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Administração ·
Psicanálise
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1 FREUD Sigmund CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE 191617 191517Freud Online CONFERÊNCIA XVI PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA SENHORAS E SENHORES Alegrame vêlos novamente no início do novo ano acadêmico para uma retomada de nossas discussões No ano passado faleilhes de como a psicanálise aborda as parapraxias e os sonhos Este ano gostaria de conduzilos à compreensão dos fenômenos da neurose que conforme logo verificarão têm muitas coisas em comum com ambos Devo porém advertilos antecipadamente de que não poderei oferecerlhes este ano em relação a mim a mesma situação do ano passado Naquela época fiz questão de jamais dar um passo sem estar de acordo com o julgamento dos senhores foram muitas as coisas que debati com os senhores e dei acolhida às suas objeções de fato reconhecios e ao seu senso comum como fator decisivo Isto contudo não é mais possível e por uma razão simples As parapraxias e os sonhos não são fenômenos desconhecidos dos senhores poderíamos dizer que os senhores tinham ou facilmente podiam obter tanta experiência acerca dos mesmos quanto eu Entretanto a área dos fenômenos da neurose lhes é desconhecida de vez que os senhores não são médicos têm qualquer acesso a eles que não seja por intermédio daquilo que tenho a dizerlhes e de que serve o melhor raciocínio se este não está acompanhado da familiaridade com o conteúdo daquilo de que se ajuíza Os senhores não devem porém tomar esse advertência minha no sentido de que eu proponha darlhes conferências dogmáticas e insista em seu crédito irrestrito Um equívoco desses farmeia grave injustiça Não desejo suscitar convicção desejo estimular o pensamento e derrubar preconceitos Se em decorrência da falta de conhecimento do material os senhores não estão em condições de emitir um julgamento não deveriam nem acreditar nem rejeitar Deveriam ouvir atentamente e permitir que atue nos senhores aquilo que lhes digo Não é tão fácil adquirir convicções ou se estas são alcançadas facilmente logo se revelam sem valor e incapazes de resistência A única pessoa que tem o direito de possuir uma convicção é alguém que como eu tenha trabalhado por muitos anos o mesmo material e que assim agindo tenha tido por si próprio as 2 mesmas e surpreendentes experiências De que servem então na esfera do intelecto essas convicções súbitas essas conversõesrelâmpago essas rejeições instantâneas Não está claro que o coup de foudre amor à primeira vista deriva de esfera bem diferente da esfera das emoções Nem mesmo dos nossos pacientes exigimos que devem convencerse da verdade da psicanálise no tratamento ou aderir a ela Tal atitude freqüentemente levanta nossas suspeitas A atitude que neles achamos mais desejável é a de um benévolo ceticismo Assim também os senhores devem esforçarse por deixar que os pontos de vista psicanalíticos amadureçam tranqüilamente nos senhores junto com a visão popular ou psiquiátrica até surgir a oportunidade de ambas se influenciarem reciprocamente de uma competir com a outra e de se aliarem no rumo de uma conclusão Por outro lado não devem de modo algum supor que aquilo que lhes apresento como conceito psicanalítico seja um sistema especulativo Pelo contrário é empírico seja uma expressão direta das observações seja um processo consistente em trabalhálas exaustivamente Se esse trabalho exaustivo foi executado de uma maneira adequada e fundamentada isto se verá no decorrer de futuros progressos da ciência e realmente posso afirmar sem jactância após um período de quase vinte e cinco anos e tendo atingido uma idade razoavelmente avançada que essas observações são o resultado de trabalho especialmente difícil intensivo e aprofundado Freqüentemente tive a impressão de que nossos opositores relutavam em levar em conta essa origem de nossas teses como se pensassem que se tratava apenas de noções determinadas subjetivamente às quais qualquer um podia opor outras de sua própria escolha Essa conduta dos nossos opositores não me é completamente compreensível Talvez se deva ao fato de que como médico habitualmente se tem tão pouco contacto com pacientes neuróticos e se presta tão pouca atenção ao que dizem esses pacientes que não se pode imaginar a possibilidade de que se possa derivar algo de valioso de suas comunicações isto é a possibilidade de efetuar acuradas observações a respeito delas Valhome desta oportunidade para assegurarlhes que no decorrer destas conferências permitirei muito pouca controvérsia especialmente com algumas pessoa individualmente Nunca pude convencerme da verdade da máxima segundo a qual a controvérsia é a mãe de todas as coisas Penso que deriva dos sofistas gregos e como eles peca por supervalorizar a dialética Pareceme ao contrário que aquilo que se conhece como controvérsia científica é na totalidade 3 muito improdutivo além do fato de quase sempre ser conduzido segundo motivos altamente pessoais Até há alguns anos eu podia gabarme de apenas uma vez haverme envolvido numa disputa científica regular com um único pesquisador Löwenfeld de Munique Terminou por nos tornarmos amigos e o somos até o dia de hoje Não repeti porém a experiência por muito tempo pois não tinha certeza de que o resultado viesse a ser o mesmo Ora os senhores concluirão sem dúvida que uma rejeição como esta de todas as discussões por escrito demonstra um elevado grau de inacessibilidade a objeções de obstinação ou para usar um termo científico coloquial e educado de apego às idéias próprias Verranntheit Gostaria de dizer em resposta quem porquanto após trabalho tão árduo chegouse a adquirir uma convicção ao mesmo tempo adquiriuse um certo direito de manter esta convicção com alguma tenacidade Também posso declarar que no transcorrer do meu trabalho tenho modificado minhas opiniões em alguns pontos importantes tenhoas alterado e substituído por outras novas e em todas essas ocasiões naturalmente tornei isto público E o resultado dessa sinceridade Algumas pessoas jamais tomaram conhecimento de quaisquer de minhas autocorreções e continuam até hoje a criticarme por hipóteses que para mim há muito cessaram de ter o mesmo significado Outros me reprovam justamente por estas modificações e por causa delas consideramme indigno de confiança Naturalmente uma pessoa que vez por outra mudou de opinião não merece absolutamente nenhum crédito pois tornou tudo tão demasiadamente provável que as últimas afirmações também podem ser equivocadas mas uma pessoa que inflexivelmente manteve o que uma vez afirmou ou que não pode de relance ser persuadida a abandonálo deve naturalmente ser aferrada às idéias próprias ou teimosa Que se pode fazer frente a essas objeções contraditórias dos críticos senão permanecer como se é e conduzirse de acordo com o julgamento próprio Estou resolvido a agir assim e não me impedirei de modificar ou retirar qualquer uma de minhas teorias sempre que a progressão da experiência possa exigilo Com referência a descobertas fundamentais até o momento atual nada tenho a modificar e espero que isto venha a manterse verdadeiro no futuro Vou apresentarlhes portanto a visão psicanalítica dos fenômenos da neurose Para isto parece que o melhor plano consistiria em começarmos por 4 estabelecer uma conexão com os fenômenos de que já tratamos tanto pela causa da analogia como do contraste e começarei expondo uma ação sintomática ver em 1 e 2 que vi muitas pessoas executarem durante minhas horas de consulta Nós analistas não podemos fazer muita coisa para conseguir que as pessoas que vêm até nós em nosso consultório nos exponham em um quarto de hora os sofrimentos de toda uma vida Nosso conhecimento mais profundo nos dificulta dar o tipo de opinião emitida por um outro médico Não há problema com o senhor à qual se acrescenta o conselho O senhor devia providenciar um tratamento hidropático brando Um de meus colegas quando lhe perguntaram o que fazia com seus pacientes que vinham consultar encolheu os ombros e respondeu Eu lhes aplico uma multa de tantas e tantas Kronen por uma inútil perda de tempo Assim os senhores não se surpreenderão ao ouvir que mesmo no caso de psicanalistas muito ocupados suas horas de atendimento não costumam ser muito animadas A porta simples entre minha sala de espera e a sala de atendimento e a de tratamento mandei fazêla dupla e revestida de feltro Não pode haver dúvidas a respeito do propósito desse arranjo Ora repetidamente acontece uma pessoa que estava na sala de espera e que mando entrar deixar de fechar a porta atrás de si e quase sempre deixar ambas as portas abertas Tão logo percebo esse fato insisto com o paciente ou a paciente num tom mais propriamente inamistoso para que volte e corrija a omissão ainda que a pessoa questão seja um cavalheiro elegantemente trajado ou uma senhora da alta sociedade Isto dá a impressão de rigorismo desnecessário Às vezes também tenhome colocado em situação absurda fazendo este pedido quando se verifica depois tratarse de uma pessoa que não pode por si mesmo tocar na maçaneta da porta e se alivia se alguém em sua companhia poupaa dessa necessidade Mas na maioria dos casos tenho agido com acerto pois todo aquele que se conduz dessa forma e deixa aberta a porta entre a sala de espera e a sala de consulta de um médico é maleducado e merece uma recepção inamistosa Não tomem contudo partido nesta questão sem terem ouvido o restante Pois esse descuido por parte do paciente apenas acontece quando esteve sozinho na sala de espera e portanto deixou atrás de si uma sala vazia jamais acontece no caso de outras pessoas que lhe sejam estranha terem estado esperando com ele Nesse último caso sabe muito bem que é de seu interesse que sua conversa com o médico não seja ouvida secretamente e nunca deixa de fechar cuidadosamente as duas portasAssim a 5 omissão do paciente não é determinada pelo acaso ou por falta de propósito e na realidade ela não é destituída de importância pois conforme verificaremos elucida a atitude de recémchegado para com o médico O paciente é mais um da grande multidão que tem um desejo insaciável de autoridade mudança que deseja ser ofuscado e intimidado Ele pode ter perguntado pelo telefone sobre a hora em que mais facilmente poderia conseguir uma entrevista havia formado para si a imagem de uma multidão de pessoas procurando ajuda como a multidão do lado de fora de uma das filiais de Julius Meinl E então entra em uma sala de espera vazia e principalmente mobiliada com extrema modéstia e fica chocado Ele tem de fazer o médico pagar pelo respeito supérfluo que tencionava oferecerlhe é assim que deixa de fechar a porta entre a sala de espera e a sala de consulta O que quer dizer ao médico por essa sua conduta é Ah então não há ninguém e provavelmente não virá ninguém enquanto eu estiver aqui Ele se conduziria de forma igualmente descortês e desrespeitosa durante a consulta se sua arrogância não recebesse uma dura repreensão logo no começoA análise dessa pequena ação sintomática não lhes diz nada que já não soubessem antes a tese de que ela não é uma ação casual mas teve um motivo um sentido e uma intenção que se localiza num contexto mental específico e que informa mediante uma pequena indicação acerca de um processo mental mais importante Mais que tudo porém essa ação sintomática lhes revela que o processo assim indicado era inconsciente para a consciência da pessoa que executou essa ação de vez que nenhum dos pacientes que deixou as duas portas abertas teria conseguido admitir por meio dessa omissão que desejasse demonstrar tal desrespeito Alguns deles provavelmente terseiam apercebido de determinada sensação de desapontamento ao penetrarem na sala de espera vazia mas a conexão entre esta impressão e a ação sintomática que se seguiu por certo permaneceu desconhecida de sua consciênciaApós essa pequena análise de uma ação sintomática passaremos agora à observação de uma paciente Escolhi esta observação porque está vivida em minha memória e também por poder ser relatada em tempo relativamente breve Determinada quantidade de detalhes tornase imprescindível num relato desta espécieUm jovem oficial de regresso a casa em período de uma breve licença pediume que tomasse em tratamento sua sogra que embora nas circunstâncias mais felizes estava amargurando sua própria vida e as vidas de seus parentes com uma idéia absurda Foi assim que vim a conhecer uma senhora bem conservada cinqüenta e 6 três anos de natureza amável e simples que me narrou sem relutância a seguinte história Ela morava no campo vivia num casamento feliz com seu marido diretor de uma grande fábrica Não tinha senão como elogiar a afetuosa solicitude do marido Há trinta anos se haviam casado por amor e desde então jamais tinha havido qualquer problema discórdia ou motivo para ciúmes Seus dois filhos estavam bem casados seu marido e pai destes compenetrado de suas obrigações ainda não pensava em aposentarse Um ano antes ela recebera uma carta anônima acusando seu excelente marido de um caso amoroso com uma jovem E o resultado incrível e para ela ininteligível foi que ela imediatamente acreditou na carta e desde então sua felicidade foi destruída O curso dos acontecimentos em maiores detalhes é mais ou menos este Ela tinha uma empregada doméstica com quem costumava talvez com freqüência excessiva ter conversas íntimas Esta moça perseguia uma outra com certa hostilidade positivamente maldosa porque esta outra havia progredido muito mais na vida embora não fosse de origem mais elevada Em vez de dedicarse ao serviço doméstico esta moça tinha conseguido concluir um curso comercial ingressado na fábrica e em conseqüência da falta de pessoal devido ao fato de elementos da organização fabril serem requisitados para o serviço militar foi promovida a uma boa posição Agora morava na própria fábrica mantinha relacionamento social com todos os senhores e realmente tratavamna por Fräulein A moça que tivera menos sucesso na vida naturalmente estava pronta a repetir todos os tipos de maldades para com a antiga colega de escola Certo dia essa senhora teve um diálogo com a empregada a respeito de um cavalheiro que tinha estado com elas que se sabia não estar vivendo com a esposa e estar tendo um caso amoroso com outra mulher Ela não sabia como foi que aconteceu mas de repente disse A coisa mais terrível que poderia acontecerme era eu saber que meu querido esposo também estivesse tendo um caso No dia seguinte recebia uma carta anônima pelo correio a qual como que por mágica davalhe justamente esta informação escrita com letra disfarçada Concluiu provavelmente com acerto que a carta era obra de empregada maldosa de vez que apontava como amante do marido a jovem a quem a serviçal perseguia com seu ódio Embora imediatamente compreendesse a intriga e tivesse visto em muitos casos ocorridos no lugar onde vivia quão pouco crédito merecem tais denúncias covardes o que aconteceu todavia foi que a carta abateua instantaneamente 7 Ficou terrivelmente excitada mandou chamar prontamente seu marido e acusouo violentamente Seu marido não fez caso da acusação e agiu da melhor forma possível Chamou o médico da família que era também o médico da fábrica que se esforçou por apaziguar a infeliz senhora A conduta subseqüente de ambos foi inteiramente sensata A doméstica foi despedida mas a suposta rival não Desde então a paciente se havia tranqüilizado por períodos repetidamente a ponto de não acreditar mais no conteúdo da carta anônima porém nunca completamente nunca definitivamente Bastavalhe ouvir mencionarem o nome da jovem senhora ou encontrála na rua para nela desencadear um novo ataque de desconfiança dor e acusaçõesEste é pois o caso clínico dessa excelente senhora Não se requeria muita experiência psiquiátrica para compreender que em contraste com outros neuróticos ela estava dando uma descrição por demais atenuada de seu caso que ela estava por assim dizer dissimulando e que realmente jamais deixara de acreditar na acusação contida na carta anônimaQue atitude portanto um psiquiatra adotará em um caso de doença como este Já sabemos como ele se conduziria frente à ação sintomática do paciente que deixa de fechar a porta da sala de consulta Ele declara que se trata de evento casual sem interesse psicológico com o qual não tem a maior preocupação Este procedimento contudo não pode ser mantido no caso da doença dessa mulher ciumenta A ação sintomática parece ser uma questão irrelevante mas o sintoma se impõe à nossa atenção como questão importante Acompanhase de intenso sofrimento subjetivo e como fato objetivo ameaça a vida em comum de uma família constitui pois um assunto de inegável interesse psiquiátrico O psiquiatra começará por procurar caracterizar o sintoma por meio de algum aspecto essencial A idéia com que a mulher se atormenta não pode ser em si chamada de absurda de fato ocorre senhores casados de certa idade terem casos amorosos com mocinhas Existe porém algo mais a este respeito que é absurdo e difícil de entender A paciente não possuía absolutamente nenhum outro motivo para acreditar que seu marido afetuoso e leal pertencesse a essa outra classe aliás nada rara de maridos a não ser o que se afirmava na carta anônima Ela sabia que esse documento não tinha qualquer valor de prova e podia dar uma explicação satisfatória sobre a origem da mesma Portanto devia ser capaz de dizer a si mesma que não tinha qualquer fundamento para seu ciúme e ela realmente o fez Apesar disso sofria tanto contudo como se julgasse esse ciúme totalmente justificado Idéias desse tipo 8 inacessíveis a argumentos lógicos baseados na realidade são segundo o consenso geral descritas como delírios A boa senhora portanto estava sofrendo de delírios de ciúme Este é sem dúvida o aspecto essencial deste caso mórbidoDepois de estabelecido este primeiro ponto nosso interesse psiquiátrico se torna até mais vívido Se não se pode eliminar um delírio mediante uma referência à realidade então sem dúvida ele não se originou da realidade De onde mais terseia originado Existem delírios dos mais variados conteúdos por que neste nosso caso se trata justamente do delírio de ciúme Em que tipo de pessoas atuam os delírios e especialmente os delírios de ciúme Gostaríamos de ouvir o que o psiquiatra tem a dizer a este respeito mas neste ponto ele nos deixa em apuros Considera apenas uma das nossas perguntas Investigará a história familiar da mulher e talvez nos dará sua resposta Os delírios aparecem em pessoas em cujas famílias tenham ocorrido repetidamente outros distúrbios psíquicos semelhantes Em outros termos se essa mulher desenvolveu um delírio estava predisposta a ele por transmissão hereditária Sem dúvida isso já é alguma coisa mas é tudo que queremos saber Foi isso a única coisa que contribuiu para a causação da doença Devemos contentarnos com supor tratarse de algo sem importância indiferente ou de um capricho ou que não se pode explicar se o delírio de ciúme aparece de preferência a algum outro tipo E deveríamos entender a assertiva da predominância da influência hereditária também num sentido negativo que não importa quais experiências a mente dessa mulher tivesse encontrado ela estaria destinada mais cedo ou mais tarde a vir a apresentar um delírio Os senhores desejarão saber por que razão a psiquiatria científica não nos dará outras informações Minha resposta aos senhores contudo é ele é um trapaceiro que dá mais do que tem O psiquiatra não sabe como lançar mais luz sobre um caso como este Ele deve contentarse com um diagnóstico e um prognóstico incertos apesar de uma grande quantidade de experiência e com sua evolução futuraPode a psicanálise porém ir além em um caso destes Sim ela realmente pode Espero conseguir mostrarlhes que mesmo num caso assim tão difícil de abordar ela pode descobrir algo que possibilite uma primeira compreensão E antes de mais nada eu atrairia a atenção dos senhores para o detalhe notório de que a própria paciente positivamente provocou a carta anônima tendo agora dado apoio a seu delírio ao informar à empregada intrigante no dia anterior que lhe causaria a maior infelicidade se seu 9 marido tivesse um caso amoroso com uma jovem Assim primeiro ela incute na empregada a idéia de enviar a carta anônima O delírio então adquire certa independência da carta já estivera presente na paciente sob a forma de medo ou era um desejo Acrescentemos a isto as outras pequenas indicações obtidas em apenas duas sessões analíticas A paciente na realidade conduziuse de maneira bastante nãocooperativa quando após haver contado sua história pergunteilhe por seus outros pensamentos idéias e lembranças Disse que não lhe ocorria nada à mente que já me havia dito tudo e depois de duas sessões a tentativa de tratamento comigo realmente teve de ser interrompida pois declarou que já se sentia bem e estava segura de que a idéia patológica não retornaria Naturalmente ela disse isto apenas devido à sua resistência e ao receio da continuação da análise Não obstante durante essas duas sessões fez algumas observações que permitiram e realmente exigiram uma interpretação especial e essa interpretação lançou viva luz sobre a gênese de seu delírio de ciúme Ela própria estava intensamente apaixonada por um homem jovem pelo mesmo genro que a persuadira a procurarme na qualidade de paciente Ela mesma nada sabia ou talvez sabia muito pouco dessa paixão no relacionamento família que existia entre ambos era fácil essa afeição apaixonada disfarçarse como afeição inocente Depois de todas as nossas experiências em outras situações não nos é difícil tatear os caminhos da vida mental dessa honrada esposa e digna mãe de cinqüenta e três anos Estando apaixonada dessa maneira uma coisa assim tão monstruosa e impossível não podia tornarse consciente permaneceu porém existindo e ainda que continuasse inconsciente exercia grande pressão Algo havia de acontecer um alívio tinha de ser buscado e a mitigação mais fácil surgiu sem dúvida através do mecanismo do deslocamento que desempenhou seu papel de modo tão regular na produção do ciúme delirante Se ao menos não somente ela a senhora idosa estivesse apaixonada por um homem jovem mas também seu idoso marido estivesse mantendo um caso amoroso com uma jovem então sua consciência se aliviaria do peso de sua infidelidade A fantasia da infidelidade de seu esposo agiu assim como uma compressa fria em sua ferida ardente O amor que ela própria obrigava não se lhe tornara consciente porém seu reflexo especular que lhe deu tal vantagem agora se tornou consciente como uma obsessão e um delírio Naturalmente nenhum argumento em contrário podia surtir qualquer efeito pois o argumento era dirigido contra a imagem especular e não contra a imagem original 10 que deu à outra sua força e que permanecia oculta inviolável no inconscienteVamos reunir agora aquilo que esta tentativa de psicanálise curta e detida como foi trouxe à luz para uma compreensão deste caso supondo naturalmente que nossas investigações tenham sido efetuadas corretamente o que não posso aqui submeter ao julgamento dos senhores Em primeiro lugar o delírio deixou de ser absurdo ou ininteligível tinha um sentido tinha motivos fundamentados e ajustouse ao contexto de uma experiência emocional da paciente Em segundo lugar o delírio era necessário como reação a um processo mental inconsciente que inferimos de outras indicações e foi justamente a esta conexão que deveu seu caráter delirante e sua resistência a todo ataque lógico e realista Esse delírio era em si de certa maneira desejado uma espécie de consolação Em terceiro lugar o fato de o delírio vir a ser precisamente o delírio de ciúme e não de outro tipo estava inequivocamente determinado pela experiência que está por trás da doença Naturalmente os senhores se recordarão de que no dia anterior ela havia dito à empregada intrigante que a coisa mais terrível que lhe podia acontecer seria a infidelidade do marido E os senhores não deixarão de perceber as duas importantes analogias entre este caso e a ação sintomática que analisamos a explicação do seu sentido ou intenção e sua relação com algo inconsciente envolvido na situaçãoPor certo isto não responde a todas as perguntas que poderíamos fazer em relação a este caso Pelo contrário o caso suscita outros problemas alguns em geral ainda não se tornaram solúveis e outros não poderiam ser solucionados devido a existirem circunstâncias especiais desfavoráveis Por exemplo por que essa mulher que estava vivendo um casamento feliz apaixonouse por seu genro E por que o alívio que teria sido possível de outras maneiras tomou a forma dessa imagem especular dessa projeção de seu estado em seu marido Os senhores não devem pensar que é ocioso ou inútil levantar tais questões Já possuímos algum material à nossa disposição que possivelmente poderia servir para respondêlas A senhora estava em uma idade crítica na qual as necessidades sexuais da mulher sofrem um aumento súbito e indesejado isto por si só poderia responder pelo evento Ou ainda pode ter ocorrido que seu excelente e fiel esposo há alguns anos não estivesse mais gozando da capacidade sexual que essa mulher bem conservada requeria para sua satisfação A experiência nos demonstrou que são precisamente homens numa situação assim cuja fidelidade pode conseqüentemente ser tida 11 como certa que se distinguem por tratarem suas esposas com ternura incomum e por mostrarem especial paciência para com os problemas nervosos delas Ou ainda não pode deixar de ter significação o fato de o objeto de seu amor patogênico ser justamente o jovem marido de uma de suas filhas Um poderoso vínculo erótico com uma filha que remonta aos primórdios da constituição sexual da mãe às vezes encontra a forma de sobreviver numa transformação dessa ordem Com referência a isto posso talvez recordarlhes que a relação entre sogra e genro tem sido considerada desde as épocas mais remotas da raça humana como relação particularmente embaraçosa e que entre tribos primitivas deu origem a regulamentações e evitações tabu muito poderosas A relação amiúde é extravagante pelos padrões civilizados tanto em sentido positivo como negativo Qual desses três fatores tornouse atuante no caso em questão ou se dois deles ou se talvez todos os três vieram juntos verdadeiramente não lhes posso dizer isso contudo é só porque não me foi possível continuar a análise do caso além de duas sessõesVerifico agora senhores que lhes venho falando de muitas coisas e os senhores não estão preparados para entendêlas Assim procedi para fazer a comparação entre psiquiatria e psicanálise Existe porém uma coisa que posso perguntarlhes agora Observaram algum sinal de contradição entre elas A psiquiatria não emprega os métodos técnicos da psicanálise toca superficialmente qualquer inferência acerca do conteúdo do delírio e ao apontar para a hereditariedade dános uma etiologia geral e remota em vez de indicar primeiro as causas mais especiais e próximas Mas existe uma contradição uma oposição nisso Não é o caso de uma suplementar a outra O fator hereditário contradiz a importância da experiência Ambas as coisas não se combinam da maneira mais efetiva Os senhores assegurarão não existir nada na natureza do trabalho psiquiátrico que possa oporse à investigação psicanalítica O que se opõe à psicanálise não é a psiquiatria mas os psiquiatras A psicanálise relacionase com a psiquiatria aproximadamente como a histologia se relaciona com a anatomia uma estuda as formas externas dos órgãos a outra estuda sua estruturação em tecidos e células Não é fácil imaginar uma contradição entre essas duas espécies de estudo sendo um a continuação do outro Atualmente como sabem a anatomia é considerada por nós como fundamento da medicina científica Houve todavia época em que era tão proibido dissecar um cadáver humano a fim de 12 descobrir a estrutura interna do corpo como hoje parece ser o exercício da psicanálise esclarecer acerca do mecanismo interno da mente É de se esperar que em futuro não muito distante perceberseá que uma psiquiatria cientificamente fundamentada não será possível sem um sólido conhecimento dos processos inconscientes profundos da vida mental Talvez a psicanálise sempre tão atacada tenha porém entre os senhores amigos que se regozijarão se ela puder legitimarse num outro sentido no aspecto terapêutico Como sabem nossa terapia psiquiátrica até o momento atual não é capaz de influenciar os delírios Será possível talvez que a psicanálise possa fazêlo graças à sua compreensão profunda do mecanismo desses sintomas Não senhores não pode Ela é tão impotente pelo menos por enquanto contra esses males quanto qualquer outra forma de terapia Nós podemos compreender na verdade o que ocorreu na paciente no entanto não temos meios de fazer com que a paciente mesma o compreenda Os senhores ouviram como fui incapaz de prosseguir com a análise desse delírio além de um simples começo Estariam os senhores dispostos a afirmar por isso que uma análise de tais casos deve ser rejeitada porque é infrutífera Penso que não Temos o direito ou melhor a obrigação de efetuar nossa pesquisa sem considerar qualquer efeito benéfico imediato No fim não sabemos dizer onde nem quando cada pequena parcela de conhecimento se transformará em poder e também em poder terapêutico Ainda que a psicanálise se mostrasse tão ineficaz em qualquer outra forma de doença nervosa e psíquica como se mostra ineficaz nos delírios estaria plenamente justificada como insubstituível instrumento de investigação científica É verdade que nesse caso não estaríamos em condições de exercêla O material humano com o qual procuramos aprender que vive tem sua vontade própria e precisa ter motivos para cooperar em nosso trabalho se afastaria de nós Portanto permitamme finalizar meus comentários de hoje informandolhes que existem extensos grupos de distúrbios nervosos nos quais a transformação do nosso melhor entendimento em poder terapêutico realmente se efetivou e que nessas doenças às quais é difícil o acesso por outros meios obtemos sob condições favoráveis êxitos que não são superados por nenhum outro meio na área da medicina interna PSICOLOGIA DE GRUPO E A ANÁLISE DO EGO 1921 NOTA DO EDITOR INGLÊS MASSENPSYCHOLOGIE UND ICHANALYSE a EDIÇÕES ALEMÃS 1921 Leipzig Viena e Zurique Internationaler Psychoanalytischer Verlag III 140 págs 1923 2ª ed mesmos editores IV 120 págs 1925 GS 6 261349 1931 Theoretische Schriften 248337 1940 GW 13 71161 b TRADUÇÃO INGLESA Group Psychology and the Analysis of the Ego 1922 Londres e Viena Internacional PsychoAnalytical Press VIII 134 págs Trad de James Strachey 1940 Londres Hogarth Press e Instituto de Psicanálise Nova Iorque Liveright Reimpressão da anterior Na primeira edição alemã alguns parágrafos do texto foram impressos em tipo menor Na ocasião o tradutor inglês foi instruído por Freud para transferir esses parágrafos para notas de rodapé A mesma transposição foi feita em todas as edições alemãs posteriores à exceção do caso mencionado na pág 106 adiante Freud fez algumas ligeiras alterações e acréscimos nas edições posteriores do trabalho A presente tradução inglesa constitui versão consideravelmente alterada da publicada em 1922 As cartas de Freud mostram que a primeira idéia simples de uma explicação da psicologia de grupo lhe ocorreu durante a primavera de 1919 Nada resultou disso na ocasião em fevereiro de 1920 porém estava trabalhando no assunto e já escrevera um primeiro rascunho em agosto do mesmo ano Foi somente em fevereiro de 1921 contudo que começou a lhe dar forma final O livro foi terminado antes do fim do março de 1921 e publicado cerca de três ou quatro meses mais tarde Há pouca ligação direta entre o presente trabalho e seu predecessor imediato Além do Princípio de Prazer 1920g As seqüências de pensamento aqui seguidas por Freud derivam mais especialmente do quarto ensaio de Totem e Tabu 191213 de seus artigos sobre o narcisismo 1914c cujo último parágrafo aborda de forma altamente condensada muitos dos pontos aqui debatidos e de Luto e Melancolia 1917e Freud também retorna a seu primeiro interesse pelo hipnotismo e pela sugestão que datava de seus estudos com Charcot em 18856 Tal como o título indica o trabalho é importante em dois sentidos diferentes Por um lado explica a psicologia dos grupos com base em alterações na psicologia da mente individual e por outro leva um passo à frente a investigação freudiana da estrutura anatômica da mente já prenunciada em Além do Princípio de Prazer 1920g e a ser completamente elaborada em O Ego e o Id 1923b Extratos da primeira 1922 tradução deste trabalho foram incluídos na General Selection from the Works of Sigmund Freud de Rickman 1937 195244 PSICOLOGIA DE GRUPO E A ANÁLISE DO EGO I INTRODUÇÃO O contraste entre a psicologia individual e a psicologia social ou de grupo que à primeira vista pode parecer pleno de significação perde grande parte de sua nitidez quando examinado mais de perto É verdade que a psicologia individual relacionase com o homem tomado individualmente e explora os caminhos pelos quais ele busca encontrar satisfação para seus impulsos instituais contudo apenas raramente e sob certas condições excepcionais a psicologia individual se acha em posição de desprezar as relações desse indivíduo com os outros Algo mais está invariavelmente envolvido na vida mental do indivíduo como um modelo um objeto um auxiliar um oponente de maneira que desde o começo a psicologia individual nesse sentido ampliado mas inteiramente justificável das palavras é ao mesmo tempo também psicologia social As relações de um indivíduo com os pais com os irmãos e irmãs com o objeto de seu amor e com seu médico na realidade todas as relações que até o presente constituíram o principal tema da pesquisa psicanalítica podem reivindicar serem consideradas como fenômenos sociais e com respeito a isso podem ser postas em contraste com certos outros processos por nós descritos como narcisistas nos quais a satisfação dos instintos é parcial ou totalmente retirada da influência de outras pessoas O contraste entre atos mentais sociais e narcisistas Bleuler 1912 talvez os chamasse de autísticos incide assim inteiramente dentro do domínio da psicologia individual não sendo adequado para diferençála de uma psicologia social ou de grupo O indivíduo nas relações que já mencionei com os pais com os irmãos e irmãs com a pessoa amada com os amigos e com o médico cai sob a influência de apenas uma só pessoa ou de um número bastante reduzido de pessoas cada uma das quais se torna enormemente importante para ele Ora quando se fala de psicologia social ou de grupo costumase deixar essas relações de lado e isolar como tema de indagação o influenciamiento de um indivíduo por um grande número de pessoas simultaneamente pessoas com quem se acha ligado por algo embora sob outros aspectos e em muitos respeitos possam serlhe estranhas A psicologia de grupo interessase assim pelo indivíduo como membro de uma raça de uma nação de uma casta de uma profissão de uma instituição ou como parte componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo numa ocasião determinada para um intuito definido Uma vez a continuidade natural tenha sido interrompida desse modo se uma ruptura é assim efetuada entre coisas que são por natureza interligadas é fácil encarar os fenômenos surgidos sob essas condições especiais como expressões de um instinto especial que já não é redutível o instinto social herd instinct group mind que não vem à luz em nenhuma outra situação Contudo talvez possamos atrevernos a objetar que parece difícil atribuir ao fator numérico uma significação tão grande que o torne capaz por si próprio de despertar em nossa vida mental um novo instinto que de outra maneira não seria colocado em jogo Nossa expectativa dirigese assim para duas outras possibilidades que o instinto social talvez não seja um instinto primitivo insuscetível de dissociação e que seja possível descobrir os primórdios de sua evolução num círculo mais estreito tal como o da família Embora a psicologia de grupo ainda se encontre em sua infância ela abrange imenso número de temas independentes e ofrece aos investigadores incontáveis problemas que até o momento nem mesmo foram corretamente distinguidos uns dos outros A mera classificação das diferentes formas de formação de grupo e a descrição dos fenômenos mentais por elas produzidos exigem grande dispêndio de observação e exposição que já deu origem a uma copiosa literatura Qualquer pessoa que compare as exíguas dimensões deste pequeno livro com a ampla extensão da psicologia de grupo poderá perceber em seguida que apenas alguns pontos escolhidos dentre a totalidade do material serão tratados aqui E realmente é em apenas algumas questões que a psicologia profunda da psicanálise está especialmente interessada II A DESCRIÇÃO DE LE BON DA MENTE GRUPAL Em vez de partir de uma definição parece mais proveitoso começar com alguma indicação do campo de ação dos fenômenos em exame e selecionar dentre eles alguns fatos especialmente notáveis e característicos aos quais nossa indagação possa ligarse Podemos alcançar ambos os objetivos por meio de citações da obra merecidamente famosa de Le Bon Psychologie des foules 1855 Esclareçamos mais uma vez o assunto Se uma psicologia interessada em explorar as predisposições os impulsos instintuais os motivos e os fins de um indivíduo até as suas ações e suas relações com aqueles que lhe são mais próximos houvesse atingido completamente seu objetivo e esclarecido a totalidade dessas questões com suas interconexões defrontarseia então subitamente com uma nova tarefa que perante ela se estenderia incompleta Seria obrigada a explicar o fato surpreendente de que sob certa condição esse indivíduo a quem havia chegado a compreender pensou sentiu e agiu de maneira inteiramente diferente daquela que seria esperada Essa condição é a sua inclusão numa reunião de pessoas que adquiriu a característica de um grupo psicológico O que é então um grupo Como adquire ele a capacidade de exercer influência tão decisiva sobre a vida mental do indivíduo E qual é a natureza da alteração mental que ele força no indivíduo Constituiu tarefa de uma psicologia de grupo teórica responder a essas três perguntas A melhor maneira de abordálas é evidentemente começar pela terceira É a observação das alterações nas reações do indivíduo que fornece à psicologia de grupo seu material de uma vez que toda tentativa de explicação deve ser precedida pela descrição da coisa que tem de ser explicada Deixarei que agora Le Bon fale por si próprio Diz ele A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte sejam quem forem os indivíduos que o compõem por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida suas ocupações seu caráter ou sua inteligência o fato de haverem sido transformados num grupo colocaos na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele tomado individualmente sentiria pensaria e agiria caso se encontrasse em estado de isolamento Há certas idéias e sentimentos que não surgem ou que não se transformam em atos exceto no caso de indivíduos que formam um grupo O grupo psicológico é um ser provisório formado por elementos heterogêneos que por um momento se combinam exatamente como as células que constituem um corpo vivo formam por sua reunião um novo ser que apresenta características muito diferentes daquelas possuídas por cada uma das células isoladamente Trad 1920 29 Tomaremos a liberdade de interromper a exposição de Le Bon com comentários nossos por conseguinte inseriremos uma observação nesse ponto Se os indivíduos do grupo se combinam numa unidade deve haver certamente algo para unilos e esse elo poderia ser precisamente a coisa que é característica de um grupo Mas Le Bon não responde a essa questão prossegue considerando a alteração que o indivíduo experimenta quando num grupo e a descreve em termos que se harmonizam bem com os postulados fundamentais de nossa própria psicologia profunda É fácil provar quanto o indivíduo que faz parte de um grupo difere do indivíduo isolado mas não é tão fácil descobrir as causas dessa diferença Para obter de qualquer modo um vislumbre delas é necessário em primeiro lugar trazer à mente a verdade estabelecida pela psicologia moderna a de que os fenômenos inconscientes desempenham papel inteiramente preponderante não apenas na vida orgânica mas também nas operações da inteligência A vida consciente da mente é de pequena importância em comparação com sua vida inconsciente O analista mais sutil o observador mais agudo dificilmente obtém êxito em descobrir mais do que um número muito pequeno dos motivos conscientes que determinam sua conduta Nossos atos conscientes são o produto de um substrato inconsciente criado na mente principalmente por influências hereditárias Esse substrato consiste nas inumeráveis características comuns transmitidas de geração a geração que constituem o gênio de uma raça Por detrás das causas confessadas de nossos atos jazem indubitavelmente causas secretas que não confessamos mas por detrás dessas causas secretas existem muitas outras mais secretas ainda ignoradas por nós próprios A maior parte de nossas ações cotidianas são resultados de motivos ocultos que fogem à nossa observação Ibid 30 Le Bon pensa que os dotes particulares dos indivíduos se apagam num grupo e que dessa maneira sua distintividade se desvanece O inconsciente racial emerge o que é heterogêneo submerge no que é homogêneo Como diríamos nós a superestrutura mental cujo desenvolvimento nos indivíduos apresenta tais dessemelhanças é removida e as funções inconscientes que são semelhantes em todos ficam expostas à vista Assim os indivíduos de um grupo viram a mostrar um caráter médio Mas Le Bon acredita que eles também apresentam novas características que não possuíam anteriormente e busca a razão disso em três fatores diferentes O primeiro é que o indivíduo que faz parte de um grupo adquire unicamente por considerações numéricas um sentimento de poder invencível que lhe permite renderse a instintos que estivesse ele sozinho teria compulsoriamente mantido sob coerção Ficará ele ainda menos disposto a controlarse pela consideração de que sendo um grupo anônimo e por conseqüência irresponsável o sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece inteiramente Ibid 33 Segundo nosso ponto de vista não precisamos atribuir tanta importância ao aparecimento de características novas Para nós seria bastante dizer que num grupo o indivíduo é colocado sob condições que lhe permitem arrojar de si as repressões de seus impulsos instintuais inconscientes As características aparentemente novas que então apresenta são na realidade as manifestações desse inconsciente no qual tudo o que é mau na mente humana está contido como uma predisposição Não há dificuldade alguma em compreender o desaparecimento da consciência ou do senso de responsabilidade nessas circunstâncias Há muito tempo é asserção nossa que a ansiedade social constitui a essência do que é chamado de consciência A segunda causa que é o contágio também intervém para determinar nos grupos a manifestação de suas características especiais e ao mesmo tempo a tendência que devem tomar O contágio é um fenômeno cuja presença é fácil estabelecer e difícil explicar Deve ser classificado entre aqueles fenômenos de ordem hipnótica que logo estudaremos Num grupo todo sentimento e todo ato são contagiosos e contagiosos em tal grau que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo Tratase de aptidão bastante contrária à sua natureza e da qual um homem dificilmente é capaz exceto quando faz parte de um grupo Ibid 33 Mais tarde basearemos uma importante conjectura nessa última afirmação Uma terceira causa de longe a mais importante determina nos indivíduos de um grupo características especiais que são às vezes inteiramente contrárias às apresentadas pelo indivíduo isolado Aludo àquela sugestionabilidade da qual além disso o contágio acima mencionado não é mais do que um efeito Para compreender esse fenômeno é necessário ter em mente certas recentes descobertas psicológicas Sabemos hoje que por diversos processos um indivíduo pode ser colocado numa condição em que havendo perdido inteiramente sua personalidade consciente obedece a todas as sugestões do operador que o privou dela e comete atos em completa contradição com seu caráter e hábitos As investigações mais cuidadosas parecem demonstrar que um indivíduo imerso por certo lapso de tempo num grupo em ação cedo se descobre seja em conseqüência da influência magnética emanada do grupo seja devido a alguma outra causa por nós ignorada num estado especial que se assemelha muito ao estado de fascinação em que o indivíduo hipnotizado se encontra nas mãos do hipnotizador A personalidade consciente desvaneceuse inteiramente a vontade e o discernimento se perderam Todos os sentimentos e o pensamento inclinamse na direção determinada pelo hipnotizador Esse também é aproximadamente o estado do indivíduo que faz parte de um grupo psicológico Ele já não se acha consciente de seus atos Em seu caso como no do sujeito hipnotizado ao mesmo tempo que certas faculdades são destruídas outras podem ser conduzidas a um alto grau de exaltação Sob a influência de uma sugestão empreenderá a realização de certos atos com irresistível impetuosidade Essa impetuosidade é ainda mais irresistível no caso dos grupos do que no do sujeito hipnotizado porque sendo a sugestão a mesma para todos os indivíduos do grupo ela ganha força pela reciprocidade Ibid 34 Vemos então que o desaparecimento da personalidade consciente a predominância da personalidade inconsciente a modificação por meio da sugestão e do contágio de sentimentos e idéias numa direção idêntica a tendência a transformar imediatamente as idéias sugeridas em atos estas vemos são as características principais do indivíduo que faz parte de um grupo Ele não é mais ele mesmo mas transformouse num autômato que deixou de ser dirigido pela sua vontade Ibid 35 Citei essa passagem tão integralmente a fim de tornar inteiramente claro que Le Bon explica a condição de um indivíduo num grupo como sendo realmente hipnótica e não faz simplesmente uma comparação entre os dois estados Não temos intenção de levantar qualquer objeção a esse argumento mas queremos apenas dar ênfase ao fato de que as duas últimas causas pelas quais um indivíduo se modifica num grupo o contágio e a alta sugestionabilidade não se encontram evidentemente no mesmo plano de modo que o contágio parece na realidade ser uma manifestação da sugestionabilidade Além disso os efeitos dos dois fatores não parecem ser nitidamente diferenciados no texto das observações de Le Bon Talvez possamos interpretar melhor seu enunciado se vincularmos o contágio aos efeitos dos membros do grupo tomados individualmente uns sobre os outros enquanto apontamos outra fonte para essas manifestações de sugestões no grupo as quais ele considera semelhantes aos fenômenos da influência hipnótica Mas que fonte Não podemos deixar de ficar impressionados por uma sensação de lacuna quando observarmos que um dos principais elementos da comparação a saber a pessoa que deve substituir o hipnotizador no caso do grupo não é mencionada na exposição de Le Bon Entretanto ele faz distinção entre essa influência da fascinação que permanece mergulhada na obscuridade e o efeito contagioso que os indivíduos exercem uns sobre os outros e através do qual a sugestão original é fortalecida Temos aqui outra importante comparação para ajudarnos a entender o indivíduo num grupo Além disso pelo simples fato de fazer parte de um grupo organizado um homem desce vários degraus na escada da civilização Isolado pode ser um indivíduo culto numa multidão é um bárbaro ou seja uma criatura que age pelo instinto Possui a espontaneidade a violência a ferocidade e também o entusiasmo e o heroísmo dos seres primitivos Ibid 36 Le Bon demorase então especialmente na redução da capacidade intelectual que um indivíduo experimenta quando se funde num grupo Abandonemos agora o indivíduo e voltemonos para a mente grupal tal como delineada por Le Bon Ela não apresenta um único aspecto que um psicanalista encontre qualquer dificuldade em situar ou em fazer derivar de sua fonte O próprio Le Bon nos mostra o caminho apontando para sua semelhança com a vida mental dos povos primitivos e das crianças ibid 40 Um grupo é impulsivo mutável e irritável É levado quase que exclusivamente por seu inconsciente Os impulsos a que um grupo obedece podem de acordo com as circunstâncias ser generosos ou cruéis heróicos ou covardes mas são sempre tão imperiosos que nenhum interesse pessoal nem mesmo o da autopreservação pode fazerse sentir ibid 41 Nada dele é premeditado Embora possa desejar coisas apaixonadamente isso nunca se dá por muito tempo porque é incapaz de perseverança Não pode tolerar qualquer demora entre seu desejo e a realização do que deseja Tem um sentimento de onipotência para o indivíduo num grupo a noção de impossibilidade desaparece Um grupo é extremamente crédulo e aberto à influência não possui faculdade crítica e o improvável não existe para ele Pensa por imagens que se chamam umas às outras por associação tal como surgem nos indivíduos em estados de imaginação livre e cuja concordância com a realidade jamais é conferida por qualquer órgão razoável Os sentimentos de um grupo são sempre muito simples e muito exagerados de maneira que não conhece a dúvida nem a incerteza Ele vai diretamente a extremos se uma suspeita é expressa ela instantaneamente se modifica numa certeza incontrovertível um traço de antipatia se transforma em ódio furioso ibid 56 Inclinado como é a todos os extremos um grupo só pode ser excitado por um estímulo excessivo Quem quer que deseje produzir efeito sobre ele não necessita de nenhuma ordem lógica em seus argumentos deve pintar nas cores mais fortes deve exagerar e repetir a mesma coisa diversas vezes Desde que não se acha em dúvida quanto ao que constitui verdade ou erro e além disso tem consciência de sua própria grande força um grupo é tão intolerante quanto obediente à autoridade Respeita a força e só ligeiramente pode ser influenciado pela bondade que encara simplesmente como uma forma de fraqueza O que exige de seus heróis é força ou mesmo violência Quer ser dirigido oprimido e temer seus senhores Fundamentalmente é inteiramente conservador e tem profunda aversão por todas as inovações e progressos e um respeito ilimitado pela tradição ibid 62 A fim de fazer um juízo correto dos princípios éticos do grupo há que levar em consideração o fato de que quando indivíduos se reúnem num grupo todas as suas inibições individuais caem e todos os instintos cruéis brutais e destrutivos que neles jaziam adormecidos como relíquias de uma época primitiva são despertados para encontrar gratificação livre Mas sob a influência da sugestão os grupos também são capazes de elevadas realizações sob forma de abnegação desprendimento e devoção a um ideal Ao passo que com os indivíduos isolados o interesse pessoal é quase a única força motivadora nos grupos ele muito raramente é proeminente É possível afirmar que um indivíduo tenha seus padrões morais elevados por um grupo ibid 65 Ao passo que a capacidade intelectual de um grupo está sempre muito abaixo da de um indivíduo sua conduta ética pode tanto elevarse muito acima da conduta deste último quanto cair muito abaixo dela Alguns outros aspectos da descrição de Le Bon mostram a uma clara luz quão justificada é a identificação da mente grupal com a mente dos povos primitivos Nos grupos as idéias mais contraditórias podem existir lado a lado e tolerarse mutuamente sem que nenhum conflito surja da contradição lógica entre elas Esse é também o caso da vida mental inconsciente dos indivíduos das crianças e dos neuróticos como a psicanálise há muito tempo indicou Um grupo ainda está sujeito ao poder verdadeiramente mágico das palavras que podem evocar as mais formidáveis tempestades na mente grupal sendo também capazes de apaziguálas ibid 117 A razão e os argumentos são incapazes de combater certas palavras e fórmulas Elas são proferidas com solenidade na presença dos grupos e assim que foram pronunciadas uma expressão de respeito se torna visível em todos os semblantes e todas as cabeças se curvam Por muitos são consideradas como forças naturais ou como poderes sobrenaturais Ibid 117 A esse respeito basta recordar os tabus sobre nomes entre os povos primitivos e os poderes mágicos que atribuem aos nomes e às palavras E finalmente os grupos nunca ansiaram pela verdade Exigem ilusões e não podem passar sem elas Constantemente dão ao que é irreal precedência sobre o real são quase tão intensamente influenciados pelo que é falso quanto pelo que é verdadeiro Possuem tendência evidente a não distinguir entre as duas coisas ibid 77 Já indicamos que essa predominância da vida da fantasia e da ilusão nascida de um desejo irrealizado é o fator dominante na psicologia das neuroses Descobrimos que aquilo por que os neuróticos se guiam não é a realidade objetiva comum mas a realidade psicológica Um sintoma histérico baseiase na fantasia em vez de na repetição da experiência real e o sentimento de culpa na neurose obsessiva fundamentase no fato de uma intenção má que nunca foi executada Na verdade tal como nos sonhos e na hipnose nas operações mentais de um grupo a função de verificação da realidade das coisas cai para o segundo plano em comparação com a força dos impulsos plenos de desejo com sua catexia afetiva O que Le Bon diz sobre o tema dos líderes de grupos é menos exaustivo e não nos permite elaborar tão claramente um princípio subjacente Pensa ele que assim que seres vivos se reúnem em certo número sejam eles um rebanho de animais ou um conjunto de seres humanos se colocam instintivamente sob a influência de um chefe ibid 134 Um grupo é um rebanho obediente que nunca poderia viver sem um senhor Possui tal anseio de obediência que se submete instintivamente a qualquer um que se indique a si próprio como chefe Embora dessa maneira as necessidades de um grupo o conduzam até meio caminho ao encontro de um líder este contudo deve ajustarse àquele em suas qualidades pessoais Deve ser fascinado por uma intensa fé numa idéia a fim de despertar a fé do grupo tem de possuir vontade forte e imponente que o grupo que não tem vontade própria possa dele aceitar Le Bon discute então os diferentes tipos de líderes e os meios pelos quais atuam sobre o grupo Em geral acredita que os líderes se fazem notados por meio das idéias em que eles próprios acreditam fanaticamente Além disso atribui tanto às idéias quanto aos líderes um poder misterioso e irresistível a que chama de prestígio O prestígio é uma espécie de domínio exercido sobre nós por um indivíduo um trabalho ou uma idéia Paralisa inteiramente nossas faculdades críticas e enchenos de admiração e respeito Parece que desperta um sentimento como o da fascinação na hipnose ibid 148 Le Bon faz distinção entre o prestígio adquirido ou artificial e o prestígio pessoal O primeiro se liga às pessoas em virtude de seu nome fortuna e reputação e a opiniões obras de arte etc em virtude da tradição Desde que em todos os casos ele remonta ao passado não nos pode ser de grande auxílio para a compreensão dessa influência enigmática O prestígio pessoal ligase a umas poucas pessoas que se tornam líderes por meio dele e tem o efeito de fazer com que todos as obedeçam como se fosse pelo funcionamento de alguma magia magnética Todo prestígio contudo depende também do sucesso e se perde em caso de fracasso ibid 159 Le Bon não dá a impressão de haver conseguido colocar a função do líder e a importância do prestígio completamente em harmonia com seu retrato brilhantemente executado da mente grupal III OUTRAS DESCRIÇÕES DA VIDA MENTAL COLETIVA Utilizamos a descrição de Le Bon à guisa de introdução por ajustarse tão bem à nossa própria psicologia na ênfase que dá à vida mental inconsciente Mas temos agora de acrescentar que na realidade nenhuma das afirmativas desse autor apresentou algo de novo Tudo o que diz em detrimento e depreciação das manifestações da mente grupal já fora dito por outros antes dele com igual nitidez e igual hostilidade e fora repetido em uníssono por pensadores estadistas e escritores desde os primeiros períodos da literatura As duas teses que abrangem as mais importantes das opiniões de Le Bon ou seja as que tocam na inibição coletiva do funcionamento intelectual e na elevação da afetividade nos grupos foram formuladas pouco antes por Sighele No fundo tudo o que resta como peculiar a Le Bon são as duas noções do inconsciente e da comparação com a vida mental dos povos primitivos e mesmo estas naturalmente já haviam sido com freqüência aludidas antes dele Contudo o que é mais a descrição e a estimativa da mente grupal tal como fornecidas por Le Bon e os outros de modo algum foram deixadas sem objeção Não há dúvida de que todos os fenômenos da mente grupal que acabaram de ser mencionados foram corretamente observados mas é também possível distinguir outras manifestações de formação de grupo que atuam em sentido exatamente contrário e das quais uma opinião muito mais elevada da mente grupal deve necessariamente decorrer O próprio Le Bon estava pronto a admitir que em certas circunstâncias os princípios éticos de um grupo podem ser mais elevados que os dos indivíduos que o compõem e que apenas as coletividades são capazes de um alto grau de desprendimento e devoção Ao passo que com os indivíduos isolados o interesse pessoal é quase a única força motivadora nos grupos ele muito raramente é proeminente Le Bon trad 1920 65 Outros escritores aduzem o fato de que apenas a sociedade prescreve quaisquer padrões éticos para o indivíduo enquanto que via de regra este fracassa de uma maneira ou de outra em mostrarse à altura de suas elevadas exigências Ou então indicam eles que em circunstâncias excepcionais pode surgir nas comunidades o fenômeno do entusiasmo que tornou possíveis as mais esplêndidas realizações grupais Quanto ao trabalho intelectual permanece um fato na verdade que as grandes decisões no domínio do pensamento e as momentosas descobertas e soluções de problemas só são possíveis ao indivíduo que trabalha em solidão Contudo mesmo a mente grupal é capaz de gênio criativo no campo da inteligência como é demonstrado acima de tudo pela própria linguagem bem como pelo folclore pelas canções populares e outros fatos semelhantes Permanece questão aberta além disso saber quanto o pensador ou o escritor individualmente devem ao estímulo do grupo em que vivem e se eles não fazem mais do que aperfeiçoar um trabalho mental em que os outros tiveram parte simultânea Frente a essas descrições completamente contraditórias talvez parecesse que o trabalho da psicologia de grupo estivesse fadado a chegar a um fim infrutífero Mas é fácil encontrar uma saída mais esperançosa para o dilema Uma série de estruturas bastante diferentes provavelmente se fundiram sob a expressão grupo e podem exigir que sejam distinguidas As assertivas de Sighele Le Bon e outros referemse a grupos de caráter efêmero que algum interesse passageiro apressadamente aglomerou a partir de diversos tipos de indivíduos As características dos grupos revolucionários especialmente os da grande Revolução Francesa influenciaram inequivocamente suas descrições As opiniões contrárias devem sua origem à consideração daqueles grupos ou associações estáveis em que a humanidade passa a sua vida e que se acham corporificados nas instituições da sociedade Os grupos do primeiro tipo encontramse com os do segundo no mesmo tipo de relação que um mar alto mas encapelado tem com uma ondulação de terreno McDougall em seu livro sobre The Group Mind A Mente Grupal 1920a parte da mesma contradição que acabou de ser mencionada e encontra uma solução para ela no fato da organização No caso mais simples diz ele o grupo não possui organização alguma ou uma que mal merece esse nome Descreve um grupo dessa espécie como sendo uma multidão Admite porém que uma multidão de seres humanos dificilmente pode reunirse sem possuir pelo menos os rudimentos de uma organização e que precisamente nesses grupos simples certos fatos fundamentais da psicologia coletiva podem ser observados com facilidade especial McDougall 1920a 22 Antes que os membros de uma multidão ocasional de pessoas possam constituir algo semelhante a um grupo no sentido psicológico uma condição tem de ser satisfeita esses indivíduos devem ter algo em comum uns com os outros um interesse comum num objeto uma inclinação emocional semelhante numa situação ou noutra e conseqüentemente gostaria eu de interpolar certo grau de influência recíproca ibid 23 Quanto mais alto o grau dessa homogeneidade mental mais prontamente os indivíduos constituem um grupo psicológico e mais notáveis são as manifestações da mente grupal O resultado mais notável e também o mais importante da formação de um grupo é a exaltação ou intensificação de emoção produzida em cada membro dele ibid 24 Segundo McDougall num grupo as emoções dos homens são excitadas até um grau que elas raramente ou nunca atingem sob outras condições e constitui experiência agradável para os interessados entregarse tão irrestritamente às suas paixões e assim fundiremse no grupo e perderem o senso dos limites de sua individualidade A maneira pela qual os indivíduos são assim arrastados por um impulso comum é explicada por McDougall através do que chama de princípio da indução direta da emoção por via da reação simpática primitiva ibid 25 ou seja através do contágio emocional com que já estamos familiarizados O fato é que a percepção dos sinais de um estado emocional é automaticamente talhada para despertar a mesma emoção na pessoa que os percebe Quanto maior for o número de pessoas em que a mesma emoção possa ser simultaneamente observada mais intensamente cresce essa compulsão automática O indivíduo perde seu poder de crítica e deixase deslizar para a mesma emoção Mas ao assim proceder aumenta a excitação das outras pessoas que produziram esse resultado nele e assim a carga emocional dos indivíduos se intensifica por interação mútua Achase inequivocamente em ação algo da natureza de uma compulsão a fazer o mesmo que os outros a permanecer em harmonia com a maioria Quanto mais grosseiros e simples são os impulsos emocionais mais aptos se encontram a propagarse dessa maneira através de um grupo ibid 39 Esse mecanismo de intensificação da emoção é favorecido por algumas outras influências que emanam dos grupos Um grupo impressiona um indivíduo como sendo um poder ilimitado e um perigo insuperável Momentaneamente ele substitui toda a sociedade humana que é a detentora da autoridade cujos castigos o indivíduo teme e em cujo benefício se submeteu a tantas inibições Élhe claramente perigoso colocarse em oposição a ele e será mais seguro seguir o exemplo dos que o cercam e talvez mesmo caçar com a matilha Em obediência à nova autoridade pode colocar sua antiga consciência fora de ação e entregarse à atração do prazer aumentado que é certamente obtido com o afastamento das inibições No todo portanto não é tão notável que vejamos um indivíduo num grupo fazendo ou aprovando coisas que teria evitado nas condições normais de vida e assim podemos mesmo esperar esclarecer um pouco da obscuridade tão freqüentemente coberta pela enigmática palavra sugestão McDougall não discute a tese relativa à inibição coletiva da inteligência nos grupos ibid 41 Diz que as mentes de inteligência inferior fazem com que as de ordem mais elevada desçam a seu próprio nível Estas últimas são obstruídas em sua atividade porque em geral a intensificação da emoção cria condições desfavoráveis para o trabalho intelectual correto e ademais porque os indivíduos são intimidados pelo grupo e sua atividade mental não se acha livre bem como porque há uma redução em cada indivíduo de seu senso de responsabilidade por seus próprios desempenhos O juízo com que McDougall resume o comportamento psicológico de um grupo não organizado simples não é mais amistoso do que o de Le Bon Tal grupo é excessivamente emocional impulsivo violento inconstante contraditório e extremado em sua ação apresentando apenas as emoções rudes e os sentimentos menos refinados extremamente sugestionável descuidado nas deliberações apressado nos julgamentos incapaz de qualquer forma que não seja a mais simples e imperfeita das formas de raciocínio facilmente influenciado e levado desprovido de autoconsciência despido de autorespeito e de senso de responsabilidade e apto a ser conduzido pela consciência de sua própria força de maneira que tende a produzir todas as manifestações que aprendemos a esperar de qualquer poder irresponsável e absoluto Daí seu comportamento assemelharse mais ao de uma criança indisciplinada ou de um selvagem passional e desassistido numa situação estranha do que ao de seu membro médio e nos piores casos ser mais semelhante ao de um animal selvagem que ao de seres humanos Ibid 45 De uma vez que McDougall contrasta o comportamento de um grupo altamente organizado com o que acabou de ser descrito estaremos particularmente interessados em saber no que essa organização consiste e por que fatores é produzida O autor enumera cinco condições principais para a elevação da vida mental coletiva a um nível mais alto A primeira e fundamental condição é que haja certo grau de continuidade de existência no grupo Esta pode ser material ou formal material se os mesmos indivíduos persistem no grupo por certo tempo e formal se se desenvolveu dentro do grupo um sistema de posições fixas que são ocupadas por uma sucessão de indivíduos A segunda condição é que em cada membro do grupo se forme alguma idéia definida da natureza composição funções e capacidades do grupo de maneira que a partir disso possa desenvolver uma relação emocional com o grupo como um todo A terceira é que o grupo deva ser colocado em interação talvez sob a forma de rivalidade com outros grupos semelhantes mas que dele difiram em muitos aspectos A quarta é que o grupo possua tradições costumes e hábitos especialmente tradições costumes e hábitos tais que determinem a relação de seus membros uns com os outros A quinta é que o grupo tenha estrutura definida expressa na especialização e diferenciação das funções de seus constituintes De acordo com McDougall se essas condições forem satisfeitas afastamse as desvantagens psicológicas das formações de grupo A redução coletiva da capacidade intelectual é evitada retirandose do grupo o desempenho das tarefas intelectuais e reservandoas para alguns membros dele Parecenos que a condição que McDougall designa como sendo a organização de um grupo pode mais justificadamente ser descrita de outra maneira O problema consiste em saber como conseguir para o grupo exatamente aqueles aspectos que eram característicos do indivíduo e nele se extinguiram pela formação do grupo pois o indivíduo fora do grupo primitivo possuía sua própria continuidade sua autoconsciência suas tradições e seus costumes suas próprias e particulares funções e posições e mantinhase apartado de seus rivais Devido à sua entrada num grupo inorganizado perdeu essa distintividade por certo tempo Se assim reconhecemos que o objetivo é aparelhar o grupo com os atributos do indivíduo lembrarnosemos de uma valiosa observação de Trotter no sentido de que a tendência para a formação de grupos é biologicamente uma continuação do caráter multicelular de todos os organismos superiores IV SUGESTÃO E LIBIDO Partimos do fato fundamental de que o indivíduo num grupo está sujeito através da influência deste ao que com freqüência constitui profunda alteração em sua atividade mental Sua submissão à emoção tornase extraordinariamente intensificada enquanto que sua capacidade intelectual é acentuadamente reduzida com ambos os processos evidentemente dirigindose para uma aproximação com os outros indivíduos do grupo e esse resultado só pode ser alcançado pela remoção daquelas inibições aos instintos que são peculiares a cada indivíduo e pela resignação deste àquelas expressões de inclinações que são especialmente suas Aprendemos que essas conseqüências amiúde importunas são até certo ponto pelo menos evitadas por uma organização superior do grupo mas isto não contradiz o fato fundamental da psicologia de grupo as duas teses relativas à intensificação das emoções e à inibição do intelecto nos grupos primitivos Nosso interesse dirigese agora para a descoberta da explicação psicológica dessa alteração mental que é experimentada pelo indivíduo num grupo É claro que fatores racionais tais como a intimidação do indivíduo que já foi mencionada ou seja a ação de seu instinto de autopreservação não abrangem os fenômenos observáveis Além disso o que nos é oferecido como explicação por autoridade em sociologia e psicologia de grupo é sempre a mesma coisa embora receba diversos nomes a palavra mágica sugestão Tarde 1890 chamaa de imitação mas não podemos deixar de concordar com um escritor que protesta que a imitação se subordina ao conceito de sugestão sendo na realidade um de seus resultados Brugeilles 1913 Le Bon faz com que a origem de todas as enigmáticas características dos fenômenos sociais remonte a dois fatores a sugestão mútua dos indivíduos e o prestígio dos líderes Contudo mais uma vez o prestígio só é reconhecível por sua capacidade de evocar a sugestão McDougall por um momento nos dá a impressão de que seu princípio da indução primitiva de emoção pode permitirnos passar sem a suposição da sugestão Numa consideração mais detida porém somos forçados a perceber que esse princípio não faz mais do que as familiares afirmativas sobre imitação ou contágio exceto pela decidida ênfase dada ao fator emocional Não há dúvida de que existe algo em nós que quando nos damos conta de sinais de emoção em alguém mais tende a fazernos cair na mesma emoção contudo quão amiúde não nos opomos com sucesso a isso resistimos à emoção e reagimos de maneira inteiramente contrária Por que portanto invariavelmente cedemos a esse contágio quando nos encontramos num grupo Mais uma vez teríamos de dizer que o que nos compele a obedecer a essa tendência é a imitação e o que induz a emoção em nós é a influência sugestiva do grupo Ademais inteiramente à parte disso McDougall não nos permite escapar à sugestão aprendemos com ele bem como com outros autores que os grupos se distinguem por sua especial sugestionabilidade Estaremos assim preparados para a assertiva de que a sugestão ou mais corretamente a sugestionabilidade é na realidade um fenômeno irredutível e primitivo um fato fundamental na vida mental do homem Essa também era a opinião de Bernheim de cuja espantosa arte fui testemunha em 1889 Posso porém lembrarme de que mesmo então sentia uma hostilidade surda contra essa tirania da sugestão Quando um paciente que não se mostrava dócil enfrentava o grito Mas o que está fazendo Vou vous contresuggestionnez eu dizia a mim mesmo que isso era uma injustiça evidente e um ato de violência porque o homem certamente tinha direito a contrasugestões se estavam tentando dominálo com sugestões Mais tarde minha resistência tomou o sentido de protestar contra a opinião de que a própria sugestão que explicava tudo era isenta de explicação Pensando nisso eu repetia a velha adivinhação Christoph trug Christum Christus trug die ganze Welt Sag wo hat Christoph Damals hin den Fuss gestellt Christophorus Christum sed Christus sustulit orbem Constiterit pedibus dic ubi Christophorus Agora que mais uma vez abordo o enigma da sugestão depois que me mantive afastado dele por cerca de trinta anos descubro que não houve mudança na situação Há uma exceção a ser feita a essa afirmativa exceção que dá testemunho exatamente da influência da psicanálise Observo que esforços particulares estão sendo efetuados para formular corretamente o conceito de sugestão isto é fixar o emprego convencional do nome por exemplo McDougall 1920b E isso de maneira alguma é supérfluo porque a palavra está adquirindo uso casa vez mais impreciso em alemão e cedo virá a designar uma espécie de influência por qualquer que seja tal como acontece em inglês em que sugerir e sugestão correspondem aos nossos nahelegen e Anregung Entretanto não houve explicação da natureza da sugestão ou seja das condições sob as quais a influência sem fundamento lógico e adequado se realiza Eu não fugiria à tarefa de sustentar aquela afirmativa por uma análise da literatura dos últimos trinta anos se não me achasse ciente de que está sendo empreendida muito próximo uma exaustiva investigação que tem por objetivo a realização dessa mesma tarefa Em vez disso tentarei utilizar o conceito de libido que nos prestou bons serviços no estudo das psiconeuroses a fim de lançar luz sobre a psicologia de grupo Libido é expressão extraída da teoria das emoções Damos esse nome à energia considerada como uma magnitude quantitativa embora na realidade não seja presentemente mensurável daqueles instintos que têm a ver com tudo o que pode ser abrangido sob a palavra amor O núcleo do que queremos significar por amor consiste naturalmente e é isso que comumente é chamado de amor e que os poetas cantam no amor sexual com a união sexual como objetivo Mas não isolamos disso que em qualquer caso tem sua parte no nome amor por um lado o amor próprio e por outro o amor pelos pais e pelos filhos a amizade e o amor pela humanidade em geral bem como a devoção a objetos concretos e a idéias abstratas Nossa justificativa reside no fato de que a pesquisa psicanalítica nos ensinou que todas essas tendências constituem expressão dos mesmos impulsos instintuais nas relações entre os sexos esses impulsos forçam seu caminho no sentido da união sexual mas em outras circunstâncias são desviados desse objetivo ou impedidos de atingilo embora sempre conservem o bastante de sua natureza original para manter reconhecível sua identidade como em características tais como o anseio de proximidade e o autosacrifício Somos de opinião pois que a linguagem efetuou uma unificação inteiramente justificável ao criar a palavra amor com seus numerosos usos e que não podemos fazer nada melhor senão tomála também como base de nossas discussões e exposições científicas Por chegar a essa decisão a psicanálise desencadeou uma tormenta de indignação como se fosse culpada de um ato de ultrajante inovação Contudo não fez nada de original em tomar o amor nesse sentido mais amplo Em sua origem função e relação com o amor sexual o Eros do filósofo Platão coincide exatamente com a força amorosa a libido da psicanálise tal como foi pormenorizadamente demonstrado por Nachmansohn 1915 e Pfister 1921 e quando o apóstolo Paulo em sua famosa Epístola aos Coríntios louva o amor sobre tudo o mais certamente o entende no mesmo sentido mais amplo Mas isso apenas demonstra que os homens nem sempre levam a sério seus grandes pensadores mesmo quando mais professam admirálos A psicanálise portanto dá a esses instintos amorosos o nome de instintos sexuais a potiori e em razão de sua origem A maioria das pessoas instruídas encarou essa nomenclatura como um insulto e fez sua vingança retribuindo à psicanálise a pecha de pansexualismo Qualquer pessoa que considere o sexo como algo mortificante e humilhante para a natureza humana está livre para empregar as expressões mais polidas Eros e erótico Eu poderia ter procedido assim desde o começo e me teria poupado muita oposição Mas não quis fazêlo porque me apraz evitar fazer concessões à pusilanimidade Nunca se pode dizer até onde esse caminho nos levará cedese primeiro em palavras e depois pouco a pouco em substância também Não posso ver mérito algum em se ter vergonha do sexo a palavra grega Eros destinada a suavizar a afronta ao final nada mais é do que tradução de nossa palavra alemã Liebe amor e finalmente aquele que sabe esperar não precisa de fazer concessões Tentaremos nossa sorte então com a suposição de que as relações amorosas ou para empregar expressão mais neutra os laços emocionais constituem também a essência da mente grupal Recordemos que as autoridades não fazem menção a nenhuma dessas relações Aquilo que lhes corresponderia está evidentemente oculto por detrás do abrigo do biombo da sugestão Em primeira instância nossa hipótese encontra apoio em duas reflexões de rotina Primeiro a de que um grupo é claramente mantido unido por um poder de alguma espécie e a que poder poderia essa façanha ser mais bem atribuída do que a Eros que mantém unido tudo o que existe no mundo Segundo a de que se um indivíduo abandona a sua distintividade num grupo e permite que seus outros membros o influenciem por sugestão isso nos dá a impressão de que o faz por sentir necessidade de estar em harmonia com eles de preferência a estar em oposição a eles de maneira que afinal de contas talvez o faça ihnen zu Liebe V DOIS GRUPOS ARTIFICIAIS A IGREJA E O EXÉRCITO Daquilo que sabemos sobre a morfologia dos grupos podemos recordar que é possível distinguir tipos muito diferentes de grupos e linhas opostas em seu desenvolvimento Há grupos muito efêmeros e outros extremamente duradouros grupos homogêneos constituídos pelos mesmos tipos de indivíduos e grupos não homogêneos grupos naturais e grupos artificiais que exigem uma força externa para mantêlos reunidos grupos primitivos e grupos altamente organizados com estrutura definida Entretanto por razões ainda não explicadas gostaríamos de dar ênfase especial a uma distinção a que os que escreveram sobre o assunto inclinaramse a conceder muito pouca atenção refirome à distinção existente entre grupos sem líderes e grupos com líderes E em completa oposição à prática costumeira não escolherei como nosso ponto de partida uma formação de grupo relativamente simples mas começarei por grupos altamente organizados permanentes e artificiais Os mais interessantes exemplos de tais estruturas são as Igrejas comunidades de crentes e os exércitos Uma Igreja e um exército são grupos artificiais isto é uma certa força externa é empregada para impedilos de desagregarse e para evitar alterações em sua estrutura Via de regra a pessoa não é consultada ou não tem escolha sobre se deseja ou não ingressar em tal grupo qualquer tentativa de abandonálo se defronta geralmente com a perseguição ou severas punições ou possui condições inteiramente definidas a ela ligadas Achase inteiramente fora de nosso interesse atual indagar a razão por que essas associações precisam de tais salvaguardas especiais Somos atraídos apenas por uma circunstância a saber a de que certos fatos muito mais ocultos em outros casos podem ser observados de modo bastante claro nesses grupos altamente organizados que são protegidos da dissolução pela maneira já mencionadaNuma Igreja e podemos com proveito tomar a Igreja Católica como exemplo típico bem como num exército por mais diferentes que ambos possam ser em outros aspectos prevalece a mesma ilusão de que há um cabeça na Igreja Católica Cristo num exército o comandantechefe que ama todos os indivíduos do grupo com um amor igual Tudo depende dessa ilusão se ela tivesse de ser abandonada então tanto a Igreja quanto o exército se dissolveriam até onde a força externa lhes permitisse fazêlo Esse amor igual foi expressamente enunciado por Cristo Quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos a mim o fizestes Ele colocase para cada membro do grupo de crentes na relação de um bondoso irmão mais velho é seu pai substituto Todas as exigências feitas ao indivíduo derivam desse amor de Cristo Um traço democrático perpassa pela Igreja pela própria razão de que perante Cristo todos são iguais e todos possuem parte igual de seu amor Não é sem profunda razão que se invoca a semelhança entre a comunidade cristã e uma família e que os crentes chamamse a si mesmos de irmãos em Cristo isto é irmãos através do amor que Cristo tem por eles Não há dúvida de que o laço que une cada indivíduo a Cristo é também a causa do laço que os une uns aos outros A mesma coisa se aplica a um exército O comandantechefe é um pai que ama todos os soldados igualmente e por essa razão eles são camaradas entre si O exército difere estruturalmente da Igreja por comporse de uma série de tais grupos Todo capitão é por assim dizer o comandantechefe e o pai de sua companhia e assim também todo oficial inferior o de sua unidade É verdade que uma hierarquia semelhante foi construída na Igreja contudo não desempenha nela economicamente o mesmo papel pois um maior conhecimento e cuidado quanto aos indivíduos pode ser atribuído a Cristo mas não a um comandantechefe humano Levantarseá justificadamente uma objeção contra essa concepção da estrutura libidinal de um exército com base no fato de nela não se ter encontrado lugar para idéias como as do próprio país da glória nacional etc de tanta importância para manter unido um exército A resposta é que esse é um caso diferente de laço grupal e não mais um laço simples porque os exemplos dos grandes generais como César Wallenstein ou Napoleão mostram que tais idéias não são indispensáveis à existência de um exército Tocaremos dentro em pouco na possibilidade de um líder ser substituído por uma idéia dominante e nas relações entre ambos Parece que o desprezo desse fator libidinal num exército mesmo quando não constitui o único fator em atuação não é apenas uma omissão teórica mas também um perigo prático O militarismo prussiano que era exatamente tão carente de psicologia quanto a ciência alemã pode ter sofrido as consequências disso na primeira Guerra Mundial Sabemos que as neuroses de guerra que assolaram o exército alemão foram identificadas como sendo um protesto do indivíduo contra o papel que se esperava que ele desempenhasse no exército e de acordo com a comunicação de Simmel 1918 o duro tratamento dos soldados pelos seus superiores pode ser considerado como a principal entre as forças motivadoras da moléstia Se a importância das reivindicações da libido no tocante a isso houvesse sido mais bem apreciada provavelmente não se teria acreditado tão facilmente nas fantásticas promessas dos Quatorze Pontos do presidente americano e o esplêndido instrumento não se teria rompido nas mãos dos líderes alemães É de notar que nesses dois grupos artificiais cada indivíduo está ligado por laços libidinais por um lado ao líder Cristo o comandantechefe e por outro aos demais membros do grupo Como esses dois laços se relacionam se são da mesma espécie e do mesmo valor e como devem ser descritos psicologicamente constituem questões que devemos reservar para investigação subseqüente Mas já agora nos aventuraremos a fazer uma leve censura contra os escritores anteriores por não terem apreciado suficientemente a importância do líder na psicologia de grupo enquanto que nossa própria escolha disso como primeiro tema de investigação nos colocou numa posição mais favorável Pareceria que nos achamos no caminho certo para uma explicação do principal fenômeno da psicologia de grupo a falta de liberdade do indivíduo num grupo Se cada indivíduo está preso em duas direções por um laço emocional tão intenso não encontraremos dificuldade em atribuir a essa circunstância a alteração e a limitação que foram observadas em sua personalidade Uma sugestão no mesmo sentido a de que a essência de um grupo reside nos laços libidinais que nele existem pode também ser encontrada no fenômeno do pânico que se acha mais bem estudado nos grupos militares Surge o pânico se um grupo desse tipo se desintegra Suas características são a de que as ordens dadas pelos superiores não são mais atendidas e a de que cada indivíduo se preocupa apenas consigo próprio sem qualquer consideração pelos outros Os laços mútuos deixaram de existir e liberase um medo gigantesco e insensato Nesse ponto mais uma vez farseá naturalmente a objeção de que ocorre antes exatamente o contrário e a de que o medo tornouse grande a ponto de poder desprezar todos os laços e todos os sentimentos de consideração pelos outros McDougall 1920a 24 chegou mesmo a utilizar o pânico embora não o pânico militar como exemplo típico daquela intensificação da emoção pelo contágio indução primária a que dá tanta ênfase Não obstante porém esse método racional de explicação é aqui inteiramente inadequado A própria questão que necessita de explicação é saber por que o medo se torna tão gigantesco A magnitude do perigo não pode ser a responsável porque o mesmo exército que agora tomba vítima de pânico pode anteriormente ter enfrentado perigos iguais ou maiores com sucesso total pertence à própria essência do pânico não apresentar relação com o perigo que ameaça e irromper freqüentemente nas ocasiões mais triviais Se um indivíduo com medo pânico começa a se preocupar apenas consigo próprio dá testemunho ao fazêlo do fato de que os laços emocionais que até então haviam feito o perigo parecerlhe mínimo cessaram de existir Agora que está sozinho a enfrentar o perigo pode certamente achálo maior Dessa maneira o fato é que o medo pânico pressupõe relaxamento na estrutura libidinal do grupo e reage a esse relaxamento de maneira justificável e que a conceitação contrária ou seja a de que os laços libidinais do grupo são destruídos devido ao medo em face do perigo pode ser refutada A afirmativa de que o medo num grupo é aumentado em proporções enormes através da indução contágio de modo algum é contraditada por essas observações A conceituação de McDougall atende completamente ao caso quando o perigo é realmente grande e o grupo não possui fortes laços emocionais condições que são preenchidas por exemplo quando irrompe um incêndio num teatro ou numa casa de diversões Mas o caso verdadeiro instrutivo e que pode ser mais bem empregado para nossos fins é o mencionado acima no qual um corpo de tropa irrompe em pânico embora o perigo não tenha aumentado além de um grau que é costumeiro e que anteriormente já foi amiúde enfrentado Não é de esperar que o uso da palavra pânico seja claro e determinado sem ambigüidade Às vezes ela é utilizada para descrever qualquer medo coletivo outras até mesmo o medo no indivíduo quando ele excede todos os limites e com freqüência a palavra parece reservada para os casos em que a irrupção do medo não é justificada pela ocasião Tomando a palavra pânico no sentido de medo coletivo podemos estabelecer uma analogia de grandes conseqüências No indivíduo o medo é provocado seja pela magnitude de um perigo seja pela cessação dos laços emocionais catexias libidinais este último é o caso do medo neurótico ou ansiedade Exatamente da mesma maneira o pânico surge seja devido a um aumento do perigo comum seja ao desaparecimento dos laços emocionais que mantêm unido o grupo e esse último caso é análogo ao da ansiedade neurótica Qualquer pessoa que como McDougall 1920 descreva o pânico como uma das funções mais claras da mente grupal chega à posição paradoxal de que essa mente grupal se extingue numa de suas mais notáveis manifestações É impossível duvidar de que o pânico signifique a desintegração de um grupo ele envolve a cessação de todos os sentimentos de consideração que os membros do grupo sob outros aspectos mostram uns para com os outros A ocasião típica da irrupção de pânico assemelhase muito à que é representada na paródia de Nestroy da peça de Hebbel sobre Judite e Holofernes Um soldado brada O general perdeu a cabeça e imediatamente todos os assírios empreendem a fuga A perda do líder num sentido ou noutro o nascimento de suspeitas sobre ele trazem a irrupção do pânico embora o perigo permaneça o mesmo os laços mútuos entre os membros do grupo via de regra desaparecem ao mesmo tempo que o laço com seu líder O grupo desvanecese em poeira como uma Gota do Príncipe Rupert quando uma de suas extremidades é partida A dissolução de um grupo religioso não é tão fácil de observar Pouco tempo atrás caiume nas mãos um romance inglês de origem católica recomendado pelo Bispo de Londres com o título When It Was Dark Quando Estava Escuro Esse romance fornecia um hábil e segundo me pareceu convincente relato de tal possibilidade e suas consequências O romance que pretende relacionarse com os dias de hoje conta como uma conspiração de inimigos da pessoa de Cristo e da fé cristã teve êxito em conseguir que um sepulcro fosse descoberto em Jerusalém Nesse sepulcro encontrase uma inscrição em que José de Arimatéia confessa que por razões de piedade retirou secretamente o corpo de Cristo de sua sepultura no terceiro dia após o sepultamento e enterrouo naquele lugar A ressurreição de Cristo e sua natureza divina são dessa maneira refutadas e o resultado da descoberta arqueológica é uma convulsão na civilização européia e um extraordinário aumento em todos os crimes e atos de violência os quais só cessam quando a conspiração dos falsificadores é revelada O fenômeno que acompanha a dissolução que aqui se supõe dominar um grupo religioso não é o medo para o qual falta a ocasião Em vez dele impulsos cruéis e hostis para com outras pessoas fazem seu aparecimento impulsos que devido ao amor equânime de Cristo haviam sido anteriormente incapazes de fazêlo Mas mesmo durante o reino de Cristo aqueles que não pertencem à comunidade de crentes que não o amam e a quem ele não ama permanecem fora de tal laço Desse modo uma religião mesmo que se chame a si mesma de religião do amor tem de ser dura e inclemente para com aqueles que a ela não pertencem Fundamentalmente na verdade toda religião é dessa mesma maneira uma religião de amor para todos aqueles a quem abrange ao passo que a crueldade e a intolerância para com os que não lhes pertencem são naturais a todas as religiões Por mais difícil que possamos achálo pessoalmente não devemos censurar os crentes severamente demais por causa disso as pessoas que são descrentes ou indiferentes estão psicologicamente em situação muito melhor nessa questão da crueldade e da intolerância Se hoje a intolerância não mais se apresenta tão violenta e cruel como em séculos anteriores dificilmente podemos concluir que ocorreu uma suavização nos costumes humanos A causa deve ser antes achada no inegável enfraquecimento dos sentimentos religiosos e dos laços libidinais que deles dependem Se outro laço grupal tomar o lugar do religioso e o socialista parece estar obtendo sucesso em conseguir isso haverá então a mesma intolerância para com os profanos que ocorreu na época das Guerras de Religião e se diferenças entre opiniões científicas chegassem um dia a atingir uma significação semelhante para grupos o mesmo resultado se repetiria mais uma vez com essa nova motivação VI OUTROS PROBLEMAS E LINHAS DE TRABALHO Até aqui consideramos dois grupos artificiais e descobrimos que ambos são dominados por laços emocionais de dois tipos Um destes o laço com o líder parece pelo menos para esses casos ser um fator mais dominante do que o outro que é mantido entre os membros do grupo Ora muito mais resta a ser examinado e descrito na morfologia dos grupos Teremos de partir do fato verificado segundo o qual uma simples reunião de pessoas não constitui um grupo enquanto esses laços não se tiverem estabelecido nele teremos porém de admitir que em qualquer reunião de pessoas a tendência a formar um grupo psicológico pode muito facilmente vir à tona Teremos de conceder atenção aos diferentes tipos de grupos mais ou menos estáveis que surgem espontaneamente e estudar as condições de sua origem e dissolução Teremos de nos interessar acima de tudo pela distinção existente entre os grupos que possuem um líder e os grupos sem líder Teremos de considerar se os grupos com líderes talvez não sejam os mais primitivos e completos se nos outros uma idéia uma abstração não pode tomar o lugar do líder estado de coisas para o qual os grupos religiosos com seu chefe invisível constituem etapa transitória e se uma tendência comum um desejo em que certo número de pessoas tenha uma parte não poderá da mesma maneira servir de sucedâneo Essa abstração ainda poderá acharse mais ou menos completamente corporificada na figura do que poderíamos chamar de líder secundário e interessantes variações surgiriam da relação entre a idéia e o líder O líder ou a idéia dominante poderiam também por assim dizer ser negativos o ódio contra uma determinada pessoa ou instituição poderia funcionar exatamente da mesma maneira unificadora e evocar o mesmo tipo de laços emocionais que a ligação positiva Surgiria então a questão de saber se o líder é realmente indispensável à essência de um grupo e outras ainda além dessa Contudo todas essas questões que podem além disso ter sido apenas parcialmente tratadas na literatura sobre psicologia de grupo não conseguirão desviar nosso interesse dos problemas psicológicos fundamentais com que nos defrontamos na estrutura de um grupo E nossa atenção será atraída em primeiro lugar por uma consideração que promete levarnos da maneira mais direta a uma prova de que os laços libidinais são o que caracteriza um grupo Mantenhamos perante nós a natureza das relações emocionais que existem entre os homens em geral De acordo com o famoso símile schopenhaueriano dos porcosespinhos que se congelam nenhum deles pode tolerar uma aproximação demasiado íntima com o próximo As provas da psicanálise demonstram que quase toda relação emocional íntima entre duas pessoas que perdura por certo tempo casamento amizade as relações entre pais e filhos contém um sedimento de sentimentos de aversão e hostilidade o qual só escapa à percepção em consequência da repressão Isso se acha menos disfarçado nas altercações comuns entre sócios comerciais ou nos resmungos de um subordinado em relação a seu superior A mesma coisa acontece quando os homens se reúnem em unidades maiores Cada vez que duas famílias se vinculam por matrimônio cada uma delas se julga superior ou de melhor nascimento do que a outra De duas cidades vizinhas cada uma é a mais ciumenta rival da outra cada pequeno cantão encara os outros com desprezo Raças estreitamente aparentadas mantêmse a certa distância uma da outra o alemão do sul não pode suportar o alemão setentrional o inglês lança todo tipo de calúnias sobre o escocês o espanhol despreza o português Não ficamos mais espantados que diferenças maiores conduzam a uma repugnância quase insuperável tal como a que o povo gaulês sente pelo alemão o ariano pelo semita e as raças brancas pelos povos de cor Quando essa hostilidade se dirige contra pessoas que de outra maneira são amadas descrevemola como ambivalência de sentimentos e explicamos o fato provavelmente de maneira demasiadamente racional por meio das numerosas ocasiões para conflitos de interesse que surgem precisamente em tais relações mais próximas Nas antipatias e aversões indisfarçadas que as pessoas sentem por estranhos com quem têm de tratar podemos identificar a expressão do amor a si mesmo do narcisismo Esse amor a si mesmo trabalha para a preservação do indivíduo e comportase como se a ocorrência de qualquer divergência de suas próprias linhas específicas de desenvolvimento envolvesse uma crítica delas e uma exigência de sua alteração Não sabemos por que tal sensitividade deva dirigirse exatamente a esses pormenores de diferenciação mas é inequívoco que com relação a tudo isso os homens dão provas de uma presteza a odiar de uma agressividade cuja fonte é desconhecida e à qual se fica tentado a atribuir um caráter elementar Mas quando um grupo se forma a totalidade dessa intolerância se desvanece temporária ou permanentemente dentro do grupo Enquanto uma formação de grupo persiste ou até onde ela se estende os indivíduos do grupo comportamse como se fossem uniformes toleram as peculiaridades de seus outros membros igualamse a eles e não sentem aversão por eles Uma tal limitação do narcisismo de acordo com nossas conceituações teóricas só pode ser produzida por um determinado fator um laço libidinal com outras pessoas O amor por si mesmo só conhece uma barreira o amor pelos outros o amor por objetos Levantarseá imediatamente a questão de saber se a comunidade de interesse em si própria sem qualquer adição de libido não deve necessariamente conduzir à tolerância das outras pessoas e à consideração para com elas Essa objeção pode ser enfrentada pela resposta de que não obstante nenhuma limitação duradoura do narcisismo é efetuada dessa maneira visto que essa tolerância não persiste por mais tempo do que o lucro imediato obtido pela colaboração de outras pessoas Contudo a importância prática desse debate é menor do que se poderia supor porque a experiência demonstrou que nos casos de colaboração se formam regularmente laços libidinais entre os companheiros de trabalho laços que prolongam e solidificam a relação entre eles até um ponto além do que é simplesmente lucrativo A mesma coisa ocorre nas relações sociais dos homens como se tornou familiar à pesquisa psicanalítica no decurso do desenvolvimento da libido individual A libido se liga à satisfação das grandes necessidades vitais e escolhe como seus primeiros objetos as pessoas que têm uma parte nesse processo E no desenvolvimento da humanidade como um todo do mesmo modo que nos indivíduos só o amor atua como fator civilizador no sentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo E isso é verdade tanto do amor sexual pelas mulheres com todas as obrigações que envolve de não causar dano às coisas que são caras às mulheres quanto do amor homossexual dessexualizado e sublimado por outros homens que se origina do trabalho em comum Se assim nos grupos o amor a si mesmo narcisista está sujeito a limitações que não atuam fora deles isso é prova irresistível de que a essência de uma formação grupal consiste em novos tipos de laços libidinais entre os membros do grupo Nosso interesse nos conduz agora à premente questão de saber qual possa ser a natureza desses laços que existem nos grupos No estudo psicanalítico das neuroses ocupamonos até aqui quase exclusivamente com os laços com objetos feitos pelos instintos amorosos que ainda perseguem objetivos diretamente sexuais Nos grupos evidentemente não se pode falar de objetivos sexuais dessas espécies Preocupamonos aqui com instintos amorosos que foram desviados de seus objetivos originais embora não atuem com menor energia devido a isso Ora no âmbito das habituais catexias sexuais de objeto já observamos fenômenos que representam um desvio do instinto de seu objetivo sexual Descrevemos esses fenômenos como gradações do estado de estar amando e reconhecemos que elas envolvem certa usurpação do ego Voltaremos agora mais de perto nossa atenção para esses fenômenos de estar enamorado ou amando na firme expectativa de neles encontrar condições que possam ser transferidas para os laços existentes nos grupos Mas gostaríamos também de saber se esse tipo de catexia de objeto tal como a conhecemos na vida sexual representa a única maneira de laço emocional com outras pessoas ou se devemos levar em consideração outros mecanismos desse tipo Na verdade aprendemos da psicanálise que existem realmente outros mecanismos para os laços emocionais as chamadas identificações processos insuficientemente conhecidos e difíceis de descrever cuja investigação nos manterá afastados por algum tempo do tema da psicologia de grupo VII IDENTIFICAÇÃO A identificação é conhecida pela psicanálise como a mais remota expressão de um laço emocional com outra pessoa Ela desempenha um papel na história primitiva do complexo de Édipo Um menino mostrará interesse especial pelo pai gostaria de crescer como ele ser como ele e tomar seu lugar em tudo Podemos simplesmente dizer que toma o pai como seu ideal Este comportamento nada tem a ver com uma atitude passiva ou feminina em relação ao pai ou aos indivíduos do sexo masculino em geral pelo contrário é tipicamente masculina Combinase muito bem com o complexo de Édipo cujo caminho ajuda a preparar Ao mesmo tempo que essa identificação com o pai ou pouco depois o menino começa a desenvolver uma catexia de objeto verdadeira em relação à mãe de acordo com o tipo anaclítico de ligação Apresenta então portanto dois laços psicologicamente distintos uma catexia de objeto sexual e direta para com a mãe e uma identificação com o pai que o toma como modelo Ambos subsistem lado a lado durante certo tempo sem qualquer influência ou interferência mútua Em consequência do avanço irresistível no sentido de uma unificação da vida mental eles acabam por reunirse e o complexo de Édipo normal originase de sua confluência O menino nota que o pai se coloca em seu caminho em relação à mãe Sua identificação com eles assume então um colorido hostil e se identifica com o desejo de substituílo também em relação à mãe A identificação na verdade é ambivalente desde o início pode tornarse expressão de ternura com tanta facilidade quanto um desejo do afastamento de alguém Comportase como um derivado da primeira fase da organização da libido da fase oral em que o objeto que prezamos e pelo qual ansiamos é assimilado pela ingestão sendo dessa maneira aniquilado como tal O canibal como sabemos permaneceu nessa etapa ele tem afeição devoradora por seus inimigos e só devora as pessoas de quem gosta A história subsequente dessa identificação com o pai pode facilmente perderse de vista Pode acontecer que o complexo de Édipo se inverta e que o pai seja tomado como objeto de uma atitude feminina objeto no qual os instintos diretamente sexuais buscam satisfação nesse caso a identificação com o pai tornase a precursora de uma vinculação de objeto com ele A mesma coisa também se aplica com as substituições necessárias à menina É fácil enunciar numa fórmula a distinção entre a identificação com o pai e a escolha deste como objeto No primeiro caso o pai é o que gostaríamos de ser no segundo o que gostaríamos de ter ou seja a distinção depende de o laço se ligar ao sujeito ou ao objeto do ego O primeiro tipo de laço portanto já é possível antes que qualquer escolha sexual de objeto tenha sido feita É muito mais difícil fornecer a representação metapsicológica clara da distinção Podemos apenas ver que a identificação esforçase por moldar o próprio ego de uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado como modelo Desemaranhemos a identificação tal como ocorre na estrutura de um sintoma neurótico de suas conexões bastante complicadas Suponhamos que uma menininha e no momento nos ateremos a ela desenvolve o mesmo penoso sintoma que sua mãe a mesma tosse atormentadora por exemplo Isso pode ocorrer de diversas maneiras A identificação pode provir do complexo de Édipo nesse caso significa um desejo hostil por parte da menina de tomar o lugar da mãe e o sintoma expressa seu amor objetal pelo pai ocasionando realização sob a influência do sentimento de culpa de seu desejo de assumir o lugar da mãe Você queria ser sua mãe e agora você a é pelo menos no que concerne a seus sofrimentos Esse é o mecanismo completo da estrutura de um sintoma histérico Ou por outro lado o sintoma pode ser o mesmo que o da pessoa que é amada assim por exemplo Dora imitava a tosse do pai Nesse caso só podemos descrever o estado de coisas dizendo que a identificação apareceu no lugar da escolha de objeto e que a escolha de objeto regrediu para a identificação Já aprendemos que a identificação constitui a forma mais primitiva e original do laço emocional freqüentemente acontece que sob as condições em que os sintomas são construídos ou seja onde há repressão e os mecanismos do inconsciente são dominantes a escolha de objeto retroaja para a identificação o ego assume as características do objeto É de notar que nessas identificações o ego às vezes copia a pessoa que não é amada e outras a que é Deve também causarnos estranheza que em ambos os casos a identificação seja parcial e extremamente limitada tomando emprestado apenas um traço isolado da pessoa que é objeto dela Existe um terceiro caso particularmente freqüente e importante de formação de sintomas no qual a identificação deixa inteiramente fora de consideração qualquer relação de objeto com a pessoa que está sendo copiada Suponhase por exemplo que uma das moças de um internato receba de alguém de quem está secretamente enamorada uma carta que lhe desperta ciúmes e que a ela reaja por uma crise de histeria Então algumas de suas amigas que são conhecedoras do assunto pegarão a crise por assim dizer através de uma infecção mental O mecanismo é o da identificação baseada na possibilidade ou desejo de colocarse na mesma situação As outras moças também gostariam de ter um caso amoroso secreto e sob a influência do sentimento de culpa aceitam também o sofrimento envolvido nele Seria errado supor que assumissem o sintoma por simpatia Pelo contrário a simpatia só surge da identificação e isso é provado pelo fato de que uma infecção ou imitação desse tipo acontece em circunstâncias em que é de presumir uma simpatia preexistente ainda menor do que a que costumeiramente existe entre amigas numa escola para moças Um determinado ego percebeu uma analogia significante com outro sobre certo ponto em nosso exemplo sobre a receptividade a uma emoção semelhante Uma identificação é logo após construída sobre esse ponto e sob a influência da situação patogênica deslocada para o sintoma que o primeiro ego produziu A identificação por meio do sintoma tornouse assim o sinal de um ponto de coincidência entre os dois egos sinal que tem de ser mantido reprimido O que aprendemos dessas três fontes pode ser assim resumido primeiro a identificação constitui a forma original de laço emocional com um objeto segundo de maneira regressiva ela se torna sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal por assim dizer por meio de introjeção do objeto no ego e terceiro pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual Quanto mais importante essa qualidade comum é mais bemsucedida pode tornarse essa identificação parcial podendo representar assim o início de um novo laço Já começamos a adivinhar que o laço mútuo existente entre os membros de um grupo é da natureza de uma identificação desse tipo baseada numa importante qualidade emocional comum e podemos suspeitar que essa qualidade comum reside na natureza do laço com o líder Outra suspeita pode dizernos que estamos longe de haver exaurido o problema da identificação e que nos defrontamos com o processo que a psicologia chama de empatia Einfühlung o qual desempenha o maior papel em nosso entendimento do que é inerentemente estranho ao nosso ego nas outras pessoas Aqui porém teremos de nos limitar aos efeitos emocionais imediatos da identificação e deixaremos de lado sua significação em nossa vida intelectual A pesquisa psicanalítica que já atacou ocasionalmente os mais difíceis problemas das psicoses também pôde mostrarnos a identificação em alguns outros casos que não são imediatamente compreensíveis Tratarei de dois deles em pormenor como material para nossa consideração posterior A gênese do homossexualismo masculino em grande quantidade de casos é a seguinte um jovem esteve inusitadamente e por longo tempo fixado em sua mãe no sentido do complexo de Édipo Finalmente porém após o término da puberdade chega a ocasião de trocar a mãe por algum outro objeto sexual As coisas sofrem uma virada repentina o jovem não abandona a mãe mas identificase com ela transformase e procura então objetos que possam substituir o seu ego para ele objetos aos quais possa conceder um amor e um carinho iguais aos que recebeu de sua mãe Tratase de processo freqüente que pode ser confirmado tão amiúde quanto se queira e que naturalmente é inteiramente independente de qualquer hipótese que se possa efetuar quanto à força orgânica impulsora e aos motivos de repentina transformação Uma coisa notável sobre essa identificação é sua ampla escala ela remolda o ego em um de seus mais importantes aspectos em seu caráter sexual segundo o modelo do que até então constituirá o objeto Neste processo o objeto em si mesmo é renunciado se inteiramente ou se no sentido de ser preservado apenas no inconsciente sendo uma questão que se acha fora do escopo do presente estudo A identificação com um objeto que é renunciado ou perdido como um sucedâneo para esse objeto introjeção dele no ego não constitui verdadeiramente mais novidade para nós Um processo dessa espécie pode às vezes ser diretamente observado em crianças pequenas Há pouco tempo atrás uma observação desse tipo foi publicada no Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse Uma criança que se achava pesarosa pela perda de um gatinho declarou francamente que ela agora era o gatinho e por conseguinte andava de quatro não comia à mesa etc Outro exemplo de introjeção do objeto foi fornecido pela análise da melancolia afeccão que inclui entre as mais notáveis de suas causas excitadoras a perda real ou emocional de um objeto amado Uma característica principal desses casos é a cruel autodepreciação do ego combinada com una inexorável autocrítica e acerbas autocensuras As análises demonstraram que essa depreciação e essas censuras aplicamse no fundo ao objeto e representam a vingança do ego sobre ele A sombra do objeto caiu sobre o ego como disse noutra parte Aqui a introjeção do objeto é inequivocamente clara Essas melancolias porém também nos mostram mais alguma coisa que pode ser importante para nossos estudos posteriores Mostramnos o ego dividido separado em duas partes uma das quais vocifera contra a segunda Esta segunda parte é aquela que foi alterada pela introjeção e contém o objeto perdido Porém a parte que se comporta tão cruelmente tampouco a desconhecemos Ela abrange a consciência uma instância crítica dentro do ego que até em ocasiões normais assume embora nunca tão implacável e injustificadamente uma atitude crítica para com a última Em ocasiões anteriores fomos levados à hipótese de que no ego se desenvolve uma instância assim capaz de isolarse do resto daquele ego e entrar em conflito com ele A essa instância chamamos de ideal do ego e a título de funções atribuídoslhe a autoobservação a consciência moral a censura dos sonhos e a principal influência na repressão Dissemos que ele é o herdeiro do narcisismo original em que o ego infantil desfrutava de autosuficiência gradualmente reúne das influências do meio ambiente as exigências que este impõe ao ego das quais este não pode sempre estar à altura de maneira que um homem quando não pode estar satisfeito com seu próprio ego tem no entanto possibilidade de encontrar satisfação no ideal do ego que se diferenciou do ego Nos delírios de observação como demonstramos noutro lugar a desintegração dessa instância tornouse patente e revelou assim sua origem na influência de poderes superiores e acima de tudo dos pais Mas não nos esquecemos de acrescentar que o valor da distância entre esse ideal do ego e o ego real é muito variável de um indivíduo para outro e que em muitas pessoas essa diferenciação dentro do ego não vai além da que sucede em crianças Antes que possamos empregar este material a fim de compreender a organização libidinal dos grupos devemos contudo tomar em consideração alguns outros exemplos das relações mútuas entre o objeto e o ego VIII ESTAR AMANDO E HIPNOSE Mesmo em seus caprichos o uso da linguagem permanece fiel a uma certa espécie de realidade Assim ela dá o nome de amor a numerosos tipos de relações emocionais que agrupamos também teoricamente como amor por outro lado porém sente a seguir dúvidas se esse amor é amor real verdadeiro genuíno e assim insinua toda uma gama de possibilidades no âmbito dos fenômenos do amor Não teremos dificuldade em efetuar a mesma descoberta por nossas próprias observações Em determinada classe de casos estar amando nada mais é que uma catexia de objeto por parte dos instintos sexuais com vistas a uma satisfação diretamente sexual catexia que além disso expira quando se alcançou esse objetivo é o que se chama de amor sensual comum Mas como sabemos raramente a situação libidinal permanece tão simples Era possível calcular com certeza a revivescência da necessidade que acabara de expirar e sem dúvida isso deve ter constituído o primeiro motivo para dirigir uma catexia duradoura sobre o objeto sexual e para amálo também nos intervalos desapaixonados A isso é preciso acrescentar outro fato derivado do notável curso de evolução seguido pela vida erótica do homem Em sua primeira fase que geralmente termina na ocasião em que a criança está com cinco anos de idade ela descobriu o primeiro objeto para seu amor em um ou outro dos pais e todos os seus instintos sexuais com sua exigência de satisfação unificaramse nesse objeto A repressão que então se estabelece compelea a renunciar à maior parte desse objetivos sexuais infantis e deixa atrás de si uma profunda modificação em sua relação com os pais A criança ainda permanece ligada a eles mas por instintos que devem ser descritos como inibidos em seu objetivo As emoções que daí passa a sentir por esses objetos de seu amor são caracterizadas como afetuosas Sabese que as primitivas tendências sensuais permanecem mais ou menos intensamente preservadas no inconsciente de maneira que em certo sentido a totalidade da corrente original continua a existir Na puberdade como sabemos estabelecemse impulsos novos e muito fortes dirigidos a objetivos diretamente sexuais Em casos desfavoráveis eles permanecem sob a forma de uma corrente sensual separados das tendências afetuosas de sentimento que persistem Temos então à frente um quadro cujos dois aspectos são tipificados com deleite por certas escolas de literatura Um homem mostrará um entusiasmo sentimental por mulheres a quem respeita profundamente mas não o excitam a atividades sexuais e só será potente com outras mulheres a quem não ama a quem pouco considera ou mesmo despreza Com mais frequência contudo o adolescente consegue efetuar um certo grau de síntese entre o amor não sensual e celeste e o amor sensual e terreno e sua relação com seu objeto sexual se caracteriza pela interação de instintos desinibidos e instintos inibidos em seu objetivo A profundidade em que qualquer um está amando quando contrastada com seu desejo puramente sensual pode ser medida pela dimensão da parte assumida pelos instintos de afeição inibidos em seu objetivo Com relação a essa questão de estar amando sempre ficamos impressionados pelo fenômeno da supervalorização sexual o fato de o objeto amado desfrutar de certa liberdade quanto à crítica e o de todas as suas características serem mais altamente valorizadas do que as das pessoas que não são amadas ou do que as próprias características dele numa ocasião em que não era amado Se os impulsos sexuais estão mais ou menos eficazmente reprimidos ou postos do lado produzse a ilusão de que o objeto veio a ser sensualemente amado devido aos seus méritos espirituais ao passo que pelo contrário na realidade esses méritos só podem ter sido emprestados a ele pelo seu encanto sensual A tendência que falsifica o julgamento nesse respeito é a da idealização Agora porém é mais fácil encontrarmos nosso rumo Vemos que o objeto está sendo tratado da mesma maneira que nosso próprio ego de modo que quando estamos amando uma quantidade considerável de libido narcisista transborda para o objeto Em muitas formas de escolha amorosa é fato evidente que o objeto serve de sucedâneo para algum inatingido ideal do ego de nós mesmos Nós o amamos por causa das perfeições que nos esforçamos por conseguir para nosso próprio ego e que agora gostaríamos de adquirir dessa maneira indireta como meio de satisfazer nosso narcisismo Se a supervalorização sexual e o estar amando aumentam ainda mais a interpretação do quadro se torna ainda mais inequívoca Os impulsos cuja inclinação se dirige para a satisfação diretamente sexual podem agora ser empurrados inteiramente para o segundo plano como por exemplo acontece regularmente com a paixão sentimental de um jovem o ego se torna cada vez mais despretensioso e modesto e o objeto cada vez mais sublime e precioso até obter finalmente a posse de todo o autoamor do ego cujo autosacrifício decorre assim como conseqüência natural O objeto por assim dizer consumiu o ego Traços de humildade de limitação do narcisismo e de danos causados a si próprio ocorrem em todos os casos de estar amando no caso extremo são simplesmente intensificados e como resultado da retirada das reivindicações sexuais permanecem em solitária supremacia Isso acontece com especial facilidade com o amor infeliz e que não pode ser satisfeito porque a despeito de tudo cada satisfação sexual envolve sempre uma redução da supervalorização sexual Ao mesmo tempo desta devoção do ego ao objeto a qual não pode mais ser distinguida de uma devoção sublimada a uma idéia abstrata as funções atribuídas ao ideal do ego deixam inteiramente de funcionar A crítica exercida por essa instância silencia tudo que o objeto faz e pede é correto e inocente A consciência não se aplica a nada que seja feito por amor do objeto na cegueira do amor a falta de piedade é levada até o diapasão do crime A situação total pode ser inteiramente resumida numa fórmula o objeto foi colocado no lugar do ideal do ego É fácil agora definir a diferença entre a identificação e esse desenvolvimento tão extremo do estado de estar amando que podem ser descritos como fascinação ou servidão No primeiro caso o ego enriqueceuse com as propriedades do objeto introjetou o objeto em si próprio como Ferenczi 1909 o expressa No segundo caso empobreceuse entregouse ao objeto substituiu o seu constituinte mais importante pelo objeto Uma consideração mais próxima contudo logo esclarece que esse tipo de descrição cria uma ilusão de contradições que não possuem existência real Economicamente não se trata de empobrecimento ou enriquecimento é mesmo possível descrever um caso extremo de estar amando como um estado em que o ego introjetou o objeto em si próprio Outra distinção talvez esteja mais bem talhada para atender à essência da questão No caso da identificação o objeto foi perdido ou abandonado assim ele é novamente erigido dentro do ego e este efetua uma alteração parcial em si próprio segundo o modelo do objeto perdido No outro caso o objeto é mantido e dáse uma hipercatexia dele pelo ego e às expensas do ego Aqui porém apresentase nova dificuldade Será inteiramente certo que a identificação pressupõe que a catexia de objeto tenha sido abandonada Não pode haver identificação enquanto o objeto é mantido E antes de nos empenharmos numa discussão dessa delicada questão já poderá estar alvorecendo em nós a percepção de que mais outra alternativa abrange a essência real da questão ou seja se o objeto é colocado no lugar do ego ou do ideal do ego Do estado de estar amando à hipnose vai evidentemente apenas um curto passo Os aspectos em que os dois concordam são evidentes Existe a mesma sujeição humilde que há para com o objeto amado Há o mesmo debilitamento da iniciativa própria do sujeito ninguém pode duvidar que o hipnotizador colocouse no lugar do ideal do ego Acontece apenas que tudo é ainda mais claro e mais intenso na hipnose de maneira que seria mais apropriado explicar o estado de estar amando por meio da hipnose que fazer o contrário O hipnotizador constitui o único objeto e não se presta atenção a mais ninguém que não seja ele O fato de o ego experimentar de maneira semelhante à do sonho tudo que o hipnotizador possa pedir ou afirmar relembranos que nos esquecemos de mencionar entre as funções de ideal do ego a tarefa de verificar a realidade das coisas Não admira que o ego tome uma percepção por real se a realidade dela é corroborada pela instância mental que ordinariamente desempenha o dever de testar a realidade das coisas A completa ausência de impulsos que se acham inibidos em seus objetivos sexuais contribui ainda mais para a pureza extrema dos fenômenos A relação hipnótica é a devoção ilimitada de alguém enamorado mas excluída a satisfação sexual ao passo que no caso real de estar amando esta espécie de satisfação é apenas temporariamente refreada e permanece em segundo plano como um possível objeto para alguma ocasião posterior Por outro lado porém também podemos dizer que a relação hipnótica é se permissível a expressão uma formação de grupo composta de dois membros A hipnose não constitui um bom objeto para comparação com uma formação de grupo porque é mais verdadeiro dizer que ela é idêntica a essa última Da complicada textura do grupo ela isola um elemento para nós o comportamento do indivíduo em relação ao líder A hipnose é distinguida da formação de grupo por esta limitação de número tal como se distingue do estado de estar amando pela ausência de inclinações diretamente sexuais A esse respeito ocupa uma posição intermediária entre ambos É interessante ver que são precisamente esses impulsos sexuais inibidos em seus objetivos que conseguem tais laços permanentes entre as pessoas Porém isso pode ser facilmente compreendido pelo fato de não serem capazes de satisfação completa ao passo que os impulsos sexuais desinibidos em seus objetivos sofrem uma redução extraordinária mediante a descarga de energia sempre que o objetivo sexual é atingido É o destino do amor sensual extinguirse quando se satisfaz para que possa durar desde o início tem de estar mesclado com componentes puramente afetuosos isto é que se acham inibidos em seus objetivos ou deve ele próprio sofrer uma transformação desse tipo A hipnose solucionaria imediatamente o enigma da constituição libidinal dos grupos não fosse pelo fato de ela própria apresentar alguns aspectos não atendidos pela explicação racional que dela vimos fornecendo como sendo um estado de estar amando sem as tendências diretamente sexuais Nela ainda existe muita coisa que devemos reconhecer como inexplicada e misteriosa A hipnose contém um elemento adicional de paralisia derivado da relação entre alguém com poderes superiores e alguém que está sem poder e desamparado o que pode facultar uma transição para a hipnose do susto que ocorre nos animais A maneira pela qual a hipnose é produzida e sua relação com o sono não são claras e o modo enigmático pelo qual algumas pessoas lhe estão sujeitas enquanto outras lhe resistem completamente indica algum fator desconhecido nela compreendido que sozinho talvez torne possível a pureza das atitudes da libido que ela apresenta É de notar que mesmo existindo uma completa submissão sugestiva sob outros aspectos a consciência moral da pessoa hipnotizada pode apresentar resistência Porém é possível que isso se atribua ao fato de que na hipnose tal como é habitualmente praticada pode ser mantido um certo conhecimento de que o que está acontecendo seja apenas um jogo uma reprodução inverídica de outra situação muito mais importante para a vida Após as discussões anteriores estamos no entanto em perfeita posição de fornecer a fórmula para a constituição libidinal dos grupos ou pelo menos de grupos como os que até aqui consideramos ou seja aqueles grupos que têm um líder e não puderam mediante uma organização demasiada adquirir secundariamente as características de um indivíduo Um grupo primário desse tipo é um certo número de indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de seu ideal do ego e conseqüentemente se identificaram uns com os outros em seu ego Esta condição admite uma representação gráfica IX O INSTINTO GREGÁRIO Não podemos desfrutar por muito tempo da ilusão de havermos solucionado o enigma do grupo com essa fórmula É impossível fugir à lembrança imediata e perturbadora de que tudo que realmente fizemos foi deslocar a questão para o enigma da hipnose sobre o qual tantos pontos ainda precisam ser esclarecidos E agora uma outra objeção nos mostra nosso novo caminho Poderseia dizer que os intensos vínculos emocionais que observamos nos grupos são inteiramente suficientes para explicar uma de suas características a falta de independência e iniciativa de seus membros a semelhança nas reações de todos eles sua redução por assim dizer ao nível de indivíduos grupais Mas se o considerarmos como um todo um grupo nos mostra mais que isso Alguns de seus aspectos a fraqueza de capacidade intelectual a falta de controle emocional a incapacidade de moderação ou adiamento a inclinação a exceder todos os limites na expressão da emoção e descarregála completamente sob a forma de ação essas e outras características semelhantes tão impressivamente descritas por Le Bon apresentam um quadro inequívoco de regressão da atividade mental a um estágio anterior como não nos surpreendemos em descobrila entre os selvagens e as crianças Uma regressão desse tipo é particularmente uma característica essencial dos grupos comuns ao passo que como soubemos nos grupos organizados e artificiais ela pode em grande parte ser controlada Temos assim a impressão de um estado no qual os impulsos emocionais particulares e os atos intelectuais de um indivíduo são fracos demais para chegar a algo por si próprios para isso dependem inteiramente de serem reforçados por sua igual repetição nos outros membros do grupo Somos lembrados de quantos desses fenômenos de dependência fazem parte da constituição normal da sociedade humana de quão pouca originalidade e coragem pessoal podem encontrarse nela de quanto cada indivíduo é governado por essas atitudes da mente grupal que se apresentam sob formas tais como características raciais preconceitos de classe opinião pública etc A influência da sugestão tornase um grande enigma para nós quando admitimos que ela não é exercida apenas pelo líder mas por cada indivíduo sobre outro indivíduo e temos de censurarnos por havermos injustamente enfatizado a relação com o líder e mantido demais em segundo plano o outro fator da sugestão mútua Após esse incentivo à modéstia ficaremos inclinados a escutar outra voz que nos promete uma explicação baseada em fundamentos mais simples Essa voz pode ser encontrada no refletido livro de Trotter sobre o instinto de rebanho ou instinto gregário 1916 com relação ao qual meu único pesar é que ele não escapa inteiramente às antipatias desencadeadas pela recente grande guerra Trotter deriva os fenômenos mentais descritos como ocorrentes nos grupos de um instinto gregário gregariousness gregarismo inato aos seres humanos tal como a outras espécies de animais Biologicamente diz ele esse gregarismo constitui uma analogia à multicelularidade sendo por assim dizer uma continuação dela Em termos da teoria da libido tratase de uma outra manifestação da tendência proveniente da libido e sentida por todos os seres vivos da mesma espécie a combinarse em unidades cada vez mais abrangentes Se está sozinho o indivíduo sentese incompleto O medo apresentado pelas crianças pequenas já pareceria ser uma expressão desse instinto gregário A oposição à grei é tão boa quanto a separação dela sendo assim ansiosamente evitada Mas a grei se afasta de tudo que é novo ou fora do comum O instinto gregário pareceria ser algo primário something which cannot be split up algo que não pode ser dividido Trotter põe na relação de instintos que considera primários os da autopreservação nutrição sexo e gregário O último freqüentemente entra em oposição com os outros Os sentimentos de culpa e de dever são possessões peculiares de um animal gregário Trotter também deriva do instinto gregário as forças repressivas que a psicanálise demonstrou existirem no ego e deriva da mesma fonte por conseguinte as resistências com que o médico se defronta no tratamento psicanalítico A fala deve sua importância à aptidão para o entendimento mútuo na grei sendo nela que a identificação mútua dos indivíduos repousa em grande parte Enquanto Le Bon preocupase com as formações grupais passageiras típicas e McDougall com as associações estáveis Trotter escolheu como centro de seu interesse a forma mais generalizada de reunião em que o homem esse ζῷον πολιτικόν passa sua vida e nos fornece sua base psicológica Mas Trotter não vê necessidade de remontar à origem do instinto gregário por caracterizálo como primário e não mais redutível A tentativa de Boris Sidis a que se refere de buscar a origem do instinto gregário na sugestionabilidade é afortunadamente supérflua até onde lhe concerne tratase de uma explicação de tipo familiar e insatisfatório e a proposição inversa de que a sugestionabilidade é um derivado do instinto gregário me pareceria lançar muito mais luz sobre o assunto A exposição de Trotter porém está aberta com mais justiça ainda que as outras à objeção de levar muito pouco em conta o papel do líder num grupo ao passo que nos inclinamos antes para o juízo oposto ou seja de que é impossível apreender a natureza de um grupo se se desprezar o líder O instinto de grei não deixa lugar algum para o líder ele é simplesmente arremessado junto com a multidão quase que fortuitamente daí decorre também que nenhum caminho conduz desse instinto à necessidade de um Deus o rebanho está sem pastor Mas além disso a exposição de Trotter pode ser psicologicamente solapada isto é podese tornar pelo menos provável que o instinto gregário não seja irredutível que não seja primário no mesmo sentido que o são o instinto de autopreservação e o instinto sexual Naturalmente não é fácil a tarefa de traçar a ontogênese do instinto gregário O medo mostrado pelas crianças pequenas quando são deixadas sozinhas e que Trotter alega constituir já uma manifestação do instinto no entanto sugere mais facilmente uma outra interpretação O medo relacionase à mãe da criança e posteriormente a outras pessoas familiares sendo a expressão de um desejo irrealizado que a criança ainda não sabe tratar de outra maneira exceto transformandoo em ansiedade O medo da criança quando está sozinha tampouco é apaziguado pela visão de qualquer fortuito membro da grei pelo contrário é criado pela aproximação de um estranho desse tipo Assim durante longo tempo nada na natureza de um instinto gregário ou sentimento de grupo pode ser observado nas crianças Algo semelhante a ele primeiro se desenvolve num quarto de crianças com muitas crianças fora das relações dos filhos com os pais e assim sucede como uma reação à inveja inicial com que a criança mais velha recebe a mais nova O filho mais velho certamente gostaria de ciumentamente pôr de lado seu sucessor mantêlo afastado dos pais e despojálo de todos os seus privilégios mas à vista de essa criança mais nova como todas as que virão depois ser amada pelos pais tanto quanto ele próprio e em conseqüência da impossibilidade de manter sua atitude hostil sem prejudicarse a si próprio aquele é forçado a identificarse com as outras crianças Assim no grupo de crianças desenvolvese um sentimento comunal ou de grupo que é ainda mais desenvolvido na escola A primeira exigência feita por essa formação reativa é de justiça de tratamento igual para todos Todos sabemos do modo ruidoso e implacável como essa reivindicação é apresentada na escola Se nós mesmos não podemos ser os favoritos pelo menos ninguém mais o será Essa transformação ou seja a substituição do ciúme por um sentimento grupal no quarto das crianças e na sala de aula poderia ser considerada improvável se mais tarde o mesmo processo não pudesse ser de novo observado em outras circunstâncias Bastanos pensar no grupo de mulheres e moças todas elas apaixonadas de forma entusiasticamente sentimental que se aglomeram em torno de um cantor ou pianista após a sua apresentação Certamente seria fácil para cada uma delas ter ciúmes das outras porém diante de seu número e da conseqüente impossibilidade de alcançarem o objetivo de seu amor renunciam a ele e em vez de uma puxar os cabelos da outra atuam como um grupo unido prestam homenagem ao herói da ocasião com suas ações comuns e provavelmente ficariam contentes em ficar com um pedaço das esvoaçantes madeixas dele Originariamente rivais conseguiram identificarse umas com as outras por meio de um amor semelhante pelo mesmo objeto Quando como de hábito uma situação instintual é capaz de resultados diversos não nos surpreenderá que o resultado real seja algum que traga consigo a possibilidade de uma certa quantidade de satisfação ao passo que um outro resultado mais óbvio em si seja desprezado já que as circunstâncias da vida impedem que ele conduza àquela satisfação O que posteriormente aparece na sociedade sob a forma de Gemeingeist esprit de corps espírito de grupo etc não desmente a sua derivação do que foi originalmente inveja Ninguém deve querer salientarse todos devem ser o mesmo e ter o mesmo A justiça social significa que nos negamos muitas coisas a fim de que os outros tenham de passar sem elas também ou o que dá no mesmo não possam pedilas Essa exigência de igualdade é a raiz da consciência social e do senso de dever Revelase inesperadamente no pavor que tem o sifilítico de contagiar outras pessoas coisa que a psicanálise nos ensinou a compreender O pavor demonstrado por esses pobres infelizes corresponde às suas violentas lutas contra o desejo inconsciente de propagar sua infecção a outros por que razão apenas eles deveriam ser infectados e apartados de tantas coisas Por que também não os outros E o mesmo princípio podese encontrar na apropriada história do julgamento de Salomão Se o filho de uma mulher morreu a outra tampouco deverá ter um filho e a mulher despojada é identificada por esse desejo O sentimento social assim se baseia na inversão daquilo que a princípio constituiu um sentimento hostil em uma ligação da tonalidade positiva da natureza de uma identificação Na medida em que até aqui pudemos acompanhar o curso dos acontecimentos essa inversão parece ocorrer sob a influência de um vínculo afetuoso comum com uma pessoa fora do grupo Nós próprios não encaramos nossa análise da identificação como exaustiva mas para nosso presente objetivo basta que retrocedamos a esta característica determinada sua exigência de que o igualamento seja sistematicamente realizado Já aprendemos do exame de dois grupos artificiais a Igreja e o exército que sua premissa necessária é que todos os membros sejam amados da mesma maneira por uma só pessoa o líder Não nos esqueçamos contudo de que a exigência de igualdade num grupo aplicase apenas aos membros e não ao líder Todos os membros devem ser iguais uns aos outros mas todos querem ser dirigidos por uma só pessoa Muitos iguais que podem identificarse uns com os outros e uma pessoa isolada superior a todos eles essa é a situação que vemos realizada nos grupos capazes de subsistir Ousemos então corrigir o pronunciamento de Trotter de que o homem é um animal gregário e asseverar ser ele de preferência um animal de horda uma criatura individual numa horda conduzida por um chefe X O GRUPO E A HORDA PRIMEVA Em 1912 concordei com uma conjectura de Darwin segundo a qual a forma primitiva da sociedade humana era uma horda governada despoticamente por um macho poderoso Tentei demonstrar que os destinos dessa horda deixaram traços indestrutíveis na história da descendência humana e especialmente que o desenvolvimento do totemismo que abrange em si os primórdios da religião da moralidade e da organização social está ligado ao assassinato do chefe pela violência e à transformação da horda paterna em uma comunidade de irmãos Para dizer a verdade isso constitui apenas uma hipótese como tantas outras com que os arqueólogos se esforçam por iluminar as trevas dos tempos préhistóricos uma estória mais ou menos como foi divertidamente chamada por um crítico inglês sem maldade porém essa hipótese para mim tem mérito se se mostrar capaz de trazer coerência e compreensão a um número cada vez maior de novas regiões Os grupos humanos apresentam mais uma vez o quadro familiar de um indivíduo de força superior em meio a um bando de companheiros iguais quadro que também é abarcado em nossa idéia da horda primeva A psicologia de um grupo assim como a conhecemos a partir das descrições a que com tanta frequência nos referimos o definhamento da personalidade individual consciente a focalização de pensamentos e sentimentos numa direção comum a predominância do lado afetivo da mente e da vida psíquica inconsciente a tendência à execução imediata das intenções tão logo ocorram tudo isso corresponde a um estado de regressão a uma atividade mental primitiva exatamente da espécie que estaríamos inclinados a atribuir à horda primeva Assim o grupo nos aparece como uma revivescência da horda primeva Do mesmo modo como o homem primitivo sobrevive potencialmente em cada indivíduo a horda primeva pode mais uma vez surgir de qualquer reunião fortuita na medida em que os homens se acham habitualmente sob a influência da formação de grupo reconhecemos nela a sobrevivência da horda primeva Temos de concluir que a psicologia dos grupos é a mais antiga psicologia humana o que isolamos como psicologia individual desprezando todos os traços do grupo só depois veio a ser notório a partir da velha psicologia de grupo através de um processo gradual que talvez possa ainda ser descrito como incompleto Posteriormente nos arriscaremos à tentativa de especificar o ponto de partida desse desenvolvimento Ver em 1 e segs Uma reflexão mais demorada irá demonstrarnos sob que aspecto essa afirmativa exige uma correção A psicologia individual pelo contrário deve ser tão antiga quanto a psicologia de grupo porque desde o princípio houve dois tipos de psicologia a dos membros individuais do grupo e a do pai chefe ou líder Os membros do grupo achavamse sujeitos a vínculos tais como os que percebemos atualmente o pai da horda primeva porém era livre Os atos intelectuais deste eram fortes e independentes mesmo no isolamento e sua vontade não necessitava do reforço de outros A congruência levanos a presumir que seu ego possuía poucos vínculos libidinais ele não amava ninguém a não ser a si próprio ou a outras pessoas na medida em que atendiam às suas necessidades Aos objetos seu ego não dava mais que o estritamente necessário Ele no próprio início da história da humanidade era o superhomem que Nietzsche somente esperava do futuro Ainda hoje os membros de um grupo permanecem na necessidade da ilusão de serem igual e justamente amados por seu líder ele próprio porém não necessita amar ninguém mais pode ser de uma natureza dominadora absolutamente narcisista autoconfiante e independente Sabemos que o amor impõe um freio ao narcisismo e seria possível demonstrar como agindo dessa maneira ele se tornou um fator de civilização O pai primevo da horda não era ainda imortal como posteriormente veio a ser pela deificação Se morria tinha de ser substituído seu lugar era provavelmente tomado por um filho mais jovem que até então fora um membro do grupo como qualquer outro Deve existir portanto uma possibilidade de transformar a psicologia de grupo em psicologia individual há que descobrir uma condição sob a qual tal transformação seja facilmente realizada como é possível às abelhas transformarem em caso de necessidade uma larva numa rainha em lugar de uma operária Podese imaginar apenas uma possibilidade o pai primevo impediria os filhos de satisfazer seus impulsos diretamente sexuais forçaraos à abstinência e conseqüentemente aos laços emocionais com ele e uns com os outros que poderiam surgir daqueles de seus impulsos antes inibidos em seu objetivo sexual Ele os forçara por assim dizer à psicologia de grupo Seu ciúme e intolerância sexual tornaramse em última análise as causas da psicologia de grupo Quem quer que se haja tornado seu sucessor recebeu também a possibilidade de satisfação sexual e por esse meio lhe foi dada uma saída para as condições de psicologia de grupo A fixação da libido na mulher e a possibilidade de satisfação sem qualquer necessidade de adiamento ou acúmulo puseram fim à importância daqueles entre seus impulsos sexuais que se achavam inibidos em seu objetivo e permitiram ao seu narcisismo elevarse sempre até chegar a seu apogeu total Retornaremos em um pósescrito ver em 1 e segs a essa conexão entre amor e formação do caráter A seguir como algo especialmente instrutivo podemos dar ênfase à relação que existe entre o ardil pelo qual um grupo artificial se mantém unido e a constituição da horda primeva Vimos que com o exército e a Igreja esse artifício é a ilusão de que o líder ama todos os indivíduos de modo igual e justo Mas isso constitui apenas uma remodelação idealística do estado de coisas na horda primeva onde todos os filhos sabiam que eram igualmente perseguidos pelo pai primevo e o temiam igualmente Essa mesma remoldagem sobre a qual todos os deveres sociais se erguem já se acha pressuposta pela forma seguinte da sociedade humana o clã totêmico A força indestrutível da família como formação natural de grupo reside no fato de que essa pressuposição necessária do amor igual do pai pode ter uma aplicação real na família Nós todavia esperamos mais ainda dessa derivação do grupo a partir da horda primeva Ela deveria também ajudarnos a entender o que ainda é incompreensível e misterioso nas formações de grupo tudo o que jaz escondido por trás das enigmáticas palavras hipnose e sugestão E acho que isso também pode ser bemsucedido Relembremos que nela a hipnose tem algo de positivamente misterioso mas a característica de mistério sugere algo de antigo e familiar que experimentou uma repressão Consideremos como a hipnose é induzida O hipnotizador afirma que se acha de posse de um poder misterioso que despoja o sujeito de sua própria vontade ou o que é a mesma coisa o sujeito crê nisso Esse poder misterioso que ainda hoje é muitas vezes popularmente descrito como magnetismo animal deve ser o mesmo poder encarado pelos povos primitivos como a fonte do tabu o mesmo poder emanante dos rei e chefes de tribo e que torna perigoso o aproximarse deles mana Imaginase então que o hipnotizador esteja na posse desse poder E como o manifesta Dizendo ao sujeito para olhálo nos olhos seu método mais típico de hipnotização é pelo olhar Mas é precisamente a visão do chefe que é perigosa e insuportável para os povos primitivos tal como mais tarde a da Divindade é para os mortais O próprio Moisés teve de agir como intermediário entre seu povo e Javé de vez que o povo não poderia suportar a visão divina e quando retornou da presença de Deus seu rosto resplandecia um pouco do mana lhe havia sido comunicado tal como acontece com o intermediário entre os povos primitivos É verdade que também se pode evocar a hipnose por outras maneiras como por exemplo fixando os olhos sobre um objeto brilhante ou escutando um som monótono Isso pode equivocar e já ocasionou teorias fisiológicas inapropriadas Na realidade esses procedimentos servem apenas para desviar a atenção consciente e mantêla retida A situação seria a mesma se o hipnotizador houvesse dito ao sujeito Agora preocupese exclusivamente com a minha pessoa o resto do mundo é totalmente desinteressante Naturalmente seria tecnicamente desaconselhável a um hipnotizador fazer tal declaração ela arrancaria o sujeito de sua atitude inconsciente e o estimularia a uma oposição consciente O hipnotizador evita dirigir os pensamentos conscientes do sujeito para suas próprias intenções e faz a pessoa com quem realiza a experiência mergulhar numa atividade na qual o mundo está fadado a parecerlhe desinteressante Ao mesmo tempo porém o sujeito está na realidade concentrando inconscientemente toda a sua atenção no hipnotizador e entrando numa atitude de rapport de transferência para com ele Assim os métodos indiretos de hipnotizar iguais a muitos procedimentos técnicos utilizados para fazer chistes têm o efeito de controlar certas distribuições de energia mental que interfeririam com o curso dos acontecimentos no inconsciente e acabam por levar ao mesmo resultado que os métodos diretos de influência através do olhar fixo ou das batidas Ferenczi 1909 realizou a descoberta real de que quando o hipnotizador dá a ordem para dormir o que com frequência se faz no começo da hipnose ele está se colocando no lugar dos pais do sujeito Pensa ele que dois tipos de hipnotismo devem ser distinguidos um persuasor e tranqüilizador segundo ele modelado na mãe e um outro ameaçador que deriva do pai Ora na hipnose a ordem para dormir significa nem mais nem menos uma ordem para afastar do mundo todo o interesse e concentrálo na pessoa do hipnotizador E ela é assim entendida pelo sujeito pois nessa retração de interesse do mundo externo reside a característica psicológica do sono e nela se baseia o parentesco entre este e o estado de hipnose Pelas medidas que toma o hipnotizador desperta no sujeito uma parte de sua herança arcaica que também o tornara submisso aos genitores e experimentara uma reanimação individual em sua relação com o pai o que é assim despertado é a idéia de uma personalidade predominante e perigosa para com quem só é possível ter uma atitude passivomasoquista a quem se tem de entregar a própria vontade ao passo que estar com ele olhálo no rosto parece ser um empreendimento arriscado Só de uma outra maneira semelhante podemos representar a relação do membro individual da horda primeva com o pai primevo Como sabemos de outras reações os indivíduos preservaram um grau variável de aptidão pessoal para reviver velhas situações desse tipo Um certo conhecimento de que apesar de tudo a hipnose é apenas um jogo uma renovação enganadora dessas antigas impressões pode contudo remanesc er e cuidar para que haja uma resistência contra quaisquer consequências demasiado sérias da suspensão da vontade na hipnose As características misteriosas e coercivas das formações grupais presentes nos fenômenos de sugestão que as acompanham podem assim com justiça ser remontadas à sua origem na horda primeva O líder do grupo ainda é o temido pai primevo o grupo ainda deseja ser governado pela força irrestrita e possui uma paixão extrema pela autoridade na expressão de Le Bon tem sede de obediência O pai primevo é o ideal do grupo que dirige o ego no lugar do ideal do ego A hipnose bem pode reivindicar sua descrição como um grupo de dois Aqui fica como definição para a sugestão uma convicção que não está baseada na percepção e no raciocínio mas em um vínculo erótico XI UMA GRADAÇÃO DIFERENCIADORA NO EGO Se examinarmos a vida de um homem de hoje como indivíduo tendo em mente as descrições mutuamente complementares da psicologia de grupo fornecidas pelas autoridades pode ser que diante das complicações reveladas percamos a coragem de tentar uma exposição abrangente Cada indivíduo é uma parte componente de numerosos grupos achase ligado por vínculos de identificação em muitos sentidos e construiu seu ideal do ego segundo os modelos mais variados Cada indivíduo portanto partilha de numerosas mentes grupais as de sua raça classe credo nacionalidade etc podendo também elevarse sobre elas na medida em que possui um fragmento de independência e originalidade Essas formações grupais estáveis e duradouras com seus efeitos constantes e uniformes são menos notáveis para um observador que os grupos rapidamente formados e transitórios a partir dos quais Le Bon traçou seu brilhante esboço psicológico do caráter da mente grupal E é exatamente nesses ruidosos grupos efêmeros superpostos uns aos outros por assim dizer que encontramos o prodígio do desaparecimento completo embora apenas temporário exatamente daquilo que identificamos como aquisições individuais Interpretamos esse prodígio com a significação de que o indivíduo abandona seu ideal do ego e o substitui pelo ideal do grupo tal como é corporificado no líder E temos de acrescentar a título de correção que o prodígio não é igualmente grande em todos os casos Em muitos indivíduos a separação entre o ego e o ideal do ego não se acha muito avançada e os dois ainda coincidem facilmente o ego amiúde preservou sua primitiva autocomplacência narcisista A seleção do líder é muitíssimo facilitada por essa circunstância Com freqüência precisa apenas possuir as qualidades típicas dos indivíduos interessados sob uma forma pura clara e particularmente acentuada necessitando somente fornecer uma impressão de maior força e de mais liberdade de libido Nesse caso a necessidade de um chefe forte freqüentemente o encontrará a meio caminho e o investirá de uma predominância que de outro modo talvez não pudesse reivindicar Os outros membros do grupo cujo ideal do ego salvo isso não se haveria corporificado em sua pessoa sem alguma correção são então arrastados com os demais por sugestão isto é por meio da identificação Estamos cientes de que aquilo com que pudemos contribuir para a explicação da estrutura libidinal dos grupos reconduz à distinção entre o ego e o ideal do ego e à dupla espécie de vínculo que isso possibilita a identificação e a colocação do objeto no lugar do ideal do ego A pressuposição dessa espécie de gradação diferenciadora no ego como um primeiro passo para a análise do ego deve gradualmente estabelecer sua justificativa nas quais diversas regiões da psicologia Em meu artigo sobre narcisismo 1914c reuni todo o material patológico que na ocasião podia ser utilizado em apoio dessa diferenciação Contudo podemos esperar que ao penetrarmos mais profundamente na psicologia das psicoses descobriremos que sua significação é muito maior Reflitamos que o ego ingressa agora na relação de um objeto para com o ideal do ego dele desenvolvido e que a ação recíproca total entre um objeto externo e o ego como um todo com que nosso estudo das neuroses nos familiarizou deve possivelmente repetirse nessa nova cena de ação dentro do ego Nesse ponto acompanharei apenas uma das consequências que partindo desse enfoque parecem possíveis retomando assim o debate de um problema que fui obrigado a deixar noutra parte sem soluçãoCada uma das diferenciações mentais com que nos familiarizamos representa um novo agravamento das dificuldades de funcionamento mental aumenta a sua instabilidade podendo tornarse o ponto de partida para a sua desintegração isto é para o desencadeamento de uma doença Assim com o nascimento demos o primeiro passo de um narcisismo absolutamente autosuficiente para a percepção de um mundo externo cambiante e para os primórdios da descoberta dos objetos A isso está associado o fato de não podermos suportar o novo estado de coisas por muito tempo de periodicamente dele revertermos no sono à nossa anterior condição de ausência de estimulação e fuga de objetos É verdade contudo que nisto estamos seguindo uma sugestão do mundo externo que através da mudança periódica do dia e da noite afasta temporariamente a maior parte dos estímulos que nos influenciam O segundo exemplo de um tal passo patologicamente mais importante não está sujeito a essa restrição No curso de nossa evolução efetuamos uma separação de nossa existência mental em um ego coerente e em uma parte inconsciente e reprimida que é deixada fora dele ficamos sabendo que a estabilidade dessa nova aquisição se acha exposta a abalos constantes Nos sonhos e neuroses o que é assim excluído bate aos portões em busca de admissão guardados não obstante pelas resistências e em nossa saúde desperta fazemos uso de artifícios especiais para permitir que o que está reprimido contorne as resistências e o recebamos temporariamente em nosso ego para aumento de nosso prazer Os chistes e o humor e até certo ponto o cômico em geral podem ser encarados sob esta luz Qualquer um que esteja familiarizado com a psicologia das neuroses pensará em exemplos semelhantes de menor importância mas apressome à aplicação do que tenho em vista É inteiramente concebível que a separação do ideal do ego do próprio ego não pode ser mantida por muito tempo tendo de ser temporariamente desfeita Em todas as renúncias e limitações impostas ao ego uma infração periódica da proibição é a regra Isso na realidade é demonstrado pela instituição dos festivais que na origem nada mais eram do que excessos previstos em lei e que devem seu caráter alegre ao alívio que proporcionam As saturnais dos romanos e o nosso moderno carnaval concordam nessa característica essencial com os festivais dos povos primitivos que habitualmente terminam com deboches de toda espécie e com a transgressão daquilo que noutras ocasiões constituem os mandamentos mais sagrados Mas o ideal do ego abrange a soma de todas as limitações a que o ego deve aquiescer e por essa razão a revogação do ideal constituiria necessariamente um magnífico festival para o ego que mais uma vez poderia então sentirse satisfeito consigo próprio Há sempre uma sensação de triunfo quando algo no ego coincide com o ideal do ego E o sentimento de culpa bem como o de inferioridade também pode ser entendido como uma expressão da tensão entre o ego e o ideal do ego Sabese bem que existem pessoas cujo colorido geral do estado de ânimo oscila periodicamente de uma depressão excessiva atravessando algum tipo de estado intermediário a uma sensação exaltada de bemestar Essas oscilações aparecem em graus de amplitude muito diferentes desde o que é apenas observável até exemplos extremos tais que sob a forma de melancolia e mania empreendem as mais perturbadoras ou atormentadoras incursões na vida da pessoa interessada Nos casos típicos dessa depressão cíclica as causas precipitantes externas não parecem desempenhar qualquer papel decisivo quanto aos motivos internos nesses pacientes não se encontra nada a mais ou nada mais do que em todos os outros Conseqüentemente tornouse costume considerar esses casos como não sendo psicogênicos Dentro em pouco nos referiremos àqueles outros casos exatamente semelhantes de depressão cíclica que podem ser facilmente remontados a traumas mentais Os fundamentos dessas oscilações espontâneas de estado de ânimo são assim desconhecidos Faltanos compreensão do mecanismo do deslocamento de uma melancolia realizado por uma mania de modo que nos achamos livres para supor que esses pacientes sejam pessoas em quem nossa conjectura poderia encontrar uma aplicação real seu ideal do ego poderia terse temporariamente convertido no ego após havêlo anteriormente governado com especial rigidez 52 Atenhamonos ao que é claro com base em nossa análise do ego não se pode duvidar que nos casos de mania o ego e o ideal do ego se fundiram de maneira que a pessoa em estado de ânimo de triunfo e autosatisfação imperturbada por nenhuma autocrítica pode desfrutar a abolição de suas inibições sentimentos de consideração pelos outros e autocensuras Não é tão óbvio não obstante muito provável que o sofrimento do melancólico seja a expressão de um agudo conflito entre as duas instâncias de seu ego conflito em que o ideal em excesso de sensitividade incansavelmente exibe sua condenação do ego com delírios de inferioridade e com autodepreciação A única questão é se devemos procurar as causas dessas relações alteradas entre o ego e o ideal do ego nas rebeliões periódicas que acima postulamos contra a nova instituição ou se devemos responsabilizar por elas outras circunstâncias Uma mudança para a mania não constitui característica indispensável da sintomatologia da depressão melancólica Existem melancolias simples umas em crises isoladas outras em crises recorrentes que nunca apresentam essa evolução Por outro lado há melancolias em que a causa precipitadora desempenha claramente um papel etiológico São aquelas que ocorrem após a perda de um objeto amado seja pela morte seja por efeito de circunstâncias que tornaram necessária a retirada da libido do objeto Uma melancolia psicogênica desse tipo pode terminar em mania e o ciclo repetirse diversas vezes tão facilmente como num caso que parece ser espontâneo Assim o estado de coisas é um tanto obscuro especialmente porque só poucas formas e casos de melancolia foram submetidos à investigação psicanalítica Até aqui compreendemos somente casos em que o objeto é abandonado porque demonstrou ser indigno de amor Ele é então novamente erigido dentro do ego mediante identificação e severamente condenado pelo ideal do ego As censuras e ataques dirigidos ao objeto vêm à luz sob a forma de autocensuras melancólicas Uma melancolia desse tipo além disso pode acabar em uma mudança para a mania de sorte que a possibilidade de isso acontecer representa uma característica que independe das outras características do quadro clínico Não obstante não vejo dificuldade em atribuir ao fato da rebelião periódica do ego contra o ideal do ego uma cota em ambos os tipos de melancolia tanto o psicogênico quanto o espontâneo No espontâneo podese supor que o ideal do ego está inclinado a apresentar uma rigidez peculiar que então resulta automaticamente em sua suspensão temporária No tipo psicogênico o ego seria incitado à rebelião pelo mau tratamento por parte de seu ideal mau tratamento que ele encontra quando houve uma identificação com um objeto rejeitado XII PÓSESCRITO No decorrer da indagação que acabou de ser levada a um final provisório encontramos um certo número de caminhos laterais que evitamos seguir em primeiro lugar mas nos quais existia muita coisa oferecendonos promessas de compreensão Propomonos agora considerar alguns 53 desses pontos que assim foram deixados de lado AA distinção entre a identificação do ego com um objeto e a substituição do ideal do ego por um objeto encontra uma ilustração interessante nos dois grandes grupos artificiais que começamos por estudar o exército e a Igreja cristã É óbvio que um soldado toma o seu superior que é na realidade o líder do exército como seu ideal enquanto se identifica com os seus iguais e deriva dessa comunidade de seus egos as obrigações de prestar ajuda mútua e partilhar das posses que o companheirismo implica Mas se tenta identificarse com o general tornase ridículo O soldado em Wallensteins Lager ri do sargento por essa mesma razão Wie er räuspert und wie er spuckt Das habt ihr ihm glücklich abgeguckt É diferente na Igreja católica Todo cristão ama Cristo como seu ideal e sentese unido a todos os outros cristãos pelo vínculo da identificação Mas a Igreja exige mais dele Tem também de identificarse com Cristo e amar todos os outros cristãos como Cristo os amou Em ambos os pontos portanto a Igreja exige que a posição da libido fornecida pela formação grupal seja suplementada Há que acrescentar a identificação ali onde a escolha objetal já se realizou e o amor objetal onde há identificação Esse acréscimo evidentemente vai além da constituição do grupo Podese ser um bom cristão e contudo estar distante da idéia de se pôr no lugar de Cristo e ter como ele um amor abrangente pela humanidade Não precisamos nos sentir capazes fracos mortais que somos da grandeza de alma e da força de amor do Salvador Porém esse novo desenvolvimento na distribuição da libido no grupo constitui provavelmente o fator sobre o qual o cristianismo baseia sua alegação de haver atingido um nível ético mais elevado BDissemos que seria possível especificar o ponto do desenvolvimento mental da humanidade em que a passagem da psicologia de grupo para a psicologia individual foi alcançada também pelos membros do grupo ver em 1 Para esse fim devemos retornar por um momento ao mito científico do pai da horda primeva Ele foi posteriormente exaltado como criador do mundo e com justiça porque produziria todos os filhos que compuseram o primeiro grupo Era o ideal de cada um deles ao mesmo tempo temido e honrado o que conduziu mais tarde à idéia do tabu Esses numerosos indivíduos acabaram por se agrupar mataramno e despedaçaramno Ninguém do grupo de vitoriosos podia tomar o seu lugar ou se algum o fez retomaramse os combates até compreenderem que deviam todos renunciar à herança do pai Formaram então a comunidade totêmica de irmãos todos com direitos iguais e unidos pelas proibições totêmicas que se destinavam a preservar e a expiar a lembrança do assassinato No entanto a insatisfação com o que fora conseguido ainda permanecia e tornouse fonte de novos desfechos As pessoas que estavam unidas nesse grupo de irmãos gradualmente chegaram a uma revivescência do antigo estado de coisas em novo nível O macho tornouse mais uma vez o chefe de uma família e destruiu as prerrogativas da ginecocracia que se estabelecerá durante o período em que não havia pai Em compensação ele nessa ocasião pode ter reconhecido as divindades maternas cujos sacerdotes eram castrados para a proteção da mãe segundo o exemplo que fora fornecido pelo pai da horda primeva Contudo a nova família era apenas uma sombra da antiga havia um grande número de pais e cada um deles era limitado pelos direitos dos outros Foi então que talvez algum indivíduo na urgência de seu anseio tenha sido levado a libertarse do grupo e a assumir o papel do pai Quem conseguiu isso foi o primeiro poeta épico e o progresso foi obtido em sua imaginação Esse poeta disfarçou a verdade com mentiras consoantes com seu anseio inventou o mito heróico O herói era um homem que sozinho havia matado o pai o pai que ainda aparecia no mito como um monstro totêmico Como o pai fora o primeiro ideal do menino também no herói que aspira ao lugar do pai o poeta criava agora o primeiro ideal do ego A transição para o herói foi provavelmente fornecida pelo filho mais moço o favorito da mãe filho que ela protegera do ciúme paterno e que na época da horda primeva fora o successor do pai Nas mentirosas fantasias poéticas dos tempos préhistóricos a mulher que constituía o prêmio do combate e a tentação para o assassinato foi provavelmente transformada na sedutora e na instigadora ativa do crime O herói reivindica haver agido sozinho na realização da façanha à qual certamente só a horda como um todo terseia aventurado Porém como Rank observou os contos de fadas preservaram traços claros dos fatos que foram desmentidos porque neles amiúde descobrimos que o herói tendo de realizar alguma tarefa difícil geralmente o filho mais novo e não poucas vezes um filho que se fez passar perante o substituto paterno por estúpido isto é inofensivo só pode ele próprio realizar sua missão com a ajuda de uma multidão de animais pequenos tais como abelhas ou formigas Esses seriam os irmãos da horda primeva da mesma forma que no simbolismo onírico insetos ou animais nocivos significam irmãos e irmãs considerados desprezivelmente como bebês Ademais todas as tarefas dos mitos e contos de fadas são facilmente reconhecíveis como sucedâneos do feito heróico Assim o mito é o passo com o qual o indivíduo emerge da psicologia de grupo O primeiro mito foi certamente o psicológico o mito do herói o mito explicativo da natureza deve têlo seguido muito depois O poeta que dera esse passo com isso libertandose do grupo em sua imaginação é não obstante como Rank observa ainda capaz de encontrar seu caminho de volta ao grupo na realidade porque ele vai e relata ao grupo as façanhas do herói as quais inventou No fundo esse herói não é outro senão ele próprio Assim desce ao nível da realidade e eleva seus ouvintes ao nível da imaginação Seus ouvintes porém entendem o poeta e em virtude de terem a mesma relação de anseio pelo pai primevo podem identificarse com o herói A mentira do mito heróico culmina pela deificação do herói Talvez o herói deificado possa ter sido mais antigo que o Deus Pai e precursor do retorno do pai primevo como deidade A série dos deuses então seria cronologicamente esta Deusa Mãe Herói Deus Pai Mas só com a elevação do pai primevo nunca esquecido a divindade adquire as características que ainda hoje nela identificamos CMuito se disse neste artigo sobre instintos diretamente sexuais e instintos inibidos em seus objetivos podendose esperar que essa distinção não experimente demasiada resistência Um estudo pormenorizado da questão contudo não ficará deslocado ainda que apenas repita o que em grande parte já foi dito antes O desenvolvimento da libido nas crianças familiarizounos com o primeiro mas também o melhor exemplo de instintos sexuais inibidos em seus objetivos Todos os sentimentos que uma criança tem para com os pais e para com aqueles que cuidam dela transformamse por uma fácil transição em desejos que dão expressão aos impulsos sexuais da criança Ela reivindica desses objetos de seu amor todos os sinais de afeição que conhece quer beijálos tocálos e olhálos tem curiosidade de ver seus órgãos genitais e estar com eles quando realizam suas funções excretórias íntimas promete casarse com a mãe ou com a babá não importa o que entenda por casamento propõese a si mesma ter um filho do pai etc A observação direta bem como a subsequente investigação analítica dos resíduos da infância não deixa dúvidas quanto à completa fusão de sentimentos ternos e ciumentos e de intenções sexuais mostrandonos de que maneira fundamental a criança faz da pessoa que ama o objeto de todas as suas tendências sexuais ainda não corretamente centradas Essa primeira configuração do amor da criança que nos casos típicos toma a forma do complexo de Édipo sucumbe tanto quanto sabemos a partir do começo do período de latência a uma onda de repressão O que resta dela apresentase como um laço emocional puramente afetuoso referente às mesmas pessoas porém não mais pode ser descrito como sexual A psicanálise que ilumina as profundezas da vida mental não tem dificuldade em demonstrar que os vínculos sexuais dos primeiros anos da infância também persistem embora reprimidos e inconscientes Ela nos dá coragem para afirmar que um sentimento afetuoso onde quer que o encontremos constitui um sucessor de uma vinculação de objeto completamente sensual com a pessoa em pauta ou antes com o protótipo ou Imago dessa pessoa Ela não pode verdadeiramente revelarnos sem uma investigação especial se em dado caso essa antiga corrente sexual completa ainda existe sob repressão ou já se exauriu Mais precisamente é inteiramente certo que essa corrente ainda se encontra lá como forma e possibilidade podendo sempre ser catexizada e novamente colocada em atividade por meio da regressão a única questão é e nem sempre pode ser respondida que grau de catexia e força operativa ela ainda possui no presente momento Nessa referência devese tomar idêntico cuidado em evitar duas fontes de erro o Sila de subestimar a importância do inconsciente reprimido e o Caribde de julgar o normal inteiramente pelos padrões do patológico Uma psicologia que não penetre ou não possa penetrar nas profundezas do que é reprimido considera os laços emocionais afetuosos como sendo invariavelmente a expressão de impulsos que não possuem objetivo sexual ainda que derivem de impulsos com esse fim Temos justificativa para dizer que eles foram desviados desses fins sexuais embora exista certa dificuldade de fornecer uma descrição de um desvio de objetivo assim que se adapte às exigências da metapsicologia Ademais esses instintos inibidos em seus objetivos conservam alguns de seus objetivos sexuais originais mesmo um devoto afetuoso mesmo um amigo ou um admirador desejam a proximidade física e a visão da pessoa que é agora amada apenas no sentido paulino Se preferirmos podemos identificar nesse desvio de objetivo um início da sublimação dos instintos sexuais ou por outro lado podemos fixar os limites da sublimação em algum ponto mais distante Esses instintos sexuais inibidos em seus objetivos possuem uma grande vantagem funcional sobre os desinibidos Desde que não são capazes de satisfação realmente completa achamse especialmente aptos a criar vínculos permanentes ao passo que os instintos diretamente sexuais incorrem numa perda de energia sempre que se satisfazem e têm de esperar serem renovados por um novo acúmulo de libido sexual assim nesse meio tempo o objeto pode terse alterado Os instintos inibidos são capazes de realizar qualquer grau de mescla com os desinibidos podem ser novamente transformados em desinibidos exatamente como deles se originaram É bem conhecido com que facilidade se desenvolvem desejos eróticos a partir de relações emocionais de caráter amistoso baseadas na apreciação e na admiração comparese o Beijeme pelo amor do grego de Molière entre professor e aluno recitalista e ouvinte deliciada especialmente no caso das mulheres Na realidade o crescimento de laços emocionais desse tipo com seus começos despropositados fornece uma via muito frequentada para a escolha sexual de objeto Pfister em sua Froömigkeit des Grafen von Zinzendorf 1910 forneceu um exemplo extremamente claro e certamente não isolado de quão facilmente até um intenso vínculo religioso pode converterse em ardente excitação sexual Por outro lado também é muito comum aos impulsos diretamente sexuais de pequena duração em si mesmos transformaremse em um laço permanente e puramente afetuoso e a consolidação de um apaixonado casamento de amor repousa em grande parte nesse processo Naturalmente não ficaremos surpresos ao ouvir que os impulsos sexuais inibidos em seus objetivos se originam daqueles diretamente sexuais quando obstáculos internos ou externos tornam inatingíveis os objetivos sexuais A repressão durante o período de latência é um obstáculo interno desse tipo ou melhor um obstáculo que se tornou interno Presumimos que o pai da horda primeva devido à sua intolerância sexual compelíu todos os filhos à abstinência forçandoos assim a laços inibidos em seus objetivos enquanto reservava para si a liberdade de gozo sexual permanecendo desse modo sem vínculos Todos os vínculos de que um grupo depende têm o caráter de instintos inibidos em seus objetivos Porém aqui nos aproximamos da discussão de um novo assunto que trata da relação existente entre os instintos diretamente sexuais e a formação de grupos DAs duas últimas observações nos terão preparado para descobrir que os impulsos diretamente sexuais são desfavoráveis para a formação de grupos Na história da evolução da família é fato que também houve relações grupais de caráter sexual casamentos grupais mas quanto mais importante o amor sexual se tornou para o ego e mais desenvolveu o ego as características de estar amando com maior preminência exigiu ser limitado a duas pessoas uma cum uno como é prescrito pela natureza do objetivo genital As inclinações polígamas tiveram de contentarse em encontrar satisfação numa sucessão de objetos mutáveis Duas pessoas que se reúnem com o intuito de satisfação sexual na medida em que buscam a solidão estão realizando uma demonstração contra o instinto gregário o sentimento de grupo Quanto mais enamoradas se encontram mais completamente se bastam uma à outra Sua rejeição da influência do grupo se expressa sob a forma de um sentimento de vergonha Sentimentos de ciúme da mais extrema violência são convocados para proteger a escolha de um objeto sexual da usurpação por um laço grupal Apenas quando o fator afetuoso isto é pessoal de uma relação amorosa cede inteiramente lugar ao sensual tornase possível a duas pessoas manterem relações sexuais na presença de outros ou haver atos sexuais simultâneos num grupo tal como ocorre em uma orgia Nesse ponto porém afetouse uma regressão a uma fase anterior das relações sexuais na qual estar amando ainda não desempenhava um papel e todos os objetos eram julgados como de igual valor um pouco no sentido do malicioso aforismo de Bernard Shaw segundo o qual estar apaixonado significa exagerar grandemente a diferença existente entre uma mulher e outra Existem abundantes indicações de que o estado de estar amando só fez seu aparecimento tardiamente nas relações sexuais entre homens e mulheres de maneira que a oposição entre amor sexual e vínculos grupais constitui também um desenvolvimento tardio Ora pode parecer que essa pressuposição seja incompatível com nosso mito da família primeva pois afinal de contas por seu amor pelas mães e irmãs a turba de irmãos conforme supomos foi levada ao parricídio sendo difícil imaginar esse amor como algo que não fosse indiviso e primitivo isto é como uma união íntima do afetuoso e do sensual Uma consideração mais atenta entretanto transforma essa objeção à nossa teoria em confirmação dela Uma das reações ao parricídio foi em última análise a instituição da exogamia totêmica a proibição de qualquer relação sexual com aquelas mulheres da família que haviam sido ternamente amadas desde a infância Desse modo enfiouse uma cunha entre os sentimentos afetuosos e sensuais do homem que atualmente ainda se acha firmemente fixada em sua vida erótica Em resultado dessa exogamia as necessidades sensuais dos homens tiveram de ser satisfeitas com mulheres estranhas e não amadas Nos grandes grupos artificiais a Igreja e o exército não há lugar para a mulher como objeto sexual As relações amorosas entre homens e mulheres permanecem fora dessas organizações Mesmo onde se formam grupos compostos tanto de homens como de mulheres a distinção entre os sexos não desempenha nenhum papel ²é há sentido em perguntar se a libido que mantém reunidos os grupos é de natureza homossexual ou heterossexual porque ela não se diferencia de acordo com os sexos e particularmente mostra um completo desprezo pelos objetivos da organização genital da libido Mesmo na pessoa que sob outros aspectos se absorveu em um grupo os impulsos diretamente sexuais conservam um pouco de sua atividade individual Se se tornam fortes demais desintegram qualquer formação grupal A Igreja Católica possui o melhor dos motivos para recomendar a seus seguidores que permaneçam solteiros e para impor o celibato a seus sacerdotes mas o apaixonarse com frequência impeliu mesmo padres a abandonar a Igreja Da mesma maneira o amor pela mulheres rompe os vínculos grupais de raça divisões nacionais e sistema de classes sociais produzindo importantes efeitos como fator de civilização Parece certo que o amor homossexual é muito mais compatível com os laços grupais mesmo quando toma o aspecto de impulsos sexuais desinibidos fato notável cuja explicação poderia levarnos longe A investigação psicanalítica das psiconeuroses nos ensinou que seus sintomas devem ser remetidos a impulsos diretamente sexuais que são reprimidos mas permanecem ainda ativos Podemos completar essa fórmula acrescentando ou a impulsos inibidos nos objetivos cuja inibição não foi inteiramente bemsucedida ou permitiu um retorno do objetivo sexual reprimido Está de acordo com isso que uma neurose torne associ al a sua vítima ou a afaste das formações habituais de grupo Podese dizer que uma neurose tem sobre o grupo o mesmo efeito desintegrador que o estado de estar amando Por outro lado parece que onde foi dado um poderoso ímpeto à formação de grupo as neuroses podem diminuir ou pelo menos temporariamente desaparecer Justificáveis tentativas foram feitas para situar esse antagonismo entre as neuroses e as formações de grupo a serviço da terapêutica Mesmo os que não lamentam o desaparecimento das ilusões religiosas do mundo civilizado de hoje admitem que enquanto estiverem em vigor ofereceram aos que a elas se achavam presos a mais poderosa proteção contra o perigo da neurose Tampouco é difícil discernir que todos os vínculos que ligam as pessoas a seitas e comunidades místicoreligiosas ou filosóficoreligiosas são expressões de curas distorcidas de todos os tipos de neuroses Tudo isso se correlaciona com o contraste entre os impulsos diretamente sexuais e os inibidos em seus objetivos Se é abandonado a si próprio um neurótico é obrigado a substituir por suas próprias formações de sintomas as grandes formações de grupo de que se acha excluído Ele cria seu próprio mundo de imaginação sua própria religião seu próprio sistema de delírios recapitulando assim as instituições da humanidade de uma maneira distorcida que constitui prova evidente do papel dominante desempenhado pelos impulsos diretamente sexuais EEm conclusão acrescentaremos do ponto de vista da teoria da libido uma estimativa comparativa dos estados em que estivemos interessados estar amando hipnose formação grupal e neurose Estar amando baseiase na presença simultânea de impulsos diretamente sexuais e impulsos sexuais inibidos em seus objetivos enquanto o objeto arrasta uma parte da libido do ego narcicista do sujeito para si próprio Tratase de uma condição em que há lugar apenas para o ego e o objeto A hipnose assemelhase ao estado de estar amando por limitarse a essas duas pessoas mas baseiase inteiramente em impulsos sexuais inibidos em seus objetivos e coloca o objeto no lugar do ideal do ego O grupo multiplica esse processo concorda com a hipnose na natureza dos instintos que o mantém unido e na substituição do ideal do ego pelo objeto mas acrescenta a identificação com outros indivíduos o que foi talvez originalmente tornado possível por terem eles a mesma relação com o objeto Ambos os estados hipnose e formação de grupo constituem um depósito herdado da filogênese da libido humana a hipnose sob a forma de uma predisposição e o grupo ademais disso como uma sobrevivência direta A substituição dos impulsos diretamente sexuais por aqueles que são inibidos em seus objetivos promove em ambos os estados uma separação entre o ego e o ideal do ego separação da qual já se realizara um começo no estado de estar amando A neurose permanece fora dessa série Baseiase também numa peculiaridade do desenvolvimento da libido humana o início duas vezes repetido feito pela função diretamente sexual com um período intermediário de latência Até aqui ela assemelhase à hipnose e à formação de grupo por ter o caráter de uma regressão que se acha ausente do estado de estar amando Faz seu aparecimento onde quer que a passagem dos instintos diretamente sexuais para os que são inibidos em seus objetivos não foi inteiramente bemsucedida e representa um conflito entre aquelas partes dos instintos que foram recebidas no ego após haverem passado por essa evolução e as partes deles que originandose do inconsciente reprimido esforçamse como outros impulsos instintuais completamente reprimidos por conseguir satisfação direta As neuroses são extremamente ricas em conteúdo por abrangerem todas as relações possíveis entre o ego e o objeto tanto aquelas nas quais o objeto é mantido como noutras em que é abandonado ou erigido dentro do próprio ego e também as relações conflitantes entre o ego e o seu ideal do ego TAREFA O filme A outra história americana foi produzido em 1998 por Tony Kaye propõe uma dramaturgia que leva a diversas indagações Em suma o filme trata de dois irmãos que viviam com sua família até que a partir de um evento o pai morre Em específico o pai atuava como bombeiro e ao realizar um salvamento em uma região de população negra morre durante seu serviço Um dos filhos Derek possui extrema dificuldade para lidar com o luto e ao longo dos dias desenvolve um preconceito com os negros isso porque foi nesse segmento que seu pai havia morrido com um tiro de arma de fogo Um dia ao sair com o carro que era de seu pai Derek sofre um assalto por três indivíduos de cor negra para se defender acaba por assassinar os três de forma brutal Ao ser preso inicialmente encontra diversos desafios na prisão entretanto com o passar dos dias se torna referência da população branca ali e dessa forma começa a ser visto como líder Esse cenário demonstra um movimento nazista que busca eliminar indivíduos de cor negra e gerar portanto uma guerra racial A partir de tal cenário é possível analisar como o ato de ser preconceituoso e discriminar o outro que é diferente promove uma sensação de força ou de poder Relacionando o filme com os livros de Freud é possível compreender que aspectos culturais possuem bastante impacto em diversas condutas do ser humano a incluir aspectos relacionados ao comportamento e desejo Nesse sentido quando há estranheza em relação às diferenças tal comportamento remete a uma comunicação entre ambos Ou seja é graças as diferenças que o contexto se constitui A discriminação exclui porém aproxima porque gera questionamentos e curiosidade sobre o outro O filme por sua vez aponta exatamente isso Ao criar um cenário em sua cabeça e culpar indivíduos com dada etnia sobre a morte de seu pai Derek não compreende que uma região de negros não sugere que sejam violentos Em outras palavras qualquer indivíduo pode ser violento e isso não deve ser discriminado a partir de sua cultura ou etnia Quando Derek sai da cadeia começa a se questionar acerca de diversos posicionamentos cristalizados ao longo dos anos e dessa forma inicia uma reconstrução interna acerca de tais A partir de uma análise mais profunda vale compreender que todo tipo de comportamento é aprendido e pode ser reproduzido Freud explana muitas questões nesse sentido em seus livros apontando que todo ato ou comportamento tem mais relação com o indivíduo em si do que com o outro Ou seja é preciso encontrar características que se pretende diminuir no outro para que um indivíduo consiga se sentir autoconfiante E isso pode ser exposto a partir de diversas circunstâncias e não somente no racismo Isso pode ser constatado principalmente por situações que embora sejam incorretas concomitantemente são aplaudidas Dessa forma aparentemente o errado se torna certo e o certo perde o seu devido valor de referência E a partir disso o indivíduo precisa encontrar outros ao qual se sente mais vinculado e assim desenvolver relações Por outro lado o que não vê dessa forma se tornam indivíduos rejeitados e excluídos Portanto não se leva em consideração a conduta ou os valores que aquele ser humano em questão traz é feito um julgamento acerca do mesmo a partir de critérios específicos préestabelecidos Ironicamente embora tais atos afastem pessoas por outro lado promovem união Principalmente quando o pensamento que envolve julgamentos e atos discriminatórios são afirmados por todos do grupo em questão E dessa forma um grupo ou civilização tende a seguir condutas já incorporadas anteriormente por outros da mesma tribo Portanto é uma ideia histórico cultural que progride ao longo dos anos Ainda se houver qualquer tipo de comportamento contra uma conduta já imposta o indivíduo em questão está rompendo regras e indo contra a própria tribo Em outras palavras a discriminação e o julgamento estruturam determinada tribo e os mantem alinhados pois estimula que todos ali pensem e ajam da mesma forma Entretanto isso é algo cristalizado e que para gerar mudanças ou alterações precisa ser questionado em sua essência levando o indivíduo a questionar seus comportamentos e condutas O filme retrata exatamente isso principalmente quando Derek busca mudar condutas do seu irmão mais novo que inconscientemente se espelhava no irmão como correto e justo
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1 FREUD Sigmund CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE 191617 191517Freud Online CONFERÊNCIA XVI PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA SENHORAS E SENHORES Alegrame vêlos novamente no início do novo ano acadêmico para uma retomada de nossas discussões No ano passado faleilhes de como a psicanálise aborda as parapraxias e os sonhos Este ano gostaria de conduzilos à compreensão dos fenômenos da neurose que conforme logo verificarão têm muitas coisas em comum com ambos Devo porém advertilos antecipadamente de que não poderei oferecerlhes este ano em relação a mim a mesma situação do ano passado Naquela época fiz questão de jamais dar um passo sem estar de acordo com o julgamento dos senhores foram muitas as coisas que debati com os senhores e dei acolhida às suas objeções de fato reconhecios e ao seu senso comum como fator decisivo Isto contudo não é mais possível e por uma razão simples As parapraxias e os sonhos não são fenômenos desconhecidos dos senhores poderíamos dizer que os senhores tinham ou facilmente podiam obter tanta experiência acerca dos mesmos quanto eu Entretanto a área dos fenômenos da neurose lhes é desconhecida de vez que os senhores não são médicos têm qualquer acesso a eles que não seja por intermédio daquilo que tenho a dizerlhes e de que serve o melhor raciocínio se este não está acompanhado da familiaridade com o conteúdo daquilo de que se ajuíza Os senhores não devem porém tomar esse advertência minha no sentido de que eu proponha darlhes conferências dogmáticas e insista em seu crédito irrestrito Um equívoco desses farmeia grave injustiça Não desejo suscitar convicção desejo estimular o pensamento e derrubar preconceitos Se em decorrência da falta de conhecimento do material os senhores não estão em condições de emitir um julgamento não deveriam nem acreditar nem rejeitar Deveriam ouvir atentamente e permitir que atue nos senhores aquilo que lhes digo Não é tão fácil adquirir convicções ou se estas são alcançadas facilmente logo se revelam sem valor e incapazes de resistência A única pessoa que tem o direito de possuir uma convicção é alguém que como eu tenha trabalhado por muitos anos o mesmo material e que assim agindo tenha tido por si próprio as 2 mesmas e surpreendentes experiências De que servem então na esfera do intelecto essas convicções súbitas essas conversõesrelâmpago essas rejeições instantâneas Não está claro que o coup de foudre amor à primeira vista deriva de esfera bem diferente da esfera das emoções Nem mesmo dos nossos pacientes exigimos que devem convencerse da verdade da psicanálise no tratamento ou aderir a ela Tal atitude freqüentemente levanta nossas suspeitas A atitude que neles achamos mais desejável é a de um benévolo ceticismo Assim também os senhores devem esforçarse por deixar que os pontos de vista psicanalíticos amadureçam tranqüilamente nos senhores junto com a visão popular ou psiquiátrica até surgir a oportunidade de ambas se influenciarem reciprocamente de uma competir com a outra e de se aliarem no rumo de uma conclusão Por outro lado não devem de modo algum supor que aquilo que lhes apresento como conceito psicanalítico seja um sistema especulativo Pelo contrário é empírico seja uma expressão direta das observações seja um processo consistente em trabalhálas exaustivamente Se esse trabalho exaustivo foi executado de uma maneira adequada e fundamentada isto se verá no decorrer de futuros progressos da ciência e realmente posso afirmar sem jactância após um período de quase vinte e cinco anos e tendo atingido uma idade razoavelmente avançada que essas observações são o resultado de trabalho especialmente difícil intensivo e aprofundado Freqüentemente tive a impressão de que nossos opositores relutavam em levar em conta essa origem de nossas teses como se pensassem que se tratava apenas de noções determinadas subjetivamente às quais qualquer um podia opor outras de sua própria escolha Essa conduta dos nossos opositores não me é completamente compreensível Talvez se deva ao fato de que como médico habitualmente se tem tão pouco contacto com pacientes neuróticos e se presta tão pouca atenção ao que dizem esses pacientes que não se pode imaginar a possibilidade de que se possa derivar algo de valioso de suas comunicações isto é a possibilidade de efetuar acuradas observações a respeito delas Valhome desta oportunidade para assegurarlhes que no decorrer destas conferências permitirei muito pouca controvérsia especialmente com algumas pessoa individualmente Nunca pude convencerme da verdade da máxima segundo a qual a controvérsia é a mãe de todas as coisas Penso que deriva dos sofistas gregos e como eles peca por supervalorizar a dialética Pareceme ao contrário que aquilo que se conhece como controvérsia científica é na totalidade 3 muito improdutivo além do fato de quase sempre ser conduzido segundo motivos altamente pessoais Até há alguns anos eu podia gabarme de apenas uma vez haverme envolvido numa disputa científica regular com um único pesquisador Löwenfeld de Munique Terminou por nos tornarmos amigos e o somos até o dia de hoje Não repeti porém a experiência por muito tempo pois não tinha certeza de que o resultado viesse a ser o mesmo Ora os senhores concluirão sem dúvida que uma rejeição como esta de todas as discussões por escrito demonstra um elevado grau de inacessibilidade a objeções de obstinação ou para usar um termo científico coloquial e educado de apego às idéias próprias Verranntheit Gostaria de dizer em resposta quem porquanto após trabalho tão árduo chegouse a adquirir uma convicção ao mesmo tempo adquiriuse um certo direito de manter esta convicção com alguma tenacidade Também posso declarar que no transcorrer do meu trabalho tenho modificado minhas opiniões em alguns pontos importantes tenhoas alterado e substituído por outras novas e em todas essas ocasiões naturalmente tornei isto público E o resultado dessa sinceridade Algumas pessoas jamais tomaram conhecimento de quaisquer de minhas autocorreções e continuam até hoje a criticarme por hipóteses que para mim há muito cessaram de ter o mesmo significado Outros me reprovam justamente por estas modificações e por causa delas consideramme indigno de confiança Naturalmente uma pessoa que vez por outra mudou de opinião não merece absolutamente nenhum crédito pois tornou tudo tão demasiadamente provável que as últimas afirmações também podem ser equivocadas mas uma pessoa que inflexivelmente manteve o que uma vez afirmou ou que não pode de relance ser persuadida a abandonálo deve naturalmente ser aferrada às idéias próprias ou teimosa Que se pode fazer frente a essas objeções contraditórias dos críticos senão permanecer como se é e conduzirse de acordo com o julgamento próprio Estou resolvido a agir assim e não me impedirei de modificar ou retirar qualquer uma de minhas teorias sempre que a progressão da experiência possa exigilo Com referência a descobertas fundamentais até o momento atual nada tenho a modificar e espero que isto venha a manterse verdadeiro no futuro Vou apresentarlhes portanto a visão psicanalítica dos fenômenos da neurose Para isto parece que o melhor plano consistiria em começarmos por 4 estabelecer uma conexão com os fenômenos de que já tratamos tanto pela causa da analogia como do contraste e começarei expondo uma ação sintomática ver em 1 e 2 que vi muitas pessoas executarem durante minhas horas de consulta Nós analistas não podemos fazer muita coisa para conseguir que as pessoas que vêm até nós em nosso consultório nos exponham em um quarto de hora os sofrimentos de toda uma vida Nosso conhecimento mais profundo nos dificulta dar o tipo de opinião emitida por um outro médico Não há problema com o senhor à qual se acrescenta o conselho O senhor devia providenciar um tratamento hidropático brando Um de meus colegas quando lhe perguntaram o que fazia com seus pacientes que vinham consultar encolheu os ombros e respondeu Eu lhes aplico uma multa de tantas e tantas Kronen por uma inútil perda de tempo Assim os senhores não se surpreenderão ao ouvir que mesmo no caso de psicanalistas muito ocupados suas horas de atendimento não costumam ser muito animadas A porta simples entre minha sala de espera e a sala de atendimento e a de tratamento mandei fazêla dupla e revestida de feltro Não pode haver dúvidas a respeito do propósito desse arranjo Ora repetidamente acontece uma pessoa que estava na sala de espera e que mando entrar deixar de fechar a porta atrás de si e quase sempre deixar ambas as portas abertas Tão logo percebo esse fato insisto com o paciente ou a paciente num tom mais propriamente inamistoso para que volte e corrija a omissão ainda que a pessoa questão seja um cavalheiro elegantemente trajado ou uma senhora da alta sociedade Isto dá a impressão de rigorismo desnecessário Às vezes também tenhome colocado em situação absurda fazendo este pedido quando se verifica depois tratarse de uma pessoa que não pode por si mesmo tocar na maçaneta da porta e se alivia se alguém em sua companhia poupaa dessa necessidade Mas na maioria dos casos tenho agido com acerto pois todo aquele que se conduz dessa forma e deixa aberta a porta entre a sala de espera e a sala de consulta de um médico é maleducado e merece uma recepção inamistosa Não tomem contudo partido nesta questão sem terem ouvido o restante Pois esse descuido por parte do paciente apenas acontece quando esteve sozinho na sala de espera e portanto deixou atrás de si uma sala vazia jamais acontece no caso de outras pessoas que lhe sejam estranha terem estado esperando com ele Nesse último caso sabe muito bem que é de seu interesse que sua conversa com o médico não seja ouvida secretamente e nunca deixa de fechar cuidadosamente as duas portasAssim a 5 omissão do paciente não é determinada pelo acaso ou por falta de propósito e na realidade ela não é destituída de importância pois conforme verificaremos elucida a atitude de recémchegado para com o médico O paciente é mais um da grande multidão que tem um desejo insaciável de autoridade mudança que deseja ser ofuscado e intimidado Ele pode ter perguntado pelo telefone sobre a hora em que mais facilmente poderia conseguir uma entrevista havia formado para si a imagem de uma multidão de pessoas procurando ajuda como a multidão do lado de fora de uma das filiais de Julius Meinl E então entra em uma sala de espera vazia e principalmente mobiliada com extrema modéstia e fica chocado Ele tem de fazer o médico pagar pelo respeito supérfluo que tencionava oferecerlhe é assim que deixa de fechar a porta entre a sala de espera e a sala de consulta O que quer dizer ao médico por essa sua conduta é Ah então não há ninguém e provavelmente não virá ninguém enquanto eu estiver aqui Ele se conduziria de forma igualmente descortês e desrespeitosa durante a consulta se sua arrogância não recebesse uma dura repreensão logo no começoA análise dessa pequena ação sintomática não lhes diz nada que já não soubessem antes a tese de que ela não é uma ação casual mas teve um motivo um sentido e uma intenção que se localiza num contexto mental específico e que informa mediante uma pequena indicação acerca de um processo mental mais importante Mais que tudo porém essa ação sintomática lhes revela que o processo assim indicado era inconsciente para a consciência da pessoa que executou essa ação de vez que nenhum dos pacientes que deixou as duas portas abertas teria conseguido admitir por meio dessa omissão que desejasse demonstrar tal desrespeito Alguns deles provavelmente terseiam apercebido de determinada sensação de desapontamento ao penetrarem na sala de espera vazia mas a conexão entre esta impressão e a ação sintomática que se seguiu por certo permaneceu desconhecida de sua consciênciaApós essa pequena análise de uma ação sintomática passaremos agora à observação de uma paciente Escolhi esta observação porque está vivida em minha memória e também por poder ser relatada em tempo relativamente breve Determinada quantidade de detalhes tornase imprescindível num relato desta espécieUm jovem oficial de regresso a casa em período de uma breve licença pediume que tomasse em tratamento sua sogra que embora nas circunstâncias mais felizes estava amargurando sua própria vida e as vidas de seus parentes com uma idéia absurda Foi assim que vim a conhecer uma senhora bem conservada cinqüenta e 6 três anos de natureza amável e simples que me narrou sem relutância a seguinte história Ela morava no campo vivia num casamento feliz com seu marido diretor de uma grande fábrica Não tinha senão como elogiar a afetuosa solicitude do marido Há trinta anos se haviam casado por amor e desde então jamais tinha havido qualquer problema discórdia ou motivo para ciúmes Seus dois filhos estavam bem casados seu marido e pai destes compenetrado de suas obrigações ainda não pensava em aposentarse Um ano antes ela recebera uma carta anônima acusando seu excelente marido de um caso amoroso com uma jovem E o resultado incrível e para ela ininteligível foi que ela imediatamente acreditou na carta e desde então sua felicidade foi destruída O curso dos acontecimentos em maiores detalhes é mais ou menos este Ela tinha uma empregada doméstica com quem costumava talvez com freqüência excessiva ter conversas íntimas Esta moça perseguia uma outra com certa hostilidade positivamente maldosa porque esta outra havia progredido muito mais na vida embora não fosse de origem mais elevada Em vez de dedicarse ao serviço doméstico esta moça tinha conseguido concluir um curso comercial ingressado na fábrica e em conseqüência da falta de pessoal devido ao fato de elementos da organização fabril serem requisitados para o serviço militar foi promovida a uma boa posição Agora morava na própria fábrica mantinha relacionamento social com todos os senhores e realmente tratavamna por Fräulein A moça que tivera menos sucesso na vida naturalmente estava pronta a repetir todos os tipos de maldades para com a antiga colega de escola Certo dia essa senhora teve um diálogo com a empregada a respeito de um cavalheiro que tinha estado com elas que se sabia não estar vivendo com a esposa e estar tendo um caso amoroso com outra mulher Ela não sabia como foi que aconteceu mas de repente disse A coisa mais terrível que poderia acontecerme era eu saber que meu querido esposo também estivesse tendo um caso No dia seguinte recebia uma carta anônima pelo correio a qual como que por mágica davalhe justamente esta informação escrita com letra disfarçada Concluiu provavelmente com acerto que a carta era obra de empregada maldosa de vez que apontava como amante do marido a jovem a quem a serviçal perseguia com seu ódio Embora imediatamente compreendesse a intriga e tivesse visto em muitos casos ocorridos no lugar onde vivia quão pouco crédito merecem tais denúncias covardes o que aconteceu todavia foi que a carta abateua instantaneamente 7 Ficou terrivelmente excitada mandou chamar prontamente seu marido e acusouo violentamente Seu marido não fez caso da acusação e agiu da melhor forma possível Chamou o médico da família que era também o médico da fábrica que se esforçou por apaziguar a infeliz senhora A conduta subseqüente de ambos foi inteiramente sensata A doméstica foi despedida mas a suposta rival não Desde então a paciente se havia tranqüilizado por períodos repetidamente a ponto de não acreditar mais no conteúdo da carta anônima porém nunca completamente nunca definitivamente Bastavalhe ouvir mencionarem o nome da jovem senhora ou encontrála na rua para nela desencadear um novo ataque de desconfiança dor e acusaçõesEste é pois o caso clínico dessa excelente senhora Não se requeria muita experiência psiquiátrica para compreender que em contraste com outros neuróticos ela estava dando uma descrição por demais atenuada de seu caso que ela estava por assim dizer dissimulando e que realmente jamais deixara de acreditar na acusação contida na carta anônimaQue atitude portanto um psiquiatra adotará em um caso de doença como este Já sabemos como ele se conduziria frente à ação sintomática do paciente que deixa de fechar a porta da sala de consulta Ele declara que se trata de evento casual sem interesse psicológico com o qual não tem a maior preocupação Este procedimento contudo não pode ser mantido no caso da doença dessa mulher ciumenta A ação sintomática parece ser uma questão irrelevante mas o sintoma se impõe à nossa atenção como questão importante Acompanhase de intenso sofrimento subjetivo e como fato objetivo ameaça a vida em comum de uma família constitui pois um assunto de inegável interesse psiquiátrico O psiquiatra começará por procurar caracterizar o sintoma por meio de algum aspecto essencial A idéia com que a mulher se atormenta não pode ser em si chamada de absurda de fato ocorre senhores casados de certa idade terem casos amorosos com mocinhas Existe porém algo mais a este respeito que é absurdo e difícil de entender A paciente não possuía absolutamente nenhum outro motivo para acreditar que seu marido afetuoso e leal pertencesse a essa outra classe aliás nada rara de maridos a não ser o que se afirmava na carta anônima Ela sabia que esse documento não tinha qualquer valor de prova e podia dar uma explicação satisfatória sobre a origem da mesma Portanto devia ser capaz de dizer a si mesma que não tinha qualquer fundamento para seu ciúme e ela realmente o fez Apesar disso sofria tanto contudo como se julgasse esse ciúme totalmente justificado Idéias desse tipo 8 inacessíveis a argumentos lógicos baseados na realidade são segundo o consenso geral descritas como delírios A boa senhora portanto estava sofrendo de delírios de ciúme Este é sem dúvida o aspecto essencial deste caso mórbidoDepois de estabelecido este primeiro ponto nosso interesse psiquiátrico se torna até mais vívido Se não se pode eliminar um delírio mediante uma referência à realidade então sem dúvida ele não se originou da realidade De onde mais terseia originado Existem delírios dos mais variados conteúdos por que neste nosso caso se trata justamente do delírio de ciúme Em que tipo de pessoas atuam os delírios e especialmente os delírios de ciúme Gostaríamos de ouvir o que o psiquiatra tem a dizer a este respeito mas neste ponto ele nos deixa em apuros Considera apenas uma das nossas perguntas Investigará a história familiar da mulher e talvez nos dará sua resposta Os delírios aparecem em pessoas em cujas famílias tenham ocorrido repetidamente outros distúrbios psíquicos semelhantes Em outros termos se essa mulher desenvolveu um delírio estava predisposta a ele por transmissão hereditária Sem dúvida isso já é alguma coisa mas é tudo que queremos saber Foi isso a única coisa que contribuiu para a causação da doença Devemos contentarnos com supor tratarse de algo sem importância indiferente ou de um capricho ou que não se pode explicar se o delírio de ciúme aparece de preferência a algum outro tipo E deveríamos entender a assertiva da predominância da influência hereditária também num sentido negativo que não importa quais experiências a mente dessa mulher tivesse encontrado ela estaria destinada mais cedo ou mais tarde a vir a apresentar um delírio Os senhores desejarão saber por que razão a psiquiatria científica não nos dará outras informações Minha resposta aos senhores contudo é ele é um trapaceiro que dá mais do que tem O psiquiatra não sabe como lançar mais luz sobre um caso como este Ele deve contentarse com um diagnóstico e um prognóstico incertos apesar de uma grande quantidade de experiência e com sua evolução futuraPode a psicanálise porém ir além em um caso destes Sim ela realmente pode Espero conseguir mostrarlhes que mesmo num caso assim tão difícil de abordar ela pode descobrir algo que possibilite uma primeira compreensão E antes de mais nada eu atrairia a atenção dos senhores para o detalhe notório de que a própria paciente positivamente provocou a carta anônima tendo agora dado apoio a seu delírio ao informar à empregada intrigante no dia anterior que lhe causaria a maior infelicidade se seu 9 marido tivesse um caso amoroso com uma jovem Assim primeiro ela incute na empregada a idéia de enviar a carta anônima O delírio então adquire certa independência da carta já estivera presente na paciente sob a forma de medo ou era um desejo Acrescentemos a isto as outras pequenas indicações obtidas em apenas duas sessões analíticas A paciente na realidade conduziuse de maneira bastante nãocooperativa quando após haver contado sua história pergunteilhe por seus outros pensamentos idéias e lembranças Disse que não lhe ocorria nada à mente que já me havia dito tudo e depois de duas sessões a tentativa de tratamento comigo realmente teve de ser interrompida pois declarou que já se sentia bem e estava segura de que a idéia patológica não retornaria Naturalmente ela disse isto apenas devido à sua resistência e ao receio da continuação da análise Não obstante durante essas duas sessões fez algumas observações que permitiram e realmente exigiram uma interpretação especial e essa interpretação lançou viva luz sobre a gênese de seu delírio de ciúme Ela própria estava intensamente apaixonada por um homem jovem pelo mesmo genro que a persuadira a procurarme na qualidade de paciente Ela mesma nada sabia ou talvez sabia muito pouco dessa paixão no relacionamento família que existia entre ambos era fácil essa afeição apaixonada disfarçarse como afeição inocente Depois de todas as nossas experiências em outras situações não nos é difícil tatear os caminhos da vida mental dessa honrada esposa e digna mãe de cinqüenta e três anos Estando apaixonada dessa maneira uma coisa assim tão monstruosa e impossível não podia tornarse consciente permaneceu porém existindo e ainda que continuasse inconsciente exercia grande pressão Algo havia de acontecer um alívio tinha de ser buscado e a mitigação mais fácil surgiu sem dúvida através do mecanismo do deslocamento que desempenhou seu papel de modo tão regular na produção do ciúme delirante Se ao menos não somente ela a senhora idosa estivesse apaixonada por um homem jovem mas também seu idoso marido estivesse mantendo um caso amoroso com uma jovem então sua consciência se aliviaria do peso de sua infidelidade A fantasia da infidelidade de seu esposo agiu assim como uma compressa fria em sua ferida ardente O amor que ela própria obrigava não se lhe tornara consciente porém seu reflexo especular que lhe deu tal vantagem agora se tornou consciente como uma obsessão e um delírio Naturalmente nenhum argumento em contrário podia surtir qualquer efeito pois o argumento era dirigido contra a imagem especular e não contra a imagem original 10 que deu à outra sua força e que permanecia oculta inviolável no inconscienteVamos reunir agora aquilo que esta tentativa de psicanálise curta e detida como foi trouxe à luz para uma compreensão deste caso supondo naturalmente que nossas investigações tenham sido efetuadas corretamente o que não posso aqui submeter ao julgamento dos senhores Em primeiro lugar o delírio deixou de ser absurdo ou ininteligível tinha um sentido tinha motivos fundamentados e ajustouse ao contexto de uma experiência emocional da paciente Em segundo lugar o delírio era necessário como reação a um processo mental inconsciente que inferimos de outras indicações e foi justamente a esta conexão que deveu seu caráter delirante e sua resistência a todo ataque lógico e realista Esse delírio era em si de certa maneira desejado uma espécie de consolação Em terceiro lugar o fato de o delírio vir a ser precisamente o delírio de ciúme e não de outro tipo estava inequivocamente determinado pela experiência que está por trás da doença Naturalmente os senhores se recordarão de que no dia anterior ela havia dito à empregada intrigante que a coisa mais terrível que lhe podia acontecer seria a infidelidade do marido E os senhores não deixarão de perceber as duas importantes analogias entre este caso e a ação sintomática que analisamos a explicação do seu sentido ou intenção e sua relação com algo inconsciente envolvido na situaçãoPor certo isto não responde a todas as perguntas que poderíamos fazer em relação a este caso Pelo contrário o caso suscita outros problemas alguns em geral ainda não se tornaram solúveis e outros não poderiam ser solucionados devido a existirem circunstâncias especiais desfavoráveis Por exemplo por que essa mulher que estava vivendo um casamento feliz apaixonouse por seu genro E por que o alívio que teria sido possível de outras maneiras tomou a forma dessa imagem especular dessa projeção de seu estado em seu marido Os senhores não devem pensar que é ocioso ou inútil levantar tais questões Já possuímos algum material à nossa disposição que possivelmente poderia servir para respondêlas A senhora estava em uma idade crítica na qual as necessidades sexuais da mulher sofrem um aumento súbito e indesejado isto por si só poderia responder pelo evento Ou ainda pode ter ocorrido que seu excelente e fiel esposo há alguns anos não estivesse mais gozando da capacidade sexual que essa mulher bem conservada requeria para sua satisfação A experiência nos demonstrou que são precisamente homens numa situação assim cuja fidelidade pode conseqüentemente ser tida 11 como certa que se distinguem por tratarem suas esposas com ternura incomum e por mostrarem especial paciência para com os problemas nervosos delas Ou ainda não pode deixar de ter significação o fato de o objeto de seu amor patogênico ser justamente o jovem marido de uma de suas filhas Um poderoso vínculo erótico com uma filha que remonta aos primórdios da constituição sexual da mãe às vezes encontra a forma de sobreviver numa transformação dessa ordem Com referência a isto posso talvez recordarlhes que a relação entre sogra e genro tem sido considerada desde as épocas mais remotas da raça humana como relação particularmente embaraçosa e que entre tribos primitivas deu origem a regulamentações e evitações tabu muito poderosas A relação amiúde é extravagante pelos padrões civilizados tanto em sentido positivo como negativo Qual desses três fatores tornouse atuante no caso em questão ou se dois deles ou se talvez todos os três vieram juntos verdadeiramente não lhes posso dizer isso contudo é só porque não me foi possível continuar a análise do caso além de duas sessõesVerifico agora senhores que lhes venho falando de muitas coisas e os senhores não estão preparados para entendêlas Assim procedi para fazer a comparação entre psiquiatria e psicanálise Existe porém uma coisa que posso perguntarlhes agora Observaram algum sinal de contradição entre elas A psiquiatria não emprega os métodos técnicos da psicanálise toca superficialmente qualquer inferência acerca do conteúdo do delírio e ao apontar para a hereditariedade dános uma etiologia geral e remota em vez de indicar primeiro as causas mais especiais e próximas Mas existe uma contradição uma oposição nisso Não é o caso de uma suplementar a outra O fator hereditário contradiz a importância da experiência Ambas as coisas não se combinam da maneira mais efetiva Os senhores assegurarão não existir nada na natureza do trabalho psiquiátrico que possa oporse à investigação psicanalítica O que se opõe à psicanálise não é a psiquiatria mas os psiquiatras A psicanálise relacionase com a psiquiatria aproximadamente como a histologia se relaciona com a anatomia uma estuda as formas externas dos órgãos a outra estuda sua estruturação em tecidos e células Não é fácil imaginar uma contradição entre essas duas espécies de estudo sendo um a continuação do outro Atualmente como sabem a anatomia é considerada por nós como fundamento da medicina científica Houve todavia época em que era tão proibido dissecar um cadáver humano a fim de 12 descobrir a estrutura interna do corpo como hoje parece ser o exercício da psicanálise esclarecer acerca do mecanismo interno da mente É de se esperar que em futuro não muito distante perceberseá que uma psiquiatria cientificamente fundamentada não será possível sem um sólido conhecimento dos processos inconscientes profundos da vida mental Talvez a psicanálise sempre tão atacada tenha porém entre os senhores amigos que se regozijarão se ela puder legitimarse num outro sentido no aspecto terapêutico Como sabem nossa terapia psiquiátrica até o momento atual não é capaz de influenciar os delírios Será possível talvez que a psicanálise possa fazêlo graças à sua compreensão profunda do mecanismo desses sintomas Não senhores não pode Ela é tão impotente pelo menos por enquanto contra esses males quanto qualquer outra forma de terapia Nós podemos compreender na verdade o que ocorreu na paciente no entanto não temos meios de fazer com que a paciente mesma o compreenda Os senhores ouviram como fui incapaz de prosseguir com a análise desse delírio além de um simples começo Estariam os senhores dispostos a afirmar por isso que uma análise de tais casos deve ser rejeitada porque é infrutífera Penso que não Temos o direito ou melhor a obrigação de efetuar nossa pesquisa sem considerar qualquer efeito benéfico imediato No fim não sabemos dizer onde nem quando cada pequena parcela de conhecimento se transformará em poder e também em poder terapêutico Ainda que a psicanálise se mostrasse tão ineficaz em qualquer outra forma de doença nervosa e psíquica como se mostra ineficaz nos delírios estaria plenamente justificada como insubstituível instrumento de investigação científica É verdade que nesse caso não estaríamos em condições de exercêla O material humano com o qual procuramos aprender que vive tem sua vontade própria e precisa ter motivos para cooperar em nosso trabalho se afastaria de nós Portanto permitamme finalizar meus comentários de hoje informandolhes que existem extensos grupos de distúrbios nervosos nos quais a transformação do nosso melhor entendimento em poder terapêutico realmente se efetivou e que nessas doenças às quais é difícil o acesso por outros meios obtemos sob condições favoráveis êxitos que não são superados por nenhum outro meio na área da medicina interna PSICOLOGIA DE GRUPO E A ANÁLISE DO EGO 1921 NOTA DO EDITOR INGLÊS MASSENPSYCHOLOGIE UND ICHANALYSE a EDIÇÕES ALEMÃS 1921 Leipzig Viena e Zurique Internationaler Psychoanalytischer Verlag III 140 págs 1923 2ª ed mesmos editores IV 120 págs 1925 GS 6 261349 1931 Theoretische Schriften 248337 1940 GW 13 71161 b TRADUÇÃO INGLESA Group Psychology and the Analysis of the Ego 1922 Londres e Viena Internacional PsychoAnalytical Press VIII 134 págs Trad de James Strachey 1940 Londres Hogarth Press e Instituto de Psicanálise Nova Iorque Liveright Reimpressão da anterior Na primeira edição alemã alguns parágrafos do texto foram impressos em tipo menor Na ocasião o tradutor inglês foi instruído por Freud para transferir esses parágrafos para notas de rodapé A mesma transposição foi feita em todas as edições alemãs posteriores à exceção do caso mencionado na pág 106 adiante Freud fez algumas ligeiras alterações e acréscimos nas edições posteriores do trabalho A presente tradução inglesa constitui versão consideravelmente alterada da publicada em 1922 As cartas de Freud mostram que a primeira idéia simples de uma explicação da psicologia de grupo lhe ocorreu durante a primavera de 1919 Nada resultou disso na ocasião em fevereiro de 1920 porém estava trabalhando no assunto e já escrevera um primeiro rascunho em agosto do mesmo ano Foi somente em fevereiro de 1921 contudo que começou a lhe dar forma final O livro foi terminado antes do fim do março de 1921 e publicado cerca de três ou quatro meses mais tarde Há pouca ligação direta entre o presente trabalho e seu predecessor imediato Além do Princípio de Prazer 1920g As seqüências de pensamento aqui seguidas por Freud derivam mais especialmente do quarto ensaio de Totem e Tabu 191213 de seus artigos sobre o narcisismo 1914c cujo último parágrafo aborda de forma altamente condensada muitos dos pontos aqui debatidos e de Luto e Melancolia 1917e Freud também retorna a seu primeiro interesse pelo hipnotismo e pela sugestão que datava de seus estudos com Charcot em 18856 Tal como o título indica o trabalho é importante em dois sentidos diferentes Por um lado explica a psicologia dos grupos com base em alterações na psicologia da mente individual e por outro leva um passo à frente a investigação freudiana da estrutura anatômica da mente já prenunciada em Além do Princípio de Prazer 1920g e a ser completamente elaborada em O Ego e o Id 1923b Extratos da primeira 1922 tradução deste trabalho foram incluídos na General Selection from the Works of Sigmund Freud de Rickman 1937 195244 PSICOLOGIA DE GRUPO E A ANÁLISE DO EGO I INTRODUÇÃO O contraste entre a psicologia individual e a psicologia social ou de grupo que à primeira vista pode parecer pleno de significação perde grande parte de sua nitidez quando examinado mais de perto É verdade que a psicologia individual relacionase com o homem tomado individualmente e explora os caminhos pelos quais ele busca encontrar satisfação para seus impulsos instituais contudo apenas raramente e sob certas condições excepcionais a psicologia individual se acha em posição de desprezar as relações desse indivíduo com os outros Algo mais está invariavelmente envolvido na vida mental do indivíduo como um modelo um objeto um auxiliar um oponente de maneira que desde o começo a psicologia individual nesse sentido ampliado mas inteiramente justificável das palavras é ao mesmo tempo também psicologia social As relações de um indivíduo com os pais com os irmãos e irmãs com o objeto de seu amor e com seu médico na realidade todas as relações que até o presente constituíram o principal tema da pesquisa psicanalítica podem reivindicar serem consideradas como fenômenos sociais e com respeito a isso podem ser postas em contraste com certos outros processos por nós descritos como narcisistas nos quais a satisfação dos instintos é parcial ou totalmente retirada da influência de outras pessoas O contraste entre atos mentais sociais e narcisistas Bleuler 1912 talvez os chamasse de autísticos incide assim inteiramente dentro do domínio da psicologia individual não sendo adequado para diferençála de uma psicologia social ou de grupo O indivíduo nas relações que já mencionei com os pais com os irmãos e irmãs com a pessoa amada com os amigos e com o médico cai sob a influência de apenas uma só pessoa ou de um número bastante reduzido de pessoas cada uma das quais se torna enormemente importante para ele Ora quando se fala de psicologia social ou de grupo costumase deixar essas relações de lado e isolar como tema de indagação o influenciamiento de um indivíduo por um grande número de pessoas simultaneamente pessoas com quem se acha ligado por algo embora sob outros aspectos e em muitos respeitos possam serlhe estranhas A psicologia de grupo interessase assim pelo indivíduo como membro de uma raça de uma nação de uma casta de uma profissão de uma instituição ou como parte componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo numa ocasião determinada para um intuito definido Uma vez a continuidade natural tenha sido interrompida desse modo se uma ruptura é assim efetuada entre coisas que são por natureza interligadas é fácil encarar os fenômenos surgidos sob essas condições especiais como expressões de um instinto especial que já não é redutível o instinto social herd instinct group mind que não vem à luz em nenhuma outra situação Contudo talvez possamos atrevernos a objetar que parece difícil atribuir ao fator numérico uma significação tão grande que o torne capaz por si próprio de despertar em nossa vida mental um novo instinto que de outra maneira não seria colocado em jogo Nossa expectativa dirigese assim para duas outras possibilidades que o instinto social talvez não seja um instinto primitivo insuscetível de dissociação e que seja possível descobrir os primórdios de sua evolução num círculo mais estreito tal como o da família Embora a psicologia de grupo ainda se encontre em sua infância ela abrange imenso número de temas independentes e ofrece aos investigadores incontáveis problemas que até o momento nem mesmo foram corretamente distinguidos uns dos outros A mera classificação das diferentes formas de formação de grupo e a descrição dos fenômenos mentais por elas produzidos exigem grande dispêndio de observação e exposição que já deu origem a uma copiosa literatura Qualquer pessoa que compare as exíguas dimensões deste pequeno livro com a ampla extensão da psicologia de grupo poderá perceber em seguida que apenas alguns pontos escolhidos dentre a totalidade do material serão tratados aqui E realmente é em apenas algumas questões que a psicologia profunda da psicanálise está especialmente interessada II A DESCRIÇÃO DE LE BON DA MENTE GRUPAL Em vez de partir de uma definição parece mais proveitoso começar com alguma indicação do campo de ação dos fenômenos em exame e selecionar dentre eles alguns fatos especialmente notáveis e característicos aos quais nossa indagação possa ligarse Podemos alcançar ambos os objetivos por meio de citações da obra merecidamente famosa de Le Bon Psychologie des foules 1855 Esclareçamos mais uma vez o assunto Se uma psicologia interessada em explorar as predisposições os impulsos instintuais os motivos e os fins de um indivíduo até as suas ações e suas relações com aqueles que lhe são mais próximos houvesse atingido completamente seu objetivo e esclarecido a totalidade dessas questões com suas interconexões defrontarseia então subitamente com uma nova tarefa que perante ela se estenderia incompleta Seria obrigada a explicar o fato surpreendente de que sob certa condição esse indivíduo a quem havia chegado a compreender pensou sentiu e agiu de maneira inteiramente diferente daquela que seria esperada Essa condição é a sua inclusão numa reunião de pessoas que adquiriu a característica de um grupo psicológico O que é então um grupo Como adquire ele a capacidade de exercer influência tão decisiva sobre a vida mental do indivíduo E qual é a natureza da alteração mental que ele força no indivíduo Constituiu tarefa de uma psicologia de grupo teórica responder a essas três perguntas A melhor maneira de abordálas é evidentemente começar pela terceira É a observação das alterações nas reações do indivíduo que fornece à psicologia de grupo seu material de uma vez que toda tentativa de explicação deve ser precedida pela descrição da coisa que tem de ser explicada Deixarei que agora Le Bon fale por si próprio Diz ele A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte sejam quem forem os indivíduos que o compõem por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida suas ocupações seu caráter ou sua inteligência o fato de haverem sido transformados num grupo colocaos na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele tomado individualmente sentiria pensaria e agiria caso se encontrasse em estado de isolamento Há certas idéias e sentimentos que não surgem ou que não se transformam em atos exceto no caso de indivíduos que formam um grupo O grupo psicológico é um ser provisório formado por elementos heterogêneos que por um momento se combinam exatamente como as células que constituem um corpo vivo formam por sua reunião um novo ser que apresenta características muito diferentes daquelas possuídas por cada uma das células isoladamente Trad 1920 29 Tomaremos a liberdade de interromper a exposição de Le Bon com comentários nossos por conseguinte inseriremos uma observação nesse ponto Se os indivíduos do grupo se combinam numa unidade deve haver certamente algo para unilos e esse elo poderia ser precisamente a coisa que é característica de um grupo Mas Le Bon não responde a essa questão prossegue considerando a alteração que o indivíduo experimenta quando num grupo e a descreve em termos que se harmonizam bem com os postulados fundamentais de nossa própria psicologia profunda É fácil provar quanto o indivíduo que faz parte de um grupo difere do indivíduo isolado mas não é tão fácil descobrir as causas dessa diferença Para obter de qualquer modo um vislumbre delas é necessário em primeiro lugar trazer à mente a verdade estabelecida pela psicologia moderna a de que os fenômenos inconscientes desempenham papel inteiramente preponderante não apenas na vida orgânica mas também nas operações da inteligência A vida consciente da mente é de pequena importância em comparação com sua vida inconsciente O analista mais sutil o observador mais agudo dificilmente obtém êxito em descobrir mais do que um número muito pequeno dos motivos conscientes que determinam sua conduta Nossos atos conscientes são o produto de um substrato inconsciente criado na mente principalmente por influências hereditárias Esse substrato consiste nas inumeráveis características comuns transmitidas de geração a geração que constituem o gênio de uma raça Por detrás das causas confessadas de nossos atos jazem indubitavelmente causas secretas que não confessamos mas por detrás dessas causas secretas existem muitas outras mais secretas ainda ignoradas por nós próprios A maior parte de nossas ações cotidianas são resultados de motivos ocultos que fogem à nossa observação Ibid 30 Le Bon pensa que os dotes particulares dos indivíduos se apagam num grupo e que dessa maneira sua distintividade se desvanece O inconsciente racial emerge o que é heterogêneo submerge no que é homogêneo Como diríamos nós a superestrutura mental cujo desenvolvimento nos indivíduos apresenta tais dessemelhanças é removida e as funções inconscientes que são semelhantes em todos ficam expostas à vista Assim os indivíduos de um grupo viram a mostrar um caráter médio Mas Le Bon acredita que eles também apresentam novas características que não possuíam anteriormente e busca a razão disso em três fatores diferentes O primeiro é que o indivíduo que faz parte de um grupo adquire unicamente por considerações numéricas um sentimento de poder invencível que lhe permite renderse a instintos que estivesse ele sozinho teria compulsoriamente mantido sob coerção Ficará ele ainda menos disposto a controlarse pela consideração de que sendo um grupo anônimo e por conseqüência irresponsável o sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece inteiramente Ibid 33 Segundo nosso ponto de vista não precisamos atribuir tanta importância ao aparecimento de características novas Para nós seria bastante dizer que num grupo o indivíduo é colocado sob condições que lhe permitem arrojar de si as repressões de seus impulsos instintuais inconscientes As características aparentemente novas que então apresenta são na realidade as manifestações desse inconsciente no qual tudo o que é mau na mente humana está contido como uma predisposição Não há dificuldade alguma em compreender o desaparecimento da consciência ou do senso de responsabilidade nessas circunstâncias Há muito tempo é asserção nossa que a ansiedade social constitui a essência do que é chamado de consciência A segunda causa que é o contágio também intervém para determinar nos grupos a manifestação de suas características especiais e ao mesmo tempo a tendência que devem tomar O contágio é um fenômeno cuja presença é fácil estabelecer e difícil explicar Deve ser classificado entre aqueles fenômenos de ordem hipnótica que logo estudaremos Num grupo todo sentimento e todo ato são contagiosos e contagiosos em tal grau que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo Tratase de aptidão bastante contrária à sua natureza e da qual um homem dificilmente é capaz exceto quando faz parte de um grupo Ibid 33 Mais tarde basearemos uma importante conjectura nessa última afirmação Uma terceira causa de longe a mais importante determina nos indivíduos de um grupo características especiais que são às vezes inteiramente contrárias às apresentadas pelo indivíduo isolado Aludo àquela sugestionabilidade da qual além disso o contágio acima mencionado não é mais do que um efeito Para compreender esse fenômeno é necessário ter em mente certas recentes descobertas psicológicas Sabemos hoje que por diversos processos um indivíduo pode ser colocado numa condição em que havendo perdido inteiramente sua personalidade consciente obedece a todas as sugestões do operador que o privou dela e comete atos em completa contradição com seu caráter e hábitos As investigações mais cuidadosas parecem demonstrar que um indivíduo imerso por certo lapso de tempo num grupo em ação cedo se descobre seja em conseqüência da influência magnética emanada do grupo seja devido a alguma outra causa por nós ignorada num estado especial que se assemelha muito ao estado de fascinação em que o indivíduo hipnotizado se encontra nas mãos do hipnotizador A personalidade consciente desvaneceuse inteiramente a vontade e o discernimento se perderam Todos os sentimentos e o pensamento inclinamse na direção determinada pelo hipnotizador Esse também é aproximadamente o estado do indivíduo que faz parte de um grupo psicológico Ele já não se acha consciente de seus atos Em seu caso como no do sujeito hipnotizado ao mesmo tempo que certas faculdades são destruídas outras podem ser conduzidas a um alto grau de exaltação Sob a influência de uma sugestão empreenderá a realização de certos atos com irresistível impetuosidade Essa impetuosidade é ainda mais irresistível no caso dos grupos do que no do sujeito hipnotizado porque sendo a sugestão a mesma para todos os indivíduos do grupo ela ganha força pela reciprocidade Ibid 34 Vemos então que o desaparecimento da personalidade consciente a predominância da personalidade inconsciente a modificação por meio da sugestão e do contágio de sentimentos e idéias numa direção idêntica a tendência a transformar imediatamente as idéias sugeridas em atos estas vemos são as características principais do indivíduo que faz parte de um grupo Ele não é mais ele mesmo mas transformouse num autômato que deixou de ser dirigido pela sua vontade Ibid 35 Citei essa passagem tão integralmente a fim de tornar inteiramente claro que Le Bon explica a condição de um indivíduo num grupo como sendo realmente hipnótica e não faz simplesmente uma comparação entre os dois estados Não temos intenção de levantar qualquer objeção a esse argumento mas queremos apenas dar ênfase ao fato de que as duas últimas causas pelas quais um indivíduo se modifica num grupo o contágio e a alta sugestionabilidade não se encontram evidentemente no mesmo plano de modo que o contágio parece na realidade ser uma manifestação da sugestionabilidade Além disso os efeitos dos dois fatores não parecem ser nitidamente diferenciados no texto das observações de Le Bon Talvez possamos interpretar melhor seu enunciado se vincularmos o contágio aos efeitos dos membros do grupo tomados individualmente uns sobre os outros enquanto apontamos outra fonte para essas manifestações de sugestões no grupo as quais ele considera semelhantes aos fenômenos da influência hipnótica Mas que fonte Não podemos deixar de ficar impressionados por uma sensação de lacuna quando observarmos que um dos principais elementos da comparação a saber a pessoa que deve substituir o hipnotizador no caso do grupo não é mencionada na exposição de Le Bon Entretanto ele faz distinção entre essa influência da fascinação que permanece mergulhada na obscuridade e o efeito contagioso que os indivíduos exercem uns sobre os outros e através do qual a sugestão original é fortalecida Temos aqui outra importante comparação para ajudarnos a entender o indivíduo num grupo Além disso pelo simples fato de fazer parte de um grupo organizado um homem desce vários degraus na escada da civilização Isolado pode ser um indivíduo culto numa multidão é um bárbaro ou seja uma criatura que age pelo instinto Possui a espontaneidade a violência a ferocidade e também o entusiasmo e o heroísmo dos seres primitivos Ibid 36 Le Bon demorase então especialmente na redução da capacidade intelectual que um indivíduo experimenta quando se funde num grupo Abandonemos agora o indivíduo e voltemonos para a mente grupal tal como delineada por Le Bon Ela não apresenta um único aspecto que um psicanalista encontre qualquer dificuldade em situar ou em fazer derivar de sua fonte O próprio Le Bon nos mostra o caminho apontando para sua semelhança com a vida mental dos povos primitivos e das crianças ibid 40 Um grupo é impulsivo mutável e irritável É levado quase que exclusivamente por seu inconsciente Os impulsos a que um grupo obedece podem de acordo com as circunstâncias ser generosos ou cruéis heróicos ou covardes mas são sempre tão imperiosos que nenhum interesse pessoal nem mesmo o da autopreservação pode fazerse sentir ibid 41 Nada dele é premeditado Embora possa desejar coisas apaixonadamente isso nunca se dá por muito tempo porque é incapaz de perseverança Não pode tolerar qualquer demora entre seu desejo e a realização do que deseja Tem um sentimento de onipotência para o indivíduo num grupo a noção de impossibilidade desaparece Um grupo é extremamente crédulo e aberto à influência não possui faculdade crítica e o improvável não existe para ele Pensa por imagens que se chamam umas às outras por associação tal como surgem nos indivíduos em estados de imaginação livre e cuja concordância com a realidade jamais é conferida por qualquer órgão razoável Os sentimentos de um grupo são sempre muito simples e muito exagerados de maneira que não conhece a dúvida nem a incerteza Ele vai diretamente a extremos se uma suspeita é expressa ela instantaneamente se modifica numa certeza incontrovertível um traço de antipatia se transforma em ódio furioso ibid 56 Inclinado como é a todos os extremos um grupo só pode ser excitado por um estímulo excessivo Quem quer que deseje produzir efeito sobre ele não necessita de nenhuma ordem lógica em seus argumentos deve pintar nas cores mais fortes deve exagerar e repetir a mesma coisa diversas vezes Desde que não se acha em dúvida quanto ao que constitui verdade ou erro e além disso tem consciência de sua própria grande força um grupo é tão intolerante quanto obediente à autoridade Respeita a força e só ligeiramente pode ser influenciado pela bondade que encara simplesmente como uma forma de fraqueza O que exige de seus heróis é força ou mesmo violência Quer ser dirigido oprimido e temer seus senhores Fundamentalmente é inteiramente conservador e tem profunda aversão por todas as inovações e progressos e um respeito ilimitado pela tradição ibid 62 A fim de fazer um juízo correto dos princípios éticos do grupo há que levar em consideração o fato de que quando indivíduos se reúnem num grupo todas as suas inibições individuais caem e todos os instintos cruéis brutais e destrutivos que neles jaziam adormecidos como relíquias de uma época primitiva são despertados para encontrar gratificação livre Mas sob a influência da sugestão os grupos também são capazes de elevadas realizações sob forma de abnegação desprendimento e devoção a um ideal Ao passo que com os indivíduos isolados o interesse pessoal é quase a única força motivadora nos grupos ele muito raramente é proeminente É possível afirmar que um indivíduo tenha seus padrões morais elevados por um grupo ibid 65 Ao passo que a capacidade intelectual de um grupo está sempre muito abaixo da de um indivíduo sua conduta ética pode tanto elevarse muito acima da conduta deste último quanto cair muito abaixo dela Alguns outros aspectos da descrição de Le Bon mostram a uma clara luz quão justificada é a identificação da mente grupal com a mente dos povos primitivos Nos grupos as idéias mais contraditórias podem existir lado a lado e tolerarse mutuamente sem que nenhum conflito surja da contradição lógica entre elas Esse é também o caso da vida mental inconsciente dos indivíduos das crianças e dos neuróticos como a psicanálise há muito tempo indicou Um grupo ainda está sujeito ao poder verdadeiramente mágico das palavras que podem evocar as mais formidáveis tempestades na mente grupal sendo também capazes de apaziguálas ibid 117 A razão e os argumentos são incapazes de combater certas palavras e fórmulas Elas são proferidas com solenidade na presença dos grupos e assim que foram pronunciadas uma expressão de respeito se torna visível em todos os semblantes e todas as cabeças se curvam Por muitos são consideradas como forças naturais ou como poderes sobrenaturais Ibid 117 A esse respeito basta recordar os tabus sobre nomes entre os povos primitivos e os poderes mágicos que atribuem aos nomes e às palavras E finalmente os grupos nunca ansiaram pela verdade Exigem ilusões e não podem passar sem elas Constantemente dão ao que é irreal precedência sobre o real são quase tão intensamente influenciados pelo que é falso quanto pelo que é verdadeiro Possuem tendência evidente a não distinguir entre as duas coisas ibid 77 Já indicamos que essa predominância da vida da fantasia e da ilusão nascida de um desejo irrealizado é o fator dominante na psicologia das neuroses Descobrimos que aquilo por que os neuróticos se guiam não é a realidade objetiva comum mas a realidade psicológica Um sintoma histérico baseiase na fantasia em vez de na repetição da experiência real e o sentimento de culpa na neurose obsessiva fundamentase no fato de uma intenção má que nunca foi executada Na verdade tal como nos sonhos e na hipnose nas operações mentais de um grupo a função de verificação da realidade das coisas cai para o segundo plano em comparação com a força dos impulsos plenos de desejo com sua catexia afetiva O que Le Bon diz sobre o tema dos líderes de grupos é menos exaustivo e não nos permite elaborar tão claramente um princípio subjacente Pensa ele que assim que seres vivos se reúnem em certo número sejam eles um rebanho de animais ou um conjunto de seres humanos se colocam instintivamente sob a influência de um chefe ibid 134 Um grupo é um rebanho obediente que nunca poderia viver sem um senhor Possui tal anseio de obediência que se submete instintivamente a qualquer um que se indique a si próprio como chefe Embora dessa maneira as necessidades de um grupo o conduzam até meio caminho ao encontro de um líder este contudo deve ajustarse àquele em suas qualidades pessoais Deve ser fascinado por uma intensa fé numa idéia a fim de despertar a fé do grupo tem de possuir vontade forte e imponente que o grupo que não tem vontade própria possa dele aceitar Le Bon discute então os diferentes tipos de líderes e os meios pelos quais atuam sobre o grupo Em geral acredita que os líderes se fazem notados por meio das idéias em que eles próprios acreditam fanaticamente Além disso atribui tanto às idéias quanto aos líderes um poder misterioso e irresistível a que chama de prestígio O prestígio é uma espécie de domínio exercido sobre nós por um indivíduo um trabalho ou uma idéia Paralisa inteiramente nossas faculdades críticas e enchenos de admiração e respeito Parece que desperta um sentimento como o da fascinação na hipnose ibid 148 Le Bon faz distinção entre o prestígio adquirido ou artificial e o prestígio pessoal O primeiro se liga às pessoas em virtude de seu nome fortuna e reputação e a opiniões obras de arte etc em virtude da tradição Desde que em todos os casos ele remonta ao passado não nos pode ser de grande auxílio para a compreensão dessa influência enigmática O prestígio pessoal ligase a umas poucas pessoas que se tornam líderes por meio dele e tem o efeito de fazer com que todos as obedeçam como se fosse pelo funcionamento de alguma magia magnética Todo prestígio contudo depende também do sucesso e se perde em caso de fracasso ibid 159 Le Bon não dá a impressão de haver conseguido colocar a função do líder e a importância do prestígio completamente em harmonia com seu retrato brilhantemente executado da mente grupal III OUTRAS DESCRIÇÕES DA VIDA MENTAL COLETIVA Utilizamos a descrição de Le Bon à guisa de introdução por ajustarse tão bem à nossa própria psicologia na ênfase que dá à vida mental inconsciente Mas temos agora de acrescentar que na realidade nenhuma das afirmativas desse autor apresentou algo de novo Tudo o que diz em detrimento e depreciação das manifestações da mente grupal já fora dito por outros antes dele com igual nitidez e igual hostilidade e fora repetido em uníssono por pensadores estadistas e escritores desde os primeiros períodos da literatura As duas teses que abrangem as mais importantes das opiniões de Le Bon ou seja as que tocam na inibição coletiva do funcionamento intelectual e na elevação da afetividade nos grupos foram formuladas pouco antes por Sighele No fundo tudo o que resta como peculiar a Le Bon são as duas noções do inconsciente e da comparação com a vida mental dos povos primitivos e mesmo estas naturalmente já haviam sido com freqüência aludidas antes dele Contudo o que é mais a descrição e a estimativa da mente grupal tal como fornecidas por Le Bon e os outros de modo algum foram deixadas sem objeção Não há dúvida de que todos os fenômenos da mente grupal que acabaram de ser mencionados foram corretamente observados mas é também possível distinguir outras manifestações de formação de grupo que atuam em sentido exatamente contrário e das quais uma opinião muito mais elevada da mente grupal deve necessariamente decorrer O próprio Le Bon estava pronto a admitir que em certas circunstâncias os princípios éticos de um grupo podem ser mais elevados que os dos indivíduos que o compõem e que apenas as coletividades são capazes de um alto grau de desprendimento e devoção Ao passo que com os indivíduos isolados o interesse pessoal é quase a única força motivadora nos grupos ele muito raramente é proeminente Le Bon trad 1920 65 Outros escritores aduzem o fato de que apenas a sociedade prescreve quaisquer padrões éticos para o indivíduo enquanto que via de regra este fracassa de uma maneira ou de outra em mostrarse à altura de suas elevadas exigências Ou então indicam eles que em circunstâncias excepcionais pode surgir nas comunidades o fenômeno do entusiasmo que tornou possíveis as mais esplêndidas realizações grupais Quanto ao trabalho intelectual permanece um fato na verdade que as grandes decisões no domínio do pensamento e as momentosas descobertas e soluções de problemas só são possíveis ao indivíduo que trabalha em solidão Contudo mesmo a mente grupal é capaz de gênio criativo no campo da inteligência como é demonstrado acima de tudo pela própria linguagem bem como pelo folclore pelas canções populares e outros fatos semelhantes Permanece questão aberta além disso saber quanto o pensador ou o escritor individualmente devem ao estímulo do grupo em que vivem e se eles não fazem mais do que aperfeiçoar um trabalho mental em que os outros tiveram parte simultânea Frente a essas descrições completamente contraditórias talvez parecesse que o trabalho da psicologia de grupo estivesse fadado a chegar a um fim infrutífero Mas é fácil encontrar uma saída mais esperançosa para o dilema Uma série de estruturas bastante diferentes provavelmente se fundiram sob a expressão grupo e podem exigir que sejam distinguidas As assertivas de Sighele Le Bon e outros referemse a grupos de caráter efêmero que algum interesse passageiro apressadamente aglomerou a partir de diversos tipos de indivíduos As características dos grupos revolucionários especialmente os da grande Revolução Francesa influenciaram inequivocamente suas descrições As opiniões contrárias devem sua origem à consideração daqueles grupos ou associações estáveis em que a humanidade passa a sua vida e que se acham corporificados nas instituições da sociedade Os grupos do primeiro tipo encontramse com os do segundo no mesmo tipo de relação que um mar alto mas encapelado tem com uma ondulação de terreno McDougall em seu livro sobre The Group Mind A Mente Grupal 1920a parte da mesma contradição que acabou de ser mencionada e encontra uma solução para ela no fato da organização No caso mais simples diz ele o grupo não possui organização alguma ou uma que mal merece esse nome Descreve um grupo dessa espécie como sendo uma multidão Admite porém que uma multidão de seres humanos dificilmente pode reunirse sem possuir pelo menos os rudimentos de uma organização e que precisamente nesses grupos simples certos fatos fundamentais da psicologia coletiva podem ser observados com facilidade especial McDougall 1920a 22 Antes que os membros de uma multidão ocasional de pessoas possam constituir algo semelhante a um grupo no sentido psicológico uma condição tem de ser satisfeita esses indivíduos devem ter algo em comum uns com os outros um interesse comum num objeto uma inclinação emocional semelhante numa situação ou noutra e conseqüentemente gostaria eu de interpolar certo grau de influência recíproca ibid 23 Quanto mais alto o grau dessa homogeneidade mental mais prontamente os indivíduos constituem um grupo psicológico e mais notáveis são as manifestações da mente grupal O resultado mais notável e também o mais importante da formação de um grupo é a exaltação ou intensificação de emoção produzida em cada membro dele ibid 24 Segundo McDougall num grupo as emoções dos homens são excitadas até um grau que elas raramente ou nunca atingem sob outras condições e constitui experiência agradável para os interessados entregarse tão irrestritamente às suas paixões e assim fundiremse no grupo e perderem o senso dos limites de sua individualidade A maneira pela qual os indivíduos são assim arrastados por um impulso comum é explicada por McDougall através do que chama de princípio da indução direta da emoção por via da reação simpática primitiva ibid 25 ou seja através do contágio emocional com que já estamos familiarizados O fato é que a percepção dos sinais de um estado emocional é automaticamente talhada para despertar a mesma emoção na pessoa que os percebe Quanto maior for o número de pessoas em que a mesma emoção possa ser simultaneamente observada mais intensamente cresce essa compulsão automática O indivíduo perde seu poder de crítica e deixase deslizar para a mesma emoção Mas ao assim proceder aumenta a excitação das outras pessoas que produziram esse resultado nele e assim a carga emocional dos indivíduos se intensifica por interação mútua Achase inequivocamente em ação algo da natureza de uma compulsão a fazer o mesmo que os outros a permanecer em harmonia com a maioria Quanto mais grosseiros e simples são os impulsos emocionais mais aptos se encontram a propagarse dessa maneira através de um grupo ibid 39 Esse mecanismo de intensificação da emoção é favorecido por algumas outras influências que emanam dos grupos Um grupo impressiona um indivíduo como sendo um poder ilimitado e um perigo insuperável Momentaneamente ele substitui toda a sociedade humana que é a detentora da autoridade cujos castigos o indivíduo teme e em cujo benefício se submeteu a tantas inibições Élhe claramente perigoso colocarse em oposição a ele e será mais seguro seguir o exemplo dos que o cercam e talvez mesmo caçar com a matilha Em obediência à nova autoridade pode colocar sua antiga consciência fora de ação e entregarse à atração do prazer aumentado que é certamente obtido com o afastamento das inibições No todo portanto não é tão notável que vejamos um indivíduo num grupo fazendo ou aprovando coisas que teria evitado nas condições normais de vida e assim podemos mesmo esperar esclarecer um pouco da obscuridade tão freqüentemente coberta pela enigmática palavra sugestão McDougall não discute a tese relativa à inibição coletiva da inteligência nos grupos ibid 41 Diz que as mentes de inteligência inferior fazem com que as de ordem mais elevada desçam a seu próprio nível Estas últimas são obstruídas em sua atividade porque em geral a intensificação da emoção cria condições desfavoráveis para o trabalho intelectual correto e ademais porque os indivíduos são intimidados pelo grupo e sua atividade mental não se acha livre bem como porque há uma redução em cada indivíduo de seu senso de responsabilidade por seus próprios desempenhos O juízo com que McDougall resume o comportamento psicológico de um grupo não organizado simples não é mais amistoso do que o de Le Bon Tal grupo é excessivamente emocional impulsivo violento inconstante contraditório e extremado em sua ação apresentando apenas as emoções rudes e os sentimentos menos refinados extremamente sugestionável descuidado nas deliberações apressado nos julgamentos incapaz de qualquer forma que não seja a mais simples e imperfeita das formas de raciocínio facilmente influenciado e levado desprovido de autoconsciência despido de autorespeito e de senso de responsabilidade e apto a ser conduzido pela consciência de sua própria força de maneira que tende a produzir todas as manifestações que aprendemos a esperar de qualquer poder irresponsável e absoluto Daí seu comportamento assemelharse mais ao de uma criança indisciplinada ou de um selvagem passional e desassistido numa situação estranha do que ao de seu membro médio e nos piores casos ser mais semelhante ao de um animal selvagem que ao de seres humanos Ibid 45 De uma vez que McDougall contrasta o comportamento de um grupo altamente organizado com o que acabou de ser descrito estaremos particularmente interessados em saber no que essa organização consiste e por que fatores é produzida O autor enumera cinco condições principais para a elevação da vida mental coletiva a um nível mais alto A primeira e fundamental condição é que haja certo grau de continuidade de existência no grupo Esta pode ser material ou formal material se os mesmos indivíduos persistem no grupo por certo tempo e formal se se desenvolveu dentro do grupo um sistema de posições fixas que são ocupadas por uma sucessão de indivíduos A segunda condição é que em cada membro do grupo se forme alguma idéia definida da natureza composição funções e capacidades do grupo de maneira que a partir disso possa desenvolver uma relação emocional com o grupo como um todo A terceira é que o grupo deva ser colocado em interação talvez sob a forma de rivalidade com outros grupos semelhantes mas que dele difiram em muitos aspectos A quarta é que o grupo possua tradições costumes e hábitos especialmente tradições costumes e hábitos tais que determinem a relação de seus membros uns com os outros A quinta é que o grupo tenha estrutura definida expressa na especialização e diferenciação das funções de seus constituintes De acordo com McDougall se essas condições forem satisfeitas afastamse as desvantagens psicológicas das formações de grupo A redução coletiva da capacidade intelectual é evitada retirandose do grupo o desempenho das tarefas intelectuais e reservandoas para alguns membros dele Parecenos que a condição que McDougall designa como sendo a organização de um grupo pode mais justificadamente ser descrita de outra maneira O problema consiste em saber como conseguir para o grupo exatamente aqueles aspectos que eram característicos do indivíduo e nele se extinguiram pela formação do grupo pois o indivíduo fora do grupo primitivo possuía sua própria continuidade sua autoconsciência suas tradições e seus costumes suas próprias e particulares funções e posições e mantinhase apartado de seus rivais Devido à sua entrada num grupo inorganizado perdeu essa distintividade por certo tempo Se assim reconhecemos que o objetivo é aparelhar o grupo com os atributos do indivíduo lembrarnosemos de uma valiosa observação de Trotter no sentido de que a tendência para a formação de grupos é biologicamente uma continuação do caráter multicelular de todos os organismos superiores IV SUGESTÃO E LIBIDO Partimos do fato fundamental de que o indivíduo num grupo está sujeito através da influência deste ao que com freqüência constitui profunda alteração em sua atividade mental Sua submissão à emoção tornase extraordinariamente intensificada enquanto que sua capacidade intelectual é acentuadamente reduzida com ambos os processos evidentemente dirigindose para uma aproximação com os outros indivíduos do grupo e esse resultado só pode ser alcançado pela remoção daquelas inibições aos instintos que são peculiares a cada indivíduo e pela resignação deste àquelas expressões de inclinações que são especialmente suas Aprendemos que essas conseqüências amiúde importunas são até certo ponto pelo menos evitadas por uma organização superior do grupo mas isto não contradiz o fato fundamental da psicologia de grupo as duas teses relativas à intensificação das emoções e à inibição do intelecto nos grupos primitivos Nosso interesse dirigese agora para a descoberta da explicação psicológica dessa alteração mental que é experimentada pelo indivíduo num grupo É claro que fatores racionais tais como a intimidação do indivíduo que já foi mencionada ou seja a ação de seu instinto de autopreservação não abrangem os fenômenos observáveis Além disso o que nos é oferecido como explicação por autoridade em sociologia e psicologia de grupo é sempre a mesma coisa embora receba diversos nomes a palavra mágica sugestão Tarde 1890 chamaa de imitação mas não podemos deixar de concordar com um escritor que protesta que a imitação se subordina ao conceito de sugestão sendo na realidade um de seus resultados Brugeilles 1913 Le Bon faz com que a origem de todas as enigmáticas características dos fenômenos sociais remonte a dois fatores a sugestão mútua dos indivíduos e o prestígio dos líderes Contudo mais uma vez o prestígio só é reconhecível por sua capacidade de evocar a sugestão McDougall por um momento nos dá a impressão de que seu princípio da indução primitiva de emoção pode permitirnos passar sem a suposição da sugestão Numa consideração mais detida porém somos forçados a perceber que esse princípio não faz mais do que as familiares afirmativas sobre imitação ou contágio exceto pela decidida ênfase dada ao fator emocional Não há dúvida de que existe algo em nós que quando nos damos conta de sinais de emoção em alguém mais tende a fazernos cair na mesma emoção contudo quão amiúde não nos opomos com sucesso a isso resistimos à emoção e reagimos de maneira inteiramente contrária Por que portanto invariavelmente cedemos a esse contágio quando nos encontramos num grupo Mais uma vez teríamos de dizer que o que nos compele a obedecer a essa tendência é a imitação e o que induz a emoção em nós é a influência sugestiva do grupo Ademais inteiramente à parte disso McDougall não nos permite escapar à sugestão aprendemos com ele bem como com outros autores que os grupos se distinguem por sua especial sugestionabilidade Estaremos assim preparados para a assertiva de que a sugestão ou mais corretamente a sugestionabilidade é na realidade um fenômeno irredutível e primitivo um fato fundamental na vida mental do homem Essa também era a opinião de Bernheim de cuja espantosa arte fui testemunha em 1889 Posso porém lembrarme de que mesmo então sentia uma hostilidade surda contra essa tirania da sugestão Quando um paciente que não se mostrava dócil enfrentava o grito Mas o que está fazendo Vou vous contresuggestionnez eu dizia a mim mesmo que isso era uma injustiça evidente e um ato de violência porque o homem certamente tinha direito a contrasugestões se estavam tentando dominálo com sugestões Mais tarde minha resistência tomou o sentido de protestar contra a opinião de que a própria sugestão que explicava tudo era isenta de explicação Pensando nisso eu repetia a velha adivinhação Christoph trug Christum Christus trug die ganze Welt Sag wo hat Christoph Damals hin den Fuss gestellt Christophorus Christum sed Christus sustulit orbem Constiterit pedibus dic ubi Christophorus Agora que mais uma vez abordo o enigma da sugestão depois que me mantive afastado dele por cerca de trinta anos descubro que não houve mudança na situação Há uma exceção a ser feita a essa afirmativa exceção que dá testemunho exatamente da influência da psicanálise Observo que esforços particulares estão sendo efetuados para formular corretamente o conceito de sugestão isto é fixar o emprego convencional do nome por exemplo McDougall 1920b E isso de maneira alguma é supérfluo porque a palavra está adquirindo uso casa vez mais impreciso em alemão e cedo virá a designar uma espécie de influência por qualquer que seja tal como acontece em inglês em que sugerir e sugestão correspondem aos nossos nahelegen e Anregung Entretanto não houve explicação da natureza da sugestão ou seja das condições sob as quais a influência sem fundamento lógico e adequado se realiza Eu não fugiria à tarefa de sustentar aquela afirmativa por uma análise da literatura dos últimos trinta anos se não me achasse ciente de que está sendo empreendida muito próximo uma exaustiva investigação que tem por objetivo a realização dessa mesma tarefa Em vez disso tentarei utilizar o conceito de libido que nos prestou bons serviços no estudo das psiconeuroses a fim de lançar luz sobre a psicologia de grupo Libido é expressão extraída da teoria das emoções Damos esse nome à energia considerada como uma magnitude quantitativa embora na realidade não seja presentemente mensurável daqueles instintos que têm a ver com tudo o que pode ser abrangido sob a palavra amor O núcleo do que queremos significar por amor consiste naturalmente e é isso que comumente é chamado de amor e que os poetas cantam no amor sexual com a união sexual como objetivo Mas não isolamos disso que em qualquer caso tem sua parte no nome amor por um lado o amor próprio e por outro o amor pelos pais e pelos filhos a amizade e o amor pela humanidade em geral bem como a devoção a objetos concretos e a idéias abstratas Nossa justificativa reside no fato de que a pesquisa psicanalítica nos ensinou que todas essas tendências constituem expressão dos mesmos impulsos instintuais nas relações entre os sexos esses impulsos forçam seu caminho no sentido da união sexual mas em outras circunstâncias são desviados desse objetivo ou impedidos de atingilo embora sempre conservem o bastante de sua natureza original para manter reconhecível sua identidade como em características tais como o anseio de proximidade e o autosacrifício Somos de opinião pois que a linguagem efetuou uma unificação inteiramente justificável ao criar a palavra amor com seus numerosos usos e que não podemos fazer nada melhor senão tomála também como base de nossas discussões e exposições científicas Por chegar a essa decisão a psicanálise desencadeou uma tormenta de indignação como se fosse culpada de um ato de ultrajante inovação Contudo não fez nada de original em tomar o amor nesse sentido mais amplo Em sua origem função e relação com o amor sexual o Eros do filósofo Platão coincide exatamente com a força amorosa a libido da psicanálise tal como foi pormenorizadamente demonstrado por Nachmansohn 1915 e Pfister 1921 e quando o apóstolo Paulo em sua famosa Epístola aos Coríntios louva o amor sobre tudo o mais certamente o entende no mesmo sentido mais amplo Mas isso apenas demonstra que os homens nem sempre levam a sério seus grandes pensadores mesmo quando mais professam admirálos A psicanálise portanto dá a esses instintos amorosos o nome de instintos sexuais a potiori e em razão de sua origem A maioria das pessoas instruídas encarou essa nomenclatura como um insulto e fez sua vingança retribuindo à psicanálise a pecha de pansexualismo Qualquer pessoa que considere o sexo como algo mortificante e humilhante para a natureza humana está livre para empregar as expressões mais polidas Eros e erótico Eu poderia ter procedido assim desde o começo e me teria poupado muita oposição Mas não quis fazêlo porque me apraz evitar fazer concessões à pusilanimidade Nunca se pode dizer até onde esse caminho nos levará cedese primeiro em palavras e depois pouco a pouco em substância também Não posso ver mérito algum em se ter vergonha do sexo a palavra grega Eros destinada a suavizar a afronta ao final nada mais é do que tradução de nossa palavra alemã Liebe amor e finalmente aquele que sabe esperar não precisa de fazer concessões Tentaremos nossa sorte então com a suposição de que as relações amorosas ou para empregar expressão mais neutra os laços emocionais constituem também a essência da mente grupal Recordemos que as autoridades não fazem menção a nenhuma dessas relações Aquilo que lhes corresponderia está evidentemente oculto por detrás do abrigo do biombo da sugestão Em primeira instância nossa hipótese encontra apoio em duas reflexões de rotina Primeiro a de que um grupo é claramente mantido unido por um poder de alguma espécie e a que poder poderia essa façanha ser mais bem atribuída do que a Eros que mantém unido tudo o que existe no mundo Segundo a de que se um indivíduo abandona a sua distintividade num grupo e permite que seus outros membros o influenciem por sugestão isso nos dá a impressão de que o faz por sentir necessidade de estar em harmonia com eles de preferência a estar em oposição a eles de maneira que afinal de contas talvez o faça ihnen zu Liebe V DOIS GRUPOS ARTIFICIAIS A IGREJA E O EXÉRCITO Daquilo que sabemos sobre a morfologia dos grupos podemos recordar que é possível distinguir tipos muito diferentes de grupos e linhas opostas em seu desenvolvimento Há grupos muito efêmeros e outros extremamente duradouros grupos homogêneos constituídos pelos mesmos tipos de indivíduos e grupos não homogêneos grupos naturais e grupos artificiais que exigem uma força externa para mantêlos reunidos grupos primitivos e grupos altamente organizados com estrutura definida Entretanto por razões ainda não explicadas gostaríamos de dar ênfase especial a uma distinção a que os que escreveram sobre o assunto inclinaramse a conceder muito pouca atenção refirome à distinção existente entre grupos sem líderes e grupos com líderes E em completa oposição à prática costumeira não escolherei como nosso ponto de partida uma formação de grupo relativamente simples mas começarei por grupos altamente organizados permanentes e artificiais Os mais interessantes exemplos de tais estruturas são as Igrejas comunidades de crentes e os exércitos Uma Igreja e um exército são grupos artificiais isto é uma certa força externa é empregada para impedilos de desagregarse e para evitar alterações em sua estrutura Via de regra a pessoa não é consultada ou não tem escolha sobre se deseja ou não ingressar em tal grupo qualquer tentativa de abandonálo se defronta geralmente com a perseguição ou severas punições ou possui condições inteiramente definidas a ela ligadas Achase inteiramente fora de nosso interesse atual indagar a razão por que essas associações precisam de tais salvaguardas especiais Somos atraídos apenas por uma circunstância a saber a de que certos fatos muito mais ocultos em outros casos podem ser observados de modo bastante claro nesses grupos altamente organizados que são protegidos da dissolução pela maneira já mencionadaNuma Igreja e podemos com proveito tomar a Igreja Católica como exemplo típico bem como num exército por mais diferentes que ambos possam ser em outros aspectos prevalece a mesma ilusão de que há um cabeça na Igreja Católica Cristo num exército o comandantechefe que ama todos os indivíduos do grupo com um amor igual Tudo depende dessa ilusão se ela tivesse de ser abandonada então tanto a Igreja quanto o exército se dissolveriam até onde a força externa lhes permitisse fazêlo Esse amor igual foi expressamente enunciado por Cristo Quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos a mim o fizestes Ele colocase para cada membro do grupo de crentes na relação de um bondoso irmão mais velho é seu pai substituto Todas as exigências feitas ao indivíduo derivam desse amor de Cristo Um traço democrático perpassa pela Igreja pela própria razão de que perante Cristo todos são iguais e todos possuem parte igual de seu amor Não é sem profunda razão que se invoca a semelhança entre a comunidade cristã e uma família e que os crentes chamamse a si mesmos de irmãos em Cristo isto é irmãos através do amor que Cristo tem por eles Não há dúvida de que o laço que une cada indivíduo a Cristo é também a causa do laço que os une uns aos outros A mesma coisa se aplica a um exército O comandantechefe é um pai que ama todos os soldados igualmente e por essa razão eles são camaradas entre si O exército difere estruturalmente da Igreja por comporse de uma série de tais grupos Todo capitão é por assim dizer o comandantechefe e o pai de sua companhia e assim também todo oficial inferior o de sua unidade É verdade que uma hierarquia semelhante foi construída na Igreja contudo não desempenha nela economicamente o mesmo papel pois um maior conhecimento e cuidado quanto aos indivíduos pode ser atribuído a Cristo mas não a um comandantechefe humano Levantarseá justificadamente uma objeção contra essa concepção da estrutura libidinal de um exército com base no fato de nela não se ter encontrado lugar para idéias como as do próprio país da glória nacional etc de tanta importância para manter unido um exército A resposta é que esse é um caso diferente de laço grupal e não mais um laço simples porque os exemplos dos grandes generais como César Wallenstein ou Napoleão mostram que tais idéias não são indispensáveis à existência de um exército Tocaremos dentro em pouco na possibilidade de um líder ser substituído por uma idéia dominante e nas relações entre ambos Parece que o desprezo desse fator libidinal num exército mesmo quando não constitui o único fator em atuação não é apenas uma omissão teórica mas também um perigo prático O militarismo prussiano que era exatamente tão carente de psicologia quanto a ciência alemã pode ter sofrido as consequências disso na primeira Guerra Mundial Sabemos que as neuroses de guerra que assolaram o exército alemão foram identificadas como sendo um protesto do indivíduo contra o papel que se esperava que ele desempenhasse no exército e de acordo com a comunicação de Simmel 1918 o duro tratamento dos soldados pelos seus superiores pode ser considerado como a principal entre as forças motivadoras da moléstia Se a importância das reivindicações da libido no tocante a isso houvesse sido mais bem apreciada provavelmente não se teria acreditado tão facilmente nas fantásticas promessas dos Quatorze Pontos do presidente americano e o esplêndido instrumento não se teria rompido nas mãos dos líderes alemães É de notar que nesses dois grupos artificiais cada indivíduo está ligado por laços libidinais por um lado ao líder Cristo o comandantechefe e por outro aos demais membros do grupo Como esses dois laços se relacionam se são da mesma espécie e do mesmo valor e como devem ser descritos psicologicamente constituem questões que devemos reservar para investigação subseqüente Mas já agora nos aventuraremos a fazer uma leve censura contra os escritores anteriores por não terem apreciado suficientemente a importância do líder na psicologia de grupo enquanto que nossa própria escolha disso como primeiro tema de investigação nos colocou numa posição mais favorável Pareceria que nos achamos no caminho certo para uma explicação do principal fenômeno da psicologia de grupo a falta de liberdade do indivíduo num grupo Se cada indivíduo está preso em duas direções por um laço emocional tão intenso não encontraremos dificuldade em atribuir a essa circunstância a alteração e a limitação que foram observadas em sua personalidade Uma sugestão no mesmo sentido a de que a essência de um grupo reside nos laços libidinais que nele existem pode também ser encontrada no fenômeno do pânico que se acha mais bem estudado nos grupos militares Surge o pânico se um grupo desse tipo se desintegra Suas características são a de que as ordens dadas pelos superiores não são mais atendidas e a de que cada indivíduo se preocupa apenas consigo próprio sem qualquer consideração pelos outros Os laços mútuos deixaram de existir e liberase um medo gigantesco e insensato Nesse ponto mais uma vez farseá naturalmente a objeção de que ocorre antes exatamente o contrário e a de que o medo tornouse grande a ponto de poder desprezar todos os laços e todos os sentimentos de consideração pelos outros McDougall 1920a 24 chegou mesmo a utilizar o pânico embora não o pânico militar como exemplo típico daquela intensificação da emoção pelo contágio indução primária a que dá tanta ênfase Não obstante porém esse método racional de explicação é aqui inteiramente inadequado A própria questão que necessita de explicação é saber por que o medo se torna tão gigantesco A magnitude do perigo não pode ser a responsável porque o mesmo exército que agora tomba vítima de pânico pode anteriormente ter enfrentado perigos iguais ou maiores com sucesso total pertence à própria essência do pânico não apresentar relação com o perigo que ameaça e irromper freqüentemente nas ocasiões mais triviais Se um indivíduo com medo pânico começa a se preocupar apenas consigo próprio dá testemunho ao fazêlo do fato de que os laços emocionais que até então haviam feito o perigo parecerlhe mínimo cessaram de existir Agora que está sozinho a enfrentar o perigo pode certamente achálo maior Dessa maneira o fato é que o medo pânico pressupõe relaxamento na estrutura libidinal do grupo e reage a esse relaxamento de maneira justificável e que a conceitação contrária ou seja a de que os laços libidinais do grupo são destruídos devido ao medo em face do perigo pode ser refutada A afirmativa de que o medo num grupo é aumentado em proporções enormes através da indução contágio de modo algum é contraditada por essas observações A conceituação de McDougall atende completamente ao caso quando o perigo é realmente grande e o grupo não possui fortes laços emocionais condições que são preenchidas por exemplo quando irrompe um incêndio num teatro ou numa casa de diversões Mas o caso verdadeiro instrutivo e que pode ser mais bem empregado para nossos fins é o mencionado acima no qual um corpo de tropa irrompe em pânico embora o perigo não tenha aumentado além de um grau que é costumeiro e que anteriormente já foi amiúde enfrentado Não é de esperar que o uso da palavra pânico seja claro e determinado sem ambigüidade Às vezes ela é utilizada para descrever qualquer medo coletivo outras até mesmo o medo no indivíduo quando ele excede todos os limites e com freqüência a palavra parece reservada para os casos em que a irrupção do medo não é justificada pela ocasião Tomando a palavra pânico no sentido de medo coletivo podemos estabelecer uma analogia de grandes conseqüências No indivíduo o medo é provocado seja pela magnitude de um perigo seja pela cessação dos laços emocionais catexias libidinais este último é o caso do medo neurótico ou ansiedade Exatamente da mesma maneira o pânico surge seja devido a um aumento do perigo comum seja ao desaparecimento dos laços emocionais que mantêm unido o grupo e esse último caso é análogo ao da ansiedade neurótica Qualquer pessoa que como McDougall 1920 descreva o pânico como uma das funções mais claras da mente grupal chega à posição paradoxal de que essa mente grupal se extingue numa de suas mais notáveis manifestações É impossível duvidar de que o pânico signifique a desintegração de um grupo ele envolve a cessação de todos os sentimentos de consideração que os membros do grupo sob outros aspectos mostram uns para com os outros A ocasião típica da irrupção de pânico assemelhase muito à que é representada na paródia de Nestroy da peça de Hebbel sobre Judite e Holofernes Um soldado brada O general perdeu a cabeça e imediatamente todos os assírios empreendem a fuga A perda do líder num sentido ou noutro o nascimento de suspeitas sobre ele trazem a irrupção do pânico embora o perigo permaneça o mesmo os laços mútuos entre os membros do grupo via de regra desaparecem ao mesmo tempo que o laço com seu líder O grupo desvanecese em poeira como uma Gota do Príncipe Rupert quando uma de suas extremidades é partida A dissolução de um grupo religioso não é tão fácil de observar Pouco tempo atrás caiume nas mãos um romance inglês de origem católica recomendado pelo Bispo de Londres com o título When It Was Dark Quando Estava Escuro Esse romance fornecia um hábil e segundo me pareceu convincente relato de tal possibilidade e suas consequências O romance que pretende relacionarse com os dias de hoje conta como uma conspiração de inimigos da pessoa de Cristo e da fé cristã teve êxito em conseguir que um sepulcro fosse descoberto em Jerusalém Nesse sepulcro encontrase uma inscrição em que José de Arimatéia confessa que por razões de piedade retirou secretamente o corpo de Cristo de sua sepultura no terceiro dia após o sepultamento e enterrouo naquele lugar A ressurreição de Cristo e sua natureza divina são dessa maneira refutadas e o resultado da descoberta arqueológica é uma convulsão na civilização européia e um extraordinário aumento em todos os crimes e atos de violência os quais só cessam quando a conspiração dos falsificadores é revelada O fenômeno que acompanha a dissolução que aqui se supõe dominar um grupo religioso não é o medo para o qual falta a ocasião Em vez dele impulsos cruéis e hostis para com outras pessoas fazem seu aparecimento impulsos que devido ao amor equânime de Cristo haviam sido anteriormente incapazes de fazêlo Mas mesmo durante o reino de Cristo aqueles que não pertencem à comunidade de crentes que não o amam e a quem ele não ama permanecem fora de tal laço Desse modo uma religião mesmo que se chame a si mesma de religião do amor tem de ser dura e inclemente para com aqueles que a ela não pertencem Fundamentalmente na verdade toda religião é dessa mesma maneira uma religião de amor para todos aqueles a quem abrange ao passo que a crueldade e a intolerância para com os que não lhes pertencem são naturais a todas as religiões Por mais difícil que possamos achálo pessoalmente não devemos censurar os crentes severamente demais por causa disso as pessoas que são descrentes ou indiferentes estão psicologicamente em situação muito melhor nessa questão da crueldade e da intolerância Se hoje a intolerância não mais se apresenta tão violenta e cruel como em séculos anteriores dificilmente podemos concluir que ocorreu uma suavização nos costumes humanos A causa deve ser antes achada no inegável enfraquecimento dos sentimentos religiosos e dos laços libidinais que deles dependem Se outro laço grupal tomar o lugar do religioso e o socialista parece estar obtendo sucesso em conseguir isso haverá então a mesma intolerância para com os profanos que ocorreu na época das Guerras de Religião e se diferenças entre opiniões científicas chegassem um dia a atingir uma significação semelhante para grupos o mesmo resultado se repetiria mais uma vez com essa nova motivação VI OUTROS PROBLEMAS E LINHAS DE TRABALHO Até aqui consideramos dois grupos artificiais e descobrimos que ambos são dominados por laços emocionais de dois tipos Um destes o laço com o líder parece pelo menos para esses casos ser um fator mais dominante do que o outro que é mantido entre os membros do grupo Ora muito mais resta a ser examinado e descrito na morfologia dos grupos Teremos de partir do fato verificado segundo o qual uma simples reunião de pessoas não constitui um grupo enquanto esses laços não se tiverem estabelecido nele teremos porém de admitir que em qualquer reunião de pessoas a tendência a formar um grupo psicológico pode muito facilmente vir à tona Teremos de conceder atenção aos diferentes tipos de grupos mais ou menos estáveis que surgem espontaneamente e estudar as condições de sua origem e dissolução Teremos de nos interessar acima de tudo pela distinção existente entre os grupos que possuem um líder e os grupos sem líder Teremos de considerar se os grupos com líderes talvez não sejam os mais primitivos e completos se nos outros uma idéia uma abstração não pode tomar o lugar do líder estado de coisas para o qual os grupos religiosos com seu chefe invisível constituem etapa transitória e se uma tendência comum um desejo em que certo número de pessoas tenha uma parte não poderá da mesma maneira servir de sucedâneo Essa abstração ainda poderá acharse mais ou menos completamente corporificada na figura do que poderíamos chamar de líder secundário e interessantes variações surgiriam da relação entre a idéia e o líder O líder ou a idéia dominante poderiam também por assim dizer ser negativos o ódio contra uma determinada pessoa ou instituição poderia funcionar exatamente da mesma maneira unificadora e evocar o mesmo tipo de laços emocionais que a ligação positiva Surgiria então a questão de saber se o líder é realmente indispensável à essência de um grupo e outras ainda além dessa Contudo todas essas questões que podem além disso ter sido apenas parcialmente tratadas na literatura sobre psicologia de grupo não conseguirão desviar nosso interesse dos problemas psicológicos fundamentais com que nos defrontamos na estrutura de um grupo E nossa atenção será atraída em primeiro lugar por uma consideração que promete levarnos da maneira mais direta a uma prova de que os laços libidinais são o que caracteriza um grupo Mantenhamos perante nós a natureza das relações emocionais que existem entre os homens em geral De acordo com o famoso símile schopenhaueriano dos porcosespinhos que se congelam nenhum deles pode tolerar uma aproximação demasiado íntima com o próximo As provas da psicanálise demonstram que quase toda relação emocional íntima entre duas pessoas que perdura por certo tempo casamento amizade as relações entre pais e filhos contém um sedimento de sentimentos de aversão e hostilidade o qual só escapa à percepção em consequência da repressão Isso se acha menos disfarçado nas altercações comuns entre sócios comerciais ou nos resmungos de um subordinado em relação a seu superior A mesma coisa acontece quando os homens se reúnem em unidades maiores Cada vez que duas famílias se vinculam por matrimônio cada uma delas se julga superior ou de melhor nascimento do que a outra De duas cidades vizinhas cada uma é a mais ciumenta rival da outra cada pequeno cantão encara os outros com desprezo Raças estreitamente aparentadas mantêmse a certa distância uma da outra o alemão do sul não pode suportar o alemão setentrional o inglês lança todo tipo de calúnias sobre o escocês o espanhol despreza o português Não ficamos mais espantados que diferenças maiores conduzam a uma repugnância quase insuperável tal como a que o povo gaulês sente pelo alemão o ariano pelo semita e as raças brancas pelos povos de cor Quando essa hostilidade se dirige contra pessoas que de outra maneira são amadas descrevemola como ambivalência de sentimentos e explicamos o fato provavelmente de maneira demasiadamente racional por meio das numerosas ocasiões para conflitos de interesse que surgem precisamente em tais relações mais próximas Nas antipatias e aversões indisfarçadas que as pessoas sentem por estranhos com quem têm de tratar podemos identificar a expressão do amor a si mesmo do narcisismo Esse amor a si mesmo trabalha para a preservação do indivíduo e comportase como se a ocorrência de qualquer divergência de suas próprias linhas específicas de desenvolvimento envolvesse uma crítica delas e uma exigência de sua alteração Não sabemos por que tal sensitividade deva dirigirse exatamente a esses pormenores de diferenciação mas é inequívoco que com relação a tudo isso os homens dão provas de uma presteza a odiar de uma agressividade cuja fonte é desconhecida e à qual se fica tentado a atribuir um caráter elementar Mas quando um grupo se forma a totalidade dessa intolerância se desvanece temporária ou permanentemente dentro do grupo Enquanto uma formação de grupo persiste ou até onde ela se estende os indivíduos do grupo comportamse como se fossem uniformes toleram as peculiaridades de seus outros membros igualamse a eles e não sentem aversão por eles Uma tal limitação do narcisismo de acordo com nossas conceituações teóricas só pode ser produzida por um determinado fator um laço libidinal com outras pessoas O amor por si mesmo só conhece uma barreira o amor pelos outros o amor por objetos Levantarseá imediatamente a questão de saber se a comunidade de interesse em si própria sem qualquer adição de libido não deve necessariamente conduzir à tolerância das outras pessoas e à consideração para com elas Essa objeção pode ser enfrentada pela resposta de que não obstante nenhuma limitação duradoura do narcisismo é efetuada dessa maneira visto que essa tolerância não persiste por mais tempo do que o lucro imediato obtido pela colaboração de outras pessoas Contudo a importância prática desse debate é menor do que se poderia supor porque a experiência demonstrou que nos casos de colaboração se formam regularmente laços libidinais entre os companheiros de trabalho laços que prolongam e solidificam a relação entre eles até um ponto além do que é simplesmente lucrativo A mesma coisa ocorre nas relações sociais dos homens como se tornou familiar à pesquisa psicanalítica no decurso do desenvolvimento da libido individual A libido se liga à satisfação das grandes necessidades vitais e escolhe como seus primeiros objetos as pessoas que têm uma parte nesse processo E no desenvolvimento da humanidade como um todo do mesmo modo que nos indivíduos só o amor atua como fator civilizador no sentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo E isso é verdade tanto do amor sexual pelas mulheres com todas as obrigações que envolve de não causar dano às coisas que são caras às mulheres quanto do amor homossexual dessexualizado e sublimado por outros homens que se origina do trabalho em comum Se assim nos grupos o amor a si mesmo narcisista está sujeito a limitações que não atuam fora deles isso é prova irresistível de que a essência de uma formação grupal consiste em novos tipos de laços libidinais entre os membros do grupo Nosso interesse nos conduz agora à premente questão de saber qual possa ser a natureza desses laços que existem nos grupos No estudo psicanalítico das neuroses ocupamonos até aqui quase exclusivamente com os laços com objetos feitos pelos instintos amorosos que ainda perseguem objetivos diretamente sexuais Nos grupos evidentemente não se pode falar de objetivos sexuais dessas espécies Preocupamonos aqui com instintos amorosos que foram desviados de seus objetivos originais embora não atuem com menor energia devido a isso Ora no âmbito das habituais catexias sexuais de objeto já observamos fenômenos que representam um desvio do instinto de seu objetivo sexual Descrevemos esses fenômenos como gradações do estado de estar amando e reconhecemos que elas envolvem certa usurpação do ego Voltaremos agora mais de perto nossa atenção para esses fenômenos de estar enamorado ou amando na firme expectativa de neles encontrar condições que possam ser transferidas para os laços existentes nos grupos Mas gostaríamos também de saber se esse tipo de catexia de objeto tal como a conhecemos na vida sexual representa a única maneira de laço emocional com outras pessoas ou se devemos levar em consideração outros mecanismos desse tipo Na verdade aprendemos da psicanálise que existem realmente outros mecanismos para os laços emocionais as chamadas identificações processos insuficientemente conhecidos e difíceis de descrever cuja investigação nos manterá afastados por algum tempo do tema da psicologia de grupo VII IDENTIFICAÇÃO A identificação é conhecida pela psicanálise como a mais remota expressão de um laço emocional com outra pessoa Ela desempenha um papel na história primitiva do complexo de Édipo Um menino mostrará interesse especial pelo pai gostaria de crescer como ele ser como ele e tomar seu lugar em tudo Podemos simplesmente dizer que toma o pai como seu ideal Este comportamento nada tem a ver com uma atitude passiva ou feminina em relação ao pai ou aos indivíduos do sexo masculino em geral pelo contrário é tipicamente masculina Combinase muito bem com o complexo de Édipo cujo caminho ajuda a preparar Ao mesmo tempo que essa identificação com o pai ou pouco depois o menino começa a desenvolver uma catexia de objeto verdadeira em relação à mãe de acordo com o tipo anaclítico de ligação Apresenta então portanto dois laços psicologicamente distintos uma catexia de objeto sexual e direta para com a mãe e uma identificação com o pai que o toma como modelo Ambos subsistem lado a lado durante certo tempo sem qualquer influência ou interferência mútua Em consequência do avanço irresistível no sentido de uma unificação da vida mental eles acabam por reunirse e o complexo de Édipo normal originase de sua confluência O menino nota que o pai se coloca em seu caminho em relação à mãe Sua identificação com eles assume então um colorido hostil e se identifica com o desejo de substituílo também em relação à mãe A identificação na verdade é ambivalente desde o início pode tornarse expressão de ternura com tanta facilidade quanto um desejo do afastamento de alguém Comportase como um derivado da primeira fase da organização da libido da fase oral em que o objeto que prezamos e pelo qual ansiamos é assimilado pela ingestão sendo dessa maneira aniquilado como tal O canibal como sabemos permaneceu nessa etapa ele tem afeição devoradora por seus inimigos e só devora as pessoas de quem gosta A história subsequente dessa identificação com o pai pode facilmente perderse de vista Pode acontecer que o complexo de Édipo se inverta e que o pai seja tomado como objeto de uma atitude feminina objeto no qual os instintos diretamente sexuais buscam satisfação nesse caso a identificação com o pai tornase a precursora de uma vinculação de objeto com ele A mesma coisa também se aplica com as substituições necessárias à menina É fácil enunciar numa fórmula a distinção entre a identificação com o pai e a escolha deste como objeto No primeiro caso o pai é o que gostaríamos de ser no segundo o que gostaríamos de ter ou seja a distinção depende de o laço se ligar ao sujeito ou ao objeto do ego O primeiro tipo de laço portanto já é possível antes que qualquer escolha sexual de objeto tenha sido feita É muito mais difícil fornecer a representação metapsicológica clara da distinção Podemos apenas ver que a identificação esforçase por moldar o próprio ego de uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado como modelo Desemaranhemos a identificação tal como ocorre na estrutura de um sintoma neurótico de suas conexões bastante complicadas Suponhamos que uma menininha e no momento nos ateremos a ela desenvolve o mesmo penoso sintoma que sua mãe a mesma tosse atormentadora por exemplo Isso pode ocorrer de diversas maneiras A identificação pode provir do complexo de Édipo nesse caso significa um desejo hostil por parte da menina de tomar o lugar da mãe e o sintoma expressa seu amor objetal pelo pai ocasionando realização sob a influência do sentimento de culpa de seu desejo de assumir o lugar da mãe Você queria ser sua mãe e agora você a é pelo menos no que concerne a seus sofrimentos Esse é o mecanismo completo da estrutura de um sintoma histérico Ou por outro lado o sintoma pode ser o mesmo que o da pessoa que é amada assim por exemplo Dora imitava a tosse do pai Nesse caso só podemos descrever o estado de coisas dizendo que a identificação apareceu no lugar da escolha de objeto e que a escolha de objeto regrediu para a identificação Já aprendemos que a identificação constitui a forma mais primitiva e original do laço emocional freqüentemente acontece que sob as condições em que os sintomas são construídos ou seja onde há repressão e os mecanismos do inconsciente são dominantes a escolha de objeto retroaja para a identificação o ego assume as características do objeto É de notar que nessas identificações o ego às vezes copia a pessoa que não é amada e outras a que é Deve também causarnos estranheza que em ambos os casos a identificação seja parcial e extremamente limitada tomando emprestado apenas um traço isolado da pessoa que é objeto dela Existe um terceiro caso particularmente freqüente e importante de formação de sintomas no qual a identificação deixa inteiramente fora de consideração qualquer relação de objeto com a pessoa que está sendo copiada Suponhase por exemplo que uma das moças de um internato receba de alguém de quem está secretamente enamorada uma carta que lhe desperta ciúmes e que a ela reaja por uma crise de histeria Então algumas de suas amigas que são conhecedoras do assunto pegarão a crise por assim dizer através de uma infecção mental O mecanismo é o da identificação baseada na possibilidade ou desejo de colocarse na mesma situação As outras moças também gostariam de ter um caso amoroso secreto e sob a influência do sentimento de culpa aceitam também o sofrimento envolvido nele Seria errado supor que assumissem o sintoma por simpatia Pelo contrário a simpatia só surge da identificação e isso é provado pelo fato de que uma infecção ou imitação desse tipo acontece em circunstâncias em que é de presumir uma simpatia preexistente ainda menor do que a que costumeiramente existe entre amigas numa escola para moças Um determinado ego percebeu uma analogia significante com outro sobre certo ponto em nosso exemplo sobre a receptividade a uma emoção semelhante Uma identificação é logo após construída sobre esse ponto e sob a influência da situação patogênica deslocada para o sintoma que o primeiro ego produziu A identificação por meio do sintoma tornouse assim o sinal de um ponto de coincidência entre os dois egos sinal que tem de ser mantido reprimido O que aprendemos dessas três fontes pode ser assim resumido primeiro a identificação constitui a forma original de laço emocional com um objeto segundo de maneira regressiva ela se torna sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal por assim dizer por meio de introjeção do objeto no ego e terceiro pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual Quanto mais importante essa qualidade comum é mais bemsucedida pode tornarse essa identificação parcial podendo representar assim o início de um novo laço Já começamos a adivinhar que o laço mútuo existente entre os membros de um grupo é da natureza de uma identificação desse tipo baseada numa importante qualidade emocional comum e podemos suspeitar que essa qualidade comum reside na natureza do laço com o líder Outra suspeita pode dizernos que estamos longe de haver exaurido o problema da identificação e que nos defrontamos com o processo que a psicologia chama de empatia Einfühlung o qual desempenha o maior papel em nosso entendimento do que é inerentemente estranho ao nosso ego nas outras pessoas Aqui porém teremos de nos limitar aos efeitos emocionais imediatos da identificação e deixaremos de lado sua significação em nossa vida intelectual A pesquisa psicanalítica que já atacou ocasionalmente os mais difíceis problemas das psicoses também pôde mostrarnos a identificação em alguns outros casos que não são imediatamente compreensíveis Tratarei de dois deles em pormenor como material para nossa consideração posterior A gênese do homossexualismo masculino em grande quantidade de casos é a seguinte um jovem esteve inusitadamente e por longo tempo fixado em sua mãe no sentido do complexo de Édipo Finalmente porém após o término da puberdade chega a ocasião de trocar a mãe por algum outro objeto sexual As coisas sofrem uma virada repentina o jovem não abandona a mãe mas identificase com ela transformase e procura então objetos que possam substituir o seu ego para ele objetos aos quais possa conceder um amor e um carinho iguais aos que recebeu de sua mãe Tratase de processo freqüente que pode ser confirmado tão amiúde quanto se queira e que naturalmente é inteiramente independente de qualquer hipótese que se possa efetuar quanto à força orgânica impulsora e aos motivos de repentina transformação Uma coisa notável sobre essa identificação é sua ampla escala ela remolda o ego em um de seus mais importantes aspectos em seu caráter sexual segundo o modelo do que até então constituirá o objeto Neste processo o objeto em si mesmo é renunciado se inteiramente ou se no sentido de ser preservado apenas no inconsciente sendo uma questão que se acha fora do escopo do presente estudo A identificação com um objeto que é renunciado ou perdido como um sucedâneo para esse objeto introjeção dele no ego não constitui verdadeiramente mais novidade para nós Um processo dessa espécie pode às vezes ser diretamente observado em crianças pequenas Há pouco tempo atrás uma observação desse tipo foi publicada no Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse Uma criança que se achava pesarosa pela perda de um gatinho declarou francamente que ela agora era o gatinho e por conseguinte andava de quatro não comia à mesa etc Outro exemplo de introjeção do objeto foi fornecido pela análise da melancolia afeccão que inclui entre as mais notáveis de suas causas excitadoras a perda real ou emocional de um objeto amado Uma característica principal desses casos é a cruel autodepreciação do ego combinada com una inexorável autocrítica e acerbas autocensuras As análises demonstraram que essa depreciação e essas censuras aplicamse no fundo ao objeto e representam a vingança do ego sobre ele A sombra do objeto caiu sobre o ego como disse noutra parte Aqui a introjeção do objeto é inequivocamente clara Essas melancolias porém também nos mostram mais alguma coisa que pode ser importante para nossos estudos posteriores Mostramnos o ego dividido separado em duas partes uma das quais vocifera contra a segunda Esta segunda parte é aquela que foi alterada pela introjeção e contém o objeto perdido Porém a parte que se comporta tão cruelmente tampouco a desconhecemos Ela abrange a consciência uma instância crítica dentro do ego que até em ocasiões normais assume embora nunca tão implacável e injustificadamente uma atitude crítica para com a última Em ocasiões anteriores fomos levados à hipótese de que no ego se desenvolve uma instância assim capaz de isolarse do resto daquele ego e entrar em conflito com ele A essa instância chamamos de ideal do ego e a título de funções atribuídoslhe a autoobservação a consciência moral a censura dos sonhos e a principal influência na repressão Dissemos que ele é o herdeiro do narcisismo original em que o ego infantil desfrutava de autosuficiência gradualmente reúne das influências do meio ambiente as exigências que este impõe ao ego das quais este não pode sempre estar à altura de maneira que um homem quando não pode estar satisfeito com seu próprio ego tem no entanto possibilidade de encontrar satisfação no ideal do ego que se diferenciou do ego Nos delírios de observação como demonstramos noutro lugar a desintegração dessa instância tornouse patente e revelou assim sua origem na influência de poderes superiores e acima de tudo dos pais Mas não nos esquecemos de acrescentar que o valor da distância entre esse ideal do ego e o ego real é muito variável de um indivíduo para outro e que em muitas pessoas essa diferenciação dentro do ego não vai além da que sucede em crianças Antes que possamos empregar este material a fim de compreender a organização libidinal dos grupos devemos contudo tomar em consideração alguns outros exemplos das relações mútuas entre o objeto e o ego VIII ESTAR AMANDO E HIPNOSE Mesmo em seus caprichos o uso da linguagem permanece fiel a uma certa espécie de realidade Assim ela dá o nome de amor a numerosos tipos de relações emocionais que agrupamos também teoricamente como amor por outro lado porém sente a seguir dúvidas se esse amor é amor real verdadeiro genuíno e assim insinua toda uma gama de possibilidades no âmbito dos fenômenos do amor Não teremos dificuldade em efetuar a mesma descoberta por nossas próprias observações Em determinada classe de casos estar amando nada mais é que uma catexia de objeto por parte dos instintos sexuais com vistas a uma satisfação diretamente sexual catexia que além disso expira quando se alcançou esse objetivo é o que se chama de amor sensual comum Mas como sabemos raramente a situação libidinal permanece tão simples Era possível calcular com certeza a revivescência da necessidade que acabara de expirar e sem dúvida isso deve ter constituído o primeiro motivo para dirigir uma catexia duradoura sobre o objeto sexual e para amálo também nos intervalos desapaixonados A isso é preciso acrescentar outro fato derivado do notável curso de evolução seguido pela vida erótica do homem Em sua primeira fase que geralmente termina na ocasião em que a criança está com cinco anos de idade ela descobriu o primeiro objeto para seu amor em um ou outro dos pais e todos os seus instintos sexuais com sua exigência de satisfação unificaramse nesse objeto A repressão que então se estabelece compelea a renunciar à maior parte desse objetivos sexuais infantis e deixa atrás de si uma profunda modificação em sua relação com os pais A criança ainda permanece ligada a eles mas por instintos que devem ser descritos como inibidos em seu objetivo As emoções que daí passa a sentir por esses objetos de seu amor são caracterizadas como afetuosas Sabese que as primitivas tendências sensuais permanecem mais ou menos intensamente preservadas no inconsciente de maneira que em certo sentido a totalidade da corrente original continua a existir Na puberdade como sabemos estabelecemse impulsos novos e muito fortes dirigidos a objetivos diretamente sexuais Em casos desfavoráveis eles permanecem sob a forma de uma corrente sensual separados das tendências afetuosas de sentimento que persistem Temos então à frente um quadro cujos dois aspectos são tipificados com deleite por certas escolas de literatura Um homem mostrará um entusiasmo sentimental por mulheres a quem respeita profundamente mas não o excitam a atividades sexuais e só será potente com outras mulheres a quem não ama a quem pouco considera ou mesmo despreza Com mais frequência contudo o adolescente consegue efetuar um certo grau de síntese entre o amor não sensual e celeste e o amor sensual e terreno e sua relação com seu objeto sexual se caracteriza pela interação de instintos desinibidos e instintos inibidos em seu objetivo A profundidade em que qualquer um está amando quando contrastada com seu desejo puramente sensual pode ser medida pela dimensão da parte assumida pelos instintos de afeição inibidos em seu objetivo Com relação a essa questão de estar amando sempre ficamos impressionados pelo fenômeno da supervalorização sexual o fato de o objeto amado desfrutar de certa liberdade quanto à crítica e o de todas as suas características serem mais altamente valorizadas do que as das pessoas que não são amadas ou do que as próprias características dele numa ocasião em que não era amado Se os impulsos sexuais estão mais ou menos eficazmente reprimidos ou postos do lado produzse a ilusão de que o objeto veio a ser sensualemente amado devido aos seus méritos espirituais ao passo que pelo contrário na realidade esses méritos só podem ter sido emprestados a ele pelo seu encanto sensual A tendência que falsifica o julgamento nesse respeito é a da idealização Agora porém é mais fácil encontrarmos nosso rumo Vemos que o objeto está sendo tratado da mesma maneira que nosso próprio ego de modo que quando estamos amando uma quantidade considerável de libido narcisista transborda para o objeto Em muitas formas de escolha amorosa é fato evidente que o objeto serve de sucedâneo para algum inatingido ideal do ego de nós mesmos Nós o amamos por causa das perfeições que nos esforçamos por conseguir para nosso próprio ego e que agora gostaríamos de adquirir dessa maneira indireta como meio de satisfazer nosso narcisismo Se a supervalorização sexual e o estar amando aumentam ainda mais a interpretação do quadro se torna ainda mais inequívoca Os impulsos cuja inclinação se dirige para a satisfação diretamente sexual podem agora ser empurrados inteiramente para o segundo plano como por exemplo acontece regularmente com a paixão sentimental de um jovem o ego se torna cada vez mais despretensioso e modesto e o objeto cada vez mais sublime e precioso até obter finalmente a posse de todo o autoamor do ego cujo autosacrifício decorre assim como conseqüência natural O objeto por assim dizer consumiu o ego Traços de humildade de limitação do narcisismo e de danos causados a si próprio ocorrem em todos os casos de estar amando no caso extremo são simplesmente intensificados e como resultado da retirada das reivindicações sexuais permanecem em solitária supremacia Isso acontece com especial facilidade com o amor infeliz e que não pode ser satisfeito porque a despeito de tudo cada satisfação sexual envolve sempre uma redução da supervalorização sexual Ao mesmo tempo desta devoção do ego ao objeto a qual não pode mais ser distinguida de uma devoção sublimada a uma idéia abstrata as funções atribuídas ao ideal do ego deixam inteiramente de funcionar A crítica exercida por essa instância silencia tudo que o objeto faz e pede é correto e inocente A consciência não se aplica a nada que seja feito por amor do objeto na cegueira do amor a falta de piedade é levada até o diapasão do crime A situação total pode ser inteiramente resumida numa fórmula o objeto foi colocado no lugar do ideal do ego É fácil agora definir a diferença entre a identificação e esse desenvolvimento tão extremo do estado de estar amando que podem ser descritos como fascinação ou servidão No primeiro caso o ego enriqueceuse com as propriedades do objeto introjetou o objeto em si próprio como Ferenczi 1909 o expressa No segundo caso empobreceuse entregouse ao objeto substituiu o seu constituinte mais importante pelo objeto Uma consideração mais próxima contudo logo esclarece que esse tipo de descrição cria uma ilusão de contradições que não possuem existência real Economicamente não se trata de empobrecimento ou enriquecimento é mesmo possível descrever um caso extremo de estar amando como um estado em que o ego introjetou o objeto em si próprio Outra distinção talvez esteja mais bem talhada para atender à essência da questão No caso da identificação o objeto foi perdido ou abandonado assim ele é novamente erigido dentro do ego e este efetua uma alteração parcial em si próprio segundo o modelo do objeto perdido No outro caso o objeto é mantido e dáse uma hipercatexia dele pelo ego e às expensas do ego Aqui porém apresentase nova dificuldade Será inteiramente certo que a identificação pressupõe que a catexia de objeto tenha sido abandonada Não pode haver identificação enquanto o objeto é mantido E antes de nos empenharmos numa discussão dessa delicada questão já poderá estar alvorecendo em nós a percepção de que mais outra alternativa abrange a essência real da questão ou seja se o objeto é colocado no lugar do ego ou do ideal do ego Do estado de estar amando à hipnose vai evidentemente apenas um curto passo Os aspectos em que os dois concordam são evidentes Existe a mesma sujeição humilde que há para com o objeto amado Há o mesmo debilitamento da iniciativa própria do sujeito ninguém pode duvidar que o hipnotizador colocouse no lugar do ideal do ego Acontece apenas que tudo é ainda mais claro e mais intenso na hipnose de maneira que seria mais apropriado explicar o estado de estar amando por meio da hipnose que fazer o contrário O hipnotizador constitui o único objeto e não se presta atenção a mais ninguém que não seja ele O fato de o ego experimentar de maneira semelhante à do sonho tudo que o hipnotizador possa pedir ou afirmar relembranos que nos esquecemos de mencionar entre as funções de ideal do ego a tarefa de verificar a realidade das coisas Não admira que o ego tome uma percepção por real se a realidade dela é corroborada pela instância mental que ordinariamente desempenha o dever de testar a realidade das coisas A completa ausência de impulsos que se acham inibidos em seus objetivos sexuais contribui ainda mais para a pureza extrema dos fenômenos A relação hipnótica é a devoção ilimitada de alguém enamorado mas excluída a satisfação sexual ao passo que no caso real de estar amando esta espécie de satisfação é apenas temporariamente refreada e permanece em segundo plano como um possível objeto para alguma ocasião posterior Por outro lado porém também podemos dizer que a relação hipnótica é se permissível a expressão uma formação de grupo composta de dois membros A hipnose não constitui um bom objeto para comparação com uma formação de grupo porque é mais verdadeiro dizer que ela é idêntica a essa última Da complicada textura do grupo ela isola um elemento para nós o comportamento do indivíduo em relação ao líder A hipnose é distinguida da formação de grupo por esta limitação de número tal como se distingue do estado de estar amando pela ausência de inclinações diretamente sexuais A esse respeito ocupa uma posição intermediária entre ambos É interessante ver que são precisamente esses impulsos sexuais inibidos em seus objetivos que conseguem tais laços permanentes entre as pessoas Porém isso pode ser facilmente compreendido pelo fato de não serem capazes de satisfação completa ao passo que os impulsos sexuais desinibidos em seus objetivos sofrem uma redução extraordinária mediante a descarga de energia sempre que o objetivo sexual é atingido É o destino do amor sensual extinguirse quando se satisfaz para que possa durar desde o início tem de estar mesclado com componentes puramente afetuosos isto é que se acham inibidos em seus objetivos ou deve ele próprio sofrer uma transformação desse tipo A hipnose solucionaria imediatamente o enigma da constituição libidinal dos grupos não fosse pelo fato de ela própria apresentar alguns aspectos não atendidos pela explicação racional que dela vimos fornecendo como sendo um estado de estar amando sem as tendências diretamente sexuais Nela ainda existe muita coisa que devemos reconhecer como inexplicada e misteriosa A hipnose contém um elemento adicional de paralisia derivado da relação entre alguém com poderes superiores e alguém que está sem poder e desamparado o que pode facultar uma transição para a hipnose do susto que ocorre nos animais A maneira pela qual a hipnose é produzida e sua relação com o sono não são claras e o modo enigmático pelo qual algumas pessoas lhe estão sujeitas enquanto outras lhe resistem completamente indica algum fator desconhecido nela compreendido que sozinho talvez torne possível a pureza das atitudes da libido que ela apresenta É de notar que mesmo existindo uma completa submissão sugestiva sob outros aspectos a consciência moral da pessoa hipnotizada pode apresentar resistência Porém é possível que isso se atribua ao fato de que na hipnose tal como é habitualmente praticada pode ser mantido um certo conhecimento de que o que está acontecendo seja apenas um jogo uma reprodução inverídica de outra situação muito mais importante para a vida Após as discussões anteriores estamos no entanto em perfeita posição de fornecer a fórmula para a constituição libidinal dos grupos ou pelo menos de grupos como os que até aqui consideramos ou seja aqueles grupos que têm um líder e não puderam mediante uma organização demasiada adquirir secundariamente as características de um indivíduo Um grupo primário desse tipo é um certo número de indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de seu ideal do ego e conseqüentemente se identificaram uns com os outros em seu ego Esta condição admite uma representação gráfica IX O INSTINTO GREGÁRIO Não podemos desfrutar por muito tempo da ilusão de havermos solucionado o enigma do grupo com essa fórmula É impossível fugir à lembrança imediata e perturbadora de que tudo que realmente fizemos foi deslocar a questão para o enigma da hipnose sobre o qual tantos pontos ainda precisam ser esclarecidos E agora uma outra objeção nos mostra nosso novo caminho Poderseia dizer que os intensos vínculos emocionais que observamos nos grupos são inteiramente suficientes para explicar uma de suas características a falta de independência e iniciativa de seus membros a semelhança nas reações de todos eles sua redução por assim dizer ao nível de indivíduos grupais Mas se o considerarmos como um todo um grupo nos mostra mais que isso Alguns de seus aspectos a fraqueza de capacidade intelectual a falta de controle emocional a incapacidade de moderação ou adiamento a inclinação a exceder todos os limites na expressão da emoção e descarregála completamente sob a forma de ação essas e outras características semelhantes tão impressivamente descritas por Le Bon apresentam um quadro inequívoco de regressão da atividade mental a um estágio anterior como não nos surpreendemos em descobrila entre os selvagens e as crianças Uma regressão desse tipo é particularmente uma característica essencial dos grupos comuns ao passo que como soubemos nos grupos organizados e artificiais ela pode em grande parte ser controlada Temos assim a impressão de um estado no qual os impulsos emocionais particulares e os atos intelectuais de um indivíduo são fracos demais para chegar a algo por si próprios para isso dependem inteiramente de serem reforçados por sua igual repetição nos outros membros do grupo Somos lembrados de quantos desses fenômenos de dependência fazem parte da constituição normal da sociedade humana de quão pouca originalidade e coragem pessoal podem encontrarse nela de quanto cada indivíduo é governado por essas atitudes da mente grupal que se apresentam sob formas tais como características raciais preconceitos de classe opinião pública etc A influência da sugestão tornase um grande enigma para nós quando admitimos que ela não é exercida apenas pelo líder mas por cada indivíduo sobre outro indivíduo e temos de censurarnos por havermos injustamente enfatizado a relação com o líder e mantido demais em segundo plano o outro fator da sugestão mútua Após esse incentivo à modéstia ficaremos inclinados a escutar outra voz que nos promete uma explicação baseada em fundamentos mais simples Essa voz pode ser encontrada no refletido livro de Trotter sobre o instinto de rebanho ou instinto gregário 1916 com relação ao qual meu único pesar é que ele não escapa inteiramente às antipatias desencadeadas pela recente grande guerra Trotter deriva os fenômenos mentais descritos como ocorrentes nos grupos de um instinto gregário gregariousness gregarismo inato aos seres humanos tal como a outras espécies de animais Biologicamente diz ele esse gregarismo constitui uma analogia à multicelularidade sendo por assim dizer uma continuação dela Em termos da teoria da libido tratase de uma outra manifestação da tendência proveniente da libido e sentida por todos os seres vivos da mesma espécie a combinarse em unidades cada vez mais abrangentes Se está sozinho o indivíduo sentese incompleto O medo apresentado pelas crianças pequenas já pareceria ser uma expressão desse instinto gregário A oposição à grei é tão boa quanto a separação dela sendo assim ansiosamente evitada Mas a grei se afasta de tudo que é novo ou fora do comum O instinto gregário pareceria ser algo primário something which cannot be split up algo que não pode ser dividido Trotter põe na relação de instintos que considera primários os da autopreservação nutrição sexo e gregário O último freqüentemente entra em oposição com os outros Os sentimentos de culpa e de dever são possessões peculiares de um animal gregário Trotter também deriva do instinto gregário as forças repressivas que a psicanálise demonstrou existirem no ego e deriva da mesma fonte por conseguinte as resistências com que o médico se defronta no tratamento psicanalítico A fala deve sua importância à aptidão para o entendimento mútuo na grei sendo nela que a identificação mútua dos indivíduos repousa em grande parte Enquanto Le Bon preocupase com as formações grupais passageiras típicas e McDougall com as associações estáveis Trotter escolheu como centro de seu interesse a forma mais generalizada de reunião em que o homem esse ζῷον πολιτικόν passa sua vida e nos fornece sua base psicológica Mas Trotter não vê necessidade de remontar à origem do instinto gregário por caracterizálo como primário e não mais redutível A tentativa de Boris Sidis a que se refere de buscar a origem do instinto gregário na sugestionabilidade é afortunadamente supérflua até onde lhe concerne tratase de uma explicação de tipo familiar e insatisfatório e a proposição inversa de que a sugestionabilidade é um derivado do instinto gregário me pareceria lançar muito mais luz sobre o assunto A exposição de Trotter porém está aberta com mais justiça ainda que as outras à objeção de levar muito pouco em conta o papel do líder num grupo ao passo que nos inclinamos antes para o juízo oposto ou seja de que é impossível apreender a natureza de um grupo se se desprezar o líder O instinto de grei não deixa lugar algum para o líder ele é simplesmente arremessado junto com a multidão quase que fortuitamente daí decorre também que nenhum caminho conduz desse instinto à necessidade de um Deus o rebanho está sem pastor Mas além disso a exposição de Trotter pode ser psicologicamente solapada isto é podese tornar pelo menos provável que o instinto gregário não seja irredutível que não seja primário no mesmo sentido que o são o instinto de autopreservação e o instinto sexual Naturalmente não é fácil a tarefa de traçar a ontogênese do instinto gregário O medo mostrado pelas crianças pequenas quando são deixadas sozinhas e que Trotter alega constituir já uma manifestação do instinto no entanto sugere mais facilmente uma outra interpretação O medo relacionase à mãe da criança e posteriormente a outras pessoas familiares sendo a expressão de um desejo irrealizado que a criança ainda não sabe tratar de outra maneira exceto transformandoo em ansiedade O medo da criança quando está sozinha tampouco é apaziguado pela visão de qualquer fortuito membro da grei pelo contrário é criado pela aproximação de um estranho desse tipo Assim durante longo tempo nada na natureza de um instinto gregário ou sentimento de grupo pode ser observado nas crianças Algo semelhante a ele primeiro se desenvolve num quarto de crianças com muitas crianças fora das relações dos filhos com os pais e assim sucede como uma reação à inveja inicial com que a criança mais velha recebe a mais nova O filho mais velho certamente gostaria de ciumentamente pôr de lado seu sucessor mantêlo afastado dos pais e despojálo de todos os seus privilégios mas à vista de essa criança mais nova como todas as que virão depois ser amada pelos pais tanto quanto ele próprio e em conseqüência da impossibilidade de manter sua atitude hostil sem prejudicarse a si próprio aquele é forçado a identificarse com as outras crianças Assim no grupo de crianças desenvolvese um sentimento comunal ou de grupo que é ainda mais desenvolvido na escola A primeira exigência feita por essa formação reativa é de justiça de tratamento igual para todos Todos sabemos do modo ruidoso e implacável como essa reivindicação é apresentada na escola Se nós mesmos não podemos ser os favoritos pelo menos ninguém mais o será Essa transformação ou seja a substituição do ciúme por um sentimento grupal no quarto das crianças e na sala de aula poderia ser considerada improvável se mais tarde o mesmo processo não pudesse ser de novo observado em outras circunstâncias Bastanos pensar no grupo de mulheres e moças todas elas apaixonadas de forma entusiasticamente sentimental que se aglomeram em torno de um cantor ou pianista após a sua apresentação Certamente seria fácil para cada uma delas ter ciúmes das outras porém diante de seu número e da conseqüente impossibilidade de alcançarem o objetivo de seu amor renunciam a ele e em vez de uma puxar os cabelos da outra atuam como um grupo unido prestam homenagem ao herói da ocasião com suas ações comuns e provavelmente ficariam contentes em ficar com um pedaço das esvoaçantes madeixas dele Originariamente rivais conseguiram identificarse umas com as outras por meio de um amor semelhante pelo mesmo objeto Quando como de hábito uma situação instintual é capaz de resultados diversos não nos surpreenderá que o resultado real seja algum que traga consigo a possibilidade de uma certa quantidade de satisfação ao passo que um outro resultado mais óbvio em si seja desprezado já que as circunstâncias da vida impedem que ele conduza àquela satisfação O que posteriormente aparece na sociedade sob a forma de Gemeingeist esprit de corps espírito de grupo etc não desmente a sua derivação do que foi originalmente inveja Ninguém deve querer salientarse todos devem ser o mesmo e ter o mesmo A justiça social significa que nos negamos muitas coisas a fim de que os outros tenham de passar sem elas também ou o que dá no mesmo não possam pedilas Essa exigência de igualdade é a raiz da consciência social e do senso de dever Revelase inesperadamente no pavor que tem o sifilítico de contagiar outras pessoas coisa que a psicanálise nos ensinou a compreender O pavor demonstrado por esses pobres infelizes corresponde às suas violentas lutas contra o desejo inconsciente de propagar sua infecção a outros por que razão apenas eles deveriam ser infectados e apartados de tantas coisas Por que também não os outros E o mesmo princípio podese encontrar na apropriada história do julgamento de Salomão Se o filho de uma mulher morreu a outra tampouco deverá ter um filho e a mulher despojada é identificada por esse desejo O sentimento social assim se baseia na inversão daquilo que a princípio constituiu um sentimento hostil em uma ligação da tonalidade positiva da natureza de uma identificação Na medida em que até aqui pudemos acompanhar o curso dos acontecimentos essa inversão parece ocorrer sob a influência de um vínculo afetuoso comum com uma pessoa fora do grupo Nós próprios não encaramos nossa análise da identificação como exaustiva mas para nosso presente objetivo basta que retrocedamos a esta característica determinada sua exigência de que o igualamento seja sistematicamente realizado Já aprendemos do exame de dois grupos artificiais a Igreja e o exército que sua premissa necessária é que todos os membros sejam amados da mesma maneira por uma só pessoa o líder Não nos esqueçamos contudo de que a exigência de igualdade num grupo aplicase apenas aos membros e não ao líder Todos os membros devem ser iguais uns aos outros mas todos querem ser dirigidos por uma só pessoa Muitos iguais que podem identificarse uns com os outros e uma pessoa isolada superior a todos eles essa é a situação que vemos realizada nos grupos capazes de subsistir Ousemos então corrigir o pronunciamento de Trotter de que o homem é um animal gregário e asseverar ser ele de preferência um animal de horda uma criatura individual numa horda conduzida por um chefe X O GRUPO E A HORDA PRIMEVA Em 1912 concordei com uma conjectura de Darwin segundo a qual a forma primitiva da sociedade humana era uma horda governada despoticamente por um macho poderoso Tentei demonstrar que os destinos dessa horda deixaram traços indestrutíveis na história da descendência humana e especialmente que o desenvolvimento do totemismo que abrange em si os primórdios da religião da moralidade e da organização social está ligado ao assassinato do chefe pela violência e à transformação da horda paterna em uma comunidade de irmãos Para dizer a verdade isso constitui apenas uma hipótese como tantas outras com que os arqueólogos se esforçam por iluminar as trevas dos tempos préhistóricos uma estória mais ou menos como foi divertidamente chamada por um crítico inglês sem maldade porém essa hipótese para mim tem mérito se se mostrar capaz de trazer coerência e compreensão a um número cada vez maior de novas regiões Os grupos humanos apresentam mais uma vez o quadro familiar de um indivíduo de força superior em meio a um bando de companheiros iguais quadro que também é abarcado em nossa idéia da horda primeva A psicologia de um grupo assim como a conhecemos a partir das descrições a que com tanta frequência nos referimos o definhamento da personalidade individual consciente a focalização de pensamentos e sentimentos numa direção comum a predominância do lado afetivo da mente e da vida psíquica inconsciente a tendência à execução imediata das intenções tão logo ocorram tudo isso corresponde a um estado de regressão a uma atividade mental primitiva exatamente da espécie que estaríamos inclinados a atribuir à horda primeva Assim o grupo nos aparece como uma revivescência da horda primeva Do mesmo modo como o homem primitivo sobrevive potencialmente em cada indivíduo a horda primeva pode mais uma vez surgir de qualquer reunião fortuita na medida em que os homens se acham habitualmente sob a influência da formação de grupo reconhecemos nela a sobrevivência da horda primeva Temos de concluir que a psicologia dos grupos é a mais antiga psicologia humana o que isolamos como psicologia individual desprezando todos os traços do grupo só depois veio a ser notório a partir da velha psicologia de grupo através de um processo gradual que talvez possa ainda ser descrito como incompleto Posteriormente nos arriscaremos à tentativa de especificar o ponto de partida desse desenvolvimento Ver em 1 e segs Uma reflexão mais demorada irá demonstrarnos sob que aspecto essa afirmativa exige uma correção A psicologia individual pelo contrário deve ser tão antiga quanto a psicologia de grupo porque desde o princípio houve dois tipos de psicologia a dos membros individuais do grupo e a do pai chefe ou líder Os membros do grupo achavamse sujeitos a vínculos tais como os que percebemos atualmente o pai da horda primeva porém era livre Os atos intelectuais deste eram fortes e independentes mesmo no isolamento e sua vontade não necessitava do reforço de outros A congruência levanos a presumir que seu ego possuía poucos vínculos libidinais ele não amava ninguém a não ser a si próprio ou a outras pessoas na medida em que atendiam às suas necessidades Aos objetos seu ego não dava mais que o estritamente necessário Ele no próprio início da história da humanidade era o superhomem que Nietzsche somente esperava do futuro Ainda hoje os membros de um grupo permanecem na necessidade da ilusão de serem igual e justamente amados por seu líder ele próprio porém não necessita amar ninguém mais pode ser de uma natureza dominadora absolutamente narcisista autoconfiante e independente Sabemos que o amor impõe um freio ao narcisismo e seria possível demonstrar como agindo dessa maneira ele se tornou um fator de civilização O pai primevo da horda não era ainda imortal como posteriormente veio a ser pela deificação Se morria tinha de ser substituído seu lugar era provavelmente tomado por um filho mais jovem que até então fora um membro do grupo como qualquer outro Deve existir portanto uma possibilidade de transformar a psicologia de grupo em psicologia individual há que descobrir uma condição sob a qual tal transformação seja facilmente realizada como é possível às abelhas transformarem em caso de necessidade uma larva numa rainha em lugar de uma operária Podese imaginar apenas uma possibilidade o pai primevo impediria os filhos de satisfazer seus impulsos diretamente sexuais forçaraos à abstinência e conseqüentemente aos laços emocionais com ele e uns com os outros que poderiam surgir daqueles de seus impulsos antes inibidos em seu objetivo sexual Ele os forçara por assim dizer à psicologia de grupo Seu ciúme e intolerância sexual tornaramse em última análise as causas da psicologia de grupo Quem quer que se haja tornado seu sucessor recebeu também a possibilidade de satisfação sexual e por esse meio lhe foi dada uma saída para as condições de psicologia de grupo A fixação da libido na mulher e a possibilidade de satisfação sem qualquer necessidade de adiamento ou acúmulo puseram fim à importância daqueles entre seus impulsos sexuais que se achavam inibidos em seu objetivo e permitiram ao seu narcisismo elevarse sempre até chegar a seu apogeu total Retornaremos em um pósescrito ver em 1 e segs a essa conexão entre amor e formação do caráter A seguir como algo especialmente instrutivo podemos dar ênfase à relação que existe entre o ardil pelo qual um grupo artificial se mantém unido e a constituição da horda primeva Vimos que com o exército e a Igreja esse artifício é a ilusão de que o líder ama todos os indivíduos de modo igual e justo Mas isso constitui apenas uma remodelação idealística do estado de coisas na horda primeva onde todos os filhos sabiam que eram igualmente perseguidos pelo pai primevo e o temiam igualmente Essa mesma remoldagem sobre a qual todos os deveres sociais se erguem já se acha pressuposta pela forma seguinte da sociedade humana o clã totêmico A força indestrutível da família como formação natural de grupo reside no fato de que essa pressuposição necessária do amor igual do pai pode ter uma aplicação real na família Nós todavia esperamos mais ainda dessa derivação do grupo a partir da horda primeva Ela deveria também ajudarnos a entender o que ainda é incompreensível e misterioso nas formações de grupo tudo o que jaz escondido por trás das enigmáticas palavras hipnose e sugestão E acho que isso também pode ser bemsucedido Relembremos que nela a hipnose tem algo de positivamente misterioso mas a característica de mistério sugere algo de antigo e familiar que experimentou uma repressão Consideremos como a hipnose é induzida O hipnotizador afirma que se acha de posse de um poder misterioso que despoja o sujeito de sua própria vontade ou o que é a mesma coisa o sujeito crê nisso Esse poder misterioso que ainda hoje é muitas vezes popularmente descrito como magnetismo animal deve ser o mesmo poder encarado pelos povos primitivos como a fonte do tabu o mesmo poder emanante dos rei e chefes de tribo e que torna perigoso o aproximarse deles mana Imaginase então que o hipnotizador esteja na posse desse poder E como o manifesta Dizendo ao sujeito para olhálo nos olhos seu método mais típico de hipnotização é pelo olhar Mas é precisamente a visão do chefe que é perigosa e insuportável para os povos primitivos tal como mais tarde a da Divindade é para os mortais O próprio Moisés teve de agir como intermediário entre seu povo e Javé de vez que o povo não poderia suportar a visão divina e quando retornou da presença de Deus seu rosto resplandecia um pouco do mana lhe havia sido comunicado tal como acontece com o intermediário entre os povos primitivos É verdade que também se pode evocar a hipnose por outras maneiras como por exemplo fixando os olhos sobre um objeto brilhante ou escutando um som monótono Isso pode equivocar e já ocasionou teorias fisiológicas inapropriadas Na realidade esses procedimentos servem apenas para desviar a atenção consciente e mantêla retida A situação seria a mesma se o hipnotizador houvesse dito ao sujeito Agora preocupese exclusivamente com a minha pessoa o resto do mundo é totalmente desinteressante Naturalmente seria tecnicamente desaconselhável a um hipnotizador fazer tal declaração ela arrancaria o sujeito de sua atitude inconsciente e o estimularia a uma oposição consciente O hipnotizador evita dirigir os pensamentos conscientes do sujeito para suas próprias intenções e faz a pessoa com quem realiza a experiência mergulhar numa atividade na qual o mundo está fadado a parecerlhe desinteressante Ao mesmo tempo porém o sujeito está na realidade concentrando inconscientemente toda a sua atenção no hipnotizador e entrando numa atitude de rapport de transferência para com ele Assim os métodos indiretos de hipnotizar iguais a muitos procedimentos técnicos utilizados para fazer chistes têm o efeito de controlar certas distribuições de energia mental que interfeririam com o curso dos acontecimentos no inconsciente e acabam por levar ao mesmo resultado que os métodos diretos de influência através do olhar fixo ou das batidas Ferenczi 1909 realizou a descoberta real de que quando o hipnotizador dá a ordem para dormir o que com frequência se faz no começo da hipnose ele está se colocando no lugar dos pais do sujeito Pensa ele que dois tipos de hipnotismo devem ser distinguidos um persuasor e tranqüilizador segundo ele modelado na mãe e um outro ameaçador que deriva do pai Ora na hipnose a ordem para dormir significa nem mais nem menos uma ordem para afastar do mundo todo o interesse e concentrálo na pessoa do hipnotizador E ela é assim entendida pelo sujeito pois nessa retração de interesse do mundo externo reside a característica psicológica do sono e nela se baseia o parentesco entre este e o estado de hipnose Pelas medidas que toma o hipnotizador desperta no sujeito uma parte de sua herança arcaica que também o tornara submisso aos genitores e experimentara uma reanimação individual em sua relação com o pai o que é assim despertado é a idéia de uma personalidade predominante e perigosa para com quem só é possível ter uma atitude passivomasoquista a quem se tem de entregar a própria vontade ao passo que estar com ele olhálo no rosto parece ser um empreendimento arriscado Só de uma outra maneira semelhante podemos representar a relação do membro individual da horda primeva com o pai primevo Como sabemos de outras reações os indivíduos preservaram um grau variável de aptidão pessoal para reviver velhas situações desse tipo Um certo conhecimento de que apesar de tudo a hipnose é apenas um jogo uma renovação enganadora dessas antigas impressões pode contudo remanesc er e cuidar para que haja uma resistência contra quaisquer consequências demasiado sérias da suspensão da vontade na hipnose As características misteriosas e coercivas das formações grupais presentes nos fenômenos de sugestão que as acompanham podem assim com justiça ser remontadas à sua origem na horda primeva O líder do grupo ainda é o temido pai primevo o grupo ainda deseja ser governado pela força irrestrita e possui uma paixão extrema pela autoridade na expressão de Le Bon tem sede de obediência O pai primevo é o ideal do grupo que dirige o ego no lugar do ideal do ego A hipnose bem pode reivindicar sua descrição como um grupo de dois Aqui fica como definição para a sugestão uma convicção que não está baseada na percepção e no raciocínio mas em um vínculo erótico XI UMA GRADAÇÃO DIFERENCIADORA NO EGO Se examinarmos a vida de um homem de hoje como indivíduo tendo em mente as descrições mutuamente complementares da psicologia de grupo fornecidas pelas autoridades pode ser que diante das complicações reveladas percamos a coragem de tentar uma exposição abrangente Cada indivíduo é uma parte componente de numerosos grupos achase ligado por vínculos de identificação em muitos sentidos e construiu seu ideal do ego segundo os modelos mais variados Cada indivíduo portanto partilha de numerosas mentes grupais as de sua raça classe credo nacionalidade etc podendo também elevarse sobre elas na medida em que possui um fragmento de independência e originalidade Essas formações grupais estáveis e duradouras com seus efeitos constantes e uniformes são menos notáveis para um observador que os grupos rapidamente formados e transitórios a partir dos quais Le Bon traçou seu brilhante esboço psicológico do caráter da mente grupal E é exatamente nesses ruidosos grupos efêmeros superpostos uns aos outros por assim dizer que encontramos o prodígio do desaparecimento completo embora apenas temporário exatamente daquilo que identificamos como aquisições individuais Interpretamos esse prodígio com a significação de que o indivíduo abandona seu ideal do ego e o substitui pelo ideal do grupo tal como é corporificado no líder E temos de acrescentar a título de correção que o prodígio não é igualmente grande em todos os casos Em muitos indivíduos a separação entre o ego e o ideal do ego não se acha muito avançada e os dois ainda coincidem facilmente o ego amiúde preservou sua primitiva autocomplacência narcisista A seleção do líder é muitíssimo facilitada por essa circunstância Com freqüência precisa apenas possuir as qualidades típicas dos indivíduos interessados sob uma forma pura clara e particularmente acentuada necessitando somente fornecer uma impressão de maior força e de mais liberdade de libido Nesse caso a necessidade de um chefe forte freqüentemente o encontrará a meio caminho e o investirá de uma predominância que de outro modo talvez não pudesse reivindicar Os outros membros do grupo cujo ideal do ego salvo isso não se haveria corporificado em sua pessoa sem alguma correção são então arrastados com os demais por sugestão isto é por meio da identificação Estamos cientes de que aquilo com que pudemos contribuir para a explicação da estrutura libidinal dos grupos reconduz à distinção entre o ego e o ideal do ego e à dupla espécie de vínculo que isso possibilita a identificação e a colocação do objeto no lugar do ideal do ego A pressuposição dessa espécie de gradação diferenciadora no ego como um primeiro passo para a análise do ego deve gradualmente estabelecer sua justificativa nas quais diversas regiões da psicologia Em meu artigo sobre narcisismo 1914c reuni todo o material patológico que na ocasião podia ser utilizado em apoio dessa diferenciação Contudo podemos esperar que ao penetrarmos mais profundamente na psicologia das psicoses descobriremos que sua significação é muito maior Reflitamos que o ego ingressa agora na relação de um objeto para com o ideal do ego dele desenvolvido e que a ação recíproca total entre um objeto externo e o ego como um todo com que nosso estudo das neuroses nos familiarizou deve possivelmente repetirse nessa nova cena de ação dentro do ego Nesse ponto acompanharei apenas uma das consequências que partindo desse enfoque parecem possíveis retomando assim o debate de um problema que fui obrigado a deixar noutra parte sem soluçãoCada uma das diferenciações mentais com que nos familiarizamos representa um novo agravamento das dificuldades de funcionamento mental aumenta a sua instabilidade podendo tornarse o ponto de partida para a sua desintegração isto é para o desencadeamento de uma doença Assim com o nascimento demos o primeiro passo de um narcisismo absolutamente autosuficiente para a percepção de um mundo externo cambiante e para os primórdios da descoberta dos objetos A isso está associado o fato de não podermos suportar o novo estado de coisas por muito tempo de periodicamente dele revertermos no sono à nossa anterior condição de ausência de estimulação e fuga de objetos É verdade contudo que nisto estamos seguindo uma sugestão do mundo externo que através da mudança periódica do dia e da noite afasta temporariamente a maior parte dos estímulos que nos influenciam O segundo exemplo de um tal passo patologicamente mais importante não está sujeito a essa restrição No curso de nossa evolução efetuamos uma separação de nossa existência mental em um ego coerente e em uma parte inconsciente e reprimida que é deixada fora dele ficamos sabendo que a estabilidade dessa nova aquisição se acha exposta a abalos constantes Nos sonhos e neuroses o que é assim excluído bate aos portões em busca de admissão guardados não obstante pelas resistências e em nossa saúde desperta fazemos uso de artifícios especiais para permitir que o que está reprimido contorne as resistências e o recebamos temporariamente em nosso ego para aumento de nosso prazer Os chistes e o humor e até certo ponto o cômico em geral podem ser encarados sob esta luz Qualquer um que esteja familiarizado com a psicologia das neuroses pensará em exemplos semelhantes de menor importância mas apressome à aplicação do que tenho em vista É inteiramente concebível que a separação do ideal do ego do próprio ego não pode ser mantida por muito tempo tendo de ser temporariamente desfeita Em todas as renúncias e limitações impostas ao ego uma infração periódica da proibição é a regra Isso na realidade é demonstrado pela instituição dos festivais que na origem nada mais eram do que excessos previstos em lei e que devem seu caráter alegre ao alívio que proporcionam As saturnais dos romanos e o nosso moderno carnaval concordam nessa característica essencial com os festivais dos povos primitivos que habitualmente terminam com deboches de toda espécie e com a transgressão daquilo que noutras ocasiões constituem os mandamentos mais sagrados Mas o ideal do ego abrange a soma de todas as limitações a que o ego deve aquiescer e por essa razão a revogação do ideal constituiria necessariamente um magnífico festival para o ego que mais uma vez poderia então sentirse satisfeito consigo próprio Há sempre uma sensação de triunfo quando algo no ego coincide com o ideal do ego E o sentimento de culpa bem como o de inferioridade também pode ser entendido como uma expressão da tensão entre o ego e o ideal do ego Sabese bem que existem pessoas cujo colorido geral do estado de ânimo oscila periodicamente de uma depressão excessiva atravessando algum tipo de estado intermediário a uma sensação exaltada de bemestar Essas oscilações aparecem em graus de amplitude muito diferentes desde o que é apenas observável até exemplos extremos tais que sob a forma de melancolia e mania empreendem as mais perturbadoras ou atormentadoras incursões na vida da pessoa interessada Nos casos típicos dessa depressão cíclica as causas precipitantes externas não parecem desempenhar qualquer papel decisivo quanto aos motivos internos nesses pacientes não se encontra nada a mais ou nada mais do que em todos os outros Conseqüentemente tornouse costume considerar esses casos como não sendo psicogênicos Dentro em pouco nos referiremos àqueles outros casos exatamente semelhantes de depressão cíclica que podem ser facilmente remontados a traumas mentais Os fundamentos dessas oscilações espontâneas de estado de ânimo são assim desconhecidos Faltanos compreensão do mecanismo do deslocamento de uma melancolia realizado por uma mania de modo que nos achamos livres para supor que esses pacientes sejam pessoas em quem nossa conjectura poderia encontrar uma aplicação real seu ideal do ego poderia terse temporariamente convertido no ego após havêlo anteriormente governado com especial rigidez 52 Atenhamonos ao que é claro com base em nossa análise do ego não se pode duvidar que nos casos de mania o ego e o ideal do ego se fundiram de maneira que a pessoa em estado de ânimo de triunfo e autosatisfação imperturbada por nenhuma autocrítica pode desfrutar a abolição de suas inibições sentimentos de consideração pelos outros e autocensuras Não é tão óbvio não obstante muito provável que o sofrimento do melancólico seja a expressão de um agudo conflito entre as duas instâncias de seu ego conflito em que o ideal em excesso de sensitividade incansavelmente exibe sua condenação do ego com delírios de inferioridade e com autodepreciação A única questão é se devemos procurar as causas dessas relações alteradas entre o ego e o ideal do ego nas rebeliões periódicas que acima postulamos contra a nova instituição ou se devemos responsabilizar por elas outras circunstâncias Uma mudança para a mania não constitui característica indispensável da sintomatologia da depressão melancólica Existem melancolias simples umas em crises isoladas outras em crises recorrentes que nunca apresentam essa evolução Por outro lado há melancolias em que a causa precipitadora desempenha claramente um papel etiológico São aquelas que ocorrem após a perda de um objeto amado seja pela morte seja por efeito de circunstâncias que tornaram necessária a retirada da libido do objeto Uma melancolia psicogênica desse tipo pode terminar em mania e o ciclo repetirse diversas vezes tão facilmente como num caso que parece ser espontâneo Assim o estado de coisas é um tanto obscuro especialmente porque só poucas formas e casos de melancolia foram submetidos à investigação psicanalítica Até aqui compreendemos somente casos em que o objeto é abandonado porque demonstrou ser indigno de amor Ele é então novamente erigido dentro do ego mediante identificação e severamente condenado pelo ideal do ego As censuras e ataques dirigidos ao objeto vêm à luz sob a forma de autocensuras melancólicas Uma melancolia desse tipo além disso pode acabar em uma mudança para a mania de sorte que a possibilidade de isso acontecer representa uma característica que independe das outras características do quadro clínico Não obstante não vejo dificuldade em atribuir ao fato da rebelião periódica do ego contra o ideal do ego uma cota em ambos os tipos de melancolia tanto o psicogênico quanto o espontâneo No espontâneo podese supor que o ideal do ego está inclinado a apresentar uma rigidez peculiar que então resulta automaticamente em sua suspensão temporária No tipo psicogênico o ego seria incitado à rebelião pelo mau tratamento por parte de seu ideal mau tratamento que ele encontra quando houve uma identificação com um objeto rejeitado XII PÓSESCRITO No decorrer da indagação que acabou de ser levada a um final provisório encontramos um certo número de caminhos laterais que evitamos seguir em primeiro lugar mas nos quais existia muita coisa oferecendonos promessas de compreensão Propomonos agora considerar alguns 53 desses pontos que assim foram deixados de lado AA distinção entre a identificação do ego com um objeto e a substituição do ideal do ego por um objeto encontra uma ilustração interessante nos dois grandes grupos artificiais que começamos por estudar o exército e a Igreja cristã É óbvio que um soldado toma o seu superior que é na realidade o líder do exército como seu ideal enquanto se identifica com os seus iguais e deriva dessa comunidade de seus egos as obrigações de prestar ajuda mútua e partilhar das posses que o companheirismo implica Mas se tenta identificarse com o general tornase ridículo O soldado em Wallensteins Lager ri do sargento por essa mesma razão Wie er räuspert und wie er spuckt Das habt ihr ihm glücklich abgeguckt É diferente na Igreja católica Todo cristão ama Cristo como seu ideal e sentese unido a todos os outros cristãos pelo vínculo da identificação Mas a Igreja exige mais dele Tem também de identificarse com Cristo e amar todos os outros cristãos como Cristo os amou Em ambos os pontos portanto a Igreja exige que a posição da libido fornecida pela formação grupal seja suplementada Há que acrescentar a identificação ali onde a escolha objetal já se realizou e o amor objetal onde há identificação Esse acréscimo evidentemente vai além da constituição do grupo Podese ser um bom cristão e contudo estar distante da idéia de se pôr no lugar de Cristo e ter como ele um amor abrangente pela humanidade Não precisamos nos sentir capazes fracos mortais que somos da grandeza de alma e da força de amor do Salvador Porém esse novo desenvolvimento na distribuição da libido no grupo constitui provavelmente o fator sobre o qual o cristianismo baseia sua alegação de haver atingido um nível ético mais elevado BDissemos que seria possível especificar o ponto do desenvolvimento mental da humanidade em que a passagem da psicologia de grupo para a psicologia individual foi alcançada também pelos membros do grupo ver em 1 Para esse fim devemos retornar por um momento ao mito científico do pai da horda primeva Ele foi posteriormente exaltado como criador do mundo e com justiça porque produziria todos os filhos que compuseram o primeiro grupo Era o ideal de cada um deles ao mesmo tempo temido e honrado o que conduziu mais tarde à idéia do tabu Esses numerosos indivíduos acabaram por se agrupar mataramno e despedaçaramno Ninguém do grupo de vitoriosos podia tomar o seu lugar ou se algum o fez retomaramse os combates até compreenderem que deviam todos renunciar à herança do pai Formaram então a comunidade totêmica de irmãos todos com direitos iguais e unidos pelas proibições totêmicas que se destinavam a preservar e a expiar a lembrança do assassinato No entanto a insatisfação com o que fora conseguido ainda permanecia e tornouse fonte de novos desfechos As pessoas que estavam unidas nesse grupo de irmãos gradualmente chegaram a uma revivescência do antigo estado de coisas em novo nível O macho tornouse mais uma vez o chefe de uma família e destruiu as prerrogativas da ginecocracia que se estabelecerá durante o período em que não havia pai Em compensação ele nessa ocasião pode ter reconhecido as divindades maternas cujos sacerdotes eram castrados para a proteção da mãe segundo o exemplo que fora fornecido pelo pai da horda primeva Contudo a nova família era apenas uma sombra da antiga havia um grande número de pais e cada um deles era limitado pelos direitos dos outros Foi então que talvez algum indivíduo na urgência de seu anseio tenha sido levado a libertarse do grupo e a assumir o papel do pai Quem conseguiu isso foi o primeiro poeta épico e o progresso foi obtido em sua imaginação Esse poeta disfarçou a verdade com mentiras consoantes com seu anseio inventou o mito heróico O herói era um homem que sozinho havia matado o pai o pai que ainda aparecia no mito como um monstro totêmico Como o pai fora o primeiro ideal do menino também no herói que aspira ao lugar do pai o poeta criava agora o primeiro ideal do ego A transição para o herói foi provavelmente fornecida pelo filho mais moço o favorito da mãe filho que ela protegera do ciúme paterno e que na época da horda primeva fora o successor do pai Nas mentirosas fantasias poéticas dos tempos préhistóricos a mulher que constituía o prêmio do combate e a tentação para o assassinato foi provavelmente transformada na sedutora e na instigadora ativa do crime O herói reivindica haver agido sozinho na realização da façanha à qual certamente só a horda como um todo terseia aventurado Porém como Rank observou os contos de fadas preservaram traços claros dos fatos que foram desmentidos porque neles amiúde descobrimos que o herói tendo de realizar alguma tarefa difícil geralmente o filho mais novo e não poucas vezes um filho que se fez passar perante o substituto paterno por estúpido isto é inofensivo só pode ele próprio realizar sua missão com a ajuda de uma multidão de animais pequenos tais como abelhas ou formigas Esses seriam os irmãos da horda primeva da mesma forma que no simbolismo onírico insetos ou animais nocivos significam irmãos e irmãs considerados desprezivelmente como bebês Ademais todas as tarefas dos mitos e contos de fadas são facilmente reconhecíveis como sucedâneos do feito heróico Assim o mito é o passo com o qual o indivíduo emerge da psicologia de grupo O primeiro mito foi certamente o psicológico o mito do herói o mito explicativo da natureza deve têlo seguido muito depois O poeta que dera esse passo com isso libertandose do grupo em sua imaginação é não obstante como Rank observa ainda capaz de encontrar seu caminho de volta ao grupo na realidade porque ele vai e relata ao grupo as façanhas do herói as quais inventou No fundo esse herói não é outro senão ele próprio Assim desce ao nível da realidade e eleva seus ouvintes ao nível da imaginação Seus ouvintes porém entendem o poeta e em virtude de terem a mesma relação de anseio pelo pai primevo podem identificarse com o herói A mentira do mito heróico culmina pela deificação do herói Talvez o herói deificado possa ter sido mais antigo que o Deus Pai e precursor do retorno do pai primevo como deidade A série dos deuses então seria cronologicamente esta Deusa Mãe Herói Deus Pai Mas só com a elevação do pai primevo nunca esquecido a divindade adquire as características que ainda hoje nela identificamos CMuito se disse neste artigo sobre instintos diretamente sexuais e instintos inibidos em seus objetivos podendose esperar que essa distinção não experimente demasiada resistência Um estudo pormenorizado da questão contudo não ficará deslocado ainda que apenas repita o que em grande parte já foi dito antes O desenvolvimento da libido nas crianças familiarizounos com o primeiro mas também o melhor exemplo de instintos sexuais inibidos em seus objetivos Todos os sentimentos que uma criança tem para com os pais e para com aqueles que cuidam dela transformamse por uma fácil transição em desejos que dão expressão aos impulsos sexuais da criança Ela reivindica desses objetos de seu amor todos os sinais de afeição que conhece quer beijálos tocálos e olhálos tem curiosidade de ver seus órgãos genitais e estar com eles quando realizam suas funções excretórias íntimas promete casarse com a mãe ou com a babá não importa o que entenda por casamento propõese a si mesma ter um filho do pai etc A observação direta bem como a subsequente investigação analítica dos resíduos da infância não deixa dúvidas quanto à completa fusão de sentimentos ternos e ciumentos e de intenções sexuais mostrandonos de que maneira fundamental a criança faz da pessoa que ama o objeto de todas as suas tendências sexuais ainda não corretamente centradas Essa primeira configuração do amor da criança que nos casos típicos toma a forma do complexo de Édipo sucumbe tanto quanto sabemos a partir do começo do período de latência a uma onda de repressão O que resta dela apresentase como um laço emocional puramente afetuoso referente às mesmas pessoas porém não mais pode ser descrito como sexual A psicanálise que ilumina as profundezas da vida mental não tem dificuldade em demonstrar que os vínculos sexuais dos primeiros anos da infância também persistem embora reprimidos e inconscientes Ela nos dá coragem para afirmar que um sentimento afetuoso onde quer que o encontremos constitui um sucessor de uma vinculação de objeto completamente sensual com a pessoa em pauta ou antes com o protótipo ou Imago dessa pessoa Ela não pode verdadeiramente revelarnos sem uma investigação especial se em dado caso essa antiga corrente sexual completa ainda existe sob repressão ou já se exauriu Mais precisamente é inteiramente certo que essa corrente ainda se encontra lá como forma e possibilidade podendo sempre ser catexizada e novamente colocada em atividade por meio da regressão a única questão é e nem sempre pode ser respondida que grau de catexia e força operativa ela ainda possui no presente momento Nessa referência devese tomar idêntico cuidado em evitar duas fontes de erro o Sila de subestimar a importância do inconsciente reprimido e o Caribde de julgar o normal inteiramente pelos padrões do patológico Uma psicologia que não penetre ou não possa penetrar nas profundezas do que é reprimido considera os laços emocionais afetuosos como sendo invariavelmente a expressão de impulsos que não possuem objetivo sexual ainda que derivem de impulsos com esse fim Temos justificativa para dizer que eles foram desviados desses fins sexuais embora exista certa dificuldade de fornecer uma descrição de um desvio de objetivo assim que se adapte às exigências da metapsicologia Ademais esses instintos inibidos em seus objetivos conservam alguns de seus objetivos sexuais originais mesmo um devoto afetuoso mesmo um amigo ou um admirador desejam a proximidade física e a visão da pessoa que é agora amada apenas no sentido paulino Se preferirmos podemos identificar nesse desvio de objetivo um início da sublimação dos instintos sexuais ou por outro lado podemos fixar os limites da sublimação em algum ponto mais distante Esses instintos sexuais inibidos em seus objetivos possuem uma grande vantagem funcional sobre os desinibidos Desde que não são capazes de satisfação realmente completa achamse especialmente aptos a criar vínculos permanentes ao passo que os instintos diretamente sexuais incorrem numa perda de energia sempre que se satisfazem e têm de esperar serem renovados por um novo acúmulo de libido sexual assim nesse meio tempo o objeto pode terse alterado Os instintos inibidos são capazes de realizar qualquer grau de mescla com os desinibidos podem ser novamente transformados em desinibidos exatamente como deles se originaram É bem conhecido com que facilidade se desenvolvem desejos eróticos a partir de relações emocionais de caráter amistoso baseadas na apreciação e na admiração comparese o Beijeme pelo amor do grego de Molière entre professor e aluno recitalista e ouvinte deliciada especialmente no caso das mulheres Na realidade o crescimento de laços emocionais desse tipo com seus começos despropositados fornece uma via muito frequentada para a escolha sexual de objeto Pfister em sua Froömigkeit des Grafen von Zinzendorf 1910 forneceu um exemplo extremamente claro e certamente não isolado de quão facilmente até um intenso vínculo religioso pode converterse em ardente excitação sexual Por outro lado também é muito comum aos impulsos diretamente sexuais de pequena duração em si mesmos transformaremse em um laço permanente e puramente afetuoso e a consolidação de um apaixonado casamento de amor repousa em grande parte nesse processo Naturalmente não ficaremos surpresos ao ouvir que os impulsos sexuais inibidos em seus objetivos se originam daqueles diretamente sexuais quando obstáculos internos ou externos tornam inatingíveis os objetivos sexuais A repressão durante o período de latência é um obstáculo interno desse tipo ou melhor um obstáculo que se tornou interno Presumimos que o pai da horda primeva devido à sua intolerância sexual compelíu todos os filhos à abstinência forçandoos assim a laços inibidos em seus objetivos enquanto reservava para si a liberdade de gozo sexual permanecendo desse modo sem vínculos Todos os vínculos de que um grupo depende têm o caráter de instintos inibidos em seus objetivos Porém aqui nos aproximamos da discussão de um novo assunto que trata da relação existente entre os instintos diretamente sexuais e a formação de grupos DAs duas últimas observações nos terão preparado para descobrir que os impulsos diretamente sexuais são desfavoráveis para a formação de grupos Na história da evolução da família é fato que também houve relações grupais de caráter sexual casamentos grupais mas quanto mais importante o amor sexual se tornou para o ego e mais desenvolveu o ego as características de estar amando com maior preminência exigiu ser limitado a duas pessoas uma cum uno como é prescrito pela natureza do objetivo genital As inclinações polígamas tiveram de contentarse em encontrar satisfação numa sucessão de objetos mutáveis Duas pessoas que se reúnem com o intuito de satisfação sexual na medida em que buscam a solidão estão realizando uma demonstração contra o instinto gregário o sentimento de grupo Quanto mais enamoradas se encontram mais completamente se bastam uma à outra Sua rejeição da influência do grupo se expressa sob a forma de um sentimento de vergonha Sentimentos de ciúme da mais extrema violência são convocados para proteger a escolha de um objeto sexual da usurpação por um laço grupal Apenas quando o fator afetuoso isto é pessoal de uma relação amorosa cede inteiramente lugar ao sensual tornase possível a duas pessoas manterem relações sexuais na presença de outros ou haver atos sexuais simultâneos num grupo tal como ocorre em uma orgia Nesse ponto porém afetouse uma regressão a uma fase anterior das relações sexuais na qual estar amando ainda não desempenhava um papel e todos os objetos eram julgados como de igual valor um pouco no sentido do malicioso aforismo de Bernard Shaw segundo o qual estar apaixonado significa exagerar grandemente a diferença existente entre uma mulher e outra Existem abundantes indicações de que o estado de estar amando só fez seu aparecimento tardiamente nas relações sexuais entre homens e mulheres de maneira que a oposição entre amor sexual e vínculos grupais constitui também um desenvolvimento tardio Ora pode parecer que essa pressuposição seja incompatível com nosso mito da família primeva pois afinal de contas por seu amor pelas mães e irmãs a turba de irmãos conforme supomos foi levada ao parricídio sendo difícil imaginar esse amor como algo que não fosse indiviso e primitivo isto é como uma união íntima do afetuoso e do sensual Uma consideração mais atenta entretanto transforma essa objeção à nossa teoria em confirmação dela Uma das reações ao parricídio foi em última análise a instituição da exogamia totêmica a proibição de qualquer relação sexual com aquelas mulheres da família que haviam sido ternamente amadas desde a infância Desse modo enfiouse uma cunha entre os sentimentos afetuosos e sensuais do homem que atualmente ainda se acha firmemente fixada em sua vida erótica Em resultado dessa exogamia as necessidades sensuais dos homens tiveram de ser satisfeitas com mulheres estranhas e não amadas Nos grandes grupos artificiais a Igreja e o exército não há lugar para a mulher como objeto sexual As relações amorosas entre homens e mulheres permanecem fora dessas organizações Mesmo onde se formam grupos compostos tanto de homens como de mulheres a distinção entre os sexos não desempenha nenhum papel ²é há sentido em perguntar se a libido que mantém reunidos os grupos é de natureza homossexual ou heterossexual porque ela não se diferencia de acordo com os sexos e particularmente mostra um completo desprezo pelos objetivos da organização genital da libido Mesmo na pessoa que sob outros aspectos se absorveu em um grupo os impulsos diretamente sexuais conservam um pouco de sua atividade individual Se se tornam fortes demais desintegram qualquer formação grupal A Igreja Católica possui o melhor dos motivos para recomendar a seus seguidores que permaneçam solteiros e para impor o celibato a seus sacerdotes mas o apaixonarse com frequência impeliu mesmo padres a abandonar a Igreja Da mesma maneira o amor pela mulheres rompe os vínculos grupais de raça divisões nacionais e sistema de classes sociais produzindo importantes efeitos como fator de civilização Parece certo que o amor homossexual é muito mais compatível com os laços grupais mesmo quando toma o aspecto de impulsos sexuais desinibidos fato notável cuja explicação poderia levarnos longe A investigação psicanalítica das psiconeuroses nos ensinou que seus sintomas devem ser remetidos a impulsos diretamente sexuais que são reprimidos mas permanecem ainda ativos Podemos completar essa fórmula acrescentando ou a impulsos inibidos nos objetivos cuja inibição não foi inteiramente bemsucedida ou permitiu um retorno do objetivo sexual reprimido Está de acordo com isso que uma neurose torne associ al a sua vítima ou a afaste das formações habituais de grupo Podese dizer que uma neurose tem sobre o grupo o mesmo efeito desintegrador que o estado de estar amando Por outro lado parece que onde foi dado um poderoso ímpeto à formação de grupo as neuroses podem diminuir ou pelo menos temporariamente desaparecer Justificáveis tentativas foram feitas para situar esse antagonismo entre as neuroses e as formações de grupo a serviço da terapêutica Mesmo os que não lamentam o desaparecimento das ilusões religiosas do mundo civilizado de hoje admitem que enquanto estiverem em vigor ofereceram aos que a elas se achavam presos a mais poderosa proteção contra o perigo da neurose Tampouco é difícil discernir que todos os vínculos que ligam as pessoas a seitas e comunidades místicoreligiosas ou filosóficoreligiosas são expressões de curas distorcidas de todos os tipos de neuroses Tudo isso se correlaciona com o contraste entre os impulsos diretamente sexuais e os inibidos em seus objetivos Se é abandonado a si próprio um neurótico é obrigado a substituir por suas próprias formações de sintomas as grandes formações de grupo de que se acha excluído Ele cria seu próprio mundo de imaginação sua própria religião seu próprio sistema de delírios recapitulando assim as instituições da humanidade de uma maneira distorcida que constitui prova evidente do papel dominante desempenhado pelos impulsos diretamente sexuais EEm conclusão acrescentaremos do ponto de vista da teoria da libido uma estimativa comparativa dos estados em que estivemos interessados estar amando hipnose formação grupal e neurose Estar amando baseiase na presença simultânea de impulsos diretamente sexuais e impulsos sexuais inibidos em seus objetivos enquanto o objeto arrasta uma parte da libido do ego narcicista do sujeito para si próprio Tratase de uma condição em que há lugar apenas para o ego e o objeto A hipnose assemelhase ao estado de estar amando por limitarse a essas duas pessoas mas baseiase inteiramente em impulsos sexuais inibidos em seus objetivos e coloca o objeto no lugar do ideal do ego O grupo multiplica esse processo concorda com a hipnose na natureza dos instintos que o mantém unido e na substituição do ideal do ego pelo objeto mas acrescenta a identificação com outros indivíduos o que foi talvez originalmente tornado possível por terem eles a mesma relação com o objeto Ambos os estados hipnose e formação de grupo constituem um depósito herdado da filogênese da libido humana a hipnose sob a forma de uma predisposição e o grupo ademais disso como uma sobrevivência direta A substituição dos impulsos diretamente sexuais por aqueles que são inibidos em seus objetivos promove em ambos os estados uma separação entre o ego e o ideal do ego separação da qual já se realizara um começo no estado de estar amando A neurose permanece fora dessa série Baseiase também numa peculiaridade do desenvolvimento da libido humana o início duas vezes repetido feito pela função diretamente sexual com um período intermediário de latência Até aqui ela assemelhase à hipnose e à formação de grupo por ter o caráter de uma regressão que se acha ausente do estado de estar amando Faz seu aparecimento onde quer que a passagem dos instintos diretamente sexuais para os que são inibidos em seus objetivos não foi inteiramente bemsucedida e representa um conflito entre aquelas partes dos instintos que foram recebidas no ego após haverem passado por essa evolução e as partes deles que originandose do inconsciente reprimido esforçamse como outros impulsos instintuais completamente reprimidos por conseguir satisfação direta As neuroses são extremamente ricas em conteúdo por abrangerem todas as relações possíveis entre o ego e o objeto tanto aquelas nas quais o objeto é mantido como noutras em que é abandonado ou erigido dentro do próprio ego e também as relações conflitantes entre o ego e o seu ideal do ego TAREFA O filme A outra história americana foi produzido em 1998 por Tony Kaye propõe uma dramaturgia que leva a diversas indagações Em suma o filme trata de dois irmãos que viviam com sua família até que a partir de um evento o pai morre Em específico o pai atuava como bombeiro e ao realizar um salvamento em uma região de população negra morre durante seu serviço Um dos filhos Derek possui extrema dificuldade para lidar com o luto e ao longo dos dias desenvolve um preconceito com os negros isso porque foi nesse segmento que seu pai havia morrido com um tiro de arma de fogo Um dia ao sair com o carro que era de seu pai Derek sofre um assalto por três indivíduos de cor negra para se defender acaba por assassinar os três de forma brutal Ao ser preso inicialmente encontra diversos desafios na prisão entretanto com o passar dos dias se torna referência da população branca ali e dessa forma começa a ser visto como líder Esse cenário demonstra um movimento nazista que busca eliminar indivíduos de cor negra e gerar portanto uma guerra racial A partir de tal cenário é possível analisar como o ato de ser preconceituoso e discriminar o outro que é diferente promove uma sensação de força ou de poder Relacionando o filme com os livros de Freud é possível compreender que aspectos culturais possuem bastante impacto em diversas condutas do ser humano a incluir aspectos relacionados ao comportamento e desejo Nesse sentido quando há estranheza em relação às diferenças tal comportamento remete a uma comunicação entre ambos Ou seja é graças as diferenças que o contexto se constitui A discriminação exclui porém aproxima porque gera questionamentos e curiosidade sobre o outro O filme por sua vez aponta exatamente isso Ao criar um cenário em sua cabeça e culpar indivíduos com dada etnia sobre a morte de seu pai Derek não compreende que uma região de negros não sugere que sejam violentos Em outras palavras qualquer indivíduo pode ser violento e isso não deve ser discriminado a partir de sua cultura ou etnia Quando Derek sai da cadeia começa a se questionar acerca de diversos posicionamentos cristalizados ao longo dos anos e dessa forma inicia uma reconstrução interna acerca de tais A partir de uma análise mais profunda vale compreender que todo tipo de comportamento é aprendido e pode ser reproduzido Freud explana muitas questões nesse sentido em seus livros apontando que todo ato ou comportamento tem mais relação com o indivíduo em si do que com o outro Ou seja é preciso encontrar características que se pretende diminuir no outro para que um indivíduo consiga se sentir autoconfiante E isso pode ser exposto a partir de diversas circunstâncias e não somente no racismo Isso pode ser constatado principalmente por situações que embora sejam incorretas concomitantemente são aplaudidas Dessa forma aparentemente o errado se torna certo e o certo perde o seu devido valor de referência E a partir disso o indivíduo precisa encontrar outros ao qual se sente mais vinculado e assim desenvolver relações Por outro lado o que não vê dessa forma se tornam indivíduos rejeitados e excluídos Portanto não se leva em consideração a conduta ou os valores que aquele ser humano em questão traz é feito um julgamento acerca do mesmo a partir de critérios específicos préestabelecidos Ironicamente embora tais atos afastem pessoas por outro lado promovem união Principalmente quando o pensamento que envolve julgamentos e atos discriminatórios são afirmados por todos do grupo em questão E dessa forma um grupo ou civilização tende a seguir condutas já incorporadas anteriormente por outros da mesma tribo Portanto é uma ideia histórico cultural que progride ao longo dos anos Ainda se houver qualquer tipo de comportamento contra uma conduta já imposta o indivíduo em questão está rompendo regras e indo contra a própria tribo Em outras palavras a discriminação e o julgamento estruturam determinada tribo e os mantem alinhados pois estimula que todos ali pensem e ajam da mesma forma Entretanto isso é algo cristalizado e que para gerar mudanças ou alterações precisa ser questionado em sua essência levando o indivíduo a questionar seus comportamentos e condutas O filme retrata exatamente isso principalmente quando Derek busca mudar condutas do seu irmão mais novo que inconscientemente se espelhava no irmão como correto e justo