Análise de Poemas Simbolistas de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens - Características e Contexto

Leia os poemas abaixo e comente os aspectos simbolistas encontrados neles a 1 Siderações Cruz e Souza Para as Estrelas de cristais gelados As ânsias e os desejos vão subindo Galgando azuis e siderais noivados De nuvens brancas a amplidão vestindo Num cortejo de cânticos alados Os arcanjos as cítaras ferindo Passam das vestes nos troféus prateados As asas de ouro finamente abrindo Dos etéreos turíbulos de neve Claro incenso aromal límpido e leve Ondas nevoentas de Visões levanta E as ânsias e os desejos infinitos Vão com os arcanjos formulando ritos Da Eternidade que nos Astros canta 2 Cavaldor do infinito Cruz e Souza Com a lâmpada do Sonho desce aflito E sobe aos mundos mais imponderáveis Vai abafando as queixas implacáveis Da alma o profundo e soluçado grito Ânsias Desejos tudo a fogo escrito Sente em redor nos astros inefáveis Cava nas fundas eras insondáveis O cavador do trágico Infinito E quanto mais pelo Infinito cava mais o Infinito se transforma em lava E o cavador se perde nas distâncias Alto levanta a lâmpada do Sonho E como seu vulto pálido e tristonho Cava os abismos das eternas ânsias c 3 Soneto X Alphonsus de Guimaraens Hirta e branca Repousa a sua áurea cabeça Numa almofada de cetim bordada em lírios Eila morta afinal como quem adormeça Aqui para sofrer Além novos martírios De mãos postas num sonho ausente a sombra espessa Do seu corpo escurece a luz dos quatro círios Ela fazme pensar numa ancestral Condessa Da Idade Média morta em sagrados delírios Os poentes sepulcrais do extremo desengano Vão enchendo de luto as paredes vazias E velam para sempre o seu olhar humano Expira ao longe o vento e o luar longinquamente Alveja embalsamando as brancas agonias Na sonolenta paz desta Câmaraardente ANÁLISE DOS POEMAS SIMBOLISTAS TEXTO 1 Siderações Cruz e Sousa O Simbolismo é uma Escola Literária que tem por origem primária a França a partir da publicação do livro As flores do mal 1857 de Charles Baudelaire 1821 1867 De maneira geral possui as seguintes características misticismo musicalidade rigor formal uso de reticências valorização do mistério maiúscula alegorizante e sinestesia Seus autores duvidavam da razão e da realidade concreta por isso buscavam por meio dos sentidos atingir o plano das essências Um dos principais autores Simbolistas foi Cruz e Sousa 18611898 homem negro e filho de escravos alforriados Sua poesia apresenta profundidade filosófica em busca da essência e expressam uma angústia metafísica marcada pela melancolia O poema Siderações é um dos textos do escritor mais utilizado para se estudar os aspectos Simbolistas uma vez que carrega muitas das características da escola literária Moisés 2001 aponta que os poetas simbolistas não se libertaram totalmente da forma parnasiana límpida apurada e lapidada de produção Assim os simbolistas não adotaram completamente o rigor formal presente no Parnasianismo mas o usaram como inspiração para criarem novas características Em Siderações vemos que se trata de um soneto e possui todo um aspecto rítmico entretanto o seu conteúdo traz temas novos como o metafísico e o fantástico TEXTO 2 Siderações Cruz e Sousa Os poemas simbolistas diferente dos parnasianistas não eram feitos apenas para serem analisados com base em sua beleza métrica e estilística Os simbolistas faziam seus versos para que eles fossem sentidos com a alma trabalhando mensagens através de símbolos É o que Cruz e Sousa faz nos versos do seu poema Siderações Na primeira estrofe o eu lírico fala que as ânsias e os desejos vão subindo para as Estrelas A palavra Estrelas escrita com inicial maiúscula é um símbolo utilizado para representar a chave que dá acesso às essências desses sentimentos Ainda no mesmo verso o autor diz que Galgando azuis e siderais noivados De nuvens brancas a amplidão vestindo o que referese à união das nuvens no céu cobrindo a amplidão deste Além disso o uso de reticências aponta a imprecisão do momento e a nuvem é um elemento impalpável menos concreto Nessa estrofe também é possível perceber elementos sinestésicos gelados azuis e brancas cor aliás recorrente nas obras de Cruz e Sousa Uma das características mais forte presente no poema do autor é a musicalidade construída por meio da escolha de vocábulos e de recursos estilísticos como a aliteração e a assonância Ademais a utilização de palavras que remetem ao místico na segunda e terceira estrofes apontam para a busca pelo mundo ideal que era aprofundado por elementos que refletem o religioso e o imaginário Além disso utilizase também a concepção mística em busca pelo mundo que fosse ideal aprofundando em temáticas imaginárias e subjetivas ignorando o uso da lógica e da razão Assim o espiritualismo era colocado como uma nova forma de ver o mundo que poderia existir além da realidade concreta e absoluta Por exemplo na segunda estrofe a imagem do arcanjo é um elemento místico envolto em elementos sensoriais cânticos cítaras prateados e ouro Já no terceiro estrofe o caráter impalpável das coisas é notável etéreos incenso nevoentas Visões Mais uma vez é apresentada uma maiúscula alegorizante indicando simbolicamente as Visões além da presença de mais elementos sinestésicos como neve aromal límpido e leve Por fim cabe apontar a minha interpretação do poema como uma metáfora para a morte uma vez que o que motiva os seres humanos são as ânsias e os desejos e na ausência deste perdemos a vida e a vontade de viver TEXTO 3 Cavador do Infinito Cruz e Souza O poema Cavador do Infinito de Cruz e Sousa pertence se encaixa nos critérios estilísticos da escola literária simbolista devido as suas características como a musicalidade a visão dramática e pessimista da existência humana e o apelo às sensações através das palavras Esse poema é um pouco mais complexo do que o Siderações exigindo maior trabalho para decifrar e compreender o que o autor que passar com as suas simbologias e expressões Esses traços fazem do poema um texto mais subjetivo e abstrato Em relação a isso Moisés 2001 p 252 diz que o Simbolismo reflete o que há de mais profundo no ser humano escapando da razão e buscando o inconsciente Por se tratar da representação da psique do eu lírico a compreensão do poema fica mais difícil Em linhas gerais Cavador do Infinito tratase da figura de alguém que busca profundamente por sua essência O eu lírico pretende chegar ao infinito em prol de procurar por respostas para a existência humana e busca pela essência do ser humano a qual é vista como algo profundo Nessa busca o eu lírico possui a lâmpada do Sonho simbologia para representar algo que ilumina e incita ao sonho motivando e dando esperança para alcançar os seus objetivos TEXTO 4 Cavador do Infinito Cruz e Souza O poema Cavador do Infinito de Cruz e Sousa pode ser classificado como um soneto possuindo em sua estrutura dois quartetos e dois tercetos O ritmo presente no texto é visto como convencional e constituise através da escolha de vocábulos do uso de rimas pontuações bem estabelecidas e repetição de fonemas Uma das características da linguagem simbolista presente nos textos de Cruz e Sousa bem como de outros autores simbolistas é o apelo as sensações a fala vaga e abstrata e a ação de sugerir ao invés de nomear alguns elementos Isso é possível observar ao analisar o poema Cavador do Infinito Logo na primeira estrofe encontramos o apelo ao aspecto sensorial onde encontrase em destaque a incitação aos sentidos da visão e audição através do verso Com a lâmpada do Sonho desce aflito E sobe aos mundos mais imponderáveis Vai abafando as queixas implacáveis Da alma o profundo e soluçado grito Além disso encontramos também o recurso estilístico da Assonância no verso Vai abafando as queixas implacáveis Em relação ao aspecto vocabular por se tratar de um poema que aborda a relação humana em sua natureza psicológica as palavras são usadas em seu sentido pessimista e negativista Através disso notase o teor filosófico do texto tendo em vista aos questionamentos do eu lírico sobre o estado de aflição da existência humana Ou seja o eu lírico encontrase em um drama existencial simbolizado pela ação de cavar o infinito TEXTO 5 Soneto X Alphonsus de Guimaraens O escrito brasileiro Alphonsus de Guimaraes 18701921 fez parte da escola literária e aborda em seus textos temas como o misticismo a morte e a religiosidade Apesar de escrever mais Prosa foi na Poesia que Alphonsus se destacou com sua linguagem ácida e versos que exploram o psicológico do ser humano No Soneto X temos como tema principal a morte da amada A descrição da morte dela no texto não é posta de forma sentimental mas isso não impede que o leitor note o impacto disso na vida do eu lírico Isso é possível ao analisar que o autor descreve os momentos de agonia e sofrimento antes do padecimento a comparação da mulher com uma condessa medieval morta em delírios e a afirmação de que sofrerá no além novos martírios O ambiente etéreo e o clima sombrio presente no poema são construídos com a intenção de mostrar ao leitor que nada podia ser feito para mudar aquela situação Conforme Silva 2019 o espiritualismo era colocado nas poesias simbolistas como uma nova forma de ver o mundo que poderia existir além da realidade concreta e absoluta No poema de Guimaraes a espiritualidade é representada através da construção de eufemismos repousa no primeiro verso da primeira estrofe adormeça no terceiro verso da primeira estrofe e sonho no primeiro verso da segunda estrofe buscando suavizar a afirmação da morte e transmitir a ideia de transcendência e ascensão espiritual Em relação ao aspecto formal o poema tratase de um soneto como o próprio título aponta composto por 2 quartetos e 2 tercetos e de versos decassílabos REFERÊNCIAS SILVA M S Projeções Autobiográficas em Poemas de Cruz e Sousa Centro Universitário UNIFAAT Atibaia 2019 Disponível em http1862512252268080bitstreamhandle123456789306Projec3a7c3b5es 20autobiogrc3a1ficas20em20Poemas20de20Cruz20e20Sousapdf sequence1isAllowedy MOISÉS Massaud História da Literatura Brasileira 5 ed São Paulo Cultrix 2001