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ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 121 S HISTORIADORES americanos que buscam as origens do surgimento da liberdade da democracia e o homem comum tiveram de en frentar nas duas últimas décadas o desafio lançado por outros his toriadores que têm interesse na origem da história da opressão exploração e racismo Esse de safio tem sido salutar porque nos levou a examinar de um modo mais direto do que os historiadores até o presente se haviam predisposto a fazer o papel da escravidão no início de nossa história Sobretudo os historiadores do período colo nial ao escreverem sobre a ori gem e desenvolvimento das ins tituições norteamericanas até recentemente achavam manei ras de tratar a escravidão como uma exceção a tudo o que tinham a dizer Estou falando de mim mesmo e também da maioria dos integrantes de minha geração Devemos gratidão àqueles que insistiram no fato de ter sido a escravidão mais que uma exceção que um quinto da população americana na época da Revolução é gente de mais para ser tratada como exceção 1 O desafio não será superado simplesmente estudandose a história desse quinto por mais frutífero e urgente que tal estudo possa ser Também não superaremos o desafio pela mera execução da conhecida manobra de virar nossas velhas interpretações de cabeça para baixo Já se percebe a ten tação de argumentar que a escravidão e a opressão foram as marcas domi nantes da história americana e que os esforços para fazer avançar a liberdade e a igualdade foram a exceção de fato nada mais do que um recurso para desviar a atenção das massas enquanto se prendiam seus grilhões Tratar o Escravidão e liberdade o paradoxo americano EDMUND S MORGAN O A posição em que escravos eram transportados Reprodução 122 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 surgimento da liberdade e da igualdade na história americana como mera hipocrisia não é apenas ignorar fatos concretos é também evadirse do pro blema que tais fatos apresentam O surgimento da liberdade e da igualdade no país foi acompanhado pelo surgimento da escravidão O fato de que duas evoluções tão contraditórias ocorressem simultaneamente durante um largo tempo do século XVII ao XIX constitui o paradoxo central da histó ria americana O desafio pelo menos para um historiador do período colonial está em explicar como um povo pôde desenvolver a dedicação à liberdade e dignidade humanas mostrada pelos próceres da Revolução americana e ao mesmo tempo desenvolver e manter um sistema de trabalho que negava essa liberdade e dignidade a cada hora do dia O paradoxo é evidente em muitos níveis se quisermos vêlo Pense mos por exemplo na tradicional insistência na liberdade dos mares O axio ma Navios livres fazem mercadoria livre era o ponto cardeal da doutrina americana em política externa à época da Revolução Mas a mercadoria para a qual os Estados Unidos exigiam liberdade era produzida em grande parte pelo trabalho escravo A ironia é mais que semântica A dependência ameri cana do trabalho escravo deve ser vista no contexto da luta do país por uma posição independente e igual no âmbito das nações da Terra Na época em que os colonizadores anunciaram sua reivindicação a essa posição não dispunham nem de armas nem de navios para fazer valer sua exigência Precisaram desesperadamente pedir a colaboração de outros países sobretudo da França e seu único produto de mais valor para com prar a colaboração era o tabaco produzido principlamente pelo trabalho escravo Era tão grande a importância desse produto nas relações internacio nais que um historiador se referiu às atividades da França em apoio aos americanos como Diplomacia do rei Tabaco fazendo lembrar que a po sição dos Estados Unidos no mundo não apenas em 1776 mas durante o período de uma longa vida após essa data dependeu do trabalho escravo 2 Podese dizer que em grande parte os americanos compraram sua inde pendência com trabalho escravo O paradoxo tornase mais agudo se pensarmos no estado de onde provinha a maior parte do tabaco A Virgínia à época do primeiro censo dos Estados Unidos em 1790 tinha 40 dos escravos de todo o país E a Virgínia produziu os mais eloqüentes portavozes da liberdade e igualdade de todo o país George Washington James Madison e principalmente Thomas Jefferson Todos eles eram donos de escravos e assim permaneceram durante toda a vida Nos últimos anos mostrouse em tristes detalhes o contraste ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 123 entre os pronunciamentos de Jefferson a favor da liberdade republicana e sua cumplicidade na negação dos benefícios dessa liberdade para os negros 3 Sentiuse a tentação de descartar Jefferson e toda a dinastia da Virgínia como hipócritas Mas isso seria privar o termo hipocrisia de um significado útil Se hipocrisia significa como eu suponho deliberadamente afirmar prin cípios em que não se acredita então a hipocrisia requer uma rara clareza mental combinada com a intenção inescrupulosa de enganar Atribuir essa intenção ou mesmo atribuir essa clareza mental sobre o assunto a Thomas Jefferson Madison ou Washingon significa novamente evitar o desafio O que precisamos explicar é como esses homens puderam chegar a crenças e atos tão cheios de contradições Coloquemos o paradoxo de outra forma como foi que a Inglaterra um país orgulhoso da liberdade de seus cidadãos produziu colônias onde a maioria dos habitantes desfrutava de ainda mais liberdade mais oportu nidades e de um maior controle sobre suas próprias vidas em relação à maioria dos homens na pátriamãe enquanto o restante da população um quinto do total era virtualmente privado de qualquer liberdade quais quer oportunidades qualquer controle sobre a própria vida Podemos admitir que os ingleses que colonizaram a América e seus descendentes revolucionários eram racistas e consciente ou inconscientemente acredi tavam que liberdades e direitos deveriam restringirse a pessoas de pele clara Dito isto mesmo depois de analisar as profundezas do preconceito racial não significa que tenhamos explicado completamente o paradoxo O racismo foi com certeza um elemento essencial do paradoxo mas eu gostaria de sugerir outro elemento que acredito ter influenciado a evolu ção tanto da escravidão quanto da liberdade como as conhecemos nos Estados Unidos Comecemos com Jefferson esse portavoz da liberdade que era dono de escravos Será que no tipo de liberdade por ele acalentada havia algo que o teria levado a aceitar apesar de toda a relutância a escravidão de tantos americanos A resposta na minha opinião é sim A liberdade defendida por Jefferson não era um dom a ser conferido por governos nos quais na me lhor das hipóteses ele não confiava Era uma liberdade que surgia da inde pendência do indivíduo O homem que dependesse de outro para viver jamais poderia ser realmente livre Podemos buscar a pista da enigmática postura de Jefferson frente à escravidão em sua atitude para com aqueles que desfrutavam de liberdade aparente sem a necessária independência para sustentála Com relação a tais pessoas Jefferson alimentava uma profunda desconfiança que encontrou expressão em duas fobias as quais repontam aqui e acolá em seus escritos 124 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 O primeiro indício era uma profunda aversão a dívidas Embora a economia da Virgínia dependesse da dupla disposição dos senhores de plantations de contrair dívidas e dos comerciantes ingleses de estender o crédito embora o próprio Jefferson tenha sido um devedor a vida inteira ou talvez por isso mesmo ele odiava dívidas e odiava tudo o que o tornasse um devedor E o odiava porque isso limitava sua liberdade Não poderia por exemplo libertar seus escravos enquanto estivesse endividado Ou pe los menos era assim que ele pensava Mas não era simplesmente o impedi mento à liberdade deles mas à sua própria que o atormentava Sintome infeliz escreveu ele até que não deva nem um centavo 4 O fato de ter ele muitos companheiros de infelicidade apenas agrava va o problema Sua Declaração da Independência dos Estados Unidos foi ridicularizada pelo controle que os comerciantes ingleses mantiveram sobre os devedores norteamericanos incluindo ele mesmo 5 Sua hostilidade contra Alexander Hamilton enraizavase no reconhecimento de que a polí tica externa próbritânica de Hamilton reforçaria o controle dos credores ingleses ao passo que a sua política interna colocaria o governo como deve dor de uma classe de credores nativos americanos cujo poder poderia se tornar igualmente pernicioso Mesmo sendo a preocupação de Jefferson com o malefício das dívidas quase obsessiva ela estava plenamente de acordo com as idéias de liberdade republicana que compartilhava com seus patrícios O problema das dívidas era que solapando a independência do devedor elas ameaçavam a liberda de republicana Sempre que dívidas submetiam um cidadão ao poder de outro o devedor perdia mais do que sua própria liberdade de ação Tam bém enfraquecia a capacidade de seu país de sobreviver como república Segundo um axioma do pensamento político da época o governo republi cano exigia um corpo de cidadãos livres independentes e proprietários 6 Uma nação de cidadãos cada um dos quais tivesse uma propriedade sufi ciente para sustentar sua família poderia ser uma república A conseqüência lógica era que uma nação de devedores que tivessem perdido sua proprie dade ou que a tivessem hipotecado a credores estava madura para a tirania Jefferson por conseqüência apoiava todos os meios de impedir o endividamento dos cidadãos e manter a propriedade amplamente distribuí da Insistia na abolição da primogenitura e da transmissão hereditária de clarando que a terra pertencia aos vivos e não lhes deveria ser tirada por dívidas ou credores dos mortos que teria doado 50 acres de terra a cada americano sem terra tudo porque acreditava que eles só poderiam ser livres se fossem economicamente livres em virtude da posse da terra com que pudessem se sustentar 7 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 125 Se Jefferson tinha sentimentos tão profundos sobre a servidão não surpreende que detectasse um perigo para a república em outra classe de cidadãos que como os devedores eram nominalmente livres mas cuja inde pendência era ilusória A segunda fobia de Jefferson era sua desconfiança contra os trabalhadores urbanos sem terra empregados em fábricas Na vi são de Jefferson eles eram homens livres apenas nominalmente É famosa sua hostilidade por artesãos geralmente atribuída à sua preferência romântica pela vida do campo Mas tanto a desconfiança contra os artesãos quanto a idealização dos pequenos proprietários de terra como a parte mais precio sa do estado apoiavamse em sua preocupação com a independência indi vidual como base de liberdade Os proprietários rurais eram os melhores trabalhadores porque eram os mais vigorosos os mais independentes os mais virtuosos Os artesãos por outro lado dependiam das vicissitu des e caprichos dos fregueses Se o emprego fosse escasso não tinham terra a que recorrer para seu sustento Em sua dependência estava o perigo A dependência argumentava Jefferson gera a subserviência e a vena lidade sufoca o germe da virtude e prepara instrumentos adequados para os desígnios da ambição O fato de os artesãos poderem reivindicar a liber dade sem a independência que a acompanha fazia deles os instrumentos com os quais as liberdades de um país são geralmente subvertidas 8 Na desconfiança de Jefferson contra os artesãos começamos a vislum brar os limites e limites não impostos pelo racismo que definiram a visão republicana do século XVIII Pois Jefferson não era de modo algum o único entre os republicanos a desconfiar dos trabalhadores sem terra Essa des confiança era um corolário da insistência muito difundida no século XVIII sobre o indivíduo independente e proprietário como baluarte da liberdade insistência que tem sua origem na filosofia política republicana de James Harrington constituindo um princípio diretivo da política colonial ameri cana tanto nas assembléias aristocráticas da Carolina do Sul como nas cida des democráticas da Nova Inglaterra 9 Os americanos antes e depois de 1776 aprenderam suas lições republicanas dos teóricos ingleses do common wealth dos séculos XVII e XVIII e esses teóricos eram explícitos em seu desprezo pelas massas destituídas da independência dos proprietários que se exigia dos republicanos John Locke autor da clássica explicação do direito à revolução para a proteção da liberdade não cogitou de estender esse direito aos pobres sem terra Ao contrário imaginou para eles e seus filhos um esquema de traba lho forçado As crianças deveriam começar aos três anos de idade em insti tuições públicas chamadas escolas de trabalho porque a única matéria ali ensinada seria o trabalho fiação e tricô Seriam pagas com pão e água e 126 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 cresceriam habituadas a trabalhar Enquanto isso as mães liberadas do cuidado dos filhos poderiam ir trabalhar com seus pais e maridos Se não conseguissem um emprego regular então poderiam também ser enviadas à escola de trabalho 10 Requerse certa acuidade mental para distinguir com precisão esta versão de liberação das mulheres do cuidado dos filhos da escravidão pura e simples E muitos dos sucessores intelectuais de Locke embora em teoria denunciassem a escravidão abertamente a preferiram à liberdade para as classes mais baixas de trabalhadores Adam Ferguson cujas obras foram muito lidas na América atribuía a derrubada da república romana pelo menos em parte à emancipação dos escravos que aumentaram com seus números e vícios o peso daquela escória que em cidades grandes e próspe ras sempre se deposita dada a sua tendência ao vício e à desordem até atingir a condição mais baixa 11 Entre os republicanos de século XVIII um indiscutível artigo de fé dizia que gente que se encontra na condição mais baixa a escória da socie dade geralmente atinge essa posição pelo próprio vício e mau comporta mento quer se trate da antiga Roma ou da moderna Inglaterra E o vício que se acreditava afligir mais severamente as classes mais baixas era a ociosi dade A cura preferida para a ociosidade daquele século estava contida nas doutrinas éticas e religiosas que R H Tawney descreveu como o Novo Remédio para a Pobreza doutrinas em que Max Weber discerniu as ori gens do espírito do capitalismo Mas em cada sociedade uma massa renitente de homens e mulheres recusava o remédio Para essas pessoas os teóricos do commonwealth não hesitaram em prescrever a escravidão Assim Francis Hutcheson capaz de argumentar com eloqüência contra a escravização de africanos também argumentava que a escravidão perpétua deveria ser a punição ordinária daqueles vagabundos ociosos que depois de advertências adequadas e experiências de servidão temporária não conseguiam assumir ocupações úteis para sustentarse a si mesmos e a suas famílias 12 James Burgh cuja obra Political Disquisitions lhe valeu elogios de muitos revolucio nários americanos propôs um destacamento de recrutadores para prender todas as pessoas ociosas e desordeiras que sofreram três queixas perante um magistrado e para fazêlas trabalhar durante um certo tempo em prol do comércio atacadista ou de empresas manufatureiras etc 13 A proposta mais abrangente partiu de Andrew Fletcher de Saltoun Jefferson saudou em Fletcher um patriota cujos princípios políticos eram os que estavam em vigor à época da emigração americana da Inglaterra Nos sos ancestrais os trouxeram para cá e eles precisaram de pouco reforço para fazer de nós o que somos 14 Fletcher como outros teóricos do ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 127 commonwealth foi um paladino da liberdade mas também um paladino da escravidão Atacou a igreja cristã não apenas por ter promovido a abolição da escravidão nos tempos antigos mas também por ter perpetuado a ociosidade dos libertos que assim se espalharam pela sociedade A igreja criando hospi tais e casas de caridade permitiu que cidadãos através dos séculos vivessem sem trabalhar Como resultado disso argumentava Fletcher sua terra natal a Escócia estava sobrecarregada com 200 mil vagabundos ociosos que vaga vam pelo país bebendo blasfemando brigando roubando e matando Como remédio ele propôs que todos fossem transformados em escravos de cidadãos de posses À objeção de que seus senhores poderiam abusar deles respondeu com palavras que poderiam ter sido pronunciadas um século e meio mais tarde por um George Fitzhugh afirmando que isso iria contra o próprio interesse do senhor Que o homem mais cruel não maltrata seu animal ape nas por capricho e que se tal inconveniência às vezes de fato ocorre ela procede na maioria das vezes da perversidade do servo 15 Apesar do tributo de Jefferson a Fletcher não há razão para supor que endossasse sua proposta Mas ele compartilhava a desconfiança de Fletcher acerca de homens que eram nominalmente livres embora sua barriga vazia fizesse deles ladrões ameaçando a propriedade de cidadãos honestos ou então os tornava de fato escravos de qualquer um que os alimentasse A solução pessoal de Jefferson para o tipo de situação descrito por Fletcher foi apresentada numa famosa carta a Madison motivada pelo espetáculo por ele encontrado na década de 1780 na França onde um punhado de nobres monopolizava enormes extensões de terra em que pudessem praticar a caça enquanto hordas de pobres vagavam sem trabalho e sem pão A proposta de Jefferson tipicamente em termos de direito natural era de que os po bres se apropriassem das terras incultas da nobreza E ele tirou para os Esta dos Unidos sua costumeira lição sobre a necessidade de manter a terra am plamente distribuída entre o povo 16 A resposta de Madison menos famosa que a carta de Jefferson levan tou a questão da possibilidade de se eliminar os pobres ociosos em qualquer país tão densamente povoado como a França Espalhados por toda a região seguindo os bons preceitos republicanos ainda haverá julgava Madison um grande número de habitantes excedentes superando em muito os que serão empregados para vestirse a si mesmos e aos que os alimentam Apesar dos que se ocupam no comércio ou como marinheiros soldados e assim por diante restará uma massa de homens sem trabalho Um certo grau de miséria concluiu Madison parece inseparável de um alto índice populacional 17 Ele porém não avançou até propor como fizera Fletcher que os miseráveis e os pobres ociosos fossem escravizados 128 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 A situação contemplada por Madison e confrontada por Fletcher não era irrelevante para os que estavam planejando o futuro da república ameri cana Num país em que a população crescia numa proporção geométrica não era cedo demais para pensar numa época em que possivelmente houves se inúmeros pobres sem terra quando talvez houvesse nas grandes cidades aquelas multidões que Jefferson temia como feridas no corpo político Nos Estados Unidos que Jefferson e Madison conheceram a mãodeobra urba na ainda não constituía um problema por ser diminuta e a mãodeobra agrícola já era em grande maioria escravizada Na América revolucionária dentre os homens que passavam a vida trabalhando para outros em vez de trabalhar para si mesmos os escravos provavelmente constituíam a maior parte 18 Na Virgínia eram a grande marioria 19 Se Jefferson e Madison sem mencionar Washington sentiam malestar perante esse fato e mesmo assim nada fizeram para mudálo talvez tenham sido impedidos pelo me nos em parte por considerações sobre o papel que poderia desempenhar nos Estados Unidos uma grande massa de trabalhadores livres 20 Quando Jefferson contemplou a abolição da escravidão julgou in concebível permitir que os libertos permanecessem no país Esta atitude foi provavelmente motivada por um preconceito racial seu ou de seus compa triotas Mas ele também pode ter pensado na possibilidade de que libertos em vez de escravos eles se tornariam meio milhão de pobres ociosos criando para os Estados Unidos os mesmos problemas que os pobres ociosos da Europa criavam para seus Estados O escravo acostumado ao trabalho com pulsório não trabalharia para o próprio sustento quando a compulsão fosse removida Essa forma de pensar era lugarcomum entre os senhores de plantations da Virgínia antes da criação da república e durante muito tempo depois Se você libertar os escravos escreveu London Carter dois dias após a Declaração da Independência deve mandálos para fora do país ou então eles precisarão roubar para sustentarse 21 O plano de Jefferson de libertar seus próprios escravos nunca posto em prática incluía um período educativo intermediário durante o qual eles em parte aprenderiam a sustentarse a si mesmos trabalhando em terra ar rendada e em parte seriam obrigados a fazêlo uma vez que na sua opi nião sem orientação e preparação para o autosustento não se poderia espe rar que os escravos se tornassem membros adequados de uma sociedade republicana 22 E St George Tucker que esboçou planos detalhados para libertar os escravos da Virgínia preocupavase com a possibilidade de que eles se tornassem ociosos libertinos e finalmente bandidos em vez de aplicarse ao trabalho Por isso incluiu em seu plano uma cláusula que tornava obrigatório o trabalho dos libertos numa base anual Não pode ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 129 mos ignorar esta importante consideração dizia ele que essa gente pre cisa ser obrigada a trabalhar se não se comprometer voluntariamente a fazê lo Quando os libertamos do jugo da escravidão não devemos esquecer os interesses da sociedade Tais interesses exigem os esforços de todos os indivíduos de um modo ou de outro E aqueles que não têm como se sus tentar honestamente sem trabalho braçal seja qual for a cor de sua pele devem ser obrigados a trabalhar 23 Está claro que Tucker o futuro emancipador desconfiava dos pobres ociosos independentemente da cor E parece provável que os paladinos re volucionários da liberdade que aceitavam a continuação do trabalho escra vo dos negros assim agiam não apenas por preconceito racial mas também por compartilharem com Tucker a desconfiança contra os pobres que era inerente às concepções de liberdade republicana do século XVIII Seus guias históricos lhes fizeram temer a ampliação da mãodeobra livre Aquele temor creio eu tinha um segundo ponto de origem na expe riência dos colonizadores americanos e especialmente dos virginianos no século e meio anterior Se voltarmos agora para a história precedente da mãodeobra da Virgínia poderemos encontrar penso eu alguns outros indícios da desconfiança contra o trabalho livre entre os revolucionários republicanos e do paradoxal surgimento da escravidão juntamente com o ideal de liberdade na América do período colonial A história começa propriamente na Inglaterra com a explosão do cres cimento populacional que fez o número de ingleses subir de talvez três milhões em 1500 para quatro milhões e meio em 1650 24 O crescimento não se deu em resposta a um aumento correspondente da capacidade da economia da ilha para sustentar seu povo E o resultado foi precisamente a miséria mostrada a Jefferson por Madison como conseqüência de um alto índice populacional A Inglaterra do século XVI conheceu o mesmo tipo de desemprego e pobreza que Jefferson testemunhou na França do século XVIII e Fletcher na Escócia do século XVII Números alarmantes de ocio sos e famintos vagavam pelo país em busca de oportunidades de trabalho ou de saque O governo fazia o possível para que homens de fortuna os empregassem mas também adotava medidas cada vez mais severas contra suas andanças seus furtos suas desordens e na verdade contra sua existên cia Aqueles que as casas de trabalho e prisões não conseguiam engolir a forca teria de eliminar ou talvez o exército Quando a Inglaterra precisava realizar expedições no exterior cada freguesia despachava seus habitantes mais indesejados para a morte quase certa que encontrariam em doenças ou no campo de batalha 25 130 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 À medida que a massa de malandros e mendigos crescia e cada vez mais ameaçava a paz da Inglaterra os esforços para lidar com eles sempre mais ameaçavam as liberdades no país Os ingleses se orgulhavam de seu gentle government 26 um governo que havia libertado seus súditos das velhas formas de sujeição e lhes concedera novas liberdades fazendo que a frase direito dos ingleses tivesse poderes mágicos Mas não havia nada de gentil no tratamento que o governo dispensava aos pobres e à medida que mais ingleses empobreciam outros ingleses tinham menos motivos para se orgulhar As cabeças pensantes descobriram uma nova solução mandar os ingleses excedentes para fora da Inglaterra Enviálos para o Novo Mundo onde as oportunidades de trabalho eram ilimitadas Lá eles se redimiriam a si mesmos enriqueceriam a pátriamãe e espalhariam a liberdade inglesa no exterior O maior propagandista desse programa foi Richard Hakluyt Seu li vro Principal Navigations Voiages and Discoveries of the English Nation 27 não continha simplesmente a narrativa das viagens dos ingleses pelo mundo mas também uma poderosa sugestão de que o mundo deveria ser inglês ou no mínimo dirigido por ingleses Hakluyt sonhava com um império bene Ilustração retratando leilão de escravos no Sul dos Estados Unidos Reprodução ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 131 volente em que a Inglaterra conferiria as bênçãos de seu próprio governo livre aos povos menos afortunados do mundo É sem dúvida verdade que os ingleses juntamente com outros europeus já estavam imbuídos de precon ceitos contra povos de pele mais escura que a deles E é também verdade que os principais beneficiários do império de Hakluyt seriam os ingleses Mas o seu sonho não pode ser descartado como simples hipocrisia assim como não podemos descartar a afirmação da igualdade dos homens feita por Jefferson A compaixão de Hakluyt pelos pobres e oprimidos não se restringia aos pobres da Inglaterra e nas explorações de Francis Drake pelo Caribe Hakluyt viu não uma mal disfarçada forma de pirataria mas um modelo de libertação de homens de todas as cores que penavam sob a tirania dos espanhóis Drake desembarcara no Panamá em 1572 e travara amizade com um bando extraordinário de escravos negros fugitivos Cimarrons é como se denominavam e levavam uma vida livre e dura numa região inculta fazendo incursões periódicas pelos assentamentos espanhóis para levar consigo mais membros de seu povo Em Drake descobriam um homem que odiava os espanhóis tanto quanto eles e que tinha armas e homens para organizar um ataque mais forte do que eles poderiam fazer isoladamente Drake queria o ouro dos espanhóis e os Cimarrons queriam o ferro para fazer ferramentas Ambos queriam que os espanhóis morressem A aliança foi espontânea e aparentemente nada atrapalhada pelo preconceito racial Numa ação con junta assaltaram a caravana de mulas que transportava pelo istmo a carga anual de ouro peruano E antes de zarpar para a Inglaterra com seu saque Drake combinou futuros encontros 28 Quando ouviu falar dessa aliança Hakluyt concebeu sua primeira proposta de colonização um esquema para tomar o Estreito de Magalhães e para lá transportar os Cimarrons junta mente com excedentes ingleses O estreito seria um ponto estratégico forte para o império mundial da Inglaterra uma vez que podia controlar a rota do Atlântico ao Pacífico Apesar do rigor do clima do lugar os Cimarrons e seus amigos ingleses viveriam calorosamente todos juntos vestindo roupas de lã inglesa bem alojados e por nossa nação libertados dos tirânicos espa nhóis e serena e cortesmente governados por nossa nação 29 O esquema para uma colônia no Estreito de Magalhães nunca deu certo mas perdurou a visão de Hakluyt de libertos nativos e excedentes ingleses cortesmente governados em colônias inglesas espalhadas pelo mun do Sir Walter Raleigh entendeu a visão Sonhava em arrebatar o tesouro dos Incas das mãos dos espanhóis mediante uma aliança com os índios da Guiana e enviando ingleses para conviver com eles conduzilos em sua rebelião contra a Espanha e governálos à maneira inglesa 30 Raleigh também sonhava com uma colônia semelhante no país que chamou de 132 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 Virgínia Hakluyt ajudouo a planejála 31 E Drake ficou de prontidão para fomentar o empreendimento fornecendo negros e índios libertados da tirania espanhola no Caribe 32 A Virgínia foi desde o início concebida não apenas como um refúgio para os pobres sofridos da Inglaterra mas também como uma ponta de lança da liberdade inglesa num mundo oprimido Tal era o sonho Mas quando começou a concretizarse em Roanoke Island em 1585 algo deu errado Drake fez sua parte libertando escravos espanhóis no Caribe e le vando para Roanoke aqueles que quisessem se juntar a ele 33 Mas os ingleses enviados por Raleigh não se mostraram dignos do papel que lhes foi atribuído Aguardando que Drake chegasse não se mostraram nada cor teses com os índios de cuja assistência dependiam Os colonos do primeiro grupo assassinaram o chefe que os recebera como amigos e depois desisti ram e correram de volta para casa a bordo dos navios de Drake Os do segundo grupo simplesmente desapareceram presumese que mortos pe los índios 34 O que se perdeu nessa famosa colônia perdida foi mais do que um bando de colonizadores de que nunca mais se teve notícia O que também se perdeu e nunca mais se recuperou totalmente em aventuras posteriores foi o sonho de ingleses e índios vivendo lado a lado em paz e liberdade Quando os ingleses finalmente instalaram uma colônia permanente em Jamestown vieram como conquistadores e seu governo não foi nada gentil Os índios predispostos a submeterse a ele eram pouquíssimos e estavam espiritualmente por demais abatidos para desempenhar um papel significa tivo na colônia Sem essa ajuda a Virgínia oferecia uma triste alternativa da casa de trabalho ou da forca aos primeiros ingleses pobres para lá transportados Durante as primeiras duas décadas da colônia a maioria dos imigrantes encontraram muito pouca liberdade inglesa na Virgínia 35 Na década de 1630 a colônia parecia estar funcionando pelo menos em parte segundo as expectativas dos primeiros senhores de plantations Ingleses empobrecidos chegavam anualmente em grande escala comprometidos a servir aos se nhores da região por um determinado número de anos com a perspectiva de estabelecer a própria casa alguns anos mais tarde Os colonizadores esta vam se espalhando ao longo dos grandes rios da Virgínia formando plantations vivendo confortavelmente do cultivo do milho e do gado cria do solto na floresta e ganhando ao mesmo tempo de 10 a 12 por pessoa com a produção de tabaco Uma assembléia legislativa representativa ga rantia as liberdades tradicionais dos ingleses e permitia a participação no seu próprio governo de uma parcela da população maior do que jamais fora na ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 133 Inglaterra A colônia até começou a parecerse um pouco com o refúgio cosmopolita de liberdade que Hakluyt inicialmente imaginara Homens de todos os países apareciam por lá franceses espanhóis holandeses turcos portugueses e africanos 36 A Virgínia os acolhia e começava a transformá los em ingleses Parece claro que a maioria dos africanos talvez todos eles vieram como escravos condição que se tornara obsoleta na Inglaterra embora estivesse se tornando a condição esperada dos africanos fora da África e de muitos no seio do próprio continente 37 Todos servos escravos ou livres gozavam quase dos mesmo direitos e deveres dos outros virginianos Não há provas durante o período anterior a 1660 de que fossem submetidos a uma discipli na mais severa em relação a outros servos Podiam processar e sofrer proces sos no tribunal Cumpriam penitência na igreja da freguesia por ter filhos ilegítimos Ganhavam seu próprio dinheiro compravam e vendiam e cria vam seu gado Às vezes compravam a própria liberdade Em outros casos seus senhores legavamlhes não apenas a liberdade mas também terra gado e casas 38 Northampton único condado sobre o qual dispomos de regis tros completos tinha pelo menos dez famílias negras livres em 1668 39 À medida que os negros foram tomando seu lugar na comunidade foram aprendendo as maneiras inglesas incluindose até a truculência com a autoridade sempre associada aos direitos dos ingleses Tony Longo um negro livre de Northampton quando intimado por ordem judicial a com parecer como testemunha perante o tribunal respondeu com uma opinião escatológica sobre ordens judiciais chamou o homem que lhe apresentava a intimação de velhaco desocupado e o mandou cuidar de sua vida O ho mem ofereceuse para comparecer com ele perante um juiz de paz a qual quer hora de modo que suas provas pudessem ser registradas Iria com ele à noite no dia seguinte na semana seguinte quando ele quisesse Mas Longo estava ocupado com a colheita do milho Rejeitou todas as súplicas com um Tá bom tá bom Vou depois de colher o milho e recusouse a receber a intimação 40 É compreensível que os juízes tenham interpretado o acontecido como desacato à autoridade Mas era o tipo de desacato que os ingleses livres muitas vezes mostravam e estava associado a uma devoção ao trabalho que os moralistas ingleses tudo faziam para inculcar o mais amplamente possível na Inglaterra Como a Inglaterra absorvera pessoas de todas as nacionalida des ao longo dos séculos e os transformara em ingleses os ingleses da Virgínia estavam absorvendo sua quota de estrangeiros incluindose negros e pare ciam estar moldando com êxito no Novo Mundo uma comunidade baseada no modelo inglês 134 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 Mas um olhar mais atento mostrará que a situação não era exatamente tão promissora quanto à primeira vista parecia Sabese muito bem que a Virgínia em seus primeiros 15 ou 20 anos matou a maioria dos homens que lá chegaram Se minha estimativa do fluxo de imigração se aproxima do correto a Virgínia deve ter sido uma armadilha mortal durante o período de no mínimo outros 15 anos e é provável que esse período tenha se esten dido por 20 ou 25 anos Em 1625 a população estabilizouse em 1300 ou 1400 em 1640 era de cerca de 8 mil 41 Nos 15 anos entre essas duas datas pelo menos 15 mil pessoas devem ter chegado à colônia 42 Neste caso 15 mil imigrantes aumentaram a população em menos de 7 mil pessoas Não temos provas de um grande refluxo migratório Parece provável que a taxa de morte durante esse período só foi comparável ao verificado na Eu ropa durante os anos de pico de um surto de peste A Virgínia em outras palavras estava absorvendo os trabalhadores ingleses excedentes sobretudo para matálos O sucesso dos que sobreviveram e evoluíram de servos a senhores de plantations deve ser em parte atribuído ao fato de que tão poucos sobreviveram Depois de 1640 quando as doenças responsáveis pela elevada taxa de mortalidade declinaram e a população começou a crescer rapidamente tor nouse cada vez mais difícil para um imigrante indigente vencer na vida A população provavelmente superava os 25 mil em 1662 43 longe do que Madison chamaria de alto índice populacional Todavia o rápido crescimen to trouxe sérios problemas para a Virgínia entre eles a monopolização de terras junto à foz dos rios com apropriação de milhares e dezenas de milha res de acres feita por especuladores que perceberam a alta da demanda 44 O fato provocou enorme expansão da produção de tabaco o que ajudou a derrubar o preço do produto e os lucros dos produtores 45 Provocou também esforços dos produtores para prolongar os contratos dos empregados uma vez que agora era maior a longevidade e portanto a ex pectativa de serventia 46 Seria de fato difícil avaliar as conseqüências do aumento da longe vidade Mas para os nossos propósitos uma evolução foi crucial o apareci mento na Virgínia de um número crescente de homens livres que haviam cumprido seu contrato mas não reuniam condições para comprar sua pró pria terra a não ser nas fronteiras ou no interior Nos anos em que os preços do tabaco eram particularmente baixos ou as safras muito ruins cidadãos que apenas ganhavam para sobreviver eram obrigados a voltar a trabalhar para seus vizinhos economicamente mais fortes apenas para não morrer de fome Por volta de 1676 estimavase que um quarto dos homens livres da Virgínia não eram proprietários de terra 47 No mesmo ano Francis ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 135 Moryson membro do conselho do governador explicava que o termo freedmen libertos usado na Virgínia denotava pessoas sem casa ou terra significando ser essa agora a condição normal dos servos que haviam conse guido a liberdade 48 Alguns deles resignavamse a trabalhar por salário Outros preferiam viver na pobreza na perigosa zona da fronteira ou levar uma vida precária vagando de um condado a outro alugando um pedaço de terra aqui ocu pando outro ali fugindo do coletor de impostos bebendo brigando rou bando suínos e aliciando servos a ir embora com eles A presença dessa classe cada vez maior de virginianos caídos na pobre za não assustava pouco os senhores de plantations que haviam conseguido chegar ao topo ou que já estavam no topo quando vieram para a colônia bem providos de servos e capital Estavam presos num dilema Queriam os imigrantes que continuavam a jorrar todos os anos De fato precisavam deles e os apreciavam mais à medida que viviam mais Todavia sendo que eles em número cada vez maior se tornavam livres a cada ano a colônia parecia ter herdado o problema que estava ajudando a Inglaterra a solucio nar A Virgínia queixavase Nicholas Spencer secretário da colônia era um ralo para drenar a Inglaterra de sua sujeira e escória 49 Os homens que preocupavam a camada mais alta pareciam ainda mais perigosos na Virgínia do que tinham sido na Inglaterra Eram para come çar jovens porque eram os jovens que os senhores das plantations queriam para o trabalho no campo E os jovens quando não abertamente rebeldes sempre pareceram ter pouca paciência com o controle exercido pelos mais velhos e superiores Também predominavam entre eles os solteiros pelo fato de os donos de terras não acharem que as mulheres pelo menos não as inglesas servissem para trabalhar no campo Entre os imigrantes os ho mens superavam as mulheres na proporção de três ou quatro para uma ao longo de todo o século 50 Conseqüentemente a maioria dos libertos não tinha mulher ou família para domar seus impulsos mais fortes e fazer deles reféns de um mundo respeitável Por fim o que tornava esses jovens indômitos particularmente peri gosos era o fato de que estavam armados e precisavam andar armados A vida na Virgínia exigia armas de fogo As plantations estavam sujeitas a ata ques terrestres de índios e marítimos de corsários e pequenos piratas 51 Sempre que a Inglaterra estava em guerra com franceses ou holandeses os colonos precisavam estar preparados para defenderse Em 1667 os holan deses numa única incursão capturaram 20 navios comerciantes no rio James juntamente com o navio de guerra inglês que supostamente deveria defendê 136 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 los em 1673 capturaram mais 11 Em ocasiões como essas o governador William Berkeley reunia os colonos em pé de guerra e pelo menos impedia que o inimigo fizesse um desembarque Mas enquanto ele rechaçava os holandeses preocupavase com a rude multidão às suas costas Dentre os homens fisicamente aptos da colônia ele estimava que pelo menos um terço são libertos solteiros cujo trabalho mal pode sustentálos ou ho mens muito endividados duas categorias que podemos esperar diante de qualquer pequena vantagem que o inimigo possa vir a ter sobre nós se revoltariam a favor dele na esperança de melhorar suas condições dividindo com ele o produto do saque da região 52 Os temores de Berkeley eram justificados Três anos depois detonada não por uma invasão holandesa mas por um ataque de índios a rebelião alastrouse pela Virgínia Começou quase como fora previsto por Berkeley quando um grupo voluntário de combatentes dos índios depois de um ataque infrutífero contra os nativos voltouse contra seus próprios dirigen tes Essa Rebelião de Bacon foi a maior insurreição popular nas colônias antes da Revolução Americana Mais cedo ou mais tarde todos os habitan tes da Virgínia se envolveram mas ela começou nos condados da fronteira de Henrico e New Kent entre homens que o governador e seus amigos sempre classificaram como ralé 53 À medida que a rebelião se expandia para o Leste constatouse que havia ralé em toda parte e Berkely com razão elevou a estimativa de seus integrantes Como é infeliz o homem exclamava que governa um povo do qual pelo menos seis partes dentre sete são pobres endividados descontentes e armados 54 Os pobres da Virgínia tinham uma razão para sentirem inveja e raiva dos proprietários de terra que importavam servos e governavam Mas a rebelião não produziu qualquer programa de reformas nenhuma ideolo gia nem mesmo qualquer slogan revolucionário Buscavase o saque e não princípios E quando os rebeldes haviam redistribuído toda a riqueza em que conseguiram pôr as mãos a rebelião cedeu quase com a mesma rapidez com que se alastrara Foi porém uma experiência devastadora para as primeiras famílias da Virgínia Elas se viram mutuamente aderindo aos rebeldes no intuito de salvar a própria pele ou suas posses ou até sua parte do saque Quando tudo terminou todos ficavam de olho um no outro desconfiados à espreita de qualquer novo Bacon entre eles que pudesse ser tentado a conduzir a ainda indócil ralé a outras expedições e saques Quando William Byrd e Laurence Smith propuseram resolver os problemas da defesa contra os índios median te a criação de assentamentos de contenção semiindependentes nas cabe ceiras dos rios em cada um dos quais eles se comprometiam a manter 50 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 137 homens armados a assembléia a princípio reagiu de modo favorável Mas logo ocorreu ao governador e ao seu conselho que a medida de fato signi ficava reunir uma multidão de desenfreados solteirões da Virgínia e forne cerlhes armas e munição em abundância O próprio Byrd conduzira uma multidão semelhante numa incursão de saques durante a rebelião Encarregá lo a ele ou a qualquer outro de conduzir uma gangue de homens armados era pedirlhes que novamente atacassem o povo que supostamente deve riam proteger 55 O nervosismo dos donos de propriedades que valessem a pena saquear continuou ao longo de todo o século acirrado em 1682 pelos tumultos que promoveram o corte do tabaco durante os quais homens percorriam os campos destruindo as plantações na desesperada esperança de provocar a escassez que elevaria os preços da folha de tabaco 56 E de tempos em tempos nas colônias vizinhas de Maryland e Carolina do Norte onde a situação era a mesma da Virgínia havia tumultos que ameaçavam se espa lhar até esta última 57 Assim como a Virgínia criara um problema social análogo ao da Ingla terra da mesma forma a colônia começou a lidar com ele como o fizera a pátriamãe restringindo a liberdade dos que não tinham a apropriada insíg nia dos livres isto é a propriedade que o governo deveria proteger Uma das formas para tanto consistiu em ampliar os termos de serviço dos servos que chegavam à colônia sem contratos Antes eles serviam até os 21 anos agora a idade se estendera até os 24 58 Sempre houvera leis exigindo deles tempos adicionais de serviço por fugas agora as leis acrescentaram punições físicas e no intuito de tornar reconhecíveis os transgressores con tumazes especificouse que seu cabelo deveria ser raspado 59 Novas leis restringiram a circulação de servos por estradas e também aumentaram o tempo adicional de serviço por fuga Além de servir dois dias para cada dia de ausência exigiase agora que o fugitivo capturado com pensasse com trabalho a perda da colheita que ele deixara de fazer e pelas custas de sua captura incluindose o prêmio pago por ela 60 Férias de três semanas poderiam resultar em um ano a mais de serviço 61 Se um servo atacasse seu senhor tinha de servir mais um ano 62 Por matar um porco serviria por um ano ao dono e por outro ao informante sendo que o dono do porco o dono do servo e o informante freqüentemente eram a mesma pessoa Considerandose que o porco valia no máximo menos de um décimo do salário anual de um servo a lei era muito lucrativa para a classe dos senhores Um senhor de Lancaster recebeu a recompensa de seis anos de trabalho adicional de um servo que matou três porcos cujo valor era de aproximadamente trinta xelins 63 138 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 O efeito dessas medidas foi impedir pelo tempo mais longo possível que os servos conseguissem a liberdade especialmente aquele tipo de ser vos com maior propensão a causar problemas Ao mesmo tempo a mono polização de terras estava empurrando a muitos de volta para a servidão depois de uma breve passagem pela liberdade Os libertos que assumiam trabalho por salário voltavam assim à servidão sujeitos praticamente às mesmas restrições dos outros servos Contudo apesar de todas as pressões legais e econômicas para manter os cidadãos empregados as fileiras dos libertos cresciam assim como a po breza e o descontentamento Para impedir que solteirões insubordinados conseguissem influir no governo em 1670 a assembléia restringiu o direito de voto aos donos de terras e chefes de família 64 Mas privar de direitos civis a massa crescente de solteiros livres não significava priválos das armas que eles com tanta eficiência haviam empunhado sob as ordens de Nathaniel Bacon Podese questionar até onde a Virgínia poderia ter prosseguido ao longo dessa rota enfrentando o descontentamento com a repressão e guar necendo suas plantations com importações anuais de servos que mais tarde se juntariam às fileiras rebeldes dos homens livres Com certeza os que estavam na base da pirâmide poderiam ter conseguido terra e liberdade como aconteceu com os colonos de outras partes se a fronteira da Virgínia estivesse a salvo dos índios ou se os homens do topo estivessem predispos tos a abrir mão de seus lucros e a ceder parte das terras que haviam mono polizado O próprio governo inglês empenhouse para dividir os grandes domínios que ajudaram a criar o problema 65 Mas é improvável que os dirigentes políticos de Whitehall estivessem dispostos e brigar por muito tempo contra os bemsucedidos De qualquer modo não foi preciso Houve outra solução que permitiu aos magnatas da Virgínia manterem suas terras evitando o descontentamen to e repressão de outros ingleses uma solução que reforçou os direitos desses cidadãos e alimentou aquele apego à liberdade que passou a ser desfrutado pela geração revolucionária de estadistas da Virgínia A solução porém pôs termo ao processo de transformar africanos em ingleses Os direitos dos in gleses foram preservados mediante a destruição dos direitos dos africanos Não quero argumentar que os virginianos recorreram deliberadamente à escravidão africana como um dos meios de preservar e estender os direitos dos ingleses Winthrop Jordan sugeriu que a escravidão veio para a Virgínia como uma decisão impensada 66 Podemos ir além e dizer que veio sem decisão alguma Veio automaticamente à medida que os virginianos compra ram a mãodeobra mais barata que encontraram Assim que se reduziu o alto índice de mortalidade na Virgínia um investimento em mãodeobra escrava ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 139 era mais lucrativo do que um investimento em mãodeobra livre e os senho res das plantations compravam escravos com a mesma rapidez com que os mercadores os disponibilizavam Nos últimos anos do século XVII foram com prados em tão grande quantidade que em 1700 eles provavelmente já consti tuíam a maior parte ou quase toda a mãodeobra existente 67 A demanda era tão grande que os traficantes durante algum tempo tinham na Virgínia um mercado melhor que na Jamaica ou em Barbados 68 Mas os benefícios sociais da mãodeobra escrava embora não fossem conscientemente procu rados ou reconhecidos peles compradores de escravos foram maiores que os benefícios econômicos O aumento da importação de escravos correspondeu à redução da importação de servos contratados e conseqüentemente à redu ção do perigoso número de novos libertos que anualmente emergiam procu rando na sociedade um lugar que não conseguiriam encontrar 69 Se não houvesse africanos disponíveis provavelmente teria sido im possível achar uma forma de manter em seu lugar o contínuo fornecimen to de imigrantes ingleses Havia um limite além do qual a redução das liber dades inglesas teria resultado não apenas em rebelião mas em protestos da Inglaterra e no corte do suprimento de outros servos Na época da rebelião de Francis Bacon a comissão de investigação inglesa havia mostrado mais simpatia pelos rebeldes do que pelos colonos bemsucedidos que monopo lizaram as terras da Virgínia Tentar a escravização de trabalhadores ingleses em vez de restaurar a ordem teria causado mais desordem Mas manter como escravos os negros que vieram como escravos era possível e aparente mente considerado bom senso A atitude das autoridades inglesas foi claramente expressa pelo procu rador que revisou para o Privy Council Conselho Particular do trono as leis dos escravos estabelecidas em Barbados em 1679 Julgou que eram leis bem concebidas para o bem dos súditos locais de sua majestade Segundo ele embora os negros naquela ilha possam ser punidos de modo diferente e mais severo do que ocorre com outros súditos por ofensas da mesma natu reza contudo humildemente entendo que as leis de lá referentes aos negros são razoáveis pois devido a seu número eles se tornam perigosos e sendo uma espécie de povo selvagem e naquela ilha considerado como mercado ria é necessário ou pelo menos conveniente ter para eles leis diferentes das leis da Inglaterra a fim de impedir o grande mal que caso contrário poderia acontecer aos senhores de plantations e habitantes daquela ilha 70 Na Virgínia também pareceu conveniente e razoável ter leis diferentes para negros e brancos Como o número de escravos crescia a assembléia aprovou leis que fizeram avançar com muito mais rigor a tendência já posta em prática em leis trabalhistas da colônia O rigor porém estava reservado 140 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 para as pessoas que não tinham pele clara As leis desobrigavam o senhor que acidentalmente castigava seu escravo até a morte mas estabeleciam novos limites para punições de servos brancos cristãos 71 Os virginianos preocupavamse com o risco de ter em seu meio um grupo de homens que tinham todos os motivos para odiálos 72 O medo de uma insurreição de escravos pairou sobre eles por quase dois séculos Mas o perigo representado pelos escravos na prática mostrouse menor do que o perigo que a colônia enfrentara representado pelos libertos irrequie tos e armados Os escravos não alimentavam qualquer das expectativas de ascensão que tantas vezes provocam o descontentamento humano Nin guém lhes havia dito que tinham direitos Tinham sido criados em socieda des pagãs nas quais haviam perdido a liberdade seus filhos seriam criados numa sociedade cristã e jamais conheceriam a liberdade Além disso os escravos sentiam menos o problema do desequilíbrio sexual que ajudou a tornar os trabalhadores livres da Virgínia tão irrequie tos Num sistema de mãodeobra escrava podiase exigir que as mulheres trabalhassem na produção de tabaco da mesma forma que os homens E elas também faziam filhos que em poucos anos seriam um ativo financeiro de seu senhor Desde o início portanto os traficantes importaram mulhe res numa proporção muito superior em relação aos homens do que ocorria com os servos ingleses 73 e o nível de descontentamento era proporcio nalmente menor Os virginiamos não tinham dúvidas de que o desconten tamento continuaria mas poderia ser reprimido com métodos que não te riam sido considerados razoáveis convenientes ou mesmo seguros se apli cados aos ingleses Os escravos podiam ser privados de oportunidades de associação e rebelião Podiam ser mantidos desarmados e desorganizados Podiam ser submetidos a castigos bárbaros por seus donos sem medo de represálias legais E sua cor mostrando sua provável condição social o resto da sociedade poderia mantêlos sob rigoroso controle Não deve surpreen der que nenhuma insurreição de escravos se parecesse em extensão e êxito com a Rebelião de Bacon Também não pode surpreender o fato de que os libertos da Virgínia nunca mais foram uma ameaça à sociedade Embora anos mais tarde a es cravidão fosse condenada porque se julgou que competisse com a mãode obra livre no início ela reduziu muito o número de libertos que em outras circunstâncias teriam competido entre si Com a redução do incremento anual de libertos ficou mais fácil para o pequeno número de remanescentes achar um lugar independente na sociedade especialmente à medida que o perigo de ataques de índios foi diminuindo o que tornou mais seguros os assentamentos nas cabeceiras dos rios e na fronteira com as Carolinas Tal ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 141 vez ainda houvesse alguns libertos irredimíveis ociosos e rebeldes sobretudo entre os condenados que a Inglaterra exportava para as colônias Mas eram poucos de modo que se podia lidar com eles usando o velho recurso de convocálos para expedições militares 74 Ficava assim facilitado o acesso à aquisição de propriedade para os outros libertos que podiam talvez ad quirir um ou dois escravos e juntarse aos seus superiores no gozo daquelas liberdades inglesas que os diferenciava dos trabalhadores negros Uma sociedade livre dividida entre grandes e pequenos proprietários de terra era muito menos dilacerada por antagonismos do que uma sociedade dividida entre proprietários de terra e homens sem terra e sem patrão Ten do recuperado status sobriedade e expectativas os libertos já não eram ho mens a temer O fato juntamente com a presença de uma massa crescente de escravos alienígenas provocou uma aproximação maior dos colonizadores brancos entre si e reduziu a importância da diferença de classe entre o pe queno agricultor e o grande latifundiário 75 O século XVII foi algumas vezes considerado como a época do pe queno agricultor na Virgínia Todavia sob muitos aspectos há argumentos muito fortes para considerarmos o século XVIII como a época em que o pequeno agricultor veio a ocupar seu espaço uma vez que a escravidão o livrara das pressões que o haviam continuamente reduzido à condição de servo Essa interpretação se conforma com o desenvolvimento político da colônia Durante o século XVII o conselho do governador indicado pelo trono inglês e integrado pelos maiores proprietários da colônia constituíra o mais poderoso corpo dirigente Mas à medida que a onda de escravos foi crescendo entre 1680 e 1720 a Virgínia passou a ter um governo em que o pequeno proprietário foi ocupando um espaço maior Apesar de o surgimento das grandes famílias da Virgínia com a maré negra o poder do conselho declinou e a House of Burgesses com seus poderes eletivos tornouse o ór gão dominante do governo Seus membros alimentavam um relacionamen to mais próximo com seu eleitorado de pequenos proprietários o que não acontecera antes 76 E foi em seus recintos que os virginianos desenvolve ram as idéias tão fervorosamente defendidas na Revolução idéias sobre im postos representação e direitos dos ingleses e idéias sobre as prerrogativas os poderes e a vocação sagrada do pequeno agricultor proprietário e inde pendente idéias do commonwealth No século XVIII já sem a ameaça de uma classe trabalhadora livre e perigosa os virginianos puderam alimentar tais idéias que na época de Berkeley não fora possível O próprio Berkeley vivia sob a obsessão das guerras civis inglesas e do perigo da rebelião Desprezava e temia os cida dãos da Nova Inglaterra por sua associação com os puritanos que transfor 142 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 maram a Inglaterra ainda que por um tempo breve numa república 77 Orgulhavase de que a Virgínia ao contrário da Nova Inglaterra não tinha escolas livres nem imprensa porque livros e escolas geram heresias e sedi ção 78 Berkeley deve terse comprazido com o fato de que quando seu povo de fato se rebelou contra ele sob as ordens de Bacon não se gerou nenhuma idéia republicana nenhuma filosofia sobre rebelião ou direitos humanos Mesmo assim um século mais tarde sem o benefício de rebeli ões os virginianos haviam aprendido lições republicanas haviam introduzi do escolas e imprensa e estavam tão preparados como os cidadãos da Nova Inglaterra para recitar axiomas dos teóricos do commonwealth Foi a escravidão quero sugerir mais do que qualquer outro fator isolado que fez a diferença Foi a escravidão que permitiu à Virgínia acalen tar uma sistema de governo representativo numa sociedade rural Foi a es cravidão que transformou a Virgínia do governador Berkeley na Virgínia de Thomas Jefferson Foi a escravidão que fez os virginianos terem a coragem de falar uma linguagem política que engrandecia os direitos dos homens livres Foi portanto a escravidão que trouxe os virginianos para a mesma tradição política do commonwealth da Nova Inglaterra A mesma instituição que depois da Revolução dividiria o Norte do Sul pode ter sido o fator que possibilitou sua união num governo republicano Assim começou o paradoxo norteamericano da escravidão e da liber dade entrelaçadas e interdependentes os direitos dos ingleses apoiados so bre as injustiças contra os africanos A Revolução Americana só tornou as contradições mais gritantes à medida que os colonizadores senhores de escravos proclamavam para um mundo ingênuo os direitos não apenas dos ingleses mas de todos os homens Explicar a origem das contradições se a explicação sugerida for válida não as elimina nem as torna menos desagra dáveis Mas talvez nos permita entender um pouco melhor a força dos vín culos que prendem a liberdade à escravidão mesmo numa cabeça tão nobre como a de Jefferson E talvez nos faça pensar sobre os vínculos que pren dem tiranias mais tortuosas à nossa própria liberdade e que ainda nos dão hoje nosso próprio paradoxo americano Notas 1 Especialmente Staughton Lynd Class conflict and the United States constituion ten essays Indianapolis 1967 2 Curtis P Nettels The emergence of a national economy 17751815 New York 1962 p 19 Ver também Merrill Jensen The American Revolution and American agriculture Agricultural History 43 p 107124 jan 1969 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 143 3 William Cohen Thomas Jefferson and the problem of slavery Journal of American History 56 p 503526 dez 1969 DB Davis Was Thomas Jefferson an authentic enemy of slavery Oxford 1970 Winthrop D Jordan White over black American attitudes toward the negro 15501812 Chappel Hill 1968 p 429481 4 Julian P Boyd ed The papers of Thomas Jefferson 18 v Princeton 1950 X p 615 Para outras manifestações da aversão de Thomas Jefferson a dívidas e sua desconfiança contra o crédito ver ibid 2 p 275276 8 p 398399 p 632633 9 p 217218 472473 10 p 304305 11 p 472 633 636 640 12 p 385386 5 A carreira de Jefferson como embaixador na França foi em grande parte consumida por um esforço inútil de quebrar o domínio do poder inglês sobre o comércio americano 6 Ver Caroline Roberts The eighteenthcentury commonwealthman studies in the transmission development and circumstance of English liberal thought from the restauration of Charles II until the war with the thirtheen colonies Cambridge Mass 1959 JGA Pocock Machiavelli Harrington and English political ideologies in the thirteenth century William and Mary Quarterly 22 p 549 583 out 1965 7 Boyd ed Papers of Thomas Jefferson I p 344 352 362 560 VIII p 681682 8 Ibid 8 p 426 682 Thomas Jefferson Notes on the state of Virginia William Peden ed Chappel Hill 1955 p 165 Parece que Jefferson subestimou a dependência dos agricultores da Virgínia das vicissitudes e caprichos do merca do de tabaco 9 Ver Robbins The eighteenthcentury commonwealthmen Pocock Machivelli Harrington and English political ideologies p 549583 Michael Zuckerman The social context of democracy in Massachusetts William and Mary Quarterly p 523544 out 1968 Robert M Weir The harmony we were famous for an interpretation of prerevolutionary South Caroline politics ibid p 473501 out 1969 10 CB Macpherson The political theory of possessive individualism Oxford 1962 p 221224 H R Fox Bourne The life of John Locke 2 v London 1876 II p 377390 11 Adam Ferguson The history of progress and termination of the Roman republic 5v Edinburgh 1799 I p 384 Ver também Adam Ferguson An essay on the history of civil society London 1768 p 309311 12 Francis Hutcheson A system of moral philosophy 2 v London 1755 II p 202 David B Davis The problem of slavery in western culture Ithaca 1966 p 374 378 Devo a este autor várias sugestões preciosas 144 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 13 James Burgh Political disquisitions or an enquire into public errors defects and abuses 3 v London 17741775 III p 220221 Ver a proposta do bispo George Berkeley segundo a qual mendigos contumazes deveriam ser presos e transformados em escravos da comunidade durante um certo número de anos Citado em R H Tawney Religion and the rise of capitalism a historical essay New York 1926 p 270 14 E Millicent Sowerby ed Catalogue of the library of Thomas Jefferson 5 v Washington 19521969 I p 192 15 Andrew Fletcher Two discourses concerning the affairs of Scotland Written in the year 1698 Edinburgh 1698 Ver o segundo discurso com paginação própria p 133 especialmente p 16 16 Boyd ed Papers of Thomas Jefferson VIII p 681683 17 Ibid IX p 659660 18 Jackson Turner Main The social structure of revolutionary America Princeton 1965 p 271 19 Em 1755 a Virgínia tinha 43329 brancos contribuintes ao pagamento da dízima e 60078 negros Os contribuintes incluíam homens brancos acima dos dezesseis anos de idade e mulheres e homens negros acima dessa idade No censo de 1790 a Virgínia tinha 292717 escravos e 110936 rapazes brancos acima dos dezesseis anos dentre uma população total de 747680 Evarts B Greene e Virginia D Harrington American population before the federal census of 1790 New York 1932 p 150155 20 Jefferson Notes on the state of Virginia p 138 21 Jack P Greene ed The diary of colonel London Carter of Sabine Hall 1752 1778 2 v Charlottesville 1965 II p 1055 22 Boyd ed Papers of Thomas Jefferson XIV p 492493 23 St George Tucker A dissertation on slavery with a proposal for the gradual abolition of it in the state of Virginia Philadelphia 1786 Ver também Jordan White over black p 555560 24 Joan Thrisk ed The agrarian history of England and Wales v VI 15001640 Cambridge England 1967 p 531 25 Ver Edmund S Morgan The labor problem at Jamestown 16071618 American History Review 76 especialmente p 600606 jun 1971 26 A frase é de Richard Hakluyt Ver E G R Taylor ed The original writings correspondence of the two Richard Hakluyts 2 v London 1935 I p 142 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 145 27 Richard Hakluyt The principal navigations voyages and discoveries of the English nation London 1589 28 A história completa desse episódio extraordinário encontrase em I A Wright ed Documents concerning English voyages to the Spanish main 15691580 London 1932 29 Taylor ed Original writings correspondence I p 139146 30 Walter Raleigh The discoverie of the large and beawtiful Empire of Guiana VT Harlow ed London 1928 p 138149 VT Harlow ed Raleighs last voyage being an account drawn out of contemporary letters and relations London 1932 p 4445 31 Taylor ed Original writings and correspondence II p 211377 especialmen te p 318 32 Irene A Wright trans and ed Further English voyages to Spanish America 15831594 documents from the archives of the Indies and Seville London 1951 p lviii lxiii lxiv 37 52 5455 159 172173 181 188189 204206 33 Os espanhóis relataram que Embora seus donos estivessem dispostos a resgatá los os ingleses não os entregariam a não ser que os próprios escravos optassem por isso Ibid p 159 Na expedição seguinte de Walter Raleigh os espanhóis notaram que os ingleses diziam aos nativos que eles não queriam tornálos escravos mas apenas ser seus amigos prometendo trazerlhes muitas machadinhas e facas especialmente se expulsassem os espanhóis de seus territórios Harlow ed Raleighs last voyage p 179 34 David Beers Quinn ed The Roanoke voyages 15841590 2 v London 1955 35 Morgan The labor problem at Jamestown 160718 p 595611 Edmund S Morgan The first American boom Virginia 1618 to 1630 William and Mary Quarterly 28 p 169198 abr 1971 36 Não há registros confiáveis da imigração mas a presença de pessoas dessas nacio nalidades é comprovada pelos registros de tribunais de condados nos quais todos exceto os holandeses são identificados nominalmente como por exem plo James o escocês ou Cursory o turco Os holandeses aparentemente logo anglicizaram seus nomes e tornase difícil idenditicálos a não ser em ca sos em que os registros revelam sua naturalidade Os dois condados dos quais sobrevivem os registros mais completos para as décadas de 1640 e 1650 são AccomackNorthampton e Lower Norfolk Há microfilmes desses registros na Virginia State Library em Richmond 37 Por serem os registros remanescentes tão fragmentários tem havido muita con trovérsia sobre o status dos primeiros negros na Virgínia O que os registros evidenciam é que nem todos eram escravos e nem todos eram livres Ver Jordan 146 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 White over black p 7182 38 Para exemplos ver Northampton County court records deeds wills etc Book III p 38 54 60 102 117119 York County court recods deeds orders wills etc n 1 p 232234 Surrey County court records deeds wills etc n 1 p 349 Henrico County records deeds and wills 16771692 p 139 39 Chegouse a esse fato pela comparação dos nomes de chefes de família na listagem anual de contribuintes para o dízimo com identificações casuais de cidadãos como negros em registros de tribunais Os nomes chefes de família assim iden tificados para o ano de 1668 ano de pico durante o período para o qual dispo mos de listas 16621677 eram Bastian Cane Bashaw Ferdinando John Fran cisco Susan Grace William Harman Philip Mongum Francis Pane Manuel Rodriggus Thomas Rodriggus e King Tony O total de famílias no condado em 1669 era de 172 os contribuintes negros escravos eram 42 Assim cerca de 29 dos contribuintes negros e provavelmente de todos os negros eram livres e cerca de 135 dos contribuintes eram negros 40 Northampton deeds wills etc Book V p 5460 1 nov 1654 41 O número para 1625 provém do censo daquele ano que registra 1210 pessoas mas provavelmente deixou de incluir cerca de 10 da população Morgan The first American boom p 170n171n O número para 1640 provém da legislação que limita a produção de tabaco por pessoa de 16391640 Essa legislação está resumida num manuscrito pertencente a Jefferson reproduzido em William Walter Hening The statutes at large being a collection of all the laws of Virginia from the first session of the legislature in the year 1619 13 v New York 1823 I p 224225 228 O texto completo está em Acts of the general assembly 6 de jan p 16391640 William and Mary Quaterly IV p 1735 jan 1924 e Acts of the general assembly 6 jan 16391640 ibid jul de 1924 p 159162 A assembléia calculou que a coleta de 4 de tabaco por contribuinte totalizaria 8584 implicando 41646 contribuintes homens com mais de 16 anos de idade Também calculase que se limitando a plantação a 170 por cabeça alcançcarseia o total de 1300000 implicando 7647 cabeças É evidente que este último número referese à população inteira como também se com prova com os dados de Hening Statutes I p 228 42 No ano de 1635 o único ano para o qual dispomos de tais registros 2010 pessoas embarcaram para a Virgínia somente em Londres Ver John Camden Hotten ed The original list of persons of quality London 1874 p 35145 Para outros anos temos números casuais Francis West mencionou que de feve reiro de 1627 a fevereiro de 1628 1000 pessoas foram recebidas ultimamen te Colonial Office Group Class 1 Piece 4 folio 109 Public Record Office London daqui em diante citado como CO 14 f 109 De fevereiro de 1633 a fevereiro do ano seguinte segundo o governador John Harvey os recém chegados deste ano desembarcaram este ano Yong a Sir Tobie Matthew 13 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 147 de julho de 1634 Aspinwall Papers Massachusetts Historical Society collections XI 1871 p 110 Em maio de 1635 Samuel Mathews afirmou que 2000 chegaram este ano Carta de Mathews a 25 de maio de 1635 The Mutiny in Virginia 1635 Virginia Magazine of History and Biography I p 417 abr 1894 E em março de 1636 John West relatou que 1606 pessoas haviam che gado este ano Carta de West aos membros da comissão das plantations 28 de março de 1636 Virginia in 1636 ibid 9 de julho 1901 p 37 43 O número oficial de contribuintes para o ano de 1622 era de 11838 Clarendon Papers 82 Oxford Bodleian Library A proporção de contribuintes para o to tal dos membros da população da época era provavelmente de cerca de um para dois Em 1625 era de 1 para 15 em 1699 de 1 para 27 Uma vez que quase com certeza a estimativa oficial se situava abaixo da realidade uma população total de aproximadamente 25 mil cidadãos parece provável Todas os números sobre a população da Virgínia do século XVII devem ser vistos como estimati vas rudimentares 44 Provas da ocupação de terras depois de 1660 encontramse em CO 139 f 196 CO 140 f 23 CO 148 f 48 CO 51309 números 5 9 e 23 Sloane Papers 1008 f 334335 British Museum London Uma contagem recente de conces sões de patentes para ocupação de terras na Virgínia mostra 82 mil concessões reivindicadas de 1635 a 1700 Destas quase 47 mil ou 57 equivalentes a 2350000 acres foram reivindicadas nos 25 anos após 1650 WF Craven White red and black the seventeenthcentury Virginian Charlottesville 1971 p 1416 45 Hoje não é possível obter um conjunto contínuo de números para as exportações de tabaco da Virgínia do século XVII Os números disponíveis para a importações de tabaco americano na maior parte proveniente da Virgínia encontramse no United States Bureau of the Census Historical Statistics of the United States Colo nial Times to 1957 Washington D C 1960 série Z 238240 p 766 Mostram para o ano de 1572 um total de 17559000 Em 1631 o número fora de 272300 As safras de tabaco variavam muito de ano para ano Dados sobre os preços são hoje quase tão difíceis de obter quanto os do volume Os dos anos de 16671675 são calculados a partir dos preços correntes que se encontram em Warren Billings Virginias deploured condition 16601676 the coming of Bacons rebellion dissertação de doutorado Northen Illionois University 1969 p 155159 46 Ver abaixo 47 Thomas Ludwell e Robert Smith ao rei 18 de junho de 1676 v 77 f 128 Coventry Papers Longleat House American Council of Learned Societies British Mss project rolo n 63 Library of Congress 48 Ibid p 204205 49 Nicholas Spencer a Lorde Culpeper 6 de agosto de 1676 ibid p 170 Ver também CO 149 f 107 148 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 50 Os números derivam de amostras de nomes de pessoas para as quais foram reivindicadas concessões de patentes de terra Patent Books IIX Virginia State Library Richmond Wyndham B Blanton encontrou 17350 mulheres e 75884 homens em uma longa pesquisa dos livros de patentes e de outros registros da época uma proporção de uma mulher para 44 homens Wyndham B Blanton Epidemics real and imaginary and other factors influencing seventeenth century Virginias population Bulletin of the History of Medicine 31 p 462 setout 1957 Ver também Craven White red and black p 2627 51 Os piratas foram particularmente problemáticos nas décadas de 1680 e 1690 Ver CO 148 f 71 CO 151 f 340 CO 152 f 54 CO 155 f 105106 CO 157 f 300 CO 51311 n 10 52 CO 130 f 114115 53 CO 137 F 3540 54 V LXXVII p 144146 Coventry Papers 55 Hening Statutes II p 448454 CO 142 f 178 CO 143 f 29 CO 144 f 398 CO 147 f 258260 CO 148 f 46 v LXXVIII p 378381 386 387 398399 Coventry Papers 56 CO 148 passim 57 CO 143 f 359365 CO 144 f 1062 CO 147 f 261 CO 148 f 87 96 100102 185 CO 51305 n 43 CO 51309 n 74 58 Hening Statutes II p 113114 240 59 Ibid II p 266 278 60 Ibid II p 116117 273274 277278 61 Por exemplo James Gray ausente por 21 dias teve de servir mais 15 meses Order Book 16661680 p 163 Lancaster county court records 62 Hening Statutes II p 118 63 Order Book 16661680 p 142 Lancaster county court records 64 Hening Statutes II p 280 Descobriuse dizia o preâmbulo da lei que essas pessoas que têm pouco interesse no país com mais freqüência tumultuam a eleição perturbando a paz de sua majestade do que com seu comportamento discreto na votação colaboram para a manutenção dela escolhendo pessoas bem qualificadas para o desempenho de uma tarefa tão grande que lhes é con fiada 65 CO 139 f 196 CO 148 f 48 CO 51309 n 5 9 23 CO 51310 n 83 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 149 66 Jordan White over black p 4498 67 Em 1700 eles constituíam metade da mãodeobra pessoas trabalhando para outros homens no condado de Surrey único condado onde é possível verificar os números Robert Wheeler Social transition in Virginia tidewater 16501720 the laboring household as an index comunicação apresentada no encontro da Organization of American Historians New Orleans 15 de abril de 1971 O condado de Surrey ficava ao sul do rio James uma das regiões mais pobres da Virgínia 68 Ver as cartas da Royal African Company aos capitães de seus navios 23 de outubro de 1701 2 de dezembro de 1701 7 de dezembro de 1704 21 de dezembro de 1704 25 de janeiro de 17045 T70 58 London Public Record Office 69 Abbot Emerson Smith Colonists in bondage white servitude and convict labor in America 16071776 Chapel Hill 1947 p 335 Ver também Thomas J Wertenbaker The planters of colonial Virginia Princeton 1922 p 130131 134135 Craven White red and black 17 70 CO 145 f 138 71 Hening Statutes II p 481482 492493 III p 8688 102103 333335 447462 72 Como exemplo ver carta de William Byrd II ao conde de Egmont 12 julho de 1736 Elizabeth Donnan ed Documents illustrative of the history of the slave trade to America 4 v Washington 19301935 IV p 131132 Mas compa rese a carta de Byrd com Peter Beckford 6 dezembro de 1735 Letters to the Byrd Family Virginia Magazine of History and Biography 36 p 121123 abr 1928 onde ele especificamente nega qualquer perigo A assembléia da Virgínia em várias ocasiões fixou taxas sobre a importação de escravos Ver Donnan ed Documents illustrative of the history of the slave trade IV p 6667 8688 9194 102117 121131 132142 O objetivo de algumas leis era desestimular importações mas aparentemente o motivo era equilibrar a balança comercial depois de um período no qual os senhores de plantations compraram muito mais do que conseguiam pagar Ver também Wertenbaker The planters of colo nial Virginia p 129 73 O viajante suíço Francis Ludwig Michel observou em 1702 que Compramse geralmente escravos de ambos os sexos que depois se multiplicam William J Hinke trans and ed Report of the journey of Francis Louis Michel from Berne Switzerland to Virginia October 2 1 1701 December 1 1702 Part II Virginia Magazine of History and Biography 24 p 116 abr 1916 Uma amostra dos nomes identificados pelo sexo para os quais se reivindicavam sub sídios na forma de patentes de terra nas décadas de 1680 e 1690 mostra que entre os negros há uma proporção muito maior de mulheres em relação aos 150 ESTUDOS AVANÇADOS 14 38 2000 homens do que entre os brancos Por exemplo nos anos de 16951699 verifi co no Livro de Patentes 9818 homens brancos e 276 mulheres brancas 376 homens negros e 200 mulheres negras mas comparemse esse números com Craven White red and black p 99100 No condado de Northampton em 1667 entre 75 contribuintes negros havia 36 homens 38 mulheres e 1 pessoa cujo sexo não é possível determinar No condado de Surrey em 1703 entre 211 contribuintes negros havia 132 homens 74 mulheres e 5 pessoas cujo sexo não é possível determinar Esses são únicos condados em que temos registros de informações deste gênero Northampton county court records order book 10 p 189191 Surrey county records deeds wills etc n 5 part 2 p 287290 74 A Virgínia livrouse de tantos desse modo na campanha contra Cartagena em 1774 que alguns anos mais tarde a colônia não conseguiu juntar mais ninguém para outra expedição Fairfax Harrison When the convicts came Virginia Ma gazine of History and Biography 30 p 250260 jul 1922 especialmente p 256257 John W Shy A new look at colonial militia William and Mary Quarterly 20 p 175185 abr 1963 Em 1736 a Virgínia havia despachado outra leva de libertos indesejados para a Georgia por causa do boato sobre um ataque dos espanhóis Carta de Byrd II a lorde Edmont julho de 1736 Letters of the Byrd family Virginia Magazine of History and Biography 36 p 216 217 jul 1928 Observações de um viajante inglês que embarcou no mesmo navio sugerem que eles não viajavam espontaneamente nosso carregamento consistia em toda a escória da Virgínia que fora recrutada para servir na Georgia e que estava constantemente disposta a rebelarse enquanto ejaculavam as mais chocantes imprecações agourando a destruição do barco e de tudo o que esta va nele Observations in several voyages and travels in America in the year 1736 William and Mary Quarterly XV p 224 abr 1907 75 Comparar com Lyon G Tyler Virginians voting in the colonial period William and Mary Quarterly VI p 313 jul1887 76 John C Rainbolt The alteration in the relationship between leadership and constituents in Virginia 1660 to 1720 William and Mary Quarterly 27 p 411434 jul 1970 77 William Berkeley a Richard Niccols 20 de maio de 1666 4 de maio de 1667 Manuscritos adicionais 28 218 f 1417 British Museum London 78 Henings Statutes II p 517 Edmundo S Morgan é professor de História na Universidade Yale EUA Tradução de Almiro Pisetta O original Slavery and Freedom the American Paradox foi publicado em The Journal of American History v LIX n 1 p 5 29