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Texto de pré-visualização
Universidade Metodista de São Paulo Júlia Jeronimo Monteiro Semestre 9º Período Noturno RA 311893 Supervisora Camila Vaz Abeche Estágio em Saúde e Comunitária Relato Visita 22032023 Horário 08h00 às 10h00 Assim que cheguei na instituição no primeiro dia de realização do estágio procurei pelo Psicólogo Francisco tendo Helenice secretária da instituição dito que ele se encontrava em sua sala Quando cheguei no local Francisco pediu que eu aguardasse por um tempo visto que ele estava atendendo a mãe de uma criança logo não conseguiria me dar atenção Dessa forma pediu para que eu procurasse pela Tatiana orientadora social da instituição No momento em que a encontrei disse que eu era estagiária de Psicologia e que permaneceria com eles durante o período de 1 ano acompanhando o projeto de perto e contribuindo com o que fosse possível Fui recebida por ela de forma bastante calorosa e acolhedora tendo ela me dito que eu era muito bemvinda no local Tatiana me apresentou todo o espaço da instituição explicando qual tipo de atividade ou oficina era realizada em cada lugar e junto a isso me apresentava também a cada profissional que passava por nós De modo geral me senti muito bem recepcionada por todos o que fez também com que eu já me sentisse bastante pertencente ao local Quando Tatiana já havia me apresentado e percorrido todo o espaço da instituição comigo avistamos uma van a qual levaria uma parte das crianças para uma outra unidade do BeijaFlor a fim de participarem da oficina de convivência Nesse momento Tatiana me explicou que devido a grande quantidade de crianças participando da oficina de convivência foi decidido que essas crianças seriam separadas em dois grupos sendo que um deles permaneceria na própria BeijaFlor enquanto o outro faria as atividades na outra unidade mais conhecida como Sítio Joaninha Tatiana ainda conta que antes dessa separação os facilitadores pessoas que costumam conduzir as atividades com as crianças considerados também como educadores estavam tendo dificuldades para dar conta de tantas crianças numa sala tão pequena Aproveitando que a van e parte das crianças estava de saída para a outra unidade da BeijaFlor Tatiana me convidou para conhecer o local Aceitei o convite e sendo assim entramos na van junto com as crianças Elas mostraramse bastante calorosas com a minha chegada Algumas delas já haviam me visto na minha primeira visita ao local quando fui conversar sobre a possibilidade de realizar o estágio As crianças falavam ansiosas comigo querendo a minha atenção e desejando saber se eu ficaria com elas no dia a dia Quando afirmei que estaria junto delas durante o período de 1 ano as crianças comemoraram bastante e começaram a interagir comigo perguntando qual era o meu nome quantos anos eu tinha e etc No decorrer do caminho fui conversando com algumas crianças da van já tendo a possibilidade de estabelecer algumas trocas com o público com o qual trabalharia Chegando no Sítio Joaninha percebi que era um local consideravelmente grande e constituído por 2 andares Aparentemente no local eram realizadas diversas atividades e projetos em horários diferentes As crianças da van subiram as escadas e dirigiramse para o segundo andar onde se sentaram em formato de roda pois seria iniciada a oficina de convivência a qual era conduzida por uma facilitadora A Tatiana também me apresentou para essa facilitadora a qual me recebeu muito bem e me deu boasvindas Após ter conhecido o espaço eu e a orientadora voltamos de van para a unidade oficial da BeijaFlor local no qual realizo o estágio Quando voltei para a instituição fui diretamente acompanhar a oficina de convivência que estava sendo realizada com as outras crianças As atividades estavam sendo conduzidas por uma educadora chamada Alexandra a qual me explicou que o facilitador de fato do grupo era o Edson mas que este se encontrava de atestado médico naquele dia Desse modo ela estava apenas o substituindo Na oficina a facilitadora estava trabalhando com as crianças algumas questões de conscientização sobre o trabalho infantil visto que este foi um tópico abordado pela própria fala de alguma criança durante um diálogo totalmente despretensioso A educadora em meio a essa situação tentava conscientizar as crianças e fazer com que estas reconhecessem que o trabalho infantil era proibido e que lugar de criança não era na rua trabalhando Além disso a facilitadora alertou também as crianças sobre o perigo de interagirem com estranhos nas ruas visto que estes poderiam praticar maldades com elas Nesse momento Alexandra utilizouse de uma analogia expressando a seguinte situação para as crianças Imagina alguém da rua te oferece um sorvete bem bonitão bem colorido e aparentemente delicioso Você não irá recusar esse sorvete pois está com muita vontade de tomálo Mas então a pessoa estranha diz que irá te dar o sorvete apenas se você for com ela em algum lugar Certamente você não sabe para onde essa pessoa irá te levar ela pode te levar para algum lugar e você nunca mais aparecer já pensou Em meio a isso algumas crianças fizeramse entendidas e mostraramse abertas para os ensinamentos da educadora enquanto outras resistiam e a confrontavam Um menino de aproximadamente 7 anos dizia para Alexandra que conhecia todos da rua e que ninguém impediria de saílo e fazer o que quisesse Nesse momento algumas outras crianças adotaram a mesma postura dizendo para a educadora que fariam o que quisessem e que ninguém poderia mudar isso nem mesmo a professora Alexandra se mostrou firme nesse momento informando que o papel deles enquanto educadores era aconselhálos a respeito do certo e do errado assim como esse também era o papel de seus pais Logo eles poderiam fazer o que quisessem com esses aconselhamentos pois a escolha era de cada um Alexandra concluiu a sua fala dizendo que a parte dela estava sendo feita Ainda durante diálogos despretensiosos entre as crianças surgiu um assunto um tanto quanto delicado Uma das crianças disse para a professora que havia visto uma arma na casa de seu tio recentemente Em meio a isso a facilitadora disse a seguinte frase Certo e você não irá mexer nessa arma não é mesmo apresentando certo receio de que a criança tivesse o contato com objetos violentos Nesse momento outras crianças também trouxeram seus relatos de que viram arma nas casas de suas famílias cabendo a educadora trabalhar com essas ideias e alertálos de que as crianças não deveriam aproximarse desses ambientes pois era de extremo perigo Em seguida Alexandra pediu que as crianças fizessem uma fila para lavarem as mãos para lancharem As crianças sentaramse em volta da mesa e nesse momento auxiliei a educadora a distribuir os lanches e sucos para cada um Antes de comerem ela pediu que as crianças agradecessem pelo pão e pelo suco pontuando que aquela não era uma visão religiosa mas sim o puro ato de agradecimento por aqueles que se esforçaram para agradálos e lhes saciar a fome As crianças agradeceram e fizeram a refeição Após esse momento foi proposta uma atividade pela educadora na qual as crianças deveriam confeccionar bilhetes com mensagens bonitas e motivadoras A ideia era que as crianças depositassem essas mensagens numa caixinha a fim de que lessem quando estivessem num dia ou num momento tristedesagradável precisando de alguma palavra de carinho Durante essa atividade eu pude me aproximar melhor das crianças estabelecendo um contato mais próximo e até mesmo o início de alguns vínculos As crianças mostravamse engajadas mas foi perceptível que muitas delas não conseguiram alcançar o objetivo da atividade visto que ao invés de escreverem frases bonitas e transmitindo coisas boas apenas faziam desenhos desconexos com a proposta No entanto outras crianças conseguiram captar o objetivo da atividade escrevendo frases como Você é incrível nunca se esqueça disso Você é linda O sol brilha para você entre outras Durante a atividade as crianças me chamavam pelo nome a fim de mostrarem seus bilhetes e desenhos na espera de que eu fizesse elogios Assim foi sendo criado um vínculo muito interessante com elas Ainda enquanto acontecia a atividade interagi bastante com um menino chamado Iago uma das crianças mais complicadas e com maiores comportamentos de desobediência do grupo Disse que estava ansiosa para ver os seus bilhetinhos tendo Iago respondido que não sabia escrever Dessa forma me propus a ajudálo Percebi que Iago sabia escrever porém precisava que alguém dissesse para ele quais letras precisava desenhar para formar a frase desejada No primeiro bilhete Iago escreveu Oi tudo bem e fez alguns desenhos no bilhete o que não se alinhava tanto com a proposta da atividade Mesmo assim elogiei bastante o que havia feito e perguntei o que ele diria para uma pessoa que estivesse desanimada ou num dia triste Iago respondeu que perguntaria se a pessoa quer ajuda Nesse momento fiquei bastante feliz em ouvir aquilo e valorizei bastante a sua resposta sugerindo que ele escrevesse isso num outro bilhete Iago se animou com a ideia logo lhe ajudei com a escrita da frase que foi complementada com desenhos e corações Às 10h00 sinalizei as crianças de que precisava ir embora e nesse momento percebi bastante resistência por parte delas visto que queriam que eu continuasse ali perguntando quando eu voltaria no local Iago menino o qual ajudei a realizar a atividade também se mostrou bastante resistente e pediu para que eu levasse comigo os bilhetes que havia feito como se fossem presentes Nesse momento outras crianças também adotaram o mesmo comportamento querendo me dar seus bilhetes como forma de carinho Assim sendo me despedi deles bem como da facilitadora Alexandra e de Caio estagiário de assistência social que também auxiliava na oficina de convivência dizendo estaria lá novamente na sextafeira Relato Visita 24032023 Horário 08h00 às 10h00 Quando cheguei na instituição procurei pelo Psicólogo Francisco de imediato Fui informada por Elenice secretária da instituição que ele se encontrava no teatro Assim sendo me direcionei até o local onde nos cumprimentamos e começamos a conversar Hoje sextafeira seria realizado o grupo de dança terapia com as mulheres inscritas na oficina pela BeijaFlor Tais mulheres em sua maioria são mães das próprias crianças e jovens em situação de vulnerabilidade que frequentam a instituição e participam dos projetos Às 08h30 aproximadamente foi dado início ao grupo de dança terapia com as mulheres O Psicólogo Francisco me apresentou a elas informando que eu era estagiária de Psicologia e que eu acompanharia o grupo e as respectivas atividades todas as sextasfeiras Nesse momento fui muito bem recebida pelas mulheres as quais me desejaram boasvindas e mostravamse felizes com a minha presença Nesse dia em específico houve uma visita muito especial na instituição dos maiores patrocinadores da Rede Cultural BeijaFlor composto por aproximadamente 7 noruegueses Eles também participaram do grupo de dança terapia junto com as mulheres realizando trocas riquíssimas Apesar de os noruegueses não falarem português um de seus membros tinha o domínio do idioma o que conseguia favorecer bastante a troca entre eles e as mulheres do grupo visto que ele fazia a tradução de tudo o que era dito naquele espaço Sendo assim as mulheres e mães do grupo comunicavamse com eles e viceversa A oficina de dança terapia foi conduzida pelo Psicólogo Francisco o qual utilizava o inglês e português para conseguir comunicarse com todos ao mesmo tempo Em primeiro momento foi colocada uma música e nós de acordo com o ritmo e melodia deveríamos movimentar o nosso corpo Dess e modo tomou forma um grande espaço de dança sendo que cada um se movimentava de uma forma singular Em seguida o Psicólogo conduziu uma outra atividade na qual ficávamos em roda e cada pessoa deveria ir até o meio desta fazer um movimento e dizer o seu nome na intenção de que todos os demais repetissem esse movimento verbalizando também o nome da pessoa Por último o Psicólogo pediu para que nos dividíssemos em vários grupos sendo que para cada grupo seria entregue um tecido colorido Basicamente todos do grupo deveriam segurar uma parte do tecido formando espécie de uma roda Dessa forma deveríamos fazer diversos movimentos com o tecido de acordo com o ritmo e batidas da música e também de acordo com o ritmo do próprio grupo No final da oficina permanecemos em roda e cada pessoa compartilhou um pouco do que achou e sentiu nessa vivência Os noruegueses trouxeram falas riquíssimas dizendo que apesar de não falarem o nosso idioma a dança e os movimentos fizeram com que eles pudessem se conectar conosco de forma bastante rica ou seja por meio da própria arte As mulheres também relataram que se sentiram muito bem nessa vivência pois sentiamse livres e que naquele espaço não seriam julgadas pela forma como dançam ou se expressam Também disseram sobre a conexão que puderam sentir com os noruegueses por meio apenas da arte e do movimento No geral os relatos das pessoas que participaram da dança terapia foram ricos e extremamente significativos Nesse mesmo momento houve trocas bastante valiosas entre as mulheres e os noruegueses visto que eram feitas perguntas do tipo O estilo das danças da Noruega costuma ser muito diferentes do que vocês estão vendo aqui e entre outros questionamentos e curiosidades envolvendo a cultura de cada país Terminado esse momento de interação nós agradecemos a presença dos noruegueses de modo que eles também agradeceram a oportunidade de estarem ali Uma das mulheres que fazem parte do grupo dança terapia os presentou dando uma lembrança para cada pessoa de lá Eles agradeceram o gesto de carinho e por todo o acolhimento que receberam Em seguida permaneceram no teatro somente as mulheres pertencentes do grupo juntamente do Psicólogo Aparentemente as atividades do grupo tinham parado devido a um período de férias tendo sido retomadas apenas neste dia Assim sendo Francisco perguntou como havia sido para elas esse intervalo de tempo sem a realização do grupo as sextasfeiras Cada mulher deu um discurso diferente mas sempre sinalizando o quão aquilo era necessário para elas e o quão lhes fazia bem estar ali Muitas das mulheres também mencionaram a união que construíram naquele grupo com outras mulheres e o quão esse vínculo fez falta durante esse tempo Uma fala também bastante interessante vinda de uma das mulheres do grupo abordou a questão do cuidado dizendo que elas enquanto mulheres mães esposas e donas de casa precisam cuidar de uma série de coisas mas que acabavam não cuidando de si mesmas A reflexão que foi levantada foi a seguinte Quem cuida de quem cuida As mulheres respondendo por si só tal reflexão mencionavam o grupo de dança terapia como um espaço de cuidado visto que ali elas têm a possibilidade de cuidar de si próprias por meio da dança da arte e da libertação Foi perceptível o carinho que foi construído dentro do grupo como um todo e como a dança e o movimento acabam ajudando essas mulheres em diversos sentidos de forma integral Após essa roda de conversa com as mulheres foi finalizada a oficina Visto que eu também já havia cumprido com o meu horário me despedi das mulheres e do Psicólogo sinalizando que na próxima semana estaria lá novamente Relato Visita 29032023 Horário 08h00 às 10h00 Assim que cheguei na instituição procurei pelo Psicólogo Francisco o qual encontravase em sua sala Perguntei se ele precisaria do meu auxílio para alguma coisa tendo ele respondido que no momento não Assim sendo optei por acompanhar a oficina de convivência realizada com as crianças Na sala havia uma quantidade pequena de crianças devido ao horário visto que algumas delas ainda não tinham chegado Na sala em que seria realizada a oficina de convivência também se encontravam a Alexandra e o Edson os facilitadores do grupo As crianças se mostravam bastante agitadas realizando brincadeiras agressivas com os colegas as quais envolviam empurrões socos além da verbalização de frases de baixo calão falas mandando outros colegas calarem a boca chamando uns aos outros de burros e instigando outros comportamentos agressivos Em meio a isso os facilitadores necessitavam chamar a atenção das crianças com certa frequência Em contratempo observase que as crianças também manifestavam afeto e comportamentos carinhosos como nos momentos em que alguma criança chegava e os demais colegas iam abraçála No geral a recepção deles quando alguém chegava costumava ser bastante calorosa e repleta de afeto assim como costuma ser comigo Após algum tempo quando a maioria das crianças já haviam chegado os facilitadores pediram para que uma parte delas fossem para a van junto do motorista visto que seriam levadas para a outra unidade para realizarem as atividades da oficina de convivência De modo geral compreendese que as crianças são divididas em dois grupos onde um grupo permanece na unidade da BeijaFlor e o outro grupo vai para um outro local mais conhecido como Sítio Joaninha Tendo o outro grupo ido embora e permanecido apenas uma parte das crianças estas ficaram bastante livres fazendo o que queriam As crianças corriam pela sala e também realizavam brincadeiras agressivas umas com as outras O facilitador não intervia deixando as coisas acontecerem Ele muitas vezes não se mostrava preocupado em chamar a atenção dessas crianças e por vezes não observava o que acontecia cabendo a mim essa função em determinados momentos visto que alguém poderia se machucar e provocar algum dano a qualquer momento Após um tempo considerável de ócio das crianças os facilitadores sinalizaram o momento do lanche Assim sendo as crianças iam de duas em duas ao banheiro a fim de lavarem as suas mãos Elas sentaramse nas cadeiras em volta da mesa e foi distribuído para cada uma um pão com manteiga e um achocolatado Antes de comerem a facilitadora pediu para que as crianças agradecessem por terem o pão para comer e o leite para tomar pontuando que aquela não era uma visão religiosa mas sim o puro ato de agradecimento por aqueles que se esforçaram para agradálos e lhes saciar a fome Assim que as crianças finalizaram o momento do lanche o facilitador sugeriu uma atividade com miçangas em que as crianças confeccionariam colares pulseiras e entre outros acessórios com esses materiais Sendo assim as crianças sentaramse em volta da mesa e desfrutaram da atividade mostrandose bastante engajadas na tarefa que de alguma forma apresentou um objetivo terapêutico visto que as crianças se mantinham concentradas e com a agitação reduzida Além disso a atividade conseguiu transformar os comportamentos e falas agressivas das crianças em imaginação criatividade e motivação No momento da atividade percebi que o facilitador se manteve afastado de modo a não interagir com as crianças Ele parecia estar distante delas e do espaço em si Vale mencionar que eu também participei da confecção com miçangas até mesmo no intuito de incentivar as crianças ainda mais na realização dessa atividade Às 10h00 avisei o facilitador e as crianças de que eu precisaria ir e nesse momento fui recebida com alguns abraços e com até mesmo alguns comportamentos resistentes manifestando o desejo que eu ficasse Disse para as crianças que na sextafeira eu estaria lá novamente e me despedi de todos Relato Visita 31032023 Horário 08h00 às 10h00 Assim que cheguei na instituição procurei pelo Psicólogo Francisco visto que às sextasfeiras são realizados os grupos de dança terapia com as mulheres e mães da instituição Fui informada por Helenice secretária da instituição que Francisco que se encontrava no salãoescola local onde são realizados cursos de estética cabelereiro manicure e entre outros para jovens que também participam do projeto BeijaFlor Quando cheguei no espaço do salãoescola o Psicólogo e duas mulheres do grupo já estavam ali Cumprimenteios e aguardamos até 08h30 para iniciar o grupo No total 7 mulheres se fizeram presentes hoje Francisco iniciou o grupo perguntando para as mulheres como haviam passado a semana tendo a maioria delas respondido que a semana foi cansativa Sendo assim o Psicólogo pediu que as mulheres usufruíssem desse estado de cansaço para dar origem a movimentos que simbolizassem essa condição As mulheres de acordo com a música começaram a dançar externalizando aquilo que sentiam Durante a oficina o Psicólogo alternava as músicas sendo que cada uma apresentava uma melodia e ritmos diferentes Dessa forma as mulheres se movimentavam de acordo com o que a música pedia naquele momento externalizando emoções distintas a depender da música tocada Após finalizados os exercícios o Psicólogo Francisco pede para que todas elas tenham um momento de descanso da forma que preferissem Sendo assim algumas delas deitaramse e outras permaneceram sentadas descansando Francisco deu um tempo considerável de descanso para elas com a duração de aproximadamente 20 minutos Após isso pediu para que se sentassem em roda no chão e pediu para que as mulheres partilhassem como se sentiram durante o exercício e como se deu essa vivência Uma participante do grupo em específico tomou a iniciativa de começar falando o que sentiu durante o exercício Ela traz uma fala bastante emocionada relatando que não havia chegado bem na instituição tanto no âmbito físico quanto emocional Então ela diz que a dança e os movimentos lhe ajudaram imensamente e que de pouco a pouco ela foi conseguindo se sentir mais leve e mais aliviada A participante também acaba revelando para a roda que estava passando por um processo de luto de relacionamento no qual gostava muito da pessoa porém precisou agir com a razão para tomar a decisão adequada e romper o laço Ela diz que a última música tocada durante o exercício lhe deixou bastante emocionada e que foi impossível não chorar visto que ela ainda estava abalada com a situação que acontecera em sua vida Nesse momento as demais mulheres do grupo proporcionaram palavras de conforto a ela e se mostraram bastante acolhedoras Outras mulheres do grupo também compartilharam na roda as suas vivências Dentre elas uma revela para a roda que sua menstruação não ocorria há aproximadamente 2 meses e que durante o exercício ela precisou sair da sala visto que o fluxo de sangue finalmente acontece ra A mulher diz acreditar que isso tenha acontecido devido ter externalizado as suas emoções e algo que precisava ser libertado dentro dela As outras mulheres do grupo e o Psicólogo também se mostraram surpresos e muito felizes com o acontecimento Francisco nesse momento diz que para que as coisas acontecessem às vezes era necessária a vivência do caos ou seja foi necessário que a mulher externalizasse suas emoções e vivenciasse o caos na música para o seu organismo colocasse para fora o que fosse necessário Tanto a mulher quanto as demais participantes do grupo concordaram com essa fala e desenrolouse um debate bastante enriquecedor Por último houve uma contribuição também muito importante de uma outra mulher do grupo a qual agradeceu por aquela vivência e disse que se sentia cuidada naquele espaço acrescentando que não conseguia se sentir cuidada em nenhum outro momento de sua rotina da mesma forma Ela complementa dizendo que em sua casa a sua privacidade acaba sendo invadida a todo o tempo por filhos e netos os quais não respeitam e não permitem com que ela desfrute de momentos singulares por exemplo nos momentos em que ela ouve música Sendo assim afirmou que a dança terapia lhe fazia muito bem sobretudo com a companhia das demais mulheres Após muita conversa discussão e partilha de experiência entre as participantes juntamente do Psicólogo foi finalizada oficina às 09h50 aproximadamente Análise Foi observado que uma das atuações do Espaço Cultural BeijaFlor se volta para o trabalho com crianças em situação de vulnerabilidade tendo muitas delas sido encaminhadas pelo CRAS Centro de Referência da Assistência Social ou CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social devido a violação dos direitos envolvendo histórico de abuso sexual violência física violência psicológica negligência familiar situação de abandono trabalhoexploração infantil entre outros Vale salientar também que algumas das crianças pertencentes ao projeto vieram diretamente de abrigos especificamente do SAICA Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes Nas visitas observase uma recepção muito acolhedora e calorosa por parte das crianças usuárias da instituição envolvendo gestos de carinho como abraços e outras demonstrações de afeto Apesar disso notase também que em muitos momentos as crianças tendem a manifestar comportamentos e brincadeiras de cunho agressivo entre si envolvendo empurrões socos além da verbalização de frases de baixo calão para com os outros colegas A agressividade como forma de interagir dessas crianças acaba revelando uma problemática de ordem social na qual o ambiente onde estão inseridas muito provavelmente propicia vivências desagradáveis demarcadas pela cultura da violência e opressão A violência vivenciada na infância pode ser um fator determinante para a manifestação de comportamento agressivo em crianças em situação de vulnerabilidade uma vez que a exposição frequente a ambientes hostis pode levar a uma aprendizagem de que a agressão é uma forma legítima de resolução de conflitos SILVA E RIBEIRO 2018 p 568 Ademais verificase que as crianças por meio de falas e diálogos despretensiosos entre si e também com os educadores acabam trazendo algumas vivências polêmicas como a questão do trabalho infantil e o contato com armas dentro do ambiente familiar Segundo Oliveira e Carvalho 2021 o trabalho infantil é encarado como algo naturalizado por muitas crianças em situação de vulnerabilidade devido à falta de oportunidades e à necessidade de ajudar no sustento da família Essa naturalização pode resultar na perpetuação do ciclo de pobreza prejudicando o desenvolvimento físico cognitivo e emocional dessas crianças No que se refere ao contato das crianças com armas dentro do contexto familiar é fato que além da possibilidade de gerar consequências graves e irreversíveis esta situação acaba também alimentando a perpetuação da cultura da violência Diante disso os educadores da instituição têm o papel de alertar e conscientizar essas crianças acerca dessas problemáticas e elucidar quais espaços podem e não podem ser ocupados por elas Percebese que uma das educadoras da instituição tenta tratar dessa pauta com as crianças por meio de histórias fictícias e analogias que lhes ajudem a refletir sobre o tema Mesmo assim é notável a resistência por parte de algumas crianças em receber e internalizar os ensinamentos e recomendações da educadora A partir disso observase o principal desafio em trabalhar com esse público visto que muitas práticas inadequadas uma e cultura ilegal já se mostram enraizadas nesses meninos Isto posto durante as oficinas de convivência realizadas com as crianças são propostas atividades que envolvam a arte bem como o uso da criatividade e imaginação atividades de colorir desenhar e confeccionar materiais com miçangas por exemplo Tais atividades acabam sendo grandes ferramentas terapêuticas no trabalho com essas crianças visto que ao realizar essas tarefas as crianças transformam muitas vezes o comportamento agressivo ou uma pulsão destrutiva em algo socialmente aceito Segundo Freud 1914 p 87 A sublimação é a capacidade humana de transformar impulsos instintivos e pulsões sexuais em atividades socialmente aceitáveis e culturalmente valorizadas Assim sendo os comportamentos e práticas consideradas violentas das crianças convertemse para a realização de atividades culturais de modo a favorecer o desenvolvimento infantil em diversos aspectos social cognitivo emocional etc Ademais percebese também uma agitação alarmante por parte das crianças usuárias do projeto Portanto as atividades envolvendo a arte contribuem com a externalização dessa carga emocional apaziguando a inquietação e fazendo com que as crianças entrem num estado de relaxamento e concentração De acordo com Malchiodi 2019 p 63 A tividades artísticas podem ajudar as crianças agitadas a se acalmarem e a regular suas emoções permitindo que expressem sentimentos difíceis e encontrem uma saída criativa para sua energia excessiva Além do projeto realizado com as crianças em situação de vulnerabilidade dentro da instituição o Espaço Cultural BeijaFlor também conta com o grupo de dança terapia composto por mulheres o qual é conduzido pelo Psicólogo do local Durante o dias em que acompanhei a oficina foi perceptível a união presente entre as mulheres do grupo Além disso percebese que a dança terapia é o local destinado para que elas se libertem ou seja é por meio da dança e do movimento que essas mulheres externalizam seus mais variados sentimentos e emoções De acordo com um estudo realizado por Bieńkowska e Szymura 2019 a dança terapia pode ser uma forma eficaz de melhorar a autoestima reduzir o estresse e a ansiedade e promover a saúde emocional e mental em mulheres Através da dança as mulheres são capazes de se expressar de forma criativa explorar suas emoções e sensações corporais e fortalecer a conexão mentecorpo o que pode levar a uma sensação de bemestar geral Portanto por meio dessa prática as mulheres conseguem alcançar uma conexão consigo mesmas cada vez mais autêntica visto que a dança terapia também favorece um processo de autodescoberta e autoconsciência Vale mencionar que o grupo com as mulheres não se volta apenas para a prática física e execução do movimento visto que ao final de cada oficina é proporcionado também um momento para que essas mulheres compartilhem suas vivências e o que sentiram com os exercícios Com isso muitas delas acabam sentindose à vontade para falar sobre vivências particulares bem como para falar sobre angústias alegrias e frustrações experimentadas ao longo do processo Logo é dado forma a um grande grupo terapêutico no qual as mulheres ajudam umas às outras fortalecendose de forma coletiva Segundo Goodman 2005 p 227 Grupos de mulheres fornecem um espaço seguro e solidário onde as mulheres podem compartilhar suas experiências enfrentar desafios juntas e apoiar umas às outras A união em grupo também pode aumentar a autoestima melhorar a autoimagem aumentar a capacidade de relacionamento interpessoal e reduzir a sensação de isolamento e solidão Portanto é possível refletir sobre a preocupação por parte da instituição com o bemestar integral de públicos diversos tais como crianças mulheres e entre outras idades também favorecidas pelo projeto Referências Bieńkowska A Szymura B 2019 The effectiveness os dance movement therapy in women with anxiety A randomized controlled trial Complementary therapies in clinical practice 34 8288 doi 101016jctcp201811017 Freud S 1914 No Narcissism An Introduction The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud Volume XIV 19141916 On the History of the PsychoAnalytic Movement Papers on Metapsychology and Other Works 67102 Goodman L A 2005 Supporting women after domestic violence Trauma Informed Peer Counseling in Community Contexts Journal of Aggression Maltreatment Trauma 111 217240 doi 101300J146v11n0111 Malchiodi C A 2019 The art therapy sourcebook McGrawHill Education Oliveira C B Carvalho L M 2021 Trabalho infantil um olhar para a realidade de crianças em situação de vulnerabilidade social Revista IberoAmericana de Estudos em Educação 162 650663 Silva A L Ribeiro L C 2018 Comportamento agressivo em crianças em situação de vulnerabilidade aspectos conceituais e intervenção psicológica Psicologia Argumento 3695 567578
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estavam tendo dificuldades para dar conta de tantas crianças numa sala tão pequena Aproveitando que a van e parte das crianças estava de saída para a outra unidade da BeijaFlor Tatiana me convidou para conhecer o local Aceitei o convite e sendo assim entramos na van junto com as crianças Elas mostraramse bastante calorosas com a minha chegada Algumas delas já haviam me visto na minha primeira visita ao local quando fui conversar sobre a possibilidade de realizar o estágio As crianças falavam ansiosas comigo querendo a minha atenção e desejando saber se eu ficaria com elas no dia a dia Quando afirmei que estaria junto delas durante o período de 1 ano as crianças comemoraram bastante e começaram a interagir comigo perguntando qual era o meu nome quantos anos eu tinha e etc No decorrer do caminho fui conversando com algumas crianças da van já tendo a possibilidade de estabelecer algumas trocas com o público com o qual trabalharia Chegando no Sítio Joaninha percebi que era um local consideravelmente grande e constituído por 2 andares Aparentemente no local eram realizadas diversas atividades e projetos em horários diferentes As crianças da van subiram as escadas e dirigiramse para o segundo andar onde se sentaram em formato de roda pois seria iniciada a oficina de convivência a qual era conduzida por uma facilitadora A Tatiana também me apresentou para essa facilitadora a qual me recebeu muito bem e me deu boasvindas Após ter conhecido o espaço eu e a orientadora voltamos de van para a unidade oficial da BeijaFlor local no qual realizo o estágio Quando voltei para a instituição fui diretamente acompanhar a oficina de convivência que estava sendo realizada com as outras crianças As atividades estavam sendo conduzidas por uma educadora chamada Alexandra a qual me explicou que o facilitador de fato do grupo era o Edson mas que este se encontrava de atestado médico naquele dia Desse modo ela estava apenas o substituindo Na oficina a facilitadora estava trabalhando com as crianças algumas questões de conscientização sobre o trabalho infantil visto que este foi um tópico abordado pela própria fala de alguma criança durante um diálogo totalmente despretensioso A educadora em meio a essa situação tentava conscientizar as crianças e fazer com que estas reconhecessem que o trabalho infantil era proibido e que lugar de criança não era na rua trabalhando Além disso a facilitadora alertou também as crianças sobre o perigo de interagirem com estranhos nas ruas visto que estes poderiam praticar maldades com elas Nesse momento Alexandra utilizouse de uma analogia expressando a seguinte situação para as crianças Imagina alguém da rua te oferece um sorvete bem bonitão bem colorido e aparentemente delicioso Você não irá recusar esse sorvete pois está com muita vontade de tomálo Mas então a pessoa estranha diz que irá te dar o sorvete apenas se você for com ela em algum lugar Certamente você não sabe para onde essa pessoa irá te levar ela pode te levar para algum lugar e você nunca mais aparecer já pensou Em meio a isso algumas crianças fizeramse entendidas e mostraramse abertas para os ensinamentos da educadora enquanto outras resistiam e a confrontavam Um menino de aproximadamente 7 anos dizia para Alexandra que conhecia todos da rua e que ninguém impediria de saílo e fazer o que quisesse Nesse momento algumas outras crianças adotaram a mesma postura dizendo para a educadora que fariam o que quisessem e que ninguém poderia mudar isso nem mesmo a professora Alexandra se mostrou firme nesse momento informando que o papel deles enquanto educadores era aconselhálos a respeito do certo e do errado assim como esse também era o papel de seus pais Logo eles poderiam fazer o que quisessem com esses aconselhamentos pois a escolha era de cada um Alexandra concluiu a sua fala dizendo que a parte dela estava sendo feita Ainda durante diálogos despretensiosos entre as crianças surgiu um assunto um tanto quanto delicado Uma das crianças disse para a professora que havia visto uma arma na casa de seu tio recentemente Em meio a isso a facilitadora disse a seguinte frase Certo e você não irá mexer nessa arma não é mesmo apresentando certo receio de que a criança tivesse o contato com objetos violentos Nesse momento outras crianças também trouxeram seus relatos de que viram arma nas casas de suas famílias cabendo a educadora trabalhar com essas ideias e alertálos de que as crianças não deveriam aproximarse desses ambientes pois era de extremo perigo Em seguida Alexandra pediu que as crianças fizessem uma fila para lavarem as mãos para lancharem As crianças sentaramse em volta da mesa e nesse momento auxiliei a educadora a distribuir os lanches e sucos para cada um Antes de comerem ela pediu que as crianças agradecessem pelo pão e pelo suco pontuando que aquela não era uma visão religiosa mas sim o puro ato de agradecimento por aqueles que se esforçaram para agradálos e lhes saciar a fome As crianças agradeceram e fizeram a refeição Após esse momento foi proposta uma atividade pela educadora na qual as crianças deveriam confeccionar bilhetes com mensagens bonitas e motivadoras A ideia era que as crianças depositassem essas mensagens numa caixinha a fim de que lessem quando estivessem num dia ou num momento tristedesagradável precisando de alguma palavra de carinho Durante essa atividade eu pude me aproximar melhor das crianças estabelecendo um contato mais próximo e até mesmo o início de alguns vínculos As crianças mostravamse engajadas mas foi perceptível que muitas delas não conseguiram alcançar o objetivo da atividade visto que ao invés de escreverem frases bonitas e transmitindo coisas boas apenas faziam desenhos desconexos com a proposta No entanto outras crianças conseguiram captar o objetivo da atividade escrevendo frases como Você é incrível nunca se esqueça disso Você é linda O sol brilha para você entre outras Durante a atividade as crianças me chamavam pelo nome a fim de mostrarem seus bilhetes e desenhos na espera de que eu fizesse elogios Assim foi sendo criado um vínculo muito interessante com elas Ainda enquanto acontecia a atividade interagi bastante com um menino chamado Iago uma das crianças mais complicadas e com maiores comportamentos de desobediência do grupo Disse que estava ansiosa para ver os seus bilhetinhos tendo Iago respondido que não sabia escrever Dessa forma me propus a ajudálo Percebi que Iago sabia escrever porém precisava que alguém dissesse para ele quais letras precisava desenhar para formar a frase desejada No primeiro bilhete Iago escreveu Oi tudo bem e fez alguns desenhos no bilhete o que não se alinhava tanto com a proposta da atividade Mesmo assim elogiei bastante o que havia feito e perguntei o que ele diria para uma pessoa que estivesse desanimada ou num dia triste Iago respondeu que perguntaria se a pessoa quer ajuda Nesse momento fiquei bastante feliz em ouvir aquilo e valorizei bastante a sua resposta sugerindo que ele escrevesse isso num outro bilhete Iago se animou com a ideia logo lhe ajudei com a escrita da frase que foi complementada com desenhos e corações Às 10h00 sinalizei as crianças de que precisava ir embora e nesse momento percebi bastante resistência por parte delas visto que queriam que eu continuasse ali perguntando quando eu voltaria no local Iago menino o qual ajudei a realizar a atividade também se mostrou bastante resistente e pediu para que eu levasse comigo os bilhetes que havia feito como se fossem presentes Nesse momento outras crianças também adotaram o mesmo comportamento querendo me dar seus bilhetes como forma de carinho Assim sendo me despedi deles bem como da facilitadora Alexandra e de Caio estagiário de assistência social que também auxiliava na oficina de convivência dizendo estaria lá novamente na sextafeira Relato Visita 24032023 Horário 08h00 às 10h00 Quando cheguei na instituição procurei pelo Psicólogo Francisco de imediato Fui informada por Elenice secretária da instituição que ele se encontrava no teatro Assim sendo me direcionei até o local onde nos cumprimentamos e começamos a conversar Hoje sextafeira seria realizado o grupo de dança terapia com as mulheres inscritas na oficina pela BeijaFlor Tais mulheres em sua maioria são mães das próprias crianças e jovens em situação de vulnerabilidade que frequentam a instituição e participam dos projetos Às 08h30 aproximadamente foi dado início ao grupo de dança terapia com as mulheres O Psicólogo Francisco me apresentou a elas informando que eu era estagiária de Psicologia e que eu acompanharia o grupo e as respectivas atividades todas as sextasfeiras Nesse momento fui muito bem recebida pelas mulheres as quais me desejaram boasvindas e mostravamse felizes com a minha presença Nesse dia em específico houve uma visita muito especial na instituição dos maiores patrocinadores da Rede Cultural BeijaFlor composto por aproximadamente 7 noruegueses Eles também participaram do grupo de dança terapia junto com as mulheres realizando trocas riquíssimas Apesar de os noruegueses não falarem português um de seus membros tinha o domínio do idioma o que conseguia favorecer bastante a troca entre eles e as mulheres do grupo visto que ele fazia a tradução de tudo o que era dito naquele espaço Sendo assim as mulheres e mães do grupo comunicavamse com eles e viceversa A oficina de dança terapia foi conduzida pelo Psicólogo Francisco o qual utilizava o inglês e português para conseguir comunicarse com todos ao mesmo tempo Em primeiro momento foi colocada uma música e nós de acordo com o ritmo e melodia deveríamos movimentar o nosso corpo Dess e modo tomou forma um grande espaço de dança sendo que cada um se movimentava de uma forma singular Em seguida o Psicólogo conduziu uma outra atividade na qual ficávamos em roda e cada pessoa deveria ir até o meio desta fazer um movimento e dizer o seu nome na intenção de que todos os demais repetissem esse movimento verbalizando também o nome da pessoa Por último o Psicólogo pediu para que nos dividíssemos em vários grupos sendo que para cada grupo seria entregue um tecido colorido Basicamente todos do grupo deveriam segurar uma parte do tecido formando espécie de uma roda Dessa forma deveríamos fazer diversos movimentos com o tecido de acordo com o ritmo e batidas da música e também de acordo com o ritmo do próprio grupo No final da oficina permanecemos em roda e cada pessoa compartilhou um pouco do que achou e sentiu nessa vivência Os noruegueses trouxeram falas riquíssimas dizendo que apesar de não falarem o nosso idioma a dança e os movimentos fizeram com que eles pudessem se conectar conosco de forma bastante rica ou seja por meio da própria arte As mulheres também relataram que se sentiram muito bem nessa vivência pois sentiamse livres e que naquele espaço não seriam julgadas pela forma como dançam ou se expressam Também disseram sobre a conexão que puderam sentir com os noruegueses por meio apenas da arte e do movimento No geral os relatos das pessoas que participaram da dança terapia foram ricos e extremamente significativos Nesse mesmo momento houve trocas bastante valiosas entre as mulheres e os noruegueses visto que eram feitas perguntas do tipo O estilo das danças da Noruega costuma ser muito diferentes do que vocês estão vendo aqui e entre outros questionamentos e curiosidades envolvendo a cultura de cada país Terminado esse momento de interação nós agradecemos a presença dos noruegueses de modo que eles também agradeceram a oportunidade de estarem ali Uma das mulheres que fazem parte do grupo dança terapia os presentou dando uma lembrança para cada pessoa de lá Eles agradeceram o gesto de carinho e por todo o acolhimento que receberam Em seguida permaneceram no teatro somente as mulheres pertencentes do grupo juntamente do Psicólogo Aparentemente as atividades do grupo tinham parado devido a um período de férias tendo sido retomadas apenas neste dia Assim sendo Francisco perguntou como havia sido para elas esse intervalo de tempo sem a realização do grupo as sextasfeiras Cada mulher deu um discurso diferente mas sempre sinalizando o quão aquilo era necessário para elas e o quão lhes fazia bem estar ali Muitas das mulheres também mencionaram a união que construíram naquele grupo com outras mulheres e o quão esse vínculo fez falta durante esse tempo Uma fala também bastante interessante vinda de uma das mulheres do grupo abordou a questão do cuidado dizendo que elas enquanto mulheres mães esposas e donas de casa precisam cuidar de uma série de coisas mas que acabavam não cuidando de si mesmas A reflexão que foi levantada foi a seguinte Quem cuida de quem cuida As mulheres respondendo por si só tal reflexão mencionavam o grupo de dança terapia como um espaço de cuidado visto que ali elas têm a possibilidade de cuidar de si próprias por meio da dança da arte e da libertação Foi perceptível o carinho que foi construído dentro do grupo como um todo e como a dança e o movimento acabam ajudando essas mulheres em diversos sentidos de forma integral Após essa roda de conversa com as mulheres foi finalizada a oficina Visto que eu também já havia cumprido com o meu horário me despedi das mulheres e do Psicólogo sinalizando que na próxima semana estaria lá novamente Relato Visita 29032023 Horário 08h00 às 10h00 Assim que cheguei na instituição procurei pelo Psicólogo Francisco o qual encontravase em sua sala Perguntei se ele precisaria do meu auxílio para alguma coisa tendo ele respondido que no momento não Assim sendo optei por acompanhar a oficina de convivência realizada com as crianças Na sala havia uma quantidade pequena de crianças devido ao horário visto que algumas delas ainda não tinham chegado Na sala em que seria realizada a oficina de convivência também se encontravam a Alexandra e o Edson os facilitadores do grupo As crianças se mostravam bastante agitadas realizando brincadeiras agressivas com os colegas as quais envolviam empurrões socos além da verbalização de frases de baixo calão falas mandando outros colegas calarem a boca chamando uns aos outros de burros e instigando outros comportamentos agressivos Em meio a isso os facilitadores necessitavam chamar a atenção das crianças com certa frequência Em contratempo observase que as crianças também manifestavam afeto e comportamentos carinhosos como nos momentos em que alguma criança chegava e os demais colegas iam abraçála No geral a recepção deles quando alguém chegava costumava ser bastante calorosa e repleta de afeto assim como costuma ser comigo Após algum tempo quando a maioria das crianças já haviam chegado os facilitadores pediram para que uma parte delas fossem para a van junto do motorista visto que seriam levadas para a outra unidade para realizarem as atividades da oficina de convivência De modo geral compreendese que as crianças são divididas em dois grupos onde um grupo permanece na unidade da BeijaFlor e o outro grupo vai para um outro local mais conhecido como Sítio Joaninha Tendo o outro grupo ido embora e permanecido apenas uma parte das crianças estas ficaram bastante livres fazendo o que queriam As crianças corriam pela sala e também realizavam brincadeiras agressivas umas com as outras O facilitador não intervia deixando as coisas acontecerem Ele muitas vezes não se mostrava preocupado em chamar a atenção dessas crianças e por vezes não observava o que acontecia cabendo a mim essa função em determinados momentos visto que alguém poderia se machucar e provocar algum dano a qualquer momento Após um tempo considerável de ócio das crianças os facilitadores sinalizaram o momento do lanche Assim sendo as crianças iam de duas em duas ao banheiro a fim de lavarem as suas mãos Elas sentaramse nas cadeiras em volta da mesa e foi distribuído para cada uma um pão com manteiga e um achocolatado Antes de comerem a facilitadora pediu para que as crianças agradecessem por terem o pão para comer e o leite para tomar pontuando que aquela não era uma visão religiosa mas sim o puro ato de agradecimento por aqueles que se esforçaram para agradálos e lhes saciar a fome Assim que as crianças finalizaram o momento do lanche o facilitador sugeriu uma atividade com miçangas em que as crianças confeccionariam colares pulseiras e entre outros acessórios com esses materiais Sendo assim as crianças sentaramse em volta da mesa e desfrutaram da atividade mostrandose bastante engajadas na tarefa que de alguma forma apresentou um objetivo terapêutico visto que as crianças se mantinham concentradas e com a agitação reduzida Além disso a atividade conseguiu transformar os comportamentos e falas agressivas das crianças em imaginação criatividade e motivação No momento da atividade percebi que o facilitador se manteve afastado de modo a não interagir com as crianças Ele parecia estar distante delas e do espaço em si Vale mencionar que eu também participei da confecção com miçangas até mesmo no intuito de incentivar as crianças ainda mais na realização dessa atividade Às 10h00 avisei o facilitador e as crianças de que eu precisaria ir e nesse momento fui recebida com alguns abraços e com até mesmo alguns comportamentos resistentes manifestando o desejo que eu ficasse Disse para as crianças que na sextafeira eu estaria lá novamente e me despedi de todos Relato Visita 31032023 Horário 08h00 às 10h00 Assim que cheguei na instituição procurei pelo Psicólogo Francisco visto que às sextasfeiras são realizados os grupos de dança terapia com as mulheres e mães da instituição Fui informada por Helenice secretária da instituição que Francisco que se encontrava no salãoescola local onde são realizados cursos de estética cabelereiro manicure e entre outros para jovens que também participam do projeto BeijaFlor Quando cheguei no espaço do salãoescola o Psicólogo e duas mulheres do grupo já estavam ali Cumprimenteios e aguardamos até 08h30 para iniciar o grupo No total 7 mulheres se fizeram presentes hoje Francisco iniciou o grupo perguntando para as mulheres como haviam passado a semana tendo a maioria delas respondido que a semana foi cansativa Sendo assim o Psicólogo pediu que as mulheres usufruíssem desse estado de cansaço para dar origem a movimentos que simbolizassem essa condição As mulheres de acordo com a música começaram a dançar externalizando aquilo que sentiam Durante a oficina o Psicólogo alternava as músicas sendo que cada uma apresentava uma melodia e ritmos diferentes Dessa forma as mulheres se movimentavam de acordo com o que a música pedia naquele momento externalizando emoções distintas a depender da música tocada Após finalizados os exercícios o Psicólogo Francisco pede para que todas elas tenham um momento de descanso da forma que preferissem Sendo assim algumas delas deitaramse e outras permaneceram sentadas descansando Francisco deu um tempo considerável de descanso para elas com a duração de aproximadamente 20 minutos Após isso pediu para que se sentassem em roda no chão e pediu para que as mulheres partilhassem como se sentiram durante o exercício e como se deu essa vivência Uma participante do grupo em específico tomou a iniciativa de começar falando o que sentiu durante o exercício Ela traz uma fala bastante emocionada relatando que não havia chegado bem na instituição tanto no âmbito físico quanto emocional Então ela diz que a dança e os movimentos lhe ajudaram imensamente e que de pouco a pouco ela foi conseguindo se sentir mais leve e mais aliviada A participante também acaba revelando para a roda que estava passando por um processo de luto de relacionamento no qual gostava muito da pessoa porém precisou agir com a razão para tomar a decisão adequada e romper o laço Ela diz que a última música tocada durante o exercício lhe deixou bastante emocionada e que foi impossível não chorar visto que ela ainda estava abalada com a situação que acontecera em sua vida Nesse momento as demais mulheres do grupo proporcionaram palavras de conforto a ela e se mostraram bastante acolhedoras Outras mulheres do grupo também compartilharam na roda as suas vivências Dentre elas uma revela para a roda que sua menstruação não ocorria há aproximadamente 2 meses e que durante o exercício ela precisou sair da sala visto que o fluxo de sangue finalmente acontece ra A mulher diz acreditar que isso tenha acontecido devido ter externalizado as suas emoções e algo que precisava ser libertado dentro dela As outras mulheres do grupo e o Psicólogo também se mostraram surpresos e muito felizes com o acontecimento Francisco nesse momento diz que para que as coisas acontecessem às vezes era necessária a vivência do caos ou seja foi necessário que a mulher externalizasse suas emoções e vivenciasse o caos na música para o seu organismo colocasse para fora o que fosse necessário Tanto a mulher quanto as demais participantes do grupo concordaram com essa fala e desenrolouse um debate bastante enriquecedor Por último houve uma contribuição também muito importante de uma outra mulher do grupo a qual agradeceu por aquela vivência e disse que se sentia cuidada naquele espaço acrescentando que não conseguia se sentir cuidada em nenhum outro momento de sua rotina da mesma forma Ela complementa dizendo que em sua casa a sua privacidade acaba sendo invadida a todo o tempo por filhos e netos os quais não respeitam e não permitem com que ela desfrute de momentos singulares por exemplo nos momentos em que ela ouve música Sendo assim afirmou que a dança terapia lhe fazia muito bem sobretudo com a companhia das demais mulheres Após muita conversa discussão e partilha de experiência entre as participantes juntamente do Psicólogo foi finalizada oficina às 09h50 aproximadamente Análise Foi observado que uma das atuações do Espaço Cultural BeijaFlor se volta para o trabalho com crianças em situação de vulnerabilidade tendo muitas delas sido encaminhadas pelo CRAS Centro de Referência da Assistência Social ou CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social devido a violação dos direitos envolvendo histórico de abuso sexual violência física violência psicológica negligência familiar situação de abandono trabalhoexploração infantil entre outros Vale salientar também que algumas das crianças pertencentes ao projeto vieram diretamente de abrigos especificamente do SAICA Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes Nas visitas observase uma recepção muito acolhedora e calorosa por parte das crianças usuárias da instituição envolvendo gestos de carinho como abraços e outras demonstrações de afeto Apesar disso notase também que em muitos momentos as crianças tendem a manifestar comportamentos e brincadeiras de cunho agressivo entre si envolvendo empurrões socos além da verbalização de frases de baixo calão para com os outros colegas A agressividade como forma de interagir dessas crianças acaba revelando uma problemática de ordem social na qual o ambiente onde estão inseridas muito provavelmente propicia vivências desagradáveis demarcadas pela cultura da violência e opressão A violência vivenciada na infância pode ser um fator determinante para a manifestação de comportamento agressivo em crianças em situação de vulnerabilidade uma vez que a exposição frequente a ambientes hostis pode levar a uma aprendizagem de que a agressão é uma forma legítima de resolução de conflitos SILVA E RIBEIRO 2018 p 568 Ademais verificase que as crianças por meio de falas e diálogos despretensiosos entre si e também com os educadores acabam trazendo algumas vivências polêmicas como a questão do trabalho infantil e o contato com armas dentro do ambiente familiar Segundo Oliveira e Carvalho 2021 o trabalho infantil é encarado como algo naturalizado por muitas crianças em situação de vulnerabilidade devido à falta de oportunidades e à necessidade de ajudar no sustento da família Essa naturalização pode resultar na perpetuação do ciclo de pobreza prejudicando o desenvolvimento físico cognitivo e emocional dessas crianças No que se refere ao contato das crianças com armas dentro do contexto familiar é fato que além da possibilidade de gerar consequências graves e irreversíveis esta situação acaba também alimentando a perpetuação da cultura da violência Diante disso os educadores da instituição têm o papel de alertar e conscientizar essas crianças acerca dessas problemáticas e elucidar quais espaços podem e não podem ser ocupados por elas Percebese que uma das educadoras da instituição tenta tratar dessa pauta com as crianças por meio de histórias fictícias e analogias que lhes ajudem a refletir sobre o tema Mesmo assim é notável a resistência por parte de algumas crianças em receber e internalizar os ensinamentos e recomendações da educadora A partir disso observase o principal desafio em trabalhar com esse público visto que muitas práticas inadequadas uma e cultura ilegal já se mostram enraizadas nesses meninos Isto posto durante as oficinas de convivência realizadas com as crianças são propostas atividades que envolvam a arte bem como o uso da criatividade e imaginação atividades de colorir desenhar e confeccionar materiais com miçangas por exemplo Tais atividades acabam sendo grandes ferramentas terapêuticas no trabalho com essas crianças visto que ao realizar essas tarefas as crianças transformam muitas vezes o comportamento agressivo ou uma pulsão destrutiva em algo socialmente aceito Segundo Freud 1914 p 87 A sublimação é a capacidade humana de transformar impulsos instintivos e pulsões sexuais em atividades socialmente aceitáveis e culturalmente valorizadas Assim sendo os comportamentos e práticas consideradas violentas das crianças convertemse para a realização de atividades culturais de modo a favorecer o desenvolvimento infantil em diversos aspectos social cognitivo emocional etc Ademais percebese também uma agitação alarmante por parte das crianças usuárias do projeto Portanto as atividades envolvendo a arte contribuem com a externalização dessa carga emocional apaziguando a inquietação e fazendo com que as crianças entrem num estado de relaxamento e concentração De acordo com Malchiodi 2019 p 63 A tividades artísticas podem ajudar as crianças agitadas a se acalmarem e a regular suas emoções permitindo que expressem sentimentos difíceis e encontrem uma saída criativa para sua energia excessiva Além do projeto realizado com as crianças em situação de vulnerabilidade dentro da instituição o Espaço Cultural BeijaFlor também conta com o grupo de dança terapia composto por mulheres o qual é conduzido pelo Psicólogo do local Durante o dias em que acompanhei a oficina foi perceptível a união presente entre as mulheres do grupo Além disso percebese que a dança terapia é o local destinado para que elas se libertem ou seja é por meio da dança e do movimento que essas mulheres externalizam seus mais variados sentimentos e emoções De acordo com um estudo realizado por Bieńkowska e Szymura 2019 a dança terapia pode ser uma forma eficaz de melhorar a autoestima reduzir o estresse e a ansiedade e promover a saúde emocional e mental em mulheres Através da dança as mulheres são capazes de se expressar de forma criativa explorar suas emoções e sensações corporais e fortalecer a conexão mentecorpo o que pode levar a uma sensação de bemestar geral Portanto por meio dessa prática as mulheres conseguem alcançar uma conexão consigo mesmas cada vez mais autêntica visto que a dança terapia também favorece um processo de autodescoberta e autoconsciência Vale mencionar que o grupo com as mulheres não se volta apenas para a prática física e execução do movimento visto que ao final de cada oficina é proporcionado também um momento para que essas mulheres compartilhem suas vivências e o que sentiram com os exercícios Com isso muitas delas acabam sentindose à vontade para falar sobre vivências particulares bem como para falar sobre angústias alegrias e frustrações experimentadas ao longo do processo Logo é dado forma a um grande grupo terapêutico no qual as mulheres ajudam umas às outras fortalecendose de forma coletiva Segundo Goodman 2005 p 227 Grupos de mulheres fornecem um espaço seguro e solidário onde as mulheres podem compartilhar suas experiências enfrentar desafios juntas e apoiar umas às outras A união em grupo também pode aumentar a autoestima melhorar a autoimagem aumentar a capacidade de relacionamento interpessoal e reduzir a sensação de isolamento e solidão Portanto é possível refletir sobre a preocupação por parte da instituição com o bemestar integral de públicos diversos tais como crianças mulheres e entre outras idades também favorecidas pelo projeto Referências Bieńkowska A Szymura B 2019 The effectiveness os dance movement therapy in women with anxiety A randomized controlled trial Complementary therapies in clinical practice 34 8288 doi 101016jctcp201811017 Freud S 1914 No Narcissism An Introduction The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud Volume XIV 19141916 On the History of the PsychoAnalytic Movement Papers on Metapsychology and Other Works 67102 Goodman L A 2005 Supporting women after domestic violence Trauma Informed Peer Counseling in Community Contexts Journal of Aggression Maltreatment Trauma 111 217240 doi 101300J146v11n0111 Malchiodi C A 2019 The art therapy sourcebook McGrawHill Education Oliveira C B Carvalho L M 2021 Trabalho infantil um olhar para a realidade de crianças em situação de vulnerabilidade social Revista IberoAmericana de Estudos em Educação 162 650663 Silva A L Ribeiro L C 2018 Comportamento agressivo em crianças em situação de vulnerabilidade aspectos conceituais e intervenção psicológica Psicologia Argumento 3695 567578