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Psicologia ·

Psicanálise

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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA RELATÓRIO DE ATENDIMENTO VISITA Estágio Gestão de Clínicas e Consultórios Estagiário 1 RA Estagiário 2 RA Supervisor CRP DADOS PACIENTE OU INSTITUIÇÃO CPFCNPJ Dados de identificação DEMANDA OU QUEIXA INFORMADA Gagueira infantil DESCRITIVO SESSÃO OU ATIVIDADE CAMPO SessãoVisita 7 Dia 28102024 Horário 1800h Salalocal Sala 61 Vitória chegou bem vestida e maquiada parecendo uma boneca Estava animada e feliz Fomos para a sala e ela logo perguntou sobre o quebracabeça da Barbie se o tínhamos trazido Expliquei que dessa vez havíamos trazido a caixa lúdica e um outro quebracabeça mas infelizmente não conseguimos montar pois era muito grande com 250 peças Combinamos que traríamos na próxima sessão desde que ela nos ajudasse a montar e ela concordou Como sempre Vitória começou a sessão desenhando Estava empolgada com cada cor que aplicava no papel Fomos perguntando o nome das cores em inglês e ela acertou quase todas para as que não sabia ensinamos como era Perguntamos sobre o fim de semana e ela contou que tinha ido para o sítio mas não conseguiu explicar o que fez por lá No final da sessão a mãe nos contou que ela entrou na piscina e brincou no pulapula 1 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA Depois de terminar o desenho fomos ver a caixa lúdica Vitória pegou as peças da casinha e começou a montar mas notou que faltavam algumas peças e comentou sobre isso Sugerimos pegar a família terapêutica e ela deu nomes aos personagens representando seus avós maternos Fátima e José ela mesma sua mãe sua cunhada e os sobrinhos Encenamos uma história com a família terapêutica Vitória estava trabalhando a mãe preparando a comida e as crianças deitadas na cama levantandose para comer Imitamos as reações dos personagens e Vitória deu muitas gargalhadas Durante essa sessão notamos que Vitória não estava muito disposta a falar sobre o que fez desde a última vez Sempre que perguntávamos ela respondia não sei ou não lembro Em alguns momentos ela também hesitou em algumas palavras No final da sessão combinamos de nos ver na próxima Ao conversar com a mãe comentamos que tudo correu bem Ela nos disse que tem percebido aos poucos mudanças positivas na filha graças à terapia e que pretende continuar com as sessões pelo convênio embora ache que será mais difícil conseguir as sessões de fonoaudiologia IMPRESSÃO PESSOAL Vitória demonstra grande potencial e entusiasmo em atividades lúdicas especialmente no desenho e na construção de histórias com brinquedos A conexão entre o brincar e o aprendizado das cores em inglês revela seu interesse em interagir e participar ativamente das atividades o que é um bom indicativo para o desenvolvimento social e cognitivo A presença da mãe e o acompanhamento da evolução de Vitória são extremamente positivos A mãe percebe as mudanças sutis indicando que a continuidade da terapia pode trazer benefícios duradouros A necessidade de sessões de fonoaudiologia também parece pertinente já que isso pode ajudar Vitória a desenvolver maior fluidez verbal e autoconfiança para compartilhar suas 2 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA experiências Vitória apresenta sinais positivos de desenvolvimento especialmente nas interações e no brincar mas possui áreas de dificuldade que merecem atenção especialmente relacionadas à expressão verbal e à organização de suas memórias e vivências A continuidade das sessões terapêuticas e o possível apoio de um fonoaudiólogo são passos promissores para ajudála a se desenvolver integralmente ANÁLISE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 3 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA VISTOS Estagiário 1 Estagiário 2 Supervisor visto e carimbo 4 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA RELATÓRIO DE ATENDIMENTO VISITA Estágio Gestão de Clínicas e Consultórios Estagiário 1 RA Estagiário 2 RA Supervisor CRP DADOS PACIENTE OU INSTITUIÇÃO CPFCNPJ Dados de identificação DEMANDA OU QUEIXA INFORMADA Gagueira infantil DESCRITIVO SESSÃO OU ATIVIDADE CAMPO SessãoVisita 7 Dia 28102024 Horário 1800h Salalocal Sala 61 Vitória chegou bem vestida e maquiada parecendo uma boneca Estava animada e feliz Fomos para a sala e ela logo perguntou sobre o quebracabeça da Barbie se o tínhamos trazido Expliquei que dessa vez havíamos trazido a caixa lúdica e um outro quebracabeça mas infelizmente não conseguimos montar pois era muito grande com 250 peças Combinamos que traríamos na próxima sessão desde que ela nos ajudasse a montar e ela concordou Como sempre Vitória começou a sessão desenhando Estava empolgada com cada cor que aplicava no papel Fomos perguntando o nome das cores em inglês e ela acertou quase todas para as que não sabia ensinamos como era Perguntamos sobre o fim de semana e ela contou que tinha ido para o sítio mas não conseguiu explicar o que fez por lá No final da sessão a mãe nos contou que ela entrou na piscina e brincou no pulapula 1 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA Depois de terminar o desenho fomos ver a caixa lúdica Vitória pegou as peças da casinha e começou a montar mas notou que faltavam algumas peças e comentou sobre isso Sugerimos pegar a família terapêutica e ela deu nomes aos personagens representando seus avós maternos Fátima e José ela mesma sua mãe sua cunhada e os sobrinhos Encenamos uma história com a família terapêutica Vitória estava trabalhando a mãe preparando a comida e as crianças deitadas na cama levantandose para comer Imitamos as reações dos personagens e Vitória deu muitas gargalhadas Durante essa sessão notamos que Vitória não estava muito disposta a falar sobre o que fez desde a última vez Sempre que perguntávamos ela respondia não sei ou não lembro Em alguns momentos ela também hesitou em algumas palavras No final da sessão combinamos de nos ver na próxima Ao conversar com a mãe comentamos que tudo correu bem Ela nos disse que tem percebido aos poucos mudanças positivas na filha graças à terapia e que pretende continuar com as sessões pelo convênio embora ache que será mais difícil conseguir as sessões de fonoaudiologia IMPRESSÃO PESSOAL Vitória demonstra grande potencial e entusiasmo em atividades lúdicas especialmente no desenho e na construção de histórias com brinquedos A conexão entre o brincar e o aprendizado das cores em inglês revela seu interesse em interagir e participar ativamente das atividades o que é um bom indicativo para o desenvolvimento social e cognitivo A presença da mãe e o acompanhamento da evolução de Vitória são extremamente positivos A mãe percebe as mudanças sutis indicando que a continuidade da terapia pode trazer benefícios duradouros A necessidade de sessões de fonoaudiologia também parece pertinente já que isso pode ajudar Vitória a desenvolver maior fluidez verbal e autoconfiança para compartilhar suas 2 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA experiências Vitória apresenta sinais positivos de desenvolvimento especialmente nas interações e no brincar mas possui áreas de dificuldade que merecem atenção especialmente relacionadas à expressão verbal e à organização de suas memórias e vivências A continuidade das sessões terapêuticas e o possível apoio de um fonoaudiólogo são passos promissores para ajudála a se desenvolver integralmente ANÁLISE Winnicott 19631983b conversa bem no desenrolar de suas obras ao enfatizar sistematicamente a importância dos cuidados da família dirigidos à criança assim como a sua necessidade de adaptação à chegada dessa criança e não o inverso Esses cuidados levam em conta não apenas o que garante sua sobrevivência fisiológica e o holding como higiene sono alimentação temperatura que começam na fase em que a criança ainda está em fusão com a mãe e em dependência absoluta como exposto por Winnicott mas também o amor proteção segurança palavras de afirmação e interpretações das necessidades da criança indefesa e tão completamente dependente do adulto ainda que nos períodos seguintes da primeira infância As falhas desses cuidados e dessa posição permanente e consistente da figura familiar podem ser fatores de predisposição traumática contundentes para a criançaO fator determinante reside na ausência de um adulto disponível para o cuidado São figuras parentais que por indiferença atribulações inabilidade incompreensão imaturidade histórias familiares ou mesmo loucura precisam receber mais do que dar Mello R et al 2015 Traçando um paralelo com o caso clínico aqui apresentado vemos que no caso de Vitória essas figuras parentais aparecem de forma presente propiciando não só o holding mas também o amor a proteção e interpretação das necessidades da criança Aliado ao acompanhamento psicológico esse 3 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA pode ser um bom indicativo dos avanços relatados pelos familiares de Vitória ainda que seja necessário também identificar como a criança se sente em relação a essas questões Um ponto importante para o direcionamento do caso e que pode revelar direcionamentos e questões constituintes a paciente se faz através de sua relação com a arte caminho possível para acessar as fantasias e construções da criança Em seu texto O poeta e o fantasiar Freud 1908 discorre sobre o trabalho do poeta e suas criações O autor faz uma comparação entre as fantasias das crianças e dos adultos enquanto as crianças sonham e fantasiam explicitamente através do brincar e do faz de conta os adultos se sentem envergonhados em falar sobre e explicitar suas fantasias deixandoas assim em um plano oculto É possível observar no caso de Vitória a constatação dessa construção teórica de Freud 1908 Ainda sobre o brincar é necessário entender sobre o funcionamento do atendimento psicanalítico com crianças e adolescentes a partir dos quatro conceitos fundamentais da análise Lacan 1964 A saber Inconsciente Repetição Transferência e Pulsão Seguindo o caso de Vitória deteremonos aqui a articulação entre transferência e resistência no caso atendido Bueno 1989 discute que se Freud apontou os atos falhos chistes e sonhos como manifestações do inconsciente não seriam os atos infantis como o brincar e o desenhar representações da mesma ordem Ali onde faltam palavras produzem se atos que trazem como formação do inconsciente a própria condição de enunciação Bueno 1989 p 82 Portanto o brincar é uma maneira que a criança encontra para expressar aquilo que não consegue e não pode colocar em palavras Nesse processo o analista deverá estar atento às resistências presentes no espaço terapêutico Assim como na análise com adultos o trabalho psicanalítico só é possível com a criança dentro do campo da transferência e no manejo da resistência expressada por exemplo pela recusa de Vitória ao contar sobre o que lhe é perguntada Segundo Freud 19201996 as resistências são forças poderosas que se opõem a qualquer modificação na condição do paciente p 300 Há de se considerar contudo as particularidades do atendimento infantil principalmente pelas manifestações 4 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA inconscientes que se fazem não pela linguagem como os atos falhos e chistes mas pelo brincar e o desenhar como representações de uma mesma ordem inconsciente Cf Bueno 1989 O manejo da resistência no sentido do caso de Vitória se faz justamente pela via dos atos infantis àquilo que não consegue simbolizar pela linguagem é representado de forma lúdica com seus desenhos e brincadeiras Tomar a interpretação desses desenhos e brincadeiras no setting analítico sem o escoro da transferência aponta para uma análise selvagem do caso É nesse sentido portanto que se faz necessário compreender a qualidade da relação transferencial no caso de Vitória e se é possível em sete sessões pensar em uma transferência As interpretações devem ser feitas com zelo e a postura da figura do analista nesse momento inicial deve ir de encontro tanto aos deixados por Freud cf Freud 19131927 em relação às entrevistas preliminares quanto à investigação a partir de uma postura leiga frente ao que é dito pelos pacientes Por fim ainda em articulação ao brincar a transferência e a resistência no caso de Vitória é importante considerar que a função é também portanto a de amparo para que a criança possa elaborar e criar nas brincadeiras realizadas no setting analítico como representações inconscientes Meira 2005 Ajudar a simbolizar também as escolhas das brincadeiras é um caminho possível para o caso Por exemplo na brincadeira da família terapêutica é preciso investigar porque cada personagem assume determinada função como o de trabalho assumido pela paciente e também o que se presentifica pela falta como a não inclusão da figura paterna em seu cenário A postura leiga como indicada por Freud ganha espaço justamente pela importância de não assumir uma verdade mas abrir o caminho para que o paciente possa falar e construir sua própria REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bueno C M O 1989 Fragmentos clínicos In A M Souza Psicanálise de crianças interrogações clínicoteóricas pp 8188 Porto Alegre RS Artes Médicas Freud S 2015 O Poeta e o Fantasiar In Arte Literatura e os artistas Obras Incompletas de Sigmund Freud Belo Horizonte Ed Autêntica publicado originalmente em 1908 5 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS FMU FACULDADE DE PSICOLOGIA CLÍNICAESCOLA Freud S 20031927 Pós escrito A questão da análise leiga Tradução Eduardo Vidal In A análise é leiga da formação do psicanalista ano 22 n32 Rio de Janeiro Publicação da Escola Letra Freudiana Freud S 1996 Sobre o início do tratamento Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I 1913 In O caso Schreber artigos sobre técnica e outros trabalhos 1911 1913 Direção geral da tradução de Jayme Salomão Rio de Janeiro Imago 1996 p 139158 Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud 12 Freud S 1996 Além do princípio de prazer In S Freud Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Vol 18 pp xxxx Rio de Janeiro RJ Imago Trabalho original publicado em 1920 Lacan J 1964 Seminário livro 11 os quatro conceitos fundamentais da psicanálise 1964 Rio de Janeiro RJ Jorge Zahar 2008 Meira A M 2005 Sobre brincar arte e fantasia na clínica psicanalítica com crianças Porto Alegre RS APPOA Mello R FéresCarneiro T Magalhães AS 2015 A maturação como defesa uma reflexão psicanalítica à luz da obra de Ferenczi e Winnicott Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental 182 268279 Winnicott D 19631983b Distúrbios psiquiátricos e processos de maturação infantil In O ambiente e os processos de maturação I Ortiz Trad pp 207217 Porto Alegre Artes Médicas VISTOS Estagiário 1 Estagiário 2 Supervisor visto e carimbo 6 RELATÓRIO DE ATENDIMENTO VISITA Estágio Gestão de Clínicas e Consultórios Estagiário 1 RA Estagiário 2 RA Supervisor CRP DADOS PACIENTE OU INSTITUIÇÃO CPFCNPJ Dados de identificação DEMANDA OU QUEIXA INFORMADA Gagueira infantil DESCRITIVO SESSÃO OU ATIVIDADE CAMPO SessãoVisita 7 Dia 28102024 Horário 1800h Salalocal Sala 61 Vitória chegou bem vestida e maquiada parecendo uma boneca Estava animada e feliz Fomos para a sala e ela logo perguntou sobre o quebracabeça da Barbie se o tínhamos trazido Expliquei que dessa vez havíamos trazido a caixa lúdica e um outro quebracabeça mas infelizmente não conseguimos montar pois era muito grande com 250 peças Combinamos que traríamos na próxima sessão desde que ela nos ajudasse a montar e ela concordou Como sempre Vitória começou a sessão desenhando Estava empolgada com cada cor que aplicava no papel Fomos perguntando o nome das cores em inglês e ela acertou quase todas para as que não sabia ensinamos como era Perguntamos sobre o fim de semana e ela contou que tinha ido para o sítio mas não conseguiu explicar o que fez por lá No final da sessão a mãe nos contou que ela entrou na piscina e brincou no pulapula Depois de terminar o desenho fomos ver a caixa lúdica Vitória pegou as peças da casinha e começou a montar mas notou que faltavam algumas peças e comentou sobre isso Sugerimos pegar a família terapêutica e ela deu nomes aos personagens representando seus avós maternos Fátima e José ela mesma sua mãe sua cunhada e os sobrinhos 1 Encenamos uma história com a família terapêutica Vitória estava trabalhando a mãe preparando a comida e as crianças deitadas na cama levantandose para comer Imitamos as reações dos personagens e Vitória deu muitas gargalhadas Durante essa sessão notamos que Vitória não estava muito disposta a falar sobre o que fez desde a última vez Sempre que perguntávamos ela respondia não sei ou não lembro Em alguns momentos ela também hesitou em algumas palavras No final da sessão combinamos de nos ver na próxima Ao conversar com a mãe comentamos que tudo correu bem Ela nos disse que tem percebido aos poucos mudanças positivas na filha graças à terapia e que pretende continuar com as sessões pelo convênio embora ache que será mais difícil conseguir as sessões de fonoaudiologia IMPRESSÃO PESSOAL Vitória demonstra grande potencial e entusiasmo em atividades lúdicas especialmente no desenho e na construção de histórias com brinquedos A conexão entre o brincar e o aprendizado das cores em inglês revela seu interesse em interagir e participar ativamente das atividades o que é um bom indicativo para o desenvolvimento social e cognitivo A presença da mãe e o acompanhamento da evolução de Vitória são extremamente positivos A mãe percebe as mudanças sutis indicando que a continuidade da terapia pode trazer benefícios duradouros A necessidade de sessões de fonoaudiologia também parece pertinente já que isso pode ajudar Vitória a desenvolver maior fluidez verbal e autoconfiança para compartilhar suas experiências Vitória apresenta sinais positivos de desenvolvimento especialmente nas interações e no brincar mas possui áreas de dificuldade que merecem atenção especialmente relacionadas à expressão verbal e à organização de suas memórias e vivências A continuidade das sessões terapêuticas e o possível apoio de um fonoaudiólogo são passos promissores para ajudála a se desenvolver integralmente 2 ANÁLISE Winnicott 19631983b conversa bem no desenrolar de suas obras ao enfatizar sistematicamente a importância dos cuidados da família dirigidos à criança assim como a sua necessidade de adaptação à chegada dessa criança e não o inverso Esses cuidados levam em conta não apenas o que garante sua sobrevivência fisiológica e o holding como higiene sono alimentação temperatura que começam na fase em que a criança ainda está em fusão com a mãe e em dependência absoluta como exposto por Winnicott mas também o amor proteção segurança palavras de afirmação e interpretações das necessidades da criança indefesa e tão completamente dependente do adulto ainda que nos períodos seguintes da primeira infância As falhas desses cuidados e dessa posição permanente e consistente da figura familiar podem ser fatores de predisposição traumática contundentes para a criançaO fator determinante reside na ausência de um adulto disponível para o cuidado São figuras parentais que por indiferença atribulações inabilidade incompreensão imaturidade histórias familiares ou mesmo loucura precisam receber mais do que dar Mello R et al 2015 Traçando um paralelo com o caso clínico aqui apresentado vemos que no caso de Vitória essas figuras parentais aparecem de forma presente propiciando não só o holding mas também o amor a proteção e interpretação das necessidades da criança Aliado ao acompanhamento psicológico esse pode ser um bom indicativo dos avanços relatados pelos familiares de Vitória ainda que seja necessário também identificar como a criança se sente em relação a essas questões Um ponto importante para o direcionamento do caso e que pode revelar direcionamentos e questões constituintes a paciente se faz através de sua relação com a arte caminho possível para acessar as fantasias e construções da criança Em seu texto O poeta e o fantasiar Freud 1908 discorre sobre o trabalho do poeta e suas criações O autor faz uma comparação entre as fantasias das crianças e dos adultos enquanto as crianças sonham e fantasiam explicitamente através do brincar e do faz de conta os adultos se sentem envergonhados em falar sobre e explicitar suas fantasias deixandoas assim em um plano oculto É possível observar no caso de Vitória a constatação dessa construção teórica de Freud 1908 Ainda sobre o brincar é necessário entender sobre o funcionamento do atendimento psicanalítico com crianças e adolescentes a partir dos quatro conceitos fundamentais da análise Lacan 1964 A saber 3 Inconsciente Repetição Transferência e Pulsão Seguindo o caso de Vitória deteremonos aqui a articulação entre transferência e resistência no caso atendido Bueno 1989 discute que se Freud apontou os atos falhos chistes e sonhos como manifestações do inconsciente não seriam os atos infantis como o brincar e o desenhar representações da mesma ordem Ali onde faltam palavras produzem se atos que trazem como formação do inconsciente a própria condição de enunciação Bueno 1989 p 82 Portanto o brincar é uma maneira que a criança encontra para expressar aquilo que não consegue e não pode colocar em palavras Nesse processo o analista deverá estar atento às resistências presentes no espaço terapêutico Assim como na análise com adultos o trabalho psicanalítico só é possível com a criança dentro do campo da transferência e no manejo da resistência expressada por exemplo pela recusa de Vitória ao contar sobre o que lhe é perguntada Segundo Freud 19201996 as resistências são forças poderosas que se opõem a qualquer modificação na condição do paciente p 300 Há de se considerar contudo as particularidades do atendimento infantil principalmente pelas manifestações inconscientes que se fazem não pela linguagem como os atos falhos e chistes mas pelo brincar e o desenhar como representações de uma mesma ordem inconsciente Cf Bueno 1989 O manejo da resistência no sentido do caso de Vitória se faz justamente pela via dos atos infantis àquilo que não consegue simbolizar pela linguagem é representado de forma lúdica com seus desenhos e brincadeiras Tomar a interpretação desses desenhos e brincadeiras no setting analítico sem o escoro da transferência aponta para uma análise selvagem do caso É nesse sentido portanto que se faz necessário compreender a qualidade da relação transferencial no caso de Vitória e se é possível em sete sessões pensar em uma transferência As interpretações devem ser feitas com zelo e a postura da figura do analista nesse momento inicial deve ir de encontro tanto aos deixados por Freud cf Freud 19131927 em relação às entrevistas preliminares quanto à investigação a partir de uma postura leiga frente ao que é dito pelos pacientes Por fim ainda em articulação ao brincar a transferência e a resistência no caso de Vitória é importante considerar que a função é também portanto a de amparo para que a criança possa elaborar e criar nas brincadeiras realizadas no setting analítico como representações inconscientes Meira 2005 Ajudar a simbolizar também as escolhas das brincadeiras é um caminho possível para o caso Por exemplo na brincadeira da família terapêutica é preciso investigar porque cada 4 personagem assume determinada função como o de trabalho assumido pela paciente e também o que se presentifica pela falta como a não inclusão da figura paterna em seu cenário A postura leiga como indicada por Freud ganha espaço justamente pela importância de não assumir uma verdade mas abrir o caminho para que o paciente possa falar e construir sua própria REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bueno C M O 1989 Fragmentos clínicos In A M Souza Psicanálise de crianças interrogações clínicoteóricas pp 8188 Porto Alegre RS Artes Médicas Freud S 2015 O Poeta e o Fantasiar In Arte Literatura e os artistas Obras Incompletas de Sigmund Freud Belo Horizonte Ed Autêntica publicado originalmente em 1908 Freud S 20031927 Pós escrito A questão da análise leiga Tradução Eduardo Vidal In A análise é leiga da formação do psicanalista ano 22 n32 Rio de Janeiro Publicação da Escola Letra Freudiana Freud S 1996 Sobre o início do tratamento Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I 1913 In O caso Schreber artigos sobre técnica e outros trabalhos 19111913 Direção geral da tradução de Jayme Salomão Rio de Janeiro Imago 1996 p 139158 Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud 12 Freud S 1996 Além do princípio de prazer In S Freud Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Vol 18 pp xxxx Rio de Janeiro RJ Imago Trabalho original publicado em 1920 Lacan J 1964 Seminário livro 11 os quatro conceitos fundamentais da psicanálise 1964 Rio de Janeiro RJ Jorge Zahar 2008 Meira A M 2005 Sobre brincar arte e fantasia na clínica psicanalítica com crianças Porto Alegre RS APPOA Mello R FéresCarneiro T Magalhães AS 2015 A maturação como defesa uma reflexão psicanalítica à luz da obra de Ferenczi e Winnicott Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental 182 268279 Winnicott D 19631983b Distúrbios psiquiátricos e processos de maturação infantil In O ambiente e os processos de maturação I Ortiz Trad pp 207217 Porto Alegre Artes Médicas 5 VISTOS Estagiário 1 Estagiário 2 Supervisor visto e carimbo 6