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Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 42 RACISMO NAS REDES SOCIAIS PERPETUAÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL DE INFERIORIZAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA RACISM IN THE NETWORKS THE SOCIAL IMAGINARY PERPETUATION OF BLACKBOARD INFERIORITY IN BRAZILIAN SOCIETY Tatiana Maria Moura 1 Resumo Este artigo tem como proposta analisar o racismo enquanto um fenômeno histórico que possui uma funcionalidade no processo de estruturação das relações sociais Apesar de ser um fenômeno secular a manifestação do racismo se dá a partir de novas demandas da sociedade contemporânea A título de exemplo inúmeros casos de racismo em redes sociais foram registrados nos últimos anos Com isso buscase compreender a dinâmica do racismo utilizando como fonte de pesquisas postagens racistas contra negros e negras Para melhor delimitar esta análise utilizo as postagens veiculadas no Facebook caracterizado por um site de relacionamento virtual Por conseguinte pretendese fazer esta reflexão a partir do conceito de Imaginário Social Palavraschave Imaginário Social Racismo Redes Sociais Abstract This article aims to analyze the racism as a historical phenomenon which has a functionality in the structure of social relations process Despite being a secular phenomenon the 1 Mestranda no Programa de PósGraduação em História Mestrado Profissional da Universidade Federal de Goiás UFG Brasil manifestation of racism takes place from new demands of contemporary society For example innumerable cases of racism in social media have been recorded in recent years Then seeks to understand the dynamics of racism using as a research source posts with racist abuse against black men and women To better define this analysis I use posts of Facebook a virtual networking site Therefore seeks to make this reflection basing in the concept of Social Imaginary Keywords Racism Social media Social imaginary 1 INTRODUÇÃO Este artigo se insere no esforço de compreender velhas práticas de discriminação racial reproduzidas em novos espaços Desta maneira o que se percebe é que cotidianamente são registrados inúmeros casos de racismo na internet principalmente em sites de relacionamento virtuais RACISMO NAS REDES SOCIAIS PERPETUAÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL DE INFERIORIZAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 43 Com isso tomase como referência no intuito de analisar os casos de racismo virtual neste caso o Facebook por ser um site de relacionamento amplamente utilizado no Brasil Na primeira parte desse artigo dedicase a discutir sobre a complexidade inerente ao racismo na sociedade brasileira A partir de uma perspectiva teórica e histórica também buscase mostrar como a disseminação do racismo forjou ao longo da história um processo de inferiorização do negro a qual o mesmo é representado de maneira estereotipada e negativa Na segunda parte tem se a pretensão em compreender a dinâmica do racismo contra negros a partir de sites de redes sociais usando como pano de fundo para esta análise o campo de investigação denominado de Imaginário Social Este campo possibilita entender a perpetuação de discursos valores crenças acerca de negros e negras que legitimam as relações raciais hierárquicas entre negros e brancos Para isso utilizouse como fonte de pesquisa as mensagens comentários postagens que configuram racismo contra mulheres e homens negros 2 RACISMO UM FENÔMENO CONSTRUÍDO HISTORICAMENTE Embora seja um consenso entre a comunidade acadêmica a ideia de que o conceito de raça não seja suficiente para abarcar toda diversidade e complexidade inerente a humanidade Esta por sua vez é uma categoria que possui um peso significativo no processo de estruturação das relações sociais sendo que uma variável está diretamente relacionada à perpetuação das desigualdades sociais e econômicas entre brancos e afrodescendentes Segundo Carneiro 2000 o conceito de raça pode ser definido por É a subdivisão de uma espécie formada pelo conjunto de indivíduos com caracteres físicos semelhantes transmitidos por hereditariedade cor da pele forma do crânio e do rosto tipo de cabelo etc Raça é apenas um conceito biológico relacionado apenas a fatores hereditários não incluindo condições culturais sociais e psicológicas CARNEIRO 2000 p 05 Apesar de raça ser apenas um conceito biológico esta é uma variável que está relacionada com a reprodução das desigualdades sociais e econômicas entre brancos e afrodescendentes no Brasil Nesse sentido a questão racial é fundamental ao passo que esta possui um peso significativo na estruturação das relações sociais No entanto é preciso considerar a complexidade que permeia esta questão já que as relações sociais hierarquizadas a partir do critério racial não se restringem apenas ao binômio negros e brancos conforme preconiza Carneiro 2000 Ao construirmos a trajetória das ideias racistas no Brasil percebemos que a maioria branca sempre tratou o negro o índio o judeu e o cigano como seres inferiores Esta é uma das características Emblemas v 12 n 2 42 51 jul dez 2015 Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 44 fundamentais do fenômeno racista CARNEIRO 2000 p 62 As ideias racistas partem do pressuposto da existência de uma raça superior e outra inferior Desta forma mesmo sabendo que o racismo no Brasil não se limita ao binômio negro e branco realizouse aqui esta discussão tomando como base o conflito étnico racial entre negros e brancos devido aos dramas oriundos do período escravocrata que deixou marcas profundas para os afro brasileiros Com isso mais adiante serão apresentados exemplos de casos de racismo contra negros e negras em redes sociais aos quais evidenciam a imagem do sujeito negro preso a um passado colonial escravocrata que afinal foram aproximadamente 400 anos de submissão do povo negro ao regime escravista Com efeito os prejuízos simbólicos e materiais para essa população foram incalculáveis Para Hasenbalg 2005 a discriminação possui funcionalidade no sentido de garantir maiores ganhos simbólicos e materiais para brancos e menores possibilidades no mercado bens materiais e simbólicos para negros Nesse sentido o racismo tem como telos manter o domínio e os privilégios de um grupo sobre o outro Desse modo a desqualificação do outro fazse necessária para legitimar a existência de uma raça superior Segundo Santos 1991 podese identificar no plano histórico várias formas de racismo A título de exemplo durante a Idade Média século V ao XV os europeus consideravam inferiores os nãocristãos árabes maometanos africanos e judeus de qualquer parte do mundo Foi porém em torno de 1800 que o racismo sustentado pelos povos europeus passou a se basear em características como cor de pele textura do cabelo forma do nariz e dos lábios A montagem de uma tipificação do negro era baseada em características físicas destituiu a diversidade étnicoracial dos povos africanos Em outras palavras o preconceito racial passa a ser biológico deixando de ser cultural Neste contexto Santos 1991 afirma que a Europa passou a colonizar a Ásia África e América Com isso da Ásia tiraram especiarias da América açúcar fumo e metais preciosos e da África principalmente mão de obra Para manter tanto a exploração de riquezas quanto a escravização dos africanos os europeus necessitaram da força e de um outro dispositivo bem mais sofisticado para justificar esse sistema de dominação e isentarem se da culpa de tanto sofrimento causado a tanta gente Assim começaram a pregar que os povos de cor eram incapazes de construir uma civilização Idem p 2223 Para o teórico Munanga 1988 argumenta que o ideário racista é promovido por discursos pseudo justificativos que além de estabelecerem uma tentativa de pensar o negro como um branco degenerado um caso de doença ou um desvio da norma ajudam a esconder os objetivos econômicos e imperialistas da empresa colonial Desta maneira fundamentandose na análise destes autores podese afirmar que a estrutura de pensamento sustentada e RACISMO NAS REDES SOCIAIS PERPETUAÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL DE INFERIORIZAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 45 forjada a partir de um ideal de superioridade do colonizador encontra suas bases em raízes mais profundas da formação social brasileira que ainda estrutura as relações até o presente momento Dito de outra maneira os conflitos de natureza étnicoracial são provenientes de interesses e dominação datados historicamente 3 IMAGINÁRIO SOCIAL A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE NA MÍDIA E NAS REDES SOCIAIS Neste artigo não se tem pretensão de realizar um estudo sobre as redes sociais mas sim de entender como as pessoas se apropriam das mesmas para veicular e propagar atitudes racistas Desta forma a definição de rede elaborada por Granovetter 2001 aponta que esta é marcada por uma regularidade que estabelece uma conexão entre indivíduos ou grupos As redes sociais possibilitam uma interação entre as pessoas que se manifestam tanto no mundo virtual quanto no real em que as pessoas estão ligadas umas às outras Dessa forma analisar as redes sociais possibilita entender as relações travadas pelos indivíduos e assim compreender os fatos e fenômenos os quais se pretende estudar Com isso ao analisar as redes sociais na internet é fundamental uma vez que permitenos compreender os processos de sociabilidade contemporânea A comunicação mediada pelo computador amplia a conexão entre os sujeitos nessa perspectiva as redes sociais oferecem ferramentas para estudo da realidade e como os indivíduos estabelecem sistemas de representações e interações Segundo Recuero 2009 as redes sociais na internet são dinâmicas estão em constante transformações pois estas mudanças decorrem dos processos de interações entre os sujeitos A interação social é compreendida como geradora de processos sociais a partir de seus padrões na rede classificados em competição cooperação e conflito RECUERO 2009 p 80 Ao se eleger as redes sociais enquanto fontes de pesquisa histórica o intuito aqui é avaliar analisar e interpretar os discursos com conteúdo racista forjados nas redes sociais Desse modo será tomado como foco as mensagens e imagens identificados com conteúdo racista Desse modo ao pensar nas redes sociais enquanto fontes históricas por um lado podem ser vistas como uma situação bastante delicada devido a sua fluidez E por outro pode ser uma fonte fecunda no que se refere a conexão entre o passado e o presente Por isso de acordo com Rusen 2000 é fundamental colocar em tônica os interesses dos homens a forma como estes se organizam e se orientam no fluxo do tempo Nessa perspectiva tais interesses devem ser tomados como princípios norteadores do fazer histórico RUSEN 2000 p 30 A tecnologia é produzida de acordo com as demandas valores e interesses da sociedade Nesses termos podese inferir que a tecnologia é um dispositivo necessário Emblemas v 12 n 2 42 51 jul dez 2015 Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 46 para o processo de organização social baseada em redes Nesse sentido as redes sociais instituemse enquanto critério de sentido inerente a vida cotidiana Dado que são os sentidos que regulam o trato reflexivo que o homem estabelece com o mundo e consigo mesmo O conhecimento histórico é dinâmico e esse processo corrobora com a emergência de novas carências de orientação possibilitando a formulação de novos métodos de esclarecimento da experiência histórica RUSEN 2007 p 32 As redes sociais enquanto espaços de socialização possibilitam trocas de experiências concretas forjam visões de mundo repletas de significados por isso podem ser consideradas fontes históricas válidas para construção do fazer histórico Os sites de redes sociais pertencem uma categoria das mídias sociais e são focadas em manter ou criar relacionamentos com base a assuntos em comum como o antigo Orkut Facebook MySpace Desse modo historicamente a mídia brasileira retrata o negro a partir de uma perspectiva negativa unilateral a qual o mesmo é associado a figura de escravo malandro promiscuo sempre na condição de subalterno A veiculação desse arquétipo favoreceu por assim dizer um processo de invisibilidade do mesmo na mídia brasileira Desse modo aquilo que é veiculado na mídia interfere diretamente no modo como se organiza uma dada sociedade Para Kellner 2001 afirma que há uma cultura veiculada pela mídia cujas linguagens sons e espetáculos ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana dominando o tempo de lazer modelando a opinião política os comportamentos sociais e fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade determinando o que é positivo e o que é negativo o que bemsucedido ou fracassado A mídia é um terreno de disputas no qual grupos sociais importantes e ideologias rivais lutam pelo domínio e que os indivíduos vivenciam estas lutas por meio de imagens discursos mitos e espetáculos veiculados pela mídia A intenção é analisar o modo como os efeitos da cultura da mídia está influenciando os vários aspectos da vida cotidiana o modo como as diversas formas de cultura veiculada pela mídia induzem indivíduos a se identificar com as ideologias as posições e as representações sociais e políticas dominantes O processo de doutrinação ideológica não se dá de maneira rígida mas sim pelo prazer a qual o entretenimento utilizase de instrumentos visuais e auditivos usando o espetáculo para seduzir o público promovendo a identificação deste com certas opiniões atitude e sentimentos KELLNER 2001 p 11 As considerações de KELLNER 2001 sobre o papel da cultura da mídia em uma determinada sociedade configurase em instrumental de análise para compreender como a mídia contribui para a reprodução e manutenção de uma sociedade estratificada hierarquizada a partir de um critério racial a qual os sujeitos negros são representados como inferiores Já para o pesquisador João Carlos Rodrigues 2011 aponta que um dos mais frequentes questionamentos feitos ao cinema brasileiro por intelectuais e artistas negros é o que RACISMO NAS REDES SOCIAIS PERPETUAÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL DE INFERIORIZAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 47 os filmes produzidos não apresentam personagens reais individualizados mas apenas arquétipos eou caricaturas o escravo o sambista a mulata boazuda Deste modo passase a existir uma crise de identidade do afrodescendente Pois os afrodescendentes necessitam ter referenciais oriundos de sua herança sociocultural para que possa absorver e disseminála nas relações sociais com a tranquilidade de ser um sujeito social O contrário disso é uma situação de não pertencimento de estranhamento no contexto da sociedade nacional Segundo Hall 1999 a identidade não está inteiramente preenchida dentro de nós mas também construída pela maneira como somos representados ou vistos pelo outro A representação do afrodescendente na escola na televisão no cinema e nas peças publicitárias em geral traduz a sua relação na sociedade nacional Para tanto a mídia acaba adquirindo uma dimensão social que possui uma ampla influência na produção simbólica no processo de construção de identidades e principalmente em transmitir a visão de mundo dos grupos dominantes O objetivo deste artigo é trazer à tona um velho drama social mas que está se manifestando a partir de novos espaços os sites de redes sociais virtuais que é uma categoria caracterizada em mídias sociais Dessa forma historicamente a mídia veicula narrativas linguagens e imagens que influem no processo de construção de identidades além de forjar a visão que se tem do outro A cultura da mídia como afirma Kellner 2001 exerce influência em todas as dimensões da vida social por conseguinte esta não se pode fazer existir sem a perspectiva do plano simbólico É nesses termos que considero pertinente buscar e interpretar o fenômeno do racismo tomando como fonte de pesquisa os sites de redes sociais virtuais que é uma categoria da mídia a partir de um campo de investigação identificado como Imaginário Social Com isso verificase que autores como Bronislaw Backzo Cornelius Castoriadis e Jacques Le Goff realizaram uma vasta pesquisa sobre o conceito de imaginário Este conceito é fundamental para redimensionar o olhar sobre a história Pois segundo Lucian Boia nenhuma sociedade vive fora do imaginário PESAVENTO 2008 p47 Ainda Pesavento 2008 observase que apesar da importância do conceito de imaginário é necessário destacar um problema epistemológico relacionado a este conceito O problema reside no fato de que o conceito pode ser considerado como algo que não faz parte do real Esta visão está ancorada na herança deixada pelo racionalismo e pelo evolucionismo Mesmo diante desse dilema é a partir da História Cultural que o conceito de imaginário passa a ter pertinência para a compreensão da realidade Para Castoriadis 1982 Imaginário Social é o conjunto de representações estruturadas no sistema simbólico e só pode ser compreendido a partir de uma perspectiva socialhistórica tanto que este conceito só é Emblemas v 12 n 2 42 51 jul dez 2015 Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 48 possível a partir daquilo que se denomina como realidade portanto o Imaginário não é mero reflexo da imagem Já Backzo 1985 fala da complexidade do conceito de imaginário ressaltando que este conceito deve tornase o campo de investigação do político e das relações de poder na medida em que este exerce um poder simbólico pois ele não consiste meramente em acrescentar o ilusório a um potencial real mas sim duplicar e reforçar a dominação efetiva O imaginário social é pois uma peça efetiva e eficaz do dispositivo de controle da vida coletiva e em especial do exercício da autoridade e do poder Ao mesmo tempo ele tornase o lugar e o objeto dos conflitos sociais Com efeito é o próprio centro do imaginário social que se encontra o problema do poder legítimo ou melhor para ser mais exacto o problema da legitimação do poder Qualquer sociedade precisa inventar a legitimidade que atribui o poder BACZKO 1985 p 310 Seguindo essa linha de pensamento as autoras Ferreira Eizirik 1994 p7 afirmam que toda sociedade possui um sistema de representação cujos sentidos forjam um sistema de crenças e valores que legitimam a ordem vigente e define padrões de comportamento distribuição de papéis sociais demarcando a luta pela hegemonia Dessa forma o imaginário pode ser compreendido como um sistema simbólico de produções de sentidos que são compartilhados na sociedade que permitem a regulação de comportamentos e identificação e distribuição de papéis Isso passa a ser vivido pelos agentes e passa a representar para o grupo sentido de verdadeiro As relações hierárquicas da sociedade são apreendidas mediantes cotidianos ritualizados fazendo crer que são naturais É contando com o Imaginário Social que as relações de poder protegem a sua legitimidade contra aqueles que a atacam Visando garantir um lugar social privilegiado o grupo hegemônico inventa complexos e variados dispositivos de proteção Isso vai desde produções legais coercitivas às formas sofisticadas de formação de opiniões FERREIRA EIZIRIK 1994 p 8 A partir das concepções de Bronislaw e Backzo 1985 defendem as pesquisas sobre o imaginário que devem tornarse o campo do político é sob esta lógica que se busca analisar a questão étnico racial através do conceito de Imaginário Social Pois é secular a disseminação de ideias de inferiorização de negros e negras na sociedade brasileira isso corrobora um processo de dominação e de legitimação das relações de poder Desta maneira temse uma estrutura social pautada pelas segregações de classe e de raça e que contam com o aparato ideológico nos quais as frações das classes dominantes imprimem seus valores de forma que estes sejam universais com o intuito de garantir as relações entre as forças produtivas justificadas na desigualdade econômica Ademais esta ideologia dominante que assegura a ordem societária vigente apresenta uma interface com a ideologia racista que inferioriza os valores culturais que não se enquadram no padrão europeu RACISMO NAS REDES SOCIAIS PERPETUAÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL DE INFERIORIZAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 49 Conforme assinala Ianni 1972 a doutrina da inferioridade do mestiço do negro e do índio convinha à camada dominante na sociedade brasileira interessada na manutenção do Status Quo Essa doutrina teve e ainda tem no Brasil um papel muito importante na preservação das estruturas de dominação Apesar da copiosa legislação que lhe diz respeito o índio brasileiro em face da lei é cidadão por omissão e tem uma situação jurídica imprecisa que dá lugar a uma série de problemas Essa imprecisão não é ocasional Ela opera em benefício dos que dominam as organizações e os instrumentos de mando Tratase de preservar estruturas constituídas em detrimento de mudanças sociais No caso do negro a própria situação existente nasce em larga parte do fato da desigualdade racial ser percebida explicada e aceita socialmente como algo natural justo e inevitável como se a ordem social competitiva não alterasse o antigo padrão de relação entre o negro e o branco A única fonte dinâmica de influência corretiva irrefreável vem a ser portanto a própria expansão da ordem social competitiva Assim as representações ideológicas surgem nitidamente como técnicas de dominação ou seja de preservação de estruturas estabelecidas IANNI 1972 p 206 Esta doutrina de inferiorização na qual se refere IANNI 1972 conta com diversos mecanismos para a sua propagação A mídia é uma das principais aliadas nesse processo de construção de um Imaginário Social cujo sistema de significações tem como objetivo enaltecer os valores e interesses das camadas dominantes da sociedade brasileira denominada como branca como forma de tornar legítima e natural o poder e a sua superioridade Desta forma sabese que a reprodução do racismo se dá a partir do conflito este por sua vez é parte da afirmação da superioridade de um grupo em relação ao outro Os conflitos oriundos das relações étnicoraciais são travados de diversas maneiras em diferentes contextos e espaços E as redes sociais não estão fora desta lógica pois é visível a postagem de comentários imagens e vídeos que constatam a eminência do conflito racial nas redes sociais Nestas postagens é fácil perceber que há uma representação do negro em que este é visto como escravo e como seres que ainda não alcançaram a civilização perpetuando um imaginário em que prevalecesse a superioridade do branco em relação ao negro Desde o início desta pesquisa foram catalogadas inúmeras ocorrências semelhantes a estas aqui apresentadas Mas como não é possível listar todas neste artigo optouse por trazer alguns exemplos que oferecem condições para refletir sobre a reprodução do racismo na sociedade brasileira a partir do campo de investigação do Imaginário Social Emblemas v 12 n 2 42 51 jul dez 2015 Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 50 Figura 01 Postagem de Alessandra Santos Fonte Facebook Figura 02 Comparação da mulher negra em escrava Fonte httpopiniaoenoticiacombrbrasilvejanovecasosderacismonobrasilem 2014 A partir disso podese observar que as ocorrências apresentadas se orientam por discurso no qual o negro é sinônimo de animal preso à figura de escravo Como como fica evidente nas mensagens da Figura 02 e de um ser que não alcançou condições capazes de lhe conferir humanidade Segundo Moore 2007 o racismo não é uma experiência exclusiva da contemporaneidade No entanto esta questão é trivializada e banalizada e isso não se dá de forma gratuita ou mesmo ingênua pois seu intuito é legitimar e consolidar o conjunto de interesses dos grupos raciais que possuem o domínio e meios de inculcar seus valores como unívocos universais e que são dados como coisa natural O esquema explicativo de Moore é relevante por propiciar subsídios teóricos contundentes para a compreensão dos aspectos que configuram a dinâmica e a perversa funcionalidade do racismo como um sistema estruturador das relações sociais que tem como intuito forjar uma gestão racializada de distribuição de recursos e do poder E a partir destas análises que podese perceber as nuances e as diferentes formas como o racismo enquanto fenômeno historicamente construído se manifesta na sociedade hoje Atualmente visualizouse ataques e ofensas públicas de cunho racista outrora os ataques se davam de maneira sutil e atenuada Portanto a problemática que se coloca é que as inúmeras ocorrências de postagens que tem como propósito a reprodução do racismo não podem ser ignoradas pois elas reforçam um imaginário da qual o negro é representado RACISMO NAS REDES SOCIAIS PERPETUAÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL DE INFERIORIZAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA Emblemas Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências Sociais UFGCAC 51 negativamente nas quais se pode observar um esforço para a manutenção de relações de poder pautadas no critério racial 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARNEIRO Maria Luiza Tucci O racismo na História do Brasil Mito e realidade São Paulo Editora Ática 2000 GRANOVETTER Mark S The strenght of weak ties The American Journal of Sociology v 78 n 6 p 13601380 maio 1973 HALL Stuart A identidade cultural na pós modernidade Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro Rio de Janeiro DPA 1999 HASENBALG Carlos Alfredo Discriminação e desigualdades raciais no Brasil Belo Horizonte Editora UFMG 2005 IANNI Octavio Raças e classes sociais no Brasil Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1972 RODRIGUES João Carlos O negro brasileiro e o cinema Rio de Janeiro Pallas 2011 KELLNER Douglas A cultura da mídia estudos culturais identidade e política entre o moderno e o pósmoderno Tradução Ivone Castilho Benedetti BauruSP EDUSC 2001 MOORE Carlos Racismo e Sociedade novas bases epistemológicas para entender o racismo Belo Horizonte Mazza Editores 2007 MUNANGA Kabengele Negritude usos e sentidos São Paulo Ática 1988 PESAVENTO Sandra J História e História Cultural 2ª ed 2ª reimp Belo Horizonte Autêntica 2008 PINSKY Carla B org Fontes Históricas São Paulo Ed Contexto 2005 RECUERO Raquel Redes sociais na internet Porto Alegre Sulina 2009 RUSEN Jorn Didática Funções do saber histórico In História Viva teoria da História Brasília Ed UnB 2007 p85134 Tarefa e função de uma teoria da história In Razão histórica Brasília Ed Unb 2000 p 245 SANTOS Joel Rufino O que é racismo São Paulo Brasiliense 1991