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UNIBF
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CAPÍTULO ZERO a investigação filosófica e seus instrumentos A realidade imediata da idéia é a língua O problema de descer do mundo das idéias para o mundo real transformase no problema de descer da língua à vida Karl Marx A ideologia alemã Convite a uma viagem pelo mundo da filosofia O mundo dos filósofos é um mundo imaginário existe apenas na inteligência e serve para alimentar a inteligência humana Melhor seria dizer que é um mundo de questões problematizadas e de textos escritos por grandes pensadores da espécie Você já pensou em que as habilidades de pensamento fizeram uma diferença significativa na sobrevivência dos humanos Pois bem houve alguns membros dessa espécie que aprimoraram sua capacidade de pensar e com isso contribuíram deixando uma herança para os outros Mas se não fosse a invenção da escrita essa herança teria se perdido Por isso viajar pelo mundo dos filósofos é visitar suas questões e seus escritos Porém visitar os escritos sem as questões é de pouca serventia No melhor dos casos tornaria alguém recitador de belas frases que não compreende bem o que querem dizer Não é isso que queremos que lhe aconteça Você chegará à convivência com um filósofo quando compreender alguma de suas questões São questões a rigor irrespondíveis com certeza total São questões sobre o que é e o que deve ser O filósofo não se perguntará sobre como será pois ele não faz predições já que suas questões não dizem respeito à ordem dos acontecimentos mas ao seu significado Compreender e projetar compreensão para o futuro não chega a ser predizer mas apenas ter razões para esperar Assim viajar pelo mundo dos filósofos significa visitar os tipos de atitudes mentais que eles se impuseram para controlar seus pensamentos na direção da busca de razões para determinadas interpretações Significa sobretudo vivenciar as questões que se fizeram ponderando a diferença de época e contextos sociais para então conhecer seus escritos e conversar com seus pensamentos Em algum sentido todos filosofamos mas poucos com domínio da linguagem métodos e técnicas dos grandes filósofos Estes pertencem a uma comunidade de pensadores que continuam debatendo ao longo dos séculos por meio de seus escritos Você não gostaria de conhecer como funciona essa comunidade Caso positivo você terá que disporse a uma viagem a um gênero de linguagem inicialmente meio complicada mas que aos poucos você verá que nem tanto acordo com os modos ocidentais Como podemos saber o que é um modo ocidental de viver Não é uma coisa que se veja que se toque ou se escute É portanto um algo imaginário alguma coisa que só podemos captar pelo pensamento e pela imaginação Recolhendo vestígios do imaginário Mas o pensamento só pode captar essa imaginária porque ela deixa vestígios de sua existência Recolher vestígios da existência de algo examinálos propor ligações entre diversos vestígios aparentemente da mesma fonte descobrir qual a coisa da qual esses vestígios testemunham a existência nisso consiste uma investigação Investigar quer dizer entrar em contato com vestígios da existência de algo que se quer compreender saber o que eles significam Em língua portuguesa há uma outra palavra usada como sinônima de investigação é a palavra pesquisa que quer dizer a mesma coisa embora no significado da palavra pesquisa haja maior ênfase na idéia de pergunta pesquisar é investigar fazendo perguntas Se você está muito cúrioso para saber afinal de contas o que isso tudo tem a ver com filosofia aceite como definição preliminar que filosofia é investigação das formas de vida do homem ocidental Como você pode notar por essa definição somos levados a relacionar a filosofia com a história E de fato essa relação existe no momento adequado iremos investigála Por enquanto consideremos apenas uma frase célebre de um filósofo que dedicou sua vida a examinar profundamente a consciência do homem ocidental Esse filósofo é Hegel e a frase célebre é A filosofia tal como a coruja de Minerva alça vôo apenas ao entardecer Ou seja depois que a história acontece já ao seu entardecer é que a filosofia inicia as suas investigações Mas a filosofia olha o passado de maneira diferente da história A história olha o passado para entender como ele condicionou o presente enquanto a filosofia olha o passado para sonhar com o futuro Sua questão fundamental é Como tenho consciência do que sou Como tenho consciência das minhas possibilidades e dos meus limites Como o que sou está ligado com o que foi e com o que será Afinal o que é que sou enquanto ser humano distinto das coisas que me cercam e definido na história passada e na textura das relações de que atualmente participo Em outras palavras a consciência nova que a investigação filosófica nos propicia é a consciência de nós mesmos e de tudo o que pode influenciar o processo dessa consciência Nessa nossa viagem através do mundo da filosofia investigaremos a consciência de si mesmo do homem ocidental em três etapas na primeira como uma consciência de si mesmo diante da natureza na segunda etapa como uma consciência de si mesmo diante da cultura e finalmente na terceira etapa a consciência de si mesmo em seu próprio espelho isto é diante dos limites da linguagem e dos seus valores absolutos reverenciados como inabaláveis Consciência de si ponto zero da investigação filosófica Precisamos estabelecer o nosso ponto de partida toda viagem tem o seu Precisamos fazer uma idéia mínima que seja sobre o que quer dizer com a expressão consciência de si mesmo Façamos um exercício para situar em nós essa consciência de nós mesmos Aqui e agora hic et nunc As coisas que nos cercam isto é a nossa circunstância nos apontam seu centro que é o foco de onde são percebidas por nós Imagens de acontecimentos chegam a esse centro e em face desse centro instalamse como nossa circunstância como aquilo que está à nossa volta aqui e agora Essa experiência do aqui e agora constitui um vestígio de existência do nosso foco de percepção referenciando da existência de um mundo exterior pressuposto O que encontramos nesse vestígio Encontramos uma pulsação uma manifestação de vida Que tipo de manifestação é essa Como a vida está se manifestando aí Nomeamos esse átimo de experiência do mundo exterior pressuposto como um ato de apreensão nesse instante apreendemos acontecimentos que se passam à nossa volta Constituíamos este ato inicial de aprender algo que acontece fora de nós como o ato primeiro da nossa consciência de nós mesmos e portanto como o primeiro passo da nossa iniciação filosófica Apreender algo que nos chega através dos nossos recursos de percepção como um primeiro ato da consciência de nós mesmos aparentemente tão simples e natural é na verdade o resultado de um complicado processo de organização de sinais enviados pelos órgãos dos sentidos para o que estamos chamando de foco de percepção Nesse foco é que se formam composições significativas dos vários sinais recebidos que então passam a configurar um todo um objeto A apreensão é assim a pura presença desse objeto na consciência Procure sentir a pertinência dessa definição através das seguintes figuras Dependendo do enfoque você poderá ver objetos diferentes que permanecem na consciência como uma apreensão possível entre outras Quando o enfoque altera a relação entre o que é figura e o que é fundo a apreensão também se altera o quadro A às vezes é apreendido como um vaso B outras vezes como dois perfis humanos C Mundo exterior pressuposto Essa experiência de apreensão na sua simplicidade e naturalidade tem levado ao longo da história do homem a estados de compreensão diferentes da relação deste com as coisas da sua circunstância De fato a percepção das coisas que apreendemos sensorialmente isto é pelos nossos órgãos dos sentidos como coisas cuja existência é externa às nossas próprias pulsações e emoções corresponde a um estado de compreensão relativamente recente na história da humanidade Várias civilizações chegaram ao seu apogeu e declinaram sem admitir na experiência cultural comum de seus membros a idéia de que havia um mundo exterior desligado da vivência interna emocional de cada um Foram os gregos homens da extinta civilização que nos seus momentos áureos criaram o modo pensar filosófico e experimentaram os principais valores que ainda hoje regem os modos de vida ocidentais e que consideraram como ponto de partida de sua compreensão das coisas a idéia da exterioridade pressuposta dos acontecimentos do mundo O mundo era compreendido como existindo segundo leis e processos completamente distintos das leis e dos processos que regem o mundo dos sentimentos humanos Esse modo de compreender a exterioridade dos acontecimentos que nos cercam ficou desde então como pilar principal dos modos de pensar consagrados pela investigação filosófica e científica como poderemos constatar adiante Na verdade pressupor a existência do mundo exterior como base das nossas percepções constitui a primeira atitude filosófica desenvolvida na história celebrizada pela expressão atitude de espanto Espantarse diante das coisas significa experimentar uma descontinuidade entre elas e o foco de nossas percepções Pertencendo as coisas a outro universo diferente do eu subjetivo o acesso às coisas deverá ser obtido mediante investigações atentas busca de vestígios e evidências fortes Uma consequência dessa postura inicial do filosofar que consiste em situar a consciência de si distinta do mundo exterior pressuposto é termos que lidar com o problema da separação corpoalma dualismo que é fonte de inúmeros questionamentos ao longo da história É que em filosofia como aliás em toda investigação resolver um problema implica em criar novos problemas Do mesmo modo que quebrar um encantamento sobre algo significa apoiarse em outro encantamento como vemos nas lutas ideológicas Outra consequência da distinção consciência mundo é a distinção sujeitoobjeto É distinguindo o objeto como sendo de outra natureza que o sujeito do conhecimento pode reivindicar para si a vantajosa posição de neutralidade podendo vir a conhecêlo como ele realmente é Ora será realmente que um objeto que não esteja ligado a um sujeito possa merecer o esforço deste em conhecêlo A questão como veremos será determinar que tipo de ligação se dá entre os homens e os objetos que terão interesse em conhecer Adotaremos atitude semelhante para iniciar nossa investigação filosófica A existência do mundo será pressuposta como sendo exterior aos nossos processos de consciência Pressuposta porque admitida sem investigação específica uma pressuposição é antecipação de uma compreensão é uma predisposição para aceitar algo Quer dizer o ato de pressupor se mostra como uma atitude preparatória para iniciar uma investigação A atitude filosófica de distanciarse do que é pensado Pois bem procurando uma relação entre o foco de suas percepções e os objetos do mundo exterior pressuposto você acabou de realizar uma investigação filosófica a qual funcionará como ponto de apoio para outras Se você refletir sobre o que acabou de realizar poderá notar que a Você voltou sua atenção para si mesmo procurando ver de modo como você percebe isto é como você forma imagens sensoriais na consciência Ou de maneira geral você buscou ver o modo como se formam dados imediatamente em sua consciência correspondendo ao modo como objetos de percepção se mostram nela como pura presença como uma apreensão Proceder assim é adotar a atitude filosófica de distanciamento em relação à fonte dos dados da consciência semelhante à atitude de espanto dos primeiros filósofos b Você nomeou uma pura presença de um objeto da percepção como uma apreensão isto é você procurou apreender um ato de apreensão seu pois ao nomear uma coisa você a está distinguindo de outra está percebendo essa coisa como inteira e dotada de características próprias Proceder assim é fazer uma reflexão filosófica uma rememoração do que a consciência adquiriu como adquiriu e para quê em suma um repensar sobre o que já foi pensado Juntar uma atitude filosófica essa do ensimesmamento do ficar em si mesmo com uma reflexão filosófica essa de tomar como objeto da consciência o próprio ato de consciência das coisas nisso a grosso modo consiste a investigação filosófica O curioso é que fazer esse tipo de investigação é uma prática relativamente recente na história da humanidade Os primeiros homens a juntar uma atitude de ensimesmamento com uma reflexão sobre o significado do que estavam pensando surgiram na Grécia antiga por volta do século VII aC Eles já não esperavam que o conhecimento das coisas viesse como doação divina por intermédio dos mensageiros dos deuses Eles procuravam por si mesmo refletir sobre o que os sábios diziam por isso se denominaram amigos dos sábios ou em grego filósofos Consta que o primeiro a propor o termo filosofia significando amizade com a sabedoria foi Heráclito Em que sentido o espanto está na origem do filosofar A palavra grega philosophía remonta à palavra philósophos Originalmente esta palavra é um adjetivo como philárgyros o que ama a prata como philótimos o que ama a honra A palavra philósophos foi presumivelmente criada por Heráclito Isto quer dizer que para Heráclito ainda não existe a philosophía Platão diz Teeteto 155 d É verdadeiramente de um filósofo este páthos no sentido de disposição de tonalidade afetiva de atitude o espanto pois não há outra origem imperante da filosofia que esta Aristóteles diz o mesmo Metafísica I 2 982b Pelo espanto os homens chegam agora e chegaram antigamente à origem imperante do filosofar HEIDEGGER Martin Que é isto a Filosofia São Paulo Abril Cultural 1984 p 17 Coleção Os Pensadores Investigação filosófica Os filósofos portanto eram homens que praticavam intencionalmente uma investigação do significado imutável das coisas a partir de uma atitude de espanto geradora de um distanciamento tanto das coisas quanto de si mesmos enquanto investigadores Essa prática de investigação do significado imutável das coisas precisou criar uma linguagem apropriada e sobretudo regras para orientar o filósofo na sua busca Seria de esperar que a prática filosófica como uma prática intencionalmente orientada à descoberta do sentido imutável das coisas ou de sua essência possuísse um método isto é um modo específico de se esforçar para achar o que procura Em que sentido podese falar de método de investigação filosófica É ainda Heidegger que nos responde Qual um bom método de falar com um filósofo Uma coisa é verificar opiniões dos filósofos e descrevêlas Outra coisa bem diferente é debater com eles aquilo que dizem e isto quer dizer o que falam Supondo portanto que os filósofos são interpelados pelo ser do ente seu significado profundo para que digam o que é enquanto é então também nosso diálogo com os filósofos deve ser interpelado pelo ser do ente Nós mesmos devemos vir com nosso pensamento ao encontro daquilo para onde a filosofia está a caminho Nosso falar deve coresponder àquilo pelo qual os filósofos são interpretados Se formos felizes neste coresponder respondemos de maneira autêntica à questão Que é isto a filosofia HEIDEGGER Martin Que é isto a Filosofia São Paulo Abril Cultural 1984 p 19 Coleção Os Pensadores Ou seja o método da investigação filosófica é o do debate em torno de como se pensa e como se fala ou de como se exprime na linguagem o significado que caracteriza no essencial o modo de ser das coisas O que os nossos órgãos de percepção captam das coisas é a sua aparência Mas quando percebemos uma cadeira diferente de outras peças que continuamos classificando como cadeira descobrimos por exemplo que todas as cadeiras possuem um significado essencial comum a todas elas um formato genérico uma utilidade estabelecida etc O mesmo se dá com os outros objetos materiais ou não da experiência humana Ou seja a inteligência elabora conceitos procurando os significados essenciais das coisas aqueles capazes de organizar os dados sensoriais dispersos em um sentido compreensível De fato elaborar conceitos a partir de fatos e valores relativos à experiência humana é a característica principal das investigações filosóficas Por isso se diz que a pergunta básica de todo filosofar é o que é isto ou o que é o mesmo qual o conceito disto Exemplos O que é a cadeira no seu conceito essencial ou qual a cadeiridade da cadeira O que é o tigre ou qual sua tigridade O que é o homem ou qual a sua humanidade Já pensou na idéia de que há pessoas que podem perder sua humanidade quando nelas não é possível reconhecer qualquer atributo que se espera ser comum a todos os humanos A tradição se transmite através de textos A Filosofia nasce portanto de uma atitude de espanto de ensimesmamento e de reflexão que se fixou em um modo de falar em um modo de perguntar e em um modo de debater O filosofar como prática de desvendamento do mundo das suas formas de manifestação do significado profundo por trás das aparências das coisas foi se tornando uma característica básica do homem ocidental Dizemos então que a prática do filosofar virou uma instituição social Instituição quer dizer criação humana fixada socialmente por meio de regras e valores a respeito do que deve ser transmitido desta para outras gerações e de como deve ser feita essa transmissão Uma instituição estabelece o que deve ser transmitido o que deve permanecer na história Por isso uma instituição visa proteger uma tradição Tradição significa aquilo que se transmite Existem as tradições orais as tradições escritas as tradições de comportamento aprendidas por imitação Enfim existe ainda hoje uma tradição filosófica legada pelos gregos antigos e continuada por seus seguidores sobretudo na Europa ocidental que vem sendo protegida pela instituição da prática e da transmissão da investigação filosófica responsável como foi dito no início pela passada a limpo da memória ancestral da humanidade daquelas crenças e condutas que melhoraram sua vida Iniciando uma investigação filosófica você estará participando do movimento de afirmação ou de negação dessa tradição você estará aceitando recusando ou transformando o legado das gerações que nos precederam e de cujo conteúdo nos nutrimos Enfim você estará ingressando no universo da Filosofia que é herança e história É herança quando alimenta a memória das nossas origens intelectuais no contato com o pensamento de sábios do passado que ao serem repensados nos permitem compreender melhor o presente a fim de projetar com maior clareza o futuro E é também grau de autodomínio de nós mesmos e do que atualmente julgamos certo grau de consciência acerca dos pensamentos que definem a nossa própria maneira de pensar e de ser Incorporarse portanto na tradição filosófica implica em um primeiro momento adotar uma atitude filosófica diante dos textos que documentam essa tradição Antes de tudo precisamos investigar sobre o que é um texto O conceito de texto A palavra texto significa tecido Por isso é que se fala em indústria têxtil para se referir à indústria de tecidos No caso porém de textos no sentido dos objetos especiais que transmitem pensamentos e documentam tradições a acepção de tecido dáse em outro contexto Texto neste caso significa não a composição de fios mas a composição de significados por meio de entrelaçamento físico de sinais apropriados Um conjunto de palavras formando uma frase escrita por exemplo constitui um texto pois há composição de significados formando nomes verbos artigos etc e entrelaçamento de sinais letras traços fisicamente construídos sobre o papel ou sobre a rocha o mármore enfim qualquer outro suporte de escrita ou de inscrições Mas também consideramos texto todo objeto portador de mensagem Assim existem os textos orais visuais auditivos Também os sinais em que se inscrevem essas mensagens podem ser os mais variados os gestos do nosso corpo as letras do alfabeto as notas musicais etc A esse entrelaçamento de sinais físicos sobre um suporte apropriado chamaremos de suporte material de um texto Esse suporte como foi dito pode consistir de traços sobre o papel formas sobre o mármore bronze ou outro material sons e vozes no caso dos textos orais cores e figuras no caso dos textos pictóricos e assim por diante Já a composição de significados é aquilo que a consciência pode capturar a partir dos sinais A essa captura chamaremos interpretação Interpretação só existe por causa dos intérpretes de pessoas que as operam isto é que relacionam os sinais físicos com um certo código Você certamente já tem experiência no uso de códigos Quando joga você pode ter inventado códigos para se comunicar com seu parceiro ou quando opera um caixa eletrônico de banco você digita o seu código para o computador liberar as informações sobre a sua conta Ou seja código é uma senha combinada uma regra para operar uma interpretação Operar uma interpretação de um texto é a mesma coisa que decodificar esse texto isto é utilizando códigos capturar na consciência os significados transmitidos através dos sinais convencionados A questão é saber a se existem textos especificamente filosóficos b se existem interpretações de textos nãofilosóficos que sejam especificamente filosóficas Podemos constatar que tanto existem textos especificamente filosóficos que são aqueles que tratam de formular questões no fundo irresponsáveis senão debate argumentativo quanto textos nãofilosóficos que podem receber interpretações filosóficas por associação de sentido de suas expressões ou metáforas com questões somente abordáveis por meio de argumentos Exemplos desse tipo de texto são letras de música poemas literatura e obras de arte Nestes exemplos podemos ver um texto pictórico Enterro na rede de Portinari um texto verbal impresso em jornal caracteres arábicos e um texto plástico escultura de Rodin intitulada Balzac Vale lembrar que a filosofia está no cotidiano das pessoas geralmente através de textos nãofilosóficos dos quais os mais espontaneamente recebidos são as canções alemãs e o teatro Não é atoa que os cultos religiosos utilizam a música para transmitir suas mensagens Parece ser este o sentido do que diz trecho da canção Lingua do compositor Caetano Veloso Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção Está provado que só é possível filosofar em alemão Textos filosóficos Em suma a tradição filosófica nos mostra que existem textos específicos e também textos polifônicos que podem fazer interpretações filosóficas de qualquer texto inclusive dos textos nãofilosóficos Vamos investigar separadamente cada uma dessas afirmações A primeira nos leva à questão do que distingue o que ouve de um filósofico E a segunda nos leva à questão como interpretar textos filosóficos se não a maioria Vejamos o que nos fala a esse respeito o filósofo MerleauPonty Qual o sentido da boa ambiguidade do filósofo O filósofo reconheceuse atravês dos seus textos pela posse insparável do gosto da evidência e do sentido da ambiguidade Quando se limita apenas a reportar a ambiguidade chamase louco Para os maiores filósofos a ambiguidade tornase temperança contribui para fundar certezas em vez de as pôr em causa É preciso pois distinguir entre a boa ambiguidade e a má Sempre acontece que mesmo aqueles que pretendem construir uma filosofia absolutamente positiva só conseguiram ser filósofos na medida em que simultaneamente ensinaram a ordem dos seus textos e instalaram no absoluto mas quando muito como diz Kierkegaard uma relação absoluta entre ele o saber e nós MerleauPonty Maurice Elogio da Filosofia Lisboa Guimarães 1986 p 10 Isso significa que ao procurar responder a pergunta o que é o filósofo não afirma nossas respostas por mais certas que elas possam parecer numa análise mas que aquela ambiguidade que aperta a busca continue incessante Note essa ambiguidade nos textos dos dois filósofos citados até aqui o alemão Martin Heidegger e o francês MerleauPonty dois maiores filósofos do século XX Note que a ambiguidade filosófica não tem nada a saber com não saber direito do que se está falando Tratase de de um tentar em busca de um sentido nunca ainda pensado para o qual não há expressões adequadas Leitura analógica e leitura analítica de textos Estabelecida a compreensão inicial sobre o que é um texto como obra humana focada na memória histórica por meio de um suporte material a nossa preocupação agora é interpretar um texto filosófico Atentem compra entendamos bem cada elemento dessa compreensão sobre os textos nãofilosóficos a Texto como obra humana isso significa que acontecimentos da natureza são chuva caiem não criam textos apenas da forma de representados como obras de alguém deuses etc b Textos são artefatos isto é obras humanas que resultam de uma produção analógica podemos falar de textos da natureza caracterização como um todo do lado da natureza c Textos históricos são fixados na memória histórica significando que sendo obras humanas os textos precisam ter sua existência referida ao tempo de existência dos homens que é o tempo histórico ou seja existem porque foram escritos determinados pelas datas remetendose ao conteúdo da vida de seus autores pessoas que eles fixaram alguma intenção comunicativa d Textos são artefatos com uma intenção comunicativa Textos não podem ser usados por meio do desgaste do tempo para que a intenção que querem dizer seja regras da comunicação e do entendimento de seus usuários isto é ver ouvir tocar degustar Não afugenta dos seus conteúdos isso é modos de comer de vestir de andar de beijar de rir je de outras definições cada artefato tem modos de uso que os que o utilizam são iniditadas cada uma a seu modo sob a classificação de textos de sua cultura De fato textos não são apenas os artefatos verbais de produção e transmissão de mensagens Considerese como artefatos que poderão possuir os traços essenciais comuns todos os artefatos que pertencem a uma troca simbólica de mensagens significados ou valores entre os indivíduos que carregam um discurso cultural ou culturas diferentes Na verdade tudo que carrega um material é um texto Assim são exemplos de textos estátuas cujo suporte material podemos ver e tocar poemas cujo suporte material são traços no papel hinos cujo suporte material é o som o ritmo a melodia que nos chega ao ouvido pinturas cujo suporte material são as cores figuras e fundo base tela papel madeira ou rocha etc filmes discos livros e assim por diante Cada texto portanto possui seu suporte material por meio do qual podem ser transmitidas mensagens de um tempo a outro de um contexto histórico a outro de seres humanos de uma época a seres humanos de outra época Essa transmissão se completa com o processo de interpretação pelo qual a intenção comunicativa ou a mensagem dos textos é recuperada pela consciencia do intérprete em outro contexto diferente daquele de quem o produziu Deste modo em todo texto sempre é possível distinguir os seguintes elementos constitutivos produtor intérprete e discurso sendo discurso a mensagem codificada de modo a permitir a comunicação entre o produtor e o intérprete Textos verbais Se todo artefato portador de mensagens codificadas apropriadamente um texto o que o homem pode saber sobre o seu passado achase documentado em textos Portanto a memória histórica quando materialmente considerada nada mais é do que o acervo dos textos preservados e interpretados À medida que foi aumentando o número de textos foi crescendo a memória histórica e viceversa Os códigos de interpretação foram ficando mais complexos e passaram a ser organizados em linguagens algumas delas protegidas por gramáticas como o caso da língua portuguesa No momento ficaremos com essa noção comum de linguagem que nos é familiar desde que aprendemos a nos comunicar de alguma maneira A linguagem neste sentido primeiro instrumental é a organização dos códigos com os quais realizamos comunicações bemsucedidas Pois bem a memória histórica do homem continuaria presa a limites estreitos se não houvesse surgido a linguagem verbal a linguagem dos códigos verbais O que é isso uma linguagem verbal Por que ela ocupa um lugar privilegiado em face das outras linguagens Numa linguagem verbal o número de códigos é pequeno e facilmente memorizável Esse número tem a ver com as características do aparelho fonador humano aquele mecanismo pelo qual produzimos sons Mediante a seleção de um número de sons diferenciáveis uns dos outros foram criados os primeiros alfabetos Sons articulados formam palavras palavras articuladas dão origens a frases que por sua vez combinadas podem formar textos cada vez maiores e mais complexos Uma linguagem assim constituída é uma linguagem verbal que encontrou a sua estrutura mais avançada quando foi sistematizada sob a forma de códigos escritos O aparecimento da escrita mudou o curso da história Mesmo antes da escrita a linguagem verbal já havia revolucionado as condições de vida da espécie humana Textos dissertativos e textos narrativos Uma consequência imediata da importância dos textos formulados em linguagem verbal é que as intenções comunicativas podem ser expressas segundo dois modos de construções construção analógica e construção analítica Chamaremos os textos construídos analogicamente de textos narrativos também chamados apenas de narrativa e os textos construídos analiticamente de textos dissertativos também chamados apenas de dissertação Com isso você já deve ter feito uma primeira idéia que será aprofundada aos poucos sobre o que é uma construção analógica ou o que é uma construção analítica A construção de um texto é do ponto de vista do autor uma produção como já sabemos e do ponto de vista do intérprete uma interpretação A interpretação de textos verbais é chamada comumente de leitura Em regra um texto produzido analogicamente deveria ser lido analogicamente produzido analiticamente deveria ser lido analiticamente Mas o que nos interessa aqui é saber o que é que define cada tipo de leitura e o que é afinal uma leitura filosófica Um texto narrativo é construído com a utilização de imagens ações personagens cenas e a sua leitura implica envolvimento emocional identificação afetiva afinidades eletivas entre valores do leitor e do texto Em certo sentido sua interpretação depende de uma analogia entre o vivido e o narrado Experimente ler um romance um conto um poema um bilhete amoroso Nesses textos parece que a mensagem está incompleta sem os sentimentos projetados sobre ele pelo leitor Também nesses textos a compreensão vem dos saltos formando quadros que se justapõem em cenas que por sua vez se combinam em histórias Histórias são as sequências de ações narradas a sucessão de fatos correspondendo à dimensão episódica da narrativa porquanto a história é feita de acontecimentos Diferentemente de um texto narrativo cujo processo de construção e decodificação necessita de analogias entre o vivido e o codificado a construção e decodificação de textos dissertativos necessita apenas de operações intelectuais de análise isto é separação e encadeamento lógico de significados parciais Apresentamse não como uma sucessão de acontecimentos mas como uma tessitura de idéias coerentes entre si O processo de explicitar a coerência interna entre as idéias de um discurso dissertativo é justamente o que se chama de argumentação No Capítulo 3 falaremos sobre o mistério da origem da linguagem relatado nos mitos e sobre o problema do seu funcionamento Nunes B O tempo da narrativa São Paulo Ática 1988 p 14 Enredo e resumo A unidade de um texto narrativo enquanto obra pode ser explicitada por meio de um enredo Imagine um filme ou uma novela O que é o seu enredo senão o fio condutor que faz que cada capítulo tenha uma relação com todos os outros Se lhe pedem para contar o filme que viu e você diz assim a história se passa em Vila Rica durante os anos da abundância de ouro e o enredo é o da heroína que enlouquece por ter perdido o amado e a razão de viver Veja que o enredo diz o essencial da história que no entanto precisa ser contada fato por fato na ordem temporal em que aparecem no universo da realidade referida pela narrativa Já um texto dissertativo é construído por meio de idéias que se encadeiam umas às outras segundo uma ordem lógica Não há ações nem personagens nem tempo de ocorrência de fatos Há por outro lado relações de coerência lógica de contradição ou de conseqüência lógica entre uma afirmação e outra O texto dissertativo está completo sem a subjetividade do intérprete sem as suas emoções afinidades envolvimentos A unidade compacta do desenvolvimento lógico das idéias de um texto é chamada de resumo O resumo está para a dissertação assim como o enredo está para a narrativa Tanto o resumo quanto o enredo são fundamentais para se fazer a crítica de textos conforme eles sejam dissertativos ou narrativos Pelo resumo ou enredo os textos são sintetizados Os textos filosóficos em geral são textos dissertativos Às vezes a exposição filosófica se vale da narrativa que aí funciona como um texto primário onde os conceitos podem apenas ser intuídos e não como texto já filosoficamente construído De qualquer modo dissertação ou narrativa ambas as formas de texto se prestam à leitura filosófica É hora de compreender como os modos de construção analógica ou analítica diferenciam os textos em narrativa ou dissertação Pois então podemos formular mais claramente a compreensão dos conceitos de leitura analógica e de leitura analítica Já sabemos que o termo construção referese a qualquer fazer humano quer como produção quer como interpretação Assim uma obra humana seja obra de arte ou obra utilitária resulta de um processo de construção presidido por uma intencionalidade Quando a intencionalidade de uma construção opera o ponto de vista do autor essa construção possui o caráter de uma produção quando opera o ponto de vista do intérprete ou leitor essa construção é uma interpretação ou uma leitura Portanto uma leitura ou uma produção são construções Como operam pontos de vista diferentes elas são potencialmente autônomas uma em relação à outra Por exemplo um determinado objeto resultante de um fazer humano uma casa ou uma obra de arte O ponto de vista de seu autor o arquiteto por exemplo pode ser completamente independente do ponto de vista de seus intérpretes os moradores e mesmo assim permanecer uma obra humana dotada de significado Quando se olham as construções do ponto de vista dos procedimentos tanto o ponto de vista da intencionalidade operante quanto o dos procedimentos operatórios implicados no fazer humano são estruturados segundo modos de construção distintos modo analógico e modo analítico No modo analógico intencionalidades e procedimentos são articulados no fazer humano segundo critérios de analogia entre o vivido e o representado no modo analítico segundo critérios de coerência lógica entre as partes constituintes da mensagem Assim quando um intérprete considera um texto como narrativo ele mobiliza para a sua leitura todo um universo vivencial em que personagens ações cenas e cenários são confrontados segundo um princípio de verossimilhança com análogos na experiência comum do intérprete Por outro lado quando um intérprete considera um texto como dissertativo sua atenção se dirige às partes em que o mesmo se decomõe tanto no plano das intencionalidades quanto no plano dos procedimentos Nisso consiste a análise que se desenvolve segundo o princípio de verificação Note que há uma diferença significativa entre verossimilhança e verificação A verificação busca um contexto de correspondência entre o que é decomposto numa dissertação e o que é medido nos fatos por ela referidos enquanto a verossimilhança busca o contexto de correspondência entre o que é exposto na narrativa e o que é vivenciado na história dos intérpretes O que significa dizer que o discurso verossímil visa parecer verdadeiro segundo uma experiência de vida enquanto o discurso verídico visa ser verdadeiro segundo uma experiência de mensuração O primeiro caso caracteriza a narrativa o segundo a dissertação Em suma a leitura analítica é a que obedece ao princípio da verificação e a leitura analógica é a que obedece ao princípio da verossimilhança Podese inferir de imediato que a leitura filosófica é do tipo analítico e que a leitura estética a dos textos de arte é do tipo analógico Recursos de leitura de textos A regra básica de leitura filosófica de um texto é observar o rigor da construção lógica da idéia por parte do autor e o rigor da reconstrução lógica da idéia por parte do leitor ou intérprete Com essa regra em mente poderemos chegar a estabelecer um bom método de leitura filosófica É preciso distinguir a leitura de aproximação aquela leitura rápida e sem profundidade da leitura de estudo A leitura de estudo é metódica exige atenção orientada em nadireção do rigor na explicitação da coerência interna argumentativa ou da verossimilhança narrativa Tanto a leitura de uma narrativa quanto a de uma dissertação podem ser leituras de estudo ou seja metodicamente orientadas Metodicamente quer dizer devem ser utilizados recursos adequados ao estudo controlados por seus objetivos Os principais recursos cuja utilização iremos aprimorar de agora por diante são dois o esquema e o fichamento Fazemse esquemas e fichamentos tanto de textos narrativos quanto de textos dissertativos Esquema O esquema visa explicitar a organização das idéias de texto seja ele narrativo ou dissertativo A organização de um texto possui em geral três etapas apresentação desenvolvimento e finalização Em cada uma dessas etapas as idéias são organizadas de acordo com o tipo de texto Assim na estrutura narrativa a apresentação é o momento em que os personagens são caracterizados e em que se arma a situação dramática No desenvolvimento a situação dramática se define e se complica na finalização ela se resolve Na estrutura dissertativa a apresentação é o momento em que se define o tema e o objeto do estudo por meio dos seus conceitos básicos e se formula o problema que será tratado No desenvolvimento o problema é analisado e o objeto explicado em função das relações lógicas que descrevem o seu funcionamento na finalização a solução é proposta discutida e comentada Essa é a noção de esquema oferecida aqui em suas linhas gerais Para compreendêla é preciso exercitála pois se trata de uma noção essencialmente prática Basta saber que a finalidade de um esquema é obter um quadro sinóptico das idéias do texto lido Muitas vezes podem ser utilizados recursos gráficos como setas tracejados entre expressões Quando esses recursos gráficos explicitam com palavras os significados de todas as ligações entre as expressões temse o que alguns autores chamam de mapas conceituais Fichamento Fichamento é um recurso mais detalhado de estudo servindo para fixar o andamento da argumentação ou da narrativa Aplicase portanto tanto a textos narrativos quanto a textos dissertativos Um fichamento visa extrair do texto estudado o seu conteúdo interpretativo do modo mais fiel à ordem em que é construído Por meio de um fichamento podemos avaliar o mérito de um texto o vigor da posição nele construída a sua originalidade e a sua especificidade No fichamento de uma narrativa devese extrair do texto ações importantes diálogos definidores de situação descrição de cenaschave Já o fichamento de uma dissertação precisa conter os conceitos básicos que definem o objeto de estudo o problema e as proposiçõeschave em que ele é analisado e resolvido bem como os critérios pelos quais o encadeamento das proposições se justifica O que diferencia o esquema do fichamento é que no esquema as idéias são sugeridas sobretudo por meio de recursos visuais como flechas cores palavraschave enquanto no fichamento as idéias devem ser enunciadas de maneira a poderem ser julgadas como verdadeiras ou falsas Compreender essas noções significa saber operacionalizálas Análise de texto filosófico No texto a seguir vejamos como aplicar os conceitos apresentados visando à caracterização de um método de leitura filosófica Em que o pensamento filosófico diferenciase do pensamento científico A Filosofia grega parece começar com uma idéia absurda com a proposição de Tales de que a água é a origem e o seio materno de todas as coisas Será realmente necessário para aqui e levar esta idéia a sério Sim e por três razões primeiro porque a proposição assere algo acerca da origem das coisas em segundo lugar porque faz isso sem imagens e fábulas como faziam os textos narrativos e finalmente porque contém embora em estado de crisálida a idéia de que tudo é um A primeira destas três razões ainda deixa Tales na comunidade dos homens religiosos e supersticiosos a segunda separao desta sociedade e mostrao como investigador da natureza a terceira faz de Tales o primeiro filósofo grego Se tivesse dito a água transformase em terra teríamos apenas uma hipótese científica falsa mas difícil de refutar Mas ele vai além da ciência propriamente dita Tales ao expor a representação da unidade pela hipótese da água não superou o nível muito baixo das teorias físicas da sua época quando muito saltoulhe por cima As observações medíocres e incoerentes de caráter empírico que Tales fizera sobre a presença e as metamorfoses da água ou mais precisamente da umidade não teriam de modo algum permitido ou mesmo sugerido esta generalização gigantesca o que o levou aí foi um dogma metafísico que tem a sua origem numa intuição mística e que nós encontramos em todas as filosofias juntamente com os esforços sempre renovados para melhor o exprimir a proposição tudo é um É espantoso ver como uma tal crença dispõe tiranicamente de todo o real empírico é precisamente em Tales que se pode observar como a filosofia procedeu em todas as épocas ao arrojarse para os seus fins que magicamente a atraem por cima de todos os obstáculos da experiência Avança apoiada em pontos frágeis a esperança e o pressentimento dãolhe asas Segue com dificuldade e ofegante o entendimento calculador e procura os melhores pontos de apoio para também ela atingir o fim atrativo a que chegara o seu companheiro mais divino Julgase ver dois viajantes à beira de uma torrente agitada que arrasta pedras consigo um deles salta com leveza por cima dela servindose das pedras para se lançar em frente mesmo que estas se afundem bruscamente atrás dele O outro encontrase desamparado a cada momento deve primeiro construir fundamentos que possam sustentar o seu passo pesado e prudente às vezes não consegue e então nenhum deus o ajuda a transpor a torrente O que leva pois o pensamento filosófico tão rapidamente ao seu fim Distinguese ele do pensamento calculador e mensurante só por percorrer mais rapidamente grandes espaços Não porque lhe dá asas um poder estranho e ilógico a imaginação Impelida por essa força salta de possibilidade em possibilidade que se aceitam como certezas em vôo É um pressentimento genial que lhas mostra adivinha já de longe que neste ponto há certezas demonstráveis Mas a imaginação é sobretudo poderosa na captação repentina e na elucidação de semelhanças e só depois a reflexão traz as suas medidas e os seus modelos e tenta substituir as analogias por igualdades as justaposições vistas por causalidades Mas ainda que isto não fosse possível mesmo no caso de Tales o filosofar indemonstrável tem valor ainda que todos os fundamentos tenham cedido mesmo que a lógica e a rigidez da empíria tenham querido chegar à proposição tudo é água permanece ainda depois da destruição do edifício científico um resíduo e é precisamente neste resíduo que se encontra a força propulsiva e por assim dizer a esperança de uma fecundidade futura NIETZSCHE Friedrich A Filosofia na idade trágica dos gregos Trad Maria Inês Madeira de Andrade Lisboa Edições 70 1987 p 2729 Como fazer uma leitura analógica desse texto O próprio texto dá pistas Ele compara a Filosofia e a Ciência com dois viajantes à beira de uma correnteza O cenário está pronto para a trama que define o perfil de cada viajante Neste caso o texto se comporta como uma narrativa Ele envolve emocionalmente o leitor convidando o seu universo vivencial para participar da construção de uma mensagem A leitura analógica aprofundada exige que o leitor faça o esquema que estrutura a narrativa e o fichamento dos aspectos relevantes da história narrada Por outro lado como fazer uma leitura analítica Como a leitura analítica tem importância decisiva para a investigação filosófica iremos proceder a ela com maior detalhamento Lembremos que ela visa primeiro compreender analiticamente a idéia elaborada no texto e depois demonstrar o encadeamento lógico das proposições que a sustentam Por isso trataremos a leitura analítica em duas etapas Etapa compreensiva Nesta etapa devemos obter a idéia geral o esquema analítico do texto Para isso são sugeridos os passos abaixo indicados 1º Ler o texto procurando as suas subdivisões como se houvesse um subtítulo implícito às vezes esse subtítulo já existe Notar que em cada subdivisão uma mesma idéia geral é tratada com a introdução de alguma novidade Essa idéia geral pode ter sido nomeada já no título dado ao texto ou pode estar implícita Em qualquer caso constitui o tema do texto No texto lido o tema é a liberdade do pensamento filosófico que se serve da imaginação criadora e da intuição Essa idéia está presente em todos os parágrafos do texto Confira 2º Selecionar grifando ou circulando palavras ou expressões em torno das quais outras são desenvolvidas Observe o quanto essas palavras ou expressões são mais densas como se fossem mais pesadas do que outras à sua volta como se o pensamento ali devesse se demorar mais Se essas palavras ou expressões aparecerem mais de uma vez grife ou circule apenas a primeira vez em que aparecerem Note que o significado de tais palavras ou expressões constitui o que chamamos de conceitos No texto lido você irá selecionar pelo menos os seguintes conceitos Homens religiosos Filósofo grego Pensamento filosófico Imaginação Analogias Investigador da natureza Real empírico Pensamento calculador Reflexão Causalidades 3º Descobrir a relação de afinidade ou de proximidade entre os significados dessas expressões ou conceitos e como o conjunto delas se articula com o tema assumido como o tronco comum de onde elas se originam Através de setas e de outros recursos gráficos estabelecer a ligação entre essas palavras e expressões de acordo com as relações obtidas entre os significados das mesmas Desse modo você produziu um mapa conceitual do tema do texto lido Um mapa conceitual constitui aquilo que propriamente seria um esquema analítico e é muito útil como síntese visual de um tema na hora por exemplo de falar ou de escrever sobre o mesmo ou como um quadro sinóptico de um estudo feito Apresentando um mapa conceitual da sua leitura do texto de Nietzsche você irá fazer relações de oposição entre o filósofo e o religioso entre o real empírico e a imaginação entre analogia e causalidades entre filosofia e ciência 4º Procurar agora inspecionando o texto lido recuperar algo como o rascunho do autor ao escrevêlo Observe onde começa e onde termina a apresentação na abordagem do autor Faça o mesmo para delimitar o desenvolvimento e a finalização do texto lido Anotar quais itens ou subdivisões do texto estão incluídos em cada uma dessas partes do texto Anotar em cada subdivisão os principais conceitos e suas definições resumidas O resultado que você estará obtendo é o que se chama de esquema Assim procedendo você está reconstruindo a experiência mental do autor resgatando a ordem do seu pensamento ao expressarse neste texto que você está lendo Exemplo de Esquema 1 Apresentação A proposição de Tales Tudo é água Seu significado filosófico Tudo é um 2 Desenvolvimento Procedimento filosófico salto sobre os obstáculos da experiência Analogia dos viajantes pensamento filosófico como leveza saltitante pensamento científico como prudente e mensurador Recursos do pensamento filosófico a imaginação e a reflexão 3 Finalização Generalizações filosóficas contêm o resíduo de fecundidades futuras Etapa demonstrativa O que se visa agora não é mais apenas compreender o texto e sim problematizálo debatêlo e discutir as suas proposições Lembrar que o que estará sendo problematizado debatido ou discutido é o conteúdo assertivo do texto o que nele é afirmado e a posição do autor não do leitor Como sugestão os passos abaixo são indicados visando à obtenção de um fichamento 1º Procurar formular através das questões implícitas ou explícitas que o texto lido levanta qual o problema de que se ocupa Um problema é uma interrupção do fluxo das interpretações familiares quando algo não se encaixa onde seria de esperar que o fizesse Também pode ser dito que problemas constituem necessidades de saber nascidas de alguma curiosidade orientada para uma busca de certezas justificadas ou de interpretações verídicas Um problema em um texto dissertativo pode ser apresentado explicitamente sob forma de questões ou implicitamente sob a forma de situaçãoproblema Em qualquer dos dois casos os dados iniciais para a busca de solução do problema devem ser oferecidos No caso do texto lido você deve ter formulado o problema abordado considerando a questão como se distingue o pensamento filosófico do pensamento científico calculador e mensurador Como dado inicial é oferecida à análise a proposição de Tales Tudo é água 2º Destacar o conteúdo assertivo das soluções apresentadas e verificar se as justificações oferecidas estão bem fundamentadas ou seja se o encadeamento lógico das asserções ou proposições está correto O conteúdo assertivo de uma solução de um dado problema é o que chamamos de tese Uma tese compõese de proposições encadeadas de maneira a sustentar uma posição Portanto uma tese inclui um critério de encadeamento entre proposições que sustentam a posição proposta Resgatar uma posição apresentada em um texto é enunciar as proposições que manifestam a tese bem como seu critério de encadeamento seu raciocínio ou mais propriamente o seu argumento Você poderá enunciar as proposições de um texto com as suas próprias palavras ou utilizando as palavras do autor neste caso você deverá colocálas entre aspas e localizar o lugar no texto onde elas se encontram Lembrar que uma tese é uma proposição cuja verdade aparece justificada e que uma proposição só pode ser considerada verdadeira quando se pode ter certeza de que pelo menos ela não é falsa Alegar a possibilidade de que ela seja falsa é fazer uma objeção que solicita um reforço da argumentação para desmontar a tese apresentada No texto lido você deverá ter enumerado pelo menos as seguintes proposições a Tudo é água ou A água é a origem e o seio materno de todas as coisas b Tudo é um c As generalizações filosóficas não são refutáveis pela experiência empírica isto é pelos dados da observação experimental Considerando que o encadeamento dessas proposições entre si e com outras que lhe dão coerência e sustentação constitui o que se chamou de argumento e que a finalidade de um argumento é justificar a posição defendida ou seja a tese temse que coração de um fichamento é o resgate dos argumentos No texto lido a tese principal pode ser apresentada sob a forma da proposição 3 acima E a favor dela dois argumentos podem constar de seu fichamento o argumento dos viajantes e o argumento do resíduo como esperança de fecundidade futura 3º Agora combinando os passos 1 e 2 obtémse finalmente o fichamento do texto lido Tomando como modelo de fichamento a forma que se segue construir seu próprio fichamento do texto lido Forma de fichamento a O problema questões dados iniciais referências para contextualização b As teses Proposições enunciados do autor entre aspas enunciados do leitor descrevendo posições Argumentos proposições visando sustentar as teses relação de justificação entre os argumentos e as teses Produção de textos de reflexão filosófica Você iniciou uma viagem ao mundo dos filósofos A intenção deste capítulo zero é oferecerlhe orientação quanto a alguns procedimentos básicos para que sua viagem seja bem sucedida Como você já percebeu tratase de uma viagem a um gênero de linguagem um tipo de atitude e um modo de abordar questões do cotidiano mas que repercutem nos significados do que fazemos ou do que devemos fazer É natural que no transcurso de toda viagem frutos sejam recolhidos mesmo que apenas para testemunhar o percurso Em nosso caso esperase que tais frutos sejam a produção de textos filosóficos por você mesmo Para isso é necessário que você tenha uma boa questão alguns elementos para a análise dessa questão e sobretudo que esteja instrumentalizado com atitudes habilidades e recursos de linguagem para realizar uma reflexão filosófica os argumentos inventar novas propostas de solução que possam ser mais consensuais Este momento quando é feito numa roda de fala num debate oral permite que se veja mais claramente quão importante ele é no processo da reflexão filosófica Quando ele é feito no trabalho meditativo não deixa de ocorrer um debate entre interlocutores imaginários Na verdade só estaremos preparados para realizar um tal debate imaginário se adquirirmos a habilidade de realizar tal debate ao vivo entre interlocutores reais Momento do conceito uma vez que se chega a um consenso razoável em torno de uma compreensão ampla do que estava dando nó cabe explicitar a teoria filosófica que melhor expresse tal compreensão Este é o momento em que são propostos os conceitos esclarecedores das várias perguntas antes formuladas É o momento da criação dos conceitos filosóficos que são os frutos do processo da reflexão filosófica Os textos que os filósofos deixaram na tradição em geral descrevem o significado dos conceitos a que chegaram tentando resolver questões a cuja resposta sempre pode suceder outra mais ampla Por isso é que se diz que os filósofos não resolvem problemas eles apenas os esclarecem explorando as possibilidades do que pode ser expresso claramente na linguagem Ao final de cada capítulo você encontrará uma proposta de reflexão filosófica Esperase que você aprenda a realizar os quatro momentos da reflexão filosófica Um poema uma canção um conto um filme podem saltar etapas mas um texto filosófico fica fragilizado quando alguma etapa é omitida A reflexão filosófica tem como objetivo examinar a validade das crenças e normas que regem a vida humana Por isso é que falamos antes que as questões filosóficas dizem respeito ao que é crenças ou o que deve ser normas A reflexão filosófica tende a melhorar a vida social e individual das pessoas depurando esta de erros que podem ser resolvidos apenas pela utilização do pensamento reflexivo metodologicamente orientado Tipos de textos filosóficos que você pode produzir Os recursos de leitura anteriormente mencionados Esquema e Fichamento possuem como centro de referência o texto lido devendolhe fidelidade estrita Tratase de uma documentação da leitura para fins de melhor acesso e análise do texto lido Diferentemente são os tipos de textos filosóficos que você pode produzir Todos eles possuem a referência mais forte no autor do texto você mesmo sem no entanto serem permitidos erros de leitura ou falsificação dos dizeres do texto para forçálo ser favorável a uma posição sua A isso se chamará desonestidade intelectual algo intolerável em um debate racional Descreveremos a seguir os tipos mais recorrentes de textos filosóficos que você poderá produzir a Comentário ou paráfrase consiste em dizer com as próprias palavras o pensamento de um autor sem perda do significado do que ele quis dizer Serve sobretudo quando se quer verificar a compreensão de trechos significativos São necessárias habilidades de tradução interpretação e síntese b Resenha consiste em uma síntese de uma unidade maior dos escritos de um autor um capítulo ou o livro todo Em uma resenha é necessário comentar o plano geral do capítulo ou obra ressaltando o problema e os argumentos mais importantes do autor Portanto uma resenha já contém uma interferência analítica no texto resenhado podendo haver já uma crítica ao seu autor c Relatório de pesquisa quando se tem um problema filosófico cuja solução vaise buscar em um autor ou em mais de um o texto a ser produzido deverá ser um relato dos achados Um relatório portanto comporta um domínio maior de reflexão filosófica pois em geral confrontamse diversos autores em torno de um problema cada um deles sendo discutido resenhado citado e utilizado na medida do for considerado melhor para a solução do problema em pauta Tratase em geral de um trabalho mais alentado devendo ficar claro o que é a contribuição de cada autor citações de fontes e o qual é a nossa própria contribuição Ao final deve constar a referência das fontes utilizadas na pesquisa d Ensaio é uma produção filosófica própria em que um assunto é apresentado com bom poder de síntese e razoável conteúdo de análise argumentativa de modo a sustentar as idéias Esta é a forma de texto preferencial para a exposição de reflexões críticas ou abordagens inovadoras Quem escreveu um ensaio comparece inteiramente com seus critérios e suas posições pessoais embora a sua exposição deva ser o mais argumentativa possível Os textos lidos que servirão de base para a sua exposição devem ser resumidos e comentados sinteticamente para que tenham vida própria independente das suas próprias preferências Também os autores utilizados devem ser contextualizados em face de outros autores quer antagônicos quer pertencentes à mesma linhagem teórica para que seja vislumbrada a história de tratamento do tema E as referências às fontes são obrigatórias Você iniciante no filosofar deve se exercitar na prática de cada um desses gêneros de produção de textos reflexão filosófica Comece pelo comentário Faça um comentário de algum texto ou trecho por exemplo este último de Nietzsche já fichado Procure observar o que você acrescenta de produção própria aos textos comentados resenhados ou relatados A produção de um ensaio é claro exige que você tenha algo a dizer Lembre sempre que a investigação filosófica consiste primeiro na vivência de alguma questão cuja solução é encaminhada pela escolha de um tema já abordado por outros filósofos da tradição Isso não significa que os temas novos estejam proibidos Significa apenas que os temas novos nunca são completamente novos Há neles resíduos de uma longa história do pensamento filosófico Como diz o filósofo Heidegger a investigação filosófica consiste em repensar o já pensado para pensar o ainda não pensado É este o pequeno quinhão que cabe ao fazer filosófico E uma posição filosófica nova deve ser forte o suficiente para enfrentar discussões com os pensadores do passado pois é assim que se garante a potência criativa das novas idéias sem precisar reinventar a roda Palavraschave Apreensão Formação natural e espontânea na consciência de um objeto da percepção como uma pura presença Conceito Uma idéia ou significado quando analisado no confronto com o objeto a que se refere O conceito é assim a unidade dos significados que definem esse objeto por meio de suas características gerais Esquema Estrutura das idéias de um texto ou recuperação do possível plano de intenções comunicativas nele expressas Fichamento Análise de como um problema foi abordado no texto estudado seus dados iniciais as proposições que o resolvem os argumentos que sustentam as teses e posições apresentadas Interpretação Formação na consciência construída por meio de sinais e códigos de significados e de temas Leitura analógica e analítica Interpretação de sinais por meio de códigos da linguagem verbal preferencialmente os sinais escritos A leitura é analógica quando o leitor participa afetivoemocionalmente da decodificação é analítica quando apenas opera procedimentos lógicos assumidos Mapa conceitual Recurso gráfico pelo qual se mostram as relações de proximidade e afastamento entre os conceitos de um texto lido Resumo x Enredo O resumo de um texto dissertativo está para o enredo de um texto narrativo assim como o conteúdo essencial de um argumento construção lógica está para o conteúdo essencial de uma trama construção dramática Tema Um significado que se torna objeto de reinterpretacões dentro de uma tradição intelectual Tradição Conjunto de significados e de valores que se transmitem de geração em geração por meio de instituições Bibliografia comentada Obras de apoio ABAGNANO Dicionário de Filosofia São Paulo Mestre Jou 1985 CUVILLIER A Pequeno vocabulário da língua filosófica São Paulo Nacional 1967 JAPIASSU H Dicionário de Filosofia Rio de Janeiro Jorge Zahar 1990 Esses três dicionários recomendados são obras de referência de fácil acesso para pesquisas sobre conceitos recorrentes e sobre as biografias intelectuais dos principais pensadores citados ao longo dos textos lidos CARVALHO M C Técnicas de metodologia científica Construindo o saber Campinas Papirus 1988 Sobretudo na Segunda parte discussão sobre o que são textos teóricos resenhas e fichamento de textos teóricos ECO H Como se faz uma tese São Paulo Perspectiva 1989 Discussão sobre as técnicas de pesquisa bibliográfica e de escrita de textos dissertativos em geral monografias ensaios relatórios SEVERINO A J Metodologia do trabalho científico São Paulo CortezAutores Associados 1985 Discussão didática de técnicas e recursos de estudo e exposição oral e escrita de textos em geral Obras de aprofundamento DESCARTES R Discurso do método São Paulo Abril Cultural 1979 Coleção Os Pensadores Para analisar a primeira apresentação sistematizada na Filosofia moderna da noção de método DUCASSÉ P As grandes correntes da filosofia MiraSintra Publicações EuropaAmérica c 1972 Coleção Saber Texto de divulgação das principais filosofias desde a Grécia antiga até hoje Leitura fácil e agradável MERLEAUPONTY M Elogio da Filosofia Lisboa Guimarães 1986 Sobre o significado do filosofar na tradição ocidental NUNES B O tempo da narrativa São Paulo Ática 1988 Sobre o tema das relações entre a narrativa e a história HEIDEGGER Martin Que é isto a Filosofia São Paulo Abril Cultural 1984 Coleção Os Pensadores Texto belíssimo e profundo sobre o conceito de filosofia em suas origens e como deve ser entendido hoje DEWEY John Como Pensamos 4 ed São Paulo Editora Nacional 1979 Obra significativa sobre como funciona o pensamento reflexivo e como melhorálo pela educação LIPMAN M et al A Filosofia na sala de aula São Paulo Nova Alexandria 1998 Obra sobre como obter melhores resultados da prática de filosofia como conversação em sala de aula DANIEL MF A Filosofia e as Crianças São Paulo Nova Alexandria 2000 Obra que mostra por que e como as crianças devem filosofar na escola CUNHA J Auri Filosofia para a Criança Campinas Alínea 2008 Obra com orientações sobre o caminho metodológico da prática da reflexão filosófica capaz de conduzir a um filosofar mais criativo crítico completo CAPÍTULO 1 a inteligência e o pensamento Por isso convém que se siga a razão que é universal quer dizer a razão comum já que o universal é o comum Porém sendo esta razão universal a maioria vive como se tivesse uma inteligência absolutamente pessoal Heráclito de Éfeso 544480 aC O real e a realidade Tudo o que acontece tem a sua existência definida nos limites do mundo se é que entendemos por existência o ocupar um lugar no tempo e no espaço Vimos que possuímos a capacidade natural de apreender a existência de objetos do mundo por meio da composição de imagens deles captadas pelos nossos órgãos dos sentidos Pela apreensão usando somente aptidões com as quais nascemos operamos sínteses de imagens percebidas sensorialmente sobre coisas do mundo Naturalmente somos levados a admitir que os objetos dessas sínteses pertencem ao mundo e não à nossa imaginação Isso porque procedemos com a pressuposição implícita da existência do mundo como exterior aos processos de nossa consciência Será assim mesmo Em que se baseia essa pressuposição O que difere os objetos do mundo dos objetos de nossa imaginação Há diferença entre objetos percebidos e objetos imaginados pelo menos em um aspecto os objetos percebidos podem ter a sua existência apreendida por outras pessoas e independente de nossa vontade enquanto que os objetos imaginados pertencem à nossa fantasia A substância do que é percebido pelos sentidos escapanos do controle e mesmo quando deixamos de existir ela subsiste Dizemos então que os objetos percebidos estão no mundo real são fatias desse mundo que subsiste de maneira inteiramente independente de nós DIRETOR GERAL Wilon Mazalla Jr COORDENAÇÃO EDITORIAL Willian F Mighton REVISÃO DE TEXTOS Vera Luciana Morandim R da Silva REVISÃO FINAL DO TEXTO José Auri Cunha EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Cyrino Mortari Fabio Diego da Silva Tatiane de Lima CAPA Ivan Grilo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Cunha José Auri Iniciação à investigação filosófica um convite ao filosofar José Auri Cunha Campinas SP Editora Alínea 2009 Bibliografia 1 Filosofia 2Filosofia Estudo e ensino I Título 022501 CDD1072 Índices para Catálogo Sistemático 1 Investigação filosófica Iniciação Filosofia 1072 ISBN 9788575163146 Todos os direitos reservados à Editora Alínea Rua Tiradentes 1053 Guanabara CampinasSP CEP 13023191 PABX 19 32329340 e 32322319 wwwatomoealineacombr Impresso no Brasil À dona Rita Mimosa Mãe ontem canto dos sonhos da terra hoje encanto na terra dos sonhos
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Texto de pré-visualização
CAPÍTULO ZERO a investigação filosófica e seus instrumentos A realidade imediata da idéia é a língua O problema de descer do mundo das idéias para o mundo real transformase no problema de descer da língua à vida Karl Marx A ideologia alemã Convite a uma viagem pelo mundo da filosofia O mundo dos filósofos é um mundo imaginário existe apenas na inteligência e serve para alimentar a inteligência humana Melhor seria dizer que é um mundo de questões problematizadas e de textos escritos por grandes pensadores da espécie Você já pensou em que as habilidades de pensamento fizeram uma diferença significativa na sobrevivência dos humanos Pois bem houve alguns membros dessa espécie que aprimoraram sua capacidade de pensar e com isso contribuíram deixando uma herança para os outros Mas se não fosse a invenção da escrita essa herança teria se perdido Por isso viajar pelo mundo dos filósofos é visitar suas questões e seus escritos Porém visitar os escritos sem as questões é de pouca serventia No melhor dos casos tornaria alguém recitador de belas frases que não compreende bem o que querem dizer Não é isso que queremos que lhe aconteça Você chegará à convivência com um filósofo quando compreender alguma de suas questões São questões a rigor irrespondíveis com certeza total São questões sobre o que é e o que deve ser O filósofo não se perguntará sobre como será pois ele não faz predições já que suas questões não dizem respeito à ordem dos acontecimentos mas ao seu significado Compreender e projetar compreensão para o futuro não chega a ser predizer mas apenas ter razões para esperar Assim viajar pelo mundo dos filósofos significa visitar os tipos de atitudes mentais que eles se impuseram para controlar seus pensamentos na direção da busca de razões para determinadas interpretações Significa sobretudo vivenciar as questões que se fizeram ponderando a diferença de época e contextos sociais para então conhecer seus escritos e conversar com seus pensamentos Em algum sentido todos filosofamos mas poucos com domínio da linguagem métodos e técnicas dos grandes filósofos Estes pertencem a uma comunidade de pensadores que continuam debatendo ao longo dos séculos por meio de seus escritos Você não gostaria de conhecer como funciona essa comunidade Caso positivo você terá que disporse a uma viagem a um gênero de linguagem inicialmente meio complicada mas que aos poucos você verá que nem tanto acordo com os modos ocidentais Como podemos saber o que é um modo ocidental de viver Não é uma coisa que se veja que se toque ou se escute É portanto um algo imaginário alguma coisa que só podemos captar pelo pensamento e pela imaginação Recolhendo vestígios do imaginário Mas o pensamento só pode captar essa imaginária porque ela deixa vestígios de sua existência Recolher vestígios da existência de algo examinálos propor ligações entre diversos vestígios aparentemente da mesma fonte descobrir qual a coisa da qual esses vestígios testemunham a existência nisso consiste uma investigação Investigar quer dizer entrar em contato com vestígios da existência de algo que se quer compreender saber o que eles significam Em língua portuguesa há uma outra palavra usada como sinônima de investigação é a palavra pesquisa que quer dizer a mesma coisa embora no significado da palavra pesquisa haja maior ênfase na idéia de pergunta pesquisar é investigar fazendo perguntas Se você está muito cúrioso para saber afinal de contas o que isso tudo tem a ver com filosofia aceite como definição preliminar que filosofia é investigação das formas de vida do homem ocidental Como você pode notar por essa definição somos levados a relacionar a filosofia com a história E de fato essa relação existe no momento adequado iremos investigála Por enquanto consideremos apenas uma frase célebre de um filósofo que dedicou sua vida a examinar profundamente a consciência do homem ocidental Esse filósofo é Hegel e a frase célebre é A filosofia tal como a coruja de Minerva alça vôo apenas ao entardecer Ou seja depois que a história acontece já ao seu entardecer é que a filosofia inicia as suas investigações Mas a filosofia olha o passado de maneira diferente da história A história olha o passado para entender como ele condicionou o presente enquanto a filosofia olha o passado para sonhar com o futuro Sua questão fundamental é Como tenho consciência do que sou Como tenho consciência das minhas possibilidades e dos meus limites Como o que sou está ligado com o que foi e com o que será Afinal o que é que sou enquanto ser humano distinto das coisas que me cercam e definido na história passada e na textura das relações de que atualmente participo Em outras palavras a consciência nova que a investigação filosófica nos propicia é a consciência de nós mesmos e de tudo o que pode influenciar o processo dessa consciência Nessa nossa viagem através do mundo da filosofia investigaremos a consciência de si mesmo do homem ocidental em três etapas na primeira como uma consciência de si mesmo diante da natureza na segunda etapa como uma consciência de si mesmo diante da cultura e finalmente na terceira etapa a consciência de si mesmo em seu próprio espelho isto é diante dos limites da linguagem e dos seus valores absolutos reverenciados como inabaláveis Consciência de si ponto zero da investigação filosófica Precisamos estabelecer o nosso ponto de partida toda viagem tem o seu Precisamos fazer uma idéia mínima que seja sobre o que quer dizer com a expressão consciência de si mesmo Façamos um exercício para situar em nós essa consciência de nós mesmos Aqui e agora hic et nunc As coisas que nos cercam isto é a nossa circunstância nos apontam seu centro que é o foco de onde são percebidas por nós Imagens de acontecimentos chegam a esse centro e em face desse centro instalamse como nossa circunstância como aquilo que está à nossa volta aqui e agora Essa experiência do aqui e agora constitui um vestígio de existência do nosso foco de percepção referenciando da existência de um mundo exterior pressuposto O que encontramos nesse vestígio Encontramos uma pulsação uma manifestação de vida Que tipo de manifestação é essa Como a vida está se manifestando aí Nomeamos esse átimo de experiência do mundo exterior pressuposto como um ato de apreensão nesse instante apreendemos acontecimentos que se passam à nossa volta Constituíamos este ato inicial de aprender algo que acontece fora de nós como o ato primeiro da nossa consciência de nós mesmos e portanto como o primeiro passo da nossa iniciação filosófica Apreender algo que nos chega através dos nossos recursos de percepção como um primeiro ato da consciência de nós mesmos aparentemente tão simples e natural é na verdade o resultado de um complicado processo de organização de sinais enviados pelos órgãos dos sentidos para o que estamos chamando de foco de percepção Nesse foco é que se formam composições significativas dos vários sinais recebidos que então passam a configurar um todo um objeto A apreensão é assim a pura presença desse objeto na consciência Procure sentir a pertinência dessa definição através das seguintes figuras Dependendo do enfoque você poderá ver objetos diferentes que permanecem na consciência como uma apreensão possível entre outras Quando o enfoque altera a relação entre o que é figura e o que é fundo a apreensão também se altera o quadro A às vezes é apreendido como um vaso B outras vezes como dois perfis humanos C Mundo exterior pressuposto Essa experiência de apreensão na sua simplicidade e naturalidade tem levado ao longo da história do homem a estados de compreensão diferentes da relação deste com as coisas da sua circunstância De fato a percepção das coisas que apreendemos sensorialmente isto é pelos nossos órgãos dos sentidos como coisas cuja existência é externa às nossas próprias pulsações e emoções corresponde a um estado de compreensão relativamente recente na história da humanidade Várias civilizações chegaram ao seu apogeu e declinaram sem admitir na experiência cultural comum de seus membros a idéia de que havia um mundo exterior desligado da vivência interna emocional de cada um Foram os gregos homens da extinta civilização que nos seus momentos áureos criaram o modo pensar filosófico e experimentaram os principais valores que ainda hoje regem os modos de vida ocidentais e que consideraram como ponto de partida de sua compreensão das coisas a idéia da exterioridade pressuposta dos acontecimentos do mundo O mundo era compreendido como existindo segundo leis e processos completamente distintos das leis e dos processos que regem o mundo dos sentimentos humanos Esse modo de compreender a exterioridade dos acontecimentos que nos cercam ficou desde então como pilar principal dos modos de pensar consagrados pela investigação filosófica e científica como poderemos constatar adiante Na verdade pressupor a existência do mundo exterior como base das nossas percepções constitui a primeira atitude filosófica desenvolvida na história celebrizada pela expressão atitude de espanto Espantarse diante das coisas significa experimentar uma descontinuidade entre elas e o foco de nossas percepções Pertencendo as coisas a outro universo diferente do eu subjetivo o acesso às coisas deverá ser obtido mediante investigações atentas busca de vestígios e evidências fortes Uma consequência dessa postura inicial do filosofar que consiste em situar a consciência de si distinta do mundo exterior pressuposto é termos que lidar com o problema da separação corpoalma dualismo que é fonte de inúmeros questionamentos ao longo da história É que em filosofia como aliás em toda investigação resolver um problema implica em criar novos problemas Do mesmo modo que quebrar um encantamento sobre algo significa apoiarse em outro encantamento como vemos nas lutas ideológicas Outra consequência da distinção consciência mundo é a distinção sujeitoobjeto É distinguindo o objeto como sendo de outra natureza que o sujeito do conhecimento pode reivindicar para si a vantajosa posição de neutralidade podendo vir a conhecêlo como ele realmente é Ora será realmente que um objeto que não esteja ligado a um sujeito possa merecer o esforço deste em conhecêlo A questão como veremos será determinar que tipo de ligação se dá entre os homens e os objetos que terão interesse em conhecer Adotaremos atitude semelhante para iniciar nossa investigação filosófica A existência do mundo será pressuposta como sendo exterior aos nossos processos de consciência Pressuposta porque admitida sem investigação específica uma pressuposição é antecipação de uma compreensão é uma predisposição para aceitar algo Quer dizer o ato de pressupor se mostra como uma atitude preparatória para iniciar uma investigação A atitude filosófica de distanciarse do que é pensado Pois bem procurando uma relação entre o foco de suas percepções e os objetos do mundo exterior pressuposto você acabou de realizar uma investigação filosófica a qual funcionará como ponto de apoio para outras Se você refletir sobre o que acabou de realizar poderá notar que a Você voltou sua atenção para si mesmo procurando ver de modo como você percebe isto é como você forma imagens sensoriais na consciência Ou de maneira geral você buscou ver o modo como se formam dados imediatamente em sua consciência correspondendo ao modo como objetos de percepção se mostram nela como pura presença como uma apreensão Proceder assim é adotar a atitude filosófica de distanciamento em relação à fonte dos dados da consciência semelhante à atitude de espanto dos primeiros filósofos b Você nomeou uma pura presença de um objeto da percepção como uma apreensão isto é você procurou apreender um ato de apreensão seu pois ao nomear uma coisa você a está distinguindo de outra está percebendo essa coisa como inteira e dotada de características próprias Proceder assim é fazer uma reflexão filosófica uma rememoração do que a consciência adquiriu como adquiriu e para quê em suma um repensar sobre o que já foi pensado Juntar uma atitude filosófica essa do ensimesmamento do ficar em si mesmo com uma reflexão filosófica essa de tomar como objeto da consciência o próprio ato de consciência das coisas nisso a grosso modo consiste a investigação filosófica O curioso é que fazer esse tipo de investigação é uma prática relativamente recente na história da humanidade Os primeiros homens a juntar uma atitude de ensimesmamento com uma reflexão sobre o significado do que estavam pensando surgiram na Grécia antiga por volta do século VII aC Eles já não esperavam que o conhecimento das coisas viesse como doação divina por intermédio dos mensageiros dos deuses Eles procuravam por si mesmo refletir sobre o que os sábios diziam por isso se denominaram amigos dos sábios ou em grego filósofos Consta que o primeiro a propor o termo filosofia significando amizade com a sabedoria foi Heráclito Em que sentido o espanto está na origem do filosofar A palavra grega philosophía remonta à palavra philósophos Originalmente esta palavra é um adjetivo como philárgyros o que ama a prata como philótimos o que ama a honra A palavra philósophos foi presumivelmente criada por Heráclito Isto quer dizer que para Heráclito ainda não existe a philosophía Platão diz Teeteto 155 d É verdadeiramente de um filósofo este páthos no sentido de disposição de tonalidade afetiva de atitude o espanto pois não há outra origem imperante da filosofia que esta Aristóteles diz o mesmo Metafísica I 2 982b Pelo espanto os homens chegam agora e chegaram antigamente à origem imperante do filosofar HEIDEGGER Martin Que é isto a Filosofia São Paulo Abril Cultural 1984 p 17 Coleção Os Pensadores Investigação filosófica Os filósofos portanto eram homens que praticavam intencionalmente uma investigação do significado imutável das coisas a partir de uma atitude de espanto geradora de um distanciamento tanto das coisas quanto de si mesmos enquanto investigadores Essa prática de investigação do significado imutável das coisas precisou criar uma linguagem apropriada e sobretudo regras para orientar o filósofo na sua busca Seria de esperar que a prática filosófica como uma prática intencionalmente orientada à descoberta do sentido imutável das coisas ou de sua essência possuísse um método isto é um modo específico de se esforçar para achar o que procura Em que sentido podese falar de método de investigação filosófica É ainda Heidegger que nos responde Qual um bom método de falar com um filósofo Uma coisa é verificar opiniões dos filósofos e descrevêlas Outra coisa bem diferente é debater com eles aquilo que dizem e isto quer dizer o que falam Supondo portanto que os filósofos são interpelados pelo ser do ente seu significado profundo para que digam o que é enquanto é então também nosso diálogo com os filósofos deve ser interpelado pelo ser do ente Nós mesmos devemos vir com nosso pensamento ao encontro daquilo para onde a filosofia está a caminho Nosso falar deve coresponder àquilo pelo qual os filósofos são interpretados Se formos felizes neste coresponder respondemos de maneira autêntica à questão Que é isto a filosofia HEIDEGGER Martin Que é isto a Filosofia São Paulo Abril Cultural 1984 p 19 Coleção Os Pensadores Ou seja o método da investigação filosófica é o do debate em torno de como se pensa e como se fala ou de como se exprime na linguagem o significado que caracteriza no essencial o modo de ser das coisas O que os nossos órgãos de percepção captam das coisas é a sua aparência Mas quando percebemos uma cadeira diferente de outras peças que continuamos classificando como cadeira descobrimos por exemplo que todas as cadeiras possuem um significado essencial comum a todas elas um formato genérico uma utilidade estabelecida etc O mesmo se dá com os outros objetos materiais ou não da experiência humana Ou seja a inteligência elabora conceitos procurando os significados essenciais das coisas aqueles capazes de organizar os dados sensoriais dispersos em um sentido compreensível De fato elaborar conceitos a partir de fatos e valores relativos à experiência humana é a característica principal das investigações filosóficas Por isso se diz que a pergunta básica de todo filosofar é o que é isto ou o que é o mesmo qual o conceito disto Exemplos O que é a cadeira no seu conceito essencial ou qual a cadeiridade da cadeira O que é o tigre ou qual sua tigridade O que é o homem ou qual a sua humanidade Já pensou na idéia de que há pessoas que podem perder sua humanidade quando nelas não é possível reconhecer qualquer atributo que se espera ser comum a todos os humanos A tradição se transmite através de textos A Filosofia nasce portanto de uma atitude de espanto de ensimesmamento e de reflexão que se fixou em um modo de falar em um modo de perguntar e em um modo de debater O filosofar como prática de desvendamento do mundo das suas formas de manifestação do significado profundo por trás das aparências das coisas foi se tornando uma característica básica do homem ocidental Dizemos então que a prática do filosofar virou uma instituição social Instituição quer dizer criação humana fixada socialmente por meio de regras e valores a respeito do que deve ser transmitido desta para outras gerações e de como deve ser feita essa transmissão Uma instituição estabelece o que deve ser transmitido o que deve permanecer na história Por isso uma instituição visa proteger uma tradição Tradição significa aquilo que se transmite Existem as tradições orais as tradições escritas as tradições de comportamento aprendidas por imitação Enfim existe ainda hoje uma tradição filosófica legada pelos gregos antigos e continuada por seus seguidores sobretudo na Europa ocidental que vem sendo protegida pela instituição da prática e da transmissão da investigação filosófica responsável como foi dito no início pela passada a limpo da memória ancestral da humanidade daquelas crenças e condutas que melhoraram sua vida Iniciando uma investigação filosófica você estará participando do movimento de afirmação ou de negação dessa tradição você estará aceitando recusando ou transformando o legado das gerações que nos precederam e de cujo conteúdo nos nutrimos Enfim você estará ingressando no universo da Filosofia que é herança e história É herança quando alimenta a memória das nossas origens intelectuais no contato com o pensamento de sábios do passado que ao serem repensados nos permitem compreender melhor o presente a fim de projetar com maior clareza o futuro E é também grau de autodomínio de nós mesmos e do que atualmente julgamos certo grau de consciência acerca dos pensamentos que definem a nossa própria maneira de pensar e de ser Incorporarse portanto na tradição filosófica implica em um primeiro momento adotar uma atitude filosófica diante dos textos que documentam essa tradição Antes de tudo precisamos investigar sobre o que é um texto O conceito de texto A palavra texto significa tecido Por isso é que se fala em indústria têxtil para se referir à indústria de tecidos No caso porém de textos no sentido dos objetos especiais que transmitem pensamentos e documentam tradições a acepção de tecido dáse em outro contexto Texto neste caso significa não a composição de fios mas a composição de significados por meio de entrelaçamento físico de sinais apropriados Um conjunto de palavras formando uma frase escrita por exemplo constitui um texto pois há composição de significados formando nomes verbos artigos etc e entrelaçamento de sinais letras traços fisicamente construídos sobre o papel ou sobre a rocha o mármore enfim qualquer outro suporte de escrita ou de inscrições Mas também consideramos texto todo objeto portador de mensagem Assim existem os textos orais visuais auditivos Também os sinais em que se inscrevem essas mensagens podem ser os mais variados os gestos do nosso corpo as letras do alfabeto as notas musicais etc A esse entrelaçamento de sinais físicos sobre um suporte apropriado chamaremos de suporte material de um texto Esse suporte como foi dito pode consistir de traços sobre o papel formas sobre o mármore bronze ou outro material sons e vozes no caso dos textos orais cores e figuras no caso dos textos pictóricos e assim por diante Já a composição de significados é aquilo que a consciência pode capturar a partir dos sinais A essa captura chamaremos interpretação Interpretação só existe por causa dos intérpretes de pessoas que as operam isto é que relacionam os sinais físicos com um certo código Você certamente já tem experiência no uso de códigos Quando joga você pode ter inventado códigos para se comunicar com seu parceiro ou quando opera um caixa eletrônico de banco você digita o seu código para o computador liberar as informações sobre a sua conta Ou seja código é uma senha combinada uma regra para operar uma interpretação Operar uma interpretação de um texto é a mesma coisa que decodificar esse texto isto é utilizando códigos capturar na consciência os significados transmitidos através dos sinais convencionados A questão é saber a se existem textos especificamente filosóficos b se existem interpretações de textos nãofilosóficos que sejam especificamente filosóficas Podemos constatar que tanto existem textos especificamente filosóficos que são aqueles que tratam de formular questões no fundo irresponsáveis senão debate argumentativo quanto textos nãofilosóficos que podem receber interpretações filosóficas por associação de sentido de suas expressões ou metáforas com questões somente abordáveis por meio de argumentos Exemplos desse tipo de texto são letras de música poemas literatura e obras de arte Nestes exemplos podemos ver um texto pictórico Enterro na rede de Portinari um texto verbal impresso em jornal caracteres arábicos e um texto plástico escultura de Rodin intitulada Balzac Vale lembrar que a filosofia está no cotidiano das pessoas geralmente através de textos nãofilosóficos dos quais os mais espontaneamente recebidos são as canções alemãs e o teatro Não é atoa que os cultos religiosos utilizam a música para transmitir suas mensagens Parece ser este o sentido do que diz trecho da canção Lingua do compositor Caetano Veloso Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção Está provado que só é possível filosofar em alemão Textos filosóficos Em suma a tradição filosófica nos mostra que existem textos específicos e também textos polifônicos que podem fazer interpretações filosóficas de qualquer texto inclusive dos textos nãofilosóficos Vamos investigar separadamente cada uma dessas afirmações A primeira nos leva à questão do que distingue o que ouve de um filósofico E a segunda nos leva à questão como interpretar textos filosóficos se não a maioria Vejamos o que nos fala a esse respeito o filósofo MerleauPonty Qual o sentido da boa ambiguidade do filósofo O filósofo reconheceuse atravês dos seus textos pela posse insparável do gosto da evidência e do sentido da ambiguidade Quando se limita apenas a reportar a ambiguidade chamase louco Para os maiores filósofos a ambiguidade tornase temperança contribui para fundar certezas em vez de as pôr em causa É preciso pois distinguir entre a boa ambiguidade e a má Sempre acontece que mesmo aqueles que pretendem construir uma filosofia absolutamente positiva só conseguiram ser filósofos na medida em que simultaneamente ensinaram a ordem dos seus textos e instalaram no absoluto mas quando muito como diz Kierkegaard uma relação absoluta entre ele o saber e nós MerleauPonty Maurice Elogio da Filosofia Lisboa Guimarães 1986 p 10 Isso significa que ao procurar responder a pergunta o que é o filósofo não afirma nossas respostas por mais certas que elas possam parecer numa análise mas que aquela ambiguidade que aperta a busca continue incessante Note essa ambiguidade nos textos dos dois filósofos citados até aqui o alemão Martin Heidegger e o francês MerleauPonty dois maiores filósofos do século XX Note que a ambiguidade filosófica não tem nada a saber com não saber direito do que se está falando Tratase de de um tentar em busca de um sentido nunca ainda pensado para o qual não há expressões adequadas Leitura analógica e leitura analítica de textos Estabelecida a compreensão inicial sobre o que é um texto como obra humana focada na memória histórica por meio de um suporte material a nossa preocupação agora é interpretar um texto filosófico Atentem compra entendamos bem cada elemento dessa compreensão sobre os textos nãofilosóficos a Texto como obra humana isso significa que acontecimentos da natureza são chuva caiem não criam textos apenas da forma de representados como obras de alguém deuses etc b Textos são artefatos isto é obras humanas que resultam de uma produção analógica podemos falar de textos da natureza caracterização como um todo do lado da natureza c Textos históricos são fixados na memória histórica significando que sendo obras humanas os textos precisam ter sua existência referida ao tempo de existência dos homens que é o tempo histórico ou seja existem porque foram escritos determinados pelas datas remetendose ao conteúdo da vida de seus autores pessoas que eles fixaram alguma intenção comunicativa d Textos são artefatos com uma intenção comunicativa Textos não podem ser usados por meio do desgaste do tempo para que a intenção que querem dizer seja regras da comunicação e do entendimento de seus usuários isto é ver ouvir tocar degustar Não afugenta dos seus conteúdos isso é modos de comer de vestir de andar de beijar de rir je de outras definições cada artefato tem modos de uso que os que o utilizam são iniditadas cada uma a seu modo sob a classificação de textos de sua cultura De fato textos não são apenas os artefatos verbais de produção e transmissão de mensagens Considerese como artefatos que poderão possuir os traços essenciais comuns todos os artefatos que pertencem a uma troca simbólica de mensagens significados ou valores entre os indivíduos que carregam um discurso cultural ou culturas diferentes Na verdade tudo que carrega um material é um texto Assim são exemplos de textos estátuas cujo suporte material podemos ver e tocar poemas cujo suporte material são traços no papel hinos cujo suporte material é o som o ritmo a melodia que nos chega ao ouvido pinturas cujo suporte material são as cores figuras e fundo base tela papel madeira ou rocha etc filmes discos livros e assim por diante Cada texto portanto possui seu suporte material por meio do qual podem ser transmitidas mensagens de um tempo a outro de um contexto histórico a outro de seres humanos de uma época a seres humanos de outra época Essa transmissão se completa com o processo de interpretação pelo qual a intenção comunicativa ou a mensagem dos textos é recuperada pela consciencia do intérprete em outro contexto diferente daquele de quem o produziu Deste modo em todo texto sempre é possível distinguir os seguintes elementos constitutivos produtor intérprete e discurso sendo discurso a mensagem codificada de modo a permitir a comunicação entre o produtor e o intérprete Textos verbais Se todo artefato portador de mensagens codificadas apropriadamente um texto o que o homem pode saber sobre o seu passado achase documentado em textos Portanto a memória histórica quando materialmente considerada nada mais é do que o acervo dos textos preservados e interpretados À medida que foi aumentando o número de textos foi crescendo a memória histórica e viceversa Os códigos de interpretação foram ficando mais complexos e passaram a ser organizados em linguagens algumas delas protegidas por gramáticas como o caso da língua portuguesa No momento ficaremos com essa noção comum de linguagem que nos é familiar desde que aprendemos a nos comunicar de alguma maneira A linguagem neste sentido primeiro instrumental é a organização dos códigos com os quais realizamos comunicações bemsucedidas Pois bem a memória histórica do homem continuaria presa a limites estreitos se não houvesse surgido a linguagem verbal a linguagem dos códigos verbais O que é isso uma linguagem verbal Por que ela ocupa um lugar privilegiado em face das outras linguagens Numa linguagem verbal o número de códigos é pequeno e facilmente memorizável Esse número tem a ver com as características do aparelho fonador humano aquele mecanismo pelo qual produzimos sons Mediante a seleção de um número de sons diferenciáveis uns dos outros foram criados os primeiros alfabetos Sons articulados formam palavras palavras articuladas dão origens a frases que por sua vez combinadas podem formar textos cada vez maiores e mais complexos Uma linguagem assim constituída é uma linguagem verbal que encontrou a sua estrutura mais avançada quando foi sistematizada sob a forma de códigos escritos O aparecimento da escrita mudou o curso da história Mesmo antes da escrita a linguagem verbal já havia revolucionado as condições de vida da espécie humana Textos dissertativos e textos narrativos Uma consequência imediata da importância dos textos formulados em linguagem verbal é que as intenções comunicativas podem ser expressas segundo dois modos de construções construção analógica e construção analítica Chamaremos os textos construídos analogicamente de textos narrativos também chamados apenas de narrativa e os textos construídos analiticamente de textos dissertativos também chamados apenas de dissertação Com isso você já deve ter feito uma primeira idéia que será aprofundada aos poucos sobre o que é uma construção analógica ou o que é uma construção analítica A construção de um texto é do ponto de vista do autor uma produção como já sabemos e do ponto de vista do intérprete uma interpretação A interpretação de textos verbais é chamada comumente de leitura Em regra um texto produzido analogicamente deveria ser lido analogicamente produzido analiticamente deveria ser lido analiticamente Mas o que nos interessa aqui é saber o que é que define cada tipo de leitura e o que é afinal uma leitura filosófica Um texto narrativo é construído com a utilização de imagens ações personagens cenas e a sua leitura implica envolvimento emocional identificação afetiva afinidades eletivas entre valores do leitor e do texto Em certo sentido sua interpretação depende de uma analogia entre o vivido e o narrado Experimente ler um romance um conto um poema um bilhete amoroso Nesses textos parece que a mensagem está incompleta sem os sentimentos projetados sobre ele pelo leitor Também nesses textos a compreensão vem dos saltos formando quadros que se justapõem em cenas que por sua vez se combinam em histórias Histórias são as sequências de ações narradas a sucessão de fatos correspondendo à dimensão episódica da narrativa porquanto a história é feita de acontecimentos Diferentemente de um texto narrativo cujo processo de construção e decodificação necessita de analogias entre o vivido e o codificado a construção e decodificação de textos dissertativos necessita apenas de operações intelectuais de análise isto é separação e encadeamento lógico de significados parciais Apresentamse não como uma sucessão de acontecimentos mas como uma tessitura de idéias coerentes entre si O processo de explicitar a coerência interna entre as idéias de um discurso dissertativo é justamente o que se chama de argumentação No Capítulo 3 falaremos sobre o mistério da origem da linguagem relatado nos mitos e sobre o problema do seu funcionamento Nunes B O tempo da narrativa São Paulo Ática 1988 p 14 Enredo e resumo A unidade de um texto narrativo enquanto obra pode ser explicitada por meio de um enredo Imagine um filme ou uma novela O que é o seu enredo senão o fio condutor que faz que cada capítulo tenha uma relação com todos os outros Se lhe pedem para contar o filme que viu e você diz assim a história se passa em Vila Rica durante os anos da abundância de ouro e o enredo é o da heroína que enlouquece por ter perdido o amado e a razão de viver Veja que o enredo diz o essencial da história que no entanto precisa ser contada fato por fato na ordem temporal em que aparecem no universo da realidade referida pela narrativa Já um texto dissertativo é construído por meio de idéias que se encadeiam umas às outras segundo uma ordem lógica Não há ações nem personagens nem tempo de ocorrência de fatos Há por outro lado relações de coerência lógica de contradição ou de conseqüência lógica entre uma afirmação e outra O texto dissertativo está completo sem a subjetividade do intérprete sem as suas emoções afinidades envolvimentos A unidade compacta do desenvolvimento lógico das idéias de um texto é chamada de resumo O resumo está para a dissertação assim como o enredo está para a narrativa Tanto o resumo quanto o enredo são fundamentais para se fazer a crítica de textos conforme eles sejam dissertativos ou narrativos Pelo resumo ou enredo os textos são sintetizados Os textos filosóficos em geral são textos dissertativos Às vezes a exposição filosófica se vale da narrativa que aí funciona como um texto primário onde os conceitos podem apenas ser intuídos e não como texto já filosoficamente construído De qualquer modo dissertação ou narrativa ambas as formas de texto se prestam à leitura filosófica É hora de compreender como os modos de construção analógica ou analítica diferenciam os textos em narrativa ou dissertação Pois então podemos formular mais claramente a compreensão dos conceitos de leitura analógica e de leitura analítica Já sabemos que o termo construção referese a qualquer fazer humano quer como produção quer como interpretação Assim uma obra humana seja obra de arte ou obra utilitária resulta de um processo de construção presidido por uma intencionalidade Quando a intencionalidade de uma construção opera o ponto de vista do autor essa construção possui o caráter de uma produção quando opera o ponto de vista do intérprete ou leitor essa construção é uma interpretação ou uma leitura Portanto uma leitura ou uma produção são construções Como operam pontos de vista diferentes elas são potencialmente autônomas uma em relação à outra Por exemplo um determinado objeto resultante de um fazer humano uma casa ou uma obra de arte O ponto de vista de seu autor o arquiteto por exemplo pode ser completamente independente do ponto de vista de seus intérpretes os moradores e mesmo assim permanecer uma obra humana dotada de significado Quando se olham as construções do ponto de vista dos procedimentos tanto o ponto de vista da intencionalidade operante quanto o dos procedimentos operatórios implicados no fazer humano são estruturados segundo modos de construção distintos modo analógico e modo analítico No modo analógico intencionalidades e procedimentos são articulados no fazer humano segundo critérios de analogia entre o vivido e o representado no modo analítico segundo critérios de coerência lógica entre as partes constituintes da mensagem Assim quando um intérprete considera um texto como narrativo ele mobiliza para a sua leitura todo um universo vivencial em que personagens ações cenas e cenários são confrontados segundo um princípio de verossimilhança com análogos na experiência comum do intérprete Por outro lado quando um intérprete considera um texto como dissertativo sua atenção se dirige às partes em que o mesmo se decomõe tanto no plano das intencionalidades quanto no plano dos procedimentos Nisso consiste a análise que se desenvolve segundo o princípio de verificação Note que há uma diferença significativa entre verossimilhança e verificação A verificação busca um contexto de correspondência entre o que é decomposto numa dissertação e o que é medido nos fatos por ela referidos enquanto a verossimilhança busca o contexto de correspondência entre o que é exposto na narrativa e o que é vivenciado na história dos intérpretes O que significa dizer que o discurso verossímil visa parecer verdadeiro segundo uma experiência de vida enquanto o discurso verídico visa ser verdadeiro segundo uma experiência de mensuração O primeiro caso caracteriza a narrativa o segundo a dissertação Em suma a leitura analítica é a que obedece ao princípio da verificação e a leitura analógica é a que obedece ao princípio da verossimilhança Podese inferir de imediato que a leitura filosófica é do tipo analítico e que a leitura estética a dos textos de arte é do tipo analógico Recursos de leitura de textos A regra básica de leitura filosófica de um texto é observar o rigor da construção lógica da idéia por parte do autor e o rigor da reconstrução lógica da idéia por parte do leitor ou intérprete Com essa regra em mente poderemos chegar a estabelecer um bom método de leitura filosófica É preciso distinguir a leitura de aproximação aquela leitura rápida e sem profundidade da leitura de estudo A leitura de estudo é metódica exige atenção orientada em nadireção do rigor na explicitação da coerência interna argumentativa ou da verossimilhança narrativa Tanto a leitura de uma narrativa quanto a de uma dissertação podem ser leituras de estudo ou seja metodicamente orientadas Metodicamente quer dizer devem ser utilizados recursos adequados ao estudo controlados por seus objetivos Os principais recursos cuja utilização iremos aprimorar de agora por diante são dois o esquema e o fichamento Fazemse esquemas e fichamentos tanto de textos narrativos quanto de textos dissertativos Esquema O esquema visa explicitar a organização das idéias de texto seja ele narrativo ou dissertativo A organização de um texto possui em geral três etapas apresentação desenvolvimento e finalização Em cada uma dessas etapas as idéias são organizadas de acordo com o tipo de texto Assim na estrutura narrativa a apresentação é o momento em que os personagens são caracterizados e em que se arma a situação dramática No desenvolvimento a situação dramática se define e se complica na finalização ela se resolve Na estrutura dissertativa a apresentação é o momento em que se define o tema e o objeto do estudo por meio dos seus conceitos básicos e se formula o problema que será tratado No desenvolvimento o problema é analisado e o objeto explicado em função das relações lógicas que descrevem o seu funcionamento na finalização a solução é proposta discutida e comentada Essa é a noção de esquema oferecida aqui em suas linhas gerais Para compreendêla é preciso exercitála pois se trata de uma noção essencialmente prática Basta saber que a finalidade de um esquema é obter um quadro sinóptico das idéias do texto lido Muitas vezes podem ser utilizados recursos gráficos como setas tracejados entre expressões Quando esses recursos gráficos explicitam com palavras os significados de todas as ligações entre as expressões temse o que alguns autores chamam de mapas conceituais Fichamento Fichamento é um recurso mais detalhado de estudo servindo para fixar o andamento da argumentação ou da narrativa Aplicase portanto tanto a textos narrativos quanto a textos dissertativos Um fichamento visa extrair do texto estudado o seu conteúdo interpretativo do modo mais fiel à ordem em que é construído Por meio de um fichamento podemos avaliar o mérito de um texto o vigor da posição nele construída a sua originalidade e a sua especificidade No fichamento de uma narrativa devese extrair do texto ações importantes diálogos definidores de situação descrição de cenaschave Já o fichamento de uma dissertação precisa conter os conceitos básicos que definem o objeto de estudo o problema e as proposiçõeschave em que ele é analisado e resolvido bem como os critérios pelos quais o encadeamento das proposições se justifica O que diferencia o esquema do fichamento é que no esquema as idéias são sugeridas sobretudo por meio de recursos visuais como flechas cores palavraschave enquanto no fichamento as idéias devem ser enunciadas de maneira a poderem ser julgadas como verdadeiras ou falsas Compreender essas noções significa saber operacionalizálas Análise de texto filosófico No texto a seguir vejamos como aplicar os conceitos apresentados visando à caracterização de um método de leitura filosófica Em que o pensamento filosófico diferenciase do pensamento científico A Filosofia grega parece começar com uma idéia absurda com a proposição de Tales de que a água é a origem e o seio materno de todas as coisas Será realmente necessário para aqui e levar esta idéia a sério Sim e por três razões primeiro porque a proposição assere algo acerca da origem das coisas em segundo lugar porque faz isso sem imagens e fábulas como faziam os textos narrativos e finalmente porque contém embora em estado de crisálida a idéia de que tudo é um A primeira destas três razões ainda deixa Tales na comunidade dos homens religiosos e supersticiosos a segunda separao desta sociedade e mostrao como investigador da natureza a terceira faz de Tales o primeiro filósofo grego Se tivesse dito a água transformase em terra teríamos apenas uma hipótese científica falsa mas difícil de refutar Mas ele vai além da ciência propriamente dita Tales ao expor a representação da unidade pela hipótese da água não superou o nível muito baixo das teorias físicas da sua época quando muito saltoulhe por cima As observações medíocres e incoerentes de caráter empírico que Tales fizera sobre a presença e as metamorfoses da água ou mais precisamente da umidade não teriam de modo algum permitido ou mesmo sugerido esta generalização gigantesca o que o levou aí foi um dogma metafísico que tem a sua origem numa intuição mística e que nós encontramos em todas as filosofias juntamente com os esforços sempre renovados para melhor o exprimir a proposição tudo é um É espantoso ver como uma tal crença dispõe tiranicamente de todo o real empírico é precisamente em Tales que se pode observar como a filosofia procedeu em todas as épocas ao arrojarse para os seus fins que magicamente a atraem por cima de todos os obstáculos da experiência Avança apoiada em pontos frágeis a esperança e o pressentimento dãolhe asas Segue com dificuldade e ofegante o entendimento calculador e procura os melhores pontos de apoio para também ela atingir o fim atrativo a que chegara o seu companheiro mais divino Julgase ver dois viajantes à beira de uma torrente agitada que arrasta pedras consigo um deles salta com leveza por cima dela servindose das pedras para se lançar em frente mesmo que estas se afundem bruscamente atrás dele O outro encontrase desamparado a cada momento deve primeiro construir fundamentos que possam sustentar o seu passo pesado e prudente às vezes não consegue e então nenhum deus o ajuda a transpor a torrente O que leva pois o pensamento filosófico tão rapidamente ao seu fim Distinguese ele do pensamento calculador e mensurante só por percorrer mais rapidamente grandes espaços Não porque lhe dá asas um poder estranho e ilógico a imaginação Impelida por essa força salta de possibilidade em possibilidade que se aceitam como certezas em vôo É um pressentimento genial que lhas mostra adivinha já de longe que neste ponto há certezas demonstráveis Mas a imaginação é sobretudo poderosa na captação repentina e na elucidação de semelhanças e só depois a reflexão traz as suas medidas e os seus modelos e tenta substituir as analogias por igualdades as justaposições vistas por causalidades Mas ainda que isto não fosse possível mesmo no caso de Tales o filosofar indemonstrável tem valor ainda que todos os fundamentos tenham cedido mesmo que a lógica e a rigidez da empíria tenham querido chegar à proposição tudo é água permanece ainda depois da destruição do edifício científico um resíduo e é precisamente neste resíduo que se encontra a força propulsiva e por assim dizer a esperança de uma fecundidade futura NIETZSCHE Friedrich A Filosofia na idade trágica dos gregos Trad Maria Inês Madeira de Andrade Lisboa Edições 70 1987 p 2729 Como fazer uma leitura analógica desse texto O próprio texto dá pistas Ele compara a Filosofia e a Ciência com dois viajantes à beira de uma correnteza O cenário está pronto para a trama que define o perfil de cada viajante Neste caso o texto se comporta como uma narrativa Ele envolve emocionalmente o leitor convidando o seu universo vivencial para participar da construção de uma mensagem A leitura analógica aprofundada exige que o leitor faça o esquema que estrutura a narrativa e o fichamento dos aspectos relevantes da história narrada Por outro lado como fazer uma leitura analítica Como a leitura analítica tem importância decisiva para a investigação filosófica iremos proceder a ela com maior detalhamento Lembremos que ela visa primeiro compreender analiticamente a idéia elaborada no texto e depois demonstrar o encadeamento lógico das proposições que a sustentam Por isso trataremos a leitura analítica em duas etapas Etapa compreensiva Nesta etapa devemos obter a idéia geral o esquema analítico do texto Para isso são sugeridos os passos abaixo indicados 1º Ler o texto procurando as suas subdivisões como se houvesse um subtítulo implícito às vezes esse subtítulo já existe Notar que em cada subdivisão uma mesma idéia geral é tratada com a introdução de alguma novidade Essa idéia geral pode ter sido nomeada já no título dado ao texto ou pode estar implícita Em qualquer caso constitui o tema do texto No texto lido o tema é a liberdade do pensamento filosófico que se serve da imaginação criadora e da intuição Essa idéia está presente em todos os parágrafos do texto Confira 2º Selecionar grifando ou circulando palavras ou expressões em torno das quais outras são desenvolvidas Observe o quanto essas palavras ou expressões são mais densas como se fossem mais pesadas do que outras à sua volta como se o pensamento ali devesse se demorar mais Se essas palavras ou expressões aparecerem mais de uma vez grife ou circule apenas a primeira vez em que aparecerem Note que o significado de tais palavras ou expressões constitui o que chamamos de conceitos No texto lido você irá selecionar pelo menos os seguintes conceitos Homens religiosos Filósofo grego Pensamento filosófico Imaginação Analogias Investigador da natureza Real empírico Pensamento calculador Reflexão Causalidades 3º Descobrir a relação de afinidade ou de proximidade entre os significados dessas expressões ou conceitos e como o conjunto delas se articula com o tema assumido como o tronco comum de onde elas se originam Através de setas e de outros recursos gráficos estabelecer a ligação entre essas palavras e expressões de acordo com as relações obtidas entre os significados das mesmas Desse modo você produziu um mapa conceitual do tema do texto lido Um mapa conceitual constitui aquilo que propriamente seria um esquema analítico e é muito útil como síntese visual de um tema na hora por exemplo de falar ou de escrever sobre o mesmo ou como um quadro sinóptico de um estudo feito Apresentando um mapa conceitual da sua leitura do texto de Nietzsche você irá fazer relações de oposição entre o filósofo e o religioso entre o real empírico e a imaginação entre analogia e causalidades entre filosofia e ciência 4º Procurar agora inspecionando o texto lido recuperar algo como o rascunho do autor ao escrevêlo Observe onde começa e onde termina a apresentação na abordagem do autor Faça o mesmo para delimitar o desenvolvimento e a finalização do texto lido Anotar quais itens ou subdivisões do texto estão incluídos em cada uma dessas partes do texto Anotar em cada subdivisão os principais conceitos e suas definições resumidas O resultado que você estará obtendo é o que se chama de esquema Assim procedendo você está reconstruindo a experiência mental do autor resgatando a ordem do seu pensamento ao expressarse neste texto que você está lendo Exemplo de Esquema 1 Apresentação A proposição de Tales Tudo é água Seu significado filosófico Tudo é um 2 Desenvolvimento Procedimento filosófico salto sobre os obstáculos da experiência Analogia dos viajantes pensamento filosófico como leveza saltitante pensamento científico como prudente e mensurador Recursos do pensamento filosófico a imaginação e a reflexão 3 Finalização Generalizações filosóficas contêm o resíduo de fecundidades futuras Etapa demonstrativa O que se visa agora não é mais apenas compreender o texto e sim problematizálo debatêlo e discutir as suas proposições Lembrar que o que estará sendo problematizado debatido ou discutido é o conteúdo assertivo do texto o que nele é afirmado e a posição do autor não do leitor Como sugestão os passos abaixo são indicados visando à obtenção de um fichamento 1º Procurar formular através das questões implícitas ou explícitas que o texto lido levanta qual o problema de que se ocupa Um problema é uma interrupção do fluxo das interpretações familiares quando algo não se encaixa onde seria de esperar que o fizesse Também pode ser dito que problemas constituem necessidades de saber nascidas de alguma curiosidade orientada para uma busca de certezas justificadas ou de interpretações verídicas Um problema em um texto dissertativo pode ser apresentado explicitamente sob forma de questões ou implicitamente sob a forma de situaçãoproblema Em qualquer dos dois casos os dados iniciais para a busca de solução do problema devem ser oferecidos No caso do texto lido você deve ter formulado o problema abordado considerando a questão como se distingue o pensamento filosófico do pensamento científico calculador e mensurador Como dado inicial é oferecida à análise a proposição de Tales Tudo é água 2º Destacar o conteúdo assertivo das soluções apresentadas e verificar se as justificações oferecidas estão bem fundamentadas ou seja se o encadeamento lógico das asserções ou proposições está correto O conteúdo assertivo de uma solução de um dado problema é o que chamamos de tese Uma tese compõese de proposições encadeadas de maneira a sustentar uma posição Portanto uma tese inclui um critério de encadeamento entre proposições que sustentam a posição proposta Resgatar uma posição apresentada em um texto é enunciar as proposições que manifestam a tese bem como seu critério de encadeamento seu raciocínio ou mais propriamente o seu argumento Você poderá enunciar as proposições de um texto com as suas próprias palavras ou utilizando as palavras do autor neste caso você deverá colocálas entre aspas e localizar o lugar no texto onde elas se encontram Lembrar que uma tese é uma proposição cuja verdade aparece justificada e que uma proposição só pode ser considerada verdadeira quando se pode ter certeza de que pelo menos ela não é falsa Alegar a possibilidade de que ela seja falsa é fazer uma objeção que solicita um reforço da argumentação para desmontar a tese apresentada No texto lido você deverá ter enumerado pelo menos as seguintes proposições a Tudo é água ou A água é a origem e o seio materno de todas as coisas b Tudo é um c As generalizações filosóficas não são refutáveis pela experiência empírica isto é pelos dados da observação experimental Considerando que o encadeamento dessas proposições entre si e com outras que lhe dão coerência e sustentação constitui o que se chamou de argumento e que a finalidade de um argumento é justificar a posição defendida ou seja a tese temse que coração de um fichamento é o resgate dos argumentos No texto lido a tese principal pode ser apresentada sob a forma da proposição 3 acima E a favor dela dois argumentos podem constar de seu fichamento o argumento dos viajantes e o argumento do resíduo como esperança de fecundidade futura 3º Agora combinando os passos 1 e 2 obtémse finalmente o fichamento do texto lido Tomando como modelo de fichamento a forma que se segue construir seu próprio fichamento do texto lido Forma de fichamento a O problema questões dados iniciais referências para contextualização b As teses Proposições enunciados do autor entre aspas enunciados do leitor descrevendo posições Argumentos proposições visando sustentar as teses relação de justificação entre os argumentos e as teses Produção de textos de reflexão filosófica Você iniciou uma viagem ao mundo dos filósofos A intenção deste capítulo zero é oferecerlhe orientação quanto a alguns procedimentos básicos para que sua viagem seja bem sucedida Como você já percebeu tratase de uma viagem a um gênero de linguagem um tipo de atitude e um modo de abordar questões do cotidiano mas que repercutem nos significados do que fazemos ou do que devemos fazer É natural que no transcurso de toda viagem frutos sejam recolhidos mesmo que apenas para testemunhar o percurso Em nosso caso esperase que tais frutos sejam a produção de textos filosóficos por você mesmo Para isso é necessário que você tenha uma boa questão alguns elementos para a análise dessa questão e sobretudo que esteja instrumentalizado com atitudes habilidades e recursos de linguagem para realizar uma reflexão filosófica os argumentos inventar novas propostas de solução que possam ser mais consensuais Este momento quando é feito numa roda de fala num debate oral permite que se veja mais claramente quão importante ele é no processo da reflexão filosófica Quando ele é feito no trabalho meditativo não deixa de ocorrer um debate entre interlocutores imaginários Na verdade só estaremos preparados para realizar um tal debate imaginário se adquirirmos a habilidade de realizar tal debate ao vivo entre interlocutores reais Momento do conceito uma vez que se chega a um consenso razoável em torno de uma compreensão ampla do que estava dando nó cabe explicitar a teoria filosófica que melhor expresse tal compreensão Este é o momento em que são propostos os conceitos esclarecedores das várias perguntas antes formuladas É o momento da criação dos conceitos filosóficos que são os frutos do processo da reflexão filosófica Os textos que os filósofos deixaram na tradição em geral descrevem o significado dos conceitos a que chegaram tentando resolver questões a cuja resposta sempre pode suceder outra mais ampla Por isso é que se diz que os filósofos não resolvem problemas eles apenas os esclarecem explorando as possibilidades do que pode ser expresso claramente na linguagem Ao final de cada capítulo você encontrará uma proposta de reflexão filosófica Esperase que você aprenda a realizar os quatro momentos da reflexão filosófica Um poema uma canção um conto um filme podem saltar etapas mas um texto filosófico fica fragilizado quando alguma etapa é omitida A reflexão filosófica tem como objetivo examinar a validade das crenças e normas que regem a vida humana Por isso é que falamos antes que as questões filosóficas dizem respeito ao que é crenças ou o que deve ser normas A reflexão filosófica tende a melhorar a vida social e individual das pessoas depurando esta de erros que podem ser resolvidos apenas pela utilização do pensamento reflexivo metodologicamente orientado Tipos de textos filosóficos que você pode produzir Os recursos de leitura anteriormente mencionados Esquema e Fichamento possuem como centro de referência o texto lido devendolhe fidelidade estrita Tratase de uma documentação da leitura para fins de melhor acesso e análise do texto lido Diferentemente são os tipos de textos filosóficos que você pode produzir Todos eles possuem a referência mais forte no autor do texto você mesmo sem no entanto serem permitidos erros de leitura ou falsificação dos dizeres do texto para forçálo ser favorável a uma posição sua A isso se chamará desonestidade intelectual algo intolerável em um debate racional Descreveremos a seguir os tipos mais recorrentes de textos filosóficos que você poderá produzir a Comentário ou paráfrase consiste em dizer com as próprias palavras o pensamento de um autor sem perda do significado do que ele quis dizer Serve sobretudo quando se quer verificar a compreensão de trechos significativos São necessárias habilidades de tradução interpretação e síntese b Resenha consiste em uma síntese de uma unidade maior dos escritos de um autor um capítulo ou o livro todo Em uma resenha é necessário comentar o plano geral do capítulo ou obra ressaltando o problema e os argumentos mais importantes do autor Portanto uma resenha já contém uma interferência analítica no texto resenhado podendo haver já uma crítica ao seu autor c Relatório de pesquisa quando se tem um problema filosófico cuja solução vaise buscar em um autor ou em mais de um o texto a ser produzido deverá ser um relato dos achados Um relatório portanto comporta um domínio maior de reflexão filosófica pois em geral confrontamse diversos autores em torno de um problema cada um deles sendo discutido resenhado citado e utilizado na medida do for considerado melhor para a solução do problema em pauta Tratase em geral de um trabalho mais alentado devendo ficar claro o que é a contribuição de cada autor citações de fontes e o qual é a nossa própria contribuição Ao final deve constar a referência das fontes utilizadas na pesquisa d Ensaio é uma produção filosófica própria em que um assunto é apresentado com bom poder de síntese e razoável conteúdo de análise argumentativa de modo a sustentar as idéias Esta é a forma de texto preferencial para a exposição de reflexões críticas ou abordagens inovadoras Quem escreveu um ensaio comparece inteiramente com seus critérios e suas posições pessoais embora a sua exposição deva ser o mais argumentativa possível Os textos lidos que servirão de base para a sua exposição devem ser resumidos e comentados sinteticamente para que tenham vida própria independente das suas próprias preferências Também os autores utilizados devem ser contextualizados em face de outros autores quer antagônicos quer pertencentes à mesma linhagem teórica para que seja vislumbrada a história de tratamento do tema E as referências às fontes são obrigatórias Você iniciante no filosofar deve se exercitar na prática de cada um desses gêneros de produção de textos reflexão filosófica Comece pelo comentário Faça um comentário de algum texto ou trecho por exemplo este último de Nietzsche já fichado Procure observar o que você acrescenta de produção própria aos textos comentados resenhados ou relatados A produção de um ensaio é claro exige que você tenha algo a dizer Lembre sempre que a investigação filosófica consiste primeiro na vivência de alguma questão cuja solução é encaminhada pela escolha de um tema já abordado por outros filósofos da tradição Isso não significa que os temas novos estejam proibidos Significa apenas que os temas novos nunca são completamente novos Há neles resíduos de uma longa história do pensamento filosófico Como diz o filósofo Heidegger a investigação filosófica consiste em repensar o já pensado para pensar o ainda não pensado É este o pequeno quinhão que cabe ao fazer filosófico E uma posição filosófica nova deve ser forte o suficiente para enfrentar discussões com os pensadores do passado pois é assim que se garante a potência criativa das novas idéias sem precisar reinventar a roda Palavraschave Apreensão Formação natural e espontânea na consciência de um objeto da percepção como uma pura presença Conceito Uma idéia ou significado quando analisado no confronto com o objeto a que se refere O conceito é assim a unidade dos significados que definem esse objeto por meio de suas características gerais Esquema Estrutura das idéias de um texto ou recuperação do possível plano de intenções comunicativas nele expressas Fichamento Análise de como um problema foi abordado no texto estudado seus dados iniciais as proposições que o resolvem os argumentos que sustentam as teses e posições apresentadas Interpretação Formação na consciência construída por meio de sinais e códigos de significados e de temas Leitura analógica e analítica Interpretação de sinais por meio de códigos da linguagem verbal preferencialmente os sinais escritos A leitura é analógica quando o leitor participa afetivoemocionalmente da decodificação é analítica quando apenas opera procedimentos lógicos assumidos Mapa conceitual Recurso gráfico pelo qual se mostram as relações de proximidade e afastamento entre os conceitos de um texto lido Resumo x Enredo O resumo de um texto dissertativo está para o enredo de um texto narrativo assim como o conteúdo essencial de um argumento construção lógica está para o conteúdo essencial de uma trama construção dramática Tema Um significado que se torna objeto de reinterpretacões dentro de uma tradição intelectual Tradição Conjunto de significados e de valores que se transmitem de geração em geração por meio de instituições Bibliografia comentada Obras de apoio ABAGNANO Dicionário de Filosofia São Paulo Mestre Jou 1985 CUVILLIER A Pequeno vocabulário da língua filosófica São Paulo Nacional 1967 JAPIASSU H Dicionário de Filosofia Rio de Janeiro Jorge Zahar 1990 Esses três dicionários recomendados são obras de referência de fácil acesso para pesquisas sobre conceitos recorrentes e sobre as biografias intelectuais dos principais pensadores citados ao longo dos textos lidos CARVALHO M C Técnicas de metodologia científica Construindo o saber Campinas Papirus 1988 Sobretudo na Segunda parte discussão sobre o que são textos teóricos resenhas e fichamento de textos teóricos ECO H Como se faz uma tese São Paulo Perspectiva 1989 Discussão sobre as técnicas de pesquisa bibliográfica e de escrita de textos dissertativos em geral monografias ensaios relatórios SEVERINO A J Metodologia do trabalho científico São Paulo CortezAutores Associados 1985 Discussão didática de técnicas e recursos de estudo e exposição oral e escrita de textos em geral Obras de aprofundamento DESCARTES R Discurso do método São Paulo Abril Cultural 1979 Coleção Os Pensadores Para analisar a primeira apresentação sistematizada na Filosofia moderna da noção de método DUCASSÉ P As grandes correntes da filosofia MiraSintra Publicações EuropaAmérica c 1972 Coleção Saber Texto de divulgação das principais filosofias desde a Grécia antiga até hoje Leitura fácil e agradável MERLEAUPONTY M Elogio da Filosofia Lisboa Guimarães 1986 Sobre o significado do filosofar na tradição ocidental NUNES B O tempo da narrativa São Paulo Ática 1988 Sobre o tema das relações entre a narrativa e a história HEIDEGGER Martin Que é isto a Filosofia São Paulo Abril Cultural 1984 Coleção Os Pensadores Texto belíssimo e profundo sobre o conceito de filosofia em suas origens e como deve ser entendido hoje DEWEY John Como Pensamos 4 ed São Paulo Editora Nacional 1979 Obra significativa sobre como funciona o pensamento reflexivo e como melhorálo pela educação LIPMAN M et al A Filosofia na sala de aula São Paulo Nova Alexandria 1998 Obra sobre como obter melhores resultados da prática de filosofia como conversação em sala de aula DANIEL MF A Filosofia e as Crianças São Paulo Nova Alexandria 2000 Obra que mostra por que e como as crianças devem filosofar na escola CUNHA J Auri Filosofia para a Criança Campinas Alínea 2008 Obra com orientações sobre o caminho metodológico da prática da reflexão filosófica capaz de conduzir a um filosofar mais criativo crítico completo CAPÍTULO 1 a inteligência e o pensamento Por isso convém que se siga a razão que é universal quer dizer a razão comum já que o universal é o comum Porém sendo esta razão universal a maioria vive como se tivesse uma inteligência absolutamente pessoal Heráclito de Éfeso 544480 aC O real e a realidade Tudo o que acontece tem a sua existência definida nos limites do mundo se é que entendemos por existência o ocupar um lugar no tempo e no espaço Vimos que possuímos a capacidade natural de apreender a existência de objetos do mundo por meio da composição de imagens deles captadas pelos nossos órgãos dos sentidos Pela apreensão usando somente aptidões com as quais nascemos operamos sínteses de imagens percebidas sensorialmente sobre coisas do mundo Naturalmente somos levados a admitir que os objetos dessas sínteses pertencem ao mundo e não à nossa imaginação Isso porque procedemos com a pressuposição implícita da existência do mundo como exterior aos processos de nossa consciência Será assim mesmo Em que se baseia essa pressuposição O que difere os objetos do mundo dos objetos de nossa imaginação Há diferença entre objetos percebidos e objetos imaginados pelo menos em um aspecto os objetos percebidos podem ter a sua existência apreendida por outras pessoas e independente de nossa vontade enquanto que os objetos imaginados pertencem à nossa fantasia A substância do que é percebido pelos sentidos escapanos do controle e mesmo quando deixamos de existir ela subsiste Dizemos então que os objetos percebidos estão no mundo real são fatias desse mundo que subsiste de maneira inteiramente independente de nós DIRETOR GERAL Wilon Mazalla Jr COORDENAÇÃO EDITORIAL Willian F Mighton REVISÃO DE TEXTOS Vera Luciana Morandim R da Silva REVISÃO FINAL DO TEXTO José Auri Cunha EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Cyrino Mortari Fabio Diego da Silva Tatiane de Lima CAPA Ivan Grilo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Cunha José Auri Iniciação à investigação filosófica um convite ao filosofar José Auri Cunha Campinas SP Editora Alínea 2009 Bibliografia 1 Filosofia 2Filosofia Estudo e ensino I Título 022501 CDD1072 Índices para Catálogo Sistemático 1 Investigação filosófica Iniciação Filosofia 1072 ISBN 9788575163146 Todos os direitos reservados à Editora Alínea Rua Tiradentes 1053 Guanabara CampinasSP CEP 13023191 PABX 19 32329340 e 32322319 wwwatomoealineacombr Impresso no Brasil À dona Rita Mimosa Mãe ontem canto dos sonhos da terra hoje encanto na terra dos sonhos