·
Farmácia ·
Farmacologia
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
6
Diretrizes para Atividade Obrigatória de Estágio em Atividades Farmacêuticas
Farmacologia
UNIP
85
Perfil das Professoras e Colaboradores em Farmacotécnica
Farmacologia
UNIP
9
Desafios ao controle da qualidade de medicamentos no Brasil
Farmacologia
UNIP
72
Serviços de Farmácia e Saúde Pública: Currículo dos Professores
Farmacologia
UNIP
45
Cuidados Farmacêuticos e Seguimento Farmacoterapêutico: Métodos e Práticas na Farmácia Clínica
Farmacologia
UNIP
38
Manual de Atividades Avaliativas da Disciplina Introdução em Ciências Farmacêuticas
Farmacologia
UNIP
30
Cálculos em Farmacotécnica: Fundamentos e Aplicações
Farmacologia
UNIP
50
Interpretação Laboratorial na Clínica Farmacêutica
Farmacologia
UNIP
74
Controle de Qualidade de Matérias-Primas: Ensaios de Identificação, Pureza e Doseamento
Farmacologia
UNIP
76
Farmacotécnica: Fundamentos e Práticas
Farmacologia
UNIP
Texto de pré-visualização
86 Unidade II Unidade II 5 POMADAS CREMES PASTAS E GÉIS Neste primeiro capítulo da unidade II serão estudadas formas farmacêuticas de aplicação tópica na pele em mucosas do corpo Ainda que cremes pastas e géis possam ser vistos como tipos de pomada por alguns autores nós estudaremos cada uma dessas formas farmacêuticas separadamente para que seja possível compreender adequadamente suas particularidades 51 Pomadas As pomadas constituemse em preparações semissólidas de consistência mole destinadas ao uso na pele e em mucosas o qual consiste em solução ou dispersão de um ou mais princípios ativos em baixas proporções em uma base adequada usualmente não aquosa ANVISA 2012 Geralmente são preparações semissólidas que não escoam nem fluem sob baixo estresse de cisalhamento à temperatura ambiente THOMPSON 2015 e que adicionalmente podem ser classificadas como sistemas reológicos plásticos que amolecem quando aplicadas sobre a pele ou fundemse com a temperatura corporal eou com a força de aplicação com esforço mecânico Devem ser espalhadas com facilidade e ser lisas sem sinais de granulações aderindo ao local de aplicação FERREIRA 2006 As pomadas podem ser medicamentosas ou não ou seja usualmente contêm fármaco mas nem sempre Pomadas não medicamentosas são usadas pelas características físicas que fornecem como protetoras emolientes ou lubrificantes Pomadas são preparações farmacêuticas que podem proteger a pele ou as mucosas contra produtos químicos ou físicos irritantes no ambiente permitem o rejuvenescimento do tecido promovem a hidratação da pele ou um efeito emoliente fornecem um veículo adequado para aplicação de um medicamento para efeito local ou sistêmico Existem diferentes tipos de base de pomadas que discutiremos a seguir porém a escolha de uma base depende de fatores como ação local ou sistêmica área de aplicação se é desejável a oclusão da umidade da pele e a natureza do fármaco que será incorporado Em relação ao fármaco devemos considerar sua biodisponibilidade a velocidade de liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica a estabilidade a influência do fármaco sobre a consistência e outras propriedades da base e a compatibilidade do fármaco com a base selecionada 87 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Usualmente os constituintes das pomadas são os ativos farmacêuticos os excipientes para o preparo de pomadas os antioxidantes que ajudam a prevenir a oxidação das matériasprimas hidrofóbicas e os conservantes 511 Vias de administração As pomadas podem ser aplicadas por diversas vias de administração Entre elas podemos citar cutânea vaginal retal oftálmica oral 512 Classificação As pomadas podem ser classificadas de acordo com sua ação terapêutica ou de acordo com os excipientes que as compõem 5121 De acordo com a ação terapêutica Conforme o efeito terapêutico desempenhado as pomadas podem ser classificadas como indicado a seguir Epidérmicas Pomadas epidérmicas têm ação superficial permitindo pouquíssima ou nenhuma absorção São exemplos de pomadas com absorção epidérmica aquelas que contêm substâncias insolúveis como calamina óxido de zinco etc Endodérmicas São classificadas como endodérmicas as pomadas que permitem que o fármaco atravesse as camadas da pele chegando até a derme Assim como as pomadas epidérmicas as endodérmicas têm a pele como órgãoalvo Salicilato de metila cânfora mentol entre outros são exemplos de substâncias capazes de proporcionar absorção até a derme Diadérmicas As pomadas diadérmicas promovem absorção percutânea permitindo que o fármaco atinja a corrente sanguínea e proporcione efeito sistêmico As características da base escolhida e principalmente as 88 Unidade II características físicoquímicas do fármaco como tamanho de partícula dose coeficiente de partição são determinantes para proporcionar efeito sistêmico por isso esse tipo de pomada representa a minoria dos produtos encontrados Exemplo pomada de nitroglicerina pomada de mirtazapina A figura a seguir é uma representação esquemática da absorção desses três tipos de pomada nas camadas da pele Diadérmicas Endodérmicas Estrato córneo Epiderme Derme Hipoderme Epidérmicas Figura 40 Tipos de pomadas e camada de atuação na pele Adaptada de httpsbitly3pASpK7 Acesso em 7 dez 2021 5122 De acordo com os excipientes As bases de pomada são geralmente classificadas em quatro grupos bases oleaginosas bases de absorção bases removíveis em água bases solúveis em água Vejamos a seguir cada um dos tipos de bases de pomada Bases oleaginosas As bases oleaginosas também são denominadas bases de hidrocarbonetos Essas pomadas hidrofóbicas têm alto teor de componentes gordurosos de origem animal ou mineral não absorvem ou só podem absorver pequenas quantidades de água ESPERIDIÃO LESSA SOBRINHO 2004 Apresentam efeito emoliente além de proteger contra a perda de umidade pois são oclusivas Dessa forma podem permanecer na pele por longos períodos sem ressecar devido à característica hidrofóbica são difíceis de lavar 89 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Figura 41 Pomada de base oleaginosahidrofóbica Veremos em seguida alguns exemplos de excipiente comumente utilizados no preparo de pomadas oleaginosas Petrolato ou vaselina Petrolato é uma mistura purificada de hidrocarbonetos semissólidos obtidos do petróleo também conhecido como petrolato amarelo ou vaselina A vaselina é untuosa e inodora sua coloração geralmente é amarelada porém pode variar de branca a amarela dependendo da purificação Seu ponto de fusão está entre 38 e 60 ºC sendo ela inerte com poucas incompatibilidades É geralmente estável a não ser na presença de impurezas e uma vez que é lipofílica pode oxidar apresentando modificações na cor e odor FERREIRA 2008 Petrolato branco ou vaselina branca é uma mistura purificada de hidrocarbonetos semissólidos do petróleo que foi totalmente ou quase descolorado A finalidade é a mesma do petrolato mas devido à sua cor mais clara é considerado mais esteticamente agradável Vaselina líquida A vaselina líquida também chamada de óleo mineral é uma mistura de hidrocarbonetos saturados com cadeias carbônicas entre 16 e 50 carbonos É obtida por hidrogenação catalítica de óleos básicos minerais derivados do petróleo É muito utilizada em preparações de uso tópico devido às suas propriedades emolientes 90 Unidade II Parafina Assim como o petrolato vaselina a parafina é uma mistura de hidrocarbonetos por isso é chamada também de hidrocarbonetos parafínicos ou cera parafínica ou ainda vaselina sólida Apresenta uma viscosidade maior que o petrolato O quadro a seguir sumariza os diferentes tipos de petrolato Quadro 4 Comparação entre os diferentes tipos de vaselina Tipos Sinônimos Aspecto Petrolato Vaselina Amarelo semissólido Petrolato branco Vaselina vaselina branca Branco semissólido Vaselina líquida Óleo mineral leve Incolor líquido Parafina Cera de parafina vaselina sólida Branco sólido Cera de abelhas A cera de abelhas é obtida do favo de mel de abelhas da espécie Apis mellifera Apresenta coloração amarela e por isso também é chamada de cera amarela A cera branca é obtida pela purificação e branqueamento da cera amarela A farmacopeia americana USP 2012 apresenta duas pomadas com base nesses dois tipos de cera pomada amarela e pomada branca A pomada amarela é constituída por cera amarela 5 e petrolato 95 enquanto a pomada branca apresenta como composição cera branca e vaselina branca Bases de absorção As pomadas do tipo base de absorção são compostas por uma base oleosa excipientes lipossolúveis e tensoativos AO Recebem esse nome pois apesar de não terem água em sua composição apresentam a capacidade de absorvêla devido à presença dos tensoativos Vejamos a seguir um exemplo de formulação de acordo com o Formulário nacional da farmacopeia brasileira ANVISA 2012 Formulação de pomada de base de absorção Colesterol 3 g Álcool estearílico 3 g Cera branca de abelha 8 g Petrolato branco qsp 100 g 91 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Bases de emulsão AO É um tipo de base removível em água Geralmente são chamadas de emulsivas e não são consideradas pomadas verdadeiras Podem conter petrolatos hidrofílicos os quais permitem a travessia pelas camadas da pele O cold cream também entra nessa classificação mesmo sendo uma emulsão AO Bases de emulsão OA Assim como as bases de emulsão AO são bases removíveis em água Bases hidrofílicas Essas bases são macroscopicamente turvas e não são oclusivas Podem ser preparadas a partir de polietilenoglicóis PEGs Sendo hidrofílicas possuem baixo poder de penetração na pele A seguir um exemplo de formulação de acordo com o Formulário nacional da farmacopeia brasileira ANVISA 2012 Formulação de pomada de base hidrofílica Polietilenoglicol 400 333 g Polietilenoglicol 4000 333 g Propilenoglicol 333 g Em suma existem vários tipos de base para pomadas as quais podem resumidas no quadro a seguir Quadro 5 Tipos de base de pomadas segundo o Formulário nacional da farmacopeia brasileira Tipo da base Características Constituintes principais Oleaginosas Constituemse de substâncias graxas Insolúveis em água não laváveis anidras emolientes oclusivas e gordurosas Petrolato branco petrolato líquido cera branca De absorção anidra São bases de hidrocarbonetos e emulsificantes que formam emulsões AO quando se adiciona água Insolúveis em água não laváveis anidras emolientes oclusivas e gordurosas Podem absorver água Lanolina mistura de colesterol álcool estearílico cera branca de abelha e vaselina Mistura de vaselina e sesquioleato de sorbitano De absorção emulsiva AO São bases emulsivas que contêm água Insolúveis em água não laváveis anidras emolientes oclusivas e gordurosas Podem absorver água pouco Cold cream Laváveis emulsivas emulsões OA Também denominadas de cremes Solúveis em água laváveis contêm água não oclusivas e não gordurosas Podem absorver água Ceras autoemulsionantes Solúveis em água Constituídas geralmente por polietilenoglicois Solúveis em água laváveis contêm água emolientes não oclusivas e não gordurosas Podem conter ou absorver água Polietilenoglicóis Fonte Anvisa 2012 p 39 92 Unidade II 513 Obtenção As pomadas podem ser obtidas por dois métodos gerais sendo eles incorporação ou fusão a quente ou a frio dependendo dos componentes utilizados Pelo método de incorporação não há necessidade de aquecimento apenas mistura até a obtenção de formulação uniforme LOYD NICHOLAS HOWARD 2013 Quando as substâncias em pó devem ser incorporadas em bases de hidrocarbonetos petrolato líquido óleo mineral pode ser usado como agente de levigação A levigação é um processo de redução de tamanho de partícula de um sólido por trituração com uma pequena quantidade de um líquido ou base fundida na qual o sólido não é solúvel Observação O líquido chamado de agente de levigação deve apresentar viscosidade razoável e baixa tensão superficial e ser capaz de melhorar a molhabilidade de um sólido THOMPSON 2015 Como exemplos de agentes de levigação podemos citar glicerina propilenoglicol polietilenoglicóis líquidos óleo mineral etc Em geral é mais vantajosa a preparação sem a necessidade de aquecimento pois dessa forma preservamse os princípios ativos de degradação e podem fornecer melhor espalhabilidade BORELLA et al 2010 PAMAR et al 2009 A técnica a frio é empregada quando há veículos líquidos e pastosos Após a pesagem dos componentes é feita a solubilização dos pós em agente levigante apropriado e compatível com a formulação ou em algum componente líquido já presente na formulação Os componentes são misturados em gral com o auxílio de pistilo ou com placa de vidro e espátula para pomada As pomadas podem ser preparadas a quente ou a frio sendo mais comum a técnica por fusão como mostra o esquema seguir Adição de fármacos ou outros componentes Homogeneização Resfriamento Fusão dos componentes da formulação Envase Figura 42 Representação esquemática do processo de preparo de pomadas a quente 93 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Em se tratando de produção industrial de pomadas a qualidade das preparações é garantida pela combinação de composição e tecnologia otimizadas condições adequadas de produção e linhas de produção fechadas como podemos observar na figura a seguir Unidade de aquecimento para componentes da pomada Unidade de aquecimento para fase aquosa Unidade de mistura Unidade de armazenamento do produto final Unidade de monitoramento e controle Figura 43 Linha de produção automatizada para produção de pomadas e cremes Adaptada de Dévay 2013 Os misturadores planetários são equipamentos utilizados para a mistura mecânica se os ingredientes ou combinações de excipientes fundidos precisarem de resfriamento lento e constante Esses misturadores são muito eficazes em manter o resfriamento cada vez mais viscosos e portanto homogêneos de substâncias mais resistentes com resfriamento uniforme Após o preparo o produto pode ser acondicionado em material apropriado e rotulado 514 Acondicionamento As pomadas são normalmente acondicionadas em frascos de boca larga ou em tubos de metal ou plástico próxima figura Os recipientes devem ser bem fechados para que haja a proteção de possíveis contaminações e mantidos em local fresco para que se evite a separação do produto em decorrência do calor Quando necessário produtos farmacêuticos semissólidos fotossensíveis são acondicionados em frascos opacos ou resistentes à luz Figura 44 Bisnaga para acondicionamento de pomadas Disponível em httpsbitly2ZBAqtY Acesso em 30 nov 2021 94 Unidade II Existem máquinas para carregar grandes quantidades de pomada ou creme que preenchem quantidades préprogramadas próxima figura A B Figura 45 Enchedores de tubos de pomadas A enchedor para pequena escala B enchedor industrial Fonte Dévay 2013 p 199200 515 Requisitos de qualidade Entre os requisitos de qualidade são avaliados carga microbiana e conteúdo mínimo Discutiremos ambos a seguir 5151 Carga microbiana As preparações tópicas não precisam cumprir requisitos de esterilidade com exceção das pomadas oftálmicas Ainda assim elas devem apresentar padrões aceitáveis de carga microbiana uma vez que devemos atentar que essas formulações são propensas ao crescimento de microrganismos e portanto devem conter um sistema conservante apropriado 5152 Conteúdo mínimo O conteúdo mínimo consiste na determinação da massa ou do volume do produto contido na embalagem a fim de garantir que a quantidade seja equivalente àquela declarada no rótulo Além disso é necessário avaliar a viscosidade e a liberação in vitro para assegurar a uniformidade intra e interlotes Esses estudos de liberação incluem estudos com células de difusão para a determinação de liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica 95 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 52 Cremes Cremes são formas farmacêuticas semissólidas em que a fase oleosa está dispersa na fase aquosa ou viceversa ou seja cremes são considerados emulsões OA ou AO sendo o seu diferencial a elevada viscosidade Podemos observar na figura a seguir a consistência semissólida de um creme Figura 46 Aspecto de um creme Desse modo um creme OA também pode ser chamado de base de emulsão OA e um creme AO pode ser designado por base de emulsão AO Cremes são preparações elegantes do ponto de vista farmacotécnico pois apresentam aspecto atraente sensorial agradável fácil administração e espalhabilidade e fácil remoção com água Além dos componentes usuais de uma emulsão apresentados anteriormente os cremes apresentam ainda agentes de consistência e muitas vezes emolientes 521 Agentes de consistência Agentes de consistência ou espessantes são substâncias capazes de aumentar a viscosidade de uma emulsão Uma vez que os cremes apresentam essa característica fundamental os doadores de viscosidade tornamse elementos fundamentais no preparo É possível aumentar a viscosidade da fase aquosa eou da fase oleosa utilizando adjuvantes com afinidade para cada uma das fases 5211 Doadores de viscosidade hidrofílicos Os espessantes hidrofílicos mais utilizados para o preparo de cremes são os agentes gelificantes como as gomas derivados da celulose ácidos carboxivinílicos carbômero entre outros 96 Unidade II Observação Para entender mais sobre agentes gelificantes você pode consultar o item 54 deste capítulo 5212 Doadores de viscosidade lipofílicos Os espessantes lipofílicos fazem parte da fase oleosa do creme e proporcionam emoliência além de viscosidade Entre os doadores de viscosidade mais utilizados podemos citar os indicados a seguir Álcoois graxos Os álcoois graxos possuem cadeia geralmente de 6 a 22 carbonos São monoálcoois de cadeia longa de elevada massa molar Os mais utilizados são Álcool cetílico Contém cadeia carbônica com 16 átomos H3C OH Figura 47 Fórmula estrutural do álcool cetílico Álcool estearílico É um álcool graxo saturado de 18 átomos de carbono H3C OH 16 Figura 48 Estrutura química do álcool estearílico Álcool cetoestearílico Esse álcool graxo é uma combinação dos álcoois cetílico e estearílico Contém cerca de 65 a 80 de álcool estearílico e 20 a 35 de álcool cetílico Outros álcoois com cadeias longas e curtas também podem fazer parte dessa composição em menor concentração Álcool berrênico 22 C 7080 Apresenta cadeia de 22 carbonos menor viscosidade menor consistência maior opacidade que o cetoestearílico 97 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL OH O Figura 49 Fórmula estrutural do álcool berrênico Ácidos graxos Os ácidos graxos são compostos orgânicos que possuem apenas um grupo carboxila em uma de suas extremidades são monocarboxílicos de cadeias abertas longas com 4 a 22 átomos de carbono geralmente um número par que podem ser saturadas ou insaturadas As cadeias saturadas maiores são utilizadas como espessantes no preparo de cremes tabela a seguir Tabela 13 Ácidos graxos mais utilizados Nome comum IUPAC Número de carbonos Palmítico Ácido hexadecanoico 16 Esteárico Ácido octadecanoico 18 Berrênico Ácido docosanoico 22 A seguir podemos observar a estrutura química desses três ácidos graxos OH H3C O Figura 50 Estrutura química do ácido palmítico HO H3C O Figura 51 Estrutura química do ácido esteárico HO 18 H3C O Figura 52 Estrutura química do ácido berrênico Ésteres de ácidos graxos com álcoois graxos São obtidos através de reação química entre um ácido graxo e um álcool graxo A figura a seguir demonstra a reação de obtenção do palmitato de cetila um excelente doador de viscosidade 98 Unidade II OH OH O O O H H O Ácido palmítico Álcool cetílico Catalisador Palmitato de cetila Água Figura 53 Reação de esterificação para a formação do palmitato de cetila Adaptada de Mutlu e Yilmaz 2016 O palmitato de cetila pode ser encontrado na forma natural ou pode ser produzido sinteticamente Quando sintetizado será obtido da reação de esterificação do álcool cetílico C16H34O com o ácido palmítico C16H32O2 sendo assim constituída de 32 carbonos C32H64O2 Na natureza essa substância é encontrada no espermacete de baleia mais precisamente na cavidade cranial de baleias cachalote Physeter macrocephalus É possível obter de uma baleia mais de 200 kg de espermacete 522 Emolientes Emolientes são substâncias oleosas que favorecem a espalhabilidade dos cremes sobre a pele Vejamos alguns exemplos de classificação de acordo com a estrutura química Hidrocarbonetos Exemplo óleo mineral Óleos e gorduras animais e vegetais Álcoois graxos Ésteres de ácidos graxos e álcoois de cadeia curta e média Exemplo miristato de isopropila estearato de octila oleato de decila Ésteres de álcoois graxos e ácidos graxos de cadeia curta Exemplo heptanoato de estearila Ésteres graxos Exemplo éter dicaprílico Cetiol OE Silicones 523 Ceras autoemulsionantes Ceras autoemulsionantes são misturas comercializadas contendo ao menos emulsionante e doador de viscosidade lipofílico O agente emulsivo pode ser aniônico catiônico ou não iônico A seguir alguns exemplos de ceras autoemulsionantes disponíveis comercialmente e muito utilizadas para produção de cremes 99 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Lanette N álcool cetoestearílicocetilestearil sulfato de sódio aniônica Polawax álcool cetoestearílicomonoestearato de sorbitano etoxilado 20 OE não iônica Cosmowax álcool cetoestearílicoálcool cetoestearílico 20 OE não iônica Crodabase álcool cetoestearílico álcool cetoestearílico 20 OE óleo mineral álcool de lanolina e parafina não iônica com emolientes Observação OE é uma sigla para óxido de etileno e indica que álcool graxo ou ácido graxo sofreu um processo de etoxilação Essa parte da molécula é polar tornando a substância um agente emulsivo Quanto maior o grau de etoxilação mais hidrofílico será o emulsificante 53 Pastas Pastas são formas farmacêuticas semissólidas de uso externo para aplicação na pele cavidade oral ou membranas mucosas Pode ser considerada um tipo de pomada que apresenta como diferencial a presença de ao menos 25 de sólidos dispersos em sua composição ANVISA 2019 Devido à elevada concentração de partículas no estado sólido as pastas apresentam pouca ou nenhuma penetração na pele ou seja exercem efeito local Além disso a grande porcentagem de pós dispersos proporciona elevado poder secativo e torna as pastas uma forma de difícil remoção Como as pastas são rígidas elas não se espalham facilmente e portanto retêm o medicamento no local da aplicação Isso é particularmente importante se o fármaco for corrosivo como ditranol coaltar ou ácido salicílico É mais fácil aplicar uma pasta em uma área discreta da pele como uma lesão ou placa específica sem comprometer a integridade de uma pele saudável As pastas também são úteis para absorver produtos químicos prejudiciais como a amônia que é liberada pela ação bacteriana na urina portanto são frequentemente utilizadas em produtos para fraldas Além disso devido ao seu alto teor de pó são muito utilizadas para absorver exsudados de feridas Em termos reológicos uma pasta é um exemplo de um fluido plástico de Bingham ou seja em repouso apresentamse com elevada viscosidade e não escoam até que uma tensão inicial mínima seja aplicada 531 Classificação As pastas podem ser classificadas de acordo com os excipientes que as compõem como veremos a seguir 100 Unidade II 5311 Pastas hidrofílicas Nas pastas hidrofílicas os pós estão finamente dispersos em uma base hidrossolúvel como um hidrogel Ao contrário das pastas hidrofóbicas e devido à sua composição as pastas hidrofílicas atuam causando desidratação no local de aplicação A pasta dágua descrita a seguir é um exemplo de pomada hidrofílica ANVISA 2012 Pasta dágua Óxido de zinco 25 g Talco 25 g Glicerina 25 g Água de cal 25 g Observação Água de cal é uma suspensão de hidróxido de cálcio a 1 em água Analisando a fórmula da pasta dágua observamos a presença de 50 de pós insolúveis 25 de óxido de zinco e 25 de talco Glicerina e água constituem a base ou veículo hidrofílico Além da ação antisséptica e cicatrizante essa composição apresenta o efeito secativo característico das pastas hidrofílicas e por isso é utilizada em afecções vesiculares e na presença de exsudação A figura a seguir demonstra como é o aspecto da pasta dágua Figura 54 Foto ilustrativa da aparência de uma fórmula de pasta dágua Fonte Acofarma 2014 5312 Pastas hidrofóbicas Pastas hidrofóbicas são aquelas que contêm sólidos insolúveis dispersos em uma base oleosa Apresentam função de proteção e lubrificação 101 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Pasta de Lassar é um tipo de pasta de óxido de zinco hidrofóbica ANVISA 2012 como veremos a seguir Pasta de Lassar Óxido de zinco 25 g Amido 25 g Petrolato branco 50 g Na pasta de Lassar verificamos a presença de dois pós insolúveis óxido de zinco e amido os quais somam 50 da composição O petrolato branco apresenta a característica lipofílica necessária a esse tipo de pasta O produto é muito firme e é mais capaz de proteger a pele e absorver as secreções do que a pomada de óxido de zinco por isso é utilizado em dermatoses pruriginosas como antisséptico secativo e cicatrizante no tratamento de feridas e úlceras 5313 Pastas adesivas Pastas adesivas são preparações lipofílicas para aplicação em mucosas Contêm altas concentrações de hidrocoloides suspensos tais como éteres de celulose para manter contato com a superfície da mucosa úmida como a oral Assim que as partículas do agente gelificante na superfície da pasta entram em contato com a mucosa elas absorvem umidade e intumescem o que imediatamente leva a uma forte adesão da pasta na mucosa O fato de a base ser lipofílica previne a rápida erosão e desintegração da forma farmacêutica Um exemplo de pasta adesiva está descrito a seguir Pasta adesiva de triamcinolona Acetonido 01 Plastibase 60 Pectina 33 Gelatina 66 Carboximetilcelulose 30 Observação Plastibase é uma associação de óleo mineral e polietileno 955 Nessa pasta indicada para o tratamento de estomatite aftosa observamos a presença de três hidrocoloides pectina gelatina e carboximetilcelulose dispersos em uma base oleosa plastibase Em contato com a mucosa oral os hidrocoloides intumescem causando adesão da pasta e liberação lenta do corticoide 532 Métodos de preparo As pastas podem ser preparadas da mesma forma que as pomadas por mistura dos pós insolúveis nos veículos através do processo de levigação geralmente quando se trata de pastas hidrofílicas Para 102 Unidade II as pastas hidrofóbicas pode ser necessário fundir os excipientes previamente e essa base fundida pode ser utilizada como líquido de levigação Lembrete A levigação é comumente usada na preparação em pequena escala de pomadas e pastas para reduzir o tamanho de partícula dos pós adicionados É realizada triturandose os pós com uma pequena quantidade de líquido agente de levigação no qual o sólido não é solúvel Depois de pronta é conveniente que se submeta a pasta a um moinho o qual utiliza alta força de cisalhamento para reduzir o tamanho das partículas dispersar aglomerados e homogeneizar a forma farmacêutica A força de cisalhamento é criada por três rolos posicionados horizontalmente girando em direções opostas e em velocidades diferentes entre si figura 55 Todo o produto é puxado através da lacuna entre os rolos resultando em uma distribuição de tamanho de partícula precisa controlável e estreita O tamanho das partículas pode ser controlado de forma fácil e precisa ajustando as larguras dos espaços A B Figura 55 A Representação esquemática B foto ilustrativa do funcionamento de moinho de rolos na redução e homogeneização do tamanho de partículas de uma pasta Fonte A Exakt 2021 B Disponível em httpsbitly3xIt04L Acesso em 30 nov 2021 Saiba mais Você pode visualizar o funcionamento de um moinho de rolos assistindo ao vídeo a seguir Ointment Mill Three Roll Mill by Torrey Hills Technologies ThreeRollMills sl sd 1 vídeo 14 min Disponível em httpsbitly3o5MWLF Acesso em 30 nov 2021 103 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 54 Géis Gel ou geleia é uma forma farmacêutica semissólida constituída pela dispersão de partículas sólidas em um veículo líquido que adquire consistência Tratase de coloides ou sistemas coloidais em que pequenas partículas inorgânicas ou grandes moléculas orgânicas conhecidas como gelificantes são interpenetradas por um líquido e proporcionam viscosidade A fase contínua dispersante geralmente é aquosa mas também pode ser alcoólica ou oleosa Alguns géis são transparentes enquanto outros são turvos Isso depende de os sólidos estarem ou não completamente dispersos ou se formam agregados que dispersam a luz A concentração dos agentes gelificantes costuma ser menor que 10 geralmente na faixa de 05 a 20 sendo que concentrações maiores proporcionam maior viscosidade Várias categorias de fármacos tais como antibacterianos antifúngicos antivirais antipruriginosos anestésicos locais antiinflamatórios analgésicos queratolíticos adstringentes midriáticos podem ser incorporadas nessa forma farmacêutica Porém como outras formas semissólidas os géis podem ser isentos de fármacos e ser utilizados para promover proteção e lubrificação do local de aplicação 541 Vias de administração Os géis têm uma variedade de aplicações na administração de medicamentos por diversas vias e podem proporcionar efeito sistêmico ou local a maioria A seguir serão destacadas algumas vias de administração e exemplos de formulações de géis correlacionados a esses locais de aplicação 5411 Via cutânea A via cutânea geralmente é utilizada para obtenção de efeito local mas os géis conhecidos como transdérmicos podem causar efeito sistêmico Exemplo de gel de aplicação tópica Ibuprofeno 5 Álcool isopropílico 5 Hidroxietilcelulose 18 Hidróxido de sódio 1 Álcool benzílico 5 Água purificada qsp 100 5412 Via vaginal Os géis vaginais costumam ser utilizados para obtenção de efeito local Incluem fármacos antibióticos antifúngicos hidratantes 104 Unidade II Exemplo de gel vaginal Metronidazol 500 mg5 g CMC 2 Metilparabeno 018 Propilparabeno 002 Fosfato de sódio monobásico anidro qs Água purificada qsp 100 5413 Via oftálmica Géis oftálmicos costumam ser utilizados como lubrificantes ou umidificantes dessa região em situações como a síndrome do olho seco condição em que o indivíduo não consegue produzir a lubrificação necessária para os olhos e por isso sente desconforto No exemplo que segue verificamos que não há fármaco presente O próprio agente gelificante ácido acrílico exerce o efeito esperado de natureza física formando uma película na superfície do olho reduzindo a irritação mecânica causada pelo movimento das pálpebras Exemplo de gel oftálmico Ácido acrílico 2 mgg Cloreto de benzalcônio 001 Sorbitol 4 Hidróxido de sódio qs pH 7 Água estéril qsp 10 g Lembrete Assim como os medicamentos parenterais os oftálmicos devem ser estéreis 5414 Via nasal Géis para administração nasal não são muito comuns Geralmente incluem descongestionantes ou simplesmente hidróxido de sódio que atua como hidratante da mucosa para proporcionar efeito local Exemplo de gel nasal descongestionante Cloridrato de xilometazolina 1 Hipromelose 08 Sorbitol 3 Cloreto de sódio qs Cloreto de benzalcônio 2 Edetato dissódico Fosfato de sódio monobásico dihidratado e fosfato de sódio dibásico dodecaidratado qs pH 665 Água purificada qsp 10 105 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 5415 Via oral A administração de gel pela via oral não é usual No exemplo que segue o gel é fluido para facilitar a ingestão e apresenta efeito sistêmico para adequada ação do fármaco broncodilatador mucolítico expectorante Exemplo de gel oral Acebrofilina 5 mg Sorbitol 7 Glicerina 3 Hidroxietilcelulose 07 Metilparabeno 018 Propilparabeno 002 Aroma e edulcorante qs Corante qs Hidróxido de sódio ou ácido clorídrico qs Água purificada qsp 1 mL 5416 Via bucal As formulações de géis para via bucal incluem geralmente anestésicos antifúngicos cicatrizantes e substâncias que tratam aftas Exemplo de gel bucal para estomatite aftosa Ácido hialurônico 24 mg Carbômero 934 1 Carboximetilceluose sódica 3 Sorbato de potássio 01 Trietanolamina qs pH 6 Água purificada qsp 10 g O exemplo em questão contém ácido hialurônico um componente importante da matriz extracelular que pode ser encontrado em muitos tecidos No tratamento da estomatite aftosa o ácido hialurônico reduz rapidamente a dor e o desconforto causados pelas úlceras acelera o processo de cicatrização e reduz significativamente o risco de recorrência do distúrbio Também controla o processo inflamatório e reidrata os tecidos Além disso o gel de elevada viscosidade é mucoadesivo formando um filme protetor que aumenta o tempo de contato da formulação com a área afetada 5417 Retal Géis para via retal podem ser utilizados para obtenção de efeito local como aqueles que contêm substâncias para o tratamento de hemorroidas ou sistêmico como é o caso do gel de diazepam 106 Unidade II Exemplo de gel retal Diazepam 5 mgmL Hidroxipropilmetilcelulose 1 Álcool etílico 10 Propilenoglicol 3 Benzoato de sódio 05 Álcool benzílico 15 Trietanolamina qs pH 657 Água purificada qsp 100 542 Classificação dos géis Os géis podem ser classificados de várias maneiras conforme veremos a seguir 5421 De acordo com as características da fase líquida Conforme as características da fase líquida dispersante os géis podem ser classificados como indicado a seguir Oleosos ou lipofílicos ou organogéis Géis oleosos lipofílicos ou hidrofóbicos também designados por organogéis contêm como líquido dispersante uma ou mais substâncias hidrofóbicas associadas a um agente gelificante Exemplos comuns consistem em parafina líquida com polietileno associação conhecida como plastibase ou óleos gordurosos com sílica coloidal ou sabões de alumínio ou zinco A figura a seguir demonstra a aparência de um gel oleoso Figura 56 Aspecto de um gel lipofílicoorganogel Disponível em httpsbitly3lGKZnk Acesso em 6 dez 2021 107 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Observação Alguns autores usam a designação organogel hidrofílico para se referir às preparações que utilizam PEGs de elevado peso molecular na fase dispersante Aquosos ou hidrofílicos ou hidrogéis Géis hidrofílicos ou hidrogéis geralmente contêm em sua composição água como líquido dispersante mas também podem apresentar álcool etílico álcool isopropílico ou mesmo polióis associados Representam a maioria dos géis pois costumam ser mais desejáveis devido ao fato de apresentarem fácil espalhamento e sem sensorial oleoso Pegajosidade tack e formação de filme quebradiço na pele são desvantagens que muitos tipos de géis hidrofílicos apresentam A figura a seguir ilustra o aspecto de um gel hidrofílico Figura 57 Aparência de um hidrogelgel aquoso 5422 De acordo com as características do agente gelificante A depender se a molécula do doador de viscosidade se ioniza ou não em meio líquido o gel pode ser classificado como não iônico iônico Gel não iônico possui estabilidade em ampla faixa de pH tornandose possível a veiculação de substâncias de caráter ácido Um gel aniônico é pH dependente ou seja é estável em pH neutro ou próximo da neutralidade 108 Unidade II 5423 De acordo com as fases coloidais Os géis podem ser classificados com base nas fases coloidais Gel inorgânico O gel inorgânico apresentase como um sistema de duas fases em que o agente gelificante é uma substância inorgânica como bentonite hidróxido de alumínio dióxido de silício coloidal silicato de alumínio e magnésio Observação Magma é um gel bifásico inorgânico constituído por argilas coloidais em que as partículas dispersas doadoras de viscosidade são grandes Gel orgânico O gel orgânico apresentase como um sistema de uma fase em que grandes moléculas orgânicas polímeros naturais ou sintéticos são os formadores de gel Ácido algínico e alginato de sódio pectina gomas como guar carragena e tragacanta são exemplos de gelificantes de origem natural enquanto carbômero poloxamer povidona e derivados da celulose são polímeros de origem sintética Podemos observar que géis aquosos ou oleosos também podem ser classificados em inorgânicos ou orgânicos dependendo da natureza dos agentes gelificantes ou ainda ser designados por hidrogéis ou organogéis dependendo nesse caso do tipo de dispersante e gelificante O quadro a seguir sumariza esses dois esquemas de classificação Quadro 6 Classificação geral e descrição dos géis Classificação Descrição Exemplos de gelificantes Inorgânico Geralmente sistemas de duas fases Gel de hidróxido de alumínio magma de bentonite bentonite 50 Orgânico Geralmente sistemas monofásicos Carbopol tragacanta Plastibase Hidrogel Contém água Hidrogéis orgânicos Pectina alginato de sódio Gomas naturais e sintéticas Carboximetilcelulose sódica CMC carbômero Hidrogéis inorgânicos Bentonita 1025 silicato de alumínio e magnésio Veegum Organogel Hidrocarbonetos Petrolato óleo mineral polietileno Plastibase Gorduras animaisvegetais Banha animal manteiga de cacau Bases graxas à base de sabão Estearato de alumínio com gel de óleo mineral pesado Organogéis hidrofílicos Polietilenoglicóis de alto peso molecular Carbowax Adaptado de Allen Jr 1999 109 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Note que uma mesma substância formadora de gel pode se enquadrar em mais de uma classificação por exemplo carbômero Carbopol pode dar origem a um gel classificado como hidrogel ou gel orgânico além de ser aniônico Observe a figura a seguir tratase de uma representação esquemática que resume as possíveis classificações apresentadas para os géis Gel Nao iônico Orgânico Hidrogel Inorgânico Organogel Iônico Aquosohidrofílico Oleosolipofílico Organogel Figura 58 Representação esquemática de possíveis classificações para um gel 543 Composição Entre os principais compostos que entram na composição dos géis se destacam os que seguem 5431 Agentes gelificantes Como mencionado anteriormente a maioria dos géis é do tipo aquoso hidrofílico ou hidrogel sendo seus agentes gelificantes geralmente macromoléculas orgânicas De modo geral os sólidos formadores de géis devem ser hidratados por certo tempo para que se obtenha o máximo de dispersão possível e consequentemente viscosidade máxima O uso de aquecimento acelera esse processo A seguir serão descritas algumas macromoléculas que se destacam na produção de géis hidrofílicos e as características dos produtos formados por elas Observação Muitos agentes gelificantes têm aplicação também em cosméticos e alimentos Ácidos carboxivinílicos Ácidos carboxivinílicos são polímeros acrílicos de alto peso molecular Podem ser designados por carbômeros ou pelo nome comercial Carbopol Muitas especialidades farmacêuticas contêm polímero carboxivínilico em sua composição A figura a seguir representa a fórmula estrutural do carbômero 110 Unidade II OH O C CH n CH2 Figura 59 Estrutura molecular do monômero de carbômero As moléculas de polímero formam um emaranhado quando estão na forma de pó uma vez que as carboxilas grupo polar presentes na estrutura encontramse neutralizadas ou seja não dissociadas COOH Quando o polímero é hidratado ocorre certa dissociação e as carboxilas ficam com carga negativa COO repelindose e causando o desenrolar das moléculas o que aumenta um pouco o espessamento Ao se elevar o pH com adição de uma base mais carboxilas se dissociam e mais a estrutura polimérica se estica aumentando ainda mais a viscosidade A figura a seguir demonstra esquematicamente a molécula de carbômero desidratada hidratada e neutralizada Carbômero desidratado Carbômero hidratado Carbômero hidratado NH4 NH4 NH4 NH4 NH4 NH4 NH4 COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COO COO COO COO COO COO COO COOH COOH COOH COOH HOOC HOOC COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH Figura 60 Representação de molécula de carbômero no estado seco emaranhado hidratado e com o aumento do pH esticada 111 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Resumindo é possível dizer que os géis de Carbopol são aniônicos e instáveis em pH ácido porque perdem viscosidade com a diminuição deste Concentrações próximas a 1 de carbômero formam géis com elevada viscosidade A figura a seguir demonstra o carbômero na forma de pó e após a hidratação e aumento do pH A B Figura 61 A Carbopol pó B gel pronto Fonte Costa 2018 p 1 A seguir podemos verificar um exemplo de produto contendo carbômero Tratase do álcool gel descrito no Formulário nacional da farmacopeia brasileira um antisséptico bastante utilizado para antissepsia da pele e na desinfecção de superfícies e materiais Álcool etílico 96 ºGL 7573 g Carbômero 980 05 g Solução de trietanolamina 50 pv qs Água purificada qsp 100 mL Derivados da celulose Os derivados da celulose são compostos orgânicos semissintéticos originados a partir da celulose um polímero natural São utilizados para obtenção de géis hidrofílicos hidrogéis Diversos derivados da celulose têm aplicação na produção de medicamentos como doadores de viscosidade como a carboximetilcelulose CMC também designada por carmelose hidroxipropilmetilcelulose HPMC conhecida também por hipromelose hidroxietilcelulose ou hietelose Porém para obtenção da forma farmacêutica gel a hidroxietilcelulose se destaca Essa substância forma um gel transparente incolor não iônico resistente a variações de pH Concentrações em torno de 2 formam géis viscosos com aquecimento Cellosize e Natrosol são marcas bastante conhecidas desse polímero 112 Unidade II O n H X R H ou R O OR OR OR RO RO RO OR O O O Figura 62 Estrutura molecular do monômero de hidroxietilcelulose Polivinilpirrolidona PVP Polivinilpirrolidona figura a seguir também conhecida pela sigla PVP ou pelo termo povidona é outro polímero que pode formar hidrogéis para veiculação de fármacos É não iônico e estável em ampla faixa de pH n CH2 CH N O Figura 63 Estrutura molecular do monômero de polivinilpirrolidona A matriz polimérica de PVP forma um hidrogel com grande capacidade de absorção de água propriedade que pode ser utilizada na liberação controlada de fármacos Além disso hidrogéis poliméricos também são amplamente utilizados desde 1992 em curativos para tratamento de ferimentos pois evitam a contaminação da ferida por microrganismos fornecendo livre fluxo de oxigênio acelerando a cura Poloxamer Os poloxamers também conhecidos pelo nome comercial Pluronic são triblocos de copolímeros constituídos por duas moléculas de polioxietileno POE e uma molécula de polioxipropileno POP com fórmula molecular EOxPOyEOx figura a seguir Estão disponíveis no mercado diferentes graus de peso molecular que os difere na forma física solubilidade e ponto de fusão 113 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL São não iônicos apresentam alta solubilidade em água e biocompatibilidade Formam géis em concentrações mais altas 15 a 20 HO O O x y x O CH3 H Figura 64 Fórmula geral dos Pluronics representada por PEOxPOPyPOE 5432 Conservantes Conservantes antimicrobianos são adjuvantes indispensáveis à preparação de géis hidrofílicos pois o meio aquoso favorece o crescimento de microrganismos Entre as substâncias comumente utilizadas podemos citar os parabenos metilparabeno e propilparabeno fenoxietanol cloreto de benzalcônio e álcool benzílico 5433 Umectantes Substâncias umectantes são hidrofílicas e formam ligações de hidrogênio com a água evitando a perda desse elemento das formulações Além disso proporcionam melhor espalhamento na pele e maior elasticidade Como exemplos estão os polióis glicerina sorbitol e propilenoglicol 5434 Corretivos de pH O ajuste de pH pode ser necessário em formulações de géis para aumentar a solubilidade e viscosidade como é o caso do gel de carbômero para aumentar a compatibilidade com a via de administração eou para aumentar a estabilidade do medicamento Hidróxido de sódio trietanolamina ácido clorídrico e ácido cítrico são exemplos de substâncias corretoras de pH nesse tipo de forma farmacêutica 5435 Veículo Como mencionado anteriormente os veículos utilizados podem ser oleosos como a vaselina e óleos vegetais ou aquosos como polietilenoglicóis etanol polióis água de diversos graus de pureza dependendo da via de administração 544 Preparo de géis De modo geral no processo de preparo de géis o gelificante deve ser disperso no solvente contendo fármaco eou adjuvantes dissolvidos O processo de mistura pode ser feito utilizando gral e pistilo em pequena escala ou agitadores mecânicos sendo que aquecimento e ajuste de pH podem ser necessários para favorecer a completa dispersão do gelificante A agitação excessiva resulta em aprisionamento de ar 114 Unidade II 6 SUPOSITÓRIOS E ÓVULOS Os supositórios são definidos como formas farmacêuticas sólidas ou semissólidas moldadas para serem utilizadas através da sua inserção nos orifícios corporais onde se fundem ou se dissolvem com a finalidade de ter ação local ou sistêmica ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Por definição podem ser de uso retal vaginal e uretral Porém o termo supositório é comumente utilizado para se referir à forma farmacêutica destinada à aplicação retal enquanto os óvulos são de uso vaginal e as denominadas velas são de uso uretral ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Neste capítulo vamos abordar as questões relacionadas às formas mais comuns no caso os supositórios e os óvulos entretanto os excipientes utilizados e os métodos de preparo para a produção das velas são muito semelhantes 61 Vantagens e desvantagens A justificativa para a utilização de supositórios e óvulos está relacionada com as vantagens da administração de medicamentos pelas vias retal ou vaginal e são elencadas a seguir GARG TUKKER 2016 VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Uma forma de administração de medicamentos para pacientes nos quais não se possa utilizar a via oral Alguns exemplos são pacientes inconscientes ou que não podem receber a medicação pela via oral como aqueles que apresentam náuseas ou que foram recentemente submetidos a alguma cirurgia do trato gastrintestinal Pode ser ainda o caso de crianças ou idosos em que a dificuldade de deglutição é maior Nos casos de fármacos que apresentariam problemas de estabilidade se administrados pela via oral como inativação pelo pH ácido do estômago Além disso as vias retal ou vaginal seriam uma via alternativa para a administração de fármacos irritantes para a mucosa gástrica Ação local no reto ou na vagina sendo destinados a tratamentos de doenças ou condições que afetam essas regiões Fármacos com ação sistêmica quando administrados sob a forma de supositórios podem apresentar maior biodisponibilidade uma vez que boa parte escapa do metabolismo de primeira passagem o que pode contribuir para maior biodisponibilidade Fármacos que são absorvidos pela via vaginal também apresentam maior biodisponibilidade pois não há direcionamento para metabolismo présistêmico 115 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Por outro lado biodisponibilidade variável e dependente da condição clínica do paciente irritação da mucosa retal ou vaginal e incômodo na aplicação são exemplos de desvantagens associadas a essas formas farmacêuticas 62 Supositórios Os supositórios apresentam superfície lisa e são encontrados em tamanhos e formatos diferentes sendo comuns os formatos cilíndrico e cônico próxima figura O peso dos supositórios pode variar entre 1 e 2 g principalmente em função da densidade das matériasprimas utilizadas no seu preparo e do uso ao qual se destina para bebês crianças ou adultos ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Figura 65 Supositórios em diferentes formatos Fonte Velasco Oliveira e De Matta 2021 p 167 Dependendo do fármaco veiculado e da composição da formulação um supositório pode ter ação local ou sistêmica Em geral a ação local é desejada para tratar afecções como as hemorroidas podendo nesse caso ser utilizados fármacos com ação anestésica antiinflamatória entre outros Apresentam também efeito local os supositórios com ação laxativa sendo comum nesse caso a administração de supositório de glicerina Os supositórios com ação sistêmica mais comumente utilizados são aqueles administrados quando o objetivo é ter ação analgésica ou antipirética No entanto há supositórios contendo fármacos cuja administração leva a ter efeitos anticonvulsivantes antieméticos antiinflamatórios entre outros Por outro lado a ação sistêmica de fármacos por meio da administração retal é caracterizada por absorção irregular uma vez que esta depende das características fisiológicas que podem variar entre os indivíduos ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 A via retal possui a vantagem de ser uma região bastante vascularizada o que favorece a absorção dos fármacos O reto possui de 15 a 20 cm de comprimento e cerca de 3 mL de fluido quando vazio estado que se encontra na maior parte do tempo GARG TUKKER 2016 Apesar de 50 a 70 da dose administrada de um fármaco para ação sistêmica sob a forma de supositório conseguir escapar do metabolismo de primeira passagem hepático indo diretamente para a 116 Unidade II circulação sistêmica a absorção como já comentado é muito variável entre os indivíduos o que pode resultar em menor biodisponibilidade do que quando o mesmo fármaco é administrado pela via oral ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 GARG TUKKER 2016 A absorção dos fármacos pela via retal se dá principalmente por difusão passiva através da mucosa Estão envolvidas na irrigação sanguínea do reto as veias hemorroidais inferiores veias hemorroidais médias e as veias hemorroidais superiores localizadas nas regiões inferior intermediária e superior do reto respectivamente Quando o fármaco administrado é absorvido para a circulação sistêmica pelas veias hemorroidais inferiores e médias estas são direcionadas para a veia ilíaca depois para a veia cava superior coração e circulação sistêmica contornando o metabolismo de primeira passagem hepático Por outro lado o fármaco pode também ser absorvido para as veias hemorroidais superiores que drenam na veia porta hepática seguindo para o fígado onde estará sujeito ao metabolismo de primeira passagem próxima figura Veia porta Veia hemorroidal superior Plexo venoso retal Pele Veia marginal Veia hemorroidal mediana Veia hemorroidal inferior Circulação sistêmica Figura 66 Drenagem venosa so reto humano e os caminhos da absorção de fármacos pela via retal Adaptada de Garg e Tukker 2016 63 Óvulos Os óvulos são formas farmacêuticas de formato ovoide ou globular próxima figura administrados pela via vaginal Apresentam peso maior que o dos supositórios sendo encontrados óvulos com peso entre 2 e 16 g Conforme já mencionado podem apresentar ação local ou sistêmica dependendo das características do fármaco veiculado e da formulação VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 117 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Figura 67 Óvulos Fonte Velasco Oliveira e De Matta 2021 p 169 A ação local de fármacos antifúngicos por meio da administração de óvulos pela via vaginal permite um tratamento eficaz para muitas infecções vaginais com doses muitas vezes menores que as utilizadas pela via oral GARG TUKKER 2016 A ação sistêmica de alguns fármacos administrados pela via vaginal ocorre devido a sua absorção por transporte passivo através da mucosa vaginal que é bastante vascularizada Por meio da entrada no sangue pela veia vaginal o fármaco é levado até a veia cava inferior que desemboca no coração evitando dessa forma o metabolismo de primeira passagem hepático GARG TUKKER 2016 64 Excipientes utilizados As formulações de supositórios e óvulos são compostas por bases nas quais os fármacos e adjuvantes farmacotécnicos são incorporados As bases empregadas na composição dessas formas farmacêuticas podem ser lipossolúveis ou hidrossolúveis enquanto os adjuvantes são utilizados com funções mais específicas nas formulações ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Entre as características que uma base para supositório ou óvulo deve ter destacase a capacidade de fundir amolecer ou se dissolver na temperatura corporal Além disso não deve ser irritante mas estável e compatível com o fármaco contido em sua formulação GARG TUKKER 2016 A seguir são descritas as características dos tipos de bases e adjuvantes utilizados 641 Bases lipossolúveis As bases lipossolúveis são empregadas na composição das formulações de supositórios mas não na dos óvulos Diversos materiais podem ser utilizados para se obter essas bases como a manteiga de cacau óleo de semente de algodão ácido palmítico ácido esteárico entre outros Fármacos com características hidrofílicas veiculados em bases lipossolúveis são liberados mais facilmente da base Por 118 Unidade II outro lado fármacos com características semelhantes a esse tipo de base ou seja lipossolúveis ficam mais retidos na base VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Devido às suas características a manteiga de cacau é o material mais utilizado nas bases para supositórios Entre essas destacamse seu ponto de solidificação que ocorre próximo a 24 C e sua fusão entre 30 C e 36 C Além disso é pouco irritante para a mucosa retal Por outro lado a manteiga de cacau apresenta polimorfismo Dessa forma quando submetida a aquecimento em temperatura superior ao seu ponto de fusão e em seguida resfriada pode ocorrer a formação de diferentes formas cristalinas Esses são seus polimorfos que podem apresentar temperaturas de fusão mais baixas o que dificulta seu uso como base para supositórios VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Observação Uma substância que possui polimorfismo é aquela que pode existir em várias formas cristalinas Embora a estrutura química seja a mesma as propriedades físicoquímicas são distintas 642 Bases hidrossolúveis As bases hidrossolúveis compreendem as compostas por gelatina glicerinada e as que contêm polietilenoglicol A gelatina glicerinada é uma mistura composta geralmente por 70 de glicerina 20 de gelatina e 10 de água Tratase de uma mistura empregada em supositórios e óvulos que sofre dispersão quando administrada pelas vias retal ou vaginal As quantidades de glicerina e de gelatina na formulação principalmente desta última influenciam no tempo que a base irá demorar para se dispersar e consequentemente na duração da ação do fármaco ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 GARG TUKKER 2016 A gelatina glicerinada é um material bastante higroscópico devido ao alto percentual de glicerina em sua composição Dessa forma os supositórios ou óvulos que utilizam esse tipo de base devem ser protegidos da umidade de forma a se manterem estáveis Os polietilenoglicóis PEGs são polímeros derivados do óxido de polietileno hidrossolúveis e também são empregados nas bases para o preparo de supositórios e óvulos Os tipos de PEGs variam de acordo com o seu peso molecular apresentandose em estados físicos diferentes conforme apresentado na tabela a seguir 119 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Tabela 14 Denominações dos PEGs e seu estado físico à temperatura ambiente Denominação do PEG Estado físico à temperatura ambiente 25 C PEG 400 Líquido PEG 600 Líquido PEG 1500 Sólido PEG 4000 Sólido PEG 6000 Sólido Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 323 Os PEGs de diferentes pesos moleculares podem ser misturados em diversas proporções de forma que o supositório ou óvulo apresente a consistência desejada PEGs como o 4000 e o 6000 são ceras com faixa de fusão entre 5058 C e 5563 C respectivamente Dessa forma os PEGs não se fundirão na temperatura corporal 37 C e se dissolverão de forma lenta nos fluidos corporais No quadro a seguir são elencadas algumas vantagens do uso dos PEGs como base de supositórios e de óvulos Quadro 7 Vantagens do uso de PEGs como bases de supositórios e de óvulos que apresentam faixa de fusão acima da temperatura corporal Vantagens Explicação Liberação lenta do fármaco Por não se fundirem na temperatura corporal os supositórios ou óvulos que contêm em sua base esses tipos de PEGs se dissolverão lentamente liberando também o fármaco de forma gradual Melhoria no armazenamento e transporte Por apresentarem uma faixa de fusão mais alta os produtos contendo PEGs em sua composição não precisam ser armazenados sob refrigeração Isso pode auxiliar na manutenção da sua estabilidade durante armazenamento e transporte Melhor administração Devido ao fato de não se fundirem na temperatura corporal esses produtos podem ser inseridos lentamente sem que ocorra sua fusão em contato com os dedos durante a administração Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 323 643 Bases emulsificadas As bases emulsificadas empregadas em formulações de supositórios e de óvulos são emulsões do tipo água em óleo compostas por misturas de diversos materiais graxos Essas bases se fundem na temperatura corporal ao serem administradas liberando o fármaco Em relação às bases lipossolúveis como aquelas constituídas por manteiga de cacau possuem a vantagem de não apresentarem polimorfismo Por outro lado apresentam custo mais elevado VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 120 Unidade II 644 Adjuvantes As composições das formulações de supositórios e de óvulos contêm além do fármaco e da base adjuvantes farmacotécnicos com funções específicas como os plastificantes conservantes e antioxidantes Os plastificantes compreendem substâncias que são adicionadas à composição da base do supositório ou do óvulo com o objetivo de obter produtos menos quebradiços O propilenoglicol e a glicerina são exemplos de substâncias empregadas como plastificantes VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Os conservantes são substâncias com características antimicrobianas ou seja evitam a proliferação de microrganismos nas formulações mantendo a estabilidade microbiológica durante o armazenamento até o uso Esses adjuvantes são necessários nas formulações compostas principalmente por bases hidrofílicas uma vez que estão mais sujeitas à proliferação microbiana do que as bases lipossolúveis Entre os conservantes podem ser utilizados os parabenos VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Por outro lado as bases lipossolúveis por serem compostas por substâncias oleosas estão mais susceptíveis à oxidação Dessa forma a adição de antioxidantes tem o objetivo de garantir a estabilidade dessas substâncias e do fármaco quando este também for sujeito à oxidação Entre as substâncias com características antioxidantes empregadas nas formulações de supositórios e de óvulos podem ser citados a vitamina E tocoferol e o butilhidroxitolueno BHT VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 65 Preparação Na figura a seguir são apresentados os métodos de preparo de supositórios e de óvulos Métodos de preparo de supositórios e óvulos Moldagem por fusão Compressão Moldagem manual e rolamento Figura 68 Representação dos métodos utilizados no preparo de supositórios e de óvulos 651 Moldagem por fusão O método de moldagem por fusão envolve as etapas representadas na próxima figura que se inicia com a fusão da base e termina com a remoção do supositório ou do óvulo do molde 121 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Fusão da base Incorporação do IFA Inserção da base no molde Resfriamento e solidificação Remoção do produto do molde Figura 69 Representação das etapas do método de preparo de supositóriosóvulos por moldagem por fusão O preparo dos supositórios e dos óvulos por esse método requer nas primeiras etapas a fusão da base e incorporação do insumo farmacêutico ativo IFA conforme mostrado na figura anterior Nas indústrias farmacêuticas essas etapas são realizadas em tanques com sistema de aquecimento como representado na figura a seguir Figura 70 Tanques com aquecimento empregados para fundir os componentes da base dos supositórios e dos óvulos e posterior adição do IFA Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 324 Em seguida o material fundido é inserido em equipamentos industriais contendo moldes metálicos como as mesas rotativas próxima figura ou em moldes metálicos de plástico ou de silicone para o 122 Unidade II preparo em pequena escala em farmácias de manipulação figuras 72 e 73 Na figura 74 são apresentados moldes de plástico que já fazem parte da embalagem primária e que também podem ser utilizados tanto para o preparo de supositórios em larga escala quanto em pequena escala Figura 71 Equipamento industrial mesa rotativa contendo moldes metálicos para o preparo de supositórios Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 324 Figura 72 Molde metálico para preparo de supositórios em pequena escala Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 324 Figura 73 Molde metálico para preparo de óvulos em pequena escala Fonte Velasco Oliveira e De Matta 2021 p 176 123 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Figura 74 Moldes de plástico para preparo de óvulos em pequena escala ou em escala industrial Fonte Allen Jr 2008 p 111 Quando se trata do preparo de supositórios ou de óvulos em pequena escala a moldagem ocorre de forma manual utilizando moldes como os apresentados nas figuras 72 e 73 As etapas de preparo são as mesmas descritas na figura 69 No entanto acrescentase a essas etapas as de lubrificação e calibração prévias dos moldes antes da utilização A etapa de lubrificação consiste na aplicação de uma pequena quantidade de óleo mineral nos moldes principalmente quando se utiliza a gelatina glicerinada no preparo dos supositórios ou óvulos A lubrificação prévia auxilia na posterior retirada dos supositórios ou óvulos dos moldes ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 A calibração é uma etapa importante uma vez que os moldes possuem uma capacidade volume e dependendo da densidade dos materiais utilizados no preparo dos supositórios ou óvulos o peso dos produtos poderá variar Dessa forma a calibração pode ser realizada conforme representado na figura a seguir ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Determinar o volume do molde após fusão dos supositóriosóvulos Após remoção determinar peso total e peso médio Envasar somente com a base Figura 75 Representação das etapas de calibração dos moldes para supositórios ou óvulos Além dessas etapas em geral se prepara 10 de excesso de formulação para que seja considerada a perda durante o preparo e enchimento dos moldes VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 124 Unidade II É muito comum durante o resfriamento da base uma pequena contração da formulação assim o envase geralmente é feito com excesso de modo que no momento da retirada dos supositórios e dos óvulos todo o molde esteja preenchido e assim seja mantida a homogeneidade de peso de cada unidade O preparo industrial envolve o uso de mesas rotativas figura 71 nas quais são encaixados os moldes descartáveis geralmente de plástico figura 74 A esses moldes é adicionada a formulação fundida após prévia lubrificação Terminada a solidificação o próprio equipamento remove o excesso de formulação que ficou para fora dos moldes e são retiradas amostras para testes de controle de qualidade Os moldes preenchidos são retirados do equipamento e embalados VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Em escala industrial também é possível a automatização total do processo próxima figura contemplando as fases de formação da embalagem primária envase resfriamento selagem e corte figura 77 Equipamentos como esse podem produzir cerca de três mil supositórios a cada hora ALLEN JR 2008 Figura 76 Equipamento industrial para a produção de supositórios Fonte Allen Jr 2008 p 100 Figura 77 Supositórios envasados após o corte com o número de unidades que serão colocadas na embalagem secundária Fonte Allen Jr 2008 p 160 125 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 652 Compressão Tratase de um método aplicável principalmente a fármacos sensíveis ao calor uma vez que não envolve aquecimento Adicionalmente é uma alternativa para evitar a sedimentação do fármaco em bases nas quais ele seja insolúvel ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 A compressão é realizada em equipamento específico composto por cilindros e pistões onde a massa composta por base fármaco e adjuvantes é submetida à compressão e posterior ejeção VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 653 Moldagem manual e rolamento A moldagem manual e rolamento é um método antigo de preparo de supositórios porém com a disponibilidade de moldes e equipamentos atualmente se encontra em desuso ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Tratase de um método que não utiliza aquecimento pois o fármaco é incorporado na base após tamisação de forma a se obter uma massa a qual é enrolada manualmente até se obterem os supositórios É um método demorado e que gera supositórios de tamanho e peso desuniformes VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 66 Cálculos empregados no preparo de supositórios e óvulos Os cálculos relacionados com o preparo de supositórios são referentes à determinação da quantidade de base que deve ser adicionada em cada molde Uma vez que a dose de fármaco que deve estar presente em cada unidade já é conhecida o cálculo da quantidade de base é de extrema importância de modo que todo o molde seja preenchido e a dose do ativo esteja uniformemente distribuída Quando a quantidade de fármaco é muito pequena esse valor pode ser desconsiderado e o total de base a ser preparado corresponde ao volume para o preenchimento do molde ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Nos demais casos algumas opções para esse cálculo são o método por fator de deslocamento fd e o método por volume ocupado Para exemplificar esse racional vamos explicar a utilização do método do fator de deslocamento 661 Método por fator de deslocamento fd Para a realização desse cálculo alguns passos devem ser seguidos determinar o peso de base para preencher o molde misturar a quantidade de ativo e demais substâncias com um pouco de base colocar no molde e depois completar o volume com a base e determinar o peso 126 Unidade II prosseguir com os cálculos fator de deslocamento fd quantidade de base deslocada por 1 g de substância ativa Para facilitar o entendimento vamos supor que todos esses passos foram realizados para a obtenção do fd de uma formulação de supositórios de fenobarbital 100 mg Além do ativo o supositório é composto pela base de manteiga de cacau Massa da base para preencher o molde Mb 20 g Massa da base fenobarbital Mba 2019 g Dose de fenobarbital d 100 mg 01 g Massa da base descontando o ativo Mba 2019 01 1919 g Massa de base deslocada pelo ativo 20 1919 0081 g Para calcular o fd 01 g de fenobarbital deslocam 0081 g da base 10 g de fenobarbital deslocam fd fd 008101 081 A partir desse dado é possível calcular a quantidade de base para o preparo de qualquer número de supositórios Suponha que seja necessário atender a seguinte prescrição médica Fenobarbital 01 g Base de manteiga de cacau qsp 1 supositório Preparar 10 unidades Quantidade de substância ativa para o preparo das 10 unidades 10 01 g 10 g fd 081 1 g de fenobarbital deslocam 081 g de base Quantidade equivalente a 10 unidades de supositórios preparados apenas com a base 10 2 g 20 g Quantidade de base volume deslocado pelo ativo 20 081 1919 g Quantidades que devem ser pesadas para atender a prescrição 10 supositórios Fenobarbital 1 g Base de manteiga de cacau 1919 g Peso de cada supositório 1 191910 2019 g 127 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 67 Exemplos de formulações O Formulário nacional da farmacopeia brasileira ANVISA 2012 traz a formulação de supositórios de glicerina para uso como laxante em bebês crianças e adultos tabela a seguir Tabela 15 Composição da formulação de supositórios de glicerina Componentes Quantidade Estearato de sódio 9 g Glicerina qsp 100 g Adaptada de Anvisa 2012 As orientações para o preparo desses supositórios segundo o Formulário nacional envolvem o aquecimento da glicerina em recipiente adequado até 50 C e dissolver o estearato de sódio sob agitação A mistura deve ser vertida ainda quente em moldes para remoção após resfriamento Em relação ao tamanho dos supositórios de glicerina para bebês o peso deve ser de 1 g para crianças entre 15 e 2 g e para adultos de 25 a 3 g ANVISA 2012 Um exemplo de base para supositórios e óvulos utilizando polietilenoglicol é descrita por Velasco Oliveira e De Matta 2021 A base é composta por uma mistura de PEG 1500 PEG 4000 e PEG 400 correspondendo a 70 10 e 20 respectivamente da formulação O método de preparo é o de moldagem por fusão Um tipo de supositório comumente utilizado no Brasil como analgésico e antitérmico em crianças são os supositórios de dipirona Na tabela a seguir é descrita a formulação de supositórios de dipirona para uso pediátrico VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Tabela 16 Composição da formulação de supositórios de dipirona de uso pediátrico Componentes Quantidade Dipirona 03 g Cera de abelhas 18 Manteiga de cacau qsp 1 supositório Fonte Velasco Oliveira e De Matta 2021 p 178 A cera de abelhas e a manteiga de cacau devem ser aquecidas até 34 C até fusão devendo em seguida ser incorporado o fármaco A mistura deve ser inserida nos moldes e os supositórios podem ser removidos após solidificação para serem acondicionados VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 128 Unidade II 671 Peso médio limite farmacopeico de variação De acordo com a Farmacopeia brasileira 6ª edição o ensaio de peso médio é aplicado a formas farmacêuticas sólidas em doses unitárias como os supositórios e óvulos Para determinar o peso médio segundo a Farmacopeia devese pesar individualmente 20 supositórios ou óvulos e determinar o peso médio Podese tolerar no máximo duas unidades fora dos limites especificados em relação ao peso médio porém nenhuma poderá estar acima ou abaixo do dobro das porcentagens indicadas ANVISA 2019 p 61 Ainda de acordo com a Farmacopeia para supositórios e óvulos independentemente do peso médio os limites de variação permitidos são de 5 Saiba mais Leia a 6ª edição da Farmacopeia brasileira ANVISA Farmacopeia brasileira 6 ed Brasília Anvisa 2019 129 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Resumo As pomadas são formas farmacêuticas semissólidas de consistência mole destinadas ao uso na pele e mucosas que consistem em solução ou dispersão de um ou mais princípios ativos em baixas proporções em uma base adequada usualmente não aquosa Usualmente contêm fármaco mas nem sempre Pomadas não medicamentosas são usadas pelas características físicas que fornecem como protetoras emolientes ou lubrificantes São vias de administração usuais para pomadas cutânea oral oftálmica vaginal retal e podem proporcionar efeito local ou sistêmico As pomadas podem ser classificadas quanto à absorção na pele e tipo de efeito terapêutico em epidérmicas endodérmicas e diadérmicas ou quanto à composição em bases oleaginosas bases de absorção bases hidrofílicas bases de emulsão OA e AO Podem ser obtidas a frio por incorporação do fármaco ou a quente através de fusão dos excipientes que a compõem O acondicionamento geralmente é realizado em bisnagas ou frascos de boca larga de modo manual ou mecânico através do uso de enchedores Alguns autores classificam cremes géis e pastas como sendo tipos de pomadas Nesta unidade nós estudamos essas formas farmacêuticas separadamente para facilitar o entendimento Cremes são formas farmacêuticas semissólidas em que a fase oleosa está dispersa na fase aquosa ou viceversa ou seja cremes são considerados emulsões OA ou AO sendo o seu diferencial a elevada viscosidade Desse modo um creme OA também pode ser chamado de base de emulsão OA e um creme AO pode ser designado por base de emulsão AO Além dos componentes usuais de uma emulsão os cremes apresentam ainda agentes de consistência e muitas vezes emolientes É comum a utilização de ceras autoemulsionantes para o preparo de cremes as quais são compostas por uma mistura de ao menos doador de viscosidade lipofílico e agente emulsivo aniônico catiônico ou não iônico Pastas são formas farmacêuticas semissólidas para uso externo contendo no mínimo 25 de pós insolúveis e que por isso desempenham efeito local De acordo com os excipientes que a compõem uma pasta pode ser classificada em hidrofílica quando os sólidos insolúveis estão dispersos em uma base hidrossolúvel ou hidrofóbica caso a base seja oleosa As pastas contendo base oleosa e elevada concentração de hidrocoloides suspensos são chamadas de adesivas pois têm a capacidade de aderir às mucosas devido ao intumescimento que ocorre após a absorção de água As pastas podem ser preparadas por levigação dos pós sendo que o agente de levigação 130 Unidade II pode ser a própria base fundida em caso de excipientes lipossolúveis A submissão da pasta pronta a um moinho de rolos é apropriada para redução e uniformização de tamanho das partículas dispersas Outro tipo de forma farmacêutica semissólida é o gel ou geleia um sistema coloidal em que substâncias gelificantes pequenas partículas inorgânicas ou grandes moléculas orgânicas são capazes de proporcionar viscosidade ao meio líquido geralmente aquoso mas que pode ser oleoso ou alcoólico Podem ser administrados por diversas vias de administração e desempenhar efeito sistêmico ou local maioria dos géis Há vários modos de classificarmos os géis de acordo com as características da fase líquidadispersante podem ser designados por oleosos lipofílicos ou hidrofóbicos ou organogéis ou aquosos hidrofílicos ou hidrogéis sendo estes últimos mais desejáveis Caso se considerem as características do agente gelificante se a molécula se ioniza ou não em meio líquido o gel pode ser classificado como iônico ou não iônico respectivamente Se o critério for as fases coloidais o gel pode ser classificado em inorgânico sistema de duas fases cujo gelificante é uma substância inorgânica ou orgânico sistema de uma fase em que moléculas orgânicas naturais ou sintéticas são as doadoras de viscosidade Um gel pode ser obtido simplesmente com um gelificante e um solventeveículo porém em geral outros componentes podem ser necessários como conservantes corretivos de pH umectantes Para o preparo de géis é necessário dispersar o gelificante no veículo sendo essa dispersão realizada manualmente ou com auxílio de agitadores mecânicos podendo ser acelerada em alguns casos pela elevação da temperatura eou ajuste de pH Os óvulos e supositórios são formas farmacêuticas sólidas destinadas à veiculação de substâncias para inserção nos orifícios corporais Considerados como formas moldadas os supositórios são utilizados na via retal enquanto os óvulos são utilizados na via vaginal Em ambos os casos podem ser administrados para obtenção de efeitos locais ou sistêmicos embora os óvulos tenham maior aplicação local Entre as principais vantagens dessas formas farmacêuticas está o escape pelo menos em grande parte do metabolismo présistêmico de alguns fármacos melhorando assim a sua biodisponibilidade Além disso é uma alternativa à administração de medicamentos pela via oral quando o paciente apresenta dificuldades de deglutição A moldagem é a técnica mais empregada para o preparo dos supositórios e óvulos sendo utilizada na composição das formulações substâncias de natureza hidrofílica ou lipofílica e a liberação do fármaco é dependente de sua interação com a base 131 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Exercícios Questão 1 Observe a figura a seguir que representa a absorção cutânea de diferentes princípios ativos contidos em quatro preparações semissólidas de uso tópico nomeadas A B C e D Considere que o tamanho das flechas seja diretamente proporcional à velocidade e à extensão da absorção do princípio ativo A B C D Epitélio Estrato córneo Tecido adiposo subcutâneo Figura 78 Padrão de absorção de quatro formulações de uso tópico Adaptada de LÜLLMANN H et al Farmacologia texto e atlas 5 ed Porto Alegre Artmed 2008 Assinale a alternativa que indica corretamente as características físicoquímicas da formulação B A O fármaco é hidrofílico e o veículo é lipofílico B O fármaco é lipofílico e o veículo é hidrofílico C Tanto o veículo quanto o fármaco são hidrofílicos D O veículo é mais lipofílico do que o fármaco embora ambos sejam lipossolúveis E O veículo é mais hidrofílico do que o fármaco embora ambos sejam hidrossolúveis Resposta correta alternativa B Análise da questão Fármacos administrados diretamente na pele podem ter ação predominantemente local ou podem passar para a circulação sistêmica ou seja podem ser absorvidos 132 Unidade II Como a pele é uma barreira lipofílica somente os fármacos que também são lipofílicos podem ser absorvidos Nesse aspecto quanto maior a diferença entre a lipossolubilidade do fármaco e do veículo maior a tendência de absorção Portanto nas formulações nas quais o veículo é hidrofílico e o fármaco lipofílico a absorção é otimizada Na figura presente no enunciado da questão temos portanto o que se mostra a seguir Fármaco lipofílico em base lipofílica Fármaco lipofílico em base hidrofíica Fármaco lidrofílico em base lipofílica Fármaco lidrofílico em base lidrofílica Epitélio Estrato córneo Tecido adiposo subcutâneo Figura 79 Características físicoquímicas de quatro formulações de uso tópico Fonte LÜLLMANN H et al Farmacologia texto e atlas 5 ed Porto Alegre Artmed 2008 p 31 Questão 2 Os supositórios e os óvulos são formas farmacêuticas sólidas ou semissólidas que ao serem inseridas nos orifícios corporais apresentam ação local ou sistêmica Com relação à formulação dos óvulos e dos supositórios avalie as afirmativas I As bases para a produção dos supositórios devem ser preferencialmente lipofílicas como os polietilenoglicóis II Alguns supositórios não apresentam em sua formulação insumos farmacêuticos ativos III É comum a utilização de emulsões de óleo em água como bases de óvulos e supositórios a fim de otimizar a liberação dos fármacos lipossolúveis É correto o que se afirma em 133 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL A I e II apenas B II apenas C II e III apenas D III apenas E I II e III Resposta correta alternativa B Análise das afirmativas I Afirmativa incorreta Justificativa as bases de supositórios podem ser hidrossolúveis por exemplo as constituídas de polietilenoglicóis ou lipossolúveis por exemplo as constituídas de manteiga de cacau II Afirmativa correta Justificativa alguns supositórios apresentam somente efeito emoliente como aqueles constituídos de glicerina e de estearato de sódio apenas III Alternativa incorreta Justificativa as bases emulsificadas empregadas nas formulações dos supositórios e dos óvulos são emulsões do tipo água em óleo e não óleo em água Elas sofrem fusão quando submetidas à temperatura corporal o que resulta na liberação do fármaco
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
6
Diretrizes para Atividade Obrigatória de Estágio em Atividades Farmacêuticas
Farmacologia
UNIP
85
Perfil das Professoras e Colaboradores em Farmacotécnica
Farmacologia
UNIP
9
Desafios ao controle da qualidade de medicamentos no Brasil
Farmacologia
UNIP
72
Serviços de Farmácia e Saúde Pública: Currículo dos Professores
Farmacologia
UNIP
45
Cuidados Farmacêuticos e Seguimento Farmacoterapêutico: Métodos e Práticas na Farmácia Clínica
Farmacologia
UNIP
38
Manual de Atividades Avaliativas da Disciplina Introdução em Ciências Farmacêuticas
Farmacologia
UNIP
30
Cálculos em Farmacotécnica: Fundamentos e Aplicações
Farmacologia
UNIP
50
Interpretação Laboratorial na Clínica Farmacêutica
Farmacologia
UNIP
74
Controle de Qualidade de Matérias-Primas: Ensaios de Identificação, Pureza e Doseamento
Farmacologia
UNIP
76
Farmacotécnica: Fundamentos e Práticas
Farmacologia
UNIP
Texto de pré-visualização
86 Unidade II Unidade II 5 POMADAS CREMES PASTAS E GÉIS Neste primeiro capítulo da unidade II serão estudadas formas farmacêuticas de aplicação tópica na pele em mucosas do corpo Ainda que cremes pastas e géis possam ser vistos como tipos de pomada por alguns autores nós estudaremos cada uma dessas formas farmacêuticas separadamente para que seja possível compreender adequadamente suas particularidades 51 Pomadas As pomadas constituemse em preparações semissólidas de consistência mole destinadas ao uso na pele e em mucosas o qual consiste em solução ou dispersão de um ou mais princípios ativos em baixas proporções em uma base adequada usualmente não aquosa ANVISA 2012 Geralmente são preparações semissólidas que não escoam nem fluem sob baixo estresse de cisalhamento à temperatura ambiente THOMPSON 2015 e que adicionalmente podem ser classificadas como sistemas reológicos plásticos que amolecem quando aplicadas sobre a pele ou fundemse com a temperatura corporal eou com a força de aplicação com esforço mecânico Devem ser espalhadas com facilidade e ser lisas sem sinais de granulações aderindo ao local de aplicação FERREIRA 2006 As pomadas podem ser medicamentosas ou não ou seja usualmente contêm fármaco mas nem sempre Pomadas não medicamentosas são usadas pelas características físicas que fornecem como protetoras emolientes ou lubrificantes Pomadas são preparações farmacêuticas que podem proteger a pele ou as mucosas contra produtos químicos ou físicos irritantes no ambiente permitem o rejuvenescimento do tecido promovem a hidratação da pele ou um efeito emoliente fornecem um veículo adequado para aplicação de um medicamento para efeito local ou sistêmico Existem diferentes tipos de base de pomadas que discutiremos a seguir porém a escolha de uma base depende de fatores como ação local ou sistêmica área de aplicação se é desejável a oclusão da umidade da pele e a natureza do fármaco que será incorporado Em relação ao fármaco devemos considerar sua biodisponibilidade a velocidade de liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica a estabilidade a influência do fármaco sobre a consistência e outras propriedades da base e a compatibilidade do fármaco com a base selecionada 87 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Usualmente os constituintes das pomadas são os ativos farmacêuticos os excipientes para o preparo de pomadas os antioxidantes que ajudam a prevenir a oxidação das matériasprimas hidrofóbicas e os conservantes 511 Vias de administração As pomadas podem ser aplicadas por diversas vias de administração Entre elas podemos citar cutânea vaginal retal oftálmica oral 512 Classificação As pomadas podem ser classificadas de acordo com sua ação terapêutica ou de acordo com os excipientes que as compõem 5121 De acordo com a ação terapêutica Conforme o efeito terapêutico desempenhado as pomadas podem ser classificadas como indicado a seguir Epidérmicas Pomadas epidérmicas têm ação superficial permitindo pouquíssima ou nenhuma absorção São exemplos de pomadas com absorção epidérmica aquelas que contêm substâncias insolúveis como calamina óxido de zinco etc Endodérmicas São classificadas como endodérmicas as pomadas que permitem que o fármaco atravesse as camadas da pele chegando até a derme Assim como as pomadas epidérmicas as endodérmicas têm a pele como órgãoalvo Salicilato de metila cânfora mentol entre outros são exemplos de substâncias capazes de proporcionar absorção até a derme Diadérmicas As pomadas diadérmicas promovem absorção percutânea permitindo que o fármaco atinja a corrente sanguínea e proporcione efeito sistêmico As características da base escolhida e principalmente as 88 Unidade II características físicoquímicas do fármaco como tamanho de partícula dose coeficiente de partição são determinantes para proporcionar efeito sistêmico por isso esse tipo de pomada representa a minoria dos produtos encontrados Exemplo pomada de nitroglicerina pomada de mirtazapina A figura a seguir é uma representação esquemática da absorção desses três tipos de pomada nas camadas da pele Diadérmicas Endodérmicas Estrato córneo Epiderme Derme Hipoderme Epidérmicas Figura 40 Tipos de pomadas e camada de atuação na pele Adaptada de httpsbitly3pASpK7 Acesso em 7 dez 2021 5122 De acordo com os excipientes As bases de pomada são geralmente classificadas em quatro grupos bases oleaginosas bases de absorção bases removíveis em água bases solúveis em água Vejamos a seguir cada um dos tipos de bases de pomada Bases oleaginosas As bases oleaginosas também são denominadas bases de hidrocarbonetos Essas pomadas hidrofóbicas têm alto teor de componentes gordurosos de origem animal ou mineral não absorvem ou só podem absorver pequenas quantidades de água ESPERIDIÃO LESSA SOBRINHO 2004 Apresentam efeito emoliente além de proteger contra a perda de umidade pois são oclusivas Dessa forma podem permanecer na pele por longos períodos sem ressecar devido à característica hidrofóbica são difíceis de lavar 89 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Figura 41 Pomada de base oleaginosahidrofóbica Veremos em seguida alguns exemplos de excipiente comumente utilizados no preparo de pomadas oleaginosas Petrolato ou vaselina Petrolato é uma mistura purificada de hidrocarbonetos semissólidos obtidos do petróleo também conhecido como petrolato amarelo ou vaselina A vaselina é untuosa e inodora sua coloração geralmente é amarelada porém pode variar de branca a amarela dependendo da purificação Seu ponto de fusão está entre 38 e 60 ºC sendo ela inerte com poucas incompatibilidades É geralmente estável a não ser na presença de impurezas e uma vez que é lipofílica pode oxidar apresentando modificações na cor e odor FERREIRA 2008 Petrolato branco ou vaselina branca é uma mistura purificada de hidrocarbonetos semissólidos do petróleo que foi totalmente ou quase descolorado A finalidade é a mesma do petrolato mas devido à sua cor mais clara é considerado mais esteticamente agradável Vaselina líquida A vaselina líquida também chamada de óleo mineral é uma mistura de hidrocarbonetos saturados com cadeias carbônicas entre 16 e 50 carbonos É obtida por hidrogenação catalítica de óleos básicos minerais derivados do petróleo É muito utilizada em preparações de uso tópico devido às suas propriedades emolientes 90 Unidade II Parafina Assim como o petrolato vaselina a parafina é uma mistura de hidrocarbonetos por isso é chamada também de hidrocarbonetos parafínicos ou cera parafínica ou ainda vaselina sólida Apresenta uma viscosidade maior que o petrolato O quadro a seguir sumariza os diferentes tipos de petrolato Quadro 4 Comparação entre os diferentes tipos de vaselina Tipos Sinônimos Aspecto Petrolato Vaselina Amarelo semissólido Petrolato branco Vaselina vaselina branca Branco semissólido Vaselina líquida Óleo mineral leve Incolor líquido Parafina Cera de parafina vaselina sólida Branco sólido Cera de abelhas A cera de abelhas é obtida do favo de mel de abelhas da espécie Apis mellifera Apresenta coloração amarela e por isso também é chamada de cera amarela A cera branca é obtida pela purificação e branqueamento da cera amarela A farmacopeia americana USP 2012 apresenta duas pomadas com base nesses dois tipos de cera pomada amarela e pomada branca A pomada amarela é constituída por cera amarela 5 e petrolato 95 enquanto a pomada branca apresenta como composição cera branca e vaselina branca Bases de absorção As pomadas do tipo base de absorção são compostas por uma base oleosa excipientes lipossolúveis e tensoativos AO Recebem esse nome pois apesar de não terem água em sua composição apresentam a capacidade de absorvêla devido à presença dos tensoativos Vejamos a seguir um exemplo de formulação de acordo com o Formulário nacional da farmacopeia brasileira ANVISA 2012 Formulação de pomada de base de absorção Colesterol 3 g Álcool estearílico 3 g Cera branca de abelha 8 g Petrolato branco qsp 100 g 91 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Bases de emulsão AO É um tipo de base removível em água Geralmente são chamadas de emulsivas e não são consideradas pomadas verdadeiras Podem conter petrolatos hidrofílicos os quais permitem a travessia pelas camadas da pele O cold cream também entra nessa classificação mesmo sendo uma emulsão AO Bases de emulsão OA Assim como as bases de emulsão AO são bases removíveis em água Bases hidrofílicas Essas bases são macroscopicamente turvas e não são oclusivas Podem ser preparadas a partir de polietilenoglicóis PEGs Sendo hidrofílicas possuem baixo poder de penetração na pele A seguir um exemplo de formulação de acordo com o Formulário nacional da farmacopeia brasileira ANVISA 2012 Formulação de pomada de base hidrofílica Polietilenoglicol 400 333 g Polietilenoglicol 4000 333 g Propilenoglicol 333 g Em suma existem vários tipos de base para pomadas as quais podem resumidas no quadro a seguir Quadro 5 Tipos de base de pomadas segundo o Formulário nacional da farmacopeia brasileira Tipo da base Características Constituintes principais Oleaginosas Constituemse de substâncias graxas Insolúveis em água não laváveis anidras emolientes oclusivas e gordurosas Petrolato branco petrolato líquido cera branca De absorção anidra São bases de hidrocarbonetos e emulsificantes que formam emulsões AO quando se adiciona água Insolúveis em água não laváveis anidras emolientes oclusivas e gordurosas Podem absorver água Lanolina mistura de colesterol álcool estearílico cera branca de abelha e vaselina Mistura de vaselina e sesquioleato de sorbitano De absorção emulsiva AO São bases emulsivas que contêm água Insolúveis em água não laváveis anidras emolientes oclusivas e gordurosas Podem absorver água pouco Cold cream Laváveis emulsivas emulsões OA Também denominadas de cremes Solúveis em água laváveis contêm água não oclusivas e não gordurosas Podem absorver água Ceras autoemulsionantes Solúveis em água Constituídas geralmente por polietilenoglicois Solúveis em água laváveis contêm água emolientes não oclusivas e não gordurosas Podem conter ou absorver água Polietilenoglicóis Fonte Anvisa 2012 p 39 92 Unidade II 513 Obtenção As pomadas podem ser obtidas por dois métodos gerais sendo eles incorporação ou fusão a quente ou a frio dependendo dos componentes utilizados Pelo método de incorporação não há necessidade de aquecimento apenas mistura até a obtenção de formulação uniforme LOYD NICHOLAS HOWARD 2013 Quando as substâncias em pó devem ser incorporadas em bases de hidrocarbonetos petrolato líquido óleo mineral pode ser usado como agente de levigação A levigação é um processo de redução de tamanho de partícula de um sólido por trituração com uma pequena quantidade de um líquido ou base fundida na qual o sólido não é solúvel Observação O líquido chamado de agente de levigação deve apresentar viscosidade razoável e baixa tensão superficial e ser capaz de melhorar a molhabilidade de um sólido THOMPSON 2015 Como exemplos de agentes de levigação podemos citar glicerina propilenoglicol polietilenoglicóis líquidos óleo mineral etc Em geral é mais vantajosa a preparação sem a necessidade de aquecimento pois dessa forma preservamse os princípios ativos de degradação e podem fornecer melhor espalhabilidade BORELLA et al 2010 PAMAR et al 2009 A técnica a frio é empregada quando há veículos líquidos e pastosos Após a pesagem dos componentes é feita a solubilização dos pós em agente levigante apropriado e compatível com a formulação ou em algum componente líquido já presente na formulação Os componentes são misturados em gral com o auxílio de pistilo ou com placa de vidro e espátula para pomada As pomadas podem ser preparadas a quente ou a frio sendo mais comum a técnica por fusão como mostra o esquema seguir Adição de fármacos ou outros componentes Homogeneização Resfriamento Fusão dos componentes da formulação Envase Figura 42 Representação esquemática do processo de preparo de pomadas a quente 93 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Em se tratando de produção industrial de pomadas a qualidade das preparações é garantida pela combinação de composição e tecnologia otimizadas condições adequadas de produção e linhas de produção fechadas como podemos observar na figura a seguir Unidade de aquecimento para componentes da pomada Unidade de aquecimento para fase aquosa Unidade de mistura Unidade de armazenamento do produto final Unidade de monitoramento e controle Figura 43 Linha de produção automatizada para produção de pomadas e cremes Adaptada de Dévay 2013 Os misturadores planetários são equipamentos utilizados para a mistura mecânica se os ingredientes ou combinações de excipientes fundidos precisarem de resfriamento lento e constante Esses misturadores são muito eficazes em manter o resfriamento cada vez mais viscosos e portanto homogêneos de substâncias mais resistentes com resfriamento uniforme Após o preparo o produto pode ser acondicionado em material apropriado e rotulado 514 Acondicionamento As pomadas são normalmente acondicionadas em frascos de boca larga ou em tubos de metal ou plástico próxima figura Os recipientes devem ser bem fechados para que haja a proteção de possíveis contaminações e mantidos em local fresco para que se evite a separação do produto em decorrência do calor Quando necessário produtos farmacêuticos semissólidos fotossensíveis são acondicionados em frascos opacos ou resistentes à luz Figura 44 Bisnaga para acondicionamento de pomadas Disponível em httpsbitly2ZBAqtY Acesso em 30 nov 2021 94 Unidade II Existem máquinas para carregar grandes quantidades de pomada ou creme que preenchem quantidades préprogramadas próxima figura A B Figura 45 Enchedores de tubos de pomadas A enchedor para pequena escala B enchedor industrial Fonte Dévay 2013 p 199200 515 Requisitos de qualidade Entre os requisitos de qualidade são avaliados carga microbiana e conteúdo mínimo Discutiremos ambos a seguir 5151 Carga microbiana As preparações tópicas não precisam cumprir requisitos de esterilidade com exceção das pomadas oftálmicas Ainda assim elas devem apresentar padrões aceitáveis de carga microbiana uma vez que devemos atentar que essas formulações são propensas ao crescimento de microrganismos e portanto devem conter um sistema conservante apropriado 5152 Conteúdo mínimo O conteúdo mínimo consiste na determinação da massa ou do volume do produto contido na embalagem a fim de garantir que a quantidade seja equivalente àquela declarada no rótulo Além disso é necessário avaliar a viscosidade e a liberação in vitro para assegurar a uniformidade intra e interlotes Esses estudos de liberação incluem estudos com células de difusão para a determinação de liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica 95 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 52 Cremes Cremes são formas farmacêuticas semissólidas em que a fase oleosa está dispersa na fase aquosa ou viceversa ou seja cremes são considerados emulsões OA ou AO sendo o seu diferencial a elevada viscosidade Podemos observar na figura a seguir a consistência semissólida de um creme Figura 46 Aspecto de um creme Desse modo um creme OA também pode ser chamado de base de emulsão OA e um creme AO pode ser designado por base de emulsão AO Cremes são preparações elegantes do ponto de vista farmacotécnico pois apresentam aspecto atraente sensorial agradável fácil administração e espalhabilidade e fácil remoção com água Além dos componentes usuais de uma emulsão apresentados anteriormente os cremes apresentam ainda agentes de consistência e muitas vezes emolientes 521 Agentes de consistência Agentes de consistência ou espessantes são substâncias capazes de aumentar a viscosidade de uma emulsão Uma vez que os cremes apresentam essa característica fundamental os doadores de viscosidade tornamse elementos fundamentais no preparo É possível aumentar a viscosidade da fase aquosa eou da fase oleosa utilizando adjuvantes com afinidade para cada uma das fases 5211 Doadores de viscosidade hidrofílicos Os espessantes hidrofílicos mais utilizados para o preparo de cremes são os agentes gelificantes como as gomas derivados da celulose ácidos carboxivinílicos carbômero entre outros 96 Unidade II Observação Para entender mais sobre agentes gelificantes você pode consultar o item 54 deste capítulo 5212 Doadores de viscosidade lipofílicos Os espessantes lipofílicos fazem parte da fase oleosa do creme e proporcionam emoliência além de viscosidade Entre os doadores de viscosidade mais utilizados podemos citar os indicados a seguir Álcoois graxos Os álcoois graxos possuem cadeia geralmente de 6 a 22 carbonos São monoálcoois de cadeia longa de elevada massa molar Os mais utilizados são Álcool cetílico Contém cadeia carbônica com 16 átomos H3C OH Figura 47 Fórmula estrutural do álcool cetílico Álcool estearílico É um álcool graxo saturado de 18 átomos de carbono H3C OH 16 Figura 48 Estrutura química do álcool estearílico Álcool cetoestearílico Esse álcool graxo é uma combinação dos álcoois cetílico e estearílico Contém cerca de 65 a 80 de álcool estearílico e 20 a 35 de álcool cetílico Outros álcoois com cadeias longas e curtas também podem fazer parte dessa composição em menor concentração Álcool berrênico 22 C 7080 Apresenta cadeia de 22 carbonos menor viscosidade menor consistência maior opacidade que o cetoestearílico 97 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL OH O Figura 49 Fórmula estrutural do álcool berrênico Ácidos graxos Os ácidos graxos são compostos orgânicos que possuem apenas um grupo carboxila em uma de suas extremidades são monocarboxílicos de cadeias abertas longas com 4 a 22 átomos de carbono geralmente um número par que podem ser saturadas ou insaturadas As cadeias saturadas maiores são utilizadas como espessantes no preparo de cremes tabela a seguir Tabela 13 Ácidos graxos mais utilizados Nome comum IUPAC Número de carbonos Palmítico Ácido hexadecanoico 16 Esteárico Ácido octadecanoico 18 Berrênico Ácido docosanoico 22 A seguir podemos observar a estrutura química desses três ácidos graxos OH H3C O Figura 50 Estrutura química do ácido palmítico HO H3C O Figura 51 Estrutura química do ácido esteárico HO 18 H3C O Figura 52 Estrutura química do ácido berrênico Ésteres de ácidos graxos com álcoois graxos São obtidos através de reação química entre um ácido graxo e um álcool graxo A figura a seguir demonstra a reação de obtenção do palmitato de cetila um excelente doador de viscosidade 98 Unidade II OH OH O O O H H O Ácido palmítico Álcool cetílico Catalisador Palmitato de cetila Água Figura 53 Reação de esterificação para a formação do palmitato de cetila Adaptada de Mutlu e Yilmaz 2016 O palmitato de cetila pode ser encontrado na forma natural ou pode ser produzido sinteticamente Quando sintetizado será obtido da reação de esterificação do álcool cetílico C16H34O com o ácido palmítico C16H32O2 sendo assim constituída de 32 carbonos C32H64O2 Na natureza essa substância é encontrada no espermacete de baleia mais precisamente na cavidade cranial de baleias cachalote Physeter macrocephalus É possível obter de uma baleia mais de 200 kg de espermacete 522 Emolientes Emolientes são substâncias oleosas que favorecem a espalhabilidade dos cremes sobre a pele Vejamos alguns exemplos de classificação de acordo com a estrutura química Hidrocarbonetos Exemplo óleo mineral Óleos e gorduras animais e vegetais Álcoois graxos Ésteres de ácidos graxos e álcoois de cadeia curta e média Exemplo miristato de isopropila estearato de octila oleato de decila Ésteres de álcoois graxos e ácidos graxos de cadeia curta Exemplo heptanoato de estearila Ésteres graxos Exemplo éter dicaprílico Cetiol OE Silicones 523 Ceras autoemulsionantes Ceras autoemulsionantes são misturas comercializadas contendo ao menos emulsionante e doador de viscosidade lipofílico O agente emulsivo pode ser aniônico catiônico ou não iônico A seguir alguns exemplos de ceras autoemulsionantes disponíveis comercialmente e muito utilizadas para produção de cremes 99 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Lanette N álcool cetoestearílicocetilestearil sulfato de sódio aniônica Polawax álcool cetoestearílicomonoestearato de sorbitano etoxilado 20 OE não iônica Cosmowax álcool cetoestearílicoálcool cetoestearílico 20 OE não iônica Crodabase álcool cetoestearílico álcool cetoestearílico 20 OE óleo mineral álcool de lanolina e parafina não iônica com emolientes Observação OE é uma sigla para óxido de etileno e indica que álcool graxo ou ácido graxo sofreu um processo de etoxilação Essa parte da molécula é polar tornando a substância um agente emulsivo Quanto maior o grau de etoxilação mais hidrofílico será o emulsificante 53 Pastas Pastas são formas farmacêuticas semissólidas de uso externo para aplicação na pele cavidade oral ou membranas mucosas Pode ser considerada um tipo de pomada que apresenta como diferencial a presença de ao menos 25 de sólidos dispersos em sua composição ANVISA 2019 Devido à elevada concentração de partículas no estado sólido as pastas apresentam pouca ou nenhuma penetração na pele ou seja exercem efeito local Além disso a grande porcentagem de pós dispersos proporciona elevado poder secativo e torna as pastas uma forma de difícil remoção Como as pastas são rígidas elas não se espalham facilmente e portanto retêm o medicamento no local da aplicação Isso é particularmente importante se o fármaco for corrosivo como ditranol coaltar ou ácido salicílico É mais fácil aplicar uma pasta em uma área discreta da pele como uma lesão ou placa específica sem comprometer a integridade de uma pele saudável As pastas também são úteis para absorver produtos químicos prejudiciais como a amônia que é liberada pela ação bacteriana na urina portanto são frequentemente utilizadas em produtos para fraldas Além disso devido ao seu alto teor de pó são muito utilizadas para absorver exsudados de feridas Em termos reológicos uma pasta é um exemplo de um fluido plástico de Bingham ou seja em repouso apresentamse com elevada viscosidade e não escoam até que uma tensão inicial mínima seja aplicada 531 Classificação As pastas podem ser classificadas de acordo com os excipientes que as compõem como veremos a seguir 100 Unidade II 5311 Pastas hidrofílicas Nas pastas hidrofílicas os pós estão finamente dispersos em uma base hidrossolúvel como um hidrogel Ao contrário das pastas hidrofóbicas e devido à sua composição as pastas hidrofílicas atuam causando desidratação no local de aplicação A pasta dágua descrita a seguir é um exemplo de pomada hidrofílica ANVISA 2012 Pasta dágua Óxido de zinco 25 g Talco 25 g Glicerina 25 g Água de cal 25 g Observação Água de cal é uma suspensão de hidróxido de cálcio a 1 em água Analisando a fórmula da pasta dágua observamos a presença de 50 de pós insolúveis 25 de óxido de zinco e 25 de talco Glicerina e água constituem a base ou veículo hidrofílico Além da ação antisséptica e cicatrizante essa composição apresenta o efeito secativo característico das pastas hidrofílicas e por isso é utilizada em afecções vesiculares e na presença de exsudação A figura a seguir demonstra como é o aspecto da pasta dágua Figura 54 Foto ilustrativa da aparência de uma fórmula de pasta dágua Fonte Acofarma 2014 5312 Pastas hidrofóbicas Pastas hidrofóbicas são aquelas que contêm sólidos insolúveis dispersos em uma base oleosa Apresentam função de proteção e lubrificação 101 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Pasta de Lassar é um tipo de pasta de óxido de zinco hidrofóbica ANVISA 2012 como veremos a seguir Pasta de Lassar Óxido de zinco 25 g Amido 25 g Petrolato branco 50 g Na pasta de Lassar verificamos a presença de dois pós insolúveis óxido de zinco e amido os quais somam 50 da composição O petrolato branco apresenta a característica lipofílica necessária a esse tipo de pasta O produto é muito firme e é mais capaz de proteger a pele e absorver as secreções do que a pomada de óxido de zinco por isso é utilizado em dermatoses pruriginosas como antisséptico secativo e cicatrizante no tratamento de feridas e úlceras 5313 Pastas adesivas Pastas adesivas são preparações lipofílicas para aplicação em mucosas Contêm altas concentrações de hidrocoloides suspensos tais como éteres de celulose para manter contato com a superfície da mucosa úmida como a oral Assim que as partículas do agente gelificante na superfície da pasta entram em contato com a mucosa elas absorvem umidade e intumescem o que imediatamente leva a uma forte adesão da pasta na mucosa O fato de a base ser lipofílica previne a rápida erosão e desintegração da forma farmacêutica Um exemplo de pasta adesiva está descrito a seguir Pasta adesiva de triamcinolona Acetonido 01 Plastibase 60 Pectina 33 Gelatina 66 Carboximetilcelulose 30 Observação Plastibase é uma associação de óleo mineral e polietileno 955 Nessa pasta indicada para o tratamento de estomatite aftosa observamos a presença de três hidrocoloides pectina gelatina e carboximetilcelulose dispersos em uma base oleosa plastibase Em contato com a mucosa oral os hidrocoloides intumescem causando adesão da pasta e liberação lenta do corticoide 532 Métodos de preparo As pastas podem ser preparadas da mesma forma que as pomadas por mistura dos pós insolúveis nos veículos através do processo de levigação geralmente quando se trata de pastas hidrofílicas Para 102 Unidade II as pastas hidrofóbicas pode ser necessário fundir os excipientes previamente e essa base fundida pode ser utilizada como líquido de levigação Lembrete A levigação é comumente usada na preparação em pequena escala de pomadas e pastas para reduzir o tamanho de partícula dos pós adicionados É realizada triturandose os pós com uma pequena quantidade de líquido agente de levigação no qual o sólido não é solúvel Depois de pronta é conveniente que se submeta a pasta a um moinho o qual utiliza alta força de cisalhamento para reduzir o tamanho das partículas dispersar aglomerados e homogeneizar a forma farmacêutica A força de cisalhamento é criada por três rolos posicionados horizontalmente girando em direções opostas e em velocidades diferentes entre si figura 55 Todo o produto é puxado através da lacuna entre os rolos resultando em uma distribuição de tamanho de partícula precisa controlável e estreita O tamanho das partículas pode ser controlado de forma fácil e precisa ajustando as larguras dos espaços A B Figura 55 A Representação esquemática B foto ilustrativa do funcionamento de moinho de rolos na redução e homogeneização do tamanho de partículas de uma pasta Fonte A Exakt 2021 B Disponível em httpsbitly3xIt04L Acesso em 30 nov 2021 Saiba mais Você pode visualizar o funcionamento de um moinho de rolos assistindo ao vídeo a seguir Ointment Mill Three Roll Mill by Torrey Hills Technologies ThreeRollMills sl sd 1 vídeo 14 min Disponível em httpsbitly3o5MWLF Acesso em 30 nov 2021 103 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 54 Géis Gel ou geleia é uma forma farmacêutica semissólida constituída pela dispersão de partículas sólidas em um veículo líquido que adquire consistência Tratase de coloides ou sistemas coloidais em que pequenas partículas inorgânicas ou grandes moléculas orgânicas conhecidas como gelificantes são interpenetradas por um líquido e proporcionam viscosidade A fase contínua dispersante geralmente é aquosa mas também pode ser alcoólica ou oleosa Alguns géis são transparentes enquanto outros são turvos Isso depende de os sólidos estarem ou não completamente dispersos ou se formam agregados que dispersam a luz A concentração dos agentes gelificantes costuma ser menor que 10 geralmente na faixa de 05 a 20 sendo que concentrações maiores proporcionam maior viscosidade Várias categorias de fármacos tais como antibacterianos antifúngicos antivirais antipruriginosos anestésicos locais antiinflamatórios analgésicos queratolíticos adstringentes midriáticos podem ser incorporadas nessa forma farmacêutica Porém como outras formas semissólidas os géis podem ser isentos de fármacos e ser utilizados para promover proteção e lubrificação do local de aplicação 541 Vias de administração Os géis têm uma variedade de aplicações na administração de medicamentos por diversas vias e podem proporcionar efeito sistêmico ou local a maioria A seguir serão destacadas algumas vias de administração e exemplos de formulações de géis correlacionados a esses locais de aplicação 5411 Via cutânea A via cutânea geralmente é utilizada para obtenção de efeito local mas os géis conhecidos como transdérmicos podem causar efeito sistêmico Exemplo de gel de aplicação tópica Ibuprofeno 5 Álcool isopropílico 5 Hidroxietilcelulose 18 Hidróxido de sódio 1 Álcool benzílico 5 Água purificada qsp 100 5412 Via vaginal Os géis vaginais costumam ser utilizados para obtenção de efeito local Incluem fármacos antibióticos antifúngicos hidratantes 104 Unidade II Exemplo de gel vaginal Metronidazol 500 mg5 g CMC 2 Metilparabeno 018 Propilparabeno 002 Fosfato de sódio monobásico anidro qs Água purificada qsp 100 5413 Via oftálmica Géis oftálmicos costumam ser utilizados como lubrificantes ou umidificantes dessa região em situações como a síndrome do olho seco condição em que o indivíduo não consegue produzir a lubrificação necessária para os olhos e por isso sente desconforto No exemplo que segue verificamos que não há fármaco presente O próprio agente gelificante ácido acrílico exerce o efeito esperado de natureza física formando uma película na superfície do olho reduzindo a irritação mecânica causada pelo movimento das pálpebras Exemplo de gel oftálmico Ácido acrílico 2 mgg Cloreto de benzalcônio 001 Sorbitol 4 Hidróxido de sódio qs pH 7 Água estéril qsp 10 g Lembrete Assim como os medicamentos parenterais os oftálmicos devem ser estéreis 5414 Via nasal Géis para administração nasal não são muito comuns Geralmente incluem descongestionantes ou simplesmente hidróxido de sódio que atua como hidratante da mucosa para proporcionar efeito local Exemplo de gel nasal descongestionante Cloridrato de xilometazolina 1 Hipromelose 08 Sorbitol 3 Cloreto de sódio qs Cloreto de benzalcônio 2 Edetato dissódico Fosfato de sódio monobásico dihidratado e fosfato de sódio dibásico dodecaidratado qs pH 665 Água purificada qsp 10 105 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 5415 Via oral A administração de gel pela via oral não é usual No exemplo que segue o gel é fluido para facilitar a ingestão e apresenta efeito sistêmico para adequada ação do fármaco broncodilatador mucolítico expectorante Exemplo de gel oral Acebrofilina 5 mg Sorbitol 7 Glicerina 3 Hidroxietilcelulose 07 Metilparabeno 018 Propilparabeno 002 Aroma e edulcorante qs Corante qs Hidróxido de sódio ou ácido clorídrico qs Água purificada qsp 1 mL 5416 Via bucal As formulações de géis para via bucal incluem geralmente anestésicos antifúngicos cicatrizantes e substâncias que tratam aftas Exemplo de gel bucal para estomatite aftosa Ácido hialurônico 24 mg Carbômero 934 1 Carboximetilceluose sódica 3 Sorbato de potássio 01 Trietanolamina qs pH 6 Água purificada qsp 10 g O exemplo em questão contém ácido hialurônico um componente importante da matriz extracelular que pode ser encontrado em muitos tecidos No tratamento da estomatite aftosa o ácido hialurônico reduz rapidamente a dor e o desconforto causados pelas úlceras acelera o processo de cicatrização e reduz significativamente o risco de recorrência do distúrbio Também controla o processo inflamatório e reidrata os tecidos Além disso o gel de elevada viscosidade é mucoadesivo formando um filme protetor que aumenta o tempo de contato da formulação com a área afetada 5417 Retal Géis para via retal podem ser utilizados para obtenção de efeito local como aqueles que contêm substâncias para o tratamento de hemorroidas ou sistêmico como é o caso do gel de diazepam 106 Unidade II Exemplo de gel retal Diazepam 5 mgmL Hidroxipropilmetilcelulose 1 Álcool etílico 10 Propilenoglicol 3 Benzoato de sódio 05 Álcool benzílico 15 Trietanolamina qs pH 657 Água purificada qsp 100 542 Classificação dos géis Os géis podem ser classificados de várias maneiras conforme veremos a seguir 5421 De acordo com as características da fase líquida Conforme as características da fase líquida dispersante os géis podem ser classificados como indicado a seguir Oleosos ou lipofílicos ou organogéis Géis oleosos lipofílicos ou hidrofóbicos também designados por organogéis contêm como líquido dispersante uma ou mais substâncias hidrofóbicas associadas a um agente gelificante Exemplos comuns consistem em parafina líquida com polietileno associação conhecida como plastibase ou óleos gordurosos com sílica coloidal ou sabões de alumínio ou zinco A figura a seguir demonstra a aparência de um gel oleoso Figura 56 Aspecto de um gel lipofílicoorganogel Disponível em httpsbitly3lGKZnk Acesso em 6 dez 2021 107 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Observação Alguns autores usam a designação organogel hidrofílico para se referir às preparações que utilizam PEGs de elevado peso molecular na fase dispersante Aquosos ou hidrofílicos ou hidrogéis Géis hidrofílicos ou hidrogéis geralmente contêm em sua composição água como líquido dispersante mas também podem apresentar álcool etílico álcool isopropílico ou mesmo polióis associados Representam a maioria dos géis pois costumam ser mais desejáveis devido ao fato de apresentarem fácil espalhamento e sem sensorial oleoso Pegajosidade tack e formação de filme quebradiço na pele são desvantagens que muitos tipos de géis hidrofílicos apresentam A figura a seguir ilustra o aspecto de um gel hidrofílico Figura 57 Aparência de um hidrogelgel aquoso 5422 De acordo com as características do agente gelificante A depender se a molécula do doador de viscosidade se ioniza ou não em meio líquido o gel pode ser classificado como não iônico iônico Gel não iônico possui estabilidade em ampla faixa de pH tornandose possível a veiculação de substâncias de caráter ácido Um gel aniônico é pH dependente ou seja é estável em pH neutro ou próximo da neutralidade 108 Unidade II 5423 De acordo com as fases coloidais Os géis podem ser classificados com base nas fases coloidais Gel inorgânico O gel inorgânico apresentase como um sistema de duas fases em que o agente gelificante é uma substância inorgânica como bentonite hidróxido de alumínio dióxido de silício coloidal silicato de alumínio e magnésio Observação Magma é um gel bifásico inorgânico constituído por argilas coloidais em que as partículas dispersas doadoras de viscosidade são grandes Gel orgânico O gel orgânico apresentase como um sistema de uma fase em que grandes moléculas orgânicas polímeros naturais ou sintéticos são os formadores de gel Ácido algínico e alginato de sódio pectina gomas como guar carragena e tragacanta são exemplos de gelificantes de origem natural enquanto carbômero poloxamer povidona e derivados da celulose são polímeros de origem sintética Podemos observar que géis aquosos ou oleosos também podem ser classificados em inorgânicos ou orgânicos dependendo da natureza dos agentes gelificantes ou ainda ser designados por hidrogéis ou organogéis dependendo nesse caso do tipo de dispersante e gelificante O quadro a seguir sumariza esses dois esquemas de classificação Quadro 6 Classificação geral e descrição dos géis Classificação Descrição Exemplos de gelificantes Inorgânico Geralmente sistemas de duas fases Gel de hidróxido de alumínio magma de bentonite bentonite 50 Orgânico Geralmente sistemas monofásicos Carbopol tragacanta Plastibase Hidrogel Contém água Hidrogéis orgânicos Pectina alginato de sódio Gomas naturais e sintéticas Carboximetilcelulose sódica CMC carbômero Hidrogéis inorgânicos Bentonita 1025 silicato de alumínio e magnésio Veegum Organogel Hidrocarbonetos Petrolato óleo mineral polietileno Plastibase Gorduras animaisvegetais Banha animal manteiga de cacau Bases graxas à base de sabão Estearato de alumínio com gel de óleo mineral pesado Organogéis hidrofílicos Polietilenoglicóis de alto peso molecular Carbowax Adaptado de Allen Jr 1999 109 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Note que uma mesma substância formadora de gel pode se enquadrar em mais de uma classificação por exemplo carbômero Carbopol pode dar origem a um gel classificado como hidrogel ou gel orgânico além de ser aniônico Observe a figura a seguir tratase de uma representação esquemática que resume as possíveis classificações apresentadas para os géis Gel Nao iônico Orgânico Hidrogel Inorgânico Organogel Iônico Aquosohidrofílico Oleosolipofílico Organogel Figura 58 Representação esquemática de possíveis classificações para um gel 543 Composição Entre os principais compostos que entram na composição dos géis se destacam os que seguem 5431 Agentes gelificantes Como mencionado anteriormente a maioria dos géis é do tipo aquoso hidrofílico ou hidrogel sendo seus agentes gelificantes geralmente macromoléculas orgânicas De modo geral os sólidos formadores de géis devem ser hidratados por certo tempo para que se obtenha o máximo de dispersão possível e consequentemente viscosidade máxima O uso de aquecimento acelera esse processo A seguir serão descritas algumas macromoléculas que se destacam na produção de géis hidrofílicos e as características dos produtos formados por elas Observação Muitos agentes gelificantes têm aplicação também em cosméticos e alimentos Ácidos carboxivinílicos Ácidos carboxivinílicos são polímeros acrílicos de alto peso molecular Podem ser designados por carbômeros ou pelo nome comercial Carbopol Muitas especialidades farmacêuticas contêm polímero carboxivínilico em sua composição A figura a seguir representa a fórmula estrutural do carbômero 110 Unidade II OH O C CH n CH2 Figura 59 Estrutura molecular do monômero de carbômero As moléculas de polímero formam um emaranhado quando estão na forma de pó uma vez que as carboxilas grupo polar presentes na estrutura encontramse neutralizadas ou seja não dissociadas COOH Quando o polímero é hidratado ocorre certa dissociação e as carboxilas ficam com carga negativa COO repelindose e causando o desenrolar das moléculas o que aumenta um pouco o espessamento Ao se elevar o pH com adição de uma base mais carboxilas se dissociam e mais a estrutura polimérica se estica aumentando ainda mais a viscosidade A figura a seguir demonstra esquematicamente a molécula de carbômero desidratada hidratada e neutralizada Carbômero desidratado Carbômero hidratado Carbômero hidratado NH4 NH4 NH4 NH4 NH4 NH4 NH4 COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COO COO COO COO COO COO COO COOH COOH COOH COOH HOOC HOOC COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH COOH Figura 60 Representação de molécula de carbômero no estado seco emaranhado hidratado e com o aumento do pH esticada 111 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Resumindo é possível dizer que os géis de Carbopol são aniônicos e instáveis em pH ácido porque perdem viscosidade com a diminuição deste Concentrações próximas a 1 de carbômero formam géis com elevada viscosidade A figura a seguir demonstra o carbômero na forma de pó e após a hidratação e aumento do pH A B Figura 61 A Carbopol pó B gel pronto Fonte Costa 2018 p 1 A seguir podemos verificar um exemplo de produto contendo carbômero Tratase do álcool gel descrito no Formulário nacional da farmacopeia brasileira um antisséptico bastante utilizado para antissepsia da pele e na desinfecção de superfícies e materiais Álcool etílico 96 ºGL 7573 g Carbômero 980 05 g Solução de trietanolamina 50 pv qs Água purificada qsp 100 mL Derivados da celulose Os derivados da celulose são compostos orgânicos semissintéticos originados a partir da celulose um polímero natural São utilizados para obtenção de géis hidrofílicos hidrogéis Diversos derivados da celulose têm aplicação na produção de medicamentos como doadores de viscosidade como a carboximetilcelulose CMC também designada por carmelose hidroxipropilmetilcelulose HPMC conhecida também por hipromelose hidroxietilcelulose ou hietelose Porém para obtenção da forma farmacêutica gel a hidroxietilcelulose se destaca Essa substância forma um gel transparente incolor não iônico resistente a variações de pH Concentrações em torno de 2 formam géis viscosos com aquecimento Cellosize e Natrosol são marcas bastante conhecidas desse polímero 112 Unidade II O n H X R H ou R O OR OR OR RO RO RO OR O O O Figura 62 Estrutura molecular do monômero de hidroxietilcelulose Polivinilpirrolidona PVP Polivinilpirrolidona figura a seguir também conhecida pela sigla PVP ou pelo termo povidona é outro polímero que pode formar hidrogéis para veiculação de fármacos É não iônico e estável em ampla faixa de pH n CH2 CH N O Figura 63 Estrutura molecular do monômero de polivinilpirrolidona A matriz polimérica de PVP forma um hidrogel com grande capacidade de absorção de água propriedade que pode ser utilizada na liberação controlada de fármacos Além disso hidrogéis poliméricos também são amplamente utilizados desde 1992 em curativos para tratamento de ferimentos pois evitam a contaminação da ferida por microrganismos fornecendo livre fluxo de oxigênio acelerando a cura Poloxamer Os poloxamers também conhecidos pelo nome comercial Pluronic são triblocos de copolímeros constituídos por duas moléculas de polioxietileno POE e uma molécula de polioxipropileno POP com fórmula molecular EOxPOyEOx figura a seguir Estão disponíveis no mercado diferentes graus de peso molecular que os difere na forma física solubilidade e ponto de fusão 113 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL São não iônicos apresentam alta solubilidade em água e biocompatibilidade Formam géis em concentrações mais altas 15 a 20 HO O O x y x O CH3 H Figura 64 Fórmula geral dos Pluronics representada por PEOxPOPyPOE 5432 Conservantes Conservantes antimicrobianos são adjuvantes indispensáveis à preparação de géis hidrofílicos pois o meio aquoso favorece o crescimento de microrganismos Entre as substâncias comumente utilizadas podemos citar os parabenos metilparabeno e propilparabeno fenoxietanol cloreto de benzalcônio e álcool benzílico 5433 Umectantes Substâncias umectantes são hidrofílicas e formam ligações de hidrogênio com a água evitando a perda desse elemento das formulações Além disso proporcionam melhor espalhamento na pele e maior elasticidade Como exemplos estão os polióis glicerina sorbitol e propilenoglicol 5434 Corretivos de pH O ajuste de pH pode ser necessário em formulações de géis para aumentar a solubilidade e viscosidade como é o caso do gel de carbômero para aumentar a compatibilidade com a via de administração eou para aumentar a estabilidade do medicamento Hidróxido de sódio trietanolamina ácido clorídrico e ácido cítrico são exemplos de substâncias corretoras de pH nesse tipo de forma farmacêutica 5435 Veículo Como mencionado anteriormente os veículos utilizados podem ser oleosos como a vaselina e óleos vegetais ou aquosos como polietilenoglicóis etanol polióis água de diversos graus de pureza dependendo da via de administração 544 Preparo de géis De modo geral no processo de preparo de géis o gelificante deve ser disperso no solvente contendo fármaco eou adjuvantes dissolvidos O processo de mistura pode ser feito utilizando gral e pistilo em pequena escala ou agitadores mecânicos sendo que aquecimento e ajuste de pH podem ser necessários para favorecer a completa dispersão do gelificante A agitação excessiva resulta em aprisionamento de ar 114 Unidade II 6 SUPOSITÓRIOS E ÓVULOS Os supositórios são definidos como formas farmacêuticas sólidas ou semissólidas moldadas para serem utilizadas através da sua inserção nos orifícios corporais onde se fundem ou se dissolvem com a finalidade de ter ação local ou sistêmica ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Por definição podem ser de uso retal vaginal e uretral Porém o termo supositório é comumente utilizado para se referir à forma farmacêutica destinada à aplicação retal enquanto os óvulos são de uso vaginal e as denominadas velas são de uso uretral ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Neste capítulo vamos abordar as questões relacionadas às formas mais comuns no caso os supositórios e os óvulos entretanto os excipientes utilizados e os métodos de preparo para a produção das velas são muito semelhantes 61 Vantagens e desvantagens A justificativa para a utilização de supositórios e óvulos está relacionada com as vantagens da administração de medicamentos pelas vias retal ou vaginal e são elencadas a seguir GARG TUKKER 2016 VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Uma forma de administração de medicamentos para pacientes nos quais não se possa utilizar a via oral Alguns exemplos são pacientes inconscientes ou que não podem receber a medicação pela via oral como aqueles que apresentam náuseas ou que foram recentemente submetidos a alguma cirurgia do trato gastrintestinal Pode ser ainda o caso de crianças ou idosos em que a dificuldade de deglutição é maior Nos casos de fármacos que apresentariam problemas de estabilidade se administrados pela via oral como inativação pelo pH ácido do estômago Além disso as vias retal ou vaginal seriam uma via alternativa para a administração de fármacos irritantes para a mucosa gástrica Ação local no reto ou na vagina sendo destinados a tratamentos de doenças ou condições que afetam essas regiões Fármacos com ação sistêmica quando administrados sob a forma de supositórios podem apresentar maior biodisponibilidade uma vez que boa parte escapa do metabolismo de primeira passagem o que pode contribuir para maior biodisponibilidade Fármacos que são absorvidos pela via vaginal também apresentam maior biodisponibilidade pois não há direcionamento para metabolismo présistêmico 115 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Por outro lado biodisponibilidade variável e dependente da condição clínica do paciente irritação da mucosa retal ou vaginal e incômodo na aplicação são exemplos de desvantagens associadas a essas formas farmacêuticas 62 Supositórios Os supositórios apresentam superfície lisa e são encontrados em tamanhos e formatos diferentes sendo comuns os formatos cilíndrico e cônico próxima figura O peso dos supositórios pode variar entre 1 e 2 g principalmente em função da densidade das matériasprimas utilizadas no seu preparo e do uso ao qual se destina para bebês crianças ou adultos ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Figura 65 Supositórios em diferentes formatos Fonte Velasco Oliveira e De Matta 2021 p 167 Dependendo do fármaco veiculado e da composição da formulação um supositório pode ter ação local ou sistêmica Em geral a ação local é desejada para tratar afecções como as hemorroidas podendo nesse caso ser utilizados fármacos com ação anestésica antiinflamatória entre outros Apresentam também efeito local os supositórios com ação laxativa sendo comum nesse caso a administração de supositório de glicerina Os supositórios com ação sistêmica mais comumente utilizados são aqueles administrados quando o objetivo é ter ação analgésica ou antipirética No entanto há supositórios contendo fármacos cuja administração leva a ter efeitos anticonvulsivantes antieméticos antiinflamatórios entre outros Por outro lado a ação sistêmica de fármacos por meio da administração retal é caracterizada por absorção irregular uma vez que esta depende das características fisiológicas que podem variar entre os indivíduos ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 A via retal possui a vantagem de ser uma região bastante vascularizada o que favorece a absorção dos fármacos O reto possui de 15 a 20 cm de comprimento e cerca de 3 mL de fluido quando vazio estado que se encontra na maior parte do tempo GARG TUKKER 2016 Apesar de 50 a 70 da dose administrada de um fármaco para ação sistêmica sob a forma de supositório conseguir escapar do metabolismo de primeira passagem hepático indo diretamente para a 116 Unidade II circulação sistêmica a absorção como já comentado é muito variável entre os indivíduos o que pode resultar em menor biodisponibilidade do que quando o mesmo fármaco é administrado pela via oral ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 GARG TUKKER 2016 A absorção dos fármacos pela via retal se dá principalmente por difusão passiva através da mucosa Estão envolvidas na irrigação sanguínea do reto as veias hemorroidais inferiores veias hemorroidais médias e as veias hemorroidais superiores localizadas nas regiões inferior intermediária e superior do reto respectivamente Quando o fármaco administrado é absorvido para a circulação sistêmica pelas veias hemorroidais inferiores e médias estas são direcionadas para a veia ilíaca depois para a veia cava superior coração e circulação sistêmica contornando o metabolismo de primeira passagem hepático Por outro lado o fármaco pode também ser absorvido para as veias hemorroidais superiores que drenam na veia porta hepática seguindo para o fígado onde estará sujeito ao metabolismo de primeira passagem próxima figura Veia porta Veia hemorroidal superior Plexo venoso retal Pele Veia marginal Veia hemorroidal mediana Veia hemorroidal inferior Circulação sistêmica Figura 66 Drenagem venosa so reto humano e os caminhos da absorção de fármacos pela via retal Adaptada de Garg e Tukker 2016 63 Óvulos Os óvulos são formas farmacêuticas de formato ovoide ou globular próxima figura administrados pela via vaginal Apresentam peso maior que o dos supositórios sendo encontrados óvulos com peso entre 2 e 16 g Conforme já mencionado podem apresentar ação local ou sistêmica dependendo das características do fármaco veiculado e da formulação VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 117 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Figura 67 Óvulos Fonte Velasco Oliveira e De Matta 2021 p 169 A ação local de fármacos antifúngicos por meio da administração de óvulos pela via vaginal permite um tratamento eficaz para muitas infecções vaginais com doses muitas vezes menores que as utilizadas pela via oral GARG TUKKER 2016 A ação sistêmica de alguns fármacos administrados pela via vaginal ocorre devido a sua absorção por transporte passivo através da mucosa vaginal que é bastante vascularizada Por meio da entrada no sangue pela veia vaginal o fármaco é levado até a veia cava inferior que desemboca no coração evitando dessa forma o metabolismo de primeira passagem hepático GARG TUKKER 2016 64 Excipientes utilizados As formulações de supositórios e óvulos são compostas por bases nas quais os fármacos e adjuvantes farmacotécnicos são incorporados As bases empregadas na composição dessas formas farmacêuticas podem ser lipossolúveis ou hidrossolúveis enquanto os adjuvantes são utilizados com funções mais específicas nas formulações ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Entre as características que uma base para supositório ou óvulo deve ter destacase a capacidade de fundir amolecer ou se dissolver na temperatura corporal Além disso não deve ser irritante mas estável e compatível com o fármaco contido em sua formulação GARG TUKKER 2016 A seguir são descritas as características dos tipos de bases e adjuvantes utilizados 641 Bases lipossolúveis As bases lipossolúveis são empregadas na composição das formulações de supositórios mas não na dos óvulos Diversos materiais podem ser utilizados para se obter essas bases como a manteiga de cacau óleo de semente de algodão ácido palmítico ácido esteárico entre outros Fármacos com características hidrofílicas veiculados em bases lipossolúveis são liberados mais facilmente da base Por 118 Unidade II outro lado fármacos com características semelhantes a esse tipo de base ou seja lipossolúveis ficam mais retidos na base VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Devido às suas características a manteiga de cacau é o material mais utilizado nas bases para supositórios Entre essas destacamse seu ponto de solidificação que ocorre próximo a 24 C e sua fusão entre 30 C e 36 C Além disso é pouco irritante para a mucosa retal Por outro lado a manteiga de cacau apresenta polimorfismo Dessa forma quando submetida a aquecimento em temperatura superior ao seu ponto de fusão e em seguida resfriada pode ocorrer a formação de diferentes formas cristalinas Esses são seus polimorfos que podem apresentar temperaturas de fusão mais baixas o que dificulta seu uso como base para supositórios VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Observação Uma substância que possui polimorfismo é aquela que pode existir em várias formas cristalinas Embora a estrutura química seja a mesma as propriedades físicoquímicas são distintas 642 Bases hidrossolúveis As bases hidrossolúveis compreendem as compostas por gelatina glicerinada e as que contêm polietilenoglicol A gelatina glicerinada é uma mistura composta geralmente por 70 de glicerina 20 de gelatina e 10 de água Tratase de uma mistura empregada em supositórios e óvulos que sofre dispersão quando administrada pelas vias retal ou vaginal As quantidades de glicerina e de gelatina na formulação principalmente desta última influenciam no tempo que a base irá demorar para se dispersar e consequentemente na duração da ação do fármaco ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 GARG TUKKER 2016 A gelatina glicerinada é um material bastante higroscópico devido ao alto percentual de glicerina em sua composição Dessa forma os supositórios ou óvulos que utilizam esse tipo de base devem ser protegidos da umidade de forma a se manterem estáveis Os polietilenoglicóis PEGs são polímeros derivados do óxido de polietileno hidrossolúveis e também são empregados nas bases para o preparo de supositórios e óvulos Os tipos de PEGs variam de acordo com o seu peso molecular apresentandose em estados físicos diferentes conforme apresentado na tabela a seguir 119 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Tabela 14 Denominações dos PEGs e seu estado físico à temperatura ambiente Denominação do PEG Estado físico à temperatura ambiente 25 C PEG 400 Líquido PEG 600 Líquido PEG 1500 Sólido PEG 4000 Sólido PEG 6000 Sólido Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 323 Os PEGs de diferentes pesos moleculares podem ser misturados em diversas proporções de forma que o supositório ou óvulo apresente a consistência desejada PEGs como o 4000 e o 6000 são ceras com faixa de fusão entre 5058 C e 5563 C respectivamente Dessa forma os PEGs não se fundirão na temperatura corporal 37 C e se dissolverão de forma lenta nos fluidos corporais No quadro a seguir são elencadas algumas vantagens do uso dos PEGs como base de supositórios e de óvulos Quadro 7 Vantagens do uso de PEGs como bases de supositórios e de óvulos que apresentam faixa de fusão acima da temperatura corporal Vantagens Explicação Liberação lenta do fármaco Por não se fundirem na temperatura corporal os supositórios ou óvulos que contêm em sua base esses tipos de PEGs se dissolverão lentamente liberando também o fármaco de forma gradual Melhoria no armazenamento e transporte Por apresentarem uma faixa de fusão mais alta os produtos contendo PEGs em sua composição não precisam ser armazenados sob refrigeração Isso pode auxiliar na manutenção da sua estabilidade durante armazenamento e transporte Melhor administração Devido ao fato de não se fundirem na temperatura corporal esses produtos podem ser inseridos lentamente sem que ocorra sua fusão em contato com os dedos durante a administração Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 323 643 Bases emulsificadas As bases emulsificadas empregadas em formulações de supositórios e de óvulos são emulsões do tipo água em óleo compostas por misturas de diversos materiais graxos Essas bases se fundem na temperatura corporal ao serem administradas liberando o fármaco Em relação às bases lipossolúveis como aquelas constituídas por manteiga de cacau possuem a vantagem de não apresentarem polimorfismo Por outro lado apresentam custo mais elevado VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 120 Unidade II 644 Adjuvantes As composições das formulações de supositórios e de óvulos contêm além do fármaco e da base adjuvantes farmacotécnicos com funções específicas como os plastificantes conservantes e antioxidantes Os plastificantes compreendem substâncias que são adicionadas à composição da base do supositório ou do óvulo com o objetivo de obter produtos menos quebradiços O propilenoglicol e a glicerina são exemplos de substâncias empregadas como plastificantes VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Os conservantes são substâncias com características antimicrobianas ou seja evitam a proliferação de microrganismos nas formulações mantendo a estabilidade microbiológica durante o armazenamento até o uso Esses adjuvantes são necessários nas formulações compostas principalmente por bases hidrofílicas uma vez que estão mais sujeitas à proliferação microbiana do que as bases lipossolúveis Entre os conservantes podem ser utilizados os parabenos VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Por outro lado as bases lipossolúveis por serem compostas por substâncias oleosas estão mais susceptíveis à oxidação Dessa forma a adição de antioxidantes tem o objetivo de garantir a estabilidade dessas substâncias e do fármaco quando este também for sujeito à oxidação Entre as substâncias com características antioxidantes empregadas nas formulações de supositórios e de óvulos podem ser citados a vitamina E tocoferol e o butilhidroxitolueno BHT VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 65 Preparação Na figura a seguir são apresentados os métodos de preparo de supositórios e de óvulos Métodos de preparo de supositórios e óvulos Moldagem por fusão Compressão Moldagem manual e rolamento Figura 68 Representação dos métodos utilizados no preparo de supositórios e de óvulos 651 Moldagem por fusão O método de moldagem por fusão envolve as etapas representadas na próxima figura que se inicia com a fusão da base e termina com a remoção do supositório ou do óvulo do molde 121 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Fusão da base Incorporação do IFA Inserção da base no molde Resfriamento e solidificação Remoção do produto do molde Figura 69 Representação das etapas do método de preparo de supositóriosóvulos por moldagem por fusão O preparo dos supositórios e dos óvulos por esse método requer nas primeiras etapas a fusão da base e incorporação do insumo farmacêutico ativo IFA conforme mostrado na figura anterior Nas indústrias farmacêuticas essas etapas são realizadas em tanques com sistema de aquecimento como representado na figura a seguir Figura 70 Tanques com aquecimento empregados para fundir os componentes da base dos supositórios e dos óvulos e posterior adição do IFA Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 324 Em seguida o material fundido é inserido em equipamentos industriais contendo moldes metálicos como as mesas rotativas próxima figura ou em moldes metálicos de plástico ou de silicone para o 122 Unidade II preparo em pequena escala em farmácias de manipulação figuras 72 e 73 Na figura 74 são apresentados moldes de plástico que já fazem parte da embalagem primária e que também podem ser utilizados tanto para o preparo de supositórios em larga escala quanto em pequena escala Figura 71 Equipamento industrial mesa rotativa contendo moldes metálicos para o preparo de supositórios Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 324 Figura 72 Molde metálico para preparo de supositórios em pequena escala Fonte Allen Jr Popovich e Ansel 2013 p 324 Figura 73 Molde metálico para preparo de óvulos em pequena escala Fonte Velasco Oliveira e De Matta 2021 p 176 123 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Figura 74 Moldes de plástico para preparo de óvulos em pequena escala ou em escala industrial Fonte Allen Jr 2008 p 111 Quando se trata do preparo de supositórios ou de óvulos em pequena escala a moldagem ocorre de forma manual utilizando moldes como os apresentados nas figuras 72 e 73 As etapas de preparo são as mesmas descritas na figura 69 No entanto acrescentase a essas etapas as de lubrificação e calibração prévias dos moldes antes da utilização A etapa de lubrificação consiste na aplicação de uma pequena quantidade de óleo mineral nos moldes principalmente quando se utiliza a gelatina glicerinada no preparo dos supositórios ou óvulos A lubrificação prévia auxilia na posterior retirada dos supositórios ou óvulos dos moldes ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 A calibração é uma etapa importante uma vez que os moldes possuem uma capacidade volume e dependendo da densidade dos materiais utilizados no preparo dos supositórios ou óvulos o peso dos produtos poderá variar Dessa forma a calibração pode ser realizada conforme representado na figura a seguir ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Determinar o volume do molde após fusão dos supositóriosóvulos Após remoção determinar peso total e peso médio Envasar somente com a base Figura 75 Representação das etapas de calibração dos moldes para supositórios ou óvulos Além dessas etapas em geral se prepara 10 de excesso de formulação para que seja considerada a perda durante o preparo e enchimento dos moldes VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 124 Unidade II É muito comum durante o resfriamento da base uma pequena contração da formulação assim o envase geralmente é feito com excesso de modo que no momento da retirada dos supositórios e dos óvulos todo o molde esteja preenchido e assim seja mantida a homogeneidade de peso de cada unidade O preparo industrial envolve o uso de mesas rotativas figura 71 nas quais são encaixados os moldes descartáveis geralmente de plástico figura 74 A esses moldes é adicionada a formulação fundida após prévia lubrificação Terminada a solidificação o próprio equipamento remove o excesso de formulação que ficou para fora dos moldes e são retiradas amostras para testes de controle de qualidade Os moldes preenchidos são retirados do equipamento e embalados VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Em escala industrial também é possível a automatização total do processo próxima figura contemplando as fases de formação da embalagem primária envase resfriamento selagem e corte figura 77 Equipamentos como esse podem produzir cerca de três mil supositórios a cada hora ALLEN JR 2008 Figura 76 Equipamento industrial para a produção de supositórios Fonte Allen Jr 2008 p 100 Figura 77 Supositórios envasados após o corte com o número de unidades que serão colocadas na embalagem secundária Fonte Allen Jr 2008 p 160 125 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 652 Compressão Tratase de um método aplicável principalmente a fármacos sensíveis ao calor uma vez que não envolve aquecimento Adicionalmente é uma alternativa para evitar a sedimentação do fármaco em bases nas quais ele seja insolúvel ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 A compressão é realizada em equipamento específico composto por cilindros e pistões onde a massa composta por base fármaco e adjuvantes é submetida à compressão e posterior ejeção VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 653 Moldagem manual e rolamento A moldagem manual e rolamento é um método antigo de preparo de supositórios porém com a disponibilidade de moldes e equipamentos atualmente se encontra em desuso ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Tratase de um método que não utiliza aquecimento pois o fármaco é incorporado na base após tamisação de forma a se obter uma massa a qual é enrolada manualmente até se obterem os supositórios É um método demorado e que gera supositórios de tamanho e peso desuniformes VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 66 Cálculos empregados no preparo de supositórios e óvulos Os cálculos relacionados com o preparo de supositórios são referentes à determinação da quantidade de base que deve ser adicionada em cada molde Uma vez que a dose de fármaco que deve estar presente em cada unidade já é conhecida o cálculo da quantidade de base é de extrema importância de modo que todo o molde seja preenchido e a dose do ativo esteja uniformemente distribuída Quando a quantidade de fármaco é muito pequena esse valor pode ser desconsiderado e o total de base a ser preparado corresponde ao volume para o preenchimento do molde ALLEN JR POPOVICH ANSEL 2013 Nos demais casos algumas opções para esse cálculo são o método por fator de deslocamento fd e o método por volume ocupado Para exemplificar esse racional vamos explicar a utilização do método do fator de deslocamento 661 Método por fator de deslocamento fd Para a realização desse cálculo alguns passos devem ser seguidos determinar o peso de base para preencher o molde misturar a quantidade de ativo e demais substâncias com um pouco de base colocar no molde e depois completar o volume com a base e determinar o peso 126 Unidade II prosseguir com os cálculos fator de deslocamento fd quantidade de base deslocada por 1 g de substância ativa Para facilitar o entendimento vamos supor que todos esses passos foram realizados para a obtenção do fd de uma formulação de supositórios de fenobarbital 100 mg Além do ativo o supositório é composto pela base de manteiga de cacau Massa da base para preencher o molde Mb 20 g Massa da base fenobarbital Mba 2019 g Dose de fenobarbital d 100 mg 01 g Massa da base descontando o ativo Mba 2019 01 1919 g Massa de base deslocada pelo ativo 20 1919 0081 g Para calcular o fd 01 g de fenobarbital deslocam 0081 g da base 10 g de fenobarbital deslocam fd fd 008101 081 A partir desse dado é possível calcular a quantidade de base para o preparo de qualquer número de supositórios Suponha que seja necessário atender a seguinte prescrição médica Fenobarbital 01 g Base de manteiga de cacau qsp 1 supositório Preparar 10 unidades Quantidade de substância ativa para o preparo das 10 unidades 10 01 g 10 g fd 081 1 g de fenobarbital deslocam 081 g de base Quantidade equivalente a 10 unidades de supositórios preparados apenas com a base 10 2 g 20 g Quantidade de base volume deslocado pelo ativo 20 081 1919 g Quantidades que devem ser pesadas para atender a prescrição 10 supositórios Fenobarbital 1 g Base de manteiga de cacau 1919 g Peso de cada supositório 1 191910 2019 g 127 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL 67 Exemplos de formulações O Formulário nacional da farmacopeia brasileira ANVISA 2012 traz a formulação de supositórios de glicerina para uso como laxante em bebês crianças e adultos tabela a seguir Tabela 15 Composição da formulação de supositórios de glicerina Componentes Quantidade Estearato de sódio 9 g Glicerina qsp 100 g Adaptada de Anvisa 2012 As orientações para o preparo desses supositórios segundo o Formulário nacional envolvem o aquecimento da glicerina em recipiente adequado até 50 C e dissolver o estearato de sódio sob agitação A mistura deve ser vertida ainda quente em moldes para remoção após resfriamento Em relação ao tamanho dos supositórios de glicerina para bebês o peso deve ser de 1 g para crianças entre 15 e 2 g e para adultos de 25 a 3 g ANVISA 2012 Um exemplo de base para supositórios e óvulos utilizando polietilenoglicol é descrita por Velasco Oliveira e De Matta 2021 A base é composta por uma mistura de PEG 1500 PEG 4000 e PEG 400 correspondendo a 70 10 e 20 respectivamente da formulação O método de preparo é o de moldagem por fusão Um tipo de supositório comumente utilizado no Brasil como analgésico e antitérmico em crianças são os supositórios de dipirona Na tabela a seguir é descrita a formulação de supositórios de dipirona para uso pediátrico VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 Tabela 16 Composição da formulação de supositórios de dipirona de uso pediátrico Componentes Quantidade Dipirona 03 g Cera de abelhas 18 Manteiga de cacau qsp 1 supositório Fonte Velasco Oliveira e De Matta 2021 p 178 A cera de abelhas e a manteiga de cacau devem ser aquecidas até 34 C até fusão devendo em seguida ser incorporado o fármaco A mistura deve ser inserida nos moldes e os supositórios podem ser removidos após solidificação para serem acondicionados VELASCO OLIVEIRA DE MATTA 2021 128 Unidade II 671 Peso médio limite farmacopeico de variação De acordo com a Farmacopeia brasileira 6ª edição o ensaio de peso médio é aplicado a formas farmacêuticas sólidas em doses unitárias como os supositórios e óvulos Para determinar o peso médio segundo a Farmacopeia devese pesar individualmente 20 supositórios ou óvulos e determinar o peso médio Podese tolerar no máximo duas unidades fora dos limites especificados em relação ao peso médio porém nenhuma poderá estar acima ou abaixo do dobro das porcentagens indicadas ANVISA 2019 p 61 Ainda de acordo com a Farmacopeia para supositórios e óvulos independentemente do peso médio os limites de variação permitidos são de 5 Saiba mais Leia a 6ª edição da Farmacopeia brasileira ANVISA Farmacopeia brasileira 6 ed Brasília Anvisa 2019 129 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Resumo As pomadas são formas farmacêuticas semissólidas de consistência mole destinadas ao uso na pele e mucosas que consistem em solução ou dispersão de um ou mais princípios ativos em baixas proporções em uma base adequada usualmente não aquosa Usualmente contêm fármaco mas nem sempre Pomadas não medicamentosas são usadas pelas características físicas que fornecem como protetoras emolientes ou lubrificantes São vias de administração usuais para pomadas cutânea oral oftálmica vaginal retal e podem proporcionar efeito local ou sistêmico As pomadas podem ser classificadas quanto à absorção na pele e tipo de efeito terapêutico em epidérmicas endodérmicas e diadérmicas ou quanto à composição em bases oleaginosas bases de absorção bases hidrofílicas bases de emulsão OA e AO Podem ser obtidas a frio por incorporação do fármaco ou a quente através de fusão dos excipientes que a compõem O acondicionamento geralmente é realizado em bisnagas ou frascos de boca larga de modo manual ou mecânico através do uso de enchedores Alguns autores classificam cremes géis e pastas como sendo tipos de pomadas Nesta unidade nós estudamos essas formas farmacêuticas separadamente para facilitar o entendimento Cremes são formas farmacêuticas semissólidas em que a fase oleosa está dispersa na fase aquosa ou viceversa ou seja cremes são considerados emulsões OA ou AO sendo o seu diferencial a elevada viscosidade Desse modo um creme OA também pode ser chamado de base de emulsão OA e um creme AO pode ser designado por base de emulsão AO Além dos componentes usuais de uma emulsão os cremes apresentam ainda agentes de consistência e muitas vezes emolientes É comum a utilização de ceras autoemulsionantes para o preparo de cremes as quais são compostas por uma mistura de ao menos doador de viscosidade lipofílico e agente emulsivo aniônico catiônico ou não iônico Pastas são formas farmacêuticas semissólidas para uso externo contendo no mínimo 25 de pós insolúveis e que por isso desempenham efeito local De acordo com os excipientes que a compõem uma pasta pode ser classificada em hidrofílica quando os sólidos insolúveis estão dispersos em uma base hidrossolúvel ou hidrofóbica caso a base seja oleosa As pastas contendo base oleosa e elevada concentração de hidrocoloides suspensos são chamadas de adesivas pois têm a capacidade de aderir às mucosas devido ao intumescimento que ocorre após a absorção de água As pastas podem ser preparadas por levigação dos pós sendo que o agente de levigação 130 Unidade II pode ser a própria base fundida em caso de excipientes lipossolúveis A submissão da pasta pronta a um moinho de rolos é apropriada para redução e uniformização de tamanho das partículas dispersas Outro tipo de forma farmacêutica semissólida é o gel ou geleia um sistema coloidal em que substâncias gelificantes pequenas partículas inorgânicas ou grandes moléculas orgânicas são capazes de proporcionar viscosidade ao meio líquido geralmente aquoso mas que pode ser oleoso ou alcoólico Podem ser administrados por diversas vias de administração e desempenhar efeito sistêmico ou local maioria dos géis Há vários modos de classificarmos os géis de acordo com as características da fase líquidadispersante podem ser designados por oleosos lipofílicos ou hidrofóbicos ou organogéis ou aquosos hidrofílicos ou hidrogéis sendo estes últimos mais desejáveis Caso se considerem as características do agente gelificante se a molécula se ioniza ou não em meio líquido o gel pode ser classificado como iônico ou não iônico respectivamente Se o critério for as fases coloidais o gel pode ser classificado em inorgânico sistema de duas fases cujo gelificante é uma substância inorgânica ou orgânico sistema de uma fase em que moléculas orgânicas naturais ou sintéticas são as doadoras de viscosidade Um gel pode ser obtido simplesmente com um gelificante e um solventeveículo porém em geral outros componentes podem ser necessários como conservantes corretivos de pH umectantes Para o preparo de géis é necessário dispersar o gelificante no veículo sendo essa dispersão realizada manualmente ou com auxílio de agitadores mecânicos podendo ser acelerada em alguns casos pela elevação da temperatura eou ajuste de pH Os óvulos e supositórios são formas farmacêuticas sólidas destinadas à veiculação de substâncias para inserção nos orifícios corporais Considerados como formas moldadas os supositórios são utilizados na via retal enquanto os óvulos são utilizados na via vaginal Em ambos os casos podem ser administrados para obtenção de efeitos locais ou sistêmicos embora os óvulos tenham maior aplicação local Entre as principais vantagens dessas formas farmacêuticas está o escape pelo menos em grande parte do metabolismo présistêmico de alguns fármacos melhorando assim a sua biodisponibilidade Além disso é uma alternativa à administração de medicamentos pela via oral quando o paciente apresenta dificuldades de deglutição A moldagem é a técnica mais empregada para o preparo dos supositórios e óvulos sendo utilizada na composição das formulações substâncias de natureza hidrofílica ou lipofílica e a liberação do fármaco é dependente de sua interação com a base 131 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL Exercícios Questão 1 Observe a figura a seguir que representa a absorção cutânea de diferentes princípios ativos contidos em quatro preparações semissólidas de uso tópico nomeadas A B C e D Considere que o tamanho das flechas seja diretamente proporcional à velocidade e à extensão da absorção do princípio ativo A B C D Epitélio Estrato córneo Tecido adiposo subcutâneo Figura 78 Padrão de absorção de quatro formulações de uso tópico Adaptada de LÜLLMANN H et al Farmacologia texto e atlas 5 ed Porto Alegre Artmed 2008 Assinale a alternativa que indica corretamente as características físicoquímicas da formulação B A O fármaco é hidrofílico e o veículo é lipofílico B O fármaco é lipofílico e o veículo é hidrofílico C Tanto o veículo quanto o fármaco são hidrofílicos D O veículo é mais lipofílico do que o fármaco embora ambos sejam lipossolúveis E O veículo é mais hidrofílico do que o fármaco embora ambos sejam hidrossolúveis Resposta correta alternativa B Análise da questão Fármacos administrados diretamente na pele podem ter ação predominantemente local ou podem passar para a circulação sistêmica ou seja podem ser absorvidos 132 Unidade II Como a pele é uma barreira lipofílica somente os fármacos que também são lipofílicos podem ser absorvidos Nesse aspecto quanto maior a diferença entre a lipossolubilidade do fármaco e do veículo maior a tendência de absorção Portanto nas formulações nas quais o veículo é hidrofílico e o fármaco lipofílico a absorção é otimizada Na figura presente no enunciado da questão temos portanto o que se mostra a seguir Fármaco lipofílico em base lipofílica Fármaco lipofílico em base hidrofíica Fármaco lidrofílico em base lipofílica Fármaco lidrofílico em base lidrofílica Epitélio Estrato córneo Tecido adiposo subcutâneo Figura 79 Características físicoquímicas de quatro formulações de uso tópico Fonte LÜLLMANN H et al Farmacologia texto e atlas 5 ed Porto Alegre Artmed 2008 p 31 Questão 2 Os supositórios e os óvulos são formas farmacêuticas sólidas ou semissólidas que ao serem inseridas nos orifícios corporais apresentam ação local ou sistêmica Com relação à formulação dos óvulos e dos supositórios avalie as afirmativas I As bases para a produção dos supositórios devem ser preferencialmente lipofílicas como os polietilenoglicóis II Alguns supositórios não apresentam em sua formulação insumos farmacêuticos ativos III É comum a utilização de emulsões de óleo em água como bases de óvulos e supositórios a fim de otimizar a liberação dos fármacos lipossolúveis É correto o que se afirma em 133 FARMACOTÉCNICA ESPECIAL A I e II apenas B II apenas C II e III apenas D III apenas E I II e III Resposta correta alternativa B Análise das afirmativas I Afirmativa incorreta Justificativa as bases de supositórios podem ser hidrossolúveis por exemplo as constituídas de polietilenoglicóis ou lipossolúveis por exemplo as constituídas de manteiga de cacau II Afirmativa correta Justificativa alguns supositórios apresentam somente efeito emoliente como aqueles constituídos de glicerina e de estearato de sódio apenas III Alternativa incorreta Justificativa as bases emulsificadas empregadas nas formulações dos supositórios e dos óvulos são emulsões do tipo água em óleo e não óleo em água Elas sofrem fusão quando submetidas à temperatura corporal o que resulta na liberação do fármaco