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Psicanálise
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Contextos Clínicos 91133146 janeirojunho 2016 2016 Unisinos doi 104013ctc20169112 Resumo Este artigo tem como objetivo compreender os desdobramentos do uso adolescente das redes sociais virtuais na contemporaneidade sob a ótica psicanalítica que considera a constituição dos adolescentes napela re lação com o outro pela via social cultural e por meio de processos identifi catórios Para compreendermos essa relação partimos do conceito de ideal como elemento norteador da cultura que oferece referências sobre aquilo que deve ser almejado Nossa hipótese no entanto é de que os ideais da contemporaneidade não têm cumprido a função de amparo e a promoção de laços sociais tal como proposto por Freud 2010c 1930 e têm lançado os adolescentes a uma busca por amparo na virtualidade o que pode ser visto de forma privilegiada a partir do Facebook Palavraschave adolescência contemporaneidade Facebook Abstract This article aims to understand the ramifications of teenage use of virtual social networks in contemporary society by a psychoanalytic per spective that comprises the adolescence as a subject who is built onby the relationship with the other through a social and cultural via as well as by identification processes To understand the relationship between adoles cents and culture we have used the concept of ideal as the culture guiding principles which offer references about what shall be longed for Our hy pothesis however is that contemporaneity goals forged by society have not fulfilled their function of performing a sense of security and fostering social tiesbonds social bonds like what was proposed by Freud 2010c 1930 Instead they have thrown them to seek for shelter through consumerism and virtuality what can be watched on Facebook Keywords adolescence contemporaneity Facebook Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual Adolescents on contemporaneity Subjective unfolding about divestment on virtual Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato Universidade Estadual de Maringá Av Colombo 5790 87020900 Maringá PR Brasil viniciusrrgomesgmailcom angelacaniatogmailcom Este é um artigo de acesso aberto licenciado por Creative Commons Atribuição 40 International CC BY 40 sendo permitidas reprodução adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 134 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual Introdução O objeto de nosso estudo são os adolescen tesjovens em meio às modificações sociocul turais contemporâneas Inicialmente escla recemos que a distinção entre adolescência e juventude não é homogênea entre os estudio sos De modo geral podese considerar que a adolescência é um termo privilegiado no campo da Psicologia e da Psicanálise que tem como foco a singularidade do sujeito e de sua experiência subjetiva já a noção de juventude é mais utilizada no campo da Sociologia e da História as quais priorizam uma leitura do coletivo No entanto se considerarmos que o fenômeno individual é desde o princípio social Freud 2011 1921 tal distinção pas sa a depender da perspectiva de análise de determinado fenômeno Em nosso trabalho utilizaremos ambos os termos não tomados como sinônimos mas de forma complemen tar que possibilite o diálogo entre saberes utilizando um ou outro termo de acordo com o que estiver sendo privilegiado na discussão Matheus 2002 Nas últimas décadas temos assistido à propagação de notícias sobre a adolescência que de modo geral representam os indivídu os desse grupo como transgressores rebeldes indiferentes e protagonistas de um cenário violento De acordo com dados de relatório da Unicef 2012 11 da população brasileira vive a fase da adolescência o que equivaleria a aproximadamente 21 milhões de jovens en tre 12 e 17 anos À primeira vista este dado poderia ser encarado como uma oportunida de de alavancar o desenvolvimento do país no entanto diante das profundas desigual dades e vulnerabilidades essa perspectiva se mostra sombria Pobreza baixa escolaridade violência gravidez precoce e abuso de drogas são alguns dos problemas recorrentes com os quais os adolescentes têm se deparado Ante essa vulnerabilidade juvenil brasileira torna se imperiosa a compreensão das dimensões psicológicas e sociais que contribuem para in tensificar a fragilidade dos adolescentes e que os expõe a situações de risco Prioste 2013 Nossa proposta é estudar a adolescência a partir da Psicanálise e compreendêla em meio aos ideais contemporâneos Matheus 2002 aponta que os ideais cumprem um papel de destaque durante a adolescência pois se tor nam uma formação de compromisso entre os ideais de geração precedente projetados na nova geração e a resistência que se opõe a este movimento A nova geração busca processar os ideais herdados transformandoos de forma a negar ou reafirmar a mensagem transmitida pelas gerações anteriores Assim sendo perce bemos a importância do estudo sobre os ideais na adolescência uma vez que estão diretamen te ligados ao universo de referências dos jovens e nos laços que sustentam a sociedade Além disso a noção de ideal sob a perspectiva psi canalítica põe em relevo a dimensão social do sujeito psíquico apontando para o lugar que o outro ocupa na constituição do sujeito Diante disso tomaremos o conceito de ideal como um conceitolimite por se apresentar como pon to de intersecção entre o saber psicanalítico e o políticosocial entre a singularidade do su jeito psíquico e sua dimensão social Koltai in Matheus 2002 Essa formulação dá sustenta ção para nossa articulação entre adolescência e cultura tendo em vista a interdependência en tre ideais de eu e ideais culturais O processo de constituição subjetiva ocor re a partir de operações identificatórias e os ideais culturais presentes nos discursos do minantes são determinantes em tais opera ções e nos caminhos identitários que o sujeito percorrerá uma vez que tais ideais orientam a configuração do desejo na formação do ideal de eu e das identificações indicando ao sujeito o que é necessário para que ele seja reconhe cido e valorizado pela sua rede social Bertol e Souza 2010 Em O malestar na civilização Freud 2010c 1930 aponta que os ideais em sua face cultural exerceriam duas funções a função protetora contra o desamparo e a fun ção de auxílio na constituição de laços sociais Desse modo os ideais ofereceriam consolo para o conflito entre sujeito e civilização bem como recursos para o sujeito lidar com a cas tração e os destinos pulsionais se constituindo como elementos norteadores da cultura que oferecem referências para seus membros sobre aquilo que deve ser almejado Nesse sentido os ideais seriam um contraponto ao desam paro e à dissolução dos laços sociais Nossa hipótese no entanto é de que os ideais da contemporaneidade não têm cumprido essa função lançando os adolescentes a uma busca por amparo nas redes sociais virtuais Este artigo justificase pelas dificuldades de compreensão e de manejo que psicólogos pais e sociedade de uma forma mais ampla têm encontrado no trato com adolescentes os quais se constituem em meio a uma cultura que dissemina ideais diferentes em relação àqueles de gerações anteriores A lente que norteará Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 135 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato nosso trabalho consiste em uma Psicanálise crítica e articulada ao social que compreende a adolescência como uma configuração espe cífica da estrutura histórica Dessa forma ao utilizarmos a Psicanálise como método de análise não faremos uma leitura intimista e reducionista dos indivíduos a qual tem domi nado a literatura acerca de nosso objeto e que leva à psicopatologização e culpabilização dos adolescentes mas sim como uma Psicanálise cuja visão histórica da subjetividade identifi ca as transformações do ethos cultural e suas implicações para o sujeito atentando para a necessidade e a importância de pensarmos o psíquico em sua articulação com os aconteci mentos históricosociais Caniato 2009 A internet como paraíso narcísico dos adolescentes Os adolescentes oscilam entre a condição de dependência e a busca por autonomia ten do em vista que as suas bases narcísicas são afetadas pelas transformações corporais que o acometem Nesse período os adolescentes se embaraçam nos conflitos entre o discurso fa miliar e o discurso social sendo que há uma maior dependência em relação a este no qual buscam formas para representaremse junto aos outros para além do núcleo familiar Nes sa busca para formar novos objetos pulsionais os adolescentes precisam se reposicionar fren te às identificações estabelecidas na infância e às referências simbólicas da cultura que serão responsáveis pela formação de novos investi mentos pulsionais Bertol e Souza 2010 A psicanálise entende que é a partir das identificações que a subjetividade é constitu ída nesse sentido o eu é formado e está des tinado a se modificar continuamente pelas múltiplas identificações Em Introdução ao Nar cisismo Freud 2010a 1914 fala sobre a iden tificação como algo importante por subjazer uma escolha de objeto por apoio na qual o sujeito se constitui com base no modelo parental ou no dos substitutos dos pais diferentemente da escolha de objeto narcísica voltada para o pró prio indivíduo No entanto a maior importân cia metapsicológica do conceito de identifica ção é verdadeiramente desenvolvida a partir da grande reformulação teórica da década de 1920 Roudinesco 2010 Na obra Psicologia das massas e análise do eu 2011 1921 Freud define a identificação como a mais antiga manifestação de uma ligação afetiva a uma outra pessoa manifestando um papel na préhistória do complexo de Édipo No caso do percurso do menino há um in teresse especial em relação ao seu pai sendo que ele gostaria de crescer e ser como ele pois toma o pai como seu ideal Simultaneamente à identificação com o pai o menino investe sua mãe de uma ligação libidinal sexual de objeto enfrentando uma situação edipiana normal e tendo uma identificação masculina carrega da de hostilidade em relação ao pai tomado como rival pelo desejo de tomar seu lugar jun to à mãe Assim sendo Freud considera que a identificação é ambivalente podendo tornar se tanto expressão de ternura como desejo de eliminação Além disso Freud pontua que a identificação atua como um derivado da fase oral da organização da libido na qual o indiví duo incorporou comendo o objeto desejado e estimado e assim o aniquilou enquanto objeto Freud 2011 1921 Nesse sentido podemos considerar que a identificação se empenha em configurar o próprio eu à semelhança daquele que é tomado por modelo A partir desse breve resgate na obra de Freud podemos considerar a identificação como uma ligação libidinal de amor primitiva e inibida quanto aos desejos sexuais que seria capaz de superar os narcisismos individuais e o ódio que separa uns dos outros sendo a força responsável pela união dos indivíduos entre si Além disso podese dizer que a iden tificação possibilita a elaboração da constitui ção subjetiva operando a partir de modelos parentais e sociais que servem de referência sendo portanto um processo singular que pode ocorrer em várias direções Ao pensar os adolescentes esse conceito fica ainda mais claro tendo em vista que sua identidade será resultado do reconhecimento e elaboração de diversas identificações parciais que vão se in corporando no sujeito desde os primórdios pela introjeção de valores parentais e sociais Devemos ressaltar que a aquisição de novas identidades na adolescência não suprime as anteriores sendo que emergem no eu tanto as pectos primitivos quanto atuais da personali dade o que equivale a dizer que o processo de identificação prossegue por toda a vida e não para na vida adulta Os processos identificatórios ocorrem por meio da síntese egoica devido a novas distri buições da libido e pela transformação de va lores e ideais Isso se processa a partir de mo vimentos psíquicos existentes na relação entre pais e filhos sendo que estes incorporam de senvolvem e transformam seu modo de ser Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 136 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual pensar e viver buscando seus próprios mode los A cultura se faz presente nesse processo quer seja pelo modelo identificatório dos pais ou pela ação direta sobre os adolescentes que passam por um momento de construção de suas identidades Levisky 1998 Dessa forma falar em adolescência e processos identificató rios implica necessariamente falar das forma ções grupais que se tornam uma das fontes de gratificação e de suporte narcísico para os ado lescentes A relação estabelecida entre os ado lescentes e o grupo têm o papel de substituto do ideal de eu ou seja atua como mediadora de sistemas de identificação e de identidade O ideal de eu na adolescência se serve do grupo como substituição de identificação e de gratificação narcísica logo podemos conside rar que o surgimento dos amigos e dos grupos como novos objetos de investimento amoroso e sexual representa algo narcísico próximo de um objeto idealizado de si mesmo e projetado nos companheiros Levisky 1998 Os ado lescentes com sua tendência a rejeitar os obje tos parentais e multiplicar suas experiências têm nas novas relações de objeto um suporte para as interiorizações e identificações futuras Há portanto uma busca por realizar apro priações identificatórias as quais dependem em grande medida de objetos mediadores que são encontrados em especial em outros adolescentes e nos grupos Eizirik 2009 Esse deslocamento do jovem em direção aos contextos sociais somado aos sentimentos ambivalentes com relação às figuras parentais fornecem os elementos que favorecerão a vul nerabilidade dos adolescentes ante aos apelos mercadológicos e às promessas idílicas da in dústria cultural global na internet Diante da insegurança e da busca por diferenciação dos pais os adolescentes encontram na Internet um espaço propício para obter reconhecimen to de seus pares um espaço no qual podem criar um mundo viver seus sonhos e negar os limites Prioste 2013 O universo virtual se configura como uma janela da fantasia propondo um gozo pela representação virtual que não pode ser consi derado uma novidade afinal ao longo da his tória tivemos as epopeias orais das narrativas míticas os romances de cavalaria e uma série de suportes orais ou escritos que abriam as ja nelas da imaginação e que convidavam os jo vens a um mundo de mistérios Prioste 2013 No entanto a despeito de não serem novidade não podemos ignorar os suportes tecnológicos e o apelo mercadológico sob os quais essas ja nelas da fantasia repousam e que são caracte rísticas inerentes ao contexto contemporâneo no qual os exploradores da virtualidade es tão sempre abrindo novas janelas capazes de transformar sonhos e desejos em lucros Dito de outra forma podese dizer que a produção imaginária do jovem está sen do apropriada por oligopólios audiovisuais os quais criam uma ilusão de satisfação plena a partir dos objetos virtuais negligenciando a dimensão temporal e levando os jovens a satis fações imediatas e prémoldadas As fantasias virtuais são essencialmente visuais podendo ser associadas às sonoridades e expressões es critas elas são uma espécie de representantes digitais de pulsões mediatizadas pela indús tria cultural Além disso essas fantasias virtu ais são majoritariamente escopofílicas alimen tandose de tendências perversopolimórficas voyeurísticasexibicionistas Prioste 2013 Freud 1996 1905 demonstrou em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade que desde a infância os desejos de olhar e de ser olhado e o prazer a esses associados estão presentes como pulsões parciais e a indústria do entre tenimento explora esse prazer a partir de sites que captam o olhar adolescente No texto de 1905 Freud destaca que o prazer de olhar tem uma relação intrínseca com o de exibirse e sustenta que de certa forma o voyeurismo e o exibicionismo acompanharão a sexualidade do adulto sem se configurar como perversão a não ser que o prazer de ver e ser visto se torne um fim em si mesmo e não se converta em um elemento preliminar do ato sexual Prioste 2013 aponta que entre os ado lescentes uma das principais características observadas nas fantasias virtuais foi o pra zer voyeurístico e exibicionista Não chega a ser surpreendente portanto que em 2013 os responsáveis pelos dicionários da Oxford te nham escolhido o neologismo selfie como a palavra do ano Ruic 2013 Um dos motivos para essa escolha foi o fato de que a busca por essa palavra no site do portal Oxford cresceu 17000 no último ano A palavra em questão tem origem no termo selfportrait que significa autorretrato e designa uma foto que é tirada normalmente pela própria pessoa e compar tilhada na internet A particularidade dessa foto reside no fato de que ela é tirada com o objetivo de ser compartilhada em uma rede social virtual como o Facebook por exemplo Devemos considerar que a pulsão voyeu rísticaexibicionista é uma expressão da se xualidade infantil perversopolimórfica que Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 137 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato se constitui como um ensaio da sexualidade adulta para os adolescentes os quais diante de seu novo corpo podem tentar se esconder dos olhares familiares ou buscar se exibir vir tualmente pela necessidade de ter esse novo corpo reconhecido perante seu grupo Ao se expor perante as câmeras os adolescentes in tensificam essa atividade voyeurísticaexibi cionista o que é reforçado pela sociedade do espetáculo Debord 1997 O campo virtual coloca em questão por tanto nosso modo de existir ante a virtualiza ção e a espetacularização Assim vemos que impera na internet a ilusão de que tudo pode ser visto e exibido Vivemos em um império das sensações que leva à seguinte situação aquilo que não for sensação não pode exis tir Turcke 2010 aponta que em meio a esse mercado de sensações reinam o prazer virtu al marcado pelo gozo voyeurístico e as fanta sias fast food encontradas na internet que são uma descarga certeira para o jovem consumi dor ávido por excitação rápida Freud 2010c 1930 já havia observado que as satisfações diretas das pulsões eram mais intensas que o adiamento do prazer a sua sublimação ou estados previsíveis de satisfação Contudo Freud não imaginava à sua época a enorme quantidade de produtos tecnológicos que se colocariam a serviço da excitação das pul sões voyeurísticas e sádicas criando um ciclo de aumento da tensão psíquica e da descar ga psicomotora levando os adolescentes a uma espécie de montanharussa existencial Prioste 2013 Diferentemente da época de Freud na qual os fatores socioeconômicos e culturais contri buíam para a repressão das pulsões voyeurís ticas e exibicionistas na sociedade contem porânea temos a exaltação da liberdade e do direito ao gozo que caracteriza uma era do exibicionismo Keen 2012 Assim sendo tais pulsões são transformadas em molas propul soras do mercado em especial no mundo vir tual que se sustenta pelo voyeurismo e pelo exibicionismo Prioste 2013 destaca que o ciberespaço está assumindo o lugar do outro cuidador humano e que a economia libidinal está atravessada por objetos tecnológicos os quais se tornam alvo de investimento libidi nal para todos os membros da família Dian te dessa nova configuração de investimento libidinal na tecnologia percebemos que na ausência do outro humano a obturação do real se faz pelas imagens produzidas pela indústria cultural e não a partir das imagens internas Essa adesão à imagem pode tornar o processo de simbolização fragmentado e fazer com que os adolescentes desenvolvam um apego às imagens exteriores e aos gadgets como substitutos do objeto bem como grati ficação especular autoerótica Não parece estranho portanto que em seu estudo com adolescentes Prioste 2013 tenha ouvido de um jovem entrevistado que vislum brava para seu futuro viver sozinho o que mostra como as satisfações intersubjetivas ou seja advindas dos relacionamentos com outras pessoas estão perdendo espaço para a relação com a máquina muitas vezes vista como mais satisfatória Turkle 2010 Este cenário tem tido a influência de nosso contexto social mar cado pela insegurança e pela difusão do medo o que nos leva a colocar os outros seres huma nos sob suspeita Bauman 2012 A indústria cultural tem fabricado o medo de modo a ven der dispositivos de segurança e vigilância as sim como criar espaços de proteção como as redes sociais virtuais Tiburi 2014 Isso pode ser visto em especial em famílias que vivem em metrópoles e que preferem a brincadei ra solitária dos filhos no computador do que a brincadeira na companhia de estranhos Essa noção do outro como ameaça e não como fonte de satisfação subjetiva acaba por contri buir para uma economia narcisicamente orien tada às próteses digitais Prioste 2013 Dentre essas próteses daremos destaque a seguir à mais popular rede social virtual do nosso tem po o Facebook A busca por amparo e os laços virtuais no Facebook A internet surgiu nos Estados Unidos na década de 1970 ao passo que as redes sociais surgiram no final da década de 1990 tendo um rápido desenvolvimento em todo o mundo ao oferecer recursos que facilitaram o contato à distância bem como a transmissão de infor mação e conhecimento O filósofo Pierre Lévy 2000 considera que o ciberespaço é um mundo virtual presente em potência e que existe em um local indefinido desconhecido cheio de devires e possibilidades Para o autor há uma cultura que surge a partir do uso da rede de computadores por meio da comunicação virtu al da indústria do entretenimento e do comér cio eletrônico a cibercultura O termo contempla todos os fenômenos relacionados ao ciberespaço ou seja fenômenos associados às formas de co municação mediadas por computadores Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 138 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual Os adolescentes contemporâneos estão ex postos de maneira sem precedentes a essa ci bercultura uma vez que já nasceram imersos em um contexto social no qual existem Inter net e redes sociais virtuais São os chamados nativos virtuais Turkle 1999 os quais têm mais facilidade em assimilar e utilizar os dis positivos do mundo virtual em oposição aos adaptados virtuais aqueles que nasceram antes do surgimento da rede mundial de computa dores e dos sites de redes sociais O desenvolvimento de redes sociais online criou uma nova forma de organização social deslocando as comunidades para a rede nas quais há uma interação diferente daquela as sociada à presença física imediata do interlocu tor A peculiaridade de tal interação se deve ao fato de que os perfis são elaborados pelos usu ários que se representam nas redes indepen dentemente de critérios de tempo e de espaço Martino 2010 De acordo com Lévy 2015 o ciberespaço funciona como um novo lugar de sociabilidade originando novas formas de rela ções sociais com códigos e estruturas e especí ficas Para o autor o ciberespaço pode proporcio nar uma verdadeira inteligência coletiva ou seja uma distribuição de saberes que não está restrita para poucos privilegiados e que leva ao enriquecimento cultural Segundo o autor somente com a mediação das tecnologias da informação e comunicação os saberes dos indi víduos poderão estar em sinergia Atualmente existem diversos sites de redes sociais na Internet com diferentes propostas sendo que daremos destaque ao Facebook uma rede social virtual gratuita criada pelo estu dante Mark Zuckerberg em 2004 e que possui o maior número de usuários no mundo O Facebook tem sido a ferramenta por excelência utilizada pelos adolescentes para se comuni car com outras pessoas expressar o que pen sam o que sentem e o que desejam a partir de comentários e postagens em geral fotos víde os músicas e textos Não podemos nos esque cer no entanto que o Facebook oferece serviços como anúncios e como qualquer empresa visa o lucro estando imerso em uma lógica do mercado assim como as demais redes so ciais de Internet Nesse sentido a congregação de pessoas no Facebook tornouse um negócio comercial e a lógica de mercado influencia as transações que lá ocorrem Boyd 2008 aponta que os sites de redes sociais virtuais embora recorram a serviços que não lhes são exclusi vos como a partilha de conteúdos ou a comu nicação com outros utilizadores distinguem se por permitirem criar um perfil individual publicar uma lista de amigos ou conexões que pode estar ou não organizada e ver e pesqui sar a lista de conexões dos outros utilizadores Diante da rápida expansão das redes so ciais em especial do Facebook pesquisas na área da Administração Keen 2012 Psicolo gia Matheus 2013 Rosa e Santos 2013 An tropologia Lévy 2015 Filosofia Lévy 2000 Tiburi 2014 Sociologia Turkle 2010 e Co municação Burgos 2014 Martino 2010 vêm buscando compreender tal fenômeno e seus desdobramentos para os usuários Em nosso trabalho o interesse pelo Facebook se deve ao fato de ser um veículo que faz a mediação dos adolescentes com a cultura bem como por se configurar como uma via de acesso à subjeti vidade juvenil afinal a tecnologia incorpora características da sociedade e da cultura na qual se instala tornandose uma esfera inse parável da configuração sóciohistórica atual Lévy 2000 A nossa hipótese é de que a utilização ado lescente dessa ferramenta tem se dado como forma de lidar com o desamparo tendo em vista que a cultura a partir de seus ideais não tem cumprido a função que lhes cabe ria segundo Freud 2010c 1930 qual seja a de promoção dos laços sociais e de proteção ante o desamparo funções que têm sido des tinadas ao mundo virtual A noção de desam paro na obra de Freud remete a palavra alemã Hilflosigkeit utilizada na obra freudiana para designar o desamparo como estado de depen dência do recémnascido para com o adulto O desamparo para Freud contempla a condi ção de ausência de ajuda como possibilida de da vida psíquica O fato de o bebê nascer imaturo tornao dependente do outro para so breviver esse seria o desamparo original que funda e estrutura o psiquismo Freud aponta que tal desamparo é a fonte principal de todos os motivos morais e que o desamparo infantil implica para o bebê uma abertura ao mundo adultodo outro Já em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade 1996 1905 Freud introduz a ideia de sedu ção materna ou seja a mãe ou quem ocupa a função materna desempenha a função de ero geneização do bebê através dos cuidados que exercem uma sedução sobre o bebê essa ação caracteriza o ser humano como dependente do amor do outro Freud acrescenta assim uma nova dimensão na questão do desam paro qual seja que a condição de existência no mundo é apoiada em uma condição de de Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 139 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato samparo do psiquismo Portanto dizer que o sujeito freudiano se constitui na relação com o outro é dizer que o sujeito se constrói a partir de algo que lhe é exterior O malestar na civilização 2010c 1930 é ou tro texto no qual Freud trata a questão do de samparo do sujeito no campo social ao dizer que a condição de vida em sociedade implica uma renúncia pulsional que traz um descon forto ao sujeito sentido como um malestar Esse malestar articulase em torno da assime tria entre as exigências pulsionais e as possibi lidades psíquicas de satisfação reguladas pela simbolização é nessa assimetria que o sujeito pode criar objetos que promovam satisfação além disso ela é condição para a angústia pois indica a condição de desamparo para o sujei to Vemos nessa obra que a relação do sujeito com a civilização é marcada por um malestar em decorrência de um conflito sem resolução total possível e que o desamparo é a base des sa condição subjetiva do humano Não haven do cura possível para o desamparo humano o sujeito precisa criar destinos que ajudem a tornar sua existência possível Menezes 2012 A virtualidade e o Facebook têm sido um des ses destinos cabendo a questão eles têm sido bemsucedidos na gestão do desamparo e na construção de laços sociais Tentaremos res pondêla doravante Comecemos pelo ingresso no Facebook Es tudos apontam que a escolha dessa rede so cial se dá por influência dos amigos e que ao fazêlo os adolescentes acabam influenciando aqueles que o rodeiam Boyd 2009 Na sequ ência temos a elaboração de um perfil virtual através do qual os usuários se identificam e interagem com os demais O internauta inicia o processo de construção de seu perfil com os seus dados seus gostos e interesses seus amigos e as comunidades virtuais às quais pertence nesse sentido podemos dizer que os adolescentes tatuam na tela a sua iden tidade Como demonstra Tiburi 2014 na internet nossas identidades se fundem con fundem e difundem nossos rostos e corpos desaparecem e não há pessoas concretas mas representações e simulações baseadas em dis cursos Nesse sentido Flusser 2007 aponta que com o advento da tecnologia temos nos relacionado com não coisas afinal o homo di gitales não precisa da concretude da vida Ao criar o seu perfil os adolescentes po dem expor na tela não necessariamente aqui lo que eles são mas também a imagem eou identidade socialmente almejada e que terá o reconhecimento da rede social virutal Na internet deixamos de ser uns e outros para criar espectros e avatares que são máscaras idealizadas pelo tecido social ou seja ela pos sibilita a simulação da vida Para interagir no ciberespaço os adolescentes precisam criar uma identidade adequada à comunidade virtual da qual pretendem fazer parte Dessa forma os adolescentes recriamse em formato digi tal incorporando características performáticas que transpareçam uma identidade socialmen te desejada Ao utilizar o Facebook os usuários manifestam seus ideais e sentimentos a partir do conteúdo que publicam e compartilham nesse sentido as publicações são associadas à pessoa que as publica Assim sendo ao utilizar o Facebook o indivíduo seleciona atributos ten do como critério a maneira que deseja ser visto Boyd 2009 Rosa e Santos 2013 Em meio a esse processo de customização da identidade os adolescentes buscam ima gens que os identifiquem tornandoos para doxalmente únicos e iguais aos outros trans formando sua identidade em uma espécie de marca pessoal O Facebook oferece recursos como postagem de fotos vídeos e comentá rios que possibilitam aos usuários a criação e a categorização de seu perfil Além disso os dispositivos de curtir e compartilhar per mitem que cada usuário publique postagens as quais constituem uma maneira de expressar sentimentos pensamentos ideias emoções e desejos Rosa e Santos 2013 Ao curtir ou compartilhar uma determina da postagem vemos portanto que o usuário passa a fazer parte de um determinado grupo de pessoas ou de uma determinada forma de pensar Os adolescentes curtem as páginas às quais desejam pertencer não necessariamen te para discutir temas mas para publicar seus interesses Curtir algo no Facebook é fazer uma proclamação instantânea do self Minerbo 2009 é dizer amo isto ou odeio aquilo além disso aquilo que é curtido compõe o mosaico virtual da identidade dos adoles centes Vemos portanto que o Facebook ca tegoriza grupos e pessoas oferecendo para o público sentidos de identidade e para os usuários sentimentos de identidade Rosa e Santos 2013 Baudrillard 1999 mostra no entanto ceti cismo em relação às identidades forjadas nos ambientes virtuais da internet considerando que as interações mediadas pelas redes sociais virtuais são pautadas em simulações e hiperes petacularização das identidades Nesse sen Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 140 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual tido o usuário tende a simular ser o que não é e substitui a realidade pela simulação Rosa e Santos 2013 apontam que essa perspecti va desconsidera a existência da subjetividade imersa nesse contexto pois há por detrás dos perfis pessoas conectadas cujas identidades promulgadas no Facebook parecem estar rela cionadas às qualidades que os usuários estão convencidos de ter e não necessariamente a uma simulação Apesar do contraponto feito por esses au tores isso não muda o fato de que no mundo virtual há uma maior possibilidade de sele ção e omissão de aspectos da identidade que serão publicados e expostos no Facebook Em um relacionamento presencial dissimular tais aspectos seria muito mais difícil Assim sendo podemos considerar que os usuários das redes sociais utilizam táticas para se representarem o que é facilitado pela rede virtual Os usuários do Facebook fazem um gerenciamento detalha do de informações e de fotos visando ocultar aspectos considerados malvistos socialmente ou que vão à contramão dos ideais sociais contemporâneos Nesse sentido podemos dizer que ao uti lizar o Facebook os adolescentes interagem en tre si consumindo não apenas as ferramentas e recursos do site mas também os modelos de identidade que são comercializados atra vés das interações e postagens Rosa e Santos 2013 consideram que há no Facebook um processo de Negociação de Identidades que ocorre de forma dinâmica e interativa de acordo com o interesse das pessoas imersas no ambiente virtual e também fora da rede Os autores apontam que o Facebook tem um perfil padrão estrategicamente estabelecido para seus usuários os quais se utilizam por sua vez de táticas próprias para negociar suas identidades Esse processo sofre a influência do mercado e da sociedade de acordo com seus interesses fomentando assim o consu mo de identidades por intermédio dos proces sos de identificação O termo consumo de identidades pode ser associado ao desenvolvimento tecnológi co que fez com que o consumo se desmate rializasse e passasse a contemplar uma ampla gama de possibilidades tais como a produ ção de sensações e de experiências Desse modo as redes sociais na Internet têm levado a uma subjetivação e à construção de um eu digi tal Turkle 1995 na qual o exercício de si pas sa pelo consumo e pela exposição de gostos e preferências Pinheiro 2008 Vemos portanto que a customização dos perfis é uma adequa ção da identidade do dono do perfil no Face book tomada como produto aos demais usu ários tomados como consumidores Assim os adolescentes tendem a seguir critérios que os identificam com ideais estabelecidos pela sociedade e difundidos pelo mercado como socialmente desejados Rosa e Santos 2013 p 101 coletaram em entrevistas a opinião de usuários do Facebook dentre os quais destaco a seguinte quando você cria o seu perfil não é que você crie uma identidade você cria uma identidade que não é você totalmente Esse depoimento mostra como os perfis expostos na rede social virtual contemplam uma sele ção de determinados aspectos identitários que serão expostos e que nem sempre são verídi cos mas que apontam para uma dimensão do sujeito que não podemos negligenciar O Facebook permite por exemplo a cons trução de si como celebridade na medida em que funciona como uma coluna social perso nalizada na qual os adolescentes se retratam em festas viagens se divertindo com os ami gos Para os facebookianos que buscam um lugar para expor sua identidade essa lógica de registrar os momentos em fotos e esperar co mentários como uma espécie de espelho para o próprio narcisismo é fundamental Há no Facebook algo como um contrato narcísico Mi nerbo 2009 recíproco que deixa implícito se eu elogio você você deve me elogiar E por falar em narcisismo devemos lem brar que ter amigos e fazer parte de grupos é algo vital para os adolescentes e no Face book isso não é diferente sendo que ter mui tos amigos dá ao facebookiano um status de popular em contrapartida uma página sem mensagens é um duro golpe no narcisismo dos adolescentes A grande diferença é que com o Facebook a rede de amigos se presentifica no es paço virtual como uma maquete e a experiên cia subjetiva de amizade se reifica ou seja o sujeito tem a experiência de ter amigos e de ser querido na medida em que sua página assim o mostra quando os amigos deixam mensagens de afeto elogios comentários positivos e essas mensagens ficam expostas Minerbo 2009 Há ainda o caso emblemático daqueles usuários que criam um perfil falsofake utili zando informações falsas tais como nome fo tos e interesses em seus perfis No perfil fake os adolescentes parecem encontrar uma pos sibilidade de criar uma nova identidade e de supostamente protegido pelo anonimato inte ragir com os demais usuários apenas com in Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 141 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato formações relativas ao personagem que criou tomando atitudes no ciberespaço que não são tomadas no mundo offline Os fakes podem ser compreendidos como uma faceta da fragmen tação das identidades do homem contempo râneo Rosa e Santos 2013 Mas qual seria o temor dos adolescentes contemporâneos em se mostrar tal como eles são Com que finalidade eles lançam mão de se apresentarem diferente mente do que são Certamente essas questões são complexas mas a resposta passa necessariamente pelo receio dos adolescentes em não corresponder àquilo que Freire Costa 1986 denominou de tipo psicológico ordinário um perfil disseminado pela indústria cultural e isso inclui o Facebook com características idealizadas pela rede social virtual e que serve de referência para como os indivíduos devem se portar Um perfil que no entanto é modificado constantemente seguin do a lógica do obsoletismo planejado diante da multiplicidade de referências que marca a contemporaneidade A globalização e a propagação da Internet certamente influenciaram esse processo de produção subjetiva múltipla e interligada que vai de encontro com a subjetividade ancorada nas tradições que caracterizava a modernida de Diante da multiplicidade como dimensão subjetiva os adolescentes contemporâneos pa recem ser acometidos por uma desorientação e um desamparo Para Minerbo 2009 essa falta de suporte e de amparo faz com que os adolescentes contemporâneos tenham de se constituir em meio a laços simbólicos frouxos o que dificulta a internalização de referências identitárias estáveis produzindo identifica ções pouco consistentes Esse cenário oferece aos adolescentes a possibilidade de ser autor de sua identidade o que constitui uma forma inédita de protagonismo que pode ser vista de maneira privilegiada na utilização que os ado lescentes fazem das redes sociais na internet Ainda de acordo com Minerbo 2009 a ex periência de ser dos adolescentes contempo râneos não provém da interioridade mas sim da construção de uma forma de identidade a partir dos signos produzidos e oferecidos pela sociedade de consumo Ao contrário da subje tividade moderna na qual os indivíduos sen tiam que eram produto de seu meio e tinham uma experiência subjetiva de identidade cla ra em um movimento de dentro para fora na subjetividade contemporânea é o estilo de vida que determina os modos de ser em um movimento de fora para dentro Essa iden tidade reificada leva os adolescentes a por exemplo consumir a griffe x e frequentar os lugares y para ter a experiência de ser x e y Minerbo 2009 Rolnik 1997 aponta que essa experiência de ser é um simulacro e não chega a ser internalizada pois se con some rapidamente precisando ser renovada Estaríamos diante de uma dimensão aditiva da construção da identidade como apontam alguns autores Rolnik 1997 Raleiras 2009 Essa perspectiva aponta que diante do desam paro identitário os adolescentes buscam alívio em comportamentos que lembram adições tais como o consumo e o uso da internet Essa postura crítica adotada por alguns autores com relação ao potencial transforma dor das novas tecnologias digitais tem levado a uma espécie de tecnofobia e condenação da tecnologia Na contramão dessa tendên cia Rosa e Santos 2013 apontam o Facebook como uma referência e uma ancoragem sub jetiva ante a multiplicidade existente na con temporaneidade Nesse sentido os autores parecem corroborar a nossa hipótese qual seja a de que a utilização do Facebook pelos adolescentes tem se dado como forma de li dar com o desamparo Não podemos ignorar entretanto o fato de que adolescentes têm encontrado no virtual uma satisfação sem esforços para todos seus desejos ou seja sem os limites da realidade o que aliena o sujeito da sua própria natureza Lévy 2000 Isso nos leva a pensar em um fun cionamento egoico arcaico que não consegue impor o princípio da realidade Além disso ao se apresentar como mais sedutor do que o mundo real repleto de frustrações limitações e finitude o mundo virtual pode levar os ado lescentes a um prejuízo do sentimento de rea lidade e do senso de identidade levando em última instância ao sentimento de vazio e de desamparo Assim sendo devemos questionar até que ponto o Facebook tem atuado como an coragem subjetiva tendo em vista que o real e o virtual não são iguais e que se relacionar com alguém através de uma telaimagem não é a mesma coisa que se relacionar com alguém pessoalmente Essa dificuldade crescente em separar a esfera real da virtual pode ser explicada pelo advento de dispositivos que atuam como pró teses interativas na internet fazendo com que simulacros sejam tomados como reais fomen tando uma concepção de vida como simula ção Além disso a internet e os dispositivos tecnológicos têm possibilitado ao homem a Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 142 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual possibilidade de viver experiências sensoriais em outras dimensões bem como de expandir os limites do corpo e transpor as fronteiras do tempo e do espaço Esse cenário faz com que o mundo real e o mundo virtual estejam sepa rados por linhas cada vez mais tênues Turk le 1999 podendose considerar essa divisão como fronteiras movediças tal como são as fron teiras entre o eu e o id no princípio da vida A sociedade do consumo tem se servido dos estímulos sensoriais rápidos e diversificados a fim de que não se tenha tempo para organizá los Desse modo as pulsões têm uma vazão rápida em direção ao mercado sem que haja análise crítica E é exatamente nesse sentido de expropriar a capacidade de pensar que a indústria cultural tem atuado no mundo globa lizado Temos aqui os ingredientes necessários para a criação de fenômenos de massa cuja eficácia reside na ilusão de que o desamparo e o sentimento de vazio podem ser remediados pela inserção nesses grupos Cardoso 2006 Fazer parte do Facebook enquanto grupo parece estar se tornando um verdadeiro ritual sendo que aqueles que não o fazem sentem se excluídos afinal as mensagens difundidas pela indústria cultural remetem apenas aos be nefícios que serão adquiridos em decorrência da inclusão nessas coletividades Contudo tais formações grupais podem levar a um sen timento de exclusão subjetiva que seria perce bido na obediência por parte dos adolescentes aos padrões impostos pela massa tornandoos autômatos isentos de crítica capacidade refle xiva e com um funcionamento regressivo do eu Cardoso 2006 Na busca por reconhecimento e visibilidade os jovens passam a dar adesão a modismos e a viver agir falar e se vestir como outros mem bros da massa perdendo sua singularidade e caindo na tendência à uniformidade Contu do como ressalta Cardoso 2006 essas massas se dissipam rapidamente e dão lugar ao culto de novos valores sendo que os adolescentes abraçam esses novos valores tentando esque cer o passado ou negálo para criar uma nova identidade Matheus 2013 aponta que as novidades tecnológicas no momento de seu surgimento tendem a facilitar os processos co tidianos encurtando o tempo usual de uma de terminada operação resultando na fantasia de superação do esforço de postergação que cada processo desejante exige do psiquismo No en tanto com o passar do tempo a novidade deixa de sêlo e o exercício de postergação de satis fação volta a se mostrar inevitável Isso pode ser percebido no grande número de redes so ciais virtuais que surgem e caem em desuso em pouco tempo como foi o caso do ICQ Fotolog MSN e Orkut entre outros Garcia e Coutinho 1999 destacam que acompanhamos no mundo contemporâneo a emergência e a disseminação de diversas tri bos urbanas que se constituem como grupos de afinidade e de interesse cada qual com tra ços peculiares sendo que na tentativa de se distinguir umas das outras lançam mão de distintivos na imagem visual de seus mem bros tais distintivos são bens de consumo que se tornam alvo de cobiça entre os membros da tribo e que seguem a lógica de exclusãoinclu são que predomina na sociedade de consumo contemporânea As autoras apontam ainda que a constituição dessas tribos representa uma tentativa por parte de seus membros de lidar com o desamparo Falar em tribos e na enorme adesão que os adolescentes têm dado ao Facebook remetenos ao texto Psicologia de massas e análise do eu no qual Freud 2011 1921 define a massa como um grupo volátil no qual algum interesse pas sageiro aglomerou diversos tipos de indivídu os com um interesse comum em um objeto e uma inclinação emocional semelhante Freud afirma que na massa o indivíduo abandona seu ideal de eu e o substitui pelo ideal da massa o qual pode ser ocupado pela figura de um lí der por uma ideia ou projeto que faz com que os membros se identifiquem entre si em uma relação libidinal inibida quanto a seus fins Nesse sentido podemos afirmar que é o compartilhamento de um mesmo ideal que leva às identificações horizontais as quais por sua vez garantem a sustentação do laço gru pal Contudo na ausência de algo em comum a ser partilhado o grupo fica sob ameaça de dissolução Assim podese pensar que com a ausência do ideal na qualidade de um terceiro o que prevalece nos grupos são identificações narcísicas que favorecem um cenário de dis solução dos grupos Garcia e Coutinho 2004 Desse modo percebemos que há nas tri bos uma prevalência de identificações entre os membros sem um terceiro no lugar do ideal de eu o que leva a um predomínio da angústia traumática característica das situações de de samparo e que deixam o sujeito em uma posi ção de extrema vulnerabilidade à mercê da an gústia e de impulsos incontroláveis Parecenos que isso também ocorre no uso adolescente do Facebook onde os jovens na ausência de algo identificável que ocupe a função de ideal se Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 143 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato perdem em meio a uma multidão de elementos sem rosto descarregando erraticamente sua tensão pulsional reproduzindo as condições vigentes do macrocosmo do qual pretendem se proteger Garcia e Coutinho 2004 Os adolescentes ao usarem o Facebook para construir uma identidade acabam por assumir muitas vezes uma identidade alienada visto que não se trata exatamente da assunção de uma singularidade mas sim de investimentos que nem sempre servem à função de amparo e de construção de laços sociais As consequên cias subjetivas desse estado das coisas apon tam para a intensificação do desamparo fra gilização dos laços e para a vulnerabilidade ao trauma como tentaremos demonstrar adiante Narcisismo negativo expressão psíquica do malestar adolescente Diante da dificuldade de simbolizar e de pensar dos adolescentes contemporâneos bem como da falta de limites entre prazerre alidade e verdadeirofalso que destacamos em nosso estudo cremos que seja fundamental para uma compreensão teoricamente mais ar ticulada a contribuição de André Green sobre o narcisismo positivo e o narcisismo negativo Para Green 1988 o conceito de narcisismo é um parêntese na obra de Freud entre a sexuali dade e a criação da segunda tópica Em Introdução ao narcisismo 2010a 1914 Freud define narcisismo como o comportamen to mediante o qual um indivíduo trata seu próprio corpo de maneira semelhante a como se costuma tratar o corpo de um objeto sexual Freud nos mostra que tal investimento sexual no próprio corpo não se encontra apenas na psicopatologia mas também no desenvolvi mento normal de todo indivíduo e estuda os fenômenos narcísicos em especial por três vias a saber através da psicose da doença orgânica hipocondria e da vida amorosa Green 1988 aponta que Freud abandona suas investigações sobre o narcisismo após 1920 incluindoo como parte das pulsões de vida e considera que Freud falhou em elabo rar outras possibilidades para o narcisismo uma vez que algumas de suas características poderiam ser vistas como parte daquilo que ele conceituou como pulsão de morte Para defender seu argumento o autor destaca a passagem em O Eu e o id na qual Freud consi dera que a transformação da libido de objeto em libido narcísica implica em uma dessexu alização ou seja na conversão de representa ções de objeto sexuais em identificações com a libido sendo domada pelo eu Para Green esse processo segue a mesma linha da pulsão de morte sugerindo que alguns aspectos do narcisismo podem seguir a mesma linha do antierotismo envolvido na pulsão de destrui ção Além disso Green destaca outro trecho do texto de 1923 no qual Freud explica que a transformação de amor em ódio e viceversa poderia invalidar as suas hipóteses ao conce ber a transformação de uma pulsão em outra fazendo cair por terra a distinção entre pulsão erótica e destrutiva Freud postula assim a existência de uma energia deslocável e neutra que poderia ser adicionada tanto a uma pulsão erótica como a uma destrutiva não especificando se essa energia se localiza no eu ou no id e cria a hipó tese de que seria proveniente do estoque narcí sico de libido do Eros dessexualizado Freud aponta que se essa energia deslocável é libido dessexualizada é licito chamála de sublima da na medida em que mantém a finalidade de unir e ligar própria a Eros Para Green 1988 no entanto é possível que essa dessexualização citada por Freud na sublimação seja uma mistura das funções de Eros com seus objetivos de ligação e união bem como da pulsão de morte com seu obje tivo de dessexualização O autor aponta que para Freud a sublimação ocorre por intermé dio do eu Logo deduzse que a dessexualiza ção envolvida na sublimação e o processo de desligamento ocorrem em parte no eu Nes se sentido o eu seria para Green o lugar de fusão e desfusão das pulsões Freud 2010b 1920 atribui à intricação pulsional a responsa bilidade pelo movimento psíquico no entanto como destaca Garcia 2010 há episódios de desfusão pulsional que podem ser vistos nas psi coses depressões neuroses graves estruturas narcísicas e estados limites nos quais o que se percebe é que a função desobjetalizante domi na o psiquismo com afetos e angústias que são típicas da pulsão de morte Com esse percurso Green chega à hipótese de um duplo narcisis mo um narcisismo positivo com o objetivo de atingir a unidade e um narcisismo negativo em direção à morte psíquica Green 1988 considera que enquanto a pulsão de vida tende à atividade de ligação objetalizante e criativa realizada pela função sexual e que se caracteriza pela criação de vínculos pulsionais e por investimentos sig nificativos a pulsão de morte atua com uma função desobjetalizante atacando os víncu Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 144 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual los objetais e a capacidade de investimento no sentido do desligamento portanto se opondo à vida e visando ao estado zero de tensão A maior expressão da função desob jetalizante pode ser vista como o narcisismo negativo com sua busca do nível zero de funcionamento psíquico e desinvestimento objetal Garcia 2010 Freud 2010b 1920 definiu trauma como a ruptura da camada protetora do psi quismo contra estímulos externos que inun dam o aparelho psíquico pelo excesso de intensidade que bloqueia o funcionamento do princípio do prazer Lembrando que é a transformação de energia livre em energia li gada que garante a manutenção do princípio do prazer assim sendo quanto mais ener gia quiescente maior a possibilidade de vin culação e menor a suscetibilidade ao trauma Garcia 2010 p 71 Vemos nesse sentido que a baixa intensidade vinculatória favorece o trauma ao causar falta de preparação para a angústia que se configura como uma defesa do aparelho psíquico ante as intensidades exces sivas que levam ao trauma Ainda em Além do princípio do prazer Freud 2010b 1920 considera que a situação trau mática pode provocar como resposta um in vestimento narcísico maciço o qual não se mostra eficaz em sua ação protetora de vincu lação ou seja apesar de esse desinvestimento no outro representar uma resposta defensiva diante de uma situação traumática ele se mos tra ineficaz na sua tarefa protetora pois tor na o sujeito ainda mais vulnerável ao trauma uma vez que só a atividade de ligação função objetalizante garante alguma proteção frente ao trauma Em Inibições sintomas e angústia Freud 2014 1926 explica melhor esse processo ao associar o trauma ao desamparo sendo que este estaria na origem da angústia a qual se repetiria ao longo da vida como angústia si nal e angústia automática A presença de ex pectativa em situações de desamparo evoca a angústia sinal e prepara o sujeito para a ação ao caracterizar a situação de perigo exercen do assim uma influência protetora por outro lado na situação traumática o sujeito é sub metido à angústia automática e não há expec tativa o que nos leva à compreensão de que sistemas investidos são aqueles em que a ex pectativa está presente e a intensidade traumá tica é menor Já os sistemas desinvestidos se riam mais suscetíveis ao trauma pois o sujeito se vê invadido pela angústia automática e é inundado por uma intensidade que ultrapassa seus limites Garcia 2010 Garcia 2010 considera que a função desob jetalizante e o narcisismo negativo são expressões psíquicas do malestar contemporâneo Desse modo podemos pensar que os adolescentes contemporâneos estão marcados por um de sinvestimento avassalador que apesar de se configurar como uma tentativa de defesa fren te à traumática situação de existência atual se mostra ineficiente em tal tarefa protetora e deixa os indivíduos mais vulneráveis ao trau ma pois só a atividade de ligação seria capaz de garantir tal proteção Os desdobramentos psíquicos do cenário atual marcado pela indi ferença e pela insuficiência Ehrenberg 2010 podem ser vistos nos estados narcísicos e de pressivos bem como no envolvimento com drogas na paralisia na apatia e na ausência de projetos dos jovens Faveret et al 2007 Diferentemente da meta objetalizante da pulsão de vida que possibilita a ligação a sim bolização e que é criada a partir dos vínculos a meta desobjetalizante da pulsão de morte se expressa na dificuldade de representar de pensar e no desinvestimento Ao investir nas imagens e nas relações virtuais da internet e do Facebook os adolescentes contemporâne os estão desinvestindo o humanoreal Desse modo vemos que os adolescentes contempo râneos devido à sua capacidade frágil de in vestimento e de construção de vínculos libidi nais apresentam uma enorme vulnerabilidade ao trauma se caracterizando como um sujeito pobremente vinculado e à mercê das quanti dades excessivas de excitação que continua mente o afligem caracterizando uma situação traumática de desamparo Garcia 2010 Considerações finais Como destacamos no início deste artigo nossa proposta visava compreender a adoles cência em meio à cultura e aos ideais contem porâneos os quais têm lançado os adolescen tes em uma busca por amparo e construção de laços na virtualidade em especial no Face book Cremos que a questão não se passa por adotar uma postura maniqueísta com relação às realidades virtuais mas sim de compreen der as repercussões dessa tecnologia no psi quismo É inegável que a virtualidade é uma forma revolucionária de representação que o homem criou e que trouxe inúmeros benefí cios à humanidade no entanto mantendo a tensão entre os prós e contras da tecnologia Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 145 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato destacamos que não podemos cair na ingenui dade e esquecer os interesses mercadológicos que induzem ao uso excessivo do virtual Esse investimento excessivo no virtual pode trazer consequências subjetivas como a intensificação do desamparo a fragilização dos laços sociais e a maior vulnerabilidade ao trauma Aprendemos com Freud que amar exige investimento pulsional com produção de significado e isso depende da construção de representações carregadas de afeto ou seja depende do trabalho psíquico e do investi mento da demanda pulsional em objetos pre sentificáveis para além daqueles ofertados no meio virtual Percebemos no entanto que há uma ca rência dessa capacidade nos dias de hoje o que nos leva à questão há perspectivas Diante desse cenário Garcia 2010 aponta para a análise como uma saída tendo em vista que o analista ao oferecer sua escuta e presença contribui para a reativação da ca pacidade de investir e desejar do sujeito Nos dizeres da autora caberia ao analista en quanto testemunha transferencial possibili tar o movimento de repetição restauradora bem como oferecer um espaço ventilado no qual o excesso possa se transformar em au sência enquanto presença em potencial e o narcisismo negativo possa ser substituído pela função objetalizante no seu processo de construção de vínculos Garcia 2010 Certamente a psicanálise e o analista exer cem a escuta das inquietações de cada sujeito que em sua angústia anônima e solitária não deixa de se remeter ao outro da cena social Porém essa escuta não deve ficar restrita às clínicas psicanalíticas a sociedade através da cultura também deve oferecer essa es cuta e o espaço ventilado tão almejado pelos jovens entretanto não da forma corrente na atualidade na qual diante de um ambiente pouco acolhedor e violento esse espaço tem sido relegado muitas vezes exclusivamente às redes sociais virtuais A mudança desse cená rio marcado pelo desamparo indiferença e fragilidade dos vínculos passa pelo resgate da capacidade crítica a fim de termos com a internet uma relação lúcida e a favor de nos sa emancipação e não de nossa servidão bem como por um resgate da capacidade de inves timento nos laços com o outro humano Dizer que nada pode substituir o amparo e os laços humanos pode parecer um clichê mas é um emblemático sinal dos nossos tempos e são necessários artigos para nos lembrar disso Referências BAUDRILLARD J 1999 Teta total mitoironias da era do virtual e da imagem Porto Alegre Sulina 158 p BAUMAN Z 2012 Confiança e medo na cidade Rio de Janeiro Zahar 94 p BERTOL CE SOUZA M 2010 Transgressões e Adolescência Individualismo Autonomia e Representações Identitárias Psicologia Ciência e Profissão 304824839 httpdxdoiorg101590s141498932010000400012 BOYD D 2008 Why youth heart social network sites The role of networked publics in teenage social life In D BUCKINGHAM ed Youth Identity and Digital Media Cambridge The MIT Press p 119142 BOYD D 2009 Taken Out of Context American Teen Sociality in Networked Publics Berkeley CA PhD Dissertation University of Califor niaBerkeley 406 p BURGOS P 2014 Conectese ao que importa um manual para a vida digital saudável São Paulo Leya 223 p CANIATO AMP 2009 Os DesCaminhos na Psicanálise A busca de compreensão da sub jetividade e de seu sofrimento na contempo raneidade In EA TOMANIK AMP CA NIATO MGD FACCI orgs A constituição do sujeito e a historicidade Campinas Editora Alínea p 167218 CARDOSO MR 2006 Adolescentes São Paulo Edi tora Escuta 206 p DEBORD G 1997 A sociedade do espetáculo Rio de Janeiro Contraponto 240 p EHRENBERG A 2010 O culto da performance da aventura empreendedora à depressão nervosa São Paulo Ideias e Letras 240 p EIZIRIK LC 2009 O Ciclo da Vida Humana Porto Alegre Artmed 200 p FAVERET BMS FAUSTINO R COELHO E MENDONÇA ALS 2007 Eros no século XXI Édipo ou Narciso Tempo Psicanalítico 393550 FLUSSER V 2007 O mundo codificado São Paulo Cosac Naify 224 p FREIRE COSTA J 1986 Violência e Psicanálise Rio de Janeiro Graal 252 p FREUD S 1996 1905 Três ensaios sobre a teoria da sexualidade Rio de Janeiro Imago 196 p FREUD S 2010a 1914 Introdução ao narcisismo en saios de metapsicologia e outros textos São Paulo Companhia das Letras 309 p FREUD S 2010b 1920 Além do princípio do prazer São Paulo Companhia das Letras 424 p FREUD S 2010c 1930 O malestar na civilização São Paulo Companhia das Letras 492 p FREUD S 2011 1921 Psicologia de massas e análise do eu São Paulo Companhia das Letras 343 p FREUD S 2014 1926 Inibições sintomas e angústia São Paulo Companhia das Letras 392 p GARCIA CA COUTINHO LG 1999 Tribos consumo e desamparo uma trilogia contempo rânea Pulsional 1278289 Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 146 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual GARCIA CA COUTINHO LG 2004 Os novos rumos do individualismo e o desamparo do su jeito contemporâneo Psychê Revista de Psicanáli se 913125140 GARCIA CA 2010 Trauma e narcisismo negativo questões para a clínica contemporânea In MR CARDOSO Entre o eu e o outro espaços fronteiri ços Curitiba Juruá p 6576 GREEN A 1988 Narcisismo de vida narcisismo de morte São Paulo Escuta 302 p KEEN A 2012 Digital Vertigo How todays online social revolution is dividing diminishing and disori enting us New York St Martin Press 254 p LEVISKY DL 1998 Adolescência reflexões psi canalíticas São Paulo Casa do Psicólogo 320 p LÉVY P 2000 Cibercultura São Paulo Editora 34 264 p LÉVY P 2015 A inteligência coletiva por uma antro pologia do ciberespaço São Paulo Folha de São Paulo 206 p MARTINO LMS 2010 Comunicação e identidade quem você pensa que é São Paulo Paulus 219 p MATHEUS TC 2002 Ideais na adolescência falta d e perspectivas na virada do século Annamblume Fapesp 200 p MATHEUS TC 2013 Adolesencia y nuevas tec nologias digitales desafios entre generaciones Actualidad Psicológica 3868 MENEZES LS de 2012 Desamparo São Paulo Casa do Psicólogo 130 p MINERBO M 2009 Depleção simbólica e sofri mento narcísico contemporâneo Revista Con temporânea Psicanálise e Transdisciplinaridade 74477 PINHEIRO M de A 2008 Subjetivação e consumo em sites de relacionamento Comunicação Mídia e Consumo 514103121 PRIOSTE CD 2013 O adolescente e a internet laços e embaraços no mundo virtual São Paulo SP Tese de Doutorado Universidade de São Paulo 361 p RALEIRAS MSC 2009 Identidade Internet e Sub jetivação os sites de redes sociais Lisboa Portu gal Dissertação de Mestrado Universidade de Lisboa 104 p ROLNIK S 1997 Toxicômanos de identidade subje tividade em tempo de globalização Reelaboração de artigo publicado no caderno Mais da Folha de SPaulo São Paulo 19 maio Disponível em http wwwpucspbrnucleodesubjetividadeTextos SUELYToxicoidentidpdf Acesso em 20052014 ROSA AM SANTOS BR dos 2013 Facebook e as nos sas identidades virtuais Brasília Thesaurus 198 p ROUDINESCO E 2010 Dicionário de Psicanálise Rio de Janeiro Zahar 863 p RUIC G 2013 Palavra do ano selfie se consolida como mania na internet EXAMEcom Dispo nível em httpexameabrilcombrtecnologia noticiaspalavradoanoselfieseconsolidaco momanianainternet Acesso em 13122013 TIBURI M 2014 Filosofia prática Rio de Janeiro Record 320 p TURCKE C 2010 Sociedade excitada Filosofia da sen sação Campinas Editora Unicamp 328 p TURKLE S 1995 Life on the screen identity in the age of internet New York Simons Schuster 347 p TURKLE S 1999 Fronteiras do real e do virtual Revista Famecos 11117123 TURKLE S 2010 Alone together why we expect more from technology and less from each other New York Basic Books 360 p Submetido 26082015 Aceito 29012016 Copyright of Contextos Clínicos is the property of Universidade do Vale do Rio dos Sinos and its content may not be copied or emailed to multiple sites or posted to a listserv without the copyright holders express written permission However users may print download or email articles for individual use
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Contextos Clínicos 91133146 janeirojunho 2016 2016 Unisinos doi 104013ctc20169112 Resumo Este artigo tem como objetivo compreender os desdobramentos do uso adolescente das redes sociais virtuais na contemporaneidade sob a ótica psicanalítica que considera a constituição dos adolescentes napela re lação com o outro pela via social cultural e por meio de processos identifi catórios Para compreendermos essa relação partimos do conceito de ideal como elemento norteador da cultura que oferece referências sobre aquilo que deve ser almejado Nossa hipótese no entanto é de que os ideais da contemporaneidade não têm cumprido a função de amparo e a promoção de laços sociais tal como proposto por Freud 2010c 1930 e têm lançado os adolescentes a uma busca por amparo na virtualidade o que pode ser visto de forma privilegiada a partir do Facebook Palavraschave adolescência contemporaneidade Facebook Abstract This article aims to understand the ramifications of teenage use of virtual social networks in contemporary society by a psychoanalytic per spective that comprises the adolescence as a subject who is built onby the relationship with the other through a social and cultural via as well as by identification processes To understand the relationship between adoles cents and culture we have used the concept of ideal as the culture guiding principles which offer references about what shall be longed for Our hy pothesis however is that contemporaneity goals forged by society have not fulfilled their function of performing a sense of security and fostering social tiesbonds social bonds like what was proposed by Freud 2010c 1930 Instead they have thrown them to seek for shelter through consumerism and virtuality what can be watched on Facebook Keywords adolescence contemporaneity Facebook Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual Adolescents on contemporaneity Subjective unfolding about divestment on virtual Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato Universidade Estadual de Maringá Av Colombo 5790 87020900 Maringá PR Brasil viniciusrrgomesgmailcom angelacaniatogmailcom Este é um artigo de acesso aberto licenciado por Creative Commons Atribuição 40 International CC BY 40 sendo permitidas reprodução adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 134 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual Introdução O objeto de nosso estudo são os adolescen tesjovens em meio às modificações sociocul turais contemporâneas Inicialmente escla recemos que a distinção entre adolescência e juventude não é homogênea entre os estudio sos De modo geral podese considerar que a adolescência é um termo privilegiado no campo da Psicologia e da Psicanálise que tem como foco a singularidade do sujeito e de sua experiência subjetiva já a noção de juventude é mais utilizada no campo da Sociologia e da História as quais priorizam uma leitura do coletivo No entanto se considerarmos que o fenômeno individual é desde o princípio social Freud 2011 1921 tal distinção pas sa a depender da perspectiva de análise de determinado fenômeno Em nosso trabalho utilizaremos ambos os termos não tomados como sinônimos mas de forma complemen tar que possibilite o diálogo entre saberes utilizando um ou outro termo de acordo com o que estiver sendo privilegiado na discussão Matheus 2002 Nas últimas décadas temos assistido à propagação de notícias sobre a adolescência que de modo geral representam os indivídu os desse grupo como transgressores rebeldes indiferentes e protagonistas de um cenário violento De acordo com dados de relatório da Unicef 2012 11 da população brasileira vive a fase da adolescência o que equivaleria a aproximadamente 21 milhões de jovens en tre 12 e 17 anos À primeira vista este dado poderia ser encarado como uma oportunida de de alavancar o desenvolvimento do país no entanto diante das profundas desigual dades e vulnerabilidades essa perspectiva se mostra sombria Pobreza baixa escolaridade violência gravidez precoce e abuso de drogas são alguns dos problemas recorrentes com os quais os adolescentes têm se deparado Ante essa vulnerabilidade juvenil brasileira torna se imperiosa a compreensão das dimensões psicológicas e sociais que contribuem para in tensificar a fragilidade dos adolescentes e que os expõe a situações de risco Prioste 2013 Nossa proposta é estudar a adolescência a partir da Psicanálise e compreendêla em meio aos ideais contemporâneos Matheus 2002 aponta que os ideais cumprem um papel de destaque durante a adolescência pois se tor nam uma formação de compromisso entre os ideais de geração precedente projetados na nova geração e a resistência que se opõe a este movimento A nova geração busca processar os ideais herdados transformandoos de forma a negar ou reafirmar a mensagem transmitida pelas gerações anteriores Assim sendo perce bemos a importância do estudo sobre os ideais na adolescência uma vez que estão diretamen te ligados ao universo de referências dos jovens e nos laços que sustentam a sociedade Além disso a noção de ideal sob a perspectiva psi canalítica põe em relevo a dimensão social do sujeito psíquico apontando para o lugar que o outro ocupa na constituição do sujeito Diante disso tomaremos o conceito de ideal como um conceitolimite por se apresentar como pon to de intersecção entre o saber psicanalítico e o políticosocial entre a singularidade do su jeito psíquico e sua dimensão social Koltai in Matheus 2002 Essa formulação dá sustenta ção para nossa articulação entre adolescência e cultura tendo em vista a interdependência en tre ideais de eu e ideais culturais O processo de constituição subjetiva ocor re a partir de operações identificatórias e os ideais culturais presentes nos discursos do minantes são determinantes em tais opera ções e nos caminhos identitários que o sujeito percorrerá uma vez que tais ideais orientam a configuração do desejo na formação do ideal de eu e das identificações indicando ao sujeito o que é necessário para que ele seja reconhe cido e valorizado pela sua rede social Bertol e Souza 2010 Em O malestar na civilização Freud 2010c 1930 aponta que os ideais em sua face cultural exerceriam duas funções a função protetora contra o desamparo e a fun ção de auxílio na constituição de laços sociais Desse modo os ideais ofereceriam consolo para o conflito entre sujeito e civilização bem como recursos para o sujeito lidar com a cas tração e os destinos pulsionais se constituindo como elementos norteadores da cultura que oferecem referências para seus membros sobre aquilo que deve ser almejado Nesse sentido os ideais seriam um contraponto ao desam paro e à dissolução dos laços sociais Nossa hipótese no entanto é de que os ideais da contemporaneidade não têm cumprido essa função lançando os adolescentes a uma busca por amparo nas redes sociais virtuais Este artigo justificase pelas dificuldades de compreensão e de manejo que psicólogos pais e sociedade de uma forma mais ampla têm encontrado no trato com adolescentes os quais se constituem em meio a uma cultura que dissemina ideais diferentes em relação àqueles de gerações anteriores A lente que norteará Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 135 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato nosso trabalho consiste em uma Psicanálise crítica e articulada ao social que compreende a adolescência como uma configuração espe cífica da estrutura histórica Dessa forma ao utilizarmos a Psicanálise como método de análise não faremos uma leitura intimista e reducionista dos indivíduos a qual tem domi nado a literatura acerca de nosso objeto e que leva à psicopatologização e culpabilização dos adolescentes mas sim como uma Psicanálise cuja visão histórica da subjetividade identifi ca as transformações do ethos cultural e suas implicações para o sujeito atentando para a necessidade e a importância de pensarmos o psíquico em sua articulação com os aconteci mentos históricosociais Caniato 2009 A internet como paraíso narcísico dos adolescentes Os adolescentes oscilam entre a condição de dependência e a busca por autonomia ten do em vista que as suas bases narcísicas são afetadas pelas transformações corporais que o acometem Nesse período os adolescentes se embaraçam nos conflitos entre o discurso fa miliar e o discurso social sendo que há uma maior dependência em relação a este no qual buscam formas para representaremse junto aos outros para além do núcleo familiar Nes sa busca para formar novos objetos pulsionais os adolescentes precisam se reposicionar fren te às identificações estabelecidas na infância e às referências simbólicas da cultura que serão responsáveis pela formação de novos investi mentos pulsionais Bertol e Souza 2010 A psicanálise entende que é a partir das identificações que a subjetividade é constitu ída nesse sentido o eu é formado e está des tinado a se modificar continuamente pelas múltiplas identificações Em Introdução ao Nar cisismo Freud 2010a 1914 fala sobre a iden tificação como algo importante por subjazer uma escolha de objeto por apoio na qual o sujeito se constitui com base no modelo parental ou no dos substitutos dos pais diferentemente da escolha de objeto narcísica voltada para o pró prio indivíduo No entanto a maior importân cia metapsicológica do conceito de identifica ção é verdadeiramente desenvolvida a partir da grande reformulação teórica da década de 1920 Roudinesco 2010 Na obra Psicologia das massas e análise do eu 2011 1921 Freud define a identificação como a mais antiga manifestação de uma ligação afetiva a uma outra pessoa manifestando um papel na préhistória do complexo de Édipo No caso do percurso do menino há um in teresse especial em relação ao seu pai sendo que ele gostaria de crescer e ser como ele pois toma o pai como seu ideal Simultaneamente à identificação com o pai o menino investe sua mãe de uma ligação libidinal sexual de objeto enfrentando uma situação edipiana normal e tendo uma identificação masculina carrega da de hostilidade em relação ao pai tomado como rival pelo desejo de tomar seu lugar jun to à mãe Assim sendo Freud considera que a identificação é ambivalente podendo tornar se tanto expressão de ternura como desejo de eliminação Além disso Freud pontua que a identificação atua como um derivado da fase oral da organização da libido na qual o indiví duo incorporou comendo o objeto desejado e estimado e assim o aniquilou enquanto objeto Freud 2011 1921 Nesse sentido podemos considerar que a identificação se empenha em configurar o próprio eu à semelhança daquele que é tomado por modelo A partir desse breve resgate na obra de Freud podemos considerar a identificação como uma ligação libidinal de amor primitiva e inibida quanto aos desejos sexuais que seria capaz de superar os narcisismos individuais e o ódio que separa uns dos outros sendo a força responsável pela união dos indivíduos entre si Além disso podese dizer que a iden tificação possibilita a elaboração da constitui ção subjetiva operando a partir de modelos parentais e sociais que servem de referência sendo portanto um processo singular que pode ocorrer em várias direções Ao pensar os adolescentes esse conceito fica ainda mais claro tendo em vista que sua identidade será resultado do reconhecimento e elaboração de diversas identificações parciais que vão se in corporando no sujeito desde os primórdios pela introjeção de valores parentais e sociais Devemos ressaltar que a aquisição de novas identidades na adolescência não suprime as anteriores sendo que emergem no eu tanto as pectos primitivos quanto atuais da personali dade o que equivale a dizer que o processo de identificação prossegue por toda a vida e não para na vida adulta Os processos identificatórios ocorrem por meio da síntese egoica devido a novas distri buições da libido e pela transformação de va lores e ideais Isso se processa a partir de mo vimentos psíquicos existentes na relação entre pais e filhos sendo que estes incorporam de senvolvem e transformam seu modo de ser Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 136 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual pensar e viver buscando seus próprios mode los A cultura se faz presente nesse processo quer seja pelo modelo identificatório dos pais ou pela ação direta sobre os adolescentes que passam por um momento de construção de suas identidades Levisky 1998 Dessa forma falar em adolescência e processos identificató rios implica necessariamente falar das forma ções grupais que se tornam uma das fontes de gratificação e de suporte narcísico para os ado lescentes A relação estabelecida entre os ado lescentes e o grupo têm o papel de substituto do ideal de eu ou seja atua como mediadora de sistemas de identificação e de identidade O ideal de eu na adolescência se serve do grupo como substituição de identificação e de gratificação narcísica logo podemos conside rar que o surgimento dos amigos e dos grupos como novos objetos de investimento amoroso e sexual representa algo narcísico próximo de um objeto idealizado de si mesmo e projetado nos companheiros Levisky 1998 Os ado lescentes com sua tendência a rejeitar os obje tos parentais e multiplicar suas experiências têm nas novas relações de objeto um suporte para as interiorizações e identificações futuras Há portanto uma busca por realizar apro priações identificatórias as quais dependem em grande medida de objetos mediadores que são encontrados em especial em outros adolescentes e nos grupos Eizirik 2009 Esse deslocamento do jovem em direção aos contextos sociais somado aos sentimentos ambivalentes com relação às figuras parentais fornecem os elementos que favorecerão a vul nerabilidade dos adolescentes ante aos apelos mercadológicos e às promessas idílicas da in dústria cultural global na internet Diante da insegurança e da busca por diferenciação dos pais os adolescentes encontram na Internet um espaço propício para obter reconhecimen to de seus pares um espaço no qual podem criar um mundo viver seus sonhos e negar os limites Prioste 2013 O universo virtual se configura como uma janela da fantasia propondo um gozo pela representação virtual que não pode ser consi derado uma novidade afinal ao longo da his tória tivemos as epopeias orais das narrativas míticas os romances de cavalaria e uma série de suportes orais ou escritos que abriam as ja nelas da imaginação e que convidavam os jo vens a um mundo de mistérios Prioste 2013 No entanto a despeito de não serem novidade não podemos ignorar os suportes tecnológicos e o apelo mercadológico sob os quais essas ja nelas da fantasia repousam e que são caracte rísticas inerentes ao contexto contemporâneo no qual os exploradores da virtualidade es tão sempre abrindo novas janelas capazes de transformar sonhos e desejos em lucros Dito de outra forma podese dizer que a produção imaginária do jovem está sen do apropriada por oligopólios audiovisuais os quais criam uma ilusão de satisfação plena a partir dos objetos virtuais negligenciando a dimensão temporal e levando os jovens a satis fações imediatas e prémoldadas As fantasias virtuais são essencialmente visuais podendo ser associadas às sonoridades e expressões es critas elas são uma espécie de representantes digitais de pulsões mediatizadas pela indús tria cultural Além disso essas fantasias virtu ais são majoritariamente escopofílicas alimen tandose de tendências perversopolimórficas voyeurísticasexibicionistas Prioste 2013 Freud 1996 1905 demonstrou em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade que desde a infância os desejos de olhar e de ser olhado e o prazer a esses associados estão presentes como pulsões parciais e a indústria do entre tenimento explora esse prazer a partir de sites que captam o olhar adolescente No texto de 1905 Freud destaca que o prazer de olhar tem uma relação intrínseca com o de exibirse e sustenta que de certa forma o voyeurismo e o exibicionismo acompanharão a sexualidade do adulto sem se configurar como perversão a não ser que o prazer de ver e ser visto se torne um fim em si mesmo e não se converta em um elemento preliminar do ato sexual Prioste 2013 aponta que entre os ado lescentes uma das principais características observadas nas fantasias virtuais foi o pra zer voyeurístico e exibicionista Não chega a ser surpreendente portanto que em 2013 os responsáveis pelos dicionários da Oxford te nham escolhido o neologismo selfie como a palavra do ano Ruic 2013 Um dos motivos para essa escolha foi o fato de que a busca por essa palavra no site do portal Oxford cresceu 17000 no último ano A palavra em questão tem origem no termo selfportrait que significa autorretrato e designa uma foto que é tirada normalmente pela própria pessoa e compar tilhada na internet A particularidade dessa foto reside no fato de que ela é tirada com o objetivo de ser compartilhada em uma rede social virtual como o Facebook por exemplo Devemos considerar que a pulsão voyeu rísticaexibicionista é uma expressão da se xualidade infantil perversopolimórfica que Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 137 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato se constitui como um ensaio da sexualidade adulta para os adolescentes os quais diante de seu novo corpo podem tentar se esconder dos olhares familiares ou buscar se exibir vir tualmente pela necessidade de ter esse novo corpo reconhecido perante seu grupo Ao se expor perante as câmeras os adolescentes in tensificam essa atividade voyeurísticaexibi cionista o que é reforçado pela sociedade do espetáculo Debord 1997 O campo virtual coloca em questão por tanto nosso modo de existir ante a virtualiza ção e a espetacularização Assim vemos que impera na internet a ilusão de que tudo pode ser visto e exibido Vivemos em um império das sensações que leva à seguinte situação aquilo que não for sensação não pode exis tir Turcke 2010 aponta que em meio a esse mercado de sensações reinam o prazer virtu al marcado pelo gozo voyeurístico e as fanta sias fast food encontradas na internet que são uma descarga certeira para o jovem consumi dor ávido por excitação rápida Freud 2010c 1930 já havia observado que as satisfações diretas das pulsões eram mais intensas que o adiamento do prazer a sua sublimação ou estados previsíveis de satisfação Contudo Freud não imaginava à sua época a enorme quantidade de produtos tecnológicos que se colocariam a serviço da excitação das pul sões voyeurísticas e sádicas criando um ciclo de aumento da tensão psíquica e da descar ga psicomotora levando os adolescentes a uma espécie de montanharussa existencial Prioste 2013 Diferentemente da época de Freud na qual os fatores socioeconômicos e culturais contri buíam para a repressão das pulsões voyeurís ticas e exibicionistas na sociedade contem porânea temos a exaltação da liberdade e do direito ao gozo que caracteriza uma era do exibicionismo Keen 2012 Assim sendo tais pulsões são transformadas em molas propul soras do mercado em especial no mundo vir tual que se sustenta pelo voyeurismo e pelo exibicionismo Prioste 2013 destaca que o ciberespaço está assumindo o lugar do outro cuidador humano e que a economia libidinal está atravessada por objetos tecnológicos os quais se tornam alvo de investimento libidi nal para todos os membros da família Dian te dessa nova configuração de investimento libidinal na tecnologia percebemos que na ausência do outro humano a obturação do real se faz pelas imagens produzidas pela indústria cultural e não a partir das imagens internas Essa adesão à imagem pode tornar o processo de simbolização fragmentado e fazer com que os adolescentes desenvolvam um apego às imagens exteriores e aos gadgets como substitutos do objeto bem como grati ficação especular autoerótica Não parece estranho portanto que em seu estudo com adolescentes Prioste 2013 tenha ouvido de um jovem entrevistado que vislum brava para seu futuro viver sozinho o que mostra como as satisfações intersubjetivas ou seja advindas dos relacionamentos com outras pessoas estão perdendo espaço para a relação com a máquina muitas vezes vista como mais satisfatória Turkle 2010 Este cenário tem tido a influência de nosso contexto social mar cado pela insegurança e pela difusão do medo o que nos leva a colocar os outros seres huma nos sob suspeita Bauman 2012 A indústria cultural tem fabricado o medo de modo a ven der dispositivos de segurança e vigilância as sim como criar espaços de proteção como as redes sociais virtuais Tiburi 2014 Isso pode ser visto em especial em famílias que vivem em metrópoles e que preferem a brincadei ra solitária dos filhos no computador do que a brincadeira na companhia de estranhos Essa noção do outro como ameaça e não como fonte de satisfação subjetiva acaba por contri buir para uma economia narcisicamente orien tada às próteses digitais Prioste 2013 Dentre essas próteses daremos destaque a seguir à mais popular rede social virtual do nosso tem po o Facebook A busca por amparo e os laços virtuais no Facebook A internet surgiu nos Estados Unidos na década de 1970 ao passo que as redes sociais surgiram no final da década de 1990 tendo um rápido desenvolvimento em todo o mundo ao oferecer recursos que facilitaram o contato à distância bem como a transmissão de infor mação e conhecimento O filósofo Pierre Lévy 2000 considera que o ciberespaço é um mundo virtual presente em potência e que existe em um local indefinido desconhecido cheio de devires e possibilidades Para o autor há uma cultura que surge a partir do uso da rede de computadores por meio da comunicação virtu al da indústria do entretenimento e do comér cio eletrônico a cibercultura O termo contempla todos os fenômenos relacionados ao ciberespaço ou seja fenômenos associados às formas de co municação mediadas por computadores Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 138 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual Os adolescentes contemporâneos estão ex postos de maneira sem precedentes a essa ci bercultura uma vez que já nasceram imersos em um contexto social no qual existem Inter net e redes sociais virtuais São os chamados nativos virtuais Turkle 1999 os quais têm mais facilidade em assimilar e utilizar os dis positivos do mundo virtual em oposição aos adaptados virtuais aqueles que nasceram antes do surgimento da rede mundial de computa dores e dos sites de redes sociais O desenvolvimento de redes sociais online criou uma nova forma de organização social deslocando as comunidades para a rede nas quais há uma interação diferente daquela as sociada à presença física imediata do interlocu tor A peculiaridade de tal interação se deve ao fato de que os perfis são elaborados pelos usu ários que se representam nas redes indepen dentemente de critérios de tempo e de espaço Martino 2010 De acordo com Lévy 2015 o ciberespaço funciona como um novo lugar de sociabilidade originando novas formas de rela ções sociais com códigos e estruturas e especí ficas Para o autor o ciberespaço pode proporcio nar uma verdadeira inteligência coletiva ou seja uma distribuição de saberes que não está restrita para poucos privilegiados e que leva ao enriquecimento cultural Segundo o autor somente com a mediação das tecnologias da informação e comunicação os saberes dos indi víduos poderão estar em sinergia Atualmente existem diversos sites de redes sociais na Internet com diferentes propostas sendo que daremos destaque ao Facebook uma rede social virtual gratuita criada pelo estu dante Mark Zuckerberg em 2004 e que possui o maior número de usuários no mundo O Facebook tem sido a ferramenta por excelência utilizada pelos adolescentes para se comuni car com outras pessoas expressar o que pen sam o que sentem e o que desejam a partir de comentários e postagens em geral fotos víde os músicas e textos Não podemos nos esque cer no entanto que o Facebook oferece serviços como anúncios e como qualquer empresa visa o lucro estando imerso em uma lógica do mercado assim como as demais redes so ciais de Internet Nesse sentido a congregação de pessoas no Facebook tornouse um negócio comercial e a lógica de mercado influencia as transações que lá ocorrem Boyd 2008 aponta que os sites de redes sociais virtuais embora recorram a serviços que não lhes são exclusi vos como a partilha de conteúdos ou a comu nicação com outros utilizadores distinguem se por permitirem criar um perfil individual publicar uma lista de amigos ou conexões que pode estar ou não organizada e ver e pesqui sar a lista de conexões dos outros utilizadores Diante da rápida expansão das redes so ciais em especial do Facebook pesquisas na área da Administração Keen 2012 Psicolo gia Matheus 2013 Rosa e Santos 2013 An tropologia Lévy 2015 Filosofia Lévy 2000 Tiburi 2014 Sociologia Turkle 2010 e Co municação Burgos 2014 Martino 2010 vêm buscando compreender tal fenômeno e seus desdobramentos para os usuários Em nosso trabalho o interesse pelo Facebook se deve ao fato de ser um veículo que faz a mediação dos adolescentes com a cultura bem como por se configurar como uma via de acesso à subjeti vidade juvenil afinal a tecnologia incorpora características da sociedade e da cultura na qual se instala tornandose uma esfera inse parável da configuração sóciohistórica atual Lévy 2000 A nossa hipótese é de que a utilização ado lescente dessa ferramenta tem se dado como forma de lidar com o desamparo tendo em vista que a cultura a partir de seus ideais não tem cumprido a função que lhes cabe ria segundo Freud 2010c 1930 qual seja a de promoção dos laços sociais e de proteção ante o desamparo funções que têm sido des tinadas ao mundo virtual A noção de desam paro na obra de Freud remete a palavra alemã Hilflosigkeit utilizada na obra freudiana para designar o desamparo como estado de depen dência do recémnascido para com o adulto O desamparo para Freud contempla a condi ção de ausência de ajuda como possibilida de da vida psíquica O fato de o bebê nascer imaturo tornao dependente do outro para so breviver esse seria o desamparo original que funda e estrutura o psiquismo Freud aponta que tal desamparo é a fonte principal de todos os motivos morais e que o desamparo infantil implica para o bebê uma abertura ao mundo adultodo outro Já em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade 1996 1905 Freud introduz a ideia de sedu ção materna ou seja a mãe ou quem ocupa a função materna desempenha a função de ero geneização do bebê através dos cuidados que exercem uma sedução sobre o bebê essa ação caracteriza o ser humano como dependente do amor do outro Freud acrescenta assim uma nova dimensão na questão do desam paro qual seja que a condição de existência no mundo é apoiada em uma condição de de Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 139 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato samparo do psiquismo Portanto dizer que o sujeito freudiano se constitui na relação com o outro é dizer que o sujeito se constrói a partir de algo que lhe é exterior O malestar na civilização 2010c 1930 é ou tro texto no qual Freud trata a questão do de samparo do sujeito no campo social ao dizer que a condição de vida em sociedade implica uma renúncia pulsional que traz um descon forto ao sujeito sentido como um malestar Esse malestar articulase em torno da assime tria entre as exigências pulsionais e as possibi lidades psíquicas de satisfação reguladas pela simbolização é nessa assimetria que o sujeito pode criar objetos que promovam satisfação além disso ela é condição para a angústia pois indica a condição de desamparo para o sujei to Vemos nessa obra que a relação do sujeito com a civilização é marcada por um malestar em decorrência de um conflito sem resolução total possível e que o desamparo é a base des sa condição subjetiva do humano Não haven do cura possível para o desamparo humano o sujeito precisa criar destinos que ajudem a tornar sua existência possível Menezes 2012 A virtualidade e o Facebook têm sido um des ses destinos cabendo a questão eles têm sido bemsucedidos na gestão do desamparo e na construção de laços sociais Tentaremos res pondêla doravante Comecemos pelo ingresso no Facebook Es tudos apontam que a escolha dessa rede so cial se dá por influência dos amigos e que ao fazêlo os adolescentes acabam influenciando aqueles que o rodeiam Boyd 2009 Na sequ ência temos a elaboração de um perfil virtual através do qual os usuários se identificam e interagem com os demais O internauta inicia o processo de construção de seu perfil com os seus dados seus gostos e interesses seus amigos e as comunidades virtuais às quais pertence nesse sentido podemos dizer que os adolescentes tatuam na tela a sua iden tidade Como demonstra Tiburi 2014 na internet nossas identidades se fundem con fundem e difundem nossos rostos e corpos desaparecem e não há pessoas concretas mas representações e simulações baseadas em dis cursos Nesse sentido Flusser 2007 aponta que com o advento da tecnologia temos nos relacionado com não coisas afinal o homo di gitales não precisa da concretude da vida Ao criar o seu perfil os adolescentes po dem expor na tela não necessariamente aqui lo que eles são mas também a imagem eou identidade socialmente almejada e que terá o reconhecimento da rede social virutal Na internet deixamos de ser uns e outros para criar espectros e avatares que são máscaras idealizadas pelo tecido social ou seja ela pos sibilita a simulação da vida Para interagir no ciberespaço os adolescentes precisam criar uma identidade adequada à comunidade virtual da qual pretendem fazer parte Dessa forma os adolescentes recriamse em formato digi tal incorporando características performáticas que transpareçam uma identidade socialmen te desejada Ao utilizar o Facebook os usuários manifestam seus ideais e sentimentos a partir do conteúdo que publicam e compartilham nesse sentido as publicações são associadas à pessoa que as publica Assim sendo ao utilizar o Facebook o indivíduo seleciona atributos ten do como critério a maneira que deseja ser visto Boyd 2009 Rosa e Santos 2013 Em meio a esse processo de customização da identidade os adolescentes buscam ima gens que os identifiquem tornandoos para doxalmente únicos e iguais aos outros trans formando sua identidade em uma espécie de marca pessoal O Facebook oferece recursos como postagem de fotos vídeos e comentá rios que possibilitam aos usuários a criação e a categorização de seu perfil Além disso os dispositivos de curtir e compartilhar per mitem que cada usuário publique postagens as quais constituem uma maneira de expressar sentimentos pensamentos ideias emoções e desejos Rosa e Santos 2013 Ao curtir ou compartilhar uma determina da postagem vemos portanto que o usuário passa a fazer parte de um determinado grupo de pessoas ou de uma determinada forma de pensar Os adolescentes curtem as páginas às quais desejam pertencer não necessariamen te para discutir temas mas para publicar seus interesses Curtir algo no Facebook é fazer uma proclamação instantânea do self Minerbo 2009 é dizer amo isto ou odeio aquilo além disso aquilo que é curtido compõe o mosaico virtual da identidade dos adoles centes Vemos portanto que o Facebook ca tegoriza grupos e pessoas oferecendo para o público sentidos de identidade e para os usuários sentimentos de identidade Rosa e Santos 2013 Baudrillard 1999 mostra no entanto ceti cismo em relação às identidades forjadas nos ambientes virtuais da internet considerando que as interações mediadas pelas redes sociais virtuais são pautadas em simulações e hiperes petacularização das identidades Nesse sen Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 140 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual tido o usuário tende a simular ser o que não é e substitui a realidade pela simulação Rosa e Santos 2013 apontam que essa perspecti va desconsidera a existência da subjetividade imersa nesse contexto pois há por detrás dos perfis pessoas conectadas cujas identidades promulgadas no Facebook parecem estar rela cionadas às qualidades que os usuários estão convencidos de ter e não necessariamente a uma simulação Apesar do contraponto feito por esses au tores isso não muda o fato de que no mundo virtual há uma maior possibilidade de sele ção e omissão de aspectos da identidade que serão publicados e expostos no Facebook Em um relacionamento presencial dissimular tais aspectos seria muito mais difícil Assim sendo podemos considerar que os usuários das redes sociais utilizam táticas para se representarem o que é facilitado pela rede virtual Os usuários do Facebook fazem um gerenciamento detalha do de informações e de fotos visando ocultar aspectos considerados malvistos socialmente ou que vão à contramão dos ideais sociais contemporâneos Nesse sentido podemos dizer que ao uti lizar o Facebook os adolescentes interagem en tre si consumindo não apenas as ferramentas e recursos do site mas também os modelos de identidade que são comercializados atra vés das interações e postagens Rosa e Santos 2013 consideram que há no Facebook um processo de Negociação de Identidades que ocorre de forma dinâmica e interativa de acordo com o interesse das pessoas imersas no ambiente virtual e também fora da rede Os autores apontam que o Facebook tem um perfil padrão estrategicamente estabelecido para seus usuários os quais se utilizam por sua vez de táticas próprias para negociar suas identidades Esse processo sofre a influência do mercado e da sociedade de acordo com seus interesses fomentando assim o consu mo de identidades por intermédio dos proces sos de identificação O termo consumo de identidades pode ser associado ao desenvolvimento tecnológi co que fez com que o consumo se desmate rializasse e passasse a contemplar uma ampla gama de possibilidades tais como a produ ção de sensações e de experiências Desse modo as redes sociais na Internet têm levado a uma subjetivação e à construção de um eu digi tal Turkle 1995 na qual o exercício de si pas sa pelo consumo e pela exposição de gostos e preferências Pinheiro 2008 Vemos portanto que a customização dos perfis é uma adequa ção da identidade do dono do perfil no Face book tomada como produto aos demais usu ários tomados como consumidores Assim os adolescentes tendem a seguir critérios que os identificam com ideais estabelecidos pela sociedade e difundidos pelo mercado como socialmente desejados Rosa e Santos 2013 p 101 coletaram em entrevistas a opinião de usuários do Facebook dentre os quais destaco a seguinte quando você cria o seu perfil não é que você crie uma identidade você cria uma identidade que não é você totalmente Esse depoimento mostra como os perfis expostos na rede social virtual contemplam uma sele ção de determinados aspectos identitários que serão expostos e que nem sempre são verídi cos mas que apontam para uma dimensão do sujeito que não podemos negligenciar O Facebook permite por exemplo a cons trução de si como celebridade na medida em que funciona como uma coluna social perso nalizada na qual os adolescentes se retratam em festas viagens se divertindo com os ami gos Para os facebookianos que buscam um lugar para expor sua identidade essa lógica de registrar os momentos em fotos e esperar co mentários como uma espécie de espelho para o próprio narcisismo é fundamental Há no Facebook algo como um contrato narcísico Mi nerbo 2009 recíproco que deixa implícito se eu elogio você você deve me elogiar E por falar em narcisismo devemos lem brar que ter amigos e fazer parte de grupos é algo vital para os adolescentes e no Face book isso não é diferente sendo que ter mui tos amigos dá ao facebookiano um status de popular em contrapartida uma página sem mensagens é um duro golpe no narcisismo dos adolescentes A grande diferença é que com o Facebook a rede de amigos se presentifica no es paço virtual como uma maquete e a experiên cia subjetiva de amizade se reifica ou seja o sujeito tem a experiência de ter amigos e de ser querido na medida em que sua página assim o mostra quando os amigos deixam mensagens de afeto elogios comentários positivos e essas mensagens ficam expostas Minerbo 2009 Há ainda o caso emblemático daqueles usuários que criam um perfil falsofake utili zando informações falsas tais como nome fo tos e interesses em seus perfis No perfil fake os adolescentes parecem encontrar uma pos sibilidade de criar uma nova identidade e de supostamente protegido pelo anonimato inte ragir com os demais usuários apenas com in Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 141 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato formações relativas ao personagem que criou tomando atitudes no ciberespaço que não são tomadas no mundo offline Os fakes podem ser compreendidos como uma faceta da fragmen tação das identidades do homem contempo râneo Rosa e Santos 2013 Mas qual seria o temor dos adolescentes contemporâneos em se mostrar tal como eles são Com que finalidade eles lançam mão de se apresentarem diferente mente do que são Certamente essas questões são complexas mas a resposta passa necessariamente pelo receio dos adolescentes em não corresponder àquilo que Freire Costa 1986 denominou de tipo psicológico ordinário um perfil disseminado pela indústria cultural e isso inclui o Facebook com características idealizadas pela rede social virtual e que serve de referência para como os indivíduos devem se portar Um perfil que no entanto é modificado constantemente seguin do a lógica do obsoletismo planejado diante da multiplicidade de referências que marca a contemporaneidade A globalização e a propagação da Internet certamente influenciaram esse processo de produção subjetiva múltipla e interligada que vai de encontro com a subjetividade ancorada nas tradições que caracterizava a modernida de Diante da multiplicidade como dimensão subjetiva os adolescentes contemporâneos pa recem ser acometidos por uma desorientação e um desamparo Para Minerbo 2009 essa falta de suporte e de amparo faz com que os adolescentes contemporâneos tenham de se constituir em meio a laços simbólicos frouxos o que dificulta a internalização de referências identitárias estáveis produzindo identifica ções pouco consistentes Esse cenário oferece aos adolescentes a possibilidade de ser autor de sua identidade o que constitui uma forma inédita de protagonismo que pode ser vista de maneira privilegiada na utilização que os ado lescentes fazem das redes sociais na internet Ainda de acordo com Minerbo 2009 a ex periência de ser dos adolescentes contempo râneos não provém da interioridade mas sim da construção de uma forma de identidade a partir dos signos produzidos e oferecidos pela sociedade de consumo Ao contrário da subje tividade moderna na qual os indivíduos sen tiam que eram produto de seu meio e tinham uma experiência subjetiva de identidade cla ra em um movimento de dentro para fora na subjetividade contemporânea é o estilo de vida que determina os modos de ser em um movimento de fora para dentro Essa iden tidade reificada leva os adolescentes a por exemplo consumir a griffe x e frequentar os lugares y para ter a experiência de ser x e y Minerbo 2009 Rolnik 1997 aponta que essa experiência de ser é um simulacro e não chega a ser internalizada pois se con some rapidamente precisando ser renovada Estaríamos diante de uma dimensão aditiva da construção da identidade como apontam alguns autores Rolnik 1997 Raleiras 2009 Essa perspectiva aponta que diante do desam paro identitário os adolescentes buscam alívio em comportamentos que lembram adições tais como o consumo e o uso da internet Essa postura crítica adotada por alguns autores com relação ao potencial transforma dor das novas tecnologias digitais tem levado a uma espécie de tecnofobia e condenação da tecnologia Na contramão dessa tendên cia Rosa e Santos 2013 apontam o Facebook como uma referência e uma ancoragem sub jetiva ante a multiplicidade existente na con temporaneidade Nesse sentido os autores parecem corroborar a nossa hipótese qual seja a de que a utilização do Facebook pelos adolescentes tem se dado como forma de li dar com o desamparo Não podemos ignorar entretanto o fato de que adolescentes têm encontrado no virtual uma satisfação sem esforços para todos seus desejos ou seja sem os limites da realidade o que aliena o sujeito da sua própria natureza Lévy 2000 Isso nos leva a pensar em um fun cionamento egoico arcaico que não consegue impor o princípio da realidade Além disso ao se apresentar como mais sedutor do que o mundo real repleto de frustrações limitações e finitude o mundo virtual pode levar os ado lescentes a um prejuízo do sentimento de rea lidade e do senso de identidade levando em última instância ao sentimento de vazio e de desamparo Assim sendo devemos questionar até que ponto o Facebook tem atuado como an coragem subjetiva tendo em vista que o real e o virtual não são iguais e que se relacionar com alguém através de uma telaimagem não é a mesma coisa que se relacionar com alguém pessoalmente Essa dificuldade crescente em separar a esfera real da virtual pode ser explicada pelo advento de dispositivos que atuam como pró teses interativas na internet fazendo com que simulacros sejam tomados como reais fomen tando uma concepção de vida como simula ção Além disso a internet e os dispositivos tecnológicos têm possibilitado ao homem a Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 142 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual possibilidade de viver experiências sensoriais em outras dimensões bem como de expandir os limites do corpo e transpor as fronteiras do tempo e do espaço Esse cenário faz com que o mundo real e o mundo virtual estejam sepa rados por linhas cada vez mais tênues Turk le 1999 podendose considerar essa divisão como fronteiras movediças tal como são as fron teiras entre o eu e o id no princípio da vida A sociedade do consumo tem se servido dos estímulos sensoriais rápidos e diversificados a fim de que não se tenha tempo para organizá los Desse modo as pulsões têm uma vazão rápida em direção ao mercado sem que haja análise crítica E é exatamente nesse sentido de expropriar a capacidade de pensar que a indústria cultural tem atuado no mundo globa lizado Temos aqui os ingredientes necessários para a criação de fenômenos de massa cuja eficácia reside na ilusão de que o desamparo e o sentimento de vazio podem ser remediados pela inserção nesses grupos Cardoso 2006 Fazer parte do Facebook enquanto grupo parece estar se tornando um verdadeiro ritual sendo que aqueles que não o fazem sentem se excluídos afinal as mensagens difundidas pela indústria cultural remetem apenas aos be nefícios que serão adquiridos em decorrência da inclusão nessas coletividades Contudo tais formações grupais podem levar a um sen timento de exclusão subjetiva que seria perce bido na obediência por parte dos adolescentes aos padrões impostos pela massa tornandoos autômatos isentos de crítica capacidade refle xiva e com um funcionamento regressivo do eu Cardoso 2006 Na busca por reconhecimento e visibilidade os jovens passam a dar adesão a modismos e a viver agir falar e se vestir como outros mem bros da massa perdendo sua singularidade e caindo na tendência à uniformidade Contu do como ressalta Cardoso 2006 essas massas se dissipam rapidamente e dão lugar ao culto de novos valores sendo que os adolescentes abraçam esses novos valores tentando esque cer o passado ou negálo para criar uma nova identidade Matheus 2013 aponta que as novidades tecnológicas no momento de seu surgimento tendem a facilitar os processos co tidianos encurtando o tempo usual de uma de terminada operação resultando na fantasia de superação do esforço de postergação que cada processo desejante exige do psiquismo No en tanto com o passar do tempo a novidade deixa de sêlo e o exercício de postergação de satis fação volta a se mostrar inevitável Isso pode ser percebido no grande número de redes so ciais virtuais que surgem e caem em desuso em pouco tempo como foi o caso do ICQ Fotolog MSN e Orkut entre outros Garcia e Coutinho 1999 destacam que acompanhamos no mundo contemporâneo a emergência e a disseminação de diversas tri bos urbanas que se constituem como grupos de afinidade e de interesse cada qual com tra ços peculiares sendo que na tentativa de se distinguir umas das outras lançam mão de distintivos na imagem visual de seus mem bros tais distintivos são bens de consumo que se tornam alvo de cobiça entre os membros da tribo e que seguem a lógica de exclusãoinclu são que predomina na sociedade de consumo contemporânea As autoras apontam ainda que a constituição dessas tribos representa uma tentativa por parte de seus membros de lidar com o desamparo Falar em tribos e na enorme adesão que os adolescentes têm dado ao Facebook remetenos ao texto Psicologia de massas e análise do eu no qual Freud 2011 1921 define a massa como um grupo volátil no qual algum interesse pas sageiro aglomerou diversos tipos de indivídu os com um interesse comum em um objeto e uma inclinação emocional semelhante Freud afirma que na massa o indivíduo abandona seu ideal de eu e o substitui pelo ideal da massa o qual pode ser ocupado pela figura de um lí der por uma ideia ou projeto que faz com que os membros se identifiquem entre si em uma relação libidinal inibida quanto a seus fins Nesse sentido podemos afirmar que é o compartilhamento de um mesmo ideal que leva às identificações horizontais as quais por sua vez garantem a sustentação do laço gru pal Contudo na ausência de algo em comum a ser partilhado o grupo fica sob ameaça de dissolução Assim podese pensar que com a ausência do ideal na qualidade de um terceiro o que prevalece nos grupos são identificações narcísicas que favorecem um cenário de dis solução dos grupos Garcia e Coutinho 2004 Desse modo percebemos que há nas tri bos uma prevalência de identificações entre os membros sem um terceiro no lugar do ideal de eu o que leva a um predomínio da angústia traumática característica das situações de de samparo e que deixam o sujeito em uma posi ção de extrema vulnerabilidade à mercê da an gústia e de impulsos incontroláveis Parecenos que isso também ocorre no uso adolescente do Facebook onde os jovens na ausência de algo identificável que ocupe a função de ideal se Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 143 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato perdem em meio a uma multidão de elementos sem rosto descarregando erraticamente sua tensão pulsional reproduzindo as condições vigentes do macrocosmo do qual pretendem se proteger Garcia e Coutinho 2004 Os adolescentes ao usarem o Facebook para construir uma identidade acabam por assumir muitas vezes uma identidade alienada visto que não se trata exatamente da assunção de uma singularidade mas sim de investimentos que nem sempre servem à função de amparo e de construção de laços sociais As consequên cias subjetivas desse estado das coisas apon tam para a intensificação do desamparo fra gilização dos laços e para a vulnerabilidade ao trauma como tentaremos demonstrar adiante Narcisismo negativo expressão psíquica do malestar adolescente Diante da dificuldade de simbolizar e de pensar dos adolescentes contemporâneos bem como da falta de limites entre prazerre alidade e verdadeirofalso que destacamos em nosso estudo cremos que seja fundamental para uma compreensão teoricamente mais ar ticulada a contribuição de André Green sobre o narcisismo positivo e o narcisismo negativo Para Green 1988 o conceito de narcisismo é um parêntese na obra de Freud entre a sexuali dade e a criação da segunda tópica Em Introdução ao narcisismo 2010a 1914 Freud define narcisismo como o comportamen to mediante o qual um indivíduo trata seu próprio corpo de maneira semelhante a como se costuma tratar o corpo de um objeto sexual Freud nos mostra que tal investimento sexual no próprio corpo não se encontra apenas na psicopatologia mas também no desenvolvi mento normal de todo indivíduo e estuda os fenômenos narcísicos em especial por três vias a saber através da psicose da doença orgânica hipocondria e da vida amorosa Green 1988 aponta que Freud abandona suas investigações sobre o narcisismo após 1920 incluindoo como parte das pulsões de vida e considera que Freud falhou em elabo rar outras possibilidades para o narcisismo uma vez que algumas de suas características poderiam ser vistas como parte daquilo que ele conceituou como pulsão de morte Para defender seu argumento o autor destaca a passagem em O Eu e o id na qual Freud consi dera que a transformação da libido de objeto em libido narcísica implica em uma dessexu alização ou seja na conversão de representa ções de objeto sexuais em identificações com a libido sendo domada pelo eu Para Green esse processo segue a mesma linha da pulsão de morte sugerindo que alguns aspectos do narcisismo podem seguir a mesma linha do antierotismo envolvido na pulsão de destrui ção Além disso Green destaca outro trecho do texto de 1923 no qual Freud explica que a transformação de amor em ódio e viceversa poderia invalidar as suas hipóteses ao conce ber a transformação de uma pulsão em outra fazendo cair por terra a distinção entre pulsão erótica e destrutiva Freud postula assim a existência de uma energia deslocável e neutra que poderia ser adicionada tanto a uma pulsão erótica como a uma destrutiva não especificando se essa energia se localiza no eu ou no id e cria a hipó tese de que seria proveniente do estoque narcí sico de libido do Eros dessexualizado Freud aponta que se essa energia deslocável é libido dessexualizada é licito chamála de sublima da na medida em que mantém a finalidade de unir e ligar própria a Eros Para Green 1988 no entanto é possível que essa dessexualização citada por Freud na sublimação seja uma mistura das funções de Eros com seus objetivos de ligação e união bem como da pulsão de morte com seu obje tivo de dessexualização O autor aponta que para Freud a sublimação ocorre por intermé dio do eu Logo deduzse que a dessexualiza ção envolvida na sublimação e o processo de desligamento ocorrem em parte no eu Nes se sentido o eu seria para Green o lugar de fusão e desfusão das pulsões Freud 2010b 1920 atribui à intricação pulsional a responsa bilidade pelo movimento psíquico no entanto como destaca Garcia 2010 há episódios de desfusão pulsional que podem ser vistos nas psi coses depressões neuroses graves estruturas narcísicas e estados limites nos quais o que se percebe é que a função desobjetalizante domi na o psiquismo com afetos e angústias que são típicas da pulsão de morte Com esse percurso Green chega à hipótese de um duplo narcisis mo um narcisismo positivo com o objetivo de atingir a unidade e um narcisismo negativo em direção à morte psíquica Green 1988 considera que enquanto a pulsão de vida tende à atividade de ligação objetalizante e criativa realizada pela função sexual e que se caracteriza pela criação de vínculos pulsionais e por investimentos sig nificativos a pulsão de morte atua com uma função desobjetalizante atacando os víncu Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 144 Adolescentes na contemporaneidade desdobramentos subjetivos do desinvestimento no virtual los objetais e a capacidade de investimento no sentido do desligamento portanto se opondo à vida e visando ao estado zero de tensão A maior expressão da função desob jetalizante pode ser vista como o narcisismo negativo com sua busca do nível zero de funcionamento psíquico e desinvestimento objetal Garcia 2010 Freud 2010b 1920 definiu trauma como a ruptura da camada protetora do psi quismo contra estímulos externos que inun dam o aparelho psíquico pelo excesso de intensidade que bloqueia o funcionamento do princípio do prazer Lembrando que é a transformação de energia livre em energia li gada que garante a manutenção do princípio do prazer assim sendo quanto mais ener gia quiescente maior a possibilidade de vin culação e menor a suscetibilidade ao trauma Garcia 2010 p 71 Vemos nesse sentido que a baixa intensidade vinculatória favorece o trauma ao causar falta de preparação para a angústia que se configura como uma defesa do aparelho psíquico ante as intensidades exces sivas que levam ao trauma Ainda em Além do princípio do prazer Freud 2010b 1920 considera que a situação trau mática pode provocar como resposta um in vestimento narcísico maciço o qual não se mostra eficaz em sua ação protetora de vincu lação ou seja apesar de esse desinvestimento no outro representar uma resposta defensiva diante de uma situação traumática ele se mos tra ineficaz na sua tarefa protetora pois tor na o sujeito ainda mais vulnerável ao trauma uma vez que só a atividade de ligação função objetalizante garante alguma proteção frente ao trauma Em Inibições sintomas e angústia Freud 2014 1926 explica melhor esse processo ao associar o trauma ao desamparo sendo que este estaria na origem da angústia a qual se repetiria ao longo da vida como angústia si nal e angústia automática A presença de ex pectativa em situações de desamparo evoca a angústia sinal e prepara o sujeito para a ação ao caracterizar a situação de perigo exercen do assim uma influência protetora por outro lado na situação traumática o sujeito é sub metido à angústia automática e não há expec tativa o que nos leva à compreensão de que sistemas investidos são aqueles em que a ex pectativa está presente e a intensidade traumá tica é menor Já os sistemas desinvestidos se riam mais suscetíveis ao trauma pois o sujeito se vê invadido pela angústia automática e é inundado por uma intensidade que ultrapassa seus limites Garcia 2010 Garcia 2010 considera que a função desob jetalizante e o narcisismo negativo são expressões psíquicas do malestar contemporâneo Desse modo podemos pensar que os adolescentes contemporâneos estão marcados por um de sinvestimento avassalador que apesar de se configurar como uma tentativa de defesa fren te à traumática situação de existência atual se mostra ineficiente em tal tarefa protetora e deixa os indivíduos mais vulneráveis ao trau ma pois só a atividade de ligação seria capaz de garantir tal proteção Os desdobramentos psíquicos do cenário atual marcado pela indi ferença e pela insuficiência Ehrenberg 2010 podem ser vistos nos estados narcísicos e de pressivos bem como no envolvimento com drogas na paralisia na apatia e na ausência de projetos dos jovens Faveret et al 2007 Diferentemente da meta objetalizante da pulsão de vida que possibilita a ligação a sim bolização e que é criada a partir dos vínculos a meta desobjetalizante da pulsão de morte se expressa na dificuldade de representar de pensar e no desinvestimento Ao investir nas imagens e nas relações virtuais da internet e do Facebook os adolescentes contemporâne os estão desinvestindo o humanoreal Desse modo vemos que os adolescentes contempo râneos devido à sua capacidade frágil de in vestimento e de construção de vínculos libidi nais apresentam uma enorme vulnerabilidade ao trauma se caracterizando como um sujeito pobremente vinculado e à mercê das quanti dades excessivas de excitação que continua mente o afligem caracterizando uma situação traumática de desamparo Garcia 2010 Considerações finais Como destacamos no início deste artigo nossa proposta visava compreender a adoles cência em meio à cultura e aos ideais contem porâneos os quais têm lançado os adolescen tes em uma busca por amparo e construção de laços na virtualidade em especial no Face book Cremos que a questão não se passa por adotar uma postura maniqueísta com relação às realidades virtuais mas sim de compreen der as repercussões dessa tecnologia no psi quismo É inegável que a virtualidade é uma forma revolucionária de representação que o homem criou e que trouxe inúmeros benefí cios à humanidade no entanto mantendo a tensão entre os prós e contras da tecnologia Contextos Clínicos vol 9 n 1 JaneiroJunho 2016 145 Vinicius Romagnolli Rodrigues Gomes Ângela Caniato destacamos que não podemos cair na ingenui dade e esquecer os interesses mercadológicos que induzem ao uso excessivo do virtual Esse investimento excessivo no virtual pode trazer consequências subjetivas como a intensificação do desamparo a fragilização dos laços sociais e a maior vulnerabilidade ao trauma Aprendemos com Freud que amar exige investimento pulsional com produção de significado e isso depende da construção de representações carregadas de afeto ou seja depende do trabalho psíquico e do investi mento da demanda pulsional em objetos pre sentificáveis para além daqueles ofertados no meio virtual Percebemos no entanto que há uma ca rência dessa capacidade nos dias de hoje o que nos leva à questão há perspectivas Diante desse cenário Garcia 2010 aponta para a análise como uma saída tendo em vista que o analista ao oferecer sua escuta e presença contribui para a reativação da ca pacidade de investir e desejar do sujeito Nos dizeres da autora caberia ao analista en quanto testemunha transferencial possibili tar o movimento de repetição restauradora bem como oferecer um espaço ventilado no qual o excesso possa se transformar em au sência enquanto presença em potencial e o narcisismo negativo possa ser substituído pela função objetalizante no seu processo de construção de vínculos Garcia 2010 Certamente a psicanálise e o analista exer cem a escuta das inquietações de cada sujeito que em sua angústia anônima e solitária não deixa de se remeter ao outro da cena social Porém essa escuta não deve ficar restrita às clínicas psicanalíticas a sociedade através da cultura também deve oferecer essa es cuta e o espaço ventilado tão almejado pelos jovens entretanto não da forma corrente na atualidade na qual diante de um ambiente pouco acolhedor e violento esse espaço tem sido relegado muitas vezes exclusivamente às redes sociais virtuais A mudança desse cená rio marcado pelo desamparo indiferença e fragilidade dos vínculos passa pelo resgate da capacidade crítica a fim de termos com a internet uma relação lúcida e a favor de nos sa emancipação e não de nossa servidão bem como por um resgate da capacidade de inves timento nos laços com o outro humano Dizer que nada pode substituir o amparo e os laços humanos pode parecer um clichê mas é um emblemático sinal dos nossos tempos e são necessários artigos para nos lembrar disso Referências BAUDRILLARD J 1999 Teta total mitoironias da era do virtual e da imagem Porto Alegre Sulina 158 p BAUMAN Z 2012 Confiança e medo na cidade Rio de Janeiro Zahar 94 p BERTOL CE SOUZA M 2010 Transgressões e Adolescência Individualismo Autonomia e Representações Identitárias Psicologia Ciência e Profissão 304824839 httpdxdoiorg101590s141498932010000400012 BOYD D 2008 Why youth heart social network sites The role of networked publics in teenage social life In D BUCKINGHAM ed Youth Identity and Digital Media 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Revista de Psicanáli se 913125140 GARCIA CA 2010 Trauma e narcisismo negativo questões para a clínica contemporânea In MR CARDOSO Entre o eu e o outro espaços fronteiri ços Curitiba Juruá p 6576 GREEN A 1988 Narcisismo de vida narcisismo de morte São Paulo Escuta 302 p KEEN A 2012 Digital Vertigo How todays online social revolution is dividing diminishing and disori enting us New York St Martin Press 254 p LEVISKY DL 1998 Adolescência reflexões psi canalíticas São Paulo Casa do Psicólogo 320 p LÉVY P 2000 Cibercultura São Paulo Editora 34 264 p LÉVY P 2015 A inteligência coletiva por uma antro pologia do ciberespaço São Paulo Folha de São Paulo 206 p MARTINO LMS 2010 Comunicação e identidade quem você pensa que é São Paulo Paulus 219 p MATHEUS TC 2002 Ideais na adolescência falta d e perspectivas na virada do século Annamblume Fapesp 200 p MATHEUS TC 2013 Adolesencia y nuevas tec nologias digitales desafios entre generaciones Actualidad Psicológica 3868 MENEZES LS de 2012 Desamparo São 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