·
Psicologia ·
Psicanálise
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
11
Neurose Cap 18
Psicanálise
UMG
11
Slides Aula 1 - a Pré-história da Psicanálise - Parte 1
Psicanálise
UMG
11
210714343 Transformaciones Bion
Psicanálise
UMG
62
Cartas a um Jovem Terapeuta: Reflexões para Psicoterapeutas Aspirantes
Psicanálise
UMG
24
Psicanálise no Plantão Psicológico: Retificação Subjetiva e Porta de Entrada para Análise
Psicanálise
UMG
11
Adolf Guggenbühl-craig - o Casamento Está Morto - Viva o Casamento
Psicanálise
UMG
162
Resenha Critica Complexo de Édipo
Psicanálise
UMG
9
O Transtorno de Ansiedade Social em Estudantes de Psicologia
Psicanálise
UMG
11
a Psicologia Analítica e a Terapia Familiar
Psicanálise
UMG
11
Belas e Adormecidas a Histeria Ainda
Psicanálise
UMG
Preview text
REFLEXÕES PSICANALÍTICAS SOBRE A ANSIEDADE NO CONTEXTO ACADÊMICO Vitor Manoel Souza Soares 1 Rodrigo da Silva Almeida 2 Lirani Firmo da Costa Souza 3 Valdir Ferreira de Lucena Filho 4 Sidycleide Gomes de Souza Lucena 5 RESUMO O presente artigo apresenta uma leitura psicanalítica sobre a ansiedade no contexto acadêmico Metodologicamente tratase de um texto teórico de natureza ensaística onde problematizaremos a ansiedade como um sintoma social contemporâneo que possui íntima relação com a vida do sujeito e com a cultura A partir do referencial Psicanalítico compreendemos a ansiedade como uma reação que o sujeito tem ao se deparar com um perigo iminente e que é decorrente de um acontecimento traumático que não foi elaborado e também como um reflexo do malestar na civilização resultante do ingresso do sujeito na cultura Nesse sentido argumentamos para a importância dos aspectos psicossociais inerentes ao fenômeno da ansiedade que inclui às constantes cobranças e pressões advindas do Outro às quais os universitários estão submetidos promovendo embaraços e perturbações que acabam por inibilos e deixálos ansiosos como também a cultura do imediatismo e do bemestar que repercutem em sofrimento e adoecimento psíquico dos quais destacamos os quadros ansiosos Diante disso nos ancoramos no referencial psicanalítico e propomos aqui uma abordagem crítica alternativa ao predominante modelo biomédico e acusamos a presença de aspectos psicossociais que também contribuem para o aumento da ansiedade na atualidade A partir destes pressupostos acreditamos que será possível uma compreensão da ansiedade a partir de uma perspectiva não psicologizante não patologizante e não medicalizadora e favorecer a proposição de políticas públicas e de intervenções de caráter preventivo que promovam o bemestar e saúde mental dos sujeitos nas universidades Palavraschave Ansiedade Angústia Universidade Psicanálise Educação Emocional 1 Graduando do Curso de Psicologia da Faculdade Irecê FAI vitormanoel123hotmailcom 2 Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas UFAL Integrante do pesquisa Processos Educacionais e Desenvolvimento Humano CNPq Especializando em Psicanálise pela SANAR SAÚDE e especializando em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Centro Universitário Tiradentes UNIT rodrigoalmeidapsigmailcom 3 Especialista em Psicologia Comportamental e Cognitiva FAVENI Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Tiradentes UNIT liranisousagmailcom 4 Especialista em Telecomunicações e Redes de Computadores Tecnologias Convergentes pela Universidade Estácio de SáAL Especialista em Gestão Pública pela Escola Superior do Ministério Público da União ESMPU valdirlucenaoutlookcom 5 Especializanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Centro Universitário Tiradentes UNIT Especializanda em Neuroeducação pela Universidade Estácio de Sá sidycleidehotmailcom INTRODUÇÃO O presente artigo apresenta uma leitura psicanalítica sobre a ansiedade no contexto acadêmico Esta discussão se justifica porque a ansiedade é um sintoma contemporâneo cuja incidência tem se elevado na atualidade ocasionando sofrimento e adoecimento psíquico para os sujeitos impactando em diversas áreas de sua vida dentre elas a acadêmica A partir disso nos ancoramos no referencial psicanalítico a partir das proposições de Freud 19162014 que afirma ser a ansiedade uma reação que o sujeito tem ao se deparar com um perigo iminente e que é decorrente de um acontecimento traumático que não foi elaborado tendo como principais sintomas fisiológicos tremedeira tontura uma palpitação ou falta de ar mas o sentimento geral que nos permite identificar a angústia pode estar ausente ou ter se tornado imperceptível FREUD 19162014 p 530 A ansiedade que se manifesta no contexto acadêmico é vista aqui como uma manifestação do que Freud 19302010 chama de malestar na civilização que se refere a esse processo de ingresso do sujeito na cultura Consequentemente para que faça parte da sociedade e conviver com seus semelhantes é preciso abdicar da satisfação das próprias pulsões renúncia que não é nada fácil pois o psiquismo busca o tempo todo satisfazer os seus impulsos por isso Boa parte da peleja da humanidade se concentra em torno da tarefa de achar um equilíbrio adequado isto é que traga felicidade entre tais exigências individuais e aquelas do grupo culturais FREUD 19302010 p 58 Scherer e Carneiro 2020 acrescentam que esse o malestar também acontece nas Instituições de Ensino Superior IES que acabam produzindo dentre outras coisas ansiedade angústia imobilidade e adoecimento decorrentes de insatisfações e queixas em relação às limitações encontradas no processo de ensino aprendizagem Agregamos também a proposição freudiana sobre a impossibilidade inerente ao ato de educar governar e psicanalisar FREUD 19372018 Ressaltamos entretanto que esse impossível não tem o sentido de que é algo exequível mas sim de inalcançável em sua totalidade e que Freud não quis desvalorizar tais profissões ou propor que tais ofícios não existissem mas acusar a existência de uma falta inerente ao seu fazer e à sua aposta LACAN 196919701992 SCHERER CARNEIRO 2020 A partir destas considerações apresentaremos aqui uma pesquisa de natureza ensaística onde discutiremos a ansiedade sob o viés psicanalítico em que problematizaremos a ansiedade no contexto acadêmico sob um enfoque não psicologizante não patologizante e nem medicalizador a partir de uma perspectiva crítica METODOLOGIA O presente artigo tratase de uma pesquisa teórica especificamente de um ensaio acadêmico Nesse sentido faremos uma discussão sobre a ansiedade no contexto acadêmico a partir da Psicanálise Para isso utilizamos a concepção freudiana sobre angústia em seus textos Conferências Introdutórias à Psicanálise FREUD 19162014 Inibição Sintoma e Angústia FREUD 19262014 e Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise FREUD 19332010 A partir da leitura dos textos de Freud investigamos a noção de angústia e refletimos sobre a ansiedade na atualidade especialmente no contexto acadêmico Além disso concebemos a ansiedade como um sintoma social contemporâneo considerando a íntima relação da ansiedade com a vida do sujeito e com a cultura tendo em vista ter se tornado cada vez mais recorrente e frequente na sociedade e que para a Psicanálise o sintoma sempre está inserido no social THEISEN 2015 Assim tal como afirma Lacan 19642008 uma vez que o inconsciente se estrutura como linguagem o sujeito para a Psicanálise está desde o seu nascimento inscrito em uma cadeia de significantes por isso todo sintoma é sempre social Além disso nos posicionamos aqui como praticantes de Psicanálise longe de ser alguém que irá solucionar os problemas sociais mas como aqueles que fazem uso da Psicanálise como possibilidade ainda que muitas vezes criticados firmes nos propósitos de inventar soluções FERRARI 2018 p 94 Consequentemente não tivemos o intuito de explorar exaustivamente esta temática e nem de apresentar soluções definitivas para o fenômeno da ansiedade no contexto acadêmico Ao contrário disso apresentamos uma possibilidade de abordar este assunto a partir de uma perspectiva crítica A ANSIEDADE SOB O OLHAR DA TEORIA PSICANALÍTICA De acordo com Simonetti 2011 a temática da ansiedade e da angústia ainda é ambígua havendo ainda imprecisões e dificuldades conceituais em torno desses conceitos o que demonstra como são vivências humanas de difícil simbolização através da linguagem desafiando as diferentes áreas do conhecimento humano na sua compreensão dentre elas a Psicanálise Do ponto de vista etimológico o radical angkho se subdivide em dois eixos angor e anxietas que significam constrição aperto estando relacionadas tanto à ansiedade quanto à angústia daí o fato de a angústia e a ansiedade aparecem na clínica com uma certa ambiguidade ora são tomadas como sendo a mesma coisa ora são tomadas como coisas distintas que se articulam de várias maneiras SIMONETTI 2011 p 9 De acordo com o referido autor para a Psicanálise existe uma distinçãofraca entre ansiedade e angústia que é insuficiente para desfazer a ambiguidade entre ambas tendo em vista haver uma vasta variação terminológica e conceitual SIMONETTI 2011 Diante disso assumimos a distinção proposta por Theisen 2015 de que O estado de ansiedade portanto pode ser considerado um estado preliminar da angústia sendo a última considerada uma condição mais grave e que se implica de maneira avassaladora na vida do sujeito p 25 Consequentemente utilizaremos ambas as nomenclaturas mas ressaltando aqui que o nosso foco é sobre a ansiedade e suas repercussões na vida acadêmica e não discutir as diferenças entre ambas Feitos estes esclarecimentos partiremos agora para a discussão sobre a ansiedade na Teoria Psicanalítica especificamente a partir de Freud que começou suas discussões sobre a ansiedade em seu texto Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada neurose de angústia de 1895 onde desenvolveu duas teorias para discutir a ansiedade e a angústia que ele denominou de angústia automática e angústia sinal SIMONETT 2011 Na primeira teoria a da angústia automática Freud postulou que existe uma transformação automática da libido reprimida em angústia para a manutenção de um nível mínimo ou ótimo de tensão como uma tentativa de aplicar o princípio da homeostase ao sistema nervoso Consequentemente a angústia é entendida como uma reação fisiológica diante do excesso de excitação nervosa não descarregada Simonetti 2011 acrescenta ainda que outros textos freudianos que sustentam essa concepção de angústia são Manuscrito E escrito 1894 Obsessões e Fobias sobre a Neurose de Angústia de 1895 teve também o texto sobre as críticas feitas ao escrito da neurose de angústia e o texto sobre a Sexualidade na Etiologia das Neuroses publicado em 1898 Já a segunda teoria a da angústia sinal afirma que a angústia se refere a um sinal deflagrado em situações de perigo funcionando como um dispositivo do Eu para o enfrentamento antecipado das emergências pulsionais oriundas do Isso por meio da produção de uma dose moderada de desprazer que prepara o sujeito para a tarefa do recalque a partir do princípio do prazer Nesse sentido a discussão freudiana sobre a ansiedade aconteceu em dois momentos de sua obra na primeira e na segunda tópicas SIMONETTI 2011 FREUD 19162014 Em sua primeira teoria ele se referiu então a uma neurose de angústia cuja etiologia estaria situada no acúmulo de tensão sexual não eliminada que diante da ausência ou insuficiência de elaboração psíquica dessa excitação sexual que estava localizada no corpo e fazia com que não houvesse a sua transformação em libido psíquica GOLDGRUB 2010 THEISEN 2015 Em suas palavras Não é possível a princípio discernir como a ansiedade surge da libido apenas podemos reconhecer que a libido está ausente e que a ansiedade está em seu lugar FREUD 19162014 p 404 Em outras palavras a primeira formulação freudiana concebia a ansiedade como resultante de uma retenção e consequente não descarga satisfação da libido A origem da ansiedade estava numa expectativa sexual não consumada ou não satisfatoriamente consumada essa libido se tornaria insatisfeita em decorrência da falta de objeto ou devido à ausência do prazer esperado GOLDGRUB 2010 THEISEN 2015 Freud 19162014 no texto a angústia de seu livro Conferências introdutórias à Psicanálise afirma que a ansiedade está relacionada à manifestação de um sofrimento psíquico na vida do sujeito resultante de uma confrontação interna e que é dela afinal que se queixa a maioria dos neuróticos que a caracterizam como seu padecimento mais terrível e a angústia pode realmente alcançar neles uma enorme intensidade e ter por consequência as medidas mais desvairadas FREUD 19162014 p 519 Além disso afirma que a ansiedade pode ser de dois tipos a ansiedade realística que pode estar ligada a distintos objetos e a ansiedade neurótica que não possui objeto e por isso é desconhecida Consequentemente A angústia realista nos parece bastante racional e compreensível diremos que é uma reação à percepção de um perigo externo ou seja de um dano esperado previsto está vinculada ao reflexo da fuga FREUD 19162014 p 521 Afirma ainda que em outras situações na ansiedade realista é justamente o maior saber do objeto ansiogênico que deixa o sujeito mais ansioso porque lhe permite antecipar o perigo A partir disso o autor faz uma retificação de que nem sempre a ansiedade realista é adequada pois a única conduta adequada perante a ameaça de um perigo seria com efeito avaliar calmamente as próprias forças em comparação com o tamanho da ameaça e então decidir que alternativa oferece maior perspectiva de um bom desfecho se a fuga a defesa ou mesmo o ataque FREUD 19162014 p 521522 Já na ansiedade neurótica Pessoas que sofrem desse tipo de angústia preveem sempre a concretização da possibilidade mais terrível interpretam todo acaso como sinal de alguma desgraça exploram toda incerteza no pior sentido Essa tendência a esperar desgraças é um traço de caráter de muitas pessoas que em geral não poderíamos caracterizar como doentes são chamadas de muito angustiadas ou pessimistas FREUD 19162014 p 526 Freud 19162014 destaca ainda que o ato de nascimento por retirar o sujeito da segurança do útero materno e colocálo diante dos perigos da vida faz com que vivencie o que ele denominou afeto de angústia Theisen 2015 acrescenta que a primeira situação de perigo pela qual o ser humano passa é justamente no nascimento quando acontece a separação da mãe sendo considerada a primeira reação de perigo outro fator é a própria condição de dependência absoluta do bebê Esse afeto de angústia tende a se repetir em outras situações em que a ausência do objeto exigir uma resolução psíquica por parte do sujeito O ato de nascimento também provoca a interrupção da renovação do sangue respiração interna sendo então a primeira ansiedade vivenciada uma angústia tóxica O substantivo Angst angústia angustiae aperto em latim enfatiza o estreitamento da respiração presente então como consequência da situação real e hoje reproduzindo quase regularmente no afeto FREUD 19162014 p 524525 Segundo Goldgrub 2010 a segunda formulação freudiana da ansiedade que aconteceu na segunda tópica inverte a ordem dos fatores enquanto que na primeira a repressão e não o recalque é quem estaria na gênese da ansiedade agora a ansiedade é concebida como a causadora do recalque Essa mudança foi proveniente da própria experiência clínica de Freud quando ele passou a perceber que havia um antagonismo entre a ansiedade e o sintoma Essas mudanças são anunciadas oficialmente no texto Inibição Sintoma e Angústia FREUD 19262014 em que aprofunda um pouco mais a etiologia da ansiedade destacando que sua origem surge a partir do recalque e que o Eu é o lugar onde a ansiedade irá se fixar argumentando que podemos apegarnos com firmeza à ideia de que o ego é a sede real da ansiedade p 96 Consequentemente O determinante fundamental da ansiedade automática é a ocorrência de uma situação traumática e a essência disto é uma experiência de desamparo por parte do ego face de um acúmulo de excitação quer de origem externa quer interna com que não se pode lidar FREUD 19262014 p 85 Posteriormente no seu texto Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise FREUD 19332010 afirma que quando a ansiedade ultrapassa um certo limite acaba dando lugar ao sintoma Além disso caso a estabilidade do sintoma seja ameaçada e isso acontece quando o sujeito decide enfrentálo por exemplo através de um processo analítico ou de uma psicoterapia a ansiedade voltará a se manifestar GOLDGRUB 2014 Em suas palavras parece com efeito que a geração da ansiedade é o que surgiu primeiro e a formação dos sintomas o que veio depois como se os sintomas fossem criados a fim de evitar a irrupção do estado de ansiedade FREUD 19332010 p 106 Goldgrub 2010 afirma que a segunda teoria freudiana da ansiedade vai trazer a neurose de defesa uma categoria clínica distinta da neurose atual Nesta última ocorria uma repressão em decorrência da intolerância da civilização com a sexualidade Já a neurose de defesa era originada na infância do sujeito decorrente da divisão do psiquismo Dessa forma Freud reinterpreta a sua compreensão da ansiedade a partir da sua compreensão sobre o processo de constituição do sujeito desenvolvimento psicossexual e das instâncias psíquicas da sua segunda tópica Isso Eu e Supereu Theisen 2015 corroborando com o autor acima acrescenta que em sua segunda teoria Freud diz que a ansiedade vem sinalizar um perigo do qual o sujeito não consegue identificar e essa reação diante do perigo como acontece em um ataque de pânico tem relação com a reativação de uma situação traumática que o sujeito vivenciou que se atualiza através de uma forte carga afetiva Essas situações passadas se referem tanto ao momento do nascimento como já foi discutido anteriormente e colocam em cena o temor da perda do objeto seja ele materno ou de amor deixando o sujeito exposto à experiência da castração e da morte Também ressalta que não podemos perder de vista que a segunda teoria da ansiedade elaborada por Freud não substitui a primeira Ao contrário disso as duas concepções de ansiedade marcam uma distinção dos momentos da elaboração psicanalítica deste conceito Dessa forma Freud 19162014 p 521 afirma que Seja como for é certo que o problema da angústia configura um ponto nodal para o qual convergem questões as mais diversas e importantes um enigma cuja solução haverá de lançar luz abundante sobre o conjunto de nossa vida psíquica A seguir abordaremos um dos pontos nodais da atualidade a ansiedade no contexto acadêmico ANSIEDADE NO CONTEXTO ACADÊMICO REFLEXÕES PSICANALÍTICAS Apresentaremos aqui uma breve discussão sobre a ansiedade no contexto acadêmico Ressaltamos todavia que não faremos uma exposição exaustiva sobre o assunto tendo em vista não ser possível devido a limitação da quantidade máxima de laudas deste texto e nem ser este o nosso intuito Nesse sentido retomamos aqui o objetivo deste artigo que é apresentar uma leitura psicanalítica sobre a ansiedade no contexto acadêmico objetivando respondêlo De acordo com Soares Monteiro e Santos 2020 o ingresso na universidade coloca o sujeito diante de situações novas e consequentemente desconhecidas trazendo consigo uma série de desafios requerendo responsabilidade e autonomia perante o seu desempenho acadêmico Tal contexto pode favorecer dentre outras coisas o desenvolvimento de quadros ansiosos pois lidar com as incertezas da vida acadêmica tem sido algo desafiador na atual cultura do imediatismo Segundo Theisen 2015 o sujeito contemporâneo tem sido obrigado a cumprir prazos e datas e a apresentar resultados em um tempo que tem sido cada vez mais escasso para dar conta de tantas tarefas Soares Monteiro e Santos 2020 complementam que o aumento da ansiedade em universitários está relacionado também à cobrança excessiva da universidade bem como os desafios encontrados no ambiente que somada às pressões dos ambientes familiar eou de trabalho acaba interferindo na saúde mental dos estudantes que acabam não conseguindo encontrar significados para os seus significantes e prejudicando seu desempenho acadêmico A partir do momento em que o jovem ingressa na universidade é possível que conflitos psíquicos que até então estavam adormecidos se manifestem das mais variadas formas sendo uma das mais comuns a ansiedade Outro fator que corrobora para isso é o fato de a maior parte dos universitários estarem atravessando o período de transição da adolescência para a vida adulta caracterizado por uma série de mudanças e cobranças que incluem comumente morar longe da família ter que administrar os gastos financeiros da faculdade e do novo lar etc SOARES MONTEIRO SANTOS 2020 Dias 2019 acrescenta que o adolescente ao se deparar com esse excesso de cobranças que lhe são impostas pelo Outro costuma vivenciar uma devastação dilacerante ao ter a sua imagem como sujeito diante dos desejos e anseios do Outro que acabam por inibilo Nesse sentido Lacan 196219632005 agrega que na adolescência acontece uma inibição na vertente do movimento a ponto de configurar um embaraço onde A efusão é a perturbação o perturbase como tal o perturbarse mais profundo na dimensão do movimento O embaraço é o máximo da dificuldade atingida LACAN 19621963 p 22 Para Lacan 196219632005 esse embaraço e inibição acontecem porque a adolescência é um período que requer do sujeito um trabalho psíquico muito intenso por meio do questionamento do complexo de castração em que a imagem do seu corpo seja reconstruída corroborando para que se sinta fragilizado na representação de seu eu Dias 2019 acrescenta que ao depararse com esse conjunto de condicionantes que são vividos de forma singular por cada um esses adolescentes inibidosembaraçados acabam tendo uma relação de desconforto com outros sujeitos e grupos e desenvolvem sintomas diversos dentre eles os quadros ansiosos Nesse sentido Soares Monteiro e Santos 2020 destacam que uma vez que a ansiedade ultrapassa o limite do suportável se tornando patológica pode interferir nas atividades diárias dos universitários elevando o seu nível de estresse podendo repercutir em seu desempenho acadêmico tendo em vista que o malestar do seu dia a dia interfere diretamente na qualidade de seus estudos Theisen 2015 agrega que apesar de ser comum vivenciarmos a ansiedade em nosso dia a dia esta se torna mais elevada em situações de pressão como por exemplo na realização de uma prova e ou outras situações em que se percebem sendo avaliados Souza et al 2018 destacam que no decorrer da graduação é comum que o estudante sinta ansiedade diante da progressão que o curso apresenta perante as diversas disciplinas que cujos conteúdos são complexos atividades avaliativas estágios problemas pessoais etc Outro fator que corrobora para o aumento da ansiedade é a frustração das expectativas geradas no início do curso ao se deparar com uma realidade desconhecida e com os impasses da formação o sujeito percebe que aquilo que idealizou não corresponde necessariamente com a realidade Já Henriques 2017 diz que a cultura do imediatismo presente na sociedade atual promove uma pressão sobre as pessoas especialmente os adolescentes para a obtenção precoce de sucesso em diversas áreas da vida especialmente nas finanças academicamente e profissionalmente nas relações interpessoais e amorosas etc Eles são convocados a responder a todas essas cobranças e na tentativa de lidar com o sofrimento advindo dessas imposições acabam adoecendo Na opinião da autora os jovens têm estado cada vez mais ansiosos em decorrência de suas dificuldades de lidar com todas essas demandas Nesse sentido os jovens e adolescentes ao sofrerem uma suspensão do seu lugar previamente estabelecido na infância estão mais suscetíveis às ressignificações sociais Consequentemente os conflitos e angústias que eles enfrentam são indissociáveis da sociedade e cultura da qual fazem parte pois As manifestações do sujeito adolescente estão em sintonia com os traços de sua sociedade e esta por sua vez imprime a marca de suas contradições em sua subjetividade em revolução GEA 2013 p 19 Além disso Silva 2019 chama a atenção para o fato de que a ansiedade aparece nos alunos de diferentes formas tendo em vista que a forma como cada sujeito a vivencia é singular Um dos fatores que confirmam essa singularidade é a maneira como cada estudante percebe e recebe as demandas universitárias bem como a forma em que essas são passadas para eles pelos professores Já Theisen 2015 acrescenta que a ansiedade é compreendida pela Psicanálise como um sintoma da atualidade reflexo de uma sociedade que exige cada vez mais respostas imediatas e urgentes e acaba corroborando em sofrimento e adoecimento psíquico sendo a ansiedade e seus sintomas um dos que mais se sobressaem Logo é importante não perdermos de vista que a ansiedade como todo sintoma social caracterizase por uma organização sobre uma forma discursiva que nos dias atuais é responsável por produzir laço social Consequentemente a Psicanálise nos auxilia compreendermos que a ansiedade a partir de uma perspectiva não psicologizante não patologizante e não medicalizadora reconhecendo que ela se inscreve de forma imponente na cultura e se aloja na vida do sujeito pois está estruturado em seu inconsciente desde seu nascimento sendo assim todos os sujeitos passam pela experiência de vivenciar um sintoma social THEISEN 2015 p 20 Demantova 2020 também nos ajuda nessa leitura crítica da ansiedade como um sintoma social ao destacar a presença de uma cultura do bemestar Nela todos precisam estar em equilibrados e adaptados a todas as circunstâncias ao mesmo tempo em que não se dá espaço para que possam sentir e muito menos falar sobre suas tristezas e angústias É a ilusão de que tudo é possível e de que a satisfação plena pode ser alcançada Corroborando com a autora acima Gea 2013 acrescenta que os adolescentes ao se depararem com o atual contexto históricocultural caótico e incerto que os exclui do mercado de trabalho negandolhes oportunidades acabam desenvolvendo quadros de ansiedade diante das dificuldades de lidar com suas questões Outros fatores que contribuem para isso são a inédita fabricação de artefatos medicamentos e publicações destinados à majoração de uma saúde padronizada p 15 Diante disso destacamos aqui a importância de atentarmos também para a dimensão psicossocial da ansiedade pois o enfoque biomédico predominante ao privilegiar apenas os seus aspectos individuais acaba contribuindo para a culpabilização desses sujeitos pelo seu sofrimento psíquico favorecendo a disseminação de estereótipos estigmas e preconceitos que além de dificultar a busca de ajuda coloca esses jovens à margem da sociedade por isso Rodrigues 2018 diz que Eles consideram as regras da sociedade cruéis e apresentam dificuldades em lidar com o mundo externo muitas vezes visto como segregador p 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS Logo sendo a ansiedade um sintoma cuja incidência tem se elevado na atualidade impactando em diversas áreas da vida dos sujeitos dentre elas a acadêmica apresentamos aqui uma leitura psicanalítica onde compreendemos a ansiedade como um sintoma social reflexo de uma sociedade que exige cada vez mais respostas imediatas e urgentes e que acaba promovendo em sofrimento e adoecimento psíquico dos universitários Dessa forma apresentamos aqui uma abordagem crítica deste fenômeno como uma alternativa ao predominante modelo biomédico indo além dos seus aspectos individuais e abrangendo também os seus psicossociais A partir destes pressupostos acreditamos que será possível uma compreensão da ansiedade a partir de uma perspectiva não psicologizante não patologizante e não medicalizadora e favorecer a proposição de políticas públicas e de intervenções de caráter preventivo que promovam o bemestar e saúde mental dos sujeitos nas universidades REFERÊNCIAS DEMANTOVA A G Automutilação na adolescência corpo atacado corpo marcado Curitiba Editora CRV 2020 DIAS I M S Cutting a automutilação em perspectiva lacaniana 2019 74 f Dissertação Mestrado em Psicanálise Programa de PósGraduação em Psicanálise Saúde e Sociedade Universidade Veiga de Almeida Rio de Janeiro 2019 Disponível em httpswwwuvabrsitesdefaultfilescuttingaautomutilacaoemperspectivalacanianai nesmendoncadossantosdiaspdf Acesso em 08 Jul 2021 FERRARI I F A Psicanálise no mundo da informática e dos gráficos In FERREIRA T VORCARO A Orgs Pesquisa e psicanálise do campo à escrita Belo Horizonte Autêntica 2018 p 7995 FREUD S O Malestar na civilização novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos 19301936 São Paulo Companhia das letras 2010 Obras Completas vol 18 FREUD S Conferências introdutórias à psicanálise 19161917 São Paulo Companhia das letras 2014 Obras Completas vol 13 FREUD S Inibição sintoma e angústia o futuro de uma ilusão e outros textos 1926 1929 São Paulo Companhia das letras 2014 p 13123 Obras Completas vol 17 FREUD S Análise Terminável e interminável 1937 In FREUD S Moisés e o monoteísmo compêndio de psicanálise e outros textos 19371939 São Paulo Companhia das Letras 2018 p 274326 Obras Completas v 19 GEA M R Corpos marcados adolescência e ideais na contemporaneidade 2013 85 f Dissertação Mestrado em Psicologia Programa de PósGraduação em Psicologia Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo São Paulo 2013 Disponível em httpswwwtesesuspbrtesesdisponiveis4747134tde30072013 095819publicoGeamepdf Acesso em 15 Maio 2021 GOLDGRUB F As teorias da ansiedade e das pulsões em Freud Revista Psicologia São Paulo v 19 n 1 sm 2010 p 1132 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphppsicorevistaarticle52253759 Acesso em 20 Jul 2021 HENRIQUES R L S P A Automutilação nas políticas públicas de saúde mental um olhar através do biopoder e sociedade disciplinar foucaultiana Pretextos Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas Minas Gerais v 3 n 6 Dez 2018 p 172189 Disponível em httpperiodicospucminasbrindexphppretextosarticle16023 Acesso em 08 Jul 2021 LACAN J O Seminário livro 10 A Angústia 19621963 Rio de Janeiro Zahar 2005 LACAN J O Seminário livro 11 Os Quatro conceitos fundamentais da psicanálise 1964 2ª ed Rio de Janeiro Zahar 2008 LACAN J O Seminário livro 17 O Avesso da psicanálise 19691970 Rio de Janeiro Zahar 1992 RODRIGUES P P Gritos silenciosos quando as impossibilidades de simbolização de conflitos retornam ao corpo automutilação na adolescência 2018 31 f Monografia Especialização em Saúde do Adolescente Faculdade de Medicina Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2018 Disponível em httpsrepositorioufmgbrbitstream1843BUBDAYVFK71tccprontopsbancapalom arodriguespdf Acesso em 19 Mar 2021 SCHERER L C B CARNEIRO C Malestar na escola e a aposta docente encontros e desencontros In VOLTOLINI R GURSKI R Orgs Retratos da pesquisa em psicanálise e educação São Paulo Contracorrente 2020 p 133148 Col Educação Psicanálise vol 2 SIMONETTI A A Angústia e a ansiedade na psicopatologia fundamental 2011 165 f Dissertação Mestrado em Psicologia Clínica Laboratório de Psicopatologia Fundamental Pontífica Universidade Católica de São Paulo São Paulo 2011 Disponível em httpstede2pucspbrhandlehandle15010 Acesso em 20 Jul 2021 SILVA T A C A Ansiedade em estudantes universitários uma revisão bibliográfica à luz da Psicologia 2019 17f Monografia Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Psicologia Faculdade Leão Sampaio Juazeiro do NorteCE 2019 Disponível em httpsunileaoedubrrepositoriobiblitccTHIALA20ALVES20DA20COSTA20SIL VApdf Acesso em 26 Jul 2021 SOARES A MONTEIRO M SANTOS Z Revisão sistemática da literatura sobre ansiedade em estudantes do ensino superior Contextos Clínicos NiteróiRJ v 13 n 3 Dez 2020 p 9921012 Disponível em httprevistasunisinosbrindexphpcontextosclinicosarticleviewctc202013313 Acesso em 26 Jul 2021 DOI 104013ctc202013313 SOUZA J F SILVA A S NÓBREGA A C S AZEVEDO R L W Depressão e ansiedade no ambiente acadêmico uma revisão integrativa III CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Anais do III CONBRACIS Campina Grande Realize Editora 2018 Disponível em httpeditorarealizecombrartigovisualizar40944 Acesso em 26 Jul 2021 THEISEN C Ansiedade sintoma social contemporâneo 2015 45 f Monografia Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia Departamento de Humanidade e Educação Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Santa RosaRS 2015 Disponível em httpsbibliodigitalunijuiedubr8443xmluihandle1234567893309 Acesso em 19 Jul 2021
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
11
Neurose Cap 18
Psicanálise
UMG
11
Slides Aula 1 - a Pré-história da Psicanálise - Parte 1
Psicanálise
UMG
11
210714343 Transformaciones Bion
Psicanálise
UMG
62
Cartas a um Jovem Terapeuta: Reflexões para Psicoterapeutas Aspirantes
Psicanálise
UMG
24
Psicanálise no Plantão Psicológico: Retificação Subjetiva e Porta de Entrada para Análise
Psicanálise
UMG
11
Adolf Guggenbühl-craig - o Casamento Está Morto - Viva o Casamento
Psicanálise
UMG
162
Resenha Critica Complexo de Édipo
Psicanálise
UMG
9
O Transtorno de Ansiedade Social em Estudantes de Psicologia
Psicanálise
UMG
11
a Psicologia Analítica e a Terapia Familiar
Psicanálise
UMG
11
Belas e Adormecidas a Histeria Ainda
Psicanálise
UMG
Preview text
REFLEXÕES PSICANALÍTICAS SOBRE A ANSIEDADE NO CONTEXTO ACADÊMICO Vitor Manoel Souza Soares 1 Rodrigo da Silva Almeida 2 Lirani Firmo da Costa Souza 3 Valdir Ferreira de Lucena Filho 4 Sidycleide Gomes de Souza Lucena 5 RESUMO O presente artigo apresenta uma leitura psicanalítica sobre a ansiedade no contexto acadêmico Metodologicamente tratase de um texto teórico de natureza ensaística onde problematizaremos a ansiedade como um sintoma social contemporâneo que possui íntima relação com a vida do sujeito e com a cultura A partir do referencial Psicanalítico compreendemos a ansiedade como uma reação que o sujeito tem ao se deparar com um perigo iminente e que é decorrente de um acontecimento traumático que não foi elaborado e também como um reflexo do malestar na civilização resultante do ingresso do sujeito na cultura Nesse sentido argumentamos para a importância dos aspectos psicossociais inerentes ao fenômeno da ansiedade que inclui às constantes cobranças e pressões advindas do Outro às quais os universitários estão submetidos promovendo embaraços e perturbações que acabam por inibilos e deixálos ansiosos como também a cultura do imediatismo e do bemestar que repercutem em sofrimento e adoecimento psíquico dos quais destacamos os quadros ansiosos Diante disso nos ancoramos no referencial psicanalítico e propomos aqui uma abordagem crítica alternativa ao predominante modelo biomédico e acusamos a presença de aspectos psicossociais que também contribuem para o aumento da ansiedade na atualidade A partir destes pressupostos acreditamos que será possível uma compreensão da ansiedade a partir de uma perspectiva não psicologizante não patologizante e não medicalizadora e favorecer a proposição de políticas públicas e de intervenções de caráter preventivo que promovam o bemestar e saúde mental dos sujeitos nas universidades Palavraschave Ansiedade Angústia Universidade Psicanálise Educação Emocional 1 Graduando do Curso de Psicologia da Faculdade Irecê FAI vitormanoel123hotmailcom 2 Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas UFAL Integrante do pesquisa Processos Educacionais e Desenvolvimento Humano CNPq Especializando em Psicanálise pela SANAR SAÚDE e especializando em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Centro Universitário Tiradentes UNIT rodrigoalmeidapsigmailcom 3 Especialista em Psicologia Comportamental e Cognitiva FAVENI Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Tiradentes UNIT liranisousagmailcom 4 Especialista em Telecomunicações e Redes de Computadores Tecnologias Convergentes pela Universidade Estácio de SáAL Especialista em Gestão Pública pela Escola Superior do Ministério Público da União ESMPU valdirlucenaoutlookcom 5 Especializanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Centro Universitário Tiradentes UNIT Especializanda em Neuroeducação pela Universidade Estácio de Sá sidycleidehotmailcom INTRODUÇÃO O presente artigo apresenta uma leitura psicanalítica sobre a ansiedade no contexto acadêmico Esta discussão se justifica porque a ansiedade é um sintoma contemporâneo cuja incidência tem se elevado na atualidade ocasionando sofrimento e adoecimento psíquico para os sujeitos impactando em diversas áreas de sua vida dentre elas a acadêmica A partir disso nos ancoramos no referencial psicanalítico a partir das proposições de Freud 19162014 que afirma ser a ansiedade uma reação que o sujeito tem ao se deparar com um perigo iminente e que é decorrente de um acontecimento traumático que não foi elaborado tendo como principais sintomas fisiológicos tremedeira tontura uma palpitação ou falta de ar mas o sentimento geral que nos permite identificar a angústia pode estar ausente ou ter se tornado imperceptível FREUD 19162014 p 530 A ansiedade que se manifesta no contexto acadêmico é vista aqui como uma manifestação do que Freud 19302010 chama de malestar na civilização que se refere a esse processo de ingresso do sujeito na cultura Consequentemente para que faça parte da sociedade e conviver com seus semelhantes é preciso abdicar da satisfação das próprias pulsões renúncia que não é nada fácil pois o psiquismo busca o tempo todo satisfazer os seus impulsos por isso Boa parte da peleja da humanidade se concentra em torno da tarefa de achar um equilíbrio adequado isto é que traga felicidade entre tais exigências individuais e aquelas do grupo culturais FREUD 19302010 p 58 Scherer e Carneiro 2020 acrescentam que esse o malestar também acontece nas Instituições de Ensino Superior IES que acabam produzindo dentre outras coisas ansiedade angústia imobilidade e adoecimento decorrentes de insatisfações e queixas em relação às limitações encontradas no processo de ensino aprendizagem Agregamos também a proposição freudiana sobre a impossibilidade inerente ao ato de educar governar e psicanalisar FREUD 19372018 Ressaltamos entretanto que esse impossível não tem o sentido de que é algo exequível mas sim de inalcançável em sua totalidade e que Freud não quis desvalorizar tais profissões ou propor que tais ofícios não existissem mas acusar a existência de uma falta inerente ao seu fazer e à sua aposta LACAN 196919701992 SCHERER CARNEIRO 2020 A partir destas considerações apresentaremos aqui uma pesquisa de natureza ensaística onde discutiremos a ansiedade sob o viés psicanalítico em que problematizaremos a ansiedade no contexto acadêmico sob um enfoque não psicologizante não patologizante e nem medicalizador a partir de uma perspectiva crítica METODOLOGIA O presente artigo tratase de uma pesquisa teórica especificamente de um ensaio acadêmico Nesse sentido faremos uma discussão sobre a ansiedade no contexto acadêmico a partir da Psicanálise Para isso utilizamos a concepção freudiana sobre angústia em seus textos Conferências Introdutórias à Psicanálise FREUD 19162014 Inibição Sintoma e Angústia FREUD 19262014 e Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise FREUD 19332010 A partir da leitura dos textos de Freud investigamos a noção de angústia e refletimos sobre a ansiedade na atualidade especialmente no contexto acadêmico Além disso concebemos a ansiedade como um sintoma social contemporâneo considerando a íntima relação da ansiedade com a vida do sujeito e com a cultura tendo em vista ter se tornado cada vez mais recorrente e frequente na sociedade e que para a Psicanálise o sintoma sempre está inserido no social THEISEN 2015 Assim tal como afirma Lacan 19642008 uma vez que o inconsciente se estrutura como linguagem o sujeito para a Psicanálise está desde o seu nascimento inscrito em uma cadeia de significantes por isso todo sintoma é sempre social Além disso nos posicionamos aqui como praticantes de Psicanálise longe de ser alguém que irá solucionar os problemas sociais mas como aqueles que fazem uso da Psicanálise como possibilidade ainda que muitas vezes criticados firmes nos propósitos de inventar soluções FERRARI 2018 p 94 Consequentemente não tivemos o intuito de explorar exaustivamente esta temática e nem de apresentar soluções definitivas para o fenômeno da ansiedade no contexto acadêmico Ao contrário disso apresentamos uma possibilidade de abordar este assunto a partir de uma perspectiva crítica A ANSIEDADE SOB O OLHAR DA TEORIA PSICANALÍTICA De acordo com Simonetti 2011 a temática da ansiedade e da angústia ainda é ambígua havendo ainda imprecisões e dificuldades conceituais em torno desses conceitos o que demonstra como são vivências humanas de difícil simbolização através da linguagem desafiando as diferentes áreas do conhecimento humano na sua compreensão dentre elas a Psicanálise Do ponto de vista etimológico o radical angkho se subdivide em dois eixos angor e anxietas que significam constrição aperto estando relacionadas tanto à ansiedade quanto à angústia daí o fato de a angústia e a ansiedade aparecem na clínica com uma certa ambiguidade ora são tomadas como sendo a mesma coisa ora são tomadas como coisas distintas que se articulam de várias maneiras SIMONETTI 2011 p 9 De acordo com o referido autor para a Psicanálise existe uma distinçãofraca entre ansiedade e angústia que é insuficiente para desfazer a ambiguidade entre ambas tendo em vista haver uma vasta variação terminológica e conceitual SIMONETTI 2011 Diante disso assumimos a distinção proposta por Theisen 2015 de que O estado de ansiedade portanto pode ser considerado um estado preliminar da angústia sendo a última considerada uma condição mais grave e que se implica de maneira avassaladora na vida do sujeito p 25 Consequentemente utilizaremos ambas as nomenclaturas mas ressaltando aqui que o nosso foco é sobre a ansiedade e suas repercussões na vida acadêmica e não discutir as diferenças entre ambas Feitos estes esclarecimentos partiremos agora para a discussão sobre a ansiedade na Teoria Psicanalítica especificamente a partir de Freud que começou suas discussões sobre a ansiedade em seu texto Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada neurose de angústia de 1895 onde desenvolveu duas teorias para discutir a ansiedade e a angústia que ele denominou de angústia automática e angústia sinal SIMONETT 2011 Na primeira teoria a da angústia automática Freud postulou que existe uma transformação automática da libido reprimida em angústia para a manutenção de um nível mínimo ou ótimo de tensão como uma tentativa de aplicar o princípio da homeostase ao sistema nervoso Consequentemente a angústia é entendida como uma reação fisiológica diante do excesso de excitação nervosa não descarregada Simonetti 2011 acrescenta ainda que outros textos freudianos que sustentam essa concepção de angústia são Manuscrito E escrito 1894 Obsessões e Fobias sobre a Neurose de Angústia de 1895 teve também o texto sobre as críticas feitas ao escrito da neurose de angústia e o texto sobre a Sexualidade na Etiologia das Neuroses publicado em 1898 Já a segunda teoria a da angústia sinal afirma que a angústia se refere a um sinal deflagrado em situações de perigo funcionando como um dispositivo do Eu para o enfrentamento antecipado das emergências pulsionais oriundas do Isso por meio da produção de uma dose moderada de desprazer que prepara o sujeito para a tarefa do recalque a partir do princípio do prazer Nesse sentido a discussão freudiana sobre a ansiedade aconteceu em dois momentos de sua obra na primeira e na segunda tópicas SIMONETTI 2011 FREUD 19162014 Em sua primeira teoria ele se referiu então a uma neurose de angústia cuja etiologia estaria situada no acúmulo de tensão sexual não eliminada que diante da ausência ou insuficiência de elaboração psíquica dessa excitação sexual que estava localizada no corpo e fazia com que não houvesse a sua transformação em libido psíquica GOLDGRUB 2010 THEISEN 2015 Em suas palavras Não é possível a princípio discernir como a ansiedade surge da libido apenas podemos reconhecer que a libido está ausente e que a ansiedade está em seu lugar FREUD 19162014 p 404 Em outras palavras a primeira formulação freudiana concebia a ansiedade como resultante de uma retenção e consequente não descarga satisfação da libido A origem da ansiedade estava numa expectativa sexual não consumada ou não satisfatoriamente consumada essa libido se tornaria insatisfeita em decorrência da falta de objeto ou devido à ausência do prazer esperado GOLDGRUB 2010 THEISEN 2015 Freud 19162014 no texto a angústia de seu livro Conferências introdutórias à Psicanálise afirma que a ansiedade está relacionada à manifestação de um sofrimento psíquico na vida do sujeito resultante de uma confrontação interna e que é dela afinal que se queixa a maioria dos neuróticos que a caracterizam como seu padecimento mais terrível e a angústia pode realmente alcançar neles uma enorme intensidade e ter por consequência as medidas mais desvairadas FREUD 19162014 p 519 Além disso afirma que a ansiedade pode ser de dois tipos a ansiedade realística que pode estar ligada a distintos objetos e a ansiedade neurótica que não possui objeto e por isso é desconhecida Consequentemente A angústia realista nos parece bastante racional e compreensível diremos que é uma reação à percepção de um perigo externo ou seja de um dano esperado previsto está vinculada ao reflexo da fuga FREUD 19162014 p 521 Afirma ainda que em outras situações na ansiedade realista é justamente o maior saber do objeto ansiogênico que deixa o sujeito mais ansioso porque lhe permite antecipar o perigo A partir disso o autor faz uma retificação de que nem sempre a ansiedade realista é adequada pois a única conduta adequada perante a ameaça de um perigo seria com efeito avaliar calmamente as próprias forças em comparação com o tamanho da ameaça e então decidir que alternativa oferece maior perspectiva de um bom desfecho se a fuga a defesa ou mesmo o ataque FREUD 19162014 p 521522 Já na ansiedade neurótica Pessoas que sofrem desse tipo de angústia preveem sempre a concretização da possibilidade mais terrível interpretam todo acaso como sinal de alguma desgraça exploram toda incerteza no pior sentido Essa tendência a esperar desgraças é um traço de caráter de muitas pessoas que em geral não poderíamos caracterizar como doentes são chamadas de muito angustiadas ou pessimistas FREUD 19162014 p 526 Freud 19162014 destaca ainda que o ato de nascimento por retirar o sujeito da segurança do útero materno e colocálo diante dos perigos da vida faz com que vivencie o que ele denominou afeto de angústia Theisen 2015 acrescenta que a primeira situação de perigo pela qual o ser humano passa é justamente no nascimento quando acontece a separação da mãe sendo considerada a primeira reação de perigo outro fator é a própria condição de dependência absoluta do bebê Esse afeto de angústia tende a se repetir em outras situações em que a ausência do objeto exigir uma resolução psíquica por parte do sujeito O ato de nascimento também provoca a interrupção da renovação do sangue respiração interna sendo então a primeira ansiedade vivenciada uma angústia tóxica O substantivo Angst angústia angustiae aperto em latim enfatiza o estreitamento da respiração presente então como consequência da situação real e hoje reproduzindo quase regularmente no afeto FREUD 19162014 p 524525 Segundo Goldgrub 2010 a segunda formulação freudiana da ansiedade que aconteceu na segunda tópica inverte a ordem dos fatores enquanto que na primeira a repressão e não o recalque é quem estaria na gênese da ansiedade agora a ansiedade é concebida como a causadora do recalque Essa mudança foi proveniente da própria experiência clínica de Freud quando ele passou a perceber que havia um antagonismo entre a ansiedade e o sintoma Essas mudanças são anunciadas oficialmente no texto Inibição Sintoma e Angústia FREUD 19262014 em que aprofunda um pouco mais a etiologia da ansiedade destacando que sua origem surge a partir do recalque e que o Eu é o lugar onde a ansiedade irá se fixar argumentando que podemos apegarnos com firmeza à ideia de que o ego é a sede real da ansiedade p 96 Consequentemente O determinante fundamental da ansiedade automática é a ocorrência de uma situação traumática e a essência disto é uma experiência de desamparo por parte do ego face de um acúmulo de excitação quer de origem externa quer interna com que não se pode lidar FREUD 19262014 p 85 Posteriormente no seu texto Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise FREUD 19332010 afirma que quando a ansiedade ultrapassa um certo limite acaba dando lugar ao sintoma Além disso caso a estabilidade do sintoma seja ameaçada e isso acontece quando o sujeito decide enfrentálo por exemplo através de um processo analítico ou de uma psicoterapia a ansiedade voltará a se manifestar GOLDGRUB 2014 Em suas palavras parece com efeito que a geração da ansiedade é o que surgiu primeiro e a formação dos sintomas o que veio depois como se os sintomas fossem criados a fim de evitar a irrupção do estado de ansiedade FREUD 19332010 p 106 Goldgrub 2010 afirma que a segunda teoria freudiana da ansiedade vai trazer a neurose de defesa uma categoria clínica distinta da neurose atual Nesta última ocorria uma repressão em decorrência da intolerância da civilização com a sexualidade Já a neurose de defesa era originada na infância do sujeito decorrente da divisão do psiquismo Dessa forma Freud reinterpreta a sua compreensão da ansiedade a partir da sua compreensão sobre o processo de constituição do sujeito desenvolvimento psicossexual e das instâncias psíquicas da sua segunda tópica Isso Eu e Supereu Theisen 2015 corroborando com o autor acima acrescenta que em sua segunda teoria Freud diz que a ansiedade vem sinalizar um perigo do qual o sujeito não consegue identificar e essa reação diante do perigo como acontece em um ataque de pânico tem relação com a reativação de uma situação traumática que o sujeito vivenciou que se atualiza através de uma forte carga afetiva Essas situações passadas se referem tanto ao momento do nascimento como já foi discutido anteriormente e colocam em cena o temor da perda do objeto seja ele materno ou de amor deixando o sujeito exposto à experiência da castração e da morte Também ressalta que não podemos perder de vista que a segunda teoria da ansiedade elaborada por Freud não substitui a primeira Ao contrário disso as duas concepções de ansiedade marcam uma distinção dos momentos da elaboração psicanalítica deste conceito Dessa forma Freud 19162014 p 521 afirma que Seja como for é certo que o problema da angústia configura um ponto nodal para o qual convergem questões as mais diversas e importantes um enigma cuja solução haverá de lançar luz abundante sobre o conjunto de nossa vida psíquica A seguir abordaremos um dos pontos nodais da atualidade a ansiedade no contexto acadêmico ANSIEDADE NO CONTEXTO ACADÊMICO REFLEXÕES PSICANALÍTICAS Apresentaremos aqui uma breve discussão sobre a ansiedade no contexto acadêmico Ressaltamos todavia que não faremos uma exposição exaustiva sobre o assunto tendo em vista não ser possível devido a limitação da quantidade máxima de laudas deste texto e nem ser este o nosso intuito Nesse sentido retomamos aqui o objetivo deste artigo que é apresentar uma leitura psicanalítica sobre a ansiedade no contexto acadêmico objetivando respondêlo De acordo com Soares Monteiro e Santos 2020 o ingresso na universidade coloca o sujeito diante de situações novas e consequentemente desconhecidas trazendo consigo uma série de desafios requerendo responsabilidade e autonomia perante o seu desempenho acadêmico Tal contexto pode favorecer dentre outras coisas o desenvolvimento de quadros ansiosos pois lidar com as incertezas da vida acadêmica tem sido algo desafiador na atual cultura do imediatismo Segundo Theisen 2015 o sujeito contemporâneo tem sido obrigado a cumprir prazos e datas e a apresentar resultados em um tempo que tem sido cada vez mais escasso para dar conta de tantas tarefas Soares Monteiro e Santos 2020 complementam que o aumento da ansiedade em universitários está relacionado também à cobrança excessiva da universidade bem como os desafios encontrados no ambiente que somada às pressões dos ambientes familiar eou de trabalho acaba interferindo na saúde mental dos estudantes que acabam não conseguindo encontrar significados para os seus significantes e prejudicando seu desempenho acadêmico A partir do momento em que o jovem ingressa na universidade é possível que conflitos psíquicos que até então estavam adormecidos se manifestem das mais variadas formas sendo uma das mais comuns a ansiedade Outro fator que corrobora para isso é o fato de a maior parte dos universitários estarem atravessando o período de transição da adolescência para a vida adulta caracterizado por uma série de mudanças e cobranças que incluem comumente morar longe da família ter que administrar os gastos financeiros da faculdade e do novo lar etc SOARES MONTEIRO SANTOS 2020 Dias 2019 acrescenta que o adolescente ao se deparar com esse excesso de cobranças que lhe são impostas pelo Outro costuma vivenciar uma devastação dilacerante ao ter a sua imagem como sujeito diante dos desejos e anseios do Outro que acabam por inibilo Nesse sentido Lacan 196219632005 agrega que na adolescência acontece uma inibição na vertente do movimento a ponto de configurar um embaraço onde A efusão é a perturbação o perturbase como tal o perturbarse mais profundo na dimensão do movimento O embaraço é o máximo da dificuldade atingida LACAN 19621963 p 22 Para Lacan 196219632005 esse embaraço e inibição acontecem porque a adolescência é um período que requer do sujeito um trabalho psíquico muito intenso por meio do questionamento do complexo de castração em que a imagem do seu corpo seja reconstruída corroborando para que se sinta fragilizado na representação de seu eu Dias 2019 acrescenta que ao depararse com esse conjunto de condicionantes que são vividos de forma singular por cada um esses adolescentes inibidosembaraçados acabam tendo uma relação de desconforto com outros sujeitos e grupos e desenvolvem sintomas diversos dentre eles os quadros ansiosos Nesse sentido Soares Monteiro e Santos 2020 destacam que uma vez que a ansiedade ultrapassa o limite do suportável se tornando patológica pode interferir nas atividades diárias dos universitários elevando o seu nível de estresse podendo repercutir em seu desempenho acadêmico tendo em vista que o malestar do seu dia a dia interfere diretamente na qualidade de seus estudos Theisen 2015 agrega que apesar de ser comum vivenciarmos a ansiedade em nosso dia a dia esta se torna mais elevada em situações de pressão como por exemplo na realização de uma prova e ou outras situações em que se percebem sendo avaliados Souza et al 2018 destacam que no decorrer da graduação é comum que o estudante sinta ansiedade diante da progressão que o curso apresenta perante as diversas disciplinas que cujos conteúdos são complexos atividades avaliativas estágios problemas pessoais etc Outro fator que corrobora para o aumento da ansiedade é a frustração das expectativas geradas no início do curso ao se deparar com uma realidade desconhecida e com os impasses da formação o sujeito percebe que aquilo que idealizou não corresponde necessariamente com a realidade Já Henriques 2017 diz que a cultura do imediatismo presente na sociedade atual promove uma pressão sobre as pessoas especialmente os adolescentes para a obtenção precoce de sucesso em diversas áreas da vida especialmente nas finanças academicamente e profissionalmente nas relações interpessoais e amorosas etc Eles são convocados a responder a todas essas cobranças e na tentativa de lidar com o sofrimento advindo dessas imposições acabam adoecendo Na opinião da autora os jovens têm estado cada vez mais ansiosos em decorrência de suas dificuldades de lidar com todas essas demandas Nesse sentido os jovens e adolescentes ao sofrerem uma suspensão do seu lugar previamente estabelecido na infância estão mais suscetíveis às ressignificações sociais Consequentemente os conflitos e angústias que eles enfrentam são indissociáveis da sociedade e cultura da qual fazem parte pois As manifestações do sujeito adolescente estão em sintonia com os traços de sua sociedade e esta por sua vez imprime a marca de suas contradições em sua subjetividade em revolução GEA 2013 p 19 Além disso Silva 2019 chama a atenção para o fato de que a ansiedade aparece nos alunos de diferentes formas tendo em vista que a forma como cada sujeito a vivencia é singular Um dos fatores que confirmam essa singularidade é a maneira como cada estudante percebe e recebe as demandas universitárias bem como a forma em que essas são passadas para eles pelos professores Já Theisen 2015 acrescenta que a ansiedade é compreendida pela Psicanálise como um sintoma da atualidade reflexo de uma sociedade que exige cada vez mais respostas imediatas e urgentes e acaba corroborando em sofrimento e adoecimento psíquico sendo a ansiedade e seus sintomas um dos que mais se sobressaem Logo é importante não perdermos de vista que a ansiedade como todo sintoma social caracterizase por uma organização sobre uma forma discursiva que nos dias atuais é responsável por produzir laço social Consequentemente a Psicanálise nos auxilia compreendermos que a ansiedade a partir de uma perspectiva não psicologizante não patologizante e não medicalizadora reconhecendo que ela se inscreve de forma imponente na cultura e se aloja na vida do sujeito pois está estruturado em seu inconsciente desde seu nascimento sendo assim todos os sujeitos passam pela experiência de vivenciar um sintoma social THEISEN 2015 p 20 Demantova 2020 também nos ajuda nessa leitura crítica da ansiedade como um sintoma social ao destacar a presença de uma cultura do bemestar Nela todos precisam estar em equilibrados e adaptados a todas as circunstâncias ao mesmo tempo em que não se dá espaço para que possam sentir e muito menos falar sobre suas tristezas e angústias É a ilusão de que tudo é possível e de que a satisfação plena pode ser alcançada Corroborando com a autora acima Gea 2013 acrescenta que os adolescentes ao se depararem com o atual contexto históricocultural caótico e incerto que os exclui do mercado de trabalho negandolhes oportunidades acabam desenvolvendo quadros de ansiedade diante das dificuldades de lidar com suas questões Outros fatores que contribuem para isso são a inédita fabricação de artefatos medicamentos e publicações destinados à majoração de uma saúde padronizada p 15 Diante disso destacamos aqui a importância de atentarmos também para a dimensão psicossocial da ansiedade pois o enfoque biomédico predominante ao privilegiar apenas os seus aspectos individuais acaba contribuindo para a culpabilização desses sujeitos pelo seu sofrimento psíquico favorecendo a disseminação de estereótipos estigmas e preconceitos que além de dificultar a busca de ajuda coloca esses jovens à margem da sociedade por isso Rodrigues 2018 diz que Eles consideram as regras da sociedade cruéis e apresentam dificuldades em lidar com o mundo externo muitas vezes visto como segregador p 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS Logo sendo a ansiedade um sintoma cuja incidência tem se elevado na atualidade impactando em diversas áreas da vida dos sujeitos dentre elas a acadêmica apresentamos aqui uma leitura psicanalítica onde compreendemos a ansiedade como um sintoma social reflexo de uma sociedade que exige cada vez mais respostas imediatas e urgentes e que acaba promovendo em sofrimento e adoecimento psíquico dos universitários Dessa forma apresentamos aqui uma abordagem crítica deste fenômeno como uma alternativa ao predominante modelo biomédico indo além dos seus aspectos individuais e abrangendo também os seus psicossociais A partir destes pressupostos acreditamos que será possível uma compreensão da ansiedade a partir de uma perspectiva não psicologizante não patologizante e não medicalizadora e favorecer a proposição de políticas públicas e de intervenções de caráter preventivo que promovam o bemestar e saúde mental dos sujeitos nas universidades REFERÊNCIAS DEMANTOVA A G Automutilação na adolescência corpo atacado corpo marcado Curitiba Editora CRV 2020 DIAS I M S Cutting a automutilação em perspectiva lacaniana 2019 74 f Dissertação Mestrado em Psicanálise Programa de PósGraduação em Psicanálise Saúde e Sociedade Universidade Veiga de Almeida Rio de Janeiro 2019 Disponível em httpswwwuvabrsitesdefaultfilescuttingaautomutilacaoemperspectivalacanianai nesmendoncadossantosdiaspdf Acesso em 08 Jul 2021 FERRARI I F A Psicanálise no mundo da informática e dos gráficos In FERREIRA T VORCARO A Orgs Pesquisa e psicanálise do campo à escrita Belo Horizonte Autêntica 2018 p 7995 FREUD S O Malestar na civilização novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos 19301936 São Paulo Companhia das letras 2010 Obras Completas vol 18 FREUD S Conferências introdutórias à psicanálise 19161917 São Paulo Companhia das letras 2014 Obras Completas vol 13 FREUD S Inibição sintoma e angústia o futuro de uma ilusão e outros textos 1926 1929 São Paulo Companhia das letras 2014 p 13123 Obras Completas vol 17 FREUD S Análise Terminável e interminável 1937 In FREUD S Moisés e o monoteísmo compêndio de psicanálise e outros textos 19371939 São Paulo Companhia das Letras 2018 p 274326 Obras Completas v 19 GEA M R Corpos marcados adolescência e ideais na contemporaneidade 2013 85 f Dissertação Mestrado em Psicologia Programa de PósGraduação em Psicologia Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo São Paulo 2013 Disponível em httpswwwtesesuspbrtesesdisponiveis4747134tde30072013 095819publicoGeamepdf Acesso em 15 Maio 2021 GOLDGRUB F As teorias da ansiedade e das pulsões em Freud Revista Psicologia São Paulo v 19 n 1 sm 2010 p 1132 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphppsicorevistaarticle52253759 Acesso em 20 Jul 2021 HENRIQUES R L S P A Automutilação nas políticas públicas de saúde mental um olhar através do biopoder e sociedade disciplinar foucaultiana Pretextos Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas Minas Gerais v 3 n 6 Dez 2018 p 172189 Disponível em httpperiodicospucminasbrindexphppretextosarticle16023 Acesso em 08 Jul 2021 LACAN J O Seminário livro 10 A Angústia 19621963 Rio de Janeiro Zahar 2005 LACAN J O Seminário livro 11 Os Quatro conceitos fundamentais da psicanálise 1964 2ª ed Rio de Janeiro Zahar 2008 LACAN J O Seminário livro 17 O Avesso da psicanálise 19691970 Rio de Janeiro Zahar 1992 RODRIGUES P P Gritos silenciosos quando as impossibilidades de simbolização de conflitos retornam ao corpo automutilação na adolescência 2018 31 f Monografia Especialização em Saúde do Adolescente Faculdade de Medicina Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2018 Disponível em httpsrepositorioufmgbrbitstream1843BUBDAYVFK71tccprontopsbancapalom arodriguespdf Acesso em 19 Mar 2021 SCHERER L C B CARNEIRO C Malestar na escola e a aposta docente encontros e desencontros In VOLTOLINI R GURSKI R Orgs Retratos da pesquisa em psicanálise e educação São Paulo Contracorrente 2020 p 133148 Col Educação Psicanálise vol 2 SIMONETTI A A Angústia e a ansiedade na psicopatologia fundamental 2011 165 f Dissertação Mestrado em Psicologia Clínica Laboratório de Psicopatologia Fundamental Pontífica Universidade Católica de São Paulo São Paulo 2011 Disponível em httpstede2pucspbrhandlehandle15010 Acesso em 20 Jul 2021 SILVA T A C A Ansiedade em estudantes universitários uma revisão bibliográfica à luz da Psicologia 2019 17f Monografia Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Psicologia Faculdade Leão Sampaio Juazeiro do NorteCE 2019 Disponível em httpsunileaoedubrrepositoriobiblitccTHIALA20ALVES20DA20COSTA20SIL VApdf Acesso em 26 Jul 2021 SOARES A MONTEIRO M SANTOS Z Revisão sistemática da literatura sobre ansiedade em estudantes do ensino superior Contextos Clínicos NiteróiRJ v 13 n 3 Dez 2020 p 9921012 Disponível em httprevistasunisinosbrindexphpcontextosclinicosarticleviewctc202013313 Acesso em 26 Jul 2021 DOI 104013ctc202013313 SOUZA J F SILVA A S NÓBREGA A C S AZEVEDO R L W Depressão e ansiedade no ambiente acadêmico uma revisão integrativa III CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Anais do III CONBRACIS Campina Grande Realize Editora 2018 Disponível em httpeditorarealizecombrartigovisualizar40944 Acesso em 26 Jul 2021 THEISEN C Ansiedade sintoma social contemporâneo 2015 45 f Monografia Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia Departamento de Humanidade e Educação Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Santa RosaRS 2015 Disponível em httpsbibliodigitalunijuiedubr8443xmluihandle1234567893309 Acesso em 19 Jul 2021