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Niterói Universidade Federal Fluminense ISSN 15177793 26748126 eletrônico GEOgraphia vol 24 n 53 2022 DOI 1022409GEOgraphia2022v24i53a55623 DOSSIÊ EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA1 Denilson Araújo de Oliveira2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ Universidade Federal Fluminense UFF São Gonçalo e Niterói RJ Brasil Enviado em 30 abr 2022 Aceito em 30 jun 2022 Resumo O foco da análise deste artigo é compreender como o racismo tem produzido existências desumanizadas e concomitantemente múltiplas formas de enfrentamento têm sido criadas O nosso objetivo é analisar como o debate sobre segurança no Brasil tem produzido existências desumanizadas pela ideia de raça Construímos uma análise genealógica do debate de segurança e a relação com a questão racial Identificamos dispositivos de racialidade criados no contexto colonialescravocrata e actualizados na cidade neoliberal como mecanismo de garantia de segurança em defesa de uma sociedade branca e burguesa Nosso referencial teórico expressa um diálogo com as ideias de necropolítica de Achille Mbembe colonialidade do poder Aníbal Quijano e antinegritude de João Vargas Palavraschave Segurança Dispositivo de Racialidade Necropolitica Colonialidade Antinegritude EXISTENCES DEHUMANIZED BY THE COLONIALITY OF POWER NECROPOLITICS AND BRAZILIAN ANTIBLACKNESS Abstract The analysis focus of this article is to understand how racism has produced dehumanized existences and concomitantly multiple forms of confrontation have been created Our objective is to analyze how the debate on security in Brazil has produced existences dehumanized by the idea of race We built a genealogical analysis of the security debate and the relationship with the racial issue We identify devices of raciality created in the colonialslave context and updated in the neoliberal city as a security guarantee mechanism in defense of a white and bourgeois society Our theoretical framework expresses a dialogue with Achille Mbembes ideas of necropolitics Aníbal Quijanos colonial power and João Vargas antiblackness Keywords Security Raciality Device Necropolitics Coloniality AntiBlackness EXISTENCIAS DESHUMANIZADAS POR LA COLONIALIDAD DEL PODER NECROPOLÍTICA Y ANTINEGRIDAD BRASILEÑA Resumen El foco de análisis de este artículo es comprender cómo el racismo ha producido existencias deshumanizadas y concomitantemente se han creado múltiples formas de confrontación Nuestro objetivo es analizar cómo el debate sobre la seguridad en Brasil ha producido existencias deshumanizadas por la idea de raza Construimos un análisis genealógico del debate sobre la seguridad y la relación con el tema racial Identificamos dispositivos de racialidad creados en el contexto colonialesclavista y actualizados en la ciudad neoliberal como mecanismo de garantía de seguridad en defensa de una sociedad blanca y burguesa Nuestro marco teórico expresa un diálogo con las ideas de necropolítica de Achille Mbembe colonialidad del poder de Aníbal Quijano y antinegritud de João Vargas Palabras clave Seguridad Dispositivo de Racialidad Necropolítica Colonialidad AntiNegritud 1 Este trabalho é parte de uma reflexão no prelo sobre Geografias Negras do Genocídio Negro Brasileiro 2 Professor do Departamento e do Programa de PósGraduação em Geografia FFPUERJ e Professor do Programa de Pós Graduação em Cultura e Territorialidades UFF Coordenador do NEGRA Núcleo de Estudo e Pesquisa em Geografia Regional da África e da Diáspora Integrante do Instituto Búzios Email araujodenilsongmailcom ORCID httporcidorg0000000317267767 Este artigo está licenciado com uma licença Creative Commons Atribuição 40 Internacional GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 2 Introdução A proposta deste artigo é compreender como têm sido produzidas existências desumanizadas pela ideia de raça e a criação de diferentes formas de enfrentamento Nosso objetivo é analisar como o debate sobre segurança tem reproduzido existências desumanizadas pela ideia de raça Este ensaio não se trata de apresentar uma trajetória conceitual e longitudinal desse conceito mas compreender os subsídios raciais imanentes a essa política de Estado Nosso artigo é eminentemente teórico mas inspirado em análises de dados sobre a política de segurança no Rio de Janeiro Brasil Iremos construir uma análise genealógica buscando identificar os dispositivos de racialidade CARNEIRO 2005 criados no contexto colonialescravocrata e actualizados3 na cidade neoliberal Seguimos a esteira de estudos que compreendem a questão racial brasileira não podendo ser reduzida à esfera das heranças escravocratas mas é também uma vontade de poder no presente que garante benefícios e privilégios OSÓRIO 2008 Mas nosso passado ainda nos assombra Buscamos compreender o ideário construído sobre corpos e territórios racializados nas cidades brasileiras como ideários bionecropolíticos inerentes à reprodução da colonialidade do poder MBEMBE 2006 QUIJANO 2000 Entendemos que os diálogos das ideias de necropolítica de Achille Mbembe colonialidade do poder Aníbal Quijano e antinegritude de João Vargas fornecem importantes elementos para compreender o tenso cenário brasileiro especialmente das favelas e periferias do Rio de Janeiro criado pelas políticas de segurança Dessa forma dividimos o artigo em três momentos No primeiro apresentamos possibilidades de interpretação geográfica da questão racial Apontamos como os geógrafos modernoscoloniais mobilizaram o conceito de raça como sistema de dominação definindo um projeto de espaço No segundo momento buscamos aproximações entre os conceitos de colonialidade do poder de Aníbal Quijano 2000 Necropolitica de Achille Mbembe e antinegritude de João Vargas 2020 O terceiro momento buscamos apontar pistas a partir da análise das lutas sociais de como embriões têm se constituído para sair desta grande noite MBEMBE 2019 Por uma geografia da questão racial A questão racial é um tema caro à Geografia A Geografia ao longo da sua história moderno colonial esteve envolvida em projetos de poder a serviço da dominação como o colonialismo e o imperialismo A raça sempre esteve no centro das formulações dos pioneiros da Geografia acadêmica como Ratzel e La Blache contudo de forma mágica foi obliterada da história do pensamento geográfico especialmente no Brasil Felizmente esforços ainda que não suficientes têm sido produzidos nas últimas décadas no Brasil MARCELINO 2020 para desmascarar as máscaras sociais da geografia MOREIRA 1982 e do projeto modernocolonial A classificação da população mundial com o projeto colonial gestado no século XV definiu existências e territórios desumanizados pela ideia de raça Quijano 2000 chamou isso de colonialidade do poder A colonialidade do poder definiu mecanismos de naturalização da hierarquização e desumanização de grupos nãobrancos Logo as vidas e territórios racializadas pela branquitude não são dignas de serem vividas e determinadas mortes não são passíveis de luto mesmo quando ocorrem aos milhões BUTLER 20194 A branquitude produziu quais vidas e 3 Actual es decir algo de otro tiempo que actúa aquí y ahora a partir de nuevas circunstancias GONÇALVES 2001 p 125 4 A branquitude não expressa um indivíduo mas um padrão de poderdominação pela ideia fantasiosa e delirante de supremacismo branco na cultura na economia na política na vida social na produção epistemológica e ontológica O EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 3 territórios são dignos e quais mortes geram comoção e precisam ser choradas Assim o genocídio o extermínio de grupos o ecocídio a destruição de ambientes o epistemicídio a destruição de formas de saberconhecimento e o terricídio a destruição de territórios e territorialidades são imanentes à colonialidade do poder A colonialidade do poder criou tanto formas espaciais quanto grafagens no uso e apropriação dos espaços Nesta lógica o branco transita numa zona do ser onde os grupos são reconhecidos como humanos e regidos pelo Estado de Direito FANON 2008 GROSFOGUEL 2012 Já os negros e todos os grupos racializados transitariam por uma zona do não ser e um Estado de Exceção aonde os grupos são vistos como vazios de humanidade MBEMBE 2014 logo matáveis não gerando nenhuma comoção social Idem O projeto modernocolonial definiu uma monocultura do ser do saber do tempo linear e do espaço como símbolo de produtividade SANTOS 2003 Tudo o que o branco cristão heterossexual burguês e ocidental é posto como superioridade e central Já o que é tido como o resto é visto como o pólo passivo inferior e que está à espera de salvação do mundo moderno Assim o projeto modernocolonial mobiliza múltiplos sistemas hierárquicos A raça foi usada como um desses sistemas A hierarquia racial de populações é inerente à leitura dos espaços Grupos racializados serão colocados nos espaços desprezados pela dominação racial Topografias da crueldade e da violência ALVES 2011 BALIBAR 2001 ora são explicitas ora emergem em eventos específicos para afirmar o desejo de apartheid e a política de inimizade MBEMBE 2020 da branquitude brasileira contra os grupos racializados por ela mesma Em cada dinâmica regional do Brasil e do mundo esse projeto ganhou cara própria Assim a colonialidade do poder precisa ser regionalizada e periodizada Ou seja ela muda com o tempo devido a sua plasticidade capacidade de adaptação proliferação e metamorfose e se diferencia no espaço tanto entre formações sócioespaciais distintas quanto dentro de uma mesma formação A colonialidade do poder é um fenômeno multiescalar plural e para se legitimar definiuse como um padrão de naturalidade e normalidade Ela expressa uma vontade de poder constante em busca de um supremacismo branco5 No Brasil a tese do branqueamento e da democracia racial foram algumas das expressões da colonialidade do poder As autoridades e cientistas brasileiros do século XIX não escondiam esse desejo de inimizade Em 1870 quando o sistema escravocrata era existente mas cada vez mais decadente foram introduzidos os primeiros imigrantes europeus para a substituição de mão de obra negro buscavase assim branquear a população e pagar salário aos únicos que poderiam recebêlo os brancos Esse desejo de inimizade e de apartheid que surge na colônia e atravessa o império chega à república adaptandose aos novos tempos Sob o véu da democracia racial e das teorias freyrianas o apartheid brasileiro cala seu objeto o segrega em periferias favelas e prisões enquanto celebra o mito da integração a cada mês de fevereiro SOUZA 2021 2122 As teses do branqueamento isto é impor o projeto de extermínio da branquitude de afirmar o seu supremacismo de forma explícita surge como forma de actualização da colonialidade do poder Vemos que aí o supremacismo branco não tem apenas um teor discursivo Ele busca instaurar tanto um arranjo espacial isto é a localização e distribuição dos grupos raciais OLIVEIRA 2011 quanto definir os horizontes de sentidos espaciais normatizados pela branquitude Num contexto de crise do branco não se vê como raça mas classifica todos os grupos dessemelhantes como raça Colocase como símbolo da universalidade Eron Rezende 2018 sp em entrevista com Grada Kilomba capta a seguinte ideia da autora O branco não é uma cor O branco é uma definição política que representa os privilégios históricos políticos e sociais de um determinado grupo Um grupo que tem acesso à estruturas e instituições dominantes da sociedade Branquitude representa a realidade e a história de um determinado grupo 5 Para análise das políticas de branqueamento do território e da paisagem na cidade neoliberal ver Santos R et alli 2018 Oliveira 2020 GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 4 escravismo colonial em meados do século XIX o supremacismo branco vendose ameaçado o seu domínio implanta projeto biopolítico de aumento populacional da população branca como forma de suplantar os negros escravizados ou não que eram superiores em termos populacionais e eram vistos como ameaça pela branquitude Décadas depois do fim da escravidão o Estado brasileiro instaurou política racial de controle da natalidade com a esterelização forçada de mulheres negras ROLAND 1995 Suas formulações não foram exclusivas do Brasil elas dominaram todas as Américas África e a Oceania isto é um projeto global de mundo por ideais supremacistas brancos O extermínio populacional e o alisamento do território se constituíram como uma política racial de Estado para atrair imigrantes brancos para substituir a mãodeobra escravizada e garantir a supremacia racial sobre os bens sociais Esse projeto supremacista nunca foi eliminado no período da República Ele mantém continuidade na atual fase do capitalismo com o neoliberalismo através das políticas de branqueamento do território SANTOS 2009 usadas como projetos desterritorializadores das populações negras em lugares disputados pelos capitalistas raciais Por capitalistas raciais entendemos os agentes modeladores do espaço que instauram formas de organização e distribuição dos bens sociais concedendo privilégios a determinados grupos raciais OLIVEIRA 2014 Para Santos 2009 o branqueamento do território envolve três dimensões A primeira é o branqueamento da ocupação que envolve processos de desterritorialização de não brancos negros e indígenas e a territorialização de brancos em áreas disputadas pela branquitude A segunda vertente é o branqueamento da imagem através do uso de narrativas que eliminam a presença não branca negros e indígenas e definem a presença branca como marco zero Já a terceira vertente do branqueamento do território é o branqueamento da cultura impondo matrizes símbolos e signos que identificam territórios regiões e lugares A complexidade da questão racial brasileira envolve tanto distintos projetos de extermínio com as políticas genocidas da população negra quanto a difusão de imaginários ideológicos que buscam dissimular a violência das nossas relações como o mito de uma democracia racial A chamada democracia racial se constitui assentada em manipulações Ela foi criada a partir de formulação de intelectuais a serviço da dominação racial que produziram ideologias e forças que alimentam o falso Foi gestada algumas décadas após o fim das últimas heranças formais do colonialismo a escravidão racial Expressa uma ideologia construída por intelectuais brancos que dissimula a antinegritude produzida e o brutalismo de nossa formação Arrogase o discurso da mestiçagem e miscigenação do povo brasileiro obliterando o sequestro o tráfico para outro continente o trabalho forçado até a morte e o estupro de mulheres negras e indígenas no contexto colonial A ideologia da democracia racial sustentase numa mentirosa harmonia de nossas relações raciais e que o racismo não existe em nossa sociedade Essa ideologia é exportada para o mundo pelas classes hegemônicas como singularidade de nosso país Os defensores da democracia racial são férteis criadores de miragens NASCIMENTO 1978 que dissimulam a racialização da violência policial e da militarização dos territórios para garantir uma imagem harmônica e competitiva no mercado mundial de cidades OLIVEIRA 2014 A falácia da proximidade e interação do brasileiro tão insufladas por esses ideólogos escamoteia ausências de reciprocidade e acúmulo de privilégios silêncios dos roubos coloniais e o capital racial que concede ao branco um uso INdiscriminado do espaço diferente do negro que possui um uso DIscriminado do espaço OLIVEIRA 2014 2015 O foco é garantir a sensação racial de segurança da branquitude Idem Entre a colonialidade do poder e a necropolítica EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 5 A questão racial tem se colocado no centro do debate no Brasil especialmente nas operações policiais e militares em favelas e periferias sociais por todo o país No Rio de Janeiro mesmo sob proibição federal em decorrência da pandemia da covid 19 operações policiais e militares são realizadas promovendo o terror e o assassinato de pessoas majoritariamente negras com o discurso ideológico de guerras às drogas Uma política de morte de corpos e territórios negros tem gerado levantes populares em marchas manifestos atos públicos colocando em debate as heranças da escravidão ao destituir de humanidade a população negra e reproduzindo novas formas da antinegritude na atual fase neoliberal Movimentos sociais no Brasil têm chamado isso de necropolítica A necropolítica atinge majoritariamente as vidas negras produzindo estilhaçamento de suas histórias Essa categoria necropolítica foi criada pelo pensador camaronês Achille Mbembe Uma categoria analítica que surgiu na academia e hoje ganha a práxis política dos movimentos sociais Ela parte da ideia da política como trabalho de produção e administração de morte Ela nasceu como uma categoria para compreender as depredações do capitalismo neoliberal no pós 11 de setembro Assim sua proposta envolve uma transposição multiescalar do capitalismo neoliberal que cada vez mais tem sido mobilizada por movimentos sociais Mbembe 2006 constrói essa categoria inspirado em Giorgio Agamben 2004 e Michel Foucault 2005 Ela referese a três questões centrais 1 o contexto em que o Estado de Exceção tornouse regra 2 a instrumentalização generalizada da existência humana e a destruição material de corpos e populações julgadas como descartáveis e supérfluos por figuras de soberanias 3 o apelo de maneira contínua da noção fantasmática ou ficcionalizada do inimigo GIGENA 2012 Achille Mbembe ressalta a formulação de Michel Foucault sobre biopolítica Mas para ele na colônia a biopolítica se converteu em necropolítica MBEMBE 2014 sustentada na ideia do Negro como um problema espacial OLIVEIRA 2019 E o que queremos dizer do negro como um problema espacial Ele é um ser que precisa ser interditado confinado constrangido no uso e na apropriação do espaço Se mobilizarmos o contexto do sequestro em África James 2010 já ressaltava o quanto os negros já estavam nascendo como um problema espacial James 2010 nos lembra que os povos eram sequestrados amarrados uns aos outros em colunas e obrigados a carregar pedras extremamente pesadas de 20 a 25 quilos para evitar que fugissem Eles eram amarrados levados em marcha em longa jornada do interior onde eram sequestrados até o porto O trauma emerge como um elemento de controle de mobilidade do negro Os homens e mulheres negros e negras eram seres que precisavam ser interditados espacialmente e contidos territorialmente Então as marcas desse processo de desreterritorialização produz aí um elemento extremamente central para que possamos pensar o mundo de hoje O negro correndo ou seja o negro fugindo o negro buscando a liberdade é símbolo do medo branco OLIVEIRA 2020a 107 A ideia de segurança lastreada pela colonialidade do poder busca mensurar o risco para a branquitude nas suas trajetórias geográficas da raiva dos negros OLIVEIRA 2020c O medo branco da onda negra já estava no navio negreiro Idem Defendemos em vários trabalhos OLIVEIRA 2020a 2020b 2020c que esse sistema de crenças e ações foi forjado nos porões dos navios negreiros e continua sendo reproduzido especialmente na política de insegurança pelo país Defendemos a tese que o navio negreiro se constituiu como um lugar de horror marcado por um triplo exercício de poder OLIVEIRA 2020 Um primeiro exercício de poder é racial punitivo e disciplinar visando adestrar corpos que estavam sendo escravizados e levados para o trabalho forçado O segundo exercício de poder racial inerente aos navios negreiros era a biopoder Os revoltosos deveriam ser mortos para servir de exemplo e regular a vidas dos escravizados vivos A produção de uma vida submissa era o foco deste exercício de poder Já o terceiro exercício do poder racial era o necropoder Ele definia a GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 6 aceitabilidade da matança de populações negras Estimase que de 10 a 20 da população escravizadas nos navios morriam devido às condições impostas revoltas suicídio e o brutalismo O navio negreiro portanto simboliza a reafirmação do negro como jazigo para lembrar aqui Achille Mbembe 2014 ou seja um símbolo de morte porque no navio negreiro os escravizados homens mulheres e crianças6 eram transportados nus com pouquíssimos adornos corpóreos acorrentados num espaço extremamente insalubre imundo durante semanas e às vezes meses vendidos num outro continente Então o negro é um problema espacial marcado pela branquitude e pela ideia de segurança A ideia de segurança que nasce no navio negreiro carregada de subsídios raciais OLIVEIRA 2020a 115 Esses dispositivos disciplinares bio e necropolítico foram criados pela braquitude agindo de forma simultânea e definindo o negro como um problema espacial A grande preocupação era a segurança pública pois no centro da relação escravocrata existia um imenso medo 7 CAMPELLO 2018 171 grifos do autor Os negros nunca habitaram o conceito de humanidade VARGAS 2020 FANON 2008 Em outro trabalho afirmamos que Os porões dos navios negreiros além de um espaço de confinamento e controle dos corpos era também um espaço de concentração de raiva por isso o medo branco da onda negra AZEVEDO 1987 A raiva é uma resposta às atitudes racistas e às ações e presunção que surgem dessas atitudes LORDE 2019 Nesse espaço que nasce a ideia do medo branco da concentração espacial de negros isto é uma sensação racial de insegurança Mas essa raiva não era fruto de ressentimentos mas de homens e mulheres que se recompunham contra a violência que sofriam FANON 1968 A raiva é a não aceitação da condição imposta pelos colonizadores A raiva ameaça o modo de vida LORDE 2019 da branquitude pois ela é repleta de informação e energia Idem p 160 A raiva é sempre uma luta de um coletivo enfrentando o ódio A raiva é aí a busca de compreensão de sentido por que está sendo agredido menosprezado invisiblizado eou silenciado OLIVEIRA 2020b 322 O foco do racismo é destruir um modo de existência FANON 1969 e forjar assujeitamentos O assassinato em massa de pessoas negras em operações policiais e militares em favelas e periferias denunciado pelo movimento negro e movimentos antirracistas em cortes nacionais e internacionais actualiza o navio negreiro Como diz a música Todo o camburão tem um pouco de navio negreiro8 Contudo a colonialidade do poder imanente aos Estados modernos tem promovido o que James 2010 chama de regime de calculada brutalidade e terrorismo O interessante é que essa ideia de James Idem era usada para caracterizar a escravidão O colonialismo se findou mas a colonialidade não diria Quijano 2000 O Estado brasileiro se constituiu exercendo o poder racial de vida e morte para garantir uma sensação racial de segurança OLIVEIRA 2014 da branquitude O Estado brasileiro nasce fruto de um projeto colonial racializador que tanto regula práticas sociais e impõe comportamentos raciais no uso do espaço quanto produz uma política de extermínio para garantir uma ordem espacial das relações raciais Logo o genocídio negro é parte do contrato racial NASCIMENTO 1978 MILLS 1997 Flauzina 2014 lembra que o termo genocídio formulado por Raphael Lemkin em 1944 apesar de analisar o sistema legal de ocupação nazista apontava com um conceito intrinsecamente associado ao colonialismo A proposta de Lemkin ao ser debatida como uma categoria jurídica na 6 Escravizar crianças visava o trabalho no subsolo das minas e a busca de seres mais fáceis de adestramento e que não sabiam fugir 7 Um fato notório afigurase na preocupação em constante evidência nos relatórios de presidentes de províncias e nas correspondências das autoridades a respeito das possíveis rebeliões e rebeldias escravas quando efetivamente não ocorriam tantas prisões de escravos como se poderia supor CAMPOS 2007 p 217 8 Referência a música escrita por Marcelo Yuka Camburão é como é chamado o carro da polícia que leva no seu porta malas de forma desumana presos para delegacias EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 7 ONU começou a ser degradada para silenciar projetos genocidas passados e em curso pelas nações europeias e EUA O projeto modernocolonial pressupôs uma lógica genocida ao promover massacre para conquistar territórios para acabar com rebeliões e promover a exposição gratuita da violência A escravidão racial moderna nasceu privando inúmeras nações dos meios de existência e subsistência Logo o genocídio é inerente A colonialidade do poder promoveu uma geopolítica da indignação seletiva da escala internacional à local Entendemos que a colonialidade do poder é um projeto da branquitude que define lugares e grupos sociais racializados como símbolos de um mal estar social Instaurase uma política de extermínio e ratificamse esses lugares e grupos como destituídos de valor importância social e o que podem ser eliminados A grande mídia corporativa terá um papel importante na produção dessa indignação seletiva Esse dispositivo permanece na cidade neoliberal com as operações militares que estabelecem a aceitabilidade da matança em determinados lugares e para determinados grupos Da escala global à local vemos uma indignação seletiva das mídias corporativas hegemônicas em conflitos em áreas de grupos racializados eou chacinas praticadas por milicianos e policiais nessas mesmas áreas Revelase o que os movimentos sociais têm chamado de projetos genocida A produção de mídias contrahegemônicas pelos movimentos sociais se constitui como uma forma de enfrentamento aos dispositivos de racialidade imanentes à mídia hegemônica corporativa O genocídio promovido pela branquitude não começou recentemente Ele está nas engrenagens do capitalismo e da formação sócioespacial brasileira NASCIMENTO 1978 O termo Genocídio foi criado no século no XX no final da segunda guerra mundial pelo advogado judeupolonês Raphael Lemkin passou a ser usado mais precisamente em 1944 quando Lemkin buscou nomear o extermínio dos judeus promovido pelo governo nazista alemão A origem do termo vem da combinação das expressões grega génos raça tribo e latina cídio matar Um dos conceitos reside no uso de medidas deliberadas e sistemáticas como morte injúria corporal e mental impossíveis condições de vida preservação de nascimentos calculadas para a exterminação de um grupo racial político ou cultural ou para destruir a língua a religião ou a cultura de um grupo NASCIMENTO 1978 p 15 Embora o termo tenha sido cunhado para analisar a experiência europeia do século XX esse episódio não foi único na modernidade Intelectuais do pensamento decolonial latinoamericano e intelectuais militantes do movimento Negro brasileiro encontraram no termo em seu sentido jurídico a possibilidade de reivindicar o reconhecimento do crime que dizimou milhares de indígenas africanos e seus descendentes na diáspora dado a definição de genocídio que abarca todas as ações violentas que os europeus submeteram os seus colonizados Dessa forma o colonialismo europeu século XV ao XIX marca o primeiro grande genocídio da modernidade e nesse sentido a expressão do genocídio é bem anterior à criação de seu conceito CARVALHO 20164849 Os fanáticos zeladores do poder defensores da democracia racial irão sempre obliterar e falsear qualquer análise que inclua o debate do genocídio em nossa formação O negro como um problema espacial da branquitude revela os subsídios raciais impregnados nos imaginários do uso dos espaços de poder e prestigio social no Brasil Tanto a presença negra em lugares dos brancos quanto os territórios negrosafrodiaspóricos foram histórica e ideologicamente inventados como problema Esses espaços e itinerários nasceram marcados pela ação violenta do Estado criado pela branquitude para exercer o monopólio racial da violência o monopólio racial das leis e normas jurídicas e o monopólio racial da arrecadação a serviço da branquitude Criase uma simbiose de uma sensação racial de segurança para os territórios da branquitude e para os capitalistas raciais Dizendo com outras palavras os negros precisam ser contidos interditados confinados exterminados e adestrados para servir à branquitude Idem O imaginário racial da segurança pública foi produzido e marcado pela matematização dos espaços e das vidas SANTOS GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 8 2002 negras Na era das câmeras de segurança e do reconhecimento facial calculase precisamente os espaços que os corpos negros e racializados podem utilizar a tecnologia de reconhecimento facial nasceu com a promessa de tornar as cidades mais seguras seguras para quem passou a ser amplamente contestada pois além de acabar com a privacidade das pessoas potencializa o racismo institucional Em estudos recentes do MIT Instituto de Tecnologia de Massachusetts mostraram que negros estão mais expostos a erros cometidos por esses softwares potencializando o risco de serem submetidos a violência policial e ao encarceramento devido a leituras equivocadas realizadas pelas câmeras de vigilância Lembremos que os algoritmos são manuseados por pessoas que são racistas e machistas logo comprovaram que rostos mais escuros são pouco representados nos conjuntos de dados usados para domesticar os equipamentos Esse estudo mostrou que os algoritmos falharam na aferição de 347 de pessoas negras e apenas 1 de brancas GOULART FLORENTINO 2021 Butler 2011 lembra que a representação se constitui como um meio tanto para humanização quanto para desumanização dos grupos sociais Desvincular o negro e os grupos racializados do sentido de humanidade constitui justificativas éticasmorais Idem construídas na modernidade para eliminação da raça ruim visando a garantia da segurança A propalada garantia de segurança pelo uso do meio técnicocientíficoinformacional SANTOS 2002 além de fortalecer o racismo estrutural e institucional fortalecem cidades fragmentadas com cercas e murros o apartheid brasileiro VARGAS 2020 Representantes municipais e estaduais por todo o Brasil utilizam essa retórica da inteligência tecnológica sendo usada na segurança pública Essa retórica vem obliterando a seletividade racial na produção política de sujeitos e grupos criminosos já comprovada tanto no Brasil quanto fora do país Isso tornase ainda mais tenso com o uso dessas tecnologias para perseguição de ativistas de direitos humanos e grupos antirracistas que afirmam estruturas disruptivas de enfrentamento ao Estado Isto é o problema da segurança surge desde que o Brasil é Brasil A tecnologia do poder no passado colonialescravocrata e no presente neoliberal mudou mas continua tendo os corpos negros como alvo Entendemos que o neoliberalismo e as suas políticas voltadas para as favelas e periferias sociais continuam reproduzindo um regime de calculada brutalidade e terrorismo Terror psicológico o esfacelamento e assassinatos com os Caveirões9os helicópteros atirando para as favelas brutalismo discurso de ódio voltado para os moradores de favelas e negros em áreas nobres abordagens policiais racialmente definidas e truculentas A estética do choque e terror do contexto colonial continua nas operações policiais e militares nos territórios racializados A cidade no contexto neoliberal não é construída para integrar a sociedade mas para quem racialmente pode pagar por segurança conforto e privilégio Mais segurança é igual a menos liberdade O discurso do medo urbano e a guerra à insegurança ficcionam um inimigo passando a alimentarse de imaginários racistas e estigmatizantes na construção de muros guardas privados no espaço público e sistema de vigilância eletrônica Para a produção e manutenção desta ordem é necessário mobilizar o racismo de Estado e o imaginário colonial na condução da política de insegurança que institui seres racialmente definidos como fundamentos do positivo e do negativo AGAMBEM 2004 HAESBAERT 2014 OLIVEIRA 2020c 91 A raça tem se constituído como um dos principais reguladores da ação do Estado FOUCAULT 2005 Políticas voltadas para os territórios em que vive majoritariamente a população negra e pobre no brasil O território como categoria normativa da branquitude que domina o Estado é visto como 9 Carro blindado que entra nas favelas cariocas aterrorizando moradores e tendo a brutalidade como seu principal mote EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 9 espaço de exercício do poder racial definindo quem pode morrer e quem deve viver Já os territórios pelos grupos negros e populares são espaços de existência e de luta por dignidade Para Mbembe 2020 o necropoder gera fragmentação territorial com um duplo objetivo 1 impossibilitar o movimento 2 implementar a segregação na forma do Estado de apartheid O duplo objetivo da fragmentação territorial redefine a relação soberania e espaço Não há necropolítica sem geopolítica Assim a comoção social e a política de aceitabilidade da matança variam tanto pelo endereço quanto pelos corpos que são alvos Acerca da dimensão geopolítica do racismo afirmamos que A geopolítica do racismo envolve a definição onde será exercido o soft power10 racial um exercício do poder racialmente brando e o hard power racial um exercício do poder mais violento Assim o controle da mobilidade não será o mesmo nos diferentes espaços da cidade Depende da combinação de classe gênero e raça A dimensão geopolítica do soft power racial age nas áreas nobres onde pode ser reconhecida filmada e gerar um fato midiático e comprometer a imagem de povo cordial e democracia racial O soft power racial é o violento que se vê como pacífico A ideia de poder brando é uma grande ideologia vendida para silenciar conflitos raciais no Brasil Esse exercício de poder é a busca de dissimular que não somos racistas e que no máximo casos de racismo são esporádicos Ou seja o soft power racial é o famoso coisa para inglês ver que dissimula ações violentas de coação e ameaça a grupos raciais que estariam promovendo uma desobediência a um comportamento racial no uso do espaço11 Essa desobediência de um comportamento racial esperado dos transeuntes dos transportes mobiliza um hard power racial legitimado e justificado pelo discurso de ódio local que se afirma para punir através de linchamentos por motivação de um medo racial Martins 2015 eou abordagens policiais OLIVEIRA 2021 8283 O debate da questão racial brasileira até há pouco tempo era restrito a círculos acadêmicos e ao movimento negro Hoje ele se capilarizou fruto da luta do movimento social por distintas esferas escalas e contextos da sociedade Isso não necessariamente tem produzido avanços da luta e combate a opressões devido às apropriações do discurso O debate sobre racismo especialmente racismo estrutural genocídio negro e necropolítica vive um momento ambivalente Tanto ganha força pela luta política de movimentos sociais quanto passa por desgastes e banalizações do seu potencial analíticopolítico sendo usado e abusado por setores dominantes do capital para construir um verniz de pretensas relações éticas Esses debates passam pelo risco da degradação MORIN 2005 Morin afirma em verdade três degradações simplificadoras que geralmente se combinam A primeira seria a degradação tecnicista Nesse tipo de degradação as teorias conservam apenas a dimensão operacional e manipulável logo o que pode ser aplicável As teorias deixam de logos instrumento de produção do conhecimento do real e se tornam unicamente techné Vemos na repetição continua do termo racismo estrutural genocídio negro e necropolítica por diferentes segmentos da mídia corporativa historicamente descompromissada e adversária dessas lutas sem aprofundamento do que esse instrumento analítico pode gerar sem o enfrentamento das estruturas opressivas como essas categorias propõem a reprodução da degradação tecnicista dos debates Ocorre uma inflação do conceito e concomitantemente destruição da potência explicativa Entendemos que não é uma reforma nas estruturas carcomidas pelo racismo que as lutas políticas estão colocando CESAIRE 1978 10 Os conceitos de hard power e soft power são de autoria de Joseph Nye Eles foram utilizados para explicar a geopolítica dos Estados Unidos no contexto pósGuerra Fria e no início do século XXI 11 A fala de que os ônibus da Baixada Fluminense eou da Zona Norte em direção às praias da Zona Sul só tem gente feia busca dissimular que o racismo no Brasil definiu o branco como símbolo do belo e o negro como símbolo do feio Logo seria necessário purificar racialmente os espaços das áreas nobres dos feios os negros especialmente pobres e moradores de favelas GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 10 A segunda degradação proposta por Morin 2005 é a degradação doutrinária Para este autor a teoria perde seu poder analítico e tornase uma doutrina Logo necropolítica genocídio negro e racismo estrutural viram propostas fechadas monolíticas e que perdem seu potencial de produção de consciência e transformação social Essas categorias tornamse dogmas e frases de acusação sem destruição da opressão Na era das redes sociais e dos algoritmos os indivíduos eou grupos que são acusados como racistas e que produzem a necropolítica sofrem a política do cancelamento Contudo ganham mais notoriedade pela visibilidade que passam a ter Já a terceira degradação proposta pelo filosofo Edgar Morin 2005 é a popdegradação Esse tipo de degradação se expressa com a vulgarização dos termos necropolítica genocídio negro e racismo estrutural O papel das redes sociais e dos algoritmos passam a ser apropriados pelos atores hegemônicos que usam como forma de marketing pessoal eou de empresas para aumentar a credibilidade suas vendas e sua popularidade Frases de efeito que reduzem ideias complexas e também obedecem ao discurso do politicamente correto diante das mídias A teoria é assim reduzida e simplificada para comportar políticas de caráter reformista e dissuadir dimensões revolucionárias Vargas 2020 num artigo bastante provocativo irá afirmar que o racismo não dá mais conta O autor afirma que A antinegritude é constitutiva da Humanidade Ser humano é não ser negro Para esse autor o princípio fundante da antinegritude envolve a negação ontológica da pessoa negra VARGAS 202019 traduzindose em graus a cidadania Tornase necessário para a branquitude uma constante captura dos sentidos que a negritude cria para evitar transgressão Vivenciamos uma política antinegritude como marca da atual fase do capitalismo neoliberal VARGAS 2020 A antinegritude não emerge agora mas é uma expressão do projeto moderno colonial que forjou a geografia mundial Idem A antinegritude instaura em diferentes escalas uma geografia de rejeitos e proveitos PORTOGONÇALVES 2006 racializados ou seja os proveitos são apropriados pela branquitude eou exportados para a branquitude de outros lugares e os rejeitos são depositados em lugares de pessoas negras e racializadas Vargas 2020 alerta que o debate sobre os conceitos de racismoantirracismo se sustenta na relação do branco com os não brancos Assim as existências são definidas pelos parâmetros da branquitude Na antinegritude para esse autor o parâmetro é o negro e o não negro Logo partese do mundo negro no entendimento das relações de poder Ibidem A captura e a inflação que os conceitos de racismo e antirracismo sofrem por grandes marcas que buscam um discurso politicamente correto são reveladoras dos limites desse debate Contudo diferentemente de Vargas 2020 entendemos que não podemos jogar tudo fora A luta epistêmica em diferentes campos disciplinares no Brasil durante décadas buscou evidenciar o conceito de racismo como inerente à forma de compreender o mundo Ainda existem muitos grupos críticos que obliteram esse debate Dizer que o racismo não serve mais como faz Vargas 2020 entendemos que é um exagero Seguimos aqui Hall 2004 quando afirma sobre o conceito de raça entendemos que também sobre os conceitos de racismo e a luta antirracista são conceitos que precisam ser vistos sob rasura isto é uma ideia que não pode ser pensada da forma antiga mas sem a qual certas questõeschave não podem ser sequer pensadas 2004104 Por isso caminharemos nessa zona de indeterminação entre os conceitos de racismoantirracismo e antinegritude como projeto da branquitude O projeto racial brasileiro dissimulou a sua visagem durante séculos Reconhecer o racismo envolve o enfrentamento da colonialidade do poder que tentou apagar como a ideologia da democracia racial do povo cordial e do branqueamento Mas concordamos que o conceito de antinegritude envolve um avanço na compreensão da questão racial brasileira Entendemos que a antinegritude age em pelo menos três campos A antinegritude age no campo das representações produzindo e reproduzindo estigmas raciais sobre os territórios e os EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 11 grupos que ela racializa O segundo campo que entendemos que a antinegritude age envolve o campo das identidades A busca da negação de si a produção de obstáculos para criação de uma consciência e o desconhecimento da história é um dos alvos da antinegritude para a produção de uma identidade coletiva consciente de suas potências e agências O terceiro alvo da antinegritude envolve a memória A produção do esquecimento especialmente dos lugares de memória da diáspora OLIVEIRA 2020 se constitui como forma de evitar políticas afirmativas e de reparação A proposta de Vargas 2020 sobre a antinegritude oferece importante caminho ao pensar os limites dos conceitos de racismo Também concordamos com o autor quando afirma Como o racismo a antinegritude portanto existe mesmo quando não há manifestações explícitas de ódio às pessoas negras Entretanto ao contrário do racismo a antinegritude não pode ser combatida por meio de decisões políticas e administrativas A antinegritude por não ser um desvio social uma prática institucional mas de fato uma constante estrutural um código moderno de ontologia e sociabilidade que estrutura toda forma de interação humana é imune a ajustes resultantes de políticas públicas e de esforços individuais Ao passo que o racismo é visto por aqueles que o combatem ativistas e gestores de política públicas por exemplo como um fenômeno que pode ser remediado a antinegritude não possibilita qualquer tipo de redenção A não ser que haja uma reformulação completa de como nos entendemos e de como nos relacionamos Como mudar o inconsciente coletivo ou mais especificamente como modificar a noção de Humanidade questões que dependem fundamentalmente da antinegritude A antinegritude opera primordialmente apesar de não exclusivamente por meios implícitos inconscientes VARGAS 2020 21 Para Vargas a antinegritude opera a partir de duas superposições cognitivas que apesar de amplamente compartilhadas raramente são explicitadas ao definirem o negro com não pessoa No primeiro plano cognitivo os negros não são humanos no máximo chegando a escala da sub humanidade No segundo plano cognitivo que se superpõe ao primeiro os negros são parte inseparável e indistinguível de um universo marcado por elementos distintos do mundo não negro Assim a antinegritude torna desprezível tudo que é ligado à negritude e seus territóriosterritorialidades A antinegritude torna abjeto tudo o que é supostamente ligado à negritude A antinegritude torna não lugares todos os espaços marcados pela negritude espaços físicos espaços metafísicos espaços ontológicos espaços sociais A antinegritude portanto define a não pessoa o não lugar Pense na associação imediata que é feita entre a palavra favela e negritude ou inner city e negritude As palavras que denotam espaços sociais geograficamente delimitados são imediatamente associadas à negritude e assim os tornam lugares saturados de características negativas poluidoras e ameaçadoras não lugares A pessoa negra não somente é desprovida de ontologia mas é desprovida de lugar Ela está sempre fora do lugar seja lá qual for o lugar Isso quer dizer que a antinegritude define também o lugar da pessoa moderna da Humanidade sempre presente e sempre localizada VARGAS 202022 Vargas 2021 em diálogo com Flauzina 2008 aponta que a antinegritude é transhistórica pois normatiza condena e mata pessoas negras de forma gratuita Seja lá qual for o momento histórico e político e independentemente de proteções formais contra formas de discriminação a não pessoa negra é aquela sobre a qual recai a violência gratuita a violência que não tem motivo e o estupro VARGAS 2020 23 Sair da grande noite considerações parciais Instituições de renome nacional e internacional têm confirmado a tese do movimento negro as políticas de segurança têm se constituído como políticas administradas de morte contra a população negra O movimento negro brasileiro tem chamado isso de genocídio negro O debate racial obliterado GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 12 nas discussões sobre segurança pública expressa o contrato racial MILLS 1997 brasileiro O contrato racial brasileiro definiu os negros fora da pactuação social O negro não é um igual Ele sempre é visto como o outro o inimigo o não ser Desta forma a antinegritude e a desigualdade racial não são desvios de rotas mas arranjos deste contrato que deram certo As violentas reações às ações afirmativas e à dificuldade de implementação de legislações antirracistas expressam o vigor do contrato racial brasileiro Vargas 2020 já alertava que a antinegritude diferentemente do antirracismo não transita por uma leitura reformista do Estado Daí a produção racial do inimigo e o desejo de apartheid são zonas de conforto da branquitude O desejo de inimigo o desejo de apartheid segregação e enclave e a fantasia do extermínio ocupam nos dias que correm o lugar desse círculo encantado Em muitos casos basta um muro para expressálo Existem vários tipos de muro e nem todos servem ao mesmo propósito Supõese que o muro divisor resolva o problema do excesso de presença que se considera estar na origem de situações insustentáveis de penúria MBEMBE 2020 77 Esses dispositivos demonstram a insustentabilidade desse projeto social da branquitude Aimé Cesaire 1978 no discurso sobre o colonialismo afirmava que todo projeto de poder branco e ocidental definiu um humanismo seletivo estar na bancarrota Para ele uma sociedade que burla seus próprios princípios não tem legitimidade para definir um projeto de mundo A indignação racialmente seletiva BENTO 2002 as fissuras e a lápide do humanismo cada vez tornamse mais expostas Achille Mbembe 2014 seguindo a tradição de Cesaire 1978 e inspirado em Fanon 2008 1968 afirma a necessidade de sairmos da grande noite produzida pelo colonialismocolonialidade e o humanismo eurocêntrico que sabota com as próprias ideias que cria Isso envolve um trabalho árduo contínuo de destruição e de abandono de um Ocidente narcísico e delirante A produção da consciência tornase base para destronar as forças que falsificam a realidade para dominar povos territórios e afirmação de supremacismos Sepultar tal realidade tem sido um grande desafio Sair da grande noite é uma vontade de viver de forma descolonizada e escapar do imenso abismo colonial que ainda nos habita MBEMBE 2019 Memmi 2007 afirmava que três elementos eram centrais numa sociedade colonial vantagens econômicas usurpações e privilégios Vivemos ainda neste abismo pois nunca abolimos esses elementos Sair da grande noite significa romper com as amarras de um passado que nos aprisiona e um presente que restringe Envolve produção de autonomia romper a servidão que escraviza as mentes e caminhar em direção aos projetos silenciados e subalternizados Sair da grande noite e caminhar na zona do nãoser FANON 2008 1968 vivenciar a experiência da escassez SANTOS 2002 e gestar de forma imanente um modo de ser fora das teias da dominação Onde há poder há de forma imanente resistência FOUCAULT 1979 Encontramos pistas que buscam a saída desta grande noite Estamos diante de um contexto de Renascimento de EpistemologiasOntologias Negras12 Não há possibilidade de superação dos projetos genocidas necropolíticos e da colonialidade dentro das lentes construídas para nos cegar Esse Renascimento é um momento incontornável Isto é a posse de diferentes linguagens que não só descolonizam os métodos metodologias e teorias da dominação mas criam outros caminhos desvios métodos metodologias e teorias substanciadas pelas experiências negras africanas e diaspóricas Traduções de estudos negros e afrodispóricos silenciados pelo eurocentrismo redes culturais e políticas de arte e cinema negro de toda África e diáspora circulando no Brasil repercussão 12 Por falta de uma expressão melhor usamos aqui o termo Renascimento Ele envolve tanto a criação quanto a retomada de temas ideias epistemes e ontologias antes suprimidas pelo eurocentrismo pondo em cheque o racionalismo e o humanismo forjados a serviço dos projetos de poder e dominação EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 13 mundial de filmes do grande circuito do cinema focando na questão racial desfiles de escolas de samba especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo como enredos como formas de enfrentamento à antinegritude com repercussão nacional e internacional marchas e atos contra o genocídio da população negra cursos de pensadores negros afrodiaspóricos e de línguas africanas como yorubá sendo ensinados como forma de ampliação do repertorio da África e da diáspora Vemos emergir uma insurreição de saberes dominados que buscam romper com os grilhões da antinegritude Por saber dominado entendo duas coisas por um lado os conteúdos históricos que foram sepultados mascarados em coerências funcionais ou sistematizações formas Concretamente foi o aparecimento de conteúdos históricos que permitiu fazer a crítica porque só os conteúdos históricos podem permitir encontrar a clivagem dos confrontos das lutas que as organizações funcionais ou sistemáticas têm por objetivo mascarar Portanto os saberes dominados são estes blocos de saber histórico que estavam presentes e mascarados no interior dos conjuntos funcionais e sistemáticos e que a crítica pode fazer reaparecer evidentemente através do instrumento da erudição Em segundo lugar por saber dominado se deve entender outra coisa e em certo sentido uma coisa inteiramente diferente uma série de saberes que tinham sido desqualificados como não competentes ou insuficientemente elaborados saberes ingênuos hierarquicamente inferiores saberes abaixo do nível requerido de conhecimento ou cientificidade Foi o reaparecimento destes saberes que estão embaixo saberes não qualificados e mesmo desqualificados que chamarei de saber das pessoas e que não é de forma alguma um saber comum um bom senso mas ao contrário um saber particular regional local um saber diferencial incapaz de unanimidade e que só deve sua força à dimensão que o opõe a todos aqueles que o circulam que realizou a crítica FOUCAULT 1979170 Temos um período de grandes batalhas teóricas epistemológicas e ontológicas questionando a hegemoniasupremacia do pensamento ocidental com as teorias do feminismo negro feminismo negro descolonial feminismo afrolatino marxismo negro afropessimismo negritude quilombismo afropolitanismo ideias panafricanistas afrofuturismo mulherismo epistemologias do sul pensamento descolonial afrocentricidade estudos subalternos orientalismo pensamento pós colonial entre outras teorias disciplinares e não disciplinares como saberes de terreiros saberes dos povos e comunidades tradicionais saberes gestado na luta política dos movimentos sociais entre outros Confluências e divergências marcam essas epistemologias e ontologias negras e diaspóricas Nossa hipótese é que vivemos pela primeira vez na história de nossa formação a possibilidade de nos enxergar sentir ver cheirar de forma plural e transformadora Essa revolução do pensamento tem na Geografia Brasileira criado as chamadas Geografias Negras13 Entendemos que a força ideológica das teses do branqueamento e do discurso da democracia racial impediram que essas matrizes epistemológicas e ontológicas se desenvolvessem no Brasil nos últimos 100 anos pelo menos Esse fato sinaliza o quanto as lentes teóricas e metodológicas criadas pelo eurocentrismo são míopes Desta forma Longe de ser algo irrelevante a colonialidade é um resíduo irredutível de nossa formação social e está arraigada em nossa sociedade manifestandose das mais variadas maneiras em nossas instituições políticas e acadêmicas nas relações de dominaçãoopressão em nossas práticas de sociabilidades autoritárias em nossa memória linguagem imaginário social em nossas subjetividades e consequentemente na forma com produzimos conhecimento CRUZ 20171 A arte da resistência à dominação racial tem diferentes escalas de espaçotempo de eventos pontuais de curta duração e esporádicos a ações rotineiras de longa duração nem sempre visíveis 13 As discussões destas ideias estão sendo formuladas em outro trabalho GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 14 mas ocultas14 SCOTT 2004 A arte da resistência deixou marcas tanto no sistema de objetos quanto no sistema de ações criando territórios negros eou afrodiaspóricos não apenas por uma história de exclusão mas também de construção de singularidade e elaboração de um repertório comum ROLNIK 200776 Disputase tanto a escrita da história quanto a construção de políticas geográficas de memórias negras e afrodiaspóricas Sair da grande noite envolve a construção de outros horizontes de sentido da biopólís ALVES 2020 Eis os desafios da superação da antinegritude e destruição da colonialidade Referências ALVES J A 2011 Topografias da violência necropoder e governamentalidade espacial em São Paulo Revista do Departamento de Geografia USP Volume 22 p 108134 2020 Biopólis necrópolis blackpolis notas para un nuevo léxico político en los análisis socioespaciales del racismo Geopauta V 4 n1 14 Ocultas também por não caberem no mundo limitado e linear da dominação logo não são vistas EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 15 AGAMBEN G 2004 Estado de exceção homo sacer São Paulo Boitempo BALIBAR E 2001 Outlines of a Topography of Cruelty Citizenship and Civility in the Era of Global Violence Constellations Volume 8 Issue 1 pages 1529 March BENTO M A 2002 Pactos Narcísicos no Racismo branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público Tese de Doutorado Universidade de São Paulo São Paulo BUTLER J 2011 Vidas Precárias Contemporânea Revista de Sociologia da UFSCar V1 n1 Janeiro Junho BUTLER J 2015 Quadros de guerra quando a vida é passível de luto Rio de Janeiro Civilização Brasileira CAMPELLO A B 2018 Manual Jurídico da escravidão Império do Brasil 1 ed Jundiaí SP Paco CARNEIRO S 2005 A construção do outro como nãoser como fundamento do ser Tese de Doutorado Programa de PósGraduação em Educação Universidade de São Paulo São Paulo CARVALHO S C S 2016 Quando o corpo cala e a alma chora a formação social brasileira e a sua contribuição no genocídio da juventude negra em São Gonçalo RJ Cadernos do Centro de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro SYNTHESIS Rio de Janeiro v 9 n 2 p 4150 jundez FANON F 2008 Pele negra máscaras brancas Salvador EDUFBA FANON F 1969 Em defesa da revolução africana Lisboa Livraria Sá da Costa FANON F 1968 Os condenados da Terra Rio de Janeiro Civilização Brasileira FLAUZINA A L 2014 As fronteiras raciais do genocídio Direito UnB Brasília p 119146 janjun FOUCAULT M 1979 Microfísica do Poder Rio de Janeiro Graal FOUCAULT M 2005 Em defesa da sociedade São Paulo Martins Torres Gigena A 2012 Necropolítica los aportes de Mbembe para entender la violencia contemporánea en FUENTES DÍAZ Antonio editor Necropolítica violencia y excepción en América Latina ISBN 978607 4875232 Puebla Benemérita Universidad Autónoma de Puebla Págs 1131 GROSFOGUEL R 2012 El concepto de racismo en Michel Foucault y Frantz Fanon teorizar desde la zona del ser o desde la zona del noser Tabula Rasa Online n 16 Enerojunio HALBWACHS M 2006 A memória coletiva São Paulo Centauro HALL S 2004 Quem precisa da identidade In SILVA T org Identidade e diferença a perspectiva dos estudos culturais Petrópolis Vozes LE GOFF J 1990 História e Memória São Paulo Editora da Unicamp MARCELINO J 2020 As marcas da colonialidade raça e racismo na produção do pensamento geográfico Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores Negrosas ABPN V 12 Edição Especial p 312325 abril 2020 ISSN 21772720 Disponível em Acesso em 10 maio 2020 MBEMBE A 2006 Necropolítica Sevilla Fundación BIACS MBEMBE A 2014 Crítica da razão negra Lisboa Antígona MBEMBE A 2019 Sair da grande noite Petrópolis RJ Editora Vozes MBEMBE A 2020 Políticas da inimizade São Paulo SP n1 edições MEMMI A 2007 Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador Rio de Janeiro Civilização Brasileira MILLS C W 1997 The racial contract Ithaca Nova York Cornell University Press MOREIRA R 1982 A geografia serve para desvendar máscaras sociais In MOREIRA Ruy org Geografia teoria e crítica o saber posto em questão Petrópolis Editora Vozes MORIN E 2005 Ciência com consciência 9ª Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil OLIVEIRA D 2011 Por uma Geografa das relações raciais o racismo na cidade do Rio de Janeiro 274 f Tese Doutorado em Geografa Instituto de Geociências Universidade Federal Fluminense Niterói OLIVEIRA D 2014 O marketing urbano e a questão racial na era dos megaempreendimentos e eventos no Rio de Janeiro Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais v 16 n 1 p 85106 httpsdoiorg1022296231715292014v16n1p85 OLIVEIRA D 2015 Gestão racista e necropolítica do espaço urbano apontamento teórico e político sobre o genocídio da juventude negra na cidade do Rio de Janeiro Anais do Copene Sudeste GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 16 OLIVEIRA D A 2019 O negro um problema espacial Vitória Espírito Santo Anais do Copene Sudeste OLIVEIRA D 2020 Do espaço ao contraespaço a luta antirracista decolonizando o urbano carioca In ZANOTELLI C ALBANI V BARROS A orgs Geografia Urbana cidades revoluções e injustiças entre espaços privados públicos direito à cidade e comuns urbanos Rio de Janeiro Consequência OLIVEIRA D A 2021 Geopolítica da morte periferias segregadas In ALBERGARIA R SANTINI D SANTARÉM P D org Mobilidade Antirracista São Paulo Autonomia Literária p 8097 OSÓRIO R G 2008 Desigualdade racial e mobilidade social no Brasil um balanço das teorias In THEODORO M Org As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil 120 anos após a abolição Brasília IPEA P 6596 PORTOGONÇALVES C W 2006 Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização Rio de Janeiro Civilização Brasileira QUIJANO A 2000 Colonialidad del poder eurocentrismo y América Latina In LANDER E org La colonialidad del saber eurocentrismo y ciencias sociales Perspectivas latinoamericanas Buenos Aires CLACSO REZENDE E 2018 Grada KilombaO Brasil ainda é extremamente colonial Disponível em httpsivairswordpresscomcategorycolonialismo Janeiro Acesso em 30 de janeiro de 2020 ROLAND E 2005 Direitos Reprodutivos e Racismo no Brasil Revista Estudos Feministas n 506 ano 3 Rio de Janeiro ROLNIK R 2007 Territórios negros nas cidades brasileiras etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de Janeiro In SANTOS Renato Emerson dos org Diversidade espaço e relações étnicoraciais o negro na geografia do Brasil Belo Horizonte MG Autêntica p 7590 SANTOS B S 2003 Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências In SOUSA SANTOS B Org Conhecimento Prudente para uma Vida Decente Um discurso sobre as Ciências revisitado São Paulo Cortez SANTOS M 2002 A natureza do espaço tempo e técnica razão e emoção São Paulo Edusp SANTOS R Silva K Ribeiro L Silva N 2018 Disputas de lugar e a Pequena África no Centro do Rio de Janeiro reação ou ação Resistência ou rexistência e protagonismo In Natacha Rena Daniel Freitas Ana Isabel Sá Marcela Brandão org Seminário Internacional Urbanismo Biopolítico 1ª ed Belo Horizonte Fluxos v 1 p 464491 SANTOS R E 2012 Sobre espacialidade das relações raciais raça racialidade e racismo no espaço urbano In SANTOS R E Org Questões urbanas e racismo Rio de Janeiro DO e Alli Associação Brasileira de Pesquisadores Negros SCOTT J 2004 Los dominados y el arte de la resistencia México Era SOUZA D A 2021 Crescer e viver entre máquinas de guerra Racismo e Necropolítica na formação educacional em territórios de favela Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós graduação em Relações Étnicoraciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFETRJ Rio de Janeiro VARGAS J 2020 Racismo não dá conta antinegritude a dinâmica ontológica e social definidora da modernidade Em Pauta Rio de Janeiro n 45 v 18 p 16 26 Revista da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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Niterói Universidade Federal Fluminense ISSN 15177793 26748126 eletrônico GEOgraphia vol 24 n 53 2022 DOI 1022409GEOgraphia2022v24i53a55623 DOSSIÊ EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA1 Denilson Araújo de Oliveira2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ Universidade Federal Fluminense UFF São Gonçalo e Niterói RJ Brasil Enviado em 30 abr 2022 Aceito em 30 jun 2022 Resumo O foco da análise deste artigo é compreender como o racismo tem produzido existências desumanizadas e concomitantemente múltiplas formas de enfrentamento têm sido criadas O nosso objetivo é analisar como o debate sobre segurança no Brasil tem produzido existências desumanizadas pela ideia de raça Construímos uma análise genealógica do debate de segurança e a relação com a questão racial Identificamos dispositivos de racialidade criados no contexto colonialescravocrata e actualizados na cidade neoliberal como mecanismo de garantia de segurança em defesa de uma sociedade branca e burguesa Nosso referencial teórico expressa um diálogo com as ideias de necropolítica de Achille Mbembe colonialidade do poder Aníbal Quijano e antinegritude de João Vargas Palavraschave Segurança Dispositivo de Racialidade Necropolitica Colonialidade Antinegritude EXISTENCES DEHUMANIZED BY THE COLONIALITY OF POWER NECROPOLITICS AND BRAZILIAN ANTIBLACKNESS Abstract The analysis focus of this article is to understand how racism has produced dehumanized existences and concomitantly multiple forms of confrontation have been created Our objective is to analyze how the debate on security in Brazil has produced existences dehumanized by the idea of race We built a genealogical analysis of the security debate and the relationship with the racial issue We identify devices of raciality created in the colonialslave context and updated in the neoliberal city as a security guarantee mechanism in defense of a white and bourgeois society Our theoretical framework expresses a dialogue with Achille Mbembes ideas of necropolitics Aníbal Quijanos colonial power and João Vargas antiblackness Keywords Security Raciality Device Necropolitics Coloniality AntiBlackness EXISTENCIAS DESHUMANIZADAS POR LA COLONIALIDAD DEL PODER NECROPOLÍTICA Y ANTINEGRIDAD BRASILEÑA Resumen El foco de análisis de este artículo es comprender cómo el racismo ha producido existencias deshumanizadas y concomitantemente se han creado múltiples formas de confrontación Nuestro objetivo es analizar cómo el debate sobre la seguridad en Brasil ha producido existencias deshumanizadas por la idea de raza Construimos un análisis genealógico del debate sobre la seguridad y la relación con el tema racial Identificamos dispositivos de racialidad creados en el contexto colonialesclavista y actualizados en la ciudad neoliberal como mecanismo de garantía de seguridad en defensa de una sociedad blanca y burguesa Nuestro marco teórico expresa un diálogo con las ideas de necropolítica de Achille Mbembe colonialidad del poder de Aníbal Quijano y antinegritud de João Vargas Palabras clave Seguridad Dispositivo de Racialidad Necropolítica Colonialidad AntiNegritud 1 Este trabalho é parte de uma reflexão no prelo sobre Geografias Negras do Genocídio Negro Brasileiro 2 Professor do Departamento e do Programa de PósGraduação em Geografia FFPUERJ e Professor do Programa de Pós Graduação em Cultura e Territorialidades UFF Coordenador do NEGRA Núcleo de Estudo e Pesquisa em Geografia Regional da África e da Diáspora Integrante do Instituto Búzios Email araujodenilsongmailcom ORCID httporcidorg0000000317267767 Este artigo está licenciado com uma licença Creative Commons Atribuição 40 Internacional GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 2 Introdução A proposta deste artigo é compreender como têm sido produzidas existências desumanizadas pela ideia de raça e a criação de diferentes formas de enfrentamento Nosso objetivo é analisar como o debate sobre segurança tem reproduzido existências desumanizadas pela ideia de raça Este ensaio não se trata de apresentar uma trajetória conceitual e longitudinal desse conceito mas compreender os subsídios raciais imanentes a essa política de Estado Nosso artigo é eminentemente teórico mas inspirado em análises de dados sobre a política de segurança no Rio de Janeiro Brasil Iremos construir uma análise genealógica buscando identificar os dispositivos de racialidade CARNEIRO 2005 criados no contexto colonialescravocrata e actualizados3 na cidade neoliberal Seguimos a esteira de estudos que compreendem a questão racial brasileira não podendo ser reduzida à esfera das heranças escravocratas mas é também uma vontade de poder no presente que garante benefícios e privilégios OSÓRIO 2008 Mas nosso passado ainda nos assombra Buscamos compreender o ideário construído sobre corpos e territórios racializados nas cidades brasileiras como ideários bionecropolíticos inerentes à reprodução da colonialidade do poder MBEMBE 2006 QUIJANO 2000 Entendemos que os diálogos das ideias de necropolítica de Achille Mbembe colonialidade do poder Aníbal Quijano e antinegritude de João Vargas fornecem importantes elementos para compreender o tenso cenário brasileiro especialmente das favelas e periferias do Rio de Janeiro criado pelas políticas de segurança Dessa forma dividimos o artigo em três momentos No primeiro apresentamos possibilidades de interpretação geográfica da questão racial Apontamos como os geógrafos modernoscoloniais mobilizaram o conceito de raça como sistema de dominação definindo um projeto de espaço No segundo momento buscamos aproximações entre os conceitos de colonialidade do poder de Aníbal Quijano 2000 Necropolitica de Achille Mbembe e antinegritude de João Vargas 2020 O terceiro momento buscamos apontar pistas a partir da análise das lutas sociais de como embriões têm se constituído para sair desta grande noite MBEMBE 2019 Por uma geografia da questão racial A questão racial é um tema caro à Geografia A Geografia ao longo da sua história moderno colonial esteve envolvida em projetos de poder a serviço da dominação como o colonialismo e o imperialismo A raça sempre esteve no centro das formulações dos pioneiros da Geografia acadêmica como Ratzel e La Blache contudo de forma mágica foi obliterada da história do pensamento geográfico especialmente no Brasil Felizmente esforços ainda que não suficientes têm sido produzidos nas últimas décadas no Brasil MARCELINO 2020 para desmascarar as máscaras sociais da geografia MOREIRA 1982 e do projeto modernocolonial A classificação da população mundial com o projeto colonial gestado no século XV definiu existências e territórios desumanizados pela ideia de raça Quijano 2000 chamou isso de colonialidade do poder A colonialidade do poder definiu mecanismos de naturalização da hierarquização e desumanização de grupos nãobrancos Logo as vidas e territórios racializadas pela branquitude não são dignas de serem vividas e determinadas mortes não são passíveis de luto mesmo quando ocorrem aos milhões BUTLER 20194 A branquitude produziu quais vidas e 3 Actual es decir algo de otro tiempo que actúa aquí y ahora a partir de nuevas circunstancias GONÇALVES 2001 p 125 4 A branquitude não expressa um indivíduo mas um padrão de poderdominação pela ideia fantasiosa e delirante de supremacismo branco na cultura na economia na política na vida social na produção epistemológica e ontológica O EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 3 territórios são dignos e quais mortes geram comoção e precisam ser choradas Assim o genocídio o extermínio de grupos o ecocídio a destruição de ambientes o epistemicídio a destruição de formas de saberconhecimento e o terricídio a destruição de territórios e territorialidades são imanentes à colonialidade do poder A colonialidade do poder criou tanto formas espaciais quanto grafagens no uso e apropriação dos espaços Nesta lógica o branco transita numa zona do ser onde os grupos são reconhecidos como humanos e regidos pelo Estado de Direito FANON 2008 GROSFOGUEL 2012 Já os negros e todos os grupos racializados transitariam por uma zona do não ser e um Estado de Exceção aonde os grupos são vistos como vazios de humanidade MBEMBE 2014 logo matáveis não gerando nenhuma comoção social Idem O projeto modernocolonial definiu uma monocultura do ser do saber do tempo linear e do espaço como símbolo de produtividade SANTOS 2003 Tudo o que o branco cristão heterossexual burguês e ocidental é posto como superioridade e central Já o que é tido como o resto é visto como o pólo passivo inferior e que está à espera de salvação do mundo moderno Assim o projeto modernocolonial mobiliza múltiplos sistemas hierárquicos A raça foi usada como um desses sistemas A hierarquia racial de populações é inerente à leitura dos espaços Grupos racializados serão colocados nos espaços desprezados pela dominação racial Topografias da crueldade e da violência ALVES 2011 BALIBAR 2001 ora são explicitas ora emergem em eventos específicos para afirmar o desejo de apartheid e a política de inimizade MBEMBE 2020 da branquitude brasileira contra os grupos racializados por ela mesma Em cada dinâmica regional do Brasil e do mundo esse projeto ganhou cara própria Assim a colonialidade do poder precisa ser regionalizada e periodizada Ou seja ela muda com o tempo devido a sua plasticidade capacidade de adaptação proliferação e metamorfose e se diferencia no espaço tanto entre formações sócioespaciais distintas quanto dentro de uma mesma formação A colonialidade do poder é um fenômeno multiescalar plural e para se legitimar definiuse como um padrão de naturalidade e normalidade Ela expressa uma vontade de poder constante em busca de um supremacismo branco5 No Brasil a tese do branqueamento e da democracia racial foram algumas das expressões da colonialidade do poder As autoridades e cientistas brasileiros do século XIX não escondiam esse desejo de inimizade Em 1870 quando o sistema escravocrata era existente mas cada vez mais decadente foram introduzidos os primeiros imigrantes europeus para a substituição de mão de obra negro buscavase assim branquear a população e pagar salário aos únicos que poderiam recebêlo os brancos Esse desejo de inimizade e de apartheid que surge na colônia e atravessa o império chega à república adaptandose aos novos tempos Sob o véu da democracia racial e das teorias freyrianas o apartheid brasileiro cala seu objeto o segrega em periferias favelas e prisões enquanto celebra o mito da integração a cada mês de fevereiro SOUZA 2021 2122 As teses do branqueamento isto é impor o projeto de extermínio da branquitude de afirmar o seu supremacismo de forma explícita surge como forma de actualização da colonialidade do poder Vemos que aí o supremacismo branco não tem apenas um teor discursivo Ele busca instaurar tanto um arranjo espacial isto é a localização e distribuição dos grupos raciais OLIVEIRA 2011 quanto definir os horizontes de sentidos espaciais normatizados pela branquitude Num contexto de crise do branco não se vê como raça mas classifica todos os grupos dessemelhantes como raça Colocase como símbolo da universalidade Eron Rezende 2018 sp em entrevista com Grada Kilomba capta a seguinte ideia da autora O branco não é uma cor O branco é uma definição política que representa os privilégios históricos políticos e sociais de um determinado grupo Um grupo que tem acesso à estruturas e instituições dominantes da sociedade Branquitude representa a realidade e a história de um determinado grupo 5 Para análise das políticas de branqueamento do território e da paisagem na cidade neoliberal ver Santos R et alli 2018 Oliveira 2020 GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 4 escravismo colonial em meados do século XIX o supremacismo branco vendose ameaçado o seu domínio implanta projeto biopolítico de aumento populacional da população branca como forma de suplantar os negros escravizados ou não que eram superiores em termos populacionais e eram vistos como ameaça pela branquitude Décadas depois do fim da escravidão o Estado brasileiro instaurou política racial de controle da natalidade com a esterelização forçada de mulheres negras ROLAND 1995 Suas formulações não foram exclusivas do Brasil elas dominaram todas as Américas África e a Oceania isto é um projeto global de mundo por ideais supremacistas brancos O extermínio populacional e o alisamento do território se constituíram como uma política racial de Estado para atrair imigrantes brancos para substituir a mãodeobra escravizada e garantir a supremacia racial sobre os bens sociais Esse projeto supremacista nunca foi eliminado no período da República Ele mantém continuidade na atual fase do capitalismo com o neoliberalismo através das políticas de branqueamento do território SANTOS 2009 usadas como projetos desterritorializadores das populações negras em lugares disputados pelos capitalistas raciais Por capitalistas raciais entendemos os agentes modeladores do espaço que instauram formas de organização e distribuição dos bens sociais concedendo privilégios a determinados grupos raciais OLIVEIRA 2014 Para Santos 2009 o branqueamento do território envolve três dimensões A primeira é o branqueamento da ocupação que envolve processos de desterritorialização de não brancos negros e indígenas e a territorialização de brancos em áreas disputadas pela branquitude A segunda vertente é o branqueamento da imagem através do uso de narrativas que eliminam a presença não branca negros e indígenas e definem a presença branca como marco zero Já a terceira vertente do branqueamento do território é o branqueamento da cultura impondo matrizes símbolos e signos que identificam territórios regiões e lugares A complexidade da questão racial brasileira envolve tanto distintos projetos de extermínio com as políticas genocidas da população negra quanto a difusão de imaginários ideológicos que buscam dissimular a violência das nossas relações como o mito de uma democracia racial A chamada democracia racial se constitui assentada em manipulações Ela foi criada a partir de formulação de intelectuais a serviço da dominação racial que produziram ideologias e forças que alimentam o falso Foi gestada algumas décadas após o fim das últimas heranças formais do colonialismo a escravidão racial Expressa uma ideologia construída por intelectuais brancos que dissimula a antinegritude produzida e o brutalismo de nossa formação Arrogase o discurso da mestiçagem e miscigenação do povo brasileiro obliterando o sequestro o tráfico para outro continente o trabalho forçado até a morte e o estupro de mulheres negras e indígenas no contexto colonial A ideologia da democracia racial sustentase numa mentirosa harmonia de nossas relações raciais e que o racismo não existe em nossa sociedade Essa ideologia é exportada para o mundo pelas classes hegemônicas como singularidade de nosso país Os defensores da democracia racial são férteis criadores de miragens NASCIMENTO 1978 que dissimulam a racialização da violência policial e da militarização dos territórios para garantir uma imagem harmônica e competitiva no mercado mundial de cidades OLIVEIRA 2014 A falácia da proximidade e interação do brasileiro tão insufladas por esses ideólogos escamoteia ausências de reciprocidade e acúmulo de privilégios silêncios dos roubos coloniais e o capital racial que concede ao branco um uso INdiscriminado do espaço diferente do negro que possui um uso DIscriminado do espaço OLIVEIRA 2014 2015 O foco é garantir a sensação racial de segurança da branquitude Idem Entre a colonialidade do poder e a necropolítica EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 5 A questão racial tem se colocado no centro do debate no Brasil especialmente nas operações policiais e militares em favelas e periferias sociais por todo o país No Rio de Janeiro mesmo sob proibição federal em decorrência da pandemia da covid 19 operações policiais e militares são realizadas promovendo o terror e o assassinato de pessoas majoritariamente negras com o discurso ideológico de guerras às drogas Uma política de morte de corpos e territórios negros tem gerado levantes populares em marchas manifestos atos públicos colocando em debate as heranças da escravidão ao destituir de humanidade a população negra e reproduzindo novas formas da antinegritude na atual fase neoliberal Movimentos sociais no Brasil têm chamado isso de necropolítica A necropolítica atinge majoritariamente as vidas negras produzindo estilhaçamento de suas histórias Essa categoria necropolítica foi criada pelo pensador camaronês Achille Mbembe Uma categoria analítica que surgiu na academia e hoje ganha a práxis política dos movimentos sociais Ela parte da ideia da política como trabalho de produção e administração de morte Ela nasceu como uma categoria para compreender as depredações do capitalismo neoliberal no pós 11 de setembro Assim sua proposta envolve uma transposição multiescalar do capitalismo neoliberal que cada vez mais tem sido mobilizada por movimentos sociais Mbembe 2006 constrói essa categoria inspirado em Giorgio Agamben 2004 e Michel Foucault 2005 Ela referese a três questões centrais 1 o contexto em que o Estado de Exceção tornouse regra 2 a instrumentalização generalizada da existência humana e a destruição material de corpos e populações julgadas como descartáveis e supérfluos por figuras de soberanias 3 o apelo de maneira contínua da noção fantasmática ou ficcionalizada do inimigo GIGENA 2012 Achille Mbembe ressalta a formulação de Michel Foucault sobre biopolítica Mas para ele na colônia a biopolítica se converteu em necropolítica MBEMBE 2014 sustentada na ideia do Negro como um problema espacial OLIVEIRA 2019 E o que queremos dizer do negro como um problema espacial Ele é um ser que precisa ser interditado confinado constrangido no uso e na apropriação do espaço Se mobilizarmos o contexto do sequestro em África James 2010 já ressaltava o quanto os negros já estavam nascendo como um problema espacial James 2010 nos lembra que os povos eram sequestrados amarrados uns aos outros em colunas e obrigados a carregar pedras extremamente pesadas de 20 a 25 quilos para evitar que fugissem Eles eram amarrados levados em marcha em longa jornada do interior onde eram sequestrados até o porto O trauma emerge como um elemento de controle de mobilidade do negro Os homens e mulheres negros e negras eram seres que precisavam ser interditados espacialmente e contidos territorialmente Então as marcas desse processo de desreterritorialização produz aí um elemento extremamente central para que possamos pensar o mundo de hoje O negro correndo ou seja o negro fugindo o negro buscando a liberdade é símbolo do medo branco OLIVEIRA 2020a 107 A ideia de segurança lastreada pela colonialidade do poder busca mensurar o risco para a branquitude nas suas trajetórias geográficas da raiva dos negros OLIVEIRA 2020c O medo branco da onda negra já estava no navio negreiro Idem Defendemos em vários trabalhos OLIVEIRA 2020a 2020b 2020c que esse sistema de crenças e ações foi forjado nos porões dos navios negreiros e continua sendo reproduzido especialmente na política de insegurança pelo país Defendemos a tese que o navio negreiro se constituiu como um lugar de horror marcado por um triplo exercício de poder OLIVEIRA 2020 Um primeiro exercício de poder é racial punitivo e disciplinar visando adestrar corpos que estavam sendo escravizados e levados para o trabalho forçado O segundo exercício de poder racial inerente aos navios negreiros era a biopoder Os revoltosos deveriam ser mortos para servir de exemplo e regular a vidas dos escravizados vivos A produção de uma vida submissa era o foco deste exercício de poder Já o terceiro exercício do poder racial era o necropoder Ele definia a GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 6 aceitabilidade da matança de populações negras Estimase que de 10 a 20 da população escravizadas nos navios morriam devido às condições impostas revoltas suicídio e o brutalismo O navio negreiro portanto simboliza a reafirmação do negro como jazigo para lembrar aqui Achille Mbembe 2014 ou seja um símbolo de morte porque no navio negreiro os escravizados homens mulheres e crianças6 eram transportados nus com pouquíssimos adornos corpóreos acorrentados num espaço extremamente insalubre imundo durante semanas e às vezes meses vendidos num outro continente Então o negro é um problema espacial marcado pela branquitude e pela ideia de segurança A ideia de segurança que nasce no navio negreiro carregada de subsídios raciais OLIVEIRA 2020a 115 Esses dispositivos disciplinares bio e necropolítico foram criados pela braquitude agindo de forma simultânea e definindo o negro como um problema espacial A grande preocupação era a segurança pública pois no centro da relação escravocrata existia um imenso medo 7 CAMPELLO 2018 171 grifos do autor Os negros nunca habitaram o conceito de humanidade VARGAS 2020 FANON 2008 Em outro trabalho afirmamos que Os porões dos navios negreiros além de um espaço de confinamento e controle dos corpos era também um espaço de concentração de raiva por isso o medo branco da onda negra AZEVEDO 1987 A raiva é uma resposta às atitudes racistas e às ações e presunção que surgem dessas atitudes LORDE 2019 Nesse espaço que nasce a ideia do medo branco da concentração espacial de negros isto é uma sensação racial de insegurança Mas essa raiva não era fruto de ressentimentos mas de homens e mulheres que se recompunham contra a violência que sofriam FANON 1968 A raiva é a não aceitação da condição imposta pelos colonizadores A raiva ameaça o modo de vida LORDE 2019 da branquitude pois ela é repleta de informação e energia Idem p 160 A raiva é sempre uma luta de um coletivo enfrentando o ódio A raiva é aí a busca de compreensão de sentido por que está sendo agredido menosprezado invisiblizado eou silenciado OLIVEIRA 2020b 322 O foco do racismo é destruir um modo de existência FANON 1969 e forjar assujeitamentos O assassinato em massa de pessoas negras em operações policiais e militares em favelas e periferias denunciado pelo movimento negro e movimentos antirracistas em cortes nacionais e internacionais actualiza o navio negreiro Como diz a música Todo o camburão tem um pouco de navio negreiro8 Contudo a colonialidade do poder imanente aos Estados modernos tem promovido o que James 2010 chama de regime de calculada brutalidade e terrorismo O interessante é que essa ideia de James Idem era usada para caracterizar a escravidão O colonialismo se findou mas a colonialidade não diria Quijano 2000 O Estado brasileiro se constituiu exercendo o poder racial de vida e morte para garantir uma sensação racial de segurança OLIVEIRA 2014 da branquitude O Estado brasileiro nasce fruto de um projeto colonial racializador que tanto regula práticas sociais e impõe comportamentos raciais no uso do espaço quanto produz uma política de extermínio para garantir uma ordem espacial das relações raciais Logo o genocídio negro é parte do contrato racial NASCIMENTO 1978 MILLS 1997 Flauzina 2014 lembra que o termo genocídio formulado por Raphael Lemkin em 1944 apesar de analisar o sistema legal de ocupação nazista apontava com um conceito intrinsecamente associado ao colonialismo A proposta de Lemkin ao ser debatida como uma categoria jurídica na 6 Escravizar crianças visava o trabalho no subsolo das minas e a busca de seres mais fáceis de adestramento e que não sabiam fugir 7 Um fato notório afigurase na preocupação em constante evidência nos relatórios de presidentes de províncias e nas correspondências das autoridades a respeito das possíveis rebeliões e rebeldias escravas quando efetivamente não ocorriam tantas prisões de escravos como se poderia supor CAMPOS 2007 p 217 8 Referência a música escrita por Marcelo Yuka Camburão é como é chamado o carro da polícia que leva no seu porta malas de forma desumana presos para delegacias EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 7 ONU começou a ser degradada para silenciar projetos genocidas passados e em curso pelas nações europeias e EUA O projeto modernocolonial pressupôs uma lógica genocida ao promover massacre para conquistar territórios para acabar com rebeliões e promover a exposição gratuita da violência A escravidão racial moderna nasceu privando inúmeras nações dos meios de existência e subsistência Logo o genocídio é inerente A colonialidade do poder promoveu uma geopolítica da indignação seletiva da escala internacional à local Entendemos que a colonialidade do poder é um projeto da branquitude que define lugares e grupos sociais racializados como símbolos de um mal estar social Instaurase uma política de extermínio e ratificamse esses lugares e grupos como destituídos de valor importância social e o que podem ser eliminados A grande mídia corporativa terá um papel importante na produção dessa indignação seletiva Esse dispositivo permanece na cidade neoliberal com as operações militares que estabelecem a aceitabilidade da matança em determinados lugares e para determinados grupos Da escala global à local vemos uma indignação seletiva das mídias corporativas hegemônicas em conflitos em áreas de grupos racializados eou chacinas praticadas por milicianos e policiais nessas mesmas áreas Revelase o que os movimentos sociais têm chamado de projetos genocida A produção de mídias contrahegemônicas pelos movimentos sociais se constitui como uma forma de enfrentamento aos dispositivos de racialidade imanentes à mídia hegemônica corporativa O genocídio promovido pela branquitude não começou recentemente Ele está nas engrenagens do capitalismo e da formação sócioespacial brasileira NASCIMENTO 1978 O termo Genocídio foi criado no século no XX no final da segunda guerra mundial pelo advogado judeupolonês Raphael Lemkin passou a ser usado mais precisamente em 1944 quando Lemkin buscou nomear o extermínio dos judeus promovido pelo governo nazista alemão A origem do termo vem da combinação das expressões grega génos raça tribo e latina cídio matar Um dos conceitos reside no uso de medidas deliberadas e sistemáticas como morte injúria corporal e mental impossíveis condições de vida preservação de nascimentos calculadas para a exterminação de um grupo racial político ou cultural ou para destruir a língua a religião ou a cultura de um grupo NASCIMENTO 1978 p 15 Embora o termo tenha sido cunhado para analisar a experiência europeia do século XX esse episódio não foi único na modernidade Intelectuais do pensamento decolonial latinoamericano e intelectuais militantes do movimento Negro brasileiro encontraram no termo em seu sentido jurídico a possibilidade de reivindicar o reconhecimento do crime que dizimou milhares de indígenas africanos e seus descendentes na diáspora dado a definição de genocídio que abarca todas as ações violentas que os europeus submeteram os seus colonizados Dessa forma o colonialismo europeu século XV ao XIX marca o primeiro grande genocídio da modernidade e nesse sentido a expressão do genocídio é bem anterior à criação de seu conceito CARVALHO 20164849 Os fanáticos zeladores do poder defensores da democracia racial irão sempre obliterar e falsear qualquer análise que inclua o debate do genocídio em nossa formação O negro como um problema espacial da branquitude revela os subsídios raciais impregnados nos imaginários do uso dos espaços de poder e prestigio social no Brasil Tanto a presença negra em lugares dos brancos quanto os territórios negrosafrodiaspóricos foram histórica e ideologicamente inventados como problema Esses espaços e itinerários nasceram marcados pela ação violenta do Estado criado pela branquitude para exercer o monopólio racial da violência o monopólio racial das leis e normas jurídicas e o monopólio racial da arrecadação a serviço da branquitude Criase uma simbiose de uma sensação racial de segurança para os territórios da branquitude e para os capitalistas raciais Dizendo com outras palavras os negros precisam ser contidos interditados confinados exterminados e adestrados para servir à branquitude Idem O imaginário racial da segurança pública foi produzido e marcado pela matematização dos espaços e das vidas SANTOS GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 8 2002 negras Na era das câmeras de segurança e do reconhecimento facial calculase precisamente os espaços que os corpos negros e racializados podem utilizar a tecnologia de reconhecimento facial nasceu com a promessa de tornar as cidades mais seguras seguras para quem passou a ser amplamente contestada pois além de acabar com a privacidade das pessoas potencializa o racismo institucional Em estudos recentes do MIT Instituto de Tecnologia de Massachusetts mostraram que negros estão mais expostos a erros cometidos por esses softwares potencializando o risco de serem submetidos a violência policial e ao encarceramento devido a leituras equivocadas realizadas pelas câmeras de vigilância Lembremos que os algoritmos são manuseados por pessoas que são racistas e machistas logo comprovaram que rostos mais escuros são pouco representados nos conjuntos de dados usados para domesticar os equipamentos Esse estudo mostrou que os algoritmos falharam na aferição de 347 de pessoas negras e apenas 1 de brancas GOULART FLORENTINO 2021 Butler 2011 lembra que a representação se constitui como um meio tanto para humanização quanto para desumanização dos grupos sociais Desvincular o negro e os grupos racializados do sentido de humanidade constitui justificativas éticasmorais Idem construídas na modernidade para eliminação da raça ruim visando a garantia da segurança A propalada garantia de segurança pelo uso do meio técnicocientíficoinformacional SANTOS 2002 além de fortalecer o racismo estrutural e institucional fortalecem cidades fragmentadas com cercas e murros o apartheid brasileiro VARGAS 2020 Representantes municipais e estaduais por todo o Brasil utilizam essa retórica da inteligência tecnológica sendo usada na segurança pública Essa retórica vem obliterando a seletividade racial na produção política de sujeitos e grupos criminosos já comprovada tanto no Brasil quanto fora do país Isso tornase ainda mais tenso com o uso dessas tecnologias para perseguição de ativistas de direitos humanos e grupos antirracistas que afirmam estruturas disruptivas de enfrentamento ao Estado Isto é o problema da segurança surge desde que o Brasil é Brasil A tecnologia do poder no passado colonialescravocrata e no presente neoliberal mudou mas continua tendo os corpos negros como alvo Entendemos que o neoliberalismo e as suas políticas voltadas para as favelas e periferias sociais continuam reproduzindo um regime de calculada brutalidade e terrorismo Terror psicológico o esfacelamento e assassinatos com os Caveirões9os helicópteros atirando para as favelas brutalismo discurso de ódio voltado para os moradores de favelas e negros em áreas nobres abordagens policiais racialmente definidas e truculentas A estética do choque e terror do contexto colonial continua nas operações policiais e militares nos territórios racializados A cidade no contexto neoliberal não é construída para integrar a sociedade mas para quem racialmente pode pagar por segurança conforto e privilégio Mais segurança é igual a menos liberdade O discurso do medo urbano e a guerra à insegurança ficcionam um inimigo passando a alimentarse de imaginários racistas e estigmatizantes na construção de muros guardas privados no espaço público e sistema de vigilância eletrônica Para a produção e manutenção desta ordem é necessário mobilizar o racismo de Estado e o imaginário colonial na condução da política de insegurança que institui seres racialmente definidos como fundamentos do positivo e do negativo AGAMBEM 2004 HAESBAERT 2014 OLIVEIRA 2020c 91 A raça tem se constituído como um dos principais reguladores da ação do Estado FOUCAULT 2005 Políticas voltadas para os territórios em que vive majoritariamente a população negra e pobre no brasil O território como categoria normativa da branquitude que domina o Estado é visto como 9 Carro blindado que entra nas favelas cariocas aterrorizando moradores e tendo a brutalidade como seu principal mote EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 9 espaço de exercício do poder racial definindo quem pode morrer e quem deve viver Já os territórios pelos grupos negros e populares são espaços de existência e de luta por dignidade Para Mbembe 2020 o necropoder gera fragmentação territorial com um duplo objetivo 1 impossibilitar o movimento 2 implementar a segregação na forma do Estado de apartheid O duplo objetivo da fragmentação territorial redefine a relação soberania e espaço Não há necropolítica sem geopolítica Assim a comoção social e a política de aceitabilidade da matança variam tanto pelo endereço quanto pelos corpos que são alvos Acerca da dimensão geopolítica do racismo afirmamos que A geopolítica do racismo envolve a definição onde será exercido o soft power10 racial um exercício do poder racialmente brando e o hard power racial um exercício do poder mais violento Assim o controle da mobilidade não será o mesmo nos diferentes espaços da cidade Depende da combinação de classe gênero e raça A dimensão geopolítica do soft power racial age nas áreas nobres onde pode ser reconhecida filmada e gerar um fato midiático e comprometer a imagem de povo cordial e democracia racial O soft power racial é o violento que se vê como pacífico A ideia de poder brando é uma grande ideologia vendida para silenciar conflitos raciais no Brasil Esse exercício de poder é a busca de dissimular que não somos racistas e que no máximo casos de racismo são esporádicos Ou seja o soft power racial é o famoso coisa para inglês ver que dissimula ações violentas de coação e ameaça a grupos raciais que estariam promovendo uma desobediência a um comportamento racial no uso do espaço11 Essa desobediência de um comportamento racial esperado dos transeuntes dos transportes mobiliza um hard power racial legitimado e justificado pelo discurso de ódio local que se afirma para punir através de linchamentos por motivação de um medo racial Martins 2015 eou abordagens policiais OLIVEIRA 2021 8283 O debate da questão racial brasileira até há pouco tempo era restrito a círculos acadêmicos e ao movimento negro Hoje ele se capilarizou fruto da luta do movimento social por distintas esferas escalas e contextos da sociedade Isso não necessariamente tem produzido avanços da luta e combate a opressões devido às apropriações do discurso O debate sobre racismo especialmente racismo estrutural genocídio negro e necropolítica vive um momento ambivalente Tanto ganha força pela luta política de movimentos sociais quanto passa por desgastes e banalizações do seu potencial analíticopolítico sendo usado e abusado por setores dominantes do capital para construir um verniz de pretensas relações éticas Esses debates passam pelo risco da degradação MORIN 2005 Morin afirma em verdade três degradações simplificadoras que geralmente se combinam A primeira seria a degradação tecnicista Nesse tipo de degradação as teorias conservam apenas a dimensão operacional e manipulável logo o que pode ser aplicável As teorias deixam de logos instrumento de produção do conhecimento do real e se tornam unicamente techné Vemos na repetição continua do termo racismo estrutural genocídio negro e necropolítica por diferentes segmentos da mídia corporativa historicamente descompromissada e adversária dessas lutas sem aprofundamento do que esse instrumento analítico pode gerar sem o enfrentamento das estruturas opressivas como essas categorias propõem a reprodução da degradação tecnicista dos debates Ocorre uma inflação do conceito e concomitantemente destruição da potência explicativa Entendemos que não é uma reforma nas estruturas carcomidas pelo racismo que as lutas políticas estão colocando CESAIRE 1978 10 Os conceitos de hard power e soft power são de autoria de Joseph Nye Eles foram utilizados para explicar a geopolítica dos Estados Unidos no contexto pósGuerra Fria e no início do século XXI 11 A fala de que os ônibus da Baixada Fluminense eou da Zona Norte em direção às praias da Zona Sul só tem gente feia busca dissimular que o racismo no Brasil definiu o branco como símbolo do belo e o negro como símbolo do feio Logo seria necessário purificar racialmente os espaços das áreas nobres dos feios os negros especialmente pobres e moradores de favelas GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 10 A segunda degradação proposta por Morin 2005 é a degradação doutrinária Para este autor a teoria perde seu poder analítico e tornase uma doutrina Logo necropolítica genocídio negro e racismo estrutural viram propostas fechadas monolíticas e que perdem seu potencial de produção de consciência e transformação social Essas categorias tornamse dogmas e frases de acusação sem destruição da opressão Na era das redes sociais e dos algoritmos os indivíduos eou grupos que são acusados como racistas e que produzem a necropolítica sofrem a política do cancelamento Contudo ganham mais notoriedade pela visibilidade que passam a ter Já a terceira degradação proposta pelo filosofo Edgar Morin 2005 é a popdegradação Esse tipo de degradação se expressa com a vulgarização dos termos necropolítica genocídio negro e racismo estrutural O papel das redes sociais e dos algoritmos passam a ser apropriados pelos atores hegemônicos que usam como forma de marketing pessoal eou de empresas para aumentar a credibilidade suas vendas e sua popularidade Frases de efeito que reduzem ideias complexas e também obedecem ao discurso do politicamente correto diante das mídias A teoria é assim reduzida e simplificada para comportar políticas de caráter reformista e dissuadir dimensões revolucionárias Vargas 2020 num artigo bastante provocativo irá afirmar que o racismo não dá mais conta O autor afirma que A antinegritude é constitutiva da Humanidade Ser humano é não ser negro Para esse autor o princípio fundante da antinegritude envolve a negação ontológica da pessoa negra VARGAS 202019 traduzindose em graus a cidadania Tornase necessário para a branquitude uma constante captura dos sentidos que a negritude cria para evitar transgressão Vivenciamos uma política antinegritude como marca da atual fase do capitalismo neoliberal VARGAS 2020 A antinegritude não emerge agora mas é uma expressão do projeto moderno colonial que forjou a geografia mundial Idem A antinegritude instaura em diferentes escalas uma geografia de rejeitos e proveitos PORTOGONÇALVES 2006 racializados ou seja os proveitos são apropriados pela branquitude eou exportados para a branquitude de outros lugares e os rejeitos são depositados em lugares de pessoas negras e racializadas Vargas 2020 alerta que o debate sobre os conceitos de racismoantirracismo se sustenta na relação do branco com os não brancos Assim as existências são definidas pelos parâmetros da branquitude Na antinegritude para esse autor o parâmetro é o negro e o não negro Logo partese do mundo negro no entendimento das relações de poder Ibidem A captura e a inflação que os conceitos de racismo e antirracismo sofrem por grandes marcas que buscam um discurso politicamente correto são reveladoras dos limites desse debate Contudo diferentemente de Vargas 2020 entendemos que não podemos jogar tudo fora A luta epistêmica em diferentes campos disciplinares no Brasil durante décadas buscou evidenciar o conceito de racismo como inerente à forma de compreender o mundo Ainda existem muitos grupos críticos que obliteram esse debate Dizer que o racismo não serve mais como faz Vargas 2020 entendemos que é um exagero Seguimos aqui Hall 2004 quando afirma sobre o conceito de raça entendemos que também sobre os conceitos de racismo e a luta antirracista são conceitos que precisam ser vistos sob rasura isto é uma ideia que não pode ser pensada da forma antiga mas sem a qual certas questõeschave não podem ser sequer pensadas 2004104 Por isso caminharemos nessa zona de indeterminação entre os conceitos de racismoantirracismo e antinegritude como projeto da branquitude O projeto racial brasileiro dissimulou a sua visagem durante séculos Reconhecer o racismo envolve o enfrentamento da colonialidade do poder que tentou apagar como a ideologia da democracia racial do povo cordial e do branqueamento Mas concordamos que o conceito de antinegritude envolve um avanço na compreensão da questão racial brasileira Entendemos que a antinegritude age em pelo menos três campos A antinegritude age no campo das representações produzindo e reproduzindo estigmas raciais sobre os territórios e os EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 11 grupos que ela racializa O segundo campo que entendemos que a antinegritude age envolve o campo das identidades A busca da negação de si a produção de obstáculos para criação de uma consciência e o desconhecimento da história é um dos alvos da antinegritude para a produção de uma identidade coletiva consciente de suas potências e agências O terceiro alvo da antinegritude envolve a memória A produção do esquecimento especialmente dos lugares de memória da diáspora OLIVEIRA 2020 se constitui como forma de evitar políticas afirmativas e de reparação A proposta de Vargas 2020 sobre a antinegritude oferece importante caminho ao pensar os limites dos conceitos de racismo Também concordamos com o autor quando afirma Como o racismo a antinegritude portanto existe mesmo quando não há manifestações explícitas de ódio às pessoas negras Entretanto ao contrário do racismo a antinegritude não pode ser combatida por meio de decisões políticas e administrativas A antinegritude por não ser um desvio social uma prática institucional mas de fato uma constante estrutural um código moderno de ontologia e sociabilidade que estrutura toda forma de interação humana é imune a ajustes resultantes de políticas públicas e de esforços individuais Ao passo que o racismo é visto por aqueles que o combatem ativistas e gestores de política públicas por exemplo como um fenômeno que pode ser remediado a antinegritude não possibilita qualquer tipo de redenção A não ser que haja uma reformulação completa de como nos entendemos e de como nos relacionamos Como mudar o inconsciente coletivo ou mais especificamente como modificar a noção de Humanidade questões que dependem fundamentalmente da antinegritude A antinegritude opera primordialmente apesar de não exclusivamente por meios implícitos inconscientes VARGAS 2020 21 Para Vargas a antinegritude opera a partir de duas superposições cognitivas que apesar de amplamente compartilhadas raramente são explicitadas ao definirem o negro com não pessoa No primeiro plano cognitivo os negros não são humanos no máximo chegando a escala da sub humanidade No segundo plano cognitivo que se superpõe ao primeiro os negros são parte inseparável e indistinguível de um universo marcado por elementos distintos do mundo não negro Assim a antinegritude torna desprezível tudo que é ligado à negritude e seus territóriosterritorialidades A antinegritude torna abjeto tudo o que é supostamente ligado à negritude A antinegritude torna não lugares todos os espaços marcados pela negritude espaços físicos espaços metafísicos espaços ontológicos espaços sociais A antinegritude portanto define a não pessoa o não lugar Pense na associação imediata que é feita entre a palavra favela e negritude ou inner city e negritude As palavras que denotam espaços sociais geograficamente delimitados são imediatamente associadas à negritude e assim os tornam lugares saturados de características negativas poluidoras e ameaçadoras não lugares A pessoa negra não somente é desprovida de ontologia mas é desprovida de lugar Ela está sempre fora do lugar seja lá qual for o lugar Isso quer dizer que a antinegritude define também o lugar da pessoa moderna da Humanidade sempre presente e sempre localizada VARGAS 202022 Vargas 2021 em diálogo com Flauzina 2008 aponta que a antinegritude é transhistórica pois normatiza condena e mata pessoas negras de forma gratuita Seja lá qual for o momento histórico e político e independentemente de proteções formais contra formas de discriminação a não pessoa negra é aquela sobre a qual recai a violência gratuita a violência que não tem motivo e o estupro VARGAS 2020 23 Sair da grande noite considerações parciais Instituições de renome nacional e internacional têm confirmado a tese do movimento negro as políticas de segurança têm se constituído como políticas administradas de morte contra a população negra O movimento negro brasileiro tem chamado isso de genocídio negro O debate racial obliterado GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 12 nas discussões sobre segurança pública expressa o contrato racial MILLS 1997 brasileiro O contrato racial brasileiro definiu os negros fora da pactuação social O negro não é um igual Ele sempre é visto como o outro o inimigo o não ser Desta forma a antinegritude e a desigualdade racial não são desvios de rotas mas arranjos deste contrato que deram certo As violentas reações às ações afirmativas e à dificuldade de implementação de legislações antirracistas expressam o vigor do contrato racial brasileiro Vargas 2020 já alertava que a antinegritude diferentemente do antirracismo não transita por uma leitura reformista do Estado Daí a produção racial do inimigo e o desejo de apartheid são zonas de conforto da branquitude O desejo de inimigo o desejo de apartheid segregação e enclave e a fantasia do extermínio ocupam nos dias que correm o lugar desse círculo encantado Em muitos casos basta um muro para expressálo Existem vários tipos de muro e nem todos servem ao mesmo propósito Supõese que o muro divisor resolva o problema do excesso de presença que se considera estar na origem de situações insustentáveis de penúria MBEMBE 2020 77 Esses dispositivos demonstram a insustentabilidade desse projeto social da branquitude Aimé Cesaire 1978 no discurso sobre o colonialismo afirmava que todo projeto de poder branco e ocidental definiu um humanismo seletivo estar na bancarrota Para ele uma sociedade que burla seus próprios princípios não tem legitimidade para definir um projeto de mundo A indignação racialmente seletiva BENTO 2002 as fissuras e a lápide do humanismo cada vez tornamse mais expostas Achille Mbembe 2014 seguindo a tradição de Cesaire 1978 e inspirado em Fanon 2008 1968 afirma a necessidade de sairmos da grande noite produzida pelo colonialismocolonialidade e o humanismo eurocêntrico que sabota com as próprias ideias que cria Isso envolve um trabalho árduo contínuo de destruição e de abandono de um Ocidente narcísico e delirante A produção da consciência tornase base para destronar as forças que falsificam a realidade para dominar povos territórios e afirmação de supremacismos Sepultar tal realidade tem sido um grande desafio Sair da grande noite é uma vontade de viver de forma descolonizada e escapar do imenso abismo colonial que ainda nos habita MBEMBE 2019 Memmi 2007 afirmava que três elementos eram centrais numa sociedade colonial vantagens econômicas usurpações e privilégios Vivemos ainda neste abismo pois nunca abolimos esses elementos Sair da grande noite significa romper com as amarras de um passado que nos aprisiona e um presente que restringe Envolve produção de autonomia romper a servidão que escraviza as mentes e caminhar em direção aos projetos silenciados e subalternizados Sair da grande noite e caminhar na zona do nãoser FANON 2008 1968 vivenciar a experiência da escassez SANTOS 2002 e gestar de forma imanente um modo de ser fora das teias da dominação Onde há poder há de forma imanente resistência FOUCAULT 1979 Encontramos pistas que buscam a saída desta grande noite Estamos diante de um contexto de Renascimento de EpistemologiasOntologias Negras12 Não há possibilidade de superação dos projetos genocidas necropolíticos e da colonialidade dentro das lentes construídas para nos cegar Esse Renascimento é um momento incontornável Isto é a posse de diferentes linguagens que não só descolonizam os métodos metodologias e teorias da dominação mas criam outros caminhos desvios métodos metodologias e teorias substanciadas pelas experiências negras africanas e diaspóricas Traduções de estudos negros e afrodispóricos silenciados pelo eurocentrismo redes culturais e políticas de arte e cinema negro de toda África e diáspora circulando no Brasil repercussão 12 Por falta de uma expressão melhor usamos aqui o termo Renascimento Ele envolve tanto a criação quanto a retomada de temas ideias epistemes e ontologias antes suprimidas pelo eurocentrismo pondo em cheque o racionalismo e o humanismo forjados a serviço dos projetos de poder e dominação EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 13 mundial de filmes do grande circuito do cinema focando na questão racial desfiles de escolas de samba especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo como enredos como formas de enfrentamento à antinegritude com repercussão nacional e internacional marchas e atos contra o genocídio da população negra cursos de pensadores negros afrodiaspóricos e de línguas africanas como yorubá sendo ensinados como forma de ampliação do repertorio da África e da diáspora Vemos emergir uma insurreição de saberes dominados que buscam romper com os grilhões da antinegritude Por saber dominado entendo duas coisas por um lado os conteúdos históricos que foram sepultados mascarados em coerências funcionais ou sistematizações formas Concretamente foi o aparecimento de conteúdos históricos que permitiu fazer a crítica porque só os conteúdos históricos podem permitir encontrar a clivagem dos confrontos das lutas que as organizações funcionais ou sistemáticas têm por objetivo mascarar Portanto os saberes dominados são estes blocos de saber histórico que estavam presentes e mascarados no interior dos conjuntos funcionais e sistemáticos e que a crítica pode fazer reaparecer evidentemente através do instrumento da erudição Em segundo lugar por saber dominado se deve entender outra coisa e em certo sentido uma coisa inteiramente diferente uma série de saberes que tinham sido desqualificados como não competentes ou insuficientemente elaborados saberes ingênuos hierarquicamente inferiores saberes abaixo do nível requerido de conhecimento ou cientificidade Foi o reaparecimento destes saberes que estão embaixo saberes não qualificados e mesmo desqualificados que chamarei de saber das pessoas e que não é de forma alguma um saber comum um bom senso mas ao contrário um saber particular regional local um saber diferencial incapaz de unanimidade e que só deve sua força à dimensão que o opõe a todos aqueles que o circulam que realizou a crítica FOUCAULT 1979170 Temos um período de grandes batalhas teóricas epistemológicas e ontológicas questionando a hegemoniasupremacia do pensamento ocidental com as teorias do feminismo negro feminismo negro descolonial feminismo afrolatino marxismo negro afropessimismo negritude quilombismo afropolitanismo ideias panafricanistas afrofuturismo mulherismo epistemologias do sul pensamento descolonial afrocentricidade estudos subalternos orientalismo pensamento pós colonial entre outras teorias disciplinares e não disciplinares como saberes de terreiros saberes dos povos e comunidades tradicionais saberes gestado na luta política dos movimentos sociais entre outros Confluências e divergências marcam essas epistemologias e ontologias negras e diaspóricas Nossa hipótese é que vivemos pela primeira vez na história de nossa formação a possibilidade de nos enxergar sentir ver cheirar de forma plural e transformadora Essa revolução do pensamento tem na Geografia Brasileira criado as chamadas Geografias Negras13 Entendemos que a força ideológica das teses do branqueamento e do discurso da democracia racial impediram que essas matrizes epistemológicas e ontológicas se desenvolvessem no Brasil nos últimos 100 anos pelo menos Esse fato sinaliza o quanto as lentes teóricas e metodológicas criadas pelo eurocentrismo são míopes Desta forma Longe de ser algo irrelevante a colonialidade é um resíduo irredutível de nossa formação social e está arraigada em nossa sociedade manifestandose das mais variadas maneiras em nossas instituições políticas e acadêmicas nas relações de dominaçãoopressão em nossas práticas de sociabilidades autoritárias em nossa memória linguagem imaginário social em nossas subjetividades e consequentemente na forma com produzimos conhecimento CRUZ 20171 A arte da resistência à dominação racial tem diferentes escalas de espaçotempo de eventos pontuais de curta duração e esporádicos a ações rotineiras de longa duração nem sempre visíveis 13 As discussões destas ideias estão sendo formuladas em outro trabalho GEOgraphia Niterói vol 24 n 53 e55623 2022 14 mas ocultas14 SCOTT 2004 A arte da resistência deixou marcas tanto no sistema de objetos quanto no sistema de ações criando territórios negros eou afrodiaspóricos não apenas por uma história de exclusão mas também de construção de singularidade e elaboração de um repertório comum ROLNIK 200776 Disputase tanto a escrita da história quanto a construção de políticas geográficas de memórias negras e afrodiaspóricas Sair da grande noite envolve a construção de outros horizontes de sentido da biopólís ALVES 2020 Eis os desafios da superação da antinegritude e destruição da colonialidade Referências ALVES J A 2011 Topografias da violência necropoder e governamentalidade espacial em São Paulo Revista do Departamento de Geografia USP Volume 22 p 108134 2020 Biopólis necrópolis blackpolis notas para un nuevo léxico político en los análisis socioespaciales del racismo Geopauta V 4 n1 14 Ocultas também por não caberem no mundo limitado e linear da dominação logo não são vistas EXISTÊNCIAS DESUMANIZADAS PELA COLONIALIDADE DO PODER NECROPOLÍTICA E ANTINEGRITUDE BRASILEIRA 15 AGAMBEN G 2004 Estado de exceção homo sacer São Paulo Boitempo BALIBAR E 2001 Outlines of a Topography of Cruelty Citizenship and Civility in the Era of Global Violence Constellations Volume 8 Issue 1 pages 1529 March BENTO M A 2002 Pactos Narcísicos no Racismo branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público Tese de Doutorado Universidade de São Paulo São Paulo BUTLER J 2011 Vidas Precárias Contemporânea Revista de Sociologia da UFSCar V1 n1 Janeiro Junho BUTLER J 2015 Quadros de guerra quando a vida é passível de luto Rio de Janeiro Civilização Brasileira CAMPELLO A B 2018 Manual Jurídico da escravidão Império do Brasil 1 ed Jundiaí SP Paco CARNEIRO S 2005 A construção do outro como nãoser como fundamento do ser Tese de Doutorado Programa de PósGraduação em Educação Universidade de São Paulo São Paulo CARVALHO S C S 2016 Quando o corpo cala e a alma chora a formação social brasileira e a sua contribuição no genocídio da juventude negra em São Gonçalo RJ Cadernos do Centro de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro SYNTHESIS Rio de Janeiro v 9 n 2 p 4150 jundez FANON F 2008 Pele negra máscaras brancas Salvador EDUFBA FANON F 1969 Em defesa da revolução africana Lisboa Livraria Sá da Costa FANON F 1968 Os condenados da Terra Rio de Janeiro Civilização Brasileira FLAUZINA A L 2014 As fronteiras raciais do genocídio Direito UnB Brasília p 119146 janjun FOUCAULT M 1979 Microfísica do Poder Rio de Janeiro Graal FOUCAULT M 2005 Em defesa da sociedade São Paulo Martins Torres Gigena A 2012 Necropolítica los aportes de Mbembe para entender la violencia contemporánea en FUENTES DÍAZ Antonio editor Necropolítica violencia y excepción en América Latina ISBN 978607 4875232 Puebla Benemérita Universidad Autónoma de Puebla Págs 1131 GROSFOGUEL R 2012 El concepto de racismo en Michel Foucault y Frantz Fanon teorizar desde la zona del ser o desde la zona del noser Tabula Rasa Online n 16 Enerojunio HALBWACHS M 2006 A memória coletiva São Paulo Centauro HALL S 2004 Quem precisa da identidade In SILVA T org Identidade e diferença a perspectiva dos estudos culturais Petrópolis Vozes LE GOFF J 1990 História e Memória São Paulo Editora da Unicamp MARCELINO J 2020 As marcas da colonialidade raça e racismo na produção do pensamento geográfico Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores Negrosas ABPN V 12 Edição Especial p 312325 abril 2020 ISSN 21772720 Disponível em Acesso em 10 maio 2020 MBEMBE A 2006 Necropolítica Sevilla Fundación BIACS MBEMBE A 2014 Crítica da razão negra Lisboa Antígona MBEMBE A 2019 Sair da grande noite Petrópolis RJ Editora Vozes MBEMBE A 2020 Políticas da inimizade São Paulo SP n1 edições MEMMI A 2007 Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador Rio de Janeiro Civilização 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espacial Vitória Espírito Santo Anais do Copene Sudeste OLIVEIRA D 2020 Do espaço ao contraespaço a luta antirracista decolonizando o urbano carioca In ZANOTELLI C ALBANI V BARROS A orgs Geografia Urbana cidades revoluções e injustiças entre espaços privados públicos direito à cidade e comuns urbanos Rio de Janeiro Consequência OLIVEIRA D A 2021 Geopolítica da morte periferias segregadas In ALBERGARIA R SANTINI D SANTARÉM P D org Mobilidade Antirracista São Paulo Autonomia Literária p 8097 OSÓRIO R G 2008 Desigualdade racial e mobilidade social no Brasil um balanço das teorias In THEODORO M Org As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil 120 anos após a abolição Brasília IPEA P 6596 PORTOGONÇALVES C W 2006 Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização Rio de Janeiro Civilização Brasileira QUIJANO A 2000 Colonialidad del poder eurocentrismo y América Latina In LANDER E org La colonialidad del saber eurocentrismo y ciencias sociales Perspectivas latinoamericanas Buenos Aires CLACSO REZENDE E 2018 Grada KilombaO Brasil ainda é extremamente colonial Disponível em httpsivairswordpresscomcategorycolonialismo Janeiro Acesso em 30 de janeiro de 2020 ROLAND E 2005 Direitos Reprodutivos e Racismo no Brasil Revista Estudos Feministas n 506 ano 3 Rio de Janeiro ROLNIK R 2007 Territórios negros nas cidades brasileiras etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de Janeiro In SANTOS Renato Emerson dos org Diversidade espaço e relações étnicoraciais o negro na geografia do Brasil Belo Horizonte MG Autêntica p 7590 SANTOS B S 2003 Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências In SOUSA SANTOS B Org Conhecimento Prudente para uma Vida Decente Um discurso sobre as Ciências revisitado São Paulo Cortez SANTOS M 2002 A natureza do espaço tempo e técnica razão e emoção São Paulo Edusp SANTOS R Silva K Ribeiro L Silva N 2018 Disputas de lugar e a Pequena África no Centro do Rio de Janeiro reação ou ação Resistência ou rexistência e protagonismo In Natacha Rena Daniel Freitas Ana Isabel Sá Marcela Brandão org Seminário Internacional Urbanismo Biopolítico 1ª ed Belo Horizonte Fluxos v 1 p 464491 SANTOS R E 2012 Sobre espacialidade das relações raciais raça racialidade e racismo no espaço urbano In SANTOS R E Org Questões urbanas e racismo Rio de Janeiro DO e Alli Associação Brasileira de Pesquisadores Negros SCOTT J 2004 Los dominados y el arte de la resistencia México Era SOUZA D A 2021 Crescer e viver entre máquinas de guerra Racismo e Necropolítica na formação educacional em territórios de favela Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós graduação em Relações Étnicoraciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFETRJ Rio de Janeiro VARGAS J 2020 Racismo não dá conta antinegritude a dinâmica ontológica e social definidora da modernidade Em Pauta Rio de Janeiro n 45 v 18 p 16 26 Revista da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro