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Podemos afirmar que existem três diferen tes formas de representar a relação ensinoa prendizagem escolar ou mais especificamente a sala de aula Falaremos inicialmente de modelos pedagógicos e na falta de terminologia mais atualizada ou adequada falaremos em pedagogia diretiva pedagogia nãodlretlva e talvez criando um novo termo pedagogia rela clonal Mostraremos como tais modelos são por sua vez sustentados cada um deles por deter minada epistemologia Epistemologia que se mostrou refratária a toda exuberante crítica da sociologia da educação que se desenvolveu no país do final dos anos 70 até agora A Pedagogia diretiva e seu pressuposto epistemológico Pensemos no primeiro modelo Para configurálo é só entrar numa sala de aula é pouco provável que a gente se engane O que encontramos aí Um professor que observa seus alunos entrarem na sala aguardando que se sentem que fiquem quietos e silenciosos As carteiras estão devidamente enfileiradas e suficientemente afastadas umas das outras para evitar que os alunos troquem conversas Se o silêncio e a quietude não se fizerem logo o professor gritará para um aluno xingará outra aluna até que a palavra seja monopólio seu Quando isto acontecer ele começará a dar a aula Como é esta aula O professor fala e o aluno escuta O professor dita e o aluno copia O professor decide o que fazer e o aluno execu ta O professor ensina e o aluno aprende Se alguém observasse uma sala de aula na década de 60 ou de 50 ou quem sabe de dois séculos atrás diria provavelmente a mesn1a coisa falaria como Paulo Freire no Pedagogia do Oprimido Por que o professor age assim Muitos dirão porque aprendeu que é assim que se ensina Para mim esta resposta é correta mas não suficiente Então por quê mais Penso que o professor age assim porque ele acredita que o conhecimento pode ser transmHldo para o aluno Ele acredita no mHo da transmissão do conhecimento do conheci mento enquanto forma ou estrutura não só enquanto conteúdo O professor acredita por tanto numa determinada epistemologia Isto é numa explicação ou melhor crença da gênese e do desenvolvimento do conhecimento explicação da qual ele não tomou consciência e que nem por isso é menos eficaz Diz um professor Becker 1992 O conhecimento se dá à medida que as coisas vão aparecendo e sendo introduzidas por nós nas crianças Outro professor diz o conhecimento é transmi tido sim através do meio ambiente família percepções tudo Outro ainda o conhecimen to se dá na medida em que a pessoa é estimu lada ela é perguntada ela é incitada ela é questionada ela é até obrigada a dar uma resposta Como se configura esta epistemolo gia Falemos como na linguagem epistemoló gica em suJeHo e objeto O sujeito é o elemen to conhecedor o centro do conhecimento O objeto é tudo o que o sujeito não é O que é o nãosujeito O mundo onde ele está mergulha do isto é o meio físico eou social Segundo a epistemologia que subjaz à prática desse pro fessor o indivíduo ao nascer nada tem em termos de conhecimento é uma folha de papel em branco é tabula rasa É assim o sujeito na visão epistemológica desse professor uma folha em branco Então de onde vem o seu conheci mento conteúdo e a sua capacidade de conhe cer estrutura Vem do meio físico eou social Empirismo é o nome desta explicação da gêne se e do desenvolvimento do conhecimento Sobre a tabula rasa segundo a qual não há nada no nosso intelecto que não tenha entrado lá através dos nossos sentidos diz Popper 1991 Essa idéia não é simplesmente errada mas grosseiramente errada p 160 Volte EDUCAÇÃO E REALIDADE Porto Alegre 191 8996 janjun 1994 89 mos ao professor na sala de aula O professor considera que seu aluno é tabula rasa não somente quando ele nasceu como ser humano mas frente a cada novo conteúdo estocado na sua grade curricular ou nas gavetas de sua disciplina A atitude nós a conhecemos O alfabetizador considera que seu aluno nada sabe em termos de leitura e escrita e que ele tem que ensinar tudo Mais adiante frente à aritmética o professor novamente vê seu aluno como alguém que nada sabe sobre somas e subtrações No segundo grau numa aula de física o professor vai tratar seu aluno como alguém sem nenhum saber sobre espaço tempo relação causal Já na universidade o professor de matemática olha para seus alunos no primeiro dia de aula e pensa 60 já está reprovado Isto porque ele os concebe não apenas como folha em branco na matemática que ele vai ensinar mas devido à sua concepção epistemológica consideraos estruturalmente incapazes de assimilar esse saber Como se vê a ação desse professor não é gratuita Ela é legitimada ou fundada teoricamente por uma epistemologia Segundo esta o sujeito é totalmente determinado pelo mundo do objeto ou meio físico e social Quem representa este mundo na sala de aula é por excelência o professor No seu imaginário ele e somente ele pode produzir algum novo conhecimento no aluno O aluno aprende se e somente se o professor ensina O professor acredita no mito da transferência do conhecimento o que ele sabe não importa o nível de abstração ou de formalização pode ser transferido ou transmitido para o aluno Tudo o que o aluno tem a fazer é submeterse à fala do professor ficar em silêncio prestar atenção ficar quieto e repetir tantas vezes quantas forem necessárias escrevendo lendo etc até aderir em sua mente o que o professor deu Epistemologicamente esta relação pode ser assim representada S O Como se vê esta pedagogia legitimada pela epistemologia empirista configura o próprio quadro da reprodução da ideologia reprodução do autoritarismo da coação da heterononia da subserviência do silêncio da morte da crítica da criatividade da curiosidade Nessa sala de aula nada de novo acontece velhas perguntas são respondidas com velhas respostas A certeza do futuro está na reprodução pura e simples do passado A disciplina escolar que tantas vítimas já produziu é exercida com todo rigor sem nenhum sentimento de culpa pois há uma epistemologia uma psicologia da qual não falamos aqui e uma pedagogia que a legitimam O aluno egresso dessa escola será bem recebido no mercado de trabalho pois aprendeu a silenciar mesmo discordando perante a autoridade do professor a não reivindicar coisa alguma a submeterse e a fazer um mundo de coisas sem sentido sem reclamar O produto pedagógico acabado dessa escola é alguém que renunciou ao direito de pensar e que portanto desistiu de sua cidadania e do seu direito ao exercício da política no seu mais pleno significado qualquer projeto que vise a alguma transformação social escapa a seu horizonte pois ele deixou de acreditar que sua ação seja capaz de qualquer mudança O cinismo é seu jargão Traduzindo o modelo epistemológico em modelo pedagógico temos a seguinte relação A P O professor P representante do meio social determina o aluno A que é tabula rasa frente a cada novo conteúdo Nesta relação o ensino e a aprendizagem são pólos dicotômicos o professor jamais aprenderá e o aluno jamais ensinará Como diz um professor ao responder à pergunta qual o papel do professor e qual o do aluno O professor ensina e o aluno aprende qual é a tua dúvida Ensino e aprendizagem não são pólos complementares A própria relação é impossível É o modelo por excelência do fixismo da reprodução da repetição Nada de novo pode ou deve acontecer aqui B Pedagogia nãodiretiva e seu pressuposto epistemológico Pensemos no segundo modelo Não é fácil detectar sua presença Ele está mais nas concepções pedagógicas e epistemológicas do que na prática de sala de aula porque esta é difícil de viabilizar Pensemos então como seria a sala de aula de acordo com esse modelo O professor é um auxiliar do aluno um facilitador Carl Rogers O aluno já traz um saber que ele precisa apenas trazer à consciência organizar ou ainda rechear de conteúdo O professor deve interferir o mínimo possível Qualquer ação que o aluno decida fazer é a priori boa instrutiva É o regime do laissezfaire deixa fazer que ele encontrará o seu caminho O professor deve policiarse para interferir o mínimo possível Qualquer semelhança com a liberdade de mercado do neoliberalismo é mais do que coincidência O professor nãodiretivo acredita que o aluno aprende por si mesmo Ele pode no máximo auxiliar a aprendizagem do aluno despertando o conhecimento que já existe nele Ensinar Nem pensar Ensinar prejudica o aluno Como diz um professor Becker 1992 Ninguém pode transmitir É o aluno que aprende Outro professor afirma Tu não transmite o conhecimento Tu oportuniza propicia leva a pessoa a conhecer Outro ainda acho que ninguém pode ensinar ninguém pode tentar transmitir pode tentar mostrar acho que a pessoa aprende praticamente por si Que epistemologia sustenta este modelo pedagógico A epistemologia que fundamenta essa postura pedagógica é a apriorista e pode ser assim representada a nível de modelo S O Apriorismo vem de a priori isto é aquilo que é posto antes como condição do que vem depois O que é posto antes A bagagem hereditária Esta epistemologia acredita que o ser humano nasce com o conhecimento já programado na sua herança genética Basta um mínimo de exercício para que se desenvolvam ossos músculos e nervos e assim a criança passe a postarse ereta engatinhar caminhar correr andar de bicicleta assim também com o conhecimento Tudo está previsto É suficiente proceder a ações quaisquer para que tudo aconteça em termos de conhecimento A interferência do meio físico ou social deve ser reduzida ao mínimo É só pensar no Emílio de Rousseau ou nas crianças de Summerhill Snyders 1974 As ações espontâneas farão a criança transitar por fases de desenvolvimento cronologicamente fixas que são chamadas de estágios e que são freqüentemente confundidos com os estágios da Epistemologia Genética piagetiana nesta os estágios são ao contrário cronologicamente variáveis Voltemos ao papel do professor O professor imbuído de uma epistemologia apriorista inconsciente na maioria das vezes renuncia àquilo que seria a característica fundamental da ação docente a intervenção no processo de aprendizagem do aluno Ora o poder que é exercido sem reservas com legitimidade epistemológica no modelo anterior é aqui escamoteado Ora a trama do poder em qualquer ambiente humano pode ser disfarçada mas não eliminada Acontece que na escola há limites disciplinares intransponíveis O que acontece então com o pedagogo nãodiretivo Ou ele arranja uma forma mais subliminar de exercer o poder ou ele sucumbe Freqüentemente o poder exercido deste modo assume formas mais perversas que na forma explícita do modelo anterior Assim como no regime da livre iniciativa ou da liberdade de mercado o estado aumenta seu poder para garantir a continuidade e até o aumento dos privilégios da minoria rica utilizando não a perseguição política mas a expropriação dos salários e a desmoralização das instituições representativas dos trabalhadores assim também por mecanismos indiretos exercese por vezes numa sala de aula nãodiretiva um poder tão predatório como o da sala de aula diretiva Por isso Celma 1979 afirma que os alunos tinham pavor de sua professora nãodiretiva Como vimos uma pedagogia desse tipo não é gratuita Ela tem legitimidade teórica extrai sua fundamentação da epistemologia apriorista O professor parece no entanto não tomar consciência disso Esta mesma epistemologia que concebe o ser humano como dotado de um saber de nascença conceberá também dependendo das conveniências um ser humano desprovido da mesma capacidade deficitário Este déficit porém não tem causa externa sua origem é hereditária Onde se detecta maior incidência de dificuldades ou retardos de aprendizagem Entre os miseráveis os malnutridos os pobres os marginalizados Está aí a teoria da carência cultural para garantir a interpretação de que marginalização econômicosocial e déficit cognitivo são sinônimos A criança marginalizada entregue a si mesma numa sala de aula nãodiretiva produzirá com alta probabilidade menos em termos de conhecimento que uma criança de classe média ou alta Tratase aqui de acordo com o apriorismo de déficit herdado epistemologicamente legitimado portanto Traduzindo em relação pedagógica o modelo epistemológico apriorista temos A P o aluno A pelas suas condiçOes prévias determina a ação ou inanição do professor P Nesta relação o pólo do ensino é desau torizado e o da aprendizagem é tornado absolu to A relação vai perdendo sua fecundidade na exata medida em que se absolutiza um dos pólos Em outras palavras a relação tornase impossível na medida mesma em que pretende avançar Ensino e aprendizagem não conse guem fecundarse mutuamente a aprendizagem por julgarse autosuficiente e o ensino por ser proibido de interferir O resultado é um processo que caminha inevitavelmente para o fracasso com prejuízo imposto a ambos os pólos O professor é despojado de sua função sucatea do O aluno guindado a um status que ele não tem e sua nãoaprendizagem explicada como déficit herdado impossível portanto de ser superado C Pedagogia relaciona I e seu pressuposto epistemológico O professor e os alunos entram na sala de aula O professor traz algum material algo que presume tem significado para os alunos Propõe que eles explorem este material cuja natureza depende do destinatário crianças de préescola de primeiro grau de segundo grau universitá rios etc Esgotada a exploração do material o professor dirige um determinado número de perguntas explorando sistematicamente dife rentes aspectos problemáticos a que o material dá lugar Pode solicitar em seguida que os alunos representem desenhando pintando escrevendo fazendo cartunismo teatralizando etc o que elaboraram A partir daí discutese a direção a problemática o material das próximas aulas Por que o professor age assim Porque ele acredita melhor compreende teoria que o aluno só aprenderá alguma coisa isto é construirá algum conhecimento novo se ele agir e problematizar a sua ação Em outras palavras ele sabe que há duas cOlldições necessárias para que algum conhecimento novo seja cons truído a que o aluno aja assimilação sobre o material que o professor presume que tenha algo de cognitivamente interessante ou melhor significativo para o aluno b que o aluno responda para si mesmo às perturbações aco modação provocadas pela assimilação deste material ou que o aluno se aproprie neste segundo momento não mais do material mas dos mecanismos íntimos de suas ações sobre 92 este material este processo farseá por refle xlonamento e reflexão Piaget 1977 a partir das questOes levantadas pelos próprios alunos e das perguntas levantadas pelo professor e de todos os desdobramentos que daí ocorrerem O professor não acredita no ensino em seu sentido convencional ou tradicional pois não acredita que um conhecimento conteúdo e uma condi ção prévia de conhecimento estrutura possa transitar por força do ensino da cabeça do professor para a cabeça do aluno Não acredita na tese de que a mente do aluno é tabula rasa isto é que o aluno frente a um conhecimento novo seja totalmente ignorante e tenha que aprender tudo da estaca zero não importa o estágio do desenvolvimento em que se encon tre Ele acredita que tudo o que o aluno cons truiu até hoje em sua vida serve de patamar para continuar a construir e que alguma porta abrirseá para o novo conhecimento é só questão de descobriIa ele descobre isto por construção Aprender é proceder a uma síntese indefinidamente renovada entre a continuidade e a novidade Inhelder et alii 1977 p263 aprendizagem é por excelência construção ação e tomada de consciência da coordenação das ações portanto Professor e aluno determi namse mutuamente Como vemos a epistemo logia deste professor mostra diferenças funda mentais com relação às anteriores Como se configura ela A nível de modelo podemos representáIa assim s O O professor tem todo um saber construí do sobretudo numa determinada direção do saber formalizado Este professor que age segundo o modelo pedagógico relacional professa uma epistemologia também relacional Ele concebe a criança o adolescente o adulto seu aluno como tendo uma história de conheci mento já percorrida a aprendizagem da língua materna é um fenômeno que absolutamente não pode ser subestimado eu ousaria dizer que a criança que fala uma língua tem condições respeitado o nível de formalização de aprender qualquer coisa Aliás o ser humano ao nascer não é tabula rasa Antes ao contrário ele traz uma herança biológica que é o oposto da folha de papel em branco Diz Popper lembrando que a afirmação de que nada há no intelecto que não tenha passado primeiramente pelos sentidos é grosseiramente errada basta que nos lembremos dos 10 bilhOes de neurônios do nosso córtex cerebral alguns deles as células piramidais do córtex cada um com um total estimado em 10 mil sinapses p 160 Para Piaget mentor por excelência de uma epistemo logia relacionaJ não se pode exagerar a impor tância da bagagem hereditária nem a importân cia do meio social O que ele rejeita no entanto é a crença de que a bagagem hereditária já traz em si programados os instrumentos estruturas do conhecimento e segundo a qual bastaria o processo de maturação para estes instrumentos manifestaremse em Idades previsíveis segundo estágios cronologicamente fixos apriorismo Rejeita de outro lado que a simples pressão do meio social sobre o sujeito determinaria nele mecanicamente as estruturas do conhecer empirismo Para Piaget o conhecimento tem início quando o recémnascido age assimilando alguma coisa do meio físico ou social Este conteúdo assimilado ao entrar no mundo do sujeito provoca aí perturbações pois traz consigo algo novo para o qual a estrutura assimiladora não tem instrumento Urge então que o sujeito refaça seus instrumentos de assimilação em função da novidade Este refazer do sujeito sobre si mesmo é a acomodação É este movimento esta ação que refaz o equilibrio perdido porém o refaz em outro nível criando algo novo no sujeito Este algo novo fará com que as próximas assimilaçOes sejam diferentes das anteriores sejam melhores equilibração majorante isto é o novo equilibrio é mais con sistente que o anterior O sujeito constrói daí conatrutlvlsmo seu conhecimento em duas dimensões complementares como conteúdo e corno forma ou estrutura como conteúdo ou como condição prévia de assimilação de qual quer conteúdo No mundo interno endógeno do sujeito algo novo foi criado Algo que é síntese do que existia antes como sujeito originariamente da bagagem hereditária e do conteúdo que é assimilado do meio social O sujeito cria um outro dentro dele mesmo que não existia originariamente E criao por força de sua ação assimiladora e acomodadora A ação do sujeito portanto constitui correlativamente o objeto e o próprio sujeito Sujeito e objeto não existem antes da ação do sujeito A consciência não existe antes da ação do sujeito Porque a consciência é segundo Piaget construída pelo próprio sujeito na medida em que eleS8 apro pria dos mecanismos íntimos de suas ações ou melhor dito da coordenação de suas ações Este processo constitutivo não tem fim e nem começo absoluto Ele pode ser explicado por outro prisma teórico também de Piaget A teoria da ab8traçlo reftexlonant uma teoria explicativa que é mais competente que a teoria da equilibração para explicar o qlle acontece ao nível das trocas simbólicas ao nfvel da manipu lação dos simbolos das relações sociais e não só ao nfvel da manipulação dos objetos do mundo físico com sua gama interminável de aspectos expioráveís Deixemos no entanto a teoria da abstração já referida acima para outra ocasião Cf Becker 1993 O professor acredita que seu aluno é capaz de aprender sempre Esta capacidade precísa no entanto ser vista sob duas dimen sões entre si complementares A estrutura ou condição prévia de todo o aprender que indica a capacidade lógica do aluno e o conteúdo Lembremos que para Piaget 1967 a estrutura é orgânica antes de ser formal A dinamização ou dialetização do processo de aprendizagem exige portanto dupla atenção do professor O professor além de ensinar precisa aprender o que seu aluno já construiu até o momento condição prévia das aprendizagens futuras O aluno precisa aprender o que o professor tem a ensinar conteúdos da cultura formalizada por exemplo isto desafiará a intencional idade de sua consciência Freire 1979 ou provocará um desequillbrio Piaget 1936 1967 que exigirá do aluno respostas em dU8 dimensões comple mentares em conteúdo e em estrutura Para Freire o professor além de ensinar passa a aprender e o aluno além de aprender passa a ensinar Nesta relação professor e alunos avançam no tempo As relações de sala de aula de cristalizadas com toda a dose de monotonia que as caracteriza passam a ser fluídas O professor construirá a cada dia a sua docência dinamizando seu processo de aprender Os alunos construirão a cada dia a sua discência ensinando aoS colegas e ao professor novas coisas Mas o que avança mesmo nesse pro cesso é a condição prévia de todo aprender ou de todo conhecimento isto é a capacidade construída de por um lado apropriarse critica mente da realidade física eou social e por outro de çonstruir sempre mais e novos conhe cimentos Traduzindo pedagogicamente o modelo epistemológico temos A P A tendência nessa sala de aula é a de superar por um lado a disciplina poIicialesca e a figura autoritária do professor que a represen 93 ta e por outro a de ultrapassar o dogmatismo do conteúdo Não se trata de instalar um regime de anomia ausência de regras ou leis de convivência ou o laissezfaire nem de esvaziar o conteúdo curricular estas coisas são características do segundo modelo epistemológico com o qual confundese freqüentemente uma proposta construtivista Tratase antes de criticar radicalmente a disciplina policialesca e construir uma disciplina intelectual e regras de convivência o que permite criar um ambiente fecundo de aprendizagem Tratase também de recriar cada conhecimento que a humanidade já criou pois não há outra forma de entenderse a aprendizagem segundo a psicologia genética piagetiana só se aprende o que é recriado para si e sobretudo de criar conhecimentos novos novas respostas para antigas perguntas e novas perguntas refazendo antigas respostas e não em última análise respostas novas para perguntas novas Tratase numa palavra de construir o mundo que se quer e não de reproduzirrepetir o mundo que os antepassados construíram para eles ou herdaram de seus antepassados O resultado dessa sala de aula é a construção e a descoberta do novo é a criação de uma atitude de busca e de coragem que esta busca exige Esta sala de aula não reproduz o passado pelo passado mas debruçase sobre o passado porque aí se encontra o embrião do futuro Vivese intensamente o presente na medida em que se constrói o futuro buscando no passado sua fecundação Dos escombros do passado delineiase o horizonte do futuro originase daí o significado que dá plenitude ao presente Para quem pensa que estou desenhando um mar de rosas alerto que para grande número de indivíduos configurase como extremamente penoso mexer no passado Como diz a mãe de um menino de rua Para que vou lembrar o passado se ele não tem nada de bom Aqui os conceitos muito próximos entre si de tomada de consciência de Piaget e de conscientização de Freire são excepcionalmente fecundos para dialetizar o processo passadopresentefuturo A convicção que a epistemologia genética nos traz é a de que este é o caminho para jogarse para o futuro para adiantarse aos acontecimentos Para não andar a reboque da história mas para fazer história para ser sujeito portanto CONSIDERAÇÕES FINAIS Ajuntemos num todo os vários modelos epistemológicos e pedagógicos que deixamos para trás QUADRO I Comparação dos modelos pedagógico e epistemológico EPISTEMOLOGIA PEDAGOGIA Teoria Modelo Modelo Teoria Empirismo S O A P Diretivismo Apriorismo S O A P NãoDiretivismo Construtivismo S O A P Ped Relacional Se sobrepusermos as duas colunas modelos estaremos mais próximos da representação desejada Isto é a mesma relação existente entre S e O a nível epistemológico está presente na relação A e P ao estabelecerse em sala de aula uma relação cognitiva Encontrase aqui o motivo mesmo de nossa análise desvendar as relações epistemológicas que ocorrem no âmago das relações pedagógicas De acordo com Piaget não se pode fazer inter disciplinaridade se este nível não estiver contemplado Vamos apontar sem desenvolver as possibilidades que são abertas por esta forma de análise ampliando a tabela acima Para isto incluamos três disciplinas que de formas diferenciadas pretendem interferir na tarefa de teorizar o que fazer educacional a biologia a psicologia e a sociologia ao lado da epistemologia e da pedagogia QUADRO II Comparação dos modelos biológico psicológico e sociológico Biologia Psicologia Sociologia Modelo Teoria Modelo Teoria Modelo Teoria Or M Lamarckismo R E Associac I Ms Positivismo Behavior Or M DarwinismoNéoDarwinismo R E Gestalt I Ms Idealismo Carl Rogers Or M Biologias Relacionais R E Psicologia I Ms Dialética Genética Or Organismo M Meio R Resposta E Estímulo I Indivíduo Ms Meio social Por falta de espaço não colocamos neste quadro os modelos epistemológico e pedagógico Para fazer isso é só trazer o QUADRO I e pôlo ao lado do QUADRO II Em nossas pesquisas ou em observações informais detectamos o seguinte comportamento professores que participavam de greves do magistério público estadual ou federal como militantes progressistas mostrando compreensão a nível macro do que acontecia na economia e na política ao retornar à sala de aula nível micro após o término da greve voltavam a ser professores plenamente sintonizados com o modelo A Sua crítica sociológica freqüentemente lúcida exercida via de regra segundo parâmetros marxistas mostravase incapaz de atingir sua ação docente prática também não atingia seu modelo pedagógico teoria Por quê Não se desmonta um modelo pedagógico arcaico somente pela crítica sociológica por mais importante que seja esta Segundo nossa hipótese a desmontagem de um modelo pedagógico só pode ser realizada completamente pela crítica epistemológica Em outras palavras a crítica epistemológica é insubstituível para a superação de práticas pedagógicas fixistas reprodutivistas conservadoras sustentadas por epistemologias empirista ou apriorista Notese que estas epistemologias fundam por um lado o positivismo e de forma menos fácil de mostrar o néopositivismo e por outro o idealismo ou o racionalismo Pensamos também que a formação docente precisa incluir cada vez mais a crítica epistemológica Nossa pesquisa sobre a epistemologia do professor Becker 1992 mostrou quanto esta crítica está ausente e o quanto seu primitivismo conserva o professor prisioneiro de epistemologias do senso comum tornandoo incapaz de tomar consciência das amarras que aprisionam seu fazer e seu pensar Pudemos experienciar o quanto de fecundidade teóricocrítica aliás inesgotável a epistemologia genética piagetiana possibilita O pensamento de Paulo Freire tem mostrado em alguns momentos uma fecundidade similar em termos pedagógicos e também em termos epistemológicos Cf Andreola 1993 Uma proposta pedagógica dimensionada pelo tamanho do futuro que vislumbramos deve ser construída sobre o poder constitutivo e criador da ação humana é a ação que dá significado às coisas Mas não a ação aprisionada aprisionada pelo treinamento pela monotonia mortífera da repetição pela predatória imposição autoritária Mas sim a ação que num primeiro momento realiza os desejos humanos suas necessidades e num segundo momento apreende simbolicamente o que realizou no primeiro momento não só assimilação mas assimilação e acomodação não só reflexionamento mas reflexionamento e reflexão não só ação de primeiro grau mas ação de primeiro e de segundo graus e de enésimo grau numa palavra não só prática mas prática e teoria A acomodação a reflexão as ações de segundo grau e a teoria retroagem sobre a assimilação o reflexionamento as ações de primeiro grau e a prática transformandoos Poderseá assim enfrentar o desafio de partir da experiência do educando recuperando o sentido do processo pedagógico isto é recuperando e reconstituindo o próprio sentido do mundo do educando e do educador Uma proposta pedagógica relacional visa a sugar o mundo do educando para dentro do mundo conceitual do educador Este mundo conceitual do educador sofre perturbações mais 95 ou menos profundas com a assimilação deste conteúdo novo A alternativa é responder ou sucumbir A resposta abre um novo mundo de criaçOes A nãoresposta çpndena o professor às velhas fórmulas que deScrevemos acima e conseqüentemente à perda do significado de sua existência A condição para que o professor respondaestá como vimos numa critica radical não só de seu modelo pedagógico mas de sua concepção epistemológica Para enfrentar este desafio o professor deveria responder antes a seguinte questão que cidadão ele quer que seu aluno seja Um individuo subserviente dócil cumpridor de ordens sem perguntar pelo significado das mesmas ou um individuo pensante critico que perante cada nova encruzilhada prática ou teórica pêra e reflete perguntandose pelo significado de suas açOes futuras e progressiva mente das açOes do coletivo onde ele se Inse re Esta pareceme é a pergunta fundamental que pennlte iniciar o processo de r urçlo do algnlftcado e da construção de um mundo de significaçOes futuras que justificarão a vida individual e coletiva Nota 1 VersAo simplificada deste texto foi publicada na revista Palxlo de Aprender da Secretaria Munlcl paIde Educação de Porto Alegre Referêncl Bibliográficas ANDREOlA Baldulno O processo do conhecimento em Paulo Freire Educação e Realidade Porto Alegre 18132 42 janjun 1993 BECKER Fernando Epistemologia subjacente ao trabalho docente Porto Alegre FACEDJUFRGS 1992 387p Apolo INEPCNPQ No prelo VOZES Relatório de pesquisa o Da ação à operação o caminho da aprendiza gem J Plaget e Paulo Freire Porto Alegre Palma rlnca 1993 o Ensino e construç4o do conhecimento o processo de abstração reftexlonante Educação e Realidade Porto Alegre 1814352 lanjun 1993 o Saber ou Ignorência Plaget e a questão do conhecimento na escola pública PslcologieUSP 11n87 janjun 1990 CELMA Jules DIário de um educastrador Sêo Paulo Summus 1979 142 p FREIRE Paulo Pedagogia do oprimido 6 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1979 218p Conscientização teoria e prática da Ilbertaç4o uma Introduç4o ao pensamento de Paulo Freire São Paulo Cortez e Moraes 1979 102 p INHELDER Bêrbel e colaboradores Aprendizagem e astruturas do conhecimento Sêo Paulo Saraiva 19n 282p PIAGET Jean et a111 Recherchas sur tabstractlon rénéchl8llte Paris PUF 19n 2v p 15378 o 1936 O nascimento da Inteligência na crian ça 3ed Rio de Janeiro Zahar 1978389 p o Biologia e conhecimento ensaio sobre as relações entre as regulações orgênlcas e os processos cognoscitivos Petrópolis Vozes 1973 423 p POPPER CarI e ECCLES John C O eu e seu cére bro Campinas Paplrus Brasma Editora da UNB 1991 SNYDERS Georges Para onde vão as pedagogias nãodlretivas Lisboa Moraes Ed 1974365 p Femando Becker é professor da Faculdade de Educaçao e atual coordenador do Programa de P6sGraduaçAo em Educaç40 da UFRGS 96 TAREFA Enquanto Professor é essencial compreender os diferentes segmentos pedagógicos existentes tendo em vista que seu desenvolvimento continua no meio social de forma constante Construir e compartilhar conhecimento não envolve disseminar mas despertar Isso porque o aluno precisa ser compreendido como a esfera central das aulas Para tanto é essencial reconhecer o perfil de cada aluno e assim propor aulas lúdicas e com método de ensino acessível a todos dessa forma o aluno não irá buscar reproduzir o conteúdo mas o absorver A partir disso ele poderá tomar decisões específicas e refletir sobre diversos pontos a incluir aspectos do meio político e social Então não basta apenas compreender cada item é preciso ligar os pontos e montar uma ideia central para tal é fundamental compreender um pouco sobre cada temática e assim construir um pensamento crítico embasado e direcionado Por isso é essencial a junção do conhecimento obtido por diversas disciplinas no meio educacional para que assim o conhecimento seja construído progressivamente e futuramente possa ser direcionado e solidificado Sendo assim para minha formação tal conteúdo é essencial pois me direciona e aponta o que deve ser trabalhado nas aulas me oferecem estrutura e diretrizes para minha atuação além de propor interação com outros colegas cujo objetivo é expor meu pensamento e posicionamento e ouvir o dos outros Essa troca é essencial para aprender e ensinar simultaneamente