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49 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Capítulo 2 NOÇÕES DE GÊNERO EM AULAS DE LÍNGUA MATERNA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Wagner Rodrigues Silva Juliane Pereira Sales Jacielle da S Santos Carolline de Castro Alves Feitosa Najla Brandão da Silva Em aulas de Língua Materna na Escola Básica brasileira as orientações teóricometodológicas do trabalho com gêneros como objeto de ensino informam a prática de professoras1 De acordo com diretrizes curriculares nacionais para o ensino de Língua Portuguesa BRASIL 2000 1998 1997 as noções teóricas de gênero e de texto propostas respectivamente como objeto de en sino e unidade de análise podem contribuir para o fortalecimento do letramento discente Essa prática se contrapõe ao paradigma disciplinar da tradição escolar cujos resultados são bastante co nhecidos e criticados pela comunidade acadêmica e inclusive já há algum tempo pela própria comunidade escolar haja vista os resultados indesejados produzidos O desafio da transformação de saberes teóricos em ações da prática pedagógica precisa ser enfrentado A simples sobreposição dos saberes teóricos às práticas da tradição escolar se configura como um risco a ser considerado O olhar investigativo construído neste capítulo recai exatamente sobre o espaço entre a atividade 1 Neste capítulo utilizamos o substantivo professora no feminino pois assim como o grupo de proissionais envolvidos nesta pesquisa as professoras são maioria nas escolas brasileiras de ensino básico Com este posicionamento evitamos a invisibilização de gênero das mulheres atuantes no magistério SILVA W R LIMA P S MOREIRA T M ORGS Gêneros na prática pedagógica diálogos entre escolas e universidades Campinas SP Pontes Editores 2016 50 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades docente do pensar o ensino e a de fazêlo conciliando com maior harmonia saberes de origens diversas Investigamos noções de gêneros orientadoras da prática de ensino de Língua Materna em escolas públicas de Ensino Básico Ensino Fundamental II e Ensino Médio a partir de relatos escritos por um grupo de professoras em capacitação profissional no Mestrado Profissional em Letras ProfLetras Propomonos a responder a seguinte pergunta de pesquisa Quais noções de gênero orientam o trabalho de professoras de língua materna conforme relato de experiências selecionadas por elas para socialização em aulas do mestrado profissional Para responder a pergunta foram consideradas as seguintes categorias analíticas inseridas numa ficha utilizada como instrumento de análise dos relatos das situações de ensino a noções de gênero orientadoras b dificuldades encontradas pelas professoras c momentos de emergência de saberes escolares Na Educação Básica as professoras se lançam ao desafio da inovação do ensino de Língua Materna mas frequentemente estão inseridas em condições de trabalho adversas impedindoas muitas vezes inclusive de refletir sobre possibilidades de cons trução de situações de ensino mais produtivas Nosso percurso investigativo vai além da análise circunscrita às concepções de gênero considera forças ou atores humanos e não humanos que interferem nas práticas escolares de linguagem leitura escrita e análise linguística planejadas a partir do trabalho didático com gêneros como objeto de ensino Este capítulo está organizado em três principais seções além desta Introdução das Considerações finais e das Referências Em Gêneros em textos de referência revisamos algumas abordagens teóricas dos gêneros com as quais as professoras coautoras des te capítulo dialogam como resultado da construção de saberes em cursos de formação e na interação com colegas de profissão envolvendo inclusive o uso de diferentes materiais didáticos e a leitura da literatura especializada e de diretrizes curriculares Em Da experiência profissional ao saber teórico apresentamos o per 51 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades curso metodológico construído para geração e análise dos dados investigados Finalmente em Gêneros no trabalho de professoras apresentamos a análise dos dados a partir de evidências de práticas pedagógicas recorrentes dos gêneros como objetos de ensino em aulas de Língua Portuguesa 1 GÊNEROS EM TEXTOS DE REFERÊNCIA No território brasileiro os diferentes diagnósticos do ensino de Língua Portuguesa revelam a necessidade da introdução de diferentes práticas ou atividades sociais mediadas pela escrita na Educação Básica GERALDI 1997 SILVA 2012a 2012b Isso se justifica como resposta às demandas de uso de diferentes lin guagens em distintos domínios da atividade social configuradas em textos realizados em gêneros compreendidos portanto como atividades interativas com alguma estabilidade construída em contextos culturais No final da década de 1990 com a publicação dos Parâme tros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa PCNLP o trabalho pedagógico com gêneros se traduziu com urgência para a comunidade escolar e mais diretamente para as aulas de língua materna A concepção de linguagem reproduzida adiante e apresentada no referido documento evidencia novas demandas metodológicas a partir de teorias de gêneros Linguagem aqui se entende no fundamental como ação interindividual orientada por uma inalidade especíica um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade nos distintos momentos de sua história Os homens e as mulheres interagem pela linguagem tanto numa conversa informal entre amigos ou na redação de uma carta pes soal quanto na produção de uma crônica uma novela um poema um relatório proissional BRASIL 1998 p 20 52 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Compreendemos os gêneros como formas interativas de uso da escrita e da oralidade e da multimodalidade por grupos de pessoas que compartilham determinado contexto cultural São re alizados em textos encontrados em nossa vida diária responsáveis pela mediação das atividades interativas cotidianas São formas estabilizadas de organização do discurso quando nos expressamos escrevemos falamos desenhamos lemos ou ouvimos textos estes são resultado da realização concreta de algum gênero particular A título de exemplificação salientamos que lido num jornal impresso ou assistido na TV um texto é moldado em algum gênero ou está inserido em algum grupo de gêneros Nesses veículos de comunicação os gêneros se materializam em textos que se realizam em diferentes modalidades mobilizando elementos linguísticos palavras frases parágrafos discursivos quem o que como para quem de onde para que dentre outros fotografia diagramação suporte Esses elementos são organizados para atingir um macro objetivo interativo construção ou propagação da informação Quando lemos um texto no jornal impresso e o identificamos como notícia todos os elementos concorrentes para que o iden tifiquemos e utilizemos como tal são organizados pelo gênero Portanto o gênero resguarda as condições para que um texto seja o que é e atinja consequentemente o objetivo da interação funcionando como instrumento de mediação em situações intera tivas entre as pessoas Ensinar a partir do gênero é considerar o maior número possível de elementos que o constitui desde o planejamento até a circulação na sociedade incluindo a produção escritaoral e a recepção leituraescuta do texto À noção de gênero está atre lada a concepção de língua como um constructo social histórico cultural e simbólico Nesse sentido os PCNLP BRASIL 2000 1998 1997 apontam o gênero como alternativa para o ensino de língua como prática ou atividade social na escola básica Em outras palavras se o objetivo é ensinar língua materna a partir das práticas ou atividades sociais de uso de diferentes linguagens em contextos interativos específicos o efetivo trabalho pedagó 53 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades gico mediado por gênero é um caminho seguro para o alcance da demanda existente Três conceitos teóricos precisam ser considerados no pla nejamento escolar para o trabalho pedagógico orientado pelo novo paradigma em construção para aulas de Língua Portuguesa BRASIL 2000 1998 1997 gênero como objeto de ensino texto como a unidade de análise linguística e letramento como finalidade do trabalho escolar com diferentes linguagens na Educação Básica SILVA 2012c Estes três conceitos podem informar a inovação do trabalho pedagógico evitando a reprodução de práticas do paradigma da tradição escolar O letramento como finalidade do ensino de língua a partir da diversidade de gêneros pressupõe a construção da autonomia discente como leitor ou produtor de textos atores sociais capazes de se posicionarem linguisticamente frente às diferentes demandas sociais2 11 CONCEPÇÕES DE GÊNERO PARA O ENSINO Muitas são as noções de gênero que podem auxiliar a escola e o professor no ensino de língua materna com objetivo de for talecer os letramentos dos alunos Aquelas que se fundamentam numa abordagem enunciativa ou discursiva numa perspectiva bakhtiniana compreendem o gênero discursivo como formas mais ou menos estáveis de enunciados relacionados às diferentes esferas de atividades humanas e concorrendo para fins específicos de linguagem BAKHTIN 20003 Essa abordagem pressupõe o gênero como construção dis cursiva ação no e pelo discurso cuja estabilidade surgimento ou desaparecimento está relacionada à recorrência dos usos com fins de interação social A recorrência da configuração textual depen de das demandas de uso do gênero num determinado contexto 2 Estamos entendendo o termo letramento conforme os estudos desenvolvidos a partir do modelo ideológico de Brian Street 2014 Letramentos compreendem conjunto das práti cas sociais de uso da escrita em contextos especíicos na sociedade Compreendem ainda a condição daquele que é letrado domina usos diversos da leitura e da escrita em contextos sociais de uso da língua KLEIMAN 1995 3 A abordagem bakhtiniana dos gêneros discursivos é focalizada mais diretamente no Capítulo 1 e Capítulo 5 desta coletânea 54 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades cultural Daí a concepção de gênero discursivo influenciada por Bakhtin 2000 como formas interativas mais ou menos estáveis de enunciados O email por exemplo surge como gênero a partir do mo mento em que os usuários da língua passam a conviver em novos espaços de interação A presença cada vez mais concreta das tec nologias da informação e comunicação na vida das pessoas e das instituições a urgência por uma interação cada vez mais rápida e em tempo real característica da sociedade contemporânea permea da e mediada por computadores conectados à Internet motivaram o surgimento de novas funções da linguagem resultando também em formas diferenciadas de organização textual A carta não desapareceu da vida das pessoas Muitos ainda escrevem epístolas mas certamente com outros propósitos diferentes dos alcançados em nossos dias por meio do email do recado ou mensagem nas redes sociais das mensagens trocadas por aplicativos em telefones móveis por exemplo As atuais mídias demandam outras possibilidades de gêneros os quais cumprem funções interativas mais imediatas Mandar um documento com brevidade consultar uma instituição sobre algum assunto urgente conversar em tempo real com alguém muito distante por exem plo tornamse situações interativas pouco exitosas para serem realizadas por meio da carta Ao falarmos da carta e do email consideramos a importância do contexto cultural para a existência deles Isso pressupõe que o gênero não é simplesmente uma forma linguística ou uma es trutura textual Na realidade o gênero se justifica por diferentes funções interativas desempenhadas todas marcadas por constru ções sociais e históricas tão dinâmicas como os próprios sistemas das línguas em transformação ininterrupta Ao lermos um romance por exemplo não levamos em con sideração apenas o conteúdo tematizado Embora esse possa ser o primeiro motivo para se ler um romance Todos os elementos envolvidos na interação por meio da leitura são considerados tais como o escritorautor o contexto de produçãohistórico as 55 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades características linguísticas de construção da narrativa o momento histórico do leitor os objetivos condicionadores da leitura o su porte e as formas de leitura condicionada por ele dentre outros Do contrário as pessoas não teriam preferência por este ou aquele autor Quem lê Machado de Assis certamente o faz motivado por alguns desses elementos mencionados ou até mesmo por outros a exemplo do valor simbólico perpassado pela escolha do autor O romance é portanto um gênero que responde a demandas sociais em torno do uso da escrita na cultura ler para fruição ler para relaxamento ler para sonhar etc Considerar o gênero como instrumento de mediação do ensino da língua na escola de Educação Básica demanda a consideração dos elementos característicos da interação pela linguagem todos apreensíveis na materialidade textual A escola ainda encontra bastante dificuldade para realizar com competência o trabalho pedagógico a partir dos gêneros conforme evidenciamos na análise dos dados desta pesquisa Muitas vezes conseguirmos tratar os textos como objetos desvinculados das práticas sociais distan ciando assim os gêneros dos seus valores e propósitos sociais Numa abordagem textual não tão distanciada da perspectiva enunciativa bakhtiniana Marcuschi 2008 p 155 define os gêne ros como textos que encontramos em nossa vida diária Ainda de acordo com o autor eles apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas sociais institucionais e técnicas Os gêneros se constituem numa listagem aberta diferentemente dos tipos tex tuais que por sua vez abrangem cerca de meia dúzia de catego rias conhecidas como narração argumentação exposição descrição injunção MARCUSCHI 2008 p 154 Gêneros portanto não são propriamente textos mas se corporificam neles a partir de regularidades linguísticas realizadas em categorias formais de tex tos As tipologias ou sequências tipológicas auxiliam na descrição do gênero quando elas são tomadas como unidade de análise para compreensão da realização textual do gênero 56 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Assim retomando a exemplificação do email podemos ter diferentes tipologias textuais descrição data assinatura endere ço argumentação motivos para escrever o email por exemplo narração exemplificação de alguma situação e outras Essas ti pologias realizam o gênero email cuja função se caracteriza pela comunicação transmissão ou requerimento de uma mensagem Há uma relação intrínseca entre gênero e texto Não são instâncias dicotômicas mas sim complementares Nos diferentes domínios sociais os gêneros correspondem ao conjunto dos tex tos mais ou menos padronizados organizados linguisticamente para cumprir determinados propósitos interacionais O gênero se caracteriza muito mais pelas funções discursivas ou interativas ao passo que texto se caracteriza pela realização linguística en volvendo a léxicogramática da língua Conforme mostramos na análise dos dados desta pesquisa por um lado a abordagem textual dos gêneros parece influenciar mais diretamente o trabalho das professoras de Língua Portuguesa o que talvez se justifique pela forte influência da abordagem nas próprias diretrizes curriculares nacionais SILVA 2012c Por ou tro lado continuamos sofrendo o risco da simplificação do trabalho com gêneros e textos em sala de aula uma vez que abordagens formais e até mesmo prescritivas originárias da tradição escolar continuam rondando as salas de aula A esse respeito Rojo 2009 p 88 afirma nas práticas de produção assim como nos materiais didáticos que circulam em sala de aula o texto entra me nos como produtor de sentidos e mais como suporte de análises gramaticais agora também textuais como se o mero conhecimento de estruturas e tipos textuais regras e normas pudesse fazer circular o diálogo e os sentidos dos textos itálico do original Considerando que diversas são as instituições sociais que compõem nossa sociedade desde pessoas organizações políticas 57 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades incluindo aí escola diversos também são os modelos discursivos responsáveis pelas interações nessas instituições e entre elas Nas palavras de Bazerman 2006 p 23 numa perspectiva mais prag mática da linguagem os gêneros são os lugares familiares para onde nos dirigimos para criar ações comunicativas inteligíveis uns com os outros e são os modelos que utilizamos para explorar o nãofamiliar Em outras palavras os gêneros funcionam como ferramentas acionadas para alcançarmos o que ainda nos é des conhecido Aí está a relevância do trabalho mediado por gêneros para a familiarização dos nossos alunos com diferentes práticas inte rativas formando atores sociais autônomos na perspectiva dos letramentos múltiplos A inserção dos gêneros como objetos de ensino e aprendizagem na escola pautase na compreensão já bas tante discutida de que os gêneros representam as funções sociais da linguagem realizados em conjuntos de textos Em síntese os gêneros creditam a possibilidade de se trazer ao espaço da sala de aula e da prática pedagógica da leitura e da escrita diferentes possibilidades de interação pela linguagem em contextos cultu rais 2 DA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL AO SABER TEÓRICO Conforme mencionamos na introdução deste capítulo os documentos investigados correspondem a relatos de situações de ensino experienciadas no local de trabalho por professoras da Educação Básica São treze 13 relatos produzidos por igual quantidade de professoras vinculadas a redes públicas de ensino e matriculadas no ProfLetras Câmpus Universitário de Araguaína na Universidade Federal do Tocantins UFT Os relatos foram elaborados a partir do comando de Atividade 1 na disciplina Gêneros DiscursivosTextuais e Práticas Sociais reproduzido no Exemplo 1 58 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Exemplo 1 Comanda da Atividade 1 Considerando sua experiência proissional no ensino de língua e talvez de outras disciplinas escolares da Educação Básica certamente lhe é familiar a orientação da prática pedagógica por noções de gêneros textuais ou discursivos Nesta atividade preliminar solicitase que você relate uma experiência prois sional signiicativa em que os gêneros foram considerados no conteúdo disciplinar em seu local de trabalho Ao longo do seu relato justiique a relevância da experiência para você para os demais atores sociais envolvidos na situação relatada e inclusive para os demais colegas da sua turma de mestrado proissional com os quais a experiência será compartilhada em sala de aula Ressaltase que qualquer experiência é válida A relevância da situação compartilhada é resultado da sua própria apreciação crítica Não há limites de linhas para desenvolver esta atividade preliminar Sugerese que a experiência compartilhada esteja vinculada à ainidade dos membros integrantes do subgrupo em que você está inserido para realizar as demais atividades disciplinares Se necessário compartilhe alguma ilustração ou exempliicação no relato redigido As professoras foram orientadas a não consultar referencial teórico para produção dos relatos escritos Foi dado um prazo de quatro dias para produção dos relatos apenas três foram reescri tos por fugirem ao que fora solicitado no comando da atividade Em outras palavras as duas principais razões para reescrita dos relatos foram 1 necessidade de socialização de maiores detalhes a respeito das experiências relatadas de forma muito sintética 2 relatos de experiências marcantes para as professoras mas distanciadas do propósito da atividade de socialização do trabalho pedagógico com gêneros As experiências relatadas orientaram o planejamento da disciplina ofertada no ProfLetras Considerando algumas especificidades da atuação profissional das professoras organizaramse em três grupos para realiza ção de atividades na disciplina 1 atuação nos anos iniciais do Ensino Fundamental II 2 atuação nos anos finais do Ensino Fundamental II e no Ensino Médio 3 atuação em atividades de 59 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades gestão escolar incluindo aí a formação continuada As autoras envolvidas na produção deste capítulo integraram o primeiro grupo de professoras No comando para produção do relato é pressuposto o co nhecimento compartilhado pelas professoras a respeito do gênero como objeto de ensino em aulas de Língua Portuguesa Portanto a disciplina ofertada foi planejada para expandir o conhecimento teórico possuído pelas profissionais sem perder de vista o trabalho didático efetivo na escola A leitura dos relatos revelou evidências do trabalho com práticas escolares de linguagem a partir de algu mas noções compartilhadas de gênero O trabalho coletivo entre professoras e formador caracterizou o desenvolvimento da disciplina Para tanto o uso de dispositivos digitais auxiliou as interações instauradas antes durante e após a oferta presencial da disciplina Semanas antes do início das au las a Atividade 1 foi encaminhada por correio eletrônico para as professoras ao mesmo tempo em que fora criado um grupo no WhatsApp para esclarecimentos de questões a respeito do trabalho desenvolvido na disciplina4 As dúvidas emergentes durante a re escrita dos relatos foram sanadas pelos usos dos dois dispositivos digitais mencionados incluindo aí trocas de gravações em áudio pelo WhatsApp A análise preliminar dos dados também aconteceu de for ma coletiva a partir da Atividade 2 orientada pelo instrumento analítico reproduzida no Exemplo 2 Além de possibilitar que as professoras compreendessem o trabalho didático e as orientações teóricas a respeito dos gêneros compartilhados por elas mesmas no local de trabalho o uso da Ficha Analítica se justificou pela familiarização das professoras com instrumentos e práticas de investigação características dos estudos aplicados da linguagem 4 Registramos que por escolha particular apenas um professor não possuía WhatsApp demandando o repasse de informações para ele por outros recursos tecnológicos o que foi realizado pelas colegas de turma 60 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Exemplo 2 Fonte Autoria própria A ficha analítica está organizada em três principais espaços identificados neste capítulo para fins didáticos como contextualiza ção macroanálise e observações Na contextualização o autor do rela to é identificado envolvendo a atuação profissional mais específica a exemplo do nível disciplina ou setor de exercício funcional além do grupo para realização das atividades da disciplina focalizada do ProfLetras conforme identificamos previamente nesta seção Na macroanálise há quatro principais colunas onde são identi ficados e analisados aspectos ou elementos presentes nas situações de ensino orientadas por noções de gênero Em outros termos a caracterização desses elementos possibilita a descrição da rede de atores ou forças subjacentes ao trabalho com gêneros em aulas de língua materna Na primeira coluna elemento de análise são identificados os principais aspectos caracterizadores do trabalho com gênero na escola Na segunda transcrição do excerto o analista registra fragmentos dos relatos com evidências da emergência dos respectivos elementos Na terceira coluna observação crítica o ana 61 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades lista apresenta o próprio ponto de vista a respeito das evidências reproduzidas Na quarta valoração sinalizase o posicionamento positivo ou negativo do autor do relato e do próprio analista diante da experiência relatada do trabalho com gêneros em sala de aula Em observações o analista pode registrar informações re levantes não especificadas previamente na macroanálise A rele vância do registro dessas informações para a análise dos dados é atribuída pelo próprio analista quando decide fazêla Neste mesmo espaço o próprio autor do relato analisado pode produzir algum registro que julgue relevante diante da análise apresentada na ficha Ademais após preenchimento da ficha pelo analista foi realizada uma revisão pelo próprio autor do relato Num terceiro momento as análises foram compartilhadas e discutidas entre professoras e docente os quais antes mesmo das aulas ministradas tiveram acesso a todos os relatos produzidos 3 GÊNEROS NO TRABALHO DE PROFESSORAS Em resposta ao comando da atividade didática as situações relatadas tiveram como ponto de partida ou de chegada o trabalho com algum gênero Apenas uma situação didática relatada trouxe evidências do trabalho com gêneros marcadamente distanciado das recentes orientações metodológicas para aulas de língua ma terna Apesar desse distanciamento a produção de coletâneas ou listas de gêneros corresponde a uma prática escolarizada presente em muitas salas de aula conforme mostrado por Silva 2012a ao exemplificar a recontextualização improdutiva de gêneros em au las de Língua Portuguesa em escolas brasileiras de Ensino Médio Os gêneros focalizados nas situações de ensino relatadas pelas professoras foram sistematizados no Quadro 1 Foram ca racterizados como gêneros âncoras ou gêneros satélites conforme os usos realizados nas situações de ensino Conforme Silva 2015 os primeiros se configuram como o produto final nas sequências de atividades propostas com diferentes textos ou seja o trabalho pedagógico é organizado em função da produção do gênero âncora Os segundos são os textos utilizados nas atividades intermediá 62 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades rias são mobilizados em função da elaboração do produto final ou gênero âncora Os gêneros satélites funcionam como degraus ou andaimes para a construção do conhecimento possibilitando que os alunos alcancem a etapa final quando diversos saberes da ação pela linguagem são acrescentados ao repertório discente BEZERRA 2015 GARCIA 2015 MONTEIRO 2015 SILVA 2015 Quadro 1 Gêneros trabalhados PROFESSORAS GÊNERO ÂNCORA GÊNERO SATÉLITE P1 Jornal escolar Entrevista e reportagem P2 Coletânea de gêneros carta crônicas contos fábulas poesias tiras charges história em quadrinhos poema letra de música resumo edital carta comercial carta íntima resenha bilhete aviso comunicado poesia P3 Memórias literárias Diário relato histórico e do cumentário P4 Memórias literárias Memórias orais entrevista fotografias antigas P5 Memórias literárias Narrativas orais e textos de memórias P6 Artigo de opinião Vídeo fotografia cartaz en trevista relatos P7 Paródia Fábula P8 Poema P9 Sinopse Debate filme painelcartez P10 Composição escolar roteiro de viagem P11 Conto de terror Filme contos de fadas narra tivas orais peça teatral P12 Memórias literárias crônica artigo de opinião P13 Entrevista Contos de Fadas Fonte Autoria própria 63 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Conforme mostra o Quadro 1 há situações de ensino em que diferentes gêneros satélites são mobilizados em função da produção do gênero principal na sequência de atividades P1 P3 P4 P5 P6 P7 P9 P11 Essas situações tendem a ser mais produtivas pois assim como em nossa vida diária precisamos recorrer a textos de diferentes gêneros para compreendermos ou produzirmos outras formas de interação ou seja o uso de um gênero demanda outros textos realizados em modelos diferenciadas na cadeia interativa As situações didáticas em torno de um único gênero ou o trabalho com alguns gêneros desconectados tendem a se configurar como atividades didáticas mais escolarizadas P2 P8 P10 P12 31 COLETÂNEA E CÓPIA DE GÊNEROS Os excertos exemplificados correspondem ao relato de duas atividades desenvolvidas com gêneros textuais em turmas de 8 e 9º Anos do Ensino Fundamental II numa escola municipal no estado do Maranhão As experiências relatadas são resultado de saberes adquiridos por uma mesma professora das turmas men cionadas em cursos de formação continuada proporcionados por uma rede pública municipal de ensino a respeito do trabalho pedagógico com gêneros A partir da reflexão retrospectiva a professora relatou a experiência de forma crítica compartilhando com as demais professoras o trabalho pedagógico informado pela excessiva escolarização dos gêneros em sala de aula Este mesmo trabalho foi realizado por três anos seguidos5 No Exemplo 3 a atividade didática se caracteriza pela or ganização de uma coletânea de textos de diferentes gêneros por turmas de 8º Ano para exposição no espaço da escola A aquisição de saberes acerca de teorias dos gêneros considerando aí aborda gens para o ensino de língua materna é sobreposta pela cultura escolar da prática docente informada por estratégias mecânicas no trato dos textos selecionados 5 Essas experiências pedagógicas pouco produtivas são retomadas no Capítulo 4 desta cole tânea 64 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Exemplo 3 Solicitei aos alunos para que trouxessem para a sala de aula livros e revistas para recorte Após trabalharmos com listas de gêneros textuais muitas listas de gêneros foram produzidas e coladas na parede da sala Mostrei aos alunos que o número de gêneros textuais era muito grande e que não era possível estudar cada um deles No relato focalizado no Exemplo 3 há evidencias de compar tilhamento da noção de gênero como estrutura forma textual fixa ou até mesmo como pretexto para o trabalho pedagógico com o conteúdo gramatical passei a usálos como pretexto para elaboração de questões de gramática em provas a partir de uma tira ou tirinha ou charge ou crônica ou conto ou poema ou letra de música ou fábula Os diferentes textos selecionados foram desprovidos dos objetivos característicos dos prováveis contextos interativos de circulação Ao focalizar a identificação de diferentes gêneros a professora se mantém no paradigma educacional da tradição do ensino de língua materna caracterizado pela ênfase em práticas de identificação e de conceituação da metalinguagem O exercício didático também se mostra pouco produtivo pelo excesso de gêneros passíveis de catalogação pelos alunos Tratase de um trabalho exaustivo que dificilmente contribui diretamente para o empoderamento dos alunos em práticas de leitura e de produção textual específicas dos diferentes gêneros existentes Mostrei aos alunos que o número de gêneros textuais era muito grande e que não era possível estudar cada um deles A culminância da situação didática resultou na confecção de cartazes a partir da cópia de textos de referência o que acontece pela prática de recorte e de colagem comuns ao domínio escolar desde as séries iniciais Após conseguirmos uma quantidade razoável de revistas solicitava aos alunos que recortassem tirinhas histórias em quadrinhos charges reportagens notícias notas fábulas dentre outros gêneros Essa atividade descontextualiza os gêneros da situação original de circulação Como ressalta Silva 2012 p 98 a mera 65 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades presença de uma infinidade de textos na sala de aula nem sempre é capaz de garantir melhores leitores Conforme Exemplo 4 um tipo semelhante de situação didática foi planejado pela mesma professora com turmas de 9º Ano A di ferença estava na fonte de pesquisa que desta vez passou a ser a internet ou seja os portfólios foram produzidos a partir de textos selecionados em páginas da internet resumo edital carta comercial carta íntima resenha fábula conto crônica bilhete aviso comunicado poesia letra de música e vários outros tipos de gêneros textuais além de serem acompanhados por descrições de estruturas linguísticas organização visual léxico sintaxe Exemplo 4 Já no nono ano os alunos tinham que pesquisar a partir de uma lista dada por mim vários gêneros textuais na internet Eis a lista incompleta resumo edital carta comercial carta íntima resenha fábula conto crônica bilhete aviso comunicado po esia letra de música e vários outros tipos de gêneros textuais Cada aluno montava um portfólio colecionando os gêneros textuais Ao inal da aula aquela pilha de pastas contendo os mais diversos tipos de gêneros textuais Cada gênero trazia no rodapé as seguintes informações O tipo de linguagem adotada padrão ou popular o tipo de texto literal ou igurado e em que suporte textual veículo de comunicação ele poderia ser encontrado Este mesmo trabalho foi realizado por três anos seguidos Embora haja quem diga o contrário a cópia é uma prática ainda muito viva na cultura escolar Hoje dificilmente fazse cópia a partir de livros conforme tradição das aulas de Língua Portuguesa Porém atualmente copiase da lousa da projeção na parede da Internet do professor e de outras fontes acessadas Os excertos revelam uma abordagem acentuadamente simpli ficada dos gêneros Resulta da sobreposição de saberes escolares aos adquiridos em contextos de formação acadêmica provavel mente resultando em lacunas deixadas por cursos ou programas 66 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades de formação pouco articulados às demandas da prática pedagógica Esse tratamento dado aos gêneros contraria a afirmação de que todos os gêneros têm uma forma e uma função bem como estilo e um conteúdo mas sua determinação se dá basicamente pela função e não pela forma MARCUSCHI 2008 p 150 32 GÊNERO ESCOLAR Os excertos exemplificados foram reproduzidos da rememo ração de experiências pedagógicas vivenciadas por uma professora em turmas de 8º Ano numa rede pública de ensino no Estado do Tocantins No mesmo relato são narradas duas atividades de produção textual propostas no início do segundo semestre em anos letivos distintos redação escolar escrita e planejamento oral de roteiro de viagem A primeira atividade fora justificada pela necessidade de realização de diagnósticos a respeito da escrita dos alunos A segunda atividade fora justificada pelo desejo manifesto pelos alunos de contar as atividades por eles realizadas nas férias Assim como no relato focalizado na seção anterior o Exemplo 5 mostra que a professora compartilhou uma experiência reprova da por ela mesma Inicialmente foi relatada uma experiência em que fora solicitada uma produção escrita de uma redação escolar a respeito das férias Exemplo 5 Ao iniciarem as aulas como é de costume os professores pe direm aos alunos que faça uma produção textual contando como foram as férias caí na mesmice e cometi este erro com a pretensão de avaliar a produção dos alunos se havia alguma mudança ocorrida do início do ano letivo até o mês de agosto que era o período de retorno das aulas No relato focalizado no Exemplo 5 a produção textual su gerida se caracteriza pelo típico exercício de escrita da cultura escolar cujo objetivo limitase à avaliação linguística da escrita do aluno resultando numa atividade metalinguística a ser desem 67 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades penhada pela professora com a pretensão de avaliar a produção dos alunos se havia alguma mudança ocorrida do início do ano letivo até o mês de agosto Para a professora essa primeira experiência lhe proporcionou o aprendizado acerca do que não se deve fazer a partir desta atividade passei a me questionar e me policiar sobre o que estava desenvolvendo com meus alunos e pensar sempre nas consequências tanto para mim quanto para eles Precisamos estabelecer uma diferença entre produção tex tual e redação escolar no primeiro caso produzemse textos na escola no segundo caso produzemse textos para a escola GERALDI 1997 p 136 A redação escolar corresponde a uma prática pautada em saberes criticados da tradição escolar As tra dicionais práticas de leitura e de escrita respondem a objetivos puramente escolares Em outros termos não se escreve ou se lê para estabelecer uma relação dialógica mais significativa pela linguagem mas simplesmente para mostrar o que se sabe fazer A segunda experiência relatada corresponde à atividade de produção oral do planejamento de um roteiro de viagem de férias conforme descrito no Exemplo 6 Na leitura do relato percebemos a real motivação para o abandono pela professora da proposta de redação escolar sobre as férias Ao ler uma das redações sobre as férias a professora ficou bastante receosa ao tomar conhecimento do detalhado relato escrito por um aluno a respeito de uma his tória policial vivenciada na família em razão do envolvimento do padrasto em ações ilegais Exemplo 6 quando os alunos me viram chegando já foram dizendo que não queriam fazer produção textual sobre as férias uma vez que já faziam isto desde que começaram a estudar dei xei a atividade que tinha planejado para o outro dia e propus que eles ao invés de me contarem suas férias planejassem as próximas onde queriam ir Qual a inalidade da visitapasseio O que seria necessário para que se concretizasse Quem iria acompanhalos Entre outras 68 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades No Exemplo 6 evidenciamos que o primeiro contato da professora com a turma foi marcado por uma forte resistência dos alunos a atividades de produção de textos a respeito das férias Essas atividades correspondem a práticas por eles vivenciadas na escola em anos anteriores os alunos me viram chegando já foram dizendo que não queriam fazer produção textual sobre as férias uma vez que já faziam isto desde que começaram a estudar A segunda situação pedagógica parece se distanciar das típicas práticas escolares ainda que se caracterize como uma situação fictícia ou seja sem explicitação precisa da situação interativa Os alunos se envolvem mais ao planejar as viagens dos sonhos para as férias De qualquer forma tratase de uma situação interativa com elementos de contextualização evidentes O quê Para quê Para quem Distanciase da produção textual com finalidade predominantemente avaliativa 33 GÊNEROS COMO PRÁTICA SOCIAL O Exemplo 7 foi reproduzido de um relato em que é descrito o trabalho com poemas numa turma de 1º ano do Ensino Médio numa escola da rede pública de ensino do Estado do Tocantins A professora justificou o trabalho com o poema por ser o primeiro gênero por ela trabalhado no referido ano de escolaridade citarei o exemplo de como faço com poema que é o primeiro gênero que costumo trabalhar no primeiro ano do ensino médio No excerto evidenciamos a mistura de saberes acadêmicos mobilizados para pontuar os aspectos caracterizadores do gênero É descrito como prática social de linguagem numa perspectiva mais pragmática do fenômeno linguístico Inicialmente é afirma do não se limitar ao conteúdo temático composição e uso da língua evidenciando uma interferência direta das categorias bakhtinianas para o estudo dos gêneros discursivos 69 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Exemplo 7 Acredito que o trabalho com gêneros está ligado às práticas sociais da linguagem e pressupõe que o aluno quando estuda e se apropria de determinado gênero não apenas aprende suas características quanto ao tema ao modo composicional e ao uso da língua mas também aprende e põe em prática sua função social Espero que meus colegas de subgrupo ao ouvir ler esse relato possam fazer sugestões de melhoria a nossa prática como também anseio por essa disciplina pois penso que contribuirá para melhorar inovar e aperfeiçoar o nosso trabalho com ensino de gêneros textuais No Exemplo 7 é evidente o entendimento de que o trabalho pe dagógico com o gênero é uma atividade de construção da autonomia dos alunos o aluno quando estuda e se apropria de determinado gênero não apenas aprende suas características Configurase numa prática envolvendo a interação entre a tríade professor texto e aluno No relato constatamos ainda que o trabalho voltado para a ação pela linguagem não deslegitima o enfoque de aspectos formais leválos a perceber que poema é um gênero que se constrói não apenas por meio de ideias e sentimentos mas também por meio dos versos e seus recursos musi cais sonoridade e ritmo das palavras e de palavras com sentido figurado Numa atividade de produção escrita de poema são enfatizados aspectos formais característicos do gênero conforme perceptí vel na sequência de ações elencadas pela professora para serem consideradas na produção escrita 1 leitura para verificação das características do gênero verso sonoridade vocabulário ritmo figuras de linguagem 2 produção de poema em grupos a partir da apresentação pela professora de um verso inicial 3 criação de poema concreto explorando letras e significados de palavras 4 produção prévia de rascunho 5 releitura do texto produzido observando características do gênero No Exemplo 8 os excertos a serem analisados foram repro duzidos do relato da experiência de uma sequência de atividades didáticas implementada numa turma de 8º Ano numa rede pública 70 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades de ensino no Estado do Tocantins O gênero âncora produzido fora a sinopse de filme6 Exemplo 8 A Sequência Didática SD iniciou com a escolha do gênero resumo realizado pela própria professora que baseada em aulas anteriores entendeu ser de grande relevância para trabalhar com os alunos Aproveitando o Dia D da Leitura que demandava um período maior de carga horária foram apresentados à turma revistas jornais e folders que continham sinopse de ilmes A intenção era levar textos diversiicados deixar que icassem à vontade e diagnosticar qual texto chamaria mais a atenção do aluno Observando que as sinopses de ilme foram muito lidas e em seguida foi solicitado que recortassem os textos relativos a ilmes e foi feito um painel como os vistos no cinema com os diversos ilmes que seriam apresentados Após o cartaz foram realizadas oralmente atividades de leitura com preensão e análise linguística dos textos recortados organizadas de maneira a permitir a compreensão das condições sociais do uso da língua e a apropriação de linguagens indispensáveis aos resumos cinematográicos Foi explicado que posteriormente dentre os ilmes do cartaz seria apresentado o ilme Abril Despedaçado Na apresentação do ilme observouse uma concentração por parte dos alunos incomum em aulas anteriores onde outros ilmes haviam sido exibidos Após o ilme instalouse um debate e diante da grande discussão gerada sobre a escolha da cena mais interessante a professora propôs abrindo uma grande caixa com materiais diversos tinta algodão itas botões miçangas etc que cada um reproduzisse o que mais gostou Os alunos reagiram prontamente ao convite 6 Eis o excerto do relatório com a justiicativa da escolha do gênero âncora pela professora mediante a grande diiculdade apresentada pelos alunos em aulas anteriores sobre o gênero em questão e por ser um texto utilizado em diversas situações comunicativas do cotidiano bem como a facilidade com outros campos do conhecimento como a Arte História e Geo graia promovendo a interdisciplinaridade e fazendo apropriações de práticas sociais de leitura que envolvem vivências culturais mais amplas que conferem signiicado ao que se lê e ao que se escreve 71 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Para a produção de resumos ou sinopses do filme selecionado os alunos foram levados a folhear revistas jornais e folders a fim de se familiarizarem com o gênero a ser produzido Essa atividade demostra um maior envolvimento dos alunos com o contexto de circulação dos textos Conforme afirmado por Marcuschi 2008 p 142 os gêneros textuais são poderosos instrumentos para organizar e desenvolver tanto formas textuais como processos de produção e compreensão7 No Exemplo 8 as práticas escolares se fazem presente a exemplo da confecção do painel e de cartazes com cenas recontextualizadas a serem fixados na parede da escola Essa sequência de atividades revela que as práticas da tradição escolar podem ser aproveitadas em sala de aula sem serem completamente descartadas do trabalho pedagógico A escolha da cena preferida trouxe a memoria afetiva e a tentativa de figuração dos sentimentos e emoções O Exemplo 8 nos mostra ainda a possibilidade de inserção no cotidiano escolar de práticas pedagógicas ligadas ao repertório do aluno tornando assim mais significativo o ensino e proporcionando uma reflexão acerca dos usos sociais e culturais da língua O uso da oralidade possibilitou o trabalho com a argumentação Conteúdos disciplinares foram focalizados tomando como referência usos de textos para fins sociais mais amplos o que fora alcançado pela sequenciação de atividades mediadas por diversos gêneros assim como proposto por Silva 2015 Em síntese foram propostas atividades que levaram o aluno a refletir sobre o trabalho com e sobre a linguagem a partir de gêneros estudados Sob esta perspectiva percebemos ser possível o professor realizar atividades a partir da mudança de perspectiva no ensino de língua materna passando do ensino prescritivo centrado em ativida des metalinguísticas para o trabalho orientado por atividades epilin guísticas norteadas pela leitura e pela análise de textos de diferentes gêneros sem o uso de nomenclaturas ou conceituações originárias dos estudos da linguagem independente da corrente teórica assumida8 7 Ainda segundo o autor gêneros são modelos correspondentes a formas sociais reconhecíveis nas situações de comunicação em que ocorrem MARCUSCHI 2008 p 84 8 Essas diferentes atividades de linguagem são tematizadas no Capítulo 1 desta coletânea 72 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa confirmou a hipótese inicial levantada pelo formador ao planejar as atividades pedagógicas que organizaram a disciplina de trabalho com gêneros no ensino de Língua Por tuguesa ofertada no ProfLetras As professoras em formação realmente possuíam conhecimento teórico a respeito dos gêneros Por um lado algumas relataram experiências pouco produtivas de trabalhos realizados por elas em sala de aula condizente com a produção da coletânea escolar composta por gêneros ou de cópia de textos de referência Reconheceram algumas simplificações nas situações de ensino propostas produziram críticas às próprias práticas pedagógicas e decidiram compartilhar a experiência com outras professoras a fim de evitar a reprodução de atividades semelhantes Por outro lado algumas relataram experiências pro dutivas pertinentes à concepção de gênero como prática social justificando por essa razão o compartilhamento de práticas pedagó gicas com outras profissionais Entre os extremos descritos estão ainda professoras que compartilharam experiências relacionadas à noção de gênero escolar a fim de obter alguma avaliação crítica da situação de ensino relatada pois as incertezas permaneciam no tocante à relevância do trabalho desenvolvido A unanimidade corresponde à consciência da necessidade de transformação das práticas características da tradição pedagógica informadas pela escolarização das atividades propostas as quais se mostram distanciadas das interações características de contextos não escolares Essa tradição influencia o trabalho com gênero como objeto de ensino a exemplo de algumas atividades pedagógicas focalizadas na análise dos dados as quais misturaram a diversidade de gêneros às atividades de cópia e de produção de portfólios além da produção textual de gêneros tipicamente escolares Finalmente esta pesquisa mostrou ainda a importância do conhecimento teórico a ser apropriado pelas professoras uma vez que as teorias de referência possibilitaram a construção de uma reflexão mais crítica sobre a prática profissional As teorias possibilitaram a construção de bases sólidas para a formação da au 73 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades tonomia das professoras as quais demonstraram maior confiança para elaborar propostas práticas produtivas além de teorizar sobre a própria prática pedagógica Esse trabalho pode ser aprimorado com vistas à manutenção de um diálogo mais estreito e simétrico entre as escolas e as universidades assim como realizamos na produção da pesquisa que resultou na escrita colaborativa deste capítulo REFERÊNCIAS BAKHTIN M M Estética da criação verbal São Paulo Martins Fones 2000 BAZERMAN C Gênero agência e escrita In Judith C Hoffnagel Angela P Dionisio Org São Paulo Editora Cortez 2006 BEZERRA Seane O X Letramentos orientados por circuito curricular mediado por gêneros práticas de escrita e de análise linguística em aulas de Língua Portuguesa 2015 204 f Dissertação Mestrado Profissional em Letras ProfLetras Universidade Federal do Tocantins Araguaína 2015 BRASIL Parâmetros Curriculares Nacionais Língua portuguesa Ensino Médio Brasília Ministério da Educação 2000 Parâmetros Curriculares Nacionais Língua Portuguesa Ensino Fundamental II Brasília Secretaria de Educação Fundamental SEEF MEC 1998 Parâmetros Curriculares Nacionais Língua Portuguesa Ensino Fundamental I Brasília Secretaria de Educação Fundamental SEEF MEC 1997 GARCIA Vera B B R Transformações em aulas de leitura e análise linguística percursos de professoras 2015 200 f Dissertação Mestrado Profissional em Letras ProfLetras Universidade Federal do Tocantins Araguaína 2015 GERALDI João W Portos de passagem São Paulo Martins Fontes 2003 KLEIMAN Angela B Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola In Angela B Kleiman Os significados do Letramento Campinas SP Mercado de Letras 1995 p 1561 MARCUSCHI Luiz A Produção Textual análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola Editorial 2008 MONTEIRO Kênia C S Proposta didática com alunos paraenses em processo de alfabetização a partir de um circuito curricular mediado por gêneros 2015 219 f Dissertação Mestrado Profissional em Letras ProfLetras Universidade Federal do Tocantins Araguaína 2015 74 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades ROJO Roxane Letramentos múltiplos escola e inclusão social São Paulo Parábola 2009 SILVA Luiza H O Gêneros textuais na escola entre teorizações e práticas na formação do professor In Wagner R Silva Org Letramento do professor em formação inicial interdisciplinaridade no estágio supervisionado da licenciatura Campinas SP Pontes 2012 p83108 SILVA Wagner R Gêneros em práticas escolares de linguagens currículo e formação do professor Revista Brasileira de Linguística Aplicada Belo Horizonte UFMGALAB v 15 n 4 p 10231055 2015 Letramento e fracasso escolar o ensino da língua materna Manaus AM UEA Edições 2012a Gêneros textuais em aulas de Língua Portuguesa no Ensino Médio brasileiro Linguagem Ensino Pelotas UCPel v 15 n 2 p 387418 2012b Construção da superação do fracasso do ensino de Língua Portuguesa em diretrizes curriculares In Inês Signorini Raquel S Fiad Org Ensino de língua das reformas das inquietações e dos desafios Belo Horizonte Editora da UFMG 2012c p83105 STREET Brian Letramentos sociais abordagens críticas do letramento no desenvolvimento na etnografia e na educação Tradução Marcos Bagno São Paulo Parábola Editorial 2014
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49 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Capítulo 2 NOÇÕES DE GÊNERO EM AULAS DE LÍNGUA MATERNA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Wagner Rodrigues Silva Juliane Pereira Sales Jacielle da S Santos Carolline de Castro Alves Feitosa Najla Brandão da Silva Em aulas de Língua Materna na Escola Básica brasileira as orientações teóricometodológicas do trabalho com gêneros como objeto de ensino informam a prática de professoras1 De acordo com diretrizes curriculares nacionais para o ensino de Língua Portuguesa BRASIL 2000 1998 1997 as noções teóricas de gênero e de texto propostas respectivamente como objeto de en sino e unidade de análise podem contribuir para o fortalecimento do letramento discente Essa prática se contrapõe ao paradigma disciplinar da tradição escolar cujos resultados são bastante co nhecidos e criticados pela comunidade acadêmica e inclusive já há algum tempo pela própria comunidade escolar haja vista os resultados indesejados produzidos O desafio da transformação de saberes teóricos em ações da prática pedagógica precisa ser enfrentado A simples sobreposição dos saberes teóricos às práticas da tradição escolar se configura como um risco a ser considerado O olhar investigativo construído neste capítulo recai exatamente sobre o espaço entre a atividade 1 Neste capítulo utilizamos o substantivo professora no feminino pois assim como o grupo de proissionais envolvidos nesta pesquisa as professoras são maioria nas escolas brasileiras de ensino básico Com este posicionamento evitamos a invisibilização de gênero das mulheres atuantes no magistério SILVA W R LIMA P S MOREIRA T M ORGS Gêneros na prática pedagógica diálogos entre escolas e universidades Campinas SP Pontes Editores 2016 50 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades docente do pensar o ensino e a de fazêlo conciliando com maior harmonia saberes de origens diversas Investigamos noções de gêneros orientadoras da prática de ensino de Língua Materna em escolas públicas de Ensino Básico Ensino Fundamental II e Ensino Médio a partir de relatos escritos por um grupo de professoras em capacitação profissional no Mestrado Profissional em Letras ProfLetras Propomonos a responder a seguinte pergunta de pesquisa Quais noções de gênero orientam o trabalho de professoras de língua materna conforme relato de experiências selecionadas por elas para socialização em aulas do mestrado profissional Para responder a pergunta foram consideradas as seguintes categorias analíticas inseridas numa ficha utilizada como instrumento de análise dos relatos das situações de ensino a noções de gênero orientadoras b dificuldades encontradas pelas professoras c momentos de emergência de saberes escolares Na Educação Básica as professoras se lançam ao desafio da inovação do ensino de Língua Materna mas frequentemente estão inseridas em condições de trabalho adversas impedindoas muitas vezes inclusive de refletir sobre possibilidades de cons trução de situações de ensino mais produtivas Nosso percurso investigativo vai além da análise circunscrita às concepções de gênero considera forças ou atores humanos e não humanos que interferem nas práticas escolares de linguagem leitura escrita e análise linguística planejadas a partir do trabalho didático com gêneros como objeto de ensino Este capítulo está organizado em três principais seções além desta Introdução das Considerações finais e das Referências Em Gêneros em textos de referência revisamos algumas abordagens teóricas dos gêneros com as quais as professoras coautoras des te capítulo dialogam como resultado da construção de saberes em cursos de formação e na interação com colegas de profissão envolvendo inclusive o uso de diferentes materiais didáticos e a leitura da literatura especializada e de diretrizes curriculares Em Da experiência profissional ao saber teórico apresentamos o per 51 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades curso metodológico construído para geração e análise dos dados investigados Finalmente em Gêneros no trabalho de professoras apresentamos a análise dos dados a partir de evidências de práticas pedagógicas recorrentes dos gêneros como objetos de ensino em aulas de Língua Portuguesa 1 GÊNEROS EM TEXTOS DE REFERÊNCIA No território brasileiro os diferentes diagnósticos do ensino de Língua Portuguesa revelam a necessidade da introdução de diferentes práticas ou atividades sociais mediadas pela escrita na Educação Básica GERALDI 1997 SILVA 2012a 2012b Isso se justifica como resposta às demandas de uso de diferentes lin guagens em distintos domínios da atividade social configuradas em textos realizados em gêneros compreendidos portanto como atividades interativas com alguma estabilidade construída em contextos culturais No final da década de 1990 com a publicação dos Parâme tros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa PCNLP o trabalho pedagógico com gêneros se traduziu com urgência para a comunidade escolar e mais diretamente para as aulas de língua materna A concepção de linguagem reproduzida adiante e apresentada no referido documento evidencia novas demandas metodológicas a partir de teorias de gêneros Linguagem aqui se entende no fundamental como ação interindividual orientada por uma inalidade especíica um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade nos distintos momentos de sua história Os homens e as mulheres interagem pela linguagem tanto numa conversa informal entre amigos ou na redação de uma carta pes soal quanto na produção de uma crônica uma novela um poema um relatório proissional BRASIL 1998 p 20 52 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Compreendemos os gêneros como formas interativas de uso da escrita e da oralidade e da multimodalidade por grupos de pessoas que compartilham determinado contexto cultural São re alizados em textos encontrados em nossa vida diária responsáveis pela mediação das atividades interativas cotidianas São formas estabilizadas de organização do discurso quando nos expressamos escrevemos falamos desenhamos lemos ou ouvimos textos estes são resultado da realização concreta de algum gênero particular A título de exemplificação salientamos que lido num jornal impresso ou assistido na TV um texto é moldado em algum gênero ou está inserido em algum grupo de gêneros Nesses veículos de comunicação os gêneros se materializam em textos que se realizam em diferentes modalidades mobilizando elementos linguísticos palavras frases parágrafos discursivos quem o que como para quem de onde para que dentre outros fotografia diagramação suporte Esses elementos são organizados para atingir um macro objetivo interativo construção ou propagação da informação Quando lemos um texto no jornal impresso e o identificamos como notícia todos os elementos concorrentes para que o iden tifiquemos e utilizemos como tal são organizados pelo gênero Portanto o gênero resguarda as condições para que um texto seja o que é e atinja consequentemente o objetivo da interação funcionando como instrumento de mediação em situações intera tivas entre as pessoas Ensinar a partir do gênero é considerar o maior número possível de elementos que o constitui desde o planejamento até a circulação na sociedade incluindo a produção escritaoral e a recepção leituraescuta do texto À noção de gênero está atre lada a concepção de língua como um constructo social histórico cultural e simbólico Nesse sentido os PCNLP BRASIL 2000 1998 1997 apontam o gênero como alternativa para o ensino de língua como prática ou atividade social na escola básica Em outras palavras se o objetivo é ensinar língua materna a partir das práticas ou atividades sociais de uso de diferentes linguagens em contextos interativos específicos o efetivo trabalho pedagó 53 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades gico mediado por gênero é um caminho seguro para o alcance da demanda existente Três conceitos teóricos precisam ser considerados no pla nejamento escolar para o trabalho pedagógico orientado pelo novo paradigma em construção para aulas de Língua Portuguesa BRASIL 2000 1998 1997 gênero como objeto de ensino texto como a unidade de análise linguística e letramento como finalidade do trabalho escolar com diferentes linguagens na Educação Básica SILVA 2012c Estes três conceitos podem informar a inovação do trabalho pedagógico evitando a reprodução de práticas do paradigma da tradição escolar O letramento como finalidade do ensino de língua a partir da diversidade de gêneros pressupõe a construção da autonomia discente como leitor ou produtor de textos atores sociais capazes de se posicionarem linguisticamente frente às diferentes demandas sociais2 11 CONCEPÇÕES DE GÊNERO PARA O ENSINO Muitas são as noções de gênero que podem auxiliar a escola e o professor no ensino de língua materna com objetivo de for talecer os letramentos dos alunos Aquelas que se fundamentam numa abordagem enunciativa ou discursiva numa perspectiva bakhtiniana compreendem o gênero discursivo como formas mais ou menos estáveis de enunciados relacionados às diferentes esferas de atividades humanas e concorrendo para fins específicos de linguagem BAKHTIN 20003 Essa abordagem pressupõe o gênero como construção dis cursiva ação no e pelo discurso cuja estabilidade surgimento ou desaparecimento está relacionada à recorrência dos usos com fins de interação social A recorrência da configuração textual depen de das demandas de uso do gênero num determinado contexto 2 Estamos entendendo o termo letramento conforme os estudos desenvolvidos a partir do modelo ideológico de Brian Street 2014 Letramentos compreendem conjunto das práti cas sociais de uso da escrita em contextos especíicos na sociedade Compreendem ainda a condição daquele que é letrado domina usos diversos da leitura e da escrita em contextos sociais de uso da língua KLEIMAN 1995 3 A abordagem bakhtiniana dos gêneros discursivos é focalizada mais diretamente no Capítulo 1 e Capítulo 5 desta coletânea 54 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades cultural Daí a concepção de gênero discursivo influenciada por Bakhtin 2000 como formas interativas mais ou menos estáveis de enunciados O email por exemplo surge como gênero a partir do mo mento em que os usuários da língua passam a conviver em novos espaços de interação A presença cada vez mais concreta das tec nologias da informação e comunicação na vida das pessoas e das instituições a urgência por uma interação cada vez mais rápida e em tempo real característica da sociedade contemporânea permea da e mediada por computadores conectados à Internet motivaram o surgimento de novas funções da linguagem resultando também em formas diferenciadas de organização textual A carta não desapareceu da vida das pessoas Muitos ainda escrevem epístolas mas certamente com outros propósitos diferentes dos alcançados em nossos dias por meio do email do recado ou mensagem nas redes sociais das mensagens trocadas por aplicativos em telefones móveis por exemplo As atuais mídias demandam outras possibilidades de gêneros os quais cumprem funções interativas mais imediatas Mandar um documento com brevidade consultar uma instituição sobre algum assunto urgente conversar em tempo real com alguém muito distante por exem plo tornamse situações interativas pouco exitosas para serem realizadas por meio da carta Ao falarmos da carta e do email consideramos a importância do contexto cultural para a existência deles Isso pressupõe que o gênero não é simplesmente uma forma linguística ou uma es trutura textual Na realidade o gênero se justifica por diferentes funções interativas desempenhadas todas marcadas por constru ções sociais e históricas tão dinâmicas como os próprios sistemas das línguas em transformação ininterrupta Ao lermos um romance por exemplo não levamos em con sideração apenas o conteúdo tematizado Embora esse possa ser o primeiro motivo para se ler um romance Todos os elementos envolvidos na interação por meio da leitura são considerados tais como o escritorautor o contexto de produçãohistórico as 55 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades características linguísticas de construção da narrativa o momento histórico do leitor os objetivos condicionadores da leitura o su porte e as formas de leitura condicionada por ele dentre outros Do contrário as pessoas não teriam preferência por este ou aquele autor Quem lê Machado de Assis certamente o faz motivado por alguns desses elementos mencionados ou até mesmo por outros a exemplo do valor simbólico perpassado pela escolha do autor O romance é portanto um gênero que responde a demandas sociais em torno do uso da escrita na cultura ler para fruição ler para relaxamento ler para sonhar etc Considerar o gênero como instrumento de mediação do ensino da língua na escola de Educação Básica demanda a consideração dos elementos característicos da interação pela linguagem todos apreensíveis na materialidade textual A escola ainda encontra bastante dificuldade para realizar com competência o trabalho pedagógico a partir dos gêneros conforme evidenciamos na análise dos dados desta pesquisa Muitas vezes conseguirmos tratar os textos como objetos desvinculados das práticas sociais distan ciando assim os gêneros dos seus valores e propósitos sociais Numa abordagem textual não tão distanciada da perspectiva enunciativa bakhtiniana Marcuschi 2008 p 155 define os gêne ros como textos que encontramos em nossa vida diária Ainda de acordo com o autor eles apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas sociais institucionais e técnicas Os gêneros se constituem numa listagem aberta diferentemente dos tipos tex tuais que por sua vez abrangem cerca de meia dúzia de catego rias conhecidas como narração argumentação exposição descrição injunção MARCUSCHI 2008 p 154 Gêneros portanto não são propriamente textos mas se corporificam neles a partir de regularidades linguísticas realizadas em categorias formais de tex tos As tipologias ou sequências tipológicas auxiliam na descrição do gênero quando elas são tomadas como unidade de análise para compreensão da realização textual do gênero 56 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Assim retomando a exemplificação do email podemos ter diferentes tipologias textuais descrição data assinatura endere ço argumentação motivos para escrever o email por exemplo narração exemplificação de alguma situação e outras Essas ti pologias realizam o gênero email cuja função se caracteriza pela comunicação transmissão ou requerimento de uma mensagem Há uma relação intrínseca entre gênero e texto Não são instâncias dicotômicas mas sim complementares Nos diferentes domínios sociais os gêneros correspondem ao conjunto dos tex tos mais ou menos padronizados organizados linguisticamente para cumprir determinados propósitos interacionais O gênero se caracteriza muito mais pelas funções discursivas ou interativas ao passo que texto se caracteriza pela realização linguística en volvendo a léxicogramática da língua Conforme mostramos na análise dos dados desta pesquisa por um lado a abordagem textual dos gêneros parece influenciar mais diretamente o trabalho das professoras de Língua Portuguesa o que talvez se justifique pela forte influência da abordagem nas próprias diretrizes curriculares nacionais SILVA 2012c Por ou tro lado continuamos sofrendo o risco da simplificação do trabalho com gêneros e textos em sala de aula uma vez que abordagens formais e até mesmo prescritivas originárias da tradição escolar continuam rondando as salas de aula A esse respeito Rojo 2009 p 88 afirma nas práticas de produção assim como nos materiais didáticos que circulam em sala de aula o texto entra me nos como produtor de sentidos e mais como suporte de análises gramaticais agora também textuais como se o mero conhecimento de estruturas e tipos textuais regras e normas pudesse fazer circular o diálogo e os sentidos dos textos itálico do original Considerando que diversas são as instituições sociais que compõem nossa sociedade desde pessoas organizações políticas 57 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades incluindo aí escola diversos também são os modelos discursivos responsáveis pelas interações nessas instituições e entre elas Nas palavras de Bazerman 2006 p 23 numa perspectiva mais prag mática da linguagem os gêneros são os lugares familiares para onde nos dirigimos para criar ações comunicativas inteligíveis uns com os outros e são os modelos que utilizamos para explorar o nãofamiliar Em outras palavras os gêneros funcionam como ferramentas acionadas para alcançarmos o que ainda nos é des conhecido Aí está a relevância do trabalho mediado por gêneros para a familiarização dos nossos alunos com diferentes práticas inte rativas formando atores sociais autônomos na perspectiva dos letramentos múltiplos A inserção dos gêneros como objetos de ensino e aprendizagem na escola pautase na compreensão já bas tante discutida de que os gêneros representam as funções sociais da linguagem realizados em conjuntos de textos Em síntese os gêneros creditam a possibilidade de se trazer ao espaço da sala de aula e da prática pedagógica da leitura e da escrita diferentes possibilidades de interação pela linguagem em contextos cultu rais 2 DA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL AO SABER TEÓRICO Conforme mencionamos na introdução deste capítulo os documentos investigados correspondem a relatos de situações de ensino experienciadas no local de trabalho por professoras da Educação Básica São treze 13 relatos produzidos por igual quantidade de professoras vinculadas a redes públicas de ensino e matriculadas no ProfLetras Câmpus Universitário de Araguaína na Universidade Federal do Tocantins UFT Os relatos foram elaborados a partir do comando de Atividade 1 na disciplina Gêneros DiscursivosTextuais e Práticas Sociais reproduzido no Exemplo 1 58 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Exemplo 1 Comanda da Atividade 1 Considerando sua experiência proissional no ensino de língua e talvez de outras disciplinas escolares da Educação Básica certamente lhe é familiar a orientação da prática pedagógica por noções de gêneros textuais ou discursivos Nesta atividade preliminar solicitase que você relate uma experiência prois sional signiicativa em que os gêneros foram considerados no conteúdo disciplinar em seu local de trabalho Ao longo do seu relato justiique a relevância da experiência para você para os demais atores sociais envolvidos na situação relatada e inclusive para os demais colegas da sua turma de mestrado proissional com os quais a experiência será compartilhada em sala de aula Ressaltase que qualquer experiência é válida A relevância da situação compartilhada é resultado da sua própria apreciação crítica Não há limites de linhas para desenvolver esta atividade preliminar Sugerese que a experiência compartilhada esteja vinculada à ainidade dos membros integrantes do subgrupo em que você está inserido para realizar as demais atividades disciplinares Se necessário compartilhe alguma ilustração ou exempliicação no relato redigido As professoras foram orientadas a não consultar referencial teórico para produção dos relatos escritos Foi dado um prazo de quatro dias para produção dos relatos apenas três foram reescri tos por fugirem ao que fora solicitado no comando da atividade Em outras palavras as duas principais razões para reescrita dos relatos foram 1 necessidade de socialização de maiores detalhes a respeito das experiências relatadas de forma muito sintética 2 relatos de experiências marcantes para as professoras mas distanciadas do propósito da atividade de socialização do trabalho pedagógico com gêneros As experiências relatadas orientaram o planejamento da disciplina ofertada no ProfLetras Considerando algumas especificidades da atuação profissional das professoras organizaramse em três grupos para realiza ção de atividades na disciplina 1 atuação nos anos iniciais do Ensino Fundamental II 2 atuação nos anos finais do Ensino Fundamental II e no Ensino Médio 3 atuação em atividades de 59 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades gestão escolar incluindo aí a formação continuada As autoras envolvidas na produção deste capítulo integraram o primeiro grupo de professoras No comando para produção do relato é pressuposto o co nhecimento compartilhado pelas professoras a respeito do gênero como objeto de ensino em aulas de Língua Portuguesa Portanto a disciplina ofertada foi planejada para expandir o conhecimento teórico possuído pelas profissionais sem perder de vista o trabalho didático efetivo na escola A leitura dos relatos revelou evidências do trabalho com práticas escolares de linguagem a partir de algu mas noções compartilhadas de gênero O trabalho coletivo entre professoras e formador caracterizou o desenvolvimento da disciplina Para tanto o uso de dispositivos digitais auxiliou as interações instauradas antes durante e após a oferta presencial da disciplina Semanas antes do início das au las a Atividade 1 foi encaminhada por correio eletrônico para as professoras ao mesmo tempo em que fora criado um grupo no WhatsApp para esclarecimentos de questões a respeito do trabalho desenvolvido na disciplina4 As dúvidas emergentes durante a re escrita dos relatos foram sanadas pelos usos dos dois dispositivos digitais mencionados incluindo aí trocas de gravações em áudio pelo WhatsApp A análise preliminar dos dados também aconteceu de for ma coletiva a partir da Atividade 2 orientada pelo instrumento analítico reproduzida no Exemplo 2 Além de possibilitar que as professoras compreendessem o trabalho didático e as orientações teóricas a respeito dos gêneros compartilhados por elas mesmas no local de trabalho o uso da Ficha Analítica se justificou pela familiarização das professoras com instrumentos e práticas de investigação características dos estudos aplicados da linguagem 4 Registramos que por escolha particular apenas um professor não possuía WhatsApp demandando o repasse de informações para ele por outros recursos tecnológicos o que foi realizado pelas colegas de turma 60 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Exemplo 2 Fonte Autoria própria A ficha analítica está organizada em três principais espaços identificados neste capítulo para fins didáticos como contextualiza ção macroanálise e observações Na contextualização o autor do rela to é identificado envolvendo a atuação profissional mais específica a exemplo do nível disciplina ou setor de exercício funcional além do grupo para realização das atividades da disciplina focalizada do ProfLetras conforme identificamos previamente nesta seção Na macroanálise há quatro principais colunas onde são identi ficados e analisados aspectos ou elementos presentes nas situações de ensino orientadas por noções de gênero Em outros termos a caracterização desses elementos possibilita a descrição da rede de atores ou forças subjacentes ao trabalho com gêneros em aulas de língua materna Na primeira coluna elemento de análise são identificados os principais aspectos caracterizadores do trabalho com gênero na escola Na segunda transcrição do excerto o analista registra fragmentos dos relatos com evidências da emergência dos respectivos elementos Na terceira coluna observação crítica o ana 61 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades lista apresenta o próprio ponto de vista a respeito das evidências reproduzidas Na quarta valoração sinalizase o posicionamento positivo ou negativo do autor do relato e do próprio analista diante da experiência relatada do trabalho com gêneros em sala de aula Em observações o analista pode registrar informações re levantes não especificadas previamente na macroanálise A rele vância do registro dessas informações para a análise dos dados é atribuída pelo próprio analista quando decide fazêla Neste mesmo espaço o próprio autor do relato analisado pode produzir algum registro que julgue relevante diante da análise apresentada na ficha Ademais após preenchimento da ficha pelo analista foi realizada uma revisão pelo próprio autor do relato Num terceiro momento as análises foram compartilhadas e discutidas entre professoras e docente os quais antes mesmo das aulas ministradas tiveram acesso a todos os relatos produzidos 3 GÊNEROS NO TRABALHO DE PROFESSORAS Em resposta ao comando da atividade didática as situações relatadas tiveram como ponto de partida ou de chegada o trabalho com algum gênero Apenas uma situação didática relatada trouxe evidências do trabalho com gêneros marcadamente distanciado das recentes orientações metodológicas para aulas de língua ma terna Apesar desse distanciamento a produção de coletâneas ou listas de gêneros corresponde a uma prática escolarizada presente em muitas salas de aula conforme mostrado por Silva 2012a ao exemplificar a recontextualização improdutiva de gêneros em au las de Língua Portuguesa em escolas brasileiras de Ensino Médio Os gêneros focalizados nas situações de ensino relatadas pelas professoras foram sistematizados no Quadro 1 Foram ca racterizados como gêneros âncoras ou gêneros satélites conforme os usos realizados nas situações de ensino Conforme Silva 2015 os primeiros se configuram como o produto final nas sequências de atividades propostas com diferentes textos ou seja o trabalho pedagógico é organizado em função da produção do gênero âncora Os segundos são os textos utilizados nas atividades intermediá 62 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades rias são mobilizados em função da elaboração do produto final ou gênero âncora Os gêneros satélites funcionam como degraus ou andaimes para a construção do conhecimento possibilitando que os alunos alcancem a etapa final quando diversos saberes da ação pela linguagem são acrescentados ao repertório discente BEZERRA 2015 GARCIA 2015 MONTEIRO 2015 SILVA 2015 Quadro 1 Gêneros trabalhados PROFESSORAS GÊNERO ÂNCORA GÊNERO SATÉLITE P1 Jornal escolar Entrevista e reportagem P2 Coletânea de gêneros carta crônicas contos fábulas poesias tiras charges história em quadrinhos poema letra de música resumo edital carta comercial carta íntima resenha bilhete aviso comunicado poesia P3 Memórias literárias Diário relato histórico e do cumentário P4 Memórias literárias Memórias orais entrevista fotografias antigas P5 Memórias literárias Narrativas orais e textos de memórias P6 Artigo de opinião Vídeo fotografia cartaz en trevista relatos P7 Paródia Fábula P8 Poema P9 Sinopse Debate filme painelcartez P10 Composição escolar roteiro de viagem P11 Conto de terror Filme contos de fadas narra tivas orais peça teatral P12 Memórias literárias crônica artigo de opinião P13 Entrevista Contos de Fadas Fonte Autoria própria 63 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Conforme mostra o Quadro 1 há situações de ensino em que diferentes gêneros satélites são mobilizados em função da produção do gênero principal na sequência de atividades P1 P3 P4 P5 P6 P7 P9 P11 Essas situações tendem a ser mais produtivas pois assim como em nossa vida diária precisamos recorrer a textos de diferentes gêneros para compreendermos ou produzirmos outras formas de interação ou seja o uso de um gênero demanda outros textos realizados em modelos diferenciadas na cadeia interativa As situações didáticas em torno de um único gênero ou o trabalho com alguns gêneros desconectados tendem a se configurar como atividades didáticas mais escolarizadas P2 P8 P10 P12 31 COLETÂNEA E CÓPIA DE GÊNEROS Os excertos exemplificados correspondem ao relato de duas atividades desenvolvidas com gêneros textuais em turmas de 8 e 9º Anos do Ensino Fundamental II numa escola municipal no estado do Maranhão As experiências relatadas são resultado de saberes adquiridos por uma mesma professora das turmas men cionadas em cursos de formação continuada proporcionados por uma rede pública municipal de ensino a respeito do trabalho pedagógico com gêneros A partir da reflexão retrospectiva a professora relatou a experiência de forma crítica compartilhando com as demais professoras o trabalho pedagógico informado pela excessiva escolarização dos gêneros em sala de aula Este mesmo trabalho foi realizado por três anos seguidos5 No Exemplo 3 a atividade didática se caracteriza pela or ganização de uma coletânea de textos de diferentes gêneros por turmas de 8º Ano para exposição no espaço da escola A aquisição de saberes acerca de teorias dos gêneros considerando aí aborda gens para o ensino de língua materna é sobreposta pela cultura escolar da prática docente informada por estratégias mecânicas no trato dos textos selecionados 5 Essas experiências pedagógicas pouco produtivas são retomadas no Capítulo 4 desta cole tânea 64 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Exemplo 3 Solicitei aos alunos para que trouxessem para a sala de aula livros e revistas para recorte Após trabalharmos com listas de gêneros textuais muitas listas de gêneros foram produzidas e coladas na parede da sala Mostrei aos alunos que o número de gêneros textuais era muito grande e que não era possível estudar cada um deles No relato focalizado no Exemplo 3 há evidencias de compar tilhamento da noção de gênero como estrutura forma textual fixa ou até mesmo como pretexto para o trabalho pedagógico com o conteúdo gramatical passei a usálos como pretexto para elaboração de questões de gramática em provas a partir de uma tira ou tirinha ou charge ou crônica ou conto ou poema ou letra de música ou fábula Os diferentes textos selecionados foram desprovidos dos objetivos característicos dos prováveis contextos interativos de circulação Ao focalizar a identificação de diferentes gêneros a professora se mantém no paradigma educacional da tradição do ensino de língua materna caracterizado pela ênfase em práticas de identificação e de conceituação da metalinguagem O exercício didático também se mostra pouco produtivo pelo excesso de gêneros passíveis de catalogação pelos alunos Tratase de um trabalho exaustivo que dificilmente contribui diretamente para o empoderamento dos alunos em práticas de leitura e de produção textual específicas dos diferentes gêneros existentes Mostrei aos alunos que o número de gêneros textuais era muito grande e que não era possível estudar cada um deles A culminância da situação didática resultou na confecção de cartazes a partir da cópia de textos de referência o que acontece pela prática de recorte e de colagem comuns ao domínio escolar desde as séries iniciais Após conseguirmos uma quantidade razoável de revistas solicitava aos alunos que recortassem tirinhas histórias em quadrinhos charges reportagens notícias notas fábulas dentre outros gêneros Essa atividade descontextualiza os gêneros da situação original de circulação Como ressalta Silva 2012 p 98 a mera 65 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades presença de uma infinidade de textos na sala de aula nem sempre é capaz de garantir melhores leitores Conforme Exemplo 4 um tipo semelhante de situação didática foi planejado pela mesma professora com turmas de 9º Ano A di ferença estava na fonte de pesquisa que desta vez passou a ser a internet ou seja os portfólios foram produzidos a partir de textos selecionados em páginas da internet resumo edital carta comercial carta íntima resenha fábula conto crônica bilhete aviso comunicado poesia letra de música e vários outros tipos de gêneros textuais além de serem acompanhados por descrições de estruturas linguísticas organização visual léxico sintaxe Exemplo 4 Já no nono ano os alunos tinham que pesquisar a partir de uma lista dada por mim vários gêneros textuais na internet Eis a lista incompleta resumo edital carta comercial carta íntima resenha fábula conto crônica bilhete aviso comunicado po esia letra de música e vários outros tipos de gêneros textuais Cada aluno montava um portfólio colecionando os gêneros textuais Ao inal da aula aquela pilha de pastas contendo os mais diversos tipos de gêneros textuais Cada gênero trazia no rodapé as seguintes informações O tipo de linguagem adotada padrão ou popular o tipo de texto literal ou igurado e em que suporte textual veículo de comunicação ele poderia ser encontrado Este mesmo trabalho foi realizado por três anos seguidos Embora haja quem diga o contrário a cópia é uma prática ainda muito viva na cultura escolar Hoje dificilmente fazse cópia a partir de livros conforme tradição das aulas de Língua Portuguesa Porém atualmente copiase da lousa da projeção na parede da Internet do professor e de outras fontes acessadas Os excertos revelam uma abordagem acentuadamente simpli ficada dos gêneros Resulta da sobreposição de saberes escolares aos adquiridos em contextos de formação acadêmica provavel mente resultando em lacunas deixadas por cursos ou programas 66 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades de formação pouco articulados às demandas da prática pedagógica Esse tratamento dado aos gêneros contraria a afirmação de que todos os gêneros têm uma forma e uma função bem como estilo e um conteúdo mas sua determinação se dá basicamente pela função e não pela forma MARCUSCHI 2008 p 150 32 GÊNERO ESCOLAR Os excertos exemplificados foram reproduzidos da rememo ração de experiências pedagógicas vivenciadas por uma professora em turmas de 8º Ano numa rede pública de ensino no Estado do Tocantins No mesmo relato são narradas duas atividades de produção textual propostas no início do segundo semestre em anos letivos distintos redação escolar escrita e planejamento oral de roteiro de viagem A primeira atividade fora justificada pela necessidade de realização de diagnósticos a respeito da escrita dos alunos A segunda atividade fora justificada pelo desejo manifesto pelos alunos de contar as atividades por eles realizadas nas férias Assim como no relato focalizado na seção anterior o Exemplo 5 mostra que a professora compartilhou uma experiência reprova da por ela mesma Inicialmente foi relatada uma experiência em que fora solicitada uma produção escrita de uma redação escolar a respeito das férias Exemplo 5 Ao iniciarem as aulas como é de costume os professores pe direm aos alunos que faça uma produção textual contando como foram as férias caí na mesmice e cometi este erro com a pretensão de avaliar a produção dos alunos se havia alguma mudança ocorrida do início do ano letivo até o mês de agosto que era o período de retorno das aulas No relato focalizado no Exemplo 5 a produção textual su gerida se caracteriza pelo típico exercício de escrita da cultura escolar cujo objetivo limitase à avaliação linguística da escrita do aluno resultando numa atividade metalinguística a ser desem 67 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades penhada pela professora com a pretensão de avaliar a produção dos alunos se havia alguma mudança ocorrida do início do ano letivo até o mês de agosto Para a professora essa primeira experiência lhe proporcionou o aprendizado acerca do que não se deve fazer a partir desta atividade passei a me questionar e me policiar sobre o que estava desenvolvendo com meus alunos e pensar sempre nas consequências tanto para mim quanto para eles Precisamos estabelecer uma diferença entre produção tex tual e redação escolar no primeiro caso produzemse textos na escola no segundo caso produzemse textos para a escola GERALDI 1997 p 136 A redação escolar corresponde a uma prática pautada em saberes criticados da tradição escolar As tra dicionais práticas de leitura e de escrita respondem a objetivos puramente escolares Em outros termos não se escreve ou se lê para estabelecer uma relação dialógica mais significativa pela linguagem mas simplesmente para mostrar o que se sabe fazer A segunda experiência relatada corresponde à atividade de produção oral do planejamento de um roteiro de viagem de férias conforme descrito no Exemplo 6 Na leitura do relato percebemos a real motivação para o abandono pela professora da proposta de redação escolar sobre as férias Ao ler uma das redações sobre as férias a professora ficou bastante receosa ao tomar conhecimento do detalhado relato escrito por um aluno a respeito de uma his tória policial vivenciada na família em razão do envolvimento do padrasto em ações ilegais Exemplo 6 quando os alunos me viram chegando já foram dizendo que não queriam fazer produção textual sobre as férias uma vez que já faziam isto desde que começaram a estudar dei xei a atividade que tinha planejado para o outro dia e propus que eles ao invés de me contarem suas férias planejassem as próximas onde queriam ir Qual a inalidade da visitapasseio O que seria necessário para que se concretizasse Quem iria acompanhalos Entre outras 68 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades No Exemplo 6 evidenciamos que o primeiro contato da professora com a turma foi marcado por uma forte resistência dos alunos a atividades de produção de textos a respeito das férias Essas atividades correspondem a práticas por eles vivenciadas na escola em anos anteriores os alunos me viram chegando já foram dizendo que não queriam fazer produção textual sobre as férias uma vez que já faziam isto desde que começaram a estudar A segunda situação pedagógica parece se distanciar das típicas práticas escolares ainda que se caracterize como uma situação fictícia ou seja sem explicitação precisa da situação interativa Os alunos se envolvem mais ao planejar as viagens dos sonhos para as férias De qualquer forma tratase de uma situação interativa com elementos de contextualização evidentes O quê Para quê Para quem Distanciase da produção textual com finalidade predominantemente avaliativa 33 GÊNEROS COMO PRÁTICA SOCIAL O Exemplo 7 foi reproduzido de um relato em que é descrito o trabalho com poemas numa turma de 1º ano do Ensino Médio numa escola da rede pública de ensino do Estado do Tocantins A professora justificou o trabalho com o poema por ser o primeiro gênero por ela trabalhado no referido ano de escolaridade citarei o exemplo de como faço com poema que é o primeiro gênero que costumo trabalhar no primeiro ano do ensino médio No excerto evidenciamos a mistura de saberes acadêmicos mobilizados para pontuar os aspectos caracterizadores do gênero É descrito como prática social de linguagem numa perspectiva mais pragmática do fenômeno linguístico Inicialmente é afirma do não se limitar ao conteúdo temático composição e uso da língua evidenciando uma interferência direta das categorias bakhtinianas para o estudo dos gêneros discursivos 69 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Exemplo 7 Acredito que o trabalho com gêneros está ligado às práticas sociais da linguagem e pressupõe que o aluno quando estuda e se apropria de determinado gênero não apenas aprende suas características quanto ao tema ao modo composicional e ao uso da língua mas também aprende e põe em prática sua função social Espero que meus colegas de subgrupo ao ouvir ler esse relato possam fazer sugestões de melhoria a nossa prática como também anseio por essa disciplina pois penso que contribuirá para melhorar inovar e aperfeiçoar o nosso trabalho com ensino de gêneros textuais No Exemplo 7 é evidente o entendimento de que o trabalho pe dagógico com o gênero é uma atividade de construção da autonomia dos alunos o aluno quando estuda e se apropria de determinado gênero não apenas aprende suas características Configurase numa prática envolvendo a interação entre a tríade professor texto e aluno No relato constatamos ainda que o trabalho voltado para a ação pela linguagem não deslegitima o enfoque de aspectos formais leválos a perceber que poema é um gênero que se constrói não apenas por meio de ideias e sentimentos mas também por meio dos versos e seus recursos musi cais sonoridade e ritmo das palavras e de palavras com sentido figurado Numa atividade de produção escrita de poema são enfatizados aspectos formais característicos do gênero conforme perceptí vel na sequência de ações elencadas pela professora para serem consideradas na produção escrita 1 leitura para verificação das características do gênero verso sonoridade vocabulário ritmo figuras de linguagem 2 produção de poema em grupos a partir da apresentação pela professora de um verso inicial 3 criação de poema concreto explorando letras e significados de palavras 4 produção prévia de rascunho 5 releitura do texto produzido observando características do gênero No Exemplo 8 os excertos a serem analisados foram repro duzidos do relato da experiência de uma sequência de atividades didáticas implementada numa turma de 8º Ano numa rede pública 70 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades de ensino no Estado do Tocantins O gênero âncora produzido fora a sinopse de filme6 Exemplo 8 A Sequência Didática SD iniciou com a escolha do gênero resumo realizado pela própria professora que baseada em aulas anteriores entendeu ser de grande relevância para trabalhar com os alunos Aproveitando o Dia D da Leitura que demandava um período maior de carga horária foram apresentados à turma revistas jornais e folders que continham sinopse de ilmes A intenção era levar textos diversiicados deixar que icassem à vontade e diagnosticar qual texto chamaria mais a atenção do aluno Observando que as sinopses de ilme foram muito lidas e em seguida foi solicitado que recortassem os textos relativos a ilmes e foi feito um painel como os vistos no cinema com os diversos ilmes que seriam apresentados Após o cartaz foram realizadas oralmente atividades de leitura com preensão e análise linguística dos textos recortados organizadas de maneira a permitir a compreensão das condições sociais do uso da língua e a apropriação de linguagens indispensáveis aos resumos cinematográicos Foi explicado que posteriormente dentre os ilmes do cartaz seria apresentado o ilme Abril Despedaçado Na apresentação do ilme observouse uma concentração por parte dos alunos incomum em aulas anteriores onde outros ilmes haviam sido exibidos Após o ilme instalouse um debate e diante da grande discussão gerada sobre a escolha da cena mais interessante a professora propôs abrindo uma grande caixa com materiais diversos tinta algodão itas botões miçangas etc que cada um reproduzisse o que mais gostou Os alunos reagiram prontamente ao convite 6 Eis o excerto do relatório com a justiicativa da escolha do gênero âncora pela professora mediante a grande diiculdade apresentada pelos alunos em aulas anteriores sobre o gênero em questão e por ser um texto utilizado em diversas situações comunicativas do cotidiano bem como a facilidade com outros campos do conhecimento como a Arte História e Geo graia promovendo a interdisciplinaridade e fazendo apropriações de práticas sociais de leitura que envolvem vivências culturais mais amplas que conferem signiicado ao que se lê e ao que se escreve 71 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades Para a produção de resumos ou sinopses do filme selecionado os alunos foram levados a folhear revistas jornais e folders a fim de se familiarizarem com o gênero a ser produzido Essa atividade demostra um maior envolvimento dos alunos com o contexto de circulação dos textos Conforme afirmado por Marcuschi 2008 p 142 os gêneros textuais são poderosos instrumentos para organizar e desenvolver tanto formas textuais como processos de produção e compreensão7 No Exemplo 8 as práticas escolares se fazem presente a exemplo da confecção do painel e de cartazes com cenas recontextualizadas a serem fixados na parede da escola Essa sequência de atividades revela que as práticas da tradição escolar podem ser aproveitadas em sala de aula sem serem completamente descartadas do trabalho pedagógico A escolha da cena preferida trouxe a memoria afetiva e a tentativa de figuração dos sentimentos e emoções O Exemplo 8 nos mostra ainda a possibilidade de inserção no cotidiano escolar de práticas pedagógicas ligadas ao repertório do aluno tornando assim mais significativo o ensino e proporcionando uma reflexão acerca dos usos sociais e culturais da língua O uso da oralidade possibilitou o trabalho com a argumentação Conteúdos disciplinares foram focalizados tomando como referência usos de textos para fins sociais mais amplos o que fora alcançado pela sequenciação de atividades mediadas por diversos gêneros assim como proposto por Silva 2015 Em síntese foram propostas atividades que levaram o aluno a refletir sobre o trabalho com e sobre a linguagem a partir de gêneros estudados Sob esta perspectiva percebemos ser possível o professor realizar atividades a partir da mudança de perspectiva no ensino de língua materna passando do ensino prescritivo centrado em ativida des metalinguísticas para o trabalho orientado por atividades epilin guísticas norteadas pela leitura e pela análise de textos de diferentes gêneros sem o uso de nomenclaturas ou conceituações originárias dos estudos da linguagem independente da corrente teórica assumida8 7 Ainda segundo o autor gêneros são modelos correspondentes a formas sociais reconhecíveis nas situações de comunicação em que ocorrem MARCUSCHI 2008 p 84 8 Essas diferentes atividades de linguagem são tematizadas no Capítulo 1 desta coletânea 72 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa confirmou a hipótese inicial levantada pelo formador ao planejar as atividades pedagógicas que organizaram a disciplina de trabalho com gêneros no ensino de Língua Por tuguesa ofertada no ProfLetras As professoras em formação realmente possuíam conhecimento teórico a respeito dos gêneros Por um lado algumas relataram experiências pouco produtivas de trabalhos realizados por elas em sala de aula condizente com a produção da coletânea escolar composta por gêneros ou de cópia de textos de referência Reconheceram algumas simplificações nas situações de ensino propostas produziram críticas às próprias práticas pedagógicas e decidiram compartilhar a experiência com outras professoras a fim de evitar a reprodução de atividades semelhantes Por outro lado algumas relataram experiências pro dutivas pertinentes à concepção de gênero como prática social justificando por essa razão o compartilhamento de práticas pedagó gicas com outras profissionais Entre os extremos descritos estão ainda professoras que compartilharam experiências relacionadas à noção de gênero escolar a fim de obter alguma avaliação crítica da situação de ensino relatada pois as incertezas permaneciam no tocante à relevância do trabalho desenvolvido A unanimidade corresponde à consciência da necessidade de transformação das práticas características da tradição pedagógica informadas pela escolarização das atividades propostas as quais se mostram distanciadas das interações características de contextos não escolares Essa tradição influencia o trabalho com gênero como objeto de ensino a exemplo de algumas atividades pedagógicas focalizadas na análise dos dados as quais misturaram a diversidade de gêneros às atividades de cópia e de produção de portfólios além da produção textual de gêneros tipicamente escolares Finalmente esta pesquisa mostrou ainda a importância do conhecimento teórico a ser apropriado pelas professoras uma vez que as teorias de referência possibilitaram a construção de uma reflexão mais crítica sobre a prática profissional As teorias possibilitaram a construção de bases sólidas para a formação da au 73 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades tonomia das professoras as quais demonstraram maior confiança para elaborar propostas práticas produtivas além de teorizar sobre a própria prática pedagógica Esse trabalho pode ser aprimorado com vistas à manutenção de um diálogo mais estreito e simétrico entre as escolas e as universidades assim como realizamos na produção da pesquisa que resultou na escrita colaborativa deste capítulo REFERÊNCIAS BAKHTIN M M Estética da criação verbal São Paulo Martins Fones 2000 BAZERMAN C Gênero agência e escrita In Judith C Hoffnagel Angela P Dionisio Org São Paulo Editora Cortez 2006 BEZERRA Seane O X Letramentos orientados por circuito curricular mediado por gêneros práticas de escrita e de análise linguística em aulas de Língua Portuguesa 2015 204 f Dissertação Mestrado Profissional em Letras ProfLetras Universidade Federal do Tocantins Araguaína 2015 BRASIL Parâmetros Curriculares Nacionais Língua portuguesa Ensino Médio Brasília Ministério da Educação 2000 Parâmetros Curriculares Nacionais Língua Portuguesa Ensino Fundamental II Brasília Secretaria de Educação Fundamental SEEF MEC 1998 Parâmetros Curriculares Nacionais Língua Portuguesa Ensino Fundamental I Brasília Secretaria de Educação Fundamental SEEF MEC 1997 GARCIA Vera B B R Transformações em aulas de leitura e análise linguística percursos de professoras 2015 200 f Dissertação Mestrado Profissional em Letras ProfLetras Universidade Federal do Tocantins Araguaína 2015 GERALDI João W Portos de passagem São Paulo Martins Fontes 2003 KLEIMAN Angela B Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola In Angela B Kleiman Os significados do Letramento Campinas SP Mercado de Letras 1995 p 1561 MARCUSCHI Luiz A Produção Textual análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola Editorial 2008 MONTEIRO Kênia C S Proposta didática com alunos paraenses em processo de alfabetização a partir de um circuito curricular mediado por gêneros 2015 219 f Dissertação Mestrado Profissional em Letras ProfLetras Universidade Federal do Tocantins Araguaína 2015 74 Gêneros na prátiCa pedaGóGiCa diáloGos entre esColas e universidades ROJO Roxane Letramentos múltiplos escola e inclusão social São Paulo Parábola 2009 SILVA Luiza H O Gêneros textuais na escola entre teorizações e práticas na formação do professor In Wagner R Silva Org Letramento do professor em formação inicial interdisciplinaridade no estágio supervisionado da licenciatura Campinas SP Pontes 2012 p83108 SILVA Wagner R Gêneros em práticas escolares de linguagens currículo e formação do professor Revista Brasileira de Linguística Aplicada Belo Horizonte UFMGALAB v 15 n 4 p 10231055 2015 Letramento e fracasso escolar o ensino da língua materna Manaus AM UEA Edições 2012a Gêneros textuais em aulas de Língua Portuguesa no Ensino Médio brasileiro Linguagem Ensino Pelotas UCPel v 15 n 2 p 387418 2012b Construção da superação do fracasso do ensino de Língua Portuguesa em diretrizes curriculares In Inês Signorini Raquel S Fiad Org Ensino de língua das reformas das inquietações e dos desafios Belo Horizonte Editora da UFMG 2012c p83105 STREET Brian Letramentos sociais abordagens críticas do letramento no desenvolvimento na etnografia e na educação Tradução Marcos Bagno São Paulo Parábola Editorial 2014