·

Psicologia ·

Psicologia Social

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Fazer Pergunta

Texto de pré-visualização

INTERPRETAÇÕES FENOMENOLÓGICOEXISTENCIAIS PARA O SOFRIMENTO PSÍQUICO NA ATUALIDADE Segunda Edição Revisada COORDENAÇÃO EDITORIAL Maria Bernadete Medeiros Fernandes Lessa SÉRIE Existência e Pensamento ORGANIZADORA DA SÉRIE Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo CONSELHO EDITORIAL DA SÉRIE Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Henriette Tognetti Penha Morato Elizabeth Ranier Martins do Valle Márcia Moraes Ariane Patrícia Ewald REVISÃO Thays Babo CAPA Paulo Baptista DIAGRAMAÇÃO Rejane Megale CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 161 2ed Interpretações fenomenológicoexistenciais para o sofrimento psíquico na atualidade Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo org 2ed rev Rio de Janeiro RJ IFEN 2017 280 p 21 cm Existência e Pensamento ISBN 9788563850133 1 Psicologia fenomenológica 2 Fenomenologia existencial I Instituto de Psicologia FenomenológicoExistencial do Rio de Janeiro II Feijoo Ana Maria Lopez Calvo de III Série CDD 150192 CDU 1599 Bibliotecária Eliane Lemos CRB5866 O conteúdo dos capítulos publicados é de inteira responsabilidade do seu autor Instituto de Psicologia FenomenológicoExistencial do Rio de Janeiro Rua Barão de Pirassununga 62 Tijuca Rio de Janeiro Brasil wwwifencombr email edicoesififencombr Compulsividade Marca De Um Tempo JOELSON TAVARES RODRIGUES Compulsividade e impulsividade No presente texto iremos buscar uma compreensão do fenômeno da compulsão tendo como referencial teórico uma abordagem fenomenológicohermenêutica estabelecendo ainda conexões com alguns autores que se propõem a estudar a contemporaneidade Normalmente utilizamos de um modo genérico o termo compulsão como uma forma de relação com determinados objetos capazes de nos proporcionarem uma experiência de prazer em que o elemento mais evidente é a ausência de controle Dentro de uma descrição psicopatológica clássica entretanto o termo assume uma outra aceitação Segundo o DSMIV¹ compulsões envolvem comportamentos repetitivos como por exemplo lavar as mãos organizar ordenadamente verificar ou atos mentais como rezar contar repetir palavras em pensamento etc Os comportamentos repetitivos e os atos mentais têm como finalidade prevenir ou reduzir experiências de ansiedade ou sofrimento Muito frequentemente a repetição desses atos tem como sentido a tentativa de neutralização de alguma ideia obsessiva ou então visam JOELSON TAVARES RODRIGUES a afastar de um modo mágico algum evento temido como por exemplo a morte de um ente querido ou a sua própria morte O termo impulso por outro lado é originado do latim impulsus cujo significado é posto em movimento empurrado excitatus aludindo a algo poderoso que nos impele a agir Em sua forma de execução distinguemse os atos compulsivos frente aos impulsivos pela maneira ritualizada com que se dão os primeiros em contraste com a subatenidade e caráter explosivo dos últimos Outra diferença é que as compulsões se realizam com a finalidade de reduzir a ansiedade ou prevenir sofrimentos enquanto os atos impulsivos geralmente mas nem sempre se vinculam à obtenção de prazer como na bulimia Enquanto os atos compulsivos destinamse na maioria das vezes a evitar riscos por exemplo a verificação de uma porta os atos impulsivos associamse muitas vezes a ações potencialmente perigosas como à atividade sexual promiscua e às liberações de agressividade A partir daquilo que acabamos de expor podemos verificar que se formos nos manter afeitos às nomeações da psicopatologia clássica o que genericamente chamamos de compulsividades são muito mais dificuldades no controle dos impulsos do que propriamente compulsões Iremos preferir aqui no entanto utilizar o termo compulsão na acepção em que ele é normalmente tomado dentro do pensamento psicológico ou seja como uma pressão internalizada um must que nos leva a buscarmos determinadas experiências de prazer muitas vezes até à exaustão Não nos precocuparemos em definir a compulsividade como um processo necessariamente patológico ao contrário disso a nossa tendência é a de vermos as compulsões como marcas de nosso tempo que podem eventualmente assumir a feição de patologia em função da intensidade ou amplitude com que se apresentam Compulsão e consumo na era da técnica Em um texto clássico Heidegger 2002 ao pensar a questão da técnica acaba por colocar em questionamento todo o hori Compulsividade Marca De Um Tempo Joelson Tavares Rodrigues Compulsividade Marca De Um Tempo JOELSON TAVARES RODRIGUES COMPULSIVIDADE MARCA DE UM TEMPO JOELSON TAVARES RODRIGUES Nosso esquecimento do Ser nunca é absoluto O sono de nosso espírito nunca é tão profundo a ponto de excluir a possibilidade de um novo despertar A tranquilidade com que instalamos a existência e nos julgamos em casa no meio dos entes pode ser sempre perturbada pela visita de hóspedes incômodos no meio dos prazeres surge a náusea À familiaridade com as coisas sucede uma repentina estranheza do mundo Nas palavras de Agostinho media in vita in morte sumus No próprio centro da vida nos deparamos com a morte p 45 O nosso ser mais próprio anunciase e não o faz condicionandose por qualquer condição transcendental ou metafísica mas tão somente porque o que é clama por vir à luz o obscurecimento sempre é de algum modo interpelado pela convocação à iluminação A disposição ou humor que afina o modo de abertura em que aquilo que somos anunciase Heidegger chama de angústia A abertura que se faz presente na angústia não é algo ordinário é ao contrário uma abertura privilegiada pois nela o nosso ser mais próprio se faz presente Se estamos sempre ontologicamente em seu território já que a angústia como conclame a nossa condição mais própria faz parte do nosso modo de ser a experiência de suas manifestações óticas como sofrimento psíquico se dá exatamente porque não toleramos a abertura que ela desde sempre nos sinaliza Afinal ao mesmo tempo em que a angústia pode ser estrangulamento pela tentativa de fechamento em que estamos envolvidos é ontologicamente abertura estranhamento aceno para novas possibilidades Na verdade poderíamos dizer que o que estamos chamando de suas manifestações óticas são as nossas tentativas por vezes desesperadas de nos mantermos no encobrimento de não ouvirmos o que ela nos clama de não nos assumirmos em nossa condição mais própria Vemos então que a angústia tem para Heidegger ao menos em Ser e tempo papel fundamental Ela constituise em um existencial faz parte do nosso modo de ser já que mesmo que tenda mos ao fechamento aquilo que somos uma abertura de sentidos um projeto que se finaliza somente na morte sempre encontra de algum modo formas de se fazer presente de se descobrir Habitualmente não ouvimos aquilo para o qual ela nos clama nos fechamos em nossas verdades crenças e identidades Não tole rando o aberto o indefinido a falta de previsibilidade e controle acabamos por tentar nos defender frente ao que se nos apresenta Criamos barreiras obstruções buscamos a contenção do que não pode ser contido nos apegamos aos nossos modos de ser e dessa forma sofremos A angústia assim psicologizada perde o seu papel sinalizador e disruptor e convertese em sofrimento psíquico Não teremos nesse modo desvelamento da angústia a abert ura privilegiada que deu desejo às nossas considerações ao con trário estaremos nos deparando com uma restrição existencial um fechamento de nossas possibilidades mais próprias que pro gressivamente se constrói à medida que nos afastamos da abert ura que somos e nos condicionamos aos modos de ser determina dos pelo impessoal Passaremos então a refletir sobre esse modo de apresentação da angústia tentando verificar a existência ou não de um paren tesco fenomenal entre ela e a disposição que afina a abertura privilegiada de que nos fala Heidegger A angústia do impessoal O estabelecimento de um parentesco fenomenal entre os dois fenômenos já foi de certo modo antivi sto no entanto acreditemos que o tema ainda está longe de ser esgotado À primeira vista poderíamos falar de três fenômenos distintos que buscarem mos definir até que ponto estão identificados em primeiro lugar temos a angústia como modo de abertura que nos referencia à nossa condição originária em segundo lugar temos o que Boss chama de psicologização da angústia que como tentamos dei xar claro decorre das barreiras defensivas estabelecidas por nosso modo de ser frente aos clamares estabelecidos pela angústia Existe ainda um terceiro fenômeno sobre o qual precisamos nos deter inclusive para que possamos verificar se estamos apenas nos utilizando de um mesmo termo com sentidos diversos ou se a questão ultrapassa à de uma possível distinção de nomenclatura Referimonos à angústia que se dá em função das identifica ções que estabelecemos com o impessoal Zimmerman 1986 nos chama a atenção para o fato de que sendo o Dasein uma abertura para o conjunto de sentidos e signi ficados coletivos que chamamos de mundo o modo como com prendemos a realidade que nos circunda será também o modo como compreenderemos a nós mesmos Se o todo com o que me relaciono é tomado como um conjunto de objetos tenderéi a perce ber a mim mesmo como mais um objeto As relações entre objetos serão as de controle e dominação Distanciado da minha condição de ser com os outros entes e me tomando como um algo distinto incontornável apartado do todo tenderéi a buscar um espaço de destaque desse todo e de sujeição da realidade aos meus desejos Por outro lado quanto mais me percebo como uma abertura finita como serparaamorte menos tendo a compreender os entes que me cercam como um conjunto de objetos a serem manipulados No modo de ocultamento que caracteriza a compreensão que temos sobre nós mesmos na impessoalidade normalmente nos esquecemos da nossa condição de sermos em aberto de es termos referenciados desde sempre inseridos em um contexto relacional com os outros entes Percebemonos habitualmente como algo entendindo como uma interioridade um conteúdo intrapsíquico Nesse modo de compreensão tomamos as referên cias provisórias dadas pelo impessoal como uma positividade O sofrimento experimentado no horizonte do impessoal terá duas características principais em primeiro lugar ele será o sofrimen to do todo mundo próprio às identidades pelas quais nos tomamos Nesse sentido tenderemos a correr como todo mundo corre a buscar os lugares de projeção e destaque que todos alme j am a temer os medos e os perigos que a todos ameaçam Viver mos as incertezas próprias de um tempo marcado pela descon trução permanente e pela ausência de territórios seguros e para sempre Podemos chamar esse sofrimento gerado pela incerteza produzida no contemporâneo e pela nossa identificação com as modelagens que nos são outorgadas de angústia A segunda característica é que essa angústia não busca nenhuma forma de dis ruptura ao contrário ela serve para manter tudo exatamente em seu devido lugar gerando necessidades e inquietações que sus tentam o movimento incluindo aí o movimento característico do consumo anteriormente descrito Zimmerman acrescenta que nesse modo de compreensão nos distanciando da nossa condição de sermos em aberto e nos percebendo como um ego ou sujeito apartado da experiência coletiva passamos a ter dois projetos basilares a gratificação desse eu bem como a sua segurança Prazer e proteção passam a ser assim as nossas metas principais sendo as angústias que vivemos nessa forma de entendimento fruto da nossa necessidade de constante satisfação bem como do medo de não alcançarmos ou se já julgamos alcançar de perder os lugares as referências e os espaços que nos conferem segurança Julgamos oportuno lembrarmos que muito embora estejamos falando de uma condição de fechamento este jamais será um absoluto sob pena do homem deixar de ser aquilo que fundamentamente ele é abertura de sentido Falamos de fechamento de um ente que é desde sempre em aberto Sendo assim mesmo a angústia desse modo desvelada nos aponta para a nossa condição de poder ser pois ainda que a incerteza se articule e se constra através de demandas impessoais mesmo que ela busque a imobilidade e a perpetuação só podemos nos sentir inseguros temer o futuro bem como antever o prazer em função da condição de transcendência de projeção que nos caracteriza Dessa forma mesmo essa angústia vivida na decadência do impassal fundase na nossa condição originária de poder ser em aberto sendo portanto um modo de manifestação da disposição originária descrita por Heidegger Frequentemente esse modo de desvelamento da angústia nos confere prevenções urgências nos dá sentido nos afastando dos conclames que nos convocam a nos percebermos como os seresparaamorte que de fato somos Ele baseiase em um certo imaginário de completude no afastamento de temas ou condições existenciais que poderiam colocar em xeque as projeções feitas no contemporâneo para o sujeito humano Um sujeito em vias de superar a morte as doenças as intemperies a dor um sujeito capaz de tudo fazer sob o imperativo de sua vontade Será sobre esse território de familiaridade povoado de incerteza e angústia que a experiência da estranheza se dará marcando a provisoriedade de todas as coisas estabelecendo novas referências abrindo o terreno para outras possibilidades de sentido Teremos aí a presença da angústia como abertura privilegiada Na não aceitação do seu conclame em um modo inaudito de corresponderlhe poderemos ter então a angústia como sofrimento psíquico ou se preferirmos como patologia Tendo feito essa discussão passa a ser nosso objetivo então entendermos as relações possíveis de serem estabelecidas entre compulsividade e angústia Angústia e compulsão Começaremos dizendo que em nossa compreensão a compulsão é mais um modo de apresentação da angústia uma angústia que se esconde que busca no mundo nas possibilidades de prazer conferido pelo impessoal um modo de neutralização daquilo que se abre Essa neutralização pode se fazer presente dentro do que chamamos de angústia do impessoal traduzida pela relação compulsiva estabelecida com a realidade que fica bem marcada pelo fenômeno do consumo O estarmso correndo incessantemente buscando novas urgências e prioridades elegendo novos e variados prazeres fatalmente nos desvia de cogitações existenciais que poderiam colocar em risco o nosso modo habitual de sermosnomundo Em outros casos entretanto essa busca compulsiva assume uma feição patológica caracterizandose como uma restrição mais profunda limitando as nossas possibilidades de experimentação do mundo restringindo o nosso horizonte de liberdade A delimitação entre o normal e o patológico não é muito clara e duvidamos mesmo que seja passível de ser rigorosamente estabelecida Em verdade não consideramos que o esclarecimento desses limites seja o mais importante o que julgamos pertinente é ficarmos atentos para a restrição em si que se faz marcada na experiência compulsiva à medida que frente ao desejo de repetição da experiência prazerosa todas as outras possibilidades e interpelações a nós ficam opacificadas perdem o seu brilho Retomando os elementos referenciais que anteriormente utilizamos podemos dizer que a partir do conclame da angústia confrontamonos com o que nos é mais próprio o que nos traz frequentemente a experiência de estranheza levandonos a buscar a familiaridade do impessoal ou em outras palavras frente ao conclame do aberto tendemos a buscar o conforto e a tranquilidade do fechamento No impessoal vivendo no território do todo mundo tendemos a nos manter distantes dos convites existenciais que nos intimam a perceber os nossos limites como humanos que somos Podemos nos acreditar seguros de certo modo imortais criaturas destinadas ao prazer e a satisfação com a vida A manutenção de tais crenças só poderá se dar através de mecanismos ou meios de negação já que elas desconsideram o próprio fluxo da existência a impermanência inerente a cada coisa à medida que pretendem a eternização dos instantes a manutenção de um estado de prazer ou felicidade sem máculas o afastamento de qualquer possibilidade de sofrimento Um desses mecanismos é exatamente a compulsão O comprar compulsivo o sexo compulsivo o trabalhar compulsivamente podem ser modos de nos manter distanciados do limite da morte do envelhecimento da falta de sentido Movidos por essa prevenções os sentidos já são previamente dados eles se reduzem a realizar os desejos ou talvez melhor dizendo buscar a satisfação dos mesmos Tal satisfação cujo sucesso resultaria na morte do desejo é entretanto não somente impossível como também no fundo não esperada pois como afirmam Taylor e Saarinen conforme citado por Bauman 1999 o desejo não deseja satisfação Ao contrário o desejo deseja o desejo Isso porque o desejo não dá a sensação de vida nos coloca em movimento nos outorga urgências nos faz um pouco sem limites um pouco imortais Nesse sentido podemos dizer que muito do que tivemos a oportunidade de descrever quando falamos da angústia do impessoal são elementos que estão aqui presentes já que aquele modo de manifestação da angústia tem frequentemente uma apresentação compulsiva naturalmente caso utilizemos esse termo em uma acepção mais genérica conforme o estamos fazendo A manutenção do movimento é assim um modo de preenchimento estabelecemos sentidos para a nossa existência não precisamos nos perguntar por que acordar pelo que precisamos trabalhar e lutar tudo parece óbvio todas as respostas já foram previamente dadas Qualquer cogitação existencial que coloque em questão essa necessidade de movimento que exponha o nosso serparaamorte exige de nós mais movimento maior soma de voracidade de consumo de compulsão Esses sentidos óbvios e já dados são por si só uma restrição existencial Movidos por uma relação compulsiva com a realidade tendemos a não vislumbrar outras possibilidades fechamos o nosso horizonte e nos movemos incessantemente tendo como objetivo o atendimento do desejo Tal processo fica evidente por exemplo nos casos de dependência severa de substâncias psicoativas como o álcool em que o projeto principal do indivíduo passa a ser a utilização da substância sendo a sua maior préocupação encontrar um meio de conseguila Em uma restrição como essa todas as outras coisas surgem como secundárias ou de menor importância e vivese frequentemente sob uma fantasia de invulnerabilidade de sorte que parece ser admissível expor a vida a todo tipo de riscos sem que estes sejam de fato apropriados como tais Esse não parece ser o motivo pelo qual afirmase que para uma recuperação de quadros dessa natureza fazse necessário que o indivíduo chegue ao fundo do poço o que não deixa de ser uma imagem interessante já que o fundo é onde se localiza o chão limite que não pode ser transposto Através do contato com o limite no caso em questão o fundo que não é algo em si mas sim a tomada de consciência da própria situação de restrição é que existe a possibilidade de se emergir já que o fundo confere a propulsão necessária para tanto Nesse sentido vemos diversos casos de pacientes que encontraram forças para se recuperar a partir de uma experiência limite como um aci dente automobilístico que coloca seriamente a sua vida em risco uma separação conjugal ou a perda de um emprego Esse limite no entanto é variável não tendo que ser necessariamente uma situação carregada de uma maior soma de dramaticidade muito embora muitas vezes seja o caso Isso decorre do fato de que enquanto os modos de negação do que se abre aí representados pelos comportamentos compulsivos estiverem encobrindo com habilidade as questões existenciais das quais desejamos nos afastar dificilmente sairemos desse movimento É preciso que o aberto se anuncie de uma tal forma que os modos de relação compulsiva não sejam capazes de encobrilo ou que a compulsão seja de tal maneira lesiva que acabe de algum modo evidenciando a fragilidade existencial que ela busca manter distanciada Independentemente do modo como as compulsões se fazem presentes traduzindo uma soma maior ou menor de restrição um estrangulamento existencial mais ou menos amplo podemos perceber um elemento comum em todos esses quadros Esse elemento é exatamente a tentativa de negação da condição existencial de sermos em aberto manifestando dessa forma a presença da angústia através da tentativa de negála de não fazer ouvir o seu conclame Todo esse processo é baseado na noção de um sujeito que tomase como um eu encapsulado ao invés da abertura finita que de fato ele é Como já afirmamos anteriormente a partir desse modo de apropriação de si mesmo passam a ser necessárias a proteção e a gratificação desse eu Frequentemente isso se dá através de uma busca incessante de prazer o que acaba por permitir que se estabeleça uma relação hedonista com o que nos cerca Esse modo compulsivo de sernomundo é além disso uma forma possível de correspondência ao envio da técnica moderna que coloca todas as coisas a serviço e à disposição do homem Temos um sujeito que não aceita o sofrimento que come cada vez mais medicase cada vez mais busca mil maneiras de anestesiarse afastandose de qualquer forma de incômodo Quando esse projeto de sujeito fracassa quando surgem as sensações de falência e insuficiência como é observado na experiência depressiva ainda aí como bem salienta Ehrenberg podemos detectar a presença das compulsões No que chamamos de angústia do impessoal a compulsividade aparece como um elemento que nos afasta de nossa condição existencial mais própria nos outorgando sentidos e urgência na depressão por outro lado o que podemos notar é o seu efeito anestésico afastando através da produção do prazer a experiência dolorosa ou a ausência de sentido Referências APA 1996 Diagnostic and statistical manual of mental disorders Washington American Psychiatric Association Bauman Z 1999 Globalização as consequências humanas Rio de Janeiro Jorge Zahar p 102103 Boss M 1988 Angústia culpa e libertação São Paulo Livraria Duas Cidades p 15 Ehrenberg A 1998 La fatigue dêtre soi Paris Editions Odile Jacob Heidegger M 2002 A questão da técnica In Ensaios e conferências Petrópolis Vozes Heidegger M 1989 Ser e tempo Petrópolis Vozes v I v II Leao E C 2000 Aprendendo a pensar Petrópolis Vozes v I Zimmerman M E 1986 Eclipse of the self Ohio Ohio University Press