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UNOPAR
Texto de pré-visualização
Secretaria de Educação Fundamental Iara Glória Areias Prado Departamento de Política da Educação Fundamental Virgínia Zélia de Azevedo Rebeis Farha CoordenaçãoGeral de Estudos e Pesquisas da Educação Fundamental Maria Inês Laranjeira PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 5ª A 8ª SÉRIES B823p Brasil Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental língua estrangeira Secretaria de Educação Fundamental Brasília MECSEF 1998 120 p 1 Parâmetros curriculares nacionais 2 Ensino de quinta a oitava séries língua estrangeira I Título CDU 371214 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS TERCEIRO E QUARTO CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL LÍNGUA ESTRANGEIRA Brasília 1998 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS TERCEIRO E QUARTO CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL LÍNGUA ESTRANGEIRA AO PROFESSOR O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades ampliase ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos Vivemos numa era marcada pela competição e pela excelência onde progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas para os jovens que ingressarão no mundo do trabalho Tal demanda impõe uma revisão dos currículos que orientam o trabalho cotidianamente realizado pelos professores e especialistas em educação do nosso país Assim é com imensa satisfação que entregamos aos professores das séries finais do ensino fundamental os Parâmetros Curriculares Nacionais com a intenção de ampliar e aprofundar um debate educacional que envolva escolas pais governos e sociedade e dê origem a uma transformação positiva no sistema educativo brasileiro Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando de um lado respeitar diversidades regionais culturais políticas existentes no país e de outro considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras Com isso pretendese criar condições nas escolas que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania Os documentos apresentados são o resultado de um longo trabalho que contou com a participação de muitos educadores brasileiros e têm a marca de suas experiências e de seus estudos permitindo assim que fossem produzidos no contexto das discussões pedagógicas atuais Inicialmente foram elaborados documentos em versões preliminares para serem analisados e debatidos por professores que atuam em diferentes graus de ensino por especialistas da educação e de outras áreas além de instituições governamentais e nãogovernamentais As críticas e sugestões apresentadas contribuíram para a elaboração da atual versão que deverá ser revista periodicamente com base no acompanhamento e na avaliação de sua implementação Esperamos que os Parâmetros sirvam de apoio às discussões e ao desenvolvimento do projeto educativo de sua escola à reflexão sobre a prática pedagógica ao planejamento de suas aulas à análise e seleção de materiais didáticos e de recursos tecnológicos e em especial que possam contribuir para sua formação e atualização profissional Paulo Renato Souza Ministro da Educação e do Desporto 6 expressar e comunicar suas idéias interpretar e usufruir das produções culturais em contextos públicos e privados atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos questionar a realidade formulandose problemas e tratando de resolvêlos utilizando para isso o pensamento lógico a criatividade a intuição a capacidade de análise crítica selecionando procedimentos e verificando sua adequação OBJETIVOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de compreender a cidadania como participação social e política assim como exercício de direitos e deveres políticos civis e sociais adotando no diaadia atitudes de solidariedade cooperação e repúdio às injustiças respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito posicionarse de maneira crítica responsável e construtiva nas diferentes situações sociais utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações posicionandose contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais de classe social de crenças de sexo de etnia ou outras características individuais e sociais perceberse integrante dependente e agente transformador do ambiente identificando seus elementos e as interações entre eles contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva física cognitiva ética estética de interrelação pessoal e de inserção social para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania conhecer o próprio corpo e dele cuidar valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva utilizar as diferentes linguagens verbal musical matemática gráfica plástica e corporal como meio para produzir ESTRUTURA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Objetivos Gerais do Ensino Fundamental ÁREA DE LÍNGUA PORTUGUESA ÁREA DE MATEMÁTICA ÁREA DE CIÊNCIAS NATURAIS ÁREA DE HISTÓRIA ÁREA DE GEOGRAFIA ÁREA DE ARTE ÁREA DE EDUCAÇÃO FÍSICA ÁREA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA Ética Saúde Meio Ambiente Orientação Sexual Pluralidade Cultural Trabalho e Consumo Caracterização da Área Objetivos Gerais da Área 1ª Parte Ensino Fundamental 2ª Parte Especificação por Ciclos 1º Ciclo 1ª e 2ªs 2º Ciclo 3ª e 4ªs 3º Ciclo 5º e 6ºs 4º Ciclo 7º e 8ºs Objetivos da Área para o Ciclo Conteúdo da Área para o Ciclo Critérios de Avaliação da Área para o Ciclo Orientações Didáticas SUMÁRIO Apresentação 15 1ª PARTE Considerações preliminares 19 A justificativa social para a inclusão de Língua Estrangeira no ensino fundamental 20 Os focos do ensino a metáfora das lentes de uma máquina fotográfica 21 Critérios para a inclusão de línguas estrangeiras no currículo 22 Fatores históricos 22 Fatores relativos às comunidades locais 23 Fatores relativos à tradição 23 Uma síntese da situação atual do ensino de Língua Estrangeira no Brasil 23 Aspectos centrais no documento 24 Caracterização do objeto de ensino Língua Estrangeira 27 Aprender línguas significa aprender conhecimento e seu uso 27 A natureza sociointeracional da linguagem 27 A relação entre língua estrangeira e língua materna na aprendizagem 28 Os conhecimentos sistêmico de mundo e da organização textual 29 O conhecimento sistêmico 29 O conhecimento de mundo 29 O conhecimento da organização textual 31 A projeção dos conhecimentos na construção do significado 32 Os conhecimentos sistêmicos de mundo e de organização textual e o processo de ensinar e aprender Língua Estrangeira 32 Os usos dos conhecimentos e o processo de aprender e ensinar Língua Estrangeira 34 Papel da área de Língua Estrangeira no ensino fundamental diante da construção da cidadania 37 Lei de Diretrizes e Bases e Língua Estrangeira 37 Perspectiva educacional 37 Perspectiva pragmática 38 Língua Estrangeira e exclusão social 38 Língua Estrangeira como libertação 39 O inglês como língua estrangeira hegemônica 39 A escolha de línguas estrangeiras para o currículo 40 Língua Estrangeira e construção de cidadania 41 A relação do processo de ensinar e aprender Língua Estrangeira com os temas transversais 43 Ensino de Língua Estrangeira modo singular para focalizar a relação entre linguagem e sociedade 43 Escolhas temáticas 44 Escolhas de organização textual 45 Escolhas sistêmicas 46 Variação linguística 47 Pluralidade cultural 48 Ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira nos terceiro e quarto ciclos 53 Língua Estrangeira e o aluno dos terceiro e quarto ciclos 53 Concepções teóricas do processo de ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira 55 A visão behaviorista 56 A visão cognitivista 56 A visão sociointeracional 57 Aprendizagem como forma de coparticipação social 58 Aprendizagem como construção de conhecimento compartilhado 58 Interação e construção da aprendizagem 59 Interação e configuração espacial em sala de aula 61 Cognição e metacognição 62 Objetivos gerais de Língua Estrangeira para o ensino fundamental 65 2ª PARTE Conteúdos propostos para terceiro e quarto ciclos 71 Eixos de conteúdo 71 Progressão geral dos conteúdos 72 Conhecimento de mundo 72 Tipos de texto 73 Conhecimento sistêmico 74 Conteúdos attitudinais 75 A questão do método 75 Avaliação 79 Conceito 79 Avaliar para quem 80 A dimensão afetiva 81 Coerência entre o foco do ensino e o da avaliação 82 A avaliação um processo integrado e contínuo 82 Critérios de avaliação 83 Orientações didáticas 87 Habilidades comunicativas 89 Compreensão 89 Compreensão escrita 89 Orientações didáticas para o ensino de compreensão escrita 91 Préleitura 91 Leitura 92 Pósleitura 92 Compreensão oral 94 Orientações didáticas para o ensino da compreensão oral 95 Produção 96 Produção escrita 98 Produção oral 101 Orientações didáticas para o ensino da produção escrita e da produção oral 103 Orientações para uma avaliação formativa 107 Uma palavra final a ação dos parâmetros e a formação de professores de Língua Estrangeira 109 Bibliografia 111 12 LÍNGUA ESTRANGEIRA APRESENTAÇÃO A aprendizagem de Língua Estrangeira é uma possibilidade de aumentar a autopercepção do aluno como ser humano e como cidadão Por esse motivo ela deve centrarse no engajamento discursivo do aprendiz ou seja em sua capacidade de se engajar e engajar outros no discurso de modo a poder agir no mundo social Para que isso seja possível é fundamental que o ensino de Língua Estrangeira seja balizado pela função social desse conhecimento na sociedade brasileira Tal função está principalmente relacionada ao uso que se faz de Língua Estrangeira via leitura embora se possa também considerar outras habilidades comunicativas em função da especificidade de algumas línguas estrangeiras e das condições existentes no contexto escolar Além disso em uma política de pluralismo linguístico condições pragmáticas apontam a necessidade de considerar três fatores para orientar a inclusão de uma determinada língua estrangeira no currículo fatores relativos à história às comunidades locais e à tradição Duas questões teóricas ancoram os parâmetros de Língua Estrangeira uma visão sociointeracional da linguagem e da aprendizagem O enfoque sociointeracional da linguagem indica que ao se engajarem no discurso as pessoas consideram aqueles a quem se dirigem ou quem se dirigiu a elas na construção social do significado É determinante nesse processo o posicionamento das pessoas na instituição na cultura e na história Para que essa natureza sociointeracional seja possível o aprendiz utiliza conhecimentos sistêmicos de mundo e sobre a organização textual além de ter de aprender como usálos na construção social do significado via Língua Estrangeira A consciência desses conhecimentos e a de seus usos são essenciais na aprendizagem posto que focaliza aspectos metacognitivos e desenvolve a consciência crítica do aprendiz no que se refere a como a linguagem é usada no mundo social como reflexo de crenças valores e projetos políticos No que se refere à visão sociointeracional da aprendizagem podese dizer que é compreendida como uma forma de se estar no mundo com alguém e é igualmente situada na instituição na cultura e na história Assim os processos cognitivos têm uma natureza social sendo gerados por meio da interação entre um aluno e um parceiro mais competente Em sala de aula esta interação tem em geral caráter assimétrico o que coloca dificuldades específicas para a construção do conhecimento Daí a importância de o professor aprender a compartilhar seu poder e dar voz ao aluno de modo que este possa se constituir como sujeito do discurso e portanto da aprendizagem Os temas centrais desta proposta são a cidadania a consciência crítica em relação à linguagem e os aspectos sociopolíticos da aprendizagem de Língua Estrangeira Esses temas se articulam com os temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais notadamente na possibilidade de se usar a aprendizagem de línguas como espaço para se compreender na escola as várias maneiras de se viver a experiência humana Secretaria de Educação Fundamental 16 LÍNGUA ESTRANGEIRA 1ª PARTE 17 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Este documento procura ser uma fonte de referência para discussões e tomada de posição sobre ensinar e aprender Língua Estrangeira nas escolas brasileiras Portanto não tem um caráter dogmático pois isso impossibilitaria as adaptações exigidas por condições diversas e inviabilizaria o desenvolvimento de uma prática reflexiva Primordialmente objetivase restaurar o papel da Língua Estrangeira na formação educacional A aprendizagem de uma língua estrangeira juntamente com a língua materna é um direito de todo cidadão conforme expresso na Lei de Diretrizes e Bases e na Declaração Universal dos Direitos Linguísticos publicada pelo Centro Internacional Escarré para Minorias Étnicas e Nações Ciemen e pelo PENClub Internacional Sendo assim a escola não pode mais se omitir em relação a essa aprendizagem Embora seu conhecimento seja altamente prestigiado na sociedade as línguas estrangeiras como disciplinas se encontram deslocadas da escola A proliferação de cursos particulares é evidência clara para tal afirmação Seu ensino como o de outras disciplinas é função da escola e é lá que deve ocorrer As oportunidades de aprender línguas nos Centros de Línguas das redes oficiais existentes em algumas partes do Brasil são entendidas como suplementares à oferta de Língua Estrangeira dentro do currículo no sentido de que outras línguas além daquela incluída na rede escolar possam ser também aprendidas O distanciamento proporcionado pelo envolvimento do aluno no uso de uma língua diferente o ajuda a aumentar sua autopercepção como ser humano e cidadão Ao entender o outro e sua alteridade 1 pela aprendizagem de uma língua estrangeira ele aprende mais sobre si mesmo e sobre um mundo plural marcado por valores culturais diferentes e maneiras diversas de organização política e social A aprendizagem de uma língua estrangeira deve garantir ao aluno seu engajamento discursivo ou seja a capacidade de se envolver e envolver outros no discurso Isso pode ser viabilizado em sala de aula por meio de atividades pedagógicas centradas na constituição do aluno como ser discursivo ou seja sua construção como sujeito do discurso 2 via Língua Estrangeira Essa construção passa pelo envolvimento do aluno com os processos sociais de criar significados por intermédio da utilização de uma língua estrangeira Isso poderá ser feito por meio de processos de ensino e aprendizagem que envolvam o aluno na construção de significado pelo desenvolvimento de pelo menos uma habilidade comunicativa É importante garantir ao aluno uma experiência singular de construção de significado pelo domínio de uma base discursiva 3 que poderá ser ampliada quando se fizer necessário em sua vida futura ou quando as condições existentes nas escolas o permitirem Outro pressuposto básico para a aprendizagem de uma língua estrangeira é a necessidade de garantir a continuidade e a sustentabilidade de seu ensino Não há como propiciar avanços na aprendizagem de uma língua propondo ao aluno a aprendizagem de espanhol na quinta série de francês na sexta e sétima e de inglês na oitava série A justificativa social para a inclusão de Língua Estrangeira no ensino fundamental A inclusão de uma área no currículo deve ser determinada entre outros fatores pela função que desempenha na sociedade Em relação a uma língua estrangeira isso requer uma reflexão sobre o seu uso efetivo pela população No Brasil tomandose como exceção o caso do espanhol principalmente nos contextos das fronteiras nacionais e o de algumas línguas nos espaços das comunidades de imigrantes polonês alemão italiano etc e de grupos nativos somente uma pequena parcela da população tem a oportunidade de usar línguas estrangeiras como instrumento de comunicação oral dentro ou fora do país Mesmo nos grandes centros o número de pessoas que utilizam o conhecimento das habilidades orais de uma língua estrangeira em situação de trabalho é relativamente pequeno Deste modo considerar o desenvolvimento de habilidades orais como central no ensino de Língua Estrangeira no Brasil não leva em conta o critério de relevância social para a sua aprendizagem Com exceção da situação específica de algumas regiões turísticas ou de algumas comunidades plurilíngües o uso de uma língua estrangeira parece estar em geral mais vinculado à leitura de literatura técnica ou de lazer Notese também que os únicos exames formais em Língua Estrangeira vestibular e admissão a cursos de pósgraduação requerem o domínio da habilidade de leitura Portanto a leitura atende por um lado às necessidades da educação formal e por outro é a habilidade que o aluno pode usar em seu contexto social imediato Além disso a aprendizagem de leitura em Língua Estrangeira pode ajudar o desenvolvimento integral do letramento do aluno A leitura tem função primordial na escola e aprender a ler em outra língua pode colaborar no desempenho do aluno como leitor em sua língua materna Devese considerar também o fato de que as condições na sala de aula da maioria das escolas brasileiras carga horária reduzida classes superlotadas pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos professores material didático reduzido a giz e livro didático etc podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas Assim o foco na leitura pode ser justificado pela função social das línguas estrangeiras no país e também pelos objetivos realizáveis tendo em vista as condições existentes Isso não quer dizer contudo que dependendo dessas condições os objetivos não possam incluir outras habilidades tais como compreensão oral e produção oral e escrita Importa sobretudo formular e implementar objetivos justificáveis socialmente realizáveis nas condições existentes na escola e que garantam o engajamento discursivo por meio de uma língua estrangeira Portanto o foco na leitura não é interpretado aqui como alternativa mais fácil e nem deve comprometer decisões futuras de se envolver outras habilidades comunicativas Podese antever que com o barateamento dos meios eletrônicos de comunicação mais escolas venham ter acesso a novas tecnologias possibilitando o desenvolvimento de outras habilidades comunicativas Vale acrescentar que a análise do quadro atual do ensino de Língua Estrangeira no Brasil indica que a maioria das propostas para o ensino dessa disciplina reflete o interesse pelo ensino da leitura OS FOCOS DO ENSINO A METÁFORA DAS LENTES DE UMA MÁQUINA FOTOGRÁFICA Com base na função social da aprendizagem de uma língua estrangeira no Brasil e nas condições existentes na maior parte das escolas brasileiras o foco no que ensinar pode ser melhor entendido ao se pensar metaforicamente sobre o que as lentes de uma máquina fotográfica focalizam O primeiro foco por meio do uso de uma lente padrão estaria colocado na habilidade de leitura A lente pode contudo ser trocada por uma grandeangular na dependência das condições em contextos de ensino específicos como também do papel relativo que as línguas estrangeiras particulares representam na comunidade o caso do espanhol na situação de fronteira por exemplo de modo a ampliar o foco para envolver outras habilidades comunicativas Esse sistema de focos para indicar o que ensinar tem por objetivo organizar uma proposta de ensino que garanta para todos na rede escolar uma experiência significativa de comunicação via Língua Estrangeira por intermédio do uso de uma lente padrão Isso é o que foi chamado de engajamento discursivo por meio de leitura em língua estrangeira que se pauta por uma questão central neste documento dar acesso a todos a uma educação linguística de qualidade O foco em leitura não exclui a possibilidade de haver espaços no programa para possibilitar a exposição do aluno à compreensão e memorização de letras de música de certas frases feitas por exemplo Ça va How do you do Que bien Wie gehts Va bene de pequenos poemas travalínguas e diálogos Esses recursos são úteis para oferecer certa consciência dos sons da língua de seus valores estéticos e de alguns modos de veicular algumas regras de uso da língua estrangeira polidez intimidade saudações linguagem da sala de aula etc Também permitem o envolvimento com aspectos lúdicos que a língua oral possibilita aumentando a vinculação afetiva com a aprendizagem É preciso que fique claro porém que esses momentos não implicam engajamento no discurso oral Têm a função de aumentar a consciência linguística4 do aluno além de dar um cunho prazeroso à aprendizagem CRITÉRIOS PARA INCLUSÃO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NO CURRÍCULO Independentemente de se reconhecer a importância do aprendizado de várias línguas em vez de uma única e de se pôr em prática uma política de pluralismo linguístico5 nem sempre há a possibilidade de se incluir mais do que uma língua estrangeira no currículo Os motivos podem ir da falta de professores até a dificuldade de incluir um número elevado de disciplinas na grade escolar Assim uma questão que precisa ser enfrentada é qual ou quais línguas estrangeiras incluir no currículo Pelo menos três fatores devem ser considerados fatores históricos fatores relativos às comunidades locais fatores relativos à tradição Fatores históricos Os fatores históricos estão relacionados ao papel que uma língua específica representa em certos momentos da história da humanidade fazendo com que sua aprendizagem adquira 4 Consciência linguística aqui se refere à consciência da natureza da estrutura sonora das línguas estrangeiras fonemas padrões entonacionais etc e de certas regras de uso dessas línguas em comparação com as da língua materna 5 Por uma política de pluralismo linguístico entendese a aceitação da existência de línguas diferentes e a promoção do ensino de várias línguas maior relevância A relevância é freqüentemente determinada pelo papel hegemônico dessa língua nas trocas internacionais gerando implicações para as trocas interacionais nos campos da cultura da educação da ciência do trabalho etc O caso típico é o papel representado pelo inglês em função do poder e da influência da economia norteamericana Essa influência cresceu ao longo deste século principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial e atingiu seu apogeu na chamada sociedade globalizada e de alto nível tecnológico em que alguns indivíduos vivem neste final do século O inglês hoje é a língua mais usada no mundo dos negócios e em alguns países como Holanda Suécia e Finlândia seu domínio é praticamente universal nas universidades É possível antever que no futuro outras línguas desempenhem esse papel Devese considerar também o papel do espanhol cuja importância cresce em função do aumento das trocas econômicas entre as nações que integram o Mercado das Nações do Cone Sul Mercosul Esse é um fenômeno típico da história recente do Brasil que apesar da proximidade geográfica com países de fala espanhola se mantinha impermeável à penetração do espanhol Fatores relativos às comunidades locais A convivência entre comunidades locais e imigrantes ou indígenas pode ser um critério para a inclusão de determinada língua no currículo escolar Justificase pelas relações envolvidas nessa convivência as relações culturais afetivas e de parentesco Por outro lado em comunidades indígenas e em comunidades de surdos nas quais a língua materna não é o português justificase o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua Fatores relativos à tradição O papel que determinadas línguas estrangeiras tradicionalmente desempenham nas relações culturais entre os países pode ser um fator a ser considerado O francês por exemplo desempenhou e desempenha importante papel do ponto de vista das trocas culturais entre o Brasil e a França e como instrumental de acesso ao conhecimento de toda uma geração de brasileiros UMA SÍNTESE DA SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL Esta síntese não representa a situação total pela dificuldade de se obter dados representativos da situação nacional como um todo O quadro que se segue decorre de dados obtidos a partir da análise das propostas elaboradas por equipes designadas por Secretarias Estaduais de Educação de oito estados de quatro regiões brasileiras No entanto é possível em função do conhecimento que se tem da área estender essas considerações gerais à situação dominante no país A primeira observação a ser feita é que o ensino de Língua Estrangeira não é visto como elemento importante na formação do aluno como um direito que lhe deve ser assegurado Ao contrário freqüentemente essa disciplina não tem lugar privilegiado no currículo sendo ministrada em algumas regiões em apenas uma ou duas séries do ensino fundamental Em outras tem o status de simples atividade sem caráter de promoção ou reprovação Em alguns estados ainda a Língua Estrangeira é colocada fora da grade curricular em Centros de Línguas fora do horário regular e fora da escola Fora portanto do contexto da educação global do aluno Quanto aos objetivos a maioria das propostas priorizam o desenvolvimento da habilidade de compreensão escrita mas essa opção não parece decorrer de uma análise de necessidades dos alunos nem de uma concepção explícita da natureza da linguagem e do processo de ensino e aprendizagem de línguas tampouco de sua função social Evidenciase a falta de clareza nas contradições entre a opção priorizada e os conteúdos e atividades sugeridos Essas contradições aparecem também no que diz respeito à abordagem escolhida A maioria das propostas situamse na abordagem comunicativa de ensino de línguas mas os exercícios propostos em geral exploram pontos ou estruturas gramaticais descontextualizados A concepção de avaliação no entanto contempla aspectos formativos que parecem adequados Todas as propostas apontam para as circunstâncias difíceis em que se dá o ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira falta de materiais adequados classes excessivamente numerosas número reduzido de aulas por semana tempo insuficiente dedicado à matéria no currículo e ausência de ações formativas contínuas junto ao corpo docente ASPECTOS CENTRAIS NO DOCUMENTO Os temas centrais nesta proposta são a cidadania a consciência crítica em relação à linguagem e os aspectos sociopolíticos da aprendizagem de Língua Estrangeira Eles se articulam com os temas transversais notadamente pela possibilidade de se usar a aprendizagem de línguas como espaço para se compreender na escola as várias maneiras de se viver a experiência humana Para a viabilização desses temas no documento é essencial caracterizar duas questões teóricas de base uma determinada visão da linguagem isto é sua natureza sociointeracional o processo de aprendizagem entendido como sociointeracional Esses dois pilares são essenciais na sustentação do processo de ensinar e aprender línguas uma visão teórica da linguagem e da aprendizagem CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ENSINO LÍNGUA ESTRANGEIRA Aprender línguas significa aprender conhecimento e seu uso Diferentemente do que ocorre em outras disciplinas do currículo na aprendizagem de línguas o que se tem a aprender é também imediatamente o uso do conhecimento ou seja o que se aprende e o seu uso devem vir juntos no processo de ensinar e aprender línguas Assim caracterizar o objeto de ensino significa caracterizar os conhecimentos e os usos que as pessoas fazem deles ao agirem na sociedade Portanto ao ensinar uma língua estrangeira é essencial uma compreensão teórica do que é a linguagem tanto do ponto de vista dos conhecimentos necessários para usála quanto em relação ao uso que fazem desses conhecimentos para construir significados no mundo social A natureza sociointeracional da linguagem O uso da linguagem tanto verbal quanto visual é essencialmente determinado pela sua natureza sociointeracional pois quem a usa considera aquele a quem se dirige ou quem produziu um enunciado Todo significado é dialógico isto é é construído pelos participantes do discurso6 Além disso todo encontro interacional é crucialmente marcado pelo mundo social que o envolve pela instituição pela cultura e pela história Isso quer dizer que os eventos interacionais não ocorrem em um vácuo social Ao contrário ao se envolverem em uma interação tanto escrita quanto oral as pessoas o fazem para agirem no mundo social em um determinado momento e espaço em relação a quem se dirigem ou a quem se dirigiu a elas É nesse sentido que a construção do significado é social As marcas que definem as identidades sociais como pobres ricos mulheres homens negros brancos homossexuais heterossexuais idosos jovens portadores de necessidades especiais falantes de variedades estigmatizadas ou não falantes de línguas de prestígio social ou não etc são intrínsecas na determinação de como as pessoas podem agir no discurso ou como os outros podem agir em relação a elas nas várias interações orais e escritas das quais participam Vale dizer que o exercício do poder no discurso e o de resistência a ele são típicos dos encontros interacionais que se vivem no diaadia Quem usa a linguagem com alguém o faz de algum lugar determinado social e historicamente Assim os significados construídos no mundo social refletem os embates discursivos7 6 Discurso é uma concepção de linguagem como prática social por meio da qual as pessoas agem no mundo considerandose as condições não só de produção como também de interpretação 7 Embates discursivos são caracterizados pela confrontação entre discursos que veiculam percepções crenças visões de mundo ideologias diferentes etc aumentar o conhecimento sobre linguagem que o aluno construiu sobre sua língua materna por meio de comparações com a língua estrangeira em vários níveis possibilitar que o aluno ao se envolver nos processos de construir significados nessa língua se constitua em um ser discursivo no uso de uma língua estrangeira Os conhecimentos sistêmico de mundo e da organização textual Para que o processo de construção de significados de natureza sociointeracional seja possível as pessoas utilizam três tipos de conhecimento conhecimento sistêmico conhecimento de mundo e conhecimento da organização dos textos Esses conhecimentos compõem a competência comunicativa do aluno e o preparam para o engajamento discursivo O CONHECIMENTO SISTÊMICO O conhecimento sistêmico envolve os vários níveis da organização linguística que as pessoas têm os conhecimentos léxicosemânticos⁹ morfológicos sintáticos e fonéticofonológicos Ele possibilita que as pessoas ao produzirem enunciados façam escolhas gramaticalmente adequadas ou que compreendam enunciados apoiandose no nível sistêmico da língua Como exemplo consideremse as seguintes escolhas oferecidas pela língua portuguesa a escolha dos morfemas o e s que indicam o gênero masculino e plural respectivamente para se referir a Pedro e Paulo como meninos em oposição a Sônia e Beatriz como meninas a escolha do item lexical mulher para se referir a um ser do gênero feminino a escolha de uma organização sintática na voz ativa para indicar quem praticou uma ação a escolha de uma representação fonológica de um morfema por exemplo a para indicar um morfema de gênero feminino Outras línguas oferecem outras escolhas decorrentes de seus sistemas linguísticos O CONHECIMENTO DE MUNDO O conhecimento de mundo se refere ao conhecimento convencional que as pessoas têm sobre as coisas do mundo isto é seu préconhecimento do mundo Ficam armazenados ⁹O nível léxicosemântico se refere à organização linguística em relação às palavras de que uma língua dispõe como também em relação às redes de significado das quais essas palavras participam na memória das pessoas conhecimentos sobre várias coisas e ações por exemplo festas de aniversário casamentos oficinas de conserto de carros postos de gasolina concertos musicais etc conhecimentos construídos ao longo de suas experiências de vida Esses conhecimentos organizados na memória em blocos de informação variam de pessoa para pessoa pois refletem as experiências que tiveram os livros que leram os países onde vivem etc Podese contudo imaginar que algumas pessoas que tenham a mesma profissão professores por exemplo tenham mais conhecimentos de mundo em comum do que aquelas que exerçam outra profissão É esse tipo de conhecimento que permite a uma pessoa que vive no norte do Brasil por exemplo compreender o enunciado Ele prefere ouvir boidematraca enquanto alguém do sul sem conhecimento sobre os tipos de grupo de bumbameuboi pode não conseguir fazêlo Da mesma forma a ausência de conhecimento de mundo adequado pode constituir dificuldade para um profissional da área de química por exemplo compreender um texto escrito em sua língua materna sobre o ensino de línguas por lhe faltar conhecimento específico sobre essa área de conhecimento embora não tenha nenhuma dificuldade com aspectos do texto relacionados ao conhecimento sistêmico Do mesmo modo para o aluno de Língua Estrangeira ausência de conhecimento de mundo pode apresentar grande dificuldade no engajamento discursivo principalmente se não dominar o conhecimento sistêmico na interação oral ou escrita na qual estiver envolvido Por exemplo a dificuldade para entender a fala de alguém sobre um assunto que desconheça pode ser maior se o aluno tiver problemas com o vocabulário usado eou com a sintaxe Por outro lado essa dificuldade será diminuída se o assunto já for do conhecimento do aluno Além disso não é comum vincularse a práticas interacionais orais e escritas que não sejam significativas e motivadoras para o engajamento discursivo Em Língua Estrangeira o problema do conhecimento de mundo referente ao assunto de que se fale ou sobre o qual se leia ou escreva pode também ser complicado caso seja culturalmente distante do aluno Por exemplo consideremse as dificuldades que um aluno iniciante brasileiro de francês pouco familiarizado com a cultura francesa enfrentaria para ler um texto que descrevesse o ritual que envolve uma refeição tradicional na França ou o funcionamento do metrô de Paris na hora de maior movimento Ao mesmo tempo é esse tipo de conhecimento que pode com o desenvolvimento da aprendizagem no nível sistêmico colaborar no aprimoramento conceptual do aluno ao expôlo a outras visões do mundo a outros modos de viver a vida social e política à possibilidade de reconhecer outras experiências humanas diferentes como válidas etc dos quais se participa com base nas posições ocupadas em certos momentos da história e em espaços culturais e institucionais específicos Em outras palavras os projetos políticos as crenças e os valores dos participantes do discurso são intrínsecos aos processos de uso da linguagem Daí os movimentos de organização política de certos grupos sociais os semterra mulheres negros etc que pretendem resistir a formas de tratamento social que não lhes garantam igualdade É importante perceber que essas formas por serem construídas no discurso podem também ser destruídas e reconstruídas em outras bases A consciência desses processos é o primeiro passo na construção de uma sociedade mais igualitária A relação entre língua estrangeira e língua materna na aprendizagem O processo sociointeracional de construir conhecimento linguístico e aprender a usálo já foi percorrido pelo aluno no desafio de aprender sua língua materna Ao chegar à quinta série a criança já é um falante competente de sua língua para os usos que se apresentam nas comunidades discursivas⁸ imediatas das quais participa em sua socialização em casa ou nas brincadeiras com os amigos fora de casa e em outras comunidades discursivas Essas outras comunidades podem exigir a aprendizagem de uma variedade da língua materna ou de padrões interacionais diferentes dos que teve acesso em casa por exemplo modos de interagir com outra pessoa em sala de aula Neste percurso o aluno já aprendeu usos da linguagem com os quais pode não ter se familiarizado em casa por exemplo na leitura e na produção de um texto escrito tendo também interiorizado sua natureza sociointeracional por exemplo ao aprender a considerar as marcas das identidades sociais idade gênero etc daqueles com quem fala em contextos sociais específicos e começado a construir conhecimento de natureza metalinguística nas aulas de língua materna Isso lhe possibilita pensar falar ler e escrever sobre sua própria língua Enfim o aluno já sabe muito sobre sua língua materna e sobre como usála ou seja sabe muito sobre linguagem Em linhas gerais o que a aprendizagem de uma Língua Estrangeira vai fazer é ⁸ Comunidades discursivas são os espaços sociais lar escola clube etc orientados por práticas sociais específicas de construção de significado dos quais se participa O CONHECIMENTO DA ORGANIZAÇÃO TEXTUAL O terceiro tipo de conhecimento que o usuário de uma língua tem engloba as rotinas interacionais que as pessoas usam para organizar a informação em textos orais e escritos Por exemplo para dar uma aula expositiva é necessário o conhecimento de como organizar a informação na interação que é de natureza diferente da organização da informação em uma conversa Em uma aula expositiva há toda uma preocupação em organizar a fala para a introdução ao assunto para seu desenvolvimento e sua conclusão para facilitar a compreensão do aluno Já em uma conversa informal essa preocupação não está presente Em geral os textos orais e escritos podem ser classificados em três tipos básicos narrativos descritivos e argumentativos Isso não quer dizer porém que os textos narrativos não tenham elementos descritivos ou que os argumentativos não tenham elementos narrativos Esses três tipos básicos são usados na organização de vários outros tipos de textos que têm funções diferentes na prática social textos literários poema romance etc textos pedagógicos material didático para ensinar espanhol aula expositiva etc textos científicos relatório de pesquisa trabalho publicado em revista científica etc textos epistolares carta pessoal carta de negócio etc textos de propagandas anúncio para vender uma TV entrevistas debates etc Assim dependendo do alvo a ser atingindo o autor escolherá um ou outro tipo de texto O conhecimento sobre a organização de textos orais e escritos pode ser chamado também de intertextual e é de natureza convencional Devese notar também que usuários de línguas diferentes podem organizar textos escritos e orais de forma distinta Por exemplo mesmo em uma conversa informal em inglês não se admitem tantas interrupções e fracionamento dos tópicos quanto parecem ocorrer em uma conversa informal em português Da mesma forma um texto escrito em inglês não permite tantas digressões do tópico principal quanto um texto em português Esse conhecimento intertextual que têm os usuários de uma língua é também acionado por leitores e ouvintes na tarefa de compreensão Estes sabem que ao se depararem com uma história por exemplo devem esperar um determinado tipo de organização da informação Em português inglês espanhol francês alemão ou italiano os leitores ou ouvintes ao encontrarem no início de um texto os itens Era uma vez Once upon a time Había una vez Il était une fois Es war einmal ou Cera una volta já sabem que vão lerouvir uma história que normalmente terá a informação organizada em situação problema solução e avaliação Assim ao encontrarem uma situação os leitoresouvintes esperam encontrar o problema a seguir a solução e a avaliação Se uma dessas partes da organização textual não aparece na história lida ou contada o leitor ou o ouvinte 10 Rotinas interacionais se referem a convenções sobre a organização da informação em textos orais e escritos que as pessoas usam ao se envolverem na negociação do significado ao recontála tenderá a preenchêla adequadamente de modo a projetar coerência no texto A projeção dos conhecimentos na construção do significado São esses conhecimentos sistêmico de mundo e da organização de textos que falantes e escritores utilizam na construção do significado para atingirem suas propostas comunicativas apoiandose nas expectativas de seus interlocutores em relação ao que devem esperar no discurso Em contrapartida os interlocutores ouvintes e leitores projetam esses conhecimentos na construção do significado O processo de construção de significado resulta no modo como as pessoas realizam a linguagem no uso e é essencialmente determinado pelo momento que se vive a história e os espaços em que se atua contextos culturais e institucionais ou seja pelo modo como as pessoas agem por meio do discurso no mundo social o que foi chamado de a natureza sociointeracional da linguagem Assim os significados não estão nos textos são construídos pelos participantes do mundo social leitores escritores ouvintes e falantes Os conhecimentos sistêmicos de mundo e de organização textual e o processo de ensinar e aprender Língua Estrangeira Um dos procedimentos básicos de qualquer processo de aprendizagem é o relacionamento que o aluno faz do que quer aprender com aquilo que já sabe Isso quer dizer que um dos processos centrais de construir conhecimento é baseado no conhecimento que o aluno já tem a projeção dos conhecimentos que já possui no conhecimento novo na tentativa de se aproximar do que vai aprender No que se refere aos conhecimentos que o aluno tem de adquirir em relação à língua estrangeira ele irá se apoiar nos conhecimentos correspondentes que tem e nos usos que faz deles como usuário de sua língua materna em textos orais e escritos Essa estratégia de correlacionar os conhecimentos novos da língua estrangeira e os conhecimentos que já possui de sua língua materna é uma parte importante do processo de ensinar e aprender a Língua Estrangeira Tanto que uma das estratégias típicas usadas por aprendizes é exatamente a transferência do que sabe como usuário de sua língua materna para a língua estrangeira Em relação ao conhecimento sistêmico o aluno vai encontrar pontos de convergências e divergências entre a língua materna e a língua estrangeira nos vários níveis de organização linguística É claro que dependendo da estrutura e organização da língua estrangeira haverá mais semelhança entre o português e uma língua estrangeira específica do que entre outras Assim podese dizer que o português o espanhol o francês ou o inglês são tipologicamente mais próximos do que o português e o japonês De qualquer modo uma parte importante do que o aluno precisa aprender está relacionada ao conhecimento sistêmico embora essa aprendizagem possa ser facilitada ao se apoiar principalmente no início da aprendizagem nas convergências entre o que o aluno já sabe do conhecimento sistêmico de sua língua materna e a língua estrangeira Isso vai facilitar o engajamento do aluno com o discurso o que se prioriza nesta proposta Podese dizer também que uma maneira de facilitar a aprendizagem do conhecimento sistêmico e colaborar para o engajamento discursivo da parte do aluno é exatamente fazêlo se apoiar em textos orais e escritos que tratam de conhecimento de mundo com o qual já esteja familiarizado Assim para ensinar um aluno a se envolver no discurso em uma língua estrangeira aquilo do que trata a interação deve ser algo com o qual já esteja familiarizado Isso pode ajudar a compensar a ausência de conhecimento sistêmico da parte do aluno além de fazêlo sentirse mais seguro para começar a arriscarse na língua estrangeira O conhecimento de mundo referido nos textos pode ser ampliado com o passar do tempo e incluir questões novas para o aluno de modo a alargar seus horizontes conceptuais o que aliás é uma das grandes contribuições da aprendizagem de Língua Estrangeira Quanto ao conhecimento da organização de textos orais e escritos o aluno pode se apoiar também nos tipos de texto que já conhece como usuário de sua língua materna Por exemplo em uma aula de leitura para alunos de quinta série a utilização de narrativas um tipo de texto com o qual as crianças já estão bem familiarizadas poderá também colaborar para o envolvimento do aluno com o discurso no processo de aprender Com o desenvolvimento da aprendizagem o aluno será exposto a novas maneiras de organizar textos orais e escritos entrevistas matérias jornalísticas verbetes de enciclopédia conversas radiofônicas etc A consciência desses tipos de conhecimento pelo aluno é o que será chamado aqui de consciência lingüística que além de ampliar o conhecimento que o aluno tem sobre o fenômeno lingüístico isto é incluindo a percepção de sua língua materna tem um alto valor na aprendizagem de Língua Estrangeira devido à sua natureza metacognitiva Consciência lingüística se refere à conscientização da organização lingüística em vários níveis fonéticofonológico morfológico sintático léxicosemântico e textual A natureza metacognitiva da aprendizagem se refere à possibilidade de se usar estratégias de monitoração ou o controle da aprendizagem que facilitam o processo As pesquisas indicam que quando os alunos controlam a aprendizagem têm mais sucesso nesse processo Os usos dos conhecimentos e o processo de aprender e ensinar Língua Estrangeira Os usos dos conhecimentos sistêmicos de mundo e da organização de textos na construção do significado também é parte do que o aluno já está acostumado a fazer como usuário de sua língua materna Por exemplo no nível sistêmico o aluno já sabe que a construção de significados envolve o estabelecimento de elos coesivos como a procura dos referentes Desta forma ao se deparar com o pronome ele em português sabe que tem de procurar anteriormente no texto um referente do gênero masculino um antecedente para estabelecer o elo coesivo Do mesmo modo ao encontrar um conectivo o aluno já sabe que ele indica como uma sequência deve ser interpretada em relação à seqüência que veio antes O item porque normalmente prepara o usuário para esperar a causa do que foi dito anteriormente no nível de conhecimento de mundo o aluno já sabe que tem de projetar no texto o préconhecimento adequado para construir o significado na busca da coerência do texto Para compreender uma interação sobre uma partida de futebol o aluno já sabe que terá de projetar seu conhecimento sobre o que acontece no jogo Na verdade quem fala já conta com esse préconhecimento da parte do ouvinte de modo que não terá de explicitar quando se tem que cobrar um pênalti no nível do conhecimento referente à organização dos textos o aluno já sabe como usuário de sua língua materna que ao ler uma carta na coluna de carta dos leitores de um jornal vai encontrar leitores se dirigindo ao editor reclamando ou apoiando alguma matéria publicada Esses usos em Língua Estrangeira têm de ser trazidos à mente do aluno posto que freqüentemente ele não tem consciência deles como usuário em sua língua materna É nesse sentido explorando aspectos metacognitivos da aprendizagem que a aprendizagem da Língua Estrangeira pode ajudar na educação lingüística do aluno como um todo aumentando sua consciência do fenômeno lingüístico e no aprimoramento de seu nível de letramento Devese considerar ainda que a consciência crítica de como as pessoas usam estes tipos de conhecimento traz para o aluno a percepção da linguagem como fenômeno social o que é caracterizado aqui como a natureza sociointeracional da linguagem Quando alguém usa a linguagem o faz de algum lugar localizado na história na cultura e na instituição definido nas múltiplas marcas de sua identidade social13 e à luz de seus projetos políticos valores e crenças Esta questão será retomada no item em que se trata dos temas transversais 13 Entendese contudo que as identidades sociais são dinâmicas e contraditórias posto que construídas nas práticas discursivas das quais as pessoas participam Por exemplo uma mulher pode se submeter a um marido autoritário em casa e ter um papel autoritário como professsora na escola PAPEL DA ÁREA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO ENSINO FUNDAMENTAL DIANTE DA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA Lei de Diretrizes e Bases e Língua Estrangeira A questão do ensino de Língua Estrangeira na escola particularmente na escola pública tem sido amplamente discutida nos meios acadêmicos e educacionais Foi também objeto de manifestos de profissionais da área em reuniões científicas e de representações ao Congresso Nacional Até bem pouco tempo atrás a discussão era para se garantir a permanência dessa disciplina no currículo Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no entanto que prevê Língua Estrangeira como disciplina obrigatória no ensino fundamental a partir da quinta série a discussão não necessita mais ser defensiva Pode sim concentrarse nos aspectos educacionais de fundo da questão pois entendese que dentro das possibilidades da instituição se refere à escolha da língua a cargo da comunidade e não à inclusão de uma língua estrangeira já que o ensino desta deve ser obrigatório no currículo escolar Perspectiva educacional Embora nas considerações preliminares já se tenha feito menção ao papel educacional de Língua Estrangeira no currículo do ensino fundamental cabe enfatizar aqui esse aspecto A aprendizagem de Língua Estrangeira contribui para o processo educacional como um todo indo muito além da aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas Leva a uma nova percepção da natureza da linguagem aumenta a compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve maior consciência do funcionamento da própria língua materna Ao mesmo tempo ao promover uma apreciação dos costumes e valores de outras culturas contribui para desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão das culturas estrangeiras O desenvolvimento da habilidade de entenderdizer o que outras pessoas em outros países diriam em determinadas situações leva portanto à compreensão tanto das culturas estrangeiras quanto da cultura materna Essa compreensão intercultural promove ainda a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento Há ainda outro aspecto a ser considerado do ponto de vista educacional É a função interdisciplinar que a aprendizagem de Língua Estrangeira pode desempenhar no currículo O benefício resultante é mútuo O estudo das outras disciplinas notadamente de História Geografia Ciências Naturais Arte passa a ter outro significado se em certos momentos forem proporcionadas atividades conjugadas com o ensino de Língua Estrangeira levandose em consideração é claro o projeto educacional da escola Essa é uma maneira de viabilizar na prática de sala de aula a relação entre língua estrangeira e o mundo social isto é como fazer uso da linguagem para agir no mundo social A aprendizagem de Língua Estrangeira no ensino fundamental não é só um exercício intelectual em aprendizagem de formas e estruturas linguísticas em um código diferente é sim uma experiência de vida pois amplia as possibilidades de se agir discursivamente no mundo O papel educacional da Língua Estrangeira é importante desse modo para o desenvolvimento integral do indivíduo devendo seu ensino proporcionar ao aluno essa nova experiência de vida Experiência que deveria significar uma abertura para o mundo tanto o mundo próximo fora de si mesmo quanto o mundo distante em outras culturas Assim contribuise para a construção e para o cultivo pelo aluno de uma competência não só no uso de línguas estrangeiras mas também na compreensão de outras culturas Perspectives pragmática Embora predomine a sociedade industrial cada vez mais se acredita em uma economia baseada na criação e na distribuição da informação uma sociedade mais informatizada Não é mais possível no final do milênio operar em um sistema econômico nacional isolado e supostamente autosuficiente É preciso reconhecer cada sociedade como parte de uma economia global em que a informação pode ser partilhada instantaneamente mas que exige uma rápida restructuração da organização social para que se possa ter acesso a essa informação Essas características do mundo moderno têm por certo implicações importantes para o processo educacional como um todo e particularmente para o ensino de línguas na escola Se essas megatendências forem descrições exatas do panorama futuro é importante que se considere como preparar os jovens para responderem às exigências do novo mundo No que se refere ao ensino de línguas a questão tornase da maior relevância Para ser um participante atuante é preciso ser capaz de se comunicar E ser capaz de se comunicar não apenas na língua materna mas também em uma ou mais línguas estrangeiras O desenvolvimento de habilidades comunicativas em mais de uma língua é fundamental para o acesso à sociedade da informação Para que as pessoas tenham acesso mais igualitário ao mundo acadêmico ao mundo dos negócios e ao mundo da tecnologia etc é indispensável que o ensino de Língua Estrangeira seja entendido e concretizado como o ensino que oferece instrumentos indispensáveis de trabalho Linguagem é o meio pelo qual uma vasta gama de relações são expressas e é indiscutível o papel que ela desempenha na compreensão mútua na promoção de relações políticas e comerciais no desenvolvimento de recursos humanos O reverso da medalha no entanto é que ao mesmo tempo em que pode desempenhar esse papel de promotor de progresso e desenvolvimento a linguagem pode afetar as relações entre grupos diferentes em um país valorizando as habilidades de alguns grupos e desvalorizando as de outros Internamente pode servir como fonte poderosa e símbolo tanto de coesão como de divisão Externamente pode servir como instrumento de elitização que capacita algumas pessoas a ter acesso ao mundo exterior ao mesmo tempo em que nega esse acesso a outras No plano internacional situação semelhante se configura O que diz respeito à situação de indivíduos dentro de um país aplicase à situação de países dentro da comunidade internacional Se a tendência do mundo de hoje para o futuro é a dependência cada vez maior na troca de informação a linguagem e as línguas estão no cerne da questão quem controla a informação Língua Estrangeira como libertação Cabe aqui recorrer ao conceito freireano de educação como força libertadora aplicandoo ao ensino de Língua Estrangeira Uma ou mais línguas estrangeiras que concorrem para o desenvolvimento individual e nacional podem ser também entendidas como força libertadora tanto em termos culturais quanto profissionais Essa força faz as pessoas aprenderem a escolher entre possibilidades que se apresentam Mas para isso é necessário ter olhos esclarecidos para ver Isso significa também despojarse de qualquer tipo de falso nacionalismo que pode ser um empecilho para o desenvolvimento pleno do cidadão no seu espaço social imediato e no mundo A aprendizagem de Língua Estrangeira aguça a percepção e ao abrir a porta para o mundo não só propicia acesso à informação mas também torna os indivíduos e conseqüentemente os países mais bem conhecidos pelo mundo Essa é uma visão de ensino de Língua Estrangeira como força libertadora de indivíduos e de países Esse conceito tem sido bastante discutido também no âmbito de ensino da língua materna Podese considerar o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a linguagem como parte dessa visão linguística como libertação O inglês como língua estrangeira hegemônica Questões como poder e desigualdade são centrais no ensino e aprendizagem de línguas particularmente no contexto de Língua Estrangeira Tem sido preocupação freqüente de estudiosos da linguagem notadamente no que se refere à situação de dominação do inglês como segunda língua e mesmo como Língua Estrangeira A posição do inglês nos campos dos negócios da cultura popular e das relações acadêmicas uma maneira de viabilizar na prática de sala de aula a relação entre língua estrangeira e o mundo social isto é como fazer uso da linguagem para agir no mundo social A aprendizagem de Língua Estrangeira no ensino fundamental não é só um exercício intelectual em aprendizagem de formas e estruturas linguísticas em um código diferente é sim uma experiência de vida pois amplia as possibilidades de se agir discursivamente no mundo O papel educacional da Língua Estrangeira é importante desse modo para o desenvolvimento integral do indivíduo devendo seu ensino proporcionar ao aluno essa nova experiência de vida Experiência que deveria significar uma abertura para o mundo tanto o mundo próximo fora de si mesmo quanto o mundo distante em outras culturas Assim contribuise para a construção e para o cultivo pelo aluno de uma competência não só no uso de línguas estrangeiras mas também na compreensão de outras culturas Perspectiva pragmática Embora predomine a sociedade industrial cada vez mais se acredita em uma economia baseada na criação e na distribuição da informação uma sociedade mais informatizada Não é mais possível no final do milênio operar em um sistema econômico nacional isolado e supostamente autosuficiente É preciso reconhecer cada sociedade como parte de uma economia global em que a informação pode ser partilhada instantaneamente mas que exige uma rápida restructuração da organização social para que se possa ter acesso a essa informação Essas características do mundo moderno têm por certo implicações importantes para o processo educacional como um todo e particularmente para o ensino de línguas na escola Se essas megatendências forem descrições exatas do panorama futuro é importante que se considere como preparar os jovens para responderem às exigências do novo mundo No que se refere ao ensino de línguas a questão tornase da maior relevância Para ser um participante atuante é preciso ser capaz de se comunicar E ser capaz de se comunicar não apenas na língua materna mas também em uma ou mais línguas estrangeiras O desenvolvimento de habilidades comunicativas em mais de uma língua é fundamental para o acesso à sociedade da informação Para que as pessoas tenham acesso mais igualitário ao mundo acadêmico ao mundo dos negócios e ao mundo da tecnologia etc é indispensável que o ensino de Língua Estrangeira seja entendido e concretizado como o ensino que oferece instrumentos indispensáveis de trabalho Língua Estrangeira e exclusão social A linguagem é o meio pelo qual uma vasta gama de relações são expressas e é PAPEL DA ÁREA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO ENSINO FUNDAMENTAL DIANTE DA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA Lei de Diretrizes e Bases e Língua Estrangeira A questão do ensino de Língua Estrangeira na escola particularmente na escola pública tem sido amplamente discutida nos meios acadêmicos e educacionais Foi também objeto de manifestos de profissionais da área em reuniões científicas e de representações ao Congresso Nacional Até bem pouco tempo atrás a discussão era para se garantir a permanência dessa disciplina no currículo Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no entanto que prevê Língua Estrangeira como disciplina obrigatória no ensino fundamental a partir da quinta série a discussão não necessita mais ser defensiva Pode sim concentrarse nos aspectos educacionais de fundo da questão pois entendese que dentro das possibilidades da instituição se refere à escolha da língua a cargo da comunidade e não à inclusão de uma língua estrangeira já que o ensino desta deve ser obrigatório no currículo escolar Perspectiva educacional Embora nas considerações preliminares já se tenha feito menção ao papel educacional de Língua Estrangeira no currículo do ensino fundamental cabe enfatizar aqui esse aspecto A aprendizagem de Língua Estrangeira contribui para o processo educacional como um todo indo muito além da aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas Leva a uma nova percepção da natureza da linguagem aumenta a compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve maior consciência do funcionamento da própria língua materna Ao mesmo tempo ao promover uma apreciação dos costumes e valores de outras culturas contribui para desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão das culturas estrangeiras O desenvolvimento da habilidade de entenderdizer o que outras pessoas em outros países diriam em determinadas situações leva portanto à compreensão tanto das culturas estrangeiras quanto da cultura materna Essa compreensão intercultural promove ainda a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento Há ainda outro aspecto a ser considerado do ponto de vista educacional É a função interdisciplinar que a aprendizagem de Língua Estrangeira pode desempenhar no currículo O benefício resultante é mútuo O estudo das outras disciplinas notadamente de História Geografia Ciências Naturais Arte passa a ter outro significado se em certos momentos forem proporcionadas atividades conjugadas com o ensino de Língua Estrangeira levandose em consideração é claro o projeto educacional da escola Essa é internacionais colocao como a língua do poder econômico e dos interesses de classes constituindose em possível ameaça para outras línguas e em guardião de posições de prestígio na sociedade Por outro lado há a posição dos que olham a cultura como um processo em constante negociação neste momento realizado em condições políticoculturais de interrelacionamento global Isso se torna particularmente importante agora quando as fronteiras tradicionais do mundo estão se abrindo Há de se evitar teorias totalizantes de reprodução social e cultural por exemplo visões de uma sociedade consumista global veiculadas por uma língua hegemônica como o inglês para se chegar a um paradigma crítico que reconheça o papel do ser humano na transformação da vida social Isso fará com que se atente não só para como as vidas das pessoas são reguladas pelo discurso mas também para como as pessoas resistem a essas visões totalizantes ao produzirem seus próprios discursos Nesse sentido a aprendizagem do inglês tendo em vista o seu papel hegemônico nas trocas internacionais desde que haja consciência crítica desse fato pode colaborar na formulação de contradiscursos14 em relação às desigualdades entre países e entre grupos sociais homens e mulheres brancos e negros falantes de línguas hegemônicas e nãohegemônicas etc Assim os indivíduos passam de meros consumidores passivos de cultura e de conhecimento a criadores ativos o uso de uma Língua Estrangeira é uma forma de agir no mundo para transformálo A ausência dessa consciência crítica no processo de ensino e aprendizagem de inglês no entanto influi na manutenção do status quo ao invés de cooperar para sua transformação A escolha de línguas estrangeiras para o currículo Há de se considerar critérios para definir que línguas estrangeiras devem ser incluídas no currículo É necessário se ponderar sobre a visão utópica de um mundo no qual o desejo idealista de um estado de coisas prevalece sobre uma avaliação mais realista daquilo que é possível Por um lado há de considerar o valor educacional e cultural das línguas derivado de objetivos tradicionais e intelectuais para a aprendizagem de Língua Estrangeira que conduzam a uma justificativa para o ensino de qualquer língua Por outro lado há de considerar as necessidades lingüísticas da sociedade e suas prioridades econômicas quanto a opções de línguas de significado econômico e geopolítico em um determinado momento histórico Isso reflete a atual posição do inglês e do espanhol no Brasil 14 Contradiscursos são práticas sociais de uso da linguagem caracterizadas pela confrontação de práticas discursivas hegemônicas por exemplo os contradiscursos dos negros em relação aos discursos dos brancos Língua Estrangeira e construção de cidadania A Língua Estrangeira no ensino fundamental tem um valioso papel construtivo como parte integrante da educação formal Envolve um complexo processo de reflexão sobre a realidade social política e econômica com valor intrínseco importante no processo de capacitação que leva à libertação Em outras palavras Língua Estrangeira no ensino fundamental é parte da construção da cidadania A RELAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER LÍNGUA ESTRANGEIRA COM OS TEMAS TRANSVERSAIS Ensino de Língua Estrangeira modo singular para focalizar a relação entre linguagem e sociedade A aprendizagem de Língua Estrangeira representa outra possibilidade de se agir no mundo pelo discurso além daquela que a língua materna oferece Da mesma forma que o ensino da língua materna o ensino de Língua Estrangeira incorpora a questão de como as pessoas agem na sociedade por meio da palavra construindo o mundo social a si mesmos e os outros à sua volta Portanto o ensino de línguas oferece um modo singular para tratar das relações entre a linguagem e o mundo social já que é o próprio discurso que constrói o mundo social A aprendizagem de Língua Estrangeira oferece acesso a como são construídos os temas propostos como transversais em práticas discursivas de outras sociedades É uma experiência de grande valor educacional posto que fornece os meios para os aprendizes se distanciarem desses temas ao examinálos por meio de discursos construídos em outros contextos sociais de modo a poderem pensar sobre eles criticamente no meio social em que vivem Assim os temas transversais que têm um foco claro em questões de interesse social podem ser facilmente trazidos para a sala de aula via Língua Estrangeira A análise das interações orais e escritas em sala de aula é um meio privilegiado para tratar dos temas transversais ao se enfocar as escolhas linguísticas que as pessoas fazem para agir no mundo social Isso pode ser feito tanto do ponto de vista das escolhas temáticas os conhecimentos de mundo acionados aquilo do que se fala sobre o que se escreve ou se lê quanto do ponto de vista das escolhas sistêmicas nos níveis sintático morfológico lexicosemântico fonéticofonológico e de organização textual tipos de texto e ainda da variação linguística como comunidades de falantes de regiões diferentes de um mesmo país variam no uso da língua por exemplo Um procedimento pedagógico útil para mostrar ao aluno que a linguagem é uma prática social ou seja envolve escolhas da parte de quem escreve ou fala para construir significados em relação a outras pessoas em contextos culturais históricos e institucionais específicos é submeter todo texto oral e escrito a sete perguntas quem escreveufalou sobre o que para quem para que quando de que forma onde Essas perguntas serão retomadas a seguir Escolhas temáticas Os temas transversais podem ser focalizados pela análise comparativa de como questões particulares são tratadas no Brasil e nos países onde as línguas estrangeiras são faladas como língua materna eou língua oficial Essas questões podem envolver tópicos como o respeito à ética nas relações cotidianas no trabalho e no meio político brasileiro a preocupação com a saúde a garantia de que todo cidadão brasileiro tenha direito ao trabalho a consciência dos perigos de uma sociedade que privilegia o consumo em detrimento das relações entre as pessoas o respeito aos direitos humanos aqui incluídos os culturais e os lingüísticos a preservação do meio ambiente a percepção do corpo como fonte de prazer a consciência da pluralidade de expressão da sexualidade humana a mudança no papel que a mulher desempenha na sociedade a organização política das minorias étnicas por exemplo os maoris na Nova Zelândia os quechuas no Peru os argelinos na França os ianomâmis no Brasil e na Venezuela e nãoétinicas por exemplo idosos portadores de necessidades especiais homossexuais falantes de uma variedade não hegemônica É claro que está implícita aqui a necessidade de que os textos abordem os temas transversais que podem ser tratados em níveis diferentes dependendo do préconhecimento de mundo sistêmico e de organização textual do aluno Isso não quer dizer contudo que esses temas só podem ser trazidos para a sala de aula quando o aluno tiver avançado nesses conhecimentos Podese por exemplo tratar da questão da posição da mulher na sociedade ou da preservação do meio ambiente em textos que envolvam pouco conhecimento sistêmico ou até que envolvam mais conhecimento desse tipo do que o aluno disponha Em outras palavras a questão crucial é o objetivo proposto para a realização da tarefa pedagógica levandose em conta a adequação do tema à idade do aluno e ao meio social em que vive Cabe aos professores exercerem seu sentido crítico na escolha do conteúdo tematizado A tematização da poluição em uma cidade como Nova York ou Madri contudo pode ser levantada não só em uma cidade grande como São Paulo mas também em outras cidades menores por meio da comparação com outros tipos de problemas ecológicos por exemplo a contaminação dos mananciais de onde vem a água potável de um lugarejo É nesse sentido que a aula de Língua Estrangeira pode aprimorar o conhecimento de mundo do aluno Notese também que as línguas estrangeiras dão acesso sobre o modo como certas questões sociais as ambientais por exemplo são tratadas em nível planetário Este posicionamento em relação às temáticas tratadas em sala de aula questiona o fenômeno do texto sobre a escova de dente15 tão comum em sala de aula de Língua 15 Esta metáfora se refere a textos que não tematizam explicitamente questões sociais Estrangeira que desloca a linguagem do mundo social A temática de um texto sobre uma escova de dente não situa imediatamente a linguagem como um fenômeno social já que o engajamento discursivo pela motivação temática não está patente a menos que esse texto seja tratado em sala de aula em um contexto interacional que o faça valer como prática social como será mostrado a seguir Comparese o texto sobre uma escova de dente com outros que problematizem as questões que se vivenciam no mundo social a ética na política as dificuldades cada vez maiores de se conseguir emprego a importância de se utilizar práticas preventivas na vida sexual o respeito aos direitos de todos os cidadãos sem distinção de gênero etnia ou opção sexual etc O engajamento discursivo aqui é imediato tendo em vista as temáticas sugerirem a vida social de forma explícita Continuandose com o mesmo fenômeno do texto sobre escova de dente podese dizer contudo que o uso em sala de aula de propagandas de diferentes tipos de escova de dente pode situar os participantes discursivos fazendo algo no mundo social por meio da linguagem por exemplo vendendo um produto utilizando uma propaganda se for tratado como tal É nesse sentido que as sete perguntas anteriormente sugeridas podem ser utilizadas em sala de aula quem elaborou a propaganda uma agência homem mulher etc do que trata um tipo de escova de dente nova para quem uma escova tão sofisticada que só poderá ser comprada por quem tem dinheiro uma escova dobrável para caber em bolso de homens etc quando uma propaganda elaborada em uma determinada época quando não havia muita sofisticação nos tipos de escova de dente quando o desenvolvimento tecnológico era menor etc de que forma o texto conta uma historinha apresenta um diálogo é ilustrado etc onde foi publicado em um revista de jovens de mulheres etc para que qual é o resultado da propaganda nos receptores A questão central portanto é a visão de linguagem que subjaz à prática do professor e como ela é viabilizada por meio da metodologia de ensino ESCOLHAS DE ORGANIZAÇÃO TEXTUAL A utilização em sala de aula de tipos de textos diferentes além de contribuir para o aumento do conhecimento intertextual do aluno pode mostrar claramente que os textos são usados para propósitos diferentes na sociedade Por exemplo a comparação de um texto publicado em um editorial de um jornal do movimento de defesa dos direitos dos argelinos na França de afroamericanos nos Estados Unidos ou dos indígenas no México com um editorial de um jornal conservador desses países sobre o mesmo assunto e ainda com uma história contada por um indivíduo desses grupos sociais sobre sua vida pode situar para os alunos o fato de que ao agirem no discurso por meio da linguagem as pessoas fazem escolhas de organização textuais na dependência de seus propósitos comunicativos no mundo Esses significados refletem suas visões de mundo projetos políticos etc É claro que será útil também comparar esses textos com um outro da mesma natureza temática e de tipo publicado em um jornal brasileiro por exemplo Esse trabalho de natureza intercultural pode evidenciar como a organização política na luta pela emancipação de minorias étnicas tem sido concretizada em outros países e no Brasil ESCOLHAS SISTÊMICAS Colocar o foco nas escolhas sistêmicas feitas por participantes discursivos específicos em línguas estrangeiras particulares pode ajudar a chamar a atenção para a maneira como a representação discursiva do mundo social é feita em línguas diferentes Por exemplo a análise de textos acadêmicos em inglês nos quais os usuários excluem cada vez mais o item lexical manhomem em seu uso genérico tanto na língua escrita quanto na língua oral por exemplo O homem do final do século XX deverá ter um alto nível de letramento em sua língua materna e pelo menos em uma língua estrangeira preferindo itens como o humanbeingser humano personpessoa etc Da mesma forma podese analisar textos em inglês em que a referência pronominal de uma palavra não claramente marcada pelo gênero como teacherprofessor tende a ser cada vez mais feita por pronomes que marcam tanto o gênero masculino quanto feminino por exemplo heshe eleela ou até formas do tipo she elea Esses dois exemplos ilustram como a luta da mulher por sua emancipação tem afetado a representação discursiva Outra questão importante é observar como alguns itens lexicais são escolhidos para se referir às minorias ou a pessoas em situação de desigualdade os negros os gaysas lésbicas as mulheres os indígenas os imigrantes os mendigos etc em certo tipo de imprensa Os tablóides ingleses por exemplo são cheios de representações sociais negativas dessas pessoas A comparação com as manchetes da imprensa marrom brasileira16 pode ser muito reveladora É interessante ressaltar as contradições sociais refletidas nos discursos de uma mesma língua a representação discursiva da emancipação da mulher em algumas formas de discurso em inglês coexiste paralelamente com outras representações negativas da mulher e das minorias Essa visão é extremamente útil para se perceber as culturas como sendo múltiplas e plurais e espaços de conflitos A análise das marcas discursivas leva para o centro da sala de aula uma posição em relação à cultura de língua estrangeira totalmente diferente da visão tradicional que a representa como sendo unívoca e não plural pasteurizadaidealizada e não real 16 Embora as manchetes dos tablóides ingleses e da imprensa marrom brasileira mais obviamente ilustrem esta questão os textos e as manchetes da grande imprensa frequentemente de forma implícita e portanto até mais perniciosa também revelam representações negativas das minorias e podem ser usados em sala de aula Um outro ponto que pode ser focalizado são as escolhas no nível da sintaxe por exemplo a questão da transitividade Chamar a atenção do aluno para o fato de que ao elaborar a manchete de um jornal o jornalista que escolhe usar uma passiva tira o foco de atenção de quem é o causador de um fato e focaliza a ação Por exemplo dizer que um indígena foi assassinado é diferente de indicar quem o assassinou A consciência crítica17 de como a linguagem é usada no mundo social pode ser bem desenvolvida em Língua Estrangeira devido ao distanciamento que ela oferece possibilitando um estranhamento mais fácil em relação ao modo como as pessoas usam a linguagem na sociedade Ao mesmo tempo que isso traz para o centro do currículo a relação da linguagem com o mundo social constitui um modo de integrar os temas transversais com a área de Língua Estrangeira Além disso a consciência crítica em relação à linguagem possibilita o surgimento de novas práticas sociais por meio da criação de espaços na escola para a construção de contradiscursos VARIAÇÃO LINGUÍSTICA A questão da variação lingüística em Língua Estrangeira pode ajudar não só a compreensão do fenômeno lingüístico da variação na própria língua materna como também do fato de que a língua estrangeira não existe só na variedade padrão conforme a escola normalmente apresenta Aqui não é suficiente mostrar a relação entre grupos sociais diferentes regionais de classe social profissionais de gênero etc e suas realizações lingüísticas é necessário também indicar que as variações lingüísticas marcam as pessoas de modo a posicionálas no discurso o que pode muitas vezes excluílas de certos bens materiais e culturais É útil apresentar para o aluno por exemplo como a variedade do inglês falado pelos negros americanos é discriminada na sociedade e portanto como estes equivocadamente são posicionados no discurso como inferiores A comparação com variedades não hegemônicas do português brasileiro pode ser esclarecedora já que seus falantes também sofrem discriminação social Isso quer dizer que algumas variedades lingüísticas têm mais prestígio social do que outras Para ilustrar este fato basta comparar o valor dado a variedades rurais e variedades urbanas nas trocas interacionais urbanas Comparar falantes dessas duas variedades em uma situação em que estão se 17 Consciência crítica da linguagem tem a ver com a consciência de como as pessoas usam a linguagem para agirem no mundo social a partir de seus projetos políticos e da representação que fazem dos seus interlocutores branco rico patrão homem heterosexual falante de uma variedade hegemônica etc candidatando a um emprego na cidade pode esclarecer para o aluno como as variedades lingüísticas entre outros fatores que revelam sua identidade social classe social etnia gênero opção sexual etc marcam as pessoas na vida social o que pode fazer com que uma obtenha emprego e outra não Não se deve esquecer ainda que as marcas de variedades são freqüentemente fruto de processos de exclusão A consciência desses processos na escola pode colaborar na compreensão de que diferença lingüística não pode ser equacionada com inferioridade como também conseqüentemente na criação de uma sociedade mais justa já que a linguagem é central na determinação das relações humanas e da identidade social das pessoas Assim reafirmase o direito de ser diferente cultural e lingüisticamente PLURALIDADE CULTURAL O tema transversal Pluralidade Cultural merece um tratamento especial devido ao fato de o ensino de Língua Estrangeira se prestar sobremodo ao enfoque dessa questão Esse tema pode ser focalizado a fim de desmistificar compreensões homogeneizadoras de culturas específicas que envolvem generalizações típicas de aulas de Língua Estrangeira do tipo por exemplo os ingleses ou os franceses são assim ou assado É extremamente educativo expor o aluno à diversidade cultural francesa por exemplo ao observar a vida em uma cidade como Paris em que grupos de nacionalidades diferentes tais como franceses argelinos portugueses senegaleses e de outros tipos de minorias coexistem nem sempre de forma pacífica na construção de natureza multifacetada do que é a cultura francesa Tratase de algo extremamente enriquecedor para o aluno que constrói uma compreensão mais real do que é a complexidade cultural de um país e também uma percepção crítica das tradicionais visões pasteurizadas e unilaterais de uma cultura por exemplo as visões tradicionais de que os ingleses tomam chá às cinco horas da tarde ou de que são todos extremamente polidos Comparativamente a pluralidade cultural brasileira indígenas negros brancos católicos seguidores de cultos religiosos de origem africana judeus sambistas adeptos de reggae etc pode ser trazida à tona em uma tentativa de acabar com visões estereotipadas do que é ser brasileiro Em um país culturalmente plural como o Brasil é pernicioso trabalhar em sala de aula com uma visão que exclui grande parte da população brasileira das representações que a criança costuma ter no discurso pedagógico o que inclui também suas representações em material didático branco católico morador do sulmaravilha classe média falante de uma variedade hegemônica etc Em relação ao tema Pluralidade Cultural também é essencial que se traga para a sala de aula o fato de que pelos processos de colonização muitas línguas estrangeiras tradicionalmente equacionadas com as línguas faladas pelos nativos dos países colonizadores Inglaterra Espanha França etc são hoje usadas em várias partes do mundo como línguas oficiais e até mesmo como línguas maternas Não faz sentido por exemplo considerar o espanhol somente como a língua da Espanha como também considerar o inglês somente como a língua da Inglaterra ou dos Estados Unidos ou o francês como a língua da França É útil chamar a atenção para a complexidade cultural dessas línguas faladas como línguas oficiais ou línguas maternas em países tão distantes geográfica eou culturalmente como Nova Zelândia e Jamaica no caso do inglês ou Peru e Argentina no caso do espanhol ou Argélia e Congo no caso do francês No que se refere a uma língua hegemônica como o inglês por ter uma grande penetração internacional não só como língua oficial de países que foram antigas colônias da GrãBretanha mas também como língua estrangeira devido ao poderio econômico e político do Reino Unido nas primeiras décadas deste século e dos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial até hoje é essencial que se focalize a questão da pluralidade cultural representada pelos países que usam o inglês como língua oficial Além é claro da motivação educacional implícita nessa percepção históricosocial da língua inglesa também é um meio de focalizar as questões de natureza sociopolítica que devem ser consideradas no processo de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira Cabe ressaltar ainda o papel do inglês na sociedade atual Essa língua que se tornou uma espécie de língua franca invade todos os meios de comunicação o comércio a ciência a tecnologia no mundo todo É em geral percebida no Brasil como a língua de um único país os Estados Unidos devido ao seu papel atual na economia internacional Todavia o inglês é usado tão amplamente como língua estrangeira e língua oficial em tantas partes do mundo que não faz sentido atualmente compreendêlo como a língua de um único país As pessoas podem fazer uso dessa língua estrangeira para seu benefício apropriandose dela de modo crítico É esta concepção que se deve ter da aprendizagem de uma língua estrangeira notadamente do inglês usálo para se ter acesso ao conhecimento em vários níveis nas áreas científicas nos meios de comunicação nas relações internacionais entre indivíduos de várias nacionalidades no usos de tecnologias avançadas etc O acesso a essa língua tendo em vista sua posição no mercado internacional das línguas estrangeiras por assim dizer representa para o aluno a possibilidade de se transformar em cidadão ligado à comunidade global ao mesmo tempo que pode compreender com mais clareza seu vínculo como cidadão em seu espaço social mais imediato A importância do inglês no mundo contemporâneo pelos motivos de natureza políticoeconômica não deixa dúvida sobre a necessidade de aprendêlo Esses mesmos fatores de natureza sociopolítica devem orientar o trabalho do professor Não se pode ignorar o papel relativo que línguas estrangeiras diferentes têm em momentos políticos diversos da história da humanidade o latim na época do Império Romano e de países específicos o espanhol atualmente no Brasil Isso afeta a função social que línguas estrangeiras específicas adquirem ao serem percebidas como sendo de mais prestígio e de mais utilidade determinando suas inclusões nos currículos escolares A consciência dessas questões deve ser tratada pedagogicamente em sala de aula ao se chamar a atenção para a utilização do inglês no mundo contemporâneo nas várias áreas da atividade humana Solicitar que os alunos atuem como etnógrafos em suas práticas sociais fazendo anotações dos usos de inglês ao mesmo tempo que tomam consciência dos vários países que usam esta língua como língua oficial ou língua materna parece ser essencial para sua conscientização de aspectos de natureza sociopolítica relacionados à aprendizagem dessa língua O levantamento de países que usam o inglês como língua materna eou língua oficial só nas Américas Barbados Belize Canadá Dominica Estados Unidos Guiana Granada Jamaica Santa Lúcia Trinidad e Tobago etc pode ser portanto útil nessa conscientização Ainda na temática de aspectos sociopolíticos referentes à aprendizagem de uma língua estrangeira é notável a presença cada vez maior do espanhol no Brasil Sua crescente importância devido ao Mercosul tem determinado sua inclusão nos currículos escolares principalmente nos estados limítrofes com países onde o espanhol é falado A aprendizagem do espanhol no Brasil e do português nos países de língua espanhola na América é também um meio de fortalecimento da América Latina pois seus habitantes passam a se reconhecerem não só como uma força cultural expressiva e múltipla mas também política um bloco de nações que podem influenciar a política internacional Esse interesse cada vez maior pela aprendizagem do espanhol pode contribuir na relativização do inglês como língua estrangeira hegemônica no Brasil como aliás igualmente nesse sentido seria essencial a inserção de outras línguas estrangeiras francês italiano alemão etc no currículo Embora em um nível diferente devido ao papel que os Estados Unidos representam na economia internacional a mesma vinculação do inglês com os Estados Unidos é detectada na associação do espanhol com a Espanha no Brasil Chamar a atenção por meio de trabalhos de pesquisa para os países que usam o espanhol tanto como língua materna eou língua oficial nas Américas Argentina Bolívia Chile Cuba El Salvador Equador Guatemala Paraguai Uruguai etc traz para a sala de aula aspectos de natureza sociopolítica da aprendizagem de uma língua estrangeira além de contribuir para uma percepção intercultural da América Latina ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NOS TERCEIRO E QUARTO CICLOS Língua Estrangeira e o aluno dos terceiro e quarto ciclos O trabalho com Língua Estrangeira no ensino fundamental exige do professor um aprofundamento sobre alguns aspectos essenciais para a organização do ensino a caracterização dos alunos e a complexidade que representa a aprendizagem de uma outra língua Os primeiros contatos com a aprendizagem de inglês de maneira formal sistematizada ocorrem para a maioria dos nossos alunos no início do terceiro ciclo período este em que de modo geral enfrentam conflitos representados por transformações significativas relacionadas ao corpo à sexualidade ao desenvolvimento cognitivo à emoção à afetividade além dos relacionados aos aspectos socioculturais Tornase bastante difícil traçar um perfil do aluno que chega ao terceiro ciclo tanto em relação aos aspectos afetivoemocionais que marcam esse período quanto em relação aos diferentes conhecimentos de língua materna que possuem e os diferentes níveis de familiaridade que apresentam em relação à língua estrangeira Muito freqüentemente sem ter ainda uma reflexão mais aprofundada sobre o funcionamento e uso da língua materna o aluno se depara com a necessidade de compreender a construção do significado na língua estrangeira com uma organização diferente das palavras nas frases das letras nas palavras um jeito de escrever diferente da forma de falar outra entonação outro ritmo Além disso a passagem para o terceiro ciclo é ainda tradicionalmente marcada na cultura das escolas brasileiras como ruptura tanto da organização curricular quanto das formas de interação professoraluno Aspectos relacionados à organização do horário em disciplinas com professores diversos interações diferenciadas diferentes demandas condutas concepções Para muitos alunos o início do terceiro ciclo é também o momento de entrada no mercado de trabalho A insegurança que todas essas mudanças geralmente representam pode se dar de modo mais marcado ainda no caso da Língua Estrangeira por representar o início para muitos deles de uma aprendizagem totalmente nova Outro aspecto a ser levado em conta na organização do ensino diz respeito às características do objeto de conhecimento em questão O grau de familiaridade do aluno com a língua estrangeira representa fator crucial nesse aprendizado A maior ou menor familiaridade está relacionada à classe social de origem do aluno que lhe confere oportunidades diferenciadas de vivenciar o idioma falado ou escrito seja pelos meios de comunicação seja pelas interações sociais de que participa Contudo a demanda de conhecimento de língua estrangeira na sociedade de hoje coloca para o professor o desafio de partir da heterogeneidade de experiências e interesses dos alunos para organizar formas de desenvolver o trabalho escolar de maneira a incorporar seus diferentes níveis de conhecimento e ampliar as oportunidades de acesso a ele O ensino de uma língua estrangeira na escola tem um papel importante à medida que permite aos alunos entrar em contato com outras culturas com modos diferentes de ver e interpretar a realidade Na tentativa de facilitar a aprendizagem no entanto há uma tendência a se organizar os conteúdos de maneira excessivamente simplificada em torno de diálogos pouco significativos para os alunos ou de pequenos textos muitas vezes descontextualizados seguidos de exploração das palavras e das estruturas gramaticais trabalhados em forma de exercícios de tradução cópia transformação e repetição No entanto ao se entender a linguagem como prática social como possibilidade de compreender e expressar opiniões valores sentimentos informações oralmente e por escrito o estudo repetitivo de palavras e estruturas apenas resultará no desinteresse do aluno em relação à língua principalmente porque sem a oportunidade de arriscarse a interpretála e a utilizála em suas funções de comunicação acabará não vendo sentido em aprendêla Assim é fundamental que desde o início da aprendizagem de Língua Estrangeira o professor desenvolva com os alunos um trabalho que lhes possibilite confiar na própria capacidade de aprender em torno de temas de interesse e interagir de forma cooperativa com os colegas As atividades em grupo podem contribuir significativamente no desenvolvimento desse trabalho à medida que com a mediação do professor os alunos aprenderão a compreender e respeitar atitudes opiniões conhecimentos e ritmos diferenciados de aprendizagem Alguns estudos e experiências de professores ressaltam aspectos que permitem compreender melhor o complexo percurso que o aluno realiza na construção dessa aprendizagem Dentre esses aspectos destacase inicialmente como fundamental diagnosticar os conhecimentos que os alunos trazem proporcionando a eles a oportunidade de identificar e reconhecer esses conhecimentos e oferecer possibilidades de troca de experiências entre eles na perspectiva de dar continuidade à construção de novos conhecimentos Outro aspecto a ser levado em conta consiste em aproveitar o interesse que os alunos mostram em relação à novidade que representa aprender uma língua estrangeira CONCEPÇÕES TEÓRICAS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA As concepções teóricas que têm orientado os processos de ensinar e aprender Língua Estrangeira têm se pautado no desenvolvimento da psicologia da aprendizagem e de teorias lingüísticas específicas as quais influenciadas pela psicologia explicitaram o fenômeno da aprendizagem lingüística Podese dizer que as percepções modernas da aprendizagem de Língua Estrangeira foram principalmente influenciadas por três visões a behaviorista a cognitivista e a sociointeracional Aqui será feita uma breve alusão a teorias behavioristas e cognitivistas seguida de uma análise mais extensa sobre a perspectiva sociointeracional da aprendizagem que atualmente muitos julgam mais adequada para explicar como as pessoas aprendem A visão behaviorista Na visão behaviorista a aprendizagem de Língua Estrangeira é compreendida como um processo de adquirir novos hábitos lingüísticos no uso da língua estrangeira Isso seria feito primordialmente por meio da automatização desses novos hábitos usando uma rotina que envolveria ESTÍMULO a exposição do aluno ao item lexical à estrutura sintática etc a serem aprendidos fornecidos pelo professor RESPOSTA do aluno REFORÇO em que o professor avaliaria a resposta do aluno Essa visão na sala de aula de Língua Estrangeira resultou no uso de metodologias que enfatizavam exercícios de repetição e substituição Podese dizer que se focalizava principalmente o processo de ensino e o professor Se a aprendizagem não ocorresse adequadamente ou seja se fossem detectados erros nas produções do aluno o motivo seria a inadequação dos procedimentos de ensino Os erros teriam de ser imediatamente eliminados ou corrigidos para que não afetassem negativamente o processo de aprendizagem como um todo inclusive os de outros colegas que tivessem sido expostos aos erros É nesse sentido que se costuma dizer que na visão behaviorista a aprendizagem era associada à uma pedagogia corretiva Notese que nessa concepção a mente do aluno é entendida como uma tábula rasa que tem de ser moldada por assim dizer na aprendizagem de uma nova língua A visão cognitivista Na visão cognitivista deslocase o foco do ensino para o aluno ou para as estratégias que ele utiliza na construção de sua aprendizagem da Língua Estrangeira Entendese que a mente humana está cognitivamente apta para a aprendizagem de línguas Ao ser exposto à língua estrangeira o aluno com base no que sabe sobre as regras de sua língua materna elabora hipóteses sobre a nova língua e as testa no ato comunicativo em sala de aula ou fora dela Os erros então passam a ser considerados como evidência de que a aprendizagem está em desenvolvimento ou seja são hipóteses elaboradas pelo aluno em seu esforço cognitivo de aprender a língua estrangeira Contrariamente à visão behaviorista os erros passam a ser entendidos como parte do processo da aprendizagem Os traços característicos da língua construída pelo aprendiz normalmente entendidos como erros passam a ser vistos como constitutivos da língua em construção no processo de aprendizagem sua interlíngua uma língua em constante desenvolvimento no contínuo entre a língua materna e a língua estrangeira e que resulta de suas tentativas de aprendizagem Nesse processo uma das estratégias mais comumente usadas pelo aluno é criar hipóteses sobre a língua estrangeira que está aprendendo com base no conhecimento que tem de sua língua materna a estratégia de transferência lingüística Outras estratégias usadas pelo aluno podem ser entendidas como estratégias gerais de aprendizagem de línguas tais como supergeneralização em que o aluno generaliza uma regra para um contexto em que não se aplica por exemplo a generalização na aprendizagem do português da flexão verbal de passado do verbo comer em comi que é generalizada para o verbo fazer gerando a forma fazi hipercorreção em que o aluno por excesso de preocupação com correção acaba corrigindo formas que estariam corretas por exemplo a correção do uso do pronome objetivo em posição de sujeito em português tal como em Isto é para mim fazer corrigida intensamente na escola para Isto é para eu fazer acaba gerando a forma Isto é para eu que pode ser entendida como resultado de hipercorreção Uma contribuição importante do enfoque cognitivista foi chamar a atenção para a questão dos diferentes estilos individuais de aprendizagem que as pessoas possuem ou seja nem todos os alunos aprendem da mesma forma Por exemplo há alunos que se utilizam mais de meios auditivos e outros de meios visuais da mesma forma que alguns têm mais sucesso no usos de estratégias sociointeracionais devido ao fato de serem mais extrovertidos A visão sociointeracional18 Embora alguns aspectos da aprendizagem de Língua Estrangeira possam ser explicados por abordagens behavioritas por exemplo o fato de que a aprendizagem de certas frases feitas como How old are you em inglês Como te va em espanhol Ça va em francês Danke schön em alemão ou Prego em italiano se dá pela memorização ou do ponto de vista cognitivista por exemplo o fato de que os aprendizes se utilizam dos conhecimentos já armazenados em suas estruturas cognitivas sobre o que sabem de sua língua materna ou de outras línguas estrangeiras que já possam ter aprendido cada vez mais tendese a explicar a aprendizagem como um fenômeno sociointeracional Dessa forma o foco que na visão behaviorista era colocado no professor e no ensino e na visão cognitivista no aluno e na aprendizagem passa a ser colocado na interação entre o professor e aluno e entre alunos atualmente O que subjaz a esta última visão é a compreensão de que a aprendizagem é de natureza sociointeracional pois aprender é uma forma de estar no mundo social com alguém em um contexto histórico cultural e institucional Assim os processos cognitivos são gerados por meio da interação entre um aluno e um participante de uma prática social que é um estimulandoos a trabalhar com autonomia de forma a poderem identificar suas possibilidades e dificuldades no processo de aprendizagem O estímulo à capacidade de ouvir discutir falar escrever descobrir interpretar situações pensar de forma criativa fazer suposições inferências em relação aos conteúdos é um caminho que permite ampliar a capacidade de abstrair elementos comuns a várias situações para poder fazer generalizações e aprimorar as possibilidades de comunicação criando significados por meio da utilização da língua constituindose como ser discursivo em língua estrangeira Ainda é importante ajudar o aluno a relacionar propriedades e regularidades presentes na língua materna explorandoas ao máximo Nessa perspectiva destacase o trabalho com a leitura e interpretação de textos uma vez que sendo a escrita um conhecimento já adquirido em língua materna representa um apoio importante para a compreensão dos significados funcionamento e uso da língua estrangeira As atividades orais podem ser propostas como forma de ampliar a consciência dos alunos sobre os sons da língua estrangeira por meio do uso por exemplo de expressões de saudação de polidez do trabalho com letras de música com poemas e diálogos A inclusão de atividades significativas em sala de aula permite ampliar os vínculos afetivos e conferem a possibilidade de realizar tarefas de forma mais prazerosa A mediação do professor é fundamental em todo esse percurso de aprendizagem que abrange ainda o desenvolvimento e aprimoramento de atitudes Colocase a necessidade de intervenção do professor em relação às orientações sobre como organizar e lidar com o material de estudo como desenvolver atitudes de pesquisa e de reflexão sobre as descobertas para promover a autonomia do aluno sem a qual tornase mais difícil garantir avanços No quarto ciclo esses aspectos podem ser aprofundados com ênfase no trabalho de reflexão sobre a língua como prática social na perspectiva de que o aluno possa desenvolver sua proficiência linguística produzindo e interpretando discursos orais e escritos 18 A visão sociointeracional também é referida na literatura como históricosocial ou sociocultural parceiro mais competente para resolver tarefas de construção de significadoconhecimento com as quais esses participantes se deparem O participante mais competente pode ser entendido como um parceiro adulto em relação a uma criança ou um professor em relação a um aluno ou um aluno em relação a um colega da turma Na aprendizagem de Língua Estrangeira os enunciados do parceiro mais competente ajudam a construção do significado e portanto auxiliam a própria aprendizagem do uso da língua APRENDIZAGEM COMO FORMA DE COPARTICIPAÇÃO SOCIAL O processo de aprender pode ser considerado uma forma de coparticipação social isto é participação com alguém em contextos de ação entre pares na resolução de uma tarefa em que a participação do aluno é periférica inicialmente até passar a ser plena com o desenvolvimento da aprendizagem Esse processo é principalmente mediado pela linguagem por meio da interação e por outros meios simbólicos por exemplo pela utilização de um computador O papel mediador da linguagem na aprendizagem é central tanto que é praxe referirse a essa mediação como uma força catalisadora Assim até entre parceiros iguais colegas em uma turma o discurso oferece meios de aprendizagem mais adequados do que a aprendizagem solitária A aprendizagem é então percebida como ocorrendo no que se denomina de Zona de Desenvolvimento Proximal 19 Esse espaço é caracterizado pelas interações entre aprendizes e parceiros mais competentes explorando o nível real em que o aluno está e o seu nível em potencial para aprender sob a orientação de um parceiro mais competente Notese que essa concepção da aprendizagem tem sido usada para explicar a aprendizagem dentro e fora da escola APRENDIZAGEM COMO CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO COMPARTILHADO O processo de aprendizagem mediado pela interação vai levar à construção de um conhecimento conjunto entre o aluno e o professor ou um colega Para que isso ocorra o processo envolverá dificuldades e sucessos na compreensão negociação das perspectivas diferentes dos participantes e o controle da interação por parte deles até que o conhecimento 19 Este conceito é extraído do trabalho de Vygotsky publicado em português em 1994 58 seja compartilhado Em última análise o processo é caracterizado pela interação entre os significados ou conhecimento de mundo do parceiro mais competente em sala de aula o professor ou um colega e os do aluno Muitas dificuldades na aprendizagem são geradas exatamente por essas diferenças que vão determinar expectativas e condições de relevância diferentes sobre o que se fala Na verdade a aprendizagem em sala de aula é uma extensão de um desafio diário a necessidade de se interagir a partir de percepções comuns do mundo ou da criação de perspectivas comuns A diferença é que na sala de aula o propósito do evento interacional é de ensino e aprendizagem e se baseia quase sempre em uma relação interacional assimétrica 20 Isso faz com que o conhecimento sobre a natureza da interação em sala de aula seja crucial para professores e alunos Notese ainda que com frequência a metodologia que o professor usa se apoia na interação isto é nos andaimes que constrói para facilitar a aprendizagem INTERAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM Tradicionalmente a interação em sala de aula tem sido explicada por uma organização discursiva considerada típica INICIAÇÃO RESPOSTA e AVALIAÇÃO Assim a interação é assimétrica pois seu controle é exercido pelo professor que inicia a interação sobre um tópico que escolheu na dependência de seu planejamento que faz perguntas sobre respostas que já sabe para a seguir avaliar a resposta do aluno É dessa forma que em geral se processa a interação em sala de aula e isso faz parte do conhecimento implícito do aluno sobre como interagir nesse contexto Assim o que o aluno tem a fazer é responder corretamente ao professor para que receba uma avaliação positiva e do ponto de vista do professor para que possa prosseguir com seu planejamento Esse jogo interacional não possibilita muitas vezes que o aluno construa os princípios subjacentes ao que está aprendendo para poder transferilos para outros contextos de uso da linguagem O aluno deu a resposta certa para resolver a tarefa mas o conhecimento construído é limitado à resposta Um exemplo sobre o presente contínuo em inglês o professor que vincula esse tempo verbal à marca adverbial indicando uma ação acontecendo no momento da fala ensina a resolver uma tarefa pedagógica específica mas limita a aprendizagem a uma única possibilidade de usar essa forma verbal 20 Uma relação interacional é assimétrica quando os participantes estão posicionados desigualmente no mundo social por exemplo professor e aluno médico e paciente 59 Por outro lado sabese que na cultura da sala de aula aprendizes que não se submetem à organização discursiva típica são tidos como problemáticos Por exemplo aprendizes que não esperam as perguntas do professor ou que não aceitam os tópicos que ele sugere são freqüentemente identificados como aprendizes fracos É por isso que na medida do possível isto é obedecidas as condições de relevância daquilo do que se fala em relação à agenda do professor este deve aprender a compartilhar seu poder e aceitar tópicos sugeridos pelos alunos e suas interpretações do que está sendo dito ou seja aprender a dar voz ao aluno para que ele possa se constituir como sujeito do discurso Uma das características principais do discurso da sala de aula é a quantidade de tempo preenchida pela fala do professor Para que o aluno tenha voz o professor tem de se acostumar a sair de cena por assim dizer de modo que o tempo possa ser preenchido com a fala do aluno Na aula de Língua Estrangeira isso tem ainda uma conseqüência mais séria principalmente no ensino da habilidade oral visto que o aluno está aprendendo a se colocar no mundo pelo uso de uma língua estrangeira Podese dizer também que para alguns grupos culturais o tipo de padrão interacional que a escola enfatiza professor pergunta aluno responde professor avalia pode ser culturalmente muito diferente dos padrões da vida em família o que pode representar dificuldades para alguns alunos Ainda cabe mencionar que certas tradições escolares de ensinar e aprender são típicas de determinadas culturas e podem entrar em conflito com abordagens de ensino elaboradas em outros contextos educacionais Por exemplo abordagens que se apóiam em visões cognitivistas podem conflitar com tradições escolares de aprendizagem que se centram em práticas de memorização Ainda em relação aos padrões interacionais culturais podese argumentar que a resistência que alguns grupos de alunos têm em relação aos padrões interacionais em sala de aula pode ser explicada por não perceberem a relevância do que está ocorrendo ali para a sua vida É difícil se engajar em um discurso sobre o qual não se sabe nada ou que não seja significativo e motivador para quem fala lê ou escreve Em relação à aprendizagem de Língua Estrangeira a questão da relevância é particularmente importante pois o engajamento discursivo será ainda mais dificultado pelo uso de outra língua que não a materna Isso é principalmente problemático quando o professor quer impor sua perspectiva suas interpretações na interação Por exemplo quando um aluno ao projetar sua visão do que está sendo discutido introduz um tópico perfeitamente aceitável para o desenvolvimento da interação mas que é recusado pelo professor por esse tópico não estar incluído em sua agenda pedagógica Ora nas interações fora da sala de aula esta imposição é a fonte de muitas brigas e discórdias no entanto em sala de aula devido ao fato de que um dos participantes está dirigindo a assimetria interacional isso é ainda mais sério impossibilita a reversão de papéis interacionais a construção de conhecimento em conjunto e a construção do aluno como 60
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UMG
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UNIA
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UNOPAR
Texto de pré-visualização
Secretaria de Educação Fundamental Iara Glória Areias Prado Departamento de Política da Educação Fundamental Virgínia Zélia de Azevedo Rebeis Farha CoordenaçãoGeral de Estudos e Pesquisas da Educação Fundamental Maria Inês Laranjeira PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 5ª A 8ª SÉRIES B823p Brasil Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental língua estrangeira Secretaria de Educação Fundamental Brasília MECSEF 1998 120 p 1 Parâmetros curriculares nacionais 2 Ensino de quinta a oitava séries língua estrangeira I Título CDU 371214 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS TERCEIRO E QUARTO CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL LÍNGUA ESTRANGEIRA Brasília 1998 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS TERCEIRO E QUARTO CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL LÍNGUA ESTRANGEIRA AO PROFESSOR O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades ampliase ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos Vivemos numa era marcada pela competição e pela excelência onde progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas para os jovens que ingressarão no mundo do trabalho Tal demanda impõe uma revisão dos currículos que orientam o trabalho cotidianamente realizado pelos professores e especialistas em educação do nosso país Assim é com imensa satisfação que entregamos aos professores das séries finais do ensino fundamental os Parâmetros Curriculares Nacionais com a intenção de ampliar e aprofundar um debate educacional que envolva escolas pais governos e sociedade e dê origem a uma transformação positiva no sistema educativo brasileiro Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando de um lado respeitar diversidades regionais culturais políticas existentes no país e de outro considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras Com isso pretendese criar condições nas escolas que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania Os documentos apresentados são o resultado de um longo trabalho que contou com a participação de muitos educadores brasileiros e têm a marca de suas experiências e de seus estudos permitindo assim que fossem produzidos no contexto das discussões pedagógicas atuais Inicialmente foram elaborados documentos em versões preliminares para serem analisados e debatidos por professores que atuam em diferentes graus de ensino por especialistas da educação e de outras áreas além de instituições governamentais e nãogovernamentais As críticas e sugestões apresentadas contribuíram para a elaboração da atual versão que deverá ser revista periodicamente com base no acompanhamento e na avaliação de sua implementação Esperamos que os Parâmetros sirvam de apoio às discussões e ao desenvolvimento do projeto educativo de sua escola à reflexão sobre a prática pedagógica ao planejamento de suas aulas à análise e seleção de materiais didáticos e de recursos tecnológicos e em especial que possam contribuir para sua formação e atualização profissional Paulo Renato Souza Ministro da Educação e do Desporto 6 expressar e comunicar suas idéias interpretar e usufruir das produções culturais em contextos públicos e privados atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos questionar a realidade formulandose problemas e tratando de resolvêlos utilizando para isso o pensamento lógico a criatividade a intuição a capacidade de análise crítica selecionando procedimentos e verificando sua adequação OBJETIVOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de compreender a cidadania como participação social e política assim como exercício de direitos e deveres políticos civis e sociais adotando no diaadia atitudes de solidariedade cooperação e repúdio às injustiças respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito posicionarse de maneira crítica responsável e construtiva nas diferentes situações sociais utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações posicionandose contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais de classe social de crenças de sexo de etnia ou outras características individuais e sociais perceberse integrante dependente e agente transformador do ambiente identificando seus elementos e as interações entre eles contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva física cognitiva ética estética de interrelação pessoal e de inserção social para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania conhecer o próprio corpo e dele cuidar valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva utilizar as diferentes linguagens verbal musical matemática gráfica plástica e corporal como meio para produzir ESTRUTURA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Objetivos Gerais do Ensino Fundamental ÁREA DE LÍNGUA PORTUGUESA ÁREA DE MATEMÁTICA ÁREA DE CIÊNCIAS NATURAIS ÁREA DE HISTÓRIA ÁREA DE GEOGRAFIA ÁREA DE ARTE ÁREA DE EDUCAÇÃO FÍSICA ÁREA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA Ética Saúde Meio Ambiente Orientação Sexual Pluralidade Cultural Trabalho e Consumo Caracterização da Área Objetivos Gerais da Área 1ª Parte Ensino Fundamental 2ª Parte Especificação por Ciclos 1º Ciclo 1ª e 2ªs 2º Ciclo 3ª e 4ªs 3º Ciclo 5º e 6ºs 4º Ciclo 7º e 8ºs Objetivos da Área para o Ciclo Conteúdo da Área para o Ciclo Critérios de Avaliação da Área para o Ciclo Orientações Didáticas SUMÁRIO Apresentação 15 1ª PARTE Considerações preliminares 19 A justificativa social para a inclusão de Língua Estrangeira no ensino fundamental 20 Os focos do ensino a metáfora das lentes de uma máquina fotográfica 21 Critérios para a inclusão de línguas estrangeiras no currículo 22 Fatores históricos 22 Fatores relativos às comunidades locais 23 Fatores relativos à tradição 23 Uma síntese da situação atual do ensino de Língua Estrangeira no Brasil 23 Aspectos centrais no documento 24 Caracterização do objeto de ensino Língua Estrangeira 27 Aprender línguas significa aprender conhecimento e seu uso 27 A natureza sociointeracional da linguagem 27 A relação entre língua estrangeira e língua materna na aprendizagem 28 Os conhecimentos sistêmico de mundo e da organização textual 29 O conhecimento sistêmico 29 O conhecimento de mundo 29 O conhecimento da organização textual 31 A projeção dos conhecimentos na construção do significado 32 Os conhecimentos sistêmicos de mundo e de organização textual e o processo de ensinar e aprender Língua Estrangeira 32 Os usos dos conhecimentos e o processo de aprender e ensinar Língua Estrangeira 34 Papel da área de Língua Estrangeira no ensino fundamental diante da construção da cidadania 37 Lei de Diretrizes e Bases e Língua Estrangeira 37 Perspectiva educacional 37 Perspectiva pragmática 38 Língua Estrangeira e exclusão social 38 Língua Estrangeira como libertação 39 O inglês como língua estrangeira hegemônica 39 A escolha de línguas estrangeiras para o currículo 40 Língua Estrangeira e construção de cidadania 41 A relação do processo de ensinar e aprender Língua Estrangeira com os temas transversais 43 Ensino de Língua Estrangeira modo singular para focalizar a relação entre linguagem e sociedade 43 Escolhas temáticas 44 Escolhas de organização textual 45 Escolhas sistêmicas 46 Variação linguística 47 Pluralidade cultural 48 Ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira nos terceiro e quarto ciclos 53 Língua Estrangeira e o aluno dos terceiro e quarto ciclos 53 Concepções teóricas do processo de ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira 55 A visão behaviorista 56 A visão cognitivista 56 A visão sociointeracional 57 Aprendizagem como forma de coparticipação social 58 Aprendizagem como construção de conhecimento compartilhado 58 Interação e construção da aprendizagem 59 Interação e configuração espacial em sala de aula 61 Cognição e metacognição 62 Objetivos gerais de Língua Estrangeira para o ensino fundamental 65 2ª PARTE Conteúdos propostos para terceiro e quarto ciclos 71 Eixos de conteúdo 71 Progressão geral dos conteúdos 72 Conhecimento de mundo 72 Tipos de texto 73 Conhecimento sistêmico 74 Conteúdos attitudinais 75 A questão do método 75 Avaliação 79 Conceito 79 Avaliar para quem 80 A dimensão afetiva 81 Coerência entre o foco do ensino e o da avaliação 82 A avaliação um processo integrado e contínuo 82 Critérios de avaliação 83 Orientações didáticas 87 Habilidades comunicativas 89 Compreensão 89 Compreensão escrita 89 Orientações didáticas para o ensino de compreensão escrita 91 Préleitura 91 Leitura 92 Pósleitura 92 Compreensão oral 94 Orientações didáticas para o ensino da compreensão oral 95 Produção 96 Produção escrita 98 Produção oral 101 Orientações didáticas para o ensino da produção escrita e da produção oral 103 Orientações para uma avaliação formativa 107 Uma palavra final a ação dos parâmetros e a formação de professores de Língua Estrangeira 109 Bibliografia 111 12 LÍNGUA ESTRANGEIRA APRESENTAÇÃO A aprendizagem de Língua Estrangeira é uma possibilidade de aumentar a autopercepção do aluno como ser humano e como cidadão Por esse motivo ela deve centrarse no engajamento discursivo do aprendiz ou seja em sua capacidade de se engajar e engajar outros no discurso de modo a poder agir no mundo social Para que isso seja possível é fundamental que o ensino de Língua Estrangeira seja balizado pela função social desse conhecimento na sociedade brasileira Tal função está principalmente relacionada ao uso que se faz de Língua Estrangeira via leitura embora se possa também considerar outras habilidades comunicativas em função da especificidade de algumas línguas estrangeiras e das condições existentes no contexto escolar Além disso em uma política de pluralismo linguístico condições pragmáticas apontam a necessidade de considerar três fatores para orientar a inclusão de uma determinada língua estrangeira no currículo fatores relativos à história às comunidades locais e à tradição Duas questões teóricas ancoram os parâmetros de Língua Estrangeira uma visão sociointeracional da linguagem e da aprendizagem O enfoque sociointeracional da linguagem indica que ao se engajarem no discurso as pessoas consideram aqueles a quem se dirigem ou quem se dirigiu a elas na construção social do significado É determinante nesse processo o posicionamento das pessoas na instituição na cultura e na história Para que essa natureza sociointeracional seja possível o aprendiz utiliza conhecimentos sistêmicos de mundo e sobre a organização textual além de ter de aprender como usálos na construção social do significado via Língua Estrangeira A consciência desses conhecimentos e a de seus usos são essenciais na aprendizagem posto que focaliza aspectos metacognitivos e desenvolve a consciência crítica do aprendiz no que se refere a como a linguagem é usada no mundo social como reflexo de crenças valores e projetos políticos No que se refere à visão sociointeracional da aprendizagem podese dizer que é compreendida como uma forma de se estar no mundo com alguém e é igualmente situada na instituição na cultura e na história Assim os processos cognitivos têm uma natureza social sendo gerados por meio da interação entre um aluno e um parceiro mais competente Em sala de aula esta interação tem em geral caráter assimétrico o que coloca dificuldades específicas para a construção do conhecimento Daí a importância de o professor aprender a compartilhar seu poder e dar voz ao aluno de modo que este possa se constituir como sujeito do discurso e portanto da aprendizagem Os temas centrais desta proposta são a cidadania a consciência crítica em relação à linguagem e os aspectos sociopolíticos da aprendizagem de Língua Estrangeira Esses temas se articulam com os temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais notadamente na possibilidade de se usar a aprendizagem de línguas como espaço para se compreender na escola as várias maneiras de se viver a experiência humana Secretaria de Educação Fundamental 16 LÍNGUA ESTRANGEIRA 1ª PARTE 17 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Este documento procura ser uma fonte de referência para discussões e tomada de posição sobre ensinar e aprender Língua Estrangeira nas escolas brasileiras Portanto não tem um caráter dogmático pois isso impossibilitaria as adaptações exigidas por condições diversas e inviabilizaria o desenvolvimento de uma prática reflexiva Primordialmente objetivase restaurar o papel da Língua Estrangeira na formação educacional A aprendizagem de uma língua estrangeira juntamente com a língua materna é um direito de todo cidadão conforme expresso na Lei de Diretrizes e Bases e na Declaração Universal dos Direitos Linguísticos publicada pelo Centro Internacional Escarré para Minorias Étnicas e Nações Ciemen e pelo PENClub Internacional Sendo assim a escola não pode mais se omitir em relação a essa aprendizagem Embora seu conhecimento seja altamente prestigiado na sociedade as línguas estrangeiras como disciplinas se encontram deslocadas da escola A proliferação de cursos particulares é evidência clara para tal afirmação Seu ensino como o de outras disciplinas é função da escola e é lá que deve ocorrer As oportunidades de aprender línguas nos Centros de Línguas das redes oficiais existentes em algumas partes do Brasil são entendidas como suplementares à oferta de Língua Estrangeira dentro do currículo no sentido de que outras línguas além daquela incluída na rede escolar possam ser também aprendidas O distanciamento proporcionado pelo envolvimento do aluno no uso de uma língua diferente o ajuda a aumentar sua autopercepção como ser humano e cidadão Ao entender o outro e sua alteridade 1 pela aprendizagem de uma língua estrangeira ele aprende mais sobre si mesmo e sobre um mundo plural marcado por valores culturais diferentes e maneiras diversas de organização política e social A aprendizagem de uma língua estrangeira deve garantir ao aluno seu engajamento discursivo ou seja a capacidade de se envolver e envolver outros no discurso Isso pode ser viabilizado em sala de aula por meio de atividades pedagógicas centradas na constituição do aluno como ser discursivo ou seja sua construção como sujeito do discurso 2 via Língua Estrangeira Essa construção passa pelo envolvimento do aluno com os processos sociais de criar significados por intermédio da utilização de uma língua estrangeira Isso poderá ser feito por meio de processos de ensino e aprendizagem que envolvam o aluno na construção de significado pelo desenvolvimento de pelo menos uma habilidade comunicativa É importante garantir ao aluno uma experiência singular de construção de significado pelo domínio de uma base discursiva 3 que poderá ser ampliada quando se fizer necessário em sua vida futura ou quando as condições existentes nas escolas o permitirem Outro pressuposto básico para a aprendizagem de uma língua estrangeira é a necessidade de garantir a continuidade e a sustentabilidade de seu ensino Não há como propiciar avanços na aprendizagem de uma língua propondo ao aluno a aprendizagem de espanhol na quinta série de francês na sexta e sétima e de inglês na oitava série A justificativa social para a inclusão de Língua Estrangeira no ensino fundamental A inclusão de uma área no currículo deve ser determinada entre outros fatores pela função que desempenha na sociedade Em relação a uma língua estrangeira isso requer uma reflexão sobre o seu uso efetivo pela população No Brasil tomandose como exceção o caso do espanhol principalmente nos contextos das fronteiras nacionais e o de algumas línguas nos espaços das comunidades de imigrantes polonês alemão italiano etc e de grupos nativos somente uma pequena parcela da população tem a oportunidade de usar línguas estrangeiras como instrumento de comunicação oral dentro ou fora do país Mesmo nos grandes centros o número de pessoas que utilizam o conhecimento das habilidades orais de uma língua estrangeira em situação de trabalho é relativamente pequeno Deste modo considerar o desenvolvimento de habilidades orais como central no ensino de Língua Estrangeira no Brasil não leva em conta o critério de relevância social para a sua aprendizagem Com exceção da situação específica de algumas regiões turísticas ou de algumas comunidades plurilíngües o uso de uma língua estrangeira parece estar em geral mais vinculado à leitura de literatura técnica ou de lazer Notese também que os únicos exames formais em Língua Estrangeira vestibular e admissão a cursos de pósgraduação requerem o domínio da habilidade de leitura Portanto a leitura atende por um lado às necessidades da educação formal e por outro é a habilidade que o aluno pode usar em seu contexto social imediato Além disso a aprendizagem de leitura em Língua Estrangeira pode ajudar o desenvolvimento integral do letramento do aluno A leitura tem função primordial na escola e aprender a ler em outra língua pode colaborar no desempenho do aluno como leitor em sua língua materna Devese considerar também o fato de que as condições na sala de aula da maioria das escolas brasileiras carga horária reduzida classes superlotadas pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos professores material didático reduzido a giz e livro didático etc podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas Assim o foco na leitura pode ser justificado pela função social das línguas estrangeiras no país e também pelos objetivos realizáveis tendo em vista as condições existentes Isso não quer dizer contudo que dependendo dessas condições os objetivos não possam incluir outras habilidades tais como compreensão oral e produção oral e escrita Importa sobretudo formular e implementar objetivos justificáveis socialmente realizáveis nas condições existentes na escola e que garantam o engajamento discursivo por meio de uma língua estrangeira Portanto o foco na leitura não é interpretado aqui como alternativa mais fácil e nem deve comprometer decisões futuras de se envolver outras habilidades comunicativas Podese antever que com o barateamento dos meios eletrônicos de comunicação mais escolas venham ter acesso a novas tecnologias possibilitando o desenvolvimento de outras habilidades comunicativas Vale acrescentar que a análise do quadro atual do ensino de Língua Estrangeira no Brasil indica que a maioria das propostas para o ensino dessa disciplina reflete o interesse pelo ensino da leitura OS FOCOS DO ENSINO A METÁFORA DAS LENTES DE UMA MÁQUINA FOTOGRÁFICA Com base na função social da aprendizagem de uma língua estrangeira no Brasil e nas condições existentes na maior parte das escolas brasileiras o foco no que ensinar pode ser melhor entendido ao se pensar metaforicamente sobre o que as lentes de uma máquina fotográfica focalizam O primeiro foco por meio do uso de uma lente padrão estaria colocado na habilidade de leitura A lente pode contudo ser trocada por uma grandeangular na dependência das condições em contextos de ensino específicos como também do papel relativo que as línguas estrangeiras particulares representam na comunidade o caso do espanhol na situação de fronteira por exemplo de modo a ampliar o foco para envolver outras habilidades comunicativas Esse sistema de focos para indicar o que ensinar tem por objetivo organizar uma proposta de ensino que garanta para todos na rede escolar uma experiência significativa de comunicação via Língua Estrangeira por intermédio do uso de uma lente padrão Isso é o que foi chamado de engajamento discursivo por meio de leitura em língua estrangeira que se pauta por uma questão central neste documento dar acesso a todos a uma educação linguística de qualidade O foco em leitura não exclui a possibilidade de haver espaços no programa para possibilitar a exposição do aluno à compreensão e memorização de letras de música de certas frases feitas por exemplo Ça va How do you do Que bien Wie gehts Va bene de pequenos poemas travalínguas e diálogos Esses recursos são úteis para oferecer certa consciência dos sons da língua de seus valores estéticos e de alguns modos de veicular algumas regras de uso da língua estrangeira polidez intimidade saudações linguagem da sala de aula etc Também permitem o envolvimento com aspectos lúdicos que a língua oral possibilita aumentando a vinculação afetiva com a aprendizagem É preciso que fique claro porém que esses momentos não implicam engajamento no discurso oral Têm a função de aumentar a consciência linguística4 do aluno além de dar um cunho prazeroso à aprendizagem CRITÉRIOS PARA INCLUSÃO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NO CURRÍCULO Independentemente de se reconhecer a importância do aprendizado de várias línguas em vez de uma única e de se pôr em prática uma política de pluralismo linguístico5 nem sempre há a possibilidade de se incluir mais do que uma língua estrangeira no currículo Os motivos podem ir da falta de professores até a dificuldade de incluir um número elevado de disciplinas na grade escolar Assim uma questão que precisa ser enfrentada é qual ou quais línguas estrangeiras incluir no currículo Pelo menos três fatores devem ser considerados fatores históricos fatores relativos às comunidades locais fatores relativos à tradição Fatores históricos Os fatores históricos estão relacionados ao papel que uma língua específica representa em certos momentos da história da humanidade fazendo com que sua aprendizagem adquira 4 Consciência linguística aqui se refere à consciência da natureza da estrutura sonora das línguas estrangeiras fonemas padrões entonacionais etc e de certas regras de uso dessas línguas em comparação com as da língua materna 5 Por uma política de pluralismo linguístico entendese a aceitação da existência de línguas diferentes e a promoção do ensino de várias línguas maior relevância A relevância é freqüentemente determinada pelo papel hegemônico dessa língua nas trocas internacionais gerando implicações para as trocas interacionais nos campos da cultura da educação da ciência do trabalho etc O caso típico é o papel representado pelo inglês em função do poder e da influência da economia norteamericana Essa influência cresceu ao longo deste século principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial e atingiu seu apogeu na chamada sociedade globalizada e de alto nível tecnológico em que alguns indivíduos vivem neste final do século O inglês hoje é a língua mais usada no mundo dos negócios e em alguns países como Holanda Suécia e Finlândia seu domínio é praticamente universal nas universidades É possível antever que no futuro outras línguas desempenhem esse papel Devese considerar também o papel do espanhol cuja importância cresce em função do aumento das trocas econômicas entre as nações que integram o Mercado das Nações do Cone Sul Mercosul Esse é um fenômeno típico da história recente do Brasil que apesar da proximidade geográfica com países de fala espanhola se mantinha impermeável à penetração do espanhol Fatores relativos às comunidades locais A convivência entre comunidades locais e imigrantes ou indígenas pode ser um critério para a inclusão de determinada língua no currículo escolar Justificase pelas relações envolvidas nessa convivência as relações culturais afetivas e de parentesco Por outro lado em comunidades indígenas e em comunidades de surdos nas quais a língua materna não é o português justificase o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua Fatores relativos à tradição O papel que determinadas línguas estrangeiras tradicionalmente desempenham nas relações culturais entre os países pode ser um fator a ser considerado O francês por exemplo desempenhou e desempenha importante papel do ponto de vista das trocas culturais entre o Brasil e a França e como instrumental de acesso ao conhecimento de toda uma geração de brasileiros UMA SÍNTESE DA SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL Esta síntese não representa a situação total pela dificuldade de se obter dados representativos da situação nacional como um todo O quadro que se segue decorre de dados obtidos a partir da análise das propostas elaboradas por equipes designadas por Secretarias Estaduais de Educação de oito estados de quatro regiões brasileiras No entanto é possível em função do conhecimento que se tem da área estender essas considerações gerais à situação dominante no país A primeira observação a ser feita é que o ensino de Língua Estrangeira não é visto como elemento importante na formação do aluno como um direito que lhe deve ser assegurado Ao contrário freqüentemente essa disciplina não tem lugar privilegiado no currículo sendo ministrada em algumas regiões em apenas uma ou duas séries do ensino fundamental Em outras tem o status de simples atividade sem caráter de promoção ou reprovação Em alguns estados ainda a Língua Estrangeira é colocada fora da grade curricular em Centros de Línguas fora do horário regular e fora da escola Fora portanto do contexto da educação global do aluno Quanto aos objetivos a maioria das propostas priorizam o desenvolvimento da habilidade de compreensão escrita mas essa opção não parece decorrer de uma análise de necessidades dos alunos nem de uma concepção explícita da natureza da linguagem e do processo de ensino e aprendizagem de línguas tampouco de sua função social Evidenciase a falta de clareza nas contradições entre a opção priorizada e os conteúdos e atividades sugeridos Essas contradições aparecem também no que diz respeito à abordagem escolhida A maioria das propostas situamse na abordagem comunicativa de ensino de línguas mas os exercícios propostos em geral exploram pontos ou estruturas gramaticais descontextualizados A concepção de avaliação no entanto contempla aspectos formativos que parecem adequados Todas as propostas apontam para as circunstâncias difíceis em que se dá o ensino e aprendizagem de Língua Estrangeira falta de materiais adequados classes excessivamente numerosas número reduzido de aulas por semana tempo insuficiente dedicado à matéria no currículo e ausência de ações formativas contínuas junto ao corpo docente ASPECTOS CENTRAIS NO DOCUMENTO Os temas centrais nesta proposta são a cidadania a consciência crítica em relação à linguagem e os aspectos sociopolíticos da aprendizagem de Língua Estrangeira Eles se articulam com os temas transversais notadamente pela possibilidade de se usar a aprendizagem de línguas como espaço para se compreender na escola as várias maneiras de se viver a experiência humana Para a viabilização desses temas no documento é essencial caracterizar duas questões teóricas de base uma determinada visão da linguagem isto é sua natureza sociointeracional o processo de aprendizagem entendido como sociointeracional Esses dois pilares são essenciais na sustentação do processo de ensinar e aprender línguas uma visão teórica da linguagem e da aprendizagem CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ENSINO LÍNGUA ESTRANGEIRA Aprender línguas significa aprender conhecimento e seu uso Diferentemente do que ocorre em outras disciplinas do currículo na aprendizagem de línguas o que se tem a aprender é também imediatamente o uso do conhecimento ou seja o que se aprende e o seu uso devem vir juntos no processo de ensinar e aprender línguas Assim caracterizar o objeto de ensino significa caracterizar os conhecimentos e os usos que as pessoas fazem deles ao agirem na sociedade Portanto ao ensinar uma língua estrangeira é essencial uma compreensão teórica do que é a linguagem tanto do ponto de vista dos conhecimentos necessários para usála quanto em relação ao uso que fazem desses conhecimentos para construir significados no mundo social A natureza sociointeracional da linguagem O uso da linguagem tanto verbal quanto visual é essencialmente determinado pela sua natureza sociointeracional pois quem a usa considera aquele a quem se dirige ou quem produziu um enunciado Todo significado é dialógico isto é é construído pelos participantes do discurso6 Além disso todo encontro interacional é crucialmente marcado pelo mundo social que o envolve pela instituição pela cultura e pela história Isso quer dizer que os eventos interacionais não ocorrem em um vácuo social Ao contrário ao se envolverem em uma interação tanto escrita quanto oral as pessoas o fazem para agirem no mundo social em um determinado momento e espaço em relação a quem se dirigem ou a quem se dirigiu a elas É nesse sentido que a construção do significado é social As marcas que definem as identidades sociais como pobres ricos mulheres homens negros brancos homossexuais heterossexuais idosos jovens portadores de necessidades especiais falantes de variedades estigmatizadas ou não falantes de línguas de prestígio social ou não etc são intrínsecas na determinação de como as pessoas podem agir no discurso ou como os outros podem agir em relação a elas nas várias interações orais e escritas das quais participam Vale dizer que o exercício do poder no discurso e o de resistência a ele são típicos dos encontros interacionais que se vivem no diaadia Quem usa a linguagem com alguém o faz de algum lugar determinado social e historicamente Assim os significados construídos no mundo social refletem os embates discursivos7 6 Discurso é uma concepção de linguagem como prática social por meio da qual as pessoas agem no mundo considerandose as condições não só de produção como também de interpretação 7 Embates discursivos são caracterizados pela confrontação entre discursos que veiculam percepções crenças visões de mundo ideologias diferentes etc aumentar o conhecimento sobre linguagem que o aluno construiu sobre sua língua materna por meio de comparações com a língua estrangeira em vários níveis possibilitar que o aluno ao se envolver nos processos de construir significados nessa língua se constitua em um ser discursivo no uso de uma língua estrangeira Os conhecimentos sistêmico de mundo e da organização textual Para que o processo de construção de significados de natureza sociointeracional seja possível as pessoas utilizam três tipos de conhecimento conhecimento sistêmico conhecimento de mundo e conhecimento da organização dos textos Esses conhecimentos compõem a competência comunicativa do aluno e o preparam para o engajamento discursivo O CONHECIMENTO SISTÊMICO O conhecimento sistêmico envolve os vários níveis da organização linguística que as pessoas têm os conhecimentos léxicosemânticos⁹ morfológicos sintáticos e fonéticofonológicos Ele possibilita que as pessoas ao produzirem enunciados façam escolhas gramaticalmente adequadas ou que compreendam enunciados apoiandose no nível sistêmico da língua Como exemplo consideremse as seguintes escolhas oferecidas pela língua portuguesa a escolha dos morfemas o e s que indicam o gênero masculino e plural respectivamente para se referir a Pedro e Paulo como meninos em oposição a Sônia e Beatriz como meninas a escolha do item lexical mulher para se referir a um ser do gênero feminino a escolha de uma organização sintática na voz ativa para indicar quem praticou uma ação a escolha de uma representação fonológica de um morfema por exemplo a para indicar um morfema de gênero feminino Outras línguas oferecem outras escolhas decorrentes de seus sistemas linguísticos O CONHECIMENTO DE MUNDO O conhecimento de mundo se refere ao conhecimento convencional que as pessoas têm sobre as coisas do mundo isto é seu préconhecimento do mundo Ficam armazenados ⁹O nível léxicosemântico se refere à organização linguística em relação às palavras de que uma língua dispõe como também em relação às redes de significado das quais essas palavras participam na memória das pessoas conhecimentos sobre várias coisas e ações por exemplo festas de aniversário casamentos oficinas de conserto de carros postos de gasolina concertos musicais etc conhecimentos construídos ao longo de suas experiências de vida Esses conhecimentos organizados na memória em blocos de informação variam de pessoa para pessoa pois refletem as experiências que tiveram os livros que leram os países onde vivem etc Podese contudo imaginar que algumas pessoas que tenham a mesma profissão professores por exemplo tenham mais conhecimentos de mundo em comum do que aquelas que exerçam outra profissão É esse tipo de conhecimento que permite a uma pessoa que vive no norte do Brasil por exemplo compreender o enunciado Ele prefere ouvir boidematraca enquanto alguém do sul sem conhecimento sobre os tipos de grupo de bumbameuboi pode não conseguir fazêlo Da mesma forma a ausência de conhecimento de mundo adequado pode constituir dificuldade para um profissional da área de química por exemplo compreender um texto escrito em sua língua materna sobre o ensino de línguas por lhe faltar conhecimento específico sobre essa área de conhecimento embora não tenha nenhuma dificuldade com aspectos do texto relacionados ao conhecimento sistêmico Do mesmo modo para o aluno de Língua Estrangeira ausência de conhecimento de mundo pode apresentar grande dificuldade no engajamento discursivo principalmente se não dominar o conhecimento sistêmico na interação oral ou escrita na qual estiver envolvido Por exemplo a dificuldade para entender a fala de alguém sobre um assunto que desconheça pode ser maior se o aluno tiver problemas com o vocabulário usado eou com a sintaxe Por outro lado essa dificuldade será diminuída se o assunto já for do conhecimento do aluno Além disso não é comum vincularse a práticas interacionais orais e escritas que não sejam significativas e motivadoras para o engajamento discursivo Em Língua Estrangeira o problema do conhecimento de mundo referente ao assunto de que se fale ou sobre o qual se leia ou escreva pode também ser complicado caso seja culturalmente distante do aluno Por exemplo consideremse as dificuldades que um aluno iniciante brasileiro de francês pouco familiarizado com a cultura francesa enfrentaria para ler um texto que descrevesse o ritual que envolve uma refeição tradicional na França ou o funcionamento do metrô de Paris na hora de maior movimento Ao mesmo tempo é esse tipo de conhecimento que pode com o desenvolvimento da aprendizagem no nível sistêmico colaborar no aprimoramento conceptual do aluno ao expôlo a outras visões do mundo a outros modos de viver a vida social e política à possibilidade de reconhecer outras experiências humanas diferentes como válidas etc dos quais se participa com base nas posições ocupadas em certos momentos da história e em espaços culturais e institucionais específicos Em outras palavras os projetos políticos as crenças e os valores dos participantes do discurso são intrínsecos aos processos de uso da linguagem Daí os movimentos de organização política de certos grupos sociais os semterra mulheres negros etc que pretendem resistir a formas de tratamento social que não lhes garantam igualdade É importante perceber que essas formas por serem construídas no discurso podem também ser destruídas e reconstruídas em outras bases A consciência desses processos é o primeiro passo na construção de uma sociedade mais igualitária A relação entre língua estrangeira e língua materna na aprendizagem O processo sociointeracional de construir conhecimento linguístico e aprender a usálo já foi percorrido pelo aluno no desafio de aprender sua língua materna Ao chegar à quinta série a criança já é um falante competente de sua língua para os usos que se apresentam nas comunidades discursivas⁸ imediatas das quais participa em sua socialização em casa ou nas brincadeiras com os amigos fora de casa e em outras comunidades discursivas Essas outras comunidades podem exigir a aprendizagem de uma variedade da língua materna ou de padrões interacionais diferentes dos que teve acesso em casa por exemplo modos de interagir com outra pessoa em sala de aula Neste percurso o aluno já aprendeu usos da linguagem com os quais pode não ter se familiarizado em casa por exemplo na leitura e na produção de um texto escrito tendo também interiorizado sua natureza sociointeracional por exemplo ao aprender a considerar as marcas das identidades sociais idade gênero etc daqueles com quem fala em contextos sociais específicos e começado a construir conhecimento de natureza metalinguística nas aulas de língua materna Isso lhe possibilita pensar falar ler e escrever sobre sua própria língua Enfim o aluno já sabe muito sobre sua língua materna e sobre como usála ou seja sabe muito sobre linguagem Em linhas gerais o que a aprendizagem de uma Língua Estrangeira vai fazer é ⁸ Comunidades discursivas são os espaços sociais lar escola clube etc orientados por práticas sociais específicas de construção de significado dos quais se participa O CONHECIMENTO DA ORGANIZAÇÃO TEXTUAL O terceiro tipo de conhecimento que o usuário de uma língua tem engloba as rotinas interacionais que as pessoas usam para organizar a informação em textos orais e escritos Por exemplo para dar uma aula expositiva é necessário o conhecimento de como organizar a informação na interação que é de natureza diferente da organização da informação em uma conversa Em uma aula expositiva há toda uma preocupação em organizar a fala para a introdução ao assunto para seu desenvolvimento e sua conclusão para facilitar a compreensão do aluno Já em uma conversa informal essa preocupação não está presente Em geral os textos orais e escritos podem ser classificados em três tipos básicos narrativos descritivos e argumentativos Isso não quer dizer porém que os textos narrativos não tenham elementos descritivos ou que os argumentativos não tenham elementos narrativos Esses três tipos básicos são usados na organização de vários outros tipos de textos que têm funções diferentes na prática social textos literários poema romance etc textos pedagógicos material didático para ensinar espanhol aula expositiva etc textos científicos relatório de pesquisa trabalho publicado em revista científica etc textos epistolares carta pessoal carta de negócio etc textos de propagandas anúncio para vender uma TV entrevistas debates etc Assim dependendo do alvo a ser atingindo o autor escolherá um ou outro tipo de texto O conhecimento sobre a organização de textos orais e escritos pode ser chamado também de intertextual e é de natureza convencional Devese notar também que usuários de línguas diferentes podem organizar textos escritos e orais de forma distinta Por exemplo mesmo em uma conversa informal em inglês não se admitem tantas interrupções e fracionamento dos tópicos quanto parecem ocorrer em uma conversa informal em português Da mesma forma um texto escrito em inglês não permite tantas digressões do tópico principal quanto um texto em português Esse conhecimento intertextual que têm os usuários de uma língua é também acionado por leitores e ouvintes na tarefa de compreensão Estes sabem que ao se depararem com uma história por exemplo devem esperar um determinado tipo de organização da informação Em português inglês espanhol francês alemão ou italiano os leitores ou ouvintes ao encontrarem no início de um texto os itens Era uma vez Once upon a time Había una vez Il était une fois Es war einmal ou Cera una volta já sabem que vão lerouvir uma história que normalmente terá a informação organizada em situação problema solução e avaliação Assim ao encontrarem uma situação os leitoresouvintes esperam encontrar o problema a seguir a solução e a avaliação Se uma dessas partes da organização textual não aparece na história lida ou contada o leitor ou o ouvinte 10 Rotinas interacionais se referem a convenções sobre a organização da informação em textos orais e escritos que as pessoas usam ao se envolverem na negociação do significado ao recontála tenderá a preenchêla adequadamente de modo a projetar coerência no texto A projeção dos conhecimentos na construção do significado São esses conhecimentos sistêmico de mundo e da organização de textos que falantes e escritores utilizam na construção do significado para atingirem suas propostas comunicativas apoiandose nas expectativas de seus interlocutores em relação ao que devem esperar no discurso Em contrapartida os interlocutores ouvintes e leitores projetam esses conhecimentos na construção do significado O processo de construção de significado resulta no modo como as pessoas realizam a linguagem no uso e é essencialmente determinado pelo momento que se vive a história e os espaços em que se atua contextos culturais e institucionais ou seja pelo modo como as pessoas agem por meio do discurso no mundo social o que foi chamado de a natureza sociointeracional da linguagem Assim os significados não estão nos textos são construídos pelos participantes do mundo social leitores escritores ouvintes e falantes Os conhecimentos sistêmicos de mundo e de organização textual e o processo de ensinar e aprender Língua Estrangeira Um dos procedimentos básicos de qualquer processo de aprendizagem é o relacionamento que o aluno faz do que quer aprender com aquilo que já sabe Isso quer dizer que um dos processos centrais de construir conhecimento é baseado no conhecimento que o aluno já tem a projeção dos conhecimentos que já possui no conhecimento novo na tentativa de se aproximar do que vai aprender No que se refere aos conhecimentos que o aluno tem de adquirir em relação à língua estrangeira ele irá se apoiar nos conhecimentos correspondentes que tem e nos usos que faz deles como usuário de sua língua materna em textos orais e escritos Essa estratégia de correlacionar os conhecimentos novos da língua estrangeira e os conhecimentos que já possui de sua língua materna é uma parte importante do processo de ensinar e aprender a Língua Estrangeira Tanto que uma das estratégias típicas usadas por aprendizes é exatamente a transferência do que sabe como usuário de sua língua materna para a língua estrangeira Em relação ao conhecimento sistêmico o aluno vai encontrar pontos de convergências e divergências entre a língua materna e a língua estrangeira nos vários níveis de organização linguística É claro que dependendo da estrutura e organização da língua estrangeira haverá mais semelhança entre o português e uma língua estrangeira específica do que entre outras Assim podese dizer que o português o espanhol o francês ou o inglês são tipologicamente mais próximos do que o português e o japonês De qualquer modo uma parte importante do que o aluno precisa aprender está relacionada ao conhecimento sistêmico embora essa aprendizagem possa ser facilitada ao se apoiar principalmente no início da aprendizagem nas convergências entre o que o aluno já sabe do conhecimento sistêmico de sua língua materna e a língua estrangeira Isso vai facilitar o engajamento do aluno com o discurso o que se prioriza nesta proposta Podese dizer também que uma maneira de facilitar a aprendizagem do conhecimento sistêmico e colaborar para o engajamento discursivo da parte do aluno é exatamente fazêlo se apoiar em textos orais e escritos que tratam de conhecimento de mundo com o qual já esteja familiarizado Assim para ensinar um aluno a se envolver no discurso em uma língua estrangeira aquilo do que trata a interação deve ser algo com o qual já esteja familiarizado Isso pode ajudar a compensar a ausência de conhecimento sistêmico da parte do aluno além de fazêlo sentirse mais seguro para começar a arriscarse na língua estrangeira O conhecimento de mundo referido nos textos pode ser ampliado com o passar do tempo e incluir questões novas para o aluno de modo a alargar seus horizontes conceptuais o que aliás é uma das grandes contribuições da aprendizagem de Língua Estrangeira Quanto ao conhecimento da organização de textos orais e escritos o aluno pode se apoiar também nos tipos de texto que já conhece como usuário de sua língua materna Por exemplo em uma aula de leitura para alunos de quinta série a utilização de narrativas um tipo de texto com o qual as crianças já estão bem familiarizadas poderá também colaborar para o envolvimento do aluno com o discurso no processo de aprender Com o desenvolvimento da aprendizagem o aluno será exposto a novas maneiras de organizar textos orais e escritos entrevistas matérias jornalísticas verbetes de enciclopédia conversas radiofônicas etc A consciência desses tipos de conhecimento pelo aluno é o que será chamado aqui de consciência lingüística que além de ampliar o conhecimento que o aluno tem sobre o fenômeno lingüístico isto é incluindo a percepção de sua língua materna tem um alto valor na aprendizagem de Língua Estrangeira devido à sua natureza metacognitiva Consciência lingüística se refere à conscientização da organização lingüística em vários níveis fonéticofonológico morfológico sintático léxicosemântico e textual A natureza metacognitiva da aprendizagem se refere à possibilidade de se usar estratégias de monitoração ou o controle da aprendizagem que facilitam o processo As pesquisas indicam que quando os alunos controlam a aprendizagem têm mais sucesso nesse processo Os usos dos conhecimentos e o processo de aprender e ensinar Língua Estrangeira Os usos dos conhecimentos sistêmicos de mundo e da organização de textos na construção do significado também é parte do que o aluno já está acostumado a fazer como usuário de sua língua materna Por exemplo no nível sistêmico o aluno já sabe que a construção de significados envolve o estabelecimento de elos coesivos como a procura dos referentes Desta forma ao se deparar com o pronome ele em português sabe que tem de procurar anteriormente no texto um referente do gênero masculino um antecedente para estabelecer o elo coesivo Do mesmo modo ao encontrar um conectivo o aluno já sabe que ele indica como uma sequência deve ser interpretada em relação à seqüência que veio antes O item porque normalmente prepara o usuário para esperar a causa do que foi dito anteriormente no nível de conhecimento de mundo o aluno já sabe que tem de projetar no texto o préconhecimento adequado para construir o significado na busca da coerência do texto Para compreender uma interação sobre uma partida de futebol o aluno já sabe que terá de projetar seu conhecimento sobre o que acontece no jogo Na verdade quem fala já conta com esse préconhecimento da parte do ouvinte de modo que não terá de explicitar quando se tem que cobrar um pênalti no nível do conhecimento referente à organização dos textos o aluno já sabe como usuário de sua língua materna que ao ler uma carta na coluna de carta dos leitores de um jornal vai encontrar leitores se dirigindo ao editor reclamando ou apoiando alguma matéria publicada Esses usos em Língua Estrangeira têm de ser trazidos à mente do aluno posto que freqüentemente ele não tem consciência deles como usuário em sua língua materna É nesse sentido explorando aspectos metacognitivos da aprendizagem que a aprendizagem da Língua Estrangeira pode ajudar na educação lingüística do aluno como um todo aumentando sua consciência do fenômeno lingüístico e no aprimoramento de seu nível de letramento Devese considerar ainda que a consciência crítica de como as pessoas usam estes tipos de conhecimento traz para o aluno a percepção da linguagem como fenômeno social o que é caracterizado aqui como a natureza sociointeracional da linguagem Quando alguém usa a linguagem o faz de algum lugar localizado na história na cultura e na instituição definido nas múltiplas marcas de sua identidade social13 e à luz de seus projetos políticos valores e crenças Esta questão será retomada no item em que se trata dos temas transversais 13 Entendese contudo que as identidades sociais são dinâmicas e contraditórias posto que construídas nas práticas discursivas das quais as pessoas participam Por exemplo uma mulher pode se submeter a um marido autoritário em casa e ter um papel autoritário como professsora na escola PAPEL DA ÁREA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO ENSINO FUNDAMENTAL DIANTE DA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA Lei de Diretrizes e Bases e Língua Estrangeira A questão do ensino de Língua Estrangeira na escola particularmente na escola pública tem sido amplamente discutida nos meios acadêmicos e educacionais Foi também objeto de manifestos de profissionais da área em reuniões científicas e de representações ao Congresso Nacional Até bem pouco tempo atrás a discussão era para se garantir a permanência dessa disciplina no currículo Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no entanto que prevê Língua Estrangeira como disciplina obrigatória no ensino fundamental a partir da quinta série a discussão não necessita mais ser defensiva Pode sim concentrarse nos aspectos educacionais de fundo da questão pois entendese que dentro das possibilidades da instituição se refere à escolha da língua a cargo da comunidade e não à inclusão de uma língua estrangeira já que o ensino desta deve ser obrigatório no currículo escolar Perspectiva educacional Embora nas considerações preliminares já se tenha feito menção ao papel educacional de Língua Estrangeira no currículo do ensino fundamental cabe enfatizar aqui esse aspecto A aprendizagem de Língua Estrangeira contribui para o processo educacional como um todo indo muito além da aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas Leva a uma nova percepção da natureza da linguagem aumenta a compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve maior consciência do funcionamento da própria língua materna Ao mesmo tempo ao promover uma apreciação dos costumes e valores de outras culturas contribui para desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão das culturas estrangeiras O desenvolvimento da habilidade de entenderdizer o que outras pessoas em outros países diriam em determinadas situações leva portanto à compreensão tanto das culturas estrangeiras quanto da cultura materna Essa compreensão intercultural promove ainda a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento Há ainda outro aspecto a ser considerado do ponto de vista educacional É a função interdisciplinar que a aprendizagem de Língua Estrangeira pode desempenhar no currículo O benefício resultante é mútuo O estudo das outras disciplinas notadamente de História Geografia Ciências Naturais Arte passa a ter outro significado se em certos momentos forem proporcionadas atividades conjugadas com o ensino de Língua Estrangeira levandose em consideração é claro o projeto educacional da escola Essa é uma maneira de viabilizar na prática de sala de aula a relação entre língua estrangeira e o mundo social isto é como fazer uso da linguagem para agir no mundo social A aprendizagem de Língua Estrangeira no ensino fundamental não é só um exercício intelectual em aprendizagem de formas e estruturas linguísticas em um código diferente é sim uma experiência de vida pois amplia as possibilidades de se agir discursivamente no mundo O papel educacional da Língua Estrangeira é importante desse modo para o desenvolvimento integral do indivíduo devendo seu ensino proporcionar ao aluno essa nova experiência de vida Experiência que deveria significar uma abertura para o mundo tanto o mundo próximo fora de si mesmo quanto o mundo distante em outras culturas Assim contribuise para a construção e para o cultivo pelo aluno de uma competência não só no uso de línguas estrangeiras mas também na compreensão de outras culturas Perspectives pragmática Embora predomine a sociedade industrial cada vez mais se acredita em uma economia baseada na criação e na distribuição da informação uma sociedade mais informatizada Não é mais possível no final do milênio operar em um sistema econômico nacional isolado e supostamente autosuficiente É preciso reconhecer cada sociedade como parte de uma economia global em que a informação pode ser partilhada instantaneamente mas que exige uma rápida restructuração da organização social para que se possa ter acesso a essa informação Essas características do mundo moderno têm por certo implicações importantes para o processo educacional como um todo e particularmente para o ensino de línguas na escola Se essas megatendências forem descrições exatas do panorama futuro é importante que se considere como preparar os jovens para responderem às exigências do novo mundo No que se refere ao ensino de línguas a questão tornase da maior relevância Para ser um participante atuante é preciso ser capaz de se comunicar E ser capaz de se comunicar não apenas na língua materna mas também em uma ou mais línguas estrangeiras O desenvolvimento de habilidades comunicativas em mais de uma língua é fundamental para o acesso à sociedade da informação Para que as pessoas tenham acesso mais igualitário ao mundo acadêmico ao mundo dos negócios e ao mundo da tecnologia etc é indispensável que o ensino de Língua Estrangeira seja entendido e concretizado como o ensino que oferece instrumentos indispensáveis de trabalho Linguagem é o meio pelo qual uma vasta gama de relações são expressas e é indiscutível o papel que ela desempenha na compreensão mútua na promoção de relações políticas e comerciais no desenvolvimento de recursos humanos O reverso da medalha no entanto é que ao mesmo tempo em que pode desempenhar esse papel de promotor de progresso e desenvolvimento a linguagem pode afetar as relações entre grupos diferentes em um país valorizando as habilidades de alguns grupos e desvalorizando as de outros Internamente pode servir como fonte poderosa e símbolo tanto de coesão como de divisão Externamente pode servir como instrumento de elitização que capacita algumas pessoas a ter acesso ao mundo exterior ao mesmo tempo em que nega esse acesso a outras No plano internacional situação semelhante se configura O que diz respeito à situação de indivíduos dentro de um país aplicase à situação de países dentro da comunidade internacional Se a tendência do mundo de hoje para o futuro é a dependência cada vez maior na troca de informação a linguagem e as línguas estão no cerne da questão quem controla a informação Língua Estrangeira como libertação Cabe aqui recorrer ao conceito freireano de educação como força libertadora aplicandoo ao ensino de Língua Estrangeira Uma ou mais línguas estrangeiras que concorrem para o desenvolvimento individual e nacional podem ser também entendidas como força libertadora tanto em termos culturais quanto profissionais Essa força faz as pessoas aprenderem a escolher entre possibilidades que se apresentam Mas para isso é necessário ter olhos esclarecidos para ver Isso significa também despojarse de qualquer tipo de falso nacionalismo que pode ser um empecilho para o desenvolvimento pleno do cidadão no seu espaço social imediato e no mundo A aprendizagem de Língua Estrangeira aguça a percepção e ao abrir a porta para o mundo não só propicia acesso à informação mas também torna os indivíduos e conseqüentemente os países mais bem conhecidos pelo mundo Essa é uma visão de ensino de Língua Estrangeira como força libertadora de indivíduos e de países Esse conceito tem sido bastante discutido também no âmbito de ensino da língua materna Podese considerar o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a linguagem como parte dessa visão linguística como libertação O inglês como língua estrangeira hegemônica Questões como poder e desigualdade são centrais no ensino e aprendizagem de línguas particularmente no contexto de Língua Estrangeira Tem sido preocupação freqüente de estudiosos da linguagem notadamente no que se refere à situação de dominação do inglês como segunda língua e mesmo como Língua Estrangeira A posição do inglês nos campos dos negócios da cultura popular e das relações acadêmicas uma maneira de viabilizar na prática de sala de aula a relação entre língua estrangeira e o mundo social isto é como fazer uso da linguagem para agir no mundo social A aprendizagem de Língua Estrangeira no ensino fundamental não é só um exercício intelectual em aprendizagem de formas e estruturas linguísticas em um código diferente é sim uma experiência de vida pois amplia as possibilidades de se agir discursivamente no mundo O papel educacional da Língua Estrangeira é importante desse modo para o desenvolvimento integral do indivíduo devendo seu ensino proporcionar ao aluno essa nova experiência de vida Experiência que deveria significar uma abertura para o mundo tanto o mundo próximo fora de si mesmo quanto o mundo distante em outras culturas Assim contribuise para a construção e para o cultivo pelo aluno de uma competência não só no uso de línguas estrangeiras mas também na compreensão de outras culturas Perspectiva pragmática Embora predomine a sociedade industrial cada vez mais se acredita em uma economia baseada na criação e na distribuição da informação uma sociedade mais informatizada Não é mais possível no final do milênio operar em um sistema econômico nacional isolado e supostamente autosuficiente É preciso reconhecer cada sociedade como parte de uma economia global em que a informação pode ser partilhada instantaneamente mas que exige uma rápida restructuração da organização social para que se possa ter acesso a essa informação Essas características do mundo moderno têm por certo implicações importantes para o processo educacional como um todo e particularmente para o ensino de línguas na escola Se essas megatendências forem descrições exatas do panorama futuro é importante que se considere como preparar os jovens para responderem às exigências do novo mundo No que se refere ao ensino de línguas a questão tornase da maior relevância Para ser um participante atuante é preciso ser capaz de se comunicar E ser capaz de se comunicar não apenas na língua materna mas também em uma ou mais línguas estrangeiras O desenvolvimento de habilidades comunicativas em mais de uma língua é fundamental para o acesso à sociedade da informação Para que as pessoas tenham acesso mais igualitário ao mundo acadêmico ao mundo dos negócios e ao mundo da tecnologia etc é indispensável que o ensino de Língua Estrangeira seja entendido e concretizado como o ensino que oferece instrumentos indispensáveis de trabalho Língua Estrangeira e exclusão social A linguagem é o meio pelo qual uma vasta gama de relações são expressas e é PAPEL DA ÁREA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO ENSINO FUNDAMENTAL DIANTE DA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA Lei de Diretrizes e Bases e Língua Estrangeira A questão do ensino de Língua Estrangeira na escola particularmente na escola pública tem sido amplamente discutida nos meios acadêmicos e educacionais Foi também objeto de manifestos de profissionais da área em reuniões científicas e de representações ao Congresso Nacional Até bem pouco tempo atrás a discussão era para se garantir a permanência dessa disciplina no currículo Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no entanto que prevê Língua Estrangeira como disciplina obrigatória no ensino fundamental a partir da quinta série a discussão não necessita mais ser defensiva Pode sim concentrarse nos aspectos educacionais de fundo da questão pois entendese que dentro das possibilidades da instituição se refere à escolha da língua a cargo da comunidade e não à inclusão de uma língua estrangeira já que o ensino desta deve ser obrigatório no currículo escolar Perspectiva educacional Embora nas considerações preliminares já se tenha feito menção ao papel educacional de Língua Estrangeira no currículo do ensino fundamental cabe enfatizar aqui esse aspecto A aprendizagem de Língua Estrangeira contribui para o processo educacional como um todo indo muito além da aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas Leva a uma nova percepção da natureza da linguagem aumenta a compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve maior consciência do funcionamento da própria língua materna Ao mesmo tempo ao promover uma apreciação dos costumes e valores de outras culturas contribui para desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão das culturas estrangeiras O desenvolvimento da habilidade de entenderdizer o que outras pessoas em outros países diriam em determinadas situações leva portanto à compreensão tanto das culturas estrangeiras quanto da cultura materna Essa compreensão intercultural promove ainda a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento Há ainda outro aspecto a ser considerado do ponto de vista educacional É a função interdisciplinar que a aprendizagem de Língua Estrangeira pode desempenhar no currículo O benefício resultante é mútuo O estudo das outras disciplinas notadamente de História Geografia Ciências Naturais Arte passa a ter outro significado se em certos momentos forem proporcionadas atividades conjugadas com o ensino de Língua Estrangeira levandose em consideração é claro o projeto educacional da escola Essa é internacionais colocao como a língua do poder econômico e dos interesses de classes constituindose em possível ameaça para outras línguas e em guardião de posições de prestígio na sociedade Por outro lado há a posição dos que olham a cultura como um processo em constante negociação neste momento realizado em condições políticoculturais de interrelacionamento global Isso se torna particularmente importante agora quando as fronteiras tradicionais do mundo estão se abrindo Há de se evitar teorias totalizantes de reprodução social e cultural por exemplo visões de uma sociedade consumista global veiculadas por uma língua hegemônica como o inglês para se chegar a um paradigma crítico que reconheça o papel do ser humano na transformação da vida social Isso fará com que se atente não só para como as vidas das pessoas são reguladas pelo discurso mas também para como as pessoas resistem a essas visões totalizantes ao produzirem seus próprios discursos Nesse sentido a aprendizagem do inglês tendo em vista o seu papel hegemônico nas trocas internacionais desde que haja consciência crítica desse fato pode colaborar na formulação de contradiscursos14 em relação às desigualdades entre países e entre grupos sociais homens e mulheres brancos e negros falantes de línguas hegemônicas e nãohegemônicas etc Assim os indivíduos passam de meros consumidores passivos de cultura e de conhecimento a criadores ativos o uso de uma Língua Estrangeira é uma forma de agir no mundo para transformálo A ausência dessa consciência crítica no processo de ensino e aprendizagem de inglês no entanto influi na manutenção do status quo ao invés de cooperar para sua transformação A escolha de línguas estrangeiras para o currículo Há de se considerar critérios para definir que línguas estrangeiras devem ser incluídas no currículo É necessário se ponderar sobre a visão utópica de um mundo no qual o desejo idealista de um estado de coisas prevalece sobre uma avaliação mais realista daquilo que é possível Por um lado há de considerar o valor educacional e cultural das línguas derivado de objetivos tradicionais e intelectuais para a aprendizagem de Língua Estrangeira que conduzam a uma justificativa para o ensino de qualquer língua Por outro lado há de considerar as necessidades lingüísticas da sociedade e suas prioridades econômicas quanto a opções de línguas de significado econômico e geopolítico em um determinado momento histórico Isso reflete a atual posição do inglês e do espanhol no Brasil 14 Contradiscursos são práticas sociais de uso da linguagem caracterizadas pela confrontação de práticas discursivas hegemônicas por exemplo os contradiscursos dos negros em relação aos discursos dos brancos Língua Estrangeira e construção de cidadania A Língua Estrangeira no ensino fundamental tem um valioso papel construtivo como parte integrante da educação formal Envolve um complexo processo de reflexão sobre a realidade social política e econômica com valor intrínseco importante no processo de capacitação que leva à libertação Em outras palavras Língua Estrangeira no ensino fundamental é parte da construção da cidadania A RELAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER LÍNGUA ESTRANGEIRA COM OS TEMAS TRANSVERSAIS Ensino de Língua Estrangeira modo singular para focalizar a relação entre linguagem e sociedade A aprendizagem de Língua Estrangeira representa outra possibilidade de se agir no mundo pelo discurso além daquela que a língua materna oferece Da mesma forma que o ensino da língua materna o ensino de Língua Estrangeira incorpora a questão de como as pessoas agem na sociedade por meio da palavra construindo o mundo social a si mesmos e os outros à sua volta Portanto o ensino de línguas oferece um modo singular para tratar das relações entre a linguagem e o mundo social já que é o próprio discurso que constrói o mundo social A aprendizagem de Língua Estrangeira oferece acesso a como são construídos os temas propostos como transversais em práticas discursivas de outras sociedades É uma experiência de grande valor educacional posto que fornece os meios para os aprendizes se distanciarem desses temas ao examinálos por meio de discursos construídos em outros contextos sociais de modo a poderem pensar sobre eles criticamente no meio social em que vivem Assim os temas transversais que têm um foco claro em questões de interesse social podem ser facilmente trazidos para a sala de aula via Língua Estrangeira A análise das interações orais e escritas em sala de aula é um meio privilegiado para tratar dos temas transversais ao se enfocar as escolhas linguísticas que as pessoas fazem para agir no mundo social Isso pode ser feito tanto do ponto de vista das escolhas temáticas os conhecimentos de mundo acionados aquilo do que se fala sobre o que se escreve ou se lê quanto do ponto de vista das escolhas sistêmicas nos níveis sintático morfológico lexicosemântico fonéticofonológico e de organização textual tipos de texto e ainda da variação linguística como comunidades de falantes de regiões diferentes de um mesmo país variam no uso da língua por exemplo Um procedimento pedagógico útil para mostrar ao aluno que a linguagem é uma prática social ou seja envolve escolhas da parte de quem escreve ou fala para construir significados em relação a outras pessoas em contextos culturais históricos e institucionais específicos é submeter todo texto oral e escrito a sete perguntas quem escreveufalou sobre o que para quem para que quando de que forma onde Essas perguntas serão retomadas a seguir Escolhas temáticas Os temas transversais podem ser focalizados pela análise comparativa de como questões particulares são tratadas no Brasil e nos países onde as línguas estrangeiras são faladas como língua materna eou língua oficial Essas questões podem envolver tópicos como o respeito à ética nas relações cotidianas no trabalho e no meio político brasileiro a preocupação com a saúde a garantia de que todo cidadão brasileiro tenha direito ao trabalho a consciência dos perigos de uma sociedade que privilegia o consumo em detrimento das relações entre as pessoas o respeito aos direitos humanos aqui incluídos os culturais e os lingüísticos a preservação do meio ambiente a percepção do corpo como fonte de prazer a consciência da pluralidade de expressão da sexualidade humana a mudança no papel que a mulher desempenha na sociedade a organização política das minorias étnicas por exemplo os maoris na Nova Zelândia os quechuas no Peru os argelinos na França os ianomâmis no Brasil e na Venezuela e nãoétinicas por exemplo idosos portadores de necessidades especiais homossexuais falantes de uma variedade não hegemônica É claro que está implícita aqui a necessidade de que os textos abordem os temas transversais que podem ser tratados em níveis diferentes dependendo do préconhecimento de mundo sistêmico e de organização textual do aluno Isso não quer dizer contudo que esses temas só podem ser trazidos para a sala de aula quando o aluno tiver avançado nesses conhecimentos Podese por exemplo tratar da questão da posição da mulher na sociedade ou da preservação do meio ambiente em textos que envolvam pouco conhecimento sistêmico ou até que envolvam mais conhecimento desse tipo do que o aluno disponha Em outras palavras a questão crucial é o objetivo proposto para a realização da tarefa pedagógica levandose em conta a adequação do tema à idade do aluno e ao meio social em que vive Cabe aos professores exercerem seu sentido crítico na escolha do conteúdo tematizado A tematização da poluição em uma cidade como Nova York ou Madri contudo pode ser levantada não só em uma cidade grande como São Paulo mas também em outras cidades menores por meio da comparação com outros tipos de problemas ecológicos por exemplo a contaminação dos mananciais de onde vem a água potável de um lugarejo É nesse sentido que a aula de Língua Estrangeira pode aprimorar o conhecimento de mundo do aluno Notese também que as línguas estrangeiras dão acesso sobre o modo como certas questões sociais as ambientais por exemplo são tratadas em nível planetário Este posicionamento em relação às temáticas tratadas em sala de aula questiona o fenômeno do texto sobre a escova de dente15 tão comum em sala de aula de Língua 15 Esta metáfora se refere a textos que não tematizam explicitamente questões sociais Estrangeira que desloca a linguagem do mundo social A temática de um texto sobre uma escova de dente não situa imediatamente a linguagem como um fenômeno social já que o engajamento discursivo pela motivação temática não está patente a menos que esse texto seja tratado em sala de aula em um contexto interacional que o faça valer como prática social como será mostrado a seguir Comparese o texto sobre uma escova de dente com outros que problematizem as questões que se vivenciam no mundo social a ética na política as dificuldades cada vez maiores de se conseguir emprego a importância de se utilizar práticas preventivas na vida sexual o respeito aos direitos de todos os cidadãos sem distinção de gênero etnia ou opção sexual etc O engajamento discursivo aqui é imediato tendo em vista as temáticas sugerirem a vida social de forma explícita Continuandose com o mesmo fenômeno do texto sobre escova de dente podese dizer contudo que o uso em sala de aula de propagandas de diferentes tipos de escova de dente pode situar os participantes discursivos fazendo algo no mundo social por meio da linguagem por exemplo vendendo um produto utilizando uma propaganda se for tratado como tal É nesse sentido que as sete perguntas anteriormente sugeridas podem ser utilizadas em sala de aula quem elaborou a propaganda uma agência homem mulher etc do que trata um tipo de escova de dente nova para quem uma escova tão sofisticada que só poderá ser comprada por quem tem dinheiro uma escova dobrável para caber em bolso de homens etc quando uma propaganda elaborada em uma determinada época quando não havia muita sofisticação nos tipos de escova de dente quando o desenvolvimento tecnológico era menor etc de que forma o texto conta uma historinha apresenta um diálogo é ilustrado etc onde foi publicado em um revista de jovens de mulheres etc para que qual é o resultado da propaganda nos receptores A questão central portanto é a visão de linguagem que subjaz à prática do professor e como ela é viabilizada por meio da metodologia de ensino ESCOLHAS DE ORGANIZAÇÃO TEXTUAL A utilização em sala de aula de tipos de textos diferentes além de contribuir para o aumento do conhecimento intertextual do aluno pode mostrar claramente que os textos são usados para propósitos diferentes na sociedade Por exemplo a comparação de um texto publicado em um editorial de um jornal do movimento de defesa dos direitos dos argelinos na França de afroamericanos nos Estados Unidos ou dos indígenas no México com um editorial de um jornal conservador desses países sobre o mesmo assunto e ainda com uma história contada por um indivíduo desses grupos sociais sobre sua vida pode situar para os alunos o fato de que ao agirem no discurso por meio da linguagem as pessoas fazem escolhas de organização textuais na dependência de seus propósitos comunicativos no mundo Esses significados refletem suas visões de mundo projetos políticos etc É claro que será útil também comparar esses textos com um outro da mesma natureza temática e de tipo publicado em um jornal brasileiro por exemplo Esse trabalho de natureza intercultural pode evidenciar como a organização política na luta pela emancipação de minorias étnicas tem sido concretizada em outros países e no Brasil ESCOLHAS SISTÊMICAS Colocar o foco nas escolhas sistêmicas feitas por participantes discursivos específicos em línguas estrangeiras particulares pode ajudar a chamar a atenção para a maneira como a representação discursiva do mundo social é feita em línguas diferentes Por exemplo a análise de textos acadêmicos em inglês nos quais os usuários excluem cada vez mais o item lexical manhomem em seu uso genérico tanto na língua escrita quanto na língua oral por exemplo O homem do final do século XX deverá ter um alto nível de letramento em sua língua materna e pelo menos em uma língua estrangeira preferindo itens como o humanbeingser humano personpessoa etc Da mesma forma podese analisar textos em inglês em que a referência pronominal de uma palavra não claramente marcada pelo gênero como teacherprofessor tende a ser cada vez mais feita por pronomes que marcam tanto o gênero masculino quanto feminino por exemplo heshe eleela ou até formas do tipo she elea Esses dois exemplos ilustram como a luta da mulher por sua emancipação tem afetado a representação discursiva Outra questão importante é observar como alguns itens lexicais são escolhidos para se referir às minorias ou a pessoas em situação de desigualdade os negros os gaysas lésbicas as mulheres os indígenas os imigrantes os mendigos etc em certo tipo de imprensa Os tablóides ingleses por exemplo são cheios de representações sociais negativas dessas pessoas A comparação com as manchetes da imprensa marrom brasileira16 pode ser muito reveladora É interessante ressaltar as contradições sociais refletidas nos discursos de uma mesma língua a representação discursiva da emancipação da mulher em algumas formas de discurso em inglês coexiste paralelamente com outras representações negativas da mulher e das minorias Essa visão é extremamente útil para se perceber as culturas como sendo múltiplas e plurais e espaços de conflitos A análise das marcas discursivas leva para o centro da sala de aula uma posição em relação à cultura de língua estrangeira totalmente diferente da visão tradicional que a representa como sendo unívoca e não plural pasteurizadaidealizada e não real 16 Embora as manchetes dos tablóides ingleses e da imprensa marrom brasileira mais obviamente ilustrem esta questão os textos e as manchetes da grande imprensa frequentemente de forma implícita e portanto até mais perniciosa também revelam representações negativas das minorias e podem ser usados em sala de aula Um outro ponto que pode ser focalizado são as escolhas no nível da sintaxe por exemplo a questão da transitividade Chamar a atenção do aluno para o fato de que ao elaborar a manchete de um jornal o jornalista que escolhe usar uma passiva tira o foco de atenção de quem é o causador de um fato e focaliza a ação Por exemplo dizer que um indígena foi assassinado é diferente de indicar quem o assassinou A consciência crítica17 de como a linguagem é usada no mundo social pode ser bem desenvolvida em Língua Estrangeira devido ao distanciamento que ela oferece possibilitando um estranhamento mais fácil em relação ao modo como as pessoas usam a linguagem na sociedade Ao mesmo tempo que isso traz para o centro do currículo a relação da linguagem com o mundo social constitui um modo de integrar os temas transversais com a área de Língua Estrangeira Além disso a consciência crítica em relação à linguagem possibilita o surgimento de novas práticas sociais por meio da criação de espaços na escola para a construção de contradiscursos VARIAÇÃO LINGUÍSTICA A questão da variação lingüística em Língua Estrangeira pode ajudar não só a compreensão do fenômeno lingüístico da variação na própria língua materna como também do fato de que a língua estrangeira não existe só na variedade padrão conforme a escola normalmente apresenta Aqui não é suficiente mostrar a relação entre grupos sociais diferentes regionais de classe social profissionais de gênero etc e suas realizações lingüísticas é necessário também indicar que as variações lingüísticas marcam as pessoas de modo a posicionálas no discurso o que pode muitas vezes excluílas de certos bens materiais e culturais É útil apresentar para o aluno por exemplo como a variedade do inglês falado pelos negros americanos é discriminada na sociedade e portanto como estes equivocadamente são posicionados no discurso como inferiores A comparação com variedades não hegemônicas do português brasileiro pode ser esclarecedora já que seus falantes também sofrem discriminação social Isso quer dizer que algumas variedades lingüísticas têm mais prestígio social do que outras Para ilustrar este fato basta comparar o valor dado a variedades rurais e variedades urbanas nas trocas interacionais urbanas Comparar falantes dessas duas variedades em uma situação em que estão se 17 Consciência crítica da linguagem tem a ver com a consciência de como as pessoas usam a linguagem para agirem no mundo social a partir de seus projetos políticos e da representação que fazem dos seus interlocutores branco rico patrão homem heterosexual falante de uma variedade hegemônica etc candidatando a um emprego na cidade pode esclarecer para o aluno como as variedades lingüísticas entre outros fatores que revelam sua identidade social classe social etnia gênero opção sexual etc marcam as pessoas na vida social o que pode fazer com que uma obtenha emprego e outra não Não se deve esquecer ainda que as marcas de variedades são freqüentemente fruto de processos de exclusão A consciência desses processos na escola pode colaborar na compreensão de que diferença lingüística não pode ser equacionada com inferioridade como também conseqüentemente na criação de uma sociedade mais justa já que a linguagem é central na determinação das relações humanas e da identidade social das pessoas Assim reafirmase o direito de ser diferente cultural e lingüisticamente PLURALIDADE CULTURAL O tema transversal Pluralidade Cultural merece um tratamento especial devido ao fato de o ensino de Língua Estrangeira se prestar sobremodo ao enfoque dessa questão Esse tema pode ser focalizado a fim de desmistificar compreensões homogeneizadoras de culturas específicas que envolvem generalizações típicas de aulas de Língua Estrangeira do tipo por exemplo os ingleses ou os franceses são assim ou assado É extremamente educativo expor o aluno à diversidade cultural francesa por exemplo ao observar a vida em uma cidade como Paris em que grupos de nacionalidades diferentes tais como franceses argelinos portugueses senegaleses e de outros tipos de minorias coexistem nem sempre de forma pacífica na construção de natureza multifacetada do que é a cultura francesa Tratase de algo extremamente enriquecedor para o aluno que constrói uma compreensão mais real do que é a complexidade cultural de um país e também uma percepção crítica das tradicionais visões pasteurizadas e unilaterais de uma cultura por exemplo as visões tradicionais de que os ingleses tomam chá às cinco horas da tarde ou de que são todos extremamente polidos Comparativamente a pluralidade cultural brasileira indígenas negros brancos católicos seguidores de cultos religiosos de origem africana judeus sambistas adeptos de reggae etc pode ser trazida à tona em uma tentativa de acabar com visões estereotipadas do que é ser brasileiro Em um país culturalmente plural como o Brasil é pernicioso trabalhar em sala de aula com uma visão que exclui grande parte da população brasileira das representações que a criança costuma ter no discurso pedagógico o que inclui também suas representações em material didático branco católico morador do sulmaravilha classe média falante de uma variedade hegemônica etc Em relação ao tema Pluralidade Cultural também é essencial que se traga para a sala de aula o fato de que pelos processos de colonização muitas línguas estrangeiras tradicionalmente equacionadas com as línguas faladas pelos nativos dos países colonizadores Inglaterra Espanha França etc são hoje usadas em várias partes do mundo como línguas oficiais e até mesmo como línguas maternas Não faz sentido por exemplo considerar o espanhol somente como a língua da Espanha como também considerar o inglês somente como a língua da Inglaterra ou dos Estados Unidos ou o francês como a língua da França É útil chamar a atenção para a complexidade cultural dessas línguas faladas como línguas oficiais ou línguas maternas em países tão distantes geográfica eou culturalmente como Nova Zelândia e Jamaica no caso do inglês ou Peru e Argentina no caso do espanhol ou Argélia e Congo no caso do francês No que se refere a uma língua hegemônica como o inglês por ter uma grande penetração internacional não só como língua oficial de países que foram antigas colônias da GrãBretanha mas também como língua estrangeira devido ao poderio econômico e político do Reino Unido nas primeiras décadas deste século e dos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial até hoje é essencial que se focalize a questão da pluralidade cultural representada pelos países que usam o inglês como língua oficial Além é claro da motivação educacional implícita nessa percepção históricosocial da língua inglesa também é um meio de focalizar as questões de natureza sociopolítica que devem ser consideradas no processo de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira Cabe ressaltar ainda o papel do inglês na sociedade atual Essa língua que se tornou uma espécie de língua franca invade todos os meios de comunicação o comércio a ciência a tecnologia no mundo todo É em geral percebida no Brasil como a língua de um único país os Estados Unidos devido ao seu papel atual na economia internacional Todavia o inglês é usado tão amplamente como língua estrangeira e língua oficial em tantas partes do mundo que não faz sentido atualmente compreendêlo como a língua de um único país As pessoas podem fazer uso dessa língua estrangeira para seu benefício apropriandose dela de modo crítico É esta concepção que se deve ter da aprendizagem de uma língua estrangeira notadamente do inglês usálo para se ter acesso ao conhecimento em vários níveis nas áreas científicas nos meios de comunicação nas relações internacionais entre indivíduos de várias nacionalidades no usos de tecnologias avançadas etc O acesso a essa língua tendo em vista sua posição no mercado internacional das línguas estrangeiras por assim dizer representa para o aluno a possibilidade de se transformar em cidadão ligado à comunidade global ao mesmo tempo que pode compreender com mais clareza seu vínculo como cidadão em seu espaço social mais imediato A importância do inglês no mundo contemporâneo pelos motivos de natureza políticoeconômica não deixa dúvida sobre a necessidade de aprendêlo Esses mesmos fatores de natureza sociopolítica devem orientar o trabalho do professor Não se pode ignorar o papel relativo que línguas estrangeiras diferentes têm em momentos políticos diversos da história da humanidade o latim na época do Império Romano e de países específicos o espanhol atualmente no Brasil Isso afeta a função social que línguas estrangeiras específicas adquirem ao serem percebidas como sendo de mais prestígio e de mais utilidade determinando suas inclusões nos currículos escolares A consciência dessas questões deve ser tratada pedagogicamente em sala de aula ao se chamar a atenção para a utilização do inglês no mundo contemporâneo nas várias áreas da atividade humana Solicitar que os alunos atuem como etnógrafos em suas práticas sociais fazendo anotações dos usos de inglês ao mesmo tempo que tomam consciência dos vários países que usam esta língua como língua oficial ou língua materna parece ser essencial para sua conscientização de aspectos de natureza sociopolítica relacionados à aprendizagem dessa língua O levantamento de países que usam o inglês como língua materna eou língua oficial só nas Américas Barbados Belize Canadá Dominica Estados Unidos Guiana Granada Jamaica Santa Lúcia Trinidad e Tobago etc pode ser portanto útil nessa conscientização Ainda na temática de aspectos sociopolíticos referentes à aprendizagem de uma língua estrangeira é notável a presença cada vez maior do espanhol no Brasil Sua crescente importância devido ao Mercosul tem determinado sua inclusão nos currículos escolares principalmente nos estados limítrofes com países onde o espanhol é falado A aprendizagem do espanhol no Brasil e do português nos países de língua espanhola na América é também um meio de fortalecimento da América Latina pois seus habitantes passam a se reconhecerem não só como uma força cultural expressiva e múltipla mas também política um bloco de nações que podem influenciar a política internacional Esse interesse cada vez maior pela aprendizagem do espanhol pode contribuir na relativização do inglês como língua estrangeira hegemônica no Brasil como aliás igualmente nesse sentido seria essencial a inserção de outras línguas estrangeiras francês italiano alemão etc no currículo Embora em um nível diferente devido ao papel que os Estados Unidos representam na economia internacional a mesma vinculação do inglês com os Estados Unidos é detectada na associação do espanhol com a Espanha no Brasil Chamar a atenção por meio de trabalhos de pesquisa para os países que usam o espanhol tanto como língua materna eou língua oficial nas Américas Argentina Bolívia Chile Cuba El Salvador Equador Guatemala Paraguai Uruguai etc traz para a sala de aula aspectos de natureza sociopolítica da aprendizagem de uma língua estrangeira além de contribuir para uma percepção intercultural da América Latina ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NOS TERCEIRO E QUARTO CICLOS Língua Estrangeira e o aluno dos terceiro e quarto ciclos O trabalho com Língua Estrangeira no ensino fundamental exige do professor um aprofundamento sobre alguns aspectos essenciais para a organização do ensino a caracterização dos alunos e a complexidade que representa a aprendizagem de uma outra língua Os primeiros contatos com a aprendizagem de inglês de maneira formal sistematizada ocorrem para a maioria dos nossos alunos no início do terceiro ciclo período este em que de modo geral enfrentam conflitos representados por transformações significativas relacionadas ao corpo à sexualidade ao desenvolvimento cognitivo à emoção à afetividade além dos relacionados aos aspectos socioculturais Tornase bastante difícil traçar um perfil do aluno que chega ao terceiro ciclo tanto em relação aos aspectos afetivoemocionais que marcam esse período quanto em relação aos diferentes conhecimentos de língua materna que possuem e os diferentes níveis de familiaridade que apresentam em relação à língua estrangeira Muito freqüentemente sem ter ainda uma reflexão mais aprofundada sobre o funcionamento e uso da língua materna o aluno se depara com a necessidade de compreender a construção do significado na língua estrangeira com uma organização diferente das palavras nas frases das letras nas palavras um jeito de escrever diferente da forma de falar outra entonação outro ritmo Além disso a passagem para o terceiro ciclo é ainda tradicionalmente marcada na cultura das escolas brasileiras como ruptura tanto da organização curricular quanto das formas de interação professoraluno Aspectos relacionados à organização do horário em disciplinas com professores diversos interações diferenciadas diferentes demandas condutas concepções Para muitos alunos o início do terceiro ciclo é também o momento de entrada no mercado de trabalho A insegurança que todas essas mudanças geralmente representam pode se dar de modo mais marcado ainda no caso da Língua Estrangeira por representar o início para muitos deles de uma aprendizagem totalmente nova Outro aspecto a ser levado em conta na organização do ensino diz respeito às características do objeto de conhecimento em questão O grau de familiaridade do aluno com a língua estrangeira representa fator crucial nesse aprendizado A maior ou menor familiaridade está relacionada à classe social de origem do aluno que lhe confere oportunidades diferenciadas de vivenciar o idioma falado ou escrito seja pelos meios de comunicação seja pelas interações sociais de que participa Contudo a demanda de conhecimento de língua estrangeira na sociedade de hoje coloca para o professor o desafio de partir da heterogeneidade de experiências e interesses dos alunos para organizar formas de desenvolver o trabalho escolar de maneira a incorporar seus diferentes níveis de conhecimento e ampliar as oportunidades de acesso a ele O ensino de uma língua estrangeira na escola tem um papel importante à medida que permite aos alunos entrar em contato com outras culturas com modos diferentes de ver e interpretar a realidade Na tentativa de facilitar a aprendizagem no entanto há uma tendência a se organizar os conteúdos de maneira excessivamente simplificada em torno de diálogos pouco significativos para os alunos ou de pequenos textos muitas vezes descontextualizados seguidos de exploração das palavras e das estruturas gramaticais trabalhados em forma de exercícios de tradução cópia transformação e repetição No entanto ao se entender a linguagem como prática social como possibilidade de compreender e expressar opiniões valores sentimentos informações oralmente e por escrito o estudo repetitivo de palavras e estruturas apenas resultará no desinteresse do aluno em relação à língua principalmente porque sem a oportunidade de arriscarse a interpretála e a utilizála em suas funções de comunicação acabará não vendo sentido em aprendêla Assim é fundamental que desde o início da aprendizagem de Língua Estrangeira o professor desenvolva com os alunos um trabalho que lhes possibilite confiar na própria capacidade de aprender em torno de temas de interesse e interagir de forma cooperativa com os colegas As atividades em grupo podem contribuir significativamente no desenvolvimento desse trabalho à medida que com a mediação do professor os alunos aprenderão a compreender e respeitar atitudes opiniões conhecimentos e ritmos diferenciados de aprendizagem Alguns estudos e experiências de professores ressaltam aspectos que permitem compreender melhor o complexo percurso que o aluno realiza na construção dessa aprendizagem Dentre esses aspectos destacase inicialmente como fundamental diagnosticar os conhecimentos que os alunos trazem proporcionando a eles a oportunidade de identificar e reconhecer esses conhecimentos e oferecer possibilidades de troca de experiências entre eles na perspectiva de dar continuidade à construção de novos conhecimentos Outro aspecto a ser levado em conta consiste em aproveitar o interesse que os alunos mostram em relação à novidade que representa aprender uma língua estrangeira CONCEPÇÕES TEÓRICAS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA As concepções teóricas que têm orientado os processos de ensinar e aprender Língua Estrangeira têm se pautado no desenvolvimento da psicologia da aprendizagem e de teorias lingüísticas específicas as quais influenciadas pela psicologia explicitaram o fenômeno da aprendizagem lingüística Podese dizer que as percepções modernas da aprendizagem de Língua Estrangeira foram principalmente influenciadas por três visões a behaviorista a cognitivista e a sociointeracional Aqui será feita uma breve alusão a teorias behavioristas e cognitivistas seguida de uma análise mais extensa sobre a perspectiva sociointeracional da aprendizagem que atualmente muitos julgam mais adequada para explicar como as pessoas aprendem A visão behaviorista Na visão behaviorista a aprendizagem de Língua Estrangeira é compreendida como um processo de adquirir novos hábitos lingüísticos no uso da língua estrangeira Isso seria feito primordialmente por meio da automatização desses novos hábitos usando uma rotina que envolveria ESTÍMULO a exposição do aluno ao item lexical à estrutura sintática etc a serem aprendidos fornecidos pelo professor RESPOSTA do aluno REFORÇO em que o professor avaliaria a resposta do aluno Essa visão na sala de aula de Língua Estrangeira resultou no uso de metodologias que enfatizavam exercícios de repetição e substituição Podese dizer que se focalizava principalmente o processo de ensino e o professor Se a aprendizagem não ocorresse adequadamente ou seja se fossem detectados erros nas produções do aluno o motivo seria a inadequação dos procedimentos de ensino Os erros teriam de ser imediatamente eliminados ou corrigidos para que não afetassem negativamente o processo de aprendizagem como um todo inclusive os de outros colegas que tivessem sido expostos aos erros É nesse sentido que se costuma dizer que na visão behaviorista a aprendizagem era associada à uma pedagogia corretiva Notese que nessa concepção a mente do aluno é entendida como uma tábula rasa que tem de ser moldada por assim dizer na aprendizagem de uma nova língua A visão cognitivista Na visão cognitivista deslocase o foco do ensino para o aluno ou para as estratégias que ele utiliza na construção de sua aprendizagem da Língua Estrangeira Entendese que a mente humana está cognitivamente apta para a aprendizagem de línguas Ao ser exposto à língua estrangeira o aluno com base no que sabe sobre as regras de sua língua materna elabora hipóteses sobre a nova língua e as testa no ato comunicativo em sala de aula ou fora dela Os erros então passam a ser considerados como evidência de que a aprendizagem está em desenvolvimento ou seja são hipóteses elaboradas pelo aluno em seu esforço cognitivo de aprender a língua estrangeira Contrariamente à visão behaviorista os erros passam a ser entendidos como parte do processo da aprendizagem Os traços característicos da língua construída pelo aprendiz normalmente entendidos como erros passam a ser vistos como constitutivos da língua em construção no processo de aprendizagem sua interlíngua uma língua em constante desenvolvimento no contínuo entre a língua materna e a língua estrangeira e que resulta de suas tentativas de aprendizagem Nesse processo uma das estratégias mais comumente usadas pelo aluno é criar hipóteses sobre a língua estrangeira que está aprendendo com base no conhecimento que tem de sua língua materna a estratégia de transferência lingüística Outras estratégias usadas pelo aluno podem ser entendidas como estratégias gerais de aprendizagem de línguas tais como supergeneralização em que o aluno generaliza uma regra para um contexto em que não se aplica por exemplo a generalização na aprendizagem do português da flexão verbal de passado do verbo comer em comi que é generalizada para o verbo fazer gerando a forma fazi hipercorreção em que o aluno por excesso de preocupação com correção acaba corrigindo formas que estariam corretas por exemplo a correção do uso do pronome objetivo em posição de sujeito em português tal como em Isto é para mim fazer corrigida intensamente na escola para Isto é para eu fazer acaba gerando a forma Isto é para eu que pode ser entendida como resultado de hipercorreção Uma contribuição importante do enfoque cognitivista foi chamar a atenção para a questão dos diferentes estilos individuais de aprendizagem que as pessoas possuem ou seja nem todos os alunos aprendem da mesma forma Por exemplo há alunos que se utilizam mais de meios auditivos e outros de meios visuais da mesma forma que alguns têm mais sucesso no usos de estratégias sociointeracionais devido ao fato de serem mais extrovertidos A visão sociointeracional18 Embora alguns aspectos da aprendizagem de Língua Estrangeira possam ser explicados por abordagens behavioritas por exemplo o fato de que a aprendizagem de certas frases feitas como How old are you em inglês Como te va em espanhol Ça va em francês Danke schön em alemão ou Prego em italiano se dá pela memorização ou do ponto de vista cognitivista por exemplo o fato de que os aprendizes se utilizam dos conhecimentos já armazenados em suas estruturas cognitivas sobre o que sabem de sua língua materna ou de outras línguas estrangeiras que já possam ter aprendido cada vez mais tendese a explicar a aprendizagem como um fenômeno sociointeracional Dessa forma o foco que na visão behaviorista era colocado no professor e no ensino e na visão cognitivista no aluno e na aprendizagem passa a ser colocado na interação entre o professor e aluno e entre alunos atualmente O que subjaz a esta última visão é a compreensão de que a aprendizagem é de natureza sociointeracional pois aprender é uma forma de estar no mundo social com alguém em um contexto histórico cultural e institucional Assim os processos cognitivos são gerados por meio da interação entre um aluno e um participante de uma prática social que é um estimulandoos a trabalhar com autonomia de forma a poderem identificar suas possibilidades e dificuldades no processo de aprendizagem O estímulo à capacidade de ouvir discutir falar escrever descobrir interpretar situações pensar de forma criativa fazer suposições inferências em relação aos conteúdos é um caminho que permite ampliar a capacidade de abstrair elementos comuns a várias situações para poder fazer generalizações e aprimorar as possibilidades de comunicação criando significados por meio da utilização da língua constituindose como ser discursivo em língua estrangeira Ainda é importante ajudar o aluno a relacionar propriedades e regularidades presentes na língua materna explorandoas ao máximo Nessa perspectiva destacase o trabalho com a leitura e interpretação de textos uma vez que sendo a escrita um conhecimento já adquirido em língua materna representa um apoio importante para a compreensão dos significados funcionamento e uso da língua estrangeira As atividades orais podem ser propostas como forma de ampliar a consciência dos alunos sobre os sons da língua estrangeira por meio do uso por exemplo de expressões de saudação de polidez do trabalho com letras de música com poemas e diálogos A inclusão de atividades significativas em sala de aula permite ampliar os vínculos afetivos e conferem a possibilidade de realizar tarefas de forma mais prazerosa A mediação do professor é fundamental em todo esse percurso de aprendizagem que abrange ainda o desenvolvimento e aprimoramento de atitudes Colocase a necessidade de intervenção do professor em relação às orientações sobre como organizar e lidar com o material de estudo como desenvolver atitudes de pesquisa e de reflexão sobre as descobertas para promover a autonomia do aluno sem a qual tornase mais difícil garantir avanços No quarto ciclo esses aspectos podem ser aprofundados com ênfase no trabalho de reflexão sobre a língua como prática social na perspectiva de que o aluno possa desenvolver sua proficiência linguística produzindo e interpretando discursos orais e escritos 18 A visão sociointeracional também é referida na literatura como históricosocial ou sociocultural parceiro mais competente para resolver tarefas de construção de significadoconhecimento com as quais esses participantes se deparem O participante mais competente pode ser entendido como um parceiro adulto em relação a uma criança ou um professor em relação a um aluno ou um aluno em relação a um colega da turma Na aprendizagem de Língua Estrangeira os enunciados do parceiro mais competente ajudam a construção do significado e portanto auxiliam a própria aprendizagem do uso da língua APRENDIZAGEM COMO FORMA DE COPARTICIPAÇÃO SOCIAL O processo de aprender pode ser considerado uma forma de coparticipação social isto é participação com alguém em contextos de ação entre pares na resolução de uma tarefa em que a participação do aluno é periférica inicialmente até passar a ser plena com o desenvolvimento da aprendizagem Esse processo é principalmente mediado pela linguagem por meio da interação e por outros meios simbólicos por exemplo pela utilização de um computador O papel mediador da linguagem na aprendizagem é central tanto que é praxe referirse a essa mediação como uma força catalisadora Assim até entre parceiros iguais colegas em uma turma o discurso oferece meios de aprendizagem mais adequados do que a aprendizagem solitária A aprendizagem é então percebida como ocorrendo no que se denomina de Zona de Desenvolvimento Proximal 19 Esse espaço é caracterizado pelas interações entre aprendizes e parceiros mais competentes explorando o nível real em que o aluno está e o seu nível em potencial para aprender sob a orientação de um parceiro mais competente Notese que essa concepção da aprendizagem tem sido usada para explicar a aprendizagem dentro e fora da escola APRENDIZAGEM COMO CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO COMPARTILHADO O processo de aprendizagem mediado pela interação vai levar à construção de um conhecimento conjunto entre o aluno e o professor ou um colega Para que isso ocorra o processo envolverá dificuldades e sucessos na compreensão negociação das perspectivas diferentes dos participantes e o controle da interação por parte deles até que o conhecimento 19 Este conceito é extraído do trabalho de Vygotsky publicado em português em 1994 58 seja compartilhado Em última análise o processo é caracterizado pela interação entre os significados ou conhecimento de mundo do parceiro mais competente em sala de aula o professor ou um colega e os do aluno Muitas dificuldades na aprendizagem são geradas exatamente por essas diferenças que vão determinar expectativas e condições de relevância diferentes sobre o que se fala Na verdade a aprendizagem em sala de aula é uma extensão de um desafio diário a necessidade de se interagir a partir de percepções comuns do mundo ou da criação de perspectivas comuns A diferença é que na sala de aula o propósito do evento interacional é de ensino e aprendizagem e se baseia quase sempre em uma relação interacional assimétrica 20 Isso faz com que o conhecimento sobre a natureza da interação em sala de aula seja crucial para professores e alunos Notese ainda que com frequência a metodologia que o professor usa se apoia na interação isto é nos andaimes que constrói para facilitar a aprendizagem INTERAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM Tradicionalmente a interação em sala de aula tem sido explicada por uma organização discursiva considerada típica INICIAÇÃO RESPOSTA e AVALIAÇÃO Assim a interação é assimétrica pois seu controle é exercido pelo professor que inicia a interação sobre um tópico que escolheu na dependência de seu planejamento que faz perguntas sobre respostas que já sabe para a seguir avaliar a resposta do aluno É dessa forma que em geral se processa a interação em sala de aula e isso faz parte do conhecimento implícito do aluno sobre como interagir nesse contexto Assim o que o aluno tem a fazer é responder corretamente ao professor para que receba uma avaliação positiva e do ponto de vista do professor para que possa prosseguir com seu planejamento Esse jogo interacional não possibilita muitas vezes que o aluno construa os princípios subjacentes ao que está aprendendo para poder transferilos para outros contextos de uso da linguagem O aluno deu a resposta certa para resolver a tarefa mas o conhecimento construído é limitado à resposta Um exemplo sobre o presente contínuo em inglês o professor que vincula esse tempo verbal à marca adverbial indicando uma ação acontecendo no momento da fala ensina a resolver uma tarefa pedagógica específica mas limita a aprendizagem a uma única possibilidade de usar essa forma verbal 20 Uma relação interacional é assimétrica quando os participantes estão posicionados desigualmente no mundo social por exemplo professor e aluno médico e paciente 59 Por outro lado sabese que na cultura da sala de aula aprendizes que não se submetem à organização discursiva típica são tidos como problemáticos Por exemplo aprendizes que não esperam as perguntas do professor ou que não aceitam os tópicos que ele sugere são freqüentemente identificados como aprendizes fracos É por isso que na medida do possível isto é obedecidas as condições de relevância daquilo do que se fala em relação à agenda do professor este deve aprender a compartilhar seu poder e aceitar tópicos sugeridos pelos alunos e suas interpretações do que está sendo dito ou seja aprender a dar voz ao aluno para que ele possa se constituir como sujeito do discurso Uma das características principais do discurso da sala de aula é a quantidade de tempo preenchida pela fala do professor Para que o aluno tenha voz o professor tem de se acostumar a sair de cena por assim dizer de modo que o tempo possa ser preenchido com a fala do aluno Na aula de Língua Estrangeira isso tem ainda uma conseqüência mais séria principalmente no ensino da habilidade oral visto que o aluno está aprendendo a se colocar no mundo pelo uso de uma língua estrangeira Podese dizer também que para alguns grupos culturais o tipo de padrão interacional que a escola enfatiza professor pergunta aluno responde professor avalia pode ser culturalmente muito diferente dos padrões da vida em família o que pode representar dificuldades para alguns alunos Ainda cabe mencionar que certas tradições escolares de ensinar e aprender são típicas de determinadas culturas e podem entrar em conflito com abordagens de ensino elaboradas em outros contextos educacionais Por exemplo abordagens que se apóiam em visões cognitivistas podem conflitar com tradições escolares de aprendizagem que se centram em práticas de memorização Ainda em relação aos padrões interacionais culturais podese argumentar que a resistência que alguns grupos de alunos têm em relação aos padrões interacionais em sala de aula pode ser explicada por não perceberem a relevância do que está ocorrendo ali para a sua vida É difícil se engajar em um discurso sobre o qual não se sabe nada ou que não seja significativo e motivador para quem fala lê ou escreve Em relação à aprendizagem de Língua Estrangeira a questão da relevância é particularmente importante pois o engajamento discursivo será ainda mais dificultado pelo uso de outra língua que não a materna Isso é principalmente problemático quando o professor quer impor sua perspectiva suas interpretações na interação Por exemplo quando um aluno ao projetar sua visão do que está sendo discutido introduz um tópico perfeitamente aceitável para o desenvolvimento da interação mas que é recusado pelo professor por esse tópico não estar incluído em sua agenda pedagógica Ora nas interações fora da sala de aula esta imposição é a fonte de muitas brigas e discórdias no entanto em sala de aula devido ao fato de que um dos participantes está dirigindo a assimetria interacional isso é ainda mais sério impossibilita a reversão de papéis interacionais a construção de conhecimento em conjunto e a construção do aluno como 60