticos e por isso mesmo duradoura e sumamente necessária não im pediram as cabeças mais esforçadas e brilhantes de assenhorearse dessas trilhas Com relação a isto deixo a estes homens esforçados que são tão felizes em ligar ao rigor do discernimento também o ta lento para uma exposição iluminada que eu mesmo não percebo em mim a tarefa de completar os meus trabalhos ainda lacunares em muitos aspectos pois aqui o perigo não está em ser contrariado mas em não ser compreendido De minha parte não posso mais envol verme em querelas mesmo que tenha de prestar cuidadosa atenção a qualquer sugestão venha ela de amigos ou inimigos que em confor midade com esta propedêutica possa me ser útil no futuro desenvol vimento do sistema Como fui entrando em anos à medida que avan çava nestes trabalhos este mês entro no sexagésimo quarto ano en tão caso queira executar o meu plano de apresentar uma metafísica tanto da natureza quanto dos costumes como confirmação da juste za da crítica tanto da razão especulativa como da prática tenho de ser parcimonioso com o tempo e esperar desses homens esforçados que fizeram sua esta crítica tanto a iluminação das obscuridades bx l iv praticamente inevitáveis no início como a defesa do todo Todo siste ma filosófico é vulnerável em pontos isolados pois não pode ser tão blindado quanto o matemático sem que a estrutura do sistema no entanto considerada como uma unidade corra com isso qualquer pe rigo para o qual concorreriam sendo novo o sistema o fato de pou cos possuírem habilidade espiritual para uma visão de conjunto do mesmo e de possuírem menos ainda algum prazer nisso posto verem toda novidade como um inconveniente Se além disso trechos parti 43 culares são retirados de seus contextos e comparados uns aos outros sobretudo em escritos que se apresentam informalmente podem sur gir contradições aparentes que aos olhos de quem se deixa levar pelo julgamento alheio lançam uma luz prejudicial sobre o texto mas são fa cilmente solucionáveis para quem se apropriou da ideia em seu todo Se entretanto uma teoria tem consistência então os efeitos de ação e rea ção que a princípio a ameaçavam perigosamente servem com o tempo apenas para suavizar as suas irregularidades e quando homens de im parcialidade discernimento e verdadeira popularidade dela se ocupam também para dotarlhe em pouco tempo da necessária elegância Königsberg abril de 1787 44 INTRODUÇÃO segundo a edição B 1 B 1 I Da diferença entre conhecimento puro e empírico Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência pois de que outro modo poderia a nossa faculdade de conhecimento ser despertada para o exercício não fosse por meio de objetos que estimulam nossos sentidos e em parte produzem re presentações por si mesmos em parte colocam em movimento a ati vidade de nosso entendimento levandoa a comparálas conectálas ou separálas e assim transformar a matéria bruta das impressões sensíveis em um conhecimento de objetos chamado experiência No que diz respeito ao tempo portanto nenhum conhecimento antece de em nós à experiência e com esta começam todos Ainda porém que todo o nosso conhecimento comece com a ex periência nem por isso surge ele apenas da experiência Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento por experiência fos se um composto daquilo que recebemos por meio de impressões e da quilo que a nossa própria faculdade de conhecimento apenas movida por impressões sensíveis produz por si mesma uma soma que não 1 1 Ao final acrescentaremos os parágrafos de A que foram omitidos em B bem como o índice que constava da edição original e indicaremos as diferenças de estrutura entre a Introdução A e a Introdução B aqui traduzida Outras diferenças relevantes serão indicadas em nota ao longo do texto de B Com isso nossa solução se mostra mais próxima daquela de Santos e Morujâo que colocaram a Introdução A ao final da Introdução B mas se distancia daque las que seguindo a edição alemã da Felix Meiner org de Jens Timmermann colocaram o índice A e a Introdução A antes da Introdução B caso das traduções de Guyer e Wood e de Caimi Outras ainda como Colli Pluhar e Delamarre e Marty colocaram todos os trechos exclusivos de A em notas de rodapé Sem falar naquelas que a exemplo de Meiklejohn e Roh den e de Moosburger simplesmente omitiram a edição A Nossa ideia foi dar maior destaque à edição B daí colocála em primeiro lugar sem contudo deixar de dar ao leitor uma ideia clara de como era a estrutura da introdução em A e quais os trechos omitidos em B daí colo cála à parte ao final em vez de colocála dispersa em notas Quanto à inclusão das passagens exclusivas de A em uma nova edição da Crítica da razão pura tratase de algo cuja importân cia conforme a praxe das traduções surgidas nas últimas très décadas tornouse certamente indiscutível NT 45 3 2 podemos diferenciar daquela matéria básica enquanto um longo exercí cio não nos tenha tornado atentos a isso e aptos a efetuar tal distinção Há uma questão portanto que demanda pelo menosuma investi gação mais detida e que à primeira vista não deve ser de pronto des cartada se existe tal conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos Tais conhecimentos são denominados a priori e se diferenciam dos empíricos que têm suas fontes a posteriori i e na experiência Aquela expressão não é suficientemente determinada contudo para designar de maneira adequada o sentido integral da questão pos ta Pois se costuma dizer de muitos conhecimentos derivados de fon tes da experiência que nós somos capazes ou participantes deles a priori na medida em que não os derivamos imediatamente da expe riência mas sim de uma regra universal que no entanto tomamos em prestada da própria experiência Assim dizse de alguém que solapou os fundamentos de sua casa que ele poderia saber a priori que ela cai ria i e ele não precisava esperar pela experiência em que ela de fato caísse Inteiramente a priori contudo ele não poderia mesmo sabêlo Pois teria de aprender antes por meio da experiência que os corpos são pesados e por isso caem quando lhes é retirado o suporte No que segue portanto entenderemos por conhecimentos a prio B 3 ri aqueles que se dão não independentemente desta ou daquela mas de toda e qualquer experiência A eles se opõem os conhecimentos empíricos ou aqueles que só são possíveis a posteriori i e por meio da experiência Dentre os conhecimentos a priori contudo denomi namse puros aqueles em que não há nada de empírico misturado Assim a proposição toda mudança tem uma causa por exemplo é uma proposição a priori mas não é pura porque mudança é um conceito que só pode ser derivado da experiência I II Nós possuímos certos conhecimentos a priori e mesmo o entendimento comum nunca carece deles Tratase aqui de uma característica que nos permite distinguir com segurança entre um conhecimento puro e um empírico A expe riência nos ensina de fato que algo é constituído de tal e tal maneira 46 mas não que ele não poderia ser diferente Se em primeiro lugar pois uma proposição é pensada juntamente com sua necessidade ela é um juízo a priori se além disso ela não é deduzida de nenhuma proposição a não ser daquela que por seu turno valha ela mesma como proposição necessária então ela é absolutamente a priori Em segundo lugar a experiência não dá jamais aos seus juízos uma uni versalidade verdadeira ou estrita mas apenas suposta e comparativa por indução isto significa simplesmente que pelo que até hoje per cebemos não se verifica nenhuma exceção a esta ou àquela regra Se B 4 portanto um juízo é pensado como estritamente universal i e de tal modo que nenhuma exceção seja admitida como possível então ele não é deduzido da experiência mas vale simplesmente a priori A uni versalidade empírica assim é tão somente um crescimento intencio nal da validade que passa daquilo que vale na maioria dos casos para aquilo que vale em todos como por exemplo na seguinte proposição todos os corpos são pesados Onde pelo contrário a universalidade estrita pertence essencialmente a um juízo ela aponta para uma pecu liar fonte cognitiva desse juízo qual seja uma faculdade do conheci mento a priori A necessidade e a universalidade estrita são assim in dícios seguros de um conhecimento a priori e também pertencem in separavelmente uma à outra Uma vez que no seu uso porém é por ve zes mais fácil mostrar a sua limitação empírica do que a contingência dos juízos ou em geral mais plausível mostrar a universalidade ilimita da que atribuímos a um juízo do que a necessidade do mesmo então é mais aconselhável servirse separadamente desses dois critérios cada um dos quais é infalível por si mesmo É fácil mostrar assim que há de fato a priori no conhecimento humano tais juízos necessários e universais no mais estrito sentido portanto puros Caso se queira um exemplo nas ciências basta obser var todas as proposições da matemática caso se queira algo do tipo no uso mais comum do entendimento pode servir como exemplo a b 5 proposição de que todas as mudanças têm de ter uma causa e 0 con ceito de uma causa nesta última contém tão nitidamente 0 conceito de uma necessidade da conexão com um efeito e uma universalidade estrita da regra que ele se perderia por completo caso se quisesse como fez Hume deduzilo de uma associação frequente entre aquilo que acontece e aquilo que vem antes e do hábito uma necessidade 47 r meramente subjetiva portanto de conectar representações Também se poderia sem necessitar de tais exemplos para provar a realidade de princípios puros a priori em nossoconhecimento estabelecer essa sua indispensabilidade para a possibilidade da própria experiência portan to a priori Pois de onde a experiência mesma extrairia a sua certeza se todas as regras segundo as quais ela procede fossem sempre empíri cas portanto contingentes e dificilmente válidas como primeiros prin cípios Com relação a isto porém podemos regozijarnos de ter esclare cido o uso puro de nossa faculdade de conhecimento como fato junta mente com as características da mesma A origem a priori de alguns desses princípios porém mostrase não apenas em juízos mas também em conceitos Se vocês deixarem que se apague gradativamente de seu conceito empírico de um corpo tudo aquilo que é nele empírico a cor a dureza ou maciez o peso mesmo a impenetrabilidade perma necerá todavia o espaço que ele agora inteiramente desaparecido ocu b 6 pava e este vocês não poderão deixar de fora Se do mesmo modo vo cês deixarem que se apáguem de todo objeto corpóreo ou incorpóreo todas as propriedades que a experiência lhes ensinou vocês não pode rão tirarlhe contudo aquilo que lhes permite pensálo como substân cia ou como inerente a uma substância ainda que este conceito conte nha mais determinação do que aquele de um objeto em geral Vocês têm de reconhecer portanto guiandose pela necessidade com que este conceito se impõe a vocês que ele tem o seu lugar a priori em sua faculdade de conhecimento III A filosofia necessita de uma ciência que determine a possibi lidade os princípios e o alcance de todos os conhecimentos a priori 0 seguinte quer dizer ainda muito mais do que já foi dito2 que cer tos conhecimentos abandonam até mesmo o campo de todas as expe riências possíveis e por meio de conceitos aos quais não pode ser dado nenhum objeto correspondente na experiência aparentam estender o alcance de nossos juízos para além de todos os limites da mesma E é justamente nestes últimos conhecimentos que se lançam para fora do mundo dos sentidos e aos quais a experiência não pode 2 0 trecho do que tudo o que foi dito foi acrescentado em B NTj 48 fornecer nem fio condutor nem correção que residem as investiga ções de nossa razão que nós consideramos muito mais elevadas em termos de importância e muito mais sublimes no que diz respeito ao seu propósito último do que tudo aquilo que o entendimento pode aprender no campo dos fenômenos preferindo com isso arriscar tu do sob o perigo de errar a ter de abandonar investigações tão decisi vas por algum motivo como escrúpulo subestimação ou indiferença Deus liberdade e imortalidade constituem essas inevitáveis tarefas da própria razão pura Mas a ciência cujo propósito último com todos os seus preparativos dirigese apenas justamente à solução das mes mas denominase metafísica e seu procedimento é no princípio dog mático i e assume confiantemente sem exame prévio da capaci dade ou incapacidade3 da razão para uma tão grande empreitada a realização de tais tarefas4 Parece de fato natural pois que uma vez abandonado o solo da experiência não se construa de imediato um edifício com conheci mentos que se possui sem saber de onde vieram e sob o crédito de princípios cuja origem não se conhece sem estarmos antes assegura dos quanto à fundamentação do mesmo por meio de cuidadosas in vestigações que portanto tenhase antes enfrentado longamente a questão de como o entendimento poderia chegar a priori a todos es ses conhecimentos e de qual alcance validade e valor poderiam eles ter E de fato não há nada mais natural do que isso caso se entenda sob a palavra natural aquilo que deveria acontecer de modo justo e racional caso se entenda sob ela contudo aquilo que acontece se gundo a medida habitual então nada é mais natural e compreensível inversamente do que tal investigação ter de permanecer por longo tempo atrasada Pois uma parte desses conhecimentos como o mate mático possui uma antiga credibilidade e assim fornece uma expec tativa auspiciosa também para os demais mesmo que estes sejam de uma natureza inteiramente diversa Quando se está além disso para 3 Normalmente traduzimos Vermögen por faculdade seguindo com isso a consagrada praxe Aqui porém Vermögen que tem também o sentido de capacidade apareceu contraposta a Unvermögen cuja tradução tem de ser por incapacidade Assim tivemos de abrir uma exce ção à regra e a exemplo de boa parte dos tradutores p ex Santos e Morujão Rohden Guyer e Wood Colli traduzir Vermögen neste caso apenas por capacidade NT 4 Trecho final do parágrafo a partir de Deus liberdade acrescentado em B NT B 7 B 8 49 além do círculo da experiência temse a segurança de não poder ser contrariado pela experiência O estímulo para ampliar nossos conhe cimentos é tão grande que só podemos ser detidos em nossos avanços caso deparemos com uma clara contradição Esta pode ser evitada contudo caso façamos cuidadosamente as nossas ficções o que não as torna por isso menos ficcionais A matemática nos dá um exemplo brilhante do quão longe podemos ir no conhecimento a priori inde pendentemente da experiência Pois ela se ocupa de fato com objetos e conhecimentos apenas na medida em que estes se deixam apresen tar na intuição Mas esta circunstância pode ser facilmente ignorada pois a intuição em questão pode ser dada ela própria a priori e assim tornarse dificilmente distinguível de um mero conceito puro Refor çado por tal prova do poder da razão o impulso para a ampliação do conhecimento não reconhece quaisquer limites A leve pomba que em seu voo livre corta o ar cuja resistência sente poderia formar a im pressão de que as coisas lhe seriam bem mais favoráveis no espaço B 9 sem ar Assim abandonou Platão o mundo dos sentidos porque este estabelece limites tão estreitos para o entendimento e se aventurou nas asas das ideias para além dele no espaço vazio do entendimento puro Ele não reparou que em seus esforços não avançou um metro sequer pois não encontrou qualquer resistência que como um supor te lhe permitisse aprumarse e a ela aplicar suas forças de modo a mover o entendimento do lugar É comum no entanto que a razão humana tenha por destino na especulação construir o seu edifício tão cedo quanto possível e somente depois disso investigar se o seu fun damento é sólido São usados diversos pretextos porém para conven cernos de sua solidez ou então de preferência para até mesmo evi tar que se faça essa tardia e perigosa averiguação O que contudo nos mantém livres de toda preocupação e suspeita durante a constru ção e que nos seduz com seu aparente rigor é o seguinte Uma gran de parte dos trabalhos da razão talvez a maior consiste na decompo sição dos conceitos que já temos dos objetos Isso nos fornece uma variedade de conhecimentos que embora não sejam mais do que es clarecimentos ou elucidações daquilo que já foi pensado em nossos conceitos mesmo que de maneira confusa são apreciados pelo me nos no que concerne à forma como se fossem novos discernimentos não importando que não ampliem os conceitos que temos quanto à B 10 matéria ou ao conteúdo mas apenas os separem uns dos outros 50 Como no entanto este procedimento fornece um efetivo conheci mento a priori cujo progresso é seguro e proveitoso a razão sorratei ramente introduz sob essa miragem sem se dar conta afirmações de um tipo inteiramente diverso em que ela acrescenta dados completa mente estranhos aos conceitos e o faz a priori sem que se saiba como chegou a eles e sem deixar que tal questão seja sequer pensada Por isso vou tratar logo de início da diferença entre esses dois tipos de conhecimento IV5 Da diferença entre juízos analíticos e sintéticos Em todos os juízos nos quais é pensada a relação entre um sujei to e um predicado se levo em conta apenas os afirmativos já que a aplicação será depois mais fácil nos negativos essa relação é possível de dois modos Ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo que já está contido de modo oculto neste conceito A ou B se lo caliza inteiramente fora do conceito A mesmo estando em conexão com ele No primeiro caso eu denomino o juízo analítico no segundo sintético Os juízos analíticos afirmativos são portanto aqueles em que a conexão do predicado com o sujeito é pensada por meio da identidade e aqueles ao contrário em que essa conexão é pensada sem identidade devem denominarse juízos sintéticos Os primeiros também podem ser denominados juízos de explicação os últimos juí zos de ampliação já que aqueles não acrescentam nada ao conceito do sujeito por meio do predicado mas apenas o decompõem nos seus conceitos parciais que já eram nele pensados ainda que de maneira confusa e os últimos pelo contrário acrescentam um predicado ao conceito do sujeito que não era nele pensado nem poderia ter sido dele extraído por meio de uma decomposição Se eu digo por exem plo que todos os corpos são extensos este é um juízo analítico Pois eu não preciso sair do conceito que ligo à palavra corpo para verificar a conexão entre ele e a extensão mas tenho apenas de decompor aquele conceito i e tornarme apenas consciente da diversidade que a todo tempo penso nele para aí encontrar tal predicado ele é por tanto um juízo analítico Se ao contrário digo que todos os corpos 5 Número IV acrescentado em B Em A este tópico é subdivisão do tópico I NTJ são pesados então o predicado é algo inteiramente diverso daquilo que penso no mero conceito de um corpo em geral O acréscimo desse predicado fornece portanto um juízo sintético0 Os juízos de experiência são enquanto tais todos eles sintéti cos Seria absurdo com efeito fundar um juízo analítico na experiên cia pois eu não preciso sair do meu conceito para formular o juízo e portanto não tenho necessidade de um testemunho da experiência Que um corpo seja extenso é uma proposição que se sustenta a prio b 12 ri e não um juízo de experiência Pois antes que eu vá para a expe riência já tenho todas as condições para meu juízo no conceito do qual apenas extraio o predicado segundo o princípio de contradição e assim posso tornarme ao mesmo tempo consciente da necessidade do juízo algo que a experiência jamais me ensinaria Se pelo contrá rio não incluo de jnodo algum o predicado do peso no conceito de um corpo em geral esse conceito ainda assim caracteriza um objeto da experiência por meio de uma parte desta à qual eu posso ainda portanto acrescentar outras partes da mesmíssima experiência como pertencentes a ele Posso conhecer o conceito de um corpo antecipa damente de maneira analítica por meio das características da exten são da impenetrabilidade da forma etc que são todas pensadas nes se conceito Se amplio porém meu conhecimento e o faço por remis são à experiência de que havia extraído esse conceito de corpo en contro também o peso conectado sempre a todas as características acima e o acrescento sinteticamente como predicado a tal conceito É na experiência portanto que se funda a possibilidade da síntese do predicado do peso com o conceito de corpo pois embora não estejam contidos um no outro ambos os conceitos pertencem um ao outro ainda que de maneira contingente na medida em que são parte de um todo qual seja a experiência que é ela própria uma ligação sinté tica das intuições Nos juízos sintéticos a priori contudo falta por completo esse b 13 recurso auxiliar Se devo sair6 7 do conceito A para conhecer um B 6 O parágrafo seguinte foi acrescentado em B no lugar de um parágrafo cuja traduçao se en contra abaixo na Introdução A NT 7 A Academia manteve aí a formulação de A sair do conceito aus dem Begriffe hinausge hen Em B se lê ir além do conceito über den Begriff hinausgehen NT 52 a ele ligado o que é isso em que me apoio e que torna possível a sínte se se não tenho aqui a vantagem de poder procurálo no campo da ex periência Tomese a proposição tudo o que acontece tem a sua cau sa No conceito de algo que acontece eu penso de fato uma existên cia que é precedida por um tempo etc e disso se podem extrair juízos analíticos Mas o conceito de uma causa reside inteiramente fora des se conceito e8 aponta para algo distinto daquilo que acontece não es tando de modo algum portanto contido nesta última representação Como chego eu então a dizer daquilo que acontece em geral algo que lhe é inteiramente diverso e a reconhecer o conceito de causa apesar de não estar de fato contido nele como pertencente e mesmo necessário a ele 0 que é aqui o desconhecido x9 em que o entendi mento se apoia quando acredita encontrar fora do conceito A um predicado B dele distinto mas ainda assim a ele conectado Não pode ser a experiência pois o princípio apresentado acrescentou esta segunda representação à primeira não apenas com maior universali dade do que a experiência pode fornecer mas também com a expres são da necessidade portanto inteiramente a priori e a partir de sim ples conceitos Assim o inteiro propósito final de nosso conhecimen to especulativo a priori repousa em tais princípios sintéticos i e de ampliação pois os analíticos são de fato extremamente importantes e necessários mas apenas para atingir aquela clareza dos conceitos b 14 que se exige de uma síntese segura e ampla enquanto uma nova aqui sição efetiva10 V Os juízos sintéticos a priori estão contidos como princípios em todas as ciências teóricas da razão 1 Os juízos matemáticos são todos sintéticos Esta proposição parece ter escapado até hoje às observações dos analistas da razão humana ou chega mesmo a parecer diretamente contraposta a todas as suas suposições muito embora seja certa sem contradição e se 8 0 período reside inteiramente fora desse conceito e liegt ganz ausser jenem Begriffe und ioi acrescentado em B NT 9 A palavra desconhecido unbekannte em desconhecido x foi acrescentada em B NT 10 A partir daqui A trazia ainda um último parágrafo traduzido abaixo na Introdução A NT 53 mostrará muito importante no que segue Como se achava que todas as inferências dos matemáticos seguiam o princípio de contradição que é exigido pela natureza de toda certeza apodítjca tinhase a convicção de que também os princípios seriam conhecidos a partir do princípio de contradição o que fez com que todos se equivocassem pois uma proposição sintética pode certamente ser considerada se gundo o princípio de contradição mas apenas quando é pressuposta uma outra proposição sintética de que ela pode deduzirse e jamais quando considerada em si mesma Tem de ser notado primeiramente que proposições verdadeira mente matemáticas são sempre juízos a priori e não empíricos por que trazem consigo uma necessidade que não pode ser derivada da b 15 experiência Se não se quer conceder isso então muito bem eu me limito à matemática pura cujo conceito já traz consigo que ela não contém conhecimentos empíricos mas apenas conhecimentos pu ros a priori A princípio se poderia pensar de fato que a proposição 7 5 12 é uma proposição meramente analítica que se segue do conceito de uma soma de sete e cinco segundo o princípio de contradição Se se observa mais de perto porém percebese que o conceito da soma de 7 e 5 não contém nada mais do que a unificação de ambos os nú meros em um único pela qual absolutamente não se pensa qual seria esse único número que reúne ambos 0 conceito de doze não é de modo algum pensado quando eu simplesmente penso essa unificação de sete e cinco e eu posso decompor o quanto quiser o meu conceito de tal soma que não encontrarei desse modo o conceito de doze É preciso ir além desses conceitos e recorrer ao auxílio de uma intuição que corresponda a algum deles como por exemplo os seus cinco de dos ou como Segner em sua aritmética cinco pontos e que assim acrescente aos poucos ao conceito de sete as unidades de cinco da das na intuição Pois eu tomo primeiro o número 7 e na medida em que recorro aos dedos de minha mão como intuição para o conceito b 16 de 5 faço com que as unidades que antes tomava em conjunto para formar o número 5 sejam gradativamente acrescentadas nessa mi nha imagem ao número 7 e assim vejo surgir o número 12 Eu já ha via pensado de fato no conceito de uma soma 7 5 que 5 deviam ser acrescentados a 7 mas não que esta soma fosse igual ao número 12 54 A proposição aritmética é sempre sintética portanto e isso se torna cada vez mais claro quando operamos com números maiores com re lação aos quais é nítido que independentemente de como viremos ou reviremos nossos conceitos não poderíamos jamais sem o auxílio da intuição encontrar a soma pela mera decomposição desses conceitos Os princípios da geometria não são tampouco analíticos Que a li nha reta seja a mais curta entre dois pontos é uma proposição sintéti ca Pois o meu conceito de reto não contém nada relativo à quantida de mas apenas uma qualidade O conceito de mais curto portanto é acrescentado por inteiro a ele e não pode ser extraído por decomposi ção do conceito de linha reta É preciso pois recorrer aqui ao auxílio da intuição por meio da qual a síntese é unicamente possível Alguns poucos princípios pressupostos pelos geômetras são de fato analíticos e se baseiam no princípio de contradição eles também servem apenas contudo como proposições idênticas na cadeia dos métodos e não como princípios Por exemplo a a o todo é igual b a si mesmo ou a b a i e o todo é maior que uma parte sua E mesmo estas proposições por mais que valham como simples con ceitos são permitidas na matemática somente porque podem ser apre sentadas na intuição O que normalmente nos leva aqui a acreditar que o predicado de tais juízos apodíticos já estaria em nosso conceito e que o juízo seria portanto analítico é tão somente a ambiguidade da expressão Nós devemos com efeito acrescentar pelo pensamento um certo predicado a um dado conceito e esta necessidade já repou sa nos conceitos Mas a questão não é o que devemos pensar em acréscimo a um dado conceito e sim o que efetivamente pensamos nele ainda que de maneira obscura e nisso se mostra que o predica do de fato se incorpora necessariamente àqueles conceitos mas não como pensado no próprio conceito e sim por meio de uma intuição que tem de ligarse ao conceito 2 A ciência da natureza physica contém em si mesma juízos sintéticos a priori como princípios Desejo introduzir como exem plos apenas algumas proposições como a proposição de que em to das as mudanças do mundo corpóreo a quantidade de matéria perma nece inalterada ou de que em toda comunicação do movimento ação 55 e reação têm de ser sempre iguais uma à outra É claro em ambas não apenas a sua necessidade portanto sua origem a priori mas também B 18 que elas são proposições sintéticas Pois no conceito de matéria eu penso não a persistência mas apenas a sua presença no espaço pelo preenchimento deste Eu vou realmente além do conceito de matéria portanto para acrescentarlhe algo a priori que eu não pensava nele A proposição portanto não é pensada analítica mas sinteticamente e ainda assim a priori e o mesmo vale para as demais proposições da parte pura da ciência da natureza 3 Mesmo que se considere a metafísica como uma ciência que até aqui foi apenas ensaiada mas que é indispensável em virtude da natureza da razão humana ela tem de conter conhecimentos sintéti cos a priori e portanto não lida somente com a mera decomposição e o esclarecimento analítico de conceitos que fazemos das coisas a priori mas nós queremos antes ampliar nossos conhecimentos a pri ori e para isso temos de empregar princípios tais que acrescentem ao conceito dado algo que não estava nele contido e que vão tão lon ge por meio de juízos sintéticos a priori que a própria experiência não pode acompanharnos É o caso por exemplo da proposição o mundo tem de ter um primeiro começo entre outras e a metafísica se constitui assim pelo menos no que diz respeito a seu fim de pro posições puramente sintéticas a priori B 19 VI Problema geral da razão pura Já se tem um grande ganho quando se consegue reunir uma va riedade de investigações sob a fórmula de um único problema Pois assim se facilita não apenas o próprio trabalho que é melhor determi nado mas também o juízo de quem quiser averiguar se conseguimos ou não realizar nosso propósito O verdadeiro problema da razão pura está pois contido na questão como são possíveis juízos sintéti cos a priori Que a metafísica tenha permanecido até aqui em um estado tão instável de incerteza e contradições é atribuível unicamente ao fato de que não se pensou antes nesse problema nem talvez na distinção 56 entre juízos analíticos e sintéticos Da solução desse problema ou de uma prova suficiente de que não existe realmente a possibilidade cuja elucidação ela exige depende assim a subsistência ou queda da meta física David Hume que dentre os filósofos foi aquele se ocupou mais de perto com esse problema mas passou longe de pensálo de manei ra suficientemente determinada ou em sua universalidade permane cendo apenas na proposição sintética da conexão do efeito com sua causa principium causalitatis acreditou descobrir que tal proposi ção a priori seria inteiramente impossível de modo que segundo suas inferências tudo aquilo a que chamamos metafísica desemboca ria em uma suposta compreensão racional meramente ilusória da quilo que na verdade surgiu da experiência e adquiriu por meio do hábito uma aparência de necessidade uma afirmação que destrói toda filosofia pura e à qual ele não teria jamais chegado se tivesse le vado em conta a nossa tarefa em toda a sua universalidade pois neste caso teria compreendido que segundo seus argumentos também não poderia haver nenhuma matemática pura já que esta contém clara mente proposições sintéticas a priori e assim o seu são entendimen to o teria então prevenido de tal afirmação Na solução do problema acima está compreendida ao mesmo tempo a possibilidade do uso puro da razão na fundamentação e no desenvolvi mento de todas as ciências que contêm um conhecimento teórico a prio ri de objetos i e a resposta às seguintes questões Como é possível a matemática pura Como é possível a ciência pura da natureza Uma vez que tais ciências sejam efetivamente dadas podemos perguntar adequadamente como são elas possíveis pois que têm de ser possíveis é provado por sua realidade No que diz respeito à me tafísica porém da qual não se pode dizer que tenha realmente existi do com vistas a seu fim essencial em nenhuma das versões até hoje expostas o seu pífio progresso até aqui leva qualquer um a duvidar com razão de sua possibilidade XI Muitos ainda poderiam questionar esse último ponto no que diz respeito à ciência pura da natureza Basta observar contudo as proposições que aparecem no início da verdadeira físi ca a empírica como aquela da persistência da mesma quantidade de matéria da inércia da igualdade de ação e reação etc logo se adquire assim a convicção de que elas constituem uma physicam puram ou rationalem que merece certamente como uma ciência própria ser tratada separadamente em toda a sua extensão seja esta estreita ou ampla NA B 20 B 21 57 No entanto também esse tipo de conhecimento em certo senti do tem de ser visto como dado e a metafísica é real se não como ciência ao menos como disposição natural metaphysica naturalis Pois a razão humana sem ser movida pela mera vaidade da erudição mas impulsionada pela própria necessidade avança incessantemente até questões tais que não podem ser respondidas por nenhum uso em pírico da razão nem com princípios daí emprestados e em todos os seres humanos assim tão logo a razão se tenha estendido neles até a especulação houve em todos os tempos alguma metafísica e sempre B 22 continuará a haver Também para ela pois vale a questão como é possível a metafísica como disposição natural Ou seja como sur gem a partir da natureza da razão humana universal as questões que a razão se coloca e procura responder da melhor maneira possível impulsionada por sua própria necessidade Como até hoje no entanto em todas as tentativas de responder a tais questões naturais como por exemplo se o mundo tem um come ço ou se existe desde a eternidade etc encontraramse sempre con tradições inevitáveis então não podemos satisfazernos com a mera dis posição natural para a metafísica i e com a própria faculdade pura da razão da qual brota sempre de fato alguma metafísica seja ela qual for mas tem de ser possível trazêla a uma certeza seja no saber ou no não saber sobre seus objetos i e seja decidindo sobre os objetos de suas questões ou sobre a capacidade e incapacidade da razão para jul gar algo com relação a eles seja pois ampliando nossa razão pura com segurança ou estabelecendo os seus exatos e seguros limites Esta últi ma questão que decorre do problema geral acima seria com razão a se guinte como é possível a metafísica como ciência Ao final portanto a crítica da razão conduz necessariamente à ciência e o usòdogmático da mesma sem crítica conduz pelo contrá B 23 rio a afirmações sem fundamento às quais se pode opor outras tantas igualmente ilusórias portanto ao ceticismo Essa ciência também não pode ser de grande e dispersiva ampli tude pois tem de lidar não com objetos da razão cuja diversidade é infinita mas apenas consigo mesma com problemas que brotam ape nas de seu seio e lhe são apresentados não pela natureza das coisas que são dela distintas mas pela sua própria natureza de modo que 58 tem de tornarse fácil caso ela se tenha familiarizado completamente com a sua própria faculdade com vistas aos objetos que lhe podem aparecer na experiência determinar completa e seguramente o âmbi to e os limites do uso que ela procura fazer para além de todos os limi tes da experiência É possível e necessário portanto ver como não efetivadas todas as tentativas de realizar a metafísica dogmaticamente pois o que em uma ou outra é analítico i e uma mera decomposição dos conceitos que estão em nossa razão não é ainda o fim mas apenas uma prepa ração para a verdadeira metafísica que busca ampliar o conhecimen to sintético a priori dos mesmos mas é incapaz de fazêlo já que ape nas mostra o que está contido nesses conceitos e não como chega mos a priori a eles para assim poder determinar também o seu uso válido com vistas aos objetos de todo conhecimento em geral De res to basta um pouco de abnegação para desistir de todas essas preten sões pois as contradições da razão consigo mesma irrecusáveis e também no procedimento dogmático inevitáveis já há muito compro meteram a autoridade de toda metafísica anterior Será necessária uma maior persistência para não se deixar deter nem internamente pela dificuldade nem externamente pela resistência e assim oferecer por meio de um tratamento completamente oposto ao adotado até aqui uma ciência que é indispensável à razão humana e da qual se po dem podar todos os galhos salientes sem danificar a raiz podendo ela agora finalmente crescer de maneira próspera e frutífera VII Ideia e divisão de uma ciência particular sob o nome de uma crítica da razão pura12 De tudo isso se segue assim a ideia de uma ciência particular que pode denominarse crítica da razão pura Pois a razão é a facul dade que fornece os princípios do conhecimento a priori Por conse guinte a razão pura é aquela que contém os princípios para conhecer algo absolutamente a priori Um órganon da razão pura seria o con junto completo daqueles princípios segundo os quais todos os conhe cimentos puros a priori podem ser adquiridos e efetivamente realiza 12 Este tópico corresponde ao tópico II de A Cf abaixo a Introdução A NT B 24 B 25 59 dos A aplicação exaustiva de tal órganon proporcionaria um sistema da razão pura Como isto contudo seria pedir muito e ainda perma nece indecidido se também aqui é realmente possível e em quais ca sos uma ampliação de nosso conhecimento então podemos conside rar uma ciência do mero julgamento da razão pura de suas fontes e li mites como propedêutica a um sistema da razão pura Tal ciência não seria uma doutrina mas teria de denominarse apenas crítica da razão pura e sua utilidade seria de fato no que diz respeito à especu lação meramente negativa servindo não para a ampliação mas so mente para a purificação de nossa razão e para mantêla livre de er ros o que já constitui um grande ganho Eu denomino transcenden tal todo conhecimento que se ocupe não tanto com os objetos mas com o nosso modo de conhecer os objetos na medida em que estes devam ser possívei a priori3 Um sistema de tais conceitos se deno minaria filosofia transcendental Mas esta é ainda excessiva para o começo Pois uma vez que tal ciência teria de conter por inteiro tanto o conhecimento analítico como o sintético a priori ela seria de uma extensão demasiado ampla em vista de nossos propósitos pelos quais só temos de empreender a análise na medida em que ela seja estrita mente necessária para discernir em sua inteira extensão os princípios B 26 da síntese a priori que é o que constitui a razão de nosso trabalho Aquilo com que nos ocupamos agora é esta investigação que nós de fato não poderíamos denominar uma doutrina mas apenas uma críti ca transcendental posto que tem por propósito não a ampliação dos próprios conhecimentos mas somente a justificação dos mesmos de vendo fornecer a pedra de toque do valor ou falta de valor de todos os conhecimentos a priori Consequentemente tal crítica é uma prepa ração se possível para um órganon ou se este não puder realizarse pelo menos para um cânone de tais conhecimentos de acordo com o qual o sistema completo da filosofia da razão pura quer ele consista em uma ampliação ou em uma limitação de seus conhecimentos pos sa pelo menos de ora em diante ser apresentado tanto analítica como sinteticamente Pois que isto seja possível e tal sistema não seja mes mo tão extenso permitindo assim que esperemos completálo é algo 13 13 A partir de mas com o nosso a edição da Academia manteve o texto de A Em B ele seria substituído por mas com os nossos conceitos a priori de objetos sondern mit unsem Be griffen a priori von Gegenständen NT 60 que se pode estimar de antemão tendo em conta que o que constitui aqui o objeto não é a natureza das coisas que é inesgotável mas sim o entendimento que julga sobre a natureza das coisas e mesmo ele somente no que diz respeito somente aos seus conhecimentos a prio ri cuja riqueza posto não precisarmos procurála externamente não nos pode permanecer oculta e ao que tudo indica é pequena o sufici ente para que possamos captála por inteiro julgála segundo seu va lor ou falta de valor e submetêla a uma apreciação correta14 Tampou co se deve esperar aqui por uma crítica dos livros e sistemas da razão pura mas sim por uma crítica da própria faculdade racional pura So mente quando se tem esta por fundamento é que se tem uma pedra de toque segura para avaliar quanto a essa disciplina o conteúdo filo sófico das antigas e das novas obras do contrário historiadores e juí zes desprovidos de qualquer autoridade julgarão as afirmações sem fundamento de outrem por meio das suas próprias que são igualmen te infundadas A filosofia transcendental é a ideia de uma ciência para a qual a crítica da razão pura deve traçar um plano completo arquitetonica mente i e a partir de princípios com total garantia de completude e segurança em todas as peças que constituem esse edifício Ela é o sis tema de todos os princípios da razão pura15 Que esta crítica já não se chame ela própria filosofia transcendental isto se baseia simplesmen te em que para ser um sistema completo ela teria de conter também uma análise exaustiva de todo o conhecimento humano a priori Nossa crítica tem de trazer à vista certamente também uma enumeração completa de todos os conceitos primitivos que constituem o dito co nhecimento puro Mas ela se abstém apropriadamente da análise exaustiva desses conceitos mesmos como também do recenseamento completo daqueles daí deduzidos porque em parte a sua decomposi ção não seria conforme a seus fins visto não envolver a dificuldade que se encontra na síntese em função da qual a crítica como um todo exis te e em parte porque assumir a responsabilidade pela completude de tal análise e dedução de que ela poderia ser dispensada face a seu pro pósito iria de encontro à unidade do plano Essa completude da de 14 As duas frases que fecham o parágrafo são acréscimo de B NT 15 Frase acrescida em B NT B 27 B 28 61 composição no entanto assim como a derivação a partir dos concei tos a priori que serão fornecidos posteriormente são fáceis de com pletar se antes de tudo esses conceitos já estiverem dados como prin cípios detalhados da síntese e não faltar nada quanto a este propósito À crítica da razão pura pertence portanto tudo aquilo que cons titui a filosofia transcendental e ela é a ideia completa da filosofia transcendental mas não ainda esta ciência mesma pois ela só vai na análise até onde é exigido para o julgamento completo dos conheci mentos sintéticos a priori O cuidado mais importante a observar na divisão de tal ciência é que não deve ser introduzido nenhum conceito que contenha algo de empírico em si e que o conhecimento seja inteiramente puro a priori Assim embora os princípios supremos da moralidade e os conceitos fundamentais da mesma sejam conhecimentos a priori eles não per tencem à filosofia transcendental16 porque mesmo não tendo por B 29 fundamento de seus preceitos os conceitos de prazer e desprazer de apetites e inclinações etc cuja origem é inteiramente empírica eles têm de envolvêlos necessariamente no conceito de dever na constru ção do sistema da moralidade pura como obstáculos que devem ser superados ou como estímulos que não devem ser tornados em moti vos Por isso a filosofia transcendental é uma filosofia da razão pura meramente especulativa Pois tudo o que é prático na medida em que contém móbiles referese a sentimentos que pertencem a fontes empí ricas de conhecimento Caso se pretenda pois efetuar uma divisão dessa ciência do pon to de vista universal de um sistema em geral então esta que ora apre sentamos tem de conter primeiro uma doutrina dos elementos depois uma doutrina do método da razão pura Cada uma dessas partes prin cipais terá sua subdivisão mas as razões para isso não podem ser apresentadas ainda A título de introdução ou antecipação parece su ficiente dizer que há dois troncos do conhecimento humano os quais brotam talvez de uma raiz comum mas por nós desconhecida quais se 16 A continuação desta frase substituiu em B o seguinte texto de A porque os conceitos de prazer e desprazer de apetites e inclinações de escolha etc que são todos de origem empíri ca têm de ser aí pressupostos NT 62 jam a sensibilidade e o entendimento os objetos nos sendo dados por meio da primeira mas pensados por meio do último Na medida pois em que a sensibilidade deve conter representações a priori que consti tuem as condições sob as quais os objetos nos são dados ela pertence ria à filosofia transcendental A doutrina transcendental dos sentidos teria de pertencer à primeira parte da ciência dos elementos porque as condições sob as quais todos os objetos do conhecimento humano são dados antecedem aquelas sob as quais os mesmos são pensados 63 INTRODUÇÃO segundo a edição A A 1 I Ideia da filosofia transcendental A experiência é sem dúvida o primeiro produto que nosso enten dimento fornece ao trabalhar a matéria bruta das percepções sensíveis Ela é por isso mesmo o primeiro ensinamento e no seu progresso é tão inesgotável em termos de novas instruções que a vida encadeada de todas as gerações futuras nunca sofrerá com a falta de novos co nhecimentos que possam ser acumulados nesse terreno Ao mesmo tempo ela está longe de ser o único campo a que nosso entendimento se limita Ela realmente nos diz que algo é mas não que teria de ser assim e não de outro modo de maneira necessária Por isso mesmo ela não nos dá também nenhuma universalidade verdadeira e a ra zão que é tão ávida por esse tipo de conhecimentos é por ela mais in citada do que satisfeita Tais conhecimentos universais que têm ao mesmo tempo o caráter de necessidade interna têm de ser portanto independentes da experiência e claros e seguros por si mesmos por isso são denominados conhecimentos a priori Aquilo pelo contrário que só se toma emprestado da experiência como se costuma dizer é conhecido apenas a posteriori ou empiricamente Mostrase assim o que é bastante curioso que mesmo entre as nossas experiências se misturam conhecimentos que têm de ter sua origem a p rio ri e que servem apenas talvez para fornecer uma arti culação coerente de nossas representações dos sentidos Pois mes mo que se retire àquelas primeiras tudo o que pertence aos senti dos permanecem ainda determinados conceitos originários e juí zos por eles gerados que têm de ter surgido inteiramente a priori independentemente da experiência na medida em que nos permi tem dizer ou pelo menos acreditar poder dizer algo mais sobre os objetos que aparecem aos sentidos do que a experiência nos ensina ria e possibilitam ainda que as afirmações contenham verdadeira 65 universalidade e estrita necessidade algo que o conhecimento me ramente empírico não poderia fornecer A partir daqui o restante deste primeiro tópico de À corresponde ao tó A 2 6 pico III de B A filosofia necessita de uma ciência mas sem o título B 610 e com as pequenas diferenças já indicadas nas notas correspondentes Da diferença entre juízos analíticos e sintéticos O texto de A seguia aqui acompanhando o de B em seu tópico IV cujo título corresponde ao desta subdivisão não numerada do tópico I de A A 67 Além disso havia dois trechos de A abaixo traduzidos que seriam omi B 1011 tidos em B O parágrafo abaixo começava em A após o término do parágrafo que mantido em B II termina com a seguinte frase O acréscimo desse predicado fornece portanto um juízo sintético Aqui fica claro pois 1 que por meio dos juízos analíticos nosso A 8 conhecimento não pode ser ampliado de modo algum mas o conceito que já tenho é decomposto e tornado compreensível para mim 2 que nos juízos sintéticos eu preciso ter além do conceito do sujeito algo ou tro X em que o entendimento possa apoiarse para conhecer um pre dicado como pertencente ao conceito que não estava nele contido Com os juízos empíricos ou de experiência portanto não há aqui dificuldade alguma Pois este X é a experiência completa do objeto que eu penso por meio do conceito A o qual constitui apenas uma parte dessa experiência A partir d esse pon to o tex to de A se ju n ta ao de B 12 ond e com eça a A 810 frase Se pelo contrário n ão incluo de modo algum o predicado do B 1114 peso no con ceito de um corp o em geral O parágrafo abaixo continuava o primeiro tópico de A mas foi omitido ao final do tópico IV de B que se encerra do seguinte modo B 14 para atingir aquela clareza dos conceitos que se exige de uma síntese segura e ampla como de uma nova aquisição efetiva Em seguida a esta oração portanto inseriase em A o seguinte parágrafo A 10 6 6 Escondese aqui portanto um certo mistério1 de cujo desvenda mento depende a possibilidade de tornar seguro e confiável o pro gresso no campo sem fronteiras do conhecimento puro do entendi mento a saber descobrir o fundamento de possibilidade dos juízos sintéticos a priori com a devida universalidade discernir as condi ções que tornam possível cada espécie desses juízos e determinar em um sistema esse conhecimento como um todo que constitui o gênero desses juízos segundo suas fontes originárias suas divisões seu al cance e seus limites i e determinálo de maneira completa e sufici ente para cada uso e não meramente delineálo por meio de um círcu lo fugidio Isto é suficiente por ora no que concerne às propriedades dos juízos sintéticos A partir daqui o texto de A corresponde ao tópico Vil de B Ideia e di visão de uma ciência II Divisão da filosofia transcendental 0 título deste segundo tópico de A cindia em dois o texto correspon dente ao tópico VII de B O primeiro tópico de A terminava com as se guintes palavras B 267 julgálo segundo seu valor ou falta de valor e submetêlo a uma apreciação correta A frase que vem seguida a elas em B foi acrescentada na segunda edição Depois dela começa um novo parágrafo B 27 que corresponde ao primeiro parágrafo deste tópico II de A A filosofia transcendental é a ideia de uma ciência A partir de então salvo pelas pequenas diferenças já indicadas em notas há uma equivalência entre os textos que se mantém até o final da introdução Com a seguinte tabela visamos facilitar a visualização das diferenças entre as introduções de A e B Estão indicados os tópicos que grosso modo se correspondem em B e A Ib corresponde àquela subdivisão de I acima indicada 1 Se tivesse ocorrido a algum dos antigos colocarse também esta questão ela sozinha teria ofe recido poderosa resistência a todos os sistemas da razão pura até nossa época e teria evitado que tantos esforços vãos fossem cegamente empreendidos sem que se soubesse o que se preci sava efetivamente fazer NA A 1013 B 2427 A 1316 B 2729 67 B A I II III I IV Ib V VI VII II 68 DOUTRINA TRANSCENDENTAL DOS ELEMENTOS I B 31 PRIMEIRA PARTE Estética transcendental B 33 1 Quaisquer que sejam o modo ou os meios pelos quais um conhe cimento se relaciona aos objetos aquele pelo qual se relaciona imedia tamente a eles e a que todo pensamento como meio se dirige é a intu ição Ela só tem lugar porém na medida em que o objeto nos é dado isto porém só é por seu turno possível pelo menos para nós seres humanos caso afete a nossa mente de um certo modo A capacidade receptividade de receber representações através do modo como so mos afetados por objetos denominase sensibilidade Os objetos nos são dados assim por meio da sensibilidade e apenas ela nos fornece intuições eles são pensados porém por meio do entendimento e des te surgem os conceitos Todo pensamento contudo seja diretamente directe seja por rodeios indirecte precisa afinal por meio de certas características referirse à intuição em nós portanto à sensibilidade pois de outro modo nenhum objeto pode sernos dado O efeito de um objeto sobre a capacidade de representação na me dida em que somos por ele afetados é a sensação A intuição que se re laciona ao objeto por meio da sensação é denominada em pírica O ob jeto indeterminado de uma intuição empírica se denomina fenômeno Àquilo que no fenômeno corresponde à sensação eu denomino a m atéria do mesmo mas àquilo que faz com que o diverso1 2 do fenôme no possa ser ordenado em certas relações eu denomino a form a dos fenômenos Como aquilo que permite ordenar e colocar as sensações 1 A divisão da estética em parágrafos e a sua numeração foram acrescentadas em B NT 2 Acompanhamos a opção dos portugueses Santos e Morujâo na versão de Mannigfaltige por diverso em detrimento de múltiplo que foi a opção adotada por entre outros Rohden e Moosburger e também por Caimi Parecenos que o elemento que Kant quer enfatizar com a expressão Mannifaltige é menos a multiplicidade em que sobressai o caráter quantitativo do que a diversidade em que sobressai o caráter qualitativo ligado à presença de importantes di ferenças na intuição sensível NT B 34 7 1 sob uma certa forma não pode por seu turno ser também uma sensa ção a matéria de todos os fenômenos nos é dada então a posteriori mas a forma dos mesmos já tem de estar pronta a priori na mente e portan to tem de poder ser considerada separadamente de toda sensação Eu denomino puras em sentido transcendental todas as repre sentações em que não se encontra nada que pertença à sensação As sim a forma pura das intuições sensíveis em geral nas quais todo o di verso dos fenômenos é intuído em certas relações será encontrada a priori na mente Esta forma pura da sensibilidade também se denomi b 35 nará ela própria intuição pura Se eu retiro da representação de um corpo assim aquilo que o entendimento nele pensa como substância força divisibilidade etc e também aquilo que nele pertence à sensa ção como impenetrabilidade dureza cor etc ainda me resta algo dessa intuição empírica a áàber extensão e figura3 4 Estas pertencem à intuição pura que mesmo sem um objeto real dos sentidos ou da sensação tem lugar a priori na mente como uma mera forma da sensibilidade A uma ciência de todos os princípios da sensibilidade a priori eu denomino estética tra n scen d en ta t Tem de haver uma tal ciência B 36 portanto que constitua a primeira parte da doutrina transcendental dos elementos por oposição àquela que contém os princípios do puro pensar e se denominará lógica transcendental Assim na estética transcendental isolarem os a sensibilidade reti rando primeiramente tudo aquilo que o entendimento nela pensa por meio de seus conceitos de modo que nada sobre a não ser a intuição 3 A exemplo da maioria dos tradutores para línguas neolatinas p ex Rohden e Moosburger Santos e Morujão Caimi vertemos Gestalt por figura de modo a diferenciar este termo de Form forma ctiferenciação não preservada em boa parte das traduções inglesas caso de Guyer e Wood NT 4 Os alemães são os únicos a empregar hoje a palavra estética para denotar aquilo que os outros denominam crítica do gosto Na base disso há uma esperança frustrada que o brilhante analis ta Baumgarten abraçou de submeter o julgamento crítico do belo a princípios racionais e ele var as regras do mesmo à condição de ciência Mas essa tentativa é vã Pois as ditas regras ou critérios são segundo suas fontes mais importantes meramente empíricas e não podem ja mais servir portanto como leis determinadas a priori pelas quais o juízo de gosto tivesse de pautarse é antes este último que constitui a verdadeira pedra de toque daquelas primeiras B 36 Por isso é aconselhável ou deixar essa denominação novamente de lado e mantêla naquela primeira acepção com a qual estaríamos mais próximos da linguagem e do sentido dos anti gos junto aos quais era bastante conhecida a divisão do conhecimento em aisthetá kai noetú o sensível e o inteligível ou partilhar a denominação com a filosofia especulativa e tomar a estética ora no sentido transcendental ora em um significado psicológico NA 72 empírica Em seguida separaremos ainda desta última tudo aquilo que pertence à sensação de modo que nada sobre a não ser a intuição pura e a mera forma dos fenômenos a única coisa que a sensibilidade pode fornecer a priori Nesta investigação se verificará que há duas formas puras da intuição sensível como princípios do conhecimento a priori quais sejam o espaço e o tempo com cuja consideração nos ocuparemos agora Primeira seção Do espaço 2 Exposição metafísica desse conceito Por meio do sentido externo uma propriedade de nossa mente nós nos representamos os objetos como fora de nós e todos eles no espaço Aí são determinadas ou determináveis sua figura sua quan tidade e sua relação recíproca O sentido interno por meio do qual a mente intui a si mesma ou a seu estado interno não fornece de fato nenhuma intuição da alma mesma como um objeto ele é no entanto a única forma determinada sob a qual é possível a intuição do seu es tado interno no sentido de que tudo o que pertence às determina ções internas é representado em relações de tempo O tempo não pode ser intuído externamente assim como o espaço não o pode como algo em nós O que são então o espaço e o tempo São entes re ais São apenas de fato determinações ou mesmo relações das coi sas mas tais que pertenceriam às próprias coisas mesmo que não fos sem intuídas Ou são tais que só se ligam à forma da intuição e por tanto à constituição subjetiva de nossa mente sem a qual esses pre dicados não poderiam ser atribuídos a coisa alguma Para instru irnos sobre isso vamos primeiramente expor o conceito de espaço Por exposição expositio contudo eu entendo a representação clara ainda que não exaustiva daquilo que pertence a um conceito a expo sição é metafísica porém quando contém aquilo que apresenta o conceito como dado a priorf 5 5 A partir de vamos primeiramente trecho acrescentado em B Em A se lia somente vamos primeiramente considerar o espaço NT B 37 B 38 73 1 0 espaço não é um conceito empírico que tenha sido derivado de experiências externas Pois para que certas sensações sejam referi das a algo fora de mim i e a algo em um outro lugar do espaço que não aquele em que me encontro e para que do mesmo modo eu as possa representar como externas umas ao lado das outras portanto não só diferentes mas como em diferentes lugares para isso a repre sentação do espaço já tem de servirlhes de fundamento A represen tação do espaço não pode assim ser extraída da experiência a partir das relações do fenômeno externo mas é antes esta experiência exter na que só é possível por meio de tal representação 2 O espaço é uma representação necessária a priori que serve de fundamento a todas as intuições externas Ninguém pode jamais re presentarse que não há espaço mesmo podendo perfeitamente pensar B 39 que nenhum objeto se encontra no espaço Ele é considerado assim como a condição de possibilidade dos fenômenos e não como uma de terminação deles dependente e é uma representação a priori que neces sariamente serve de fundamento a todos os fenômenos externos 3 6 0 espaço não é um conceito discursivo ou como se costuma dizer um conceito universal das relações das coisas em geral mas sim uma intuição pura Pois em primeiro lugar só se pode representar um único espaço e quando se fala em muitos espaços entendese por isso apenas as partes de um mesmo e único espaço universal Estas partes também não podem preceder como se fossem seus componen tes de modo que fosse possível a sua composição ao único espaço que a tudo abarca mas somente nele são pensadas Ele é essencial mente uno e o diverso nele portanto também o conceito universal de espaços em geral baseiase simplesmente em limitações Disso se se gue que no que concerne a ele uma intuição a priori que não é em 6 Em A este item 3 era na verdade o 4 0 3 de A trazia o seguinte 3 A certeza apodítica de todas as proposições matemáticas bem como a possibilidade de sua construção a priori fun damse na necessidade a priori Se essa representação do espaço fosse um conceito adquirido a posteriori gerado a partir da experiência externa geral os primeiros princípios da determi nação matemática não seriam nada além de percepções Eles teriam portanto toda a contin gência da percepção e não seria sequer necessário que entre dois pontos houvesse apenas uma linha mas isto teria de ser ensinado a cada vez pela experiência O que é emprestado à ex periência tem também uma universalidade meramente comparativa a saber por indução So mente se poderia dizer portanto que pelo que se observou até aqui não se encontrou nenhu m espaço que tivesse mais do que três dimensões NT 74 pírica serve de fundamento a todos os conceitos do mesmo Assim também nenhum princípio geométrico por exemplo o de que no triângulo dois lados somados são maiores que o terceiro é jamais deduzido dos conceitos universais de linha e triângulo mas sim da in tuição e isto a priori com certeza apodítica 47 O espaço é representado como uma grandeza infinita dada Agora é preciso pensar cada conceito como uma representação que está contida em uma infinita variedade de diferentes representações possíveis como sua característica comum e que portanto contém nas sob si mas nenhum conceito enquanto tal pode ser pensado co mo se contivesse em si uma variedade infinita de representações O espaço todavia é assim pensado pois todas as partes do espaço são simultâneas ao infinito A representação originária do espaço por tanto é uma intuição a priori e não um conceito 3 Exposição transcendental do conceito de espaço8 Entendo por exposição transcendental a elucidação de um con ceito como um princípio a partir do qual se pode discernir a possibili dade de outros conhecimentos sintéticos a priori Para esse propósi to se exige 1 que tais conhecimentos decorram de fato do conceito dado 2 que esses conhecimentos só sejam possíveis sob a pressupo sição de um dado modo de esclarecer esse conceito A geometria é uma ciência que determina as propriedades do es paço de maneira sintética mas também a priori O que tem de ser en tão a representação do espaço para que seja possível tal conhecimen to Ele tem de ser originariamente uma intuição pois a partir de um mero conceito não podem ser extraídas proposições que vão além do conceito tal como no entanto ocorre na geometria Introdução V Mas esta intuição tem de encontrarse em nós a priori i e antes de qualquer percepção de um objeto e tem portanto de ser pura não 7 Correspondentemente este item 4 era em A o 5 e o seu texto um pouco diverso era o se guinte 5 0 espaço é representado como uma grandeza infinita dada Um conceito universal de espaço que é comum tanto a um pé como a uma vara não pode determinar nada com vis tas à grandeza Se não fosse pela ausência de limites no progresso da intuição nenhum concei to de relações traria consigo um princípio de infinitude NT 8 Todo o texto do g 3 foi acrescentado em B NT B 40 B 41 75 B 42 empírica Pois as proposições geométricas são todas apodíticas i e ligadas à consciência de sua necessidade como por exemplo em o espaço tem apenas três dimensões tais proposiçõescontudo não podem ser juízos empíricos ou de experiência nem ser a partir deles inferidas Introdução II Como pode estar na mente então uma intuição externa que an tecede os próprios objetos e na qual o conceito dos últimos pode ser determinado a priori Obviamente apenas na medida em que ela tem seu lugar simplesmente no sujeito como a constituição formal do mesmo para ser afetado por objetos e assim receber uma representa ção im ediata dos mesmos i e uma intuição apenas portanto co mo forma do sentido externo em geral Somente a nossa elucidação assim torna compreensível a possi bilidade da geom etria como um conhecimento sintético a priori Todo modo de esclarecer que não proporcione isso mesmo que pare ça ter algumas semelhanças com o nosso pode graças a essas carac terísticas ser dele diferenciado com segurança Conclusões a partir dos conceitos acima a O espaço não representa nenhuma propriedade de coisas em si ou das relações destas entre si i e nenhuma determinação das mes mas que fosse inerente aos próprios objetos e permanecesse mesmo depois de abstraídas todas as condições subjetivas da intuição Pois não se podem intuir determinações nem absolutas nem relativas an teriormente à existência das coisas a que pertencem i e a priori b O espaço é tão somente a forma de todos os fenômenos dos sentidos externos i e a única condição subjetiva da sensibilidade sob a qual nos é possível a intuição externa Como no entanto a re ceptividade do sujeito para ser afetado por objetos antecede necessa riamente todas as intuições desses objetos compreendese como a forma de todos os fenômenos possa estar dada na mente antes de to das as percepções reais portanto a priori e como ela possa enquan to intuição pura em que todos os objetos têm de ser determinados conter princípios das relações dos mesmos antes de toda experiência Nós só podemos portanto falar de espaço de entes extensos etc do ponto de vista de um ser humano Se saímos da única condi 76 ção subjetiva sob a qual podemos receber a intuição externa i e tal como podemos ser afetados pelos objetos então a representação do espaço não significa absolutamente nada Este predicado só é atribuí do às coisas na medida em que elas nos aparecem i e na medida em que são objetos da sensibilidade A forma permanente dessa receptivi dade a que chamamos sensibilidade é uma condição necessária de todas as relações em que objetos são intuídos como fora de nós e caso se faça abstração desses objetos ela é uma intuição pura que leva o nome de espaço Como não podemos fazer das condições pecu liares da sensibilidade condições de possibilidade das coisas mas ape nas de seus fenômenos então podemos perfeitamente dizer que o es paço abarca todas as coisas que podem aparecernos externamente mas não todas as coisas em si mesmas quer elas possam ser intuídas ou não e quem quer que seja o sujeito Pois não podemos julgar de modo algum sobre as intuições de outros seres pensantes se são ou não vinculadas às mesmas condições que limitam a nossa intuição e se são universalmente válidas para nós Se acrescentamos a limitação de um juízo ao conceito de sujeito o juízo vale então incondicional mente A proposição todas as coisas estão umas ao lado das outras no espaço vale somente sob a limitação de que essas coisas sejam to madas como objetos de nossa intuição sensível Se acrescento aqui a condição ao conceito e digo todas as coisas estão como fenômenos externos umas ao lado das outras no espaço esta regra vale univer salmente e sem limitação Nossas exposições ensinam assim a reali dade i e a validade objetiva do espaço com relação a tudo aquilo que pode apresentarse a nós externamente como objeto e também a idealidade do espaço com relação às coisas quando são consideradas pela razão em si mesmas i e tomadas sem levar em consideração a constituição de nossa sensibilidade Nós afirmamos portanto a reali dade empírica do espaço com relação a toda experiência externa possível mas também a idealidade transcendental do mesmo i e que ele nada é tão logo abandonemos a condição de possibilidade de toda experiência e o tomemos como algo que serve de fundamento às coisas em si mesmas Fora do espaço porém não há nenhuma outra representação subjetiva referida a algo de externo que pudesse denominarse obje B 43 B 44 77 B 45 tiva a priorf Pois não se pode deduzir de representações assim como se pode da intuição no espaço proposições sintéticas a priori 3 Por isso para falar com precisão não lhes pertence nenhuma idealidade mesmo que se ajustem aí à representação do espaço per tencendo apenas à constituição subjetiva do modo de sentir por exemplo da visão da audição e do tato por meio das sensações das cores sons e temperaturas as quais contudo por serem meras sensa ções e não intuições não permitem por si mesmas conhecer nenhum objeto muito menos a priori O propósito desta observação consiste apenas no seguinte evitar que as pessoas se deixem levar por exemplos altamente inadequados na explicação da mencionada idealidade do espaço i e que por exem plo as cores o gosto etc com razão não sejam considerados como propriedades constitutivas das coisas mas sim como meras modifica ções de nosso sujeito as quais podem inclusive ser diferentes em dife rentes seres humanos Pois nesse caso aquilo que é em si originaria mente apenas fenômeno como por exemplo uma rosa valeria no en tendimento empírico como uma coisa em si mesma a qual no entan to pode aparecer diferentemente a cada olho no que diz respeito à cor Por outro lado o conceito transcendental dos fenômenos no es paço é uma advertência crítica de que absolutamente nada do que é intuído no espaço é uma coisa em si nem o espaço é uma forma das coisas que lhes fosse própria em si mesmas e de que isto sim os obje tos em si não nos são conhecidos e aquilo que denominamos objetos 9 9 A continuação deste parágrafo é diferente em A 0 seu texto é o seguinte Daí que essa condição subjetiva de todos os fenômenos externos não possa ser comparada a nenhuma outra 0 sabor agradável de um vinho não pertence às determinações objetivas do vinho portanto a um objeto considerado mesmo como fenómeno mas sim à peculiar constituição do sentido em um sujeito que o desfruta As cores não são propriedades constitutivas dos corpos a cuja intuição inerem mas do mesmo modo meras modificações do senüdo da visão que é afetado pela luz de um cer to modo O espaço pelo contrário pertence necessariamente como condição dos objetos Objecte externos ao fenômeno ou intuição dos mesmos Gosto e cores não são de modo algum condições necessárias sob as quais os objetos Gegenstände podem tornarse objetos Objecte dos sentidos para nós Eles se ligam aos fenómenos apenas como efeitos contingentemente acrescentados da nossa organização particular Por isso eles também não são representações a priori mas apenas se fundamentam nas sensações sendo que o sabor agradável se funda mes mo no sentimento de prazer e desprazer como um efeito da sensação Ninguém pode ter tam bém a priori nem a representação de uma cor nem um gosto qualquer o espaço porém diz respeito apenas à forma pura da intuição e não contém em si sensação alguma nada empírico e todos os modos e determinações do espaço podem e mesmo devem ser representados a priori se tanto conceitos das figuras como das relações devem originarse Somente por meio dele é possível que coisas sejam objetos externos para nós NA 78 externos não são senão meras representações de nossa sensibilidade cuja forma é o espaço mas cujo verdadeiro correlato i e a coisa em si mesma não é nem pode ser de modo algum conhecida muito em bora não se pergunte jamais por ela na experiência Segunda seção Do tempo 4 Exposição metafísica do conceito de tempo10 1 O tempo 1 não é um conceito empírico que tenha sido derivado de alguma experiência Pois a simultaneidade e a sucessão12 não se apresentariam à percepção caso a representação do tempo não lhes servisse a priori de fundamento Somente sob a sua pressuposição se pode representar que algo seja em um mesmo e único tempo ao mes mo tempo ou em diferentes tempos um após o outro 2 O tempo é uma representação necessária que serve de funda mento a todas as intuições Não se pode suprimir o tempo no que diz respeito aos fenômenos em geral ainda que se possa perfeitamente retirar os fenômenos do tempo 0 tempo é portanto dado a priori Apenas nele é possível toda a realidade dos fenômenos Estes podem todos desaparecer mas ele mesmo como condição universal de sua possibilidade não pode ser suprimido 3 Nessa necessidade a priori se funda também a possibilidade de princípios apodíticos das relações do tempo ou axiomas do tempo em geral Ele tem apenas uma dimensão tempos diferentes não são si multâneos mas sucessivos assim como diferentes espaços não são sucessivos mas simultâneos Esses princípios não são extraídos da experiência pois esta não poderia fornecer nem universalidade estri ta nem certeza apodítica Nós só poderíamos dizer assim nos diz a percepção comum e não tem de ser assim Esses princípios valem 10 Título acrescentado em B assim como a numeração do parágrafo NT 11 Número 1 acrescentado em B NT 12 Simultaneidade e sucessão traduzem aí respectivamente Zugleichsein e Aufeinander folgen que literalmente se verteriam por sersimultâneo e seguirseumaooutro Nos pa rênteses que vêm um pouco abaixo no mesmo parágrafo nos permitimos uma maior literali dade para verter zugleich e nach einander NT B 46 B 47 79 como as únicas regras sob as quais sáo possíveis as experiências em geral e nos instruem antes dela não por meio dela 4 O tempo não é um conceito discursivoou como se costuma de nominálo um conceito universal mas sim uma forma pura da intui ção sensível Diferentes tempos são apenas partes do mesmo e único tempo A representação que só pode ser dada por meio de um único objeto contudo é uma intuição Também a proposição de que dife rentes tempos não podem ser simultâneos não poderia ser derivada de um conceito universal A proposição é sintética e não pode origi narse somente de conceitos Ela está imediatamente contida portan to na intuição e representação do tempo 5 A infinitude do tempo não significa senão que todas as grande b 48 z a s d e te r m in a d a s d o tempo só são possíveis por meio de limitações de um único tempo que lhes serve de fundamento Por isso a repre sentação originária do tempo tem de ser dada como ilimitada Quan do as partes mesmas contudo e qualquer grandeza de um objeto só podem ser determinadamente representadas por meio de uma limita ção a representação completa não pode ser dada por meio de concei tos pois estes contêm apenas representações parciais mas uma intui ção imediata tem antes de lhes servir de fundamento 5 Exposição transcendental do conceito de tempo13 Eu posso apenas reportarme ao número 3 onde para dizêlo em poucas palavras coloquei o que é propriamente transcendental sob o artigo da exposição metafísica Aqui acrescento ainda que o conceito de modificação e com ele o conceito de movimento como modifica ção do lugar só são possíveis na representação do tempo e por meio dela que se esta representação não fosse uma intuição interna a priori nenhum conceito qualquer que fosse ele poderia tornar com preensível a possibilidade da modificação i e uma ligação de predi B 49 cados contraditoriamente contrapostos p ex o ser de uma coisa em um lugar e o não ser da mesma em outro lugar em um mesmo e úni co objeto Somente no tempo podem ambas as determinações contra 13 Todo o 5 acrescentado em B NT 80 ditoriamente contrapostas ser encontradas em uma coisa como seja uma após a outra Nosso conceito de tempo elucida assim a possibili dade de tantos conhecimentos sintéticos a priori quanto são apresen tados na doutrina universal do movimento o que não é pouco frutífero 6 Conclusões a partir desses conceitos a O tempo não é algo que subsista por si mesmo ou que se ligue às coisas como determinação objetiva algo que permanecesse por tanto caso se fizesse abstração de todas as condições subjetivas da intuição das mesmas pois no primeiro caso ele seria algo real mesmo sem objeto real No que diz respeito ao segundo caso porém ele não poderia como determinação ou ordenação inerente às coisas mes mas preceder aos objetos como sua condição nem ser intuído ou co nhecido a priori por meio de proposições sintéticas Tal conhecimen to pode facilmente ocorrer contudo se o tempo for apenas a condi ção subjetiva sob a qual todas as intuições podem ocorrer em nós Pois neste caso essa forma da intuição interna pode ser representada antes dos objetos portanto a priori b 0 tempo não é senão a forma do sentido interno i e do intuir a nós mesmos e a nosso estado interno Pois o tempo não pode ser uma determinação dos fenômenos externos ele não pertence a uma figura a uma situação etc ele determina pelo contrário a relação das representações em nosso estado interno E justamente porque essa intuição interna não fornece nenhuma figura nós procuramos suprir esta falta por meio de analogias e representamos a sequência do tempo por meio de uma linha que prossegue ao infinito e na qual o diverso constitui uma série de apenas uma dimensão e inferimos das propriedades dessa linha as propriedades do tempo exceto por uma que as partes da primeira são sempre simultâneas ao passo que as do último vêm sempre umas após as outras Com isso também fica claro que a própria representação do tempo é uma intuição pois todas as suas relações se deixam exprimir em uma intuição externa c O tempo é a condição formal a priori de todos os fenômenos em geral O espaço como forma pura de toda intuição externa está li mitado apenas como condição a priori aos fenômenos externos Co mo todas as representações por outro lado quer elas tenham coisas B 50 81 externas como objetos ou não pertencem elas mesmas ao estado in terno como determinações da mente e este estado interno por seu turno pertence às condições formais da intuição interna portanto ao tempo então o tempo é uma condição a priori de todos os fenômenos em geral e de fato a condição imediata dos fenômenos internos nos b s i sa alma e por isso mesmo a condição mediata também dos externos Se posso dizer a p riori que todos os fenômenos externos estão no es paço e são determinados a p rio ri segundo as relações do espaço en tão posso dizer a partir do princípio do sentido interno em termos inteiramente universais que todos os fenômenos em geral i e todos os objetos dos sentidos estão no tempo e se inscrevem de modo ne cessário em relações do tempo Se fazemos abstração do nosso modo de intuir a nós mesmos in ternamente e por rçieio desta intuição abarcar também todas as intui ções externas na faculdade de representação se portanto tomamos os objetos tal como poderiam ser em si mesmos então o tempo não é nada Ele só tem validade objetiva com relação aos fenômenos porque estes já são coisas que nós assumimos como objetos de nossos sen ti dos mas ele já não tem validade objetiva quando se faz abstração da sensibilidade de nossa intuição portanto do modo de representar que nos é próprio e se fala das coisas em geral O tempo é tão somente portanto uma condição subjetiva de nossa humana intuição a qual é sempre sensível i e na medida em que somos afetados por obje tos e em si mesmo fora do sujeito nada é Nem por isso ele é menos objetivo e de modo necessário no que diz respeito a todos os fenôme nos portanto também a todas as coisas que se nos podem apresentar na experiência Nós não podemos dizer que todas as coisas estão no B 52 tempo porque no conceito de coisas em geral se faz abstração de to dos os tipos de intuição das mesmas sendo que esta última é a verda deira condição sob a qual o tempo pertence à representação dos obje tos Se contudo a condição é acrescentada ao conceito e se diz que todas as coisas como fenômenos objetos da intuição sensível estão no tempo então o princípio tem uma efetiva adequação objetiva e uma universalidade a priori Nossas afirmações ensinam portanto a realidade em pírica do tempo i e a sua validade objetiva com relação a todos os objetos que possam ser dados a nossos sentidos E como a nossa intuição é sempre 82 sensível nunca pode sernos dado na experiência um objeto que não es teja sob a condição do tempo Nós pelo contrário recusamos ao tem po toda pretensão à realidade absoluta pela qual mesmo sem tomar em consideração a forma de nossa intuição sensível ele se ligaria às coi sas de modo absoluto como sua condição ou propriedade Tais propri edades que pertencem à coisa em si também não podem nunca nos ser dadas por meio dos sentidos Nisso reside pois a idealidade trans cendental do tempo segundo a qual ele não é absolutamente nada se feita abstração das condições subjetivas da intuição sensível e não pode ser contado entre os objetos em si mesmos desconsiderada a sua relação à nossa intuição nem como subsistente nem como inerente Mas esta idealidade é tão pouco comparável às subrepções das sensa ções quanto aquela do espaço pois se pressupõe aí do próprio fenôme no a que esses predicados são inerentes que ele teria uma realidade ob jetiva que aqui falta por completo a não ser na medida em que ela é meramente empírica i e que o próprio objeto é compreendido apenas como fenômeno Quanto a este ponto é recomendável consultar a ob servação feita acima na primeira seção 7 Elucidação Contra essa teoria que concede realidade empírica ao tempo mas lhe recusa a absoluta e a transcendental percebi em muitos homens de discernimento uma objeção tão uníssona que sou levado a deduzir que ela deve ocorrer naturalmente a todo leitor não habituado a estas considerações Segundo tal objeção as modificações são reais isto seria provado pela mudança de nossas próprias representações mes mo que se quisesse negar todos os fenômenos externos juntamente com suas modificações Como no entanto as modificações só são possíveis no tempo o tempo é por conseguinte algo real A resposta não apresenta qualquer dificuldade Eu concedo todo o argumento O tempo é certamente algo real a saber a forma real de nossa intuição interna Ele tem portanto realidade subjetiva em relação à experiên cia interna i e eu tenho realmente a representação do tempo e nela as minhas determinações Ela deve realmente ser vista portanto não como objeto mas como modo de representar a mim mesmo como ob jeto Se eu mesmo contudo ou um outro ser pudesse intuir a mim mesmo sem essa condição da sensibilidade então as mesmas determi B 53 B 54 83 nações que nos representamos agora como modificações forneceriam um conhecimento no qual não apareceria de modo algum a represen tação do tempo nem portanto a da modificação A sua realidade em pírica permanece portanto como condição de todas as nossas expe riências Só não se pode segundo o acima exposto admitir a sua rea lidade absoluta Ele não é nada mais do que a forma de nossa intuição interna14 Caso se retire a ele a condição particular de nossa sensibili dade então também o conceito de tempo desaparece e este não é ine rente aos objetos mesmos mas apenas ao sujeito que os intui A causa porém pela qual essa objeção é tão unanimemente feita e B 55 de fato por aqueles que não têm todavia nada de iluminador a objetar contra a doutrina da idealidade do espaço é a seguinte Eles não espe ravam poder estabelecer apodíticamente a realidade absoluta do espa ço porque o idealismo lhes opõe resistência afirmando que a realidade dos objetos externos não é passível de uma prova rigorosa a dos obje tos de nosso sentido interno por outro lado eu mesmo e meu estado seria imediatamente clara por meio da consciência Aqueles poderiam ser uma mera ilusão mas estes segundo sua opinião seriam algo ine gavelmente real Eles não levaram em conta no entanto que ambos sem que se precise questionar a sua realidade como representações pertencem apenas ao fenômeno o qual tem sempre dois lados um em que o objeto é sempre considerado em si mesmo independentemente do modo de intuílo permanecendo sempre problemática todavia a sua constituição e outro em que se visa a forma da intuição desse ob jeto a qual tem de ser procurada não no objeto em si mesmo mas no sujeito a quem ele aparece muito embora ela pertença efetiva e neces sariamente ao fenômeno desse objeto 0 tempo e o espaço são assim duas fontes de conhecimento das quais se podem extrair a priori diferentes conhecimentos sintéticos tal como sobretudo a matemática pura no que diz respeito aos conhe cimentos do espaço e de suas relações exemplifica de maneira bri b 56 lhante Tomados em conjunto eles são com efeito as formas puras de toda intuição sensível tornando possíveis assim as proposições 14 Eu posso dizer de fato que minhas representações se seguem umas às outras isto significa apenas contudo que somos conscientes delas como em uma sequência temporal i e se gundo a forma do sentido interno Por isso o tempo não é algo em si mesmo nem tampouco uma determinação que se ligasse objetivamente às coisas NA 84 sintéticas a priori Mas por isso mesmo porque são meras condições da sensibilidade essas fontes a priori de conhecimento determinam se os seus limites quais sejam que elas só se aplicam aos objetos na medida em que eles sejam considerados fenômenos e que não apre sentam as coisas em si mesmas Unicamente aqueles são o seu campo de validade fora do qual caso dele se saia não existe nenhum uso ob jetivo dessas fontes Essa realidade do espaço e do tempo mantém in tacta de resto a segurança do conhecimento por experiência pois nós temos segurança em relação a ele quer essas formas sejam neces sariamente inerentes às coisas em si mesmas quer apenas à nossa in tuição dessas coisas Aqueles por outro lado que afirmam a realida de absoluta do espaço e do tempo seja tomandoos como subsisten tes seja como inerentes acabam por entrar eles mesmos em conflito com os princípios da experiência mesma Pois caso se decidam pela primeira alternativa que costuma ser o partido dos investigadores matemáticos da natureza eles têm de assumir duas não coisas15 sub sistentes por si mesmas eternas e infinitas o espaço e o tempo que existem sem que exista contudo algo real apenas para englobar em si todo o real Caso eles tomem o segundo partido de que fazem par te alguns metafísicos naturalistas e o espaço e o tempo valham para eles como relações entre os fenômenos juntos um do outro ou um após o outro abstraídas da experiência mas pensadas de forma con fusa na separação então eles têm de recusar aos ensinamentos mate máticos a priori com vistas à intuição de coisas reais p ex no espa ço a sua validade ou pelo menos a sua certeza apodítica pois esta não se encontra de modo algum a posteriori e os conceitos a priori de espaço e tempo segundo essa opinião são meras criações da ima ginação cuja fonte tem de ser buscada na experiência de onde a ima ginação abstraiu as relações para criar algo que de fato contém o uni versal das mesmas mas que não pode existir sem as restrições que a natureza ligou a elas Os primeiros ganham apenas com a liberação do campo dos fenômenos para as afirmações matemáticas Por outro lado confundemse por completo por causa dessas mesmas condi 15 Undinge Na linguagem corrente Unding é usada com o sentido de absurdo semsentido etc Aqui porém era preciso levar em conta o significado propriamente filosófico da expres são A exemplo de Caimi optamos pela tradução quase literal não coisas i e duas coi sas que na verdade não existem como coisas Rohden usou não entes Santos e Morujão preferiram não seres NT B 57 85 ções quando o entendimento quer ir além desse campo Quanto a isto os segundos realmente ganham pois as representações do espa ço e do tempo não lhes obstam o caminho quando querem julgar os objetos não como fenômenos mas apenas em sua relação ao entendi mento mas eles não podem nem indicar um fundamento de possibilida de para os conhecimentos matemáticos a priori visto faltarlhes uma in tuição a priori verdadeira e objetivamente válida nem promover um acordo necessário entre as proposições de experiência e aquelas afirma B 58 ções Em nossa teoria da verdadeira constituição dessas duas formas ori ginárias da sensibilidade ambas as dificuldades são sanadas Que a estética transcendental não possa por fim conter mais do que esses dois elementos o espaço e o tempo fica claro pelo fato de que todos os demais conceitos pertencentes à sensibilidade inclusive o de movimento que une as duas partes pressupõem algo empíri co Pois este último pressupõe a percepção de algo em movimento No espaço porém em si mesmo considerado não há nada em movi mento aquilo que se move pois tem de ser algo que só é encontrável no espaço por meio da experiência portanto um dado empírico Do mesmo modo a estética transcendental não pode contar o conceito de modificação entre os seus dados a priori pois o que se modifica não é o tempo mesmo mas algo que está no tempo E para isso se exi ge a percepção de alguma existência e da sucessão de suas determina ções portanto a experiência B 59 8 Observações gerais sobre a estética transcendental I16 Primeiramente será necessário esclarecer tão nitidamente quan to possível de modo a impedir qualquer malentendido quanto a isso qual a nossa opinião sobre a constituição fundamental do conheci mento sensível em geral Nós procuramos dizer pois que toda a nossa intuição não é se não a representação dos fenômenos que as coisas que intuímos não são em si mesmas tal como as intuímos nem as suas relações consti tuídas em si mesmas tal como nos aparecem e que se suprimíssemos 160 numeral romano I foi acrescentado em B tendo em vista o acréscimo dos itens II a IV a estas Observações NT 86 o nosso sujeito ou simplesmente a constituição subjetiva dos senti dos em geral toda a constituição todas as relações dos objetos no es paço e no tempo e mesmo o espaço e o tempo desapareceriam não podendo como fenômenos existir em si mesmos mas apenas em nós 0 que poderiam ser os objetos em si mesmos apartados de toda essa receptividade de nossa sensibilidade permanece inteiramente desco nhecido para nós Nós conhecemos apenas o nosso modo de perce bêlos que nos é próprio e que embora presente em todo homem não tem de sêlo em todo ser É somente com ele que temos de ocu parnos 0 espaço e o tempo são as suas formas puras a sensação em geral é a sua matéria Nós só podemos conhecer aquelas a priori i e antes de qualquer percepção real e por isso elas se denominam intui ção pura esta porém é aquilo que em nosso conhecimento faz com que exista um conhecimento a posteriori i e uma intuição empírica Aquelas são direta e necessariamente inerentes à nossa sensibilidade qualquer que seja o modo de nossas sensações estas podem ser mui to diversas Mesmo que pudéssemos elevar esta nossa intuição ao grau mais elevado de clareza nós não chegaríamos com isso mais per to da constituição dos objetos em si mesmos Pois só conheceríamos de maneira completa em todo caso o nosso modo de intuir i e a nossa sensibilidade e esta por seu turno novamente sob as condi ções do espaço e do tempo que são originariamente inerentes ao sujei to mesmo que tivéssemos o mais iluminado conhecimento do fenôme no de um objeto nós não saberíamos jamais o que ele possa ser em si mesmo Imaginar pois que a nossa sensibilidade não fosse mais do que a representação confusa das coisas contendo simplesmente aquilo que pertence a elas em si mesmas mas apenas como um amontoado de ca racterísticas e representações parciais que não pudéssemos separar umas das outras conscientemente seria uma deturpação dos concei tos de sensibilidade e fenômeno e tornaria inútil e vazia toda a doutri na dos mesmos A diferença entre uma representação obscura e outra clara é meramente lógica e não diz respeito ao conteúdo O conceito de direito que é utilizado pelo são entendimento contém sem dúvida aquilo que a mais sutil especulação pode dele deduzir mas no seu uso comum e prático não se tem consciência das múltiplas represen tações nesse pensamento Não se pode dizer por isso que o conceito B 60 B 61 87 comum seja sensível e contenha um mero fenômeno pois o direito não pode absolutamente aparecer17 mas o seu conceito está no enten dimento e representa uma constituição moral das ações que perten ce a elas em si mesmas A representação de um corpo na intuição por outro lado não contém nada que pudesse pertencer a um objeto em si mesmo mas apenas o fenômeno de algo e o modo como somos por ele afetados Esta receptividade de nossa capacidade de conhecimen to se denomina sensibilidade e mesmo que se pudesse ver através da quele o fenômeno até o seu fundo permanece infinitamente distinta do conhecimento do objeto em si mesmo A filosofia leibnizwolffiana adotou por isso um ponto de vista in teiramente equivocado em todas as investigações sobre a natureza e a origem de nossos conhecimentos ao considerar meramente lógica a diferença entre a sensibilidade e o intelecto quando ela é na verdade B 62 transcendental e não diz respeito somente à forma da clareza ou obs curidade mas sim à origem e ao conteúdo dos mesmos de modo que não se trata apenas de conhecermos de maneira obscura a constitui ção das coisas em si mesmas mas de não a conhecermos de modo al gum e tão logo removamos a nossa constituição subjetiva vemos que o objeto representado com as propriedades que a intuição sensí vel lhe atribuía não pode ser encontrado em parte alguma nem po derá sêlo pois é justamente tal constituição subjetiva que determina a sua forma como fenômeno Nós diferenciamos nos fenômenos de resto aquilo que é essenci almente inerente à intuição do mesmo e vale para todo sentido hu mano em geral daquilo que pertence a ela apenas contingentemente por ser válido não para a relação18 da sensibilidade em geral mas ape nas para uma disposição ou organização particular deste ou daquele sentido E do primeiro conhecimento se costuma dizer que represen ta o objeto em si mesmo mas do segundo que representa apenas o fe 17 Notese novamente o jogo com Erscheinung e erscheinen eine blosse Erscheinung enthalte denn das Recht kann gar nicht erscheinen NTJ 18 Segundo sugerem Cuyer e Wood a palavra Beziehung denotaria aí a relação da sensibilida de aos objetos em geral marcando uma transição em relação à palavra Verhältnis usada para denotar a relação dos objetos entre si Daí termos julgado preferível acompanhando Guyer e Wood que usam relation traduzir Beziehung por relação a traduzila por refe rência que foi a opção de Caimi e de Rohden e Moosburger NT 88 nômeno desse objeto Esta distinção no entanto é meramente empí rica Caso se permaneça nela como em geral acontece e não se con sidere também aquela intuição empírica por seu turno tal como de veria acontecer como um mero fenômeno de modo que não se pu desse encontrar nela absolutamente nada que dissesse respeito a uma coisa em si mesma então a nossa distinção transcendental se perde e nós em vez disso acreditamos conhecer coisas em si mesmas por mais que em toda parte no mundo sensível somente lidemos mesmo na mais profunda investigação de seus objetos com nada senão fenô menos Se pois em meio a uma chuva com sol chamarmos um arcoíris de mero fenômeno e esta chuva de coisa em si mesma isto também está certo na medida em que entendamos apenas fisicamente este último conceito como aquilo que na experiência universal sob dife rentes ângulos em relação aos sentidos seja determinado deste modo na intuição e não de outro Tomemos este empírico em geral contu do e perguntemos sem entrarmos na concordância do mesmo com todo sentido humano se também ele não as gotas da chuva pois elas já são como fenômenos objetos empíricos representa um objeto em si mesmo então a pergunta sobre a relação da representação ao obje to é transcendental e não somente essas gotas são meros fenômenos mas também a sua própria figura redonda e mesmo o espaço onde elas caem não são nada em si mesmos mas meras modificações ou fundamentos de nossa intuição sensível permanecendo o objeto trans cendental todavia desconhecido para nós 0 segundo assunto importante de nossa estética transcendental é que ela não deve receber apenas algum reconhecimento como hipó tese plausível mas deve ser tão certa e indubitável quanto se poderia exigir de uma teoria que deve servir de órganon Para tornar essa cer teza completamente evidente escolheremos um caso em que a sua va lidade possa tornarse visível e que possa servir para dar maior clare za àquilo que foi exposto no 319 Caso suponhamos pois que o espaço e o tempo sejam objetivos em si mesmos e condições de possibilidade das coisas em si mesmas mostrase primeiramente que um grande número de proposições apo díticas e sintéticas surgiriam a priori dos mesmos sobretudo do espa 19 Último período a partir de e que possa acrescentado em B NT B 63 B 64 89 ço o qual por isso queremos investigar aqui a título de exemplo mais detidamente Como as proposições da geometria podem ser co nhecidas sinteticamente a priori e com certeza apodítica pergunto eu então de onde vocês retiram tais proposições e onde se apoia o nosso entendimento para chegar a essas verdades absolutamente ne cessárias e universalmente válidas Não há outro caminho senão por meio de conceitos ou intuições ambos os quais porém só podem ser dados ou a priori ou a posteriori Os últimos i e os conceitos empí ricos assim como aquilo em que se fundam a intuição empírica não podem fornecer qualquer proposição sintética a não ser uma tal que seja também meramente empírica i e uma proposição de experiên cia e não possa conter jamais portanto necessidade ou universalida de absoluta que são o elemento característico de todas as proposi ções da geometria Quanto a qual seria o primeiro e único meio de chegar a tais conhecimentos por meio de meros conceitos ou intui ções a priori é evidente que de meros conceitos não se pode obter B 65 nenhum conhecimento sintético mas apenas analítico Tomem então a proposição de que com duas linhas retas não se pode delimitar ne nhum espaço e que portanto nenhuma figura seria possível e ten tem deduzila do conceito de linhas retas e do número dois ou então a proposição de que com três linhas retas seria possível uma figura e tentem fazer o mesmo a partir somente desses conceitos Todo o seu esforço é em vão e vocês se veem forçados a buscar refúgio na intui ção tal como também a geometria sempre faz Vocês se dão assim um objeto na intuição Mas de que tipo é esta Ela é uma intuição pura a priori ou uma empírica Se fosse deste último tipo jamais poderia surgir daí uma proposição universalmente válida e menos ainda uma apodítica pois a experiência não pode nunca fornecêla Vocês teriam portanto de darse o seu objeto a priori na intuição e fundar nele a sua proposição sintética Supondo porém que não houvesse em vo cês uma faculdade de intuir a priori que esta condição subjetiva não fosse ao mesmo tempo segundo a forma a única condição universal a priori sob a qual o objeto dessa intuição externa é ele mesmo pos sível que o objeto o triângulo fosse algo em si mesmo sem relação ao seu sujeito como poderiam vocês dizer que aquilo que está neces sariamente em suas condições subjetivas para construir um triângulo teria de pertencer necessariamente também ao triângulo em si mes mo Pois vocês não poderiam com efeito acrescentar nada novo a fi 90 gura ao seu conceito de três linhas que tivesse portanto de ser ne cessariamente encontrado no objeto já que este é dado antes de seu conhecimento e não por meio dele Se o espaço e assim também o tempo não fosse portanto uma mera forma de sua intuição que con tém as únicas condições a priori sob as quais as coisas podem ser obje tos externos para vocês os quais não são nada em si mesmos sem estas condições subjetivas então vocês não poderiam estabelecer absoluta mente nada a priori sinteticamente sobre objetos externos É indubi tavelmente certo portanto e não apenas possível ou mesmo provável que o espaço e o tempo como condições necessárias de toda experiên cia externa e interna são apenas condições subjetivas de toda a nossa intuição em relação às quais assim todos os objetos são meros fenô menos e não coisas dadas por si mesmas desse modo a respeito das quais também em virtude do que concerne à sua forma podese dizer muito a priori mas jamais o mínimo sobre as coisas em si mesmas que pudessem servirlhes de fundamento II20 Para confirmar essa teoria da idealidade tanto do sentido ex terno como do interno portanto de todos os objetos dos sentidos como meros fenômenos a seguinte observação pode ser de grande serventia que tudo aquilo que em nosso conhecimento pertence à in tuição excluídos portanto o sentimento de prazer e desprazer e a vontade que não são conhecimentos de modo algum contém somen te meras relações dos lugares em uma intuição extensão das modi ficações dos lugares movimento e das leis pelas quais essa modifica ção é determinada forças motrizes Não é dado assim contudo aqui lo que está presente no lugar ou aquilo que atua nas próprias coisas fora da modificação de lugar Agora por meio de meras relações uma coisa não é de fato conhecida em si mesma é perfeitamente possível julgar assim que se nada nos é dado por meio do sentido externo se não meras representações de relações este só poderia conter tam bém em sua representação a relação de um objeto ao sujeito e não o interno aquilo que pertencesse ao objeto em si mesmo Com a intui ção interna se verifica a mesma coisa Não somente no sentido de que as representações do sentido externo constituem aí o verdadeiro ma terial com que guarnecemos nossa mente mas no de que o tempo 20 A partir daqui o restante da Estética transcendental é acréscimo da segunda edição NT B 66 B 67 91 em que colocamos essas representações e que antecede a consciên cia das mesmas na experiência além de constituir como condição formal o fundamento do modo como as colocamos na mente já con tém as relações de sucessão e simultaneidade e daquilo que é simultâ neo à sucessão o permanente Aquilo pois que como representação antecede toda ação de pensar algo é a intuição e se ela não contém nada além de relações a forma da intuição a qual visto não repre sentar nada a não ser quando algo é posto na mente só pode ser o b 68 modo pelo qual a mente é afetada pela própria atividade i e esse pôr de suas representações portanto o modo pelo qual ela se afeta a si mesma i e um sentido interno segundo sua forma Tudo o que é representado por meio de um sentido é nessa medida sempre um fe nômeno e portanto ou um sentido interno não poderia ser admiti do ou o sujeito que é objeto do mesmo só poderia ser representado por meio dele conto fenômeno e não como ele próprio se julgaria a si mesmo caso a sua intuição fosse mera autoatividade i e uma intui ção intelectual Toda a dificuldade reside aqui em como pode um sujei to intuirse a si mesmo internamente mas esta dificuldade é comum a toda teoria A consciência de si mesmo apercepção é a representa ção simples do eu e se somente por meio dela fosse dado espontanea mente21 todo o diverso no sujeito a intuição interna seria intelectual No ser humano essa consciência requer uma percepção interna do di verso que foi dado antes no sujeito e o modo como esse diverso é dado na mente sem espontaneidade tem de denominarse sensibili dade em virtude dessa diferença Se a faculdade de tornarse cons ciente de si deve averiguar apreender aquilo que está na mente ela tem de afetar esta última e somente desse modo produzir uma intui ção de si mesma cuja forma todavia que está de antemão no funda mento na mente determina na representação do tempo o modo co 21 Linhas antes Kant usara a palavra Selbsttätigkeit que traduzimos por autoatividade para conservar o seu sentido mais literal Aqui ele emprega selbsttätig como advérbio e para evi tar uma solução esdrúxula como autoativamente recorremos ao outro sentido usual da palavra espontaneamente Diante dessa dificuldade a maioria dos tradutores de línguas latinas optou por traduzir o próprio substantivo Selbsttätigkeit por espontaneidade San tos e Morujão Caimi ou atividade espontânea Rohden Colli No entanto o próprio Kant usará algumas linhas adiante a palavra Spontaneität de modo que julgamos preferível usar duas palavras diferentes para esses dois substantivos mostrando que embora Kant os use aparentemente com o mesmo sentido tal espontaneidade deve ser compreendida também nessa acepção mais precisa de uma autoatividade NT 92 mo o diverso se unifica na mente pois ela intui aí a si mesma não como ela se representaria imediata e espontaneamente mas segundo o modo como ela é afetada de dentro portanto tal como aparece e não como é III Se eu digo que no espaço e no tempo a intuição tanto dos ob jetos externos como a autointuição da mente representa a ambos tal como eles afetam nossos sentidos i e tal como aparecem isto não quer dizer que esses objetos seriam uma mera ilusão22 Pois os obje tos e mesmo as propriedades que lhes atribuímos são sempre consi deradas no fenômeno como algo efetivamente dado sendo feita ape nas a diferenciação entre esses objetos como fenômenos na medida em que tais propriedades dependam apenas do modo de intuir do su jeito na relação dos objetos a ele e eles mesmos como objetos em si Ao afirmar assim que a qualidade do espaço e do tempo de acordo com a qual como condição de sua existência eu ponho ambos reside em meu modo de intuir e não nesses objetos mesmos eu não estou di zendo portanto que os corpos apenas pareçam ser fora de mim ou que minha alma apenas pareça ser dada em minha autoconsciência Seria minha própria culpa se eu transformasse em mera aparência aquilo que deveria contar como parte do fenômeno23 Isto não aconte ce contudo segundo o nosso princípio da idealidade de toda a nossa intuição sensível caso pelo contrário atribuase realidade objetiva a tais formas da representação não se consegue evitar que tudo se 22 Há aqui um jogo similar ao que existe entre erscheinen e Erscheinung entre as palavras erscheinen de tal como aparecem e Schein que traduzimos por ilusão Muitos tradu tores optaram por aparência para verter essa palavra de modo a preservar essa proximida de com o erscheinen Caimi ciente da importância de sublinhar o elemento ilusório contido em Schein optou por aparência ilusória A exemplo da maior parte dos tradutores de lín gua inglesa preferimos a solução mais simples de ilusão a não ser quando Schein seja uti lizado num sentido mais corriqueiro para designar a aparência de algo como Schein der Notwendigkeit aparência de necessidade em 13 20 NT 23 Os predicados do fenômeno podem ser atribuídos ao próprio objeto em sua relação ao nosso sentido como por exemplo a cor vermelha ou o cheiro à rosa a ilusão porém não pode ja mais ser atribuída como predicado ao objeto justamente porque ela atribui ao objeto em si aquilo que lhe pertence apenas na relação aos sentidos ou ao sujeito em geral como por exemplo os dois anéis que se atribuiram inicialmente a Saturno Aquilo que é encontrável não no objeto em si mesmo mas sempre nas relações deste ao sujeito e inseparável da repre sentação do último é o fenômeno de modo que os predicados do espaço e do tempo são atri buídos com razão aos objetos dos sentidos e não há aqui qualquer ilusão Se pelo contrário atribuo o vermelho à rosa em si os anéis a Saturno ou a extensão a todos os objetos externos em si sem ter em vista uma relação determinada desses objetos ao sujeito e sem limitar o meu juízo a isso neste caso sim é que surge a ilusão NA B 69 B 70 B 70 93 transforme assim em mera aparência Pois caso se considere o espa ço e o tempo como propriedades constitutivas que segundo sua pos sibilidade teriam de ser encontradas nas coisas em si e se reflita so bre as incongruências em que se cai quando duas coisas infinitas que não podem ser substâncias nem tampouco algo real inerente às subs B 71 tâncias mas têm de ser algo existente ou mesmo a condição necessá ria da existência de todas as coisas permanecem mesmo que todas as coisas existentes sejam suprimidas não se pode então repreender o bom e velho Berkeley por ele ter rebaixado os corpos a mera ilusão na verdade até mesmo nossa própria existência que seria desse mo do tornada dependente da realidade subsistente por si mesma de uma não coisa como o tempo teria de transformarse com este em uma completa ilusão uma incongruência pela qual ninguém foi até hoje responsabilizado V IV Na teologia natural em que se pensa um objeto que não ape nas não é um objeto da intuição para nós mas que não pode ser um objeto da intuição sensível sequer para ele mesmo temse o especial cuidado de retirar as condições do tempo e do espaço de toda a sua intuição pois esta e não o pensar que sempre apresenta limites tem de constituir todo o seu conhecimento Mas com que direito se faz isso se antes se transformou a ambos em formas das coisas em si mesmas e em formas tais de fato que elas permaneceriam como con dições a priori da existência das coisas mesmo que as próprias coisas fossem suprimidas Pois como condições de toda existência em geral eles teriam de sêlo também da existência de Deus Não resta outra op B 72 ção caso não se queira tornálos em formas objetivas de todas as coi sas do que tornálas em formas subjetivas tanto do modo de intuir ex terno como do interno modo este que se denomina sensível porque não é originário i e um tal que por meio dele fosse dada a própria existência do objeto da intuição e que até onde podemos discernir só pode pertencer ao ser originário mas sim dependente da existên cia do objeto e portanto somente possível quando a capacidade de representação do sujeito é afetada pelo mesmo Também não é necessário que limitemos o modo de intuir no es paço e no tempo à sensibilidade do ser humano pode ser que todo ser pensante finito tivesse necessariamente de coincidir nisso com o ser humano por mais que não possamos decidilo mas ela não cessa de 94 ser sensibilidade em virtude dessa validade universal justamente por que não é uma intuição originária intuitus originarius mas deriva da intuitus derivativus e portanto não é uma intuição intelectual a qual parece pertencer justamente pelas razões aduzidas a um ser originário mas jamais a um ser dependente tanto de sua existência como de sua intuição que determina a sua existência em relação a ob jetos dados de qualquer forma esta última observação tem de ser contada em nossa teoria estética apenas como elucidação não como demonstração Conclusão da estética transcendental Temos aqui uma das partes exigidas para a solução do problema geral da filosofia transcendental com o são possíveis ju ízo s sin téti cos a priori A saber intuições puras a priori o espaço e o tempo nos quais encontramos quando queremos ir além do conceito dado em juízos a priori aquilo que pode ser descoberto a priori não no conceito mas certamente na intuição que lhe corresponde e ser a ele ligado sinteticamente juízos estes contudo que por essa mesma ra zão não alcançam jamais além dos objetos dos sentidos e só podem valer para objetos da experiência possível 95 B 74 SEGUNDA PARTE Lógica transcendental Introdução Ideia de uma lógica transcendental I Da lógica em geral Nosso conhecimento surge de duas fontes fundamentais da men te a primeira das quais é a de receber representações a receptividade das impressões e a segunda a faculdade de conhecer um objeto por meio dessas representações espontaneidade dos conceitos por meio da primeira nos é dado um objeto por meio da segunda ele é pensa do em relação àquela representação como mera determinação da men te A intuição e os conceitos portanto constituem os elementos de todo nosso conhecimento de tal modo que nem os conceitos sem uma intuição correspondente de algum modo a eles nem uma intuição sem conceitos podem fornecer um conhecimento Os dois podem ser puros ou empíricos São empíricos quando uma sensação que pressupõe a presença real do objeto está neles contida são puros pelo contrário quando nenhuma sensação se mistura à representação Esta última pode ser denominada a matéria do conhecimento sensível Por isso a b 75 intuição pura contém tão somente a forma sob a qual algo é intuído e o conceito puro apenas a forma do pensamento de um objeto em ge ral Somente as intuições ou os conceitos puros são possíveis a priori e os empíricos o são apenas a posteriori Se denominarmos sensibilidade à receptividade de nossa mente para receber representações na medida em que ela é afetada de al gum modo então o entendimento por outro lado é a faculdade de produzir representações por si mesma ou a espontaneidade do co nhecimento E próprio de nossa natureza que a intuição só possa ser sensível i e que só contenha o modo como somos afetados pelos ob jetos Por outro lado a faculdade de pensar o objeto da intuição sen sível é o entendimento Nenhuma dessas propriedades pode ser prefe rida à outra Sem a sensibilidade nenhum objeto nos seria dado e 96 sem o entendimento nenhum seria pensado Pensamentos sem conteú do são vazios intuições sem conceitos são cegas Por isso tornar sen síveis os seus conceitos i e acrescentarlhes o objeto na intuição é tão necessário quanto tornar compreensíveis suas intuições i e co locálas sob conceitos Ambas as faculdades ou capacidades tam bém não podem trocar suas funções O entendimento não pode intu ir nada e os sentidos nada podem pensar Somente na medida em que eles se unifiquem pode surgir um conhecimento Nem por isso contudo podese mesclar as contribuições de cada qual temse antes boas razões para cuidadosamente separálas e distinguilas uma da outra Por isso distinguimos a ciência das regras da sensibilidade em geral i e a estética da ciência das regras do entendimento em geral i e a lógica A lógica por seu turno pode ser assumida então sob um duplo ponto de vista ou como lógica do uso universal do entendimento ou como lógica do seu uso particular A primeira contém as regras abso lutamente necessárias do pensamento sem as quais não ocorre ne nhum uso do entendimento e se aplica a este portanto independen temente da diversidade dos objetos aos quais ele possa estar dirigido A lógica do uso particular do entendimento contém as regras para pensar corretamente sobre um certo tipo de objetos Aquela pode ser denominada lógica elementar e esta por seu turno o órganon desta ou daquela ciência A última é apresentada nas escolas muitas vezes como propedêutica das ciências muito embora seja aquela a que a ra zão humana chegou por último em seu desenvolvimento quando a ciência já estava pronta há muito e precisava apenas de uma última mão para sua correção e aperfeiçoamento Pois já é preciso conhecer em elevadíssimo grau os objetos de uma ciência caso se queira expli citar as regras pelas quais ela é levada a efeito A lógica geral por sua vez é ou pura ou aplicada Na primeira fa zemos abstração de todas as condições empíricas sob as quais nosso entendimento é exercido como por exemplo a influência dos senti dos o jogo da imaginação as leis da memória o poder do hábito da inclinação etc portanto também as fontes dos preconceitos e mes mo em geral de todas as causas pelas quais certos conhecimentos nos surgem ou podem ser pressupostos porque só dizem respeito ao entendimento sob certas condições de sua aplicação para cujo conhe cimento é exigida a experiência Uma lógica geral mas pura lida por B 76 B 77 97 tanto com meros princípios a priori e é um cânone do entendimento e da razão ainda que apenas do formal em seu uso pouco importan do qual seja o conteúdo empírico ou transcendental Uma lógica ge ral é denominada aplicada contudo quando se dirige às regras do uso do entendimento sob as condições empíricas subjetivas que a psi cologia nos ensina Ela tem princípios empíricos portanto apesar de ser tão geral no aplicarse ao uso do entendimento sem distinguir os objetos Por isso ela também não é nem um cânone do entendimento b 78 em geral nem um órganon de ciências particulares mas apenas um catártico1 do entendimento comum Na lógica geral portanto a parte que deve constituir a doutrina pura da razão tem de ser inteiramente separada daquela que consti tui a lógica aplicada embora sempre geral Apenas a primeira é de fato uma ciênciaainda que concisa e seca e tal como é exigido pela exposição escolástica de uma doutrina dos elementos do entendimen to Nesta portanto os lógicos devem ter duas regras em vista 1 Como lógica geral ela faz abstração de todo o conteúdo do co nhecimento do entendimento e da diversidade de seus objetos e só lida com a mera forma do pensamento 2 Como lógica pura ela não tem princípios empíricos e portan to não extrai nada da psicologia como vez por outra se crê não tendo esta última assim qualquer influência sobre o cânone do entendimento Ela é uma doutrina demonstrada e tudo nela tem de ser completamente certo a priori Aquilo a que denomino lógica aplicada contrariamente ao signi ficado comum desse termo sob o qual deveriam estar contidos certos exercícios cuja regra seria dada pela lógica é uma representação do entendimento e das regras de seu uso necessário in concreto ou seja B 79 sob as condições contingentes do sujeito que podem impedir ou favo recer esse uso e que são dadas apenas empiricamente Ela trata da atenção de seus obstáculos e consequências da origem do erro do estado de dúvida do escrúpulo da convicção etc e a lógica geral e 1 1 Kant faz aqui um jogo com as palavras Kanrm cânon Organon órganon e Kathartikon pa lavra adaptada por ele do grego que não consta nem do Grimm A exemplo de Caimi optamos por substantivar o adjetivo catártico como que para significar algo que tem uma função catár tica para o entendimento comum NTj 98 pura se relaciona com ela como a moral pura que só contém as leis morais necessárias de uma vontade livre em geral relacionase com a verdadeira doutrina da virtude que leva essas leis em consideração sob os obstáculos dos sentimentos inclinações e paixões a que os se res humanos se encontram mais ou menos submetidos e que não po deria fornecer jamais uma ciência verdadeira e demonstrada porque exatamente como aquela lógica aplicada necessita de princípios em píricos e psicológicos II Da lógica transcendental Conforme mostramos a lógica geral faz abstração de todo o con teúdo do conhecimento i e de toda referência do mesmo ao objeto e considera apenas a forma lógica nas relações dos conhecimentos en tre si i e a forma do pensamento em geral Uma vez porém que há tanto intuições puras como empíricas como explica a estética trans cendental também se poderia encontrar uma distinção entre pensa mento puro e pensamento empírico dos objetos Neste caso haveria uma lógica em que não se faria abstração de todo o conteúdo do co nhecimento pois aquela que contivesse apenas as regras do pensa mento puro de um objeto excluiria todos aqueles conhecimentos que tivessem conteúdo empírico Ela também se aplicaria à origem de nossos conhecimentos de objetos na medida em que esta não possa ser atribuída aos objetos ao passo que a lógica geral pelo contrário não lida em nenhum momento com essa origem mas considera as re presentações quer estas sejam dadas originariamente em nós mes mos a priori quer empiricamente apenas segundo as leis pelas quais o entendimento ao pensar as emprega nas relações de umas com as outras ela só trata portanto da forma do entendimento que pode ser aplicada às representações pouco importando de onde estas se tenham originado E aqui faço uma observação cujo efeito se estende a todas as con siderações a seguir e que se deve ter bem em vista qual seja que nem todo conhecimento a priori tem de ser denominado transcendental mas apenas aquele por meio do qual nós sabemos que e como certas representações intuições ou conceitos são aplicáveis ou possíveis in teiramente a priori i e a possibilidade do conhecimento ou do uso B 80 99 5 81 das mesmas a priori Por isso nem o espaço nem qualquer determi nação geométrica a priori do mesmo são representações transcen dentais só podem ser denominados transcendentais isto sim o conhe cimento de que essas representações certamente não têm origem em pírica e a possibilidade de elas ainda assim se referirem a priori a ob jetos da experiência Do mesmo modo também seria transcendental o emprego do espaço com relação aos objetos em geral se ele se limi ta aos objetos dos sentidos no entanto então ele se denomina empíri co A distinção de transcendental e empírico portanto pertence ape nas à crítica dos conhecimentos e não diz respeito à relação dos mes mos com seu objeto Na expectativa pois de que talvez haja conceitos que não como intuições puras ou sensíveis mas apenas como ações do pensamento puro possam referirs a priori a objetos conceitos portanto cuja origem não é nem empírica nem estética então podemos ter uma ideia antecipada de uma ciência do entendimento puro e do conheci mento racional por meio da qual nós pensemos objetos inteiramente a priori Uma tal ciência que determine a origem o alcance e a valida de objetiva de tais conhecimentos teria de denominarse lógica trans cendental pois lida apenas com leis do entendimento e da razão mas 5 82 somente na medida em que se refira a priori a objetos e não como a lógica geral a conhecimentos racionais tanto puros como empíricos sem distinção I III Da divisão da lógica geral em analítica e dialética A velha e conhecida questão com que se pretendia colocar os ló gicos contra a parede e forçálos ou a deixarse girar em círculos mise ravelmente ou a admitir a sua incerteza e portanto a total vaidade de seu saber é a seguinte o que é a verdade A definição nominal da verdade a saber que ela é a concordância do conhecimento com seu objeto está aqui dada e pressuposta é preciso saber porém qual é o critério universal e seguro da verdade de cada conhecimento Já é uma grande prova de prudência ou discernimento saber o que se deve perguntar de maneira racional Pois se a questão é em si incongruente e demanda respostas desnecessárias então além de en vergonhar aquele que a propõe ela tem ainda a desvantagem de levar 1 0 0 o seu ouvinte desprevenido a respostas incongruentes e proporcionar o ridículo espetáculo em que como diziam os antigos um ordenha a ca bra enquanto o outro segura o leite com uma peneira Se a verdade reside na concordância de um conhecimento com o seu objeto então esse objeto tem de ser distinguido de outros pois um conhecimento é falso quando não concorda com o objeto a que é refe rido mesmo que contenha algo que poderia perfeitamente valer acerca de outros objetos Um critério universal da verdade seria então aquele que fosse válido a respeito de todos os conhecimentos independente mente de seus objetos É evidente no entanto que na medida em que se faz aí abstração de todo o conteúdo do conhecimento referência ao objeto e tendo em vista que a verdade diz respeito justamente a tal conteúdo é inteiramente impossível e absurdo perguntarse por uma característica da verdade desse conteúdo dos conhecimentos e é evi dente portanto que seria impossível fornecer um índice suficiente e ao mesmo tempo universal da verdade Como nós acima já denominamos matéria ao conteúdo de um conhecimento podese então dizer a partir da matéria não se pode obter um índice universal da verdade do conhe cimento pois isso é contraditório em si mesmo No que diz respeito ao conhecimento do ponto de vista da mera forma no entanto com exclusão de todo conteúdo é igualmente evi dente que uma lógica na medida em que apresenta as regras univer sais e necessárias do entendimento tem de explicitar justamente nes sas regras os critérios da verdade Pois o que contradiz a estes é falso na medida em que o entendimento se opõe com isso às regras univer sais do pensamento e portanto se opõe a si próprio Tais critérios no entanto dizem respeito apenas às formas da verdade i e do pensa mento em geral e são nessa medida corretos mas não suficientes Pois mesmo que um conhecimento possa ser inteiramente conforme à forma lógica i e que não contradiga a si mesmo ele continua po dendo contradizer o objeto Desse modo o critério meramente lógico da verdade i e a concordância de um conhecimento com as leis uni versais e formais do entendimento e da razão é de fato a conditio sine qua non portanto a condição negativa de toda verdade mais longe do que isso porém a lógica não pode ir E o erro que diz respei to não à forma mas ao conteúdo não pode ser descoberto pela lógica por meio de nenhuma pedra de toque B 83 B 84 101 Agora a lógica geral dissolve todo o trabalho formal do entendi mento e da razão em seus elementos e os expõe como princípios de todo o julgamento lógico de nosso conhecimento Esta parte da lógi ca pode portanto denominarse analítica e é por isso mesmo ao me nos negativamente a pedra de toque da verdade pois é preciso primei ro testar e avaliar todo conhecimento quanto à forma por meio dessas regras antes que se o investigue quanto ao conteúdo para verificar se 85 contém uma verdade positiva com vistas ao objeto Como a mera for ma do conhecimento no entanto por mais que também concorde com as leis lógicas está longe de bastar para constituir com isso a ver dade material objetiva do conhecimento ninguém pode arriscarse a somente com a lógica julgar e afirmar algo sobre objetos sem ter antes obtido fora da lógica uma bem fundada informação acerca de les para depois disso tentar aproveitálos e conectálos em um todo concatenado segundo leis lógicas ou melhor ainda simplesmente testálos Não obstante há algo tão tentador em possuir essa arte ilu sória de dar a todos os nossos conhecimentos a forma do entendi mento que por mais vazio e pobre que se esteja no que diz respeito ao conteúdo dos mesmos aquela lógica geral que é somente um câno ne para o julgamento é usada como se fosse um órganon para a efetiva produção de afirmações objetivas ou a ilusão dessa produção e assim portanto é na verdade mal utilizada Enquanto suposto órganon pois a lógica geral é denominada dialética Por mais diverso que fosse o significado com que os antigos se serviam dessa denominação para uma ciência ou uma arte podese certamente supor com relação ao uso real da mesma que ela não era 86 outra coisa entre eles senão a lógica da ilusão Uma arte sofística de dar ares de verdade à própria incerteza e mesmo à própria ilusão in tencional pela qual se imitava o método de rigor prescrito pela lógica em geral e se empregava a sua tópica para o embelezamento de cada procedimento vazio Podese fazer então como uma advertência se gura e útil a seguinte observação que a lógica geral considerada como órganon é sempre uma lógica da ilusão i e dialética Pois na medida em que ela não nos ensina absolutamente nada sobre o conteú do do conhecimento mas apenas as condições formais de concordân cia com o entendimento as quais de resto são inteiramente indife rentes em relação aos objetos então a suposição de poder utilizarse 102 da mesma como ferramenta órganon para ao menos segundo as aparências difundir e alargar os próprios conhecimentos tem de de sembocar apenas na tagarelice de afirmar ou negar com alguma apa rência de verdade o que quer que se queira Tal ensinamento não está de modo algum à altura da dignidade da filosofia Em razão disso preferiuse tomar essa denominação de dialética como uma crítica da ilusão dialética que é como também nós tencionamos entendêla aqui IV Da divisão da lógica transcendental em analítica e dialética transcendentais Em uma lógica transcendental nós isolamos o entendimento as sim como isoláramos antes na estética transcendental a sensibilida de e destacamos apenas em nosso conhecimento a parte do pensa mento que tem sua origem unicamente no entendimento O uso desse conhecimento puro contudo baseiase no seguinte como sua condi ção que nos sejam dados objetos na intuição aos quais aquele possa ser aplicado Pois sem intuição todo o nosso conhecimento fica des provido de objetos e permanece então completamente vazio A parte da lógica transcendental portanto que apresenta os elementos do conhecimento puro do entendimento e os princípios sem os quais ob jeto algum pode ser pensado é a analítica transcendental e ao mes mo tempo uma lógica da verdade Pois nenhum conhecimento pode contradizêla sem perder ao mesmo tempo todo conteúdo i e toda referência a algum objeto portanto toda verdade Como é muito atra ente e tentador no entanto empregar por eles mesmos esse conheci mento puro do entendimento e esses princípios e fazêlo para além dos limites da experiência a única que pode todavia entregarnos nas mãos a matéria objetos a que aqueles conceitos puros do enten dimento podem ser aplicados então o entendimento corre o perigo de por meio de sofismas fazer um uso material dos princípios mera mente formais do entendimento puro e sem fazer qualquer distinção julgar sobre objetos que não nos foram dados nem jamais poderão sêlo Como ela deveria pois ser apenas um cânone para o julgamen to do uso empírico ela é mal utilizada quando se a faz valer como o órganon de um uso universal e ilimitado e com o mero entendimento B 87 B 88 103 puro cometese o atrevimento de fazer afirmações decidir e julgar sinteticamente sobre objetos em geral Neste caso portanto o uso do entendimento puro seria dialético A segunda parte da lógica trans cendental tem de ser então uma crítica dessa ilusão dialética e se de nomina dialética transcendental não como uma arte de suscitar tal ilusão dogmaticamente uma arte infelizmente muito comum em di versas prestidigitações metafísicas mas como uma crítica do enten dimento e da razão no que diz respeito a seu uso hiperfísico voltada a desvendar a falsa aparência de suas suposições infundadas e a redu zir as suas pretensões de descoberta e ampliação que ela pretende alcançar apenas com princípios transcendentais a meros julgamen to e proteção do entendimento frente a ilusões sofísticas 89 Primeira divisão Analítica transcendental em dois livros e seus diferentes capítulos e seções Esta analítica é a decomposição de todo o nosso conhecimento a priori nos elementos do conhecimento puro do entendimento Tra tase aqui dos seguintes pontos 1 Que os conceitos sejam puros e não empíricos 2 Que eles pertençam não à intuição ou à sensibilida de mas ao pensamento e ao entendimento 3 Que eles sejam concei tos elementares e sejam bem distinguidos dos derivados ou compos tos a partir deles 4 Que a sua tábua seja completa e eles cubram todo o campo do entendimento puro Mas esta completude de uma ciência não pode ser assumida com confiança tendo por base o cálcu lo grosseiro de um agregado obtido por tentativas ela só é possível assim por meio de uma ideia do todo do conhecimento a priori do entendimento e da divisão a partir dela determinada dos conceitos que constituem tal conhecimento ela só é possível portanto por meio da concatenação desses conceitos em um sistema O entendi mento puro se separa completamente não apenas de todo empírico mas também de toda sensibilidade Ele é portanto uma unidade por 9 si mesma subsistente que se basta a si mesma e que não pode ser au mentada por nenhum acréscimo vindo de fora O conjunto dos seus conhecimentos portanto constituirá um sistema abarcável e deter minável sob uma ideia cuja completude e articulação podem fornecer 104 ao mesmo tempo uma pedra de toque da correção e respeitabilidade de todas as partes do conhecimento que nele se incluam Toda esta parte da lógica transcendental no entanto consiste de dois livros um dos quais contém os conceitos o outro os princípios do entendi mento puro PRIMEIRO LIVRO A ANALÍTICA DOS CONCEITOS Eu não entendo por analítica dos conceitos a análise dos mesmos ou o procedimento habitual nas investigações filosóficas de decom por os conceitos apresentados em função de seu conteúdo e assim es clarecêlos mas sim a decomposição ainda pouco tentada da própria faculdade do entendimento de modo a investigar desse modo a pos sibilidade dos conceitos a priori procurandoos apenas no entendi mento como seu lugar de nascença e analisando o seu uso puro em geral pois este é o ofício que cabe a uma filosofia transcendental o resto é manuseio lógico dos conceitos na filosofia em geral Vamos perquirir os conceitos puros portanto até suas primeiras raízes e princípios no entendimento humano onde se encontram preparados e até que finalmente se desenvolvam por ocasião da experiência e por meio do mesmo entendimento que os liberta das condições empíricas a eles inerentes sejam apresentados em sua pureza Primeiro capítulo Do fio condutor para a descoberta de todos os conceitos puros do entendimento Quando se coloca em cena uma faculdade de conhecimento des tacamse conforme as muitas ocasiões diversos conceitos que tor nam essa faculdade cognoscível e se deixam agrupar em uma forma ção mais ou menos detalhada depois que a sua observação tenha sido realizada por um longo período de tempo ou com grande acuidade Quanto a quando estará completa essa investigação isto é algo que não pode ser determinado com segurança através desse procedimento aparentemente mecânico Além disso os conceitos que são assim en contrados caso a caso não se apresentam inseridos em uma ordem ou unidade sistemática mas são antes agrupados por semelhanças e de acordo com a grandeza de seu conteúdo dos mais simples aos mais B 91 B 92 105 complexos colocados em séries que não têm nada de sistemáticas ainda que de certo modo sejam estabelecidas metodicamente A filosofia transcendental tem a vantagem e também a obriga ção de investigar seus conceitos segundo um princípio pois eles sur gem puros e não mesclados do entendimento como uma unidade ab soluta e têm portanto de ser concatenados entre si sob um conceito ou uma ideia Tal concatenação porém fornece uma regra pela qual se pode determinar a priori tanto o lugar de cada conceito puro do entendimento como a completude do conjunto de todos eles o que de outro modo dependeria apenas do capricho ou do acaso Primeira seçao Do uso lógico do entendimento em geral O entendimento foi descrito acima de maneira apenas negativa como uma faculdade não sensível do conhecimento Independente mente da sensibilidade contudo não podemos tomar parte de nenhu ma intuição O entendimento não é portanto uma faculdade de intu 93 ir Além da intuição no entanto não há nenhum outro modo de co nhecer que não por meio de conceitos O conhecimento de todo en tendimento portanto pelo menos o do entendimento humano é um conhecimento por conceitos um conhecimento não intuitivo mas sim discursivo Todas as intuições enquanto sensíveis baseiamse em afecçôes e os conceitos portanto em funções Eu entendo por fun ção todavia a unidade da ação de ordenar diferentes representações sob uma representação comum Os conceitos se fundam portanto na espontaneidade do pensamento assim como as intuições sensíveis se fundam na receptividade das impressões Agora o entendimento não pode fazer nenhum nutro uso desses conceitos que não o de julgar por meio deles Como nenhuma representação se aplica diretamente ao objeto a não ser a intuição um conceito jamais se refere imediata mente a um objeto mas sim a uma outra representação do mesmo seja ela uma intuição ou mesmo já um conceito O juízo é portanto o conhecimento mediato de um objeto portanto a representação de uma representação do mesmo Em cada juízo há um conceito que vale por muitos e sob estes muitos ele abarca ainda uma representação dada que por sua vez referese imediatamente ao objeto Assim por 106 exemplo no juízo todos os corpos são divisíveis o conceito de divi sível se refere a diversos outros conceitos dentre estes porém ele se refere particularmente aqui ao conceito de corpo e este por seu tur no a certos fenômenos que se apresentam a nós Estes objetos por tanto são representados mediatamente por meio do conceito de divi sibilidade Todos os juízos são assim funções da unidade de nossas representações de tal modo que em vez de empregar uma represen tação imediata para o conhecimento do objeto empregamos uma mais elevada que abarca sob si tanto aquela como outras e assim reunimos muitos conhecimentos possíveis sob um único Nós podemos contudo reduzir todas as ações do entendimento a juízos e assim representar o entendimento em geral como uma faculdade de julgar Pois ele é se gundo o exposto acima uma faculdade de pensar Pensar é o conheci mento por meio de conceitos Os conceitos porém como predicados de possíveis juízos referemse a alguma representação de um objeto ainda indeterminado Assim o conceito de corpo significa algo por exemplo um metal que pode ser conhecido por meio desse conceito Ele só é conceito portanto na medida em que sob ele estejam contidas outras representações por meio das quais ele possa referirse a objetos Ele é portanto o predicado de um juízo possível como por exemplo todo metal é um corpo As funções do entendimento podem ser todas elas encontradas pois caso se possa representar de maneira completa as funções da unidade nos juízos E a seção seguinte deixará claro que isto pode muito bem realizarse Segunda seção 9 Da função lógica do entendimento nos juízos Se fizermos abstração de todo o conteúdo de um juízo em ge ral e tivermos aí em conta apenas a mera forma do entendimento descobrimos que a função do pensamento no mesmo pode ser re sumida sob quatro títulos cada um dos quais contendo três mo mentos sob si Eles podem ser representados plausivelmente na seguinte tábua B 94 B 95 107 2 Qualidade Afirmativos Negativos Infinitos 1 Quantidade dos juízos Universais Particulares Singulares 3 Relação Categóricos Hipotéticos Disjuntivos 4 Modalidade Problemáticos Assertóricos Apodíticos 6 Como essa divisão parece distanciarse em alguns pontos mesmo que não os mais essenciais da técnica habitual dos lógicos não serão desnecessárias as seguintes advertências contra um eventual e preo cupante malentendido 1 Os lógicos dizem acertadamente que no uso dos juízos em si logismos os juízos singulares podem ser tratados como os universais Pois justamente por eles não terem qualquer extensão o predicado dos mesmos não pode referirse apenas a parte do que está contido sob o conceito do sujeito sem referirse à outra parte Portanto ele vale sem exceção para aquele conceito como se este fosse um concei to de validade comum e tivesse uma extensão cujo significado com pleto fosse abarcado pelo predicado Comparemos segundo a quanti dade por outro lado um juízo singular e um juízo de validade co mum como meros conhecimentos então ele se comporta em relação a este como a unidade em relação à infinitude e portanto é em si mesmo essencialmente diferente dele Se pois eu estimo um juízo singular judicium singulare não apenas segundo sua validade inter na mas também como conhecimento em geral segundo a quantidade que ele tem em comparação com outros conhecimentos então ele é certamente distinto de juízos de validade comum judicia commu nia e merece um lugar específico em uma tábua completa dos mo 108 mentos do pensamento em geral embora não certamente na lógica que se limita apenas ao uso dos juízos entre si 2 Do mesmo modo em uma lógica transcendental os juízos infi nitos têm ainda de ser diferenciados dos afirmativos mesmo que com razão sejam contados entre eles na lógica geral e não constituam um membro especial da divisão Esta com efeito faz abstração de todo o conteúdo do predicado mesmo que negativo e observa apenas se o mesmo é atribuído ou contraposto ao sujeito Aquela no entanto considera o juízo também segundo o valor ou conteúdo dessa afirma ção lógica feita por meio de um predicado meramente negativo e o que esta afirmação proporciona em termos de ganho com vistas ao conhecimento como um todo Se eu tivesse dito da alma que ela não é mortal eu teria ao menos por meio de um juízo negativo evitado um erro Agora por meio da proposição a alma é não mortal eu faço de fato segundo a forma lógica uma efetiva afirmação já que situo a alma no âmbito ilimitado dos seres não mortais Como no entanto o mortal contém uma parte de todo o âmbito dos seres possíveis e o não mortal a outra parte então a minha proposição afirma simples mente que a alma é uma coisa em meio a uma infinita variedade de coisas que permanecem quando retiro o conjunto dos mortais Só o que ocorre aí porém é que a esfera infinita de todo o possível é de tal maneira limitada que o mortal é dela retirado e a alma é situada no espaço restante de seu âmbito Mesmo com tal exclusão contudo tal espaço permanece ainda infinito e muitas partes do mesmo poderi am ser ainda retiradas sem que o conceito de alma aumentasse mini mamente por isso ou fosse afirmativamente determinado Com vistas à extensão lógica portanto esses juízos infinitos são de fato mera mente limitativos no que diz respeito ao conteúdo do conhecimento em geral e nessa medida não devem ser omitidos na tábua transcen dental de todos os momentos do pensamento nos juízos pois a fun ção do entendimento aí exercida pode ser talvez importante no cam po de seus conhecimentos puros a priori 3 Todas as relações do pensamento nos juízos são a do predica do ao sujeito b da causa à consequência c dos membros reunidos da divisão entre si em um conhecimento dividido No primeiro tipo de juízo são considerados em relação uns com os outros apenas dois conceitos no segundo dois juízos e no terceiro muitos juízos To B 97 B 98 109 memos a proposição hipotética se existe uma justiça perfeita então o malfeitor contumaz será punido Ela contém na verdade a relação entre duas proposições existe uma justiça perfeita e o malfeitor contumaz será punido Se ambas as proposições são verdadeiras em si mesmas é algo que permanece aqui indecidido Somente a conse 99 quência é pensada por meio desse juízo O juízo disjuntivo por fim contém uma relação entre duas ou mais proposições que não é uma relação de consequência mas de oposição lógica já que a esfera de um exclui a do outro e também uma relação de comunidade já que preenchem conjuntamente a esfera do verdadeiro conhecimento uma relação portanto das partes da esfera de um conhecimento pois a es fera de cada parte complementa a esfera da outra para formar o con junto completo do conhecimento dividido Por exemplo o mundo exis te ou por um cego acaso ou por necessidade interna ou por uma cau sa externa Cada uma dessas proposições engloba uma parte da esfe ra do possível conhecimento sobre a existência de um mundo em ge ral e todas juntas a esfera completa Tirar o conhecimento de uma dessas esferas significa colocálo em uma das demais e colocálo em uma esfera por outro lado significa tirálo das demais Em um juízo disjuntivo portanto há uma certa comunidade dos conhecimentos que reside no fato de eles se excluírem reciprocamente mas em seu todo determinarem o conhecimento verdadeiro na medida em que tomados em conjunto constituem o inteiro conteúdo de um único co nhecimento dado E era somente isto devido ao próximo ponto o que eu julgava necessário observar aqui 4 A modalidade é uma função inteiramente peculiar dos juízos e íoo sua característica distintiva é que ela não acrescenta nada ao conteúdo do juízo pois não há nada além de quantidade qualidade e relação que constitua o conteúdo de um juízo mas apenas diz respeito ao va lor da cópula relativamente ao pensamento em geral Os juízos pro blemáticos são aqueles em que se assume o afirmar ou o negar como meramente possíveis fortuitos os assertóricos aqueles em que se os considera como reais verdadeiros os apodíticos aqueles em que se os vê como necessários2 Assim os dois juízos cuja relação consti 2 Como se o pensamento fosse no primeiro caso uma função do e n te n d im e n to no segundo da fa cu ld a d e d e ju lg a r e no terceiro da ra zã o Uma observação que será esclarecida na sequên cia NAl 110 tui o juízo hipotético antec e conseq bem como aqueles em cuja reciprocidade reside o disjuntivo membros da divisão são todos ape nas problemáticos A proposição do exemplo acima existe uma justi ça perfeita não é enunciada assertoricamente mas sim como um juí zo arbitrário que alguém poderia aceitar e apenas a consequência é assertórica Desse modo tais juízos também poderiam ser evidente mente falsos e mesmo assim se tomados problematicamente condi ções do conhecimento da verdade Assim o juízo o mundo existe por um cego acaso tem um significado meramente problemático no juí zo disjuntivo a saber que alguém poderia digamos aceitar essa pro posição por um instante mas também serve como a indicação de um caminho errado entre todos aqueles que se poderia tomar para en contrar o verdadeiro A proposição problemática portanto é aquela que exprime apenas a possibilidade lógica que não é objetiva i e uma escolha livre de deixar valer tal proposição a sua mera assunção arbitrária no entendimento A assertórica fala da realidade ou verda de lógica tal como ocorre por exemplo no silogismo hipotético em que o antecedens se apresenta problemático na premissa maior e as sertórico na menor e mostra que a proposição já está ligada ao enten dimento segundo as leis deste A proposição apodítica pensa a asser tórica como determinada por essas leis do entendimento e portanto como fazendo afirmações a priori e desse modo expressando neces sidade lógica Como tudo isso contudo incorporase gradativamente ao entendimento de tal modo que primeiro se julga algo problemati camente depois se o assume também assertoricamente como verda deiro e finalmente se o afirma como ligado inseparavelmente ao en tendimento i e como necessário e apodítico então essas três fun ções da modalidade também podem ser denominadas três momentos do pensamento em geral Terceira seção 10 Dos conceitos puros do entendimento ou categorias Tal como já foi dito muitas vezes a lógica geral faz abstração de todo o conteúdo do conhecimento e espera que lhes sejam dadas re presentações de outra parte tanto faz de onde para em seguida trans formar a estas em conceitos o que se perfaz analiticamente A lógica B 101 B 102 111 transcendental pelo contrário tem diante de si a priori um diverso da sensibilidade que é oferecido a ela pela estética transcendental para dar aos conceitos puros dp entendimento uma niatéria sem a qual eles não teriam conteúdo algum e portanto seriam inteiramen te vazios Agora o espaço e o tempo contêm um diverso da intuição pura a priori mas pertencem igualmente às condições da receptividade de nossa mente as únicas sob as quais ela pode receber representações de objetos e que portanto têm também de afetar a todo tempo o con ceito das mesmas A espontaneidade de nosso pensamento exige no entanto que esse diverso seja primeiramente de um certo modo per corrido incorporado e conectado para somente assim produzirse um conhecimento A esta ação eu denomino síntese 103 Em seu significado mais geral porém entendo por síntese a ação de somar diferentes representações umas às outras e abarcar a sua di versidade em um conhecimento Tal síntese é pura quando o diverso é dado não empiricamente mas sim a priori como aquele no espaço e no tempo Antes de qualquer análise de nossas representações estas têm antes de ser dadas e não pode surgir nenhum conceito analitica mente que seja relativo ao conteúdo A síntese de um diverso porém seja ele dado empiricamente ou a priori produz primeiramente um conhecimento que de fato pode ser a princípio ainda cru e confuso e assim carecer de uma análise mas é a síntese quem realmente recolhe os elementos para os conhecimentos e os unifica em um certo conteúdo é ela portanto a primeira coisa a que devemos dirigir nossa atenção se queremos julgar sobre a primeira origem de nosso conhecimento A síntese em geral é como veremos mais à frente o mero efeito da imaginação uma função cega mas indispensável da alma sem a qual jamais teríamos conhecimento algum mas da qual raramente to mamos consciência Elevar essa síntese a conceitos no entanto é uma função que cabe ao entendimento e pela qual ele começa a for necernos o conhecimento em sentido próprio 04 E a síntese pura pois representada em termos gerais que forne ce o conceito puro do entendimento Eu entendo por esta síntese contudo aquela que se baseia em um fundamento da unidade sintéti ca a priori assim o nosso contar isto é mais claramente notável com os números maiores é uma síntese por conceitos porque acontece 112 com base em um fundamento comum da unidade por exemplo a de zena Sob esse conceito portanto tornase necessária a unidade na síntese do diverso Analiticamente diversas representações são reunidas sob um con ceito um assunto de que trata a lógica geral A lógica transcenden tal porém não ensina a reunir as representações sob conceitos mas sim a colocar a síntese pura das representações sob conceitos A pri meira coisa que nos tem de ser dada a priori com vistas ao conheci mento de todos os objetos é o diverso da intuição pura a segunda é a síntese desse diverso por meio da imaginação mas ainda não fornece um conhecimento Os conceitos que dão unidade a essa síntese pura e que consistem tão somente na representação dessa unidade sintéti ca necessária constituem a terceira coisa necessária para o conheci mento de um objeto apresentado e residem no entendimento A mesma função que dá unidade às diferentes representações em um juízo dá unidade também à mera síntese de diferentes re presentações em uma intuição e expressa em termos gerais deno minase conceito puro do entendimento O mesmo entendimento portanto e por meio das mesmas ações pelas quais colocava em conceitos por meio da unidade analítica a forma lógica de um juízo introduz também por meio da unidade sintética do diverso na intuição em geral um conteúdo transcendental em suas repre sentações em virtude do qual elas são denominadas conceitos pu ros do entendimento e se referem a priori a objetos algo que a ló gica geral não podia realizar Desse modo surgem exatamente tantos conceitos puros do en tendimento que se dirigem a priori a objetos da intuição em geral quantas eram na tábua anterior as funções lógicas em todos os juí zos possíveis pois nessas funções o entendimento se vê completa mente exaurido e sua faculdade inteiramente mensurada Como Aris tóteles denominaremos categorias a tais conceitos já que nosso pro pósito embora muito distante do seu no que diz respeito ao modo de executálo é originariamente idêntico a ele B 105 113 5 106 Tábua das categorias 1 Da quantidade Unidade Pluralidade Totalidade 2 Da qualidade Realidade Negação Limitação 3 Da relação De inerência e subsistência substantia et accidens De causalidade e dependência causa e efeito De comunidade reciprocidade entre agente e paciente 4 Da modalidade Possibilidadeimpossi bilidade Existêncianão existência Necessidadecontin gência Tal é pois o catálogo de todos os conceitos puros originários da síntese que o entendimento contém em si a priori e em virtude dos quais ele é um entendimento puro já que somente através deles pode compreender algo do diverso da intuição i e pensar um objeto da mesma Essa divisão surgiu sistematicamente a partir de um princí pio comum qual seja a faculdade de julgar que não é outra senão a faculdade de pensar e não rapsodicamente a partir de uma investiga 107 ção aleatória dos conceitos puros conceitos de cuja completude não se pode ter certeza se ela for obtida apenas por indução sem se lembrar que deste modo não se pode discernir jamais por que precisa mente estes conceitos e não outros residem no entendimento puro O tirocínio de Aristóteles de investigar esses conceitos fundamentais foi digno de um homem perspicaz Como ele não tinha nenhum prin 1 1 4 cípio no entanto ele os reuniu tal como iam lhe aparecendo e desco briu inicialmente dez deles aos quais denominou categorias predica mentos Na sequência ele acreditou ter encontrado mais cinco deles e os juntou aos primeiros sob o nome de póspredicamentos Mas sua tábua permaneceu ainda incompleta Além disso há nela alguns modi da sensibilidade pura quando ubi situs bem como prius si mut e um empírico motus que não pertencem em absoluto a esse registro originário do entendimento ou então são incluídos os conce itos derivados sob os originários actio passio e alguns destes últi mos faltam por completo Com relação a estes últimos é preciso observar ainda portanto que as categorias como os verdadeiros conceitos originários do enten dimento puro têm também os seus conceitos derivados igualmente puros que não podem ser de modo algum negligenciados em um siste ma completo da filosofia transcendental mas com cuja mera menção em um ensaio meramente crítico eu posso darme por satisfeito Sejame permitido denominar a estes conceitos do entendimento que são ao mesmo tempo puros e derivados os predicáveis do enten dimento puro por oposição aos predicamentos Quando se têm os conceitos originários e primitivos os derivados e subalternos se dei xam facilmente acrescentar e a árvore genealógica do entendimento pode ser desenhada por inteiro Como não me cabe tratar aqui da com pletude do sistema mas apenas dos princípios para um sistema deixo esse complemento para uma outra ocasião Mas tal propósito pode ser facilmente atingido caso se tenha à mão os manuais de ontologia e por exemplo se subordinem os predicáveis da força da ação e da paixão à categoria da causalidade os da presença e da resistência à da comuni dade os do surgimento do perecimento e da modificação aos predica mentos da modalidade e assim por diante As categorias ligadas aos modis da sensibilidade pura ou mesmo entre si fornecem uma grande variedade de conceitos derivados a priori que justificariam o empreen dimento proveitoso e nada desagradável mas aqui dispensável de ano tálos e quando possível enumerálos de maneira completa Mesmo que estivesse em posse das mesmas eu me dispenso in tencionalmente de fornecer as definições de tais categorias neste tra tado Na sequência decomporei esses conceitos até o grau que seja B 108 115 3 KI9 suficiente com vistas à doutrina do método que estou preparando As definições seriam exigíveis de mim com razão em um sistema da razão pura aqui porém elas apenas afastariam dos olhos oponto principal da investigação pois suscitam dúvidas e ataques que sem comprome ter em nada o propósito essencial podem muito bem ser rechaçados em outra ocasião Pelo pouco que apresentei aqui contudo fica bas tante claro que um dicionário completo com todas as definições cabí veis seria não apenas possível mas facilmente realizável Os comparti mentos já estão dados é necessário apenas preenchêlos e uma tópica sistemática como a presente não deixa escapar facilmente o lugar a que cada conceito pertence propriamente assim como também não deixa de notar com facilidade os lugares que ainda estão vazios l l 3 v A respeito dessa tábua de categorias podem ser feitas considera ções interessantes que por seu turno podem talvez ter consequências notáveis com vistas à forma científica de todos os conhecimentos da razão Pois que essa tábua seja extraordinariamente útil e mesmo in dispensável para a parte teórica da filosofia no sentido de traçar um plano completo para o todo de uma ciência na medida em que esta se baseie em conceitos a priori e dividila matematicamente segun do princípios determinados isto é algo que se torna claro por si mes mo pelo fato de que a referida tábua contém absolutamente todos os conceitos elementares do entendimento e mesmo a forma de um sis i 110 tema dos mesmos no entendimento humano e por conseguinte indi ca todos os momentos de uma eventual ciência especulativa e mes mo a sua ordem tal como provado por mim em outra parte3 4 Aqui pois estão apenas algumas dessas observações A primeira é que esta tábua que contém quatro classes de con ceitos do entendimento pode ser inicialmente decomposta em duas divisões a primeira dirigida a objetos da intuição tanto da pura como da empírica a segunda à existência desses objetos seja na relação de uns com os outros seja na relação com o entendimento 3 0 texto compreendido pelos parágrafos 11 e 12 foi acrescido em B NT 4 P r im e ir o s p r in c íp io s m e ta físic o s d a c iê n c ia n a tu ra l NA 116 À primeira classe eu denominaria categorias matemáticas à se gunda categorias dinâmicas A primeira classe como se vê não tem correlatos os quais só podem ser encontrados na segunda classe Esta diferença contudo deve ter um fundamento na natureza do en tendimento A segunda é que em todos os casos há um número igual de cate gorias em cada classe a saber três o que suscita reflexão já que toda divisão a priori através de conceitos tem de ser em geral uma dicoto mia Quanto a isso porém é preciso notar ainda que a terceira catego ria surge sempre da ligação da segunda com a primeira de sua classe Assim a totalidade totalidade5 não é outra coisa senão a plurali dade considerada como unidade a limitação não é senão a realidade ligada à negação a comunidade é a causalidade de uma substância na determinação das demais a necessidade por fim não é senão a existência que é dada por meio da própria possibilidade Não se pen se porém que a terceira categoria seria por isso um conceito mera mente derivado do entendimento e não um originário Pois a ligação do primeiro conceito com o segundo para produzir o terceiro exige um ato específico do entendimento que não se confunde com aquele que é exercido no primeiro e no segundo conceitos Assim o concei to de um número que pertence à categoria de totalidade não é sempre possível onde estão os conceitos de variedade e unidade p ex na representação do infinito Pelo fato de eu ligar o concei to de uma causa com o de uma substância também não se pode com preender imediatamente a influência i e como uma substância pode ser causa de algo em uma outra substância Fica claro assim que um ato específico do entendimento é exigido para isso e assim também nas demais categorias A terceira é No caso de uma única categoria qual seja a de co munidade que se encontra sob o terceiro título não salta tão clara mente aos olhos como nas demais a concordância com a forma do juízo disjuntivo a ela correspondente na tábua das funções lógicas 5 Kant usa a palavra de origem germânica A llh eit e coloca entre parênteses o seu sinônimo de origem latina T o ta litä t Ambas significam totalidade NT Bill B 112 117 Para nos assegurarmos dessa concordância é preciso notar que em todos os juízos disjuntivos a esfera a variedade de tudo aquilo contido sob eles como um todo na parte os conceitos subordina dos é representada dividida e como um não pode estar contido sob o outro eles são pensados como coordenados entre si não como su bordinados de tal modo que se determinam um ao outro não unilate ralmente como em uma série mas reciprocamente como em um agregado quando um membro da divisão é posto todos os demais são excluídos e assim inversamente Agora uma conexão similar é pensada em um todo das coisas de tal modo que uma como efeito não é subordinada à outra como cau sa de sua existência mas sim coordenada com ela concomitante e re ciprocamente como causa no que diz respeito à determinação das ou tras p ex em um corpo cujas partes se atraem reciprocamente umas às outras e também se opõem o que é um tipo de conexão inteiramen te diverso daquele que se encontra na mera relação da causa ao efeito do fundamento à consequência em que a consequência não determi na reciprocamente o fundamento e portanto não constitui um todo com este como o criador do mundo com o mundo O mesmo procedi mento que o entendimento adota ao representarse a esfera de um con 3113 ceito dividido é por ele observado quando pensa uma coisa como divisí vel e assim como os membros da divisão se excluem uns aos outros no primeiro caso mesmo estando ligados em uma esfera o entendimen to se representa as partes no último caso de tal modo que sua exis tência como substâncias pertence a cada uma com exclusão das de mais mesmo elas estando ligadas em um todo 12 Na filosofia transcendental dos antigos contudo encontrase ain da um capítulo que contém conceitos puros do entendimento que embora não sejam contados entre as categorias deveriam segundo eles valer como conceitos a priori de objetos caso em que no entan to eles aumentariam o número das categorias o que não pode acon tecer Tais conceitos são apresentados na proposição tão famosa en tre os escolásticos quodlibet ens est unum verum bonum Se pois o uso desse princípio acabou por ser muito pobre no que diz respeito 1 1 8 às consequências que forneciam proposições meramente tautológi cas de tal modo que mesmo nos tempos modernos se tornou habitu al conservarlhe um lugar na metafísica quase que por mera cortesia um conceito que se conservou por tanto tempo por mais vazio que pareça ser merece sempre uma investigação de sua origem e justifica a suposição de que ele tenha seu fundamento em alguma regra do en tendimento que como acontece com frequência pode ter sido apenas traduzida incorretamente Estes predicados supostamente transcen dentais das coisas não são outra coisa senão os requisitos e critérios lógicos de todo conhecimento das coisas em geral e lhe fornecem como fundamento as categorias da quantidade quais sejam as de unidade pluralidade e totalidade com a diferença de que estas que tinham de ser tomadas materialmente como pertencentes à possibili dade das coisas mesmas são na verdade empregadas apenas em sen tido formal como pertencentes ao requisito lógico relativo a todo co nhecimento apesar disso esses critérios do pensamento eram trans formados de maneira descuidada em propriedades das coisas em si mesmas Em todo conhecimento de um objeto com efeito há uma unidade do conceito a que se pode denominar uma unidade qualitati va na medida em que somente se entenda por isso a unidade da soma do diverso dos conhecimentos tal como por exemplo a unidade do tema em uma peça em um discurso em uma fábula Em segundo lu gar a verdade no que diz respeito às consequências Quanto mais consequências verdadeiras a partir de um dado conceito tanto mais indícios de sua realidade objetiva A esta se poderia denominar a plu ralidade qualitativa das características que pertencem a um conceito como um fundamento comum e não pensada nele como quantidade Em terceiro lugar por fim a perfeição que consiste em que tal plura lidade é reconduzida de volta à unidade do conceito e concorda intei ramente com este e não com nenhum outro algo a que se pode de nominar a completude qualitativa totalidade Isto deixa claro que esses critérios lógicos da possibilidade do conhecimento em geral transformam aqui as três categorias de quantidade nas quais a unida de tem de ser tomada de maneira inteiramente homogênea na produ ção do quantum apenas com vistas a conectar em uma consciência por meio da qualidade de um conhecimento como princípio também as partes heterogêneas de um conhecimento Assim o critério da pos sibilidade de um conceito não do objeto do mesmo é a definição em B 114 B 115 119 que a unidade do conceito a verdade de tudo o que pode ser deriva do primeiramente dele e por fim a completude do que é extraído dele constituem o requerido para a produção do conceito inteiro ou então o critério de uma hipótese é também a inteligibilidade do fun damento de explicação assumido ou de sua unidade sem uma hipó tese auxiliar a verdade concordância consigo mesma e com a expe riência das consequências daí derivadas e finalmente a completude do fundamento de sua explicação as quais remetem a nada mais nada menos do que aquilo que foi assumido na hipótese e voltam a fornecer analiticamente a posteriori e entrando em acordo com ele aquilo que fora pensado sinteticamente a priori A tábua transcen dental das categorias não é de modo algum portanto organizada através dos conceitos de unidade verdade e perfeição como se fosse digamos incompleta é antes o proceder com eles que na medida em 116 que a relação desses conceitos a objetos seja inteiramente posta de lado é submetido a regras lógicas universais da concordância do co nhecimento consigo mesmo Segundo capítulo Da dedução dos conceitos puros do entendimento Primeira seção 13 Dos princípios de uma dedução transcendental em geral Quando falam de competências e demandas os juristas distin guem em um processo judicial a questão sobre aquilo que é o direito quid iuris da questão relativa ao fato quid facti e na medida em que exigem prova de ambos denominam dedução à primeira que deve estabelecer a competência ou a pretensão jurídica Nós nos ser vimos de uma variedade de conceitos empíricos sem a oposição de ninguém e nos julgamos autorizados mesmo sem uma dedução a atribuirlhes um sentido e um pretenso significado porque temos sem 117 pre à mão a experiência para provar sua realidade objetiva Há tam bém conceitos usurpados no entanto tais como felicidade e destino que circulam de fato com uma complacência quase universal mas são por vezes questionados através da questão quid iuris caise então num considerável embaraço relativamente à dedução dos mesmos pois não se pode oferecer um claro fundamento jurídico nem a partir 120 da experiência nem da razão pelo qual a competência para empre gálos ficasse clara Entre os muitos conceitos contudo que constituem o tão mescla do tecido do conhecimento humano há alguns que também são desti nados a um uso puro a priori inteiramente independente de toda ex periência e esta sua competência demanda sempre uma dedução pois as provas a partir da experiência não são suficientes para estabe lecer a legitimidade de tal uso e no entanto é preciso saber como es ses conceitos podem referirse a objetos que no entanto eles não ex traem de experiência alguma Por isso eu denomino dedução trans cendental à explicação do modo como esses conceitos podem refe rirse a priori a objetos e a diferencio da dedução empírica que mos tra como um conceito foi adquirido por meio da experiência e da re flexão sobre a mesma e portanto diz respeito não à legitimidade mas ao fato do qual se originou a sua posse Nós já temos agora conceitos de dois tipos inteiramente diversos que todavia concordam uns com os outros em que ambos se referem inteiramente a priori a objetos os conceitos do espaço e do tempo como formas da sensibilidade e as categorias como conceitos do enten dimento Tentar fazer uma dedução empírica dos mesmos seria um tra balho inteiramente vão pois o diferencial de sua natureza reside justa mente em que eles se referem aos seus objetos sem ter emprestado nada da experiência para a sua representação Se é necessária uma de dução dos mesmos portanto ela terá de ser sempre transcendental Entretanto podese buscar para esses conceitos na experiência como também para todo conhecimento se não o princípio de sua pos sibilidade ao menos a causa circunstancial de seu surgimento caso em que as impressões dos sentidos dão a primeira ocasião de abrir para eles a inteira capacidade cognitiva e produzir a experiência que contém dois elementos extremamente heterogêneos quais sejam a matéria para o conhecimento a partir dos sentidos e uma certa for ma de ordenála a partir da fonte interna da intuição e do pensamen to puros os quais só são exercidos e produzem conceitos por oca sião dos primeiros Tal inspeção dos primeiros esforços de nossa capa cidade cognitiva para ascender das percepções singulares aos concei tos gerais tem sem dúvida uma grande utilidade e é preciso agrade cer ao famoso Locke por ter sido o primeiro a abrir caminho para B 118 B 119 121 isso Mas uma dedução dos conceitos puros a priori não se realizaria nunca desse modo pois uma vez que ela deve ser inteiramente inde pendente da experiência com vistas ao seu uso futuro ela certamente não se encontra nesse caminho tendo antes uma certidão de nasci mento completamente diversa daquela que tem de haver sido produ zida por uma descendência das experiências A essa tentativa de deri vação fisiológica que certamente não se pode denominar dedução porque diz respeito a uma quaestionem facti eu gostaria por isso de denominar a explicação da posse de um conhecimento puro Está cla ro portanto que desta última não poderia haver de modo algum uma dedução empírica mas apenas uma dedução transcendental e que aquela no que concerne aos conceitos puros a priori não passa de tentativas em vão com as quais só pode ocuparse quem não compre endeu em nada a natureza própria a esses conhecimentos Caso se admita pois o único tipo possível de uma dedução dos conhecimentos puros a priori qual seja o dos caminhos transcenden tais isso ainda não esclarece contudo que ele seja tão incontornavel mente necessário Mais acima nós perseguimos os conceitos de espa ço e tempo até as suas fontes por meio de uma dedução transcenden 120 tal e explicamos e determinamos a sua validade objetiva a priori A geometria por outro lado segue o seu caminho seguro através de meros conhecimentos a priori sem ter de requerer à filosofia um ates tado de validade relativo à origem pura e legítima de seu conceito fun damental de espaço Mas o uso do conceito nessa ciência também diz respeito apenas ao mundo sensível externo de cuja intuição o es paço é a forma pura e na qual portanto todo conhecimento geomé trico tem evidência imediata visto fundarse na intuição a priori e os objetos são dados na intuição a priori segundo a forma por meio do próprio conhecimento Com os conceitos puros do entendimento pelo contrário começa a necessidade incontornável de buscar uma dedução transcendental não apenas deles mesmos mas também do espaço pois na medida em que falam de objetos não através dos pre dicados da intuição ou da sensibilidade mas do pensamento puro a priori referemse a objetos sem todas as condições da sensibilidade em geral Afinal eles não são fundados na experiência nem podem mostrar um objeto a priori na intuição em que pudessem fundar sua síntese antes de qualquer experiência e portanto não apenas levan 122 tam suspeita no que diz respeito à validade objetiva e aos limites de seu uso mas também tornam ambíguo aquele conceito de espaço na medida em que são inclinados a utilizálo para além das condições da intuição sensível razão pela qual também foi necessária mais acima uma dedução transcendental do mesmo Assim o leitor deve estar convencido da incontornável necessidade de tal dedução transcenden tal antes de ter dado um único passo no campo da razão pura pois do contrário ele procederia cegamente e depois de ter girado em círculo diversas vezes acabaria por voltar à incerteza de que havia partido Ele tem antes também contudo de discernir claramente a inevitável difi culdade de modo a não queixarse da obscuridade em que o assunto mesmo está profundamente envolvido ou irritarse muito cedo com a remoção dos obstáculos pois se trata aí ou de abandonar por completo todas as pretensões a um discernimento da razão pura como o campo preferido i e aquele que vai além de todos os limites da experiência possível ou de levar essa investigação crítica à sua completude Com pouco esforço nós pudemos acima tornar compreensível rela tivamente aos conceitos de espaço e tempo como eles enquanto co nhecimentos a priori têm apesar disso de referirse necessariamente a objetos e tornam possível um conhecimento sintético dos mesmos in dependentemente de toda experiência Pois uma vez que é somente através de tais formas puras da sensibilidade que um objeto pode apa recer i e ser um objeto da intuição empírica o espaço e o tempo são intuições puras que contêm a priori a condição da possibilidade dos objetos como fenômenos e a síntese tem neles validade objetiva As categorias do entendimento por outro lado não nos represen tam de forma alguma as condições sob as quais os objetos são dados na intuição de modo que os objetos podem certamente aparecer parà nós sem que tenham de referirse necessariamente a funções do en tendimento como se este contivesse a priori assim as condições dos mesmos Mostrase aqui uma dificuldade pois que não encontráva mos no campo da sensibilidade a saber como as condições subjeti vas do pensamento deveriam ter validade objetiva i e fornecer con dições de possibilidade de qualquer conhecimento dos objetos pois fenômenos podem certamente ser dados na intuição sem as funções do entendimento Suponhamos que eu tome o conceito de causa por exemplo que significa um tipo particular de síntese em que para al ls 121 B 122 123 gum A é posto segundo uma regra um B inteiramente diferente Não é a priori evidente por que os fenômenos deveriam conter algo assim as experiências não podem ser aduzidas como exemplos porque a validade objetiva desse conceito a priori tem de poder ser estabeleci da e é a priori duvidoso portanto se tal conceito não seria porven tura vazio e incapaz de encontrar em parte alguma um objeto entre 123 os fenômenos Que os objetos da intuição sensível tenham de ser con formes às condições formais existentes a priori na mente é algo claro de fato na medida em que de outro modo eles não seriam objetos para nós que além disso contudo eles também tenham de ser con formes às condições de que o entendimento necessita para a unidade sintética do pensamento neste caso a conclusão não é tão fácil de dis cernir Pois os fenômenos poderiam perfeitamente ser constituídos de tal modo que o entendimento não os encontrasse em conformida de com as condições de sua unidade e tudo ficasse de tal modo confu so que por exemplo não se oferecesse na sequência dos fenômenos nada que nos desse uma regra da síntese e assim correspondesse ao conceito de causa e efeito tornandose este conceito inteiramente va zio inútil e sem significado E os fenômenos não deixariam por isso de oferecer objetos à nossa intuição pois a intuição não necessita de modo algum das funções do pensamento Suponhamos que se pensasse poder escapar à dificuldade dessas investigações dizendo que a experiência oferece incessantes exem plos de tal regularidade dos fenômenos e que estes dão a oportunidade de isolar neles o conceito de causa e assim assegurar ao mesmo tem po a validade objetiva desse conceito Não se nota aí que o conceito de causa não pode surgir desse modo mas teria ou de ser fundado in teiramente a priori no entendimento ou de ser abandonado por com 124 pleto como uma mera fantasia Pois este conceito exige por certo que algum A seja de tipo tal que um outro B se siga a ele necessariamen te segundo uma regra absolutamente universal Os fenômenos cer tamente apresentam casos dos quais é possível extrair uma regra se gundo a qual algo acontece de maneira habitual mas nunca segundo a qual o ocorrido seja necessário à síntese de causa e efeito portan to também é inerente uma dignidade que não se pode expressar em piricamente a saber que o efeito não é simplesmente acrescentado à causa mas é posto pela mesma e dela se segue A universalidade for 124 te da regra também não é a propriedade de uma regra empírica que por meio da indução não pode receber senão uma generalidade com parativa i e uma aplicabilidade difundida Agora o uso dos concei tos puros do entendimento se modificaria inteiramente caso se qui sesse utilizálos apenas como produtos empíricos 14 Passagem para a dedução transcendental das categorias Há apenas dois casos possíveis sob os quais a representação sin tética e seus objetos se encontram referemse um ao outro de ma neira necessária e como que dão de cara um com o outro ou quando apenas o objeto torna possível a representação ou quando apenas esta torna aquele possível No primeiro caso a relação é apenas em pírica e a representação não é jamais possível a priori E este é o caso do fenômeno no que diz respeito àquilo que nele pertence à sensação No segundo caso porém uma vez que a representação em si mesma pois não se trata aqui de modo algum de sua causalidade através da vontade não produz o seu objeto no que diz respeito à existência então a representação só é determinante a priori em re lação ao objeto se apenas por meio dela é possível conhecer algo como um objeto Há apenas duas condições porém sob as quais é possível o conhecimento de um objeto primeiramente a intuição por meio da qual ele é dado ainda que apenas como fenômeno em segundo lugar o conceito por meio do qual é pensado um objeto que corresponde a essa intuição A partir do que foi dito acima con tudo é evidente que a primeira condição qual seja a única sob a qual os objetos podem ser intuídos está na verdade na mente a pri ori como fundamento dos objetos no que concerne à forma Com esta condição formal da sensibilidade assim todos os fenômenos concordam necessariamente pois somente através dela eles apare cem i e podem ser dados e intuídos empiricamente É de pergun tarse contudo se também conceitos a priori não vêm antes como únicas condições sob as quais algo é senão intuído ao menos pen sado como objeto em geral pois então todo conhecimento empírico dos objetos se conformaria de maneira necessária a esses conceitos sem cuja pressuposição nada seria possível como objeto da expe riência Além da intuição dos sentidos contudo através da qual B 125 B 126 1 25 algo é dado toda experiência contém ainda o conceito de um objeto que é dado ou aparece na intuição de acordo com isto conceitos de objetos em geral servirão de fundamento como condições a priori para todo conhecimento por experiência e consequentemente a vali dade objetiva das categorias como conceitos a priori repousará em que apenas por meio delas é possível a experiência segundo a forma do pensamento Pois assim elas se referem de maneira necessária e a priori a objetos da experiência já que apenas por meio delas pode um objeto qualquer da experiência ser em geral pensado A dedução transcendental de todos os conceitos a priori tem portanto um princípio ao qual toda pesquisa tem de ser direcionada qual seja que eles como condições a priori da possibilidade da expe riência seja da intuição que é neles encontrada seja do pensamento têm de ser conhecidos Justamente por isso conceitos que fornecem o fundamento objetivo da possibilidade da experiência são necessá rios 0 desenvolvimento da experiência em que eles são encontrados no entanto não é a sua dedução mas sim ilustração pois aí eles se 127 riam apenas contingentes Sem essa referência originária à experiên cia possível na qual todos os objetos do conhecimento se apresen tam a referência dos mesmos a um objeto qualquer não poderia ser de modo algum compreendida6 0 famoso Locke por não ter feito essa reflexão e por ter encon trado conceitos puros do entendimento na experiência também os deduziu da experiência e assim procedeu de maneira tão inconse quente que se aventurou em tentativas de conhecimentos que ultra passam em muito os limites da experiência David Hume reconheceu que para poderse fazer isso seria necessário que esses conceitos pre cisariam ter sua origem a priori Ele não podia porém explicar como é possível que o entendimento tenha de pensar como necessariamen te ligados conceitos que em si mesmos não estão ligados no entendi mento e por isso não lhe ocorreu que o entendimento poderia ser tal vez por meio desses conceitos mesmos instituidor da experiência em 6 A partir deste ponto começava em A o último parágrafo da Primeira seção da dedução seguido peias seções segunda e terceira que constituíam em A um outro texto e que reprodu ziremos ao final da Dedução transcendental da edição B A partir daqui portanto e até o fi nal da Segunda seção da dedução tratase de um texto só presente em B NT 126 que seus objetos são encontrados Premido pela necessidade ele os derivou então da experiência a saber de uma necessidade subjetiva surgida na experiência através de uma associação mais frequente e tomada equivocadamente como objetiva i e o hábito mas a par tir daí procedeu de maneira muito consequente esclarecendo ser impossível com tais conceitos e os princípios deles deduzidos ul trapassar os limites da experiência A derivação empírica porém em que ambos se afundaram não pode ser coadunada com a reali dade dos conhecimentos científicos que temos quais sejam os da matemática pura e da ciência natural universal e é portanto refu tada pelo fato O primeiro desses dois conhecidos homens abriu a porteira para os devaneios pois a razão tão logo tenha autorizações a seu favor já não se deixa confinar em limites por louvações indeterminadas da moderação O segundo se rendeu inteiramente ao ceticismo por acre ditar ter descoberto naquilo que em geral se toma pela razão uma ilusão de nossa faculdade de conhecimento Nós estamos agora em condições de investigar se não seria possível conduzir a razão huma na com sucesso por entre esses dois penhascos indicar os seus limi tes precisos e ainda assim manter aberto para ela o inteiro campo da atividade que é conforme a seus fins Antes disso eu quero apenas adiantar a explicação das categorias Elas são conceitos de um objeto em geral por meio dos quais a intuição deste é vista como determinada em relação a uma das funções lógi cas do juízo Assim a função do juízo categórico era a da relação do sujeito ao predicado como por exemplo em todos os corpos são di visíveis Permaneceu indeterminado porém relativamente ao uso apenas lógico do entendimento a qual dos conceitos se deveria dar a função do sujeito e a qual a do predicado Pois também se pode dizer algum divisível é um corpo Por meio da categoria de substância porém se eu coloco sob ela o conceito de um corpo é determinado que sua intuição empírica na experiência tem de ser considerada sem pre como sujeito nunca como mero predicado e assim em todas as demais categorias B 128 B 129 127 Segunda seçao Dedução transcendental dos conceitos puros do entendimento 15 Da possibilidade de unia ligação7 em geral 0 diverso das representações pode ser dado em uma intuição que é apenas sensível i e nada além de uma receptividade e a forma des sa representação pode residir a priori em nossa faculdade de repre sentação sem ser algo distinto porém do modo pelo qual o sujeito é afetado Mas a ligação conjunctio de um diverso em geral não pode jamais chegar a nós através dos sentidos e portanto também não 5130 pode estar contida ao mesmo tempo na forma pura da intuição sensí vel pois ela é um ato da espontaneidade do poder de representação e como este tem de ser denominado entendimento para diferenciarse da sensibilidade então toda ligação quer sejamos dela conscientes ou não quer ela seja ã ligação do diverso da intuição ou de alguns conceitos e quer ela seja no primeiro caso da intuição sensível ou da não sensível é uma ação do entendimento uma ação que podería mos designar com a denominação geral de síntese para com isso tor nar claro ao mesmo tempo que nós não podemos nos representar nada como ligado no objeto sem ter antes ligado ele próprio e uma li gação que é a única entre todas as representações que não é dada através de objetos mas é antes executada pelo próprio sujeito pois é um ato de sua autoatividade Percebese facilmente aqui que essa ação tem de ser originariamente una e igualmente válida para todas as ligações e que a dissolução a análise que parece ser o seu oposto 7 Este é um ponto em que é notável a diversidade de soluções adotadas pelos tradutores Para traduzir Verbinduny neste peculiar contexto da dedução transcendental das categorias ob servamos entre outras as seguintes soluções ligação Rohden e Moosburger Santos e Mo rujão enlace Caimi combination Cuyer e Wood Pluhar e Kemp Smith conjunction Meiklejohn synthèse Tremesaygues e Pacaud Renault liaison Delamarre e Marty congiunzione Colli unificazione Gentile e LombardoRadice Os únicos que tiveram o trabalho facilitado foram os holandeses Veenbaas e Visser que dispondo de uma palavra de origem tedesca puseram adotar verbinding Parecenos que cada opção tem as suas vanta gens e desvantagens Sendo a tradução mais habitual para Verbinduny ligação nos pare ceu a melhor opção também por permitir diferenciar este termo de outros como conexão e composição que Kant diferenciará daquele em passagens como a nota da página B 201 Síntese indicaria tratarse aqui da ação de síntese o que de fato é o caso mas não preserva ria a diferença em relação ao termo Synthese também usado com frequência por Kant Com binação adotada pela maior parte dos tradutores de língua inglesa sugere um tipo muito frouxo de ligação Quanto a enlace por fim o problema parece estar na natureza da imagem implicada no termo laço enlaçar que a nosso ver não soa tão adequada para traduzir Verbinduny NT 128 na verdade a pressupõe a todo tempo pois onde o entendimento não tiver antes ligado nada ele também não pode dissolver nada já que somente através dele pode algo ter sido dado como ligado ao poder de representação Mas o conceito de ligação traz consigo além do conceito do diver so e da sua síntese também o conceito da sua unidade Ligação é a re presentação da unidade sintética do diverso8 A representação dessa unidade portanto não pode surgir da ligação é antes ela que jun tandose à representação do diverso torna primeiramente possível o conceito de ligação Essa unidade que antecede a priori todos os con ceitos da ligação não deve ser confundida com aquela categoria da uni dade 10 pois em juízos todas as categorias se fundam nas funções lógicas mas nos juízos já é pensada a ligação portanto a unidade de conceitos dados A categoria já pressupõe assim uma conexão Nós te mos portanto de procurar essa unidade como qualitativa 12 ainda mais alto a saber naquilo que contém por si mesmo o fundamento de possibilidade da unidade de diferentes conceitos em juízos portanto a possibilidade do entendimento mesmo no seu uso lógico 16 Da unidade onginariamente sintética da apercepção O eu penso tem de poder acompanhar todas as minhas represen tações pois do contrário seria em mim representado algo que não pode ser pensado de modo algum o que significa simplesmente que ou a representação seria impossível ou ao menos não seria nada para mim A representação que pode ser dada antes de todo pensamento se denomina intuição Todo diverso da intuição portanto tem uma relação necessária com o eu penso no mesmo sujeito em que esse di verso é encontrado Essa representação no entanto é um ato da es pontaneidade i e ela não pode ser vista como pertencente à sensibi lidade Eu a denomino apercepção pura para diferenciála da empíri ca ou também apercepção originária pois ela é aquela autoconsciên cia que por produzir a representação eu penso que tem de poder 8 Não interessa aqui se as próprias representações são idênticas e portanto se podem ser anali ticamente pensadas uma por meio da outra Na medida em que se trata do diverso a cons ciência de uma tem de ser sempre diferenciada da consciência da outra e o que importa aqui é apenas a síntese dessa possível consciência NA B 131 129 acompanhar todas as outras e é sempre a mesma em toda consciên cia não pode ser acompanhada de nenhuma outra Também à unida de da mesma eu denomino a unidade transcendental da autocons ciência para indicar a possibilidade do conhecimento a priori a partir dela Pois as diversas representações que podem ser dadas em uma certa intuição não seriam todas elas minhas se não pertencessem to das elas a uma autoconsciência i e elas têm de ser como minhas re presentações mesmo que eu não seja consciente delas como tais ne cessariamente conformes à única condição sob a qual podem reu B 133 nirse em uma autoconsciência universal pois do contrário não per tenceriam inteiramente a mim Dessa ligação originária se pode ex trair muita coisa Por exemplo que essa identidade completa da apercepção de um diverso dado na intuição contém uma síntese das representações e só é possível através da consciência dessa síntese Pois a consciência em pírica que acompanha várias representações é em si dispersa e não tem relação com a identidade do sujeito Esta relação acontece por tanto não pelo fato de eu acompanhar com consciência cada represen tação mas sim porque eu adiciono uma à outra e sou consciente de sua síntese Assim somente porque eu posso ligar o diverso de repre sentações dadas em uma consciência é possível que eu me represente a identidade da consciência nessas mesmas representações i e a unidade analítica da apercepção só é possível sob a pressuposição de b 134 alguma unidade sintética90 pensamento de que todas essas represen tações dadas na intuição me pertencem significa tão somente que eu as unifico em uma autoconsciência ou que pelo menos posso unificálas e ainda que ele próprio não seja ainda a consciência da síntese das re presentações ele todavia pressupõe a possibilidade desta última i e 9 A unidade analítica da consciência é inerente a todo conceito comum enquanto tal quando por exemplo eu penso no vermelho em geral eu me represento através disso uma proprieda de constitutiva que como característica pode ser encontrada em qualquer parte e ser ligada a outras representações assim somente por meio de uma unidade sintética possível previamen te pensada posso eu representarme a analítica Uma representação que deve ser pensada como comum a diversas outras é vista como pertencente a representações que além dela têm em si algo distinto consequentemente ela tem de ser previamente pensada em unidade sinté tica com outras representações ainda que meramente possíveis antes que eu possa pensar nela a unidade analítica da consciência que ela torna em conceptus communis conceito co mum E a unidade sintética da apercepção é assim o ponto mais alto a que se tem de elevar todo uso do entendimento inclusive a lógica inteira e depois dela a filosofia transcendental tal faculdade é na verdade o próprio entendimento NA 130 pela simples razão de que eu posso compreender o diverso das mesmas em uma consciência eu as denomino em conjunto minhas represen tações pois do contrário eu teria um eu Selbst tão multicolorido e diverso quantas são as representações que tenho e das quais sou cons ciente A unidade sintética do diverso das intuições é pois enquanto dada a priori o fundamento da identidade da própria apercepção que precede a priori todo o meu pensamento determinado A ligação po rém não reside nos objetos e não pode ser deles extraída quiçá através da percepção para somente então ser acolhida no entendimento ela é tão somente pelo contrário um trabalho do entendimento que não é ele próprio senão a faculdade de ligar a priori e colocar o diverso de da das representações sob a unidade da apercepção cujo princípio é o mais elevado em todo o conhecimento humano Agora esse princípio da unidade necessária da apercepção é de fato idêntico portanto uma proposição analítica mas explica como necessária ainda assim uma síntese do diverso dado em uma intui ção sem a qual aquela identidade completa da autoconsciência não pode ser pensada Pois por meio do eu como representação simples não é dado nada de diverso na intuição que é dele distinta esse di verso só pode ser dado e pensado em uma consciência por meio de uma ligação Um entendimento em que também todo diverso fosse dado por meio da autoconsciência seria um entendimento capaz de intuir o nosso pode apenas pensar e tem de buscar a intuição nos sentidos Sou consciente do eu idêntico portanto relativamente ao diverso das representações dadas a mim em uma intuição porque as denomino conjuntamente minhas representações e elas assim cons tituem uma Isto significa apenas contudo que eu sou consciente de uma síntese necessária das mesmas que se denomina unidade sintéti ca originária da apercepção e sob a qual se situam todas as represen tações dadas a mim desde que sejam todavia colocadas sob ela por meio de uma síntese 170 princípio da unidade sintética da apercepção é o princí pio supremo de todo uso do entendimento 0 princípio supremo da possibilidade de toda intuição em rela ção à sensibilidade era segundo a Estética transcendental que todo diverso da mesma esteja sob as condições formais do espaço e do tem B 135 B 136 131 po O princípio supremo dessa mesma possibilidade em relação ao en tendimento é que todo diverso da intuição esteja sob condições da unidade originariamente sintética da apercepção10 Todas as repre sentações diversas da intuição se situam sob o primeiro princípio na medida em que nos são dadas e sob o segundo na medida em que b 137 têm de poder ser conectadas em uma consciência pois sem isso nada poderia ser pensado ou conhecido através das representações dadas já que elas não têm em comum o ato da apercepção eu penso e por isso não estariam reunidas em uma autoconsciência 0 entendimento é para falar em termos gerais a faculdade dos conhecimentos Estes consistem na relação determinada das repre sentações dadas a um objeto 0 objeto porém é aquilo em cujo con ceito é unificado o diverso de uma dada intuição Mas toda unifica ção de representações exige unidade da consciência na síntese das mesmas Consequentemente a unidade da consciência é aquilo que unicamente constitui a relação das representações a um objeto por tanto a sua validade objetiva por conseguinte que se tornem conheci mentos e é aquilo em que consequentemente baseiase a própria possibilidade do entendimento 0 primeiro conhecimento puro do entendimento portanto em que se fundam todos os seus demais usos e que é também ao mesmo tempo inteiramente independente de todas as condições da intuição sensível é pois o princípio da unidade sintética originária da aper cepção Assim a mera forma da intuição sensível externa o espaço não é ainda conhecimento algum ele apenas fornece o diverso da in tuição a priori para um possível conhecimento Para conhecer algu ma coisa no espaço porém como por exemplo uma linha eu tenho b 138 de desenhála e qgsim produzir sinteticamente uma determinada li gação do diverso dado de tal modo que a unidade desta ação é ao mesmo tempo a unidade da consciência no conceito de uma linha e 10 O espaço e o tempo e todas as partes dos mesmos são intuições portanto representações singulares com o diverso que eles contêm em si cf a Estética transe não são meros concei tos portanto através dos quais essa mesma consciência fosse descoberta como estando em muitas representações mas em muitas representações como contidas em uma consciência delas portanto como reunidas e por conseguinte a unidade da consciência fosse descober ta como sendo sintética mas ao mesmo tempo originária Essa singularidade dos mesmos é importante na aplicação cf 25 NAJ 132 somente dessa forma se conhece um objeto um espaço determina do A unidade sintética da consciência é portanto uma condição ob jetiva de todo conhecimento e não uma de que eu apenas necessite para conhecer um objeto mas uma sob a qual toda intuição tem de es tar para tornarse um objeto para mim pois de outro modo e sem esta síntese o diverso não se unificaria em uma consciência Essa última proposição é como dito ela própria analítica ainda que torne a unidade sintética de fato em condição de todo pensa mento pois ela diz apenas que em uma intuição dada qualquer todas as minhas representações precisam submeterse à única condição sob a qual eu posso como minhas representações atribuílas a um eu idêntico e portanto enquanto conectadas sinteticamente em uma apercepção reunilas através da expressão universal eu penso Mas essa proposição fundamental11 é um princípio não para todo entendimento possível em geral mas apenas para aquele através de cuja apercepção pura na representação eu penso ainda não é dado nenhum diverso Aquele entendimento através de cuja autoconsciência fosse da do ao mesmo tempo o diverso da intuição um entendimento através de cuja representação existissem ao mesmo tempo os objetos dessa repre sentação não necessitaria para a unidade da consciência do ato especí fico de síntese do diverso de que necessita o entendimento humano que apenas pensa e não intui Para o entendimento humano contudo ele é inevitavelmente o primeiro princípio um princípio tal que de fato não poderia ser minimamente compreendido por um outro entendi mento possível quer um que fosse capaz de intuir por si mesmo quer um em que mesmo havendo intuição esta fosse de um tipo diferente e não tivesse por fundamento o espaço e o tempo 18 O que é a unidade objetiva da autoconsciência A unidade transcendental da apercepção é aquela por meio da qual todo o diverso dado em uma intuição é unificado em um concei 1 11 Normalmente traduzimos G rundsatz por princípio Aqui porém o contexto justificou a tradução mais literal Kant se refere à proposição Satz de que havia tratado no parágrafo anterior acrescentando agora a partícula G rund fundamental E em seguida ele usa a pa lavra Princip de origem latina para qualificar essa proposição fundamental uma qualifi cação que corrobora a preferência pelo uso de princípio para traduzir Grundsatz mas que neste levou o próprio Kant a valerse dos dois termos distintos NT B 139 133 to do objeto Por isso ela é denominada objetiva e tem de ser distin guida da unidade subjetiva da consciência que é uma determinação do sentido interno por meio da qual aquele diverso da intuição é dado empiricamente para tal ligação Se eu posso ou não ser empiri camente consciente do diverso como simultâneo ou sucessivo é algo que depende de circunstâncias ou condições empíricas por isso a uni B 140 dade empírica da consciência através da associação das representa ções diz respeito ela própria a um fenômeno e é inteiramente contin gente A forma pura da intuição no tempo pelo contrário como uma mera intuição em geral que contém um diverso dado submetese à con dição originária da consciência tão somente por meio da referência ne cessária do diverso da intuição a um eu penso portanto por meio da síntese pura do entendimento que serve a priori de fundamento à sín tese empírica Apenas quela unidade é objetivamente válida a unida de empírica da apercepção que nós não levamos aqui em consideração e que além disso só pode ser derivada da primeira sob condições da das in concreto tem validade apenas subjetiva Alguém liga a represen tação de uma certa palavra com uma coisa um outro a liga com outra coisa e a unidade da consciência naquilo que é empírico relativamen te ao que é dado não é universal e necessariamente válida 19 A forma lógica de todos os juízos consiste na unidade ob jetiva da apercepção dos conceitos neles contidos Eu nunca pude satisfazerme com a explicação que os lógicos dão de um juízo segundo eles dizem ele é a representação de uma rela B 141 ção entre dois conceitos Sem querelar aqui com eles sobre o equívo co da explicação apesar de muitas consequências problemáticas te rem sido ocasionadas por esse lapso dos lógicos12 um equívoco que consiste em servir ela no máximo apenas para os juízos categóricos mas não para os hipotéticos e disjuntivos os quais não contêm uma 12 A difundida doutrina das quatro figuras silogísticas concerne apenas aos silogismos categó ricos e mesmo que ela não seja mais do que uma arte de por meio do ocultamento das conse quências imediatas consequentiae immediatae entre as premissas de um silogismo puro criar a ilusão de mais tipos de inferência do que o da primeira figura ela não teria tido com isso nenhum sucesso especial se não tivesse conseguido chamar bastante atenção para os juí zos categóricos como aqueles a que todos os outros têm de ser referidos o que é falso no en tanto de acordo com o 9 NA 134 relação entre conceitos mas sim entre juízos observo apenas que aí não se determina em que consiste essa relação Se eu investigo melhor contudo a relação entre determinados conhecimentos em cada juízo e a diferencio como pertencente ao en tendimento da relação segundo leis da imaginação reprodutiva que tem validade apenas subjetiva descubro que um juízo não é outra coisa senão o modo de submeter determinados conhecimentos à uni dade objetiva da apercepção É para isso que aponta nos juízos a pa lavrinha relacional é diferenciando a unidade objetiva de represen tações dadas da subjetiva Pois ela indica a referência das mesmas à apercepção originária e a sua unidade necessária ainda que o juízo seja empírico portanto contingente como por exemplo em os cor pos são pesados Com isso não quero dizer certamente que essas re presentações pertençam necessariamente uma à outra na intuição empírica mas sim que elas pertencem uma à outra em virtude da uni dade necessária da apercepção na síntese das intuições i e segundo princípios da determinação objetiva de todas as representações na me dida em que podem tornarse conhecimento princípios estes que são todos derivados da proposição fundamental da unidade transcendental da apercepção Somente assim essa relação se torna um juízo i e uma relação que é objetivamente válida e se diferencia claramente da rela ção entre essas mesmas representações que tivesse validade meramen te subjetiva por exemplo segundo leis da associação Segundo estas úl timas eu só poderia dizer que se carrego um corpo sinto uma pressão do peso mas não que ele o corpo é pesado o que quer dizer ape nas que essas duas representações estão simultaneamente ligadas no objeto i e independentemente do estado do sujeito e não apenas na percepção por mais frequentemente que ela se repita 20 Todas as intuições sensíveis estão sob as categorias como únicas condições sob as quais o diverso das mesmas pode reunirse em uma consciência O diverso dado em uma intuição sensível se situa necessariamente sob a unidade sintética originária da apercepção pois somente por meio desta é possível a unidade da intuição 17 Aquela ação do entendi mento porém pela qual o diverso de representações dadas sejam B 142 B 143 135 intuições ou conceitos é posto sob uma apercepção em geral é a fun ção lógica dos juízos 19 Todo diverso portanto na medida em que seja dado em uma intuição empírica é determinado em relação a uma das funções lógicas de julgar qual seja aquela por meio da qual ele é trazido a uma consciência em geral Todas as categorias pois são jus tamente essas funções de julgar na medida em que o diverso de uma intuição dada é determinado em relação a elas 10 Assim também o diverso em uma intuição dada está necessariamente sob categorias b 144 21 Observação Um diverso contido em uma intuição que eu denomino minha é representado através da síntese do entendimento como pertencente à unidade necessáriada autoconsciência e esta acontece por meio da categoria13 Esta mostra portanto que a consciência empírica de um diverso dado em uma intuição se situa sob uma autoconsciência pura a priori do mesmo modo como a intuição empírica se situa sob uma intuição sensível pura que ocorre igualmente a priori Na pro posição acima se realiza assim o começo de uma dedução dos concei tos puros do entendimento na qual posto que as categorias surgem in dependentemente da sensibilidade no mero entendimento eu tenho ainda de fazer abstração do modo como o diverso é dado a uma intui ção empírica de modo a considerar apenas a unidade que se apresenta na intuição através do entendimento por meio das categorias Na sequência 26 será mostrado a partir do modo como a intuição B 145 empírica é dada na sensibilidade que a unidade da mesma não é ou tra senão aquela que a categoria prescreve para o diverso de uma in tuição dada em geral e assim por meio da explicação da sua validade a priori em relaçãcfa todos os objetos de nossos sentidos será inteira mente atingido pela primeira vez o propósito da dedução Eu só não pude na demonstração acima fazer abstração de uma coisa a saber que o diverso tem de ser dado para a intuição antes da síntese do entendimento e independentemente dela como isso aconte 13 A demonstração se baseia na unidade representada da intuição em que um objeto é dado a qual encerra sempre em si uma síntese do diverso dado a uma intuição e já contém a relação deste último à unidade da apercepção NA 136 ce porém permanece aqui indeterminado Se eu quisesse pensar um entendimento que intuísse por si mesmo como digamos um entendi mento divino que não se representasse objetos dados mas tivesse os próprios objetos dados ou produzidos através da sua representação então as categorias não teriam absolutamente nenhum significado em relação a tais conhecimentos Elas são apenas regras para um entendi mento cuja faculdade consiste inteiramente no pensar i e na ação de trazer à unidade da apercepção a síntese do diverso que lhe foi dado de outra parte na intuição um entendimento portanto que não co nhece nada por si mesmo mas apenas liga e organiza o material do co nhecimento a intuição que tem de ser dada a ele por meio do objeto Por que porém nosso entendimento tem a propriedade de só produzir a unidade da apercepção a priori por meio das categorias e apenas desse exato modo e segundo esse exato número das mesmas é algo que se pode explicar tão pouco quanto por que nós temos exatamente estas funções de julgar e não outras ou por que o tempo e o espaço são as únicas formas de nossa intuição possível 22 As categorias não têm outro uso para o conhecimento das coisas senão a sua aplicação aos objetos da experiência Pensar um objeto e conhecer um objeto não são a mesma coisa Ao conhecimento com efeito pertencem duas partes primeiramente o conceito a categoria por meio do qual é em geral pensado um objeto e em segundo lugar a intuição por meio da qual ele é dado pois se ao conceito não pudesse ser dada uma intuição correspon dente ele seria um pensamento segundo a forma mas sem nenhum objeto e através dele não seria possível nenhum conhecimento de al guma coisa pois até onde eu saiba não haveria nada nem poderia haver a que meu pensamento pudesse ser aplicado Ora toda intui ção possível para nós é sensível Estética portanto o pensamento de um objeto em geral só pode tornarse conhecimento em nós por meio de um conceito puro do entendimento na medida em que seja referido a objetos dos sentidos A intuição sensível é ou intuição pura espaço e tempo ou intuição empírica daquilo que é por meio da sensação re presentado imediatamente como real no espaço e no tempo Através da determinação da primeira nós podemos receber conhecimentos a priori de objetos na matemática mas como fenômenos apenas se B 146 B 147 137 gundo a sua forma ainda permanece aí indefinido porém se pode ha ver coisas que tenham de ser intuídas nessa forma Consequentemen te nenhum conceito matemático é um conhecimento pori mesmo a não ser que se pressuponha que há coisas que nós só podemos repre sentar em conformidade com a forma daquela intuição sensível pura Coisas no espaço e no tempo só são dadas porém na medida em que sejam percepções representações acompanhadas de sensação por tanto por meio de uma representação empírica Consequentemente os conceitos puros do entendimento só fornecem conhecimento mes mo quando aplicados a intuições a priori como na matemática na medida em que estas portanto também os conceitos do entendimen to por meio delas possam ser aplicados a intuições empíricas Tam bém as categorias por conseguinte não nos fornecem nenhum co nhecimento das coisas por meio da intuição a não ser por meio de sua possível aplicação a intuição empírica i e elas só servem para a possibilidade do conhecimento empírico Este porém denominase experiência Consequentemente as categorias não têm outro uso b 148 para o conhecimento das coisas a não ser na medida em que estas se jam tomadas como objetos da experiência possível 23 A proposição acima é da maior importância pois ela determina os limites do uso dos conceitos puros do entendimento em relação aos objetos do mesmo modo como a estética transcendental determinava os limites do uso da forma pura de nossa intuição sensível O espaço e o tempo só valiam como condições de possibilidade como os objetos podem sernos dados para os objetos dos sentidos portanto apenas para a experiência Para além desses limites eles não representam abso lutamente nada pois eles só estão nos sentidos e não têm qualquer rea lidade fora deles Os conceitos puros do entendimento são livres dessa limitação e se estendem aos objetos da intuição em geral seja esta se melhante à nossa ou não mas desde que seja sensível e não intelectual Esta maior extensão dos conceitos contudo para além de nossa intui ção sensível não nos ajuda em nada Pois nesse caso eles são conceitos vazios de objetos e destes nós não podemos julgar através daqueles sequer se são possíveis ou não meras formas do pensamento sem rea lidade objetiva pois não dispomos de nenhuma intuição a que a uni 138 dade sintética da apercepção que apenas aqueles possuem pudesse aplicarse e assim determinar um objeto Apenas a nossa intuição sen sível e empírica pode fornecerlhes sentido e significado Caso assim tomese como dado um objeto de uma intuição não sensível então se pode representálo através de todos os predicados já presentes na pressuposição que não se lhe oferecerá nada perten cente à intuição sensível que ele não seja extenso nem esteja no es paço que a sua duração não seja temporal que nele não se encontre nenhuma modificação sequência das determinações no tempo etc Ocorre apenas que isso não é um verdadeiro conhecimento na medida em que eu apenas indico como a intuição do objeto não é sem poder dizer o que estaria nele contido pois eu não me represento então ne nhuma possibilidade de um objeto para meus conceitos puros do en tendimento já que não posso dar nenhuma intuição que lhe correspon da mas apenas dizer que a nossa não vale para ele Mas o principal aqui é que a esse algo não se poderia aplicar nem uma única categoria por exemplo o conceito de uma substância i e de algo que pudesse existir como sujeito mas jamais como predicado pois eu absolutamen te não sei se pode haver alguma coisa que corresponda a essa determi nação do pensamento se uma intuição empírica não me der a oportu nidade de aplicálo Mas veremos mais sobre isso na sequência 24 Da aplicação das categorias aos objetos dos sentidos em geral Os conceitos puros do entendimento se referem através do mero entendimento a objetos da intuição em geral independentemente de esta ser a nossa ou alguma outra desde que seja sensível e justa mente por isso eles são meras formas do pensamento pelas quais não se conhece nenhum objeto determinado A síntese ou ligação do di verso nos mesmos se referia apenas à unidade da apercepção e era por isso o fundamento da possibilidade do conhecimento a priori na medida em que se baseava no entendimento e era portanto não ape nas transcendental mas também mera e puramente intelectual Co mo em nós porém reside a priori uma certa forma da intuição como fundamento a qual se baseia na receptividade da capacidade de repre sentação sensibilidade então o entendimento pode como esponta B 149 B 150 139 neidade determinar o sentido interno segundo a unidade sintética da apercepção através do diverso de representações dadas e assim pensar a priori a unidade sintética da apercepção do diyerso da intui ção sensível como a condição sob a qual têm de estar necessariamen te todos os objetos de nossa humana intuição Através disso as ca tegorias recebem então como meras formas do pensamento realida b 151 de objetiva i e aplicação a objetos que podem sernos dados na intui ção ainda que apenas como fenômenos pois somente estes nós so mos capazes de intuir a priori Essa síntese do diverso da intuição sensível que é a priori possí vel e necessária pode ser denominada figurativa synthesis specio sa de modo a diferenciála daquela que seria pensada nas meras cate gorias em relação ao diverso de uma intuição em geral e que se deno mina ligação do entendimento synthesis intellectmlis ambas são transcendentais não apenas porque precedem elas mesmas a priori a possibilidade de outros conhecimentos a priori mas também por que a fundam Apenas a síntese figurativa quando diz respeito à unidade origi nariamente sintética da apercepção i e a essa unidade transcenden tal que é pensada nas categorias pode denominarse à diferença da ligação meramente intelectual síntese transcendental da imaginação Imaginação é a faculdade de representar um objeto mesmo sem a sua presença na intuição Como no entanto toda a nossa intuição é sensível a imaginação pertence então à sensibilidade devido à única condição subjetiva sob a qual ela pode dar uma intuição correspon dente aos conceitos do entendimento na medida porém em que a sua síntese é um exercício da espontaneidade o qual é determinante b 152 e não como o sentido apenas determinável e pode portanto deter minar a priori o sentido de sua forma conformemente à unidade da apercepção a imaginação é então uma faculdade de determinar a sen sibilidade a priori e a sua síntese das intuições conforme às catego rias tem de ser a síntese transcendental da imaginação que é um efeito do entendimento sobre a sensibilidade e a primeira aplicação sua também fundamento de todas as demais aos objetos da intuição possível para nós Como figurativa ela se distingue da síntese intelec tual feita apenas através do entendimento sem nenhuma imaginação Na medida porém em que a imaginação é apenas espontaneidade eu 140 também a denomino provisoriamente imaginação produtiva diferen ciandoa assim da reprodutiva cuja síntese está submetida somente a leis empíricas quais sejam as da associação e que portanto nada acrescenta à explicação da possibilidade do conhecimento a priori e por isso pertence não à filosofia transcendental mas à psicologia Aqui é o lugar pois de tornar compreensível o paradoxo em que todos acabam por cair ao expor a forma do sentido interno 6 a sa ber como este nos apresenta até a nós mesmos na consciência ape nas como nos aparecemos e não como somos em nós mesmos pois de fato nós apenas nos intuímos tal como somos internamente afeta dos o que parece ser contraditório na medida em que temos de com portarnos como passivos em relação a nós mesmos donde a tendên cia nos sistemas da psicologia a considerar também o sentido inter no como idêntico à faculdade de apercepção da qual nós o diferenci amos cuidadosamente Aquilo que determina o sentido interno é o entendimento e a sua faculdade originária de ligar o diverso da intuição i e de colocálo sob uma apercepção como algo em que sua própria possibilidade se baseia Mas como em nós seres humanos o entendimento não é uma faculdade das intuições e não pode ainda que elas fossem dadas na sensibilidade tomálas em si mesmo para como que ligar o diverso de suas próprias intuições então a sua síntese se ele é considerado ape nas por si mesmo não é senão a unidade da ação de que ele é cons ciente mesmo sem a sensibilidade mas através da qual ele é capaz de determinar a própria sensibilidade internamente em relação ao di verso que pode ser dado a ele segundo a forma da intuição sensível Sob a denominação de uma síntese transcendental da imaginação portanto ele exercita uma ação sobre o sujeito passivo do qual ele próprio é uma faculdade em relação à qual podemos dizer com ra zão que por meio dela o sentido interno é afetado A apercepção e sua unidade sintética portanto certamente não são idênticas ao sen tido interno na medida em que aquela como fonte de toda ligação e sob o nome de categorias aplicase ao diverso das intuições em geral antes de qualquer intuição sensível aplicarse aos objetos em geral o sentido interno pelo contrário contém a mera forma da intuição sem B 153 B 154 141 ligação do diverso na mesma e portanto não contém nenhuma intui ção determinada a qual só é possível por meio da consciência da de terminação do mesmo pela ação transcendental da imaginação a in fluência sintética do entendimento sobre o sentido interno à qual denominei síntese figurativa Nós também percebemos esta última em nós a todo tempo Nós não podemos pensar linha alguma sem desenhála em pensamento não podemos pensar círculo algum sem delineálo não podemos de modo algum representar as três dimensões do espaço sem colocar três linhas perpendiculares entre si sobre um mesmo ponto e mesmo o tempo nós não podemos representar se não atentarmos apenas através do desenho de uma linha reta que deve ser a representação figurativa externa do tempo para a ação de síntese do diverso pela qual determinamos o sentido interno de maneira sucessiva e desse modo para a sucessão dessas determinações no mesmo O movimen B 155 to como ação do sujeito não como determinação de um objeto14 e portanto a síntese do diverso no espaço se fazemos abstração deste e só atentamos para a ação pela qual determinamos o sentido interno segundo a sua forma é o que primeiramente produz o próprio con ceito de sucessão O entendimento não encontra já no sentido inter no portanto alguma ligação do diverso mas antes a produz ao afe tálo Entender porém como o eu que pensa se distingue do eu que intui a si mesmo na medida em que posso representarme ao menos como possíveis outros modos de intuição sendo ao mesmo tempo idêntico a ele no sujeito como portanto eu posso dizer eu como in teligência e sujeito pensante conheçome a mim mesmo como o obje to pensado na medida em que sou dado a mim mesmo na intuição mas a exemplo de outros fenômenos Phänomene não como sou para o entendimento e sim como apareço para mim mesmo isso não é em si nem mais nem menos difícil do que entender como eu pos B 156 so ser em geral um objeto e de fato um objeto da intuição e da per 140 movimento de um objeto no espaço não pertence a uma ciência pura portanto não tam bém à geometria pois não se pode conhecer a priori que algo esteja em movimento mas ape nas por meio da experiência O movimento como descrição do espaço porém é um ato puro da síntese sucessiva do diverso em uma intuição externa em geral por meio da imaginação produtiva e portanto não pertence apenas à geometria mas também à filosofia transcen dental NA 142 cepção interna Que isso tenha de ser efetivamente assim contudo pode ser claramente explicitado caso se admita o espaço como uma mera forma pura dos fenômenos do sentido externo pelo fato de que nós só podemos tornar representável o tempo que não é ainda objeto al gum da intuição externa sob a figura de uma linha que desenhemos um modo de exposição sem o qual nós não poderíamos conhecer a uni dade de sua medida da mesma forma como temos sempre de extrair a determinação da duração do tempo ou também das posições temporais para todas as nossas percepções internas daquilo que as coisas externas nos apresentam como modificável e da mesma forma como temos consequentemente de ordenar as determinações do sentido interno como fenômenos no tempo exatamente do mesmo modo como ordena mos as determinações do sentido externo no espaço Se admitimos dos últimos portanto que através deles só conhecemos objetos na medida em que somos afetados externamente também temos de conceder quan to ao sentido interno que através dele nós só nos intuímos a nós mes mos tal como somos afetados intemamente por nós mesmos i e nós só conhecemos no que diz respeito à intuição interna nosso próprio sujei to como fenômeno mas não segundo o que ele é em si mesmo15 25 Na síntese transcendental do diverso das representações em ge ral por outro lado e portanto na unidade sintética originária da apercepção eu sou consciente não de mim mesmo como me apare ço nem como sou em mim mesmo mas apenas de que sou Esta re presentação é um pensar não um intuir16 Como para o conheci mento de nós mesmos no entanto também é requerido além da ação do pensamento que traz o diverso de cada intuição possível à 15 Eu não entendo como se pode encontrar tanta dificuldade em entender que o sentido inter no seja afetado por nós mesmos Cada ato da atenção pode nos dar um exemplo disso Nele o entendimento determina sempre o sentido interno em conformidade com a ligação que ele pensa a uma intuição interna que corresponda ao diverso na síntese do entendimento O quanto a mente seja desse modo comumente afetada é algo que qualquer um poderá perce ber em si NA 16 Como aqui excepcionalmente Kant usou o verbo substantivado A nschauen para um in tuir em vez de eine A nschauung uma intuição traduzimos também o ein D enken por um pensar contrariamente à nossa opção habitual de traduzir D enken por pensa mento NT B 157 143 unidade da apercepção um modo determinado da intuição pelo qual esse diverso é dado então a minha própria existência não é de fato B 158 um fenômeno mujto menos mera ilusão e a sua determinação17 só pode ocorrer em conformidade com a forma do sentido interno se gundo o modo singular pelo qual o diverso que eu ligo é dado na in tuição interna e de acordo com isso portanto eu não tenho conhe cimento de mim mesmo como sou mas apenas como me apareço a mim mesmo A consciência de si mesmo portanto está ainda longe de ser um conhecimento de si mesmo independentemente de todas as categorias as quais constituem o pensamento de um objeto em geral por meio da ligação do diverso em uma apercepção Do mesmo modo como para o conhecimento de um objeto distinto de mim eu necessito além do pensamento de um objeto em geral na catego ria também uma intqição por meio da qual determino aquele con ceito geral para o conhecimento de mim mesmo eu necessito além da consciência ou do fato de me pensar também uma intuição do diverso em mim através da qual determino esse pensamento e eu existo como uma inteligência que é consciente apenas de sua facul B 159 dade de ligação mas está submetida em relação ao diverso que tem de ligar a uma condição limitadora que ela denomina o senti do interno qual seja a de só poder tornar intuível aquela ligação através de relações de tempo que se situam inteiramente fora dos verdadeiros conceitos do entendimento e assim de só conhecerse a si mesma tal como aparece a si mesma em uma intuição que não pode ser intelectual ou dada através do próprio entendimento e não tal como se conheceria caso sua intuição fosse intelectual 170 eu penso expressa o ato de determinar minha existência A existência já está dada aí mas o modo pelo qual eu deveria determinála i e colocar em mim o diverso a ela pertencente ainda não está dado aí Para isso se exige a autointuição em cujo fundamento tem de haver uma forma dada a priori i e o tempo que é sensível e pertence à receptividade do determi nável Como não tenho uma outra autointuição contudo que antes do ato de determ inar desse em mim o determ inante do qual só tenho consciência no que diz respeito à sua es pontaneidade do mesmo modo como o tem po dá o determinável então não posso determi nar minha existência como um ser espontâneo mas apenas me represento a espontaneidade de meu pensar i e do determinar e minha existência permanece determinável apenas sen sivelmente i e como a existência de um fenômeno Esta espontaneidade porém faz com que eu me chame inteligência NA 144 26 Dedução transcendental do uso universalmente possível dos conceitos puros do entendimento na experiência Na dedução metafísica foi explicitada por meio de sua completa concordância com as funções lógicas universais do pensamento a ori gem das categorias a priori em geral na transcendental porém foi apresentada a possibilidade das mesmas como conhecimentos a priori de objetos de uma intuição em geral 20 21 Agora tem de ser expli cada a possibilidade de conhecer a priori por meio das categorias os objetos que só podem aparecer aos nossos sentidos não certamen te segundo a forma de sua intuição mas segundo as leis de sua ligação e portanto como que prescrever a lei à natureza e mesmo tornála pos sível Pois sem esta sua aptidão não se tornaria claro como tudo que pode apresentarse a nossos sentidos tenha de estar submetido a leis que somente surgem a priori do entendimento Antes de mais nada observo que por síntese da apreensão eu en tendo a composição do diverso em uma intuição empírica pela qual se torna possível a percepção i e a consciência empírica da mesma como fenômeno Nós temos a priori nas representações de espaço e tempo for mas tanto da intuição externa como da interna e a síntese da apreen são do diverso do fenômeno tem de ser sempre conforme a elas já que somente assim pode acontecer O espaço e o tempo contudo são representados a priori não apenas como formas da intuição sensível mas como intuições mesmas que contêm um diverso portanto com a determinação da unidade desse diverso neles vide a Estética Trans cendental18 Já a própria unidade da síntese do diverso portanto em nós ou fora de nós e assim também uma ligação que tem de ser con forme a tudo que deve ser determinadamente representado no espaço 18 Representado como objeto tal como de fato se requer na geometria o espaço contém mais do que a mera forma da intuição a saber a reunião do diverso dado em uma representação intuitiva segundo a forma da sensibilidade de tal modo que a form a da intuição fornece apenas o diverso mas a intuição form al fornece a unidade da representação Na Estética contei esta unidade como pertencente apenas à sensibilidade de modo a sublinhar que ela precede todo conceito apesar de pressupor uma síntese que não pertence aos sentidos pela qual todos os conceitos de espaço e tempo se tornam primeiramente possíveis Pois uma vez que por meio dela quando o entendimento determina a sensibilidade são dados em primei ro lugar o espaço ou o tempo como intuições então a unidade dessa intuição a priori per tence ao espaço e ao tempo e não ao conceito do entendimento 24 NAJ B 160 B 161 145 ou no tempo são igualmente dadas a priori juntamente com estas in tuições não nelas como condição da síntese de toda apreensão Esta unidade sintética porém não pode ser outra senão a da ligação do diverso de uma dada intuição em geral em uma consciência origi nária em conformidade com as categorias aplicada apenas à nossa intuição sensível Toda síntese por conseguinte pela qual a própria percepção se torna possível situase sob as categorias e como a expe riência é conhecimento por meio de percepções conectadas então as categorias são condições de possibilidade da experiência e valem a priori portanto também para todos os objetos da experiência B 162 Assim se eu transformo a intuição empírica de uma casa por exemplo por meio da apreensão do diverso da mesma em uma per cepção então eu tenho por fundamento a unidade necessária do es paço e da intuição sensível em geral e como que desenho a sua figura em conformidade com essa unidade sintética do diverso no espaço Se faço abstração da forma do espaço contudo essa mesma unidade sintética tem seu lugar no entendimento e é categoria da síntese do homogêneo em uma intuição em geral i e a categoria de quantida de à qual aquela síntese da apreensão i e a percepção tem de ser in teiramente conforme19 Se num outro exemplo percebo o esfriamento da água então eu apreendo dois estados como tais da fluidez e da solidez que estão em uma relação de tempo um com o outro No tempo porém que eu ponho como fundamento para o fenômeno enquanto intuição inter B 163 na eu me represento necessariamente a unidade sintética do diverso sem a qual aquela relação não poderia ser dada de maneira determi nada em relação 5 sucessão temporal em uma intuição Mas esta unidade sintética nada mais é enquanto condição a priori sob a qual eu ligo o diverso de uma intuição em geral se faço abstração da for ma permanente de minha intuição interna o tempo do que a catego ria de causa por meio da qual se a aplico à minha sensibilidade eu 19 De tal modo se prova que a síntese da apreensão que é empírica tem de ser necessariamen te conforme à síntese da apercepçáo que é intelectual e está contida inteiramente a priori na categoria É sempre a mesma espontaneidade que lá sob o nome de imaginação aqui de en tendimento introduz a ligação no diverso da intuição NA 146 determino tudo que acontece no tempo em geral segundo sua rela ção Em tal acontecimento pois a apreensão e portanto o próprio acontecimento no que diz respeito à percepção possível está sob o con ceito da relação de causa e efeito e assim em todos os demais casos As categorias são conceitos que prescrevem leis a priori aos fenô menos portanto à natureza enquanto conjunto completo de todos os fenômenos natura materialiter spectata e é de perguntarse então uma vez que não são derivadas da natureza e não se guiam por ela como seu modelo pois do contrário seriam meramente empíricas como se deve compreender que a natureza tenha de guiarse por elas i e como podem elas determinar a priori a ligação do diverso da na tureza sem extraíla desta Aqui está a solução desse enigma Que as leis dos fenômenos na natureza tenham de concordar com o entendimento e sua forma a priori i e sua faculdade de ligar o di verso em geral não é em nada mais estranho do que os próprios fenô menos terem de concordar com a forma a priori da intuição sensível Pois do mesmo modo como os fenômenos existem não em si mas apenas relativamente ao sujeito na medida em que este tem sentidos também as leis existem não nos fenômenos mas apenas relativamen te ao sujeito a que os fenômenos inerem na medida em que ele tem entendimento No caso de coisas em si mesmas a sua conformidade a leis lhes pertenceria necessariamente também fora de um entendi mento que as conhece Mas os fenômenos são apenas representações de coisas que existem sem que se tenha qualquer conhecimento da quilo que elas poderiam ser em si mesmas Como meras representa ções porém eles não estão submetidos a nenhuma lei de conexão além daquela que é prescrita pela faculdade de conexão Agora o que conecta o diverso da intuição sensível é a imaginação e ela depende do entendimento quanto à unidade de sua síntese intelectual e da sensibilidade quanto à diversidade da apreensão Como no entanto toda percepção possível depende da síntese da apreensão mas ela própria essa síntese empírica depende da transcendental portanto das categorias então todas as percepções possíveis portanto tudo aquilo que sempre pode chegar à consciência empírica i e todos os fenômenos da natureza têm de estar sob as categorias no que diz res B 164 B 165 147 peito à sua ligação categorias de que a natureza considerada ape nas como natureza em geral depende como do fundamento originá rio de sua necessária conformidade a leis como natura formaliter spectata Mas a faculdade pura do entendimento de prescrever leis a priori aos fenômenos por meio de meras categorias também não se estende a mais leis do que aquelas em que uma natureza em geral se baseia como conformidade a leis dos fenômenos no espaço e no tem po As leis particulares na medida em que se referem a fenômenos empiricamente determinados não podem ser inteiramente deriva das daí mesmo que em seu conjunto estejam sob aquelas Tem de ha ver experiência para em geral conhecer as últimas mas somente aquelas leis a priori ensinam sobre a experiência em geral e aquilo que pode ser conhecido como um objeto da mesma 27 Resultado dessa dedução dos conceitos do entendimento Nós não podemos pensar nenhum objeto senão por meio de cate gorias nós não podemos conhecer nenhum objeto pensado senão por meio de intuições que correspondam àqueles conceitos Ora todas as nossas intuições são sensíveis e este conhecimento na medida em que seu objeto seja dado é empírico O conhecimento empírico porém é b 166 experiência Consequentemente nenhum conhecimento a priori nos é possível a não ser apenas de objetos da experiência possível2 Esse conhecimento que se limita apenas aos objetos da experiên cia não é por isso contudo extraído por inteiro da experiência na verdade tanto as intuições puras como os conceitos puros do enten dimento são elementos do conhecimento que se encontram a priori em nós Só há dois caminhos no entanto em que pode ser pensada uma concordância necessária da experiência com os conceitos de seus objetos ou a experiência torna esses conceitos possíveis ou eles é 20 20 Para que ninguém se precipite de maneira apressada nas preocupantes consequências des vantajosas dessa proposição lembrarei apenas que as categorias não são limitadas no pen sam ento pelas condições de nossa intuição sensível mas têm antes um campo ilimitado e apenas o conhecim ento daquilo que nós pensamos demanda a determinação do objeto a in tuição quanto a onde na falta desta o pensamento de um objeto pode ter ainda suas verda deiras e úteis consequências para o uso da razão pelo sujeito uso este contudo que não se dirige à determinação do objeto portanto ao conhecimento mas sim à determinação do sujei to e de seu agir isto é algo que não pode ainda ser aqui apresentado NA j 148 que a tornam possível Do ponto de vista das categorias e da intuição sensível pura o primeiro não se verifica pois elas são conceitos a priori portanto independentes da experiência a afirmação de uma ori gem empírica seria uma espécie de generatio aequivoca Consequen temente sobra apenas o segundo como uma espécie de sistema da epigênese da razão pura a saber que as categorias contêm do lado do entendimento o fundamento da possibilidade de toda experiência em geral Quanto porém a como elas tornam a experiência possível e quais princípios da possibilidade da mesma elas fornecem em sua apli cação aos fenômenos isto será melhor explicado no próximo capítulo sobre o uso transcendental da faculdade de julgar Se alguém quisesse propor ainda um caminho intermediário en tre os dois caminhos mencionados qual seja que elas não seriam nem os primeiros princípios a priori de nosso conhecimento pensa dos espontaneamente nem criadas a partir da experiência mas sim disposições subjetivas para o pensar implantadas juntamente com nossa existência que o nosso criador teria organizado de tal modo que o seu uso coincidiria precisamente com as leis da natureza pelas quais a experiência se pauta uma espécie de sistema de préforma ção da razão pura então o que seria decisivo contra esse caminho intermediário além da circunstância de que nessa hipótese por mais que se estendesse a juízos futuros a pressuposição de uma disposição predeterminada não se pode prever qualquer fim seria o seguinte que em tais casos faltaria às categorias a necessidade que é essencial mente inerente a seu conceito Pois o conceito de causa por exemplo que enuncia a necessidade de um resultado sob uma condição pressu posta seria falso caso se baseasse apenas em uma necessidade subje tiva implantada em nós por acaso de ligar certas representações em píricas segundo tal regra de relação Eu não poderia dizer que o efei to está ligado à causa no objeto i e necessariamente mas sim que eu sou de tal modo organizado que não posso pensar essa representa ção de nenhum outro modo a não ser como assim conectada que é justamente o que quer o cético na maioria dos casos pois então todo o nosso discernimento através da suposta validade objetiva de nos sos juízos não seria mais do que mera ilusão e ele não faltaria nem mesmo às pessoas que não reconhecessem em si essa necessidade subjetiva que teria de ser sentida ao menos não se poderia querelar B 167 B 168 149 com ninguém sobre aquilo que se baseia apenas no modo como o seu sujeito é organizado Conceito resumido dessa dedução Ela é a exposição dos conceitos puros do entendimento e com eles de todo conhecimento teórico a priori como princípios da possi bilidade da experiência mas desta como determinação dos fenôme B 169 nos no espaço e no tempo em geral desta enfim a partir do princí pio da unidade originariamente sintética da apercepção como a for ma do entendimento em relação ao espaço e ao tempo como formas originárias da sensibilidade Apenas até aqui eu considero necessária a divisão em parágrafos pois tínhamos de lidar com os conceitos elementares Como agora queremos tornar compreensível o uso dos mesmos a apresentação poderá prosseguir numa concatenação contínua sem tal divisão Segundo capítulo Da dedução dos conceitos puros do entendimento Primeira seção continuação do texto da edição A A 84A 94 BH6 B 127 O parágrafo abaixo começava em A após o parágrafo que man tido em B termina com a oração a referência dos mesmos a um ob jeto qualquer não poderia ser de modo algum compreendida Há contudo três fontes originárias capacidades ou faculdades da alma que contêm as condições de possibilidade de toda a experiência e não podem elas próprias ser derivadas de nenhuma outra faculdade da mente quais sejam o sentido a imaginação e a apercepção Nelas se fundam 1 a sinopse a priori do diverso por meio do sentido 2 a síntese do diverso por meio da imaginação e finalmente 3 a unidade dessa síntese por meio da apercepção originária Todas essas faculda des têm além do uso empírico também um uso transcendental que apenas diz respeito à forma e é a priori possível Sobre os sentidos nós 150 já falamos acima na primeira parte e as outras duas nós tentaremos agora quanto à sua natureza discernir Segunda seçao Dos fundamentos a priori para a possibilidade da experiência Que um conceito deva ser gerado inteiramente a priori e refe rirse a um objeto embora não pertencendo ele próprio ao conceito de experiência possível nem consistindo em elementos de uma expe riência possível é completamente contraditório e impossível Pois ele não teria então conteúdo algum já que nenhuma intuição correspon deria a ele e são as intuições em geral pelas quais os objetos podem sernos dados que constituem o campo ou o objeto total da experiên cia possível Um conceito a priori que não se referisse a esta seria ape nas a forma lógica para um conceito mas não o próprio conceito pelo qual algo fosse pensado Se existem conceitos a priori portanto eles não podem de fato conter nada empírico mas têm de ser meras condições a priori para uma experiência possível como as únicas em que a realidade objetiva desta pode basearse Caso se queira saber então como são possíveis conceitos puros do entendimento é preciso investigar fazendo abstração de todo o empírico dos fenômenos quais as condições a priori de que depende a possibilidade da experiência e nas quais reside o seu fundamento Um conceito que expressa de forma universal e suficiente essa condi ção formal e objetiva da experiência se denominaria um conceito pu ro do entendimento Uma vez que eu tenha conceitos puros do enten dimento então posso muito bem conceber objetos que talvez impos síveis talvez possíveis em si mesmos não podem ser dados em expe riência alguma pois algo pode ser deixado de fora na conexão desses conceitos que no entanto pertence necessariamente à condição de uma experiência possível conceito de um espírito ou então os con ceitos puros do entendimento podem ser estendidos para além do que a experiência pode abarcar conceito de Deus É certo que os ele mentos para todos os conhecimentos a priori e mesmo para ficções arbitrárias e absurdas podem realmente não ser extraídos da expe riência pois do contrário não seriam conhecimentos a priori mas A 95 A 96 151 eles têm sempre de conter as condições puras a priori de uma expe riência possível e um objeto da mesma pois do contrário não apenas não se poderia pensar nada por meio deles mas eles mesmos não po deriam sem dados sequer surgir no pensamento São justamente esses conceitos porém que em cada experiência contêm a priori o pensamento puro que nós encontramos nas cate gorias e já será uma dedução suficiente dos mesmos e uma justifica A 97 ção de sua validade objetiva se pudermos provar que um objeto só pode ser pensado por meio deles Como em tal pensamento porém não é apenas a específica faculdade de pensar i e o entendimento quem está em operação e como mesmo este enquanto faculdade de conhecer que deve referirse a objetos necessita igualmente de um es clarecimento quanto a essa referência nós temos de considerar as fon tes subjetivas que constituem os fundamentos a priori da possibilida de da experiência não segundo sua constituição empírica mas primei ramente segundo sua constituição transcendental Se cada representação singular fosse inteiramente estranha às demais delas separada e como que isolada jamais surgiria algo como o conhecimento que é um todo de representações comparadas e co nectadas Se assim pelo fato de o sentido conter um diverso em sua intuição eu lhe atribuo uma sinopse a esta corresponde sempre uma síntese e a receptividade só pode tornar conhecimentos possíveis juntamente com a espontaneidade Esta é pois o fundamento de uma síntese tripla que aparece necessariamente em todo conheci mento qual seja a apreensão das representações como modificações da mente na intuição a reprodução das mesmas na imaginação e o seu reconhecimento no conceito Estas fornecem assim um cami nho para três fontes subjetivas do conhecimento as quais tornam a 98 possível o próprio entendimento e por meio dele toda experiência como um produto empírico do entendimento Observação preliminar A dedução das categorias está ligada a tantas dificuldades e for çada a penetrar tão fundo nos primeiros fundamentos da possibilidade de nosso conhecimento em geral que de modo a evitar a amplitude de uma teoria completa e ao mesmo tempo não deixar nada de fora em 152 uma tão necessária investigação eu julguei mais aconselhável nos quatro números seguintes mais preparar do que instruir o leitor e apenas nas três seções posteriores representar sistematicamente a ex posição desses elementos do entendimento Por essa razão até tal ponto o leitor não conseguirá livrarse da obscuridade que em um ca minho ainda inteiramente inexplorado é a princípio inevitável mas que deverá segundo espero ser esclarecida de modo inteiramente discernível nas referidas seções 1 Da síntese da apreensão na intuição Nossas representações podem surgir de onde for quer sejam efe tivadas através da influência de coisas externas ou por meio de cau sas internas quer tenham surgido a priori ou como fenômenos em piricamente como modificações da mente elas pertencem sempre ao sentido interno e todos os nossos conhecimentos como tais estão sempre subordinados à condição formal do sentido interno qual seja o tempo no qual eles têm de ser conjuntamente ordenados conecta dos e colocados em relações Esta é uma observação geral que se deve ter como base ao longo do que se segue Toda intuição contém em si um diverso que no entanto não seria representado como tal caso a mente na sucessão das impressões umas às outras não distinguisse o tempo pois cada representação enquan to contida em um instante não pode ser outra coisa senão uma uni dade absoluta Para pois que desse diverso se forme uma unidade da intuição como por exemplo na representação do espaço é necessá rio primeiro percorrer a diversidade e então apreendêla conjunta mente uma ação a que denomino a síntese da apreensão pois ela é dirigida diretamente à intuição e esta mesmo oferecendo de fato o di verso não pode jamais contêlo como tal em uma representação sem uma síntese que aí se apresente E essa síntese da apreensão tem de ser exercida também a priori i e em relação às representações que não são empíricas Pois sem ela nós não poderíamos ter a priori nem a representação do espaço nem a do tem po estas com efeito só podem ser engendradas através da síntese do diverso o qual é oferecido pela sensibilidade em sua receptividade ori ginária Nós temos portanto uma síntese pura da apreensão A 99 A 100 153 2 Da síntese da reprodução na imaginação É uma lei meramente empírica de fato aquela segundo a qual as representações que com frequência se seguem ou se associam umas às outras finalmente se reúnem e assim colocamse em uma cone xão pela qual mesmo sem a presença do objeto uma dessas represen tações produz uma passagem da mente à outra representação segun do uma regra constante Mas essa lei da reprodução pressupõe que os próprios fenômenos sejam efetivamente subordinados a tal regra e que no diverso de suas representações encontrese uma certa regra de associação ou sucessão pois sem isso nossa imaginação empírica não receberia jamais algo para fazer de acordo com sua faculdade e assim permaneceria oculta no interior de nossa mente como uma fa culdade morta e por nós desconhecida Se o cinabre fosse ora verme lho ora preto ora leve ora pesado se o homem se transformasse ora a íoi nesta ora naquela figura animal se ao longo do dia a terra fosse ora coberta de frutos ora de gelo e neve minha imaginação empírica não teria jamais ocasião face à representação da cor vermelha de receber o cinabre pesado entre os pensamentos ou se uma certa palavra se associasse ora a esta ora àquela coisa ou esta mesma coisa fosse de nominada ora assim ora de outro modo sem que vigorasse aí uma cer ta regra à qual os fenômenos se subordinassem por si mesmos não po deria acontecer então nenhuma síntese empírica da reprodução Tem de haver algo portanto que sendo o fundamento a priori de uma unidade sintética necessária dos fenômenos torne possível a própria reprodução dos mesmos Logo se percebe aqui contudo à medida que se reflita sobre isso que os fenômenos não são coisas em si mesmas mas o mero jogo de nossas representações as quais no fim das contas sãp reduzidas a determinações do sentido interno Se pudermos apenas explicitar que mesmo as nossas mais puras intui ções a priori não fornecem qualquer conhecimento a não ser na me dida em que contenham tal ligação do diverso que torna possível a síntese completa da reprodução então essa síntese da imaginação está mesmo antes de toda experiência fundada em princípios a prio ri e é preciso supor uma síntese transcendental pura da mesma como estando na base da própria possibilidade de toda experiência tal co a 102 mo pressupõe necessariamente a reprodutibilidade dos fenômenos Ora é evidente que quando desenho uma linha em pensamento ou 154 penso o tempo de um meiodia ao outro ou mesmo quando quero apenas representarme um certo número preciso primeiro necessa riamente captar uma após a outra no pensamento essas diversas re presentações Se ao contrário a representação precedente a primei ra parte da linha a parte precedente do tempo ou as unidades repre sentadas umas após as outras me escapasse sempre do pensamento e eu não pudesse reproduzila ao passar à representação seguinte não poderia surgir jamais uma representação integral nem nenhum dos pensamentos acima mencionados e nem mesmo as mais puras e primeiras representações fundamentais do espaço e do tempo A síntese da apreensão está portanto inseparavelmente ligada à síntese da reprodução E como aquela constitui o fundamento trans cendental da possibilidade de todos os conhecimentos em geral não apenas os empíricos mas também os puros a priori a síntese repro dutiva da imaginação pertence então às ações transcendentais da mente e tendo isso em vista nós gostaríamos de denominála tam bém a faculdade transcendental da imaginação 3 Da síntese do reconhecimento no conceito Sem a consciência de que aquilo que pensamos é exatamente o mesmo que pensávamos um instante antes toda reprodução na série das representações seria em vão Pois haveria uma nova representa ção no estado atual que não pertencia ao ato pelo qual ela teria sido gerada gradualmente e o diverso da mesma não constituía jamais um todo pois lhe faltaria a unidade que apenas a consciência pode ofere cerlhe Se ao contar eu esquecesse que as unidades que me escapam agora aos sentidos foram somadas por mim uma após a outra eu não conheceria a produção da multiplicidade por meio dessa sucessiva so ma de um a um e portanto nem tampouco o número pois este concei to reside tão somente na consciência dessa unidade da síntese A palavra conceito já poderia por si mesma conduzirnos a essa observação Pois ela é uma consciência que unifica o diverso repeti damente intuído e então reproduzido em uma representação Esta consciência pode muitas vezes ser fraca de tal modo que só a conec temos à produção da representação no resultado não no ato mesmo i e imediatamente independentemente dessa distinção contudo uma A 103 A 104 155 consciência mesmo que lhe falte clareza acentuada tem de estar sem pre presente e sem ela são impossíveis os conceitos e com eles o co nhecimento de objetos E aqui é necessário então tornar compreensível o que se enten de sob a expressão um objeto das representações Nós dissemos aci ma que os fenômenos mesmos não são senão representações sensíveis que do mesmo modo não devem ser consideradas em si mesmas como objetos fora do poder de representação O que se entende en tão quando se fala em um objeto correspondente ao conhecimento e portanto dele diferente É fácil discernir que esse objeto só poderia ser pensado como algo em geral X pois fora do conhecimento nós não temos nada que pudesse ser contraposto a esse conhecimento como correspondente a ele Nós achamos porém que o nosso pensamento da relação de to dos os conhecimentos a seu objeto traz consigo algo de necessário a saber que este seja considerado como aquilo que impede que os nos sos conhecimentos sejam ao acaso ou fortuitos fazendo antes com que sejam determinados a priori de um certo modo21 pois na medida em que eles devem referirse a um objeto eles têm de concordar entre A 105 si de modo igualmente necessário com relação a esse objeto i e possuir aquela unidade que constitui o conceito de um objeto Mas é claro que na medida em que só temos de lidar com o diver so de nossas representações e aquele X que lhes corresponde o obje to não é nada para nós já que deve ser algo distinto de todas as nos sas representações então a unidade que o objeto torna necessária não poderia ser outra coisa senão a unidade formal da consciência na síntese do diverso das representações Nós dizemos então nós conhe cemos o objeto quando tivermos efetuado unidade sintética no diver so da intuição Esta é impossível no entanto se a intuição não pôde 21 Esta específica passagem que este seja de um certo modo é tematizada por Mario Caimi no artigo Lateinische Strukturen in Kants Stil Mit besonderer Berücksichtigung der Erklä rung des Begriffes vom Gegenstand in KrV A 104 in PINZANI A ROHDEN V Critica da razão tradutora Sobre a dificuldade de traduzir Kant Florianópolis Nefiponline 2010 Seguindo a sua sugestão e em proximidade com sua solução na tradução para o espa nhol eliminamos a segunda negativa do texto alemão da nämlich dieser als dasjenige angesehen wird was dawider ist dass unsere Erkenntnisse nicht aufs Gerathewohl oder beliebig sondern a priori a u f gewisse Weise bestim m t sind NT 156 ser produzida por meio de tal função da síntese de acordo com uma regra a qual torna necessária a priori a reprodução do diverso e pos sibilita um conceito em que este diverso se unifica Assim nós pensa mos um triângulo como objeto na medida em que somos conscientes da composição de três linhas retas segundo uma regra pela qual tal intuição pode ser representada a qualquer momento Essa unidade da regra determina assim todo o diverso e o limita às condições que tornam possível a unidade da apercepção e o conceito dessa unidade é a representação do objeto X que eu penso através dos referidos predicados de um triângulo Todo conhecimento exige um conceito podendo este ser tão im perfeito ou obscuro como seja segundo sua forma porém ele é sem pre algo universal e que serve como regra Assim o conceito de corpo segundo a unidade do diverso que é pensada por meio dele serve de regra para o nosso conhecimento dos fenômenos externos Ele só pode ser uma regra das intuições contudo caso represente face a dados fenômenos a reprodução necessária do diverso dos mesmos portanto a unidade sintética na consciência deles Assim face à percepção de algo fora de nós o conceito de corpo torna necessária a representação da extensão e com ela da impenetrabilidade da figura etc Uma condição transcendental porém está no fundamento de to da necessidade Assim tem de haver um fundamento transcendental da unidade da consciência da síntese do diverso de todas as nossas in tuições portanto também dos conceitos de objetos em geral e por conseguinte também de todos os objetos da experiência fundamento sem o qual seria impossível pensar qualquer objeto para nossas intui ções pois este não é mais do que o algo de que o conceito expressa tal necessidade da síntese Mas essa condição originária e transcendental não é outra senão a apercepção transcendental A consciência de si mesmo a partir das determinações de nosso estado pela percepção interna é meramente empírica sempre modificável não pode fornecer um eu estável ou permanente nesse fluxo de fenômenos internos e é mais habitual mente denominada sentido interno ou apercepção empírica Aquilo que deve ser necessariamente representado como numericamente idêntico não pode enquanto tal ser pensado por meio de informa ções empíricas Ele tem de ser uma condição que antecede toda expe A 106 A 107 157 riência e a torna ela mesma possível a qual deve então tornar válida tal pressuposição transcendental Agora não pode haver quaisquer conhecimentos em nós nem qualquer conexão ou unidade dos mesmos entre si sem aquela unida de da consciência que antecede todos os dados das intuições e em re lação à qual é unicamente possível toda representação de objetos A esta consciência pura originária e imutável eu gostaria então de de nominar apercepção transcendental Que ela mereça esse nome fica claro pelo fato de que mesmo a mais pura unidade objetiva qual seja a dos conceitos a priori espaço e tempo só é possível por meio des sa referência das intuições a ela A unidade numérica dessa apercep ção portanto está a priori no fundamento de todos os conceitos do mesmo modo como a diversidade do espaço e do tempo está no funda mento das intuições da sensibilidade a 108 Mas é justamente essa unidade transcendental da apercepção que face a todos os fenômenos que podem sempre estar juntos em uma experiência concatena todas essas representações segundo leis Pois essa unidade da consciência seria impossível se a mente não pu desse no conhecimento do diverso tornarse consciente da identida de da função pela qual esse diverso é ligado sinteticamente em um co nhecimento Assim a consciência originária e necessária de si mesmo é ao mesmo tempo a consciência de uma unidade igualmente neces sária da síntese de todos os fenômenos segundo conceitos i e se gundo regras que não apenas os tornam necessariamente reprodutí veis mas determinam desse modo um objeto à sua intuição i e o conceito de algo em que eles se interconectam necessariamente pois seria impossível à mente pensar a unidade de si mesma no diverso de suas representações e de fato a priori se ela não tivesse em vista a identidade de sua ação que submete toda síntese da apreensão que é empírica a uma unidade transcendental e torna primeiramente possí vel a sua concatenação segundo regras a priori Agora nós podere mos determinar corretamente também nossos conceitos de um objeto em geral Todas as representações enquanto representações têm o seu objeto e podem por seu turno ser elas próprias objetos de outras A 109 representações Os fenômenos são os únicos objetos que podem ser nos dados imediatamente e aquilo que se refere imediatamente ao objeto se denomina intuição Ocorre que esses fenômenos não são coi 1 5 8 sas em si mesmas mas sim meras representações que por seu turno têm o seu objeto o qual portanto já não pode ser intuído por nós e por isso pode ser denominado o objeto não empírico i e transcen dental X O conceito puro desse objeto transcendental que de fato em to dos os nossos conhecimentos é sempre um único X é aquilo que em geral pode oferecer referência a um objeto i e realidade objeti va a todos os nossos conceitos empíricos Este conceito não pode to davia conter nenhuma intuição determinada e não implicará por tanto nada além daquela unidade que tem de estar presente no diver so do conhecimento caso ele esteja em relação com um objeto Esta relação porém não é outra coisa senão a unidade necessária da cons ciência portanto também da síntese do diverso através da função co mum da mente de ligálos em uma representação Agora como essa unidade tem de ser considerada como necessária a priori pois do contrário o conhecimento ficaria sem objeto então a referência a um objeto transcendental i e a realidade objetiva de nosso conhecimen to empírico irá basearse na lei transcendental segundo a qual todos os fenômenos na medida em que objetos devem sernos dados por meio deles têm de estar sob regras a priori da unidade sintética dos mesmos pelas quais se faz possível a sua relação na intuição empírica Ou seja eles têm de estar sob as condições necessárias da apercep ção na experiência do mesmo modo como na mera intuição têm de estar sob as condições formais do espaço e do tempo e de fato é so mente através daquelas que antes de mais nada um conhecimento se torna possível 4 4 Explicação provisória da possibilidade das categorias como co nhecimentos a priori É somente em uma experiência que todas as percepções são repre sentadas como concatenadas de maneira completa e conformemente a leis do mesmo modo como é apenas em um espaço e um tempo que têm lugar todas as formas do fenômeno e toda relação do ser ou não ser Quando se fala em diferentes experiências tratase apenas de tan tas outras percepções na medida em que pertencem a uma e mesma experiência universal A unidade completa e sintética das percepções é A l i o 159 justamente o que constitui a forma da experiência e esta não é outra coisa senão a unidade sintética dos fenômenos segundo conceitos a u i A unidade da síntese segundo conceitos empírícoí seria inteira mente fortuita e se estes não se baseassem em um fundamento trans cendental da unidade seria possível que uma enxurrada de fenôme nos enchesse nossa alma sem que se pudesse jamais formar uma ex periência a partir disso Neste caso contudo também se perderia toda relação do conhecimento a objetos pois a ele faltaria a conexão segundo leis universais e necessárias e portanto ele seria quando muito uma intuição sem pensamento mas jamais conhecimento e as sim absolutamente nada para nós As condições a priori de uma experiência possível em geral são ao mesmo tempo condições de possibilidade dos objetos da experiên cia Eu afirmo então as categorias acima apresentadas são tão so mente as condições do pensamento em uma experiência possível do mesmo modo como o espaço e o tempo contêm as condições da in tuição para a mesma experiência Elas também são portanto concei tos fundamentais para pensar objetos em geral para os fenômenos e têm assim validade objetiva a priori que é o que efetivamente que ríamos saber A possibilidade no entanto e mesmo a necessidade dessas cate gorias baseiase na relação que a sensibilidade como um todo e com ela também todos os fenômenos possíveis mantêm com a apercepção originária em que tudo tem de ser necessariamente conforme às con A 112 dições da unidade completa da autoconsciência i e estar sob as fun ções universais da síntese mais especificamente da síntese segundo conceitos como a única em que a apercepção pode provar a sua com pleta e necessáriaidentidade a priori Assim o conceito de uma cau sa não é senão uma síntese segundo conceitos daquilo que se segue na série temporal juntamente com outros fenômenos e sem tal uni dade que tem suas regras a priori e subordina a si os fenômenos não se encontraria uma unidade completa universal e portanto necessá ria da consciência no diverso das percepções Estas porém também não pertenceriam a experiência alguma e consequentemente ficariam sem objeto e não seriam nada além de um jogo cego das representa ções i e menos do que um sonho 160 Todas as tentativas de derivar aqueles conceitos puros do enten dimento da experiência e de atribuirlhes uma mera origem empírica são portanto inteiramente vãs e dispensáveis Não vou sequer consi derar por exemplo que o conceito de uma causa traz consigo a marca da necessidade que nenhuma experiência pode dar ainda que nos en sine de fato que algo se segue de maneira habitual a um fenômeno mas não que teria de seguirlhe necessariamente nem que se poderia a priori e com absoluta universalidade deduzir dele como uma con dição o resultado Aquela regra empírica da associação porém que se tem sempre de assumir quando se diz que na série sucessiva dos acontecimentos tudo está de tal modo sob regras que nunca aconte ce algo que não seja antecedido por algo a partir do qual ele sempre se segue se ela é uma lei da natureza pergunto eu em que se baseia ela E como é possível essa associação mesma Na medida em que re side no objeto o fundamento da possibilidade da associação do diver so se denomina afinidade do diverso Eu pergunto então como é que vocês conseguem compreender a afinidade completa dos fenôme nos de modo que eles estejam sob regras constantes e tenham de submeterse a elas Segundo meus princípios ela é perfeitamente compreensível To dos os fenômenos possíveis pertencem como representações à intei ra autoconsciência possível Desta porém como uma representação transcendental a identidade numérica é inteiramente inseparável e a priori certa pois nada pode entrar no conhecimento sem passar por essa apercepção originária Como essa identidade numérica contudo na medida em que precisa tornarse conhecimento empírico tem de entrar necessariamente na síntese de todo diverso dos fenômenos en tão os fenômenos estão submetidos a condições a priori às quais a sua síntese da apreensão tem de ser inteiramente conforme Agora a representação de uma condição universal sob a qual pode ser posto um certo diverso portanto de um mesmo e único modo denominase uma regra e se ele tem de ser assim posto uma lei Todos os fenôme nos portanto estão em uma conexão completa segundo leis necessá rias e assim em uma afinidade transcendental da qual a afinidade empírica é mera consequência Que a natureza se regule pelos nossos fundamentos subjetivos da apercepção e mesmo que deva depender deles no que diz respeito à A 113 A 114 161 sua conformidade a leis soa certamente sem sentido e bastante estra nho Caso se pondere porém que essa natureza não é nada em si mes ma a não ser um conjunto de fenômenos não portantouma coisa em si mas apenas uma variedade de representações da mente não é de se admirar que apenas na faculdaderaiz de todo o nosso conhecimento qual seja a apercepção transcendental se possa vêla naquela unidade graças à qual ela pode denominarse objeto de toda experiência possí vel i e natureza e que justamente por isso nós também possamos co nhecer essa unidade a priori portanto também como necessária algo de que teríamos de desistir caso ela fosse dada em si independente mente das primeiras fontes de nosso pensamento Pois eu não saberia então de onde retirar a proposição sintética de tal unidade universal da natureza já que em tal caso se teria de tomála emprestada dos objetos da própria natureza Como isto porém só poderia ocorrer empirica mente eu não poderia extrair outra coisa daí senão uma unidade ape nas contingente a qual no entanto não alcança nem de longe a inter conexão necessária qiie se denota quando se fala de natureza A 115 Terceira seção Da relação do entendimento a objetos em geral e da possibilidade de conhecêlos a priori Aquilo que apresentamos separada e isoladamente na seção an terior nós gostaríamos agora de apresentar unificada e concatena damente Há três fontes subjetivas de conhecimento em que se baseiam uma experiência em geral e o conhecimento dos objetos da mesma sen tido imaginação e apercepção cada uma das quais podendo ser considerada empiricamente ou seja na aplicação a fenômenos da dos mas todas elas constituindo também elementos ou fundamen tos a priori que fornam possível esse uso empírico mesmo O senti do pressupõe os fenômenos empiricamente na percepção a imagi nação os pressupõe na associação e reprodução e a apercepção na consciência empírica da identidade dessas representações re produtivas com os fenômenos por meio dos quais elas foram dadas portanto no reconhecimento O fundamento da percepção conjunta porém é constituído a prio ri pela intuição pura e em relação a ela como representação a forma a 116 da intuição interna o tempo o da associação pela síntese pura da 162 imaginação e o da consciência empírica pela apercepção pura i e pela identidade completa de si mesma em todas as representações possíveis Se quisermos todavia seguir o fundamento interno dessa cone xão das representações até aquele ponto em que todas elas têm de convergir de modo a obterem sobretudo a unidade do conhecimento para uma experiência possível então devemos começar aqui pela aper cepção pura As representações não são nada para nós e não nos di zem minimamente respeito se não podem quer entrando direta quer indiretamente ser captadas na consciência e somente através disso é possível o conhecimento Nós somos conscientes a priori da identida de completa de nós mesmos em relação a todas as representações que possam pertencer algum dia a nosso conhecimento como uma condição necessária da possibilidade de todas as representações pois estas só representam algo em mim na medida em que pertençam a uma consciência juntamente com todas as outras portanto na medi da em que pelo menos possam ser assim conectadas Este princípio é a priori seguro e pode ser denominado o princípio transcendental da unidade de todo diverso de nossas representações portanto tam bém na intuição Como no entanto a unidade do diverso em um su jeito é sintética a apercepção pura fornece um princípio da unidade sintética do diverso em toda intuição possível22 22 Devese dar a maior atenção a essa proposição que é de grande importância Todas as repre sentações têm uma referência necessária a uma possível consciência empírica pois se elas não a tivessem e fosse impossível tornarse consciente delas isto significaria simplesmente que elas não existem Toda consciência empírica no entanto tem uma referência necessária a uma consciência transcendental antecedente a toda experiência singular qual seja a consciência de mim mesmo como a apercepção originária E absolutamente necessário por tanto que em meus conhecimentos toda consciência pertença a uma consciência de mim mesmo Aqui porém tratase de uma unidade sintética do diverso consciência que é co nhecida a priori e assim fornece diretamente o fundamento das proposições sintéticas a priori que dizem respeito ao pensamento puro do mesmo modo como o espaço e o tempo fornecem o fundamento daquelas proposições que concernem à forma da mera intuição A proposição sintética de que toda consciência empírica diferente tem de ser ligada em uma única autoconsciência é o princípio sintético e absolutamente primeiro de nosso pensamen to em geral Não se deve perder de vista contudo que a simples representação eu é em rela ção a todas as outras cuja unidade coletiva ela toma possível a consciência transcendental Pouco importa aqui se essa representação é clara consciência empírica ou obscura ou mes mo se é efetiva mas a possibilidade da forma lógica de todo conhecimento se baseia necessa riamente na relação a essa apercepção como uma faculdade NA A 117 163 A 118 Essa unidade sintética porém pressupõe ou envolve uma sínte se e se no primeiro caso ela tem de ser necessária a priori no último ela também tem de ser uma síntese a priori A unidade transcenden tal da apercepção se refere à síntese pura da imaginação portanto como uma condição a priori da possibilidade de qualquer composi ção do diverso em um conhecimento Somente a síntese produtiva da imaginação contudo pode ter lugar a priori pois a reprodutiva se baseia nas condições da experiência Assim o princípio da unidade necessária da síntese pura produtiva da imaginação antes da aper cepção é o fundamento da possibilidade de todo conhecimento em especial da experiência Agora a síntese do diverso na imaginação só é denominada trans cendental se independentemente das intuições não diz respeito a na da a priori senão à ligação do diverso e a unidade dessa síntese se de nomina transcendental quando é representada como a priori necessá ria em relação à unidade originária da apercepção E como esta última constitui o fundamento da possibilidade de todos os conhecimentos a unidade transcendental da síntese da imaginação é então a forma pura de todo conhecimento possível através da qual portanto têm de ser representados a priori todos os objetos da experiência possível A 119 Em relação à síntese da imaginação a unidade da apercepção é o entendimento e em relação à síntese transcendental da imagi nação essa mesma unidade é o entendimento puro Há no entendi mento portanto conhecimentos puros a priori que contêm no que diz respeito a todos os fenômenos possíveis a unidade necessária da síntese pura da imaginação Mas tais conhecimentos são as categorias i e os conceitos puros do entendimento logo a capacidade do ho mem para o conhecimento empírico contém necessariamente um en tendimento que se refere a todos os objetos dos sentidos ainda que apenas por meio da intuição e da síntese dos mesmos pela imagina ção objetos sob os quais portanto situamse todos os fenômenos enquanto dados para uma experiência possível Como então essa re ferência dos fenômenos à experiência possível é também necessária pois sem esta nós não obteríamos qualquer conhecimento por meio deles nem teriam eles nada que ver conosco seguese que o entendi mento puro é por meio das categorias um princípio formal e sintéti co de todas as experiências e que os fenômenos têm uma relação ne cessária ao entendimento 164 Buscaremos agora começando de baixo para cima i e a partir do empírico chamar a atenção para a interconexão necessária entre o entendimento e os fenômenos A primeira coisa que nos é dada é o fe nômeno que se denomina percepção quando ligado à consciência sem a relação a uma consciência pelo menos possível o fenômeno não poderia jamais tornarse um objeto do conhecimento para nós portanto não seria nada para nós e como não tem nenhuma realida de objetiva em si mesmo e só existe no conhecimento não seria nada de um modo geral Uma vez porém que todo fenômeno contém um diverso e portanto as diferentes percepções em si mesmas dispersas encontramse isoladas na mente é necessária uma ligação das mes mas que não se daria nos próprios sentidos Há em nós portanto uma faculdade ativa da síntese desse diverso à qual denominamos imaginação e a cuja ação exercida imediatamente nas percepções eu denomino apreensão23 A imaginação deve com efeito colocar o di verso da intuição em uma imagem antes disso no entanto ela tem de captar as impressões em sua atividade i e apreendêlas É evidente contudo que mesmo essa apreensão do diverso não produziria por si mesma uma imagem nem uma concatenação das im pressões se não houvesse um fundamento subjetivo para reconectar uma percepção da qual a mente já passou para outra à percepção subsequente e assim apresentar séries inteiras das mesmas i e uma faculdade reprodutiva da imaginação que por seu turno é tam bém apenas empírica Caso no entanto as representações se reproduzissem umas às outras indistintamente tal como casualmente se juntam não se esta beleceria uma determinada interconexão entre elas nem portanto um conhecimento mas apenas um ajuntamento desordenado das mês mas Sendo assim a reprodução das mesmas tem de ter uma regra pela qual uma representação se liga na imaginação mais a esta do que àquela outra Este fundamento subjetivo e empírico da reprodu ção segundo regras é denominado associação das representações 23 Que a imaginação seja ela própria um ingrediente necessário da percepção não foi até aqui concebido por nenhuma psicologia Isto se deve de um lado a que se limitava essa faculdade somente às reproduções e de outro a que se acreditava que os sentidos não apenas nos for neceriam impressões mas também as reuniriam e produziriam imagens dos objetos para o que se exige além da receptividade das impressões também algo mais a saber uma função da síntese das mesmas NA A 120 A 121 165 Agora se essa unidade da associação não tivesse também um fun damento objetivo de modo que fosse impossível os fenômenos serem apreendidos de outro modo pela imaginação a não ser sob a condi ção de uma unidade sintética possível dessa apreensão então tam bém seria inteiramente casual que os fenômenos entrassem em uma interconexão dos conhecimentos humanos Pois mesmo que tivésse A122 mos a faculdade de associar percepções permaneceria em si mesmo inteiramente indeterminado e fortuito se elas também seriam associá veis e caso não fossem então seria possível uma variedade de per cepções e mesmo uma sensibilidade inteira em que se poderia en contrar muito de consciência empírica em minha mente mas de ma neira separada e sem fazer parte de uma consciência de mim mesmo o que no entanto é impossível Pois somente por atribuir todas as percepções a uma consciência da apercepção originária posso eu di zer em todas as percepções que sou delas consciente Tem de haver um fundamento objetivo portanto i e um tal que seja discernível a priori anteriormente a todas as leis empíricas da imaginação no qual se baseie a possibilidade e mesmo a necessidade de uma lei que se es tenda por todos os fenômenos e pela qual com efeito eles devem ser considerados todos eles como dados dos sentidos que são em si asso ciáveis e submetidos a regras universais de uma conexão completa na re produção A este fundamento objetivo de toda associação dos fenôme nos eu denomino afinidade dos mesmos Não podemos encontrálo em parte alguma contudo a não ser no princípio da unidade da apercep ção em relação a todos os conhecimentos que devem pertencerme Se gundo este todos os fenômenos sem exceção têm de chegar à mente ou ser por ela apreendidos de tal modo que concordem com a unidade da apercepção o que seria impossível sem a unidade sintética em sua conexão a qual portanto é também objetivamente necessária a 123 A unidade objetiva de toda consciência empírica em uma cons ciência da apercepção originária é assim a condição necessária até mesmo de toda percepção possível e a afinidade de todos os fenôme nos próxima ou remota é a consequência de uma síntese na imagina ção que se funda a priori em regras A imaginação portanto é também a faculdade de uma síntese a priori graças à qual lhe damos o nome de imaginação produtiva e na medida em que com relação a todo diverso do fenômeno ela só tenha 166 por propósito a unidade necessária na síntese do mesmo esta pode ser denominada a função transcendental da imaginação É de estra nhar pois mas também evidente pelo que foi dito que somente por meio dessa função transcendental da imaginação sejam possíveis a afinidade mesma dos fenômenos com ela a associação e por fim através desta a reprodução segundo leis e portanto a própria expe riência pois sem ela os conceitos de objetos não convergiriam de modo algum em uma experiência Pois o eu estável e permanente da apercepção pura constitui o correlato de todas as nossas representações na medida em que seja simplesmente possível tornarse consciente delas e toda consciência pertence a uma apercepção pura que a tudo engloba do mesmo modo como toda intuição sensível enquanto representação pertence a uma intuição interna pura qual seja o tempo Mas é justamente essa apercepção que tem de juntarse à imaginação pura para tornar intelectual a sua função Pois a síntese da imaginação mesmo que exercida a priori é sempre em si mesma sensível já que só liga o di verso tal como ele aparece na intuição como por exemplo a figura de um triângulo Por meio da relação do diverso à unidade da aper cepção no entanto podem ser produzidos conceitos que pertencem ao entendimento ainda que apenas através da imaginação e em rela ção à intuição sensível Nós temos portanto como faculdade fundamental da alma hu mana uma imaginação pura que está na base de todo conhecimento a priori Por meio dela nós ligamos o diverso da intuição de um lado com de outro a condição da unidade necessária da apercepção pura Os dois polos opostos quais sejam a sensibilidade e o entendimento têm de concatenarse necessariamente por meio dessa função trans cendental da imaginação pois àquela de outro modo seriam dados fenômenos mas não objetos de um conhecimento empírico portanto nenhuma experiência A verdadeira experiência que consiste na apre ensão na associação da reprodução e finalmente no reconhecimen to dos fenômenos contém no último e no mais elevado dos elemen tos meramente empíricos da experiência conceitos que tornam pos sível a unidade formal da experiência e com ela toda a validade obje tiva verdade do conhecimento empírico Tais fundamentos do reco nhecimento do diverso na medida em que só digam respeito à forma A 124 A 125 167 de uma experiência em geral são justamente aquelas categorias Ne las se fundam portanto toda unidade formal na síntese da imaginação e por meio desta também todo uso empírico das mesmas no reconhe cimento na reprodução na associação na apreensão descendo até os fenômenos pois estes só podem pertencer ao conhecimento e em ge ral à consciência portanto a nós mesmos através daqueles elementos Somos nós portanto que introduzimos nos fenômenos a ordem e a regularidade a que denominamos natureza e não poderíamos en contrála neles se nós ou a natureza de nossa mente não a tivéssemos originariamente introduzido Pois essa unidade da natureza deve ser uma unidade necessária i e a priori certa da conexão dos fenôme nos Como poderíamos nós contudo colocar uma unidade sintética a priori em operação se os fundamentos subjetivos dessa unidade não estivessem contidos apriori nas fontes cognitivas originárias de nossa mente e se estas condições subjetivas não fossem ao mesmo tempo a 126 objetivamente válidas constituindo os fundamentos da possibilidade de em geral conhecer um objeto na experiência Nós explicamos o entendimento acima de muitas maneiras atra vés de uma espontaneidade do conhecimento por oposição à recepti vidade da sensibilidade através de uma faculdade de pensar ou tam bém de uma faculdade dos conceitos ou ainda dos juízos explica ções estas que bem pesadas reduzemse a uma Nós podemos agora caracterizálo como a faculdade das regras Esta caracterização é mais frutífera e se aproxima mais do essencial A sensibilidade nos dá for mas da intuição o entendimento nos dá regras Este está sempre ocupado em examinar os fênomenos com o intuito de encontrarlhes alguma regra Na medida em que são objetivas e portanto necessa riamente inerente ao conhecimento do objeto as regras se denomi nam leis Por mais que conheçamos muitas leis por meio da experiên cia estas são apenas determinações singulares de leis ainda mais ele vadas dentre as quais as mais elevadas sob as quais todas as demais se situam se originam a priori do próprio entendimento e não são ex traídas da experiência mas antes fornecem aos fenômenos a sua con formidade a leis e justamente por isso têm de tornar a experiência possível O entendimento portanto não é apenas uma faculdade de produzir leis por meio da comparação dos fenômenos ele é a própria legislação para a natureza Ou seja sem o entendimento não haveria 1 6 8 qualquer natureza i e unidade sintética do diverso dos fenômenos segundo regras pois os fenômenos não podem como tais ter lugar fora de nós mas apenas existem em nossa sensibilidade Esta contu do enquanto objeto do conhecimento em uma experiência juntamen te com tudo aquilo que possa conter só é possível na unidade da aper cepção A unidade da apercepção porém é o fundamento transcen dental da conformidade a leis de todos os fenômenos em uma expe riência E essa mesma unidade da apercepção é em relação a um di verso das representações que ela determina sob um único a regra e a faculdade dessas regras do entendimento Todos os fenômenos pois como experiências possíveis repousam a priori no entendimen to e dele recebem sua possibilidade formal do mesmo modo como enquanto meras intuições repousam na sensibilidade e no que diz respeito à forma somente através dela são possíveis Dizer pois que o entendimento é ele próprio a fonte das leis da natureza e portanto da unidade formal da natureza pode soar bas tante exagerado e absurdo mas se trata ao mesmo tempo de uma afir mação correta e conforme ao objeto qual seja a experiência Enquan to tais as leis empíricas certamente não podem derivar sua origem do entendimento puro do mesmo modo como a incomensurável diversi dade dos fenômenos não pode ser inteiramente compreendida a par tir da forma pura da intuição sensível Todas as leis empíricas contu do são apenas determinações particulares das leis puras do entendi mento as únicas sob as quais e segundo cuja norma aquelas são sim plesmente possíveis e os fenômenos assumem uma forma de lei do mesmo modo como todos os fenômenos independentemente da va riedade de suas formas empíricas têm de ser sempre conformes às condições da forma pura da sensibilidade Nas categorias portanto o entendimento puro é a lei da unida de sintética de todos os fenômenos e assim torna a experiência pos sível primeira e originariamente no que diz respeito à sua forma Nós não tínhamos de conseguir mais todavia na dedução transcen dental das categorias do que essa relação do entendimento à sensi bilidade e por meio dela a todos os objetos da experiência portan to não mais do que tornar compreensível a validade objetiva de seus conceitos puros a priori e desse modo estabelecer firmemen te a sua origem e verdade A 127 A 128 169 Representação sumária da correção e única possibilidade des sa dedução dos conceitos puros do entendimento Se os objetos com que lida nosso conhecimento TosSem coisas em si mesmas nós não poderíamos ter deles quaisquer conceitos a prio ri Pois de onde deveríamos extraílos Se os extraíssemos do objeto A 129 sem sequer investigar como este poderia tornarse conhecido para nós nossos conceitos seriam meramente empíricos e não a priori Se os extraíssemos de nós mesmos aquilo que está apenas em nós não poderia determinar a constituição de um objeto diferente de nos sas representações i e não poderia ser uma razão pela qual devesse existir uma coisa que corresponde a algo que temos no pensamento em vez de estas representações serem todas vazias Se pelo contrá rio nós só temos de lidar com fenômenos por toda parte então é não apenas possível mastambém necessário que certos conceitos antece dam a priori o conhecimento empírico dos objetos Pois como fenô menos eles constituem um objeto que está apenas em nós na medida em que uma mera modificação de nossa sensibilidade fora de nós não pode absolutamente ser encontrada E essa representação mesma se gundo a qual todos esses fenômenos portanto todos os objetos com que podemos ocuparnos estão inteiramente em mim i e são deter minações de meu eu idêntico exprime assim como necessária uma identidade completa dos mesmos em uma única apercepção Nessa unidade da consciência possível porém repousa também a forma de todo conhecimento dos objetos pela qual o diverso é pensado como pertencente a um objeto Einem Object2 Assim o modo como o di verso da representação possível intuição pertence a uma consciên cia antecede como forma intelectual do objeto todo conhecimento do mesmo e de fato constitui por si mesmo a priori um conheci A130 mento formal de iodos os objetos em geral na medida em que estes são pensados categorias A síntese dos mesmos através da imagina ção pura e a unidade de todas as representações em relação à aper cepção originária antecedem todo conhecimento empírico Os concei tos puros do entendimento só são a priori possíveis portanto e mes mo necessários em relação à experiência porque nosso conhecimen 24 24 Aqui Kant usou a palavra Object precedida do pronome indefinido einem normalmente mi núsculo grafado em caixa alta NTJ 170 to lida apenas com fenômenos cuja possibilidade reside em nós mes mos cuja conexão e unidade na representação de um objeto se en contram apenas em nós e que assim antecedem toda experiência e no que diz respeito à forma têm também de tornála primeiramente possível E foi a partir desse fundamento o único possível dentre to dos que se conduziu também a nossa dedução das categorias SEGUNDO LIVRO A ANALÍTICA DOS PRINCÍPIOS A lógica geral está edificada sobre um plano que corresponde perfeitamente à divisão das faculdades superiores do conhecimento Estas são o entendimento a faculdade de julgar e a razão Em sua analítica portanto aquela doutrina lida com conceitos juízos e infe rências em conformidade com as funções e a ordem daquelas capaci dades mentais que em geral se compreendem sob a ampla denomina ção de entendimento em geral Como a referida lógica meramente formal abstrai de todo conteúdo do conhecimento seja este puro ou empírico e se ocupa apenas com a forma do pensamento em geral do conhecimento discursivo ela pode conter em sua parte analítica também o cânone para a razão cuja for ma tem uma prescrição segura que pode ser discernida a priori atra vés da mera decomposição das ações da razão em seus momentos sem levarse em consideração a natureza particular do conhecimento utilizado Por ser limitada a um conteúdo determinado qual seja apenas os conhecimentos puros a priori a lógica transcendental não po de imitar a lógica geral nessa divisão Pois se faz evidente que o uso transcendental da razão não é de modo algum objetivamente válido e portanto não pertence à lógica da verdade i e à analíti ca mas exige antes como lógica da ilusão uma parte especial do edifício doutrinal escolástico a qual tem por nome dialética trans cendental Assim o entendimento e a faculdade de julgar têm o cânone do seu uso objetivamente válido portanto verdadeiro na lógica transcen dental e pertencem portanto à sua parte analítica Mas a razão em suas tentativas de produzir algo a priori sobre objetos e estender o co B 169 B 170 171 B 171 nhecimento para além dos limites da experiência possível é inteira mente dialética e suas afirmações ilusórias não se adequam a um câ none que é no entanto o que aanalítica deve conter A analítica dos princípios será portanto tão somente um câno ne para a faculdade de julgar um cânone que a ensina a aplicar aos fenômenos os conceitos puros do entendimento os quais contêm a condição para regras a priori Por essa razão eu me servirei da deno minação doutrina da faculdade de julgar ao tomar como tema os ver dadeiros princípios do entendimento de modo a caracterizar esse empreendimento com maior precisão Introdução Da faculdade transcendental de julgar em geral Se o entendimento em geral é definido como a faculdade das re gras a faculdade de julgar é então a faculdade de subsumir sob re gras i e de distinguir se algo está sob uma dada regra casus datae legis ou não A lógica geral não contém qualquer prescrição para a faculdade de julgar nem poderia contêla Como ela abstrai de todo conteúdo do conhecimento não lhe resta nada portanto senão a ta refa de dividir analiticamente a mera forma do conhecimento em con B 172 ceitos juízos e inferências e assim estabelecer regras formais para todo uso do entendimento Agora se ela pretendesse mostrar em ter mos gerais como se deve subsumir sob tais regras i e distinguir se algo está sob elas ou não isso não poderia por seu turno ocorrer de outro modo senão por meio de uma regra Justamente por ser uma re gra contudo esta última exige novamente uma instrução da faculdade de julgar e assim se mostra que embora o entendimento possa ser en sinado e abastecido por meio de regras a faculdade de julgar é um ta lento especial que certamente não pode ser ensinado mas tem de ser exercitado Este é por isso também o que há de específico na chama da inteligência inata cuja falta não pode ser suprida por escola algu ma pois ainda que esta possa encher um entendimento limitado de regras emprestadas ao discernimento de outrem e como que enxer tálas nele a faculdade de servirse corretamente delas tem de perten cer ao próprio aluno e nenhuma regra que se lhe prescrevesse com esse objetivo estaria garantida na falta de tal dom natural contra um 172 mau uso25 Um médico pois ou um juiz ou um estudioso da política podem ter regras de patologia regras jurídicas ou políticas na cabeça até o grau em que possam tornarse professores rigorosos no assunto mas podem facilmente perderse na aplicação das mesmas seja por que lhes falta algo na faculdade natural de julgar mesmo não lhes fal tando no entendimento sendolhes até possível compreender o uni versal in abstracto mas não distinguir se um caso se subsume sob ele in concreto seja porque não tenham sido ensinados através de exem plos e atividades concretas a utilizar esse juízo Esta é aliás a única e grande utilidade dos exemplos aguçar a faculdade de julgar Pois no que diz respeito à correção e precisão da compreensão intelectual eles mais comumente a prejudicam já que apenas esporadicamente preenchem de maneira adequada a condição da regra como casus in terminis e além disso enfraquecem com frequência aquele esforço do entendimento para independentemente das circunstâncias particula res da experiência compreender as regras em sua universalidade e sufi ciência e por fim habituamno a utilizar estas últimas mais como for mas do que como princípios Os exemplos são assim a muleta da fa culdade de julgar algo de que não pode prescindir quem é carente da quele talento natural Se a lógica geral não pode pois fornecer prescrições à faculdade de julgar ocorre algo inteiramente diverso com a transcendental a tal ponto que parece ser uma de suas tarefas mais próprias a de corri gir e assegurar a faculdade de julgar no uso do entendimento puro por meio de determinadas regras Afinal se para proporcionar ao en tendimento uma ampliação no campo dos conhecimentos puros a pri ori portanto na qualidade de uma doutrina a filosofia parece não apenas desnecessária como também bastante inapropriada já que nas tentativas até aqui realizadas não se conquistou aí nenhum terre no exigese dela como crítica contudo ainda que sua utilidade seja 25 A ausência da faculdade de julgar é de fato aquilo a que se chama burrice e tal deficiência não pode ser sanada Uma mente embotada ou limitada a que não falte nada senão o grau adequado de entendimento e conceitos próprios ao mesmo pode ser perfeitamente suprida por meio do ensino e levada até mesmo à erudição Como nesse caso no entanto costu mase sofrer também a falta daquela da secunda Petri não é nada incomum encontrar ho mens muito eruditos que no uso de sua ciência permitem entrever aquele nunca sanável de feito NA B 173 B 174 173 B 175 B 176 então meramente negativa com toda a sua perspicácia e capacidade de monstrativa evitar os equívocos da faculdade de julgar lapsus judicii no uso dos poucos conceitos puros do entendimentoque possuímos É próprio à filosofia transcendental no entanto que ela possa independentemente da regra ou melhor da condição universal para as regras que é dada no conceito puro do entendimento indicar a priori também o caso a que ela deve aplicarse A razão do privilégio que ela tem nesse ponto em relação a todas as demais ciências didáti cas excetuada a matemática repousa justamente no seguinte ela lida com conceitos que devem referirse a priori a seus objetos e por tanto não podem ter sua validade objetiva estabelecida a posteriori pois embora isso pudesse manter intacta a dignidade dos mesmos ela tem também de estabelecer com características ao mesmo tempo gerais e suficientes s condições sob as quais os objetos podem ser dados em concordância com tais conceitos caso contrário estes fica riam sem qualquer conteúdo e seriam meras formas lógicas e não conceitos puros do entendimento Esta doutrina transcendental do juízo conterá então dois capítu los um primeiro que trata da única condição sensível sob a qual os conceitos puros do entendimento podem ser utilizados e um segun do que trata dos juízos sintéticos que sob tais condições originamse a priori dos conceitos puros do entendimento e constituem o funda mento a priori de todos os demais conhecimentos i e uma parte que trata dos princípios do entendimento puro Primeiro capítulo Do esquematismo dos conceitos puros do entendimento Em todas as súbsunções de um objeto sob um conceito a represen tação do primeiro tem de ser homogênea com o último i e o conceito tem de conter aquilo que é representado no objeto a ser sob ele subsu mido pois é justamente isto que significa a expressão um objeto está contido sob um conceito Assim o conceito empírico de um prato tem homogeneidade com aquele de um círculo geométrico puro porque a circularidade pensada no primeiro pode ser intuída no último Ocorre que os conceitos puros do entendimento são inteiramente heterogêneos em relação às intuições empíricas e mesmo sensíveis 1 7 4 em geral e não podem ser encontrados jamais em uma intuição Co mo é possível então a subsunção dos últimos sob os primeiros por tanto a aplicação das categorias aos fenômenos se ninguém diria de las por exemplo da causalidade que ela também poderia ser intuída através dos sentidos e estaria contida no fenômeno Esta tão natural e importante questão é de fato a razão pela qual se faz necessária uma doutrina transcendental da faculdade de julgar no sentido de mostrar a possibilidade de conceitos puros do entendimento serem aplicados a fenômenos em geral Em todas as demais ciências em que os conceitos pelos quais o objeto é em geral pensado não são tão di versos e heterogêneos em relação àqueles que o apresentam in con creto tal como é dado é desnecessário fornecer uma explicação espe cífica quanto à aplicação dos primeiros aos últimos É evidente pois que tem de haver um terceiro elemento que seja homogêneo com as categorias de um lado e com os fenômenos de outro e que torne possível a aplicação das primeiras aos últimos Esta representação mediadora tem de ser pura sem nenhum elemen to empírico e ao mesmo tempo por um lado intelectual por outro sensível Tal representação é o esquema transcendental 0 conceito do entendimento contém a unidade sintética pura do diverso em geral O tempo como condição formal do diverso do senti do interno portanto da conexão de todas as representações contém um diverso a priori na intuição pura Uma determinação transcen dental do tempo no entanto só é homogênea com a categoria que constitui a unidade da mesma na medida em que seja universal e se baseie em uma regra a priori De outro lado porém ela só é homogê nea com o fenômeno na medida em que o tempo esteja contido em cada representação empírica do diverso Uma aplicação da categoriá a fenômenos será possível portanto através da determinação transcen dental do tempo que como esquema dos conceitos do entendimento faz a mediação na subsunção dos últimos sob a primeira Segundo aquilo que foi mostrado na Dedução das categorias é de esperarse que ninguém fique em dúvida ao decidirse sobre a questão se esses conceitos puros do entendimento são de uso mera mente empírico ou também de uso transcendental Isto é se apenas se referem a priori a fenômenos como condições de uma experiência possível ou se como condições de possibilidade das coisas em geral B 177 B 178 175 também podem ser estendidos a objetos em si mesmos sem qualquer restrição a nossa sensibilidade Pois vimos ali que os conceitos são impossíveis e não podem ter significado algum se nenhum objeto é dado quer a eles mesmos quer pelo menos aos elementos de que são constituídos e que portanto eles não podem chegar às coisas em si independentemente de se e como estas poderiam sernos dadas vi mos ainda que o único modo pelo qual os objetos podem sernos da dos é a modificação de nossa sensibilidade e finalmente que os con B 179 ceitos puros a priori têm de conter a priori além da função do enten dimento na categoria também as condições formais da sensibilidade em particular do sentido interno as quais contêm as únicas condi ções universais sob as quais a categoria pode aplicarse a um objeto qualquer Nós denominaremos a esta condição formal e pura da sensi bilidade à qual o conceito do entendimento está restrito em seu uso o esquema desse concéito e ao procedimento do entendimento com es ses esquemas denominaremos o esquematismo do entendimento puro Em si mesmo o esquema é a cada vez um mero produto da imagi nação uma vez porém que a síntese da última não visa nenhuma in tuição singular mas apenas a unidade na determinação da sensibili dade o esquema tem então de diferenciarse da imagem Se pois eu disponho cinco pontos um após o outro isto é uma imagem do número cinco Se pelo contrário apenas penso um número em geral seja ele cinco ou cem este pensamento é mais a representação de um método para representar um certo conceito em uma imagem segun do uma quantidade por exemplo mil do que essa imagem mesma que neste último caso eu teria grande dificuldade de examinar e com parar com o conceito A esta representação pois de um procedimen b 180 to universal da imaginação para fornecer a um conceito a sua ima gem eu denomina o esquema desse conceito Na verdade o que constitui o fundamento de nossos conceitos sensíveis puros não são as imagens dos objetos mas sim os esquemas Nenhuma imagem seria jamais adequada de fato ao conceito de um triângulo em geral Pois ela não alcançaria a universalidade do concei to que faz com que ele valha para todos sejam eles retângulos oblí quos etc mas estaria sempre limitada a uma parte dessas esferas O esquema do triângulo não pode existir senão no pensamento e signi fica uma regra da síntese da imaginação em relação a figuras puras 176 no espaço Um objeto da experiência ou uma imagem do mesmo al cançam ainda menos o conceito empírico que antes se refere sempre ao esquema da imaginação imediatamente como uma regra da deter minação de nossa intuição segundo um certo conceito universal O conceito de cachorro significa uma regra segundo a qual a minha ima ginação pode traçar a figura de um animal quadrúpede em geral sem estar limitada a uma única figura singular oferecida a mim pela expe riência ou mesmo a uma imagem possível qualquer que eu possa apresentar in concreto Este esquematismo de nosso entendimento em relação aos fenômenos e sua mera forma é uma arte oculta nas profundezas da alma humana cujas verdadeiras operações dificilmente conseguiremos decifrar na natureza de modo a têlas descobertas di ante de nossos olhos O máximo que podemos dizer é que a imagem é um produto da faculdade empírica da imaginação produtiva e que o esquema dos conceitos sensíveis como das figuras no espaço é um produto e como que um monograma da imaginação pura a priori por meio do qual e segundo o qual as imagens se tornam primeiramente possíveis embora tenham sempre de conectarse ao conceito somente por meio do esquema que designam não sendo nunca em si mesmas inteiramente congruentes com ele 0 esquema de um conceito puro do entendimento pelo contrário é algo que não pode ser trazido a uma imagem ele é apenas a síntese pura de acordo com uma regra da unidade segundo conceitos em geral que a categoria expressa e é um produto transcendental da imaginação que diz respeito à deter minação do sentido interno em geral segundo condições de sua for ma no tempo em relação a todas as representações na medida em que estas deviam ser concatenadas a priori em um conceito de acor do com a unidade da apercepção Sem determonos em uma seca e entediante decomposição daqui lo que é exigido para os esquemas transcendentais de conceitos pu ros do entendimento em geral preferimos apresentálos segundo a or dem das categorias e em conexão com estas A imagem pura de todas as quantidades quantorum do sentido externo é o espaço e a de todos os objetos dos sentidos em geral é o tempo O esquema puro da quantidade porém como um conceito do entendimento é o número uma representação que reúne a adição su cessiva de um a um homogêneos O número não é senão pois a uni B 181 B 182 177 dade da síntese do diverso de uma intuição homogênea em geral pelo fato de que eu produzo o próprio tempo na apreensão da intuição No conceito puro do entendimento a realidade é aquilo que corres ponde a uma sensação em geral aquilo portanto cujo conceito apre senta em si mesmo um ser no tempo a negação é aquilo cujo conceito representa um não ser no tempo A oposição de ambos ocorre por tanto na diferença do mesmo tempo como um tempo pleno ou vazio Como o tempo é tão somente a forma da intuição portanto dos objetos como fenômenos aquilo que nestes corresponde à sensação é a maté ria transcendental de todos os objetos como coisas em si a coisidade a realidade Agora cada sensação tem um grau ou quantidade pelo qual ela pode em relação à mesma representação de um objeto preencher mais ou menos o mesmo tempo i e o sentido interno até chegar ao nada 0 negatio Por conseguinte há uma relação e uma intercone B 183 xão ou antes uma passagem da realidade à negação que torna cada realidade representável como um quantum e o esquema de uma reali dade como a quantidade de algo na medida em que preenche o tempo é justamente essa produção contínua e estável da mesma no tempo à medida que se desça no tempo da sensação que tem um certo grau até o desaparecimento da mesma ou que se ascenda gradativamente da negação a uma quantidade da mesma 0 esquema da substância é a permanência do real no tempo i e a representação do mesmo como um substrato da determinação em pírica do tempo em geral que permanece enquanto todo o resto mu da 0 tempo não passa a existência do modificável é que passa no tempo Ao tempo portanto que é ele mesmo imutável e permanente corresponde no fenômeno o imutável na existência i e a substân cia e somente nela podem a sucessão e a simultaneidade dos fenôme nos ser determinadas segundo o tempo 0 esquema da causa e da causalidade de uma coisa em geral é o real ao qual uma vez posto ele ao acaso sempre se segue algo Ele permanece na sucessão do diverso assim na medida em que está sub metido a uma regra O esquema da comunidade reciprocidade ou da causalidade re cíproca das substâncias relativamente a seus acidentes é a simultanei B 184 dade das determinações de uma com as da outra segundo uma regra universal 1 7 8 0 esquema da possibilidade é a concordância da síntese de dife rentes representações com as condições do tempo em geral por exem plo que os opostos em uma coisa não podem ser simultâneos mas apenas sucessivos portanto a determinação da representação de uma coisa em um dado tempo 0 esquema da realidade é a existência em um determinado tempo 0 esquema da necessidade é a existência de um objeto em qual quer tempo Vêse então a partir de tudo isso que o esquema de cada catego ria contém e torna representável no caso da quantidade a produção síntese do próprio tempo na apreensão sucessiva de um objeto no caso da qualidade a síntese da sensação percepção com a represen tação do tempo ou o preenchimento do tempo no caso da relação a ligação das percepções entre si em qualquer tempo i e segundo uma regra da determinação do tempo no caso por fim da modalida de o próprio tempo como correlato da determinação de um objeto no sentido de saber se e como ele pertence ao tempo Os esquemas portanto não são senão determinações a priori do tempo segundo regras e estas valem conforme a ordem das categorias para a se quência do tempo o conteúdo do tempo a ordem do tempo e final mente o conjunto completo do tempo sempre no que diz respeito a todos os objetos possíveis Fica claro então que o esquematismo do entendimento atra vés da síntese transcendental da imaginação não diz respeito a na da senão à unidade do diverso da intuição no sentido interno e por tanto indiretamente à unidade da apercepção como função que corresponde ao sentido interno a uma receptividade Assim os es quemas dos conceitos puros do entendimento são as verdadeiras e únicas condições para fornecer a estes uma referência a objetos portanto um significado e as categorias por conseguinte não têm nenhum uso no fim das contas a não ser um uso empírico possível já que servem apenas para por meio dos fundamentos de uma uni dade necessária a priori devido à unificação necessária de toda consciência em uma apercepção originária submeter os fenômenos a regras gerais da síntese e assim tornálos aptos a uma conexão completa em uma experiência B 185 179 Todos os nossos conhecimentos porém repousam no conjunto de toda experiência possível e a verdade transcendental que antece de e torna possível toda verdadeempírica consistena referência uni versal a essa experiência possível Também salta aos olhos contudo que embora os esquemas da b 186 sensibilidade antes de mais nada realizem as categorias eles ao mesmo tempo também restringem as mesmas i e as limitam a con dições que estão fora do entendimento a saber na sensibilidade 0 esquema portanto é tão somente o fenômeno Phánomenon ou o conceito sensível de um objeto em concordância com a categoria numerus est quantitas phaenomenon sensatio realitas phaeno menon constans et perdurabile rerum substantia phaenomenon aeternitas necessitas phaenomenon etc Se agora deixarmos de lado uma condição fêstritiva nós aparentemente ampliamos o antes limitado conceito em seu significado puro as categorias deveriam valer então independentemente de quaisquer condições da sensibi lidade para as coisas em geral tal como elas são e não como quan do seus esquemas as representam apenas tal como aparecem as ca tegorias teriam portanto um significado independente de todos os esquemas e muito mais amplo Mesmo após a abstração de todas as condições sensíveis permanece de fato um significado para os con ceitos puros do entendimento mas é o significado apenas lógico da mera unidade das representações às quais não pode ser dado ne nhum objeto nem portanto qualquer significado tal como lhes da ria o conceito de um objeto Assim por exemplo a substância não significaria mais caso se afastasse a determinação sensível da per manência do que um algo que pode ser pensado como sujeito sem ser um predicada de outro algo E dessa representação não posso B 187 extrair nada já que ela não me mostra quais as determinações pos suídas por uma coisa que deva valer como tal sujeito primeiro Sem os esquemas portanto as categorias são apenas funções para con ceitos do entendimento e não representam qualquer objeto Este significado lhes vem da sensibilidade que realiza o entendimento na medida em que ao mesmo tempo o restringe 180 Segundo capítulo Sistema de todos os princípios do entendimento puro No último capítulo nós abordamos a faculdade transcendental de julgar apenas segundo as únicas condições universais sob as quais ela é apta a utilizar os conceitos puros do entendimento em juízos sin téticos Agora trataremos de apresentar em uma ligação sistemática os juízos que sob tais precauções críticas o entendimento efetiva mente produz a priori Para isso sem dúvida nossa tábua de catego rias deve fornecer um critério natural e seguro Pois é justamente a referência destas à experiência possível que tem de constituir todos os conhecimentos puros do entendimento e é graças à sua relação com a sensibilidade em geral que serão estabelecidos em um sistema de maneira completa todos os princípios transcendentais do uso do entendimento Os princípios a priori recebem este nome não apenas porque con têm em si os fundamentos de outros juízos mas também porque eles mesmos não são fundados em conhecimentos mais elevados ou mais gerais Esta propriedade no entanto não os exime inteiramente de uma prova Pois embora esta não possa ser conduzida objetivamente mas sirva antes de fundamento a todo conhecimento de seu objeto isto não implica que não seja possível ou mesmo necessário produzir uma prova a partir das fontes subjetivas da possibilidade de um co nhecimento do objeto em geral pois do contrário o princípio traria consigo a maior suspeita de ser uma mera afirmação enganosa Em segundo lugar nos limitaremos apenas àqueles princípios que se referem às categorias Os princípios da estética transcenden tal portanto segundo os quais o espaço e o tempo são as condições de possibilidade das coisas como fenômenos bem como as restri ções desses princípios a saber que eles não podem ser referidos às coisas em si mesmas não pertencem ao campo traçado para a nossa investigação Os princípios da matemática do mesmo modo não constituem uma parte desse sistema pois são derivados apenas da intuição e não dos conceitos puros do entendimento a possibilida de dos mesmos contudo na medida em que também são juízos sin téticos a priori têm aqui um lugar necessário não de fato para que sua correção e certeza apodítica sejam provadas mas apenas B 188 B 189 181 para que a possibilidade de tais conceitos evidentes a priori seja de duzida e tornada compreensível Nós teremos contudo de falar também do principio dos juízos analíticos e isto de fato por oposição ao dos sintéticos de que efeti vamente nos ocupamos pois é justamente essa contraposição que li vra a teoria dos últimos de toda incompreensão e a torna clara em sua verdadeira natureza Primeira seção Do princípio supremo de todos os juízos analíticos Qualquer que seja o conteúdo de nosso conhecimento e como quer que ele se refira ao objeto a condição universal de todos os nos sos juízos em geral ainda que negativa é a de que eles não se contradi gam a si mesmos pois do contrário eles não seriam nada em si mesmos B 190 mesmo sem levar em conta o objeto Mesmo porém que não haja qualquer contradição em nosso juízo ele ainda assim pode ligar os con ceitos de um modo não correspondente ao objeto ou mesmo sem que nos seja dado qualquer fundamento quer a priori ou a posteriori que legitimasse tal juízo Um juízo pode portanto mesmo naquilo em que esteja livre de contradição interna ser falso ou sem fundamento Denominase princípio de contradição pois à proposição nenhum predicado que contradiga uma coisa pode aderir a ela e se trata de um critério universal ainda que negativo de toda verdade Também por isso porém pertence apenas à lógica já que vale para os conheci mentos apenas enquanto conhecimentos independentemente de seu conteúdo e diz que a contradição os suprime e aniquila inteiramente Podese contudo fazer também um uso positivo do mesmo i e não apenas excluir conhecimentos por falsidade ou erro por incor rerem em contradição mas também conhecer a verdade Pois se o juí zo é analítico seja negativo ou afirmativo sua verdade tem de poder ser sempre suficientemente conhecida a partir do princípio de contra dição Afinal enquanto o contrário daquilo que já reside como concei to no conhecimento do objeto pode ser sempre corretamente negado b i9 i o conceito mesmo tem de ser necessariamente afirmado dele pois o oposto do mesmo contradiria o objeto 182 Nós temos portanto de reconhecer a validade do princípio de contradição também como o princípio universal e suficiente de todo conhecimento analítico mas ele não é mais mesmo no que diz res peito a seu renome e utilidade do que um critério suficiente da verda de Pois que nenhum conhecimento possa contradizerlhe sem ne garse a si mesmo é algo que certamente faz desse princípio uma con ditio sine qua non mas não um fundamento de determinação da ver dade de nosso conhecimento Como em todo caso nós só temos de tratar da parte sintética de nosso conhecimento seremos sempre cau telosos para nunca infringir esse inviolável princípio mas nunca po deremos esperar dele qualquer esclarecimento acerca da verdade des se tipo de conhecimento Mas há uma fórmula desse princípio tão famoso apesar de vazio de conteúdo e meramente formal que contém uma síntese que por falta de cuidado e de maneira inteiramente desnecessária nele se imiscuiu Ela diz é impossível que algo seja e não seja ao mesmo tempo Além de a certeza apodítica que se poderia compreender por si mesma a partir do princípio ser aí acrescida de maneira supérflua através da palavra impossível a proposição é afetada pela condi ção do tempo e diz algo como uma coisa A que é algo B não pode ao mesmo tempo ser não B mas ambos tanto B como não B podem perfeitamente acontecer desde que um após o outro Por exemplo um homem jovem não pode ser ao mesmo tempo velho mas pode perfeitamente ser jovem em um momento e em outro não jo vem i e velho Ocorre que o princípio de contradição como um prin cípio meramente lógico não pode limitar o seu enunciado às relações de tempo e por isso tal fórmula é inteiramente contrária ao propósito do mesmo O malentendido decorre basicamente do seguinte come çase por separar o predicado de uma coisa de seu conceito e em se guida se conecta a esse predicado o seu oposto o qual nunca entra em contradição com o sujeito mas apenas com o seu predicado que fora ligado a ele sinteticamente e isto apenas quando o primeiro e o segundo predicados são postos simultaneamente Se digo que um ho mem inculto é não culto tem de estar presente a condição ao mesmo tempo pois quem é inculto em um dado momento pode perfeitamen te tornarse culto em outro Se digo porém que nenhum homem in culto é culto então a proposição é analítica pois a característica da B 192 183 incultura constitui desde logo o conceito do sujeito e a proposição negativa decorre imediatamente do princípio de contradição sem que a condição ao mesmo tempo tenha de apresentarse Esta é também B 193 a razão pois pela qual mudei tanto a formulação do mesmo mais aci ma de modo que a natureza de uma proposição analítica fosse clara mente expressa Segunda seção Do princípio supremo de todos os juízos sintéticos A explicação da possibilidade dos juízos sintéticos é uma tarefa com que a lógica geral não tem nada de preocuparse e não precisa se quer conhecer o seu nome Em uma lógica transcendental no entanto ela é o assunto mais importante de todos se não o único como ocorre quando se discute a possibilidade de juízos sintéticos a priori ou as condições e o alcance de sua validade Pois com o término de tal tarefa ela pode considerarse inteiramente satisfeita quanto a seu fim qual seja a determinação do alcance e dos limites do entendimento puro No juízo analítico eu permaneço no conceito dado para produzir algo a partir dele Se ele é afirmativo apenas atribuo a esse conceito o que já era nele pensado se é negativo apenas deduzo dele o seu oposto Nos juízos sintéticos porém devo sair do conceito dado para considerar em relação com ele algo inteiramente diverso do que era B 194 nele pensado uma relação portanto que não é nem de identidade nem de contradição e na qual não pode ser observada nem a verdade nem a falsidade do juízo em si mesmo Admitido pois que se tem de sair de um conceito para compa rálo sinteticamente com algo diverso então é necessário um terceiro sem o qual não poderia engendrarse a síntese de dois conceitos Mas o que é esse terceiro que funciona como médium de todos os juízos sintéticos Ele é apenas o conjunto completo em que estão contidas todas as nossas representações a saber o sentido interno e a forma a priori do mesmo o tempo A síntese das representações se baseia na imaginação mas a unidade sintética das mesmas requerida para o juí zo se baseia na unidade da apercepção Aqui portanto tem de ser in vestigada a possibilidade dos juízos sintéticos e como todos os três contêm as fontes das representações a priori também a possibilidade 184 dos juízos sintéticos puros na verdade eles serão mesmo necessários por esses motivos caso se deva produzir um conhecimento de objetos que se baseia unicamente na síntese das representações Se um conhecimento deve ter realidade objetiva i e referirse a um objeto e ter significado e sentido no mesmo então o objeto tem de ser dado de algum modo Sem isso os conceitos são vazios e por mais que se tenha pensado algo com eles na verdade não se conhe ceu nada através desse pensamento mas apenas se jogou com repre sentações Caso o objeto não signifique algo apenas mediatamente mas seja apresentado imediatamente na intuição dar um objeto não é outra coisa senão relacionar a sua representação à experiência seja esta real ou possível Mesmo os conceitos de espaço e de tempo por mais purificados que sejam de todo elemento empírico e por mais certo que seja o fato de eles serem representados inteiramente a prio ri na mente eles ainda assim careceriam de toda realidade objetiva e seriam sem sentido e sem significado se não fosse mostrado o seu uso necessário nos objetos da experiência Mesmo a sua representa ção não passa de um mero esquema o qual se refere sempre à imagi nação reprodutiva que por seu turno convoca os objetos da expe riência sem os quais eles não teriam significado e assim ocorre com todos os conceitos indistintamente É a possibilidade da experiência portanto que fornece realida de objetiva a todos os nossos conhecimentos a priori A experiência porém baseiase na unidade sintética dos fenômenos i e em uma sín tese segundo conceitos dos objetos dos fenômenos em geral uma sín tese sem a qual ela não seria jamais conhecimento mas uma rapsódia de percepções que não se juntariam jamais em um contexto segundo regras de uma possível consciência integralmente conectada nem portanto em uma unidade transcendental e necessária da apercepção A experiência tem por fundamento assim princípios a priori relativos à sua forma quais sejam regras universais da unidade na síntese dos fenômenos que enquanto condições necessárias podem ter sua reali dade objetiva mostrada a todo tempo na experiência ou mesmo na pos sibilidade desta Para além dessa referência porém as proposições sin téticas a priori são inteiramente impossíveis pois não têm nenhum terceiro i e nenhum objeto em que a unidade sintética de seus con ceitos pudesse explicitar sua realidade objetiva B 195 B 196 185 1 Como a experiência pois enquanto síntese empírica é a única forma de conhecimento em sua possibilidade que dá realidade a to das as demais sínteses também estas comoconhecimentos a priori B 197 só têm verdade concordância com o objeto na medida em que não contêm nada além do que é necessário para a unidade sintética da ex periência em geral Assim o princípio supremo de todos os juízos sintéticos a priori é todo objeto está subordinado às condições necessárias da unidade sintética do diverso da intuição em uma experiência possível Os juízos sintéticos a priori são possíveis desse modo se relacio namos a um possível conhecimento empírico em geral as condições formais da intuição a priori a síntese da imaginação e a unidade ne cessária desta última em uma apercepção transcendental e dizemos as condições de possibilidade da experiência em geral são ao mes mo tempo as condições de possibilidade dos objetos da experiência e por isso têm validade objetiva em um juízo sintético a priori Terceira seção Representação sistemática de todos os princípios sintéticos do mesmo Que em geral existam princípios é algo que só se pode atribuir ao entendimento puro que é não apenas a faculdade das regras em rela B 198 ção a tudo que acontece mas também a fonte dos princípios segundo os quais tudo que pode apresentarse a nós como objeto se subordi na necessariamente a regras já que sem estas nunca se poderia atri buir aos fenômenos o conhecimento de um objeto a eles correspon dente Mesmo as leis da natureza se consideradas como princípios do uso empírico do entendimento trazem consigo também uma expres são da necessidade portanto ao menos a suposição de uma determi nação a partir de fundamentos que são válidos a priori e anterior mente a toda experiência Todas as leis da natureza porém estão in distintamente sob princípios superiores do entendimento pois só apli cam estes a casos particulares do fenômeno Apenas estes princípios portanto fornecem o conceito que contém a condição e como que o exponente para uma regra em geral enquanto que a experiência dá o caso que se subordina à regra 1 8 6 Não há qualquer perigo pois de que se tomem princípios mera mente empíricos por princípios do entendimento puro ou viceversa pois a necessidade segundo conceitos que distingue os últimos e cuja falta é facilmente perceptível nos primeiros por mais universal que seja a sua validade pode prevenir tranquilamente essa troca Há princípios puros a priori contudo que eu não gostaria de atribuir propriamente ao entendimento puro pois eles não são extraídos de conceitos puros mas sim de intuições puras ainda que por meio do entendimento o entendimento porém é a faculdade dos conceitos A matemática tem princípios desse tipo mas sua aplicação à experiên cia portanto sua validade objetiva e mesmo a possibilidade de tal co nhecimento sintético a priori a dedução do mesmo baseiamse sem pre no entendimento puro Por isso não incluirei os princípios da matemática entre os meus princípios mas apenas aqueles em que se fundam a priori a possibili dade e a validade objetiva dos mesmos e que portanto têm de ser vis tos como princípio desses princípios26 e vão dos conceitos para a intui ção mas não da intuição para os conceitos Na aplicação dos conceitos puros do entendimento à experiência possível o uso de sua síntese é ou matemático ou dinâmico pois em parte ela concerne apenas à intuição em parte à existência de um fe nômeno em geral As condições a priori da intuição no entanto são sempre necessárias em relação a uma experiência possível ao passo que aquelas da existência dos objetos de uma possível intuição empí rica são em si contingentes Por isso os princípios do uso matemático parecerão incondicionalmente necessários i e apodíticos enquanto que aqueles do uso dinâmico somente trarão consigo o caráter de uma necessidade a priori sob a condição do pensamento empírico em uma experiência portanto apenas mediata e indiretamente e por con seguinte não conterão ainda que sem prejuízo de sua certeza univer sal na relação à experiência a evidência imediata que é própria àque les primeiros Mas isto é algo que será melhor avaliado na conclusão deste sistema de princípios 26 Aqui Kant usa o termo Principium de origem latina para diferenciar de Grundsatz de ori gem alemã Principium dieser Grundsätze princípio desses princípios Como segundo explicado anteriormente julgamos preferível não diferenciálos em português posto serem sinônimos em alemão também aqui não fizemos a diferenciação NT B 199 B 200 187 A tábua das categorias nos fornece a indicação natural para a tábua dos princípios já que estes não são senão as regras do uso objetivo dos primeiros Assim todos os princípios do entendimento puro são Eu escolhi com cuidado essas denominações de modo a evitar que passassem despercebidas as diferenças relativas à evidência e à utilização desses princípios Mas logo se perceberá que no que diz B 201 respeito tanto à evidência como à determinação a priori dos fenôme nos segundo as categorias de quantidade e qualidade caso se consi dere apenas a forma da última os princípios destas categorias se di ferenciam substancialmente dos outros dois na medida em que são ca pazes de uma certeza intuitiva enquanto estes só o são de uma mera mente discursiva ainda que ambos sejam capazes de uma certeza completa Por isso denominarei àqueles princípios matemáticos e a B 202 estes dinâmicos21 Logo se notará contudo que aqui não tenho tan to em vista os princípios da matemática em um caso e os da dinâmica física universal no outro mas antes os do entendimento puro em re lação com o sentido interno sem diferenciar as representações aí da das a partir dos quais pois aqueles recebem todos a sua possibilida de Eu assim os denomino portanto mais em vista da aplicação do 27 27 Toda ligação conjunctio é ou composição compositio ou conexão nexus A primeira é a síntese do diverso em que uma coisa não pertence necessariamente à outra como por exem plo no caso de dois triângulos que formados a partir da divisão de um quadrado por uma dia gonal não pertencem necessariamente um ao outro O mesmo vale para a síntese do homogê neo em tudo o que pode ser matematicamente considerado a qual por seu turno pode ser subdividida em síntese de agregação e síntese de coalizão a primeira direcionada a quantida des extensivas a segunda a quantidades intensivas A segunda ligação nexus é a síntese do diverso em que uma coisa pertence necessariamente à outra como por exemplo no caso da ligação do acidente com a substância ou da causa com o efeito e em que portanto também se representa o heterogêneo como ligado embora a priori Denomino dinâmica a esta ligação porque ela não é arbitrária e diz respeito à ligação da existência do diverso a qual por seu tur no pode ser subdividida em ligação física que é a dos fenômenos entre si e metafísica que é a ligação dos fenômenos na faculdade de conhecimento a priori NA 1 Axiomas da intuição 2 Antecipações da percepção 3 Analogias da experiência 4 Postulados do pensamento empírico em geral 1 8 8 que em virtude de seu conteúdo e passo logo à consideração dos mesmos na ordem em que foram representados na tábua 1 Axiomas da intuição O seu princípio é todas as intuições são quantidades extensivas Prova Segundo a forma todos os fenômenos contêm uma intuição no espaço e no tempo que lhes serve a priori de fundamento Logo elas só podem ser apreendidas i e recebidas na consciência empírica através da síntese do diverso pela qual as representações de um deter minado espaço ou tempo são produzidas i e através da composição do homogêneo e da consciência da unidade sintética desse diverso homogêneo Agora a consciência do homogêneo diverso na intui ção em geral posto que através dela a representação de um objeto se torna primeiramente possível é o conceito de uma quantidade quanti Mesmo a percepção de um objeto como fenômeno portanto só é possí vel por meio da mesma unidade sintética do diverso da intuição sensível dada pela qual é pensada a unidade da composição do homogêneo diver so no conceito de uma quantidade i e os fenômenos são todos quanti dades e de fato quantidades extensivas pois têm de ser representados enquanto intuições no espaço ou no tempo através da mesma síntese pela qual o espaço e o tempo em geral são determinados Eu denomino quantidade extensiva àquela em que a representa ção das partes torna possível a representação do todo e portanto antecede necessariamente a esta Não posso representarme nenhu ma linha por menor que seja sem traçála no pensamento i e en gendrar todas as partes a partir de um ponto uma após a outra e as sim esboçar pela primeira vez essa intuição E o mesmo ocorre com todo tempo mesmo o menor Eu penso aqui tão somente na progres são sucessiva de um instante a outro na qual é finalmente produzida através de todas as partes do tempo e de sua adição uma determina da quantidade de tempo Como em todos os fenômenos a mera intui ção é ou o espaço ou o tempo todo fenômeno enquanto intuição é uma quantidade extensiva já que só pode ser conhecido na apreen são por meio de uma síntese sucessiva de parte a parte Consequen B 203 B 204 189 temente todos os fenômenos já são intuídos como agregados uma variedade de partes previamente dadas o que não é o caso com qual quer tipo de quantidade mas apenas com aquelas que representamos e apreendemos de maneira extensiva Nessa síntese sucessiva da imaginação produtiva na produção de figuras está fundada a matemática da extensão geometria com os seus axiomas que exprimem a priori as únicas condições da intuição sensível sob as quais pode produzirse o esquema de um conceito puro do fenômeno externo Por exemplo entre dois pontos só é possí vel uma linha reta duas linhas retas não demarcam um espaço etc Estes são os axiomas que de fato só dizem respeito a quantidades quanta enquanto tais No que diz respeito à quantidade quantitas porém i e à res posta sobre quão grande algo é não há quaisquer axiomas em senti do próprio ainda que diversas dessas proposições sejam sintéticas e imediatamente certas indemonstrabilia Pois são analíticas as pro posições de que iguais somados a iguais ou subtraídos de iguais re sultam em um igual já que sou imediatamente consciente da identi B 205 dade de uma produção de quantidades com a outra Os axiomas no entanto devem ser proposições sintéticas a priori As proposições evidentes das relações numéricas pelo contrário embora sejam de fato sintéticas não são universais como as da geometria e justamen te por isso não são também axiomas podendo apenas ser denomina das fórmulas numéricas Que 7 5 seja igual a 12 não é uma proposi ção analítica Pois eu não penso o número 12 nem na representação de 7 nem na de 5 nem na representação da composição de ambos que eu deva pensálo na adição de ambos não está aqui em questão pois na proposição analítica importa apenas se eu efetivamente penso o predicado na representação do sujeito Mesmo sendo sintética no entanto ela não passa ainda assim de uma proposição singular Na medida em que aqui só temos em vista a síntese do homogêneo das unidades ela só pode acontecer aqui de um único modo por mais que o uso desses números seja depois universal Se eu digo que com três linhas das quais duas somadas são maiores que a terceira pode ser desenhado um triângulo eu apenas tenho aqui a função da imagi nação produtiva que desenha as linhas maiores ou menores e faz com que se cruzem em quaisquer ângulos O número 7 pelo contrá 190 rio só é possível de um único modo e assim também o número 12 que é produzido pela síntese do primeiro com o 5 Proposições desse tipo não devem ser denominadas axiomas pois senão haveria um infi nito deles mas sim fórmulas numéricas Esse princípio transcendental da matemática dos fenômenos acar reta uma grande ampliação de nosso conhecimento a priori Pois é unicamente ele que torna a matemática pura em toda a sua precisão aplicável aos objetos da experiência algo que sem esse princípio não se tornaria evidente por si mesmo e chegou mesmo a gerar muitas contradições Os fenômenos não são coisas em si mesmas A intuição empírica só é possível por meio da pura do espaço e do tempo o que a geometria diz desta portanto vale indiscutivelmente para aquela devendo cair por terra evasivas como a de que os objetos dos sentidos não têm de ser conformes às regras da construção no espaço como por exemplo a divisibilidade infinita das linhas ou ângulos Pois com isso se negaria toda a validade objetiva do espaço e com ele da mate mática e não se saberia mais por que e até que ponto ela é aplicável aos fenômenos A síntese dos espaços e tempos como síntese da for ma essencial de toda intuição é o que torna possível também a apre ensão do fenômeno portanto toda experiência externa e o que a ma temática demonstra a respeito daquela vale necessariamente para es ta Todas as objeções a isso são meras chicanas de uma razão falsa mente ilustrada que por caminhos tortuosos acredita libertar os objetos dos sentidos das condições formais de nossa sensibilidade e embora sejam meros fenômenos representaos como objetos em si mesmos dados ao entendimento caso em que evidentemente não se poderia conhecer nada deles a priori nem portanto de maneira sinté tica através de conceitos puros do espaço e a ciência que determina estes últimos qual seja a geometria não seria ela mesma possível 2 Antecipações da percepção O seu princípio é em todos os fenômenos o real que é um objeto da sensação tem quantidade intensiva i e um grau Prova A percepção é a consciência empírica i e uma tal em que há ao mesmo tempo sensação Os fenômenos como objetos da percepção B 206 B 207 191 não são intuições puras meramente formais como o espaço e o tem po pois não podem de modo algum ser percebidos em si mesmos Além da intuição portanto eles eontêm ainda as matérias para qual quer objeto em geral por meio das quais é representado algo existen te no espaço ou no tempo i e o real da sensação como representa ção meramente subjetiva em que só se pode ter consciência de que o B 208 sujeito é afetado e à qual é referido um objeto em geral Da consciên cia empírica à pura portanto é possível uma modificação gradativa em que o real da mesma acaba por desaparecer inteiramente e perma nece uma consciência meramente formal a priori do diverso no es paço e no tempo também portanto uma síntese da produção de quantidades em uma sensação desde o seu princípio a intuição pura 0 até uma quantidade qualquer da mesma Como no entanto a sensação não é em i uma representação objetiva e nela não se en contram nem a intuição do espaço nem a do tempo ela não tem de fato uma quantidade extensiva mas tem uma quantidade e de fato por meio da apreensão da mesma em que a consciência empírica pode subir em um certo tempo do nada 0 até a sua grandeza dada portanto uma quantidade intensiva de acordo com a qual tem de ser atribuída a todos os objetos da percepção na medida em que esta contém sensação uma quantidade intensiva i e um grau de in fluência sobre o sentido Todo conhecimento através do qual eu posso determinar e co nhecer a priori aquilo que pertence ao conhecimento empírico pode ser denominado uma antecipação e é sem dúvida este o sentido em que Epicuro empregava a sua expressão prolêpsis Como no entanto há algo nos fenômenos que não pode jamais ser conhecido a priori e que por isso constitui também a verdadeira diferença do conhecimen B 209 to empírico em relação ao a priori qual seja a sensação como maté ria da percepção seguese que esta é o que de fato não pode de modo algum ser antecipado As determinações puras no espaço e no tempo pelo contrário poderiam perfeitamente ser denominadas no que diz respeito à figura antecipações de quantidade dos fenômenos pois representam a priori aquilo que pode sempre ser dado a posteri ori na experiência Supondose porém que houvesse algo passível de ser conhecido a priori em toda sensação enquanto sensação em ge ral sem que possa ser dada uma sensação particular isso mereceria 192 ser denominado antecipação em um sentido extraordinário pois soa estranho antecipar a experiência naquilo que diz respeito à sua maté ria e que só pode ser dela extraído E de fato é assim que as coisas se passam aqui A apreensão pela mera sensação preenche apenas um instante se com efeito não tenho em vista a sucessão de diversas sensações Como algo no fenômeno cuja apreensão não constitui uma síntese su cessiva que vai das partes para a representação inteira ela não tem portanto uma quantidade extensiva a ausência de sensação no mes mo instante representaria este como vazio logo 0 Aquilo pois que na intuição empírica corresponde à sensação é a realidade realitas phaenomenon aquilo que corresponde à falta de sensação é a nega ção 0 Agora toda sensação é passível de uma redução de tal modo que ela pode decrescer e gradativamente desaparecer Entre a realida de no fenômeno e a negação portanto há uma concatenação contí nua de muitas sensações intermediárias possíveis em que a diferença de umas em relação às outras é sempre menor do que a diferença en tre a sensação dada e o zero ou a negação completa Ou seja o real no fenômeno tem sempre uma quantidade que no entanto não é encon trada na apreensão já que esta ocorre através da mera sensação em um instante e não por meio da síntese sucessiva de muitas sensações portanto não vai das partes para o todo Ele tem uma quantidade portanto mas ela não é extensiva Agora eu denomino quantidade intensiva à quantidade que só é apreendida como unidade e na qual a pluralidade só pode ser repre sentada através da aproximação à negação 0 Assim toda realidade no fenômeno tem quantidade intensiva i e um grau Se essa realida de é considerada como causa seja da sensação seja de outra realida de no fenômeno como por exemplo uma modificação o grau da realidade como causa é denominado um momento como por exemplo o momento da gravidade e isso de fato porque o grau descreve ape nas a quantidade cuja apreensão não é sucessiva mas momentânea Mas isto é algo de que só estou tratando aqui de passagem pois por ora não tenho ainda de ocuparme da causalidade Toda sensação por conseguinte portanto também toda realidade no fenômeno por menor que seja possui um grau i e uma quanti dade intensiva que pode ser sempre diminuída e entre a realidade e a B 210 B 211 193 negação há uma concatenação contínua de realidades e possíveis per cepções menores Cada cor comó por exemplo o vermelho tem um grau que por menor que seja não é nunca o menor de todos e o mes mo ocorre com o calor o momento da gravidade etc A propriedade das quantidades pela qual nenhuma de suas partes é a menor possível nenhuma parte simples se denomina a continuida de das mesmas O espaço e o tempo são quanta continua pois nenhu ma parte deles pode ser dada a não ser circunscrevendoa entre limites pontos e instantes portanto de tal modo que esta parte seja nova mente um espaço ou um tempo O espaço portanto constituise ape nas de espaços e o tempo de tempos Pontos e instantes são apenas li mites i e meras posições que efetuam a limitação posições porém pressupõem sempre aquelas intuições que elas devem limitar ou deter minar e nem o espaçe nem o tempo podem ser constituídos a partir de meras posições como componentes que pudessem ser dados ainda an tes do espaço ou do tempo Semelhantes quantidades também podem ser denominadas fluidas pois a síntese da imaginação produtiva em B 212 sua produção é uma progressão no tempo cuja continuidade costuma ser descrita especialmente com a expressão do fluir transcorrer Todos os fenômenos em geral por conseguinte são quantidades contínuas tanto segundo a sua intuição como extensivas quanto se gundo a mera percepção sensação e portanto realidade como in tensivas Se a síntese do diverso do fenômeno é interrompida este é um agregado de muitos fenômenos e não propriamente um fenôme no como quantum o qual é engendrado não pela simples progressão da síntese produtiva de um certo tipo mas pela repetição de uma sín tese sempre cessante Se denomino 13 táleres um quantum em di nheiro a denominação está correta se entendo por isso o conteúdo de um marco de prata fina o qual contudo é sempre uma quantidade contínua em que nenhuma parte é a menor de todas e cada parte po deria constituir uma quantia em dinheiro que conteria sempre a ma téria para partes ainda menores Se no entanto entendo sob aquela denominação 13 táleres redondos como quaisquer outras moedas qualquer que seja o seu conteúdo em prata então é inadequado de nominálos por meio de um quantum de táleres sendo mais correto denominálas um agregado i e um número de moedas Como no en tanto a unidade tem de servir de fundamento a todo número então o 194 fenômeno como unidade é um quantum e enquanto tal é sempre um contínuo Se pois todos os fenômenos considerados tanto como extensi vos quanto como intensivos são quantidades contínuas então a pro posição de que também toda modificação quando uma coisa passa de um estado a outro é contínua poderia ser aqui com evidência mate mática facilmente demonstrada desde que a causalidade de uma modificação em geral não estivesse inteiramente além dos limites de uma filosofia transcendental e não pressupusesse princípios empíri cos Pois o entendimento não nos dá qualquer abertura a priori para a circunstância de que seja possível uma causa que modifica o estado das coisas i e que as determina por oposição a uma certa situação dada e isto não apenas porque ele não discerne de modo algum a pos sibilidade disso já que este discernimento nos falta em muitos conheci mentos a priori mas porque a mutabilidade só diz respeito a certas determinações do fenômeno que apenas a experiência pode ensinar enquanto que suas causas só são encontráveis no imutável Como aqui no entanto não temos nada de que possamos servirnos a não ser os conceitos puros fundamentais de toda experiência possível entre os quais não pode haver nada de empírico não podemos antecipar a ciência geral da natureza que está edificada sobre certas experiências fundamentais sem ferir a unidade do sistema Ainda assim não nos faltam provas da grande influência que esse princípio tem quanto a antecipar percepções e mesmo a suprir sua falta já que passa a régua em todas as falsas conclusões que poderiam ser daí extraídas Se toda realidade na percepção possui um grau entre o qual e á negação há uma infinita sequência de graus cada vez menores e se do mesmo modo todo sentido tem de possuir um determinado grau de receptividade das sensações não é possível nenhuma percepção portanto também nenhuma experiência capaz de provar seja imedia ta ou mediatamente quaisquer que sejam os rodeios no raciocínio a inteira ausência de qualquer real no fenômeno i e uma prova do es paço ou do tempo vazio não pode jamais ser extraída da experiência Pois em primeiro lugar a inteira ausência do real na intuição sensível não pode ser ela própria percebida em segundo lugar não pode ser deduzida de um fenômeno único ou da diferença de graus de sua rea B 213 B 214 195 lidade nem pode ser admitida para esclarecêlo Pois mesmo que a in teira intuição de um determinado espaço ou tempo seja continua mente real i e nenhuma de suas partes seja vazia e dado que toda realidade possui seu grau o qual nas quantidades extensivas infini tas do fenômeno pode ser diminuído até o nada o vazio ao longo de infinitos estágios então tem de haver infinitos graus diferentes com que o espaço ou o tempo sejam preenchidos e a quantidade intensiva pode ser menor ou maior nos diversos fenômenos mesmo quando a quantidade extensiva seja sempre a mesma B 215 Daremos um exemplo disso Quase todos os teóricos da natureza quando percebem uma grande diferença de quantidade da matéria de diferentes tipos sob o mesmo volume em parte no momento da gra vidade ou do peso em parte no momento da resistência a outras ma térias em movimento concluem de modo uníssono mesmo que em diferentes medidas esse volume a quantidade extensiva do fenôme no tem de ser vazio em todas as matérias A quem teria ocorrido no entanto que a conclusão desses pesquisadores naturais em grande parte matemáticos e mecânicos está fundada em uma pressuposição metafísica que eles tanto pretendiam evitar Afinal eles assumem que o real no espaço não o chamarei aqui de impenetrabilidade ou peso pois estes são conceitos empíricos é em toda parte o mesmo e só pode ser diferenciado segundo a quantidade extensiva i e segun do a multiplicidade A esta pressuposição para a qual eles não poderiam ter qualquer fundamento na experiência e que portanto é meramente metafísica eu contraponho uma prova transcendental que embora não possa explicar a diferença no preenchimento do espaço suprime inteiramente a suposta necessidade dessa pressuposição segundo a qual tal diferença só pode ser explicada por meio da admissão de es paços vazios e tem o mérito de pelo menos colocar o entendimento B 216 em liberdade para caso a explicação da natureza exija aqui alguma hi pótese pensar essa diversidade de outros modos Pois assim nós ve mos que embora espaços iguais possam ser completamente preenchi dos por diferentes matérias de tal modo que não haja neles nenhum ponto em que a presença da matéria não possa ser encontrada todo real ainda assim possui o seu grau de resistência ou de peso face à mesma qualidade grau este que sem redução da quantidade extensi va ou da variedade pode ser ao infinito cada vez menor até passar ao vazio e desaparecer Assim uma expansão que preenche um espaço 196 como por exemplo o calor e assim também todas as outras realidades no fenômeno podem sem deixar nenhuma parte desse espaço vazia decrescer em seus graus até ao infinito e nem por isso preencher me nos o espaço com esses mínimos graus do que qualquer outro fenôme no com graus maiores Minha intenção aqui não é de modo algum afir mar que isso se passa efetivamente com as matérias segundo os seus pesos específicos mas sim explicitar a partir de um princípio do enten dimento puro que a natureza de nossas percepções torna possível esse tipo de explicação e que o real é equivocadamente assumido como igual segundo o grau e como diferente apenas segundo a agregação e sua quantidade extensiva algo que se pretende afirmar inclusive por meio de um princípio a priori do entendimento Ainda assim para um pesquisador natural habituado à reflexão transcendental e por isso tornado cauteloso essa antecipação tem sempre algo de extravagante e levanta alguma suspeita quanto ao en tendimento poder antecipar esse tipo de proposição sintética como aquela acerca do grau de todo real nos fenômenos e também portan to quanto à própria possibilidade da diferença interna da sensação quando se faz abstração de sua qualidade empírica Não é uma ques tão indigna de solução nessa medida saber como o entendimento pode falar a priori e sinteticamente sobre fenômenos e mesmo ante cipálos naquilo que têm de própria e meramente empírico a saber aquilo que diz respeito à sensação A qualidade da sensação é sempre meramente empírica e não pode ser representada a priori por exemplo as cores o gosto etc O real contudo que corresponde às sensações em geral por oposição à negação 0 representa apenas algo cujo conceito contém em si um ser e nãó significa senão a síntese em uma consciência empírica em geral No sentido interno com efeito a consciência empírica pode ser elevada do zero a qualquer grau maior de quantidade de tal modo que a mesmíssima quantidade extensiva da intuição uma superfície iluminada por exemplo suscita tanta sensação quanto um agregado de muitas outras menos iluminadas em conjunto Podese portanto fazer total abstração da quantidade extensiva do fenômeno e no en tanto representarse ao mesmo tempo na mera sensação em um mo mento uma síntese da elevação uniforme desde o zero até a consciência empírica dada Embora portanto todas as sensações enquanto tais B 217 B 218 197 somente sejam dadas de fato a posteriori a sua característica de pos suir um grau pode ser conhecida a priori É curioso que só possamos conhecer a priori uma única qualidade das quantidades em geral qual seja a continuidade ao passo que de todas as qualidades o real dos fe nômenos só podemos conhecer a priori a sua quantidade intensiva a saber que possuem um grau todo o resto é deixado à experiência 3 Analogias da experiência O seu princípio é a experiência só é possível por meio da re presentação de uma conexão das percepções Prova A experiência é um conhecimento empírico i e um conhecimento que determina um objeto por meio de percepções Ela é portanto uma síntese das percepções que não está ela própria contida nas percep ções mas antes contém a unidade sintética do diverso das mesmas em uma consciência que por seu turno constitui o essencial de um conhe b 219 cimento dos objetos dos sentidos i e da experiência não apenas da intuição ou sensação dos sentidos Agora é verdade que as percepções só se juntam umas às outras na experiência de maneira contingente de modo que a necessidade de sua conexão não se evidencia nem pode ser evidenciada a partir das próprias percepções pois a apreensão é apenas uma reunião do diverso da intuição empírica não se encontran do nela uma representação da necessidade da existência interligada dos fenômenos que ela reúne no espaço e no tempo Como a experiên cia no entanto é um conhecimento dos objetos por meio de percep ções e portanto a relação do diverso na existência deve ser representa da não como é reuqjda no tempo mas como é objetivamente no tempo não podendo o tempo mesmo contudo ser percebido então a determi nação da existência dos objetos no tempo só pode ocorrer por meio de sua conexão no tempo em geral portanto por meio de conceitos conec tivos a priori Como estes no entanto trazem sempre consigo a neces sidade a experiência só é possível por meio de uma representação da li gação necessária das percepções Os três modi do tempo são a permanência a sucessão e a simul taneidade Por conseguinte três regras de todas as relações temporais 198 dos fenômenos segundo as quais a existência de cada qual pode ser de terminada em relação à unidade de todo o tempo antecedem toda ex periência e a tornam primeiramente possível O princípio universal das três analogias se baseia na unidade ne cessária da apercepção em relação a toda consciência empírica possí vel da percepção a todo tempo e portanto dado que essa unidade lhe serve a priori de fundamento baseiase também na unidade sinté tica de todos os fenômenos segundo suas relações no tempo Pois a apercepção originária se refere ao sentido interno o conjunto com pleto de todas as representações e de fato se refere a priori à sua forma i e à relação da consciência empírica do diverso no tempo Todo esse diverso com efeito deve ser unificado na apercepção origi nária segundo suas relações temporais pois é isto o que diz a sua uni dade transcendental a priori sob a qual está tudo aquilo que deve pertencer aos meus conhecimentos i e os meus próprios e que portanto pode tornarse um objeto para mim Essa unidade sintética nas relações temporais de todas as percepções que é determinada a priori é a lei portanto segundo a qual toda determinação empírica do tempo tem de estar sob as regras da determinação universal do tempo e as analogias da experiência de que trataremos agora têm de ser essas regras Esses princípios têm a peculiaridade de não levar em conta os fe nômenos ou a síntese de sua intuição empírica mas apenas a sua existência e a relação de uns com os outros face a tal existência Ago ra o modo pelo qual algo é apreendido no fenômeno pode ser deter minado a priori na medida em que a regra de sua síntese possa ao mesmo tempo fornecer essa intuição a priori em cada exemplo empí rico dado i e possa produzila desse modo A existência dos fenôme nos no entanto não pode ser conhecida a priori e mesmo que conse guíssemos por esse caminho concluir sobre alguma existência nós ainda assim não poderíamos conhecêla de maneira determinada i e antecipar aquilo que diferencia a sua intuição empírica das demais Os dois princípios precedentes a que denominei matemáticos por eles justificarem a aplicação da matemática aos fenômenos so mente diziam respeito à possibilidade dos fenômenos e mostravam como estes seja segundo sua intuição seja segundo o real de suas percepções podem ser engendrados de acordo com as regras de uma B 220 B 221 199 síntese m atem ática e com o por conseguinte tanto no prim eiro com o no segundo caso podem ser em pregadas a quantidade num érica e com ela a determ inação do fenôm eno com o quantidade Assim eu po derei por exem plo com por e fornecer de m aneira determ inada i e construir o grau das sensações da lu z do sol a pa rtir digam os de 200000 ilum inações pela lua P o r isso nós podem os denom inar cons titu tivos aos prim eiros princípios Tem de ser inteiramente diverso o caso daqueles princípios que devem subordinar a priori a existência dos fenômenos a regras Pois b 222 como esta não pode ser construída eles só valerão para a relação da existência e fornecerão princípios meramente regulativos Não se tra ta portanto nem de axiomas nem de antecipações tratase isto sim de que quando uma percepção nos é dada em relação a outra mesmo que indeterminada fcm uma relação temporal não se poderá dizer a priori qual é esta outra percepção nem quão grande ela é mas ape nas como está necessariamente ligada àquela segundo a existência neste modo28 do tempo Em filosofia as analogias significam algo mui to diferente do que representam na matemática Nesta elas são fór mulas que enunciam a igualdade de duas relações quantitativas e são sempre constitutivas de tal modo que se três membros da proporção são dados também o quarto pode ser dado i e construído Na filoso fia porém a analogia é a igualdade não de duas relações quantitati vas mas sim de duas relações qualitativas em que só posso conhecer e fornecer a priori a partir de três membros dados a relação a um quarto membro e não este membro mesmo mas tenho uma regra para procurálo na experiência e uma característica para nela encon trálo Uma analogia da experiência portanto será apenas uma regra segundo a qual a unidade da experiência deve originarse das percep ções não como percepção mesma enquanto intuição empírica em ge ral e valer como princípio dos objetos fenômenos não constitutiva B 223 mas apenas regulativamente O mesmo valerá para os postulados do pensamento empírico em geral que dizem respeito tanto à síntese da mera intuição forma do fenômeno como à da percepção matéria do fenômeno e à da experiência relação entre essas percepções sendo de fato princípios apenas regulativos e se diferenciando dos matemá 28 28 Modo em latim no original NT 200 ticos que são constitutivos não segundo a certeza que em ambos per manece firme a priori mas segundo o tipo de evidência i e o que é neles intuitivo e portanto também segundo o tipo de demonstração O que foi lembrado a propósito de todos os princípios sintéticos no entanto e que tem de ser aqui atentamente observado é o seguin te essas analogias têm seu significado e validade não como princípios do uso transcendental do entendimento mas apenas do empírico e portanto só podem ser demonstradas enquanto tais por conseguin te os fenômenos têm de ser subsumidos não sob as categorias sim plesmente mas sob os seus esquemas Pois se os objetos a que esses princípios devem referirse fossem coisas em si mesmas seria inteira mente impossível conhecer algo deles sinteticamente e a priori Mas eles não passam de fenômenos cujo completo conhecimento a que todos os princípios a priori têm de reduzirse no fim das contas é sim plesmente a experiência possível aqueles princípios só podem ter por objetivo portanto as condições da unidade do conhecimento empíri co na síntese dos fenômenos esta só é pensada porém no esquema do conceito puro do entendimento de cuja unidade como síntese em geral a categoria contém a função não restringida por nenhuma con dição sensível Através desses princípios portanto nós só estaremos autorizados a compor os fenômenos segundo uma analogia com a unidade lógica e universal dos conceitos e no princípio empregare mos a categoria mas na execução a aplicação aos fenômenos empre garemos o esquema dela em seu lugar como chave de seu uso ou an tes o colocaremos ao seu lado como condição restritiva sob o nome de uma fórmula daquele A Primeira analogia Princípio da permanência da substância Em toda modificação dos fenômenos permanece a substância e seu quantum na natu reza não é nem aumentado nem diminuído Prova Todos os fenômenos estão no tempo que como substrato como forma permanente da intuição interna permite que tanto a simulta neidade como a sucessão sejam representadas O tempo portanto B 224 201 b 225 em que toda modificação dos fenômenos deve ser pensada permane ce e não se modifica pois é apenas nele que a sucessão e a simultanei dade podem ser representadoscomo suas determinações Agora o tempo não pode ser percebido em si mesmo Consequentemente tem de ser encontrado nos objetos da percepção i e nos fenômenos o substrato que representa o tempo em geral e no qual toda modifica ção ou simultaneidade pode ser percebida na apreensão por meio da relação dos fenômenos a ele O substrato de todo real contudo i e aquilo que pertence à existência das coisas é a substância em que tudo que pertence à existência só pode ser pensado como determina ção O único permanente portanto em relação ao qual todas as rela ções temporais dos fenômenos podem ser determinadas é a substân cia no fenômeno i e o real do mesmo que como substrato de toda modificação permanece sempre o mesmo Como pois ele não pode mudar na existência seu quantum na natureza também não pode ser aumentado nem diminuído Nossa apreensão do diverso do fenômeno é sempre sucessiva e portanto cambiante Nós não podemos jamais determinar portanto se esse diverso como objeto da experiência é simultâneo ou sucessi vo a não ser que haja algo subjacente a ele que sempre é i e algo B 226 constante e permanente em que toda modificação e simultaneidade não passam de diferentes modos modi do tempo pelos quais o per manente existe Apenas no permanente portanto são possíveis as re lações temporais pois a simultaneidade e a sucessão são as únicas re lações no tempo i e o permanente é o próprio substrato da repre sentação empírica do tempo o único em que a representação do tem po é possível A permanência exprime em geral o tempo como correla to constante de toda existência dos fenômenos de toda modificação e de toda concomitância Pois a modificação não diz respeito ao próprio tempo mas apenas aos fenômenos no tempo do mesmo modo como a simultaneidade não é um modus do próprio tempo cujas partes não são jamais simultâneas mas sempre sucessivas Caso se quisesse atri buir ao próprio tempo uma sucessão seria preciso conceber um outro tempo em que essa sucessão fosse possível É apenas através do perma nente que a existência recebe nas diferentes partes da sucessão tem poral uma quantidade denominada duração Pois na mera sucessão a existência está sempre desaparecendo e surgindo e não tem nunca a 202 mínima quantidade Sem esse permanente portanto não há relações temporais Agora o tempo não pode ser percebido em si mesmo por tanto esse permanente nos fenômenos é o substrato de toda determi nação temporal e por conseguinte também a condição de possibili dade de toda unidade sintética das percepções i e da experiência e toda existência e toda modificação no tempo só podem ser vistas nes se permanente como um modus da existência daquilo que persiste e permanece Em todos os fenômenos portanto o permanente é o pró prio objeto i e a substância phaenomenon29 e tudo o que muda ou pode mudar pertence apenas ao modo como essa substância ou substâncias existem portanto às suas determinações Eu creio que em todos os tempos não apenas o filósofo mas tam bém o entendimento comum pressupuseram essa permanência como um substrato de toda modificação dos fenômenos e também o assu miram sempre como indubitável com a diferença de que o filósofo se exprime de maneira um pouco mais precisa quanto a isso ao dizer em todas as modificações no mundo a substância permanece e apenas os acidentes mudam Mas eu não encontro em parte alguma sequer a tentativa de provar essa tão sintética proposição e apenas raramente de fato ela é colocada tal como merece no topo das leis puras e a pri ori subsistentes da natureza Na verdade a proposição de que a subs tância é permanente é tautológica Pois essa permanência é a única razão pela qual nós aplicamos a categoria de substância ao fenômeno e seria preciso provar que há algo permanente em todos os fenôme nos no qual o modificável não passa de uma determinação de sua existência Como tal prova no entanto posto dizer respeito a uma proposição sintética a priori não pode jamais ser conduzida dogmati camente i e a partir de conceitos e como nunca se pensou que essa espécie de proposição só seria válida em referência à experiência pos sível e que portanto só poderia ser provada por meio de uma dedu ção da possibilidade da última então não é de estranharse que sem pre tenha sido posta como fundamento de toda experiência pois se 29 Aqui vale lembrar novamente que Erscheinung significa aparição i e o substantivo cor respondente a aparecer scheinen E Kant em geral estabelece uma sinonímia entre Erscheinung e phaenomenon É como se ele dissesse aqui que o substrato das aparições é o próprio aparecer aquilo que lhes é essencial o próprio fato de que existem ao passo que as modificações dizem respeito ao modo como existem NT B 227 B 228 203 sente essa necessidade no conhecimento empírico mas nunca tenha sido provada Perguntouse a um filósofo quanto pesâ a fumaça Ele respon deu retire do peso da madeira queimada o peso das cinzas remanes centes e você terá o peso da fumaça Ele pressupôs como não contra ditório portanto que mesmo no fogo a matéria substância não se perderia mas apenas a forma da mesma sofreria uma alteração Era do mesmo tipo a proposição do nada não sai nada apenas mais uma inferência a partir do princípio da permanência ou antes da existên cia incessante do verdadeiro sujeito nos fenômenos Pois se aquilo que nos fenômenos se quer denominar substância deve ser o verdadei ro substrato de toda determinação do tempo então toda existência no tempo passado como também no futuro só pode ser determinada dessa única maneirados só podemos dar a um fenômeno o nome de substância portanto porque pressupomos a sua existência em todo o B 2 2 9 tempo o que não se exprime bem com a palavra permanência já que esta se aplica mais ao tempo futuro Como a necessidade interna de permanecer no entanto é inseparavelmente ligada à necessidade de ter sempre existido a expressão pode ser mantida Gigni de nihilo ni hil in nihilum nil posse reverti eram duas proposições que os anti gos conectavam inseparavelmente e que hoje são separadas devido a um malentendido pois se pensa que elas dizem respeito às coisas em si mesmas e que a primeira deveria oporse à dependência do mundo em relação a uma causa superior mesmo no que concerne à sua subs tância uma preocupação que é inútil já que aqui só se trata de fenô menos no campo da experiência cuja unidade não seria jamais possí vel se deixássemos surgir coisas novas no que diz respeito à substân cia Pois nesse caso cairia por terra a única coisa que pode represen tar a unidade do témpo a saber a identidade do substrato como aqui lo em que toda modificação tem unidade completa Essa permanên cia no entanto nada mais é do que o modo de nos representarmos a existência das coisas no fenômeno As determinações de uma substância que não são senão os mo dos particulares de sua existência denominamse acidentes Elas são sempre reais pois dizem respeito à existência da substância as nega 30 30 Nada pode surgir do nada nada pode reverter a nada 204 ções são apenas determinações que exprimem o não ser de algo na substância Caso se atribua a esse real na substância uma existência especial31 o movimento por exemplo como um acidente da matéria denominase inerência a essa existência para diferenciála da existên cia da substância que é denominada subsistência Mas aqui se origi nam muitos malentendidos sendo mais apropriado e correto caracte rizar o acidente pelo modo como a existência de uma substância é de terminada positivamente Graças entretanto às condições do uso ló gico de nosso entendimento é inevitável tomar isoladamente aquilo que pode mudar na existência de uma substância ao passo que a substância permanece e considerálo em relação ao que é verdadeira mente permanente e fundamental32 daí essa categoria estar também sob o título das relações mais como a condição das mesmas do que no sentido de ela própria conter uma relação Nessa permanência pois fundase também a pertinência do con ceito de modificação 0 surgir e o desaparecer não são modificações daquilo que surge ou desaparece A modificação é um modo de existir que se segue a um outro modo de existir do mesmo e único objeto Por isso tudo o que se modifica permanece e apenas o seu estado muda Como essa mudança portanto só diz respeito às determina ções que podem cessar ou também iniciarse nós podemos então di zer numa expressão aparentemente paradoxal que apenas o perma nente a substância se modifica e o cambiável não sofre qualquer modificação mas apenas uma mudança33 em que algumas determina ções cessam e outras se iniciam A modificação assim só pode ser percebida nas substâncias e o simples surgir ou desaparecer quando não se trata de uma mera de 31 Linhas antes traduzimos besondere Arten por modos particulares Aqui julgamos preferí vel traduzir besonderes Dasein por existência especial porque a exemplo de Pluhar en tendemos que o adjetivo besonder tem aqui o sentido de diferenciado por oposição a algo que fosse igual ao passo que no caso anterior ele tinha o sentido de particular por oposi ção a algo geral no caso o modo de existir em geral NT 32 A exemplo de Guyer julgamos preferível traduzir Radicale por fundamental sacrificando a literalidade para deixar claro o sentido em que Kant utiliza aí a palavra Radical aquilo que está na raiz no fundamento NT 33 Aqui Kant começa a diferenciar as palavras Veränderung e Wechsel que poderiam ser am bas traduzidas por modificação Optamos por manter modificação para a primeira que é mais utilizada e adotar mudança para Wechsel NT B 230 B 231 205 terminação do permanente não pode ser nenhuma percepção possí vel pois é justamente esse permanente que torna possível a represen tação da passagem de um estada ao outro e do nãoserao ser que só podem ser empiricamente conhecidos portanto como determinações cambiantes daquilo que permanece Suponham que algo simplesmen te comece a ser vocês precisam ter então um ponto do tempo em que ele não era Como vocês pretendem fixálo no entanto senão na quilo que já existe Pois um tempo vazio que viesse antes não é um objeto da percepção Se porém vocês conectarem esse surgir às coi sas que existiam antes e prosseguirem até aquilo que surge este últi mo seria apenas uma determinação daquelas enquanto permanentes E o mesmo vale para o desaparecer pois este pressupõe a representa ção empírica de um tempo em que o fenômeno não existe mais As substâncias ao fenômeno são os substratos de todas as deter minações do tempo O surgir de umas e o desaparecer de outras su primiriam até mesmo a única condição da unidade empírica do tem po e os fenômenos se refeririam então a dois tempos em torno aos quais estaria fluindo a existência o que é absurdo Pois só existe um B 232 tempo no qual os diferentes tempos têm de ser postos não simultanea mente mas uns após os outros De acordo com isso pois a permanência é a única condição ne cessária sob a qual os fenômenos são determináveis como coisas ou objetos em uma experiência possível Quanto ao que seja porém o critério empírico dessa permanência necessária e com ela da substan cialidade dos fenômenos teremos a oportunidade na sequência de observar o que é necessário B Segunda analogia Princípio da sucessão temporal segundo a lei da causalidade todas as modificações acontecem segundo a lei da conexão de causa e efeito Prova O último princípio estabeleceu que todos os fenômenos da su cessão temporal são apenas modificações i e um sucessivo ser e não ser das determinações da substância que permanece portanto o 206 ser da própria substância que se segue ao seu não ser ou o não ser que se segue à existência em outras palavras que o surgir ou o desa parecer da própria substância não acontecem Isto também poderia exprimirse do seguinte modo toda mudança sucessão dos fenôme nos é apenas modificação pois na medida em que o conceito de mo dificação pressupõe como existente portanto como permanente o mesmo sujeito com duas determinações opostas o surgir e o desapa recer da substância não são modificações da mesma Após esta ob servação prévia se segue a prova Eu percebo que os fenômenos se seguem uns aos outros i e que em um momento se verifica um estado da coisa cujo oposto se verifi cava no momento anterior Eu efetivamente conecto portanto duas percepções no tempo Agora a conexão não é fruto do mero sentido e da intuição mas sim o produto de uma faculdade sintética da imagi nação que determina o sentido interno no que concerne à relação temporal Esta última no entanto pode ligar os dois referidos esta dos de dois modos fazendo de um ou de outro o antecedente pois o tempo não pode ser percebido em si mesmo nem o antecedente e o seguinte podem ser determinados no objeto em relação a ele como que empiricamente Eu apenas sou consciente portanto de que mi nha imaginação coloca um antes e o outro depois e não que um esta do anteceda o outro no objeto ou por outras palavras a relação ob jetiva dos fenômenos que se seguem uns aos outros permanece inde terminada através da mera percepção Para pois que essa relação possa ser conhecida como determinada a relação entre os dois esta dos tem de ser pensada de tal modo que por meio dela se determine de maneira necessária qual tem de ser colocado antes qual depois e não inversamente O conceito porém que traz consigo uma necessi dade da unidade sintética só pode ser um conceito puro do entendi mento o qual não se localiza na percepção e aqui ele é o conceito da relação de causa e efeito pelo qual o primeiro determina o último como consequência e não como algo que simplesmente pudesse vir antes na imaginação ou mesmo como algo que não pudesse ser per cebido em parte alguma A própria experiência portanto i e o co nhecimento empírico da mesma só é possível porque nós subordina mos a sucessão dos fenômenos portanto toda modificação à lei da causalidade mesmo eles portanto só são possíveis como objetos da experiência segundo essa mesma lei B 233 B 234 207 A apreensão do diverso do fenômeno é sempre sucessiva As re presentações das partes se seguem umas às outras Se elas também se seguem no objeto é um segundo ponto da reflexão que não está contido no primeiro Tudo no entanto e mesmo toda representação na medida em que se é dela consciente pode ser denominado objeto B 235 o que esta palavra significa nos fenômenos contudo não no sentido de que eles como representações são objetos mas no de que carac terizam um objeto tem de ser investigado mais a fundo Uma vez que como representações apenas são ao mesmo tempo objetos da cons ciência eles não se distinguem de modo algum da apreensão i e da recepção na síntese da imaginação e é preciso dizer portanto que o diverso dos fenômenos é sempre gerado na mente de maneira suces siva Se os fenômenos fossem coisas em si mesmas ninguém poderia avaliar a partir da sucessão das representações como o seu diverso é ligado no objeto PoíS nós só lidamos com as nossas representações o que as coisas poderiam ser em si mesmas sem considerar as repre sentações pelas quais nos afetam está inteiramente fora de nossa es fera cognitiva Agora se os fenômenos não são coisas em si mesmas e no entanto são tudo o que pode sernos dado para o conhecimento eu devo indicar o que pertence ao próprio diverso dos fenômenos no que diz respeito à ligação no tempo sendo que a sua representação na apreensão é sempre sucessiva É sucessiva por exemplo a apreensão do diverso no fenômeno de uma casa diante de mim A questão ago ra é se o próprio diverso dessa casa é também em si sucessivo e isto por certo ninguém concederá Tão logo porém eu eleve meus concei b 236 tos de um objeto até um significado transcendental a casa certamen te não é uma coisa em si mesma mas apenas um fenômeno i e uma representação cujo objeto transcendental é desconhecido O que en tendo eu contudo quando pergunto como o diverso do próprio fenô meno que no entanto nada é em si mesmo pode ser ligado Aquilo que está na apreensão sucessiva será considerado aqui como repre sentação mas o fenômeno que me é dado apesar de não ser mais do que um conjunto dessas representações será considerado como o seu objeto com o qual deve concordar o meu conceito que extraio das representações da apreensão Vêse logo que como a concordância do conhecimento com o objeto é a verdade só se pode perguntar aqui pelas condições formais da verdade empírica e o fenômeno em con traposição às representações da apreensão só pode ser representado 208 como o objeto delas distinto se está sob uma regra que o distingue de todas as demais apreensões e torna necessário um modo de ligar o di verso O que no fenômeno contém a condição dessa regra necessária da apreensão é o objeto Continuemos então com nossa tarefa Que algo aconteça i e que venha a ser algo ou um estado que antes não existia não pode ser empiricamente percebido onde não houver um fenômeno precedente que não contenha em si esse estado pois uma realidade que se segue a um tempo vazio portanto um surgir que não é antecedido por ne nhum estado das coisas pode ser tão pouco percebido quanto o pró prio tempo vazio Toda apreensão de um acontecimento portanto é uma percepção que se segue a outra Como este é o caso porém em qualquer síntese da apreensão tal como mostrei acima a respeito do fenômeno de uma casa essa apreensão não se distingue ainda de ne nhuma outra Mas eu noto também que se em um fenômeno que con tém um acontecimento eu denomino A ao estado precedente da per cepção e B ao seguinte somente B pode seguirse a A na apreensão e a percepção A não pode seguirse a B mas somente antecedêla Su ponhamos por exemplo que eu veja um navio seguindo a corrente rio abaixo Minha percepção de sua posição mais abaixo se segue à percepção de sua posição mais acima no curso do rio e é impossível que na apreensão desse fenômeno o navio fosse percebido primeiro abaixo depois acima na corrente Está aqui determinada assim a or dem na sequência das percepções na apreensão e esta última tem de estar ligada àquela No exemplo anterior da casa minhas percepções podiam começar na apreensão de seu topo e terminar na base mas também podiam começar por baixo e terminar em cima ou do mes mo modo apreender o diverso da intuição empírica pela esquerda òu pela direita Na série dessas percepções portanto não havia qualquer ordem determinada tornando necessário por onde eu teria de começar na percepção para ligar o diverso empiricamente Tal regra contudo encontrase sempre presente na percepção daquilo que acontece e tor na necessária a ordem das percepções que se seguem umas às outras na apreensão desse fenômeno Em nosso caso portanto eu terei de deduzir a sequência subjeti va da apreensão da sequência objetiva dos fenômenos já que aquela é inteiramente indeterminada e não diferencia um fenômeno do ou B 237 B 238 209 tro Por si só aquela não prova nada acerca da conexão do diverso no objeto pois é inteiramente arbitrária Esta conexão consistirá por tanto na ordem do diverso do fenômeno segundo a qual a apreensão de um o que acontece se segue à do outro o que precede de acordo com uma regra Somente assim estarei autorizado a dizer do próprio fenômeno e não apenas de minha apreensão que nele se pode encon trar uma sequência cujo significado está em eu não poder ordenar a apreensão de outro modo que não exatamente nessa sequência Segundo tal regra portanto eu tenho de situar naquilo que em B 239 geral antecede um acontecimento a condição para uma regra segun do a qual esse acontecimento tem de vir sempre e necessariamente em seguida mas eu não posso inversamente retroceder do aconteci mento e determinar através da apreensão aquilo que antecede Pois de um ponto seguii e no tempo não há fenômeno que retroceda ao anterior ainda que se refira a algum anterior de um dado tempo a um seguinte determinado pelo contrário a progressão é necessária Como de qualquer forma ele é algo que vem depois eu tenho de refe rilo necessariamente a um outro qualquer que o antecede e ao qual ele se segue segundo uma regra i e de maneira necessária de modo que o acontecimento como condicionado fornece a indicação segura de uma condição mas é esta que o determina Se o acontecimento não fosse precedido por algo a que ele tem de seguirse segundo uma regra toda sequência de percepções estaria simplesmente na apreensão i e seria meramente subjetiva e não se poderia determinar através dela objetivamente qual teria de ser o antecedente e qual o subsequente nas percepções Nós só teríamos nesse caso um jogo de representações que não se referiria a qualquer objeto i e através de nossa percepção um fenômeno não poderia ser distinguido do outro quanto à relação temporal pois a sucessão é sempre igual no apreender e não há nada no fenômeno que a deter b 240 mine de tal modo que por meio dela uma certa sequência fosse torna da objetivamente necessária Eu não diria portanto que dois estados se seguem um ao outro no fenômeno mas apenas que uma apreensão se segue à outra o que é meramente subjetivo e não determina qual quer objeto não podendo valer portanto para o conhecimento de al gum objeto nem mesmo no fenômeno 210 Se nós temos a experiência pois de que algo acontece nós sem pre pressupomos nela que há algum precedente ao qual ele se segue segundo uma regra Pois sem este eu não poderia dizer do objeto que ele se segue a algo pois a mera sequência em minha apreensão se não determinada por uma regra em relação a um precedente não fundamenta qualquer sequência no objeto É sempre em relação a uma regra portanto segundo a qual os fenômenos são determina dos pelo antecedente em sua sequência i e tal como acontecem que eu torno objetiva a minha síntese subjetiva da apreensão e é somente sob essa pressuposição que a própria experiência de algo que acontece é possível Isso parece de fato contradizer todas as observações feitas até aqui sobre a trajetória de nosso uso do entendimento de acordo com as quais foi somente através da percepção e comparação de muitos acontecimentos como concordantes com seus fenômenos precedentes que nós fomos levados a descobrir uma regra segundo a qual certos acontecimentos se seguem sempre a certos fenôme nos e a assim formular o conceito de causa Por esses passos tal conceito seria meramente empírico e a regra por ele fornecida se gundo a qual tudo o que acontece tem uma causa seria tão contin gente quanto a própria experiência sua universalidade e necessida de seriam meras simulações e não teriam uma verdadeira validade universal já que não seriam fundadas a príori mas apenas na indu ção Aqui ocorre o mesmo porém que com outras representações pu ras a príori como o espaço e o tempo por exemplo que nós só pude mos extrair da experiência como conceitos claros porque os havía mos colocado na experiência produzindo esta última através deles Evidentemente a clareza lógica dessa representação de uma regra que determina a série dos acontecimentos como um conceito de cau sa só é possível se a tivermos utilizado na experiência mas a conside ração da mesma como condição da unidade sintética dos fenômenos no tempo era o fundamento da própria experiência e portanto a precedia a príori Tratase de mostrar através de exemplos portanto que nós não poderíamos jamais mesmo na experiência atribuir ao objeto uma se quência um acontecimento em que ocorre algo que não havia antes B 241 211 B 242 e diferenciálo do subjetivo de nossa apreensão se não houvesse uma regra p o r fundam ento nos coagindo34 a observar esta ordem das per cepções em vez daquela outra eé de fato esta coação que antes de mais nada torna possível a representação de uma sucessão no objeto Nós temos representações em nós das quais podemos também tor narnos conscientes Esta consciência por seu turno pode ser tão es tendida ou pontual quanto se queira mas aquelas seguem sendo repre sentações i e determinações internas de nossa mente nesta ou na quela relação temporal Como chegamos à conclusão no entanto de que podemos dar a essas representações um objeto ou para além de sua realidade subjetiva como modificações atribuirlhes algum tipo de realidade objetiva Um significado objetivo não pode residir na referên cia a outra representação daquilo que se gostaria de denominar obje to pois do contráriose renovaria a questão como pode essa represen tação por seu turno sair de si mesma e para além do significado subje tivo que lhe é próprio como determinação do estado da mente receber um significado objetivo Se investigamos o que a referência a um obje to dá então a nossas representações em termos de uma nova caracte rística e qual a dignidade que assim recebem verificamos que ela não faz mais do que tornar necessária de um certo modo a ligação das re B 243 presentações e submetêlas a uma regra e que inversamente nossas representações só recebem um significado objetivo porque uma certa ordem das mesmas é necessária na relação temporal Na síntese dos fenômenos algo sempre se segue a algo no diverso das representações Mas nenhum objeto é aqui representado pois nes sa sequência que é comum a todas as apreensões nada se distingue de nada Tão logo eu perceba ou pressuponha contudo que nessa se quência há uma rqferência a um estado anterior do qual a representa ção se segue de acordo com uma regra algo se apresenta como aconte cimento ou como o que ocorre i e eu reconheço um objeto que tenho de situar no tempo numa certa posição determinada a qual não pode ria ser outra a partir do estado precedente Se percebo portanto que algo acontece está primeiramente contido nessa representação que ou 34 Traduzimos nötigen por coagir e na oração seguinte Nötigung por coação dando sen tido à frase como um todo Nötigen significa coagir forçar ou necessitar assim como Nöti gung significa coação forçação e necessitação a primeira das quais é claramente preferível em português NT 212 tro algo o precede pois é justamente na referência a este que o fenôme no recebe sua relação temporal qual seja existir depois de um tempo precedente em que não existia Mas a sua específica posição no tempo nessa relação ele só pode receber porque é pressuposto algo no esta do precedente a que ele se segue sempre i e segundo uma regra donde se segue primeiramente que eu não posso inverter a sequência e colocar o que acontece antes daquilo a que ele se segue e em segun do lugar que se o estado precedente é posto esse específico aconteci mento a ele se segue inevitável e necessariamente Dáse assim que se instaura uma ordem entre nossas representações na qual o presente na medida em que veio a ser fornece a indicação para um certo estado precedente como um correlato embora ainda indeterminado desse acontecimento que é dado o qual porém referese determinadamente a esse correlato como sua consequência e o conecta necessariamente a si na série temporal Se contudo é uma lei necessária de nossa sensibilidade portan to uma condição formal de todas as percepções que o tempo prece dente determina necessariamente o subsequente no sentido de que não posso chegar ao subsequente a não ser através do antecedente então é também uma indispensável lei da representação empírica da série temporal que os fenômenos do tempo passado determinam to das as existências no tempo seguinte e que estas só têm lugar como acontecimentos na medida em que aqueles determinam sua existên cia no tempo i e as estabelecem segundo uma regra Pois é somente nos fenômenos que podemos conhecer empiricamente essa conti nuidade na interconexão dos tempos O entendimento pertence a toda experiência e à sua possibilida de e a primeira coisa que ele faz quanto a isso não é tornar clara a re presentação dos objetos mas sim tornar possível a representação de um objeto em geral Mas isto só ocorre porque ele transfere a ordem do tempo para os fenômenos e sua existência atribuindo a cada um deles como subsequente uma posição no tempo determinada a prio ri em relação aos fenômenos precedentes sem a qual eles não concor dariam com o próprio tempo que determina a priori a posição de to das as suas partes Esta determinação das posições todavia não pode ser emprestada à relação dos fenômenos com o tempo absoluto pois este não é um objeto da percepção mas os fenômenos é que têm B 244 B 245 213 pelo contrário de determinar eles mesmos uns aos outros as suas posições no tempo tornando a estas necessárias na ordem do tempo i e aquilo que aí se segue ou acontece tem de seguirse àquilo que es tava contido no estado anterior segundo uma regra universal E disso resulta uma série dos fenômenos que por meio do entendimento pro duz e torna necessárias na série das percepções possíveis a mesmís sima ordem e a concatenação constante que se encontram a priori na forma da intuição interna o tempo onde todas as percepções têm de possuir a sua posição Que algo aconteça é portanto uma percepção que pertence a uma experiência possível a qual se torna real se eu observo o fenôme no de acordo com sua posição como determinado no tempo portan to como um objeto que segundo uma regra pode ser sempre encon B 246 trado na interconexão das percepções Esta regra porém de determi nar algo segundo a sequência temporal é a regra segundo a qual na quilo que antecede pode ser encontrada a condição sob a qual o acon tecimento se segue sempre i e de maneira necessária Logo o prin cípio de razão suficiente é o fundamento da experiência possível ou mais especificamente do conhecimento objetivo dos fenômenos no que diz respeito à relação dos mesmos na série sequencial do tempo A demonstração desse princípio no entanto baseiase tão somen te nos seguintes momentos A todo conhecimento empírico pertence a síntese do diverso através da imaginação que é sempre sucessiva i e as representações sempre se seguem nela umas às outras A se quência porém não é determinada na imaginação segundo a ordem o que tem de vir antes e depois e a sequência das representações su cessivas pode ser tomada tanto para trás como para frente Se essa síntese contudo uma síntese da apreensão do diverso de um dado fenômeno a ordem é determinada no objeto ou mais propriamente falando é uma ordem da síntese sucessiva que determina um objeto e segundo a qual algo vem necessariamente antes e uma vez este pos to o outro tem de seguirse a ele necessariamente Se minha percep ção portanto deve conter o conhecimento de um acontecimento i e de que algo realmente acontece ela tem de ser um juízo empírico em que se concebe a sequência como determinada i e em que se B 247 pressupõe um outro fenômeno no tempo ao qual ele tem de seguirse necessariamente ou segundo uma regra Se pelo contrário eu puses 214 se o antecedente e o acontecimento não se seguisse a ele necessaria mente eu teria de considerar essa percepção um mero jogo subjetivo de minhas imagens e caso me representasse sob ela algo objetivo te ria de denominar a este um mero sonho Por conseguinte a relação dos fenômenos como percepções possíveis segundo a qual o subse quente o que acontece no que diz respeito à sua existência é deter minado no tempo pelo antecedente de maneira necessária e de acor do com uma regra portanto a relação da causa ao efeito é a condi ção da validade objetiva de nossos juízos empíricos no que diz respei to à série das percepções portanto de sua verdade empírica e conse quentemente da verdade da experiência O princípio da relação cau sal na sequência dos fenômenos vale também por conseguinte para todos os objetos da experiência sob as condições da sucessão pois ele próprio é o fundamento da possibilidade de tal experiência Aqui ainda se manifesta no entanto uma incerteza que tem de ser suprimida Em nossa fórmula o princípio da conexão causal entre os fenômenos está limitado à série sequencial dos mesmos em seu uso contudo também seria possível aplicálo ao acompanhamento dos fenômenos e causa e efeito poderiam ser simultâneos Pode ha ver calor em um quarto por exemplo que não se encontra ao ar livre Eu procuro em torno de mim por uma causa e encontro um forno aquecido Este é então como causa simultâneo a seu efeito o calor do ambiente Quanto ao tempo portanto não há aqui qualquer se quência entre causa e efeito mas pelo contrário eles são simultâneos e ainda assim a lei vale A maior parte das causas efetivas na nature za é simultânea a seus efeitos e a sequência temporal dos últimos só é ordenada porque a causa não pode esgotar todo o seu efeito em um instante No instante porém em que este surge pela primeira vez ele é sempre simultâneo à causalidade de sua causa pois se esta houves se cessado de ser um instante antes ele não teria sequer surgido Aqui se deve notar que o que se tem em vista é a ordem do tempo e não o seu decurso a relação permanece mesmo que nenhum tempo tenha transcorrido O tempo entre a causalidade da causa e o seu efei to imediato pode ser evanescente e eles portanto simultâneos mas a relação de um ao outro permanece sempre determinável segundo o tempo Se considero uma bola que está sobre uma almofada estofada como causa da ligeira cavidade esférica sob ela então ela é simultâ B 248 215 nea ao efeito Mas eu distingo ambos em função da relação temporal de suas conexões dinâmicas Pois se eu coloco a bola sobre a almofa da aparece uma cavidade sobre a figura antes plana da mesma se no B 249 entanto a alm ofada já tem uma cavidade seja lá por quê não se se gue disso um a bola pesada A sequência temporal é realmente pois o único critério empírico do efeito em relação à causalidade da causa que o antecede O copo é a causa da elevação da água sobre sua base horizontal mesmo que ambos os fenómenos sejam simultâneos Pois tão logo eu retire a água com o copo de um recipiente maior seguese a modificação do estado horizontal que ela tinha ali no estado côncavo que ela assu me no copo Essa causalidade conduz ao conceito de ação este ao conceito de força e através disscfr ao de substância Como eu não quero aumentar o meu empreendimento crítico que somente diz respeito às fontes do conhecimento sintético a priori com decomposições que só ajudam a explicar não a ampliar os conceitos deixo a exposição detalhada desses conceitos para um futuro sistema da razão pura muito embora essa análise já se possa encontrar em grande medida nos manuais até hoje conhecidos Só não posso deixar de fora o critério empírico de uma substância na medida em que ela parece manifestarse não tanto através da permanência dos fenômenos mas melhor e mais fa cilmente através da ação B 250 Onde há ação portanto atividade e força há também substância e é apenas nesta que deve ser buscada a sede daquela frutífera fonte dos fenômenos Esta afirmação é bastante apropriada mas quando se tem de esclarecer o que se entende por substância e se quer evitar um círculo vicioso não é tão fácil responder Como se pretende inferir diretamente da ação a permanência do agente se esta é uma caracte rística tão própria e essencial da substância phaenomenon Ainda que fosse inteiramente insolúvel pelo caminho habitual procedendo analiticamente a partir dos próprios conceitos essa questão é solu cionada sem qualquer dificuldade a partir do que vimos acima Ação já significa a relação do sujeito da causalidade ao efeito Como todo efeito contudo consiste naquilo que acontece portanto no cambiá vel que é caracterizado pelo tempo segundo a sucessão então o sujei to último do mesmo é o permanente como substrato de tudo o que se 216 f modifica i e a substância Pois as ações segundo o princípio de cau salidade são sempre a primeira razão da mudança dos fenômenos e não podem portanto residir em um sujeito que se modifica ele mes mo pois do contrário seriam necessários outras ações e um outro su jeito que determinasse tal mudança Graças a isso pois a ação como um critério empírico suficiente prova a substancialidade sem que eu tenha antes de buscar a permanência do sujeito por meio de percep ções comparadas o que não poderia acontecer por esse caminho com a exatidão exigida para a quantidade e a estrita validade univer sal do conceito Pois se pode concluir com segurança a partir da ne cessidade empírica e permanência na existência portanto do conceito de uma substância como fenômeno que o primeiro sujeito da causali dade de todo surgir e desaparecer não pode ele próprio no campo dos fenômenos surgir e desaparecer Se algo acontece o mero surgir já é em si mesmo independente mente daquilo que surge um objeto da investigação A passagem do não ser de um estado a esse estado supondose que este não conte nha uma qualidade no fenômeno já é algo que por si só tem de ser investigado Tal como foi mostrado no item A esse surgir não diz respeito à substância pois esta não surge mas apenas a seu estado Ele é portanto uma mera modificação e não uma origem a partir do nada Se essa origem é enxergada como o efeito de uma causa alheia ela se denomina criação e não pode como acontecimento ser conta da entre os fenômenos visto que a sua mera possibilidade já suprimi ria a unidade da experiência se no entanto eu não considerasse to das as coisas como fenômenos Phänomene mas sim como coisas em si e objetos do entendimento puro elas poderiam ser vistas ainda que sejam substâncias como dependentes de causas alheias no que diz respeito à sua existência nesse caso porém elas trariam consigo outros significados e não se coadunariam com os fenômenos enquan to objetos da experiência Como pode algo no entanto em geral modificarse Como é pos sível que a um estado em um ponto do tempo se siga um estado opos to em outro ponto Quanto a isso nós não temos a priori o mínimo conceito Exigese para isso o conhecimento de forças reais que só po dem ser dadas empiricamente como por exemplo as forças motrizes ou o que dá no mesmo certos fenômenos sucessivos movimentos B 251 B 252 217 que manifestam essas forças A forma de cada modificação no entan to a única condição sob a qual ela pode ocorrer como o surgir de um outro estado qualquer que seja o seu conteúdo ie o estado que é modificado portanto a sucessão dos próprios estados o ocorrido é algo que pode ser tratado a priori segundo a lei da causalidade e as condições do tempo35 B 253 Se uma substância passa de um estado a a um estado b o ponto do segundo no tempo é distinto do ponto do primeiro no tem po e se segue a ele Da mesma forma também como realidade no fe nômeno o segundo estado se distingue do primeiro no qual não es tava assim como b se distingue do zero i e se o estado b só se distingue do estado a segundo a quantidade a modificação é então um surgir de ba que não existia no estado anterior e em relação a este é 0 Perguntase portanto como uma coisa passa de um estado a a um outro b Entre dois instantes há sempre um tempo e entre dois estados neles há sempre uma diferença que tem uma quantidade pois todas as partes dos fenômenos por seu turno são sempre quan tidades Toda passagem de um estado a outro portanto acontece em um tempo que está contido entre dois instantes dos quais o primeiro determina o estado de que a coisa sai e o segundo o estado que ela atinge Ambos portanto são limites do tempo de uma modificação portanto do estado intermediário entre os dois estados e pertencem como tal à modificação como um todo Agora toda modificação tem uma causa que prova a sua causalidade durante todo o tempo ao lon go do qual ela se realiza Esta causa portanto não produz a sua mo b 254 dificação subitamente de uma vez ou em um instante mas durante um tempo de tal jnodo que assim como o tempo cresce do instante inicial a até seu término em b também a quantidade da realidade ba é gerada através dos graus menores que estão contidos entre o primeiro e o último Toda modificação assim só é possível por meio de uma ação contínua da causalidade que sendo uniforme denomi 35 Observese bem que eu não estou falando da modificação de certas relações em geral mas sim da modificação do estado Daí decorre que se um corpo se move uniformemente ele não modifica seu estado do movimento isso só ocorre se o seu movimento aumenta ou di minui NA 2 1 8 nase um momento A modificação não é constituída por esses mo mentos mas é engendrada por eles como seu efeito Tal é pois a lei da continuidade de todas as modificações cujo fundamento é o seguinte nem o tempo nem tampouco o fenômeno no tempo são constituídos de partes que sejam as menores e mesmo as sim o estado da coisa durante sua modificação chega até seu segundo estado através de todas essas partes enquanto elementos Do mesmo modo como não há diferença do real no fenômeno não há diferença na quantidade dos tempos que seja a menor e o novo estado da reali dade assim cresce a partir do primeiro em que ela não existia através de todos os infinitos graus da mesma sendo que as diferenças entre es tes são menores em seu conjunto do que aquela entre 0 e a Qualquer que seja a utilidade dessa proposição na investigação da natureza isso não nos interessa aqui Mas como pode tal proposi ção que parece ampliar tanto o nosso conhecimento da natureza ser inteiramente a priorP Por mais que a aparência demonstre ser ela real e correta e se possa acreditar que a pergunta por sua possibilida de esteja superada isso exige de nós uma acurada investigação Afi nal há tantas pretensões infundadas de ampliação de nosso conheci mento por meio da razão pura que se deveria assumir como princípio geral o ser sempre desconfiado e nada acreditar ou aceitar mesmo di ante da mais clara prova dogmática sem documentos capazes de for necer uma dedução rigorosa Todo crescimento do conhecimento empírico e todo progresso da percepção não é senão uma ampliação da determinação de nosso sentido interno i e um avanço no tempo independentemente de quais sejam os objetos quer fenômenos ou intuições puras Esse avanço no tempo determina tudo e não é em si mesmo determina do por mais nada i e as suas partes são dadas somente no tempo e através de sua síntese mas não anteriormente a ele Em virtude dis so toda passagem na percepção a algo que se segue no tempo é uma determinação do tempo por meio do engendramento dessa per cepção e como o tempo é sempre e em todas as suas partes uma quantidade tal passagem é também o engendramento de uma per cepção como quantidade através de todos os graus dos quais ne nhum é o menor desde o zero até o seu grau determinado E assim fica clara pois a possibilidade de conhecer a priori uma lei das mo B 255 219 B 256 dificações segundo sua forma Nós antecipamos apenas nossa pró pria apreensão cuja condição visto que ela está em nós anterior mente a qualquer fenômeno dado tem certamente de poder ser co nhecida a priori Assim do mesmo modo como o tempo contém a condição sensí vel a priori da possibilidade de um avanço contínuo do existente ao seu seguinte o entendimento é por meio da unidade da apercepção a condição a priori da possibilidade de uma determinação contínua através da série de causas e efeitos de todas as posições para os fenô menos nesse tempo de tal modo que as causas trazem os efeitos ine vitavelmente consigo no que diz respeito à sua existência e assim tor nam válido o conhecimento das relações temporais para todo tempo universalmente portanto objetivamente válido C Terceira analogia Princípio da simultaneidade segundo a lei da reciprocidade ou comunidade todas as substâncias na medida em que podem ser percebidas como simultâneas no espaço estão em completa reciprocidade Prova As coisas são simultâneas quando na intuição empírica a per B 257 cepção de uma pode seguirse à percepção da outra reciprocamente o que conforme foi mostrado no segundo princípio não pode acon tecer na sequência temporal dos fenômenos Assim eu posso situar minha percepção primeiro na lua e depois na terra como também in versamente primeiro na terra e depois na lua e visto que as percep ções desses objetos podem seguirse umas às outras reciprocamente eu digo que eles existem simultaneamente Agora a simultaneidade é a existência do diverso no mesmo tempo Não se pode contudo per ceber o próprio tempo para a partir do fato de que as coisas estão postas nesse tempo deduzir que as suas percepções podem seguirse reciprocamente A síntese da imaginação na apreensão portanto ape nas forneceria essas representações uma por uma estando cada qual no sujeito quando a outra não está e viceversa o que não significa todavia que os objetos sejam simultâneos i e que quando um existe o outro exista também no mesmo tempo e que isto seja necessário 220 para que as percepções possam seguirse umas às outras reciprocamen te Consequentemente é necessário um conceito intelectual36 da se quência recíproca das determinações dessas coisas que existem simulta neamente umas fora das outras para dizer que a sequência recíproca das percepções está fundada no objeto e assim representar a simultaneida de como objetiva A relação das substâncias no entanto em que uma contém as determinações cujo fundamento está contido na outra é a re lação de influência e se aquela contém reciprocamente o fundamento das determinações nesta última37 é a relação de comunidade ou reci procidade A simultaneidade das substâncias no espaço portanto só pode ser conhecida na experiência sob a pressuposição de uma recipro cidade entre elas esta é também portanto a condição de possibilidade das próprias coisas como objetos da experiência As coisas são simultâneas quando existem em um mesmo e único tempo Como se reconhece porém que elas estão em um mesmo e único tempo Quando é indiferente a ordem na síntese da apreensão desse diverso i e quando ela pode ir de A a E passando por B C e D ou inversamente de E a A Pois se elas estivessem umas após as outras no tempo na ordem que começa em A e termi na em E seria impossível começar a apreensão na percepção de E e retroceder a A já que A pertenceria ao tempo passado e não poderia mais ser um objeto da apreensão Suponham que em uma diversidade de substâncias como fenô menos cada uma delas fosse inteiramente isolada i e que nenhuma tivesse efeito sobre as demais nem inversamente recebesse destas in 36 Normalmente traduzimos Verstandesbegriff por conceito do entendimento que é o mais conforme à tradição Aqui excepcionalmente traduzimos essa expressão por conceito inte lectual de modo a evitar o duplo genitivo do entendimento da sequência e a conse quente ambiguidade NT 37 Como aponta Caimi esta oração deu margem a diversas interpretações Em wenn wechsel seitig dieses den Grund der Bestimmungen in dem anderen enthält é difícil saber a quem Kant se refere com dieses e in dem anderen Na tradução mais literal adotada por Guyer o certo seria traduzir esses termos por respectivamente esta e na outra Nesse caso po rém a frase não faria muito sentido pois esta oração estaria dizendo o mesmo que a anteri or Caimi preferiu esta relación e en la otra conservando quanto a esta a ambiguidade do alemão explicada em nota A nosso ver a interpretação que dá mais sentido ao conjunto da frase é a de Esposito que assume uma inversão acidental dos termos por Kant em vez de esta aquela aquela esta ou como sugerimos aquela e nesta última Somente assim se invertem os termos da primeira oração e faz sentido a passagem da relação de in fluência para a relação de reciprocidade NT B 258 221 fluência alguma Eu digo então que a simultaneidade das mesmas B 259 não poderia ser o objeto de uma percepção e que a existência de uma não poderia de modo algum conduzir à existência da outra através da síntese empírica Pois se vocês se lembrarem que elas eram sepa radas por um espaço inteiramente vazio a percepção que vai de uma à outra mesmo podendo determinar a existência desta última por meio de uma percepção seguinte não poderia distinguir se o fenôme no se segue objetivamente à primeira ou se em vez disso é simultâ neo a ela Tem de haver algo portanto além da mera existência através do qual A possa determinar a posição de B no tempo e inversamen te B a de A pois somente sob esta condição podem as referidas substâncias ser representadas empiricamente como existindo ao mes mo tempo Agora sódetermina a posição do outro no tempo aquilo que for a causa desse outro ou de suas determinações Toda substân cia portanto na medida em que só pode ser subsequente no que diz respeito às suas determinações tem de conter a causalidade de cer tas determinações na outra e ao mesmo tempo os efeitos da causali dade da outra sobre si i e elas têm de estar em comunidade dinâmi ca imediata ou mediata caso a simultaneidade deva ser conhecida em alguma experiência possível Agora é necessário com relação aos objetos da experiência tudo aquilo sem o qual a própria experiência B 260 desses objetos seria impossível Logo é necessário a todas as substân cias no fenômeno na medida em que são simultâneas estar em com pleta comunidade de reciprocidade entre si A palavra comunidade Gemeinschaft em nossa língua é am bígua e pode significar tanto communio como também commercium Nós a empregamos aqui no último sentido como comunidade dinâmi ca sem a qual a própria comunidade local communio spatii jamais poderia ser conhecida empiricamente Em nossas experiências é fácil notar que apenas as influências contínuas em todas as posições do es paço podem conduzir nosso sentido de um objeto a outro que a luz que atua entre nossos olhos e os corpos do mundo ocasiona uma co munidade mediata entre estes e nós e desse modo prova a simultane idade dos últimos que nós não podemos modificar um lugar empiri camente perceber esta mudança sem que a matéria torne em toda parte possível a percepção de nossa posição e que somente através 222 de sua influência recíproca pode a matéria estabelecer a sua simultanei dade e assim a coexistência dos corpos ainda que apenas mediatamen te até o mais distante deles Sem comunidade toda percepção do fenó meno no espaço é descolada das demais e a cadeia de representações empíricas i e a experiência teria de começar inteiramente do princípio a cada objeto novo sem que o anterior pudesse concatenarse minima mente ou entrar em uma relação temporal com ele Não pretendo refutar com isso o espaço vazio pois ele pode sempre existir onde as percepções de modo algum alcançam e portanto onde não há qualquer conheci mento empírico da simultaneidade nesse caso porém ele não é objeto algum para a nossa experiência possível 0 que segue pode ser útil em termos de explicação Em nossa mente todos os fenômenos enquanto contidos em uma experiência possível têm de estar em comunidade communio na apercepção e na medida em que os objetos devem ser representados em conexão como simultaneamente existentes eles têm de determinar reciproca mente suas posições no tempo e assim constituir um todo Se essa comunidade subjetiva deve basearse em um fundamento objetivo ou referirse a fenômenos como substâncias a percepção de um como fundamento tem de tornar possível a percepção do outro e viceversa de modo que a sucessão que está sempre nas percepções enquanto apreensões não é atribuída aos objetos mas estes podem ser repre sentados como existindo simultaneamente Mas isto é uma influência recíproca i e uma comunidade commercium das substâncias sem a qual portanto a relação empírica de simultaneidade não poderia ter lugar na experiência Por meio desse comércio38 na medida em que estão fora uns dos outros e ainda assim em conexão os fenôme nos constituem um composto compositum reale e compostos desse tipo são possíveis de muitos modos As três relações dinâmicas por tanto de que todas as outras se originam são a de inerência de con sequência e de composição 38 Kant usou a expressão latina no curso do texto sem italicizála como que tentando formar uma palavra em alemão a partir da palavra latina A exemplo de outros tradutores como Guyer julgamos preferível utilizar a correspondente palavra portuguesa NT B 261 B 262 223 B 263 Tais são pois as três analogias da experiência Elas não são ou tra coisa senão os princípios de determinação da existência dos fenô menos no tempo segundo os três modi deste último a relação ao tem po mesmo como uma quantidade a quantidade da existência i e a duração a relação no tempo como uma série uns após os outros e por fim a relação no tempo enquanto um conjunto completo de todas as existências simultaneamente Esta unidade da determinação do tempo é sempre dinâmica i e o tempo não é visto como aquilo em que a experiência determinasse imediatamente a posição de cada exis tência o que seria impossível já que o tempo absoluto não é um ob jeto da percepção em que os fenômenos pudessem ser reunidos Na verdade é a regra do entendimento a única pela qual a existência dos fenômenos pode receber unidade sintética segundo relações temporais que determina a cadajjm destes a sua posição no tempo portanto de maneira a priori e válida para todo e qualquer tempo Por natureza no sentido empírico entendemos a concatenação dos fenômenos no que diz respeito à sua existência segundo regras necessárias i e segundo leis São certas leis portanto e de maneira a priori que antes de tudo tornam uma natureza possível as leis empíricas só podem ter lugar e ser encontradas através da experiên cia e isso de fato a partir daquelas leis originárias pelas quais a própria experiência se torna primeiramente possível Nossas analo gias apresentam efetivamente portanto a unidade da natureza na concatenação de todos os fenômenos sob certos expoentes os quais exprimem tão somente a relação do tempo na medida em que com preende em si toda existência à unidade da apercepção que só pode ter lugar na síntese segundo regras Em seu conjunto portanto elas dizem que todos os fenômenos residem e têm de residir em uma natureza pois sem essa unidade a priori não seria possível qualquer unidade da experiência portanto também nenhuma determinação dos objetos na mesma Quanto porém ao tipo de prova que empregamos nessas leis transcendentais da natureza e à sua característica mais própria é preciso fazer uma observação que também será muito importante como advertência a toda outra tentativa de provar proposições a prio ri que sejam intelectuais e ao mesmo tempo sintéticas Se tivéssemos 224 tentado provar essas analogias dogmaticamente i e a partir de con ceitos no sentido de que tudo o que existe só pode ser encontrado no que é permanente que todo acontecimento pressupõe algo no ins tante anterior a que ele se segue segundo uma regra e que no diver so finalmente que é simultâneo os estados seriam simultâneos na re lação de uns com os outros segundo uma regra estariam em comuni dade todo o nosso esforço teria sido em vão Pois não se pode de modo algum partindo de um objeto e de sua existência chegar à exis tência do outro ou ao seu modo de existir por meio de meros concei tos dessas coisas independentemente de como estes sejam decom postos O que nos restava então A possibilidade da experiência como um conhecimento em que todos os objetos têm de poder sernos da dos no fim das contas caso a sua representação deva ter realidade objetiva para nós Foi neste terceiro termo pois cuja forma essencial consiste na unidade sintética da apercepção de todos os fenômenos que nós encontramos condições a priori da determinação temporal completa e necessária de toda existência no fenômeno sem a qual a própria determinação empírica do tempo seria impossível e encon tramos regras da unidade sintética a priori por meio da qual nós po díamos antecipar a experiência Na falta desse método e na ilusão de poder provar dogmaticamente as proposições sintéticas que o uso empírico do entendimento sugere como seus princípios aconte ceu de tentarse buscar tão frequente como inutilmente uma prova do princípio de razão suficiente Embora as duas outras analogias sempre tenham sido usadas tacitamente39 nunca se pensou nelas porque faltava o fio condutor das categorias o único capaz de desco brir e tornar manifestas as lacunas do entendimento seja em concei tos seja em princípios 39 A unidade do todo do mundo no qual todos os fenômenos devem ser conectados é clara mente uma mera decorrência do princípio tacitamente admitido da comunidade de todas as substâncias que são simultâneas pois se fossem isoladas elas não constituiriam um todo como partes a sua conexão reciprocidade do diverso não seria necessária apenas em virtu de da simultaneidade e não se poderia inferir desta como uma relação meramente ideal aquela como uma relação real No lugar apropriado contudo nós mostramos que a comuni dade é de fato o fundamento da possibilidade de um conhecimento empírico da coexistên cia e que portanto somente a partir desta se pode retroativamente inferir aquela como sua condição NA B 264 B 265 2 2 5 4 Os postulados do pensamento empírico em geral 1 0 que concorda com as condições formais da experiência con forme à intuição e aos conceitos é possível B 266 2 O que se concatena com as condições materiais da experiência da sensação é real 3 Aquilo cuja concatenação com o real é determinada segundo condições universais da experiência é necessário existe necessa riamente Explicação As categorias da modalidade têm a peculiaridade de não aumen tar sequer minimamènte como determinação do objeto o conceito a que são acrescentadas como predicados elas apenas exprimem a sua relação às faculdades de conhecimento Se o conceito de uma coisa já é inteiramente completo eu posso todavia perguntar ainda acerca desse objeto se ele é apenas possível ou também real e sendo este úl timo o caso se ele é ainda necessário Através disso não são pensadas outras determinações no próprio objeto mas apenas se pergunta co mo ele juntamente com todas as suas determinações se comporta em relação ao entendimento e seu uso empírico à faculdade empírica de julgar e à razão em sua aplicação à experiência Justamente por isso também os princípios da modalidade não são mais do que explicações dos conceitos de possibilidade realidade e necessidade em seu uso empírico e desse modo são ao mesmo tem po restrições de todas as categorias ao mero uso empírico sem admi B 267 tir ou permitir o transcendental Pois se estas não têm um significa do meramente lógico e não devem exprimir analiticamente a forma do pensamento mas devem referirse às coisas e sua possibilidade realidade ou necessidade então elas têm de dirigirse à experiência possível e a sua unidade sintética a única em que os objetos do co nhecimento podem ser dados O postulado da possibilidade das coisas exige portanto que o conceito da mesma concorde com as condições formais de uma expe riência em geral Esta última no entanto i e a forma objetiva da ex periência em geral contém toda a síntese que é exigida para o conhe 226 cimento dos objetos Um conceito que abarca em si uma síntese tem de ser tomado como vazio e não se refere a objeto algum caso esta síntese não pertença à experiência seja enquanto dela extraída ele se denomina então um conceito empírico seja enquanto uma que como condição a priori serve de base à experiência em geral à forma desta ele é então um conceito puro que ainda assim pertence à ex periência já que seu objeto só pode ser encontrado nesta Pois de onde se pretende tirar o caráter possível de um objeto que é pensado através de um conceito sintético a priori a não ser da síntese que constitui a forma do conhecimento empírico dos objetos Que nenhu ma contradição tenha de estar contida em tal conceito é de fato uma condição lógica necessária mas está longe de ser suficiente no que diz respeito à realidade objetiva do conceito i e à possibilidade desse objeto tal como pensado através do conceito Assim não há qualquer contradição no conceito de uma figura que seja demarcada por duas linhas retas pois os conceitos de duas linhas retas e de sua intersec ção não contêm a negação de uma figura na verdade a impossibilida de repousa não no conceito em si mesmo mas na sua construção no espaço i e nas condições do espaço e de sua determinação mas es tas por seu turno possuem a sua realidade objetiva i e referemse a coisas possíveis porque contêm em si a priori a forma da experiência em geral E agora tornemos visível a difundida utilidade e influência desse postulado da possibilidade Se me represento uma coisa que é perma nente de tal modo que tudo o que se modifica pertence ao seu esta do então não posso saber nunca a partir apenas de tal conceito se uma coisa desse tipo é possível Ou se me represento algo que deve ser de tal modo constituído que posto ele outro algo se segue sem pre e inevitavelmente isto pode por certo ser pensado sem contradi ção mas não se pode avaliar através disso se esse tipo de proprieda de a causalidade pode ser encontrado em alguma coisa possível Eu posso finalmente representarme diversas coisas substâncias cuja constituição seja tal que o estado de uma produza consequênci as no estado da outra e viceversa mas não posso deduzir desses conceitos que contêm uma síntese meramente arbitrária que esse tipo de relação pertença a alguma coisa É apenas pois porque es ses conceitos exprimem as relações das percepções em qualquer ex B 268 B 269 227 periência de maneira a priori que se conhece a sua realidade obje tiva i e sua verdade transcendental e isso claro independente mente da experiência mas não independentemente detoda referên cia à forma de uma experiência em geral e à unidade sintética em que os objetos podem ser conhecidos empiricamente Caso se quisesse no entanto sem emprestar à própria experiên cia o exemplo de sua conexão fazer novos conceitos de substâncias forças e reciprocidades a partir do material que a percepção nos ofe rece cairseia em meras fantasias cuja possibilidade não pode ser indicada por sinal algum já que a experiência não é nelas assumida como mestra nem esses conceitos são dela extraídos Semelhantes conceitos imaginários não podem como as categorias receber o ca ráter de sua possibilidade a priori enquanto condições de que toda experiência depende mas sim a posteriori como conceitos dados b 270 através da própria experiência e a sua possibilidade ou é conhecida a posteriori e empiricamente ou não é de modo algum conhecida Uma substância que estivesse permanentemente presente no espa ço ainda que sem preenchêlo tal como aquela coisa intermediária entre a matéria e o ser pensante que alguns pretendem ter introdu zido ou um poder fundamental especial de nossa mente para intu ir o futuro antecipadamente em vez de apenas conjecturálo ou ainda uma faculdade da mesma para entrar em comunidade de pensamento com outros seres humanos por mais distantes que eles estejam tais são conceitos cuja possibilidade é inteiramente infundada já que não pode ser fundada na experiência ou em suas conhecidas leis e sem estas não passa de uma ligação arbitrária de pensamentos que mesmo não contendo qualquer contradição não pode levantar nenhuma pretensão à realidade objetiva nem portan to à possibilidade do objeto que se quer aí pensar No que diz respei to à realidade é evidente por si mesmo que não se pode pensála in concreto sem recorrer à ajuda da experiência pois ela só pode refe rirse à sensação como matéria da experiência e não concerne à for ma da relação com a qual se poderia jogar nas fantasias Mas eu deixo aqui de lado tudo aquilo cuja possibilidade só pode ser extraída da realidade na experiência e considero apenas a possibi 228 lidade das coisas por meio de conceitos a priori dos quais40 continuo u a afirmar que não podem existir jamais a partir de tais conceitos por si mesmos mas apenas como condições formais e objetivas de uma experiência em geral Parece com efeito que a possibilidade de um triângulo pode ser conhecida a partir do seu conceito em si mesmo que é sabidamente in dependente da experiência pois de fato nós podemos darlhe um obje to inteiramente a priori i e construílo Como este no entanto é ape nas a forma de um objeto tal conceito permaneceria sempre um mero produto da imaginação e a possibilidade de seu objeto permaneceria duvidosa como algo que exigiria ainda algo mais a saber que tal figu ra fosse pensada sob as puras condições em que todos os objetos da ex periência se baseiam Que o espaço no entanto seja uma condição for mal a priori das experiências externas e que essa síntese construtiva pela qual construímos um triângulo na imaginação seja completamen te idêntica àquela que praticamos na apreensão de um fenômeno é ape nas isso que conecta a esse conceito a representação da possibilidade de tal coisa E assim a possibilidade das quantidades contínuas e mesmo das quantidades em geral já que aí os conceitos são todos sintéticos ficam absolutamente claras não a partir dos conceitos mesmos mas de 2 les como condições formais da determinação dos objetos na experiência em geral E onde se poderiam buscar objetos correspondentes aos concei tos afinal senão na experiência a única através da qual os objetos nos são dados E isso apesar de nós podermos sem recorrer previamente à própria experiência conhecer e caracterizar a possibilidade das coisas por mera referência às condições formais sob as quais algo é nela deter minado como objeto portanto inteiramente a priori ainda que sempre em referência a ela e no interior dos seus limites 0 postulado de conhecer a realidade das coisas exige a percep ção portanto a sensação da qual se é consciente não de fato a per cepção imediata do próprio objeto cuja existência deve ser conhecida mas sim a concatenação do mesmo com alguma percepção real segun 40 Como aponta Caimi podese interpretar que o von denen refirase tanto a coisas como a con ceitos No primeiro caso teríamos das quais no segundo dos quais Também se poderia interpretar como faz Renaut que o von denen se refere tanto às coisas como aos conceitos A segunda das três opções não adotada pelo próprio Caimi mas seguida pela maioria dos tradutores como Esposito e Rohden p ex pareceunos a mais coerente com o restante da frase NT 229 do as analogias da experiência as quais apresentam toda conexão real em uma experiência em geral No mero conceito de uma coisa não podé ser encontrada nenhu ma marca de sua existência Pois mesmo que ele seja completo a pon to de não lhe faltar nada para pensar uma coisa com todas as suas de terminações internas a existência não tem nada que ver com tudo isso mas sim com a questão se tal coisa nos é dada de tal modo que a B 273 sua percepção possa se necessário preceder o conceito Pois que o conceito preceda a percepção significa apenas a sua possibilidade a percepção no entanto que fornece a matéria ao conceito é a única marca de realidade Também se pode contudo conhecer a existência da coisa antes de sua percepção e portanto comparativamente a pri ori desde que ela se concatene com algumas percepções segundo os princípios da conexãowempírica das mesmas as analogias Pois neste caso a existência da coisa se coaduna com nossas percepções em uma experiência possível e nós podemos partindo de nossa percepção real chegar à coisa na série das percepções possíveis segundo o fio condutor dessas analogias Assim nós conhecemos a existência de uma matéria magnética que perpassa todos os corpos a partir da percepção da limalha de ferro atraída pelo ímã ainda que uma percep ção imediata dessa matéria nos seja impossível em virtude da consti tuição de nossos órgãos Pois seguindo as leis da sensibilidade e o contexto de nossas percepções nós acabaríamos certamente por atin gir na experiência desde que nossos sentidos fossem mais apurados a sua rudeza nada tem que ver com a experiência possível a intui ção empírica imediata de tal matéria Até onde alcançam pois a per cepção e seus complementos segundo leis empíricas até aí alcança também o nosso conhecimento da existência das coisas Se não come b 274 çamos pela experiência ou não prosseguimos segundo leis da conca tenação empírica flos fenômenos tentamos em vão adivinhar ou in vestigar a existência de alguma coisa Uma poderosa objeção a essas regras no entanto pelas quais a existência tem de ser provada media tamente é feita pelo idealismo cuja refutação encontra aqui o seu lu gar apropriado41 41 Esta última frase bem como o tópico intitulado Refutação do idealismo foram acrescenta dos na segunda edição NT 230 i Refutação do idealismo 0 idealismo eu penso aqui no material é a teoria que explica a existência dos objetos no espaço fora de nós ou como apenas duvido sa e indemonstrável ou como falsa e impossível o primeiro é o idea lismo problemático de Descartes que explica uma única afirmação assertio empírica como indubitável qual seja eu sou o segundo é o idealismo dogmático de Berkeley que explica o espaço com todas as coisas que ele engloba enquanto condição inseparável como algo que seria impossível em si mesmo e as coisas no espaço do mesmo modo como meras imagens O idealismo dogmático é inevitável quan do se enxerga o espaço como propriedade que deve pertencer às coisas em si mesmas pois ele seria então juntamente com tudo aquilo a que serve de condição uma não coisa Já na Estética transcendental contu do afastamos o fundamento desse idealismo transcendental O idealis mo problemático que nada afirma quanto a isso mas apenas professa a incapacidade de provar através da experiência imediata uma existência além da nossa é racional e conforme a um rigoroso modo de pensar filosófico ele não permite com efeito que se emita um juízo decisivo sem que antes se tenha encontrado uma prova suficiente A prova re querida tem de estabelecer portanto que nós temos não apenas ima gens das coisas externas mas também a sua experiência o que não pode ocorrer de outro modo a não ser provandose que mesmo a nos sa experiência interna indubitável para Descartes só é possível sob a pressuposição da experiência externa Teorema A mera consciência de minha própria existência empiricamente determinada prova a existência dos objetos no espaço fora de mim Prova Eu sou consciente de minha existência como determinada no tempo Toda determinação do tempo pressupõe algo permanente na percepção Este permanente contudo não pode ser algo em mim pois a minha própria existência só pode ser determinada no tempo através dele A percepção desse permamente portanto só é possível por meio de uma coisa fora de mim e não por meio da mera represen tação de uma coisa fora de mim Logo a determinação de minha exis B 275 231 tência no tempo só é possível por meio da existência de coisas reais que b 276 percebo fora de mim Agora a consciência está necessariamente ligada no tempo à consciência da possibilidade dessa determinação do tem po portanto ela também está necessariamente ligada à existência das coisas fora de mim como condição da determinação do tempo i e a consciência de minha própria existência é ao mesmo tempo uma cons ciência imediata da existência de outras coisas fora de mim Observação 1 Percebese na prova acima que o truque adotado pelo idealismo se volta contra ele com tanto mais razão Ele assumia que a única experiência imediata seria a interna a partir da qual se deduziriam as coisas externas e isto de maneira duvidosa como sempre ocorre quando se deduz determinadas causas a partir de da dos efeitos pois também poderia estar em nós mesmos a causa das representações que dê maneira talvez equivocada atribuímos às coi sas externas Aqui é provado no entanto que a experiência externa é b 277 realmente imediata42 e que somente por meio dela é possível não a consciência de nossa própria existência mas a determinação da mes ma no tempo i e a experiência interna A representação eu penso que exprime a consciência que pode acompanhar todo pensamento é certamente aquilo que abarca em si imediatamente a existência de um sujeito mas não ainda um conhecimento do mesmo portanto também nenhum conhecimento empírico i e nenhuma experiência pois a esta pertence além do pensamento de algo existente também uma intuição que é aqui interna e em relação à qual i e ao tempo o sujeito tem de ser determinado para o que se exigem objetos exter nos de tal modo que a experiência interna portanto só é possível mediatamente e por meio da externa Observação Com isso pois concorda perfeitamente todo uso empírico de nossa faculdade de conhecer na determinação do tempo 42 A consciência imediata da existência das coisas externas não é pressuposta no teorema aci ma mas sim provada quer possamos discernir a possibilidade dessa consciência ou não Quanto a esta possibilidade a pergunta seria se nós possuímos apenas um sentido interno e nenhum externo e apenas imagens externas É claro todavia que mesmo para apenas ima ginar algo como externo i e apresentálo ao sentido na intuição nós já temos de possuir um sentido externo e por meio dele de distinguir imediatamente a mera receptividade de uma intuição externa de um lado da espontaneidade que caracteriza toda imagem Pois um sentido externo meramente imaginado aniquilaria a própria faculdade de intuir que deve ser determinada através da imaginação NAj Não apenas porque só podemos perceber as determinações do tempo por meio da mudança nas relações externas o movimento em rela ção ao permanente no espaço por exemplo o movimento do sol em relação aos objetos da Terra mas também porque não temos nada permanente que pudéssemos colocar como intuição sob o conceito de uma substância a não ser a matéria e mesmo esta permanência não é extraída da experiência externa mas pressuposta a priori como condição necessária de toda determinação do tempo portanto tam bém como determinação do sentido interno em relação à nossa pró pria existência por meio da existência das coisas externas A consciên cia de mim mesmo na representação eu não é por certo uma intuição mas uma mera representação intelectual da autoatividade de um su jeito pensante Por isso esse eu também não tem o mínimo predicado da intuição que como permanente poderia servir de correlato à de terminação do tempo no sentido interno tal como o é enquanto intui ção empírica a impenetrabilidade na matéria Observação 3 Do fato de a existência dos objetos externos ser re querida para a possibilidade de uma consciência determinada de nós mesmos não se segue que toda representação intuitiva das coisas ex ternas abarque ao mesmo a existência destas últimas pois tal repre sentação pode ser apenas o efeito da imaginação tanto nos sonhos como na loucura mas ela só pode sêlo através da reprodução de per cepções externas antigas as quais somente são possíveis como foi mostrado por meio da realidade de objetos externos Aqui só tivemos de provar que a experiência interna em geral só é possível por meio da experiência externa em geral Para saber se uma suposta experiên cia não é mera imaginação é preciso averiguálo segundo as determi nações particulares da mesma e a sua compatibilidade com os critérios de toda experiência real k ic k No que diz respeito ao terceiro postulado por fim ele se refere à necessidade material na existência e não à mera necessidade formal e lógica na conexão dos conceitos Como no entanto nenhuma existên cia dos objetos dos sentidos pode ser conhecida inteiramente a prio ri mas apenas comparativamente a priori em relação a uma outra existência já dada e como mesmo assim só podemos chegar à exis B 278 B 279 233 tência que tem de estar contida em algum ponto na interconexão da experiência da qual a percepção dada é uma parte então a necessida de da existência não pode jamais ser conhecida a partir de conceitos mas somente a partir da conexão segundo leis universais da expe riência com aquilo que é percebido Agora a única existência que pode ser conhecida como necessária sob a condição de outros fenô menos dados é a existência dos efeitos a partir de causas dadas se gundo leis da causalidade A necessidade que podemos conhecer por tanto não é aquela da existência das coisas substâncias mas apenas b 280 a de seu estado e isto de fato a partir de outros estados que são da dos na percepção segundo leis empíricas da causalidade Disso se se gue que o critério da necessidade reside tão somente na lei da expe riência possível segundo a qual tudo o que acontece é determinado a priori através de sua causa no fenômeno Por isso nós só conhece mos na natureza a necessidade dos efeitos cujas causas nos são da das e a marca distintiva da necessidade na existência não vai além do campo da experiência possível e mesmo neste não vale para a existên cia das coisas como substâncias pois estas não podem ser nunca en xergadas como efeitos empíricos ou algo que acontece e surge A ne cessidade somente diz respeito portanto às relações dos fenômenos segundo a lei dinâmica da causalidade e a possibilidade nela funda da de inferir a priori a partir de uma dada existência de uma causa uma outra existência do efeito Tudo o que acontece é hipotetica mente necessário este é um princípio que submete a modificação no mundo a uma lei i e uma regra da existência necessária sem a qual a natureza jamais existiria Daí que a proposição nada acontece por um mero acaso in m undo non datur casus seja uma lei a priori da natureza e do mesmo modo na natureza nenhuma necessidade é cega mas sim condicionada e portanto uma necessidade compreen sível non datur fatum Ambas são daquelas leis por meio das quais b 281 o jogo das modificações é submetido a uma natureza das coisas co mo fenômenos ou o que dá no mesmo à unidade do entendimento a única em que elas podem pertencer a uma experiência como a unida de sintética dos fenômenos Esses dois princípios pertencem aos prin cípios dinâmicos O primeiro é de fato uma consequência do princí pio de causalidade sob as analogias da experiência O segundo per tence aos princípios da modalidade que acrescenta à determinação causal também o conceito da necessidade a qual no entanto está sob 234 uma regra do entendimento O princípio da continuidade proibiu qual quer salto na série dos fenômenos modificações in mundo non da tur saltus mas também no conjunto completo de todas as intuições empíricas no espaço ele proibiu lacunas ou hiatos entre dois fenôme nos non datur hiatus pois essa é também uma forma de exprimir a proposição nada pode entrar na experiência que demonstre um va cuum ou que simplesmente o admita como uma parte da síntese em pírica Pois no que diz respeito ao vazio que pode ser pensado fora do campo da experiência possível o mundo tratase de algo que não pertence à jurisdição do mero entendimento que somente decide so bre as questões concernentes à utilização dos fenômenos dados para o conhecimento empírico mas é isto sim uma tarefa para a razão ide alista que vai além da esfera de uma experiência possível e pretende emitir juízos sobre aquilo que circunda e limita esta última algo portanto que tem de ser tratado na Dialética transcendental Essas quatro proposições in mundo non datur hiatus non datur saltus non datur casus non datur fatum assim como todos os princípios de origem transcendental podem ser facilmente representadas no que concerne à sua ordem segundo a ordem das categorias e o lugar de cada uma pode ser facilmente demonstrado mas isto é algo que o leitor já habituado fará por si mesmo ou então descobrirá com facili dade o fio condutor para fazêlo Elas têm todas em comum no entan to o simples fato de estar voltadas a não deixar nada na síntese empí rica que possa romper ou reduzir o entendimento e a concatenação contínua de todos os fenômenos i e a unidade de seus conceitos Pois é apenas nele que se torna possível a unidade da experiência em que todas as percepções têm de possuir o seu lugar Se o campo da possibilidade é maior que o campo que contém todo real ou se este por seu turno é maior que a variedade daquilo que é necessário tais são questões pertinentes e que de fato admi tem uma solução sintética mas a jurisdição em que se encontram é aquela da razão pois elas perguntam apenas grosso modo se todas as coisas como fenômenos pertencem ao conjunto completo e ao contexto de uma única experiência de que cada percepção dada é uma parte que portanto não poderia ligarse a nenhum outro fenô meno ou se minhas percepções podem pertencer a mais do que uma experiência possível em sua concatenação geral O entendimento apenas fornece à experiência em geral a priori as únicas regras que B 282 B 283 235 de acordo com as condições subjetivas e formais da sensibilidade e da apercepção a tornam possível Outras formas da intuição além do es paço e do tempo assim como outras formas do entendimento além das formas discursivas do pensamento ou do conhecimento por con ceitos mesmo que fossem possíveis nós não as podemos de modo al gum conceber ou tornar compreensíveis e mesmo que o pudésse mos elas não pertenceriam à experiência enquanto único conheci mento em que objetos nos são dados Se podem existir ainda outras percepções além daquelas que em geral pertencem ao conjunto de nossa experiência possível e se portanto pode haver um campo inte iramente diferente da matéria isto é algo que o entendimento não pode decidir pois ele somente lida com a síntese daquilo que é dado Além disso saltaria aos olhos a pobreza de nossas inferências habitu ais pelas quais produziríamos um grande reino da possibilidade de que todo o real todos os objetos da experiência seria apenas uma pe quena parte Todo real é possível disso se segue naturalmente de acordo com as regras lógicas da conversão a proposição meramente particular de que algum possível é real o que parece significar ape B 284 nas por seu turno que há muito possível que não é real Parece de fato como se pudéssemos estabelecer diretamente a maior quantida de do possível em relação à quantidade do real já que para constituir este último é preciso que algo mais seja acrescentado àquele Ocorre que eu não conheço este acrescentarse ao possível Pois o que deve ria ainda ser acrescentado ao possível seria impossível À concordân cia com as condições formais da experiência só pode acrescentarse para meu entendimento a conexão com alguma percepção mas o que se conecta a esta segundo leis empíricas é real mesmo que não seja percebido imediatamente A partir daquilo que é dado não se pode concluir que oa concatenação completa com aquilo que me é dado na percepção seja possível uma outra série de fenômenos por tanto mais do que uma única experiência que a tudo engloba e sem que algo seja dado tal conclusão é ainda menos possível já que sem conteúdo nada pode ser pensado em parte alguma Aquilo que só é possível sob condições que são elas próprias possíveis não é possível em todos os sentidos Mas com isso entramos na questão de saber se a possibilidade das coisas se estende para além de onde a experiência alcança 236 i Eu apenas mencionei essa questão para não deixar qualquer lacu na naquilo que a opinião comum acredita pertencer aos conceitos do entendimento Na verdade porém a possibilidade absoluta válida em todos os sentidos não é um mero conceito do entendimento e não pode ter qualquer uso empírico mas pertence apenas à razão que vai além de todo uso empírico possível do entendimento Por isso nós te mos de contentarnos aqui com uma mera observação crítica deixan do o assunto na obscuridade até uma futura abordagem mais ampla Como pretendo encerrar aqui este quarto tópico e com ele ao mesmo tempo o sistema de todos os princípios do entendimento pu ro tenho ainda de dar uma razão para ter denominado postulados aos princípios da modalidade Eu não quero tomar essa expressão aqui com o significado que contra o sentido dos matemáticos ao qual ele de fato pertence alguns novos autores filosóficos lhe deram a saber que o postular não deve significar mais do que dar uma propo sição por imediatamente certa sem justificativa ou prova Pois se de vêssemos admitir das proposições sintéticas por mais evidentes que possam ser que elas podem aspirar a uma aceitação incondicional sem qualquer dedução com base apenas no prestígio de seu próprio enun ciado então toda a crítica do entendimento estaria perdida e como não faltam suposições audaciosas que mesmo a crença comum não recusa o que de qualquer forma não é qualquer garantia todas as ilusões es tariam abertas ao nosso entendimento sem que ele pudesse negar seu assentimento aos enunciados que embora injustificáveis pretendem ser admitidos com o mesmo tom de segurança como verdadeiros axio mas Se portanto uma determinação a priori é acrescentada sintetica mente ao conceito de uma coisa então essa proposição tem de ser rigo rosamente complementada se não por uma prova ao menos por uma dedução da legitimidade de sua afirmação Os princípios da modalidade no entanto não são sintéticoobje tivos pois os predicados da possibilidade realidade e necessidade não aumentam em nada o conceito de que são afirmados como se acrescentassem algo à representação do objeto Como são sempre sin téticos contudo eles somente o são subjetivamente i e eles acres centam ao conceito de uma coisa real da qual de resto nada dizem o poder cognitivo de onde ele se origina e onde tem sua sede de tal modo que se ele está apenas no entendimento em conexão com as B 285 B 286 237 condições formais da experiência seu objeto se denomina possível se está concatenado com a percepção e através do entendimento é por ela determinado o objeto é real se é determinado pela concatenação B 287 das percepções segundo conceitos o objeto é denominado necessá rio Os princípios da modalidade não dizem mais de um conceito por tanto do que a ação da faculdade de conhecer através da qual ele é engendrado Na matemática com efeito um postulado é denominado uma proposição prática a qual contém tão somente a síntese pela qual nós nos damos um objeto e engendramos o seu conceito como por exemplo quando com uma dada linha a partir de um dado ponto descrevemos um círculo sobre um plano e semelhante proposição não pode ser provada porque o procedimento que ela exige é justa mente esse pelo qual engendramos primeiramente o conceito de tal figura Sendo assim nós podemos postular os princípios da modalida de com exatamente o mesmo direito já que eles não aumentam o seu conceito das coisas em geral43 mas apenas indicam o modo como ele é em geral ligado a um poder cognitivo B 288 Observação geral ao sistema dos princípios É bastante digno de nota que não possamos discernir a possibili dade de uma coisa a partir da mera categoria mas tenhamos de ter sempre à mão uma intuição para nela apresentar a realidade objetiva do conceito puro do entendimento Tomemse por exemplo as cate gorias da relação Como 1 algo possa existir apenas como sujeito não como mera determinação de outras coisas i e como possa ser substância ou como 2 algo tenha de existir porque outro algo exis te portanto como algo possa ser uma causa em geral ou como 3 do fato de uma coisa existir entre muitas outras que existem algo deva seguirse nas demais e viceversa podendo existir assim uma comuni dade de substâncias nada disso se deixa discernir a partir de meros 43 Com a realidade de uma coisa eu afirmo certamente mais do que a possibilidade mas não na coisa pois esta não pode conter mais na realidade do que aquilo que estava contido em sua possibilidade completa Como no entanto a possibilidade era tão somente uma posição da coisa em relação ao entendimento ao seu uso empírico a realidade é do mesmo modo uma conexão da mesma com a percepção NA 238 i conceitos A mesma coisa vale também para as demais categorias como por exemplo uma coisa pode formar um todo unitário com mui tas outras i e uma quantidade e assim por diante Enquanto não haja intuição não se sabe se através das categorias um objeto é pen sado e sequer se algum objeto pode corresponder a elas com o que se confirma que elas não são por si mesmas conhecimento algum mas apenas formas de pensamento para produzir conhecimentos a partir de intuições dadas Justamente por isso não se pode formular uma proposição sintética a partir de meras categorias Por exemplo em toda existência há uma substância i e algo que só pode existir como sujeito não como mero predicado ou então toda coisa é um quan tum e assim por diante sempre sem nada que nos permitisse sair de um dado conceito e conectarlhe um outro Por isso também jamais se conseguiu provar uma proposição sintética a partir de meros concei tos puros do entendimento como por exemplo a proposição todo existente contingente tem uma causa O máximo que se poderia con seguir seria provar que sem essa relação não conseguiríamos com preender de modo algum a existência do contingente i e não pode ríamos conhecer a priori por meio do entendimento a existência de tal coisa do que não se segue contudo que essa condição seja a pró pria condição de possibilidade das coisas Caso se retorne com efeito à nossa prova do princípio da causalidade verseá que nós só podía mos proválo quanto aos objetos da experiência possível tudo o que ocorre cada acontecimento pressupõe uma causa e isto de fato de um modo tal que só podíamos proválo como princípio da possibilida de da experiência portanto do conhecimento de um objeto dado na intuição empírica e não a partir de meros conceitos Que no entan to a proposição todo contingente tem de possuir uma causa seja clara para todos a partir de meros conceitos não é algo que se possa negar mas o conceito do contingente já é de tal modo concebido nes se caso que ele não contém a categoria da modalidade como algo cujo não ser poderia ser pensado mas sim a da relação como algo que só pode existir como consequência de outro algo sendo clara mente idêntica à primeira a proposição o que só pode existir como consequência tem sua causa Quando de fato nós devemos dar exemplos de uma existência contingente nós sempre nos reporta B 289 B 290 239 mos a modificações e não apenas à possibilidade de pensar o B 291 contrárioM A modificação porém é um acontecimento que enquan to tal só é possível por meio de uma causa e cujo não ser portanto também é por si possível de modo que conhecemos a contingência porque algo só pode existir como efeito de uma causa se uma coisa é admitida como contingente portanto dizer que ela tem uma causa é uma proposição analítica Mais curioso ainda porém é que para compreender a possibili dade das coisas como consequência das categorias e portanto esta belecer a realidade objetiva das últimas precisemos não apenas de intuições em geral mas sempre também de intuições externas Se to mamos por exemplo os conceitos puros da relação verificamos que 1 para dar algo permanente na intuição correspondente ao concei to de substância e assim estabelecer a realidade objetiva desse con ceito nós necessitamos de uma intuição no espaço da matéria pois apenas o espaço é permanentemente determinado ao passo que o tempo portanto tudo o que está no sentido interno flui constante mente 2 para expor a modificação como a intuição correspondente ao conceito de causalidade temos de tomar o movimento como exem plo de modificação no espaço que é o único modo com efeito de tor nar intuíveis as modificações cuja possibilidade o puro entendimento pode compreender A modificação é a ligação de determinações con traditórias entre si na existência de uma única e mesma coisa Quanto b 292 a como é possível que a um certo estado se siga um outro a ele oposto na mesma coisa não somente é impossível à razão tornálo compreen sível sem exemplos mas também tornálo inteligível sem pelo menos uma intuição e esta intuição é a do movimento de um ponto no espa ço cuja existência em diferentes lugares como uma consequência de determinações opostas é o que primeiramente torna a modificação intuível por nós Afinal para depois podermos tornar a própria modi 4 44 Podese pensar facilmente o não ser da matéria mas os antigos não deduziam daí a sua con tingência A simples mudança do ser e do não ser de um dado estado de uma coisa em que toda modificação consiste não prova a contingência desse estado como que a partir da reali dade de seu oposto o repouso de um corpo por exemplo que se segue ao movimento não prova a contingência deste último por ser o seu oposto Pois aqui este só se contrapõe àque le logicamente não realiter Para provar a contingência de seu movimento seria preciso pro var que em vez de moverse o corpo poderia ter ficado em repouso no instante anterior e não no seguinte pois neste caso os dois opostos podem perfeitamente coexistir um com o outro NA 240 i ficação interna concebível temos de figurar o tempo como forma do sentido interno através de uma linha e de tornar compreensíveis tan to a modificação interna por meio do ato de desenhar essa linha mo vimento como portanto a existência sucessiva de nós mesmos em diferentes estados por meio da intuição externa sendo que o verdadei ro fundamento disso é que toda modificação pressupõe algo perma nente na intuição para simplesmente ser ela própria percebida como modificação ao passo que no sentido interno não se encontra nenhu ma intuição permanente A categoria da comunidade por fim no que diz respeito à sua possibilidade não pode ser de modo algum compreendida pela mera razão e a realidade objetiva desse conceito portanto não pode ser discernida sem intuição mais especificamente sem uma intuição externa no espaço Afinal como se poderia pensar a possibilidade de que existindo várias substâncias algo possa como efeito seguirse da existência de uma na existência das outras e por tanto que em virtude da existência de algo na primeira também nas outras tenha de existir algo que não pode ser compreendido apenas a partir da existência das últimas Pois isso é exigido para a comunida de mas não é de modo algum compreensível entre coisas que se iso lam completamente umas das outras pela sua subsistência Por isso Leibniz ao atribuir comunidade às substâncias do mundo somente segundo o modo como o entendimento as pensa precisou de uma di vindade para a mediação pois partindo apenas de sua existência ele com razão as julgava incompreensíveis Mas nós podemos tornar a possibilidade da comunidade das substâncias como fenômenos per feitamente compreensível se as representarmos no espaço portanto na intuição externa Pois este já contém em si a priori as relações ex ternas formais como condições de possibilidade das reais no efeito e no efeito contrário portanto nas relações de comunidade Desse mesmo modo se pode facilmente estabelecer que também a possibili dade das coisas como quantidades e portanto a realidade objetiva das categorias da quantidade só podem ser apresentadas na intuição externa e por meio desta aplicarse depois também ao sentido inter no De modo a evitar a prolixidade contudo tenho de deixar os exem plos a cargo da reflexão do leitor Esta observação inteira é de grande importância não apenas para confirmar a nossa anterior refutação do idealismo mas sobretudo para quando se falar em autoconhecimento a partir da mera cons B 293 241 b 294 ciência interna ou em determinação de nossa natureza sem apoio nas intuições empíricas externas indicarnos os limites da possibilidade de tal conhecimento A última consequência de toda a presente seção é portanto a de que todos os princípios do entendimento puro não são mais do que princípios a priori da possibilidade da experiência e é apenas a esta última que se referem também todas as proposições sintéticas a prio ri cuja possibilidade mesma se baseia inteiramente nessa referência Terceiro capítulo Do fundamento da distinção de todos os objetos em geral em phaenomena e noumena Nós agora não apenas percorremos a terra do entendimento puro e inspecionamos cuidãdosamente cada parte dela mas também a me dimos e a cada coisa determinamos nela o seu lugar Esta terra no en tanto é uma ilha e foi inscrita pela própria natureza em fronteiras B 295 imutáveis Ela é a terra da verdade um nome instigante cercada por um vasto e tormentoso oceano que é o verdadeiro lugar da ilusão onde muitos bancos de névoa e blocos de gelo prestes a derreter simu lam novas terras e enganando incessantemente com esperanças va zias o navegador errante que sai em busca de descobertas atraemno para aventuras que ele não consegue evitar mas que ao mesmo tem po nunca consegue levar a cabo Antes de nos arriscarmos nesse mar contudo para investigálo em toda sua extensão e verificar se há algo a esperar dele será útil dar mais uma olhada no mapa da terra que queremos deixar para nos perguntarmos em primeiro lugar se já não podemos estar satisfeitos com aquilo que está nela contido ou mesmo ficar satisfeitos por necessidade caso não haja em parte algu ma outro solo onde pudéssemos construir algo e em segundo lugar sob que título possuímos mesmo essa terra e podemos conservála contra todas as pretensões inimigas Embora já tenhamos respondido suficientemente a esta pergunta no correr da Analítica uma rápida reavaliação de suas soluções pode unificando os seus momentos em um ponto fortalecer a convicção nelas Nós vimos com efeito que tudo o que o entendimento cria a par tir de si mesmo sem retirálo da experiência não pode ser submetido B 296 a nenhum outro uso que não o empírico Os princípios do entendi 242 mento puro quer sejam a priori constitutivos como os matemáti cos quer meramente regulativos como os dinâmicos somente con têm por assim dizer um esquema puro para a experiência possível pois esta só tem sua unidade graças à unidade sintética que o enten dimento fornece por si mesmo originariamente à síntese da imagina ção que concerne à apercepção e com a qual os fenômenos como data para um possível conhecimento empírico já têm de estar a prio ri em relação e concordância Muito embora essas regras do entendi mento não sejam com efeito verdadeiras unicamente a priori mas sim a fonte de toda verdade i e da concordância de nosso conheci mento com os objetos no sentido de que contêm em si o fundamento da possibilidade da experiência como o conjunto completo de todo o conhecimento em que objetos podem sernos dados não nos parece suficiente apresentar apenas aquilo que é verdadeiro mas também o que se deseja saber Se com esta investigação crítica portanto nós não aprendemos mais do que aquilo que mesmo sem tão sutil pesqui sa nós já teríamos realizado por nós mesmos no mero uso empírico do entendimento parece que a vantagem por ela proporcionada não vale os esforços e preparativos efetuados Mas quanto a isso se pode ria responder que nenhuma curiosidade é tão prejudicial à ampliação de nosso conhecimento quanto a de sempre querer saber de antemão a utilidade antes mesmo de entregarse às investigações e de se ter o mínimo conceito dessa utilidade mesmo quando se a tenha diante dos olhos Há uma vantagem porém que pode ser tornada tanto com preensível como interessante mesmo para o mais resistente e indis posto principiante nessa investigação transcendental a saber que o entendimento meramente ocupado com o seu uso empírico que não reflete sobre as fontes de seu próprio conhecimento pode certamen te progredir mas é incapaz de fazer uma coisa qual seja determinar a si mesmo as fronteiras de seu uso e saber o que pode estar dentro ou fora de sua inteira esfera pois para isso são requeridas justamente as investigações profundas que nós realizamos Se ele não pode decidir contudo se certas questões estão ou não em seu horizonte ele nunca está seguro de suas pretensões e de sua posse e tem de prestar con tas de diversas repreensões embaraçosas por ultrapassar incessante mente os limites de seu domínio o que é inevitável e se perder em ilusões e fantasias B 297 243 Que o entendimento só possa pois fazer um uso empírico de to dos os seus princípios a priori e mesmo de todos os seus conceitos e jamais um uso transcendental é uma proposição que se por ele reco B 298 nhecida com convicção leva a importantes consequências 0 uso trans cendental de um conceito em algum princípio se dá quando ele é re ferido a coisas em geral e em si mesmas o empírico quando ele é re ferido apenas a fenômenos i e a objetos de uma experiência possí vel Que apenas o último possa em geral ocorrer é algo que se percebe pelo seguinte45 Para cada conceito se exige em primeiro lugar a for ma lógica de um conceito do pensamento em geral e em segundo lu gar também a possibilidade de lhe dar um objeto a que ele se refira Sem este último ele não tem sentido e é inteiramente vazio de conteú do mesmo que contenha a função lógica para fazer de algum datis um conceito Agora o objeto só pode ser dado a um conceito na intui ção e se uma intuição pura é possível a priori antes do objeto mes mo esta só pode receber seu objeto portanto a validade objetiva por meio da intuição empírica de que ela é a mera forma Todos os concei tos portanto e com eles todos os princípios por mais que também se jam possíveis a priori referemse a intuições empíricas i e a data para uma experiência possível Sem isso eles não têm qualquer valida de objetiva e não passam de um jogo da imaginação ou do entendi mento com suas respectivas representações Tomemse apenas os exem B 299 pios da matemática como exemplo e primeiramente de fato em suas intuições puras O espaço tem três dimensões entre dois pontos só pode haver uma linha reta etc Embora esses princípios e a represen tação do objeto com que se ocupa aquela ciência sejam engendrados inteiramente a priori na mente eles não significariam nada se não pudéssemos apresentar o seu significado em fenômenos objetos em píricos Por isso também se exige tornar sensível um conceito abs trato i e apresentar na intuição o objeto a ele correspondente pois sem isso o conceito permaneceria como se diz sem sentido i e sem significado A matemática satisfaz tal exigência por meio da constru ção da figura que é um fenômeno presente aos sentidos ainda que produzida a priori O conceito de quantidade nessa mesma ciência 45 A maioria dos tradutores entende que em ersieht man daraus o daraus se refere ao que fora dito na frase anterior Cuyer e Esposito a nosso ver corretamente entenderam que Kant se referia ao que seria dito na frase seguinte NT 244 busca sustentação e sentido no número e este nos dedos nos corais do ábaco ou nos traços e pontos que se oferecem à visão O conceito continua sendo engendrado a priori juntamente com os princípios sintéticos ou fórmulas de tais conceitos mas o uso dos mesmos no fim das contas bem como sua referência a supostos objetos só po dem ser buscados na experiência cuja possibilidade no que diz res peito à forma eles contêm Que este seja o caso de todas as categorias no entanto e dos princípios elaborados a partir delas fica claro pelo seguinte nós não podemos definir nenhuma delas em termos reais i e tornar compre ensível a possibilidade de seu objeto sem descer imediatamente às condições da sensibilidade portanto à forma dos fenômenos como aquilo a que enquanto seus únicos objetos elas têm de estar limita das Pois caso esta condição seja retirada perdese todo o significa do i e toda referência ao objeto e não se pode tornar compreensí vel por meio de exemplo algum o que se entende efetivamente por uma coisa sob tal conceito46 0 conceito de quantidade em geral só pode ser explicado do se guinte modo ela é a determinação de uma coisa no sentido de que por meio dela se pode pensar quantas vezes o um está nela posto Mas 46 Foi excluído em B o seguinte trecho que em A 241 dava sequência ao parágrafo Na exposi ção da tábua de categorias acima nós nos dispensamos de definir cada uma delas porque nosso propósito que somente concerne ao seu uso sintético não o fazia necessário e nin guém precisa assumir responsabilidade por empreitadas desnecessárias de que podemos dis pensarnos Isso não foi escusa mas sim a importante regra de prudência de não arriscar ime diatamente com definições e não buscar nem pretender completude ou precisão na determi nação do conceito quando se pode estar satisfeito com uma ou outra característica do mes mo sem mesmo necessitar para isso de uma enumeração completa de todas as característi cas que o constituem por inteiro Agora se mostra porém que a razão dessa cautela era ain da mais profunda qual seja a de que mesmo que quiséssemos não podíamos definilo Pelo contrário quando se retiram todas as condições da sensibilidade que caracterizam um uso empírico possível e se toma as categorias por conceitos de coisas em geral portanto de uso transcendental não resta nada a fazer com elas a não ser considerar a função lógica nos juízos como condição de possibilidade das coisas sem poder mostrar sequer minimamente onde elas podem ter sua aplicação e seu objeto portanto como podem sem a sensibilidade ter algum significado e validade objetiva no entendimento Penso aqui na definição real que não apenas fornece palavras diferentes e mais compreen síveis para o nome de uma coisa mas contém em si uma clara marca característica pela qual o objeto defínitum pode ser sempre conhecido com segurança e toma aplicável o conceito explicado A explicação real seria aquela portanto que torna claro não apenas o conceito mas também a sua realidade objetiva As explicações matemáticas que expõem o objeto na intuição em conformidade com o conceito são do último tipo NT B 300 A 242 245 este quantas vezes se funda na repetição sucessiva portanto no tempo e na síntese do homogêneo no tempo A realidade portanto só pode ser explicada por oposição à negação caso se conceba um tempo como conjunto completo de todo ser que ou se preenche com ela ou é vazio Se deixo de lado a permanência que é uma existência por todo o tempo só o que me resta como conceito de substância é a representação lógica do sujeito que pretendo realizar quando me represento algo que só pode ocorrer como sujeito sem ser um predi B 301 cado de nada Mas eu não apenas não conheço quaisquer condições sob as quais esse privilégio lógico possa ser próprio a alguma coisa como também não há mais o que fazer a partir dele nem as mínimas consequências a extrair já que nenhum objeto do uso desse conceito é por ele determinado e não se pode saber sequer se ele significa algo Do conceito de causa gu não encontraria nada na categoria pura se deixasse de lado o tempo em que algo se segue a algo segundo uma regra a não ser que ele é algo a partir do qual se pode inferir a exis tência de outro algo e nesse caso não apenas não se poderiam distin guir a causa e o efeito mas na medida em que esse poder inferir exigi ria logo condições de que nada sei não haveria qualquer determina ção de como o conceito se adequaria a algum objeto O suposto prin cípio de que todo contingente tem uma causa se apresenta de manei ra solene como se tivesse a sua própria dignidade em si mesmo Mas eu pergunto o que vocês entendem por contingente E vocês respon dem é aquilo cujo não ser é possível Eu gostaria de saber então de que modo vocês pretendem conhecer a possibilidade desse não ser senão representandose uma sucessão na sequência dos fenômenos e nela uma existência que se segue ao não ser ou o inverso e portan to uma mudança Pois dizer que o não ser de uma coisa não se con B 302 tradiga a si mesmo é um apelo precário a uma condição lógica que embora necessária ao conceito não é nem de perto suficiente para es tabelecer a sua possibilidade real do mesmo modo como posso supri mir cada substância existente no pensamento sem me contradizer a mim mesmo sem poder de modo algum no entanto inferir daí a sua contingência na existência i e a possibilidade de seu não ser em si mesmo No que diz respeito ao conceito de comunidade é fácil verifi car que se as categorias de substância e causalidade não autorizam uma explicação determinante do objeto a causalidade recíproca na relação das substâncias entre si commercium é ainda menos capaz 246 i de fazêlo Enquanto se buscou extrair suas definições somente do mero entendimento possibilidade existência e necessidade só puderam ser ex plicadas por meio de evidentes tautologias Pois a fantasia de atribuir a possibilidade lógica do conceito que ele não se contradiga a si mesmo à possibilidade transcendental das coisas que um objeto corresponda ao conceito só pode enganar e satisfazer os inexperientes47 48 E disso decorre inegavelmente que os conceitos puros do enten dimento nunca podem ter um uso transcendental mas sim um uso que é sempre apenas empírico e que os princípios do entendimento puro só podem referirse aos objetos da experiência relativamente às condições universais de uma experiência possível não podendo refe rirse jamais às coisas em geral sem levar em conta o modo como po demos intuílas 47 Em uma palavra nenhum desses conceitos pode ser de modo algum compreendido nem sua possibilidade real estabelecida caso toda intuição sensível a única que temos seja retirada e só resta então a possibilidade lógica i e que o conceito pensamento seja possível Mas não é disso que se trata aqui e sim de saber se o conceito se refere a um objeto e portanto se significa algo NA 48 Em A 244 este parágrafo era sucedido pelo seguinte que foi omitido em B Há algo de estranho e mesmo de absurdo no fato de que deva haver um conceito ao qual tem de corresponder um significado e que todavia não pode ser explicado Mas no caso das categorias há uma peculiaridade elas só podem ter um significado determinado e uma refe rência a algum objeto por meio da condição sensível universal que no entanto fora deixada de lado da categoria pura porque esta do contrário conteria apenas a função lógica de colo car o diverso sob um conceito A partir dessa função porém i e da mera forma do conceito não se pode conhecer nada nem discernir qual objeto a ela pertence pois se fez abstração justamente da condição sensível sob a qual objetos em geral podem ser dados sob ela Por isso as categorias precisavam ainda além do conceito puro do entendimento de determina ções de sua aplicação à sensibilidade em geral esquema e sem estas não seriam conceitos por meio dos quais um objeto possa ser conhecido ou discernido de outros mas apenas tah tos modos de pensar um objeto para intuições possíveis e darlhe o seu significado segundo alguma função do entendimento sob condições ainda indefinidas i e definilo elas próprias contudo não poderiam ser definidas As funções lógicas do juízo em geral unidade e plurali dade afirmação e negação sujeito e predicado não podem ser definidas sem que se caia em um círculo pois a definição teria de ser ela própria um juízo e portanto já teria de conter es sas funções Mas as categorias puras não são outra coisa senão representações das coisas em geral conforme o diverso de sua intuição tenha de ser pensado através de uma ou outra des sas funções lógicas a quantidade é a determinação que só pode ser pensada por meio de um juízo que tenha quantidade a realidade por meio de um juízo afirmativo a substância é aquilo que em relação à intuição tem de ser o último sujeito de todas as determinações O que isto seja porém antes das coisas em relação às quais esta ou aquela função em vez da quela outra terá de ser empregada é algo que permanece aqui inteiramente indeterminado sem a condição da intuição sensível portanto para a qual elas contêm a síntese as categori as não têm qualquer referência a um objeto determinado não podem definilo e por conse guinte não possuem em si mesmas a validade de conceitos objetivos NT B 303 A 245 A 246 247 Desse modo a analítica transcendental tem por importante resul tado que o entendimento nunca pode conseguir mais a priori do que antecipar a forma de uma experiência possível em geral e como aquilo que não é fenômeno não pode ser objeto da experiência que ele não pode ultrapassar jamais os limites da sensibilidade os únicos no interior dos quais objetos podem sernos dados Seus princípios são meros princípios da exposição dos fenômenos e o pomposo nome de uma ontologia que se arroga a fornecer conhecimentos sintéticos a priori das coisas em geral o princípio da causalidade por exemplo em uma doutrina sistemática tem de dar lugar ao mais modesto no me de uma mera analítica do entendimento puro b 304 O pensamento é a ação de referir intuições dadas a um objeto Se o tipo dessa intuição não é dado de modo algum o objeto é meramen te transcendental e o cônceito do entendimento não tem outro uso a não ser o transcendental qual seja a unidade do pensamento de um diverso em geral Por meio de uma categoria pura pois na qual se abstrai de toda condição sensível enquanto a única que nos é possível não se determina nenhum objeto mas apenas se exprime o pensamen to de um objeto em geral segundo diferentes modis Agora ao uso de um conceito pertence ainda uma função da faculdade de julgar na qual um objeto é subsumido sob ele portanto pelo menos a condição formal sob a qual algo pode ser dado na intuição Se falta esta condição da fa culdade de julgar esquema deixa de haver qualquer subsunção pois não é dado nada que pudesse ser subsumido sob o conceito Assim o uso transcendental das categorias não é na verdade um uso e não tem nenhum objeto determinado ou sequer determinável segundo a forma Disso se segue que a categoria pura também não é suficiente para um princípio sintético a priori e que os princípios do entendimento puro só têm uso empírico jamais transcendental até porque não poderia ha b 305 ver quaisquer princípios sintéticos a priori para além do campo da ex periência possível Assim pode ser aconselhável expressarse assim sem as condi ções formais da sensibilidade as categorias puras têm um significado meramente transcendental mas não têm nenhum uso transcenden tal pois este é em si mesmo impossível já que lhes faltam todas as condições de um uso qualquer em juízos quais sejam as condições formais da subsunção de um suposto objeto sob esses conceitos 248 Á Assim como elas enquanto meras categorias puras não devem ser de uso empírico mas não podem ser de uso transcendental en tão elas não têm qualquer uso caso sejam separadas da sensibilidade i e não podem ser aplicadas a qualquer suposto objeto elas são ape nas na verdade a forma pura do uso do entendimento em relação aos objetos em geral e do pensamento sem que possam pensar ou de terminar um objeto por meio dela apenas49 50 49 50 49 Como adverte Caimi esta última oração também podería ser interpretada em virtude da am biguidade presente no texto alemão do seguinte modo sem que se possa pensar ou deter minar um objeto por meio delas apenas A maioria dos tradutores Ribas Tremesaygues e Pacaud Guyer a interpretou assim Caimi no entanto preferiu supor que o sujeito da últi ma oração era por extensão o mesmo das orações anteriores i e as categorias Esta tam bém nos pareceu a melhor solução NT 50 Em A 248 começava a partir daqui com um novo parágrafo o seguinte trecho de A Na me dida em que podem ser pensados como objetos segundo a unidade das categorias os fenô menos se denominam Phaenomena Se suponho coisas que são meros objetos do entendi mento e não obstante podem ser dadas a uma intuição ainda que não à sensível portanto coram intuitu intellectuali então tais coisas se denominariam Noumena intelligibilia Poderseia pensar então que o conceito de fenômeno tal como limitado pela estética trans cendental já fornecería por si mesmo a realidade objetiva dos noumenorum e justificaria a divisão dos objetos em phaenomena e noumena portanto também do mundo em um mun do dos sentidos e outro do entendimento mundus sensibilis et inteltígibilis e isso de tal modo que a diferença não dissesse respeito apenas à forma lógica do conhecimento claro ou obscuro de uma única e mesma coisa mas à diferença no modo como os objetos podem ser originariamente dados ao nosso conhecimento diferença na qual eles se distinguem uns dos outros em si mesmos segundo a espécie Pois se os sentidos nos representam algo so mente tal como ele aparece este algo também tem de ser em si mesmo uma coisa e um obje to de uma intuição não sensível i e do entendimento ou seja tem de ser possível um conhe cimento em que não se encontre nenhuma sensibilidade e que tenha apenas realidade objeti va absoluta um conhecimento com efeito pelo qual os objetos nos sejam representados tal como são ao passo que no uso empírico de nosso entendimento as coisas só são conhecidas tal como aparecem Além do uso empírico das categorias portanto que se limita às condições sensíveis haveria também um uso puro e não obstante válido objetivamente e nós não poderíamos afirmar o que dissemos até aqui que os conhecimentos puros de nosso entendimento não eram mais em parte alguma do que princípios da exposição do fenômeno que mesmo a priori só se re feriam à possibilidade formal da experiência pois aqui se abriria para nós todo um outro ter ritório como que um mundo pensado no espírito talvez até mesmo intuído que poderia ocupar o nosso entendimento de maneira igualmente intensa e muito mais nobre Todas as nossas representações são de fato referidas pelo entendimento a algum objeto e como os fenômenos não são senão representações o entendimento os refere a um algo como o objeto da intuição sensível mas este algo é nessa medida apenas o objeto transcendental Este contudo significa um algox de que nada sabemos nem sequer poderíamos saber se gundo a atual disposição de nosso entendimento e que serve apenas como um correlato da unidade da apercepção para a unidade do diverso na intuição sensível através da qual o en tendimento unifica o mesmo no conceito de um objeto Este objeto transcendental não pode ser de modo algum separado do datis sensível pois do contrário não restaria nada permitindo pensálo Ele não é portanto um objeto do conhecimento em si mesmo mas apenas a representação dos fenômenos sob o conceito de um objeto em geral que é por meio deles determinável A 249 A 250 A 251 249 Na base disso entretanto há uma ilusão que é difícil evitar51 No que diz respeito à sua origem as categorias ao contrário das formas da intuição espaço e tempo não se fundam na sensibilidade e portanto parecem autorizadas a uma aplicação que se estenda para além de todos os objetos dos sentidos Por seu turno todavia elas não passam de formas do pensamento que contêm somente a faculda B 306 de lógica de unificar a priori em uma consciência o diverso daquilo que é dado na intuição e por isso caso se lhes retire a única intuição que nos é possível elas podem ter ainda menos significado do que Justamente por isso as categorias não representam um objeto específico dado somente ao entendimento mas servem apenas para determinar o objeto transcendental através daquilo que é dado na sensibilidade para desse modo conhecer empiricamente fenômenos sob con ceitos de objetos No que diz respeito à causa contudo em virtude da qual nós não satisfeitos com o substrato da sensibilidade atribuímos aos phaenomenis também noumena que só o entendimento puro pode pensar baseiase no seguinte A sensibilidade e seu campo que é o dos fenôme nos são eles próprios limitados pelo entendimento quanto a não dizerem respeito às coisas em si mesmas mas apenas ao modo como as coisas nos aparecem através de nossa constitui ção subjetiva Este foi o resultado da estética transcendental como um todo e do conceito de um fenômeno em geral se segue naturalmente que algo tem de corresponderlhe que não é em si mesmo fenómeno já que o fenômeno não pode ser nada por si mesmo e fora de nosso A 252 modo de representação se não deve pois formarse um círculo constante a palavra fenôme no já indica a referência a algo cuja representação imediata embora de fato sensível tem de ser em si mesma independentemente dessa constituição de nossa sensibilidade em que se funda a forma de nossa intuição algo i e um objeto independente de nossa sensibilidade Disso surge pois o conceito de um noumenon que não é todavia de modo algum positivo e não significa um conhecimento determinado de alguma coisa mas apenas o pensamento de algo em geral em que eu faço abstração de toda forma da intuição sensível Para que com isso no entanto um noumenon signifique um objeto verdadeiro distinguível de todos os fenôme nos Phänomenen não é suficiente que eu liberte meus pensamentos de todas as condições da intuição sensível mas eu teria de possuir ainda além disso um fundamento para supor um outro modo da intuição diferente da sensível sob a qual tal objeto pudesse ser dado Mais aci ma não pudemos de fato provar que a intuição sensível é a única intuição em geral possível mas apenas que ela o é para nós também não pudemos provar contudo que um outro modo da intuição seria possível e embora o nosso pensamento possa abstrair de toda sensibilidade A 253 permanece todavia a questão de se esse objeto não seria então a mera forma de um conceito e de se com tal separação sequer sobraria um objeto em algum lugar O objeto Object a que refiro o fenômeno em geral é o objeto Gegenstand transcendental i e o pensamento inteiramente indeterminado de algo em geral Este não pode denomi narse noumenon pois não sei nada do que ele seja em si mesmo nem tenho dele qualquer conceito a não ser o do objeto de uma intuição sensível em geral o qual portanto é idêntico para todos os fenômenos Eu não posso pensálo por meio das categorias pois estas servem para colocar a intuição sensível sob o conceito de um objeto em geral Um uso puro da cate goria é de fato possível i e sem contradição mas não tem qualquer validade objetiva já que não diz respeito a uma intuição que devesse por meio dela receber a unidade do objeto Pois a categoria é em todo caso uma mera função do pensamento pela qual nenhum objeto me é dado mas apenas se pensa aquilo que pode ser dado na intuição NT 51 Com este parágrafo começa o trecho que foi acrescentado em B em substituição àquele de A que foi retirado Ele termina com o parágrafo que começa em B 308 e se encerra em B 309 NTJ 250 aquelas formas sensíveis puras através das quais é pelo menos dado um objeto ao passo que um tipo de ligação do diverso que fosse pró prio ao nosso entendimento não significaria nada se não se lhe juntasse aquela única intuição em que esse diverso pode ser dado Quando no entanto denominamos certos objetos como fenômenos seres sensíve is phaenomena distinguindo o modo como os intuímos de sua consti tuição em si mesmos já faz parte de nosso conceito que por assim dizer oponhamos àqueles como objetos meramente pensados pelo entendi mento e denominemos seres inteligíveis noumena ou a eles próprios no que diz respeito a esta última constituição mesmo que não possamos assim intuílos ou a outras coisas possíveis que não são de modo algum objetos de nossos sentidos Perguntase agora se no que diz respeito a esses seres inteligíveis nossos conceitos puros do entendimento têm um significado e são um modo de conhecêlos Mostrase desde logo no entanto uma ambiguidade que pode cau sar um grande malentendido como ao denominar um objeto mera mente fenômeno Phãnomen em uma relação o entendimento ela bora ainda ao mesmo tempo uma representação de um objeto em si mesmo fora dessa relação e se representa que também poderia elabo rar um conceito de tal objeto e como já que o entendimento fornece apenas as categorias o objeto teria de pelo menos poder ser pensado nesta última relação através de tais conceitos puros o entendimento é levado por isso a tomar o conceito inteiramente indeterminado de um ser inteligível enquanto algo em geral fora de nossa sensibilidade pelo conceito determinado de um ser que nós pudéssemos conhecer de algum modo através do entendimento Se sob númeno52 entendemos uma coisa que não é objeto de nos sa intuição sensível porque fazemos abstração do nosso modo de in tuíla então ele é um númeno em sentido negativo Se no entanto entendemos aí um objeto de uma intuição não sensível então supo mos um modo absoluto de intuir mais precisamente o intelectual 52 Aqui Kant deixa de italicizar a palavra noum enon parecendo querer incorporála ao próprio léxico alemão Logo no início do parágrafo seguinte isto se confirma em vez de grafar nou rnena no plural que seria o correto em latim ele estabelece o plural conforme as regras do alemão noum enen Assim sendo optamos por utilizar a palavra correspondente ao latim noum enon em português qual seja númeno NT B 307 251 que não é o nosso e cuja possibilidade não podemos discernir e tal se ria o númeno em sentido positivo Assim a doutrina da sensibilidade é ao mésmo tempo a doutrina dos númenos em sentido negativo i e das coisas que o entendimen to tem de pensar sem essa referência ao nosso modo de intuir portan to não apenas como fenômenos mas como coisas em si mesmas das quais contudo ele compreende ao mesmo tempo nessa abstração B 308 que não poderia fazer nenhum uso de suas categorias para conside rála desse modo Pois como estas só têm significado em referência à unidade das intuições no espaço e no tempo mesmo esta unidade elas também só podem determinar a priori através dos conceitos uni versais de ligação graças à mera idealidade do espaço e do tempo Onde essa unidade do tempo não possa ser encontrada portanto no númeno aí cessa inteiramente todo uso e mesmo todo significado das categorias pois mesmo a possibilidade das coisas que devem cor responder às categorias não pode ser discernida razão pela qual só posso apelar àquilo que aduzi logo no começo da observação geral ao último capítulo Agora a possibilidade de uma coisa não pode ser pro vada jamais pela mera não contradição de seu conceito mas apenas na medida em que este seja atestado por uma intuição que lhe corres ponda Se pois quiséssemos aplicar as categorias a objetos que não podem ser considerados como fenômenos então teríamos de ter por base uma outra intuição que não a sensível e o objeto seria nesse caso um númeno em sentido positivo Como tal intuição no entanto que é a intelectual reside inteiramente fora de nossas faculdades cog nitivas então o uso das categorias também não pode de modo algum estenderse para além dos limites dos objetos da experiência e embo B 309 ra aos seres sensíveis correspondam certamente seres inteligíveis e possam até existir Seres inteligíveis com os quais nossa faculdade in tuitiva sensível não tem qualquer relação nossos conceitos do enten dimento como meras formas do pensamento para nossa intuição sen sível não se estendem sequer minimamente a eles o que denomina mos númeno portanto tem de ser compreendido enquanto tal ape nas em sentido negativo Se retiro todo pensamento por meio de categorias de um conhe cimento empírico não resta nenhum conhecimento de um objeto pois através da mera intuição não se pensa nada e o fato de essa afec 2 5 2 Í ção estar em mim nâo estabelece qualquer relação entre tal representa ção e algum objeto Se pelo contrário retiro toda intuição ainda resta a forma do pensamento i e o modo de determinar um objeto para o diverso de uma intuição possível Por isso as categorias se estendem tão mais longe que a intuição sensível pois elas pensam objetos em ge ral sem ter ainda em vista o modo específico a sensibilidade pelo qual eles podem ser dados Elas não determinam desse modo contudo uma esfera maior de objetos pois não se pode supor que tais objetos pos sam ser dados sem se pressupor como possível uma outra forma da in tuição que não a sensível e a esta não estamos autorizados Eu denomino problemático um conceito que embora não conte nha contradição e se concatene com outros conhecimentos como li mitação de determinados conceitos não pode ser conhecido de modo algum no que diz respeito à sua realidade objetiva 0 conceito de um númeno i e de uma coisa que deve ser pensada apenas por um en tendimento puro não como objeto dos sentidos mas como coisa em si mesma não é em absoluto contraditório pois não se pode afirmar da sensibilidade que ela seja o único modo possível de intuição Além disso esse conceito é necessário para não estender a intuição sensível para além das coisas em si mesmas e portanto para limitar a validade objetiva do conhecimento sensível pois as demais coisas não alcan çadas por tal intuição denominamse noumena justamente porque assim se indica que esses conhecimentos não podem estender seu do mínio sobre tudo aquilo que o entendimento pensa No fim das con tas porém a possibilidade de tais noumenorum não pode ser de modo algum discernida e o âmbito exterior à esfera dos fenômenos é vazio para nós i e nós temos um entendimento que se estende pro blematicamente para além desta mas nâo uma intuição nem sequer o conceito de uma possível intuição através da qual objetos pudes sem sernos dados fora do campo da sensibilidade e assim o entendi mento pudesse ser empregado assertoricamente para além dela O conceito de um númeno é pois apenas um conceito de limite para li mitar a pretensão da sensibilidade e portanto tem um uso meramen te negativo Não obstante ele nâo foi inventado arbitrariamente e se vincula à limitação da sensibilidade sem poder estabelecer algo positi vo fora do âmbito desta B 310 B 311 253 1 Assim a divisão dos objetos em phaenomena e noumena e do mundo em mundo sensível e inteligível não pode ser admitida em sentido positivo ainda que os conceitos certaraente comportem a di visão em sensíveis e inteligíveis pois não se pode determinar nenhum objeto para estes últimos nem portanto oferecêlos como objetiva mente válidos Como se pretende tornar compreensível quando se toma distância dos sentidos que nossas categorias que seriam os únicos conceitos remanescentes para os noumena ainda signifiquem algo se para a sua referência a algum objeto teria de ser dado algo além da mera unidade do pensamento portanto além de uma intui ção possível a que elas pudessem aplicarse Apesar disso o conceito de noumenon tomado de maneira meramente problemática perma nece não apenas permitido mas como um conceito que coloca limi tes à sensibilidade também inevitável Mas ele não é nesse caso um objeto inteligível especial para o nosso entendimento um entendi mento a que ele pertencesse é que constitui um problema a saber o B 312 de conhecer seu objeto não discursivamente através das categorias mas sim intuitivamente em uma intuição não sensível de cuja possibi lidade não podemos elaborar a mínima representação Agora nosso entendimento obtém desse modo uma extensão negativa i e ele não é limitado pela sensibilidade mas antes a limita ao denominar nou mena às coisas em si mesmas não consideradas como fenômenos Mas ele também se coloca limites imediatamente já que não as co nhece por meio das categorias e portanto só pode pensálas sob o nome de um algo desconhecido Nos escritos dos modernos entretanto encontro um uso inteira mente diverso das expressões mundi sensibilis e intelligibilis53 um uso que se distancia por completo do sentido dos antigos e no qual embora não haja pôr certo qualquer dificuldade não se encontra nada além de um palavrório vazio Com que alguns de muito bom grado chamaram o conjunto completo dos fenômenos na medida em que são intuídos de mundo sensível mas na medida em que é pensa 53 Não se deve em lugar dessa expressão empregar a de um mundo intelectual como se costu ma fazer no discurso alemão pois intelectuais ou sensíveis são apenas os conhecim entos 0 que no entanto só pode ser objeto Gegenstand de um ou outro modo de intuir caso dos objetos Objecte portanto tem de denominarse em que pese a dureza do tom inteligível ou sensível NA 254 da a sua concatenação segundo leis universais do entendimento de mundo inteligível A astronomia teórica que apresenta a mera obser vação do céu estrelado tornaria o primeiro representável e a astrono mia contemplativa por outro lado explicada segundo o sistema co pernicano do mundo ou mesmo segundo as leis da gravidade de New ton tornaria representável o segundo i e o mundo inteligível Mas este contorcionismo linguístico é uma mera saída sofística para tor nando seu sentido mais palatável fugir de uma questão incômoda O entendimento e a razão podem sem dúvida alguma ser empregados em relação aos fenômenos o que se pergunta porém é se eles podem ter também outro uso quando o objeto não é um fenômeno mas um noumenon sentido em que é tomado quando o objeto é pensado em si como meramente inteligível i e como dado apenas ao entendi mento e não aos sentidos Tratase assim da questão se fora daquele uso empírico do entendimento mesmo na representação newtoniana da estrutura do mundo seria possível também um uso transcenden tal que se debruçasse sobre o noumenon como um objeto questão a que já respondemos negativamente Se dizemos pois que os sentidos nos representam os objetos tal como aparecem e o entendimento tal como são esta última afirma ção não deve ser tomada em sentido transcendental mas apenas em pírico i e no sentido de que eles têm de ser representados como ob jetos da experiência em uma concatenação completa dos fenômenos e não segundo o que poderiam ser fora da referência à experiência possível e portanto aos sentidos em geral i e como objetos do en tendimento puro Pois isto permanecerá sempre desconhecido para nós de tal modo inclusive que permaneceria desconhecido mesmo que tal conhecimento transcendental extraordinário fosse em geral possível ao menos como um conhecimento que estivesse sob as nos sas categorias habituais Em nós o entendimento e a sensibilidade só podem determinar objetos quando em ligação Se os separamos temos intuições sem conceitos ou conceitos sem intuições e em am bos os casos representações que não podemos referir a nenhum obje to determinado Se após todos esses esclarecimentos alguém ainda tem dúvidas quanto a abandonar o uso meramente transcendental das categorias que faça um experimento com ele em alguma afirmação sintética B 313 B 314 255 Pois a proposição analítica não leva o entendimento adiante e como ela só se ocupa daquilo que já está pensado no conceito deixa inde terminado se este possui em si mesmo referência aos objetos ou se significa tão somente a unidade do pensamento em geral que abstrai inteiramente do modo como um objeto pode ser dado bastalhe sa ber o que reside em seu conceito sendolhe indiferente a que o pró B 315 prio conceito se refere Que se faça o experimento pois com algum princípio sintético e supostamente transcendental como este tudo o que existe existe54 como substância ou como uma determinação a ela inerente ou então todo contingente existe como efeito de outra coi sa qual seja sua causa etc Agora eu pergunto de onde ele pretende inferir essa proposição sintética se os conceitos devem valer não em relação à experiência possível mas sobre as coisa em si mesmas nou mena1 Onde está aqui o terceiro termo que é sempre requerido em uma proposição sintética para nela conectar conceitos que não têm qualquer afinidade lógica analítica Ele não provará jamais a sua pro posição nem poderá jamais o que é pior justificarse quanto à possibi lidade de tal afirmação pura sem levar em conta o uso empírico do en tendimento e desse modo renunciar inteiramente ao juízo puro e inde pendente dos sentidos Assim o conceito de objetos puros meramente inteligíveis é inteiramente carente de princípios para sua aplicação pois não se pode imaginar um modo pelo qual fossem dados e o pensa mento problemático que todavia deixa um espaço aberto para eles serve apenas como um espaço vazio para limitar os princípios empíri cos sem conter em si ou indicar no entanto um objeto do conheci mento fora da esfera dos últimos B 316 Apêndice Da anfibolia dos conceitos da reflexão através da confusão do uso empírico do entendimento com o transcendental A reflexão reflexio não tem de lidar com os próprios objetos para diretamente deles receber conceitos mas é antes o estado da 54 Kant alternou entre as expressões dasein e existieren ambos correspondentes ao nosso existir alles was da ist existiert ab Na falta de duas palavras sinônimas em português tivemos de repetir o existir NT 256 mente em que primeiramente nos preparamos para descobrir as con dições subjetivas sob as quais podemos chegar a conceitos Ela é a consciência da relação das representações dadas com as nossas dife rentes fontes de conhecimento a única por meio da qual pode ser cor retamente determinada a relação delas entre si A primeira pergunta antes de qualquer nova consideração sobre a nossa representação é a seguinte a qual faculdade de conhecer pertencem elas em conjun to É o entendimento que as conecta e as compara ou são os senti dos Muitos juízos são aceitos por hábito ou conectados por inclina ção como no entanto nenhuma reflexão os antecede ou a eles se se gue criticamente eles valem por juízos cuja origem seria no entendi mento Nem todos os juízos necessitam de uma investigação i e de uma atenção voltada aos fundamentos da verdade pois se eles são imediatamente certos como por exemplo o de que entre dois pontos só pode haver uma linha reta não se pode indicar nenhuma marca ca racterística da verdade mais precisa do que aquela que eles próprios exprimem Mas todos os juízos e mesmo todas as comparações ne cessitam de uma reflexão i e de uma distinção do poder cognitivo a que dados conceitos pertencem A ação pela qual eu junto a compara ção das representações em geral com o poder cognitivo em que ela é realizada e pela qual eu distingo se elas são comparadas entre si como pertencentes ao entendimento puro ou à intuição sensível eu a denomino reflexão transcendental As relações porém em que os conceitos podem pertencer uns aos outros em um estado da mente são as da identidade e da diversidade da concordância e da oposi ção do interno e do externo e finalmente do determinável e da de terminação matéria e forma A determinação correta dessa relação depende de saber em qual poder cognitivo que eles pertencem uns aos outros subjetivamente se na sensibilidade ou no entendimento Pois a diferença entre estas faz uma grande diferença no modo como se devem pensar os conceitos55 55 Como aponta Caimi die ersten que nós interpretamos e a exemplo de Esposito assim tra duzimos como sendo os conceitos também poderiam referirse às relações 0 próprio Cai mi no entanto ao traduzir die ersten por os primeiros indicou tratarse segundo sua inter pretação dos conceitos Os tradutores ingleses ao contrário dos latinos puderam conservar a ambiguidade do alemão traduzindo die ersten por the former NT B 317 257 Antes de qualquer juízo objetivo nós comparamos os conceitos para chegar à identidade diversas representações sob um conceito B 318 dos juízos universais ou à diversidade dos mesmos para produzir os particulares à concordância para que dela possam surgir juízos afir mativos e à oposição para que possam surgir negativos e assim por diante Tendo isso por base nós deveríamos ao que parece denomi nar os conceitos aduzidos conceitos de comparação conceptus com parationis Quando não se trata da forma lógica no entanto mas do conteúdo dos conceitos i e se as próprias coisas são idênticas ou di versas concordantes ou opostas etc as coisas podem ter uma relação ambígua com nosso poder cognitivo i e com a sensibilidade e com o entendimento mas é deste lugar a que elas pertencem que depende o modo como elas devem juntarse umas às outras E por tudo isso que somente a reflexão transcendental i e a relação de dadas represen tações a um ou outro modo de conhecer pode determinar a relação delas entre si e se as coisas são idênticas ou diversas concordantes ou opostas etc não pode ser estabelecido diretamente a partir dos pró prios conceitos pela mera comparação comparatió mas sim antes de tudo através da distinção do modo de conhecer a que pertencem por meio de uma reflexão reflexio transcendental Poderseia dizer de fato que a reflexão lógica é uma mera comparação pois nela se faz completa abstração do poder cognitivo a que dadas representações pertencem e estas têm de ser tratadas de maneira homogênea no que B 319 diz respeito ao seu lugar na mente a reflexão transcendental no en tanto que diz respeito aos próprios objetos contém o fundamento da possibilidade da comparação objetiva das representações entre si e portanto é bastante diferente da última pois o poder cognitivo a que elas pertencem não é exatamente o mesmo Esta reflexão transcenden tal é um dever a que ninguém pode furtarse caso queira julgar algo a priori sobre as coisas Nós nos debruçaremos agora sobre ela e com isso não obteremos pouca luz para a determinação do verdadeiro ofí cio do entendimento 1 Identidade e diversidade Se um objeto nos é apresentado di versas vezes mas a cada vez com as mesmíssimas determinações in ternas qualitas et quantitas e se vale como objeto do entendimento puro então ele é sempre o mesmo e não muitas mas apenas uma coi sa numérica identitas se no entanto ele é um fenômeno não se 258 i trata por certo de comparar os conceitos por mais que tudo seja idên tico para estes a diversidade de lugares desse fenômeno no mesmo tempo é uma razão suficiente para a diversidade numérica do pró prio objeto dos sentidos Assim podese fazer completa abstração de toda diversidade interna da qualidade e da quantidade em duas gotas dägua mas é suficiente que elas sejam intuídas ao mesmo tem po em diferentes lugares para que sejam consideradas como numeri camente distintas Leibniz tomava os fenômenos como coisas em si mesmas portanto como intelligibilia i e como objetos do entendi mento puro embora por uma confusão de suas representações des se aos mesmos o nome de fenômenos Phänomene e com isso o seu princípio dos indiscerníveis principium identitatis indiscernibilium não podia ser de modo algum refutado como no entanto eles são ob jetos da sensibilidade e o entendimento não tem um uso puro em re lação a eles mas apenas um uso empírico a pluralidade e a diversi dade numérica já são fornecidas pelo próprio espaço enquanto con dição dos fenômenos externos Pois uma parte do espaço mesmo que seja inteiramente semelhante e igual a uma outra está ainda as sim fora dela e justamente por isso é uma parte dela diferente que se lhe acrescenta para formar um espaço maior e isso portanto tem de valer para tudo que mesmo semelhante ou igual seja simultâneo nos muitos lugares do espaço 2 Concordância e oposição Se a realidade só é representada pelo entendimento puro realitas noumenon não se pode pensar ne nhuma oposição entre as realidades i e uma relação tal que ligadas em um sujeito elas suprimam as consequências uma da outra e 3 3 0 As realidades no fenômeno realitas phaenomenon pelo contrário podem estar em contradição umas com as outras e unidas no mesmo sujeito negar a consequência uma da outra inteiramente ou em par te tal como duas forças moventes em uma mesma linha reta que ou puxam ou empurram um ponto em direções opostas ou como um prazer que contrabalança a dor 3 O interno e o externo Em um objeto do entendimento puro só é interno aquilo que não tem qualquer referência no que diz respeito à existência a algo diferente dele As determinações internas de um substantia phaenomenon no espaço pelo contrário são apenas rela ções e ela própria não passa de um conjunto de puras relações Nós B 320 B 321 259 só conhecemos a substância no espaço por meio de forças que são nele atuantes seja para atrair outras atração seja para repelir algu ma infiltração repulsão e impenetrabilidade nós não conhecemos outras propriedades que constituam o conceito da substância que apa rece no espaço e à qual nós denominamos matéria Como objeto do en tendimento puro ao contrário toda substância tem de possuir determi nações internas e forças que se referem à realidade interna Mas o que posso representarme como acidentes internos se não aqueles que meu sentido interno me apresenta i e ou aquilo que é ele próprio um B 322 pensamento ou aquilo que é análogo a este Por isso Leibniz uma vez que se representava as substâncias como noumena fazia de todas elas e mesmo dos componentes das matérias depois de ter trazido ao pensamento tudo que nelas pudesse significar relação externa portanto também a composição sujeitos simples dotados de forças de representação ou em uma palavra mônadas 4 M atéria e forma Estes são dois conceitos que de tão insepara velmente ligados a qualquer uso do entendimento têm de constituir o fundamento de todas as demais reflexões O primeiro significa o de terminável em geral o segundo a sua determinação ambos no senti do transcendental em que se faz abstração de toda e qualquer dife rença do que é dado e do modo como este é determinado Antiga mente os lógicos denominavam matéria ao universal e forma à dife rença específica Em todo juízo se pode chamar os conceitos dados de matéria lógica para o juízo e a relação entre eles por meio da cópu la de forma do juízo Em todo ser os seus elementos essentialia são a matéria e o modo como são conectados em uma coisa é a forma essencial Em relação às coisas em geral a realidade ilimitada tam bém foi enxergada como matéria de todas as possibilidades e a limita ção destas negaçãf como aquela forma pela qual uma coisa se dife rencia da outra segundo conceitos transcendentais O entendimento B 323 exige primeiro com efeito que algo seja dado ao menos no conceito para de um certo modo poder determinálo Por isso a matéria prece de à forma no conceito do entendimento puro e Leibniz em virtude disso supôs primeiro as coisas mônadas e internamente um poder de representação das mesmas para depois disso fundar aí a relação externa entre elas e a comunidade de seus estados i e das represen tações Por isso eram possíveis o espaço e o tempo o primeiro atra 260 vés da relação das substâncias o segundo através da conexão das de terminações destas últimas entre si como razões e consequências Assim teria de ser de fato caso o entendimento puro pudesse ser di retamente referido aos objetos e caso o espaço e o tempo fossem de terminações das coisas em si mesmas Se no entanto eles são apenas intuições sensíveis em que determinamos todos os objetos simples mente como fenômenos a forma da intuição como uma constituição subjetiva da sensibilidade vem antes de toda matéria das sensações e portanto o espaço e o tempo vêm antes de todos os fenômenos e de todos os datis da experiência e são o que primeiramente os torna possíveis O filósofo intelectual não podia suportar que a forma ante cedesse as próprias coisas e lhes determinasse a possibilidade uma censura que seria perfeitamente correta caso ele supusesse que intuí mos as coisas como elas são mesmo que com uma representação con fusa Como no entanto a intuição sensível é uma condição subjetiva inteiramente peculiar que constitui a priori o fundamento de toda percepção e cuja forma é originária então somente a forma é dada por si mesma e como a matéria ou as próprias coisas que aparecem está longe de ser o fundamento como se teria de julgar segundo me ros conceitos é antes a sua possibilidade que pressupõe como dada uma intuição formal o tempo e o espaço Observação à anfibolia dos conceitos da reflexão Permitamme denominar lugar transcendental ao lugar que atri buímos a um conceito ou na sensibilidade ou no entendimento puro Desse modo o estabelecimento desse lugar que é próprio a cada con ceito segundo a diversidade de seu uso e a orientação para determi nar segundo regras o lugar de todos os conceitos constituiriam a tó pica transcendental uma doutrina que nos protegeria com rigor con tra as trapaças do entendimento puro e as fantasias daí surgidas na medida em que diferencia sempre qual o poder cognitivo a que os con ceitos de fato pertencem Cada conceito cada título sob o qual se abrigam muitos conceitos pode ser denominado um lugar lógico Nisso se funda a tópica lógica de Aristóteles que pode ser utilizada por professores e oradores para verificar sob determinados títulos do pensamento qual o que melhor se adequa à matéria visada e assim B 324 B 324 B 325 261 poder raciocinar sobre ela com aparência de rigor ou tagarelar com grande riqueza de palavras A tópica transcendental ao contrário não contém mais do que os aduzidos quatro títulos de toda comparação e distinção que se dife renciam das categorias na medida em que através deles não é exposto o objeto segundo o que constitui o conceito quantidade realidade mas apenas a comparação das representações em toda a sua diversi dade que antecede o conceito das coisas Esta comparação no entan to requer primeiramente uma reflexão i e uma determinação da quele lugar a que pertencem as representações das coisas que são comparadas se é o entendimento puro que as pensa ou a sensibilida de que as fornece no fenômeno Os conceitos podem ser logicamente comparados sem que haja preocupação com o luàr a que pertencem seus objetos Objecte se ao entendimento como noumena ou se à sensibilidade como phae nomena Se no entanto queremos passar com esses conceitos aos objetos Gegenstände é necessária antes de tudo a reflexão trans cendental sobre qual o poder cognitivo o entendimento puro ou a sensibilidade para o qual eles devem ser objetos Gegenstände Sem essa reflexão eu faço um uso muito inseguro de tais conceitos e B 326 surgem princípios supostamente sintéticos que a razão crítica não pode reconhecer e que se fundam tão somente em uma anfibolia transcendental i e em uma confusão do objeto Object puro do en tendimento com o fenômeno Desprovido dessa tópica transcendental e portanto ludibriado pela anfibolia dos conceitos da reflexão o famoso Leibniz ergueu um sistema intelectual do mundo ou antes acreditou conhecer a consti tuição interna das coisas na medida em que comparou todos os fenô menos somente com o entendimento e os conceitos formais abstratos de seu pensamento Nossa tábua dos conceitos da reflexão nos pro porciona a inesperada vantagem de trazer à vista o decisivo de sua doutrina em todas as suas partes como também o fundamento orien tador desse peculiar modo de pensar que se baseava simplesmente em um malentendido Ele comparou todas as coisas entre si através de meros conceitos e como era natural somente encontrou as dife renças com que o entendimento distingue seus conceitos uns dos ou tros Ele não enxergou como originárias as condições da intuição sen 262 sível que trazem consigo suas próprias distinções pois a sensibilida de para ele era apenas um modo confuso de representar e não uma fonte peculiar das representações o fenômeno para ele era a repre sentação da coisa em si mesma ainda que diferenciada do conheci mento pelo entendimento no que diz respeito à forma lógica no sen tido de que aquela em sua habitual falta de análise traz uma certa mistura de representações secundárias para o conceito da coisa mas o entendimento consegue separálas Em uma palavra Leibniz inte lectualizava os fenômenos do mesmo modo como Locke sensualiza va todos os conceitos do entendimento em seu sistema da noogonia se me for permitido empregar esta expressão i e tomavaos por me ros conceitos de reflexão quer empíricos ou abstratos Em vez de bus car no entendimento e na sensibilidade duas fontes inteiramente dife rentes de representações que somente em conexão todavia podem julgar as coisas de maneira objetivamente válida cada um desses gran des homens se ateve a apenas uma delas julgando que se referiria ime diatamente às coisas em si mesmas ao passo que a outra não faria mais do que embaralhar ou então ordenar as representações da primeira Desse modo Leibniz comparou os objetos dos sentidos entre si como coisas em geral apenas no entendimento Primeiramente na medida em que este devia julgálas como idênticas ou diferentes Co mo ele só tinha em vista os conceitos portanto e não o seu lugar na intuição a única em que os objetos podem ser dados e deixava in teiramente de lado o lugar transcendental desses conceitos se o obje to tem de ser contado entre os fenômenos ou entre as coisas em si mesmas era natural que ele estendesse o seu princípio dos indiscer níveis que só vale para os conceitos das coisas também aos objetos dos sentidos mundus phaenomenon e acreditasse estar efetuando com isso uma considerável ampliação do conhecimento da natureza É evidente que se eu conhecesse uma gota dágua como coisa em si mes ma segundo todas as suas determinações internas eu não poderia con siderar uma gota diferente da outra já que o seu inteiro conceito seria idêntico a ela Se no entanto ela é um fenômeno no espaço então o seu lugar não é apenas o entendimento entre conceitos mas a intuição sen sível externa no espaço os lugares físicos são aí inteiramente indiferen tes no que diz respeito às determinações internas da coisa e um lugar b pode abrigar uma coisa inteiramente similar ou igual a outra no lugar a do mesmo modo como se esta fosse intemamente diferente dela Já por si B 327 B 328 263 a diversidade dos lugares torna a pluralidade e a diferença dos objetos como fenômenos independentemente de outras condições não apenas possível mas também necessária Aquela suposta lei não é portanto uma lei da natureza É apenas uma regra analítica da comparação das coisas por meio de meros conceitos Em segundo lugar o princípio de que as realidades como meras afirmações nunca se opõem logicamente umas às outras é uma pro B 329 posição inteiramente verdadeira sobre a relação dos conceitos mas não significa nada nem quanto à natureza nem quanto a uma coisa em si mesma de que não temos conceito algum Pois a oposição real sempre tem lugar quando A B 0 i e quando uma realidade ligada a outra no sujeito suspende o efeito desta o que se torna incessante mente visível em todos os obstáculos e reações da natureza os quais na medida em que se baseiam em forças têm de ser denominados rea litates phaenomena A mecânica geral pode inclusive fornecer a prio ri em uma regra a condição empírica dessa oposição na medida em que a vê na contraposição das direções uma condição de que o concei to transcendental de realidade nada sabe Embora o Sr Leibniz não anunciasse essa proposição com a pompa de um novo princípio ele se servia dela no entanto para fazer novas afirmações e os seus seguido res a introduziram de maneira expressa no edifício doutrinal leibniz wolffiano Segundo esse princípio todo mal por exemplo seria tão so mente a consequência dos limites da criatura i e negações já que es tas são a única coisa que se opõe à realidade também é assim no mero conceito de uma coisa em geral mas não nas coisas como fenômenos Do mesmo modo os seus seguidores consideram não apenas possível mas também natural sem temer qualquer oposição unificar toda rea B 330 lidade em um ser pois não conhecem outra oposição além da contra dição pela qual o cônceito de uma coisa é ele próprio suprimido e não a da destruição recíproca em que uma causa real suprime o efei to de outra e nós só encontramos as condições para representar tal oposição na sensibilidade Em terceiro lugar a monadologia leibniziana não tem outro fun damento a não ser o fato de que esse filósofo representava a distinção do interno e do externo apenas em relação ao entendimento As subs tâncias em geral têm de possuir algo interno que nessa medida seja independente de todas as relações externas portanto também de toda 264 composição O simples é portanto o fundamento do interno das coi sas em si mesmas O interno de seu estado porém não pode consistir no lugar na figura no contato ou no movimento determinações que são todas relações externas e nós não podemos portanto atribuir às substâncias nenhum outro estado a não ser aquele através do qual determinamos nosso próprio sentido internamente qual seja o esta do das representações Foi assim que se completaram as mônadas que deviam constituir a matéria básica de todo o universo mas cuja força ativa consiste tão somente nas representações pelas quais elas são efetivamente atuantes apenas sobre si mesmas Justamente por isso contudo também o seu princípio da possível comunidade das substâncias entre si teve de ser uma harmonia pre estabelecida e não pôde ser uma influência física Pois uma vez que tudo é apenas interno i e só se ocupa com suas representações o estado das representações de uma substância não podia de modo al gum entrar em uma efetiva ligação com o estado da outra mas era preciso uma terceira causa de seus estados influente sobre todas para tornar uma correspondente à outra não de fato por meio de um auxílio ocasional promovido especialmente a cada caso systema assistentiae mas por meio da unidade da ideia de uma causa válida para todos na qual todas elas têm de receber sua existência e perma nência portanto também a correspondência recíproca entre elas se gundo leis universais Em quarto lugar a sua famosa doutrina do tempo e do espaço em que ele intelectualizou essas formas da sensibilidade surgiu tão somente dessa mesma ilusão da reflexão transcendental Caso eu queira representarme as relações externas das coisas através do mero enten dimento isto só pode acontecer por meio de um conceito de seu efei to recíproco e caso queira conectar um estado dessa mesma coisa com outro estado isto só pode acontecer na ordem das razões e con sequências Assim Leibniz se representou o espaço como uma certa ordem na comunidade das substâncias e o tempo como a consequên cia dinâmica de seus estados O que ambos no entanto parecem ter de próprio e independente das coisas atribuiu ele à confusão desses conceitos que fazia com que aquilo que é uma mera forma das rela ções dinâmicas fosse tomado por uma intuição própria subsistente por si mesma e anterior às próprias coisas O espaço e o tempo eram B 331 B 332 265 assim a forma inteligível da conexão das coisas as substâncias e seus estados em si mesmas As coisas no entanto eram substâncias inteligí veis Ainda assim ele quis tornar esses conceitos válidos para os fenô menos pois não atribuía um modo próprio da intuição à sensibilidade e buscava tudo inclusive a representação empírica dos objetos no enten dimento não deixando nada para os sentidos a não ser a desprezível ati vidade de tomar confusas ou deformar as representações do primeiro Se pudéssemos todavia dizer algo sintético das coisas em si mesmas por meio do entendimento puro o que de qualquer forma é impossível isso não poderia ser referido aos fenômenos que não repre sentam coisas em si mesmas Neste último caso portanto eu teria de comparar sempre os meus conceitos na reflexão transcendental unica mente sob as condições da sensibilidade e o espaço e o tempo assim não seriam determinações das coisas em si mas sim dos fenômenos o b 333 que as coisas possam ser em si mesmas eu não sei nem tampouco preci so saber pois uma coisa só pode apresentarse a mim no fenômeno Assim procedo também com os demais conceitos da reflexão A matéria é substantia phaenomenon Eu procuro o que lhe pertence internamente em todas as partes do espaço por ela ocupado e em to dos os efeitos por ela exercidos os quais só podem certamente ser fe nômenos dos sentidos externos Não tenho nada portanto que seja absolutamente interno mas apenas comparativamente interno e es te por seu turno consiste em relações externas Mas o absolutamen te interno da matéria segundo o entendimento puro também é uma simples quimera pois ela não é em parte alguma um objeto para o entendimento puro o objeto transcendental no entanto que pode ser o fundamento desse fenômeno que denominamos matéria é um mero algo que mesmo que alguém pudesse dizernos não podería mos jamais saber o que é Pois não podemos compreender nada que não traga consigo algo correspondente às nossas palavras na intui ção Se as queixas de que não discernimos o interior das coisas sig nificam apenas que não compreendemos pelo mero entendimento o que as coisas que nos aparecem possam ser em si mesmas então elas são inteiramente injustas e irracionais pois elas pretendem que se possa conhecer as coisas sem os sentidos portanto intuílas e conse quentemente que tenhamos uma faculdade de conhecimento inteira B 334 mente diferente da humana não apenas quanto ao grau mas também 266 Á quanto à intuição e à espécie portanto que devêssemos ser não seres humanos mas seres de que não podemos sequer dizer se são possíveis muito menos como são constituídos A observação e a dissecação dos fenômenos penetram no interior da natureza e não se sabe o quão longe elas podem ir com o tempo Àquelas questões transcendentais no entanto que vão além da natureza nós não poderíamos jamais res ponder em tudo isso mesmo que toda a natureza se descobrisse para nós pois não nos é dado observar a nossa própria mente com outra intuição que não a do nosso sentido interno E é nela que reside o se gredo da origem de nossa sensibilidade Sua referência a um objeto e o que seja o fundamento transcendental dessa unidade é algo que está sem dúvida tão profundamente oculto que mesmo nós que só nos conhecemos a nós mesmos através do sentido interno portanto como fenômeno precisaríamos de uma ferramenta de pesquisa muito inapropriada para não encontrar apenas fenômenos cuja causa não sensível todavia gostaríamos muito de investigar O que torna extraordinariamente útil esta crítica das inferências a partir das meras ações da reflexão é o seguinte ela estabelece clara mente a nulidade de todas as inferências sobre objetos que são com parados uns aos outros apenas no entendimento e ao mesmo tempo confirma aquilo que nós afirmamos acima de tudo que embora os fe nômenos não sejam compreendidos como coisas em si mesmas entre os objetos do entendimento puro eles são ainda assim os únicos em que nosso conhecimento pode ter realidade objetiva i e em que in tuições correspondem aos conceitos Se refletimos de maneira meramente lógica apenas comparamos nossos conceitos entre si no entendimento se ambos contêm o mes mo se se contradizem ou não se algo está contido internamente no conceito ou a ele se junta e qual dos dois é dado ou qual deve valer apenas como um modo de pensar o que é dado Se no entanto aplico esse conceito a um objeto em geral no sentido transcendental sem mais determinálo para estabelecer se é um objeto da intuição sensí vel ou intelectual logo se mostram limitações não derivadas desse conceito que transformam todo o seu uso empírico e justamente por isso provam que a representação de um objeto como coisa em geral é não apenas insuficiente mas se desprovida de determinação sensível e independente de condições empíricas contraditória consigo mes B 335 267 1 ma que é preciso ou fazer abstração de todo objeto na lógica ou quando se assume um pensálo sob condições da intuição sensível que portanto o inteligível exigiria uma intuição inteiramente peculiar b 336 que nós não temos e na falta dela não poderia ser nada para nós e que por outro lado também os fenômenos não poderiam ser objetos em si mesmos Pois se penso meras coisas em geral a diversidade das relações externas não pode evidentemente constituir uma diversida de das coisas mesmas mas antes a pressupõe e se o conceito de um não é internamente diverso daquele do outro eu coloco apenas uma única e mesma coisa nas diferentes relações Além disso pelo mero acréscimo de uma afirmação realidade a outra o positivo é sim am pliado e nada lhe é retirado ou suprimido por isso o real não pode nas coisas em geral oporse a outro real etc V Como mostramos os conceitos da reflexão graças a um certo malentendido têm tal influência sobre o uso do entendimento que puderam levar até mesmo um dos mais perspicazes de todos os filóso fos a um suposto sistema do conhecimento intelectual que visa deter minar seus objetos sem recorrer aos sentidos Justamente por isso explicar a ilusão que causa a anfibolia desses conceitos na produção de falsos princípios é de grande utilidade para determinar e estabele cer com segurança os limites do entendimento B 337 Devese dizer com efeito que aquilo que em geral corresponde ou se opõe a um conceito também corresponde ou se opõe a todo par ticular que esteja contido sob esse conceito dictum de omni et nul lo seria absurdo porém modificar esse princípio lógico para que ele significasse que aquilo que não está contido em um conceito univer sal também não estivesse contido nos particulares que estão sob ele pois estes são conceitos particulares justamente porque contêm mais em si do que aquilo que é pensado no universal Agora todo o sistema intelectual de Leibniz está efetivamente edificado sobre este último princípio ele cai juntamente com este portanto e com toda a ambi guidade por ele ocasionada no entendimento 0 princípio dos indiscerníveis se fundava com efeito na pressu posição de que quando no conceito de uma coisa em geral não é en contrada uma certa diferença também nas coisas mesmas ela não se 268 ria encontrável consequentemente seriam inteiramente idênticas nu mero eadem todas as coisas que já não fossem distintas umas das ou tras em seu conceito segundo a qualidade ou quantidade Como no entanto muitas condições necessárias da intuição são abstraídas no conceito de alguma coisa assumese de maneira estranhamente apressa da que aquilo de que se faz abstração não seria de modo algum en contrável e que nada poderia ser atribuído à coisa que já não estives se contido no seu conceito O conceito de um pé cúbico de espaço por mais vezes que eu o pense é em si inteiramente idêntico Mas dois pés cúbicos são diferen ciados no espaço tão somente por seus lugares numero divisa estes são condições da intuição em que o objeto desse conceito é pensado e não pertencem ao conceito mas à sensibilidade como um todo Do mesmo modo não há qualquer oposição no conceito de uma coisa se nenhum elemento de negação foi ligado a um conceito afirmativo e conceitos meramente afirmativos não podem efetuar qualquer tipo de supressão na ligação Mas na intuição sensível em que a realidade por exemplo o em movimento é dada encontramse condições dire ções contrapostas das quais se fez abstração no conceito de movi mento em geral que tornam possível uma oposição que nada tem de lógica qual seja um zero 0 a partir de um puro positivo E não se poderia dizer que todas as realidades estão em concordância entre si porque em seus conceitos não se encontra oposição56 Segundo me ros conceitos o interno é o substrato de todas as determinações ex ternas ou de relação Se assim faço abstração de todas as condições da intuição e me atenho apenas ao conceito de uma coisa em geral posso fazer abstração de todas as relações externas que ainda assim tem de restar um conceito daquilo que não significa relação alguma mas apenas determinações internas Parece resultar disso no entan to que em cada coisa substância haja algo que é absolutamente in terno e antecede todas as determinações externas na medida em que 56 Caso se quisesse adotar aqui a saída habitual pela qual ao menos as realitates noumena não pudessem oporse umas às outras seria preciso dar um exemplo de tal realidade pura e inde pendente dos sentidos de modo que fosse possível saber se ela em geral representa algo ou absolutamente nada Mas não se pode tomar um exemplo de parte alguma a não ser da expe riência que jamais fornece algo além de phaenomena Essa proposição significa apenas portanto que o conceito que contém meras afirmações não contém nada de negativo uma proposição de que jamais duvidamos NA B 338 B 339 269 as torna primeiramente possíveis este substrato seria algo então que já não contém em si relações externas e por conseguinte seria simples pois as coisas corpóreas são sempre meras relações exter nas pelo menos de suas partes entre si e como não conhecemos ne nhuma determinação absolutamente interna além daquela que se dá através de nosso sentido interno esse substrato seria não apenas sim ples mas também por analogia com nosso sentido interno determi nado por meio de representações i e todas as coisas seriam real B 340 mente mônadas ou seres simples dotados de representações Isto se ria perfeitamente legítimo de fato se apenas o conceito de uma coisa em geral pertencesse às condições sob as quais os objetos da intuição externa podem sernos dados e das quais o conceito puro faz abstra ção Pois nesse caso se vê que um fenômeno permanente no espaço extensão impenetrávej pode conter meras relações e não algo ab solutamente interno e ainda assim ser o primeiro substrato de toda percepção externa Sem algo interno eu certamente não posso por meio de meros conceitos pensar algo externo justamente porque conceitos de relação pressupõem coisas simplesmente dadas e sem estas não são possíveis Como na intuição contudo está contido algo que certamente não reside no mero conceito de uma coisa em geral e este fornece o substrato que em absoluto não pode ser conhecido através de meros conceitos qual seja o espaço que com tudo aquilo que contém constituise de puras relações formais ou também reais então eu não posso dizer que por uma coisa não ser representável por meros conceitos sem um interno absoluto também não haveria nas coisas mesmas que estão contidas sob esses conceitos nem em sua intuição nada de externo que não tivesse um interno absoluto por fundamento Pois se fizemos abstração de todas as condições da B 341 intuição não nos resta certamente nada nos meros conceitos a não ser os internos em geral e a relação destes entre si a única pela qual é possível o externo Esta necessidade no entanto que se funda unica mente na abstração não se encontra nas coisas na medida em que es tas são dadas na intuição com determinações que exprimem meras re lações sem ter algo interno por fundamento e isso porque elas não são coisas em si mesmas mas apenas fenômenos Além disso aquilo que conhecemos somente na matéria são meras relações aquilo que denominamos determinações internas da mesma é apenas comparati vamente interno mas há entre elas relações autossuficientes e per 270 manentes através das quais nos é dado um determinado objeto Que eu não tenha nada mais a pensar quando faço abstração dessas rela ções não suprime o conceito de uma coisa como fenômeno nem o conceito de um objeto in abstracto mas certamente a possibilidade de um tal que fosse determinável por meros conceitos i e um nou menon É natural que se fique desconfiado quando se escuta que uma coisa deve consistir apenas em relações Mas tal coisa é também um mero fenômeno e não pode ser pensada de modo algum através de categorias pura ela mesma consiste em meras relações de algo em geral aos sentidos Do mesmo modo não se pode pensar as relações das coisas in abstracto quando se parte de meros conceitos a não ser assumindo que uma é a causa das determinações na outra pois é esse o nosso conceito intelectual das próprias relações Como no entanto nós abstraímos então de toda intuição desaparece todo um modo pelo qual um diverso pode determinar ao outro o seu lugar qual seja a forma da sensibilidade a qual em todo caso antecede qualquer cau salidade empírica Se por objetos meramente inteligíveis nós entendemos aquelas coisas que são pensadas por meio de categorias puras sem qualquer esquema da sensibilidade então eles são impossíveis Pois a condição do uso objetivo de todos os nossos conceitos do entendimento é tão somente o modo de nossa intuição sensível através da qual os obje tos nos são dados e se fazemos abstração destes últimos aqueles pri meiros não têm qualquer referência a algum objeto E mesmo que se quisesse supor também um outro modo da intuição além desse nosso sensível nossas funções de pensamento não teriam qualquer signifi cado em relação a ela Se por tais objetos entendemos tão somente objetos de uma intuição não sensível aos quais nossas categorias não podem certamente aplicarse e dos quais portanto não podemos ter jamais qualquer conhecimento nem intuição nem conceito então os noumena têm certamente de ser admitidos neste sentido meramente negativo pois significam apenas que o nosso modo de intuir não vale para todas as coisas mas apenas para objetos de nossos sentidos e que por conseguinte sua validade objetiva é limitada e assim sobra espaço para algum outro modo de intuir e para coisas que sejam seus objetos Mas o conceito de noumenon é nesse caso um conceito pro blemático i e a representação de uma coisa da qual não podemos di zer nem se é possível nem se é impossível na medida em que não co B 342 B 343 2 7 1 nhecemos nenhum modo de intuir além do nosso sensível e nenhum tipo de conceito além das categorias sendo que nenhum dos dois intuição sensível ou categorias é apropriado para objetos supras sensíveis Nós não podemos portanto estender positivamente o cam po dos objetos de nosso pensamento para além das condições de nos sa sensibilidade nem supor objetos do pensamento puro i e nou mena para além dos fenômenos pois àqueles não pode ser dado qualquer significado positivo Pois é preciso admitir em relação às ca tegorias que elas não são suficientes para o conhecimento das coisas em si mesmas e sem os data da sensibilidade seriam meras formas subjetivas sem objetos da unidade do entendimento Em si mes mo com efeito o pensamento não é um produto dos sentidos e nessa medida também não é por eles limitado mas nem por isso tem um uso próprio e puro sem auxílio da sensibilidade pois neste caso não teria objeto Também rtão se pode chamar noumenon a esse objeto pois ele significa justamente o conceito problemático de um objeto B 344 para uma intuição inteiramente diversa da nossa e um entendimento inteiramente diverso do nosso objeto este portanto que é ele pró prio um problema O conceito de noumenon não é portanto o concei to de um objeto mas sim a questão inevitavelmente atrelada à limita ção de nossa sensibilidade de saber se não poderia haver objetos intei ramente desligados daquela sua intuição questão esta que só pode ser respondida de maneira indeterminada como seja na medida em que a intuição sensível não vale indistintamente para todas as coisas so braria espaço para outros objetos que não podem ser simplesmente negados mas que na falta de um conceito determinado já que ne nhuma categoria é apta para isso também não podem ser afirmados como objetos para o nosso entendimento O entendimento limita a sensibilidade portanto sem ampliar por isso o seu próprio campo e na medida em que a alerta para não arro garse a valer para coisas em si mesmas mas apenas para fenômenos ele se representa então um objeto em si mesmo mas apenas como ob jeto transcendental que é a causa do fenômeno portanto não é ele próprio fenômeno e não pode ser pensado nem como quantidade nem como realidade nem como substância etc pois estes conceitos exigem sempre formas sensíveis em que determinam um objeto em relação ao qual não sabemos de modo algum portanto se seria supri B 345 mido juntamente com a sensibilidade ou se caso a eliminássemos 272 A ele permaneceria ainda Se queremos denominar noumenon a esse objeto porque a sua representação não é sensível somos livres para fazêlo Como no entanto não podemos aplicar a ele nenhum de nos sos conceitos do entendimento tal representação permanece vazia para nós e serve apenas para circunscrever os limites de nosso conhe cimento sensível deixando aberto um espaço que não podemos pre encher nem por meio da experiência possível nem por meio do enten dimento puro A crítica desse entendimento puro não permite portanto que se crie um novo campo de objetos além daqueles que podem apresen tarse a ele como fenômenos ou que se divague em mundos inteligíveis muito menos em seu conceito O erro que ao que tudo indica leva a isso e que se pode certamente desculpar embora não justificar consis te em que o entendimento é empregado contra a sua destinação trans cendentalmente e os objetos i e as intuições possíveis têm de pau tarse por conceitos mas não os conceitos por intuições possíveis co mo as únicas em que sua validade se baseia A causa disso por seu tur no é que a apercepção e com ela o pensamento antecedem toda orde nação determinada possível das representações Assim nós pensamos algo em geral e o determinamos de maneira sensível mas não diferenci amos o objeto universal representado in abstracto desse modo de in tuílo restanos então um modo de determinálo por meio do pensa mento apenas que embora seja uma mera forma lógica sem conteúdo parecenos ser um modo de o objeto existir em si noumenon sem le var em conta a intuição que é limitada aos nossos sentidos Antes de deixarmos a analítica transcendental ainda temos de acrescentar algo que embora em si não seja de tanta relevância pode parecer exigível para a completude do sistema O conceito mais eleva do com que se costuma começar uma analítica transcendental é a di visão em possível e impossível Como no entanto toda divisão pressu põe um conceito tem de ser fornecido um outro ainda mais elevado que no caso é o conceito de um objeto em geral assumido problema ticamente e sem decidir se é algo ou nada Dado que as categorias são os únicos conceitos que se referem a objetos em geral a distinção de um objeto se ele é algo ou nada será levada adiante segundo a ordem e aplicação das categorias B 346 273 B 347 B 348 1 Aos conceitos de tudo muitos e um se opõem àquilo que os su prime i e o de nenhum e assim o objeto de um conceito a que não pode ser fornecida nenhuma intuição correspondente é nada i e um conceito sem objeto tal como os noumena que não podem ser contados entre as possibilidades mas que nem por isso têm de ser tomados como impossíveis ens rationis ou então tal como certas novas forças fundamentais que embora se jam pensadas sem contradição também têm de ser pensadas sem exemplos da experiência e portanto não podem ser contadas en tre as possibilidades 2 A realidade é algo a negação é nada i e um conceito da falta de um objeto como a sombra ou o frio nihil privativum 3 A mera forma da intuição sem substância não é em si um obje to mas a mera condição formal do mesmo como fenômeno tal como o espaço puro e o tempo puro que embora sejam algo como formas de intuir não são eles próprios objetos que sejam intuídos ens imaginarium 4 0 objeto de um conceito que se contradiz a si mesmo é nada pois o conceito é nada o impossível tal como por exemplo a fi gura retilínea de dois lados nihil negativum A tábua dessa divisão do conceito de nada pois a divisão do algo paralela a esta seguese por si mesma teria portanto de ser assim disposta Nada como 1 Conceito vazio sem objeto ens rationis 2 Objeto vazio de um conceito nihil privativum 4 3 Intuição vazia sem objeto ens imaginarium 4 Objeto vazio sem conceito nihil negativum 274 i Percebese que a coisa do pensamento n 1 se distingue da não coisa n 4 na medida em que aquela não pode ser contada entre as possibilidades já que é mera invenção ainda que não contraditória ao passo que esta se opõe à possibilidade porque o conceito suprime até a si mesmo Ambos contudo são conceitos vazios O nihil privati vum n 2 e o ens imaginarium n 3 pelo contrário são data vazios para conceitos Se a luz não foi dada aos sentidos também não é pos sível representar as trevas se os seres extensos não foram percebidos é impossível representar o espaço Sem algo real nem a negação nem a mera forma da intuição são objetos Segunda divisão Dialética transcendental em dois livros e seus diferentes capítulos e seções Introdução I Da ilusão transcendental Mais acima nós denominamos a dialética em geral uma lógica da ilusão Isto não significa que ela seja uma doutrina da probabilidade pois esta é a verdade ainda que conhecida em bases insuficientes e o seu conhecimento portanto é de fato imperfeito mas nem por isso enganoso e portanto não deve ser separado da parte analítica da ló gica Menos ainda devem o fenômeno e a ilusão ser tomados por iguais Pois a verdade e a ilusão não estão no objeto enquanto intuí do mas sim no juízo sobre ele enquanto pensado Assim podese cor retamente dizer de fato que os sentidos nunca erram mas não por que sempre julgam corretamente e sim porque nunca julgam Por isso tanto a verdade quanto o erro portanto também a ilusão como o descaminho que nos leva ao último estão apenas no juízo i e ape nas na relação do objeto ao nosso entendimento Em um conhecimen to que concorda inteiramente com as leis do entendimento não há erro Em uma representação dos sentidos também não há erro por que ela não contém qualquer juízo Nenhuma força da natureza con tudo pode esquivarse por si mesma de suas próprias leis Assim nem o entendimento por si mesmo sem a influência de outra causa nem os sentidos por si mesmos errariam o primeiro porque quando ele age apenas segundo suas leis o efeito o juízo tem de concordar ne B 349 B 350 275 cessariamente com essas leis Na concordância com as leis do entendi mento no entanto reside o elemento formal de toda verdade Nos sentidos não há juízo algum nem verdadeiro nem falso Como não te mos nenhuma outra fonte do conhecimento todavia além dessas duas seguese que o erro só é efetuado através da influência desper cebida da sensibilidade sobre o entendimento quando os fundamen B 351 tos subjetivos do juízo confluem com os objetivos e os desviam de sua destinação57 do mesmo modo um corpo em movimento por si mes mo permaneceria sempre em uma linha reta na mesma direção mas passa a um movimento curvilíneo quando outra força o influencia a tomar uma direção diversa Para diferenciar a ação própria do enten dimento da força que nele se imiscui será necessário considerar o juí zo errado como a diagonal entre duas forças que determinam o juízo em duas direções diferentes e que por assim dizer circunscrevem um ângulo e decompor aquela ação conjunta nas ações simples do enten dimento e da sensibilidade o que deve ocorrer em juízos puros a pri ori através da reflexão transcendental pela qual como já foi mostra do cada representação tem indicado o seu lugar na capacidade cogni tiva a ela adequada e portanto é distinguida também a influência desta sobre aquela Nossa tarefa não é aqui a de lidar com a ilusão empírica p ex a B 352 ótica que se encontra no uso empírico de regras do entendimento que de resto são corretas e na qual a faculdade de julgar é desviada do caminho pela influência da imaginação nós temos de lidar aqui isto sim apenas com a ilusão transcendental que influencia princípios cujo uso nunca se dá na experiência caso em que teríamos ao menos uma pedra de toque de sua correção mas nos conduz sempre mes mo contra todas as advertências da crítica para muito além do uso empírico das categorias enganandonos com a fantasia de uma exten são do entendimento puro Nós denominaremos imanentes aos prin cípios cuja aplicação se mantém por inteiro nos limites da experiência possível e transcendentes aos que pretendem ultrapassar esses limi tes Por estes eu não entendo contudo o uso transcendental ou o mau uso das categorias que é um mero erro da faculdade de julgar 57 A sensibilidade subordinada ao entendimento como o objeto a que ele aplica a sua função é a fonte dos conhecimentos reais Justamente ela contudo na medida em que influencia a própria ação do entendimento e o determina para os juízos é a fonte do erro NA 276 que não sendo apropriadamente conduzida pela crítica não tem sufi ciente cuidado com os limites do único solo em que o jogo do entendi mento puro é permitido entendo antes os verdadeiros princípios que nos levam a derrubar todos aqueles mourões de contenção e a aspirar a um solo inteiramente novo não demarcado em parte alguma Por isso transcendental e transcendente não são a mesma coisa Os prin cípios do entendimento puro que apresentamos acima só devem ter um uso empírico e não um uso transcendental i e um tal que ultra passasse os limites da experiência Um princípio porém que elimina todos esses limites e mesmo ordena ultrapassálos denominase trans cendente Se a nossa crítica conseguir desvendar a ilusão desses su postos princípios então aqueles princípios do uso meramente empíri co podem por oposição aos últimos ser denominados princípios ima nentes do entendimento puro A ilusão lógica que consiste na mera imitação da forma da razão a ilusão das inferências falaciosas surge tão somente de uma falta de cui dado com a regra lógica Tão logo pois esta última seja aplicada com ri gor a um dado caso aquela desaparece inteiramente A ilusão transcen dental pelo contrário não cessa do mesmo modo caso seja desvenda da e a sua nulidade seja claramente discernida pela crítica transcen dental p ex a ilusão na proposição o mundo tem de ter um começo no que diz respeito ao tempo A causa disso é a seguinte em nossa ra zão considerada subjetivamente como uma faculdade humana de co nhecer residem regras fundamentais e máximas do seu uso que têm o verdadeiro aspecto de princípios objetivos e fazem com que a necessi dade subjetiva de uma certa conexão de nossos conceitos para o enten dimento seja tomada por uma necessidade objetiva da determinação das coisas em si mesmas Uma ilusão que não pode ser evitada do mes mo modo como não podemos evitar que o mar nos pareça no meio mais elevado do que na margem já que vemos aquele através de raios de luz mais elevados ou ainda do mesmo modo como o próprio astrô nomo não consegue evitar que a lua lhe pareça maior ao surgir ainda que sem deixar enganarse por essa ilusão A dialética transcendental se contentará portanto em desvendar a ilusão dos juízos transcendentes e ao mesmo tempo impedir que ela engane que ela no entanto como a ilusão lógica chegue a desa parecer e deixe de ser uma ilusão isto é algo que a dialética transcen B 353 B 354 277 dental nâo poderá jamais levar a cabo Pois aqui temos de lidar com uma ilusão natural e inevitável que se baseia em princípios subjeti vos e os faz passar por objetivosâo passo que a dialética lógica na dissolução das inferências falaciosas ocupase apenas com um erro na observação dos princípios ou com uma ilusão artificial na imitação dos mesmos Há uma dialética natural e inevitável da razão pura por tanto que não é uma dialética em que um ignorante por falta de co nhecimentos pudesse enredarse por si mesmo ou que algum sofista tenha criado artificialmente para confundir pessoas racionais mas sim uma dialética que se prende irresistivelmente à razão humana e que mesmo depois de termos desvendado seu truque não cessará de enga b 355 nála com falsas promessas lançandoa continuamente em confusões momentâneas que têm de ser a cada vez suprimidas II Da razão pura como sede da ilusão transcendental A Da razão em geral Todo o nosso conhecimento parte dos sentidos sobe então para o entendimento e termina na razão além da qual não há nada de mais elevado em nós que permitisse trabalhar o conteúdo da intuição e colocálo sob a mais alta unidade do pensamento Como eu devo for necer agora uma explicação dessa mais elevada capacidade cognitiva encontrome em um certo embaraço A exemplo do entendimento ela tem um uso meramente formal i e lógico já que faz abstração de todo conteúdo do entendimento mas tem também um uso real já que ela própria contém a origem de certos conceitos e princípios os quais ela não toma emprestados nem aos sentidos nem ao entendi mento A primeira faculdade obviamente já foi explicada há muito pelos lógicos como a faculdade de inferir mediatamente à diferença das inferências imediatas consequentiis immediatis a segunda po rém que cria ela própria os conceitos não é discernida através disso Como aqui todavia aparece uma divisão da razão em uma faculdade b 356 lógica e transcendental tem de ser buscado um conceito mais eleva do dessa fonte do conhecimento capaz de abarcar ambos os conceitos sob si ao passo que segundo a analogia com os conceitos do entendi mento podemos esperar que o conceito lógico forneça ao mesmo tempo a chave para o transcendental e a tábua das funções do enten dimento forneça ao mesmo tempo a linha genealógica para os concei tos da razão Nos explicamos o entendimento na primeira parte de nossa lógi ca transcendental como a faculdade das regras aqui nós distingui mos dele a razão ao denominála faculdade dos princípios A expressão princípio é ambígua e comumente significa apenas um conhecimento que pode ser utilizado como princípio ainda que em si mesmo e segundo sua própria origem ele não seja um princípio Toda proposição universal mesmo quando extraída da experiência por indução pode servir como premissa maior em um silogismo nem por isso contudo ela é ela mesma um princípio Os axiomas matemáticos p ex entre dois pontos só pode haver uma linha reta são inclusive conhecimentos universais a priori e são por isso relativamente aos ca sos que podem ser subsumidos sob eles corretamente denominados princípios Mas eu não posso dizer por isso que conheço essa proprie dade das linhas retas em geral e em si mesmas a partir de princípios pois somente a conheço na intuição pura Eu denominaria conhecimento por de princípios por conseguin te aquele em que conheço o particular no universal através de conce itos Assim todo silogismo é a uma forma da derivação de um conhe cimento por de um princípio Pois a premissa maior fornece sempre um conceito que faz com que tudo que seja subsumido sob a sua con dição seja conhecido a partir dela segundo um princípio Uma vez po rém que todo conhecimento universal pode servir como premissa de um silogismo e o entendimento fornece semelhantes proposições uni versais a priori então estas podem no que diz respeito ao seu uso possível ser denominadas princípios Se no entanto considerarmos esses princípios do entendimento puro em si mesmos segundo sua origem então eles são tudo menós conhecimentos a partir de conceitos Pois eles não seriam sequer pos síveis a priori se não fizéssemos intervir a intuição pura na matemá tica ou as condições de uma experiência possível em geral Que tudo o que acontece tem uma causa não pode de modo algum ser deduzi do do conceito daquilo que acontece em geral o princípio mostra an tes como se poderia antes de tudo obter daquilo que acontece um conceito empírico determinado O entendimento não pode portanto fornecer conhecimentos sin téticos a partir de conceitos e são justamente estes que eu de fato de B 357 B 358 279 nomino princípios ao passo que todas as proposições universais em geral podem denominarse princípios comparativamente É um antigo desejo que talvez um dia ninguém sabe quando possa ser satisfeito o de que em vez da infindável diversidade de leis civis procuremse enfim os seus princípios pois pode estar aí o segre do para como se diz simplificar a legislação Mas as leis aqui são tão somente limitações de nossa liberdade às condições sob as quais ela possa concordar inteiramente consigo mesma dizem respeito a algo portanto que é uma obra estritamente nossa e do qual nós mesmos podemos ser a causa por meio daqueles conceitos Quanto porém ao que os objetos possam ser em si mesmos ou a como a natureza das coisas possa estar sob princípios e ser determinada segundo meros conceitos isto é algo que se não impossível é ao menos muito absur do em sua exigência Como quer que isso seja pois ainda temos de fa zer essa investigação ao menos o seguinte fica claro a partir daí o conhecimento por princípios em si mesmo é algo inteiramente diver so do mero conhecimento do entendimento que de fato pode antece der outros conhecimentos na forma de um princípio mas em si mes mo na medida em que é sintético não se baseia no mero pensamen to nem contém em si um universal segundo conceitos B 359 Se o entendimento é uma faculdade da unidade dos fenômenos por meio de regras então a razão é a faculdade da unidade das regras do entendimento sob princípios Assim ela nunca se refere primeiro à experiência ou a algum objeto mas ao entendimento de modo a for necer aos diversos conhecimentos deste por meio de conceitos uma unidade a priori que se pode denominar unidade da razão e é de um tipo inteiramente distinto daquela que pode ser produzida pelo en tendimento Tal é o conceito universal da faculdade da razão na medida em que pode ser tornado concebível a despeito da completa falta de exem plos como aqueles que só poderão ser dados na sequência B Do uso lógico da razão Costumase fazer uma distinção entre aquilo que é conhecido imediatamente e aquilo que é apenas inferido Que em uma figura de limitada por três linhas retas haja três ângulos é algo que se conhece 280 imediatamente que estes ângulos somados no entanto sejam iguais a dois retos isto é apenas inferido Uma vez que precisamos inferir constantemente e que isso acabou por tornarse inteiramente habi tual nós já não notamos essa distinção e tal como no assim chamado equívoco dos sentidos muitas vezes tomamos por imediatamente per cebido algo que na verdade inferimos Em toda inferência há uma pro posição que constitui o fundamento e uma outra qual seja a conclu são que é extraída a partir daquela e finalmente a dedução conse quência segundo a qual a verdade da última está indelevelmente co nectada com a verdade da primeira Se o juízo deduzido já se encon tra de tal modo no primeiro que pode ser dele deduzido sem a media ção de uma terceira representação então a inferência é denominada imediata consequentia immediata eu preferiria denominála infe rência do entendimento Se além do conhecimento posto como funda mento no entanto um outro juízo é ainda necessário para efetuar a conclusão a inferência se denomina então inferência da razão58 Na proposição todos os homens são mortais já estão contidas as propo sições alguns homens são mortais alguns mortais são homens e nada do que é imortal é um homem de modo que estas são conse quências imediatas a partir da primeira A proposição todos os erudi tos são mortais por outro lado não está contida no juízo que se ha via posto como fundamento pois o conceito de eruditos não aparece nele de modo algum de modo que ela só pode ser concluída a partir deste por meio de um juízo intermediário Em todo silogismo eu penso primeiro uma regra major por meio do entendimento Em segundo lugar subsumo um conhecimen to sob a condição da regra minor por meio da faculdade de julgar Finalmente determino o meu conhecimento através do predicado da regra conclusio portanto a priori por meio da razão Assim a rela ção que representa a premissa maior como a regra entre um conheci mento e sua condição constitui os diferentes tipos de silogismo Eles são de três tipos portanto assim como os juízos em geral na medida em que se diferenciam pelo modo como exprimem a relação do conhe 58 Conforme a praxe traduziremos Vernunftschluss por silogismo Nesta única ocorrência porém pareceunos necessário traduzir literalmente a expressão de modo a deixar clara a oposição estabelecida por Kant entre a inferência da razão e a inferência do entendimento NT B 360 B 361 281 B 362 B 363 cimento no entendimento a saber silogismos categóricos hipotéti cos ou disjuntivos Se como muitas vezes acontece a conclusão é proposta como um juízo para ver se ele não decorre de juízos já dados pelos quais um objeto inteiramente diverso é pensado então procuro no entendimen to a asserção dessa conclusão para ver se ela já não se encontra nele sob certas condições segundo uma regra universal Se encontro en tão essa condição e o objeto da conclusão se deixa subsumir sob tal condição então a conclusão é obtida a partir da regra que vale tam bém para outros objetos do conhecimento Vêse a partir disso que a razão ao inferir procura reduzir a grande diversidade do conheci mento do entendimento ao menor número de princípios condições universais e assim produzir a mais elevada unidade dos mesmos C Do uso puro da razão Pode a razão ser isolada sendo então mais uma fonte de concei tos e juízos que brotam apenas dela e referindose assim a objetos Ou é ela uma faculdade meramente subalterna de dar uma certa for ma denominada lógica a dados conhecimentos e o pela qual os conhecimentos do entendimento são subordinados uns aos outros e as regras inferiores às superiores cuja condição abarca em sua esfera a condição daquelas na medida em que isso possa ser efetuado por meio da sua comparação Esta é a questão com que temos agora de ocuparnos provisoriamente Na verdade a diversidade das regras e a unidade dos princípios é uma exigência da razão para colocar o en tendimento em completo acordo consigo mesmo do mesmo modo como o entendimento coloca o diverso da intuição sob conceitos e através deles em donexão Mas tal princípio não prescreve nenhuma lei aos objetos e não contém o fundamento da possibilidade de em ge ral conhecêlos e determinálos como tais mas é apenas uma lei subje tiva doméstica para reduzir o estoque de nosso entendimento por comparação de seus conceitos ao menor número possível destes no seu uso universal sem que se justifique por isso exigir dos próprios objetos essa unanimidade que favorece a comodidade e a expansão de nosso entendimento ou dar também validade objetiva àquelas má ximas Em uma palavra a questão é se a razão contém a priori em si 282 Á i e como razão pura princípios sintéticos e regras e em que podem consistir esses princípios O procedimento formal e lógico da razão nos silogismos já nos dá aqui suficiente orientação quanto ao que será no conhecimento sinté tico pela razão pura o fundamento do seu princípio transcendental Em primeiro lugar o silogismo não se refere a intuições para co locálas sob regras como o entendimento com as suas categorias mas sim a conceitos e juízos Ainda que a razão pura se refira a obje tos ela não tem com estes e sua intuição uma relação imediata mas apenas com o entendimento e seus juízos que se aplicam em seguida aos sentidos e sua intuição para determinarlhes o seu objeto A uni dade da razão não é portanto a unidade de uma experiência possível mas dela como unidade do entendimento se distingue essencialmen te Que tudo o que acontece tenha uma causa não é de modo algum um princípio conhecido e prescrito pela razão Ele torna a unidade da experiência possível e não toma nada emprestado à razão que a par tir de meros conceitos sem essa referência à experiência possível não teria podido oferecer tal unidade sintética Em segundo lugar a razão procura no seu uso lógico a condição universal de seu juízo da conclusão e o silogismo não é ele mesmo outra coisa senão um juízo por meio da subsunção de sua condição sob uma regra universal premissa maior Como esta regra no entan to está exposta a essa mesma busca da razão e a condição da condi ção por meio de um prossilogismo tem de ser aí procurada não im porta o quanto custe percebese logo que o princípio próprio da ra zão em geral no uso lógico é o de buscar o incondicionado para os conhecimentos condicionados do entendimento completandose as sim a unidade deste último Essa máxima lógica não pode tornarse um princípio da razão pura contudo a não ser em se assumindo que uma vez dado o condi cionado também é dada i e contida no objeto e em sua conexão a inteira série das condições subordinadas umas às outras a qual por tanto é ela própria incondicionada Tal princípio da razão pura é no entanto evidentemente sintéti co pois embora o condicionado se refira analiticamente a alguma B 364 283 condição ele não se refere ao incondicionado Dele têm de surgir também proposições sintéticas diferentes das quais o entendimento B 365 puro nada sabe já que só se ocupa com objetos de umaexperiência possível cujo conhecimento e síntese é sempre condicionado O in condicionado porém se efetivamente tem lugar pode ser tratado em particular segundo todas as determinações que o diferenciam daque le condicionado e tem assim de fornecer conteúdo para muitas pro posições sintéticas a priori Os princípios Grundsätze surgidos desse princípio Princip supremo da razão pura no entanto serão transcendentes em rela ção a todos os fenômenos i e nunca se poderá fazer um uso empí rico adequado do mesmo Ele se distinguirá inteiramente portanto de todos os princípios do entendimento cujo uso é inteiramente imanente na medida que só têm por tema a possibilidade da ex periência Nossa tarefa na dialética transcendental que desenvolve remos agora a partir de suas fontes profundamente ocultas na ra zão humana consistirá então em averiguar se aquele princípio pe lo qual a série das condições na síntese dos fenômenos ou mesmo do pensamento das coisas em geral se estende até o incondiciona do tem ou não legitimidade objetiva quais as consequências que decorrem disso para o uso empírico do entendimento ou se na ver dade não há tal princípio racional objetivamente válido mas apenas um preceito lógico que prevê aproximarse da completude das condi ções quando se ascende a condições cada vez mais elevadas e assim produzir a mais elevada unidade da razão que nos é possível em nos so conhecimento se digo eu essa necessidade da razão não foi gra B 366 ças a um malentendido tomada por um princípio transcendental da razão pura que p o s tu la tal completude ilimitada da série das condi ções de maneira apressada como sendo dos próprios objetos e também que tipo de malentendidos e desvarios poderiam nesse caso imiscuirse nos silogismos cuja premissa maior foi extraída da razão pura e que é talvez mais petição do que postulado e que as cendem da experiência em direção às suas condições Nós dividire mos essa tarefa em duas partes principais das quais a primeira deve tratar dos conceitos transcendentes da razão pura e a segunda dos seus silogismos transcendentes e dialéticos 2 8 4 PRIMEIRO LIVRO DOS CONCEITOS DA RAZÃO PURA Como quer que seja a possibilidade dos conceitos a partir da ra zão pura eles são em todo caso conceitos não apenas refletidos mas inferidos Os conceitos do entendimento também são pensados a priori antes da experiência e com vistas a ela mas eles não con têm nada além da unidade da reflexão sobre os fenômenos na me dida em que estes devem pertencer necessariamente a uma cons ciência empírica possível A sua realidade objetiva por outro lado baseiase tão somente em que visto constituírem a forma intelectual de toda experiência sua aplicação tem de poder ser sempre mostra da na experiência A denominação conceito da razão já mostra provisoriamente contudo que ele não se deixará confinar no interior da experiência pois diz respeito a um conhecimento do qual o empírico é apenas uma parte talvez o todo da experiência possível ou de sua síntese em pírica e ao qual a experiência real embora não o atingindo jamais por inteiro é sempre pertencente Conceitos da razão servem para compreender assim como conceitos do entendimento servem para entender as percepções Se contêm o incondicionado dizem respei to a algo que tem toda a experiência sob si mas que não pode jamais ser ele próprio um objeto da experiência algo a que a razão conduz em suas inferências a partir da experiência e com base no qual avalia e mede o grau de seu uso empírico mas que não constitui jamais um membro da síntese empírica Se apesar disso semelhantes conceitos possuem validade objetiva eles podem ser denominados conceptus ratiocinati conceitos corretamente inferidos se não possuem então eles são ilicitamente obtidos através de pelo menos uma ilusão na in ferência e podem ser denominados conceptus ratiocinantes concei tos sofísticos Como isto porém só poderá ser estabelecido na parte sobre as inferências dialéticas da razão pura não podemos ainda le válo em consideração mas apenas tal como fizemos com os concei tos puros do entendimento ao denominálos categorias atribuir pro visoriamente um novo nome aos conceitos da razão pura denominan doos ideias transcendentais denominação contudo que explicare mos e justificaremos agora B 367 B 368 285 Primeira seção Das ideias em geral Apesar da grande riqueza de nossas línguas no entanto o pensa dor se encontra com frequência em embaraço quanto à expressão que melhor se adeque a seu conceito e sem a qual não consegue se fazer compreender nem aos outros nem sequer a si mesmo Forjar novas B 369 palavras é um a pretensão de le g isla r sobre as língua s que raram ente dá certo antes de re co rre r a esse d u vid oso m eio é aconselhável vas cu lh a r um a lín g u a m orta e eru d ita para ve r se nela não se encontra esse conceito jun tam en te com sua expressão adequada e m esm o que o a n tigo uso dessa palavra se tenha enfraquecido pela falta de cui dado de seus criadores ainda assim é m elhor fix a r o sig n ifica d o que lhe cabia precisam ente m esm o que perm aneça du vidoso se ele era to m ado exatam ente com esse sentido do que a rru in a r a p ró p ria tarefa apenas p o r fazerse incom preensível Assim mesmo que só houvesse uma única palavra capaz de no sentido já aduzido adequarse com precisão a um certo conceito cuja diferenciação de outros conceitos próximos é de grande importância é aconselhável não utilizála de maneira extravagante ou empregála apenas como sinônimo para variar em lugar de outras mas sim con servar cuidadosamente o seu significado próprio pois do contrário pode facilmente ocorrer que deixando a expressão de chamar espe cial atenção e perdendose sob um amontoado de outras palavras de significado desviante percase também o pensamento que somente ela poderia conservar b 370 Platão se servia da expressão ideia de tal modo que se percebe fa cilmente que ele entendia por ela algo que não apenas jamais é em prestado dos sentidos mas ultrapassa em muito os conceitos do en tendimento de que se ocuparia Aristóteles já que nunca se encontra rá na experiência algo congruente com ela As ideias são para ele ar quétipos das próprias coisas e não como as categorias meras chaves para experiências possíveis Em sua opinião elas brotavam da mais elevada razão e daí eram transmitidas à razão humana mas esta já não se encontraria em seu estado original precisando antes por meio da rememoração que se denomina filosofia recordar com esforço as agora muito obscuras ideias Não pretendo envolverme aqui com uma investigação literária para estabelecer o sentido que o sublime filóso fo ligava à sua expressão Observo apenas que não é de todo inco 286 mum seja na conversação comum seja nos escritos por meio da com paração dos pensamentos que um autor expressa sobre seu objeto compreendêlo melhor do que ele mesmo o compreendia na medida em que não determinava de maneira suficiente o seu conceito e as sim vez por outra falava ou mesmo pensava contrariamente a seus próprios propósitos Platão observou muito bem que o nosso poder cognitivo sente uma necessidade muito mais elevada do que descrever meros fenôme nos segundo a unidade sintética para poder lêlos como experiência e que a nossa razão ascende naturalmente a conhecimentos que vão muito além daquilo com que algum objeto dado pela experiência pu desse ser congruente mas que nem por isso deixam de ter a sua reali dade e não são meras fantasias Platão encontrou suas ideias sobretudo naquilo que é prático59 i e que se baseia na liberdade a qual por seu turno situase entre os conhecimentos que são um produto próprio da razão Quem quisesse extrair o conceito de virtude da experiência quem quisesse transfor mar aquilo que só pode servir como exemplo para uma explicação in completa em modelo para as fontes do conhecimento como muitos de fato fizeram faria da virtude uma aberração ambígua modificável com o tempo e as circunstâncias e incapaz de servir de regra Fica cla ro para qualquer um por outro lado que se alguém lhe for apresen tado como modelo da virtude ele terá sempre todavia somente em sua própria cabeça o verdadeiro original com o qual irá comparar esse suposto modelo e apenas assim avaliálo Tal é porém a ideia da virtude em relação à qual todos os objetos possíveis da experiência podem de fato servir como exemplos provas da factibilidade em cer to grau daquilo que o conceito da razão exige mas não como arqué tipos Que nenhum ser humano venha jamais a agir de acordo com aquilo que a ideia pura da virtude contém não prova absolutamente nada quanto digamos a algo de quimérico nesse pensamento Pois 59 Ele também estendeu o seu conceito é claro a conhecimentos especulativos que fossem pu ros e dados inteiramente a priori inclusive à matemática muito embora esta só tenha seu objeto na experiência possível Não posso seguilo nisto porém tampouco como na dedução mística dessas ideias ou nos exageros com que por assim dizer as hipostasiou por mais que a elevada linguagem empregada por ele nesse campo seja perfeitamente apropriada a uma interpretação mais modesta e adequada à natureza das coisas NA B 371 B 372 287 somente através dessa ideia é possível um juízo sobre o valor ou des valor moral ela constitui necessariamente portanto o fundamento de qualquer aproximação da perfeição moral por mais que os obstá culos na natureza humana não determináveis quanto ao grau mante nhamnos distantes disso A república platônica se tornou proverbial como um suposto exemplo arrebatador da sonhada perfeição que só pode ter lugar na cabeça do pensador ocioso e Brucker considera risível o filósofo afir mar que nenhum príncipe jamais regeria se não participasse das ideias Mas seria bem melhor se nos acercássemos desse pensamento e ali onde esse distinto homem nos deixa sem apoio o iluminássemos atra B 373 vés de novos esforços em vez de deixálo de lado como inútil sob o tão sofrível e danoso pretexto da infactibilidade Uma constituição da maior liberdade humana no entanto sob as leis que fazem com que a liberdade de cada um possa coexistir com a liberdade dos demais não uma constituição da maior felicidade pois esta já se seguirá por si mesma é pelo menos uma ideia necessária que se tem de pôr como fundamento não apenas do primeiro projeto de uma constituição do Estado mas também de todas as leis e com a qual se começa a fazer abstração dos presentes obstáculos que talvez não surjam tão inevi tavelmente da natureza humana mas antes do desprezo pelas verda deiras ideias na legislação Pois nada pode ser mais prejudicial e in digno de um filósofo que o apelo vulgar à experiência supostamente contrária que jamais teria existido se essas instituições tivessem sido estabelecidas no momento certo segundo as ideias em vez de deixar conceitos crus em seu lugar frustrando todas as boas intenções justa mente por serem extraídos da experiência Quanto maior fosse a con cordância da legislação e do governo com essa ideia menos frequentes seriam certamente as penas e é inteiramente razoável supor pois tal como Platão afirmava que estas se tornassem inteiramente desne cessárias em uma ordenação perfeita daqueles E mesmo que esta úl B 374 tima não venha jamais a efetivarse ainda assim é inteiramente corre ta a ideia que faz desse maximum um arquétipo para dele aproximar à máxima perfeição possível a constituição legal dos seres humanos Pois no que diz respeito a qual o maior grau em que a humanidade poderia manterse e a quão grande é o abismo que necessariamente permanece entre a ideia e sua realização isso não pode nem deve ser determinado por ninguém justamente porque é a liberdade que pode ultrapassar cada limite colocado Mas Platão vê claras provas de sua origem nas ideias não apenas onde a razão humana mostra uma verdadeira causalidade e onde as ideias se tornam causas efetivas das ações e de seus objetos i e nos costumes mas também em relação à própria natureza Uma planta um animal a ordem regular da estrutura do mundo supostamente por tanto também toda a ordem da natureza mostram claramente que só são possíveis a partir de ideias que de fato nenhuma criatura seria congruente com a ideia da maior perfeição de sua espécie sob a única condição de sua existência tão pouco quanto o ser humano com a ideia da humanidade que ele traz em sua própria alma como o arquétipo de suas ações que do mesmo modo aquelas ideias no mais elevado sen tido são individuais imutáveis completamente determinadas e as cau sas originárias das coisas e apenas a totalidade de suas ligações no todo do mundo é inteiramente adequada à sua ideia Caso se faça abs tração do que é exagerado na expressão então o devaneio original do filósofo de ascender da observação mimética do que é físico na ordem do mundo para a sua conexão arquitetônica segundo fins i e segun do ideias é um esforço que merece respeito e continuação em relação àquilo no entanto que diz respeito aos princípios da moralidade da le gislação e da religião onde as ideias tornam a própria experiência do bem primeiramente possível ainda que nunca possam ser aí inteira mente expressas tratase de um ganho verdadeiramente único que só não se reconhece porque se o julga segundo as regras empíricas cuja validade como princípios deveria ter sido suspensa justamente por es sas ideias No que diz respeito à natureza de fato a experiência nos for nece as regras e é a fonte da verdade em relação às leis morais porém a experiência é infelizmente a mãe da ilusão e é altamente repreensí vel extrair as leis sobre aquilo que devo fazer daquilo que é feito ou querer limitálas a isso Em lugar dessas observações cujo desenvolvimento apropriado constitui de fato a dignidade própria da filosofia ocupamonos agora com um trabalho não tão reluzente mas também não tão desprovido de mérito a saber preparar e deixar firme para a construção o solo para esses majestáticos edifícios morais um solo sob o qual há diver sas galerias de toupeira que tornam inseguro esse trabalho de cons B 375 B 376 289 trução O uso transcendental da razão pura seus princípios e ideias são aquilo portanto que precisamos agora conhecer com precisão para poder avaliar e determinar com pertinência a influência e o valor da razão pura Antes porém de deixar de lado esta introdução provi sória encorajo aqueles que têm a filosofia no coração o que significa mais do que normalmente se supõe caso se sintam persuadidos por isto e pelo que segue a conservar para a expressão ideia o seu signifi cado originário de modo que ela não se perca ainda mais sob as de mais expressões em que todos os tipos de representação costumam ser designados de maneira descuidada e desorganizada e que a ciên cia não seja prejudicada com isso Não nos faltam denominações con tudo a que cada modo de representação seja apropriado sem que nos seja necessário invadir a propriedade de outrem Eis aqui uma escala das mesmas o gênero a representação em geral repraesentatio sob ela está a representação com consciência perceptio uma per cepção que apenas se refere ao sujeito como modificação de seu esta do é uma sensação sensatio uma percepção objetiva é um conheci B 377 mento cognitio esta é ou intuição ou conceito intuitus vel con ceptus Aquela se refere imediatamente ao objeto e é única este se refere mediatamente através de uma marca característica àquilo que pode ser comum a muitas coisas 0 conceito é ou empírico ou puro e o conceito puro caso tenha sua origem apenas no entendimento não na mera imagem da sensibilidade denominase notio Um conceito a partir de noções que ultrapassa a possibilidade da experiência é uma ideia ou conceito da razão Para alguém que se habituou a essa dis tinção tem de ser insuportável ouvir a representação da cor vermelha ser denominada ideia Ela não deve ser denominada sequer uma no ção conceito do entendimento Segunda seção Das ideias transcendentais A analítica transcendental nos deu um exemplo de como a mera forma lógica de nosso conhecimento pode conter a origem dos concei tos puros a priori que representam objetos anteriormente a toda expe b 378 riência ou antes indicam a unidade sintética que torna possível um conhecimento empírico dos objetos A forma dos juízos convertida em um conceito da síntese das intuições gerou categorias que condu zem todo uso do entendimento na experiência Do mesmo modo po 2 9 0 i deríamos esperar que a forma dos silogismos se empregada na unida de sintética das intuições em conformidade com as categorias venha a conter a origem de conceitos peculiares a priori que possamos de nominar conceitos puros da razão ou ideias transcendentais e que estes venham a determinar o uso do entendimento segundo princí pios no todo da experiência conjunta A função da razão em suas inferências residia na universalidade do conhecimento segundo conceitos e o próprio silogismo é um juízo que é determinado a priori no inteiro âmbito de sua condição Eu também poderia extrair a proposição Caio é mortal da experiência somente através do entendimento Mas eu busco um conceito que contenha a condição sob a qual o predicado a asserção em geral des se juízo é dado i e neste caso o conceito de homem e depois de têlo subsumido sob essa condição tomada em todo o seu alcance to dos os homens são mortais determino a partir dela o conhecimento do meu objeto Caio é mortal Desse modo restringimos um predicado a um certo objeto na conclusão de um silogismo depois de têlo pensado em todo o seu al cance sob uma certa condição na premissa maior Essa quantidade completa do alcance em relação a tal condição se denomina universa lidade universalitas A esta corresponde na síntese das intuições o todo universitas ou totalidade das condições600 conceito transcen dental da razão não é outro portanto senão o da totalidade das con dições para um condicionado qualquer Como apenas o incondiciona do contudo torna possível a totalidade das condições e inversamen te a totalidade das condições é ela própria sempre incondicionada então um conceito puro da razão pode em geral ser explicado pelo conceito de incondicionado na medida em que contém o fundamento da síntese do condicionado Tantos quantos forem pois os tipos de relação que o entendi mento se representa por meio das categorias tantos serão os concei tos puros da razão e teremos de procurar um incondicionado por tanto primeiramente da síntese categórica em um sujeito em se 60 Traduzimos A llheit por todo e Totalität por totalidade para indicar que se tratava de dois termos distintos Na verdade porém são as palavras de origem respectivamente germâ nica e latina para o mesmo conceito totalidade NT B 379 291 gundo lugar da síntese hipotética dos membros em uma série em terceiro lugar da síntese disjuntiva das partes em um sistema Tantos são com efeito os tipos de silogismo que podem cada um por seu turno avançar rumo ao incondicionado por meio de prossilo gismos um rumo ao sujeito que já não é ele próprio predicado outro B 380 rumo à pressuposição que nada mais pressupõe e o terceiro rumo a um agregado dos membros da divisão além dos quais já não se exige nada para completar a divisão de um conceito Por conseguinte os conceitos puros da razão da totalidade na síntese das condições es tão ao menos enquanto a tarefa de fazer a unidade do entendimento avançar o máximo possível até o incondicionado fundados necessa riamente na natureza da razão humana pode ser que de resto falte a esses conceitos transcendentais um uso in concreto que lhes seja adequado e que portanto eles não tenham outra utilidade a não ser a de trazer o entendimento à direção correta na qual o seu uso es tendido ao máximo é ao mesmo tempo colocado em completo acordo consigo mesmo À medida que falamos aqui todavia na totalidade das condições e no incondicionado como o título comum de todos os conceitos da razão esbarramos novamente com uma expressão de que não pode mos prescindir mas que depois de ter adquirido uma ambiguidade devido a um longo uso equivocado não podemos empregar com segu rança A palavra absoluto é uma das poucas palavras que em seu mais originário significado se tornou adequada a um conceito a que nenhuma outra palavra da mesma língua se ajusta tão precisamente e a sua perda ou o que dá no mesmo o seu uso enfraquecido im B 381 plica uma perda também para o próprio conceito um conceito que de fato na medida em jue ocupa muito a razão não pode ser dispensado sem um grande prejuízo para todos os julgamentos transcendentais A palavra absoluto é frequentemente empregada hoje para simples mente indicar que algo é válido a respeito de uma coisa em si mesma portanto internamente Neste sentido absolutamente possível signi ficaria aquilo que é possível em si mesmo interne que é o mínimo de fato que se pode dizer sobre um objeto Por outro lado ela tam bém é usada às vezes para indicar que algo é válido em todos os as pectos ilimitadamente p ex o poder absoluto e o absolutamente possível neste caso significaria aquilo que é possível em todos os 292 d sentidos em todos os aspectos que é por seu turno o máximo que posso dizer sobre a possibilidade de uma coisa Muitas vezes inclusi ve encontramos esses dois significados juntos Aquilo por exemplo que é internamente impossível é também em todos os sentidos por tanto absolutamente impossível Mas na maioria dos casos eles apa recem infinitamente distantes um do outro e eu nâo posso concluir de modo algum que porque algo é possível em si mesmo ele também seria em todos os sentidos portanto absolutamente possível Mesmo com relação à necessidade absoluta eu mostrarei mais adiante que ela não depende de modo algum da interna em todos os casos e por tanto não poderia ser considerada como sinônimo desta Aquilo cujo oposto é internamente impossível é algo cujo oposto é certamente im possível também em todos os sentidos e portanto é ele próprio abso lutamente necessário mas não posso concluir inversamente que o oposto daquilo que é absolutamente necessário seria internamente im possível i e que a necessidade absoluta das coisas seria uma necessi dade interna pois esta necessidade interna é em certos casos uma ex pressão inteiramente vazia à qual não podemos ligar conceito algum ao passo que a expressão necessidade de uma coisa em todos os aspec tos a todo possível traz consigo determinações bastante peculiares Agora como a perda de um conceito de grande aplicação na filosofia especulativa não pode ser indiferente para o filosofo espero que a de terminação e a cuidadosa conservação da expressão a que o conceito é inerente também não lhe sejam indiferentes Empregarei então a palavra absoluto nesse sentido mais amplo e o oporei ao que é válido de maneira meramente comparativa ou em aspectos particulares pois este último é restrito a condições enquan to aquele vale sem restrição Agora o conceito transcendental da razão sempre diz respeito apenas à totalidade na síntese das condições e nunca termina de ou tro modo a não ser no absolutamente i e em todas as relações in condicionado Pois a razão deixa tudo para o entendimento que se re fere primeiramente aos objetos da intuição ou antes à sua síntese na imaginação Ela somente guarda para si a totalidade absoluta no uso dos conceitos do entendimento e busca conduzir a unidade sintética que é pensada nas categorias até o absolutamente incondicionado Esta pode ser denominada por conseguinte a unidade da razão dos B 382 B 383 293 fenômenos do mesmo modo como aquela que é expressa pelas cate gorias é denominada unidade do entendimento A razão se refere apenas portanto ao uso do entendimento mas nãoenquanto ele contém o fundamento da experiência possível pois a totalidade abso luta das condições não é um conceito utilizável na experiência já que nenhuma experiência é incondicionada e sim para prescreverlhe a direção para uma certa unidade da qual ele não tem nenhum concei to e que aponta no sentido de reunir todas as ações do entendimento em relação a cada objeto em um todo absoluto Por isso o uso objeti vo dos conceitos puros da razão é sempre transcendente enquanto que aquele dos conceitos puros do entendimento segundo sua natu reza tem de ser sempre imanente limitandose ele tão somente à ex periência possível Por ideia eu entendb um conceito necessário da razão ao qual ne nhum objeto congruente pode ser dado nos sentidos Assim nossos con B 384 ceitos puros da razão ora examinados são ideias transcendentais Eles são conceitos da razão pura pois consideram todo conhecimen to por experiência como determinado por uma totalidade absoluta das condições Eles não são inventados arbitrariamente mas sim for necidos pela natureza da própria razão e por isso se referem de ma neira necessária a todo o uso do entendimento Eles são transcenden tes por fim e ultrapassam os limites de toda experiência na qual não pode aparecer jamais portanto um objeto Gegenstand que fosse adequado à ideia transcendental Quando se nomeia uma ideia dizse muito a respeito do objeto Object como um objeto Gegenstand do entendimento puro mas muito pouco a respeito do sujeito i e em relação à sua realidade sob condições empíricas justamente porque ela como o conceito de um máximo não pode jamais ser dada in con creto de maneira cortgruente Como isto no entanto é o verdadeiro e completo propósito do uso especulativo da razão e como a aproxima ção de um conceito que na execução não poderá jamais ser atingido vale tão pouco quanto se o conceito faltasse por inteiro costumase dizer então de semelhante conceito ele é apenas uma ideia Poder seia dizer assim que o todo absoluto dos fenômenos é apenas uma ideia pois dado que não podemos jamais projetálo em uma imagem ele permanece um problema sem qualquer solução Como por outro lado no uso prático do entendimento o que verdadeiramente importa B 385 é a execução segundo regras a ideia da razão prática pode sempre ser 294 efetivamente dada in concreto ainda que apenas em parte e é mes mo a condição indispensável de todo uso prático da razão Sua execu ção é sempre limitada e deficitária mas sob limites não determináveis portanto sob a permanente influência do conceito de uma completude absoluta Por isso a ideia prática é sempre altamente frutífera e incon tornavelmente necessária com vistas às ações reais Nela a razão tem até mesmo a causalidade para efetivamente produzir aquilo que seu conceito contém não se pode dizer dessa sabedoria pois como que lhe retirando valor que ela é apenas uma ideia ela tem antes pelo contrário justamente porque é a ideia da unidade necessária de to dos os fins possíveis de servir para tudo o que é prático como condi ção originária pelo menos restritiva da regra Ainda que tenhamos de dizer que os conceitos transcendentais da razão são apenas ideias não teremos todavia de modo algum de considerálos supérfluos e nulos Pois mesmo que um objeto não pos sa ser por eles determinado ainda assim eles podem no fundo e des percebidamente servir de cânone para o uso estendido e coerente do entendimento de modo que este embora sem conhecer nenhum ob jeto além daqueles que conheceria segundo seu conceito siga adiante e seja melhor conduzido nesse conhecimento Sem contar que eles talvez tornem possível uma passagem dos conceitos da natureza para os práticos e possam até fornecer às ideias morais desse modo um suporte e uma concatenação coerente com os conhecimentos especu lativos da razão Quanto a tudo isso é preciso esperar a explicação que virá na sequência De acordo com o nosso propósito contudo deixaremos as ideias práticas aqui de lado e consideraremos a razão assim apenas em seu uso especulativo e mais especificamente apenas em seu uso trans cendental Temos de entrar aqui portanto no mesmo caminho que tomamos acima na dedução das categorias a saber o de examinar a forma lógica do conhecimento racional e ver se por acaso a razão não se torna aí também uma fonte de conceitos considerando os objetos em si mesmos como determinados sinteticamente o priori em relação a uma ou outra função da razão Considerada como a faculdade de uma certa forma lógica do co nhecimento a razão é a faculdade de inferir i e de julgar mediata mente através da subsunção da condição de um juízo possível sob a B 386 2 9 5 condição de um juízo dado 0 juízo dado é a regra universal premis sa maior major A subsunção da condição de um outro juízo possível sob a condição da regra é a premissa menor minor 0 juízo real que B 387 enuncia a asserção da regra no caso subsumido é a conclusão con clusio A regra com efeito diz algo universal sob uma certa condi ção A condição da regra contudo tem lugar em um caso que se apre sente Assim aquilo que valia sob aquela condição universal é consi derado válido também no caso que se apresenta que traz consigo tal condição Vêse com facilidade que através de ações do entendimen to que constituem uma série de condições a razão chega a um conhe cimento Se só chego à proposição todps os corpos são modificáveis partindo do conhecimento mais distante de que todo composto é mo dificável se a partir deste chego a um mais próximo os corpos são compostos que está sob a condição do primeiro e se a partir deste chego a um terceiro logo todos os corpos são modificáveis que agora conecta o conhecimento distante modificável com o apresenta do então o que eu faço é chegar a um conhecimento conclusio atra vés de uma série de condições premissas Agora toda série cujo ex ponente o juízo categórico ou hipotético é dado pode ser continuada a mesma ação da razão portanto conduz à ratiocinatio polysyllogisti ca uma série de inferências que pode ser continuada indefinidamen B 388 te ou pelo lado das condições per prosyllogismos ou do condicio nado np TTiaijÀÀoyiajoa Logo se percebe contudo que a cadeia ou série dos prossilogis mos i e dos conhecimentos continuados pelo lado dos fundamentos ou das condições para um dado conhecimento ou em outras pala vras a série ascendente das inferências da razão teria de compor tarse de outro modo face à faculdade da razão que não o da série descendente i e dj progresso da razão pelo lado do condicionado através de epissilogismos Pois como no primeiro caso o conhecimen to conclusio só é dado como condicionado não se pode chegar a ele através da razão a não ser sob a pressuposição de que ao menos todos os membros da série pelo lado das condições estão dados totalidade na série das premissas pois o juízo em questão só é possível a priori sob tal pressuposição pelo lado do condicionado pelo contrário ou das consequências não é pensada uma série já inteiramente pressu posta ou dada mas sim uma série em devir portanto apenas uma continuação potencial Assim quando um conhecimento é considera 296 do como condicionado a razão é forçada a considerar a série das con dições em linha ascendente como completa e como dada no que diz respeito à sua totalidade Quando no entanto o mesmo conhecimen to é considerado ao mesmo tempo como condição de outros conheci mentos que constituem entre si uma série de consequências em linha descendente então pode ser inteiramente indiferente à razão o quão longe essa continuação se estende a parte posteriori ou se é sequer possível a totalidade dessa série pois ela não precisa dessa série para a conclusão que tem diante de si já que esta já está suficientemente determinada e assegurada por seus fundamentos a parte priori Ago ra tanto pode ser que pelo lado das condições a série das premissas tenha um primeiro membro como condição suprema como pode ser que não e que portanto seja ilimitada a parte priori mas mesmo em se supondo que não poderemos nunca chegar a abarcála ela tem de conter a totalidade das condições e a série inteira tem de ser incondi cionalmente verdadeira caso o condicionado que é considerado co mo uma consequência dela derivada deva valer como verdadeiro Isto é uma exigência da razão que anuncia seu conhecimento como deter minado a priori e como necessário ou em si mesmo caso em que não necessita de fundamento ou quando é derivado como um mem bro na série dos fundamentos que é ela própria incondicionalmente verdadeira Terceira seção Sistema das ideias transcendentais Não estamos tratando aqui de uma dialética lógica que faz abs tração de todo conteúdo do conhecimento e apenas descobre a falsa ilusão na forma dos silogismos mas sim de uma dialética transcen dental que deve conter inteiramente a priori a origem de certos co nhecimentos na razão pura e de conceitos inferidos cujo objeto nunca pode ser dado empiricamente e que portanto localizamse inteira mente fora da faculdade do entendimento puro Da relação que o uso transcendental de nosso conhecimento tem de ter com o lógico tanto em inferências como em juízos nós deduzimos que só são dados três tipos de inferências dialéticas que se referem aos três tipos de infe rência através dos quais a razão pode chegar a conhecimentos a par tir de princípios e que em todas as suas tarefas se deve ascender da síntese condicionada a que o entendimento permanece sempre amar rado até a incondicionada que ele nunca pode atingir B 389 B 390 297 Agora em toda relação que nossas representações podem ter é B 391 universal 1 a relação ao sujeito 2 a relação ao objeto Object sen do que a este ou como fenômenos ou como objetos Gegenstände do pensamento em geral Caso se ligue esta subdivisão com a primei ra então toda relação das representações a partir da qual podemos elaborar um conceito ou uma ideia é de três tipos 1 a relação ao su jeito 2 ao diverso do objeto Object no fenômeno 3 a todas as coi sas em geral61 Agora todos os conceitos puros em geral têm que ver com a uni dade sintética das representações ao passo que os conceitos da razão pura ideias transcendentais têm que ver com a unidade sintética in condicionada de todas as condições em geral Por conseguinte todas as ideias transcendentais podem ser reduzidas a três classes das quais a primeira contém a Unidade absoluta incondicionada do sujeito pensante a segunda a unidade absoluta da série das condições do fenômeno e a terceira a unidade absoluta das condições de todos os objetos do pensamento em geral O sujeito pensante é o objeto da psicologia o conjunto completo de todos os fenômenos o mundo é o objeto da cosmologia e a coisa que contém a mais elevada condição de possibilidade de tudo o que pode ser pensado o ser de todos os seres é o objeto da teologia A ra zão pura fornece as ideias assim para uma doutrina transcendental B 392 da alma psychologia rationalis para uma ciência transcendental do mundo cosmologia rationalis e finalmente também para um co nhecimento transcendental de Deus theologia transcendentalis Mes mo que o entendimento estivesse ligado ao mais elevado uso lógico da razão i e a todas as inferências imagináveis para avançar de um objeto desse uso fenômeno para todos os outros até o membro mais afastado da síntese empírica já o simples projeto de cada uma dessas ciências não parte dele mas é antes tão somente um puro e verdadei ro produto ou problema da razão pura 61 Neste parágrafo Kant usou tanto B eziehung em todas as ocorrências da primeira frase como Verhältnis em todas da segunda para referirse à mesma coisa Isto favorece clara mente a opção de Guyer e Wood Rohden entre outros por nós também adotada de tradu zir B eziehung ora por relação ora por referência a depender do contexto Alguns tradu tores optaram por traduzir B eziehung sempre por referência de modo a reservar rela ção para Verhältnis NA 298 Quanto a quais os modi dos conceitos puros da razão que estão sob esses três títulos de todas as ideias transcendentais isto é algo que será completamente esclarecido no próximo capítulo Eles seguem o fio condutor das categorias Pois a razão pura não se refere jamais a objetos mas aos conceitos que o entendimento tem dos mesmos Do mesmo modo somente na execução completa se poderá deixar claro como a razão através apenas do uso sintético da mesma função de que ela se serve para o silogismo categórico tem de chegar necessariamen te ao conceito da unidade absoluta do sujeito pensante como o proce dimento lógico tem de implicar necessariamente o silogismo hipotéti co a ideia de um absolutamente incondicionado em uma série de con dições dadas e finalmente como a mera forma do silogismo disjunti vo tem de implicar necessariamente o mais elevado conceito da razão de um ser de todos os seres um pensamento que à primeira vista parece ser extremamente paradoxal Uma dedução objetiva dessas ideias transcendentais como aque la que pudemos oferecer das categorias não é realmente possível Pois elas não possuem de fato qualquer referência a algum objeto que lhes pudesse ser dado de maneira congruente justamente por que são apenas ideias Nós podíamos no entanto empreender uma derivação subjetiva das mesmas a partir da natureza de nossa razão e isto nós realizamos no presente capítulo Vêse facilmente que a razão pura não tem outra coisa por propó sito senão a totalidade absoluta da síntese pelo lado das condições seja da inerência da dependência ou da concorrência e que ela nada tem a ganhar com a completude absoluta pelo lado do condicio nado Pois ela só precisa daquela para pressupor a inteira série das condições e assim oferecêla a priori ao entendimento Se no entan to existir algum dia uma condição completa e incondicionalmente dada já não será necessário um conceito da razão em relação à conti nuação da série pois o entendimento daria esse passo à frente da condição para o condicionado por si mesmo Desse modo as ideias transcendentais servem apenas para ascender na série das condições até o incondicionado i e até os princípios No que diz respeito a des cer para o condicionado no entanto embora haja um uso lógico bas tante estendido que a nossa razão faz das leis do entendimento não há qualquer uso transcendental e se concebemos alguma ideia da to B 393 B 394 299 talidade absoluta dessa síntese do progressus p ex da inteira série de todas as modificações futuras do mundo ela é um produto do pen samento ens rationis que só é pensado arbitrariamente enão pres suposto necessariamente pela razão Pois embora a totalidade de suas condições seja pressuposta para a possibilidade do condiciona do suas consequências não o são Por conseguinte tal conceito não é uma ideia transcendental que é o único assunto com que temos de ocuparnos aqui Também se percebe por fim que entre as próprias ideias trans cendentais transparece uma certa concatenação e unidade e que a ra zão pura através delas reúne seus conhecimentos em um sistema Avançar do conhecimento de si mesmo da alma ao conhecimento do mundo e através deste ao ser originário é um movimento tão natural B 395 que ele se assemelha à progressão da razão desde as premissas até a conclusão62 Agora se no fundamento disso se oculta um parentesco do mesmo tipo daquele que há entre os procedimentos lógico e trans cendental esta é uma das perguntas cuja resposta só deve ser espera da na continuação destas investigações Nós já atingimos provisoria B 396 mente o nosso objetivo se tivermos podido tirar os conceitos trans cendentais da razão da ambígua situação de estarem habitualmente misturados a outros conceitos na teoria dos filósofos sem que estes os tenham jamais diferenciado adequadamente dos conceitos do en tendimento se tivermos podido fornecer a sua origem e através dis so também o seu número exato além do qual não pode haver outros e se tivermos podido representálos em uma concatenação sistemáti ca Com isso fica estabelecido e delimitado um campo específico para a razão pura 62 A metafísica tem por verdadeiro fim de sua investigação apenas três ideias Deus liberdade e imortalidade de tal modo que o segundo conceito ligado ao primeiro deve conduzir ao ter ceiro como uma conclusão necessária Tudo aquilo com que essa ciência se ocupe para além disso lhe serve apenas como meio para chegar a essas ideias e à sua realidade Ela não neces sita delas em vista da ciência natural mas sim para ir além da natureza Discernilas faria com que a teologia a moral e através da ligação de ambas a religião portanto o fim mais elevado de nossa existência dependesse apenas da faculdade especulativa da razão e de mais nada Em uma representação sistemática dessas ideias a ordem aduzida sintética seria a mais apropriada na elaboração porém que tem de precedêla necessariamente a analítica que inverte essa ordem será a mais apropriada ao fim de completar nosso grande projeto na me dida em que avancemos daquilo que a experiência nos dá para a doutrina da alma para a doutrina do mundo e desta para o conhecimento de Deus NA SEGUNDO LIVRO DAS INFERÊNCIAS DIALÉTICAS DA RAZÃO PURA Podese dizer que o objeto de uma mera ideia transcendental é algo de que não se tem o conceito apesar de essa ideia ser gerada na razão de maneira absolutamente necessária segundo as leis originá rias desta Pois na verdade também não é possível nenhum conceito do entendimento para um objeto que deve ser adequado à exigência da razão i e um conceito tal que pudesse ser mostrado e tornado in tuitivo em uma experiência possível Nós nos expressaríamos melhor e com menor risco de um malentendido se disséssemos que não po demos conhecer o objeto que corresponde a uma ideia ainda que pos samos ter dele um conceito problemático Agora ao menos a realidade transcendental subjetiva dos con ceitos puros da razão se baseia em que somos levados a tais ideias através de um silogismo necessário Haverá silogismos portanto que não contêm premissas empíricas e por meio dos quais a partir de que não conhecemos nós inferiremos algo de que não temos o conceito e ao qual ainda assim daremos realidade objetiva através de uma ilu são inevitável Em relação ao seu resultado portanto tais inferências devem ser denominadas sofísticas e não silogismos por mais que pu dessem perfeitamente carregar este último nome devido à sua ori gem já que não são inventadas nem surgem por acaso mas se origi nam da natureza da razão Não são sofisticações dos seres humanos mas da própria razão pura e nem o mais sábio dentre todos os ho mens consegue delas livrarse Ele até conseguiria talvez evitar o erro depois de muitos esforços mas jamais se livraria em definitivo da ilusão que incessantemente o tenta e ridiculariza Esses silogismos dialéticos são portanto de três tipos tantos quantas são as ideias a que suas conclusões conduzem No silogismo da primeira classe eu infiro do conceito transcendental do sujeito que não contém nenhum diverso a unidade absoluta desse mesmo sujeito do qual não tenho dessa forma qualquer conceito A esta in ferência dialética denominarei paralogismo A segunda classe de infe rências sofísticas se aplica em geral ao conceito transcendental da totalidade absoluta da série das condições para um dado fenômeno e do fato de eu ter sempre um conceito autocontraditório da unidade sintética incondicionada de um lado infiro a validade da unidade oposta ainda que também não tenha desta qualquer conceito À situ B 397 B 398 301 ação da razão nessas inferências dialéticas denominarei antinomia da razão pura No terceiro tipo de inferência sofística por fim eu infi ro da totalidade das condições para pensar objetos em geral na medi da em que me são dados a unidade sintética absoluta de todas as con dições de possibilidade das coisas em geral i e das coisas que não conheço no que diz respeito ao seu mero conceito transcendental in firo o ser de todos os seres que conheço menos ainda através de um conceito transcendental e de cuja necessidade incondicionada não posso formar nenhum conceito A este silogismo dialético denomina rei ideal da razão pura B 399 Primeiro capítulo Dos paralogismos da razão pura O paralogismo lógico consiste na falsidade de um silogismo no que diz respeito à forma seja qual for o seu conteúdo Um paralogis mo transcendental no entanto tem um fundamento transcendental para inferir erradamente no que diz respeito à forma Desse modo tal erro terá seu fundamento na natureza da razão humana e trará con sigo uma ilusão inevitável ainda que não insolúvel Chegamos agora a um conceito que não foi mencionado acima na lista dos conceitos transcendentais mas que deve ser nela conta do sem que aquela tábua seja por isso minimamente mudada ou to mada por defeituosa Tratase do conceito ou se se preferir do juízo eu penso Vêse facilmente contudo que ele é o veículo de todos os conceitos em geral e portanto também dos transcendentais deven do ser sempre compreendido entre estes e assim ser também trans cendental ainda que sem poder ter qualquer título especial visto ser b 400 vir apenas para apresentar todo pensamento como pertencente à cons ciência Ao mesmo tempo por mais purificado que ele seja do empíri co da impressão dos sentidos ele serve ainda assim para diferenci ar dois tipos de objetos a partir da natureza de nosso poder de repre sentação Eu enquanto pensante sou um objeto do sentido interno e me denomino alma Aquilo que é um objeto dos sentidos externos se denomina corpo Por isso a expressão eu como um ser pensante já designa o objeto da psicologia que pode ser denominada doutrina ra cional da alma se sobre esta só quero saber aquilo que independente mente de toda experiência que me determina de maneira mais preci 302 sa e in concreto pode ser inferido desse conceito eu enquanto pre sente em todo pensamento A doutrina racional da alma é de fato pois um empreendimento desse tipo pois se o mínimo elemento empírico de meu pensamento alguma percepção de meu estado interno ainda se misturasse aos fundamentos cognitivos dessa ciência ela já não seria racional mas uma doutrina empírica da alma Nós já temos diante de nós assim uma suposta ciência construída sobre uma única proposição eu penso e cujo fundamento ou falta de fundamento podemos investi gar aqui segundo a natureza de nossa filosofia transcendental de maneira bastante apropriada Ninguém deve espantarse com o fato de eu também ter nessa proposição que exprime a percepção de si mesmo uma experiência interna e de portanto a doutrina racional da alma construída a partir dela não ser nunca pura mas parcial mente fundada em um princípio empírico Pois essa percepção inter na não é nada mais do que a mera apercepção eu penso que inclusive torna possíveis todos os conceitos transcendentais nos quais se diz eu penso a substância a causa etc Pois a experiência interna em ge ral e sua possibilidade ou a percepção em geral e sua relação a outra percepção não podem sem que seja dada empiricamente alguma de terminação ou diferença específica entre elas ser consideradas um conhecimento empírico elas têm de ser consideradas isto sim um co nhecimento do empírico em geral que pertence à investigação da pos sibilidade de cada experiência e esta investigação é certamente trans cendental Por mínimo que fosse um objeto da percepção apenas o prazer ou o desprazer por exemplo que se introduzisse na represen tação geral da autoconsciência transformaria a psicologia racional em uma empírica Eu penso é portanto o único texto da psicologia racional a par tir do qual ela deve desenvolver sua sabedoria Vêse facilmente que quando deve ser referido a um objeto eu mesmo esse pensamento não poderia conter outra coisa senão predicados transcendentais do mesmo pois o mínimo predicado empírico corromperia a pureza ra cional e a independência dessa ciência em relação a toda experiência Nós só teremos de seguir aqui o fio condutor das categorias mas como é dada primeiro uma coisa eu como ser pensante começare mos aqui mesmo sem modificar a ordem das categorias entre si tal B 401 B 402 303 como representada na tábua pela categoria de substância represen tando uma coisa em si mesma e em seguida retrocedendo na série de las A tópica da doutrina racional da alma portanto da qual tem de ser deduzido tudo o mais que ela possa conter é a seguinte 1 A alma é substância 2 Segundo sua qualidade é simples 3 Segundo os diferentes tempos em que ela existe é numericamente idêntica i e unidade não pluralidade 4 Em relação com os possíveis objetos no espaço B 403 Desses elementos surgem pela simples composição sem que ne nhum outro princípio seja minimamente conhecido todos os concei tos da doutrina pura da alma Esta substância meramente como obje to do sentido interno fornece o conceito da imaterialidade como substância simples o da incorruptibilidade a sua identidade como substância intelectual fornece a personalidade conjuntamente to dos esses três elementos fornecem a espiritualidade a relação com os objetos no espaço o comércio com os corpos ela representa por tanto a substância pensante como princípio da vida na matéria i e como alma e como fundamento da animalidade e esta limitada pela espiritualidade é a imortalidade A isso se referem então quatro paralogismos de uma doutrina transcendental da alma que é equivocadamente tomada por uma ciên cia da razão pura sobre a natureza de nosso ser pensante No funda B 404 mento da mesma no entanto só podemos colocar a representação simples e por si mesma inteiramente vazia de conteúdo do eu do qual não se pode sequer dizer que seja um conceito mas apenas uma mera consciência que acompanha todo conceito Através desse eu ou 304 ele ou isso a coisa que pensa não se representa nada mais do que um sujeito transcendental do pensamento x que só é conhecido através dos pensamentos que são seus predicados e do qual separa damente não poderíamos ter jamais o mínimo conceito nós giramos em torno dele portanto em um círculo constante já que temos sem pre de nos servir de sua representação para julgar algo sobre ele um desconforto que não pode ser afastado pois a consciência em si não é tanto uma representação que distingue um objeto peculiar mas sim a sua forma em geral na medida em que deva ser denominada um co nhecimento pois apenas através dela eu posso dizer que penso algo Deve soar desde logo estranho contudo que a condição sob a qual eu penso em geral e que portanto é apenas uma constituição de meu sujeito deva ser ao mesmo tempo válida para tudo que pen sa e que possamos pretender fundar em uma proposição aparente mente empírica um juízo apodítico e universal a saber que tudo o que pensa é constituído à semelhança do que a sentença da autocons ciência enuncia a meu respeito A causa disso no entanto repousa no seguinte que nós temos de atribuir às coisas a priori todas as proprie dades que constituem as únicas condições sob as quais as pensamos Agora eu não posso ter a menor representação de um ser pensante através de uma experiência externa mas apenas através da autocons ciência Tais objetos não são mais portanto do que a transferência dessa minha consciência a outras coisas que somente assim podem ser representadas como seres pensantes A proposição eu penso portan to só é tomada aqui problematicamente não por poder conter a per cepção de uma existência o cogito ergo sum cartesiano mas pela sua possibilidade para ver quais as propriedades dessa tão simples proposição podem migrar para o seu sujeito quer este exista ou não Se houvesse mais do que o cogito no fundamento de nosso co nhecimento racional puro de seres pensantes em geral se também nos apoiássemos nas observações sobre o jogo de nossos pensamen tos e as leis do eu pensante daí extraídas surgiria uma psicologia em pírica que seria um tipo de fisiologia do sentido interno talvez capaz de explicar os fenômenos do mesmo mas jamais de descobrir aquelas propriedades que não pertencem à experiência possível como a da simplicidade nem de ensinar apoditicamente algo sobre os seres pen santes em geral que diga respeito à sua natureza ela não seria por tanto uma psicologia racional B 405 B 406 305 Agora como a proposição eu penso tomada problematicamen te contém a forma de todos os juízos do entendimento e acompa nha todas as categorias como seu veículo é claro que as inferências a partir dela só podem conter um uso transcendental der entendi mento que repele toda mistura da experiência e de cujo progresso não podemos segundo o que mostramos acima formar antes ne nhum conceito vantajoso Nós o perseguiremos com olhos críticos portanto através de todos os predicamentos da doutrina pura da alma63 mas em nome da brevidade desenvolveremos o seu exame em uma concatenação não interrompida Antes de mais nada a seguinte observação geral pode aguçar nossa atenção para esse tipo de inferência Não é por meramente pen sálo que conheço um objeto Objekt mas é porque determino uma intuição dada com relação à unidade da consciência em que todo pensamento consiste que conheço um objeto Gegenstand Não co nheço a mim mesmo portanto por ser consciente de mim como pen sante mas sim quando sou consciente da intuição de mim mesmo tal como determinada em relação à função do pensamento Por isso ne b 407 nhum modus da autoconsciência no pensamento é em si um concei to inteligível de objetos Objekte categorias mas sim uma função meramente lógica que não dá qualquer objeto Gegenstand ao pen samento portanto tampouco a mim mesmo como objeto Gegens tand Não é a consciência do eu determinante mas sim a do eu de terminável i e de minha intuição interna na medida em que o seu diverso pode estar ligado à condição universal da unidade da apercep ção no pensamento que é o objeto Objekt 1 Agora em todos os juízos eu sou sempre apenas o sujeito de terminante daquela relação que constitui o juízo Que o eu que eu penso no entanto só possa ser considerado no pensamento como su jeito e como algo que é inerente ao pensamento não apenas como predicado que isto tenha de valer é uma proposição apodítica e idên tica a si mesma mas não significa que eu como objeto seja por mim mesmo um ser autossubsistente ou uma substância Esta última afir 63 A continuação da frase foi acrescida em B A partir deste ponto iniciase o texto com que Kant reescreveu em B o restante do capítulo B 406432 A versão da primeira edição A 348405 será apresentada na sequência NT 306 mação vai muito longe e portanto exige dados que não podem ser en contrados no pensamento talvez mais se considero o pensante en quanto tal do que eu jamais poderia encontrar nele 2 Que o eu da apercepção portanto o de todo pensamento seja um singular que não pode dissolverse em uma pluralidade de sujei tos e assim descreve um sujeito lógico simples isto já está no concei to do pensamento e por conseguinte é uma proposição analítica mas isto não significa que o eu pensante seja uma substância sim ples o que seria uma proposição sintética O conceito de substância se refere sempre a intuições que em mim só podem ser sensíveis e portanto estão inteiramente fora do campo do entendimento e de seu pensar do qual só se falará aqui todavia quando se falar que o eu é simples no pensamento Seria maravilhoso se também me fosse dado aqui diretamente na mais pobre de todas as representações e como que através de uma revelação aquilo que de outro modo exige tantos preparativos para distinguir naquilo que a intuição apresenta o que é substância e melhor ainda se esta pudesse ser simples como nas partes da matéria 3 A proposição da identidade de mim mesmo em todo diverso da qual sou consciente também é uma proposição que se encontra nos próprios conceitos portanto analítica mas esta identidade do sujeito de que posso tornarme consciente em todas as suas representações não diz respeito à própria intuição do mesmo pela qual ele é dado como objeto e portanto também não pode significar a identidade da pessoa pela qual é compreendida a consciência da identidade de sua própria substância como ser pensante em toda modificação dos esta dos para provar esta última não bastaria a mera análise da proposi ção eu penso mas seriam exigidos diferentes juízos sintéticos que se fundassem na intuição dada 4 Eu distingo minha própria existência como ser pensante das outras coisas fora de mim às quais também meu corpo pertence isto é também uma proposição analítica pois as outras coisas são aquelas que penso como diferentes de mim Agora se esta consciência de mim mesmo é possível sem coisas fora de mim através das quais me são dadas representações e se portanto eu poderia existir apenas como ser pensante sem ser um ser humano isto é algo de que nada sei por meio dessa proposição B 408 B 409 307 B 410 B 411 Não se ganhou nada portanto no que diz respeito ao conheci mento de mim mesmo como objeto com a análise da consciência de mim mesmo no pensamento em geral A exposição lógica do pensa mento em geral é tomada equivocadamente por uma determinação metafísica do objeto Seria uma grande pedra no caminho da crítica e mesmo a única se houvesse uma possibilidade de provar a priori que todos os seres pensantes são em si substâncias simples e que portanto isto seria uma consequência de tal demonstração trariam inseparavelmente consigo uma personalidade e seriam conscientes de sua existência se parada de toda matéria Pois desse modò teríamos dado um passo além do mundo sensível teríamos entrado no campo dos númenos e nin guém nos tiraria então a prerrogativa de nele nos estendermos culti varmos o solo e conforme a boa estrela favorecesse a cada um dele to mar propriedade Pois a proposição todo ser pensante enquanto tal é uma substância simples é uma proposição sintética a priori pois em primeiro lugar vai além do conceito que lhe serve de fundamento e acrescenta ao pensamento em geral um tipo de existência e em segun do lugar acrescenta àquele conceito um predicado a simplicidade que não pode ser dado em experiência alguma Assim as proposições sinté ticas a priori não são factíveis e admissíveis como afirmamos somente em relação a objetos da experiência possível e de fato como princípios da possibilidade desta experiência mesma mas também poderiam refe rirse a coisas em geral e em si mesmas uma consequência que poria um fim a toda esta crítica e deixaria tudo como antes Mas o perigo não é aqui tão grande caso se considere o assunto mais de perto No procedimento da psicologia racional prevalece um paralogis mo que pode ser exposto no seguinte silogismo Aquilo que só pode ser pensado como sujeito também existe apenas como sujeito e portanto é uma substância Ora um ser pensante considerado apenas enquanto tal só pode ser pensado como sujeito Logo ele também só existe enquanto tal i e como substância Na premissa maior se fala de um ser que pode ser pensado em ge ral em todos os sentidos portanto também como pode ser dado na 308 intuição Na menor porém só se fala do mesmo ser na medida em que ele próprio se considera como sujeito apenas em relação ao pensa mento e à unidade da consciência mas não ao mesmo tempo em re lação à intuição pela qual ele pode ser dado como objeto ao pensa mento A conclusão se segue pois per sophisma figurae dictionis portanto por um sofisma Que essa solução do conhecido argumento em um paralogismo seja inteiramente correta é algo que fica bastante claro caso se con corde em retomar aqui a observação geral à representação sistemáti ca dos princípios e a seção sobre os númenos onde foi provado que o conceito de uma coisa que pode existir por si mesma como sujeito mas não como mero predicado não traz consigo qualquer realidade i e não haveria como saber se algum objeto poderia em geral perten cerlhe já que não discernimos a possibilidade de tal modo de existir e não adviria daí portanto absolutamente nenhum conhecimento Se no entanto esse conceito indicar sob a denominação de uma subs tância um objeto que pode ser dado se ele tornarse um conhecimen to então uma intuição permanente como condição indispensável da realidade objetiva de um conceito i e como aquilo que faz com que um objeto seja dado tem de ser colocada como fundamento Na intui ção interna porém nós não temos nada de permanente pois o eu é apenas a consciência de meu pensar faltanos assim se quisermos fi car apenas no pensamento a condição necessária para aplicar o con ceito de substância i e de um sujeito subsistente por si mesmo a si mesmo como ser pensante e a simplicidade da substância a isso liga da juntamente com a realidade objetiva desse conceito fica inteira mente excluída e se transforma em uma unidade qualitativa mera mente lógica da autoconsciência no pensamento em geral quer o su jeito seja composto ou não Refutação da prova mendelsohniana da permanência da alma Esse arguto filósofo logo notou no argumento habitual que deve ria provar que a alma caso se assuma que ela é um ser simples não pode deixar de existir por decomposição uma insuficiência quanto ao propósito de assegurarlhe a necessária durabilidade já que se po B 412 B 413 309 deria supor uma cessação de sua existência pelo desaparecimento Em seu Fédon ele procurou afastála dessa perecibilidade que pode ria ser uma verdadeira aniquilação dedicandose a provar que um ser simples não poderia em absoluto deixar de existir pois como ele não pode ser reduzido nem portanto perder aos poucos a sua existência B 414 e ser assim gradativamente reduzido a nada já que em si ele não tem partes nem portanto uma pluralidade não poderia haver ne nhum tempo entre um instante em que ele existe e outro em que ele já não existe o que é impossível Mas ele não considerou que mes mo atribuindo à alma essa natureza simples segundo a qual com efei to ela não contém um diverso de partes umas fora das outras portan to nenhuma quantidade extensiva não se lhe poderia negar assim como a qualquer ser existente uma quantidade intensiva i e um grau de realidade no que diz respeito a todas as suas faculdades e mesmo em geral a tudo aquilo que constitui sua existência grau este que pode diminuir passando por todos os infinitamente diversos graus menores e a suposta substância a coisa cuja permanência ainda não foi estabelecida de outro modo poderia transformarse em nada não pela decomposição mas pela gradativa atenuação remissio de suas forças portanto pela elanguescência se me for permitido empregar esta expressão Pois mesmo a consciência portanto a faculdade de ser consciente de si mesmo e assim todas as demais faculdades têm B 415 sempre um grau que pode ser ainda diminuído64 Assim a permanên cia da alma como mero objeto do sentido interno permanece incom provada e mesmo incomprovável ainda que a permanência na vida em que o ser pensante como ser humano é ao mesmo tempo um ob jeto dos sentidos externos seja clara por si mesma com o que toda via o psicólogo racional não honra o seu propósito de demonstrar 64 A clareza não é como dizem os lógicos a consciência de uma representação pois um certo grau de clareza que não baste para a rememoração pode ser encontrado até mesmo em mui tas representações obscuras já que sem consciência alguma nós não faríamos qualquer dis B 415 tinção na ligação de representações obscuras e isto é algo que conseguimos fazer quanto às características de muitos conceitos como aqueles do direito e da equidade ou do músico que no fantasiar compreende muitas notas ao mesmo tempo Uma representação é clara isto sim quando a consciência é nela suficiente para a consciência da diferença entre ela e as demais Se ela é suficiente para a distinção mas não para a consciência da distinção então a representação teria ainda de ser denominada obscura Há incontáveis graus da consciência portanto até o seu desaparecimento NA 310 por meros conceitos a absoluta permanência dela nem mesmo para além da vida65 B 416 Se no entanto tomamos nossas proposições acima em uma inter conexão sintética que é como elas têm de ser tomada também en quanto válidas para todos os seres pensantes na psicologia racional como sistema e a partir da categoria de relação retrocedemos na sé B 417 rie delas até que o círculo se feche com a proposição todos os seres pensantes enquanto tais são substâncias então acabamos por depa rar com a existência dos mesmos de que eles próprios neste sistema não apenas são conscientes independentemente das coisas externas B 418 mas também podem determinar estas últimas em relação à perma nência que pertence necessariamente ao caráter da substância a par tir de si mesmos Disso se segue contudo que nesse mesmo sistema 65 Aqueles que acreditam ter feito o suficiente para abrir uma nova possibilidade quando insis tem que ninguém poderia mostrar qualquer contradição em suas pressuposições tal como é comum àqueles que acreditam discernir a possibilidade de um pensamento do qual só têm um exemplo nas intuições empíricas da vida humana mesmo após a sua cessação podem ser levados a um grande embaraço através de outras possibilidades que não são em nada mais audaciosas E desse tipo a possibilidade da divisão de uma substância simples em mui tas outras substâncias e inversamente a confluência coalizão de muitas em uma simples Pois embora a divisibilidade pressuponha um composto ela não exige necessariamente um composto de substâncias mas apenas de graus das diversas faculdades de uma e mesma substância Assim como se pode pensar todas as forças e faculdades da alma inclusive a da consciência como cortadas pela metade mas de tal modo que continue sempre havendo subs tância assim também se poderia representar sem contradição que a metade cortada se con serva não nela mas fora dela e na medida em que foi cortado pela metade tudo o que é nela real e tem um grau portanto toda a sua existência sem que nada faltasse então surgiria fora dela uma outra substância particular Pois a pluralidade que foi dividida já existia antes mas não como pluralidade de substâncias e sim como quantum de existência em cada realidade e a unidade da substância era apenas um modo de existir que através dessa divisão transfor B 417 mouse em uma variedade de subsistências Desse mesmo modo porém também diversas substâncias simples poderíam por seu tumo confluir em uma e nada se perdería com isso a não ser a variedade de subsistências na medida em que essa uma conteria em si um grau da realidade de todas as anteriores e talvez as substâncias simples que nos dão o fenômeno de uma matéria pudessem por meio de uma semelhante divisão dinâmica das almaspais produ zir almascrianças como quantidades intensivas à medida que aquelas por seu turno compen sassem sua redução através da coalizão com novos materiais de mesmo tipo Estou bem longe de atribuir o mínimo valor ou validade a semelhantes fantasias e os princípios da analítica acima já deixaram bem claro que não se deve fazer nenhum outro uso das categorias como aquela da substância a não ser na experiência Se o racionalista contudo é suficientemente atrevido para sem nenhuma intuição permanente pela qual fosse dado um objeto fazer da mera faculdade de pensar um ser subsistente por si mesmo apenas porque a unidade da aper B 418 cepção no pensamento não lhe permite nenhuma explicação a partir do composto em vez de admitir como seria melhor que não sabe explicar a natureza de uma natureza pensante por que não deve o materialista mesmo sem poder aduzir experiência alguma às suas possibili dades ter direito ao mesmo atrevimento e empregar o seu princípio com apoio na unidade formal do primeiro para um uso oposto NA 311 racionalista o idealismo é ao menos em sua versão problemática ine vitável e se a existência das coisas externas não é exigível para a deter minação da sua própria no tempo aquela é admitida de maneira intei ramente fortuita sem que se possa jamais oferecer uma prova dela Se pelo contrário seguimos o procedimento analítico em que o eu penso como uma proposição que já encerra em si uma existên cia serve de fundamento e com ele portanto a modalidade e o decomponho para conhecer seu conteúdo i e se e como esse eu determina sua existência simplesmente assim no tempo ou no espa ço então as proposições da doutrina racional da alma não começariam pelo conceito de um ser pensante em geral mas por uma realidade e a partir do modo como esta é pensada depois de abstraído tudo o que é B 419 nela empírico deduzindose assim tal como mostra a seguinte tábua o que corresponde a um ser pensante em geral 1 Eu penso 2 Como sujeito 3 Como sujeito simples 4 Como sujeito idêntico em cada estado de meu pensamento Como na segunda proposição todavia não é aqui determinado se eu somente poderia existir ou ser pensado como sujeito e não como predicado de um outro então o conceito de um sujeito é tomado aqui apenas logicamente permanecendo indeterminado se se deveria ou não entender sob ele uma substância Na terceira proposição porém a unidade absoluta da apercepção na representação o eu simples a que se refere toda ligação ou separação que constitui o pensamento também se torna importante por si mesmo mesmo que eu ainda não tenha estabelecido nada sobre a constituição ou subsistência do sujei to A apercepção é algo real cuja simplicidade já está em sua possibili dade Agora não há nada real no espaço que também seja simples pois os pontos que constituem o único simples no espaço são meros limites e não algo que servisse como uma parte para constituir o es 312 paço Disso se segue portanto a impossibilidade de uma explicação da minha constituição como sujeito meramente pensante a partir dos fundamentos do materialismo Como no entanto a minha exis tência é considerada como dada na primeira proposição já que ela não diz que todo ser pensante existe isto seria atribuir também ne cessidade absoluta portanto coisa demais a eles mas apenas que eu existo pensando então essa proposição é empírica e contém a deter minabilidade de minha existência somente em relação às minhas re presentações no tempo Mas como eu por meu turno preciso para isso antes de tudo de algo permanente que até onde eu possa pen sarme não me é dado de modo algum na intuição interna então o modo como existo se como substância ou acidente não pode em absoluto ser determinado por meio dessa autoconsciência simples Se o materialismo portanto não serve para explicar minha existên cia o espiritualismo é igualmente incapaz de explicála e a conclusão é que não podemos de forma alguma seja esta qual for conhecer algo a respeito da constituição de nossa alma que diga respeito à possibili dade de sua existência separada em geral E como seria possível de fato que pudéssemos ir além da expe riência nossa existência na vida através da unidade da consciência que só conhecemos na medida em que dela precisamos indispensa velmente para a possibilidade da experiência em geral e assim esten der nosso conhecimento à natureza de todos os seres pensantes em geral através da proposição eu penso que é empírica mas indeter minada em relação a todo tipo de intuição A psicologia racional não existe portanto como uma doutrina que nos proporcionasse um acréscimo a nosso autoconhecimento mas apenas como uma disciplina que estabelece limites intransponí veis à razão especulativa nesse campo para que por um lado ela não se jogue nos braços do materialismo sem alma e por outro para que não se perca divagando no espiritualismo sem fundamento e que nos lembra de enxergar essa recusa de nossa razão em dar uma resposta satisfatória às perguntas curiosas que se estendem para além desta vida como um aceno seu para transferirmos o nosso autoconheci mento da infrutífera e extravagante especulação para o frutífero uso prático que mesmo estando sempre pautado pelos objetos da expe riência extrai seus princípios de fontes mais elevadas e determina o B 420 B 421 313 comportamento como se nossa destinação se estendesse infinitamen te além da experiência portanto além desta vida A partir de tudo isso se vê qúè um mero malentendido deu ori gem à psicologia racional A unidade da consciência que serve de fun damento às categorias é tomada aí por uma intuição do sujeito como b 422 objeto e a categoria de substância é aplicada a ela Ela é apenas no entanto a unidade no pensamento pela qual nenhum objeto é dado e à qual portanto não pode ser aplicada a categoria de substância que sempre pressupõe uma intuição dada nem pode esse sujeito pois ser as sim conhecido O sujeito das categorias não pode portanto pelo fato de pensálas obter um conceito de si mesmo como um objeto das categori as pois para pensálas ele tem de colocar como fundamento a sua auto consciência pura que deveria contudo ter sido esclarecida Do mesmo modo o sujeito no qual a representação do tempo tem o seu funda mento originário não pode determinar dessa maneira a sua própria existência no tempo e se esta última não é possível também a pri meira enquanto determinação de si mesmo através das categorias como ser pensante em geral não pode ter lugar66 B 423 Assim desaparece pois em uma expectativa frustrada o conheci mento que confiado à razão especulativa era buscado para além dos li mites da experiência possível e no entanto pertencia ao mais elevado 66 O eu penso como já dito é uma proposição empírica e contém em si a proposição eu exis to Mas eu não posso dizer tudo o que pensa existe pois nesse caso a propriedade de pen sar tornaria todo ser que a possui em um ser necessário Também a minha existência portan to não pode como defendia Descartes ser considerada como decorrente da proposição eu penso pois então a premissa maior tudo o que pensa existe teria de antecedêla mas é idêntica a ela Ela exprime uma intuição empírica indeterminada i e uma percepção pro B 423 vando todavia portanto que já a sensação que pertence assim à sensibilidade serve de fun damento a essa proposição existencial mas antecede a experiência que deve determinar o objeto da percepção através da categoria em relação ao tempo e a existência aqui não é ainda uma categoria que não se refere a um objeto dado indeterminadamente mas a um de que se tem o conceito e do qual se quer saber se também é posto fora desse conceito ou não Uma percepção indeterminada significa apenas aqui algo real que foi dado e apenas para o pensamento em geral portanto não como fenômeno nem como coisa em si mesma núme no mas sim como algo que de fato existe e é caracterizado como tal na proposição eu pen so Pois é preciso notar que quando denominei empírica a proposição eu penso não quis dizer com isso que o eu seja uma representação empírica nessa proposição ela é antes pura mente intelectual pois pertence ao pensamento em geral Sem alguma representação empí rica contudo para fornecer material ao pensamento o actus eu penso não teria lugar e o empírico é somente a condição da aplicação ou do uso da faculdade intelectual pura NA 314 interesse da humanidade com isso todavia o esforço da crítica em pro var também a impossibilidade de estabelecer algo dogmaticamente so bre um objeto da experiência para além dos limites desta presta um serviço nada desprezível à razão no que diz respeito a esse seu interes se ao colocála em segurança contra todas as possíveis afirmações do contrário o que não pode acontecer de outro modo a não ser provando a sua proposição apoditicamente ou caso não se consiga isto exami nando as fontes dessa incapacidade que caso repousem nos limites ne cessários de nossa razão devem submeter cada adversário à mesma lei de renunciar a toda pretensão de afirmação dogmática Apesar disso a prerrogativa ou mesmo a necessidade de assu mir uma vida futura segundo princípios do uso prático da razão que se liga ao especulativo não é aqui minimamente prejudicada pois a prova meramente especulativa nunca pôde ter qualquer influência so bre a razão humana comum Ela é tão cheia de sutilezas67 que mesmo as escolas só podem mantêla enquanto a façam girar incessantemen te em torno de si mesma como um pião de modo que a seus próprios olhos ela não fornece uma fundação permanente sobre a qual se pu desse edificar algo As provas que são úteis para o mundo conservam aqui o seu valor integral ganhando inclusive com o afastamento da quelas pretensões dogmáticas em clareza e convicção sincera já que colocam a razão em sua região própria qual seja a ordem dos fins que é ao mesmo tempo todavia uma ordem da natureza e ela se vê então autorizada enquanto a faculdade prática em si mesma e sem estar limitada às condições desta última ordem a estender aquela pri meira e com ela nossa própria existência para além dos limites da ex periência e da vida Segundo a analogia com a natureza dos seres vi vos neste mundo nos quais a razão tem de supor como princípio que não pode ser encontrado nenhum órgão nenhuma faculdade nenhum impulso portanto nada que seja dispensável ou desproporcional pa ra o uso portanto nada não conforme a fins mas sim julgar pelo con trário que tudo tem de ser adequado à sua destinação na vida o ser humano o único que pode conter em si o derradeiro fim último de tudo isso teria de ser a única criatura daí excetuada Pois as suas dis 67 Kant usou aqui uma metáfora so auf einer Haarespitze gestellt Literalmente poderseia traduzila assim tão assentada em uma ponta de cabelo Optamos por eliminar a metáfora e tomar a passagem compreensível em português NT B 424 B 425 315 posições naturais não apenas segundo os talentos e impulsos para delas fazer uso mas sobretudo a lei moral nele vão de tal modo além de toda utilidade ou vantagem que ele poderia obter nesta vida que a lei moral ensina até mesmo a estimar a mera consciência da probida B 426 de da intenção mesmo na ausência de qualquer vantagem ou da vai dade da falsa fama como superior a tudo e a sentirse internamente chamado a através de seu comportamento neste mundo e renuncian do a muitas vantagens tornarse cidadão de um mundo melhor que ele tem na ideia Esta poderosa demonstração jamais refutável acom panhada de um conhecimento sempre crescente da conformidade a fins em tudo o que vemos diante de nós e por um olhar sobre a inco mensurabilidade da criação portanto também pela consciência de uma certa ausência de limites na possível ampliação de nossos conhe cimentos juntamente com um impulso a esta adequado permanecem válidos mesmo quando temos de abrir mão de discernir a necessária continuação de nossa existência a partir do conhecimento meramen te teórico de nós mesmos Conclusão da solução do paralogismo psicológico A ilusão dialética na psicologia racional se baseia na confusão de uma ideia da razão de uma inteligência pura com o conceito inteira mente indeterminado de um ser pensante em geral Em favor de uma experiência possível eu me penso fazendo abstração de toda expe riência real e disso concluo que eu poderia tornarme consciente de b 427 minha existência mesmo fora da experiência e de suas condições em píricas Consequentemente confundo a abstração possível de minha existência empiricamente determinada com a suposta consciência de uma possível existência separada de meu eu pensante e acredito co nhecer o substancial em mim como sujeito transcendental na medi da em que apenas tenho no pensamento a unidade da consciência que serve de fundamento como mera forma do conhecimento a todo determinar A tarefa de explicar a comunidade da alma com o corpo não per tence realmente a essa psicologia de que estamos falando aqui pois ela tem o propósito de provar a personalidade da alma também fora dessa comunidade após a morte e portanto é transcendente em 316 sentido próprio mesmo que se ocupe com um objeto Objekt da ex periência ainda que apenas na medida em que ele cesse de ser um ob jeto Gegenstand da experiência Entretanto também com a nossa doutrina pode ser dada uma resposta satisfatória a essa questão A di ficuldade deixada por essa tarefa consiste como é sabido na hetero geneidade pressuposta do objeto do sentido interno a alma em rela ção aos objetos dos sentidos externos no sentido de que apenas o tempo é inerente àquele como condição formal de sua intuição ao passo que a estes apenas o espaço o é Caso se considere contudo que aqui ambos os tipos de objetos não se distinguem internamente um do outro mas apenas pelo modo como um aparece externamente ao outro e que portanto aquilo que serve de fundamento ao fenôme no da matéria como coisa em si mesma talvez não tenha de ser tão he terogêneo então desaparece essa dificuldade e não resta nenhuma outra a não ser a de como é em geral possível uma comunidade de substâncias uma dificuldade cuja solução está inteiramente fora do campo da psicologia e como o leitor poderá facilmente julgar a par tir daquilo que foi dito na analítica das forças fundamentais e das fa culdades reside sem nenhuma dúvida também fora do campo de todo conhecimento humano Observação geral concernente à passagem da psicologia racio nal à cosmologia A proposição eu penso ou eu existo pensando é uma propo sição empírica É a intuição empírica no entanto portanto também o objeto pensado como fenômeno que serve de fundamento a ela e por isso parece que segundo a nossa teoria a alma se transformaria intei ramente em fenômeno inclusive no pensamento e desse modo mes mo a nossa consciência como mera ilusão não poderia na verdade re ferirse a nada Tomado em si mesmo o pensamento é apenas a função lógica portanto a pura espontaneidade da ligação do diverso de uma intui ção meramente possível e de modo algum apresenta o sujeito da consciência como fenômeno meramente porque não leva em conta o modo da intuição se ela é sensível ou intelectual Desse modo eu não me represento a mim mesmo nem como sou nem como me apare ço mas me penso apenas como um objeto em geral de cujo modo de B 428 B 429 317 intuição faço abstração Se me represento aqui como sujeito dos pen samentos ou mesmo como fundamento do pensamento esses modos de representação não significam a categoria de substância ou de cau sa pois estas são aquelas funções do pensamento do juízõ já aplica das à nossa intuição sensível e seriam certamente exigidas se eu qui sesse me conhecer O que eu quero no entanto é ser consciente de mim apenas como pensante deixo de lado como meu próprio eu seja dado na intuição e então ele poderia aparecer a mim que penso em bora não enquanto penso como mero fenômeno na consciência de mim mesmo no mero pensamento sou o ser em si mas dele não me é dado absolutamente nada no pensamento Na medida em que diz apenas que eu existo pensando porém a proposição eu penso não é uma mera função lógica mas determina o sujeito que é então também objeto em relação à existência e não pode ter lugar sem o sentido interno cuja intuição nunca fornece o b 430 objeto como coisa em si mas apenas como fenômeno Nela portanto já não há somente a mera espontaneidade do pensamento mas tam bém a receptividade da intuição i e o pensamento de mim mesmo aplicado à intuição empírica desse mesmo sujeito É nesta última portanto que o eu pensante teria de procurar pelas condições do uso de suas funções lógicas para as categorias de substância causa etc para não apenas designarse como objeto em si mesmo através do eu mas também determinar o modo de sua existência i e conhecerse como númeno o que no entanto é impossível já que a intuição em pírica interna é sensível e só proporciona dados do fenômeno que nada pode fornecer ao objeto da consciência pura para o conhecimen to de sua existência separada mas apenas pode servir para os propó sitos da experiência Supondose porém que houvesse na sequência não na expe riência mas em certas leis do uso puro da razão regras não mera mente lógicas concernentes à nossa existência e válidas a priori a oportunidade de pressupornos como legisladores inteiramente a prio ri em relação à nossa própria existência e também como determinan tes dela então se descobriria desse modo uma espontaneidade pela qual nossa realidade seria determinável sem necessidade de recorrer às condições da intuição empírica e aqui nos daríamos conta de que na consciência de nossa existência está contido algo a priori que pode servir para determinar nossa existência que só é completa 318 mente determinável na sensibilidade no que diz respeito a uma cer ta faculdade interna em relação a um mundo inteligível por certo apenas pensado Mas isto não levaria nem um pouco adiante as pesquisas na psico logia racional Eu certamente teria por meio daquela admirável facul dade que primeiramente me revela a consciência da lei moral um princípio da determinação de minha existência Mas através de quais predicados Somente através daqueles que têm de ser dados a mim na intuição sensível o que me levaria de volta ao ponto em que eu es tava na psicologia racional qual seja a necessidade de intuições sen síveis para dar significado aos meus conceitos do entendimento como substância causa etc os únicos pelos quais posso ter um conheci mento de mim mesmo mas essas intuições não poderão jamais aju darme a ir além do campo da experiência Em relação ao uso prático por outro lado que está sempre direcionado aos objetos da experiên cia eu estaria autorizado a aplicar tais conceitos em conformidade com o significado análogo no uso teórico à liberdade e ao seu sujeito na medida em que entenda por isso apenas as funções lógicas do sujei to e do predicado do fundamento e da consequência de acordo com as quais as ações ou os efeitos conformes a essas leis são determina dos de tal modo que podem ser explicados juntamente com as leis da natureza em conformidade com as categorias de substância e de cau sa mesmo que se originem de um princípio inteiramente diverso Isto só teve de ser dito para prevenir o malentendido a que está facilmen te exposta a doutrina de nossa autointuição como fenômeno No que segue teremos oportunidade de fazer uso disso Primeiro capítulo Dos paralogismos da razão pura continuação do texto da edição A68 Primeiro paralogismo Da substancialidade Aquilo cuja representação é o sujeito absoluto de nossos juízos e portanto não pode ser usada como determinação de outra coi sa é a substância 68 Como dito anteriormente apresentamos agora o texto original edição A dos Paralogis mos tal como ele continuava a partir de A 348 B 406 NT B 431 B 432 319 Eu como ser pensante sou o sujeito absoluto de todos os meus juízos possíveis e esta representação de mim mesmo não pode ser usada como predicado de alguma outra coisa Logo eu como ser pensante alma sou substância Crítica do primeiro paralogismo da psicologia pura Nós mostramos na parte analítica da lógica transcendental que as categorias puras e entre estas também a de substância não têm qualquer significado objetivo em si mesmas se não subjaz a elas uma A 349 intuição a cujo diverso elas podem ser aplicadas como funções da uni dade sintética Sem isso elas não passam de funções de um juízo sem conteúdo Eu posso dizer de uma coisa em geral que ela é uma subs tância se posso diferenciála de meros predicados e determinações das coisas Agora em todo o nosso pensamento o eu é o sujeito a que os pensamentos só são inerentes como determinações e esse eu não pode ser empregado como a determinação de uma outra coisa Todos têm de considerarse necessariamente portanto a si mesmos como a substância e ao pensamento por outro lado apenas como acidentes de sua existência e determinações de seu estado Que uso posso fazer contudo desse conceito de substância Que eu perdure por mim mesmo como um ser pensante e não surja nem desapareça naturalmente isto é algo que absolutamente não posso concluir a partir dele e é apenas para isso no entanto que pode ser vir o conceito da substancialidade de meu sujeito pensante que sem isso eu poderia perfeitamente dispensar Falta tanto para que se possa inferir essas propriedades da mera categoria pura de uma substância que nós temos antes se quisermos aplicar o conceito empiricamente utilizável de substância a um dado objeto da experiência de colocar a permanência desse objeto como fundamento Em nossa proposição contudo não colocamos qualquer experiência como fundamento mas apenas inferimos algo a partir do a 350 conceito da relação que todo pensamento tem com o eu enquanto o su jeito comum a que é inerente Nós também não poderíamos mesmo que o tentássemos estabelecer tal permanência por meio de uma ob servação segura Pois o eu está de fato em todos os pensamentos mas não há qualquer intuição ligada a essa representação que o diferenci 320 asse de outros objetos da intuição Embora se possa portanto perce ber que essa representação sempre volta a aparecer em todo pensamen to não se percebe que ela seja uma intuição firme e permanente na qual os pensamentos como modificáveis mudassem Disso se segue que o primeiro silogismo da psicologia transcen dental nos trouxe apenas um suposto discernimento novo ao propor o sujeito lógico constante para o conhecimento do sujeito real da ine rência do qual não temos nem poderíamos ter o menor conhecimen to já que a consciência é a única capaz de transformar todas as repre sentações em pensamentos e é nela como sujeito transcendental portanto que têm de ser encontradas todas as nossas percepções e além desse significado lógico do eu nós não temos qualquer conheci mento do sujeito em si mesmo que como substrato servisse de fun damento tanto a esse como a todos os demais pensamentos Entretan to podese perfeitamente deixar valer a proposição a alma é uma substância desde que se admita que este nosso conceito não nos leva minimamente adiante nem pode ensinar as habituais deduções da doutrina sofística da alma como por exemplo a sua duração con tínua face a todas as transformações e mesmo face à morte do ser hu mano desde que se reconheça portanto que ele designa uma subs tância apenas na ideia mas não na realidade Segundo paralogismo da simplicidade Aquela coisa cuja ação não pode jamais ser considerada como a concorrência de muitas coisas atuantes é simples Agora a alma ou o ser pensante é tal coisa Logo etc Crítica do segundo paralogismo da psicologia transcendental Este é o calcanhar de Aquiles de todas as inferências dialéticas da doutrina pura da alma Não meramente um jogo sofístico inventado por algum dogmático para dar uma respeitabilidade momentânea a suas afirmações mas uma inferência que parece suportar o mais acu rado exame e a mais escrupulosa investigação Eilo aqui A 351 321 Toda substância composta é um agregado de muitas substâncias e a ação de um composto ou aquilo que lhe é inerente enquanto tal é um agregado de muitas ações ou acidentes distribuídos sob a variedade de substâncias Agora um efeito que surge da concorrência de muitas A 352 substâncias atuantes é possível de fato quando é apenas externo como o movimento de um corpo por exemplo é o movimento unifi cado de todas as suas partes Com os pensamentos porém enquanto acidentes internamente pertencentes a um ser pensante passase al go diverso Pois suponham que o composto pensasse cada parte do mesmo conteria uma parte do pensamento e apenas todas elas toma das em conjunto conteriam o pensamento inteiro Mas isto é contradi tório Pois uma vez que as representações distribuídas entre os dife rentes seres as palavras singulares de um verso por exemplo jamais constituem um pensamento inteiro um verso o pensamento não pode ser inerente a um composto enquanto tal Ele só é possível as sim em uma substância que não é um agregado de muitas mas sim portanto uma substância absolutamente simples69 O assim chamado nervus probandi desse argumento reside na proposição de que muitas representações têm de estar contidas na unidade absoluta do sujeito pensante para constituir um pensamen to Ninguém no entanto pode provar esta proposição a partir de con ceitos Pois por onde se teria de começar para levar isso a cabo A a 353 proposição um pensamento só pode ser o efeito da unidade absoluta do ser pensante não pode ser tratada como analítica Pois a unidade do pensamento que se constitui de muitas representações é coletiva e pode segundo os meros conceitos referirse tanto à unidade coletiva das substâncias aí coatuantes como o movimento de um corpo é o movimento composto de todas as suas partes como à unidade abso luta do sujeito Segundo a regra da identidade portanto não pode ser discernida a necessidade da pressuposição de uma substância sim ples em um pensamento composto Que a mesma proposição contu do deva ser conhecida sintética e inteiramente a priori a partir de puros conceitos isto é algo com que não se comprometerá quem tiver 69 É muito fácil dar a essa prova a habitual vestimenta da precisão escolástica Para os meus propósitos porém é suficiente tornar a demonstração visível ainda que de um modo po pular NA 322 discernido o fundamento de possibilidade das proposições sintéticas a priori tal como apresentado acima Também é impossível contudo derivar essa unidade necessária do sujeito como a condição de possibilidade de cada pensamento a partir da experiência Pois esta não dá a conhecer qualquer necessi dade sem falar que o conceito de unidade absoluta está muito além da sua esfera De onde extraímos então essa proposição na qual se baseia todo o silogismo psicológico É evidente que quando se quer representar um ser pensante é preciso colocarse a si mesmo em seu lugar e portanto subordinar seu próprio sujeito ao objeto que se está considerando o que não é o caso em nenhum outro tipo de investigação e que nós só exigimos unidade absoluta do sujeito para um pensamento porque do contrário não se poderia dizer eu penso o diverso em uma representação Pois ainda que o todo do pensamento pudesse ser dividido e distribuí do entre muitos sujeitos o eu subjetivo não pode ser dividido e distri buído e isto é o que pressupomos em todo pensamento Assim a proposição formal da apercepção eu penso permane ce aqui como no paralogismo anterior a única razão pela qual a psi cologia racional se arrisca a ampliar seus conhecimentos proposição esta que embora não seja por certo uma experiência mas a forma da apercepção que antecede e é inerente a toda experiência só pode ser considerada como mera condição subjetiva da mesma em relação a um conhecimento possível em geral uma condição que equivocada mente transformamos em condição de possibilidade de um conheci mento dos objetos em geral i e em um conceito de ser pensante em geral porque não podemos representarnos este último sem colocar nos a nós mesmos com a fórmula de nossa consciência no lugar de todos os demais seres inteligentes A simplicidade de mim mesmo como alma no entanto também não é de fato inferida da proposição eu penso mas já reside em todo pensamento A proposição eu sou simples tem de ser conside rada como uma expressão imediata da apercepção do mesmo modo como a suposta inferência cartesiana cogito ergo sum é na verdade tautológica ao passo que o cogito sum cogitans exprime imediata mente a realidade Eu sou simplessignifica apenas no entanto que A 354 A 355 323 1 A 356 A 357 a representação eu não abarca em si a mínima diversidade e é uma unidade absoluta embora apenas lógica A tão conhecida prova psicológica está fundada apenas portanto na unidade indivisível de uma representação que somente conduz o verbo em relação a uma pessoa É evidente no entanto que através do eu inerente ao pensamento o sujeito da inerência só é designado transcendentalmente sem que seja notada a mínima propriedade do mesmo ou que algo seja dele conhecido ou sabido Ele significa um algo em geral sujeito transcendental cuja representação tem de ser simples com certeza justamente porque nada se determina nele pois nada pode ser determinado de maneira mais simples do que através do conceito de um mero algo A simplicidade da representação de um sujeito contudo não é por isso um conhecimento da simplicidade do próprio sujeito já que se faz completa abstração de suas propriedades quando ele é designado apenas pela expressão inteiramente vazia de conteúdo eu que pode ser aplicada a todo sujeito pensante E bem certo que com o eu penso sempre uma unidade absoluta mas lógica do sujeito simplicidade mas não que conheça através disso a efetiva simplicidade de meu sujeito Do mesmo modo como a proposição eu sou uma substância significava apenas a categoria pura de que posso fazer uso empírico in concreto estou autorizado a dizer eu sou uma substância simples i e uma cuja representação jamais contém uma síntese do diverso mas este conceito ou mesmo esta proposição não nos ensina nada com relação a mim mesmo co mo objeto da experiência já que o próprio conceito de substância só é utilizado como função da síntese sem intuição subjacente portanto sem objeto e só vale a respeito da condição de nosso conhecimento não de algum objeto que pudesse ser dado Faremos um experimento quanto à suposta utilidade dessa proposição Todos têm de reconhecer que a afirmação da natureza simples da alma só pode ter algum valor na medida em que eu possa por meio dela distinguir esse sujeito de toda matéria e por conseguinte reti rarlhe a volatilidade a que esta última está sempre submetida A pro posição acima também é inteiramente apropriada para este uso ex primindose muitas vezes assim a alma não é corpórea Se eu puder mostrar agora que mesmo concedendose toda validade objetiva a essa proposição cardeal da doutrina racional da alma tudo o que 324 pensa é substância simples no sentido puro de um mero juízo da ra zão a partir de categorias puras não se poderia fazer nenhum uso dessa proposição no que diz respeito à heterogeneidade ou homoge neidade da alma em relação à matéria então isto significaria apenas que eu transferi essa suposta unidade psicológica para o campo das meras ideias onde falta a realidade do uso objetivo Nós provamos na estética transcendental de maneira irrefutável que os corpos são meros fenômenos de nosso sentido externo e não coisas em si mesmas De acordo com isso podemos dizer com razão que o nosso sujeito pensante não é corpóreo i e que como ele nos é apresentado como um objeto do sentido interno ele não poderia na medida em que pensa ser um objeto do sentido externo i e um fe nômeno no espaço Isto quer dizer apenas que seres pensantes não podem nunca enquanto tais aparecer a nós entre os fenômenos ex ternos ou não podemos intuir externamente seus pensamentos sua consciência seus desejos etc pois tudo isso pertence ao sentido in terno Na verdade este parece também o argumento natural e popular em que mesmo o entendimento comum parece ter desde sempre caí do e por meio do qual começou já desde cedo a considerar as almas como seres inteiramente distintos dos corpos Ainda que em todo caso a extensão a impenetrabilidade a con catenação e o movimento em suma tudo aquilo que os nossos senti dos podem oferecernos não sejam nem contenham pensamentos sentimento inclinação ou decisão coisas que jamais são objetos da intuição externa ainda assim aquele algo que serve de fundamento aos fenômenos externos que afeta nossos sentidos de tal modo que ele recebe as representações do tempo da matéria da figura etc po deria considerado como númeno ou melhor como objeto transcen dental ser ao mesmo tempo o sujeito dos pensamentos por mais que nós não recebamos pelo modo como nosso sentido externo é afetado intuições de representações vontades etc mas apenas do espaço e de suas determinações Este algo contudo não é extenso não é impene trável não é composto pois todos esses predicados só dizem respeito à sensibilidade e sua intuição na medida em que sejamos afetados por semelhantes objetos de resto desconhecidos para nós Tais expres sões no entanto não permitem conhecer nada acerca do que ele seja como objeto mas apenas indicam que a ele considerado em si mesmo A 358 325 A 359 sem referência aos sentidos externos não se pode atribuir tais predi cados dos fenômenos externos Se a matéria fosse uma coisa em si mesma ela se distinguiria in teiramente como um ser composto da alma como um ser simples Ocorre no entanto que ela é um mero fenômeno externo cujo subs trato não é conhecido por meio de nenhum predicado que pudesse ser dado posso perfeitamente supor portanto que este é em si sim ples ainda que de fato do modo como afeta nossos sentidos e produz em nós a intuição do extenso e portanto do composto e posso supor que na substância em si mesma portanto à qual pertence a extensão relativamente ao nosso sentido externo residem pensamentos que po dem ser representados com consciência através do seu próprio sentido interno Desse modo aquilo que em uma relação é corpóreo seria ao mesmo tempo em outra relação um ser pensante cujo pensamento não podemos de fato intuir mas cujos sinais podemos intuir em um fe nômeno Cairia assim a expressão segundo a qual apenas as almas pen sam como tipos especiais de substâncias dirseia antes como de hábi A 360 to que os seres humanos pensam i e que aquilo mesmo que é exten so como fenômeno externo seria um sujeito internamente em si mes mo o qual não é composto mas simples e pensa Sem permitirse semelhantes hipóteses contudo podese obser var em geral que se entendo por alma um ser pensante em si mesmo a questão já é em si inapropriada a saber se ela é ou não de mesmo tipo que a matéria que absolutamente não é uma coisa em si mesma mas apenas um tipo de representações em nós pois já é evidente por si mesmo que uma coisa em si mesma é de uma natureza diversa das determinações que apenas constituem o seu estado Se no entanto comparamos o eu pensante não com a matéria mas com o inteligível que serve de fundamento ao fenômeno externo que denominamos matéria então também não podemos dizer já que não sabemos nada do último que em algum ponto a alma se distin gue dele internamente De acordo com isso pois a consciência simples não é um conhe cimento da natureza simples de nosso sujeito na medida em que este deva ser através dela distinguido da matéria como um ser composto 326 Se esse conceito contudo não serve para determinar no único caso em que é útil a saber na comparação de mim mesmo com os ob jetos da experiência externa o que é próprio e distinto em sua nature za podese sempre pretender saber que o eu pensante a alma um nome para o objeto transcendental do sentido interno é simples por isso mesmo no entanto essa expressão não teria qualquer uso exten sível a objetos reais e não poderia portanto ampliar sequer minima mente o nosso conhecimento Desse modo cai por terra toda a psicologia racional com sua base de sustentação e aqui nós podemos esperar tão pouco quanto jamais por uma ampliação de nossos discernimentos sem referência a uma experiência possível através de meros conceitos menos ainda contu do através da mera forma subjetiva de todos os nossos conceitos a consciência até porque o conceito fundamental de uma natureza simples é do tipo que não pode ser encontrado em experiência algu ma e não há qualquer caminho portanto para chegar a ele como um conceito objetivamente válido Terceiro paralogismo da personalidade Aquilo que é consciente da identidade numérica de si mesmo em diferentes tempos é nessa medida uma pessoa Agora a alma é etc Logo ela é uma pessoa Crítica do terceiro paralogismo da psicologia transcendental Se quero conhecer a identidade numérica de um objeto externo através da experiência então prestarei atenção ao permanente do fe nômeno a que todo o restante enquanto determinação referese co mo sujeito e observarei a identidade daquele no tempo em que este se modifica Ocorre que eu sou um objeto do sentido interno e todo tempo é apenas a forma do sentido interno Consequentemente refi ro cada uma de minhas sucessivas determinações ao eu numerica mente idêntico em todo tempo i e na forma da intuição interna de mim mesmo Neste passo a personalidade da alma teria de ser consi derada não como inferida mas sim como uma proposição completa A 361 A 362 327 mente idêntica da autoconsciência no tempo e esta é também a razão pela qual ela vale a priori Pois ela diz apenas de fato que em todo o tempo em que sou consciente de mim sou consciente desse tempo como pertencente à unidade de mim mesmo e tanto faz se digo que todo esse tempo está em mim como unidade individual ou que eu me encontro em todo esse tempo com unidade numérica A identidade da pessoa portanto encontrase inevitavelmente na minha própria consciência Se me considero no entanto a partir do ponto de vista de um outro como objeto de sua intuição externa en tão esse observador externo me considera antes de tudo no tempo pois na apercepção o tempo só é efetivamente representado em mim Ele não irá portanto mesmo que o reconheça inferir a partir do eu que a todo tempo acompanha todas as representações em minha A 363 consciência e de fato com total identidade a permanência objeti va de mim mesmo Pois como nesse caso o tempo em que o observa dor me coloca não é aquele que se encontra em minha própria sensi bilidade mas sim na sua então a identidade que está necessariamen te ligada à minha consciência não está por isso ligada à sua i e à in tuição externa de meu sujeito Assim a identidade da consciência de mim mesmo em diferentes tempos é apenas uma condição formal de meus pensamentos e de sua concatenação mas não prova de modo algum a identidade numérica de meu sujeito no qual independentemente da identidade lógica do eu pode ter ocorrido uma modificação tal que não permita conservar a sua identidade ainda que permita atribuirlhe o eu homonímico que em todos os demais estados inclusive o da transformação do sujeito poderia conservar sempre o pensamento do sujeito precedente e as sim transmitilo também ao seguinte70 70 Uma bola elástica que se choca com outra igual em linha reta comunica a esta todo o seu mo vimento portanto todo o seu estado se só se levam em conta os lugares no espaço Agora suponham por analogia com semelhantes corpos substâncias tais que uma influencia as re A 364 presentações e a consciência da outra podese pensar uma série inteira das mesmas em que a primeira comunicasse o seu estado e sua consciência à segunda esta comunicasse o seu es tado juntamente com o da substância anterior à terceira e esta do mesmo modo comuni casse os estados de todas as anteriores juntamente com o seu próprio e sua consciência A última substância portanto seria consciente como de seu próprio estado de todos os esta dos das substâncias modificadas antes dela pois estes teriam sido transmitidos a ela junta mente com a consciência e apesar disso ela não teria sido a mesma pessoa em todos esses estados NA 328 Mesmo que não possa ter lugar a proposição de algumas antigas escolas segundo a qual tudo seria fluido e nada no mundo perma nente e estável ela não pode ser refutada por meio da unidade da au toconsciência caso se admitam substâncias Pois nós mesmos não po demos julgar a partir de nossa consciência se somos ou não perma nentes como alma já que só contamos como nosso eu idêntico aquilo de que somos conscientes e assim temos de julgar necessariamente que em todo o tempo durante o qual somos conscientes de nós mes mos somos exatamente os mesmos No ponto de vista de um estra nho porém não podemos considerar isso válido porque visto não en contrarmos na alma nenhum fenômeno permanente a não ser a repre sentação eu não podemos jamais estabelecer se esse eu um mero pensamento não seria tão fluido quanto os demais pensamentos que são por ele encadeados É digno de nota contudo que a personalidade e sua pressuposi ção a permanência portanto a substancialidade da alma tenham de ser provadas somente agora Pois se pudéssemos supor esta última não se seguiria decerto a perdurabilidade da consciência mas sim a possibilidade de uma consciência duradoura em um sujeito estável o que já é suficiente para a personalidade que não cessa de imediato caso por exemplo seu efeito seja interrompido por um certo tempo Nada nos dá esta permanência contudo antes da identidade numérica de nós mesmos que inferimos da apercepção idêntica é antes a partir desta que ela se deixa primeiramente inferir e dela teria de seguir an tes de tudo num procedimento correto o conceito de substância que apenas empiricamente é utilizável Como no entanto essa identidade da pessoa não se segue de modo algum da identidade do eu na cons ciência de todo o tempo durante o qual me conheço também a subs tancialidade da alma não pôde mais acima ser fundada nela Entretanto também o conceito de personalidade como os de substância e do simples pode ser mantido desde que seja meramente transcendental i e a unidade do sujeito que de resto nos é desco nhecido mas em cujas determinações há uma conexão completa atra vés da apercepção e nessa medida também é necessário e suficiente para o uso prático não mais poderemos contudo ostentálo como uma ampliação de nosso autoconhecimento através da razão pura que nos dá a ilusão de uma duração ininterrupta do sujeito a partir A 364 A 365 A 366 3 2 9 1 do mero conceito do eu idêntico pois tal conceito fica girando em tor no de si mesmo e não nos leva nem um pouco adiante no que diz res peito às questões concernentes ao conhecimento sintétieo O que a matéria seja enquanto coisa em si mesma objeto transcendental é algo inteiramente desconhecido para nós não obstante a sua perma nência como fenômeno na medida em que é representada como algo externo pode ser observada Como eu no entanto quando quero ob servar o mero eu na modificação de todas as representações não te nho nenhum outro correlato de minhas comparações a não ser eu mesmo com as condições universais de minha consciência então só posso oferecer respostas tautológicas a todas as questões introduzo o meu conceito e sua unidade entre as propriedades que pertencem a mim como objeto e pressuponho aquilo que se quer saber O quarto paralogismo da idealidade da relação externa Aquilo cuja existência só se pode inferir como uma causa para dadas percepções tem apenas uma existência duvidosa A 367 Agora todos os fenômenos externos são de tal tipo que sua existência não pode ser percebida imediatamente mas apenas in ferida como a causa de dadas percepções Logo a existência de todos os objetos dos sentidos externos é duvidosa A esta incerteza denomino a idealidade dos fenômenos externos e a doutrina dessa idealidade se denomina idealismo em comparação com o qual a afirmação de uma possível certeza dos objetos dos sentidos externos é denominada dualismo Crítica do quarto paralogismo da psicologia transcendental Primeiramente vamos submeter as premissas à prova Nós pode mos afirmar com razão que apenas aquilo que está em nós mesmos pode ser percebido imediatamente e que somente a minha própria existência pode ser objeto de uma mera percepção Portanto a existên cia de um objeto real fora de mim tomada esta palavra em sentido inte lectual nunca é dada diretamente na percepção só podendo ser intro duzida pelo pensamento e portanto inferida nesta que é uma modifi 330 cação do sentido interno como sua causa externa Por isso também Descartes com razão limitava toda percepção no sentido mais estrito à proposição eu como um ser pensante sou É evidente com efeito que se o externo não está em mim eu não posso encontrálo em minha apercepção nem tampouco na percepção a qual na verdade é tão so mente a determinação da apercepção Eu não posso portanto perceber de fato as coisas externas mas apenas inferir a sua existência a partir de minha percepção interna na medida em que considero a esta como o efeito de que algo externo é a causa mais próxima Agora a inferência de uma determinada cau sa a partir de um dado efeito é sempre incerta já que o efeito pode ter surgido de mais de uma causa Permanece sempre duvidoso portan to na relação da percepção à sua causa se esta é interna ou externa e se portanto as assim chamadas percepções externas não seriam um mero jogo de nosso sentido interno ou se de fato se referem a objetos reais externos como sua causa Seja como for a existência destes últi mos é apenas inferida e corre o risco de todas as inferências ao passo que o objeto do sentido interno eu mesmo com todas as minhas re presentações é percebido imediatamente e sua existência não é pas sível de qualquer dúvida Por um idealista não se deve entender portanto aquele que nega a existência dos objetos externos dos sentidos mas aquele que só admi te que ela seja conhecida através de percepções imediatas inferindo daí contudo que nós nunca poderemos por meio de toda experiência possível estar inteiramente seguros de sua realidade Antes porém de apresentar nossos paralogismos em sua aparên cia enganosa tenho de observar que é necessário distinguir dois ti pos de idealismo o transcendental e o empírico Por idealismo trans cendental de todos os fenômenos contudo entendo a doutrina se gundo a qual nós os consideramos em seu conjunto como meras re presentações não como coisas em si mesmas e o tempo e o espaço de acordo com isso são apenas formas sensíveis de nossa intuição e não determinações ou condições dadas por si mesmas dos objetos como coisas em si mesmas A esse idealismo se opõe um realismo transcendental que considera o tempo e o espaço como algo dado em si independentemente de nossa sensibilidade O realista transcen dental portanto se representa os fenômenos externos caso se admi A 368 A 369 331 ta a sua realidade como coisas em si mesmas que existem independen temente de nós e de nossa sensibilidade e portanto estariam fora de nós mesmo segundo os conceitos puros do entendimento É este realis ta transcendental quem realmente desempenhará o papel de idealista empírico e depois de ter equivocadamente pressuposto que os objetos dos sentidos para ser externos teriam de possuir sua existência em si mesmos ainda que sem os sentidos achará todas as nossas representa ções dos sentidos insuficientes para tornar certa a sua existência A 370 O idealista transcendental pelo contrário pode ser um realista empírico portanto um dualista tal como se costuma denominálo i e admitir a existência da matéria sem sair da mera autoconsciência e sem supor mais do que a certeza das representações em mim i e o cogi to ergo sum Fois uma vez que ele só atribui valor a essa matéria e mesmo à sua possibilidade interna enquanto fenômenos que separa dos de nossa sensibilidade não são nada então ela só é para ele um tipo de representação intuição que se denomina externa não como se se referisse a objetos em si mesmos externos mas porque se refe rem a percepções no espaço que estão todas fora umas das outras ao passo que ele o espaço está em nós Já no começo nós nos declaramos favoráveis a esse idealismo transcendental Em nossa doutrina cai por terra desse modo toda dúvida quanto a admitir e considerar provadas a partir do testemu nho de nossa mera autoconsciência tanto a existência da matéria como a existência de mim mesmo como um ser pensante Pois eu sou de qualquer modo consciente de minhas representações logo tanto estas como eu mesmo que as possuo existimos Agora os objetos ex ternos os corpos são meros fenômenos e portanto nada mais do que um tipo das minhas representações cujos objetos só são algo por meio delas e separados delas nada são Assim tanto as coisas exter A 371 nas como eu mesmo existimos e ambos de fato segundo o testemu nho imediato de minha autoconsciência com a diferença unicamente de que a representação de mim mesmo como sujeito pensante é referi da apenas ao sentido interno ao passo que as representações que de signam seres extensos também se referem aos sentidos externos No que diz respeito à realidade dos objetos externos eu tenho tão pouco a inferir necessariamente quanto no que diz respeito à realidade do obje to de meu sentido interno meus pensamentos pois só o que há de 332 ambos os lados são representações cuja percepção imediata cons ciência é ao mesmo tempo uma prova suficiente de sua realidade O idealista transcendental portanto é um realista empírico e concede à matéria como fenômeno uma realidade que não pode ser inferida mas é imediatamente percebida O realismo transcendental pelo contrário enredase necessariamente em dificuldades e se vê forçado a dar espaço ao idealismo empírico já que considera os obje tos dos sentidos externos como algo distinto dos próprios sentidos e os meros fenômenos como seres autossubsistentes que se encontram fora de nós pois mesmo com a melhor consciência de nossas repre sentações dessas coisas está ainda longe de ser certo que existindo a representação também o objeto a ela correspondente exista em nos so sistema pelo contrário essas coisas externas i e a matéria não são mais em todas as suas figuras e modificações do que meros fenô menos i e representações em nós de cuja realidade somos imediata mente conscientes Como no entanto até onde sei todos os psicólogos ligados ao idealismo empírico são realistas transcendentais então eles certa mente procederam de maneira consequente ao conceder grande im portância ao idealismo empírico como um dos problemas de que a ra zão humana tem dificuldade de sair por si mesma Pois de fato quan do se consideram os fenômenos externos como representações que são efetuadas em nós pelos seus objetos como coisas que em si se en contram fora de nós não se pode imaginar como se poderia conhecer a existência destas últimas a não ser pela inferência da causa a partir do efeito em que tem de permanecer sempre duvidoso se essa causa está em nós ou fora de nós Agora podese de fato admitir que algo que em sentido transcendental possa existir fora de nós seja a causa de nossas intuições externas mas isso não é o objeto que entendemos sob as representações da matéria e das coisas corpóreas pois estas são apenas fenômenos i e meros modos de representar que somen te se encontram em nós e cuja realidade assim como a consciência de meus próprios pensamentos baseiamse na consciência imediata O objeto transcendental é igualmente desconhecido seja em relação à intuição interna seja em relação à externa Também não se trata dele contudo e sim do empírico que então se denomina externo quan A 372 A 373 333 1 do o objeto é representado no espaço e de um objeto interno quando ele é representado apenas nas relações temporais tanto o espaço como o tempo porém só podem ser encontrados em nós Uma vez porém que a expressão fora de nós traz consigo uma inegável ambiguidade ora significando algo que se distingue de nós como coisa em si mesma ora algo que pertence apenas ao fenômeno externo distinguiremos então para colocar em segurança esse concei to em sua última acepção na qual é tomada de fato a questão psico lógica acerca da realidade de nossa intuição externa entre os obje tos empiricamente externos que denominaremos diretamente coisas que se encontram no espaço e aqueles que poderiam ser denomina dos externos em sentido transcendental 0 espaço e o tempo são de fato representações a priori que resi dem em nós como formas de nossa intuição sensível antes mesmo que um objeto real tenha determinado nosso sentido por meio da sen sação para representálo sob aquelas relações sensíveis Mas este ma terial ou real este algo que deve ser intuído no espaço pressupõe ne cessariamente a percepção e não pode ser inventado ou produzido pela imaginação independentemente dela que é quem indica a reali a 374 dade de algo no espaço A sensação portanto é aquilo que designa uma realidade no espaço e no tempo depois de têla referido a um ou outro modo da intuição sensível Uma vez dada a sensação que se de nomina percepção quando é aplicada a um objeto em geral sem deter minálo o seu diverso permite que sejam inventados muitos objetos na imaginação que fora desta não têm qualquer lugar empírico no espaço ou no tempo Isto é indubitavelmente certo quer se tomem as sensações de prazer ou dor ou também dos sentidos externos como as cores o calor etc a percepção é aquilo pelo qual tem de ser primei ramente dado o conteúdo para pensar os objetos da intuição sensível Esta percepção pressupõe portanto para que fiquemos aqui somen te nas intuições externas algo real no espaço Pois em primeiro lu gar a percepção é a representação de uma realidade do mesmo modo como o espaço é a representação de uma mera possibilidade da coe xistência Em segundo lugar essa realidade é representada pelo senti do externo i e no espaço Em terceiro lugar o próprio espaço não é outra coisa senão uma mera representação Só pode valer nele como 334 real portanto aquilo que é nele representado71 e inversamente aqui lo que é nele dado i e representado por meio da percepção também é nele real pois se não o fosse i e se não fosse dado imediatamente por meio da intuição empírica também não poderia ser inventado pois não se pode conceber a priori de modo algum o real das intuições Toda percepção externa portanto prova imediatamente algo real no espaço ou é antes ela própria o real e o realismo empírico nessa medida está fora de dúvida i e algo real corresponde às nossas intui ções externas no espaço É certo que o espaço juntamente com todos os seus fenômenos estão apenas em mim como representações mas o real nesse espaço ou o conteúdo de todos os objetos da intuição ex terna é dado efetiva e independentemente de toda invenção sendo impossível que nesse espaço também devesse ser dado algo fora de nós em sentido transcendental já que o próprio espaço não é nada fora de nossa sensibilidade O mais estrito idealista não pode portan to exigir que se deva provar a correspondência do objeto fora de nós em sentido estrito à nossa percepção Pois se um tal existisse ele não poderia ser representado e intuído como fora de nós já que isso pressupõe o espaço e a realidade no espaço como mera representa ção não é outra coisa senão a própria percepção O real dos fenôme nos externos portanto só é real na percepção e não pode ser real de nenhum outro modo A partir das percepções contudo o conhecimento dos objetos pode ser engendrado ou através de um mero jogo da imaginação ou por meio da experiência E podem surgir então certamente represen tações enganosas a que os objetos não correspondem e nas quais o engano pode ser atribuído ora a uma fantasia da imaginação no so nho ora a um passo falso da faculdade de julgar nas assim chama das ilusões dos sentidos Para pois fugir aqui à falsa aparência de vese proceder segundo a regra o que se concatena com uma percep 71 Devese observar com atenção a seguinte proposição paradoxal mas correta no espaço não há nada além do que é nele representado Pois o espaço não ê ele próprio outra coisa senão uma representação por conseguinte aquilo que está nele tem de estar contido na represen tação e no espaço não há nada a não ser na medida em que seja efetivamente representado nele Tem de soar estranha certamente a proposição de que uma coisa só possa existir na re presentação de si mas ela perde aqui o elemento repulsivo na medida em que as coisas com que temos de lidar não são coisas em si mas apenas fenômenos i e representações NA A 375 A 376 335 ção segundo leis empíricas é real Mas esse engano assim como a proteção contra ele atingem tanto o idealismo como o dualismo pois só o que está em jogo aí é a forma da experiência Para refutar o idealis mo empírico como uma falsa dificuldade relativa à realidade objetiva de nossas percepções externas é já suficiente que a percepção exter A 377 na prove imediatamente uma realidade no espaço o qual embora sendo apenas em si uma mera forma das representações possui rea lidade objetiva em relação a todos os fenômenos externos que por seu turno também não são nada além de meras representações e do mesmo modo que mesmo a invenção e o sonho sem a percepção não sejam possíveis e que nossos sentidos externos segundo os datis de que pode surgir a experiência tenham seu objeto real corresponden te no espaço O idealista dogmático seria aquele que nega a existência da ma téria o cético aquele qüe dela duvida por considerála indemonstrá vel 0 primeiro só pode sêlo porque acredita encontrar contradições na possibilidade de uma matéria em geral e com ele não temos ainda de lidar A próxima seção das inferências dialéticas que apresenta a razão em seu conflito interno relativamente aos conceitos sobre a possibilidade daquilo que pertence à interconexão da experiência ajudará também a dissolver essa dificuldade O idealista cético no en tanto que apenas contesta o fundamento de nossa afirmação e consi dera insuficiente a nossa argumentação sobre a existência da matéria que nós acreditamos fundar na percepção imediata é um bemfeitor para a razão humana na medida em que nos força a abrir os olhos A 378 mesmo quanto ao menor detalhe da experiência comum e a não to mar de imediato em nossas posses como um bem adquirido aquilo que talvez só tenhamos introduzido subrepticiamente Salta agora aos olhos a utilidade que essas objeções idealistas proporcionam aqui Elas nos impulsionam com violência se não queremos enredarnos em nossas mais vulgares afirmações a considerar todas as percep ções quer se denominem internas ou externas como uma mera cons ciência daquilo que pertence à nossa sensibilidade e os objetos exter nos da mesma não como coisas em si mesmas mas como representa ções de que podemos ser como de todas as outras representações imediatamente conscientes mas que se denominam externas por que pertencem àquele sentido que denominamos externo e cuja in tuição é o espaço o qual não é outra coisa por seu turno senão um 336 modo interno de representação no qual certas percepções se conec tam umas às outras Se deixamos que os objetos externos valham como coisas em si é absolutamente impossível compreender como deveríamos chegar ao conhecimento de sua realidade fora de nós uma vez que nos apoia mos apenas na representação que está em nós Pois não se pode ter uma sensação fora de si mas apenas em si mesmo e a inteira auto consciência não fornece nada pois a não ser nossas próprias deter minações O idealismo cético nos força portanto a encontrar a única escapatória que nos resta a saber em direção à idealidade de todos os fenômenos a qual nós estabelecemos na estética transcendental in dependentemente destas consequências que então não podíamos pre ver Caso se pergunte agora se de acordo com isso apenas o dualis mo tem lugar na doutrina da doutrina da alma a resposta é certa mente mas apenas em sentido empírico i e na concatenação da ex periência a matéria é realmente dada ao sentido externo como subs tância no fenômeno do mesmo modo como o eu pensante é dado também como substância no fenômeno ao sentido interno e segun do as regras que essa categoria introduz na concatenação de nossas percepções tanto externas como internas para constituir uma expe riência os fenômenos também têm de ser conectados entre si em am bos os lados Caso se queira no entanto como costuma ocorrer am pliar o conceito de dualismo e tomálo em sentido transcendental en tão nem ele nem o pneumatismo que lhe é contraposto de um lado ou o materialismo que lhe é contraposto de outro teriam o mínimo fundamento já que se erraria na determinação dos próprios concei tos e se tomaria a diversidade dos modos de representar os objetos que permanecem desconhecidos para nós quanto ao que sejam em si mesmos por uma diversidade dessas coisas mesmas Eu represen tado no tempo por meio do sentido interno e os objetos no espaço fora de mim somos de fato fenômenos inteira e especificamente distintos mas nem por isso somos pensados como coisas diferentes O objeto transcendental que serve de fundamento aos fenômenos ex ternos do mesmo modo como aquilo que serve de fundamento à intui ção interna não é nem matéria nem um ser pensante em si mesmo mas um fundamento para nós desconhecido dos fenômenos que for necem o conceito empírico tanto do primeiro como do segundo modo de representação A 379 A 380 337 Se nós portanto tal como claramente nos obriga a presente críti ca permanecemos fiéis à regra estabelecida acima de não estender nossas questões para além do ponto até onde a experiência possível nos dá o objeto das mesmas então não nos ocorrerá jamais entrar em investigações sobre os objetos de nossos sentidos que digam respeito a como eles poderiam ser em si mesmos i e sem qualquer relação com os sentidos Se o psicólogo contudo toma os fenômenos por coi sas em si mesmas então ele pode como materialista admitir unica mente a matéria como coisa existente por si mesma em sua doutrina ou como espiritualista apenas os seres pensantes segundo a forma de nosso sentido interno ou como dualista ambos ele será sempre atrapalhado por um malentendido quanto ao modo de raciocinar so fisticamente sobre como poderia existir em si mesmo aquilo que não é uma coisa em si mas apenas o fenômeno de uma coisa em geral A 381 Consideração sobre a suma da doutrina pura da alma a partir desses paralogismos Se comparamos a doutrina da alma como fisiologia do sentido interno à doutrina dos corpos como uma fisiologia dos objetos dos sentidos externos descobrimos que além de haver em ambas muito a ser empiricamente conhecido há também uma curiosa diferença en quanto na última ciência há muito a ser conhecido sinteticamente a priori a partir do mero conceito de um ser extenso impenetrável na primeira não há nada que a partir do conceito de um ser pensante possa ser assim conhecido A razão é a seguinte Embora ambos se jam fenômenos o fenômeno que se apresenta ao sentido externo tem algo de estável ou permanente que oferece tanto um substrato capaz de servir de fundamento às determinações cambiantes como portan to o conceito sintético de espaço e de um fenômeno no mesmo o tempo por outro lado que é a única forma de nossa intuição interna não tem nada de permanente e portanto só dá a conhecer a modifi cação das determinações não o objeto determinável Pois naquilo a que denominamos alma está tudo em fluxo contínuo e não há nada de permanente a não ser talvez se assim se quer o eu que é simples porque se trata de uma representação que não tem conteúdo nem portanto qualquer diverso e que por isso também parece represen A 382 tar ou melhor dizendo designar um objeto simples Este eu teria de 338 ser uma intuição que por ser pressuposta no pensamento em geral antes de toda experiência forneceria proposições sintéticas como intuição a priori caso fosse possível produzir um conhecimento ra cional puro da natureza de um ser pensante em geral Mas este eu não é nem intuição nem o conceito de algum objeto mas a mera for ma da consciência que acompanha as representações de ambos os ti pos e assim pode eleválas a conhecimentos na medida em que para isso seja dado algo mais na intuição que forneça conteúdo para a re presentação de um objeto Cai por terra desse modo toda psicologia enquanto uma ciência que ultrapassasse todas as forças da razão hu mana e não nos resta nada a não ser estudar nossa alma sob o fio condutor da experiência e manternos nos limites das questões que não vão além daquilo que a experiência interna possível pode apre sentar como seu conteúdo Embora ela não tenha pois qualquer utilidade como conheci mento ampliado e seja composta de meros paralogismos não se pode em todo caso negarlhe na medida em que não deve valer mais do que como um tratamento crítico de nossas inferências dialéticas que são da razão comum e natural uma importante utilidade negativa Para que necessitamos todavia de uma doutrina da alma funda da apenas sobre princípios da razão Antes de tudo sem dúvida no intuito de assegurar o nosso eu pensante contra o perigo do materia lismo Mas isso é realizado pelo conceito racional de nosso ser pen sante que fornecemos Pois a partir dele resta tão pouco medo de que o nosso pensamento e mesmo a existência dos seres pensantes sejam suprimidos caso se elimine a matéria que antes se mostra claramente que se eu elimino o sujeito pensante então tem de sumir todo o mun do dos corpos que não é senão um fenômeno na sensibilidade de nos so sujeito e um tipo de representação deste Com isso eu certamente não conheço melhor esse eu pensante no que diz respeito às suas propriedades nem posso compreender a sua permanência ou mesmo a independência de sua existência relati vamente a algum substrato transcendental dos fenômenos externos pois isto me é tão desconhecido quanto aquilo Uma vez que eu posso no entanto encontrar em outra parte que não nos fundamentos me ramente especulativos razões para ter esperança em uma existência de minha natureza pensante que em todas as modificações de meu A 383 339 estado seja permanente e independente então já se ganhou muito em poder na livre admissão de minha própria ignorância afastar os A 384 ataques dogmáticos de um adversário especulativo emostrarlhe que sobre a natureza do meu sujeito ele jamais poderá saber mais no in tuito de negar a possibilidade de minhas esperanças do que eu no in tuito de mantêlas Também se fundam nessa ilusão transcendental de nossos concei tos psicológicos as três questões dialéticas que constituem o verdadei ro fim da psicologia racional e que só podem ser decididas através das investigações acima quais sejam 1 da possibilidade da comuni dade da alma com um corpo orgânico i e da animalidade e do esta do da alma na vida do ser humano 2 do começo dessa comunidade i e da alma no e antes do nascimento do ser humano 3 do fim des sa comunidade i e da alma na e após a morte do ser humano per gunta pela imortalidade Agora eu afirmo que todas as dificuldades que se acredita encon trar nessas questões e com as quais se busca dar a aparência como se fossem objeções dogmáticas de um discernimento da natureza das coisas mais profundo do que o entendimento comum possa ter basei amse em uma mera fantasia pela qual se hipostasia aquilo que só existe no pensamento e se o considera como tendo as mesmas quali dades de um objeto real fora do sujeito pensante quais sejam a ex tensão que não passa de um fenômeno mas é tomada por uma pro A 385 priedade das coisas externas subsistente mesmo sem a nossa sensibi lidade e o movimento que é tomado por um efeito dessas coisas que também ocorreria independentemente de nossos sentidos Pois a ma téria cuja comunidade com a alma suscita tantas dúvidas é tão so mente a mera forma de um objeto desconhecido ou um certo modo de representálo através daquela intuição que é denominada sentido externo Pode muito bem existir algo fora de nós que corresponda a esse fenômeno que denominamos matéria ele não existe fora de nós contudo na mesma qualidade do fenômeno por mais que o pensa mento através do sentido em questão o represente como se encon trando fora de nós ele existe apenas como um pensamento em nós Matéria não significa portanto um tipo de substância tão inteiramen te distinto e heterogêneo em relação ao objeto do sentido interno alma mas sim a heterogeneidade dos fenômenos de objetos que em 340 si mesmos nos são desconhecidos cujas representações denomina mos externas em comparação com aquelas que atribuímos ao sentido interno muito embora pertençam ao sujeito pensante tanto quanto to dos os demais pensamentos A diferença é que elas têm esse aspecto ilusório em si como representam os objetos no espaço elas como que os descolam da alma e parecem flutuar fora dela não obstante o pró prio espaço no qual esses objetos são intuídos não seja mais do que uma representação e não tenha qualquer contrapartida de mesma qua lidade passível de ser encontrada fora da alma A questão não é mais portanto sobre a comunidade da alma com outras substâncias fora de nós conhecidas ou estranhas mas sim sobre a conexão das representa ções do sentido interno com as modificações de nossa sensibilidade ex terna e sobre como elas podem estar conectadas entre si segundo leis constantes de modo a concatenarse em uma experiência À medida que mantemos os fenômenos internos e os externos unidos uns aos outros como meras representações na experiência não encontramos nada de contraditório ou que pudesse tornar estra nha a comunidade dos dois tipos de sentidos Tão logo hipostasiemos os fenômenos externos contudo e os refiramos a nosso sujeito pen sante não mais como representações mas também como coisas sub sistentes por si mesmas fora de nós com a mesma qualidade que têm em nós e também refiramos as suas ações que os mostram como fenômenos em relação uns com os outros a nosso sujeito pensante então nós temos um aspecto das causas atuantes fora de nós que não se coaduna com os seus efeitos em nós já que aquelas só se referem aos sentidos externos e estes ao interno o que apesar de sua unifica ção em um sujeito tornaos extremamente heterogêneos Nós não te mos aí quaisquer efeitos externos a não ser modificações de lugar nem quaisquer forças a não ser esforços que resultam em relações no espaço como seus efeitos Em nós porém os efeitos são pensamen tos entre os quais não há relação de lugar movimento figura ou em geral determinação espacial e nós perdemos inteiramente o fio con dutor das causas nos efeitos que elas deveriam mostrar no sentido in terno Mas nós deveríamos considerar que os objetos em si presen tes para nós não são os corpos mas sim o mero fenômeno de um ob jeto desconhecido qualquer que o movimento não é o efeito dessa causa desconhecida mas apenas o fenômeno de sua influência sobre nossos sentidos que ambos por conseguinte não são algo fora de A 386 A 387 341 nós mas meras representações em nós que o movimento da matéria portanto não produz representações em nós mas é ele próprio por tanto a matéria que através delese dá a conhecer mera representação e que por fim toda a dificuldade autoproduzida reduzse a entender como e por qual causa as representações de nossa sensibilidade se en contram ligadas entre si de tal modo que aquelas que denominamos in tuições externas podem segundo leis empíricas ser representadas co mo objetos fora de nós uma questão que de modo algum contém a su posta dificuldade de tomando os fenômenos de uma causa desconheci da pela causa fora de nós o que só poderia ocasionar confusão ter de explicar a origem das representações de causas atuantes inteira mente estranhas encontradas fora de nós Em juízos que contêm um malentendido enraizado após um longo hábito é impossível efetuar A 388 prontamente uma correção e leválos àquele grau de compreensibilida de que se exige em outros casos quando semelhante ilusão inevitável não tenha tornado o conceito confuso Por isso esta nossa libertação da razão relativamente às teorias sofísticas dificilmente terá a clareza que seria necessária para a sua inteira satisfação Acredito poder aumentála do seguinte modo todas as objeções podem ser divididas em dogmáticas críticas e céticas A objeção dog mática é dirigida contra uma proposição a crítica contra a prova de uma proposição A primeira necessita de um discernimento da consti tuição da natureza do objeto para poder afirmar o contrário do que a proposição sobre esse objeto avança ela é por isso ela própria dog mática e pretende conhecer a constituição de que se trata melhor do que a proposição oposta A objeção crítica na medida em que deixa a proposição intocada quanto a seu valor ou desvalor e apenas contesta a prova não necessita conhecer melhor o objeto ou arrogarse um co nhecimento melhor do mesmo ela mostra apenas que a proposição carece de fundamento não que ela seja incorreta A objeção cética joga a proposição e sua antítese uma contra a outra alternadamente como objeções de mesma importância e a cada vez faz de uma o dog A 389 ma e da outra a objeção de tal modo que ambas pareçam dogmáticas e todo juízo sobre o objeto seja inteiramente anulado Tanto a dogmá tica quanto a cética portanto têm de arrogarse um discernimento do objeto que seja suficiente para afirmar algo sobre ele seja positiva seja negativamente Somente a crítica é do tipo que derruba uma teo ria mostrando apenas que alguém supõe algo nulo ou meramente imaginado em benefício de sua afirmação na medida em que desse modo retira dela a base sem pretender estabelecer algo sobre a cons tituição do objeto Segundo o conceito comum de nossa razão relativamente à co munidade em que nosso sujeito pensante se encontra com as coisas fora de nós nós somos dogmáticos e segundo um certo dualismo que não conta esses fenômenos externos entre as representações do sujei to mas os transfere para fora de nós como objetos tal como a intui ção sensível os entrega a nós separandoos inteiramente do sujeito pensante enxergamos tais coisas como objetos verdadeiros e subsis tentes independentemente de nós Esta subrepção é a base de todas as teorias sobre a comunidade entre alma e corpo e nunca se questiona se essa realidade objetiva dos fenômenos é tão inteiramente correta mas apenas se pressupõe esta última como estabelecida e se raciocina sofisticamente sobre o modo como ela deveria ser explicada e compre endida Os três sistemas habituais acima pensados que são de fato os únicos possíveis são o sistema da influência física o da harmo nia preestabelecida e o da assistência sobrenatural Os dois últimos modos de explicar a comunidade da alma com a matéria se fundam em objeções contra o primeiro que é a representa ção do senso comum objeções segundo as quais aquilo que aparece como matéria não pode através de sua influência imediata ser a cau sa das representações que são um tipo inteiramente heterogêneo de efeito Eles não podem contudo ligar àquilo que entendem por obje tos dos sentidos externos o conceito de matéria que é apenas um fe nômeno e portanto já em si mesmo uma mera representação efetua da por algum objeto externo pois do contrário eles diriam que as re presentações dos objetos externos os fenômenos não podem ser cau sas das representações em nossa mente e isso seria uma objeção intei ramente sem sentido já que não ocorreria a ninguém tomar aquilo que já reconheceu como mera representação por uma causa externa Segundo nossos princípios portanto eles têm de direcionar sua teo ria para reconhecer que aquilo que é o verdadeiro objeto transcen dental de nossos sentidos externos não pode ser a causa daquelas re presentações fenômenos que entendemos sob o nome de matéria Agora como ninguém pode pretender com fundamento conhecer algo sobre as causas transcendentais de nossas representações dos A 390 A 391 343 sentidos externos sua afirmação é inteiramente sem fundamento Se no entanto os supostos melhoradores da doutrina da influência física quisessem segundo o usual modo de representação de um dualismo transcendental considerar a matéria enquanto tal como uma coisa em si mesma e não como mero fenômeno de uma coisa desconheci da e dirigir sua objeção no sentido de mostrar que tal objeto exter no que não revela em si qualquer causalidade além daquela do movi mento não poderia ser jamais a causa efetiva das representações ten do antes de aparecer um terceiro ser no meio deles para proporcionar se não ação recíproca ao menos correspondência e harmonia entre eles então eles começariam a sua refutação admitindo a npwTov ijievSoç falsidade primária da influência física em seu dualismo e portanto refutando com sua objeção não tanto a influência natural mas a sua própria pressuposição dualista Pois todas as dificuldades concernentes à ligação da natureza pensante com a matéria surgem sem exceção apenas daquela representação dualista subreptícia de que a matéria como tal não seria um fenômeno i e uma mera repre sentação da mente correspondendo a um objeto desconhecido mas o objeto em si mesmo tal como ele existiria fora de nós e independente mente de toda sensibilidade a 392 Nenhuma objeção dogmática portanto pode ser feita contra a in fluência física habitualmente admitida Pois se o adversário supõe que a matéria e seu movimento são meros fenômenos e portanto eles mesmos meras representações ele só pode então colocar a difi culdade de que o objeto desconhecido de nossa sensibilidade não pode ser a causa das representações em nós uma admissão que não serve para corrigir o erro já que ninguém pode estabelecer em rela ção a um objeto desconhecido o que ele poderia ou não fazer Se gundo as provas acima contudo ele tem de admitir esse idealismo transcendental necessariamente caso não queira hipostasiar explici tamente as representações e transferilas para fora de si como coisas verdadeiras Podese em todo caso levantar uma objeção crítica fundamenta da contra a habitual opinião doutrinal sobre a influência física Essa suposta comunidade entre dois tipos de substâncias a pensante e a extensa tem um dualismo tosco por fundamento e faz das substân cias extensas que não passam de representações do sujeito pensante 344 coisas subsistentes por si mesmas A mal compreendida influência fí sica pode ser inteiramente afastada portanto na medida em que a sua demonstração seja descoberta como nula e subreptícia Assim a célebre questão da comunidade do pensante com o ex tenso caso se exclua tudo o que há nela de imaginado seria reduzida tão somente a saber como é possível a intuição externa i e do espa ço de um preenchimento deste figura e movimento em um sujeito pensante em geral Nenhum ser humano contudo seria capaz de en contrar uma resposta para essa questão e esta lacuna de nosso saber não será jamais preenchida só o que podemos é mostrar que os fenô menos externos são atribuídos a um objeto transcendental como cau sa desse tipo de representação mas nós não podemos conhecêlo de modo algum nem adquirir um conceito dele Em todas as tarefas que podem aparecer no campo da experiência nós tratamos aqueles fenô menos como objetos em si mesmos sem nos preocuparmos com o fundamento último de sua possibilidade como fenômenos Se ultra passamos os limites desse campo contudo tornase necessário o con ceito de um objeto transcendental Destas observações sobre a comunidade entre o ser pensante e o ser extenso decorre imediatamente a solução de todos os conflitos ou objeções que dizem respeito ao estado da natureza pensante antes dessa comunidade a vida ou após a sua supressão na morte A opi nião de que o sujeito pensante poderia ser pensado antes de qualquer comunidade com os corpos se exprimiria do seguinte modo antes do começo desse modo de sensibilidade pelo qual nos aparece algo no es paço os mesmos objetos transcendentais que aparecem como corpos em seu estado atual poderiam ser intuídos de um modo inteiramente diverso A opinião porém de que a alma poderia continuar após a su pressão de toda comunidade com o mundo corpóreo seria expressa desta forma se cessasse o modo de sensibilidade pelo qual os objetos transcendentais agora desconhecidos para nós nos aparecem como mundo material nem por isso toda intuição dos mesmos seria supri mida sendo perfeitamente possível que esses mesmos objetos desco nhecidos continuassem a ser conhecidos pelo sujeito pensante ainda que não mais evidentemente na qualidade de corpos Agora ninguém pode de fato a partir dos princípios especulati vos oferecer o mínimo fundamento para tal afirmação nem sequer A 393 345 estabelecer a sua possibilidade mas apenas pressupôla mas ninguém pode tampouco fazer uma objeção dogmática válida contra ela Pois quem quer que ele seja ele sabe tão pouco quanto eu ouqualquer ou tro sobre a causa absoluta e interna dos fenômenos externos e corpóreos Ele também não pode portanto pretender saber fundamentadamente em que consiste a realidade dos fenômenos externos em seu atual estado em vida nem portanto se a condição de toda intuição externa ou o A 395 próprio sujeito pensante cessaria após tal estado na morte Desse modo todo conflito sobre a natureza de nosso ser pensan te e a conexão do mesmo com o mundo corpóreo seria tão somente uma consequência de no intuito de suprimir aquilo de que nada sabe mos as lacunas serem preenchidas com os paralogismos da razão transformando os pensamentos em coisas e hipostasiandoos disso surge uma ciência imaginária tanto daquele que afirma como daque le que nega em que cada qual pretende ou conhecer algo dos objetos de que ninguém tem um conceito ou transformar suas próprias re presentações em objetos lançandose assim em um círculo eterno de ambiguidades e contradições Somente a sobriedade de uma crítica forte porém justa pode libertar dessa fantasia dogmática que em meio a uma felicidade imaginária prende a tantos entre teorias e sis temas e limitar nossas pretensões especulativas ao campo da expe riência possível não digamos zombando tolamente de tantas tenta tivas fracassadas ou lamentando ingenuamente sobre os limites de nossa razão mas determinando esses limites segundo princípios se guros que com máxima confiabilidade firmam o seu nihil ulterius nada além nas colunas de Hércules erguidas pela própria natureza A 396 para só estender a viagem de nossa razão até onde alcançam as costas da experiência que nós não podemos abandonar sem arriscarnos em um oceano sem margens que com perspectivas sempre enganosas acaba por forçarnos a abandonar todos os esforços difíceis e entedi antes como desprovidos de esperança Nós ainda estamos devendo uma exposição clara e geral da ilu são transcendental e todavia natural nos paralogismos da razão pura bem como uma justificação da sua ordenação sistemática que corre paralela à tábua das categorias Nós não podíamos empreen 346 dêla no começo desta seção sem o risco de cair em obscuridade ou anteciparnos de maneira inadequada Nós tentaremos cumprir ago ra essa obrigação Toda ilusão pode ser atribuída à circunstância de que a condição subjetiva do pensamento é tomada pelo conhecimento do objeto Além disso nós mostramos na introdução à dialética transcendental que a razão pura se ocupa apenas com a totalidade da síntese das condições para um dado condicionado Como no entanto a ilusão dialética da razão pura não pode ser uma ilusão empírica que se encontrasse em um determinado conhecimento empírico então ela diz respeito ao universal das condições do pensamento e só haverá três casos de uso dialético da razão pura 1 A síntese das condições de um pensamento em geral 2 A síntese das condições do pensamento empírico 3 A síntese das condições do pensamento puro Em todos esses três casos a razão pura se ocupa apenas com a to talidade absoluta dessas sínteses i e com aquela condição que é ela própria incondicionada Nessa divisão se fundam também os três ti pos de ilusão transcendental que ensejam as três seções da dialética e fornecem a ideia para a mesma quantidade de ciências ilusórias da razão pura a psicologia a cosmologia e a teologia transcendentais Aqui nós só temos de ocuparnos da primeira Como no pensamento em geral nós fazemos abstração de toda re ferência do pensamento a algum objeto seja dos sentidos ou do en tendimento puro a síntese das condições de um pensamento em ge ral n 1 não é de modo algum objetiva mas sim uma mera síntese do pensamento com o sujeito que no entanto é equivocadamente toma da por uma representação sintética de um objeto Também se segue daí contudo que ao conduzir à condição de todo pensamento em geral que é ela própria incondicionada a infe rência dialética não comete um erro de conteúdo pois faz abstração de todo conteúdo ou objeto mas apenas na forma devendo por isso ser denominada um paralogismo Como além disso a única condição que acompanha todo pensa mento é o eu na proposição universal eu penso então a razão tem A 397 A 398 347 de lidar com tal condição na medida em que ela é ela própria incondi cionada Mas ela é apenas a condição formal qual seja a unidade lógi ca de todo pensamento em que faço abstração dos objetos e ainda as sim é representada como um objeto que eu penso qual seja eu mes mo e a unidade incondicionada deste Se alguém em geral me colocasse a questão qual a constituição de uma coisa que pensa eu não saberia minimamente o que respon der a priori posto que a resposta deve ser sintética pois uma resposta analítica talvez esclareça bem o pensamento mas não fornece qualquer conhecimento adicional daquilo em que se baseia a possibilidade desse pensamento Para qualquer solução sintética no entanto exigese uma intuição que num problema tão geral foi inteiramente abandonada Ninguém pode tampouco responder em toda a sua generalidade à questão que tipo de coisa teria de ser uma coisa que se move Pois não é dada nesse caso a extensão impenetrável matéria Agora se de fato não tenho em geral uma resposta para aquela questão pareceme no entanto que em casos particulares eu poderia dála na proposição A 399 que exprime a autoconsciência eu penso Pois este eu é o primeiro sujeito i e substância é simples etc Mas estas teriam de ser então meras proposições de experiência que entretanto sem uma regra uni versal que enunciasse em geral e a priori as condições de possibilida de para pensar não poderiam conter semelhantes predicados que não são empíricos Tornase duvidoso com isso o meu discernimento inici al aparentemente tão certo quanto a poder julgar sobre a natureza de um ser pensante a partir de meros conceitos muito embora eu ainda não tenha descoberto o seu erro Uma posterior investigação contudo que busque a origem des ses atributos que em geral me atribuo como ser pensante poderá des cobrir esse erro Eles não são mais do que categorias puras pelas quais não penso jamais um determinado objeto mas apenas a unidade das representações para determinar um objeto delas Sem uma intuição por fundamento a categoria não pode por si só proporcionarme o conceito de um objeto pois somente através da intuição pode ser dado o objeto que depois será pensado em conformidade com ela Para que eu explique uma coisa como uma substância no fenômeno têm de me ser dados antes os predicados de sua intuição nos quais eu diferencio o permanente do modificável e o substrato a coisa mesma 348 daquilo que apenas lhe é inerente Se denomino simples a uma coisa no fenômeno entendo por isso que embora a sua intuição seja uma parte do fenômeno ela própria não pode ser dividida etc Se no en tanto algo é conhecido como simples apenas no conceito e não no fe nômeno então eu não tenho com isso nenhum conhecimento do ob jeto mas apenas do meu conceito o qual eu formo em geral sobre algo que não é passível de uma intuição Apenas digo que penso algo inteiramente simples pois nada sei dizer de fato além de que é algo Agora a mera apercepção eu é uma substância no conceito é simples no conceito etc e todas aquelas proposições psicológicas têm aí indiscutível legitimidade Com isso no entanto não é de modo algum conhecido aquilo que se gostaria de saber sobre a alma pois esses predicados não valem para a intuição e portanto não podem ter qualquer consequência aplicável aos objetos da experiência sen do pois inteiramente vazios Pois aquele conceito de substância não me ensina que a alma perdure por si mesma ou que seja uma parte das intuições externas que não pode ser ela própria dividida nem portanto surgir ou desaparecer por modificações da natureza sim ples propriedades que poderiam tornar a alma cognoscível na interco nexão da experiência e darme esperanças com relação a sua origem e a seu estado futuro Se através de meras categorias no entanto digo que a alma é uma substância simples então é claro que se o nu concei to inteligível de substância não afirma senão que uma coisa deve ser representada como sujeito em si sem ser ela própria predicado de ou tra não se segue nada daí sobre a permanência nem se pode eviden temente acrescentar o atributo da simplicidade a essa permanência e com isso portanto não se aprende nada acerca do possa ocorrer à alma com as transformações do mundo Se alguém pudesse dizernos que ela é uma parte simples da matéria então nós deduziríamos des ta a partir do que a experiência nos ensina sobre ela a permanência e juntamente com a natureza simples a sua indestrutibilidade Sobre isso porém conceito de eu no princípio psicológico eu penso não nos diz uma palavra sequer Que o ser que pensa em nós contudo suponha conhecer a si mesmo por meio das categorias puras em particular aquelas que ex primem a unidade absoluta sob cada título é algo que se deve ao se guinte A apercepção é ela própria o fundamento da possibilidade das A 400 A 401 349 categorias que por seu turno não representam outra coisa senão a síntese do diverso da intuição na medida em que ele tem unidade na apercepção A autoconsciência em geral portanto é a representação daquilo que é a condição de toda unidade e ainda assim é ele próprio a 402 incondicionado Do eu pensante alma portanto que se pensa como substância como simples como numericamente idêntico em todo tempo e como correlato de toda existência da qual têm de ser deduzidas todas as demais existências podese dizer que ele conhece não tanto a si mesmo através das categorias mas as categorias e com elas todos os objetos na unidade absoluta da percepção através de si mesmo Ago ra é bastante evidente que não posso conhecer como objeto aquilo que tenho de pressupor para em geral conhecer um objeto e que o eu de terminante o pensamento é distinto do eu determinável o sujeito pensante assim como o conhecimento é distinto do objeto Ainda as sim nada é mais natural e tentador do que a ilusão de tomar a unidade na síntese dos pensamentos por uma unidade percebida no sujeito desses pensamentos Poderseia denominála a subrepção da cons ciência hipostasiada apperceptionis substantiatae Caso se queira dar um título lógico ao paralogismo nos silogis mos dialéticos da doutrina racional da alma na medida em que ele apesar de tudo tem premissas corretas então se pode considerálo um sophisma figurae dictionis no qual a premissa maior faz um uso meramente transcendental da categoria em relação às suas condi ções mas a premissa menor e a conclusão fazem um uso empírico da mesma categoria no que diz respeito à alma que foi subsumida sob A 403 essas condições Assim por exemplo o conceito de substância é um conceito puramente intelectual no paralogismo da simplicidade e sem as condições da intuição sensível tem um uso meramente transcen dental i e não tem um uso empírico Na premissa menor porém esse mesmo conceito é aplicado ao objeto de toda experiência interna sem que a condição de sua aplicação in concreto i e a sua perma nência seja previamente estabelecida com o que se faz dele um uso empírico que é aqui inadequado Para mostrar por fim a concatenação sistemática de todas essas afirmações dialéticas em uma doutrina sofística da alma em uma con catenação da razão pura portanto a sua completude devese obser var que a apercepção se realiza através de todas as classes de catego 350 rias mas somente em relação àqueles conceitos do entendimento que servem aos demais como fundamento da unidade em uma percepção possível a saber os de subsistência realidade unidade não plurali dade e existência só que a razão os representa aqui como condições de possibilidade de um ser pensante que é ele próprio incondiciona do A alma conhece em si mesma portanto 1 A unidade incondicionada da relação i e ela própria não como inerente mas como subsistente 2 A unidade incondicionada da qualidade i e não como todo real mas simples12 3 A unidade incondicionada na pluralidade no tempo i e não em tempos diferentes numericamente diferentes mas como um e o mesmo sujeito 4 A unidade incondicionada da existência no espaço i e não como a consciência de muitas coisas fora de si mas apenas da existência de si mesma e das outras coisas apenas como suas representações 72 72 Quanto a como o simples por seu turno corresponde aqui à categoria de realidade isto é algo que não posso mostrar ainda mas que será tratado no capítulo seguinte por ocasião de um outro uso que a razão faz do mesmo conceito NAJ A 404 351 A 405 A razão é a faculdade dos princípios As afirmações da psicologia pura não contêm predicados empíricos da alma mas sim aqueles que se existem devem determinar o objeto em si mesmo independente mente da experiência portanto através da mera razão A rigor por tanto eles teriam de fundarse em princípios e conceitos universais da natureza pensante em geral Em lugar disso verificase que uma única representação eu penso governa a todos e justamente por expri mir indeterminadamente a fórmula pura de toda a minha experiên cia apresentase como uma proposição universal que vale para todos os seres pensantes proposição esta que sendo singular em todos os sentidos traz consigo a aparência de uma unidade absoluta do pensa mento em geral e assim estendese para muito além do que a expe riência possível poderia alcançar SEGUNDO LIVRO DA DIALÉTICA TRANSCENDENTAL Segundo capítulo A antinomia da razão pura Na introdução a esta parte de nosso trabalho mostramos que toda ilusão transcendental da razão pura se baseia em inferências dia léticas cujo esquema é fornecido pela lógica nos três modos formais dos silogismos em geral do mesmo modo como as categorias encon tram seu esquema lógico nas quatro funções de todos os juízos O pri meiro tipo dessas inferências sofísticas dizia respeito à unidade incon dicionada das condições subjetivas de todas as representações em geral do sujeito ou da alma em correspondência com os silogismos categó ricos cuja premissa maior exprime como princípio a referência de um B 433 predicado a um sujeito Segundo a analogia com os silogismos hipoté ticos portanto o segundo tipo de argumento dialético fará da unidade incondicionada das condições objetivas no fenômeno o seu conteúdo do mesmo modo como o terceiro tipo que será apresentado no capítu lo seguinte tem por tema a unidade incondicionada das condições objetivas da possibilidade dos objetos em geral É digno de nota no entanto que o paralogismo transcendental tenha produzido uma ilusão meramente unilateral em relação à ideia do sujeito de nosso pensamento ao passo que para a afirmação do contrário não se verifica a mínima ilusão a partir dos conceitos da ra zão A vantagem fica inteiramente do lado do pneumatismo por mais 352 que este não possa negar o defeito hereditário que apesar de todas as aparências favoráveis levao a perderse em pura névoa na prova de fogo da crítica Ocorre algo muito diverso quando aplicamos a razão à síntese ob jetiva dos fenômenos na qual embora acreditando ter grandes chan ces de tornar válido o seu princípio da unidade incondicionada ela logo se enreda em tantas contradições que é forçada a desistir de sua pretensão no que diz respeito à cosmologia Aqui se mostra com efeito um novo fenômeno Phänomen da razão humana a saber uma antitética inteiramente natural para a qual não é preciso ponderar muito ou estabelecer laços artificiais mas na qual a razão se enreda por si mesma e de maneira inevitável e com isso apesar de guardarse contra o torpor de uma convicção ima ginária produzida por uma ilusão meramente unilateral é levada à tentação de ou abandonarse a uma desesperança cética ou assumir uma obstinação dogmática e enfiar certas afirmações na cabeça sem dar ouvidos ou reconhecer legitimidade ao fundamento das afirma ções contrárias Ambas as coisas são a morte de uma filosofia saudá vel por mais que aquela pudesse de fato ser denominada a eutaná sia da razão pura Antes de mostrar as cenas de discórdia e destruição ocasionadas por esse conflito das leis antinomia da razão pura forneceremos cer tas explicações que podem esclarecer e justificar os métodos que em pregamos no tratamento de nosso objeto A todas as ideias transcen dentais na medida em que dizem respeito à totalidade absoluta na sín tese dos fenômenos eu denomino conceitos cosmológicos em parte justamente devido a essa totalidade condicionada em que se baseia também o conceito do todo do mundo que é apenas uma ideia em par te porque elas se aplicam apenas à síntese dos fenômenos portanto à síntese empírica ao passo que a totalidade absoluta na síntese das con dições de todas as coisas possíveis em geral ocasionará um ideal da ra zão pura que se distingue inteiramente do conceito cosmológico ainda que esteja em relação com este Do mesmo modo pois como os paralo gismos da razão pura estabeleciam o fundamento para uma psicologia dialética a antinomia da razão pura trará à luz os princípios transcen dentais de uma cosmologia supostamente pura racional não para con siderálos válidos e aderir a eles mas sim para tal como já o indica a de B 434 B 435 353 nominação de um conflito da razão expôlos em sua aparência des lumbrante mas falsa como uma ideia que não pode ser compatibiliza da com os fenômenos Primeira seção Sistema das ideias cosmológicas Para poder então enumerar essas ideias segundo um princípio com precisão sistemática temos de observar primeiramente que é apenas do entendimento que podem surgir conceitos puros e trans cendentais e que a razão realmente não pode criar conceitos mas apenas libertar o conceito do entendimento das limitações inevitá veis de uma experiência possível e assim buscar estendêlo para além B 436 dos limites do empírico ainda que em conexão com ele Isto acontece quando pelo lado das condições sob as quais o entendimento subme te todos os fenômenos à unidade transcendental ela oferece totalida de absoluta a um dado condicionado e assim transforma as categori as em ideias transcendentais para continuando a síntese empírica até o incondicionado que não se encontra jamais na experiência mas apenas na ideia dar a ela completude absoluta A razão exige isso a partir do princípio se é dado o condicionado também é dada toda a soma das condições portanto o absolutamente incondicionado atra vés do qual aquele é possível Primeiramente portanto as ideias transcendentais não serão mais a rigor do que categorias estendidas até o incondicionado e poderão ser reunidas em uma tábua organiza da segundo os títulos das últimas Em segundo lugar contudo nem todas as categorias servirão para isso mas apenas aquelas em que a síntese constitui uma série mais especificamente das condições para um condicionado subordinadas entre si não coordenadas A totali dade absoluta é oferecida pela razão apenas na medida em que diz respeito à série ascendente das condições para um dado condiciona do e não portanto quando se trata da linha descendente das conse quências ou do agregado das condições coordenadas para essas con B 437 sequências Pois as condições já são pressupostas em relação ao con dicionado dado e têm de ser consideradas como dadas juntamente com ele ao passo que como as consequências não tornam possíveis as suas condições mas antes as pressupõem podese deixar de lado na progressão em direção às consequências ou descendo da condi ção dada para o condicionado se a série cessa ou não e a questão re lativa à sua totalidade não é em geral uma pressuposição da razão 354 Assim também se pensa necessariamente como dado ainda que não determinado através de nós um tempo inteiramente transcorri do até o instante dado No que diz respeito ao tempo futuro no entan to que não é condição para chegar ao presente é inteiramente indife rente para compreender este último o modo como tomamos o tempo futuro se como um tempo que cessa em algum ponto ou como um que continua ao infinito Seja a série m n o em que n é dado como condicionado em relação a m mas também como condição de o e que segue adiante do condicionado n para m k i etc como também para trás da condição n para o condicionado o p q r etc eu tenho de pressupor a primeira série para considerar n como dado e n só é possível segundo a razão segundo a totalidade das condições atra vés dessa série mas a sua possibilidade não se baseia na série seguin te o p q r que portanto não pode ser também considerada como dada mas apenas como dabilis Denominarei regressiva à síntese de uma série pelo lado das con dições i e daquela que é a mais próxima a um dado fenômeno até a condição mais remota e denominarei progressiva por seu turno à síntese que pelo lado do condicionado progride da consequência mais próxima até a mais remota A primeira segue in antecedentia a segunda in consequentia As ideias cosmológicas portanto ocupam se da totalidade da síntese regressiva e seguem in antecedentia não in consequentia Quando se verifica esta última tratase de um pro blema arbitrário e não necessário da razão pura pois embora neces sitemos dos fundamentos para uma completa inteligibilidade daquilo que é dado no fenômeno não necessitamos das consequências Para pois organizar a tábua das ideias a partir da tábua das cate gorias tomemos primeiramente os dois quanta originários de todas as nossas intuições o espaço e o tempo O tempo é em si mesmo uma série e a condição formal de todas as séries e portanto nele devem ser diferenciados a priori em relação a um dado presente os ante cendentia como condições o passado e os consequentibus o futu ro Por conseguinte a ideia transcendental da totalidade absoluta da série das condições para um dado condicionado só vale para todo tempo passado Segundo a ideia da razão todo o tempo transcorrido como condição do instante dado é pensado necessariamente como dado No que diz respeito ao espaço porém não há nele em si mes B 438 B 439 355 mo qualquer diferença entre o progresso e o regresso já que ele não constitui uma série mas na medida em que suas partes são todas si multâneas um agregado Eu só podia pensar o ponto presente do tempo em relação ao tempo passado como condicionado e jamais como sua condição pois esse instante apenas surge primeiramente através do tempo transcorrido ou antes através do transcorrer do tempo passado Como no entanto as partes do espaço não são su bordinadas umas às outras mas coordenadas entre si uma parte não é condição de possibilidade da outra e ele ao contrário do tempo não constitui em si mesmo uma série A síntese de suas diversas partes contudo pela qual o apreendemos é sucessiva e portanto ocorre no tempo e contém uma série E como nessa série dos espaços agregados p ex dos pés em uma vara a partir de um espaço dado os demais introduzidos pelo pensamento são sempre a condição dos limites do anterior a medida de um espaço deve ser considerada como a síntese de uma série das condições para um dado condicionado só que o lado das condições não é em si mesmo distinto do lado em que reside B 440 o condicionado e portanto o regressus e o progressus parecem ser idênticos no espaço Como apesar disso uma parte do espaço não é dada por meio da outra mas limitada por ela então temos de conside rar todo espaço limitado também como um espaço condicionado que pressupõe um outro espaço como sua condição e assim por diante Em relação à limitação portanto a progressão no espaço é também um re gresso e a ideia transcendental da totalidade absoluta da síntese na sé rie das condições vale também para o espaço e eu posso perguntar tan to pela totalidade absoluta dos fenômenos no espaço como no tempo transcorrido Se também é possível dar uma resposta a tais questões é algo que será determinado futuramente Em segundo lugar a realidade no espaço i e a matéria é um condicionado cujas condições internas são suas partes e as partes das partes são as condições mais remotas de modo que se verifica aqui uma síntese regressiva cuja totalidade absoluta é exigida pela ra zão e só pode existir como uma divisão completa na qual a realidade da matéria desaparece no nada ou então naquilo que já não é maté ria a saber o simples Também aqui por conseguinte há uma série de condições e uma progressão até o incondicionado 356 Em terceiro lugar no que diz respeito às categorias da relação real sob os fenômenos a categoria de substância com seus acidentes não é apropriada para uma ideia transcendental i e a razão não tem qualquer fundamento para proceder regressivamente em relação a ela Pois os acidentes na medida em que são inerentes a uma única substância são coordenados entre si e não constituem uma série Em relação à substância contudo eles não lhe são subordinados mas sim o próprio modo de existir da substância O que poderia parecer aqui uma ideia da razão transcendental é o conceito de substancial Como ele não significa outra coisa no entanto senão o conceito de objeto em geral que subsiste na medida em que só se pense nele o sujeito transcendental sem quaisquer predicados e aqui se trata apenas do incondicionado na série dos fenômenos fica claro que o substan cial não poderia constituir um membro dela Exatamente o mesmo vale para as substâncias em comunidade que são meros agregados e não têm nenhum expoente de uma série já que não são subordi nados uns aos outros como condições de sua possibilidade tal como se podia perfeitamente dizer dos espaços cujos limites nun ca são determinados em si mas por meio de um outro espaço Só resta então a categoria de causalidade que oferece uma série das causas para um dado efeito na qual se pode ascender do último como condicionado para as primeiras como condições e assim res ponder à questão da razão Em quarto lugar os conceitos de possível real e necessário não conduzem a uma série a não ser na medida em que o contingente na existência tenha de ser sempre considerado como condicionado e re meta segundo a regra do entendimento para uma condição sob a qual é necessário remeter ela própria a uma condição mais elevada até que a razão encontre na totalidade dessa série a necessidade in condicionada Não há mais do que quatro ideias cosmológicas portanto de acordo com os quatro títulos das categorias caso se levem em conta aquelas que trazem consigo necessariamente uma série na síntese do diverso B 441 B 442 3 5 7 1 B 443 B 444 1 A complétude absoluta da composição do todo dado de todos os fenômenos 2 A completude absoluta da divisão de um dado todo no fenômeno 4 A completude absoluta da dependência da existência do modificável no fenômeno Devese observar primeiramente que a ideia da totalidade absolu ta não envolve outra coisa senão a exposição dos fenômenos e não portanto o conceito inteligível puro de um todo das coisas em geral Aqui portanto consideramse os fenômenos como dados e a razão exige a completude absoluta das condições de sua possibilidade na medida em que estas constituem uma série portanto uma síntese ab solutamente i e em todos os sentidos completa através da qual o fenômeno pode ser exposto segundo regras do entendimento Em segundo lugar é apenas o incondicionado que de fato a ra zão busca nessa síntese serial e regressivamente estendida como uma espécie de completude na série das premissas que conjuntamen te não pressupõem nenhuma outra Agora esse incondicionado está sempre contido na totalidade absoluta da série quando esta é repre sentada na imaginação Mas esta síntese absolutamente completa tam bém é por seu turno apenas uma ideia pois não se pode pelo menos de antemão saber se ela também seria possível nos fenômenos Caso se represente tudo através dos meros conceitos puros do entendimen to sem condições da intuição sensível podese dizer diretamente que para um dado condicionado também é dada a inteira série de condi ções subordinadas umas às outras pois aquele só é dado através des 3 A completude absoluta do surgimento de um fenômeno em geral 358 tas Nos fenômenos contudo encontrase uma limitação particular do modo como as condições são dadas a saber através da síntese sucessi va do diverso da intuição que deve ser completa no regresso Se agora esta síntese é possível na sensibilidade isto é ainda um problema Mas a ideia dessa completude reside na razão independentemente da possi bilidade ou impossibilidade de conectar a ela adequadamente concei tos empíricos Como portanto o incondicionado está necessariamente contido na totalidade absoluta da síntese regressiva do diverso no fenô meno sob a condução das categorias que a representam como uma sé rie das condições para um dado condicionado mesmo que se deixe in determinado se e como essa totalidade poderia ser produzida a razão toma aqui um caminho pois em que abandona a ideia da totalidade ainda que realmente tenha por propósito último o incondicionado seja da série inteira seja de uma parte dela Esse incondicionado pode ser concebido pois ou como consis tindo apenas na inteira série em que todos os membros sem exceção são condicionados de modo que apenas o seu todo seria absoluta mente incondicionado e o regresso se chamaria então infinito ou como sendo apenas uma parte da série à qual os demais membros se riam subordinados mas que não estaria ela própria sob nenhuma ou tra condição73 No primeiro caso a série não tem limites a parte priori não tem começo i e é infinita e embora seja inteiramente dada o regresso nunca é nela completo e só pode ser denominado infinito po tentialiter No segundo caso há um primeiro da série que se denomi na começo do mundo em relação ao tempo transcorrido limite do mundo em relação ao espaço o simples em relação às partes de um todo dado em seus limites absoluta autoatividade liberdade em re lação às causas necessidade absoluta da natureza em relação à exis tência das coisas modificáveis Nós temos duas expressões mundo e natureza que por vezes se confundem A primeira significa o todo matemático dos fenômenos e a totalidade de sua síntese tanto no grande como no pequeno i e 73 O todo absoluto da série das condições para um dado condicionado é sempre incondiciona do pois fora dela não há outras condições em relação às quais ele pudesse ser condicionado Mas esse todo absoluto de uma série é apenas uma ideia ou antes um conceito problemático cuja possibilidade tem de ser buscada e de fato na referência ao modo como o incondiciona do pode estar aí contido enquanto a verdadeira ideia transcendental de que se trata NA B 445 B 446 359 tanto na sua progressão por meio da composição como por meio da di visão Exatamente o mesmo mundo porém é denominado natureza74 quando se o considera como um todo dinâmico e se tem em vista não B 447 a agregação no espaço ou no tempo para produzilo como uma gran deza mas a unidade na existência dos fenômenos Denominase cau sa pois à condição daquilo que acontece e liberdade à causalidade incondicionada das causas no fenômeno ao passo que a condiciona da se denomina em sentido estrito causa da natureza O condiciona do na existência em geral se denomina contingente e o incondiciona do necessário A necessidade incondicionada dos fenômenos pode denominarse necessidade da natureza Denominei cosmológicas às ideias com que ora nos ocupamos em parte porque por mundo se entende o conjunto completo de to dos os fenômenos e nossas ideias também se direcionam para aquilo que é incondicionado entre os fenômenos em parte porque a palavra mundo em sentido transcendental significa a totalidade absoluta do conjunto completo das coisas existentes e nós dirigimos toda a nossa atenção apenas para a completude da síntese ainda que de fato apenas no regresso às condições Tendo em vista que além dis so essas ideias são todas transcendentes e embora não ultrapassem o objeto i e os fenômenos no que diz respeito ao seu tipo e só te nham que ver com o mundo dos sentidos não com noumenis levam a síntese até um grau que ultrapassa toda experiência possível então elas podem ser denominadas a meu ver de modo inteiramente apro B 448 priado conceitos cosmológicos No que diz respeito à diferença entre o incondicionado matemático e o dinâmico quanto a qual é visado pelo regresso eu denominaria aos dois primeiros em sentido estrito conceitos cosmológicos do mundo no grande e no pequeno e aos dois últimos conceitos transcendentes da natureza Esta distinção não é de particular relevância por enquanto mas se tornará mais im portante na sequência 74 Tomada adjective formaliter natureza significa a concatenação das determinações de uma coisa segundo um princípio interno da causalidade Por natureza substantive materialiter pelo contrário entendese o conjunto completo dos fenômenos na medida em que estes sâo inteiramente concatenados por meio de um princípio interno da causalidade No primeiro sentido se fala da natureza da matéria fluida do fogo etc e se emprega essa palavra apenas adjective quando pelo contrário se fala das coisas da natureza temse em mente um todo subsistente NA 360 Segunda seção Antitética da razão pura Se todo conjunto de doutrinas dogmáticas é uma tética eu en tendo por antitética não as afirmações dogmáticas do contrário mas o conflito dos conhecimentos aparentemente dogmáticos thesin cum antithesi sem que se atribua a um deles uma prerrogativa preferen cial de aprovação A antitética portanto não se ocupa com afirma ções unilaterais mas apenas considera os conhecimentos universais da razão no que diz respeito ao conflito deles entre si e às suas cau sas A antitética transcendental é uma investigação sobre a antinomia da razão pura suas causas e seus resultados Quando não aplicamos nossa razão somente aos objetos da experiência para o uso dos prin cípios do entendimento mas ousamos estendêla para além dos limi tes desta última surgem teoremas sofísticos que na experiência não podem esperar confirmação nem temer refutação e dentre os quais nenhum é em si mesmo isento de contradição mas encontra as condi ções de sua necessidade na natureza da razão muito embora o seu contrário infelizmente tenha de seu lado fundamentos igualmente válidos e necessários para suas afirmações São as seguintes portanto as questões que se apresentam natu ralmente em tal dialética da razão pura 1 Em quais proposições a ra zão pura é de fato irresistivelmente submetida a uma antinomia 2 Em que causas se baseia essa antinomia 3 Se e de que modo no en tanto permanece aberto à razão em meio a essa contradição um ca minho para a certeza Um teorema dialético da razão pura portanto tem de possuir esse diferencial em relação a todas as proposições sofísticas de dizer respeito não a uma questão arbitrária levantada para certos propósi tos pessoais mas sim a uma tal com que toda razão humana tem de deparar ao longo de seu progresso e em segundo lugar de trazer consigo juntamente com seu contrário não uma ilusão meramente artificial que desaparecesse tão logo se a compreendesse mas sim uma ilusão natural e inevitável que confunde mesmo quando já não se é seduzido por ela ainda que não engane que pode pois ser tor nada inofensiva ainda que não possa ser extirpada Tal doutrina dialética não se referirá à unidade do entendimento em conceitos da experiência mas sim à unidade da razão em meras B 449 B 450 361 ideias cujas condições na medida em que ela deve como síntese se gundo regras ser congruente primeiro com o entendimento e ao mesmo tempo como unidade absoluta dessa síntese com a razão serão grandes demais para o entendimento se tal unidade for ade quada à unidade da razão ou pequenas demais para a razão se forem adequadas ao entendimento donde então tem de surgir um conflito que por onde quer que se comece não pode ser evitado Essas afirmações sofísticas instauram assim um campo de bata lha dialético onde a parte que tem permissão para atacar detém o con trole das ações ao passo que aquela que é forçada a proceder apenas defensivamente acaba decerto por sucumbir Também os vigorosos ca valeiros portanto quer defendam a causa boa ou a má trarão os lou ros da vitória por certo caso se preocupem apenas em ter a prerrogati va de fazer o último ataque e não sejam obrigados a suportar um novo golpe do oponente Podese imaginar com facilidade que essa arena foi pisada com frequência desde tempos imemoriais e que ambos os lados B 451 lograram muitas vitórias mas também que a última vitória só foi deci siva porque sempre se cuidou que o defensor da boa causa fosse o único a ocupar o campo proibindose que o seu oponente pudesse continuar a segurar em armas Como juízes imparciais do combate temos de deixar inteiramente de lado se é pela causa boa ou pela má que os combatentes estão lutando e deixar que eles primeiro resol vam a questão entre si Depois de mais cansarse do que ferirse um ao outro eles talvez percebam por si mesmos a nulidade de suas ações bélicas e se despeçam como bons amigos Esse método de observar um conflito de afirmações ou antes abandonálo a si mesmo não para finalmente decidir pela vantagem de uma ou outra parte mas para investigar se o seu objeto não é tal vez uma mera fantasia à qual todos se agarram em vão e com a qual mesmo sem enfrentar qualquer resistência nada se pode ganhar esse procedimento digo eu pode ser denominado método cético Ele é inteiramente distinto do ceticismo que é o princípio de uma ignorância artificial e científica que mina as fundações de todo co nhecimento para não deixar em parte alguma qualquer confiança ou segurança no mesmo Pois buscando descobrir o ponto de mal entendido em tal conflito que é bemintencionado de ambos os la B 452 dos e conduzido com inteligência o método cético visa a certeza 362 para como costumam fazer os sábios legisladores extrair do emba raço dos juízes frente aos litígios um aprendizado para si mesmo sobre aquilo que é lacunar e imprecisamente determinado em suas leis A antinomia que se revela na aplicação das leis é em nossa limi tada sabedoria a melhor tentativa de provar a nomotética e assim chamar a atenção da razão que na especulação abstrata não se apercebe com facilidade de seus passos errados para os momentos na determinação de seus princípios Esse método cético contudo só é verdadeiramente apropria do à filosofia transcendental e pode em todo caso ser dispensa do em todos os outros campos da investigação mas não neste Na matemática o seu emprego seria absurdo pois as afirmações fal sas não podem nela ocultarse ou tornarse invisíveis pois as pro vas sempre têm de ser conduzidas sob o fio condutor da intuição pura e de fato através de uma síntese sempre evidente Na filoso fia experimental uma dúvida suspensiva pode ser bem útil mas não é possível nenhum malentendido que não possa ser facilmen te suprimido e os últimos meios para decidir a contenda têm de estar por fim na experiência quer sejam encontrados mais cedo ou mais tarde A moral também pode ao menos em experiências possíveis fornecer os seus princípios in concreto juntam ente com as consequências práticas e evitar assim o malentendido da abstração As afirmações transcendentais pelo contrário arrogamse um discernimento que se estende para muito além do campo de todas as experiências possíveis não podendo a sua síntese abstrata ser dada em alguma intuição a priori nem ser de tal modo constituída que o malentendido pudesse ser descoberto através de alguma experiência A razão transcen dental não admite outra pedra de toque portanto senão a ten tativa de unificar as suas afirmações entre si e isso por seu tur no exige antes uma competição livre e desimpedida entre elas que é o que agora começaremos75 7S As antinomias se seguem umas às outras segundo a ordem das ideias transcendentais acima introduzidas NAJ B 453 363 B 454 455 Primeiro conflito das ideias transcendentais da antinomia da ra zão pura b 454 Tese O mundo tem um começo no tempo e está encerrado em limites também no que diz respeito ao espaço Prova Pois caso se suponha que o mundo não tem um começo no tempo então uma eternidade terá transcorrido até cada ponto do tempo e portanto terseá escoado uma série infinita de estados sucessivos das coisas no mundo A eternidade de uma série contudo baseiase justamente em que ela não pode jamais ser completada por meio de uma síntese sucessiva É impossível portanto uma série infinita e transcorrida do mundo e o começo do mundo é pois uma condição necessária de sua existência que é o que se tinha primeiramente de provar Antítese B 455 O mundo não tem começo nem limites no espaço mas é infinito tanto em relação ao tempo como em relação ao espaço Prova Pois suponhase que o mundo tem um começo Como o começo é uma existência precedida por um tempo em que a coisa não existia é preciso que tenha havido um tempo em que 0 mundo não existia i e um tempo vazio Em um tempo vazio contudo não é possível 0 surgimento de uma coisa pois nenhuma parte de tal tempo tem em si antes de alguma outra uma condição distintiva de existência em vez de uma de inexistência quer se suponha que ela surge por si mesma ou por meio de outra causa Assim muitas séries de coisas podem de fato começar no mundo mas 0 próprio mundo não pode ter um começo e portanto é infinito em relação ao tempo passado 364 B456 Com relação ao segundo ponto suponhase o contrário e então o mundo será um todo infinito dado de coisas simultaneamente existentes Agora nós só podemos conceber a grandeza de um quanti que é dado a cada intuição somente no interior de certos limites através da síntese das suas partes e a sua totalidade nós só podemos conceber através da síntese completa ou da adição repetida da unidade a si mesma Para pois poder pensar como um todo o mundo que preenche todo espaço a síntese sucessiva das partes de um mundo infinito teria de ser considerada como completa i e um tempo infinito teria de ser considerado como transcorrido na enumeração de todas as coisas coexistentes o que é impossível Assim um agregado infinito de Com relação ao segundo ponto suponhase primeiramente o contrário a saber que o mundo é finito e limitado no que diz respeito ao espaço ele se encontra então em um espaço vazio que não é limitado Haveria portanto não apenas uma relação das coisas no espaço mas também das coisas com o espaço Como no entanto o mundo é um todo absoluto fora do qual não se encontra nenhum objeto da intuição e portanto nenhum correlato do mundo com o qual ele pudesse estar em relação a relação do mundo com o espaço vazio teria de ser uma relação do mundo com nenhum objeto Semelhante relação contudo e com ela a limitação do mundo através do espaço vazio não é nada no que diz respeito ao espaço portanto o mundo não Nós podemos intuir um quantum indetermi nado como um todo se ele está encerrado em limites sem precisar construir a totalidade do mesmo através de uma medição i e através da síntese sucessiva de suas partes Pois os li mites já determinam a completude na medida em que excluem todo acréscimo O conceito de totalidade não é outra coisa neste caso senão a representação da síntese com pleta de suas partes já que como não podemos deduzir o conceito a partir da intuição do todo a qual é neste caso impossível só podemos com preendêlo ao menos na ideia através da síntese das partes até completar o infinito B 457 365 coisas reais não pode ser é de modo algum limitado i e considerado como um todo ele é infinito no que diz dado nem portanto como respeito à extensão simultaneamente dado No que diz respeito à extensão no espaço por conseguinte um mundo não é infinito mas encerrado em seus limites que era o segundo ponto a provar 0 espaço é tão somente a forma da intuição ex terna intuição formal e não um objeto real que pudesse ser intuído extemamente Antes das coi sas que o determinam o preenchem ou limitam ou melhor dizendo que lhe fornecem uma in tuição empírica conforme à sua forma o espa ço não é outra coisa sob o nome de espaço ab soluto senão a mera possibilidade dos fenôme nos externos na medida em que estes ou exis tam em si mesmos ou possam ainda juntarse a dados fenômenos A intuição empírica portan to não é composta de fenômenos e do espaço da percepção e da intuição vazia Um não é o correlato da síntese do outro mas eles apenas se ligam em uma mesma intuição empírica como sua forma e matéria Se alguém quisesse separar da outra uma dessas peças o espaço fora de todos os fenômenos surgiriam daí to dos os tipos de determinações vazias da intuição externa que no entanto não são percepções possíveis por exemplo o movimento sem o re pouso do mundo no espaço infinitamente vazio uma determinação da relação de ambos entre si que não pode jamais ser percebida e portanto também não passa do predicado de um mero produto do pensamento 366 Observação à primeira antinomia B 458 459 B 458 À tese Nesses argumentos contrapostos uns aos outros eu não procurei fantasias para digamos como se costuma dizer aduzir uma prova de advogado que tira proveito da imprevidência do oponente e se compraz em deixar valer a interpretação equivocada que este último faz da lei para sobre a sua refutação edificar suas próprias pretensões ilegítimas Cada uma dessas provas foi extraída da natureza da questão e foi deixada de lado a vantagem que poderiam darnos as inferências errôneas dos dogmáticos de ambas as partes Eu também poderia ter provado a tese com certa plausibilidade se antecipasse segundo o hábito dos dogmáticos um conceito errôneo da infinitude de uma dada grandeza Uma grandeza é infinita quando não é possível nenhuma maior que ela i e maior que a variedade nela contida de uma dada unidade Mas nenhuma variedade é a maior pois sempre se poderiam acrescentar a ela uma ou mais unidades Logo uma grandeza À antítese A prova a favor da infinitude da série dada do mundo e do conjunto completo do mundo se baseia no seguinte que na suposição contrária o limite do mundo teria de ser constituído por um tempo vazio e do mesmo modo por um espaço vazio Eu não ignoro é certo que contra essa consequência foram buscadas escapatórias pretendendose que um limite do mundo no que diz respeito tanto ao tempo como ao espaço seria perfeitamente possível sem que se precisasse supor um tempo absoluto antes do começo do mundo ou um espaço absoluto estendido para fora do mundo real o que é impossível Com a última parte dessa opinião dos filósofos da escola leibniziana estou inteiramente satisfeito O espaço é apenas a forma da intuição externa e não um objeto real que pudesse ser intuído externamente ele não é um correlato dos fenômenos mas a forma dos próprios fenômenos O espaço não pode portanto apresentarse absolutamente por si só como algo determinante na existência B 459 367 B 460 infinita dada portanto também um mundo infinito seja quanto à série transcorrida seja quanto à extensão são impossíveis ele é portanto limitado de ambos os lados Eu poderia pois ter assim conduzido a minha prova mas esse conceito não concorda com aquilo que se entende por um todo infinito Nele não se representa o quão grande ele é o seu conceito também não é portanto o conceito de um máximo mas só é pensada nele a sua relação a uma unidade fortuitamente assumida em relação à qual ele é maior que qualquer número Conforme pois seja maior ou menor a unidade assumida o infinito seria maior ou menor a infinitude porém que consiste apenas na relação a essa unidade dada permaneceria sempre a mesma ainda que evidentemente a grandeza absoluta do todo não fosse através dela conhecida o que de qualquer forma não é aqui nosso assunto das coisas já que não é por certo um objeto mas apenas a forma de objetos possíveis Como fenômenos portanto as coisas determinam certamente o espaço i e fazem com que dentre todos os predicados possíveis do mesmo grandeza e relação este ou aquele pertençam à realidade inversamente porém o espaço não pode como algo subsistente por si mesmo determinar a realidade das coisas em relação à grandeza ou à figura pois em si mesmo não é algo real Um espaço pode pois seja pleno ou vazio ser limitado pelos fenômenos mas os fenômenos não podem ser limitados por um espaço vazio fora deles Exatamente o mesmo vale também para o tempo Concedido então tudo isso é ainda assim inquestionável que essas duas não coisas o espaço vazio e o tempo vazio antes do mundo tenham de ser integralmente admitidos caso se suponha um limite do mundo seja no que diz respeito ao tempo seja ao espaço Observase facilmente que aí se quis dizer na medida em que é limitado por fenómenos e portanto está dentro do mundo o espaço va zio pelo menos não contradiz os princípios transcendentais e portanto poderia ser admiti do em relação a eles ainda que sua possibilida de não seja por isso imediatamente afirmada B 461 368 0 conceito verdadeiro transcendental da infinitude é que na mensuração de um quantum a síntese sucessiva da unidade nunca pode ser completada Disso se segue seguramente que uma eternidade de estados reais sucessivos não pode ter transcorrido até um dado ponto do tempo o presente e que portanto o mundo tem de possuir um começo Com relação à segunda parte da tese cai realmente por terra a dificuldade concernente a uma série infinita e não obstante transcorrida pois o diverso de um mundo infinito quanto à extensão é dado ao mesmo tempo Para contudo pensar a totalidade de tal variedade sem poder apelar aos limites que constituem por si mesmos essa totalidade na intuição nós temos de prestar contas de nosso conceito que nesse caso não pode ir do todo à quantidade determinada das partes mas tem de estabelecer a possibilidade de um todo através da síntese sucessiva das partes Como esta síntese no entanto teria de constituir Pois no que diz respeito à saída pela qual se busca escapar à consequência segundo a qual nós dizemos que se o mundo tem limites no tempo e no espaço o vazio infinito teria de determinar a existência das coisas reais no que diz respeito à sua grandeza tratase de uma saída que no fundo consiste em em lugar do mundo sensível conceber um mundo inteligível sabese lá de que tipo em lugar do primeiro começo uma existência antecedida por um tempo do não ser pensar em geral uma existência que não pressupõe nenhuma outra condição no mundo em lugar do limite da extensão pensar fronteiras do todo do mundo e assim escapar do tempo e do espaço Aqui se trata apenas todavia do mundus phaenomenon e de sua grandeza em relação à qual não se pode fazer abstração das referidas condições da sensibilidade de modo algum sem suprimir a essência daquele Se é limitado o mundo sensível repousa necessariamente no vazio Este contém assim uma variedade de uma dada unidade que é maior que todo número e isso é o conceito matemático de infinito 369 B 462 463 B 462 uma série que nunca acaba não se pode pensar uma totalidade antes dela nem portanto através dela Pois o próprio conceito de totalidade é nesse caso a representação de uma síntese completa das partes e esta completude portanto também o seu conceito são impossíveis infinito Caso se queira abandonar a este e portanto ao espaçoem geral como condição a priori da possibilidade dos fenômenos então todo o mundo sensível desaparece 0 mundus intelligibilis não é outra coisa senão o conceito universal de um mundo em geral no qual se faz abstração de todas as condições de sua intuição e em relação ao qual portanto não é possível nenhuma proposição sintética seja afirmativa ou negativa Segundo conflito das ideias transcendentais da antinomia da razão pura Tese Cada substância composta no mundo se constitui de partes simples e em parte alguma não existe nada além do simples ou daquilo que seja a partir dele composto Prova Pois suponham que as substâncias compostas não se constituíssem de partes simples se toda composição fosse suprimida no pensamento não sobraria nenhuma parte composta nem Antítese Nenhuma coisa composta no mundo se constitui de partes simples e em parte alguma não existe nada nelas que seja simples Prova Suponham que uma coisa composta como substância se constitua de partes simples Como toda relação externa portanto também toda composição de substâncias só é possível no espaço então B 463 370 se não há partes simples nenhuma parte mais simples nem portanto nada e por conseguinte nenhuma substância teria sido dada Assim ou é impossível suprimir toda composição no pensamento ou tem de sobrar algo após a sua supressão que seja subsistente sem qualquer composição i e o simples No primeiro caso porém o composto não se constituiria por seu turno de substâncias pois nestas a composição é tão somente uma relação contingente de substâncias sem a qual estas teriam de consistir em seres permanentes por si B 464 mesmos Agora como este caso contraria a pressuposição resta apenas o segundo a saber que todo composto substancial no mundo é constituído de partes simples Disso se segue imediatamente que as coisas do mundo seriam todas seres simples que a composição seria apenas um estado externo das mesmas e que mesmo que não pudéssemos jamais retirar inteiramente as substâncias elementares desse estado de ligação e isolálas a razão teria de pensálas como o primeiro o espaço tem de ser constituído de tantas partes quanto o composto que o ocupa Agora o espaço não é constituído de partes simples mas sim de espaços Cada parte do composto portanto tem de ocupar um espaço Mas as partes absolutamente primeiras de todo composto são simples Logo o simples ocupa um espaço Como no entanto todo real que ocupa um espaço abarca em si uma diversidade de elementos que se encontram fora um do outro diverso e portanto é composto e como um composto real não é constituído de acidentes pois estes não podem sem substância existir um fora do outro mas de substâncias então o simples teria de ser um composto substancial o que é autocontraditório A segunda proposição da antítese pela qual não existiria nada simples no mundo deve aqui sign ifica r apenas que a b 465 existência do absolutamente simples não pode ser estabelecida a partir da experiência ou da percepção quer externa como interna de modo que o absolutamente simples seria uma mera ideia 371 sujeito de toda composição e portanto como um ser simples anterior a esta cuja realidade objetiva não pode ser jamais estabelecida em alguma experiência nem portanto na exposição dos fenômenos sem qualquer aplicação ou objeto Pois se quiséssemos admitir que pode ser encontrado um objeto da experiência para essa ideia transcendental teria de ser conhecida como tal a intuição empírica de um objeto a qual não conteria qualquer diversidade de elementos externos uns aos outros e ligados para constituir uma unidade Agora como não se pode inferir da falta de consciência dessa diversidade a sua completa impossibilidade na intuição de um objeto e esta no entanto é inteiramente necessária para a simplicidade absoluta seguese que esta última não pode ser inferida de percepção alguma qualquer que fosse ela Como portanto nada pode ser dado jamais em alguma experiência possível como um objeto absolutamente simples e o mundo dos sentidos todavia tem de ser considerado como o conjunto completo de todas as experiências possíveis então nenhum simples é de modo algum dado nela 372 Essa segunda proposição da antítese vai bem mais longe que a primeira que só bania o simples da intuição do composto na medida em que o expulsa de toda a natureza por isso ela também não pôde ser provada a partir do conceito de um dado objeto da intuição externa o composto mas sim a partir da sua relação a uma experiência possível em geral Observação à segunda antinomia B 466 467 À tese Quando falo de um todo que se constitui necessariamente de partes simples entendo por isso apenas um todo substancial como o verdadeiro compositum i e a unidade contingente do diverso que dado separadamente ao menos no pensamento é situado em uma relação recíproca e assim constitui algo uno 0 espaço não deveria ser denominado compositum mas sim totum pois as suas partes é que são possíveis apenas no todo e não o todo através das partes Ele poderia de todo modo ser denominado compositum ideale mas não reale Mas isto é apenas À antítese Contra essa proposição de uma divisão infinita da matéria cuja demonstração é meramente matemática são levantadas objeções pelos monadistas que já se fazem suspeitas ao não admitir as provas matemáticas mais claras como um discernimento da constituição do espaço na medida em que este é de fato condição formal da possibilidade de toda matéria e ao considerálas em vez disso como meras inferências a partir de conceitos abstratos mas arbitrários que não poderiam ser referidos a coisas reais Como se fosse possível conceber um outro tipo de B 467 373 uma sutileza Como o espaço não é um composto de substâncias nem sequer de acidentes reais então nada pode restar nem mesmo um ponto se eu suprimo toda composição nele pois isso só seria possível como o limite de um espaço portanto de um B 468 composto O espaço e o tempo não se constituem portanto de partes simples Também aquilo que pertence apenas ao estado de uma substância mesmo que tenha uma grandeza p ex a modificação não se constitui do simples i e nenhum grau da modificação surge através da acumulação de muitas modificações simples Nossa inferência do simples a partir do composto vale apenas para coisas subsistentes por si mesmas Os acidentes de um estado contudo não subsistem por si mesmos Assim a prova da necessidade do simples como componente de todo composto substancial pode ser facilmente derrubada e com ela a sua causa em geral caso se a estenda longe demais e se queira aplicála indistintamente a todo composto tal como de fato já aconteceu muitas vezes intuição que não aquela que é originada na intuição originária do espaço e como se as determinações deste não se aplicassem a priori a tudo aquilo que só é possível na medida em que preencha esse espaço Se lhes déssemos ouvidos seria preciso para além do ponto matemático que é simples mas não é uma parte e sim um limite do espaço pensar também pontos físicos que embora também simples têm a vantagem de preencher o espaço como suas partes através de mera agregação Sem repetir aqui a usual e clara refutação desse absurdo que se encontra aos montes visto ser inteiramente vão querer afastar sofisticamente através de meros conceitos discursivos a evidência da matemática observo apenas que se a filosofia querela aqui com a matemática isto acontece B 469 porque ela se esquece que nessa questão apenas os fenômenos e suas condições estão em jogo Aqui não é suficiente contudo encontrar o conceito do simples para o conceito inteligível puro do composto mas seria também necessário encontrar a 374 De resto só falo aqui do simples na medida em que ele é necessariamente dado no composto que pode ser dissolvido em seus componentes O verdadeiro B470 sentido da palavra monas segundo o uso de Leibniz devia referirse apenas ao simples que pode ser dado imediatamente como substância simples p ex na autoconsciência e não ao elemento do composto que poderia mais propriamente ser denominado atomus E como é somente em relação ao composto que quero provar as substâncias simples como seus elementos então eu poderia denominar atomística transcendental à tese da segunda antinomia Como no entanto esta palavra já foi usada por muito tempo para designar um particular modo de explicar os fenômenos corpóreos molecularum e portanto pressupõe conceitos empíricos ela pode então denominarse princípio dialético da monadologia intuição do simples para a intuição do composto da matéria e isto é inteiramente impossível segundo as leis da sensibilidade portanto também em relação aos objetos dos sentidos Assim mesmo que seja sempre válido para um todo de substâncias meramente pensado pelo entendimento que nós temos de possuir o simples isto não vale para o totum substantiate phaenomenon que como intuição empírica no espaço traz consigo a propriedade necessária de que nenhuma parte sua é simples porque nenhuma parte do espaço é simples Os monadistas entretanto foram sutis o suficiente para querer afastar essa dificuldade pressupondo não o espaço como uma condição de possibilidade dos objetos da intuição externa corpos mas sim a estes e à relação dinâmica das substâncias em geral como condição de possibilidade do espaço Agora nós só temos um conceito dos corpos como fenômenos e eles como tais pressupõem necessariamente o espaço como a condição de possibilidade de todo fenômeno externo e é inútil a 3 7 5 escapatória portanto que também na estética transcendental mais acima foi suficientemente descartada Se eles fossem coisas em si mesmas a prova dos monadistas certamente valeria A segunda afirmação dialética possui a peculiaridade de ter contra si uma afirmação dogmática que dentre todas as afirmações sofísticas é a única a assumir o empreendimento de provar de maneira evidente em um objeto da experiência a realidade daquilo que nós contávamos acima apenas entre as ideias transcendentais a saber a simplicidade absoluta da substância provar pois que o objeto do sentido interno o eu que aí pensa seria uma substância absolutamente simples Sem entrar agora nisso que foi acima extensamente tratado observo apenas que se algo é pensado apenas como objeto sem acrescentarse nenhuma determinação sintética de sua intuição tal como acontece na representação inteiramente nua do eu em tal representação não poderia ser percebido nada de diverso nem uma composição Como além disso os predicados pelos quais eu B 471 376 penso esse objeto são meras intuições do sentido interno não pode apresentarse nele nada que prove elementos diversos externos uns aos outros nem portanto uma composição real Apenas a autoconsciência portanto tem a propriedade de na medida em que o sujeito que pensa é seu próprio objeto não poder dividirse a si mesma ainda que possa dividir as determinações que lhe são inerentes pois em relação a si mesma cada objeto é uma unidade absoluta Se esse sujeito no entanto é considerado externamente como um objeto da intuição ele poderia perfeitamente mostrar em si uma composição no fenômeno Mas é assim que ele tem de ser sempre considerado caso se queira saber se há nele ou não elementos diversos externos uns aos outros Terceiro conflito das ideias transcendentais da antinomia da razão pura 8 472 Tese Antítese A causalidade segundo leis da Não há liberdade e tudo no natureza não é a única a partir mundo acontece segundo leis da qual os fenômenos do da natureza mundo possam ser deduzidos em seu conjunto Para explicálos é também necessário assumir uma causalidade por meio da liberdade B 472 473 B 473 377 Prova Suponhase que não há nenhuma outra causalidade a não ser segundo leis da natureza tudo o que acontece portanto pressupõe um estado anterior ao qual ele se segue inexoravelmente segundo uma regra Agora o estado anterior também tem de ser ele próprio algo que aconteceu veio a ser no tempo já que antes não existia pois se houvesse existido desde sempre sua consequência também não poderia ter surgido uma primeira vez mas teria existido desde sempre A causalidade das causas portanto pelas quais acontece algo é ela própria algo acontecido que por seu turno pressupõe segundo leis da natureza um estado anterior e sua causalidade que novamente pressupõe outro estado anterior e assim por diante Se tudo pois acontecesse segundo meras leis da natureza haveria apenas um começo subalterno e jamais b 474 um primeiro começo nem portanto uma completude da série pelo lado das causas oriundas umas das outras Agora a lei da natureza consiste justamente no Prova Suponham que há uma liberdade em sentido transcendental como um tipo particular de causalidade pela qual os acontecimentos do mundo poderiam ocorrer qual seja uma faculdade de começar absolutamente um estado e portanto também uma série de consequências do mesmo não apenas a série portanto mas a própria determinação da espontaneidade para produzir a série i e a causalidade são iniciadas absolutamente por essa espontaneidade de tal modo que não a antecede nada que determinasse essa ação que acontece segundo leis constantes Todo começo de ação no entanto pressupõe o estado da causa ainda não atuante e um primeiro começo dinâmico da ação pressupõe um estado que não tem nenhuma concatenação causal com o estado precedente dessa mesma causa i e não se segue a ele de modo algum A liberdade transcendental se contrapõe à lei causal portanto e essa ligação dos estados sucessivos de causas B 475 atuantes pela qual não é possível uma unidade da experiência que pois 378 seguinte que nada acontece sem uma causa suficientemente determinada a priori Assim a proposição segundo a qual toda causalidade só seria possível segundo leis da natureza contradizse a si mesma em sua ilimitada universalidade não podendo tal causalidade pois ser assumida como a única De acordo com isso tem de ser admitida uma causalidade pela qual algo acontece sem que a sua causa também seja determinada por uma outra causa anterior segundo leis necessárias i e uma espontaneidade absoluta das causas uma série de fenômenos que operam segundo leis da natureza começando por si mesma uma liberdade transcendental sem a qual a sequência dos fenômenos mesmo no curso da natureza não seria jamais completa pelo lado das causas também não poderia ser encontrada na experiência é portanto um mero produto do pensamento Só temos a natureza portanto onde procurar a concatenação e a ordem dos acontecimentos do mundo A liberdade independência das leis da natureza é de fato uma libertação da coerção mas também o é em relação ao fio condutor de todas as regras Pois não se pode dizer que em vez das leis da natureza entram leis da liberdade na causalidade do curso do mundo já que se esta fosse determinada segundo leis já não seria liberdade mas ela própria natureza Natureza e liberdade transcendental se diferenciam portanto como conformidade a leis e ausência de leis a primeira delas sobrecarregando o entendimento com a dificuldade de procurar a origem dos acontecimentos sempre mais alto na série das causas visto ser sempre condicionada a causalidade nestas últimas mas prometendo também em compensação uma unidade da experiência que é completa e conforme as leis ao passo que a 379 B 476 477 B 476 fantasia da liberdade promete repouso na cadeia das causas ao entendimento investigativo na medida em que o conduz a uma causalidade incondicionada que começa a atuar por si mesma mas esta última sendo cega destrói o único fio condutor das regras em que uma experiência completamente concatenada seria possível Observação à terceira antinomia À tese Embora a ideia transcendental da liberdade esteja longe de constituir o conteúdo completo do conceito psicológico desse nome que é em grande parte empírico mas constitua apenas o conteúdo da absoluta espontaneidade da ação como o verdadeiro fundamento desta ela é ainda assim a verdadeira pedra de escândalo para a filosofia que encontra dificuldades insuperáveis para admitir tal tipo de causalidade incondicionada Aquilo pois que desde sempre colocou a razão em tamanho embaraço na questão sobre a liberdade da vontade é na verdade apenas transcendental e só diz À antítese O defensor da onipotência da natureza fisiocracia transcendental em contraposição à doutrina da liberdade defenderia sua proposição contra as inferências sofísticas da última do seguinte modo Se vocês não admitirem um primeiro matemático no mundo segundo o tempo também não precisarão buscar um primeiro dinâmico segundo a causalidade Quem lhes deu a ideia de conceber um estado absolutamente primeiro do mundo e portanto um começo absoluto da série continuamente sucessiva dos fenômenos e para B 477 380 respeito a saber se deveria ser admitida uma faculdade de iniciar por si mesmo uma série de coisas ou estados sucessivos Quanto a como é possível tal faculdade isto não é algo que seja tão necessário poder responder já que temos de considerarnos igualmente satisfeitos no que diz respeito à causalidade segundo leis da natureza de poder saber a priori que ela tem de ser pressuposta mesmo que não possamos de modo algum compreender a possibilidade de uma certa existência ser posta por uma outra e tenhamos quanto a isso de aternos simplesmente à experiência Agora nós já estabelecemos essa necessidade do primeiro começo de uma série de fenómenos a partir da liberdade na medida em que de fato era tão somente exigido para a compreensão de uma origem do mundo ao passo que todos os estados seguintes podem ser tomados por uma sucessão segundo B 478 meras leis da natureza Como no entanto a faculdade de começar apenas por si mesmo uma série no tempo foi assim provada ainda que não compreendida também nos proporcionar um ponto de repouso à sua imaginação colocar limites à ilimitada natureza Como as substâncias sempre existiram no mundo ao menos a unidade da experiência torna necessária esta pressuposição não há qualquer dificuldade em admitir também que a mudança de seus estados i e uma série de suas modificações tenha sempre existido e assim que não seja preciso buscar um primeiro começo seja matemático ou dinâmico A possibilidade de tal derivação infinita sem um primeiro membro do qual todo o resto seria meramente subsequente não pode ser compreendida quanto à sua possibilidade Mas se com isso vocês querem afastar esses enigmas da natureza também será preciso abandonar muitas constituições sintéticas fundamentais forças fundamentais que vocês igualmente não podem compreender e mesmo a b 479 possibilidade de uma modificação em geral se lhes tornará inexplicável Pois se vocês não conseguem descobrir pela experiência que ela é real jamais poderiam conceber a priori como é possível essa 381 é permitido a partir de agora deixar que comecem por si mesmas em meio ao curso do mundo diferentes séries segundo a causalidade e atribuir às substâncias delas uma faculdade de agir por liberdade Não se deve deixar contudo que um malentendido nos detenha aqui a saber o de achar que porque uma série sucessiva no mundo só pode ter um primeiro começo comparativo já que sempre lhe antecede um estado das coisas no mundo não seria possível um primeiro começo absoluto das séries durante o curso do mundo Pois aqui não falamos de um primeiro começo absoluto segundo o tempo mas sim segundo a causalidade Se eu agora por exemplo levantome de minha cadeira de maneira inteiramente livre e sem a influência necessariamente determinante das causas da natureza começa então com esse acontecimento e suas consequências naturais ao infinito uma série absolutamente nova ainda que esse acontecimento seja apenas segundo o tempo a continuação de uma série precedente Pois esta decisão e este fato não repousam por sequência incessante de ser e não ser Mesmo que apesar disso fosse concedida uma faculdade transcendental da liberdade para iniciar as modificações do mundo ela teria de estar ao menos fora do mundo por mais que permaneça sempre a audaciosa suposição de admitir também fora do conjunto completo de todas as intuições possíveis um objeto que não pode ser dado em uma percepção possível Mas jamais pode ser permitido atribuir tal faculdade às próprias substâncias no mundo pois nesse caso desapareceria em grande medida a interconexão segundo leis universais dos fenômenos determinandose uns aos outros à qual se costuma denominar natureza e com ela a marca característica da verdade empírica que distingue a experiência do sonho Pois face a essa faculdade sem leis da liberdade tornase praticamente impossível pensar uma natureza já que as leis desta última seriam incessantemente modificadas pela influência da primeira e o jogo dos fenômenos que é regular e homogêneo segundo 382 certo na sucessão de meros a mera natureza seria tornado efeitos naturais e não são uma confuso e desconexo mera continuação dos mesmos as causas naturais determinantes é que cessam inteiramente antes deles no que diz respeito a tal acontecimento o qual embora se siga a eles não resulta deles e portanto tem de ser denominado um começo absolutamente primeiro de uma série de fenômenos não segundo o tempo mas no que diz respeito à causalidade A confirmação da necessidade da razão de na série das causas naturais apelar a um primeiro começo a partir da liberdade lança luz sobre a circunstância de que todos os filósofos da Antiguidade excetuada a escola epicurista se viam forçados para explicar os movimentos do mundo a admitir um primeiro motor i e uma causa livremente atuante que primeiro começava por si mesma essa série de estados Pois eles não se arriscaram a tornar um primeiro começo compreensível a partir da mera natureza 383 B 480 481 Quarto conflito das ideias transcendentais da antinomia da razão pura B 480 Tese Ao mundo pertence algo que seja como sua parte ou sua causa é um ser absolutamente necessário Prova Como todo dos fenômenos o mundo sensível contém ao mesmo tempo uma série de modificações Pois sem estas não nos seria dada nem mesmo a representação da série temporal como uma condição de possibilidade do mundo sensível Toda modificação contudo está sob a sua condição que antecede o tempo e sob a qual ela é necessária Agora todo condicionado que é dado pressupõe em relação à sua existência uma série completa das condições até o absolutamente incondicionado que é a única coisa absolutamente necessária Tem de existir algo absolutamente necessário portanto se existe Antítese b ísj Não existe em parte alguma nem no mundo nem fora dele um ser absolutamente necessário como sua causa Prova Suponham que o próprio mundo ou algo nele seja um ser necessário ou haveria um começo na série de suas modificações que seria incondicionalmente necessário portanto sem causa o que contradiz a lei dinâmica da determinação de todos os fenômenos no tempo ou a série mesma não teria começo e embora contingente e condicionada em todas as suas partes seria absolutamente necessária e incondicionada em seu todo o que contradiz a si mesmo já que a existência de uma variedade não pode ser necessária quando nem uma única de suas partes possui em si uma existência necessária Como condição formal da possibilidade das modificações o tempo as antecede de fato objetivamente mas esta representação como todas as outras só é dada subjetivamente e na realidade da consciência por ocasião das percepções 384 uma modificação como sua consequência Esse necessário porém pertence ele próprio ao mundo sensível Pois suponham que ele estivesse fora dele a série das modificações do mundo derivaria dele seu começo sem B 482 que esta causa necessária pertencesse ela própria ao mundo sensível Mas isto é impossível Pois uma vez que o começo de uma série temporal só pode ser determinado através daquilo que vem antes no tempo a condição mais elevada do começo de uma série de modificações no tempo tem de existir onde tal série ainda não existia pois o começo é uma existência precedida por um tempo em que a coisa que começa não existia ainda Assim a causalidade das causas necessárias das modificações portanto também a causa mesma pertencem ao tempo portanto ao fenômeno em que o tempo é possível como sua forma consequentemente ela não pode ser pensada como Suponham pelo contrário que houvesse uma causa absolutamente necessária do mundo fora do mundo ela daria início como o membro B 483 mais alto na série das causas das modificações do mundo à existência destas últimas e à sua série Ela teria então no entanto de também começar a agir e a sua causalidade pertenceria ao tempo e justamente por isso também ao conjunto completo dos fenômenos i e ao mundo e ela própria por conseguinte a causa não estaria fora do mundo o que contradiz a pressuposição Logo um ser absolutamente necessário não existe nem no mundo nem fora dele ainda que em ligação causal com ele A palavra começar é tomada em um duplo sentido O primeiro é ativo quando a causa dá início infit a uma série de estados como seu efeito o segundo é passivo quando a causali dade começa fil na própria causa Aqui eu in firo o último do primeiro 385 separada do mundo dos sentidos como o conjunto completo de todos os fenômenos No próprio mundo portanto está contido algo absolutamente necessário quer este seja a própria série completa do mundo quer uma parte dela Observação à quarta antinomia B 484 485 b 484 À tese Para provar a existência de um ser necessário não posso utilizar aqui nenhum outro argumento além do cosmológico que ascende do condicionado no fenômeno até o incondicionado no conceito na medida em que este seja considerado a condição necessária da totalidade absoluta da série Buscar a prova a partir da mera ideia de um ser em geral superior a todos os demais cabe a um outro princípio da razão e tal prova terá por isso de ser apresentada em separado A prova cosmológica pura só pode estabelecer a existência de um ser necessário pois deixando indecidido ao mesmo tempo se ele é o próprio mundo ou uma coisa dele À antítese B 485 Quando ao ascender na série de fenômenos julgamos encontrar dificuldades relativas à existência de uma causa suprema absolutamente necessária estas não podem estar fundadas no mero conceito da existência de uma coisa em geral nem portanto ser ontológicas mas devem surgir da ligação causal com uma série de fenômenos para admitir uma condição desta que seja ela própria incondicionada e ser portanto cosmológicas e inferidas a partir de leis empíricas É preciso mostrar com efeito que a ascensão na série das causas no mundo sensível não poderia jamais ter seu fim em uma condição empiricamente incondicionada e que o 386 distinta Pois para averiguar isto são exigidos princípios que já não são cosmológicos nem continuam na série dos fenômenos mas são conceitos de seres contingentes em geral considerados tão somente como objetos do entendimento e um princípio para conectar tais seres com um ser necessário através de meros conceitos sendo tudo isso o assunto de uma filosofia transcendente para a qual ainda não há aqui um lugar Se no entanto iniciase a prova cosmologicamente colocandose como fundamento a série de fenômenos e o regresso nela segundo leis empíricas da causalidade não se pode depois saltar para fora dela e passar a algo que absolutamente não é um B486 membro da série Pois algo tem de ser considerado como condição no mesmo sentido em que era tomada a relação do condicionado à sua condição na série a qual deveria conduzir a esta condição mais elevada em uma progressão contínua Agora se essa relação é sensível e pertence ao uso empírico possível do entendimento a condição mais elevada ou causa só pode argumento cosmológico a partir da contingência dos estados do mundo devido às suas modificações acaba por ser contrário à suposição de uma causa primeira capaz de dar um início absoluto à série Mostrase nessa antinomia B 487 contudo um curioso contraste seguindose o mesmo argumento que na tese permitia inferir a existência de um ser originário inferese na antítese com o mesmo rigor a inexistência do mesmo Primeiro se dizia que há um ser necessário porque todo o tempo passado abarca em si a série de todas as condições e portanto também o incondicionado necessário Agora se diz que não há um ser necessário justamente porque todo o tempo transcorrido abarca em si a série de todas as condições que por seu turno são todas condicionadas A causa disso é a seguinte O primeiro argumento só tem em vista a totalidade absoluta da série das condições que se determinam umas às outras no tempo e obtém desse modo algo incondicionado e necessário O segundo pelo contrário leva em consideração a contingência de tudo 387 encerrar o regresso segundo leis da sensibilidade portanto como pertencente à série temporal e o ser necessário tem de ser considerado como o membro mais elevado da série do mundo Apesar disso houve quem tomasse a liberdade de dar esse salto pexúpaôiç eíç áXko yévoç mudança para uma outra espécie Das modificações no mundo com efeito inferiram a contingência empírica i e a dependência de tais modificações em relação às causas empiricamente determinadas e obtiveram uma série ascendente de condições empíricas o que de fato estava inteiramente correto Como no entanto não podiam encontrar aí nenhum primeiro começo e nenhum membro supremo saíram logo do conceito empírico de contingência e adotaram a categoria pura que deu então origem a uma série meramente inteligível cuja completude se baseava na existência de uma causa absolutamente necessária a qual não estando vinculada a condições sensíveis nem mesmo à condição do tempo para iniciar por si mesma sua causalidade aquilo que é determinado na série temporal pois tudo é precedido por um témpo em que a condição tem de ser ela própria determinada como condicionada e com isso caem completamente por terra todo incondicionado e toda necessidade absoluta Em ambos os casos porém o modo de inferir é inteiramente adequado à razão humana comum que muitas vezes entra em conflito consigo mesma por considerar seu objeto de dois pontos de vista diferentes O Sr Vòn Marian considerou como um estranho fenômeno Phànomen o conflito entre dois conhecidos astrônomos que havia surgido de uma dificuldade semelhante quanto à escolha do ponto de vista para então redigir um tratado especial sobre o assunto O primeiro de fato raciocinava assim a lua gira em torno de seu eixo porque sempre volta o mesmo lado à terra e o segundo a lua não gira em torno do seu eixo justamente porque sempre volta o mesmo lado à terra Ambas as inferências estavam corretas dependendo do ponto de vista que se quisesse adotar para observar o movimento da lua B 489 388 ficou a partir de então livre para fazêlo Tal procedimento contudo tal como se poderá concluir do que segue é inteiramente ilegítimo É contingente no sentido puro da categoria aquilo cujo oposto contraditório é possível Agora da contingência empírica não se pode de modo algum inferir a inteligível Se 488 algo é modificado o seu oposto de seu estado é real em outro tempo portanto também possível logo este não é o oposto contraditório do estado anterior para o qual se exige que no mesmo tempo em que o estado anterior existia o seu oposto pudesse existir o que certamente não pode ser inferido a partir da modificação Um corpo que estava em movimento A passa ao repouso não A Do fato pois de um estado oposto ao estado A se seguir a ele não se pode inferir que o oposto contraditório de A seja possível e portanto que A seja contingente pois para isso se exigira que pudesse haver o repouso no mesmo tempo em que havia o movimento Nós só sabemos porém que o repouso era real no momento seguinte e portanto também possível 389 B 490 O movimento em um tempo contudo e o repouso em outro não se opõem contraditoriamente um ao outro Logo a sucessão de determinações opostas i e a modificação não prova de modo algum a contingência segundo conceitos do entendimento puro e também não pode portanto conduzir à existência de um ser necessário segundo conceitos puros do entendimento A modificação prova apenas a contingência empírica i e que segundo a lei da causalidade o novo estado não poderia sem uma causa pertencente ao tempo anterior ter lugar por si mesmo Mesmo se tomada como absolutamente necessária essa causa tem de ser encontrada desse modo no tempo e pertencer à série dos fenômenos Terceira seção Do interesse da razão neste seu conflito Aí está pois o inteiro jogo dialético das ideias cosmológicas que de modo algum admitem que lhes seja dado um objeto congruente em alguma experiência possível e nem mesmo que a razão as pense em consonância com as leis universais da experiência mas que ape sar disso não são concebidas de maneira arbitrária na verdade a ra zão é conduzida a elas em uma progressão contínua da síntese empí rica quando quer libertar e abarcar em sua totalidade incondiciona da aquilo que segundo as regras da experiência só pode ser determi nado de maneira condicionada Essas afirmações sofísticas são tantas 390 tentativas quanto pode haver nem mais nem menos para solucio nar os quatro problemas naturais e inevitáveis da razão já que não há outras séries de pressuposições sintéticas capazes de limitar a priori a síntese empírica Nós representamos as brilhantes suposições da razão que esten dem o seu âmbito para além de todos os limites da experiência em fórmulas secas que contêm apenas o fundamento de suas pretensões legítimas e como é apropriado a uma filosofia transcendental retira mos destas todo o seu conteúdo empírico ainda que as afirmações da razão só possam reluzir com todo o seu brilho em ligação com tal conteúdo Nesta aplicação porém e na extensão progressiva do uso da razão que parte do campo das experiências e se eleva gradativa mente até essas sublimes ideias a filosofia mostra uma dignidade que se ela apenas pudesse defender suas suposições deixaria o valor de todas as demais ciências humanas muito abaixo de si já que pro mete as bases para todas as nossas grandes expectativas e perspecti vas sobre os fins últimos a que todos os esforços da razão deveriam afinal convergir Tomemse as questões se o mundo tem um começo e algum limite de sua extensão no espaço se há em alguma parte e tal vez em meu eu pensante uma unidade indivisível e indestrutível ou se não há nada além do divisível e do perecível se em minhas ações sou livre ou como os demais seres conduzido pelo fio da natureza se existe afinal uma causa suprema do mundo ou se as coisas da nature za e sua ordem constituem o objeto último a que temos de aternos em todas as nossas considerações Tais são questões a que um mate mático dedicaria com prazer toda a sua ciência pois esta não pode proporcionarlhe satisfação em relação aos fins mais elevados e culti vados da humanidade Mesmo a verdadeira dignidade da matemática este orgulho da razão humana se baseia no fato de que na medida em que ela fornece orientação à razão para compreender a natureza em sua ordem e regularidade tanto no grande como no pequeno e discernir a admirável unidade das forças que a movem para muito além das expectativas da filosofia que se edifica sobre a experiência comum ela assim dá ocasião e encorajamento ao próprio uso da ra zão que se estende para além de toda experiência e provê a filosofia que disso se ocupa com os materiais mais adequados para na medida em que sua constituição permita dar suporte à sua pesquisa através de intuições apropriadas B 491 B 492 391 1 Infelizmente para a especulação mas talvez felizmente para a destinação prática do ser humano a razão se vê de tal modo enreda da em uma profusão de fundamentos e contrafuridámentos no que diz respeito às suas mais elevadas expectativas que não sendo factí vel seja devido à sua honra seja devido à sua segurança retroce der e indiferentemente considerar essa disputa como um mero jogo muito menos declarar a paz já que o objeto da disputa lhe interessa muito não lhe resta nada a não ser refletir sobre a origem dessa desu nião da razão consigo mesma se ela não seria por acaso fruto de um B 493 mero malentendido cuja elucidação embora ocasionando a queda de orgulhosas pretensões de ambos os lados daria início a um pacífico e duradouro governo da razão sobre o entendimento e os sentidos Por ora nós vamos deixar essa explicação rigorosa de lado e an tes tomar o seguinte em consideração de que lado preferiríamos lu tar caso fôssemos forçados a tomar partido Embora não questione mos nesse caso o critério lógico da verdade mas apenas nosso inte resse e embora isso não implique nada em relação ao direito das par tes litigantes essa investigação pode ter a utilidade de tornar compre ensível por que os combatentes preferiram lutar deste ou daquele lado sem que um discernimento mais profundo do objeto tenha sido a razão disso ou então de esclarecer outras coisas acessórias como por exemplo a veemência inflamada de uma parte e a asserção fria da outra ou por que aclamam um partido com alegres aplausos e são prévia e irreconciliavelmente contrários ao outro Se há algo porém que determina o único ponto de vista nesse julgamento provisório a partir do qual ele pode ser estabelecido com o devido rigor esse algo é a comparação dos princípios de que partem ambos os lados Entre as observações da antítese observase uma ho mogeneidade perfeita do modo de pensar e uma unidade integral das B 494 máximas qual seja o princípio do empirismo puro não apenas na ex plicação dos fenômenos no mundo mas também na dissolução das ideias transcendentais do todo do próprio mundo As afirmações da tese por outro lado tomam por fundamento além das explicações empíricas no interior da série dos fenômenos começos intelectuais e a máxima nessa medida não é tão simples Eu a denominarei con tudo a partir de sua essencial marca distintiva o dogmatismo da ra zão pura 392 i Assim do lado do dogmatismo na determinação das ideias cos mológicas da razão ou da tese mostrase Em primeiro lugar um certo interesse prático em que toda pes soa bemintencionada se compreende bem sua verdadeira vantagem toma parte calorosamente Que o mundo tenha um começo que o meu eu pensante seja de natureza simples e portanto incorruptível que este seja ao mesmo tempo livre em suas ações e elevado acima da coerção da natureza e que finalmente a inteira ordem das coisas que constituem o mundo venha de um ser originário que a tudo em presta unidade e conexão conforme a fins tais são algumas pedras fundamentais da moral e da religião A antítese nos rouba esse ponto de apoio ou ao menos parece roubálo Em segundo lugar um interesse especulativo da razão que se exprime deste lado Pois caso se assuma e utilize esse tipo de ideia transcendental podese de modo inteiramente a priori abarcar toda a cadeia das condições e começando pelo incondicionado compreen der a derivação do condicionado algo que a antítese não consegue sentindose muito mal por não poder oferecer à pergunta pelas condi ções de sua síntese qualquer resposta que não permaneça indefinida mente aberta a novas perguntas Segundo ela é preciso ascender de um dado começo a um outro ainda mais elevado cada parte conduz a uma parte ainda menor cada acontecimento tem outro acontecimen to acima de si como sua causa e as condições da existência em geral sempre se apoiam em alguma outra sem jamais atingir em uma coisa autossubsistente como ser originário um ponto incondicional de pa rada e repouso Em terceiro lugar este lado tem também a vantagem da popula ridade que não constitui decerto a menor parte de seu prestígio O entendimento comum não encontra a menor dificuldade nas ideias do começo incondicionado de toda síntese já que está de qualquer modo bem mais habituado a descer em direção às consequências do que a subir em direção aos fundamentos e tem nos conceitos de um primeiro absoluto sobre cuja possibilidade não especula uma como didade e ao mesmo tempo um ponto fixo onde amarrar o fio condu tor de seus passos enquanto que não pode encontrar qualquer pra zer em ascender incessantemente sempre com os pés no ar do condi cionado para a condição B 495 393 B 496 Do lado do empirismo na determinação das ideias cosmológicas ou da antítese encontramse Em primeiro lugar nenhum interesse prático a partir de princí pios puros da razão tal como aqueles que a moral e a religião trazem consigo O mero empirismo parece antes tirar a ambas a sua força e influência Se não há nenhum ser originário distinto do mundo se o mundo não tem começo nem portanto um criador se a nossa vonta de não é livre e a alma tem a mesma divisibilidade e perecibilidade que a matéria então também as ideias e princípios morais perdem toda validade e caem com as ideias transcendentais que constituem suas proposições teóricas Por outro lado o empirismo oferece vantagens ao interesse espe culativo da razão que são muito sedutoras e ultrapassam de longe aquelas que o professor dogmático das ideias da razão pode prome ter Segundo aquele o entendimento está sempre em seu solo pró prio a saber no campo das meras experiências possíveis cujas leis ele pode investigar e por meio das quais ele pode ampliar ilimitadamen te um conhecimento seguro e compreensível Aqui ele pode e deve apresentar o objeto tanto em si mesmo como em suas relações na in tuição ou então em conceitos cuja imagem possa ser exposta de ma neira clara e distinta em dadas intuições similares Não só porque ele B 497 não tem necessidade de abandonar essa cadeia da ordem natural para pendurarse em ideias cujos objetos que ele não conhece posto serem produtos do pensamento que não podem ser dados jamais mas por que não lhe é permitido uma vez sequer deixar seus assuntos de lado e sob o pretexto de ter aí chegado ao fim passar ao domínio da razão idealizante e dos conceitos transcendentes onde já não lhe é necessá rio observar ou pesquisar em conformidade com as leis da natureza mas apenas pensar e imaginar com a segurança de não poder ser contrariado por fatos da natureza já que não está vinculado ao seu testemunho e pode sobrevoálos ou mesmo submetêlos a uma autori dade mais elevada qual seja aquela da razão pura O empirista jamais permitirá portanto que se tome alguma épo ca da natureza como a absolutamente primeira ou que se considere como a mais extrema alguma limitação à sua perspectiva sobre a ex tensão dela ou ainda que se passe dos objetos da natureza que ele decompõe através da observação e da matemática e pode determinar 394 sinteticamente na intuição os objetos extensos àquele que nem o sentido nem a imaginação podem jamais apresentar in concreto o simples nem admitirá que se coloque como fundamento na nature za mesma uma faculdade de atuar independentemente das leis da na tureza liberdade diminuindose assim o trabalho do entendimento de procurar pelo surgimento dos fenômenos segundo o fio condutor de regras necessários nem concederá por fim que se procure a cau sa em algum lugar fora da natureza ser originário pois não conhe cemos nada além desta última que é a única a oferecernos objetos e a poder ensinarnos sobre suas leis Talvez o filósofo empirista não tenha de fato outra intenção com a sua antítese a não ser a de suprimir a petulância e a temeridade da razão que desconhece sua verdadeira destinação e que aparentando muito discernimento e saber justamente ali onde cessam o discerni mento e o saber pretende apresentar como uma exigência do interes se especulativo aquilo que costuma valer em relação ao interesse prático para quando lhe for confortável romper o fio das investiga ções físicas e sob o pretexto de ampliar o conhecimento conectálo às ideias transcendentais pelas quais só se sabe que nada se sabe Se digo eu o empirista se contentasse com isso o seu princípio se ria uma máxima do comedimento nas pretensões da modéstia nas afirmações e ao mesmo tempo da maior ampliação possível de nos so entendimento através da nossa verdadeira mestra qual seja a ex periência Pois nesse caso não nos seriam tomadas em nome de nos sas questões práticas nem as pressuposições intelectuais nem a fé elas só não poderiam aparecer sob o título e a pompa da ciência e do discernimento racional pois o verdadeiro saber especulativo não tem em parte alguma outro objeto senão aquele da experiência e caso os limites desta sejam ultrapassados a síntese que busca conhecimentos novos e independentes daqueles não tem um substrato da intuição em que pudesse ser exercida Se contudo o empirismo tornase ele próprio dogmático em rela ção às ideias como muitas vezes acontece e nega arrogantemente aquilo que está além da esfera de seus conhecimentos intuitivos ele também incorre ele próprio no erro da imodéstia que aqui é particu larmente reprovável na medida em que causa um prejuízo irreversível ao interesse prático da razão B 498 B 499 395 Eis aqui a oposição entre o epicurismo76 e o platonismo b soo Cada um deles diz mais do que sabe de tal modo porém que o primeiro estimula e favorece o saber ainda que emdetrimento do prático e o segundo embora oferecendo excelentes princípios para o âmbito prático autoriza a razão justamente por isso a seguir expli cações idealistas dos fenômenos naturais descuidando assim da in vestigação física no que diz respeito a tudo aquilo de que só nos é concedido um saber especulativo No que diz respeito ao terceiro momento por fim que pode ser considerado na escolha provisória entre as duas partes conflitantes é bastante estranho que o empirismo seja inteiramente impopular quan do se deveria acreditar que o entendimento comum assumiria com prazer uma posição que promete satisfazêlo com simples conheci mentos de experiência e sua concatenação conforme à razão em vez de ser forçado pela dogmática transcendental a ascender a conceitos que ultrapassam de longe o discernimento e a faculdade da razão das B 501 cabeças mais exercitadas no pensamento Mas é justamente isso que o motiva Pois ele se encontra então em um estado em que nem o mais erudito pode ter vantagem sobre ele Se ele entende pouco ou nada sobre isso ninguém pode arrogarse saber mais do que ele e mesmo que não possa falar aqui com mais propriedade do que os de mais ele pode sofismar sobre isso infinitamente mais já que se move em torno de meras ideias e sobre estas se é tão mais eloquente quan to menos se saiba sobre elas na investigação da natureza pelo con trário ele teria de silenciarse e admitir sua ignorância A comodidade e a vaidade portanto levam a recomendar fortemente tais princípios 76 76 Ainda se coloca a questão entretanto sobre se Epicuro jamais apresentou esses princípios como afirmações objetivas Se eles não fossem mais digamos do que máximas do uso espe culativo da razão então ele mostrava com isso um espírito filosófico mais autêntico do que o de qualquer outro filósofo da Antiguidade Que na explicação dos fenômenos tenhamos de operar como se o campo de investigação não fosse cortado por qualquer limite ou começo do mundo que tenhamos de tomar a matéria do mundo tal como este deve ser se queremos ser ensinados por ela através da experiência que não devamos admitir nenhuma outra geração dos acontecimentos a não ser na medida em que estes sejam determinados por leis imutáveis da natureza e que por fim não devamos utilizar nenhuma causa diferente do mundo tais são princípios ainda bastante corretos embora pouco observados tanto para ampliar a filo sofia especulativa como para encontrar os princípios da moral independentemente de quais quer fontes estranhas sem que se possa por isso acusar de querer negar aquelas proposi ções dogmáticas aquele que apenas pede para ignorálas quando estamos ocupados com a mera especulação NA 396 Além disso embora seja muito difícil para um filósofo admitir algo como princípio sem poder dar a si mesmo uma justificativa para isso ou mesmo introduzir conceitos cuja realidade objetiva não pode ser discernida para o entendimento comum nada é mais habitual Ele quer ter algo por onde começar com segurança A dificuldade de com preender a própria pressuposição não lhe inquieta porque não lhe vem jamais à cabeça ele não sabe o que significa compreender e ele toma por conhecido aquilo que lhe é habitual devido ao uso frequen te Ao final porém todo interesse especulativo desaparece nele fren te ao prático e ele imagina discernir e saber aquilo que seus temores ou esperanças o levam a assumir ou acreditar Assim o empirismo da razão transcendentalidealizante é inteiramente privado de toda po pularidade e por mais prejuízos que traga aos princípios práticos su premos não precisamos temer que venha jamais a ultrapassar os limi tes da escola e adquirir algum prestígio minimamente considerável ou alguma preferência junto à grande multidão A razão humana é arquitetônica segundo sua natureza i e ela considera todos os conhecimentos como pertencentes a um sistema possível e só admite pois aqueles princípios que ao menos não tor nem impossível conciliar um conhecimento excelente com outros em um sistema As proposições da antítese porém são do tipo que torna inteiramente impossível completar um edifício de conhecimentos Segundo eles para um dado estado do mundo há sempre um estado mais antigo em cada parte há sempre uma outra que também é divi sível antes de todo acontecimento há um outro que também foi ge rado de um modo distinto e na existência em geral tudo é sempre condicionado sem que se reconheça alguma existência incondicio nada e primeira Como a antítese pois jamais admite um primeiro ou um começo que pudesse servir de fundamento absoluto da cons trução um edifício completo dos conhecimentos é inteiramente im possível sob semelhantes pressuposições Assim o interesse arquite tônico da razão que exige a priori não uma unidade empírica mas uma unidade pura da razão traz consigo uma recomendação natural pelas afirmações da tese Se alguém pudesse contudo renunciar a todo interesse e consi derar as afirmações da razão independentemente das consequências apenas segundo o conteúdo de seus fundamentos então supondose B 502 B 503 397 1 que essa pessoa não conhecesse outra saída para sair do embaraço a não ser a de declararse favorável a uma ou outra das doutrinas em con flito ela estaria em um estado de incessante oscilação Hoje lhe parece ria convincente que a vontade humana é livre amanhã levando em con ta a indissolúvel cadeia natural defenderia que a liberdade não é mais do que uma autoilusão e tudo é mera natureza Em se tratando porém do fazer e do agir esse jogo da razão meramente especulativa desapareceria como as sombras e imagens de um sonho e ele escolheria seus princípios apenas segundo o interesse prático Como é digno de um ser reflexivo e investigativo no entanto dedicar certo tempo a examinar sua própria razão despirse aqui de todo partidarismo e assim submeter suas ob servações abertamente ao julgamento de outrem ninguém poderá in B 504 comodarse muito menos impedir que as proposições e antíteses compa reçam à disputa e se defendam como possam sem assustarse com qua isquer ameaças frente a jurados de uma condição similar à sua qual seja a de seres humanos falíveis Quarta seção Dos problemas transcendentais da razao pura na medida em que devem absolutamente poder ser resolvidos Querer resolver todos os problemas e responder todas as questões seria uma fanfarronice desavergonhada e uma presunção tão extrava gante que se perderia com isso toda confiança Ainda assim há ciências cuja natureza implica que cada questão apresentada tem de ser absolu tamente resolvida a partir daquilo que se sabe pois a resposta tem de brotar das mesmas fontes de que brota a questão e aí não é de modo al gum permitido esconderse atrás de uma inevitável ignorância mas podese exigir a solução É preciso poder saber segundo a regra o que é justo ou injusto em todos os casos possíveis pois isso diz respeito à B 505 nossa obrigação e não temos qualquer obrigação com relação àquilo que não podemos saber Na explicação dos fenômenos da natureza contudo muito tem de permanecer incerto e muitas perguntas sem respostas porque aquilo que sabemos sobre a natureza está longe de ser suficiente em todos os casos para aquilo que devemos explicar Perguntase agora se na filosofia transcendental alguma questão que diga respeito a um objeto apresentado à razão é insolúvel por essa mes ma razão e se se poderia fugir à responsabilidade de decidila alegando que ela está entre aquelas questões absolutamente incertas a partir 398 daquilo que podemos conhecer em relação às quais embora tenhamos suficientes conceitos para levantar uma questão faltamnos completa mente os meios ou a faculdade para jamais respondêlas Eu afirmo agora que a filosofia transcendental entre todos os conhecimentos especulativos tem o seguinte de próprio que absolu tamente nenhuma questão que diga respeito a um objeto dado à ra zão pura é insolúvel por essa mesma razão humana e que nenhum pretexto de ignorância inevitável ou de profundeza intangível do pro blema poderia livrarnos da obrigação de respondêla rigorosa e com pletamente pois o mesmo conceito que nos coloca em condição de perguntar tem de nos tornar capazes de responder a essa pergunta já que o objeto não pode ser encontrado fora do conceito como no caso do correto e incorreto B 506 Na filosofia transcendental contudo não há nenhuma questão além das cosmológicas em relação às quais se pode com razão exigir uma resposta satisfatória concernente à constituição do objeto sem que ao filósofo seja permitido fugir a ela sob o pretexto de uma obscu ridade impenetrável e tais questões só podem dizer respeito às ideias cosmológicas Pois o objeto tem de ser dado empiricamente e a ques tão só se refere à sua adequação a uma ideia Se o objeto é transcen dental e portanto ele mesmo desconhecido se por exemplo o algo cujo fenômeno em nós mesmos é o pensar a alma é em si um ser simples se há uma causa de todas as coisas em conjunto que seja ab solutamente necessária e assim por diante então devemos buscar um objeto para a nossa ideia do qual possamos admitir que nos é des B 507 conhecido mas nem por isso impossível77 Somente as ideias cosmoló gicas têm em si a propriedade de poder pressupor como dados o seu objeto e a síntese empírica exigida para o conceito deste e a questão 77 Embora não se possa dar uma resposta à questão sobre qual a constituição de um objeto transcendental ou seja o que é ele podese perfeitamente dizer que a própria questão não é nada já que não foi dado qualquer objeto da mesma Por isso todas as questões da doutrina transcendental da alma são também solúveis e de fato estão respondidas pois elas concer nem ao sujeito transcendental de todos os fenômenos internos que não é ele próprio um fe nômeno e portanto não é dado como objeto e no qual nenhuma das categorias às quais é efetivamente dirigida a pergunta encontra condições para sua aplicação Este é um caso portanto em que vale o dito comum de que nenhuma resposta também é uma resposta ou seja que é inteiramente nula e vazia uma questão sobre a constituição de algo que por estar inteiramente fora da esfera dos objetos que podem sernos dados não pode ser pensado atra vés de nenhum predicado determinado NA 3 9 9 que delas surge só diz respeito à progressão dessa síntese na medida em que deve conter uma totalidade absoluta a qual já não é empírica pois não pode ser dada em experiência alguma Agora como aqui só se trata de uma coisa como objeto de uma experiência possível e não como uma coisa em si mesma então a resposta às questões cosmoló gicas transcendentais não pode estar fora da ideia pois não concerne a nenhum objeto em si mesmo e no que diz respeito à experiência possível não se pergunta por aquilo que pode ser dado in concreto em alguma experiência mas por aquilo que reside na ideia da qual a síntese empírica deve apenas aproximarse logo tal questão tem de poder ser resolvida partindo apenas da ideia pois esta é tão somente uma criatura da razão a qual não pode portanto eximirse da respon sabilidade e transferila ao objeto desconhecido B 508 Não é tão extraordinário como a princípio parecia que uma ciên cia possa exigir e esperar com relação a todas as questões pertencen tes ao seu domínio quaestiones domesticae somente respostas se guras mesmo que estas ainda não tenham sido encontradas até o mo mento Além da filosofia transcendental há ainda duas ciências puras da razão uma de conteúdo meramente especulativo a outra de con teúdo prático a matemática pura e a moral pura Alguém já ouviu di zer que devido quiçá a uma ignorância necessária das condições se ria incerto seja em números racionais ou irracionais qual a relação exata do diâmetro com o círculo Como ela não podia ser dada de modo congruente através dos primeiros e ainda não tinha sido en contrada entre os últimos julgavase que se podia ao menos conhecer com segurança a impossibilidade da solução desse problema e Lam bert deu uma prova disso Nos princípios universais dos costumes não pode haver nada de incerto pois ou as proposições são inteira mente nulas e vazias de sentido ou têm de decorrer apenas de nossos princípios da razão Na ciência da natureza pelo contrário há uma in finidade de suposições em relação às quais nunca se pode esperar certeza pois os fenômenos da natureza são objetos que nos são da dos independentemente de nossos conceitos e a chave para eles portanto não está em nós ou em nosso pensamento puro mas fora g 509 de nós e justamente por isso muitas vezes não pode ser encontra da não devendo pois esperarse qualquer conclusão segura Eu não conto aqui as questões da analítica transcendental que dizem respei to ao nosso conhecimento puro pois aqui só estamos tratando da cer 400 teza dos juízos em relação aos objetos não em relação à origem de nossos conceitos mesmos Não poderemos portanto afastar a obrigatoriedade de uma solu ção pelo menos crítica das questões apresentadas pela razão simples mente levantando queixas sobre os limites de nossa razão ou reco nhecendo com a aparência de um rigoroso autoconhecimento que está acima de nossa razão determinar se o mundo existe desde a eter nidade ou tem um começo se o espaço do mundo é preenchido com seres até o infinito ou está encerrado dentro de certos limites se exis te uma geração e produção por liberdade ou se está tudo preso à ca deia da ordem natural se por fim há algum ser inteiramente incondi cionado e em si necessário ou se tudo é condicionado no que diz res peito à existência e portanto externamente dependente e em si con tingente Pois todas essas questões concernem a um objeto que não pode ser dado em parte alguma a não ser em nossos pensamentos qual seja a totalidade absolutamente incondicionada da síntese dos fenômenos Se a partir de nossos próprios conceitos não podemos di zer ou estabelecer nada de certo sobre isso então não podemos colo car a culpa na coisa que se esconde de nós pois semelhante coisa que não pode ser encontrada em parte alguma fora de nossa ideia não pode jamais sernos dada e nós temos de procurar pela causa em nossa própria ideia um problema que não admite solução mas do qual supomos teimosamente que lhe corresponde um objeto real Uma apresentação clara da dialética que reside em nossos próprios conceitos nos daria logo uma certeza completa daquilo que temos de julgar relativamente a tal questão À sua desculpa da ignorância em relação a esses problemas po dese contrapor primeiramente a seguinte questão que vocês têm ao menos de responder com clareza de onde lhes vêm as ideias cuja so lução lhes coloca aqui em tanta dificuldade Tratase de fenômenos que vocês têm de explicar e para os quais só precisam segundo essas ideias buscar os princípios ou a regra de sua exposição Suponham que a natureza esteja inteiramente descoberta diante de vocês que nada esteja oculto de seus sentidos e da consciência de tudo aquilo que se apresenta a vocês na intuição ainda assim vocês não poderão conhecer in concreto através de alguma experiência o objeto de B 510 401 suas ideias pois também se exige além dessa intuição completa uma B 511 síntese acabada e a consciência de sua totalidade absoluta o que não é possível através de conhecimento empírico algum sua pergunta portanto não pode ser necessária para a explicação de algum fenô meno que se apresente nem pode por assim dizer ser colocada pelo próprio objeto Mesmo com todas as percepções possíveis vo cês permanecem sempre presos sob condições seja no espaço ou no tempo e não chegam a nenhum incondicionado que lhes permitisse estabelecer se ele deve ser colocado no começo absoluto da síntese ou em uma totalidade absoluta da série sem qualquer começo Em seu significado empírico porém o todo é sempre comparativo O todo da quantidade todo do mundo da divisão da origem da con dição da existência em geral com todas as questões sobre se ele é produzido por uma síntese finita ou continuável ao infinito não diz respeito a qualquer experiência possível Vocês não poderiam expli car os fenômenos de um corpo por exemplo nem um pouco melhor ou diferentemente caso assumissem que ele é constituído de partes simples ou sempre continuamente de partes compostas pois não pode jamais aparecerlhes um fenômeno simples muito menos uma composição infinita Os fenômenos só demandam explicação na medi b 512 da em que as condições de sua explicação são dadas na percepção mas a reunião em um todo absoluto de tudo aquilo que pode ser dado neles não é ela própria uma percepção Mas é deste todo com efeito que se exige a explicação nos problemas transcendentais da razão Como pois a própria solução desses problemas não pode jamais apresentarse na experiência vocês não podem dizer que haja incerte za quanto ao que deve aqui atribuirse ao objeto Pois o seu objeto está apenas em seu cérebro e não pode ser dado fora dele vocês só precisam preocuparse por conseguinte em entrar em acordo consi go mesmos e evitar a anfibolia que faz da sua ideia a suposta repre sentação de um objeto empiricamente dado e portanto também cog noscível segundo leis da experiência A solução dogmática portanto não é incerta mas sim impossível A crítica no entanto que pode ser inteiramente certa considera a questão não objetivamente mas se gundo o fundamento do conhecimento em que está fundada 402 í Quinta seção Representação cética das questões cosmológicas por meio de todas as quatro ideias transcendentais Nós nos absteríamos com prazer da exigência de ver nossas questões dogmaticamente respondidas se já compreendêssemos de antemão que fosse qual fosse a resposta ela só faria aumentar a nos sa incerteza e nos lançaria de uma incompreensão à outra de uma obscuridade a outra ainda maior talvez até a contradições Se nossa questão é direcionada apenas a uma afirmação ou negação agese com prudência quando se deixam provisoriamente sem tratamento os su postos fundamentos da resposta e antes de mais nada tomase em con sideração o que se ganharia se a resposta ficasse de um lado ou se fi casse do lado oposto Agora se ocorre de em ambos os casos só apare cerem coisas puramente sem sentido nonsens então temos uma boa razão para investigar criticamente nossas próprias questões e verificar se não se baseiam elas próprias em uma pressuposição infundada e jo gam com aquela ideia que através das suas consequências revela sua falsidade melhor na aplicação do que na representação abstrata Esta é a grande utilidade do modo cético de lidar com as questões que a ra zão pura faz à razão pura através dele podemos livrarnos sem grande esforço de um fardo dogmático para em seu lugar colocar uma provei tosa crítica que como um verdadeiro catártico afastará a loucura e junto com ela o pedantismo que lhe acompanha Se eu pudesse portanto no que diz respeito a uma ideia cosmo lógica discernir de antemão que em qualquer lado do incondiciona do da síntese regressiva dos fenômenos que ela caísse ela ainda assim seria para cada conceito do entendimento ou muito grande ou mui to pequena eu compreenderia então que como ela só se refere a um objeto da experiência que deve ser adequado a um conceito possível do entendimento ela teria de ser inteiramente vazia e sem significa do pois como quer que eu ajuste o objeto ele não se adequará a ela E este é caso com efeito de todos os conceitos cosmológicos que jus tamente por isso lançam a razão toda vez que ela se liga a eles em uma inevitável antinomia Pois suponham Primeiramente que o mundo não tem um começo ele é muito grande para o seu conceito pois este que se constitui de um regresso sucessivo não pode atingir jamais a inteira eternidade transcorrida Suponham que ele tem um começo ele é então muito pequeno para B 513 B 514 403 B 515 o seu conceito do entendimento no regresso empírico necessário Pois uma vez que o começo pressupõe sempre um tempo que o antecede ele ainda não é incondicionado e a Lei do uso empírico do entendimento os leva a perguntar por uma condição ainda mais elevada do tempo e o mundo evidentemente é muito pequeno para essa lei Ocorre exatamente o mesmo com a dupla resposta à questão acerca da grandeza do mundo quanto ao espaço Pois se ele é infini to e ilimitado é muito grande para qualquer conceito empírico possí vel Se é finito e condicionado vocês perguntarão com razão o que determina esses limites O espaço vazio não é um correlato das coisas subsistente por si mesmo e não pode ser uma condição na qual vocês pudessem parar e permanecer muito menos uma condição empírica que constituísse uma parte de uma experiência possível Pois quem pode ter uma experiência do absolutamente vazio Para a totalidade absoluta da síntese empírica contudo é sempre exigido que o incon dicionado seja um conceito da experiência Logo um mundo limitado é muito pequeno para o seu conceito Em segundo lugar suponham que cada fenômeno no espaço ma téria seja constituído de um número infinito de partes o regresso da divisão é sempre muito grande para o seu conceito e se a divisão do espaço deve cessar em algum membro seu o simples ele é então mui B 516 to pequeno para a ideia do incondicionado Pois este membro sempre comportará um regresso às muitas partes nele contidas Em terceiro lugar suponham que tudo o que acontece no mundo ocorra segundo as leis da natureza a causalidade da causa por seu turno é sempre algo que acontece e que torna necessário o seu re gresso a causas ainda mais elevadas portanto a extensão incessante da série de condições a parte priori Logo a mera natureza eficiente é muito grande para todo o seu conceito na síntese dos acontecimen tos do mundo Escolham agora aqui e ali acontecimentos efetuados por si mes mos portanto a geração por liberdade a pergunta por uma lei inevi tável da natureza os perseguirá e os forçará a abandonar esse ponto em busca de uma lei causal da experiência levandoos a descobrir que semelhante totalidade da conexão é muito pequena para o seu concei to empírico necessário 404 i Em quarto lugar suponham um ser absolutamente necessário seja o próprio mundo ou algo no mundo ou a causa do mundo vo cês o colocarão em um tempo infinitamente distante de um dado pon to do tempo pois do contrário ele seria dependente de uma outra e mais antiga existência Mas então essa existência é inacessível para o seu conceito empírico e muito grande para que vocês pudessem al gum dia chegar a ela através de um regresso continuado Se no entanto tudo o que pertence ao mundo seja como condi cionado ou como condição é segundo a sua opinião contingente então toda existência dada a vocês é muito pequena para o seu concei to Pois ela os força a procurar sempre por uma outra existência da qual ela é dependente Em todos esses casos nós dissemos que a ideia do mundo é para o regresso empírico e portanto para qualquer conceito possível do entendimento ou muito grande ou muito pequena Por que não nos expressamos de maneira inversa e dissemos que no primeiro caso o conceito empírico é muito pequeno para a ideia e no segundo muito grande Com isso nós como que jogaríamos a culpa no regresso em pírico em vez de acusar a ideia cosmológica de por excesso ou carên cia afastarse de seu fim qual seja a experiência possível A razão para não ter feito isso é a seguinte Somente a experiência possível pode dar realidade aos nossos conceitos sem ela todo conceito é ape nas uma ideia sem verdade ou referência a um objeto Por isso o con ceito empírico possível foi o padrão de medida a partir do qual a ideia tinha de ser julgada no sentido de saber se era uma mera ideia ou produto do pensamento ou se encontrava no mundo o seu objeto Pois só se diz que algo é muito grande ou muito pequeno em relação a outro algo quando é assumido como causa deste último e tem de adaptarse a ele Ao jogo das antigas escolas dialéticas pertencia tam bém a seguinte questão se uma esfera não atravessa um buraco o que se deve dizer Que a esfera é muito grande ou que o buraco é muito pequeno Neste caso é indiferente o modo como queiram ex pressarse pois vocês não sabem qual existe em razão de qual Por ou tro lado vocês não dirão que um homem é muito alto para sua roupa mas que a roupa é muito curta para ele Nós somos trazidos assim pelo menos à bem fundada suspeita de que as ideias cosmológicas e com elas todas as afirmações sofísti B 517 B 518 405 cas que duelam entre si talvez tenham por fundamento um conceito vazio e meramente imaginado a respeito do modo como o objeto des sa ideia nos é dado e essa suspeita pode conduzirnos à pista certa para desvendar a fantasia que por tanto tempo nos manteve em erro Sexta seção O idealismo transcendental como chave para solucionar a dialética cosmológica Nós provamos suficientemente na estética transcendental que tudo o que é intuído no espaço ou no tempo portanto todos os obje B 519 tos de uma experiência possível para nós são apenas fenômenos i e meras representações que tal como são representadas como seres ex tensos ou séries de modificações não têm uma existência fundada em si mesma fora de nossos pensamentos A esta doutrina eu denomino idealismo transcendentaln O realista em sentido transcendental faz dessas modificações de nossa sensibilidade coisas subsistentes em si mesmas e de meras representações portanto coisas em si mesmas Seria injusto conosco se nos atribuíssem o já há muito desacredi tado idealismo empírico que assumindo a própria realidade do espa ço nega a existência dos seres extensos no mesmo ou ao menos a jul ga duvidosa e não admite quanto a isso nenhuma distinção suficien temente comprovável entre sonho e verdade No que diz respeito aos fenômenos do sentido interno no tempo ele não encontra qualquer dificuldade neles enquanto coisas reais ele chega a afirmar que essa experiência interna é a única capaz de provar suficientemente a exis tência verdadeira de seu objeto em si mesmo com toda essa determi nação temporal B 5 2 0 Nosso idealismo transcendental pelo contrário concede que os objetos da intuição externa exatamente como são intuídos no espa ço são também reais assim como todas as modificações no tempo tal como o sentido interno as representa Pois uma vez que o espaço já é uma forma daquela intuição que denominamos externa e sem obje tos no mesmo não haveria qualquer representação empírica nós po 78 7 8 Até aq u i eu tam bém o denom inei idealism o form al para diferenciálo d o idealism o m aterial i e o vulgar q ue duvida ou nega a existência das coisas externas Em m uitos casos parece m ais aconselhável em pregar esta últim a expressão em lugar daquela m encionada acima para evitar q u alq u er m alentendido NA demos e devemos assumir como reais os seres extensos nele e vale o mesmo para o tempo Esse mesmo espaço contudo juntamente com esse tempo e todos os fenômenos não são em si mesmos coisas mas apenas representações e não podem existir de modo algum fora de nossa mente e mesmo a intuição interna e sensível de nossa mente como objeto da consciência cuja determinação é representada por meio da sucessão de diferentes estados no tempo não é o verdadeiro eu tal como existe em si mesmo ou o sujeito transcendental mas apenas um fenômeno que foi dado à sensibilidade desse ser para nós desconhecido A existência desse fenômeno interno não pode ser ad mitida como uma coisa existente em si mesma porque tem por condi ção o tempo que não pode ser a determinação de uma coisa em si mesma No espaço e no tempo contudo a verdade empírica dos fenô menos está suficientemente assegurada e se distingue bem do paren tesco com o sonho se ambos segundo leis empíricas são corretos e completamente concatenados em uma experiência Os objetos da experiência portanto não são dados jamais em si mesmos mas apenas na experiência e não existem fora dela Que pos sa haver habitantes na lua mesmo que nunca os tenhamos percebido tem certamente de ser admitido mas significa apenas que podería mos encontrálos no progresso possível da experiência pois é verda deiro tudo o que segundo leis do progresso empírico faz parte de um contexto com uma percepção Os objetos são verdadeiros portanto quando estão em uma interconexão empírica com a minha consciên cia real mesmo que não sejam reais em si mesmos i e fora desse progresso da experiência Nada nos é dado de fato além da percepção e do progresso empí rico desta para outras percepções possíveis Pois os fenômenos como meras representações só são reais em si mesmos na percepção que na verdade não é outra coisa senão a realidade de uma representação empírica i e de um fenômeno Chamar um fenômeno de coisa verda deira antes da percepção significa ou que temos de encontrar tal per cepção no progresso da experiência ou não significa absolutamente nada Pois só se poderia dizer que ele existe em si mesmo sem refe rência aos nossos sentidos e à experiência possível caso se estivesse falando de uma coisa em si mesma Mas só se está falando de um fenô meno no espaço e no tempo os quais não são determinações das coi B 5 21 B 5 2 2 407 1 sas em si mesmas mas apenas de nossa sensibilidade por conseguin te aquilo que está neles fenômenos não é algo em si mas meras re presentações que se não são dadas em nós na percepção não po dem ser encontradas em parte alguma A faculdade da intuição sensível é apenas de fato uma receptivi dade para sermos afetados de um certo modo por representações cuja relação entre si é uma intuição pura do espaço e do tempo me ras formas de nossa sensibilidade e que se denominam objetos quan do são conectáveis e determináveis nessa relação no espaço e no tempo segundo leis da unidade da experiência A causa não sensível dessas representações nos é inteiramente desconhecida e nós não podemos portanto intuíla como objeto pois semelhante objeto não poderia ser representado nem no espaço nem no tempo como meras condições da representação sensível e sem estas condições nós não poderíamos sequer pensar uma intuição Entretanto podemos deno minar objeto transcendental à causa meramente inteligível dos fenô menos em geral apenas para ter algo correspondente à sensibilidade como uma receptividade Podemos atribuir a esse objeto transcen B 5 2 3 dental todo o âmbito e a interconexão de nossas percepções possíveis e dizer que ele é dado em si mesmo antes de qualquer experiência Os fenômenos contudo não são dados em si de acordo com ele mas ape nas nessa experiência pois são meras representações que só signifi cam um objeto real como percepções na medida em que cada percep ção se concatena com todas as demais segundo as regras da unidade da experiência Podese dizer assim que as coisas reais do tempo pas sado são dadas no objeto transcendental da experiência para mim contudo elas são apenas objetos e reais no tempo passado na medi da em que eu me represente que uma série regressiva de percepções possíveis segundo leis empíricas seja pelo fio condutor da história seja nas pegadas das causas e efeitos em uma palavra o curso do mundo conduz a uma série temporal transcorrida como condição do tempo presente série esta que por seu turno só é representada como real na interconexão de uma experiência possível e não em si mesma de tal modo que todos os acontecimentos transcorridos antes de minha existência desde um tempo impensável não significam mais do que a possibilidade de estender a cadeia da experiência desde a percepção atual até as condições que a determinam no que diz res peito ao tempo 408 i Se de acordo com isso eu me represento conjuntamente todos os objetos dos sentidos existentes em todo tempo e em todo espaço isto não significa que eu os coloco nestes antes da experiência essa representação é tão somente o pensamento de uma experiência possí vel em sua completude absoluta É somente nela que são dados aque les objetos que não passam de meras representações Que se costu me dizer porém que eles existem antes da minha experiência isto significa apenas que eles podem ser encontrados naquela parte da ex periência a que eu tenho de avançar primeiramente quando parto da percepção A causa das condições empíricas desse progresso por tanto de quais os membros que poderei encontrar e do quão longe po derei avançar no regresso em direção a eles é transcendental e por tanto necessariamente desconhecida para mim Mas também não é isso o que está aqui em jogo e sim a regra do progresso da experiên cia em que são dados objetos i e fenômenos Também é inteiramen te indiferente no que diz respeito ao resultado se digo que poderia no progresso empírico no espaço encontrar estrelas cem vezes mais distantes que as mais remotas que vejo ou se digo que elas talvez pos sam ser encontradas no espaço cósmico mesmo que nenhum homem as tenha jamais percebido ou venha a percebêlas pois mesmo que elas fossem dadas como coisas em si mesmas sem qualquer referência à ex periência possível elas não seriam nada para mim portanto objeto al gum a não ser na medida em que estivessem contidas na série do re gresso empírico Apenas em um outro sentido quando tais fenômenos devem ser usados para a ideia cosmológica de um todo absoluto e quando se trata portanto de uma questão que vai além dos limites da experiência possível é importante diferenciar o modo como se toma a realidade dos mencionados objetos dos sentidos de modo a evitar a ilusão enganosa que tem de surgir inevitavelmente da má compreen são de nossos próprios conceitos da experiência Sétima seção Resolução crítica do conflito cosmológico da razão comigo mesma Toda a antinomia da razão pura se baseia no seguinte argumento dialético se é dado o condicionado também é dada a inteira série de todas as condições do mesmo agora os objetos dos sentidos nos são dados como condicionados logo etc Através desse silogismo cuja B 524 B 5 2 5 409 premissa maior parece tão natural e evidente são introduzidas de acordo com a diversidade das condições na síntese dos fenômenos que constituem uma série outras tantas ideias cosmológicas que pos tulam a totalidade absoluta dessas séries e justamente por isso colo cam a razão inevitavelmente em conflito consigo mesma Antes de descobrir o elemento enganoso desse argumento sofístico temos de B 5 2 6 prepararnos para isso através da correção e determinação de certos conceitos que nele se apresentam Em primeiro lugar é clara e indubitavelmente certa a seguinte proposição se é dado o condicionado énos imposto justamente por isso um regresso na série de todas as condições do mesmo pois o con ceito de condicionado já traz consigo que por meio dele algo é referi do a uma condição e se esta é por seu turno condicionada a uma con dição mais distante e assim através de todos os membros da série Esta proposição é analítica portanto e está acima de qualquer temor de uma crítica transcendental É um postulado lógico da razão perseguir por meio do entendimento essa conexão do conceito com suas condi ções que já é inerente ao conceito e levála tão longe quanto possível Além disso se tanto o condicionado como sua condição são coi sas em si mesmas então não apenas o regresso do primeiro à última é imposto quando aquele é dado mas esta já é efetivamente dada com ele e como isso vale para todos os membros da série também a série completa das condições portanto o incondicionado são dados ao mesmo tempo ou antes é pressuposto que o condicionado que só era possível por meio daquela série é dado A síntese do condiciona do com sua condição é aqui uma síntese do mero entendimento que B 5 2 7 representa as coisas como elas são sem preocuparse se e como nós podemos chegar ao conhecimento delas Se por outro lado tenho de lidar com fenômenos que como meras representações absolutamen te não são dados e se não chego ao seu conhecimento i e a eles mesmos visto não serem mais do que conhecimentos empíricos en tão não posso dizer no mesmo sentido que se é dado o condiciona do também são dadas todas as suas condições como fenômenos e não posso de modo algum portanto inferir a totalidade absoluta da sua série Pois os próprios fenômenos na apreensão não são senão uma síntese empírica no espaço e no tempo e portanto somente são dados nesta última Agora não se segue disso de modo algum 410 que se é dado o condicionado no fenômeno também é pressuposta e dada junto através dele a síntese que constitui sua condição empí rica esta síntese na verdade só tem lugar no regresso e sem ele nun ca se verifica Mas nesse caso se pode perfeitamente dizer que um re gresso às condições i e uma síntese empírica continuada é ordena do ou imposto e que não podem faltar as condições que são dadas por meio desse regresso Fica claro aqui que a premissa maior do silogismo cosmológico toma o condicionado no sentido transcendental de uma categoria pura ao passo que a menor o toma no sentido empírico de um concei to do entendimento aplicado a meros fenômenos encontrase aí por tanto aquela falácia dialética que se costuma denominar sophisma fi gurae dictionis Esta não é contudo uma falácia inventada mas sim uma ilusão inteiramente natural da razão comum Pois nós pressupo mos nela na premissa maior as condições e sua série como que sem perceber quando algo é dado como condicionado pois este nada mais é do que a exigência lógica de assumir premissas completas para uma dada conclusão e na conexão do condicionado com suas condi ções não pode ser encontrada qualquer ordem temporal elas são pressupostas como dadas ao mesmo tempo É igualmente natural além disso considerar na premissa menor os fenômenos como coi sas em si e como objetos dados ao mero entendimento do mesmo modo como na premissa maior eu fazia abstração de todas as condi ções da intuição sob as quais os objetos podem ser dados Não havía mos percebido aqui contudo uma curiosa distinção entre os concei tos A síntese do condicionado com as suas condições e a série com pleta destas na premissa maior não continham nenhuma limitação pelo tempo nem qualquer conceito de sucessão A síntese empírica pelo contrário e a série das condições no fenômeno que é subsumi da na premissa menor são dadas de maneira necessariamente suces siva e somente no tempo umas após as outras logo eu não podia pressupor aqui do mesmo modo como lá a totalidade absoluta da síntese e a série através dela representada pois lá todos os membros da série são dados em si sem condição temporal ao passo que aqui só são possíveis através do regresso sucessivo o qual só é dado na me dida em que é efetivamente realizado B 528 B 529 411 1 Uma vez evidenciado esse erro do argumento que é habitualmen te colocado como fundamento das afirmações cosmológicas ambas as partes em conflito podem ser refutadas apropriadamente por não poderem fundar sua exigência em um título sólido Com isso porém não se encerra ainda a sua querela no sentido de estar provado que ambas ou uma delas mesmo que não possam basear suas teses em firmes argumentos estejam erradas no próprio mérito do que afir mam na conclusão E nada parece mais claro no entanto do que a necessidade de uma das duas ter razão seja a que afirma que o mun do tem um começo seja a que afirma que o mundo não tem começo e existe desde a eternidade Se é assim isto se deve a que a clareza é a mesma em ambos os lados mas é impossível descobrir de que lado está a razão e o conflito perdura como antes mesmo que as partes te nham sido trazidas à paz pelo tribunal da razão E dado que elas ar gumentam tão bem uma contra a outra não resta outro meio portan to para encerrar definitivamente o conflito e de um modo satisfató rio para ambas as partes a não ser convencendoas de que no fim das contas não estão brigando por nada pois uma certa ilusão transcen B 530 dental as fez enxergar uma realidade onde não há nenhuma É neste caminho em que se dissolve o conflito que não pode ser julgado que queremos agora adentrar Zenão de Eleia um sutil dialético foi muito repreendido já por Platão que o julgava um sofista malicioso que para mostrar sua arte procurava provar uma proposição por meio de argumentos vistosos e logo em seguida refutála com argumentos igualmente fortes Ele afirmava que Deus que para ele ao que tudo indica era o próprio mundo não é nem finito nem infinito que não está em movimento nem em repouso que não é semelhante nem distinto de nenhuma ou tra coisa Aos que o julgaram quanto a isso parecia que ele queria ne gar inteiramente as duas proposições opostas o que seria absurdo Mas não creio que se possa com razão imputarlhe esse fardo Em breve esclarecerei mais de perto as duas primeiras proposições No que tange às demais se por Deus ele entendia o universo teria então de dizer que este nem está permanentemente em seu lugar em re pouso nem se modifica se movimenta pois embora todos os luga res estejam no universo este não está ele próprio portanto em lugar 412 i algum Se o todo do mundo abarca em si tudo o que existe então ele não é nessa mesma medida nem semelhante nem distinto de nenhuma outra coisa pois não há nenhuma outra coisa fora dele com a qual pu desse ser comparado Se dois juízos opostos pressupõem uma condi ção inadmissível então ambos caem por terra a despeito de sua oposi ção que de qualquer forma não é uma verdadeira contradição pois caiu a única condição sob a qual algum deles deveria valer Se alguém dissesse que todo corpo ou cheira bem ou não cheira bem existe então um terceiro a saber que ele absolutamente não cheira inodoro e ambas as proposições contrapostas poderiam ser falsas Se digo que ele ou é cheiroso ou não é cheiroso vel suaveo lens vel non suaveolens os dois juízos são contraditoriamente con trapostos um ao outro e apenas o primeiro é falso ao passo que o seu oposto contraditório a saber que alguns corpos não são cheirosos abarca também os corpos em si que absolutamente não cheiram Na contraposição anterior per disparata a condição contingente do conceito dos corpos o cheiro permanecia nos juízos contrapostos e portanto não era suprimida por eles desse modo o último não era o oposto contraditório do primeiro Se digo pois que o mundo no que diz respeito ao espaço é ou infinito ou não infinito non est infinitus e se o primeiro é falso o seu oposto contraditório o mundo não é infinito tem de ser verda deiro Com isso eu apenas suprimiria um mundo infinito sem colocar outro o finito em seu lugar Caso se dissesse porém que o mundo é ou infinito ou finito não infinito ambos poderiam ser falsos Pois nesse caso eu considero o mundo como determinado em si mesmo quanto à sua grandeza já que na oposição suprimo não apenas a infi nitude e com ela talvez toda a sua existência separada mas acres cento uma determinação ao mundo enquanto uma coisa atuante por si mesma o que poderia ser igualmente falso caso o mundo com efei to não fosse dado como coisa em si portanto nem como infinito quanto à sua grandeza nem como finito Permitamme denominar oposição dialética a essa contraposição e oposição analítica àquela da contradição Quando dois juízos portanto são contrapostos diale ticamente um ao outro ambos podem ser falsos porque um não ape nas contradiz o outro mas diz algo mais do que aquilo que é exigido para estabelecer a contradição B 531 B 532 413 Quando se consideram contraditoriamente contrapostas as pro posições o mundo é infinito quanto à grandeza e o mundo é finito quanto à sua grandeza assumêse que o mundo a inteira série dos fenômenos é uma coisa em si mesma Pois mesmo que eu suprima o regresso infinito ou finito na série de seus fenômenos ele permanece Se no entanto afasto essa pressuposição ou essa ilusão transcen B 533 dental e nego que o mundo seja uma coisa em si mesma a oposição contraditória de tais afirmações se transforma em uma oposição me ramente dialética e uma vez que o mundo não existe em si mesmo independentemente da série regressiva de minhas representações ele não existe nem como um todo em si infinito nem como um todo em si finito Ele só pode ser encontrado no regresso empírico da série dos fenômenos e jamais por si mesmo Assim como este é sempre condicionado ele nunca é dado por inteiro e o mundo portanto não é um todo incondicionado nem existe como um tal seja com grande za infinita seja com grandeza finita O que foi dito aqui sobre a primeira ideia cosmológica qual seja aquela da totalidade absoluta da grandeza no fenômeno vale também para todas as demais A série das condições só pode ser encontrada na própria síntese regressiva e não no fenômeno como se fosse uma coisa própria dada antes de qualquer regresso Por conseguinte terei de di zer também que a variedade de partes em um dado fenômeno não é em si nem finita nem infinita pois o fenômeno não é nada existente em si mesmo e as partes somente são dadas na síntese de decomposição através do regresso desta última regresso este que nunca é dado de maneira absolutamente completa seja como finito seja como infinito O mesmo vale para a série das causas encadeadas entre si ou para aquela que vai da existência condicionada até a incondicionalmente ne B 534 cessária que nunca pode ser considerada em si no que diz respeito à sua totalidade nem como finita nem como infinita pois como série de representações subordinadas ela consiste apenas no regresso di nâmico não podendo existir antes deste ou como uma série subsis tente por si mesma de coisas em si mesmas Assim é suprimida pois a antinomia da razão pura quanto às suas ideias cosmológicas mostrandose que ela é meramente dialéti ca e uma oposição ilusória que surge quando a ideia da totalidade ab soluta que só vale como uma condição das coisas em si mesmas é 414 i aplicada a fenômenos que não existem de nenhum outro modo a não ser na representação e quando constituem uma série no regresso su cessivo Mas também se pode inversamente extrair dessa antinomia uma utilidade que embora não seja dogmática é todavia crítica e dou trinal qual seja provar indiretamente a idealidade transcendental dos fenômenos caso alguém não esteja satisfeito com a prova direta na es tética transcendental A prova consistiria no seguinte dilema Se o mun do é um todo existente em si mesmo ele é ou finito ou infinito Agora tanto a primeira como a segunda alternativa são falsas segundo as pro vas acima apresentadas da antítese por um lado e da tese por outro Logo também é falso que o mundo o conjunto de todos os fenôme nos seja um todo existente em si Donde se segue então que os fenô menos em geral não são nada fora de nossas representações que era o que queríamos dizer por meio da sua idealidade transcendental Essa observação é importante A partir dela se vê que as provas das quatro antinomias acima não eram fantasiosas mas sim rigoro sas sob a pressuposição de que os fenômenos ou o mundo dos senti dos que os abarca a todos seriam coisas em si mesmas A oposição das proposições daí derivadas contudo revela que há uma falsidade na pressuposição e nos leva à descoberta da verdadeira constituição das coisas como objetos dos sentidos Desse modo a dialética trans cendental não favorece de modo algum o ceticismo mas sim o méto do cético que nela pode mostrar um exemplo de sua grande utilida de deixando que os argumentos da razão se coloquem uns contra os outros com máxima liberdade e assim mesmo não oferecendo ao fi nal aquilo que se buscava sempre apresentam algo de útil e proveito so para a correção de nossos juízos Oitava seção Princípio regulativo da razão pura em relação às ideias cosmológicas Como através do princípio cosmológico da totalidade não é dado nenhum maximum da série de condições em um mundo sensível en quanto coisa em si mesma mas apenas pode ser imposto como tarefa no regresso dessa série o mencionado princípio da razão pura con serva ainda em seu significado assim corrigido uma boa dose de vali dade não é verdade como axioma para pensar como real a totalidade no objeto mas como um problema para o entendimento portanto B 535 B 536 415 para o sujeito para em conformidade com a completude na ideia dar início e continuidade ao regresso na série das condições até um dado condicionado Pois na sensibilidade i e no espaço eno tempo toda condição a que podemos chegar na exposição de fenômenos dados é condicionada por seu turno na medida em que estes não são objetos em si mesmos nos quais pudesse ter lugar o absolutamente incondi cionado mas meras representações empíricas que têm sempre de en contrar na intuição a condição que as determina segundo o tempo ou o espaço 0 princípio da razão portanto é tão somente uma regra B 537 que comanda na série das condições de dados fenômenos um regres so que nunca pode permanecer em um absolutamente incondiciona do Ele não é portanto um princípio da possibilidade da experiência e do conhecimento dos objetos dos sentidos nem portanto um princí pio do entendimento já que toda experiência está dentro dos seus li mites em conformidade com a intuição dada também não é um princípio constitutivo da razão para estender o conceito do mundo sensível para além de toda experiência possível mas sim um princípio da maior continuação e extensão possível da experiência segundo o qual nenhum limite empírico deve valer como limite absoluto um princípio da razão portanto que postula como regra o que deve ser feito por nós no regresso e não antecipa o que antes de qualquer re gresso seria dado em si no objeto Por isso eu o denomino um princí pio regulativo da razão ao passo que o princípio da totalidade absolu ta da série das condições tal como seria dada no objeto nos fenôme nos em si mesmo seria um princípio cosmológico constitutivo cuja nulidade eu quis mostrar e assim impedir justamente através dessa distinção de tal modo que não se atribua realidade objetiva como inevitavelmente acontece por meio de uma subrepção transcenden tal a uma ideia que só serve de regra Para pois determinar de maneira apropriada o sentido dessa re B 538 gra da razão pura é preciso notar antes de tudo que ela não poderia dizer o que o objeto é mas sim como deve ser feito o regresso empíri co para chegar ao conceito completo do objeto Pois se fosse aquele o caso ela seria um princípio constitutivo do tipo que nunca é possível a partir da razão pura De modo algum portanto podese ter com ela a intenção de dizer que a série das condições até um dado condiciona do é em si finita ou infinita pois nesse caso uma mera ideia da totali dade absoluta que é apenas por si mesma produzida pensaria um ob jeto que não pode ser dado em experiência alguma já que se concede 416 ria a uma série de fenômenos uma realidade objetiva independente da síntese empírica A ideia da razão portanto apenas prescreverá à sín tese regressiva na série das condições uma regra segundo a qual ela prossegue do condicionado ao incondicionado por meio de todas as condições subordinadas entre si muito embora tal incondicionado não possa jamais ser alcançado Pois o absolutamente incondiciona do nunca será encontrado na experiência Em vista desse fim é preciso primeiramente determinar com pre cisão a síntese de uma série que nunca é completa Com esse propósito empregamse habitualmente duas expressões que devem aí distinguir algo sem que se saiba indicar corretamente contudo o fundamento dessa distinção Os matemáticos falam apenas de um progressos in infínitum Os investigadores dos conceitos filósofos só admitem que seja válida em seu lugar a expressão de um progressus in indefini tum Sem determe no exame dos escrúpulos que os levaram a tal dis tinção nem no uso bom ou infrutífero da mesma tentarei determinar esses conceitos com precisão tendo em vista o meu propósito De uma linha reta se pode dizer com razão que ela poderia ser prolongada ao infinito e aqui a distinção entre o progresso infinito e o indeterminável progressus in indefinitum seria uma sutileza vazia Soa certamente mais correto ao dizer para alguém prolongar uma linha acrescentar que ele o faça in indefinitum em vez de di zer in infinitum já que a primeira significa tão somente prolon guemna o quanto quiserem ao passo que a segunda significa vo cês não devem jamais parar de prolongála o que não é aqui o pro pósito A primeira expressão é inteiramente correta em todo caso quando se trata somente de poder pois vocês poderiam sempre ao infinito tornála maior E o mesmo se dá também com todos os ca sos em que se fala apenas de progresso i e da progressão da condi ção ao incondicionado esta possível progressão segue ao infinito na série dos fenômenos De um casal de pais vocês poderiam prosse guir sem cessar em linha descendente a partir da geração e perfei tamente imaginar também que de fato ela assim prossegue no mundo Pois aqui a razão não necessita nunca da totalidade abso luta da série já que não a pressupõe como condição nem como dada datum mas apenas como condicionado que pode ser dado dabile e é acrescentado indefinidamente B 539 B 540 417 Ocorre algo inteiramente diverso com o problema de saber o quão longe se estende o regresso que em uma série ascende do condicio nado dado às condições se possò dizer que é um regresso ao infinito ou apenas um regresso que se estende até um ponto indeterminável in indefinitum e se posso portanto ascender ao infinito na série dos antepassados a partir dos seres humanos que hoje vivem ou ape nas dizer que tão longe quanto pude retroceder nunca se encontrou um fundamento empírico para considerar a série limitada em algum ponto de um modo tal que eu estivesse justificado e ao mesmo tem po obrigado a buscar e não a pressupor para cada um de seus ta taravós o antepassado mais distante Eu digo por isso que se o todo foi dado na intuição empírica o re gresso na série de suas condições internas segue ao infinito Se ape nas um membro da série foi dado no entanto a partir do qual o re gresso deve prosseguir em direção à totalidade absoluta então só tem b 54i lugar um regresso de extensão indeterminada in indefinitum As sim da divisão de uma matéria dada em seus limites de um corpo tem de ser dito que ela segue ao infinito Pois essa matéria é inteira mente dada com todas as suas partes possíveis portanto na intui ção empírica Agora como a condição desse todo é a sua parte e a condição desta parte é a parte da parte e assim por diante e como nesse regresso da decomposição nunca se encontra um membro in condicionado indivisível dessa série de condições então não ape nas não há em parte alguma um fundamento empírico para cessar a divisão mas os próprios membros mais remotos da progressiva divi são são empiricamente dados antes dessa divisão incessante i e a divisão segue ao infinito A série dos antepassados de um dado ser humano pelo contrário não é dada em qualquer experiência possí vel o regresso porém vai de cada membro dessa geração a um membro mais alto de tal modo que nenhum limite empírico é encon trado que apresentasse um membro como absolutamente incondicio nado Como no entanto também os membros que pudessem forne cer aqui a condição não estão na intuição empírica do todo já antes do regresso então este não segue ao infinito da divisão do que é dado mas se estende indeterminadamente na procura por mais mem bros para os que são dados membros estes que por seu turno so mente são dados de maneira condicionada 418 i Em nenhum dos dois casos seja no regressus in infinitum seja no in indefinitum a série das condições é considerada dada como infinita no objeto Não são coisas que sejam dadas em si mesmas mas apenas fenômenos que como condições uns dos outros somente são dados no próprio regresso A questão já não é portanto sobre o quão grande essa série das condições é em si mesma se finita ou infinita pois ela não é nada em si mesma mas sim sobre como estabelecemos o regresso empírico e o quanto devemos prolongálo E aí está pois uma importante distinção com relação à regra desse progresso Se o todo foi dado empiricamente é possível retroceder ao infinito na sé rie de suas condições internas Se ele não foi dado contudo mas deve ser primeiramente dado através de um regresso empírico então eu só posso dizer que é possível ao infinito avançar a condições ainda mais elevadas da série No primeiro caso eu podia dizer que sempre são da dos mais membros empiricamente do que eu alcanço por meio do re gresso da decomposição no segundo porém eu sempre posso ir mais longe no regresso pois nenhum membro é dado empiricamente como absolutamente incondicionado e admite necessariamente assim um mem bro ainda mais alto e portanto a pergunta pelo mesmo Lá era necessá rio encontrar mais membros da série ao passo que aqui é sempre ne cessário perguntar por outros já que nenhuma experiência é absoluta mente limitada Pois ou vocês não têm uma percepção que limite abso lutamente o seu regresso empírico e então não podem tomar o seu re gresso como acabado ou vocês têm tal percepção limitadora de sua sé rie que não pode ser uma parte da série já percorrida pois aquilo que limita tem de ser distinguido daquilo que é por ele limitado e então vocês têm de estender o seu regresso também a esta condição e assim por diante A seção seguinte lançará a devida luz sobre estas observações através da sua aplicação Nona seção Do uso empírico do princípio regulativo da razão em relação a todas as ideias cosmológicas Uma vez que não há como por diversas vezes mostramos ne nhum uso transcendental nem dos conceitos puros do entendimento nem daqueles da razão uma vez que a totalidade absoluta das séries de condições no mundo sensível se ancora tão somente em um uso B 542 B 543 419 transcendental da razão que exige essa completude incondicionada B 544 daquilo que ela pressupõe como coisa em si mesma uma vez porém que o mundo sensível não contém nada semelhante não se poderá fa lar jamais na quantidade absoluta das séries no mesmo sobre se ela é limitada ou em si ilimitada mas apenas no quão longe devemos retro ceder no regresso empírico ao reconduzir a experiência às suas con dições de modo a cumprindo a regra da razão não nos determos di ante de nenhuma resposta às suas perguntas a não ser aquela que seja adequada ao objeto Só nos resta a validade do princípio da razão portanto como uma regra do prolongamento e da quantidade de uma experiência pos sível depois que foi suficientemente estabelecida a sua invalidade co mo um princípio constitutivo dos fenómenos em si mesmos Também será inteiramente encerrado se pudermos ter aquela claramente diante dos olhos o conflito da razão consigo mesma já que não apenas é su primida por meio da resolução crítica a ilusão que a colocava em desa cordo consigo mesma mas é posto em seu lugar o sentido em que ela concorda consigo mesma e cuja má compreensão ocasionava por si só o conflito e um princípio que seria dialético é transformado em um princípio doutrinal Se este de fato pudesse ser confirmado no que diz respeito ao seu significado subjetivo determinar o maior uso possível do entendimento na experiência em conformidade com os B 545 objetos desta então é exatamente como se ele tal como um axioma que é impossível a partir da razão pura determinasse os objetos em si mesmos a priori pois também esse princípio não podia ter uma in fluência maior sobre a ampliação e a correção de nosso conhecimento no que diz respeito aos objetos da experiência a não ser provandose ativo no mais amplo uso empírico de nosso entendimento I Solução da ideia cosmológica da totalidade da composição dos fenômenos em um todo do mundo Tanto aqui como nas questões cosmológicas acima o fundamen to do princípio regulativo da razão é a proposição no regresso empí rico não pode ser encontrada nenhuma experiência de um limite ab soluto nem portanto de uma condição que enquanto tal fosse empí rica e absolutamente incondicionada O fundamento disso porém 420 A é que semelhante experiência teria de conter em si uma limitação dos fenômenos pelo nada ou o vazio com que o regresso continuado pode ria depararse por meio de uma percepção o que é impossível Essa proposição contudo que apenas diz que no regresso empíri co eu só posso chegar a uma condição que por seu turno tem de ser considerada ela própria como empiricamente condicionada contém a regra in terminis quanto quer que eu tenha desse modo avançado na série ascendente tenho sempre de perguntar por um membro ain da mais alto da série quer este me venha a ser conhecido por meio da experiência ou não Agora para a solução do primeiro problema cosmológico não é necessário nada mais do que estabelecer se no regresso até a quanti dade incondicionada do todo do mundo segundo o tempo e o espa ço essa nunca limitada ascensão pode ser denominada um regresso ao infinito ou apenas um regresso indefinidamente prolongado in indefinitum A mera representação geral da série de todos os estados pretéri tos do mundo juntamente com as coisas que estão simultaneamente no espaço do mundo não é ela própria nada além de um regresso em pírico possível que embora de maneira ainda indeterminada eu con cebo e que é o único pelo qual pode surgir o conceito de tal série de condições para a percepção dada79 Agora eu só tenho o todo do mun do em conceito jamais como um todo na intuição Eu não posso portanto inferir da sua quantidade a quantidade do regresso e deter minar a esta de acordo com aquela mas devo antes de tudo produzir um conceito da quantidade do mundo através da quantidade do re gresso empírico Deste último porém sei apenas que tenho sempre de progredir empiricamente a partir de cada membro dado da série de condições a um membro ainda mais elevado mais distante Desse modo portanto a quantidade do todo dos fenômenos não é de modo algum determinada absolutamente nem se pode dizer portanto que 79 Essa série do mundo não pode portanto ser nem maior nem menor do que o único regresso empírico possível em que se baseia o seu conceito E como este não pode fornecer um infini to determinado muito menos um finito determinado absolutamente limitado é evidente a partir disso que não podemos assumir a quantidade do mundo nem como finita nem como infinita pois o regresso através do qual aquela é representada não admite nenhuma das duas alternativas NAJ B 546 B 547 421 esse regresso segue ao infinito pois ele anteciparia com isso os mem bros a que o regresso ainda não chegou representaria a sua varieda de numa grandeza a que nenhuma síntese empírica podechegar e as sim determinaria a quantidade do mundo antes do regresso ainda que apenas negativamente o que é impossível Pois esta não me é dada através de nenhuma intuição no que diz respeito à sua totalida de e portanto também a sua quantidade não é dada de maneira al guma antes do regresso Por isso não podemos dizer nada sobre a quantidade do mundo em si nem mesmo que haja nele um regres sas in infinitum mas somente temos de procurar o conceito de sua quantidade segundo a regra que nele determina o regresso empíri co Esta regra diz apenas contudo que por mais longe que tenha mos chegado na série das condições empíricas não devemos nunca B 548 admitir um todo absoluto mas subordinar cada fenômeno como condicionado a um outro como sua condição temos de progredir até este portanto e isto é o regressus in indefinitum que como não determina qualquer quantidade no objeto tem de ser claramente dis tinguido do in infinitum Por isso eu não posso dizer que o mundo segundo o tempo trans corrido ou o espaço é infinito Pois tal conceito de uma quantidade como infinitude dada é empiricamente impossível e portanto também em relação ao mundo como um objeto dos sentidos é absolutamente impossível Eu também não direi que o regresso desde uma dada per cepção até tudo aquilo que a limita em uma série tanto no espaço como no tempo passado segue ao infinito pois este pressupõe a quan tidade infinita do mundo também não direi que ela é finita pois o limi te absoluto é do mesmo modo empiricamente impossível Por isso não poderei dizer nada do objeto inteiro da experiência do mundo sensí vel mas apenas da regra segundo a qual a experiência deve ser estabe lecida e continuada em conformidade com o seu objeto A questão cosmológica sobre a quantidade do mundo portanto a primeira e negativa resposta é que o mundo não tem um primeiro co meço no tempo nem um limite extremo no espaço Pois em caso contrário ele seria limitado pelo tempo vazio de um B 549 lado e pelo espaço vazio de outro Agora uma vez que ele não pode como fenômeno ser nenhum dos dois em si mesmo pois o fenômeno não é uma coisa em si mesma teria de ser possível uma percepção da 422 í limitação por meio do tempo ou do espaço absolutamente vazios atra vés da qual esses confins do mundo fossem dados em uma experiên cia possível Tal experiência contudo inteiramente vazia de conteú do é impossível Logo um limite absoluto do mundo é empiricamen te portanto também absolutamente impossível80 Disso se segue ao mesmo tempo a resposta afirmativa o regresso na série dos fenômenos do mundo como uma determinação da quanti dade do mundo segue in indefinitum o que quer dizer apenas que o mundo sensível não tem uma quantidade absoluta e o regresso empíri co o único por meio do qual ele pode ser dado pelo lado de suas condi ções tem a sua regra qual seja a de sempre prosseguir de cada mem bro da série como um condicionado a um membro ainda mais distante seja pela própria experiência pelo fio condutor da história ou pela ca deia dos efeitos e de suas causas e de nunca renunciar à ampliação do uso empírico possível de seu entendimento que é de fato o único e verdadeiro trabalho da razão com seus princípios Aqui não é prescrito um regresso empírico determinado que sem cessar progredisse de uma certa maneira a partir dos fenôme nos que por exemplo a partir de um ser humano vivo se tivesse de ascender sempre na série dos antepassados sem esperar encontrar um primeiro casal ou na série dos corpos do mundo sem esperar por um último sol só é ordenado na verdade o progresso de fenô meno a fenômeno mesmo que estes não oferecessem nenhuma per cepção real se ela é muito fraca para nossa consciência segundo o grau para tornarse experiência pois eles pertencem à experiên cia possível independentemente disso Todo começo está no tempo e todo limite do que é extenso está no espaço O espaço e o tempo porém estão apenas no mundo sensí vel Somente os fenômenos no mundo portanto são limitados de ma 80 Observarseá que a prova foi conduzida aqui de um modo inteiramente distinto daquele da prova dogmática na antítese da primeira antinomia Lá nós havíamos tomado o mundo sensí vel segundo o modo de representação habitual e dogmático por uma coisa que no que diz respeito à sua totalidade era dada em si mesma antes de qualquer regresso e uma vez que ele não ocupava todo o tempo e todos os espaços lhe havíamos recusado um lugar determi nado em ambos Também a consequência portanto foi diferente da atual já que se inferiu a infinitude real do mesmo NA B 550 423 1 neira condicionada ao passo que o próprio mundo não o é nem de maneira condicionada nem de maneira incondicionada Justamente por isso e porque nem o mundo nem a série das condi ções para um dado condicionado como série do mundo podem ser in teiramente dados o conceito da quantidade do mundo só é dado por B 551 meio do regresso e não antes dele em uma intuição coletiva Esse re gresso porém consiste sempre em determinar a quantidade e não for nece pois nenhum conceito determinado nem portanto o conceito de uma quantidade que fosse infinita em relação a uma certa medida assim ele não segue ao infinito como se este fosse dado mas apenas se prolonga indeterminadamente para fornecer uma quantidade da ex periência que só se torna real por meio desse regresso II Solução da ideia cosmológica da totalidade da divisão de um todo dado na intuição Se divido um todo que é dado na intuição eu vou de um condicio nado às condições de sua possibilidade A divisão das partes subdivi sio ou decompositio é um regresso na série dessas condições A tota lidade absoluta dessa série somente seria dada caso o regresso pudes se chegar até as partes simples Se todas as partes no entanto são sempre novamente divisíveis em uma decomposição que prossegue continuamente então a divisão i e o regresso segue do condiciona do às suas condições in infinitum pois as condições as partes estão B 552 contidas no próprio condicionado e como este é inteiramente dado em uma intuição encerrada entre seus limites todas elas também são dadas com ele O regresso não pode portanto ser denominado um mero retorno in indefinitum como apenas a antiga ideia cosmológi ca permitia pois eu teria de progredir do condicionado às condições que eram dadas fora dele portanto não juntamente com ele e que só apareciam pela primeira vez no regresso empírico Apesar disso não é de modo algum permitido falar de tal todo que é divisível ao infinito que ele se constitui de infinitas partes Pois embora todas as partes estejam contidas na intuição do todo não está aí contida a divisão in teira que consiste apenas na decomposição progressiva ou no pró prio regresso que primeiramente torna real a série Uma vez porém que esse regresso é infinito todos os membros partes a que ele che 424 É ga estão como agregados contidos no todo dado mas não a série in teira da divisão que é sucessivamente infinita e jamais completa e por conseguinte não pode representar uma variedade infinita nem uma apreensão conjunta dos mesmos em um todo Essa observação geral pode antes de mais nada ser facilmente aplicada ao espaço Cada espaço intuído em seus limites é tal todo e suas partes por seu turno são também espaços que desse modo po dem ser divididos ao infinito Disso se segue também de maneira inteiramente natural a segun da aplicação a um fenômeno externo corpo encerrado em seus limi tes A sua divisibilidade se funda na divisibilidade do espaço que cons titui a possibilidade do corpo como um todo extenso Este é divisível ao infinito portanto sem ser por isso constituído de infinitas partes Parece de fato que na medida em que um corpo tem de ser repre sentado como substância no espaço ele teria de ser distinguido do es paço no que diz respeito à lei da divisibilidade deste pois se pode cer tamente conceder que a decomposição deste último não poderia ja mais afastar toda composição pois nesse caso todo espaço que de res to não tem nada de autossubsistente deixaria de ser o que é impossí vel que no entanto não sobrasse absolutamente nada caso toda com posição da matéria fosse suprimida em pensamento isto é algo que não parece compatibilizarse com o conceito de uma substância o qual de veria de fato ser o sujeito de toda composição e permanecer em seus elementos mesmo que fosse suprimida a conexão dos mesmos no espa ço através da qual constituem um corpo Com aquilo que se denomina substância no fenômeno no entanto não se passa o mesmo que se pensaria de uma coisa em si mesma através de conceitos puros do en tendimento Aquela não é um sujeito absoluto mas uma imagem per manente da sensibilidade e nada além de uma intuição na qual não se pode encontrar absolutamente nada de incondicionado Agora mesmo que essa regra da progressão ao infinito se veri fique sem qualquer dúvida na subdivisão de um fenômeno como mero preenchimento do espaço ela não pode valer todavia se qui sermos estendêla também às várias partes já separadas de um cer to modo no todo dado de modo que constituíssem um quantum discretum Supor que em cada todo articulado organizado cada B 553 B 554 4 2 5 parte seja por seu turno articulada e que desse modo se encon trem sempre na divisão das partes ao infinito novas partes organi zadas ou em uma palavra quéo todo sejaartieulado ao infinito é algo que não se pode pensar de modo algum muito embora se pos sa pensar que as partes da matéria poderiam ser articuladas em sua decomposição ao infinito Pois a infinitude da divisão de um dado fenômeno no espaço se funda tão somente na circunstância de que por meio deste é dada apenas a divisibilidade i e uma va riedade de partes absolutamente indeterminada em si mesma ao passo que as partes mesmas somente são dadas e determinadas por meio da subdivisão em uma palavra a infinitude da divisão se funda na circunstância de que o todo não é já em si mesmo dividi do Assim a divisão pode determinar uma variedade no mesmo que vai tão longe quanto se queira avançar no regresso da divisão b 555 Em um corpo orgânico articulado ao infinito por outro lado o todo já é representado como dividido por meio desse conceito mes mo e uma variedade de partes em si determinada embora infinita é encontrada nele antes de qualquer regresso da divisão com o que se cai em contradição consigo mesmo já que esse desenvolvi mento infinito é considerado como uma série que nunca pode ser acabada infinita e não obstante como acabada em seu conjunto A divisão infinita apenas designa o fenômeno como quantum con tinuum e é inseparável do preenchimento do espaço pois é justa mente neste que reside o fundamento da divisibilidade infinita Tão logo porém algo é assumido como quantum discretum a quantidade das unidades é assim determinada e portanto tam bém é sempre igual a um número O quão longe pode ir a organiza ção em um corpo articulado portanto é algo que somente a expe riência pode estabelecer e mesmo que ela não conseguisse chegar com certeza a partes inorgânicas estas teriam de estar ao menos na experiência possível O quão longe se estende a divisão de um fenômeno em geral contudo não é um assunto da experiência mas sim um princípio da razão qual seja o de nunca tomar por ab solutamente acabado o regresso empírico na decomposição do ex tenso de acordo com a natureza desse fenômeno 426 Observação final à solução das ideias transcendentais matemáticas e advertência preliminar à solução das ideias transcendentais dinâmicas Ao representar a antinomia da razão pura em uma tábua por meio de todas as ideias transcendentais indicando o fundamento desse con flito e o único meio de superála que consistia em declarar como falsas ambas as afirmações contrapostas nós representamos as condições por todo lado como pertencentes ao seu condicionado segundo rela ções do espaço e do tempo que é a representação habitual do entendi mento humano comum na qual de fato aquele conflito está inteira mente baseado Deste ponto de vista também todas as representações dialéticas da totalidade na série das condições para um dado condicio nado eram sempre do mesmo tipo Havia sempre uma série em que a condição se conectava ao condicionado ambos como seus membros e eram assim homogêneos já que o regresso nunca era pensado até o fim ou para que isto acontecesse um membro em si condicionado tinha de ser equivocadamente tomado como um primeiro portanto como in condicionado Em nenhum caso portanto era considerado o objeto i e o condicionado mas sim e apenas segundo a quantidade a série de condições do mesmo e a dificuldade que não podia ser suprimida por qualquer comparação mas apenas através de um completo corte do nó residia em que a razão dava algo ou muito longo ou muito curto para o entendimento de modo que este nunca podia chegar à sua ideia Nós deixamos de ver aí contudo uma distinção essencial que vigo ra entre os objetos i e entre os conceitos do entendimento que a ra zão busca elevar a ideias qual seja que em nossa tábua das categorias duas delas designam uma síntese matemática e as outras duas uma síntese dinâmica dos fenômenos Até aqui isso pôde acontecer muito bem já que assim como na representação geral de todas as ideias transcendentais nós permanecemos sempre sob condições no fenôme no nas ideias transcendentais matemáticas nós também não tínhamos outro objeto senão aquele no fenômeno Agora porém que estamos passando aos conceitos dinâmicos do entendimento na medida em que devem adequarse à ideia da razão aquela distinção se torna importan te e nos abre uma perspectiva inteiramente nova em relação à contro vérsia em que a razão se encontra enredada uma controvérsia que era antes desprezada já que de ambos os lados se edificava sobre falsas B 556 B 557 427 pressuposições mas que pode agora estando talvez presente na anti B 558 nomia dinâmica uma pressuposição que pode coexistir com a preten são da razão e podendo o juiz sanar a falta de fundamentos jurídicos que afetava a ambas as partes ser resolvida desse ponto de vista de maneira satisfatória para ambas as partes algo que não podia ser feito com o conflito na antinomia matemática As séries de condições são claramente homogêneas quando se considera apenas a sua extensão se são adequadas à ideia ou se são muito grandes ou muito pequenas para esta O conceito do entendi mento porém que serve de fundamento a essas ideias ou contém apenas uma síntese do homogêneo que é pressuposto em toda quan tidade tanto na sua composição como na sua divisão ou então do he terogêneo que pode ser ao menos admitido tanto na síntese dinâmi ca da ligação causal como naquela do necessário com o contingente Disso decorre que na conexão matemática das séries de fenôme nos não pode entrar nenhuma outra condição a não ser a sensível i e uma tal que é ela própria uma parte da série ao passo que a série dinâ mica pelo contrário admite além das condições sensíveis uma condi ção heterogênea que não é uma parte da série mas reside fora dela b 559 como meramente inteligível e isso faz com que a razão fique satisfeita e o incondicionado seja anteposto aos fenômenos sem que a série des tes que é sempre limitada seja por isso tornada confusa ou contrari andose os princípios do entendimento interrompida Uma vez porém que as ideias dinâmicas admitem uma condição dos fenômenos fora da série destes i e uma tal que não é ela própria fenômeno acontece algo que é inteiramente distinto do resultado da antinomia matemática Esta ocasionava com efeito que ambas as afirmações dialéticas contrapostas tivessem de ser declaradas falsas 0 condicionado completo das séries dinâmicas pelo contrário que é inseparável delas enquanto fenômenos e se conecta à condição que embora não sensível é empiricamente incondicionada satisfaz o en tendimento por um lado e a razão por outro81 e enquanto caem por terra os argumentos dialéticos que buscavam de um modo ou de ou 81 Pois o entendimento não admite entre os fenôm enos uma condição que fosse ela própria empiricamente incondicionada Se uma condição inteligível porém que não pertencesse como um membro à série dos fenômenos pudesse ser concebida para um condicionado no fenômeno ela poderia ser admitida como em piricam ente incondicionada de modo que com isso não ocorresse qualquer interrupção no regresso empírico contínuo NA 428 Á tro uma totalidade incondicionada nos meros fenômenos as proposi ções da razão pelo contrário podem em seu significado assim corri gido ser am bas verdadeiras o que não pode ocorrer jamais nas idei as cosmológicas que concernem a uma unidade que é apenas mate maticamente incondicionada porque nelas não se pode encontrar uma condição da série dos fenômenos a não ser aquela que é ela pró pria fenômeno e como tal também um membro da série III Solução das ideias cosmológicas da totalidade da derivação dos acontecimentos do mundo a partir de suas causas Com relação àquilo que acontece apenas dois tipos de causalida de podem ser concebidas segundo a natureza ou segundo a liberda de A primeira é a conexão no mundo sensível de um estado com ou tro anterior do qual aquele se segue segundo uma regra Como no entanto a causalidade dos fenômenos se baseia em condições tempo rais e o estado anterior caso houvesse sempre existido não poderia produzir nenhum efeito que surge apenas no tempo então a causali dade daquilo que acontece ou surge também surgiu e necessita ela própria de uma causa segundo o princípio do entendimento Por liberdade em sentido cosmológico pelo contrário entendo o começar de um estado po r si m esm o cuja causalidade portanto não está sob uma outra causa que segundo a lei da natureza a determi nasse temporalmente A liberdade é neste sentido uma ideia trans cendental pura que em primeiro lugar não contém nada emprestado à experiência e cujo objeto em segundo lugar não pode ser dado de maneira determinada em experiência alguma pois é uma lei universal da própria possibilidade de toda experiência que em tudo o que acon tece uma causa portanto também a causalidade da causa que ocor reu ou surgiu ela própria deve ter por seu turno uma causa razão pela qual o inteiro campo da experiência até onde quer que se esten da transformase em um conjunto completo da mera natureza Como no entanto não se pode obter desse modo uma totalidade absoluta das condições na relação causal a razão produz então a ideia de uma espontaneidade que pode começar a agir por si mesma sem que uma outra causa tenha de lhe ser anteposta para determinála à ação se gundo a lei da conexão causal B 560 B 561 429 É bastante notável que sobre essa ideia transcendental da liber dade esteja fundado o conceito prático da mesma e que aquela cons titua para este o verdadeiro momento das dificuldades que desde B 562 sempre circundaram a questão sobre a sua possibilidade A liberdade em sen tido prático é a independência do arbítrio em relação à neces sitação pelos impulsos da sensibilidade Pois um arbítrio é sensível na medida em que é patologicam ente afetado por meio de causas motri zes da sensibilidade ele se denomina anim al arbitrium brutum quando pode ser necessitado patologicam ente Embora seja um arbi trium sensitivum o arbítrio humano não é brutum mas sim liberum já que a sensibilidade não lhe torna necessária uma ação e nele resi de uma faculdade de determinarse por si mesmo independentemen te da necessitação por impulsos sensíveis Vêse facilmente que se toda causalidade no mundo sensível fosse mera natureza todo acontecimento seria determinado por um outro no tempo segundo leis necessárias e portanto como os fenômenos ao determinar o arbítrio têm de tornar cada ação necessária como seu re sultado natural a supressão da liberdade transcendental aniquilaria toda liberdade prática Pois esta pressupõe que embora algo não tenha acontecido ele deveria ter acontecido e a sua causa no fenômeno não era tão determinante portanto a ponto de não haver em nosso arbítrio uma causalidade para independentemente daquelas causas naturais e mesmo contra o seu poder e influência produzir algo que é determina do segundo leis empíricas na ordem do tempo portanto para começar apenas po r si uma série de acontecimentos b 563 Acontece aqui portanto aquilo que em geral se encontra no con flito de uma razão que se arrisca para além dos limites da experiência possível que o problema na verdade não é fisiológico mas sim trans cendental Assim a questão da possibilidade da liberdade interessa por certo à psicologia mas na medida em que se baseia em argumen tos dialéticos da mera razão pura é apenas à filosofia transcendental que cabe ocuparse dela e de sua solução Para pois deixar a esta que não pode absterse de dar uma resposta satisfatória quanto a isso em condições de fazêlo tenho de tentar antes de mais nada determi nar mais precisamente através de uma observação o seu procedi mento frente a esse problema 430 Se os fenômenos fossem coisas em si mesmas e portanto o espa ço e o tempo fossem formas da existência das coisas em si mesmas tanto as condições como o condicionado pertenceriam sempre como membros a uma mesma série e disso surgiria também no presente caso a antinomia que é comum a todas as ideias transcendentais qual seja que essa série teria de ser inevitavelmente ou muito gran de ou muito pequena para o entendimento Os conceitos dinâmicos da razão porém com os quais nos estamos ocupando neste e no pró ximo tópico têm a seguinte peculiaridade uma vez que não lidam com um objeto considerado como quantidade mas apenas com sua existência podese fazer abstração da quantidade da série das condi ções e só importa neles a relação dinâmica da condição ao condicio nado desse modo já na questão sobre natureza e liberdade encontra mos a dificuldade de saber se a liberdade é em geral possível e em sendoo se pode coexistir com a universalidade da lei natural da cau salidade se portanto é correta a proposição disjuntiva pela qual cada efeito no mundo tem de surgir ou por natureza ou por liberdade ou se não é antes possível que existam ambos ao mesmo tempo em diferentes sentidos em um mesmo acontecimento A correção daque le princípio da completa concatenação de todos os acontecimentos do mundo sensível segundo leis naturais imutáveis já está garantida como um princípio da analítica transcendental e não admite qual quer ruptura Colocase apenas a questão se apesar disso a liberda de também poderia ter lugar em relação ao mesmo efeito que é deter minado segundo a natureza ou se ela estaria completamente excluí da por aquela regra inviolável E aqui a pressuposição efetivamente comum mas enganosa da realidade absoluta dos fenômenos mostra também a sua influência negativa para confundir a razão Pois se os fenômenos fossem coisas em si mesmas não haveria como salvar a li berdade A natureza seria então a causa completa e em si suficiente de todo acontecimento e a sua condição estaria sempre contida ape nas na série dos fenômenos que juntamente com seu efeito são ne cessários sob a lei da natureza Se pelo contrário os fenômenos não são tomados por mais do que de fato são ou seja por coisas em si mas sim por meras representações que se concatenam segundo leis empíricas então eles devem por seu turno possuir fundamentos que não são fenômenos Essa causa inteligível no entanto não é determi nada por fenômenos no que diz respeito à sua causalidade muito em B 564 B 565 431 bora os seus efeitos apareçam e possam ser determinados por outros fenômenos Ela portanto juntamente com sua causalidade está fora da série ao passo que seus efeitos são encontrados na série das condi ções empíricas O efeito pode ser considerado portanto como livre no que diz respeito à sua causa inteligível e ao mesmo tempo toda via no que diz respeito aos fenômenos como resultado destes segun do a necessidade da natureza uma distinção que se apresentada em termos universais e de maneira inteiramente abstrata tem de parecer extremamente sutil e obscura mas que será explicada na aplicação Aqui eu gostaria de observar apenas que como a concatenação com pleta de todos os fenômenos em um contexto da natureza é uma lei inflexível esta teria de derrubar qualquer liberdade necessariamen te caso se quisesse defender obstinadamente a realidade dos fenôme nos Também aqueles pois que seguem aqui a opinião comum nunca conseguiram chegar a conciliar a natureza e a liberdade B 566 Possibilidade da causalidade po r liberdade em união com a lei universal da necessidade natural Denomino inteligível àquilo que em um objeto dos sentidos não é ele próprio fenômeno Se pois aquilo que tem de ser considerado como fenômeno no mundo sensível também possui em si mesmo uma faculdade que não é objeto da intuição sensível mas pela qual ele pode ser a causa de fenômenos então se pode considerar a causa lidade desse ser por dois lados como inteligível no que diz respeito à sua ação como uma coisa em si mesma e como sen sível no que diz respeito aos seus efeitos como um fenômeno no mundo sensível Da faculdade de tal sujeito portanto nós formaríamos um conceito em pírico e ao mesmo tempo um conceito intelectual de sua causalida de os quais teriam lugar conjuntamente em um único e mesmo efei to Esse duplo modo de pensar a faculdade de um objeto dos sentidos não contradiz nenhum dos conceitos que temos de formar a respeito dos fenômenos e de uma experiência possível Pois uma vez que estes não sendo em si coisas têm de possuir um objeto transcendental por fundamento que os determine como meras representações nada nos b 567 impede de atribuir a esse objeto transcendental além da propriedade através da qual ele aparece também uma causalidade que não é fenô meno muito embora o seu efeito seja encontrado no fenômeno Toda 432 causa eficiente contudo tem de possuir um caráter i e uma lei de sua causalidade sem a qual ela não seria causa alguma E assim nós teríamos em um sujeito do mundo sensível primeiramente um cará ter em pírico pelo qual suas ações como fenômenos estariam em contínua concatenação com outros fenômenos segundo leis constan tes da natureza e poderiam ser deduzidas destes enquanto condi ções delas e assim constituir em ligação com eles membros de uma única série da ordem da natureza Em segundo lugar também teria de ser concedido a ele um caráter inteligível que lhe permitiria ser causa daquelas ações como fenômenos mas que não estaria ele pró prio sob condições da sensibilidade nem seria ele próprio um fenô meno Ao primeiro também se poderia denominar o caráter de tal coi sa no fenômeno e ao segundo o caráter da coisa em si mesma No que diz respeito pois a seu caráter inteligível esse sujeito agente não estaria sob qualquer condição temporal pois o tempo é apenas condição dos fenômenos e não das coisas em si mesmas Nele nenhuma ação nasceria ou pereceria nem estaria ele portanto sub metido à lei de toda determinação temporal de todo modificável qual seja a de que tudo o que acontece encontra sua causa nos fenôm e nos no estado anterior Em uma palavra a sua causalidade na medi da em que é intelectual não estaria de modo algum na série das con dições empíricas que tornam necessário o acontecimento no mundo sensível Esse caráter inteligível não poderia jamais de fato ser co nhecido imediatamente pois não podemos perceber nada que não aparece mas ele teria de ser pensado conformemente ao caráter em pírico do mesmo modo como nós colocamos em pensamento um ob jeto transcendental como fundamento dos fenômenos muito embora não saibamos nada do que ele seria em si mesmo No que diz respeito a seu caráter sensível portanto esse sujeito estaria submetido como fenômeno a todas as leis da determinação segundo a ligação causal e não seria então nada além de uma par te do mundo sensível cujos efeitos como qualquer outro fenômeno decorreriam inexoravelmente da natureza Do mesmo modo como os fenômenos externos influem sobre ele e do mesmo modo como seu caráter empírico i e a lei de sua causalidade é conhecida por meio da experiência todas as suas ações teriam de ser explicadas se gundo leis naturais e todos os requisitos para uma determinação B 568 433 completa e necessária das mesmas teriam de ser encontrados em uma experiência possível B 569 No que diz respeito a seu caráter inteligível no entanto embora só possamos ter dele o conceito geral o mesmo sujeito teria de ser declarado livre de toda influência da sensibilidade e da determinação por fenômenos e como nele uma vez que é númeno nada acontece e não se encontra nenhuma modificação a exigir uma determinação tem poral dinâmica nem portanto qualquer conexão com fenômenos como causas esse ser ativo seria então nessa medida independente e livre em suas ações de toda necessidade natural a qual somente é encontra da no mundo sensível Dirseia dele com razão que inicia por si mes mo os seus efeitos no mundo sensível sem que a própria ação comece nele e isto seria válido sem que os efeitos no mundo sensível tivessem por isso de iniciarse por si mesmos já que eles ainda que apenas atra vés de seu caráter empírico que é tão somente o fenômeno do inteligí vel são sempre determinados de antemão nesse mundo por condi ções empíricas no tempo precedente e somente são possíveis como uma continuação da série das causas naturais Liberdade e natureza assim cada qual em seu significado completo são encontradas nas mesmas ações ao mesmo tempo e sem qualquer conflito na medida em que se as compare com sua causa inteligível ou sensível B 570 Elucidação da ideia cosmológica de uma liberdade em ligação com a necessidade universal da natureza Eu considerei adequado começar por traçar o esboço para a solu ção de nosso problema transcendental de modo que se pudesse ter uma boa visão de conjunto do caminho da razão nessa solução Dis cerniremos agora os momentos de sua decisão que são o que real mente importa e consideraremos cada um em particular A lei da natureza de que tudo o que acontece tem uma causa e de que a causalidade dessa causa i e a ação na medida em que vem an tes no tempo e não pode tendo em vista o efeito aí surgido ter sempre existido mas deve ter ela própria acontecido também tem a sua cau sa entre os fenômenos pela qual é determinada e de que portanto to dos os acontecimentos em uma ordem da natureza são empiricamente determinados esta lei a única pela qual os fenômenos constituem uma natureza e podem fornecer os objetos de uma experiência é uma lei do 434 i entendimento da qual não é permitido afastarse sob qualquer pretex to nem dela retirar algum fenômeno pois do contrário ele seria coloca do fora de toda experiência possível seria com isso diferenciado de to dos os objetos da experiência possível e seria transformado em mero produto do pensamento e em uma fantasia Ainda que isso pareça apenas uma cadeia de causas que não ad mite qualquer totalidade absoluta no regresso às suas condições esta dúvida não nos detém de modo algum pois ela já foi suprimida no jul gamento geral da antinomia da razão pura quando esta ascendia na série dos fenômenos em direção ao incondicionado Se cedemos à ilu são do realismo transcendental não sobra nem natureza nem liberda de Aqui se coloca apenas a questão se quando em toda a série dos acontecimentos se reconhece apenas a necessidade da natureza é possível todavia considerar a mesma coisa que por um lado é mero efeito da natureza como efeito da liberdade por outro lado ou se en tre os dois tipos de causalidade se encontra uma contradição direta Entre as causas no fenômeno certamente não pode haver nada que inicie uma série de modo absoluto e por si mesmo Cada ação como fenômeno na medida em que produz um acontecimento é ela própria um acontecimento ou evento que pressupõe um outro esta do no qual se encontra a causa tudo o que acontece pois é apenas uma continuação da série e nenhum começo que ocorresse por si mesmo é nela possível Logo todas as ações das causas naturais na série temporal são por seu turno efeitos que igualmente pressupõem a sua causa na série do tempo Uma ação originária pela qual aconte ce algo que não existia antes não pode ser esperada na conexão cau sal dos fenômenos Será também necessário contudo que sendo os efeitos fenôme nos a causalidade de sua causa que também é ela própria causa um fenômeno tenha de ser apenas empírica Não será antes possível que embora se exija para cada efeito no fenômeno uma conexão com sua causa segundo leis da causalidade empírica esta causalidade empírica mesma possa sem quebrar minimamente a sua concatenação com as causas naturais ser o efeito de uma causalidade não empírica mas in teligível Isto é o efeito da ação originária em relação aos fenômenos de uma causa que portanto não é fenômeno mas inteligível no que B 571 B 572 435 concerne a essa faculdade ainda que de resto deva ser contada en quanto um membro da cadeia natural como parte do mundo sensível Nós necessitamos do princípio da causalidade dos fenômenos en tre si para poder procurar e fornecer condições naturais para aconte cimentos naturais i e causas no fenômeno Se isso é admitido e não é enfraquecido por nenhuma exceção então o entendimento que em B 573 seu uso empírico vê apenas a natureza em todos os eventos e está au torizado a fazêlo tem tudo o que poderia exigir e as explicações se guem seu caminho sem obstáculos Agora não causa o mínimo prejuí zo ao entendimento admitir mesmo que se tratasse de algo mera mente inventado que entre as causas naturais haja também algu mas que têm uma faculdade apenas inteligível uma vez que a sua de terminação a agir não se baseia nunca em condições empíricas mas em meros fundamentos do entendimento de tal modo porém que a ação desta causa no fenômeno seja conforme à causalidade empírica Pois desse modo o sujeito agente estaria enquanto causa phaenome non encadeado à natureza em uma dependência inquebrantável de todas as suas ações e apenas o phaenomenon desse sujeito com toda a sua causalidade no fenômeno conteria certas condições que ascendendose do objeto empírico ao transcendental teriam de ser consideradas como meramente inteligíveis Pois se nós só seguimos a regra da natureza naquilo que pode ser causa entre os fenômenos po demos ficar despreocupados em relação àquilo que é pensado como um fundamento desses fenômenos e de sua concatenação no sujeito transcendental que nos é empiricamente desconhecido Este funda mento inteligível não diz respeito às questões empíricas mas apenas B 574 ao pensamento no entendimento puro e embora os efeitos desse pensar e agir do entendimento puro se encontrem nos fenômenos eles não devem por isso ser menos passíveis de uma explicação com pleta a partir de suas causas no fenômeno segundo leis naturais na medida em que se siga somente o seu caráter empírico como funda mento supremo da explicação e se deixe inteiramente de lado como desconhecido o caráter inteligível que é a causa transcendental da quele a não ser na medida em que seja fornecido através do empírico como seu sinal sensível O ser humano é um dos fenômenos do mun do sensível e nessa medida também uma das causas naturais cuja cau salidade tem de estar sob leis empíricas Como tal portanto ele tam 436 bém tem de possuir como todas as outras coisas da natureza um ca ráter empírico Nós o notamos através de forças e faculdades que ele exprime em seus efeitos Na natureza inanimada ou meramente ani mal nós não encontramos qualquer fundamento para conceber algu ma faculdade além da que é sensivelmente condicionada O ser huma no contudo que de resto conhece toda a natureza apenas através dos sentidos também se conhece a si mesmo através da mera apercepção mais precisamente em ações e determinações internas que ele absolu tamente não pode contar entre as impressões dos sentidos e é ele mesmo por certo de um lado fenômeno Phänomen de outro qual seja em relação a certas faculdades um objeto meramente inte ligível já que a sua ação não pode de forma alguma ser atribuída à receptividade da sensibilidade Nós denominamos tais faculdades en tendimento e razão a última em especial distinguese de modo intei ramente próprio e admirável de todas as forças empiricamente condi cionadas já que considera seus objetos apenas segundo ideias e a partir disso determina o entendimento que faz então de seus concei tos também puros é verdade um uso empírico Que essa razão tenha causalidade contudo ou que ao menos possamos representar uma nela é algo que fica claro a partir dos im perativos que em todo o âmbito prático impomos como regras às for ças operantes O dever exprime um tipo de necessidade e conexão com fundamentos que não aparece de outro modo em toda a nature za O entendimento só conhece aí aquilo que é foi ou será É impossí vel que algo deva ser aí de outro modo a não ser como de fato já o é em todas essas relações temporais o dever no entanto caso só se te nha em vista o curso da natureza não tem absolutamente nenhum significado Nós não podemos de forma alguma perguntar o que deve acontecer na natureza menos ainda as propriedades que um cír culo deve ter devemos perguntar apenas o que aí acontece ou quais as propriedades que o último tem Esse dever expressa uma ação possível pois cujo fundamento não é outro senão um mero conceito ao passo que o fundamento de uma mera ação da natureza tem de ser sempre um fenômeno Agora a ação a que o dever é dirigido tem de ser sempre possível sob condi ções naturais estas condições naturais porém não dizem respeito à própria determinação do arbítrio mas apenas ao efeito e ao sucesso B 575 B 576 437 do mesmo no fenômeno Quantos quer que sejam os fundamentos na turais que me impelem a querer e quantos quer que sejam os estímu los sensíveis eles não podem produzir o dever mas apenas um querer ainda longe de ser necessário embora sempre condicionado o dever que é expresso pela razão pelo contrário estabelece a medida e a fi nalidade e mesmo a proibição e a autorização Quer se trate de um objeto da mera sensibilidade o agradável quer da razão pura o bem a razão não cede ao fundamento que é dado empiricamente nem segue a ordem das coisas tal como se apresenta no fenômeno mas faz para si com total espontaneidade uma ordem própria segundo ideias na qual acomoda as condições empíricas e a partir da qual ela declara como necessárias até mesmo ações que ainda não aconteceram e talvez nem venham a acontecer mas de todas as quais se pressupõe ainda as sim que a razão possa ter causalidade em relação a elas pois sem isso ela não poderia ter efeitos de suas ideias na experiência Mas fiquemos por aqui e aceitemos ao menos como possível que B 577 a razão realmente tem causalidade em relação aos fenômenos ela deve então mesmo sendo razão mostrar um caráter empírico seu pois toda causa pressupõe uma regra segundo a qual certos fenôme nos se seguem como efeitos e toda causa exige uma uniformidade dos efeitos que funda o conceito de causa como uma faculdade o qual na medida em que tem de resultar de meros fenômenos pode ser denominado seu caráter empírico e é estável ao passo que os efei tos aparecem em figuras modificáveis segundo a diversidade das con dições que os acompanham e em parte os limitam Assim todo homem tem um caráter empírico de seu arbítrio que não é outro senão uma certa causalidade de sua razão na medida em que esta mostra em seus efeitos no fenômeno uma regra segundo a qual se podem inferir os fundamentos e as ações da razão no que diz respeito a seu tipo e seus graus e julgar os princípios subjetivos de tal arbítrio Como esse caráter empírico tem de ser ele mesmo com efeito derivado dos fenômenos a partir da regra dos mesmos que é fornecida pela experiência então todas as ações humanas no fenôme no são determinadas segundo a ordem da natureza a partir de seu caráter empírico e das demais causas concomitantes e se nós pudés B 578 semos investigar todos os fenômenos de seu arbítrio até o fundamen to não haveria uma única ação humana que não pudéssemos prever 438 com segurança e conhecer como necessária a partir de suas condi ções precedentes Em relação a esse caráter empírico portanto não há liberdade e nós podemos considerar o homem apenas a partir dele se apenas o observam os e tal como ocorre na antropologia quere mos investigar fisiologicamente as causas motrizes de suas ações Se no entanto consideramos as mesmas ações em relação à ra zão mas não a razão especulativa para explicálas no que diz res peito à sua origem e sim a razão como causa que as produz em uma palavra se as confrontamos com esta do ponto de vista prático en tão encontramos uma regra e uma ordem inteiramente diversas da or dem da natureza Pois aí não deveria talvez ter acontecido tudo o que aconteceu e que segundo leis empíricas tinha de ter inevitavelmente acontecido no curso da natureza Às vezes notamos contudo ou ao menos acreditamos notar que as ideias da razão realmente provaram uma causalidade no que diz respeito às ações humanas como fenôme nos e que elas aconteceram portanto não porque foram determina das por causas empíricas mas porque isto sim foram determinadas por fundamentos da razão Supondose pois que se pudesse dizer que a razão tem causali dade em relação ao fenômeno poderia a sua ação denominarse livre sendo que em seu caráter empírico no modo dos sentidos é necessá ria e determinada de maneira inteiramente precisa Este por seu tur no é determinado no caráter inteligível no modo do pensamento Nós não conhecemos esta última ação todavia e a designamos atra vés de fenômenos que apenas dão a conhecer imediatamente o modo dos sentidos caráter empírico82 Na medida contudo em que pode ser atribuída ao modo do pensamento como sua causa a ação não acontece a partir dele segundo leis empíricas i e como se fosse an tecedida pelas condições da razão pura mas sim de tal modo que os seus efeitos a antecedam no fenômeno do sentido interno Como uma faculdade meramente inteligível a razão pura não está submeti 82 A efetiva moralidade das ações mérito e culpa mesmo em nosso próprio comportamento permanece pois inteiramente oculta para nós Nossas imputações só podem ser referidas ao caráter empírico O quanto delas porém pode ser imputado ao puro efeito da liberdade o quanto à mera natureza e ao erro inocente do temperamento ou à sua afortunada constitui ção mérito fortunae isto é algo que ninguém pode estabelecer com rigor nem portanto julgar com inteira justiça NA B 579 439 da à forma do tempo nem portanto às condições da sequência do tempo A causalidade da razão no caráter inteligível não surge ou se b 580 inicia em um certo tempo para produzir um efeito Pois nesse caso ela estaria ela própria submetida à lei natural dos fenômenos já que esta determina séries causais no que diz respeito ao tempo e a causalida de seria então natureza não liberdade Nós poderemos dizer portan to que se a razão pode ter causalidade em relação aos fenômenos ela é então uma faculdade pela qual se inicia pela primeira vez a con dição sensível de uma série empírica de efeitos Pois a condição que reside na razão não é sensível e portanto não começa ela própria Com isso tem então lugar aquilo que nos faltava em todas as séries empíricas que a condição de uma série sucessiva de acontecimentos pode ser ela própria empiricamente incondicionada Pois aqui a con dição está fora da série dos fenômenos no inteligível e portanto não está submetida a nenhuma condição sensível e nenhuma determi nação temporal por meio de causas precedentes Apesar disso a mesma causa pertence também em um outro as pecto à série dos fenômenos O ser humano é ele mesmo fenômeno Seu arbítrio tem um caráter empírico que é a causa empírica de todas as suas ações Das condições que determinam o ser humano segundo esse seu caráter não há uma que não esteja contida na série dos efeitos naturais e não obedeça à lei desta última segundo a qual não se encon tra nenhuma causalidade incondicionada daquilo que acontece no tem b 581 po Nenhuma ação dada pode portanto já que só pode ser percebida como fenômeno iniciarse absolutamente por si mesma No que diz respeito à razão porém não se pode dizer que aquele estado em que ela determina o arbítrio seja precedido por um outro em que tal estado seja ele mesmo determinado Pois uma vez que a razão não é ela pró pria um fenômeno e não está submetida a condições da sensibilidade não há nela nenhuma série temporal relativa à sua causalidade e por tanto a lei dinâmica da natureza que determina a série temporal se gundo regras não pode aplicarse a ela A razão é portanto a condição permanente de todas as ações vo luntárias sob as quais o ser humano aparece como fenômeno Cada uma delas é determinada previamente no caráter empírico do ser hu mano antes mesmo de ela acontecer Com relação ao caráter inteligí vel do qual aquele é apenas o esquema sensível não vale qualquer 440 antes ou depois e toda ação independentemente da relação tempo ral que ela mantém com outros fenômenos é o efeito imediato do ca ráter inteligível da razão pura que age livremente portanto sem ser dinamicamente determinada seja por fundamentos externos ou in ternos mas anteriores no tempo na cadeia das causas naturais e esta sua liberdade não pode portanto ser apenas considerada negativa mente como independência das condições empíricas pois nesse caso a faculdade da razão cessaria de ser uma causa dos fenômenos mas tem de ser também designada positivamente como uma faculdade de iniciar por si mesma uma série de acontecimentos de modo que nada comece nela mas ela mesma como condição incondicionada de toda ação vo luntária não admita sobre si nenhuma condição precedente no tempo ao passo que seu efeito embora começando na série dos fenômenos não pode jamais constituir aí um começo absolutamente primeiro Para elucidar o princípio da razão com um exemplo extraído de seu uso empírico não para confirmálo pois semelhantes provas são inadequadas para afirmações transcendentais tomese uma ação voluntária como por exemplo uma mentira maldosa pela qual al guém tenha ocasionado uma certa confusão na sociedade e que é in vestigada primeiro no que diz respeito às causas motrizes de que se originou para a partir disso julgarse como ela poderia com suas consequências ser a ele imputada Para o primeiro propósito exami nase o seu caráter empírico até as suas fontes que se procuram na má educação nas más companhias em parte também na malignidade de uma natureza insensível à vergonha em parte na leviandade e na desconsideração de modo que não se deixe de prestar atenção tam bém às causas ocasionais conducentes à ação Em tudo isso proce dese como em geral na investigação da série das causas determinan tes de um dado efeito natural Mesmo que se acredite que a ação é as sim determinada não se deixa por isso de repreender o criminoso e isto não devido à sua natureza desafortunada nem devido às circuns tâncias influentes sobre ele e nem mesmo devido a seu modo prece dente de vida pois se pressupõe que se poderia deixar inteiramente de lado como ele foi criado e considerar a série transcorrida de condi ções como não ocorrida mas o ato como inteiramente incondiciona do em relação ao estado precedente como se o agente iniciasse as sim por si mesmo apenas uma série de consequências Essa repreen são se funda em uma lei da razão pela qual se considera esta última B 582 B 583 441 como uma causa que poderia e deveria independentemente de todas as mencionadas condições empíricas ter determinado de outro modo o comportamento do ser humano E de fato essacausalidade da ra zão não é vista apenas como uma concorrência mas em si mesmo como completa ainda que os móbiles sensíveis não estejam a seu fa vor mas até mesmo Contra ela a ação é atribuída a seu caráter inteli gível e ele tem agora no momento em que mente toda a culpa a ra zão foi inteiramente livre portanto independentemente de todas as condições sensíveis do ato devendo este ser atribuído unicamente à sua negligência Nesse juízo de imputação se percebe facilmente que se tinha em mente aí que a razão não seria afetada de modo algum por toda aquela sensibilidade ela não se modificaria ainda que seus fenôme B 584 nos ou seja o modo pelo qual ela se mostra em seus efeitos nenhum estado antecede nela a um outro determinandoo ela não faria parte portanto da série de condições sensíveis que segundo leis naturais tornam necessários os fenômenos Ela a razão está presente e é sempre a mesma em todas as ações do ser humano em todas as cir cunstâncias temporais mas não está ela própria no tempo nem cai em um estado novo em que antes não estava ela é determinante mas não determinável em relação a tal estado Por isso não se pode per guntar por que a razão não se determinou a si mesma de outro modo mas apenas por que ela não determinou os fenômenos de ou tro modo através de sua causalidade Quanto a isso porém nenhuma resposta é possível Pois um outro caráter inteligível teria dado um outro empírico e se dizemos que independentemente do modo como havia conduzido sua vida até o momento o criminoso poderia ter dei xado de mentir isto significa apenas que a mentira estaria sob o po der da razão e a razão em sua causalidade não está submetida a ne nhuma condição do fenômeno ou do curso do tempo e que embora a diferença do tempo possa certamente constituir uma diferença cruci al dos fenômenos uns em relação aos outros ela não pode visto que eles não são coisas nem portanto causas em si mesmos dar lugar a uma diferença na ação relativamente à razão Nós só podemos portanto no julgamento das ações livres quan B 585 to à sua causalidade chegar até a causa inteligível mas não além 442 dela nós podemos saber que ela é livre i e determinada indepen dentemente da sensibilidade e que desse modo pode ser a condição sensivelmente incondicionada dos fenômenos Quanto a por que o ca ráter inteligível dá precisamente estes fenômenos e este caráter empí rico sob as presentes condições isto é algo cuja resposta está muito além de toda a faculdade de nossa razão e mesmo de sua competên cia para simplesmente perguntálo é como se se perguntasse por que o objeto transcendental de nossa intuição sensível externa dá justa mente uma intuição no espaço e não alguma outra Mas o problema que tínhamos aqui de solucionar não nos obriga a isso de modo al gum pois ele era apenas o seguinte se a liberdade contradiz a neces sidade natural em uma única e mesma ação e a este nós já responde mos suficientemente mostrando que se naquela é possível uma rela ção a um tipo inteiramente diverso de condições a lei da última não afeta a primeira podendo ambas existir independentemente uma da outra e sem que uma prejudique a outra Devese observar que nós não quisemos estabelecer aqui a rea lidade da liberdade como uma das faculdades que contêm a causa dos fenômenos de nosso mundo sensível Pois além de não ser uma consideração transcendental que somente tivesse a ver com conceitos isso não daria certo já que nunca podemos inferir da ex periência algo que absolutamente não pode ser pensado segundo leis da experiência Além disso não quisemos jamais provar a possi bilidade da liberdade pois isso também não teria dado certo uma vez que não podemos em geral conhecer a partir de meros concei tos a priori a possibilidade de um fundamento real ou de uma causa lidade A liberdade só é tratada aqui como uma ideia transcenden tal pela qual a razão pensa começar absolutamente através do sen sivelmente condicionado a série das condições no fenômeno mas pela qual também se enreda em uma antinomia com suas próprias leis que ela prescreve ao uso empírico do entendimento Que essa antinomia contudo esteja baseada em uma mera ilusão e que a natureza pelo menos não contradiga a causalidade por liberdade isto era a única coisa que podíamos estabelecer e de resto tam bém a única coisa que pretendíamos B 586 443 b 587 IV Solução da ideia cosmológica da totalidade da dependência dos fenômenos em relação à sua existência em geral No último item nós considerávamos as modificações do mundo sensível em sua série dinâmica em que cada uma delas está submeti da à outra como sua causa Agora esta série dos estados nos servirá apenas como fio condutor para chegar a uma existência que possa ser a condição suprema de todo modificável qual seja o ser necessário Não se trata aqui da causalidade incondicionada mas da existência in condicionada da própria substância A série que temos diante de nós portanto é apenas de fato uma série de conceitos e não de intui ções já que uma é a condição da outra Vêse facilmente contudo que sendo tudo modificável no con junto completo dos fenômenos portanto condicionado na existência não poderia haver em parte alguma na série da existência dependen te um membro incondicionado cuja existência fosse absolutamente necessária e que portanto se os fenômenos fossem coisas em si mes mas e justamente por isso a sua condição pertencesse sempre com o c o n d ic io n a d o a uma única e mesma série dos fenômenos jamais po B 588 d e ria t e r lu g a r u m ser necessário como condição da existência dos fe nômenos do mundo sensível 0 regresso dinâmico tem em si porém como próprio e distintivo e m relação ao matemático o seguinte como este só lida de fato com a concatenação das partes em um todo ou a decomposição de um todo e m suas partes as condições dessa série tem de ser consideradas como partes da mesma portanto como homogêneas e por conse guinte como fenômenos ao passo que naquele regresso em que não se trata da possibilidade de um todo incondicionado a partir de par tes dadas nem de uma parte incondicionada para um dado todo mas sim da derivação de um estado a partir de sua causa ou da existência contingente da própria substância a partir da necessária a condição não poderia constituir com o condicionado de maneira igualmente necessária uma série empírica Permanece para nós portanto na antinomia ilusória que temos diante de nós um caminho aberto qual seja que ambas as proposi ções em conflito podem ser simultaneamente verdadeiras em diferen tes sentidos de tal modo que todas as coisas do mundo sensível sejam 444 completamente contingentes e portanto tenham sempre uma exis tência empiricamente condicionada ao passo que não obstante tam bém haja uma condição não empírica da série inteira i e um ser ab solutamente necessário Pois este como condição inteligível não per tenceria de modo algum à série como seu membro nem sequer como seu membro supremo e também não produziria um membro da série de maneira empiricamente incondicionada mas deixaria o inteiro mun do sensível na existência empiricamente condicionada que perpassa todos os seus membros Nisso portanto esse modo de colocar uma existência incondicionada como fundamento dos fenômenos se distin guiria da causalidade empiricamente incondicionada da liberdade do último artigo no sentido de que na liberdade a coisa mesma como causa substantia phaenomenon pertencia à série das condições e apenas a sua causalidade era pensada como inteligível ao passo que aqui o ser necessário tem de ser pensado de maneira meramente inte ligível como inteiramente fora da série do mundo sensível como ens extramundanum único modo de evitar que ele próprio seja subme tido à lei da contingência e da dependência de todos os fenômenos Em relação a este nosso problema portanto o princípio regulati vo da razão é o de que tudo no mundo sensível tem existência empirica mente condicionada e em nenhuma parte dele há uma necessidade in condicionada no que diz respeito a alguma propriedade sua que não há nenhum membro da série de condições do qual não se deva sempre esperar e na medida do possível procurar a condição empírica em uma experiência possível e nada nos autorizaria a derivar a existência de al guma condição fora da série empírica ou mesmo a tomála na própria série como absolutamente independente e autossuficiente do mesmo modo contudo também não estaríamos autorizados a negar que a sé rie inteira possa estar fundada em algum ser inteligível o qual portan to é livre de toda condição empírica e na verdade contém o fundamen to de possibilidade de todos esses fenômenos Não se trata aqui no entanto de provar a existência incondicio nalmente necessária de um ser ou mesmo de fundar aí a simples pos sibilidade de uma condição meramente inteligível da existência dos fe nômenos do mundo sensível na verdade do mesmo modo como limi tamos a razão impedindoa de abandonar os fios da condição empíri ca e perderse em fundamentos transcendentes de explicação incapa B 589 B 590 445 zes de uma exposição in concreto tratase aqui de limitar também do outro lado a lei do uso meramente empírico do entendimento impe dindoa de decidir sobre a possibilidade das coisas em geral e de decla rar o inteligível como impossível por ele não nos ser útil na explica ção dos fenômenos Só é mostrado com isso portanto que a comple ta contingência de todas as coisas da natureza e de todas as suas con dições empíricas pode perfeitamente coexistir com a pressuposição arbitrária de uma condição necessária ainda que meramente inteligí vel não haveria assim nenhuma contradição verdadeira entre essas duas afirmações e elas poderiam portanto ser cada qual a seu lado verdadeira Mesmo que tal ser inteligível absolutamente necessário B 591 fosse em si impossível isto não poderia ser inferido de maneira algu ma da dependência e contingência universal de tudo o que pertence ao mundo sensível nem tampouco do princípio de não parar em ne nhum membro da mesma enquanto ele seja contingente e apelar a uma causa fora do mundo Seja em seu caminho no uso empírico seja em seu peculiar caminho no uso transcendental a razão segue assim seu curso 0 mundo sensível contém somente fenômenos mas estes são me ras representações que por seu turno são sempre sensivelmente con dicionadas e como nós nunca temos aqui coisas em si mesmas como nossos objetos não é de admirarse que nunca estejamos autorizados a a partir de um membro da série empírica seja ele qual for dar um salto para fora da interconexão da sensibilidade como se houvesse coi sas em si mesmas existindo fora do seu fundamento transcendental e que se pudessem abandonar para buscar a causa de sua existência fora delas o que acabaria certamente por acontecer com coisas contingen tes mas não com meras representações de coisas cuja contingência é ela própria apenas um fenômeno Phänomen e não pode conduzir a nenhum outro regresso senão aquele que determina os fenômenos Phänomena i e o empírico Conceber no entanto um fundamento inteligível dos fenômenos i e do mundo sensível e pensálo como li berto de toda a contingência do último é algo que não contraria nem o regresso empírico ilimitado na série dos fenômenos nem a contingên B 592 cia completa destes últimos Isto era também no entanto tudo o que tí nhamos para realizar a supressão da antinomia ilusória e apenas desse modo podia ser feito Pois se cada condição para cada condicionado no que diz respeito à existência é sensível e justamente por isso per 446 tencente à série então ela própria é por seu turno condicionada co mo o demonstra a antítese da quarta antinomia Ou bem portanto mantinhase um conflito com a razão que exige o incondicionado ou bem este era posto fora da série no inteligível cuja necessidade não exige nem admite qualquer condição empírica e portanto é incondici onalmente necessária relativamente aos fenômenos O uso empírico da razão em relação às condições da existência no mundo sensível não é afetado pela admissão de um ser meramen te inteligível mas antes ascende segundo o princípio da contingência completa das condições empíricas às mais elevadas que são sempre igualmente empíricas Quando se trata do uso puro da razão contu do em vista dos fins esse princípio regulativo também não exclui a admissão de uma causa inteligível que não esteja na série Pois esta sig nifica apenas nesse caso o fundamento para nós transcendental e des conhecido da possibilidade da série sensível em geral e sua existência independentemente de todas as condições desta última e incondicio nalmente necessária em relação a ela não contraria de modo algum a contingência ilimitada daquelas condições nem portanto o inces sante regresso na série das condições empíricas Observação final a toda a antinomia da razão pura Enquanto só tenhamos por objeto com nossos conceitos da ra zão a totalidade das condições no mundo sensível e aquilo que possa nele acontecer a serviço da razão nossas ideias são de fato transcen dentais mas ainda assim cosmológicas Tão logo porém coloquemos o incondicionado do qual verdadeiramente se trata naquilo que está inteiramente fora do mundo sensível e portanto de toda experiência sensível as ideias se tornam transcendentes elas servem não apenas para a completude do uso empírico da razão que permanece uma ideia nunca realizável mas ainda assim a ser seguida mas se desco lam inteiramente disso e criam por si mesmas objetos cuja matéria não é extraída da experiência e cuja realidade objetiva também não se baseia na completude da série empírica mas sim em conceitos pu ros a priori Semelhantes ideias transcendentais têm um objeto mera mente inteligível que por certo seria permitido admitir como um ob jeto transcendental do qual de resto nada se sabe mas que para pen sar como uma coisa determinável através de seus predicados distinti B 593 447 B 594 vos e internos não temos de nossa parte nem os fundamentos de sua possibilidade como independente de todos os conceitos da experiên cia nem a mínima justificativa para admitir tal objeto não passan do este portanto de um mero produto do pensamento Apesar disso a ideia que engendrou a quarta antinomia dentre todas as ideias cos mológicas é aquela que nos incita a arriscar esse passo Pois a exis tência dos fenômenos em si mesma inteiramente infundada e sempre condicionada exige que providenciemos algo distinto de todos os fe nômenos portanto um objeto inteligível em que cesse toda essa con tingência Como no entanto uma vez que tenhamos tomado a liber dade de supor uma realidade existente por si mesma fora do campo da sensibilidade como um todo os fenômenos têm de ser considera dos tão somente como modos contingentes pelos quais tais seres que são eles próprios inteligências representam os objetos inteligíveis então não nos resta nada senão a analogia a partir da qual emprega mos os conceitos da experiência para formar algum conceito das coi sas inteligíveis muito embora não tenhamos delas em si mesmas o mínimo conhecimento Como só tomamos contato com o contingente através da experiência mas aqui se trata de coisas que não devem ser objetos da experiência então teremos de derivar o conhecimento das mesmas daquilo que é em si necessário i e dos conceitos puros das coisas em geral O primeiro passo que damos fora do mundo sensível B 595 nos força portanto a iniciar nossos novos conhecimentos pela investi gação do ser absolutamente necessário e derivar dos conceitos sobre o mesmo os conceitos de todas as coisas enquanto sejam inteligíveis e é esta a tentativa que pretendemos realizar no próximo capítulo Terceiro capítulo O ideal da razão pura Primeira seção Do ideal em geral Nós vimos acima que nenhum objeto pode ser representado atra vés dos conceitos puros do entendimento sem as condições da sensibi lidade pois faltariam as condições de sua realidade objetiva e nada se ria encontrado nele a não ser a mera forma do pensamento Apesar dis so eles podem ser expostos in concreto quando aplicados aos fenôme nos pois nestes eles encontram de fato a matéria para o conceito empí rico que não é senão um conceito do entendimento in concreto As ideias porém estão ainda mais longe da realidade objetiva que as cate 448 gorias pois não se pode encontrar nenhum fenômeno capaz de repre sentálas in concreto Elas contêm uma certa completude a que não chega nenhum conhecimento empírico possível e a razão só visa aí uma unidade sistemática da qual a unidade empiricamente possível busca aproximarse sem jamais atingila inteiramente Mais distante ainda da realidade objetiva do que as ideias porém parece ser aquilo que eu denomino ideal e pelo qual entendo a ideia não apenas in concreto mas in indivíduo i e como uma coisa sin gular que só é determinável ou mesmo determinada através da ideia Em toda a sua perfeição a humanidade contém não apenas a am pliação de todas as propriedades essencialmente pertencentes a essa natureza e que constituem o nosso conceito dela até a congruência completa com os seus fins que seria a nossa ideia da humanidade perfeita mas também tudo o que pertence à determinação completa da ideia fora desse conceito pois de todos os predicados opostos ape nas um único pode servir à ideia do mais perfeito ser humano O que é para nós um ideal era para Platão uma ideia do entendimento divi no um objeto singular na intuição pura do mesmo o mais perfeito em cada espécie de seres possíveis e o fundamento originário de to das as cópias no fenômeno Sem nos atrevermos a ir tão longe temos de admitir que a razão humana contém não apenas ideias mas também ideais que embora sem a força criadora platônica têm força prática como princípios re gulativos e servem de fundamento à possibilidade da perfeição de certas ações Conceitos morais não são conceitos inteiramente puros da razão pois algo empírico prazer ou desprazer lhes serve de fun damento Ainda assim eles podem em relação aos princípios com que a razão põe limites à liberdade em si desprovida de leis quando portanto só se tem em vista a forma deles servir muito bem como exemplos de conceitos puros da razão A virtude e com ela a sabedo ria humana em toda a sua pureza são ideias Mas o sábio do estoico é um ideal i e um ser humano que só existe em pensamento mas que não é inteiramente congruente com a ideia da sabedoria Assim como a ideia fornece a regra o ideal serve nesse caso como modelo para a determinação completa da cópia e nós não temos outro pa drão de medida para nossas ações senão o comportamento desse ser humano divino em nós com o qual nos comparamos nos julgamos e B 596 B 597 449 assim nos melhoramos muito embora não possamos jamais atingilo Mesmo que não se possa concederlhes realidade objetiva existência esses ideais não devem por issaser considerados fantasias mas antes fornecem um indispensável padrão de medida da razão que necessita b 598 de um conceito daquilo que é inteiramente completo em sua espécie para a partir dele avaliar e medir o grau e as carências do imperfeito Querer realizar o ideal em um exemplo porém i e no fenômeno como o sábio em um romance por exemplo é impraticável e além dis so tem algo de absurdo e pouco edificante em si já que os limites que continuamente prejudicam a completude na ideia impossibilitam qual quer ilusão em tal tentativa e assim tornam o bem que repousa na ideia ele próprio suspeito e parecido com uma mera invenção É isso o que se passa com o ideal da razão que tem de basearse sempre em determinados conceitos e servir de regra e modelo seja para a observância seja para o julgamento Algo inteiramente diverso se passa com as criaturas da imaginação sobre as quais ninguém pode fornecer uma explicação ou um conceito compreensível elas são como monogramas que são meros traços singulares ainda que não determinados por uma regra que se pudesse indicar e que mais do que uma imagem determinada constituem um esboço flutuando em meio a diversas experiências por assim dizer tal como pintores e fisionomistas afirmar ter na mente e que são segundo eles como uma silhueta incomunicável de seus produtos ou julgamentos Elas podem ser denominadas ainda que apenas inapropriadamente ideais da sensibilidade já que devem ser o modelo inatingível de intuições B 599 empíricas possíveis e apesar disso não fornecem uma regra que pos sa ser explicada ou provada O propósito da razão com seu ideal pelo contrário é a determi nação completa segundo regras a priorv por isso ela concebe um ob jeto que deve ser completamente determinável por princípios ainda que faltem para isso as condições suficientes na experiência e o pró prio conceito portanto seja transcendente Segunda seção Do ideal transcendental prototypon transcendentale Todo conceito é indeterminado em relação àquilo que não está nele mesmo contido e está submetido ao princípio da determinabili 450 dade que de dois predicados contraditoriamente opostos um ao outro apenas um poderia servirlhe o qual se baseia no princípio de contradi ção e portanto é um princípio meramente lógico que abstrai de todo conteúdo do conhecimento e só tem em vista a forma lógica deste Toda coisa porém no que diz respeito à sua possibilidade está submetida ainda ao princípio da determinação completa segundo o qual apenas um de todos os predicados possíveis das coisas na medi da em que sejam comparados com seus opostos pode servirlhe Este princípio não se baseia apenas no princípio de contradição pois além da relação de dois predicados conflitantes entre si considera cada coi sa também em relação com a possibilidade total enquanto conjunto completo de todos os predicados das coisas em geral e na medida em que pressupõe tal possibilidade como condição a priori representa cada coisa como tendo sua possibilidade derivada da parte que tem naquela possibilidade total83 O princípio da determinação completa portanto diz respeito ao conteúdo e não apenas à forma lógica Ele é o princípio da síntese de todos os predicados que devem constituir o conceito completo de uma coisa e não apenas a representação analíti ca por meio de um entre dois predicados opostos e contém uma pres suposição transcendental qual seja a da matéria de todas as possibi lidades que devem conter a priori os data para a possibilidade parti cular de cada coisa A proposição tudo o que existe é completamente determinado significa não apenas que de cada par de predicados opostos dados um tenha sempre de servirlhe mas também que de todos os predicados possíveis um tenha sempre de servirlhe através dessa proposição se comparam não apenas os predicados entre si logicamente mas tam bém a própria coisa com o conjunto completo de todos os predicados possíveis transcendentalmente Ela quer dizer apenas que para co nhecer completamente uma coisa é preciso conhecer todo possível e 83 Através desse princípio portanto toda coisa é referida a um correlato comum qual seja a pos sibilidade total a qual i e a matéria para todos os predicados possíveis se fosse encontrada na ideia de uma coisa singular provaria uma afinidade de todo possível por meio da identidade do fundamento das determinações completas do mesmo A determinabilidade de todo concei to está submetida à universalidade universalitas do princípio da exclusão de um mediador entre dois predicados opostos a determinação de uma coisa porém está submetida à totali dade universitas ou ao conjunto completo de todos os predicados possíveis NA B 600 B 601 451 através dele seja afirmativa seja negativamente determinála A de terminação completa é por conseguinte um conceito que jamais po demos exporM concreto em sua totalidade e se funda portanto em uma ideia que tem seu lugar somente na razão a qual prescreve ao entendimento a regra de seu uso completo Ainda que essa ideia do conjunto completo de todas as possibili dades na medida em que serve de fundamento como condição à de terminação completa de todas as coisas seja ela própria de fato ain da indeterminada com relação aos predicados pode constituir tal conjunto e nós não pensemos aí nada mais que um conjunto comple to de todos os predicados possíveis em geral em uma investigação mais detida notamos que essa ideia como conceito originário de uma variedade de predicados exclui predicados que já são dados como de B 602 rivados a partir de outros ou que não poderiam estar lado a lado e se refina em um conceito determinado completamente a priori tornan dose assim o conceito de um objeto singular completamente determi nado através da mera ideia e tendo de ser denominada portanto um ideal da razão pura Se consideramos todos os predicados possíveis não apenas logi camente mas também transcendentalmente i e segundo o seu conteúdo que pode ser pensado neles a priori notamos que por meio de um deles é representado um ser por meio dos outros um mero não ser A negação lógica que é indicada tão somente com a palavrinha não nunca se prende a um conceito mas à relação deste com um outro no juízo e pode portanto não ser nem de perto sufi ciente para designar um conceito em relação a seu conteúdo A ex pressão não mortal pode não dar a conhecer de modo algum que se está representando um mero não ser no objeto mas antes deixa todo conteúdo intocado Uma negação transcendental pelo contrá rio significa o não ser em si mesmo ao qual se opõe a afirmação transcendental que é algo cujo conceito já exprime em si mesmo um ser e portanto é denominado realidade coisidade pois é ape nas através dela e tão longe quanto ela alcança que os objetos são b 603 algo coisas a negação que a ela se opõe por outro lado significa uma mera carência e quando apenas ela é pensada representase a supressão de todas as coisas 452 Agora ninguém pode conceber uma negação de maneira deter minada sem que a afirmação oposta lhe sirva de fundamento Quem nasceu cego não pode ter a mínima representação da escuridão já que não tem da luz o selvagem não pode ter da pobreza já que não conhece a abundância84 O ignorante não tem um conceito de sua ig norância já que não tem um da ciência e assim por diante Todos os conceitos das negações portanto são conceitos derivados e as reali dades contêm os data e por assim dizer a matéria ou o conteúdo transcendental para a possibilidade e a determinação completa de to das as coisas Se pois a determinação completa está fundada em nossa razão em um substrato que contém como que a inteira provisão de conteú do da qual podem ser extraídos todos os predicados possíveis das coi sas então esse substrato não é outro senão a ideia de um todo da rea lidade omnitudo realitatis Todas as verdadeiras negações portan to não são senão limites que não poderiam ser assim denominados caso não tivessem por fundamento o ilimitado o todo Através dessa posse total da realidade no entanto também é re presentado o conceito de uma coisa em si mesma como completa mente determinado e o conceito de um entis realissimi é o conceito de um ser singular pois um dentre todos os predicados opostos possí veis qual seja aquilo que pertence absolutamente ao ser é encontra do em sua determinação Ele é um ideal transcendental portanto que serve de fundamento à determinação completa que se encontra necessariamente em tudo aquilo que existe e constitui a condição material suprema e completa de sua possibilidade à qual tem de ser remetido no que diz respeito ao conteúdo todo pensamento dos ob jetos em geral É também contudo o único ideal de que a razão hu mana é efetivamente capaz pois é o único caso em que um conceito de uma coisa em si universal é completamente determinado por si mesmo e conhecido como a representação de um indivíduo A determinação lógica de um conceito através da razão se baseia em um silogismo disjuntivo no qual a premissa maior contém uma di 84 As observações e cálculos dos astrônomos nos ensinaram muita coisa admirável mas o mais importante é que nos revelaram o abismo da ignorância que a razão humana jamais se repre sentaria tão profundo sem tais conhecimentos e que tem de produzir na reflexão sobre ele uma grande modificação na determinação dos propósitos finais de nosso uso da razão NA B 604 453 visão lógica a divisão da esfera de um conceito universal a premissa b 605 menor limita tal esfera até uma parte e a conclusão determina o con ceito por meio desta O conceito Universal de uma realidade em geral não pode ser dividido a priori pois sem experiência não se conhece nenhuma espécie determinada de realidade que estivesse contida sob aquele gênero Assim a premissa maior transcendental da determina ção completa de todas as coisas não é outra coisa senão a representa ção do conjunto completo de toda realidade não apenas um conceito que compreende todos os predicados sob si no que diz respeito a seu conteúdo transcendental mas que os compreende em si e a determi nação completa de cada coisa se baseia na limitação desse todo da reali dade na medida em que algo do mesmo é atribuído à coisa e o resto é excluído o que concorda com o ouou da premissa maior disjuntiva e com a determinação do objeto por meio de um dos membros dessa divi são na premissa menor De acordo com isso o uso da razão pelo qual ela põe o ideal transcendental como fundamento da determinação de todas as coisas possíveis é análogo àquele pelo qual ela procede nos si logismos disjuntivos que é o princípio que eu havia colocado acima como fundamento da divisão sistemática de todas as ideias transcen dentais e segundo o qual elas são engendradas paralela e correspon dentemente aos três tipos de silogismos É evidente por si mesmo que com vistas a esse seu propósito qual seja o de simplesmente representarse a necessária determina b 606 ção completa das coisas a razão não pressupõe a existência de tal ser conforme ao ideal mas apenas a ideia do mesmo de modo a derivar de uma totalidade incondicionada da determinação completa a condi cionada i e a totalidade do que é limitado O ideal é para ela portan to o modelo prototypon de todas as coisas que enquanto cópias defeituosas ectypa tiram todas daí a matéria para a sua possibilida de e quer se aproximem mais ou menos dele sempre estarão infinita mente longe de atingilo Assim toda possibilidade das coisas da síntese do diverso no que diz respeito ao seu conteúdo é considerada como derivada e apenas aquela que encerra em si toda realidade é considerada como originá ria Pois todas as negações que de qualquer forma são os únicos pre dicados pelos quais todo o resto se distingue do ser realíssimo são meras limitações de uma realidade maior e no fim das contas da rea 454 lidade suprema que elas portanto pressupõem e da qual são mera mente derivadas no que diz respeito a seu conteúdo Toda diversida de das coisas é apenas um modo tão variado de limitar o conceito da realidade suprema que é o seu substrato comum quanto o são as fi guras enquanto diferentes modos de limitar o espaço infinito Por isso o objeto do ideal da razão que só se encontra nela também pode ser denominado ser originário ens originarium e na medida em que não tem nenhum acima dele ser supremo ens summum e na medida em que tudo está sob ele como condicionado ser de todos os seres ens entium Nada disso contudo significa a relação objetiva de um objeto real com outras coisas mas apenas da ideia com concei tos e nos deixa em completa ignorância quanto à existência de um ser de tão extraordinária superioridade Como também não se pode dizer que um ser originário consiste de muitos seres derivados já que cada um destes pressupõe aquele e portanto não pode constituílo então o ideal de um ser originário também tem de ser pensado como simples Assim a derivação de todas as outras possibilidades a partir des se ser originário também não poderá para falar com precisão ser considerada como uma limitação e como que uma divisão de sua rea lidade suprema pois nesse caso o ser originário seria considerado como um mero agregado de seres derivados o que é impossível se gundo o acima exposto mesmo que assim o tenhamos representado inicialmente em um primeiro esboço Na verdade a realidade supre ma serviria de base à possibilidade de todas as coisas como funda mento não como conjunto e a diversidade desta última estaria basea da não na própria limitação do ser originário mas na de sua completa consequência à qual pertenceriam então toda a nossa sensibilidade juntamente com toda a realidade no fenômeno que não pode per tencer como ingrediente à ideia do ser supremo Se pois continuamos a perseguir essa nossa ideia e a hipostasia mos poderemos determinar o ser originário por meio do mero concei to da realidade suprema como um ser único simples todosuficiente eterno etc em uma palavra em sua incondicionada completude atra vés de todos os predicamentos O conceito de tal ser é aquele de Deus concebido em sentido transcendental e o ideal da razão pura é B 607 B 608 455 assim o objeto de uma teologia transcendental tal como também aci ma o introduzi Entretanto esse uso da ideia transcendental já estaria ultrapas sando os limites de sua determinação e de sua admissibilidade Pois a razão só a pôs como conceito de toda realidade no fundamento da determinação completa das coisas em geral sem pretender que toda essa realidade seja objetivamente dada ou constitua ela própria uma coisa Esta última é uma mera invenção pela qual reunimos e realiza mos o diverso de nossa ideia em um ideal como um ser singular algo para que não temos qualquer legitimidade e nem sequer a possibili dade de admitir tal hipótese do mesmo modo as consequências que decorram de tal ideal não dizem respeito algum à determinação com pleta das coisas em geral para a qual a ideia era de fato necessária e não têm sobre ela a mínima influência b 609 Não é suficiente descrever o comportamento de nossa razão e sua dialética também é preciso tentar descobrir as suas fontes para poder explicar essa ilusão mesma como um fenômeno Phãnomen do entendimento pois o ideal de que falamos está fundado em uma ideia natural e não meramente arbitrária Por isso eu pergunto como a razão é levada a considerar toda possibilidade das coisas como deri vada de uma única que lhes serve de fundamento qual seja a da reali dade suprema e a pressupor esta última então como contida em um ser originário singular A resposta se oferece por si mesma a partir das discussões da ana lítica transcendental A possibilidade dos objetos dos sentidos é uma relação dos mesmos com nosso pensamento em que algo a saber a forma pode ser pensado a priori mas em que tem de ser dado aquilo que constitui a matéria i e a realidade no fenômeno que correspon de à percepção sem a qual ele não poderia sequer ser pensado nem ter sua possibilidade representada Agora um objeto dos sentidos só pode ser completamente determinado quando é comparado com to dos os predicados do fenômeno e representado afirmativa ou negati vamente por meio destes Como tem de ser dado aí no entanto aqui lo que constitui a própria coisa no fenômeno a saber o real sem o B 6io qual ele não poderia sequer ser pensado e como aquilo em que é dado o real de todos os fenômenos por outro lado é a experiência única que a tudo abarca então a matéria para a possibilidade de todos os 456 objetos dos sentidos tem de ser pressuposta como dada em um con junto completo sobre cuja limitação têm de basearse toda a possibili dade de objetos empíricos sua diferença entre si e sua determinação completa Na verdade contudo nenhum outro objeto pode sernos dado a não ser os objetos dos sentidos e eles não o podem em parte alguma a não ser no contexto de uma experiência possível por conse guinte nada é para nós um objeto caso não pressuponha o conjunto completo de toda a realidade empírica como condição de sua possibi lidade Devido a uma ilusão natural porém nós vemos isso como um princípio que deveria valer para todas as coisas quando na verdade só vale para aquelas que são dadas como objetos de nossos sentidos Consequentemente tomaremos o princípio empírico da possibilidade das coisas como fenômenos abandonando esta limitação como um princípio transcendental da possibilidade das coisas em geral Que nós porém hipostasiemos depois essa ideia do conjunto completo de toda a realidade isto se deve ao fato de transformarmos dialeticamente a unidade distributiva do uso empírico do entendi mento na unidade coletiva de um todo da experiência e de conceber mos nesse todo do fenômeno uma coisa singular que contém em si toda a realidade empírica e que é então por meio da já mencionada subrepção transcendental trocada pelo conceito de uma coisa que está no topo da possibilidade de todas as coisas fornecendo as condi ções reais para a determinação destas últimas85 Terceira seção Dos argumentos da razão especulativa para inferir a existência de um ser supremo Apesar dessa urgente necessidade da razão para pressupor algo que pudesse servir ao entendimento como fundamento pleno para a determinação completa de seus conceitos ela percebe muito facil mente o que há de idealista e meramente inventado em tal pressupo 85 Mesmo sendo uma mera representação esse ideal do ser realíssimo é primeiramente realiza do i e transformado em objeto depois hipostasiado e finalmente tal como mostraremos é até mesmo personificado por meio de um progresso natural da razão visando completar a unidade pois a unidade regulativa da experiência nâo se baseia nos próprios fenômenos da sensibilidade apenas mas na conexão de sua diversidade pelo entendimento em uma aper cepção e assim a unidade da realidade suprema e a determinabilidade completa possibili dade de todas as coisas parecem repousar em um entendimento supremo portanto em uma inteligência NA 4 5 7 sição e não se deixaria persuadir somente por isso a tomar de pronto b 612 por um ser real uma mera criatura de seu pensamento a não ser que fosse pressionada de outro lado à procurar o seu repouso em algum ponto do regresso do condicionado que é dado ao incondicionado que embora não sendo dado como real em si mesmo ou segundo seu mero conceito é o único capaz de completar a série das condições conduzidas aos seus fundamentos É este pois o caminho natural adotado por toda razão humana mesmo a mais comum ainda que nem todas permaneçam nele Ela não começa por conceitos mas sim pela experiência comum e põe assim algo existente como fundamen to Este solo afunda porém se não estiver assentado sobre a pedra inamovível do absolutamente necessário Mesmo está contudo desli za sem apoio se fora e sob ela houver espaço vazio e se ela não preen cher ela mesma a tudo assim não deixando qualquer espaço para o porquê i e se ela não for infinita quanto à realidade Se algo existe seja lá o que for também tem de ser admitido que algo existe necessariamente Pois o contingente existe apenas sob a condição de um outro como sua causa e a conclusão vale também para este e assim por diante até uma causa que não seja contingente e justamente por isso exista sem condição Este é o argumento em que a razão funda a sua progressão até o ser originário B 613 Agora a razão procura pelo conceito de um ser que seja apropria do para uma excelência da existência como a necessidade incondicio nada não tanto para a partir do conceito dele inferir a priori a sua existência pois caso se atrevesse a isso ela poderia pesquisar apenas entre meros conceitos e não precisaria colocar uma existência dada como fundamento mas apenas para encontrar dentre todos os concei tos de coisas possíveis aquele que nada tenha de contraditório em rela ção à necessidade absoluta Pois ela já dá por garantido a partir da pri meira inferência que algo tenha de existir de maneira absolutamente necessária Agora se ela pode eliminar tudo que não concorde com essa necessidade menos uma coisa então esta é o ser absolutamente necessário quer se compreenda ou não a necessidade deste i e quer se possa ou não deriválo apenas de seu conceito Agora aquilo cujo conceito contém em si a resposta a todo porquê que não é defeituoso em parte alguma e de nenhum ponto de vista e que é sempre suficiente como condição isto parece ser o ser apropria 458 do à necessidade absoluta justamente porque na posse de todas as condições para todo possível não necessita ele próprio de condição al guma e nem seria desta capaz logo ele satisfaz em ao menos um pon to o conceito da necessidade incondicionada na medida em que ne nhum outro conceito sendo falho e carente de complemento pode ser a ele equivalente nem exibir em si tal característica de independência relativamente a todas as condições ulteriores É verdade que daqui não se poderia concluir ainda com segurança que aquilo que não contém em si a condição mais elevada e completa em todos os sentidos teria de ser por isso ele próprio condicionado no que diz respeito à sua exis tência mas ele não tem em si de qualquer forma a única marca distin tiva da existência incondicionada de que a razão é capaz para através de um conceito a priori conhecer um ser como incondicionado O conceito de um ser da mais elevada realidade seria portanto dentre todos os conceitos de coisas possíveis o mais apropriado ao conceito de um ser absolutamente necessário e mesmo que ele não sirva inteiramente a este não temos qualquer escolha e nos vemos forçados a aternos a ele pois não podemos jogar ao vento a existên cia de um ser necessário e se dela desistimos não podemos encon trar nada em todo o campo da experiência que pudesse aspirar justi ficadamente a tal excelência na existência É esse pois o caminho natural da razão humana Primeiro ela se convence da existência de algum ser necessário Neste ela reconhece uma existência incondicionada Ela procura então o conceito de algo independente de toda condição e o encontra naquilo que é ele pró prio condição suficiente para todos os demais i e naquilo que con tém toda a realidade O todo sem limites porém é a unidade absoluta e traz consigo o conceito de um único ser qual seja o ser supremo e ela conclui assim que o ser supremo existe de maneira absolutamen te incondicionada como fundamento originário de todas as coisas Não se pode negar um certo rigor a esse conceito quando se trata de decisões ou seja quando é aceita a existência de algum ser neces sário e se está de acordo em que é preciso tomar um partido quanto a onde se deveria situálo pois então não se pode fazer uma escolha melhor ou já nem se tem escolha e se é forçado a isso do que dar o próprio assentimento à unidade absoluta da realidade completa como fonte originária da possibilidade Se nada nos força a decidir B 614 B 615 459 contudo e preferimos deixar todo o assunto em suspenso até que o poder completo dos argumentos nos force a dar nossa aprovação i e caso se trate apenas de julgar o quanto sabemos sobre esse problema e o quanto fingimos saber então a inferência acima não aparece nem de perto em uma figura tão vantajosa e demanda benevolência para suprir a deficiência de suas pretensões à legitimidade Pois se quisermos deixar tudo como está tal como se encontra b 616 aqui diante de nós ou seja que em primeiro lugar de alguma existên cia dada mesmo que somente a minha própria haja uma inferência correta à existência de um ser incondicionadamente necessário e em segundo lugar que eu tenha de considerar como absolutamente in condicionado um ser que contém toda a realidade portanto também toda condição de modo que assim seja encontrado o conceito da coi sa que se adequa à necessidade absoluta então não se pode inferir daí de modo algum que o conceito de um ser limitado que não pos sui a realidade suprema contradiga por isso a necessidade absoluta Pois mesmo que eu não encontre em seu conceito o incondicionado que já traz consigo o todo das condições não se pode concluir disso de modo algum que a sua existência tenha por isso de ser condiciona da do mesmo modo como não posso dizer em um silogismo hipotéti co que onde não há uma certa condição no caso da completude se gundo conceitos não há também o condicionado Continuará a ser nos permitido em vez disso considerar também todos os demais se res limitados como incondicional mente necessários muito embora não possamos inferir a sua necessidade do conceito universal que te mos deles Desse modo porém esse argumento não nos teria propor cionado o mínimo conceito a respeito das propriedades de um ser ne cessário e a rigor não teria servido para nada Ainda assim esse argumento conserva uma certa importância e b 617 um prestígio que apesar dessa insuficiência objetiva não lhe pode ainda ser tirado Pois suponham que houvesse obrigações inteira mente corretas na ideia da razão mas sem qualquer realidade de apli cação em nós mesmos i e sem móbiles onde não fosse pressuposto um ser supremo capaz de dar efeito e vigor às leis práticas nós tam bém teríamos aí a obrigação de seguir os conceitos que mesmo não sendo objetivamente suficientes são preponderantes segundo a me dida de nossa razão e não conheceríamos nada melhor ou mais con 460 vincente do que eles 0 dever de escolher tiraria aqui o equilíbrio através de um acréscimo prático à indecisão da especulação a pró pria razão como o mais indulgente juiz não encontraria em si mesma uma justificação caso sob o efeito de urgentes causas moventes e mesmo com um discernimento falho não houvesse seguido esses fun damentos de seu juízo além dos quais nós ao menos não conhecemos outros melhores Mesmo sendo de fato transcendental esse argumento na medida em que se baseia na insuficiência interna do contingente é tão sim ples e natural que se adequa ao mais comum sentido humano tão logo este seja conduzido a ele uma única vez Nós vemos as coisas mudando surgindo e desaparecendo logo elas ou ao menos seu es tado têm de possuir uma causa Sobre cada causa porém que possa algum dia ser dada na experiência podese sempre recolocar a mesma pergunta Mas onde devemos situar a causalidade suprema com maior justiça senão ali onde está a causalidade mais elevada i e naquele ser que contém em si mesmo originariamente a suficiência para cada efeito possível e cujo conceito também se pode formar muito facil mente através do traço singular de uma perfeição que a tudo abarca Nós tomamos essa causa suprema por absolutamente necessária en tão porque julgamos absolutamente necessário ascender até ela e não temos qualquer razão para ir ainda mais longe além dela Por isso nós vemos brilhar em todos os povos mesmo através de seu mais cego politeísmo algumas centelhas do monoteísmo ao qual foram conduzidos não pela reflexão ou pela especulação profunda mas por um caminho natural do entendimento comum que se tornou aos pou cos cada vez mais compreensível Somente três tipos de prova da existência de Deus são possíveis a partir da razão especulativa Todos os caminhos que se possam adentrar com vistas a esse pro pósito ou começam pela experiência determinada e pela peculiar cons tituição de nosso mundo sensível através dela conhecida ascenden do então segundo leis da causalidade até a causa suprema fora do mundo ou colocam apenas a experiência indeterminada i e alguma existência como fundamento empírico ou por fim abstraem de toda B 618 461 experiência e inferem a partir de meros conceitos inteiramente a prio B 619 ri a existência de uma causa suprema A primeira prova é a físi coteológica a segunda é a cosmológica aterceira éa ontológica Não há outras além delas nem pode haver Eu demonstrarei que a razão consegue em um caminho o empírico tão pouco como consegue no outro o transcendental e que em vão ela bate suas asas para através do mero poder da especulação ir além do mundo sensível No que diz respeito porém à ordem em que esses ti pos de prova devem ser dispostos ela será o inverso daquela adotada pela razão em sua permanente ampliação e na qual também nós os ha víamos a princípio colocado Pois se mostrará que embora a experiên cia forneça a primeira ocasião para isso é apenas o conceito transcen dental que guia a razão nessa sua aspiração e que em todas essas ten tativas estabelece a meta que ela se havia proposto Começarei pelo exame da prova transcendental portanto e verificarei em seguida qual a contribuição do empírico para aumentar sua força demonstrativa b 620 Quarta seção Da impossibilidade de uma prova ontológica da existência de Deus A partir do que vimos até aqui percebese facilmente que o con ceito de um ser absolutamente necessário é um conceito puro da ra zão i e uma mera ideia cuja realidade objetiva está longe de ser pro vada pelo fato de a razão necessitar dela que apenas indica uma certa completude ainda que inatingível e que na verdade serve mais para limitar o entendimento do que para estendêlo a novos objetos En contrase aqui então algo de estranho e absurdo i e que a inferên cia de uma existência absolutamente necessária a partir de uma exis tência dada parece ser urgente e correta e apesar disso temos con tra nós todas as condições do entendimento para formar um conceito de tal necessidade Em todos os tempos se falou do ser absolutamente necessário mas para compreender se e como uma coisa desse tipo poderia se quer ser pensada não se empregou tanto esforço como para provar sua existência Agora é muito fácil dar uma explicação nominal desse conceito a saber que ele é algo cujo não ser é impossível mas não se B 621 chega com isso a uma melhor compreensão das condições que tor 462 nam impossível considerar o não ser de uma coisa como absoluta mente impensável e que são aquilo que efetivamente se quer saber ou seja se através desse conceito nós de fato pensamos algo ou não Pois abandonar através da palavra incondicionado todas as condi ções de que o entendimento sempre precisa para considerar algo como necessário está longe de tornar compreensível para mim se ainda pos so pensar algo através do conceito de um incondicionalmente necessá rio ou se talvez não posso pensar absolutamente nada Mais ainda acreditavase poder explicar esse conceito arriscado com base na mera sorte e tornado inteiramente corriqueiro através de uma variedade de exemplos de modo que todos os demais questio namentos a respeito de sua compreensibilidade pareciam desnecessá rios Toda proposição da geometria como por exemplo a de que o triângulo tem três ângulos é absolutamente necessária do mesmo modo falavase sobre um objeto que reside inteiramente fora da esfe ra de nosso entendimento como se se compreendesse bem o que se queria dizer com o seu conceito Todos os exemplos propostos sem exceção são extraídos apenas de juízos e não de coisas ou de sua existência A necessidade incondi cionada dos juízos não é no entanto uma necessidade absoluta das coi sas Pois a necessidade absoluta do juízo é apenas uma necessidade con dicionada da coisa ou do predicado no juízo A proposição acima não b 622 dizia que três ângulos são absolutamente necessários mas sim que sob a condição de um triângulo existir estar dado também existem de maneira necessária três ângulos nele Em todo caso essa necessi dade lógica demonstrava um tão grande poder de ilusão que na medi da em que se criasse um conceito a priori de uma coisa constituído de tal modo que ele supostamente abarcasse em sua extensão a existência acreditavase poder inferir com segurança que como a existência per tence necessariamente ao objeto desse conceito i e sob a condição de que eu ponha essa coisa como dada existente também a sua existên cia é posta necessariamente segundo a regra da identidade e por con seguinte esse ser é ele mesmo absolutamente necessário já que sua existência é pensada em um conceito fortuitamente admitido e sob a condição de que eu ponha o seu objeto Se em um juízo idêntico eu suprimo o predicado e mantenho o sujeito surge uma contradição e eu digo portanto que aquele per 463 tence necessariamente a este Se no entanto suprimo o sujeito junta mente com o predicado não surge qualquer contradição pois já não existe aquilo que se poderia contradizer Por um triângulo e suprimir os seus três ângulos é contraditório ao passo que suprimir o triângu lo juntamente com os seus três ângulos não o é Ocorre exatamente o B 623 mesmo com o conceito de um ser absolutamente necessário Se vocês suprimirem a sua existência suprimirão a própria coisa juntamente com todos os seus predicados de onde vem então a contradição Externamente não há nada que se contradizer pois a coisa não deve ser externamente necessária internamente também não pois com a supressão da própria coisa vocês suprimiram todo interno ao mesmo tempo Deus é todopoderoso este é um juízo necessário A onipotên cia não pode ser suprimida caso vocês ponham uma divindade i e um ser infinito com cujo conceito aquele seja idêntico Se vocês dis serem porém que Deus não existe então nem a onipotência nem al gum outro de seus predicados são dados pois eles são todos suprimi dos juntamente com o sujeito e não se mostra nesse pensamento a mínima contradição Vocês viram pois que se eu suprimo o predicado de um juízo jun tamente com o sujeito não pode surgir jamais uma contradição inter na seja qual for o predicado Não lhes resta então nenhuma outra saí da e vocês têm de dizer que há sujeitos que não podem ser suprimidos e que portanto têm de permanecer Isto equivaleria a dizer contudo que há sujeitos absolutamente necessários uma pressuposição de cuja legitimidade eu acabei de duvidar e cuja possibilidade vocês queriam mostrarme Pois eu não posso formar o mínimo conceito de uma coisa b 624 que se fosse suprimida com todos os seus predicados daria lugar a uma contradição e sem a contradição eu não tenho através de meros conceitos puros a priori nenhum sinal de impossibilidade Contra todas essas inferências universais que nenhum ser huma no pode recusar vocês me contestam através de um caso que exibem como prova de fato que há um único conceito em que o não ser ou a supressão de seu objeto seria em si mesma contraditória e este seria o conceito do ser realíssimo Ele tem toda realidade segundo vocês e seria legítimo admitir tal ser como possível o que eu concedo por ora ainda que um conceito não contraditório esteja longe de provar a 464 possibilidade do objeto86 Agora também a existência é compreendi da sob toda realidade logo a existência está no conceito de uma coisa possível Se essa coisa é então suprimida é suprimida a possibilidade interna da coisa o que é contraditório Eu respondo vocês já caíram em uma contradição ao introduzir o conceito da existência seja sob qual nome oculto no conceito de uma coisa que vocês queriam pensar apenas no que concerne à possi bilidade Admitindose isso vocês podem aparentemente ter ganho o jogo mas na verdade não disseram nada pois apenas incorreram em uma tautologia Eu lhes pergunto a proposição esta ou aquela coisa que eu lhes concedo como possível seja ela qual for existe é analíti ca ou sintética Se é analítica com a existência da coisa vocês não acrescentam nada ao seu pensamento sobre ela mas nesse caso ou o pensamento que está em vocês é a própria coisa ou vocês pressupu seram uma existência como pertencente à possibilidade e então pre tenderam inferir a existência da possibilidade interna o que não pas sa de uma mísera tautologia A palavra realidade que no conceito da coisa soa diferente da palavra existência no conceito do predica do não resolve nada Pois mesmo que vocês denominem realidade a todo pôr tanto faz o que ponham vocês já puseram a coisa no concei to do sujeito com todos os seus predicados e a tomaram por real ape nas a repetindo no predicado Se pelo contrário vocês concederem como toda pessoa racional deve legitimamente conceder que toda proposição existencial é sintética como poderiam afirmar então que o predicado de existência não é suprimível sem contradição Pois esta é uma prerrogativa que só cabe propriamente às proposições analíti cas cujo caráter se baseia exatamente nisso Eu teria a esperança de aniquilar essa esperteza sofística sem quaisquer rodeios por meio de uma determinação precisa do concei to de existência caso não houvesse descoberto que a ilusão de trocar 86 O conceito é sempre possível caso não se contradiga Esta é a característica lógica da possibi lidade e seu objeto é assim distinguido do n ih il n e g a tiv u m Mas ele pode ser um conceito va zio ainda assim caso a realidade objetiva da síntese pela qual o conceito é engendrado não seja particularmente demonstrada o que no entanto baseiase sempre tal como acima mos trado em princípios da experiência possível e não no princípio da análise o princípio de contradição Esta é uma advertência para que da possibilidade lógica do conceito não se infira de pronto a possibilidade real das coisas NA B 625 B 626 465 um predicado lógico por um real i e da determinação de uma coisa anula praticamente todo ensinamento Ao predicado lógico pode ser vir tudo o que se queira e mesmo o sujeito pode ser predicado de si mesmo pois a lógica abstrai de todo conteúdo A determinação con tudo é um predicado que se acrescenta ao conceito do sujeito e o am plia Ela não pode portanto já estar contida nele O ser não é evidentemente um predicado real i e um conceito de algo que pudesse ser acrescentado ao conceito de uma coisa Ele é apenas a posição de uma coisa ou de certas determinações em si mes mas No uso lógico é simplesmente a cópula de um juízo A proposição Deus é todopoderoso contém dois conceitos que possuem seus obje b 627 tos Deus e a onipotência a palavrinha é não é um predicado a mais mas apenas aquilo que põe o predicado em relação com o sujeito Se tomo então o sujeito Deus juntamente com todos os seus predicados entre os quais também a onipotência e digo Deus é ou então há um Deus não ponho nenhum predicado novo para o conceito de Deus mas apenas o sujeito em si mesmo com todos os seus predicados e mais especificamente o objeto em relação com o meu conceito Ambos têm de conter precisamente o mesmo e por isso nada mais pode ser acrescentado ao conceito que apenas exprime a possibilidade de eu pensar o seu objeto como absolutamente dado através da expressão ele é E o real assim não contém mais do que o meramente possível Cem táleres reais não contêm minimamente nada a mais do que cem tá leres possíveis Pois como estes significam o conceito e aqueles o obje to e sua posição em si mesma então o meu conceito caso contivesse menos do que estes não exprimiria o objeto inteiro e portanto não se ria tampouco o conceito a ele adequado Em meu patrimônio contudo há mais em cem táleres reais do que no mero conceito dos mesmos i e de sua possibilidade Pois na realidade efetiva o objeto não está apenas contido analiticamente em meu conceito mas é sinteticamente acres centado ao meu conceito que é uma determinação de meu estado sem que esses cem táleres pensados sejam por meio desse ser fora de meu conceito minimamente aumentados b 628 Se penso uma coisa portanto tanto faz com quais ou quantos predicados mesmo na determinação completa nada é acrescenta do a ela pelo fato de eu introduzir a expressão esta coisa é Pois do contrário não existiria sempre o mesmo mas mais do que eu havia 466 pensado no conceito e eu não poderia dizer que o objeto exato do meu conceito existe Se por outro lado penso em uma coisa todas as realidades exceto uma a realidade faltante não é acrescentada a ela pelo fato de eu dizer que tal coisa incompleta existe ela existe na ver dade com a mesma falta com que eu a havia pensado pois do contrá rio existiria algo distinto do que eu pensara Se agora penso um ser como a realidade suprema sem carência permanece sempre a ques tão de se ele existe ou não Pois ainda que não falte nada ao meu con ceito do conteúdo real possível de uma coisa em geral falta algo na re lação ao meu inteiro estado do pensamento a saber que o conheci mento daquele objeto também fosse possível a posteriori E aqui se mostra também a causa da dificuldade nisso presente Caso se tratas se de um objeto dos sentidos eu não poderia confundir a existência da coisa com o mero conceito da coisa Pois através do conceito o ob jeto só é pensado como concordante com as condições universais de um conhecimento empírico possível e através da existência como contido no contexto de toda a experiência pois embora o conceito do objeto não seja minimamente aumentado pela conexão com o conteú do de toda a experiência nosso pensamento recebe uma percepção possível a mais por meio dele Se pelo contrário quisermos pensar a existência somente através da categoria pura não é de admirarse que não possamos indicar uma característica capaz de distinguila da me ra possibilidade O que quer que contenha pois o nosso conceito de um objeto te mos de sair dele para conceder existência a este Em objetos dos senti dos isso acontece através da concatenação segundo leis empíricas com alguma de minhas percepções quanto a objetos do pensamento puro porém não há qualquer meio de conhecer sua existência já que esta teria de ser conhecida inteiramente a priori nossa consciência de toda existência contudo seja imediatamente através da percep ção seja através de inferências que conectam algo à percepção per tence inteiramente à unidade da experiência e embora nenhuma exis tência fora desse campo possa de modo absoluto ser definida como impossível ela é uma pressuposição que não podemos justificar de maneira alguma O conceito de um ser supremo é sob muitos aspectos uma ideia extremamente útil justamente por isso no entanto por ser uma B 629 467 mera ideia ela é inteiramente incapaz de ampliar apenas por si só B 630 o nosso conhecimento relativo a tudo o que existe Ela não é capaz se quer de instruirnos sobre a possibilidade de umasérie de coisas A característica analítica da possibilidade que consiste em que meras posições realidades não geram contradição não lhe pode ser questi onada como no entanto a conexão de todas as propriedades reais em uma coisa é uma síntese sobre cuja possibilidade nada podemos julgar a priori já que as realidades não nos são dadas especificamen te e mesmo que isso acontecesse não haveria aí nenhum juízo pois a característica da possibilidade de conhecimentos sintéticos sempre tem de ser buscada somente na experiência e a esta não pode perten cer o objeto de uma ideia então o famoso Leibniz esteve longe de re alizar aquilo de que se gabava a saber que poderia discernir a priori a possibilidade de um tão sublime ser ideal Assim perdeuse muito esforço na conhecida prova ontológica cartesiana da existência de Deus e um homem poderia tornarse tão rico em compreensão a partir de meras ideias quanto em fortuna um negociante que para melhorar seu estado acrescentasse alguns ze ros a seu montante em caixa b 631 Quinta seção Da impossibilidade de uma prova cosmológica da existência de Deus Foi algo inteiramente antinatural e uma mera novidade do espíri to escolástico querer extrair de uma ideia arbitrariamente projetada a existência do próprio objeto a ela correspondente Na verdade não se tentaria isso de tal modo se não existisse antes a necessidade de nossa razão de supor algo necessário para a existência em geral algo em que se pudesse parar no movimento de ascensão e se a razão não fosse forçada na medida em que essa necessidade tem de ser incondi cionada e certa a priori a buscar um conceito que onde quer que fos se pudesse satisfazer tal exigência e inteiramente a priori dar a co nhecer uma existência Acreditavase pois encontrar esta última na ideia de um ser realíssimo e com isso ela se tornava um conhecimen to determinado daquilo que segundo já se estava convencido ou per suadido tinha mesmo de existir a saber o ser necessário Entretanto ocultouse esse caminho natural da razão e em vez de terminar nesse conceito buscouse começar por ele para dele derivar a necessidade 468 da existência uma necessidade contudo que ele só estava destinado a suprir Disso surgiu então a malfadada prova ontológica que não traz nada de satisfatório nem para o entendimento natural e saudá vel nem para um exame segundo os padrões acadêmicos A prova cosmológica que investigaremos agora mantém a cone xão da necessidade absoluta com a realidade suprema em vez po rém de inferir a necessidade na existência da realidade suprema co mo fazia a última ela infere antes da necessidade incondicionada de algum ser dada de antemão a realidade ilimitada do mesmo trazen do tudo assim aos trilhos de um modo de inferir que quer seja racio nal ou sofístico é ao menos natural e costuma ser persuasivo não ape nas para o entendimento comum mas também para o especulativo assim como traça também visivelmente as primeiras linhas funda mentais de todas as provas da teologia natural linhas que sempre fo ram seguidas e continuarão a sêlo por mais que se tente disfarçálas ou embelezálas com diversos ornamentos e floreios Esta prova que Leibniz denominava também a contingentia mundi será agora colo cada à mostra e submetida a exame Ela diz portanto que se algo existe tem de existir também um ser absolutamente necessário Se pois ao menos eu existo então existe um ser absolutamente necessário A premissa menor contém uma experiência a maior contém a inferência a partir de uma expe riência em geral da existência do necessário87 Assim a prova começa realmente pela experiência e portanto não é nem estabelecida a prio ri nem ontológica e como o objeto de toda experiência possível se denomina mundo ela é denominada prova cosmológica Como ela também abstrai de toda propriedade particular dos objetos da expe riência pela qual este mundo pudesse distinguirse de todos os demais possíveis ela também já se distingue com a sua denominação da pro va físicoteológica que necessita para as suas demonstrações de ob servações da constituição particular deste nosso mundo sensível 87 Essa conclusão é muito conhecida para que eu precisasse apresentála aqui detalhadamen te Ela se baseia na lei natural supostamente transcendental da causalidade que todo con tingente tem sua causa e esta sendo por seu turno contingente também tem de ter uma causa até que a série das causas subordinadas umas às outras tenha de terminar em uma causa absolutamente necessária sem a qual ela não teria completude NAJ B 632 B 633 469 A prova infere então além disso que o ser necessário só pode ser determinado de um único modo i e por apenas um dentre todos os predicados opostos possíveis e por conseguinte tem de ser completa mente determinado através de seu conceito Agora somente um único conceito de uma coisa é possível que seja capaz de determinála com pletamente a priori qual seja o do entis realissimi O conceito do ser B 634 realíssimo é o único portanto pelo qual pode ser pensado um ser ne cessário i e um ser supremo existe necessariamente Nesse argumento cosmológico se juntam tantos princípios sofísti cos que a razão especulativa parece aqui ter de empregar toda a sua arte dialética para produzir a maior ilusão transcendental possível Deixaremos seu exame momentaneamente de lado contudo para ape nas tornar claro um artifício da razão com que ela apresenta um argu mento velho em nova roupagem e apela ao acordo de dois testemu nhos quais sejam um da razão pura e outro com atestado empírico dos quais apenas o primeiro contudo está de fato presente e modifi cando seu traje e sua voz busca ser tomado pelo segundo Para esta belecer firmemente seu fundamento essa prova finca os pés na expe riência e assim parece distinguirse da prova ontológica que confia inteiramente em meros conceitos puros a priori A prova cosmológica só se serve dessa experiência contudo para dar um único passo qual seja em direção à existência de um ser necessário em geral Quanto a quais são as propriedades deste isto é algo que a demonstração empí rica não pode ensinar e nisso a razão se distancia inteiramente dela b 635 para por detrás de meros conceitos investigar o que de fato um ser absolutamente necessário deveria ter por propriedades i e qual a coisa que dentre todas as coisas possíveis contém em si as condições requeridas requisita para uma necessidade absoluta Ela acredita então encontrar esses requisitos única e exclusivamente no conceito de um ser realíssimo e infere em seguida que ele é o ser absoluta mente necessário É claro contudo que aí se pressupõe que o concei to de um ser de suprema realidade satisfaz inteiramente ao conceito da necessidade absoluta na existência i e que esta última se infere a partir daquela uma proposição que era afirmada pelo argumento on tológico o qual portanto ainda que se quisesse evitálo é assumido e tomado como fundamento na prova ontológica Pois a necessidade absoluta é uma existência a partir de meros conceitos Se eu digo en tão que o conceito do entis realissimi é tal conceito e o único de 470 fato que se conforma e adequa à existência necessária tenho de ad mitir também que esta última poderia ser dele inferida Logo é apenas a prova ontológica a partir de meros conceitos que de fato contém toda a força de prova na assim chamada prova cosmológica e a suposta experiência é inteiramente supérflua voltada apenas talvez a condu zirnos ao conceito da necessidade absoluta mas não a estabelecer esta última em alguma coisa determinada Pois tão logo tenhamos isto co mo propósito temos de abandonar de pronto toda experiência e buscar entre os conceitos puros aquele que possa conter as condições de pos sibilidade de um ser absolutamente necessário Se desse modo porém só é compreendida a possibilidade de tal ser também a sua existência é estabelecida pois isso quer dizer apenas que há um dentre todos os possíveis que traz consigo uma necessidade absoluta i e esse ser existe de maneira absolutamente necessária Todas as falácias nas inferências se revelam da maneira mais fácil se são expostas segundo o modo escolástico Eis aqui uma exposição desse tipo Se é correta a proposição todo ser absolutamente necessário é ao mesmo tempo o ser realíssimo o nervus probandis da prova cosmoló gica então ela tem de poder ser invertida como todo juízo afirmativo ao menos per accidens alguns seres realíssimos são ao mesmo tempo seres absolutamente necessários Agora um ens realissimum não é distinto de um outro em nenhum ponto e aquilo que vale para alguns contidos sob esse conceito vale também para todos Portanto eu tam bém poderei neste caso invertêlo de modo absoluto i e todo ser rea líssimo é um ser necessário Agora como esta proposição é determina da tão somente a priori a partir de seus conceitos o mero conceito do ser realíssimo tem de possuir também a necessidade absoluta do mes mo que é exatamente o que afirmava a prova ontológica e que a cos mológica mesmo tomandoo por fundamento de suas inferências ain da que subrepticiamente não queria reconhecer Assim pois o segundo caminho tomado pela razão especulativa para provar a existência do ser supremo é não apenas tão enganoso quanto o primeiro mas tem ainda em si de reprovável o fato de incor rer em uma ignoratio elenchi prometendo conduzirnos a uma nova trilha mas depois de um pequeno desvio levandonos de volta à velha que havíamos abandonado por sua causa B 636 B 637 471 Eu disse há pouco que nesse argumento cosmológico se escondia todo um ninho de suposições dialéticas que a crítica transcendental pode descobrir e destruir comfacilidade Agora quero apenas indi cálas deixando ao leitor já treinado que continue a investigar os prin cípios enganosos e os suprima Encontramse então aí por exemplo 1 O princípio transcenden tal de inferir uma causa a partir do contingente princípio este que só tem significado no mundo sensível e fora dele não tem sequer um sentido Pois o conceito meramente intelectual do contingente não pode produzir nenhuma proposição sintética como aquela da causali dade e o princípio desta última não tem qualquer significado nem qualquer critério de seu uso a não ser no mundo sensível mas aqui B 638 ele deveria servir justamente para ir além do mundo sensível 2 O princípio de inferir uma primeira causa a partir da impossibilidade de uma série infinita de causas dadas umas sobre as outras no mundo sensível algo a que os princípios do uso da razão não nos autorizam nem mesmo na experiência e que não podemos menos ainda esten der para além dela onde essa cadeia não pode ser prolongada de modo algum 3 A falsa autossatisfação da razão com o completa mento dessa série quando afinal se removem todas as condições sem as quais contudo não pode ter lugar o conceito de uma necessi dade e já não se podendo então compreender nada isto seja assu mido como o completamento de seu conceito 4 A confusão da possi bilidade lógica de um conceito de toda a realidade unificada sem con tradição interna com a possibilidade transcendental que exige um princípio da factibilidade de tal síntese mas este por seu turno só pode valer para a experiência possível e assim por diante O artifício da prova cosmológica visa tão somente a evitar a prova da existência de um ser necessário por meio de meros conceitos a prio ri prova esta que tinha de ser conduzida ontologicamente mas nós nos sentimos inteiramente incapazes disso Com esse propósito nós inferimos de uma existência real posta por fundamento uma expe riência em geral tão bem quanto seja possível alguma condição ab solutamente necessária da mesma Nós não precisamos assim expli B 639 car a sua possibilidade Pois se está provado que ela existe a pergunta por sua possibilidade é inteiramente desnecessária Agora se quiser mos determinar mais precisamente esse ser necessário no que diz 472 respeito à sua constituição então não buscamos aquilo que é sufici ente para a partir de seu conceito compreender a necessidade da existência pois se fôssemos capazes disso não precisaríamos de uma pressuposição empírica não nós buscamos apenas a condição negati va conditio sine qua non sem a qual nenhum ser seria absolutamen te necessário Ora isto daria certo em todos os outros tipos de infe rência indo de uma dada consequência ao seu fundamento ocorre aqui infelizmente que a condição exigida para a necessidade absolu ta só pode ser encontrada em um único ser o qual portanto teria de conter em seu conceito tudo o que é necessário para a necessidade absoluta e por conseguinte tornaria possível uma inferência a priori da mesma i e eu também teria de poder inferir inversamente que a coisa a que pertence esse conceito da realidade suprema é absoluta mente necessária e se não puder inferilo o que devo admitir se que ro evitar a prova ontológica então terei fracassado também em meu novo caminho e me encontrarei novamente onde havia começado O conceito do ser supremo resolve bem todas as questões a priori que podem ser levantadas com relação às determinações internas de uma coisa e é também por isso um ideal sem igual já que o conceito uni versal o distingue como um indivíduo entre todas as coisas possíveis Mas ele não resolve em nada a questão relativa à sua própria existên cia que era em todo caso a única de que se tratava aqui e àquele que admitiu a existência de um ser necessário e queria apenas saber qual dentre todas as coisas teria de ser considerada como tal não se pode ria responder Este aqui é o ser necessário Pode ser permitido sem qualquer problema supor a existência de um ser da mais alta suficiência como causa de todos os efeitos pos síveis para propiciar à razão a unidade dos fundamentos explicativos que ela busca Mas chegar ao ponto de dizer que tal ser existe neces sariamente já não é a modesta expressão de uma hipótese permitida mas sim a imprudente suposição de uma certeza apodítica pois tam bém o conhecimento daquilo que se pretende conhecer como absolu tamente necessário tem de trazer consigo necessidade absoluta Todo o problema do ideal transcendental resumese em ou en contrar um conceito para a necessidade absoluta ou encontrar a ne cessidade absoluta para o conceito de alguma coisa Caso se possa um dos dois podese o outro pois a razão só conhece como absoluta B 640 473 mente necessário aquilo que é necessário a partir de seu próprio con B 641 ceito Ambas as coisas porém estão inteiramente além dos mais ex tremos esforços de nosso entendimento para satisfazerse nesse pon to mas também de todas as tentativas de tranquilizálo quanto a esta sua incapacidade A necessidade incondicionada de que precisamos tão indispensa velmente como sustentáculo último de todas as coisas é um verdadei ro abismo para a razão humana Mesmo a eternidade por mais terri velmente sublime que um Haller possa pintála está longe de produ zir uma impressão tão vertiginosa sobre a mente pois ela somente mede a duração das coisas não lhes dá sustentação Não se pode evi tar mas também não se pode suportar o pensamento de que um ser que representamos como o mais elevado entre todos os possíveis diga a si mesmo de certo modo eu existo da eternidade à eternida de fora de mim não há nada sem aquilo que só existe por meio de mi nha vontade mas de onde então venho eu Tudo afunda aqui sob nós e tanto a maior como a menor perfeição fluem sem ponto de apoio perante a razão especulativa à qual não custa nada deixar que ambas desapareçam sem a menor dificuldade Muitas forças da natureza que expressam a sua existência atra vés de certos efeitos permanecem para nós imperscrutáveis pois por meio da observação não conseguimos ir longe o suficiente na sua in vestigação O objeto transcendental que serve de fundamento aos fe nômenos e com ele o fundamento para que nossa sensibilidade tenha B 642 ele e não outro como condição suprema são e permanecem para nós imperscrutáveis ainda que de resto a própria coisa fosse dada e apenas não discernida Um ideal da razão pura no entanto não pode ser denominado imperscrutável pois não tem de apresentar qual quer certificado de sua realidade além da necessidade da razão de completar por meio dele toda a unidade sintética Como ele portan to não é dado sequer como objeto pensável ele também não é im perscrutável enquanto tal ele tem antes como mera ideia de encon trar seu lugar e sua solução na natureza da razão podendo assim ser investigado pois a razão consiste justamente em que possamos pres tar contas de todos os nossos conceitos opiniões e afirmações seja com base em fundamentos objetivos seja quando se trata de meras ilusões em fundamentos subjetivos 474 Descoberta e explicação da ilusão dialética em todas as provas transcendentais da existência de um ser necessário As duas provas até aqui desenvolvidas foram buscadas transcen dentalmente i e independentemente de princípios empíricos Pois embora a cosmológica coloque uma experiência em geral como fun damento ela não é realizada a partir de alguma constituição particu lar da mesma mas sim a partir de princípios puros da razão relaciona dos a uma existência dada através da consciência empírica em geral e acaba até por abandonar essa orientação para apoiarse em meros conceitos puros Qual é então a causa nessas provas transcendentais da ilusão dialética ainda que natural que conecta os conceitos de ne cessidade e realidade suprema e realiza e hipostasia aquilo que na verdade só pode ser ideia Qual é a causa da inevitabilidade de supor algo como em si necessário entre todas as coisas existentes e ao mes mo tempo recuar tremendo como que diante de um abismo frente à existência de tal ser E como conseguir que a razão se compreenda a si mesma quanto a isso e possa a partir do estado vacilante de uma aprovação tímida e sempre revogada chegar enfim a um discernimen to tranquilo É particularmente curioso que quando se pressupõe que algo existe não se possa escapar à conclusão de que outro algo também existe necessariamente O argumento cosmológico se baseava nessa inferência inteiramente natural embora nem por isso segura Qual quer que seja por outro lado o conceito que eu suponha de uma coi sa descobrirei que a sua existência jamais poderia ser representada por mim como absolutamente necessária e que nada me impediria existindo o que quer que fosse de pensar o não ser do mesmo por conseguinte eu teria de supor algo necessário para o existente em ge ral mas não poderia pensar uma coisa singular como em si necessá ria Isto significa que não posso completar jamais o regresso às condi ções do existente sem supor um ser necessário mas não posso come çar nada a partir dele Se tenho de pensar algo necessário para as coisas existentes em geral mas não estou autorizado a pensar uma coisa em si mesma como necessária seguese disso inevitavelmente que a necessidade e a contingência não poderiam pertencer ou dizer respeito às coisas mesmas pois do contrário ocorreria uma contradição logo nenhum B 643 B 644 475 desses dois princípios é objetivo e eles só podem ser em todo caso princípios subjetivos da razão a saber de um lado o de procurar algo necessário para tudo o que é dado como existente e de outro o de nunca esperar por essa completude i e de nunca supor algo empíri co como incondicionado eximindose assim da posterior derivação Com este significado ambos os princípios meramente heurísticos e re gulativos e servindo apenas ao interesse formal da razão podem perfei tamente coexistir Alguém diz então vocês devem filosofar sobre a na tureza como se houvesse um fundamento primeiro necessário para tudo o que pertence à existência e isto para simplesmente dar unidade sistemática ao seu conhecimento na medida em que se guiem por essa ideia qual seja de um fundamento supremo imaginado outro alguém b 645 no entanto lhes adverte a não considerar uma determinação singular concernente à existência das coisas como tal fundamento supremo i e como absolutamente necessária mas manter o caminho sempre aberto para ulteriores derivações ainda a tratando pois como condicionada Se no entanto tudo o que é percebido nas coisas tem de ser por nós necessariamente considerado como condicionado então nenhuma coisa que possa ser dada empiricamente pode ser considerada como absolutamente necessária Seguese disso porém que vocês têm de supor o absolutamente necessário fora do mundo porque ele só deve servir de fundamento supremo a um princípio da maior unidade possível dos fenômenos e vocês jamais chegariam a isso no mundo já que a segunda regra exi ge que vocês sempre considerem como derivadas todas as causas em píricas da unidade Os filósofos da Antiguidade enxergavam toda forma da natureza como contingente e a matéria no entanto em conformidade com o juízo da razão comum como originária e necessária Se contudo houvessem considerado a matéria não como substrato respectivo aos fenômenos mas em si mesma no que concerne à existência a ideia da necessidade absoluta teria desaparecido de imediato Pois não há na da que vincule necessariamente a razão a essa existência podendo ela suprimila sempre sem contradição em pensamentos mas era B 646 apenas nos pensamentos que residia a necessidade absoluta Tinha de haver nessa persuasão portanto um certo princípio regulativo como fundamento Na verdade também a extensão e a impenetrabilidade 476 que formam juntas o conceito de matéria constituem o princípio em pírico supremo da unidade dos fenômenos e na medida em que este é empiricamente incondicionado possuem em si uma propriedade do princípio regulativo Ainda assim como toda determinação da maté ria que constitui o seu real portanto também a impenetrabilidade são efeitos ações que têm de possuir sua causa e portanto são sem pre ainda derivados a matéria não serve à ideia de um ser necessário como princípio de toda a unidade derivada pois todas as suas proprie dades reais enquanto derivadas são apenas condicionadamente neces sárias e portanto podem ser suprimidas ainda que com isso se supri misse toda a existência da matéria se isso não acontecesse contudo nós teríamos alcançado empiricamente o fundamento supremo da uni dade o que é vedado pelo segundo princípio regulativo Seguese en tão que a matéria e tudo o que em geral pertence ao mundo não são adequados para a ideia de um ser originário necessário como mero princípio da maior unidade empírica assim podemos pois continuar a derivar confiantemente os fenômenos do mundo uns dos outros como se não houvesse um ser necessário mas também esforçarnos inces santemente apesar disso para chegar à completude da derivação como se tal ser estivesse pressuposto como fundamento Segundo as presentes considerações o ideal do ser supremo não é outra coisa senão um princípio regulativo da razão para considerar toda ligação no mundo como se surgisse de uma causa necessária e au tossuficiente de modo a fundar aí a regra de uma unidade sistemática e necessária segundo regras universais na explicação do mundo ele não é pois a afirmação de uma existência em si necessária E também inevitável contudo através de uma subrepção transcendental repre sentarse esse princípio formal como constitutivo e conceber essa uni dade de maneira hipostasiada Do mesmo modo como o espaço na me dida em que torna originariamente possíveis todas as figuras que nada mais são do que diversas limitações do próprio e mesmo sendo ele um mero princípio da sensibilidade é por isso mesmo tomado por um algo absolutamente necessário subsistente por si mesmo e um objeto dado a priori em si mesmo é igualmente natural que não podendo a unida de sistemática da natureza de modo algum ser colocada como princí pio do uso empírico de nossa razão a não ser quando colocamos como fundamento a ideia de um ser realíssimo enquanto causa supre ma essa ideia seja assim representada como um objeto real e este B 647 477 B 648 B 649 por seu turno já que é a condição suprema como necessário e que as sim um princípio regulativo seja transformado em um constitutivo Esta transformação se torna evidente pelo fato de que e considero tal ser supremo que era absolutamente incondicionalmente necessário em relação ao mundo como coisa em si essa necessidade não se ade qua a nenhum conceito e portanto só pode ter sido encontrada em minha razão como condição formal do pensamento e não como condi ção material e hipostática da existência Sexta seção Da impossibilidade da prova físicoteológica Se pois nem o conceito de coisas em geral nem a experiência de alguma existência em geral podem proporcionar o que é exigido res ta ainda um meio verificar se uma determinada experiência uma portanto que envolve as coisas deste mundo presente sua constitui ção e ordem não poderia fornecer uma demonstração que pudesse ajudarnos a atingir seguramente a convicção na existência de um ser supremo A esta prova nós denominaríamos físicoteológica Se tam bém ela for impossível então em parte alguma é possível uma prova satisfatória a partir da mera razão especulativa para a existência de um ser que correspondesse à nossa ideia transcendental Percebese logo a partir de todas as observações anteriores que se pode esperar um resultado inteiramente fácil e conciso para essa investigação Pois como poderia ser dada uma experiência que fosse adequada a uma ideia Nisso reside justamente o que é próprio a esta última que nenhuma experiência poderia jamais concordar com ela A ideia transcendental de um ser originário necessário e todosu ficiente é tão espantosamente grande tão elevada acima de tudo o que é empírico e condicionado que por um lado na experiência nun ca se reunirá material suficiente para preencher tal conceito e por outro lado sempre se tateará em volta do condicionado para procurar em vão pelo incondicionado para o qual nenhuma lei da síntese empí rica nos dá um exemplo ou a mínima orientação Se o ser supremo estivesse nessa cadeia das condições ele pró prio seria um membro da série e exatamente como os membros infe riores dos quais é pressuposto exigiria novas investigações em busca de seu mais elevado fundamento Se ao contrário quisermos nos des vincular dessa cadeia e como seres meramente inteligíveis não nos 478 incluirmos na série das causas naturais qual será então a ponte que a razão poderá construir para chegarmos a isso se todas as leis da pas sagem dos efeitos às causas e mesmo toda síntese e ampliação do nosso conhecimento em geral estão assentadas somente na experiên cia possível portanto apenas nos objetos do mundo sensível e so mente em relação a eles podem ter um significado 0 mundo presente nos abre um cenário tão incomensurável de di versidade ordem conformidade a fins e beleza quer se os persiga na infinitude do espaço ou na divisão ilimitada do mesmo que mes mo segundo os conhecimentos que o nosso frágil entendimento pos sa ter adquirido disso diante de tantas e tão imensas maravilhas toda língua perde sua força todo número perde seu poder de medir e mes mo os nossos pensamentos perdem todos os limites de tal modo que nosso juízo sobre o todo tem de dissolverse em um espanto mudo mas por isso mesmo tanto mais eloquente Em toda parte nós vemos uma cadeia de efeitos e causas de fins e meios e regularidade no sur gir ou desaparecer e como nada entrou por si mesmo no estado em que se encontra tudo aponta sempre para uma outra coisa como sua causa a qual por seu turno torna necessário recolocar exatamente a mesma pergunta de modo que o todo completo dessa forma tem de afundar no abismo do nada a menos que se suponha algo originário por si mesma e subsistente de maneira independente que fora dessa contingência infinita desse sustentação a ela e como a causa de sua origem também lhe assegurasse a continuação Quão grande se deve representar essa causa suprema em relação a todas as coisas do mundo Não conhecemos o mundo segundo seu conteúdo comple to e não sabemos menos ainda medir a sua grandeza por compara ção com tudo o que é possível O que nos impede porém uma vez que necessitamos de um ser extremo e supremo em vista da causali dade de colocálo acima de todos os demais seres possíveis no que diz respeito ao grau de perfeição Tratase de algo que podemos rea lizar com facilidade ainda que apenas através do frágil contorno de um conceito abstrato se nos representamos nele enquanto substân cia única toda perfeição possível reunida um conceito que atende bem à exigência de nossa razão quanto à economia de princípios que nele mesmo não incorre em qualquer contradição e que através da orientação oferecida por tal ideia em termos de ordem e conformida de a fins adequase até mesmo à extensão do uso da razão no interior B 650 B 651 479 da experiência sem ser nunca todavia decisivamente contrário a uma experiência Essa prova merece sempre um tratamento cuidadoso Ela é a mais antiga a mais clara e a mais conforme à razão humana comum Ela dá vida ao estudo da natureza do mesmo modo como obtém desta a sua própria existência e assim recebe uma força sempre renovada Ela co loca fins e propósitos onde a nossa observação jamais os teria desco berto e estende os nossos conhecimentos da natureza através do fio condutor de uma peculiar unidade cujo princípio está fora da nature za Estes conhecimentos retroagem contudo sobre sua própria causa b 652 qual seja a ideia que os ocasionou e aumentam assim até o ponto de uma convicção irresistível a fé em um criador supremo Querer subtrair algo ao prestígio dessa prova portanto seria não apenas frustrante mas inteiramente vão A razão que é constante mente elevada por tão poderosas demonstrações as quais embora empíricas vicejam em seus domínios não pode ser reprimida pelas dúvidas de uma especulação sutil e vaga ao ponto de não poder arran carse de uma indecisão sofística como se de um sonho através do olhar que lança às maravilhas da natureza e à majestade da constru ção do mundo e assim elevarse de grandeza em grandeza até a mais elevada grandeza e do condicionado à condição até o supremo e in condicionado criador Mesmo que não tenhamos contudo nada a objetar contra a ra cionalidade e a utilidade desse procedimento mas devamos antes re comendálo e estimulálo não podemos por isso justificar as preten sões desse tipo de prova quanto a possuir certeza apodítica e uma aprovação que prescindisse de qualquer favor ou apoio alheio e não é em nada prejudicial à boa causa que a linguagem dogmática de um so fista insolente seja rebaixada ao tom de sobriedade e modéstia de uma fé que é suficiente para tranquilizar ainda que não para ordenar uma B 653 submissão incondicional Eu afirmo pois que a prova físicoteológica jamais poderia demonstrar sozinha a existência de um ser supremo mas teria de confiar a tarefa de suprir essa carência à ontológica a que ela serve apenas como introdução a qual portanto conteria o único argumento possível se é que existe uma prova especulativa a que nenhuma razão humana poderia esquivarse 4 8 0 Os principais momentos da referida prova físicoteológica são os seguintes 1 Encontramse no mundo por toda parte sinais claros de uma ordenação efetuada segundo um propósito determinado e com grande sabedoria em um todo que é tanto de indescritível diversida de do conteúdo como de ilimitada quantidade de extensão 2 Essa or denação conforme a fins é inteiramente estranha às coisas do mundo e só lhe pertence contingentemente i e a natureza das diversas coi sas não poderia concordar por si mesma através de tão variados mei os de unificação com determinados propósitos finais a não ser que elas fossem escolhidas e dispostas justamente para isso através de um princípio racional ordenador segundo ideias servindo como funda mentos 3 Logo existe uma causa sublime e sábia ou várias que tem de ser a causa do mundo não apenas através da fecundidade como natureza onipotente operando cegamente mas através da liber dade como inteligência 4 A sua unidade pode ser inferida com cer teza até onde alcança a nossa observação a partir da unidade da rela ção recíproca das partes do mundo como membros de uma constru ção artificial e além disso com probabilidade segundo todos os prin cípios da analogia Não vamos querelar aqui com a razão natural sobre sua inferên cia pela qual a partir da analogia de alguns produtos da natureza com aquilo que a arte humana produz quando age violentamente com a natureza forçandoa a proceder não segundo seus fins mas a incluirse nos nossos a partir da semelhança daqueles com casas na vios relógios ela infere que justamente tal causalidade qual seja o entendimento e a vontade serviria de fundamento à natureza na me dida em que essa mesma razão natural deriva de uma outra arte so brehumana a possibilidade interna da natureza que atua livremente Ainda que esse modo de inferir pudesse talvez não resistir a uma críti ca transcendental mais acurada é preciso admitir que se acaso tivés semos de nomear uma causa não poderíamos proceder com mais se gurança do que seguindo a analogia com semelhantes criações con formes a fins as únicas cujas causas e efeitos nos são inteiramente co nhecidos A razão não poderia assumir a responsabilidade perante si mesma caso quisesse passar da causalidade que conhece a funda mentos de explicação obscuros e incomprováveis Segundo essa inferência a conformidade a fins e a harmonia de tantos produtos da natureza teriam de provar tão somente a contin B 654 481 B 655 gência da forma mas não da matéria i e da substância no mundo pois para isto seria ainda exigido que se pudesse provar que as coisas seriam em si mesmas inapropriadas a semelhante ordem e concor dância segundo leis universais a menos que fossem mesmo no que diz respeito à sua substância o produto de uma sabedoria suprema algo para que no entanto seriam exigidas demonstrações inteira mente distintas daquela da analogia com a arte humana A prova po deria no máximo portanto demonstrar um arquiteto do mundo que estaria sempre muito limitado pela qualidade do material com que trabalha mas não um criador do mundo a cuja ideia estaria tudo sub metido e isso está longe de ser suficiente para o grande propósito que se tem em vista a saber o de provar um ser originário todosufi ciente Se quiséssemos provar a contingência da própria matéria te ríamos de buscar refúgio em um argumento transcendental que é o que todavia tivemos aqui de evitar A inferência parte portanto da ordem e conformidade a fins tão universalmente observadas no mundo como um arranjo completa mente contingente e chega à existência de uma causa proporcional a isso O conceito dessa causa no entanto tem de darnos a conhecer algo dela que seja inteiramente determinado não podendo ser outro portanto senão o conceito de um ser que como um ser todosufi ciente possui todo poder sabedoria etc ou em uma palavra toda b 656 perfeição Pois os predicados de um poder e de uma excelência muito grandes espantosos incomensuráveis não nos dão nenhum conceito determinado e não nos dizem absolutamente nada sobre o que a coisa seja em si mesma mas são meras representações relacionais do objeto que o observador do mundo compara consigo mesmo e com sua capa cidade de compreensão e que acabam por adquirir um valor igualmen te grandioso quer se engrandeça o objeto quer se diminua o sujeito ob servador na relação com ele Quando se trata da grandeza da perfei ção de uma coisa em geral não há nenhum conceito determinado além daquele que compreende toda a perfeição possível e no qual só é completamente determinado o todo omnitudo da realidade Agora eu não esperarei que alguém se arrogue a capacidade de compreender a relação entre a grandeza do mundo por ele observada no que concerne tanto à extensão como ao conteúdo e a onipotên cia entre a ordem do mundo e a sabedoria suprema entre a unidade 4 8 2 do mundo e a unidade absoluta do criador etc A físicoteologia não pode pois fornecer um conceito determinado da causa suprema do mundo nem portanto ser suficiente para um princípio da teologia que por seu turno deveria constituir a base da religião 0 passo para a totalidade absoluta é inteiramente impossível atra vés do caminho empírico É o que se faz no entanto na prova físi coteológica Que meio se pode adotar então para atravessar um abismo tão grande Depois que se chegou à admiração com a grandeza da sabedoria do criador originário com o seu poder etc e não se pode ir além dis so abandonase de vez esse argumento desenvolvido com demons trações empíricas e passase à contingência do mundo inferida desde o princípio de sua ordem e de sua conformidade a fins Dessa contin gência e apenas dela passase então por meio de conceitos mera mente transcendentais à existência de um absolutamente necessário e do conceito da necessidade absoluta da primeira causa passase ao conceito completamente determinado ou determinante desse abso lutamente necessário qual seja o conceito de uma realidade que abarca a tudo Assim a prova físicoteológica ficou presa em sua em preitada deste embaraço saltou de repente para a prova cosmológica e como esta era somente uma prova ontológica disfarçada só cum priu o seu propósito de fato através da razão pura muito embora quisesse a princípio negar toda afinidade com esta e pretendesse ba sear tudo em provas evidentes extraídas da experiência Os físicoteólogos não têm qualquer razão portanto para agir tão desrespeitosamente com o tipo transcendental de prova nem pa ra olhála de cima para baixo com tanto desdém como estudantes cla rividentes da natureza olhando para uma teia tecida por obscuros es peculadores Pois se eles simplesmente examinassem a si mesmos ve rificariam que depois de percorrer um bom trecho no solo da nature za e da experiência e continuar a ver igualmente longe o objeto que parece aparecerlhes perante a razão deixam subitamente esse solo e passam ao reino das meras possibilidades onde esperam aproximarse nas asas das ideias daquilo que lhes escapou em toda a investigação empírica Depois de finalmente julgar após tão poderoso salto estar novamente em solo firme eles estendem então o conceito agora deter minado a cuja posse chegaram sem saber como para além de todo o B 657 B 658 483 campo da criação elucidando através da experiência ainda que de maneira bastante pobre e muito abaixo da dignidade de seu objeto o ideal que era tão somente um produto da razão pura sem querer ad mitir contudo que chegaram a esse conhecimento ou pressuposição por um caminho inteiramente distinto daquele da experiência Assim a prova físicoteológica tem por fundamento a cosmológi ca e esta por seu turno a prova ontológica da existência de um ser propriamente originário como ser supremo e como além desses três caminhos não há nenhum outro aberto à razão especulativa então a prova ontológica por meros conceitos puros da razão é a única possí vel se é que é possível provar uma proposição que se eleva tão acima de todo uso empírico do entendimento B 659 Sétima seção Crítica de toda teologia baseada em princípios especulativos da razão Se por teologia entendo o conhecimento do ser originário então ela se baseia ou na mera razão theologia rationalis ou na revelação revelata A primeira então pensa seu objeto ou através da razão pura apenas por meio de meros conceitos transcendentais ens origi narium realissimum ens entium e se denomina teologia transcen dental ou através de um conceito emprestado à natureza de nossa alma como a inteligência suprema e teria de denominarse teologia natural Aquele que só admite uma teologia transcendental é denomi nado deísta aquele que só admite uma teologia natural é denomina do teísta 0 primeiro concede que em todo caso possamos conhecer através da mera razão a existência de um ser originário mas o concei to que temos deste é meramente transcendental qual seja o de um ser que possui toda realidade mas que não pode ser determinado mais precisamente O segundo afirma que a razão estaria em condi ções de determinar o objeto mais precisamente segundo a analogia com a natureza a saber como um ser que conteria em si através do entendimento e da liberdade o fundamento originário de todas as ou tras coisas O primeiro portanto representase sob tal conceito tão B 660 somente uma causa do mundo permanecendo indefinido se ela o é por meio da necessidade de sua natureza ou por meio da liberdade e o segundo um criador do mundo 4 8 4 A teologia transcendental é ou aquela que pensa poder derivar de uma experiência em geral a existência do ser originário sem deter minar de maneira mais precisa o mundo a que ela pertence e se de nomina cosmo teologia ou aquela que acredita conhecer a sua exis tência por meio de meros conceitos sem o apoio da mínima experiên cia e se denomina ontoteologia A teologia natural infere as propriedades e a existência de um cria dor do mundo a partir da constituição da ordem e da unidade que são encontradas neste mundo em que dois tipos de causalidade e de suas regras têm de ser admitidos a saber natureza e liberdade Por isso ela ascende deste mundo à inteligência suprema entendendo esta ou como princípio de toda ordem e perfeição natural ou de toda ordem e perfeição moral No primeiro caso ela se denomina físicoteologia no último teologia moral Como sob o conceito de Deus não estamos habituados a entender algo como uma mera natureza eterna operando cegamente como raiz das coisas mas um ser supremo que deve ser o criador das coisas atra vés do entendimento e da liberdade e como somente esse conceito nos interessa então se poderia a rigor negar ao deísta toda crença em Deus e deixarlhe apenas a afirmação de um ser originário ou causa su prema Entretanto como ninguém deve ser acusado de querer negar algo apenas por não arriscarse a afirmálo é mais moderado e justo di zer que o deísta acredita em um Deus enquanto o teísta acredita em um Deus vivo summam intelligentiam Investigaremos agora as possíveis fontes de todas essas tentativas da razão Eu me contento aqui em explicar o conhecimento teórico como um conhecimento pelo qual conheço o que existe e o prático como um pelo qual me represento aquilo que deve existir De acordo com isso o uso teórico da razão é aquele pelo qual conheço a priori como necessário que algo é o uso prático por outro lado é aquele pelo qual se conhece a priori o que deveria acontecer Se pois é indubita velmente certo que algo é ou que deveria acontecer mas apenas con dicionadamente então ou uma certa condição determinada é absolu 8 88 Não é uma moral teológica pois esta contém leis morais que pressupõem a existência de um regente supremo do mundo ao passo que a teologia moral é uma convicção quanto à exis tência de um ser supremo que se funda em leis morais NA B 661 485 tamente necessária para isso ou ela só pode ser pressuposta como ar bitrária e contingente No primeiro caso a condição é postulada per thesin no segundo suposta frep rnjmoTqíoiv Como há leis práti B 662 cas que são absolutamente necessárias as morais então se elas pressupõem necessariamente alguma existência como condição de possibilidade de sua força obrigante tal existência tem de ser postu lada já que o condicionado do qual se inferiu essa condição determi nada é ele próprio conhecido a priori como absolutamente necessá rio Mostraremos mais à frente que as leis morais não apenas pressu põem a existência de um ser supremo mas na medida em que são ab solutamente necessárias de um outro ponto de vista a postulam com legitimidade ainda que naturalmente apenas em sentido prático por ora deixaremos de lado esse tipo de inferência Uma vez que quando se trata tão somente daquilo que existe não daquilo que deve ser o condicionado que nos é dado na experiência também é sempre pensado como contingente a condição a ele perten cente não pode pois ser conhecida como absolutamente necessária servindo apenas como uma pressuposição relativamente necessária ou antes imprescindível mas em si mesma e a priori arbitrária para o conhecimento racional do condicionado Se portanto a necessidade absoluta de uma coisa deve ser conhecida no conhecimento teórico isto só poderia ocorrer a partir de conceitos a priori e nunca como cau sa em relação a uma existência dada por meio da experiência Um conhecimento teórico é especulativo quando se dirige a um objeto ou aos conceitos de um objeto a que não se pode chegar em b 663 experiência alguma Ele se opõe ao conhecimento da natureza que não se dirige a nenhum outro objeto ou predicados de um objeto que não possam ser dados em uma experiência possível O princípio de inferir uma causa a partir daquilo que acontece como efeito o empiricamente contingente é um princípio do conhe cimento da natureza mas não do especulativo Pois caso se queira abstrair dele como um princípio que contém a condição da experiên cia possível em geral e deixando todo empírico de lado enunciálo do contingente em geral então não resta a mínima justificação de tal proposição sintética para a partir dela verificar se de algo que existe posso passar a algo inteiramente diverso denominado causa mesmo o conceito de causa assim como o do contingente perdem em tal uso 486 meramente especulativo todo significado cuja realidade objetiva pu desse ser compreendida in concreto Agora se da existência das coisas no mundo se infere a sua cau sa isto não pertence ao uso natural da razão mas sim ao seu uso es peculativo pois aquele não refere as coisas mesmas substâncias a uma causa mas apenas como empiricamente contingente aquilo que acontece portanto os estados das coisas que a substância mesma a matéria fosse contingente no que concerne à existência teria de ser um mero conhecimento especulativo da razão Caso no entanto se tra tasse somente da forma do mundo do tipo de ligação que lhe é próprio e da sua modificação e eu ainda assim pretendesse inferir daí uma cau sa que é inteiramente distinta do mundo isto seria novamente um juí zo da mera razão especulativa pois o objeto não é aqui o objeto de uma experiência possível Mas então o princípio da causalidade que só vale no interior do campo das experiências e fora dele não tem uso nem mes mo significado seria inteiramente desviado de sua destinação Eu afirmo pois que todas as tentativas de fazer um uso mera mente especulativo da razão em relação à teologia são inteiramente infrutíferas e no que diz respeito à sua constituição interna nulas e vãs e os princípios de seu uso natural não conduzem de modo algum à teologia logo se as leis morais não são postas no fundamento nem empregadas como fio condutor não pode haver em parte alguma uma teologia da razão Pois todos os princípios sintéticos do entendi mento são de uso imanente para o conhecimento de um ser supremo contudo exigese um uso transcendental dos mesmos para o qual nosso entendimento não está capacitado Se a lei empiricamente válida da causalidade conduzisse ao ser originário este teria de pertencer à cadeia dos objetos da experiência nesse caso porém também ele como todos os fenômenos seria por seu turno condicionado Caso no entanto se permitisse esse salto para além dos limites da experiên cia através da lei dinâmica da relação dos efeitos às suas causas qual seria então o conceito que esse procedimento nos proporcionaria Certamente não seria o conceito de um ser supremo pois a experiên cia jamais nos fornece o maior efeito possível como aquele que teste munhasse em favor de sua causa Se nos for permitido apenas para não deixar nada vazio em nossa razão preencher essa carência de de terminação completa através de uma mera ideia de perfeição supre B 664 B 665 487 ma e da necessidade originária isto poderia ser admitido como uma concessão mas não exigido pelo direito de uma prova irresistível A prova físicoteológica poderia talvez portanto dar força a provas inte iramente diversas se as houvesse conectando a especulação com a intuição por si mesma contudo não podendo completar sozinha a tarefa ela antes prepara o entendimento para o conhecimento teoló gico dandolhe para isso uma direção reta e natural Vêse com isso que as questões transcendentais só comportam respostas transcendentais i e respostas a partir de meros conceitos a priori sem a mínima intromissão empírica Aqui no entanto a questão é evidentemente sintética e exige uma extensão de nosso co nhecimento para além de todos os limites da experiência ou seja em direção à existência de um ser que deve corresponder à nossa mera B 666 ideia mas ao qual nenhuma experiência pode jamais corresponder Segundo as nossas provas acima porém um conhecimento sintético a priori só é possível quando exprime as condições formais de uma experiência possível e todos os princípios têm apenas uma validade imanente i e referemse tão somente a objetos do conhecimento em pírico ou fenômenos Também através do procedimento transcenden tal portanto não se consegue nada com vistas à teologia de uma ra zão meramente especulativa Caso se preferisse contudo colocar em dúvida todas as provas anteriores da analítica em vez de abandonar a persuasão com o peso de argumentos empregados há tanto tempo não se poderia então dei xar de satisfazer a exigência que faço de ao menos justificar como e através de qual elucidação acreditase poder ultrapassar toda expe riência possível com o poder de meras ideias Eu pediria apenas que me eximissem de novas provas ou de um melhor desenvolvimento de provas antigas Pois mesmo que aqui não se tenha muito o que esco lher já que todas as provas meramente especulativas se reduzem afi nal a uma única a ontológica e eu não precise ter o receio de ser so brecarregado pela fertilidade do defensor dogmático da razão liberta dos sentidos e mesmo que eu não queira sem parecer extremamente B 667 belicoso por isso recusar a exigência de descobrir o erro em cada ten tativa desse tipo e assim frustrar a sua pretensão ainda assim a espe rança de um maior sucesso não será inteiramente suprimida entre aqueles que já estão habituados a uma persuasão dogmática E eu me 4 8 8 atenho por isso à única exigência justa a saber que se deva em geral justificar a partir da natureza do entendimento humano e de todas as demais fontes do conhecimento por onde se pretende começar a am pliação inteiramente a priori do conhecimento e a sua extensão até onde não alcança nenhuma experiência possível nem portanto algum meio de assegurar realidade objetiva a algum dos conceitos que nós mesmos concebemos Como quer que o entendimento possa chegar a esse conceito a existência do seu objeto não pode ser encon trada nele analiticamente pois o conhecimento da existência do ob jeto consiste justamente em que este seja posto em si mesmo fora do pensamento É inteiramente impossível contudo partir somente de um conceito e sem seguir a conexão empírica que é no entanto como os fenômenos são sempre dados chegar à descoberta de novos objetos e seres transcendentes Mesmo porém que a razão não seja nem de perto capaz em seu uso meramente especulativo de atingir um propósito tão grande qual seja o de chegar à existência de um ser supremo ela não deixa de ter nele uma grande utilidade na medida em que corrija o conhecimento do mesmo caso ele pudesse ser produzido em outra parte torneo concordante consigo mesmo e com todo propósito inteligível e purifi queo tanto de tudo aquilo que pudesse ser contrário ao conceito de um ser originário como de toda mescla com limitações empíricas A teologia transcendental continua tendo portanto a despeito de toda a sua insuficiência um importante uso negativo e é uma censura permanente à nossa razão quando esta tem de lidar apenas com ideias puras que justamente por isso não admitem outro padrão de medida senão o transcendental Pois se em um outro aspecto talvez o prático a pressuposição de um ser supremo e todosuficiente como inteligên cia suprema afirmasse sua validade sem sofrer resistência seria da maior importância determinar esse conceito com precisão pelo seu lado transcendental como o conceito de um ser necessário e realíssi mo e afastar o que for contrário à realidade suprema o que for perten cente ao mero fenômeno o antropomorfismo em sentido amplo tiran do ao mesmo tempo de cena todas as afirmações contrárias sejam elas ateisticas deísticas ou antropomórficas o que é extremamente fácil em um semelhante tratamento crítico já que os mesmos fundamentos pelos quais é tornada visível a incapacidade da razão humana para afir B 668 489 b 669 mar a existência de tal ser são também suficientes necessariamente para provar a incapacidade de cada afirmação contrária Pois de onde se pretenderia extrair por meio da pura especulação da razão o discer nimento de que não há um ser supremo como fundamento originário de tudo Ou de que não lhe é inerente nenhuma das propriedades que nos representamos segundo suas consequências como análogas às rea lidades dinâmicas de um ser pensante Ou de que no último caso tais propriedades também teriam de estar submetidas a todas as limitações que a sensibilidade impõe inevitavelmente às inteligências que conhe cemos por meio da experiência Assim o ser supremo permanece para o uso meramente especu lativo da razão um mero mas isento de erros ideal um conceito que inclui e coroa todo o conhecimento humano e cuja realidade em bora não possa ser provada nesse caminho também não pode ser re futada e se pudesse haver uma teologia moral que suprisse tal carên cia a teologia transcendental até aí problemática provaria então a sua indispensabilidade através da determinação de seu conceito e da censura incessante de uma razão que é frequentemente enganada pela sensibilidade e nem sempre está em acordo com suas próprias ideias A necessidade a infinitude a unidade a existência fora do mundo não como alma do mundo a eternidade sem condições do B 670 tempo a onipresença sem condições do espaço a onipotência etc são meros predicados transcendentais de modo que o conceito purifica do dos mesmos de que toda teologia tanto necessita só pode ser deri vado da teologia transcendental Apêndice à dialética transcendental Do uso regulativo das ideias da razão pura O resultado de todas as tentativas dialéticas da razão pura não apenas confirma o que já havíamos provado na analítica transcenden tal ou seja que todas as nossas inferências que pretendem ir além do campo da experiência possível são enganosas e infundadas mas tam bém nos ensina ao mesmo tempo a seguinte peculiaridade que a ra zão humana tem aí uma propensão natural a ultrapassar esse limite que as ideias transcendentais seriam tão naturais a ela como as cate gorias ao entendimento ainda que com a diferença de que assim como as últimas conduzem à verdade i e à concordância de nossos 4 9 0 conceitos com o objeto as primeiras produzem uma mera mas irre sistível ilusão a cujo engano é difícil resistir mesmo com a mais acura da crítica Tudo o que está fundado na natureza de nossas faculdades tem de ser conforme a fins e concordante com o uso correto das mesmas se pudermos ao menos evitar um certo malentendido e encontrar a sua direção apropriada Presumivelmente portanto as ideias trans cendentais terão o seu uso legítimo portanto imanente ainda que possam se o seu significado for confundido e elas forem tomadas por conceitos de coisas reais tornarse transcendentes na aplicação e jus tamente por isso ser enganosas Pois não é a ideia em si mesma mas apenas o seu uso que em relação a toda a experiência possível pode ser ou extravagante transcendente ou interno imanente confor me ela seja dirigida ou diretamente a um suposto objeto correspon dente ou somente ao uso do entendimento em geral com relação aos objetos com que tem de lidar e todos os erros da subrepção devem ser sempre atribuídos a uma falha da faculdade de julgar jamais ao entendimento ou à razão A razão nunca se refere diretamente a um objeto mas apenas ao entendimento e por meio deste a seu próprio uso empírico não crian do portanto nenhum conceito de objetos mas apenas os ordenando e lhes dando aquela unidade que poderiam ter caso expandidos ao máxi mo i e em relação à totalidade das séries que o entendimento nunca considera já que considera apenas aquela conexão pela qual as séries de condições se produzem por toda parte segundo conceitos A razão só tem propriamente por objeto portanto o entendimento e sua dispo sição conforme a fins e assim como este unifica o diverso no objeto através de conceitos aquela por seu turno unifica o diverso dos concei tos através de ideias colocando uma certa unidade coletiva como meta para as ações do entendimento que de outro modo se ocupariam ape nas com a unidade distributiva Eu afirmo por conseguinte que as ideias transcendentais nunca têm um uso constitutivo como se por meio delas fossem dados os conceitos de certos objetos e caso se as entenda assim tratase de meros conceitos sofísticos dialéticos Por outro lado no entanto elas têm um uso regulativo excelente e indispensavelmente necessá rio qual seja o de direcionar o entendimento a uma certa meta em B 671 B 672 491 vista da qual as linhas direcionais de todas as suas regras convergem para um ponto que embora seja apenas uma ideia focus imaginarius i e um ponto do qual os conceitos do entendimento não partem efeti vamente já que ele está inteiramente fora dos limites da experiência possível serve todavia para proporcionarlhes a maior unidade jun tamente com a maior extensão Agora disso surge realmente para nós a ilusão de que essas linhas direcionais partiriam do próprio ob jeto que estivesse além do campo do conhecimento empiricamente possível como os objetos no espelho são vistos como se estivessem atrás dele mas essa ilusão que se pode todavia impedir que nos en b 673 gane é também indispensavelmente necessária se além dos objetos que temos diante dos olhos queremos ver ao mesmo tempo aqueles que bem longe deles estão às nossas costas i e se em nosso caso queremos dirigir o entendimento para além de toda experiência dada parte de toda a experiência possível levandoo assim à maior e mais extrema ampliação possível Se examinamos em seu conjunto completo os conhecimentos de nosso entendimento verificamos que aquilo que a razão dispõe sobre eles de um modo inteiramente próprio e que procura produzir é a sistematicidade do conhecimento i e a sua concatenação a partir de um princípio Essa unidade da razão pressupõe sempre uma ideia qual seja a da forma de um todo do conhecimento que antecede o co nhecimento determinado das partes e contém as condições para de terminar a cada parte a priori o seu lugar e a sua relação com as de mais De acordo com isso essa ideia postula a unidade completa do conhecimento do entendimento graças à qual ele deixa de ser um mero agregado contingente e se torna um sistema concatenado se gundo leis necessárias Não se pode a rigor dizer que essa ideia seja um conceito de um objeto mas sim que é o conceito da unidade com pleta desses conceitos na medida em que serve de regra ao entendi mento Semelhantes conceitos da razão não são criados a partir da natureza nós é que a investigamos segundo tais ideias e se o nosso B 674 conhecimento não é adequado a elas o consideramos incompleto Admitese que é muito difícil encontrar terra pura água pura ar puro etc Ainda assim esses conceitos que no que diz respeito à pu reza completa têm sua origem apenas na razão são necessários para determinar adequadamente a parte que cabe a cada uma dessas cau sas naturais no fenômeno assim todas as matérias são reduzidas às 492 terras como se fossem o mero peso aos sais e aos corpos combustí veis entendidos como força e finalmente à água e ao ar como veícu los como se fossem máquinas por meio das quais os anteriores atu am para explicar segundo a ideia de um mecanismo os efeitos quími cos das matérias entre si Pois por mais que ninguém se exprima efe tivamente assim é muito fácil descobrir tal influência da razão nas classificações dos investigadores da natureza Se a razão é uma faculdade de derivar o particular do universal então ou o universal já é em si certo e dado exigindo apenas a faculdade de julgar para a subsunção e sendo o particular determinado assim ne cessariamente a isto eu denomino uso apodítico da razão ou o uni versal é tomado apenas problematicamente e é uma mera ideia o par ticular é certo mas a universalidade da regra para essa consequência ainda é um problema de modo que para muitos casos particulares que são todos eles certos buscase na regra se eles decorrem dela e nesse caso em que todos os casos particulares que podem ser dados parecem seguirse dela inferese a universalidade da regra mas também depois disso todos os casos que em si também não estão dados a isto eu de nomino uso hipotético da razão 0 uso hipotético da razão tendo por fundamento ideias como conceitos problemáticos não é propriamente constitutivo ou seja constituído de tal modo que caso se julgasse com todo esforço se se guiria a verdade da regra universal que fora tomada como hipótese pois como se poderia saber todas as possíveis consequências que se guindose do mesmo princípio adotado provariam a sua universalida de Na verdade tal uso da razão é somente regulativo para tão longe quanto seja possível trazer unidade aos conhecimentos particulares e assim aproximar a regra da universalidade Assim o uso hipotético da razão se dirige à unidade sistemática dos conhecimentos do entendimento mas é esta que constitui a pe dra de toque da verdade das regras Inversamente a unidade sistemá tica como mera ideia é apenas uma unidade projetada que em si mesma tem de ser considerada não como dada mas como problema e que vale para encontrar um princípio para o uso múltiplo e particular do entendimento e estendêlo também desse modo a todos os casos que não estão dados tornandoos concatenados B 675 493 B 676 A partir disso só se vê no entanto que a unidade sistemática ou racional dos diversos conhecimentos do entendimento é um princípio lógico para ali onde o entendimento não consegue chegar sozinho a regras ajudálo a prosseguir através de ideias e ao mesmo tempo pro porcionar concordância sistemática sob um princípio à variedade das suas regras e com isso até onde seja possível fazêlo também a inter conexão dessas regras Quanto a saber se a constituição dos objetos ou a natureza do entendimento que os conhece como tais sejam em si destinadas à unidade sistemática e se podemos em alguma medida sem levar em conta tal interesse da razão postulálos a priori e portan to dizer que todos os conhecimentos possíveis do entendimento entre os quais os empíricos têm unidade racional e estão sob princípios co muns dos quais podem ser deduzidos independentemente de sua va riedade isto seria um princípio transcendental da razão que tornaria a unidade sistemática não apenas subjetiva e logicamente necessária co mo método mas objetivamente necessária Elucidaremos isso através de um caso do uso da razão Também a causalidade de uma substância que é denominada força pertence aos diferentes modos da unidade do entendimento segundo conceitos Os diferentes fenômenos inclusive da mesma substância mostram tanta heterogeneidade à primeira vista que é preciso em um primeiro mo mento admitir quase tantas forças nos mesmos quantos são os efeitos B 677 que se apresentam tal como na mente humana a sensação a consciên cia a imaginação a memória a sabedoria a capacidade de discerni mento o prazer o desejo e assim por diante A princípio uma máxima lógica nos obriga a reduzir essa aparente variedade tanto quanto for possível de modo que através da comparação se descubra a identidade oculta e se verifique se a imaginação ligada à consciência não seriam por acaso a memória a sabedoria a capacidade de discernimento ou mesmo o entendimento e a razão A ideia de uma força fundamental que a lógica todavia não nos diz se existe é ao menos o problema de uma representação sistemática da diversidade de forças O princípio lógico da razão exige que essa unidade seja levada a efeito na medida do possível e quanto mais fenômenos de uma ou de outra força fo rem considerados idênticos entre si mais provável será que eles se jam diferentes expressões de uma única e mesma força a qual poderia comparativamente denominarse a sua força fundamental E do mesmo modo se procede com as demais 494 As forças fundamentais comparativas têm de ser por seu turno comparadas entre si para que na medida em que se descubra a sua concordância sejam aproximadas de uma única força fundamental ra dical i e absoluta Essa unidade da razão contudo é meramente hi potética Não se afirma que ela possa ser de fato encontrada mas que tem de ser buscada em benefício da razão como seja para o estabele cimento de certos princípios para as regras que a experiência possa oferecer e que se produza desse modo onde seja possível fazêlo uma unidade sistemática no conhecimento Evidenciase porém caso se tenha em conta o uso transcenden tal do entendimento que essa ideia de uma força fundamental não se destina apenas enquanto problema ao uso hipotético mas pretende ter realidade objetiva para que a unidade sistemática das diversas for ças de uma substância seja postulada e um princípio apodítico da ra zão seja estabelecido Pois sem que tenhamos jamais procurado a concordância das diversas forças e mesmo que tenhamos fracassado em todas as tentativas de descobrila nós ainda assim pressupomos que ela pode ser encontrada e isto não apenas em virtude da unidade da substância como no caso aduzido mas mesmo onde muitas subs tâncias ainda que em certo grau homogêneas podem ser encontra das como na matéria em geral e onde a razão pressupõe unidade sis temática das diversas forças já que as leis naturais particulares estão sob leis mais gerais e a economia dos princípios não é apenas um prin cípio econômico da razão mas uma lei interna da natureza Também não se pode entender de fato como um princípio lógico da unidade racional das regras poderia existir caso não se pressupu sesse um princípio transcendental através do qual tal unidade siste mática é como inerente aos objetos admitida a priori como necessá ria Pois com que direito poderia a razão pretender no uso lógico tra tar como uma mera unidade oculta a diversidade das forças que a na tureza nos dá a conhecer e deduzila de alguma força fundamental na medida de suas possibilidades se ela é livre para admitir como igual mente possível que todas as forças são heterogêneas e que a unidade sistemática de sua derivação não é conforme à natureza Pois nesse caso ela agiria frontalmente contra a sua própria destinação colocan dose como meta uma ideia que contradiz inteiramente a constituição da natureza Também não se pode dizer que ela tenha extraído anteri B 678 B 679 4 9 5 ormente da constituição contingente da natureza essa unidade se gundo princípios da razão Pois a lei da razão que ordena buscar essa unidade é necessária porque sem ela não teríamos uma razão sem esta não teríamos um uso concatenado do entendimento e sem este não teríamos nenhuma marca característica da verdade empírica e em vista da última portanto temos de pressupor a unidade sistemática da natureza como integralmente necessária e objetivamente válida Nós também encontramos essa pressuposição transcendental sur preendentemente nos princípios dos filósofos muito embora eles nem sempre a tenham sempre reconhecido ou a admitido para si mesmos Que toda a diversidade das coisas singulares não exclua a identidade B 680 da espécie que as várias espécies só possam ser tratadas como deter minações diferentes de uns poucos gêneros e estes por seu turno como determinações de famílias ainda mais elevadas etc e que por tanto tenha de ser buscada uma certa unidade sistemática de todos os conceitos empíricos possíveis na medida em que possam ser deri vados de outros mais elevados e mais gerais esta é uma regra escolás tica ou um princípio lógico sem o qual não haveria qualquer uso da razão pois nós só podemos inferir o particular do universal na medi da em que se ponham por fundamento propriedades universais das coisas sob as quais estão as particulares Que também na natureza contudo possase encontrar essa con cordância isto é algo que os filósofos pressupõem na conhecida regra escolástica de não multiplicar os começos princípios sem necessida de entia praeter necessitatem non esse multiplicanda Dizse com isso que a natureza das próprias coisas oferece material para a unida de da razão e que a aparente diversidade infinita não nos deveria im pedir de suspeitar por detrás dela uma unidade das propriedades fundamentais de que a diversidade só poderia ser derivada por meio de muitas outras determinações Mesmo sendo uma mera ideia essa unidade foi perseguida tão avidamente ao longo de todas as épocas que se encontraram mais razões para moderar o desejo por ela do que para estimulálo Os químicos já fizeram muito quando consegui ram reduzir todos os sais a dois gêneros principais o ácido e o alcali no mas ainda tentaram considerar também essa distinção como uma b 681 mera variação ou diferentes expressões de um mesmo e único mate rial fundamental Sempre se buscou reduzir as diversas espécies de 496 J terras o material das pedras e mesmo dos metais a três e finalmen te a duas não satisfeitos com isso no entanto não puderam evitar a ideia de supor um único gênero por detrás dessas variedades e mes mo um princípio comum a estas e aos sais Gostaríamos de acreditar talvez que isso seria um mero artifício econômico da razão para eco nomizar o máximo possível de esforço e uma tentativa hipotética que se bemsucedida tornaria provável justamente através dessa uni dade o fundamento pressuposto da explicação Mas esse propósito egoísta pode ser facilmente distinguido da ideia pela qual qualquer um pressupõe que essa unidade da razão seja adequada à própria na tureza e que a razão aqui não mendiga mas ordena ainda que sem poder determinar os limites dessa unidade Se houvesse uma diversidade tão grande entre os fenômenos que se apresentam a nós e não me refiro à forma pois quanto a isso eles podem ser semelhantes uns aos outros mas ao conteúdo i e à diver sidade dos seres existentes em relação à qual nem o mais acurado en tendimento humano poderia encontrar a mínima semelhança de uns com os outros por comparação um caso que só pode ser pensado então não existiria de modo algum a lei lógica dos gêneros nem mes mo um conceito de gênero ou algum conceito universal e nem mesmo o entendimento já que este lida apenas com eles O princípio lógico dos gêneros pressupõe um princípio transcendental portanto caso deva aplicarse à natureza sob a qual entendo apenas aqui objetos que nos são dados Segundo este princípio a homogeneidade é neces sariamente pressuposta no diverso de uma experiência possível mes mo que não possamos determinar a priori o seu grau pois sem ela não haveria conceitos empíricos nem portanto a experiência Ao princípio lógico dos gêneros que postula a identidade opõese um outro a saber o princípio das espécies que exige diversidade e di ferenças das coisas independentemente de sua concordância sob um mesmo gênero e prescreve ao entendimento que não preste menos atenção às espécies do que aos gêneros Este princípio da sutileza ou faculdade de discernir limita bastante a leviandade do primeiro da sabedoria e a razão mostra aqui dois interesses conflitantes entre si de um lado o interesse da extensão da universalidade em relação aos gêneros de outro o do conteúdo da determinação em vista da diversidade das espécies pois embora no primeiro caso o entendi B 682 497 mento pense muito sob seus conceitos no segundo pensa ainda mais b 683 nos mesmos Isto também se expressa no tão diferente modo de pen sar dos investigadores da natureza dos quais alguns os predominan temente especulativos como que inimigos da heterogeneidade mi ram sempre a unidade do gênero enquanto outros mentes predomi nantemente empíricas buscam incessantemente dividir a natureza em tanta diversidade que se chega quase a abandonar a esperança de julgar seus fenômenos segundo princípios universais Evidentemente este último modo de pensar também tem por fundamento um princípio lógico cujo propósito é a completude siste mática de todos os conhecimentos quando partindo do gênero desço até o diverso que possa estar contido sob ele e desse modo procuro dar extensão ao sistema da mesma forma como no primeiro caso pro curava darlhe simplicidade ascendendo até o gênero Pois a partir da esfera do conceito que designa um gênero não se pode ver tão pouco como a partir do espaço que a matéria ocupa o quão longe essas divi sões podem alcançar Por isso todo gênero exige diferentes espécies e estas diferentes subespécies e como nenhuma destas deixa de ter também uma esfera uma extensão como conceptus communis a ra zão exige então em toda a sua ampliação que nenhuma espécie seja considerada em si mesma como a mais ínfima já que sendo a espécie um conceito que apenas contém o que é comum a diferentes coisas b 684 ela não determina nada completamente e portanto também não po deria ser referida imediatamente a um indivíduo ela teria de conter sempre sob si portanto outros conceitos i e subespécies Esta lei da especificação poderia ser assim exprimida entium varietates non temere esse minuendas89 Vêse com facilidade no entanto que também essa lei lógica fica ria sem sentido e sem aplicação se não tivesse por fundamento uma lei transcendental da especificação a qual certamente não exige das coisas que podem tornarse nossos objetos uma infinitude real con cernente às diferenças pois o princípio lógico que simplesmente afir ma a indeterminação da esfera lógica no que diz respeito a toda divi são possível não dá ocasião para isso mas apenas impõe ao entendi mento que busque subespécies para cada espécie que nos aparece e 89 A variedade de entes não deve ser diminuída precipitadamente NA 498 diferenças menores para cada diferença Pois se não houvesse concei tos inferiores não haveria também superiores Agora o entendimen to conhece tudo através de conceitos logo por mais longe que ele chegue na divisão não será nunca por mera intuição mas sempre no vamente através de conceitos inferiores O conhecimento dos fenôme nos em sua determinação completa que só é possível por meio do en tendimento exige uma especificação incessantemente continuada de seus conceitos e uma progressão a diversidades que sempre perma necem mas das quais se abstraiu no conceito de espécie e mais ainda no de gênero Também essa lei da especificação não pode ser emprestada à ex periência pois esta não pode abrir perspectivas tão amplas A especi ficação empírica cessa logo na diferenciação do diverso caso já não tenha sido conduzida pela lei transcendental prévia enquanto princí pio da razão a procurála e a continuar supondoa caso não se abra imediatamente aos sentidos Para descobrirse que as terras absor ventes são de espécies ainda mais diversas terra calcária terra muriá tica foi necessária uma regra precedente da razão que estabeleceu para o entendimento a tarefa de procurar diferenças pressupondo que a natureza seria abundante a ponto de presumilas Pois nós só te mos entendimento sob a pressuposição das diversidades na natureza assim como sob a condição de que os seus objetos tenham em si ho mogeneidade pois é justamente a diversidade daquilo que pode ser abarcado sob um conceito que constitui o uso desse conceito e o tra balho do entendimento Assim a razão prepara o terreno para o entendimento 1 através de um princípio da homogeneidade do diverso sob gêneros superio res 2 através de um princípio da variedade do homogêneo sob espé cies inferiores E para completar a unidade sistemática ela acrescen ta ainda 3 uma lei da afinidade de todos os conceitos que ordena uma passagem contínua de cada espécie para a outra através de um crescimento gradativo das diferenças Nós podemos denominálos prin cípios da homogeneidade da especificação e da continuidade das formas O último surge da ligação dos dois primeiros depois que se completou tanto na ascensão a gêneros mais elevados como no des censo a espécies inferiores a concatenação sistemática na ideia pois todas as diversidades são então aproximadas umas das outras já que B 685 B 686 499 procedem todas através de todos os graus da determinação amplia da de um único gênero supremo A unidade sistemática sob os três princípios lógicos pode ser ilus trada do seguinte modo Podese considerar cada conceito como um ponto que como ponto de vista de um espectador possui seu hori zonte i e uma variedade de coisas que podem ser representadas a partir dele e por assim dizer abarcadas pelo olhar Dentro desse hori zonte uma variedade de pontos pode ser dada ao infinito tendo cada um deles o seu próprio e mais estreito campo de visão i e toda espé cie contém subespécies segundo o princípio de especificação e o ho rizonte lógico consiste apenas de horizontes menores subespécies e não de pontos que não tenham extensão indivíduos Como derivado dos diferentes horizontes contudo i e dos diferentes gêneros que são determinados por outros tantos conceitos podese pensar um horizon te comum a partir do qual como de um ponto central eles sejam todos b 687 abarcados pela visão esse horizonte é o gênero mais elevado até que enfim o gênero supremo seja o horizonte universal e verdadeiro deter minado a partir do ponto de vista do conceito supremo e compreen dendo sob si toda a diversidade de gêneros espécies e subespécies Sou levado a esse ponto de vista supremo pela lei da homogenei dade e aos inferiores e à sua maior variedade possível pela lei da es pecificação Como desse modo no entanto não há nada de vazio no inteiro âmbito de todos os conceitos possíveis e fora dele não se pode encontrar nada surge então daquele campo de visão universal e de sua divisão completa o princípio non datur vacuum formarum i e não há diferentes gêneros originários e primeiros que fossem como que isolados e separados uns dos outros por um espaço vazio intermediário mas os diversos gêneros são isto sim meras divisões de um gênero único supremo e universal e desse princípio se segue a sua consequência imediata datur continuum formarum1 i e todas as diferenças das espécies se limitam entre si e não permitem que se passe de uma à outra por um salto mas apenas passando por todos os graus menores da diferença de modo que se consiga avançar de um em um em uma palavra não há espécies ou subespécies que fossem 90 91 90 Não há vácuo de formas NA 91 Há um contínuo de formas NA 5 0 0 no conceito da razão uma subsequente à outra sendo sempre possí veis espécies intermediárias cuja diferença em relação à primeira e à segunda é menor do que a diferença entre estas A primeira lei portanto impede a dispersão na diversidade de dife rentes gêneros originários e recomenda a homogeneidade a segunda pelo contrário limita essa inclinação à concordância e ordena a distin ção das subespécies antes que se passe aos indivíduos com os conceitos universais A terceira unifica ambas prescrevendo face à suprema di versidade a homogeneidade através da passagem gradativa de uma es pécie à outra o que indica uma espécie de afinidade entre os diferentes ramos na medida em que brotaram todos de um mesmo tronco Contudo essa lei lógica do continui specierum formarum logi carumf2 pressupõe uma lei transcendental lex continui in naturaf3 sem a qual o uso do entendimento a partir daquela prescrição seria equivocadamente conduzido vindo a tomar talvez um caminho dia metralmente oposto ao da natureza Essa lei tem de basearse portan to em fundamentos transcendentais puros e não em empíricos Pois neste último caso ela seria posterior aos sistemas sendo que foi ela quem primeiro produziu o sistemático no conhecimento da natureza Também não há por detrás dessas leis algo como um propósito ocul to de fazer experimentos com elas como meras tentativas muito em bora essa interconexão forneça quando se verifica um poderoso fun damento para tomar por fundada a unidade hipoteticamente concebi da e elas pudessem ter assim também com este propósito a sua utili dade Vêse com clareza pelo contrário que elas consideram confor mes à razão e à natureza em si mesmas a economia das causas fun damentais a diversidade dos efeitos e a afinidade aí baseada dos membros da natureza de modo que esses princípios se recomendam por si mesmos e não como meros artifícios do método Vêse com facilidade porém que essa continuidade das formas é uma mera ideia para a qual não pode ser mostrado de maneira algu ma um objeto congruente na experiência não apenas porque as es pécies na natureza são efetivamente divididas e por isso têm de 92 93 92 Contínuo das espécies da forma lógica NA 93 Lei do contínuo na natureza NA B 688 B 689 501 constituir um quantum discretum sendo que se a progressão grada tiva na sua afinidade fosse contínua a natureza teria de conter tam bém uma verdadeira infinitude dos membros intermediários localiza dos entre duas espécies dadas o que é impossível mas também por que não podemos fazer nenhum uso empírico determinado dessa lei já que ela não indica a mínima característica da afinidade a partir da qual soubéssemos como ou o quão longe devemos procurar a se quência gradativa de suas diferenças mas apenas nos dá uma indica ção geral de que devemos procurála b 690 Se modificamos a ordem dos princípios ora apresentados para dispôlos em conformidade com d uso na experiência os princípios da unidade sistemática ficariam então assim diversidade afinidade e unidade cada um dos quais tomado todavia como uma ideia no mais elevado grau de sua perfeição A razão pressupõe os conheci mentos do entendimento que são aplicados primeiramente à expe riência e busca a sua unidade segundo ideias a qual vai muito além do que a experiência pode alcançar Apesar das suas diferenças a afi nidade do diverso sob um princípio da unidade diz respeito não ape nas às coisas mas muito mais às meras propriedades e forças das coi sas Assim se o curso dos planetas por exemplo nos é dado como cir cular através de uma experiência que ainda não foi plenamente corri gida e encontramos desvios presumimos então que estes estão na quilo que segundo uma lei constante pode transformar o círculo através de todos os infinitos graus intermediários em uma dessas ór bitas divergentes i e os movimentos dos planetas que não são circu lares se aproximarão mais ou menos das propriedades do círculo e acabarão por ser elipses Os cometas mostram uma diversidade ainda maior em suas trajetórias já que nunca até onde alcança a observa ção retornam em círculos mas conjecturamos um curso parabólico muito próximo da elipse e se o eixo maior desta última se prolonga B 691 demais aquele não pode ser dela diferenciado em nenhuma de nossas observações Guiados por aqueles princípios chegamos assim à uni dade dos gêneros dessas órbitas em suas figuras mas além desta também à unidade das causas de todas as leis de seu movimento a gravitação depois nós partimos daí para ampliar nossos ganhos e buscamos explicar também todas as variedades e aparentes desvios daquelas regras a partir do mesmo princípio até acrescentar enfim mais do que a experiência poderia jamais confirmar a saber pensa 5 0 2 mos segundo as regras da afinidade a própria trajetória hiperbólica dos cometas em que estes corpos abandonam por completo o nosso sistema solar e indo de sol em sol unificam em seu curso as partes mais distantes de um sistema do universo para nós ilimitado que é concatenado por uma mesma e única força motriz O que é admirável nesses princípios e a única coisa que nos inte ressa é que eles parecem ser transcendentais e mesmo que conte nham apenas ideias para regular o uso empírico da razão ideias que o último só pode por assim dizer seguir assintoticamente i e por mera aproximação e sem alcançálas jamais eles ainda assim possuem como proposições sintéticas a priori uma validade objetiva ainda que indeterminada e servem de regra à experiência possível podendo in clusive ser empregados como princípios heurísticos com sucesso na efetiva elaboração da mesma sem que se possa contudo levar a efeito uma dedução transcendental dos mesmos o que é sempre impossível como visto acima no que diz respeito às ideias Na analítica transcendental nós distinguimos dentre os princípios do entendimento os dinâmicos como princípios meramente regulati vos da intuição dos matemáticos que são constitutivos em relação à última Apesar disso as leis dinâmicas mencionadas são certamente constitutivas em relação à experiência já que tornam possíveis a prio ri os conceitos sem os quais não haveria qualquer experiência Princípi os da razão pura pelo contrário não podem ser constitutivos nem mesmo em relação aos conceitos empíricos pois não lhes pode ser dado um esquema correspondente na sensibilidade e portanto eles não podem ter um objeto in concreto Se no entanto distanciome de tal uso empírico dos mesmos como posso querer assegurarlhes ain da assim um uso regulativo e com este alguma validade objetiva E que significado pode ter esse uso O entendimento constitui um objeto para a razão do mesmo mo do como a sensibilidade para o entendimento Tornar sistemática a unidade de todas as possíveis ações empíricas do entendimento é um trabalho da razão do mesmo modo como o entendimento conecta o diverso dos fenômenos através de conceitos e o coloca sob leis empíri cas Sem os esquemas da sensibilidade contudo as ações do entendi mento são indeterminadas do mesmo modo a unidade da razão também é em si mesma indeterminada no que diz respeito às condi B 692 B 693 5 0 3 ções sob as quais o entendimento deve ligar sistematicamente os seus conceitos e ao ponto até o qual deve fazêlo Como no entanto não pode ser encontrado nenhum esquema na intuição para a unidade sistemática completa de todos os conceitos do entendimento então pode e deve ser dado um análogo de tal esquema e ele é a ideia do máximo da divisão e da unificação do conhecimento do entendimento em um princípio Pois aquilo que é maior que tudo e absolutamente completo pode ser pensado de maneira determinada já que todas as condições restritivas que fornecem a diversidade indeterminada são deixadas de lado A ideia da razão portanto é um análogo de um es quema da sensibilidade mas com a diferença de que a aplicação dos conceitos do entendimento ao esquema da razão não é um conheci mento do próprio objeto como na aplicação das categorias aos seus es quemas sensíveis mas apenas uma regra ou princípio da unidade siste mática de todo uso do entendimento Agora como todo princípio que es tabelece a priori a unidade completa do uso do entendimento vale tam bém ainda que indiretamente para o objeto da experiência então os princípios da razão pura também terão realidade objetiva em relação a este último mas não para determinar algo nele e sim para meramente B 694 indicar o procedimento pelo qual o uso empírico e determinado do en tendimento na experiência pode tornarse completamente coerente con sigo mesmo sendo trazido tanto quanto for possível a uma interco nexão com o princípio da unidade completa e sendo daí derivado Denomino máximas da razão todos os princípios subjetivos que são extraídos não da constituição do objeto mas do interesse da razão em vista de uma certa perfeição possível do conhecimento desse obje to Assim há máximas da razão especulativa que se baseiam apenas no seu interesse especulativo ainda que pareçam ser princípios objetivos Se princípios meramente regulativos são considerados como consti tutivos eles podem ser conflitantes como princípios objetivos se no entanto são considerados somente como máximas então não é um conflito verdadeiro mas apenas diferentes interesses da razão que ocasionam a diferença nos modos de pensar Na verdade a razão tem apenas um único interesse e o conflito de suas máximas é somente uma diferença e uma limitação recíproca dos métodos para satisfazer esse interesse Desse modo em um pensador prevalece o interesse pela multi plicidade segundo o princípio da especificação em outro prevalece 5 0 4 o interesse pela u n id a d e segundo o princípio da agregação Cada um deles acredita extrair seu juízo do discernimento do objeto mas o baseia simplesmente na maior ou menor dependência de um desses dois princípios que por seu turno não se baseiam em fundamentos objetivos mas apenas no interesse da razão sendo preferível pois de nominálos máximas em vez de princípios Se vejo homens inteligentes em conflito quanto à característica dos seres humanos dos animais ou das plantas ou mesmo dos corpos do reino mineral porque uns su põem por exemplo um caráter particular do povo fundado na heredita riedade ou também diferenças decisivas e hereditárias das famílias raças etc enquanto os outros pelo contrário concentram sua atenção no fato de que a natureza nesse ponto teria produzido uma disposição inteira mente única baseandose as diferenças em meras contingências exter nas então só preciso prestar atenção à constituição do objeto para en tender que ele está oculto demais para ambos para que pudessem falar com base em um discernimento da natureza do objeto É devido ape nas ao duplo interesse da razão que uma parte assume ou finge assu mir um dos lados e a outra o outro lado e que portanto a diferença entre as máximas do diverso da natureza e da unidade da natureza que poderiam perfeitamente unirse ocasionam todavia na medida em que são tomadas por discernimentos objetivos não apenas o conflito mas também obstáculos que detêm longamente a verdade até que seja en contrado um meio de conciliar os interesses conflitantes e deixar a ra zão satisfeita quanto a isso Acontece exatamente o mesmo com a afirmação ou refutação da tão famosa lei da escala contínua das criaturas introduzida por Leib niz e brilhantemente defendida por Bonnet e que não é senão um modo de observar o princípio da afinidade baseado no interesse da ra zão pois a observação e a compreensão do arranjo da natureza não po deriam de modo algum fornecêla como afirmação objetiva Os graus dessa escala tal como podem ser dados pela natureza são distantes de mais um do outro e as nossas distinções supostamente pequenas são normalmente abismos tão grandes na natureza que nada pode ser con siderado com base nessas observações sobretudo em uma grande di versidade de coisas quando é fácil encontrar certas semelhanças e aproximações como um propósito da natureza Por outro lado o mé todo para buscar uma ordem na natureza segundo tal princípio e a má B 695 B 696 505 xima de considerála como fundada em uma natureza em geral embora indefinido onde e até que ponto constituem certamente um princípio regulativo da razão legítimo e excelente que entretanto vai muito além enquanto tal do ponto até onde poderiam seguirlhe a experiên cia ou a observação mas não para determinar algo e sim para simples mente indicar o caminho para a unidade sistemática b 697 Do propósito último da dialética natural da razão humana As ideias da razão pura não podem jamais ser em si mesmas dialé ticas mas seu simples mau uso faz com que tenhamos delas uma ilu são enganosa pois elas nos são fornecidas pela natureza de nossa ra zão e é impossível para este tribunal supremo de todos os direitos e pretensões de nossa especulação não pode conter ele mesmo fantasi as e ilusões originárias Presumivelmente portanto elas terão sua boa destinação conforme a fins na disposição natural de nossa razão Como de hábito no entanto a multidão de sofistas denuncia aos gri tos os absurdos e contradições e insulta o governo em cujos planos mais secretos não ousam penetrar mas a cujas influências benéficas deveriam agradecer tanto por sua conservação como pela cultura que lhes deixa em condições de repreendêlo e condenálo Não se pode empregar com segurança um conceito a priori sem ter realizado a sua dedução transcendental As ideias da razão pura não admitem uma dedução como aquela das categorias se devem contudo possuir ao menos alguma validade objetiva ainda que ape nas indeterminada em vez de representar meros produtos vazios do b 698 pensamento entia rationis ratiocinantis então é fundamental que alguma dedução das mesmas seja possível mesmo sendo muito dis tinta daquela que se pode adotar com as categorias Isto completa o trabalho crítico da razão pura e é o que agora faremos Há uma grande diferença entre algo ser dado à minha razão co mo um objeto em sentido absoluto e algo ser dado apenas como um objeto na ideia No primeiro caso meus conceitos voltamse a deter minar o objeto no segundo tratase tão somente de um esquema ao qual nenhum objeto é dado diretamente nem mesmo por hipótese mas que serve apenas para nos representarmos por meio da referên cia a essa ideia portanto indiretamente outros objetos em sua unida 506 de sistemática Eu digo assim que o conceito de uma inteligência su prema é uma mera ideia i e sua realidade objetiva não deve consis tir em que ele se refira diretamente a um objeto pois sob esse signifi cado não poderiamos justificar sua validade objetiva mas ele é tão somente o conceito de uma coisa em geral ordenado segundo as con dições da maior unidade possível da razão e serve apenas para con servar a maior unidade sistemática possível no uso empírico de nossa razão na medida em que o objeto da experiência seja deduzido por assim dizer do objeto imaginário dessa ideia como seu fundamento ou causa Podese dizer então por exemplo que as coisas do mundo têm de ser consideradas como se recebessem sua existência de uma inteligência suprema Desse modo a ideia é apenas de fato um con ceito heurístico e não ostensivo e indica não como o objeto é consti tuído mas como nós devemos sob a sua orientação buscar a consti tuição e a conexão dos objetos da experiência em geral Caso se quei ra mostrar pois que embora as três ideias transcendentais psicológi ca cosmológica e teológica não se refiram diretamente a um objeto correspondente ou à sua determinação todas as ideias do uso empíri co da razão sob a pressuposição de tal objeto na ideia conduzem à unidade sistemática e ampliam sempre o conhecimento da experiência não podendo nunca ser contrárias a ele então é uma máxima necessá ria da razão que se proceda de acordo com tais ideias E esta é a dedu ção transcendental de todas as ideias da razão especulativa não como princípios constitutivos da extensão de nosso conhecimento a mais ob jetos como aqueles que são dados na experiência mas como princípios regulativos da unidade sistemática do diverso do conhecimento empí rico em geral o qual é assim dentro de seus próprios limites melhor consolidado e corrigido do que poderia ocorrer sem tais ideias atra vés do mero uso dos princípios do entendimento Deixarei isso mais claro Seguindo as referidas ideias como princí pios nós primeiramente na psicologia conectaremos ao fio condu tor da experiência interna todos os fenômenos ações e receptividade de nossa mente como se esta fosse uma substância simples que existe permanentemente com identidade pessoal ao menos em vida en quanto seus estados a que os estados do corpo pertencem apenas como condições externas mudam continuamente Em segundo lugar na cosmologia nós temos de perquerir as condições dos fenômenos B 699 B 700 507 da natureza tanto internos como externos em uma investigação que não pode terminar jamais com o se a natureza fosse em si infinita e não tivesse um membro primeiro ou supremo muito embora não ne guemos por isso para além de todos os fenômenos os seus fundamen tos primeiros e meramente inteligíveis que não podemos todavia visto não os conhecermos inserir no contexto das explicações naturais Em terceiro e últim o lu gar em relação à teologia temos de considerar tudo o que possa pertencer ao conjunto interconectado da experiência possível com o se esta constituísse uma unidade absoluta mas inteira mente dependente e sempre condicionada no interior do mundo sensí vel e ao mesmo tempo contudo com o se o conjunto completo de to dos os fenômenos o próprio mundo sensível tivesse para além de sua extensão um fundamento único supremo e todosuficiente qual seja b 701 uma espécie de razão autossubsistente originária e criadora pela qual orientamos todo o uso empírico de nossa razão em sua maior exten são possível com o se os próprios objetos surgissem desse modelo ori ginário de toda razão Isto significa não derivar os fenômenos internos da alma de uma substância pensante simples mas deriválos uns dos outros segundo a ideia de um ser simples não derivar a ordem e a uni dade sistemática do mundo de uma inteligência suprema mas extrair de uma causa maximamente sábia a regra pela qual a razão pode ser empregada da melhor maneira possível para sua própria satisfação na conexão das causas e efeitos do mundo Agora não há nada que nos impeça de também su p o r essas ideias como objetivas e hipostáticas a não ser pela cosmológica em que a ra zão esbarra em uma antinomia quando tenta realizála a psicológica e a teológica não contêm nada semelhante Pois não há nelas nenhu ma contradição pois como poderia alguém questionarnos sobre a sua realidade objetiva se a respeito da possibilidade das mesmas ele sabe tão pouco para negálas quanto nós para afirmálas Ainda as sim para supor algo não é ainda suficiente que não haja pela frente nenhum obstáculo positivo e não pode sernos permitido introduzir como objetos reais e determinados produtos do pensamento que ul trapassam todos os nossos conceitos ainda que sem contradizer ne nhum apenas porque fazem parte dos trabalhos que a razão especu b 702 lativa gostaria de concluir Assim elas não devem ser tomadas em si mesmas mas a sua realidade deve valer apenas como um esquema do princípio regulativo da unidade sistemática de todo o conhecimento 508 da natureza elas devem por conseguinte ser postas como fundamen to apenas enquanto a n áloga de coisas reais e não em si mesmas en quanto tais Nós suprimimos do objeto da ideia as condições que li mitam o nosso conceito do entendimento mas que são também as únicas a permitir que possamos ter um conceito determinado de algu ma coisa E então concebemos algo de que não temos qualquer conce ito quanto ao que ele seja em si mesmo mas o concebemos em uma relação com o conjunto completo dos fenômenos que é análoga àque la que os fenômenos têm entre si Se de acordo com isso supomos tais seres ideais então de fato não ampliamos nosso conhecimento sobre os objetos da experiência possível mas apenas a unidade empírica dos últimos através da unida de sistemática cujo esquema nos é dado pela ideia a qual portanto não vale como princípio constitutivo mas apenas como princípio regu lativo Pois quando pomos uma coisa correspondente à ideia um algo ou um ser real com isso não é dito que pretendemos ampliar o conheci mento das coisas com conceitos transcendentes já que esse ser só é to mado como fundamento na ideia não em si mesmo e portanto so mente para exprimir a unidade sistemática que deve servirnos como fio condutor do uso empírico da razão sem estabelecer algo sobre qual seria o fundamento dessa unidade ou a propriedade interna de tal ser no qual ela se baseia como se fosse sua causa Assim o conceito transcendental o único determinado que a ra zão meramente especulativa nos dá de Deus é deísta no sentido mais próprio do termo i e a razão não fornece jamais a validade objetiva de tal conceito mas apenas a ideia de algo em que toda realidade empírica funda sua suprema e necessária unidade e que não podemos pensar de outro modo a não ser segundo a analogia com uma substância real que seja a causa de todas as coisas segundo leis da razão quando nos propo mos a pensálo como um objeto particular em vez de nos contentarmos com a mera ideia do princípio regulativo da razão e deixarmos de lado como superficial para todo entendimento humano a completude de to das as condições do pensamento o que de todo modo não poderia coexistir com o propósito de uma unidade sistemática perfeita em nos so conhecimento à qual pelo menos a razão não impõe limites Por isso acontece pois que quando suponho um ser divino eu não possa ter o mínimo conceito nem da possibilidade interna de sua B 703 509 b 704 perfeição suprema nem da necessidade de sua existência mas possa responder todas as demais questões que dizem respeito ao contin gente e proporcionar à razão a mais completa satisfação relativamen te à maior unidade investigável de seu uso empírico ainda que não com relação a essa pressuposição mesma O que prova que é o seu in teresse especulativo e não o seu discernimento que a autoriza a par tir de um ponto situado tão além de sua esfera para a partir dele con siderar os seus objetos em um todo completo Aqui se mostra pois uma diferença no modo de pensar em uma mesma e única pressuposição que é bastante sutil mas apesar disso extremamente importante na filosofia transcendental Eu posso ter suficiente fundamento para supor algo de maneira relativa su p p o si tio relativa sem estar autorizado todavia a supôlo de maneira abso luta su p p o sitio absoluta Esta distinção é aplicável quando se trata apenas de um princípio regulativo cuja necessidade conhecemos em si mesma sem contudo conhecer a sua fonte e para a qual supomos um fundamento supremo com o intuito único de pensar a universali dade do princípio de maneira ainda mais determinada como por exemplo quando penso como existente um ser que corresponde a uma mera ideia transcendental Pois não posso jamais nesse caso su fi 705 por a existência dessa coisa em si mesma pois nenhum conceito pelo qual eu possa pensar algum objeto de maneira determinada é sufici ente para isso e as condições da validade objetiva de meus conceitos são excluídas pela própria ideia Os conceitos de realidade substân cia causalidade e mesmo de necessidade na existência não têm ne nhum significado capaz de determinar algum objeto para além do uso que é tornado possível pelo conhecimento empírico de um objeto Embora eles possam portanto ser empregados para explicar a possi bilidade das coisas no mundo sensível não o podem para explicar o p ró p rio todo do m undo já que o fundamento dessa explicação teria de estar fora do mundo e não poderia portanto ser o objeto de uma experiência possível Ainda que não possa contudo supôlo em si mesmo eu posso ainda assim supor tal ser inconcebível o objeto de uma mera ideia relativamente ao mundo sensível Pois se uma ideia da unidade sistemática completa de que falaremos em breve de ma neira mais precisa serve de fundamento ao maior uso empírico possí vel de minha razão e se embora incontornavelmente necessária para levar a unidade empírica ao mais elevado grau possível ela não pode 510 jamais ser apresentada adequadamente na experiência então eu sou não apenas autorizado mas também coagido a realizar essa ideia i e a pôr um objeto real para ela mesmo que se trate de um algo em geral que absolutamente não conheço em si mesmo e ao qual enquanto fundamento daquela unidade sistemática só atribuo propriedades em relação a esta unidade que sejam análogas aos conceitos do en tendimento no uso empírico Eu pensarei um ser portanto que se gundo a analogia com as realidades no mundo as substâncias a cau salidade e a necessidade possuirá todas estas propriedades na mais alta perfeição e uma vez que essa ideia se baseia apenas na minha ra zão poderei pensálo também como uma ra zão au to ssu b sisten te que através das ideias da maior harmonia e unidade seja causa do todo do mundo com isso poderei deixar de lado todas as condições limita doras das ideias para considerando todas as ligações no mundo co m o se fossem disposições de uma razão suprema de que a nossa é uma frágil cópia simplesmente tornar possível sob a proteção desse fundamento originário a unidade sistemática do diverso no todo do mundo e por meio desta o maior uso empírico possível da razão Eu penso esse ser supremo então através de meros conceitos que de fato só podem ter aplicação no mundo sensível como no entanto só posso também dar um uso empírico àquela pressuposição transcen dental a saber que ela forneça o substrato da maior unidade possível da experiência então só posso pensar um ser que se diferencie do mundo por meio de propriedades que pertencem apenas ao mundo sensível Pois não anseio conhecer de modo algum esse objeto de mi nhas ideias nem estou autorizado a conhecêlo no que diz respeito ao que possa ser em si mesmo pois não tenho para isso qualquer con ceito e mesmo os conceitos de realidade substância causalidade e mesmo o de necessidade na existência perdem todo o significado e se ouso ir com eles para além do campo dos sentidos tornamse títu los vazios para conceitos sem conteúdo algum Eu penso apenas a re lação de um ser em si mesmo inteiramente desconhecido com a maior unidade sistemática do todo do mundo tão somente para tor nálo o esquema do princípio regulatívo do maior uso empírico possí vel de minha razão Se dirigimos o nosso olhar ao objeto transcendental de nossas ideias vemos então que a sua realidade segundo os conceitos de rea lidade substância causalidade etc não pode ser pressuposta em si B 706 B 707 511 mesma pois esses conceitos não têm a mínima aplicação a algo que seja inteiramente distinto do mundo sensível Assim a suposição da ra zão de um ser supremo como eausa suprema é pensada apenas relativa mente em vista da unidade sistemática do mundo sensível e não passa de um algo na ideia do qual não temos qualquer conceito quanto ao que seja em si mesmo Desse modo se esclarece também por que neces sitamos da ideia de um ser originário em si necessário em relação àquilo que é dado existindo aos sentidos muito embora não possamos ter jamais o mínimo conceito desse ser e de sua necessidade absoluta Agora nós podemos tornar visível o resultado de toda a dialética B 708 transcendental de uma maneira clara e determinar com precisão o propósito último das ideias da razão pura que apenas por má com preensão e descuido se tornam dialéticas A razão pura não se ocupa de fato com nada além de si mesma e não pode ter nenhuma outra atividade pois não lhe são dados objetos para a unidade do conceito da experiência mas sim os conhecimentos do entendimento para a unidade do conceito da razão i e da concatenação em um princípio A unidade da razão é a unidade do sistema e esta unidade sistemática não serve à razão objetivamente como um princípio para estendêla além dos objetos mas sim subjetivamente como uma máxima para estendêla além de todo conhecimento empírico possível dos objetos Apesar disso a concatenação sistemática que a razão pode dar ao uso empírico do entendimento não apenas promove a sua extensão mas garante ao mesmo tempo a correção da mesma e o princípio de tal unidade sistemática é também objetivo mas de modo indeterminado principium vagum não como princípio constitutivo para determi nar algo em relação ao seu objeto direto mas como máxima e princí pio meramente regulativo para por meio da abertura de novos cami nhos que o entendimento não conhece fortalecer e promover ao infi nito indeterminado o uso empírico da razão sem por isso contrariar jamais sequer minimamente a lei desse uso empírico B 709 A razão não pode pensar essa unidade sistemática de outro mo do porém a não ser dando à sua ideia um objeto o qual não pode to davia ser dado em experiência alguma pois a experiência não forne ce jamais um exemplo de unidade sistemática perfeita Esse ser da ra zão ens rationis ratiocinatae é realmente uma mera ideia e portan to não é tomado em si mesmo em sentido absoluto como algo real 512 mas apenas colocado como fundamento de maneira problemática pois não podemos alcançálo através de conceitos do entendimento para considerar todas as conexões de coisas no mundo sensível como se tivessem seu fundamento nesse ser da razão e isso sob o único propósito de fundar nele a unidade sistemática que imprescindível para a razão não deixa de ser vantajosa para o conhecimento empíri co do entendimento ao qual não poderia jamais prejudicar Compreendese mal essa ideia tão logo se a tome pela afirmação ou mesmo pressuposição de uma coisa real a que se quisesse atribuir o fundamento da constituição sistemática do mundo devese antes deixar inteiramente indeterminada a constituição que possa ter em si mesmo esse fundamento que escapa aos nossos conceitos e colocar apenas uma ideia como o único ponto de vista a partir do qual se pode ampliar aquela unidade tão essencial para a razão e tão saudá vel para o entendimento em uma palavra essa coisa transcendental é somente o esquema daquele princípio regulativo por meio do qual a razão na medida em que lhe é possível estende a unidade sistemática sobre toda a experiência O primeiro objeto de tal ideia sou eu mesmo considerado apenas como natureza pensante alma Se quero encontrar as propriedades com que um ser pensante existe em si tenho de perguntar à experiên cia e não posso aplicar a esse objeto nenhuma categoria a não ser na medida em que o seu esquema seja dado na intuição sensível Neste caso porém não chego jamais a uma unidade sistemática de todos os fenômenos do sentido interno Em vez portanto de adotar o concei to empírico no que diz respeito ao que a alma realmente seja um conceito que não pode levarnos adiante a razão adota o conceito da unidade empírica de todo pensamento e produz a partir dele pensan do essa unidade incondicional e originariamente um conceito da ra zão ideia de uma substância simples que imutável em si mesma pessoalmente idêntica estaria em comunidade com outras coisas re ais fora dela em uma palavra de uma inteligência simples e autossub sistente Ela só tem aqui em vista contudo princípios da unidade sis temática na explicação dos fenômenos da alma quais sejam de consi derar todas as determinações como estando em um sujeito todas as forças tanto quanto possível como derivadas de uma força funda mental própria todas as modificações como pertencentes aos estados B 710 B 711 513 de um único e mesmo ser permanente e de representar todos os fenô menos no espaço como inteiramente distintos das ações do pensa mento Aquela simplicidade da substância etc deveria ser apenas o esquema para esse princípio regulativo e não é pressuposta como se fosse o fundamento real das propriedades da alma Pois estas poderiam basearse também em fundamentos inteiramente diversos que absolu tamente não conhecemos assim como também não poderíamos co nhecer a alma em si mesma de fato através desses predicados presu midos muito embora quiséssemos que eles valessem para ela pois eles constituem uma ideia que não pode de modo algum ser repre sentada in concreto De tal ideia psicológica só se podem obter vanta gens desde que se tome o cuidado de não deixála valer como algo mais do que uma mera ideia i e de só tomála relativamente ao uso sistemático da razão no que diz respeito aos fenômenos de nossa alma Pois assim não se misturam na explicação daquilo que pertence apenas ao sentido interno leis empíricas de fenômenos corpóreos que são de tipo inteiramente diverso assim não são admitidas hipóte ses vãs sobre geração destruição ou paligênese das almas etc a con sideração desse objeto do sentido interno é assim realizada de ma neira pura e sem mistura com propriedades heterogêneas e a investi gação da razão é além disso voltada a reduzir os fundamentos expli B 712 cativos nesse sujeito tanto quanto possível a um único princípio tudo isso sendo melhor efetuado ou mesmo unicamente assim efetua do através de tal esquema como se este fosse um ser real A ideia psi cológica não pode de qualquer modo significar outra coisa senão o esquema de um conceito regulativo Pois mesmo que eu quisesse per guntar apenas se a alma não é em si de natureza espiritual esta per gunta não faria qualquer sentido Afinal por meio desse conceito eu não excluo apenas a natureza corpórea mas toda a natureza em ge ral i e todos os predicados de uma experiência possível qualquer portanto todas as condições para pensar um objeto desse conceito que fosse o único a permitir dizer que ele tem um sentido A segunda ideia regulativa da razão meramente especulativa é o conceito cosmológico em geral Pois a natureza é apenas de fato o único objeto em relação ao qual a razão necessita de princípios regu lativos Essa natureza é dupla ou a pensante ou a corpórea No que diz respeito à última porém não necessitamos de nenhuma ideia i e 514 de nenhuma representação que ultrapasse a experiência para pen sála segundo sua possibilidade interna i e para determinar a aplica ção das categorias a ela e nenhuma ideia é de fato possível em rela ção a essa natureza pois nela somos conduzidos apenas pela intuição sensível e não como no conceito psicológico fundamental eu que contém a priori uma certa forma do pensamento a saber a sua uni dade Para a razão pura não nos resta nada portanto a não ser a na tureza em geral e a completude das condições na mesma segundo al gum princípio A totalidade absoluta das séries dessas condições na dedução de seus membros é uma ideia que embora não seja jamais inteiramente realizada no uso empírico da razão serve de regra para como devemos proceder em relação a elas a saber como se as séries fossem em si infinitas i e in indefinitum na explicação de fenôme nos dados regredindo ou ascendendo onde a própria razão contu do é considerada como causa determinante na liberdade portanto nos princípios práticos devemos proceder como se tivéssemos diante de nós não um objeto dos sentidos mas do entendimento puro caso em que as condições já não estão na série dos fenômenos mas têm de ser postas fora dela e a série dos estados pode ser considerada como se começasse de modo absoluto por meio de uma causa inteligível tudo isso provando que as ideias cosmológicas não passam de princí pios regulativos e estão longe de pôr por assim dizer uma totalidade real de tais séries 0 restante pode ser procurado em seu devido lu gar na antinomia da razão pura A terceira ideia da razão pura que contém a mera suposição rela tiva de um ser como causa própria e todosuficiente de todas as séries cosmológicas é o conceito racional de Deus Não temos o mínimo fundamento para assumir o objeto dessa ideia de maneira absoluta supôlo em si pois o que poderia capacitarnos ou mesmo autori zarnos a afirmar ou acreditar em um ser de perfeição suprema abso lutamente necessário em si mesmo a partir de seu mero conceito no que diz respeito à sua natureza a não ser o próprio mundo o úni co em relação ao qual essa suposição pode ser necessária E nisso se mostra claramente que a ideia desse ser como todas as ideias especu lativas quer dizer apenas que a razão ordena a considerar todas as conexões do mundo segundo princípios de uma unidade sistemática portanto como se todas elas surgissem de um único ser que a tudo B 713 515 abarca como sua causa suprema e todosuficiente Fica claro a partir disso que a razão só poderia ter aqui por propósito a sua própria re gra formal na ampliação de seu uso empírico e jamais uma ampliação para além de todos os limites do uso empírico não se oculta sob essa ideia por conseguinte nenhum princípio constitutivo de seu uso vol tado à experiência possível A unidade formal suprema que se baseia apenas em conceitos da razão é a unidade das coisas conforme a fins e o interesse especula tivo da razão torna necessário considerar toda ordenação no mundo como se brotasse da intenção de uma razão suprema Com efeito tal B 715 princípio abre para a nossa razão aplicada ao campo das experiências perspectivas inteiramente novas para conectar as coisas do mundo se gundo leis teleológicas e assim chegar à maior unidade sistemática das mesmas A pressuposição de uma inteligência suprema como cau sa única do universo apenas na ideia evidentemente pode por tanto ser sempre útil à razão e assim nunca prejudicála Pois se su pomos de antemão com relação à figura da terra redonda mas um pouco achatada94 das montanhas e mares etc os sábios propósitos de um criador podemos fazer uma variedade de descobertas nesse ca minho Se apenas nos atemos a essa pressuposição como um mero princípio regulativo não podemos ser prejudicados nem mesmo pelo erro Pois o máximo que se pode seguir a isso é encontrarmos uma in terconexão meramente mecânica ou física nexus effectivus onde es perávamos encontrar uma interconexão teleológica nexus finalis B 716 com o que perdemos mais uma unidade mas não aniquilamos a uni dade da razão em seu uso empírico Mesmo esse inconveniente con tudo não pode afetar a própria lei no que diz respeito ao propósito universal e teleológico em geral Pois mesmo que se possa convencer um anatomista do erro de referir um membro animal a um fim do qual se possa mostrar claramente que não decorre daquele é inteira 94 A vantagem proporcionada por uma forma esférica da Terra é bastante conhecida poucos sabem contudo que somente o seu achatamento como um ovoide impede que as protube râncias de terra firme ou mesmo montanhas menores produzidas talvez por terremotos desloquem continua e significativamente em um tempo não tão longo o eixo da Terra o que ocorreria se a divisão da Terra sob a linha do Equador não fosse uma montanha tão pesada que o impulso de todas as outras montanhas jamais poderia retirála de seu lugar percepti velmente em relação ao eixo E no entanto esse sábio arranjo é explicado sem pudores a partir do equilíbrio da outrora fluida massa terrestre NA 516 mente impossível provar em um caso que uma disposição natural qualquer que seja ela não tenha fim algum Por isso também a fisiolo gia dos médicos por meio de um princípio introduzido apenas pela razão pura estende tão longe o seu limitado conhecimento dos fins da estrutura de um corpo orgânico que se é levado ao atrevimento de supor com toda concordância dos entendidos que tudo nos animais teria sua utilidade e um bom propósito uma pressuposição que se fosse constitutiva iria muito além do que nos autorizam nossas ob servações até aqui donde se pode ver assim que ela não passa de um princípio regulativo da razão para chegar à unidade sistemática su prema através da ideia da causalidade conforme a fins da causa supre ma do mundo e como se esta fosse como inteligência suprema a cau sa de tudo em conformidade com o mais sábio propósito Se passamos contudo dessa restrição da ideia ao mero uso regu lativo a razão é desencaminhada de muitos modos na medida em que deixe então o solo da experiência onde têm de estar os sinais indicati vos de seu caminho e para além deste aventurese no incompreensí vel e insondável em cujas alturas se torna vertiginosa porque desse ponto de vista vêse inteiramente apartada de todo uso coerente com a experiência O primeiro erro que decorre de empregar a ideia de um ser supre mo não como meramente regulativa mas contrariamente à natureza de uma ideia de maneira constitutiva é o da razão preguiçosa igna va ratio95 Pode ser assim denominado todo princípio que faz com que alguém considere a sua própria investigação da natureza em qualquer ponto que seja como absolutamente completa e a razão en tre assim em repouso como se tivesse concluído integralmente suas atividades Mesmo a ideia psicológica portanto caso seja empregada como um princípio constitutivo para explicar os fenômenos de nossa alma e depois também para estender nosso conhecimento desse su jeito para além de toda experiência seu estado após a morte é muito confortável para a razão mas arruina inteiramente e faz sucumbir 95 Assim os antigos dialéticos denominavam um paralogismo que se expressava do seguinte modo se faz parte do seu destino que você deva curarse dessa doença então isso ocorrerá de qualquer modo quer recorra a um médico ou não Cícero diz que esse tipo de inferência tem tal nome porque não resta qualquer uso da razão na vida de quem o segue E por esta ra zão que dou o mesmo nome ao argumento sofístico da razão pura NAJ B 717 B 718 517 todo seu uso natural segundo o fio condutor da experiência Assim o espiritualista dogmático explica a unidade da pessoa subsistente e imutável ao longo de todas as modificações de seus èstados a partir da unidade da substância pensante que ele acredita perceber imedia tamente no eu explica o interesse que temos pelas coisas que somen te nos ocorrerão após a morte a partir da consciência da natureza imaterial de nosso sujeito pensante etc e suprime toda investigação natural da causa desses nossos fenômenos internos efetuada a partir de fundamentos físicos de explicação deixando de lado as fontes ima nentes de conhecimento da experiência como que por decreto de uma razão transcendente em benefício de sua tranquilidade mas em detrimento de todo discernimento Essa consequência prejudicial sal ta ainda mais claramente aos olhos no dogmatismo de nossas ideias de uma inteligência suprema e no sistema teleológico da natureza fí B 719 sicoteológica nelas equivocadamente fundado Pois todos os fins que se mostram na natureza muitas vezes por nós nela colocados servem aí para nos tornar confortável a investigação das causas como seja em vez de procurálas nas leis universais do mecanismo da maté ria apelamos diretamente ao decreto imperscrutável da sabedoria su prema e então justamente quando seu uso é suprimido considera mos concluídos os trabalhos da razão sendo que esse mesmo uso não encontra um fio condutor em parte alguma a não ser onde ele é for necido pela ordem da natureza e pela série das modificações confor mes às leis internas e universais desta última Esse erro pode ser evi tado se não consideramos apenas alguns aspectos da natureza como por exemplo a distribuição ou estrutura da terra firme a constitui ção ou posição das montanhas ou simplesmente a organização nos reinos vegetal e animal do ponto de vista dos fins mas tornamos inte iramente universal em relação à ideia de uma inteligência suprema essa unidade sistemática da natureza Pois então colocamos no fun damento uma conformidade a fins segundo leis universais da nature za das quais não está excluída nenhuma disposição particular que nos foi indicada de maneira mais ou menos reconhecível e temos um princípio regulativo da unidade sistemática de uma conexão teológi ca que não podemos determinar de antemão mas que nos permite à B 720 medida que a esperamos perseguir a conexão físicomecânica segun do leis universais Pois somente assim o princípio da unidade confor 518 me a fins pode sempre ampliar o uso da razão em relação à experiên cia sem prejudicarlhe em caso algum O segundo erro que nasce da má interpretação do referido princí pio da unidade sistemática é o erro da razão pervertida perversa ra tio icrrí SiETrrpa ppÉvqç A ideia da unidade sistemática deveria servir apenas para buscála enquanto princípio regulativo na ligação das coisas segundo leis universais da natureza e também para até onde seja possível encontrar algo assim por um caminho empírico acreditar que houve uma aproximação da perfeição de seu uso ainda que evidentemente jamais se possa alcançála Em vez disso contor nase a questão e se começa por colocar como fundamento a realidade hipostasiada de um princípio da unidade conforme a fins determinar antropomorficamente o conceito de tal inteligência suprema que é em si inteiramente imperscrutável e então impor fins à natureza de maneira violenta e ditatorial em vez de buscálos no caminho da in vestigação física como seria justo de modo que não apenas a teleolo gia que deveria servir apenas para completar a unidade da natureza segundo leis universais funciona antes para suprimila mas também b 721 a razão se priva de seu próprio fim qual seja o de em conformidade com este provar a existência de tal causa inteligente suprema a partir da natureza Pois se não podemos pressupor a priori a suprema confor midade a fins na natureza i e como algo pertencente à essência da mesma onde poderemos encontrar indicações para a buscarmos e se guindo a sua escala para nos aproximarmos da suprema perfeição de um criador enquanto uma perfeição absolutamente necessária e por tanto cognoscível a priori O princípio regulativo exige que a unidade sistemática seja simplesmente pressuposta como algo portanto que decorre da essência das coisas enquanto unidade da natureza a qual não é apenas conhecida de modo empírico mas pressuposta a priori ainda que indeterminadamente Se no entanto coloco antes por fun damento um ser supremo ordenador a unidade da natureza é na verda de suprimida Pois ela é contingente e inteiramente alheia à natureza das coisas e não pode tampouco ser conhecida a partir de leis univer sais da natureza Disso surge um círculo vicioso na prova já que se pressupõe aquilo que na verdade deveria ser provado Tomar o princípio regulativo da unidade sistemática da natureza por um princípio constitutivo e pressupor como causa hipostatica 519 mente aquilo que somente na ideia é posto como fundamento do uso b 722 coerente da razão significa simplesmente confundir a razão A inves tigação dã natureza segue séü curso com base apenas na cadeia das causas naturais segundo leis universais da natureza e embora o faça segundo a ideia de um criador não visa deduzir desta a conformidade a fins que em toda parte persegue mas apenas conhecer a sua exis tência a partir dessa conformidade que é buscada na essência das coisas naturais também na medida do possível na essência das coi sas em geral portanto de maneira absolutamente necessária Quer isto seja conseguido ou não a ideia permanece sempre correta e com ela o seu uso desde que tenha sido restringido às condições de um princípio meramente regulativo A unidade completa conforme a fins é a perfeição considerada ab solutamente Se não a encontramos na essência das coisas que consti tuem todos os objetos da experiência i e todo o nosso conhecimento objetivamente válido nem portanto nas leis universais e necessárias da natureza como podemos querer inferir daí diretamente a ideia da per feição suprema e absolutamente necessária de um ser originário que seria a origem de toda causalidade A maior unidade sistemática por tanto a mais conforme a fins é a escola e mesmo o fundamento da possibilidade do maior uso possível da razão humana A ideia dessa B 723 unidade está portanto inseparavelmente ligada à essência de nossa ra zão Exatamente a mesma ideia por conseguinte é para nós legislado ra sendo muito natural assim que suponhamos uma razão legisladora a ela correspondente da qual se poderia derivar toda a unidade siste mática da natureza como o objeto de nossa razão Por ocasião da antinomia da razão pura nós dissemos que todas as questões lançadas pela razão pura teriam de ser absolutamente passíveis de respostas e que a escusa dos limites de nosso conheci mento que em muitas questões naturais é tão inevitável quanto justa não poderia ser aqui admitida já que as questões não nos são coloca das aqui pela natureza das coisas mas apenas pela natureza da razão e tão somente no que diz respeito à sua disposição interna Agora nós podemos confirmar essa afirmação à primeira vista tão audaciosa em relação às duas questões em que a razão tem o seu maior interes se finalizando assim de maneira completa nossas considerações so bre a sua dialética 520 Caso se pergunte prim eiram ente portanto no que diz respeito a uma teologia transcendental96 se há algo diferente do mundo que contém o fundamento da ordem do mundo e de sua concatenação se gundo leis universais a resposta é sem dúvida Pois o mundo é uma soma de fenômenos e portanto tem de haver algum fundamento transcendental do mesmo i e um tal que só possa ser pensado pelo entendimento Dada em segundo lugar a pergunta sobre se este ser é substância se é da maior realidade necessário etc eu respondo que esta pergunta não tem qualquer significado Pois todas as cate gorias por meio das quais procuro formar um conceito de tal objeto não têm outro uso senão o empírico e não têm sequer um sentido se não são aplicadas a objetos da experiência possível i e ao mundo sensível Fora desse campo elas são meros títulos para conceitos que embora não permitam conhecer nada são todavia admitidos Dada fi nalmente em terceiro lugar a pergunta sobre se não podemos ao me nos pensar por analogia com os objetos da experiência esse ser dife rente do mundo a resposta é certam ente mas apenas como objeto na ideia e não na realidade ou seja apenas na medida em que seja um substrato para nós desconhecido da unidade sistemática da or dem e da conformidade a fins do arranjo do mundo que a razão pode transformar em princípio regulativo de sua investigação da nature za Além disso nós podemos admitir nessa ideia sem pudor ou cen sura certos antropomorfismos que são vantajosos para o referido princípio Pois ela é sempre apenas uma ideia que não é referida di retamente a um ser distinto do mundo mas ao princípio regulativo da unidade sistemática do mundo e isto apenas por meio de um es quema do mesmo qual seja o de uma inteligência suprema que é criadora do mundo de acordo com sábios propósitos Não foi preciso pensar o que esse fundamento originário da unidade do mundo se ria em si mesmo mas apenas como devemos empregálo ou antes à sua ideia relativamente ao uso sistemático da razão com relação às coisas do mundo 96 Aquilo que eu disse anteriormente sobre a ideia psicológica e sobre sua destinação própria como princípio para o uso meramente regulativo da razão me exime de entrar em uma dis cussão prolixa para elucidar ainda mais detidamente a ilusão transcendental pela qual aque la unidade sistemática de todo o diverso do sentido interno é representada hipostaticamente 0 procedimento é aqui bastante similar àquele que a crítica observa em relação ao ideal teo lógico NA B 724 B 725 521 Mas será que podemos desse modo é o que se perguntaria em se guida supor um único sábio e todopoderoso criador do mundo Sem nenhuma dúvida e não apenas isso mas devémos pressupôlo Mas então nós estendemos nosso conhecimento para além do campo da ex periência possível De modo algum Pois nós apenas pressupusemos B 726 um algo do qual não temos qualquer conceito quanto ao que seja em si mesmo um mero objeto transcendental em relação porém à ordem sistemática e conforme a fins da estrutura do mundo que temos de pressupor quando estudamos a natureza nós só pensamos aquele ser para nós desconhecido segundo a analogia com uma inteligência um conceito empírico i e nós o dotamos justamente em relação aos fins e à perfeição que nele se fundam com as propriedades que poderiam segundo as condições de nossa razão conter o fundamento de tal uni dade sistemática Esta ideia está inteiramente fundada portanto no uso mundano de nossa razão Se quiséssemos contudo dotálo de uma validade absolutamente objetiva esqueceríamos então que ele é tão somente um ser na ideia que pensamos e como havíamos começa do por um fundamento não determinável pela consideração do mundo ficaríamos sem condições nesse caso para empregar esse princípio em conformidade com o uso empírico da razão Mas será que eu posso desse modo é o que se perguntaria ago ra fazer uso do conceito e da pressuposição de um ser supremo na consideração racional do mundo Sim essa ideia da razão foi posta como fundamento justamente para isso Mas será que posso então B 727 considerar disposições semelhantes a fins como propósitos deduzin doas da vontade divina ainda que como disposições particulares co locadas no mundo para isso Sim vocês também podem fazer isso mas somente de tal modo que lhes seja indiferente alguém dizer que a sabedoria divina assim ordenou tudo em vista de seus fins supremos ou que a ideia da sabedoria suprema é um regulativo na investigação da natureza e um princípio da unidade sistemática e conforme a fins da mesma segundo leis naturais universais mesmo ali onde não nos damos conta de tal unidade i e deve ser plenamente idêntico para vocês aí onde a assumem dizer que Deus sabiamente assim o quis ou que a natureza sabiamente assim o ordenou Pois a maior unidade sistemática e conforme a fins que a sua razão poderia tomar por fun damento de toda investigação natural como princípio regulativo é justamente a mesma que os autorizava a tomar por fundamento a ideia 522 de uma inteligência suprema como um esquema do princípio regulati vo e quanto mais coisas portanto vocês encontrarem no mundo em conformidade com tais fins tanto mais terão a confirmação da corre ção de sua ideia como no entanto o referido princípio não tinha ou tro propósito senão o de buscar a maior unidade necessária possível da natureza então teremos de agradecer por ela caso a alcancemos à ideia de um ser supremo mas não poderemos sem cair em contradi ção desconsiderar as leis universais da natureza como aquelas em vista das quais a ideia foi tomada por fundamento para considerar a conformidade a fins da natureza como contingente e hiperfísica no que diz respeito à sua origem afinal não estávamos autorizados a su por um ser com as referidas propriedades para além da natureza mas apenas a tomar por fundamento a ideia do mesmo para poder consi derar os fenômenos como conectados sistematicamente entre si se gundo a analogia de uma determinação causal Justamente por isso estamos também autorizados a pensar a cau sa do mundo na ideia não apenas segundo um antropomorfismo mais sutil sem o qual em todo caso nada se poderia pensar a respeito dele em que esse ser tem entendimento satisfação e insatisfação as sim como desejos e vontades conformes a estes etc mas também a atribuirlhe uma perfeição infinita que portanto vai muito além da quilo que poderiamos estar autorizados a conhecer através do conhe cimento empírico da ordem do mundo Pois a lei regulativa da unida de sistemática prescreve que estudemos a natureza como se a unida de sistemática e conforme a fins pudesse ser encontrada ao infinito junto à maior diversidade possível Pois por menos que vislumbre mos ou alcancemos essa perfeição do mundo faz parte da atividade legislativa de nossa razão procurála e presumila por toda parte e será sempre vantajoso para nós e jamais prejudicial ordenar a obser vação da natureza segundo esse princípio Também é claro contudo sob essa pressuposição da ideia de um criador supremo colocada como fundamento que eu não ponho por fundamento a existência ou o conhecimento de tal ser mas apenas a sua ideia e que portanto não deduzo nada do mesmo mas apenas de sua ideia i e da nature za das coisas do mundo segundo tal ideia Embora não desenvolvida uma certa consciência do verdadeiro uso desse nosso conceito da ra zão parece ter ocasionado também a linguagem modesta e justa dos filósofos de todos os tempos que falam da sabedoria e providência da B 728 B 729 523 natureza de um lado e da sabedoria divina de outro como expres sões equivalentes e chegam a preferir a primeira quando se trata da razão meramente especulativa pois ela evjta a pretensão de uma afir mação maior do que aquela a que estamos autorizados e ao mesmo tempo direciona a razão ao seu campo próprio a natureza Desse modo a razão pura que a princípio parecia prometernos nada menos que a ampliação dos conhecimentos para além de todas as fronteiras da experiência contém apenas se a entendemos correta mente princípios regulativos que realmente prescrevem uma unidade maior do que aquela que pode ser atingida pelo uso empírico do enten dimento mas que justamente por estenderem tão longe a meta de que b 730 esse uso tem de aproximarse levam a concordância dele consigo mes mo através da unidade sistemática ao mais elevado grau Se são mal compreendidos no entanto e tomados por princípios constitutivos de conhecimentos transcendentes produzem através de uma ilusão de fato brilhante mas enganosa bastante persuasão e saber erudito mas também contradições e conflitos eternos Todo conhecimento começa pois com as intuições passa delas para os conceitos e termina com as ideias Se ele de fato tem em rela ção aos três elementos fontes a priori do conhecimento que à pri meira vista parecem recusar os limites de toda experiência uma críti ca completa nos convence de que nenhuma razão poderia jamais no seu uso especulativo ir além do campo da experiência possível com esses três elementos e de que a destinação própria dessa faculdade superior do conhecimento é a de só servirse dos métodos e princípios dos mesmos para investigar a natureza até o seu mais íntimo de acordo com todos os princípios possíveis da unidade dentre os quais aquele dos fins é o mais nobre sem nunca contudo ultrapassar seus limites além dos quais não há nada para nós a não ser o espaço vazio b 731 De fato a investigação crítica de todas as proposições que podem es tender o nosso conhecimento para além da experiência real nos con venceu suficientemente na analítica transcendental de que elas nun ca podem conduzirnos a nada mais do que uma experiência possível e se não houvesse desconfiança em relação aos mais claros teoremas abstratos e universais nem perspectivas estimulantes e ilusórias nos induzissem a resistir à força dos primeiros então poderíamos ter pres 524 cindido do tedioso interrogatório de todas as testemunhas dialéticas que uma razão transcendente admite em benefício de suas preten sões pois já de antemão sabíamos com inteira certeza que todas as suas alegações embora talvez bemintencionadas tinham de ser ab solutamente nulas visto concernirem a um conhecimento que nenhu m ser humano pode jamais obter Como a discussão não teria fim contudo caso não se chegasse ao que está por trás das verdadeiras causas da ilusão que mesmo os mais racionais podem ser levados a seguir e como a dissolução de todos os nossos conhecimentos trans cendentes em seus elementos como um estudo de nossa natureza in terna além de não ter pouco valor em si mesma é também um dever dos filósofos então era não apenas necessário investigar exaustiva mente a despeito de sua vanidade esse trabalho da razão especulati va até suas fontes primeiras como era também recomendável na medida em que a ilusão transcendental é tanto enganosa no que diz respeito ao juízo como atraente e sempre natural no que diz respeito ao interesse que se tem no juízo e assim permanecerá por todo o fu turo redigir todos os atos desse processo por assim dizer e deposi tálos no arquivo da razão humana de modo a evitar futuros erros de mesmo tipo B 732 5 2 5 B 735 B 736 Se considero o conjunto completo de todos os conhecimentos da razão pura e especulativa como um edifício de que temos pelo menos a ideia em nós posso então dizer que na doutrina transcendental dos elementos calculamos os materiais de construção e determinamos para que edifício de que altura e solidez esses materiais seriam sufici entes Verificouse evidentemente que embora tivéssemos em mente uma torre capaz de alcançar o céu o estoque de materiais só foi sufici ente para uma casa de moradia bastante espaçosa para as nossas ativi dades no âmbito da experiência ê alta o suficiente para termos desta uma visão de conjunto ao passo que aquela ambiciosa empreitada ti nha de fracassar devido à falta de material sem contar a confusão das línguas que tinha de colocar os trabalhadores inevitavelmente em con flito quanto ao plano a seguir e dispersálos pelo mundo para que cada um construísse o edifício segundo seu próprio projeto Agora para nós já não se trata tanto dos materiais mas sim do plano e uma vez que fomos alertados a não nos aventurarmos em um projeto arbitrário e cego que pudesse talvez ultrapassar todas as nossas capacidades mas não podemos todavia absternos de erguer uma moradia firme te mos então de calcular um edifício em relação ao estoque que nos foi dado e ao mesmo tempo em conformidade com a nossa necessidade Por doutrina transcendental do método portanto entendo a de terminação das condições formais de um sistema completo da razão pura Com vistas a isso teremos de lidar aqui com uma disciplina um cânone uma arquitetônica e por fim uma história da razão pura e realizaremos de um ponto de vista transcendental aquilo que sob o nome de uma lógica prática tentase fazer nas escolas de maneira precária em relação ao uso do entendimento em geral afinal como a lógica geral não está limitada a nenhum tipo particular de conhecimen to do entendimento o puro por exemplo nem tampouco a certos ob jetos ela não pode sem tomar conhecimentos emprestados de outras ciências fazer nada a não ser oferecer os títulos para possíveis méto dos e expressões técnicas que são usadas em relação ao que há de siste mático em todas as ciências tornando familiares para o aluno de ante mão nomes cujo significado e emprego ele só aprenderá futuramente 5 2 8 PRIMEIRO CAPITULO A disciplina da razão pura Os juízos que são negativos não apenas no que diz respeito à for ma lógica mas também ao conteúdo não ocupam um lugar peculiar junto aos desejos cognitivos do ser humano eles são considerados antes como inimigos invejosos de nosso impulso cognitivo que busca incansavelmente a ampliação e necessitam quase uma apologia para que lhes seja concedida alguma paciência e mais ainda para que lhes seja concedido algum respeito e consideração Embora se possa do ponto de vista lógico exprimir negativa mente todas as proposições que se queira em relação ao conteúdo de nosso conhecimento em geral se ele é ampliado ou limitado por um juízo os juízos negativos têm a função própria de simplesmente evi tar o erro Também as proposições negativas portanto que visam evi tar um conhecimento falso onde nenhum erro é todavia possível po dem ser verdadeiras mas também vazias i e inadequadas a seu fim e justamente por isso muitas vezes ridículas como a proposição da quele orador escolástico de que Alexandre não poderia ter conquista do nenhum país sem um exército Onde porém os limites de nosso conhecimento possível são mui to estreitos onde o impulso de julgar é muito forte a ilusão que se apresenta muito enganosa e o prejuízo causado pelo erro considerá vel aí o negativo na instrução que serve apenas para prevenirnos dos erros tem ainda mais importância do que muitos ensinamentos positivos pelos quais nosso conhecimento poderia crescer Denomi nase disciplina à coerção que limita e por fim elimina o impulso constante a descumprir certas regras Ela se distingue da cultura que deve apenas proporcionar uma habilidade sem suprimir uma ou tra que estivesse dada de antemão Para a formação de um talento portanto que já tem por si mesmo um impulso a expressarse a disci B 737 B 738 529 plina fornecerá uma contribuição negativa ao passo que a cultura e a doutrina fornecerão uma positiva Que o temperamento assim como os talentos qüe permitem com prazer um movimento livre e ilimitado como a imaginação e a sabe doria necessitem em muitos aspectos de uma disciplina é algo com que todos facilmente concordariam Que a razão porém a quem pro priamente incumbe prescrever a disciplina a todas as demais aspira ções necessite ela própria de tal disciplina isto pode certamente pa recer estranho e justamente por isso de fato ela tem até hoje escapa do a essa humilhação pois a solenidade e o rigoroso comportamento com que ela se apresenta impediram que se levantasse contra ela a suspeita de um jogo descuidado com imagens em vez de conceitos e com palavras em vez de coisas No uso empírico não é necessária uma crítica da razão já que os princípios desta são continuamente submetidos a exame sob a pedra B 7 3 9 de toque da experiência do mesmo modo na matemática em que os conceitos da razão têm de ser imediatamente expostos na intuição pura in concreto e todo elemento infundado ou arbitrário logo se torna com isso evidente Onde nem a intuição empírica nem a pura contudo mantêm a razão em um curso visível a saber em seu uso transcendental segundo meros conceitos aí ela necessita tanto de uma disciplina capaz de domar seu impulso a estenderse para além dos estreitos limites da experiência possível e de preservála da extra vagância e do erro que também toda a filosofia da razão pura somen te tem a ver com essa utilidade negativa Desvios isolados podem ser evitados através da censura e as suas causas através da crítica Onde se pode encontrar porém como na razão pura todo um sistema de ilusões e fantasias bem ligadas entre si e unificadas sob princípios co muns aí parece necessária uma legislação inteiramente própria e de fato negativa que sob o nome de uma disciplina erige a partir da na tureza da razão e dos objetos de seu uso puro como que um sistema 1 E u bem sei q u e n a linguagem das escolas se costum a em pregar os nom es discip lin a e in stru ção com o equivalentes Mas há tan to s casos em sentido contrário q u an d o a prim eira expres são com o cultivo distinguese cuidadosam ente d a segun da com o en sin am en to e a n atureza d as coisas exige p o r si m esm a que se conservem as únicas expressões com patíveis com essa distinção q u e eu gostaria q u e jam ais se perm itisse em pregar aquela palavra com um significa do diferente do negativo NA 530 de prevenção e autoexame face ao qual nenhuma ilusão sofística falsa pode subsistir tendo antes sejam quais forem os fundamentos com que se mascara de trairse a si mesma É preciso notar bem contudo que nesta segunda parte da crítica transcendental eu não direciono a disciplina da razão pura ao conteú do mas apenas ao método do conhecimento por razão pura O primei ro já foi tratado na doutrina dos elementos Qualquer que seja contu do o objeto a que se aplica o uso da razão é tão homogêneo e ao mesmo tempo na medida em que deve ser transcendental tão es sencialmente distinto de todo o resto que sem as advertências da doutrina negativa de uma disciplina especialmente estabelecida para isso não seriam evitados os erros que têm necessariamente de surgir de uma observância inadequada de tais métodos que em outra parte podem ser conformes à razão mas aqui não o são PR IM EIR A SE Ç A O A D ISC IP LIN A DA RAZAO PU R A NO U SO DOGM ÁTICO A matemática fornece o exemplo mais brilhante de uma razão pura se ampliando por si mesma sem o auxílio da experiência Exemplos são contagiantes em especial para a mesma faculdade que busca ter em outros casos naturalmente a mesma sorte que teve em um Por isso a razão pura espera poder ampliarse no uso transcendental de maneira tão bemsucedida e rigorosa quanto lhe foi possível na matemática so bretudo se adotar lá o mesmo método que foi aparentemente tão provei toso aqui É decisivo que saibamos portanto se o método de chegar à certeza apodítica a que na última ciência se denomina matemático é idêntico àquele com que se busca a mesma certeza na filosofia e que assim teria de denominarse dogmático 0 conhecimento filosófico é o conhecimento da razão por con ceitos e o matemático por construção de conceitos Construir um conceito porém significa expor a intuição a priori a ele correspon dente Para a construção de um conceito portanto é exigida uma in tuição não empírica e esta por conseguinte é enquanto intuição um objeto singular mas nem por isso tem de exprimir na representa ção como construção de um conceito de uma representação univer B 740 B 741 531 sal validade universal para todas as intuições possíveis que caibam sob o mesmo conceito Eu construo um triângulo assim expondo o objeto correspondente a esse conceito ou por meio da mera imagina ção na intuição pura ou de acordo com esta também sobre o papel na intuição empírica mas em ambos os casos inteiramente a priori sem ter extraído o modelo para isso de experiência alguma A figura B 742 singular desenhada é empírica mas serve para exprimir o conceito a despeito da universalidade deste pois nessa intuição empírica só se tem em vista a ação de construção do conceito em que muitas deter minações como a extensão os lados e os ângulos são irrelevantes e portanto fazse abstração dessas diferenças que não modificam o conceito de triângulo O conhecimento filosófico portanto considera o particular so mente no universal e o matemático o universal no particular ou mesmo no singular mas igualmente a priori e por meio da razão de modo que esta singularidade é determinada sob certas condições uni versais da construção do mesmo modo como o objeto do conceito que corresponde a esse singular apenas como seu esquema tem de ser pensado como universalmente determinado Nessa forma reside portanto a diferença essencial entre esses dois tipos de conhecimento da razão e ela não se baseia na diferença de suas matérias ou objetos Aqueles que pretenderam distinguir a fi losofia da matemática dizendo que aquela teria apenas a qualidade e esta apenas a quantidade do objeto tomaram o efeito pela causa A forma do conhecimento matemático é a causa pela qual este só pode lidar com quanta Pois somente o conceito de quantidades pode ser construído i e exposto a priori na intuição ao passo que as qualida b 743 des só podem ser expostas na intuição empírica Um conhecimento racional das mesmas assim só é possível por conceitos Uma intuição correspondente ao conceito de realidade portanto não pode ser obti da em parte alguma a não ser na experiência e ninguém pode jamais tomar parte nela a partir de si mesmo a priori e anteriormente à consciência empírica da mesma A figura cônica pode ser tornada in tuível sem qualquer ajuda empírica apenas a partir do conceito mas a cor desse cone tem de ser dada antes nesta ou naquela experiência Eu só posso exprimir o conceito de uma causa em geral na intuição por meio de um exemplo que me seja fornecido pela experiência e as 532 sim por diante Além disso a filosofia trata de quantidades tanto quan to a matemática como nos casos por exemplo da totalidade da infi nitude etc A matemática também se ocupa da distinção das linhas e superfícies enquanto espaços de diferentes qualidades e da continui dade da extensão como qualidade desta Ainda que elas tenham um objeto comum em tais casos o modo de tratálas por meio da razão é inteiramente diverso na consideração filosófica e na matemática Aque la se atém apenas aos conceitos universais ao passo que esta não con segue nada com meros conceitos e corre logo para a intuição onde considera o conceito in concreto ainda que não empiricamente ela o considera na verdade na intuição que expõe a priori i e que ela construiu e na qual aquilo que se segue das condições universais da construção tem de valer universalmente também para o objeto do conceito construído Suponhamos que se dê a um filósofo o conceito de um triângulo e se deixe que ele descubra do seu modo como a soma de seus ângulos se comporta em relação ao ângulo reto Ele dispõe apenas do conceito de uma figura encerrada em três linhas e nela o conceito de três ângulos Ora ele pode refletir o quanto quiser sobre esse conceito que não pro duzirá nada de novo Ele pode decompor e esclarecer o conceito de uma linha reta de um ângulo ou do número três mas não chegará a nenhuma outra propriedade que não faça parte desses conceitos So mente o geômetra pode resolver essa questão Ele começa de pronto por construir um triângulo Como sabe que dois ângulos retos soma dos dão tanto quanto a soma de todos os ângulos adjacentes que pos sam a partir de um ponto ser traçados sobre uma linha reta ele au menta um lado de seu triângulo e obtém dois ângulos adjacentes que são iguais à soma de dois retos Ele divide então o mais externo desses ângulos traçando uma linha paralela ao lado oposto do triângulo e vê surgir aí um ângulo adjacente externo que é igual a um interno e as sim por diante Por meio de uma cadeia de conclusões e guiado sem pre pela intuição ele chega desse modo a uma solução da questão que é inteiramente evidente e ao mesmo tempo universal Mas a matemática não constrói apenas quantidades quanta co mo na geometria mas também a mera quantidade quantitatem como na álgebra em que se faz completa abstração da constituição do obje to que deve ser pensado segundo tal conceito de grandeza Ela esco B 744 B 745 533 lhe então uma determinada notação para todas as construções de quantidades em geral números como a adição a subtração etc a extração de raiz e depois de ter caracterizado também o conceito universal de quantidades segundo as diferentes relações entre estas ela expõe na intuição de acordo com determinadas regras universais todas as operações que são suscitadas e modificadas pela quantidade Onde uma quantidade deve ser dividida por outra ela reúne os carac teres de ambas segundo a forma caracterizada da divisão etc e chega assim por meio de uma construção simbólica tão longe quanto a geo metria por meio de uma construção ostensiva ou geométrica dos próprios objetos um ponto a que o conhecimento discursivo não chegaria jamais por meio de meros conceitos Qual pode ser a causa de esses dois artífices da razão se encon trarem em tão diferentes situações um encontrando seu caminho por meio de conceitos o outro por meio de intuições que em conformida b 746 de com os conceitos ele expõe o priorp Segundo as doutrinas trans cendentais fundamentais apresentadas acima tal causa é evidente Não se trata aqui de proposições analíticas que pudessem ser obtidas por mera decomposição dos conceitos nisso o filósofo teria sem dúvi da vantagem sobre seu rival mas sim de proposições sintéticas e de fato proposições tais que devem ser conhecidas a priori Pois eu não devo ter em vista aquilo que efetivamente penso em meu conceito de triângulo isto não é mais do que a mera definição eu devo antes indo além dele perseguir propriedades que embora lhe pertençam não se encontram nele Mas isto só é possível se determino meu obje to segundo as condições ou da intuição empírica ou da intuição pura 0 primeiro procedimento forneceria apenas uma proposição empírica pela medida de seus ângulos que não contém universalidade muito menos necessidade e certamente não se trata disso O segundo po rém é a construção matemática mais especificamente a geométrica pela qual introduzo em uma intuição pura do mesmo modo como em uma empírica o diverso que pertence ao esquema do triângulo em ge ral portanto a seu conceito que é como realmente se têm de construir proposições sintéticas universais Assim eu filosofaria inutilmente sobre o triângulo i e refletiria B 747 discursivamente sobre ele sem avançar o mínimo sequer além da mera definição que é por onde eu teria realmente de começar Existe 534 uma síntese transcendental por meros conceitos de fato que serve apenas à filosofia mas ela nunca diz respeito a mais do que uma coisa em geral sob cujas condições a sua percepção poderia pertencer à ex periência possível Nos problemas matemáticos contudo não está nun ca em questão a existência mas sim as propriedades dos objetos em si mesmos somente na medida em que estejam ligadas ao seu conceito Nós buscamos apenas no exemplo acima aduzido tornar clara a grande diferença que há entre o uso discursivo da razão segundo conceitos e o seu uso intuitivo por meio da construção de conceitos É de perguntarse naturalmente qual a causa que torna necessário tal uso duplo da razão e quais as condições sob as quais se poderia saber se apenas o primeiro tem lugar ou também o segundo Todo o nosso conhecimento se refere em última instância a intui ções possíveis pois somente por meio destas é dado um objeto Ago ra ou um conceito a priori um conceito não empírico contém já em si uma intuição pura e pode então ser construído ou contém apenas a síntese de intuições possíveis que não são dadas a priori e então se pode perfeitamente julgar sinteticamente e a priori por meio dele mas somente discursivamente segundo conceitos e jamais intuitiva mente por meio da construção de um conceito De todas as intuições contudo nenhuma é dada a priori a não ser a forma dos fenômenos o espaço e o tempo e um conceito destes como quantis pode ser exposto a priori na intuição i e construído ou juntamente com a qualidade dos mesmos sua figura ou também por meio de números como sua mera quantidade a mera síntese do diverso homogêneo A matéria dos fenômenos no entanto pela qual as coisas nos são dadas no espaço e no tempo só pode ser representa da na percepção portanto a posteriori O único conceito que repre senta a priori esse conteúdo empírico dos fenômenos é o conceito de coisa em geral e o conhecimento sintético a priori do mesmo não pode fornecer nada mais do que a mera regra da síntese daquilo que a percepção pode dar a posteriori mas jamais a intuição do objeto real pois esta tem de ser necessariamente empírica Proposições sintéticas sobre coisas em geral cuja intuição não pode ser dada a priori são transcendentais Por isso proposições transcendentais não podem jamais ser dadas a priori por meio da construção de conceitos mas apenas segundo conceitos Elas contêm apenas a regra segundo a qual uma certa unidade sintética deve ser B 748 535 empiricamente buscada para algo que não pode ser representado in tuitivamente a priori as percepções Em um determinado caso con b 749 tudo elas não podem expor r p rio ri nem um único de seus conceitos mas o fazem apenas a posteriori por meio da experiência a qual só se torna possível por seu turno segundo aqueles princípios sintéticos Caso se deva julgar sinteticamente um conceito é preciso sair desse conceito e passar à intuição em que ele é dado Pois caso se per manecesse naquilo que está contido no conceito o juízo seria mera mente analítico e traria apenas uma explicação do pensamento daqui lo que está efetivamente contido nele Eu posso porém passar do conceito à intuição que lhe corresponde pura ou empírica para con siderálo in concreto e no que diz respeito ao seu objeto conhecêlo a priori ou a posteriori O primeiro é o conhecimento racional e ma temático por meio da construção do conceito o segundo é o conheci mento meramente empírico mecânico que não pode jamais forne cer proposições necessárias e apodíticas Assim eu poderia decompor o meu conceito empírico de ouro sem nada ganhar com isso além de poder enumerar tudo aquilo que efetivamente penso sob essa palavra o que representa de fato um melhoramento lógico de meu conheci mento mas nenhum acréscimo ou ampliação do mesmo Eu tomo a matéria que se apresenta sob esse nome porém e realizo observa B 750 ções com ela que me fornecem diferentes proposições sintéticas ain da que empíricas Eu construiria o conceito matemático de um triân gulo i e o daria a priori na intuição e desse modo obteria um co nhecimento sintético mas racional Se me é dado porém o conceito transcendental de uma realidade substância força etc então ele não designa nem uma intuição empírica nem uma intuição pura mas ape nas a síntese das intuições empíricas que portanto não podem ser dadas a priori e dele portanto uma vez que a síntese não pode pas sar a priori para a intuição que lhe corresponde não pode surgir tam bém nenhuma proposição sintética determinante mas apenas um prin cípio da síntese2 das intuições empíricas possíveis Uma proposição transcendental portanto é um conhecimento sintético da razão se 2 P o r m eio do conceito de causa eu saio de fato do conceito em pírico de um acontecim ento que algo aconteça m as passo não à intuição que expõe in concreto o conceito de causa e sim às condições do tem po em geral que teriam de ser encontradas na experiência em conform idade com o conceito de causa E u procedo apenas segundo conceitos portanto e não posso proce der p or m eio da construção de conceitos pois o conceito é um a regra da síntese das percep ções e estas não são intuições puras e portanto não podem ser dadas a p rio ri NA 536 gundo meros conceitos e portanto um conhecimento discursivo já que por meio dele se torna primeiramente possível toda unidade sintética do conhecimento empírico mas nenhuma intuição é dada a priori Existem dois usos da razão portanto que independentemente da universalidade do conhecimento e de sua origem a priori que am bos têm em comum são extremamente diferentes no procedimento e isso porque há no fenômeno por meio do qual todos os objetos nos são dados dois aspectos distintos a forma da intuição espaço e tem po que pode ser conhecida e determinada inteiramente a priori e a matéria o elemento físico ou conteúdo que significa um algo que se encontra no espaço e no tempo e portanto contém uma existência e corresponde à sensação Com relação ao último que nunca pode ser dado de maneira determinada a não ser empiricamente não podemos ter nada a prio ri a não ser conceitos indeterminados da síntese de sensações possíveis na medida em que estas pertençam à unidade da apercepção em uma experiência possível Com relação ao primeiro podemos determinar a priori nossos conceitos na intuição na medi da em que através de uma síntese homogênea nos proporcionemos os próprios objetos no espaço e no tempo considerandoos tão so mente como quanta Aquele se denomina uso da razão segundo con ceitos e nele não podemos fazer mais do que colocar sob conceitos de acordo com seu conteúdo real fenômenos que só podem ser deter minados empiricamente i e a posteriori mas em conformidade com aqueles conceitos enquanto regras de uma síntese empírica ao passo que o outro é o uso da razão por construção de conceitos na medida em que estes já direcionados a uma intuição a priori podem justa mente por isso ser dados a priori na intuição pura de maneira deter minada e sem quaisquer data empíricos Considerar algo que existe uma coisa no espaço ou no tempo no que diz respeito a se e quanto ele é ou não um quantum se uma existência tem ou não de ser nele re presentada até que ponto esse algo que preenche o espaço ou o tem po é um substrato primeiro ou uma mera determinação se ele tem uma referência de sua existência a outra coisa como causa ou efeito e finalmente se está isolado ou em dependência recíproca com outrem quanto à existência considerar a possibilidade dessa existência sua realidade e necessidade ou os contrários destas tudo isso pertence ao conhecim ento racional por conceitos que é denominado filosófico Entretanto determinar uma intuição a priori no espaço figura divi B 751 B 752 537 dir o tempo duração ou simplesmente conhecer o universal da sínte se de uma única e mesma coisa no tempo e no espaço e a quantidade de uma intuição em geral número que surge daí isto é um trabalho da razão por construção de conceitos e se denomina m atem ático O grande sucesso que a razão obtém por meio da matemática leva de maneira muito natural a supor que se não a própria matemá tica ao menos o seu método também seria bemsucedido fora do cam B 753 po das quantidades reduzindo todos os seus conceitos a intuições que a matemática pode fornecer a priori e assim fazendo dela como que a senhora da natureza ao passo que a filosofia pura com seus conceitos discursivos a priori gira em círculos pela natureza sem po der tornar intuível a priori a realidade de tais conceitos e justamente por isso sem poder tornála crível Apesar disso aos mestres nessa arte não parece faltar essa confiança em si mesmos nem à comunida de as grandes expectativas em sua habilidade uma vez que se tenham ocupado disso Pois como nunca filosofaram sobre sua matemática um negócio difícil nunca lhes veio à mente a diferença específica entre esses usos da razão Regras correntes e de uso empírico que eles emprestam à razão comum valem então como axiomas Quanto a de onde lhes vêm os conceitos de espaço e de tempo com que se ocu pam como os únicos quantis originais nada lhes ocorreu quanto a isso e justamente por isso lhes parece inútil investigar a origem dos conceitos puros do entendimento bem como desse modo o âmbito de sua validade bastalhes utilizálos Eles acertam inteiramente com rela ção a tudo isso quando não ultrapassam os limites que lhes são indica dos quais sejam os da natureza Mas ainda assim eles deslizam desa percebidamente do campo da sensibilidade para o terreno inseguro dos conceitos puros e mesmo dos transcendentais cujo fundamento B 754 instabilis tellus innabilis unda não lhes permite nem ficar de pé nem nadar mas apenas dar alguns passos fugidios dos quais o tempo não guarda qualquer sinal ao passo que seu caminho na matemática pelo contrário perfaz uma estrada que mesmo a mais tardia posteridade poderá percorrer com segurança Uma vez que assumimos o dever de determinar com precisão e segurança os limites da razão pura no uso transcendental mas esse tipo de esforço traz consigo a peculiaridade de que independente mente das mais fortes e claras advertências conservase sempre a es 538 perança de se poder antes que o propósito seja inteiramente abando nado ir além dos limites da experiência e chegar às encantadoras re giões do inteligível então ainda é necessário remover as últimas ânco ras de uma esperança fantasiosa por assim dizer e mostrar que a ob servância do método matemático nesse tipo de conhecimento não pode proporcionar a mínima vantagem a não ser a de revelar ainda mais claramente a sua própria vacuidade e que a geometria e a filoso fia são duas coisas inteiramente diferentes ainda que se ofereçam as mãos na ciência da natureza e o procedimento de uma não pode ja mais portanto ser imitado pela outra O rigor da matemática se baseia em definições axiomas e de monstrações Eu me contentarei em mostrar que nenhuma destas operações pode ser realizada ou imitada pela filosofia no sentido em que a matemática as adota que o geômetra não pode produzir nada na filosofia de acordo com o seu método a não ser castelos de cartas e que o filósofo de acordo com o seu só conseguiria provocar um fala tório no âmbito da matemática muito embora a filosofia consista em co nhecer os seus limites e o próprio matemático não possa caso seu talen to já não seja limitado por natureza ou circunscrito à sua especialidade recusar as advertências da filosofia nem colocarse acima delas 1 Das definições Definir como a própria expressão indica deve significar apenas em sentido próprio expor o conceito completo de uma coisa originariamente no interior de seus limites3 Segundo esta exigência um conceito empírico não pode jamais ser definido mas apenas explicado Pois uma vez que só temos dele algumas ca racterísticas de um certo tipo de objeto dos sentidos nunca é certo se não se poderia pensar sob a palavra que designa o mesmo objeto às vezes mais às vezes menos características do mesmo Assim alguém pode representarse no conceito de ouro além do peso da cor e da du reza a propriedade de não oxidar enquanto um outro pode não saber 3 C om pletude A usführlichkeit denota a clareza e suficiência das características os lim ites G renzen significam a precisão i e que nada além delas pertence ao conceito m as originaria m ente ursprünglich denota q u e essa determ inação de lim ites não é derivada de o u tra parte e p o rtan to não exige um a prova isto to rn aria a su p o sta definição incapaz de ficar no topo d e to dos os ju ízo s sobre um objeto NAJ B 75 5 B 7 5 6 539 nada disso Certas características só são usadas porque são suficien tes para diferenciar novas observações por outro lado podem supri mir algumas e acrescentar outras características eo conceito nunca permanece portanto dentro de limites seguros De que adiantaria em todo caso definir semelhante conceito se por exemplo quando se trata da água e de suas propriedades não nos atemos àquilo que pen samos sob a palavra água e passamos a experimentos e se a pala vra com as poucas características que lhe são inerentes só deve cons tituir uma designação não um conceito da coisa e a suposta defini ção portanto não é mais do que uma determinação da palavra Em segundo lugar também nenhum conceito dado a priori para falar com precisão pode ser definido por exemplo substância causa direi to equidade etc Pois eu nunca posso estar seguro de que a represen tação clara de um conceito dado ainda confuso foi exaustivamente desenvolvida a não ser que eu saiba que ela é adequada ao objeto Como o conceito deste porém tal como é dado pode conter muitas representações obscuras que não percebemos ao analisálo muito em bora o utilizemos sempre na aplicação a completude da análise de meu conceito é sempre duvidosa e só pode ser tornada supostamente b 7 5 7 certa através de muitos exemplos adequados mas jamais apoditica mente certa Em lugar da expressão definição eu utilizaria de pre ferência a expressão exposição que é sempre cautelosa e pode ser aceita pelos críticos até certo ponto ainda que mantendo dúvidas quanto à sua completude Como pois nem os conceitos empíricos nem os conceitos dados a priori podem ser definidos não restam ou tros com os quais tentar essa proeza senão os arbitrariamente con cebidos Eu sempre posso definir o meu conceito nesse caso pois te nho de saber evidentemente o que queria pensar sob ele quando in tencionalmente o criei já que não me foi dado nem pela natureza do entendimento nem através da experiência mas não posso dizer que por meio dele defini um objeto verdadeiro Pois se o conceito se baseia em condições empíricas como por exemplo o de um cronômetro na val então o objeto e sua possibilidade não estão dados ainda por meio desse conceito arbitrário eu não sei sequer a partir dele se ele tem de fato um objeto e minha definição será melhor designada como uma declaração de meu projeto do que como a definição de um objeto Não restaram quaisquer conceitos portanto capazes de uma defini ção a não ser aqueles que contêm uma síntese arbitrária e podem ser 540 construídos a priori assim somente a matemática possui definições Pois o objeto que ela pensa também é exposto a priori por ela na intu ição e não pode conter nem mais nem menos do que o conceito já que este foi dado através da definição originariamente i e sem que a definição fosse deduzida de outra parte Para as expressões exposi ção explicação declaração e definição a língua alemã tem somen te uma palavra Erklärung Temos já de amenizar um pouco por tanto a força da exigência pela qual vedávamos às explicações filo sóficas o título honorário de definição e queremos limitar toda essa observação a dizer que as definições filosóficas são produzidas ape nas como exposições de conceitos dados ao passo que as matemáti cas o são como construções de conceitos originariamente elabora dos aquelas apenas analiticamente por decomposição cuja completu de não é apoditicamente certa e estas sinteticamente elaborando assim o próprio conceito ao passo que as primeiras apenas o expli cam Disso resulta a que na filosofia não se deve imitar a matemática antepondo as definições a não ser talvez como um mero experimento Pois uma vez que elas são aí decomposições de conceitos dados estes conceitos é que vêm antes ainda que de maneira confusa e a ex posição incompleta antecede a completa de tal modo que pode mos a partir de algumas características obtidas em uma decom posição ainda incompleta inferir muitas outras antes de ter che gado à exposição completa i e à definição na filosofia em su ma a definição como distinção precisa deve antes concluir o tra 4 4 K ant indica prim eiro as palavras de origem latina em bora já germ anizadas Exposition Expli cation Declaration e Definition A p a la v ra Erklärung d e o rig em te u tô n ic a seria a ú n ic a e q u iv a len te a to d a s e ss a s ex p re ssõ e s A exem plo d e S a n to s e M orujão R ohden e M oos burger e Esposito optam os p o r m an ter a palavra Erklärung em alem ão no corpo do texto pois além de K ant referirse explicitam ente ao caso d a língua alem ã qualquer o u tra solução to m aria a frase pouco com preensível seria necessário ou rep etir um a das q u atro prim eiras com o fez Caimi o u in tro d u zir um a quinta com o fez G uyer explanation e assim perder de vista a sinoním ia estabelecida p o r K ant e n tre Erklärung e os q u atro term os o riundos do latim Na frase seguinte contudo em que Erklärung e Definition aparecem com sentidos um pouco diversos estabelecidos graças ao adjetivo philosophische em philosophische Erklärungen e ao predicado Ehrenname vinculado a Definition em Ehrenname der Definition optam os por trad u zir Erklärungen p or explicações sem sair com isso do cam po de possibilidades es tabelecido pelas q u atro palavras de origem latina e sem c riar a estran h eza de dizer que as de finições filosóficas n ão m erecem o nom e de definição Vale o m esm o para o verbo erklären com q u e se en cerra a frase e q u e traduzim os p o r explicam NT B 758 B 7 59 541 balho do que iniciálo5 Como na matemática pelo contrário não temos qualquer conceito antes da definição e é por esta que ele é primeiramente dado a matemática tem de começar por aí e pode sempre fazêlo b as definições matemáticas nunca podem errar Pois uma vez que o conceito é primeiramente dado por meio da definição ele só contém exatamente aquilo que a definição pretendeu pensar nele Mas ainda que nada de incorreto possa aparecer nela quanto ao conteúdo pode acontecer às vezes embora raramente de haver al gum defeito na forma na vestimenta a saber em relação à preci são Assim a explicação usuàl da circunferência de que ela é uma B 760 linha encurvada cujos pontos são todos equidistantes de um único o centro tem o defeito de que a determinação curva é desneces sariamente introduzida Pois tem de haver um teorema particular que se siga da definição e possa ser facilmente provado que toda li nha cujos pontos são todos equidistantes de um único é curva ne nhuma parte dela é reta Definições analíticas por outro lado po dem estar erradas de diversos modos ou porque introduzem ca racterísticas que na verdade não estavam no conceito ou porque carecem da completude que é o essencial de uma definição na me dida em que nunca se pode ter uma certeza tão completa sobre a completude de sua análise Por isso o método matemático não pode ser imitado nas definições em filosofia 2 Dos axiomas Estes são princípios sintéticos a priori na medi da em que são imediatamente certos Agora um conceito não pode estar ligado a outro sinteticamente e ao mesmo tempo imediatamen te pois para sair de um conceito é necessário um terceiro conheci mento que seja mediador Ora se a filosofia é apenas um conhecimen 5 Na filosofia são abundantes as definições equivocadas notadam ente aquelas que em bora de fato contenham elem entos para a definição não a com pletam ainda C aso não se pudesse co m eçar n ada com um conceito antes de têlo definido as coisas iriam m al para todo filosofar Com o no entanto havendo elem entos suficientes da decom posição podese sem pre fazer um u so bom e seguro dos conceitos tam bém as definições incom pletas i e proposições que ainda n ão são definições m as são d e resto verdadeiras e portanto aproxim ações de defini ções podem ser usadas de m aneira bastante proveitosa A definição p ertence à m atem ática a d esse e à filosofia a d m elius esse C hegar a isso é bom m as em geral m uito difícil E os juristas ainda procuram um a definição para o seu conceito de direito NA 542 to racional por conceitos então não pode encontrar nela nenhum princípio que mereça o nome de axioma A matemática pelo contrá rio é capaz de axiomas porque pode por meio da construção dos con ceitos conectar os predicados do objeto a priori e imediatamente na intuição do mesmo como por exemplo ao afirmar que três pontos estão sempre em um mesmo plano Um princípio sintético derivado de meros conceitos pelo contrário não pode ser nunca imediatamen te certo como por exemplo a proposição de que tudo o que acontece tem sua causa pois eu preciso providenciar um terceiro qual seja a condição da determinação temporal em uma experiência e não pode ria conhecer tal princípio direta e imediatamente apenas a partir dos conceitos Princípios discursivos portanto são algo inteiramente di verso dos intuitivos i e dos axiomas Aqueles exigem sempre uma nova dedução ao passo que os últimos prescindiriam muito bem dela e como estes pela mesma razão são evidentes algo que os princípi os filosóficos mesmo em sua máxima certeza jamais poderiam ofere cer falta infinitamente muito para que alguma proposição sintética da razão pura e transcendental seja tão visível como se costuma di zer obstinadamente quanto a proposição dois mais dois dão quatro Eu também mencionei na analítica é verdade na tábua dos princípios do entendimento puro certos axiomas da intuição mas o princípio ali introduzido não era ele próprio um axioma servindo antes para indi car o princípio da possibilidade dos axiomas em geral e sendo ape nas ele próprio um princípio derivado de conceitos Pois mesmo a possibilidade da matemática tem de ser mostrada na filosofia trans cendental A filosofia portanto não tem axiomas e nunca pode impor os seus princípios a priori de maneira tão absoluta mas tem antes de contentarse em justificar por meio de uma rigorosa dedução a sua prerrogativa em relação a eles 3 Das demonstrações Somente uma prova apodítica na medida em que é intuitiva pode denominarse demonstração A experiência nos ensina bem aquilo que existe mas não que isso não poderia ser de outro modo Demonstrações empíricas não podem portanto ofe recer uma prova apodítica A partir de conceitos a priori contudo no conhecimento discursivo nunca pode surgir uma certeza intuitiva i e uma evidência por mais que o juízo possa ser apoditicamente certo B 761 B 762 543 t Somente a matemática portanto contém demonstrações pois ela não deriva o seu conhecimento de conceitos mas da construção de conceitos i e da intuição que pode ser dada q priori em correspon dência aos conceitos Mesmo o procedimento da álgebra com as equa ções a partir das quais ela produz por redução a verdade juntamente com a prova não é de fato geométrico mas é uma construção caracte rística em que através dos sinais os conceitos sobretudo aquele da relação das quantidades são expostos na intuição e sem nunca re correrse a elementos heurísticos as inferências são asseguradas con tra os erros na medida em que cada uma delas é posta diante dos olhos O conhecimento filosófico pelo contrário precisa dispensar essa vanta gem já que tem de considerar o universal sempre in abstracto por conceitos ao passo que a matemática pode investigálo in concreto b 763 na intuição singular e ao mesmo tempo por meio de uma representa ção pura a priori em que todo passo em falso se torna visível Eu prefe riria portanto denominar as primeiras provas acromáticas discursi vas pois só podem ser produzidas através de meras palavras o objeto no pensamento e não demonstrações visto que estas como já a ex pressão indica desenvolvemse na intuição do objeto Disso tudo se segue então que absolutamente não é adequado à natureza da filosofia sobretudo no campo da razão pura meterse em um caminho dogmático e enfeitarse com os títulos e insígnias da matemática a cuja ordem não pertence ainda que tenha todas as razões para esperar uma união fraterna com ela Tratase de vãs pretensões nunca bemsucedidas que acabam por ir contra o pro pósito da filosofia a saber de descobrir as fantasias de uma razão que desconhece seus limites e por meio de um esclarecimento su ficiente de nossos conceitos reconduzir a arrogância da especula ção ao modesto mas rigoroso autoconhecimento Em seus experi mentos transcendentais portanto a razão não se mostrará tão con fiante em relação a si mesma como se o caminho por ela percorrido conduzisse diretamente ao alvo e não poderá contar tão firmemen te com as suas premissas fundamentais como se não fosse muitas vezes necessário olhar para trás e verificar com atenção se por exemplo na progressão das inferências não se mostram erros que B 764 passaram despercebidos e tornam necessário ou determinálas me lhor ou modificálas inteiramente 544 Eu divido todas as proposições apodíticas quer elas sejam de monstráveis ou imediatamente certas em dogmata e matemata Uma proposição diretamente sintética a partir de conceitos é um dogma por outro lado uma proposição de mesmo tipo que foi obtida por meio da construção de conceitos é um materna Juízos analíticos a rigor não nos ensinam nada sobre o objeto além daquilo que o conceito que temos dele já contém em si já que não ampliam o conhecimento sobre o conceito do sujeito mas apenas o elucidam Não seria apropriado portanto denominálos dogmas palavra que se poderia talvez substitu ir por sentenças Sob os dois referidos tipos de proposições sintéticas a priori contudo só podem receber esse nome segundo o uso habitu al da linguagem aquelas pertencentes ao conhecimento filosófico e di ficilmente se denominaria dogmata às proposições da aritmética ou da geometria Esse uso confirma portanto a definição que demos pela qual somente os juízos a partir de conceitos e não a partir da constru ção de conceitos podem ser denominados dogmáticos Agora a razão pura não contém em todo o seu uso meramente especulativo nem um único juízo diretamente sintético a partir de conceitos Pois através das ideias como mostramos ela absolutamen te não é capaz de juízos sintéticos que tivessem validade objetiva através dos conceitos do entendimento ela de fato estabelece princí pios seguros mas não diretamente a partir de conceitos e sim indire tamente através da relação desses conceitos a algo inteiramente con tingente a saber a experiência possível pois quando esta algo como objeto da experiência possível é pressuposta eles são de fato apoditi camente certos mas não podem jamais ser conhecidos em si mesmos diretamente a priori Ninguém pode pois discernir rigorosamente apenas a partir desses conceitos dados a proposição tudo o que acontece tem sua causa Por isso ela não é um dogma ainda que de um outro ponto de vista qual seja o do único campo em que pode ser utilizada i e a experiência possa ser provada de maneira eficaz e apodítica Embora tenha de ser provada contudo ela se denomina princípio e não teorema porque tem a peculiar propriedade de tornar primeiramente possível a sua própria demonstração a saber a expe riência e nesta tem de ser sempre pressuposta Não havendo pois nem mesmo quanto ao conteúdo nenhum dogma no uso especulativo da razão pura então todo método dogmá B 765 545 tico é inadequado quer seja emprestado à matemática quer seja ela borado de uma maneira própria Pois ele apenas oculta os defeitos e erros e engana a filosofia cujo autêntico propósito é iluminar ao má ximo todos os passos da razão Mesmo assim o método sempre pode b 766 ser sistemático Pois a nossa razão é ela mesma subjetivamente um sistema ainda que em seu uso puro através de meros conceitos seja apenas um sistema da investigação segundo princípios da unidade para a qual somente a experiência pode fornecer o material Sobre o método próprio de uma filosofia transcendental contudo não pode mos aqui dizer nada já que só estamos tratando de uma crítica das condições de nossa faculdade se podemos em geral construir e o quão alto podemos erguer com o material de que dispomos os conce itos puros a priori o nosso edifício SE G U N D A SE Ç Ã O A D ISC IP LIN A DA RAZAO PU R A EM R ELA Ç Ã O AO S E U U SO PO LÊM ICO A razão tem de submeterse à crítica em todos os seus empreendi mentos e não pode comprometer a liberdade desta através de proibi ções sem prejudicarse a si mesma e levantar uma suspeita desvanta josa contra si E não há nada tão importante no que diz respeito à sua utilidade nem nada tão sagrado que pudesse eximirse dessa ins peção de controle e exame que não leva em conta a reputação das pessoas Nessa liberdade está baseada a própria existência da razão que não tem uma autoridade ditatorial e cuja sentença pelo contrá rio nunca é outra senão o livre consenso dos cidadãos que têm de b 767 poder sempre cada um deles expressar tanto suas reservas como também seu veto sem qualquer resistência Agora ainda que a razão não possa jamais esquivarse da crítica nem sempre tem motivos para temêla Mas em seu uso dogmático não no matemático a razão pura não tem tanta consciência da estri ta observância de sua lei suprema a ponto de não ter de aparecer com toda a sua timidez e mesmo deixando de lado toda pose dogmática perante o olho crítico de uma razão superior e judicante Ocorre algo inteiramente diverso quando ela tem de lidar não com a censura do juiz mas com as pretensões de seus concidadãos e 546 deve apenas defenderse destas Pois como estas pretendem ser tão dogmáticas no negar quanto aquelas no afirmar verificase uma justifi cação K ai avGpwTTOv que assegura contra toda interferência e propor ciona uma posse legítima que nenhuma pretensão alheia pode amea çar ainda que não possa ser suficientemente provada k o u ocÀ qG eiav Por uso polêmico da razão pura eu entendo pois a defesa de suas proposições contra as negações dogmáticas das mesmas Aqui não se trata de saber se as suas afirmações não poderiam talvez ser falsas mas de que ninguém pode afirmar o contrário com certeza apodítica ou mesmo com maior plausibilidade Pois a nossa posse de algo não é precária quando temos um título diante de nós ainda que insuficiente e sendo inteiramente certo que ninguém poderia jamais provar a ilegitimidade dessa posse É preocupante e entristecedor que haja em geral uma antitética da razão pura e que esta que representa o tribunal supremo de todas as disputas entre em conflito consigo mesma Acima nós tínhamos de fato tal antitética ilusória diante de nós mas se mostrou que ela se baseava em um malentendido na medida em que de acordo com o preconceito habitual tomavamse fenômenos por coisas em si mes mas e em seguida buscavase de um modo ou de outro embora isto fosse impossível em qualquer dos modos uma completude absoluta de sua síntese o que no entanto não pode ser esperado de fenôme nos Não havia portanto nenhuma contradição da razão consigo mesma nas proposições a série de fenômenos dados em si tem um primeiro começo absoluto essa série não tem em si mesma abso lutamente nenhum começo pois ambas as proposições coexistem perfeitamente bem já que os fenômenos no que diz respeito à sua existência em si mesmos enquanto fenômenos não são nada i e são algo contraditório e sua pressuposição tem de implicar natural mente portanto consequências contraditórias Mas esse malentendido não poderia ser alegado e o conflito da razão deixado assim de lado caso por exemplo se afirmasse à manei ra teística que há um ser supremo ou à maneira ateística que não há um ser supremo ou na psicologia que tudo o que pensa tem uma unidade permanente absoluta e portanto distinguese de toda unida de material transitória ao que um outro poderia objetar dizendo que a alma não é uma unidade imaterial e não pode ser retirada da transi B 768 B 769 547 toriedade Pois o objeto da questão está livre aqui de tudo o que lhe é estranho e contradiz sua natureza e o entendimento só tem de lidar com coisas em si mesmas e não com fenômenos Certamente por tanto haveria aqui um verdadeiro conflito se apenas a razão pura ti vesse algo a dizer pelo lado da negação que se aproximasse da afir mação pois no que diz respeito à crítica dos argumentos do afirma dor dogmático podese muito bem admitila sem ter por isso de aban donar essas proposições que têm ao menos o interesse da razão a seu lado ao passo que o seu adversário não pode recorrer a este Eu não sou com efeito da opinião que homens excelentes e refle xivos p ex Sulzer tantas vezes expressaram à medida que sentiam a fraqueza das provas até aqui adotadas a de que ainda se poderia es perar encontrar algum dia demonstrações evidentes das duas propo sições cardinais de nossa razão pura há um Deus há uma vida fu B 770 tura Estou antes seguro de que isso jamais acontecerá Pois de onde pretende a razão extrair o fundamento para tais afirmações sintéti cas que não se referem a objetos da experiência ou à sua possibilida de interna Mas também é apoditicamente certo que jamais haverá al gum ser humano capaz de afirmar o contrário com a mínima plausibi lidade muito menos de maneira dogmática Pois uma vez que só po deria fazêlo através da razão pura ele teria de assumir a empreitada de provar que um ser supremo e o sujeito pensante em nós como mera inteligência seriam impossíveis De onde pretende ele contu do extrair os conhecimentos que o autorizariam a para além de toda experiência julgar as coisas tão sinteticamente Podemos despreo cuparnos portanto de que alguém possa um dia provar o contrá rio e justamente por isso não precisamos procurar por provas esco lásticas para admitir aquelas proposições que se articulam inteira mente bem com o interesse especulativo de nossa razão no uso em pírico e que além disso são o único meio para unificálo com o inte resse prático Para o adversário que aqui não deve ser considerado apenas como crítico temos preparado o nosso non liquet que deve confundilo infalivelmente na medida em que não evitamos a sua re torsão a nós mantemonos constantemente apoiados na máxima sub b 771 jetiva da razão que necessariamente faltam ao adversário e sob a sua proteção podemos observar com calma e indiferença todos os seus golpes no ar 548 Desse modo não há propriamente falando nenhuma antitética da razão pura Pois o único campo de batalha para ela teria de ser buscado no campo da teologia e da psicologia puras esse terreno contudo não comporta qualquer lutador com toda a sua armadura e com armas que fossem temíveis Ele só poderia aparecer com sarcas mo e algazarra e como um jogo de criança poderia ser objeto de riso Esta é uma observação consoladora que restitui coragem à razão pois uma vez que apenas ela pode ser chamada a corrigir seus erros em quem haveria ela de confiar se estivesse cindida em si mesma e não pudesse esperar pela paz nem por uma posse tranquila Tudo o que a própria natureza dispõe é bom para algum propósi to Mesmo os venenos servem para sobrepujar outros venenos que surgem em nossos próprios humores e não devem faltar portanto em uma coleção completa de remédios farmácia As próprias obje ções contra as convicções e a arrogância de nossa razão meramente especulativa são oferecidas pela natureza dessa razão e portanto de vem ter sua boa destinação e seu bom propósito os quais não devem ser jogados ao vento Por que a providência teria colocado tão acima de nós objetos que se concatenam com nosso mais elevado interesse de tal modo que só nos é possível encontrálos em uma percepção obscura para nós mesmos duvidosa que mais incita do que satisfaz nossos olhares perscrutadores Mesmo que seja útil é no mínimo duvi doso e talvez prejudicial arriscar determinações presunçosas em rela ção a tais perspectivas É sempre útil contudo e acima de qualquer dú vida colocar em plena liberdade tanto a razão investigadora como a examinadora de modo que ela possa cultivar de maneira desimpedida o seu próprio interesse que é igualmente beneficiado quer se colo quem limites a seu conhecimento quer seja ele ampliado e que é sem pre prejudicado quando mãos estranhas se intrometem para segundo propósitos impostos desviála de seu caminho natural Deixem pois que seu adversário use somente a razão e o comba tam apenas com as armas da razão De resto fiquem despreocupados quanto à boa causa do interesse prático pois ela nunca está em jogo no conflito meramente especulativo O conflito revela tão somente uma certa antinomia da razão que baseada na sua natureza tem de ser necessariamente ouvida e examinada Esse conflito a ensina a considerar seu objeto por dois lados e corrige seu juízo limitandoo B 772 549 0 que se coloca aqui em disputa não é a coisa mas o tom Pois mes mo quando tenham tido de abandonar a linguagem do saber ainda lhes resta o suficiente para falar a linguagem justificada perante a B 773 mais rigorosa razão de uma firme fé Caso se perguntasse a David Hume homem de sangue frio pro priamente criado para o equilíbrio do juízo o que o levou a sabotar com dúvidas trabalhosamente refletidas a tão útil convicção recon fortante para os seres humanos de que o discernimento de sua razão seria apto a afirmar e determinar o conceito de um ser supremo ele responderia tão somente o propósito de fazer a razão avançar em seu autoconhecimento e ao mesmo tempo certa aversão à coerção que se quer impor à razão quando se faz alarde com ela impedindoa ao mesmo tempo de confessar suas fraquezas que se tornam evidentes no exame que ela faz de si mesma Se no entanto perguntarem a Pri estley que se dedica somente aos princípios do uso empírico da ra zão e se esquiva de toda especulação transcendente que motivos te ria ele um pio e zeloso professor de religião para derrubar a liberda de e a imortalidade de nossa alma esses dois pilares de toda religião a esperança na vida futura para ele é apenas a expectativa de um mi lagre da ressurreição ele não poderia responder de outro modo a não ser dizendo é o interesse da razão que seria prejudicado quando se eximem certos objetos das leis da natureza material as únicas que B 774 podemos conhecer e determinar com precisão Pareceria injusto des prezar este último que busca unificar sua paradoxal afirmação com o propósito da religião e fazer injustiça a um homem de boas inten ções porque ele não consegue orientarse quando se vê perdido fora do campo da ciência natural Mas esse benefício também tem de ser concedido ao não menos bemintencionado Hume irreprochável em seu caráter moral que não pode abandonar sua especulação abstrata porque sustenta com razão que o objeto desta se encontra fora dos limites da ciência natural no campo das ideias puras Que fazer aqui no entanto sobretudo no que diz respeito ao peri go que parece ameaçar assim o bem comum Nada é mais natural nada é mais justo do que a decisão que vocês devem tomar quanto a isso Deixem que essas pessoas façam o que quiserem se tiverem ta lento se investigarem com profundidade e novidade se em uma pala vra mostrarem razão a razão sempre ganhará Se vocês recorrerem a 550 outros meios que não os de uma razão livre de coerção se fizerem acusações de traição se apelarem à comunidade que nada entende de tão sutis elucubrações para como que apagar o incêndio vocês se tornarão ridículos Pois não se trata aqui de saber o que é mais vantajo so ou prejudicial para o bem comum mas do quão longe a razão pode ir na especulação que abstrai de todo interesse e do quanto se pode contar com esta no âmbito prático ou se neste não seria preferível abandonála Em vez portanto de avançar com a espada permaneçam antes no assento seguro da crítica e assistam daí a esse conflito que deve ser cansativo para os contendores divertido para vocês e sem derramamento de sangue no desfecho proveitoso para seus conheci mentos Pois é algo bastante absurdo esperar um esclarecimento da ra zão e ao mesmo tempo prescreverlhe de antemão de que lado ela deve necessariamente ficar Além disso a razão já é tão bem domada e mantida em limites pela própria razão que não lhes será necessário chamar pela guarda para opor resistência civil àquele partido cujo preo cupante predomínio lhes parece perigoso Nessa dialética não há vitória com que vocês pudessem ter razão para preocuparse A razão também necessita muito desse conflito e seria desejável que ele tivesse sido realizado anteriormente com ilimitada permissão pública Pois nesse caso uma crítica madura teria surgido mais cedo e com o seu aparecimento todas essas ações bélicas teriam desapare cido por si mesmas já que os combatentes teriam aprendido a reco nhecer a cegueira e os preconceitos que os haviam desunido Há uma certa insinceridade na natureza humana que como tudo o que vem da natureza tem de conter afinal uma intenção para bons fins insinceridade que consiste na inclinação a esconder suas verda deiras intenções e trazer à cena certas outras adotadas que são tidas por boas e respeitáveis Através desse impulso que os leva tanto a es conderse como também a adotar uma aparência vantajosa para si os seres humanos com toda certeza não apenas se civilizaram mas em certa medida gradativamente se moralizaram pois ninguém podia vestir a máscara da respeitabilidade honradez e decência e só se en contrava uma escola do melhoramento para si mesmo em exemplos supostamente autênticos do bem que se podia ver ao redor de si Mas essa disposição de apresentarse melhor do que se é e expressar in tenções que não se tem serve apenas provisoriamente por assim di B 775 B 776 551 zer para tirar os seres humanos da barbárie e permitirlhes adotar pela primeira vez ao menos os modos do bem pois depois quando os verdadeiros princípios se tenham desenvolvido e passado ao modo do pensar aquela falsidade tem de ser combatida pouco a pouco já que do contrário deteriora o coração e não permite que apareçam as boas intenções sufocadas sob as ervas daninhas da boa aparência Eu lamento perceber essa mesma insinceridade simulação e hi pocrisia até mesmo nas expressões do modo de pensar especulativo em que os seres humanos todavia têm muito menos dificuldade mes mo sem nenhuma vantagem para confessar seus pensamentos como B 777 é conveniente de maneira aberta e sem dissimulação Pois o que pode ser mais prejudicial para a compreensão do que comunicar me ros pensamentos com falsidade esconder dúvidas que sentimos em relação a nossas próprias afirmações ou dar um verniz de evidência a argumentos que não satisfazem sequer a nós mesmos A medida po rém que a vaidade pessoal continue a comandar essa conspiração se creta como costuma ocorrer nos juízos especulativos que não des pertam um interesse especial e dificilmente são capazes de uma certe za apodítica a vaidade dos outros resistirá então a ela com aprova ção pública e as coisas acabam por chegar aonde a mais sincera in tenção e a honestidade ainda que muito mais cedo as teriam coloca do Ali onde a comunidade porém sustenta que sofistas meticulosos cuidam de nada menos que tornar vacilantes os pilares do bemestar público parece não apenas conforme à prudência mas também per mitido e mesmo louvável sair em auxílio à boa causa mesmo com fundamentos aparentes antes que os seus supostos adversários te nham sequer a vantagem de rebaixar o nosso tom à moderação de uma convicção meramente prática e nos forçar a admitir a falta de certeza especulativa ou apodítica Eu tenderia a pensar entretanto que nada no mundo poderia ser menos compatível com o propósito de afirmar uma boa causa do que a insídia a simulação e o engano B 778 Que na ponderação dos fundamentos racionais de uma mera especu lação tudo tenha de acontecer com honestidade é o mínimo que se poderia exigir Caso se pudesse contudo contar ao menos com esse mínimo ou o conflito da razão especulativa sobre as importantes questões de Deus da imortalidade da alma e da liberdade se teria há tempos decidido ou seria muito brevemente trazido a um termo 552 Com grande frequência pois a sinceridade das intenções está em re lação invertida com a bondade da coisa mesma e esta tem talvez mais opositores sinceros e honestos do que defensores Eu pressuponho leitores portanto que não admitiriam ver uma causa justa defendida com injustiça Está decidido pois no que diz respeito a eles que não poderia haver qualquer polêmica da razão pura segundo os nossos princípios da crítica quando se tem em vista não aquilo que acontece mas aquilo que deveria por justiça aconte cer Pois como poderiam duas pessoas desenvolver um conflito sobre uma coisa cuja realidade nenhum dos dois é capaz de apresentar em uma experiência seja esta real ou simplesmente possível e cuja ideia é tão somente remoída para que dela se extraia algo mais do que a ideia a saber a realidade do próprio objeto De que modo pretendem eles sair do conflito se nenhum dos dois torna sua causa diretamente compreensível e certa mas apenas ataca e refuta a causa do outro Pois este é o destino de todas as afirmações da razão pura na medida em que vão além das condições de toda experiência possível fora da qual nenhum documento da verdade pode ser encontrado em parte alguma mas precisam servirse também das leis do entendimento que são destinadas apenas ao uso empírico mas sem as quais não se pode dar nenhum passo no pensamento sintético elas sempre ofere cem flancos ao adversário mas podem reciprocamente beneficiarse do flanco do adversário Podese considerar a crítica da razão pura como o verdadeiro tri bunal para todas as suas controvérsias pois ela não está implicada nestas últimas que se dirigem imediatamente ao objeto mas está na posição de determinar e julgar segundo os princípios de sua primeira instituição os direitos da razão em geral Sem essa crítica a razão está como que no estado de natureza e só pode fazer valer ou assegurar suas afirmações e pretensões atra vés da guerra A crítica pelo contrário que extrai todas as decisões das regras fundamentais de sua própria instituição cuja reputação não pode ser questionada nos proporciona a tranquilidade de um es tado sob leis em que só podemos levar uma controvérsia adiante através do processo O que encerra as ações no primeiro estado é a vi tória de que ambas as partes se gabam e na maioria das vezes o que se segue a ela é somente uma paz insegura instituída pela autoridade B 779 B 780 553 1 que se interpõe às partes no segundo estado porém é a sentença que chegando à fonte das controvérsias tem de garantir uma paz perpétua As infindáveis controvérsias de uma razãomeramente dog mática também fazem com que se termine por buscar repouso em al guma crítica dessa razão mesma e em uma legislação que nela se fun de como afirma Hobbes o estado de natureza é um estado de injusti ça e violência e se deveria necessariamente abandonálo para subme terse à coerção legal que só limita nossa liberdade à coexistência com todas as demais liberdades e justamente por isso à coexistência com o bem comum A essa liberdade pertence também portanto a liberdade de ofere cer ao julgamento público os próprios pensamentos e dúvidas que não conseguimos solucionar por nós mesmos sem sermos acusados por isso de ser cidadãos revoltosos ou perigosos Isso já faz parte do direito originário da razão humana que não reconhece outro juiz se não a própria razão humana universal em que cada um tem a sua voz e como dela deve brotar todo melhoramento de que nosso estado é capaz tal direito é sagrado e não pode ser restringido Além disso é muito pouco sábio denunciar como perigosas certas afirmações ousa das ou certos ataques destemperados àqueles que já tem a seu lado o assentimento da maior e melhor parte da comunidade pois isto signi b 781 ficaria darlhes uma importância que eles absolutamente não deveriam ter Se ouço dizer que uma mente invulgar teria refutado a liberdade da vontade humana a esperança em uma vida futura e a existência de Deus fico ansioso para ler o livro pois espero de seu talento que ele possa ampliar meus conhecimentos Já de antemão contudo estou inteiramente certo de que ele não terá realizado nada disso não por que eu acredite já estar em posse de provas incoercíveis dessas impor tantes proposições mas porque a crítica transcendental que me reve lou todo o acervo da razão pura convenceume inteiramente de que assim como ela é inteiramente incapaz de asserções afirmativas nesse campo ela não saberia tampouco ou menos ainda afirmar algo de caráter negativo sobre essas questões Pois onde pretende o suposto espírito livre basear o seu conhecimento de que por exemplo não existe um ser supremo Esta proposição se encontra fora do campo da experiência possível e por conseguinte também fora dos limites de todo discernimento humano Eu certamente não leria o defensor dogmático da boa causa contra esse inimigo pois já sei de antemão 554 que ele só atacaria os fundamentos ilusórios do outro para aumentar sua própria aceitação e que além disso uma ilusão cotidiana não dá tanto material para novas considerações quanto uma inusual que te nha sido engenhosamente concebida O defensor da religião pelo con trário embora também dogmático quanto ao seu modo de pensar da ria à minha crítica o desejado material e a ocasião para novas corre ções de seus princípios sem que haja algo a temer dele Não deveriam os jovens porém que são confiados ao ensino aca dêmico ser ao menos alertados diante de semelhantes escritos E não deve ser evitado um contato precoce deles com tão perigosas proposi ções antes que sua faculdade de julgar amadureça ou antes que a dou trina que neles se pretende fundar esteja firmemente enraizada fazen doos resistir a toda persuasão do contrário venha esta de onde for Se tivéssemos de permanecer no procedimento dogmático em assuntos da razão pura e o tratamento do adversário fosse realmen te polêmico i e constituído de tal modo que entrássemos no comba te e nos armássemos com argumentos para defender as afirmações opostas certamente não haveria nada mais aconselhável no momen to mas nada também mais vão e infrutífero a longo prazo do que co locar a razão da juventude sob tutela por um tempo e ao menos por esse tempo protegêla da sedução Se depois disso contudo a curiosi dade ou a moda da época levar esses escritos às suas mãos conseguirá a convicção juvenil manterse firme Aquele que só carrega armas dog máticas para resistir aos ataques de seu adversário e não consegue de senvolver a dialética que se oculta não somente em seu peito mas tam bém no do adversário vê surgirem fundamentos ilusórios que têm o privilégio da novidade contra fundamentos ilusórios que já não o têm mas antes levantam a suspeita de abusar da credulidade juvenil Ele acredita não poder mostrar que saiu da submissão infantil de um modo melhor do que se colocando acima de tais advertências bemintencio nadas e habituado ao dogmatismo toma fartos goles do veneno que corrompe dogmaticamente os seus princípios O que tem de acontecer na educação acadêmica é justamente o contrário do que aqui se recomenda ainda que sob a pressuposição é certo de uma instrução rigorosa na crítica da razão pura Pois é abso lutamente necessário para colocar em prática os princípios dessa crí tica tão cedo quanto possível e mostrar a sua suficiência frente a B 782 B 783 555 maior ilusão dialética dirigir os ataques tão temidos pelo dogmático contra a sua razão ainda fraca mas esclarecida pela crítica e dei xar que faça a tentativa de testar as afirmações infundadas do adver sário ponto por ponto com base em tais princípios Não lhe será difí cil dissolvêlas em mera fumaça e ele sentirá desde cedo a sua própria força para assegurarse contra semelhantes fantasias prejudiciais que para ele têm de perder afinal todo caráter ilusório Se esses mesmos b 784 golpes contudo que destroem o edifício do inimigo forem igualmen te prejudiciais à sua própria construção especulativa caso ele pensasse em erguer uma então ele pode ficar inteiramente despreocupado quan to a isso já que não precisa dela para morar mas apenas tem diante de si uma perspectiva no campo prático onde pode com razão espe rar por um solo mais firme para sobre ele erguer o seu racional e sau dável sistema Sendo assim não há uma polêmica propriamente dita no campo da razão pura Ambas as partes lutam no ar e combatem com suas sombras pois vão além da natureza ali onde não há nada em que suas garras dogmáticas pudessem agarrar e firmarse Eles podem lu tar muito bem mas as sombras que eles ferem crescem novamente em um instante como os heróis na Walhalla para poder divertirse em novas lutas sem derramamento de sangue Mas também não há um uso cético lícito da razão a que se pudesse em todas as suas controvérsias denominar o princípio da neutralidade Incitar a razão contra si mesma providenciarlhe armas em ambos os lados e então assistir com calma e escárnio aos seus mais tempestuo sos conflitos isto é algo que não parece adequado de um ponto de vis ta dogmático indicando antes uma índole cínica e desprezível Caso se considere por outro lado a cegueira e a ostentação dos sofistas B 785 que não querem dobrarse a nenhuma crítica então não h á nada mais aconselhável do que contrapor à tagarelice de uns a tagarelice de ou tros ambas em pé de igualdade para que a oposição de um inimigo ao menos deixe a razão perplexa fazendoa duvidar minimamente de suas suposições e dar ouvidos à crítica Mas apenas entregarse a es sas dúvidas e passar a recomendar que se esteja convencido da pró pria ignorância e se a admita não apenas como mero remédio contra a arrogância dogmática mas também como o modo de pôr fim ao con flito da razão consigo mesma é uma proposta inteiramente fútil que 556 não pode servir de modo algum para proporcionar um estado de tran quilidade à razão isso é tão somente quando muito um meio de acor dála de seu doce sonho dogmático para submeter seu próprio estado a um exame mais cuidadoso Uma vez porém que esse costume cético de esquivarse a um assunto difícil da razão parece ser como que o ca minho mais curto para atingir uma tranquilidade filosófica permanen te ou ao menos a ampla estrada em que entram com prazer aqueles que com um escárnio cínico por todas as investigações desse tipo pre tendem darse uma aparência filosófica considero necessário apresen tar esse modo de pensar na luz que lhe é própria Da impossibilidade de um apaziguamento cético da razão que se encontra em desunião consigo mesma Em vez de pôr fim às minhas investigações a consciência de mi nha ignorância quando esta não é ao mesmo tempo reconhecida como necessária é antes a causa que efetivamente as desperta Toda ignorância é ou uma ignorância das coisas ou da determinação e dos limites de meu conhecimento Se a ignorância é contingente no en tanto tenho de lançarme a investigar as coisas os objetos dogmati camente no primeiro caso e no segundo a investigar criticamente os limites de meu conhecimento possível Quanto a saber se minha ignorância é absolutamente necessária contudo liberandome assim de qualquer investigação ulterior isto é algo que não pode ser estabe lecido empiricamente por meio da observação mas apenas critica mente por meio da sondagem das fontes primeiras de nosso conheci mento A determinação dos limites de nossa razão portanto só pode acontecer segundo fundamentos a priori a sua limitação porém que é o conhecimento ainda que indeterminado de uma ignorância que nunca pode ser inteiramente suprimida também pode ser conhe cida a posteriori por meio daquilo que em todo saber resta sempre a conhecer Aquele primeiro conhecimento da ignorância portanto que só é possível através da crítica da razão é uma ciência ao passo que o último é tão somente uma percepção de cuja inferência não se pode dizer o quão longe alcança Se me represento a superfície da Terra como um prato em conformidade com a ilusão sensível não posso saber o quão longe ela se estende Mas a experiência me ensina o se guinte aonde quer que eu vá sempre vejo um espaço em torno de B 786 B 787 557 mim onde posso prosseguir logo reconheço limites no conhecimento que efetivamente possuo caso a caso da Terra mas não os limites de todas as descrições possíveis da Terra Se cheguei ao ponto de saber contudo que a Terra é uma esfera e sua superfície esférica então tam bém posso a partir de uma pequena parte dela como por exemplo o tamanho de um grau conhecer de maneira determinada e segundo princípios a priori o seu diâmetro e por meio deste a completa delimi tação da Terra i e a sua superfície e mesmo que eu seja ignorante com relação aos objetos que essa superfície possa conter não o sou em relação à extensão que ela contém à grandeza e aos limites desta O conjunto completo de todos ps objetos possíveis para nosso co nhecimento parecenos ser uma superfície plana que possui um hori zonte aparente qual seja aquele que contém a sua inteira extensão e foi por nós denominado o conceito racional da totalidade incondicio nada É impossível alcançálo empiricamente e determinálo a priori segundo um certo princípio todas as tentativas nesse sentido foram b 788 em v ã o Entretanto todas as questões de nossa razão pura se dirigem àquilo que possa estar fora desse horizonte ou em todo caso tam bém em sua linha limítrofe 0 famoso David Hume foi um desses geógrafos da razão humana que ao situar aquelas questões fora do horizonte desta supôs têlas excluído definitivamente ainda que sem poder determinar tal hori zonte Ele se deteve de maneira brilhante no princípio da causalida de e observou de modo inteiramente correto que a verdade dele ou mesmo a validade objetiva do conceito de uma causa atuante em ge ral não poderia basearse em nenhum discernimento i e conheci mento a priori e que portanto o que perfaz todo o seu prestígio não é de modo algum a necessidade dessa lei mas antes uma mera aplica bilidade geral do princípio no curso da experiência e a necessidade subjetiva daí derivada a que ele denominou hábito Da incapacidade de nossa razão pois para fazer um uso desse princípio que fosse além de toda experiência ele inferiu a nulidade de todas as suposi ções da razão para em geral ir além do empírico A um procedimento desse tipo que submete os facta da razão ao exame e após os resultados à repreensão podese denominar censu ra da razão Está fora de dúvida que essa censura conduz inexoravel B 789 mente à dúvida quanto a todo uso transcendente dos princípios Mas 5 5 8 este é apenas o segundo passo e está longe de completar o trabalho O primeiro passo nos assuntos da razão que caracteriza a sua infân cia é dogmático O segundo passo que acabamos de mencionar é cé tico e testemunha a cautela de uma faculdade de julgar calejada pela experiência Mas ainda é necessário um terceiro passo e dele só é ca paz uma faculdade de julgar madura e viril que tenha por fundamen to máximas firmes e comprovadas no que diz respeito à sua universa lidade qual seja o de submeter à avaliação não os facta da razão mas a própria razão no que diz respeito à sua faculdade como um todo e à sua aptidão para conhecimentos puros a priori e isso não é uma cen sura mas a crítica da razão através da qual são provados a partir de princípios não apenas presumidos não somente as limitações mas os limites determinados da razão não apenas a ignorância em um ou outro ponto mas em relação a todas as possíveis questões de um cer to tipo O ceticismo é assim um lugar de repouso para a razão huma na onde ela pode refletir sobre suas andanças dogmáticas e fazer o mapa da região onde se encontra de modo a poder escolher o cami nho por onde continuará com maior segurança ele não é pois um lu gar para fixar residência definitiva Pois só se pode encontrar esta úl tima em uma certeza completa seja quanto ao conhecimento dos pró prios objetos seja quanto aos limites no interior dos quais todo o nosso conhecimento dos objetos se acha encerrado Nossa razão não é digamos um campo indefinidamente estendi do cujos limites só sejam conhecidos de maneira geral ela tem antes de ser comparada a uma esfera cujo raio pode ser calculado a partir da curvatura do arco sobre sua superfície a partir da natureza das propo sições sintéticas a priori e cujo conteúdo e limitação também se po dem obter com segurança a partir do raio Fora dessa esfera o campo da experiência não há nada que seja um objeto para ela e mesmo questões sobre supostos objetos fora dela só dizem respeito a princípios subjetivos de uma determinação completa das relações que podem sob conceitos do entendimento aparecer no interior dessa esfera Como o demonstram os princípios do entendimento que anteci pam a experiência nós estamos realmente em posse de um conheci mento sintético a priori Caso alguém não consiga conceber a possi bilidade de tais princípios pode até duvidar num primeiro momento de que eles realmente residam em nós a priori mas não pode pela B 790 5 5 9 isso por uma impossibilidade dos s todos os passos que a razão dá seguinao o seu no conauior cae pode apenas dizer que se conside rássemos a sua origem e a sua autenticidade poderíamos determinar o alcance e os limites de nossa razão antes que isso tenha ocorrido B 791 porém todas as afirmações desta última são arriscadas às cegas E se ria bem fundada desse modo uma dúvida constante em relação a toda filosofia dogmática que prossegue seu próprio caminho sem uma crítica da razão mas nem por isso tal prosseguimento teria de ser inteiramente recusado à razão desde que fosse preparado e asse gurado através de uma melhor fundamentação Pois todos os concei tos com efeito e mesmo todas as questões que a razão pura nos colo ca não residem na experiência mas somente na própria razão e por isso têm de poder ser resolvidos e compreendidos quanto à sua valida de ou correção Nós também não estamos autorizados a sob o pretex to de nossa incapacidade deixar esses problemas de lado como se sua solução estivesse realmente na natureza das coisas e recusarnos a seguir investigandoos pois a razão gerou essas ideias por si mes ma em seu próprio útero e é ela portanto quem tem de prestar con tas da validade ou ilusão dialética das mesmas Todo polemizar cético somente se dirige de fato contra o dog mático que sem levantar uma desconfiança quanto a seus princípios objetivos originários i e sem crítica prossegue seu caminho por inércia e somente visa confundirlhe o conceito e leválo ao autoco nhecimento Em si mesmo ele não estabelece absolutamente nada quanto ao que sabemos e ao que pelo contrário não podemos saber B 792 Todos os esforços dogmáticos da razão fracassados são facta que é sempre útil submeter à censura Isso não pode contudo decidir nada acerca das expectativas da razão quanto a um maior sucesso de seus esforços futuros ou à possibilidade de levantar pretensões nesse sen tido a mera censura não pode jamais portanto trazer a termo a con trovérsia sobre os direitos da razão humana Como Hume é talvez o mais habilidoso de todos os céticos e sem dúvida o mais destacado no que diz respeito à influência que o proce dimento cético pode ter no sentido de despertar um exame rigoroso da razão vale a pena apresentar até onde seja proveitoso para meus propósitos tanto o curso de suas inferências como as errâncias desse 560 homem tao inteligente e valoroso que começaram apesar de tudo por seguir a pista da verdade Hume pensava talvez ainda que jamais o tenha desenvolvido in teiramente que em juízos de um certo tipo nós vamos além de nossos conceitos de objetos Eu denominei sintético a esse tipo de juízos Quanto a como eu possa por meio da experiência sair do conceito que tenho até esse ponto isto não foi submetido a nenhum questiona mento A experiência é ela própria uma tal síntese de percepções que aumentam meu conceito que possuo através de uma percepção acres centando outras percepções a ele Mas nós acreditamos poder tam bém ir a priori além de nosso conceito ampliando assim nosso conhe cimento Nós o tentamos ou através do entendimento puro em rela ção àquilo que pode ao menos ser um objeto da experiência ou mes mo através da razão pura em relação àquelas propriedades das coi sas ou também à existência de tais objetos que não podem jamais apresentarse na experiência Nosso cético não resolveu esses dois ti pos de juízos como deveria todavia ter feito mas tomou por impossí veis precisamente essa ampliação dos conceitos a partir de si mesmos e por assim dizer a geração espontânea de nosso entendimento jun tamente com a razão sem terem sido fecundados pela experiência e por conseguinte tomou por imaginários os supostos princípios a pri ori dessas faculdades e julgou que eles não seriam nada além de um hábito criado a partir da experiência e de suas leis portanto nada além de regras meramente empíricas i e em si contingentes a que atribuímos uma suposta necessidade e universalidade Para afirmar essa estranha proposição no entanto ele se reportou ao princípio universalmente reconhecido da relação das causas ao efeito Pois co mo nenhuma faculdade do entendimento pode levarnos do conceito de uma coisa à existência de outro algo que seja dado assim de ma neira universal e necessária ele acreditou poder concluir daí que sem a experiência nós não temos nada que possa ampliar nosso conceito ou autorizarnos a um juízo que se estenda a priori por si mesmo Que a luz do sol que ilumina a cera a derreta ao mesmo tempo ao passo que à argila endureça é algo que nenhum entendimento pode ria adivinhar a partir dos conceitos que tínhamos antes dessas coisas muito menos inferir conformemente a leis cabendo apenas à expe riência ensinarnos tal lei Na lógica transcendental em contraparti B 793 B 794 561 da vimos que embora não possamos jamais ir imediatamente além do conteúdo do conceito que nos é dado podemos conhecer inteira mente a priori ainda que em relação com um terceiro qual seja a experiência possível ainda a priori portanto a lei da conexão com outras coisas Se pois a cera que era firme derrete posso conhecer a priori que antes tem de ter havido algo por exemplo o calor do sol a que isso se seguiu segundo uma lei constante muito embora eu não possa nem conhecer a causa a partir do efeito sem a experiência nem conhecer o efeito a partir da causa de maneira a priori e determina da sem o ensinamento da experiência Da contingência de nossa de terminação segundo a lei portanto ele inferiu falsamente a contin gência da própria lei confundindo o sair do conceito de uma coisa na experiência possível que acontece a priori e constitui a realidade objetiva do mesmo com a síntese dos objetos da experiência real que evidentemente é sempre empírica com isso porém ele fez do princípio da afinidade que tem sua sede no entendimento e enuncia uma conexão necessária uma regra da associação que só se encontra na B 795 imaginação reprodutiva e só pode apresentar ligações contingentes de modo algum objetivas As errâncias céticas desse homem de resto extraordinariamente sagaz surgiram sobretudo de uma carência que apesar de tudo ele tinha em comum com todos os dogmáticos a saber a de não conside rar sistematicamente todos os tipos de síntese a priori do entendi mento Pois nesse caso ele teria descoberto por exemplo para não mencionar outros aqui que o princípio da permanência enquanto tal antecipa a experiência do mesmo modo como o da causalidade Ele também teria podido com isso prescrever determinados limites ao entendimento que se amplia a priori e à razão Como no entanto ele apenas limita o nosso entendimento sem delimitálo e produz apenas uma desconfiança geral mas não um conhecimento determi nado da ignorância que nos seria inevitável como coloca alguns prin cípios do entendimento sob censura sem trazer esse entendimento à balança da crítica no que diz respeito a toda a sua faculdade e como ao negarlhe o que de fato não pode realizar vai além e mesmo sem ter submetido essa faculdade inteira à avaliação recusalhe toda a ca pacidade de estenderse a priori então acontece a ele o que sempre derruba o ceticismo a saber ele mesmo é objeto de dúvida já que 562 suas objeções se baseiam somente em factis que são contingentes mas não em princípios que pudessem implicar uma renúncia necessá ria ao direito de fazer afirmações dogmáticas Como além disso ele não reconhece qualquer diferença entre as pretensões fundadas do entendimento e as suposições dialéticas da razão contra as quais contudo são prioritariamente dirigidos seus ataques a razão cujo impulso mais próprio não é minimamente cor rompido com isso mas apenas perturbado não sente que o espaço para a sua ampliação esteja fechado nem pode jamais ser inteiramen te afastada de suas tentativas não obstante seja atormentada aqui e ali Pois contra os ataques nos preparamos para a defesa e nos obsti namos ainda mais em impor nossas exigências Um exame completo de toda a nossa faculdade porém e a convicção que daí surge da cer teza de uma pequena posse frente à vaidade de pretensões mais eleva das suspende todo conflito e nos leva à aceitação pacífica de uma propriedade que embora limitada é inquestionável Contra o dogmático acrítico que não mediu a esfera de seu en tendimento nem portanto determinou segundo princípios os limites de seu possível conhecimento e que portanto não sabe o quanto pode de antemão mas acredita poder descobrilo por meras tentati vas esses ataques céticos são não apenas perigosos como podem ser fatais para ele Pois caso ele seja atingido em uma única afirma ção que não pode justificar e cuja aparência também não pode desen volver a partir de princípios a suspeita recai então sobre todas por mais persuasivas que de resto possam ser E assim o cético é o preceptor que ensina ao sofista dogmático uma crítica saudável do entendimento e da própria razão Se ele che gou a esse ponto não precisa temer nenhum outro ataque pois dis tingue então a sua posse daquilo que está inteiramente fora dela onde ele não levanta qualquer pretensão e não pode ser envolvido em controvérsias quanto a isso Em si mesmo portanto o procedimento cético não é satisfatório para as questões da razão mas serve de pre paração para despertar a sua cautela e indicar meios rigorosos pelos quais ela pode assegurarse em suas posses legítimas B 796 B 797 563 TERCEIRA SEÇÃO A DISCIPLINA DA RAZÃO EM RELAÇÃO ÀS HIPÓTESES Uma vez pois que através da crítica de nossa razão sabemos ape nas afinal que em seu uso puro e especulativo não podemos saber de fato absolutamente nada ela não deveria abrir então um campo tão mais amplo para as h ipóteses no qual seja permitido se não afirmar ao menos inventar e opinar b 798 Se a imaginação não deve divagar mas in ven ta r algo sob a estrita vigilância da razão então tem de haver algo antes que seja inteiramen te certo e não uma invenção ou mera opinião e é isso a própria possi bilidade do objeto É perfeitamente permitido nesse caso refugiarse na opinião no que diz respeito à realidade do mesmo mas tal opinião para não ser infundada tem de ser posta em conexão enquanto funda mento da explicação com aquilo que é realmente dado e portanto cer to e ela tem então de denominarse hipótese Agora como nós não podemos formar a p rio ri o mínimo conceito da possibilidade da conexão dinâmica e a categoria do entendimento puro não serve para concebêla mas apenas para compreendêla quan do ela se dá na experiência então nós não podemos imaginar origina riamente segundo essas categorias nem mesmo um único objeto com uma constituição nova não fornecível empiricamente nem tam pouco colocála como fundamento de uma hipótese permitida pois isso significaria submeter em vez de conceitos de coisas fantasmago rias vazias à razão Assim não é permitido conceber para si alguma nova força originária como por exemplo um entendimento capaz de intuir seu objeto sem os sentidos ou uma força de extensão sem qual quer toque ou um novo tipo de substâncias que digamos se apresen tassem no espaço sem impenetrabilidade consequentemente tam bém não se poderia conceber uma comunidade de substâncias que se B 799 distinguisse de todas aquelas que são oferecidas pela experiência nem tampouco uma presença que não estivesse no espaço ou uma du ração que não estivesse no tempo Em uma palavra para a nossa ra zão só é possível empregar as condições da experiência possível como condições de possibilidade das coisas e nunca criar algumas por si mesma independentemente destas já que semelhantes conceitos em bora não contraditórios não teriam contudo nenhum objeto 564 Os conceitos da razão como dito são meras ideias e evidente mente não têm objeto em alguma experiência mas nem por isso de signam objetos inventados que ao mesmo tempo fossem tomados por possíveis Eles são pensados apenas problematicamente para fun dar na relação com eles enquanto ficções heurísticas princípios re gulativos do uso sistemático do entendimento no campo da experiên cia Partindose disso eles são meros produtos do pensamento cuja possibilidade não é demonstrável e que por isso não podem através de uma hipótese ser colocados como fundamento da explicação dos fenômenos reais P en sa r a alma como simples é perfeitamente lícito para segundo essa ideia fazer da unidade completa e necessária de todos os poderes da mente mesmo sem poder compreendêla o prin cípio de nosso julgamento de seus fenômenos internos Mas a d m itir a alma como substância simples um conceito transcendental seria uma proposição não só indemonstrável como o são muitas hipóteses físi cas mas formulada às cegas e de maneira inteiramente arbitrária já que o simples não pode apresentarse em experiência alguma e caso se entenda aqui por substância o objeto permanente da intuição sensível a possibilidade de um fen ôm en o sim p les não pode ser de modo algum compreendida Seres meramente inteligíveis ou propriedades mera mente inteligíveis das coisas do mundo sensível não podem ser admiti dos como opiniões autorizadas pela razão de maneira fundamentada muito embora também não possam já que não se têm conceitos de sua possibilidade ou impossibilidade ser dogmaticamente negados em virtude de um discernimento supostamente melhor Para a explicação de fenômenos dados não pode ser aduzida ne nhuma outra coisa nenhum outro fundamento explicativo senão aque les que tenham sido postos em conexão com as coisas dadas segundo leis já conhecidas dos fenômenos Uma h ip ó tese tran scen d en ta l em que uma mera ideia da razão fosse empregada para explicar as coisas da natureza não seria explicação alguma pois não se pode explicar aquilo que não se entende suficientemente a partir de princípios empíricos conhecidos através de algo de que não se sabe absoluta mente nada Além disso o princípio de tal hipótese serviria apenas propriamente falando para satisfazer a razão e não para promover o uso do entendimento em relação aos objetos A ordem e a conformi dade a fins na natureza têm de ser explicadas por seu turno a partir B 800 565 b 801 de fundamentos naturais e segundo leis naturais e aqui as mais ousa das hipóteses sendo apenas físicas são mais palatáveis que uma hi pótese hiperfísica i e o apelo a um criador divino que se pressu põe com vistas a isso Pois isto seria um princípio da razão pregui çosa ig n a va ra tio simplesmente passar ao largo de todas as cau sas que se poderia conhecer em uma continuação da experiência para encontrar repouso em uma mera ideia que é muito confortável para a razão No que diz respeito porém à totalidade absoluta do fun damento explicativo na série dessas causas isso não pode constituir um obstáculo em relação aos objetos do mundo já que sendo eles me ros fenômenos não se pode jamais esperar na síntese das séries de condições algo de acabado neles Não se pode aceitar hipóteses trans cendentais do uso especulativo da razão nem a liberdade de empregar hipóteses hiperfisicas para suprir a falta de fundamentos físicos de explica ção em parte porque a razão não vai mais longe com isso sendo antes in terrompida toda continuação de seu uso e em parte porque essa licença acabaria por fazéla perder todos os frutos do cultivo de seu solo próprio qual seja a experiência Pois se a explicação da natureza aqui ou ali mostrase difícil para nós temos sempre à mão um fundamento trans b 802 cendente de explicação que nos exime daquela questão e encerra nos sa investigação da natureza não pela compreensão mas pela comple ta imaturidade de um princípio que desde o início fora inventado para conter o conceito do absolutamente primeiro O segundo elemento exigido para tornar uma hipótese digna de ser admitida é a sua aptidão para determinar a p rio ri a partir de si as consequências que estão dadas Quando somos forçados a admitir hipóteses auxiliares com vistas a esse fim elas suscitam a suspeita de serem uma mera invenção já cada uma delas necessita em si da mes ma justificação de que o pensamento posto por fundamento necessi tava e não pode portanto apresentar nenhum testemunho confiável Se sob a pressuposição de uma causa ilimitadamente perfeita não fal ta realmente nenhum fundamento para explicar toda conformidade a fins ordem e grandeza que se encontram no mundo então face aos des vios e à maldade que ao menos segundo nossos conceitos se mostram nesse mesmo mundo ela necessita de outras hipóteses para salvála des tes enquanto objeções a ela Se a autossuficiência simples da alma huma na que foi posta por fundamento de seus fenômenos é contestada 566 com base nas dificuldades apresentadas pelos fenômenos P h ä n o m e ne que se assemelham nela às modificações de uma matéria o cresci mento e a diminuição é preciso apelar ao auxílio de novas hipóteses que embora plausíveis não possuem qualquer certificação a não ser aquela que lhes é dada pela opinião admitida como base principal opinião todavia que elas haviam sido chamadas a ajudar Se as afirmações da razão que aduzimos aqui como exemplos a unidade incorpórea da alma e a existência de um ser supremo devem valer não como hipóteses mas como dogmas demonstrados a p rio ri então não é disso que se trata Nesse caso porém devese verificar se a prova tem mesmo a certeza apodítica de uma demonstração Pois querer tornar meramente provável a realidade de tais ideias é uma proposta tão absurda quanto querer provar uma proposição da geo metria de maneira meramente probabilística Quando apartada de toda experiência a razão só pode conhecer algo a p rio ri e com neces sidade ou então não conhece nada seu juízo nunca é uma opinião portanto e só pode ser ou a abstenção de todos os juízos ou uma cer teza apodítica Opiniões e juízos prováveis sobre aquilo que corres ponde às coisas só podem servir de fundamento para explicar aquilo que é realmente dado ou então são as consequências segundo leis empíricas daquilo que está no fundamento como real só aparecem portanto na série dos objetos da experiência Fora desse campo o o p in a r é o mesmo que jogar com pensamentos a não ser que se tives se tão somente a opinião diante de um caminho inseguro do juízo de que talvez seja possível encontrar nele a verdade Mesmo porém que nas questões meramente especulativas da ra zão pura não haja hipóteses em que se pudessem fundar proposições elas são inteiramente permitidas ainda assim para simplesmente de fendêlas i e não no uso dogmático mas no polêmico Por defesa eu não entendo contudo uma multiplicação dos argumentos para afir mála mas sim a mera anulação do aparente discernimento com que o adversário deveria supostamente refutar a proposição por nós afir mada Agora todas as proposições sintéticas da razão pura têm a pro priedade de que embora alguém que afirma a realidade de certas ideias nunca saiba tanto para tomar certa essa sua proposição o adversário por seu turno pode saber tão pouco quanto ele para afirmar o contrá rio Essa igualdade na sorte da razão humana com efeito não favore B 803 B 804 567 ce nenhum dos dois no conhecimento especulativo que é todavia o verdadeiro campo de batalha desses feudos que nunca cessam de en frentarse Na sequência se mostrará contudo que em relação ao uso p rá tico a razão tem o direito de admitir algo que de modo algum esta ria autorizada a pressupor sem demonstrações suficientes no campo da mera especulação pois todas essas pressuposições prejudicam a perfeição à especulação em torno da qual todavia o interesse prático não tem qualquer preocupação Ela está aí em uma posse portanto cuja legitimidade não precisa provar mas da qual de fato sequer po B 805 deria conduzir a prova É o adversário portanto quem deve provar algo Uma vez porém que este sabe tão pouco sobre o duvidoso obje to para estabelecer o seu não ser quanto o primeiro para afirmar a sua realidade mostrase aqui uma vantagem do lado daquele que afirma algo como uma pressuposição necessária do ponto de vista prático m elior est co n d id o possiden tis Com efeito ele continua livre para em uma situação de legítima defesa por assim dizer empregar em fa vor de sua boa causa os mesmos meios que seu adversário usa para ata cála i e hipóteses as quais não podem servir para fortalecer a prova da causa mas apenas para mostrar que o adversário entende muito pouco sobre o objeto da disputa para querer arrogarse uma vanta gem de seu discernimento especulativo sobre o nosso As hipóteses só são permitidas no campo da razão pura portan to como armas de guerra que não servem para fundar aí um direito mas apenas para defendêlo Mas aqui temos sempre de procurar o ad versário em nós mesmos Pois em seu uso transcendental a razão es peculativa é em si dialética As objeções que se poderia temer estão em nós mesmos Temos de procurálas como pretensões antigas mas nunca prescritas para em sua negação fundar uma paz perpétua A tranquilidade externa é apenas aparente É preciso extirpar o germe dos ataques que reside na natureza da razão humana como podemos B 806 extirpálo no entanto se não lhe damos liberdade e nem mesmo nu trição para germinar e assim revelarse de modo que possamos depois arrancálo pela raiz Imaginem vocês mesmos a partir disso objeções que ainda não ocorreram a nenhum adversário e lhes emprestem ar mas ou lhe concedam o lugar mais favorável que ele possa desejar Não há nada aqui a temer mas sim algo a esperar qual seja que vocês se proporcionem uma posse que em futuro algum poderá ser atacada 568 À sua blindagem completa também pertencem as hipóteses da ra zão pura que embora meras armas de chumbo 0á que não foram ace radas por nenhuma lei da experiência dão tanta força quanto aque las de que algum adversário pudesse servirse Se vocês se depararem pois no que diz respeito à natureza supostamente imaterial da alma que não estaria submetida a transformações corpóreas com a difi culdade de que a experiência parece provar que tanto a elevação co mo a destruição de nossas forças espirituais são meras modificações diversas de nossos órgãos vocês poderiam enfraquecer a força dessa prova supondo que o nosso corpo não seria senão o fenômeno funda mental a condição a que tanto a inteira faculdade da sensibilidade como o pensamento se referem no estado atual na vida A separação em relação ao corpo seria o final desse uso sensível de seu poder cog nitivo e o começo do intelectual Assim o corpo não seria a causa do pensamento mas uma condição meramente restritiva do mesmo de vendo ser considerado por conseguinte não apenas como algo que fa cilita a vida sensível e animal mas mais ainda como um obstáculo à vida pura e espiritual e a dependência da primeira em relação à consti tuição corpórea não provaria nada quanto à dependência de toda a vida em relação ao estado de nossos órgãos Mas vocês poderiam ir mais longe e levantar dúvidas inteiramente novas seja as que não foram ain da sugeridas seja as que não foram suficientemente desenvolvidas A contingência das gerações que tanto no ser humano como nas criaturas irracionais depende do acaso e com frequência também do sustento do governo dos caprichos e arbitrariedades deste último muitas vezes até do vício cria uma grande dificuldade para a opinião que defende a duração eterna de uma criatura cuja vida começou sob circunstâncias tão insignificantes e tão inteiramente abandonadas à nossa liberdade No que diz respeito à duração de toda a espécie aqui na Terra essa dificuldade não vale tanto pois o acaso no singular não está menos submetido a uma regra no todo mas parece certa mente questionável esperar um efeito tão poderoso de causas tão in significantes em relação a cada indivíduo A isso contudo vocês po deriam contrapor uma hipótese transcendental que na verdade toda vida é somente inteligível não está submetida às modificações do tempo e nem começa pelo nascimento nem termina pela morte que essa vida não é senão um mero fenômeno i e uma representação sensível da vida espiritual pura e todo o mundo sensível é uma mera B 807 B 808 569 imagem que escapa ao nosso modo atual de conhecer e como um so nho não tem em si uma realidade objetiva que se pudéssemos intuir as coisas e a nós mesmos com o so m os nos veríamos em um mundo de naturezas espirituais com as quais nossa única comunidade verda deira nem começou pelo nascimento nem cessaria com a morte do corpo como meros fenômenos e assim por diante Agora mesmo que não saibamos nada de tudo isso que hipoteti camente protegemos aqui contra ataques nem o afirmemos seria mente e nada disso seja sequer uma ideia da razão mas apenas um conceito con cebido em legítima defesa ainda assim procedemos aqui de modo inteiramente racional na medida em que simplesmente mos tramos ao adversário que acredita ter exaurido todas as suas possibi lidades oferecendo equivocadamente a falta de condições empíricas como prova da inteira impossibilidade daquilo em que acreditamos que ele tem tão pouca chance de varrer todo o campo das coisas pos síveis em si mesmas quanto nós de adquirir de maneira fundamenta da algo fora da experiência para nossa razão Quem emprega tais re b 809 médios hipotéticos contra as suposições do adversário que nega tudo de maneira arrogante não deve ser tomado por alguém que qui sesse assumilos como suas próprias opiniões verdadeiras Ele os aban dona tão logo tenha repelido a arrogância dogmática do adversário Pois ainda que ele pareça modesto e temperado quando se comporta de maneira meramente refratária e negativa em relação a afirmações alheias a sua pretensão não é menos orgulhosa ou arrogante se ele pretende que essas objeções sejam válidas como provas do contrário como que abraçando o partido afirmador e suas afirmações Percebese aqui portanto que no uso especulativo da razão as hi póteses não têm validade em si mesmas como opiniões mas apenas relativamente às suposições transcendentes opostas Pois a extensão dos princípios da experiência possível à possibilidade das coisas em geral é tão transcendente quanto a afirmação da realidade objetiva daqueles conceitos que só podem encontrar seus objetos fora dos li mites de toda experiência possível O que a razão pura julga assertori camente tem de ser necessário como tudo que a razão conhece ou não é nada Por isso ela não contém de fato opinião alguma As men cionadas hipóteses todavia são meros juízos problemáticos que em bora não possam ser provados de modo algum ao menos não podem 570 também ser refutados são portanto opiniões privadas puras que no entanto não podem ser dispensadas de um ponto de vista razoável inclusive em vista da tranquilidade interna face aos escrúpulos que se insurgem contra elas É preciso mantêlas nessa qualidade porém e mesmo evitar cuidadosamente que se apresentem como se fossem legítimas em si mesmas e dotadas de validade objetiva afogando a ra zão em ficções e fantasias QUARTA SEÇAO A DISCIPLINA DA RAZAO PURA EM RELAÇÃO ÀS SUAS PROVAS As provas das proposições transcendentais e sintéticas têm em si entre todas as provas de um conhecimento sintético a p rio ri a pro priedade de que a razão não pode nelas através de seus conceitos di rigirse diretamente ao objeto mas tem de estabelecer antes a p rio ri a validade objetiva dos conceitos e a possibilidade da síntese dos mes mos Isto não é somente algo como uma regra necessária da prudên cia mas diz respeito à essência e à possibilidade da prova mesma Se devo ir além a priori do conceito de um objeto isto é impossível sem um fio condutor particular encontrável fora desse conceito Na mate mática é a intuição a p rio ri que conduz a minha síntese e todas as in ferências podem nela ser efetuadas imediatamente na intuição pura No conhecimento transcendental que se ocupa apenas dos conceitos do entendimento esse fio é a experiência possível A prova não mos tra com efeito que o conceito dado daquilo que acontece por exem plo conduza diretamente a um outro conceito aquele de uma causa pois semelhante passagem seria um salto que não se poderia justifi car mas ela mostra que a própria experiência portanto o objeto da experiência seria impossível sem tal conexão A prova tinha de indi car também portanto a possibilidade de chegar a priori sintetica mente a um certo conhecimento das coisas que não estava contido no conceito delas Sem prestar atenção a isto as provas correm como as águas que transbordaram espalhandose selvagemente por onde a tendência a uma associação oculta as conduz de modo contingente A aparência de convicção que se baseia em causas subjetivas da associa ção e é tomada pelo discernimento de uma afinidade natural não B 810 B 811 571 pode conter o questionamento que é razoável fazer quanto a esses passos ousados Assim também todas as investigações voltadas a pro var o princípio de razão suficiente se revelaram inúteis tal como o ad mitem em geral os entendidos e antes que aparecesse a crítica trans cendental preferiuse como não se podia abandonar esse princípio apelar obstinadamente ao saudável entendimento humano uma saí b 812 da que sempre prova a situação de desespero da razão em vez de en saiar novas provas dogmáticas Se a proposição que deve ser provada porém é uma afirmação da razão pura e eu pretendo inclusive ir além de meus conceitos em píricos através de meras ideias então ela teria antes de conter em si como uma condição necessária de sua força probante a justificação de tal passo da síntese caso isso fosse possível Por mais convincente que possa ser portanto a suposta prova da natureza simples de nossa substância pensante a partir da unidade da apercepção contrapõese a ela inexoravelmente a seguinte dificuldade como a simplicidade absoluta não é um conceito que possa ser referido imediatamente a uma percepção mas enquanto ideia tem de ser meramente inferida não se pode compreender como a mera consciência que está contida em todo p en sa m en to ou que ao menos pode estar deva mesmo sen do aí uma representação simples conduzirme à consciência e ao co nhecimento de uma coisa n a qu al apenas o pensamento pode estar contido Pois se me represento a força de meu corpo em movimento ele é nesse sentido unidade absoluta para mim e minha representa ção dele é simples por isso também posso exprimir esta última por meio do movimento de um ponto já que o seu volume não tem aqui qualquer interferência e ela pode sem diminuição da força ser pensa da tão pequena quanto se queira portanto também como localizada b 813 em um ponto Não concluirei daqui contudo que se nada me é dado além da força movente de um corpo o corpo poderia ser pensado como uma substância simples porque sua representação abstrai de toda quantidade de conteúdo no espaço e nessa medida seria sim ples Uma vez porém que o simples na abstração é inteiramente di verso do simples no objeto e que o eu que em um primeiro sentido não compreende qualquer diversidade em si em um segundo sentido ao significar a própria alma pode ser um conceito muito complexo contendo e designando muitas coisas so b si descubro assim um para logismo Mas para pressentilo já que sem esta suposição provisória 572 não se levantaria qualquer suspeita contra a prova é absolutamente necessário ter à mão um critério constante da possibilidade dessas pro posições sintéticas que devem provar mais do que a experiência pode dar e tal critério consiste no seguinte que a prova não seja produzida diretamente sobre o predicado exigido mas através de um princípio da possibilidade de estender a p rio ri nosso conceito dado até chegar às ideias e de realizar estas últimas Se essa cautela for sempre adotada se antes que a prova seja buscada houver sempre uma sábia pondera ção sobre como e com que grau de esperança se pode mesmo esperar por tal extensão através da razão pura e sobre onde se pretende obter em semelhantes casos esses discernimentos que não podem ser desen volvidos a partir de conceitos nem tampouco antecipados em relação à experiência possível então se podem poupar esforços penosos e in frutíferos na medida em que não se atribua nada à razão que vá clara mente além de sua capacidade ou antes se a submeta a ela que em seus impulsos especulativos de ampliação não aceita limites de bom grado à disciplina da abstinência A primeira regra portanto é a seguinte não buscar provas trans cendentais sem ter antes refletido e sem ter justificado de onde se pretende extrair os princípios sobre os quais se conta têlas estrutura do e com que direito se pode esperar deles o sucesso das inferências Se são princípios do entendimento da causalidade por exemplo é inútil tentar chegar através deles a ideias da razão pura pois eles va lem apenas para objetos da experiência possível Se devem ser princí pios a partir da razão pura todo esforço será novamente em vão Pois embora a razão possua tais princípios enquanto princípios obje tivos eles são todos dialéticos e só podem ser válidos de qualquer for ma como princípios regulativos do uso empírico sistematicamente concatenado Se no entanto essas supostas provas já estão dadas oponham o non liq u et de sua madura faculdade de julgar à enganosa persuasão das mesmas e mesmo que vocês não possam ainda pene trar a ilusão delas têm todo o direito de exigir a dedução dos princípios aí empregados dedução esta que se eles devem terse originado a par tir da mera razão jamais lhes poderá ser oferecida E assim vocês não precisam ocuparse com o desenvolvimento e a refutação de cada ilu são infundada podendo antes em vez disso rejeitar em bloco peran te o tribunal de uma razão crítica que exige leis todos os inesgotáveis truques da dialética B 814 B 815 573 A segunda propriedade das provas transcendentais é a seguinte que para cada proposição transcendental só pode ser encontrada um a ú n ica prova Se não devo inferir a partir de conceitos mas sim da in tuição que corresponde a um conceito seja uma intuição pura como na matemática seja uma empírica como na ciência da natureza en tão a intuição posta por fundamento me dá um material diverso para proposições sintéticas que posso conectar de mais de uma maneira e na medida em que posso partir de mais de um ponto posso chegar à mesma proposição por diversos caminhos Agora toda proposição transcendental parte apenas de um ú n i co conceito e enuncia a condição sintética da possibilidade do objeto segundo esse conceito 0 argumento portanto só pode ser um único B 816 já que além desse conceito não há nada que permita determinar o ob jeto e a prova por conseguinte não pode conter nada além da deter minação de um objeto em geral segundo esse conceito que também é apenas um único Na analítica transcendental por exemplo nós ha víamos derivado o princípio tudo o que acontece tem uma causa da única condição de possibilidade objetiva de um conceito daquilo que em geral acontece que a determinação de um acontecimento no tem po e portanto esse acontecimento mesmo enquanto pertencente à experiência seria impossível se não estivesse sob uma regra dinâ mica Este é também pois o único argumento possível pois o acon tecimento representado só tem validade objetiva i e verdade na me dida em que um objeto seja determinado para o conceito por meio da lei da causalidade É certo que também se buscaram outras provas desse princípio como por exemplo a partir da contingência se con tudo observase mais de perto esta prova não se pode encontrar ne nhuma característica distintiva da contingência a não ser o acon te cer i e a existência que é precedida por um não ser do objeto o que nos leva sempre de volta ao mesmo argumento Se deve ser provada a proposição tudo o que pensa é simples não se fica no diverso do pensamento mas se permanece apenas no conceito do eu que é sim ples e ao qual se reporta todo pensamento Acontece o mesmo com o conceito transcendental da existência de Deus que se baseia tão so b 817 mente na reciprocidade dos conceitos do ser realíssimo e do ser ne cessário e não pode ser buscado em nenhum outro lugar Com essa nota de advertência se reduz a muito pouco a crítica das afirmações da razão Onde a razão conduz suas atividades atra 574 vés de meros conceitos só é possível uma única prova se é que algu ma prova é sequer possível Assim quando se vê um dogmático apare cendo com dez provas podese ter certeza de que ele não tem nenhu ma Pois se tivesse uma que como tem de ser em assuntos da razão pura provasse apoditicamente para que precisaria das outras Seu propósito é como o daqueles advogados parlamentares que têm um argumento para este outro para aquele pretendem usar em seu be nefício as fraquezas de seus juízes que sem aprofundarse na ques tão para logo livrarse dela agarramse ao primeiro melhor argumen to que lhes apareça e em seguida tomam a decisão A terceira regra própria à razão pura quando ela está submetida às provas transcendentais de uma disciplina é a seguinte que suas provas nunca sejam apagógicas mas sempre ostensivas A prova direta ou ostensiva em qualquer tipo de conhecimento é aquela que liga à convicção de verdade o discernimento simultâneo das suas fontes a apagógica pelo contrário embora possa proporcionar a verdade não pode produzir a compreensibilidade da verdade em relação à sua con catenação com os fundamentos de sua possibilidade Assim esta últi ma é mais um auxílio de emergência que um procedimento capaz de sa tisfazer todos os propósitos da razão No que diz respeito à evidência contudo ela tem uma vantagem em relação às provas diretas a contra dição traz mais clareza na representação que a melhor conexão e as sim aproximase mais do intuitivo de uma demonstração A efetiva causa do uso das provas apagógicas em diversas ciências é provavelmente a seguinte Se os fundamentos de que um certo co nhecimento deve ser derivado são muito diversificados ou estão mui to profundamente ocultos verificase se não podem ser alcançados através das consequências Agora o m o d u s p o n en s pelo qual se infe re a verdade de um conhecimento a partir da verdade de suas conse quências só seria admissível nesse caso se todas as possíveis conse quências fossem verdadeiras pois somente um único fundamento se ria possível para estas e ele seria então o verdadeiro Mas este proce dimento é inexequível já que está além de nossas forças discernir to das as possíveis consequências de uma proposição que tenha sido ad mitida este modo de inferir é empregado contudo ainda que co uma certa indulgência quando se trata de provar algo apenas coir hipótese admitindose a inferência segundo a seguinte analogia B 818 575 todas as consequências que se buscaram concordam perfeitamente com um suposto fundamento todas as outras possíveis também con b 819 cordarão com ele Por isso umahipótese não pode jamais por esse ca minho ser transformada em uma verdade demonstrada 0 modus tol lens dos silogismos que inferem os fundamentos das consequências não prova apenas com grande rigor mas também com grande facilida de Pois mesmo que uma única consequência falsa possa ser derivada de uma proposição esta é falsa Em vez pois de percorrer a inteira série dos fundamentos em uma prova ostensiva que poderia conduzir à verdade de um conhecimento por meio do discernimento completo de sua possibilidade podese encontrar somente uma única conse quência falsa dentre todas as que decorrem do oposto desse conheci mento para que esse oposto seja falso e portanto verdadeiro o co nhecimento que se queria provar O modo apagógico de provar só pode contudo ser permitido nas ciências em que é impossível introduzir subrepticiamente o subjeti vo de nossas representações no objetivo i e no conhecimento daqui lo que está no objeto Onde este último é dominante contudo ocorre com frequência que ou o oposto de uma certa proposição simples mente contradiz as condições subjetivas do pensamento mas não o objeto ou as duas proposições só se contradizem sob uma condição subjetiva que seja equivocadamente tomada por objetiva e como a condição é falsa ambas podem ser falsas sem que da falsidade de uma se pudesse inferir a verdade da outra B 8 2 0 Na matemática essa subrepção é impossível por isso tais provas têm justamente aí o seu lugar próprio Na ciência natural em que tudo se funda em intuições empíricas podese de fato impedir toda subrepção através da comparação de observações com frequência porém este modo de provar é aí irrelevante Mas os experimentos transcendentais da razão pura são todos realizados no interior do médium que é próprio à ilusão dialética a saber o subjetivo que se oferece como objetivo à razão nas premissas desta ou mesmo se im põe como tal E aqui no que diz respeito às proposições sintéticas não pode ser permitido justificar as próprias afirmações refutando o seu oposto Pois ou essa refutação é a mera representação do conflito da opinião oposta com as condições subjetivas da compreensibilidade através de nossa razão o que não faz nada no sentido de rechaçar a 576 própria coisa assim como por exemplo a necessidade incondiciona da na existência de um ser não pode ser compreendida por nós de modo algum resistindo subjetivamente com razão a cada prova especulativa de um ser supremo necessário mas também sem razão à possibilidade de tal ser originário em si mesmo ou ambas tanto a parte que afirma como aquela que nega enganadas pela ilusão trans cendental põem por fundamento um conceito impossível de objeto e então vale a regra non entis nulla sunt praedicata i e tanto aquilo que se diz afirmativamente como aquilo que se diz negativamente so bre o objeto são ambos incorretos e não se pode chegar apagogica mente através da refutação do oposto ao conhecimento da verdade Assim por exemplo se se pressupõe que o mundo sensível é dado em si mesmo no que diz respeito à sua totalidade então é falso que ele te nha de ser ou infinito segundo o espaço ou finito e limitado pois am bos são falsos Pois fenômenos como meras representações que toda via fossem dados em si mesmos como objetos são algo impossível e a infinitude desse todo imaginário embora incondicionada contradiria contudo já que tudo é condicionado nos fenômenos a determinação incondicionada da quantidade que é pressuposta no conceito O modo apagógico de provar é também a verdadeira fantasia com que os admiradores do rigor demonstrado pelo nosso sofista dogmá tico sempre foram iludidos ele é como o campeão que quer provar a honra e o incontestável direito do partido que assumiu mostrandose disposto a brigar com qualquer um que os questione ainda que com essa fanfarronice não se estabeleça nada sobre o assunto mas apenas se meçam as respectivas forças dos adversários em especial pelo lado do que se lança ao ataque Os espectadores vendo que cada um em sua série é ora vitorioso ora perdedor veem aí ocasião com frequên cia para duvidar ceticamente do próprio objeto da disputa Mas eles não têm razão para isso e é suficiente gritarlhes non defensoribus istis tempus eget Todos devem conduzir sua causa por meio de uma prova produzida corretamente através de uma dedução transcenden tal dos argumentos ou seja devem conduzila de maneira direta de modo que se veja o que suas pretensões racionais apresentam por si mesmas Pois se o adversário se apoia em fundamentos subjetivos é certamente fácil refutálo mas sem vantagem para o dogmático que normalmente depende de causas igualmente subjetivas do juízo e do B 821 B 822 577 mesmo modo pode ser encurralado por seu adversário Se no entan to ambas as partes procedem apenas diretamente então ou elas per ceberão por si mesmas a dificuldade e mesmo a impossibilidade de descobrir um título capaz de legitimar suas afirmações podendo ale gar apenas a sua antiguidade ou a crítica descobrirá com facilidade a ilusão dogmática e forçará a razão pura a desistir de suas excessivas pretensões no uso especulativo e recolherse aos limites de seu solo próprio qual seja aquele dos princípios práticos 578 SEGUNDO CAPÍTULO O cânone da razão pura É humilhante para a razão humana que ela não consiga realizar nada em seu uso puro e chegue ainda a precisar de uma disciplina para conter seus excessos e evitar as fantasias daí decorrentes Por outro lado isso a eleva novamente e lhe dá uma confiança em si mes ma para que possa e deva exercitar ela mesma essa disciplina sem temer uma nova censura sobre si e os limites que ela é forçada a colocar para seu uso especulativo também limitam as pretensões so físticas de todos os adversários e portanto asseguram contra toda forma de ataque o que tenha restado de suas exageradas exigências anteriores A maior e talvez única utilidade de toda a filosofia da ra zão pura é portanto tão somente negativa a de que ela serve não como órganon para a ampliação mas como disciplina para a determi nação de limites e em vez de descobrir a verdade tem o silencioso mérito de impedir os erros Entretanto tem de haver em alguma parte uma fonte de conheci mentos positivos que pertencem ao domínio da razão pura talvez apenas por malentendidos eles dão ocasião a erros mas na verdade constituem a meta para os esforços da razão Pois a que causa se po deria de outro modo atribuir o desejo indomável de sempre buscar uma base segura para firmar os pés além dos limites da experiência A razão pura pressente objetos que lhe são de grande interesse Ela adentra o caminho da mera especulação para deles aproximarse mas eles fogem dela Presumivelmente ela poderá esperar por melhor sor te no único caminho que ainda lhe resta qual seja aquele do uso prá tico Eu entendo por cânone o conjunto completo dos princípios a prio ri do uso correto de certas faculdades de conhecimento em geral Assim a lógica geral em sua parte analítica é um cânone para o en tendimento e a razão em geral mas apenas no que diz respeito à for ma já que abstrai de todo conteúdo Assim a analítica transcenden B 823 B 824 579 tal foi o cânone do entendimento puro pois somente ele é capaz de verdadeiros conhecimentos sintéticos a priori Onde no entanto ne nhum uso correto de uma faculdade de conhecimento é possível aí não há um cânone Agora todo conhecimento sintético da razão pura em seu uso especulativo é segundo todas as provas até aqui produzi das inteiramente impossível Não existe portanto um cânone do seu uso especulativo pois este é sempre dialético e toda a lógica trans cendental deste ponto de vista não passa de uma disciplina Conse quentemente se por acaso há um uso correto da razão pura caso em que tem de haver também um cânone da mesma então este não dirá respeito ao uso especulativo da razão mas ao prático que é o que in vestigaremos agora B 825 P R IM EIR A SE Ç Ã O DO FIM ÚLTIM O DO U SO PU RO D E N O SSA RAZÃO A razão é impulsionada por uma tendência de sua natureza a ir além do uso empírico arriscarse em um uso puro e através de meras ideias ultrapassar os limites extremos de todo conhecimento só en contrando repouso na completude de seu círculo em um todo siste mático subsistente por si mesmo Agora esse esforço se funda apenas em seu interesse especulativo ou se funda antes única e exclusiva mente em seu interesse prático Deixarei agora de lado o sucesso que a razão pura tem em seus propósitos especulativos e investigarei apenas os problemas cuja so lução constitui seu fim último quer ela o atinja ou não em relação ao qual todos os outros só possuem o valor de meios Estes fins últi B 826 mos por seu turno também terão unidade segundo a natureza da ra zão para satisfazer de maneira unificada àquele interesse da humani dade que não se subordina a nenhum outro O propósito final a que se volta a especulação da razão no uso transcendental diz respeito no fim das contas a três objetos a liber dade da vontade a imortalidade da alma e a existência de Deus Em relação a todos os três o interesse meramente especulativo da razão é excessivamente estreito e por meio dele não se teria levado a cabo 580 um trabalho de investigação transcendental tão cansativo e permea do por obstáculos incessantes pois as descobertas que porventura se fizessem aqui não seriam passíveis de um uso que provasse sua utili dade in concreto i e na investigação natural A vontade pode até ser livre mas isto só pode estar ligado à causa inteligível de nosso querer Pois no que diz respeito aos fenômenos Phänomene de externaliza ção da mesma i e às ações nós só podemos de acordo com uma má xima fundamental inquebrantável sem a qual não poderíamos exerci tar a razão no uso empírico explicálas como todos os demais fenô menos da natureza a saber segundo leis imutáveis desta última Caso em segundo lugar se considere também a natureza espiritual da alma e com ela a sua imortalidade não se pode justificála nem como um fundamento de explicação para os fenômenos desta vida nem como a peculiar constituição de seu estado futuro já que o nosso conceito de uma natureza incorpórea é meramente negativo não amplia nosso conhecimento sequer minimamente e não fornece nenhum material adequado para extrair consequências a não ser aqueles que podem ser válidos para invenções mas não podem ser admitidos pela filoso fia Caso em terceiro lugar se provasse a existência de uma inteligên cia suprema nós poderíamos em geral compreender a partir dela a conformidade a fins na disposição e na ordem do mundo mas de modo algum estaríamos autorizados a derivar daí alguma disposição ou ordem particulares ou a inferilas onde não se pudesse perce bêlas afinal é uma regra necessária do uso especulativo da razão não deixar causas naturais de lado nem desprezar aquilo que possa nos ensinar algo através da experiência para em vez disso deduzir aquilo que conhecemos de algo que ultrapassa inteiramente todo o nosso conhecimento Em uma palavra essas três proposições perma necem sempre transcendentes para a razão especulativa e não têm qualquer uso imanente i e compatível com objetos da experiência que fosse portanto útil de algum modo para nós elas são antes em si mesmas consideradas esforços inteiramente inócuos e ainda as sim extremamente penosos de nossa razão Se portanto essas três proposições cardinais não são de modo algum necessárias ao saber mas ainda assim são enfaticamente reco mendadas por nossa razão sua importância só pode de fato residir no prático B 827 B 8 2 8 581 Prático é tudo aquilo que é possível através da liberdade Se con tudo as condições do exercício de nosso livrearbítrio são empíricas a razão só pode ter aí um use regulativo e servir para dar unidade às leis empíricas na doutrina da prudência por exemplo a unificação de todos os fins que nos são dados por nossas inclinações em um só a felicidade bem como a concordância dos meios para atingila consti tuem todo o assunto da razão que só pode oferecer para isso leis pragmáticas do livre comportamento para atingir os fins que nos são recomendados pelos sentidos mas não leis puras determinadas inteiramente a priori Leis práticas puras pelo contrário cujo fim é dado inteiramente a priori pela razão e que não são comandadas de maneira empiricamente condicionada mas de modo absoluto seriam produtos da razão pura Mas semelhantes leis são as leis morais so mente elas portanto pertencem ao uso prático da razão pura e com portam um cânone Todos os preparativos da razão portanto no trabalho a que se pode denominar filosofia pura são na verdade dirigidos aos três pro blemas mencionados Mas estes por seu turno têm o seu propósito mais remoto a saber o que se deve fazer caso a vontade seja livre B 829 caso Deus exista e haja um mundo futuro Como isto contudo diz respeito ao nosso comportamento em relação ao fim supremo o pro pósito último da natureza que nos dota sabiamente com o que preci samos só está realmente voltado ao moral quando se trata de estabe lecer nossa razão É necessário ter cautela porém para quando concentramos nos sa atenção sobre um objeto estranho6 à filosofia transcendental não cair em digressões e prejudicar a unidade do sistema nem por outro lado deixar faltar clareza ou convicção quando se disser muito pouco sobre o novo material Espero evitar ambas as coisas me mantendo o mais perto possível do transcendental e deixando completamente de lado o que pudesse ser aqui psicológico i e empírico 6 Todos os conceitos práticos dizem respeito a objetos da satisfação ou insatisfação i e do pra zer e desprazer portanto a objetos que ao menos indiretamente são objetos de nosso senti mento Como este no entanto não é um poder de representar coisas mas está fora de todos os poderes cognitivos os elementos de nossos juízos na medida em que se referem ao prazer ou ao desprazer pertencem à fdosofia prática e não ao conjunto da filosofia transcendental que só lida com conhecimentos puros a priori NAJ 582 E devese observar primeiramente pois que só empregarei o con ceito de liberdade por ora no sentido prático deixando inteiramente de lado porque explicado acima o significado transcendental que embora sendo um problema para a razão não pode ser pressuposto empiricamente como um fundamento de explicação dos fenômenos Um arbítrio é meramente animal arbitrium brutum quando só po de ser determinado por impulsos sensíveis i e patologicamente Aquele porém que é independente dos impulsos sensíveis e portan to pode ser determinado por causas moventes que só são representa das pela razão denominase livrearbítrio arbitrium liberum e tudo o que se articula com ele seja como fundamento ou consequência é denominado prático A liberdade prática pode ser provada pela expe riência Pois nem só o que estimula i e que afeta imediatamente os sentidos determina o arbítrio humano nós temos também uma facul dade de por meio de representações daquilo que mesmo da maneira mais remota é útil ou prejudicial superar as impressões causadas em nossa faculdade sensível de desejar estas considerações porém so bre o que seria desejável i e bom e útil em vista de nosso estado como um todo baseiamse na razão Por isso esta promulga leis que são imperativos i e leis objetivas da liberdade e que dizem o que deve acontecer mesmo que nunca talvez aconteça distinguindose assim das leis da natureza que só tratam do que acontece razão pela qual também são denominadas leis práticas Mesmo que nessas ações porém através das quais a razão pres creve leis ela mesma não seja determinada de outro modo senão por influências alheias e que aquilo que se denomina liberdade em vista dos impulsos sensíveis possa por seu turno ser parte da natureza em relação a causas eficientes mais elevadas e remotas isso não nos diz respeito algum no âmbito prático em que só investigamos a razão quanto à prescrição de comportamentos tratase na verdade de uma questão meramente especulativa que enquanto nosso propósito este ja voltado para o fazer ou deixar de fazer pode ser deixada de lado Assim nós conhecemos a liberdade prática por meio da experiência como uma das causas naturais qual seja uma causalidade da razão na determinação da vontade ao passo que a liberdade transcendental exige uma independência dessa razão no que diz respeito à sua cau salidade de começar uma série de fenômenos em relação a todas as B 830 B 831 583 causas do mundo sensível parecendo assim ser contrária à lei da na tureza e portanto a toda experiência possível razão pela qual perma nece um problema Como porém este problema não concerne à ra zão em seu uso prático nós só temos de lidar em um cânone da razão pura com duas questões que dizem respeito ao interesse prático da razão pura e em relação às quais portanto tem de ser possível um câ none de seu uso existe um Deus existe uma vida futura A questão sobre a liberdade transcendental concerne apenas ao saber especula B 832 tivo e nós podemos deixála de lado com total indiferença quando se trata do prático já havendo suficiente esclarecimento sobre ela na an tinomia da razão pura SEG U N D A SE Ç A O DO ID EA L DO B E M SU P R E M O COM O UM FU N DA M EN TO D E D ETERM IN A ÇÃ O DO FIM ÚLTIM O DA RAZÃO PU R A Em seu uso especulativo a razão nos conduziu através do campo das experiências e como nunca pode encontrar aí total satisfação nos levou então às ideias especulativas que por seu turno todavia acabaram por reconduzirnos à experiência satisfazendo nosso pro pósito de uma maneira certamente proveitosa mas de modo algum correspondente às nossas expectativas Restanos então uma tentati va verificar se a razão pura também pode ser encontrada no uso prá tico se nele ela conduz a ideias capazes de alcançar os fins supremos da razão pura que acabamos de indicar e se ela não pode portanto do ponto de vista de seu interesse prático oferecer aquilo que nos ne gava inteiramente em relação ao interesse especulativo Todo o interesse de minha razão tanto o especulativo como o prático se unifica nas três questões a seguir b 833 1 O que posso saber 2 O que devo fazer 3 O que me é permitido esperar A primeira questão é meramente especulativa Nós esgotamos segundo me orgulho de ter feito todas as respostas possíveis para 584 ela e enfim encontramos aquela com que a razão tem de satisfazerse e com que mesmo sem levar o prático em conta tem razões para ficar satisfeita mas permanecemos tão longe dos dois grandes fins a que se dirigia de fato todo esse esforço da razão pura que é como se por co modidade tivéssemos evitado esse trabalho desde o início Quando se trata do saber portanto ao menos uma coisa está claramente estabele cida nunca poderemos tomar parte nessas duas tarefas A segunda questão é meramente prática Ela pode enquanto tal pertencer à razão pura mas não é ainda transcendental e sim moral não podendo assim em si mesma servir de objeto à nossa crítica A terceira questão qual seja se faço o que devo o que posso en tão esperar é ao mesmo tempo prática e teórica de tal modo que o prático apenas conduz como um fio condutor à resposta da pergunta teórica e à medida que esta se eleva à resposta da pergunta especula tiva Pois toda esperança se dirige à felicidade e é com vistas ao práti co e à lei moral exatamente o mesmo que o saber e a lei natural com re lação ao conhecimento teórico das coisas A esperança acaba por con duzir à conclusão de que existe algo que determina o último fim possí vel porque algo deve acontecer e o saber à de que existe algo que atua como causa suprema porque algo acontece A felicidade é a satisfação de todas as nossas inclinações tanto extensive quanto à sua diversidade como intensive quanto ao seu grau como ainda protensive quanto à sua duração À lei prática que se baseia no móbil da felicidade eu denomino pragmática regra de prudência àquela porém se é que existe que não tem por móbil senão a dignidade de ser feliz denomino moral lei moral A primei ra recomenda o que fazer caso queiramos tomar parte na felicidade a segunda comanda como devemos nos comportar para nos tornarmos dignos da felicidade A primeira se funda em princípios empíricos pois não tenho como saber a não ser por meio da experiência nem quais as inclinações que precisam ser satisfeitas nem quais as causas naturais capazes de realizar sua satisfação A segunda abstrai de incli nações e meios naturais para satisfazêlas e considera apenas a liber dade de um ser racional em geral e as únicas condições necessárias sob as quais essa liberdade concorda com a divisão da felicidade se gundo princípios ela pode portanto ao menos basearse em meras ideias da razão pura e ser conhecida a priori B 834 585 B 835 Eu suponho que realmente há leis morais puras determinando in teiramente a priori sem referência aos móbiles empíricos i e à felici dade o fazer e o deixar de fazer i e o uso da liberdade de um ser ra cional em geral e suponho que essas leis comandam absolutamente não apenas hipoteticamente sob a pressuposição de outros fins empí ricos e portanto são necessárias em todos os sentidos Posso pressu por esta proposição legitimamente não apenas apelando às provas dos mais esclarecidos moralistas mas ao juízo moral de todo ser humano desde que ele queira pensar essa lei de maneira clara A razão pura contém portanto não em seu uso especulativo mas em um certo uso prático qual seja o moral princípios da possi bilidade da experiência mais especificamente daquelas ações que de acordo com os preceitos morais poderiam ser encontradas na his tória do ser humano Pois como ela comanda que tais ações devem acontecer elas têm também de poder acontecer e portanto tem de ser possível um tipo particular de unidade sistemática qual seja a moral ao passo que a unidade sistemática da natureza segundo prin cípios especulativos da razão não podia ser provada porque a razão embora tenha causalidade em relação à liberdade em geral não a tem em relação à natureza inteira e os princípios morais da razão podem b 836 produzir ações livres mas não leis da natureza Assim sendo os prin cípios da razão pura têm realidade objetiva em seu uso prático mas mais precisamente no uso moral Na medida em que o mundo fosse conforme a todas as leis morais tal como pode sêlo segundo a liberdade dos seres racionais e tal como deve sêlo segundo as leis necessárias da moralidade eu o de nominaria um mundo moral Ele é pensado neste sentido apenas como mundo inteligível já que se faz abstração de todas as condições fins e mesmo de todos os obstáculos à moralidade no mesmo fra quezas ou impurezas da natureza humana Ele é portanto uma mera ideia mas uma ideia prática que realmente pode e deve ter a sua influência no mundo sensível de modo a tornálo o mais conforme possível a essa ideia A ideia de um mundo moral tem realidade objeti va portanto não como se dissesse respeito a um objeto de uma intui ção inteligível do tipo que não podemos pensar de modo algum mas ao mundo sensível e isto como um objeto da razão pura em seu uso prático e um corpus mysticum dos seres racionais na mesma na me 586 dida em que o livrearbítrio destes tenha tanto consigo mesmo quan to com todas as outras liberdades uma unidade sistemática completa sob leis morais Essa foi a resposta à primeira das duas questões da razão pura que diziam respeito ao interesse prático faça aquilo que o torne dig no de ser feliz A segunda pergunta então se me comporto assim de tal modo que não sou indigno da felicidade posso também esperar que venha a tomar parte nela A resposta a ela depende de saber se os princípios da razão pura que prescrevem a lei a priori também co nectam essa esperança a ela de maneira necessária Eu digo a partir disso que do mesmo modo como os princípios morais são necessários segundo a razão em seu uso prático é igual mente necessário segundo a razão assumir em seu uso teórico que todos têm tanta razão para esperar a felicidade quanto se tenham tor nado dignos dela em seu comportamento e que portanto o sistema da moralidade é inseparável do sistema da felicidade ainda que só es tejam ligados na ideia da razão pura Agora tal sistema de uma felicidade ligada proporcionalmente à moralidade também pode ser pensado como necessário em um mun do inteligível i e moral em cujo conceito nós abstraímos de todos os obstáculos da moralidade as inclinações pois a própria liberdade em parte impulsionada em parte restringida pelas leis morais seria a causa da felicidade universal e os seres racionais portanto seriam eles próprios sob a direção de tais princípios os criadores de sua pró pria e ao mesmo tempo dos demais satisfação duradoura Mas esse sistema de uma moralidade compensatória é apenas uma ideia cuja realização se baseia na condição de que cada qual faça o que deve i e de que todas as ações de seres racionais ocorram como se se origi nassem de uma vontade suprema que contivesse em si ou sob si todos os arbítrios privados Como no entanto a obrigatoriedade das leis mo rais permanece válida para todo uso particular da liberdade mesmo que outros não se comportem de acordo com ela então não está deter minado nem pela natureza das coisas do mundo nem pela causalidade das próprias ações e de sua relação à moralidade que efeitos as suas consequências teriam para a felicidade e a aduzida conexão necessá ria entre a esperança de ser feliz e o esforço incansável de tornarse digno da felicidade não pode ser conhecida pela razão caso se ponha B 837 B 838 587 apenas a natureza por fundamento mas pode ser esperada caso se po nha ao mesmo tempo por fundamento como causa da natureza uma razão suprema que comanda segundo leis morais Eu denomino ideal do bem supremo às ideias de tal inteligência na qual a vontade moralmente mais perfeita ligada à suprema bem aventurança é a causa de toda felicidade no mundo na medida em que se apresenta em uma relação precisa com a moralidade como a dignidade de ser feliz Somente no bem supremo originário portan to pode a razão pura encontrar o fundamento da conexão pratica B 839 mente necessária de ambos os elementos do bem supremo derivado ou seja de um mundo inteligível i e moral Como nós temos contu do de representarnos necessariamente como pertencentes a tal mun do através da razão ainda que os sentidos só nos apresentem um mundo de fenômenos nós teremos de admitir aquele como uma con sequência de nosso comportamento no mundo sensível e uma vez que este não nos oferece tal conexão como um mundo futuro para nós Deus e uma vida futura são portanto segundo princípios da ra zão pura duas pressuposições inseparáveis da obrigatoriedade que essa mesma razão nos impõe A moralidade constitui um sistema em si mesma mas a felicidade não a não ser na medida em que seja repartida em proporções iguais com a moralidade Isto só é possível porém no mundo inteligível sob um sábio criador e regente A razão se vê forçada a admitir este último juntamente com a vida em tal mundo que nós temos de considerar como futura ou teria de considerar as leis morais como fantasias vazias já que o seu resultado necessário que a mesma razão conecta com elas cairia por terra sem tal pressuposição Por isso todos consideram as leis morais como mandamentos e elas não poderiam sêlo se não co nectassem consequências apropriadas com suas regras e portanto se B 840 não trouxessem consigo promessas e ameaças Mas elas também não podem fazer isso se não repousassem no único ser necessário que como bem supremo torna possível tal unidade conforme a fins Leibniz denominou reino da graça diferenciandoo do reino da natureza ao mundo em que só se consideram os seres racionais e sua interconexão segundo leis morais sob o governo do bem supremo pois embora eles estejam sob leis morais não podem esperar qual quer resultado de seu comportamento senão segundo o curso da na 588 tureza de nosso mundo sensível Enxergarse no reino da graça onde toda felicidade nos espera a não ser que limitemos nossa participa ção na mesma com a indignidade de ser feliz é portanto uma ideia prática necessária da razão Na medida em que se tornem também fundamentos subjetivos das ações i e princípios subjetivos as leis práticas se denominam máximas O julgamento da moralidade no que diz respeito à sua pu reza e às suas consequências acontece de acordo com ideias a obser vância de suas leis de acordo com máximas E necessário que todo o nosso curso de vida seja subordinado a máximas ao mesmo tempo porém é impossível que isso aconteça caso a razão não conecte à lei moral que é uma mera ideia uma cau sa eficiente capaz de determinar ao comportamento conforme a ela seja nesta ou em outra vida um resultado que corresponda direta mente aos nossos fins supremos Sem um Deus portanto e sem um mundo ainda invisível mas esperado por nós as nobres ideias da mo ralidade podem até ser objetos de elogio e admiração mas não móbi les do propósito e da execução já que não preenchem todo o fim que é natural a cada ser racional e necessário àquela mesma razão pura que o determina a priori Para a nossa razão a felicidade por si só está longe de ser o bem completo A razão não a aprova por mais que a inclinação o quisesse quando ela não está ligada à dignidade de ser feliz i e ao bom com portamento moral Mas também a moralidade por si só e com ela a dignidade de ser feliz estão longe de ser o bem completo Para que este seja atingido é preciso que quem não agiu de maneira indigna com relação à felicidade possa esperar tomar parte nela Mesmo que a própria razão livre de todo propósito privado se colocasse sem levar nenhum interesse próprio em consideração no lugar de um ser que tivesse de distribuir toda a felicidade a outrem ela não poderia julgar de outro modo pois nas ideias práticas ambas as coisas estão essenci almente ligadas muito embora de tal modo que a disposição moral es tabelece primeiramente como condição a participação na felicidade e não o contrário como se a perspectiva de felicidade estabelecesse a intenção moral Pois neste último caso a intenção não seria moral e portanto tampouco seria digna da felicidade integral que não conhe B 841 B 842 589 ce qualquer outra limitação perante a razão a não ser aquela que brota de nosso próprio comportamento imoral Somente á felicidade portanto em exata proporção com a mora lidade dos seres racionais pela qual se tornam dignos dela constitui o bem supremo de um mundo a que temos de transpornos segundo preceitos da razão pura mas prática e que por certo é apenas um mundo inteligível já que o mundo sensível não nos proporciona se melhante unidade sistemática dos fins quanto à natureza das coisas e um mundo cuja realidade também não pode estar fundada em outra parte senão na pressuposição de um ser supremo originário visto que a razão autossuficiente dotada de toda a suficiência de uma cau sa suprema funda conserva e executa segundo a mais perfeita con formidade a fins a ordem universal das coisas que no mundo sensível nos permanece tão oculta Essa teologia moral tem a peculiar vantagem em relação à espe culativa de conduzir inexoravelmente ao conceito de um ser originá rio único perfeitíssimo e racional para o qual a teologia especulati va a partir de fundamentos objetivos não consegue sequer apontar menos ainda dele convencernos Pois não encontramos nem na teo logia transcendental nem na natural pelo menos até onde a razão pode levarnos nem um único fundamento significativo para supor b 843 um ser único que possamos antepor às causas naturais e que nos desse ao mesmo tempo suficientes razões para fazer destas em todos os seus aspectos dependentes daquele Se pelo contrário do ponto de vista da unidade moral como uma lei necessária do mundo consi deramos a única causa que pode dar a esta o efeito apropriado e por tanto a força para nós obrigante então ela tem de ser uma vontade suprema única contendo em si todas essas leis Pois como podería mos entre vontades diversas encontrar uma unidade perfeita dos fins Essa vontade tem de ser onipotente de modo que toda a nature za e sua relação à moralidade no mundo estejam subordinadas a ela tem de ser onisciente para conhecer o mais íntimo das intenções e de seu valor moral onipresente para ser imediatamente próxima a todas as necessidades exigidas pelo sumo bem no mundo e eterna de mo do que essa concordância da liberdade com a natureza não deixe de existir em tempo algum e assim por diante 590 Mas essa unidade sistemática dos fins nesse mundo das inteligên cias que embora possa enquanto mera natureza ser denominado mundo sensível pode também enquanto um sistema da liberdade ser denominado mundo inteligível i e moral regnum gratiae também conduz inexoravelmente segundo leis universais da nature za à unidade conforme a fins de todas as coisas que constituem esse grande todo do mesmo modo como a primeira o fazia segundo leis universais e necessárias da moralidade e une a razão prática com a especulativa Se deve concordar com aquele uso da razão sem o qual nós nos consideraríamos a nós mesmos indignos da razão i e o uso moral baseado na ideia do supremo bem o mundo tem de ser represen tado como tendo surgido de uma ideia Toda investigação natural rece be assim uma direção segundo a forma de um sistema dos fins e se tor na em sua maior amplitude uma físicoteologia Esta porém que co meçou a partir da ordem moral como uma unidade fundada na essên cia da liberdade e não fomentada ao acaso por comandos externos leva a conformidade a fins da natureza a fundamentos que têm de ser inseparavelmente conectados a priori com a possibilidade interna das coisas e assim ela leva a uma teologia transcendental que assume o ideal da perfeição ontológica suprema como um princípio da unidade sistemática que conecta todas as coisas segundo leis universais e ne cessárias da natureza já que todas elas devem ter sua origem na ne cessidade absoluta de um ser originário único Que uso podemos fazer de nosso entendimento mesmo em rela ção à experiência se não nos propomos fins Os fins mais elevados contudo são aqueles da moralidade e estes somente a razão pura pode darnos a conhecer Mesmo providos deles contudo e sob o seu fio condutor não podemos fazer qualquer uso conforme a fins do co nhecimento que temos da natureza mesma no que diz respeito ao co nhecimento em geral ali onde a natureza não tenha ela própria intro duzido uma unidade conforme a fins pois sem esta nós não teríamos sequer uma razão já que não teríamos uma escola para ela nem um cultivo através de objetos que oferecessem o material para tais concei tos Aquela unidade conforme a fins no entanto é necessária e funda da na essência do próprio arbítrio o qual portanto contendo a con dição da sua aplicação in concreto tem de sêlo também de modo que o crescimento transcendental de nosso conhecimento racional B 844 B 845 591 não seria a causa mas apenas o efeito da conformidade prática a fins que a razão pura nos impõe Nós vemos também na história da razão humana portanto que antes de os conceitos morais serem suficientemente purificados e de terminados e antes de a unidade sistemática dos fins ser considerada segundo eles e a partir de princípios necessários o conhecimento da natureza e mesmo um considerável grau do cultivo da razão em mui tas outras ciências em parte só podiam produzir conceitos rudimen tares e vagos da divindade em parte deixavam apenas uma impressio nante indiferença em relação a todas essas questões Uma maior ela boração das ideias morais que se tornou necessária através da lei ex traordinariamente pura de nossa religião aguçou a razão para o obje to através do interesse que ela foi forçada a tomar nele e sem que co nhecimentos naturais ampliados ou discernimentos transcendentais B 846 corretos e confiáveis que em todas as épocas faltaram contribuíssem para isso tais ideias produziram um conceito do ser divino que toma mos hoje por correto não porque a razão especulativa nos tenha persua dido de sua correção mas porque ele concorda perfeitamente com os princípios morais da razão E assim é sempre a razão pura que no fim das contas tem o mérito ainda que somente em seu uso prático de co nectar ao nosso mais elevado interesse um conhecimento que a mera especulação podia apenas imaginar mas não tornar válido e assim tor nálo não um dogma demonstrado mas uma pressuposição absoluta mente necessária para seus fins mais essenciais Se no entanto a razão prática atingiu assim esse ponto elevado qual seja o conceito de um ser originário único como bem supremo ela não pode pretender por isso como se tivesse se elevado sobre to das as condições empíricas de sua aplicação e ascendido a um conhe cimento imediato de novos objetos sair desse conceito e derivar dele as próprias leis morais Pois foi justamente a necessidade prática in terna destas últimas que nos conduziu à pressuposição de uma causa autossuficiente ou de um sábio regente do mundo para dar efetivida de a elas e por isso não podíamos considerálas segundo tal pressu posição como contingentes e derivadas da mera vontade especial B 847 mente de uma vontade da qual não teríamos conceito algum caso não o tivéssemos nós mesmos concebido conformemente a essas leis Até onde a razão prática tem o direito de conduzirnos nós não tomare 592 mos ações por obrigatórias porque são mandamentos de Deus mas as consideraremos mandamentos divinos porque somos internamen te obrigados a praticálas Nós estudaremos a liberdade sob a unida de conforme a fins segundo princípios da razão e só acreditaremos ser conformes à vontade divina na medida em que tomemos por divi na a lei moral que a razão nos ensina a partir da natureza das próprias ações morais e só acreditaremos servir a ela se promovermos o maior bem do mundo em nós mesmos e nos demais A teologia moral só tem portanto um uso imanente qual seja serve para realizarmos nossa destinação aqui no mundo adequandonos ao sistema de todos os fins e não para abandonarmos de maneira extravagante e até ma liciosa o fio condutor de uma razão moral que legisla sobre o bom curso da vida conectandoo imediatamente à ideia do ser supremo que lhe daria um uso transcendente que como o da especulação aca baria por deturpar e frustrar os fins últimos da razão T E R C E IR A SE Ç Ã O O PIN IÃ O S A B E R E F É 0 assentimento é um evento em nosso entendimento que pode basearse em fundamentos objetivos mas que também exige causas subjetivas na mente daquele que julga Se ele é válido para todos na medida em que tenham razão o seu fundamento é objetivamente su ficiente e se denomina então convicção Se ele só tem seu fundamen to na constituição particular do sujeito denominase persuasão A persuasão é uma mera ilusão pois o fundamento do juízo que repousa tão somente no sujeito é tomado por objetivo Por isso esse juízo tem também uma validade meramente privada e o assentimen to não pode ser comunicado A verdade porém baseiase na concor dância com o objeto em relação ao qual portanto os juízos de cada entendimento têm de ser concordantes consentientia uni tertio con sentiunt inter se concordando com uma terceira coisa eles concor dam entre si A pedra de toque do assentimento portanto se ele é convicção ou mera persuasão é externamente a possibilidade de comunicálo e considerálo válido para a razão de todo ser humano pois nesse caso há ao menos a suposição de que o fundamento da concordância de todos os juízos independentemente da diversidade B 848 B 849 593 dos sujeitos entre si está baseada no fundamento comum qual seja o objeto com o qual portanto todos eles concordariam e desse modo provariam a verdade do juízo Se pois o sujeito só leva em conta o assentimento como fenôme no de sua própria mente a persuasão não pode ser subjetivamente distinguida da convicção a tentativa porém de aplicar os seus funda mentos que são válidos para nós a um outro entendimento de modo a verificar se eles têm para uma razão alheia o mesmo efeito que têm para a nossa não é como um meio meramente subjetivo capaz de produzir convicção mas sim de descobrir a validade meramente pri vada do juízo i e algo nele que é mera persuasão Caso se possa além disso desenvolver as cansas subjetivas do juí zo que nós tomamos por fundamentos objetivos do mesmo e assim explicar o assentimento enganoso como um acontecimento em nossa mente sem necessitar para isso da constituição do objeto então des velamos a ilusão e embora sempre tentados a tal em alguma medida já não seremos enganados por ela quando a causa subjetiva da ilusão for inerente à nossa natureza Eu só posso afirmar i e enunciar como um juízo necessaria b 850 mente válido para todos aquilo que produz convicção Posso guardar uma persuasão para mim se me sinto bem com isso mas não posso nem devo pretender tornála válida fora de mim O assentimento ou a validade subjetiva do juízo no que diz respei to à convicção que vale ao mesmo tempo objetivamente tem os se guintes três estágios opinião fé e saber A opinião é um assentimento com consciência que é insuficiente tanto subjetiva como objetivamen te Se o assentimento é apenas subjetivamente suficiente e é tomado ao mesmo tempo como objetivamente insuficiente ele se denomina fé Denominase saber por fim o assentimento que é tanto subjetiva como objetivamente suficiente A suficiência subjetiva se denomina convic ção para mim mesmo a objetiva se denomina certeza para todos Não me deterei na elucidação de conceitos tão compreensíveis Não posso jamais atreverme a opinar sem ao menos saber algo por meio do qual um juízo que é em si meramente problemático re cebe uma conexão com a verdade que mesmo não sendo completa é mais do que uma invenção arbitrária Além disso a lei de tal conexão 5 9 4 tem de ser certa Pois se em relação a ela eu não tenho mais do que uma opinião então tudo é tão somente um jogo da imaginação sem a mínima relação com a verdade Em juízos da razão pura não é absolu tamente permitido opinar Pois uma vez que não estão apoiados em fundamentos da experiência e tudo deve ser conhecido a priori um domínio em que tudo é necessário o princípio da conexão exige en tão universalidade e necessidade portanto certeza completa pois do contrário não se encontraria qualquer fio conduzindo à verdade Por isso é absurdo opinar na matemática é preciso saber ou então abs terse de todo julgar Vale exatamente o mesmo para os princípios da moralidade pois não se pode agir com base na mera opinião de que algo seja permitido mas é preciso sabêlo No uso transcendental da razão pelo contrário a opinião é mui to pouco mas o saber é demasiado Aqui portanto não podemos jul gar de um ponto de vista meramente especulativo pois os fundamen tos subjetivos do assentimento como aqueles que podem ser produzi dos pela fé não merecem qualquer acolhida nas questões especulati vas já que não se sustentam sem apoio empírico nem são capazes nessa mesma medida de comunicarse a outrem Em sentido meramente prático contudo o assentimento que é insuficiente teoricamente pode muito bem ser denominado fé Este ponto de vista prático é pois ou o da habilidade ou o da moralida de o primeiro voltado a fins arbitrários e contingentes o segundo a fins absolutamente necessários Uma vez proposto um fim as condições de atingimento do mes mo são hipoteticamente necessárias Esta necessidade é subjetiva mas apenas comparativamente suficiente se não conheço quaisquer outras condições sob as quais o fim seria atingível ela é suficiente no entanto de maneira absoluta e para todos se sei com certeza que nin guém poderia conhecer outras condições capazes de conduzir ao fim proposto No primeiro caso a minha pressuposição e o assentimento a determinadas condições constituem uma crença meramente contin gente e no segundo uma crença necessária Suponhamos um médico que tem de fazer algo por um doente que está em perigo mas não co nhece a doença Ele olha para os fenômenos e como não lhe ocorre nada melhor julga ser uma tuberculose Mesmo em seus próprios juí zos sua crença é meramente contingente e alguém poderia encon B 851 B 852 5 9 5 trar uma solução melhor A essa crença contingente que em todo caso serve de fundamento para o uso real dos meios para determina das ações eu denomino fé pragmática O critério habitual para saber se aquilo que alguém afirma é mera persuasão ou ao menos convicção subjetiva i e uma crença firme é a aposta E frequente alguém expressar suas proposições com uma atitu de tão confiante e inflexível que parece ter afastado inteiramente toda preocupação com o erro Uma aposta o torna receoso Por vezes se re vela que a sua persuasão é suficiente para o valor de um ducado mas não valeria dez Pois ele arriscaria bem a primeira quantia ao passo b 853 que os dez ducados lhe fariam perceber pela primeira vez algo que não tinha antes notado a saber que é perfeitamente possível ele terse equivocado Se alguém se representa em pensamento que deveria apos tar a felicidade de uma vida inteira nosso triunfante juízo se vê forte mente enfraquecido tornamonos bem humildes e somente então des cobrimos que nossa crença não vai tão longe A crença pragmática por tanto tem apenas um grau que pode ser grande ou pequeno em fun ção da diversidade do interesse que está aí em jogo Mesmo porém que não possamos empreender nada com relação a um objeto e que o assentimento portanto seja meramente teórico nós podemos ainda assim em muitos casos imaginar e abarcar no pensamento uma empreitada para a qual suporíamos ter fundamen tos suficientes caso houvesse um meio de estabelecer a certeza sobre a coisa e há então um analogon dos juízos práticos nos juízos mera mente teóricos para o qual a palavra fé é adequada e ao qual pode mos denominar fé doutrinal Se fosse possível estabelecêlo através de alguma experiência eu apostaria de bom grado tudo o que tenho em que há habitantes em pelo menos um dos planetas que vemos Por isso eu digo que não é uma mera opinião mas uma crença forte em cuja correção eu apostaria muitas coisas boas da vida a de que tam bém existem habitantes em outros mundos B 854 Agora temos de admitir que a doutrina da existência de Deus pertence à fé doutrinal Pois ainda que eu não tenha de decretar nada no que diz respeito ao conhecimento teórico do mundo que pressuponha necessariamente esses pensamentos como condição de minhas explicações dos fenômenos do mundo mas seja antes obriga do a empregar minha razão como se tudo fosse mera natureza a uni 596 dade conforme a fins é uma condição tão grande da aplicação da ra zão à natureza que não posso deixála de lado visto que além disso a experiência me oferece exemplos dela em abundância Para essa unida de contudo não conheço outra condição que pudesse tornála para mim um fio condutor da investigação natural senão a pressuposição de que uma inteligência suprema assim ordenou a tudo segundo os mais sábios fins Consequentemente pressupor um sábio criador do mundo é a condição para um propósito que embora contingente não é irrelevante qual seja o de ter uma orientação na investigação da natu reza E o resultado de minhas tentativas confirma com tanta frequência a utilidade dessa pressuposição contra a qual nada pode ser aduzido de maneira decisiva que eu diria muito pouco se denominasse meu assentimento a ela uma mera opinião na verdade mesmo nesse con texto teórico pode ser dito que acredito firmemente em um Deus nesse caso porém essa fé não é ainda em sentido estrito uma fé prática mas deve ser denominada uma fé doutrinal que a teologia da natureza físicoteologia tem de produzir necessariamente em toda parte Tendo em vista essa mesma sabedoria de um lado e de outro os maravilho sos dons da natureza humana e a brevidade da vida tão inadequada àqueles também se pode encontrar um fundamento suficiente para uma fé doutrinal na vida futura da alma humana A expressão fé nesses casos é uma expressão de modéstia do ponto de vista objetivo mas ao mesmo tempo da firmeza da confian ça do ponto de vista su b jetivo Se aqui eu também quisesse denomi nar ao assentimento meramente teórico uma hipótese que estou au torizado a admitir eu me comprometeria a possuir sobre a constitui ção de uma causa do mundo e de um outro mundo mais conceitos do que posso de fato mostrar pois mesmo aquilo que só assumo como hipótese eu tenho de conhecer bem o suficiente no que diz respeito às suas propriedades para não ter de inventar o seu con ceito mas apenas a su a ex istên cia Mas a palavra fé referese apenas à orienta ção que me é dada por uma ideia e à influência subjetiva no desenvol vimento de minhas ações racionais que me mantém nela mesmo que eu não esteja em condições de justificála do ponto de vista subjetivo A fé doutrinal contudo tem em si algo de vacilante é comum que as dificuldades na especulação nos afastem dela ainda que acabe mos sempre por voltar a ela B 855 597 Ocorre algo bem diverso com a fé m oral Pois aí é absolutamente necessário que algo tem de acontecer a saber que eu obedeça à lei moral em tudo O fim é estabelecido aqui de maneira incontornável e somente uma única condição é possível segundo todo o meu discerni mento sob a qual esse fim se coaduna com todos os demais e assim tem validade prática qual seja a de que haja um Deus e um mundo fu turo sei também com total certeza que ninguém conhece outras con dições capazes de conduzir à mesma unidade dos fins sob a lei moral Como no entanto o preceito moral é ao mesmo tempo minha máxima tal como a razão ordena que ela deve ser então acreditarei firmemen te em uma existência de Deus e em uma vida futura e estou seguro de que esta crença não poderia produzir algo vacilante pois do contrário seriam arruinados os meus próprios princípios morais que não posso recusar sem tornarme indigno a meus próprios olhos De tal modo ainda nos resta o bastante após o fracasso de todos os propósitos ambiciosos de uma razão que se perde para além de to dos os limites da experiência para que possamos ficar satisfeitos com isso de um ponto de vista prático Ninguém poderá com efeito arro b 857 garse sa b e r que existe um Deus e uma vida futura pois se o souber então ele é justamente o homem que há muito procuro Todo saber se diz respeito a um objeto da mera razão pode ser comunicado e eu também poderia esperar então que o meu saber fosse estendido através do seu ensinamento em tão admirável medida Não a convic ção não é certeza lógica mas sim m oral e como se baseia em funda mentos subjetivos da intenção moral então jamais poderei dizer que é moralmente certo que um Deus existe etc mas sim que eu es tou moralmente certo etc Isto significa que a fé em um Deus e em um outro mundo está tão entrelaçada com a minha intenção moral que tão pouco como corro o risco de perder a primeira tão pouco me pre ocupo com que a segunda me possa um dia ser roubada A única coisa de que se poderia duvidar aqui é que essa fé da ra zão esteja fundada na pressuposição de intenções morais Se nos afas tamos disso e supomos alguém que fosse inteiramente indiferente em relação às leis morais a questão levantada pela razão se torna um mero problema para a especulação e embora possa ser mantida com funda 598 mentos fortes a partir da analogia não o pode com fundamentos a que até a mais teimosa desconfiança teria de renderse7 Não há sequer um homem contudo que seja isento de interesse em tais questões Pois mesmo que esteja privado de tal interesse por falta de boas intenções ainda lhe restaria o suficiente mesmo nesse caso para tem er uma exis tência divina e um futuro Pois para isso só é preciso que ele ao menos não possa alegar a certeza de que não se pode encontrar nenhum tal ser e nenhum a vida futura algo que lhe exigiria na medida em que tem de ser provado pela mera razão portanto apoditicamente estabelecer a impossibilidade de ambos empreitada que nenhum homem racional po de assumir Isso seria uma fé negativa que embora sem poder ocasionar a moralidade ou as boas intenções poderia produzir o seu analogon i e poderia refrear fortemente a eclosão das más Mas isso é tudo que a razão pura alcança poderseia perguntar ao abrir perspectivas para além dos limites da experiência Nada mais que dois artigos de fé Isto é algo que o entendimento comum também te ria conseguido sem apelar aos conselhos dos filósofos Não quero enaltecer aqui o serviço que a filosofia prestou à razão humana através dos extenuantes esforços de sua crítica supondose que também nos resultados ele fosse apenas negativo pois ainda ha verá algo sobre isso na seção seguinte Mas vocês exigem então que um conhecimento concernente a todos os homens deva ultrapassar o entendimento comum e ser revelado a vocês pelos filósofos Justa mente isso que vocês reprovam é a melhor confirmação da correção das afirmações feitas até aqui pois com isso se descobre aquilo que a princípio não se podia prever a saber que não se pode culpar a natu reza naquilo que é inerente a todos os seres humanos sem diferença de distribuir seus dons com parcialidade e que a mais elevada filoso fia não poderia ir além no que diz respeito aos fins essenciais da na tureza humana da orientação que a natureza conferiu também ao mais comum entendimento 7 A mente humana assume um interesse natural na moralidade tal como ocorre necessariamen te segundo acredito com todo ser racional mesmo que ele não seja indiviso nem irresistível em termos práticos Reforcem e ampliem esse interesse e vocês considerarão a razão suficien temente dócil e mesmo esclarecida para unir também o interesse especulativo ao prático Se no entanto não se preocuparem antes em formar homens bons ao menos parcialmente ja mais farão deles homens de fé genuína NAJ B 858 B 859 599 B 860 TERCEIRO CAPITULO A arquitetônica da razão pura Por arquitetônica eu entendo a arte dos sistemas Uma vez que a unidade sistemática daquilo que o conhecimento comum transfor mou primeiramente em ciência i e fazendo de um mero agregado daquele um sistema a arquitetônica é a doutrina do científico em nosso conhecimento em geral e pertence necessariamente portanto à doutrina do método Sob o governo da razão os nossos conhecimentos em geral não podiam ser uma rapsódia mas tinham de constituir um sistema no qual pudessem apoiar e promover os fins essenciais daquela Por sistema contudo eu entendo a unidade dos conhecimentos diversos sob uma ideia Esta é o conceito racional da forma de um todo na medida em que por meio dele sejam determinados a priori tanto o âmbito do diver so como a posição das partes entre si Assim o conceito científico da ra zão contém o fim e a forma do todo que lhe é congruente A unidade do fim a que se referem todas as partes e em cuja ideia também se refe rem umas às outras faz com que a ausência de cada parte seja notada b 861 no conhecimento das demais e que não ocorra nenhum acréscimo con tingente nem qualquer quantidade indeterminada da perfeição cujos limites não sejam determinados a priori O todo portanto é articulado articulatio e não amontoado coacervatio pode crescer internamen te per intussusceptionem mas não externamente per appositionem tal como um corpo animal cujo crescimento não acrescenta nenhum membro mas torna cada um deles sem modificação nas proporções mais forte e apropriado a seus fins A ideia necessita de um esquem a para sua realização i e de uma essencial diversidade e ordem das partes que tenha sido determi nada a p rio ri a partir do princípio do fim O esquema que não é proje tado segundo uma ideia i e a partir do fim principal da razão mas empiricamente segundo propósitos que se oferecem contingentemen te e cuja quantidade não se pode saber de antemão fornece uma 600 unidade técnica ao passo que aquele que só surge em decorrência de uma ideia onde a razão fornece os fins a priori e não os espera empi ricamente funda uma unidade arquitetônica Aquilo que denomina mos ciência não pode surgir tecnicamente devido à semelhança com o diverso ou ao uso contingente do conhecimento in concreto para todos os fortuitos fins externos mas arquitetonicamente devido à proximidade e à derivação de um único fim interno e supremo que torna primeiramente possível o todo e seu esquema tem de conter conformemente à ideia i e a priori o esboço m onogram m a e a di visão do todo em membros bem como distinguilo de todo o resto com segurança e segundo princípios Ninguém tenta produzir uma ciência sem ter uma ideia por funda mento No seu desenvolvimento contudo raramente o esquema ou mesmo a definição de ciência que ele oferece no princípio correspon dem à sua ideia pois esta reside na razão como um germe cujas partes se encontram ainda muito pouco desenvolvidas e quase irreconhecíveis à observação microscópica Por isso é preciso determinar e definir as ciências que são todas concebidas desde o ponto de vista de um certo interesse universal não segundo a descrição que faz delas o seu cria dor mas segundo a ideia que a partir da unidade natural das partes que ele reuniu pode ser encontrada na própria razão Pois então se ve rificará que o criador de uma ciência e com frequência também os seus seguidores mais tardios giram em torno de uma ideia que eles mesmos não têm clara não podendo portanto determinar seu conteúdo pró prio sua articulação unidade sistemática ou seus limites É uma pena que somente agora depois de termos por tanto tem po reunido rapsodicamente seguindo uma ideia em nós oculta mui tos conhecimentos a ela referidos que nos servem de material de construção e mesmo depois de termos por tanto tempo articulado tecnicamente esses conhecimentos possamos enfim olhar para essa ideia sob uma clara luz e segundo os fins da razão projetar um todo arquitetonicamente Os sistemas parecem ter sido gerados como ver mes que por generatio equivoca a partir da mera confluência de con ceitos acumulados nascem incompletos e com o tempo vão se com pletando muito embora todos eles como o germe originário tives sem o seu esquema na razão em mero estágio de desenvolvimento e portanto não fossem apenas organizados um por um segundo uma B 862 B 863 601 ideia mas também unidos entre si em um sistema do conhecimento humano como membros de um todo e permitissem assim uma arqui tetônica de todo saber humanoruma arquitetônicaque nos tempos atuais em que tanto material se acumulou ou pode ser recolhido das ruínas dos antigos edifícios destruídos seria não apenas possí vel mas nem sequer difícil Nós nos satisfazemos aqui em completar o nosso empreendimento i e simplesmente projetando a arquitetôni ca de todos os conhecimentos da razão pura e começamos agora do ponto onde a raiz universal de nossos poderes cognitivos se divide gerando dois ramos dos quais um é a razão Por razão contudo eu entendo aqui toda a faculdade superior do conhecimento e oponho assim o racional ao empírico Se faço abstração de todo o conteúdo do conhecimento objetiva b 864 mente considerado então todo conhecimento é subjetivamente ou histórico ou racional 0 conhecimento histórico é cognitio ex datis ao passo que o racional é cognitio e x principiis Onde quer que um conhecimento seja originariamente dado ele é histórico naquele que o possui se este só conhece tanto quanto lhe foi dado de outra parte seja pela experiência imediata por relatos ou mesmo por ensinamen tos conhecimentos gerais Assim aquele que realmente aprendeu um sistema da filosofia como por exemplo o wolffiano mesmo que tenha em sua cabeça todos os princípios definições e provas junta mente com a estrutura de todo o edifício doutrinal e mesmo que sai ba tudo isso de cor não tem outro conhecimento a não ser o conheci mento histórico completo da filosofia wolffiana ele apenas sabe e jul ga conforme o que lhe foi dado Se vocês lhe questionarem uma defi nição ele não saberá onde encontrar outra Ele se educou segundo uma razão alheia mas a faculdade de reproduzir não é a de criar ou seja o conhecimento não surgiu nele a pa rtir da razão e embora certamente fosse objetivamente um conhecimento da razão do pon to de vista subjetivo era meramente histórico Ele compreendeu e reteve bem i e aprendeu e é um molde de gesso de um homem vivo Conhecimentos racionais que sejam objetivos i e que só pos sam ter surgido inicialmente a partir da razão própria do ser huma no só podem carregar esse nome subjetivamente caso tenham sido B 865 criados a partir das fontes universais da razão i e a partir de princí pios dos quais pode surgir também a crítica e mesmo a recusa do que se aprendeu 602 Agora todo conhecimento da razão é ou conhecimento por con ceitos ou por construção de conceitos o primeiro se denomina filosó fico o segundo matemático Da diferença interna de ambos eu já tra tei no primeiro capítulo Um conhecimento pode portanto ser objeti vamente filosófico e todavia subjetivamente histórico como na maio ria dos estudantes e em todos aqueles que nunca veem além da escola e permanecem estudantes a vida toda É curioso contudo que o co nhecimento matemático tal como foi aprendido possa valer também subjetivamente como conhecimento da razão e que nele não se encon tre a mesma diferença que aparece no filosófico A razão disso é que as únicas fontes do conhecimento a partir das quais o professor pode obter conhecimento não estão em parte alguma a não ser nos verda deiros e essenciais princípios da razão de modo que também o estu dante não pode adquirilos nem recusálos em nenhum outro lugar e isso porque de fato o uso da razão embora a priori acontece aqui in concreto a saber na intuição pura que por isso mesmo é livre de fa lhas excluindose assim todo engano ou erro Dentre todas as ciências a priori da razão portanto só se pode aprender a matemática e nunca a filosofia a não ser historicamente ainda que no que diz res peito à razão se possa quando muito aprender a filosofar Agora o sistema de todos os conhecimentos filosóficos é a filoso fia Ela tem de ser tomada objetivamente quando por ela se entende o modelo para o julgamento de todas as tentativas de filosofar devendo servir para julgar todas as filosofias subjetivas cujos edifícios são com frequência tão diversos e cambiantes A filosofia nesse sentido é uma mera ideia de uma possível ciência que não é dada in concreto em parte alguma mas da qual procuramos aproximarnos por inúme ros caminhos até que seja descoberta a única vereda muito escondi da pela sensibilidade e a cópia até aqui defeituosa seja na medida em que isso é concedido aos seres humanos tornada igual ao mode lo Até aí não se pode aprender filosofia alguma Pois onde está ela Quem está em sua posse Como se pode reconhecêla Só se pode aprender a filosofar i e exercitar o talento da razão na observância de seus princípios universais em certas tentativas dadas mas sempre guardando o direito da razão de investigar esses princípios em suas fontes e confirmálos ou rejeitálos Até aí porém o conceito da filosofia é apenas um conceito esco lástico qual seja o de um sistema do conhecimento que só é buscado B 866 603 como ciência sem ter nada mais por fim do que a unidade sistemática desse saber portanto a perfeição lógica do conhecimento Mas há também um conceito m undano conceptus cosm lcus que sempre serviu de fundamento a essa denominação notadamente quando foi B 867 como que personificado e representado como um modelo no ideal do filósofo Desse ponto de vista a filosofia é a ciência da remissão de todo conhecimento aos fins essenciais da razão humana teleologia rationis hum anae e o filósofo não é um artista da razão mas o legis lador da razão humana Nesse sentido seria muito presunçoso deno minarse um filósofo e pretender terse igualado ao modelo que reside somente na ideia O matemático o estudioso da natureza e o lógico por mais extra ordinariamente que os primeiros tenham progredido no conhecimento racional em geral e os últimos sobretudo no conhecimento filosófico são apenas artistas da razão Há ainda um mestre ideal que coloca to dos esses para trabalhar e os utiliza como ferramentas para promover os fins essenciais da razão humana Apenas este pode ser denominado filósofo como ele no entanto não pode ser encontrado em parte algu ma enquanto que as ideias de sua legislação o podem em toda razão humana nos deteremos apenas nas últimas e determinaremos mais de B 868 perto o que segundo esse conceito mundano8 a filosofia prescreve como unidade sistemática do ponto de vista dos fins Os fins essenciais não são pois os mais elevados e apenas um deles pode sêlo em uma unidade sistemática perfeita da razão Por isso eles são ou o fim último ou fins subalternos que pertencem ne cessariamente a ele como meios O primeiro não é outro senão a de terminação completa do ser humano e a filosofia que trata dela se de nomina moral Devido a essa primazia que a filosofia moral tem pe rante todas as demais aspirações da razão também os antigos com preendiam sob o nome de filósofo simultânea e predominantemente o moralista e a própria aparência externa de um autodomínio através da razão faz com que ainda hoje segundo uma certa analogia se cha me alguém de filósofo cujo saber é todavia limitado 8 O conceito mundano é aqui o conceito que concerne àquilo que interessa necessariamente a to dos assim eu só determino o propósito de uma ciência segundo conceitos escolásticos quando ela é considerada como uma das habilidades necessárias para certos fins fortuitos NA 604 A legislação da razão humana filosofia tem dois objetos a natu reza e a liberdade e portanto contém tanto a lei da natureza como a lei moral a princípio em dois sistemas particulares mas afinal em um único sistema filosófico A filosofia da natureza trata de tudo o que existe a da moral somente daquilo que deve existir Toda filosofia é contudo ou conhecimento a partir da razão pura ou conhecimento racional a partir de princípios empíricos A primeira se denomina filosofia pura a segunda filosofia empírica Agora a filosofia da razão pura é ou uma propedêutica exercí cio preparatório que investiga a faculdade da razão em relação a to dos os conhecimentos a priori e se denomina crítica ou o sistema da razão pura ciência i e o conhecimento filosófico total a partir da razão pura em uma concatenação sistemática tanto o verdadeiro co mo ilusório e se denomina metafísica ainda que também se possa dar este nome a toda a filosofia pura incluída a crítica de modo a en globar tanto a investigação de tudo o que pode ser conhecido a priori como a exposição daquilo que constitui um sistema dos conhecimen tos filosóficos puros desse tipo mas que é diferente de todo uso empí rico da razão bem como do matemático A metafísica se divide em metafísica do uso especulativo da razão pura e metafísica do uso prático da razão pura sendo portanto ou m etafísica da natureza ou m etafísica dos costum es Aquela contém todos os princípios puros da razão a partir de meros conceitos do co nhecimento teórico de todas as coisas excluída a matemática por tanto ao passo que esta contém os princípios que determinam e tor nam necessário a priori o fazer e o deixar de fazer Agora a morali dade é a única conformidade a leis das ações que pode ser derivada in teiramente a p riori a partir de princípios Por conseguinte a metafísi ca dos costumes é realmente a moral pura em que nenhuma antropo logia nenhuma condição empírica é posta como fundamento A meta física da razão especulativa é pois aquilo que se costuma denominar metafísica em sentido estrito na medida porém em que a doutrina pura dos costumes pertence ainda assim ao ramo particular do conhe cimento humano mais especificamente filosófico que provém da ra zão pura conservaremos aquela denominação para ela ainda que a deixemos aqui de lado como não pertencente p o r ora ao nosso fim B 869 B 870 605 É extremamente importante iso la r conhecimentos que sejam di ferentes entre si no que diz respeito ao seu gênero e à sua origem e evitar que se misturem àqueles a que habituajmente estão ligados no uso O que os químicos fazem ao separar os materiais e os matemáti cos em sua doutrina pura das quantidades os filósofos têm de fazêlo ainda mais para determinar com segurança a proporção que um tipo particular de conhecimento tem no uso errante do entendimento bem como o valor próprio e a influência que esse conhecimento pos sui Por isso a razão humana desde que começou a pensar ou antes a refletir nunca pôde dispensar uma metafísica ainda que nunca tenha podido expôla suficientemente purificada de todo elemento estra nho A ideia de tal ciência é tão antiga quanto a razão especulativa humana pois seja de modo escolástico seja de modo popular que ra b 871 zão não especula E preciso reconhecer entretanto que a distinção entre os dois elementos de nosso conhecimento um dos quais está inteiramente a p rio ri em nosso poder o outro só podendo ser admiti do a p o ste rio ri a partir da experiência permaneceu extremamente obscura mesmo em pensadores profissionais e portanto não permi tiu que se produzisse jamais a determinação dos limites de um tipo particular de conhecimento nem portanto a autêntica ideia de uma ciência com que a razão humana se ocupou tanto e por tanto tempo Quando se dizia que a metafísica é a ciência dos primeiros princípios do conhecimento humano apontavase com isso não para um tipo particular mas para um certo nível de universalidade sem que se a di ferenciasse assim de maneira clara do conhecimento empírico pois também entre os princípios empíricos alguns são mais universais e por isso mais elevados que outros E em que ponto dessa série hierár quica em que não se distingue aquilo que é conhecido inteiramente a p rio ri daquilo que só é conhecido a p o sterio ri se poderia fazer o cor te que separaria a p rim eira parte e os membros superiores da ú lti m a parte e dos membros subordinados O que se diria se a cronologia só pudesse descrever as épocas do mundo dividindoas nos primeiros séculos de um lado e nos séculos seguintes de outro Perguntarseia se o quinto século ou o décimo etc pertenceriam também aos primei ros séculos Do mesmo modo pergunto eu o conceito de extensão pertence à metafísica Vocês respondem sim Mas também o de cor B 872 po Sim E o de corpo fluido Vocês se tornam reticentes pois a con tinuar assim tudo pertencerá à metafísica Por aí se vê que o mero 606 grau de subordinação o particular sob o universal não pode deter minar os limites de uma ciência em nosso caso somente o podem a inteira heterogeneidade e diferença de origem Mas o que obscurecia a ideia fundamental da metafísica por um outro lado era o fato de ela mostrar enquanto conhecimento a priori uma certa homogeneidade com a matemática que de fato era sugerida pela semelhança no que diz respeito à origem a priori no que diz respeito porém ao modo de conhecer por conceitos que é próprio daquela em comparação com o modo de julgar a priori por mera construção de conceitos que é pró prio desta no que diz respeito portanto à diferença de um conheci mento filosófico em relação ao matemático mostrase uma heteroge neidade que de tão decisiva sempre foi como que sentida ainda que nunca trazida a critérios claros Assim aconteceu que como os pró prios filósofos fracassaram no desenvolvimento da ideia da sua ciên cia a elaboração da mesma não pôde ter um fim determinado nem tampouco um fio condutor seguro e com um projeto tão fortuita mente elaborado sem saber que caminho seguir e sempre brigando entre si quanto às descobertas que cada um pretendia ter feito no seu eles acabaram por deixar a sua ciência primeiro junto aos outros de pois junto a eles próprios abandonada ao desprezo Assim todo conhecimento puro a priori graças à única faculda de particular de conhecimento onde pode ter sua sede constitui uma unidade particular e a metafísica é aquela filosofia que deve apresen tar todo conhecimento nessa unidade sistemática A sua parte espe culativa que se apropriou desse nome por excelência i e aquela a que chamamos m etafísica da natureza e que considera tudo a partir de conceitos a priori na medida em que é não aquilo que deve ser dividese então do seguinte modo A metafísica que é assim denominada em sentido estrito se cons titui da filosofia transcendental e da fisiologia da razão pura A pri meira considera apenas o entendim ento e a razão mesma em um sis tema de todos os conceitos e princípios que em geral se referem a ob jetos sem supor objetos que fossem dados ontologia a segunda considera a natureza i e o conjunto completo dos objetos dados sejam eles dados aos sentidos ou se se quiser a um outro tipo de in tuição e é assim fisiologia ainda que apenas rationalis Agora o uso da razão nessa consideração racional da natureza é ou físico ou B 873 607 hiperfísico ou melhor dizendo ou im a n en te ou tra n scen d en te O primeiro se volta à natureza na medida em que o seu conhecimento possa ser aplicado à experiência in concreto enquanto o segundo se volta àquela conexão dos objetos da experiência que ultrapassa B 874 toda experiência Essa fisiologia tran scen den te tem portanto ou uma conexão in tern a ou uma conexão ex tern a para seu objeto mas am bas ultrapassam a experiência possível aquela é a fisiologia de toda a natureza i e o co n h ecim en to tra n scen d en ta l d o m u n do e esta é a concatenação de toda a natureza com um ser acima da natureza i e o co n h ecim en to tra n scen d en ta l d e D eus A fisiologia imanente pelo contrário considera a natureza como o conjunto completo de todos os objetos dos sentidos portanto tal como n o s são dados mas o faz apenas segundo condições a p rio ri sob as quais eles podem em geral ser dados a nós Mas há apenas dois tipos de objetos nessa fisiologia 1 aqueles dos sentidos exter nos portanto o seu conjunto completo i e a n a tu re za c o rp ó rea 2 o objeto do sentido interno a alma e segundo os conceitos funda mentais da mesma a n a tu reza pen san te A metafísica da natureza corpórea se denomina física mas na medida em que só deve conter os princípios do seu conhecimento a p rio ri física racion al A metafí sica da natureza pensante se denomina psicologia e a partir das ra zões até agora apresentadas só deve ser entendida aqui como o co n h ecim en to racion al de tal natureza Assim o sistema completo da metafísica se constitui de quatro partes principais 1 da ontologia 2 da fisiologia racional 3 da cos m o logia racional 4 da teologia racional A segunda parte qual seja B 875 a doutrina natural da razão pura contém duas divisões a p h y sic a ra tio n a lis9 e a psgch ologia ration alis 9 Não se pense que eu entendo aí aquilo que habitualmente se denomina physica generalis e que é mais matemática do que filosofia da natureza Pois a metafísica da natureza se separa inteiramente da matemática não pode oferecer nem de perto a compreensão ampliadora que esta oferece mas é muito importante em relação à crítica do conhecimento intelectual puro aplicado à natureza Na falta dela os próprios matemáticos dependendo de certos con ceitos que na verdade são metafísicos sobrecarregam a doutrina da natureza desaperce bidamente com hipóteses que em uma crítica desses princípios desaparecem sem que o uso da matemática nesse campo que é inteiramente indispensável seja por isso minima mente prejudicado NA 608 A ideia original de uma filosofia da razão pura prescreve ela pró pria tal divisão ela é portanto a rq u itetô n ica conforme a seus fins essenciais e não apenas técnica disposta segundo semelhanças per cebidas acidentalmente e como que por sorte mas justamente por isso também imutável e legisladora Apresentamse aqui alguns pon tos no entanto que despertam dúvida e poderiam enfraquecer a con vicção quanto à sua conformidade a fins Primeiro como posso esperar um conhecimento a p rio ri e por tanto uma metafísica dos objetos se estes somente são dados aos nossos sentidos portanto a p o ste rio ri E como é possível conhecer a natureza das coisas segundo princípios a p rio ri e chegar assim a uma fisiologia racion al A resposta é que nós não tomamos da expe riência nada além do que é necessário para nos dar um objeto em parte ao sentido externo em parte ao interno No primeiro isso acon tece através do mero conceito de matéria extensão impenetrável sem vida no último através do conceito de um ser pensante na represen tação empírica interna eu penso De resto deveríamos absternos por completo na metafísica desses objetos de todos os princípios em píricos que pudessem acrescentar ao conceito uma experiência para a partir dela julgar algo sobre esses objetos Segundo onde fica então a p sico lo g ia em p írica que desde sem pre manteve o seu lugar na metafísica e da qual o nosso tempo depois de abandonar a esperança de estabelecer algo válido a p rio ri quanto a isso esperou tantas coisas grandiosas para o esclarecimento da meta física Respondo ela aparece ali onde deve ser posta a verdadeira doutrina empírica da natureza a saber do lado da filosofia a p lica da cujos princípios a p rio ri estão na filosofia pura a qual portanto é de fato ligada àquela mas não pode ser a ela misturada A psicologia empírica deve pois ser inteiramente banida da metafísica e já atra vés da sua ideia é completamente excluída Conforme a praxe das es colas contudo continuarão a reservarlhe aí um lugarzinho mesmo que episódico e isso por motivos econômicos já que ela não é rica o suficiente ainda para constituir por si só um campo de estudos mui to embora seja importante demais para que se pudesse excluíla por completo ou alocála em outra parte com que ela tivesse menos pa rentesco ainda do que com a metafísica Ela é tão somente um estra nho portanto que foi acolhido até agora e ao qual se pode continuar B 876 B 877 609 a dar asilo por um tempo até que possa encontrar sua própria mora da em uma antropologia completa a contraparte da doutrina empíri ca da natureza Tal é pois a ideia universal da metafísica que como a princípio se atribuiu mais a ela do que se poderia razoavelmente exigir e como por muito tempo se criaram expectativas agradáveis em torno dela acabou por cair em um desprezo generalizado na medida em que tais esperanças se viram frustradas A partir do curso completo de nossa crítica devese estar suficientemente convencido de que embora a metafísica não possa ser um fundamento firme para a religião ela tem de continuar a ser o seu baluarte e de que a razão humana que é dialética já pelo direcionamento de sua natureza nunca poderia dis pensar tal ciência que a modera e através de um autoconhecimento científico inteiramente esclarecedor previne os estragos que uma ra zão especulativa sem leis ocasionaria tanto na moral como na reli gião Podese estar seguro portanto de que por mais obstinada e B 878 desdenhosamente que se portem aqueles que não sabem julgar uma ciência segundo sua natureza mas apenas a partir de seus efeitos contingentes sempre se poderá voltar à metafísica como se volta a uma amante de que nos houvéssemos separado pois a razão visto tratarse aqui de fins essenciais terá de trabalhar incessantemente ou para chegar a um conhecimento rigoroso ou para destruir bons co nhecimentos já apresentados Tanto a metafísica da natureza portanto como a metafísica dos costumes e sobretudo a crítica da razão que se aventurou ao voo com suas próprias asas que antecede aquelas como exercício preparatório propedêutico constituem de fato aquilo que em sentido próprio po demos denominar filosofia Esta remete tudo à sabedoria mas através do caminho da ciência o único que uma vez pavimentado nunca se de forma nem admite desvios A matemática a ciência da natureza e mes mo o conhecimento empírico do ser humano têm um elevado valor como meios para os fins da humanidade a princípio contingentes mas afinal necessários e essenciais mas só o têm através da mediação de um conhecimento da razão a partir de meros conceitos que como quer que se o chame não é outro de fato senão a metafísica Justamente por isso a metafísica é também a consumação de B 879 toda cu ltu ra da razão humana que é indispensável mesmo quando se 610 deixe de lado a sua influência como ciência sobre certos fins deter minados Pois ela considera a razão segundo seus elementos e suas máximas supremas que têm de servir de fundamento à própria p o ssi b ilid a d e de algumas ciências e ao uso de todas Que ela como mera especulação sirva mais para prevenir erros do que para ampliar o co nhecimento não diminui em nada o seu valor mas antes lhe dá digni dade e respeito pelo ofício de censor que assegura a ordem e a har monia universais e mesmo o bemestar da comunidade científica e impede que os trabalhos desta laboriosos e frutíferos se distanciem do fim principal qual seja a felicidade universal 6 1 1 B 880 QUARTO CAPITULO A história da razão pura Este título só está aqui para indicar um lugar que permanece vago no sistema e que terá de ser preenchido futuramente Eu me contento em lançar um olhar fugidio a partir de um ponto de vista meramente transcendental da natureza da razão pura sobre o todo dos trabalhos até aqui empreendidos nesse campo e isso me mostra edifícios de fato mas todos eles em ruínas É bastante curioso ainda que naturalmente não pudesse ser dife rente que os seres humanos tenham começado na infância da filoso fia ali onde hoje gostaríamos de terminar a saber estudando primei ramente o conhecimento de Deus e a esperança ou mesmo a consti tuição de um outro mundo Por mais toscos que fossem os conceitos religiosos introduzidos pelos antigos costumes que ainda restavam do estado primitivo dos povos isso não impediu a parte esclarecida de dedicarse a investigações livres sobre esse objeto e se viu facilmente que não poderia haver nenhum modo mais rigoroso e confiável de b 881 agradar ao poder invisível que rege o mundo para ao menos ser feliz em um outro mundo do que um bom curso de vida Por isso a teologia e a moral foram os dois móbiles ou antes os pontos de referência para todas as investigações abstratas da razão que se passou a fazer a partir de então A primeira entretanto foi aquela que realmente levou a ra zão meramente especulativa cada vez mais a entrar nesse assunto que depois sob o nome de metafísica se tornaria tão famoso Não pretendo distinguir agora as épocas em que tal ou qual trans formação da metafísica tiveram lugar mas apenas apresentar em um esboço singelo a diversidade das ideias que ocasionaram as principais revoluções E vejo um triplo propósito aí dando origem às mais im portantes mudanças nesse palco de discórdias 1 E m relação ao objeto de todos os nossos conhecimentos racio nais alguns filósofos eram meramente sensu alistas outros mera mente in telectu alistas Epicuro pode ser considerado o maior fi 612 lósofo da sensibilidade Platão o maior da intelectualidade Mas essa diferença das escolas por mais sutil que seja já havia come çado nos tempos mais antigos e se manteve inalterada por muito tempo Os da primeira escola afirmavam que só haveria realidade nos objetos dos sentidos e o resto seria imaginação os da segun da afirmava o contrário i e que nos sentidos só há ilusão e ape nas o entendimento conhece o verdadeiro Nem por isso contudo os primeiros recusavam realidade aos conceitos do entendimento eles apenas a consideravam meramente lógica ao passo que os ou tros a consideravam m ística Aqueles admitiam conceitos intelectu ais mas só assumiam objetos sensíveis Estes exigiam que os verda deiros objetos fossem meramente inteligíveis e defendiam uma in tuição do entendimento puro não acompanhada por quaisquer sentidos os quais segundo eles só fariam confundir aquele 2 E m relação à origem dos conhecimentos puros da razão ou seja se são derivados da experiência ou se têm independente mente dela sua fonte na razão Aristóteles pode ser considerado o chefe dos em p irista s e Platão dos n oologistas Locke que nos tempos modernos seguiu o primeiro e Leibniz que seguiu o últi mo embora sufidentemente distante do seu sistema místico não puderam ainda assim trazer essa disputa a nenhuma deci são Epicuro foi ao menos muito mais consequente na observân cia de seu sistema sensual já que com suas inferências nunca ia além dos limites da experiência do que Aristóteles e Locke so bretudo este último que depois de derivar todos os conceitos e princípios da experiência vai tão longe no uso dos mesmos que acaba por afirmar que se poderia provar a existência de Deus e a imortalidade da alma ainda que ambos os objetos estejam intei ramente fora dos limites da experiência possível de maneira tão evidente quanto algum teorema matemático 3 E m relação ao m étodo Se algo deve ser denominado método então tem de ser um procedimento segundo p rin cíp io s Agora o método hoje dominante nesse âmbito de investigação pode ser di vidido em n a tu ra lístico e cien tífico O n atu ralista da razão pura assume como princípio que através da razão comum que ele de nomina sã razão e sem ciência se conseguiria mais com relação às questões sublimes que constituem a tarefa da metafísica do B 882 B 883 6 1 3 B 884 que através da especulação Ele defende portanto que a grande za e a extensão da lua podem ser determinadas pela medida do olhar com maior segurança do que peloscálculos matemáticos E uma mera misologia reduzida a princípios e o que é mais absur do o abandono de todos os meios técnicos enaltecido como um m étodo próprio para ampliar os conhecimentos Pois no que diz respeito aos que são naturalistas por falta de um maior discerni mento não há qualquer razão para recriminarlhes Eles seguem a razão comum sem gabarse da própria ignorância como se fosse um método contendo o segredo para extrair a verdade da fonte profunda de Demócrito Seu mote é qu od sapio sa tis est m ihi nos ego curo esse q u o d A rcesilas aeru m n osiqu e Solones Pers e eles se contentam com ele podendo até viver dignamente sem preo cuparse com a ciência nem atrapalhar o trabalho dela No que diz respeito aos que observam um método cien tífico es tes têm aqui a escolha de proceder ou d o g m á tica ou cetica m en te mas sempre com a obrigação de em todos os casos proceder siste m a tica m en te Se aqui menciono com relação à primeira opção o famo so Wolff e com relação à segunda D a vid H um e então eu posso para meus atuais propósitos deixar de mencionar os demais Somente o ca m in h o crítico está ainda aberto Se o leitor teve a gentileza e a pa ciência de percorrêlo em minha companhia então ele pode agora caso queira dar a sua contribuição para fazer dessa trilha uma ampla estrada julgar se aquilo que em tantos séculos não se conseguiu po derá ser alcançado ainda antes de acabarse o atual a saber levar a ra zão humana à plena satisfação naquilo que sempre alimentou até aqui em vão o seu desejo de saber 614 GLOSSÁRIO Ableitung derivação Absicht propósito allgemein universal geral Allgemeinheit universalidade generalidade Allheit totalidade Amphibolie anfibolia anhãngen inerir ser inerente a annehmen admitir Anreiz estímulo Anschauung intuição ansehen considerar anzeigen indicar designar Aufgabe tarefa problema auf gehen aplicarse a referirse a Aufklärung esclarecimento ausmachen constituir ausüben exercer Bearbeitung elaboração Bedeutung significado ou significação bedingt condicionado Bedingung condição Begierde desejo Begriff conceito Beharrlichkeit permanência beifügen acrescentar beilegen atribuir acrescentar belegen atestar Berichtigung correção pertinência 615 beruhen auf basearse em Beschaffenheit constituição propriedade constitutiva bestehen consistir Bestimmung determinação no contexto teórico ou destinação no contexto prático beurteilen julgar Beurteilung julgamento Bewegungsgrund motivo Bewegursache causa motriz Beweis prova Beweisgrund demonstração ou argumento bewirken efetuar beziehen sich relacionarse referirse Beziehung relação referência darlegen apresentar Darlegung apresentação darstellen expor apresentar Darstellung exposição apresentação dartun estabelecer explicitar denken sich representarse algo conceber denken pensar Ding an sich coisa em si durchgängig completo Einbildungskraft imaginação Eindruck impressão einschlagen entrar adentrar Einsicht discernimento compreensão einzeln singular Endabsicht propósito final entspringen surgir entstehen originarse Erfahrung experiência 616 erhellen tornar claro erkennen conhecer Erkenntniskraft poder cognitivo Erkenntnisvermögen faculdade de conhecimento Erklärung explicação ou definição Erkundigung informação Erläuterung explicação esclarecimento Erörterung exposição explicação Erscheinung fenômeno erwägen considerar levar em consideração Erweiterung ampliação Fehler falha Folge sucessão sequência consequência Fortgang avanço Fortschritt progresso Gedankending produto do pensamento Gegenstand objeto Gegenteil contrário oposto gehören in pertencer a gehören zu ter seu lugar em Gemeinschaft comunidade Gemüth mente Geschäft trabalho ofício Gesinnung intenção Glaube fé crença gleichartig homogêneo Gleichartigkeit homogeneidade Grenze limite Grösse quantidade grandeza Grundlage fundamento base gründlich rigoroso Grundsatz princípio proposição fundamental 6 1 7 hervorbringen produzir hineinbringen introduzir Hirngespinst fantasia Illusion ilusão in Ansehung em relação a Inbegriff conjunto completo Kanon cânone Kennzeichen índices características Kraft força Lehrsatz teorema Leitfaden fio condutor mannigfaltig diverso Mannigfaltigkeit diversidade Menge variedade multiplicidade Merkmal característica marca característica Nachforschung investigação nachsinnen meditar Naturforscher investigador da natureza Naturforschung investigação da natureza Nötigung coação oberst mais elevado supremo Object objeto Phänomen fenômeno Probirstein pedra de toque critério Realität realidade rechtfertigen justificar 618 Rechtfertigung justificação Rechtschaffenheit probidade Rechtsmässigkeit conformidade ao direito legitimidade Reihe série Reihenfolge sequência Reiz estímulo rühren estimular Schein ilusão aparência Scheinwissen saber ilusório Schluss inferência schulgerecht escolástico Schwärmerei visionariedade Selbst eu Selbstbewusstsein autoconsciência Selbsterkenntnis autoconhecimento selbsttätig espontâneo espontaneamente Selbsttätigkeit autoatividade Sinnlichkeit sensibilidade Sittlichkeit moralidade Spontaneität espontaneidade stattfinden ter lugar ocorrer acontecer Stelle posição lugar Triebfeder móbil Totalität totalidade Überlegung reflexão überschreiten ultrapassar Überzeugung convicção Umfang alcance Unbedingte incondicionado Unding não coisa ou absurdo ungereim absurdo 619 Untersuchung investigação Urbild arquétipo modelo Urgrund fundamento originário Urteilskraft faculdade de julgar Veränderung modificação Verbindung ligação Verehrung veneração Verfälschung deturpação Verhältnis relação verheissen prometer Verknüpfung conexão vermitteln mediar fazer a mediação Vermögen faculdade Vernunftschluss silogismo verschaffen fornecer Verschiedenheit diversidade Verstand entendimento Vielheit pluralidade Vollkommenheit perfeição Vorkommen aparecer Vorstellungskraft poder de representação Wahrnehmung percepção Wechsel mudança wechselseitig reciprocamente Wechselwirkung reciprocidade ação recíproca comunidade Weltbegriff conceito cosmológico conceito do mundo Weltganz universo todo do mundo Weltgebrauch uso mundano Weltidee ideia do mundo Wesen ente ser essência Willkür arbítrio wirklich real efetivo 620 Wirklichkeit realidade wissen saber conhecer Wissen saber Zeichen sinal Zergliederung decomposição zufällig contingente zugestehen conceder Zugleichsein simultaneidade zukommen pertencer corresponder zum Grunde legen servir de fundamento a algo Zusammenhang concatenação interconexão Zusammennehmung apreensão apreensão conjunta Zusammensetzung composição Zusammenstellung reunião Zusammentreffung concordância Zweckmässigkeit conformidade a fins 621 COLEÇÃO PENSAMENTO HUMANO A caminho da linguagem Martin Heidegger A Cidade de Deus Parte I Livros I a X Santo Agostinho A Cidade de Deus Parte II LivrosXI a XXIII Santo Agostinho As obras do amor Soren Aabye Kierkegaard Confissões Santo Agostinho Crítica da razão pura Immanuel Kant Da reviravolta dos valores Max Scheler Enéada II A organização do cosmo Plotino Ensaios e conferências Martin Heidegger Fenomenologia da vida religiosa Martin Heidegger Fenomenologia do espírito Georg Wilhelm Friedrich Hegel Hermenêutica arte e técnica da interpretação Friedrich DE Schleiermacher Investigações filosóficas Ludwig Wittgenstein Manifesto do partido comunista Karl Marx e Friedrich Engels Parmênides Martin Heidegger Ser e tempo Martin Heidegger Ser e verdade Martin Heidegger Verdade e método traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica Volume I HansGeorg Gadamer Verdade e método complementos e índice Volume 11 HansGeorg Gadamer O conceito de angústia Soren Aabye Kierkegaard Pósescrito às migalhas filosóficas Vol I Soren Aabye Kierkegaard Metafísica dos costumes Immanuel Kant Do eterno no homem Max Scheler Pósescrito às migalhas filosóficas Vol II Soren Aabye Kierkegaard Crítica da faculdade de julgar Immanuel Kant Ciência da Lógica 1 A Doutrina do Ser Georg Wilhelm Friedrich Hegel Ciência da Lógica 2 A Doutrina da Essência Georg Wilhelm Friedrich Hegel Crítica da razão prática Immanuel Kant ùà EDITORA r CULTURAL Administração Antropologia Biografias Comunicação Dinâmicas e Jogos Ecologia e Meio Ambiente Educação e Pedagogia Filosofia História Letras e Literatura Obras de referência Política Psicologia Saúde e Nutrição i Serviço Social e Trai Sociologia CATEQUETICO PASTORAL Catequese Geral Crisma Primeira Eucaristia Pastoral Geral Sacramental Familiar Social Ensino Religioso Escolar T Bi TEOLOGICO ESPIRITUAL Biografias Devocionários Espiritualidade e Mística Espiritualidade Mariana Frandscanismo Autoconhedmento Liturgia Obras de referência Sagrada Escritura e Livros Apócrifos 1 REVISTAS Concilium Estudos Bíblicos Grande Sinal REB Revista Eclesiástica Brasileira SEDOC Serviço de Documentação Teologia Bíblica Histórica Prática Sistemática W PRODUTOS SAZONAIS VOZES NOBILIS Uma linha editorial especial com importantes autores alto vaior agregado e qualidade superior VOZES DE BOLSO Obras clássicas de Ciências Humanas em formato de bolso Folhinha do Sagrado Coração de Jesus Calendário de 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