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Pedagogia ·

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Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 O LIVRO DIDÁTICO E AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM ANÁLISE DO MANUAL E DAS ATIVIDADES Érika Polessi PG UEM Introdução A escola deve proporcionar um ensino que acrescente de forma satisfatória ao aluno novos valores e capacidades de interação na sociedade tornandoo competente discursivamente O ensino de língua materna está diretamente ligado às concepções de linguagem que subsidiam este ensino tais concepções foram apontadas por Geraldi 1984 e posteriormente por outros linguístas como Travaglia 1997 e Koch 2003 Uma reflexão acerca destas concepções possibilita a percepção na diferença de objetivos metodologias e resultados no ensino 1 Concepções de Linguagem A forma como a escola ou melhor o orientador do trabalho didáticopedagógico concebe a linguagem influencia diretamente nos procedimentos realizados em sala de aula Geraldi 1984 cita três concepções que orientam o processo de ensino aprendizagem de língua materna A primeira concepção vê a linguagem como expressão do pensamento esta concepção ilumina os estudos tradicionais que se caracterizam pela ênfase à gramática normativa como núcleo do ensino isto é um conjunto de regras que devem ser seguidas por aqueles que querem falar e escrever corretamente Essas regras são baseadas na forma como os escritores mais prestigiados fazem uso da língua privilegiando a norma culta em detrimento das demais variedades Assim tudo o que foge desta norma é considerado errado e deve ser corrigido por não pertencer à língua Os professores seguidores desta concepção preocupamse excessivamente com conceitos e normas gramaticais e orientam o trabalho da escrita voltado apenas para a concretização ou seja a codificação do pensamento buscando que o leitor internalize totalmente o que Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 este escreveu sem levar em consideração as experiências e os conhecimentos deste Para os adeptos desta concepção saber a língua é saber teoria gramatical Esta gramática dita as normas do bem falar e do bem escrever para eles a fala é uma cópia da escrita O texto é visto apenas como modelo para a leitura e para a produção A avaliação nesta concepção de escrita servia apenas para rever o conteúdo ensinado pelo professor que era visto como o detentor do saber e o aluno como um simples depósito de conhecimentos que tudo desconhece e necessita receber os conhecimentos acumulados pela sociedade Aqueles que dominavam as normas gramaticais eram os valorizados já que este era o conteúdo priorizado na sala de aula A produção textual que ainda era uma redação era o momento em que os alunos deveriam preocuparse exclusivamente com a forma demonstrando seu domínio formal Com isso notamos a valorização da forma no lugar do conteúdo Em suas redações os alunos empregavam palavras deslocadas de sua realidade pois acreditavam que já que o professor usava estas palavras quando usassem estariam agradandoos e portanto conseguiriam atingir uma boa nota Eram textos construídos com frases soltas fragmentadas sem estabelecer sentido algum usadas apenas para preencher o espaço proposto A segunda concepção concebe a linguagem como instrumento de comunicação esta concepção está ligada à teoria da comunicação e vê a língua como um código conjunto de signos que se combinam segundo regras GERALDI 1984 p43 capaz de transmitir através de um canal uma mensagem de um emissor a um receptor O processo de comunicação se realiza a partir da codificação e decodificação de sinais O falante coloca a informação que deseja enviar ao ouvinte em um código e a remete através de um canal o receptor ao receber a mensagem compartilha o código com o remetente e o decodifica transformandoo novamente na mensagem encaminhada Nesta concepção saber a gramática da língua significa conhecer seu funcionamento sua forma e função sua estrutura O foco está no como se diz Tratase de uma concepção que busca um ensino centrado na repetição exercícios deslocados do contexto O professor adepto apenas desta concepção de linguagem fará com que seu aluno produza textos apenas para se apropriar do sistema e das regras da língua considerado por ele Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 como um sistema pronto e acabado esperando que este estruture o maior número de frases dentro da variedade padrão O texto é apenas uma codificação que para ser lido basta dominar este código Nesta concepção não há espaço para as interpretações o que o autor quis dizer é o que está no texto e é apenas aquilo O professor não é mais o detentor do saber e o aluno também não é mais um recipiente vazio Ambos transformaramse em meros repetidores O primeiro deve seguir as determinações do livro didático e o segundo preencher os exercícios de siga o modelo propostos por este livro A produção textual ficava em segundo plano O grande problema destas duas concepções consiste no conceito de texto que é visto apenas como uma obrigação escolar para atingir uma nota ou cumprir uma atividade O aluno escreve para um único interlocutor o professor sem refletir sobre os temas e prendendose à formas com o único objetivo de mostrar o que sabe em relação ao conteúdo proposto sem refletir e sem criar Nestas redações a avaliação tem o intuito apenas de avaliar e apontar os erros dos alunos sem comentálos para que se torne uma atividade construtiva A terceira concepção vê a língua como forma de interação prevendo um ensino capaz de integrar a construção do conhecimento com as reais necessidades dos alunos Esta terceira concepção não exclui as demais ela é uma nova e mais abrangente maneira de pensar sobre a língua os sujeitos o texto e as práticas pedagógicas De acordo com esta concepção a língua não deve ser vista como um repertório de palavras a ser apreendido através da repetição mas sim como um sistema em uso onde se aprende usando e isso exige um trabalho pautado em textos é aí que a língua revela sua totalidade É esta concepção que nos parece mais apropriada para garantir melhores resultados no processo de produção textual pois segundo alguns autores a escrita não tem sentido sozinha sem a presença do outro sem a ação sobre o outro sem a troca de informações e sem uma intenção particular Aqui o professor é tido como um mediador e com isso o aluno passa a ser um sujeito ativo do processo ensinoaprendizagem Os focos mais repensados nesta concepção são a leitura e o ensino O texto passa a ser o objeto de estudo e é a partir dele que os professores de língua portuguesa respaldamse para mostrar ao aluno a Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 organização da língua O ensino tradicional e os exercícios de siga o modelo deixam de ser utilizados 2 Análise de livros didáticos Partindo do entendimento das concepções de linguagem que envolvem o ensino de Língua este artigo propõese a analisar algumas atividades de livros didáticos em circulação já que o uso destes é bastante comum nas escolas e facilitador da vida do professor que acaba dando ao livro didático a posição central no ensino Analisando o livro didático Construindo a escrita CARVALHO 2004 foi possível detectar nas orientações ao professor um grande repensar sobre o ensino de língua materna Logo no início destas orientações a autora define a base teórica da coleção dizendo que buscam um ensino onde o conhecimento não é visto como algo acumulável mas sim como algo a ser produzido pelo aluno em suas interações com o mundo atuando como sujeito ativo da aprendizagem No encaminhamento do trabalho com a produção textual os autores buscam direcionar os professores a criar condições de produção próximas das circunstancias em que são criados os gêneros textuais na sociedade Os autores deixam nas mãos dos professores a função de criar estas situações de produção na sala de aula mas apesar de ser um Manual do Professor não diz em momento algum como devem ser estas condições acabando por deixar incompleta a orientação que é dada ao professor pois como sabemos muitos utilizam o livro didático como fiel escudeiro e seguem apenas o que vem sugerido neste fazem o que está explícito lá e nada além disso Ainda nestas orientações ao professor referemse à questão do texto produzido pelo aluno ter sempre um leitor ou seja o para quem e não apenas um corretor Pedem ainda que variem este leitor usando colegas de classe professores de outra sala ou até mesmo que sejam lidos em voz alta em sala de aula Neste aspecto consideramos o livro um pouco falho o leitor que deve ser formado mentalmente pelo aluno no momento da produção textual não restringindose apenas a membros da escola a autora poderia ter sido mais abrangente usando também pessoas que compõem a sociedade exteriores ao mundo Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 escolar para que o aluno consiga notar a grande abrangência do trabalho com os gêneros textuais Apesar de sugerir novos leitores para estes textos feitos em sala de aula a ideia ainda ficou vaga pois continuou prendendose à esfera escolar o que não resultará em grande mudança no processo de formação de imagem mental do leitor para o aluno Uma das propostas de produção textual do livro didático analisado apresenta o seguinte roteiro Bem é claro que depois de analisarmos todas essas formas de construção de suspense vamos pedir que você crie a sua história de suspense Dê asas à imaginação O que acontecerá Com quem Pense na história toda primeiro faça um pequeno roteiro em seu caderno do que irá contar Depois vá imaginando os detalhes do espaço das personagens das reações e dos sentimentos delas ao viverem os acontecimentos Escreva todos eles para que seu leitor possa vivêlos também CARVALHO 2004 p 17 Nesta proposta de produção textual percebemos que a autora não conseguiu cumprir todas as propostas que havia estabelecido na orientação ao professor e nem mesmo seguiu a fundamentação teórica que afirmou nortear o livro didático A produção proposta não define quem será o leitor do texto o porquê de escrever este texto qual a importância dele na sociedade para que o aluno tem que aprender a escrever este tipo de texto e acaba sugerindo uma produção de uma narrativa com elementos descritivos ou seja utilizando a concepção de linguagem como expressão do pensamento onde o aluno deve produzir um texto próximo aos modelos lidos em sala de aula para cumprir com eficácia sua tarefa A autora falhou ainda mais na primeira frase que utilizou nesta proposta de produção textual onde diz é claro que depois de analisarmos todas essas formas de construção de suspense vamos pedir que você crie a sua história de suspense CARVALHO 2004 com esta frase o aluno acaba por fixar ainda mais a ideia de que sempre ao final da leitura de um texto haverá a produção de outro com a mesma estrutura do texto lido e portanto acabando por não gostar das atividades de leitura pois esta é sempre um pretexto para a escrita Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 Para a correção dos textos dos alunos é sugerido dentre outros aspectos que se avalie como o aluno utiliza a pontuação o parágrafo e como organiza o discurso direto onde podemos perceber novamente mais um deslize nas orientações aos professores Nestas orientações percebemos que infelizmente os professores ainda não conseguem prenderse ao conteúdo do texto do aluno e acabam por corrigir apenas os aspectos gramaticais estruturais e ortográficos que como já dissemos em momentos anteriores não proporcionam ao aluno o auxílio no desenvolvimento de novas ideias ou na percepção da verdadeira função social que tem o seu texto No trabalho com a análise de textos ainda analisando a parte de orientações ao professor esta coleção tem ideias que podemos relacionar à concepção interacionista de linguagem pois orientam que o professor desenvolva no aluno uma relação ativa com o texto construindo sentidos ativando conhecimentos prévios definindo os objetivos de leitura e buscando no aluno a percepção das escolhas do autor e posteriormente os efeitos que este quis causar Na parte gramatical e ortográfica das orientações a autora defende o estudo da gramática afim de que a criança assimile estes conhecimentos e useos ao escrever seus textos produzindo os sentidos desejados Na ortografia defendem o abandono das repetições de palavras para memorização da palavra e afirmam que o erro é decorrente de uma reflexão sobre o sistema ortográfico Para analisar estes itens colocados em prática no material observaremos os seguintes exercícios Descobrindo o texto A entrevista é um gênero de texto que nós ainda não havíamos analisado Releiaa com atenção e responda em seu caderno 1 A entrevista é um texto literário ou um texto informativo Como você chegou a essa conclusão 2 Quais são as principais características desse texto de entrevista 3 As entrevistas podem ser feitas para serem lidas ouvidas ou vistas a Onde você costuma ler ouvir ou ver entrevistas b Pensando na entrevista que você acabou de ler e em outras de que você se lembre responda em seu caderno quais são os principais motivos para uma pessoa ser entrevistada Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 4 Na primeira pergunta da entrevista com a publicitária Christina Carvalho Pinto ela explica como é o nascimento de uma marca ou de um serviço a Qual é o papel do consumidor nesse nascimento b Na hora de criar uma propaganda para uma marca o publicitário tem de ter o consumidor em mente para criar algo que agrade que chame a atenção desse consumidor Será que essa é uma situação parecida com a da pessoa que na hora de escrever um texto tem de ter seu leitor em mente Por quê 5 Ao responder à terceira pergunta Christina nos conta que o publicitário tem quatro preocupações básicas Escreva em seu caderno a Quais são elas b Compare um publicitário que tenha essas quatro preocupações ao criar uma propaganda com o camelô ao fazer a propaganda da caneta Ciclope Quais preocupações são comuns aos dois Quais são diferentes 6 Ao responder à quarta pergunta Christina nos diz que a propaganda não vende produtos vende marcas Qual a diferença entre um produto e uma marca 7 Ao responder à quinta pergunta Christina nos fala dos desejos do ser humano a Quais são os maiores desejos do ser humano na visão de Christina b Como a propaganda lida com esses desejos c Quais são seus maiores desejos Você é o autor Você conheceu um pouco do modo como os publicitários pensam para montar uma propaganda Você vive em um mundo cheio de propagandas O que você pensa sobre elas Você acha que elas prestam serviço às pessoas Escreva um texto mostrando sua opinião sobre propaganda e explicando por que você tem essa opinião CARVALHO2004 p 678 Nesta proposta percebemos que a autora consegue trazer algumas inovações para o trabalho com o gênero entrevista já que explora sua estrutura composicional na questão 2 a sua circulação na sociedade na questão 1 e 3e faz o aluno pensar para responder as perguntas propostas não são perguntas de ler e buscar a resposta pareada no texto conseguindo alcançar com certo êxito a proposta feita no manual ao professor Na pergunta 5 6 e 7 o aluno precisa ativar o seus conhecimentos de mundo para conseguir Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 respondêlas já que não está explícito no texto quais são estas preocupações que o publicitário deve ter para isto o professor deverá fazer um bom encaminhamento com os alunos que não conseguem ainda fazer a relação com o exterior Esta é a verdadeira função social que o texto tem fazer o aluno integrar os conhecimentos trazidos por ele com os seus conhecimentos prévios e de mundo externos à escola No livro didático A escola é nossa CAVÉQUIA 2001 a autora define na parte de assessoria pedagógica como objetivo do livro a introdução do aluno no mundo da escrita tornandoo um cidadão funcionalmente letrado assumindo portanto a postura sociointeracionista Defende também o domínio das mais variadas formas de linguagem como condição essencial para a participação na sociedade Na parte da produção escrita objetivam convidar o aluno a produzir diferentes tipos de textos onde o aluno seja orientado quanto ao gênero a ser produzido ao destinatário do texto que será escrito e ao objetivo com que será elaborado Afirmam que o aluno é levado a produzir textos não apenas para o professor ler e atribuir notas mas que seu texto tenha uma função social Algumas das propostas de produção textual encontradas no livro sugerem a produção de um texto teatral a partir da leitura de tirinhas e a transformação de uma poesia em prosa O roteiro da primeira atividade é o seguinte Agora é a sua vez Escolha uma das tirinhas apresentadas a seguir e escreva seu texto teatral a partir dela Para ajudálo nessa transformação são apresentadas algumas orientações Leiaas com atenção 1 Caracterize o cenário da história Na tirinha podemos vê lo No texto teatral é preciso descrevêlo 2 Liste e descreva de maneira resumida os personagens da história 3 Escreva as ações e reações dos personagens entre parênteses 4 Indique o nome de cada personagem antes de reproduzir sua fala 5 Crie um título para seu texto teatral Depois que o rascunho estiver pronto releiao a fim de verificar se seu texto ainda pode ser melhorado As questões a seguir podem ajudálo nessa avaliação CAVÉQUIA 2001 p 834 A segunda atividade é a seguinte Vamos recontar o texto No reino dos insetos o casamento em prosa Para realizar essa atividade reúnamse em grupos de três componentes Veja a seguir algumas orientações de como o grupo deve proceder na reescrita do texto Cada componente do grupo será Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 responsável por recontar com as próprias palavras um trecho do texto 1ºtrecho da 1ª até a 6ª estrofe 2ºtrecho da 7ª até a 12ªestrofe 3ºtrecho da 13ª até a ultima estrofe Podem ser incluídas eliminadas ou substituídas palavras do texto O sentido original porém não deve ser alterado Não é necessário escrever o texto em versos As rimas também não precisam ser mantidas Afinal a estrutura de um texto em prosa é diferente da que possui um texto em verso Depois que cada componente do grupo tiver recontado seu trecho juntem as três partes para obter o texto completo Se desejarem façam uma nova ilustração para o texto Um novo título também pode ser criado Veja a seguir como a 1ªestrofe do texto poderia ser reescrita CAVÉQUIA 2001 p 111 Nestas propostas as falhas estão no fato de ao solicitar a produção não definir para quem nem o porquê desta produção o que acaba por resultar numa escrita sem interlocutor e sem objetivo apenas para o professor perceber se o aluno conseguiu entender a estrutura dos textos estudados em aulas anteriores e se conseguirá descrever com êxito os acontecimentos da história fugindo da função social que o texto deve ter e portanto não utilizando e praticando a teoria sociointeracionista como foi definido no manual do professor Esta falta de definição do interlocutor pode resultar em dúvidas quanto ao discurso a ser utilizado já que é ele é definido de acordo com o destinatário do texto A falha no objetivo acaba por tornar o texto como algo inútil já que todos os textos devem ter um objetivo uma finalidade seja ela divertir emocionar defender uma ideia etc Na segunda proposta de produção a interação acontece apenas entre os alunos com a intenção de ser realizada uma atividade em grupos que se analisarmos bem pode ser realizada individualmente já que a própria autora divide o que cada aluno deverá fazer Em ambas as atividades há pouca ou até mesmo nenhuma exploração do vocabulário e das ilustrações que compõem o texto O desconhecimento de algumas palavras que pode prejudicar o sentido do texto acaba por ser ignorado As ilustrações são vistas apenas como forma de deixar o livro mais bonito sem relacionálas ao texto verbal As atividades geralmente não envolvem a situação de produção as variedades e registros linguísticos e os aspectos coesivos não desenvolvendo assim a construção dos sentidos na leitura e muito menos a leitura crítica Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 Na assessoria pedagógica sobre o ensino de gramática a autora defende um ensino baseado nos usos da língua que busque melhorar a capacidade de produção de textos do aluno em diversas situações de uso da língua sugerindo portanto um ensino baseado no conhecimento prévio do aluno que amplie seu conhecimento e sua capacidade de uso da linguagem Para analisar estes itens no livro didático destacamos a seguinte atividade de interpretação escrita 1 Em relação ao texto A responda a Do que ele trata b O texto A bailarina de Cecília Meireles é um poema Liste algumas características presentes nele que comprovem tratarse desse tipo de texto C Retire do texto as palavras cujos finais apresentam sons semelhantes ou seja possuem rimas D Releia em voz alta um trecho do texto Nesse trecho há a repetição de um som de consoante Você consegue identificálo CAVÉQUIA 2001 p 114 Apesar de buscar um ensino de língua que adicione conhecimentos para o real uso de língua materna nesta proposta de atividade a autora continuou seguindo os modelos tradicionais de ensino buscando somente o reconhecimento visual do gênero poema da presença das rimas no final das estrofes e da repetição das consoantes não explorando o sentido destas rimas e da utilização das consoantes e nem a temática abordada no poema Conclusão Como podemos perceber muitos dos atuais livros didáticos já se preocupam com a função social da linguagem buscando um trabalho voltado para a concepção interacionista de linguagem e apresentando ótimas teorias e ideias nas orientações metodológicas ao professor porém os autores ainda não conseguiram relacionar a teoria e aplicálas nos exercícios propostos Muitos continuam utilizando as concepções de linguagem como expressão do pensamento e como instrumento de comunicação não mudando a maneira de trabalhar com os alunos e acabando por aplicar exercícios preocupados apenas com as normas gramaticais e redações que buscam apenas a Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 adequação na forma do texto e na utilização de palavras sem erros ortográficos e desvios da norma padrão culta Para o aluno as aulas de português continuam sendo uma chatice pois continuam sendo desconectadas do real uso da língua Estes alunos escrevem textos para a escola que não servem para nada fora do contexto escolar e quando se deparam com alguma necessidade real de escrita como por exemplo escrever uma carta de solicitação estes alunos não sabem nem mesmo como começar pois na escola a professora trabalhou apenas com a escrita de narração e dissertação não agindo na verdadeira função social da escola Esses motivos é que tornam a concepção interacionista de linguagem a mais adequada no ensino de língua materna Nela a língua é vista como prática social que se concretiza por meio de enunciados unidades concretas e reais da língua dotados de significações que compõem um texto seja ele oral ou escrito em práticas discursivas das mais diversas Assim a partir desta concepção apenas os textos podem constituir o objeto relevante de estudo da língua pois é a partir deles que se consegue um estudo das regularidades textuais e discursivas na produção e na leitura Quanto maior o contato com a linguagem mais possibilidades se tem de entender o texto seus sentidos suas intenções e visões de mundo Esta concepção defende o acompanhamento do processo de produção textual e a visão do texto e da escrita como trabalho como algo aberto e inacabado e não como uma vocação ou seja só escreve quem tem o dom O texto é visto como unidade possuidora de coesão e coerência e não apenas como um amontoado de frases soltas O Leitor deve ser levado em consideração no momento da produção textual pois é principalmente em relação a ele que o autor deve definir o gênero que irá utilizar qual o estilo da linguagem o uso da convenção linguística o seu objetivo sua finalidade o assunto e as diversas outras condições de produção do texto e aguardando deste interlocutor uma atitude responsiva O texto portanto é tido como referência temática para a construção de uma interação que implica na relação dialógica dos dois interlocutores numa perspectiva infinita de elos de linguagem em função do meio social que vivem Portanto de acordo com a concepção interacionista o texto passa a ser considerado o lugar da interação Ele envolve os aspectos formais verbais e nãoverbais além de Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 abranger também as condições de elaboração e produção e a leitura e resposta ativa Assim o texto é uma articulação de discursos que se materializam ou seja é a linguagem em uso efetivo Por acontecer em interação o texto não deve ser compreendido apenas em seus limites formais mas sim através da sua natureza funcional e interativa Baseados na concepção interacionista os professores devem segundo Antunes 2003 rever os objetivos os conteúdos programáticos e os procedimentos do ensino da língua portuguesa Devese ter um ensino que priorize ampliar as habilidades do aluno como sujeito interlocutor que fala ouve escreve e lê textos objetivos estes que contemplem o exercício da linguagem em harmonia com os contextos sociais que acontecem Para alcançar estes objetivos o professor de língua portuguesa deve trabalhar com Uma escrita que estabeleça vínculos comunicativos que compreenda os diversos usos da escrita que tenha leitores etc Uma leitura autêntica interativa motivada com sentido e olhar crítico Uma gramática útil e aplicável aos usos sociais da língua contextualizada que prevê mais de uma norma e que traga algum tipo de interesse Uma oralidade orientada para a variedade de tipos e de gêneros discursivos orais que facilite o convívio social que desenvolva habilidades orais para com os mais diferentes tipos de interlocutores Enfim a escola deve ter a pretensão de chegar aos usos sociais da língua que acontecem em situações de interação entre duas ou mais pessoas com alguma finalidade em determinados contextos e sobre a forma de textos Devese pretender ampliar a competência do aluno para o exercício da fala da leitura e da escrita nos seus diversos contextos No momento da produção textual o professor deve envolver o aluno numa situação de uso e ver como ele se sai levando em consideração o desenvolvimento do texto as ideias e as condições de produção e não se prender apenas à elementos estruturalistas do texto O livro didático não pode ser considerado a solução de todos os problemas do professor assumindo o papel de sujeito da aprendizagem mas sim como um auxílio nas aulas onde o professor pode ou deve alterar a sequência de atividades os Universidade Estadual de Maringá UEM MaringáPR 9 10 e 11 de junho de 2010 ANAIS ISSN 21776350 enunciados propostos propor alguma outra atividade em detrimento à proposta pelo livro por achar mais conveniente e de maior proveito enfim o professor deve ajustar suas aulas ao seu público e não os alunos ao livro ensinando o que os alunos precisam saber que fará a diferença nas práticas sociais destes alunos mudando significativamente as aulas de Língua Portuguesa Referências ANTUNES I Aula de português encontro interação São Paulo Parábola Editorial 2003 CARVALHO C S et al Construindo a escrita textos gramática e ortografia São Paulo Ática 2004 CAVÉQUIA M P A escola é nossa Português 4ªsérie São Paulo Scipione 2001 GERALDI JW Concepções de linguagem e ensino de português In GERALDI JW Org O texto na sala de aula leitura e produção Cascavel Assoeste 1984 p 4148 KOCH I G V Desvendando os segredos do texto 2ed São Paulo Cortez 2003 TRAVAGLIA L C Gramática e interação uma proposta para o ensino de gramática no 1o e 2º graus São Paulo Cortez 1997