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docente andrea muraro LLP220222 ILLLetrasLP A9 O indianismo na prosa romântica 11052023 13072023 Textos literários Gupeva18612 de Maria Firmina dos Reis Ubirajara 1874 de José de Alencar Textos literários complementares O guarani 1857 de José de Alencar Iracema1865 de José de Alencar Ubirajara de José de Alencar Bibliografia CANDIDO A Os três alencares In Formação da literatura brasileira 14ed Rio de Janeiro Ouro sobre azul 2013 p 536548 na biblioteca da Unilab 86941 C223f Desníveis A diferença das condições sociais é uma das molas da ficção de Alencar correspondendolhe no terreno psicológico uma diferença de disposições e comportamentos que é a essência do seu processo narrativo p542 Desarmonias Outro fator dinâmico na obra de Alencar é a desarmonia o contraste duma situação duma pessoa ou dum sentimento normal e tido por isso como bom com uma situação pessoa ou sentimento discordante Sob a forma mais elementar é o choque do bem e do mal p544 Ao nome do conde de proferido pelo tupinambá um calafrio mortal percorreu os membros do jovem Gastão que submergido em longas cogitações ouvia a narração do índio no fundo do coração despontavalhe um tormento inqualificável O índio prosseguiu Ela estorciase convulsa no leito de relva a meus pés porque senhor esse esposo desventurado que na primeira noite do seu casamento ouvia semelhante confissão esse homem que acabava de receber a mulher impura e maculada pelo filho da Europa esse homem enfim que devorado por um amor louco e apaixonado estampava em sua fronte o ferrete da ignomínia o cunho do opróbrio era eu Era pois como dissemos uma bela tarde de agosto e dessa encantadora tarde gozavam com delícia os habitantes da Bahia nessa época bem raros e ainda incultos ou quase selvagens O disco do sol amortecido em seu último alento beijava as enxárcias de um navio ancorado na Baía de Todos os Santos a cuja frente elevase hoje a bela cidade de São Salvador e afagava mansamente as faces pálidas de um jovem oficial que à hora do crepúsculo com os olhos fitos em terra parecia devorado por um ardentíssimo desejo por um querer que a seu pesar lhe atraía para onde quer que fosse todos os sentimentos da sua alma Sonhava acordado mas era esse sonhar desesperado ansioso frenético como o sonhar dum louco era um sonhar doído cansado incômodo como o sonhar do homem que já não tem uma esperança era o sonhar frenético de Napoleão nas solidões de Santa Helena era o sonhar doído de Luís XVI na véspera do suplício Encostado ao castelo da popa o mancebo parecia nada ver do que lhe ia em torno nem mesmo o sol que lhe dava então seu derradeiro e melancólico adeus escondendo seu disco nas regiões do oceano Reis Maria Firmina dos Gupeva p 8 Carambaia Edição do Kindle Da minha vingança serás tu a primeira vítima continuou o cacique Mais tarde o conde de Eisme disse Gastão interrompendo Gupeva eu sou filho do conde de não me reconheceste então Oh Eu sou francês sou o filho do sedutor de vossa esposa sou irmão de Épica Infame rugiu o velho tupinambá Infame filho do conde de não terei compaixão de ti E brandindo o seu tacape cravouo com força no peito do jovem oficial E batia com os pés na terra e fazia com gritos um alarido infernal Gastão levando a mão à ferida obrigouo por um instante a calarse e disselhe Obrigado Gupeva eu queria a morte Covarde exclamou o índio Não me insultes na hora do passatempo tornoulhe o moço empalidecendo Cacique eu podia matarte mas para que quereia eu a vida depois do que me acabaste de narrar Nessa hora a lua rompendo o negrume das nuvens aclarou com sua face pálida o cimo do outeiro Era o meio giro da lua a hora da entrevista tinha soado O navio em que acabamos de ver esse moço que ainda mal conhecemos era O Infante de Portugal vaso de guerra que havia trazido à Bahia Francisco Pereira Coutinho donatário daquela capitania depois que a célebre Paraguaçu princesa do Brasil cedera seus direitos em favor da coroa de Portugal O Infante acabava de receber as últimas ordens de Coutinho e velejava no dia seguinte em demanda do Tejo Voltemos pois ao mancebo que conquanto fosse noite permanecia ainda no mesmo lugar em que o encontramos Em seus grandes olhos negros transparecia todo desassossego de um coração agitado Sua idade não podia exceder a 21 anos Era jovem e belo o uniforme de Marinha fazia sobressair as delicadas formas do seu talhe esbelto e juvenil Reis Maria Firmina dos Gupeva p 9 Carambaia Edição do Kindle Alberto pensou nisso e procurou dissuadilo Gastão disse procurando tomálo entre as suas mãos que loucura meu amigo que loucura a tua apaixonareste por uma indígena do Brasil por uma mulher selvagem por uma mulher sem nascimento sem prestígio Ora Gastão sê mais prudente esquecea Esquecêla exclamou o moço apaixonado Nunca Tanto pior tornoulhe o outro será para ti um constante martírio E por quê E por quê Porque ela não pode ser tua mulher visto que é muito inferior a ti porque tu não poderás jamais viver junto dela a menos que intentasses cortar a tua carreira na Marinha a menos que desprezando a sociedade te quisesses concentrar com ela nessas matas Gastão em nome da nossa amizade esquecea Pede à Terra que esqueça seu constante movimento ao vento que cesse o seu girar contínuo às flores que transformem seus odores em pestilentos cheiros às aves que emudeçam as galas da madrugada murmurou Gastão com melancolia Alberto guardou silêncio por alguns minutos e de novo disse Louco Louco Gastão meu amigo traga até às fezes o teu cálice de amargura mas faze o sacrifício do teu amor em atenção a ti mesmo ao teu futuro O meu futuro é ela replicou Gastão interrompendo seu jovem amigo Primeirotenente de Marinha hoje meu querido Gastão breve terás uma patente superior que Reis Maria Firmina dos Gupeva pp 1011 Carambaia Edição do Kindle Ex de Robinson Crusoe de D Defoe e a questão do bom selvagem para Rousseau Que me importa a mim tudo isso Alberto Acaso isso pode indenizarme da dor de perdêla Alberto tu não és francês o teu clima cria almas intrépidas corações fortes ou rudes ardendo sempre mas em fogo belicoso o sangue que herdaste de teus avós gira em teu peito com ambição de glória de renome são nobres as tuas ambições eu as respeito porém as minhas são destituídas de toda a vaidade As minhas ambições o meu querer o meu desejo resumese todo nela Para que me falas das grandezas deste mundo Alberto eu as desprezo se não forem para repartir com ela Todos nós disselhe Alberto temos a nossa hora de loucura também o português meu caro a experimenta às vezes Não obstante como dizes o nosso clima gera corações mais rudes mas Gastão teus pais Queres acaso afrontar a maldição paterna Sim tornou o jovem francês ainda quando ela houvesse de cair sobre minha cabeça eu não poderia esquecer a mulher a quem dedico todo o meu coração Decididamente perdeste o juízo meu caro amigo disse Alberto comovido Que pretendes Gastão fazer dessa mulher Reis Maria Firmina dos Gupeva pp 1112 Carambaia Edição do Kindle Oh É preciso que me escutes até o fim depois matame Esquecida prosseguiu Épica de que o homem de suas2 afeições chamavase o conde de Gupeva eu cometi uma falta que mais tarde devia cobrir de opróbrio o homem que me recebesse por esposa O amor não prendeu o coração do conde ele esqueceu os extremos de meus afetos e desposou uma donzela nobre da sua nação sem sequer comoverse das minhas lágrimas Ah Bem tarde conheci eu a grandeza do meu sacrifício bem tarde reconheci a perfídia e a indignidade no coração daquele que era até então o meu ídolo A pequenez da minha origem apagoulhe o amor no coração Reis Maria Firmina dos Gupeva p 27 Carambaia Edição do Kindle Ah Era Épica era a virgem das florestas era o anjo dos sonhos mentirosos de Gastão era ela que acabava de conduzilo a Deus e que ia descer com ele à sepultura Formosa ainda na palidez da morte Épica levou Alberto a perdoar os extremos de seu infeliz amigo Alberto ajoelhou à orla da sepultura e orou todos o imitaram e aquelas regiões selvagens guardaram respeito silencioso enquanto durou o ato religioso enquanto a oração subiu da terra ao trono do Senhor E quando eles deixaram no sepulcro aqueles que tão extremamente se adoravam e quando lembraramse novamente do velho tupinambá e o olharem ele tinha a face em terra e o tacape lhe havia escapado das mãos Então um velho marinheiro tocandoo com a ponta do pé e voltandolhe o corpo para o lado disse Estág morto Além muito além daquela serra que ainda azula no horizonte nasceu Iracema Iracema a virgem dos lábios de mel que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira O favo da jati não era doce como seu sorriso nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado Mais rápida que a ema selvagem a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara O pé grácil e nu mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas Um dia ao pino do sol ela repousava em um claro da floresta Banhavalhe o corpo à sombra da oiticica mais fresca do que o orvalho da noite Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto Iracema saiu do banho o aljofar dágua ainda a roreja como à doce mangaba que corou em manhã de chuva Enquanto repousa empluma das penas do gará as flechas de seu arco e consola com o sabiádamata pousado no galho próximo o canto agreste A graciosa ará sua companheira e amiga brinca junto dela Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome outras remexe o uru de palha matizada onde traz a selvagem seus perfumes os alvos fios do crautá as agulhas da jucara com que tece a renda e as tintas de que matiza o algodão Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta Ergue a virgem os olhos que o sol não deslumbra sua vista perturbase Diant dela e todo a contemplála está um guerreiro estranho se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar nos olhos o azul triste das águas profundas Ignotas armas e tecidos ignotos cobremlhe o corpo Foi rápido como o olhar o gesto de Iracema A flecha embebida no arco partiu Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido De primeiro ímpeto a mão lesta caiu sobre a cruz da espada mas logo sorriu O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe onde a mulher é símbolo de ternura e amor Sofreu mais dalma que da ferida O sentimento que ele pos nos olhos e no rosto nao o sei eu Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba e correu para o guerreiro sentida da mágoa que causara A mão que rápida ferira estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava Depois Iracema quebrou a flecha homicida deu a haste ao desconhecido guardando consigo a ponta farpada O guerreiro falou Quebras comigo a flecha da paz Quem te ensinou guerreiro branco a linguagem de meus irmãos Donde vieste a estas matas que nunca viram outro guerreiro como tu Venho de bem longe filha das florestas Venho das terras que teus irmãos já possuíram e hoje têm os meus Bemvindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras senhores das aldeias e à cabana de Araquém pai de Iracema Tu não sabes disse o índio como inspirado pelo seu amor ardente o Senhor do céu manda às vezes àqueles a quem ama um bom pensamento E o índio ergueu os olhos com uma expressão inefável de reconhecimento Falou com um tom solene Foi longe bem longe dos tempos de agora As águas caíram e começaram a cobrir toda a terra Os homens subiram ao alto dos montes um só ficou na várzea com sua esposa Era Tamandaré forte entre os fortes sabia mais que todos O Senhor falavalhe de noite e de dia ele ensinava aos filhos da tribo o que aprendia do céu Quando todos subiram aos montes ele disse Ficai comigo fazei como eu e deixai que venha a água Os outros não o escutaram e foram para o alto e deixaram ele só na várzea com sua companheira que não o abandonou Tamandaré tomou sua mulher nos braços e subiu com ela ao olho da palmeira aí esperou que a água viesse e passasse a palmeira dava frutos que o alimentavam A água veio subiu e cresceu o sol mergulhou e surgiu uma duas e três vezes A terra desapareceu a árvore desapareceu A água tocou o céu e o Senhor mandou então que parasse O sol olhando só viu céu e água e entre a água e o céu a palmeira que boiava levando Tamandaré e sua companheira Ela embeveu os olhos nos olhos de seu amigo e lânguida reclinou a loura fronte O hálito ardente de Peri bafejoulhe a face Fezse no semblante da virgem um ninho de castos rubores e límpidos sorrisos os lábios abriram como as asas purpúreas de um beijo soltando o vôo A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia E sumiuse no horizonte Mas a virgem dos tocantins corria como a nandu no deserto e o caçador conheceu que seu braço nunca a poderia alcançar Travou do arco e o brandiu A seta obedeceulhe pregando no tronco do açaí a faixa que flutuava ao sopro do vento A filha dos tocantins tem no pé as asas do beijaflor mas a seta de Jaguarê voa como o gavião Não te assustes virgem das florestas tua formosura venceu o ímpeto de meu braço e apagou a cólera no coração feroz do caçador Feliz o guerreiro que te possuir Eu sou Araci a estrela do dia filha de Itaquê pai da grande nação tocantim Cem dos melhores guerreiros o servem em sua cabana para merecer que ele o escolha por filho O mais forte e valente me terá por esposa Vem comigo guerreiro araguaia excede aos outros no trabalho e na constância e tu romperás a liga de Araci na próxima lua do amor Não filha do sol Jaguarê não deixou a taba de seus pais onde Jandira lhe guarda o seio de esposa para ser escravo da virgem Ele vem combater e ganhar um nome de guerra que encha de orgulho a sua nação Torna à taba dos tocantins e dize aos cem guerreiros cativos de teu amor que Jaguarê o mais destemido dos caçadores araguaias os desafia ao combate Araci vai pois assim o queres Se fores vencido ela guardará tua lembrança pois nunca seus olhos viram mais belo caçador Se fores vencedor será uma alegria para a virgem do sol pertencer ao mais valente dos guerreiros Ubirajara A esposa despiu as armas de seu guerreiro enxugoulhe o corpo com o macio cotão da monguba e cobriuo do bálsamo fragrante da embaíba Encheu depois de generoso cauim a taça vermelha feita do coco da sapucaia e aplacou a sede do combate Enquanto nas grandes tabas se preparava a festa do triunfo e o herói repousava na rede Araci foi ao terceiro e voltou conduzindo Jandira pela mão Jandira é irmã de Araci tua esposa Ubirajara é o chefe dos chefes senhor do arco das duas nações Ele deve repartir seu amor por elas como repartiu a sua força A virgem araguaia pôs no guerreiro seus olhos de corça Jandira é serva de tua esposa seu amor a obrigou a querer o que tu queres Ela ficará em tua cabana para ensinar a tuas filhas como uma virgem araguaia ama seu guerreiro Ubirajara cingiu ao peito com um e outro braço a esposa e a virgem Araci é a esposa do chefe tocantim Jandira será esposa do chefe araguaia ambas serão as mães dos filhos de Ubirajara o chefe dos chefes e o senhor das florestas As duas nações dos araguaias e dos tocantins formaram a grande nação dos Ubirajaras que tomou o nome do herói Foi esta poderosa nação que dominou o deserto Mais tarde quando vieram os caramurus guerreiros do mar ela campeava ainda nas margens do grande rio Para quem na atividade 2 for trabalhar o recorte temático do Indianismo recomendo ler BOSI AO mito sacrificial o indianismo de Alencar In Dialética da colonização São Paulo Companhia das Letras 2002 p 176 194 na biblioteca 981 B755d 4 ed A10Leitura do ensaio A importação do romance e suas contradições em Alencar de R Schwarz 18052023 13072023 SCHWARZ R Ao vencedor as batatas São Paulo editora 34 2000 Capítulo I As ideias fora do lugar II A importação do romance e suas contradições em Alencar Há 20 exemplares entre a biblioteca do Palmares e das Auroras B8693 5428v Também pode ser encontrado de forma avulsa na internet TAREFA AVALIATIVA 2 25052023 25052023