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Psicologia ·

Psicologia Social

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VETOR EDITORA PSICOPEDAGÓGICA Capítulo 4 p23 A investigação fenomenológica propõese a identificar estruturas significativas a partir da observação das imagens elaboradas pela vivência cotidiana 1 Delineamento dos aspectos centrais que constituem as unidades de significado explicitados no discurso psicoterapêutico escutas e falas 2 Descrição das temáticas principais do processo psicoterapêutico em que cada unidade de significado é descrita e exemplificada 3 Descrição estrutural situada do processo de escuta e de fala bem como dos elementos constitutivos deste processo 4 Caracterização estrutural geral As falas constituem as unidades de significado destacadas através das questões que aparecem em algumas relações psicoterapêuticas Os seus aspectos centrais foram devidamente delineados e suas temáticas descritas no modo em que apareceram no processo O destaque foi dado às formas como aparecem tais questões e às possibilidades de atuar do psicoterapeuta até a caracterização geral de um processo de escuta e fala que possibilita conhecer mais do ofício do psicólogo 111 A fala do cliente A investigação em um primeiro momento atevese às falas dos clientes Delas foram extraídas temáticas que ocorrem no contexto psicoterapêutico a título de ilustração Algumas possíveis seriam a A culpa existencial A presença mostra no seu discurso a culpa existencial de várias maneiras Aparece por exemplo como lamentação das possibilidades que não foram escolhidas da seguinte forma Ah Se eu tivesse A queixa fica em torno daquilo do qual outrora se abriu mão A culpa existencial pode ser exemplificada pela fala de uma mulher de 44 anos que se queixava de depressão da seguinte forma Quando casei meu marido me proibiu de estudar Falou eu estudo ou o casamento Eu casei e hoje fico muito triste porque não sou a advogada famosa que eu sempre quis ser Ah Que arrependimento Ah Se eu tivesse estudado hoje não estaria aguentando marido e filhos Na visão existencialista a culpa existencial caracterizase pelo aprisionamento do existente aos acontecimentos passados Assim não se lança para o futuro A culpa para Kierkegaard se dá pelo fato da liberdade não ter sido exercitada em suas possibilidades Para Heidegger tratase do débito que sob a forma de lamentação clama pelo dever como ser mais próprio O psicoterapeuta traz à tona a expressão inautêntica mobilizando o cliente à responsabilidade pela escolha e também clarifica para este que à medida em que se lamenta permanece na mesma escolha Um exemplo da fala do psicoterapeuta Parece que no passado você optou pelo casamento e hoje você se lamenta pela escolha do passado A angústia existencial Sentimento de estranheza da inquietude onde se fala um não sei o quê que traz o quererterconsciência Não querer ter consciência tratase de um engodo fadado à angústia em plenitude porque se sabe escolhido porém se justificando pelo medo pelo pânico pelo outro que impede Sente como se sua liberdade não lhe pertence embora sabendo de sua pertença Relato de uma mulher de 30 anos É um mal estar sinto que não estou bem mas não tenho do que reclamar meu casamento meus filhos tudo está bem Mas eu me sinto estranha como se as coisas não estivesse bem na minha vida O psicoterapeuta existencial atua mantendo a angústia frente águia que sustenta a questão não facilitando a fuga para o impessoal Pode atuar da seguinte forma Mesmo tudo em torno de você esteja bem em você mesma as coisas vão mal pela autorelação Fazse no mundo por se relacionar com ele e se faz nele mesmo por relacionarse consigo mesmo Vive a dialética da liberdade necessidade e possibilidade Nesta dialética corre sempre o risco de perderse em si mesmo ou de perderse de si mesmo Heidegger 1989 fala da perda na impossiilidade como uma das formas de existir inautêntico mas que também é própria da presença A perda do próprio referencial é revelada pelo pleno desconhecimento do seu sentido do seu projeto desconhecendo também os próprios referenciais O existente fica à mercê do que lhe dizem das normas que lhe são impostas Perdese no mundo não sabe o que é seu e o que é do outro O psicoterapeuta nestas situações pode atuar de forma a buscar juntamente com o cliente seus referenciais o que lhe é próprio Deve cuidar para que as suas crenças não sejam jamais passadas ao cliente e também cuidar para que não indique qualquer caminho ao cliente mesmo que este insista que direções lhe sejam indicadas Nesta situação uma das possibilidades terapêuticas é clarificar a forma como abre mão de sua liberdade deixando o outro escolha por ele A revista te diz que o que vale é a experiência da avó Agora você quer que eu te diga o que você deve fazer E assim você vai vivendo perguntando aos outro o que deve fazer e Rigidez frente ao referencial próprio Neste caso o existente perdese em si mesmo e desconsidera o mundo ao seu redor O existente na condição de compreensibilidade percebe seus critérios como sendo o referencial do mundo Vive tão autocentrado que qualquer situação em oposição ao que ele acredita constituise em um grande erro e mais tem a intenção de atingilo Esquecese que o mundo da presença é o mundo compartilhado o sercom Relacionamse com o outro ao modo da preocupação substitutiva As relações de convivência se dão na forma de desconfiança e indiferença Ligase apenas a si próprio 124 A ESCUTA E A FALA EM PSICOTERAPIA Fala a cliente referindose a sua mãe Ela atrapalha meu casamento Está sempre ali Meu filho diz que não tem nada demais Eu fico magoada com ele ele não se coloca no meu lugar Não sabe o que é isto acho que ele quer é me ver mal No discurso colocase sempre no centro utilizase demasiadamente do pronome eu Diz que todos estão errados ou que são contra ele ou nutrem por ele uma grande inveja Os fatos são relatados com tamanha lógica que não deixa possibilidade de discordância inclusive por parte do psicoterapeuta Este modo de mostrarse requer muito tato do psicoterapeuta uma vez que este pode se tornar aos olhos do cliente um grande invejoso e desta forma rompese o vínculo de confiança A princípio e até mesmo ao longo de todo o processo a postura do psicoterapeuta é de aceitação e centrada no próprio relato do cliente tentando astutamente descerrar o referencial do cliente na sua própria ação Por exemplo quando o cliente traz uma queixa de alguém do seu chefe de seu pai enfim de alguém que tenha alguma ascendência sobre ele e o aborde de forma autocentrada o psicoterapeuta a partir deste relato pode mostrarlhe pouco a pouco que o outro existe em uma relação Os sentimentos frequentemente relatados são de raiva do outro de vaidade e orgulho As relações estabelecidas vêm carregadas de conflito f Projeto de aceitação e aprovação por parte do outro o discurso do cliente na maioria das vezes revelase de forma reticente pois espera conhecer um pouco mais do outro para poder mostrarse de acordo com a expectativa daquele com quem se relaciona Nos primeiros contatos a ansiedade é sua marca registrada parecendo inseguro frágil Uma adolescente de 18 anos traz o seguinte relato Eu até sei que não devo ceder às vontades do meu namorado nem da mãe dele Mas também não quero parecer inconveniente então 125 ANA MARIA LOPEZ CALVO FIEJOO prefiro mostrarme como uma moça fina como eles querem que eu seja também não é tanto sacrifício A existência presenteia o existente no seu surgimento no mundo pela falta de sentido e pela solidão Na tentativa de escapar à solidão o outro pode se tornar uma necessidade imprescindível para que sua vida tenha continuidade Quando o outro se torna uma necessidade o sujeito em questão abre mão de seus referenciais Embora conhecendo seus valores enfim seu projeto seu sentido maior é escapar à solidão O psicoterapeuta nestes casos deve atuar de forma atenta pois se deixar transparecer suas expectativas é segundo tais expectativas que o cliente vai se revelar Caminha passo a passo a fim de que o cliente entre em contato com a sua solidão e com seu medo g Dificuldade de assumir o sofrimento como possibilidade A minimização do sofrimento aparece no relato do cliente ocorrendo muitas vezes de forma a não contar a realidade como ela acontece Foge da situação evitaa ou distorcea Na linguagem vem não é bem assim ele não é tão ruim Justifica o não observar bem pela falta de tempo pelo medo de ser injusto enfim não há tempo nem espaço para ver o que realmente acontece Eu digo ruim com ele pior sem ele Ela tem muito ciúmes chega a me empurrar mas é bom para mim faz isto porque gosta muito de mim Heidegger 1989 descrevendo as condições do existir afirma que o serem se dá pela sua disposição no mundo O humor ou o sentimento é a condição de existir Sentir portanto implica em medo angústia êxtase dor dentre outras formas de sentir Muitas vezes minimizar a dor consiste em uma estratégia que permite o alívio No entanto fugir deste sentimento implica em 126 A ESCUTA E A FALA EM PSICOTERAPIA não assumir a si mesmo Nas palavras de Kierkegaard isto é transformarse em um eterno zero O psicoterapeuta existencial pode manter a angústia frente à estranheza do cliente de si próprio Mesmo que o cliente insista em esconderse de si próprio o terapeuta insiste sutilmente nos indícios a fim de que o cliente tenha a oportunidade de se confrontar com a sua estranheza h Maximização do sofrimento Nesta situação o cliente mostra a autopiedade O relato é rico em lamentação Vê o mundo com uma desconfiança extrema utiliza os olhos da imaginação para assim dar amplitude ao seu sofrimento Relato do cliente adulto jovem Ninguém na minha casa me entende ninguém liga para mim Eu faço tudo por eles mas quando eu preciso me abandonam ninguém deixou de viajar porque eu estava sofrendo não consegui o emprego e eles até gostam estavam felizes porque iam viajar O psicoterapeuta pontua o exagero rompendo com os olhos da imaginação trazendo à tona as incoerências i Nãoaceitação dos próprios limites Muitos clientes mostramse insatisfeitos com suas condições sejam financeiras intelectuais ou sociais Queixamse até mesmo da sua constituição física ou motivacional Lutam desesperadamente a fim de tornaremse aquilo que sua originalidade não permite Em O Desespero Humano afirma Kierkegaard é certo que um eu tem sempre ângulos mas daí apenas se conclui que é preciso darlhes resistência e não limálos e de modo algum significa que por receio de outro o eu deva renunciar a ser ele próprio ou não ousar sêlo em toda a sua originalidade na qual somos plenamente nós para nós próprios p39 A não aceitação do seu ser com suas possibilidades e limitações pode implicar em uma tentativa de limar seus ângulos ou então criar ângulos não possíveis uma vez que somos nós próprios e nenhum outro Relato da cliente com quase trinta anos e queixase da perda da juventude Não quero envelhecer trinta anos não dá não queria sair dos vinte e nove anos O psicoterapeuta existencial nestes casos muitas vezes em primeiro lugar amplia a consciência desta vivência desesperada em que o existente se debate contra si mesmo luta contra a maré Depois mostralhe como sua luta tornase vazia por fim deve proceder de forma que o cliente se esmere no polimento de seus ângulos e deixe de tentar limálos na medida em que se aceite em sua originalidade Enfim facilita o acesso ao seu ser mais próprio j O medo da solidão Ao perceberse como lançado e esta condição como algo inevitável este existente agarrase ao outro como se agarrar à vida Aceita qualquer imposição mesmo que para tal tenha que abrir mão daquilo que em si mesmo lhe é mais próprio Um cliente de vinte anos Eu prefiro não terminar o namoro pois não aguentaria ficar sozinha mesmo ele sendo dependente químico e até correndo o risco de um dia acabar sendo presa com ele Ainda é melhor do que morrer Sem ele eu morro k Desconhecimento das próprias possibilidades Suas realizações são ditadas pelo social assume o que é mais bem visto Neste caso a publicidade como modo de ser do impessoal obscurece a existência A presença se mostra como nivelamento de suas possibilidades Tratase de um arquiteto muita valorizada pelos projetos realizados que se posiciona da seguinte forma Fico pensando que tenho que agradar os meus clientes de todas as formas Fazer tudo que eles exijam que eu faça Ser bastante boazinha l Projeto idealizado de si mesmo Não aceita cometer erros equivocarse Estánomundo para realizarse como perfeição tendo de dar conta de todas as possibilidades Acredita que assim não ficará em débito embora com relação ao passado sintase sempre em débito Muitas vezes aquele que assim se encontra chega ao psicólogo com pretensões de curarse tornandose perfeito inatingível infalível não mais vulnerável às contingências do mundo Idealiza uma situação de vida perfeita Quer tornarse um ente Seguese um exemplo Imaginie que na minha vida tudo daria certo meu marido meus filhos minha vida profissional No entanto não fui bem sucedida profissional Assim como eu gostaria Dediqueime demais aos meus filhos e hoje não sou a professora que eu gostaria de ser Sabe uma acadêmica com doutorado livros publicados A psicoterapia vai acontecer de forma a que o cliente em tal situação atinja o sentido do ser do ente ao que lhe é mais próprio com a vulnerabilidade a abertura a morte a imperfeição m Falta de diálogo consigo próprio Perdese nos falatórios Fala de tudo e de todos mas não fala de si mesmo Vive na curiosidade A fala pode se dar da seguinte forma Isso é coisa de mulher fresca Deve ser igual o povo fala que tem enjoô na gravidez Isso é mulher doente que fica enjoada Menopausa uma coisa tão boa que acaba a menstruação O psicoterapeuta vai buscar na tagarelice de seu cliente aquilo que lhe é mais próprio n Nãoliberdade Transfere toda a responsabilidade de sua vida ao outro ao acaso a Deus à energia do mundo Todos são responsáveis pelos rumos de sua vida não reconhece nenhuma de suas escolhas Uma mulher de 40 anos que se queixa da pessoa com quem se relaciona e que ultimamente vem até pensando na separação Ah Se eu ganhasse na loteria eu não vou te dizer que não teria problema mas mas esse problema não existiria porque obviamente eu gosto do cara senão eu não estaria nessa batalha toda para ele mudar O psicoterapeuta pode atuar pouco a pouco apontando suas escolhas com muito cuidado para que o cliente não oponha resistência o Espaçamento Neste modo o ser mostrase como impessoal permanecendo sob a tutela dos outros Seu valor está no seu recurso na aprovação do outro Ao modo da medianidade desconhecese a si próprio definese no mundo como todo mundo Fala o cliente No meu campo de atuação tenho que me mostrar confiante Se pareço muito carente elas não negociam comigo Tenho que estar sempre bem vestido para parecer bem sucedido Tenho que ser admirado O psicoterapeuta pode atuar pontuando junto com o cliente o que lhe é próprio e pessoal da seguinte forma Você tem que representar muito bem para que as pessoas te dêem valor 4112 A fala da psicoterapeuta Em um segundo momento da investigação fenomenológica serão descritas as unidades de significado referentes à fala da psicoterapeuta que buscará ampliar no cliente o clamor de sua consciência com relação à sua liberdade à responsabilidade à ação à aceitação dos riscos através do processo de fala e escuta Algumas das falas possíveis para um psicoterapeuta serão aqui descritas sem se pretender esgotar todo um infinito de possibilidades A investigação destas falas pretende elucidar a forma com que o psicoterapeuta se conduz na sua forma natural como exercício e hermenêutica pouco a pouco buscando o sentido daquele que se mostra mesmo de forma velada O processo psicoterápico compõese de momentos em que se torna importante conhecer o diaadia do cliente sendo necessário para tal explorar seu cotidiano O psicoterapeuta tenta então colher mais informações e organizarse quanto ao conteúdo do relatado Afinal é preciso para se estabelecer o vínculo psicoterapêutico ir até o onde o outro se encontra Para tanto é necessário saber o que o outro sabe de si mesmo Nas sessões psicoterapêuticas investigadas encontraramse nos psicoterapeutas existenciais falas do tipo Exemplificadora o terapeuta pede ao cliente que exemplifique como o que está relatando acontece em outras situações ou se for o caso o próprio terapeuta exemplifica através daquilo que já sabe de relatos anteriores O cliente relata Parecia que ela nem tava ali foi uma coisa rápida eu não sei o que me deu que agente tava conversando E ela já tinha me escrito uma carta dizendo do desejo dela E eu tinha até respondido pra ela olha não rola eu amo muito a Rosana e eu não me sinto bem até imaginando isto Aí de repente ali na festa ali eu nem sei o que me deu Acabado de chegar fazendo planos de ficar lá junto com ela amando tanto ela O que será que aconteceu Eu não entendi parece que brinco com as situações brinco com os outros Fala do psicoterapeuta Você poderia me dar um exemplo em que você se percebe brincando com as situações brincando com os outros Fala o cliente Acabei ficando com uma menina eu não sei o que que deu tava tendo uma festa e eu fiquei com uma menina lá da clínica mesmo eu não sei o que deu em mim o que me deu Psicoterapeuta Relata para mim como aconteceu Inquisitiva Quando o terapeuta faz perguntas sobre o fato as intenções ou os sentimentos implicados em um determinado relato Cliente Eu não sei Quando ela contou eu neguei Psicoterapeuta Negou o quê Em outros momentos psicoterápicos tornase fundamental facilitar o aprofundamento nas questões que trazem mais angústia porém de forma compreensiva e acolhedora de modo que o cliente não oponha resistência Outras falas possíveis seriam Clarificadora da emoção O cliente traz um relato e junto com o relato a emoção O terapeuta clarifica para o cliente a emoção que percebe no seu relato Desta forma esclarece o sentimento e facilita o reconhecimento do seu sentimento frente à situação Pode ser formulada como pergunta ou como afirmativa Este tipo de fala foi amplamente utilizada por Rogers 1961 que a denominou de clarificadora de vivência emocional Uma situação psicoterapêutica pode se dar assim Fala da cliente Mais ou menos isso Um exemplo não é o meu caso Vamos supor que eu quero ser cantor aí eu sonho com isso e aí eu chego lá e não consigo vou ficar muito decepcionado Psicoterapeuta E para não se decepcionar você prefere não querer Refletora de conteúdo verbal O cliente traz um relato extenso e o terapeuta sintetizao apresentandoo novamente ao cliente Reduz o conteúdo ao essencial Ao sintetizar o terapeuta mostra que compreende o cliente que está atento e o convida ao aprofundamento do conteúdo Pode ser elaborada de forma inquistiva ou afirmativa Esta fala também foi elaborada por Rogers 1961 que a utilizava mais frequentemente sob a forma afirmativa Virgínia Axline 1989 utilizavaa predominantemente sob forma interrogativa como pode ser constatado em seu livro Dibs em busca de si mesmo Cliente Não eu não penso nada para quê O que vai acontecer é o que tiver que ser Psicoterapeuta Você acha que tudo já está decidido que nós não podemos fazer nada A inautenticidade no modo da disposição revelase como humor ambíguo Muitas vezes a fim de chegar mais próximo de si mesmo fazse necessário reconhecer tais ambigüidades O psicoterapeuta pode esclarecer tais situações mostrandoas ao cliente quando elas aparecem porém nestes momentos fazse necessária rio paciência Com impaciência podese afastar o outro de sua possibilidade mais própria Refletora de conteúdo nãoverbal Quando se mostra ao cliente sua postura físico dinâmica ou corporal frente a uma determinada situação oposta ao que por exemplo é verbalizado por ele Fala do cliente O chefe me demitiu vai ser péssimo Como vou pagar minhas contas Ao mesmo tempo que relata mostrase de forma risonha Fala ao psicoterapeuta Interessante você lamenta a demissão ao mesmo tempo mostra uma expressão de felicidade Reveladora de situações conflitivas Traz à tona a inautenticidade O cliente por vezes diz uma coisa e sua aparência parece negála Ou tem dois pesos e duas medidas para a mesma situação isto é pensamento sentimento e ação não caminham juntos O terapeuta revela a situação conflitiva que se mostra Fala ao cliente Porque com meu filho eu coloco disciplina Psicoterapeuta De que forma você impõe a disciplina Cliente Por exemplo às vezes ele almoça uma hora às vezes as duas Responde ao psicoterapeuta Parece que por mais que no teu pensamento a imposição da disciplina seja a sua verdade quem põe a ordem é o seu filho Adversativa ou paradoxal O terapeuta dá ao cliente a idéia contrária daquilo que ele está passando a fim de que ele tome consciência de sua verbalização e possa perceber mais claramente seu ponto de conflito ou de desordem Em psicodrama dizse que o terapeuta faz o duplo Diz o cliente Bem não quero irritarme Vou tentar falar sobre isto de forma mais tranquila Psicoterapeuta Estou vendo o quanto você está tranquilo falando do seu fracasso Cliente Silêncio reflete Não não na verdade estou nervoso falando nisto Mas por alguma razão não queria mostrar assim A responsabilidade pelas escolhas próprias ou impróprias constituise como fundamento do testemunho do débito condição fundamental para a decisão tais situações devem consistir portanto em um momento psicoterapêutico de suma importância Fazse necessário cuidado sendo o psicoterapeuta um ouvinte que escuta o que o outro quer lhe dizer Promotora de responsabilidade a responsabilidade é uma questão crucial a ser trabalhada na psicoterapia de base existencial considerandose que o cliente é o único que pode decidir sobre si próprio e nunca as situações ou pessoas envolvidas em sua vida decidirão por ele Mesmo quando atribui a terceiros ou ao impessoal a decisão ainda assim está sendo responsável Afirma a cliente Se não fosse ela a minha vida seria um mar de rosas O psicoterapeuta pode recorrer a palavra você invertendose a direção da ação dada pelo cliente que responsabiliza o mundo pelas suas escolhas posição psicológica de nãoliberdade Juntamente com a fala de núcleo comum torna possível fazer a ponte entre o que se repete na história do cliente e qual a sua responsabilidade nesta repetição Diz o psicoterapeuta E o que você faz para sua vida seja um mar de rosas Focalizadora do aqui e agora O cliente vive com o terapeuta uma situação que também é vivida com os demais O terapeuta traz a situação no presente a partir do que está acontecendo ali Tal situação pode facilitar o cliente a assumir suas responsabilidades pela sua escolha Diz o cliente Claro as coisas são como são e eu não deveríamos perder tempo com as coisas que não têm remédio Responde o psicoterapeuta Você realmente não quer ver até que ponto é escravo do desejo de preservar essa imagem de homem confiante Na verdade está tentando impingila a mim agora mesmo Esclarecedora do núcleo comum O terapeuta levanta diferentes situações em que a forma de atuar do cliente se repete buscando com ele sua responsabilidade pelo seu acontecer Cliente Gostaria que meu sócio saísse para que ela tivesse mais tranquilidade Psicoterapeuta Parece que em muitas situações de sua vida você quer que os outros decidam por você A presença clama por si O clamor constituise em um modo de discurso que rompe com o ouvir do impessoal e passa a dar voz à consciência Aí então sai do modo do falatório para a linguagem Sai do modo da curiosidade para a compreensão Devese ter em mente que o próprio impessoal clama por si mesmo em sentido próprio ANA MARIA LOPEZ CALVO FEIJOO 135 O psicoterapeuta mantém a angústia para que o clamor não seja arrastado para o impessoal desviandose novamente de si mesmo aparecem então as seguintes modalidades de fala Provocativa Quando o psicoterapeuta estrutura sua fala de forma a provocar uma reestruturação emocional do cliente Fala o cliente Acho que eu estava meio irritado E não vejo vantagem nenhuma de mostrar minha irritação Psicoterapeuta Parece que você insiste em querer se mostrar o que na verdade não é Aprofundamento dos questionamentos emocionais Consiste em levar o cliente a aprofundar a sua angústia de forma crescente possibilitando o aprofundamento do seu clamor por si mesmo sempre que o cliente permitir Fala do cliente Não sei se você vai acreditar mas não consigo lembrar do que estávamos falando Psicoterapeuta A crédito sim parece que isto custa acontecer sempre que você teme como o vão avaliar a partir do que você está mostrando Manutenção do estaremdébito O terapeuta existencialista tanto corre como promove o risco Se o cliente insiste no mesmo modo de atuar no mundo pode ser por não querer correr risco O terapeuta busca saber o que pode acontecer se o cliente correr o risco Pergunta O que teme Diz o cliente Na verdade não estou aqui para passar uma imagem falsa de mim mesmo Embora seja assim em todos os meus relacionamentos Por isto não dá certo Mostreme que Psicoterapeuta O que você teme que possa te acontecer se você se mostrar como é Definidora A fala se revela na impessoalidade no impróprio mesmo porque este modo de ser da presença é familiar 136 A ESCUTA E A FALA EM PSICOTERAPIA e portanto apreendido como próprio O psicoterapeuta deve manterse atento para no impróprio buscar o próprio através das definições das verbalizações Expressões como ninguém todo mundo constituemse como o impessoal e o impróprio Exemplificando se o cliente diz Ninguém pergunta o psicoterapeuta Quem especificamente Diz o cliente Todo mundo Novamente o psicoterapeuta Quem Diz o cliente Ninguém permitiu que eu fosse percebi que todos ficaram contra mim Psicoterapeuta Especificamente quem ficou contra você Busca do centro de referência O terapeuta nesta situação atua no sentido de ajudar o cliente a considerar seus próprios critérios e a diferenciálos dos critérios das pessoas que lhe são significativas Buscase a diferenciação do seu serpróprio do ser do outro Fala do cliente Eu não sei o que fazer se telefono para ele mesmo sabendo que estou dando esperança ou se não telefono ou dou uma de ingrata Todos dizem para eu não telefonar minha mãe diz que não foi assim que ela me ensinou Psicoterapeuta E você o que diz 4113 Caracterização da Estrutura Geral As expressões inautênticas revelamse mesmo na tentativa de escondêlas pois até esconderse implica no seu revelarse As diferentes expressões da presença em estado de queda são reveladoras na fala que até mesmo se pronuncia como silêncio É importante ressaltar que estas falas se dão no clamor da consciência quando a presença testemunha seu débito consigo mesma Nestas situações o impessoal vem ao encontro da presença na tendência de superficialidade e facilitação Levase em conta no entanto que o próprio do ser não se separa do impróprio ANA MARIA LOPEZ CALVO FEIJOO 137 O próprio e o impróprio o pessoal e o impessoal o autêntico e o inautêntico são modificações existenciais do existencial constitutivo Devese a isto a possibilidade de se constituir uma psicoterapia onde o próprio e o impróprio o pessoal e o impessoal constituemse no jogo do existir da presença O discurso segundo Heidegger 1989 enquanto articulação em significados de compreensibilidade inserida na disposição de sernomundo tem como constitutivos o referencial do discurso aquilo sobre o que se discorre a comunicação e o anúncio O psicoterapeuta atua em uma possibilidade existencial inerente ao próprio discurso a escuta Nesta situação o sentido do cliente vai ser transmitido e o terapeuta vai atuar através da épochè para que não haja a transmissão do sentido de sua compreensibilidade do mundo uma vez que tal fato pertence ao espaço do cliente Cabe ao terapeuta ampliar a perspectiva do sentido do cliente através de sua fala e através das reduções fenomenológicas realizadas pelo terapeuta O psicoterapeuta acompanha o acontecer de seu cliente Esta acredita uma relação de preocupação de modo desinteressado libertando o outro para si mesmo Na maioria das vezes o cliente procura o psicoterapeuta colocandose como ente O psicólogo vai pouco a pouco através da hermenêutica do sentido daquilo que se mostra abrindo o que aparenta e se manifesta para o surgimento do ontos em jogo com o ente O psicoterapeuta na sua técnica como produção mútua vai através do que se mostra buscar o que se vela de forma a que o sentido se desvêle