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Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 119 Decolonialidade Atlântico Negro e intelectuais negros brasileiros em busca de um diálogo horizontal Joaze BernardinoCosta Resumo Baseado nas contribuições dos teóricos da decolonialidade e em diálogo com a tradição dos estudos do Atlântico Negro o artigo em busca de uma justiça cognitiva propõe um diálogo horizontal e equitativo entre estas correntes do pensamento políticoacadêmico e os intelectuais negros brasileiros Para o desenvolvimento deste argumento radicalizamos o compromisso do projeto decolonial com a corpogeopolítica do conhecimento bem como propomos uma maior ênfase nas raízes mais do que nas rotas dos estudos sobre o Atlântico Negro Esta afirmação da corpogeopolítica do conhecimento e das raízes é a chave tanto para a afirmação ontológica e epistemológica das populações negras quanto para construirmos um diálogo pluriversal e trans moderno no qual as experiências particulares não se percam nem num provincianismo nem num universo abstrato Palavraschave decolonialidade Atlântico Negro intelectuais negros brasileiros Introdução E ste artigo tem por objetivo propor um diálogo horizontal e simétrico entre as teorias da decolonialidade a tradição do Atlântico Negro e a produção de intelectuais negros brasileiros Por um lado o artigo busca chamar a atenção para o projeto político ético e epistemológico do projeto decolonial e sua relação com a resistência e a luta por reexistência da população negra ao mesmo tempo que reconhece a necessidade de ampliar o diálogo entre o giro decolonial e a busca de emancipação da população negra Por outro lado ao reconhecer a importância da tradição dos estudos sobre o Atlântico Negro o artigo chama a atenção sobre os motivos da ausência de intelectuais negros brasileiros nesta tradição Neste sentido podemos dizer que o artigo chama a atenção para o risco de um duplo apagamento ou dupla invisibilidade seja nas contribuições dos teóricos da decolonialidade seja nos estudos sobre o Atlântico Negro A fim de evitarmos isto buscamos radicalizar a tese da corpogeopolítica do conhecimento presente no coração do projeto decolonial e buscamos enfatizar a importância das raízes roots nos estudos do Atlântico Negro Com base nestas duas ideias corpogeo política do conhecimento e raízes podemos afirmar não somente ontológica mas Doutor em sociologia pela Universidade de Brasília Brasília DF Brasil onde atualmente é professor associado I Editor da Revista Sociedade Estado desenvolve pesquisas sobre feminismo negro teorias póscoloniais e decoloniais Publicações Recentes Saberes subalternos e decolonialidade os sindicatos das trabalhadoras domésticas no Brasil Brasília EdUnB 2015 Pensamento afrodiaspórico e decolonialidade Belo Horizonte Autêntica coorganizado com Nelson Maldonado Torres Ramón Grosfoguel e Angela Figueiredo no prelo Decolonialidade e perspectiva negra Sociedade Estado v 31 n 1 p 1524 2016 A prece de Frantz Fanon oh meu corpo faça sempre de mim um homem que questiona Civitas Revista de Ciências Sociais v 16 p 504521 2016 joazebernardino gmailcom Recebido 201117 Aprovado 190218 doi 101590s0102699220183301005 120 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 também epistemologicamente que os povos foram subjugados pelas hierarquias raciais de classe de gênero sexualidade modernocoloniais Para esta afirmação ontológica e epistemológica dialogamos com uma noção gramsciana de intelectual orgânico a saber pessoas ligadas a determinados gru pos sociais cuja função é criar consciência do papel destes grupos tanto na eco nomia na sociedade e na política Gramsci 1982 Collins 2000 hooks 1995 Todavia inspirados nas contribuições de Anthony Bogues 2015 assumimos que o intelectual negro não apenas funciona como intelectual orgânico como produz um contradiscurso sobre a modernidade ocidental afirmando a agência do sujeito negro bem como sua humanidade num mundo que insiste em desumanizálo Importante assinalar que também pressupomos que nem todos os acadêmicos são intelectuais como nem todos os intelectuais são acadêmicos Mais especificamen te para os propósitos deste artigo entendemos os intelectuais negros como os ativistas professores músicos artistas lideranças religiosas poetas enfim todas aquelas pessoas capazes de construir uma homogeneidade e consciência de grupo para a população negra bem como capazes de apontar os caminhos da resistência e da reexistência Além desta introdução este artigo está dividido em quatro seções Na primeira retomamos o projeto político e epistêmico da decolonialidade a importância da afirmação da corpogeopolítica do conhecimento e a resistência à colonialidade do poder do saber e do ser Na seção seguinte ao perguntarmos onde estão os intelectuais negros no projeto decolonial e na tradição do Atlântico Negro argumentamos pela importância da corpogeopolítica do conhecimento e das ex periências da população negra no âmbito destas correntes políticoacadêmicas Na sequência apontamos para a necessidade de ampliarmos um diálogo equitativo e horizontal entre intelectuais negros brasileiros a decolonialidade e o Atlântico Negro O artigo conclui apontando para a positividade deste diálogo ao mesmo tempo que adverte para o risco do apagamento da corpogeopolítica do conheci mento no projeto decolonial e para o distanciamento das raízes roots no campo de estudo do Atlântico Negro Não obstante o artigo possa ter um tom de advertência este tom é muito mais um convite a um diálogo decolonial em nome da justiça cognitiva Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 121 O giro decolonial a luta contra a colonialidade do poder do saber e do ser O termo giro decolonial foi cunhado primeiramente por Nelson MaldonadoTorres 2007 2008 no âmbito das discussões do Grupo de Investigação Modernidade Colonialidade Escobar 2003 Basicamente o termo referese a um movimento de resistência política e epistêmica à lógica da modernidadecolonialidade Como for mulação analíticoacadêmica ou como elaboração de um gruporede de pesquisa dores o giro decolonial pode ser entendido como um projeto recente No entanto como projeto prático e cognitivo o giro decolonial pode ser encontrado na longa tradição de resistência e tentativa de ressignificação da humanidade articulada pe las populações negras e indígenas e posteriormente por aqueles que Frantz Fanon 2005 nomeou como os condenados da terra A fim de compreender o giro decolonial e o projeto decolonial é fundamental vol tarmos a algumas elaborações centrais dos integrantes da rede de investigação mo dernidadecolonialidade Uma dessas elaborações centrais é o conceito de colonia lidade do poder associado às contribuições de Anibal Quijano 2005 Basicamente colonialidade do poder referese à constituição de um padrão de po der em que a ideia de raça e o racismo se constituíram como princípios organi zadores da acumulação do capital em escala mundial e das relações de poder no sistemamundo Dentro deste sistemamundo modernocolonial cuja formação iniciouse com o encubrimiento del otro nas Américas e com a escravização da população africana a diferença entre conquistadores e conquistados foi codificada a partir da ideia de raça Quijano 2005 Esse padrão de poder não se restringiu so mente ao controle da economiatrabalho mas envolveu o controle da autoridade o Estado e suas instituições da raça do gênero da sexualidade do conhecimento e da natureza Posteriormente às contribuições de Anibal Quijano Walter Mignolo 2003 expan diu a ideia de colonialidade do poder desenvolvendo a ideia de colonialidade do saber enquanto Nelson MaldonadoTorres 2007 desenvolveu o conceito de colo nialidade do ser Antes de avançarmos considero importante sempre lembrar que estamos falando aqui do desenvolvimento analítico dos conceitos uma vez que po demos encontrar essas formulações na tradição do pensamento negro cf Bernar dinoCosta Grosfoguel 2016 A partir dos conceitos de geopolítica do conhecimento e diferença colonial Walter Mignolo 2003 tem explorado como a colonialidade do poder e saber deslegiti 122 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 mam outras formas de conhecimento A chave interpretativa é o conceito de dife rença colonial articulado por missionários espanhóis nas Américas no século XVI ao estabelecerem uma classificação hierárquica entre povos com escrita e povos sem escrita O estabelecimento de uma geopolítica do conhecimento operacionalizada pela ideia da diferença colonial ocorreu simultaneamente ao estabelecimento do domínio co lonial Mignolo 2003 Foi esse domínio colonial que permitiu a alguns definirem a si mesmos como possuidores do conhecimento válido e verdadeiro e a outros como destituídos de conhecimento Deste modo as múltiplas tradições indígenas africanas asiáticas muçulmanas hindus entre outras sofreram um longo processo de deslegitimação no âmbito da modernidadecolonial Central para o estabelecimento da diferença colonial e por conseguinte a divisão entre aqueles que se autointitulam capazes de produzir conhecimento válido e uni versalizável visàvis àqueles incapazes de produzilo é a formulação sintetizada na frase Penso logo existo de René Descartes Em outras palavras como desenvol ve MaldonadoTorres 2007 por trás do Eu penso podemos ler que outros não pensam ou não pensam adequadamente para produzir juízos científicos Duas ideias são fundamentais no Discurso do método de Descartes o solipsismo e o dua lismo corpomente Não só a certeza do conhecimento objetivo e verdadeiro é ge rado a partir de um monólogo interno baseado na desconfiança perante as demais pessoas mas há uma desvalorização das sensações e percepções corporais como possíveis fontes de conhecimento válido No momento da formulação do Discurso do método Descartes inaugura uma tradição de pensamento que se imagina pro duzindo um conhecimento universal sem determinações corporais nem determi nações geopolíticas Em outras palavras passase a acreditar que o conhecimento produzido dentro desta tradição tem validade universal Mesmo que Descartes não tenha definido quem é esse Eu não há dúvidas que esse Eu se refere ao homem europeu mais especificamente àquele localizado acima dos Pireneus como argu mentaria Hegel 150 anos depois Grosfoguel 2012 Além da colonialidade do poder e do saber outro conceito estruturante da rede de investigação modernidadecolonialidade é o conceito de colonialidade do ser Igualmente como os outros dois conceitos que tematizamos acima a colonialida de do ser também pode ser encontrada na tradição do pensamento negro Nel son MaldonadoTorres 2007 contribuiu com o desenvolvimento deste conceito reconhecendo seu débito a Mignolo de quem ele ouviu pela primeira vez o termo Contudo muito antes de Mignolo MaldonadoTorres encontrou elementos para o desenvolvimento do conceito em Enrique Dussel e Frantz Fanon que embora não Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 123 tenham utilizado o termo já tinham apresentado elementos importantes para a teorização do mesmo Ao seguir a análise históricofilosófica de Enrique Dussel 1977 1994 podemos localizar a emergência da colonialidade do ser como fenômeno local e relacionado ao capitalismo mundial na arrogante pergunta de Fernandez de Oviedo son hom bres los índios e no famoso debate no âmbito da Igreja Católica em Valladolid entre Bartolomé de Las Casas e Juan Ginés Sepúlveda entre 15501551 Esse é o momento em que Dussel identifica os vínculos entre ser e totalidade em que a fi losofia está fechada em sua totalização para a exterioridade portanto incapacitada de reconhecer aqueles que se encontram fora de sua totalidade Se Dussel propõe uma análise históricofilosófica da emergência da colonialidade do ser Frantz Fanon a apreende a partir da experiência vivida do negro no mundo moderno Central para a elaboração de Fanon é o encontro entre o sujeito racializado e o ser imperial Ma mãe olhe o preto estou com medo Medo Medo Fanon 2008 105 MaldonadoTorres tomará como central para o desenvolvimento do conceito de co lonialidade do ser novamente o Discurso do método de Descartes O Penso logo existo não esconde somente que os outros não pensam como mencionamos acima mas que os outros não existem ou não têm suficiente resistência onto lógica como menciona Fanon em Peles negras máscaras brancas MaldonadoTor res 2007 A partir da elaboração cartesiana fica clara a relação entre a coloniali dade do saber e a colonialidade do ser ou entre o conhecimento e a existência Em outras palavras o privilégio do conhecimento de uns tem como corolário a negação do conhecimento de outros da mesma forma que a afirmação da existência de uns tem como lado oculto a negação do direito à vida por parte dos outros a desquali ficação epistêmica se converte em instrumento privilegiado da negação ontológica MaldonadoTorres 2007 145 Evidenciase na formulação do conceito de colonialidade do ser a centralidade da raça no sistemamundo modernocolonial como fator estruturante na produção econômica e na produção do conhecimento Raça juntamente com os eixos de po der de gênero e sexualidade atuam articuladamente produzindo desigualdades Como atesta a vasta literatura do feminismo negro hooks 1995 Collins 2000 Car neiro 2005 a colonialidade do poder do saber e do ser produz múltiplas formas de opressão dominação exploração e violência que incidem sobre a mulher negra Diante deste complexo e longo processo de dominação é que se apresenta o projeto decolonial ou giro decolonial que se constitui numa estratégia epistêmica e política de resistência à colonialidade do poder do saber e do ser simultaneamente à tenta 124 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 tiva de estabelecer um novo diálogo entre os sujeitos que experienciam o lado mais escuro e as consequências mais nefastas da modernidade eurocentrada O projeto decolonial aponta para uma dimensão da resistência e reexistência política que vai além dos processos de independências e descolonizações que ocorreram nas Amé ricas no início do século XIX e na segunda metade do século XX na África Ásia e Caribe Em outras palavras o giro decolonial tem como horizonte político concluir o processo incompleto da descolonização seja dos países latinoamericanos seja dos países africanos asiáticos e caribenhos Significa portanto uma confrontação direta das hierarquias raciais de gênero de sexualidade religiosas estéticas etc que estruturam o sistema de dominação e exploração do sistemamundo moderno colonial que denominamos colonialidade do poder Enrique Dussel nomeia esse projeto desde a década de 1970 de transmodernida de entendida como ruptura com a lógica monológica da modernidade a partir do estabelecimento de um diálogo entre as exterioridades da modernidade ou entre os chamados condenados da terra Podemos considerar a transmodernidade como o horizonte a longo prazo a ser al cançado pelo giro decolonial uma vez que ela propõe a ruptura com o padrão de poder modernocolonial e propõe a instauração de um diálogo entre aquelas cultu ras e os povos que foram descartados desvalorizados e julgados como inúteis pela modernidade europeia Em outras palavras Dussel propõe que esse diálogo seja feito entre os críticos das periferias um diálogo intercultural SulSul De forma bas tante didática ele se utiliza da metáfora das conexões subterrâneas existentes nas grandes cidades para exemplificar esse diálogo transversal entre os críticos das pe riferias ou das exterioridades relativas à modernidade como temos falado Diz ele frequentemente os grandes centros têm serviços subterrâneos que vão dos bairros dos subúrbios para o centro mas faltam cone xões entre os subcentros suburbanos Dussel 2016 61 Desta maneira caberia à transmodernidade criar esses diálogos transversais entre as diversas culturas e experiências deslegitimadas pela modernidade europeia Aqui nos deparamos com a crítica ao universalismo abstrato que caracteriza o pro jeto modernocolonial Síntese deste universalismo abstrato pode ser encontrada no Discurso do método Conforme dissemos anteriormente se o Penso logo exis to traz como corolário que outros não pensam e não existem isso significa que somente aqueles que produzem um conhecimento a partir de um monólogo inte rior solipsismo e que não são influenciados pelas experiências e sensibilidades Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 125 locais e corporais dualismo corpomente estão aptos a produzir um conhecimento verdadeiro e válido em qualquer lugar por conseguinte apto a serem universa lizados Esta lógica do universalismo abstrato marca decisivamente não apenas a produção do conhecimento senão outras expressões da vida economia política estética subjetividade relação com a natureza etc Em todas essas esferas nesses mais de 500 anos de história moderna os modelos advindos da Europa e de seu fi lho dileto o modelo norteamericano pósSegunda Guerra são percebidos como o ápice do desenvolvimento humano enquanto as outras formas de organização da vida são tratadas como prémodernas atrasadas e equivocadas Ao contrário deste universalismo abstrato podemos dizer que o projeto transmo derno propõe a pluriversalidade ou um universalismo concreto noções que podem ser apreendidas na carta de desligamento apresentada por Aimé Césaire ao Partido Comunista Francês em meados da década de 1950 Diz Césaire Provincialismo Absolutamente não Não vou me confinar a um particularismo estreito Mas também não pretendo me perder num universalismo desincorporado Há duas maneiras de se per der por meio de uma segregação fechada no particularismo ou por meio da dissolução no universal Minha ideia de universal é um universal rico com todos os particulares uma profunda coexistên cia de todos os particulares Césaire apud Grosfoguel 2012 95 Se o universalismo abstrato é um tipo de particularismo que se estabelece como hegemônico e se apresenta como desincorporado sem pertencimento a qualquer localização geopolítica e desinteressado o universalismo concreto não esconde seu lugar de enunciação suas influências corpopolíticas e geopolíticas O universalis mo apresentado por Césaire permite a coexistência de particulares sem que cada particular precise esconderse por trás de uma ideia abstrata ou desincorporada Diferentemente do universalismo abstrato que estabelece uma relação vertical o universalismo concreto supõe um projeto político que propõe relações horizontais entre as diversas particularidades O universalismo concreto que podemos apreender na carta de afastamento de Césaire equivale ao que estamos nomeando como pluriversalidade ou pluralida de transmoderna Central a esse conceito é em primeiro lugar a importância das determinações corpopolíticas e geopolíticas em segundo lugar a abertura ao diá logo horizontal entre as várias tradições subordinadas pelo universalismo europeu A pluriversalidade transmoderna é um chamado contra a colonialidade do poder e contra o apagamento das múltiplas tradições subalternizadas pela modernidade eurocentrada Grosfoguel 2016 126 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Dentre as muitas tradições apagadas ou invisibilizadas pela modernidade eurocen trada podese mencionar a tradição dos intelectuais negros no Brasil Na próxima seção gostaria de fazer alguns apontamentos para um diálogo mais horizontal entre o projeto decolonial a tradição do Atlântico Negro e os intelectuais negros brasileiros Decolonialidade e Atlântico Negro onde estão os intelectuais negros brasileiros Na afirmação do universalismo concreto ou da pluriversalidade um dos princípios basilares é a afirmação da geopolítica e da corpopolítica do conhecimento isto é a afirmação do lugar de fala bem como das experiências vividas dos sujeitos do conhecimento Enquanto para um conhecimento pretensamente objetivo essa afirmação da geopolítica e corpopolítica pode parecer como ausência de objeti vidade para a tradição do pensamento negro esta evocação do lugar de fala e da experiência vivida tornase um dos critérios de validade do conhecimento bem como uma estratégia de construção de solidariedade Collins 2000 hooks 1995 Carneiro 2005 A afirmação do corpo e da geopolítica do conhecimento corres ponde a afirmação da subjetividade da humanidade daqueles que falam a partir e com o lado mais escuro da modernidade Essa é uma estratégia fundamental contra a colonialidade do conhecimento e a colonialidade do ser Se no âmbito da matriz do poder modernocolonial a desqualificação epistemológica se constitui num me canismo de negação ontológica como afirma MaldonadoTorres 2007 o inver so também é verdadeiro ou seja a afirmação ontológica por meio da geopolítica e corpopolítica do conhecimento tornase um elemento central para a afirmação epistemológica Diante desta urgente necessidade de construirmos um universalismo concreto ou uma pluriversalidade consideramos fundamental trazer as contribuições de inte lectuais negros brasileiros para o cerne das teorizações decoloniais e para o centro da tradição de estudos do Atlântico Negro Embora a escravização da população negra seja tão relevante quanto a servidão da população indígena na constituição da colonialidade do poder do ser e do conhe cimento conforme podemos observar nos vários escritos de Quijano Mignolo e Dussel suas teorizações se centram mais nas experiências dos povos indígenas das Américas É claro que podemos encontrar menções a autores negros e às expe riências de resistência e reexistência nos supracitados autores decoloniais contudo elas são menos influentes se as compararmos com o diálogo estabelecido com os chamados povos originários Por outro lado podemos ver em alguns outros inte grantes deste coletivo uma maior aproximação com intelectuais negros É o caso Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 127 de MaldonadoTorres e Grosfoguel em seus diálogos com as obras de Aimé Césaire Frantz Fanon Oliver Cox Du Bois entre outros bem como suas ligações com o Afri ca Decolonial Research Network e a Summer School on Decolonizing Power Kno wledge and Identity que ocorre na University of South Africa Unisa desde 2013 Nelson MaldonadoTorres constrói uma espécie de passarela entre o projeto aca dêmico da decolonialidade e a Caribbean Philosophical Association CPA da qual ele foi presidente entre 2008 e 2013 Dentro do princípio da afirmação geopolítica e corpopolítica a CPA preconiza uma mudança na geografia da razão shifting geo graphy of reason a partir do Caribe pensado como um lugar de investigação a partir dos múltiplos lados por baixo da modernidade multiples undersides of modernity Diferentemente do chamado grupo de investigação da modernidadecolonialidade ou pelo menos dos três autores supramencionados Dussel Quijano e Mignolo a fonte de inspiração reflexão e teorização da CPA são as histórias da middlepassage dos africanos da diáspora isto é histórias e questões que emergem no contexto das descobertas da conquista da domina ção racial de gênero e sexual do genocídio dependência e explo ração bem como liberdade emancipação e descolonização1 Para a CPA o Caribe emerge como um tropo que traz para o Sul global as experiên cias históricas e atuais de resistência e reexistência contra as hierarquias moder nocoloniais Esse foi o esforço de um intelectual da envergadura de Cyril Lionel Robert James 2004 e seu notável livro sobre o protagonismo de africanos escra vizados sob o comando de Toussaint Louverture um exescravo na conquista da independência de São Domingos em 1804 frente à poderosa armada de Napoleão Bonaparte assim como são os esforços atuais do colossal trabalho de investiga ção de Lewis Gordon 2008 sobre as intervenções e contribuições dos africanos da diáspora à filosofia o que ele nomeia de Africana Studies e os esforços de Paget Henry sintetizados em sua obraprima Calibans reason 2000 Contudo como bem atesta Paget Henry a sua tentativa de trazer a contribuição do Caribe à filosofia teve como obstáculo a barreira linguística Em Calibans reason ba sicamente ele se restringe à análise de escritores filósofos e historiadores caribenhos de língua inglesa e francesa Henry reconhece elegantemente a ausência da expe riência do Caribe hispânico e holandês devido à sua limitação linguística Mais ainda reconhece que o estudo da contribuição filosófica do Caribe ao historicismo uma das teses desenvolvidas em seu livro está somente começando e as experiências do Caribe hispânico e holandês precisam ser trazidas para a mesa de conversação a fim de que todos possamos aprender com suas experiências Henry 2000 274 1 Cf httpwww caribbeanphiloso phicalassociation org 128 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Se podemos ver esta ponte entre o projeto da decolonialidade e o Caribe afrodias pórico qual a participação dos intelectuais negros brasileiros neste diálogo Pode mos construir passarelas de acesso ao projeto decolonial e ao Caribe negro A ausência de intelectuais negros brasileiros não se dá somente no diálogo com o projeto da decolonialidade ou com os intelectuais do Caribe dáse ainda em relação à tradição dos estudos diaspóricos do Atlântico Negro impulsionada pela publicação do influente livro de Paul Gilroy em 1993 Sem sombra de dúvidas a obra de Gilroy teve a virtude de chamar a atenção para a relação triangular entre Europa África e Américas bem como o mérito de propor uma interpretação que não estivesse estrita e limitada às fronteiras nacionais ao contrário propôs uma interpretação baseada nas trocas transnacionais e intercul turais A tese de Gilroy é a de que a vida marítima se movimenta e cruza o Ocea no Atlântico fazendo surgir culturas planetárias híbridas e heterogêneas Gilroy 2001 14 Não somente o Atlântico como um sistema de troca é a unidade de análise para o autor mas o próprio navio descrito como o mais importante canal de comunicação panafricana antes do aparecimento do disco longplay Gilroy 2001 54 Essa imagem do navio ziguezagueando entre África Américas Europa e Caribe fundamenta o argumento do autor em optar mais por rotas do que por raízes2 em sua discussão sobre identidades Fica nítida nas páginas do Atlântico Negro a crítica de Gilroy à ideia de pureza racial unanimidade racial essencialis mo que nas leituras do autor tem um epicentro a versão norteamericana que circula globalmente desenvolvendo um mercado para produtos e uma estética autenticamente negra Como não poderia deixar de ser um livro que impulsiona subsequentes estudos também é objeto de várias críticas A crítica mais recorrente a Paul Gilroy reside em sua ênfase nas rotas routes mais do que nas raízes roots a partir de uma pers pectiva nacionalista a norte americana à qual ele se opõe Essa opção como falamos acima está relacionada à imagem do navio ziguezagueando pelo mar co nectando diferentes localidades da diáspora Entretanto a noção de diáspora e flu xos culturais somente fazem sentido se tiver uma localização espacial um solo uma terra mãe homeland Este é o questionamento de Wumi Raji 2012 em seu con tundente artigo Tornadoes full of dreams Paul Gilroys Black Atlantic and African literature of the transatlantic imagination Diz ele Gilroy celebra o desterramento enfatizando a ideia de viagens Não haveria nenhum problema certamente se ele tivesse perce bido que toda rota tem um ponto de partida e também um de chegada Raji 2012 181 2 Reproduzo aqui o trocadilho de Gilroy entre rotas e raízes pronunciadas da mesma forma em inglês mas escrito de maneira diferente routes e roots Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 129 Entre pontos de partida e pontos de chegada diversas críticas apontam para a ne cessidade de tornar o Atlântico Negro um espaço mais heterogêneo como local de encontro transformação e criatividade de múltiplas raízes roots Deste modo Wumi Raji 2012 reivindica um lugar para a África no Atlântico Negro Ledent CuderDomínguez 2012 requerem a presença da Europa Laura Chrisman 2012 fala da ausência do Caribe negro do Canadá negro e do Brasil Oboe e Scacchi 2008 vão mais longe ao proporem uma expansão para reconstruirmos e dialogarmos com trocas culturais multidirecionais que ocorrem não somente em tor no do Atlântico mas entre África e Europa entre o Atlântico e o Mediterrâneo entre o Oceano Pacífico e o Oceano Índico e dentro das Américas Oboe Scacchi 2008 5 Minha crítica a Paul Gilroy e ao que chamo de tradição dos estudos sobre o Atlân tico Negro reside na ausência dos intelectuais negros brasileiros neste espaço de encontro de transformações e criatividade Obviamente que neste caso específico há um nítido fator impeditivo para Gilroy o idioma O surpreendente é que passa dos praticamente 25 anos da publicação da obra quase nada se avançou no sentido de contemplar os intelectuais negros brasileiros Múltiplos projetos de expansão e remapeamento do Atlântico Negro foram desenvolvidos como por exemplo os projetos de pesquisa que redundaram nas publicações de Oboe e Scacchi 2008 e de Ledent e CuderDomínguez 2012 e pouca coisa foi dita sobre a participação de intelectuais negros brasileiros neste diálogo exceto o artigo de Judith Williams 2008 na primeira coletânea sobre o teatro experimental do negro Ao lado desta crítica considero fundamental chamarmos a atenção para o fato de que Gilroy supõe nas entrelinhas de seu texto que os demais africanos da diáspora são receptores passivos da ideia de raça produzida pelos negros norteamericanos Se essa tese estava nas entrelinhas do Atlântico Negro alguns anos depois ela foi ex posta no livro Against race 2000 Este argumento de Gilroy somente pode receber credibilidade se não conhecermos a dinâmica histórica do que ocorre em cada uma das localidades roots do Atlântico Negro Contrariamente a este argumento de uma suposta passividade de negros e da população afrodiaspórica ao imperialismo cultural dos negros norteamericanos é fundamental a recuperação das sensibili dades e experiências locais às hierarquias raciais e suas combinações com outras hierarquias gênero classe sexualidade etc Novamente é preciso insistirmos com o argumento da importância geopolítica e corpopolítica para a construção do conhecimento Se há comunalidades e diferen ças entre as múltiplas e heterogêneas populações afrodiaspóricas elas se devem às experiências históricas de cada uma destas populações Estas são diferenças e 130 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 comunalidades construídas a partir das experiências vividas por cada uma delas Afirmar a contribuição das múltiplas experiências negras ao diálogo transatlântico bem como ao projeto decolonial constituise numa estratégia para a afirmação on tológica destas populações Mais uma vez argumentamos em favor da necessidade da afirmação epistemológica e ontológica das populações inferiorizadas pela matriz do poder modernocolonial Na parte subsequente deste artigo gostaria de fazer alguns apontamentos a fim de trazer a corpogeopolítica de conhecimento de intelectuais negros brasileiros para o âmbito do projeto decolonial bem como para a tradição do Atlântico Negro Diálogos entre os intelectuais negros brasileiros a decolonialidade e o Atlântico Negro Cabe lembrarmos que entre 1525 e 1867 segundo o Voyages the transatlantic sla ve trade database3 o maior banco de dados sobre o tráfico negreiro transatlântico 3189262 africanos escravizados desembarcaram no Brasil o que corresponde a 367 dos africanos que desembarcaram nas Américas em portos europeus ou em outros portos africanos Tendo como referência países como unidade de compara ção o Brasil foi o país que mais recebeu africanos seguido da Jamaica 934431 Cuba 744020 e São Domingos 694906 Barbados 374886 Estados Unidos 308025 Martinica 174295 Estes dados são importantes para as nossas reflexões sobre o lugar e a participação dos intelectuais negros brasileiros no projeto da decolonialidade e no diálogo do Atlântico Negro Parte do motivo pelo qual as contribuições de intelectuais negros não figuram no âmbito das discussões do projeto decolonial e do Atlântico Negro devese inques tionavelmente a uma barreira linguística Sem embargo precisamos entender me lhor como essa barreira linguística foi construída Primeiramente é fundamental trazermos para nossa análise a ideia de diferença imperial desenvolvida por Mig nolo 2003 que explica a inferiorização da Espanha e de Portugal no conjunto das nações imperialistas Se no século XVI estes dois impérios mais a Espanha do que Portugal eram nações centrais a partir da segunda metade do século XVII come çam a decair em importância econômica política e intelectual cedendo espaços para os Impérios holandeses franceses ingleses e por fim para o imperialismo global norteamericano a partir da segunda metade do século XX Resulta desse fenômeno a queda de importância do espanhol e do português como línguas de comunicação global Mignolo 2003 Sem dúvida esta é uma dimensão importante 3 Voyages é um banco de dados de acesso livre da Emory University Etados Unidos em parceria com a University of Hull Reino Unido a Universidade Federal do Rio de Janeiro Brasil e a Victoria University of Wellington Nova Zelândia Este banco de dados reúne informações sobre quase 36 mil viagens negreiras que embarcaram à força mais de 10 milhões de africanos para serem transportados até as Américas entre os séculos XVI e XIX O número real sendo estimado em até 125 milhões Cf httpwww slavevoyagesorg Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 131 que explicará no século XIX a admiração da elite branca brasileira não mais por Portugal mas pela França e posteriormente pela Inglaterra Se na esfera internacional no plano do concerto das nações ou dos impérios o des prestígio da língua portuguesa é um fato importante para explicar o atual silêncio no plano das teorias da decolonialidade e do Atlântico Negro em relação ao Brasil mais importante e decisivo é compreendermos a dinâmica interna do país fortemente marcado pela matriz de poder modernocolonial O modelo de racismo consolidado no país e escamoteado pela ideia de democracia racial naturalizou até muito re centemente o fato de as universidades brasileiras terem um número baixíssimo de alunos negros o que redunda na ausência de professores e pesquisadores negros que eventualmente pudessem fazer com que suas ideias viajassem pelo Atlântico Negro Esse modelo foi sustentado por um universalismo baseado num sistema de exames supostamente igualitário uma vez que todos tinham e ainda têm que fazer as mesmas provas de admissão para se tornarem alunos das universidades brasileiras Contudo a estrutura social racista tem feito com que a preparação de cada grupo seja desigual produzindo resultados desiguais Wallerstein 1992 Ade mais diferentemente da experiência norteamericana onde foram criadas faculda des e universidades para negros não houve nada semelhante no Brasil posto que foi propagada a crença de que éramos um país integrado e igualitário pois jamais existiram barreiras raciais institucionalizadas entre nós Entretanto essa crença ou mito se preferirmos até hoje não se concretizou Em termos de desigualdades raciais o Brasil é tão desigual ou mais quanto a África do Sul e os Estados Unidos que institucionalizaram a segregação racial O que tivemos como produto foi uma combinação em que pouquíssimos brasilei ros até mesmo os brancos circularam internacionalmente em virtude da bar reira linguística Todavia estes poucos brasileiros que circularam produziram uma imagem do país de acordo com suas sensibilidades e experiências históricas Como menciona Clóvis Moura uma visão do país a partir dos valores da CasaGrande como se não tivesse havido contradições estruturais no sistema escravista e ainda hoje Nenhum outro autor brasileiro foi mais representativo dessa imagem cons truída a partir dos valores da CasaGrande do que Gilberto Freyre como assinala Moura O autor Gilberto Freyre se situa claramente como membro da classe senhorial usando sempre o pronome nós como referencial que determina a sua posição social como narrador Em segundo lugar porque ele decompõe essa realidade retratada em diversos detalhes como se eles os escravos negros se encontrassem numa situação de subalternidade absoluta e satisfeito com a situação 132 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Gilberto Freyre por isso retrata as sensações favoráveis que as classes dominantes escravistas sentiam com esse trabalho escravo a coceira boa do bichodepé a comida posta na boca pela negra e da que transmitiu a sua primeira sensação de amor físico mas não retrata aquilo que os escravos sentiam ao prestar esses ser viços que permitiam a existência parasitária da classe senhorial Transpira ainda do trecho uma visão escravista da mulher negra que serviria apenas como objeto de trabalho e para o amor físico isto é servir de objeto de uso sexual para os filhos dos senhores de engenho e escravos Este posicionamento de Freyre marca toda a sua obra Uma visão compacta do escravismo visto através dos valores da casagrande Moura 1983 88 Essa descrição do Brasil a partir das sensibilidades e experiências geopolíticas e cor popolíticas brancas descreveram na maioria das vezes as capacidades artísticas e religiosas das populações negras como folclóricas e passadistas sem contribuições para o presente e o futuro Salvo raras exceções também não registraram a tradição oral negra e sua resistência contra a opressão a dominação e desumanização Os registros corpogeopolíticos das experiências negras foram realizados por alguns intelectuais negros como por exemplo Clóvis Moura que jamais se tornou um pro fessor universitário e não teve a oportunidade de formar gerações de pesquisado res Estes intelectuais não trataram o registro oral e os fragmentos das enunciações da população negra a exemplo do folclore como se fossem peças de museu fossi lizadas sem participação na dinâmica histórica Ao contrário os intelectuais negros têm considerado os registros orais e as encenações artísticas em geral músicas religiosidade afrobrasileira experiências das populações quilombolas teatro dan ça pintura festejos etc como enunciações culturais e políticas a partir das quais temos construído novas interpretações da sociedade brasileira Este tem sido o desafio para as novas gerações de pesquisadoras e pesquisadores negros trazer não apenas os diversos registros orais e artísticos da população negra para o primeiro plano da interpretação sóciohistórica da sociedade brasileira mas também os próprios trabalhos escritos por intelectuais brasileiros que foram mar ginalizados pela produção hegemônica do conhecimento no país Podemos dizer que na busca dos registros orais e dos escritos de intelectuais bem como no diálogo com os atuais intelectuais negros deparamonos com uma produção a partir da cor pogeopolítica do conhecimento ou seja uma produção intelectual que traz para a análise as experiências vividas do intelectual negro Podemos encontrar estas intervenções e contribuições corpopolítica e geopolítica por exemplo nos intelectuais e ativistas da passagem do século XIX para o XX tais Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 133 como Luiz Gama Maria Firmina dos Reis José do Patrocínio André Rebouças Lima Barreto cf Chalhoub Pinto 2016 Também podemos nos deparar com esse tipo de contribuição nas intervenções do Teatro Experimental do Negro e as contribui ções de Abdias do Nascimento e Guerreiro Ramos em meados do século passa do Da mesma forma trazem contribuições semelhantes a geração dos anos 1970 1980 e 1990 representadas por Beatriz Nascimento Lélia Gonzáles Sueli Carneiro Eduardo de Oliveira e Oliveira e outros Por exemplo Eduardo de Oliveira e Oliveira argumenta na mesma direção que esta mos apontando propondo mesmo a criação de uma sociologia negra Vivemos num mundo onde a cor a etnicidade e a classe social são de primordial importância sendo assim impossível ao cientista e em particular ao cientista negro manter uma neutralidade valo rativa São estas considerações que nos levam a ideia de uma sociologia negra ou uma historiografia economia antropologia negras etc Ela surge como reação e revolta contra o viés da so ciologia principal burguesaliberal como um passo positivo para o estabelecimento de definições básicas conceitos e construções que utilizam a experiência histórica dos afrobrasileiros Oliveira e Oliveira 1977 26 Estes intelectuais não estavam somente intervindo na luta contra a colonialidade do poder do ser e do conhecimento no âmbito nacional senão participando desta luta no plano internacional bem como se solidarizando com as populações afrodiaspó ricas construindo conexões com o Atlântico Negro Por exemplo André Rebouças 18381898 após a queda da monarquia no Brasil 1888 exilase na Europa e em seguida faz uma viagem pela África entre 18911893 ocasião em que escreve cartas a colegas brasileiros assinando como o negro André ou o Ulisses africano onde sugere um diálogo com o panafricanismo em gestação nos Estados Unidos no mes mo período Mattos 2016 Outro Exemplo é Abdias do Nascimento 19142011 que durante seu exílio nos Estados Unidos devido à ditadura política no país lecio nou na State University of New York em Buffalo e na Universidade ObafemiAwalo wo antiga Universidade IléIfé na Nigéria Neste período esteve em diálogo com ideias e com intelectuais da África Caribe e Estados Unidos Além disso envolveuse no diálogo contra o apartheid na África do Sul e acompanhou a luta pela descolo nização de Moçambique e Angola Nascimento 2002 Lélia Gonzáles 19351994 também circulava o Atlântico Negro acompanhava as lutas políticas na África do Sul e Namíbia participava de mesas redondas com feministas negras norteamericanas e tinha contato com o movimento afrocaribenho afrocolombiano afroperuano etc Gonzáles 1988 134 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Estes e muitos outros intelectuais negros tem estado em diálogo com o Atlântico Negro a partir de suas experiências e sensibilidades históricas Se podemos encon trar um registro do terror racial em seus escritos também podemos nos deparar com múltiplas e heterogêneas reações e resistências às hierarquias raciais cuja ex pressão mais fidedigna são os quilombos Gonzáles 1988 78 A ênfase dos intelectuais negros brasileiros seja ante o conhecimento científico acadêmico hegemônico seja diante do projeto decolonial e da tradição dos estu dos do Atlântico Negro é não se perder no universalismo mas também não se fechar no provincialismo como menciona Césaire A fim de que construamos um universalismo concreto que permita a coexistência de particulares sem que cada particular precise se esconder atrás de uma ideia abstrata ou desincorporada é preciso afirmar a corpogeopolítica do conhecimento Esse ato de afirmação onto lógica é também um ato de qualificação epistemológica para a participação de inte lectuais negros brasileiros no projeto decolonial bem como na tradição de diálogos do Atlântico Negro Conclusão A discussão acima constituise num chamado ao diálogo mais horizontal Tal qual propõe Dussel é preciso construirmos conexões entre os múltiplos subcentros su burbanos Mas a condição primeira da possibilidade deste diálogo é a afirmação ontológica dos condenados da terra Somente se esta condição for atendida é que poderemos falar em uma qualificação epistemológica dos saberes que outrora fo ram desqualificados e descartados pela colonialidade do saber Tanto a afirmação ontológica como a epistemológica são precondições para pensarmos a decoloniali dade do poder e caminharmos rumo à transmodernidade Tanto o projeto da decolonialidade quanto a tradição do Atlântico Negro não po dem se perder em formulações genéricas sob o risco de incorrerem não mais num universalismo abstrato tal qual caracterizou a ciência modernocolonial senão em generalizações que colocam sob determinados guardachuvas experiências muito diversas Da mesma forma que o substantivo América Latina é muito largo e escon de as experiências de intelectuais negros brasileiros o mesmo vale para os estudos do Atlântico Negro A radicalização do giro decolonial ou do projeto da decolonialidade requer a urgente necessidade da afirmação da corpopolítica do conhecimento bem como das raízes roots para que possamos construir espaços horizontais de diálogo e não correr mos o risco de voltarmos ao universalismo abstrato Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 135 Decoloniality Black Atlantic and black intellectuals in Brazil in search of a horizontal dialogue Abstract Based on the contributions of decoloniality theorists and in dialogue with the tradition of Black Atlantic studies the article in search of a cognitive justice proposes a horizontal and equita ble dialogue between these two politicalacademic thinking fields and Brazilian black intellectuals For the development of this argument we radicalized the commitment of the decolonial project with the bodygeopolitics of knowledges assumption as well as proposing a greater emphasis on roots rather than on routes in studies of the Black Atlantic This affirmation of the bodygeopol itics of knowledge and roots is the key to the ontological and epistemological affirmation of black populations as well as to construct a multiversal and transmodern dialogue in which particular experiences are not lost in a provincialism or in an abstract universalism Keywords decoloniality Black Atlantic Brazilian Black intellectuals Referências BERNARDINOCOSTA J GROSFOGUEL R Perspectiva negra e decolonialidade Re vista Sociedade e Estado v 31 n 1 p1322 2016 BOGUES A Black heretics black prophets radical political intellectuals New York London Routledge 2015 CARNEIRO S A construção do outro como nãoser como fundamento do ser Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universida de de São Paulo São Paulo 2005 CHALHOUB S PINTO A F M Orgs Pensadores negros pensadoras negras Bra sil séculos XIX e XX Cruz das Almas Belo Horizonte Editora UFRB Fino Traço 2016 CHRISMAN L Whose black world is this anyway Black atlantic and transnational studies after The Black Atlantic In LEDENT B CUDERDOMÍNGUEZ P Eds New perspectives on the black atlantic definitions readings practices dialogues Bern Peter Lang 2012 COLLINS P H Black feminist thought knowledge consciousness and politics of em powerment New York London Routledge 2000 DUSSEL R Trasmodernidade e interculturalidade interpretações a partir da filoso fia da libertação Revista Sociedade e Estado v 31 n 1 p 4971 2016 1492 el encubrimiento del otro hacia el origen del mito de la modernidade Bolivia Plural Editores 1994 Filosofia de la liberación Mexico Edicol 1977 136 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 ESCOBAR A Mundos y conocimientos del otro modo el programa de investigación de modernidadcolonialidade latinoamericano Tabula Rasa n 1 p 5186 2003 FANON F Pele negra máscaras brancas Salvador Edtora UFBA 2008 Os condenados da terra Juiz de Fora Editora UFJF 2005 GILROY P Against race imagining political culture beyond the color line Cambridge MA Harvard University Press 2000 O Atlântico Negro São Paulo Editora 34 2001 GONZÁLEZ L A categoria políticocultural de amefricanidade Tempo Brasileiro n 9293 p 6982 1988 GORDON L Introdution to africana philosophy Cambrigde Cambrigde University Press 2008 GRAMSCI A Os intelectuais e a organização da cultura Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1982 GROSFOGUEL R A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas racismosexismo epistêmico e os quatro genocídiosepistemicídios do longo século XVI Revista Sociedade e Estado v 31 n 1 p 2347 2016 Decolonizing werstern universalisms decolonial pluriversalism from Aimé Césaire to the Zapatistas Transmodernity Journal of Peripheral Cultural Production of the LusoHispanic World v 1 n 3 p 88104 2012 HENRY P Calibans reason introducing afrocaribbean philosophy New York Lon don Routledge 2000 HOOKS B Intelectuais negras Estudos Feministas v 3 n 2 p 464469 1995 JAMES C R L Jacobinos negros Toussaint LOuverture e a Revolução de São Domin gos São Paulo Boitempo 2004 LEDENT B CUDERDOMÍNGUEZ P Eds New perspectives on the black atlantic definitions readings practices dialogues Bern Peter Lang 2012 MALDONADOTORRES N Descolonización y el giro descolonial Tabula Rasa n 9 p 6172 2008 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 137 Sobre la decolonialidade del ser contribuciones al desarrollo de un con cepto In CASTROGOMEZ S GROSFOGUEL R Orgs El giro decolonial reflexio nes para una diversidad epistémica mas allá del capitalismo global p 127167 Bo gotá Siglo del Hombre Editores Universidad Central Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos Pontificia Universidad Javeriana Instituto Pensar 2007 MATTOS H André Rebouças e o pósAbolição entre a África e o Brasil 18881989 In CHALHOUB S PINTO A F M Orgs Pensadores negros pensadoras negras Brasil séculos XIX e XX p 129143 Cruz das Almas Belo Horizonte Editora UFRB Fino Traço 2016 MIGNOLO W Histórias locaisprojetos globais colonialidade saberes subalternos e pensamento liminar Belo Horizonte Editora UFMG 2003 MOURA C Brasil raízes do protesto negro São Paulo Global 1983 NASCIMENTO A O quilombismo Brasília Rio de Janeiro Fundação Cultural Palma res OR editor 2002 OBOE A SCACCHI A Eds Recharting the black atlantic modern cultures local communities global connections New York London Routledge 2008 OLIVEIRA E OLIVEIRA E Etnia e Compromisso Intelectual II Caderno da Semana de Estudos sobre a Contribuição do Negro na Formação da Sociedade Brasileira p 22 28 Niterói Universidade Federal Fluminense 1977 QUIJANO A Colonialidade do poder eurocentrismo e América Latina In LANDER E Org A colonialidade do saber eurocentrismo e ciências sociais p 227278 Perspectivas latinoamericana Buenos Aires Clacso 2005 RAJI W Tornadoes full of dreams Paul Gilroys Black Atlantic and African literature of the transatlantic imagination In LEDENT B CUDERDOMÍNGUEZ P Eds New perspectives on the black atlantic definitions readings practices dialogues p 173 194 Bern Peter Lang 2012 WALLERSTEIN I La creación del sistema mundial moderno In PEÑA L B JARAMIL LO R Orgs Un mundo jamás imaginado p 18 Bogotá Editorial Santillana 1992 WILLIAMS J M Négritude as performance practice Rio de Janeiros Black experi mental theatre In OBOE A SCACCHI A Eds Recharting the black atlantic mo dern cultures local communities global connections p 4557 New York London Routledge 2008 Prealgebra multiplication problem 15 59 given with answer options a 84 b 74 c 74 d 154 shown below The image also includes colorful decorative elements and text boxes ISSN 21792984 Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 72 EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu EDUCATION AND DECOLONIALITY The history of Africa and diaspora away from the european look Serinaldo Oliveira Araújo1 Maria do Carmo Rebouças dos Santos2 RESUMO Esta pesquisa traz reflexões preliminares para repensar a introdução do ensino da história da África e diáspora negra no currículo escolar a partir da perspectiva dos próprios africanos privilegiando seus fundamentos epistemológicos e herança intelectual como estratégia e possibilidade de descolonização de saberes eurocêntricos oficiais e dominantes que silenciam e reduzem as produções de outros saberes a um conjunto de representações estereotipadas tornando necessárias medidas de intervenção que possam insurgir e resistir promovendo outras epistemologias e práticas docentes Tratase de pesquisa de caráter qualitativo combinada com revisão bibliográfica Tendo como fundamento teórico o marco decolonial Como resultado esperase desvelar as dimensões básicas da colonialidade do saber no currículo escolar e apresentar uma possibilidade de intervenção decolonial na Educação Básica a partir de uma pesquisa que tem sido desenvolvida no Programa de PósGraduação em Ensino das Relações ÉtnicosRaciais PPGER da Universidade Federal do Sul da Bahia UFSB Palavraschave Decolonialidade História Africana Educação ÉtnicoRacial ABSTRACT This research brings preliminary reflections to re think the introduction of the teaching of the history of Africa and the black diaspora in the school curriculum from the perspective of Africans themselves privileging their epistemological foundations and intellectual heritage Such attitude is an attempt of decolonizing dominant Eurocentric knowledge which silence and reduce the production of other knowledge to a set of stereotyped representations This is a qualitative research based on the decolonial framework as its theoretical foundation As a result it is expected to reveal the basic dimensions of the coloniality of knowledge in the school curriculum and to present a 1 Especialista em Docência de Gênero e Sexualidade e Mestrando do Programa de Pós Graduação em Ensino e Relações Étnicos Raciais PPGER UFSB Professor de História da Educação Básica Email odlanireshotmailcom 2 Doutora em Desenvolvimento Sociedade e Cooperação Internacional pelo Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinar da Universidade de Brasília Professora Adjunta do Curso de Direito e professora credenciada do Programa de PósGraduação em Ensino e Relações Étnicos Raciais na Universidade Federal do Sul da Bahia PPGERUFSB Email mariadocarmoufsbedubr ARTIGO Recebido em 03042020 Aprovado em 25052020 Publicado em 23122020 EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 73 possibility of decolonial intervention in Basic Education from a research that has been developed in the Postgraduate Program in Teaching Ethnic and Racial Relations PPGER from the Federal University of Southern Bahia UFSB Keywords Decoloniality African history Racial Ethnic Education 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa traz reflexões preliminares de estudo em andamento no Programa de PósGraduação em Ensino e Relações ÉtnicoRaciais PPGER na UFSB Universidade Federal do Sul da Bahia Campus Sosígenes Costa na área de Pós Colonialidade e Fundamentos da Educação tendo como proposta a introdução da perspectiva decolonial na educação básica De caráter qualitativo combinada com revisão bibliográfica esta pesquisa problematiza se a abordagem da história da África dos africanos e negros e negras no Brasil tem proporcionado aos brasileiros o conhecimento de sua ancestralidade e herança intelectual africana ou contribuído para manutenção de uma educação eurocêntrica e perpetuação do racismo E a partir da análise teórica decolonial pensar estratégias por perspectivas de autores negroas e africanoas como metodologia de pertencimento e ancestralidade Assim edificar um ponto de vista a partir do olhar do próprio continente e dos povos negros A proposta é repensar a História da África e diáspora negra a partir da perspectiva decolonial A teoria Decolonial nos propõe estratégias de resistência política e principalmente epistêmica nos permite desvelar como a colonialidade opera e como os sujeitos colonizados a vivenciam ao mesmo tempo que nos dá ferramentas conceituais para insurgirmos resistirmos e avançarmos a descolonização Avançar a descolonização no âmbito desta pesquisa é legitimar saberes não instituídos memórias e histórias não contadas bibliografias africanas e diaspóricas seus fundamentos epistemológicos e herança intelectual ir além dos saberes eurocêntricos oficiais e dominantes que silenciam e reduzem as produções de outros saberes a um conjunto de representações estereotipadas ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 74 2 DECOLONIALIDADE Em seu livro Cultura e Imperialismo o autor Edward Said 1995 um dos mais importantes pensadores póscoloniais3 nos faz perceber como a literatura europeia foi usada no período de colonização e imperialismo para justificar sua política expansionista principalmente no continente africano e asiático Tramasromances consolidavam narrativas e sustentavam estereótipos Para Said o que há de marcante nesses discursos são as figuras retóricas que encontramos constantemente em suas descrições do Oriente misterioso os estereótipos sobre o espírito africano ou indiano irlandês jamaicano chinês as ideias de levar a civilização a povos bárbaros ou primitivos a noção incomodamente familiar de que se fazia necessário o açoitamento a morte ou um longo castigo quando eles se comportavam mal ou se rebelavam porque em geral o que eles melhor entendiam era a força ou a violência eles não eram como nós e por isso deviam ser dominados SAID 1995 p 02 Nestes termos romances europeus defendiam e contribuíam às ideias colonialistas e imperialistas e na atualidade narrativas como essas contribuem a colonialidade Desse modo a história e diáspora africana não devem ser interpretadas apenas por uma luta pela terra e por quem nela poderia se estabelecer é também uma luta pela linguagem pelo poder de narrar O continente não sofreu apenas a invasão estrangeira mas teve sua história sujeitada por uma narrativa eurocêntrica que atendia e consolidava a política de dominação europeia SAID 1995 Portanto é o poder de narrar ou a interdição de outras narrativas que constituíram historicamente a alusão a África a terras distantes e exóticas dos seus nativos a selvagens e indolentes e de suas culturas a total oposição a cultura branca europeia 3 Como afirma Costa 2006 o póscolonialismo enquanto corrente ou escola de pensamento compartilha em meio as suas múltiplas perspectivas um discurso de rompimento da hegemonia dos sujeitos e narrativas contemporâneas desfazer essencialismo e com conhecimento critico incidir contra a modernidade e as concepções dominantes EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 75 Ora logo se percebe que é necessário refazermos o percurso reaprender a história da África longe do olhar estrangeiro Pensar a história e diáspora africana pela contribuição de intelectuais negros e de estudiosos decoloniais preferencialmente africanos negras e negros com agendas próprias e sólidas bibliografias por um ponto de vista africano KIZERBO 2010 A perspectiva decolonial surge justamente em contraposição a colonialidade por meio de práticas e insurgências que incidem sob a matriz eurocentrada do conhecimento e nos permite pensar outras narrativas e legitimar outros saberes e sujeitos Este pensamento que é fomentado na América Latina na década de 1990 surge como crítica teórica à medida que sugere pensar a América Latina diáspora africana e descolonização preferencialmente a partir de narrativas próprias não tendo mais a Europa como matriz única e hegemônica do conhecimento A teoria decolonial permitenos identificar os modos pelos quais os sujeitos colonizados experienciam a colonização ao mesmo tempo em que fornece ferramentas conceituais para progredir a descolonização MALDONADO 2018 O pensamento decolonial inicialmente se relaciona as insurgências e resistências protagonizadas pelo povo indígena e afrocaribenho surge portanto nos processos de independência contraposição ao colonialismo e imperialismo europeu SANTOS 2018 Contudo como se diferencia descolonização e decolonialidade ou Colonialismo e Colonialidade Em linha com Santos 2018 p 02 primeiramente é relevante pontuar que as diferenciações postas por estes termos se articulam como teóricas e políticas A descolonização é compreendida como os movimentos de revolução e luta que reivindicavam a sua independência política e econômica Ela é a luta contra o processo de colonização que se refere a formação histórica das colônias em que os europeus invadiram saquearam escravizaram e desumanizaram os povos originários nas Américas África e Ásia MALDONADO 2018 A decolonialidade por sua vez se trata de um pensamento que luta e combate a colonialidade em suas dimensões mais distintas epistêmicas ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 76 simbólicas e materiais A colonialidade é compreendida historicamente como a lógica global que por uma hierarquia racializada desumaniza e determina socialmente os papeis dos sujeitos mesmo na ausência das colônias formais MALDONADO 2018 WALSH 2019 Ela é difusa e opera por três dimensões ser saber e poder A colonialidade do saber do ser e do poder são os três componentes fundamentais da modernidadecolonialidade e cada um deles faz referência ao sujeito corporificado a subjetividade é comum as três dimensões Assim o sujeito é um campo de luta e um espaço que deve ser controlado e dominado para que a coerência de uma visão de mundo continue estável MALDONADO 2018 p 43 A Colonialidade do saber é um dos pontos centrais das discussões decoloniais pois ela trata da dimensão da linguagem que é parte constitutiva da subjetividade intrinsicamente ligada a maneira como os sujeitos se expressam expõem suas ideias experenciam os seus sentimentos e se relacionam Pelo discurso de dominação a colonialidade do saber seleciona e desloca sujeitos e saberes a marginalidade cria impossibilidades para que os condenados da terra4 assumam a posição de produtores de conhecimento e possam acender intelectualmente Estamos tratando de mecanismos de poder que operam por meio de discursos e controle social que sustentam a matriz eurocentrada que pretende uma assepsia uma espécie de eugenia epistemológica aversa a intelectuais e outras formas de conhecimento que não façam parte do sistema hegemônico branco europeu misógino e racista Perceber como esses discursos são forjados e os interesses de quem ele atende é essencial para criarmos dissidências e contradiscursos Para isso mobilizamos Michel Foucault filósofo historiador e crítico literário francês que mesmo de matriz europeia nos fornece ferramentas conceituais para percebermos como o discurso é útil à dominação e controle social logo a colonialidade 4 Referência a obra Condenados da Terra publicada pela primeira vez em 1961 escrita por Franz Fanon psiquiatra ensaísta e filósofo da Martinica envolvido na luta de independência da Argélia e um dos mais importantes pensadores do século XX Autor essencial para pensarmos colonização e decolonialidade EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 77 3 DISCURSO BIOPODER E EPISTEMICÍDIO Michel Foucault na ordem do discurso em seu pronunciamento na aula inaugural no Collège de France em 2 de dezembro de 1970 onde foi professor provocanos ao dizer que os discursos proliferam indefinidamente ao mesmo tempo que é precedido por uma série de conflitos interesses e formas já ritualizadas de exercício de poder Ele supõe que em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada selecionada organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes perigos dominar seu acontecimento aleatório esquivar sua pesada e temível materialidade FOUCAULT 2014 p 08 O autor apresenta o discurso como um dispositivo de poder como procedimento capaz de gerar exclusões interdições separações e rejeições Neste sentido a proposta é mobilizar aspectos do conceito de discurso em Foucault para pensarmos os processos de exclusão interdição e rejeição do negro no Brasil O conceito de discurso nos dá subsídios para desvelar que o racismo e silenciamento da história e do protagonismo negro no Brasil não são acontecimentos aleatórios tratase de uma estratégia de dominação de poder reiterada pela seleção e organização minuciosa das narrativas que principalmente no currículo5 escolar exclui interdita separa e rejeita o legado africano e diaspórico O discurso e neste sentido o currículo instituições e meios de comunicação se constituem como um campo de disputa estratégico com potencialidade de contribuir aos ferimentos servidão e dominação mas com possibilidade de serem reiterados úteis ao enfretamento do racismo e silenciamento dos saberes outros interditados e rejeitados pelas narrativas dominantes eurocentradas 5 O currículo não como algo estático normativo e oficial e sim um currículo vivido e dinâmico que está relacionado a toda a comunidade escolar e as relações que ela proporciona ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 78 Ainda que a ausência do legado africano e dos povos negros nos livros didáticos pareça ingênua ela revela sua ligação com o poder que tem desta maneira capacidade de incidir sob o que nos é tão caro a produção e aquisição de conhecimento Tratase de uma produção com bases epistêmicas em Europa que impõe toda sorte de empecilhos para que a ancestralidade legado e intelectualidade negra não tenham visibilidade Outro conceito de Foucault que permite uma análise desse processo de apagamento histórico da produção de conhecimento dos povos negros no Brasil é o de biopoder O autor em outros cursos ministrados no Collège de France durante a década de 1970 anunciava a emergência de um novo tipo de poder social que sucederia as sociedades disciplinares analisadas por ele As sociedades disciplinares se constituíam pela ação sobre os indivíduos sobre os corpos dos indivíduos Contudo em um processo de transição dava lugar a um novo tipo de poder social que não age em sujeitos individuais mas se estende sobre as populações grandes grupos sociais de maneira mais sutil e sofisticada tratase de um poder sobre a vida o qual ele chamou de biopoder FOUCAULT 1999 Esta outra perspectiva de poder amplia o controle e sujeição impostas pelos dominantes aos condenados da terra aqueles que são sujeitados e em uma hierarquia racializada tem seus lugares e posições previamente determinados Ele se estende ao currículo escolar e a cultura à medida que os negros e negras são representados de maneira folclorizada em papeis secundários e irrelevantes A filósofa escritora e ativista Sueli Carneiro a partir das perspectivas de Foucault aliada ao conceito de epistemicídio do autor Boaventura Souza Santos6 membro do grupo ColonialidadeModernidade que tem fomentado na América Latina os estudos decoloniais que usa esse termo desde uma das suas mais importantes obras Pela mão de Alice7 aponta em sua tese de doutorado A construção do outro como nãoser como fundamento do ser8 que a 6 Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de WisconsinMadison 7 Pela mão de Alice o social e o político na transição pósmoderna publicada pela primeira vez em 1994 procura de maneira organizada refletir sobre os diferentes modos de vivermos em sociedade 8 Tese de doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação da Universidade de São Paulo em 2005 EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 79 biopolítica e os discursos eurocentrados sequestram subjugam e mutilam a capacidade de nós negros aprendermos ferindo de morte a nossa racionalidade O espistemicídio se constitui como um processo contínuo de produção da inferiorização e negação das maiorias minorizadas9 de sobremaneira os negros tratase de um aparato eficaz que subjuga de maneira étnicoracial à medida que nega o conhecimento produzido pelo outro No que diz respeito ao conceito de espistemicídio a autora ainda nos diz Para nós porém o epistemicídio é para além da anulação e desqualificação do conhecimento dos povos subjugados um processo persistente de produção da indigência cultural pela negação ao acesso à educação sobretudo de qualidade pela produção da inferiorização intelectual pelos diferentes mecanismos de deslegitimação do negro como portador e produtor de conhecimento e de rebaixamento da capacidade cognitiva pela carência material eou pelo comprometimento da autoestima pelos processos de discriminação correntes no processo educativo CARNEIRO 2005 p 97 A autora compreende que ao passo em que os conhecimentos história e protagonismo negro são desqualificados se exclui e silencia coletivamente os seus indivíduos tendoos como sujeitos incognoscentes Diante dos conceitos apresentados vemos que a destituição do conhecimento de nossa história se desvela pela negação da racionalidade do outro ou pela assimilação cultural que em outros casos lhe é imposta CARNEIRO 2005 p 97 Notamos a relação de racialidade e biopoder imbricadas em características que tendem a normalizar matar anular quaisquer conhecimentos que não compartilhem que não sejam de matriz eurocentrada Controlando portanto não somente o acesso ao conhecimento mas exercendo o controle coletivo sobre corações mentes ancestralidades e legados Ora os conceitos de discurso e biopoder aliados ao espistemicídio conceito de Boaventura Souza Santos evocado aqui pela autora Sueli Carneiro permitinos pensar sobre a política de apagamento da qual a nossa gente negra vem sendo vítima Situação que compromete a relação dos negros e negras no 9 Construto do autor Richard Santos 2018 professor Adjunto do Instituto de Humanidades Artes e Ciências IHAC e professor credenciado do Programa de PósGraduação em Ensino e Relações ÉtnicosRaciais na Universidade Federal do Sul da Bahia PPGERUFSB ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 80 Brasil com a educação e reverbera em práticas racistas e desigualdades socias Os conceitos permitinos ainda uma percepção da condição do alunoa negrao na escola e a partir disso pensar práticas que lhes dê visibilidade e acesso a história de seu povo Para além disso rompermos com a estratégia racista de dominação e hierarquização racial que relaciona a nossa capacidade intelectual a diferença étnicoracial 4 EDUCAÇÃO E RAÇA A diferença racial é algo que se evidencia principalmente na escola porém ela pode ser um lugar perverso de proliferação do racismo e violência simbólica10 mesmo após a criação e aprovação da Lei nº 10639 de 9 de janeiro de 2003 que altera a Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir e tornar obrigatório no currículo escolar da educação básica estabelece que o estudo da História da África e dos africanos a luta dos negros no Brasil a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social econômica e política pertinente à História do Brasil BRASIL 2004 p 9 Além da própria Lei nº 106392003 houve posteriormente a elaboração do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o ensino de história e cultura afro brasileira e africana BRASIL 2004 Tratase de um indutor de uma política educacional voltada para relações étnicoraciais que detalha ações metas e períodos para implementação efetiva da Lei 96392003 Contudo nas escolas ainda existem dificuldades em proporcionar uma educação para relações étnicoraciais Por vezes ela é proposta a partir de saberes eurocêntricos que abordam a história da África negros e negras de maneira folclorizada reduzindoas a relações subalternizadas o que pode 10 Violência simbólica é um conceito social elaborado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu o qual aborda uma forma de violência exercida pelo corpo sem coação física causando danos morais e psicológicos EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 81 acarretar em diversos problemas como a perpetuação do racismo nas escolas a desidentificação dos sujeitos e a evasão escolar Sabese que uma prática docente de perspectiva eurocentrada que não proporcione acesso às culturas memórias e ancestralidade africana torna a escola desinteressante e pode contribuir para o aumento dos índices de repetência e evasão escolar dos estudantes negros por não se identificarem com o currículo e saberes instituídos ORIÁ 2005 Esses problemas podem conferir à escola um tipo de racismo condescendente haja vista uma abordagem da História da África de maneira reducionista como elemento de um passado remoto que a impede de ser vista e problematizada na contemporaneidade ZUBARAN SILVA 2012 Outro desafio posto é a negação que os estudantes fazem da sua própria descendência decorrente da maneira que os negros são apresentados nas atividades escolares geralmente personagens secundários de lugares periféricos ou associados exclusivamente à escravização fazendo com que estudantes se identifiquem com a narrativa do colonizador gerando a desindentificação dos sujeitos negros MUNANGA 2004 SANTOS 2018 A autora pedagoga e umas das mais importantes intelectuais brasileiras Nilma Lino Gomes concluiu em 2012 uma pesquisa que tinha por objetivo verificar em escolas de diferentes regiões o andamento da implementação da Lei 106392003 Gomes pôde constatar justamente o que já foi ratificado aqui a dificuldade das instituições escolares em efetivar a Lei A autora nos diz o seguinte Podese afirmar que não existe uma escola dentre as 36 participantes da pesquisa que tenha realizado essa mudança política e epistemológica na sua totalidade Dado a complexidade da questão racial no Brasil no que diz respeito à educação escolar tal mudança ainda não é possível de se verificar nos currículos e nas práticas pedagógicas existentes na educação básica atual Mas podese afirmar que as escolas com enraizamento intenso e mediano se aproximam mais desse movimento Essa situação se dá menos pela existência de um debate e uma reflexão profunda entre osas própriosas docentes gestoresas e pedagogosas que protagonizam as práticas na perspectiva da Lei 1063903 e mais pelo senso de justiça social desenvolvidos por esses sujeitos GOMES 2012 p 350 ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 82 Implementar uma educação para relações étnicosraciais é portanto um esforço de trazer à comunidade negra no Brasil o conhecimento de sua história e legado e neste sentido não podemos continuar nos escondendo atrás de um currículo escolar que silencia impõe estereótipos e lida de maneira desigual preconceituosa e discriminatória com as diferenças presentes na escola MUNANGA GOMES 2006 p 24 Não ficar escondido por detrás do currículo é propor bibliografias que apresente a história do continente africano e dos povos negros livre de estereótipos apresentar suas sociedades organizadas e diversas técnicas e tecnologias é retificar e ratificar que a África tem uma história e que não se resume ao tráfico de pessoas escravizadas e à pobreza KIZERBO 2010 Para além de traçar e compreender a história da África através de sua população povoamentos coexistência humana com a natureza sociedades duradouras e da defesa e resistência à agressão estrangeira é necessário que a prática docente possa internalizála e suscitar pertencimentos OLIVA 2003 pois a História da África encontra no Brasil um ponto convergente seu legado preenche uma lacuna na compreensão do processo da formação do povo brasileiro caso contrário segundo Oliveira 2009 permitiremos que o processo de ensinoaprendizagem continue a ser alienado vítima da dominação cultural que silencia e sujeita a cultura negra e africana a um conjunto de representações estereotipadas 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao problematizarmos a desqualificação e marginalização da história africana diáspora e protagonismo negro no Brasil nos deparamos com a lógica da colonialidade A partir dos conceitos de discurso e biopoder em Foucault notamos que a modernidade e colonialidade estão imbricadas tendo como característica proeminente dessa relação a diferença racial O discurso de desqualificação dos povos negros e a interdição de suas narrativas e produções intelectuais ou seja o epistemicídio faz parte da colonialidade do saber dimensão que incide sob o ensino currículos e seleção dos saberes propostos nos espaços formais e informais de educação EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 83 Em contraposição apresentamos o pensamento decolonial como ferramenta teórica perspectiva em fomento na América Latina que contradita as concepções dominantes por meio da produção de conhecimento crítico que combate essencialismos a partir da voz dos sujeitos históricos antes subalternizados Este pensamento nos impõe para além das reflexões a prática A práxis desta maneira se caracteriza pela produção intelectual crítica em contraposição aos saberes hegemônicos e pela visibilidade que podemos dar ao protagonismo negro e sua contribuição a formação do Brasil permitindo ao mesmo tempo que negros e negras tenham acesso a sua história e legado constituindo resistência a lógica colonial e racista REFERÊNCIAS BRASIL Conselho Nacional de Educação Resolução No 1 de 17 de junho de 2004 Brasília DF dez 2004 Disponível em httpportalmecgovbrcnearquivospdfres012004pdf Acesso em 10 nov 2019 CARNEIRO Sueli A construção do outro como nãoser como fundamento do ser 2005 Tese Doutorado em Educação Universidade de São Paulo São Paulo 2005 COSTA Sérgio Dois Atlânticos teoria social antiracismo e cosmopolitismo Belo Horizonte Editora UFMG 2006 GOMES Nilma Lino Práticas pedagógicas de trabalho com relações étnicoraciais na escola na perspectiva da Lei nº 1063903 Brasília MEC Unesco 2012 Disponível em httpsunesdocunescoorgark48223pf0000260516 Acesso em 27 nov 2019 KIZERBO Joseph História geral da África I Metodologia e préhistória da África 2ed rev Brasília UNESCO 2010 MALDONADOTORRES Nelson Analítica da colonialidade e da decolonialidade algumas dimensões básicas In GROSFOGUEL Ramón et al Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico Belo Horizonte Autêntica Editora 2018 ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 84 MUNANGA K A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil Entrevista concedida a Revista Estudos Avançados 1850 5166 2004 Disponível em httpwwwrevistasuspbreavarticleview9968 Acesso em 27 nov 2019 MUNANGA K NILMA Lino G O Negro no Brasil Hoje São Paulo Global 2006 OLIVA Anderson R A História da África nos bancos escolares Representações e imprecisões na literatura didática Estudos afro asiáticos v 25 2003 OLIVEIRA Eduardo D Epistemologia da Ancestralidade Entrelugares Revista Eletrônica de Sociopoética e abordagens afins v 1 n 2 marago 2009 Disponível em httpwwwentrelugaresufcbr Acesso em 12 ago 2019 ORIÁ R Ensino de história e diversidade cultural Desafios e possibilidades Cad Cedes Campinas vol 25 n 67 setdez 2005 RICHARD Santos O sujeito desidentificado e a liberdade negada à maioria minorizada Geledes São Paulo mai 2018 Seção Artigos e Reflexões Disponível em httpswwwgeledesorgbrosujeitodesidentificadoe liberdadenegadamaioriaminorizada Acesso em 27 nov 2019 SAID Edward Cultura e imperialismo São Paulo Companhia das Letras 1995 WALSH Catherine Interculturalidade crítica e pedagogia decolonial insurgir reexistir e reviver In CANDAU Vera Maria Org Educação intercultural na América Latina entre concepções tensões e propostas Rio de Janeiro 7 Letras 2009 p 1243 ZUBARAN Maria A SILVA P B Interlocuções sobre Estudos Afro Brasileiros Pertencimento étnicoracial memórias negras e patrimônio cultural afrobrasileiro Currículo sem Fronteiras v12 n1 jan 2012 PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI Curso História Semestre 5º6º Objetivos da Aprendizagem A produção textual é um procedimento metodológico de ensino aprendizagem que tem por objetivos Instigar os alunos apoiados nas informações presentes na BNCC sobre a área como ferramenta norteadora para o planejamento de atividades diferenciadas Relacionar teoria e prática a fim de proporcionar embasamento para atuação em atividades extracurriculares Desenvolver os estudos independentes sistemáticos e o autoaprendizado Favorecer a aprendizagem Promover a aplicação da teoria e conceitos para a solução de problemas práticos relativos à profissão PREZADO ALUNO A Seja bemvindo a a este semestre A presente proposta de Produção Textual Interdisciplinar Individual PTI possui como temática a construção de um pensamento decolonial sobre a história e cultura da população negra Escolhemos esta temática para possibilitar a aprendizagem interdisciplinar dos conteúdos desenvolvidos nas disciplinas desse semestre A decolonialidade pode ser entendida de forma breve como um caminho para resistir e desconstruir padrões conceitos e perspectivas impostos aos povos subalternizados durante todos esses anos sendo também uma crítica direta à modernidade e ao capitalismo O pensamento decolonial se coloca como uma alternativa para dar voz e visibilidade aos povos subalternizados e oprimidos que durante muito tempo foram silenciados disponível em httpswwwpolitizecombrcolonialidadee decolonialidade Acesso em 23 jun 2022 A partir desse conceito propomos uma discussão acerca da construção de uma visão sobre a cultura e a história africana que marca nossa história até a atualidade buscando reelaborar essa leitura a partir da perspectiva dos negros PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI ORIENTAÇÕES DA PRODUÇÃO TEXTUAL A Leitura da Situação Geradora de Aprendizagem e da SituaçãoProblema fornecerá os elementos necessários para a produção textual proposta na sequência SITUAÇÃO GERADORA DE APRENDIZAGEM SGA Os professores do curso de História criaram um site educacional para divulgar trabalhos produzidos pelos alunos Os alunos do 5º e 6º Semestres do curso foram convidados a escreverem textos para o site Os professores orientaram os alunos a escreverem textos sobre temas atuais e que estão no centro das discussões teóricas na área de ciências humanas Os professores também explicaram que os textos podem ser produzidos individualmente ou em grupo e que também é interessante inserir imagemns no decorrer do mesmo Emília se interessou em produzir um texto analisando o conceito de decolonialidade A escolha de tal tema levou em conta o grande apelo que esse conceito tem nos dias atuais Apesar de já ter ouvido falar sobre esse conceito ainda falta para Emília conhecimentos suficientes para a elaboração do texto Nesse sentido a partir de leituras e novos conhecimentos é que o texto deve ser elaborado SITUAÇÃOPROBLEMA SP O desafio então é auxiliar Emília a produzir um texto analisando o conceito de decolonialidade O desafio está organizado da seguinte maneira 1 Leitura do artigo intitulado Educação e Decolonialidade A história da África e diáspora longe do olhar europeu de Serinaldo Oliveira Araújo e Maria do Carmo Rebouças dos Santos Material disponibilizado com esta orientação 2 Leitura do texto A perspectiva negra decolonial brasileira insurgências e afirmações intelectuais de Maria dos Passos Disponível em httpswwwgeledesorgbra perspectivanegradecolonialbrasileirainsurgenciaseafirmacoes Acesso em 23 jun 2022 PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI 3 Vídeo O pensamento decolonial para superar a colonialidade e o racismo epistêmico no qual a profa Suze Piza explica os dois conceitos e o sentido de intervenção que a decolonialidade se baseia Disponível em httpswwwyoutubecomwatchv8qs9uXf0I0Y Acesso em 23 jun 2022 ORIENTAÇÕES PARA A EXECUÇÃO DO TRABALHO 1 A partir das leituras e do vídeo você deverá produzir um texto para um site educacional Desse modo deverá se atentar a linguagem utilizada a utilização de fontes os textos e vídeo indicados são obrigatórios mas você pode pesquisar outros materiais também Lembrese de selecionar uma ou mais imagens relacionadas ao texto Essas imagens podem ser inseridas no início meio ou fim do texto É importante que cada imagem ocupe o espaço de aproximadamente ¼ da lauda Abaixono rodapé da imagem coloque o tematítulo da mesma ano em que foi produzida autor e fontesite em que pesquisou tal imagem O texto deve partir da seguinte questão que é também título do texto De que modo a perspectiva decolonial no ensino de História pode colaborar para superar o racismo epistêmico Lembrese que esse texto deverá abordar questões como a O que significa o conceito de decolonialidade b De que modo essa perspectiva altera o modo de se pensar a História c Como essa perspectiva relacionase ou deve relacionarse ao Ensino de História d Qual a ligação entre a colonialidade e o racismo epistêmico 2 Indicamos ainda as seguintes leituras para a construção do trabalho KIZERBO Joseph História Geral da África I Metodologia e PréHistória da África Brasília UNESCO 2010 Biblioteca Virtual 30 Capítulo 3 Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e contribuição à história em geral p 3758 COSTA J Decolonialidade Atlântico Negro e intelectuais negros brasileiros em busca de um diálogo horizontal Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Disponível em PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI httpswwwscielobrjseaHBdmnKdkjFRXkWq9m6Ft8kPlangptformathtml Acesso em 27 jun 2022 3 O trabalhotexto deverá ser elaborado observando as seguintes orientações concernentes à parte formal do seu trabalho 1 Capa e folha de rosto Utilizar capa e folha de rosto padronizadas da instituição 2 Introdução A introdução 1 lauda deve contemplar a Apresentação do tema b Contextualização do tema c Descrição do que será discutido ao longo do texto 3 Desenvolvimento Para o desenvolvimento de seu trabalho 2 a 3 laudas você deverá a Responder ao questionamento apresentado b Fundamentar teoricamente com base em conceitos extraídos das suas leituras as quais deverão ser citadas e referenciadas de acordo com as normas da ABNT 4 Conclusão Para concluir seu texto você deve apresentar as suas considerações finais acerca do tema 1 lauda 5 Referências Apresentar todas as fontes utilizadas para consulta na elaboração das propostas 6 Normas da ABNT devem ser respeitadas e aplicadas em todas as etapas do trabalho OBSERVAÇÃO Você pode e deve consultar outras fontes textos artigos e afins sobre o tema na Biblioteca Digital na Biblioteca Virtual 30 e nos materiais das disciplinas NORMAS PARA ELABORAÇÃO E ENTREGA DA PRODUÇÃO TEXTUAL 1 O trabalho será realizado individualmente 2 Importante Você deverá postar o trabalho finalizado no AVA o que deverá ser feito na pasta específica atividades interdisciplinares obedecendo ao prazo limite de postagem conforme disposto no AVA Não existe prorrogação para a postagem da atividade 3 Deve conter depois de pronto capa e folha de rosto padrão da Instituição sendo organizado no que tange à sua apresentação visual tipos e tamanhos de fontes alinhamento do texto espaçamentos adentramento de parágrafos apresentação correta de citações e referências entre outros elementos importantes conforme modelo disponível no AVA PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI 4 A produção textual é um trabalho original e portanto não poderá haver trabalhos idênticos aos de outros alunos ou com reprodução de materiais extraídos da internet Os trabalhos plagiados serão invalidados sendo os alunos reprovados na atividade Lembrese de que a prática do plágio constitui crime com pena prevista em lei Lei nº 9610 e deve ser evitada no âmbito acadêmico 5 Importante O trabalho deve ser enviado em formato Word Não serão aceitos sob nenhuma hipótese trabalhos enviados em PDF A seguir apresentamos a você alguns dos critérios avaliativos que nortearão a análise do Tutor a Distância para atribuir o conceito à produção textual Normalização correta do trabalho com atendimento ao número de páginas solicitadas Apresentação de estrutura condizente com a proposta apresentada com introdução desenvolvimento e conclusão Uso de linguagem acadêmica adequada com clareza e correção atendendo à norma padrão Atendimento à proposta contemplando todos os itens solicitados com objetividade criatividade originalidade e autenticidade Fundamentação teórica do trabalho com as devidas referências dos autores eventualmente citados Lembrese de que seu Tutor a Distância está à disposição para lhe atender em suas dúvidas e também para repassar orientações sempre que você precisar Aproveite esta oportunidade para realizar um trabalho com a qualidade acadêmica de nível universitário Bom trabalho Equipe de professores A descolonialidade se determina como forma de pensamento que se inicia com base na essência de crítica a uma necessária desconstrução de logica e de colonialidade em si a qual se determina como uma relação de grande poder e dominação indo além das medidas de expressões que se expressam em determinadas relações de subjetividade Desse modo pode se entender que a descolonialidade determina como necessidade a construção de saberes de determinados indivíduos que dialogam com comunidades e grupos por foco de não se produzir meios de conhecimento que vai de incoerência a lógica do sistema Como afirma SANTOS em 2018 Nos diálogos iniciais com as primeiras leituras no campo decolonial percebi que em alguns escritos produzidos por intelectuais que integram o grupo MC ao serem traduzidos para a língua portuguesa encontrase a expressão descolonial como aparente sinônimo de decolonial O que pude observar é que não há um consenso No contexto latino americano por exemplo é mais comum o uso da expressão descolonial nas produções argentinas5 Assim logo nas primeiras aproximações o decolonial demarca uma posição de disputa epistemológica e enquanto movimento não é unívoco SANTOS 2018 p4 Conforme SANTOS em 2018 Como se diferencia descolonial e decolonial Primeiramente é relevante pontuar que as diferenciações postas por estes termos se articulam como teóricas e políticas O decolonial encontra substância no compromisso de adensar a compreensão de que o processo de colonização ultrapassa os âmbitos econômico e político penetrando profundamente a existência dos povos colonizados mesmo após o colonialismo propriamente dito ter se esgotado em seus territórios SANTOS 2018 p5 Desse modo fazse imprescindível entender as questões que se relacionam por serem a mistura de conceitos como decolonialidade descolonialidade e a colonialidade em si Assim temos que a decolonialidade questiona a colonialidade por meio de seu poder saber e ser Já a descolonialidade valoriza os saberes em si do individuo possibilitando uma melhora focando na complexidade da comunidade em si Ademais tem se que a colonialidade se determina como meio de controle de todos os recursos povo capital e trabalho em um povo e pais com base no mercado capitalista Diante disso ao longo do texto ocorrerá a discussão do que seria de modo de perspectiva decolonial o que se determina com base no racismo epistêmico o qual se faz de utilidade para o entendimento de diversas necessidades E assim entendese a necessidade de análise de história da África em si possibilitando um maior entendimento dos movimentos ocorridos ao longo dos séculos Desse modo como afirma ARAUJO e MARIA 2020 Avançar a descolonização no âmbito desta pesquisa é legitimar saberes não instituídos memórias e histórias não contadas bibliografias africanas e diaspóricas seus fundamentos epistemológicos e herança intelectual ir além dos saberes eurocêntricos oficiais e dominantes que silenciam e reduzem as produções de outros saberes a um conjunto de representações estereotipadas ARAUJO E MARIA 2020 p73 Desse modo é necessário analisar as questões que regem a história e diáspora africana que a entende não somente como meio de luta por uma terra mas como luta em detrimento de linguagem e a possibilidade de contar a sua história Diante disso tem se que conforme ocorre essa maciça invasão estrangeria também ocorreu grande eurocentrismo possibilitando assim uma dominação europeia Como afirma ARAUJO e MARIA 2020 Portanto é o poder de narrar ou a interdição de outras narrativas que constituíram historicamente a alusão a África a terras distantes e exóticas dos seus nativos a selvagens e indolentes e de suas culturas a total oposição a cultura branca europeia ARAUJO E MARIA 2020 p74 Com isto fazse primordial uma análise e nova forma de refazer o percurso da história em si possibilitando uma nova forma de olhar estrangeiro E desse modo temos que é primordial que a história e diáspora africana façam sentido em argumentos baseados nos estudiosos intelectuais e em intelectuais negros os quais podem ressaltar a necessidade de seu povo Desse modo o pensamento decolonial se faz por meio de novas possibilidades de pensamentos Conforme afirma MALDONADO em 2018 O pensamento decolonial inicialmente se relaciona as insurgências e resistências protagonizadas pelo povo indígena e afrocaribenho surge portanto nos processos de independência contraposição ao colonialismo e imperialismo europeu MALDONADO 2018 p6 Tem se então que a decolonização pode ser entendida com um grande processo de revolução que se faz em detrimento de reinvindicação de independência política e de teor econômico sendo uma grande luta por base no processo que possibilita a formação da história em si Assim esse processo se fomenta no escravizar invasão e saqueamento do povo em si que se advém da África Ásia e da América em si Sendo que essa decolonialidade do saber se determina como ponto principal da discussão Conforme afirma que FOUCALT em 2014 que em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada selecionada organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm porfunção conjurar seus poderes perigos dominar seu acontecimento aleatório esquivar sua pesada e temível materialidade FOUCAULT 2014 p 08 Ademais é necessário que passamos a relacionar as necessidades de entendimento de como a colonialidade implica no racismo epistêmico o qual se faz imposto por meio de corpos que são impostos em espaços histórico geográficos E assim hodiernamente por meio dessa análise entendese que o eurocentrismo aliado de epistemicidio e de assimilação mantem diversas estratificações sociais Com isto entendese que a razão que determina a colonização fazse presente em decorrência das raízes de origens etnocêntricas as quais se baseiam em arrogância cultural e por diferença baseadas em circunstâncias que se determinam como de cultura inferior Este último argumento fazse irreal já que o homem não pode e não deve banalizar a cultura do outro nem provocar tais considerações E assim o pensamento europeu ganha ainda mais força gerando uma forma de não assimilar a identidade do outro não possibilitando a mais diversa assimilação de cultura a qual fazse primordial em todas as instancias de história E desse modo como o povo europeu em sua maioria era branco ocorre rebaixamento do povo de cor no caso o povo africano E assim essa perspectiva se faz intimamente ligado ao ensino de história já que se determina como será o meio de abordar as questões de ensino E assim quando o assunto for abordado ocorre grande necessidade de se romper com os pensamentos antiquados gerando uma assimilação crítica do que ocorre ao aluno podendo possibilitar que ele assimile as visões erradas em relação a história em si Como conclusão podemos salientar que o ensino de história atua como forma de combate ao racismo epistêmico já que aborda diversos aspectos da luta e história do povo em si Então ocorre que o aluno por meio dessas análises pode traçar modo de questionamento possibilitando que ele trace uma linha de raciocínio e possa confrontar tais questões Desse modo o combate ao racismo se determina por ser baseado em um diálogo mais horizontal por meio de se abordar em sala autores negros renomados além de apresentação de uma trajetória que promove e discorre a respeito de atualidade e valorização de cultura negra Com isto pode ser abordar uma forma de maior ampliação de questionamento do que ocorreu E assim permite ao aluno construir um pensamento de modo crítico analisando todas as situações passando a ser um estudante mais ativo possibilitando uma melhoria em todas as esferas sociais E assim possibilitando ocorrer uma aplicação na sociedade em si Impactando efetivamente possibilidade de alteração no pensamento da história em si O tema em si é analisado por meio de vários poréns já que o ensino de história se determinava como algo que era feito de modo com base no olhar europeu o que impossibilitava a assimilação do que ocorria de fato Assim essa nova possibilidade de olhar analisado com base no ensino de história impacta diretamente como modo de um ensino mais plural REFERÊNCIAS As relações de poder em Michel Foucault reflexões teóricas isabella Maria nunes Ferreirinha Tânia regina raitz sl sn Disponível em httpswwwscielobrjrapar3mTrDmrWdBYKZC8CnwDDtqlangptformatpdf SANTOS V M DOS NOTAS DESOBEDIENTES DECOLONIALIDADE E A CONTRIBUIÇÃO PARA A CRÍTICA FEMINISTA À CIÊNCIA Psicologia Sociedade v 30 n 0 3 dez 2018 SERINALDO OLIVEIRA ARAÚJO MARIA EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista PINDORAMA v 11 n 1 p 7284 2020 KIZERBO Joseph História Geral da África I Metodologia e PréHistória da África Brasília UNESCO 2010 Biblioteca Virtual 30 Capítulo 3 Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e contribuição à história em geral p 3758 COSTA J Decolonialidade Atlântico Negro e intelectuais negros brasileiros em busca de um diálogo horizontal Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Disponível em PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI httpswwwscielobrjseaHBdmnKdkjFRXkWq9m6Ft8kP langptformathtml Acesso em 27 jun 2022
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Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 119 Decolonialidade Atlântico Negro e intelectuais negros brasileiros em busca de um diálogo horizontal Joaze BernardinoCosta Resumo Baseado nas contribuições dos teóricos da decolonialidade e em diálogo com a tradição dos estudos do Atlântico Negro o artigo em busca de uma justiça cognitiva propõe um diálogo horizontal e equitativo entre estas correntes do pensamento políticoacadêmico e os intelectuais negros brasileiros Para o desenvolvimento deste argumento radicalizamos o compromisso do projeto decolonial com a corpogeopolítica do conhecimento bem como propomos uma maior ênfase nas raízes mais do que nas rotas dos estudos sobre o Atlântico Negro Esta afirmação da corpogeopolítica do conhecimento e das raízes é a chave tanto para a afirmação ontológica e epistemológica das populações negras quanto para construirmos um diálogo pluriversal e trans moderno no qual as experiências particulares não se percam nem num provincianismo nem num universo abstrato Palavraschave decolonialidade Atlântico Negro intelectuais negros brasileiros Introdução E ste artigo tem por objetivo propor um diálogo horizontal e simétrico entre as teorias da decolonialidade a tradição do Atlântico Negro e a produção de intelectuais negros brasileiros Por um lado o artigo busca chamar a atenção para o projeto político ético e epistemológico do projeto decolonial e sua relação com a resistência e a luta por reexistência da população negra ao mesmo tempo que reconhece a necessidade de ampliar o diálogo entre o giro decolonial e a busca de emancipação da população negra Por outro lado ao reconhecer a importância da tradição dos estudos sobre o Atlântico Negro o artigo chama a atenção sobre os motivos da ausência de intelectuais negros brasileiros nesta tradição Neste sentido podemos dizer que o artigo chama a atenção para o risco de um duplo apagamento ou dupla invisibilidade seja nas contribuições dos teóricos da decolonialidade seja nos estudos sobre o Atlântico Negro A fim de evitarmos isto buscamos radicalizar a tese da corpogeopolítica do conhecimento presente no coração do projeto decolonial e buscamos enfatizar a importância das raízes roots nos estudos do Atlântico Negro Com base nestas duas ideias corpogeo política do conhecimento e raízes podemos afirmar não somente ontológica mas Doutor em sociologia pela Universidade de Brasília Brasília DF Brasil onde atualmente é professor associado I Editor da Revista Sociedade Estado desenvolve pesquisas sobre feminismo negro teorias póscoloniais e decoloniais Publicações Recentes Saberes subalternos e decolonialidade os sindicatos das trabalhadoras domésticas no Brasil Brasília EdUnB 2015 Pensamento afrodiaspórico e decolonialidade Belo Horizonte Autêntica coorganizado com Nelson Maldonado Torres Ramón Grosfoguel e Angela Figueiredo no prelo Decolonialidade e perspectiva negra Sociedade Estado v 31 n 1 p 1524 2016 A prece de Frantz Fanon oh meu corpo faça sempre de mim um homem que questiona Civitas Revista de Ciências Sociais v 16 p 504521 2016 joazebernardino gmailcom Recebido 201117 Aprovado 190218 doi 101590s0102699220183301005 120 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 também epistemologicamente que os povos foram subjugados pelas hierarquias raciais de classe de gênero sexualidade modernocoloniais Para esta afirmação ontológica e epistemológica dialogamos com uma noção gramsciana de intelectual orgânico a saber pessoas ligadas a determinados gru pos sociais cuja função é criar consciência do papel destes grupos tanto na eco nomia na sociedade e na política Gramsci 1982 Collins 2000 hooks 1995 Todavia inspirados nas contribuições de Anthony Bogues 2015 assumimos que o intelectual negro não apenas funciona como intelectual orgânico como produz um contradiscurso sobre a modernidade ocidental afirmando a agência do sujeito negro bem como sua humanidade num mundo que insiste em desumanizálo Importante assinalar que também pressupomos que nem todos os acadêmicos são intelectuais como nem todos os intelectuais são acadêmicos Mais especificamen te para os propósitos deste artigo entendemos os intelectuais negros como os ativistas professores músicos artistas lideranças religiosas poetas enfim todas aquelas pessoas capazes de construir uma homogeneidade e consciência de grupo para a população negra bem como capazes de apontar os caminhos da resistência e da reexistência Além desta introdução este artigo está dividido em quatro seções Na primeira retomamos o projeto político e epistêmico da decolonialidade a importância da afirmação da corpogeopolítica do conhecimento e a resistência à colonialidade do poder do saber e do ser Na seção seguinte ao perguntarmos onde estão os intelectuais negros no projeto decolonial e na tradição do Atlântico Negro argumentamos pela importância da corpogeopolítica do conhecimento e das ex periências da população negra no âmbito destas correntes políticoacadêmicas Na sequência apontamos para a necessidade de ampliarmos um diálogo equitativo e horizontal entre intelectuais negros brasileiros a decolonialidade e o Atlântico Negro O artigo conclui apontando para a positividade deste diálogo ao mesmo tempo que adverte para o risco do apagamento da corpogeopolítica do conheci mento no projeto decolonial e para o distanciamento das raízes roots no campo de estudo do Atlântico Negro Não obstante o artigo possa ter um tom de advertência este tom é muito mais um convite a um diálogo decolonial em nome da justiça cognitiva Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 121 O giro decolonial a luta contra a colonialidade do poder do saber e do ser O termo giro decolonial foi cunhado primeiramente por Nelson MaldonadoTorres 2007 2008 no âmbito das discussões do Grupo de Investigação Modernidade Colonialidade Escobar 2003 Basicamente o termo referese a um movimento de resistência política e epistêmica à lógica da modernidadecolonialidade Como for mulação analíticoacadêmica ou como elaboração de um gruporede de pesquisa dores o giro decolonial pode ser entendido como um projeto recente No entanto como projeto prático e cognitivo o giro decolonial pode ser encontrado na longa tradição de resistência e tentativa de ressignificação da humanidade articulada pe las populações negras e indígenas e posteriormente por aqueles que Frantz Fanon 2005 nomeou como os condenados da terra A fim de compreender o giro decolonial e o projeto decolonial é fundamental vol tarmos a algumas elaborações centrais dos integrantes da rede de investigação mo dernidadecolonialidade Uma dessas elaborações centrais é o conceito de colonia lidade do poder associado às contribuições de Anibal Quijano 2005 Basicamente colonialidade do poder referese à constituição de um padrão de po der em que a ideia de raça e o racismo se constituíram como princípios organi zadores da acumulação do capital em escala mundial e das relações de poder no sistemamundo Dentro deste sistemamundo modernocolonial cuja formação iniciouse com o encubrimiento del otro nas Américas e com a escravização da população africana a diferença entre conquistadores e conquistados foi codificada a partir da ideia de raça Quijano 2005 Esse padrão de poder não se restringiu so mente ao controle da economiatrabalho mas envolveu o controle da autoridade o Estado e suas instituições da raça do gênero da sexualidade do conhecimento e da natureza Posteriormente às contribuições de Anibal Quijano Walter Mignolo 2003 expan diu a ideia de colonialidade do poder desenvolvendo a ideia de colonialidade do saber enquanto Nelson MaldonadoTorres 2007 desenvolveu o conceito de colo nialidade do ser Antes de avançarmos considero importante sempre lembrar que estamos falando aqui do desenvolvimento analítico dos conceitos uma vez que po demos encontrar essas formulações na tradição do pensamento negro cf Bernar dinoCosta Grosfoguel 2016 A partir dos conceitos de geopolítica do conhecimento e diferença colonial Walter Mignolo 2003 tem explorado como a colonialidade do poder e saber deslegiti 122 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 mam outras formas de conhecimento A chave interpretativa é o conceito de dife rença colonial articulado por missionários espanhóis nas Américas no século XVI ao estabelecerem uma classificação hierárquica entre povos com escrita e povos sem escrita O estabelecimento de uma geopolítica do conhecimento operacionalizada pela ideia da diferença colonial ocorreu simultaneamente ao estabelecimento do domínio co lonial Mignolo 2003 Foi esse domínio colonial que permitiu a alguns definirem a si mesmos como possuidores do conhecimento válido e verdadeiro e a outros como destituídos de conhecimento Deste modo as múltiplas tradições indígenas africanas asiáticas muçulmanas hindus entre outras sofreram um longo processo de deslegitimação no âmbito da modernidadecolonial Central para o estabelecimento da diferença colonial e por conseguinte a divisão entre aqueles que se autointitulam capazes de produzir conhecimento válido e uni versalizável visàvis àqueles incapazes de produzilo é a formulação sintetizada na frase Penso logo existo de René Descartes Em outras palavras como desenvol ve MaldonadoTorres 2007 por trás do Eu penso podemos ler que outros não pensam ou não pensam adequadamente para produzir juízos científicos Duas ideias são fundamentais no Discurso do método de Descartes o solipsismo e o dua lismo corpomente Não só a certeza do conhecimento objetivo e verdadeiro é ge rado a partir de um monólogo interno baseado na desconfiança perante as demais pessoas mas há uma desvalorização das sensações e percepções corporais como possíveis fontes de conhecimento válido No momento da formulação do Discurso do método Descartes inaugura uma tradição de pensamento que se imagina pro duzindo um conhecimento universal sem determinações corporais nem determi nações geopolíticas Em outras palavras passase a acreditar que o conhecimento produzido dentro desta tradição tem validade universal Mesmo que Descartes não tenha definido quem é esse Eu não há dúvidas que esse Eu se refere ao homem europeu mais especificamente àquele localizado acima dos Pireneus como argu mentaria Hegel 150 anos depois Grosfoguel 2012 Além da colonialidade do poder e do saber outro conceito estruturante da rede de investigação modernidadecolonialidade é o conceito de colonialidade do ser Igualmente como os outros dois conceitos que tematizamos acima a colonialida de do ser também pode ser encontrada na tradição do pensamento negro Nel son MaldonadoTorres 2007 contribuiu com o desenvolvimento deste conceito reconhecendo seu débito a Mignolo de quem ele ouviu pela primeira vez o termo Contudo muito antes de Mignolo MaldonadoTorres encontrou elementos para o desenvolvimento do conceito em Enrique Dussel e Frantz Fanon que embora não Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 123 tenham utilizado o termo já tinham apresentado elementos importantes para a teorização do mesmo Ao seguir a análise históricofilosófica de Enrique Dussel 1977 1994 podemos localizar a emergência da colonialidade do ser como fenômeno local e relacionado ao capitalismo mundial na arrogante pergunta de Fernandez de Oviedo son hom bres los índios e no famoso debate no âmbito da Igreja Católica em Valladolid entre Bartolomé de Las Casas e Juan Ginés Sepúlveda entre 15501551 Esse é o momento em que Dussel identifica os vínculos entre ser e totalidade em que a fi losofia está fechada em sua totalização para a exterioridade portanto incapacitada de reconhecer aqueles que se encontram fora de sua totalidade Se Dussel propõe uma análise históricofilosófica da emergência da colonialidade do ser Frantz Fanon a apreende a partir da experiência vivida do negro no mundo moderno Central para a elaboração de Fanon é o encontro entre o sujeito racializado e o ser imperial Ma mãe olhe o preto estou com medo Medo Medo Fanon 2008 105 MaldonadoTorres tomará como central para o desenvolvimento do conceito de co lonialidade do ser novamente o Discurso do método de Descartes O Penso logo existo não esconde somente que os outros não pensam como mencionamos acima mas que os outros não existem ou não têm suficiente resistência onto lógica como menciona Fanon em Peles negras máscaras brancas MaldonadoTor res 2007 A partir da elaboração cartesiana fica clara a relação entre a coloniali dade do saber e a colonialidade do ser ou entre o conhecimento e a existência Em outras palavras o privilégio do conhecimento de uns tem como corolário a negação do conhecimento de outros da mesma forma que a afirmação da existência de uns tem como lado oculto a negação do direito à vida por parte dos outros a desquali ficação epistêmica se converte em instrumento privilegiado da negação ontológica MaldonadoTorres 2007 145 Evidenciase na formulação do conceito de colonialidade do ser a centralidade da raça no sistemamundo modernocolonial como fator estruturante na produção econômica e na produção do conhecimento Raça juntamente com os eixos de po der de gênero e sexualidade atuam articuladamente produzindo desigualdades Como atesta a vasta literatura do feminismo negro hooks 1995 Collins 2000 Car neiro 2005 a colonialidade do poder do saber e do ser produz múltiplas formas de opressão dominação exploração e violência que incidem sobre a mulher negra Diante deste complexo e longo processo de dominação é que se apresenta o projeto decolonial ou giro decolonial que se constitui numa estratégia epistêmica e política de resistência à colonialidade do poder do saber e do ser simultaneamente à tenta 124 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 tiva de estabelecer um novo diálogo entre os sujeitos que experienciam o lado mais escuro e as consequências mais nefastas da modernidade eurocentrada O projeto decolonial aponta para uma dimensão da resistência e reexistência política que vai além dos processos de independências e descolonizações que ocorreram nas Amé ricas no início do século XIX e na segunda metade do século XX na África Ásia e Caribe Em outras palavras o giro decolonial tem como horizonte político concluir o processo incompleto da descolonização seja dos países latinoamericanos seja dos países africanos asiáticos e caribenhos Significa portanto uma confrontação direta das hierarquias raciais de gênero de sexualidade religiosas estéticas etc que estruturam o sistema de dominação e exploração do sistemamundo moderno colonial que denominamos colonialidade do poder Enrique Dussel nomeia esse projeto desde a década de 1970 de transmodernida de entendida como ruptura com a lógica monológica da modernidade a partir do estabelecimento de um diálogo entre as exterioridades da modernidade ou entre os chamados condenados da terra Podemos considerar a transmodernidade como o horizonte a longo prazo a ser al cançado pelo giro decolonial uma vez que ela propõe a ruptura com o padrão de poder modernocolonial e propõe a instauração de um diálogo entre aquelas cultu ras e os povos que foram descartados desvalorizados e julgados como inúteis pela modernidade europeia Em outras palavras Dussel propõe que esse diálogo seja feito entre os críticos das periferias um diálogo intercultural SulSul De forma bas tante didática ele se utiliza da metáfora das conexões subterrâneas existentes nas grandes cidades para exemplificar esse diálogo transversal entre os críticos das pe riferias ou das exterioridades relativas à modernidade como temos falado Diz ele frequentemente os grandes centros têm serviços subterrâneos que vão dos bairros dos subúrbios para o centro mas faltam cone xões entre os subcentros suburbanos Dussel 2016 61 Desta maneira caberia à transmodernidade criar esses diálogos transversais entre as diversas culturas e experiências deslegitimadas pela modernidade europeia Aqui nos deparamos com a crítica ao universalismo abstrato que caracteriza o pro jeto modernocolonial Síntese deste universalismo abstrato pode ser encontrada no Discurso do método Conforme dissemos anteriormente se o Penso logo exis to traz como corolário que outros não pensam e não existem isso significa que somente aqueles que produzem um conhecimento a partir de um monólogo inte rior solipsismo e que não são influenciados pelas experiências e sensibilidades Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 125 locais e corporais dualismo corpomente estão aptos a produzir um conhecimento verdadeiro e válido em qualquer lugar por conseguinte apto a serem universa lizados Esta lógica do universalismo abstrato marca decisivamente não apenas a produção do conhecimento senão outras expressões da vida economia política estética subjetividade relação com a natureza etc Em todas essas esferas nesses mais de 500 anos de história moderna os modelos advindos da Europa e de seu fi lho dileto o modelo norteamericano pósSegunda Guerra são percebidos como o ápice do desenvolvimento humano enquanto as outras formas de organização da vida são tratadas como prémodernas atrasadas e equivocadas Ao contrário deste universalismo abstrato podemos dizer que o projeto transmo derno propõe a pluriversalidade ou um universalismo concreto noções que podem ser apreendidas na carta de desligamento apresentada por Aimé Césaire ao Partido Comunista Francês em meados da década de 1950 Diz Césaire Provincialismo Absolutamente não Não vou me confinar a um particularismo estreito Mas também não pretendo me perder num universalismo desincorporado Há duas maneiras de se per der por meio de uma segregação fechada no particularismo ou por meio da dissolução no universal Minha ideia de universal é um universal rico com todos os particulares uma profunda coexistên cia de todos os particulares Césaire apud Grosfoguel 2012 95 Se o universalismo abstrato é um tipo de particularismo que se estabelece como hegemônico e se apresenta como desincorporado sem pertencimento a qualquer localização geopolítica e desinteressado o universalismo concreto não esconde seu lugar de enunciação suas influências corpopolíticas e geopolíticas O universalis mo apresentado por Césaire permite a coexistência de particulares sem que cada particular precise esconderse por trás de uma ideia abstrata ou desincorporada Diferentemente do universalismo abstrato que estabelece uma relação vertical o universalismo concreto supõe um projeto político que propõe relações horizontais entre as diversas particularidades O universalismo concreto que podemos apreender na carta de afastamento de Césaire equivale ao que estamos nomeando como pluriversalidade ou pluralida de transmoderna Central a esse conceito é em primeiro lugar a importância das determinações corpopolíticas e geopolíticas em segundo lugar a abertura ao diá logo horizontal entre as várias tradições subordinadas pelo universalismo europeu A pluriversalidade transmoderna é um chamado contra a colonialidade do poder e contra o apagamento das múltiplas tradições subalternizadas pela modernidade eurocentrada Grosfoguel 2016 126 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Dentre as muitas tradições apagadas ou invisibilizadas pela modernidade eurocen trada podese mencionar a tradição dos intelectuais negros no Brasil Na próxima seção gostaria de fazer alguns apontamentos para um diálogo mais horizontal entre o projeto decolonial a tradição do Atlântico Negro e os intelectuais negros brasileiros Decolonialidade e Atlântico Negro onde estão os intelectuais negros brasileiros Na afirmação do universalismo concreto ou da pluriversalidade um dos princípios basilares é a afirmação da geopolítica e da corpopolítica do conhecimento isto é a afirmação do lugar de fala bem como das experiências vividas dos sujeitos do conhecimento Enquanto para um conhecimento pretensamente objetivo essa afirmação da geopolítica e corpopolítica pode parecer como ausência de objeti vidade para a tradição do pensamento negro esta evocação do lugar de fala e da experiência vivida tornase um dos critérios de validade do conhecimento bem como uma estratégia de construção de solidariedade Collins 2000 hooks 1995 Carneiro 2005 A afirmação do corpo e da geopolítica do conhecimento corres ponde a afirmação da subjetividade da humanidade daqueles que falam a partir e com o lado mais escuro da modernidade Essa é uma estratégia fundamental contra a colonialidade do conhecimento e a colonialidade do ser Se no âmbito da matriz do poder modernocolonial a desqualificação epistemológica se constitui num me canismo de negação ontológica como afirma MaldonadoTorres 2007 o inver so também é verdadeiro ou seja a afirmação ontológica por meio da geopolítica e corpopolítica do conhecimento tornase um elemento central para a afirmação epistemológica Diante desta urgente necessidade de construirmos um universalismo concreto ou uma pluriversalidade consideramos fundamental trazer as contribuições de inte lectuais negros brasileiros para o cerne das teorizações decoloniais e para o centro da tradição de estudos do Atlântico Negro Embora a escravização da população negra seja tão relevante quanto a servidão da população indígena na constituição da colonialidade do poder do ser e do conhe cimento conforme podemos observar nos vários escritos de Quijano Mignolo e Dussel suas teorizações se centram mais nas experiências dos povos indígenas das Américas É claro que podemos encontrar menções a autores negros e às expe riências de resistência e reexistência nos supracitados autores decoloniais contudo elas são menos influentes se as compararmos com o diálogo estabelecido com os chamados povos originários Por outro lado podemos ver em alguns outros inte grantes deste coletivo uma maior aproximação com intelectuais negros É o caso Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 127 de MaldonadoTorres e Grosfoguel em seus diálogos com as obras de Aimé Césaire Frantz Fanon Oliver Cox Du Bois entre outros bem como suas ligações com o Afri ca Decolonial Research Network e a Summer School on Decolonizing Power Kno wledge and Identity que ocorre na University of South Africa Unisa desde 2013 Nelson MaldonadoTorres constrói uma espécie de passarela entre o projeto aca dêmico da decolonialidade e a Caribbean Philosophical Association CPA da qual ele foi presidente entre 2008 e 2013 Dentro do princípio da afirmação geopolítica e corpopolítica a CPA preconiza uma mudança na geografia da razão shifting geo graphy of reason a partir do Caribe pensado como um lugar de investigação a partir dos múltiplos lados por baixo da modernidade multiples undersides of modernity Diferentemente do chamado grupo de investigação da modernidadecolonialidade ou pelo menos dos três autores supramencionados Dussel Quijano e Mignolo a fonte de inspiração reflexão e teorização da CPA são as histórias da middlepassage dos africanos da diáspora isto é histórias e questões que emergem no contexto das descobertas da conquista da domina ção racial de gênero e sexual do genocídio dependência e explo ração bem como liberdade emancipação e descolonização1 Para a CPA o Caribe emerge como um tropo que traz para o Sul global as experiên cias históricas e atuais de resistência e reexistência contra as hierarquias moder nocoloniais Esse foi o esforço de um intelectual da envergadura de Cyril Lionel Robert James 2004 e seu notável livro sobre o protagonismo de africanos escra vizados sob o comando de Toussaint Louverture um exescravo na conquista da independência de São Domingos em 1804 frente à poderosa armada de Napoleão Bonaparte assim como são os esforços atuais do colossal trabalho de investiga ção de Lewis Gordon 2008 sobre as intervenções e contribuições dos africanos da diáspora à filosofia o que ele nomeia de Africana Studies e os esforços de Paget Henry sintetizados em sua obraprima Calibans reason 2000 Contudo como bem atesta Paget Henry a sua tentativa de trazer a contribuição do Caribe à filosofia teve como obstáculo a barreira linguística Em Calibans reason ba sicamente ele se restringe à análise de escritores filósofos e historiadores caribenhos de língua inglesa e francesa Henry reconhece elegantemente a ausência da expe riência do Caribe hispânico e holandês devido à sua limitação linguística Mais ainda reconhece que o estudo da contribuição filosófica do Caribe ao historicismo uma das teses desenvolvidas em seu livro está somente começando e as experiências do Caribe hispânico e holandês precisam ser trazidas para a mesa de conversação a fim de que todos possamos aprender com suas experiências Henry 2000 274 1 Cf httpwww caribbeanphiloso phicalassociation org 128 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Se podemos ver esta ponte entre o projeto da decolonialidade e o Caribe afrodias pórico qual a participação dos intelectuais negros brasileiros neste diálogo Pode mos construir passarelas de acesso ao projeto decolonial e ao Caribe negro A ausência de intelectuais negros brasileiros não se dá somente no diálogo com o projeto da decolonialidade ou com os intelectuais do Caribe dáse ainda em relação à tradição dos estudos diaspóricos do Atlântico Negro impulsionada pela publicação do influente livro de Paul Gilroy em 1993 Sem sombra de dúvidas a obra de Gilroy teve a virtude de chamar a atenção para a relação triangular entre Europa África e Américas bem como o mérito de propor uma interpretação que não estivesse estrita e limitada às fronteiras nacionais ao contrário propôs uma interpretação baseada nas trocas transnacionais e intercul turais A tese de Gilroy é a de que a vida marítima se movimenta e cruza o Ocea no Atlântico fazendo surgir culturas planetárias híbridas e heterogêneas Gilroy 2001 14 Não somente o Atlântico como um sistema de troca é a unidade de análise para o autor mas o próprio navio descrito como o mais importante canal de comunicação panafricana antes do aparecimento do disco longplay Gilroy 2001 54 Essa imagem do navio ziguezagueando entre África Américas Europa e Caribe fundamenta o argumento do autor em optar mais por rotas do que por raízes2 em sua discussão sobre identidades Fica nítida nas páginas do Atlântico Negro a crítica de Gilroy à ideia de pureza racial unanimidade racial essencialis mo que nas leituras do autor tem um epicentro a versão norteamericana que circula globalmente desenvolvendo um mercado para produtos e uma estética autenticamente negra Como não poderia deixar de ser um livro que impulsiona subsequentes estudos também é objeto de várias críticas A crítica mais recorrente a Paul Gilroy reside em sua ênfase nas rotas routes mais do que nas raízes roots a partir de uma pers pectiva nacionalista a norte americana à qual ele se opõe Essa opção como falamos acima está relacionada à imagem do navio ziguezagueando pelo mar co nectando diferentes localidades da diáspora Entretanto a noção de diáspora e flu xos culturais somente fazem sentido se tiver uma localização espacial um solo uma terra mãe homeland Este é o questionamento de Wumi Raji 2012 em seu con tundente artigo Tornadoes full of dreams Paul Gilroys Black Atlantic and African literature of the transatlantic imagination Diz ele Gilroy celebra o desterramento enfatizando a ideia de viagens Não haveria nenhum problema certamente se ele tivesse perce bido que toda rota tem um ponto de partida e também um de chegada Raji 2012 181 2 Reproduzo aqui o trocadilho de Gilroy entre rotas e raízes pronunciadas da mesma forma em inglês mas escrito de maneira diferente routes e roots Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 129 Entre pontos de partida e pontos de chegada diversas críticas apontam para a ne cessidade de tornar o Atlântico Negro um espaço mais heterogêneo como local de encontro transformação e criatividade de múltiplas raízes roots Deste modo Wumi Raji 2012 reivindica um lugar para a África no Atlântico Negro Ledent CuderDomínguez 2012 requerem a presença da Europa Laura Chrisman 2012 fala da ausência do Caribe negro do Canadá negro e do Brasil Oboe e Scacchi 2008 vão mais longe ao proporem uma expansão para reconstruirmos e dialogarmos com trocas culturais multidirecionais que ocorrem não somente em tor no do Atlântico mas entre África e Europa entre o Atlântico e o Mediterrâneo entre o Oceano Pacífico e o Oceano Índico e dentro das Américas Oboe Scacchi 2008 5 Minha crítica a Paul Gilroy e ao que chamo de tradição dos estudos sobre o Atlân tico Negro reside na ausência dos intelectuais negros brasileiros neste espaço de encontro de transformações e criatividade Obviamente que neste caso específico há um nítido fator impeditivo para Gilroy o idioma O surpreendente é que passa dos praticamente 25 anos da publicação da obra quase nada se avançou no sentido de contemplar os intelectuais negros brasileiros Múltiplos projetos de expansão e remapeamento do Atlântico Negro foram desenvolvidos como por exemplo os projetos de pesquisa que redundaram nas publicações de Oboe e Scacchi 2008 e de Ledent e CuderDomínguez 2012 e pouca coisa foi dita sobre a participação de intelectuais negros brasileiros neste diálogo exceto o artigo de Judith Williams 2008 na primeira coletânea sobre o teatro experimental do negro Ao lado desta crítica considero fundamental chamarmos a atenção para o fato de que Gilroy supõe nas entrelinhas de seu texto que os demais africanos da diáspora são receptores passivos da ideia de raça produzida pelos negros norteamericanos Se essa tese estava nas entrelinhas do Atlântico Negro alguns anos depois ela foi ex posta no livro Against race 2000 Este argumento de Gilroy somente pode receber credibilidade se não conhecermos a dinâmica histórica do que ocorre em cada uma das localidades roots do Atlântico Negro Contrariamente a este argumento de uma suposta passividade de negros e da população afrodiaspórica ao imperialismo cultural dos negros norteamericanos é fundamental a recuperação das sensibili dades e experiências locais às hierarquias raciais e suas combinações com outras hierarquias gênero classe sexualidade etc Novamente é preciso insistirmos com o argumento da importância geopolítica e corpopolítica para a construção do conhecimento Se há comunalidades e diferen ças entre as múltiplas e heterogêneas populações afrodiaspóricas elas se devem às experiências históricas de cada uma destas populações Estas são diferenças e 130 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 comunalidades construídas a partir das experiências vividas por cada uma delas Afirmar a contribuição das múltiplas experiências negras ao diálogo transatlântico bem como ao projeto decolonial constituise numa estratégia para a afirmação on tológica destas populações Mais uma vez argumentamos em favor da necessidade da afirmação epistemológica e ontológica das populações inferiorizadas pela matriz do poder modernocolonial Na parte subsequente deste artigo gostaria de fazer alguns apontamentos a fim de trazer a corpogeopolítica de conhecimento de intelectuais negros brasileiros para o âmbito do projeto decolonial bem como para a tradição do Atlântico Negro Diálogos entre os intelectuais negros brasileiros a decolonialidade e o Atlântico Negro Cabe lembrarmos que entre 1525 e 1867 segundo o Voyages the transatlantic sla ve trade database3 o maior banco de dados sobre o tráfico negreiro transatlântico 3189262 africanos escravizados desembarcaram no Brasil o que corresponde a 367 dos africanos que desembarcaram nas Américas em portos europeus ou em outros portos africanos Tendo como referência países como unidade de compara ção o Brasil foi o país que mais recebeu africanos seguido da Jamaica 934431 Cuba 744020 e São Domingos 694906 Barbados 374886 Estados Unidos 308025 Martinica 174295 Estes dados são importantes para as nossas reflexões sobre o lugar e a participação dos intelectuais negros brasileiros no projeto da decolonialidade e no diálogo do Atlântico Negro Parte do motivo pelo qual as contribuições de intelectuais negros não figuram no âmbito das discussões do projeto decolonial e do Atlântico Negro devese inques tionavelmente a uma barreira linguística Sem embargo precisamos entender me lhor como essa barreira linguística foi construída Primeiramente é fundamental trazermos para nossa análise a ideia de diferença imperial desenvolvida por Mig nolo 2003 que explica a inferiorização da Espanha e de Portugal no conjunto das nações imperialistas Se no século XVI estes dois impérios mais a Espanha do que Portugal eram nações centrais a partir da segunda metade do século XVII come çam a decair em importância econômica política e intelectual cedendo espaços para os Impérios holandeses franceses ingleses e por fim para o imperialismo global norteamericano a partir da segunda metade do século XX Resulta desse fenômeno a queda de importância do espanhol e do português como línguas de comunicação global Mignolo 2003 Sem dúvida esta é uma dimensão importante 3 Voyages é um banco de dados de acesso livre da Emory University Etados Unidos em parceria com a University of Hull Reino Unido a Universidade Federal do Rio de Janeiro Brasil e a Victoria University of Wellington Nova Zelândia Este banco de dados reúne informações sobre quase 36 mil viagens negreiras que embarcaram à força mais de 10 milhões de africanos para serem transportados até as Américas entre os séculos XVI e XIX O número real sendo estimado em até 125 milhões Cf httpwww slavevoyagesorg Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 131 que explicará no século XIX a admiração da elite branca brasileira não mais por Portugal mas pela França e posteriormente pela Inglaterra Se na esfera internacional no plano do concerto das nações ou dos impérios o des prestígio da língua portuguesa é um fato importante para explicar o atual silêncio no plano das teorias da decolonialidade e do Atlântico Negro em relação ao Brasil mais importante e decisivo é compreendermos a dinâmica interna do país fortemente marcado pela matriz de poder modernocolonial O modelo de racismo consolidado no país e escamoteado pela ideia de democracia racial naturalizou até muito re centemente o fato de as universidades brasileiras terem um número baixíssimo de alunos negros o que redunda na ausência de professores e pesquisadores negros que eventualmente pudessem fazer com que suas ideias viajassem pelo Atlântico Negro Esse modelo foi sustentado por um universalismo baseado num sistema de exames supostamente igualitário uma vez que todos tinham e ainda têm que fazer as mesmas provas de admissão para se tornarem alunos das universidades brasileiras Contudo a estrutura social racista tem feito com que a preparação de cada grupo seja desigual produzindo resultados desiguais Wallerstein 1992 Ade mais diferentemente da experiência norteamericana onde foram criadas faculda des e universidades para negros não houve nada semelhante no Brasil posto que foi propagada a crença de que éramos um país integrado e igualitário pois jamais existiram barreiras raciais institucionalizadas entre nós Entretanto essa crença ou mito se preferirmos até hoje não se concretizou Em termos de desigualdades raciais o Brasil é tão desigual ou mais quanto a África do Sul e os Estados Unidos que institucionalizaram a segregação racial O que tivemos como produto foi uma combinação em que pouquíssimos brasilei ros até mesmo os brancos circularam internacionalmente em virtude da bar reira linguística Todavia estes poucos brasileiros que circularam produziram uma imagem do país de acordo com suas sensibilidades e experiências históricas Como menciona Clóvis Moura uma visão do país a partir dos valores da CasaGrande como se não tivesse havido contradições estruturais no sistema escravista e ainda hoje Nenhum outro autor brasileiro foi mais representativo dessa imagem cons truída a partir dos valores da CasaGrande do que Gilberto Freyre como assinala Moura O autor Gilberto Freyre se situa claramente como membro da classe senhorial usando sempre o pronome nós como referencial que determina a sua posição social como narrador Em segundo lugar porque ele decompõe essa realidade retratada em diversos detalhes como se eles os escravos negros se encontrassem numa situação de subalternidade absoluta e satisfeito com a situação 132 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Gilberto Freyre por isso retrata as sensações favoráveis que as classes dominantes escravistas sentiam com esse trabalho escravo a coceira boa do bichodepé a comida posta na boca pela negra e da que transmitiu a sua primeira sensação de amor físico mas não retrata aquilo que os escravos sentiam ao prestar esses ser viços que permitiam a existência parasitária da classe senhorial Transpira ainda do trecho uma visão escravista da mulher negra que serviria apenas como objeto de trabalho e para o amor físico isto é servir de objeto de uso sexual para os filhos dos senhores de engenho e escravos Este posicionamento de Freyre marca toda a sua obra Uma visão compacta do escravismo visto através dos valores da casagrande Moura 1983 88 Essa descrição do Brasil a partir das sensibilidades e experiências geopolíticas e cor popolíticas brancas descreveram na maioria das vezes as capacidades artísticas e religiosas das populações negras como folclóricas e passadistas sem contribuições para o presente e o futuro Salvo raras exceções também não registraram a tradição oral negra e sua resistência contra a opressão a dominação e desumanização Os registros corpogeopolíticos das experiências negras foram realizados por alguns intelectuais negros como por exemplo Clóvis Moura que jamais se tornou um pro fessor universitário e não teve a oportunidade de formar gerações de pesquisado res Estes intelectuais não trataram o registro oral e os fragmentos das enunciações da população negra a exemplo do folclore como se fossem peças de museu fossi lizadas sem participação na dinâmica histórica Ao contrário os intelectuais negros têm considerado os registros orais e as encenações artísticas em geral músicas religiosidade afrobrasileira experiências das populações quilombolas teatro dan ça pintura festejos etc como enunciações culturais e políticas a partir das quais temos construído novas interpretações da sociedade brasileira Este tem sido o desafio para as novas gerações de pesquisadoras e pesquisadores negros trazer não apenas os diversos registros orais e artísticos da população negra para o primeiro plano da interpretação sóciohistórica da sociedade brasileira mas também os próprios trabalhos escritos por intelectuais brasileiros que foram mar ginalizados pela produção hegemônica do conhecimento no país Podemos dizer que na busca dos registros orais e dos escritos de intelectuais bem como no diálogo com os atuais intelectuais negros deparamonos com uma produção a partir da cor pogeopolítica do conhecimento ou seja uma produção intelectual que traz para a análise as experiências vividas do intelectual negro Podemos encontrar estas intervenções e contribuições corpopolítica e geopolítica por exemplo nos intelectuais e ativistas da passagem do século XIX para o XX tais Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 133 como Luiz Gama Maria Firmina dos Reis José do Patrocínio André Rebouças Lima Barreto cf Chalhoub Pinto 2016 Também podemos nos deparar com esse tipo de contribuição nas intervenções do Teatro Experimental do Negro e as contribui ções de Abdias do Nascimento e Guerreiro Ramos em meados do século passa do Da mesma forma trazem contribuições semelhantes a geração dos anos 1970 1980 e 1990 representadas por Beatriz Nascimento Lélia Gonzáles Sueli Carneiro Eduardo de Oliveira e Oliveira e outros Por exemplo Eduardo de Oliveira e Oliveira argumenta na mesma direção que esta mos apontando propondo mesmo a criação de uma sociologia negra Vivemos num mundo onde a cor a etnicidade e a classe social são de primordial importância sendo assim impossível ao cientista e em particular ao cientista negro manter uma neutralidade valo rativa São estas considerações que nos levam a ideia de uma sociologia negra ou uma historiografia economia antropologia negras etc Ela surge como reação e revolta contra o viés da so ciologia principal burguesaliberal como um passo positivo para o estabelecimento de definições básicas conceitos e construções que utilizam a experiência histórica dos afrobrasileiros Oliveira e Oliveira 1977 26 Estes intelectuais não estavam somente intervindo na luta contra a colonialidade do poder do ser e do conhecimento no âmbito nacional senão participando desta luta no plano internacional bem como se solidarizando com as populações afrodiaspó ricas construindo conexões com o Atlântico Negro Por exemplo André Rebouças 18381898 após a queda da monarquia no Brasil 1888 exilase na Europa e em seguida faz uma viagem pela África entre 18911893 ocasião em que escreve cartas a colegas brasileiros assinando como o negro André ou o Ulisses africano onde sugere um diálogo com o panafricanismo em gestação nos Estados Unidos no mes mo período Mattos 2016 Outro Exemplo é Abdias do Nascimento 19142011 que durante seu exílio nos Estados Unidos devido à ditadura política no país lecio nou na State University of New York em Buffalo e na Universidade ObafemiAwalo wo antiga Universidade IléIfé na Nigéria Neste período esteve em diálogo com ideias e com intelectuais da África Caribe e Estados Unidos Além disso envolveuse no diálogo contra o apartheid na África do Sul e acompanhou a luta pela descolo nização de Moçambique e Angola Nascimento 2002 Lélia Gonzáles 19351994 também circulava o Atlântico Negro acompanhava as lutas políticas na África do Sul e Namíbia participava de mesas redondas com feministas negras norteamericanas e tinha contato com o movimento afrocaribenho afrocolombiano afroperuano etc Gonzáles 1988 134 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Estes e muitos outros intelectuais negros tem estado em diálogo com o Atlântico Negro a partir de suas experiências e sensibilidades históricas Se podemos encon trar um registro do terror racial em seus escritos também podemos nos deparar com múltiplas e heterogêneas reações e resistências às hierarquias raciais cuja ex pressão mais fidedigna são os quilombos Gonzáles 1988 78 A ênfase dos intelectuais negros brasileiros seja ante o conhecimento científico acadêmico hegemônico seja diante do projeto decolonial e da tradição dos estu dos do Atlântico Negro é não se perder no universalismo mas também não se fechar no provincialismo como menciona Césaire A fim de que construamos um universalismo concreto que permita a coexistência de particulares sem que cada particular precise se esconder atrás de uma ideia abstrata ou desincorporada é preciso afirmar a corpogeopolítica do conhecimento Esse ato de afirmação onto lógica é também um ato de qualificação epistemológica para a participação de inte lectuais negros brasileiros no projeto decolonial bem como na tradição de diálogos do Atlântico Negro Conclusão A discussão acima constituise num chamado ao diálogo mais horizontal Tal qual propõe Dussel é preciso construirmos conexões entre os múltiplos subcentros su burbanos Mas a condição primeira da possibilidade deste diálogo é a afirmação ontológica dos condenados da terra Somente se esta condição for atendida é que poderemos falar em uma qualificação epistemológica dos saberes que outrora fo ram desqualificados e descartados pela colonialidade do saber Tanto a afirmação ontológica como a epistemológica são precondições para pensarmos a decoloniali dade do poder e caminharmos rumo à transmodernidade Tanto o projeto da decolonialidade quanto a tradição do Atlântico Negro não po dem se perder em formulações genéricas sob o risco de incorrerem não mais num universalismo abstrato tal qual caracterizou a ciência modernocolonial senão em generalizações que colocam sob determinados guardachuvas experiências muito diversas Da mesma forma que o substantivo América Latina é muito largo e escon de as experiências de intelectuais negros brasileiros o mesmo vale para os estudos do Atlântico Negro A radicalização do giro decolonial ou do projeto da decolonialidade requer a urgente necessidade da afirmação da corpopolítica do conhecimento bem como das raízes roots para que possamos construir espaços horizontais de diálogo e não correr mos o risco de voltarmos ao universalismo abstrato Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 135 Decoloniality Black Atlantic and black intellectuals in Brazil in search of a horizontal dialogue Abstract Based on the contributions of decoloniality theorists and in dialogue with the tradition of Black Atlantic studies the article in search of a cognitive justice proposes a horizontal and equita ble dialogue between these two politicalacademic thinking fields and Brazilian black intellectuals For the development of this argument we radicalized the commitment of the decolonial project with the bodygeopolitics of knowledges assumption as well as proposing a greater emphasis on roots rather than on routes in studies of the Black Atlantic This affirmation of the bodygeopol itics of knowledge and roots is the key to the ontological and epistemological affirmation of black populations as well as to construct a multiversal and transmodern dialogue in which particular experiences are not lost in a provincialism or in an abstract universalism Keywords decoloniality Black Atlantic Brazilian Black intellectuals Referências BERNARDINOCOSTA J GROSFOGUEL R Perspectiva negra e decolonialidade Re vista Sociedade e Estado v 31 n 1 p1322 2016 BOGUES A Black heretics black prophets radical political intellectuals New York London Routledge 2015 CARNEIRO S A construção do outro como nãoser como fundamento do ser Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universida de de São Paulo São Paulo 2005 CHALHOUB S PINTO A F M Orgs Pensadores negros pensadoras negras Bra sil séculos XIX e XX Cruz das Almas Belo Horizonte Editora UFRB Fino Traço 2016 CHRISMAN L Whose black world is this anyway Black atlantic and transnational studies after The Black Atlantic In LEDENT B CUDERDOMÍNGUEZ P Eds New perspectives on the black atlantic definitions readings practices dialogues Bern Peter Lang 2012 COLLINS P H Black feminist thought knowledge consciousness and politics of em powerment New York London Routledge 2000 DUSSEL R Trasmodernidade e interculturalidade interpretações a partir da filoso fia da libertação Revista Sociedade e Estado v 31 n 1 p 4971 2016 1492 el encubrimiento del otro hacia el origen del mito de la modernidade Bolivia Plural Editores 1994 Filosofia de la liberación Mexico Edicol 1977 136 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 ESCOBAR A Mundos y conocimientos del otro modo el programa de investigación de modernidadcolonialidade latinoamericano Tabula Rasa n 1 p 5186 2003 FANON F Pele negra máscaras brancas Salvador Edtora UFBA 2008 Os condenados da terra Juiz de Fora Editora UFJF 2005 GILROY P Against race imagining political culture beyond the color line Cambridge MA Harvard University Press 2000 O Atlântico Negro São Paulo Editora 34 2001 GONZÁLEZ L A categoria políticocultural de amefricanidade Tempo Brasileiro n 9293 p 6982 1988 GORDON L Introdution to africana philosophy Cambrigde Cambrigde University Press 2008 GRAMSCI A Os intelectuais e a organização da cultura Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1982 GROSFOGUEL R A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas racismosexismo epistêmico e os quatro genocídiosepistemicídios do longo século XVI Revista Sociedade e Estado v 31 n 1 p 2347 2016 Decolonizing werstern universalisms decolonial pluriversalism from Aimé Césaire to the Zapatistas Transmodernity Journal of Peripheral Cultural Production of the LusoHispanic World v 1 n 3 p 88104 2012 HENRY P Calibans reason introducing afrocaribbean philosophy New York Lon don Routledge 2000 HOOKS B Intelectuais negras Estudos Feministas v 3 n 2 p 464469 1995 JAMES C R L Jacobinos negros Toussaint LOuverture e a Revolução de São Domin gos São Paulo Boitempo 2004 LEDENT B CUDERDOMÍNGUEZ P Eds New perspectives on the black atlantic definitions readings practices dialogues Bern Peter Lang 2012 MALDONADOTORRES N Descolonización y el giro descolonial Tabula Rasa n 9 p 6172 2008 Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 137 Sobre la decolonialidade del ser contribuciones al desarrollo de un con cepto In CASTROGOMEZ S GROSFOGUEL R Orgs El giro decolonial reflexio nes para una diversidad epistémica mas allá del capitalismo global p 127167 Bo gotá Siglo del Hombre Editores Universidad Central Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos Pontificia Universidad Javeriana Instituto Pensar 2007 MATTOS H André Rebouças e o pósAbolição entre a África e o Brasil 18881989 In CHALHOUB S PINTO A F M Orgs Pensadores negros pensadoras negras Brasil séculos XIX e XX p 129143 Cruz das Almas Belo Horizonte Editora UFRB Fino Traço 2016 MIGNOLO W Histórias locaisprojetos globais colonialidade saberes subalternos e pensamento liminar Belo Horizonte Editora UFMG 2003 MOURA C Brasil raízes do protesto negro São Paulo Global 1983 NASCIMENTO A O quilombismo Brasília Rio de Janeiro Fundação Cultural Palma res OR editor 2002 OBOE A SCACCHI A Eds Recharting the black atlantic modern cultures local communities global connections New York London Routledge 2008 OLIVEIRA E OLIVEIRA E Etnia e Compromisso Intelectual II Caderno da Semana de Estudos sobre a Contribuição do Negro na Formação da Sociedade Brasileira p 22 28 Niterói Universidade Federal Fluminense 1977 QUIJANO A Colonialidade do poder eurocentrismo e América Latina In LANDER E Org A colonialidade do saber eurocentrismo e ciências sociais p 227278 Perspectivas latinoamericana Buenos Aires Clacso 2005 RAJI W Tornadoes full of dreams Paul Gilroys Black Atlantic and African literature of the transatlantic imagination In LEDENT B CUDERDOMÍNGUEZ P Eds New perspectives on the black atlantic definitions readings practices dialogues p 173 194 Bern Peter Lang 2012 WALLERSTEIN I La creación del sistema mundial moderno In PEÑA L B JARAMIL LO R Orgs Un mundo jamás imaginado p 18 Bogotá Editorial Santillana 1992 WILLIAMS J M Négritude as performance practice Rio de Janeiros Black experi mental theatre In OBOE A SCACCHI A Eds Recharting the black atlantic mo dern cultures local communities global connections p 4557 New York London Routledge 2008 Prealgebra multiplication problem 15 59 given with answer options a 84 b 74 c 74 d 154 shown below The image also includes colorful decorative elements and text boxes ISSN 21792984 Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 72 EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu EDUCATION AND DECOLONIALITY The history of Africa and diaspora away from the european look Serinaldo Oliveira Araújo1 Maria do Carmo Rebouças dos Santos2 RESUMO Esta pesquisa traz reflexões preliminares para repensar a introdução do ensino da história da África e diáspora negra no currículo escolar a partir da perspectiva dos próprios africanos privilegiando seus fundamentos epistemológicos e herança intelectual como estratégia e possibilidade de descolonização de saberes eurocêntricos oficiais e dominantes que silenciam e reduzem as produções de outros saberes a um conjunto de representações estereotipadas tornando necessárias medidas de intervenção que possam insurgir e resistir promovendo outras epistemologias e práticas docentes Tratase de pesquisa de caráter qualitativo combinada com revisão bibliográfica Tendo como fundamento teórico o marco decolonial Como resultado esperase desvelar as dimensões básicas da colonialidade do saber no currículo escolar e apresentar uma possibilidade de intervenção decolonial na Educação Básica a partir de uma pesquisa que tem sido desenvolvida no Programa de PósGraduação em Ensino das Relações ÉtnicosRaciais PPGER da Universidade Federal do Sul da Bahia UFSB Palavraschave Decolonialidade História Africana Educação ÉtnicoRacial ABSTRACT This research brings preliminary reflections to re think the introduction of the teaching of the history of Africa and the black diaspora in the school curriculum from the perspective of Africans themselves privileging their epistemological foundations and intellectual heritage Such attitude is an attempt of decolonizing dominant Eurocentric knowledge which silence and reduce the production of other knowledge to a set of stereotyped representations This is a qualitative research based on the decolonial framework as its theoretical foundation As a result it is expected to reveal the basic dimensions of the coloniality of knowledge in the school curriculum and to present a 1 Especialista em Docência de Gênero e Sexualidade e Mestrando do Programa de Pós Graduação em Ensino e Relações Étnicos Raciais PPGER UFSB Professor de História da Educação Básica Email odlanireshotmailcom 2 Doutora em Desenvolvimento Sociedade e Cooperação Internacional pelo Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinar da Universidade de Brasília Professora Adjunta do Curso de Direito e professora credenciada do Programa de PósGraduação em Ensino e Relações Étnicos Raciais na Universidade Federal do Sul da Bahia PPGERUFSB Email mariadocarmoufsbedubr ARTIGO Recebido em 03042020 Aprovado em 25052020 Publicado em 23122020 EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 73 possibility of decolonial intervention in Basic Education from a research that has been developed in the Postgraduate Program in Teaching Ethnic and Racial Relations PPGER from the Federal University of Southern Bahia UFSB Keywords Decoloniality African history Racial Ethnic Education 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa traz reflexões preliminares de estudo em andamento no Programa de PósGraduação em Ensino e Relações ÉtnicoRaciais PPGER na UFSB Universidade Federal do Sul da Bahia Campus Sosígenes Costa na área de Pós Colonialidade e Fundamentos da Educação tendo como proposta a introdução da perspectiva decolonial na educação básica De caráter qualitativo combinada com revisão bibliográfica esta pesquisa problematiza se a abordagem da história da África dos africanos e negros e negras no Brasil tem proporcionado aos brasileiros o conhecimento de sua ancestralidade e herança intelectual africana ou contribuído para manutenção de uma educação eurocêntrica e perpetuação do racismo E a partir da análise teórica decolonial pensar estratégias por perspectivas de autores negroas e africanoas como metodologia de pertencimento e ancestralidade Assim edificar um ponto de vista a partir do olhar do próprio continente e dos povos negros A proposta é repensar a História da África e diáspora negra a partir da perspectiva decolonial A teoria Decolonial nos propõe estratégias de resistência política e principalmente epistêmica nos permite desvelar como a colonialidade opera e como os sujeitos colonizados a vivenciam ao mesmo tempo que nos dá ferramentas conceituais para insurgirmos resistirmos e avançarmos a descolonização Avançar a descolonização no âmbito desta pesquisa é legitimar saberes não instituídos memórias e histórias não contadas bibliografias africanas e diaspóricas seus fundamentos epistemológicos e herança intelectual ir além dos saberes eurocêntricos oficiais e dominantes que silenciam e reduzem as produções de outros saberes a um conjunto de representações estereotipadas ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 74 2 DECOLONIALIDADE Em seu livro Cultura e Imperialismo o autor Edward Said 1995 um dos mais importantes pensadores póscoloniais3 nos faz perceber como a literatura europeia foi usada no período de colonização e imperialismo para justificar sua política expansionista principalmente no continente africano e asiático Tramasromances consolidavam narrativas e sustentavam estereótipos Para Said o que há de marcante nesses discursos são as figuras retóricas que encontramos constantemente em suas descrições do Oriente misterioso os estereótipos sobre o espírito africano ou indiano irlandês jamaicano chinês as ideias de levar a civilização a povos bárbaros ou primitivos a noção incomodamente familiar de que se fazia necessário o açoitamento a morte ou um longo castigo quando eles se comportavam mal ou se rebelavam porque em geral o que eles melhor entendiam era a força ou a violência eles não eram como nós e por isso deviam ser dominados SAID 1995 p 02 Nestes termos romances europeus defendiam e contribuíam às ideias colonialistas e imperialistas e na atualidade narrativas como essas contribuem a colonialidade Desse modo a história e diáspora africana não devem ser interpretadas apenas por uma luta pela terra e por quem nela poderia se estabelecer é também uma luta pela linguagem pelo poder de narrar O continente não sofreu apenas a invasão estrangeira mas teve sua história sujeitada por uma narrativa eurocêntrica que atendia e consolidava a política de dominação europeia SAID 1995 Portanto é o poder de narrar ou a interdição de outras narrativas que constituíram historicamente a alusão a África a terras distantes e exóticas dos seus nativos a selvagens e indolentes e de suas culturas a total oposição a cultura branca europeia 3 Como afirma Costa 2006 o póscolonialismo enquanto corrente ou escola de pensamento compartilha em meio as suas múltiplas perspectivas um discurso de rompimento da hegemonia dos sujeitos e narrativas contemporâneas desfazer essencialismo e com conhecimento critico incidir contra a modernidade e as concepções dominantes EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 75 Ora logo se percebe que é necessário refazermos o percurso reaprender a história da África longe do olhar estrangeiro Pensar a história e diáspora africana pela contribuição de intelectuais negros e de estudiosos decoloniais preferencialmente africanos negras e negros com agendas próprias e sólidas bibliografias por um ponto de vista africano KIZERBO 2010 A perspectiva decolonial surge justamente em contraposição a colonialidade por meio de práticas e insurgências que incidem sob a matriz eurocentrada do conhecimento e nos permite pensar outras narrativas e legitimar outros saberes e sujeitos Este pensamento que é fomentado na América Latina na década de 1990 surge como crítica teórica à medida que sugere pensar a América Latina diáspora africana e descolonização preferencialmente a partir de narrativas próprias não tendo mais a Europa como matriz única e hegemônica do conhecimento A teoria decolonial permitenos identificar os modos pelos quais os sujeitos colonizados experienciam a colonização ao mesmo tempo em que fornece ferramentas conceituais para progredir a descolonização MALDONADO 2018 O pensamento decolonial inicialmente se relaciona as insurgências e resistências protagonizadas pelo povo indígena e afrocaribenho surge portanto nos processos de independência contraposição ao colonialismo e imperialismo europeu SANTOS 2018 Contudo como se diferencia descolonização e decolonialidade ou Colonialismo e Colonialidade Em linha com Santos 2018 p 02 primeiramente é relevante pontuar que as diferenciações postas por estes termos se articulam como teóricas e políticas A descolonização é compreendida como os movimentos de revolução e luta que reivindicavam a sua independência política e econômica Ela é a luta contra o processo de colonização que se refere a formação histórica das colônias em que os europeus invadiram saquearam escravizaram e desumanizaram os povos originários nas Américas África e Ásia MALDONADO 2018 A decolonialidade por sua vez se trata de um pensamento que luta e combate a colonialidade em suas dimensões mais distintas epistêmicas ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 76 simbólicas e materiais A colonialidade é compreendida historicamente como a lógica global que por uma hierarquia racializada desumaniza e determina socialmente os papeis dos sujeitos mesmo na ausência das colônias formais MALDONADO 2018 WALSH 2019 Ela é difusa e opera por três dimensões ser saber e poder A colonialidade do saber do ser e do poder são os três componentes fundamentais da modernidadecolonialidade e cada um deles faz referência ao sujeito corporificado a subjetividade é comum as três dimensões Assim o sujeito é um campo de luta e um espaço que deve ser controlado e dominado para que a coerência de uma visão de mundo continue estável MALDONADO 2018 p 43 A Colonialidade do saber é um dos pontos centrais das discussões decoloniais pois ela trata da dimensão da linguagem que é parte constitutiva da subjetividade intrinsicamente ligada a maneira como os sujeitos se expressam expõem suas ideias experenciam os seus sentimentos e se relacionam Pelo discurso de dominação a colonialidade do saber seleciona e desloca sujeitos e saberes a marginalidade cria impossibilidades para que os condenados da terra4 assumam a posição de produtores de conhecimento e possam acender intelectualmente Estamos tratando de mecanismos de poder que operam por meio de discursos e controle social que sustentam a matriz eurocentrada que pretende uma assepsia uma espécie de eugenia epistemológica aversa a intelectuais e outras formas de conhecimento que não façam parte do sistema hegemônico branco europeu misógino e racista Perceber como esses discursos são forjados e os interesses de quem ele atende é essencial para criarmos dissidências e contradiscursos Para isso mobilizamos Michel Foucault filósofo historiador e crítico literário francês que mesmo de matriz europeia nos fornece ferramentas conceituais para percebermos como o discurso é útil à dominação e controle social logo a colonialidade 4 Referência a obra Condenados da Terra publicada pela primeira vez em 1961 escrita por Franz Fanon psiquiatra ensaísta e filósofo da Martinica envolvido na luta de independência da Argélia e um dos mais importantes pensadores do século XX Autor essencial para pensarmos colonização e decolonialidade EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 77 3 DISCURSO BIOPODER E EPISTEMICÍDIO Michel Foucault na ordem do discurso em seu pronunciamento na aula inaugural no Collège de France em 2 de dezembro de 1970 onde foi professor provocanos ao dizer que os discursos proliferam indefinidamente ao mesmo tempo que é precedido por uma série de conflitos interesses e formas já ritualizadas de exercício de poder Ele supõe que em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada selecionada organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes perigos dominar seu acontecimento aleatório esquivar sua pesada e temível materialidade FOUCAULT 2014 p 08 O autor apresenta o discurso como um dispositivo de poder como procedimento capaz de gerar exclusões interdições separações e rejeições Neste sentido a proposta é mobilizar aspectos do conceito de discurso em Foucault para pensarmos os processos de exclusão interdição e rejeição do negro no Brasil O conceito de discurso nos dá subsídios para desvelar que o racismo e silenciamento da história e do protagonismo negro no Brasil não são acontecimentos aleatórios tratase de uma estratégia de dominação de poder reiterada pela seleção e organização minuciosa das narrativas que principalmente no currículo5 escolar exclui interdita separa e rejeita o legado africano e diaspórico O discurso e neste sentido o currículo instituições e meios de comunicação se constituem como um campo de disputa estratégico com potencialidade de contribuir aos ferimentos servidão e dominação mas com possibilidade de serem reiterados úteis ao enfretamento do racismo e silenciamento dos saberes outros interditados e rejeitados pelas narrativas dominantes eurocentradas 5 O currículo não como algo estático normativo e oficial e sim um currículo vivido e dinâmico que está relacionado a toda a comunidade escolar e as relações que ela proporciona ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 78 Ainda que a ausência do legado africano e dos povos negros nos livros didáticos pareça ingênua ela revela sua ligação com o poder que tem desta maneira capacidade de incidir sob o que nos é tão caro a produção e aquisição de conhecimento Tratase de uma produção com bases epistêmicas em Europa que impõe toda sorte de empecilhos para que a ancestralidade legado e intelectualidade negra não tenham visibilidade Outro conceito de Foucault que permite uma análise desse processo de apagamento histórico da produção de conhecimento dos povos negros no Brasil é o de biopoder O autor em outros cursos ministrados no Collège de France durante a década de 1970 anunciava a emergência de um novo tipo de poder social que sucederia as sociedades disciplinares analisadas por ele As sociedades disciplinares se constituíam pela ação sobre os indivíduos sobre os corpos dos indivíduos Contudo em um processo de transição dava lugar a um novo tipo de poder social que não age em sujeitos individuais mas se estende sobre as populações grandes grupos sociais de maneira mais sutil e sofisticada tratase de um poder sobre a vida o qual ele chamou de biopoder FOUCAULT 1999 Esta outra perspectiva de poder amplia o controle e sujeição impostas pelos dominantes aos condenados da terra aqueles que são sujeitados e em uma hierarquia racializada tem seus lugares e posições previamente determinados Ele se estende ao currículo escolar e a cultura à medida que os negros e negras são representados de maneira folclorizada em papeis secundários e irrelevantes A filósofa escritora e ativista Sueli Carneiro a partir das perspectivas de Foucault aliada ao conceito de epistemicídio do autor Boaventura Souza Santos6 membro do grupo ColonialidadeModernidade que tem fomentado na América Latina os estudos decoloniais que usa esse termo desde uma das suas mais importantes obras Pela mão de Alice7 aponta em sua tese de doutorado A construção do outro como nãoser como fundamento do ser8 que a 6 Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de WisconsinMadison 7 Pela mão de Alice o social e o político na transição pósmoderna publicada pela primeira vez em 1994 procura de maneira organizada refletir sobre os diferentes modos de vivermos em sociedade 8 Tese de doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação da Universidade de São Paulo em 2005 EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 79 biopolítica e os discursos eurocentrados sequestram subjugam e mutilam a capacidade de nós negros aprendermos ferindo de morte a nossa racionalidade O espistemicídio se constitui como um processo contínuo de produção da inferiorização e negação das maiorias minorizadas9 de sobremaneira os negros tratase de um aparato eficaz que subjuga de maneira étnicoracial à medida que nega o conhecimento produzido pelo outro No que diz respeito ao conceito de espistemicídio a autora ainda nos diz Para nós porém o epistemicídio é para além da anulação e desqualificação do conhecimento dos povos subjugados um processo persistente de produção da indigência cultural pela negação ao acesso à educação sobretudo de qualidade pela produção da inferiorização intelectual pelos diferentes mecanismos de deslegitimação do negro como portador e produtor de conhecimento e de rebaixamento da capacidade cognitiva pela carência material eou pelo comprometimento da autoestima pelos processos de discriminação correntes no processo educativo CARNEIRO 2005 p 97 A autora compreende que ao passo em que os conhecimentos história e protagonismo negro são desqualificados se exclui e silencia coletivamente os seus indivíduos tendoos como sujeitos incognoscentes Diante dos conceitos apresentados vemos que a destituição do conhecimento de nossa história se desvela pela negação da racionalidade do outro ou pela assimilação cultural que em outros casos lhe é imposta CARNEIRO 2005 p 97 Notamos a relação de racialidade e biopoder imbricadas em características que tendem a normalizar matar anular quaisquer conhecimentos que não compartilhem que não sejam de matriz eurocentrada Controlando portanto não somente o acesso ao conhecimento mas exercendo o controle coletivo sobre corações mentes ancestralidades e legados Ora os conceitos de discurso e biopoder aliados ao espistemicídio conceito de Boaventura Souza Santos evocado aqui pela autora Sueli Carneiro permitinos pensar sobre a política de apagamento da qual a nossa gente negra vem sendo vítima Situação que compromete a relação dos negros e negras no 9 Construto do autor Richard Santos 2018 professor Adjunto do Instituto de Humanidades Artes e Ciências IHAC e professor credenciado do Programa de PósGraduação em Ensino e Relações ÉtnicosRaciais na Universidade Federal do Sul da Bahia PPGERUFSB ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 80 Brasil com a educação e reverbera em práticas racistas e desigualdades socias Os conceitos permitinos ainda uma percepção da condição do alunoa negrao na escola e a partir disso pensar práticas que lhes dê visibilidade e acesso a história de seu povo Para além disso rompermos com a estratégia racista de dominação e hierarquização racial que relaciona a nossa capacidade intelectual a diferença étnicoracial 4 EDUCAÇÃO E RAÇA A diferença racial é algo que se evidencia principalmente na escola porém ela pode ser um lugar perverso de proliferação do racismo e violência simbólica10 mesmo após a criação e aprovação da Lei nº 10639 de 9 de janeiro de 2003 que altera a Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir e tornar obrigatório no currículo escolar da educação básica estabelece que o estudo da História da África e dos africanos a luta dos negros no Brasil a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social econômica e política pertinente à História do Brasil BRASIL 2004 p 9 Além da própria Lei nº 106392003 houve posteriormente a elaboração do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o ensino de história e cultura afro brasileira e africana BRASIL 2004 Tratase de um indutor de uma política educacional voltada para relações étnicoraciais que detalha ações metas e períodos para implementação efetiva da Lei 96392003 Contudo nas escolas ainda existem dificuldades em proporcionar uma educação para relações étnicoraciais Por vezes ela é proposta a partir de saberes eurocêntricos que abordam a história da África negros e negras de maneira folclorizada reduzindoas a relações subalternizadas o que pode 10 Violência simbólica é um conceito social elaborado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu o qual aborda uma forma de violência exercida pelo corpo sem coação física causando danos morais e psicológicos EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 81 acarretar em diversos problemas como a perpetuação do racismo nas escolas a desidentificação dos sujeitos e a evasão escolar Sabese que uma prática docente de perspectiva eurocentrada que não proporcione acesso às culturas memórias e ancestralidade africana torna a escola desinteressante e pode contribuir para o aumento dos índices de repetência e evasão escolar dos estudantes negros por não se identificarem com o currículo e saberes instituídos ORIÁ 2005 Esses problemas podem conferir à escola um tipo de racismo condescendente haja vista uma abordagem da História da África de maneira reducionista como elemento de um passado remoto que a impede de ser vista e problematizada na contemporaneidade ZUBARAN SILVA 2012 Outro desafio posto é a negação que os estudantes fazem da sua própria descendência decorrente da maneira que os negros são apresentados nas atividades escolares geralmente personagens secundários de lugares periféricos ou associados exclusivamente à escravização fazendo com que estudantes se identifiquem com a narrativa do colonizador gerando a desindentificação dos sujeitos negros MUNANGA 2004 SANTOS 2018 A autora pedagoga e umas das mais importantes intelectuais brasileiras Nilma Lino Gomes concluiu em 2012 uma pesquisa que tinha por objetivo verificar em escolas de diferentes regiões o andamento da implementação da Lei 106392003 Gomes pôde constatar justamente o que já foi ratificado aqui a dificuldade das instituições escolares em efetivar a Lei A autora nos diz o seguinte Podese afirmar que não existe uma escola dentre as 36 participantes da pesquisa que tenha realizado essa mudança política e epistemológica na sua totalidade Dado a complexidade da questão racial no Brasil no que diz respeito à educação escolar tal mudança ainda não é possível de se verificar nos currículos e nas práticas pedagógicas existentes na educação básica atual Mas podese afirmar que as escolas com enraizamento intenso e mediano se aproximam mais desse movimento Essa situação se dá menos pela existência de um debate e uma reflexão profunda entre osas própriosas docentes gestoresas e pedagogosas que protagonizam as práticas na perspectiva da Lei 1063903 e mais pelo senso de justiça social desenvolvidos por esses sujeitos GOMES 2012 p 350 ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 82 Implementar uma educação para relações étnicosraciais é portanto um esforço de trazer à comunidade negra no Brasil o conhecimento de sua história e legado e neste sentido não podemos continuar nos escondendo atrás de um currículo escolar que silencia impõe estereótipos e lida de maneira desigual preconceituosa e discriminatória com as diferenças presentes na escola MUNANGA GOMES 2006 p 24 Não ficar escondido por detrás do currículo é propor bibliografias que apresente a história do continente africano e dos povos negros livre de estereótipos apresentar suas sociedades organizadas e diversas técnicas e tecnologias é retificar e ratificar que a África tem uma história e que não se resume ao tráfico de pessoas escravizadas e à pobreza KIZERBO 2010 Para além de traçar e compreender a história da África através de sua população povoamentos coexistência humana com a natureza sociedades duradouras e da defesa e resistência à agressão estrangeira é necessário que a prática docente possa internalizála e suscitar pertencimentos OLIVA 2003 pois a História da África encontra no Brasil um ponto convergente seu legado preenche uma lacuna na compreensão do processo da formação do povo brasileiro caso contrário segundo Oliveira 2009 permitiremos que o processo de ensinoaprendizagem continue a ser alienado vítima da dominação cultural que silencia e sujeita a cultura negra e africana a um conjunto de representações estereotipadas 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao problematizarmos a desqualificação e marginalização da história africana diáspora e protagonismo negro no Brasil nos deparamos com a lógica da colonialidade A partir dos conceitos de discurso e biopoder em Foucault notamos que a modernidade e colonialidade estão imbricadas tendo como característica proeminente dessa relação a diferença racial O discurso de desqualificação dos povos negros e a interdição de suas narrativas e produções intelectuais ou seja o epistemicídio faz parte da colonialidade do saber dimensão que incide sob o ensino currículos e seleção dos saberes propostos nos espaços formais e informais de educação EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 83 Em contraposição apresentamos o pensamento decolonial como ferramenta teórica perspectiva em fomento na América Latina que contradita as concepções dominantes por meio da produção de conhecimento crítico que combate essencialismos a partir da voz dos sujeitos históricos antes subalternizados Este pensamento nos impõe para além das reflexões a prática A práxis desta maneira se caracteriza pela produção intelectual crítica em contraposição aos saberes hegemônicos e pela visibilidade que podemos dar ao protagonismo negro e sua contribuição a formação do Brasil permitindo ao mesmo tempo que negros e negras tenham acesso a sua história e legado constituindo resistência a lógica colonial e racista REFERÊNCIAS BRASIL Conselho Nacional de Educação Resolução No 1 de 17 de junho de 2004 Brasília DF dez 2004 Disponível em httpportalmecgovbrcnearquivospdfres012004pdf Acesso em 10 nov 2019 CARNEIRO Sueli A construção do outro como nãoser como fundamento do ser 2005 Tese Doutorado em Educação Universidade de São Paulo São Paulo 2005 COSTA Sérgio Dois Atlânticos teoria social antiracismo e cosmopolitismo Belo Horizonte Editora UFMG 2006 GOMES Nilma Lino Práticas pedagógicas de trabalho com relações étnicoraciais na escola na perspectiva da Lei nº 1063903 Brasília MEC Unesco 2012 Disponível em httpsunesdocunescoorgark48223pf0000260516 Acesso em 27 nov 2019 KIZERBO Joseph História geral da África I Metodologia e préhistória da África 2ed rev Brasília UNESCO 2010 MALDONADOTORRES Nelson Analítica da colonialidade e da decolonialidade algumas dimensões básicas In GROSFOGUEL Ramón et al Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico Belo Horizonte Autêntica Editora 2018 ARAÚJO Serinaldo Oliveira SANTOS Maria do Carmo Rebouças dos Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama Eunápolis BA v 11 n 1 p 7284 janjun 2020 p 84 MUNANGA K A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil Entrevista concedida a Revista Estudos Avançados 1850 5166 2004 Disponível em httpwwwrevistasuspbreavarticleview9968 Acesso em 27 nov 2019 MUNANGA K NILMA Lino G O Negro no Brasil Hoje São Paulo Global 2006 OLIVA Anderson R A História da África nos bancos escolares Representações e imprecisões na literatura didática Estudos afro asiáticos v 25 2003 OLIVEIRA Eduardo D Epistemologia da Ancestralidade Entrelugares Revista Eletrônica de Sociopoética e abordagens afins v 1 n 2 marago 2009 Disponível em httpwwwentrelugaresufcbr Acesso em 12 ago 2019 ORIÁ R Ensino de história e diversidade cultural Desafios e possibilidades Cad Cedes Campinas vol 25 n 67 setdez 2005 RICHARD Santos O sujeito desidentificado e a liberdade negada à maioria minorizada Geledes São Paulo mai 2018 Seção Artigos e Reflexões Disponível em httpswwwgeledesorgbrosujeitodesidentificadoe liberdadenegadamaioriaminorizada Acesso em 27 nov 2019 SAID Edward Cultura e imperialismo São Paulo Companhia das Letras 1995 WALSH Catherine Interculturalidade crítica e pedagogia decolonial insurgir reexistir e reviver In CANDAU Vera Maria Org Educação intercultural na América Latina entre concepções tensões e propostas Rio de Janeiro 7 Letras 2009 p 1243 ZUBARAN Maria A SILVA P B Interlocuções sobre Estudos Afro Brasileiros Pertencimento étnicoracial memórias negras e patrimônio cultural afrobrasileiro Currículo sem Fronteiras v12 n1 jan 2012 PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI Curso História Semestre 5º6º Objetivos da Aprendizagem A produção textual é um procedimento metodológico de ensino aprendizagem que tem por objetivos Instigar os alunos apoiados nas informações presentes na BNCC sobre a área como ferramenta norteadora para o planejamento de atividades diferenciadas Relacionar teoria e prática a fim de proporcionar embasamento para atuação em atividades extracurriculares Desenvolver os estudos independentes sistemáticos e o autoaprendizado Favorecer a aprendizagem Promover a aplicação da teoria e conceitos para a solução de problemas práticos relativos à profissão PREZADO ALUNO A Seja bemvindo a a este semestre A presente proposta de Produção Textual Interdisciplinar Individual PTI possui como temática a construção de um pensamento decolonial sobre a história e cultura da população negra Escolhemos esta temática para possibilitar a aprendizagem interdisciplinar dos conteúdos desenvolvidos nas disciplinas desse semestre A decolonialidade pode ser entendida de forma breve como um caminho para resistir e desconstruir padrões conceitos e perspectivas impostos aos povos subalternizados durante todos esses anos sendo também uma crítica direta à modernidade e ao capitalismo O pensamento decolonial se coloca como uma alternativa para dar voz e visibilidade aos povos subalternizados e oprimidos que durante muito tempo foram silenciados disponível em httpswwwpolitizecombrcolonialidadee decolonialidade Acesso em 23 jun 2022 A partir desse conceito propomos uma discussão acerca da construção de uma visão sobre a cultura e a história africana que marca nossa história até a atualidade buscando reelaborar essa leitura a partir da perspectiva dos negros PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI ORIENTAÇÕES DA PRODUÇÃO TEXTUAL A Leitura da Situação Geradora de Aprendizagem e da SituaçãoProblema fornecerá os elementos necessários para a produção textual proposta na sequência SITUAÇÃO GERADORA DE APRENDIZAGEM SGA Os professores do curso de História criaram um site educacional para divulgar trabalhos produzidos pelos alunos Os alunos do 5º e 6º Semestres do curso foram convidados a escreverem textos para o site Os professores orientaram os alunos a escreverem textos sobre temas atuais e que estão no centro das discussões teóricas na área de ciências humanas Os professores também explicaram que os textos podem ser produzidos individualmente ou em grupo e que também é interessante inserir imagemns no decorrer do mesmo Emília se interessou em produzir um texto analisando o conceito de decolonialidade A escolha de tal tema levou em conta o grande apelo que esse conceito tem nos dias atuais Apesar de já ter ouvido falar sobre esse conceito ainda falta para Emília conhecimentos suficientes para a elaboração do texto Nesse sentido a partir de leituras e novos conhecimentos é que o texto deve ser elaborado SITUAÇÃOPROBLEMA SP O desafio então é auxiliar Emília a produzir um texto analisando o conceito de decolonialidade O desafio está organizado da seguinte maneira 1 Leitura do artigo intitulado Educação e Decolonialidade A história da África e diáspora longe do olhar europeu de Serinaldo Oliveira Araújo e Maria do Carmo Rebouças dos Santos Material disponibilizado com esta orientação 2 Leitura do texto A perspectiva negra decolonial brasileira insurgências e afirmações intelectuais de Maria dos Passos Disponível em httpswwwgeledesorgbra perspectivanegradecolonialbrasileirainsurgenciaseafirmacoes Acesso em 23 jun 2022 PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI 3 Vídeo O pensamento decolonial para superar a colonialidade e o racismo epistêmico no qual a profa Suze Piza explica os dois conceitos e o sentido de intervenção que a decolonialidade se baseia Disponível em httpswwwyoutubecomwatchv8qs9uXf0I0Y Acesso em 23 jun 2022 ORIENTAÇÕES PARA A EXECUÇÃO DO TRABALHO 1 A partir das leituras e do vídeo você deverá produzir um texto para um site educacional Desse modo deverá se atentar a linguagem utilizada a utilização de fontes os textos e vídeo indicados são obrigatórios mas você pode pesquisar outros materiais também Lembrese de selecionar uma ou mais imagens relacionadas ao texto Essas imagens podem ser inseridas no início meio ou fim do texto É importante que cada imagem ocupe o espaço de aproximadamente ¼ da lauda Abaixono rodapé da imagem coloque o tematítulo da mesma ano em que foi produzida autor e fontesite em que pesquisou tal imagem O texto deve partir da seguinte questão que é também título do texto De que modo a perspectiva decolonial no ensino de História pode colaborar para superar o racismo epistêmico Lembrese que esse texto deverá abordar questões como a O que significa o conceito de decolonialidade b De que modo essa perspectiva altera o modo de se pensar a História c Como essa perspectiva relacionase ou deve relacionarse ao Ensino de História d Qual a ligação entre a colonialidade e o racismo epistêmico 2 Indicamos ainda as seguintes leituras para a construção do trabalho KIZERBO Joseph História Geral da África I Metodologia e PréHistória da África Brasília UNESCO 2010 Biblioteca Virtual 30 Capítulo 3 Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e contribuição à história em geral p 3758 COSTA J Decolonialidade Atlântico Negro e intelectuais negros brasileiros em busca de um diálogo horizontal Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Disponível em PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI httpswwwscielobrjseaHBdmnKdkjFRXkWq9m6Ft8kPlangptformathtml Acesso em 27 jun 2022 3 O trabalhotexto deverá ser elaborado observando as seguintes orientações concernentes à parte formal do seu trabalho 1 Capa e folha de rosto Utilizar capa e folha de rosto padronizadas da instituição 2 Introdução A introdução 1 lauda deve contemplar a Apresentação do tema b Contextualização do tema c Descrição do que será discutido ao longo do texto 3 Desenvolvimento Para o desenvolvimento de seu trabalho 2 a 3 laudas você deverá a Responder ao questionamento apresentado b Fundamentar teoricamente com base em conceitos extraídos das suas leituras as quais deverão ser citadas e referenciadas de acordo com as normas da ABNT 4 Conclusão Para concluir seu texto você deve apresentar as suas considerações finais acerca do tema 1 lauda 5 Referências Apresentar todas as fontes utilizadas para consulta na elaboração das propostas 6 Normas da ABNT devem ser respeitadas e aplicadas em todas as etapas do trabalho OBSERVAÇÃO Você pode e deve consultar outras fontes textos artigos e afins sobre o tema na Biblioteca Digital na Biblioteca Virtual 30 e nos materiais das disciplinas NORMAS PARA ELABORAÇÃO E ENTREGA DA PRODUÇÃO TEXTUAL 1 O trabalho será realizado individualmente 2 Importante Você deverá postar o trabalho finalizado no AVA o que deverá ser feito na pasta específica atividades interdisciplinares obedecendo ao prazo limite de postagem conforme disposto no AVA Não existe prorrogação para a postagem da atividade 3 Deve conter depois de pronto capa e folha de rosto padrão da Instituição sendo organizado no que tange à sua apresentação visual tipos e tamanhos de fontes alinhamento do texto espaçamentos adentramento de parágrafos apresentação correta de citações e referências entre outros elementos importantes conforme modelo disponível no AVA PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI 4 A produção textual é um trabalho original e portanto não poderá haver trabalhos idênticos aos de outros alunos ou com reprodução de materiais extraídos da internet Os trabalhos plagiados serão invalidados sendo os alunos reprovados na atividade Lembrese de que a prática do plágio constitui crime com pena prevista em lei Lei nº 9610 e deve ser evitada no âmbito acadêmico 5 Importante O trabalho deve ser enviado em formato Word Não serão aceitos sob nenhuma hipótese trabalhos enviados em PDF A seguir apresentamos a você alguns dos critérios avaliativos que nortearão a análise do Tutor a Distância para atribuir o conceito à produção textual Normalização correta do trabalho com atendimento ao número de páginas solicitadas Apresentação de estrutura condizente com a proposta apresentada com introdução desenvolvimento e conclusão Uso de linguagem acadêmica adequada com clareza e correção atendendo à norma padrão Atendimento à proposta contemplando todos os itens solicitados com objetividade criatividade originalidade e autenticidade Fundamentação teórica do trabalho com as devidas referências dos autores eventualmente citados Lembrese de que seu Tutor a Distância está à disposição para lhe atender em suas dúvidas e também para repassar orientações sempre que você precisar Aproveite esta oportunidade para realizar um trabalho com a qualidade acadêmica de nível universitário Bom trabalho Equipe de professores A descolonialidade se determina como forma de pensamento que se inicia com base na essência de crítica a uma necessária desconstrução de logica e de colonialidade em si a qual se determina como uma relação de grande poder e dominação indo além das medidas de expressões que se expressam em determinadas relações de subjetividade Desse modo pode se entender que a descolonialidade determina como necessidade a construção de saberes de determinados indivíduos que dialogam com comunidades e grupos por foco de não se produzir meios de conhecimento que vai de incoerência a lógica do sistema Como afirma SANTOS em 2018 Nos diálogos iniciais com as primeiras leituras no campo decolonial percebi que em alguns escritos produzidos por intelectuais que integram o grupo MC ao serem traduzidos para a língua portuguesa encontrase a expressão descolonial como aparente sinônimo de decolonial O que pude observar é que não há um consenso No contexto latino americano por exemplo é mais comum o uso da expressão descolonial nas produções argentinas5 Assim logo nas primeiras aproximações o decolonial demarca uma posição de disputa epistemológica e enquanto movimento não é unívoco SANTOS 2018 p4 Conforme SANTOS em 2018 Como se diferencia descolonial e decolonial Primeiramente é relevante pontuar que as diferenciações postas por estes termos se articulam como teóricas e políticas O decolonial encontra substância no compromisso de adensar a compreensão de que o processo de colonização ultrapassa os âmbitos econômico e político penetrando profundamente a existência dos povos colonizados mesmo após o colonialismo propriamente dito ter se esgotado em seus territórios SANTOS 2018 p5 Desse modo fazse imprescindível entender as questões que se relacionam por serem a mistura de conceitos como decolonialidade descolonialidade e a colonialidade em si Assim temos que a decolonialidade questiona a colonialidade por meio de seu poder saber e ser Já a descolonialidade valoriza os saberes em si do individuo possibilitando uma melhora focando na complexidade da comunidade em si Ademais tem se que a colonialidade se determina como meio de controle de todos os recursos povo capital e trabalho em um povo e pais com base no mercado capitalista Diante disso ao longo do texto ocorrerá a discussão do que seria de modo de perspectiva decolonial o que se determina com base no racismo epistêmico o qual se faz de utilidade para o entendimento de diversas necessidades E assim entendese a necessidade de análise de história da África em si possibilitando um maior entendimento dos movimentos ocorridos ao longo dos séculos Desse modo como afirma ARAUJO e MARIA 2020 Avançar a descolonização no âmbito desta pesquisa é legitimar saberes não instituídos memórias e histórias não contadas bibliografias africanas e diaspóricas seus fundamentos epistemológicos e herança intelectual ir além dos saberes eurocêntricos oficiais e dominantes que silenciam e reduzem as produções de outros saberes a um conjunto de representações estereotipadas ARAUJO E MARIA 2020 p73 Desse modo é necessário analisar as questões que regem a história e diáspora africana que a entende não somente como meio de luta por uma terra mas como luta em detrimento de linguagem e a possibilidade de contar a sua história Diante disso tem se que conforme ocorre essa maciça invasão estrangeria também ocorreu grande eurocentrismo possibilitando assim uma dominação europeia Como afirma ARAUJO e MARIA 2020 Portanto é o poder de narrar ou a interdição de outras narrativas que constituíram historicamente a alusão a África a terras distantes e exóticas dos seus nativos a selvagens e indolentes e de suas culturas a total oposição a cultura branca europeia ARAUJO E MARIA 2020 p74 Com isto fazse primordial uma análise e nova forma de refazer o percurso da história em si possibilitando uma nova forma de olhar estrangeiro E desse modo temos que é primordial que a história e diáspora africana façam sentido em argumentos baseados nos estudiosos intelectuais e em intelectuais negros os quais podem ressaltar a necessidade de seu povo Desse modo o pensamento decolonial se faz por meio de novas possibilidades de pensamentos Conforme afirma MALDONADO em 2018 O pensamento decolonial inicialmente se relaciona as insurgências e resistências protagonizadas pelo povo indígena e afrocaribenho surge portanto nos processos de independência contraposição ao colonialismo e imperialismo europeu MALDONADO 2018 p6 Tem se então que a decolonização pode ser entendida com um grande processo de revolução que se faz em detrimento de reinvindicação de independência política e de teor econômico sendo uma grande luta por base no processo que possibilita a formação da história em si Assim esse processo se fomenta no escravizar invasão e saqueamento do povo em si que se advém da África Ásia e da América em si Sendo que essa decolonialidade do saber se determina como ponto principal da discussão Conforme afirma que FOUCALT em 2014 que em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada selecionada organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm porfunção conjurar seus poderes perigos dominar seu acontecimento aleatório esquivar sua pesada e temível materialidade FOUCAULT 2014 p 08 Ademais é necessário que passamos a relacionar as necessidades de entendimento de como a colonialidade implica no racismo epistêmico o qual se faz imposto por meio de corpos que são impostos em espaços histórico geográficos E assim hodiernamente por meio dessa análise entendese que o eurocentrismo aliado de epistemicidio e de assimilação mantem diversas estratificações sociais Com isto entendese que a razão que determina a colonização fazse presente em decorrência das raízes de origens etnocêntricas as quais se baseiam em arrogância cultural e por diferença baseadas em circunstâncias que se determinam como de cultura inferior Este último argumento fazse irreal já que o homem não pode e não deve banalizar a cultura do outro nem provocar tais considerações E assim o pensamento europeu ganha ainda mais força gerando uma forma de não assimilar a identidade do outro não possibilitando a mais diversa assimilação de cultura a qual fazse primordial em todas as instancias de história E desse modo como o povo europeu em sua maioria era branco ocorre rebaixamento do povo de cor no caso o povo africano E assim essa perspectiva se faz intimamente ligado ao ensino de história já que se determina como será o meio de abordar as questões de ensino E assim quando o assunto for abordado ocorre grande necessidade de se romper com os pensamentos antiquados gerando uma assimilação crítica do que ocorre ao aluno podendo possibilitar que ele assimile as visões erradas em relação a história em si Como conclusão podemos salientar que o ensino de história atua como forma de combate ao racismo epistêmico já que aborda diversos aspectos da luta e história do povo em si Então ocorre que o aluno por meio dessas análises pode traçar modo de questionamento possibilitando que ele trace uma linha de raciocínio e possa confrontar tais questões Desse modo o combate ao racismo se determina por ser baseado em um diálogo mais horizontal por meio de se abordar em sala autores negros renomados além de apresentação de uma trajetória que promove e discorre a respeito de atualidade e valorização de cultura negra Com isto pode ser abordar uma forma de maior ampliação de questionamento do que ocorreu E assim permite ao aluno construir um pensamento de modo crítico analisando todas as situações passando a ser um estudante mais ativo possibilitando uma melhoria em todas as esferas sociais E assim possibilitando ocorrer uma aplicação na sociedade em si Impactando efetivamente possibilidade de alteração no pensamento da história em si O tema em si é analisado por meio de vários poréns já que o ensino de história se determinava como algo que era feito de modo com base no olhar europeu o que impossibilitava a assimilação do que ocorria de fato Assim essa nova possibilidade de olhar analisado com base no ensino de história impacta diretamente como modo de um ensino mais plural REFERÊNCIAS As relações de poder em Michel Foucault reflexões teóricas isabella Maria nunes Ferreirinha Tânia regina raitz sl sn Disponível em httpswwwscielobrjrapar3mTrDmrWdBYKZC8CnwDDtqlangptformatpdf SANTOS V M DOS NOTAS DESOBEDIENTES DECOLONIALIDADE E A CONTRIBUIÇÃO PARA A CRÍTICA FEMINISTA À CIÊNCIA Psicologia Sociedade v 30 n 0 3 dez 2018 SERINALDO OLIVEIRA ARAÚJO MARIA EDUCAÇÃO E DECOLONIALIDADE A história da África e diáspora longe do olhar europeu Revista PINDORAMA v 11 n 1 p 7284 2020 KIZERBO Joseph História Geral da África I Metodologia e PréHistória da África Brasília UNESCO 2010 Biblioteca Virtual 30 Capítulo 3 Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e contribuição à história em geral p 3758 COSTA J Decolonialidade Atlântico Negro e intelectuais negros brasileiros em busca de um diálogo horizontal Revista Sociedade e Estado Volume 33 Número 1 JaneiroAbril 2018 Disponível em PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR INDIVIDUAL PTI httpswwwscielobrjseaHBdmnKdkjFRXkWq9m6Ft8kP langptformathtml Acesso em 27 jun 2022