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Ética Geral e Profissional
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HISTÓRIA DAS IDEIAS ÉTICAS FRAGMENTOS Mário S F Maia APRESENTAÇÃO Esses fragmentos foram recolhidos e sistematizados nas horas de estudo para ministrar a parte geral das disciplinas de ética profissional nos cursos de Direito e ciência e tecnologia da UFERSA Esses são fragmentos de textos em geral sem grande desenvolvimento interpretativo colhidos em pesquisa bibliográfica Os fragmentos foram sistematizados para orientar uma conversa simples e interessante sobre temas existenciais profundos conduzida durante duas aulas com futuros profissionais do Direito e da Engenharia Neste quadro de uma Teoria Geral da Ética meu objetivo principal aqui foi inferir alguns modelos éticos a partir da análise da filosofia ideal e da vida vivida por alguns filósofos célebres já que reconhecidos pelo público não expert A sistematização realizada se orientou pela busca nos textos de elementos para uma descrição ideal de um determinado modelo ético Isso se deve ao objetivo principal da sistematização que é o de fornecer informações aos estudantes sobre a vida boa e justa imaginada e vivida por alguns filósofos Um modelo que possa ser refletido e interiorizado como modo de vida embora não seja esse definitivamente o objetivo desse curso Sob a análise interior de foro íntimo como no jargão jurídico podese dizer que um modelo ético é uma espécie de utopia Em geral ele não estabelece regras minuciosas de conduta mas sua principiologia sugere uma espécie de lugar para o qual devemos olhar e orientar a nossa caminhada de vida Uma forma de controle da angústia existencial No entanto sob a análise sociológica que não está completamente excluída nestes fragmentos percebese que as diferentes retóricas éticas de fundo secular ou religioso são indicativas da existência concreta dos diversos grupos sociais que compõem o complexo mosaico cultural das sociedades contemporâneas O desafio do teórico da ética é portanto pensar numa maneira realista sobre como fazer conviver com o mínimo de conflito pessoas com pensamentos diferentes M S F M em 170122 HISTÓRIA DAS IDEIAS ÉTICAS I ÉTICA SOCRÁTICA A pergunta que nos guia há um modelo ético na filosofia de Sócrates Para respondela temos que atentar para um fato inicial importante Sócrates nunca publicou um texto em sua vida ele não foi um escritor Ele nunca escreveu sobe um modelo de felicidade e de vida boa Então se há um modelo efetivamente socrático ele não pode ser obtido de fonte escrita direta1 Outro ponto importante Sócrates era conhecido pelo jeito perguntador materializado na sua técnica argumentativa que objetivava fazer nascer as ideias maiêutica Em uma palavra a filosofia de Sócrates é crítica Isso significa que se considerarmos o Sócrates descritos nos diálogos de Platão a busca por uma fala de Sócrates sobre como devemos viver nos trará pouca informação Então existe ou não uma ética socrática Uma filosofia positiva Em verdade uma das formas que considero a mais interessante de se descrever uma espécie de modelo ético socrático é partir da observação e análise da maneira como o próprio Sócrates viveu A ética socrática nesse sentido pode ser inferida a partir do seu exemplo de vida Se consideramos o Sócrates personagem ou seja o Sócrates descrito por outros escritores podemos dizer que há indício de que o próprio Sócrates concordaria com esse método indutivo Vejamos a cena descrita por Xenofonte Na cena Sócrates instado a preparar a sua defesa diz que a defesa já está pronta foi a sua própria vida Vejam 1 Obviamente não se deve esquecer da existência de estudos semânticos sobre a ética socrática felicidade Eudaimonia a partir da análise do conteúdo da obra de Platão A ideia que se quer desenvolver aqui é que a partir do que foi escrito sobre Sócrates podemos vislumbrar a ética socrática de vida ou seja do personagem platônico se extrair o ser de Sócrates Como exemplo de estudos semânticos a partir de Platão SANTOS 2010 Cena Sócrates antes do julgamento Hermógenes filho de Hipônico e amigo de Sócrates deu a seu respeito pormenores que mostram que a altura de sua linguagem se acordava plenamente com a de suas ideias Contava que vendoo discorrer sobre assuntos completamente alheios a seu processo lhe dissera Não deverias Sócrates pensar em sua apologia Ao que lhe respondeu Sócrates Não parece que lhe consagrei toda minha vida Perguntandolhe Hermógenes de que maneira Vivendo sem cometer a menor injustiça o que é a meu ver o melhor meio de preparar uma defesa XENOFONTE In SÓCRATES 1996 p 201 Então vejamos como foi efetivamente a vida de Sócrates Sócrates foi fundamentalmente uma pessoa curiosa O filósofo é um curioso As pessoas não entendiam a vida de Sócrates que era um perguntador Ele causava certo incomodo e foi morto por conta disso Para a maioria das pessoas Sócrates era um estranho que vivia perguntando aquilo que todos já sabiam para essas pessoas ele era visto como um verdadeiro chato Um perguntador neurótico diríamos hoje Essa atitude inquieta diante da vida é a própria filosofia acontecendo Sócrates excêntrico Descrito numa peço por autor do seu tempo Ameipsias assim Eu odeio Sócrates aquele mendigo tagarela que teoriza sobre tudo mas se esquece de pensar onde pode arranjar uma refeição KONSTAN 2016 P 114 Sócrates viveu de maneira simples andando em todos os lugares e falando com pessoas das mais diversas profissões e status na sociedade grega Andava pelo mercado público e ia a festas reservadas à elite Sua vestimenta era sóbria e o seu comportamento era de uma pessoa humilde sem com isso ter uma postura subserviente vide a sua fina ironia2 Claro era um perguntador Sobre a simplicidade se Sócrates Sócrates era um desajustado nessa companhia sofistas ele não cobrava pela instrução vestia trajes simples e caminhava descalço mesmo no inverno Essa dureza era também refletida nos seus alunos eles dormem ao ar livre KONSTAN 2016 p 120 2 Ver KIERKEGAARD 2013 Os verdadeiros filósofos têm uma vida autêntica A vida autêntica é a vida de alguém que vive sem medo ou melhor de alguém que consegue vencer a angústia existencial Essa angústia que é decorrente do nosso desconforto consciente ou não com a nossa mortalidadefinitude Quando analisada essa nossa angústia permite que se tenha acesso à presença a consciência do presente mais radical uma verdadeira presentificação A vida autentica é digamos uma vida fora do comum que aponta novos caminhos Há portanto uma contribuição positiva ou moral do afazer filosófico Com isso se quer dizer que a atitude crítica não é somente desconstrutiva Vejamos outra cena descrita por Xenofonte atentemos para a ausência de qualquer traço de medo e pela tranquilidade em momento que para qualquer outro é de desespero o caminho para a morte sabida Reparando que os que o acompanhavam se desfaziam em lágrimas disselhes Que é isto Agora é que achais de chorar Chego ao termo da carreira quando nada senão males posso esperar minha morte deve ser motivo de alegria para todos vós Acompanhavao certo Apolodoro alma simples e extremamente afeiçoada a Sócrates que lhe disse Não posso suportar Sócrates ver te morrer injustamente Então se diz que passandolhe de leve a mão pela cabeça Sócrates respondeu Como Meu caro Apolodoro então preferias me ver morrer justamente E ao mesmo tempo sorria XENOFONTE In SÓCRATES 1996 p 207 Em síntese a ética socrática prescreve uma vida simples presentificada vivida sem medo valorizadora da verdade e da coletividade ÉTICA EPICURISTA A ética do Jardim aponta para o prazer sereno como bem supremo e é sustentada no conhecimento verdadeiro na ciência da natureza Crenças errôneas sobre a natureza do divino tornamse fonte de tormentos e perturbações Não se deve procurar agradar com oferendas nem temer a ira dos Deuses pois eles nada têm a ver com questões humanas Epicuro procura libertar a alma dos temores infundados das crendices PESSANHA 1992 Mensagem de Epicuro em carta enviada à sua mãe encontrada por arqueólogos franceses no pórtico de uma cidade na Capadócia Turquia PESSANHA 1992 Não há o que temer quanto aos deuses Não há nada a temer quanto à morte Podese alcançar a felicidade Podese suportar a dor ÉTICA ESTÓICA AS CARTAS DE SÊNECA A filosofia estoica nasce na Grécia cerca de um século depois do desaparecimento de Sócrates É a filosofia de Zenão Cleanto e Crisipo Tem como objeto de reflexão principal a vida boa ou vida feliz que é alcançada pelo sábio VEYNE 2015 p 49 Há neste sentido uma mesma digamos comunhão de propósitos com a filosofia de Epicuro O estoicismo floresce também na cultura romana com Sêneca Epiteto e Marco Aurélio por exemplo Sêneca viveu nos primeiros anos da era cristã 1DC 63 DC Escreveu a partir do âmbito de influência cultural romana Sobre o momento e conteúdo das cartas Em Cartas a Lucílio obra a partir da qual sistematizamos algumas orientações da ética senequiana temos a filosofia de um autor maduro Os textos foram escritos por uma pessoa experiente naqueles que viriam a ser os seus últimos anos de vida3 São cartas reflexivas que falam sobre a orientação para uma boa vida Tem portanto conteúdo fundamentalmente ético O que é uma vida boa Uma análise sistemática de Cartas a Lucílio 3 as cartas a Lucílio são a forma mais amadurecida do seu pensamento Sêneca elas contem uma soma de reflexões sobre enorme variedade de problemas na sua totalidade de caráter ético CAMPOS In SÊNECA 2014 p V Uma vida simples pacata sem muitas viagens ou excitações de qualquer tipo Se tomares nas mãos o dia de hoje conseguiras depender menos do dia de amanhã talvez te apeteça perguntar como procedo eu dirteei com franqueza como alguém que vive bem mas sem esbanjamento Tenho as minhas contas em dia p 2 não viajas continuamente nem te deixas agitar por constantes deslocações Um semelhante deambular é o início duma alma doente eu de fato entendo que o primeiro sinal de um espírito bem formado consiste em ser capaz de parar e coabitar consigo mesmo p 3 Não é pobre quem tem pouco mas sim quem deseja mais p 4 Uma vida vivida sem grande apego as coisas sem grandes ambições e com discrição sem chamar a atenção Nenhum objeto dá bem estar ao seu possuidor senão quando esse está preparado para ficar sem ele p 8 Evita tudo quanto se torna notado quer na tua pessoa quer no seu estilo de vida p 10 Para começar não devemos ter ambições em segundo lugar não devemos possuir nada capaz de ser aliciante para um eventual salteador qualquer ladrão deixa em paz quem nada tem p 46 Se quiseres estar livres para cuidares da alma deverás ser pobre ou fazer vida de pobre O estudo da filosofia não dará fruto se não adotares uma vida frugal ora a frugalidade não passa de pobreza voluntária p 58 Uma vida sábia e boa é uma vida que envolve o conhecimento interior Envolve portanto uma dose de reflexão Isso não significa necessariamente uma vida completamente isolada dos outros em puro ato de contemplação individual mas uma vida equilibrada onde a felicidade seja buscada dentro de si Os teus autênticos bens são apenas de foro íntimo p 18 o sábio embora se baste a si próprio precisa de ter amigos deseja mesmo têlos no maior número possível mas não para vier uma vida feliz pois é capaz de viver uma vida feliz mesmo sem amigos p 25 Não te interessa a opinião dos outros é sempre incerta há sempre divisão de opiniões p 99 Uma vida boa é uma vida sem medo e sem angústias É uma vida presentificada ou seja vivida no presente mais radical Há nisso um caráter terapêutico O mais feliz dos homens o dono seguro de si próprio é aquele que aguarda sem ansiedade o dia seguinte Quem cotidianamente diz vivi p 36 O pânico que nos toma apensa provém de suspeitas e ilusões Não há tipo de terror tão funesto tão incontrolável como o pânico se o medo faz perder a razão o pânico gera a completa loucura É natural que no futuro nos suceda um mal qualquer o fato é que de momento ainda não existe Mesmo que seja no futuro para quê começar a sofrer antecipadamente p 42 O sábio tem firmeza de caráter não é malhumorado mas também não é de ficar fazendo graça Hoje se diz enfrentar a adversidade estoicamente sem grandes perturbações mesmo em momentos de sofrimento O que nós estoicos de fato afirmamos é que tudo o que nos suscita múrmuros e suspiros não tem a mínima importância e só merece desprezo p 40 Dizeme que te preocupa qual será o resultado de um processo intentado contra ti por um inimigo furibundo e julgas que eu te poderei persuadirte a teres melhores pensamentos e a te deixares embalar por esperanças lisonjeiras Mas para quê estares a sofrer antecipadamente com os teus males que aliás se farão sentir bem depressa e a estragares o presente com o medo do futuro p 87 Uma vida boa é uma vida equilibrada sem excessos ponderada Admito que é inata em nós a estima pelo próprio corpo admito que temos o dever de cuidar dele Não nego que devamos darlhe atenção mas nego que devamos ser seu escravo p 44 Estamos em dezembro a cidade está coberta de suor A ostentação desregrada invadiu toda a vida coletiva Será de fato uma prova segura de firmeza de animo não acompanhar não se deixar guiar por um ambiente aliciador de concessões à volúpia Se é indício de maior constância mantermonos inteiramente sóbrios em meio de uma multidão ébria a ponto de vomitar será mais moderada a nossa atitude se não situarmos à margem não nos tornando notados nem nos deixando absorver na turba p 62 o resultado duma cólera extrema é a insânia e por isso não há que evitar a cólera não tanto por obediência à moderação como para conservar a sanidade mental p 65 A filosofia como ação para a vida boa ou seja a filosofia como orientação ética comportamental efetiva O objetivo da filosofia consiste em dar forma e estrutura à nossa alma em ensinarnos um rumo na vida em orientar os nossos atos em apontarnos o que devemos fazer p 55 A filosofia nos ensina a agir não a falar p 70 A vida boa é sóbria Não pense que te escrevo para dizer como o inverno que aliás foi curto e pouco rigoroso se portou bem conosco ou como a primavera está desagradável ou como o frio chegou fora de tempo Isso são frioleiras próprias de quem fala por falar Eu só escrevo aquilo que sinto ter utilidade O que tens a fazer antes de mais caro Lucílio é aprender a ser alegre O meu desejo é que a alegria habite sempre em tua casa acreditame a verdadeira alegria é uma coisa muito séria Julgas tu que se pode pensar em desprezar a morte em abrir as portas à pobreza em refrear os prazeres em exercitar a capacidade de suportar a dor e tudo isso sem franzir a testa sempre com o rosto como diriam os nossos jovens pretensiosos descontraído Quem interioriza estes pensamentos alcança uma grande alegria mas de ar pouco sorridente p 85 A vida boa exige humildade respondendo pergunta de Lucílio Quem és tu para me dar conselhos É como companheiro de sanatório que falo contigo da nossa enfermidade e te dou parte dos medicamentos que uso Escuta portanto as minhas palavras como se estivesses me ouvindo a falar com meus botões p 101 ÉTICA EM SCHOPENHAUER Schopenhauer não fundamenta a sua filosofia numa visão dualista de mundo A visão materialista do filósofo se concentra em muitos momentos em nos fazer ver que estamos sempre diante de uma ilusão a ilusão da nossa separação radical da matéria que nos cerca Nós somos o todo nascemos dele e retornaremos a ele Tratase de uma postura digamos existencialista que nos indica que a vida é um pequeno acontecimento de subjetividade localizado temporalmente entre o nascimento e a morte É nesse particular inclusive que podemos perceber um aspecto interessante da obra de Schopenhauer a sua proximidade da visão de mundo oriental Não é infrequente as menções a literatura sânscrita ou ao pensamento budista Para o autor o fundamento da ação moral é a piedade Para ele a piedade é um fato da existência humana admirável e misterioso É justamente a piedade que torna possível aos seres humanos transpor a ideia de que somos totalmente separados uns dos outros 2014 p 109 Alguns apontamentos específicos Nós somos parte da natureza somos imortais ressignificação da vida após a morte Ora o homem é a natureza a natureza no mais alto grau de consciência de si mesma se portanto a natureza é apenas o aspecto objetivo da vontade de viver o homem uma vez convencido disso pode com razão sentirse consolado completamente com a sua morte e a dos seus amigos só tem que dar uma olhada na natureza imortal esta natureza no fundo é ele Eis portanto o que quer dizer Xiva com o linga SCHOPENHAUER 2001 p 290 sobre a justiça eterna As expressões são variadas aqui está uma em particular perante os olhos do neófito desfila a série de seres vivos e sem vida e sobre cada um deles é pronunciada a palavra invariável que se chama por este motivo a Fórmula a Mahavakya Tatoumes ou mais corretamente Tat tvam asi isto é Tu és isto SCHOPENHAUER 2001 p 373 O caráter indescritível da bondade da virtude A virtude somente pode ser percebida no comportamento não nas palavras Com efeito a virtude resulta na verdade do conhecimento só que não do conhecimento abstrato daquele que se comunica através de palavras a bondade sincera a virtude desinteressada a verdadeira nobreza não têm sua origem no conhecimento abstrato não é nas palavras que obtém a sua expressão adequada mas apenas nos fatos nos atos na conduta de uma vida de homem SCHOPENHAUEER 2001 p 386 388 A vida boa de alguém justo somente é possível quando se tem consciência que somos parte do todonatureza que o indivíduo é apenas uma ilusão o véu de Maya A ética depende de se abandonar a ilusão da subjetividadeindividualidade Digamos portanto em poucas palavras que se denomina justo quem quer que reconheça espontaneamente os limites traçados só pela moral entre o certo e o injusto e que o respeita mesmo na ausência do Estado ou de qualquer outro poder capaz de os manter o indivíduo justo para aumentar o seu bemestar nunca irá infligir sofrimentos ao outro na mesma medida o seu olhar fura o princípio da individuação o véu de Maya ele coloca o seu semelhante em pé de igualdade consigo não lhe faz mal SCHOPENHAUER 2001 p 389 A vida boa é a vida simples Querer o menos possível e conhecer o mais possível eis a máxima que conduziu minha trajetória de vida SCHOPENHAUER 2009 p 3 A felicidade do homem ordinário reside na alternância entre trabalho e prazer para mim ao contrário ambos são uma coisa só SCHPNEHAUER 2009 p 7 O sábio enfrenta a morte sem medo Vence a angústia existencial pela consciência do todo da natureza e portanto da nossa continuidade Sempre desejei uma boa morte pois quem durante toda vida foi só decerto saberá enfrentar melhor que outro esse negócio solitário Em vez de ser tomado pelo berreiro próprio a limitada capacidade dos bípedes expirarei na alegra consciência de ter cumprido a minha missão e de retornar para lá de onde emergi altamente agraciado SCHOPENHAUER 2009 p 69 O que serás após a morte embora seja nada será para ti tão natural como é agora o teu ser orgânico individual portanto deverias temer o instante da travessia Uma vez que a existência é essencialmente pessoal tampouco o termino da personalidade pode ser considerado uma perda SCHOPENHAUER 2016 p 31 A matéria pela sua persistência absoluta asseguranos uma indestrutibilidade em virtude da qual aquele que fosse incapaz de conceber uma outra poderia consolarse com uma ideia de certa imortalidade O quê dirseia a persistência de um mero pó de uma matéria bruta seria a continuidade do nosso ser Conhecem então esse pó sabem o que ele é e o que pode ser Antes de o desprezarem aprendam a conhecelo Essa matéria que não é mais que pó e cinza dentro em pouco dissolvida na água vai se tornar num cristal moldarse em plantas e animais e do seu seio misterioso desenvolver enfiem essa vida SCHOPENHAUER 2014 p 88 A vida é movimento é inconstância inferese o desapego Nossa existência não tem nenhuma base na qual apoiarse mais que o presente que se desvanece Por isso tem por forma o movimento constante sem possibilidade alguma de descanso pelo qual ansiamos SCHOPENHAUER 2016 p 77 A vida boa é presentificada As cenas de nossa vida assemelhamse às imagens de um mosaico bruto que de perto não fazem efeito mas é preciso manterse longe delas para encontra las belas Portanto conseguir algo que se deseja intensamente significa descobrir que é inútil nós sempre vivemos na expectativa de algo melhor também muitas vezes e ao mesmo tempo arrependidos com ânsia do passado O presente ao contrário apenas o aceitamos e por nada o respeitamos senão como caminho para o objetivo SCHOPENHAUER 2016 p 79 Que tolice é lamentarse e reclamar de não haver aproveitado no passado a ocasião desta ou daquela felicidade ou prazer O que mais ganhamos agora com isso A múmia ressecada de uma lembrança SCHOPENHAUER 2016 p 89 A vida boa é aquela onde se controla os desejos não se é escravo do querer inferese a vida de alguém que sabe lidar com a frustração Querer é essencialmente sofrer e como viver é querer toda a existência é essencialmente dor SHOPENHAUER 2014 p 39 O homem seduzido pela ilusão da vida individual escravo do egoísmo só vê as coisas que o tocam pessoalmente e encontra aí motivos incessantemente renovados para desejar e querer pelo contrário aquele que penetra a essência das coisas que domina o conjunto chega ao repouso de todo o desejo e de todo o querer Daí em diante a sua vontade desviase da vida repele com susto os gozos que a perpetuam O homem chega então ao estado de renúncia voluntária de resignação da tranquilidade verdadeira e da ausência absoluta de vontade SCHOPENHAUER 2014 p 114 SPINOZA ÉTICA Baruch Spiniza 1632 1677 filosofo holandês foi excomungado da Sinagoga por seu liberalismo em matéria de práticas religiosas a ética é uma doutrinada salvação pelo conhecimento de Deus Tratase de um panteísmo a ética enquanto tratado de beatitude apresentase como um racionalismo absoluto CHARDIN 1995 p 347 A razão nos leva a uma vida ética que por sua vez consiste em nos adequarmos a natureza O comportamento justo é racional A razão nos ajuda a controlar os desejos controla o querer enfrenta a frustração Uma visão panteísta Chamo de servidão a impotência humana para regular e refrear os afetos SPINOZA 2019 p 155 na vida é útil sobretudo aperfeiçoar tanto quanto pudermos o intelecto ou a razão e nisso exclusivamente consiste a suprema felicidade ou beatitude do homem SPINOZA 2019 p 205 Quem compreende a si próprio e os seus afetos clara e distintamente ama a Deus SPINOZA 2019 p 223 A Natureza é Deus a natureza não age em função de um fim pois o ente eterno e infinito que chamamos de Deus ou natureza age pela mesma necessidade pela qual existe SPINOZA 2019 p156 A vida boa é a vida de acordo com a Natureza Quanto ao bem e ao mal também não designam algo de positivo a respeito das coisas consideradas e si mesmas e nada mais são do que modos de pensar ou de noções que formamos por compararmos coisas entre si Com efeito uma única coisa pode ser má e boa ao mesmo tempo Assim por bem compreenderei aquilo que sabemos com certeza ser um meio para nos aproximarmos cada vez mais do modelo de natureza humana que estabelecemos Por mal por sua vez compreenderei aquilo que com certeza sabemos que nos impede de atingir esse modelo SPONOZA 2019 p 157 Orientações concretas de vida É útil aquilo que conduz à sociedade comum dos homens ou seja aquilo que faz com que os homens vivam em concórdia e inversamente é mau aquilo que traz discórdia à sociedade civil SPINOZA 2019 p 185 O ódio nunca pode ser bom SPINOZA 2019 p 186 O soberbo ama a presença dos parasitas ou dos aduladores enquanto odeia a dos nobres SPINOZA 2019 p 193 Não há nada que o homem livre pense menos que na morte e sua sabedoria não consiste na meditação da morte mas da vida SPINOZA 2019 p 200 Não é pelas armas entretanto que se pacificam os ânimos mas pelo amor e pela generosidade SPINOZA 2019 p 206 É comum que a concórdia seja gerada também pelo medo mas neste caso tratase de uma concórdia à qual falta a confiança Acrescentese que o medo provem da impotência de animo e que não diz respeito por isso ao uso da razão SPINOZA 2019 p 207 O cuidado com os pobres é uma incumbência da sociedade como um todo e tem em vista a utilidade comum SPINOZA 2019 p 207 Quanto ao matrimônio é certo que esta de acordo com a razão se o desejo de unir os corpos não é produzido apenas pela aparência física SPINOZA 2019 p 207 O fato é que todas as coisas acabaram por se resumir ao dinheiro Daí que sua imagem costuma ocupar inteiramente a mente do vulgo pois dificilmente podem imaginar outra espécie de alegria que não seja a que vem acompanhada da ideia de dinheiro como sua causa Esse vício entretanto só pode ser atribuído àqueles que buscam o dinheiro não porque este lhes falte ou para suprir as suas necessidades mas porque aprenderam a arte do lucro da qual muito se vangloriam SPINOZA 2019 p 209 Referências CHARDIN Pierre Teilhard O fenômeno humano São Paulo Cultrix 1995 KONSTAN David Sócrates em As nuvens de Aristófanes In MORRISON DONALD R Sócrates São Paulo Ideias e Letras 2016 PESSANHA José Américo Motta As delícias do Jardim IMS 1992 Em httpsartepensamentoimscombritemasdeliciasdojardim SANTOS Bento Silva Virtude e Eudaimonia nos diálogos socráticos Síntese Rev de Filosofia V 37 N 117 2010 5 26 SCHOPENHAUER Arthur Parerga e paraliponema pequenos escritos filosóficos Porto Alegre Zouk 2016 Conhece a ti mesmo São Paulo Martins Fontes 2014 O mundo como vontade e representação Rio de Janeiro Contraponto 2001 As dores do mundo São Paulo Edipro 2014 SÊNECA Lúcio Aneu Cartas a Lucílio Lisboa Calouste Gulbenkian 2014 SPINOZA Benedictus Ética Belo Horizonte Autêntica 2019 XENOFONTE In Os pensadores Sócrates São Paulo Nova Cultural 1996 HISTÓRIA DAS IDEIAS ÉTICAS II ÉTICA CRISTÃ Contextualização crítica psicanálise crise ética contemporânea Aunque nuestro sistema económico há enriquecido al hombre materialmente lo há emprobrecido humanamente No obstante toda la propaganda y los slogans acerca da fe em Dios del mundo ocidental de su idealismo su preocupacion espiritual nuestro sistema há creado uma cultura materialista y um hombre materialista Hay poco pensamento crítico poco sentimiento real FORMM 2013 P 100 101 Sobre o método de análise A análise cientifica dos valores religiosos fenomenologia da religião é uma análise externa e difere da analise interna que pode resultar no fenômeno da Fé Humana Muitas vezes a fé se mostra um elemento estruturante da vida humana A fé conforta e encoraja A ciência nos leva a humildade não se pode saber de tudo somos pequenos A fé sob a perspectiva essencialista é um mistério não perscrutável pelo pensamento cientifico É um mistério O que o cientista pode fazer com maior facilidade é estudar a religião institucionalizada Lembrando Weber A ética as nossas escolhas e ideias religiosas tem repercussão na maneira como nos comportamos neste mundo ou sejaneste mundo ou seja o cientista da ética analisa o que fazemos nestafazemos nesta vida que vivemos no planeta terra É o comportamento concreto das pessoas religiosas que pode ser objeto de estudo sociológico Sob esse olhar sociológico não se pode deixar de considerar a multiplicidade institucional do discurso cristão que se dissemina socialmente pela voz institucional dos agentes dasas igrejas presbiterianos pentecostais neopentecostais católicos de diversas vertentes humanistas etc Ainda sob o olhar sociológico pode se dizer que no Brasil atual o protestantismo institucional evangélicos vive uma espécie de mudança de status Deixa de ser discurso culturalmente periférico e passa a ocupar o centro institucional da República bancada institucional no congresso4 associações de juristas e empresários etc Há uma capitalização cultural dos valores do grupo na economia de bens simbólicos5 A existência dessa multiplicidade institucional do cristianismo nacional e o contexto cultural atual justificaram ao nosso ver o interesse na produção do esboço de análise sociológica contido na parte final desse texto A análise sociológica no entanto não é o centro de interesse neste estudo De certa maneira tentei responder à pergunta existem valores compartilhados pelos diversos grupos de cristãos Existe um centro de valores cristãos Quais são esses valores Tentei formular uma resposta pela leitura do texto de base o novo testamento sob uma chave dupla uma pragmática onde se tenta projetar o contexto de vida do cristo histórico e uma semântica quando se tenta interpretar o conteúdo de algumas passagens Metodologicamente falando buscouse interpretar o evangelho Mateus Marcos Lucas e João Não é uma leitura do processo de institucionalização histórica das primeiras comunidades cristãs Atos e Cartas dos primeiros cristãos de destaque Nem tampouco uma interpretação da fala digamos onírica apresentada por João no apocalipse No dia do Senhor o espírito tomou conta de mim E atrás de mim ouvi uma voz forte como trombeta que dizia Apocalipse 1 10 Em boa medida o texto organizado abaixo representa uma tentativa de análise sobre os valores cristãos interessada em um elemento de caráter existencial 4 Sobre o crescimento da banca evangélica ver QUADROS MADEIRA 2018 5 Veja por exemplo a estratégia de marketing eu sou universal onde os casos de sucesso apresentam agentes do público tradicional um morador de rua que se transformou em empresário de sucesso ao lado de um público não tradicional um modelo e uma chefe de cozinha por exemplo Em httpswwwuniversalorgeusouauniversalcases Acessado em 03102019 Uma análise a serviço do ser humano e não das igrejasApesar da sociologia nos mostrar com clareza a existência dessas das diversas vertentes institucionais do cristianismo No entanto considero atualmente importante num momento onde cada vez mais se fala nos valores cristãos a análise dos valores crisfundada num outro esquema de classificação De acordo com esse olhar que proponho com base principalmente nas análises de Erich Fromm ao invés de ressaltar diferenças nos discursos institucionais das igrejas sobre o cristianismo devese buscar diferenciar o cristianismo vivo do cristianismo dogmático Grosso modo o cristianismo vivo é aquele que é vivido pelos cristãos ou seja o cristianismo como elemento constitutivo do caráter já o cristianismo dogmático é aquele apenas falado ou seja aquele que está na boca das pessoas mas não nas suas ações Nas sociedades de consumo atuais apesar de muito falado o cristianismo é pouco vivido O cristianismo se dogmatiza perde vida e se transforma em palavras vazias como o que diziam os doutores da lei nos tempos de Jesus ou os doutores da igreja católica o pensamento institucionalizado na verdade nos tempos de nascimento do protestantismo No ocidente atual la idea Cristiana aún se utiliza pero fundamentalmente de forma ideológica esto es sin basarse de forma efectiva en el espíritu y la conduta de la mayoría que profesa essas ideas FROMM 2016 p 214 Para um questionamento da cristianização efetiva do mundo ocidental Mas a Europa terá sido de fato cristianizada Não obstante a a resposta afirmativa dada a essa questão uma análise mais acuradas demostra que a conversão da Europa ao cristianismo constituise num fracasso geral O máximo que se pode falar é de uma limitada conversão ao cristianismo ocorrida no século XII ao XVI e que nos séculos anteriores e posteriores a esse período a conversão foi na maior parte uma ideologia e uma submissão mais ou menos séria à igreja não significou uma mudança de sentimentos isto é de estrutura de caráter FROMM 1987 p 141 Algumas das 95 teses de Lutero6 que indicam o descontentamento com a forma dogmática da igreja 45ª Tese Devese ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências não adquire indulgência do papa mas desafia a ira de Deus 54ª Tese Cometese injustiça contra a palavra de Deus quando no mesmo sermão se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da palavra do Senhor Outra crítica ao cristão nominal vem de outra vertente protestante a de João Calvino que nas institutas da vida cristã7 diz Nesta altura devo dirigir a palavra àqueles que não tendo nada de Cristo exceto o título entretanto querem ser reconhecidos como cristãos Que atrevimento deles quererem gloriar se em seu sacrossanto nome Vêse pois que é baseados em ensinamentos falsos que esses tais dizem que conhecem a Cristo E com isso lhe fazem grande injúria por mais belas que sejam as suas palavras Porque o evangelho não é uma doutrina de língua mas de vida E diferentemente das outras disciplinas não se apreende só pela mente e pela memória mas deve envolver e dominar a alma e ter como sede e receptáculo as profundezas do coração razão temos nós para detestar os palradores que se contentam em ter o evangelho na boca desprezandoo totalmente em sua maneira de viver A ética cristã e suas duas chaves de análise a vida vivida de Jesus e a mensagem de sua falaIntrodução do problema metodológico Há duas perspectivas não excludentes quando se interpreta a vida vivida pelo Cristo histórico para se identificar a ética cristã A primeira é o entendimento da ética cristã como a ética vivida por Jesus Cristo A vida como modelo de moralidade cristã Nesse sentido buscamos o modelo ético na vida do chamado Jesus Histórico 6 httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdhmartinholutero95tesespdf 7 httpsfrutodagracafileswordpresscom201003institutasdareligiaocristajoaocalvinopdf A segunda é o entendimento da ética cristã como o exemplo falado por Jesus nas suas pregações Essa é a ética contida na semântica do evangelho escritura sagrada do cristianismo Opiniões de quem busca o modelo ético na vida vivida A afirmação de que deus se revela indiretamente através de acontecimentos históricos pertence ao núcleo central da fé de Israel para nós esse enunciado adquire pleno cumprimento em Jesus Cristo Ele constitui para o cristão a chave histórica da revelação de Deus ECHEGARAY 1982 p 34 Quando falamos em cristologia pretendemos nos limitar ao discurso sobre a própria pessoa de jesus e a sua missão não tocamos pois a não ser indiretamente na mensagem de Jesus SEGALLA 1992 p 9 Quero provar que Jesus Ieshua é o parâmetro daquilo que significa ser cristão SWIDLER 1993 p 7 Jesus foi um herói do ser do dar do participar Essas qualidades constituíam profundo atrativo para os romanos pobres bem como para alguns ricos que tiveram abalado o seu egoísmo FROMM 1987 p 142 Acresce que para nos despertar mais vivamente a Escritura nos demonstra que assim como Deus em Cristo nos reconciliou consigo assim também ele o constituiu em exemplo e padrão ao qual devemos amoldarnos CALVINO p 48 Jesus Imagem inicial Alguém de fama no seu tempo Figura impressionante Causou controvérsias Sereno porém firme Simples Inteligente Corajoso Não subserviente Se movimentava bastante na palestina beatnik Falava com multidões Se isolava em reflexão Era alto fisicamente Jesus teve uma vida simples foi um operário pobre entre os pobres Jesus com os pescadores E Jesus andando junto ao mar da Galileia viu a dois irmãos que lançavam rede ao mar porque eram pescadores E disselhes vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens Mateus 4 18 Vida simples Sem apego a bens materiais Vejamos a cena descrita em Marcos 10 Homem se ajoelha e pergunta O que faço para herdar a vida eterna Jesus Cumpra os mandamentos Homem Já faço isso desde jovem Jesus Então falta apenas uma coisa Vai vende tudo quanto tens e dá aos pobres Jesus foi um operário artesãocarpinteiro Classe média baixa na Galileia Jesus trabalhador manual Não é um homem que levante voo às nuvens sobre teorias Suas intuições e ensinamentos são concretos LARRANAGA 1989 p 23 Quem é Jesus Alguém pobrelivredisponívelservidor que percorreu o caminho da pobreza ao amor LARRANAGA 1989 p 118 Jesus vem de um pequeno burgo da baixa galileia Nazaré afastado dos grandes eixos de circulação Ele é filho do carpinteiro da aldeia José que desde muito cedo iniciou na sua profissão Em lugar de um aldeão judeu mediterrâneo ou seja como um trabalhador de construção como alguns gostam de qualificalo Jesus é um artesão um técnico em madeira pertence a uma categoria um pouco mais elevada que os simples operários PETITFILS 2015 p 57 Origem Real Davi Por isso Jesus nasceu em Belém Terra de Davi foi ser registrado Lucas 24 Jesus no seu período de ministério público teve efetivamente uma vida simples Vivendo em casas simples casa de SimãoPedro em Carfanaum se vestindo de forma mediana diferente de João Batista que se vestia com maior pobreza com períodos de isolamento ascético Geralmente na região montanhosa e desértica a leste do rio Jordão Um missionário que se movimentou bastante Galileia Judeia Pessoa inteligenteolhar sociológico sobre a inspiração divina Educada Criança surpreendeu debatendo com adultos estudiosos no templo de Jerusalém Depois de adulto também e chamava a tenção dos estudiosos Como é que esse homem tem tanta instrução se nunca estudou João 7 15 Em geral não passa uma imagem de ascetismo rigoroso Tem uma imagem de equilíbrio Perguntam para Jesus Por que os discípulos de João Batista e os fariseus fazem jejum e os teus discípulos não fazem Marcos 2 18 Jesus foi para todos Tende ao lado mais frágil Acolhe a todos não maniqueísta todos são dignos de consideração Ele defendeu a mulher pecadora que num jantar na casa de um fariseu lavou os seus pés O fariseu não tinha essa pessoa como digna de consideração Ele engrandece a mulher e perdoa os seus pecados pois ela demostrou muito amor Lucas 7 47 Defende a mulher adultera que é levada ao templo pelos judeus religiosos Dá uma lição de moral nos presentes Quem de vocês não tiver pecado atire a primeira pedra João 8 7 As crianças Jesus atraia uma multidão de pessoas e os discípulos não queriam deixar as crianças se aproximarem Deixem as crianças vir a mim Marcos 10 14 Ele tinha seguidores de classe média é verdade Entre os 12 primeiros apóstolos vejase Levi Mateus servidor público coletor de impostos Até alguns romanos respeitavam e aceitavam Jesus Ele encontrava com gente importante como o fariseu Nicodemos João 3 1 Ele curou o filho do funcionário do Rei que tinha um filho doente João 4 50 Jesus ficou hospedado na casa de Zaqueu em Jericó Zaqueu era chefe dos cobradores de impostos e muito rico Lucas 191 No entanto o maior número de seguidores da multidão que passou a acompanhar Jesus era de pessoas em desvantagem social pobres perseguidos doentes estrangeiros etc Depois de recomendar um voto de pobreza entregar tudo aos pobres e seguir Jesus ele diz É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus Marcos 10 25 Os gregos estrangeiros não judeus também queriam falar com Jesus depois dele ter ressuscitado Lázaro e voltado para Jerusalém Falam com dois discípulos que provavelmente falavam grego Felipe e André e eles falam com Jesus sobre os gregos O momento é tenso Jesus está chegando a Jerusalém e já prevê a sua prisão mas Jesus diz Se alguém que servir a mim que me siga João 12 26 Cena Jesus almoçando na casa de Levi coletor de impostos Jesus se faz acompanhar de gente não religiosa e é alvo dos hipócritas Por que Jesus come e bebe junto com cobradores de impostos e pecadores Jesus respondeu As pessoas que tem saúde não precisam de médico mas só as que estão doentes Marcos 2 16 Ele conversa de igual para igual com a samaritana De fato os judeus não se dão bem com os samaritanos João 4 9 quando estava em transito indo da Judéia à Galileia e atravessou a Samaria Jesus pediu água e a mulher disse Como é que tu sendo judeu pedes de beber a mim que sou samaritana João 4 9 Felizes de vocês os pobres porque o Reino de Deus lhes pertence Felizes de vocês que agora tem fome porque serão saciados Felizes de vocês que agora choram porque hão de rir Lucas 62021 Jesus e as mulheres Andava também com Jesus algumas mulheres que ele havia curado de espíritos maus e doenças Lucas 8 1 Jesus de todos Perguntado sobre o que fazer para receber a vida eterna Jesus responde ame a Deus e aos seu próximo E a pergunta seguinte é e quem é o meu próximo Conta a história do bom samaritano O companheiro amado pode estar do outro lado Lucas 10 2530 Mas os fariseus e os Doutores da Lei criticavam Jesus dizendo esse homem acolhe pecadores e come com eles Jesus depois de contar a parábola da ovelha perdida E eu lhes declaro assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão Lucas 1525 Jesus viveu sem medo Presentificação fortaleza Jesus também se angustiou momentos antes da sua prisão Tomado de angústia Jesus rezava com mais insistência Lucas 2244 Fortalece o espirito Dá coragem Promete melhora futura Meu reino não é deste mundo Jesus envia os discípulos para ensinarem nos povoados da região Diz para eles viverem um dia de cada vez acreditando no presente Jesus recomendou que não levassem nada pelo caminho além de um bastão nem pão nem sacola nem dinheiro na cintura Marcos 68 Jesus diz para os discípulos que saem em pregação em geral pessoas simples de pouca instrução que não tenham medo na hora de falar Diz que haverá presença de espírito Jesus viveu o amor e falava sobre o amor Porque a Lei foi dada por Moisés mas o amor e a fidelidade vieram através de Jesus Cristo JOÃO 1 17 Eu dou a vocês um mandamento novo amemse uns aos outros João 13 34 O que parece ter impressionado muitos dos contemporâneos de Ieshua na pessoa dele tornandoos seus discípulos deve ter sido sua sabedoria e seu amor interiores ele apresentava o ideal de amor altruístico SWIDLER 1993 p 66 Ao advogar a vida no amor altruístico Jesus instava outros a aprenderem com sua humildade SWIDLER 1993 p 67 Em sua própria carne Jesus chegou a experimentar que Deus não é antes de tudo temor mas amor LARRANAGA 1989 p 40 Amai a vossos inimigos fazei bem aos que vos odeiam Lucas 6 27 Embora os conceitos possam diferir uma crença define qualquer ramo do cristianismo a crença em Jesus Cristo como salvador da humanidade que deu sua vida pelo amor de seus semelhantes Ele foi um herói do amor um herói sem poder que não empregou a força que não queria governar que não queria possuir nada FROMM 1987 p 142 Jesus foi um ser humano livre falava com autoridade Existe em primeiro lugar um traço que se destaca com vigor extraordinário a liberdade de Jesus ECHEGARAY 1982 p 135 Jesus respeitava a lei dos judeus mas fazia a sua interpretação com liberdade Não dogmático Atuava com independência dos doutores da lei Ver FOX 1993 p 104 114 Jesus ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da lei Marcos 122 Jesus era livre e falava com autoridade curou um homem que estava doente há trinta e oito anos num dia de sábado Ele disse para o homem paralítico levantar e carregar a sua cama trabalho proibido no sábado Com isso o trabalho dos dois em pleno sábado Jesus atraiu a raiva das autoridades Ele interpretava com autoridade Meu Pai continua trabalhando até agora e eu também trabalho João 5 17 Outro trabalho de sábado cura do cego de nascença João 9 Jesus interpretava a lei com autoridade Isso deixava os estabelecidos furiosos Depois que Jesus disse que era maior que Abraão os judeus do templo eles chamaram Jesus de louco e depois quiseram apedrejalo Então eles pegaram pedra para atirar em Jesus Mas Jesus se escondeu e saiu do templo João 8 59 A liberdade estava inclusive relacionada ao desapego Ora um pobre de Deus é um homem livre Quem não tem nada nem quer ter nada não pode temer nada porque o temor é um feixe de energias desencadeadas para a defesa das propriedades LARRANAGA 1989 p 118 Jesus não foi hipócrita e combateu a hipocrisia Jesus foi contrário à boa parte da vida religiosa institucionalizada na sua época Os judeus como ele que iam na Sinagoga mostrar para os outros a sua fé eram comumente criticados Jesus critica quem valoriza a forma em detrimento do conteúdo Jesus era constantemente questionado pelos religiosos estabelecidos sobre a interpretação da lei judaica Todos estavam escutando Jesus e ele disse aos discípulos Tenham cuidado com os doutores da lei Eles fazem questão de andar com roupas compridas e gostam de ser cumprimentados nas praças públicas Gostam dos primeiros lugares nas Sinagogas e dos postos de honra nos banquetes No entanto exploram as viúvas e roubam suas casas e para disfarçar fazem longas orações Lucas 204547 com a mesma medida com que vocês medirem também vocês serão medidos Condena a hipocrisia formalidade fazia Falar e não fazer Os fariseus e os doutores da lei foram de Jerusalém e se reuniram em volta de Jesus Eles viram então que alguns discípulos comiam pão com mão impuras isto é sem lavar as mãos por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos Jesus Isaias profetizou bem sobre vocês hipócritas como está escrito Este povo me honra com os lábios mas o coração deles está longe de mim Marcos 756 Jesus viveu a vida dele sem se preocupar com o falatório Criticava a hipocrisia como no julgamento da adultera Atire a primeira pedra Não julguem e vocês não serão julgados não condenem e não serão condenados perdoem e serão perdoados Lucas 637 Hipócrita tira primeiro a trave do teu olho e então veras bem para tirar o argueiro que está no olho do teu irmão Lucas 6 42 Fala de Jesus Acautelaivos primeiramente do fermento dos fariseus que é a hipocrisia Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto Lucas 12 12 Jesus foi agressivoviolento sobre a diferença entre agressivo e altivo Às vezes Jesus se exaltava Ele foi violento Há trecho no novo testamento que descreve Jesus um tanto agressivo e irado Jesus provavelmente fez cena chamou a atenção no templo Ele usa um chicote improvisado de cordas para tanger bichos que eram vendidos para oferenda vira mesas dos comerciantes e se dirige a elas de maneira firme Tirem isso daqui não transformem a casa do meu Pai num mercado João 3 E acho no templo os que vendiam bois e ovelhas e pombos e os cambistas assentados e tendo feito um açoite de cordões lançou todos fora do templo e disse aos que vendiam pombos tirai daqui estes e não façais da casa de meu Pai casa de venda João 2 15 Coragem Na última ceia com os apóstolos Jesus tenta afastar o medo Eu disse isso tudo para que vocês não se acovardem João 16 1 Neste mundo vocês terão aflições mas tenham coragem eu venci o mundo João 16 33 Coragem Jesus estava num barco com alguns discípulos As águas estavam agitadas O pessoal tem medo Jesus meio bravo ele ameaçou o vento acalma a água e diz Por que vocês são tão medrosos Vocês ainda não têm fé Marcos 440 Jesus já prevendo que a prisão era iminente prepara o seu grupo para o combate quem tiver bolsa deve pegala como também uma sacola e quem não tiver espada venda o manto para comprar uma juntaram duas espadas Quando chega o momento da sua prisão há efetivamente confronto e um dos apóstolos cortou a orelha de um policial empregado do sumo sacerdote Mas nesse momento Jesus disse Parem com isso Lucas 22 4753 Então era a agressividade uma característica central na vida de Jesus Não era o amor a subversão violenta a matança de outros não corresponde ao seu modo de ser RATZINGER 2011 p 26 Ética cristã e humanismo Apesar dos fundamentos diferentes Deus e Homem é possível encontrar semelhanças entre a ética cristã e a ética humanista Por sua vez a ética humanista se encontra em boa medida positivada nos documentos constitucionais modernos definidores dos direitos fundamentais Secularização pode designar a superação de uma falsa sacralidade e o aparecer de um sentimento religioso mais genuíno HARING 1976 p 13 Concluindo nosso trabalho reassumimos agora as linhas fundamentais que tornam possível o diálogo ético com o humanismo moderno secular ou secularista HARING 1976 p 193 Muitas vezes o cristão e o humanista secular unemse na luta contra várias formas de discriminação HARING 1976 P 195 Já São Paulo encontra uma ponte para o diálogo com os humanistas do seu tempo influenciados pela ética estóica no conceito de consciência e relacionou a fé a convicção sincera da consciência o homem de hoje apela para a consciência quando protesta contra a intolerância dos indivíduos contra preconceitos contra a violação cruel das leis promulgadas em favor do bem comum especialmente daquelas destinadas a tutelar os direitos fundamentais de cada pessoa Em nome da consciência são contestadas sobretudo as tentativas de lavagem cerebral HARING 1976 p 196 A ética falada uma síntese moral do sermão da montanha A doutrina ética da montanha Mateus 5 Nele Jesus faz uma interpretação dos mandamentos antigos será considerado grande no reino dos céus quem 1 Não matar 2 Quem não tiver ódio encolerizar sem motivo com um irmão devemos buscar fazer as pazes 3 Não cometer adultério nem em pensamento qualquer que atentar numa mulher para cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela 4 Não fizer juramentos 5 Não buscar revanche acima de tudo se qualquer te bater na face direita oferecelhe também a outra 6 For caridoso Dá a quem te pedir 7 Amar a todos inclusive os seus inimigos pois se amardes os que vos amam que galardão tendes 8 Fizer o bem sem se preocupar com a publicidade do ato bondoso Quando pois deres esmola não faças tocar trombeta diante de ti 9 Não for hipócrita Não julgueis para que não sejais julgados E quando orares não sejas como os hipócritas pois se comprazem em orar de pé nas sinagogas e às esquinas das ruas para serem vistos pelos homens Hipócrita tira primeiro a trave do teu olho e então veras claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão 10 Perdoar a quem te faz mal Se perdoardes aos homens as suas ofensas também vosso Pai celestial vos perdoará a vós 11 Tiver uma vida sem apego aos bens materiais Não ajunteis tesouros da terra onde a traça e a ferrugem tudo consomem Mas ajuntai tesouros no céu 12 Viver uma vida presentificada sem grande ansiedade pelo futuro Não vos inquieteis pois pelo dia de amanhã porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo Basta a cada dia o seu mal 13 Agir com os outros da mesma forma que gostariam que agissem consigo próprio tudo o que vós quereis que os homens o façam fazeilho também vós 14 For prudente quem seguir às normas éticas do Pai será prudente Todo aquele pois que escuta estas minhas palavras e as pratica assemelháloei ao homem prudente que edificou a sua casa sobre rocha KANT A ÉTICA DO DEVER A ética de Kant é a ética do dever Isso significa que nós seres racionais devemos respeitar a nós mesmos e aos outros seres racionais e agir de maneira ética Kant fundamenta a sua ética com base em elementos terrenos ou seja não busca orientar as nossas ações a partir do medo de consequências para a nossa vida depois da morte Se nossas vontades e nossos desejos não podem servir de base para a moralidade o que nos resta então Deus é uma possibilidade Mas essa não é a resposta de Kant SANDEL 2012 p 139 Não podemos descartar completamente nem tampouco ir além da conjectura acerca da influência da criação pietista de Kant na sua formulação Da mesma forma que os protestantes históricos valorizam o hard worker Kant valoriza o ser humano que age por dever o dever de fazer a coisa certa8 É sintomático desse jeito sóbrio de se viver eticamente de Kant a valorização do dever e sua espécie de fixação pela verdade9 Podemos dizer que a ética kantiana aponta para uma vida individual marcada pela presença forte do superego Percebemos esse jeito digamos sisudo quando comparamos a reflexão de Kant a de outros filósofos Epicuro por exemplo fundam sua ética no prazer ainda que não o prazer de excessos e outros o Cristo por exemplo no amor Para Kant uma ação tem valor moral quando mesmo sem interesse o agente age considerando o seu dever Por exemplo uma pessoa de bem com a vida e bem de vida deve fazer caridade e com isso se sente feliz isso é esperado e não torna a ação moralmente valiosa Agora se um sujeito infeliz apesar de ter dinheiro faz caridade apesar de esta não o trazer felicidade ele o faz simplesmente por sentimento de dever racionalmente percebido Essa última é uma ação moralmente valiosa Um ser humano de caráter é o que tem noção do seu dever Inferência do exemplo de KANT 2007 p 28 Kant não define o conteúdo ético que devemos seguir Isso está de acordo com o que ele acredita ser o papel de sua Metafísica dos costumes no esquema da divisão do trabalho acadêmico Metafísica dos Costumes que deveria ser cuidadosamente depurada de todos os elementos empíricos para se chegar a saber de quanto é capaz em ambos os casos a razão pura e de que fontes ela própria tira o seu ensino a priori KANT 2007 p 15 Ainda a Filosofia moral assenta inteiramente na sua parte pura e aplicada ao homem não recebe um mínimo que seja do conhecimento do homem Antropologia mas fornecelhe como ser racional leis a priori KANT 2017 p 16 8 O que importa para Kant é que a boa ação seja feita por ser a coisa certa quer isso nos dê prazer quer não SANDEL 2012 p 147 9 Kant é muito rigoroso com a mentira Em Fundamentação a mentira é o principal exemplo do comportamento imoral SANDEL 2012 p 165 Apesar de não definir conteudísticamente o nosso dever podemos desenvolver o seguinte esquema simplificado Na nossa vida devemos agir com boa vontade Neste mundo e até também fora dele nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação a não ser uma só coisa uma boa vontade Discernimento argúcia de espírito capacidade de julgar e como quer que possam chamarse os demais talentos do espírito ou ainda coragem decisão constância de propósito como qualidades do temperamento são sem dúvida a muitos respeitos coisas boas e desejáveis mas também podem tornarse extremamente más e prejudiciais se a vontade que haja de fazer uso destes dons naturais e cuja constituição particular por isso se chama carácter não for boa KANT 2007 p 21 Moderação nas emoções e paixões autodomínio e calma reflexão são não somente boas a muitos respeitos mas parecem constituir até parte do valor íntimo da pessoa mas falta ainda muito para as podermos declarar boas sem reserva ainda que os antigos as louvassem incondicionalmente Com efeito sem os princípios duma boa vontade podem elas tornarse muitíssimo más e o sanguefrio dum facínora não só o torna muito mais perigoso como o faz também imediatamente mais abominável ainda a nossos olhos do que o julgaríamos sem isso KANT 2007 p 22 Mas o que é agir com boa vontade É respeitar a lei da razão Um ser humano de caráter é o que tem noção desse dever Diz Kant Dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei KANT 2007 p 31 Somo livres e racionais Somos livres mas não podemos fazer tudo Devemos obedecer a uma lei ditada pela razão Uma lei que nós mesmos fazemos10 daí a nossa liberdade Isso é um imperativo categórico Que lei é essa Uma vez que despojei a vontade de todos os estímulos que lhe poderiam advir da obediência a qualquer lei nada mais resta do que a conformidade a uma lei universal das acções em geral que possa servir de único princípio à vontade isto é devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal KANT 2007 p 33 O imperativo categórico é portanto só um único que é este Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal KANT 2007 p 59 Então para Kant para guiar as nossas condutas na Terra devemos fazer o teste do imperativo categórico ou seja se a ação ou omissão puder ser 10 Tratase de uma formulação no campo moralindividual que corresponde àquela formulada no campo políticocoletivo por Rousseau Obedecemos as leis porque a lei corresponde a vontade geral universalizada ser adotada como modelo por todos então estamos agindo de maneira coerente com o nosso dever e podemos julgar essa ação como eticamente positiva Temos que poder querer que uma máxima da nossa acção se transforme em lei universal é este o cânone pelo qual a julgamos moralmente em geral KANT 2007 p 62 O teste da universalização conduz a um importante questionamento moral é uma forma de verificar se o que estamos a ponto de fazer coloca nossos interesses e nossas circunstâncias especiais acima das de qualquer outra pessoa SANDEL 2012 p 154 Um exemplo de julgamento da conformidade de uma ação com o imperativo categórico Uma outra pessoa vêse forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado Sabe muito bem que não poderá pagar mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado Sente a tentação de fazer a promessa mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma Não é proibido e contrário ao dever livrarse de apuros desta maneira Admitindo que se decidia a fazêlo a sua máxima de ação seria Quando julgo estar em apuros de dinheiro vou pedilo emprestado e prometo pagálo embora saiba que tal nunca sucederá Este princípio do amor de si mesmo ou da própria conveniência pode talvez estar de acordo com todo o meu bemestar futuro mas agora a questão é de saber se é justo Converto assim esta exigência do amor de si mesmo em lei universal e ponho assim a questão Que aconteceria se a minha máxima se transformasse em lei universal Vejo então imediatamente que ela nunca poderia valer como lei universal da natureza e concordar consigo mesma mas que pelo contrário ela se contradiria necessariamente Pois a universalidade de uma lei que permitisse a cada homem que se julgasse em apuros prometer o que lhe viesse à ideia com a intenção de o não cumprir tornaria impossível a própria promessa e a finalidade que com ela se pudesse ter em vista ninguém acreditaria em qualquer coisa que lhe prometessem e rirseia apenas de tais declarações como de vãos enganos KANT 2007 P 60 Então basta agir com os outros como achamos que eles deveriam agir conosco Essa é a regra de ouro É isso que Kant quer dizer Não O imperativo categórico de Kant não seria isso a mesma coisas da regra de ouro Faça aos outros o que deseja que os outros façam a você Não A regra de ouro depende de fatos contingentes que variam de acordo com a forma como cada um gostaria de ser tratado O imperativo categórico obriganos a abstrair essas contingências e a respeitar as pessoas como seres racionais independente do que ela possa desejar em uma determinada situação SANDEL 2012 p 157 Então para Kant não se trata de agir conforme o nosso querer tratase de verificar se a minha ação pode ser uma ação universal De certa forma podemos dizer que a ética kantiana é aquela que aponta para uma ação humana que vá para além do querer tratase do dever Por exemplo ao saber de uma grave doença da sua mãe que já demostra não estar completamente consciente você se questiona sobre se deve ou não a contar Se você mesmo estando na situação da sua mãe não gostaria que te contasse de acordo com a regra de ouro deveria fazer o mesmo com a sua mão Submetendo ao teste do imperativo categórico de Kant vê se o dever de contar na medida em que a mentira não pode se tornar universal WEBER A ÉTICA PROTESTANTE E O NASCIMENTO DA CULTURA CAPITALISTA O estudo de Weber foi feito a partir da realidade da Alemanha no final do século XIX e início do século XX Também foi fundamental no contexto de formulação do trabalho sobre o espírito do capitalismo a visita que ele fez aos EUA no início do século XX Quando fala dos protestantes fala do protestantismo histórico materializado nos seguintes grupos calvinismo pietismo metodismo anabatistas WEBER 2004 p 87 Trata em especial do Calvinismo que de acordo com ele parece ter mais afinidade eletiva com o rígido senso jurídico e ativo do empresário capitalistaburguês WEBER 2004 p 126 Devemos perceber que o estudo trata da cultura capitalista na sua fase de formação do iluminismo a revolução industrial grosso modo por isso percebemos a ligação com o jeito de ser sóbrio do hard worker ou seja do trabalhador que tem o dever de trabalhar essa ideia singular hoje tão comum e corrente da profissão como dever é essa ideia que é característica da ética social da cultura capitalista WEBER 2004 p 47 O tipo ideal de empresário capitalista não tem nenhum parentesco com esses ricaços de aparência mais óbvia ele se esquiva à ostentação e à despesa inútil bem como ao gozo consciente do seu poder sua conduta de vida noutras palavras comporta quase sempre certo lance ascético WEBER 2004 p 63 Hoje o capitalismo do hiperconsumo e da especulação pura tem outras características O capitalismo ostentação Observação empírica que funciona como ponto de partida para a curiosidade cientifica de Weber O caráter predominantemente protestante dos proprietários do capital e empresários WEBER 2004 p 29 Além disso Weber atenta para o fato de existir na formação escolar para os postos técnicos e para as profissões comerciais e industriais uma predominância dos protestantes WEBER 2004 p 32 O autor atribui a existência da orientação de vida fundada no espírito de trabalho e de progresso ao protestantismo WEBER 2004 p 38 O autor utiliza o sermão de Benjamin Franklin como exemplo documental do espírito do capitalismo WEBER 2004 p42 Lembrate que tempo é dinheiro aquele que com seu trabalho pode ganhar dez xelins ao dia e vagabundeia metade do dia não deve mesmo que gaste apenas ses pence para se divertir contabilizar só essa despesa na verdade gastou ou melhor jogou fora cinco xelins a mais Lembrate que crédito é dinheiro Se alguém me deixa ficar com seu dinheiro depois da data de vencimento esta me entregando os juros Lembrate que dinheiro é procriador por natureza e fértil Lembrate que um bom pagador é senhor da bolsa alheia Quem é conhecido por pagar pontualmente na data combinada pode a qualquer momento pedir emprestado todo o dinheiro que seus amigos não gastam nada contribui mais para um jovem subir na vida do que pontualidade e retidão em todos os seus negócios As pancadas do teu martelo que teu credor escuta às cinco da manhã ou às oito da noite os deixam seis meses sossegado mas se te vê à mesa de bilhar ou escuta tua voz numa taberna quando devias estar a trabalhar no dia seguinte vai te reclamar o reembolso É importante lembra que Weber não afirmar que a formação da estrutura capitalista é uma consequência de uma ação planejada pelos protestantes Não se trata de algo consciente e intencional do religioso a formação do capitalismo A salvação da alma e somente ela foi eixo de sua vida e ação dos reformadores Seus objetivos éticos e os efeitos práticos de sua doutrina estavam ancorados aqui e eram tão só consequências de motivos puramente religiosos Por isso temos que admitir que os efeitos culturais da reforma foram em boa parte consequências imprevistas e mesmo indesejadas do trabalho dos reformadores WEBER 2004 p 81 No entanto ressalta Weber as nossas escolhas ideais de uma ética religiosa tem repercussões neste mundo o que nos cabe é tornar um pouco mais nítido o impacto que os motivos religiosos tiveram na trama do desenvolvimento da nossa cultura moderna especificamente voltada para este mundo WEBER 2004 p 82 Dentro da ideologia protestante a ideia de amor ao próximo gradativamente se transforma na ética do trabalho duro ou seja o protestante trabalha duro para materializar o seu amor pela humanidade fazendo sempre o seu melhor e seguindo rigorosamente e disciplinadamente a sua vocação o seu chamado no calvinismo O amor ao próximo expressase em primeiro lugar no cumprimento da missão vocacionalprofissional p 99 A exortação do apóstolo a se segurar no chamado recebido é interpretada aqui portanto como dever de conquistar na luta do dia a dia a certeza subjetiva da própria eleição e justificação disciplinamse dessa forma aqueles santos autoconfiantes distinguese o trabalho profissional sem descanso como meio mais saliente para conseguir essa autoconficança WEBER 2004 p 102 A ética protestante diferente do cristianismo católico não vê problema no dinheiro Deus gosta do hard worker Vê problema no entanto no consumo desenfreado É permitido porém que se gaste com uma vida confortável a luta contra a concupiscência da carne não era uma luta contra o ganho às pessoas de posses ela queria impingir não a mortificação mas o uso da propriedade para coisas necessária e úteis em termos práticos a noção de comfort circunscreve de forma característica o âmbito de seus empregos eticamente lícitos WEBER 2004 p 156 GRUPOS NEOPENTECOSTAIS NO BRASIL Do protestantismo pentecostal ao neopentecostal no Brasil O movimento religioso conhecido como pentecostalismo surge nos Estados Unidos no início do século XX e é em grande parte herdeiro da Reforma Protestante do século XVI É o último dos três grandes impulsos da Reforma depois do puritanismo e do metodismo TORRES 2007 p 105 A chegada do pentecostalismo no Brasil foi quase concomitante com o seu surgimento nos Estados Unidos Lá ele surgiu em 1906 e aqui em 1910 quando missionários fundaram a Congregação Cristã no Brasil No ano seguinte foi fundada a Assembléia de Deus Esta primeira onda expansionista classificada como clássica foi absoluta entre 1910 e 1950 TORRES 2007 p 106 O pentecostalismo clássico abrange as igrejas pioneiras Congregação Cristã no Brasil e Assembléia de Deus MARIANO 2004 p 123 A terceira onda expansionista chamada de neopentecostalismo tem como núcleo central de expansão no Brasil o Estado do Rio de Janeiro Na década de 1970 surgiram as primeiras igrejas desta vertente oriunda da ação de missionários norteamericanos que inovaram o discurso religioso brasileiro a partir da divulgação da Teologia da Prosperidade TORRES 2007 p 107 O neopentecostalismo teve início na segunda metade dos anos de 1970 Cresceu ganhou visibilidade e se fortaleceu no decorrer das décadas seguintes A Universal do Reino de Deus 1977 RJ a Internacional da Graça de Deus 1980 RJ a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra 1976 GO e a Renascer em Cristo 1986 SP fundadas por pastores brasileiros constituem as principais igrejas neopentecostais do país MARIANO 2004 p 123124 As características da igreja pentecostal Suas características principais têm a ver com uma rejeição radical e sectária do mundo construída reativamente em relação ao modo de vida das classes médias secularizadas rechaçavam o uso do rádio e de atributos de vaidade que ressaltavam a beleza feminina do mesmo modo condenavam a participação em festas e outras atividades que fossem tidas como do mundo TORRES 2007 p 106 As características das igrejas neopentecostais O sucesso dessas igrejas é antes explicado pela sua técnica comunicativa e pela indigência material intelectual e espiritual do povo que a ela adere do que pela sua mensagem é que tida como quase nula MARIZ 1995 p 41 As igrejas pentecostais autônomas têm forte ênfase na trilogia cura prosperidade e libertação ou exorcismo MARIZ 1995 p 41 No plano teológico caracterizamse por enfatizar a guerra espiritual contra o Diabo e seus representantes na terra por pregar a Teologia da Prosperidade difusora da crença de que o cristão deve ser próspero saudável feliz e vitorioso em seus empreendimentos terrenos e por rejeitar usos e costumes de santidade pentecostais tradicionais símbolos de conversão e pertencimento ao pentecostalismo MARIANO 2004 p 123124 As faces mais visíveis da influência religiosa sobre o empreendedorismo econômico foram sistematizadas por SOUZA 2011 p 15 a existência de associações de empresários evangélicos b as organizações religiosas de mídia e marketing c as redes de televisão e rádio ligadas a Igreja d a forma de gestão definitivamente empreendedora de determinadas denominações pentecostais e e o grau de profissionalização dos novos pastores A teologia da prosperidade Esta Teologia reafirma uma concepção de divindade já presente no imaginário religioso de nossa sociedade cuja força se manifesta exatamente mediante benesses materiais concedidas aos fiéis como recompensa pela adoração bajuladora Deus passa a ser percebido como terapeuta das mazelas deste mundo pois cura doenças concede prosperidade econômica e até mesmo conforto afetivosexual aos seus seguidores TORRES 2007 p 107 A Teologia da Prosperidade advoga que o cristão além de liberto do pecado original pelo sacrifício expiatório de Cristo tem o direito já nesta vida e neste mundo à saúde física perfeita à prosperidade material e a uma vida abundante livre do sofrimento e das artimanhas do diabo MARIANO 2003b p242 Com isso a figura do diabo também ganha uma outra interpretação assumindo um papel de maior destaque e importância É implementada uma luta contra o diabo e seus aliados já que são eles que causam todos os males TORRES 2007 p 108 Na IURD a chamada teologia da prosperidade tem acima de tudo o sentido prático de recusar o fracasso pare de sofrer como forma de delimitar a identidade social por oposição reativa a um exemplo negativo que claro só pode ser a imagem do fracassado daquele que não pôde fugir das artimanhas dos encostos e de sua ação indiscriminada e constante TORRES 2007 p 113 a máquina narrativa neopentecostal tornase uma prática discursiva que reforça a ideologia do mérito fazendoa assumir a semântica mágica segundo a qual merece fracasso ou sucesso quem for mais hábil na manipulação das forças sobrenaturais que regem a distribuição de derrotas ou de vitórias TORRES 2007 p 115 Chamada também de Health and Wealth Gospel Faith Movement Faith Prosperity Doctrines e Positive Confession a Teologia da Prosperidade surgiu nos Estados Unidos na década de 1940 no âmbito de grupos evangélicos que enfatizavam crenças sobre cura prosperidade e poder da fé SOUZA 2011 p 14 Comentário atual No Brasil atual os agentes que representam socialmente as ideias do protestantismo pentecostal e neopestecostal vivem uma espécie de mudança de status deixam de ser discurso periférico e passam a ocupar o centro institucional da República bancada institucional no congresso11 associações de juristas e empresários etc Decorre daí certamente certo refinamento cultural recente Esse refinamento pode ser sociologicamente entendido como uma aquisição de capital cultural na economia de bens simbólicos12 Referências ECHEGARAY Hugo A prática de Jesus Petrópolis Vozes 1982 FOX Robin Lane Bíblia verdade e ficção São Paulo Companhia das Letras 1993 FROMM Erich Las cadenas de la ilusión Buenos Aires paidós 2016 Ter ou Ser Rio de Janeiro Guanabara 1987 HARING Bernhard Ética crista para um tempo de secularização São Paulo Paulinas 1976 KIERKEGAARD Soren O conceito de ironia constantemente referido à Sócrates Petrópolis Vozes 2913 LARRANAGA Ignácio O pobre de Nazaré São Paulo Loyola 1989 MARIZ Cecília Loreto Perspectivas Sociológicas sobre o Pentecostalismo e o Neopentecostalismo Revista de Cultura Teológica Sl n 13 p 3752 mar 2013 ISSN 23174307 PETITFILS JeanChristian Jesus a biografia São Paulo Benvirá 2015 11 Sobre o crescimento da banca evangélica ver QUADROS MADEIRA 2018 12 Veja por exemplo a estratégia de marketing eu sou universal onde os casos de sucesso apresentam agentes do público tradicional um morador de rua que se transformou em empresário de sucesso ao lado de um público não tradicional um modelo e uma chefe de cozinha por exemplo Em httpswwwuniversalorgeusouauniversalcases Acessado em 03102019 QUADROS Marcos Paulo dos Reis MADEIRA Rafael Machado Fim da direita envergonhada Atuação da bancada evangélica e da bancada da bala e os caminhos da representação do conservadorismo no Brasil Opin Publica Campinas v 24 n 3 p 486522 Dec 2018 Available from httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS0104 62762018000300486lngennrmiso access on 03 Oct 2019 httpdxdoiorg101590180701912018243486 RANCÉ Christiane Jesus Porto Alegre LPM 2012 RATIZINGER Joseph Jesus de Nazaré São Paulo Planeta 2011 SEGALLA Giuseppe A cristologia do novo testamento São Paulo Loyola 1992 SOUZA André Ricardo O empreendedorismo neopentecostal no Brasil Ciências Sociais e Religião Porto Alegre ano 13 n 15 p 1334 JulDic 2011 SWIDLER Leonard Ishua Jesus Histórico cristologia ecumenismo São Paulo Paulinas 1993 TORRES Roberto Neopentecostalismo e o novo espírito do capitalismo na modernidade periférica Perspectivas São Paulo v32 p 85125 juldez 2007 WEBER Max A ética protestante e o espírito do capitalismo São Paulo Companhia das Letras 2004
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HISTÓRIA DAS IDEIAS ÉTICAS FRAGMENTOS Mário S F Maia APRESENTAÇÃO Esses fragmentos foram recolhidos e sistematizados nas horas de estudo para ministrar a parte geral das disciplinas de ética profissional nos cursos de Direito e ciência e tecnologia da UFERSA Esses são fragmentos de textos em geral sem grande desenvolvimento interpretativo colhidos em pesquisa bibliográfica Os fragmentos foram sistematizados para orientar uma conversa simples e interessante sobre temas existenciais profundos conduzida durante duas aulas com futuros profissionais do Direito e da Engenharia Neste quadro de uma Teoria Geral da Ética meu objetivo principal aqui foi inferir alguns modelos éticos a partir da análise da filosofia ideal e da vida vivida por alguns filósofos célebres já que reconhecidos pelo público não expert A sistematização realizada se orientou pela busca nos textos de elementos para uma descrição ideal de um determinado modelo ético Isso se deve ao objetivo principal da sistematização que é o de fornecer informações aos estudantes sobre a vida boa e justa imaginada e vivida por alguns filósofos Um modelo que possa ser refletido e interiorizado como modo de vida embora não seja esse definitivamente o objetivo desse curso Sob a análise interior de foro íntimo como no jargão jurídico podese dizer que um modelo ético é uma espécie de utopia Em geral ele não estabelece regras minuciosas de conduta mas sua principiologia sugere uma espécie de lugar para o qual devemos olhar e orientar a nossa caminhada de vida Uma forma de controle da angústia existencial No entanto sob a análise sociológica que não está completamente excluída nestes fragmentos percebese que as diferentes retóricas éticas de fundo secular ou religioso são indicativas da existência concreta dos diversos grupos sociais que compõem o complexo mosaico cultural das sociedades contemporâneas O desafio do teórico da ética é portanto pensar numa maneira realista sobre como fazer conviver com o mínimo de conflito pessoas com pensamentos diferentes M S F M em 170122 HISTÓRIA DAS IDEIAS ÉTICAS I ÉTICA SOCRÁTICA A pergunta que nos guia há um modelo ético na filosofia de Sócrates Para respondela temos que atentar para um fato inicial importante Sócrates nunca publicou um texto em sua vida ele não foi um escritor Ele nunca escreveu sobe um modelo de felicidade e de vida boa Então se há um modelo efetivamente socrático ele não pode ser obtido de fonte escrita direta1 Outro ponto importante Sócrates era conhecido pelo jeito perguntador materializado na sua técnica argumentativa que objetivava fazer nascer as ideias maiêutica Em uma palavra a filosofia de Sócrates é crítica Isso significa que se considerarmos o Sócrates descritos nos diálogos de Platão a busca por uma fala de Sócrates sobre como devemos viver nos trará pouca informação Então existe ou não uma ética socrática Uma filosofia positiva Em verdade uma das formas que considero a mais interessante de se descrever uma espécie de modelo ético socrático é partir da observação e análise da maneira como o próprio Sócrates viveu A ética socrática nesse sentido pode ser inferida a partir do seu exemplo de vida Se consideramos o Sócrates personagem ou seja o Sócrates descrito por outros escritores podemos dizer que há indício de que o próprio Sócrates concordaria com esse método indutivo Vejamos a cena descrita por Xenofonte Na cena Sócrates instado a preparar a sua defesa diz que a defesa já está pronta foi a sua própria vida Vejam 1 Obviamente não se deve esquecer da existência de estudos semânticos sobre a ética socrática felicidade Eudaimonia a partir da análise do conteúdo da obra de Platão A ideia que se quer desenvolver aqui é que a partir do que foi escrito sobre Sócrates podemos vislumbrar a ética socrática de vida ou seja do personagem platônico se extrair o ser de Sócrates Como exemplo de estudos semânticos a partir de Platão SANTOS 2010 Cena Sócrates antes do julgamento Hermógenes filho de Hipônico e amigo de Sócrates deu a seu respeito pormenores que mostram que a altura de sua linguagem se acordava plenamente com a de suas ideias Contava que vendoo discorrer sobre assuntos completamente alheios a seu processo lhe dissera Não deverias Sócrates pensar em sua apologia Ao que lhe respondeu Sócrates Não parece que lhe consagrei toda minha vida Perguntandolhe Hermógenes de que maneira Vivendo sem cometer a menor injustiça o que é a meu ver o melhor meio de preparar uma defesa XENOFONTE In SÓCRATES 1996 p 201 Então vejamos como foi efetivamente a vida de Sócrates Sócrates foi fundamentalmente uma pessoa curiosa O filósofo é um curioso As pessoas não entendiam a vida de Sócrates que era um perguntador Ele causava certo incomodo e foi morto por conta disso Para a maioria das pessoas Sócrates era um estranho que vivia perguntando aquilo que todos já sabiam para essas pessoas ele era visto como um verdadeiro chato Um perguntador neurótico diríamos hoje Essa atitude inquieta diante da vida é a própria filosofia acontecendo Sócrates excêntrico Descrito numa peço por autor do seu tempo Ameipsias assim Eu odeio Sócrates aquele mendigo tagarela que teoriza sobre tudo mas se esquece de pensar onde pode arranjar uma refeição KONSTAN 2016 P 114 Sócrates viveu de maneira simples andando em todos os lugares e falando com pessoas das mais diversas profissões e status na sociedade grega Andava pelo mercado público e ia a festas reservadas à elite Sua vestimenta era sóbria e o seu comportamento era de uma pessoa humilde sem com isso ter uma postura subserviente vide a sua fina ironia2 Claro era um perguntador Sobre a simplicidade se Sócrates Sócrates era um desajustado nessa companhia sofistas ele não cobrava pela instrução vestia trajes simples e caminhava descalço mesmo no inverno Essa dureza era também refletida nos seus alunos eles dormem ao ar livre KONSTAN 2016 p 120 2 Ver KIERKEGAARD 2013 Os verdadeiros filósofos têm uma vida autêntica A vida autêntica é a vida de alguém que vive sem medo ou melhor de alguém que consegue vencer a angústia existencial Essa angústia que é decorrente do nosso desconforto consciente ou não com a nossa mortalidadefinitude Quando analisada essa nossa angústia permite que se tenha acesso à presença a consciência do presente mais radical uma verdadeira presentificação A vida autentica é digamos uma vida fora do comum que aponta novos caminhos Há portanto uma contribuição positiva ou moral do afazer filosófico Com isso se quer dizer que a atitude crítica não é somente desconstrutiva Vejamos outra cena descrita por Xenofonte atentemos para a ausência de qualquer traço de medo e pela tranquilidade em momento que para qualquer outro é de desespero o caminho para a morte sabida Reparando que os que o acompanhavam se desfaziam em lágrimas disselhes Que é isto Agora é que achais de chorar Chego ao termo da carreira quando nada senão males posso esperar minha morte deve ser motivo de alegria para todos vós Acompanhavao certo Apolodoro alma simples e extremamente afeiçoada a Sócrates que lhe disse Não posso suportar Sócrates ver te morrer injustamente Então se diz que passandolhe de leve a mão pela cabeça Sócrates respondeu Como Meu caro Apolodoro então preferias me ver morrer justamente E ao mesmo tempo sorria XENOFONTE In SÓCRATES 1996 p 207 Em síntese a ética socrática prescreve uma vida simples presentificada vivida sem medo valorizadora da verdade e da coletividade ÉTICA EPICURISTA A ética do Jardim aponta para o prazer sereno como bem supremo e é sustentada no conhecimento verdadeiro na ciência da natureza Crenças errôneas sobre a natureza do divino tornamse fonte de tormentos e perturbações Não se deve procurar agradar com oferendas nem temer a ira dos Deuses pois eles nada têm a ver com questões humanas Epicuro procura libertar a alma dos temores infundados das crendices PESSANHA 1992 Mensagem de Epicuro em carta enviada à sua mãe encontrada por arqueólogos franceses no pórtico de uma cidade na Capadócia Turquia PESSANHA 1992 Não há o que temer quanto aos deuses Não há nada a temer quanto à morte Podese alcançar a felicidade Podese suportar a dor ÉTICA ESTÓICA AS CARTAS DE SÊNECA A filosofia estoica nasce na Grécia cerca de um século depois do desaparecimento de Sócrates É a filosofia de Zenão Cleanto e Crisipo Tem como objeto de reflexão principal a vida boa ou vida feliz que é alcançada pelo sábio VEYNE 2015 p 49 Há neste sentido uma mesma digamos comunhão de propósitos com a filosofia de Epicuro O estoicismo floresce também na cultura romana com Sêneca Epiteto e Marco Aurélio por exemplo Sêneca viveu nos primeiros anos da era cristã 1DC 63 DC Escreveu a partir do âmbito de influência cultural romana Sobre o momento e conteúdo das cartas Em Cartas a Lucílio obra a partir da qual sistematizamos algumas orientações da ética senequiana temos a filosofia de um autor maduro Os textos foram escritos por uma pessoa experiente naqueles que viriam a ser os seus últimos anos de vida3 São cartas reflexivas que falam sobre a orientação para uma boa vida Tem portanto conteúdo fundamentalmente ético O que é uma vida boa Uma análise sistemática de Cartas a Lucílio 3 as cartas a Lucílio são a forma mais amadurecida do seu pensamento Sêneca elas contem uma soma de reflexões sobre enorme variedade de problemas na sua totalidade de caráter ético CAMPOS In SÊNECA 2014 p V Uma vida simples pacata sem muitas viagens ou excitações de qualquer tipo Se tomares nas mãos o dia de hoje conseguiras depender menos do dia de amanhã talvez te apeteça perguntar como procedo eu dirteei com franqueza como alguém que vive bem mas sem esbanjamento Tenho as minhas contas em dia p 2 não viajas continuamente nem te deixas agitar por constantes deslocações Um semelhante deambular é o início duma alma doente eu de fato entendo que o primeiro sinal de um espírito bem formado consiste em ser capaz de parar e coabitar consigo mesmo p 3 Não é pobre quem tem pouco mas sim quem deseja mais p 4 Uma vida vivida sem grande apego as coisas sem grandes ambições e com discrição sem chamar a atenção Nenhum objeto dá bem estar ao seu possuidor senão quando esse está preparado para ficar sem ele p 8 Evita tudo quanto se torna notado quer na tua pessoa quer no seu estilo de vida p 10 Para começar não devemos ter ambições em segundo lugar não devemos possuir nada capaz de ser aliciante para um eventual salteador qualquer ladrão deixa em paz quem nada tem p 46 Se quiseres estar livres para cuidares da alma deverás ser pobre ou fazer vida de pobre O estudo da filosofia não dará fruto se não adotares uma vida frugal ora a frugalidade não passa de pobreza voluntária p 58 Uma vida sábia e boa é uma vida que envolve o conhecimento interior Envolve portanto uma dose de reflexão Isso não significa necessariamente uma vida completamente isolada dos outros em puro ato de contemplação individual mas uma vida equilibrada onde a felicidade seja buscada dentro de si Os teus autênticos bens são apenas de foro íntimo p 18 o sábio embora se baste a si próprio precisa de ter amigos deseja mesmo têlos no maior número possível mas não para vier uma vida feliz pois é capaz de viver uma vida feliz mesmo sem amigos p 25 Não te interessa a opinião dos outros é sempre incerta há sempre divisão de opiniões p 99 Uma vida boa é uma vida sem medo e sem angústias É uma vida presentificada ou seja vivida no presente mais radical Há nisso um caráter terapêutico O mais feliz dos homens o dono seguro de si próprio é aquele que aguarda sem ansiedade o dia seguinte Quem cotidianamente diz vivi p 36 O pânico que nos toma apensa provém de suspeitas e ilusões Não há tipo de terror tão funesto tão incontrolável como o pânico se o medo faz perder a razão o pânico gera a completa loucura É natural que no futuro nos suceda um mal qualquer o fato é que de momento ainda não existe Mesmo que seja no futuro para quê começar a sofrer antecipadamente p 42 O sábio tem firmeza de caráter não é malhumorado mas também não é de ficar fazendo graça Hoje se diz enfrentar a adversidade estoicamente sem grandes perturbações mesmo em momentos de sofrimento O que nós estoicos de fato afirmamos é que tudo o que nos suscita múrmuros e suspiros não tem a mínima importância e só merece desprezo p 40 Dizeme que te preocupa qual será o resultado de um processo intentado contra ti por um inimigo furibundo e julgas que eu te poderei persuadirte a teres melhores pensamentos e a te deixares embalar por esperanças lisonjeiras Mas para quê estares a sofrer antecipadamente com os teus males que aliás se farão sentir bem depressa e a estragares o presente com o medo do futuro p 87 Uma vida boa é uma vida equilibrada sem excessos ponderada Admito que é inata em nós a estima pelo próprio corpo admito que temos o dever de cuidar dele Não nego que devamos darlhe atenção mas nego que devamos ser seu escravo p 44 Estamos em dezembro a cidade está coberta de suor A ostentação desregrada invadiu toda a vida coletiva Será de fato uma prova segura de firmeza de animo não acompanhar não se deixar guiar por um ambiente aliciador de concessões à volúpia Se é indício de maior constância mantermonos inteiramente sóbrios em meio de uma multidão ébria a ponto de vomitar será mais moderada a nossa atitude se não situarmos à margem não nos tornando notados nem nos deixando absorver na turba p 62 o resultado duma cólera extrema é a insânia e por isso não há que evitar a cólera não tanto por obediência à moderação como para conservar a sanidade mental p 65 A filosofia como ação para a vida boa ou seja a filosofia como orientação ética comportamental efetiva O objetivo da filosofia consiste em dar forma e estrutura à nossa alma em ensinarnos um rumo na vida em orientar os nossos atos em apontarnos o que devemos fazer p 55 A filosofia nos ensina a agir não a falar p 70 A vida boa é sóbria Não pense que te escrevo para dizer como o inverno que aliás foi curto e pouco rigoroso se portou bem conosco ou como a primavera está desagradável ou como o frio chegou fora de tempo Isso são frioleiras próprias de quem fala por falar Eu só escrevo aquilo que sinto ter utilidade O que tens a fazer antes de mais caro Lucílio é aprender a ser alegre O meu desejo é que a alegria habite sempre em tua casa acreditame a verdadeira alegria é uma coisa muito séria Julgas tu que se pode pensar em desprezar a morte em abrir as portas à pobreza em refrear os prazeres em exercitar a capacidade de suportar a dor e tudo isso sem franzir a testa sempre com o rosto como diriam os nossos jovens pretensiosos descontraído Quem interioriza estes pensamentos alcança uma grande alegria mas de ar pouco sorridente p 85 A vida boa exige humildade respondendo pergunta de Lucílio Quem és tu para me dar conselhos É como companheiro de sanatório que falo contigo da nossa enfermidade e te dou parte dos medicamentos que uso Escuta portanto as minhas palavras como se estivesses me ouvindo a falar com meus botões p 101 ÉTICA EM SCHOPENHAUER Schopenhauer não fundamenta a sua filosofia numa visão dualista de mundo A visão materialista do filósofo se concentra em muitos momentos em nos fazer ver que estamos sempre diante de uma ilusão a ilusão da nossa separação radical da matéria que nos cerca Nós somos o todo nascemos dele e retornaremos a ele Tratase de uma postura digamos existencialista que nos indica que a vida é um pequeno acontecimento de subjetividade localizado temporalmente entre o nascimento e a morte É nesse particular inclusive que podemos perceber um aspecto interessante da obra de Schopenhauer a sua proximidade da visão de mundo oriental Não é infrequente as menções a literatura sânscrita ou ao pensamento budista Para o autor o fundamento da ação moral é a piedade Para ele a piedade é um fato da existência humana admirável e misterioso É justamente a piedade que torna possível aos seres humanos transpor a ideia de que somos totalmente separados uns dos outros 2014 p 109 Alguns apontamentos específicos Nós somos parte da natureza somos imortais ressignificação da vida após a morte Ora o homem é a natureza a natureza no mais alto grau de consciência de si mesma se portanto a natureza é apenas o aspecto objetivo da vontade de viver o homem uma vez convencido disso pode com razão sentirse consolado completamente com a sua morte e a dos seus amigos só tem que dar uma olhada na natureza imortal esta natureza no fundo é ele Eis portanto o que quer dizer Xiva com o linga SCHOPENHAUER 2001 p 290 sobre a justiça eterna As expressões são variadas aqui está uma em particular perante os olhos do neófito desfila a série de seres vivos e sem vida e sobre cada um deles é pronunciada a palavra invariável que se chama por este motivo a Fórmula a Mahavakya Tatoumes ou mais corretamente Tat tvam asi isto é Tu és isto SCHOPENHAUER 2001 p 373 O caráter indescritível da bondade da virtude A virtude somente pode ser percebida no comportamento não nas palavras Com efeito a virtude resulta na verdade do conhecimento só que não do conhecimento abstrato daquele que se comunica através de palavras a bondade sincera a virtude desinteressada a verdadeira nobreza não têm sua origem no conhecimento abstrato não é nas palavras que obtém a sua expressão adequada mas apenas nos fatos nos atos na conduta de uma vida de homem SCHOPENHAUEER 2001 p 386 388 A vida boa de alguém justo somente é possível quando se tem consciência que somos parte do todonatureza que o indivíduo é apenas uma ilusão o véu de Maya A ética depende de se abandonar a ilusão da subjetividadeindividualidade Digamos portanto em poucas palavras que se denomina justo quem quer que reconheça espontaneamente os limites traçados só pela moral entre o certo e o injusto e que o respeita mesmo na ausência do Estado ou de qualquer outro poder capaz de os manter o indivíduo justo para aumentar o seu bemestar nunca irá infligir sofrimentos ao outro na mesma medida o seu olhar fura o princípio da individuação o véu de Maya ele coloca o seu semelhante em pé de igualdade consigo não lhe faz mal SCHOPENHAUER 2001 p 389 A vida boa é a vida simples Querer o menos possível e conhecer o mais possível eis a máxima que conduziu minha trajetória de vida SCHOPENHAUER 2009 p 3 A felicidade do homem ordinário reside na alternância entre trabalho e prazer para mim ao contrário ambos são uma coisa só SCHPNEHAUER 2009 p 7 O sábio enfrenta a morte sem medo Vence a angústia existencial pela consciência do todo da natureza e portanto da nossa continuidade Sempre desejei uma boa morte pois quem durante toda vida foi só decerto saberá enfrentar melhor que outro esse negócio solitário Em vez de ser tomado pelo berreiro próprio a limitada capacidade dos bípedes expirarei na alegra consciência de ter cumprido a minha missão e de retornar para lá de onde emergi altamente agraciado SCHOPENHAUER 2009 p 69 O que serás após a morte embora seja nada será para ti tão natural como é agora o teu ser orgânico individual portanto deverias temer o instante da travessia Uma vez que a existência é essencialmente pessoal tampouco o termino da personalidade pode ser considerado uma perda SCHOPENHAUER 2016 p 31 A matéria pela sua persistência absoluta asseguranos uma indestrutibilidade em virtude da qual aquele que fosse incapaz de conceber uma outra poderia consolarse com uma ideia de certa imortalidade O quê dirseia a persistência de um mero pó de uma matéria bruta seria a continuidade do nosso ser Conhecem então esse pó sabem o que ele é e o que pode ser Antes de o desprezarem aprendam a conhecelo Essa matéria que não é mais que pó e cinza dentro em pouco dissolvida na água vai se tornar num cristal moldarse em plantas e animais e do seu seio misterioso desenvolver enfiem essa vida SCHOPENHAUER 2014 p 88 A vida é movimento é inconstância inferese o desapego Nossa existência não tem nenhuma base na qual apoiarse mais que o presente que se desvanece Por isso tem por forma o movimento constante sem possibilidade alguma de descanso pelo qual ansiamos SCHOPENHAUER 2016 p 77 A vida boa é presentificada As cenas de nossa vida assemelhamse às imagens de um mosaico bruto que de perto não fazem efeito mas é preciso manterse longe delas para encontra las belas Portanto conseguir algo que se deseja intensamente significa descobrir que é inútil nós sempre vivemos na expectativa de algo melhor também muitas vezes e ao mesmo tempo arrependidos com ânsia do passado O presente ao contrário apenas o aceitamos e por nada o respeitamos senão como caminho para o objetivo SCHOPENHAUER 2016 p 79 Que tolice é lamentarse e reclamar de não haver aproveitado no passado a ocasião desta ou daquela felicidade ou prazer O que mais ganhamos agora com isso A múmia ressecada de uma lembrança SCHOPENHAUER 2016 p 89 A vida boa é aquela onde se controla os desejos não se é escravo do querer inferese a vida de alguém que sabe lidar com a frustração Querer é essencialmente sofrer e como viver é querer toda a existência é essencialmente dor SHOPENHAUER 2014 p 39 O homem seduzido pela ilusão da vida individual escravo do egoísmo só vê as coisas que o tocam pessoalmente e encontra aí motivos incessantemente renovados para desejar e querer pelo contrário aquele que penetra a essência das coisas que domina o conjunto chega ao repouso de todo o desejo e de todo o querer Daí em diante a sua vontade desviase da vida repele com susto os gozos que a perpetuam O homem chega então ao estado de renúncia voluntária de resignação da tranquilidade verdadeira e da ausência absoluta de vontade SCHOPENHAUER 2014 p 114 SPINOZA ÉTICA Baruch Spiniza 1632 1677 filosofo holandês foi excomungado da Sinagoga por seu liberalismo em matéria de práticas religiosas a ética é uma doutrinada salvação pelo conhecimento de Deus Tratase de um panteísmo a ética enquanto tratado de beatitude apresentase como um racionalismo absoluto CHARDIN 1995 p 347 A razão nos leva a uma vida ética que por sua vez consiste em nos adequarmos a natureza O comportamento justo é racional A razão nos ajuda a controlar os desejos controla o querer enfrenta a frustração Uma visão panteísta Chamo de servidão a impotência humana para regular e refrear os afetos SPINOZA 2019 p 155 na vida é útil sobretudo aperfeiçoar tanto quanto pudermos o intelecto ou a razão e nisso exclusivamente consiste a suprema felicidade ou beatitude do homem SPINOZA 2019 p 205 Quem compreende a si próprio e os seus afetos clara e distintamente ama a Deus SPINOZA 2019 p 223 A Natureza é Deus a natureza não age em função de um fim pois o ente eterno e infinito que chamamos de Deus ou natureza age pela mesma necessidade pela qual existe SPINOZA 2019 p156 A vida boa é a vida de acordo com a Natureza Quanto ao bem e ao mal também não designam algo de positivo a respeito das coisas consideradas e si mesmas e nada mais são do que modos de pensar ou de noções que formamos por compararmos coisas entre si Com efeito uma única coisa pode ser má e boa ao mesmo tempo Assim por bem compreenderei aquilo que sabemos com certeza ser um meio para nos aproximarmos cada vez mais do modelo de natureza humana que estabelecemos Por mal por sua vez compreenderei aquilo que com certeza sabemos que nos impede de atingir esse modelo SPONOZA 2019 p 157 Orientações concretas de vida É útil aquilo que conduz à sociedade comum dos homens ou seja aquilo que faz com que os homens vivam em concórdia e inversamente é mau aquilo que traz discórdia à sociedade civil SPINOZA 2019 p 185 O ódio nunca pode ser bom SPINOZA 2019 p 186 O soberbo ama a presença dos parasitas ou dos aduladores enquanto odeia a dos nobres SPINOZA 2019 p 193 Não há nada que o homem livre pense menos que na morte e sua sabedoria não consiste na meditação da morte mas da vida SPINOZA 2019 p 200 Não é pelas armas entretanto que se pacificam os ânimos mas pelo amor e pela generosidade SPINOZA 2019 p 206 É comum que a concórdia seja gerada também pelo medo mas neste caso tratase de uma concórdia à qual falta a confiança Acrescentese que o medo provem da impotência de animo e que não diz respeito por isso ao uso da razão SPINOZA 2019 p 207 O cuidado com os pobres é uma incumbência da sociedade como um todo e tem em vista a utilidade comum SPINOZA 2019 p 207 Quanto ao matrimônio é certo que esta de acordo com a razão se o desejo de unir os corpos não é produzido apenas pela aparência física SPINOZA 2019 p 207 O fato é que todas as coisas acabaram por se resumir ao dinheiro Daí que sua imagem costuma ocupar inteiramente a mente do vulgo pois dificilmente podem imaginar outra espécie de alegria que não seja a que vem acompanhada da ideia de dinheiro como sua causa Esse vício entretanto só pode ser atribuído àqueles que buscam o dinheiro não porque este lhes falte ou para suprir as suas necessidades mas porque aprenderam a arte do lucro da qual muito se vangloriam SPINOZA 2019 p 209 Referências CHARDIN Pierre Teilhard O fenômeno humano São Paulo Cultrix 1995 KONSTAN David Sócrates em As nuvens de Aristófanes In MORRISON DONALD R Sócrates São Paulo Ideias e Letras 2016 PESSANHA José Américo Motta As delícias do Jardim IMS 1992 Em httpsartepensamentoimscombritemasdeliciasdojardim SANTOS Bento Silva Virtude e Eudaimonia nos diálogos socráticos Síntese Rev de Filosofia V 37 N 117 2010 5 26 SCHOPENHAUER Arthur Parerga e paraliponema pequenos escritos filosóficos Porto Alegre Zouk 2016 Conhece a ti mesmo São Paulo Martins Fontes 2014 O mundo como vontade e representação Rio de Janeiro Contraponto 2001 As dores do mundo São Paulo Edipro 2014 SÊNECA Lúcio Aneu Cartas a Lucílio Lisboa Calouste Gulbenkian 2014 SPINOZA Benedictus Ética Belo Horizonte Autêntica 2019 XENOFONTE In Os pensadores Sócrates São Paulo Nova Cultural 1996 HISTÓRIA DAS IDEIAS ÉTICAS II ÉTICA CRISTÃ Contextualização crítica psicanálise crise ética contemporânea Aunque nuestro sistema económico há enriquecido al hombre materialmente lo há emprobrecido humanamente No obstante toda la propaganda y los slogans acerca da fe em Dios del mundo ocidental de su idealismo su preocupacion espiritual nuestro sistema há creado uma cultura materialista y um hombre materialista Hay poco pensamento crítico poco sentimiento real FORMM 2013 P 100 101 Sobre o método de análise A análise cientifica dos valores religiosos fenomenologia da religião é uma análise externa e difere da analise interna que pode resultar no fenômeno da Fé Humana Muitas vezes a fé se mostra um elemento estruturante da vida humana A fé conforta e encoraja A ciência nos leva a humildade não se pode saber de tudo somos pequenos A fé sob a perspectiva essencialista é um mistério não perscrutável pelo pensamento cientifico É um mistério O que o cientista pode fazer com maior facilidade é estudar a religião institucionalizada Lembrando Weber A ética as nossas escolhas e ideias religiosas tem repercussão na maneira como nos comportamos neste mundo ou sejaneste mundo ou seja o cientista da ética analisa o que fazemos nestafazemos nesta vida que vivemos no planeta terra É o comportamento concreto das pessoas religiosas que pode ser objeto de estudo sociológico Sob esse olhar sociológico não se pode deixar de considerar a multiplicidade institucional do discurso cristão que se dissemina socialmente pela voz institucional dos agentes dasas igrejas presbiterianos pentecostais neopentecostais católicos de diversas vertentes humanistas etc Ainda sob o olhar sociológico pode se dizer que no Brasil atual o protestantismo institucional evangélicos vive uma espécie de mudança de status Deixa de ser discurso culturalmente periférico e passa a ocupar o centro institucional da República bancada institucional no congresso4 associações de juristas e empresários etc Há uma capitalização cultural dos valores do grupo na economia de bens simbólicos5 A existência dessa multiplicidade institucional do cristianismo nacional e o contexto cultural atual justificaram ao nosso ver o interesse na produção do esboço de análise sociológica contido na parte final desse texto A análise sociológica no entanto não é o centro de interesse neste estudo De certa maneira tentei responder à pergunta existem valores compartilhados pelos diversos grupos de cristãos Existe um centro de valores cristãos Quais são esses valores Tentei formular uma resposta pela leitura do texto de base o novo testamento sob uma chave dupla uma pragmática onde se tenta projetar o contexto de vida do cristo histórico e uma semântica quando se tenta interpretar o conteúdo de algumas passagens Metodologicamente falando buscouse interpretar o evangelho Mateus Marcos Lucas e João Não é uma leitura do processo de institucionalização histórica das primeiras comunidades cristãs Atos e Cartas dos primeiros cristãos de destaque Nem tampouco uma interpretação da fala digamos onírica apresentada por João no apocalipse No dia do Senhor o espírito tomou conta de mim E atrás de mim ouvi uma voz forte como trombeta que dizia Apocalipse 1 10 Em boa medida o texto organizado abaixo representa uma tentativa de análise sobre os valores cristãos interessada em um elemento de caráter existencial 4 Sobre o crescimento da banca evangélica ver QUADROS MADEIRA 2018 5 Veja por exemplo a estratégia de marketing eu sou universal onde os casos de sucesso apresentam agentes do público tradicional um morador de rua que se transformou em empresário de sucesso ao lado de um público não tradicional um modelo e uma chefe de cozinha por exemplo Em httpswwwuniversalorgeusouauniversalcases Acessado em 03102019 Uma análise a serviço do ser humano e não das igrejasApesar da sociologia nos mostrar com clareza a existência dessas das diversas vertentes institucionais do cristianismo No entanto considero atualmente importante num momento onde cada vez mais se fala nos valores cristãos a análise dos valores crisfundada num outro esquema de classificação De acordo com esse olhar que proponho com base principalmente nas análises de Erich Fromm ao invés de ressaltar diferenças nos discursos institucionais das igrejas sobre o cristianismo devese buscar diferenciar o cristianismo vivo do cristianismo dogmático Grosso modo o cristianismo vivo é aquele que é vivido pelos cristãos ou seja o cristianismo como elemento constitutivo do caráter já o cristianismo dogmático é aquele apenas falado ou seja aquele que está na boca das pessoas mas não nas suas ações Nas sociedades de consumo atuais apesar de muito falado o cristianismo é pouco vivido O cristianismo se dogmatiza perde vida e se transforma em palavras vazias como o que diziam os doutores da lei nos tempos de Jesus ou os doutores da igreja católica o pensamento institucionalizado na verdade nos tempos de nascimento do protestantismo No ocidente atual la idea Cristiana aún se utiliza pero fundamentalmente de forma ideológica esto es sin basarse de forma efectiva en el espíritu y la conduta de la mayoría que profesa essas ideas FROMM 2016 p 214 Para um questionamento da cristianização efetiva do mundo ocidental Mas a Europa terá sido de fato cristianizada Não obstante a a resposta afirmativa dada a essa questão uma análise mais acuradas demostra que a conversão da Europa ao cristianismo constituise num fracasso geral O máximo que se pode falar é de uma limitada conversão ao cristianismo ocorrida no século XII ao XVI e que nos séculos anteriores e posteriores a esse período a conversão foi na maior parte uma ideologia e uma submissão mais ou menos séria à igreja não significou uma mudança de sentimentos isto é de estrutura de caráter FROMM 1987 p 141 Algumas das 95 teses de Lutero6 que indicam o descontentamento com a forma dogmática da igreja 45ª Tese Devese ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências não adquire indulgência do papa mas desafia a ira de Deus 54ª Tese Cometese injustiça contra a palavra de Deus quando no mesmo sermão se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da palavra do Senhor Outra crítica ao cristão nominal vem de outra vertente protestante a de João Calvino que nas institutas da vida cristã7 diz Nesta altura devo dirigir a palavra àqueles que não tendo nada de Cristo exceto o título entretanto querem ser reconhecidos como cristãos Que atrevimento deles quererem gloriar se em seu sacrossanto nome Vêse pois que é baseados em ensinamentos falsos que esses tais dizem que conhecem a Cristo E com isso lhe fazem grande injúria por mais belas que sejam as suas palavras Porque o evangelho não é uma doutrina de língua mas de vida E diferentemente das outras disciplinas não se apreende só pela mente e pela memória mas deve envolver e dominar a alma e ter como sede e receptáculo as profundezas do coração razão temos nós para detestar os palradores que se contentam em ter o evangelho na boca desprezandoo totalmente em sua maneira de viver A ética cristã e suas duas chaves de análise a vida vivida de Jesus e a mensagem de sua falaIntrodução do problema metodológico Há duas perspectivas não excludentes quando se interpreta a vida vivida pelo Cristo histórico para se identificar a ética cristã A primeira é o entendimento da ética cristã como a ética vivida por Jesus Cristo A vida como modelo de moralidade cristã Nesse sentido buscamos o modelo ético na vida do chamado Jesus Histórico 6 httpwwwdhnetorgbrdireitosanthistmarcoshdhmartinholutero95tesespdf 7 httpsfrutodagracafileswordpresscom201003institutasdareligiaocristajoaocalvinopdf A segunda é o entendimento da ética cristã como o exemplo falado por Jesus nas suas pregações Essa é a ética contida na semântica do evangelho escritura sagrada do cristianismo Opiniões de quem busca o modelo ético na vida vivida A afirmação de que deus se revela indiretamente através de acontecimentos históricos pertence ao núcleo central da fé de Israel para nós esse enunciado adquire pleno cumprimento em Jesus Cristo Ele constitui para o cristão a chave histórica da revelação de Deus ECHEGARAY 1982 p 34 Quando falamos em cristologia pretendemos nos limitar ao discurso sobre a própria pessoa de jesus e a sua missão não tocamos pois a não ser indiretamente na mensagem de Jesus SEGALLA 1992 p 9 Quero provar que Jesus Ieshua é o parâmetro daquilo que significa ser cristão SWIDLER 1993 p 7 Jesus foi um herói do ser do dar do participar Essas qualidades constituíam profundo atrativo para os romanos pobres bem como para alguns ricos que tiveram abalado o seu egoísmo FROMM 1987 p 142 Acresce que para nos despertar mais vivamente a Escritura nos demonstra que assim como Deus em Cristo nos reconciliou consigo assim também ele o constituiu em exemplo e padrão ao qual devemos amoldarnos CALVINO p 48 Jesus Imagem inicial Alguém de fama no seu tempo Figura impressionante Causou controvérsias Sereno porém firme Simples Inteligente Corajoso Não subserviente Se movimentava bastante na palestina beatnik Falava com multidões Se isolava em reflexão Era alto fisicamente Jesus teve uma vida simples foi um operário pobre entre os pobres Jesus com os pescadores E Jesus andando junto ao mar da Galileia viu a dois irmãos que lançavam rede ao mar porque eram pescadores E disselhes vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens Mateus 4 18 Vida simples Sem apego a bens materiais Vejamos a cena descrita em Marcos 10 Homem se ajoelha e pergunta O que faço para herdar a vida eterna Jesus Cumpra os mandamentos Homem Já faço isso desde jovem Jesus Então falta apenas uma coisa Vai vende tudo quanto tens e dá aos pobres Jesus foi um operário artesãocarpinteiro Classe média baixa na Galileia Jesus trabalhador manual Não é um homem que levante voo às nuvens sobre teorias Suas intuições e ensinamentos são concretos LARRANAGA 1989 p 23 Quem é Jesus Alguém pobrelivredisponívelservidor que percorreu o caminho da pobreza ao amor LARRANAGA 1989 p 118 Jesus vem de um pequeno burgo da baixa galileia Nazaré afastado dos grandes eixos de circulação Ele é filho do carpinteiro da aldeia José que desde muito cedo iniciou na sua profissão Em lugar de um aldeão judeu mediterrâneo ou seja como um trabalhador de construção como alguns gostam de qualificalo Jesus é um artesão um técnico em madeira pertence a uma categoria um pouco mais elevada que os simples operários PETITFILS 2015 p 57 Origem Real Davi Por isso Jesus nasceu em Belém Terra de Davi foi ser registrado Lucas 24 Jesus no seu período de ministério público teve efetivamente uma vida simples Vivendo em casas simples casa de SimãoPedro em Carfanaum se vestindo de forma mediana diferente de João Batista que se vestia com maior pobreza com períodos de isolamento ascético Geralmente na região montanhosa e desértica a leste do rio Jordão Um missionário que se movimentou bastante Galileia Judeia Pessoa inteligenteolhar sociológico sobre a inspiração divina Educada Criança surpreendeu debatendo com adultos estudiosos no templo de Jerusalém Depois de adulto também e chamava a tenção dos estudiosos Como é que esse homem tem tanta instrução se nunca estudou João 7 15 Em geral não passa uma imagem de ascetismo rigoroso Tem uma imagem de equilíbrio Perguntam para Jesus Por que os discípulos de João Batista e os fariseus fazem jejum e os teus discípulos não fazem Marcos 2 18 Jesus foi para todos Tende ao lado mais frágil Acolhe a todos não maniqueísta todos são dignos de consideração Ele defendeu a mulher pecadora que num jantar na casa de um fariseu lavou os seus pés O fariseu não tinha essa pessoa como digna de consideração Ele engrandece a mulher e perdoa os seus pecados pois ela demostrou muito amor Lucas 7 47 Defende a mulher adultera que é levada ao templo pelos judeus religiosos Dá uma lição de moral nos presentes Quem de vocês não tiver pecado atire a primeira pedra João 8 7 As crianças Jesus atraia uma multidão de pessoas e os discípulos não queriam deixar as crianças se aproximarem Deixem as crianças vir a mim Marcos 10 14 Ele tinha seguidores de classe média é verdade Entre os 12 primeiros apóstolos vejase Levi Mateus servidor público coletor de impostos Até alguns romanos respeitavam e aceitavam Jesus Ele encontrava com gente importante como o fariseu Nicodemos João 3 1 Ele curou o filho do funcionário do Rei que tinha um filho doente João 4 50 Jesus ficou hospedado na casa de Zaqueu em Jericó Zaqueu era chefe dos cobradores de impostos e muito rico Lucas 191 No entanto o maior número de seguidores da multidão que passou a acompanhar Jesus era de pessoas em desvantagem social pobres perseguidos doentes estrangeiros etc Depois de recomendar um voto de pobreza entregar tudo aos pobres e seguir Jesus ele diz É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus Marcos 10 25 Os gregos estrangeiros não judeus também queriam falar com Jesus depois dele ter ressuscitado Lázaro e voltado para Jerusalém Falam com dois discípulos que provavelmente falavam grego Felipe e André e eles falam com Jesus sobre os gregos O momento é tenso Jesus está chegando a Jerusalém e já prevê a sua prisão mas Jesus diz Se alguém que servir a mim que me siga João 12 26 Cena Jesus almoçando na casa de Levi coletor de impostos Jesus se faz acompanhar de gente não religiosa e é alvo dos hipócritas Por que Jesus come e bebe junto com cobradores de impostos e pecadores Jesus respondeu As pessoas que tem saúde não precisam de médico mas só as que estão doentes Marcos 2 16 Ele conversa de igual para igual com a samaritana De fato os judeus não se dão bem com os samaritanos João 4 9 quando estava em transito indo da Judéia à Galileia e atravessou a Samaria Jesus pediu água e a mulher disse Como é que tu sendo judeu pedes de beber a mim que sou samaritana João 4 9 Felizes de vocês os pobres porque o Reino de Deus lhes pertence Felizes de vocês que agora tem fome porque serão saciados Felizes de vocês que agora choram porque hão de rir Lucas 62021 Jesus e as mulheres Andava também com Jesus algumas mulheres que ele havia curado de espíritos maus e doenças Lucas 8 1 Jesus de todos Perguntado sobre o que fazer para receber a vida eterna Jesus responde ame a Deus e aos seu próximo E a pergunta seguinte é e quem é o meu próximo Conta a história do bom samaritano O companheiro amado pode estar do outro lado Lucas 10 2530 Mas os fariseus e os Doutores da Lei criticavam Jesus dizendo esse homem acolhe pecadores e come com eles Jesus depois de contar a parábola da ovelha perdida E eu lhes declaro assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão Lucas 1525 Jesus viveu sem medo Presentificação fortaleza Jesus também se angustiou momentos antes da sua prisão Tomado de angústia Jesus rezava com mais insistência Lucas 2244 Fortalece o espirito Dá coragem Promete melhora futura Meu reino não é deste mundo Jesus envia os discípulos para ensinarem nos povoados da região Diz para eles viverem um dia de cada vez acreditando no presente Jesus recomendou que não levassem nada pelo caminho além de um bastão nem pão nem sacola nem dinheiro na cintura Marcos 68 Jesus diz para os discípulos que saem em pregação em geral pessoas simples de pouca instrução que não tenham medo na hora de falar Diz que haverá presença de espírito Jesus viveu o amor e falava sobre o amor Porque a Lei foi dada por Moisés mas o amor e a fidelidade vieram através de Jesus Cristo JOÃO 1 17 Eu dou a vocês um mandamento novo amemse uns aos outros João 13 34 O que parece ter impressionado muitos dos contemporâneos de Ieshua na pessoa dele tornandoos seus discípulos deve ter sido sua sabedoria e seu amor interiores ele apresentava o ideal de amor altruístico SWIDLER 1993 p 66 Ao advogar a vida no amor altruístico Jesus instava outros a aprenderem com sua humildade SWIDLER 1993 p 67 Em sua própria carne Jesus chegou a experimentar que Deus não é antes de tudo temor mas amor LARRANAGA 1989 p 40 Amai a vossos inimigos fazei bem aos que vos odeiam Lucas 6 27 Embora os conceitos possam diferir uma crença define qualquer ramo do cristianismo a crença em Jesus Cristo como salvador da humanidade que deu sua vida pelo amor de seus semelhantes Ele foi um herói do amor um herói sem poder que não empregou a força que não queria governar que não queria possuir nada FROMM 1987 p 142 Jesus foi um ser humano livre falava com autoridade Existe em primeiro lugar um traço que se destaca com vigor extraordinário a liberdade de Jesus ECHEGARAY 1982 p 135 Jesus respeitava a lei dos judeus mas fazia a sua interpretação com liberdade Não dogmático Atuava com independência dos doutores da lei Ver FOX 1993 p 104 114 Jesus ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da lei Marcos 122 Jesus era livre e falava com autoridade curou um homem que estava doente há trinta e oito anos num dia de sábado Ele disse para o homem paralítico levantar e carregar a sua cama trabalho proibido no sábado Com isso o trabalho dos dois em pleno sábado Jesus atraiu a raiva das autoridades Ele interpretava com autoridade Meu Pai continua trabalhando até agora e eu também trabalho João 5 17 Outro trabalho de sábado cura do cego de nascença João 9 Jesus interpretava a lei com autoridade Isso deixava os estabelecidos furiosos Depois que Jesus disse que era maior que Abraão os judeus do templo eles chamaram Jesus de louco e depois quiseram apedrejalo Então eles pegaram pedra para atirar em Jesus Mas Jesus se escondeu e saiu do templo João 8 59 A liberdade estava inclusive relacionada ao desapego Ora um pobre de Deus é um homem livre Quem não tem nada nem quer ter nada não pode temer nada porque o temor é um feixe de energias desencadeadas para a defesa das propriedades LARRANAGA 1989 p 118 Jesus não foi hipócrita e combateu a hipocrisia Jesus foi contrário à boa parte da vida religiosa institucionalizada na sua época Os judeus como ele que iam na Sinagoga mostrar para os outros a sua fé eram comumente criticados Jesus critica quem valoriza a forma em detrimento do conteúdo Jesus era constantemente questionado pelos religiosos estabelecidos sobre a interpretação da lei judaica Todos estavam escutando Jesus e ele disse aos discípulos Tenham cuidado com os doutores da lei Eles fazem questão de andar com roupas compridas e gostam de ser cumprimentados nas praças públicas Gostam dos primeiros lugares nas Sinagogas e dos postos de honra nos banquetes No entanto exploram as viúvas e roubam suas casas e para disfarçar fazem longas orações Lucas 204547 com a mesma medida com que vocês medirem também vocês serão medidos Condena a hipocrisia formalidade fazia Falar e não fazer Os fariseus e os doutores da lei foram de Jerusalém e se reuniram em volta de Jesus Eles viram então que alguns discípulos comiam pão com mão impuras isto é sem lavar as mãos por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos Jesus Isaias profetizou bem sobre vocês hipócritas como está escrito Este povo me honra com os lábios mas o coração deles está longe de mim Marcos 756 Jesus viveu a vida dele sem se preocupar com o falatório Criticava a hipocrisia como no julgamento da adultera Atire a primeira pedra Não julguem e vocês não serão julgados não condenem e não serão condenados perdoem e serão perdoados Lucas 637 Hipócrita tira primeiro a trave do teu olho e então veras bem para tirar o argueiro que está no olho do teu irmão Lucas 6 42 Fala de Jesus Acautelaivos primeiramente do fermento dos fariseus que é a hipocrisia Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto Lucas 12 12 Jesus foi agressivoviolento sobre a diferença entre agressivo e altivo Às vezes Jesus se exaltava Ele foi violento Há trecho no novo testamento que descreve Jesus um tanto agressivo e irado Jesus provavelmente fez cena chamou a atenção no templo Ele usa um chicote improvisado de cordas para tanger bichos que eram vendidos para oferenda vira mesas dos comerciantes e se dirige a elas de maneira firme Tirem isso daqui não transformem a casa do meu Pai num mercado João 3 E acho no templo os que vendiam bois e ovelhas e pombos e os cambistas assentados e tendo feito um açoite de cordões lançou todos fora do templo e disse aos que vendiam pombos tirai daqui estes e não façais da casa de meu Pai casa de venda João 2 15 Coragem Na última ceia com os apóstolos Jesus tenta afastar o medo Eu disse isso tudo para que vocês não se acovardem João 16 1 Neste mundo vocês terão aflições mas tenham coragem eu venci o mundo João 16 33 Coragem Jesus estava num barco com alguns discípulos As águas estavam agitadas O pessoal tem medo Jesus meio bravo ele ameaçou o vento acalma a água e diz Por que vocês são tão medrosos Vocês ainda não têm fé Marcos 440 Jesus já prevendo que a prisão era iminente prepara o seu grupo para o combate quem tiver bolsa deve pegala como também uma sacola e quem não tiver espada venda o manto para comprar uma juntaram duas espadas Quando chega o momento da sua prisão há efetivamente confronto e um dos apóstolos cortou a orelha de um policial empregado do sumo sacerdote Mas nesse momento Jesus disse Parem com isso Lucas 22 4753 Então era a agressividade uma característica central na vida de Jesus Não era o amor a subversão violenta a matança de outros não corresponde ao seu modo de ser RATZINGER 2011 p 26 Ética cristã e humanismo Apesar dos fundamentos diferentes Deus e Homem é possível encontrar semelhanças entre a ética cristã e a ética humanista Por sua vez a ética humanista se encontra em boa medida positivada nos documentos constitucionais modernos definidores dos direitos fundamentais Secularização pode designar a superação de uma falsa sacralidade e o aparecer de um sentimento religioso mais genuíno HARING 1976 p 13 Concluindo nosso trabalho reassumimos agora as linhas fundamentais que tornam possível o diálogo ético com o humanismo moderno secular ou secularista HARING 1976 p 193 Muitas vezes o cristão e o humanista secular unemse na luta contra várias formas de discriminação HARING 1976 P 195 Já São Paulo encontra uma ponte para o diálogo com os humanistas do seu tempo influenciados pela ética estóica no conceito de consciência e relacionou a fé a convicção sincera da consciência o homem de hoje apela para a consciência quando protesta contra a intolerância dos indivíduos contra preconceitos contra a violação cruel das leis promulgadas em favor do bem comum especialmente daquelas destinadas a tutelar os direitos fundamentais de cada pessoa Em nome da consciência são contestadas sobretudo as tentativas de lavagem cerebral HARING 1976 p 196 A ética falada uma síntese moral do sermão da montanha A doutrina ética da montanha Mateus 5 Nele Jesus faz uma interpretação dos mandamentos antigos será considerado grande no reino dos céus quem 1 Não matar 2 Quem não tiver ódio encolerizar sem motivo com um irmão devemos buscar fazer as pazes 3 Não cometer adultério nem em pensamento qualquer que atentar numa mulher para cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela 4 Não fizer juramentos 5 Não buscar revanche acima de tudo se qualquer te bater na face direita oferecelhe também a outra 6 For caridoso Dá a quem te pedir 7 Amar a todos inclusive os seus inimigos pois se amardes os que vos amam que galardão tendes 8 Fizer o bem sem se preocupar com a publicidade do ato bondoso Quando pois deres esmola não faças tocar trombeta diante de ti 9 Não for hipócrita Não julgueis para que não sejais julgados E quando orares não sejas como os hipócritas pois se comprazem em orar de pé nas sinagogas e às esquinas das ruas para serem vistos pelos homens Hipócrita tira primeiro a trave do teu olho e então veras claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão 10 Perdoar a quem te faz mal Se perdoardes aos homens as suas ofensas também vosso Pai celestial vos perdoará a vós 11 Tiver uma vida sem apego aos bens materiais Não ajunteis tesouros da terra onde a traça e a ferrugem tudo consomem Mas ajuntai tesouros no céu 12 Viver uma vida presentificada sem grande ansiedade pelo futuro Não vos inquieteis pois pelo dia de amanhã porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo Basta a cada dia o seu mal 13 Agir com os outros da mesma forma que gostariam que agissem consigo próprio tudo o que vós quereis que os homens o façam fazeilho também vós 14 For prudente quem seguir às normas éticas do Pai será prudente Todo aquele pois que escuta estas minhas palavras e as pratica assemelháloei ao homem prudente que edificou a sua casa sobre rocha KANT A ÉTICA DO DEVER A ética de Kant é a ética do dever Isso significa que nós seres racionais devemos respeitar a nós mesmos e aos outros seres racionais e agir de maneira ética Kant fundamenta a sua ética com base em elementos terrenos ou seja não busca orientar as nossas ações a partir do medo de consequências para a nossa vida depois da morte Se nossas vontades e nossos desejos não podem servir de base para a moralidade o que nos resta então Deus é uma possibilidade Mas essa não é a resposta de Kant SANDEL 2012 p 139 Não podemos descartar completamente nem tampouco ir além da conjectura acerca da influência da criação pietista de Kant na sua formulação Da mesma forma que os protestantes históricos valorizam o hard worker Kant valoriza o ser humano que age por dever o dever de fazer a coisa certa8 É sintomático desse jeito sóbrio de se viver eticamente de Kant a valorização do dever e sua espécie de fixação pela verdade9 Podemos dizer que a ética kantiana aponta para uma vida individual marcada pela presença forte do superego Percebemos esse jeito digamos sisudo quando comparamos a reflexão de Kant a de outros filósofos Epicuro por exemplo fundam sua ética no prazer ainda que não o prazer de excessos e outros o Cristo por exemplo no amor Para Kant uma ação tem valor moral quando mesmo sem interesse o agente age considerando o seu dever Por exemplo uma pessoa de bem com a vida e bem de vida deve fazer caridade e com isso se sente feliz isso é esperado e não torna a ação moralmente valiosa Agora se um sujeito infeliz apesar de ter dinheiro faz caridade apesar de esta não o trazer felicidade ele o faz simplesmente por sentimento de dever racionalmente percebido Essa última é uma ação moralmente valiosa Um ser humano de caráter é o que tem noção do seu dever Inferência do exemplo de KANT 2007 p 28 Kant não define o conteúdo ético que devemos seguir Isso está de acordo com o que ele acredita ser o papel de sua Metafísica dos costumes no esquema da divisão do trabalho acadêmico Metafísica dos Costumes que deveria ser cuidadosamente depurada de todos os elementos empíricos para se chegar a saber de quanto é capaz em ambos os casos a razão pura e de que fontes ela própria tira o seu ensino a priori KANT 2007 p 15 Ainda a Filosofia moral assenta inteiramente na sua parte pura e aplicada ao homem não recebe um mínimo que seja do conhecimento do homem Antropologia mas fornecelhe como ser racional leis a priori KANT 2017 p 16 8 O que importa para Kant é que a boa ação seja feita por ser a coisa certa quer isso nos dê prazer quer não SANDEL 2012 p 147 9 Kant é muito rigoroso com a mentira Em Fundamentação a mentira é o principal exemplo do comportamento imoral SANDEL 2012 p 165 Apesar de não definir conteudísticamente o nosso dever podemos desenvolver o seguinte esquema simplificado Na nossa vida devemos agir com boa vontade Neste mundo e até também fora dele nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação a não ser uma só coisa uma boa vontade Discernimento argúcia de espírito capacidade de julgar e como quer que possam chamarse os demais talentos do espírito ou ainda coragem decisão constância de propósito como qualidades do temperamento são sem dúvida a muitos respeitos coisas boas e desejáveis mas também podem tornarse extremamente más e prejudiciais se a vontade que haja de fazer uso destes dons naturais e cuja constituição particular por isso se chama carácter não for boa KANT 2007 p 21 Moderação nas emoções e paixões autodomínio e calma reflexão são não somente boas a muitos respeitos mas parecem constituir até parte do valor íntimo da pessoa mas falta ainda muito para as podermos declarar boas sem reserva ainda que os antigos as louvassem incondicionalmente Com efeito sem os princípios duma boa vontade podem elas tornarse muitíssimo más e o sanguefrio dum facínora não só o torna muito mais perigoso como o faz também imediatamente mais abominável ainda a nossos olhos do que o julgaríamos sem isso KANT 2007 p 22 Mas o que é agir com boa vontade É respeitar a lei da razão Um ser humano de caráter é o que tem noção desse dever Diz Kant Dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei KANT 2007 p 31 Somo livres e racionais Somos livres mas não podemos fazer tudo Devemos obedecer a uma lei ditada pela razão Uma lei que nós mesmos fazemos10 daí a nossa liberdade Isso é um imperativo categórico Que lei é essa Uma vez que despojei a vontade de todos os estímulos que lhe poderiam advir da obediência a qualquer lei nada mais resta do que a conformidade a uma lei universal das acções em geral que possa servir de único princípio à vontade isto é devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal KANT 2007 p 33 O imperativo categórico é portanto só um único que é este Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal KANT 2007 p 59 Então para Kant para guiar as nossas condutas na Terra devemos fazer o teste do imperativo categórico ou seja se a ação ou omissão puder ser 10 Tratase de uma formulação no campo moralindividual que corresponde àquela formulada no campo políticocoletivo por Rousseau Obedecemos as leis porque a lei corresponde a vontade geral universalizada ser adotada como modelo por todos então estamos agindo de maneira coerente com o nosso dever e podemos julgar essa ação como eticamente positiva Temos que poder querer que uma máxima da nossa acção se transforme em lei universal é este o cânone pelo qual a julgamos moralmente em geral KANT 2007 p 62 O teste da universalização conduz a um importante questionamento moral é uma forma de verificar se o que estamos a ponto de fazer coloca nossos interesses e nossas circunstâncias especiais acima das de qualquer outra pessoa SANDEL 2012 p 154 Um exemplo de julgamento da conformidade de uma ação com o imperativo categórico Uma outra pessoa vêse forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado Sabe muito bem que não poderá pagar mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado Sente a tentação de fazer a promessa mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma Não é proibido e contrário ao dever livrarse de apuros desta maneira Admitindo que se decidia a fazêlo a sua máxima de ação seria Quando julgo estar em apuros de dinheiro vou pedilo emprestado e prometo pagálo embora saiba que tal nunca sucederá Este princípio do amor de si mesmo ou da própria conveniência pode talvez estar de acordo com todo o meu bemestar futuro mas agora a questão é de saber se é justo Converto assim esta exigência do amor de si mesmo em lei universal e ponho assim a questão Que aconteceria se a minha máxima se transformasse em lei universal Vejo então imediatamente que ela nunca poderia valer como lei universal da natureza e concordar consigo mesma mas que pelo contrário ela se contradiria necessariamente Pois a universalidade de uma lei que permitisse a cada homem que se julgasse em apuros prometer o que lhe viesse à ideia com a intenção de o não cumprir tornaria impossível a própria promessa e a finalidade que com ela se pudesse ter em vista ninguém acreditaria em qualquer coisa que lhe prometessem e rirseia apenas de tais declarações como de vãos enganos KANT 2007 P 60 Então basta agir com os outros como achamos que eles deveriam agir conosco Essa é a regra de ouro É isso que Kant quer dizer Não O imperativo categórico de Kant não seria isso a mesma coisas da regra de ouro Faça aos outros o que deseja que os outros façam a você Não A regra de ouro depende de fatos contingentes que variam de acordo com a forma como cada um gostaria de ser tratado O imperativo categórico obriganos a abstrair essas contingências e a respeitar as pessoas como seres racionais independente do que ela possa desejar em uma determinada situação SANDEL 2012 p 157 Então para Kant não se trata de agir conforme o nosso querer tratase de verificar se a minha ação pode ser uma ação universal De certa forma podemos dizer que a ética kantiana é aquela que aponta para uma ação humana que vá para além do querer tratase do dever Por exemplo ao saber de uma grave doença da sua mãe que já demostra não estar completamente consciente você se questiona sobre se deve ou não a contar Se você mesmo estando na situação da sua mãe não gostaria que te contasse de acordo com a regra de ouro deveria fazer o mesmo com a sua mão Submetendo ao teste do imperativo categórico de Kant vê se o dever de contar na medida em que a mentira não pode se tornar universal WEBER A ÉTICA PROTESTANTE E O NASCIMENTO DA CULTURA CAPITALISTA O estudo de Weber foi feito a partir da realidade da Alemanha no final do século XIX e início do século XX Também foi fundamental no contexto de formulação do trabalho sobre o espírito do capitalismo a visita que ele fez aos EUA no início do século XX Quando fala dos protestantes fala do protestantismo histórico materializado nos seguintes grupos calvinismo pietismo metodismo anabatistas WEBER 2004 p 87 Trata em especial do Calvinismo que de acordo com ele parece ter mais afinidade eletiva com o rígido senso jurídico e ativo do empresário capitalistaburguês WEBER 2004 p 126 Devemos perceber que o estudo trata da cultura capitalista na sua fase de formação do iluminismo a revolução industrial grosso modo por isso percebemos a ligação com o jeito de ser sóbrio do hard worker ou seja do trabalhador que tem o dever de trabalhar essa ideia singular hoje tão comum e corrente da profissão como dever é essa ideia que é característica da ética social da cultura capitalista WEBER 2004 p 47 O tipo ideal de empresário capitalista não tem nenhum parentesco com esses ricaços de aparência mais óbvia ele se esquiva à ostentação e à despesa inútil bem como ao gozo consciente do seu poder sua conduta de vida noutras palavras comporta quase sempre certo lance ascético WEBER 2004 p 63 Hoje o capitalismo do hiperconsumo e da especulação pura tem outras características O capitalismo ostentação Observação empírica que funciona como ponto de partida para a curiosidade cientifica de Weber O caráter predominantemente protestante dos proprietários do capital e empresários WEBER 2004 p 29 Além disso Weber atenta para o fato de existir na formação escolar para os postos técnicos e para as profissões comerciais e industriais uma predominância dos protestantes WEBER 2004 p 32 O autor atribui a existência da orientação de vida fundada no espírito de trabalho e de progresso ao protestantismo WEBER 2004 p 38 O autor utiliza o sermão de Benjamin Franklin como exemplo documental do espírito do capitalismo WEBER 2004 p42 Lembrate que tempo é dinheiro aquele que com seu trabalho pode ganhar dez xelins ao dia e vagabundeia metade do dia não deve mesmo que gaste apenas ses pence para se divertir contabilizar só essa despesa na verdade gastou ou melhor jogou fora cinco xelins a mais Lembrate que crédito é dinheiro Se alguém me deixa ficar com seu dinheiro depois da data de vencimento esta me entregando os juros Lembrate que dinheiro é procriador por natureza e fértil Lembrate que um bom pagador é senhor da bolsa alheia Quem é conhecido por pagar pontualmente na data combinada pode a qualquer momento pedir emprestado todo o dinheiro que seus amigos não gastam nada contribui mais para um jovem subir na vida do que pontualidade e retidão em todos os seus negócios As pancadas do teu martelo que teu credor escuta às cinco da manhã ou às oito da noite os deixam seis meses sossegado mas se te vê à mesa de bilhar ou escuta tua voz numa taberna quando devias estar a trabalhar no dia seguinte vai te reclamar o reembolso É importante lembra que Weber não afirmar que a formação da estrutura capitalista é uma consequência de uma ação planejada pelos protestantes Não se trata de algo consciente e intencional do religioso a formação do capitalismo A salvação da alma e somente ela foi eixo de sua vida e ação dos reformadores Seus objetivos éticos e os efeitos práticos de sua doutrina estavam ancorados aqui e eram tão só consequências de motivos puramente religiosos Por isso temos que admitir que os efeitos culturais da reforma foram em boa parte consequências imprevistas e mesmo indesejadas do trabalho dos reformadores WEBER 2004 p 81 No entanto ressalta Weber as nossas escolhas ideais de uma ética religiosa tem repercussões neste mundo o que nos cabe é tornar um pouco mais nítido o impacto que os motivos religiosos tiveram na trama do desenvolvimento da nossa cultura moderna especificamente voltada para este mundo WEBER 2004 p 82 Dentro da ideologia protestante a ideia de amor ao próximo gradativamente se transforma na ética do trabalho duro ou seja o protestante trabalha duro para materializar o seu amor pela humanidade fazendo sempre o seu melhor e seguindo rigorosamente e disciplinadamente a sua vocação o seu chamado no calvinismo O amor ao próximo expressase em primeiro lugar no cumprimento da missão vocacionalprofissional p 99 A exortação do apóstolo a se segurar no chamado recebido é interpretada aqui portanto como dever de conquistar na luta do dia a dia a certeza subjetiva da própria eleição e justificação disciplinamse dessa forma aqueles santos autoconfiantes distinguese o trabalho profissional sem descanso como meio mais saliente para conseguir essa autoconficança WEBER 2004 p 102 A ética protestante diferente do cristianismo católico não vê problema no dinheiro Deus gosta do hard worker Vê problema no entanto no consumo desenfreado É permitido porém que se gaste com uma vida confortável a luta contra a concupiscência da carne não era uma luta contra o ganho às pessoas de posses ela queria impingir não a mortificação mas o uso da propriedade para coisas necessária e úteis em termos práticos a noção de comfort circunscreve de forma característica o âmbito de seus empregos eticamente lícitos WEBER 2004 p 156 GRUPOS NEOPENTECOSTAIS NO BRASIL Do protestantismo pentecostal ao neopentecostal no Brasil O movimento religioso conhecido como pentecostalismo surge nos Estados Unidos no início do século XX e é em grande parte herdeiro da Reforma Protestante do século XVI É o último dos três grandes impulsos da Reforma depois do puritanismo e do metodismo TORRES 2007 p 105 A chegada do pentecostalismo no Brasil foi quase concomitante com o seu surgimento nos Estados Unidos Lá ele surgiu em 1906 e aqui em 1910 quando missionários fundaram a Congregação Cristã no Brasil No ano seguinte foi fundada a Assembléia de Deus Esta primeira onda expansionista classificada como clássica foi absoluta entre 1910 e 1950 TORRES 2007 p 106 O pentecostalismo clássico abrange as igrejas pioneiras Congregação Cristã no Brasil e Assembléia de Deus MARIANO 2004 p 123 A terceira onda expansionista chamada de neopentecostalismo tem como núcleo central de expansão no Brasil o Estado do Rio de Janeiro Na década de 1970 surgiram as primeiras igrejas desta vertente oriunda da ação de missionários norteamericanos que inovaram o discurso religioso brasileiro a partir da divulgação da Teologia da Prosperidade TORRES 2007 p 107 O neopentecostalismo teve início na segunda metade dos anos de 1970 Cresceu ganhou visibilidade e se fortaleceu no decorrer das décadas seguintes A Universal do Reino de Deus 1977 RJ a Internacional da Graça de Deus 1980 RJ a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra 1976 GO e a Renascer em Cristo 1986 SP fundadas por pastores brasileiros constituem as principais igrejas neopentecostais do país MARIANO 2004 p 123124 As características da igreja pentecostal Suas características principais têm a ver com uma rejeição radical e sectária do mundo construída reativamente em relação ao modo de vida das classes médias secularizadas rechaçavam o uso do rádio e de atributos de vaidade que ressaltavam a beleza feminina do mesmo modo condenavam a participação em festas e outras atividades que fossem tidas como do mundo TORRES 2007 p 106 As características das igrejas neopentecostais O sucesso dessas igrejas é antes explicado pela sua técnica comunicativa e pela indigência material intelectual e espiritual do povo que a ela adere do que pela sua mensagem é que tida como quase nula MARIZ 1995 p 41 As igrejas pentecostais autônomas têm forte ênfase na trilogia cura prosperidade e libertação ou exorcismo MARIZ 1995 p 41 No plano teológico caracterizamse por enfatizar a guerra espiritual contra o Diabo e seus representantes na terra por pregar a Teologia da Prosperidade difusora da crença de que o cristão deve ser próspero saudável feliz e vitorioso em seus empreendimentos terrenos e por rejeitar usos e costumes de santidade pentecostais tradicionais símbolos de conversão e pertencimento ao pentecostalismo MARIANO 2004 p 123124 As faces mais visíveis da influência religiosa sobre o empreendedorismo econômico foram sistematizadas por SOUZA 2011 p 15 a existência de associações de empresários evangélicos b as organizações religiosas de mídia e marketing c as redes de televisão e rádio ligadas a Igreja d a forma de gestão definitivamente empreendedora de determinadas denominações pentecostais e e o grau de profissionalização dos novos pastores A teologia da prosperidade Esta Teologia reafirma uma concepção de divindade já presente no imaginário religioso de nossa sociedade cuja força se manifesta exatamente mediante benesses materiais concedidas aos fiéis como recompensa pela adoração bajuladora Deus passa a ser percebido como terapeuta das mazelas deste mundo pois cura doenças concede prosperidade econômica e até mesmo conforto afetivosexual aos seus seguidores TORRES 2007 p 107 A Teologia da Prosperidade advoga que o cristão além de liberto do pecado original pelo sacrifício expiatório de Cristo tem o direito já nesta vida e neste mundo à saúde física perfeita à prosperidade material e a uma vida abundante livre do sofrimento e das artimanhas do diabo MARIANO 2003b p242 Com isso a figura do diabo também ganha uma outra interpretação assumindo um papel de maior destaque e importância É implementada uma luta contra o diabo e seus aliados já que são eles que causam todos os males TORRES 2007 p 108 Na IURD a chamada teologia da prosperidade tem acima de tudo o sentido prático de recusar o fracasso pare de sofrer como forma de delimitar a identidade social por oposição reativa a um exemplo negativo que claro só pode ser a imagem do fracassado daquele que não pôde fugir das artimanhas dos encostos e de sua ação indiscriminada e constante TORRES 2007 p 113 a máquina narrativa neopentecostal tornase uma prática discursiva que reforça a ideologia do mérito fazendoa assumir a semântica mágica segundo a qual merece fracasso ou sucesso quem for mais hábil na manipulação das forças sobrenaturais que regem a distribuição de derrotas ou de vitórias TORRES 2007 p 115 Chamada também de Health and Wealth Gospel Faith Movement Faith Prosperity Doctrines e Positive Confession a Teologia da Prosperidade surgiu nos Estados Unidos na década de 1940 no âmbito de grupos evangélicos que enfatizavam crenças sobre cura prosperidade e poder da fé SOUZA 2011 p 14 Comentário atual No Brasil atual os agentes que representam socialmente as ideias do protestantismo pentecostal e neopestecostal vivem uma espécie de mudança de status deixam de ser discurso periférico e passam a ocupar o centro institucional da República bancada institucional no congresso11 associações de juristas e empresários etc Decorre daí certamente certo refinamento cultural recente Esse refinamento pode ser sociologicamente entendido como uma aquisição de capital cultural na economia de bens simbólicos12 Referências ECHEGARAY Hugo A prática de Jesus Petrópolis Vozes 1982 FOX Robin Lane Bíblia verdade e ficção São Paulo Companhia das Letras 1993 FROMM Erich Las cadenas de la ilusión Buenos Aires paidós 2016 Ter ou Ser Rio de Janeiro Guanabara 1987 HARING Bernhard Ética crista para um tempo de secularização São Paulo Paulinas 1976 KIERKEGAARD Soren O conceito de ironia constantemente referido à Sócrates Petrópolis Vozes 2913 LARRANAGA Ignácio O pobre de Nazaré São Paulo Loyola 1989 MARIZ Cecília Loreto Perspectivas Sociológicas sobre o Pentecostalismo e o Neopentecostalismo Revista de Cultura Teológica Sl n 13 p 3752 mar 2013 ISSN 23174307 PETITFILS JeanChristian Jesus a biografia São Paulo Benvirá 2015 11 Sobre o crescimento da banca evangélica ver QUADROS MADEIRA 2018 12 Veja por exemplo a estratégia de marketing eu sou universal onde os casos de sucesso apresentam agentes do público tradicional um morador de rua que se transformou em empresário de sucesso ao lado de um público não tradicional um modelo e uma chefe de cozinha por exemplo Em httpswwwuniversalorgeusouauniversalcases Acessado em 03102019 QUADROS Marcos Paulo dos Reis MADEIRA Rafael Machado Fim da direita envergonhada Atuação da bancada evangélica e da bancada da bala e os caminhos da representação do conservadorismo no Brasil Opin Publica Campinas v 24 n 3 p 486522 Dec 2018 Available from httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS0104 62762018000300486lngennrmiso access on 03 Oct 2019 httpdxdoiorg101590180701912018243486 RANCÉ Christiane Jesus Porto Alegre LPM 2012 RATIZINGER Joseph Jesus de Nazaré São Paulo Planeta 2011 SEGALLA Giuseppe A cristologia do novo testamento São Paulo Loyola 1992 SOUZA André Ricardo O empreendedorismo neopentecostal no Brasil Ciências Sociais e Religião Porto Alegre ano 13 n 15 p 1334 JulDic 2011 SWIDLER Leonard Ishua Jesus Histórico cristologia ecumenismo São Paulo Paulinas 1993 TORRES Roberto Neopentecostalismo e o novo espírito do capitalismo na modernidade periférica Perspectivas São Paulo v32 p 85125 juldez 2007 WEBER Max A ética protestante e o espírito do capitalismo São Paulo Companhia das Letras 2004