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solrêl sêglsê6ns sop oluêulDllêotdD oêldulo3 ntpoduI ênb otsoLutê oled êpoptltqosuodsot IDJôêlut oluouê ouoputLxnsso êcêpDJôo oJolno o soltdlDd soled e Dlnltêl olêd sloutôuo so êluêLuosoiêuêÔ uJolêl êpozlujo êp olclcoxê llê Dltêpuog oJpêd ê UDLlêqllz out6êu êllouoc DtllcêJ rNtzhlX 1 ul2 Ut1Jn pri t fltrh oatra dS oJnEd ops StttttZ ttúxpl orrlurog orger8alâJ pug 9Ç98 prso4 exrea 77ç6977t tO XSVa la1 0060çf0 dSC 0II aden8I ap oprE8 pnl vs srrrv eJolrPx sopErâsal solraJtp so sopol í66I 88tr0 80 ç8 NSS x rlr rct0rt PquurroN úV soruS sàpuurâd dV eurtã oeqJ lg oyôvNrovd snâupoU saul uuÉril oyótsodroc en16 a8roI vclvtc ovSvNouooc EpâIsJ uotIIt orotrl sLxv 30 ov5rof lelolN orPuàà orx3J 30 oyôvüvdsd Platr ouyW MríOtlo3 vrcNgJsrsv 09xrrd oPueuràc tortqS í I i I I I A LEITURA LITERARIA NA ESCOLA Se por não sei que excesso de socialismo ou bar bárie toda as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino exceto uma e a discÍplina lite rária que devia ser salva pois todas asciências estão presentes no monumento literário z lllrdor os tempos mudamse as aontades sonetava Camões pela janela do século XVI E o memo constatamo nós em esferas mais baixas examinando ainda que sem o talento do poeta meia dúzia de livros didáticos ou paradidáti cos de literàtura Figurinos e modas não faltam O que parece faltar é inspiração e elegância que permitam passar da máxi à míni sem mostrar canelas escalavradas nem joelhos sujos E antes que alguém pergunte se se fala da moda ou do texto lite rário em clásse saibase que a epígrafe de Barthes é salvo conduto para tomar do universo da moda as primeiras metáforas O que fazer com ot do texto literário em sala de aula fundase ou devia fundarse em uma concePção de literatura muitas vezes deixada de lado em discussões pedagógica Estas de modo geral afastam os problemas teóricos como irrelevan tes ou elitistas diante da situação precária que dizse espera o professor de literatura numa classe de jovens A precarie daàe de tal situação costuma ser resumida nos clichês e pre I Versao anterior deste texto lbi apresentâda em mesaredonda sobre Literatura e Ensino organizada em Porto Alegre plo Goeüe lntitute PUCRS e Ássociação Intenaciorial de Leitura Consilho Brasil Sut e com o títuloO tcxto literário nâ sala de aula posteriormentê publicado no Eolzrizr da ALBS Asociação Inrerna iônâl de Leitura Conselho Brasi Sul n9 283 P 237 2 Brrtsos R4rla Sâo Paulo Cultrix 1980 P 18 l II 1 I I 12 DO MUNDO DA LEITURA PAR A LEITURA DO MUNDO conceitos que afloram quando vêm à baila temas que relacio nam jooem leitura proJessor escola liferatura e similares como sugerem as falas abaixo3 1 outros olunos pqr nõo terem hóbito ou goslo pelo leituro infelizmenle o moiorio só lêem se obrigodos Oukos oindo o minorio nõo lêem nem obrigodos isic muitos noo lêem com o desculpo de que noo lêm tempo sendo que OoIo ossrslrr V sempÍe dtspoer de iempo 1 o nosso estudonte só Íoz determinodo otividode se exlgldo e bem esti mulodo Do conlrório se entregom sic ô preguiço de ier Meso poqre eles ochom consolivo ter de ficor porodos o ler muilos vezes hiÍórios que estelom ogrodondo Só o leituro e o inceniivo pelos bons outores sic poderó melhoror o redo çõo dos oiunos codo vez mois pobre e reslriio pelo ÍV Os textos acima colhidos em diferentes escolas poderiam ser assinados por mestres do Oiapoque ao Chuí O que surge nas linhas e entrelinhas dos quatro depoimentos é rrn pofr sor que se crê investido da função sagrada de guardião jo tem plo 1á dentro o texto literário cá iora os ulrror ru potu ele o mestre sem saber se entra ou se sai ou se melhor Áesmo é que a muhidão se disperse O problema é que os rituais de iniciação propostos aos nófitos não parecem agradar o texto literáio àbto ao rlo e do culto razão de ser do templo é objeto de rrà pre discreto mas sempre incômodo desinteresse e enfado dos fiérs infrdelíssimos aliás que não pediram para ali estar Talvez venha desse desencontro de expectativas que a lingua gem pela qual se costuma falar do ensino de literatura destile o amargor e o desencanto de plestação de contas deoeres larejas e obrigações como as falas acima ilustram Para pasmo geral dos paroquianos menos informados no entanto Fernando Pessoa com a sabedoria de quem guarda rebanhos solidarizase com as ovelhas rebeldes O poetapastor proclama seu tédio perante qualquer contexto que subtraia do texto sua carga máxima de mitoi de ruptura A leiluro lilerório no escolo t3 Ai que prozer Nõo cumprir um dever Ter um livro poro ler E nôo o fozerl Ler é moçodo Estudor é nodo O sol doiro Sem liteÍotuÍ0 O rio corre bem ou mol Sem ediçôo originol I o briso esso De lõo nolurolmente molinol Como tem lempo nôo tem presso Livros sóo popéis pintodos com iinio Esludor é umo coiso em que estó indistinto A distinçõo enke nodo e coiso nenhumo4 Como já se viu dicção oposta à de Pessoa é a que ressoa nas vozes ouvidas na pesquisa da editora Abril E curiosa mente é uma voz tão marcial quanto amarga a que reponta nos testemunhos dos mestres aparentemente satisfeitos com seu desempenho face aos papái pinlados com tinta Motivomos o closse o ler o ler sempre poucos sõo os comentórios de follo de interesse iolvez porque repito sempre o sogon quem nôo lê mol folo moi ouve mol vê Lêem porque eu incentivo muilo e ôs vezes oté dromotizo o ossunlo resumÊ domenle poro que o oluno se inieresse mois por leituro Após um lrobolho órduo e longo o hóbito de lituro porece teÍ sido implontodo5 As falas acima revelam a consciência tranqüila do dever cumprido proclamam o sucesso da terapêutica cuja violência no entanto parece deixar cicatrizes atê ta voz do terapeuta o vocabulário é repassado de obrigações e cobranças trabalho Pssso Fernando Liberdade In Ohtu loAna3 êd Rio dc Janero Nova Asuilar p 188 s Ver nota 3 Parâ contrastar os resultados desta pesquisa com outra consultâr Sal diva Ássociados PÍopâgânda Ltda Estudo motivacional sobre hábitos de leitu ra rcâlizadâ m 1987 pâra a Câmara Brasileira do Livro e Associação Pâulista de Fabricantes de Pâpl Celulose São Paulo Câmara Brasileira do Livro 1988 II I Os texros de professores foram exlaídos dc pesqursa feÍa petâ Abril Educação como pârte dâ promoçãô da Série Literatura Comntida tançaáa naionar rSBi l4 DO MUNDO DA TEITURA PÂRA A LITURA DO MUNDO A leituro iierórlo no escolo t5 o lexto literório na sala de aula sela ainda de süa competência Já faz alguns anos que decidir isso é da competência de editoras livros didáticos e paradidáticos muitos dos quais se afirmaram como quase monopolizadores do mercado escolar na razão direta em que tiraram dos ombros dos professores a tarefa de preparar as aulas O que há então para o professor é um script de autoria alheia para cuja composição ele não foi chamado leiturajogra lizada testes de múltipla escolha perguntas abertas ou semi abertas reescritura de textos resumos comentados são alguns dos números mais atuais do espetáculo que ao Iongo do territó rio nacional mestres menos ou mais treinados estrelam para platéias às vezes desatentas às vezes rebeldes quase sempre desinteressadas sobrando a seção de queixas e reclamações para congressos seminários cursos de atualização e congêne res ou então pesquisas como a que aqui está sendo comentada Talvez náa se tenha refletido ainda o bastante sobre alguns traços que modernas pedagogias e certos modelos de escola renovada imprimiram à educação principalmente ao ensino de literatura Nesse sentido urge discutir por exemplo o con ceito de molioaçã0 porque é em nome dele que a obra literária pode ser completamente desfigurada na prática escolar Propor palavras cruzadas sugerir identificação com uma ou outra per sonagem dramatizar textos e similares atividades que manuais escolares propóem é periférico ao ato de leitura ao contato solitário e profundo que o texto literário pede Ou o texto unl sentido âomunào ou ele não tem sen aúí nenhum E o mesmo se pode dizer de nossas g1 O texto em sala de aula é geralmente objeto de técni cas de análise remotamente inspiradas em teorias literárias de extração universitária Mas se no âmbito universitário a teoria literária pode ainda preservar uma semântica geral do textor na transposição das ditas teorias para o contexto didá tico esse sentido maior costuma adelgaçarse e rarefazerse a ponto de ficar quase irreconhecível 7 Na escola anulase a 7 Cl Auener Emília O ensino de literatura no segundo grau Disserração de mcslrado mimeo IElUnicamp 986 LÂJoLo M Leitura e lirarura mais que uma rima e menos que uma soluçâo n ZILBERMAN R SrLv E Theo doro da orgs Lttuto pdtpetita intrdirúinard São Paulo Aricã 1988 longo e árduo atiaidade exigida leitura obrigatória expressões cin zentas e duras em harmonia com uma escola como a brasi leira amarga e curtida por políticas educacionais equivocadas A função desse professor bemsucedido confinase ao papel de propagandista persuasivo de um produto a leitura que sob a avalanche do marketing e do merchandising cor á iro de perder ao menos em parte sua especificidáde i i A compreensão desse estado de coisas parece fundamen ral ilumina o conrexro escolar brasileiro no qual discussões Jorlr e propostas pdra usos do texto literóio em classe podem trans formarse em armadiha para o professor que sentindose fra gilizado busca respostas imediatas pr sàr problemas con cretos As propostas transformamse em armadilha quando patrocinam discussões das quais se sai com as técnicas debaixo 1 do braÇo e confiante na terapêutica Técnicas ilgo puu l1 convívio harmonioso com o f exto não existem urqre urri se proclamam são mistificadoras pois estabelecem uma har monia só aparente mantendo intato quando já instalado o desencontro entre leitor e texto Vários professores ouvidos na pesquisa da editora Abril têm sugestões a íazer Tratase geralmente de propostas que somam ao idealismo ingênuo o imediatismo das soluções enla tadas sugestões bemintencionadas sem dúüda que reduzem o atrito e aumentam a digestibilidade da aula mas iid lp frcialmente com a questão resolvendo o problema pelo seu con torno passando ao largo das zonas profundas de conflito os livros deveriom ser mois dinomizodos e orelodos serio preciso levor obros literórios oié os olunos de umo moneiro rnfe ligenie inteÍessonte e proveitoso serio importonte ter um oudiovisuol de literoturo 6 Mas ouvir professores é tarefa de amor como dizia Bilac a propósito de estrelas tarefa de amor pois talvez o professor seja peça secundária na escola de hoje e conseqüeniemente sua voz se faça ouvir com timidezro qlapitu aos desti nos do texto literário em classe Não p qr o que fazer com l I I l6 DO MUNDO DA LEITURA PARA A LEITURA DO MUN DO ambigüidade o meiotom a conotação sutis demais para uma pedagogia do texto que consome técnicas de interpreta ção como se consomem pipocas e refrigerantes De modo geral não se pode e talvez nem se cleva fugir a alguns encaminhamentos mais tradicionais no ensino da literatura por exemplo a inscrição do íexto na época de sua pro dução trra vez que textos assim contextualizados nos dão acesso a uma historicidade muito concreta e encarnada à qual se cola a obra de arte à revelia ou não das intenções do autor outro caminho a inscrição no lexto do conjutlo dos pincpa juí zos críticos que sobre ele se foram acumulnndo fundamental para fazer o aluno vivenciar a complexidade da instituição literária que não se compõe exclusivamente de textos literários mas sim do conjunto destes mais todos os outros por estes inspirados outro exemplo ainda a inscrição da e no texlo no e do cotidiano do aluno entendendo que este cotidiano abrange desde o mundo conlemporâneo no que essa expressão tem intencio nalmente de vago e de amplo até os impasses individuais vivi dos por cada um nos arredores da leitura de cada texto Se o professor não conhece tais impasses e provavel mente não os conhece nem precisa conhecêlos a vivência que tem de seus impasses e a forma como diferentes textos dia logam com tais impasses são suficientes para sugerir comentá rios perguntas e atividades que encaminhem nessa direção o trabalho com o texfô Numa última perspectiva o desencontro literaturajovens que explode na escola parece mero sintoma de um desencon tro maior que nós professores também vivemos Os alunos não lêem nem nós os alunos escrevem mal e nós tam bém Mas ao contrário de nós os alunos não estão investi dos de nada E o bocejo que oferecem à nossa explicação sobre o realismo fantástico de Incidente em Anlarrr ou sobre a metalin guagem de Memórias póstumas de Brás Cubas é incômodo e sub versivo porque sinaliza nossos impasses Mas sinalizando os ajuda a superáos Pois só superandoos é que em nossas aulas se pode cumprir da melhor maneira possível o espaço de liberdade e subversão que em certas condições instaura se pelo e no texto literário l I iE i OS LEITORES ESSES TEMIVEIS DESCONHECIDOS Se o autor real deve ser considerado como ambÍ guo e mistefloso perdido na história parece igualmente verdade que o leitor real perdido na história contemporânea não é menos misterioso nem às vezes irrelevante2 EL na posiçào do leiror que se enconrram as credenciais mais fortes para quem quer discutir o perhl do indivíduo que livro aberto nas mãos no silêncio de sua leitura pergunta ao escritor que não pode esquivarse da resposta lrouJtlste a chaae Corr ou sem chave leitor e escritor são faces da mesma moeda não obstante as quedasdebraço em que às vezes ambos se confrontam Quem quer que já tenha algum dia rabiscado maltraça das colocase no papel de alguém que tem de cativar seus lei tores Pois o leitor como o freguês do botequim parece que tem sempre razão Do aluno obrigado a escrever uma redação que lhe garanta nota mínima na prova ao festejado autor de beslsellers mtlioná ríos o lrazer ou não a chaue é senha para cativar leitoresi tanto o professor que encomenda a redação quanto o público que deve consumir o romance ambos precisam encontrar no texto quc I Este texto foi originalmente âpresentado na mesa rcdonda De leitor para leitores a produção do que s Iê duíaÍrte o 7f Congresso de Leiturâ dô Brasil realizadi em Campinas em 1989 e postêriormentc publicado com o tírulo De autores leito res em forma dc fantasma ou não nos anais do referido congÍesso GIBsoN Waher Aurhors speakers ând mock reâders Inr Tovrrrs Jane org Radd rponrê cittsu Baltimore London Thelohn Hopkins University Press 1980 DO MUNDO DA LEITURA PÂRÁ A LEITUR DO MUNDO lêem o que nele foram buscar se encontram mais do que espe ravam melhor para eles se encontram ros pioi pu o autor que pode ter perdido no desencanto do desencontro seu precioso leitor Da adequação ao tema à excitação das cenas eróticas do suspense sobre quem matou Roger Ackroyd à perfeição das crases e concordâncias a frustração das expectâtivas do leitor tem preço alto a indiferença do público e a nota baixa se equivalem como gesto soberano de o leitor dizer ao escriba não não lrouxesle a chaue Assim sendo leitores desfrutam de imenso pocler aincla que sejam extremamente voláteis mas não Àstante essa impalpabilidade o autor precisa crer na existência desses eva nescentes seres de óculos e mais ainda crer que há vida inte ligente por detrás dos óculos Não rrrri impalpável ser supralingüístico faz os escritores definharem e até màrerem Eu por exemplo creio firmemente na existência de tais seres ou seja acredito que disponho de leitores que os tenho de diferentes tipos e confesso que prehro os mais visíveis aqueles que elêtivamente Iêem o que escrevo A existência desses leitores de came e osso manifestase de diferentes maneiras sendo a mais concreta de todas expressa em cifrõe e cifrinha tornase indiscutível a existência de leito res quando se sabe que cerca de 10 por cento do que eles pagam quando compram livros vão para os bolsos àoa ritÃr Magros bolsos Cidadãos sabidamente econômicos os autores podem com tal verba no lrm do ano finaaciar uma pizza média para a famflia brindando no chope qt u uopárhu a generosa fidelidade dos leitores que financiam tão frugat repasto Benditos leitores Tais leitores que algum desafeto da laboriosa classe dos escritores poderia reduzir à categoria de compradoresconsu midores de livros vão às vezes além dessa existência grossei ramente econômica Sobem na vida e ganham por assià dizer o estatuto de leitores mais íntimos são aqueles que numa aula numa palestra ou numa carta abordam o araitoa paa guntando concordando referindo citando Dizendo em re sumo que leram J O eitore5 esses temívii dsconhecidoj 35 Desses leitoresinterlocutores de carne e osso os que dis cordam são dignos do maior apreço Os que reclamam então são os preÍeridos muito embora não sejam necessariamente os pretendidos escrevese afinal para qwe se concorde corr o que se escreve Ao escrever não importa se resenha de jornal redação de escola texto para congresso capítulo para Iivro ou até mesmo uma prova para alunos tmse a inten çáo de convencer os leitores do que se diz e da qualidade e da adequação do texto em que se diz o que se diz Com tal objetivo o escritor faz a hneza e a justiça de expor aos leitores seus melhores argumentos tentando trans Íormálos assim em interlocutores e comparsas os quais tanto mais se respeita quanto mais se lhes dão piparotes pal madas e piscadelas de olhos ingredientes fundamentais do pacto que escritores e leitores celebram desde que o mundo passou a circular em folhas impressas reunidas em livros ven didos em lojas especializadas No entanto por mais que através de gracinhas ou graço nas o autor tente torrlarse íntimo de seus leitores fazendo os crer que compartilham de sua intimidade tal esforço talvez não apague nem atenue a distância que separa autores de lei tores o leitor é irmão mas é hipócrita Me smo quando urn autor se lê lêse com olhos viciados num ato de leitura quase incestuoso é de antemão conivente com o que disse escrevendo Elhe proscrito como autor do texto que lê o distanciamento a surpresa o diálogo Como autor élhe vedado o gesto que sela a suprema liberdade do leitor fechar o livro Como autor éJhe vedado desligar o micro empurrar a máquina fechar a caneta abandonar o lápis tem de cumprir até o fim sua luta com as palavras com a falta delas com o calor com a música do vizinho e a televi são das crianças com o prazo do editor e finalmente coin o Ieitor que sempre o ameaça com suas prerrogativas de aban dono definitivo do texto No entanto por mais que o narcisismo dos escribas possa comprazerse em intermináveis considerações autogratiÍican tes sobre eu d meus leitores que podem nada mais ser do que 34 I I I I L I I I 3ó DO À1UNDO DA LEITURA PARA À LEITURA DO MUNOO projeções deles escritores confio aos gentis leitores a tarefa de se explicarem ou se demitirem e no espaço que resta emi gro para considerações outras feitas agora do ponto de vista de leitora particularmente do ponto de vista de leitora cativa e profissional de textos que tematizam leitura literatura livros infantis e juvenis no contexto da escola brasileira de hoje Como leitora assídua de rais textos ocupo posiçào muito mais confortávelt posso como já disse fechár o liu quarrdo quiser Mas posso sobretudo exrair da fragitidade aparente dessa posição de quem usualmente não temlcesso à palavra e conseqüentemente parece não ter direito à vor a imesa força do silêncio e da solidão Solidão e silêncio no entanto talvez só aparentes Pois desconfio e meus botões compartilham desta descon fiança que os textos que tematizam leitura no contexto esco lar não têm leitores inclividuais pois na condição de leitores profissionais somos só coletivo Ou melhor dizendo encostamos nossa solidão e nossa identidade na identidade e na solidão de milhares centenas milhões de criaturas que comigo e conosco integràm o seg mento de público para o qual escrevem os que escrevem sobre tals assuntos Como membro de um hipotético clube de leitores profis sronals poslo que anônimos fica interessalte conversar sobre seus estatutos pressupostos e regulamentos discutindo os direi tos e os deveres dos associados e o regulamento da agremiação Todos nós membros desse clube somos leitores muito especiais Nosso parentesco ultrapassa idiossincrasias como gostarmos de Machado de Assis e não gostarmos de Sidney Sheldon Aparentamonos pela força de nossos pgor plá prestígio de nosso compromisso com textos e liuor plla áu da conhança e expectativa que a comunidade deposita em nós no que tange à leitura Dizendo de outra forma e temperando aspalavras com dose generosade otimismo apaentamonos pela posição que ocupamos no sistema rltrj constituindo uma espécie de corporação de leitores oficiais confraria que i I Os leilore esses lemíveis derconhecidos 37 dispõe de autoridade e razoável poder l em assuntos de leitura e de linguagem Somos em uma palavra profissionais da leitura esta polêmica senhora que nos reúne em tão concorridos saraus E porque somos ou vá Iá gostamos de pensar que somos avalistas arautos mediadores e intermediários dos textos que almejam circular na escola e nos seus arredores trans formamonos em alvo dos que pretendem as mãos os olhos e os bolsos das crianças e jovens já igualmente desindividualiza dos na categoria leitora dtlfurosinJantis oujuuenis que aguardam de nossas recomendações oficiais e conversas oficiosas o sinal verde Sinal que também aguardam crianças jovens e mestres de ambos para que Iendo tais livros sagremse leitores Assim atingir esse leitorado público consumidor infan til ou juvenil que a escola se incumbe de arregimentar reunir e homogeneizar em torno de uma categoria qualquer prélei tores ou préadolescentes quinta série ou segundo grau supõe em primeira instância atingirnos a nós A nós a quem cabe a decisão sobre o que é melhor mais adequado mais desejá vel mais indicado para este ou aquele contingente de jovens acidental e cilcunstancialmente sob nossa influência e respon sabilidade É es responsabilidade que nos transforma de leitores em uma espécie de atravessadores num mercado organizado em função de uma clientela que mantém relações enviesadas com a mercadoria que compra é para legitimar e avalizar tal viés que precisamos ser seduzidos não só pelo texto que indi camos para nossos pupilos mas pelo texto que falando sobre eletexto apresentao divulgao promoveo em uma palavra pelo texto que o vende isto é catálogos livros do professor apresentações de coleção e similares É pois funclamental que compreendamos o papel de Ie i tor que tais textos nos reservam E para tal compreensão pre cisamos contemplar à luz clara do meiodia o retrato de nós mesmo que esses textos apresentam Em outras palavras a imagem com que tais textos nos representam corre o risco de afivelarse ao nosso rosto como máscara deixando nossa face na sombra I 1 i 38 DO MUNDO DA IEIÍIRA PÂRA A LT ITURÀ OO MUNOO Or leitores esses temíveis desconhecidor 39 rosíssimo retrato e perguntese ou sobretudo respondase quem o tirou de que ponto de vista com que tipo de máquina com que finalidade e para que álbum Se as respostas a tais questões podem congelar um pouco o sorriso que brota da contemplação da foto elas também fazem aceítar com naturalidade as eventuais rugas e cabelos brancos que o retrato por ser retocado acabou omitindo Pois o retrato acima apresentado é a nossa imagem tal como ela nos é apresentada por quem nos uende os livros que deoemos aender aos alunos Vendas já se vê muito pouco meta fóricas certamente a partir de um ponto qualquer transfor mam em consumidores pagantes aqueles leitores tão inofenii vamente virtuais de que falamos quando academicamente falamos de leitores Mas tal imagem Iisonjeira um pouco inve rídica por que muito retocada certamente se constrói com material cunhado em situações nas quais diferentes escalões de profis sionais de leitura constroem e afinam a linguagem com a qual falando de leitura falam de si mesmos construindo sua identidade de leitoresprofissionais E se muitas vezes nessa linguagem figura com destaque uma retórica salvacionista e apocalíptica é nela que se encontram os elementos que ideo logicamente rearranjados transformam livros leituras e leito res em mercadorias como qualquer outra tão mercadoria que cumpre vendêla e comprála É exatamente para que a vendamos com eficiência que comissão antecipadamente paga nosso retrato é traçado de forma tão lisonjeira apresentado como feição do rosto o que é perfil desejado do produto fixando como expressão dos olhos o que é rótulo de embalagem E evidentemente conta giando o produto com a qualidade do agente de vendas ofus cado e emudecido pela surpresa de verse retratado em cores e formas tão favoráveis Catálogos de editoras quartas capas e contracapas de coleções infantis e juvenis orelhas e apresentações de Iivros didáticos e paradidáticos são as galerias de onde nos contem plam esses incríveis retratos de nós mesmos E que imagem de leitor tais textos apresentam como nossa Pararesponder à questão temse de considerar que para seduzir o leitor há que pôrse em seu lugar antecipando suas expectativas suas reações Ou seja o escritor inteiessado em seduzir o outro tem de construir hipóteses relativas ao leitor que deseja seduzir Dentre tais hipóteses algumas são mais importantes do que outras E dentre as mais importantes salientamse as que respondem a questões que quem almeja a sedução tem de responderse 1 que imagem estea outroa tem de si mesmoa 2 que imagem estea outroa gortáia qre tivesse delea Enquanto como leitores a história nos reserva o papel de seduzidosas e não de sedutores como detetives de urrrbàn livro policial vamos em busca não já do criminoso mas da vítima nós mesmos professores e educadores envolvidos corn a leitura na imagem que de nós traça o material didático e paradidático que pretende com nosso apoio e aval chegar aos consumidores escolares Mas é diÍicil que nos reconheçamos como vítimas por que desconharíamos de uma fotografia qr ro paaru como professores modernos sinceramente mpenhádos em Totiyl 1 leitura dos jovens levemente desconfiados do papel dos clássicos em ral empresa profundamente insatisfeitos càm o autorilarismo de avaliações sistemáricas e rigorosas de ativi dades de leitura comprometidos com o prré e não com o dever da leitura informado orrrrrldos da importância da imaginação e da fantasia na formação do jovem e sobre tudo honestamente comprometidos com um projeto de educa ção que conduz à leitura crítica do mundo1 Por que desconfiaríamos de tão belo retrato Sorrimos de beatitude na contemplação de tão simpático retrato somos nós mesmos tão mal pagos tão desprepaiados tão assoberbados de aulas Reconhecemonos nessa eircientÍs sima mode rna e simpática figura Sim e não Somos e não somos Para dialetizar esse hamletiano ser e não ser suspenda se por instantes a gratificante contemplação desse nossá gene i I E I I tl ú l I 1 40 DO MUNDO D LEITURA PA RA A LEITURA DO MUNDO Que se são sedutores e é inevitável que o sejam não precisam pela força da sedução que exercem fecharnos os olhos para eventuais discrepâncias entre o retrato e seu modelo Ou seja há que indagarse íace a cada material que recebemos para eventual adoção 6u ou esse mesmo que estd aí representado Se eu sou assim tão bom criatiuo responsáuel competenle c intcressado á neccssdrio que estc liuro rtenha me dizer isso Esti mate rial que me declara interessado competenle rcsponsáael críatiao i o material que um educador com tais predicados elegeria para trabalhar É claro que não se descarta a hipótese de que a resposta a todas essas questões seja afirmativa e que no solitário diá logo com nossos botões nos consideremos competentes reco nheçamos em uma ou outra peça publicitária o àireito de pro clamar essa nossa competência e mais ainda que acheios este ou aquele livro muito bom e que o transformemos em ins trumento de nossa proclamada competência Em princípio tudo isso é possível E deve mesmoy ser verdadeiro em certos casos Mas nao sempre nem ern lodos os casos E é essa dúvida que torna oportuno que em regra geral como leitores tenhamos uma saudável desconfianta fãce a I Srulqr máscara de leitor assim ou assado qre ro qreiu rmprngtr 11 que na esteira de Cecília Meirele s a contempla 1 eão no espelho que nos põem na mão seja solitária foima única de buscar resposta menos provisória à pergunta funda rrental em que espelho ficou perdida a minha Jace I L O Leitor como Protagonista O texto de Marisa Lajolo Os leitores esses temíveis desconhecidos apresenta uma reflexão profunda sobre a relação entre leitor e escritor especialmente no contexto da produção textual voltada para o público leitor Ela destaca a importância central do leitor como o destinatário final de qualquer texto escrito seja ele um romance um ensaio acadêmico ou um livro didático Lajolo coloca o leitor no papel principal dessa relação enfatizando que é o leitor quem segurando o livro faz perguntas ao escritor O escritor por sua vez deve cativar o leitor desde o aluno que escreve uma redação até o autor de bestsellers milionários A chave para cativar o leitor é encontrar no texto o que ele busca superando suas expectativas A frustração das expectativas do leitor tem um preço alto para o autor a indiferença do público e notas baixas Mesmo sendo voláteis os leitores têm um poder imenso Cerca de 10 do que eles pagam por livros vão para os bolsos dos autores mostrando a importância econômica dos leitores na vida dos escritores Além disso há leitores que vão além de simples consumidores são os que interagem perguntam concordam discordam Os que discordam especialmente são dignos de apreço pois desafiam e enriquecem o diálogo Lajolo destaca que ao escrever o autor tem a intenção de convencer os leitores do que está dizendo e da qualidade do texto É um pacto entre escritores e leitores desde os primórdios da circulação de livros No entanto mesmo que o autor tente se tornar íntimo do leitor através do texto há uma distância entre autor e leitor O leitor quando lê já tem uma predisposição uma conivência com o que está escrito o que limita o diálogo verdadeiro Lajolo também discute o papel dos leitoresprofissionais especialmente no contexto educacional Professores e educadores têm a responsabilidade de selecionar materiais de leitura para os alunos sendo atravessadores entre os livros e os jovens leitores Eles são influenciados pela linguagem e imagens que os materiais didáticos e paradidáticos apresentam O texto que vende o livro é tão importante quanto o próprio livro pois influencia na escolha dos leitores A autora nos convida a uma reflexão sobre a imagem de leitor que tais textos nos apresentam Devemos nos questionar se nos reconhecemos nessa imagem se ela é verdadeira ou se é uma máscara que nos é imposta Ela nos alerta para a importância de manter uma saudável desconfiança diante dessa imagem lembrandonos da necessidade de nos questionarmos constantemente como leitores e como profissionais da leitura É essa dúvida que nos permite uma busca mais profundos pela nossa verdadeira face como leitores e como mediadores entre os livros e os leitores
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solrêl sêglsê6ns sop oluêulDllêotdD oêldulo3 ntpoduI ênb otsoLutê oled êpoptltqosuodsot IDJôêlut oluouê ouoputLxnsso êcêpDJôo oJolno o soltdlDd soled e Dlnltêl olêd sloutôuo so êluêLuosoiêuêÔ uJolêl êpozlujo êp olclcoxê llê Dltêpuog oJpêd ê UDLlêqllz out6êu êllouoc DtllcêJ rNtzhlX 1 ul2 Ut1Jn pri t fltrh oatra dS oJnEd ops StttttZ ttúxpl orrlurog orger8alâJ pug 9Ç98 prso4 exrea 77ç6977t tO XSVa la1 0060çf0 dSC 0II aden8I ap oprE8 pnl vs srrrv eJolrPx sopErâsal solraJtp so sopol í66I 88tr0 80 ç8 NSS x rlr rct0rt PquurroN úV soruS sàpuurâd dV eurtã oeqJ lg oyôvNrovd snâupoU saul uuÉril oyótsodroc en16 a8roI vclvtc ovSvNouooc EpâIsJ uotIIt orotrl sLxv 30 ov5rof lelolN orPuàà orx3J 30 oyôvüvdsd Platr ouyW MríOtlo3 vrcNgJsrsv 09xrrd oPueuràc tortqS í I i I I I A LEITURA LITERARIA NA ESCOLA Se por não sei que excesso de socialismo ou bar bárie toda as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino exceto uma e a discÍplina lite rária que devia ser salva pois todas asciências estão presentes no monumento literário z lllrdor os tempos mudamse as aontades sonetava Camões pela janela do século XVI E o memo constatamo nós em esferas mais baixas examinando ainda que sem o talento do poeta meia dúzia de livros didáticos ou paradidáti cos de literàtura Figurinos e modas não faltam O que parece faltar é inspiração e elegância que permitam passar da máxi à míni sem mostrar canelas escalavradas nem joelhos sujos E antes que alguém pergunte se se fala da moda ou do texto lite rário em clásse saibase que a epígrafe de Barthes é salvo conduto para tomar do universo da moda as primeiras metáforas O que fazer com ot do texto literário em sala de aula fundase ou devia fundarse em uma concePção de literatura muitas vezes deixada de lado em discussões pedagógica Estas de modo geral afastam os problemas teóricos como irrelevan tes ou elitistas diante da situação precária que dizse espera o professor de literatura numa classe de jovens A precarie daàe de tal situação costuma ser resumida nos clichês e pre I Versao anterior deste texto lbi apresentâda em mesaredonda sobre Literatura e Ensino organizada em Porto Alegre plo Goeüe lntitute PUCRS e Ássociação Intenaciorial de Leitura Consilho Brasil Sut e com o títuloO tcxto literário nâ sala de aula posteriormentê publicado no Eolzrizr da ALBS Asociação Inrerna iônâl de Leitura Conselho Brasi Sul n9 283 P 237 2 Brrtsos R4rla Sâo Paulo Cultrix 1980 P 18 l II 1 I I 12 DO MUNDO DA LEITURA PAR A LEITURA DO MUNDO conceitos que afloram quando vêm à baila temas que relacio nam jooem leitura proJessor escola liferatura e similares como sugerem as falas abaixo3 1 outros olunos pqr nõo terem hóbito ou goslo pelo leituro infelizmenle o moiorio só lêem se obrigodos Oukos oindo o minorio nõo lêem nem obrigodos isic muitos noo lêem com o desculpo de que noo lêm tempo sendo que OoIo ossrslrr V sempÍe dtspoer de iempo 1 o nosso estudonte só Íoz determinodo otividode se exlgldo e bem esti mulodo Do conlrório se entregom sic ô preguiço de ier Meso poqre eles ochom consolivo ter de ficor porodos o ler muilos vezes hiÍórios que estelom ogrodondo Só o leituro e o inceniivo pelos bons outores sic poderó melhoror o redo çõo dos oiunos codo vez mois pobre e reslriio pelo ÍV Os textos acima colhidos em diferentes escolas poderiam ser assinados por mestres do Oiapoque ao Chuí O que surge nas linhas e entrelinhas dos quatro depoimentos é rrn pofr sor que se crê investido da função sagrada de guardião jo tem plo 1á dentro o texto literário cá iora os ulrror ru potu ele o mestre sem saber se entra ou se sai ou se melhor Áesmo é que a muhidão se disperse O problema é que os rituais de iniciação propostos aos nófitos não parecem agradar o texto literáio àbto ao rlo e do culto razão de ser do templo é objeto de rrà pre discreto mas sempre incômodo desinteresse e enfado dos fiérs infrdelíssimos aliás que não pediram para ali estar Talvez venha desse desencontro de expectativas que a lingua gem pela qual se costuma falar do ensino de literatura destile o amargor e o desencanto de plestação de contas deoeres larejas e obrigações como as falas acima ilustram Para pasmo geral dos paroquianos menos informados no entanto Fernando Pessoa com a sabedoria de quem guarda rebanhos solidarizase com as ovelhas rebeldes O poetapastor proclama seu tédio perante qualquer contexto que subtraia do texto sua carga máxima de mitoi de ruptura A leiluro lilerório no escolo t3 Ai que prozer Nõo cumprir um dever Ter um livro poro ler E nôo o fozerl Ler é moçodo Estudor é nodo O sol doiro Sem liteÍotuÍ0 O rio corre bem ou mol Sem ediçôo originol I o briso esso De lõo nolurolmente molinol Como tem lempo nôo tem presso Livros sóo popéis pintodos com iinio Esludor é umo coiso em que estó indistinto A distinçõo enke nodo e coiso nenhumo4 Como já se viu dicção oposta à de Pessoa é a que ressoa nas vozes ouvidas na pesquisa da editora Abril E curiosa mente é uma voz tão marcial quanto amarga a que reponta nos testemunhos dos mestres aparentemente satisfeitos com seu desempenho face aos papái pinlados com tinta Motivomos o closse o ler o ler sempre poucos sõo os comentórios de follo de interesse iolvez porque repito sempre o sogon quem nôo lê mol folo moi ouve mol vê Lêem porque eu incentivo muilo e ôs vezes oté dromotizo o ossunlo resumÊ domenle poro que o oluno se inieresse mois por leituro Após um lrobolho órduo e longo o hóbito de lituro porece teÍ sido implontodo5 As falas acima revelam a consciência tranqüila do dever cumprido proclamam o sucesso da terapêutica cuja violência no entanto parece deixar cicatrizes atê ta voz do terapeuta o vocabulário é repassado de obrigações e cobranças trabalho Pssso Fernando Liberdade In Ohtu loAna3 êd Rio dc Janero Nova Asuilar p 188 s Ver nota 3 Parâ contrastar os resultados desta pesquisa com outra consultâr Sal diva Ássociados PÍopâgânda Ltda Estudo motivacional sobre hábitos de leitu ra rcâlizadâ m 1987 pâra a Câmara Brasileira do Livro e Associação Pâulista de Fabricantes de Pâpl Celulose São Paulo Câmara Brasileira do Livro 1988 II I Os texros de professores foram exlaídos dc pesqursa feÍa petâ Abril Educação como pârte dâ promoçãô da Série Literatura Comntida tançaáa naionar rSBi l4 DO MUNDO DA TEITURA PÂRA A LITURA DO MUNDO A leituro iierórlo no escolo t5 o lexto literório na sala de aula sela ainda de süa competência Já faz alguns anos que decidir isso é da competência de editoras livros didáticos e paradidáticos muitos dos quais se afirmaram como quase monopolizadores do mercado escolar na razão direta em que tiraram dos ombros dos professores a tarefa de preparar as aulas O que há então para o professor é um script de autoria alheia para cuja composição ele não foi chamado leiturajogra lizada testes de múltipla escolha perguntas abertas ou semi abertas reescritura de textos resumos comentados são alguns dos números mais atuais do espetáculo que ao Iongo do territó rio nacional mestres menos ou mais treinados estrelam para platéias às vezes desatentas às vezes rebeldes quase sempre desinteressadas sobrando a seção de queixas e reclamações para congressos seminários cursos de atualização e congêne res ou então pesquisas como a que aqui está sendo comentada Talvez náa se tenha refletido ainda o bastante sobre alguns traços que modernas pedagogias e certos modelos de escola renovada imprimiram à educação principalmente ao ensino de literatura Nesse sentido urge discutir por exemplo o con ceito de molioaçã0 porque é em nome dele que a obra literária pode ser completamente desfigurada na prática escolar Propor palavras cruzadas sugerir identificação com uma ou outra per sonagem dramatizar textos e similares atividades que manuais escolares propóem é periférico ao ato de leitura ao contato solitário e profundo que o texto literário pede Ou o texto unl sentido âomunào ou ele não tem sen aúí nenhum E o mesmo se pode dizer de nossas g1 O texto em sala de aula é geralmente objeto de técni cas de análise remotamente inspiradas em teorias literárias de extração universitária Mas se no âmbito universitário a teoria literária pode ainda preservar uma semântica geral do textor na transposição das ditas teorias para o contexto didá tico esse sentido maior costuma adelgaçarse e rarefazerse a ponto de ficar quase irreconhecível 7 Na escola anulase a 7 Cl Auener Emília O ensino de literatura no segundo grau Disserração de mcslrado mimeo IElUnicamp 986 LÂJoLo M Leitura e lirarura mais que uma rima e menos que uma soluçâo n ZILBERMAN R SrLv E Theo doro da orgs Lttuto pdtpetita intrdirúinard São Paulo Aricã 1988 longo e árduo atiaidade exigida leitura obrigatória expressões cin zentas e duras em harmonia com uma escola como a brasi leira amarga e curtida por políticas educacionais equivocadas A função desse professor bemsucedido confinase ao papel de propagandista persuasivo de um produto a leitura que sob a avalanche do marketing e do merchandising cor á iro de perder ao menos em parte sua especificidáde i i A compreensão desse estado de coisas parece fundamen ral ilumina o conrexro escolar brasileiro no qual discussões Jorlr e propostas pdra usos do texto literóio em classe podem trans formarse em armadiha para o professor que sentindose fra gilizado busca respostas imediatas pr sàr problemas con cretos As propostas transformamse em armadilha quando patrocinam discussões das quais se sai com as técnicas debaixo 1 do braÇo e confiante na terapêutica Técnicas ilgo puu l1 convívio harmonioso com o f exto não existem urqre urri se proclamam são mistificadoras pois estabelecem uma har monia só aparente mantendo intato quando já instalado o desencontro entre leitor e texto Vários professores ouvidos na pesquisa da editora Abril têm sugestões a íazer Tratase geralmente de propostas que somam ao idealismo ingênuo o imediatismo das soluções enla tadas sugestões bemintencionadas sem dúüda que reduzem o atrito e aumentam a digestibilidade da aula mas iid lp frcialmente com a questão resolvendo o problema pelo seu con torno passando ao largo das zonas profundas de conflito os livros deveriom ser mois dinomizodos e orelodos serio preciso levor obros literórios oié os olunos de umo moneiro rnfe ligenie inteÍessonte e proveitoso serio importonte ter um oudiovisuol de literoturo 6 Mas ouvir professores é tarefa de amor como dizia Bilac a propósito de estrelas tarefa de amor pois talvez o professor seja peça secundária na escola de hoje e conseqüeniemente sua voz se faça ouvir com timidezro qlapitu aos desti nos do texto literário em classe Não p qr o que fazer com l I I l6 DO MUNDO DA LEITURA PARA A LEITURA DO MUN DO ambigüidade o meiotom a conotação sutis demais para uma pedagogia do texto que consome técnicas de interpreta ção como se consomem pipocas e refrigerantes De modo geral não se pode e talvez nem se cleva fugir a alguns encaminhamentos mais tradicionais no ensino da literatura por exemplo a inscrição do íexto na época de sua pro dução trra vez que textos assim contextualizados nos dão acesso a uma historicidade muito concreta e encarnada à qual se cola a obra de arte à revelia ou não das intenções do autor outro caminho a inscrição no lexto do conjutlo dos pincpa juí zos críticos que sobre ele se foram acumulnndo fundamental para fazer o aluno vivenciar a complexidade da instituição literária que não se compõe exclusivamente de textos literários mas sim do conjunto destes mais todos os outros por estes inspirados outro exemplo ainda a inscrição da e no texlo no e do cotidiano do aluno entendendo que este cotidiano abrange desde o mundo conlemporâneo no que essa expressão tem intencio nalmente de vago e de amplo até os impasses individuais vivi dos por cada um nos arredores da leitura de cada texto Se o professor não conhece tais impasses e provavel mente não os conhece nem precisa conhecêlos a vivência que tem de seus impasses e a forma como diferentes textos dia logam com tais impasses são suficientes para sugerir comentá rios perguntas e atividades que encaminhem nessa direção o trabalho com o texfô Numa última perspectiva o desencontro literaturajovens que explode na escola parece mero sintoma de um desencon tro maior que nós professores também vivemos Os alunos não lêem nem nós os alunos escrevem mal e nós tam bém Mas ao contrário de nós os alunos não estão investi dos de nada E o bocejo que oferecem à nossa explicação sobre o realismo fantástico de Incidente em Anlarrr ou sobre a metalin guagem de Memórias póstumas de Brás Cubas é incômodo e sub versivo porque sinaliza nossos impasses Mas sinalizando os ajuda a superáos Pois só superandoos é que em nossas aulas se pode cumprir da melhor maneira possível o espaço de liberdade e subversão que em certas condições instaura se pelo e no texto literário l I iE i OS LEITORES ESSES TEMIVEIS DESCONHECIDOS Se o autor real deve ser considerado como ambÍ guo e mistefloso perdido na história parece igualmente verdade que o leitor real perdido na história contemporânea não é menos misterioso nem às vezes irrelevante2 EL na posiçào do leiror que se enconrram as credenciais mais fortes para quem quer discutir o perhl do indivíduo que livro aberto nas mãos no silêncio de sua leitura pergunta ao escritor que não pode esquivarse da resposta lrouJtlste a chaae Corr ou sem chave leitor e escritor são faces da mesma moeda não obstante as quedasdebraço em que às vezes ambos se confrontam Quem quer que já tenha algum dia rabiscado maltraça das colocase no papel de alguém que tem de cativar seus lei tores Pois o leitor como o freguês do botequim parece que tem sempre razão Do aluno obrigado a escrever uma redação que lhe garanta nota mínima na prova ao festejado autor de beslsellers mtlioná ríos o lrazer ou não a chaue é senha para cativar leitoresi tanto o professor que encomenda a redação quanto o público que deve consumir o romance ambos precisam encontrar no texto quc I Este texto foi originalmente âpresentado na mesa rcdonda De leitor para leitores a produção do que s Iê duíaÍrte o 7f Congresso de Leiturâ dô Brasil realizadi em Campinas em 1989 e postêriormentc publicado com o tírulo De autores leito res em forma dc fantasma ou não nos anais do referido congÍesso GIBsoN Waher Aurhors speakers ând mock reâders Inr Tovrrrs Jane org Radd rponrê cittsu Baltimore London Thelohn Hopkins University Press 1980 DO MUNDO DA LEITURA PÂRÁ A LEITUR DO MUNDO lêem o que nele foram buscar se encontram mais do que espe ravam melhor para eles se encontram ros pioi pu o autor que pode ter perdido no desencanto do desencontro seu precioso leitor Da adequação ao tema à excitação das cenas eróticas do suspense sobre quem matou Roger Ackroyd à perfeição das crases e concordâncias a frustração das expectâtivas do leitor tem preço alto a indiferença do público e a nota baixa se equivalem como gesto soberano de o leitor dizer ao escriba não não lrouxesle a chaue Assim sendo leitores desfrutam de imenso pocler aincla que sejam extremamente voláteis mas não Àstante essa impalpabilidade o autor precisa crer na existência desses eva nescentes seres de óculos e mais ainda crer que há vida inte ligente por detrás dos óculos Não rrrri impalpável ser supralingüístico faz os escritores definharem e até màrerem Eu por exemplo creio firmemente na existência de tais seres ou seja acredito que disponho de leitores que os tenho de diferentes tipos e confesso que prehro os mais visíveis aqueles que elêtivamente Iêem o que escrevo A existência desses leitores de came e osso manifestase de diferentes maneiras sendo a mais concreta de todas expressa em cifrõe e cifrinha tornase indiscutível a existência de leito res quando se sabe que cerca de 10 por cento do que eles pagam quando compram livros vão para os bolsos àoa ritÃr Magros bolsos Cidadãos sabidamente econômicos os autores podem com tal verba no lrm do ano finaaciar uma pizza média para a famflia brindando no chope qt u uopárhu a generosa fidelidade dos leitores que financiam tão frugat repasto Benditos leitores Tais leitores que algum desafeto da laboriosa classe dos escritores poderia reduzir à categoria de compradoresconsu midores de livros vão às vezes além dessa existência grossei ramente econômica Sobem na vida e ganham por assià dizer o estatuto de leitores mais íntimos são aqueles que numa aula numa palestra ou numa carta abordam o araitoa paa guntando concordando referindo citando Dizendo em re sumo que leram J O eitore5 esses temívii dsconhecidoj 35 Desses leitoresinterlocutores de carne e osso os que dis cordam são dignos do maior apreço Os que reclamam então são os preÍeridos muito embora não sejam necessariamente os pretendidos escrevese afinal para qwe se concorde corr o que se escreve Ao escrever não importa se resenha de jornal redação de escola texto para congresso capítulo para Iivro ou até mesmo uma prova para alunos tmse a inten çáo de convencer os leitores do que se diz e da qualidade e da adequação do texto em que se diz o que se diz Com tal objetivo o escritor faz a hneza e a justiça de expor aos leitores seus melhores argumentos tentando trans Íormálos assim em interlocutores e comparsas os quais tanto mais se respeita quanto mais se lhes dão piparotes pal madas e piscadelas de olhos ingredientes fundamentais do pacto que escritores e leitores celebram desde que o mundo passou a circular em folhas impressas reunidas em livros ven didos em lojas especializadas No entanto por mais que através de gracinhas ou graço nas o autor tente torrlarse íntimo de seus leitores fazendo os crer que compartilham de sua intimidade tal esforço talvez não apague nem atenue a distância que separa autores de lei tores o leitor é irmão mas é hipócrita Me smo quando urn autor se lê lêse com olhos viciados num ato de leitura quase incestuoso é de antemão conivente com o que disse escrevendo Elhe proscrito como autor do texto que lê o distanciamento a surpresa o diálogo Como autor élhe vedado o gesto que sela a suprema liberdade do leitor fechar o livro Como autor éJhe vedado desligar o micro empurrar a máquina fechar a caneta abandonar o lápis tem de cumprir até o fim sua luta com as palavras com a falta delas com o calor com a música do vizinho e a televi são das crianças com o prazo do editor e finalmente coin o Ieitor que sempre o ameaça com suas prerrogativas de aban dono definitivo do texto No entanto por mais que o narcisismo dos escribas possa comprazerse em intermináveis considerações autogratiÍican tes sobre eu d meus leitores que podem nada mais ser do que 34 I I I I L I I I 3ó DO À1UNDO DA LEITURA PARA À LEITURA DO MUNOO projeções deles escritores confio aos gentis leitores a tarefa de se explicarem ou se demitirem e no espaço que resta emi gro para considerações outras feitas agora do ponto de vista de leitora particularmente do ponto de vista de leitora cativa e profissional de textos que tematizam leitura literatura livros infantis e juvenis no contexto da escola brasileira de hoje Como leitora assídua de rais textos ocupo posiçào muito mais confortávelt posso como já disse fechár o liu quarrdo quiser Mas posso sobretudo exrair da fragitidade aparente dessa posição de quem usualmente não temlcesso à palavra e conseqüentemente parece não ter direito à vor a imesa força do silêncio e da solidão Solidão e silêncio no entanto talvez só aparentes Pois desconfio e meus botões compartilham desta descon fiança que os textos que tematizam leitura no contexto esco lar não têm leitores inclividuais pois na condição de leitores profissionais somos só coletivo Ou melhor dizendo encostamos nossa solidão e nossa identidade na identidade e na solidão de milhares centenas milhões de criaturas que comigo e conosco integràm o seg mento de público para o qual escrevem os que escrevem sobre tals assuntos Como membro de um hipotético clube de leitores profis sronals poslo que anônimos fica interessalte conversar sobre seus estatutos pressupostos e regulamentos discutindo os direi tos e os deveres dos associados e o regulamento da agremiação Todos nós membros desse clube somos leitores muito especiais Nosso parentesco ultrapassa idiossincrasias como gostarmos de Machado de Assis e não gostarmos de Sidney Sheldon Aparentamonos pela força de nossos pgor plá prestígio de nosso compromisso com textos e liuor plla áu da conhança e expectativa que a comunidade deposita em nós no que tange à leitura Dizendo de outra forma e temperando aspalavras com dose generosade otimismo apaentamonos pela posição que ocupamos no sistema rltrj constituindo uma espécie de corporação de leitores oficiais confraria que i I Os leilore esses lemíveis derconhecidos 37 dispõe de autoridade e razoável poder l em assuntos de leitura e de linguagem Somos em uma palavra profissionais da leitura esta polêmica senhora que nos reúne em tão concorridos saraus E porque somos ou vá Iá gostamos de pensar que somos avalistas arautos mediadores e intermediários dos textos que almejam circular na escola e nos seus arredores trans formamonos em alvo dos que pretendem as mãos os olhos e os bolsos das crianças e jovens já igualmente desindividualiza dos na categoria leitora dtlfurosinJantis oujuuenis que aguardam de nossas recomendações oficiais e conversas oficiosas o sinal verde Sinal que também aguardam crianças jovens e mestres de ambos para que Iendo tais livros sagremse leitores Assim atingir esse leitorado público consumidor infan til ou juvenil que a escola se incumbe de arregimentar reunir e homogeneizar em torno de uma categoria qualquer prélei tores ou préadolescentes quinta série ou segundo grau supõe em primeira instância atingirnos a nós A nós a quem cabe a decisão sobre o que é melhor mais adequado mais desejá vel mais indicado para este ou aquele contingente de jovens acidental e cilcunstancialmente sob nossa influência e respon sabilidade É es responsabilidade que nos transforma de leitores em uma espécie de atravessadores num mercado organizado em função de uma clientela que mantém relações enviesadas com a mercadoria que compra é para legitimar e avalizar tal viés que precisamos ser seduzidos não só pelo texto que indi camos para nossos pupilos mas pelo texto que falando sobre eletexto apresentao divulgao promoveo em uma palavra pelo texto que o vende isto é catálogos livros do professor apresentações de coleção e similares É pois funclamental que compreendamos o papel de Ie i tor que tais textos nos reservam E para tal compreensão pre cisamos contemplar à luz clara do meiodia o retrato de nós mesmo que esses textos apresentam Em outras palavras a imagem com que tais textos nos representam corre o risco de afivelarse ao nosso rosto como máscara deixando nossa face na sombra I 1 i 38 DO MUNDO DA IEIÍIRA PÂRA A LT ITURÀ OO MUNOO Or leitores esses temíveis desconhecidor 39 rosíssimo retrato e perguntese ou sobretudo respondase quem o tirou de que ponto de vista com que tipo de máquina com que finalidade e para que álbum Se as respostas a tais questões podem congelar um pouco o sorriso que brota da contemplação da foto elas também fazem aceítar com naturalidade as eventuais rugas e cabelos brancos que o retrato por ser retocado acabou omitindo Pois o retrato acima apresentado é a nossa imagem tal como ela nos é apresentada por quem nos uende os livros que deoemos aender aos alunos Vendas já se vê muito pouco meta fóricas certamente a partir de um ponto qualquer transfor mam em consumidores pagantes aqueles leitores tão inofenii vamente virtuais de que falamos quando academicamente falamos de leitores Mas tal imagem Iisonjeira um pouco inve rídica por que muito retocada certamente se constrói com material cunhado em situações nas quais diferentes escalões de profis sionais de leitura constroem e afinam a linguagem com a qual falando de leitura falam de si mesmos construindo sua identidade de leitoresprofissionais E se muitas vezes nessa linguagem figura com destaque uma retórica salvacionista e apocalíptica é nela que se encontram os elementos que ideo logicamente rearranjados transformam livros leituras e leito res em mercadorias como qualquer outra tão mercadoria que cumpre vendêla e comprála É exatamente para que a vendamos com eficiência que comissão antecipadamente paga nosso retrato é traçado de forma tão lisonjeira apresentado como feição do rosto o que é perfil desejado do produto fixando como expressão dos olhos o que é rótulo de embalagem E evidentemente conta giando o produto com a qualidade do agente de vendas ofus cado e emudecido pela surpresa de verse retratado em cores e formas tão favoráveis Catálogos de editoras quartas capas e contracapas de coleções infantis e juvenis orelhas e apresentações de Iivros didáticos e paradidáticos são as galerias de onde nos contem plam esses incríveis retratos de nós mesmos E que imagem de leitor tais textos apresentam como nossa Pararesponder à questão temse de considerar que para seduzir o leitor há que pôrse em seu lugar antecipando suas expectativas suas reações Ou seja o escritor inteiessado em seduzir o outro tem de construir hipóteses relativas ao leitor que deseja seduzir Dentre tais hipóteses algumas são mais importantes do que outras E dentre as mais importantes salientamse as que respondem a questões que quem almeja a sedução tem de responderse 1 que imagem estea outroa tem de si mesmoa 2 que imagem estea outroa gortáia qre tivesse delea Enquanto como leitores a história nos reserva o papel de seduzidosas e não de sedutores como detetives de urrrbàn livro policial vamos em busca não já do criminoso mas da vítima nós mesmos professores e educadores envolvidos corn a leitura na imagem que de nós traça o material didático e paradidático que pretende com nosso apoio e aval chegar aos consumidores escolares Mas é diÍicil que nos reconheçamos como vítimas por que desconharíamos de uma fotografia qr ro paaru como professores modernos sinceramente mpenhádos em Totiyl 1 leitura dos jovens levemente desconfiados do papel dos clássicos em ral empresa profundamente insatisfeitos càm o autorilarismo de avaliações sistemáricas e rigorosas de ativi dades de leitura comprometidos com o prré e não com o dever da leitura informado orrrrrldos da importância da imaginação e da fantasia na formação do jovem e sobre tudo honestamente comprometidos com um projeto de educa ção que conduz à leitura crítica do mundo1 Por que desconfiaríamos de tão belo retrato Sorrimos de beatitude na contemplação de tão simpático retrato somos nós mesmos tão mal pagos tão desprepaiados tão assoberbados de aulas Reconhecemonos nessa eircientÍs sima mode rna e simpática figura Sim e não Somos e não somos Para dialetizar esse hamletiano ser e não ser suspenda se por instantes a gratificante contemplação desse nossá gene i I E I I tl ú l I 1 40 DO MUNDO D LEITURA PA RA A LEITURA DO MUNDO Que se são sedutores e é inevitável que o sejam não precisam pela força da sedução que exercem fecharnos os olhos para eventuais discrepâncias entre o retrato e seu modelo Ou seja há que indagarse íace a cada material que recebemos para eventual adoção 6u ou esse mesmo que estd aí representado Se eu sou assim tão bom criatiuo responsáuel competenle c intcressado á neccssdrio que estc liuro rtenha me dizer isso Esti mate rial que me declara interessado competenle rcsponsáael críatiao i o material que um educador com tais predicados elegeria para trabalhar É claro que não se descarta a hipótese de que a resposta a todas essas questões seja afirmativa e que no solitário diá logo com nossos botões nos consideremos competentes reco nheçamos em uma ou outra peça publicitária o àireito de pro clamar essa nossa competência e mais ainda que acheios este ou aquele livro muito bom e que o transformemos em ins trumento de nossa proclamada competência Em princípio tudo isso é possível E deve mesmoy ser verdadeiro em certos casos Mas nao sempre nem ern lodos os casos E é essa dúvida que torna oportuno que em regra geral como leitores tenhamos uma saudável desconfianta fãce a I Srulqr máscara de leitor assim ou assado qre ro qreiu rmprngtr 11 que na esteira de Cecília Meirele s a contempla 1 eão no espelho que nos põem na mão seja solitária foima única de buscar resposta menos provisória à pergunta funda rrental em que espelho ficou perdida a minha Jace I L O Leitor como Protagonista O texto de Marisa Lajolo Os leitores esses temíveis desconhecidos apresenta uma reflexão profunda sobre a relação entre leitor e escritor especialmente no contexto da produção textual voltada para o público leitor Ela destaca a importância central do leitor como o destinatário final de qualquer texto escrito seja ele um romance um ensaio acadêmico ou um livro didático Lajolo coloca o leitor no papel principal dessa relação enfatizando que é o leitor quem segurando o livro faz perguntas ao escritor O escritor por sua vez deve cativar o leitor desde o aluno que escreve uma redação até o autor de bestsellers milionários A chave para cativar o leitor é encontrar no texto o que ele busca superando suas expectativas A frustração das expectativas do leitor tem um preço alto para o autor a indiferença do público e notas baixas Mesmo sendo voláteis os leitores têm um poder imenso Cerca de 10 do que eles pagam por livros vão para os bolsos dos autores mostrando a importância econômica dos leitores na vida dos escritores Além disso há leitores que vão além de simples consumidores são os que interagem perguntam concordam discordam Os que discordam especialmente são dignos de apreço pois desafiam e enriquecem o diálogo Lajolo destaca que ao escrever o autor tem a intenção de convencer os leitores do que está dizendo e da qualidade do texto É um pacto entre escritores e leitores desde os primórdios da circulação de livros No entanto mesmo que o autor tente se tornar íntimo do leitor através do texto há uma distância entre autor e leitor O leitor quando lê já tem uma predisposição uma conivência com o que está escrito o que limita o diálogo verdadeiro Lajolo também discute o papel dos leitoresprofissionais especialmente no contexto educacional Professores e educadores têm a responsabilidade de selecionar materiais de leitura para os alunos sendo atravessadores entre os livros e os jovens leitores Eles são influenciados pela linguagem e imagens que os materiais didáticos e paradidáticos apresentam O texto que vende o livro é tão importante quanto o próprio livro pois influencia na escolha dos leitores A autora nos convida a uma reflexão sobre a imagem de leitor que tais textos nos apresentam Devemos nos questionar se nos reconhecemos nessa imagem se ela é verdadeira ou se é uma máscara que nos é imposta Ela nos alerta para a importância de manter uma saudável desconfiança diante dessa imagem lembrandonos da necessidade de nos questionarmos constantemente como leitores e como profissionais da leitura É essa dúvida que nos permite uma busca mais profundos pela nossa verdadeira face como leitores e como mediadores entre os livros e os leitores