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14 AS QUINAS DE MENSAGEM E A ÍNCLITA GERAÇÃO EM OS LUSÍADAS Sonia Mara Ruiz Brown1 RESUMO Este estudo busca revelar as aproximações existentes entre Os Lusíadas e Mensagem por meio da imagem heráldica de As Quinas comparando e analisando a maneira como Pessoa e Camões abordaram as personagens históricas os infantes da ínclita geração cada um em seu momento histórico PALAVRASCHAVE Camões Fernando Pessoa Os Lusíadas Mensagem As Quinas ABSTRACT This essay attempts to show the relationship between Os Lusíadas and Mensagem by means of the heraldic image in As Quinas by comparing and analyzing the approach Pessoa and Camões have towards the historic characters the royal infants of the ínclita geração each in their historic moment KEYWORDS Camões Fernando Pessoa Os Lusíadas Mensagem As Quinas Cessa o teu canto Cessa que enquanto O ouvi ouvia Uma outra voz Como que vindo Nos interstícios Do brando encanto Com que o teu canto Vinha até nós Fernando Pessoa Introdução Tanto em Bakhtin quanto em T S Eliot temos a afirmação de que nenhum discurso é autosuficiente tanto no sentido imanente quanto no literal Bakhtin nos seus estudos focalizou a língua em seu uso real e definiua como dialógica um enunciado deve ser considerado antes de tudo como resposta a enunciados anteriores de uma esfera dada ele refuta os confirma os completa BAKHTIN 1992 p 298 entendendo que para o enunciador construir seu discurso levará em conta o discurso de outrem que está presente no seu T S Eliot priorizou a linguagem artística e o diálogo existente entre as obras literárias ressaltando que nenhum poeta nenhum artista tem sua 1 Doutoranda em Literatura Portuguesa na FFLCHUSP sob a orientação da Prof Doutora Maria Helena Nery Garcez 15 significação completa sozinho Seu significado e a apreciação que dele fazemos constituem a apreciação de sua relação com os poetas e artistas mortos ELIOT 1989 p 39 Do ponto de vista filosófico Luigi Pareyson o filósofo da estética expõe que o inovar e conservar são funções artísticas inseparáveis pois continuar sem inovar significa apenas copiar e repetir e inovar sem continuar significa fantasiar no vazio sem fundamento PAREYSON 2001 p 137 Sob essas perspectivas e ainda com o aval do próprio Fernando Pessoa na epígrafe acima é que estaremos enfocando da primeira parte Brasão de Mensagem de Fernando Pessoa2 a terceira do Brasão isto é As Quinas3 e as personagens históricas aí citadas D Duarte D Fernando D Pedro D João e D Sebastião em Os Lusíadas de Camões aproximandoos para analisar o que pôde servir de desafio ou estímulo Pessoa e Camões propuseramse a narrar e a interpretar a história de um dado período de Portugal sob o ponto de vista da época em que viveram da sociedade que os circundava e os influenciava do próprio eupoético e de suas respectivas idiossincrasias O estudo comparado das épicas pessoana e camoniana legitimase cremos sobretudo por dois pontos O primeiro deles é o paralelo entre o percurso existencial de Camões e Pessoa Embora em épocas distintas ambos viveram períodos conturbados da história portuguesa se ausentaram da pátria e conheceram a mesma região Pessoa viveu dos sete aos dezessete anos em Durban na África do Sul e Camões esteve durante aproximadamente dois anos no Oriente cumprindo pena de prisão e prestando serviço militar em seguida outro período viajando de Goa a Moçambique Conheceram portanto a mesma região pois o porto de Durban fica próximo ao Cabo da Boa Esperança local onde ocorreu a maior proeza portuguesa da história O segundo ponto que nos leva a comparálos é a própria declaração de Pessoa supostamente referindose a si próprio quanto ao aparecimento de poeta supremo da nossa raça o poeta de todos os tempos e o supraCamões da nossa terra PESSOA 1978 p 367 Pessoa prognostica que fatalmente surgirá um Grande Poeta que 2 A primeira parte de Mensagem aborda as origens de Portugal e chega até o início da expansão marítima 3 As Quinas representam a essência do espírito português religioso e cristão desde a origem 16 deslocará para o segundo plano a figura consagrada de Camões Em outro artigo expressivamente intitulado Reincidindo também publicado em A Águia Pessoa propõese a esclarecer o supraCamões e suas alegorias referindose a um terceiro período literário que estaria por ocorrer e seria uma das magnas épocas literárias profetizando que Portugal se prepara para o ressurgimento assombroso um período de criação literária e social como poucos o mundo tem visto CRESPO 1988 p 2728 Embora Pessoa não tenha tratado a obra camoniana o anúncio do supraCamões legitima o nosso estudo comparativo Ao reinventar o discurso épico no século XX Pessoa chegaria à altura do grande vate português Os Lusíadas e Mensagem são marcos da literatura portuguesa e da literatura em língua portuguesa e Mensagem dialoga por meio do gênero poético com Os Lusíadas A razão deste nosso trabalho é exatamente a discussão desse diálogo a partir de uma das partes da Mensagem As Quinas por meio da comparação e da análise da maneira como cada um deles abordou e interpretou as mesmas personagens históricas Transcrevemos abaixo o poema As Quinas e a estância em Os Lusíadas que faz referência à mesma personagem histórica apresentada em Mensagem Os poemas então serão discutidos nesta ordem e depois comparados Estudo dos Poemas As Quinas Os Lusíadas D Duarte Rei de Portugal Canto V estância LI e primeiros versos da LII Meu dever fezme como Deus ao mundo Não foi do rei Duarte tam ditoso A regra de ser Rei almou meu ser O tempo que ficou na summa alteza Em dia e letra escrupuloso e fundo Que assim vai alternando o tempo iroso O bem coo mal o gosto coa tristeza Firme em minha tristeza tal vivi Quem viu sempre um estado deleitoso Cumpri contra o Destino o meu dever Ou quem viu em fortuna haver firmeza Inutilmente Não porque o cumpri Pois inda neste reino e neste rei Não usou ella desta lei Viu ser captivo o sancto irmão Fernando Que a tão altas empresas aspirava 17 Detendonos primeiramente na forma observamos regularidade no metro dos dois poemas cujos versos são todos decassílabos heroicos com exceção do terceiro verso do poema D Duarte Rei de Portugal que também é decassílabo mas sáfico A rima também é regular alternada no poema pessoano abacbc e no poema de Camões estrofação em oitavarima abababcc ou seja rima cruzada em seis versos e emparelhada em dois Embora neste momento os dois poemas sejam quanto à forma regulares há que se observar que os versos de Os Lusíadas são sempre regulares no decorrer de 8816 versos em 1102 estrofes quanto à rima e quanto à métrica enquanto Mensagem é uma verdadeira polifonia multifacetada em face do andamento uniforme da epopeia camoniana MOISÉS 1996 p 58 No poema do poeta de Pessoa que exige uma interpretação mais hermética só se é sabido que se refere a D Duarte pelo título assim como em todos demais poemas de As Quinas Uma vez no entanto assim compreendido sabese ser ele o protagonista do poema pois historicamente é conhecido o sofrimento de D Duarte por não poder pagar o penhor da promessa de Ceuta cuja garantia era D Fernando seu irmão mais novo prisioneiro em Tanger e ali cativo até o fim da vida Declara na sua própria voz4 Meu dever fezme e se compara a Deus no cumprimento de seu dever perante o mundo No verso seguinte A regra de ser Rei almou meu ser a paronomásia ser substantivo ser verbo estabelece definitivamente o que deve ser cumprido a opção pelo verbo almar intensifica e aprofunda o dever a regra na personalidade real que não se limitou ao seu entendimento à materialidade do corpo mas invadiu sua unidade e sua inteireza vitais sua consciência pensante em sua dimensão psicológica e orgânica Sob o mesmo prisma podese acrescentar que o verbo é um neologismo cuja escolha pode ser justificada através das palavras de Ibañez Langlois é lei geral da poesia o resgatar a palavra de seu emprego quotidiano passageiro e prático para erigila em objeto substantivo que leva consigo sua própria realidade porque solidifica a experiência que 4 Em Os Castelos defesa externa de Portugal é necessária a intervenção de um mediador dirigindose a um interlocutor variável que é a figura referida no título de cada poema em As Quinas ocorre a voz da figura histórica anunciada no título que expõe o seu monólogo 18 designa redime a palavra de uma mera condição de signo ou meio LANGLOIS 1964 p 65 O verso subsequente do poema Em dia e letra escrupuloso e fundo único decassílabo sáfico no texto rompe com o ritmo harmonioso e solene dos versos heróicos anteriores Esse rompimento se mostra como exceção proposital para mudança de ênfase introduzindo elementos concretos Em dia e letra em contraposição ao sentir heroico que vinha marcando o texto Mesmo assim permanecem no concreto sentimentos demarcados pela exigência e pelo rigor escrupuloso e pela intensidade fundo Continua o eupoético numa expressiva metonímia Firme em minha tristeza tal vivi já que viveu firme sem titubear com decisão tomada de não beneficiar o irmão o que lhe gerou tristeza constante Nesse verso e nos seguintes a sonoridade da vogal i se faz sentir intensamente Firme minha tristeza vivi Cumpri Destino Inutilmente cumpri e marca a profundidade a agudeza do penetrar no ser real da resolução assumida e a dor que dela advém Esse mesmo sentimento é ainda demarcado pela presença do verbo cumprir no início do quinto verso e no final do sexto sugerindo o iniciar e o terminar de uma mesma determinação Na forma verbal cumpri repetida ainda se pode destacar a sonoridade do u corroborando com a do i e cremos acrescentando a sensação de continuidade de algo que permanece durante muito tempo Num questionamento retórico o eupoético pergunta Inutilmente E responde Não Porque o cumpri O pronome oblíquo o retoma o objeto direto do verso anterior o meu dever O poema que no seu primeiro verso é iniciado pelo sujeito Meu dever termina com a forma verbal cumpri que traz proclítico o pronome o o meu dever marcando com toda a ênfase e arte a tristeza do agir pela vontade de cumprir o dever sem prazer sem recompensa afetiva Na estância LI e nos dois primeiros versos da estância LII do Canto IV de Os Lusíadas Camões em estilo grandiloquente mas muito perto da realidade como que dela emergindo enfoca D Duarte na voz de Gama 19 Inicia a estrofe LI afirmando sua não felicidade na posição real5 e a justifica através de antíteses O bem coo mal o gosto coa tristeza Questiona então Quem viu em fortuna haver firmeza pois inda neste reino e neste rei Não usou Ella tanto desta lei expondo princípios muitas vezes presentes na obra camoniana o da inconstância das coisas o da mudança heracliana Não há firmeza na fortuna pois nada permanece tudo está sempre em mutação Enquanto Pessoa procura mostrar a constância de um sentimento de dever a ser cumprido que toma todo o ser Camões detémse na questão da mudança houve um tempo mais ditoso com D João I mas não permaneceu porque tudo muda tudo está em contínua transformação sobretudo no reinado de D Duarte que usou tanto desta lei Nos dois primeiros versos da estância seguinte LII é citado o fato histórico ocorrido em Tânger Viu D Duarte ser captivo o sancto irmão Fernando Que a tão altas empresas aspirava Como disse Hernani Cidade referindose a Os Lusíadas rarissimamente a realidade foi assim valorizada como substância de poema CIDADE 1963 p 325 O verbo ver é privilegiado em Os Lusíadas viu claramente visto vista de lince E o vi claramente e não presumo Que a vista me enganava levantarse pronto coa vista viu ser captivo pois são a epopeia do conhecimento científico colhido por seu autor com as experiências de soldado e marinheiro e com seu fecundo talento poético É por isso que Gama afirma ter D Duarte visto seu irmão cativo Segunda Quina Canto IV estâncias LII e LIII D Fernando infante de Portugal Deume Deus o seu gládio porque eu faça Viu ser captivo o sancto irmão Fernando A sua santa guerra Que a tão altas empresas aspirava Sagroume seu em honra e em desgraça Que por salvar o povo miserando As horas em que um frio vento passa Cercado ao Sarraceno sentregava Por sobre a fria terra Só por amor da pátria está passando A vida de senhora feita escrava Pozme as mãos sobre os hombros e doiroume Por não se dar por elle a forte Ceita A fronte com o olhar Mais o publico bem que o seu respeita 5 O reinado de D Duarte durou apenas cinco anos e foi marcado pela peste e outras catástrofes além do desastre de Tânger em 1437 20 E esta febre de Além quer me consome E este querer grandeza são seu nome Codro porque o inimigo não vencesse Dentro de mim a vibrar Deixou antes vencer da morte a vida Regulo porque se a patria não perdesse E eu vou e a luz do gládio erguido dá Quis mais a liberdade ver perdida Em minha face calma Este porque se Hespanha não temesse Cheio de Deus não temo o que virá Ao captiveiro eterno se convida Pois venha o que vier nunca será Codro nem Curcio ouvidos por espanto Maior do que a minha alma Nem os Décios leais fizeram tanto O poema de Pessoa que se refere a D Fernando também apresenta regularidade quanto à forma É constituído de três quintetos cujos versos quanto à métrica se alternam entre decassílabos heroicos e hexassílabos 10 6 10 10 6 As rimas seguem o mesmo esquema a b a a b em todas as estrofes Os segundos e os quintos versos de cada estrofe entretanto apresentam rima e métrica diferentes A regularidade fazse presente também nos enjambements que ocorrem sempre entre o primeiro e o segundo versos de cada estrofe Novamente podemos aliar a regularidade da forma à ideia do que foi determinado isto é D Fernando agindo pela determinação divina O poema na voz do próprio D Fernando o infante santo que morreu prisioneiro no norte da África filho de D João I e irmão de D Pedro e D Duarte revela todo o misticismo de um ser tocado por Deus e designado para uma missão a então chamada guerra santa contra os mouros A dedicação à vontade divina é completa pois a guerra é dEle para a Sua honra Sagroume seu Duas vezes o possessivo revela a reverência e submissão a Deus Essa sagração no entanto se faz na honra e na desgraça antítese que pela proximidade de termos de sentido antagônico acentua o que há de positivo e negativo em cada um deles6 A desgraça exposta nos versos subsequentes advém de As horas em que um frio vento passa Por sobre a fria terra A repetição do adjetivo frio intensifica seu sentido porque desacelera a leitura sobretudo por se tratar de palavra que contém hiato A 6 À ideia de sagrarse em honra e desgraça podemos relacionar a terceira estrofe do poema Segundo O das Quinas em que Cristo embora ungido com desgraça e vileza foi elevado como filho unigênito Foi com desgraça e com vileza Que Deus ao Christo definiu Assim o oppoz à Natureza E Filho o ungiu 21 presença constante de sons sibilantes Deus seu faça sua santa sagrou seu desgraça às horas passa sobre sugere efeitos sensoriais da reverência e sujeição a Deus A segunda estrofe expõe a honra com que D Fernando foi sagrado Pozme as mãos sobre os hombros e doiroume A fronte com o olhar No primeiro verso ocorre a única rima preciosa doiroume consome nome do poema as demais são ricas e pobres exatamente no momento em que nos é revelada sua maior honra no segundo o enjambement que perturba e estimula o leitor Nos dois versos seguintes verificamos a presença da anáfora É esta É este que realça o jogo rítmico e dálhe uma linha sequencial D Fernando aí confessa ter febre de Além febre de transcendência num desejo de grandeza mas se a tem advém da vontade divina são seu nome Se alguns historiadores apontam a desgraça do infante que ficou por penhor em Tânger e cumpriu o cativeiro até o fim da vida como consequência da ambição desmedida dos portugueses Pessoa ao colocar sua voz no poema expõeno apenas como cumpridor de um anseio transcendental Na estrofe final o polissíndeto E eu vou e a luz do gládio no primeiro verso e a sonoridade nasal que ocorre a partir do segundo verso em minha calma não temo senha nunca maior minha alma sobrepõemse à ideia de calma da aceitação incondicional da tarefa A repetição do verbo vir virá venha vier reforça a confiança no futuro O possessivo minha é repetido apenas uma vez quando seu foi repetido três vezes Ocorre porque minha alma a alma do infante não mais lhe pertence mas sim é Deus que vibra nele Dentro de mim a vibrar Na visão camoniana D Fernando foi fiel à Pátria respeitou mais o bem público de todos os portugueses que o seu próprio Mais o público bem que o seu respeita Seu desprendimento sua lealdade sua coragem são glorificados porque para salvar o mísero exército português cercado pelos mouros de Tânger entregouse aos sarracenos e por amor à Pátria tornouse escravo deles que em seu resgate exigiam Ceuta Predominam referências a dados históricos que expostos com arte enriquecem o fato embora adjetiveo sancto e declare sua intenção de altas divinas empresas Nos três primeiros versos a sonoridade surda abunda captivo sancto que tão empresas aspirava que por povo e se associa à ideia à realidade penosa dura de D Fernando Entre o segundo e o terceiro versos fazse presente o paralelismo pois 22 ambos os versos são orações subordinadas adjetivas Que a tão altas empresas aspirava Que por salvar o povo miserando referindose a o sancto irmão Fernando Esse paralelismo demarca a distância entre o sonhar e o viver D Fernando aspirava a altas empresas mas para salvar o mísero povo deuse como refém Essa foi sua vida O advérbio só Só por amor da pátria reafirma a causa do agir de D Fernando Não há outra razão na visão de Camões embora Pessoa tenha apontado a intervenção divina Para glorificar ainda mais o patriotismo de D Fernando numa comparação épica são citados na estância LIII Codro último rei de Atenas que procurou todos os perigos até morrer para salvar sua pátria já que assim previam os oráculos Regulo cônsul romano prisioneiro em Tunis contrariou com energia as pretensões cartaginesas apesar de depender delas a sua liberdade e voltou a Cartago onde o trucidaram Cúrcio que se precipitou em 360 AC num abismo existente no meio do Fórum por dizerem os oráculos que tal abismo se fecharia apenas quando a ele se jogasse o que Roma tivesse de mais valioso e os Décios Públio Décio seu filho e seu neto expuseramse a todos os perigos no intuito de salvar a pátria lutando respectivamente conta os latinos os gauleses e os samnitas contra Pirso Embora todos eles tenham se sacrificado pela pátria heroica e exemplarmente nenhum deles fizeram tanto foi tão magnânimo arrojado quanto D Fernando Novamente o conceito de heróis portugueses mais bravos do que os da Antiguidade como anteriormente já se pôde constatar estância III do canto I Camões novamente não só revelou a realidade objetiva mas a superou numa ideiaforça que suscita e cria formas superiores de vida Essa forma superior de vida no entanto é mérito pessoal da personagem histórica o que difere da visão pessoana Terceira D Pedro regente de Portugal Canto VIII estância XXXVII Claro em pensar e claro no sentir Olha cá dous infantes Pedro e Henrique E claro no querer Progênie generosa de Joanne Indifferente ao que há em conseguir Aquele faz que a fama ilustre fique Que seja só obter Delle em Germânia com que a morte engane Dúplice dono sem me dividir Este que ella nos mares o pubrique De dever e de ser Por seu descobridor e desengane 23 De ceita a maura vaidade Não me podia a Sorte dar guarida Primeiro entrando as portas da cidade Por não ser eu dos seus Assim vivi assim morri a vida Calmo sob mudos céus Fiel à palavra dada e a ideia tida Tudo o mais é com Deus O terceiro poema de As Quinas é dedicado a D Pedro irmão de DDuarte e D Henrique O infante D Pedro que posteriormente foi regente de Portugal era homem culto traduziu Cícero Sêneca Vegácio além de escrever a Virtuosa Benfeitoria com a intenção de recomendar padrões e normas de conduta à nobreza Nessa obra expõe seu ponto de vista de que a autoridade dos senhores provém de uma ordenação divina O poema pessoano é constituído de dois sextetos No primeiro deles alternamse versos decassílabos heroicos e hexassílabos com a presença de rima alternada e todas agudas no segundo também se alternam versos decassílabos e hexassílabos A rima nele é alternada também alternada a rima aguda e grave D Pedro tido como homem inteligente e viajado declarase Claro em pensar e claro no sentir E claro no querer O termo claro repetido três vezes consecutivamente evidencia a grande objetividade percepção e entendimento do que pensa sente e quer não obstante no verso seguinte sobrevém a declaração da ausência desse pensar sentir e sobretudo do querer destacado em um só verso E claro no querer porque há indiferença ao que há de conseguir que seja só obter aquilo que for material apenas Não há portanto voluntariedade desejo sonho em qualquer conquista já que explicase é só obter D Pedro declarase Duplice dono e ainda sem se dividir sem me dividir pois é inteiramente dever e ser a mesma concepção de D Duarte A explosão da sonoridade oclusiva nos três últimos versos Que seja só obter Duplice dono sem me dividir De dever e de ser e a assonância do e no último verso De dever e de ser dão maior força intensidade a altissonante declaração real As rimas dessa estrofe como já exposto são todas agudas Dão organização rítmica visto que marcam incisivamente o fim do verso e consonância à afirmação dada a clareza do autoconhecimento do regente português como ser que embora seja ambicioso apenas de bens espirituais cumpre o dever de conquistar algo 24 A estrofe que segue tem mudada nos primeiros versos a tônica do discurso Quase que num cochicho o regente se diz apartado da sorte A ideia dessa separação se faz mais compreensível com a dupla presença do advérbio não Se não ocorreu interferência da sorte nem tampouco do céu que é mudo sob mudos céus o eulírico diz Assim vivi assim morri a vida em verso dividido em três tempos 4ª 8ª e 11ª sílabas o único decassílabo sáfico do poema e por isso de leitura mais pausada e marcada Além disso podese ainda observar nesse mesmo verso a repetição do advérbio assim que denota a pouca importância dada à vida que no singular oxmoro o eupoético declara têla matado assim morri a vida A assonância do i a sonoridade do v e a longa duração dos fonemas m e s adicionam ao verso melodia e corroboram com a ideia de aceitação de um destino já determinado sem entusiasmo mas Calmo sob mudo céus outro verso em que há a presença alongada do fonema nasal m e a abundância do fonema sibilante s Os dois últimos versos do poema retomam o tom decidido e forte da primeira estrofe A presença copiosa de fonemas surdos além do sonoro d linguodental como o t reforçam a noção do dever assumido como rei e cumprido a ideia foi clara e portanto sua execução aconteceu como o prometido a palavra dada Todavia advém um alerta Tudo o mais é com Deus O que Deus determinou ao homem foi executado mas se não foi da melhor maneira tudo o que não fez bem é com Deus D Pedro não se declara dependente da proteção divina nem tampouco tão sujeito a Deus como D Fernando e D Duarte D Pedro dizse desprovido de Sorte grafada com maiúscula e exalta seu eu Claro no pensar e claro no sentir E claro no querer Acusa a Sorte de não lhe ter dado guarida e declara que o que está por vir é com Deus porque dentro das suas possibilidades humanas fez tudo quando soube e pôde mesmo desprovido de sorte Se Pessoa dedica todo um poema a D Pedro regente de Portugal Camões apenas meia estrofe porque aborda D Pedro e D Henrique Progênie generosa de Joanne numa mesma estância a XXXVII do oitavo canto A métrica e a rima como já foi exposto permanecem a mesma ao longo de toda a obra sem no entanto causar nenhum tipo de monotonia 25 De maneira peculiar e pouco suntuosa é chamada a atenção para os dois infantes D Pedro e D Henrique Olha cá dous infantes Talvez Camões os tenha apresentado dessa maneira por não valorizar intensamente nenhum deles Pedro é o primeiro a ser apresentado pois é o mais velho e portanto a referência que lhe é feita ocorre através do pronome demonstrativo aquele Aquelle faz Destaca de D Pedro o fato de ter enganado a morte uma prosopopeia na Alemanha em luta gloriosa no exército do Imperador Segismundo contra os turcos Apud CAMÕES sd p 450 A dedução do menor valor dado aos infantes embora Camões os tenha alcunhado de Ínclita Geração quando os apresenta como filhos de D Felipe se justifica principalmente pelo comentário negativo feito a respeito de D Henrique que procedeu de modo que ella a fama o apregoe Por seu descobridor descobridor dos mares Tantos os feitos de D Pedro como os de D Henrique segundo Camões são conhecidos através da fama Aquelle faz que a fama illustre fique Delle em Germânia com que a morte engane Este que Ella nos mares a pubrique e a fama na maioria das vezes não é bem vista pelo autor de Os Lusíadas No canto IX nas estâncias XLV e XLVI na voz do Cupido por exemplo a fama faz com que fatos se tornem verdadeiros e influenciem os sentimentos alheios A interpretação histórica sob os pontos de vista camoniano e pessoano portanto difere Camões que revisita toda a História de Portugal conhecida no seu tempo revela D Pedro o regente apenas como mais uma figura do percurso cuja fama de seu heroísmo o consagrou Pessoa o traduz como mais uma figura marcada pela desgraça protagonista s de uma aventura mais mística do que material GARCEZ 1989 p 6 Quarta D João infante de Portugal Não fui alguem Minha alma estava estreita Entre tam grandes almas minhas pares Inutilmente eleita Virgemmente parada Porque é do portuguez par de amplos mares Querer poder só isto O inteiro mar ou a orla desfeita O todo ou o seu nada 26 O poeta dá a voz a D João infante de Portugal irmão de D Duarte D Henrique D Pedro e D Fernando e portanto filho de D João I o qual declara não ter tido oportunidade Não fui alguem e se justifica pela existência de outros que o abafam com sua grandiosidade Importante observar que não é sua pessoa diminuída entre pessoas grandes ou grandiosas mas sua alma entre almas apenas o que é substância autônoma em relação à materialidade do corpo A própria consciência autônoma em relação à materialidade do corpo A própria consciência pensante em sua dimensão psicológica orgânica ou neuronial HOUAISS 2001 A presença do enjambent entre o primeiro e o segundo versos a assonância do a e do e Minha alma estava estreita Entre tam grandes almas minhas pares a sonoridade da oclusiva t na sequência estava estreita entre tam a presença do primeiro verso decassílabo sáfico e o subsequente heroico despertamnos conferemnos expectativa Nos dois versos hexassílabos seguintes da quadra nos é apresentado como se sente a alma estreitada de D João É inutilmente eleita porque na concepção da dinastia de Avis aliás muito bem assinalada na Virtuosa Benfeitoria do infante D Pedro a autoridade dos reis príncipes e senhores é ordenação divina e se ela é abafada é inútil assim como se não foi posta em prática está Virgemmente parada A rima interna inutilmente virgemmente aliada ao mesmo ritmo e ao mesmo metro hexassílabo reforça o conceito do que não acarreta frutos da esterilidade da aridez da monotonia Se a primeira estrofe traz apenas aspectos negativos voltados ao eupoético Não fui alguem alma estreita Inutilmente eleita parado a segunda referindose agora aos portugueses revela o positivo em verso decassílabo heróico forte épico com uma cesura marcada pela vírgula que salienta o aposto pae de amplos mares Toda essa positividade é acentuada pela sonoridade das oclusivas Porque é do portuguez pae de amplos mares Querer poder só isto e ainda pela rima interna quererpoder A esse povo português que já é pae de amplos mares lhe é permitido tudo querer tudo sonhar mas apenas lhe interessa segundo a voz do eulírico obter tudo ou nada todo o mar ou nenhum mar A presença do advérbio só não deixa nenhuma outra possibilidade nenhum outro meio termo apenas a antítese que distancia ainda mais O todo ou o seu nada Mais uma vez a sonoridade vem em auxílio da noção exposta o 27 comparecimento das linguodentais tsurda e d sonora aliase à compreensão dos extremos todo ou nada O inteiro mar ou a orla desfeita O todo ou o nada Não nos parece sensato desejar tudo ou nada mas o anseio por ter tudo mesmo na possibilidade do nada dá a esse povo motivação força determinação para lutar pelo todo Em Os Lusíadas não encontramos nenhuma referência ao infante D João só está implícito da ínclita geração fato explicado provavelmente pela pouca importância da sua atuação na História Portuguesa embora Fernando Pessoa o veja como um dos pilares da constituição da alma lusitana porque também ele na sua pequenez Não fui alguem Minha alma estava estreita paradoxalmente é exaltado QuintaD Sebastião Rei de Portugal Canto I estância VI Louco sim louco porque quis grandeza E vós ó bem nascida Qual a sorte a não dá Da lusitana antigua liberdade Não coube em mim minha certeza De aumento de pequena christandade Por isso onde o areal está Vós ó novo tremor da maura lança Ficou meu ser que houve não o que ha Maravilha fatal da nova idade Dadas ao mundo por Deus que tudo o Com o que nella ia Pera do mundo a Deus dar parte grande Sem a loucura que é o homem Mais que a besta sadia Canto I estância VII Cadaver addiado que procria Vós tenro e novo ramo florescente Dua arvore de Christo mais amada Que nenhua nascida do Occidente Cesárea ou Christianissima chamada Vêde o no vosso escudo que presente Vos amostra a Victoria já passada Na qual vos deu por armas e deixou As que elle pera si na Cruz tomou Canto I estância VIII Vós poderoso rei cujo alto imperio O sol logo em nascendo vê primeiro Vêo tambem no meio do hemispherio E quando desce deixa derradeiro 28 Vós que esperamos jugo e vutuperio Do torpe ismaelita cavaleiro Do Turco oriental e do Gentio Que ainda bebe o licor do sancto rio Canto I estância XV E em quanto eu estes canto e a vós não posso Sublime rei que não me atrevo a tanto Tomai as redeas vós do reino vosso Dareis materia a nunca ouvido canto Comecem a sentir o peso grosso que pelo mundo todo faça espanto De exercitos e feitos singulares De Africa as terras e do Oriente os mares Canto X estância CLIII De Phormião philosopho elegante Vereis como Annibal escarnecia Quando das artes bellicas diante Delle com larga voz tratava e lia A disciplina militar prestante Não se aprende senhor na phantasie Sonhando imaginando ou estudando Senão vendo tratando e pelejando D Sebastião Rei de Portugal o último poema de As Quinas é formado por dois quintetos cujos versos quanto ao metro variam entre decassílabos hexassílabos e octossílabos 1ª estrofe 10 6 8 8 10 2ª estrofe 10 6 8 6 10 As rimas em ambas as estrofes são alternadas e em seguida emparelhadas a b a b b Rimas agudas só são encontradas na primeira estrofe nos versos 2 4 e 5 É iniciado por uma afirmação categórica constituída de sons fortes e oclusivos Louco sim louco porque quis grandeza Qual a sorte a não dá findada por rima aguda e em verso decassílabo O homem verdadeiramente humano para Pessoa é o descontente insatisfeito irracional que busca a aventura sem freios e por isso tido como louco D Sebastião dizse louco porque desejou grandeza Qual a sorte não dá porque ousou não ficou 29 Contente com o seu lar Sem que um sonho no erguer da asa Faça até mais rubra a brasa Da lareira a abandonar7 pois viver assim é o mesmo que ter por vida a sepultura O eupoético vai além e afirma Não coube em mim minha tristeza em outras palavras menos poéticas não se acomodou satisfeito consigo mesmo mas lutou para superar as imperfeições a certeza e por isso mesmo a conclusão da estrofe Por isso onde o areal está Ficou meu ser que houve não o que ha Porque buscou a superação de si mesmo insurgiuse contra suas limitações terminou provavelmente seus dias prisioneiro em um deserto e nele ficou o ser que houve ficou sua metade humana que definha e morre mas não o que ha a metade divina que impele a História Nessa primeira estrofe onde predominam rimas agudas fica demarcada com firmeza a concepção de vida do Desejado e é nos versos decassílabos onde ocorrem as afirmações mais categóricas Na segunda estrofe menos incisiva mais fluente inclusive pela presença do enjambement no segundo verso a ideia de loucura é retomada conceito esse já exposto outras vezes como no ensaio de 1923 Loucos são os heróis loucos são os santos loucos são os gênios sem os quais a Humanidade é uma mera espécie animal cadáveres adiados que procriam Apud MOISÉS 1996 p 72 Minha loucura outros que a tomem Com o que nella ia Nesses versos a presença marcada de encontros vocálicos loucura outros me a ia e de sons nasais minha me tomem com melhor imprimem mais ainda aos versos continuidade fluidez de pensamento e de sons para então destacar o questionamento arrojado de D Sebastião sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia cadáver addiado que procria Novamente a explosão de oclusivas loucura que que besta sadia cadáver addiado procria vem ao encontro de uma ideia chave a existência esvaziada de sonhos ambiciosos a existência apenas satisfeita com suas limitações é a morte em vida Cadáver addiado que procria Embora nessa estrofe as rimas sejam graves tradicionalmente tidas como mais brandas as rimas no hiato ia cuja sílaba tônica é o i 7 Poema Segundo O Quinto Império da terceira parte de Mensagem O Encoberto 30 sadia procria revelase bastante contundente e de acordo com a pergunta feita que também foi elaborada em verso decassílabo heroico Camões sem quebra do tom épico e mantendo a unidade estrutural também aborda D Sebastião ou melhor dedicalhe a epopeia8 São treze estâncias dirigidas ao jovem rei de Portugal das quais destacamos apenas quatro VI VII VIII XV por serem as que mais tratam do rei nas demais referese à qualidade de seus versos e a heróis D Sebastião foi rei com apenas três anos e com quatorze assumiu o poder libertandose de influências e nomeando novos ministros A voz poética de Os Lusíadas dirigelhe a palavra tratandoo pela segunda pessoa do plural vós e elogiao É segurança Da lusitana antigua liberdade pois nele está depositada a esperança e a continuidade da descendência de Avis é esperança De aumento da pequena christandade conceito medieval de levar a fé através das Cruzadas é temor da maura lança expressiva sinédoque e maravilha fatal destinado por Deus para dominar mas também a Deus se render Pela primeira vez no estudo de estâncias camonianas a personagem é apontada como agraciada por Deus Camões em seus versos também põe sua esperança em D Sebastião Na estância VII numa sequência de levantada inspiração dirigese ao jovem comarca novamente através do vocativo vós e declarao novo ramo florescente Dua arvore de Christo mais amada Que nenhua nascida no Occidente nem mesmo a Cesárea ou a Christianissima Essa metáfora feliz coloca D Sebastião como ramo novo e florescente isto é que já traz marcas de desenvolvimento embora jovem de crescimento e descendente de uma família cristã cujas boas raízes e tronco firme porque é árvore o sustentarão Pede então que o rei verifique o escudo para nele poder encontrar as provas da glória já passada a batalha de Ourique e as chagas de Cristo Segundo Chevalier e Gheerbrant o escudo é representação do universo como se o guerreiro a usálo opusesse o cosmo ao seu adversário e como se os golpes desse último atingissem muito além do combatente à sua frente e alcançassem a própria realidade representada nos ornamentos do broquel CHEVALIER GHEERBRANT 1982 escudo Se o rei é solicitado a verificar o escudo portanto é para que não tema 8 Camões desejava o reconhecimento de sua arte por parte de D Sebastião para dele receber uma tença 31 pois nele está a sua defesa O pedido é colocado entre parênteses como que baixando a voz respeitosamente ao solicitar algo Esses versos transmitem uma vez mais expectativa em D Sebastião o consumador de um novo império A estrofe seguinte também iniciada pelo vocativo vós D Sebastião é exaltado através de outra metáfora para ele o sol está sempre voltado seja no amanhecer ou no ocaso A expressão adverbial logo em nascendo colocada entre vírgulas no meio da oração destaca quão cedo esse sol vem ao encontro do jovem monarca Novamente o rei é chamado vós e sobre ele é deposta uma grande esperança a vitória sobre gentios e bárbaros o torpe ismaelita cavaleiro uma sinédoque pois na verdade são os ismaelitas Nessa mesma estância ainda chamanos a atenção a anáfora Do torpe Do turco Os que devem ser combatidos da mesma forma estão em versos iniciados de forma semelhante Na estância XV depois de uma preterição pois o eupoético declara não se atrever cantar seu rei mas o faz mais do que um elogio e expectativa há um desafio Tomai as rédeas vós do reino vosso e a profecia Dareis matéria a nunca ouvido canto através dos feitos espantosos dos seus soldados e exércitos A anáfora nessa estrofe se faz presente realçando o jogo rítmico De exércitos e feitos singulares De África as terras e do Oriente os mares A sinestesia também peso grosso faz com que na transferência de sentido o peso trazido pelos soldados nas terras africanas e nos mares orientais seja ainda mais sentido Ainda no canto X estância CLIII a voz épica fala diretamente a D Sebastião mas antes dando mais peso ao seu conselho faz uso de figuras do Mundo Antigo Annibal famoso general cartaginês escarnecendo do elegante filósofo grego Phormião quando diante dele lia tratados sobre a arte bélica Interessante observar que mesmo querendo apontar uma falha no procedimento real o eulírico compara o rei não só a um filósofo mas a um filósofo elegante Nesses versos não há elogio expectativa ou profecia apenas um alerta muito sonoro aliás em decorrência das rimas internas que revela o conhecimento da voz poética das limitações reais Talvez já a previsão inconsciente do desmoronamento 32 progressivo de que Camões entendia que deveria ter sido o Quinto império GARCEZ 1989 p 3 Nas estâncias do primeiro canto Camões coloca em D Sebastião que é dom de Deus a esperança de grandes feitos que hão de vir em As Quinas o jovem monarca português é o desbravador o conquistador intrépido e valoroso Ambos Camões e Pessoa confiam em D Sebastião e esperam nele mas o poeta do Orpheu já conhecia a terrível derrota do governante e ainda assim ou melhor por isso mesmo9 nele espera enquanto Camões porque não conhece o futuro apenas crê nele Na estância CLIII do décimo canto na epopeia renascentista indagadora de fenômenos e de consciência crítica D Sebastião é apresentado como homem de pouca ação o que não seria concebível no poema épico pessoano já que lhe basta que o jovem rei tenha sido exemplarmente marcado pela desgraça para ser glorificado Conclusão Após o estudo dos poemas de As Quinas e das estâncias camonianas que abordam as mesmas personagens históricas pudemos concluir sobre algumas identidades e várias diferenças A maior distinção que se pode fazer entre as duas obras épicas portuguesas diz respeito à finalidade de cada uma As demais diferenças são decorrentes do objetivo buscado numa e outra Camões celebra a viagem de Vasco da Gama às Índias e a história pátria mantendo identidade com o Cristianismo e registra além da realidade histórica a astronomia as ciências da natureza a geografia a etnografia no intuito de fixar para a posterioridade as grandes façanhas de seus heróis Eles lutaram contra obstáculos que impediam a nação de ser um dos maiores agentes da civilização do mundo lutaram pelo cumprimento da missão que a situação geográfica lhes proporcionava lutaram pela hegemonia do Homem no Universo Camões não se eximiu entretanto de registrar a crise intelectual advinda das navegações e das descobertas de revelar sua consciência 9 Se o povo Português em D Sebastião teve de passar pelo seu maior desastre teve de conhecer a maior desgraça e vileza segundo a lógica não humana desta História ele tem agora todos os motivos de esperança num período de glorificação e de grandeza ele tem todas as credenciais para ser ungido com um destino glorioso Ao desastre maior deverá corresponder uma glorificação maior GARCEZ 1989 p 7 33 crítica do conhecimento de censurar a inquietação que suscita mas também sacrifica Sem dúvida Os Lusíadas constituem um relato de glória a glória do povo lusitano nas navegações nas conquistas na expansão do mar mas também memorial de um declínio Fernando Pessoa em As Quinas revela uma concepção mais personalizada da História pois os grandes acontecimentos que demarcam o destino da nação portuguesa são determinados por atos isolados de apenas algumas personagens Além disso quando a História Portuguesa é revista na fase anterior a D Sebastião oferecenos uma visão diferenciada à que já nos tinha sido apresentada por Camões a interpretação de que para fazêla para têla foi necessária a dor a desgraça o fracasso Mensagem não festeja o Portugal passado mas aponta para o futuro revela a esperança do que poderá vir a ser Um vez derrotado o país tem agora todos os motivos para um momento futuro de glorificação e grandeza O que foi humilhado será exaltado Tendo em vista esse foco o da diferença verificamos que nos cinco poemas extraídos de As Quinas não há distinção de tratamento dos reis e infantes Todos eles são mitificados todos são marcados pela desgraça São por uma razão ou outra mártires e por isso mesmo tocados por Deus guiados pela mão divina e portanto vencedores Em Camões nas estâncias aqui citadas e estudadas é percorrida toda a genealogia dos reis cronologicamente Ao fazêlo detémse em fatos históricos exaltandoos em comparações com grandes vultos da história e da mitologia mas também os apresenta até mesmo com certa indiferença como nos versos dedicados a D Pedro e a D Henrique quando os julga menores Os heróis da pseudo épica pessoana não são apresentados cronologicamente como ocorre em Os Lusíadas fato apontado por vários estudiosos do poeta que afirmam ser a negação do tempo uma marca bastante presente na sua poesia10 Pessoa selecionou acontecimentos reis que considerou decisivos segundo determinada analogia e compôs As Quinas No momento da batalha de Alcácer Quibir a narrativa é interrompida11 É o momento desastroso marcado pela dor e como tal dará nascimento a um novo 10 é no sentimento originário da sua do tempo irrealidade que se gera toda a poesia de Pessoa In LOURENÇO 1999 p 65 11 Camões também interrompe a História no reinado de D Sebastião mas porque foi o período que vivenciou 34 tempo Não importa apenas reinterpretar a História portuguesa através da intervenção divina reinterpretála como cenário para algo que está por vir A questão das vozes em Os Lusíadas e Mensagem também reflete a interpretação de Portugal feita por cada um dos seus autores Em As Quinas que representam a essência religiosa de Portugal há uma voz diferente para cada composição a voz da figura histórica anunciada no título que profere seu monólogo que fala por si sem a interferência de um observador de fora Os Lusíadas são saga de um povo narrada por uma única persona poética que se confunde com a imagem do próprio Camões Ainda por terem sido escritos em épocas tão distintas 400 anos os separa as duas obras apresentam formas diferentes de épocas diferentes Os poemas estudados em Os Lusíadas mostraram sempre rigor na forma como regulamentam os preceitos quinhentistas e uniformidade na disposição das rimas como já demonstrado Os poemas de As Quinas embora tragam certo rigor ele não é o mesmo em todos os poemas Em Os Lusíadas nos encanta o tom épico que percorre toda a obra e o conhecimento extraordinário do autor das mais diversas áreas do conhecimento mas sobretudo da História e da Mitologia Em Mensagem nos emociona a arquitetura do texto a maneira como foi concebido além é claro da arte de cada poema Quanto às semelhanças destacamos a concepção nacionalista exaltada nas duas obras Embora Camões revele sua decepção em determinadas passagens engrandece a força a coragem a determinação do seu povo Pessoa agiganta os feitos a determinação dos heróis da História Portuguesa tocados pela graça divina Nas epopeias clássicas como em Os Lusíadas depois da proposição e invocação vem o plano divino representado pelo concílio dos deuses onde são discutidos os desígnios humanos As Quinas vêm depois de uma abertura do poema apresentando a Europa e Portugal na sua posição privilegiada como expoentes da História do mundo isto é o plano humano Depois de conhecido o plano humano vêm As Quinas que trazem o plano divino nas suas relações com o homem Outra semelhança portanto agora na formação do poema A aproximação entre Os Lusíadas e Mensagem é inevitável mas se pudemos apontar mais diferenças que semelhanças não há incoerência pois há ainda uma grande 35 igualdade a ser apresentada que une a produção épica dos dois maiores poetas portugueses levaram a língua e a história lusitana do quintal português para o mundo Referências bibliográficas BAKHTIN Mikhail Estética da criação verbal São Paulo Martins Fontes 1981 CAMÕES Luis Vaz de Os Lusíadas Organização de Emanuel Paulo Ramos 7ed Porto Porto sd A Chave dos Lusíadas Prefácio paráfrase de José Agostinho 6ed Porto Livraria Figueirinhas sd CARVALHO Joaquim Barradas de O Renascimento português em busca de sua especificidade Lisboa Imprensa Nacional Casa da Moeda 1980 CARVALHO João Soares História da Literatura Portuguesa vol 2 Renascimento e Maneirismo Lisboa Alfa 2001 CHEVALIER Jean GHEERBRANT Alain Dicionário de Símbolos 18ed Rio de Janeiro José Olympio 1982 CIDADE Hernani A Literatura Portuguesa e a Expansão Ultramarina As idéias os factos as formas de arte vol 1 séc XV e XVI 2ed Coimbra Armênio Amado 1963 COELHO Jacinto de Prado Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa 5ed 1ed brasileira São Paulo Verbo 1974 CRESPO Angel Estudos sobre Fernando Pessoa Tradução de José Bento 5ed 1ed brasileira São Paulo Verbo 1974 ELIOT T S Ensaios São Paulo Art 1974 FRANCHETTI Paulo GARCEZ Maria Helena Nery A Viagem de Vasco da Gama na Virada do Século In Estudos Portugueses e Africanos Campinas UNICAMP nº 22 julhodezembro 1993 p 5164 GAGLIARDI Caio A Pátria de Sonho Portuguesa In PESSOA Fernando Mensagem Organização de Caio Gagliardi São Paulo Hedra 2007 p 929 GARCEZ Maria Helena Nery Uma lírica nunca dantes percebida In Poemas Completos de Alberto Caeiro São Paulo Nacional e Lazuli 2007 p 716 36 Mensagem Profissão de Fé Poética In Estudos Portugueses e Africanos Campinas nº2526 UNICAMP 1995 p 159169 Motivos das Navegações na Poesia Portuguesa do século XX Antônio Gedeão In Actas do 4º Congresso Internacional de Lusitanistas LisboaPortoCoimbra LIDEL 1995 p 491198 Do Desconcerto e do Concerto Mundo em Mensagem In Trilhas em Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro São Paulo Moraes Edusp 1989 LANGLOIS José Miguel Ibañez La Creation Poética Madrid Realp 1964 LOURENÇO Eduardo Mitologia da Saudade São Paulo Companhia das Letras 1999 PAREYSON Luigi Os Problemas da Estética Tradução de Maria Helena Nery Garcez São Paulo Martins Fontes 2091 PESSOA Fernando A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente Considerada In PESSOA Fernando Obras em Prosa Organização e nota de Cleonice Berardinelli 2ed Rio de Janeiro Nova Aguilar 1976 p 361378 Mensagem In Obra Poética Organização e notas de Maria Aliete Galhoz 4ª reimpressão da 9ed Rio de Janeiro Nova Aguilar 1986 p 523 SARAIVA Antonio José LOPES Oscar História da Literatura Portuguesa 2ed Porto Porto sd SEABRA José Augusto O Heterotexto Pessoano São Paulo Perspectiva 1988 TREVISAM Armindo A Poesia Uma Iniciação à Leitura Poética Porto Alegre Uniprom 2000
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14 AS QUINAS DE MENSAGEM E A ÍNCLITA GERAÇÃO EM OS LUSÍADAS Sonia Mara Ruiz Brown1 RESUMO Este estudo busca revelar as aproximações existentes entre Os Lusíadas e Mensagem por meio da imagem heráldica de As Quinas comparando e analisando a maneira como Pessoa e Camões abordaram as personagens históricas os infantes da ínclita geração cada um em seu momento histórico PALAVRASCHAVE Camões Fernando Pessoa Os Lusíadas Mensagem As Quinas ABSTRACT This essay attempts to show the relationship between Os Lusíadas and Mensagem by means of the heraldic image in As Quinas by comparing and analyzing the approach Pessoa and Camões have towards the historic characters the royal infants of the ínclita geração each in their historic moment KEYWORDS Camões Fernando Pessoa Os Lusíadas Mensagem As Quinas Cessa o teu canto Cessa que enquanto O ouvi ouvia Uma outra voz Como que vindo Nos interstícios Do brando encanto Com que o teu canto Vinha até nós Fernando Pessoa Introdução Tanto em Bakhtin quanto em T S Eliot temos a afirmação de que nenhum discurso é autosuficiente tanto no sentido imanente quanto no literal Bakhtin nos seus estudos focalizou a língua em seu uso real e definiua como dialógica um enunciado deve ser considerado antes de tudo como resposta a enunciados anteriores de uma esfera dada ele refuta os confirma os completa BAKHTIN 1992 p 298 entendendo que para o enunciador construir seu discurso levará em conta o discurso de outrem que está presente no seu T S Eliot priorizou a linguagem artística e o diálogo existente entre as obras literárias ressaltando que nenhum poeta nenhum artista tem sua 1 Doutoranda em Literatura Portuguesa na FFLCHUSP sob a orientação da Prof Doutora Maria Helena Nery Garcez 15 significação completa sozinho Seu significado e a apreciação que dele fazemos constituem a apreciação de sua relação com os poetas e artistas mortos ELIOT 1989 p 39 Do ponto de vista filosófico Luigi Pareyson o filósofo da estética expõe que o inovar e conservar são funções artísticas inseparáveis pois continuar sem inovar significa apenas copiar e repetir e inovar sem continuar significa fantasiar no vazio sem fundamento PAREYSON 2001 p 137 Sob essas perspectivas e ainda com o aval do próprio Fernando Pessoa na epígrafe acima é que estaremos enfocando da primeira parte Brasão de Mensagem de Fernando Pessoa2 a terceira do Brasão isto é As Quinas3 e as personagens históricas aí citadas D Duarte D Fernando D Pedro D João e D Sebastião em Os Lusíadas de Camões aproximandoos para analisar o que pôde servir de desafio ou estímulo Pessoa e Camões propuseramse a narrar e a interpretar a história de um dado período de Portugal sob o ponto de vista da época em que viveram da sociedade que os circundava e os influenciava do próprio eupoético e de suas respectivas idiossincrasias O estudo comparado das épicas pessoana e camoniana legitimase cremos sobretudo por dois pontos O primeiro deles é o paralelo entre o percurso existencial de Camões e Pessoa Embora em épocas distintas ambos viveram períodos conturbados da história portuguesa se ausentaram da pátria e conheceram a mesma região Pessoa viveu dos sete aos dezessete anos em Durban na África do Sul e Camões esteve durante aproximadamente dois anos no Oriente cumprindo pena de prisão e prestando serviço militar em seguida outro período viajando de Goa a Moçambique Conheceram portanto a mesma região pois o porto de Durban fica próximo ao Cabo da Boa Esperança local onde ocorreu a maior proeza portuguesa da história O segundo ponto que nos leva a comparálos é a própria declaração de Pessoa supostamente referindose a si próprio quanto ao aparecimento de poeta supremo da nossa raça o poeta de todos os tempos e o supraCamões da nossa terra PESSOA 1978 p 367 Pessoa prognostica que fatalmente surgirá um Grande Poeta que 2 A primeira parte de Mensagem aborda as origens de Portugal e chega até o início da expansão marítima 3 As Quinas representam a essência do espírito português religioso e cristão desde a origem 16 deslocará para o segundo plano a figura consagrada de Camões Em outro artigo expressivamente intitulado Reincidindo também publicado em A Águia Pessoa propõese a esclarecer o supraCamões e suas alegorias referindose a um terceiro período literário que estaria por ocorrer e seria uma das magnas épocas literárias profetizando que Portugal se prepara para o ressurgimento assombroso um período de criação literária e social como poucos o mundo tem visto CRESPO 1988 p 2728 Embora Pessoa não tenha tratado a obra camoniana o anúncio do supraCamões legitima o nosso estudo comparativo Ao reinventar o discurso épico no século XX Pessoa chegaria à altura do grande vate português Os Lusíadas e Mensagem são marcos da literatura portuguesa e da literatura em língua portuguesa e Mensagem dialoga por meio do gênero poético com Os Lusíadas A razão deste nosso trabalho é exatamente a discussão desse diálogo a partir de uma das partes da Mensagem As Quinas por meio da comparação e da análise da maneira como cada um deles abordou e interpretou as mesmas personagens históricas Transcrevemos abaixo o poema As Quinas e a estância em Os Lusíadas que faz referência à mesma personagem histórica apresentada em Mensagem Os poemas então serão discutidos nesta ordem e depois comparados Estudo dos Poemas As Quinas Os Lusíadas D Duarte Rei de Portugal Canto V estância LI e primeiros versos da LII Meu dever fezme como Deus ao mundo Não foi do rei Duarte tam ditoso A regra de ser Rei almou meu ser O tempo que ficou na summa alteza Em dia e letra escrupuloso e fundo Que assim vai alternando o tempo iroso O bem coo mal o gosto coa tristeza Firme em minha tristeza tal vivi Quem viu sempre um estado deleitoso Cumpri contra o Destino o meu dever Ou quem viu em fortuna haver firmeza Inutilmente Não porque o cumpri Pois inda neste reino e neste rei Não usou ella desta lei Viu ser captivo o sancto irmão Fernando Que a tão altas empresas aspirava 17 Detendonos primeiramente na forma observamos regularidade no metro dos dois poemas cujos versos são todos decassílabos heroicos com exceção do terceiro verso do poema D Duarte Rei de Portugal que também é decassílabo mas sáfico A rima também é regular alternada no poema pessoano abacbc e no poema de Camões estrofação em oitavarima abababcc ou seja rima cruzada em seis versos e emparelhada em dois Embora neste momento os dois poemas sejam quanto à forma regulares há que se observar que os versos de Os Lusíadas são sempre regulares no decorrer de 8816 versos em 1102 estrofes quanto à rima e quanto à métrica enquanto Mensagem é uma verdadeira polifonia multifacetada em face do andamento uniforme da epopeia camoniana MOISÉS 1996 p 58 No poema do poeta de Pessoa que exige uma interpretação mais hermética só se é sabido que se refere a D Duarte pelo título assim como em todos demais poemas de As Quinas Uma vez no entanto assim compreendido sabese ser ele o protagonista do poema pois historicamente é conhecido o sofrimento de D Duarte por não poder pagar o penhor da promessa de Ceuta cuja garantia era D Fernando seu irmão mais novo prisioneiro em Tanger e ali cativo até o fim da vida Declara na sua própria voz4 Meu dever fezme e se compara a Deus no cumprimento de seu dever perante o mundo No verso seguinte A regra de ser Rei almou meu ser a paronomásia ser substantivo ser verbo estabelece definitivamente o que deve ser cumprido a opção pelo verbo almar intensifica e aprofunda o dever a regra na personalidade real que não se limitou ao seu entendimento à materialidade do corpo mas invadiu sua unidade e sua inteireza vitais sua consciência pensante em sua dimensão psicológica e orgânica Sob o mesmo prisma podese acrescentar que o verbo é um neologismo cuja escolha pode ser justificada através das palavras de Ibañez Langlois é lei geral da poesia o resgatar a palavra de seu emprego quotidiano passageiro e prático para erigila em objeto substantivo que leva consigo sua própria realidade porque solidifica a experiência que 4 Em Os Castelos defesa externa de Portugal é necessária a intervenção de um mediador dirigindose a um interlocutor variável que é a figura referida no título de cada poema em As Quinas ocorre a voz da figura histórica anunciada no título que expõe o seu monólogo 18 designa redime a palavra de uma mera condição de signo ou meio LANGLOIS 1964 p 65 O verso subsequente do poema Em dia e letra escrupuloso e fundo único decassílabo sáfico no texto rompe com o ritmo harmonioso e solene dos versos heróicos anteriores Esse rompimento se mostra como exceção proposital para mudança de ênfase introduzindo elementos concretos Em dia e letra em contraposição ao sentir heroico que vinha marcando o texto Mesmo assim permanecem no concreto sentimentos demarcados pela exigência e pelo rigor escrupuloso e pela intensidade fundo Continua o eupoético numa expressiva metonímia Firme em minha tristeza tal vivi já que viveu firme sem titubear com decisão tomada de não beneficiar o irmão o que lhe gerou tristeza constante Nesse verso e nos seguintes a sonoridade da vogal i se faz sentir intensamente Firme minha tristeza vivi Cumpri Destino Inutilmente cumpri e marca a profundidade a agudeza do penetrar no ser real da resolução assumida e a dor que dela advém Esse mesmo sentimento é ainda demarcado pela presença do verbo cumprir no início do quinto verso e no final do sexto sugerindo o iniciar e o terminar de uma mesma determinação Na forma verbal cumpri repetida ainda se pode destacar a sonoridade do u corroborando com a do i e cremos acrescentando a sensação de continuidade de algo que permanece durante muito tempo Num questionamento retórico o eupoético pergunta Inutilmente E responde Não Porque o cumpri O pronome oblíquo o retoma o objeto direto do verso anterior o meu dever O poema que no seu primeiro verso é iniciado pelo sujeito Meu dever termina com a forma verbal cumpri que traz proclítico o pronome o o meu dever marcando com toda a ênfase e arte a tristeza do agir pela vontade de cumprir o dever sem prazer sem recompensa afetiva Na estância LI e nos dois primeiros versos da estância LII do Canto IV de Os Lusíadas Camões em estilo grandiloquente mas muito perto da realidade como que dela emergindo enfoca D Duarte na voz de Gama 19 Inicia a estrofe LI afirmando sua não felicidade na posição real5 e a justifica através de antíteses O bem coo mal o gosto coa tristeza Questiona então Quem viu em fortuna haver firmeza pois inda neste reino e neste rei Não usou Ella tanto desta lei expondo princípios muitas vezes presentes na obra camoniana o da inconstância das coisas o da mudança heracliana Não há firmeza na fortuna pois nada permanece tudo está sempre em mutação Enquanto Pessoa procura mostrar a constância de um sentimento de dever a ser cumprido que toma todo o ser Camões detémse na questão da mudança houve um tempo mais ditoso com D João I mas não permaneceu porque tudo muda tudo está em contínua transformação sobretudo no reinado de D Duarte que usou tanto desta lei Nos dois primeiros versos da estância seguinte LII é citado o fato histórico ocorrido em Tânger Viu D Duarte ser captivo o sancto irmão Fernando Que a tão altas empresas aspirava Como disse Hernani Cidade referindose a Os Lusíadas rarissimamente a realidade foi assim valorizada como substância de poema CIDADE 1963 p 325 O verbo ver é privilegiado em Os Lusíadas viu claramente visto vista de lince E o vi claramente e não presumo Que a vista me enganava levantarse pronto coa vista viu ser captivo pois são a epopeia do conhecimento científico colhido por seu autor com as experiências de soldado e marinheiro e com seu fecundo talento poético É por isso que Gama afirma ter D Duarte visto seu irmão cativo Segunda Quina Canto IV estâncias LII e LIII D Fernando infante de Portugal Deume Deus o seu gládio porque eu faça Viu ser captivo o sancto irmão Fernando A sua santa guerra Que a tão altas empresas aspirava Sagroume seu em honra e em desgraça Que por salvar o povo miserando As horas em que um frio vento passa Cercado ao Sarraceno sentregava Por sobre a fria terra Só por amor da pátria está passando A vida de senhora feita escrava Pozme as mãos sobre os hombros e doiroume Por não se dar por elle a forte Ceita A fronte com o olhar Mais o publico bem que o seu respeita 5 O reinado de D Duarte durou apenas cinco anos e foi marcado pela peste e outras catástrofes além do desastre de Tânger em 1437 20 E esta febre de Além quer me consome E este querer grandeza são seu nome Codro porque o inimigo não vencesse Dentro de mim a vibrar Deixou antes vencer da morte a vida Regulo porque se a patria não perdesse E eu vou e a luz do gládio erguido dá Quis mais a liberdade ver perdida Em minha face calma Este porque se Hespanha não temesse Cheio de Deus não temo o que virá Ao captiveiro eterno se convida Pois venha o que vier nunca será Codro nem Curcio ouvidos por espanto Maior do que a minha alma Nem os Décios leais fizeram tanto O poema de Pessoa que se refere a D Fernando também apresenta regularidade quanto à forma É constituído de três quintetos cujos versos quanto à métrica se alternam entre decassílabos heroicos e hexassílabos 10 6 10 10 6 As rimas seguem o mesmo esquema a b a a b em todas as estrofes Os segundos e os quintos versos de cada estrofe entretanto apresentam rima e métrica diferentes A regularidade fazse presente também nos enjambements que ocorrem sempre entre o primeiro e o segundo versos de cada estrofe Novamente podemos aliar a regularidade da forma à ideia do que foi determinado isto é D Fernando agindo pela determinação divina O poema na voz do próprio D Fernando o infante santo que morreu prisioneiro no norte da África filho de D João I e irmão de D Pedro e D Duarte revela todo o misticismo de um ser tocado por Deus e designado para uma missão a então chamada guerra santa contra os mouros A dedicação à vontade divina é completa pois a guerra é dEle para a Sua honra Sagroume seu Duas vezes o possessivo revela a reverência e submissão a Deus Essa sagração no entanto se faz na honra e na desgraça antítese que pela proximidade de termos de sentido antagônico acentua o que há de positivo e negativo em cada um deles6 A desgraça exposta nos versos subsequentes advém de As horas em que um frio vento passa Por sobre a fria terra A repetição do adjetivo frio intensifica seu sentido porque desacelera a leitura sobretudo por se tratar de palavra que contém hiato A 6 À ideia de sagrarse em honra e desgraça podemos relacionar a terceira estrofe do poema Segundo O das Quinas em que Cristo embora ungido com desgraça e vileza foi elevado como filho unigênito Foi com desgraça e com vileza Que Deus ao Christo definiu Assim o oppoz à Natureza E Filho o ungiu 21 presença constante de sons sibilantes Deus seu faça sua santa sagrou seu desgraça às horas passa sobre sugere efeitos sensoriais da reverência e sujeição a Deus A segunda estrofe expõe a honra com que D Fernando foi sagrado Pozme as mãos sobre os hombros e doiroume A fronte com o olhar No primeiro verso ocorre a única rima preciosa doiroume consome nome do poema as demais são ricas e pobres exatamente no momento em que nos é revelada sua maior honra no segundo o enjambement que perturba e estimula o leitor Nos dois versos seguintes verificamos a presença da anáfora É esta É este que realça o jogo rítmico e dálhe uma linha sequencial D Fernando aí confessa ter febre de Além febre de transcendência num desejo de grandeza mas se a tem advém da vontade divina são seu nome Se alguns historiadores apontam a desgraça do infante que ficou por penhor em Tânger e cumpriu o cativeiro até o fim da vida como consequência da ambição desmedida dos portugueses Pessoa ao colocar sua voz no poema expõeno apenas como cumpridor de um anseio transcendental Na estrofe final o polissíndeto E eu vou e a luz do gládio no primeiro verso e a sonoridade nasal que ocorre a partir do segundo verso em minha calma não temo senha nunca maior minha alma sobrepõemse à ideia de calma da aceitação incondicional da tarefa A repetição do verbo vir virá venha vier reforça a confiança no futuro O possessivo minha é repetido apenas uma vez quando seu foi repetido três vezes Ocorre porque minha alma a alma do infante não mais lhe pertence mas sim é Deus que vibra nele Dentro de mim a vibrar Na visão camoniana D Fernando foi fiel à Pátria respeitou mais o bem público de todos os portugueses que o seu próprio Mais o público bem que o seu respeita Seu desprendimento sua lealdade sua coragem são glorificados porque para salvar o mísero exército português cercado pelos mouros de Tânger entregouse aos sarracenos e por amor à Pátria tornouse escravo deles que em seu resgate exigiam Ceuta Predominam referências a dados históricos que expostos com arte enriquecem o fato embora adjetiveo sancto e declare sua intenção de altas divinas empresas Nos três primeiros versos a sonoridade surda abunda captivo sancto que tão empresas aspirava que por povo e se associa à ideia à realidade penosa dura de D Fernando Entre o segundo e o terceiro versos fazse presente o paralelismo pois 22 ambos os versos são orações subordinadas adjetivas Que a tão altas empresas aspirava Que por salvar o povo miserando referindose a o sancto irmão Fernando Esse paralelismo demarca a distância entre o sonhar e o viver D Fernando aspirava a altas empresas mas para salvar o mísero povo deuse como refém Essa foi sua vida O advérbio só Só por amor da pátria reafirma a causa do agir de D Fernando Não há outra razão na visão de Camões embora Pessoa tenha apontado a intervenção divina Para glorificar ainda mais o patriotismo de D Fernando numa comparação épica são citados na estância LIII Codro último rei de Atenas que procurou todos os perigos até morrer para salvar sua pátria já que assim previam os oráculos Regulo cônsul romano prisioneiro em Tunis contrariou com energia as pretensões cartaginesas apesar de depender delas a sua liberdade e voltou a Cartago onde o trucidaram Cúrcio que se precipitou em 360 AC num abismo existente no meio do Fórum por dizerem os oráculos que tal abismo se fecharia apenas quando a ele se jogasse o que Roma tivesse de mais valioso e os Décios Públio Décio seu filho e seu neto expuseramse a todos os perigos no intuito de salvar a pátria lutando respectivamente conta os latinos os gauleses e os samnitas contra Pirso Embora todos eles tenham se sacrificado pela pátria heroica e exemplarmente nenhum deles fizeram tanto foi tão magnânimo arrojado quanto D Fernando Novamente o conceito de heróis portugueses mais bravos do que os da Antiguidade como anteriormente já se pôde constatar estância III do canto I Camões novamente não só revelou a realidade objetiva mas a superou numa ideiaforça que suscita e cria formas superiores de vida Essa forma superior de vida no entanto é mérito pessoal da personagem histórica o que difere da visão pessoana Terceira D Pedro regente de Portugal Canto VIII estância XXXVII Claro em pensar e claro no sentir Olha cá dous infantes Pedro e Henrique E claro no querer Progênie generosa de Joanne Indifferente ao que há em conseguir Aquele faz que a fama ilustre fique Que seja só obter Delle em Germânia com que a morte engane Dúplice dono sem me dividir Este que ella nos mares o pubrique De dever e de ser Por seu descobridor e desengane 23 De ceita a maura vaidade Não me podia a Sorte dar guarida Primeiro entrando as portas da cidade Por não ser eu dos seus Assim vivi assim morri a vida Calmo sob mudos céus Fiel à palavra dada e a ideia tida Tudo o mais é com Deus O terceiro poema de As Quinas é dedicado a D Pedro irmão de DDuarte e D Henrique O infante D Pedro que posteriormente foi regente de Portugal era homem culto traduziu Cícero Sêneca Vegácio além de escrever a Virtuosa Benfeitoria com a intenção de recomendar padrões e normas de conduta à nobreza Nessa obra expõe seu ponto de vista de que a autoridade dos senhores provém de uma ordenação divina O poema pessoano é constituído de dois sextetos No primeiro deles alternamse versos decassílabos heroicos e hexassílabos com a presença de rima alternada e todas agudas no segundo também se alternam versos decassílabos e hexassílabos A rima nele é alternada também alternada a rima aguda e grave D Pedro tido como homem inteligente e viajado declarase Claro em pensar e claro no sentir E claro no querer O termo claro repetido três vezes consecutivamente evidencia a grande objetividade percepção e entendimento do que pensa sente e quer não obstante no verso seguinte sobrevém a declaração da ausência desse pensar sentir e sobretudo do querer destacado em um só verso E claro no querer porque há indiferença ao que há de conseguir que seja só obter aquilo que for material apenas Não há portanto voluntariedade desejo sonho em qualquer conquista já que explicase é só obter D Pedro declarase Duplice dono e ainda sem se dividir sem me dividir pois é inteiramente dever e ser a mesma concepção de D Duarte A explosão da sonoridade oclusiva nos três últimos versos Que seja só obter Duplice dono sem me dividir De dever e de ser e a assonância do e no último verso De dever e de ser dão maior força intensidade a altissonante declaração real As rimas dessa estrofe como já exposto são todas agudas Dão organização rítmica visto que marcam incisivamente o fim do verso e consonância à afirmação dada a clareza do autoconhecimento do regente português como ser que embora seja ambicioso apenas de bens espirituais cumpre o dever de conquistar algo 24 A estrofe que segue tem mudada nos primeiros versos a tônica do discurso Quase que num cochicho o regente se diz apartado da sorte A ideia dessa separação se faz mais compreensível com a dupla presença do advérbio não Se não ocorreu interferência da sorte nem tampouco do céu que é mudo sob mudos céus o eulírico diz Assim vivi assim morri a vida em verso dividido em três tempos 4ª 8ª e 11ª sílabas o único decassílabo sáfico do poema e por isso de leitura mais pausada e marcada Além disso podese ainda observar nesse mesmo verso a repetição do advérbio assim que denota a pouca importância dada à vida que no singular oxmoro o eupoético declara têla matado assim morri a vida A assonância do i a sonoridade do v e a longa duração dos fonemas m e s adicionam ao verso melodia e corroboram com a ideia de aceitação de um destino já determinado sem entusiasmo mas Calmo sob mudo céus outro verso em que há a presença alongada do fonema nasal m e a abundância do fonema sibilante s Os dois últimos versos do poema retomam o tom decidido e forte da primeira estrofe A presença copiosa de fonemas surdos além do sonoro d linguodental como o t reforçam a noção do dever assumido como rei e cumprido a ideia foi clara e portanto sua execução aconteceu como o prometido a palavra dada Todavia advém um alerta Tudo o mais é com Deus O que Deus determinou ao homem foi executado mas se não foi da melhor maneira tudo o que não fez bem é com Deus D Pedro não se declara dependente da proteção divina nem tampouco tão sujeito a Deus como D Fernando e D Duarte D Pedro dizse desprovido de Sorte grafada com maiúscula e exalta seu eu Claro no pensar e claro no sentir E claro no querer Acusa a Sorte de não lhe ter dado guarida e declara que o que está por vir é com Deus porque dentro das suas possibilidades humanas fez tudo quando soube e pôde mesmo desprovido de sorte Se Pessoa dedica todo um poema a D Pedro regente de Portugal Camões apenas meia estrofe porque aborda D Pedro e D Henrique Progênie generosa de Joanne numa mesma estância a XXXVII do oitavo canto A métrica e a rima como já foi exposto permanecem a mesma ao longo de toda a obra sem no entanto causar nenhum tipo de monotonia 25 De maneira peculiar e pouco suntuosa é chamada a atenção para os dois infantes D Pedro e D Henrique Olha cá dous infantes Talvez Camões os tenha apresentado dessa maneira por não valorizar intensamente nenhum deles Pedro é o primeiro a ser apresentado pois é o mais velho e portanto a referência que lhe é feita ocorre através do pronome demonstrativo aquele Aquelle faz Destaca de D Pedro o fato de ter enganado a morte uma prosopopeia na Alemanha em luta gloriosa no exército do Imperador Segismundo contra os turcos Apud CAMÕES sd p 450 A dedução do menor valor dado aos infantes embora Camões os tenha alcunhado de Ínclita Geração quando os apresenta como filhos de D Felipe se justifica principalmente pelo comentário negativo feito a respeito de D Henrique que procedeu de modo que ella a fama o apregoe Por seu descobridor descobridor dos mares Tantos os feitos de D Pedro como os de D Henrique segundo Camões são conhecidos através da fama Aquelle faz que a fama illustre fique Delle em Germânia com que a morte engane Este que Ella nos mares a pubrique e a fama na maioria das vezes não é bem vista pelo autor de Os Lusíadas No canto IX nas estâncias XLV e XLVI na voz do Cupido por exemplo a fama faz com que fatos se tornem verdadeiros e influenciem os sentimentos alheios A interpretação histórica sob os pontos de vista camoniano e pessoano portanto difere Camões que revisita toda a História de Portugal conhecida no seu tempo revela D Pedro o regente apenas como mais uma figura do percurso cuja fama de seu heroísmo o consagrou Pessoa o traduz como mais uma figura marcada pela desgraça protagonista s de uma aventura mais mística do que material GARCEZ 1989 p 6 Quarta D João infante de Portugal Não fui alguem Minha alma estava estreita Entre tam grandes almas minhas pares Inutilmente eleita Virgemmente parada Porque é do portuguez par de amplos mares Querer poder só isto O inteiro mar ou a orla desfeita O todo ou o seu nada 26 O poeta dá a voz a D João infante de Portugal irmão de D Duarte D Henrique D Pedro e D Fernando e portanto filho de D João I o qual declara não ter tido oportunidade Não fui alguem e se justifica pela existência de outros que o abafam com sua grandiosidade Importante observar que não é sua pessoa diminuída entre pessoas grandes ou grandiosas mas sua alma entre almas apenas o que é substância autônoma em relação à materialidade do corpo A própria consciência autônoma em relação à materialidade do corpo A própria consciência pensante em sua dimensão psicológica orgânica ou neuronial HOUAISS 2001 A presença do enjambent entre o primeiro e o segundo versos a assonância do a e do e Minha alma estava estreita Entre tam grandes almas minhas pares a sonoridade da oclusiva t na sequência estava estreita entre tam a presença do primeiro verso decassílabo sáfico e o subsequente heroico despertamnos conferemnos expectativa Nos dois versos hexassílabos seguintes da quadra nos é apresentado como se sente a alma estreitada de D João É inutilmente eleita porque na concepção da dinastia de Avis aliás muito bem assinalada na Virtuosa Benfeitoria do infante D Pedro a autoridade dos reis príncipes e senhores é ordenação divina e se ela é abafada é inútil assim como se não foi posta em prática está Virgemmente parada A rima interna inutilmente virgemmente aliada ao mesmo ritmo e ao mesmo metro hexassílabo reforça o conceito do que não acarreta frutos da esterilidade da aridez da monotonia Se a primeira estrofe traz apenas aspectos negativos voltados ao eupoético Não fui alguem alma estreita Inutilmente eleita parado a segunda referindose agora aos portugueses revela o positivo em verso decassílabo heróico forte épico com uma cesura marcada pela vírgula que salienta o aposto pae de amplos mares Toda essa positividade é acentuada pela sonoridade das oclusivas Porque é do portuguez pae de amplos mares Querer poder só isto e ainda pela rima interna quererpoder A esse povo português que já é pae de amplos mares lhe é permitido tudo querer tudo sonhar mas apenas lhe interessa segundo a voz do eulírico obter tudo ou nada todo o mar ou nenhum mar A presença do advérbio só não deixa nenhuma outra possibilidade nenhum outro meio termo apenas a antítese que distancia ainda mais O todo ou o seu nada Mais uma vez a sonoridade vem em auxílio da noção exposta o 27 comparecimento das linguodentais tsurda e d sonora aliase à compreensão dos extremos todo ou nada O inteiro mar ou a orla desfeita O todo ou o nada Não nos parece sensato desejar tudo ou nada mas o anseio por ter tudo mesmo na possibilidade do nada dá a esse povo motivação força determinação para lutar pelo todo Em Os Lusíadas não encontramos nenhuma referência ao infante D João só está implícito da ínclita geração fato explicado provavelmente pela pouca importância da sua atuação na História Portuguesa embora Fernando Pessoa o veja como um dos pilares da constituição da alma lusitana porque também ele na sua pequenez Não fui alguem Minha alma estava estreita paradoxalmente é exaltado QuintaD Sebastião Rei de Portugal Canto I estância VI Louco sim louco porque quis grandeza E vós ó bem nascida Qual a sorte a não dá Da lusitana antigua liberdade Não coube em mim minha certeza De aumento de pequena christandade Por isso onde o areal está Vós ó novo tremor da maura lança Ficou meu ser que houve não o que ha Maravilha fatal da nova idade Dadas ao mundo por Deus que tudo o Com o que nella ia Pera do mundo a Deus dar parte grande Sem a loucura que é o homem Mais que a besta sadia Canto I estância VII Cadaver addiado que procria Vós tenro e novo ramo florescente Dua arvore de Christo mais amada Que nenhua nascida do Occidente Cesárea ou Christianissima chamada Vêde o no vosso escudo que presente Vos amostra a Victoria já passada Na qual vos deu por armas e deixou As que elle pera si na Cruz tomou Canto I estância VIII Vós poderoso rei cujo alto imperio O sol logo em nascendo vê primeiro Vêo tambem no meio do hemispherio E quando desce deixa derradeiro 28 Vós que esperamos jugo e vutuperio Do torpe ismaelita cavaleiro Do Turco oriental e do Gentio Que ainda bebe o licor do sancto rio Canto I estância XV E em quanto eu estes canto e a vós não posso Sublime rei que não me atrevo a tanto Tomai as redeas vós do reino vosso Dareis materia a nunca ouvido canto Comecem a sentir o peso grosso que pelo mundo todo faça espanto De exercitos e feitos singulares De Africa as terras e do Oriente os mares Canto X estância CLIII De Phormião philosopho elegante Vereis como Annibal escarnecia Quando das artes bellicas diante Delle com larga voz tratava e lia A disciplina militar prestante Não se aprende senhor na phantasie Sonhando imaginando ou estudando Senão vendo tratando e pelejando D Sebastião Rei de Portugal o último poema de As Quinas é formado por dois quintetos cujos versos quanto ao metro variam entre decassílabos hexassílabos e octossílabos 1ª estrofe 10 6 8 8 10 2ª estrofe 10 6 8 6 10 As rimas em ambas as estrofes são alternadas e em seguida emparelhadas a b a b b Rimas agudas só são encontradas na primeira estrofe nos versos 2 4 e 5 É iniciado por uma afirmação categórica constituída de sons fortes e oclusivos Louco sim louco porque quis grandeza Qual a sorte a não dá findada por rima aguda e em verso decassílabo O homem verdadeiramente humano para Pessoa é o descontente insatisfeito irracional que busca a aventura sem freios e por isso tido como louco D Sebastião dizse louco porque desejou grandeza Qual a sorte não dá porque ousou não ficou 29 Contente com o seu lar Sem que um sonho no erguer da asa Faça até mais rubra a brasa Da lareira a abandonar7 pois viver assim é o mesmo que ter por vida a sepultura O eupoético vai além e afirma Não coube em mim minha tristeza em outras palavras menos poéticas não se acomodou satisfeito consigo mesmo mas lutou para superar as imperfeições a certeza e por isso mesmo a conclusão da estrofe Por isso onde o areal está Ficou meu ser que houve não o que ha Porque buscou a superação de si mesmo insurgiuse contra suas limitações terminou provavelmente seus dias prisioneiro em um deserto e nele ficou o ser que houve ficou sua metade humana que definha e morre mas não o que ha a metade divina que impele a História Nessa primeira estrofe onde predominam rimas agudas fica demarcada com firmeza a concepção de vida do Desejado e é nos versos decassílabos onde ocorrem as afirmações mais categóricas Na segunda estrofe menos incisiva mais fluente inclusive pela presença do enjambement no segundo verso a ideia de loucura é retomada conceito esse já exposto outras vezes como no ensaio de 1923 Loucos são os heróis loucos são os santos loucos são os gênios sem os quais a Humanidade é uma mera espécie animal cadáveres adiados que procriam Apud MOISÉS 1996 p 72 Minha loucura outros que a tomem Com o que nella ia Nesses versos a presença marcada de encontros vocálicos loucura outros me a ia e de sons nasais minha me tomem com melhor imprimem mais ainda aos versos continuidade fluidez de pensamento e de sons para então destacar o questionamento arrojado de D Sebastião sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia cadáver addiado que procria Novamente a explosão de oclusivas loucura que que besta sadia cadáver addiado procria vem ao encontro de uma ideia chave a existência esvaziada de sonhos ambiciosos a existência apenas satisfeita com suas limitações é a morte em vida Cadáver addiado que procria Embora nessa estrofe as rimas sejam graves tradicionalmente tidas como mais brandas as rimas no hiato ia cuja sílaba tônica é o i 7 Poema Segundo O Quinto Império da terceira parte de Mensagem O Encoberto 30 sadia procria revelase bastante contundente e de acordo com a pergunta feita que também foi elaborada em verso decassílabo heroico Camões sem quebra do tom épico e mantendo a unidade estrutural também aborda D Sebastião ou melhor dedicalhe a epopeia8 São treze estâncias dirigidas ao jovem rei de Portugal das quais destacamos apenas quatro VI VII VIII XV por serem as que mais tratam do rei nas demais referese à qualidade de seus versos e a heróis D Sebastião foi rei com apenas três anos e com quatorze assumiu o poder libertandose de influências e nomeando novos ministros A voz poética de Os Lusíadas dirigelhe a palavra tratandoo pela segunda pessoa do plural vós e elogiao É segurança Da lusitana antigua liberdade pois nele está depositada a esperança e a continuidade da descendência de Avis é esperança De aumento da pequena christandade conceito medieval de levar a fé através das Cruzadas é temor da maura lança expressiva sinédoque e maravilha fatal destinado por Deus para dominar mas também a Deus se render Pela primeira vez no estudo de estâncias camonianas a personagem é apontada como agraciada por Deus Camões em seus versos também põe sua esperança em D Sebastião Na estância VII numa sequência de levantada inspiração dirigese ao jovem comarca novamente através do vocativo vós e declarao novo ramo florescente Dua arvore de Christo mais amada Que nenhua nascida no Occidente nem mesmo a Cesárea ou a Christianissima Essa metáfora feliz coloca D Sebastião como ramo novo e florescente isto é que já traz marcas de desenvolvimento embora jovem de crescimento e descendente de uma família cristã cujas boas raízes e tronco firme porque é árvore o sustentarão Pede então que o rei verifique o escudo para nele poder encontrar as provas da glória já passada a batalha de Ourique e as chagas de Cristo Segundo Chevalier e Gheerbrant o escudo é representação do universo como se o guerreiro a usálo opusesse o cosmo ao seu adversário e como se os golpes desse último atingissem muito além do combatente à sua frente e alcançassem a própria realidade representada nos ornamentos do broquel CHEVALIER GHEERBRANT 1982 escudo Se o rei é solicitado a verificar o escudo portanto é para que não tema 8 Camões desejava o reconhecimento de sua arte por parte de D Sebastião para dele receber uma tença 31 pois nele está a sua defesa O pedido é colocado entre parênteses como que baixando a voz respeitosamente ao solicitar algo Esses versos transmitem uma vez mais expectativa em D Sebastião o consumador de um novo império A estrofe seguinte também iniciada pelo vocativo vós D Sebastião é exaltado através de outra metáfora para ele o sol está sempre voltado seja no amanhecer ou no ocaso A expressão adverbial logo em nascendo colocada entre vírgulas no meio da oração destaca quão cedo esse sol vem ao encontro do jovem monarca Novamente o rei é chamado vós e sobre ele é deposta uma grande esperança a vitória sobre gentios e bárbaros o torpe ismaelita cavaleiro uma sinédoque pois na verdade são os ismaelitas Nessa mesma estância ainda chamanos a atenção a anáfora Do torpe Do turco Os que devem ser combatidos da mesma forma estão em versos iniciados de forma semelhante Na estância XV depois de uma preterição pois o eupoético declara não se atrever cantar seu rei mas o faz mais do que um elogio e expectativa há um desafio Tomai as rédeas vós do reino vosso e a profecia Dareis matéria a nunca ouvido canto através dos feitos espantosos dos seus soldados e exércitos A anáfora nessa estrofe se faz presente realçando o jogo rítmico De exércitos e feitos singulares De África as terras e do Oriente os mares A sinestesia também peso grosso faz com que na transferência de sentido o peso trazido pelos soldados nas terras africanas e nos mares orientais seja ainda mais sentido Ainda no canto X estância CLIII a voz épica fala diretamente a D Sebastião mas antes dando mais peso ao seu conselho faz uso de figuras do Mundo Antigo Annibal famoso general cartaginês escarnecendo do elegante filósofo grego Phormião quando diante dele lia tratados sobre a arte bélica Interessante observar que mesmo querendo apontar uma falha no procedimento real o eulírico compara o rei não só a um filósofo mas a um filósofo elegante Nesses versos não há elogio expectativa ou profecia apenas um alerta muito sonoro aliás em decorrência das rimas internas que revela o conhecimento da voz poética das limitações reais Talvez já a previsão inconsciente do desmoronamento 32 progressivo de que Camões entendia que deveria ter sido o Quinto império GARCEZ 1989 p 3 Nas estâncias do primeiro canto Camões coloca em D Sebastião que é dom de Deus a esperança de grandes feitos que hão de vir em As Quinas o jovem monarca português é o desbravador o conquistador intrépido e valoroso Ambos Camões e Pessoa confiam em D Sebastião e esperam nele mas o poeta do Orpheu já conhecia a terrível derrota do governante e ainda assim ou melhor por isso mesmo9 nele espera enquanto Camões porque não conhece o futuro apenas crê nele Na estância CLIII do décimo canto na epopeia renascentista indagadora de fenômenos e de consciência crítica D Sebastião é apresentado como homem de pouca ação o que não seria concebível no poema épico pessoano já que lhe basta que o jovem rei tenha sido exemplarmente marcado pela desgraça para ser glorificado Conclusão Após o estudo dos poemas de As Quinas e das estâncias camonianas que abordam as mesmas personagens históricas pudemos concluir sobre algumas identidades e várias diferenças A maior distinção que se pode fazer entre as duas obras épicas portuguesas diz respeito à finalidade de cada uma As demais diferenças são decorrentes do objetivo buscado numa e outra Camões celebra a viagem de Vasco da Gama às Índias e a história pátria mantendo identidade com o Cristianismo e registra além da realidade histórica a astronomia as ciências da natureza a geografia a etnografia no intuito de fixar para a posterioridade as grandes façanhas de seus heróis Eles lutaram contra obstáculos que impediam a nação de ser um dos maiores agentes da civilização do mundo lutaram pelo cumprimento da missão que a situação geográfica lhes proporcionava lutaram pela hegemonia do Homem no Universo Camões não se eximiu entretanto de registrar a crise intelectual advinda das navegações e das descobertas de revelar sua consciência 9 Se o povo Português em D Sebastião teve de passar pelo seu maior desastre teve de conhecer a maior desgraça e vileza segundo a lógica não humana desta História ele tem agora todos os motivos de esperança num período de glorificação e de grandeza ele tem todas as credenciais para ser ungido com um destino glorioso Ao desastre maior deverá corresponder uma glorificação maior GARCEZ 1989 p 7 33 crítica do conhecimento de censurar a inquietação que suscita mas também sacrifica Sem dúvida Os Lusíadas constituem um relato de glória a glória do povo lusitano nas navegações nas conquistas na expansão do mar mas também memorial de um declínio Fernando Pessoa em As Quinas revela uma concepção mais personalizada da História pois os grandes acontecimentos que demarcam o destino da nação portuguesa são determinados por atos isolados de apenas algumas personagens Além disso quando a História Portuguesa é revista na fase anterior a D Sebastião oferecenos uma visão diferenciada à que já nos tinha sido apresentada por Camões a interpretação de que para fazêla para têla foi necessária a dor a desgraça o fracasso Mensagem não festeja o Portugal passado mas aponta para o futuro revela a esperança do que poderá vir a ser Um vez derrotado o país tem agora todos os motivos para um momento futuro de glorificação e grandeza O que foi humilhado será exaltado Tendo em vista esse foco o da diferença verificamos que nos cinco poemas extraídos de As Quinas não há distinção de tratamento dos reis e infantes Todos eles são mitificados todos são marcados pela desgraça São por uma razão ou outra mártires e por isso mesmo tocados por Deus guiados pela mão divina e portanto vencedores Em Camões nas estâncias aqui citadas e estudadas é percorrida toda a genealogia dos reis cronologicamente Ao fazêlo detémse em fatos históricos exaltandoos em comparações com grandes vultos da história e da mitologia mas também os apresenta até mesmo com certa indiferença como nos versos dedicados a D Pedro e a D Henrique quando os julga menores Os heróis da pseudo épica pessoana não são apresentados cronologicamente como ocorre em Os Lusíadas fato apontado por vários estudiosos do poeta que afirmam ser a negação do tempo uma marca bastante presente na sua poesia10 Pessoa selecionou acontecimentos reis que considerou decisivos segundo determinada analogia e compôs As Quinas No momento da batalha de Alcácer Quibir a narrativa é interrompida11 É o momento desastroso marcado pela dor e como tal dará nascimento a um novo 10 é no sentimento originário da sua do tempo irrealidade que se gera toda a poesia de Pessoa In LOURENÇO 1999 p 65 11 Camões também interrompe a História no reinado de D Sebastião mas porque foi o período que vivenciou 34 tempo Não importa apenas reinterpretar a História portuguesa através da intervenção divina reinterpretála como cenário para algo que está por vir A questão das vozes em Os Lusíadas e Mensagem também reflete a interpretação de Portugal feita por cada um dos seus autores Em As Quinas que representam a essência religiosa de Portugal há uma voz diferente para cada composição a voz da figura histórica anunciada no título que profere seu monólogo que fala por si sem a interferência de um observador de fora Os Lusíadas são saga de um povo narrada por uma única persona poética que se confunde com a imagem do próprio Camões Ainda por terem sido escritos em épocas tão distintas 400 anos os separa as duas obras apresentam formas diferentes de épocas diferentes Os poemas estudados em Os Lusíadas mostraram sempre rigor na forma como regulamentam os preceitos quinhentistas e uniformidade na disposição das rimas como já demonstrado Os poemas de As Quinas embora tragam certo rigor ele não é o mesmo em todos os poemas Em Os Lusíadas nos encanta o tom épico que percorre toda a obra e o conhecimento extraordinário do autor das mais diversas áreas do conhecimento mas sobretudo da História e da Mitologia Em Mensagem nos emociona a arquitetura do texto a maneira como foi concebido além é claro da arte de cada poema Quanto às semelhanças destacamos a concepção nacionalista exaltada nas duas obras Embora Camões revele sua decepção em determinadas passagens engrandece a força a coragem a determinação do seu povo Pessoa agiganta os feitos a determinação dos heróis da História Portuguesa tocados pela graça divina Nas epopeias clássicas como em Os Lusíadas depois da proposição e invocação vem o plano divino representado pelo concílio dos deuses onde são discutidos os desígnios humanos As Quinas vêm depois de uma abertura do poema apresentando a Europa e Portugal na sua posição privilegiada como expoentes da História do mundo isto é o plano humano Depois de conhecido o plano humano vêm As Quinas que trazem o plano divino nas suas relações com o homem Outra semelhança portanto agora na formação do poema A aproximação entre Os Lusíadas e Mensagem é inevitável mas se pudemos apontar mais diferenças que semelhanças não há incoerência pois há ainda uma grande 35 igualdade a ser apresentada que une a produção épica dos dois maiores poetas portugueses levaram a língua e a história lusitana do quintal português para o mundo Referências bibliográficas BAKHTIN Mikhail Estética da criação verbal São Paulo Martins Fontes 1981 CAMÕES Luis Vaz de Os Lusíadas Organização de Emanuel Paulo Ramos 7ed Porto Porto sd A Chave dos Lusíadas Prefácio paráfrase de José Agostinho 6ed Porto Livraria Figueirinhas sd CARVALHO Joaquim Barradas de O Renascimento português em busca de sua especificidade Lisboa Imprensa Nacional Casa da Moeda 1980 CARVALHO João Soares História da Literatura Portuguesa vol 2 Renascimento e Maneirismo Lisboa Alfa 2001 CHEVALIER Jean GHEERBRANT Alain Dicionário de Símbolos 18ed Rio de Janeiro José Olympio 1982 CIDADE Hernani A Literatura Portuguesa e a Expansão Ultramarina As idéias os factos as formas de arte vol 1 séc XV e XVI 2ed Coimbra Armênio Amado 1963 COELHO Jacinto de Prado Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa 5ed 1ed brasileira São Paulo Verbo 1974 CRESPO Angel Estudos sobre Fernando Pessoa Tradução de José Bento 5ed 1ed brasileira São Paulo Verbo 1974 ELIOT T S Ensaios São Paulo Art 1974 FRANCHETTI Paulo GARCEZ Maria Helena Nery A Viagem de Vasco da Gama na Virada do Século In Estudos Portugueses e Africanos Campinas UNICAMP nº 22 julhodezembro 1993 p 5164 GAGLIARDI Caio A Pátria de Sonho Portuguesa In PESSOA Fernando Mensagem Organização de Caio Gagliardi São Paulo Hedra 2007 p 929 GARCEZ Maria Helena Nery Uma lírica nunca dantes percebida In Poemas Completos de Alberto Caeiro São Paulo Nacional e Lazuli 2007 p 716 36 Mensagem Profissão de Fé Poética In Estudos Portugueses e Africanos Campinas nº2526 UNICAMP 1995 p 159169 Motivos das Navegações na Poesia Portuguesa do século XX Antônio Gedeão In Actas do 4º Congresso Internacional de Lusitanistas LisboaPortoCoimbra LIDEL 1995 p 491198 Do Desconcerto e do Concerto Mundo em Mensagem In Trilhas em Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro São Paulo Moraes Edusp 1989 LANGLOIS José Miguel Ibañez La Creation Poética Madrid Realp 1964 LOURENÇO Eduardo Mitologia da Saudade São Paulo Companhia das Letras 1999 PAREYSON Luigi Os Problemas da Estética Tradução de Maria Helena Nery Garcez São Paulo Martins Fontes 2091 PESSOA Fernando A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente Considerada In PESSOA Fernando Obras em Prosa Organização e nota de Cleonice Berardinelli 2ed Rio de Janeiro Nova Aguilar 1976 p 361378 Mensagem In Obra Poética Organização e notas de Maria Aliete Galhoz 4ª reimpressão da 9ed Rio de Janeiro Nova Aguilar 1986 p 523 SARAIVA Antonio José LOPES Oscar História da Literatura Portuguesa 2ed Porto Porto sd SEABRA José Augusto O Heterotexto Pessoano São Paulo Perspectiva 1988 TREVISAM Armindo A Poesia Uma Iniciação à Leitura Poética Porto Alegre Uniprom 2000