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Psicanálise
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Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 121 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte Resumo Neste artigo com base nas idéias de Sigmund Freud Karl Abraham Melanie Klein Maurice Bouvet e André Green sobre a neurose obsessiva buscaremos compreender a relação entre a pulsão de morte e o tabu de contato traço característico dessa patologia Apresentaremos ainda um caso clínico que ilustra diversos aspectos relacionados ao tema Palavraschave Neurose obsessiva Tabu de contato Pulsão de morte O ódio e não o amor é a relação emocional primária entre os homens stekel citado por freud 1913 p408 Introdução Em 1920 no livro Além do Princípio de Pra zer Sigmund Freud introduz um novo du alismo na teoria psicanalítica pulsão de vida X pulsão de morte A pulsão de morte tendia à redução completa das tensões um retorno ao estado anorgânico Freud apon ta no mesmo livro a compulsão à repetição como uma forma de provar a existência da pulsão de morte ele afi rma que a compul são à repetição também rememora do pas sado experiências que não incluem possi bilidade alguma de prazer FREUD 1920 p34 Freud postula a hipótese de que na compulsão à repetição existe algo que pare ce mais primitivo mais elementar e mais ins tintual do que o princípio de prazer Idem p37 Essa compulsão à repetição é um dos traços marcantes da neurose obsessiva que possui outro traço marcante o tabu do con tato Neste artigo buscaremos fazer uma co nexão entre o tabu de contato e a pulsão de morte através da análise das idéias de Freud Karl Abraham Melanie Klein Maurice Bou vet e André Green sobre a neurose obsessi va Apresentaremos ainda um caso clínico que ilustra diversos aspectos relacionados ao tema As idéias de Sigmund Freud sobre a neurose obsessiva Freud no artigo Sobre os Fundamentos para destacar da Neurastenia uma Síndro me Específi ca denominada Neurose de An gústia 1895 cita pela primeira vez numa publicação o termo neurose obsessiva sua primeira alusão ao termo no entanto data de 07 de fevereiro de 1894 numa carta a Fliess No artigo As Neuropsicoses de Defesa de 1894 o autor já descrevera o que cha mou de representações obsessivas afi rma que quando aparece uma representação Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte Obsessive Neurosis Contact Taboo X Death Instinct Natalia Gonçalves Galucio Sedeu Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 122 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte incompatível ocorre uma defesa através da separação entre a representação e o afeto a representação se mantém na consciência enfraquecida e isolada enquanto o afeto tornado livre ligase a outras representa ções que não são incompatíveis em si mes mas e graças a essa falsa ligação tais repre sentações se transformam em representações obsessivas FREUD 1894 p58 No mesmo artigo afi rma que a obsessão representa um substituto ou sucedâneo da representação sexual incompatível tendo tomado seu lugar na consciência Idem p59 No artigo Observações Adicionais sobre as Neuropsicoses de Defesa de 1896 Freud classifi ca as idéias obsessivas como auto acusações transformadas que reemergiram do recalcamento e que sempre se relacionam com algum ato sexual praticado com pra zer na infância FREUD 1896 p160 o retorno do recalcado Essas autoacusações também são recalcadas através do sintoma primário de defesa autodesconfi ança Este acaba corroborando as autoacusações a au todesconfi ança e a autoacusação se apóiam mutuamente Outros sintomas primários de defesa apontados por Freud são a conscien ciosidade e a vergonha Em 1907 no artigo Atos Obsessivos e Prá ticas Religiosas Freud afi rma que a pessoa que tem uma compulsão sabe que seus atos obsessivos têm um sentido mas não conse gue compreender esse sentido Para o autor o ato obsessivo serve para expressar moti vos e idéias inconscientes FREUD 1907 p126 Nos atos obsessivos existem compul sões e proibições onde é possível perceber o sentimento inconsciente de culpa Freud observa que os atos cerimoniais e obsessi vos surgem em parte como uma proteção contra a tentação1 e em parte como prote ção contra o mal esperado que irá acontecer se a pessoa não fi zer esse cerimonial Idem p128 Freud afi rma que essas medidas de proteção logo parecem tornarse insufi cien tes contra a tentação surgindo então as proi bições cuja fi nalidade é manter à distância as situações que podem originar tentações Idem p128 Para o autor essas proibições acabarão por substituir os atos obsessivos No mesmo artigo Freud descreve o des locamento mecanismo de defesa pelo qual ocorre uma substituição do elemento real e importante por um trivial Idem p129 Segundo o autor esse mecanismo de defesa domina os processos mentais da neurose obsessiva Idem p129 Em 1908 no artigo Caráter e Erotismo Anal Freud relaciona três traços de caráter ordem parcimônia e obstinação às pes soas que classifi ca como analeróticas com um erotismo anal fortemente estabelecido Observase aqui a identifi cação de traços de caráter que serão posteriormente asso ciados à neurose obsessiva Em 1909 Freud publica o artigo Notas sobre um Caso de Neurose Obsessiva onde descreve o tratamento do paciente que fi caria conhecido como Homem dos Ratos O autor explica que as estruturas obsessivas podem ser classifi cadas como desejos tenta ções impulsos refl exões dúvidas ordens ou proibições FREUD 1909 p223 Segundo Freud a repressão se dá através da ruptura das conexões causais por uma retirada da representação afetiva Descreve ainda que o neurótico obsessivo sente necessidade de incerteza ou de dúvida afi rma que a criação da incerteza é um dos métodos utilizados pela neurose a fi m de atrair o paciente para fora da realidade e isolálo do mundo Idem p233 Outras características comuns do neurótico obsessivo citadas pelo autor são a onipotência do pensamento do sentimen to e dos desejos tanto bons quanto maus e o confl ito na relação de amor e ódio Nes se confl ito amor e ódio existem juntos com forte grau de intensidade dirigidos à mesma pessoa o ódio contudo fi ca reprimido no inconsciente ali permanecendo e podendo 1 Por tentação o autor se refere à infl uência do ins tinto reprimido que tenta romper a repressão Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 123 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte aparecer como sadismo Para Freud em um período bem precoce do desenvolvimento do indivíduo amor e ódio estavam ligados depois os opostos se separaram e o ódio foi reprimido Para manter o ódio reprimido o amor se torna de grande intensidade como uma reação na tentativa de conter o ódio re primido Esse amor intenso e esse ódio tam bém intenso reprimido conduzem a pessoa a uma paralisia parcial da vontade e uma incapacidade de se chegar a uma decisão a respeito de qualquer uma das ações para as quais o amor deve suprir a força motivadora Idem p242 Essa paralisia vaise alastran do para todo e qualquer comportamento da pessoa Freud ressalta o papel da compulsão e da dúvida no neurótico obsessivo Afi rma que a dúvida corresponde à percepção interna que tem o paciente de sua própria indeci são a qual em conseqüência da inibição de seu amor através de seu ódio dele se apos sa diante de qualquer ação intencionada Idem p242 A dúvida conduz à repetição das medidas protetoras com a fi nalidade de expulsar a incerteza A compulsão surge como uma forma de compensar a dúvida tentando corrigir as intoleráveis condições de inibição das quais a dúvida apresenta tes temunho Idem p244 Outras duas carac terísticas descritas pelo autor para o neuróti co obsessivo são a substituição do agir pelo pensar e o pensamento sexualizado Para Freud o pensamento obsessivo representa um ato de forma regressiva Em 1913 Freud escreve o artigo A Dis posição à Neurose Obsessiva uma Contri buição ao Problema da Escolha da Neuro se no qual descreve a regressão de parte das funções psíquicas a um estádio anterior do desenvolvimento do indivíduo o cha mado ponto de fi xação O autor usa pela primeira vez a expressão organização pré genital identifi cando como seus impulsos componentes o analerótico e o sádico Ao descrever um caso explica que a compulsão por lavagem e limpeza do seu paciente era uma formação reativa contra seus próprios impulsos analeróticos e sádicos FREUD 1913 p403 Freud ressalta a importância dos impul sos de ódio e do erotismo anal na formação dos sintomas da neurose obsessiva Para ele o que disporia a pessoa a apresentar neuro se obsessiva seria uma regressão a um está dio prégenital sádico e analerótico Freud afi rma que os neuróticos obsessivos têm de desenvolver uma supermoralidade a fi m de proteger seu amor objetal da hostilidade que espreita por trás dele sendo a origem dessa moralidade derivada do fato de que na or dem de desenvolvimento o ódio é o precur sor do amor Idem p408 No livro Totem e Tabu publicado em 1913 Freud estabelece pontos de concor dância entre as proibições dos neuróticos obsessivos e os tabus dos povos primitivos Para Freud o tabu é uma proibição pri meva forçosamente imposta por alguma autoridade de fora e dirigida contra os an seios a que estão sujeitos os seres humanos FREUD 1913 p55 O tabu é composto por proibições e restrições relacionadas ao que é sagrado impuro perigoso eou mis terioso algo não explicado Assim um dos pontos de concordância com a neurose ob sessiva é que tanto as proibições obsessivas quanto os tabus são aparentemente des tituídos de motivo Na fonte das proibições tanto no neurótico obsessivo quanto nos tabus dos povos primitivos está uma hosti lidade inconsciente um impulso hostil con tra alguém possivelmente um ser amado que aparece como uma satisfação pela morte desse alguém Para Freud a sensação de culpa do neu rótico obsessivo tem uma justifi cativa está fundada nos intensos e freqüentes desejos de morte contra os seus semelhantes que se estão inconscientemente em ação dentro dele Idem p109110 Esses impulsos hos tis reprimidos pela proibição se relacionam a qualquer ato que possa por deslocamento representar um ato hostil A possibilidade Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 124 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte de realização desse ato hostil conduz a um medo de uma ameaça de morte contra o ou tro assim o desejo dá lugar ao medo Segundo Freud o neurótico obsessivo apresenta em sua forma de existir no mun do traços de ambivalência outro ponto de concordância com o tabu Freud afi rma que os sintomas os atos obsessivos e as medidas defensivas são derivados de impulsos ambi valentes Na ambivalência existe um senti mento intenso de afeição e uma intensa hos tilidade inconsciente Essa afeição excessiva que busca reprimir a hostilidade incons ciente apresentase no neurótico obsessivo como uma solicitude que se repete compul sivamente O autor declara que a principal proibição na neurose obsessiva é a de tocar fobia de contato Essa proibição de tocar vai além do mero contato físico abrange a expressão es tar em contato com Freud afi rma que qual quer coisa que dirija o pensamento para o objeto proibido qualquer coisa que o coloque em contato intelectual com ele é tão proibida quanto o contato físico direto complemen ta que essa mesma extensão também ocorre no caso do tabu Idem p47 A proibição é consciente já o desejo oculto de fazer o que é proibido é inconsciente Freud relaciona o tabu com essa fobia de contato no neurótico a proibição se reves te de um caráter sexual no tabu o contato proibido obviamente não deve ser entendi do num sentido exclusivamente sexual mas sim no sentido mais geral de atacar de obter o controle de afi rmarse Idem p95 Ao longo do texto Freud termina por concluir que os obsessivos acabam se impondo um tabu o tabu do contato Os neuróticos ob sessivos gostariam de violar esse tabu mas sentem medo de fazêlo violar o tabu signi fi caria entrar em contato No livro Inibições Sintomas e Ansie dade publicado em 1926 Freud divide os sintomas da neurose obsessiva em 2 grupos um grupo mais defensivo negativo dos sin tomas composto por proibições precauções e expiações e outro grupo composto por sa tisfações substitutivas Explica que A organização genital da libido vem a ser débil e insufi cientemente resistente de modo que quando o ego começa seus esforços defensi vos a primeira coisa que ele consegue fazer é lançar de volta a organização genital da fase fálica no todo ou em parte ao nível anal sádico mais antigo FREUD 1926 p136 Freud chamou a isso de regressão clas sifi candoa e à formação reativa entre os mecanismos de defesa Segundo ele os neuróticos obsessivos têm um superego ex cessivamente severo e rude o ego que é for çado a se submeter ao superego apresenta fortes formações reativas como consciên cia piedade e asseio Para Freud o impulso agressivo está inconsciente para o ego que só o percebe como um pensamento que não desperta qualquer sentimento Idem p140 O afeto surge em lugar diferente e separado do pensamento Segundo Freud o superego não percebe que ocorreu a re pressão não percebe que a idéia e o afeto foram separados acreditando estar em con tato com a verdadeira enunciação e o ple no caráter afetivo do impulso agressivo e trata o ego em conformidade com isso já o ego que por um lado sabe ser inocente é obrigado por outro lado a fi car cônscio de um sentimento de culpa e a arcar com uma responsabilidade pela qual não pode responder Idem p140 Freud descreve dois mecanismos de defe sa que podem substituir a repressão a anu lação retroativa desfazer o que foi feito e o isolamento Para o neurótico obsessivo a re pressão não consegue alcançar a sua função de mecanismo de defesa pois o que ocorre é uma busca de satisfação através dos sin tomas Na anulação retroativa duas ações ocorrem sendo que a segunda ação cance la a primeira tentando de forma mágica desfazêla No isolamento característico da neurose obsessiva segundo Freud Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 125 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte a experiência não é esquecida mas em vez dis so é destituída de seu afeto e suas conexões associativas são suprimidas ou interrompidas de modo que permanece como isolada não sendo reproduzida nos processos comuns do pensamento Idem p144 Para Freud o neurótico obsessivo apre senta um confl ito entre o superego e o id ra zão pela qual o ego busca afastar a inclusão de fantasias inconscientes e a manifestação de tendências ambivalentes Quando o ob sessivo usa o isolamento através dos atos mágicos que se desenvolvem na forma de sintomas o que ele está buscando é impedir que ocorram associações e ligações do pen samento seguindo uma regra fundamental da neurose obsessiva o tabu do contato O papel desse tabu é o de evitar o contato com o objeto seja do investimento amoroso seja do investimento agressivo Segundo Freud o toque e o contato físico são a fi nalidade ime diata das catexias objetais agressivas e amo rosas Assim enquanto Eros deseja o conta to para tornar o ego e o objeto amado um só a destrutividade Tanatos também deve pressupor contato físico um engalfi nhamen to Idem p145 O autor conclui que a neurose obsessiva começa por perseguir o toque erótico e depois após ter se verifi cado a regressão passa a perseguir o toque erótico à guisa de agressividade por isso o obsessi vo utiliza o isolamento como forma de defe sa pois isolar é remover a possibilidade de contato é um método de evitar que uma coi sa seja tocada de qualquer maneira Idem p145 Ao isolar uma determinada impres são o neurótico obsessivo está isolando os pensamentos referentes a essa impressão dos demais pensamentos impedindo que entre eles se faça um contato associativo Ainda no mesmo texto nos Adendos Freud escreve sobre repressão e defesa ex plicando que na neurose obsessiva as ocor rências patológicas não são esquecidas elas permanecem conscientes mas são isola das Idem p188 Ele reintroduz o concei to de defesa abarcando todos os processos cujo objetivo é a proteção do ego contra as exigências pulsionais Considera a repressão como um desses processos e a relaciona a uma doença específi ca a histeria como vi mos anteriormente para Freud a repressão falha como mecanismo de defesa para o neu rótico obsessivo Karl Abraham melancolia e neurose obsessiva Karl Abraham escreveu alguns trabalhos so bre psicose maníacodepressiva nos quais afi rma que os casos de melancolia apresen tam sintomas obsessivos e que os neuróticos obsessivos podem apresentar depressão Tanto em seu artigo Notas sobre a In vestigação e o Tratamento Psicanalíticos da Psicose ManíacoDepressiva e Estados Afi ns de 1911 quanto no artigo O Primei ro Estágio PréGenital da Libido de 1916 o autor afi rma que a melancolia e a neurose obsessiva têm como características a ambi valência de sentimentos e o predomínio do sadismo em sua vida afetiva No primeiro artigo Abraham explica que na neurose ob sessiva o amor e o ódio existem mutuamente e interferem um no outro O obsessivo tem uma atitude hostil que enfraquece a capaci dade de amar que é privada de energia pela depressão de seu ódio ou para ser mais pre ciso pela depressão do componente sádico de sua libido originalmente excessivamente forte ABRAHAM 1911 p34 No mesmo artigo Abraham declara que os impulsos são também reprimidos no neurótico obses sivo uma vez que não pode atuar em confor midade com os seus instintos originais ele inconscientemente se entrega a fantasias de ser capaz de matar através de pensamentos Idem p41 O neurótico obsessivo sente a ameaça de perder seu objeto mas apesar de suas atitudes hostis para com o objeto ele o mantém já o melancólico o abandona No artigo de 1916 Abraham explica que em contraste com os desejos sádicos do neu rótico obsessivo o desejo inconsciente do Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 126 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte melancólico é destruir seu objeto amoroso comendoo ABRAHAM 1916 p78 No artigo Breve Estudo do Desenvolvi mento da Libido Visto à Luz das Perturba ções Mentais de 1924 Abraham divide a fase anal em duas uma primeira fase anal expulsiva e uma fase anal retentiva poste rior Na fase anal expulsiva o sadismo apa rece sob a forma de destruição do objeto buscando expelir esse objeto Na fase anal retentiva o sadismo surge como um contro le do objeto buscando retêlo conserválo No nível mais antigo fase anal expulsiva fazse um rompimento no estabelecimento de relações com objetos O neurótico ob sessivo regride para o nível posterior da fase anal com tendências conservadoras onde é possível estabelecer uma forma de contato com o objeto Abraham afi rma que se pode detectar na compulsão à ordem e à limpeza a cooperação de instintos sádicos sublima dos por outro lado a ordem compulsiva é ao mesmo tempo uma expressão do desejo de dominação do paciente onde ele exerce poder sobre as coisas e as força dentro de um sistema rígido e formal ABRAHAM 1924 p92 Assim os neuróticos obsessivos almejam possuir o objeto controlálo e não expulsálo Abraham nos artigos Contribuição à Teoria do Caráter Anal de 1921 e A In fl uência do Erotismo Oral na Formação do Caráter de 1924 afi rma que as pessoas de caráter anal apresentam as seguintes ca racterísticas que se aplicam aos neuróticos obsessivos rabugice distância reserva comportamento conservador que se opõe às mudanças perseverança persistência pro crastinação hesitação teimosia meticulo sidade as relações de vida se dão na cate goria de ter e dar posse em relação ao di nheiro sua atitude ora é de parcimônia ora é de avareza sente prazer em possuir uma massa de material armazenado que corres ponde ao prazer na retenção das fezes em fazer índices e classifi cações e em compilar relações e resumos estatísticos Melanie Klein a angústia psicótica infantil Melanie Klein em seu livro Psicanálise da Criança publicado em 1932 descreve que a neurose obsessiva é apenas um dos métodos de cura tentado pelo ego a fi m de superar esta precoce angústia psicótica infantil KLEIN 1932 p218 nota 30 Essa primeira situação de angústia decorre dos estados precoces de desenvolvimento da criança onde o sadismo está fortemente presente Klein chama esse período de a fase do sadismo máximo e o superego é severo e aterrorizante Essas situa ções surgem por volta da metade do primeiro ano de vida e consistem de medos a objetos violentos isto é devoradores dilaceradores castradores tanto externos como introjeta dos Idem p212 Durante essa fase de sa dismo a criança imagina ter feito ataques ao corpo da mãe isso causa na criança um sen timento de culpa e o medo de ser destruído e atacado por objetos externos e introjetados Na neurose obsessiva o superego que se faz presente é o superego aterrorizante desse es tado precoce de desenvolvimento por isso o superego do obsessivo é tão rigoroso A autora associa a angústia psicótica in fantil provocada por essas situações de pe rigo ao começo das obsessões e da neurose obsessiva Aponta o estádio analsecundário como o ponto de partida para a neurose obsessiva e situa entre os dois períodos do estádio anal a linha de demarcação entre a psicose e a neurose Klein afi rma que o neu rótico obsessivo tem medo de ser destruído ou atacado por seus objetos introjetados o que o faz ter a necessidade compulsiva de controlar e dominar suas imagos e como nunca pode efetivamente fazêlo procura ao invés disso exercer sua tirania sobre os objetosexternos Idem p224 Melanie Klein menciona na mesma obra um trecho do livro Totem e Tabu de Freud e afi rma que os atos obsessivos são uma contramagia um escudo contra desejos maus isto é desejos de morte e ao mesmo tempo atos sexuais Idem p229 Para em Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 127 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte basar sua argumentação sobre esses desejos mausdesejos de morte a autora cita outro trecho do mesmo artigo de Freud onde ele diz que o sentimento de culpa está funda mentado nos desejos inconscientes de morte contra seus semelhantes Klein declara que a culpabilidade relacionase aos impulsos des trutivos e não aos libidinais e incestuosos Maurice Bouvet a relação à distância Em seu artigo O Ego na Neurose Obsessiva Relação de Objeto e Mecanismos de Defesa de 1952 Maurice Bouvet descreve que a relação de objeto obsessiva é composta por relações de destruição e relações libidinais que se estabe lecem através de condutas agressivas O autor caracteriza essa relação de objeto como narci sista e ambivalente afi rmando que o sujeito se interessa pelo objeto apenas em função do acréscimo do sentimento de si que sua posse lhe proporciona em função do papel imedia to que representa ante a ele e da necessidade inextinguível de possuílo BOUVET 1952 p77 O sujeito não leva em consideração os desejos e as necessidades do outro estando o par amoródio no cerne desse tipo de relação Bouvet concorda com Melanie Klein apontando a técnica obsessiva como uma última tentativa para manter relações com a realidade e afi rmando que por ter uma signifi cação destruidora e também uma par cela de relação de objeto libidinal a relação obsessiva protege o sujeito contra a psicose Idem p83 Nessa relação de objeto obses siva o sujeito projeta no objeto um desejo agressivo que pertence ao sujeito O objeto é percebido pelo sujeito como um personagem perigoso destruidor onipotente devorador cruel com um desejo de poder sem limites essas mesmas características também são percebidas em si mesmo O autor acredita que o obsessivo busca encontrar esse per sonagem mas ao mesmo tempo se esquiva dele pois sendo esse objeto o lugar de pro jeção de seu desejo agressivo o sujeito teme ser vítima da retaliação de tal desejo contra ele Idem p85 A relação obsessiva oferece um caminho para o problema de por um lado ter o de sejo a necessidade de estabelecer uma rela ção e por outro lado sentir o temor pela sua intimidade ao se estabelecer a relação Esse caminho é segundo Bouvet uma relação à distância pois essa intimidade é tão peri gosa para o sujeito como para o objeto para o sujeito porque pode provocar sua própria destruição para o objeto porque nesse mo mento em que o componente erótico da re lação se transforma como consequência do estado de frustração permanente em uma pulsão agressiva o sujeito sente seu desejo pelo objeto como essencialmente destrui dor Idem p87 Bouvet ressalta o papel da agressividade na neurose obsessiva pois ela difi culta que o sujeito estabeleça uma relação com o objeto Essa difi culdade surge através da agressivi dade do próprio sujeito e também através das qualidades agressivas que confere por causa da projeção inconsciente de sua pró pria agressividade ao objeto de seu desejo Idem p93 O autor afi rma que o obsessivo vive uma angústia que está vinculada a um medo de destruição retaliativa dos desejos de aproximação vividos como agressivos tais como a regressão os conformou Idem p95 O verdadeiro perigo contra qual lu tam os obsessivos é o perigo da agressivida de ligada ao desejo de aproximação Idem p101 Nessa agressividade os neuróticos obsessivos expressam tanto amor como ódio utilizandose do mecanismo da proje ção vivem o outro como eles são embora necessitem muito do outro têm medo desse outro Idem p122 André Green investimento destrutivo e separação No artigo Metapsicologia da Neurose Ob sessiva de 1965 André Green diferencia investimento agressivo de investimento des trutivo O investimento agressivo muito estreitamente ligado ao investimento eró tico manifestase na descarga do gozo por Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsdo de Morte um contato estreito com o objeto GREEN necido por ele podemos montar o seguinte 1965 p222 No investimento destrutivo esquema interacao intimidade invasao também chamado pelo autor de investi agressao por parte do outro ansiedade mento pela pulsao de destruicao embora por medo dessa agressao medo do conta a agressividade se dirija para o objeto ima to principalmente da agressao que pode vir ginario como no investimento agressivo desse contato o sujeito evita a todo custo a producao de H afirma que para entrar em relacao tal circunstancia e o empenho de sua par com alguém é necessaria uma certa distan te de todas as possibilidades de luta Idem cia H tem amigos mas ninguém o conhece p222 Green afirma que esse investimento profundamente Gosta de ter amigos mas destrutivo é caracteristico tanto da neurose nao gosta que eles conhecam sua casa sua obsessiva como da melancolia Assim o ob vida particular Ele sente a necessidade de ter sessivo age segundo a funcao da pulsao de amigos mas a uma certa distancia Sua fala destruiao no sentido da separagao disso que entra em acordo com as idéias de Maurice se opde a uniao ao entrar em contato com Bouvet sobre a relacao a distancia na qual o objeto fantasmatico ou com suas represen o individuo tem a necessidade de estabele tacdes a orientacao dos contrainvestimen cer relag6es e ao mesmo tempo sente temor tos teria por objetivo evitar o encontro nos pela intimidade A agressividade demons pensamentos de representacées de palavras trada por H ao se relacionar com os outros de coisas e de afetos relativos ao desejoe ao dificulta que ele estabeleca uma relacao com seu objeto Idem p222 Segundo 0 autor o objeto Bouvet afirma que essa agressivida esse um trabalho permanente de controle de na verdade a agressividade do préprio supervisao e filtragem de tudo aquilo que é sujeito que é projetada no objeto de sua re percebido e pensado pelo sujeito lacao H nao consegue gritar fala bem baixo Caso clinico aceita tudo sem reclamar de nada coloca H de 28 anos morava com seu paisua mae se nas relagdes de forma passiva e por isso e seus dois irmaos mais velhos Seu pai era nao consegue mudar algumas situacdes que agressivo com sua mae e gostava muito de o incomodam passando a se sentir inferior beber Quando ele chegava em casa a noi Sua agressividade nao aparece diretamente te bébado H ficava sempre atento ansioso em suas conversas no curso da analise sur por temer que seu pai agredisse sua mae Por giu apenas quando afirmou que gostaria que temer essa agressao H acabou se fechando sua mae morresse e 0 seu irmao sumisse para para o contato com o mundo externo Ele é assim poder melhorar sua vida Nesse mo hoje uma pessoa muito reservada que gosta mento pela primeira vez expressou 0 desejo de estar so e teme a intimidade pois paraele da morte de sua mae foi sua primeira ex na intimidade pode acontecer uma invasao pressao da pulsao de morte H afirma que tem medo de contato devido H afirma que todas as pessoas que ele co a agressao relacionada a esse contato eletem nhece avancam na vida sé ele que nao avan medo da agressao Nao gosta de multidao a por isso julgase inferior Todo mundo é Sentese triste por estar sd mas gosta de ser sociavel s6 ele nao é Segundo Melanie Klein assim os impulsos destrutivos como o desejo de Esse paciente ilustra bem a questao do morte da mae sentido por H provocam no tabu do contato como uma forma de evitar sujeito o surgimento do sentimento de culpa a pulsao de morte evitar o contatoé uma Nocaso de H essa culpa o faz sentirse infe forma de evitar a angustia que é gerada por rior aos outros Os impulsos destrutivos nao esse contato A partir do material que foifor sao colocados para fora nos objetos e en 128 Estudos de Psicanalise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 129 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte tão o sujeito não agride aos outros agride a si mesmo desvalorizandose através de auto acusações através do sentimento de menos valia H quer mostrar aos outros que é feliz sorrindo enquanto tenta esconder sua triste za sua raiva Entrando em contato com os outros vai acabar mostrando tanto sua tris teza como sua raiva e isso ele não quer Observações fi nais Este artigo buscou fazer uma conexão entre o tabu de contato e a pulsão de morte Des crevemos o percurso das idéias de Sigmund Freud sobre a neurose obsessiva desde o artigo de 1894 o primeiro em que trata do tema até o livro publicado em 1926 Podemos traçar uma divisão das fases de Freud 18941905 experiência sexual prazero sa ativa e retorno do recalcado 19051913 erotismo e sadismo anal 1913 em diante enfatiza o superego tornado mais cruel e severo pelo sadismo e pelo erotismo anal A grande questão do neurótico obses sivo é a de como lidar com a agressão sua difi culdade é de vivenciar uma relação onde ele mesmo é o agressor Podemos nesse momento falar de pulsão de morte a qual por ter se desfusionado difi culta o contato e o interagir com o outro O tabu de contato do obsessivo é na verdade o tabu de entrar em contato com os seus próprios impulsos agressivos Esses impulsos surgem na forma de autodestruição ou na forma de destrui ção do outro O obsessivo evita ao mesmo tempo o contato com impulsos amorosos pulsão de vida e com impulsos agressivos pulsão de morte pois através do contato com os investimentos amorosos podem sur gir os investimentos agressivos Criase um sistema de proibições no qual aparece o tabu de contato O neurótico obsessivo usa o mecanismo de defesa do isolamento onde há uma sepa ração entre a representação ideativa e a re presentação afetiva da pulsão produzindo uma dissociação entre o discurso e o afeto As conexões associativas entre idéia e afeto são suprimidas ou interrompidas de modo que idéia e afeto permanecem isolados um do outro sua ligação se mantendo incons ciente Isolar é uma forma de evitar o conta to O ego do obsessivo tenta manter afasta das as fantasias inconscientes e as tendências ambivalentes Se o obsessivo tentasse refazer as conexões associativas entre idéia e afeto entraria em contato com o que não quer ver seus impulsos agressivos sua pulsão de morte Então ele suprime essas conexões e através da formação reativa tornase o mais limpo ou o mais ordeiro buscando o dese jo impossível de perfeição Para Freud o obsessivo apresenta três características parcimônia ordem e obsti nação Quando a pessoa declara eu sou o mais limpo está buscando uma satisfação narcísica uma forma de evitar o contato com o pensamento de ser uma pessoa suja e bagunceira evitar o contato com sua pulsão de morte pois a agressividade que sente gera uma angústia que pode tirálo da realidade Esse discurso é marcado pela ambivalência eu sou o mais limpo quer dizer na verdade eu sou o mais sujo ou então eu o amo signifi ca eu o odeio O neurótico obsessivo sente amor e ódio é por isso que a dúvida é um traço do obses sivo é a dúvida do seu próprio amor O amor fi ca inibido pelo ódio fazendoo duvidar do seu amor Existem concomitantemente um amor intenso e um ódio também intenso este último fi ca reprimido no inconsciente desenvolvendo também de modo intenso componentes sádicos que persistem no in consciente sob a forma de ódio Esse amor e esse ódio intenso inconsciente e reprimido provocam uma paralisia parcial da vontade e uma falta de capacidade de se tomar uma decisão sobre quaisquer ações seja das ações relacionadas ao amor seja das relacionadas ao ódio Devido a essa dúvida sobre o amor o obsessivo tem difi culdade em relação ao Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 130 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte toque vivenciando uma relação à distância Ao travar contato com o objeto acredita re almente que através da onipotência do seu pensamento pode destruílo Inconsciente mente cria uma fantasia de ser capaz de ma tar com o poder do pensamento O pensa mento para o obsessivo substitui o agir Ele pensa em se relacionar mas não o faz não age porque qualquer ação pode provocar o que ele mais teme e mais deseja o contato No caso clínico descrito anteriormente H gosta de estar só mas gostaria de ser lem brado pelos amigos ou seja quer a compa nhia de seus amigos Quer contato mas teme esse contato estabelecendo uma relação à distância O que o faz temer esse contato é a agressão que está relacionada ao contato Tem medo da agressão que ele julga que vi ria do outro mas o que realmente teme é sua própria agressividade Outro aspecto do contato que H teme é a intimidade e a inva são que provém dessa intimidade De novo surge a questão da agressividade essa inva são é um receio de que ele seja tomado pelo que é do outro receio de que o outro ao en trar em contato com ele o agrida Podemos dizer que H apresenta o tabu de contato tal como descrito neste artigo como uma forma de evitar a pulsão de morte que para ele está presente em qualquer forma de relação H comenta que pensa em se matar sente se deprimido por vezes de forma cíclica e por períodos Quando está deprimido quer fi car só sem ver ninguém Não procura os amigos e quando é procurado por eles não aceita o convite por diversas vezes até chegar o pon to em que os amigos desistem de chamálo Tudo para ele dá trabalho está cansado O comportamento de H pode exemplifi car a afi rmação de Karl Abraham de que os melan cólicos apresentam sintomas obsessivos e os obsessivos apresentam depressão Abraham também afi rma que a ambivalência é perti nente tanto à neurose obsessiva quanto à me lancolia H gosta e cuida da mãe mas por vezes pensa que sua mãe podia morrer para ele poder cuidar de sua própria vida Outra característica do obsessivo é o sadismo que pode aparecer através do pensamento de ma tar alguém H pensa em matar a mãe mas não age para fazêlo Abraham afi rma que os obsessivos regri dem para o nível posterior da fase anal de tendências conservadoras onde buscam possuir e controlar o objeto H sabe que sua mãe poderia viver sem ele mas viveria mal porque ele se colocou no lugar da pessoa que toma conta do dinheiro dela da sua casa no lugar da pessoa responsável por ela Ela de certa forma precisa dele isso lhe permi te controlar a vida de sua mãe Abraham declara que os obsessivos conseguem esta belecer uma forma de contato com o objeto H por vezes consegue estabelecer esse contato Melanie Klein situa entre os dois períodos do estádio anal a linha de demarcação entre a psicose e a neurose Isso também já fora dito por Abraham quando afi rmou que no período mais antigo da fase anal fazse um rompimento no estabelecimento da relação de objeto e no período posterior é possível estabelecer um contato com o objeto Klein declara que durante a fase máxima do sa dismo a criança imagina ter feito ataques ao corpo da mãe o que lhe causa medo de ser atacada e destruída por objetos internos e externos como se estes estivessem retalian do os ataques que sofreram Isso provoca na criança uma vivência de situação de perigo e uma angústia que a autora chamou de psi cótica Klein afi rma categoricamente que o obsessivo tem medo de ser destruído ou ata cado por seus objetos introjetados É o que acontece com H que tem medo de ser ata cado ou destruído quando entra em relação com o outro Ainda segundo Klein o obses sivo sente uma necessidade de controlar suas imagos não conseguindo resolve dominar os objetos externos H tem difi culdade em se controlar e passa a exercer o controle sobre a família que depende de H para tudo Ele está cansado por causa disso mas no fundo gosta muito de estar no controle Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 131 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte Maurice Bouvet destaca o papel da agres sividade na neurose obsessiva e confi rma o que já fora dito por Melanie Klein que o obsessivo vive uma angústia relacionada a um medo de destruição retaliativa dos de sejos de aproximação vividos como agressi vos Segundo esse autor o obsessivo sente o perigo da agressividade ligada ao desejo de aproximação O obsessivo teme o contato porque quando tenta a aproximação pode demonstrar agressividade ao sentir nessa re lação um estado de frustração permanente O que era componente erótico tornase pulsão agressiva Ao entrar em relação em contato com o outro e se sentir frustrado portanto agressivo teme que o outro resolva retaliar o suposto ataque sofrido Por isso não tenta mais entrar em contato criando um tabu de contato para não mais sentir a agressividade que é parte inerente de qualquer relação O obsessivo ao temer a agressividade do outro está temendo a própria agressividade Para André Green a pulsão de destruição quer evitar que o sujeito encontre o objeto enquanto o investimento agressivo vincula do ao investimento erótico quer encontrar o objeto Para conseguir fazer a separação en tre o sujeito e seu objeto de desejo exigese um controle do que é percebido e pensado pelo sujeito Qualquer forma de contato do mais superfi cial ao mais profundo passa pelo crivo do controle Isso é exatamente o que faz o obsessivo procura ter controle sobre o que pensa fala e principalmente sente não per mite espaço para o imprevisto o inesperado Se o obsessivo usa o controle como uma for ma de fi ltrar é para evitar que no aconteci mento de uma situação inesperada surja um afeto seja de amor seja de ódio com o qual ele tenha que lidar não estando prepa rado para isso O neurótico obsessivo tenta controlar as situações na busca de evitar o contato com o amor ou com o ódio Conclusão Verifi camos portanto que os diversos auto res citados fazem uma conexão entre o tabu de contato e a pulsão de morte Green afi r ma que tanto na neurose obsessiva como na melancolia aparece um investimento pela pulsão de destruição Bouvet defi ne a relação de objeto obsessiva como composta por rela ções de destruição e relações libidinais que se estabelecem através de condutas agressi vas Klein afi rma que o obsessivo tem dese jos maus desejos de morte que provocam sentimento de culpa Abraham fala de uma atitude hostil que enfraquece a capacidade de amar Freud em 1913 já falava de uma am bivalência de um amor intenso de um ódio intenso inconsciente e reprimido e de uma hostilidade inconsciente em 1926 quando já tinha escrito sobre a pulsão de vida e a pulsão de morte afi rma que no obsessivo o impul so agressivo está inconsciente para o ego que só o percebe como pensamento não desper tando qualquer sentimento porque devido ao isolamento a idéia se separou do afeto A fi m de evitar que essa conexão associati va fosse refeita surge o tabu de contato que evita o contato do objeto com os investimen tos amorosos pulsão de vida e os agressivos pulsão de morte Abstract Th is article based on Sigmund Freuds Karl Abrahams Melanie Kleins Maurice Bouvets and André Greens ideas about obsessive neu rosis seek to understand the conection betwe en death instinct and the contact taboo cha racteristic of this pathology It is also presented a clinic case that ilustrates several aspects rela ted to the subject Keywords Obsessive neurosis Contact taboo Death instinct Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 132 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte Referências ABRAHAM Karl Notas sobre a Investigação e o Tratamento Psicanalíticos da Psicose ManíacoDe pressiva e Estados Afi ns 1911 In ABRAHAM Karl Teoria Psicanalítica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p3250 ABRAHAM Karl O Primeiro Estágio PréGenital da Libido 1916 In ABRAHAM Karl Teoria Psicanalí tica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p5180 ABRAHAM Karl Contribuição à Teoria do Caráter Anal 1921 In ABRAHAM Karl Teoria Psicana lítica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p174 205 ABRAHAM Karl Breve Estudo do Desenvolvimen to da Libido Visto à Luz das Perturbações Mentais 1924 In ABRAHAM Karl Teoria Psicanalítica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p81160 ABRAHAM Karl A Infl uência do Erotismo Oral na Formação do Caráter 1924 In ABRAHAM Karl Teoria Psicanalítica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p161173 BOUVET Maurice O Ego na Neurose Obsessiva Re lação de Objeto e Mecanismos de Defesa 1952 In BERLINCK Manoel T org Obsessiva Neurose São Paulo Escuta 2005 p51123 FREUD Sigmund As Neuropsicoses de Defesa 1894 In Edição Standard Brasileira das obras psi cológicas completas de Sigmund Freud 2 ed Rio de Janeiro Imago 1987 vIII p5365 FREUD Sigmund Sobre os Fundamentos para desta car da Neurastenia uma Síndrome Específi ca denomi nada Neurose de Angústia 1895 1894 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud 2 ed Rio de Janeiro Imago Editora 1987 vIII p91112 FREUD Sigmund Observações Adicionais sobre as Neuropsicoses de Defesa 1896 In Edição Stan dard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud 2 ed Rio de Janeiro Imago 1987 vIII p154173 FREUD Sigmund Atos Obsessivos e Práticas Religio sas 1907 In Edição Standard Brasileira das obras psi cológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1976 vIX p121131 FREUD Sigmund Caráter e Erotismo Anal 1908 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1976 vIX p175181 FREUD Sigmund Notas sobre um Caso de Neurose Obsessiva 1909 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago sd vX p159250 FREUD Sigmund A Disposição à Neurose Obses siva uma Contribuição ao Problema da Escolha da Neurose 1913 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1969 vXII p399409 FREUD Sigmund Totem e Tabu 1913b 191213 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1974 vXIII p17191 FREUD Sigmund Além do Princípio de Prazer 1920 In Edição Standard Brasileira das obras psi cológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1976 vXVIII p1785 FREUD Sigmund Inibições Sintomas e Ansiedade 1926 1925 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janei ro Imago 1976 vXX p107198 GREEN André Metapsicologia da Neurose Obsessi va 1965 In BERLINCK Manoel T org Obsessiva Neurose São Paulo Escuta 2005 p215236 KLEIN Melanie As Relações entre a Neurose Obses siva e os Primeiros Estádios do Superego 1932 In KLEIN Melanie Psicanálise da Criança São Paulo Mestre Jou 1969 p203235 RECEBIDO EM 01082011 APROVADO EM 12092011 Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 133 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte SOBRE A AUTORA Natalia Gonçalves Galucio Sedeu Psicóloga Psicanalista Especialista em Psicoterapia In fantoJuvenil pelo IFFFIOCRUZ Membro Efetivo do Círculo Brasileiro de Psicanálise Seção RJ CBPRJ Endereço para correspondência Praia do Flamengo 1941002 Flamengo 22210030 Rio de JaneiroRJ Tel 2122256701 Email sedeuyahoocom Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 134 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte
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Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 121 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte Resumo Neste artigo com base nas idéias de Sigmund Freud Karl Abraham Melanie Klein Maurice Bouvet e André Green sobre a neurose obsessiva buscaremos compreender a relação entre a pulsão de morte e o tabu de contato traço característico dessa patologia Apresentaremos ainda um caso clínico que ilustra diversos aspectos relacionados ao tema Palavraschave Neurose obsessiva Tabu de contato Pulsão de morte O ódio e não o amor é a relação emocional primária entre os homens stekel citado por freud 1913 p408 Introdução Em 1920 no livro Além do Princípio de Pra zer Sigmund Freud introduz um novo du alismo na teoria psicanalítica pulsão de vida X pulsão de morte A pulsão de morte tendia à redução completa das tensões um retorno ao estado anorgânico Freud apon ta no mesmo livro a compulsão à repetição como uma forma de provar a existência da pulsão de morte ele afi rma que a compul são à repetição também rememora do pas sado experiências que não incluem possi bilidade alguma de prazer FREUD 1920 p34 Freud postula a hipótese de que na compulsão à repetição existe algo que pare ce mais primitivo mais elementar e mais ins tintual do que o princípio de prazer Idem p37 Essa compulsão à repetição é um dos traços marcantes da neurose obsessiva que possui outro traço marcante o tabu do con tato Neste artigo buscaremos fazer uma co nexão entre o tabu de contato e a pulsão de morte através da análise das idéias de Freud Karl Abraham Melanie Klein Maurice Bou vet e André Green sobre a neurose obsessi va Apresentaremos ainda um caso clínico que ilustra diversos aspectos relacionados ao tema As idéias de Sigmund Freud sobre a neurose obsessiva Freud no artigo Sobre os Fundamentos para destacar da Neurastenia uma Síndro me Específi ca denominada Neurose de An gústia 1895 cita pela primeira vez numa publicação o termo neurose obsessiva sua primeira alusão ao termo no entanto data de 07 de fevereiro de 1894 numa carta a Fliess No artigo As Neuropsicoses de Defesa de 1894 o autor já descrevera o que cha mou de representações obsessivas afi rma que quando aparece uma representação Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte Obsessive Neurosis Contact Taboo X Death Instinct Natalia Gonçalves Galucio Sedeu Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 122 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte incompatível ocorre uma defesa através da separação entre a representação e o afeto a representação se mantém na consciência enfraquecida e isolada enquanto o afeto tornado livre ligase a outras representa ções que não são incompatíveis em si mes mas e graças a essa falsa ligação tais repre sentações se transformam em representações obsessivas FREUD 1894 p58 No mesmo artigo afi rma que a obsessão representa um substituto ou sucedâneo da representação sexual incompatível tendo tomado seu lugar na consciência Idem p59 No artigo Observações Adicionais sobre as Neuropsicoses de Defesa de 1896 Freud classifi ca as idéias obsessivas como auto acusações transformadas que reemergiram do recalcamento e que sempre se relacionam com algum ato sexual praticado com pra zer na infância FREUD 1896 p160 o retorno do recalcado Essas autoacusações também são recalcadas através do sintoma primário de defesa autodesconfi ança Este acaba corroborando as autoacusações a au todesconfi ança e a autoacusação se apóiam mutuamente Outros sintomas primários de defesa apontados por Freud são a conscien ciosidade e a vergonha Em 1907 no artigo Atos Obsessivos e Prá ticas Religiosas Freud afi rma que a pessoa que tem uma compulsão sabe que seus atos obsessivos têm um sentido mas não conse gue compreender esse sentido Para o autor o ato obsessivo serve para expressar moti vos e idéias inconscientes FREUD 1907 p126 Nos atos obsessivos existem compul sões e proibições onde é possível perceber o sentimento inconsciente de culpa Freud observa que os atos cerimoniais e obsessi vos surgem em parte como uma proteção contra a tentação1 e em parte como prote ção contra o mal esperado que irá acontecer se a pessoa não fi zer esse cerimonial Idem p128 Freud afi rma que essas medidas de proteção logo parecem tornarse insufi cien tes contra a tentação surgindo então as proi bições cuja fi nalidade é manter à distância as situações que podem originar tentações Idem p128 Para o autor essas proibições acabarão por substituir os atos obsessivos No mesmo artigo Freud descreve o des locamento mecanismo de defesa pelo qual ocorre uma substituição do elemento real e importante por um trivial Idem p129 Segundo o autor esse mecanismo de defesa domina os processos mentais da neurose obsessiva Idem p129 Em 1908 no artigo Caráter e Erotismo Anal Freud relaciona três traços de caráter ordem parcimônia e obstinação às pes soas que classifi ca como analeróticas com um erotismo anal fortemente estabelecido Observase aqui a identifi cação de traços de caráter que serão posteriormente asso ciados à neurose obsessiva Em 1909 Freud publica o artigo Notas sobre um Caso de Neurose Obsessiva onde descreve o tratamento do paciente que fi caria conhecido como Homem dos Ratos O autor explica que as estruturas obsessivas podem ser classifi cadas como desejos tenta ções impulsos refl exões dúvidas ordens ou proibições FREUD 1909 p223 Segundo Freud a repressão se dá através da ruptura das conexões causais por uma retirada da representação afetiva Descreve ainda que o neurótico obsessivo sente necessidade de incerteza ou de dúvida afi rma que a criação da incerteza é um dos métodos utilizados pela neurose a fi m de atrair o paciente para fora da realidade e isolálo do mundo Idem p233 Outras características comuns do neurótico obsessivo citadas pelo autor são a onipotência do pensamento do sentimen to e dos desejos tanto bons quanto maus e o confl ito na relação de amor e ódio Nes se confl ito amor e ódio existem juntos com forte grau de intensidade dirigidos à mesma pessoa o ódio contudo fi ca reprimido no inconsciente ali permanecendo e podendo 1 Por tentação o autor se refere à infl uência do ins tinto reprimido que tenta romper a repressão Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 123 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte aparecer como sadismo Para Freud em um período bem precoce do desenvolvimento do indivíduo amor e ódio estavam ligados depois os opostos se separaram e o ódio foi reprimido Para manter o ódio reprimido o amor se torna de grande intensidade como uma reação na tentativa de conter o ódio re primido Esse amor intenso e esse ódio tam bém intenso reprimido conduzem a pessoa a uma paralisia parcial da vontade e uma incapacidade de se chegar a uma decisão a respeito de qualquer uma das ações para as quais o amor deve suprir a força motivadora Idem p242 Essa paralisia vaise alastran do para todo e qualquer comportamento da pessoa Freud ressalta o papel da compulsão e da dúvida no neurótico obsessivo Afi rma que a dúvida corresponde à percepção interna que tem o paciente de sua própria indeci são a qual em conseqüência da inibição de seu amor através de seu ódio dele se apos sa diante de qualquer ação intencionada Idem p242 A dúvida conduz à repetição das medidas protetoras com a fi nalidade de expulsar a incerteza A compulsão surge como uma forma de compensar a dúvida tentando corrigir as intoleráveis condições de inibição das quais a dúvida apresenta tes temunho Idem p244 Outras duas carac terísticas descritas pelo autor para o neuróti co obsessivo são a substituição do agir pelo pensar e o pensamento sexualizado Para Freud o pensamento obsessivo representa um ato de forma regressiva Em 1913 Freud escreve o artigo A Dis posição à Neurose Obsessiva uma Contri buição ao Problema da Escolha da Neuro se no qual descreve a regressão de parte das funções psíquicas a um estádio anterior do desenvolvimento do indivíduo o cha mado ponto de fi xação O autor usa pela primeira vez a expressão organização pré genital identifi cando como seus impulsos componentes o analerótico e o sádico Ao descrever um caso explica que a compulsão por lavagem e limpeza do seu paciente era uma formação reativa contra seus próprios impulsos analeróticos e sádicos FREUD 1913 p403 Freud ressalta a importância dos impul sos de ódio e do erotismo anal na formação dos sintomas da neurose obsessiva Para ele o que disporia a pessoa a apresentar neuro se obsessiva seria uma regressão a um está dio prégenital sádico e analerótico Freud afi rma que os neuróticos obsessivos têm de desenvolver uma supermoralidade a fi m de proteger seu amor objetal da hostilidade que espreita por trás dele sendo a origem dessa moralidade derivada do fato de que na or dem de desenvolvimento o ódio é o precur sor do amor Idem p408 No livro Totem e Tabu publicado em 1913 Freud estabelece pontos de concor dância entre as proibições dos neuróticos obsessivos e os tabus dos povos primitivos Para Freud o tabu é uma proibição pri meva forçosamente imposta por alguma autoridade de fora e dirigida contra os an seios a que estão sujeitos os seres humanos FREUD 1913 p55 O tabu é composto por proibições e restrições relacionadas ao que é sagrado impuro perigoso eou mis terioso algo não explicado Assim um dos pontos de concordância com a neurose ob sessiva é que tanto as proibições obsessivas quanto os tabus são aparentemente des tituídos de motivo Na fonte das proibições tanto no neurótico obsessivo quanto nos tabus dos povos primitivos está uma hosti lidade inconsciente um impulso hostil con tra alguém possivelmente um ser amado que aparece como uma satisfação pela morte desse alguém Para Freud a sensação de culpa do neu rótico obsessivo tem uma justifi cativa está fundada nos intensos e freqüentes desejos de morte contra os seus semelhantes que se estão inconscientemente em ação dentro dele Idem p109110 Esses impulsos hos tis reprimidos pela proibição se relacionam a qualquer ato que possa por deslocamento representar um ato hostil A possibilidade Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 124 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte de realização desse ato hostil conduz a um medo de uma ameaça de morte contra o ou tro assim o desejo dá lugar ao medo Segundo Freud o neurótico obsessivo apresenta em sua forma de existir no mun do traços de ambivalência outro ponto de concordância com o tabu Freud afi rma que os sintomas os atos obsessivos e as medidas defensivas são derivados de impulsos ambi valentes Na ambivalência existe um senti mento intenso de afeição e uma intensa hos tilidade inconsciente Essa afeição excessiva que busca reprimir a hostilidade incons ciente apresentase no neurótico obsessivo como uma solicitude que se repete compul sivamente O autor declara que a principal proibição na neurose obsessiva é a de tocar fobia de contato Essa proibição de tocar vai além do mero contato físico abrange a expressão es tar em contato com Freud afi rma que qual quer coisa que dirija o pensamento para o objeto proibido qualquer coisa que o coloque em contato intelectual com ele é tão proibida quanto o contato físico direto complemen ta que essa mesma extensão também ocorre no caso do tabu Idem p47 A proibição é consciente já o desejo oculto de fazer o que é proibido é inconsciente Freud relaciona o tabu com essa fobia de contato no neurótico a proibição se reves te de um caráter sexual no tabu o contato proibido obviamente não deve ser entendi do num sentido exclusivamente sexual mas sim no sentido mais geral de atacar de obter o controle de afi rmarse Idem p95 Ao longo do texto Freud termina por concluir que os obsessivos acabam se impondo um tabu o tabu do contato Os neuróticos ob sessivos gostariam de violar esse tabu mas sentem medo de fazêlo violar o tabu signi fi caria entrar em contato No livro Inibições Sintomas e Ansie dade publicado em 1926 Freud divide os sintomas da neurose obsessiva em 2 grupos um grupo mais defensivo negativo dos sin tomas composto por proibições precauções e expiações e outro grupo composto por sa tisfações substitutivas Explica que A organização genital da libido vem a ser débil e insufi cientemente resistente de modo que quando o ego começa seus esforços defensi vos a primeira coisa que ele consegue fazer é lançar de volta a organização genital da fase fálica no todo ou em parte ao nível anal sádico mais antigo FREUD 1926 p136 Freud chamou a isso de regressão clas sifi candoa e à formação reativa entre os mecanismos de defesa Segundo ele os neuróticos obsessivos têm um superego ex cessivamente severo e rude o ego que é for çado a se submeter ao superego apresenta fortes formações reativas como consciên cia piedade e asseio Para Freud o impulso agressivo está inconsciente para o ego que só o percebe como um pensamento que não desperta qualquer sentimento Idem p140 O afeto surge em lugar diferente e separado do pensamento Segundo Freud o superego não percebe que ocorreu a re pressão não percebe que a idéia e o afeto foram separados acreditando estar em con tato com a verdadeira enunciação e o ple no caráter afetivo do impulso agressivo e trata o ego em conformidade com isso já o ego que por um lado sabe ser inocente é obrigado por outro lado a fi car cônscio de um sentimento de culpa e a arcar com uma responsabilidade pela qual não pode responder Idem p140 Freud descreve dois mecanismos de defe sa que podem substituir a repressão a anu lação retroativa desfazer o que foi feito e o isolamento Para o neurótico obsessivo a re pressão não consegue alcançar a sua função de mecanismo de defesa pois o que ocorre é uma busca de satisfação através dos sin tomas Na anulação retroativa duas ações ocorrem sendo que a segunda ação cance la a primeira tentando de forma mágica desfazêla No isolamento característico da neurose obsessiva segundo Freud Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 125 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte a experiência não é esquecida mas em vez dis so é destituída de seu afeto e suas conexões associativas são suprimidas ou interrompidas de modo que permanece como isolada não sendo reproduzida nos processos comuns do pensamento Idem p144 Para Freud o neurótico obsessivo apre senta um confl ito entre o superego e o id ra zão pela qual o ego busca afastar a inclusão de fantasias inconscientes e a manifestação de tendências ambivalentes Quando o ob sessivo usa o isolamento através dos atos mágicos que se desenvolvem na forma de sintomas o que ele está buscando é impedir que ocorram associações e ligações do pen samento seguindo uma regra fundamental da neurose obsessiva o tabu do contato O papel desse tabu é o de evitar o contato com o objeto seja do investimento amoroso seja do investimento agressivo Segundo Freud o toque e o contato físico são a fi nalidade ime diata das catexias objetais agressivas e amo rosas Assim enquanto Eros deseja o conta to para tornar o ego e o objeto amado um só a destrutividade Tanatos também deve pressupor contato físico um engalfi nhamen to Idem p145 O autor conclui que a neurose obsessiva começa por perseguir o toque erótico e depois após ter se verifi cado a regressão passa a perseguir o toque erótico à guisa de agressividade por isso o obsessi vo utiliza o isolamento como forma de defe sa pois isolar é remover a possibilidade de contato é um método de evitar que uma coi sa seja tocada de qualquer maneira Idem p145 Ao isolar uma determinada impres são o neurótico obsessivo está isolando os pensamentos referentes a essa impressão dos demais pensamentos impedindo que entre eles se faça um contato associativo Ainda no mesmo texto nos Adendos Freud escreve sobre repressão e defesa ex plicando que na neurose obsessiva as ocor rências patológicas não são esquecidas elas permanecem conscientes mas são isola das Idem p188 Ele reintroduz o concei to de defesa abarcando todos os processos cujo objetivo é a proteção do ego contra as exigências pulsionais Considera a repressão como um desses processos e a relaciona a uma doença específi ca a histeria como vi mos anteriormente para Freud a repressão falha como mecanismo de defesa para o neu rótico obsessivo Karl Abraham melancolia e neurose obsessiva Karl Abraham escreveu alguns trabalhos so bre psicose maníacodepressiva nos quais afi rma que os casos de melancolia apresen tam sintomas obsessivos e que os neuróticos obsessivos podem apresentar depressão Tanto em seu artigo Notas sobre a In vestigação e o Tratamento Psicanalíticos da Psicose ManíacoDepressiva e Estados Afi ns de 1911 quanto no artigo O Primei ro Estágio PréGenital da Libido de 1916 o autor afi rma que a melancolia e a neurose obsessiva têm como características a ambi valência de sentimentos e o predomínio do sadismo em sua vida afetiva No primeiro artigo Abraham explica que na neurose ob sessiva o amor e o ódio existem mutuamente e interferem um no outro O obsessivo tem uma atitude hostil que enfraquece a capaci dade de amar que é privada de energia pela depressão de seu ódio ou para ser mais pre ciso pela depressão do componente sádico de sua libido originalmente excessivamente forte ABRAHAM 1911 p34 No mesmo artigo Abraham declara que os impulsos são também reprimidos no neurótico obses sivo uma vez que não pode atuar em confor midade com os seus instintos originais ele inconscientemente se entrega a fantasias de ser capaz de matar através de pensamentos Idem p41 O neurótico obsessivo sente a ameaça de perder seu objeto mas apesar de suas atitudes hostis para com o objeto ele o mantém já o melancólico o abandona No artigo de 1916 Abraham explica que em contraste com os desejos sádicos do neu rótico obsessivo o desejo inconsciente do Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 126 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte melancólico é destruir seu objeto amoroso comendoo ABRAHAM 1916 p78 No artigo Breve Estudo do Desenvolvi mento da Libido Visto à Luz das Perturba ções Mentais de 1924 Abraham divide a fase anal em duas uma primeira fase anal expulsiva e uma fase anal retentiva poste rior Na fase anal expulsiva o sadismo apa rece sob a forma de destruição do objeto buscando expelir esse objeto Na fase anal retentiva o sadismo surge como um contro le do objeto buscando retêlo conserválo No nível mais antigo fase anal expulsiva fazse um rompimento no estabelecimento de relações com objetos O neurótico ob sessivo regride para o nível posterior da fase anal com tendências conservadoras onde é possível estabelecer uma forma de contato com o objeto Abraham afi rma que se pode detectar na compulsão à ordem e à limpeza a cooperação de instintos sádicos sublima dos por outro lado a ordem compulsiva é ao mesmo tempo uma expressão do desejo de dominação do paciente onde ele exerce poder sobre as coisas e as força dentro de um sistema rígido e formal ABRAHAM 1924 p92 Assim os neuróticos obsessivos almejam possuir o objeto controlálo e não expulsálo Abraham nos artigos Contribuição à Teoria do Caráter Anal de 1921 e A In fl uência do Erotismo Oral na Formação do Caráter de 1924 afi rma que as pessoas de caráter anal apresentam as seguintes ca racterísticas que se aplicam aos neuróticos obsessivos rabugice distância reserva comportamento conservador que se opõe às mudanças perseverança persistência pro crastinação hesitação teimosia meticulo sidade as relações de vida se dão na cate goria de ter e dar posse em relação ao di nheiro sua atitude ora é de parcimônia ora é de avareza sente prazer em possuir uma massa de material armazenado que corres ponde ao prazer na retenção das fezes em fazer índices e classifi cações e em compilar relações e resumos estatísticos Melanie Klein a angústia psicótica infantil Melanie Klein em seu livro Psicanálise da Criança publicado em 1932 descreve que a neurose obsessiva é apenas um dos métodos de cura tentado pelo ego a fi m de superar esta precoce angústia psicótica infantil KLEIN 1932 p218 nota 30 Essa primeira situação de angústia decorre dos estados precoces de desenvolvimento da criança onde o sadismo está fortemente presente Klein chama esse período de a fase do sadismo máximo e o superego é severo e aterrorizante Essas situa ções surgem por volta da metade do primeiro ano de vida e consistem de medos a objetos violentos isto é devoradores dilaceradores castradores tanto externos como introjeta dos Idem p212 Durante essa fase de sa dismo a criança imagina ter feito ataques ao corpo da mãe isso causa na criança um sen timento de culpa e o medo de ser destruído e atacado por objetos externos e introjetados Na neurose obsessiva o superego que se faz presente é o superego aterrorizante desse es tado precoce de desenvolvimento por isso o superego do obsessivo é tão rigoroso A autora associa a angústia psicótica in fantil provocada por essas situações de pe rigo ao começo das obsessões e da neurose obsessiva Aponta o estádio analsecundário como o ponto de partida para a neurose obsessiva e situa entre os dois períodos do estádio anal a linha de demarcação entre a psicose e a neurose Klein afi rma que o neu rótico obsessivo tem medo de ser destruído ou atacado por seus objetos introjetados o que o faz ter a necessidade compulsiva de controlar e dominar suas imagos e como nunca pode efetivamente fazêlo procura ao invés disso exercer sua tirania sobre os objetosexternos Idem p224 Melanie Klein menciona na mesma obra um trecho do livro Totem e Tabu de Freud e afi rma que os atos obsessivos são uma contramagia um escudo contra desejos maus isto é desejos de morte e ao mesmo tempo atos sexuais Idem p229 Para em Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 127 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte basar sua argumentação sobre esses desejos mausdesejos de morte a autora cita outro trecho do mesmo artigo de Freud onde ele diz que o sentimento de culpa está funda mentado nos desejos inconscientes de morte contra seus semelhantes Klein declara que a culpabilidade relacionase aos impulsos des trutivos e não aos libidinais e incestuosos Maurice Bouvet a relação à distância Em seu artigo O Ego na Neurose Obsessiva Relação de Objeto e Mecanismos de Defesa de 1952 Maurice Bouvet descreve que a relação de objeto obsessiva é composta por relações de destruição e relações libidinais que se estabe lecem através de condutas agressivas O autor caracteriza essa relação de objeto como narci sista e ambivalente afi rmando que o sujeito se interessa pelo objeto apenas em função do acréscimo do sentimento de si que sua posse lhe proporciona em função do papel imedia to que representa ante a ele e da necessidade inextinguível de possuílo BOUVET 1952 p77 O sujeito não leva em consideração os desejos e as necessidades do outro estando o par amoródio no cerne desse tipo de relação Bouvet concorda com Melanie Klein apontando a técnica obsessiva como uma última tentativa para manter relações com a realidade e afi rmando que por ter uma signifi cação destruidora e também uma par cela de relação de objeto libidinal a relação obsessiva protege o sujeito contra a psicose Idem p83 Nessa relação de objeto obses siva o sujeito projeta no objeto um desejo agressivo que pertence ao sujeito O objeto é percebido pelo sujeito como um personagem perigoso destruidor onipotente devorador cruel com um desejo de poder sem limites essas mesmas características também são percebidas em si mesmo O autor acredita que o obsessivo busca encontrar esse per sonagem mas ao mesmo tempo se esquiva dele pois sendo esse objeto o lugar de pro jeção de seu desejo agressivo o sujeito teme ser vítima da retaliação de tal desejo contra ele Idem p85 A relação obsessiva oferece um caminho para o problema de por um lado ter o de sejo a necessidade de estabelecer uma rela ção e por outro lado sentir o temor pela sua intimidade ao se estabelecer a relação Esse caminho é segundo Bouvet uma relação à distância pois essa intimidade é tão peri gosa para o sujeito como para o objeto para o sujeito porque pode provocar sua própria destruição para o objeto porque nesse mo mento em que o componente erótico da re lação se transforma como consequência do estado de frustração permanente em uma pulsão agressiva o sujeito sente seu desejo pelo objeto como essencialmente destrui dor Idem p87 Bouvet ressalta o papel da agressividade na neurose obsessiva pois ela difi culta que o sujeito estabeleça uma relação com o objeto Essa difi culdade surge através da agressivi dade do próprio sujeito e também através das qualidades agressivas que confere por causa da projeção inconsciente de sua pró pria agressividade ao objeto de seu desejo Idem p93 O autor afi rma que o obsessivo vive uma angústia que está vinculada a um medo de destruição retaliativa dos desejos de aproximação vividos como agressivos tais como a regressão os conformou Idem p95 O verdadeiro perigo contra qual lu tam os obsessivos é o perigo da agressivida de ligada ao desejo de aproximação Idem p101 Nessa agressividade os neuróticos obsessivos expressam tanto amor como ódio utilizandose do mecanismo da proje ção vivem o outro como eles são embora necessitem muito do outro têm medo desse outro Idem p122 André Green investimento destrutivo e separação No artigo Metapsicologia da Neurose Ob sessiva de 1965 André Green diferencia investimento agressivo de investimento des trutivo O investimento agressivo muito estreitamente ligado ao investimento eró tico manifestase na descarga do gozo por Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsdo de Morte um contato estreito com o objeto GREEN necido por ele podemos montar o seguinte 1965 p222 No investimento destrutivo esquema interacao intimidade invasao também chamado pelo autor de investi agressao por parte do outro ansiedade mento pela pulsao de destruicao embora por medo dessa agressao medo do conta a agressividade se dirija para o objeto ima to principalmente da agressao que pode vir ginario como no investimento agressivo desse contato o sujeito evita a todo custo a producao de H afirma que para entrar em relacao tal circunstancia e o empenho de sua par com alguém é necessaria uma certa distan te de todas as possibilidades de luta Idem cia H tem amigos mas ninguém o conhece p222 Green afirma que esse investimento profundamente Gosta de ter amigos mas destrutivo é caracteristico tanto da neurose nao gosta que eles conhecam sua casa sua obsessiva como da melancolia Assim o ob vida particular Ele sente a necessidade de ter sessivo age segundo a funcao da pulsao de amigos mas a uma certa distancia Sua fala destruiao no sentido da separagao disso que entra em acordo com as idéias de Maurice se opde a uniao ao entrar em contato com Bouvet sobre a relacao a distancia na qual o objeto fantasmatico ou com suas represen o individuo tem a necessidade de estabele tacdes a orientacao dos contrainvestimen cer relag6es e ao mesmo tempo sente temor tos teria por objetivo evitar o encontro nos pela intimidade A agressividade demons pensamentos de representacées de palavras trada por H ao se relacionar com os outros de coisas e de afetos relativos ao desejoe ao dificulta que ele estabeleca uma relacao com seu objeto Idem p222 Segundo 0 autor o objeto Bouvet afirma que essa agressivida esse um trabalho permanente de controle de na verdade a agressividade do préprio supervisao e filtragem de tudo aquilo que é sujeito que é projetada no objeto de sua re percebido e pensado pelo sujeito lacao H nao consegue gritar fala bem baixo Caso clinico aceita tudo sem reclamar de nada coloca H de 28 anos morava com seu paisua mae se nas relagdes de forma passiva e por isso e seus dois irmaos mais velhos Seu pai era nao consegue mudar algumas situacdes que agressivo com sua mae e gostava muito de o incomodam passando a se sentir inferior beber Quando ele chegava em casa a noi Sua agressividade nao aparece diretamente te bébado H ficava sempre atento ansioso em suas conversas no curso da analise sur por temer que seu pai agredisse sua mae Por giu apenas quando afirmou que gostaria que temer essa agressao H acabou se fechando sua mae morresse e 0 seu irmao sumisse para para o contato com o mundo externo Ele é assim poder melhorar sua vida Nesse mo hoje uma pessoa muito reservada que gosta mento pela primeira vez expressou 0 desejo de estar so e teme a intimidade pois paraele da morte de sua mae foi sua primeira ex na intimidade pode acontecer uma invasao pressao da pulsao de morte H afirma que tem medo de contato devido H afirma que todas as pessoas que ele co a agressao relacionada a esse contato eletem nhece avancam na vida sé ele que nao avan medo da agressao Nao gosta de multidao a por isso julgase inferior Todo mundo é Sentese triste por estar sd mas gosta de ser sociavel s6 ele nao é Segundo Melanie Klein assim os impulsos destrutivos como o desejo de Esse paciente ilustra bem a questao do morte da mae sentido por H provocam no tabu do contato como uma forma de evitar sujeito o surgimento do sentimento de culpa a pulsao de morte evitar o contatoé uma Nocaso de H essa culpa o faz sentirse infe forma de evitar a angustia que é gerada por rior aos outros Os impulsos destrutivos nao esse contato A partir do material que foifor sao colocados para fora nos objetos e en 128 Estudos de Psicanalise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 129 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte tão o sujeito não agride aos outros agride a si mesmo desvalorizandose através de auto acusações através do sentimento de menos valia H quer mostrar aos outros que é feliz sorrindo enquanto tenta esconder sua triste za sua raiva Entrando em contato com os outros vai acabar mostrando tanto sua tris teza como sua raiva e isso ele não quer Observações fi nais Este artigo buscou fazer uma conexão entre o tabu de contato e a pulsão de morte Des crevemos o percurso das idéias de Sigmund Freud sobre a neurose obsessiva desde o artigo de 1894 o primeiro em que trata do tema até o livro publicado em 1926 Podemos traçar uma divisão das fases de Freud 18941905 experiência sexual prazero sa ativa e retorno do recalcado 19051913 erotismo e sadismo anal 1913 em diante enfatiza o superego tornado mais cruel e severo pelo sadismo e pelo erotismo anal A grande questão do neurótico obses sivo é a de como lidar com a agressão sua difi culdade é de vivenciar uma relação onde ele mesmo é o agressor Podemos nesse momento falar de pulsão de morte a qual por ter se desfusionado difi culta o contato e o interagir com o outro O tabu de contato do obsessivo é na verdade o tabu de entrar em contato com os seus próprios impulsos agressivos Esses impulsos surgem na forma de autodestruição ou na forma de destrui ção do outro O obsessivo evita ao mesmo tempo o contato com impulsos amorosos pulsão de vida e com impulsos agressivos pulsão de morte pois através do contato com os investimentos amorosos podem sur gir os investimentos agressivos Criase um sistema de proibições no qual aparece o tabu de contato O neurótico obsessivo usa o mecanismo de defesa do isolamento onde há uma sepa ração entre a representação ideativa e a re presentação afetiva da pulsão produzindo uma dissociação entre o discurso e o afeto As conexões associativas entre idéia e afeto são suprimidas ou interrompidas de modo que idéia e afeto permanecem isolados um do outro sua ligação se mantendo incons ciente Isolar é uma forma de evitar o conta to O ego do obsessivo tenta manter afasta das as fantasias inconscientes e as tendências ambivalentes Se o obsessivo tentasse refazer as conexões associativas entre idéia e afeto entraria em contato com o que não quer ver seus impulsos agressivos sua pulsão de morte Então ele suprime essas conexões e através da formação reativa tornase o mais limpo ou o mais ordeiro buscando o dese jo impossível de perfeição Para Freud o obsessivo apresenta três características parcimônia ordem e obsti nação Quando a pessoa declara eu sou o mais limpo está buscando uma satisfação narcísica uma forma de evitar o contato com o pensamento de ser uma pessoa suja e bagunceira evitar o contato com sua pulsão de morte pois a agressividade que sente gera uma angústia que pode tirálo da realidade Esse discurso é marcado pela ambivalência eu sou o mais limpo quer dizer na verdade eu sou o mais sujo ou então eu o amo signifi ca eu o odeio O neurótico obsessivo sente amor e ódio é por isso que a dúvida é um traço do obses sivo é a dúvida do seu próprio amor O amor fi ca inibido pelo ódio fazendoo duvidar do seu amor Existem concomitantemente um amor intenso e um ódio também intenso este último fi ca reprimido no inconsciente desenvolvendo também de modo intenso componentes sádicos que persistem no in consciente sob a forma de ódio Esse amor e esse ódio intenso inconsciente e reprimido provocam uma paralisia parcial da vontade e uma falta de capacidade de se tomar uma decisão sobre quaisquer ações seja das ações relacionadas ao amor seja das relacionadas ao ódio Devido a essa dúvida sobre o amor o obsessivo tem difi culdade em relação ao Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 130 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte toque vivenciando uma relação à distância Ao travar contato com o objeto acredita re almente que através da onipotência do seu pensamento pode destruílo Inconsciente mente cria uma fantasia de ser capaz de ma tar com o poder do pensamento O pensa mento para o obsessivo substitui o agir Ele pensa em se relacionar mas não o faz não age porque qualquer ação pode provocar o que ele mais teme e mais deseja o contato No caso clínico descrito anteriormente H gosta de estar só mas gostaria de ser lem brado pelos amigos ou seja quer a compa nhia de seus amigos Quer contato mas teme esse contato estabelecendo uma relação à distância O que o faz temer esse contato é a agressão que está relacionada ao contato Tem medo da agressão que ele julga que vi ria do outro mas o que realmente teme é sua própria agressividade Outro aspecto do contato que H teme é a intimidade e a inva são que provém dessa intimidade De novo surge a questão da agressividade essa inva são é um receio de que ele seja tomado pelo que é do outro receio de que o outro ao en trar em contato com ele o agrida Podemos dizer que H apresenta o tabu de contato tal como descrito neste artigo como uma forma de evitar a pulsão de morte que para ele está presente em qualquer forma de relação H comenta que pensa em se matar sente se deprimido por vezes de forma cíclica e por períodos Quando está deprimido quer fi car só sem ver ninguém Não procura os amigos e quando é procurado por eles não aceita o convite por diversas vezes até chegar o pon to em que os amigos desistem de chamálo Tudo para ele dá trabalho está cansado O comportamento de H pode exemplifi car a afi rmação de Karl Abraham de que os melan cólicos apresentam sintomas obsessivos e os obsessivos apresentam depressão Abraham também afi rma que a ambivalência é perti nente tanto à neurose obsessiva quanto à me lancolia H gosta e cuida da mãe mas por vezes pensa que sua mãe podia morrer para ele poder cuidar de sua própria vida Outra característica do obsessivo é o sadismo que pode aparecer através do pensamento de ma tar alguém H pensa em matar a mãe mas não age para fazêlo Abraham afi rma que os obsessivos regri dem para o nível posterior da fase anal de tendências conservadoras onde buscam possuir e controlar o objeto H sabe que sua mãe poderia viver sem ele mas viveria mal porque ele se colocou no lugar da pessoa que toma conta do dinheiro dela da sua casa no lugar da pessoa responsável por ela Ela de certa forma precisa dele isso lhe permi te controlar a vida de sua mãe Abraham declara que os obsessivos conseguem esta belecer uma forma de contato com o objeto H por vezes consegue estabelecer esse contato Melanie Klein situa entre os dois períodos do estádio anal a linha de demarcação entre a psicose e a neurose Isso também já fora dito por Abraham quando afi rmou que no período mais antigo da fase anal fazse um rompimento no estabelecimento da relação de objeto e no período posterior é possível estabelecer um contato com o objeto Klein declara que durante a fase máxima do sa dismo a criança imagina ter feito ataques ao corpo da mãe o que lhe causa medo de ser atacada e destruída por objetos internos e externos como se estes estivessem retalian do os ataques que sofreram Isso provoca na criança uma vivência de situação de perigo e uma angústia que a autora chamou de psi cótica Klein afi rma categoricamente que o obsessivo tem medo de ser destruído ou ata cado por seus objetos introjetados É o que acontece com H que tem medo de ser ata cado ou destruído quando entra em relação com o outro Ainda segundo Klein o obses sivo sente uma necessidade de controlar suas imagos não conseguindo resolve dominar os objetos externos H tem difi culdade em se controlar e passa a exercer o controle sobre a família que depende de H para tudo Ele está cansado por causa disso mas no fundo gosta muito de estar no controle Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 131 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte Maurice Bouvet destaca o papel da agres sividade na neurose obsessiva e confi rma o que já fora dito por Melanie Klein que o obsessivo vive uma angústia relacionada a um medo de destruição retaliativa dos de sejos de aproximação vividos como agressi vos Segundo esse autor o obsessivo sente o perigo da agressividade ligada ao desejo de aproximação O obsessivo teme o contato porque quando tenta a aproximação pode demonstrar agressividade ao sentir nessa re lação um estado de frustração permanente O que era componente erótico tornase pulsão agressiva Ao entrar em relação em contato com o outro e se sentir frustrado portanto agressivo teme que o outro resolva retaliar o suposto ataque sofrido Por isso não tenta mais entrar em contato criando um tabu de contato para não mais sentir a agressividade que é parte inerente de qualquer relação O obsessivo ao temer a agressividade do outro está temendo a própria agressividade Para André Green a pulsão de destruição quer evitar que o sujeito encontre o objeto enquanto o investimento agressivo vincula do ao investimento erótico quer encontrar o objeto Para conseguir fazer a separação en tre o sujeito e seu objeto de desejo exigese um controle do que é percebido e pensado pelo sujeito Qualquer forma de contato do mais superfi cial ao mais profundo passa pelo crivo do controle Isso é exatamente o que faz o obsessivo procura ter controle sobre o que pensa fala e principalmente sente não per mite espaço para o imprevisto o inesperado Se o obsessivo usa o controle como uma for ma de fi ltrar é para evitar que no aconteci mento de uma situação inesperada surja um afeto seja de amor seja de ódio com o qual ele tenha que lidar não estando prepa rado para isso O neurótico obsessivo tenta controlar as situações na busca de evitar o contato com o amor ou com o ódio Conclusão Verifi camos portanto que os diversos auto res citados fazem uma conexão entre o tabu de contato e a pulsão de morte Green afi r ma que tanto na neurose obsessiva como na melancolia aparece um investimento pela pulsão de destruição Bouvet defi ne a relação de objeto obsessiva como composta por rela ções de destruição e relações libidinais que se estabelecem através de condutas agressi vas Klein afi rma que o obsessivo tem dese jos maus desejos de morte que provocam sentimento de culpa Abraham fala de uma atitude hostil que enfraquece a capacidade de amar Freud em 1913 já falava de uma am bivalência de um amor intenso de um ódio intenso inconsciente e reprimido e de uma hostilidade inconsciente em 1926 quando já tinha escrito sobre a pulsão de vida e a pulsão de morte afi rma que no obsessivo o impul so agressivo está inconsciente para o ego que só o percebe como pensamento não desper tando qualquer sentimento porque devido ao isolamento a idéia se separou do afeto A fi m de evitar que essa conexão associati va fosse refeita surge o tabu de contato que evita o contato do objeto com os investimen tos amorosos pulsão de vida e os agressivos pulsão de morte Abstract Th is article based on Sigmund Freuds Karl Abrahams Melanie Kleins Maurice Bouvets and André Greens ideas about obsessive neu rosis seek to understand the conection betwe en death instinct and the contact taboo cha racteristic of this pathology It is also presented a clinic case that ilustrates several aspects rela ted to the subject Keywords Obsessive neurosis Contact taboo Death instinct Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 132 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte Referências ABRAHAM Karl Notas sobre a Investigação e o Tratamento Psicanalíticos da Psicose ManíacoDe pressiva e Estados Afi ns 1911 In ABRAHAM Karl Teoria Psicanalítica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p3250 ABRAHAM Karl O Primeiro Estágio PréGenital da Libido 1916 In ABRAHAM Karl Teoria Psicanalí tica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p5180 ABRAHAM Karl Contribuição à Teoria do Caráter Anal 1921 In ABRAHAM Karl Teoria Psicana lítica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p174 205 ABRAHAM Karl Breve Estudo do Desenvolvimen to da Libido Visto à Luz das Perturbações Mentais 1924 In ABRAHAM Karl Teoria Psicanalítica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p81160 ABRAHAM Karl A Infl uência do Erotismo Oral na Formação do Caráter 1924 In ABRAHAM Karl Teoria Psicanalítica da Libido Rio de Janeiro Imago 1970 p161173 BOUVET Maurice O Ego na Neurose Obsessiva Re lação de Objeto e Mecanismos de Defesa 1952 In BERLINCK Manoel T org Obsessiva Neurose São Paulo Escuta 2005 p51123 FREUD Sigmund As Neuropsicoses de Defesa 1894 In Edição Standard Brasileira das obras psi cológicas completas de Sigmund Freud 2 ed Rio de Janeiro Imago 1987 vIII p5365 FREUD Sigmund Sobre os Fundamentos para desta car da Neurastenia uma Síndrome Específi ca denomi nada Neurose de Angústia 1895 1894 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud 2 ed Rio de Janeiro Imago Editora 1987 vIII p91112 FREUD Sigmund Observações Adicionais sobre as Neuropsicoses de Defesa 1896 In Edição Stan dard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud 2 ed Rio de Janeiro Imago 1987 vIII p154173 FREUD Sigmund Atos Obsessivos e Práticas Religio sas 1907 In Edição Standard Brasileira das obras psi cológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1976 vIX p121131 FREUD Sigmund Caráter e Erotismo Anal 1908 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1976 vIX p175181 FREUD Sigmund Notas sobre um Caso de Neurose Obsessiva 1909 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago sd vX p159250 FREUD Sigmund A Disposição à Neurose Obses siva uma Contribuição ao Problema da Escolha da Neurose 1913 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1969 vXII p399409 FREUD Sigmund Totem e Tabu 1913b 191213 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1974 vXIII p17191 FREUD Sigmund Além do Princípio de Prazer 1920 In Edição Standard Brasileira das obras psi cológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1976 vXVIII p1785 FREUD Sigmund Inibições Sintomas e Ansiedade 1926 1925 In Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janei ro Imago 1976 vXX p107198 GREEN André Metapsicologia da Neurose Obsessi va 1965 In BERLINCK Manoel T org Obsessiva Neurose São Paulo Escuta 2005 p215236 KLEIN Melanie As Relações entre a Neurose Obses siva e os Primeiros Estádios do Superego 1932 In KLEIN Melanie Psicanálise da Criança São Paulo Mestre Jou 1969 p203235 RECEBIDO EM 01082011 APROVADO EM 12092011 Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 133 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte SOBRE A AUTORA Natalia Gonçalves Galucio Sedeu Psicóloga Psicanalista Especialista em Psicoterapia In fantoJuvenil pelo IFFFIOCRUZ Membro Efetivo do Círculo Brasileiro de Psicanálise Seção RJ CBPRJ Endereço para correspondência Praia do Flamengo 1941002 Flamengo 22210030 Rio de JaneiroRJ Tel 2122256701 Email sedeuyahoocom Estudos de Psicanálise Belo HorizonteMG n 36 p 121134 Dezembro2011 134 Neurose Obsessiva Tabu do Contato X Pulsão de Morte