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IDADE MÉDIA MÓDULOS CONTEMPLADOS\nYDMF – Alta Idade Média\nBIDM – Baixa Idade Média\nYFL1 – Exercícios de Alta Idade Média\nINPM – Cultura e Pensamento Medieval\nEXIM – Exercícios de Baixa Idade Média\n\nCURSO\nEXTENSIVO 2017\n\nDISCIPLINA\nHISTÓRIA\n\nCAPÍTULO\nIDADE MÉDIA\n\nPROFESSORES\nNICOLAS QUADROS E CARLOS RENATO UNGARETTI\n\nTodos os direito reservados © Me Salva! 2017 IDADE MÉDIA\n\nE aí, galera do Me Salva!, tudo bem com vocês? Comigo tá tudo certo! Então, quer dizer que vamos dar uma olhadinha nesse loooooongo período chamado de Idade Média? Se liga que essa parte da História, tradicionalmente, é dividida em uma parcela de MIL ANOS de história. É, isso mesmo... Tempo para caramba, só que aqui vamos trabalhar de uma forma um pouco diferente. Essa apostila funcionará em conjunto com os módulos da Idade Média, ou seja, ela não pretende ser uma substituta das mídias presentes lá, muito menos um resumo dos conteúdos lá tratados, afinal de contas, ninguém faz um resumo – que funcione para nós – melhor do que nós mesmos. Aqui, na verdade, há uma forma mais processual de abordagem dos conteúdos, pois vamos tentar ver as coisas além das caixinhas em que as esperamos. Algumas questões que foram tratadas nas mídias não serão tratadas aqui, e algumas coisas serão tratadas aqui e não nas mídias.\n\nBora desvincular! Não há MESMO (!) como conter tudo, então vamos fazer um recorte e trabalhar detalhadamente as questões que são pertinentes aqui. Antes de qualquer coisa, vamos tentar ir além dos preconceitos estabelecidos pelos próprios historiadores no passado. Existem duas visões erroneamente bem difundidas sobre a IDADE MÉDIA:\n\nVisão Clássica\nVisão Romântica\n\nA visão clássica é aquele olhar disseminado pelos produtores de conhecimento dos períodos que vieram logo após a Idade Média: os intelectuais do Renascimento e do Iluminismo.\n\nSurgiu aquela nomenclatura idade das “trevas” ou tenebrae, que claramente faz referência às ideias de oposição entre “luz” e “trevas”, trazidas pelo Iluminismo, representações da luta entre o “conhecimento” e a “ignorância”, retomadas justamente pela valorização dos ideais da filosofia grega.\n\nNo pensamento produzido por esses intelectuais, era como se, antes do Renascimento, houvesse um tempo estéril à produção de conhecimento e ao progresso humano, um tempo MÉDIO, entre a Grécia Antiga e o Próprio Renascimento.\n\nEssa, com certeza, é uma visão muito atrasada a respeito da Idade Média, época em que, apesar do forte controle religioso exercido pela Igreja Católica, a produção do conhecimento existe, principalmente circulando em grupos fechados como a Maçonaria. Sem contar o cotidiano e as pessoas comuns; aldeões como\n\nTodos os direitos reservados © Me Salva! 2017 Menocchio que é contado em O Queijo e os Vermes, de Carlo Ginzburg (historiador italiano que escreveu sobre a Micro-história), tinham uma visão muito própria do universo, retirando-nos, por completo, aquele sentimento de ignorância e fé cega que seria presente no período.\n\nA visão romântica é aquela que inverteu os conceitos produzidos pelos renascentistas, de forma que a Idade Média não teria sido uma época de \"trevas\" e sim, segundo esses românticos especificamente do século XIV, uma época de paixão, exuberância e vitalidade. Esse período de fé, autoridade e sonhos teria sido insuperável e incrível. Isso é amplamente expresso na Literatura em obras como Tristão e Isolda, O Corcunda de Notre-Dame e as lendas do Rei Arthur, e nas Artes como o estilo arquitetônico gótico, principalmente.\n\nProponho algo para vocês: nem céu nem inferno. A Idade Média está ainda muito incompreendida, pois ainda oscila excessivamente entre o pessimismo renascentista/iluminista e a exaltação romântica. Convido-os a olhar além do que está posto e vermos a Idade Média além dela mesma.\n\nAS MUITAS IDADES MÉDIAS\n\nJá sabemos que a Idade Média é um período que se estende, mais ou menos, do século V ao século XV. São mil anos de história e, obviamente, essa extensão não poderia haver somente um tipo de Idade Média. Os povos na Europa são vastos e as línguas e localidades, muitas vezes, estão em distâncias bem consideráveis.\n\nSabe aquela análise de Idade Média que vemos nos livros didáticos? Aquela bem clássica, com o senhor feudal, os cavaleiros e blá blá blá... Então, ela é, essencialmente, uma Idade Média europeia. A \"Idade Média\" na História é, acima de tudo, um recorte geográfico no tempo, com seus moldes de abordagem e funcionando na historiografia, é um período em que se trata essencialmente da Europa. Porém, não houve somente uma Idade Média, nem ela somente foi europeia.\n\nEssa que conhecemos é, em geral, uma Idade Média muito francesa, que analisa relações que eram bem mais firmes na própria região da França, ou no reino dos francos. Claro que seria necessário fazer um recorte de análise, mesmo por questões de metodologia, porém o recorte não pode atender o todo completamente, pois isso causa um problema ao contexto e uma formação insuficiente sobre o assunto.\n\nExistiram Idades Médias diferentes. No Japão por exemplo, um arquipélago distante na Ásia, a \"Idade Média\" se estendeu além da duração da Idade Média aqui no ocidente; lá durou até o século XIX, acabando somente com o advento da Era Meiji, o processo de industrialização. Esse período medieval japonês é chamado de Shogunato e foi caracterizado pela presença de vários pequenos líderes regionais, os senhores feudais, que tinham sob seu comando guerreiros, em geral de famílias nobres, chamados de samurais, que ocupavam posições importantes como a de liderança e exerciam atividade militar nos feudos.\n\nAo pensar sobre a Revolução Russa, por exemplo, muito mais próxima do contexto europeu que os japoneses, percebemos que o país teve suas relações medievais estendidas praticamente até 1917, quando o Czar, o \"rei\" daquele contexto, foi derrubado pelo povo. Só aí a economia essencialmente agrícola ligada à terra foi realmente repensada em seu modo de produção, modificando as relações sociais naquela região.\n\nViu só como é complicado pensar a Idade Média como uma coisinha engessada e simples? Foi um período muito extenso e complexo, sim, porém, depois de entendermos a complexidade do assunto, vamos estudar melhor toda essa grande parte da História e, com uma visão não totalizadora, vamos quebrar tudo no ENEM e nos vestibulares. DALE! EUROPA, A PERIFERIA DO MUNDO\n\nReduzir o estudo de um período à uma localidade, em si, já seria bem complicado. Esse problema se amplia aqui, justamente pela questão generalizadora que a maioria dos historiadores trata do período. Será que nesse período, de 476 a 1453 (em sequência à queda do Império Romano do Ocidente e à queda do Império Bizantino), o mundo ficou coberto por um \"manto de trevas\"? Se há exemplos na própria Europa que mostram a inverdade dessa afirmação, imagine fora da Europa!\n\nA Europa possuía uma população pequena e estava isolada das rotas comerciais, que passavam em maioria pelo Mediterrâneo Oriental. Nesse mundo, no mesmo período e paralelamente à Europa, havia um amplo afloramento comercial e intelectual, essencialmente muçulmano, em que a Matemática e a Astronomia estavam superdesenvolvidas, por exemplo. Além dessas fontes que os europeus se valeram, no final da Idade Média, para iniciar as navegações que culminaram na chegada à África e à América.\n\nFUNDAMENTOS DA IDADE MÉDIA\n\nPara entendermos da melhor forma possível o que foi de fato a Idade Média na Europa, é interessante primeiramente nos atermos às suas bases, aos seus três pilares, três elementos históricos que estruturaram todo o período medieval:\n\nHerança Romana\n\nHerança Germânica\n\nHerança do Cristianismo\n\nEssas três questões culturais confluiram para a construção da Idade Média que vamos estudar. As questões culturais romanas, que estavam presentes no território da Europa como um todo e deixaram, dentre outras questões, a noção de propriedade privada e casamento como heranças culturais, trazidas inclusive por seu institucionalizado Cristianismo, e também as questões culturais germânicas, vindas dos povos que invadiram a região e instituíram um sentimento muito forte de coletividade na cultura. A QUEDA DE ROMA\n\nSegundo Hilário Franco Júnior, medievalista brasileiro, é verdade que as invasões germânicas, em muito, significaram a queda de roma e o início da Idade Média; porém podemos entender que os germânicos só derrubaram algo que já estava em queda. Para questão de metodologia, prosseguiremos o estudo a partir das ideias elaboradas por Hilário, separando em seis as questões primárias que caracterizaram o período da Idade Média na História.\n\nA RURALIZAÇÃO DA SOCIEDADE\n\nA sociedade romana, em seu início, teve sua economia baseada na agricultura. Porém, com o solo não tão favorável, o comércio se apresentou como um setor bem mais dinâmico e rentável. Como resultado dessas práticas e o imperialismo romano praticado no território, o próprio Mar Mediterrâneo se tornou uma espécie de lago romano, ou um “mare nostrum”, como era chamado por eles.\n\nCom uma economia imperialista, o escravismo e o belicismo (lucro vindo da guerra) se tornaram fontes primárias de rendas para os romanos, de forma que a mão de obra escravizada passou a ser a base da infraestrutura do império: mão de obra essa que precisava constantemente ser renovada, tanto para as necessidades do Império nas questões internas, quanto em relação ao mercado externo, na venda de escravizados.\n\nÉ interessante pensar que esse sistema econômico promoveu um grande afluxo de riquezas, concentrando terras nas mãos de poucos e os monopólios comerciais se formaram. Os pequenos proprietários rurais, que já não tinham incentivo econômico por parte do estado, foram sufocados por essa política imperialista. Com o grande número de escravizados, que supriam as necessidades de produção em Roma, uma massa de plebe urbana sem propriedades e desempregada se formou, já que a concorrência com o trabalho escravizado era praticamente impossível.\n\nPara camuflar os problemas sociais, o próprio Império Romano começou a praticar a política do pão e circo, que essencialmente era o prometido de atrações públicas – em geral sangrentas – usando guerreiros e escravizados, os gladiadores, e a distribuição de pão para matar a fome das massas por aquele dia.\n\nPorém, um problema se apresentou ao Estado romano: os ricos evadiam os impostos, conseguiam burlar os pagamentos e fugiam de qualquer cobrança fiscal, e os pobres eram miseráveis de fato, a massa não possuía renda para pagar qualquer quantia ao Estado. Houve uma crise e o espraiamento da população além das cidades, pois foi justamente nelas que esse processo se intensificou. O comércio decaiu, a segurança que a cidade oferecia já não era mais presente e os mais ricos fugiram para os campos, construindo unidades de produção autônomas. O Estado teve até que proibir quem possuísse cargos públicos de não habitar as cidades. Essas aglomerações rurais mais tarde se intensificaram e se tornaram os feudos; foi em meio a esse contexto que posteriormente as invasões germânicas ocorreram!\n\nA sociedade romana se reorganizou nessa nova configuração social e, na questão da produção, houve uma modificação profunda, causada principalmente por interesses de três partes: os proprietários de terras precisavam de trabalhadores e, com o Estado em crise, havia problemas em abastecer a demanda com mão de obra escravizada; o estado precisava garantir suas rendas fiscais, pois mais humildes queriam trabalho, comida e segurança em tempos conturbados de invasões germânicas. Surge o Colonato:\n\nAs terras do proprietário seriam divididas em duas partes, a reserva colonial e os lotes dos camponeses. Os trabalhadores recebiam esses lotes em troca de uma parcela do que produzissem e trabalhos não remunerados nas terras do senhor. Para o trabalhador isso significava garantia de comida, afinal de contas, de um estado de total pobreza, esse despojado passaria para um estágio de possuidor de terras, o que era um considerável avanço econômico. Escravizados se inseriram nesse processo também, um grande avanço social.\n\nOs proprietários garantiam, assim, a produção e o Estado tinha de quem cobrar os impostos, pois isso seria feito diretamente aos colonos, pessoas vinculadas à terra, não podendo abandoná-la ou dela serem retiradas. Era uma verdadeira relação vitalícia de trabalho, uma possível eterna cobrança de impostos para o estado, garantindo sua sobrevivência por essa forma juridicamente estabelecida e socialmente aceita por esses subsidiários. O ENRIQUECIMENTO SOCIAL\n\nNa Roma Clássica é possível dizer que existia uma relativa mobilidade social e ela se dava justamente na forte relação escravizada da cultura do período. Essencialmente, uma mobilidade clássica do período era um escravizado tornar-se livre, e essa era uma grande questão de diferenciação social. Porém, algumas medidas foram tomadas, assim como vinculou-se camponeses à terra no sistema de colonato, buscando ser tragédias artesãos e artífices às corporações de ofício, conhecidas como collegia, em que as pessoas pertencentes eram submetidas igualmente ao controle do estado, tanto para exercer o próprio controle social quanto para efetuar de forma plena a cobrança de impostos, inclusive sobre os serviços e transações comerciais. Era uma espécie de regulação do mercado e da produção.\n\nDois grandes blocos sociais surgiram nessa crise das relações sociais, extinguindo-se a classe média. Existia apenas a aristocracia fundiária, com seu poder embasado pela burocracia do estado, e a população dependente socialmente dessas designações sociais, obrigando-se a encaixar-se para sobreviver. Alguns historiadores, como Ferdinand Lot, chegam a falar em regime de castas nesse período, uma visão um pouco exagerada, porém marcante para entendermos como se procederam as relações sociais.\n\nTamanha eram as diferenças sociais que foram criadas duas moedas para a sociedade romana, uma padrão-ouro para as transações feitas pela elite, e outra padrão-cobre para os mais pobres. Importante citar que as invasões germânicas não quebraram essa relação; pelo contrário, As aristocracias regionalistas mantiveram seu poder e forma de dominância com as disposições mais importantes tomadas por germânicos, mas em essência a base social foi a mesma. De acordo com Hilário Franco Júnior:\n\nOs germânicos que expropriavam romanos aristocratas, ao subir ao poder, apenas colocavam seus escravos, ou homens livres de suas tribos como rendidos ou pequenos proprietários dos lotamentos ou algum tipo de dependência social, criando lideranças locais. FRAGMENTAÇÃO DO PODER CENTRAL\n\nSe a sociedade romana se ruralizou e começou a se organizar em pequenas e distantes comunidades autônomas, essa autosuficiência dos latifúndios cresceu, em certa medida, uma independência dessas regionalidades em relação ao Estado central de Roma. O Império foi perdendo seu poder de atuação sobre as localidades, cada vez mais distantes e difíceis de serem atingidas.\n\nUma medida tomada e que a longo prazo colaborou ainda mais para aumentar essas distâncias foi a atribuição aos senhores de cobrar os impostos de seus colonus. Com isso o Estado fazia-se valer, mas se postava como distante, ausente e menos influente. Havia uma frágil unidade política em Roma, e, com o comércio em bancarrota, os pagamentos começaram a ser modificados, do uso de moeda ao ouro para o pagamento em terras – medidas que inclusive foram adotadas pelos povos germânicos que posteriormente invadiram Roma.\n\nHavia um problema evidente em pagar com terras os seus subordinados: é que, cada vez que você dá a alguém você tira do seu próprio território, perdendo PRIVATIZAÇÃO DA DEFESA\nA autosuficiência dos latifúndios criou, em certa medida, uma independência dessas regionalidades em relação ao Estado central de Roma. A resistência aos invasores era complicada, o exército romano geralmente estava disperso pelas fronteiras, longe dos interiores; se próximo, estaria desestabilizado e fraco.\nA Europa se encheu de fortificações e castelos, um método de proteção aos invasores. Os mais ricos eram aproximados pelos líderes regionais para, em troca de terras, oferecer armamento e efetivo para proteção das localidades. Daí o surgimento da cavalaria.\n\nCLERIFICAÇÃO\nA sociedade romana em crise se tornou extremamente religiosa, não somente em número de fiéis, mas também em número de sacerdotes. O crescimento do número de líderes religiosos, em relação ao restante da população, foi altíssimo. Havia muitos padres! Com esse grupo privilegiado se tornando efetivamente numeroso, o poder da Igreja só aumentou em pleno tempo de crise. Temos que pensar que eles eram vistos como representantes de Deus na Terra, da vontade da divindade perante a comunidade. Imagine o que era esse poder. Daí a ascensão da Instituição Católica em contraste com a queda do Império Romano.\n\nMENTALIDADES\nComo afirma Hilarío Franco Júnior, é realmente muito difícil datar as mentalidades. O ritmo histórico da mentalidade é mais lento, porém essas letras modificações são profundas. Aquela racionalismo, ainda presente na Grécia Antiga e na Roma Clássica, estava com os dias contados com a queda do Império Romano. A fé assumia proporções nunca vistas antes; os próprios germânicos, em geral, se converteram ao catolicismo ao adentrarem os territórios romanos. A Igreja se moldou e se inseriu nesse contexto com muita habilidade, permanecendo enquanto estrutura política enquanto todo o sistema Romano decai. Interessante perceber que a igreja se inseriu, enquanto instituição, durante o Império Romano e se manteve depois dele, se fortalecendo com sua queda.\nPara as pessoas desse período, o mundo só tinha sentido através de Deus, a vida só existia em torno dele. A razão e a dúvida eram coisas diabólicas; um fiel não duvidava do destino, acreditava acima de tudo na vontade suprema. Uma noção de vida voltada ao fatalismo se manteve; as coisas boas e ruins que aconteciam eram vistas como causas da ira ou da boa vontade de Deus perante as ações dos humanos na Terra. FEUDALISMO\nChama-se Feudalismo a estrutura econômica, política e social que predominou na Europa Ocidental após a desintegração do sistema escravista greco-romano. Este sistema, embora em gestação desde a queda do Império Romano do Ocidente e os processos de ruralização da economia e pulverização do poder central, teve seu apogeu por volta do século IX d.C., após a dissolução do Império Carolíngio. Foi só a partir do século XI, quando se iniciaram diversas mudanças significativas para a economia feudal, que as atividades baseadas no comércio e na vida das cidades ganharam impulso.\nPara o conjunto europeu, do ponto de vista econômico o sistema feudal apresentava predomínio da agricultura para o consumo local, comércio bastante reduzido ou até inexistente e ausência da baixa utilização de moeda, consequência clara do vácuo de um poder político central. Lembremos que, do ponto de vista espiritual, a Europa Ocidental encontrava-se unificada pelo poder crescente da Igreja Católica.\nO feudo, unidade de produção agrária, era o átomo básico desta estrutura de produção. Ele pertencia a uma camada de senhores feudais, que podiam ser membros do alto clero ou nobres guerreiros.\nA área de cada feudo apresentava-se dividida em três partes:\n\na) Manso senhorial ou domínio: área explorada pelos servos diretamente em benefício do senhor. Nessa área erguia-se o castelo;\n\nb) Manso servil: corresponde às terras arrendadas pelos servos para exploração própria, mas sobre as quais deviam obrigações e taxas ao senhor feudal;\n\nc) Manso Comunal: formado por terras – normalmente pastos e bosques – de uso comum a senhores e camponeses.\n\nTRABALHO E ESTRUTURAS SOCIAIS\nO trabalho na sociedade feudal estava fundado na servidão, relação que mantinha os trabalhadores presos à terra e subordinados a uma série de obrigações e serviços. Gerações de servos sucederam-se ao longo do período feudal sem nunca terem ido muito além dos limites do próprio local onde nasceram. A situação dos trabalhadores era legitimada simbolicamente pela Igreja e garantida por uma visão do mundo hierárquica, em que cada estrato social possuía seu lugar e funções estabelecidas. Esta visão de mundo, ratificada religiosamente, tinha o nome de doutrina dos \"três ordens\": uma estrutura orgânica, fechada e imutável, em que cabia aos clérigos a função de rezar, aos nobres a função de guerrear e, aos servos, trabalhar.\n\nTal sociedade podia ser entendida como dividida entre senhores e servos, conformando-se como estamental: o pertencimento a uma das categorias era um caráter irrevogável do indivíduo, de forma que era bastante incomum casos de mobilidade, ascensão ou decadência social. A relação estabelecida entre a visão de mundo (cosmovisão) e estrutura social do feudalismo pode ser entendida de acordo com o esquema abaixo: a pequena classe dos vilões, pequenos proprietários e possuidores de mais direitos que os servos, também se encontrava submetido ao poder senhorial. O poder dos senhores sobre os servos, era exercício através de pesadas tributações, dentre as quais:\n\na) Corveia: trabalho obrigatório no manso senhorial, execução reparos e construções, além do plantio, em determinados dias da semana;\n\nb) Talha: porcentagem da produção obtida no trabalho servil;\n\nc) Banalidades: tributação, paga em produtos, pelo uso de equipamentos pertencentes ao senhor (forno, moinho, celeiro, etc.).\n\nHavia ainda tributações destinadas à Igreja (dízimo) e de natureza social, como é o caso dos impostos referentes à herança e ao casamento (formarige). De maneira geral, a produção era rudimentar e dependente das condições climáticas e do solo, além das técnicas serem muito primitivas. Somados à pobreza da dieta medieval (basicamente centrada no trigo e na cevada), estes fatores faziam com que a população vivesse constantemente atormentada pela fome.\n\nAS RELAÇÕES SENHORIAIS\n\nEntre si, os membros do estamento superior - os senhores - também estabeleciam relações hierárquicas. A ausência de um poder centralizado (catalisada pela queda do Império Carolíngio) somada ao clima de insegurança proveniente das incursões normandas fazia com que o poder dos nobres locais crescesse enormemente: em busca de segurança, os nobres com menos recursos se submetiam aos mais fortes, ou seja, a quem melhor podia defendê-los. A relação entre os guerreiro era chamada de suserania e vassalagem e tinha origem no costume germânico de comitatus, em que nobres guerreiro estabeleciam relações de lealdade entre si.\n\nEm nome da aliança, o suserano concedia um benefício (feudo) ao vassalo, e este, por juramento de fidelidade, prestava-lhe homenagem sendo homem leal. O vassalo comprometeu-se com o conselho e o auxílio, ou seja, participava das decisões e lhe ofertava sua força, quando preciso.\n\nA vassalagem incluía ainda obrigações materiais. Caso o suserano fosse capturado prisioneiro, os vassalos comprometiam-se em pagar o seu resgate. Além disso, eram obrigados a contribuir para a compra do armamento do primogênito do senhor quando ele se tornasse cavaleiro, e para o dote de sua filha quando esta viesse a se casar.\n\nTeoricamente, o suserano de todos os usheranos era sempre o rei, ao qual todos os nobres deviam obediência e vassalagem. Na prática, entretanto, a proeminência das fidelidades locais, bem como o enfraquecimento das casas reais, fazia com que o sistema de suserania e vassalagem apenas contribuísse para a dispersão do poder central, embora permitisse uma razoável unidade de interesses entre os nobres da Europa Ocidental. CRUZADAS\n\nAs cruzadas foram expedições principalmente militares, organizadas pela Igreja, com o objetivo ideológico de recuperar o Santo Sepulcro em Jerusalém. À época, a chamada Terra Santa estava nas mãos dos turcos seljúcidas, grandes inimigos do já decadente Império Bizantino, que há tempos visava auxílio do Ocidente para defender-se desta ameaça. Entre as motivações políticas do movimento cruzadista podemos citar a intenção dos reis de aumentar seu poder, através da unificação de seus nobres contra um inimigo comum, e as intenções da Igreja Católica em ampliar seu poder sobre a Cristianismo Oriental representada pelo Império Bizantino. Por fim, como motivações econômicas, havia a busca por novos territórios, a fim de assentars os excedentes populacionais da Europa Ocidental e a reabertura do Mar Mediterrâneo como fronteira comercial, ligando Oriente e Ocidente.\n\nA espinha dorsal dos exércitos cruzadistas era formada por cavaleiros sem terra e servos expurgados. Mulheres e crianças, entretanto, foram colocadas à disposição do esforço de guerra, impulsionados pela motivação ideológica de recuperar os territórios perdidos para os \"inféis\". Em 1095 o Papa Urbano II, no Concilio de Clermont, inflama os corações e mentes da Europa contra os muçulmanos, desencadeando, do século XI ao século XIII, uma série de oito expedições:\n\nPrimeira Cruzada (1096-1099): chamada Cruzada dos Nobres, chegou a conquistar Jerusalém e estabelecer nova região em moldes feudais;\n\nSegunda Cruzada (1147 - 1149): organizada após a reconstituição turca de Jerusalém. Fracassou;\n\nTerceira Cruzada (1189 - 1192): importante por contar com participação mais efetiva dos reis, contribuindo, portanto, para o aumento do seu poder pessoal. Comandada por Ricardo Coração de Leão (Inglaterra), Filipe Augusto (França) e Frederico Barba-Roxa (Sacro Império Romano-Germânico), não atingiu seus objetivos de conquista, mas estabeleceu acordos diplomáticos importantes com os turcos. Estes acordos permitiram livre acesso aos peregrinos e consequentemente, grande abertura para a atividade comercial;\n\nQuarta Cruzada (1201 - 1204): chamada Cruzada Comercial por três lado liderada pelos comerciantes de Veneza, foi desviada de Jerusalém e tinha Constantinopla como seu alvo principal. Acabou consolidando a cidade de Veneza como potência comercial em ascensão; Quinta, sexta, sétima e oitava (1218 – 1270): secundárias para todos os aspectos; não tiveram sucesso.\n\nAs consequências mais diretas das Cruzadas, para o mundo europeu, foram, ao fim e ao cabo, a abertura do Mediterrâneo e a ascensão das cidades italianas como potências comerciais, sobretudo Veneza e Gênova. Ideologicamente, serviu muito mais para separar do que para unir a cristandade, uma vez que criaram oportunidades para divergências entre interesses de algumas regiões. Este caráter evidenciou-se fortemente na terceira cruzada, por conta das rivalidades entre os soberanos que a comandaram. Do ponto de vista político, fortaleceu o poder dos reis, contribuindo para a legitimidade do posterior processo de centralização monárquica. Por fim, a recorrência da Guerra, conduzida pelos nobres, fez com que a maioria deles empobrecesse, ajudando lentamente a deslocar o centro nervológico do poder econômico da nobreza para os comerciantes dos burgos.\n\nIMPERIO CAROLINGIO\n\nHavia uma forte pressão ao Império Romano, causada desde o século II, por um povo, os francos. Na região da Gália, atual França, esse povo se estabeleceu - principalmente pelo apoio dado pela Igreja Católica do Ocidente - e firmou a dinastia dos merovíngios, com Clóvis, seu líder, se convertendo ao catolicismo.\n\nNo contexto de queda dos grandes líderes e de fragmentação política e que os francos se inserem no antigo território romano. Pensemos que os francos que tentavam se impor encontravam dificuldades inclusive para efetuar uma unidade de seu próprio grupo nesta configuração de poder. Como tornaram posições de poder quando elas estão fragmentadas demais para representar qualquer tomada efetiva de poder? De fato, os próprios francos apresentaram por anos, nesse contexto, uma unidade fraca e pouco organizada.\n\nCarlos Magno assumiu a liderança do povo franco em 768, em parte por conta de sua atuação como comandante do exército franco que teve o avanço dos muçulmanos sobre a Europa (Batalha de Poitiers, 732), e criou o Império Carolíngio. Ele conseguiu burocratizar o Estado que havia criado e dividiu organizadamente as questões de mandos nas localidades; também ofereceu grandes quantidades das terras conquistadas aos nobres e à Igreja. Assumindo essa posição, de prestígio entre as estruturas dominantes da sociedade da época, se tornou menos difícil o controle e a promoção do Império. IMPERIO BIZANTINO\n\nImportante pensar que, com a queda de Roma na Itália, em praticamente nada alterou-se uma outra parte do Império Romano, a que tinha capital em Constantinopla. Claro que havia questões culturais diversas à realidade romana da Itália, mas, para esses habitantes, não existia Império Bizantino nem Império Romano do Oriente; eles se chamavam e se entendiam apenas como Império Romano.\n\nPara entendermos melhor, vamos pensar no seguinte: o próprio Brasil, na História recente, chegou a mudar de capital; ora em Rio de Janeiro, ora em Brasília, correto? Nós bem sabemos que o próprio Brasil, em sua essência, não mudou porque sua capital mudou. O mesmo aconteceu com o Império Romano; Constantinopla mantém o legado romano.\n\nConstantinopla ia um pouco na contramão das questões preferidas no resto do Império Romano; era uma cidade em uma posição geográfica estratégica, voltada para o mar e para o comércio e que se ocupava também com agricultura. A crise escravista atingiu bem menos essa parte do Império Romano quando o imperialismo romano sufocou, ou seja, quando o abastecimento de escravizados se esgotou. Aliás, o comércio de fluxo ainda florescia ainda mais, pois, com povos e nações sendo atacados e infringidos, as relações comerciais se estenderam e intensificaram.\n\nO mais famoso imperador de Constantinopla foi Justiniano (527-565). Ele retomou boa parte do território perdido para os invasores germânicos, resgatando Roma. Justiniano foi conhecido por algumas ações, ele criou um compilado escrito das leis romanas, atualizando e revisando aquele clássico direito romano que é estudado nos cursos de Direito até hoje. A obra ficou conhecida como Código Justiniano. Importante pensar que os bizantinos falavam essencialmente o grego, até mesmo mais que o latim, o que deflagra uma proximidade muito grande deles com as questões helênicas. chefe religioso. Obviamente, nessa ótica, questões de credo seriam bem diferentes entre as Igrejas do Ocidente e do Oriente. Esses cristãos do oriente, ortodoxos, discordavam de certas interpretações da Bíblia e inclusive promoviam a quebra de imagens de santos em locais de cultos e residências; o movimento ficou conhecido como Iconoclastas.\n\nComo aconteceu com o Império Romano anteriormente, com a expansão do Império Bizantino, especialmente a partir do século VI e VII, ficou muito complicado manter o território e as fronteiras. Em 1453 o Império Bizantino foi tomado pelos turco-otomanos, que pressionavam há muito tempo os domínios bizantinos, causando aí o próprio fim da Idade Média como entendemos em seu período. CULTURA E MENTALIDADE NA IDADE MÉDIA\n\nDe modo geral, a cultura e a mentalidade da Idade Média podem ser consideradas como teocêntricas. Deus estava no centro do universo e das preocupações dos homens medievais e concentradas em uma só instituição, a Igreja Católica. Há diferenças, contudo, entre a cultura e a mentalidade do primeiro período medieval e do segundo.\n\nALTA IDADE MÉDIA\n\nDurante a Alta Idade Média, podemos considerar a existência de uma cultura e uma visão de mundo calçadas na experiência da insegurança, do medo e do pessimismo, cujas origens se encontram, em parte, na realidade material da época: guerras constantes, fim da unidade política, descentralização, decadência do comércio e da vida urbana, perda do legado cultural greco-romano e a experiência da morte como vivência cotidiana. O espírito do homem veteromedieval (vetero, do latim: \"antigo\", referente a primeira ou à Alta Idade Média), portanto, encontrava alívio para sua experiência de mundo na esfera do divino, entendendo como última esperança de salvação frente a um mundo de sofrimentos.\n\nO ocaso da cultura letrada inicia-se em 529 com a destruição das escolas filosóficas atenienses por ordem do imperador Justiniano. Até o século XII, várias obras da cultura clássica greco-romana serão desconhecidas pelos medievais, de modo que a Filosofia da Alta Idade Média pode ser considerada uma grande tentativa de conciliação entre a razão - calcada na tradição da Filosofia Clássica - e a fé - calcada na leitura das Escrituras -, tendo muito mais para esta última. Os veteromedievais consideravam a Filosofia como ancilla theologiae, \"serva da teologia\", uma vez que servia de auxílio e justificativa para a Teologia. Esta postura permaneceu ao longo da Baixa Idade Média. Os conteúdos de especulação filosófica dos dois períodos, porém, eram muito diferentes.\n\nO modo de pensar clássico da Alta Idade Média é chamado Filosofia Patrística, que teve seu maior representante em (santo) Agostinho de Hipona (354-430). Ele é considerado o maior Doutor da Igreja (doctor ecclesiae) de todos os tempos. Suas reflexões, expressas em livros como As Confissões e A Cidade de Deus, sintetizam as bases do pensamento patrístico. De influência platônica, Agostinho vê o homem como originariamente corrompido pelo pecado, de forma que somente, através da graça divina é que poderia se salvar. Tal concepção tinha, portanto, a justificar a predição da fé sobre o conhecimento racional. Como diz Étienne Gilson, na concepção patristica não é para se tornar sábio que alguém se torna cristão, mas sim para se salvar. Agostinho ainda desenvolveu uma Filosofia da História calcada na doutrina da salvação cristã: \"cidade dos homens\" (civitas hominæ), corrompida pelo pecado e pelo afastamento do divino, reencontrará, por força da graça e da obra da Igreja, a \"cidade de Deus\" (civitas dei), livre do pecado e do sofrimento. BAIXA IDADE MÉDIA\n\nNa Baixa Idade Média, o clima de insegurança, medo e pessimismo do período veteromedieval foi substituído por uma crescente atmosfera de maior otimismo, cuja base estava nas transformações econômicas e sociais vividas no período: renascimento comercial e urbano, progressiva centralização do poder, redescoberta das obras clássicas da antiguidade greco-romana, expansionismo cruzadista etc. Através do contato com os Árabes, após as Cruzadas, o pensamento de Aristóteles, profundamente racionalista e empírico (que dá valor à experiência sensorial), foi redescoberto pelo ocidente e provocou enormes mudanças na Filosofia medieval. O homem passa a ser revalorizado pelo fato de ser racional, faculdade entendida, no entanto, ainda como uma graça de Deus. As chamadas \"boas obras\" do homem e o seu livre-arbítrio conduzem a uma interpretação da salvação calcada na ação humana, e não mais tão exclusivamente na graça de Deus.\n\nO racionalismo aristotélico enseja, na Filosofia e na Teologia, novas sínteses criativas entre razão e fé, como as desenvolvidas por (São) Tomás de Aquino (1225 - 1274) e os chamados filósofos escolásticos. A fundação das universidades configura-se, da mesma forma, como um sintoma da revalorização do conhecimento racional, que engendrou, nos séculos seguintes, o nascimento da ciência moderna. A primeira universidade do Ocidente foi fundada em Bolonha (Itália), ainda no século XI, seguida por Paris e Oxford (Inglaterra) também neste século, e Cambridge (Inglaterra), Salamanca (Espanha) e Montpellier (França) no século XIII.\n\nNa arquitetura, o estilo predominante foi o gótico, mais leve e verticalizado que o românico. A ascensão deste estilo está ligada ao renascimento urbano, uma vez que as grandes catedrais góticas se tornaram os pontos centrais das crescentes cidades da baixa Idade Média (Notre Dame, de Paris, e Duomo, de Milão, por exemplo). Suas altas torres projetavam-se para o céu, como que metaforizando a busca racional do homem por Deus. Construídas através de novas técnicas, as catedrais medievais passaram menos grossas e amplos vitrais multicoloridos, que permitiam a iluminação diurna dos ambientes interiores. Tanto o exterior quanto o interior eram trabalhados com minúcias ornamentais: alegorias, gárgulas e rosas que contrastavam com o caráter simples e plano das superfícies românicas.\n\nNa música e na literatura, a Baixa Idade Média passa pelo interessante fenômeno da vulgarização linguística. Por \"vulgarização\" não devemos compreender algo no sentido pejorativo, mas o advento das línguas vulgares (idiomas e línguas nacionais) como veículos de transmissão cultural. São escritos, no período, os primeiros poemas épicos nas línguas nacionais, como a Canção de Rolando (Francês), Poema de El Cid (Espanhol) e a Canção dos Nibelungos (Alemão). Tais poesias ainda se encontravam repletas de referências laudatórias aos feitos dos nobres, espelho de uma sociedade feudal, viril, guerreira e rude.\n\nA partir do século XII, o trovadorismo inaugurou uma nova fase em que o fazer poético deixa progressivamente os temas de cavalaria para inaugurar as temáticas do amor. A galanteria, o refinamento e a beleza feminina passam a ser cantados, em contraste com a temática unicamente religiosa da Alta Idade Média e as elegias épicas guerreiras do período anterior. Como o advento das línguas orientadas, culturais e mais expressivos, até mesmo a música e a literatura de orientação religiosa sofrem transformações, como podemos observar nas chamadas Cantigas de Santa Maria, compostas pelo rei Afonso X o Sábio, de Castela, no século XIII.\n\nNesse, aquele que canta ao divino não é um clérigo pois é próprio rel que compõe – e não canta em latim. Do ponto de vista simbólico, isto pode ser encarado como a legitimidade do poder temporal, representado pelos reis, em tratar de assuntos religiosos, representados pelo clero. Igualment... PARA SABER MAIS!\n\nLivros:\nCrônicas Saxônicas. 6 volumes de Bernard Cornwell, 2004 - 2016.\n\nA questão aqui é ler e entrar na vibe se divertindo. O autor retrata a grã-bretanha do século IX e X de maneira incrível nessa série de seis livros! Então bora ler tudo que esse cara escreveu; ele é fantástico, escreve ficção SIM, mas com um embaçamento histórico incrível e uma leitura extremamente agradável. Até quem não costuma ler muito fica viciado!\n\nSites:\nAssociação Brasileira de Estudos Medievais. www.abrem.org.br\nhttps://www.youtube.com/channel/UCljGkyrdT4GjaVOL040RI0w/videos\n\nOk, é um canal em inglês e não há legendas, mas pô, a maioria dos canais da internet são assim, bora aprender inglês, gente, não só para lacrar nos vestibulares e ENEM, como para aproveitar em sua maioria o conteúdo que está disposto nas redes! Esse é canal de um cara muito influente nesse meio. Ele é linguista, fala vários idiomas e é um apaixonado por Idade Média e suas questões, principalmente arquitetura, belicismo e literatura.\n\nFilmes e documentários:\nO Nome da Rosa. Dirigido por Jean-Jacques Annaud 1986.\n\nAdaptação cinematográfica da incrível obra de Umberto Eco! Baita filme, com um ritmo de suspense. Para vocês sacaram como essa obra é historicamente muito bem embasada, ela contou com a consultoria de Jacques Le Goff, um dos maiores medievalistas da História. A luz, as ambientações, os atores... tudo é magnífico! REFERÊNCIAS\n\nANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. São Paulo: UNESP, 2016.\n\nFRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1986.\n\n_______ Atlas de História Geral. São Paulo: Scipione, 1993.\n\n_______ Império Bizantino. São Paulo: Brasiliense, 1994.\n\nGINZBURG, Carlo. O Queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.\n\nLE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. São Paulo: Estampa, 1993.\n\n_______ O imaginário medieval. São Paulo: Estampa, 1994.\n\nVICENTINO, Claudino. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011.
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IDADE MÉDIA MÓDULOS CONTEMPLADOS\nYDMF – Alta Idade Média\nBIDM – Baixa Idade Média\nYFL1 – Exercícios de Alta Idade Média\nINPM – Cultura e Pensamento Medieval\nEXIM – Exercícios de Baixa Idade Média\n\nCURSO\nEXTENSIVO 2017\n\nDISCIPLINA\nHISTÓRIA\n\nCAPÍTULO\nIDADE MÉDIA\n\nPROFESSORES\nNICOLAS QUADROS E CARLOS RENATO UNGARETTI\n\nTodos os direito reservados © Me Salva! 2017 IDADE MÉDIA\n\nE aí, galera do Me Salva!, tudo bem com vocês? Comigo tá tudo certo! Então, quer dizer que vamos dar uma olhadinha nesse loooooongo período chamado de Idade Média? Se liga que essa parte da História, tradicionalmente, é dividida em uma parcela de MIL ANOS de história. É, isso mesmo... Tempo para caramba, só que aqui vamos trabalhar de uma forma um pouco diferente. Essa apostila funcionará em conjunto com os módulos da Idade Média, ou seja, ela não pretende ser uma substituta das mídias presentes lá, muito menos um resumo dos conteúdos lá tratados, afinal de contas, ninguém faz um resumo – que funcione para nós – melhor do que nós mesmos. Aqui, na verdade, há uma forma mais processual de abordagem dos conteúdos, pois vamos tentar ver as coisas além das caixinhas em que as esperamos. Algumas questões que foram tratadas nas mídias não serão tratadas aqui, e algumas coisas serão tratadas aqui e não nas mídias.\n\nBora desvincular! Não há MESMO (!) como conter tudo, então vamos fazer um recorte e trabalhar detalhadamente as questões que são pertinentes aqui. Antes de qualquer coisa, vamos tentar ir além dos preconceitos estabelecidos pelos próprios historiadores no passado. Existem duas visões erroneamente bem difundidas sobre a IDADE MÉDIA:\n\nVisão Clássica\nVisão Romântica\n\nA visão clássica é aquele olhar disseminado pelos produtores de conhecimento dos períodos que vieram logo após a Idade Média: os intelectuais do Renascimento e do Iluminismo.\n\nSurgiu aquela nomenclatura idade das “trevas” ou tenebrae, que claramente faz referência às ideias de oposição entre “luz” e “trevas”, trazidas pelo Iluminismo, representações da luta entre o “conhecimento” e a “ignorância”, retomadas justamente pela valorização dos ideais da filosofia grega.\n\nNo pensamento produzido por esses intelectuais, era como se, antes do Renascimento, houvesse um tempo estéril à produção de conhecimento e ao progresso humano, um tempo MÉDIO, entre a Grécia Antiga e o Próprio Renascimento.\n\nEssa, com certeza, é uma visão muito atrasada a respeito da Idade Média, época em que, apesar do forte controle religioso exercido pela Igreja Católica, a produção do conhecimento existe, principalmente circulando em grupos fechados como a Maçonaria. Sem contar o cotidiano e as pessoas comuns; aldeões como\n\nTodos os direitos reservados © Me Salva! 2017 Menocchio que é contado em O Queijo e os Vermes, de Carlo Ginzburg (historiador italiano que escreveu sobre a Micro-história), tinham uma visão muito própria do universo, retirando-nos, por completo, aquele sentimento de ignorância e fé cega que seria presente no período.\n\nA visão romântica é aquela que inverteu os conceitos produzidos pelos renascentistas, de forma que a Idade Média não teria sido uma época de \"trevas\" e sim, segundo esses românticos especificamente do século XIV, uma época de paixão, exuberância e vitalidade. Esse período de fé, autoridade e sonhos teria sido insuperável e incrível. Isso é amplamente expresso na Literatura em obras como Tristão e Isolda, O Corcunda de Notre-Dame e as lendas do Rei Arthur, e nas Artes como o estilo arquitetônico gótico, principalmente.\n\nProponho algo para vocês: nem céu nem inferno. A Idade Média está ainda muito incompreendida, pois ainda oscila excessivamente entre o pessimismo renascentista/iluminista e a exaltação romântica. Convido-os a olhar além do que está posto e vermos a Idade Média além dela mesma.\n\nAS MUITAS IDADES MÉDIAS\n\nJá sabemos que a Idade Média é um período que se estende, mais ou menos, do século V ao século XV. São mil anos de história e, obviamente, essa extensão não poderia haver somente um tipo de Idade Média. Os povos na Europa são vastos e as línguas e localidades, muitas vezes, estão em distâncias bem consideráveis.\n\nSabe aquela análise de Idade Média que vemos nos livros didáticos? Aquela bem clássica, com o senhor feudal, os cavaleiros e blá blá blá... Então, ela é, essencialmente, uma Idade Média europeia. A \"Idade Média\" na História é, acima de tudo, um recorte geográfico no tempo, com seus moldes de abordagem e funcionando na historiografia, é um período em que se trata essencialmente da Europa. Porém, não houve somente uma Idade Média, nem ela somente foi europeia.\n\nEssa que conhecemos é, em geral, uma Idade Média muito francesa, que analisa relações que eram bem mais firmes na própria região da França, ou no reino dos francos. Claro que seria necessário fazer um recorte de análise, mesmo por questões de metodologia, porém o recorte não pode atender o todo completamente, pois isso causa um problema ao contexto e uma formação insuficiente sobre o assunto.\n\nExistiram Idades Médias diferentes. No Japão por exemplo, um arquipélago distante na Ásia, a \"Idade Média\" se estendeu além da duração da Idade Média aqui no ocidente; lá durou até o século XIX, acabando somente com o advento da Era Meiji, o processo de industrialização. Esse período medieval japonês é chamado de Shogunato e foi caracterizado pela presença de vários pequenos líderes regionais, os senhores feudais, que tinham sob seu comando guerreiros, em geral de famílias nobres, chamados de samurais, que ocupavam posições importantes como a de liderança e exerciam atividade militar nos feudos.\n\nAo pensar sobre a Revolução Russa, por exemplo, muito mais próxima do contexto europeu que os japoneses, percebemos que o país teve suas relações medievais estendidas praticamente até 1917, quando o Czar, o \"rei\" daquele contexto, foi derrubado pelo povo. Só aí a economia essencialmente agrícola ligada à terra foi realmente repensada em seu modo de produção, modificando as relações sociais naquela região.\n\nViu só como é complicado pensar a Idade Média como uma coisinha engessada e simples? Foi um período muito extenso e complexo, sim, porém, depois de entendermos a complexidade do assunto, vamos estudar melhor toda essa grande parte da História e, com uma visão não totalizadora, vamos quebrar tudo no ENEM e nos vestibulares. DALE! EUROPA, A PERIFERIA DO MUNDO\n\nReduzir o estudo de um período à uma localidade, em si, já seria bem complicado. Esse problema se amplia aqui, justamente pela questão generalizadora que a maioria dos historiadores trata do período. Será que nesse período, de 476 a 1453 (em sequência à queda do Império Romano do Ocidente e à queda do Império Bizantino), o mundo ficou coberto por um \"manto de trevas\"? Se há exemplos na própria Europa que mostram a inverdade dessa afirmação, imagine fora da Europa!\n\nA Europa possuía uma população pequena e estava isolada das rotas comerciais, que passavam em maioria pelo Mediterrâneo Oriental. Nesse mundo, no mesmo período e paralelamente à Europa, havia um amplo afloramento comercial e intelectual, essencialmente muçulmano, em que a Matemática e a Astronomia estavam superdesenvolvidas, por exemplo. Além dessas fontes que os europeus se valeram, no final da Idade Média, para iniciar as navegações que culminaram na chegada à África e à América.\n\nFUNDAMENTOS DA IDADE MÉDIA\n\nPara entendermos da melhor forma possível o que foi de fato a Idade Média na Europa, é interessante primeiramente nos atermos às suas bases, aos seus três pilares, três elementos históricos que estruturaram todo o período medieval:\n\nHerança Romana\n\nHerança Germânica\n\nHerança do Cristianismo\n\nEssas três questões culturais confluiram para a construção da Idade Média que vamos estudar. As questões culturais romanas, que estavam presentes no território da Europa como um todo e deixaram, dentre outras questões, a noção de propriedade privada e casamento como heranças culturais, trazidas inclusive por seu institucionalizado Cristianismo, e também as questões culturais germânicas, vindas dos povos que invadiram a região e instituíram um sentimento muito forte de coletividade na cultura. A QUEDA DE ROMA\n\nSegundo Hilário Franco Júnior, medievalista brasileiro, é verdade que as invasões germânicas, em muito, significaram a queda de roma e o início da Idade Média; porém podemos entender que os germânicos só derrubaram algo que já estava em queda. Para questão de metodologia, prosseguiremos o estudo a partir das ideias elaboradas por Hilário, separando em seis as questões primárias que caracterizaram o período da Idade Média na História.\n\nA RURALIZAÇÃO DA SOCIEDADE\n\nA sociedade romana, em seu início, teve sua economia baseada na agricultura. Porém, com o solo não tão favorável, o comércio se apresentou como um setor bem mais dinâmico e rentável. Como resultado dessas práticas e o imperialismo romano praticado no território, o próprio Mar Mediterrâneo se tornou uma espécie de lago romano, ou um “mare nostrum”, como era chamado por eles.\n\nCom uma economia imperialista, o escravismo e o belicismo (lucro vindo da guerra) se tornaram fontes primárias de rendas para os romanos, de forma que a mão de obra escravizada passou a ser a base da infraestrutura do império: mão de obra essa que precisava constantemente ser renovada, tanto para as necessidades do Império nas questões internas, quanto em relação ao mercado externo, na venda de escravizados.\n\nÉ interessante pensar que esse sistema econômico promoveu um grande afluxo de riquezas, concentrando terras nas mãos de poucos e os monopólios comerciais se formaram. Os pequenos proprietários rurais, que já não tinham incentivo econômico por parte do estado, foram sufocados por essa política imperialista. Com o grande número de escravizados, que supriam as necessidades de produção em Roma, uma massa de plebe urbana sem propriedades e desempregada se formou, já que a concorrência com o trabalho escravizado era praticamente impossível.\n\nPara camuflar os problemas sociais, o próprio Império Romano começou a praticar a política do pão e circo, que essencialmente era o prometido de atrações públicas – em geral sangrentas – usando guerreiros e escravizados, os gladiadores, e a distribuição de pão para matar a fome das massas por aquele dia.\n\nPorém, um problema se apresentou ao Estado romano: os ricos evadiam os impostos, conseguiam burlar os pagamentos e fugiam de qualquer cobrança fiscal, e os pobres eram miseráveis de fato, a massa não possuía renda para pagar qualquer quantia ao Estado. Houve uma crise e o espraiamento da população além das cidades, pois foi justamente nelas que esse processo se intensificou. O comércio decaiu, a segurança que a cidade oferecia já não era mais presente e os mais ricos fugiram para os campos, construindo unidades de produção autônomas. O Estado teve até que proibir quem possuísse cargos públicos de não habitar as cidades. Essas aglomerações rurais mais tarde se intensificaram e se tornaram os feudos; foi em meio a esse contexto que posteriormente as invasões germânicas ocorreram!\n\nA sociedade romana se reorganizou nessa nova configuração social e, na questão da produção, houve uma modificação profunda, causada principalmente por interesses de três partes: os proprietários de terras precisavam de trabalhadores e, com o Estado em crise, havia problemas em abastecer a demanda com mão de obra escravizada; o estado precisava garantir suas rendas fiscais, pois mais humildes queriam trabalho, comida e segurança em tempos conturbados de invasões germânicas. Surge o Colonato:\n\nAs terras do proprietário seriam divididas em duas partes, a reserva colonial e os lotes dos camponeses. Os trabalhadores recebiam esses lotes em troca de uma parcela do que produzissem e trabalhos não remunerados nas terras do senhor. Para o trabalhador isso significava garantia de comida, afinal de contas, de um estado de total pobreza, esse despojado passaria para um estágio de possuidor de terras, o que era um considerável avanço econômico. Escravizados se inseriram nesse processo também, um grande avanço social.\n\nOs proprietários garantiam, assim, a produção e o Estado tinha de quem cobrar os impostos, pois isso seria feito diretamente aos colonos, pessoas vinculadas à terra, não podendo abandoná-la ou dela serem retiradas. Era uma verdadeira relação vitalícia de trabalho, uma possível eterna cobrança de impostos para o estado, garantindo sua sobrevivência por essa forma juridicamente estabelecida e socialmente aceita por esses subsidiários. O ENRIQUECIMENTO SOCIAL\n\nNa Roma Clássica é possível dizer que existia uma relativa mobilidade social e ela se dava justamente na forte relação escravizada da cultura do período. Essencialmente, uma mobilidade clássica do período era um escravizado tornar-se livre, e essa era uma grande questão de diferenciação social. Porém, algumas medidas foram tomadas, assim como vinculou-se camponeses à terra no sistema de colonato, buscando ser tragédias artesãos e artífices às corporações de ofício, conhecidas como collegia, em que as pessoas pertencentes eram submetidas igualmente ao controle do estado, tanto para exercer o próprio controle social quanto para efetuar de forma plena a cobrança de impostos, inclusive sobre os serviços e transações comerciais. Era uma espécie de regulação do mercado e da produção.\n\nDois grandes blocos sociais surgiram nessa crise das relações sociais, extinguindo-se a classe média. Existia apenas a aristocracia fundiária, com seu poder embasado pela burocracia do estado, e a população dependente socialmente dessas designações sociais, obrigando-se a encaixar-se para sobreviver. Alguns historiadores, como Ferdinand Lot, chegam a falar em regime de castas nesse período, uma visão um pouco exagerada, porém marcante para entendermos como se procederam as relações sociais.\n\nTamanha eram as diferenças sociais que foram criadas duas moedas para a sociedade romana, uma padrão-ouro para as transações feitas pela elite, e outra padrão-cobre para os mais pobres. Importante citar que as invasões germânicas não quebraram essa relação; pelo contrário, As aristocracias regionalistas mantiveram seu poder e forma de dominância com as disposições mais importantes tomadas por germânicos, mas em essência a base social foi a mesma. De acordo com Hilário Franco Júnior:\n\nOs germânicos que expropriavam romanos aristocratas, ao subir ao poder, apenas colocavam seus escravos, ou homens livres de suas tribos como rendidos ou pequenos proprietários dos lotamentos ou algum tipo de dependência social, criando lideranças locais. FRAGMENTAÇÃO DO PODER CENTRAL\n\nSe a sociedade romana se ruralizou e começou a se organizar em pequenas e distantes comunidades autônomas, essa autosuficiência dos latifúndios cresceu, em certa medida, uma independência dessas regionalidades em relação ao Estado central de Roma. O Império foi perdendo seu poder de atuação sobre as localidades, cada vez mais distantes e difíceis de serem atingidas.\n\nUma medida tomada e que a longo prazo colaborou ainda mais para aumentar essas distâncias foi a atribuição aos senhores de cobrar os impostos de seus colonus. Com isso o Estado fazia-se valer, mas se postava como distante, ausente e menos influente. Havia uma frágil unidade política em Roma, e, com o comércio em bancarrota, os pagamentos começaram a ser modificados, do uso de moeda ao ouro para o pagamento em terras – medidas que inclusive foram adotadas pelos povos germânicos que posteriormente invadiram Roma.\n\nHavia um problema evidente em pagar com terras os seus subordinados: é que, cada vez que você dá a alguém você tira do seu próprio território, perdendo PRIVATIZAÇÃO DA DEFESA\nA autosuficiência dos latifúndios criou, em certa medida, uma independência dessas regionalidades em relação ao Estado central de Roma. A resistência aos invasores era complicada, o exército romano geralmente estava disperso pelas fronteiras, longe dos interiores; se próximo, estaria desestabilizado e fraco.\nA Europa se encheu de fortificações e castelos, um método de proteção aos invasores. Os mais ricos eram aproximados pelos líderes regionais para, em troca de terras, oferecer armamento e efetivo para proteção das localidades. Daí o surgimento da cavalaria.\n\nCLERIFICAÇÃO\nA sociedade romana em crise se tornou extremamente religiosa, não somente em número de fiéis, mas também em número de sacerdotes. O crescimento do número de líderes religiosos, em relação ao restante da população, foi altíssimo. Havia muitos padres! Com esse grupo privilegiado se tornando efetivamente numeroso, o poder da Igreja só aumentou em pleno tempo de crise. Temos que pensar que eles eram vistos como representantes de Deus na Terra, da vontade da divindade perante a comunidade. Imagine o que era esse poder. Daí a ascensão da Instituição Católica em contraste com a queda do Império Romano.\n\nMENTALIDADES\nComo afirma Hilarío Franco Júnior, é realmente muito difícil datar as mentalidades. O ritmo histórico da mentalidade é mais lento, porém essas letras modificações são profundas. Aquela racionalismo, ainda presente na Grécia Antiga e na Roma Clássica, estava com os dias contados com a queda do Império Romano. A fé assumia proporções nunca vistas antes; os próprios germânicos, em geral, se converteram ao catolicismo ao adentrarem os territórios romanos. A Igreja se moldou e se inseriu nesse contexto com muita habilidade, permanecendo enquanto estrutura política enquanto todo o sistema Romano decai. Interessante perceber que a igreja se inseriu, enquanto instituição, durante o Império Romano e se manteve depois dele, se fortalecendo com sua queda.\nPara as pessoas desse período, o mundo só tinha sentido através de Deus, a vida só existia em torno dele. A razão e a dúvida eram coisas diabólicas; um fiel não duvidava do destino, acreditava acima de tudo na vontade suprema. Uma noção de vida voltada ao fatalismo se manteve; as coisas boas e ruins que aconteciam eram vistas como causas da ira ou da boa vontade de Deus perante as ações dos humanos na Terra. FEUDALISMO\nChama-se Feudalismo a estrutura econômica, política e social que predominou na Europa Ocidental após a desintegração do sistema escravista greco-romano. Este sistema, embora em gestação desde a queda do Império Romano do Ocidente e os processos de ruralização da economia e pulverização do poder central, teve seu apogeu por volta do século IX d.C., após a dissolução do Império Carolíngio. Foi só a partir do século XI, quando se iniciaram diversas mudanças significativas para a economia feudal, que as atividades baseadas no comércio e na vida das cidades ganharam impulso.\nPara o conjunto europeu, do ponto de vista econômico o sistema feudal apresentava predomínio da agricultura para o consumo local, comércio bastante reduzido ou até inexistente e ausência da baixa utilização de moeda, consequência clara do vácuo de um poder político central. Lembremos que, do ponto de vista espiritual, a Europa Ocidental encontrava-se unificada pelo poder crescente da Igreja Católica.\nO feudo, unidade de produção agrária, era o átomo básico desta estrutura de produção. Ele pertencia a uma camada de senhores feudais, que podiam ser membros do alto clero ou nobres guerreiros.\nA área de cada feudo apresentava-se dividida em três partes:\n\na) Manso senhorial ou domínio: área explorada pelos servos diretamente em benefício do senhor. Nessa área erguia-se o castelo;\n\nb) Manso servil: corresponde às terras arrendadas pelos servos para exploração própria, mas sobre as quais deviam obrigações e taxas ao senhor feudal;\n\nc) Manso Comunal: formado por terras – normalmente pastos e bosques – de uso comum a senhores e camponeses.\n\nTRABALHO E ESTRUTURAS SOCIAIS\nO trabalho na sociedade feudal estava fundado na servidão, relação que mantinha os trabalhadores presos à terra e subordinados a uma série de obrigações e serviços. Gerações de servos sucederam-se ao longo do período feudal sem nunca terem ido muito além dos limites do próprio local onde nasceram. A situação dos trabalhadores era legitimada simbolicamente pela Igreja e garantida por uma visão do mundo hierárquica, em que cada estrato social possuía seu lugar e funções estabelecidas. Esta visão de mundo, ratificada religiosamente, tinha o nome de doutrina dos \"três ordens\": uma estrutura orgânica, fechada e imutável, em que cabia aos clérigos a função de rezar, aos nobres a função de guerrear e, aos servos, trabalhar.\n\nTal sociedade podia ser entendida como dividida entre senhores e servos, conformando-se como estamental: o pertencimento a uma das categorias era um caráter irrevogável do indivíduo, de forma que era bastante incomum casos de mobilidade, ascensão ou decadência social. A relação estabelecida entre a visão de mundo (cosmovisão) e estrutura social do feudalismo pode ser entendida de acordo com o esquema abaixo: a pequena classe dos vilões, pequenos proprietários e possuidores de mais direitos que os servos, também se encontrava submetido ao poder senhorial. O poder dos senhores sobre os servos, era exercício através de pesadas tributações, dentre as quais:\n\na) Corveia: trabalho obrigatório no manso senhorial, execução reparos e construções, além do plantio, em determinados dias da semana;\n\nb) Talha: porcentagem da produção obtida no trabalho servil;\n\nc) Banalidades: tributação, paga em produtos, pelo uso de equipamentos pertencentes ao senhor (forno, moinho, celeiro, etc.).\n\nHavia ainda tributações destinadas à Igreja (dízimo) e de natureza social, como é o caso dos impostos referentes à herança e ao casamento (formarige). De maneira geral, a produção era rudimentar e dependente das condições climáticas e do solo, além das técnicas serem muito primitivas. Somados à pobreza da dieta medieval (basicamente centrada no trigo e na cevada), estes fatores faziam com que a população vivesse constantemente atormentada pela fome.\n\nAS RELAÇÕES SENHORIAIS\n\nEntre si, os membros do estamento superior - os senhores - também estabeleciam relações hierárquicas. A ausência de um poder centralizado (catalisada pela queda do Império Carolíngio) somada ao clima de insegurança proveniente das incursões normandas fazia com que o poder dos nobres locais crescesse enormemente: em busca de segurança, os nobres com menos recursos se submetiam aos mais fortes, ou seja, a quem melhor podia defendê-los. A relação entre os guerreiro era chamada de suserania e vassalagem e tinha origem no costume germânico de comitatus, em que nobres guerreiro estabeleciam relações de lealdade entre si.\n\nEm nome da aliança, o suserano concedia um benefício (feudo) ao vassalo, e este, por juramento de fidelidade, prestava-lhe homenagem sendo homem leal. O vassalo comprometeu-se com o conselho e o auxílio, ou seja, participava das decisões e lhe ofertava sua força, quando preciso.\n\nA vassalagem incluía ainda obrigações materiais. Caso o suserano fosse capturado prisioneiro, os vassalos comprometiam-se em pagar o seu resgate. Além disso, eram obrigados a contribuir para a compra do armamento do primogênito do senhor quando ele se tornasse cavaleiro, e para o dote de sua filha quando esta viesse a se casar.\n\nTeoricamente, o suserano de todos os usheranos era sempre o rei, ao qual todos os nobres deviam obediência e vassalagem. Na prática, entretanto, a proeminência das fidelidades locais, bem como o enfraquecimento das casas reais, fazia com que o sistema de suserania e vassalagem apenas contribuísse para a dispersão do poder central, embora permitisse uma razoável unidade de interesses entre os nobres da Europa Ocidental. CRUZADAS\n\nAs cruzadas foram expedições principalmente militares, organizadas pela Igreja, com o objetivo ideológico de recuperar o Santo Sepulcro em Jerusalém. À época, a chamada Terra Santa estava nas mãos dos turcos seljúcidas, grandes inimigos do já decadente Império Bizantino, que há tempos visava auxílio do Ocidente para defender-se desta ameaça. Entre as motivações políticas do movimento cruzadista podemos citar a intenção dos reis de aumentar seu poder, através da unificação de seus nobres contra um inimigo comum, e as intenções da Igreja Católica em ampliar seu poder sobre a Cristianismo Oriental representada pelo Império Bizantino. Por fim, como motivações econômicas, havia a busca por novos territórios, a fim de assentars os excedentes populacionais da Europa Ocidental e a reabertura do Mar Mediterrâneo como fronteira comercial, ligando Oriente e Ocidente.\n\nA espinha dorsal dos exércitos cruzadistas era formada por cavaleiros sem terra e servos expurgados. Mulheres e crianças, entretanto, foram colocadas à disposição do esforço de guerra, impulsionados pela motivação ideológica de recuperar os territórios perdidos para os \"inféis\". Em 1095 o Papa Urbano II, no Concilio de Clermont, inflama os corações e mentes da Europa contra os muçulmanos, desencadeando, do século XI ao século XIII, uma série de oito expedições:\n\nPrimeira Cruzada (1096-1099): chamada Cruzada dos Nobres, chegou a conquistar Jerusalém e estabelecer nova região em moldes feudais;\n\nSegunda Cruzada (1147 - 1149): organizada após a reconstituição turca de Jerusalém. Fracassou;\n\nTerceira Cruzada (1189 - 1192): importante por contar com participação mais efetiva dos reis, contribuindo, portanto, para o aumento do seu poder pessoal. Comandada por Ricardo Coração de Leão (Inglaterra), Filipe Augusto (França) e Frederico Barba-Roxa (Sacro Império Romano-Germânico), não atingiu seus objetivos de conquista, mas estabeleceu acordos diplomáticos importantes com os turcos. Estes acordos permitiram livre acesso aos peregrinos e consequentemente, grande abertura para a atividade comercial;\n\nQuarta Cruzada (1201 - 1204): chamada Cruzada Comercial por três lado liderada pelos comerciantes de Veneza, foi desviada de Jerusalém e tinha Constantinopla como seu alvo principal. Acabou consolidando a cidade de Veneza como potência comercial em ascensão; Quinta, sexta, sétima e oitava (1218 – 1270): secundárias para todos os aspectos; não tiveram sucesso.\n\nAs consequências mais diretas das Cruzadas, para o mundo europeu, foram, ao fim e ao cabo, a abertura do Mediterrâneo e a ascensão das cidades italianas como potências comerciais, sobretudo Veneza e Gênova. Ideologicamente, serviu muito mais para separar do que para unir a cristandade, uma vez que criaram oportunidades para divergências entre interesses de algumas regiões. Este caráter evidenciou-se fortemente na terceira cruzada, por conta das rivalidades entre os soberanos que a comandaram. Do ponto de vista político, fortaleceu o poder dos reis, contribuindo para a legitimidade do posterior processo de centralização monárquica. Por fim, a recorrência da Guerra, conduzida pelos nobres, fez com que a maioria deles empobrecesse, ajudando lentamente a deslocar o centro nervológico do poder econômico da nobreza para os comerciantes dos burgos.\n\nIMPERIO CAROLINGIO\n\nHavia uma forte pressão ao Império Romano, causada desde o século II, por um povo, os francos. Na região da Gália, atual França, esse povo se estabeleceu - principalmente pelo apoio dado pela Igreja Católica do Ocidente - e firmou a dinastia dos merovíngios, com Clóvis, seu líder, se convertendo ao catolicismo.\n\nNo contexto de queda dos grandes líderes e de fragmentação política e que os francos se inserem no antigo território romano. Pensemos que os francos que tentavam se impor encontravam dificuldades inclusive para efetuar uma unidade de seu próprio grupo nesta configuração de poder. Como tornaram posições de poder quando elas estão fragmentadas demais para representar qualquer tomada efetiva de poder? De fato, os próprios francos apresentaram por anos, nesse contexto, uma unidade fraca e pouco organizada.\n\nCarlos Magno assumiu a liderança do povo franco em 768, em parte por conta de sua atuação como comandante do exército franco que teve o avanço dos muçulmanos sobre a Europa (Batalha de Poitiers, 732), e criou o Império Carolíngio. Ele conseguiu burocratizar o Estado que havia criado e dividiu organizadamente as questões de mandos nas localidades; também ofereceu grandes quantidades das terras conquistadas aos nobres e à Igreja. Assumindo essa posição, de prestígio entre as estruturas dominantes da sociedade da época, se tornou menos difícil o controle e a promoção do Império. IMPERIO BIZANTINO\n\nImportante pensar que, com a queda de Roma na Itália, em praticamente nada alterou-se uma outra parte do Império Romano, a que tinha capital em Constantinopla. Claro que havia questões culturais diversas à realidade romana da Itália, mas, para esses habitantes, não existia Império Bizantino nem Império Romano do Oriente; eles se chamavam e se entendiam apenas como Império Romano.\n\nPara entendermos melhor, vamos pensar no seguinte: o próprio Brasil, na História recente, chegou a mudar de capital; ora em Rio de Janeiro, ora em Brasília, correto? Nós bem sabemos que o próprio Brasil, em sua essência, não mudou porque sua capital mudou. O mesmo aconteceu com o Império Romano; Constantinopla mantém o legado romano.\n\nConstantinopla ia um pouco na contramão das questões preferidas no resto do Império Romano; era uma cidade em uma posição geográfica estratégica, voltada para o mar e para o comércio e que se ocupava também com agricultura. A crise escravista atingiu bem menos essa parte do Império Romano quando o imperialismo romano sufocou, ou seja, quando o abastecimento de escravizados se esgotou. Aliás, o comércio de fluxo ainda florescia ainda mais, pois, com povos e nações sendo atacados e infringidos, as relações comerciais se estenderam e intensificaram.\n\nO mais famoso imperador de Constantinopla foi Justiniano (527-565). Ele retomou boa parte do território perdido para os invasores germânicos, resgatando Roma. Justiniano foi conhecido por algumas ações, ele criou um compilado escrito das leis romanas, atualizando e revisando aquele clássico direito romano que é estudado nos cursos de Direito até hoje. A obra ficou conhecida como Código Justiniano. Importante pensar que os bizantinos falavam essencialmente o grego, até mesmo mais que o latim, o que deflagra uma proximidade muito grande deles com as questões helênicas. chefe religioso. Obviamente, nessa ótica, questões de credo seriam bem diferentes entre as Igrejas do Ocidente e do Oriente. Esses cristãos do oriente, ortodoxos, discordavam de certas interpretações da Bíblia e inclusive promoviam a quebra de imagens de santos em locais de cultos e residências; o movimento ficou conhecido como Iconoclastas.\n\nComo aconteceu com o Império Romano anteriormente, com a expansão do Império Bizantino, especialmente a partir do século VI e VII, ficou muito complicado manter o território e as fronteiras. Em 1453 o Império Bizantino foi tomado pelos turco-otomanos, que pressionavam há muito tempo os domínios bizantinos, causando aí o próprio fim da Idade Média como entendemos em seu período. CULTURA E MENTALIDADE NA IDADE MÉDIA\n\nDe modo geral, a cultura e a mentalidade da Idade Média podem ser consideradas como teocêntricas. Deus estava no centro do universo e das preocupações dos homens medievais e concentradas em uma só instituição, a Igreja Católica. Há diferenças, contudo, entre a cultura e a mentalidade do primeiro período medieval e do segundo.\n\nALTA IDADE MÉDIA\n\nDurante a Alta Idade Média, podemos considerar a existência de uma cultura e uma visão de mundo calçadas na experiência da insegurança, do medo e do pessimismo, cujas origens se encontram, em parte, na realidade material da época: guerras constantes, fim da unidade política, descentralização, decadência do comércio e da vida urbana, perda do legado cultural greco-romano e a experiência da morte como vivência cotidiana. O espírito do homem veteromedieval (vetero, do latim: \"antigo\", referente a primeira ou à Alta Idade Média), portanto, encontrava alívio para sua experiência de mundo na esfera do divino, entendendo como última esperança de salvação frente a um mundo de sofrimentos.\n\nO ocaso da cultura letrada inicia-se em 529 com a destruição das escolas filosóficas atenienses por ordem do imperador Justiniano. Até o século XII, várias obras da cultura clássica greco-romana serão desconhecidas pelos medievais, de modo que a Filosofia da Alta Idade Média pode ser considerada uma grande tentativa de conciliação entre a razão - calcada na tradição da Filosofia Clássica - e a fé - calcada na leitura das Escrituras -, tendo muito mais para esta última. Os veteromedievais consideravam a Filosofia como ancilla theologiae, \"serva da teologia\", uma vez que servia de auxílio e justificativa para a Teologia. Esta postura permaneceu ao longo da Baixa Idade Média. Os conteúdos de especulação filosófica dos dois períodos, porém, eram muito diferentes.\n\nO modo de pensar clássico da Alta Idade Média é chamado Filosofia Patrística, que teve seu maior representante em (santo) Agostinho de Hipona (354-430). Ele é considerado o maior Doutor da Igreja (doctor ecclesiae) de todos os tempos. Suas reflexões, expressas em livros como As Confissões e A Cidade de Deus, sintetizam as bases do pensamento patrístico. De influência platônica, Agostinho vê o homem como originariamente corrompido pelo pecado, de forma que somente, através da graça divina é que poderia se salvar. Tal concepção tinha, portanto, a justificar a predição da fé sobre o conhecimento racional. Como diz Étienne Gilson, na concepção patristica não é para se tornar sábio que alguém se torna cristão, mas sim para se salvar. Agostinho ainda desenvolveu uma Filosofia da História calcada na doutrina da salvação cristã: \"cidade dos homens\" (civitas hominæ), corrompida pelo pecado e pelo afastamento do divino, reencontrará, por força da graça e da obra da Igreja, a \"cidade de Deus\" (civitas dei), livre do pecado e do sofrimento. BAIXA IDADE MÉDIA\n\nNa Baixa Idade Média, o clima de insegurança, medo e pessimismo do período veteromedieval foi substituído por uma crescente atmosfera de maior otimismo, cuja base estava nas transformações econômicas e sociais vividas no período: renascimento comercial e urbano, progressiva centralização do poder, redescoberta das obras clássicas da antiguidade greco-romana, expansionismo cruzadista etc. Através do contato com os Árabes, após as Cruzadas, o pensamento de Aristóteles, profundamente racionalista e empírico (que dá valor à experiência sensorial), foi redescoberto pelo ocidente e provocou enormes mudanças na Filosofia medieval. O homem passa a ser revalorizado pelo fato de ser racional, faculdade entendida, no entanto, ainda como uma graça de Deus. As chamadas \"boas obras\" do homem e o seu livre-arbítrio conduzem a uma interpretação da salvação calcada na ação humana, e não mais tão exclusivamente na graça de Deus.\n\nO racionalismo aristotélico enseja, na Filosofia e na Teologia, novas sínteses criativas entre razão e fé, como as desenvolvidas por (São) Tomás de Aquino (1225 - 1274) e os chamados filósofos escolásticos. A fundação das universidades configura-se, da mesma forma, como um sintoma da revalorização do conhecimento racional, que engendrou, nos séculos seguintes, o nascimento da ciência moderna. A primeira universidade do Ocidente foi fundada em Bolonha (Itália), ainda no século XI, seguida por Paris e Oxford (Inglaterra) também neste século, e Cambridge (Inglaterra), Salamanca (Espanha) e Montpellier (França) no século XIII.\n\nNa arquitetura, o estilo predominante foi o gótico, mais leve e verticalizado que o românico. A ascensão deste estilo está ligada ao renascimento urbano, uma vez que as grandes catedrais góticas se tornaram os pontos centrais das crescentes cidades da baixa Idade Média (Notre Dame, de Paris, e Duomo, de Milão, por exemplo). Suas altas torres projetavam-se para o céu, como que metaforizando a busca racional do homem por Deus. Construídas através de novas técnicas, as catedrais medievais passaram menos grossas e amplos vitrais multicoloridos, que permitiam a iluminação diurna dos ambientes interiores. Tanto o exterior quanto o interior eram trabalhados com minúcias ornamentais: alegorias, gárgulas e rosas que contrastavam com o caráter simples e plano das superfícies românicas.\n\nNa música e na literatura, a Baixa Idade Média passa pelo interessante fenômeno da vulgarização linguística. Por \"vulgarização\" não devemos compreender algo no sentido pejorativo, mas o advento das línguas vulgares (idiomas e línguas nacionais) como veículos de transmissão cultural. São escritos, no período, os primeiros poemas épicos nas línguas nacionais, como a Canção de Rolando (Francês), Poema de El Cid (Espanhol) e a Canção dos Nibelungos (Alemão). Tais poesias ainda se encontravam repletas de referências laudatórias aos feitos dos nobres, espelho de uma sociedade feudal, viril, guerreira e rude.\n\nA partir do século XII, o trovadorismo inaugurou uma nova fase em que o fazer poético deixa progressivamente os temas de cavalaria para inaugurar as temáticas do amor. A galanteria, o refinamento e a beleza feminina passam a ser cantados, em contraste com a temática unicamente religiosa da Alta Idade Média e as elegias épicas guerreiras do período anterior. Como o advento das línguas orientadas, culturais e mais expressivos, até mesmo a música e a literatura de orientação religiosa sofrem transformações, como podemos observar nas chamadas Cantigas de Santa Maria, compostas pelo rei Afonso X o Sábio, de Castela, no século XIII.\n\nNesse, aquele que canta ao divino não é um clérigo pois é próprio rel que compõe – e não canta em latim. Do ponto de vista simbólico, isto pode ser encarado como a legitimidade do poder temporal, representado pelos reis, em tratar de assuntos religiosos, representados pelo clero. Igualment... PARA SABER MAIS!\n\nLivros:\nCrônicas Saxônicas. 6 volumes de Bernard Cornwell, 2004 - 2016.\n\nA questão aqui é ler e entrar na vibe se divertindo. O autor retrata a grã-bretanha do século IX e X de maneira incrível nessa série de seis livros! Então bora ler tudo que esse cara escreveu; ele é fantástico, escreve ficção SIM, mas com um embaçamento histórico incrível e uma leitura extremamente agradável. Até quem não costuma ler muito fica viciado!\n\nSites:\nAssociação Brasileira de Estudos Medievais. www.abrem.org.br\nhttps://www.youtube.com/channel/UCljGkyrdT4GjaVOL040RI0w/videos\n\nOk, é um canal em inglês e não há legendas, mas pô, a maioria dos canais da internet são assim, bora aprender inglês, gente, não só para lacrar nos vestibulares e ENEM, como para aproveitar em sua maioria o conteúdo que está disposto nas redes! Esse é canal de um cara muito influente nesse meio. Ele é linguista, fala vários idiomas e é um apaixonado por Idade Média e suas questões, principalmente arquitetura, belicismo e literatura.\n\nFilmes e documentários:\nO Nome da Rosa. Dirigido por Jean-Jacques Annaud 1986.\n\nAdaptação cinematográfica da incrível obra de Umberto Eco! Baita filme, com um ritmo de suspense. Para vocês sacaram como essa obra é historicamente muito bem embasada, ela contou com a consultoria de Jacques Le Goff, um dos maiores medievalistas da História. A luz, as ambientações, os atores... tudo é magnífico! REFERÊNCIAS\n\nANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. São Paulo: UNESP, 2016.\n\nFRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1986.\n\n_______ Atlas de História Geral. São Paulo: Scipione, 1993.\n\n_______ Império Bizantino. São Paulo: Brasiliense, 1994.\n\nGINZBURG, Carlo. O Queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.\n\nLE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. São Paulo: Estampa, 1993.\n\n_______ O imaginário medieval. São Paulo: Estampa, 1994.\n\nVICENTINO, Claudino. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011.