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G914s Guareschi Pedrinho A Sociologia crítica alternativas de mudança Pedrinho Guareschi 61ª ed Porto Alegre Mundo Jovem 2008 168 p Cadernos Emejota v2 ISBN 9788574306261 1 Sociologia I Série IITítulo CDD 301 Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da BCPUCRS Apresentação 07 Introdução 11 CapI Teoria e Ciência 16 Cap II Ideologia 19 CapIII Sociologia teorias e ideologias 25 Cap IV Sociedade sistema ou modo de produção 35 Cap V A teoria do modo de produção 40 Cap VI Capitalismo 48 Cap VII Socialismo 54 Cap VIII Comunismo 59 Cap IX Ampliando o quadro 64 Cap X Classe social 74 Cap XI Infraestrutura e superestrutura suas relações 82 Cap XII Os aparelhos de reprodução da sociedade 90 Cap XIII O aparelho ideológico do direito 94 Cap XIV O aparelho ideológico da escola 99 Cap XV O aparelho ideológico da família 111 Cap XVI O aparelho ideológico das igrejas 117 Cap XVII O aparelho ideológico dos sindicatos 123 Cap XVIII O aparelho ideológico das cooperativas 130 Cap XIX O aparelho ideológico da comunicação 136 Cap XX Os meios de comunicação e o massacre da cultura 142 Cap XXI Notícias as belas mentiras 146 Cap XXII Propagandapublicidade atenção para nossos comerciais 150 Cap XXIII A Comunicação alternativa 156 Cap XXIV A força da Utopia 161 Conclusão 166 APRESENTAÇÃO É com imensa satisfação que apresento este trabalho do professor e padre Pedrinho A Guareschi A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul faz questão de estar presente na produção científica riograndense e brasileira lançando ao mercado de livro mais esta obra de Pedrinho Guareschi Em Sociologia Crítica Alternativas de Mudança professores estudantes e agentes sociais encontrarão ricos subsídios para a consolidação de seus conhecimentos Possuímos do mesmo autor em 11ª edição Comunicação e Poder editado pela Vozes Pedrinho Guareschi é pessoa ligada à PUCRS desde o início de sua carreira Foi aqui que ele cursou pósgraduação em Sociologia Recomendado pela PUC ele obteve posteriormente nos Estados Unidos seus títulos de Mestrado e Doutorado No ensino na pesquisa bem como na orientação de teses e dissertações ele marcou o Instituto de Estudos Sociais Políticos e Econômicos IESPE e diversos outros Institutos da Universidade Seu novo livro é uma tentativa de desvend ar o oculto incrustado nas instituições e ideologias que se formam no decorrer dos tempos O enfoque crítico procura dar análise dos diferentes aparelhos e instituições enfatiza a preocupação em aprofundar as diferentes facetas e meandros dos problemas sociais Neste sentido contribuir para oredos aspectos acidentais dos fenômenos dando oportunidade a possibilidade de mudanças necessárias ao desenvolvimento da sociedade Como os outros trabalhos de professor Guareschi também este será acolhido por aqueles interessados no social e certamente concorrerá para acelerar a elaboração de ações em favor de nosso povo Porto Alegre 10 de novembro de 1984 Ir Ernesto Devais Fundador e exdiretor do IESPEPUC Um agradecimento especial a Roque Dal Ross e Ivonilda Hansen pelas excelentes críticas feitas ao livro incorporadas a partir da 5ª edição Uma homenagem a Leonilda Buzzi exemplo de humanidade educadora autêntica amiga profunda INTRODUÇÃO Temos recebido inúmeras cartas de professores estudantes pessoas ligadas a um trabalho de base agentes de pastoral e outros solicitandonos indicações e fontes para discussões de temas sociológicos Diziam ter lido os artigos do jornal Mundo Jovem e gostariam de desenvolver temas dentro do enfoque e na metodologia que costumávamos usar Ao mesmo tempo a direção do Mundo Jovem incentivou a ideia de lançar uma série de livros sobre diversos assuntos juntando os muitos tópicos já discutidos no jornal enfatizandoos num só volume Insistiu que organizássemos este volume com os assuntos referentes à sociologia Levado por essas razões resolvemos deixar algumas atividades e colocar em dia esse compromisso assumido com os colegas do Mundo Jovem Os tópicos sociológicos que aqui discutimos possuem contudo uma característica diferente Muita coisa do que vocês vão ver aqui não vão encontrar em outro lugar É que Mundo Jovem não deve nada a ninguém e não precisa esconder as coisas Se quiséssemos resumir as características dessas pílulas sociológicas poderíamos dizer que elas se distinguem pelos seguintes fatores a É uma sociologia que se propõe dizer o que em geral não é dito é uma sociologia do escondido do velado do oculto propositadamente ou não b Procura tornar claras para a limpo as coisas mais complicadas quer ser simples popular sem deixar de ir às raízes dos problemas isto é é uma sociologia popular mas radical c É uma sociologia pensada principalmente para quem quer mudar para quem quer transformar a realidade A maioria dos trabalhos sociológicos que possuímos têm implícita ou explicitamente intenção de explicar apenas as coisas compreender como funcionam Nossa intenção é explicar e compreender como as coisas funcionam e mais um pouco ver como é possível mudálas Mesmo porque só compreender perfeitamente uma coisa não é capaz de mudála d É uma sociologia dirigida à ação Não separa o pensar do agir mesmo porque é impossível separar estas duas coisas sem nos alienarmos e É uma sociologia questionadora uma sociologia que procura mais fazer a pergunta montar uma discussão do que dar imediatamente a resposta Por isso mesmo ela se presta muito para discussão f É uma sociologia ligada ao diaadia ao cotidiano É o que você encontra momento a momento em sua vida o que cerca o que o rodeia g Por tudo isso escolhemos para designar o nosso enfoque a palavra crítica É uma tentativa duma sociologia crítica como vai explicado no capítulo 3 Os capítulos tratam separadamente de cada assunto mas entre eles há uma ligação lógica Para se compreender bem o seguinte seria interessante ter discutido os anteriores Quando possível nós avisaremos o capítulo a que se refere a discussão quantodissofornecessário parao bom entendimento Para simplificar ao máximo a leitura não vamos colocar citações no decorrer dos assuntos A maioria dos capítulos porém é resultado de nossa experiência em trabalhos tanto com alunos como com grupos populares das periferias de Porto Alegre Foi no meio do povo na provação que fomos amadurecendo muitos pontos que aqui foram discutidos A experiência com o povo foi tudo para nós E agora por favor se não funcionar então escrevanos dizendo e tente ver por que talvez não funcionou E se você achar uma maneira de como as coisas funcionaram deram certo por favor contenos pois isso é realmente o que nos interessa Muita gente já escreveu discutiu explicou os problemas todos mas pouquíssimos conseguiram mudar as coisas melhorar a vida humana em sociedade CAPÍTULO I TEORIA E CIÊNCIA Uma das palavras mais usadas e ao mesmo tempo mais complexas é a palavra teoria É difícil você escutar algum discurso de gente mais fina sem que essa palavrinha não apareça aqui ou ali Então vamos discutir essa palavrinha mesmo porque não há ninguém que consiga viver sem teorias É isso mesmo Vamos ver isso Que é ciência Podemos dar um passo à frente agora e dizer que ciência é um conjunto de teorias que por sua vez são um conjunto de leis que tentam explicar a realidade Não há pois nenhum mistério Quando há um determinado número de teorias sobre determinado assunto física química psicologia sociologia dizse que há uma ciência sobre tal assunto Você já pensou por que você acha que é o que é Por que se define como sendo estudante brincalhão rapaz bom jogador de futebol Quem ensinou para você as palavras quem deu as definições das palavras estudante brincalhão etc Você começa a ver que nós somos em grande parte o que os outros nos dizem ou acham que somos E na medida em que vamos incorporando e aceitando o que os outros pensam e acham a nosso respeito nós vamos formando nossa identidade É claro que não é só isso que forma nossa identidade Nós podemos também refletir tomar consciência do processo de como a gente é o que é e tentar mudar Mas em grande parte nós ficamos condicionados à influência dos outros inclusive pelo fato de termos de aceitar a própria linguagem e as definições das coisas que os outros nos deram Agora começa contudo a parte mais importante nos ajuda a entender o que é ideologia Você acha que todas as definições todas as explicações das coisas são dadas sempre com sinceridade procurando sempre dizer a verdade e toda a verdade Será que por trás das definições das coisas inclusive do próprio conceito que os outros fazem de nós atrás das explicações que as pessoas dão para as coisas não há algum interesse em esconder algo em acentuar alguns aspectos e diminuir outros você ainda não leu ou discutiu o que é teoria de primeiro uma olhadela para aquele capítulo Então vai ser simples entender o que se quer dizer aqui Duas grandes teorias em Sociologia Falando de uma maneira geral nós poderíamos dizer que existem duas grandes teorias que são como se fossem as mães ou as matrizes de todas as outras teorias que guiam as pessoas na sociedade Seriam como que duas grandes cosmovisões duas maneiras diferentes de encarar a realidade o mundo e o que nos interessa aqui de encarar o social a sociedade 1 A teoria positivistafuncionalista A primeira corrente tem diversos nomes Nós vamos explicando os nomes que foram dados a essa corrente ou teoria e vamos vendo por que foi dado esse nome e o que isso implica O nome mais comum dessa teoria é talvez o de teoria positivista Positivismo é uma palavra que vem do latim do particípio passado do verbo pôr colocar em latim o participação passivo positum que quer dizer posto colocado Essa teoria é chamada de positivismo porque ela supõe implica ou pressupõe que a realidade é o que está aí isto é a realidade é o que está colocado posto na nossa frente A realidade se resume pois no que nós vemos palpitamos no que existe aí É muito importante pensar bem sobre isso e ver se não é isso justamente o que nós achamos que é a realidade Pergunte a você mesmo nessas alturas o que é realidade para você E você vai ver que talvez a resposta vai ser mais ou menos parecida com essa definição Um outro nome que se dá a essa teoria é de teoria funcionalista Esse nome já acrescenta alguma coisa a teoria anterior mas não a modifica fundamentalmente O positivismo diz que a realidade é o que está aí e o funcionalismo acrescenta que a realidade e principalmente a sociedade é o que está também mas que está estruturado duma forma especial tudo o que está à forma um sistema organizado em que tudo tem uma função dá o fato de escolher essa palavra como a melhor para explicar a teoria Na prática pois tudo o que existe tem sua função Não há nada que não tenha sua função E essa função é para alguma coisa isto é dirigida para o todo ou no caso pode ser o sistema social ou qualquer sociedade ou organização Aqueles que seguem essa teoria enxergam o mundo todo organizado Não há nada sobrado E eles costumam dizer que a sociedade é como se fosse um organismo por isso essa teoria é chamada também de organicismo ou como se fosse um corpo vivo por isso um outro nome que lhe dá é de biologismo Eles transporam para os grupos humanos a maneira de ser do mundo material Como na natureza no mundo tudo tem sua função assim também na sociedade todos têm sua função Assim como numa árvore há galhos troncos raízes assim também na sociedade alguns são os galhos outros o tronco e outros raízes Houve até um sociólogo americano que disse que a pobreza era importante essencial para a sociedade pois ela tinha também suas funções Alguns sociólogos como o americano Robert Merton perceberam que era muito exagerado dizer que tudo tinha sua função Robert então disfarçou um pouco a coisa e disse que havia também disfunções isto é coisas que podiam atrapalhar e coisas sem função Mas no fundo essas disfunções ou nãofunções eram apenas o que voltaria ao normal num organismo social equilibrado Já que falamos em equilíbrio é importante prestar atenção nisso agora o pressuposto isto é aquilo que não é dito mas é aceito da teoria positivistafuncionalista é que tudo está organizado tudo está equilibrado e tudo procura uma harmonia Para ele o normal e por isso mesmo o bom veja o aspecto ético é que e coisa funcione e funcione e bem Se não funcionou então é bom algo está errado não presta Pela sua própria natureza tudo deveria estar equilibrado tudo deveria chegar a uma perfeita harmonia o happy end dos filmes de farwest americanos Como você percebeu há também um aspecto ético nessa teoria Implica em rotular o que é bom e o que não é bom Para essa teoria é bom tudo o que funciona tudo o que leva ao equilíbrio Tudo o que desequilibra ou diz que não concorre para a harmonia de todo não presta Por isso sempre que alguém queira mover ou mudar alguma coisa esse alguém está fazendo algo que não serve que não presta O ideal é tudo permanecer sempre como está Mais uma consideração como os que praticam essa teoria vêem a mudança Aqui está um ponto muito interessante Para eles só pode haver mudança se a coisa tod mudar isto é a coisa deixar de existir Mudança para eles é sinônimo de morte e só pode vir de fora Pois se a sociedade é como um corpo o normal é que funcione isto é que viva Para viver tem de funcionar para poder continuar Se deixar de funcionar e isso é fim pois a sociedade deixa de existir Para os que defendem essa teoria é impossível uma mudança que venha de dentro pois seria algo contra a própria natureza da coisa que por si mesma deve funcionar e ser sempre o que é Mudança para eles só pode vir de alguém que queira destruir ou matar o que existe Só para terminar essa teoria é conhecida também por alguns outros nomes que são significativos Alguns a chamam de teoria absolutista pois essa teoria resume a realidade ao que está à e nada fora do que está aí existe Além disso para a teoria cada grupo é absoluto fechado sobre si mesmo O sistema está organizado de tal modo que se explica a si mesmo as partes em função de todo tudo girando ao redor do centro caminhando para o equilíbrio e a harmonia O resto do mundo pode deixar de existir que não há problema Outro nome que alguns ainda dão a essa teoria é de teoria acadêmica Esse apelido já é um pouco malicioso mas sugestivo Qualquer sistema para poder sobreviver tem de se garantir de se legitimar de se explicar Essa teoria pois para se garantir tem de montar alguns mecanismos que a sustentem E o mecanismo principal é a própria academia ou o conjunto todo da educação universidades escolas Nesses lugares o principal é justamente formar uma mentalidade fazer a cabeça as pessoas Ora a maneira principal de fazer as cabeças é fazer com que as pessoas aceitem determinada teoria principalmente a que se teoriza Na verdade pois tudo o que existe é relativo não é absoluto Um é oposto do outro Se não é absoluto falta algo para que se complete isto é é incompleto contém em si mesmo a sua incompletude não é total Isso quer dizer que para uma coisa ser total e completa ela precisa de algo mais Esse algo mais é o que nós chamamos do seu negativo Não negativo no sentido que diz que a sociedade é e que o que está aí para bem deve continuar funcionando como está é 2 A teoria históricocrítica Mas existe alguma outra maneira de ver as coisas Existiria outra teoria que implicasse numa outra cosmovisão numa outra maneira de se ver entender e explicar o mundo Pensamos que sim apesar de ser pouco divulgada pois ela é muito perigosa principalmente em nossa sociedade Que nomes a gente poderia dar a essa outra teoria Um dos melhores nomes é o de teoria histórica e vamos ver por que Quando se fala em história ou histórico a primeira coisa que vem à mente da gente é de algo que passa de algo transitório História é o que tem a ver com antes durante ou depois Mas qual é o pressuposto isto é o que aceito sem dizer que se aceita ou sem se dar conta que se aceita dessa teoria O pressuposto é que tudo o que é criado é histórico Acho que não há dificuldade em se aceitar tal pressuposto pois é quase que uma definição da coisa mesma o que é criado não é eterno pereceu e vai desaparecer Por isso mesmo é precário transitório isto é histórico Vamos para a frente Todo o criado é histórico Se é histórico é relativo Acho que isso também pode ser aceito pois é conseqüência se é histórico é relativo ao menos quanto ao tempo isto é houve um tempo em que não era ou haverá um tempo em que não será Mais à frente tudo o que existe é histórico Se é histórico é relativo Bem se é relativo não é absoluto Um é oposto do outro Se não é absoluto falta algo para que se complete isto é é incompleto contém em si mesmo a sua incompletude não é total Isso quer dizer que para uma coisa ser total e completa ela precisa de algo mais Esse algo mais é o que nós chamamos do seu negativo Não negativo no sentido de completar a totalidade dessa coisa Estão complicado Mas fique firme pois aqui está o segredo e o novo dessa nova maneira de ver as coisas Nós vimos que um dos nomes que se dá à outra teoria positivistafuncionalista é o de teoria absolutista É isso por isso que outra teoria não leva em consideração esse fato importante de tudo é incompleto tudo é relativo tudo é histórico E sem querer a gente vai criando uma mentalidade de absolutizar as coisas e perceber que tudo é precário tudo contém em si mesmo algo de vazio algo que ainda precisa ser preenchido Essa teoria histórica pois continuamente nos provocando e chamando a atenção para essa questão fundamental e importante ainda há algo a ser feito para ser completado Ainda há o não completo ou o negativo da coisa pois tudo é histórico Se você ouve uma fala de um presidente por exemplo e vê tantas coisas maravilhosas que são ditas e descritas você não absolutiza as coisas mas você pensa assim bem isso que está sendo dito é algo positivo mas há ainda muita coisa que ele não disse ou não quer dizer ou tem medo que precise ser dito Às vezes o que não é dito para poder entender a coisa como ela deveria ser entendida ou compreendida Essa postura historicista desmistifica as coisas todas deixa as pessoas bem mais atentas e alertas Se eu digo por exemplo para uma pessoa que ela é inteligente eu estou dizendo a meu mesmo tempo que a ela é nãointeligente isto é que ela não é a inteligência completa e absoluta A pessoa que diz e principalmente a que afirma Isso fica mais claro ainda com aquela famosa anedota que ajuda a ilustrar muito bem os dois tipos de mentalidade o rapaz chega para a moça e diz muito romântico Bem como você está linda hoje Muito obrigada responde a moça tudo feliz E acrescenta Pena que eu não possa dizer a mesma coisa de você Não tem importância responde o rapaz bem depressa Faça como eu imita Essa anedota revela duas mentalidades bem diferentes Ou melhor revela um tipo de mentalidade o da pessoa ingênua autosustentada No momento em que o rapaz afirma que ela era linda hoje Que tipo de sociologia nós gostaríamos de promover e praticar Evidentemente uma sociologia históricocrítica Uma sociologia relativizadora que mostra a precariedade e a transitividade de tudo o que é social Só assim poderemos ver a totalidade da coisa Uma sociologia que mostre o outro lado dos casos também uma sociologia que faça ver o que se passa por trás dos bastidores Somente a sociologia históricocrítica nos dará elementos para podermos fazer um papel de desmitificação do que está afim mostrando a precariedade de tudo o que existe e mostrando a relatividade de tudo o que é histórico A sociologia que nos interessa é uma sociologia que vá à essência da coisa e que não fique apenas na aparência É preciso continuar sempre com uma visão crítica nunca deixar absolutazaır para nada procurar sempre o vazio e o escondido do que existe pois tudo é relativo Essas colocações que fizemos aqui vão nos acompanhar durante todas as discussões posteriores SOCIEDADE SISTEMA OU MODO DE PRODUÇÃO A discussão que vamos fazer agora tem a ver com o que acabamos de explicar sobre as duas grandes teorias que fundamentam nossa maneira de ver as coisas e com a ideologia que existe por detrás dessas diversas teorias Quando falamos em sociedade geralmente empregamos o termo sistema social Dizemos que as sociedades são sistemas sociais específicos determinados por diferentes fatores que distinguem dessa maneira um sistema social do outro O que nos interessa no momento não é analisar os diversos tipos de sistemas ou sociedades mas discutir o nome que se usa e por que se usa tal nome À primeira vista parece serim importância e sem conseqüência nenhuma o fato de se empregar o termo sistema social para designar a estrutura interna de uma sociedade Mas se refletirmos um pouco veremos que o próprio uso desse conceito implica em determinada ideologia e em determinada maneira de ver as coisas e a sociedade Quando se chama uma determinada sociedade de sistema entendese do mesmo modo que nesse país na mesma nação há um conjunto todo de elementos de mil tipos diferentes que formam a estrutura dessa sociedade Essa sociedade é um sistema isto é uma máquina e tudo o que existe nela tem sua função O sistema é tanto mais perfeito quanto mais os subsistentes ou os diversos elementos que formam essa sociedade se interrelacionarem e quanto melhor cada um deles cumprir sua função Estaria faltando alguma coisa para se compreender bem esse tipo de sistema À primeira vista parece que não Temos ou podemos fazer uma descrição perfeita de cada elemento como eles estão relacionados e interligados e teremos a compreensão perfeita do assunto Mas saberemos mesmo tudo do tal sociedade Vamos discutir um outro termo ou conceito que ultimamente está sendo empregado ao menos por alguns mais corajosos para designar uma sociedade ou um determinado sistema social esse termo é Modo de Produção Talvez esse nome seja novo para você Talvez seja até a primeira vez que você esteja escutando Mas não se espante Vamos discutílo para poder sobreviver A conotação histórica está subjacente ao conceito Modo de produção Isso nos leva já a ter presente que as sociedades podem mudar e se por acaso assim não esse movimento houve um tempo em que não eram assim e haverá um tempo em que serão diferentes Poderão existir muitos fatores que modificaram ou modificariam essa sociedade Um porém é fundamental é a maneira como essa sociedade vai conseguir garantir sua sobrevivência Esse fator está sempre subjetente a tudo Qual dos dois nomes será melhor Como você mesmo pode descobrir os dois conceitos supõem duas teorias explicativas da sociedade Uma teoria que vê a sociedade organizada estruturada com funções interligadas completa absoluta fechada a teoria funcionalistapositivista Outra teoria que vê a sociedade como estruturada a partir de um fator básico a produção e que poderá mudar conforme a maneira como ela conseguir sua sobrevivência a teoria histórica Essa segunda teoria explica como ela é e porque ela chegou a ser assim isso é vai às suas origens às suas causas A primeira ao contrário fica somente no aqui e agora Se uma teoria é tanto mais científica quanto mais fenômenos ela explica ou quanto mais do fenômeno ela explica confira o capítulo I então parecenos que a segunda teoria é mais científica Haveria ainda algumas considerações a fazer sobre a ideologia que subjaz a essas diversas teorias A quem delas interessam Com a discussão que se fez sobre ideologia você mesmo poderá tirar as conclusões que se fizerem necessárias É evidente que quem tem interesse em fazer com que as coisas permaneçam como são e não pretende que elas mudem vai patrocinar uma teoria que insinua de forma explícita que as coisas são assim porque são assim O sistema que está é assim porque é assim Ele funciona tudo toca caminho para uma harmonia No final volta ao equilíbrio Pode haver problemas mas são todos passageiros O normal é o natural é que as coisas sejam assim Já quem tem interesse em fazer com que as coisas mudem procura uma teoria que ao menos implicitamente insinue que as coisas nem sempre foram assim que houve um tempo em que eram diferentes e que são assim num lugar em outro podem ser diferentes Essa é a visão histórica da sociedade Tendase que se preste atenção à origem das coisas É isso e mostrar a causalidade das ações sociais ou os modos de produção são criações humanas portanto são cultura humana são fenômenos culturais e não naturais Peter Berger em seu livro Perspectivas Sociológicas chama a isso de extase É a capacidade que uma pessoa tem de saltar dur mundo em que vive mergulhado para um outro mundo possível O êxtase transforma a consciência que tem de si mesma fazendo com que determinada ação se converta em possibilidade De encaramos a sociedade como sendo um sistema social organizado e concreto facilmente caímos na tentação de naturalizála isto é de determinála pois a natureza é determinada sempre foi assim Tom note nº 6 São os meios de produção movimentados pelo trabalho humano que são os responsáveis pela existência de toda riqueza Pergunta Como aparecem os agrupamentos humanos as sociedades Qual o elemento fundamental que fez com que as sociedades se organizassem Essa pergunta pode dar muita discussão De início podem surgir diversos fatores que possam ter dado origem às diversas sociedades Mas um fator pode ser identificado como o fundamental os grupos humanos se organizaram para garantir sua sobrevivência Ninguém vive sem comer Se cai um avião no meio de uma floresta e as pessoas sobreviverem a primeira coisa que vão fazer é pensar na sobrevivência Vão ter de ver há algo para comer beber de qualquer via onde pousar se precisam de agasalho Mas o principal mesmo é a comida Às vezes é a mortal virão depois A resposta que se poderia dar então é que as diversas formações sociais esse é um nome bom para designar as sociedades se organizaram isto é nasceram cresceram e se estruturaram a partir da maneira como conseguiram as coisas fundamentais para sobreviver E um nome bom para designar a maneira como se conseguem as coisas para sobreviver é modo de produção É mais um conceito nº 7 É a maneira como se conseguem as coisas para sobreviver que dá a características fundamental a uma sociedade Assim os nomes que vão construir desde dois ou três andares pois eles vão migrando na medida em que necessitam coisas para viver carne e pesca Elas vivem da extração primária e quando isso termina num lugar é abundante no outro elas migram Conclusão 3 é diferente temos um trabalho por aqui e pretendemos ficar um bom tempo tudo nossa vida Por isso construímos uma casa com material que possa durar muitos anos Se você examinar agora a história de todas as sociedades vai perceber que isso é assim mesmo a maneira como se consegue as coisas para sobreviver dá a característica básica a uma formação social Até o tipo de família sofre essa influência No Brasil da Casa Grande e Senzala onde os escravos conseguiam todas as coisas para sobreviver podiam existir tipos de famílias patriarcais isto é grupos de cinco dez famílias numa casa só Havia um dono só o filho mais velho e os outros iam se colocando ao redor da casa grande Hoje em dia as coisas já são um pouco diferentes Vivemos numa sociedade industrializada onde cada pessoa que trabalhava recebe seu salário individual As famílias foram então se reduzindo se tornando mínimas relacionadas homem mulher e o menor número de filhos possível Vamos agora examinar o esquema todo o que queremos que seja o nosso instrumento de análise Começamos três para a frente a partir de perguntas simples e quase óbvias Se você for discutir isso com algum grupo vai poder constatar que as pessoas vão normalmente construindo esse instrumento e respondendo às perguntas como foram colocadas Chegamos assim ao início ao ponto de partida a identificação do conceito modo de produção gostaríamos de usar em lugar de sistema veja o capítulo IV A pergunta que se coloca agora é o modo de produção e forças produtivas ou ele possui mais um elemento Ou ainda o que distingue um modo de produção de outro modo de produção Pois todas as formações sociais as sociedades possuem em suas forças produtivas capital e trabalho O que mais faria parte integrante estrutural dum modo de produção Resposta a resposta a essa pergunta não é fácil Para fazer as pessoas descobrirem por si mesmas é preciso um pouco Mas se chega lá A palavra relação é extremamente importante para a sociologia Alguns críticos de Marx por exemplo dizem que ninguém consegue entender nada de sua teoria se não tiver esse conceito presente e que o conceito relação resume toda sua teoria sociológica Você se lembra da discussão sobre as duas grandes teorias em sociologia Pois aqui está o ponto Um adjetivo que provém de relação é relativo Relativo se contrapõe a absoluto A diferença básica entre as duas teorias pois é que uma vê o sistema como fechado A outra vê tudo relacionado pois os argumentos humanos são históricos e se são históricos são relativos ao menos quanto à história Peter Berger diz que uma das características da consciência sociológica é a mentalidade relativizadora que toda pessoa que lida com o social deve possuir Há uma diferença fundamental entre uma pessoa com mentalidade relativizada isto é uma pessoa que tenta ver imediatamente as relações que as coisas têm com as outras e uma pessoa com uma mentalidade absolutizadora isto é uma pessoa que vê as coisas estanques fechadas isoladas umas das outras Isso vai ser visto no capítulo sobre infra e superestrutura Apenas se querer insistir sobre esse fato óbvio de que sem comer ninguém vive As relações de produção são pois o nosso conceito nº 8 Terminamos desse modo o instrumento de análise estrutura básica das formações sociais das sociedades Com isso poderemos agora examinar os diversos tipos de sociedade e ver no que elas se distinguem a partir dessa estrutura básica E você vai notar logo como esse instrumento vai ajudar É o tipo de relações que se estabelece entre as pessoas e entre as pessoas e coisas isto é entre trabalho e capital que distingue basicamente um tipo de sociedade de outra ver quadro 1 CAPÍTULO VI CAPITALISMO Quase todos os dias se ouve falar que o Brasil é um país capitalista que o sistema que predomina no Brasil é o capitalista Vamos tentar explicar o que isso significa Vimos como todas as sociedades humanas todos os grupos humanos se organizaram para conseguir uma coisa fundamental a sobrevivência Sobrevivência é principalmente ter as coisas necessárias para comer vestir morar etc Vamos chamar a essa maneira de conseguir as coisas para viver de Modo de produção Com o quadro do capítulo anterior a gente pode entender agora o que é capitalismo e como ele se distingue de qualquer outro modo de produção Por exemplo as forças produtivas são em geral as mesmas para qualquer sistema No sistema nômade dos índios as forças produtivas eram o pouco trabalho deles em tarefas como plantar alguma coisa como manejar minto etc eram então as terras e o trabalho No sistema cooperativista é o trabalho dos cooperativistas ou na terra ou na fábrica Também no capitalismo as forças produtivas são o trabalho na terra nas fábricas e em muitos outros tipos de empresas O que distingue então um sistema do outro Aqui está o interessante Quem estabelece esta distinção são as Relações de Produção Isto é como o capital e o trabalho se relacionam Vamos dar um exemplo num sistema de fábrica ou terra no sistema capitalista Perguntase Qual a relação entre as pessoas São todas iguais A resposta é não Por quê Porque uns são os donos do capital e os outros trabalham Isto é existem alguns que são proprietários e os outros trabalham A relação se dá entre as pessoas é de dominação isto é há necessidade de donos Agora qual a relação entre o trabalho e o capital Pensemos um pouco Para entender onde vamos dar a essa relação é preciso alguma coisinha mais E essa coisinha é o que dá valor às coisas A palavra valor é muito complicada Várias coisas são denominadas por essa palavra Há o valor moral que designa as intervenções e fórmulas de grupos e povos sobre como devemos viver e comportar Há o valor natural e que é valor que algo possui por ser natureza como o ar a água as terras E há o valor econômico que é o resultado do trabalho humano É preciso distinguir entre esses três tipos de valor Queremos mostrar que a única coisa que dá valor econômico é o trabalho humano empreendido em se fazer isso Assim valor é diferente de preço Enquanto o preço do quilo de feijão pode ser 50 centavos ou r real isto é pode variar muito conforme a quantia que existe o valor é sempre o mesmo quanto se gastou para esse feijão isto é trabalho humano empregado Valor é também diferente de utilidade uma caneta estranha não escreve não é útil mas o seu valor é o mesmo quanto se gastou para fazer esta caneta O ar o oxigênio é extremamente útil No entanto ninguém trabalhou para fazêlo e natureza e você por enquanto não paga o ar Só será pago quando não houver trabalho humano Assim se pensarmos um pouco vamos ver que a única energia que nunca desagregou do objeto é em última análise da valor econômico é constituído o valor desse objeto é o trabalho humano que se gastou para essa cana O Papa Leão XIII já dizia isso claro no fim do século passado em sua encíclica Rerum Novarum O trabalho humano é tão admirável que se pode afirmar sem sombra de erro que é a fonte única da riqueza das nações Antigamente quando não existia dinheiro o critério para se saber o valor das coisas era quanto tempo se tinha gasto para fazer essa coisa isto é o trabalho humano Se se gastassem quatro horas para fazer uma calça e duas horas para fazer uma camisa do mesmo tecido trocavamse duas camisas por uma calça Resumindo É o trabalho humano que produz todo o valor toda riqueza Agora a perguntinha importante que vem ajudar a compreender qual a relação entre capital e trabalho num sistema capitalista se é o trabalho humano que produz toda riqueza e só o trabalho Leão XIII por que é que o lucro é lucro qual o capital terra e fábrica Como se chama a relação se dono do capital sem trabalhar ou trabalhado se trabalho dele só fica com a maioria do lucro Essa falácia se costuma chamar de expropriação ou exploração Você que é inteligente já terá percebido que no fundo não há diferença entre capitalismo e certas sociedades totalitárias onde o Estado é dono de tudo no referente à exploração Tudo depende do quanto de excendente de mais valia o capitalista ou o Estado se apropria Mas o que é maisvalia A maisvalia é o lucro líquido que sobra depois de descontadas todas as despesas Por exemplo Uma mesa é vendida pelo dono da fábrica por 150 reais Um operário gastou 10 horas para fazer a mesa Recebe pelas 10 horas 30 reais pelo salário mínimo de 1997 receberia 15 reais A madeira para a mesa custa 20 reais Já são 50 Os impostos quando são pagos mas 15 reais São 65 Mais uns 15 reais para despesas com luz reposição das máquinas quando estragadas etc 80 reais Mais uns 20 de outras despesas são 100 reais O dono da fábrica vende por 150 Esses 50 reais são a maisvalia o lucro líquido que o capitalista tem descontada toda despesa trabalhadores relação de dominação isto é em que um é dono e principalmente para explorar isto é tirar para si para o capital parte do trabalho Sendo que o trabalho que é a fonte única das riquezas Leão XIII Rerum Novarum os donos dos meios de produção do capital só podem se enriquecer na medida em que tiram expropriam exploram parte do trabalho do trabalhador Não há outro jeito isso é matemático Essa é a relação de exploração Nessa altura a gente vai entendendo melhor o surgimento do socialismo As pessoas acreditavam que era possível mudar dialética queriam igualdade e justiça socialismo não existia nem mudança nem igualdade porque o capital não deixava mudar e havia exploração do trabalho Assim aos poucos os que estavam sendo explorados os trabalhadores foram se unindo se organizando e exigindo seus direitos A luta foi difícil Muitos trabalhadores morreram Outros melhoraram bastante As maneiras de se fazer isso também foram muito diferentes Em alguns lugares como nos países que continuaram capitalistas os trabalhadores se contentaram em melhorar seu salário Assim o salário de um americano é no mínimo dez vezes maior do que o de um brasileiro sendo que o custo de vida chega a ser duas vezes maior Como conseguiram isso Não sei E não é que o capital nos Estados Unidos não tenha lucro Tem sim mas bem menos que no Brasil onde das oito horas de um trabalhador ele fica com três e cinco ficam com a capital A exploração aqui é bem maior do que lá isto é a ideia socialista não penetrou muito ainda em nosso meio Em outros lugares houve confronto direto entre trabalhadores e donos do capital Os trabalhadores conseguiram um certo poder mandar Mas aconteceu aos poucos uma coisa que não se previa o grupo de gente que tomou o poder começou a mandar dominar e explorar os que trabalhavam É o que acontece por exemplo nos países de Estados totalitários onde haja quem explora os outros totalitarismo estatal Por isso é preciso distinguir o socialismo científico enquanto teoria e o movimento pela justiça e pela sua concretização participação e vontade fé e esperança do povo em progredir mais socialismO 2 O povo está recebendo o justo preço de seu trabalho O que ele faz realmente fica para ele Quanto mais o fruto do trabalho fica com quem trabalha isto é quanto menos alienação separação entre o trabalho e o fruto do seu trabalho e exploração houver mais socialismo 3 Há realmente democracia na sociedade isto é os direitos de cada um são respeitados e todos são tratados igualmente ou há enormes diferenças privilégios injustiças Quanto mais igualdade não uniformidade houver mais essa sociedade é socialista Ainda mais nunca haverá uma sociedade socialista perfeita pois tudo o que é histórico é imperfeito e relativo Um socialismo acabado iria contra o primeiro princípio que contém em si a sua contradição tudo pode ainda melhorar O que se pretende evitar é a prática da dominação e da exploração Se alguém por exemplo possui um meio de produção mais paga a cada trabalhador o preço justo de seu trabalho tudo bem E para haver socialismo não é preciso haver supressão total da propriedade privada dos meios de produção como queriam os socialistas extremos Eu posso trabalhar num meio de produção que não é meu sem exploração 90 que não têm nada e não os que têm bens de consumo pois na realidade todos nós nem temos algo bem de consumo uma calça um sapato etc Vejamos no quadro 3 onde se colocaria o Capitalismo onde se colocaria o Socialismo e onde se colocaria o Comunismo puro O que o Comunismo surge então é trazer que os meios de produção passam a ser de todos comuns No momento em que não houver mais meios de produção privados consequentemente não haverá mais classes Algumas considerações finais 1 E o Estado Para Marx e os comunistas num sociedade capitalista o Estado é o próprio capital Isto é o Estado é controlado e só executa a favor do que os donos dos meios de produção querem Na prática a gente vê que não é assim sempre na maioria das vezes é pois é conferir Para Marx então o Estado precisa desaparecer Mas isso não se dá de um dia para outro Acontece aqui uma passagem Primeiro a classe operária os trabalhadores vão conquistar o Estado instalar a ditadura do proletariado terminar com todo o resquício de burguesia que existe e depois finalmente o Estado desaparecerá Teríamos então o Comunismo puro Enquanto o Estado não desaparecer não existe Comunismo puro Quadro 3 Distinção entre Capitalismo Socialismo e Comunismo no que se refere aos meios de produção e bens de consumo BENS DE CONSUMO Na maioria das vezes são de particula res mesmo os coletivos Você vê muito bem que isso é um tanto complicado O pi or é que na maioria dos lugares onde os trabalhadores tomaram o poder o Estado ficou nas mãos dum pequeno grupo e se burocrati zou quase do mesmo modo como no capitalismo e continua explorando o trabalho da maioria dos trabalhadores Mas isso não quer dizer que se não funcionou não vá funcionar nunca 2 É preciso que todos os meios de produção sejam comuns Não seria possível fazer com que cada família por exemplo tivesse sua terra Não se pode descartar esta possibilidade de funcionamento da sociedade de antemão Até é interessante que em muitos lugares onde há grande número de famílias que possuem sua pro priedade familiar isso traz grande progresso além de trazer digni dade e felicidade No entender do comunismo puro porém todos os meios de produção seriam comuns e ninguém poderia possuir nada de seu 3 Também é importante ver que a gente deixa cada um fazer o que quiser aos poucos pode acontecer que uns vão toma do conta do que é dos outros e dentro de pouco tempo alguns têm quase tudo e os outros só trabalham para esses poucos É o que acontece com o Capitalismo cujas leis são a competição quem pode mais chora menos e o lucro isto é tirar o máximo de pro veito da situação E se o Estado funciona isto é o Estado verda deiro aquele encarregado do bem comum ele tem que controlar isso e colocar sempre as coisas em ordem Mas a prática é que os que detêm os meios de produção do Estado e colocam o Estado a trabalhar para eles Infelizmente é isso que acontece em praticamente todos os países capitalistas Os trabalhadores nem são convidados a parti par e quando votam votam bastante condicionados cabeçoteados pelos donos do capital que detêm os meios de comunicação e fa zem na cabeça da maioria da população Conclusão Como se vê podemos distinguir bem os dois extremos Capitalismo alguns são donos dos meios de produção a maioria trabalha Comunismo todos os meios de produção são comuns Mas fica um enorme espaço intermediário Hoje em dia esse espa ço intermediário é denominado de Socialismo Mas não há um tipo só há tantos tipos quantos países existem que façam uma média entre Capitalismo e o Comunismo puros Além disso os países que se dizem Comunistas na prática chegam a se apro ximar bastante do capitalismo pois nem vez de lá existirem alguns que possuem os meios de produção há só um o Estado ou o Partido que explora do mesmo modo o trabalho dos trabalhadores CAPÍTULO IX AMPLIANDO O QUADRO Muitos leitores podem talvez sentir certa insatisfação com a análise feita até agora O que poderá estar por detrás de seus pensamentos e sentimentos seria talvez uma suspeita que pode ser expressa mais ou menos assim Serão essas sociedades com preensíveis apenas a partir da sua estrutura básica a produção Não seria necessário ver essas sociedades sob outros enfoques Não haveria outras dimensões que nos fizessem compreender ou iluminar melhor a complexidade de uma sociedade No decorrer dos capítulos anteriores fomos sempre avisando que a análise era feita apenas a partir da estrutura básica de uma sociedade Agora vamos ampliar essa compreensão incorporando novas dimensões Para melhor conseguir nosso intento vamos montar um quadro e a partir dele examinar a realidade social Esse quadro poderia ser intitulado Cosmovisões Uma cosmovisão visão de mundo compõese de vários elementos Um deles é o tipo de so ciedade que faz parte dessas cosmovisões e é legitimado por ela Mas uma cosmovisão é mais ampla Uma cosmovisão possui no mínimo 4 dimensões uma concepção de ser humano uma filosofi a valores uma concepção de sociedade e o melhor modo de se viver em sociedade e comportamentos ou novos dinâmicos Número 2 Filosofias Valores é outra dimensão de uma cosmovisão Não há pessoa que não possua valores O pro blema contudo é que em geral não paramos para pensar e tor namos conscientes para nós quais os valores que nos guiam Aqui se situa toda a questão ética Toda sociedade está baseada em va lores éticos morais em geral escondidos e poucas vezes trazidos à luz Outro ponto excitante para ser discutido Número 3 Tipo de sociedade como já sinalizamos toda cosmovisão traz em si também uma dimensão que insinua revela qual o tipo de sociedade que para as pessoas que possuem tais valores e tal concepção de ser humano seria mais aceitável e melhor Número 4 Comportamentos relações Essa é a única dimensão que pode ser vista constatada Todos nós conseguimos ver como as pessoas se comportam e o tipo de relações que elas estabelecem com os outros Aliás é curioso isso pois a partir daí se pode descobrir numa pesquisa cuidadosa qual a concepção de ser humano que as pessoas possuem os valores que defendem e acham melhor É a dimensão visível da cosmovisão Terminamos a primeira coluna Foi apenas explicação das dimensões da cosmovisão Agora vamos entrar na análise das dife rentes cosmovisões Para facilitar vamos agora fazer um aná lise menos geral a essas três cosmovisões à parte a sua filosofia ou de seu valor central À I chamaremos de Liberalismo e à II Totalitarismo Há outros nomes que estão no quadrinho Esses são apenas para facilitar Liberalismo Número 5 Indivíduo Costumase dizer que o ser hu mano nessa cosmovisão é um indivíduo Agora para esse conceito que pode causar equívocos Indivíduo assim como uma unidade significa duas partes primeiro é alguém que é singular mas separado do todo e do resto isto é que não manda ver com os outros É ele e só ele Explicase por si mesmo Número 13 Peça da máquina Essa expressão é emprestada do Documento Centesimus Annus une encíclica de João Paulo II escrita na comemoração dos 100 anos da Rerum Novarum de Leão XIII que nós já citamos muito anteriormente O ser humano nessa cosmoviagem não vale por si mesmo ele sozinho não tem sentido Ele passa a ter sentido somente dentro de um conjunto de um todo que é mais que ele e que é o que realmente importa O ser humano é então peça de uma máquina parte de um todo Esse todo pode ser chamado de estado de instituição de grupo partido etc Isso significa que a pessoa humana não é uma categoria fundamental básica ela só tem sentido na máquina que é realmente o que interessa Número 16 Massificação Anonimato Burocracia aqui também não é difícil você mesmo ir tirando as conclusões Se a pessoa é apenas um número criase uma situação de anonimato de massificação Isso é muito comum na nossa era de predomínio de uma mídia massificante nas mãos de poucas pessoas O sociólogo Betinho Herbert de Souza costumava dizer que não vivemos no Brasil um regime totalitário pois a mídia está às mãos de pouquíssimos nove famílias possuem 90 por cento dos meios Ora são só eles que falam e a grande maioria da população se transforma em ouvintes teleguiados e manipulados Sua famosa expressão era A comunicação é o termômetro da democracia se não há democracia na comunicação isto é se as pessoas não podem dizer sua palavra não há democracia numa sociedade Se pensarmos um pouco vamos ver que nós somos afinal a soma das milhões de relações que estabelecemos desde que entramos em contato com o mundo e a vida Nossa subjetividade é formada através dessas relações Somos portanto singulares únicos pois da imensidade de relações que estabelecemos recordamos para formar o tecido de nossa subjetividade de partes e traços específicos nos que vão diferenciar dos demais CAPÍTULO X CLASSE SOCIAL O conceito classe social é fundamental em sociologia É da compreensão clara e profunda desse conceito que nascem as possibilidades concretas de se poder mudar alguma coisa na sociedade que acontece pois é que 94 que trabalharn em vez de se sentirem todos numa mesma condição sentemse diferentes pois pensam pertencer a outra classe E eles fazem questão de não se misturar Os assim chamados colorarinhos brancos classe médiaalta instigados e levados ingenuamente pela ideologia da classe dominante acabem sentindose de outra classe E comem inclusive a combater seus companheiros de trabalho Então acontece uma coisa extremamente triste e paradoxal é o próprio trabalhador que domina o trabalhador O dono do meio de produção começa a pagar bem mais para alguns trabalhadores para que esses cuidem dos debaixo No caso brasileiro na classe média poderseá colocar 15 da população e na classe médiaalta uns 9 Mas os trabalhadores braçais que sofrem o peso e o calor do dia são uns 70 CAPÍTULO XI INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA SUAS RELAÇÕES Nas nossas discussões sobre os tópicos em Sociologia já andamos por diversas áreas teoria ideologia modo de produção diversos modos de produção classes sociais Vamos entrar agora num tópico novo ligado à compreensão mais profunda do que é uma sociedade Não abordamos até agora pois precisávamos fundamentar bem alguns conceitos e dimensões Mas chegou a hora de abordar essa nova realidade Quando discutimos o que é sociedade e a teoria do modo de produção fomos montando os elementos essenciais dum modo de produção sociedade através de diversas perguntas Chegamos assim à montagem do esquema instrumental para análise duma sociedade toda sociedade é formada por dois elementos essenciais que são as forças e relações de produção Agora a pergunta a sociedade é só isso Não há mais nada Pois aqui voltamos ao problema das teorias Não há nenhuma teoria ou definição que explique totalmente uma coisa Algumas definem mais outras menos Certamente a melhor será aquela que explique e defina mais coisas e melhor Se descobriram os Brasil como uma República Federativa etc estamos dizendo como o Brasil é agora como o Direito Constituição diz que o Brasil é Mas se dissemos que o Brasil é um modo de produção capitalista já dizemos muitas coisas mais pois dizemos como o Brasil é agora e porque ele é assim Pois mostramos que quem decidiu que o Brasil fosse assim Vamos ver que quem manda é o capital pois as relações entre capital e trabalho são de dominação e o capital pelos donos dos meios de produção Examindo mais a fundo o Direito vamos constatar que ele serve aos interesses do capital e olhando a história do Brasil vamos constatar que isso sempre foi assim quem tinha as terras e depois as indústrias decidia sobre o tipo de organização social que seria melhor não há refere ao jurídico normas leis tradições etc e tudo o que se refere ao ideológico os mecanismos de persuasão as ideologias em geral Esse estado será composto pois de duas grandes partes o poder de estado esse seria então o governo assembleias o político e a segunda parte seriam os aparelhos de estado que seriam as instituições tudo o que se materializou a partir das tensões e confrontações nas relações básicas de produção para reproduzir essas relações ver capítulo XII Esses aparelhos instituições também podem ser divididos em dois grandes grupos ao menos para fins de análise pois na prática eles possuem as duas dimensões os repressivos que usam a força a coação e os ideológicos que empregam a persuasão e a ideologia O quadro 5 nos mostra agora como a sociedade se amplia e se complexifica Qual a relação entre infra e superestrutura Colocase aqui uma discussão muito importante O que influencia prioritariamente o que determina em primeiro lugar as coisas é a infraestrutura que determina a superestrutura ou a superestrutura determina a infraestrutura Há três posições principais nessa discussão 1º O mecanicismo determinista ou o determinismo mecanicista Segundo essa posição o que determina tudo e sempre é a infraestrutura Não há nada que não decorra diretamente do econômico das forças e relações de produção O resto tudo é alienação Alguns chamam isso de materialismo É a teoria estalinista ou da Escola de Moscou ou do marxismo vulgar 2º O culturalismo Essa posição reanalisa a importância da superestrutura na determinação dos fenômenos Houve dois nomes importantes mesmo dentro do mundo marxista que enfatizaram essa posição George Lukacs e Antonio Gramsci Eles se rebelaram contra o determinismo mecanicista e mostraram a importância das diversas instâncias superestruturais na transformação da sociedade como a consciência de classe a educação o partido político São chamados de culturalistas pois eles mostraram como os fatores culturais podem influenciar e mudar a infraestrutura 3º A teoria da autonomia relativa da superestrutura Segundo essa posição não se pode negar que a infraestrutura possui uma importância imprescindível indispensável ao menos em última instância Dito em outras palavras essa teoria insiste num fato óbvio e inegável de que para viver as pessoas precisam gerar Isso significa em última instância Essa teoria não esquece que nenhuma sociedade sobrevive sem sua produção Mas ao mesmo tempo admite que as superestruturas possuem uma ação de retorno sobre a infraestrutura modificando a própria infraestrutura Dizse pois que a superestrutura possui uma autonomia também mas que essa autonomia é relativa não absoluta É tal pois nenhuma superestrutura sobreviverá sem sua produção Nenhuma pessoa pode rezar meditar contemplar filosofar estudar e não come CAPÍTULO XII OS APARELHOS DE REPRODUÇÃO DA SOCIEDADE Após termos ampliado a visão do que seja uma sociedade com sua infraestrutura e superestrutura e suas influências mútas passaremos a analisar pormenorizadamente os diversos mecanismos superestruturais que se criam nas diversas sociedades para reprodução e manutenção dessa própria sociedade Nessa primeira discussão vamos examinálos e classificálos de modo geral Posteriormente vamos discutir alguns deles individualmente e mostrar como eles se comportam quais as estratégias que usam quais seus mecanismos claros e ocultos Entre outros veremos o papel das leis o aparelho ideológico do Direito o papel da escola das igrejas da família dos meios de comunicação dos sindicatos das cooperativas Que são aparelhos de reprodução Todo agrupamento humano toda sociedade necessita assegurar sua sobrevivência e sua permanência sua reprodução A sobrevivência é assegurada pela produção e a reprodução é assegurada por diversos aparelhos ou mecanismos que a sociedade cria como já vimos no capítulo anterior para se fortificar e legitimizar podendo assim garantir sua continuidade Quais são eles Diversos pensadores que discutiram esse problema classificaram os aparelhos de reprodução em duas categorias fundamentais Os aparelhos repressivos são aqueles aparelhos que na sua função de manutenção e reprodução da sociedade usam a força a violência ou a coaçãorepressão Eles não escondem seu papel mostramse como são são claramente estruturados e organizados Entre outros poderíamos identificar os seguintes o exercício que muitas vezes tem a tarefa de defender a sociedade contra agressões externas mas algumas vezes passa a exercer funções dentro da própria nação as companhias de segurança que estão proliferando por toda parte a concentração com sua consequente exclusão produz uma sociedade cada vez mais violenta e insegura as políticas de todos os tipos sua função é garantir a ordem interna em geral as prisões onde são colocados os que não se enquadram dentro dos normais estabelecidos pela sociedade Essas prisões são de diversos tipos e categorias Há prisões para menores de 18 anos prisões para mulheres prisões para presos comuns para presos especiais e entre os especiais há algumas prisões para as pessoas que possuem certo grau de saber ou prestígio na sociedade Os tribunais encarregados de julgar e decidir o que é certo ou errado quem é culpado ou inocente Os tribunais remetem as pessoas às prisões quando julgadas culpadas O direito que em sua parte penal passa a pertencer às instituições repressivas Não analisaremos especificamente nos aparelhos acima mas capitulos posteriores pois podem ser fins de análise pois aparelhos ideológicos que usam persuasão e sofisticação Os aparelhos repressivos só são aqueles aparelhos Além disso os aparelhos repressivos são só aqueles televisão também rádio todos os meios de comunicação como os jornais são aqueles os aparelhos ideológicos são outras partes outro capítulo relações de dominação discutiremos as instituições que usam a repressão duma maneira mais sutil e elegante Você pode contudo fazerse diversas perguntas com respeito aos aparelhos repressivos Podese perguntar por exemplo a polícia na realidade só cuida dum determinado tipo de gente que são os trabalhadores No papel a polícia deveria ter o mesmo tratamento com todos Mas na prática de quem a polícia cuida E quem a polícia defende Ainda mais você poderia se perguntar qual o papel dos tribunais e das prisões Quem chega a ir para a prisão Quem meios de produção na prisão E por que existem prisões especiais para certos tipos de pessoas que possuem mais estudo ou mais prestígio prestígio esse trazido em geral pelo dinheiro Você vai darse conta de que na prática os aparelhos repressivos estão a serviço dum tipo de gente duma classe que são os donos do capital e atuam na maioria quase absoluta das vezes são para confirmar a regra Mas no discurso isso é quando se fala proteger e defender todos os cidadãos Procure estar atento e prestar atenção ao papel real desses aparelhos coercitivos Os aparelhos ideológicos são aqueles aparelhos que na sua função de manutenção e reprodução das relações numa sociedade usam a persuasão a cantada isto é é necessária certa astúcia certa perspicácia para poder perceber seu papel Como dizíamos antes eles são muito mais sofisticados Entre os aparelhos ideológicos poderíamos citar os seguintes a escola ou educação a família as diversas igrejas as leis o direito os meios de comunicação social rádio TV jornais revistas filmes teatros as entidades assistenciais INSS Comunidade Solidária Febem etc os sindicatos pelejos as cooperativas dependentes do Estado os partidos políticos dominados pelo capital e outros Nos capítulos posteriores vamos fazer uma análise específica de alguns dos aparelhos ideológicos acima mencionados Essa discussão será apenas para poder realçar seus pontos principais deve ele mesmo discutirlos na prática e identificar os mecanismos e estratégias que são usadas em cada situação concreta CAPÍTULO XIII O APARELHO IDEOLÓGICO DO DIREITO Nas análises dos diversos mecanismos de manutenção e reprodução da sociedade nós não defrontamos de ideia com um muito concreto e amplo as leis de todo o tipo as tradições as leis familiares as leis dos grupos os regulamentos os estatutos as leis penais as leis governamentais as leis constitucionais e as morais Algumas dessas leis são apenas para aconselhar outras já são mais severas e se não são cumpridas podem levar as pessoas à prisão Poderseia até dizer que há leis que valem para todos as pessoas do mundo apesar de serem poucas como talvez a de que não se pode matar os semelhantes Mas mesmo assim em alguns povos em certas ocasiões não era totalmente seguido como por exemplo quando se sacrificavam pessoas aos deuses Grande parte dessas leis são colocadas no papel e daí decorrem os códigos de leis de diversos tipos Mas o que nos interessa discutir agora dentro sempre de nosso enfoque históricocrítico é a compreensão do verdadeiro sentido das leis E isso só se consegue se formos à origem da questão e aos perguntarmos como foi que as leis apareceram Pois há duas maneiras bem diferentes de encarar este problema das leis 1 A primeira é a maneira positivistafuncionalista estética que começa a examinar as leis que existem qual a função que elas têm para a manutenção e reprodução da sociedade Esse tipo de enfoque no tratamento das leis não pergunta como as leis foram Ela toma as leis aqui e agora supõe que devem ser assim e implicitamente acaba supondo que sempre foram assim e sempre assim e são assim em todas as sociedades Isso é o que se chama de naturalização ou reificação das leis Ele não é só da conta de todas as leis form criadas por alguns e que representam os direitos de um grupo Queremos deixar claro que não estamos discutindo aqui problemas éticos isto é se isso é certo ou errado bom ou mau Estamos apenas mostrando que os costumes as tradições e as leis são culturais são criadas por grupos ou indivíduos dentro dos grupos que possuem mais poder e prestígio para fazer valer sua vontade Esses interesses particulares são colocados como leis para todos os outros Alguém pode estar pensando mas isso é assim entre povos diferentes entre culturas diferentes mas não entre nós aqui no Brasil Pois para mostrar que mesmo aqui as coisas são assim vamos ver alguns exemplos Comecemos por uma lei muito importante que existe aqui no Brasil e que atinge a maioria absoluta da população a lei do salário mínimo Quando alguém quer trabalhar vai falar com o dono da empresa e faz o acordo vai trabalhar oito horas por dia seis dias por semana por um salário Se o trabalhador reclamar o empresáiro diz Meu amigo aqui está a lei E o operário não conseguirá nunca processar o empresário colocálo na cadeia pois ele está cumprindo a lei Agora veja você pela Constituição brasileira o salário deveria ser suficiente para uma família poder se alimentar dignamente ter casa transporte educação Isso hoje corresponde a pelo menos quatro vezes o salário Mas na realidade isso não é colocado em prática nunca Agora você deve se perguntar Quem criou a lei do salário mínimo A quem favorece essa lei Como se explica o conflito entre as duas leis Por que uma lei que faz parte da Constituição por isso mesmo muito mais importante não é cumprida E por que se obrigam algumas pessoas a cumprir uma lei como a do salário mínimo que é posterior à Constituição Na resposta a essas perguntas você vai compreendendo o que são as leis quem as criou o quem elas favorecem e a quem elas desfiguram E começa a discutir comuns seus colegas os outras leis tais que existem em par CAPÍTULO XIV O APARELHO IDEOLÓGICO DA ESCOLA Entramos agora numa discussão que diz respeito à grande maioria dos fatores desse livro pois trata duma instituição que tem a ver ou teve com a maioria absoluta da população Sendo que esse livro vai ser usado principalmente em escolas essa nossa discussão se torna enormemente próxima Existe já hoje uma grande bibliografia sobre a função da escola na nossa sociedade Muitos desses livros já assumem uma postura bastante crítica e desmistificadora Dentro dos muitos aspectos que poderíamos discutir nós vamos enfatizar apenas alguns que julgamos mais importantes Vamos privilegiar de modo especial a análise crítica das ideologias subjacentes às diversas teorias de aprendizado e um pouco da história da escola A história da escola Para se compreender bem nossa discussão é importante ter presente as discussões já feitas sobre o Modo de Produção Cap V sobre o Capitalismo Cap VI e sobre a Superestrutura fazem parte da estrutura duma sociedade No capitalismo as relações são de dominação alguns são donos dos meios de produção e exploração o capital explora aquele que trabalha A escola faz parte da superestrutura já que instituições criadas para reproduzir e garantir as relações de produção Escola seria aquela instituição superestrutural na maioria das vezes imposta obrigatória e controlada pelos que detêm o poder Quando essa escola não executa a política e os interesses do grupo no poder ela é censurada mudada reformada e até mesmo fechada Escola seria pois o aparelho ideológico do capital Por educação nós vamos designar o processo ligado à etimologia da própria palavra Educação é uma palavra que vem do latim de duas outras e ou ex que significa de dentro de para fora e duce que significa tirar levar Educação significa pois o processo de tirar de dentro uma pessoa ou levar para fora de uma pessoa alguma coisa que já está dentro presente na pessoa A educação supõe pois que a pessoa não é uma tábula rasa mas possui potencialidades próprias que vão sendo atualizadas colocadas em ação e desenvolvidas através do processo educativo Essa distinção vai identificar as diversas correntes que se verificaram através da história Podemos começar já pela antiga Grécia Nesse país havia os dois modelos o manipulador usado pelos donos do poder para adaptar as pessoas a seus interesses e o libertador simbolizado na escola de Sócrates que representava o processo de desenvolvimento da pessoa a partir dela mesma Para se compreender melhor o processo socrático devese ver como ele encarnava a verdadeira educação Sócrates dizia que o professor é semelhante a um parteiro O parteiro tira o humano do humano Assim devese ver o educador aquele que tira de dentro das pessoas o que já existe de humano dentro dessas pessoas A esse processo Sócrates chamava de Maiêutica Seu método consistia em dar respostas que os outros devessem aceitar e repetir mas em fazer perguntas obrigando a pessoa a pensar até que ela mesma se desse conta de suas contradições e compreendesse a totalidade do fenômeno Mas como sempre esse processo não agradou aos donos do poder e Sócrates foi acusado de corromper a juventude de colocar mihocas na cabeça das pessoas principalmente dos jovens Começou uma perseguição muito grande contra sua pessoa e seu método e Sócrates para evitar problemas e dissabores maiores teve de tomar cícuta A quem interessa tal teoria Interessa a quem quer um homem repetidor reprodutor do que é transmitido Se formos examinar o mundo do trabalho no modo de produção capitalista veremos que o homem necessário ao bom desempenho duma fábrica ou empresa é um trabalhador que faça as coisas com eficiência e rapidez Fazer bem e rápido eis tudo Não precisa pensar não precisa decidir não precisa planejar Apenas executar Aliás quanto menos pensar melhor É nesse sentido que aos poucos se vai substituindo o homem pelo robô pois o homem não passa mesmo dum robô dum automático A ideologia que se esconde por detrás da teoria dos condicionamentos é extremamente favorável aos donos do capital pois quanto mais trabalhadores existem que não pensam que não questionam mas apenas executam tarefas obedientemente mais lucro e menos problemas a empresa terá Uma escola dos desejos objetivos será a melhor escola para o sistema capitalista O decidir pensar criar é deixado para um pequeno grupo de privilegiados que receberão uma formação dentro de escolas privilegiadas onde não faltará nem verbas nem recursos de todo tipo Mas serão bem poucos os que podem pertencer a essa elite É nesse momento que se reproduzem as relações de dominação As relações verticais de uns por cima dos outros de são na escola principalmente É verdade que os conteúdos dos livros didáticos estão também cheios de ideologias mas as mais perniciosas são as ideologias que são transmitidas na didática na prática de como se ensina CAPÍTULO XV O APARELHO IDEOLÓGICO DA FAMÍLIA A família é a primeira instituição com que uma pessoa entra em contrato em sua vida E ela a acompanha de uma maneira ou outra até sua morte Direta ou indiretamente ela está sempre presente Muita coisa já se escreveu sobre família Gostaríamos de explorar um pouco alguns aspectos escondidos silenciados no referente a esse aparelho ideológico A grande questão que deve ser discutida é qual o verdadeiro papel que a família executa Será que é somente o de procriação desenvolvimento socialização e manutenção dos filhos Não haverá outras funções Queramos ou não a família recebe grande influência do modo de produção em que está inserida As relações básicas de uma sociedade irão influenciar direta ou indiretamente a estrutura familiar E é isso que gostaríamos de mostrar No modo de produção capitalista a família que não é consciente que não se vigia prepara os elementos para a produção forma cidadãos de acordo com as necessidades do sistema Toda a discussão que fizemos no capítulo anterior sobre a escola pode ser adaptada agora à família Há duas práticas educativas básicas a condicionadora que forma para a dominação e a dialógica que forma para a liberdade No exame da maioria das famílias percebemos que elas reproduzem relações de poder da sociedade em que vivem Assim na maioria das famílias a pessoa é submetida à mãe ou o marido e desta forma ainda recebe um papel subordinado Mas entre os filhos se estabelece uma hierarquia de poder o mais velho manda no mais novo e o filho homem manda na filha mulher Esse é um exemplo claro de relações de dominação que se estabeleceram por dois critérios 1 O critério de idade quem é mais velho pode mais e sabe mais Assim como na escola o professor sabe mais que o aluno na família o adulto sabe mais que a criança Como vimos no capítulo anterior isso é falso pois todo saber é uma experiência e não há saber maior ou menor há saberes diferentes O adulto sabe uma coisa o jovem sabe outra Se o critério de saber é a idade as relações se tornam verticais não dialógicas 2 O critério gênero o homem manda mais que a mulher Para os homens são permitidos certos comportamentos certas regalias que de nenhuma maneira são permitidos à mulher Dentro do processo de socialização primária o menino já é educado diferentemente para ser o chefe para decidir tornar a iniciativa A menina vai cuidar das coisas de casa vai servir ao marido cuidar das crianças Mais uma vez as diferenças de gênero servem para a reprodução das relações de dominação pois quando se chega ao trabalho teremos novamente essas diferenças já consagradas e legitimadas No trabalho a mulher como regra vai receber menos mesmo que faça o mesmo trabalho que o homem O importante é que se mantém as hierarquias de poder que as relações se estabelecem verticalmente Tendo ainda em mente a discussão feita no capítulo anterior sobre a importância de se respeitar o saber dos outros e da importância em se estabelecer relações de igualdade para que possa haver um verdadeiro diálogo trazemos aqui um exemplo acontecido em nossa prática profissional Fui convidado para uma palestra para um grupo de mais de 60 casais Quando vieram me buscar já foram me dando algumas insinuações do que deveria falar O assunto era conflito de gerações No caminho iamme dizendo Pois veja o Senhor o que temos hoje tomam drogas se fazem sozinhos de noite não dá satisfação a ninguém do que fazem não têm responsabilidade Percebi que seria difícil a tarefa Ao iniciar a conversa fizemos um acordo de que nós falaremos de nós mesmos dos adultos pois os jovens não estavam menos presentes e não fazia sentido falar dos ausentes Aos poucos tentam colocar sempre em termos de evidência a impossibilidade de se provar que há um saber maior que o meu e o saber menor ou pior que o saber é uma experiência pessoal única singular Que existiam isso sim saberes diferentes E que os jovens apesar de tudo também têm um saber e que saber tem fundamento tinha uma lógica A única atitude plausível coerente seria tentar estabelecer um diálogo com o jovem e que o diálogo implicava numa igualdade de posições um lado do outro respeitando cada um o saber do outro e através da pergunta e tentativa de entendimento tentar compreender o esquema lógico existente em cada uma das partes Esse diálogo seria muito enriquecedor e seria a prática da verdadeira democracia dando ao do que o Evangelho nos sugere de outro pois segundo o Evangelho se temos um só Pai somos consequentemente todos irmãos e não há ninguém que é mais irmão que o outro A estas alturas da conversa alguém do fundo da sala gritou Quero falar Alguns estranharam mas o senhor continuou a gritar Quero falar E eu vindo para a frente do grupo Estava um tanto alterado e iniciou sua colocação que demorou mais que vinte minutos Após ter confessado que o que tinha dito era realmente o que deveria acontecer acrescentou que tinha um exemplo pessoal para provar isso Fazia seis de sua filha tinha saído de casa e após três dias ele não lembrava o fato à polícia Quando a polícia chegou a sua casa e perguntou qual o nome todo da sua filha ele não soube responder e teve que recorrer a mulher para que dissesse o nome todo Ao perguntar a ideia da filha ele também não sabia e teve de chamar novamente à mãe Assim por diante Entre outras coisas disse que não se lembrava de jamais ter prestado atenção a alguma coisa que a filha lhe tivesse dito Porque em casa quem mandava era ele os outros os tinha que obedecer Na mesa o filhos deveriam escutar calados Era até de estranhar que a filha com 18 anos já estivesse agitando durante tempo uma situação já dominada e autoridade Numa situação dessas até se compreendia que ela tivesse abandonado a família Mas o que esse senhor narrou em parte acontece con todos nós Todos temos dentro de nós relações de dominação Nós fomos formados dentro de relações autoritárias reproduzindo o sistema sem nos darmos conta respiramos comemos bebemos dizemos sonhamos relações de dominação Automaticamente as transportamos para todos os ambientes e instâncias Assim por exemplo qual o adulto que não pensa que sabe mais que o jovem Qual o professor que não acha que sabe mais que o aluno Qual o padre que não acha que sabe mais que o povo Cientificamente falando não se pode provar que o saber de um é maior do que o saber de outro Agora no momento em que nos apresentamos diante dos filhos alunos ou povo com a convicção de que sabemos mais não é necessário dizer mais nada a simples atitude já é de dominação Ela extravasa de todos os nossos gestos nós a explicitamos por todos os nossos poros Somente uma pessoa que se vigia momento a momento que se pergunta pela razão e o sentido de todos os seus gestos e ações pode desenvolver para si mesma e para as pessoas com as quais se relaciona relações igualitárias democráticas dialógicas É interessante também prestar atenção sobre a influência que o sistema global exerce sobre as próprias relações que levam as pessoas a viverem juntas Todas achamos que as pessoas casam porque se enamoraram se apaixonaram Mas por detrás do fato de se enamorar e apaixonar estão muitas influências bastante concretas e materiais Em primeiro lugar quem toma a iniciativa é o macho com a fêmea sucumbindo graciosamente às arremetidas do parceiro Que determinou esses papéis E se formos examinar os que chegam a casar vamos ver que existe uma grande correlação entre renda posição social status e casamento Será isso também fruto de paixão Ou existem algumas regras misteriosas que coordenam essas variáveis Por que essa estranha escolha de classe Por que rico casa com rico pobre com pobre branco com branco negro com negro Qual a verdadeira razão de matar pessoas irem à Universidade e a tal Universidade específica Será que a verdadeira razão é mesmo fazer um curso superior E por 114 das famílias Através da competição as qualidades individuais são privilegiadas e as relações associativas são colocadas em segundo plano Além disso é muito mais interessante para o sistema econômico que se consuma a maior quantidade de produtos possível Para isso cada família mesmo que sejam só duas ou três pessoas tornase um agente consumidor Cada família passa a ter toda a parafernália de objetos que diaadia são inventados e injectados nas pessoas através de uma propaganda maciça que cria necessidades a maioria das vezes totalmente supérfluas No momento em que diversas famílias se unem o consumo desses objetos familiares diminui e com isso o sistema não lucra como poderia lucrar Mas o que acontece com a escola e com as outras instituições pode acontecer também com a família Ela pode se tornar um agente transformador na medida em que se conseguir estabelecer e criar novas relações igualitárias e dialógicas entre seus membros A família é na verdade o momento essencial e primordial na estruturação da personalidade das pessoas A vivência familiar será consequentemente a base fundamental que possibilitará uma ruptura com as práticas normais do sistema caso as pessoas da família tomarem consciência dessas relações estruturais do sistema e decidirem estabelecer a prática de novas relações Como você estará percebendo há uma estreita ligação entre a família e a escola e entre essas duas instituições e as outras que analisaremos posteriormente como a religião os meios de comunicação etc Muitas vezes o trabalho libertador da família é frustrado pela escola e viceversa Mas em dada situação institucional é necessário que se estabeleça a luta para a transformação das relações básicas do sistema e o surgimento de diferentes práticas de vida democráticas e dialógicas O ideal seria que essas instituições todas trabalhassem unidas interligadas numa colaboração mútua 116 CAPÍTULO XVI O APARELHO IDEOLÓGICO DAS IGREJAS Muitas pessoas podem estranhar que as igrejas possuam um aparelho ideológico a serviço da reprodução das relações de dominação no caso do sistema capitalista Se você leu com atenção os capítulos sobre escola e sobre família já pode perceber que determinadas igrejas poderão muito bem se colocar a serviço da reprodução dessas relações básicas do sistema quando não forem críticas e não se derem conta de todas as consequências que seu trabalho pode acarretar É preciso deixar claro que nossa abordagem aqui se restringe ao campo específico duma crítica sociológica do fenômeno religioso e especificamente da instituição igreja A crítica sociológica da religião ajuda a própria igreja a purificarse a questionarse a limparse de capas e cargas históricas que deixam deforma 117 Na prática se vê como essa tática funciona Grande parte dos adeptos de religiões mais espiritualistas como os neopentecostais por exemplo como até mesmo muitos padres e freiras acham que participar em sindicato não é coisa para eles e sim por outro lado a corrupção que decorre desse poder absoluto e a dominação e opressão que são resultado dessa situação estrutural não deixa de ser superestrutural Quando um regime autoritário e dominador se sente bem com determinado grupo religioso e viceversa podese começar a suspeitar que a religião esteja servindo aos interesses dos poderosos E mesmo quando determinados grupos religiosos na sua cosmovisão na sua explicação do universo colocam a solução de todos os problemas dos deuses umbanda ou colocam a solução de todos os problemas de não entregarse a Jesus neopentecostais esquecendose de ação concreta que decorre desse compromisso devese perguntar seriamente em que interesses esses grupos religiosos estão servindo Não estarão eles servindo aos interesses dos grupos de poder e transformandose em instrumento ideológico para legitimidade perpetuação e reprodução desses grupos 2 A religião infraestrutural a essência da religião infraestrutural é o reconhecimento da relatividade das coisas do critério Ela não se sitúa na instância ideológica mas posição atitude prática Ela é utópica veja o último capítulo é uma posição de antecipação criadora e de crítica ao presente ela é uma posição crítica diante do modo de produção da formação social atual e crítica ao futuro posição crítica diante do modo de produção e organizarse raça que é uma forma social que virá Ela é antifetichista pois mostra a precariedade transitoriedade de tudo o que há história principalmente dos sistemas sociais que se dizem absolutos e divinos Nesse mesmo sentido ela é ateísta de um sistema que se diz divino ela não aceita um deus terreno um poder absoluto E É importante examinar essa ideia pois aqui se esconde o maior problema para a organização dos sindicatos O grupo dominante que dita normas e impõe sua ideologia criou essa imagem de sindicato como sendo contra o Estado ou a Nação Pelo fato de os sindicatos serem ou quererem ser autônomos defenderem os interesses dos trabalhadores eles os julgam perniciosos negativistas e chegam assim a igualar os ser contra o capital ao ser contra a nação É que os donos do capital que na realidade são os donos da nação se julgam a nação e é eles Então quem é contra eles é contra um governo criado mantido e manipulado por eles e consequentemente contra a nação Dessa maneira através da educação e mesmo através da religião uma religião que estes usam como arma ideológica para manter as pessoas obedientes e quietas eles tentam igualar a ação do sindicato como sendo uma ação desordeira como sendo violenta de gente que não aceita nada que é sempre contra O sindicato fica assim com uma conotação de uma marca negativa de gente que nunca está contente As pessoas de bem as pessoas religiosas as pessoas boazinhas não devem se meter com desordeiros e arruaceiros que só fazem greve e prejudicam a ordem estabelecida Essas relações vão estabelecer um sistema de classes como já vimos veja o capítulo X Não são os trabalhadores que criaram ou que desejam as classes sociais As classes sociais o capital e o trabalho foram criadas fundamentalmente pelos donos dos meios de produção no momento em que deles se apropriaram A bem da verdade devese dizer que nenhum trabalhador deseja uma sociedade de classes Mas na realidade concreta elas existem e seria muita ingenuidade negar esse fato Pois é a partir dessa realidade concreta de classes que se deve compreender e discutir o sindicato Fora dessa perspectiva nada pode ser esclarecido Numa sociedade de classes a classe dominante apoderase do aparelho de Estado para colocálo a seu serviço Numa sociedade de classes o Estado é a classe dominante Podese ver que dentro da própria classe existem facções de classe e uma facção domina sobre a outra Mas quando a contradição fundamental se mostra a contradição capitaltrabalho os donos dos meios de produção Capital mesmo divididos em facções para dominar o aparelho de Estado formam imediatamente uma aliança para garantir o poder Agora podese entender a questão do sindicato Quando se diz que o sindicato não é livre nem autônomo querse dizer que o sindicato isto é os sindicatos dos trabalhadores não está sob domínio real dos trabalhadores mas sim de pessoas ligadas ao capital E eles não largam mão de maneira nenhuma desse aparelho pois é decisivo o mais nevrálgico de todos Isso se torna claro pois o sindicato é a organização dos trabalhadores a partir do trabalho e o trabalho é tanto a chave da questão social no dizer de João Paulo II como também é a chave da solução da questão social Pois é o trabalho que faz tudo produz toda a riqueza no momento em que os que trabalham puderem ser autônomos e donos de sua produção eles conseguirão sua liberdade 4 Juros limitados ao capital o capital sempre está em função da pessoa e não se transforma como no capitalismo em produtor de riqueza e gerador de mais lucro por si mesmo Eles se julgavam com direitos a tomar decisões em nome de toda a cooperativa E isso era tão generalizado que os que possuíam menos produção achavam que os que tinham mais poderiam mandar mais Assim a ideia capitalista de que quem tem mais manda mais já se tornou comum entre os sócios das cooperativas Essa influência das relações dominantes do sistema é subreptícia silenciosa mas vai se instalando nos corações e mentes das pessoas legitimando como consequência práticas de dominação e exploração CAPÍTULO XIX O APARELHO IDEOLÓGICO DA COMUNICAÇÃO Chegamos finalmente a um dos aparelhos ideológicos mais centrais e abrangentes de nossa sociedade atual Talvez esteja aqui o segredo de existir uma sociedade com tantas contradições e injustiças e não acontecer uma transformação rápida e profunda como era de se esperar A comunicação parece ser o instrumento mais importante de resistência à mudança e de manutenção dessa situação de dominação e exploração campanha da criação do milagre brasileiro Os anúncios redigidos em cinco línguas foram enviados à agência Kenyon e Eckardt de Nova York que fez a revisão final dos textos e planejou sua inserção nos grandes diários e revistas dos países de bloco capitalista Nos Estados Unidos nos jornais e revistas Fortune Newsweek Wallstreet Time Vision Na Alemanha Die Welt Frank Furt Handeelsblatt Mas nos jornais do Japão Inglaterra Argentina Colômbia França México Venezuela etc Para isso o governo brasileiro gastou ao redor de meio milhão de dólares encheu o balão do milagre brasileiro que viria se esvaziar poucos anos depois Veja você o que faz a comunicação Veja essa notícia sobre uma viagem de Reagan à Europa Dizia o noticiário O Presidente dos EEUU viajará à Europa por oito dias Visitará alguns países e tentará mostrar a esses países que é um homem sensato Visitará o Papa etc Veja você os homens que cuidam da figura do Presidente precisam quando eles dão uma mancada melhorar sua figura Mas é só figura E isso se faz pela comunicação que cria uma nova realidade não se importando se a coisa fica no mesmo Conclusão A comunicação constrói a realidade O segundo ponto que deve ser discutido aqui é que a comunicação ao construir a realidade não é de maneira neutra asséptica Muito pelo contrário Essa construção é feita dentro de uma dimensão valorativa isto é juntando juízos de valor às notícias Uma notícia nunca é dada frimentemente Vai sempre embalada em valores com cheiro de bomma As vezes a dimensão valorativa está presente no próprio fato de se dar ou não se dar uma notícia Uma estação de rádio ou televisão quando decide dar uma notícia já está valorizando tal fato a não ser que diga explicitamente que tal fenômeno é mau ou que as pessoas devem participar de maneira errônea O fato de dizer algo já valoriza o fato para a maioria das pessoas Finalmente um terceiro ponto deve ser levado em consideração além de a comunicação construir a realidade isso uma dimensão de valor a notícia comunicada ela também conta na agenda de discussão isto é ela traz os assuntos sobre os quais as pessoas vão falar e discutir As pesquisas mostram que aproximadamente 80 de tudo o que as pessoas falam na rua em casa no trabalho nas viagens etc são assuntos que foram apresentados pelos meios de comunicação Isso leva a conclusões muito sérias pois nós damos conta de que a força da mídia não está apenas no que ela apresenta está também e muito no que deixa de apresentar Se algo não é colocado na mídia não é discutido pelas pessoas Isso significa que se pode deixar de fora da discussão nacional um tema que possa incomodar a determinados grupos ou governos E de outro lado se quisermos que algo exista e exista com a valorização que queremos é fácil é só apresentálo fazêlo noticiário Ele passa a existir e as pessoas passam a falar deletais considerações parecem um tanto fortes ou extremas Você deve então parar e começar a pensar se isso é assim mesmo ou não Confira você mesmo o que é que se fala nas ruas e onde de um pessoas tiraram o assunto É fácil de fazer o teste 2 Quem tem a comunicação tem o poder Essa tese é em parte decorrência da tese anterior Quem detém a comunicação constrói uma realidade de acordo com seus interesses justamente para poder garantir o poder E esse pode se manifestar de muitas maneiras Por exemplo os que detêm a comunicação para poderem estar por cima começam a dizer que vale mais quem fala quem estuda Há então um predomínio dos que falam sobre os que fazem ou trabalham Eles acabam aceitando essa dominação como sendo certa Isso no fundo é consequência do predomínio dos que possuem as coisas terras fábricas etc que é o capital sobre o trabalho São os que trabalham que fazem tudo Leão XIII já dizia na Rerum Novarum o trabalho é a única fonte das riquezas Mas porém precisa ficar escondido o disparado Por isso os que têm os meios de produção e de comunicação para permanecerem com vantagem estabeleçam a ideia de que fala quem estuda vale mais Mas não é só isso Os que têm a comunicação chegam até a definir os outros É o mesmo Os que usam a palavra dão uma definição dos outros como sendo esses outros importantes mais ignorantes menos honestos até mesmo piores que os demais