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Filosofia

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EAD A Filosofia Crítica de Immanuel Kant 3 1 OBJETIVOS Conhecer a biografia e analisar as principais ideias de Im manuel Kant Descrever as principais influências no seu pensamento Analisar as obras Crítica da razão pura e Crítica da razão prática e os principais temas presentes nas obras Relacionar as influências desse pensamento com as fases anteriores do pensamento filosófico 2 CONTEÚDOS Biografia Crítica da razão pura a epistemologia ou o problema te órico na obra de Kant Crítica da razão prática a ética ou o problema prático na obra de Kant História da Filosofia Contemporânea I 120 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir 1 Curiosidade dependendo das traduções podemos en contrar grafado tanto Immanuel Kant como Emanuel Kant 2 O pietismo foi um movimento religioso dentro do lute ranismo puritano promovido por Jakob Spencer 1635 1705 que afirmava ser a fé cristã verdadeira aquela fé viva que brotava da leitura direta da Bíblia fonte por excelência da renovação interior Friedrich Schultz pro fessor de teologia conhecia bem as ideias de Spencer transferiu essa influência para Kant embora ele tenha mais tarde contestado alguns aspectos de sua educa ção pietista Sobre o pietismo cf REALE G ANTISERI D História da Filosofia do humanismo a Kant 3 ed São Paulo Paulus 1990 v 2 p 819820 e PASCAL G O pen samento de Kant 4 ed Petrópolis Vozes 1992 3 Mesmo que a obra de Kant sobre a origem do univer so não tivesse tanta circulação na época por causa de problemas com o editor por terem chegado às mesmas conclusões de modo independente a hipótese foi de nominada teoria de KantLaplace 4 É bom lembrar que O Emilio ou Da educação e o Con trato social obras do pensador iluminista francês Jean Jaques Rousseau só aparecem a partir de 1762 5 Caso você tenha interesse por saber quais as principais discussões das obras do período précrítico de Kant Gio vanni Reale e Dario Antiseri fazem uma apresentação sucinta dos temas de cada uma delas Cf REALE G ANTISERI D História da Filosofia do humanismo a Kant 3 ed São Paulo Paulus 1990 v 2 p 866870 6 Não se esqueça de que este material é apenas um re ferencial para seu estudo em Filosofia Recomendamos que você remetase às obras indicadas para conhecer a fundo os conteúdos aqui apresentados 121 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant 7 Para facilitar a discussão recomendamos a leitura das duas Críticas escritas por Kant e dos seguintes comen tadores PASCAL G O pensamento de Kant 4 ed Pe trópolis Vozes 1992 e REALE G AnTiSERi D História da Filosofia do humanismo a Kant São Paulo Paulus 1990 v 2 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE Na sua maturidade filosófica o alemão Immanuel Kant dizia que toda a filosofia tinha por fim responder a uma só questão que comandava tudo que pode legitimamente a nossa razão Essa questão subdividese em outras três que orientam toda a produ ção madura do nosso filósofo tanto no campo teórico como no prático Que posso saber Que devo fazer Que me é permitido esperar Para responder a essas questões Kant escreveu um conjunto de obras ao longo de mais de 20 anos fruto de muita pesquisa e reflexão que deram um novo rumo à filosofia ocidental não só no que diz respeito a novos temas mas também a necessidade de rever toda a metafísica tradicional no que tange à confiança na capacidade cognitiva da razão Com esse intuito era necessário promover uma reviravolta no tradicional processo de conhecimento da natureza a relação entre sujeito e o objeto revisar radicalmente as tarefas e compe tência do método e do próprio valor do conhecer de modo que a ciência pudesse ser recuperada e resistisse aos ataques céticos É esse caminho que começaremos a percorrer a partir da agora conhecer o itinerário do sistema kantiano sua construção suas preocupações seus temas e sua nova terminologia História da Filosofia Contemporânea I 122 5 VIDA E OBRA Immanuel Kant não foi um homem de grandes fatos ou incidentes particulares ao contrário sua vida foi simples e rotineira transcorrida quase que exclusivamente na sua cidade natal como nos indicam os seus biógrafos Nascido na pequena cidade prussia na de Königsberg atual Kaliningrado uma próspera cidade portuária no Báltico na então Prússia Oriental em 1724 Kant teve origem simples uma família de artesãos Seu pai era seleiro e a mãe cuidava dos afazeres domésticos Essa sim plicidade e vida dura trouxeram a Kant grandes provações de 11 irmãos morreram seis muito jovens duas irmãs foram emprega das domésticas e um irmão perdeu sua mão com 11 anos Kant já professor acadêmico e respeitado recordava dos pais como modelo de trabalho decência e honestidade sendo muito grato pela educação recebida no seio familiar Seu pai Johanns Georg Kant fabricante de correias para car roças era laborioso honesto e detestava mentiras sua mãe Ana Regina Reuter mulher de profunda religiosidade foi a grande res ponsável pela formação moral que acompanhou o nosso filósofo por toda vida além de grande incentivadora na sua paixão pelo co nhecimento Pensando nisso antes de morrer ela o encaminhou para o Collegium Fridericianum onde trabalhava Friedrich Albert Schultz um adepto fervoroso do pietismo Foi nessa fase que o pequeno Kant aprendeu com severidade tanto nos conteúdos como nos métodos Essa formação familiar religiosa e educacional explica pelo menos em parte a austeridade de sua doutrina mo ral sobre tudo sua condenação à mentira a solidez de sua fé e a independência de toda prática cultural PASCAL 1992 p 1314 Figura 1 Immanuel Kant 123 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Como estudante do Fridericianum Kant aprendeu muito bem latim e pouco o grego o que o impediu de ler na língua ver nácula os grandes clássicos da literatura e filosofia grega Mas en quanto aluno destacouse dos colegas o que lhe valeu em 1740 quando deixa o colégio uma indicação do diretor para a Universi dade de Königsberg na Universidade o curso de filosofia incluía também o estudo das ciências O filósofo que mais o influenciou foi o também pietista Martin Knutzes 1713 1751 discípulo de Christian Wolff 1679 1754 Desses dois que se inspiraram em Leibniz 1646 1716 o jovem Kant aprendeu que a exposição filosófica deveria seguir o rigor a precisão e as demonstrações exatas da matemática o que Kant chamou de o método rigoroso do ilustre Wolff PASCAL 1992 p 14 Esse método segundo Georges Pascal 1992 p 14 é um racionalismo sistemático que se esforça por julgar de tudo à mão de princípios e não de sentimentos por deduzir logicamente cada proposição assumido como atitude filosófica por Kant no período em que passou na universidade entre 1740 e 1747 o jovem Kant também estudou teologia mas seu grande in teresse foram as ciências que se desenvolviam na época física química biologia etc Desse envolvimento apareceu sua primeira obra Pensamento sobre a verdadeira avaliação das forças vivas Nessa obra o quase formado Kant tenta conciliar as ideias de Des cartes com as de Leibniz no tocante ao mecanicismo É nesse pe ríodo que descobre a física newtoniana e aprofunda os estudos de matemática Em 1747 mais um revés a morte do pai Com isso Kant é obrigado a abandonar a universidade antes de alcançar todos os graus acadêmicos para trabalhar e ganhar a vida Foram anos difí ceis aqueles entre 1747 e 1754 Segundo alguns biógrafos foram anos de miséria REALE AnTiSERi 1990 p 861 Para se sustentar Kant teve de trabalhar como preceptor em casas de famílias no bres pelas cercanias de Königsberg História da Filosofia Contemporânea I 124 Pascal 1992 p 14 relatanos que durante esse período embora não se inclinasse muito para a profissão de professor par ticular ele toma gosto pela sociedade polida e pela conversação Nesse período também Kant não se descuidou da sua formação leu tudo que se escrevia então tudo nas áreas que mais tinha in teresse filosofia e ciência Tanto que em 1755 publica uma nova obra História universal da natureza e teoria do céu Nessa obra inspirada pela leitura newtoniana propõe uma explicação meca nicista das origens da natureza muito parecida com aquelas apre sentadas pelo francês Pierre Simon Laplace 1749 1827 40 anos mais tarde na sua Exposição do sistema do mundo Nesse mesmo ano de volta a sua cidade natal Kant recebeu da universidade o diploma de conclusão de curso com a apresen tação de um trabalho de conclusão sobre Um esboço sumário de algumas meditações sobre o fogo Pouco tempo depois escreve uma obra filosófica chamada Nova explicação dos primeiros prin cípios do conhecimento metafísico Em seguida ainda em 1755 Kant é laureado com o doutorado e ganha o direito de abrir cursos livres isto é pagos pelos alunos e não pela universidade Começou aí a vida acadêmica do filho do seleiro Kant permaneceu durante 14 anos como livredocente em Königsberg nesse período apesar das dificuldades conseguiu certa tranquilidade e conforto Em 1770 começou um novo e fecundo período na vida do filósofo de Königsberg Kant conseguiu vencer o concurso para professor titular na universidade de sua cidade natal com a disser tação Sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível Eis a famosa Dissertação de 70 que marca uma guinada na reflexão filosófica do filósofo alemão Interessante o relato que Giovanni Reale e Dario Antiseri fazem da postura de Kant ao disputar uma vaga como professor titular em Königsberg Segundo esses autores Kant tinha aversão ao carrei rismo acadêmico ele era estranho a qualquer manobra acadêmica e alheio a qualquer forma de adulação ou proteção de podero sos Ele confiava exclusivamente nas suas próprias capacidades para entrar na carreira acadêmica agindo sempre com dignidade 125 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant distanciamento e determinação Prova disso foi a sua vitória no concurso de 1770 e as recusas para lecionar em Halles onde re ceberia mais e com um número maior de estudantes Cf REALE G ANTISERI D História da Filosofia do humanismo a Kant 3 ed São Paulo Paulus 1990 v 2 p 861 Como professor titular Kant lecionava as mais variadas dis ciplinas matemática lógica metafísica física pedagogia direito natural e geografia Segundo Georges Pascal 1992 p 15 Kant era um professor escrupuloso e vivaz gozava de estima irrestrita dos alunos O período entre 1770 e 1781 foi sem dúvida o momento mais fecundo da construção do sistema kantiano De sua longa reflexão como docente nasceu aquela que pode ser considerada como umas das mais importantes obras do pensamento filosófico ocidental A Crítica da razão pura publicada pela primeira vez em 1781 Depois dessa obra um conjunto de outras obras que mos tram o amadurecimento do filósofo de Königsberg entre as quais se destacam as duas outras Críticas a Crítica da razão prática 1788 e a Crítica da faculdade de julgar ou Crítica do Juízo 1790 Já reconhecido Kant permaneceu lecionando na sua cidade natal apesar dos vários convites feitos Reale e Antiseri 1990 p 861 lembramnos que para Kant o que lhe interessava não era a carreira a fama ou a riqueza mas sim o saber e a pesquisa Mesmo sem sair da pequena Königsberg Kant recebeu inúmeras condeco rações na cidade e fora dela foi membro do senado universitário 1780 reitor 17861788 decano da Faculdade de Filosofia e de toda a Academia 1792 membro da Academia de Berlim 1786 de São Petersburgo 1794 e de Viena 1798 Nos últimos anos de vida Kant foi assolado por dois acon tecimentos Em 1794 Kant foi intimado pelo novo imperador a não discutir sobre suas ideias religiosas apresentadas na sua obra A religião nos limites da simples razão publicada um ano antes Kant obedeceu não se retratou de suas ideias mas calouse sus tentando ser esse o seu dever de súdito coerente que era no seu comportamento História da Filosofia Contemporânea I 126 O outro acontecimento foi o seu envolvimento com o Idea lismo absoluto que apontava uma nova interpretação para o Cri ticismo transcendental kantiano principalmente com as obras de Johann Gottlieb Fichte 1762 1814 aluno de Kant por al gum tempo em Königsberg Com o esgotamento do Iluminismo e o aparecimento do Romantismo parece que o caminho natu ral da filosofia naquele momento era a revisão do Criticismo e o desenvolvimento de um Idealismo espiritualista Kant até ten tou durante certo tempo se posicionar contra a nova tendência filosófica mas percebendo que o desenvolvimento daquela nova interpretação era indiscutível prefere se recolher Nos últimos anos de vida Kant sofreu muito suas forças começaram a declinar ficou quase cego renunciou à cátedra em 1796 perdeu a memória e a lucidez ficando quase senil Morreu em 12 de fevereiro de 1804 Sobre esse período há uma obra atribuída a seu antigo mordomo relatando os últimos anos da vida e a morte de Kant Cf QUINCEY T de Os últimos dias de Immanuel Kant Rio de Janeiro Forense Universitária 1989 6 O ITINERÁRIO FILOSÓFICO DE KANT Sobre esse itinerário ler PASCAL G O Pensamento de Kant Rio de Janeiro Vozes 1992 p 1617 Sobre a divisão mais comum do pensamento de Kant confira também o comentário de REALE G ANTISERI D História da filosofia do humanismo a Kant 3 ed São Paulo Paulus 1990 v 2 p 864871 Como é dividida a construção do pensamento de Kant Com o marco divisor da famosa Dissertação de 70 a histo riografia divide o pensamento de Kant em dois períodos o précri tico que vai de 1755 até 1770 e o crítico que vai desse ano até o 127 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant final de sua vida Porém nós vamos dividir o pensamento kantiano em três seguindo a proposta de Georges Pascal 1992 p 1617 Vejamos quais são Período précrítico O primeiro período chamado de précrítico vai de 1755 a 1770 nesse período as principais ideias de Kant ainda não haviam tomado forma Ele ainda comunga do pensamento filosófico que predominava na Alemanha de então o Racionalismo dogmático de Leibniz desenvolvido e divulgado por Christian Wolff Por esse motivo Kant tinha predileção pelas reflexões meta físicas e os problemas que ela envolvia propondo a encontrar um lugar para essa disciplina com os mesmo rigores da física newto niana ou seja por causa do desenvolvimento das ciências Kant queria repensar a metafísica e reestruturála metodologicamente de modo que ela alcançasse os mesmos rigores que a física tinha alcançado Do ponto de vista das ciências Kant estudava a matemática e a física newtoniana interessandose pelos problemas científicos Kant como relatará mais tarde com os seus Prolegômenos tinha plena confiança na razão reforçada pela ciência newtoniana que estudava para ele a razão era capaz de discutir compreender e esclarecer todo tipo de problema No decorrer desses anos Kant lê e se apaixona por JeanJacques Rousseau de quem teve grande influência sobre tudo no cam po da moral Nesse período Kant pouco escreve sobre filosofia Mas interessase por assuntos variados escreve sobre fenômenos físicos terremotos ventos fogo movimento e repouso doenças etc também sobre o otimismo o belo e o sublime sobre a exis tência de Deus sobre silogismo Mas nenhum desses assuntos de monstra o que será a sua filosofia posterior História da Filosofia Contemporânea I 128 São as principais obras desse período Pensamento sobre a verdadeira avaliação das forças vivas 1746 História natural uni versal e teoria do céu 1755 Sobre o fogo 1755 Nova explicação dos primeiros princípios do conhecimento metafísica 1755 Os terremotos 1756 Monadologia física 1756 Sobre o otimismo 1759 O único argumento possível para demonstrar a existência de Deus 1763 Ensaios para introduzir em metafísica o conceito de grandeza negativa 1763 Observações sobre o sentimento do belo e do sublime 1764 Pesquisa sobre a evidência dos princípios da teologia natural e moral 1764 Sonhos de um visionário escla recido com os sonhos da metafísica 1766 e Sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível a Dissertação de 1770 Período Crítico Após a defesa no concurso para professor titular em Königsberg Kant inicia uma inovadora fase de reflexão filosófica é a fase de amadurecimento e originalidade de sua reflexão filo sófica Com a Dissertação de 70 nosso filósofo estabelece pela primeira vez a distinção entre o mundo fenomênico e o mundo noumênico concebendo de maneira inteiramente nova os concei tos de espaço e tempo como veremos mais adiante O filósofo de Königsberg preparava para sua revolução copernicana no que tange a nova concepção do conhecimento humano Com essa revolução Kant superava tanto o Racionalismo e dogmático como o Empirismo cético as duas correntes filosóficas predominantes no período em que construía seu pensamento Por isso o filósofo assume a postura de reavaliar de maneira radical todos os problemas investigados até aquele momento na questão do conhecimento humano Qual o motivo de Kant para tomar essa postura radical Era necessário criticar ou seja submeter a uma análise pro funda e rigorosa tanto o intelecto quanto a razão humana na busca 129 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant dos verdadeiros princípios e os limites do conhecimento Era a hora de submeter a razão ao crivo da razão O resultado como você irá compreender mais adiante é o aparecimento da diferença entre o conhecimento sensível e inteligível problema amplamente dis cutido pela tradição filosófica que assume uma nova perspectiva com Kant Essa nova concepção levará nosso filósofo a propor um conjunto de novos conceitos e nova interpretação filosófica tanto no que se refere ao conhecimento como no que se refere à moral Como se vê o período crítico é o período de maturidade e a consolidação do sistema kantiano São obras desse período Crítica da razão pura 1781 Prolegômenos para toda metafísica futura que se apresente como ciência 1783 Idéias de uma história uni versal do ponto de vista cosmopolita 1784 Resposta à pergunta o que é o esclarecimento 1784 Fundamentação da metafísica dos costumes 1785 Fundamentos da metafísica da moral 1785 Primeiros princípios metafísicos da ciência da natureza 1786 Crí tica da razão prática 1788 Crítica da faculdade de julgar ou Crí tica do juízo 1790 Com essa última publicação a obra kantiana pode ser con siderada completa Após essa data o filósofo publicou algumas obras novas que não modificaram significativamente as linhas mestras da sua filosofia São elas A religião nos limites da sim ples razão 1793 Pela paz perpétua 1795 A metafísica da moral 1797 A pedagogia obra resultado de lições dadas por Kant em um curso sobre pedagogia que foram recolhidas e publicadas por um estudante chamado Theodor Rink em 1803 Por razões de interesse de tempo e espaço nos deteremos para compreender a fase madura e mais produtiva de Kant e toda a profundidade de suas reflexões filosóficas na análise das duas primeiras Críticas Vejamos as análises História da Filosofia Contemporânea I 130 7 A CRÍTICA DA RAZÃO PURA Como vimos anteriormente o itinerário do pensamento de Kant pode ser dividido da seguinte maneira précrítico até 1770 e crítico Esse último iniciase em 1781 com a publicação da Crí tica da razão pura e posteriormente com a publicação das duas outras Críticas a Crítica da razão prática em 1788 e a Crítica da Faculdade de Julgar em 1790 entre outras obras que também tra zem a exposição madura e original do pensador de Königsberg Nesse estudo concentraremonos na análise das duas pri meiras Críticas de modo que possamos conhecer os principais conceitos dessas duas obras fundamentais da História da Filosofia Em primeiro lugar analisaremos a primeira crítica O grande problema em que se encontrava toda Filosofia na segunda metade do século 17 era o choque entre o Racionalismo cartesiano e as teorias empiristas Para complicar ainda mais o con flito Hume havia posto a metafísica em uma condição constrange dora e ao lado dela todo conhecimento Kant vivenciou esse con flito e se propôs a superálo Ao analisar o problema proposto por Hume e a influência dele no desenvolvimento da ciência Kant afir ma nos Prolegômenos sobre o fato de Hume discutir conceitos metafísicos como a conexão causaefeito que o filósofo inglês o despertou do seu sono dogmático ou seja que a metafísica como ciência das realidades últimas das coisas não oferecia soluções aceitas unanimemente apesar das tentativas de demonstrações rigorosas Era hora de submeter à razão a uma análise rigorosa e investigar a existência de certos princípios a priori existentes na faculdade de conhecer que seriam responsáveis pela síntese ou conexão dos dados sensíveis Eis o problema que Kant se propõe a resolver primeiro no campo teórico com a Crítica da razão pura e logo depois no cam po prático dos valores com a Crítica da razão prática Iniciemos então nossa análise dessas importantes obras filosóficas 131 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Não podemos nos esquecer de que ainda nos Prolegômenos Kant faz a famosa afirmação de que Hume o teria despertado do seu sono dogmático No decorrer dos nossos estudos todas as vezes que nos referirmos a Kant recomendamos consultar a obra em questão que estará na bibliografia final A primeira Crítica busca uma solução tão esperada para o problema do conhecimento teórico com o qual a ciência pudesse ganhar novo rumo o da segurança Na primeira parte de nossa análise vamos diferenciar os três tipos de juízos admitidos por Kant no início da obra Respeitare mos a metodologia seguida por Kant observando as respectivas divisões Para melhor localizar os conceitos resolvemos grifálos após o grifo encontrase o que Kant entende por cada um deles Análise dos Juízos na Introdução da Crítica da razão pura Para acompanhar essa análise é imprescindível a leitura da intro dução da Crítica da razão pura Recomendamos a tradução portu guesa KANT I Crítica da razão pura 4 ed Tradução de Manuela Pinto dos Santos Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1997 p 680 Antes de tratar da análise kantiana definiremos um juízo que para Kant não se trata de uma simples negação ou afirmação de algo mas de uma relação entre conceitos pensados Segundo Lalande 1993 p 599 juízo é a decisão mental pela qual retemos de uma maneira refletida o conteúdo de uma asserção verdade e a pomos a título de verdade É na introdução da Crítica em questão que Kant apresenta uma análise dos dois juízos que a Lógica clássica apresentava para ajudar a pensar corretamente já que são necessários e universais os conceitos de necessidade e universalidade são fundamentados no princípio de identidade aristotélico mas negligenciavam a re História da Filosofia Contemporânea I 132 alidade dos fatos naturais Por isso ele propõe um novo juízo que ao mesmo tempo ajuda a pensar corretamente mas também está carregado de conteúdo experimental Vejamos quais são esses ju ízos Juízos analíticos ou a priori Os juízos analíticos ou a priori são aqueles cujo conceito fun cionava como predicado ou dito de outro modo são juízos em que o predicado está contido no sujeito ou juízos nos quais o predica do simplesmente reproduz o que contém no sujeito Nesses juízos um conceito que funciona como predicado B pode estar conti do no conceito que funciona como sujeito A e portanto pode ser extraído por pura análise do sujeito REALE AnTiSERi 1990 p 872 Eis o que diz Kant na Introdução da Crítica da razão pura No que segue portanto conhecimento a prioria priori entenderemos não os que ocorrem de modo independente desta ou daquela ex periência mas absolutamente independente de toda experiência Eis um exemplo Todo corpo é extenso A extensão que é um predicado do corpo já está contida na própria natureza do corpo que é o sujeito ou seja a extensão é uma propriedade essencial do que é corpóreo Vejamos agora as principais características desses juízos uni versais e necessários O círculo é redondo Todo círculo é redondo Universalidade Não se imagina um círculo que não seja redondo Necessidade Tais juízos universais e necessários não necessitam de prova experimental experimento Dos conhecimentos a priori denominaremos puros aqueles aos quais nada de empírico está mesclado Nesse sentido pode mos afirmar que em tais juízos 133 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant O predicado está implícito no sujeito Não amplia o conhecimento por isso não fundamenta a ciência Juízo sintético ou a posteriori Os juízos sintéticos a posteriori são aqueles em que o pre dicado B não se encontra implícito no sujeito A algo que não pode ser extraído do sujeito A por pura análise por que o predi cado B acrescenta novidade ao sujeito A como explica Reale e Antiseri 1990 p 872 Por exemplo quando afirmamos todo cor po é pesado estamos pronunciando um juízo sintético porque o conceito de pesado não é extraído por pura análise do conceito de corpo uma vez que temos corpos que embora tenham peso podem ser pensados como corpos leves como a pena ou o algo dão Dessa forma temos corpos que possuem pesos diferentes e que só podem ser constatados com a experiência Assim é sobre a experiência que se funda a possibilidade da síntese ou conexão do predicado peso com o conceito corpo afirma Kant na introdução da Crítica da razão pura Sobre esses juízos Kant diz Aqueles porém em que essa cone xão foi pensada sem identidade predicado em relação ao sujeito devem denominarse juízos sintéticos juízos de ampliação Características desses juízos São juízos que exigem um contato empírico com o objeto por isso as definições dele só poderão ser a posteriori isto é depois de experimentado Por não estar implícito no sujeito o predicado une a ele informações que ampliam o conhecimento As informações desses juízos carecem de importância para a ciência rigorosidade pois são todos contingentes e particulares a ciência deve ser universal e necessária cujas experiências esgotam em si mesmas Dele se extrai História da Filosofia Contemporânea I 134 apenas algumas generalizações mas nunca a universali dade e necessidade Juízos sintéticos a priori Eis a grande originalidade da proposta Kantiana para funda mentar os juízos científicos Para Kant estava claro que a ciência deveria se basear em um terceiro tipo de juízos ou seja a um juízo que a um só tempo une a aprioridade ou seja a universali dade e a necessidade com a fecundidade ou seja a sinteticidade lembram Reale e Antiseri 1990 p 873 Os juízos constitutivos da ciência só podem ser os juízos sintéticos a priori Com essa nova proposta epistemológica o pensador alemão acreditava que a ciência estava salva dos ataques céticos do pensador inglês David Hume Exemplos A linha reta é a distância mais curta entre dois pontos A soma de 5 mais 7 é igual a 12 Para Kant esses juízos são a priori porque são necessários e uni versais independem da experiência mas são sintetizados pelo sujeito A conclusão e a conexão dos conceitos é uma atividade subjetiva Assim para o pensador de Königsberg a ciência só poderia se basear em um terceiro tipo de juízo aquele que a um só tem po une a aprioridade isto é a universalidade e a necessidade com a fecundidade ou seja a sinteticidade Vejamos como ele apresentou esse juízo Os juízos sintéticos a priori não se baseiam no princípio de identidade porque daquilo que eles conectam não é um predi cado igual ao sujeito mas diferente também não se baseiam na experiência porque são a priori A essa mudança de pensamento Kant chamou de Revolução Copernicana em vez de admitir que a faculdade de conhecer se regula pelo objeto mostrar que o objeto se regula pela faculda 135 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant de de conhecer Ou dito de outro modo não seria o sujeito que se adequaria aos objetos do conhecimento como queria a Lógica tradicional mas os objetos se adequariam às condições formais do sujeito nas palavras do ilustre filósofo de Königsberg no Prefácio da segunda edição da Crítica da razão pura Até hoje admitiase que o nosso conhecimento se devia regular pelos objectos porém todas as tentativas para descobrir a prio ri mediante conceitos algo que ampliasse o nosso conhecimento malogravamse com este pressuposto Tentemos pois uma vez experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica admitindo que os objectos se deveriam regular pelo nosso conhe cimento o que assim já concorda melhor com o que desejamos a saber a possibilidade de um conhecimento a priori desses objec tos que estabeleça algo sobre eles antes de serem dados 1997 p 1920 Depois da proposta da Revolução Copernicana Kant tem plena convicção de que o conhecimento humano se divide em dois ramos como dizem Reale e Antiseri 1990 p 878 o conhe cimento dos sentidos e o conhecimento do intelecto Os objetos que são os conteúdos do conhecimento são dados pelo primei ro tipo de conhecimento e pensados pelo intelecto Ora dessa constatação fica claro que para compreender como produzimos conhecimentos seguros dos objetos será preciso investigar sepa radamente as duas formas de conhecimento A primeira investi gação deve abordar a sensibilidade ou seja como os objetos são dados ao conhecimento enquanto a segunda investigação deve abordar o intelecto para se compreender como os dados sensíveis devem ser pensados ou melhor conectados para produzir um co nhecimento rigoroso Para dar conta dessa nova tarefa epistemológica o filósofo de Königsberg tinha plena convicção da necessidade de uma nova Lógica já que a Lógica clássica a Lógica aristotélica era a Lógica do pensamento correto Essa nova Lógica deveria ter como interesse não como as coisas seriam em si mesmas mas como o intelecto as perceberia História da Filosofia Contemporânea I 136 O que equivale dizer não seríamos mais razoáveis aceitar que são as nossas condições formais a priori do nosso entendi mento que regulam o nosso conhecimento Sendo assim a função principal da filosofia seria a de investigar a possível existência de certos princípios a priori responsáveis pela síntese dos dados em píricos Se esses princípios existem eles só poderiam ser encontra dos nas duas fontes de conhecimento a sensibilidade a Estética e o entendimento Lógica A análise dessas duas faculdades teóricas constitui as duas primeiras partes da Crítica da razão pura nas quais Kant rejeita a metafísica tradicional e apresenta uma nova terminologia diferen te daquela comumente utilizada com novos conceitos Vejamos as divisões que nos foram propostas Estética Transcendental É a parte da Crítica da razão pura em que Kant procura es tudar as estruturas ou formas a priori da sensibilidade ou seja as formas a priori que permitem o sujeito cognoscente perceber e apreender os fatos fenomênicos A Estética não aparece para Kant com o sentido que conhecemos mas sim como condição de ex perimentar os fatos da natureza Ela aparece como a doutrina do conhecimento sensível e de suas formas a priori sensação ou percepçãosensorial Também o termo transcendental aparece com um sentido novo isto é seria a condição da cognoscibilidade dos objetos a condição da intuibilidade e da pensabilidade dos objetos expli cam Reale e Antiseri 1990 p 878 em que o sujeito põe as coi sas no ato mesmo de conhecêlas Nesse sentido Kant diverge dos antigos isto é os metafísicos clássicos para quem os transcen dentais eram as condições do ser enquanto tal ou seja aquelas condições sem as quais deixa de existir o próprio objeto escre vem Reale e Antiseri 1990 p 878 nesse sentido os metafísicos clássicos viam o transcendental como o conjunto de atributos do próprio ser independentes da ação cognoscitiva do sujeito 137 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Para o pensador alemão em oposição ao Realismo tradicio nal não são as coisas que possuem categorias que imprimem no sujeito o que elas são mas é o sujeito que percebe as coisas como ele as vê Assim podemos dizer que a Estética Transcendental é a doutrina que estuda as estruturas da sensibilidade o modo como o homem recebe as sensações e como se forma o conhecimento sensível Vejamos agora os principais termos e conceitos que apare cem na Estética Transcendental Sensibilidade A sensibilidade é precisamente essa faculdade que possui o nosso espírito de ser afetado por objetos segundo Kant pela sensibilidade são nos dados os objetos e só ela nos fornece intui ção Ele diz na Crítica da razão pura na primeira parte A estética transcendental A capacidade de receber representações receptividade graças à maneira como somos afectados pelos objetos denominase sensi bilidade Por intermédio pois da sensibilidade sãonos dados ob jectos e só ela fornece intuições mas é o entendimento que pensa esses objectos e é dele que provêm os conceitos 1997 p 61 Assim a sensibilidade é uma faculdade de intuições por meio das quais os objetos são apreendidos pelo sujeito cognoscente Dois elementos constituem a sensibilidade um material e um re ceptivo São duas as formas de sensibilidade o espaço e o tempo Intuição Por intuição Kant entende o conhecimento imediato dos ob jetos Para ele o homem é dotado de um só tipo de intuição que nada mais é que intuição da própria sensibilidade Toda a nossa intuição é a representação de um fenômeno não como ele é em si mesmo o que é impossível aos olhos de Kant mas sim como aparece ao sujeito Essa representação se dá graças às condições a priori do espaço e tempo que são condições transcendentais História da Filosofia Contemporânea I 138 Para Kant se o sujeito fosse retirado do centro da ativida de cognitiva todas as relações dos objetos no espaço e no tempo desapareceriam já que elas só existem no próprio sujeito assim sem o sujeito nenhum objeto seria percebido o que torna a razão humana condição para o conhecimento de tudo que natural Já o que está para além do natural esse homem racional deve se calar Está determinado o campo do conhecimento científico o mundo dos fenômenos naturais Todos os homens racionais têm idênticas condições para apreendêlo e conhecêlo Nas palavras de Kant na Crítica da razão pura na primeira parte A estética transcendental Sejam quais forem o modo e os meios pelos quais um conhecimen to se possa referir aos objectos é pela intuição que se relaciona imediatamente com estes e ela é o fim para o qual tende como meio todo pensamento Essa intuição porém apenas se verifica na medida em que o objecto nos for dado o que por sua vez só é possível pelo menos para nós homens se o objeto afetar o espí rito de certa maneira 1997 p 61 Kant fala de dois tipos de intuição a intuição pura e a sensí vel Intuição Pura Antes de tudo para Kant a palavra pura quer dizer indepen dente da experiência Assim ele entende por intuição pura a for ma pura de sensibilidade que existe antes de existirem as intuições sensíveis Por consequência deverá encontrarse absolutamente no espírito a forma pura das intuições sensíveis em geral na qual todo o diverso do fenômeno se intui em determinadas condições Intuição Empírica Conhecimento sensível em que estão concretamente as sen sações Fenômeno Objeto da intuição manifestação aparição que é captada pelo sujeito segundo Kant o sujeito só percebe algo que for expe rimentado ou seja a matéria que é dada pela simples sensação 139 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant tal como ele se manifesta aos sentidos mas não o ser em si das coisas o que ele chama de númeno conceito analisado posterior mente Forma Não vem das sensações mas sim do próprio sujeito São modo e função próprios do sujeito que torna possível a sensibi lidade ordenando os dados sensoriais são os modos de funcio namento da nossa sensibilidade organiza os dados sensoriais ao recebêlos São elas espaço e tempo Para o pensador alemão a sensibilidade humana funciona de tal forma que permite a capta ção das coisas no tempo e no espaço A primeira forma é a do sentido externo condição que deve satisfazer a representação sensível de objetos externos A noção de espaço não surge porque o sujeito percebe as coisas como ex terior a si mesmo mas porque possui o espaço como uma estrutu ra inerente à sua sensibilidade Abarca todas as coisas que podem aparecer exteriormente A segunda o tempo é forma do sentido interno isto é de todo dado sensível interno enquanto por nós conhecido Para Kant a simultaneidade das coisas e sua sucessão não poderiam ser percebidas se a representação do tempo não lhe ser visse de fundamento Em um exercício lógico de decomposição tudo o que está no tempo pode desaparecer menos ele mesmo Essa forma abarca todas as coisas que podem aparecer interior mente O mesmo exercício pode ser feito com o espaço e se obterá o mesmo resultado Assim tempo e espaço são duas condições ao lado dos elementos a priori do entendimento sem as quais se ria impossível conhecer Desse modo para Kant nenhum objeto pode ser dado aos nossos sentidos sem se submeter ao tempo nenhum objeto pode ser dado aos nossos sentidos sem se submeter ao espaço São es sas formas que permitem a construção a priori da geometria e da História da Filosofia Contemporânea I 140 matemática ou os juízos sintéticos a priori como lemos na Intro dução da Crítica da razão pura Nela vemos que 1 Os juízos matemáticos e geométricos fundamse na for ma intuição pura do espaçotempo do conhecimento por isso são universais e necessários 2 Os juízos sintéticos a priori da geometria dependem do espaço 3 Os juízos sintéticos a priori da matemática dependem do tempo Por causa dessas formas a priori 1 Não se conhece o ser em si mas tal como ele se ma nifesta 2 Só uma mente originária Deus pode captar a coisa em si pois no ato da criação concebe o ser em si 3 Nossa intuição não é originária mas sensível precisa do objeto para conhecer 4 A forma do conhecimento depende do sujeito o conte údo lhe é dado Analítica Transcendental É a parte da Crítica da razão pura que está na Lógica Trans cendental segunda parte da Doutrina transcendental dos elemen tos em que acontece a elaboração conceitual dos dados sensíveis ou seja o conhecimento intelectivo e suas formas a priori de con ceituar os dados materiais apreendidos pelas formas de sensibili dade Segundo Kant enquanto a Estética Transcendental percebe os fenômenos a Analítica sintetiza esse conteúdo mediante as suas formas a priori ou categorias do entendimento Ou dito de outro modo enquanto a Estética Transcendental pode solucionar o problema da possibilidade de uma matemática pura pela aná lise a priori da sensibilidade do espaço e do tempo a Analítica dis cute a outra fonte de conhecimento o entendimento Na primeira o objeto nos é dado na intuição na segunda ele é pensado em conceitos Uma depende da outra Pensamentos sem conteúdos são vazios intuições sem conceitos são cegas KAnT 1997 p 89 141 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Vejamos agora os principais termos e conceitos que apare cem na Lógica transcendental em especial na Analítica Transcen dental A Lógica e suas divisões Do que foi dito anteriormente concluiuse a Estética é a ci ência da sensibilidade a Lógica é porém a ciência do entendi mento ou do intelecto Por isso tornase necessário distinguir as partes da Lógica segunda a discussão levada adiante pelo filósofo alemão Para ele a Lógica dividese em Geral prescinde dos conteúdos estudo as leis e princípios gerais do pensamento É a Lógica Formal inventada por Aristóteles Para Kant é quase perfeita mas resumese em analisar a forma lógica das proposições e as relações que dela decorreu Daí resulta seu ponto de vista não tanto o da verdade mas o da identidade e da coerência nas formas silogísticas Transcendental A Lógica transcendental não prescinde do conteúdo Para explicar isso Kant distingue conceitos empíricos contém elementos sensíveis dos conceitos puros conceitos que não estão vinculados à sensação Kant escreve na introdução da Lógica transcendental Assim a parte da Lógica Transcendental que apresenta os elemen tos do conhecimento puro do entendimento e os princípios sem os quais nenhum objeto pode de maneira alguma em absoluto ser absolutamente pensado é a Analítica Transcendental e simultane amente uma lógica da verdade 1997 p 96 Por analítico entendese a decomposição da faculdade inte lectiva para procurar conceitos a priori Por sua vez a Lógica transcendental subdividese em Analítica dos conceitos Se o entendimento ou o intelecto é discursivo e não intui tivo logo seus conceitos são funções que por sua vez consistem em unificar e ordenar um múltiplo sob sua representação comum História da Filosofia Contemporânea I 142 Por isso para Kant o entendimento ou intelecto é a segunda fonte de conhecimento Nas suas palavras na Crítica da razão pura no Livro primeiro da Analítica Transcendental Se chamarmos sensibilidade à receptividade do nosso espírito em receber representações na medida em que de algum modo é afeta do oentendimento é em contrapartida a capacidade de produzir representações ou espontaneidade do conhecimento Sem a sensibilidade nenhum objeto nos seria dado sem o entendimento nenhum seria pensado Pensamentos sem conteúdos são vazios intuições sem conceitos são cegas KAnT 1997 p 8889 É o intelecto segundo grau de atividade cognitiva que uni fica em elos mais definidos as diversas intuições A Lógica é a ci ência do intelecto Assim podese dizer que o intelecto é a pró pria faculdade julgar com elementos fornecidos pelas intuições Enquanto a sensibilidade é intuitiva ou seja apresenta o conte údo do conhecimento o intelecto é discursivo é o entendimento conceitual desse conteúdo mediante a formulação dos conceitos cuja função é unificar e organizar sintetizar o múltiplo comum Nesse sentido a ordem e a regularidade da natureza é aquela que o próprio sujeito pensante introduz na natureza Aqui temos o que Kant denomina de percepção transcendental A Analítica dos conceitos seria uma análise da faculdade de formar conceitos e essa faculdade é o próprio entendimento Es ses conceitos só podem ser puros e a partir deles surgirão todos os demais Para isso possuir validade Kant necessitou encontrar um fio condutor capaz de mostrar toda a lógica posterior Esse fio consistia nas diferentes maneiras pelas quais se realiza a unidade nos juízos visto que todos os atos do entendimento se reduzem a juízos Assim Kant estabelece para cada um dos 12 juízos clássi cos 12 categorias que possuem a função de unificar esses mes mos juízos conforme as diferentes formas lógicas de quantidade qualidade relação e modalidade As categorias são as formas de acordo com as quais os objetos de experiência são estruturados e ordenados de modo que se determinam e que se compreendem 143 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant uma determinada função intelectual É a classificação dos juízos na lógica formal em que as diferentes verdades podem se apresentar à realidade em diferentes formas dos juízos Kant acredita ter encontrado tal fio condutor para concei tuar categoria como pensar e julgar havendo tantas formas do pensamento puro ou conceitos das categorias quantas são as formas de dois juízos Vejamos como Kant apresenta as tábuas dos juízos e a correspondente tábua das categorias na Crítica da ra zão pura Livro Primeiro da Analítica Transcendental Segunda e Terceira Seção denominada Do fio condutor para a descoberta de todo conceito puro do entendimento TÁBUA DE JUÍZOS TÁBUAS DAS CATEGORIAS Quantidade Universais Particulares Singulares Unidade Pluralidade Totalidade Qualidade Afirmativos negativos infinitos Unidade Pluralidade Totalidade Qualidade Afirmativos negativos infinitos Realidade Negação Limitação Relação Categorias Hipotéticos Disjuntivos Inerência e subsistência Causalidade e dependência Comunidade recíproca Modalidade Problemáticos Assertóricos Apodíticos Possibilidadeimpossibilidade ExistênciaNãoexistência necessidadeContingência História da Filosofia Contemporânea I 144 Um exemplo Todo homem é mortal Juízo universal todo Categoria de unidade pois unifica em uma mesma proposição todo sujeito Nesse sentido pensar é estabelecer na multiplicidade dada pela intuição os sentidos vêem os homens em sua multiplicida de certas relações que façam dessa multiplicidade uma unidade Logo só o intelecto é capaz de extrair do múltiplo o uno Depois de apresentar a tábua das categorias o próximo pro blema que Kant propõe resolução é o de fundamentar a validade dessas categorias e seu conhecimento a isso ele chamou dedu ção transcendental A solução do problema é semelhante ao já dado para a validade objetiva do espaço e tempo que são as for mas a priori da sensibilidade Se as coisas conhecidas adéquamse às formas da sensibilidade não há nada de estranho pensar que para serem pensadas devem se adequar às leis do intelecto e do pensamento Assim o sujeito ao pensar a coisa a ordena e con ceitualiza conforme os modos do próprio pensamento Em Kant o fundamento do objeto está no sujeito É o resul tado da sua Revolução Copernicana Como vimos para a filo sofia antiga o objeto estava contra e se opunha ao sujeito agora para Kant a ordem e a regularidade dos objetos da natureza é a ordem que o sujeito pensando introduz nela Com isso o sujeito pode determinar ou definir o objeto Ainda dentro da Analítica dos conceitos Kant introduz outra terminologia A percepção Transcendental ou o Eu Penso que nada mais é que Autoconsciência Ao fazer isso estabelece as categorias uma unidade suprema e originária que deve guiar tudo ou seja essa unidade é o próprio Eu Penso a unidade da cons ciência que acompanha todas as minhas representações O que quer que eu pense sou eu que o penso e não posso encontrarme como sendo o mesmo em todas as minhas representações senão porque opero uma síntese que reduz a multiplicidade das minhas representações à unidade 145 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Nesse sentido Kant na Crítica da razão pura no Capítulo II Segunda Seção da Analítica Transcendental afirma que O eu penso deve poder acompanhar todas as minhas representa ções se assim não fosse algo se representaria em mim que não poderia de modo algum ser pensado que o mesmo é dizer que a representação ou seria impossível ou pelo menos nada seria para mim 1997 p 131 Diz ainda que a unidade sintética do múltiplo das intuições enquanto dada a priori é pois o principio da identidade da pró pria apercepção a qual precede a priori todo meu pensamento determinado Para que haja conhecimento universal é necessário é pre ciso que esta unidade seja objetiva ou seja que a unidade trans cendental da apercepção reúna no conceito de um objeto todo o múltiplo dado em uma intuição e isso é juízo Não há porém objeto e sujeito senão pelo juízo e nele se dá o ato pelo qual as representações são ligadas e reduzidas à unidade da apercepção A Analítica dos Princípios no Livro Segundo da Analítica Transcendental é um novo tópico dentro da Lógica Transcenden tal kantiana Nesse tópico Kant discute o esquematismo transcen dental que é a mediação entre as intuições puras e os conceitos que são heterogêneos feitas por um elemento homogêneo entre ele que é o tempo e o sistema de todos os princípios do intelecto puro ou a fundamentação transcendental da física newtoniana Segundo essa concepção Kant apresenta o seguinte esque matismo transcendental ligando as categorias à forma a priori de tempo 1 substância ou seja aquilo que permanece no tempo 2 causa e efeito que é sucessão temporal do múltiplo 3 ação recíproca que é a simultaneidade temporal 4 realidade isto é a existência num determinado tempo 5 necessidade que é a existência de um objeto em cada tempo História da Filosofia Contemporânea I 146 O esquematismo transcendental é nas palavras de Kant daremos o nome de esquema a esta condição formal e pura da sensibilidade a que o conceito do entendimento está restringido no seu uso e o de esquematismo do entendimento puro ao pro cesso pelo qual o entendimento opera esse esquema 1997 p 183 Nesse sentido o tempo é uma forma de intuição que conec ta todas as representações sensíveis feitas de modo a que cada categoria possa ser facilmente aplicada a ela defendem Reale e Antiseri 1990 p 889 Esses mesmos autores Giovanni Reale e Dário Antiseri dão o seguinte exemplo para explicar o que Kant chama de esquema transcendental Cinco pontos em fila são uma imagem do número cinco Mas se eu considero os cinco pontos aos quais pouco a pouco podem ser acrescentados outros como exemplificação metódica para representar uma multiplicidade um número qualquer então eu não tenho mais uma simples imagem mas sim uma imagem que funciona como indicação de um método para que eu me represen te o conceito de número e portanto tenho um esquema REALE AnTiSERi 1990 p 890 Nesse sentido os autores citados ainda dizem analogamente quando eu desenho um triângulo tenho uma imagem mas quando considero aquela figura como exemplifica ção de regra do intelecto para a realização do conceito de triângu lo em geral então tenho um esquema REALE AnTiSERi 1990 p 890 Sendo assim o esquema não é a imagem embora apresente certa afinidade com ela ele é um esboço do intelecto sobre algo real Podemos citar o seguinte exemplo o esquema da categoria da substância é a permanência no tempo sem esse permanecer no tempo o conceito de substância não se aplicaria ao fenôme no Portanto para Kant enquanto a imagem empírica é produzida pela imaginação empírica o esquema transcendental é produzido pela imaginação transcendental O esboço nesse sentido é mais abstrato 147 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Outro termo criado para fundamentar essa teoria que en contramos na Terceira Seção do Sistema dos Princípios do Enten dimento no Livro Segundo da Analítica Transcendental Kant deu o nome de Analogias da Experiência que são três como se segue abaixo Primeiro temos a analogia da categoria da substância Em toda a mudança dos fenômenos a substância per manece e sua quantidade não aumenta e nem diminui na natureza 1997 p 212 Depois temos a analogia da categoria da causalidade To das as mudanças acontecem de acordo com a lei da cau salidade 1997 p 217 Por fim encontramos a analogia à categoria da ação re cíproca Todas as substâncias enquanto susceptíveis de ser percebidas como simultâneas no espaço estão em ação recíproca universal 1997 p 232 Depois de toda essa discussão em torno das categorias e do esquema transcendental Kant encerra sua discussão sobre a Ana lítica distinguindo fenômeno e número Essa distinção tem a ver com a conclusão apresentada no final da Analítica o conhecimen to científico é universal e necessário mas está restrito ao campo da natureza ou seja ao mundo fenomênico A analítica transcendental alcançou pois o importante resultado de mostrar que o entendimento nunca pode a priori conceder mais que a antecipação da forma de uma experiência possível em geral e que não podendo ser objeto da experiência o que não é fenô meno o entendimento nunca pode ultrapassar os limites da sen sibilidade no interior dos quais unicamente nos podem ser dados objectos KAnT 1997 p 263264 Como vimos para Kant o fenômeno nada mais é do que um estrito âmbito da manifestação dos fenômenos da natureza ou seres dos sentidos phaenomena 1997 p 268 que são perce bidos pela formas puras da sensibilidade e conceituados segundo as categorias do entendimento o que torna possível o conheci mento científico Por isso a sensibilidade e o entendimento só po História da Filosofia Contemporânea I 148 dem dizer algo com segurança das coisas experimentadas perce bidas no espaço e tempo Porém os fenômenos são circundados por um âmbito bem mais vasto que nos separa Esse vasto âmbito seria o númeno ou as coisas em si Nas palavras de Kant na Crítica da razão pura Seção Tercei ra da Doutrina Transcendental da Capacidade de Julgar No entanto quando denominamos certos objetos enquanto fenô menos seres dos sentidos phaenomena distinguindo a maneira pela qual os intuímos da sua natureza em si já na nossa mente contrapomos a estes seres dos sentidos quer os mesmos objetos considerados na sua natureza em si embora não os intuamos nela quer outras coisas possíveis que não são objetos dos nossos senti dos enquanto objetos pensados simplesmente pelo entendimen to e designamolos por seres do entendimento noumena 1997 p 268 Ao refletir sobre o sentido de númeno apresentado por Kant Reale e Antiseri 1990 p 893 fazem a seguinte afirmação Entretanto em nossa concepção quando denominamos certos ob jetos como fenômenos seres sensíveis phaenomena distinguin do o nosso modo de intuílos de sua natureza em si já ocorre que por assim dizer contrapomos a eles os próprios objetos em sua natureza em si ainda que nós os intuamos nessa sua natureza ou até outras coisas possíveis mas que não são precisamente objetos dos nossos sentidos como objetos pensados simplesmente pelo intelecto chamandoos de seres inteligíveis noumena Segundo os autores citados anteriormente a essa realida de diferente da realidade sensível o pensador alemão chama de coisaemsi Assim para Kant nós devemos nos contentar com o conhecimento fenomênico porque ele é o único conhecimento seguro já que o nosso intelecto jamais conseguirá ultrapassar os limites da sensibilidade a única faculdade que nos dá o material do conhecimento Desse modo para nosso filósofo intelecto e sensibilidade se unem para proporcionar o conhecimento possí vel mostrar a relação possível entre os fenômenos Tudo que es tiver além do fenômeno pertence á outra dimensão o númeno 149 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant O conceito de númeno é problemático visto que por ser um objeto da razão podemos pensálo mas não conhecêlo Se de um lado o que conhecemos é o fenômeno as coisas tais como elas se manifestam o que ela esconde por outro o númeno só podemos intuílo A Dialética Transcendental Terceira e última parte a ser discutida sobre a Crítica da razão pura em que o pensador de Königsberg analisa a possibilidade da metafísica como ciência tal como pretendia os clássicos A discus são já aparece na Parte Segunda a Lógica Transcendental quando Kant divide a Lógica Geral em Analítica e Dialética e em seguida diferencia a Analítica Transcendental e a Dialética Transcenden tal Entretanto a discussão detalhada da Dialética Transcendental com relação às ideias da razão se encontra na Divisão Segunda da Lógica Transcendental quando Kant trata dos Conceitos da Razão Pura no Livro Primeiro e das Inferências Dialéticas da Razão Pura no Livro Segundo É evidente que com tudo o que foi analisado até aqui a me tafísica não passa de um conhecimento permeado por equívocos Ao dedicar essa subdivisão da obra a esse estudo Kant não preten de provar a validade da metafísica mas por meio de suas próprias contradições mostrar sua impossibilidade como ciência teórica e tentar dar conta de explicar a própria existência da metafísica tema específico da Crítica da razão prática Iniciaremos por apresentar o que Kant entendia por Dialéti ca Kant entende por dialética a todos os raciocínios ilusórios que a razão produz ao tentar explicar aquilo que está para além da experiência possível Segundo o filósofo de Knigsberg a razão ao querer ultrapassar os limites do conhecimento experimental produz uma série de erros e uma série de ilusões que não são voluntárias mas involuntárias sendo portanto ilusões estruturais Daí a nova História da Filosofia Contemporânea I 150 definição de dialética em geral apresentada por ele como uma lógica das aparências KAnT 1997 p 295 em oposição à Analítica que é uma lógica da verdade Pascal 1992 p 86 Seria necessária uma crítica a essa pretensão da razão e do intelecto Por isso ele propõe na Segunda parte da Doutrina Transcen dental dos Elementos na Lógica Transcendental a Dialética Trans cendental como uma crítica do intelecto e da razão em relação ao seu uso hiper físico a fim de desvendar a aparência falaz de suas infundadas pre sunções e reduzir as suas pretensões de descobertas e ampliação de conhecimento que ele se ilude de obter graças aos princípios transcendentais ao simples julgamento do intelecto puro e à sua preservação das ilusões sofísticas KAnT 1997 p 299 Por conseguinte essa palavra é utilizada por Kant não ape nas para designar a própria ilusão mas também para designar o estudo e a crítica dessa ilusão Segundo Kant essas ilusões são na turais Delas podemos nos defender mas jamais nos afastar Mas quais são essas ilusões Vejamos então As aparências são lógicas sofisma da petição de princípio empíricas o crescimento da Lua no horizonte transcendentais quer dizer resultantes da própria natu reza do nosso espírito enquanto ele acredita poder ultra passar pelos seus princípios a priori os limites de toda a experiência possível e determinar por meio dos seus raciocínios teóricos a Natureza da Alma do Mundo e de Deus Assim Kant deixa claro que a metafísica pode pensar mas não conhecer no sentido que agora ele atribuía a juízos científicos Para melhor exemplificar e fundamentar sua tese Kant abor dará três temas fundamentais estudados pela metafísica clássica que ainda persistiam até meados do século 18 a Natureza da Alma do Mundo e de Deus estudados pelas três subdivisões da 151 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant metafísica a Psicologia Racional a Cosmologia Racional e a Teolo gia Racional Nessa nossa análise abordaremos cada tema discutido as características relevantes presente em cada um A Psicologia Racional é a disciplina metafísica que tem como objetivo analisar a existência da alma e sua imortalidade de modo racional Para Kant ela repousa desde Descartes na proposição Eu Penso cuja verdade é incontestável O problema é querer tirar dela a consequência de que o eu exista como objeto real Partindo do pensamento que só se pode conhecer mediante uma institui ção e essa por sua vez só se dá no nível da sensibilidade não se pode dizer que haja algo no tempo e no espaço que possa ser con siderado alma visto que não há nenhuma percepção sensível para afirmála sem isso o seu conhecimento está comprometido visto que isso é uma das condições fundamentais do conhecimento A alma não é um ser sensívelobjeto A esse respeito afirma Lalande 1993 p 886 Quando a observação do espírito por si próprio tem por objeto descobrir para além dos fenômenos uma realidade substancial e permanente de que estes são apenas manifestações ela constitui a psicologia ontológica ou ainda a psicologia racional A Cosmologia Racional é a parte da metafísica que discute os problemas relativos à origem e à natureza do mundo conside rado como uma realidade São esses os problemas que engendram as antinomias entendidas por Kant como conflito entre as leis da razão pura Nessas antinomias as teses e as antíteses têm o mesmo va lor lógico ou seja contradições em que a razão pura se envolve necessariamente enquanto se preocupa com origem do mundo quando provoca o incondicionado no fenômeno quer na série to tal e infinita das condições quer em um primeiro termo absoluto e quando em consequência ela trata o mundo submetido às con História da Filosofia Contemporânea I 152 dições da experiência possível como se ele tivesse uma realidade em si teoricamente determinável Essas contradições ou oposi ções traduzemse em quatro pares de proposições cosmológicas as quais se restringem porém ao plano gnosiológico ou cognitivo dizendo respeito à cosmologia No quadro a seguir analisaremos as quatro antinomias pre sentes na Crítica da razão pura TESE ANTÍTESE Primeira antinomia O mundo tem um começo e ademais no que se refere ao espaço está encerrado em limites O mundo não tem começo nem limites espaciais mas é infinito tanto em relação ao tempo como em relação ao espaço Segunda antinomia Toda substância composta que se encontra no mundo consta de partes simples não existindo em nenhum lugar senão o simples ou aquilo que dele é composto Nenhuma coisa composta que se encontra no mundo consta de partes simples e nele não existe em lugar nenhum nada de simples Terceira antinomia A causalidade segundo as leis da natureza não é a única da qual podem derivar todos os fenômenos do mundo para a sua explicação é necessário admitir também uma causalidade livre Não há nenhuma liberdade pois tudo no mundo ocorre unicamente segundo as leis da natureza Quarta antinomia No mundo há algo que como sua parte ou como sua causa é um ser absolutamente necessário Em nenhum lugar existe um ser absolutamente necessário bem como sua causa Essas substâncias são estruturais e insolúveis porque quan do a razão ultrapassa os limites da experiência não pode deixar de perder e oscilar de um oposto a outro já que segundo Kant fora da experiência os conceitos trabalham no vazio Logicamente falando conforme os padrões clássicos tese e antítese são possí veis mas criase um abismo para a razão quando se pretende cor roborar uma ou outra O mundo real não permite à razão provar a validade de tais proposições Para o conhecimento científico tais proposições são desprovidas de significado 153 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant A Teologia Racional é a parte da metafísica que analisa as provas da existência de Deus no decorrer da história partindo de pressupostos racionais e não teológicos Kant agrupaas em três argumentos principais e mostra as suas fragilidades O Argumento Ontológico cujos defensores mais famosos foram Santo Anselmo e Descartes Segundo essa prova o homem tem a ideia de um ser perfeito por isso esse ser necessariamente deve existir caso contrário não seria perfeito uma vez que não há maior perfeição que a própria existência Para Kant esse ar gumento é absurdo A existência é uma das categorias a priori do entendimento só podendo ser percebida pela intuição sensível tempoespaço Não é o caso de Deus As categorias não podem experimentar tal existência já que foge dos seus domínios O Argumento Cosmológico em que pretende provar a exis tência de Deus por meio da relação causaefeito teoria defendida por Aristóteles e Tomás de Aquino até chegar a uma causa não causada motor imóvel que seria Deus Para Kant não há motivo para se cessar a aplicação da categoria de causalidade Por fim o Argumento Físicoteleológico que afirma que to dos os seres da natureza cumprem algum fim servem para alguma coisa logo deve haver um fim último Deus Kant não vê nesse ar gumento as bases para afirmar Deus Para o filósofo alemão não é lícito sem se sair dos limites da experiência tirar da adequação a finalidade quaisquer conclusões referentes a um ser superior De tudo concluise que a metafísica por perpassar os limi tes da intuição sensível aplicandose as categorias a priori do en tendimento é impossível como ciência já que a síntese a priori metafísica suportaria um intelecto intuitivo isto é diferente do in telecto humano REALE AnTiSERi 1990 p 904 Os juízos sinté ticos sobre os temas metafísicos como se apresentam só podem ser falsos porque sintetizam o vazio Conhecer a coisa em si o númeno é contraditório e absurdo visto que o fato de ao preten der conhecer transformaria o ser em si em fenômeno ou seja aparência o que é impossível História da Filosofia Contemporânea I 154 Depois de demonstrar a impossibilidade da metafísica como ciência a questão a ser discutida por Kant é a finalidade das Ideias da Razão ou seja a Ideia de alma de mundo e Deus enquanto tais Elas têm algum valor Seriam elas ilusões transcendentais e dialéticas A resposta do filósofo é clara elas não são ilusões Elas tornamse ilusões quando mal interpretadas isto é quando são confundidas com princípios constitutivos de conhecimento trans cendentes como ocorreu precisamente na metafísica tradicional REALE AnTiSERi 1990 p 904905 Para o nosso filósofo as Ideias da razão não têm o mesmo uso das categorias já que não são matérias de experiências ou seja elas não têm o mesmo uso constitutivo das categorias Quan do elas são usadas nesse sentido é que produzem erros e ilusões Mas então qual a função dessas ideias se elas não são ilusões ou erros da Razão A resposta dada por Kant é a seguinte as ideias têm uso nor mativo ou seja valem como esquemas para ordenar a experiência e para darlhe a maior unidade possível e valem como regras para organizar os fenômenos relativos de maneira orgânica como se todos os fenômenos relativos ao homem dependessem da alma como se todos os fenômenos da natureza dependessem unita riamente de princípios inteligíveis e como se a totalidade das coisas dependesse de uma inteligência suprema a que os homens chamam Deus Como se pode ver os juízos formulados com relação às Ideias da razão são todos de probabilidade Assim lembramnos Reale e Antiseri as Ideias valem como princípios heurísticos que servem não para ampliar o conhe cimento dos fenômenos mas sim para unificálo regulando de modo constitutivo 1990 p 906 Essa unidade sistemática serve para promover e fortalecer o intelecto bem como para estimular a busca ao infinito Aqui temos segundo a reflexão de Reale e Antiseri 1990 p 906 o uso positivo da razão e das suas Ideias para Kant 155 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Temos então a conclusão da Crítica da razão pura reafir mando que do ponto de vista científico os limites da experiência são intransponíveis Mas na mesma conclusão não exclui a possi bilidade do númeno como realidade normativa e ordenadora dos fenômenos Se isso for verdade qual seria então já que a experi ência não o é o caminho para esse outro domínio da razão que é o númeno A resposta dada por Kant é que esse caminho existe é o caminho da ética A apresentação e a análise desse tema tornase o assunto da segunda Crítica que passamos a analisar a partir de agora 8 ALGUNS ELEMENTOS DA ÉTICA KATIANA CRÍTICA DA RAZÃO PRÁTICA Recomendamos a leitura da obra em questão Há boas traduções em português tanto de editoras brasileiras quanto de editoras por tuguesas Para começar segundo o que escrevem Reale e Antiseri 1990 p 906 Kant deixa claro na introdução da segunda Crítica que a razão não é só teórica ou seja capaz de conhecer assunto tratado na primeira Crítica mas também é prática ou seja ca paz de determinar também a vontade e a ação moral É justamente dessa faculdade humana de determinação da vontade que trata a Crítica da razão prática Porém o caminho dessa nova crítica diverge da primeira na primeira Kant viu a ne cessidade de criticar a tendência do intelecto para ultrapassar os limites da experiência correndo o risco de cair no erro e na ilusão Essa crítica não é necessária porque a razão prática tem o objetivo de determinar a vontade ou seja de mover a vontade humana que é uma realidade objetiva presente em todo ser humano todo ser humano tende a agir segundo a sua vontade e desejo O objetivo do nosso filósofo é provar a existência de uma razão prática que não mistura com os motivos ou impulsos da sen História da Filosofia Contemporânea I 156 sibilidade isto é da experiência que pode mover e determinar a vontade para eliminar todo problema ulterior acerca da sua le gitimidade e das suas pretensões como se lê em Reale e Antiseri 1990 p 907 Ainda segundo os mesmos autores na Crítica da Razão Pura Kant critica as pretensões da razão teórica de querer transcender a experiência e conhecer um domínio que não lhe cabe em quanto na Crítica da razão prática ele critica a pretensão da razão per manecer sempre ligada à experiência Segundo Kant no domínio prático a razão deve transcender e buscar os princípios universais da moralidade ou dos móbeis da ação moral Nesse sentido o que Kant se propõe a mostrar é que a crítica de uma razão prática tem a obrigação de afastar a razão empirica mente condicionada da pretensão de fornecer por si só o funda mento exclusivo de determinação da vontade afirmam Reale e Antiseri 1990 p 907 citando as próprias palavras de Kant na Crí tica da razão prática Isso equivale dizer que para nosso filósofo há princípios a priori na razão que determinam a nossa vontade tornandoa uma vontade universal isto é uma vontade moral já que para ele a vontade fundamentada na experiência é sempre particular e segunda a vontade individual Se na razão teórica o problema era a tendência para ultra passar os limites da experiência na razão prática o problema é o apegarse demasiadamente a essa experiência que é particular e baseada na vontade do indivíduo Nesse sentido se a razão teó rica deve calarse diante do domínio numênico mantendose aos limites do fenomênico a razão prática deve elevarse do domínio fenomênico e penetrar no numênico em buscar de princípios uni versais que movam a ação de todo ser racional O que se conclui que enquanto a esfera numênica é ina cessível à razão teórica ela se torna totalmente acessível á razão prática isso torna o ser humano uma consequência enquanto ser dotado de vontade do mundo numênico É isso que passaremos a discutir a partir de agora 157 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant A nossa intenção nessa parte do estudo sobre a filosofia kantiana não é esgotar a discussão sobre as questões morais pre sentes na segunda crítica mas a de apresentar alguns elementos que nos permitam conhecer as posições principais da obra de modo que nos ajudem na sua leitura e na compreensão A obra em questão está dividida numa Analítica e numa Dia lética Vamos nos deter na análise dessas duas partes levantando as principais discussões e temas nelas contidas Da Analítica I Parte A preocupação inicial é diferenciar máximas morais das leis livres ou as máximas subjetivas Essas máximas subjetivas conteriam apenas as condições consideradas pelo sujeito como valida somente para sua vontade ou sido de outro modo são má ximas que valem somente para que as proponham Já as leis mo rais ao contrário seriam objetivas contendo uma condição básica válida para vontade de qualquer ser racional Daí concluise que tudo o que é subjetivo não pode propor cionar leis morais A lei moral é o enunciado do princípio ou postulado da ação universal e obrigatória ao qual o ser racional deve conformar os seus atos para realizar a sua autonomia A esses postulados univer sais Kant chama de Imperativos proposição que possui a forma de uma ordem em particular de uma ordem que o espírito se dá a si mesmo que é válida para todos os homens Esses imperativos se dividem em dois os hipotéticos e os categóricos Os primeiros representam as máximas validas se quer atingir algum objetivo o que pode ser representado pelo seguinte postulado se queres tu dever Segundo Kant esses postulados são condicionas pelas ha bilidades e pelos conselhos de prudência por exemplo se tu queres vencer tu deves lutar ou se não queres ser preso não cometas nenhum crime ou ainda come sobriamente se quiseres conservar a saúde História da Filosofia Contemporânea I 158 Como você pode notar o imperativo é hipotético se a ordem enunciada estiver subordinada como meio a algum fim que se pretenda atingir ou pelo menos que se pretenderia poder atingir Os imperativos categóricos são máximas que valem para todo ser racional incondicionalmente isto é independentes de vontade preferências ou desejos pessoais Se justo onde se or dena sem condição Por ser esse imperativo fruto da razão para tornarse assim uma lei universal de conduta que se chama Lei Moral A vontade é autônoma e princípio de todas as leis morais ela é independente de toda matéria da lei e determina o livrearbítrio a partir de uma máxima categórica Nesse sentido os imperativos categóricos revelam uma lei necessária tal qual uma lei física só que as leis da natureza não podem nunca deixar de se concretizar elas são sempre necessárias dever müssen elas devem sempre se realizar da mesma forma por outro lado as leis morais também são leis necessárias dever sollen mas elas podem não se con cretizar pela liberdade humana que não se guia apenas pela razão mas também pelas inclinações sensíveis REALE AnTiSERi 1990 p 910 Assim a lei moral em Kant ou seja a ação moral não pode guiarse pelo objeto querido o conteúdo mas somente pelo modo de querer a forma o que leva o filósofo alemão a propor que na ação moral a vontade deve adequarse à forma da lei a uma intenção universal que se expressa na seguinte forma de ves porque deves Essa submissão se dá porque segundo Kant se a lei moral dependesse do seu conteúdo ela seria empírica e visaria sempre uma utilidade sendo portanto particular Mas qual a matéria desse querer Kant passa a analisálo em seguida O objetivo material do querer é a felicidade e ela depende da natureza empírica de cada sujeito particular Aquilo que gera gozo e prazer requer a multiplicidade ou seja a continuação perene ao mesmo tempo em que está em bus ca do mais alto grau e da maior durabilidade possível 159 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Ainda nessa discussão Kant aborda a temática da liberdade Segundo ele é livre toda vontade determinada apenas pela forma da lei e por consequência independente de todo estímulo empí rico Por isso a liberdade e a lei prática incondicionada mantêm entre si uma correspondência recíproca Nessa relação a razão prática é totalmente independente da lei natural dos fenômenos atingindo total autonomia para se autodeterminar segundo a pura forma da lei sem necessidade de conteúdo fenomênico A verdadeira ação moral não se conduz por nenhum motivo material mas sim pelo puro dever Por isso Kant propõe que a lei moral só existe com a forma de um imperativo categórico Age apenas segunda a uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal 1960 p 58 Aqui uma vontade subjetiva tornase lei moral objetiva ou seja o sujeito racional age segundo deve agir todo sujeito racional Mas o que leva o sujeito a agir segundo uma lei universal Vejamos algumas partes da obra e a discussão que ela propõe II Parte Nesse ponto Kant procura estabelecer o conceito da razão pura enquanto prática o objeto que seja um efeito possível da li berdade do ponto de vista da moral Aqui Kant discute o bem dis tinguindoo do agradável Assim ele define o bom O soberano bem é o objeto que satisfaria toda a faculdade de desejar de seres razoáveis finitos Essa satisfação deve se dar inteiramente tanto em relação à razão como em relação à sensibilidade e à atividade Nesse sentido não são os conceitos de bem e mal que determi nam a lei moral mas é o contrário é a lei moral que determina os conceitos de bem e mal é a lei moral que deve dar conformidade ao mundo Mas qual seria esse sentimento moral que formaria e daria sentido a todas as ações morais Qual seria o sentimento da vontade moral Kant discute esse sentimento na última parte da Analítica História da Filosofia Contemporânea I 160 III Parte Para encerrar a parte da Analítica Kant discute a noção de motivos morais e o respeito Os motivos são subjetivos logo em píricos mas não devem ter origens empírica e natural O motivo fundamental da moralidade é o respeito um sentimento interno especial provocado pelo conhecimento de um valor moral numa pessoa ou num ideal Segundo Reale e Antiseri 1990 p 920 tra tase porém de um sentimento suscitado pela própria lei moral e portanto de um sentimento diferente dos outros Para os mesmo autores o respeito para Kant é um sentimento que nasce com base em um funcionamento intelectual e racional enquanto é sus citado pela própria razão Além disso lembrando Kant os autores afirmam ainda que o respeito é o único sentimento que podemos conhecer inteiramente a priori e do qual podemos conhecer a ne cessidade REALE AnTiSERi 1990 p 920 Concluindo essa parte do estudo devemos atentar para o fato de que para Kant não basta que uma ação seja feita segundo a lei ou seja em conformidade com a lei Nesse caso a ação sim plesmente seria legal mas não moral A ação moral deve ter como princípio o puro dever se obe deço à lei não é para não sofrer punições mas porque a lei deve ser cumprida se faço caridade não é para ser reconhecido e ad mirado mas porque a caridade é um dever do ser humano Se agirmos dessa forma agimos moralmente Caso contrário a ação pode ser legal ou hipócrita Pensando dessa forma Kant não está dizendo que o homem para ser moral deva prescindir dos senti mentos e das emoções o que ele diz é que se esses sentimentos estão na base da ação moral eles podem macular a ação moral REALE AnTiSERi 1990 p 920 Para prevalecer a moralidade o único sentimento que deve mover a ação é o sentimento de respeito Onde prepondera o res peito as inclinações e as paixões serão sempre superadas e con troladas no que tange à vontade como móvel da ação O respeito é 161 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant a condição interna para que possa preponderar a lei moral Onde não há respeito e prepondera o medo a paixão o terror etc não pode haver verdadeira lei moral Segundo Reale e Antiseri à medida que exclui a influência de todas as inclinações sobre a vontade a lei moral expressa uma coerção prática das inclina ções a sua submissão e portanto respeito e por conseguinte se manifesta côo obrigatoriedade Em um ser perfeito a lei moral é lei de santidade em um ser finito é de dever 1990 p 921 Aqui encontramos o famoso rigorismo kantiano para ser moral não basta que a ação seja em conformidade com a lei mas sim realizada sempre só pelo dever sem nenhum intermediário de sentimento que não o respeito Dialética O sumo bem é o sujeito completo e absoluto da razão pura prática É o acordo entre a felicidade e a virtude Kant estabelece outra antinomia Por um lado a felicidade deve ser a causa motora para a máxima da virtude isso é impossível Por outro lado a máxima da virtude deve ser a causa efi ciente da felicidade também impossível A solução provém da admissão da fé na imortalidade da alma e a existência de Deus surgindo assim no sistema kantiano dentro do postulado da Razão Prática O prêmio da virtude é a vida supras sensível A existência de Deus permite assim a relação entre o real e o Idea entre o que é e o que deve ser Para concluir nossos estudos sobre Kant relembremos o que ele diz ser as duas coisas mais importantes que o enchia de admi ração o céu estrelado sobre mim e lei moral em mim como se lê nas ultimas linhas da Crítica da Razão Prática Para esse extraor dinário pensador moderno nas palavras de Reale e Antiseri 1990 p 932 o homem que na Crítica da razão pura revelouse como feno mênico finito mas dotado com Razão de estrutural abertura para o infinito as Idéias e de uma necessidade irrefreável de infinito História da Filosofia Contemporânea I 162 agora na Razão prática revelase também efetivamente desti nado ao infinito Com essas posições Kant estava preparando o ambiente para a passagem do Iluminismo com toda a sua aridez abrindo caminho para o Romantismo que com a sua poesia filosófica co loca o homem definitivamente rumo ao infinito Desse modo Kant revigorou a visão sobre o homem o que modificou toda a reflexão filosófica nos anos que se seguiram Se não todo com certeza a maioria dos grandes pensadores dos sé culos 19 e 20 retomaram as reflexões kantianas ou para refutálas ou para complementálas 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira a seguir as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade 1 Como a historiografia divide a formação do pensamento kantiano 2 Por que Kant no período crítico vê a necessidade de submeter a razão ao crivo da razão 3 Por que se pode falar que o período crítico é o período da maturidade e da originalidade do pensamento de Kant 4 Quais as duas correntes filosóficas que predominavam na Europa no perío do em que Kant escreve sua primeira Crítica Por que essas duas correntes são opostas 5 Qual a intenção de Kant ao criticar o Ceticismo de Hume 6 Por que Kant propõe uma nova definição de juízos 7 Depois de ler a Introdução da Crítica da razão pura procure diferenciar os tipos de juízos propostos por Kant apontando as suas características 8 Qual a novidade proposta por Kant com os juízos sintéticos a priori 9 Por que Kant comparou sua proposta epistemológica ao heliocentrismo de Copérnico 163 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant 10 Qual a justificativa dada por Kant para a aceitação dessa mudança episte mológica 11 Com essa novidade qual seria a função da filosofia segundo a proposta kan tiana 12 Depois de pesquisar ler e refletir procure escrever em poucas linhas o que transcendente e o que é transcendental 13 Como Kant apresenta a sua Estética Transcendental 14 Como Kant define Intuição Qual a função da intuição 15 Procure diferenciar segundo a proposta kantiana a intuição pura da intui ção sensível 16 Depois de ler e refletir explique o que são segundo a proposta kantiana as formas puras de espaço e tempo e mostrando a função de cada uma delas 17 Qual a diferença fundamental entre a Estética Transcendental e a Analítica Transcendental 18 Como Kant completa a Lógica aristotélica com a sua proposta de uma Lógica transcendental 19 Qual a função do intelecto ou da faculdade do entendimento para Kant 20 Quais são as funções de cada uma das categorias do entendimento apresen tadas por Kant 21 Por que Kant afirma que só o intelecto é capaz de pensar 22 Explique o que são e qual a função das categorias a priori do entendimento 23 Com a apresentação das categorias do entendimento como Kant entende o que pensar 24 O que Kant entende por dedução transcendental Por que ele propõe essa discussão 25 Em que essa nova posição defendida por Kant com relação à conceituação difere da posição antiga 26 O que Kant entende por apercepção transcendental Qual sua função 27 O que Kant chama de esquematismo transcendental Qual sua função História da Filosofia Contemporânea I 164 28 Depois de ler e refletir procure diferenciar segundo a proposta kantiana o fenomêncio do numênico apontando os motivos pelos quais Kant fez essa diferenciação 29 Qual é o tema discutido na terceira parte da Crítica da razão pura chamada Dialética Transcendental Por que Kant vê essa discussão como importante 30 Quais são as críticas feitas por Kant à dialética como conhecimento 31 Quais são os objetos que a metafísica quer discutir mas acaba devido à deficiência natural do intelecto cometendo equívocos ao tentar definilos Qual parte da metafísica era dedicada ao estudo desses objetos 32 O que Kant chama de antinomias Quando elas surgem Qual são os proble mas que as envolvem 33 Por que Kant critica os argumentos que tentam provar a existência de Deus Como Kant os supera 34 Por que Kant afirma que construir juízos sintéticos sobre temas metafísicos é absurdo 35 Qual a resposta de Kant para as Ideias de Razão Deus Alma e Mundo Elas são ou não são ilusões transcendentais Como Kant explica sua posição 36 Qual a finalidade segundo a proposta de Kant dessas ideias da razão 37 Como Kant justifica a discussão metafísica nas questões práticas 38 Como podemos diferenciar segundo a proposta de Kant uma razão teóri ca e uma razão prática 39 Quais são as críticas que Kant faz a uma e a outra razão 40 Para Kant por que a razão prática deve penetrar no mundo numênico 41 Diferencie segundo a proposta kantiana leis morais de leis livres ou subje tivas 42 Para Kant o que são os imperativos Quais são os imperativos e qual a di ferença entre eles 43 Qual a diferença entre a necessidade das leis na natureza e a necessidade das leis morais de uma sociedade 44 Por que segundo Kant a lei moral não pode ser guiada pelo objeto queri do mas sim pelo modo de querer Qual a justificativa do filósofo para essa afirmação 165 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant 45 Como podemos diferenciar a partir da leitura da introdução da Crítica da razão prática a razão teórica da razão prática 46 Na Crítica da razão prática qual o grande objetivo da razão no domínio prático 47 Como é possível diferenciar a vontade geral da vontade particular em Kant 48 Por que Kant afirma que se a razão teórica deve calarse diante do domí nio numênico mantendose aos limites do fenomênico a razão prática deve elevarse do domínio fenomênico e penetrar no numênico 49 Procure diferenciar máximas subjetivas das máximas morais ou objetivas segundo a proposta kantiana apontando os seus fundamentos 50 O que são como estão divididos e como se diferenciam os Imperativos se gundo Kant 51 O que Kant chama de lei moral 52 O tratar do tema da liberdade Kant a vincula à lei moral Quando para Kant a vontade é livre 53 Por que Kant propõe que a lei moral só existe na forma de um imperativo categórico Age sempre de modo que a máxima da tua vontade possa ser ao mesmo tempo um princípio válido de legislação universal 54 Procure explicar segundo as discussões de Kant o lugar do sentimento de respeito na construção da moral kantiana 55 Como podemos diferenciar segundo a proposta moral kantiana a ação le gal de uma ação moral 10 CONSIDERAÇÕES Ao longo dos nossos estudos procuramos mostrar que toda a obra filosófica de Immanuel Kant tinha como objetivo principal responder a uma grande questão amplamente discutida ao longo do século 18 até que ponto o nosso conhecimento pode avançar com segurança e proporcionar uma apreensão segura da nature za Com essa questão Kant como homem inserido na discussão epistemológica do seu tempo queria saber qual o alcance da nos sa razão e o que legitimava seu uso História da Filosofia Contemporânea I 166 Essa pergunta suscitou o aparecimento de três outras ques tões que orientaram toda a produção filosófica madura do pensa dor de Königsberg proporcionando a divisão do seu pensamento em dois campos um campo teórico e outro prático As novas ques tões são O que posso saber O que deve fazer O que me é permitido esperar Essas questões são investigadas e respondidas pelo filóso fo alemão com o intuito de esclarecer o ponto fundamental que orientava toda a reflexão filosófica da modernidade sobre a qual muitos filósofos já tinham se debruçado Esse ponto pode ser re sumido na seguinte pergunta o homem que é ele Foram essas questões e a necessidade de uma resposta se gura para cada uma delas que levaram Immanuel Kant a escrever um conjunto de obras fruto de pesquisas reflexões ensino ao longo de mais de 20 anos que reorientaram os rumos da filosofia ocidental Com ele além de novos temas e novos conceitos filo sóficos ficou clara a necessidade de rever toda a metafísica tradi cional no que se refere à confiança que ela e seus formuladores tinham na capacidade cognitiva da razão que se estendia desde as conclusões cartesianas imbuído dessa necessidade o filósofo de Königsberg promo veu uma grande reviravolta no processo tradicional do conheci mento ou seja na relação sujeitoobjeto Nessa reviravolta são revisadas radicalmente as tarefas as competências do método e o próprio valor do conhecimento humano Ao proceder essa revisão e reforma Kant tinha um grande objetivo garantir a possibilidade da ciência como conhecimento seguro da natureza contra os ata ques e conclusões céticas levantadas pelo pensador inglês David Hume 167 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant Essa tarefa teve início com a defesa no concurso para profes sor titular da Universidade da sua cidade A partir desse momento teve início a fase inovadora da reflexão filosófica kantiana a fase do amadurecimento e originalidade de seu pensamento Na defe sa da cátedra Kant apresentou uma tese intitulada Sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível a famosa Dissertação de 70 e estabeleceu pela primeira vez a distinção en tre mundo fenomênico e mundo numênico concebendo de uma forma totalmente nova e original os conceitos de espaço e tempo Como ele próprio escreveu despertado do seu sono dogmático pela leitura de David Hume era ora de submeter à razão ao tri bunal da razão para investigar seu alcance e seus limites Foi com novidade teórica que o filósofo alemão preparou e levou adiante a sua revolução copernicana no que tange a nova concepção do conhecimento humano Com essa revolução Kant superava tanto o Racionalismo dogmático como o Empirismo cético as duas correntes filosóficas predominantes no período em que construía seu pensamento Por isso o filósofo assumiu a tarefa de reavaliar de maneira radical todos os problemas investigados até aquele momento na questão do conhecimento humano Era necessário criticar o intelecto e a razão humana na bus ca dos verdadeiros princípios e os limites do conhecimento Era a hora de submeter a razão ao crivo da razão O resultado como se viu foi o aparecimento da diferença entre o conhecimento sen sível e inteligível problema amplamente discutido pela tradição filosófica que assumiu uma nova perspectiva com Kant Essa nova concepção levou nosso filósofo a propor um conjunto de novos conceitos e nova interpretação filosófica tanto no que se refere ao conhecimento como no que se refere à moral Dessa discussão apareceram as duas grandes Críticas kan tianas A Crítica da razão pura e a Crítica da razão prática A pri meira discute a razão teórica e seus limites a segunda discute a ra História da Filosofia Contemporânea I 168 zão prática e os fundamentos da moral Nessas obras encontramos o itinerário do sistema kantiano sua construção suas preocupa ções seus temas e sua nova terminologia Por isso ainda hoje es sas obras despertam tanto interesse em inúmeros comentadores Nos últimos anos de vida Kant foi assolado por dois acon tecimentos Em 1794 foi intimado pelo novo imperador a não discutir sobre suas ideias religiosas apresentadas na sua obra A religião nos limites da simples razão publicada um ano antes Kant obedeceu não se retratou de suas ideias mas calouse sustentan do ser esse o seu dever de súdito coerente que era no seu com portamento O outro acontecimento foi o seu envolvimento com o Idealismo absoluto que apontava uma nova interpretação para o Criticismo transcendental kantiano principalmente com as obras de Johann Gottlieb Fichte 1762 1814 aluno de Kant por algum tempo em Königsberg e sucessor de Karl Leonard Reinhold 1757 1823 primeiro grande interprete da obra Kantiana na Univer sidade de Jena naquela época o grande centro de interpretação e complementação do pensamento kantiano Como as ideias ilu ministas pareciam já esgotadas e com o aparecimento do Roman tismo o ambiente filosófico parecia mesmo de revisão do Criti cismo e o desenvolvimento de um Idealismo espiritualista Kant até tentou se posicionar contra a nova tendência filosófica mas percebendo que o desenvolvimento daquela nova interpretação era indiscutível prefere se recolher Com a saúde fragilizada Kant foi obrigado a renunciar à cáte dra que ocupou durante 26 anos ininterruptos Em 1796 o grande filósofo da pequena Königsberg se aposenta dos trabalhos acadê micos Os últimos anos de vida não foram de tranquilidade para ao nosso filósofo pelo contrário foram anos de muito sofrimento suas forças começaram a declinar ficou quase cego renunciou à cátedra em 1796 perdeu a memória e a lucidez ficando quase senil Morreu em 12 de fevereiro de 1804 169 Claretiano Centro Universitário U3 A Filosofia Crítica de Immanuel Kant 11 EREFERÊNCIAS Figura 1 Immanuel Kant Disponível em httpwwwacusorgcontentimmanuelkant democraticpeace Acesso em 1º Jun 2012 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELEUZE G Para ler Kant Tradução de Sonia Dantas Pinto Guimarães Rio de Janeiro Francisco Alves 1976 GIL F Org Recepção da Crítica da razão pura Lisboa Calouste Gulbenkian 1992 KANT I Fundamentação da metafísica dos costumes Tradução de Paulo Quintela Lisboa Edições 70 1960 Resposta à pergunta que é esclarecimento In KANT I Textos seletos Petrópolis Vozes 1974 Crítica da razão pura Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger São Paulo Abril Cultural 1980 Coleção Os Pensadores A Crítica da razão prática Lisboa Edições 70 1986 Crítica da razão pura 3 ed São Paulo nova Cultural 1987 v 2 Crítica da razão pura Tradução de Manuela Pinto dos Santos 4 ed Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1997 LACROIX J Kant e o kantismo Lisboa Rés 1979 LALANDE A Vocabulário Técnico e crítico de filosofia São Paulo Martins Fontes 1996 LABRUNE M JAFRO L A construção da filosófica ocidental São Paulo Mandarim 1996 LEBRUN G Sobre Kant São Paulo iluminurasEDUSP 1993 MOLINARO A Léxico de Metafísica São Paulo Paulus 2000 PASCAL G O Pensamento de Kant Rio de Janeiro Vozes 1992 REALE G ANTISERI D História da filosofia do humanismo a Kant 3 ed São Paulo Paulus 1990 v 2