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REVOLUÇÕES BURGUESAS MÓDULOS CONTEMPLADOS\nINREL - Revolução Inglesa\nILUM - Iluminismo\nRFRA - Revolução Francesa\nRAMER - Revolução Americana\nREV1 - Revolução Industrial\nPNAP - Período Napoleônico\nEXRB - Exercícios de Revoluções Burguesas\nTARB - Tópicos avançados em Revoluções Burguesas\nHRBU - Heranças e curiosidades das Revoluções Burguesas\nCURSO\nDISCIPLINA\nCAPÍTULO\nPROFESSORES\nEXTENSIVO 2017\nHISTÓRIA\nREVOLUÇÕES BURGUESAS\nCARLOS RENATO UNGARETTI E EVANDRO MACHADO\nmesalva.com\nTodos os direito reservados © Me Salva! 2017 REVOLUÇÕES BURGUESAS\nFala, galera do Me Salva!. A partir de agora estudaremos as revoluções burguesas, ou seja, os processos revolucionários que aconteceram na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França! Prontos?\nINTRODUÇÃO\nO termo \"revolução burguesa\" é definido como a equalização dos poderes políticos e econômicos da burguesia. Dito isso, inicialmente abordaremos as características das sociedades do Antigo Regime. Posteriormente, observaremos os conceitos de \"revolução\" e \"burguesia\", de modo a estimular a reflexão sobre o tema das \"revoluções burguesas\".\nSOCIEDADES RURAIS - As sociedades do Antigo Regime, que perduraram entre os séculos XVI e XVII, eram predominantemente rurais. Nas cidades, predominavam as atividades comerciais – temporárias (feiras) ou permanentes –, abrigando principalmente a burguesia comercial. Por conta disso, as grandes cidades da época estavam localizadas no litoral, como Veneza, Londres, Amsterdã, Sevilha, Burgues, Lisboa, etc.\nSOCIEDADES ESTAMENTAIS - As sociedades do Antigo Regime também eram estamentais, isto é, eram sociedades divididas em \"estamentos\" – também chamados de \"ordens\" ou \"estados\". Esses estamentos eram, respectivamente, o clero, a nobreza e o terceiro estado. Segue, abaixo, um excerto que auxilia um pouco nessa questão:\n“[...] Cada estamento tinha um estatuto jurídico próprio, que assegurava direitos e obrigações para seus componentes. As obrigações para o clero eram [...] praticar o ofício religioso [...]; para a nobreza, garantir a defesa militar da sociedade; para o terceiro estado, trabalhar para o sustento de\nDESIGUALDADE JURÍDICA - Diferentemente das sociedades contemporâneas, não existia igualdade jurídica nas sociedades do Antigo Regime.\nA Inglaterra, antes da Revolução Industrial, teve uma população urbana superior à população rural apenas em 1851 (HOBSBAWM, 2011, p.33).\nTodos os direito reservados © Me Salva! 2017 Ou seja, as pessoas não eram iguais perante a lei e ao Estado, pois seus direitos e deveres estavam intrinsecamente relacionados ao seu estamento.\n\nABSOLUTISMO MONÁRQUICO - Outra característica essencial das sociedades do Antigo Regime é o absolutismo monárquico. Como vocês devem saber, o final da Idade Média é marcado por um processo de centralização política, que ocorre em razão da crise do sistema feudal e da ascensão da economia mercantil. De um lado, o Renascimento Comercial e Urbano suscitou a emergência da burguesia, que passou a se dedicar às atividades comerciais, financeiras e manufatureiras. De outro lado, a aristocracia feudal observava com temor a corrosão de seu poder local, evidenciado nas revoltas camponesas do século XIV. Nessa perspectiva, o surgimento dos Estados Nacionais - com seus exércitos regulares, burocracia permanente, sistema tributário nacional e direito codificado - representa o formação das monarquias absolutistas, que nada mais eram do que uma \"carapaça\" política de uma nobreza atomizada (ANDERSON, 1985, p.18). A mensagem que precisa ficar clara é que, apesar da emergência da uma burguesia mercantil, a nobreza feudal em quase nada perdeu seus privilégios políticos. A burguesia, por outro lado, ainda estava de fora do poder político, apesar de sua ascensão econômica. Ou seja, a ascensão dos regimes absolutistas não significou o rompimento com o sistema feudal; pelo contrário, existem elementos que traduzem uma certa continuidade - a manutenção dos privilégios do clero e da nobreza.\n\nANTIGO REGIME - Em suma, as sociedades do Antigo Regime eram rurais, estamental e sob a perspectiva política, marcadas pelo absolutismo monárquico. A partir de agora, veremos os conceitos de \"revolução\" e \"burguesia\".\n\nO CONCEITO DE REVOLUÇÃO - No essencial, o conceito de revolução serve para designar mudanças drásticas e violentas da estrutura da sociedade (FERNANDES, 1981). Em linhas gerais, esse conceito é bastante genérico e, naturalmente, não engloba a questão da apropriação do termo \"revolução\" para romantizar e/ou distorcer determinado fato histórico. Contudo, a concepção de mudanças drásticas e violentas da estrutura social é bastante útil para refletir e pensar sobre os processos revolucionários que estudaremos adiante.\n\nO CONCEITO DE BURGUESIA - A origem do conceito de burguesia pode ser compreendida em seu significado em latim (burgus = fortaleza) e em alemão (burg = pequena cidade, tendo em vista que designava os indivíduos, geralmente habitantes das cidades, que se dedicavam ao comércio). Com o advento da Revolução Industrial, o conceito de burguesia foi resignificado e, em sua concepção tipicamente moderna, pode ser compreendido como a classe que detém, em conjunto, os meios de produção e, portanto, também é portadora do poder econômico e político nas sociedades (BOBBIO, 1998, p.119). Em oposição, o proletariado será a classe que, ao não deter os meios de produção, possui unicamente a sua força de trabalho.\n\nREVOLUÇÃO BURGUESA - Dados os conceitos de \"revolução\" e \"burguesia\" - assim como as características das sociedades do Antigo Regime - tentem agora refletir sobre o conceito de \"revolução burguesa\" a partir de suas próprias percepções! Depois desse exercício, estudaremos os processos revolucionários protagonizados pela burguesia durante os séculos XVII e XVIII.\n\nAS REVOLUÇÕES INGLESAS\n\nA partir de agora trataremos dos processos revolucionários que se desenvolveram na Inglaterra do século XVII. Em primeiro lugar, estudaremos a monarquia absolutista inglesa, com o objetivo de explorar as contradições e os conflitos que culminaram na Revolução Puritana (1649) e no período da Commonwealth (1649-1660). Em segundo lugar, estudaremos a restauração monárquica após a morte de Oliver Cromwell, de modo a posteriormente compreender as causas e os desdobramentos da Revolução Gloriosa (1688).\n\nDINASTIA TUDOR - Com o fim da Guerra das Duas Rosas, Henrique VII (1497-1509) - fundador da dinastia Tudor - deu início ao absolutismo inglês. Após a sua morte, o seu filho, Henrique VIII (1509-1547), deu continuidade à dinastia, prometendo também com o papado e estabelecendo a Igreja Anglicana como religião oficial da Inglaterra. Entre 1547 e 1553, o monarca foi Eduardo VI, posteriormente cedendo lugar a Maria Tudor, da Escócia, que restabeleceu o catolicismo como religião oficial. Em 1558, contudo, Elizabeth I (1558-1603) restaurou a Igreja Anglicana no lugar do catolicismo. De modo geral, vocês precisam saber que, ao longo do século XVI, a dinastia reinante foi a Tudor. Além disso, vocês devem saber que a dinastia Tudor procurou centralizar o poder político, uniformizar a moeda (e o sistema de pesos, medidas e taxas) e incentivar a expansão marítima e comercial, conto com o apoio da pequena nobreza rural (gentry) e das oligarquias mercantis (burguesia) para governar.\n\nDINASTIA STUART - Sem descendentes diretos, a morte de Elizabeth I (1603) significou o fim da dinastia Tudor. O trono da Inglaterra ficou com o primo de Elizabeth, Jaime I, rei da Escócia e filho de Maria Stuart. O reino de Jaime I (1603-1625) foi marcado pela adoção de fracas políticas econômica e externa, levando à relutância da Câmara dos Comuns (Parlamento) em apoiar o governo (HILL, 1988, p.28). O seu sucessor, Carlos I, tentou reinar sem o Parlamento - que inclusive foi dissolvido em 1629 - trilhando um caminho em direção à instalação de uma monarquia absolutista.\n\nREVOLUÇÃO PURITANA - É necessário ter claro que, entre as insatisfações do Parlamento, estavam a inclinação de Carlos I para com o catolicismo - em parte por conta de sua esposa, a católica francesa Henrietta Maria -, a convicção de Carlos I de que seu poder era absoluto e legitimado divinamente, assim como a imposição de tributos sem aprovação do Parlamento(FUNCK, 2012). As desavenças entre o rei e o Parlamento se intensificaram após o período, em que Carlos I reinou sem o Parlamento (1629-1640), possibilitando a emergência de um líder puritano, Oliver Cromwell, que conduziria as tropas do New Model Army durante o período de guerra civil (1642-1649). Em 1649, Carlos I foi decapitado e, assim, instaurou-se, sob a liderança de Cromwell, a Commonwealth (República). O esquema abaixo ilustra um pouco os lados que ficaram opostos durante a guerra:\n\nREPÚBLICA DE CROMWELL - A Revolução Puritana (1649) deu início ao único período republicano da história inglesa, que dura de 1649 até a morte de Cromwell, em 1658. Em um primeiro momento, Cromwell governou em conjunto com o Parlamento, porém, em um segundo momento, começou a governar de modo ditatorial. Dito isso, vocês precisam saber que, entre as ações tomadas por Cromwell, a mais importante delas é a adoção dos Atos de Navegação (1651), pois obrigava que os produtos ingleses fossem transportados apenas por embarcações com bandeira inglesa. Desse modo, os Atos precipitaram uma \"revolução\" comercial\" que, além de contribuir para tornar a Inglaterra uma potência marítima, representou uma condição prévia e indispensável para o desenvolvimento da Revolução Industrial (HILL, 1991, p.182).\n\nREVOLUÇÃO GLORIOSA - Após a morte de Cromwell, ocorreu na Inglaterra um processo de restauração da dinastia Stuart. Entre 1660 e 1685, o reino ficou sob comando do monarca Carlos II, segundo filho de Carlos I. Depois de sua morte, Jaime II, com apoio da França, tentou restabelecer o Absolutismo na Inglaterra. Eclodiram novos conflitos com o Parlamento, que acabou deposto Jaime II e oferecendo a Coroa para Guilherme de Orange, da Holanda (Guilherme III). Após assumir o trono britânico, Guilherme III assinou a Declaração de Direitos (Bill of Rights), que limitava os poderes monárquicos em vários aspectos. Sem extinguir a monarquia e sem derramar sangue, a Revolução Gloriosa (1688) instaurou a monarquia parlamentar no Reino Unido, que vigora até a atualidade.\nObserve o esquema abaixo:\n\n1688 - Revolução Gloriosa\nJaime II - 1685-1688\nParlamento Burguês\n\nO ILUMINISMO E O DESPOTISMO\n\nDepois de estudar os principais aspectos das revoluções inglesas, veremos os ícones do pensamento iluminista. Para começar, vamos tentar compreender as críticas ao Antigo Regime, tendo em vista que, apesar do Iluminismo não ser homogêneo e uniforme em suas concepções, os pensadores iluministas compartilhavam de uma posição contrária ao Antigo Regime. A CRÍTICA ILUMINISTA - Em linhas gerais, é importante saber que os iluministas criticavam as \"algemas\" que o Antigo Regime impunha aos seres humanos, como o tradicionalismo religioso e medieval, as práticas supersticiosas das Igrejas e a divisão irracional e hierárquica dos homens de acordo com o nascimento (HÖBSBAUM, 2011, p.48). Ou seja, os iluministas se opunham aos privilégios do monarca, do clero e da nobreza, ao passo que defendiam ideias como o liberalismo político e econômico, a tolerância religiosa, a igualdade jurídica e a liberdade de expressão, entre outras.\n\nA RAZÃO ILUMINISTA - Como já foi dito, os iluministas constituíam um grupo diverso e, não raro, discordavam entre si. Porém, algumas características comuns podem ser atribuídas ao \"projeto das Luzes\" (TODOROV, 2008). Uma delas é a convicção de que os seres humanos - o indivíduo - têm autonomia para pensar e criticar livremente. Para isso, os indivíduos deveriam se emancipar das \"algemas\" citadas anteriormente, sobretudo as de \"ordem\" religiosa. O conhecimento, nesse sentido, é libertador (TODOROV, 2008, p.17). Em resumo, vocês precisam compreender que os iluministas defendiam o uso da razão não para determinar as condutas humanas, mas para que os indivíduos pudessem conhecer, compreender e julgar de forma livre e independente. Como resultado da confiança na razão e no conhecimento, o que se viu durante o \"século das Luzes\" foi o desbravar da ciência em várias áreas, como Física, Química, Biologia, a Psicologia, etc.\n\nJOHN LOCKE - Considerado \"pai do iluminismo\", Locke (1632-1704) era um empirista e um contratualista. Empirista porque acreditava que o conhecimento é advindo da experiência e posteriormente desenvolvido pelo uso da razão. Contratualista porque acreditava que os indivíduos \"assinam\" um \"contrato social\" quando vivem em sociedade. Para Locke, o contrato social cumpre o papel de assegurar os direitos naturais, como é o caso do direito à propriedade. Dessa forma, o Estado deve assegurar esses direitos e não pode ser arbitrário, absoluto e inato (divino). Em suma, Locke condenou profundamente o absolutismo monárquico, defendeu o respeito à liberdade dos cidadãos, a tolerância religiosa e aos direitos de propriedade privada (COTRIM, 2012, p.347). Para facilitar o estudo, observem o trecho abaixo, extraído da obra Segundo tratado sobre o governo (1690):\n\n\"A liberdade natural do homem deve estar livre de qualquer poder superior na terra [...] A liberdade do homem na sociedade não deve estar edificada sob qualquer poder legislativo exceto aquele estabelecido por consentimento na comunidade civil [...] a liberdade dos homens submetidos a um governo consistente em possuir uma regra permanente [...] comum a todos os membros daquela sociedade e instituída pelo poder legislativo estabelecido É a liberdade de seguir minha própria vontade [...] e não estar sujeito à vontade do governo\". VOLTAIRE - Filósofo e dramaturgo francês, François-Marie Arouet (1694-1778) utilizava o pseudônimo Voltaire para publicar suas obras. Em grande parte delas, Voltaire criticou o clero católico, a intolerância religiosa e a prepotência dos poderes (COTRIM, 2012, p.347). Além disso, apesar de não defender a participação da maioria do povo no poder, ele argumentava que deveria haver o respeito às liberdades individuais e à garantia de propriedade privada. Entre suas principais obras, é possível citar Cartas inglesas (1733) e Ensaios sobre os costumes (1756).\n\nMONTESQUIEU - Charles-Louis Secondat (1689-1755), o barão de Montesquieu, buscou, em suas obras, encontrar mecanismos que pudessem conceder às monarquias europeias a moderação e a estabilidade (ALBUQUERQUE, 2001). Nesse sentido, a separação dos poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário seria uma forma de evitar a concentração de poderes ao redor do monarca. Isto é, Montesquieu entendia que, com a separação dos poderes, os abusos dos governantes seriam evitados e as liberdades individuais seriam respeitadas. Contudo, Montesquieu não defendia um governo de caráter burguês, mas sim um regime monárquico que fosse estável. Para esclarecer a questão da separação dos três poderes, observem um trecho de O espírito das leis (1748):\n\n\"Quando os poderes Legislativo e Executivo ficam reunidos numa mesma pessoa ou instituição do Estado, a liberdade desaparece [...] Não haverá também liberdade se o poder Judiciário não estiver separado do Legislativo e do Executivo. Se o Judiciário se unisse ao Executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido se uma mesma pessoa - ou uma instituição do Estado - exercem três poderes: o de fazer as leis, o de ordená-las e o de julgar os conflitos entre os cidadãos.\"\n\nDIDEROT E D'ALEMBERT - Os franceses Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond D'Alembert (1717-1784) foram responsáveis por unificar os conhecimentos humanos em diferentes áreas (artística, filosófica e científica) na obra Enciclopédia. Relembrando a importância concedida pelos iluministas à razão e ao conhecimento para a autonomia do ser humano, a Enciclopédia expressava a defesa do racionalismo, da laicidade e, acima de tudo, da crença de que a ciência representa o principal guia do progresso humano.\n\nROUSSEAU - Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) é autor de duas importantes obras: 1) Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade\n\n\"Obedecer as leis que se prescrevem a si mesmo é um ato de liberdade [...] Um povo, portanto, só será livre quando tiver condições para elaborar suas leis sem um clima de igualdade, de tal modo que a obediência a essas mesmas leis significa, na verdade, a submissão à deliberação do mesmo e de cada cidadão, como partes do poder soberano. Isto é, uma submissão à vontade geral e não à vontade de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos.\" entre os homens e 2) Contrato Social. Na primeira, Rousseau explica como os homens, que desfrutam de total liberdade no estado de natureza — o \"bom selvagem\" — se tornam desiguais quando vivem em sociedade. Na segunda, procura responder ao problema da desigualdade, de modo a propor a construção de um pacto legítimo entre os homens. Esse \"pacto\" ou \"contrato\" só seria legítimo caso ocorresse de acordo com a \"vontade geral\". Para esclarecer esse conceito, observem o excerto abaixo.\n\nA igualdade é um conceito central na obra de Rousseau, e não por acaso muitos revolucionários atribuíram ao filósofo a condição de \"patrão\" da Revolução Francesa. É interessante compreender que Rousseau propunha a participação política igualitária dos cidadãos, dotando-os de liberdade civil e tornando-os agentes ativos e passivos no funcionamento da sociedade.\n\nFISIOCRACIA - O conceito de fisiocracia (fisio= natureza; cracia= poder) expressa a concepção dos fisiocratas, que acreditavam que a agricultura era a principal atividade criadora de riqueza. Para os fisiocratas, a terra — o aluguel da terra — era a única fonte de renda líquida (HOBSBawm, 2011, p.36). O nome de maior destaque é o de François Quesnay (1694-1774), que pronunciou a famosa frase: \"Laissez-faire, laissez-passer\" (deixar fazer, deixar passar). Essa frase manifesta uma convicção dos fisiocratas: a existência de um poder natural (a natureza), que era maior do que as leis e os regulamentos criados pelo Estado. Ou seja, os fisiocratas, além de entenderem a agricultura como principal atividade geradora de riquezas, também rejeitavam a interferência do Estado na economia.\n\nADAM SMITH - O escocês Adam Smith (1723-1790) é conhecido como o fundador do liberalismo econômico. Em alinhamento com o pensamento burguês da época, Smith criticou os privilégios da nobreza e do alto clero, bem como condenou as políticas econômicas mercantilistas. Em sua mais conhecida obra, A riqueza das nações (1776), afirmou que a atividade econômica deveria ser livremente conduzida pelas leis da oferta e da demanda (laissez-faire). Em outras palavras, a economia deveria ser primordialmente regulada pela \"mão invisível\" do mercado. Ao Estado, caberia apenas a proteção da sociedade contra as invasões externas e contra as injustiças internas, bem como a manutenção e realização de obras de interesse geral. Por fim, observemos o trecho extraído de A\n\n\"[...] Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficientemente do que quando a intenção realmente promove-o.\" (SMITH, 1996, p.430)\n\nriqueza das nações, que ilustra a relevância dada por Smith ao indivíduo e à livre- iniciativa. DESPOTISMO ESCLARECIDO - O fenômeno do despotismo esclarecido — ou absolutismo ilustrado — ocorreu na segunda metade do século XVIII na Europa central, oriental e mediterrânea. Sem abrir mão do próprio absolutismo, alguns monarcas tentaram introduzir em seus reinos elementos de ilustração, tais como: o incentivo à educação pública, por meio da construção de escolas e do apoio às academias literárias; o aperfeiçoamento do sistema de arrecadação tributária, de modo a tornar os tributos menos onerosos para as classes populares (COTRIM, 2012, p.351). Como exemplos de déspotas esclarecidos, é possível citar Frederico II, da Prússia (1712-1786); Catarina II, da Rússia (1729-1796); José II, da Áustria (1741-1790); e José I, de Portugal (1714-1777).\n\nBALANÇO FINAL - Então, após estudarmos, de forma esquemática, os principais pensadores iluministas, que tal nos questionarmos sobre o papel deles na formação das sociedades modernas? Em primeiro lugar, é importante lembrar que, de John Locke a Adam Smith, a questão do indivíduo exerce um papel central no pensamento iluminista, embora também o faça nos pensadores humanistas dos séculos XV e XVI. Em resumo, a formação do indivíduo, enquanto ser dotado de razão e de direitos, foi algo construído ao longo do processo histórico, constituindo um elemento fundamental para a reflexão sobre a forte presença do individualismo nas sociedades ocidentais. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL\n\nA partir de agora estudaremos a chamada Revolução Industrial, que constituiu um fenômeno de natureza econômica dos séculos XVIII e XIX. Como elemento essencial desse fenômeno, destaca-se a substituição da produção artesanal e manufatureira pela produção industrial. Ao longo do capítulo, estudaremos as características, os antecedentes, as consequências e, ainda, as etapas da Revolução Industrial. Observem o esquema abaixo.\n\nO primeiro-ministro de José I, marquês de Pombal (1699-1782), foi o responsável por promover as chamadas \"reformas pombalinas\", que muito influenciaram a formação de uma burguesia comercial e manufatureira em Portugal.\n\nREVOLUÇÃO INDUSTRIAL - S. XVIII\n\nMudança nos processos técnicos e produtivos da manufatura\nINGLATERRA\n\nEVOLUÇÃO TECNOINDUSTRIAL - Sob uma perspectiva histórica, a atividade industrial — transformar matérias-primas em mercadorias — passou por diferentes etapas no que diz respeito aos aspectos técnicos e de organização do trabalho (COTRIM, 2012, p.356). Inicialmente, a atividade industrial era artesanal, manual e realizada em pequena escala. Posteriormente, a produção evoluiu para a manufatura, em que os artesãos — que anteriormente dominavam praticamente todas as etapas de produção — tornaram-se partes de uma linha de produção e grandes oficinas (manufaturas). Os avanços técnicos e o aperfeiçoamento dos métodos produtivos contribuíram para a emergência da produção mecanizada (maquinização), caracterizada pela utilização de máquinas em substituição às ferramentas, pela produção em grande escala e pelo emprego do trabalho assalariado.\n\nPIONEIRISMO INGLÊS - Uma pergunta recorrente ao tema da Revolução é: por que ocorreu primeiramente na Inglaterra?\n\n\"Uma conjuração muito específica de fatores levou a Inglaterra a ser o berço do capitalismo em sua forma madura e o primeiro país a industrializar-se. Esses fatores foram de ordem geográfica, econômica, política, social e\".\n\nFATORES GEOGRÁFICOS - Vocês devem lembrar que a Inglaterra, por possuir uma posição geográfica insular, teve seu território preservado das guerras. Além disso, o território inglês oferecia os recursos naturais necessários para a industrialização, como o carvão (fonte de energia para as fábricas) e o ferro (matéria-prima essencial para a produção de bens industriais). FATORES ECONÔMICOS - Economicamente, é possível destacar três pontos: a acumulação de capitais, os créditos financeiros e os cercamentos. Conforme ditos, os Atos de Navegação (1651) foram fundamentos para a Inglaterra se consolidar como a Senhora dos Mares, contribuindo para o aumento das trocas comerciais e do um acúmulo de capitais (HILL, 1991). Esses capitais foram multiplicados pelo sistema financeiro inglês - que de longe era o mais desenvolvido da Europa -, reinventando-os nas atividades industriais e na modernização dos métodos de produção agrários. No que diz respeito aos cercamentos (enclosures) - apropriação das terras comunais por parte de uma nobreza mercantilizada -, pode-se dizer que geraram um aumento do êxodo rural que, por consequência, resultou no aumento da oferta de mão de obra para as indústrias urbanas nascente. Em resumo, os antecedentes econômicos da Revolução Industrial estão relacionados à ascensão da burguesia inglesa, a responsável pela expansão do comércio e pela modificação da estrutura agrária.\n\nIMPACTOS SOCIAIS - Conforme mencionado, a Revolução Industrial, além de consolidar o capitalismo como modelo econômico vigente, resultou no aumento do êxodo rural e, consequentemente, no aumento da população urbana. Os outra camponeses agora migravam para as cidades para vender a sua força de trabalho, em troca de uma remuneração (salário). Surgiu, assim, a sociedade de classes e, nela, o proletariado urbano.\n\n5 Em 1694, por exemplo, ocorreu a fundação do Banco da Inglaterra.\n\nComo exemplo, é possível mencionar a introdução de máquinas agrícolas, como arados, grades, debulhadoras e ceifeadeiras mecânicas. Esse processo levou a um incremento na produtividade e à redução do contingente de trabalhadores rurais (COTRIM, 2012, p.357). NOVA CLASSE SOCIAL - Proletariado Urbano\n\nO trabalhador (proletário) possuía apenas a sua força de trabalho para vender, enquanto que os burgueses detinham o capital, para investir e as máquinas para produzir. Ocorreu, assim, uma separação entre a força de trabalho e os meios de produção. Com a pretensão de maximizar os seus lucros, os industriais - ingleses, em um primeiro momento - pagavam baixos salários, impunham longas jornadas de trabalho (em média de 15 horas por dia), empregavam amplamente o trabalho feminino e infantil (salários ainda mais baixos) e ofereciam condições de trabalho precárias. A situação de exploração suscitou a formação de organizações operárias (sindicatos), que foram responsáveis por pressionar os empregadores e as autoridades governamentais para a instituição de direitos trabalhistas - o que veio a ocorrer somente nos séculos XIX e XX.\n\nIMPACTOS NO TRANSPORTE E NA COMUNICAÇÃO - A necessidade de comercializar os produtos - que agora eram produzidos em grande escala - demandou o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação. Entre essas evoluções, é possível citar o navio a vapor, a locomotiva, o telegráfo e, posteriormente, o automóvel e o telefone (COTRIM, 2012, p.362). E, por fim, vocês precisam saber da chamada Terceira Revolução Industrial - ou Revolução Científico-Tecnológica (RCT) - que teve início na década de 1970 e tem como principais características o desenvolvimento tecnológico em áreas como informática, comunicação, biotecnologia, robótica e supercondutores (VIZENTINI, 1998, p.149). Assim como nas etapas anteriores, a Terceira Revolução Industrial aumentou os níveis de produtividade e desencadeou mudanças profundas na estrutura da produção global, posteriormente conhecida como \"globalização\".\n\nREVOLUÇÃO AMERICANA\n\nA partir de agora estudaremos a Revolução Americana, que representa o primeiro movimento inspirado em ideais burgueses fora da Europa. Neste capítulo estudaremos a formação das 13 colônias, as desavenças entre elas e a metrópole, a guerra de independência e, por fim, a escrita da Constituição dos EUA.\n\nAS 13 COLÔNIAS - A partir do século XVI, os ingleses começaram a explorar a região leste da América do Norte, criando entrepostos comerciais na região. A partir do século XVII, em parte por conta do avanço francês, os ingleses começaram efetivamente a colonizar a região. A primeira colônia inglesa foi a Virgínia (1607), majoritariamente formada por protestantes. Até o século XVIII, foram fundadas 13 colônias independentes entre si, porém subordinadas à metrópole inglesa. De modo geral, vocês precisam saber que essas colônias podiam ser divididas em: 1) colônias do centro-norte: possuíam autonomia comercial, praticavam a \"policultura\" em pequenas e médias propriedades e empregavam predominantemente o trabalho livre e assalariado; 2) colônias do centro-sul (Virgínia, Carolina do Sul, Geórgia): se enquadravam no sistema colonial mercantilista - latifúndio, monocultura para exportação e escravização. O esquema abaixo deve ajudar a compreender essa divisão: ATRITOS ENTRE COLÔNIA E METRÓPOLE - Apesar da colonização inglesa ter sido mais \"branda\" do que a praticada pelos países ibéricos na América Latina, por exemplo, os conflitos entre as 13 colônias e a metrópole sempre existiram. Entre 1756 e 1763, a Inglaterra ingressou em um conflito com seu principal rival geopolítico, a França. Como forma de cobrir os custos da guerra, os ingleses instituíram tributos nas 13 colônias.\n\nLEI DO AÇÚCAR (1764) - Proibia a importação de rum e estabelecia a cobrança de taxas sobre o açúcar (melado) importado fora das Antilhas britânicas.\n\nLEI DO SELO (1765) - A Lei do Selo impôs a cobrança de taxas sobre todo o papel impresso na colônia, como documentos comerciais, jornais, livros, cartas de baralho, etc.\n\nLEI DO CHÁ (1773) - Anos depois, a metrópole concedeu o monopólio de venda de chá nas colônias para a Companhia Inglesa das Índias Orientais. O objetivo era combater o contrabando praticado pelos colonos. Em resposta, os colonos destruíram os navios da Companhia que estavam atracados no porto de Boston, em dezembro de 1773.\n\nLEIS INTOLERÁVEIS (1774) - Com o objetivo de conter o ambiente de revolta nas colônias, a metrópole estabeleceu medidas como o fechamento do porto de Boston e a autorização para que as autoridades inglesas pudessem julgar qualquer indivíduo responsável por incitar a desordem social e os distribuírem contra a metrópole.\n\nO PROTESTO DAS 13 COLÔNIAS - Vocês devem imaginar que essas medidas causaram indignação nos colonos, que temiam a perda da sua relativa autonomia local. Um ano após a formação do \"Boston Tea Party\", houve a realização do Primeiro Congresso Intercontinental, reunindo representantes das colônias na Filadélfia. Nesse Congresso, os colonos exigiram mudanças no pacto colonial com a Inglaterra. Contudo, a metrópole estava pouco disposta a conceder aos anseios dos colonos. Como resultado, em 19 de abril de 1775, teve início a chamada Guerra de Independência. A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA - Em maio de 1775, os colonos realizaram o Segundo Congresso Intercontinental, convocando os cidadãos às armas e nomeando George Washington (1732-1799) como comandante das tropas coloniais (COTRIM, 2012, p.370). Em 4 de julho de 1776 a declaração de independência tornou-se pública, designando a nova nação, a partir de então, como Estados Unidos da América. Capitaneda por figuras como Thomas Jefferson, a declaração afirma que:\n\n“[…] todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade.”\n\nPara acessar a declaração na íntegra, ver site: <http://www.uel.br/pessoal/ineto/arquiva/historia/recidida/declarainidepeUAHIJS.J Neto.pdf>\n\nA GUERRA DE INDEPENDÊNCIA - Vocês devem saber que a guerra pela independência das 13 colônias pode ser dividida em duas etapas. Na primeira, as tropas estadunidenses, sob comando de George Washington, lutaram praticamente sozinhas contra as forças inglesas. Entre 1778 e 1781, os rivais geopolíticos da Inglaterra – como a França, a Espanha e as Províncias Unidas (Holanda) – começaram a enviar dinheiro e tropas. Com isso, os colonos americanos conseguiram se sobressair e derrotaram as últimas tropas inglesas em Yorktown em outubro de 1781. Dois anos mais tarde, o governo inglês reconheceu a independência das 13 colônias. A CONSTITUIÇÃO DOS EUA - Em setembro de 1787 proclamou-se a Constituição dos Estados Unidos da América, que, entre outras questões, definiu o país como uma República Federativa presidencialista, assim como estabelecia a tripartição dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Além disso, a Constituição dos EUA assegura o exercício de direitos políticos e civis – como a liberdade de expressão, de imprensa, de crença religiosa e de reunião. Contudo, como vocês devem saber, a escravidão nos EUA só foi abolida após o final da Guerra de Secessão (1861-1865), ao mesmo tempo em que as populações indígenas não foram, de modo algum, incluídas nos direitos garantidos pela Constituição. Por outro lado, as mulheres também não exerciam a cidadania de forma plena, ainda mais se considerarmos que apenas puderam votar 140 anos depois da escrita da Constituição. Ou seja, apenas os homens adultos brancos – pertencentes à burguesia comercial e econômica e à aristocracia fundiária – eram os cidadãos que possuíam plenamente os direitos assegurados pela Constituição dos EUA. AS ETAPAS DA REVOLUÇÃO FRANCESA - Geralmente atribui-se a data da queda da Bastilha (14 de julho de 1789) como marco da Revolução Francesa. No entanto, o processo revolucionário se desenvolveu entre 1789 e 1799, abrangendo diferentes etapas. Para facilitar o estudo, abordaremos as 5 diferentes fases da Revolução, que são: 1) Revolta Aristocrática; 2) Assembleia Nacional Constituinte; 3) Monarquia Constitucional; 4) República e Convenção Nacional; e 5) Governo do Diretório.\n\nREVOLTA ARISTOCRÁTICA - Em meio a uma grave crise econômica, o rei Luís XVI tinha de criar novos tributos para cobrir os enormes déficits do Estado francês. Tendo em vista que os tributos recaíssem sobre si, os dois primeiros estados (clero e a nobreza) pressionaram o rei para que a Assembleia dos Estados Gerais fosse, depois de 175 anos, convocada. Atendendo às pressões do clero e da nobreza, Luís XVI convocou a Assembleia no ano de 1787. Não sabiam eles que a convocação da Assembleia teria um efeito oposto àquele desejado inicialmente. Subestimando a capacidade de mobilização do terceiro estado, a Assembleia dos Estados Gerais foi marcada pela crescente força política deste, que exigia a proporcionalidade dos votos - em oposição a um voto por estado. Ou seja, o terceiro estado acreditava que, com os votos individuais e não por estado, seria possível aprovar reformas políticas e econômicas, defendidas sobretudo pela burguesia francesa.\n\nASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE - Unindo-se ao rei, os dois primeiros estados negaram as reivindicações do terceiro estado e paralisaram os trabalhos da Assembleia dos Estados Gerais. Vocês devem imaginar a reação do terceiro estado, né? Pois então, os representantes “ocuparam” um salão adjacente àquele onde os representantes dos estados estavam se reunindo, proclamando, no dia 9 de julho de 1789, a criação da Assembleia Nacional Constituinte. No dia 14 de julho, aos berros de “Liberdade, igualdade e Fraternidade”, os revoltosos tomaram a Bastilha, libertando os presos que ali estavam e tomando as armas onde ali se encontravam. Sem condições de conter a revolta popular, o rei Luís XVI foi obrigado a reconhecer a legitimidade da Assembleia Nacional Constituinte. Por outro lado, em meio à situação, era ainda mais tensa, visto que camponeses, cansados da exploração de caráter feudal, passaram ao confronto direto com a nobreza agrária. Dado esse contexto, a Assembleia Nacional Constituinte, em 4 de agosto, decretou o fim dos direitos senhoriais da nobreza, extinguindo o “regime feudal” na França. Em 26 de agosto, a Assembleia Nacional proclamou a Declaração dos Direitos do Homem, que pode ser em parte compreendida no excerto abaixo: “Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. […] O fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais […] Esses Direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão […] A Lei é a expressão da vontade geral. […] Ela deve ser a mesma para todos, quer se destine a proteger quer a punir. Todos os cidadãos são iguais aos seus olhos [.] A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem. Todo cidadão pode, em consequência, falar livremente, expressar sua opinião, transmiti-la por escrito […]”.\n\nMONARQUIA CONSTITUCIONAL - Em setembro de 1791, a Assembleia Nacional Constituinte entregou à França a primeira Constituição do país, que encerrava os privilégios feudais, reduzia o poder do clero e retirava do rei os seus poderes absolutos. É preciso destacar as mudanças que a Constituição de 1791 promovia na França em diferentes áreas: Na organização social, ficava estabelecido a igualdade jurídica entre todos os indivíduos; na economia, era instaurado um regime de liberdade da produção e do comércio; na religião, a Igreja e o Estado separaram-se; na política, ficava determinada a separação dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como o estabelecimento do voto censitário, isto é, pela renda (COTRIM, 2012, p.379).\n\nFORÇAS CONTRARREVOLUCIONÁRIAS - Vocês devem imaginar que o rei Luís XVI não ficou satisfeito com a diluição de seus poderes, certo? Além disso, as monarquias vizinhas à França, temendo a disseminação das ideias revolucionárias, também não viam com bons olhos o êxito da Revolução Francesa. Nesse sentido, Luís XVI passou a conspirar com as monarquias da Prússia e da Áustria para que fosse organizado um exército contrarrevolucionário. Em julho de 1791, Luís XVI foi preso tentando fugir do país, ficando sob a custódia dos revolucionários. Mesmo assim, o exército autro-prussiano invadiu a França com o objetivo de recolocar Luís XVI no poder, e foram expulsos do território francês após a Batalha de Valmy (1792).\n\nREPÚBLICA E CONVENÇÃO NACIONAL - A vitória contra os invasores estrangeiros deu novo ímpeto aos revolucionários franceses, que em setembro de 1792 proclamaram a criação de uma República e a formação de uma Convenção Nacional, em substituto a Assembleia Legislativa eleita um ano antes. A Convenção Nacional abrigava as principais forças políticas francesas (os jacobinos, os girondinos e a “planície”). É interessante notar (conforme exposto no quadro abaixo), que os jacobinos, tidos como mais radicais, sentavam ao lado esquerdo; enquanto que os girondinos, tidos como mais moderados, se localizavam no lado direito da Assembleia. Foi nesse contexto de tensionamentos entre girondinos e jacobinos que surgiram as famosas categorias de “esquerda” e “direita” – conceitos políticos utilizados até hoje –, refletindo um pouco as implicações (e o alcance) da Revolução Francesa, bem como ilustrando a continuidade e a ressignificação de determinados conceitos no decorrer do processo histórico.\n\nDITADURA JACOBINA - Em janeiro de 1793, os ânimos se acirraram de forma bastante significativa entre os jacobinos e os girondinos, tendo em vista a discussão em torno do destino de Luís XVI. Com apoio popular e sob a liderança de Robespierre, os jacobinos determinaram que o rei fosse guilhotinado em 21 de janeiro de 1793. O trágico destino de Luís XVI causou reações entre os membros exaltados, que levaram os jacobinos a tomar o poder e, dai em diante, aprofundar a Revolução, a reestabelecer a Constituição do Ano I e instaurar o Comitê de Salvação Pública e o Tribunal Revolucionário. Estes últimos, por sua vez, ditaram um período de “Terror”, que resultou em casos de prisões e execuções de pessoas acusadas de conspiração contra a Revolução. Em 1794, após “baixar a poeira” das ameaças estrangeiras, Robespierre sofreu um golpe orquestrado pelos girondinos, sendo preso e, inicialmente, enviado para a guilhotina.\n\nGOVERNO DO DIRETÓRIO - Após retirar Robespierre do poder, foram os girondinos que tomaram o poder na França. Retirando do tabuleiro de preços o sufrágio universal através Constituição do ano III, a nova orientação política francesa permanecia como a regime republicano, que a partir seria comandado pelo Diretório. Este, por sua vez, seria controlado por cinco membros e seriam eleitos pelo poder legislativo. Entre 1795 e 1799, o governo do Diretório teve dificuldades em afirmar sua autoridade, assim como a França era novamente PERÍODO NAPOLEÔNICO - Como vocês viram, o golpe do 18 brumário pós- era marcada pela figura do general Napoleão Bonaparte, que, com o apoio da alta burguesia e do Exército, deflagrou um golpe de Estado em 10 de novembro de 1799. O golpe do 18 brumário encerrou o ciclo revolucionário, estabeleceu um novo governo - denominado de Consulado - consolidou os interesses da alta burguesia e sufocou as aspirações mais radicais dos jacobinos. Com isso, inaugurou-se o período Napoleônico, tema do próximo capítulo.\n\nCONSULADO - O período do Consulado (1799-1804), onde é aberto com a derrubada do governo Diretório, é marcado pelo centralismo e ascensão política de Napoleão, que deveria, ao menos teoricamente, governar em conjunto com os outros cônsules, Roger Ducos e Sieyès. Contudo, Napoleão elegeu-se primeiro-cônsul da República e passou a deter grandes poderes sobre o Estado francês, cabendo a ele a nomeação de membros da administração, a proposição de leis e a condução da política externa (COTRIM, 2012, p.387). Além disso, nesse período ocorreu um importante processo de reorganização do Estado francês, com destaque para a escrita do Código Civil Napoleônico (1804) e a criação do Banco da França (1800). Essa política de reorganização tinha como objetivo estabilizar a situação política e econômica da França, que havia passado por um período de duas décadas marcadas por agitações sociais e instabilidade política. Externamente, o período marca uma reaproximação com a Igreja Católica, evidenciada na assinatura da Concordata (1801).\n\nIMPÉRIO - A estabilização interna e o relaxamento nas tensões externas provocaram um certo entusiasmo entre os partidários de Napoleão. Com o apoio deles, Napoleão foi proclamado Cônsul vitalício em 1802, obtendo o direito de indicar seu sucessor. Não deixa de ser curioso que, com isso, Napoleão adquirira um \"status que, na prática, é pertencente aos regimes monárquicos. A realização de um plebiscito, em 1804, confirmou Napoleão com o título de Imperador da França. Em um gesto simbólico, o agora Imperador da França coroou a si próprio, apesar da presença do Papa no salão de Notre Dame, mostrando que não existia autoridade (como a grega) superior a sua. POLÍTICA EXTERNA EXPANSIONISTA - Durante o período imperial, a política externa de Napoleão foi pautada pela expansão territorial e política da França (FUNAG, 2012, p.42). Após fortalecer e modernizar o exército francês, Napoleão e suas tropas, entre 1805 e 1807, impuseram derrotas significativas à Áustria (1805), à Prússia (1806) e à Rússia (1807). As conquistas francesas modificaram a \"divisão política da Europa\": o Sacro Império foi substituído pela Confederação do Reno e os territórios da Igreja (Estados Pontifícios) foram anexados à França. A máxima extensão territorial atingida pelo Império francês ocorreu em 1812, compreendendo cerca de 150 departamentos (ou províncias) e abrindo 50 milhões de habitantes - aproximadamente um terço da população europeia.\n\nBLOQUEIO CONTINENTAL - A Inglaterra, principal rival geopolítica da França, se preocupava com os avanços militares franceses, motivando os diplomatas ingleses a realizarem alianças contra Napoleão. A marinha francesa, na realidade, havia tentado invadir o território britânico, porém suas tropas foram derrotadas na Batalha de Trafalgar (1805). Não se conformando com a derrota, Napoleão decretou o Bloqueio Continental (1806), pelo qual os países do continente europeu, submetidos ao pressionamento francês, teriam de fechar seus portos ao comércio inglês (COTRIM, 2012, p.388). O objetivo aqui era: claro; enfraquecer isoladamente a economia inglesa. Como forma de concretizar o bloqueio, Napoleão projetou o poderio francês na Península Ibérica, anexando a Espanha e, em Portugal, ocasionando o episódio da fuga da Corte para o Rio de Janeiro (1808).\n\nDECLÍNIO - A partir de 1810, a política externa militarista e expansionista de Napoleão começou a desgastar o seu governo. Internamente, a sociedade francesa começava a questionar os custos humanos, materiais e financeiros das guerras. Externalmente, as invasões napoleônicas provocaram, entre os povos conquistados, sentimentos nacionalistas contra a França. Paralelamente, o Bloqueio Continental não surtiu o efeito desejado, tendo em vista que a indústria francesa não era capaz de suprir a demanda por produtos industrializados, estimulando o contrabando e o aumento de preços. A Rússia, que era um país predominantemente agrário, foi obrigada a negociar os seus estoques de cereais com a Inglaterra, abandonando o bloqueio no ano de 1810.\n\nO GENERAL INVERNO - Em represália à decisão de abandonar o bloqueio, Napoleão mobilizou cerca de 600 mil homens para invadir o território russo. Adotando uma estratégia defensiva, os russos começaram a aplicar a chamada \"estratégia de terra arrasada\": queimar as plantações e tudo que pudesse auxiliar as tropas inimigas - refugiando-se cada vez mais para o interior de seu imenso território. As tropas napoleônicas até conseguiram chegar a Moscou, ocupando o palácio do Czar (o Kremlin), porém, estavam desgastadas, subnutridas e, não menos pior, sofrendo tanto com o frio do inverno quanto com a reação do exército russo. Diante desse adverso cenário, Napoleão foi obrigado a ordenar uma trágica retirada de seus exércitos. A situação física dos soldados e a contrariedade dos russos contribuíram para que, dos 600 mil homens enviados ao conflito, apenas 40 mil retornassem para Paris. Fragilizado, o grande exército napoleônico não seria capaz de resistir aos ataques perpetrados pela coalizão (Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria) contra a França, que invadiu Paris em 6 de abril de 1814. Depois disto, Napoleão foi derrubado do poder e enviado à ilha de Elba, no Mar Mediterrâneo. Em seu lugar, as tropas da coalizão contra a França colocaram a monarquia dos Bourbons novamente no poder, sob a figura de Luís XVIII (irmão de Luís XVI, guilhotinado pela Revolução). GOVERNO DOS CEM DIAS - Aproveitando-se da impopularidade de rei Luís XVIII, Napoleão conseguiu fugir da ilha de Elba com o apoio das tropas que haviam sido enviadas para prendê-lo. Regressando à França com a promessa de realizar reformas democráticas, Napoleão foi recebido em Paris aos gritos de \"Viva o Imperador!\" e obrigou a família real a se retirar do país. Estabelecendo-se novamente como líder da França, o novo governo de Napoleão duraria apenas 100 dias, visto o cenário interno e externo desfavorável. Com um perfil mais jacobino do que outrora, a burguesia francesa não apoiou o governo de Napoleão. Do ponto de vista internacional, ocorreu uma reorganização das forças militares inglesas, prussianas, russas e austríacas, que derrotaram Napoleão definitivamente na Batalha de Waterloo (1815). Novamente derrotado, os vencedores da guerra enviaram Napoleão para a ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde o antigo Imperador permaneceu até sua morte. Por fim, Luís XVIII era novamente conduzido ao trono francês.\n\nCONGRESSO DE VIENA - Após a primeira resignação de Napoleão, os países que formaram a coalizão internacional (Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria), em conjunto com a própria França, organizaram o Congresso de Viena (1814-1815). Além de determinar que a França pagasse pesadas indenizações pelos danos causados aos outros países (cerca de 700 milhões de francos), os acordos do Congresso de Viena restauraram a divisão política europeia, tendo como base as fronteiras de 1792. O Congresso de Viena, por conta da predominância das monarquias europeias, possuía um intrínseco caráter conservador. SANTA ALIANÇA - As principais monarquias europeias (Prússia, Rússia e Áustria) também promoveram durante o Congresso de Viena, o princípio da solidariedade, o qual deveria guiar a formação de uma aliança política entre as monarquias, com a finalidade de impedir a deflagração de movimentos liberais e democráticos pela Europa. Nesse sentido, ocorreu, sob a liderança do czar Alexandre I, a criação da Santa Aliança, que reunia as monarquias citadas acima e outras nações europeias. Entre as atribuições da Aliança, estava a de intervir diretamente em caso de deflagração de movimentos revolucionários de cunho liberal-democrático. A Inglaterra, berço da primeira revolução burguesa e pioneira da revolução industrial, se opôs à formação da aliança. Isto porque os ingleses eram favoráveis à independência das colônias latino-americanas e ao rompimento delas com o Antigo Regime, principalmente em razão da necessidade de conquistar novos mercados consumidores para os seus produtos industrializados.\n\nPARA SABER MAIS!\n\nLivros:\n\nA Era das Revoluções. Eric Hobsbawm. 2012\nA Revolução Francesa. Albert Soboul. 1979\nOs excluídos da História. Michelle Perrot. 1988\n\nA Era das Revoluções (1789-1848), do historiador britânico Eric Hobsbawm, abarca um período marcado pelas influências da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. A \"dupla revolução\", argumenta o historiador, significou o triunfo da indústria capitalista e da sociedade \"burguesa\" e \"liberal\". Por conta disso, o livro pode ser muito útil para aqueles que querem se aprofundar um pouco mais nos estudos.\n\nO livro de Albert Soboul - A Revolução Francesa - é uma dica interessante. para aqueles que possuem o interesse de compreender mais profundamente os aspectos econômicos da Revolução Francesa.\n\nOs excluídos da História, da francesa Michelle Perrot, busca problematizar a situação dos operários, das mulheres e do conjunto e das classes subalternas no período de fervor revolucionário na França.\n\nFilmes e documentários:\n\nTempos Modernos. Charlie Chaplin. 1936\nRevolução Francesa. History Channel. 2005\nOs miseráveis. Tom Hopper. 2013\nAdeus, Minha Rainha. Benoît Jacquot. 2012\nDanton. Andrzej Wajda. 1983\n\nTempos Modernos, de Charlie Chaplin, é uma obra clássica do cinema, muito trabalhada pelos professores quando o assunto é a consolidação da sociedade moderna, urbana e industrial. Por essa razão, o filme constituiu uma sugestão interessante para visualizar as mudanças que o advento das tecnologias modernas de produção (fábricas, máquinas, etc) ocasionaram nas sociedades modernas.\n\nAo contrário das atuais produções do History Channel, o documentário Revolução Francesa trata, com rigor histórico, os temas relacionados às origens e aos desdobramentos do processo revolucionário francês, com ênfase na figura do jacobino Robespierre e na instauração do período do \"Terror\" na França.\n\nOs miseráveis, de Tom Hopper, é uma dica interessante para aqueles que buscam entender os processos revolucionários associados à indústria francesa.\n\nO filme do francês Benoît Jacquot - Adeus, Minha Rainha - é uma dica válida para aqueles que querem estudar um pouco mais o processo que culminou na queda do Antigo Regime na França.\n\nConsiderado um dos mais clássicos filmes sobre a Revolução Francesa, Danton é outra sugestão para os estudantes que buscam, através de outros métodos, expandir os seus conhecimentos sobre o evento que inaugurou o período conhecido como Idade Contemporânea. 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