·
Pedagogia ·
Português
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
13
Organização da Educação Escolar no Brasil e Gestão Democrática
Português
UEM
114
Formação de Professores EAD: Gestão Educacional
Português
UEM
13
O Livro Didático e as Concepções de Linguagem: Análise do Manual e das Atividades
Português
UEM
112
Formação de Professores EAD - Organizadores: Renilson José Menegassi, Annie Rose dos Santos, Lilian Cristina Buzato Ritter
Português
UEM
5
Concepções de Linguagem e Ensino de Português
Português
UEM
112
Gestão do Trabalho Pedagógico
Português
UEM
18
A Gestão do Trabalho Pedagógico em Espaços Escolares e Não Escolares: Um Debate sobre a Formação do Pedagogo no Brasil
Português
UEM
26
Noções de Gênero em Aulas de Língua Materna na Educação Básica
Português
UEM
Texto de pré-visualização
41 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA UM PERCUR SO1 Rosivaldo GOMES2 RESUMO neste artigo apresentamos algumas noções a respeito de três perspectivas te óricas sobre as concepções de linguagem que estiveram presentes e ainda estão no espaço escolar nas aulas de língua portuguesa Para isso inicialmente fazemos um per curso sucinto sobre a origem do conceito dessas concepções e suas consequências no ensino de língua portuguesa posteriormente mostramos a linguagem como expressão do pensamento e o ensino prescritivonormativo evidenciamos ainda o uso da lingua gem como instrumento ferramenta de comunicação e finalizamos o estudo apre sentado a concepção de línguagem como meio de interação e o ensino interacional que toma os gêneros textuais discursos e suas implicações no processo de transposição didática em sala de aula Palavraschave Linguagem Concepções Ensino de Língua Materna RÉSUMÉ cet article présente quelques discussions sur les perspectives théoriques sur les notions de la langue qui étaient présents et sont encore à lécole surtout dans les classes de langue portugaise Par conséquent tout dabord nous faire un petit cours sur lorigine de la notion et les conséquences de ces conceptions dans lenseignement de langlais plus tard a montré la langue comme expression de la pensée et de lenseignement normatif normative mais nous avons constaté lutilisation de la langue comme un outil outil la communication et de finaliser létude présentée la conception du langage comme moyen dinteraction et de lenseignement qui se genres interactionnelle des discours et de ses implications dans le processus de transposition didactique dans la classe Motsclés Langue Concepts Enseignement de la langue maternelle 1 INTRODUÇÃO nossas práticas de ensino são orientadas pelas concepções de língua e lin guagem que recebemos CUNHA 20093 A concepção de sujeito da linguagem varia de acordo com a concepção de língua que se adote KOCH 2005 Diversos autores já discutiram a relação existente entre as concepções de lin guagem e suas implicações para o ensino de língua materna e estrangeira Pelas epí 1 Este texto foi elaborado a partir do Trabalho de Conclusão de Curso TCC O livro didático de Língua Portuguesa um lugar de interação ou de disputa entre os gêneros orais e escritos apresentado na Universidade Federal do Amapá em 2010 2 Graduado em Letras pela Universidade Federal do Amapá mestre em Direito Ambiental e Políticas Públicas PPGDAPUNIFAP e doutorando em Linguística Aplicada na área de ensinoaprendizagem no programa de PósGraduação em Linguística Aplicada da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Instituto de Estudos da Linguagem 3 Fala coletada durante a palestra ministrada pelo professor Dr José Cunha da Universidade Federal do Pará na I Jornada Cientifico Cultural de Francês Língua Estrangeira Construindo caminhos entre teoria e prática realizada na Universidade Federal do Amapá UNIFAP em 2009 42 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 grafes apresentadas acima CUNHA 2009 e KOCH 2005 percebemos que a forma como vemos a linguagem define os caminhos de sermos alunos e professores de lín gua portuguesa Nessa mesma direção Travaglia 1998 nos esclarece que a concepção de lin guagem e de língua altera em muito o modo de estruturar o trabalho com a língua em termos de ensino O autor considera ainda que essa questão é tão importante quanto a postura que se tem em relação à educação Nesse sentido as concepções de linguagem existentes no curso da história dos estudos linguísticos demonstram três maneiras diferentes de compreendermos linguagem Essas concepções fornece ram e ainda fornecem suportes para o trabalho com a língua materna na escola Assim temos a linguagem a como representação espelho do mundo e do pensamento b como instrumento ferramenta de comunicação e c como forma ou seja lugar de ação ou construção de interação KOCH 2000 p09 Nos nas seções abaixo evidenciamos cada uma dessas concepções 2 A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO E O ENSINO PRESCRITI VONORMATIVO A primeira das concepções segundo Bagno 2002 está diretamente ligada ao conceito de língua literária que era usada pelos grandes filólogos gregos para escre ver regras que deveriam ser empregadas por aqueles que produziam obras clássicas De acordo com Mattos e Silva 1997 a origem do termo Gramática Tradicional está ligada diretamente a essa concepção que concebe a linguagem como mera expres são do pensamento Segundo essa visão o contexto de produção do ato comunicativo não exerce nenhum tipo de influência na linguagem pois não considera as circunstâncias que fazem parte da situação social na qual o ato comunicativo acontece Para Koch 2005 tal concepção de língua como representação apenas do pensamento corresponde à imagem de um sujeito psicológico individual ou seja dono de sua vontade e de suas ações Assim esse sujeito é visto como um ego que constrói uma representação mental e deseja que esta seja captada pelo interlocutor da maneira como foi men talizada KOCH 2005 p13 Para esta concepção a expressão pensamento seria criada apenas no interior da mente de cada sujeito e a exteriorização era uma tradução daquilo que se pensa va sem reflexão Nessa perspectiva a língua é compreendida como homogênea e es tática pois não considera que a produção de um enunciado que se materializam em um gênero textualdiscursivo possui uma finalidade e utilização social isto é para essa concepção o modo como o texto que se usa em cada situação de interação co municativa não depende em nada de quem se fala em que situação se fala como quando e para quem se fala TRAVAGLIA 1998 p 22 43 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 Esse tipo de visão da linguagem desencadeou um modo de ensino que privile giava apenas um único uso da língua Tal ideia condicionavase ao fato de que até o início da década de 1960 as escolas brasileiras se concentravam nas zonas urbanas e abrangiam prioritariamente a uma pequena camada privilegiada da sociedade brasi leira SOARES 1998 BAGNO 2007 ou seja os falantes das variedades linguísticas urbanas de prestígio De acordo com Bagno 2007 p 30 esses falantes se caracteri zavam como pessoas que eram muito influenciadas pela cultura da escrita e pelo po liciamento linguístico praticado pela escola e por outras instituições sociais Como consequência disso o aluno já chegava à escola tendo domínio do da variedade de prestígio Assim o ensino de língua nesse período centravase apenas no reconhecimento da língua escrita ou seja existia um tipo de ensino que era con siderado e ainda é como prescritivo pois impõe ao falante a substituição de seus próprios padrões de atividades linguísticas considerados por normas tradicionais como erradosinaceitáveis por outros usos sociais da língua considerados corre tosaceitáveis Ainda com relação a esse aspecto Travaglia esclarece que esse ensino é portanto um ensino que interfere com as habilidades linguísticas exis tentes É ao mesmo tempo prescritivo pois a cada faça isso corresponde a um não faça aquilo e só privilegia em sala de aula o trabalho com a variedade escrita culta da língua tendo como um de seus objetos básicos a correção formal da linguagem TRAVAGLIA 1998 p38 Com base no que propõe o autor acima percebemos que a linguagem escrita sempre esteve como majoritária dentro da sala de aula sendo usada como ferramen ta fundamental para o desenvolvimento do que é considerado como correto o que consequentemente levou o texto oral a não ter espaço para ser trabalhado como ob jeto de ensino ou então quando o ensino da linguagem oral é abordado considera se apenas o trabalho com a variação linguística tomando por base uma visão precon ceituosa ou então visualizandose a relação entre oralidadeescrita como sendo for mas dicotômicas ROJO 2003 Em linhas semelhantes à Travaglia Soares 1998 mostra que essa concepção caracterizou o ensino de língua em nossas escolas durante um longo período como um sistema fechado deixando transparecer que a linguagem escrita deveria ser encarada como algo intocável ou até mesmo imutável daí essa primeira concepção da linguagem ter tanta aceitabilidade em nas escolas durante um longo período 3 A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO E O ENSINO DESCRITIVO DA LÍNGUA A segunda concepção de acordo com Travaglia 1998 p22 vê a linguagem como instrumento de comunicação ou seja como um meio objetivo para a comuni 44 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 cação Por meio desta compressão de linguagem a língua é vista como um código isto é um conjunto de signos que se combinam segundo regras Desse modo nessa nova percepção já se percebe o ato de comunicação e se considerando o emissor e receptor sendo que ambos deveriam dominar o código para que a comunicação seja efetivase Koch 2000 nos esclarece que a linguagem vista enquanto um código objetiva apenas a transmissão de informações ou seja o código a língua era vista como algo objetivo e externo à consciência individual havendo assim uma limitação ao es tudo do funcionamento interno da língua e desconsiderandose o uso da língua em contextos sociais mais amplos Já para Marcuschi 2008 p 60 essa noção de linguagem desvincula a língua de suas características mais importantes de seu aspecto cognitivo e social ou seja para essa concepção o falante tem em sua mente uma mensagem a transmitir a um ouvinte isto é informações que quer repassar a outro Para isso ele transporta essa mensagem para um código codificação e a remete para o outro através de um ca nal Essa visão levou ao estudo da língua enquanto código virtual isolado de sua utili zação Segundo Soares 1998 é a partir da década de 70 que se passa a tratar no Brasil a língua nacional nas escolas como instrumento de comunicação Assim partindo dessa concepção que está ligada à teoria da comunicação o ensino de lín gua fundamentouse na apropriação do código e caberia ao professor garantir que o aluno conhecesse o sistema alfabético e a gramática para que este pudesse utilizar o código ora como emissor codificador ora como recebedor decodificador o que caracterizou o ensino de língua como sendo descritivo Com os estudos existentes a partir da linguística textual análise do discurso sociolinguística e principalmente da linguística aplicada é que se passa a considerar de fato que as manifestações de uma língua seja escrita ou oral estão inseridas em um processo de construção interativa Estes estudos estão no esteio da concepção que vê a linguagem como processo de interação 4 A LINGUAGEM COMO MEIO DE INTERAÇÃO E O ENSINO INTERACIONISTA Neste outro tipo de compreensão a linguagem é vista como atividade de inte ração humana e por intermédio dela os indivíduos praticam ações que envolvem tanto fala quanto escrita considerando o contexto sóciohistórico e ideológico que estão envolvidos no ato comunicativo ou seja para essa concepção a língua é enca rada como um conjunto de práticas sociais e de linguagem historicamente situadas em diversas esferas de comunicação da atividade humana como propõe Bakhtin todas as esferas da atividade humana por mais variadas que sejam estão sempre relacionadas com a utilização da língua Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias 45 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 esferas da atividade humana o que não contradiz a unidade nacional de uma língua BAKHTIN 19534 Para Travaglia 1998 nessa outra visão da linguagem o que o sujeito faz ao usar a língua não é tão somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informações a outrem mas sim realizar ações agir sobre o interlocutor ouvin teleitor Assim nessa concepção a linguagem seja ela escrita ou oral processase por meio de enunciados que se materializam em diversas interações como esclarece Bakhtin 192930 a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente or ganizados e mesmo que não haja um interlocutor real este pode ser subs tituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locu tor A palavra dirigese a um interlocutor ela é função da pessoa desse in terlocutor Não pode haver interlocutor abstrato não teríamos lingua gem comum com tal interlocutor nem no sentido próprio nem no figurado a enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social quer se trate de um ato de fala determinado pela situação imediata ou pelo con texto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade linguística A perspectiva apresentada por Bakhtin nos mostra que a linguagem é situada como o lugar de constituição das relações sociais ou seja é na interação que se esta belecemconcretizamse discursos e não apenas comunicações SOARES 1998 uma vez que as condições sociais e históricas em que o ato comunicativo ocorre são con sideradas como partes integrantes da interação Para Koch 2010 diferentemente das outras concepções de linguagem na perspectiva interacionaldialógica da língua os sujeitos são vistos não mais como prédeterminados pelos sistema lingüístico mas sim como atoresconstrutores soci ais sujeitos ativos que dialogicamente se constroem e são construídos no texto considerado o próprio lugar da interação ou seja da constituição dos interlocuto resEsta nova perspectiva de linguagem trouxe contribuições significativas para o ensino de língua portuguesa uma vez que alterou o modo como o texto era traba lhado em sala de aula Esta concepção juntamente com diversos trabalhos que foram e que estão sendo produzidos a partir de diversas releituras da teoria dos gêneros discursivos de Bakhtin 1953 e de pesquisas elaboradas dentro do campo da lingüística aplicada no Brasil mostram que na interpretaçãocompreensão e produção de qualquer texto o aluno precisará acionar conhecimentos prévios leituras de mundo considerar o con texto de produção e outros elementos que estão envolvidos na constituição do fe nômeno textual Desse modo esta última concepção de linguagem vem alterar a essência do ensino de língua pois é a partir daí que a linguagem é vista como processo de intera 46 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 ção considerandose os diferentes sentidos que esta assume em diferentes situações sociocomunicativas 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS As mudanças de paradigmas sobre a compreensão da linguagem provocaram mudanças também no que concerne aos objetivos do ensino de língua materna na escola Situando as discussões em torno da terceira concepção de linguagem hoje hegemônica entre os estudiosos da área percebemos que o ensino de língua como nos apresenta Travaglia 1998 deve prioritariamente ter como objetivo central o de senvolvimento da competência comunicativa do aluno Entretanto mesmo que as discussões sobre linguagem e ensino de língua este jam pautadas atualmente no viés da linguagem como forma de interação ainda é percebida a presença das outras perspectivas de linguagem como mera expressão do pensamento e como meio para comunicação convivendo no espaço escolar ora na prática do professor ora nos livros didático de língua portuguesa Assim em sentido mais amplo ensinar língua e avaliar o ensino de língua são atividades que refletem as noçõesrepresentações que temos acerca do que é uma língua do que são seus diferentes componentes e de como esses componentes in tervêm na sua utilização Desse modo dessas concepções de linguagem vai variar naturalmente o próprio objeto do ensino e em desdobramento todos os paradigmas de tratamento das questões linguísticas que devem nortear o ensino de língua materna na escola ANTUNES 2009 p218 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES Irandé Língua texto e ensino outra escola possível São Paulo Parábola 2009 BAKHTIN Mikhail Os gêneros do discurso In Estética da criação verbal 4 Ed São Paulo Martins Fontes 2003 BAKHTIN Mikhail Marxismo e filosofia da linguagem São Paulo Hucitec1929 BAGNO M STUBBS M GAGNÉ G Língua materna letramento variação e ensino São Paulo Contexto 2002 KOCH Ingedore Villaça Desvendando os segredos do texto São Paulo Cortez 2005 A interação pela linguagem São Paulo Contexto 5 Ed 2000 MARCUSCHI Luiz Antônio Gêneros textuais no ensino de Língua In Produção textu al análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola Editorial 2008 SILVA Rosa Virgínia Mattos Tradição gramatical e gramática tradicional fundamen tos da gramática tradicional leitura crítica das gramáticas escolares análise da sin taxe do português São Paulo Contexto 1997 47 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 SOARES Magda Becker Linguagem e escola uma perspectiva social São Paulo Áti ca 1998 ROJO R H R A A G BATISTA O livro didático de língua portuguesa no ensino fundamental Letramento escolar e cultura da escrita Campinas Mercado de Letras 2003 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramática e interação uma proposta para o ensino de gra mática no 1º e 2º graus São Paulo Cortez1998
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
13
Organização da Educação Escolar no Brasil e Gestão Democrática
Português
UEM
114
Formação de Professores EAD: Gestão Educacional
Português
UEM
13
O Livro Didático e as Concepções de Linguagem: Análise do Manual e das Atividades
Português
UEM
112
Formação de Professores EAD - Organizadores: Renilson José Menegassi, Annie Rose dos Santos, Lilian Cristina Buzato Ritter
Português
UEM
5
Concepções de Linguagem e Ensino de Português
Português
UEM
112
Gestão do Trabalho Pedagógico
Português
UEM
18
A Gestão do Trabalho Pedagógico em Espaços Escolares e Não Escolares: Um Debate sobre a Formação do Pedagogo no Brasil
Português
UEM
26
Noções de Gênero em Aulas de Língua Materna na Educação Básica
Português
UEM
Texto de pré-visualização
41 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA UM PERCUR SO1 Rosivaldo GOMES2 RESUMO neste artigo apresentamos algumas noções a respeito de três perspectivas te óricas sobre as concepções de linguagem que estiveram presentes e ainda estão no espaço escolar nas aulas de língua portuguesa Para isso inicialmente fazemos um per curso sucinto sobre a origem do conceito dessas concepções e suas consequências no ensino de língua portuguesa posteriormente mostramos a linguagem como expressão do pensamento e o ensino prescritivonormativo evidenciamos ainda o uso da lingua gem como instrumento ferramenta de comunicação e finalizamos o estudo apre sentado a concepção de línguagem como meio de interação e o ensino interacional que toma os gêneros textuais discursos e suas implicações no processo de transposição didática em sala de aula Palavraschave Linguagem Concepções Ensino de Língua Materna RÉSUMÉ cet article présente quelques discussions sur les perspectives théoriques sur les notions de la langue qui étaient présents et sont encore à lécole surtout dans les classes de langue portugaise Par conséquent tout dabord nous faire un petit cours sur lorigine de la notion et les conséquences de ces conceptions dans lenseignement de langlais plus tard a montré la langue comme expression de la pensée et de lenseignement normatif normative mais nous avons constaté lutilisation de la langue comme un outil outil la communication et de finaliser létude présentée la conception du langage comme moyen dinteraction et de lenseignement qui se genres interactionnelle des discours et de ses implications dans le processus de transposition didactique dans la classe Motsclés Langue Concepts Enseignement de la langue maternelle 1 INTRODUÇÃO nossas práticas de ensino são orientadas pelas concepções de língua e lin guagem que recebemos CUNHA 20093 A concepção de sujeito da linguagem varia de acordo com a concepção de língua que se adote KOCH 2005 Diversos autores já discutiram a relação existente entre as concepções de lin guagem e suas implicações para o ensino de língua materna e estrangeira Pelas epí 1 Este texto foi elaborado a partir do Trabalho de Conclusão de Curso TCC O livro didático de Língua Portuguesa um lugar de interação ou de disputa entre os gêneros orais e escritos apresentado na Universidade Federal do Amapá em 2010 2 Graduado em Letras pela Universidade Federal do Amapá mestre em Direito Ambiental e Políticas Públicas PPGDAPUNIFAP e doutorando em Linguística Aplicada na área de ensinoaprendizagem no programa de PósGraduação em Linguística Aplicada da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Instituto de Estudos da Linguagem 3 Fala coletada durante a palestra ministrada pelo professor Dr José Cunha da Universidade Federal do Pará na I Jornada Cientifico Cultural de Francês Língua Estrangeira Construindo caminhos entre teoria e prática realizada na Universidade Federal do Amapá UNIFAP em 2009 42 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 grafes apresentadas acima CUNHA 2009 e KOCH 2005 percebemos que a forma como vemos a linguagem define os caminhos de sermos alunos e professores de lín gua portuguesa Nessa mesma direção Travaglia 1998 nos esclarece que a concepção de lin guagem e de língua altera em muito o modo de estruturar o trabalho com a língua em termos de ensino O autor considera ainda que essa questão é tão importante quanto a postura que se tem em relação à educação Nesse sentido as concepções de linguagem existentes no curso da história dos estudos linguísticos demonstram três maneiras diferentes de compreendermos linguagem Essas concepções fornece ram e ainda fornecem suportes para o trabalho com a língua materna na escola Assim temos a linguagem a como representação espelho do mundo e do pensamento b como instrumento ferramenta de comunicação e c como forma ou seja lugar de ação ou construção de interação KOCH 2000 p09 Nos nas seções abaixo evidenciamos cada uma dessas concepções 2 A LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO E O ENSINO PRESCRITI VONORMATIVO A primeira das concepções segundo Bagno 2002 está diretamente ligada ao conceito de língua literária que era usada pelos grandes filólogos gregos para escre ver regras que deveriam ser empregadas por aqueles que produziam obras clássicas De acordo com Mattos e Silva 1997 a origem do termo Gramática Tradicional está ligada diretamente a essa concepção que concebe a linguagem como mera expres são do pensamento Segundo essa visão o contexto de produção do ato comunicativo não exerce nenhum tipo de influência na linguagem pois não considera as circunstâncias que fazem parte da situação social na qual o ato comunicativo acontece Para Koch 2005 tal concepção de língua como representação apenas do pensamento corresponde à imagem de um sujeito psicológico individual ou seja dono de sua vontade e de suas ações Assim esse sujeito é visto como um ego que constrói uma representação mental e deseja que esta seja captada pelo interlocutor da maneira como foi men talizada KOCH 2005 p13 Para esta concepção a expressão pensamento seria criada apenas no interior da mente de cada sujeito e a exteriorização era uma tradução daquilo que se pensa va sem reflexão Nessa perspectiva a língua é compreendida como homogênea e es tática pois não considera que a produção de um enunciado que se materializam em um gênero textualdiscursivo possui uma finalidade e utilização social isto é para essa concepção o modo como o texto que se usa em cada situação de interação co municativa não depende em nada de quem se fala em que situação se fala como quando e para quem se fala TRAVAGLIA 1998 p 22 43 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 Esse tipo de visão da linguagem desencadeou um modo de ensino que privile giava apenas um único uso da língua Tal ideia condicionavase ao fato de que até o início da década de 1960 as escolas brasileiras se concentravam nas zonas urbanas e abrangiam prioritariamente a uma pequena camada privilegiada da sociedade brasi leira SOARES 1998 BAGNO 2007 ou seja os falantes das variedades linguísticas urbanas de prestígio De acordo com Bagno 2007 p 30 esses falantes se caracteri zavam como pessoas que eram muito influenciadas pela cultura da escrita e pelo po liciamento linguístico praticado pela escola e por outras instituições sociais Como consequência disso o aluno já chegava à escola tendo domínio do da variedade de prestígio Assim o ensino de língua nesse período centravase apenas no reconhecimento da língua escrita ou seja existia um tipo de ensino que era con siderado e ainda é como prescritivo pois impõe ao falante a substituição de seus próprios padrões de atividades linguísticas considerados por normas tradicionais como erradosinaceitáveis por outros usos sociais da língua considerados corre tosaceitáveis Ainda com relação a esse aspecto Travaglia esclarece que esse ensino é portanto um ensino que interfere com as habilidades linguísticas exis tentes É ao mesmo tempo prescritivo pois a cada faça isso corresponde a um não faça aquilo e só privilegia em sala de aula o trabalho com a variedade escrita culta da língua tendo como um de seus objetos básicos a correção formal da linguagem TRAVAGLIA 1998 p38 Com base no que propõe o autor acima percebemos que a linguagem escrita sempre esteve como majoritária dentro da sala de aula sendo usada como ferramen ta fundamental para o desenvolvimento do que é considerado como correto o que consequentemente levou o texto oral a não ter espaço para ser trabalhado como ob jeto de ensino ou então quando o ensino da linguagem oral é abordado considera se apenas o trabalho com a variação linguística tomando por base uma visão precon ceituosa ou então visualizandose a relação entre oralidadeescrita como sendo for mas dicotômicas ROJO 2003 Em linhas semelhantes à Travaglia Soares 1998 mostra que essa concepção caracterizou o ensino de língua em nossas escolas durante um longo período como um sistema fechado deixando transparecer que a linguagem escrita deveria ser encarada como algo intocável ou até mesmo imutável daí essa primeira concepção da linguagem ter tanta aceitabilidade em nas escolas durante um longo período 3 A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO E O ENSINO DESCRITIVO DA LÍNGUA A segunda concepção de acordo com Travaglia 1998 p22 vê a linguagem como instrumento de comunicação ou seja como um meio objetivo para a comuni 44 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 cação Por meio desta compressão de linguagem a língua é vista como um código isto é um conjunto de signos que se combinam segundo regras Desse modo nessa nova percepção já se percebe o ato de comunicação e se considerando o emissor e receptor sendo que ambos deveriam dominar o código para que a comunicação seja efetivase Koch 2000 nos esclarece que a linguagem vista enquanto um código objetiva apenas a transmissão de informações ou seja o código a língua era vista como algo objetivo e externo à consciência individual havendo assim uma limitação ao es tudo do funcionamento interno da língua e desconsiderandose o uso da língua em contextos sociais mais amplos Já para Marcuschi 2008 p 60 essa noção de linguagem desvincula a língua de suas características mais importantes de seu aspecto cognitivo e social ou seja para essa concepção o falante tem em sua mente uma mensagem a transmitir a um ouvinte isto é informações que quer repassar a outro Para isso ele transporta essa mensagem para um código codificação e a remete para o outro através de um ca nal Essa visão levou ao estudo da língua enquanto código virtual isolado de sua utili zação Segundo Soares 1998 é a partir da década de 70 que se passa a tratar no Brasil a língua nacional nas escolas como instrumento de comunicação Assim partindo dessa concepção que está ligada à teoria da comunicação o ensino de lín gua fundamentouse na apropriação do código e caberia ao professor garantir que o aluno conhecesse o sistema alfabético e a gramática para que este pudesse utilizar o código ora como emissor codificador ora como recebedor decodificador o que caracterizou o ensino de língua como sendo descritivo Com os estudos existentes a partir da linguística textual análise do discurso sociolinguística e principalmente da linguística aplicada é que se passa a considerar de fato que as manifestações de uma língua seja escrita ou oral estão inseridas em um processo de construção interativa Estes estudos estão no esteio da concepção que vê a linguagem como processo de interação 4 A LINGUAGEM COMO MEIO DE INTERAÇÃO E O ENSINO INTERACIONISTA Neste outro tipo de compreensão a linguagem é vista como atividade de inte ração humana e por intermédio dela os indivíduos praticam ações que envolvem tanto fala quanto escrita considerando o contexto sóciohistórico e ideológico que estão envolvidos no ato comunicativo ou seja para essa concepção a língua é enca rada como um conjunto de práticas sociais e de linguagem historicamente situadas em diversas esferas de comunicação da atividade humana como propõe Bakhtin todas as esferas da atividade humana por mais variadas que sejam estão sempre relacionadas com a utilização da língua Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias 45 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 esferas da atividade humana o que não contradiz a unidade nacional de uma língua BAKHTIN 19534 Para Travaglia 1998 nessa outra visão da linguagem o que o sujeito faz ao usar a língua não é tão somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informações a outrem mas sim realizar ações agir sobre o interlocutor ouvin teleitor Assim nessa concepção a linguagem seja ela escrita ou oral processase por meio de enunciados que se materializam em diversas interações como esclarece Bakhtin 192930 a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente or ganizados e mesmo que não haja um interlocutor real este pode ser subs tituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locu tor A palavra dirigese a um interlocutor ela é função da pessoa desse in terlocutor Não pode haver interlocutor abstrato não teríamos lingua gem comum com tal interlocutor nem no sentido próprio nem no figurado a enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social quer se trate de um ato de fala determinado pela situação imediata ou pelo con texto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade linguística A perspectiva apresentada por Bakhtin nos mostra que a linguagem é situada como o lugar de constituição das relações sociais ou seja é na interação que se esta belecemconcretizamse discursos e não apenas comunicações SOARES 1998 uma vez que as condições sociais e históricas em que o ato comunicativo ocorre são con sideradas como partes integrantes da interação Para Koch 2010 diferentemente das outras concepções de linguagem na perspectiva interacionaldialógica da língua os sujeitos são vistos não mais como prédeterminados pelos sistema lingüístico mas sim como atoresconstrutores soci ais sujeitos ativos que dialogicamente se constroem e são construídos no texto considerado o próprio lugar da interação ou seja da constituição dos interlocuto resEsta nova perspectiva de linguagem trouxe contribuições significativas para o ensino de língua portuguesa uma vez que alterou o modo como o texto era traba lhado em sala de aula Esta concepção juntamente com diversos trabalhos que foram e que estão sendo produzidos a partir de diversas releituras da teoria dos gêneros discursivos de Bakhtin 1953 e de pesquisas elaboradas dentro do campo da lingüística aplicada no Brasil mostram que na interpretaçãocompreensão e produção de qualquer texto o aluno precisará acionar conhecimentos prévios leituras de mundo considerar o con texto de produção e outros elementos que estão envolvidos na constituição do fe nômeno textual Desse modo esta última concepção de linguagem vem alterar a essência do ensino de língua pois é a partir daí que a linguagem é vista como processo de intera 46 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 ção considerandose os diferentes sentidos que esta assume em diferentes situações sociocomunicativas 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS As mudanças de paradigmas sobre a compreensão da linguagem provocaram mudanças também no que concerne aos objetivos do ensino de língua materna na escola Situando as discussões em torno da terceira concepção de linguagem hoje hegemônica entre os estudiosos da área percebemos que o ensino de língua como nos apresenta Travaglia 1998 deve prioritariamente ter como objetivo central o de senvolvimento da competência comunicativa do aluno Entretanto mesmo que as discussões sobre linguagem e ensino de língua este jam pautadas atualmente no viés da linguagem como forma de interação ainda é percebida a presença das outras perspectivas de linguagem como mera expressão do pensamento e como meio para comunicação convivendo no espaço escolar ora na prática do professor ora nos livros didático de língua portuguesa Assim em sentido mais amplo ensinar língua e avaliar o ensino de língua são atividades que refletem as noçõesrepresentações que temos acerca do que é uma língua do que são seus diferentes componentes e de como esses componentes in tervêm na sua utilização Desse modo dessas concepções de linguagem vai variar naturalmente o próprio objeto do ensino e em desdobramento todos os paradigmas de tratamento das questões linguísticas que devem nortear o ensino de língua materna na escola ANTUNES 2009 p218 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES Irandé Língua texto e ensino outra escola possível São Paulo Parábola 2009 BAKHTIN Mikhail Os gêneros do discurso In Estética da criação verbal 4 Ed São Paulo Martins Fontes 2003 BAKHTIN Mikhail Marxismo e filosofia da linguagem São Paulo Hucitec1929 BAGNO M STUBBS M GAGNÉ G Língua materna letramento variação e ensino São Paulo Contexto 2002 KOCH Ingedore Villaça Desvendando os segredos do texto São Paulo Cortez 2005 A interação pela linguagem São Paulo Contexto 5 Ed 2000 MARCUSCHI Luiz Antônio Gêneros textuais no ensino de Língua In Produção textu al análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola Editorial 2008 SILVA Rosa Virgínia Mattos Tradição gramatical e gramática tradicional fundamen tos da gramática tradicional leitura crítica das gramáticas escolares análise da sin taxe do português São Paulo Contexto 1997 47 Letras Escreve httpperiodicosunifapbrindexphpletras ISSN 22388060 Macapá v 3 n 1 1º semestre 2013 SOARES Magda Becker Linguagem e escola uma perspectiva social São Paulo Áti ca 1998 ROJO R H R A A G BATISTA O livro didático de língua portuguesa no ensino fundamental Letramento escolar e cultura da escrita Campinas Mercado de Letras 2003 TRAVAGLIA Luiz Carlos Gramática e interação uma proposta para o ensino de gra mática no 1º e 2º graus São Paulo Cortez1998