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52 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 A Invenção do Sete de Setembro 18221831 1 The Invention of Sete de Setembro 18221831 Hendrik Kraay Professor no Departamento de História da Universidade de Calgary Calgary Canadá email kraayucalgaryca Resumo Utilizandose de jornais coevos relatos de viajantes e relatórios de diplomatas estrangeiros este artigo analisa a rápida invenção do Grito do Ipiranga de D Pedro I em 7 de setembro de 1822 como o dia da independência do Brasil Contrariamente àqueles que argumentam ter levado algum tempo para que as ações de D Pedro naquele dia fossem consideradas como o momento fundador da nação brasileira este artigo defende que foi em 1823 que se reconheceu a data como o dia da independência do Brasil No entanto até o final da década de 1820 esse dia foi considerado menos importante como festividade nacional que o 12 de outubro aniversário do imperador comemoração de sua aclamação em 1822 e consequentemente o dia em que o império brasileiro foi criado Concluise o presente texto com uma discussão sobre as importantes mudanças em 1830 no significado dos dois dias e a extinção do 12 de outubro em 1831 como um dia de festividade nacional o que deixou o 7 de setembro como o feriado nacional mais importante do Brasil Abstract Using contemporary newspapers travelers accounts and the reports of foreign diplomats this article examines the rapid invention of D Pedro Is 7 September 1822 Grito do Ipiranga as Brazils independence day Contrary to those who have argued that it took some time to construct D Pedros actions that day as the Brazilian nations founding moment this article argues that in fact the day was recognized as Brazils independence day in 1823 However for much of the rest of the 1820s it was considered less important a day of national festivity than 12 October the emperors birthday and the commemoration of his acclamation in 1822 and consequently the day on which the Brazilian empire was created This article concludes with a discussion of the significant changes in the meaning of both days in 1830 and the abolition of 12 October as a day of national festivity in 1831 which left 7 September as Brazils most important national holiday Palavraschave identidade nacional representações políticas Rio de Janeiro Independência festas cívicas Primeiro Reinado Keywords national identity political representation Rio de Janeiro Independence civic rituals First Reign 1 As seguintes abreviaturas são usadas nas notas CLB Coleção das Leis do Brasil NARS National Archives and Records Service Estados Unidos PROFO Public Record Office Foreign Office GrãBretanha RIHGB Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 53 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 Introdução Atualmente é um axioma nacional a proclamação da independência brasileira por D Pedro I em 7 de setembro de 1822 às margens do Ipiranga em São Paulo Naquele ano entretanto o significado histórico de suas ações não era tão evidente e pelo menos até o final de 1822 contemporâneos atribuíram pouco significado à data e ao Grito do Ipiranga pois se ocupavam com a aclamação do imperador 12 de outubro e sua coroação 1º de dezembro Daí resultou um consenso historiográfico de que demorou algum tempo para que o Sete de Setembro se tornasse o dia da independência do Brasil e de que a data não tinha grande significado senão bem depois de 1822 Neste artigo trago novas fontes para essa discussão e argumento que na realidade o 7 de setembro foi reconhecido como o dia da independência do Brasil em 1823 e que sua celebração ganhou relevância rapidamente pelo menos no Rio de Janeiro apesar de o 12 de outubro ter permanecido o dia de festa nacional mais importante na maior parte da década Já em 1860 Gottfried Heinrich Handelmann observou sobre o 7 de setembro que a princípio não se lhe ligou tanta importância como depois contudo não ofereceu fontes para embasar tal afirmação Uma série de outros historiadores tem destacado recentemente a pouca atenção que a imprensa do Rio de Janeiro despendeu aos eventos do 7 de setembro de 1822 nos anos subsequentes à independência a ausência da data em uma lista de dias de gala da corte publicada em dezembro e a inexistência de comentários de Hipólito José da Costa sobre a data em seu Correio Brasiliense entre outras coisas o que parece surpreendente considerandose a importância atribuída posteriormente ao Sete de Setembro2 Em 1995 Maria de Lourdes Viana Lyra publicou um artigo no qual afirmava que a construção do 7 de setembro como o dia da independência do Brasil havia começado em meados da década de 1820 e sido concluída até 1830 com a publicação da História dos principais sucessos do Império do Brasil de José da Silva Lisboa uma história oficial em que o Visconde de Cairú apresenta Pedro como responsável único pela decisão de tornar o Brasil livre uma avaliação que atendia com perfeição à memória que se queria firmar a ruptura da unidade lusobrasileira e a conseqüente independência absoluta do Brasil constituíram atos exclusivos da vontade do imperadorherói que tudo fizera para defesa da liberdade do seu povo3 Essa é uma interpretação conservadora da independência e como Lyra explica Cairú respondia ao grande debate dos anos da década de 1820 com relação às origens da soberania de Pedro I as posições reformista e conservadora sustentavam que ela derivava da linhagem real do imperador enquanto a visão revolucionária defendia que apenas o povo a nação brasileira tinha o direito de aclamar Pedro como seu governante e investilo de poder Pedro teve que renunciar formalmente ao seu título no tratado de 1825 que resultou no reconhecimento português para governar com base na soberania popular o que por sua vez exigiu uma reconstrução da história da independência devidamente enunciada por Cairú para enfatizar que ela se originou diretamente das ações de Pedro no 7 de setembro de 1822 e não por meio de sua aclamação pela nação brasileira4 A elegante análise de Lyra entretanto falha na medida em que a interpretação de Cairú foi contestada por muitos daqueles que comemoraram o Sete de Setembro em 1830 Além disso um olhar mais atento às reais celebrações ocorridas no 7 de setembro a partir de 1823 conforme descrito por diplomatas estrangeiros por alguns viajantes e 2 HANDELMANN Gottfried Heinrich História do Brasil 2 vols Tradução do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Rio de Janeiro IHGB 1931 vol2 p792 nota 171 A análise mais detalhada sobre essa questão é de LYRA Maria de Lourdes Viana Memória da Independência Marcos e representações simbólicas Revista Brasileira de História São Paulo n29 p17789 1995 Ver também NEVES Lúcia Maria Bastos Pereira das Corcundas e constitucionais a cultura política da Independência 18201822 Rio de Janeiro FAPERJ e Revan 2003 p369370 OLIVEIRA Cecilia Helena de Salles O Museu Paulista da USP e a memória da Independência Cadernos Cedes n22 p6667 dezembro de 2002 3 LYRA Maria de Lourdes Viana OpCit p198 201 4 Ibidem p191197 na imprensa revela indubitavelmente que esse já era considerado dia da independência do Brasil Mais precisamente a questão primordial era se a independência conforme proclamada no 7 de setembro foi tão importante quanto a aclamação de Pedro no 12 de outubro ou mesmo quanto outros eventos que estabeleceram a ordem política imperial A julgar pelas comemorações ocorridas no Rio de Janeiro o Sete de Setembro foi por um curto período ofuscado pelo 12 de outubro mas em meados da década já viria a obter a mesma importância Uma segunda questão bastante debatida em 1830 e 1831 foi a natureza do papel de Pedro no 7 de setembro de 1822 muitos na verdade rejeitaram a visão de Cairú e argumentaram que a proclamação da independência por Pedro seguiu o desejo da nação de ser livre Celebrando o 7 de Setembro e o 12 de Outubro 18231825 Para o Rio de Janeiro os eventos da segunda metade de 1822 que levaram à criação de um império brasileiro independente ofereceram duas alternativas principais com que era possível datar a fundação do novo regime o Grito do Ipiranga em 7 de setembro ou a aclamação de Pedro em 12 de outubro a mesma data de seu aniversário Não estava claro qual desses dias era mais digno de comemoração Um decreto de dezembro de 1822 determinando o protocolo da corte para os dias de gala deixou de mencionar o 7 de setembro e o que talvez seja ainda mais interessante não identificou um dia para comemorar a independência 12 de outubro foi descrito como a data do aniversário de Pedro e de sua aclamação5 No início daquele mês no entanto Pedro havia decretado que sendo conveniente memorizar a gloriosa época da Independência do Brasil e sua elevação à categoria de Império o número de anos que decorreram da mencionada época deverá contarse de o memorável dia 12 de outubro do presente ano6 No ano seguinte contudo o 7 de setembro rapidamente ganhou notoriedade Durante a fala do trono que abriu a Assembleia Constituinte em 3 de maio de 1823 Pedro aludiu à data como a sua primeira declaração em favor da completa independência7 No início de setembro a assembléia decidiu que o dia fosse considerado temporariamente feriado nacional por ser o aniversário da independência brasileira e enviou uma grande delegação para parabenizar Pedro8 Para a surpresa de Condy Raguet embaixador dos Estados Unidos no Brasil o 7 de setembro de 1823 foi celebrado com toda a pompa militar civil e religiosa apropriada a uma festa tão importante Ele especulou que a cerimônia se desse à política cada vez mais acirrada relativa à assembleia e se questionou se andara equivocado ao ver a aclamação 12 de outubro como o verdadeiro dia de declaração da independência9 O Barão Wenzel de Mareschal representante austríaco não estava aparentemente surpreso e simplesmente relatou que se prepara para o 7 de setembro como o dia do aniversário da independência proclamada em São Paulo uma festa militar10 Naquele ano a única alusão à comemoração do 7 de setembro na imprensa do Rio de Janeiro foi um soneto em O Sylpho que conclui Estás independente oh que te restaValor Brasil Constituição ou Morte11 Os elementos militar civil e religioso da celebração a que se referiu Raguet eram constitutivos das grandes festas cívicas daquela época saudações da artilharia dos fortes e navios de guerra uma parada militar um Te Deum na capela imperial um cortejo no Paço da Cidade com a cerimônia obrigatória do beijamão uma noite de gala no teatro e iluminação noturna da cidade 5 Decreto 21 de dezembro de 1822 CLB Esta análise da legislação sobre dias de gala segue um panfleto pouco conhecido de COSTA Luiz Monteiro da D Pedro I entre o 7 de setembro e o 12 de outubro Salvador Imprensa Oficial da Bahia 1956 Agradeço a Marco Morel a indicação deste texto 6 Decreto 10 de dezembro de 1822 CLB 7 Falla com que Sua Magestade o Imperador abriu a Assembléia Geral Legislativa Constituinte no dia 3 de Maio de 1823 CLB 8 Sessões de 5 e 9 de setembro de 1823 BRASIL Diário da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil 1823 Ed facsimilar 4vols em 2 Brasília Senado Federal 1972 vol1 p722 733 9 Condy Ra guet ao Secretário de Estado Rio de Janeiro 8 de setembro de 1823 NARS T172 rolo 2 10 Preparase para o 7 de setembro como o dia do aniversário da proclamação da independência em São Paulo uma festa militar Wenzel de Mareschal ao Príncipe de Metternich Rio de Janeiro 30 de agosto de 1823 RIHGB n314 p346 janeiromarço de 1977 Ver também Mareschal a Metternich Rio de Janeiro 20 de setembro de 1823 RIHGB n 315 p308 abriljunho de 1977 11 Soneto ao Faustissimo Anniversario da Independencia Brasileira O Sylpho 13 de setembro de 1823 Almanack Braziliense São Paulo nº11 p 5261 mai 2010 artigos 54 55 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 Um mês depois os deputados designaram da mesma maneira o 12 de outubro como um dia de festividade nacional Tiveram no entanto alguma dificuldade para determinar o que eles propunham que fosse celebrado a aclamação de Pedro seu aniversário ou como Nicolau Pereira de Campos Vergueiro deputado de São Paulo definiu o aniversário da aclamação do império ou da sua criação Em sua mensagem de felicitações ao monarca os deputados enfatizaram o caráter constitucional do império refletindo as crescentes tensões entre o órgão e Pedro12 O dia foi tão comemorado quanto o 7 de setembro e alguns tomaram conhecimento da outra data de festividade nacional Na noite de gala do teatro José Pedro Fernandes recitou um elogio no qual identificou o Grito do Ipiranga como o momento de fundação do Brasil aparece de repenteFormidável Nação válido ImpérioÀ voz de PEDRO ao grito INDEPENDÊNCIAQue trovejou nas margens do Piranga uma visão que teria soado como música aos ouvidos de Cairú13 Naquele ano e na maioria das celebrações do 12 de outubro subsequentes Pedro concedeu promoções nas forças armadas e títulos de nobreza e outras recompensas aos seus súditos Em uma decisão emitida em 23 de outubro Pedro declarou o 7 de setembro e o 12 de outubro como dias equivalentes de festividade nacional sancionando desse modo a intenção da assembléia constituinte O Sete de Setembro foi descrito como o dia em que o mesmo Augusto Senhor tomou a sublime resolução de proclamar pela primeira vez a Independência do Brasil no sítio do Piranga enquanto o 12 de outubro era o faustíssimo anniversário da aclamação de S M o Imperador Algumas semanas depois outra decisão esclareceu que o 12 de outubro também celebrava a grandiosa elevação do Brasil à categoria de Império e o anniversário natalício do mesmo Augusto Senhor14 O Almanaque da cidade do Rio de Janeiro para 1824 listou ambos como dias de grande gala e explicou seus respectivos significados conforme descrito nos dois decretos15 Não obstante a decisão de 1823 o 7 de setembro permaneceu subor dinado ao 12 de outubro durante os dois anos seguintes Em 1824 Raguet relatou que o 7 de setembro foi anunciado e celebrado como o segundo aniversário da Declaração da Independência do Brasil mas certamente não com a pompa e magnificência do 12 de outubro acrescentando que nesta última celebração o povo não tinha participação O Spectador Brasileiro da mesma forma proclamou ser o 7 de setembro o Anniversário da Independência Política do Império Constitucional do Brasil mas nenhum jornal relatou as celebrações de 1824 Na verdade havia pouco a ser relatado Mareschal contou que por razões não especificadas não houve cortejo e beijamão e o mau tempo forçou o cancelamento do desfile militar16 Em contraste O Spectador Brasileiro aguardava ansiosamente pela brilhante solenidade que estava sendo preparada para o 12 de outubro e contava que o dia fosse comemorado por todo o império17 O ministro da guerra fez preparativos para saudações da artilharia em toda a costa do Rio de Janeiro e ordenou à milícia da província que também desfilasse tudo em homenagem à Pedro e a sua Gloriosa Acclamação e de seu Natalicio18 Infelizmente não encontrei descrições dessas comemorações mas Pedro como de costume emitiu vários despachos19 As três decisões relativas ao protocolo nos dias de gala emitidas pelo ministério da guerra entre março e setembro de 1825 têm sido evocadas como índices das dúvidas constantes sobre a importância do 7 de setembro mas podem muito bem apenas revelar confusão burocrática Em março o 12 Sessões de 7 9 e 13 de outubro de 1823 Brasil Diário da Assemblea vol2 p186187 214 231 232 14 Decisão 155 Império 23 de outubro de 1823 Decisão 159 Império 10 de novembro de 1823 CLB 15 Almanaque do Rio de Janeiro para o ano de 1824 RIHGB n 278 p201 janeiromarço de 1968 16 Raguet ao Secretário do Estado Rio de Janeiro 12 de setembro de 1824 NARS T172 rolo 3 O Spectador Brasileiro 10 de setembro de 1824 Mareschal a Metternich Rio de Janeiro 18 de setembro de 1824 RIHGB n 323 p200 abril junho de 1979 17 Rio de Janeiro 10 de Setembro 1822 sic O Spectador Brasileiro 10 de setembro de 1824 18 Decisão 210 Guerra 1o de outubro de 1824 CLB 19 Ver as listas dos despachos publicadas em O Spectador Brasileiro 15 e 18 de outubro de 1824 13 FERNANDES José Pedro Elogio no muito faus to natalicio e anniversario da Gloriosa accla mação de sua magestade Imperial o Senhor D Pedro Primeiro Imperador Constitucional e defensor perpetuo do Brasil recitado no theatro de S João Rio de Janeiro Typ da Silva Porto 1823 Para uma descrição das comemorações do dia 12 de outubro de 1823 ver Mareschal a Metternich Rio de Janeiro 21 de outubro de 1823 RIHGB n 315 p319 abriljunho de 1977 56 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 ministério ordenou que o 7 de setembro fosse celebrado da mesma forma que o 25 de março o aniversário do juramento à constituição em outras palavras nesses dias de grande gala os fortes deveriam hastear as bandeiras e disparar três rodadas de vinte e uma saudações Esse decreto entretanto omitiu o 12 de outubro Em agosto o 7 de Setembro foi rebaixado à classificação de pequena gala a ser comemorada apenas com bandeiras enquanto o 12 de outubro foi designado como dia de grande gala a ser comemorado com três saudações de 101 tiros e uma grande parada Dez dias depois o 7 de Setembro foi promovido novamente à categoria de grande gala a ser celebrado conforme ordenado na decisão de março20 Em 1825 o 7 de Setembro coincidiu com o anúncio do reconhecimento do Brasil pela GrãBretanha o que tornou possível a Carl O Schlichthorst declarar que essa era a data mais importante da história do Brasil imperial21 Pedro distribuiu pessoalmente das janelas do palácio cópias do tratado antes do cortejo e removeu publicamente o emblema de Independência ou Morte que ele havia usado desde 182222 Diplomatas franceses e austríacos relataram pouco entusiasmo por essas celebrações já que os termos do tratado na realidade minaram o princípio da posição de Pedro como imperador por aclamação popular23 Mareschal relatou que as celebrações habituais ocorreram em 12 de outubro Raguet fez referência à grande pompa e Henry Chamberlain o ministro britânico mencionou as concessões de favor sem precedentes incluindo títulos honrarias e promoções a um grau que se poderia quase ser chamado pródigo24 Schlichthorst afirmou que 10000 tropas desfilaram no Campo de Santana mas observou que essa foi a última dessas grandes exibições militares pois muitos dos soldados foram enviados a Montevidéu logo depois25 Essa exposição das fontes disponíveis sobre a comemoração do 7 de setembro e do 12 de outubro no período de 18231825 muitas das quais inacessíveis para aqueles historiadores que escreveram sobre as origens do 7 de Setembro revela claramente que se teve pouca importância para seus contemporâneos em 1822 essa data emergiu rapidamente como o dia da independência do Brasil embora permanecesse secundária em relação ao 12 de outubro O significado desses dois dias no entanto continuou oscilante Ambos é claro evocavam Pedro como monarca e herói mesmo que pudessem ser vistos como personificação das origens populares do império A aclamação de Pedro pelo povo em 12 de outubro contrariou profundamente a conservadora Santa Aliança e complicou a busca do Brasil pelo reconhecimento internacional Mas o dia também poderia ser celebrado apenas como o aniversário de Pedro ou como o dia em que o Brasil se tornou um império conceitos menos problemáticos Para que o 7 de setembro conotasse o momento de fundação do Brasil o grito de Independência ou Morte tinha que repercutir na população ou ressoar do Amazonas ao Rio da Prata um tropo recorrente utilizado na retórica do 7 de setembro Por fim o 7 de setembro ofereceu uma visão popular ou populista da independência mais prontamente que o 12 de outubro embora essa distinção não tenha ficado totalmente clara até 1830 Legislando sobre Dias de Festa Nacional Na primeira sessão do parlamento brasileiro os legisladores instituíram cinco dias de festividade nacional quatro dos quais estavam diretamente ligados ao Imperador Pedro I 9 de janeiro data em que decidiu ficar no Brasil em 1822 25 de março 3 de maio dia de abertura da sessão 20 Decisão 38 Guerra 7 de março de 1825 Decisão 187 Guerra 25 de agosto de 1825 Decisão 198 Guerra 5 de setembro de 1825 Guerra CLB Costa analisou as duas primeiras dessas decisões mas desconhecia a terceira D Pedro I p 2327 21 Henry Chamberlain a George Canning Rio de Janeiro 8 de setembro de 1825 PROFO 13 vol10 fol48v SCHLICHTHORST Carl O O Rio de Janeiro como é 18241826 huma vez e nunca mais Tradução de Emmy Dodt e Gustavo Barroso Rio de Janeiro Ed Getúlio Costa 1943 p197 22 Raguet ao Secretário do Estado Rio de Janeiro 15 de setembro de 1825 NARS T172 rolo 3 23 MONTEIRO Tobias História do Império o Primeiro Reinado 2vols Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1982 vol1 p277279 281 LYRA Maria de Lourdes Viana Memória da Independência Marcos e representações simbó licas Revista Brasileira de História São Paulo n29 p190194 1995 SOUSA Octávio Tarquínio de A vida de D Pedro I 3vols Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Edusp 1988 vol2 p177 186189 24 Mareschal a Metternich Rio de Janeiro 24 de outubro de 1825 RIHGB n 335 p157 abril junho de 1982 Raguet ao Secretário do Estado Rio de Janeiro 26 de outubro de 1825 NARS M121 rolo 6 Chamberlain a Canning Rio de Janeiro 15 de outubro de 1824 PROFO 13 vol10 fol239 25 SCHLICHTHORST Carl O OpCit p248 57 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 legislativa anual 7 de setembro e 12 de outubro26 Os debates no senado e na câmara dos deputados revelaram uma importante diferença entre as duas casas em suas respectivas visões sobre a natureza política do império Nesse debate entretanto estava claro que o Sete de Setembro era considerado por muitos o dia da independência do Brasil mas alguns ainda o viam como relativamente menos importante em comparação com o 12 de outubro No senado o visconde de Nazaré propôs em 10 de maio que o dia 13 fosse declarado festa nacional naquela data em 1822 Pedro havia aceitado o título de defensor perpétuo Essa moção não aprovada levou a um projeto de lei que propôs oito dias de festividade nacional 9 de janeiro quando Pedro decidiu em 1822 ficar no Brasil o Dia do Fico e 22 de janeiro dia do aniversário da imperatriz 25 de março 13 de maio 7 de setembro 12 de outubro 1º de dezembro coroação de Pedro e 2 de dezembro aniversário do provável herdeiro o futuro Pedro II Nazaré justificou seu projeto de lei com base no argumento de que todas as nações recomendaram sempre à posteridade os dias notáveis de suas instituições Oito feriados eram demais para o visconde de Barbacena que notou que todos eles se referiam de alguma forma a Pedro I propondo então que se mantivesse apenas o 12 de outubro Considerando que a assembléia constituinte havia proposto 3 feriados 9 de janeiro 7 de setembro e 12 de outubro27 o visconde de Caravelas defendeu o 7 de setembro como o dia em que o Imperador quebrou as nossas prisões as cadeias que nos ligavam a Portugal em que declarou a independência e foi seguida a sua voz por todo o Brasil recomendando fortemente também a manutenção do 25 de março Na segunda leitura a visão de Barbacena prevaleceu 12 de outubro explicou ele encerra a particularidade de reunir os mais gloriosos fatos do Brasil Nazaré que perdeu essa seção lamentou na terceira leitura que seus colegas senadores mutilaram o seu projeto de lei Ao argumento de Barbacena ele retrucou que um único feriado celebrando todos os atos de Pedro I seria uma mera ficção e que muitos feriados eram necessários para que futuras gerações ouvindo as salvas vendo embandeiramentos e mais demonstrações de regosijo próprios de semelhantes dias se lembrem dos gloriosos fatos que nele se passaram Apenas com muitas celebrações os brasileiros lembrariam a história de sua nação acrescentou Caravelas agora apoiando Nazaré uma vez que poucos homens no Brasil leem livros de história e ao contrário dos antigos o Brasil não tinha monumentos públicos por esta razão eram essenciais os festivais a que a população pudesse assistir No final os senadores convieram em uma lista de quatro feriados 9 de janeiro 25 de março 7 de setembro e 12 de outubro mas Nazaré Caravelas e outros quatro senadores registraram seus votos contra o projeto de lei O projeto foi então para a câmara dos deputados onde Manoel de Souza Franco do Rio de Janeiro em meio a sonoros aplausos sugeriu fortemente a inclusão de 3 de maio data na qual segundo a constituição o parlamento se reuniu A legislatura salientou ele era ao menos tão importante quanto o executivo a monarquia celebrado no projeto de lei do senado Nicolau Pereira de Campos Vergueiro de São Paulo propôs uma emenda abandonando o 25 de março e o 7 de setembro e acrescentando o 3 de maio baseandose no argumento de que a legislatura era mais importante que a constituição e de que o 7 de setembro representava a proclamação da independência em apenas uma província Bernardo Pereira 26 Lei 9 de setembro de 1826 CLB Este e o pará grafo seguinte são baseados nos debates em Anais do Senado 1826 vol1 p85 vol2 p100102 vol3 p1416 p122129 e Anais da Câmara dos Deputados 1826 vol2 p36 vol3 p262265 27 Não há indícios de que a Assembléia Constituinte propôs designar o 9 de janeiro como dia de festa nacional 58 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 de Vasconcelos respondeu que o 3 de maio estava para o 7 de setembro assim como um pigmeu estava para um gigante A independência continuou ele foi proclamada em 7 de setembro totalmente ratificada em 12 de outubro e selada em 25 de março com a constituição a abertura da legislatura apenas decorria dos outros três dias Além disso acrescentar outro feriado equivaleria a favorecer os funcionários públicos que teriam mais um dia de folga Outros deputados defenderam vigorosamente o 3 de maio uma vez que conforme um deles colocou a independência e a constituição teriam sido inúteis se a representação nacional não fosse instalada Tais argumentos convenceram e o 3 de maio juntouse aos quatro feriados monárquicos do senado Esse debate revela que o 7 de setembro ainda não tinha sido comple tamente aceito como o dia da independência do Brasil Vergueiro deputado de São Paulo pôde caracterizálo apenas como um dia significativo no nível provincial mas nem ele nem outro legislador ofereceu um dia da independência alternativo Para os senadores a monarquia era mais importante que a legislatura uma visão que os deputados contestaram com o aditamento do 3 de maio A lei de 1826 modificou a prática das festas cívicas no Rio de Janeiro e nos anos seguintes o 7 de setembro e o 12 de outubro passaram a ser comemorados igualmente com todas as características dos primeiros anos do reinado de Pedro Os jornais enfatizavam reiteradamente que esses dois feriados comemoravam a criação por Pedro da nação brasileira e de sua organização política com base constitucional Ele era a voz regeneradora que criou uma Nação em 7 de setembro de 1822 declarou O Spectador Brasileiro em 1826 Em 12 de outubro de 1829 os brasileiros celebraram muito mais do que apenas o aniversário de um Rei absoluto explicou o Aurora Fluminense em vez disso eles recordaram o triunfo das doutrinas proclamadas pela civilisação que foi sancionado pelo descendente de vinte monarchas28 Significativamente os outros três feriados designados por lei em 1826 não foram muito comemorados O parlamento devidamente se reunia todo dia 3 de maio mas os moradores da capital não celebravam esse dia Robert Walsh surpreendeuse com o pouco interesse pela abertura do parlamento em 182929 enquanto o aniversário da decisão de Pedro em permanecer no Brasil passou quase despercebido Não há indicações de que o 25 de março recebeu mais do que uma atenção superficial Em 1829 o Aurora Fluminense mencionou o dia com um editorial que salientava a sorte do Brasil em ter um Monarca que os Povos haviam escolhido que não hesitou em oferecer à aprovação dos Brasileiros um Código liberal em que se achavam gravados todos esses sagrados foros o que custou em qualquer outro lugar tanto sangue para ser alcançado A Carta de 1824 foi segundo Evaristo Ferreira da Veiga editor liberal moderado desse jornal a mais liberal de todas as Constituições MonárquicoRepresentativas Aparentemente contudo não houve comemoração pública desse dia exceto por saudações da artilharia30 Em 1830 em meio às nascentes tensões entre exaltados e defensores de Pedro I as comemorações de dias de festividade nacional no Rio de Janeiro mudaram completamente quando pela primeira vez grupos não governamentais organizaram as festas cívicas As manifestações dos exaltados no 25 de março em honra à constituição foram um grande desafio para o imperador e no 7 de setembro esses liberais radicais tentaram repetir o êxito 28 O Spectador Brasileiro 7 de setembro de 1826 Aurora Fluminense 12 de outubro de 1829 Ver também Gazeta do Brasil 7 de setembro de 1827 L Echo de l Amérique du Sud 10 de setembro e 13 de outubro de 1827 Astrea 14 de outubro de 1828 A Luz Brasileira 13 de outubro de 1829 Jornal do Commercio 13 de outubro de 1829 Para uma descrição das come morações do dia 12 de outubro de 1829 ver HOLMAN James A Voyage Round the World Including Travels in Africa Asia Australasia America etc etc from MDCCCXXVII to MDCCCXXXII 4 vols Londres Smith Elder Co 1834 vol2 p5859 29 WALSH Robert Notices of Brazil in 1828 and 1829 2 vols Londres Frederick Westley e A H Davis 1830 vol 2 p419 30 Aurora Fluminense 27 de março de 1829 Jornal do Commercio 28 de março de 1829 59 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 de março Aqueles que apoiavam Pedro I responderam no 12 de outubro com pomposas comemorações de sua aclamação e de seu aniversário Descrevi alhures essas celebrações e o extenso debate entorno delas o que não repetirei aqui salvo para enfatizar que foram manifestações políticas nas quais grupos adversários de defensores e opositores de Pedro I demonstravam publicamente suas diferentes visões sobre as origens da independência brasileira e sobre o papel adequado do monarca na ordem política 31 No 7 de setembro o líder dos exaltados Ezequiel Corrêa dos Santos simplesmente ignorou Pedro I e declarou que a conquista da independência pelas nações sempre há sido por elas contado como o único dia que é verdadeiramente do povo32 O moderado Evaristo da Veiga declarou que Pedro havia seguido a vontade dos brasileiros no 7 setembro de 1822 Abraçou voluntariamente a nossa causa declarouse brasileiro também e tornouse assim digno de reinar sobre os brasileiros por unânime escolha da nossa recente associação política33 Líderes partidários de Pedro I tal qual Joaquim José da Silva Maia exortaram os brasileiros a serem dignos da independência e das instituições concedidas pelo mais magnânimo dos monarcas34 Enquanto o visconde de Cairú pode ter construído diligentemente uma versão conservadora do 7 de setembro em sua história da independência encomendada oficialmente e sua visão do Grito do Ipiranga como uma ação apenas da vontade de Pedro fora conveniente em uma monarquia conservadora como Lyra argumentou muitos discordaram de sua posição Eles não rejeitaram o 7 de setembro entretanto como o dia da independência do Brasil em vez disso subordinaram Pedro à nação na sua avaliação do papel do imperador em 1822 Novos e Velhos Dias de Festa Nacional 1831 Pedro I abdicou em 7 de abril de 1831 e as comemorações subsequentes do 7 de setembro foram inequivocamente uma manifestação partidária controlada pela Sociedade Defensora da Independência e Liberdade Nacional que tem sido caracterizada pelos historiadores mais recentes como uma aliança entre grupos políticos divergentes cuja meta era pôr um freio na insurreição que havia acompanhado a abdicação de Pedro35 A Sociedade pagou por um Te Deum na igreja de São Francisco de Paula para dar graças nas palavras de um patriota pela proteção Divina que libertou o Brasil da ambição dos Anarquistas e da tirania de um déspota estrangeiro36 Fundos excedentes da arrecadação da Sociedade foram designados para a construção da nova prisão do Rio de Janeiro o que um jornal aprovou entusiasticamente porque é certamente promovendo os bons costumes e a moral pública que mais eficazmente se trabalha para a liberdade da Nação37 Duzentos Guardas Municipais fardados a efêmera precursora da Guarda Nacional posicionaramse na saída da igreja e Evaristo depois elogiou a bela tropa de cidadãos que asseguraram o destino do Brasil em suas mãos Sem ter nada a ganhar com a desordem ou o despotismo eles eram o grande segredo para haver liberdade sem anarquia e ordem sem opressão da parte dos governantes38 Ao que parece não ocorreram na capela imperial nem o desfile militar nem o Te Deum Havia algumas dúvidas sobre o significado do dia O Jornal do Comércio mesmo admitindo que Pedro I apenas havia se colocado à frente do movimento de independência em 1822 para melhor disfrutála e não perder tão rica coroa declarou que o 7 de setembro de 1822 marcou o primeiro passo para a Liberdade Por essa razão Sete de Setembro será sempre de júbilo para os bons patriotas39 Nessa mesma tendência Evaristo da Veiga 31 KRAAY Hendrik Nação Estado e política popular no Rio de Janeiro rituais cívicos depois da Independência In PAMPLONA Marco A e DOYLE Don H orgs Nacionalismo no Novo Mundo Rio de Janeiro Editora Record 2008 p329354 Para uma perspectiva diferente ver WISSER William M Rhetoric and Riot in Rio de Janeiro 18271831 2006 265f Tese Doutorado em História University of North Carolina at Chapel Hill p114196 32 Nova Luz Brasileira 7 de setembro de 1830 33 Aurora Fluminense 10 de setembro de 1830 34 O Brasileiro Imparcial 7 de setembro de 1830 35 GUIMARÃES Lucia Maria Paschoal Liberalismo moderado postulados ideológicos e práticas políticas no período regencial 18311837 In PEIXOTO Antonio Carlos et al orgs O liberalismo no Brasil imperial origens conceitos e prática Rio de Janeiro Editora Revan 2001 p10712 BASILE Marcelo Otávio Neri de Campos O Império em construção projetos de Brasil e ação política na Corte regencial 2004 490f Tese Doutorado em História Social Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 p83109 36 Jornal do Commercio 7 de setembro de 1831 Sobre estas comemorações ver também BASILE Marcelo Otávio Neri de Campos Festas cívicas na Corte regencial Varia História Belo Horizonte n36 p494516 julhodezembro de 2006 37 O Independente 6 de setembro de 1831 Ver também Aurora Fluminense 5 de setembro de 1831 38 Aurora Fluminense 9 de setembro de 1831 39 Jornal do Commercio 7 de setembro de 1831 Ver também Astrea 6 de setembro de 1831 e O Independente 9 de setembro de 1831 60 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 convocou todos os Brasileiros que amam a pátria sejam quais forem os seus princípios políticos a se abraçarem irmamente no dia40 O Jornal do Comércio relatou vários jantares particulares em que fizeramse saúdes muito patrióticas em obséquio a este memorável dia à Independência à Liberdade ao Monarca Brasileiro o nosso anjo de paz ao Congresso Nacional à Regência à União Fraternal de todos os brasileiros Esse mesmo jornal e mais um outro lamentaram que as comemorações não foram maiores haja vista que o gênio do mal havia espalhado terror entre os moradores da capital ao anunciar um massacre ou uma rusga para o 7 de Setembro41 Apenas no último minuto os legisladores se lembraram de que os dias de festividade nacional haviam sido estabelecidos por lei em 1826 Na véspera de 12 de outubro a câmara dos deputados aprovou precipitadamente um projeto de lei que aboliu a data como um dia de festa nacional instituindo o 7 de abril e o 2 de dezembro aniversário de Pedro II como feriados substitutos os outros quatro feriados aprovados em 1826 permaneceram inalterados A abdicação foi sutilmente descrita como o dia no qual a coroa foi devolvida a Pedro II42 O senado recebeu o projeto de lei da câmara em 11 de outubro e suspendeu os debates sobre regulamentação das faculdades de direito para lidar com a questão premente de se celebrar ou não o iminente dia de festividade nacional A maioria concordou que seria imprudente celebrar o aniversário de Pedro I mas vários senadores Barbacena Caravelas Cairú e Vergueiro apontaram que o 12 de outubro também era a data de criação do império e portanto como Caravelas colocou deve durar enquanto durar o Império Quando Antônio Gonçalves Gomide afirmou que o império havia sido fundado em 7 de setembro Caravelas explicou corretamente que a forma de governo reino ou império não havia sido decidida naquele dia Cairú que não era defensor da soberania popular acrescentou entretanto ser o 12 de outubro o primeiro ato explícito de exercício da soberania da Nação Tais pontos mais delicados da história constitucional lamentou Vergueiro não eram percebidos pelo povo rústico e a população veria a comemoração do 12 de outubro simplesmente como uma manifestação restauradora Os senadores dissertaram muito menos sobre adicionar o 7 de abril ao rol de feriados Cairú fez essa oposição com base no fato de que nenhuma monarquia jamais comemorou uma abdicação mas Gomide salientou que o projeto de lei propunha a celebração da aclamação de Pedro II não da abdicação de Pedro I o que de fato ocorreu em 6 de abril O projeto de lei foi aprovado e os senadores retornaram à regulamentação dos cursos jurídicos43 O decreto formal para esse efeito apareceu somente em 25 de outubro e consequentemente o 12 de outubro permaneceu com rigor factual nos livros como um dia de festa nacional em 183144 Embora não houvesse celebrações oficiais do 12 de outubro na capital um contemporâneo relatou que ocorreram alguns jantares particulares acompanhados de vivas a D Pedro I45 Conclusão Com a eliminação do 12 de outubro do rol dos dias de festividade nacional o Sete de Setembro reinou supremo como o dia da independência do Brasil O significado das ações de Pedro I no Ipiranga continuaria a ser debatido e as comemorações desse dia mudaram dramaticamente durante as décadas seguintes mas o 7 de setembro nunca perdeu seu lugar como o dia em que os brasileiros celebram a independência de sua nação46 40 Aurora Fluminense 5 de setembro de 1831 41 Jornal do Commercio 9 de setembro de 1831 O Independente 9 de setembro de 1831 Ver tam bém Arthur Aston ao Visconde de Palmerston Rio de Janeiro 28 de setembro de 1831 PROFO 13 vol 83 fol 286rv 42 Sessões de 6 10 e 12 de outubro Anais da Câmara dos Deputados 1831 vol 2 p 220 229230 231 43 Sessão de 11 de outubro Anais do Senado 1831 vol 2 p 259265 44 Decreto 25 de outubro de 1831 CLB 45 João Loureiro a Manuel José Maria da Costa e Sá Rio de Janeiro 15 de outubro de 1831 RIHGB n76 p379 1914 46 Pouco se tem escrito sobre as comemorações do Sete de Setembro Ver todavia KRAAY Hendrik Sejamos brasileiros no dia da nossa nacionali dade comemorações da Independência no Rio de Janeiro 18401864 Topoi Rio de Janeiro n14 p936 janeirojunho de 2007 MOTTA Marly Silva da A nação faz 100 anos a questão nacional no centenário da Independência Rio de Janeiro Editora da Fundação Getúlio Vargas 1992 p1122 O debate em torno da inauguração da estátua eqüestre de d Pedro I em 1862 tocou em muitas das questões suscitadas pela come moração do dia 7 de setembro Ver entre outros RIBEIRO Maria Eurydice de Barros Memória em bronze estátua eqüestre de D Pedro I In KNAUSS Paulo org Cidade vaidosa imagens urbanas do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Sette Letras 1999 p1528 SOUZA Iara Lis Carvalho Pátria coroada o Brasil como corpo político autônomo São Paulo Editora UNESP 1998 p 351365 Ver também OLIVEIRA Cecília Helena de Salles e MATTOS Claudia Valladão de orgs O Brado do Ipiranga São Paulo Editora da Universidade de São Paulo 1999 61 artigos Almanack Braziliense São Paulo n11 p 5261 mai 2010 Neste artigo concentreime no Rio de Janeiro em detrimento do restante do país mas não se pode presumir que as celebrações iniciais do 7 de setembro seguiram nas províncias a mesma trajetória da capital Em São Paulo a proposta de dezembro de 1822 para a construção de um monumento no Ipiranga sugere que pelo menos alguns paulistas achavam que as ações de Pedro mereciam ser comemoradas mesmo antes de o Sete de Setembro ter se tornado importante no Rio de Janeiro Antônio da Silva Prado propôs a construção de um monumento em São Paulo três meses após o Grito de Pedro Ele rapidamente recebeu a aprovação dos governos provincial e nacional para lançar uma arrecadação pública Em 1825 a pedra fundamental para o que aparentemente se pretendia que fosse um obelisco piramidal foi colocada mas os trabalhos cessaram em 1828 quando a arrecadação ficou muito aquém do custo projetado47 Quando John Armitage visitou o local em 1834 encontrou apenas fundações 48 Na Bahia único estado em cujos arquivos fiz um trabalho sistemático há apenas indicações limitadas das comemorações do Sete de Setembro durante a década de 1820 No entanto considerandose que pouquíssimos jornais de Salvador sobreviveram a Bahia não é o local ideal para pesquisar o início do Sete de Setembro No tenso ano de 1824 enquanto a Confederação do Equador ainda não havia sido derrotada o presidente da província da Bahia relatou que no 7 de setembro ele havia recebido aplausos no teatro que produziram grande efeito e derramaram a tranqüilidade nos ánimos49 Essa indicação de que ocorreram sessões de galas no teatro no 7 de setembro é confirmada pela posterior publicação de uma Congratulação aos brasileiros de Ladislau dos Santos Titara recitada em gala pelo autor em 7 de setembro de 1828 Ele aclamou o Grito do Ipiranga como a origem do regime constitucional brasileiro Tu foste a doce origem de onde vieraA Liberdade e a Glória que hoje alegreAo lado da ventura desfrutemosDe sic tí sublimes hinos dedicamosE à Pátria à Pedro Heroi que idolatramos50 A essa altura entretanto os baianos estavam profundamente envolvidos na celebração do aniversário de 2 de julho de 1823 quando as tropas portuguesas evacuaram Salvador empenhandose para transformar tal data em um dia de festividade nacional51 A avaliação do Sete de Setembro como a origem do regime constitu cional brasileiro feita por Titara realça um último ponto importante sobre os dias de festividade nacional do Brasil imperial Eles enfocaram principalmente os arranjos políticos do regime imperial e não incorporaram nacionalismos romântico ou étnico a nação era uma associação política exclusiva é claro cujas principais instituições monarquia e constituição foram estabelecidas no período de 18221824 Condy Raguet provavelmente o representante dos Estados Unidos mais bem informado do Rio de Janeiro captou isso de forma eficaz quando relatou a Washington que em 1826 o parlamento decretou cinco dias de festividade política apesar de estar certo de que a lei os designava dias de festividade nacional52 Tradução Fernanda Trindade Luciani 47 Ver a história da campanha escrita por MELLO MORAES Alexandre José de pai Monumento do Ypiranga Brasil Historico 17 de julho de 1864 48 ARMITAGE John The History of Brazil from the Period of the Arrival of the Braganza Family in 1808 to the Abdication of Don Pedro the First in 1831 2 vols Londres Smith Elder Co 1836 vol1 p354 50 TITARA Ladislau dos Santos Congratulação aos Brasileiros 7 de setembro de 1828 In Obras poeticas dedicadas à mocidade brasileira 8 vols Salvador Typ Imperial e Nacional 1827 1852 vol2 p9699 51 Sobre a campanha baiana para designar o dia 2 de julho como dia de festa nacional ver KRAAY Hendrik Entre o Brasil e a Bahia as comemo rações do Dois de Julho em Salvador no século XIX ÁfroÁsia Salvador n23 p7475 1999 Sobre as festas cívicas baianas e a pouca impor tância atribuída ao Sete de Setembro ver tam bém KRAAY Hendrik Definindo nação e Estado rituais cívicos na Bahia pós Independência Topoi Rio de Janeiro n3 p6390 setembro de 2001 Recebido para publicação em julho de 2009 Aprovado em setembro de 2009 52 Raguet ao Secretário do Estado Rio de Janeiro 23 de setembro de 1826 NARS M121 rolo 7 49 Presidente da Bahia a Pedro I Salvador 18 de setembro de 1825 Arquivo Histórico do Museu Imperial IIIPOB29061825PIBc116 RESENHA CRÍTICA Segue abaixo uma resenha crítica sobre o artigo A invenção do Sete de Setembro 18221831 de Hendrik Kraay publicado na revista Almanack Braziliense em maio de 2010 Será apresentado um breve apontamento sobre o artigo seguido de uma análise crítica sobre os principais pontos O tema central do artigo referese a data da independência do Brasil que por algum tempo foi ofuscada pelo aniversário do Imperador D Pedro I Só com o passar dos anos que o dia 7 de setembro teve a sua devida importância na história brasileira A independência do Brasil aconteceu em 7 de setembro de 1822 Em 1823 a data estava reconhecida como data oficial da independência do Brasil havia comemoração mas não se comparava com a grande festa nacional provida pela comemoração do aniversário do Imperador Se analisarmos o comportamento de uma sociedade em que os meios de comunicação eram escassos e que o povo se baseava nas poucas e imprecisas informações disponíveis dar mais atenção a festividade relacionada ao Imperador tem certa lógica visto que a estrutura da sociedade estava voltada para atender os interesses da monarquia O dia 7 de setembro foi declarado feriado nacional referente a independência entretanto misturavase a figura do Imperador com o ato de liberdade de Portugal Sendo assim o dia de seu aniversário que também era a data de sua aclamação era vinculada a festividade da independência Isso significa que não somente a data da independência era comemorada mas seu autor e sua representatividade na sociedade Por alguns anos a comemoração na corte do Império claramente dava mais significância a data 12 de outubro do que ao 7 de setembro Há relatos e documentos que permitem analisar desta forma referente ao nível da festividade O reconhecimento oficial da independência do Brasil não foi instantâneo pelas outras nações Demorou um certo tempo para que outros países pudessem reconhecer a independência Isso com certeza também contribuiu para que o dia 7 de setembro na ocasião não tivesse tanta representatividade em suas comemorações Com o passar dos anos a popularidade de D Pedro I já não era a mesma O país apresentava vários conflitos sociais o que levou ao descontentamento popular sobre o Imperador Esses acontecimentos contribuíram para que a data 7 de setembro tivesse um tipo de separação do aniversário do Imperador culminando na abdicação de D Pedro I ao Império do Brasil Posteriormente a data 12 de outubro deixou de ser uma comemoração oficial de grande festividade proporcionando assim ao dia 7 de setembro mais notoriedade as comemorações pela independência do Brasil O fato do Imperador DPedro I não está mais à frente do Brasil representa um tipo de ruptura com a figura responsável pelo ato deixando apenas o lugar físico que no caso seria o próprio Brasil para as devidas comemorações Antes se dava mais importância a pessoa que realizou o processo de independência do que propriamente a pátria que estaria livre do domínio português Apesar dos anos iniciais a comemoração ter sido dividida com outras festividades o dia 7 de setembro sempre teve seu lugar na história sendo sempre lembrado como símbolo de uma luta contra o domínio português liberdade e autonomia do povo brasileiro Grande parte da análise do autor concentrase no Rio de Janeiro então capital do Brasil com algumas pequenas observações a São Paulo e a Bahia Vale ressaltar que nesta época o país não era totalmente povoado concentrando sua população no litoral e nos grandes centros da época Por fim chegamos à conclusão da importância da comemoração do dia 7 de setembro Uma data especial para o povo brasileiro que representaria o fim na teoria do domínio português sobre o Brasil O ato de D Pedro I ao declarar independência do Brasil foi muito mais que um simples grito no rio Ipiranga Representou uma mudança social e política da sociedade brasileira Inicialmente a comemoração foi relacionada ao aniversario e data de aclamação do Imperador Porém com o passar dos anos o dia 7 de setembro ganhou sua identidade e é comemorado até os dias de hoje significando patriotismo liberdade e força do povo brasileiro REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA KRAAY Hendrik A invenção do Sete de Setembro 18221831 Almanack Braziliense n 11 p 5261 2010 RESENHA CRÍTICA Segue abaixo uma resenha crítica sobre o artigo A invenção do Sete de Setembro 18221831 de Hendrik Kraay publicado na revista Almanack Braziliense em maio de 2010 Será apresentado um breve apontamento sobre o artigo seguido de uma análise crítica sobre os principais pontos O tema central do artigo referese a data da independência do Brasil que por algum tempo foi ofuscada pelo aniversário do Imperador D Pedro I Só com o passar dos anos que o dia 7 de setembro teve a sua devida importância na história brasileira A independência do Brasil aconteceu em 7 de setembro de 1822 Em 1823 a data estava reconhecida como data oficial da independência do Brasil havia comemoração mas não se comparava com a grande festa nacional provida pela comemoração do aniversário do Imperador Se analisarmos o comportamento de uma sociedade em que os meios de comunicação eram escassos e que o povo se baseava nas poucas e imprecisas informações disponíveis dar mais atenção a festividade relacionada ao Imperador tem certa lógica visto que a estrutura da sociedade estava voltada para atender os interesses da monarquia O dia 7 de setembro foi declarado feriado nacional referente a independência entretanto misturavase a figura do Imperador com o ato de liberdade de Portugal Sendo assim o dia de seu aniversário que também era a data de sua aclamação era vinculada a festividade da independência Isso significa que não somente a data da independência era comemorada mas seu autor e sua representatividade na sociedade Por alguns anos a comemoração na corte do Império claramente dava mais significância a data 12 de outubro do que ao 7 de setembro Há relatos e documentos que permitem analisar desta forma referente ao nível da festividade O reconhecimento oficial da independência do Brasil não foi instantâneo pelas outras nações Demorou um certo tempo para que outros países pudessem reconhecer a independência Isso com certeza também contribuiu para que o dia 7 de setembro na ocasião não tivesse tanta representatividade em suas comemorações Com o passar dos anos a popularidade de D Pedro I já não era a mesma O país apresentava vários conflitos sociais o que levou ao descontentamento popular sobre o Imperador Esses acontecimentos contribuíram para que a data 7 de setembro tivesse um tipo de separação do aniversário do Imperador culminando na abdicação de D Pedro I ao Império do Brasil Posteriormente a data 12 de outubro deixou de ser uma comemoração oficial de grande festividade proporcionando assim ao dia 7 de setembro mais notoriedade as comemorações pela independência do Brasil O fato do Imperador DPedro I não está mais à frente do Brasil representa um tipo de ruptura com a figura responsável pelo ato deixando apenas o lugar físico que no caso seria o próprio Brasil para as devidas comemorações Antes se dava mais importância a pessoa que realizou o processo de independência do que propriamente a pátria que estaria livre do domínio português Apesar dos anos iniciais a comemoração ter sido dividida com outras festividades o dia 7 de setembro sempre teve seu lugar na história sendo sempre lembrado como símbolo de uma luta contra o domínio português liberdade e autonomia do povo brasileiro Grande parte da análise do autor concentrase no Rio de Janeiro então capital do Brasil com algumas pequenas observações a São Paulo e a Bahia Vale ressaltar que nesta época o país não era totalmente povoado concentrando sua população no litoral e nos grandes centros da época Por fim chegamos à conclusão da importância da comemoração do dia 7 de setembro Uma data especial para o povo brasileiro que representaria o fim na teoria do domínio português sobre o Brasil O ato de D Pedro I ao declarar independência do Brasil foi muito mais que um simples grito no rio Ipiranga Representou uma mudança social e política da sociedade brasileira Inicialmente a comemoração foi relacionada ao aniversario e data de aclamação do Imperador Porém com o passar dos anos o dia 7 de setembro ganhou sua identidade e é comemorado até os dias de hoje significando patriotismo liberdade e força do povo brasileiro REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA KRAAY Hendrik A invenção do Sete de Setembro 18221831 Almanack Braziliense n 11 p 5261 2010