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Cursos Gerais ·
Psicologia Institucional
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23 Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo Capítulo 2 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Este capítulo visa compreender diversos elementos componentes da dinâmica grupal e organizacional a serem considerados na hora de planejar um processo de avaliação psicopedagógica nesse contexto Eles serão apresentados conforme as contribuições teóricopráticas clássicas acerca dos grupos e a análise institucional que dá subsídio ao campo da avaliação institucional Nos ocuparemos portanto da re flexão acerca da organização dos objetivos e elementos de análise do processo de avaliação considerando duas perguntaschave o que ava liar e como avaliar 24 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo Para responder à primeira pergunta pontuaremos elementos cons titutivos dos conceitos de grupos operativos portavoz e aprendizagem de PichonRivière e de transversalidade e analisador da vertente fran cesa da análise institucional Para responder à segunda nos introdu ziremos na técnica de grupo operativo nas rodas de conversa e em características de situações de conflito que propiciam emergentes ana lisadores e demandas de avaliação institucional Por último assinalaremos alguns dos cuidados a serem contempla dos na hora de escolher instrumentos e apontaremos os conflitos e si tuações emergentes mais frequentes no âmbito organizacional Assim partindo de uma concepção ampla de ensinoaprendizagem identifica remos os construtos e elementos que podem ser analisados nessas situações de conflitos que demandam a avaliação psicopedagógica 1 Grupos operativos Os benefícios e vantagens da avaliação grupal são diversos No gru po o outro funciona como o estrangeiro que dinamiza novas reflexões e a capacidade de duvidar do conhecido enriquecendo o próprio ponto de vista Durante a década de 1950 o psiquiatra e psicanalista Pichon Rivière 19071977 foi um dos precursores do trabalho com grupos e inspirou propostas grupais em diversos países Para PichonRivière um grupo é mais do que a soma das suas partes e cada manifestação de um dos seus membros pode ser analisada a partir de dois eixos um vertical que se refere a processos internos do sujeito e um horizontal relacionado com o grupo como totalidade CASTANHO 2012 A partir dessa perspectiva surge o conceito de portavoz que reme te à manifestação individual de algo que permeia o grupo que afeta o todo Por exemplo para PichonRivière o sofrimento psíquico individu al é emergente do grupo familiar e cada doente é o portavoz de um problema desse grupo Assim adoecer e sofrer é contemplado a partir 25 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo de uma dimensão grupal e sistêmica O grupo operativo é um lugar de trocas e de conhecimento um lugar de aprendizagem no contato com o outro Nesse grupo a presença de contradições é incontornável entre tanto com o tempo o grupo operativo vai conseguindo lidar com elas de forma mais ampla e elaborada CASTANHO 2012 Ainda conforme Castanho 2012 no grupo operativo a saúde não é sinônimo de ausência de patologia Nesse contexto a promoção da saúde acontece quando é possível a circulação de papéis no grupo quando há condições de surgimento de novas formas de compreensão e da superação de representações estáticas e estereotipadas As fre quentes ansiedades angústias e fantasias inconscientes de um grupo relacionadas com medos diante da perda e da novidade levariam a um estancamento desses processos de expansão grupal O grupo que consegue funcionar com base na dinâmica de supe ração dessas ansiedades e de expansão da aprendizagem pode ser considerado operativo mas o grupo operativo também denomina uma técnica de intervenção Cabe assinalar que o termo grupo operativo de aprendizagem refere ao processo de formação dos coordenadores de grupo operativo na abordagem de PichonRivière Nesse contexto a ta refa é a discussão de um tema Na técnica de grupo operativo há três elementos o coordenador o observador não participante e o grupo O coordenador do grupo não participa da tarefa mas intervém em caso de estancamento podendo assinalar conteúdos latentes Assim a inter venção do coordenador resulta operativa quando auxilia a restituição do movimento grupal CASTANHO 2012 Como se organizam os grupos Atualmente existem diversas for mas de agrupamento para além do grupo operativo Nas instituições educativas e de saúde os grupos geralmente se organizam confor me idade ou patologia CHAPELIER 2009 Nos âmbitos laborais e nas empresas a tarefa costuma ser o núcleo da agrupação De acor do com Chapelier 2009 a abordagem grupal requer explicitar um 26 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo enquadramento que seja coerente com uma determinada técnica e li nha teórica de formação dos profissionais para evitar a frequente indi ferenciação entre grupos readaptativos reeducativos ocupacionais ou psicoterapêuticos O enquadramento teórico os objetivos metas e o dispositivo organização são interdependentes Entretanto para além dos contextos específicos de trabalho em linhas gerais os objetivos do avaliador consistem em ampliar e desenvolver processos de sim bolização analisando dificuldades de aprendizagem e propondo novas experiências CHAPELIER 2009 Não existe um único dispositivo de avaliação e atendimento grupal mas há diversas orientações de abordagem dos grupos que utilizam referenciais teóricopráticos variados A avaliação psicopedagógica ins titucional se ocupa da análise dos indivíduos em interação em relação e em contexto interessase pelo funcionamento e organização da dinâ mica grupal Tal como apontado por Chapelier 2009 essa distinção é relevante porque no caso das abordagens psicoterapêuticas existem as avaliações no grupo que focalizam o plano individual diferentemen te da psicoterapia do grupo e pelo grupo que apontam a uma análise sistêmica do grupo como um todo As avaliações no grupo procuram estimular a atividade fantasmáti ca e reduzir as resistências individuais CHAPELIER 2009 p 53 São constituídos grupos abertos dos quais os participantes podem entrar e sair ao longo do tempo e a interpretação é individual Nessa modalida de costumam surgir rivalidades de tipo edipianas e o grupo é regulador e estimulador Cabe então distinguir e estar ciente dos objetivos da ava liação institucional o psicopedagogo precisa definir se realizará uma análise do grupo se o grupo estará em um contexto de observação de desempenhos e recursos individuais ou se realizará uma abordagem mista justapondo as duas vertentes Os meios de troca mais frequentes utilizados como ferramenta de avaliação no dispositivo grupal são a palavra rodas de conversa o 27 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo jogo dramático uma tarefa ou uma atividadeobjeto mediador cultural como uma obra de arte ou um jogo de regras que promova a expressão do mundo interno e subjetivo CHAPELIER 2009 Por que analisar grupos na avaliação psicopedagógica institucional O contexto de avaliação grupal abre espaço para a observação do enfrenta mento do conflito na inclusão de novas narrativas na queda dos discur sos únicos na diversificação das relações causais e no processo reflexivo sobre o instituído SCHLEMENSON 2005 As ações e falas emergentes no contexto de análise grupal são produzidas na interação com o outro horizontalpar ou verticallíder dinamizando um conflito epistêmico e afetivo com potencial para promover novas autorregulações Figura 1 Grupo realizando desafio coletivo Outro objetivo da abordagem grupal consiste em favorecer o desen volvimento da cooperação correspondente à promoção de trocas opera tórias com o entorno entendendo que a coação obstaculiza essa forma de pensamento A avaliação grupal oferece um espaço para interações 28 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo cooperativas entre pares e entre colegas em posições hierarquicamen te assimétricas e permite confrontar diversos pontos de vista e agir de maneira menos egocêntrica O trabalho psicopedagógico com grupos propicia a formulação e a circulação das hipóteses singulares de seus membros acerca das cau sas dos conflitos o que enriquece e diversifica seus pontos de vista Desse modo compartilhar o saber dinamiza a construção coletiva que estrutura o pensamento individual e viceversa Nesse sentido as ro das de conversa constituem um instrumento de avaliação significativo Nessas dinâmicas o colegapar pode conter e orientar os comporta mentos e as atitudes dos outros mas também pode tomar o lugar de estrangeiro e rival despertando sentimentos de hostilidade IMPORTANTE As rodas de conversa constituem uma metodologia amplamente utili zada com crianças adolescentes e adultos no âmbito de instituições diversas tais como de saúde e educacionais Podem ser coordenadas entre outras possibilidades a partir de uma pergunta disparadora de uma situação de conflito apresentada pelo grupo e de uma imagem ou dramatização que desperte reflexões e questionamentos acerca dos instituídos da organização Na prática da abordagem grupal de avaliação é possível utilizar uma série de instrumentos diversos tais como as rodas de conversa antes mencionadas No capítulo 3 apresentaremos a técnica da entrevista operativa centrada na aprendizagem Eoca grupal inspirada na propos ta de Jorge Visca que toma como referência teórica a psicanálise e os estudos de PichonRivière Entretanto diante dessa diversidade de recursos é preciso ressal tar que a avaliação psicopedagógica se ocupa de processos de en sinoaprendizagem esse é seu eixo de atuação Na perspectiva de 29 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo PichonRivière a aprendizagem acontece em grupos considerados operativos e que podem funcionar em todos os âmbitos da vida social sem se reduzir ao campo da educação formal CASTANHO 2012 A reunião do grupo se justifica na realização de uma tarefa com objetivos compartilhados por todos E como é definida a tarefa segundo Pichon Rivière Uma tarefa envolve a elaboração de ansiedades e nela o objeto de conhecimento se faz assimilável pela quebra da pauta dissociati va e estereotipada que tem funcionado como fator de estancamento na aprendizagem da realidade e de deterioro na rede de comunicação PICHONRIVIÈRE 1985 apud CASTANHO 2012 p 57 tradução nossa Diferentemente da tarefa o termo prétarefa aponta a uma dinâmica de dissociação não integração entre o pensar o agir e o sentir Essa dissociação pode ser considerada um mecanismo de defesa Ou seja no prétarefa o grupo funciona ao modo de um como se na modalida de do faz de conta Observase uma posição de impostura de ausência e de alienação dos membros do grupo dinâmica durante a qual o objeti vo pode ser cumprido mas sem uma elaboração psíquica significativa É uma falsa tarefa realizada somente para satisfazer uma demanda ex terna CASTANHO 2012 Por último cabe lembrar que diante da diversidade de técnicas de avaliação grupal e tal como apontado por Bandeira e Hutz 2020 é ne cessário ter cautela na hora de escolher os instrumentos de avaliação A formação e o aprofundamento no conhecimento dessas ferramentas são a base para sua seleção adaptação e organização ao longo do pro cesso avaliativo PARA SABER MAIS O psicodrama é um método que surgiu nas origens da psicoterapia de grupo e pode ser adaptado como instrumento de observação e avalia ção na prática psicopedagógica A partir de exercícios de improvisação 30 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo eou de temas disparadores e situações do cotidiano é possível iden tificar analisar e elaborar vínculos representações medos crenças e comportamentos espontâneos dos membros do grupo Conforme apontado por Bandeira e Hutz 2020 é um cuidado ético e metodológico realizar uma adaptação adequada dos instrumentos de avaliação considerando não só a linguagem a ser utilizada para propi ciar o entendimento dos sujeitos avaliados mas também seus traços culturais e comunitários A escolha do vocabulário termos e expressões podem ser uma ponte facilitadora ou um obstáculo para a realização da tarefa apresentada 2 Transversalidade e o fator analisador A transversalidade e o analisador são conceitosferramentas desen volvidos por Felix Guattari 19301992 na confluência entre psicanálise e a análise das instituições Conforme Rossi e Passos 2014 p 166 a transversalidade renova o conceito de grupo a partir da análise de suas dinâmicas subjetivas a dinâmica de menor grau de abertura define o grupo assujeitado e a de maior transversalidade os grupos sujeitos A transversalidade é promovida em ferramentas e dispositivos que facili tam a circulação da palavra e a manifestação de corpos menos discipli nados abrindo possibilidades de transformação da realidade grupal e ao mesmo tempo das subjetividades Alterar o grau de transversalidade envolve transformar o grau de abertura grupal para outros sentidos e modos transferenciais e vinculares intragrupal e intergrupal A transfe rência dá lugar à transversalidade para pensar as dinâmicas subjetivan tes dos grupos ROSSI PASSOS 2014 A abertura à novidade implica também um processo de descons trução de certas crenças familiares e de hospitalidade em relação ao outro extrafamiliar Segundo Schlemenson 2009 a observação do 31 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo trabalho grupal e suas dinâmicas permite analisar três modalidades transferenciais 1 Transferência com a tarefa o processo e o produto ou seja as produções simbólicas verbais gráficas e escritas 2 Com os pares transferência horizontal 3 Com os outros em posições hierarquicamente superiores tais como líderes coordenadores chefes etc transferência vertical Em cada uma dessas modalidades transferenciais é possível identi ficar indicadores que evidenciam formas diversas de interação a Eixo intersubjetivo com o outro em posição de transferência ver tical tipo de interação social com o coordenador gestão depen dênciacoação ou autonomiacooperação b Eixo intersubjetivo com pares transferência horizontal modali dade prevalente de interação cooperação competitividaderivali dade e o papel do colega na regulação c Eixo tarefa conflito nível de autorregulação e flexibilidade diante das dificuldades e erros repetição rigidez ou mudança de estra tégias não sucedidas d Eixo intrasubjetivo construção de si mesmo manifestações afetivas prevalentes na resolução da tarefa segurança descon forto dispersão sentimento de superioridade ou inferioridade significados em torno de si mesmo pensante inteligência força de vontade desempenho na organização o corpo a postura mo dalidades energéticas prevalentes A transversalidade grupal instaura outros modos de relação possível para além da verticalização e hierarquização hegemônica dos conhe cimentos e dos vínculos Os níveis de transversalidade se manifestam 32 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo nos espaços de voz ofertados aos membros de uma instituição em dispositivos de rodas de conversa ou assembleias que visem a escuta e socialização de sugestões conflitos sentimentos aprendizagens e experiências bemsucedidas A carência desses espaços de circulação da palavra nas organizações reforça um estilo de gestão autoritário e a recíproca cristalização de um grupo objeto ou assujeitado que conhece pouco acerca da própria origem e das regras e objetivos que o definem como tal Assim um dos papéis do psicopedagogo na instituição será analisar e dinamizar essa transversalidade grupal propiciando e apon tando espaços de palavra e comunicação O nível de transversalidade institucional demarca ademais o co nhecimento da própria história e origem dos grupos e das organiza ções Desde o início da socialização humana e ao longo do ciclo vi tal a construção da identidade nos grupos e nos modos de se vincular com os objetos de conhecimento é forjada em um contrato narcisista AULAGNIER 1977 apud MONTI 2008 Esse contrato cumpre três fun ções assinala uma origem modela o vínculo de continuidade com as gerações precedentes e garante ao sujeito o direito de ocupar um lugar em um grupo social mais amplo que a família Os vínculos filiais da ins tituição família são atravessados por outras instituições ou seja existe uma filiação narcisista com os pais e uma filiação instituída que remete ao grupo social MONTI 2008 O contrato narcisista salienta o lugar dos enunciados e dos discursos na constituição do psiquismo discurso ideológico que desde o início permeia a função materna e paterna com referências de um meio sociocultural determinado O sujeito se apropria desses enunciados repetindoos ou modificandoos na enunciação de um projeto identificatório próprio e singular SCHLEMENSON 2009 Assim cada grupo e cada membro está atravessado por valoriza ções culturais Elas permeiam por exemplo a instituição escolar con figurando o que se espera de um aluno tanto na resolução de conflitos intersubjetivos como no ato de aprender Entretanto os diversos con textos institucionais de aprendizagem nos quais o sujeito se desloca 33 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo e que desenvolve ao longo da vida podem apresentar elementos con traditórios com as demandas e expectativas que lhe são dirigidas em torno de um ideal de obediência de desempenho eficiente em relação à valorização da palavra e à imposição ou discussão coletiva de nor mas e regras 21 O fator analisador Conforme Rossi e Passos 2014 o analisador é o que provoca a de manda de análiseintervenção pode ser um evento ou uma pessoa que suscita uma quebra uma separação do instituído Analisador e transver salidade são conceitos articulados porque é da situação de problema tização e questionamento de hierarquias que eles surgem O analisador é assim uma ferramenta analítica e uma situação de conflito nuclear da demanda organizacional de intervenção ROSSI PASSOS 2014 No funcionamento dos grupos na organização escolar o fator analisador emerge em situações críticas de conflito geralmente ma nifestadas pela recorrência de fracasso escolar e das dificuldades de aprendizagem que restringem e empobrecem três relações afetivas constitucionais o investimento afetivo dos educadores da instituição escolar e dos parescolegas Nesse contexto grupal o funcionamento do eu discente pode ser interpretado como insuficiente para cumprir com as expectativas de pais e professores e para se sentir competente diante do grupo de pares e diante de si mesmo no papel de ser aluno na instituição exogâmica mais importante de desenvolvimento subjetivo No caso do grupo de colegas eles instauram o sentimento de perten cimento compartilhando modalidades de ação ideais e identificações grupais URRIBARRI 1999 Cabe lembrar que na escola existe ainda a prática do agrupamento de alunos por dificuldades diagnósticos ou desempenho insuficiente o que fortalece a identificação com uma ca tegoria e traço grupal que gera impactos afetivos na autovalorização 34 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo A segregação do grupo de alunos menos capazes que não sabem e estão no lugar do déficit leva à cronificação dos estereótipos e de um autoconceito negativo A autorrealização e a satisfação na vida de grupo indiferenciada ou seja a vida similar para todos é baseada no querer ser como os ou tros Essa modalidade de identificação massiva e alienante leva com frequência nos dispositivos grupais ao fator imitação das respostas e ações dos colegas elemento difícil de controlar no momento da ava liação por exemplo nas rodas de conversa O discurso do outro pode ser copiado ao modo de uma réplica ou funcionar como inspiração Entretanto em linhas gerais a abordagem psicopedagógica grupal mo biliza posições subjetivas estáticas que costumam ser consolidadas e retroalimentadas no espaço institucional Essas fossilizações não são desconstruídas ou problematizadas em pouco tempo e precisam de um processo lento para gerar outros espaços de reconhecimento do si mesmo no discurso social por fora de expressões limitantes tais como não posso ou não consigo ou das comparações com colegas que têm diferentes ritmos de aprendizagem O sentimento de pertencimento grupal também evoca emergen tes de conflito que podem constituir ou não um fator analisador São exemplos desses conflitos o assédio moral e as situações de bullying em todas as faixas etárias Quando essas agressões são silenciadas o conflito se cristaliza Quando emerge a denúncia e a não compactu ação com esse tipo de situações há um espaço potencial de ruptura e transformação A aprovação dos colegas e o fazer parte de um grupo constituem fatores expansivos do desenvolvimento subjetivo nas insti tuições Contudo os pares não são unicamente fonte de confirmação da valorização narcisista mas também de zoação eou provocações por características físicas étnicas de gênero e estéticas por exemplo excesso de peso cor de pele ou competências e habilidades Cabe en tão ao psicopedagogo realizar uma avaliação dos valores éticos e mo rais que circulam e orientam a ação de uma organização no marco dos 35 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo Direitos Humanos e da legislação que atinge especificamente cada tipo de instituição empresarial escolar de saúde etc Figura 2 O bullying e o assédio nos grupos O isolamento é uma perturbação externa que interpela uma com pensação que pode ir do silenciamento à ação individual de vingança passando pelo apelo da mediação de instâncias coletivas eou hierar quicamente superiores No entanto primeiramente a ação do outro é assimilada aos esquemas cognitivos e afetivos do sujeito e portanto resulta singularmente significada Esse impacto constitui um sofrimen to psíquico que o psicopedagogo precisa indagar e explorar no campo da avaliação institucional A exclusão do grupo de pares sejam cole gas de trabalho ou alunos além de gerar sofrimento psíquico restrin ge a possibilidade de conformar novos espaços de aprendizagem e 36 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo referências simbólicas que permitam ir além da própria família ou do contexto sociocultural cotidiano Por último cabe assinalar outro analisador frequente nos estabele cimentos institucionais referente ao absenteísmo e ao excesso de rota tividade de funcionários Essas situações quando recorrentes levam a um sentimento de recomeço constante na constituição de vínculos e na transmissão de formalidades instituídas e da cultura organizacional Esse fenômeno gera desgaste psíquico e ao mesmo tempo dificulta o aproveitamento mais eficaz do tempo de trabalho 3 Os elementos do processo grupal Toda afirmação institucional se funda em uma possibilidade que tem sua contrapartida em uma negação que funciona como um limite do desejo individual Sem esses enquadres institucionais a satisfação anárquica de desejos em um estado massificado de princípio de prazer restringiria o desenvolvimento social afetivo e cognitivo dos sujeitos Assim quando as escolas famílias e demais instituições se configuram em um sistema de limites coercitivos e carecem de propostas e objetos a serem investidos intelectual e afetivamente promovem o empobre cimento do desenvolvimento pessoal No caso da escola ela constitui uma referência simbólica fundante na vida dos sujeitos transmitindo interdições que permitem a organização social e psíquica e ao mesmo tempo propondo espaços de atuação e objetos atrativos de interesse tanto para o aluno como para o educador Como foi apontado no capítulo anterior uma dinâmica institucional rígida coíbe desde a infância a manifestação de instituintes e da constru ção de um grupo sujeito autônomo No caso dos professores e demais trabalhadores a coerção e imposição naturalizante de regras acaba fo mentando a burocratização do trabalho o que traz obstáculos para o de senvolvimento de recursos pessoais positivos de talentos de competên cias e do bemestar no contexto laboral Assim não é só o desempenho 37 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo pessoal que é avaliado nas organizações mas também o cumprimento das regras Como não diluir a própria singularidade em identificações massivas com os outros com o líder e com a tarefa De que modo manter um nível mínimo saudável de autonomia nos grupos e nas organizações As análises e intervenções grupais se direcionam para o realce da perma nência do sujeito na impermanência dos objetos ou seja promovem um sentimento de si mesmo estável de ser sempre um entre outros mas di ferente dos outros BERNARDEAU et al 2014 A distinção eunão eu se constrói a partir de bordas psíquicas semipermeáveis na tensão entre a contenção e a permanência de si mesmo dos próprios desejos e enun ciados e a abertura às trocas com o entorno social Ao mesmo tempo os processos de descentração subjetiva nos grupos são facilitadores da aprendizagem quando o sujeito se reconhece e se diferencia nas trocas cooperativas e recíprocas com o conhecimento dos pares Figura 3 Roda de conversa com coordenador A análise das posições subjetivas em relação às modalidades de interação com o conhecimento se sustenta na intersecção da dupla dimensão psicológica do singular e do grupal A abordagem grupal 38 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo favorece essa análise por oferecer um contexto de atendimento mais natural menos artificial e mais próximo da realidade dos sujeitos e do seu cotidiano evitando os comportamentos isolados da abordagem in dividual O contexto grupal favorece a observação do investimento afeti vo do outro que pode funcionar como suporte dispersor ou rival A avaliação das atitudes e comportamentos socioafetivos nas pro postas oferecidas permite entender a modalidade de aprendizagem interação participação e comunicação prevalente entre os sujeitos Segundo Piaget 1975 nas coordenadas do pensamento operatório os vínculos se sustentam na reciprocidade e no respeito mútuo Essas coordenadas favorecem o trabalho em equipe e a concretude de metas e tarefas para além das simpatias ou antipatias entre colegas Os sen timentos interindividuais se estabilizam em afetos normativos relacio nados aos sentimentos autônomos de justiça e a vida social entre os membros do grupo se organiza na permanência de valores e objetivos compartilhados Essa estabilidade de sentimentos fundase na capaci dade de descentração que favorece níveis de empatia mais sofistica dos para entender o ponto de vista alheio O sentimento de respeito mútuo nas organizações intervém em fun ção da cooperação e do trabalho em equipe quando os participantes se atribuem reciprocamente um valor equivalente e não se limitam a valo rar pelas ações particulares PIAGET 1975 p 85 A análiseintervenção grupal com jogos por exemplo favorece o progressivo desenvolvimento da cooperação e a observação das dinâmicas que se instalam entre os participantes pressupondo correspondências entre o desenvolvimento do pensamento lógico e da cooperação nas trocas intelectuais Em convergência com essa perspectiva cooperativa no campo da psicologia positiva as condições de trabalho satisfação engajamento esperança e flow fluxo também são considerados construtos a serem avaliados nesse contexto Pesquisas dessas áreas mostram inclusive que existe correlação entre a criatividade e a esperança BANDEIRA 39 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo HUTZ 2020 Assim as condições de saúde psicossocial oferecidas pe las organizações podem propiciar ou limitar as possibilidades de bem estar subjetivo e de aprendizagem nos contextos grupais PARA PENSAR Reflita acerca das condições de saúde psíquica e física oferecidas pe las diversas organizações pelas quais você transitou ao longo da sua vida educativas de lazer de saúde de trabalho Quais aspectos você considera que foram positivos para sua aprendizagem e quais resulta ram em obstáculos Considerações finais Neste capítulo abordamos alguns conceitos e elementoschave que dão subsídio teórico e prático à construção de um processo de avaliação institucional Salientamos a importância das trocas coope rativas nos grupos para entender outros pontos de vista e assimilar de forma mais plástica e flexível aquilo que é da ordem do não fami liar e do estrangeiro encarnado nos colegas de trabalho e de estudo Refletimos acerca das vantagens de analisar rivalidades e situações de coação no contexto natural da abordagem grupal Apresentamos o conceito de transversalidade como uma qualidade de abertura do grupo sujeito para autoconhecimento e estabelecimento de vínculos mais amplos e enriquecedores A partir das contribuições de PichonRivère apresentamos elemen tos e dinâmicas a serem observados no funcionamento grupal como um todo trazendo os conceitos de grupo operativo de aprendizagem e de portavoz que contribuem para um olhar sistêmico da análise do afrontamento do conflito cognitivo e afetivo presente nos grupos an siedades medos etc Abordamos ainda a noção de contrato narcisista 40 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo para ressaltar que todo grupo está permeado por discursos sociais e ideológicos mais amplos O caso do bullying e da segregação foi apresentado com um con flito contemporâneo presente em espaços institucionais diversos que se manifesta em atitudes de discriminação e que evidencia os valores éticos das organizações Quando denunciado pode constituir um fator analisador da organização Em síntese os autores e perspectivas teóricopráticas apresentadas convergem na necessidade de observar a dialética entre os conteúdos manifestos dos grupos e os conteúdos latentes que eles ocultam ou disfarçam É tarefa do avaliador poder explicitar esses mecanismos im plícitos ou evitados Alguns instrumentos mencionados que permitem mapear e indagar esses conteúdos latentes foram as rodas de conversa e a ferramentaconceitual pichoniana de tarefa e prétarefa Diante dessa rede de elementos e dinâmicas apresentados desta camos a necessidade de refletir acerca das perguntas e objetivos que orientam o psicopedagogo para escolher um determinado instrumento ou recurso de avaliação considerando a história e as características da organização em que pretende trabalhar Referências BANDEIRA Denise Ruschel HUTZ Claudio Simón Elaboração ou adaptação de instrumentos de avaliação psicológica para o contexto organizacional e do trabalho cuidados psicométricos In BANDEIRA Denise Ruschel et al org Avaliação psicológica no contexto organizacional e do trabalho Porto Alegre Artmed 2020 BERNARDEAU Corinne et al Le groupe logicomathématique une fabrique du nombre pour enfants présentant des troubles dapprentissage des mathémati ques Bulletin de psychologie v 2 n 530 p 143147 2014 41 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo CASTANHO Pablo Uma introdução aos grupos operativos teoria e técnica Vínculo Revista do NESME v 9 n 1 p 160 2012 CHAPELIER Jean Bernard Les psychothérapies de groupe chez lenfant et ladolescent les tentations éducatives Revue de psychothérapie psychanalytique de groupe v 2 n 53 p 927 2009 MONTI Mario Rossi Contrato narcisista e clínica do vazio Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental São Paulo v 11 n 2 p 239 253 jun 2008 PIAGET Jean Seis estudios de psicología Barcelona Seix Barral 1975 ROSSI André PASSOS Eduardo Análise institucional revisão conceitual e nuanças da pesquisaintervenção no Brasil Revista EPOS Rio de Janeiro v 5 n 1 p 156181 janjun 2014 SCHLEMENSON Silvia Enfoque psicoanalítico del tratamiento psicopedagógi co Cadernos de Psicopedagogia v 5 n 9 São Paulo 2005 SCHLEMENSON Silvia La clínica en el tratamiento psicopedagógico Buenos Aires Paidós 2009 URRIBARRI Rodulfo Descorriendo el velo sobre el trabajo de la latencia Revista LatinoAmericana de Psicanálise FEPAL v 3 n 1 p 257292 1999
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23 Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo Capítulo 2 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Este capítulo visa compreender diversos elementos componentes da dinâmica grupal e organizacional a serem considerados na hora de planejar um processo de avaliação psicopedagógica nesse contexto Eles serão apresentados conforme as contribuições teóricopráticas clássicas acerca dos grupos e a análise institucional que dá subsídio ao campo da avaliação institucional Nos ocuparemos portanto da re flexão acerca da organização dos objetivos e elementos de análise do processo de avaliação considerando duas perguntaschave o que ava liar e como avaliar 24 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo Para responder à primeira pergunta pontuaremos elementos cons titutivos dos conceitos de grupos operativos portavoz e aprendizagem de PichonRivière e de transversalidade e analisador da vertente fran cesa da análise institucional Para responder à segunda nos introdu ziremos na técnica de grupo operativo nas rodas de conversa e em características de situações de conflito que propiciam emergentes ana lisadores e demandas de avaliação institucional Por último assinalaremos alguns dos cuidados a serem contempla dos na hora de escolher instrumentos e apontaremos os conflitos e si tuações emergentes mais frequentes no âmbito organizacional Assim partindo de uma concepção ampla de ensinoaprendizagem identifica remos os construtos e elementos que podem ser analisados nessas situações de conflitos que demandam a avaliação psicopedagógica 1 Grupos operativos Os benefícios e vantagens da avaliação grupal são diversos No gru po o outro funciona como o estrangeiro que dinamiza novas reflexões e a capacidade de duvidar do conhecido enriquecendo o próprio ponto de vista Durante a década de 1950 o psiquiatra e psicanalista Pichon Rivière 19071977 foi um dos precursores do trabalho com grupos e inspirou propostas grupais em diversos países Para PichonRivière um grupo é mais do que a soma das suas partes e cada manifestação de um dos seus membros pode ser analisada a partir de dois eixos um vertical que se refere a processos internos do sujeito e um horizontal relacionado com o grupo como totalidade CASTANHO 2012 A partir dessa perspectiva surge o conceito de portavoz que reme te à manifestação individual de algo que permeia o grupo que afeta o todo Por exemplo para PichonRivière o sofrimento psíquico individu al é emergente do grupo familiar e cada doente é o portavoz de um problema desse grupo Assim adoecer e sofrer é contemplado a partir 25 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo de uma dimensão grupal e sistêmica O grupo operativo é um lugar de trocas e de conhecimento um lugar de aprendizagem no contato com o outro Nesse grupo a presença de contradições é incontornável entre tanto com o tempo o grupo operativo vai conseguindo lidar com elas de forma mais ampla e elaborada CASTANHO 2012 Ainda conforme Castanho 2012 no grupo operativo a saúde não é sinônimo de ausência de patologia Nesse contexto a promoção da saúde acontece quando é possível a circulação de papéis no grupo quando há condições de surgimento de novas formas de compreensão e da superação de representações estáticas e estereotipadas As fre quentes ansiedades angústias e fantasias inconscientes de um grupo relacionadas com medos diante da perda e da novidade levariam a um estancamento desses processos de expansão grupal O grupo que consegue funcionar com base na dinâmica de supe ração dessas ansiedades e de expansão da aprendizagem pode ser considerado operativo mas o grupo operativo também denomina uma técnica de intervenção Cabe assinalar que o termo grupo operativo de aprendizagem refere ao processo de formação dos coordenadores de grupo operativo na abordagem de PichonRivière Nesse contexto a ta refa é a discussão de um tema Na técnica de grupo operativo há três elementos o coordenador o observador não participante e o grupo O coordenador do grupo não participa da tarefa mas intervém em caso de estancamento podendo assinalar conteúdos latentes Assim a inter venção do coordenador resulta operativa quando auxilia a restituição do movimento grupal CASTANHO 2012 Como se organizam os grupos Atualmente existem diversas for mas de agrupamento para além do grupo operativo Nas instituições educativas e de saúde os grupos geralmente se organizam confor me idade ou patologia CHAPELIER 2009 Nos âmbitos laborais e nas empresas a tarefa costuma ser o núcleo da agrupação De acor do com Chapelier 2009 a abordagem grupal requer explicitar um 26 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo enquadramento que seja coerente com uma determinada técnica e li nha teórica de formação dos profissionais para evitar a frequente indi ferenciação entre grupos readaptativos reeducativos ocupacionais ou psicoterapêuticos O enquadramento teórico os objetivos metas e o dispositivo organização são interdependentes Entretanto para além dos contextos específicos de trabalho em linhas gerais os objetivos do avaliador consistem em ampliar e desenvolver processos de sim bolização analisando dificuldades de aprendizagem e propondo novas experiências CHAPELIER 2009 Não existe um único dispositivo de avaliação e atendimento grupal mas há diversas orientações de abordagem dos grupos que utilizam referenciais teóricopráticos variados A avaliação psicopedagógica ins titucional se ocupa da análise dos indivíduos em interação em relação e em contexto interessase pelo funcionamento e organização da dinâ mica grupal Tal como apontado por Chapelier 2009 essa distinção é relevante porque no caso das abordagens psicoterapêuticas existem as avaliações no grupo que focalizam o plano individual diferentemen te da psicoterapia do grupo e pelo grupo que apontam a uma análise sistêmica do grupo como um todo As avaliações no grupo procuram estimular a atividade fantasmáti ca e reduzir as resistências individuais CHAPELIER 2009 p 53 São constituídos grupos abertos dos quais os participantes podem entrar e sair ao longo do tempo e a interpretação é individual Nessa modalida de costumam surgir rivalidades de tipo edipianas e o grupo é regulador e estimulador Cabe então distinguir e estar ciente dos objetivos da ava liação institucional o psicopedagogo precisa definir se realizará uma análise do grupo se o grupo estará em um contexto de observação de desempenhos e recursos individuais ou se realizará uma abordagem mista justapondo as duas vertentes Os meios de troca mais frequentes utilizados como ferramenta de avaliação no dispositivo grupal são a palavra rodas de conversa o 27 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo jogo dramático uma tarefa ou uma atividadeobjeto mediador cultural como uma obra de arte ou um jogo de regras que promova a expressão do mundo interno e subjetivo CHAPELIER 2009 Por que analisar grupos na avaliação psicopedagógica institucional O contexto de avaliação grupal abre espaço para a observação do enfrenta mento do conflito na inclusão de novas narrativas na queda dos discur sos únicos na diversificação das relações causais e no processo reflexivo sobre o instituído SCHLEMENSON 2005 As ações e falas emergentes no contexto de análise grupal são produzidas na interação com o outro horizontalpar ou verticallíder dinamizando um conflito epistêmico e afetivo com potencial para promover novas autorregulações Figura 1 Grupo realizando desafio coletivo Outro objetivo da abordagem grupal consiste em favorecer o desen volvimento da cooperação correspondente à promoção de trocas opera tórias com o entorno entendendo que a coação obstaculiza essa forma de pensamento A avaliação grupal oferece um espaço para interações 28 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo cooperativas entre pares e entre colegas em posições hierarquicamen te assimétricas e permite confrontar diversos pontos de vista e agir de maneira menos egocêntrica O trabalho psicopedagógico com grupos propicia a formulação e a circulação das hipóteses singulares de seus membros acerca das cau sas dos conflitos o que enriquece e diversifica seus pontos de vista Desse modo compartilhar o saber dinamiza a construção coletiva que estrutura o pensamento individual e viceversa Nesse sentido as ro das de conversa constituem um instrumento de avaliação significativo Nessas dinâmicas o colegapar pode conter e orientar os comporta mentos e as atitudes dos outros mas também pode tomar o lugar de estrangeiro e rival despertando sentimentos de hostilidade IMPORTANTE As rodas de conversa constituem uma metodologia amplamente utili zada com crianças adolescentes e adultos no âmbito de instituições diversas tais como de saúde e educacionais Podem ser coordenadas entre outras possibilidades a partir de uma pergunta disparadora de uma situação de conflito apresentada pelo grupo e de uma imagem ou dramatização que desperte reflexões e questionamentos acerca dos instituídos da organização Na prática da abordagem grupal de avaliação é possível utilizar uma série de instrumentos diversos tais como as rodas de conversa antes mencionadas No capítulo 3 apresentaremos a técnica da entrevista operativa centrada na aprendizagem Eoca grupal inspirada na propos ta de Jorge Visca que toma como referência teórica a psicanálise e os estudos de PichonRivière Entretanto diante dessa diversidade de recursos é preciso ressal tar que a avaliação psicopedagógica se ocupa de processos de en sinoaprendizagem esse é seu eixo de atuação Na perspectiva de 29 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo PichonRivière a aprendizagem acontece em grupos considerados operativos e que podem funcionar em todos os âmbitos da vida social sem se reduzir ao campo da educação formal CASTANHO 2012 A reunião do grupo se justifica na realização de uma tarefa com objetivos compartilhados por todos E como é definida a tarefa segundo Pichon Rivière Uma tarefa envolve a elaboração de ansiedades e nela o objeto de conhecimento se faz assimilável pela quebra da pauta dissociati va e estereotipada que tem funcionado como fator de estancamento na aprendizagem da realidade e de deterioro na rede de comunicação PICHONRIVIÈRE 1985 apud CASTANHO 2012 p 57 tradução nossa Diferentemente da tarefa o termo prétarefa aponta a uma dinâmica de dissociação não integração entre o pensar o agir e o sentir Essa dissociação pode ser considerada um mecanismo de defesa Ou seja no prétarefa o grupo funciona ao modo de um como se na modalida de do faz de conta Observase uma posição de impostura de ausência e de alienação dos membros do grupo dinâmica durante a qual o objeti vo pode ser cumprido mas sem uma elaboração psíquica significativa É uma falsa tarefa realizada somente para satisfazer uma demanda ex terna CASTANHO 2012 Por último cabe lembrar que diante da diversidade de técnicas de avaliação grupal e tal como apontado por Bandeira e Hutz 2020 é ne cessário ter cautela na hora de escolher os instrumentos de avaliação A formação e o aprofundamento no conhecimento dessas ferramentas são a base para sua seleção adaptação e organização ao longo do pro cesso avaliativo PARA SABER MAIS O psicodrama é um método que surgiu nas origens da psicoterapia de grupo e pode ser adaptado como instrumento de observação e avalia ção na prática psicopedagógica A partir de exercícios de improvisação 30 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo eou de temas disparadores e situações do cotidiano é possível iden tificar analisar e elaborar vínculos representações medos crenças e comportamentos espontâneos dos membros do grupo Conforme apontado por Bandeira e Hutz 2020 é um cuidado ético e metodológico realizar uma adaptação adequada dos instrumentos de avaliação considerando não só a linguagem a ser utilizada para propi ciar o entendimento dos sujeitos avaliados mas também seus traços culturais e comunitários A escolha do vocabulário termos e expressões podem ser uma ponte facilitadora ou um obstáculo para a realização da tarefa apresentada 2 Transversalidade e o fator analisador A transversalidade e o analisador são conceitosferramentas desen volvidos por Felix Guattari 19301992 na confluência entre psicanálise e a análise das instituições Conforme Rossi e Passos 2014 p 166 a transversalidade renova o conceito de grupo a partir da análise de suas dinâmicas subjetivas a dinâmica de menor grau de abertura define o grupo assujeitado e a de maior transversalidade os grupos sujeitos A transversalidade é promovida em ferramentas e dispositivos que facili tam a circulação da palavra e a manifestação de corpos menos discipli nados abrindo possibilidades de transformação da realidade grupal e ao mesmo tempo das subjetividades Alterar o grau de transversalidade envolve transformar o grau de abertura grupal para outros sentidos e modos transferenciais e vinculares intragrupal e intergrupal A transfe rência dá lugar à transversalidade para pensar as dinâmicas subjetivan tes dos grupos ROSSI PASSOS 2014 A abertura à novidade implica também um processo de descons trução de certas crenças familiares e de hospitalidade em relação ao outro extrafamiliar Segundo Schlemenson 2009 a observação do 31 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo trabalho grupal e suas dinâmicas permite analisar três modalidades transferenciais 1 Transferência com a tarefa o processo e o produto ou seja as produções simbólicas verbais gráficas e escritas 2 Com os pares transferência horizontal 3 Com os outros em posições hierarquicamente superiores tais como líderes coordenadores chefes etc transferência vertical Em cada uma dessas modalidades transferenciais é possível identi ficar indicadores que evidenciam formas diversas de interação a Eixo intersubjetivo com o outro em posição de transferência ver tical tipo de interação social com o coordenador gestão depen dênciacoação ou autonomiacooperação b Eixo intersubjetivo com pares transferência horizontal modali dade prevalente de interação cooperação competitividaderivali dade e o papel do colega na regulação c Eixo tarefa conflito nível de autorregulação e flexibilidade diante das dificuldades e erros repetição rigidez ou mudança de estra tégias não sucedidas d Eixo intrasubjetivo construção de si mesmo manifestações afetivas prevalentes na resolução da tarefa segurança descon forto dispersão sentimento de superioridade ou inferioridade significados em torno de si mesmo pensante inteligência força de vontade desempenho na organização o corpo a postura mo dalidades energéticas prevalentes A transversalidade grupal instaura outros modos de relação possível para além da verticalização e hierarquização hegemônica dos conhe cimentos e dos vínculos Os níveis de transversalidade se manifestam 32 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo nos espaços de voz ofertados aos membros de uma instituição em dispositivos de rodas de conversa ou assembleias que visem a escuta e socialização de sugestões conflitos sentimentos aprendizagens e experiências bemsucedidas A carência desses espaços de circulação da palavra nas organizações reforça um estilo de gestão autoritário e a recíproca cristalização de um grupo objeto ou assujeitado que conhece pouco acerca da própria origem e das regras e objetivos que o definem como tal Assim um dos papéis do psicopedagogo na instituição será analisar e dinamizar essa transversalidade grupal propiciando e apon tando espaços de palavra e comunicação O nível de transversalidade institucional demarca ademais o co nhecimento da própria história e origem dos grupos e das organiza ções Desde o início da socialização humana e ao longo do ciclo vi tal a construção da identidade nos grupos e nos modos de se vincular com os objetos de conhecimento é forjada em um contrato narcisista AULAGNIER 1977 apud MONTI 2008 Esse contrato cumpre três fun ções assinala uma origem modela o vínculo de continuidade com as gerações precedentes e garante ao sujeito o direito de ocupar um lugar em um grupo social mais amplo que a família Os vínculos filiais da ins tituição família são atravessados por outras instituições ou seja existe uma filiação narcisista com os pais e uma filiação instituída que remete ao grupo social MONTI 2008 O contrato narcisista salienta o lugar dos enunciados e dos discursos na constituição do psiquismo discurso ideológico que desde o início permeia a função materna e paterna com referências de um meio sociocultural determinado O sujeito se apropria desses enunciados repetindoos ou modificandoos na enunciação de um projeto identificatório próprio e singular SCHLEMENSON 2009 Assim cada grupo e cada membro está atravessado por valoriza ções culturais Elas permeiam por exemplo a instituição escolar con figurando o que se espera de um aluno tanto na resolução de conflitos intersubjetivos como no ato de aprender Entretanto os diversos con textos institucionais de aprendizagem nos quais o sujeito se desloca 33 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo e que desenvolve ao longo da vida podem apresentar elementos con traditórios com as demandas e expectativas que lhe são dirigidas em torno de um ideal de obediência de desempenho eficiente em relação à valorização da palavra e à imposição ou discussão coletiva de nor mas e regras 21 O fator analisador Conforme Rossi e Passos 2014 o analisador é o que provoca a de manda de análiseintervenção pode ser um evento ou uma pessoa que suscita uma quebra uma separação do instituído Analisador e transver salidade são conceitos articulados porque é da situação de problema tização e questionamento de hierarquias que eles surgem O analisador é assim uma ferramenta analítica e uma situação de conflito nuclear da demanda organizacional de intervenção ROSSI PASSOS 2014 No funcionamento dos grupos na organização escolar o fator analisador emerge em situações críticas de conflito geralmente ma nifestadas pela recorrência de fracasso escolar e das dificuldades de aprendizagem que restringem e empobrecem três relações afetivas constitucionais o investimento afetivo dos educadores da instituição escolar e dos parescolegas Nesse contexto grupal o funcionamento do eu discente pode ser interpretado como insuficiente para cumprir com as expectativas de pais e professores e para se sentir competente diante do grupo de pares e diante de si mesmo no papel de ser aluno na instituição exogâmica mais importante de desenvolvimento subjetivo No caso do grupo de colegas eles instauram o sentimento de perten cimento compartilhando modalidades de ação ideais e identificações grupais URRIBARRI 1999 Cabe lembrar que na escola existe ainda a prática do agrupamento de alunos por dificuldades diagnósticos ou desempenho insuficiente o que fortalece a identificação com uma ca tegoria e traço grupal que gera impactos afetivos na autovalorização 34 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo A segregação do grupo de alunos menos capazes que não sabem e estão no lugar do déficit leva à cronificação dos estereótipos e de um autoconceito negativo A autorrealização e a satisfação na vida de grupo indiferenciada ou seja a vida similar para todos é baseada no querer ser como os ou tros Essa modalidade de identificação massiva e alienante leva com frequência nos dispositivos grupais ao fator imitação das respostas e ações dos colegas elemento difícil de controlar no momento da ava liação por exemplo nas rodas de conversa O discurso do outro pode ser copiado ao modo de uma réplica ou funcionar como inspiração Entretanto em linhas gerais a abordagem psicopedagógica grupal mo biliza posições subjetivas estáticas que costumam ser consolidadas e retroalimentadas no espaço institucional Essas fossilizações não são desconstruídas ou problematizadas em pouco tempo e precisam de um processo lento para gerar outros espaços de reconhecimento do si mesmo no discurso social por fora de expressões limitantes tais como não posso ou não consigo ou das comparações com colegas que têm diferentes ritmos de aprendizagem O sentimento de pertencimento grupal também evoca emergen tes de conflito que podem constituir ou não um fator analisador São exemplos desses conflitos o assédio moral e as situações de bullying em todas as faixas etárias Quando essas agressões são silenciadas o conflito se cristaliza Quando emerge a denúncia e a não compactu ação com esse tipo de situações há um espaço potencial de ruptura e transformação A aprovação dos colegas e o fazer parte de um grupo constituem fatores expansivos do desenvolvimento subjetivo nas insti tuições Contudo os pares não são unicamente fonte de confirmação da valorização narcisista mas também de zoação eou provocações por características físicas étnicas de gênero e estéticas por exemplo excesso de peso cor de pele ou competências e habilidades Cabe en tão ao psicopedagogo realizar uma avaliação dos valores éticos e mo rais que circulam e orientam a ação de uma organização no marco dos 35 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo Direitos Humanos e da legislação que atinge especificamente cada tipo de instituição empresarial escolar de saúde etc Figura 2 O bullying e o assédio nos grupos O isolamento é uma perturbação externa que interpela uma com pensação que pode ir do silenciamento à ação individual de vingança passando pelo apelo da mediação de instâncias coletivas eou hierar quicamente superiores No entanto primeiramente a ação do outro é assimilada aos esquemas cognitivos e afetivos do sujeito e portanto resulta singularmente significada Esse impacto constitui um sofrimen to psíquico que o psicopedagogo precisa indagar e explorar no campo da avaliação institucional A exclusão do grupo de pares sejam cole gas de trabalho ou alunos além de gerar sofrimento psíquico restrin ge a possibilidade de conformar novos espaços de aprendizagem e 36 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo referências simbólicas que permitam ir além da própria família ou do contexto sociocultural cotidiano Por último cabe assinalar outro analisador frequente nos estabele cimentos institucionais referente ao absenteísmo e ao excesso de rota tividade de funcionários Essas situações quando recorrentes levam a um sentimento de recomeço constante na constituição de vínculos e na transmissão de formalidades instituídas e da cultura organizacional Esse fenômeno gera desgaste psíquico e ao mesmo tempo dificulta o aproveitamento mais eficaz do tempo de trabalho 3 Os elementos do processo grupal Toda afirmação institucional se funda em uma possibilidade que tem sua contrapartida em uma negação que funciona como um limite do desejo individual Sem esses enquadres institucionais a satisfação anárquica de desejos em um estado massificado de princípio de prazer restringiria o desenvolvimento social afetivo e cognitivo dos sujeitos Assim quando as escolas famílias e demais instituições se configuram em um sistema de limites coercitivos e carecem de propostas e objetos a serem investidos intelectual e afetivamente promovem o empobre cimento do desenvolvimento pessoal No caso da escola ela constitui uma referência simbólica fundante na vida dos sujeitos transmitindo interdições que permitem a organização social e psíquica e ao mesmo tempo propondo espaços de atuação e objetos atrativos de interesse tanto para o aluno como para o educador Como foi apontado no capítulo anterior uma dinâmica institucional rígida coíbe desde a infância a manifestação de instituintes e da constru ção de um grupo sujeito autônomo No caso dos professores e demais trabalhadores a coerção e imposição naturalizante de regras acaba fo mentando a burocratização do trabalho o que traz obstáculos para o de senvolvimento de recursos pessoais positivos de talentos de competên cias e do bemestar no contexto laboral Assim não é só o desempenho 37 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo pessoal que é avaliado nas organizações mas também o cumprimento das regras Como não diluir a própria singularidade em identificações massivas com os outros com o líder e com a tarefa De que modo manter um nível mínimo saudável de autonomia nos grupos e nas organizações As análises e intervenções grupais se direcionam para o realce da perma nência do sujeito na impermanência dos objetos ou seja promovem um sentimento de si mesmo estável de ser sempre um entre outros mas di ferente dos outros BERNARDEAU et al 2014 A distinção eunão eu se constrói a partir de bordas psíquicas semipermeáveis na tensão entre a contenção e a permanência de si mesmo dos próprios desejos e enun ciados e a abertura às trocas com o entorno social Ao mesmo tempo os processos de descentração subjetiva nos grupos são facilitadores da aprendizagem quando o sujeito se reconhece e se diferencia nas trocas cooperativas e recíprocas com o conhecimento dos pares Figura 3 Roda de conversa com coordenador A análise das posições subjetivas em relação às modalidades de interação com o conhecimento se sustenta na intersecção da dupla dimensão psicológica do singular e do grupal A abordagem grupal 38 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo favorece essa análise por oferecer um contexto de atendimento mais natural menos artificial e mais próximo da realidade dos sujeitos e do seu cotidiano evitando os comportamentos isolados da abordagem in dividual O contexto grupal favorece a observação do investimento afeti vo do outro que pode funcionar como suporte dispersor ou rival A avaliação das atitudes e comportamentos socioafetivos nas pro postas oferecidas permite entender a modalidade de aprendizagem interação participação e comunicação prevalente entre os sujeitos Segundo Piaget 1975 nas coordenadas do pensamento operatório os vínculos se sustentam na reciprocidade e no respeito mútuo Essas coordenadas favorecem o trabalho em equipe e a concretude de metas e tarefas para além das simpatias ou antipatias entre colegas Os sen timentos interindividuais se estabilizam em afetos normativos relacio nados aos sentimentos autônomos de justiça e a vida social entre os membros do grupo se organiza na permanência de valores e objetivos compartilhados Essa estabilidade de sentimentos fundase na capaci dade de descentração que favorece níveis de empatia mais sofistica dos para entender o ponto de vista alheio O sentimento de respeito mútuo nas organizações intervém em fun ção da cooperação e do trabalho em equipe quando os participantes se atribuem reciprocamente um valor equivalente e não se limitam a valo rar pelas ações particulares PIAGET 1975 p 85 A análiseintervenção grupal com jogos por exemplo favorece o progressivo desenvolvimento da cooperação e a observação das dinâmicas que se instalam entre os participantes pressupondo correspondências entre o desenvolvimento do pensamento lógico e da cooperação nas trocas intelectuais Em convergência com essa perspectiva cooperativa no campo da psicologia positiva as condições de trabalho satisfação engajamento esperança e flow fluxo também são considerados construtos a serem avaliados nesse contexto Pesquisas dessas áreas mostram inclusive que existe correlação entre a criatividade e a esperança BANDEIRA 39 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo HUTZ 2020 Assim as condições de saúde psicossocial oferecidas pe las organizações podem propiciar ou limitar as possibilidades de bem estar subjetivo e de aprendizagem nos contextos grupais PARA PENSAR Reflita acerca das condições de saúde psíquica e física oferecidas pe las diversas organizações pelas quais você transitou ao longo da sua vida educativas de lazer de saúde de trabalho Quais aspectos você considera que foram positivos para sua aprendizagem e quais resulta ram em obstáculos Considerações finais Neste capítulo abordamos alguns conceitos e elementoschave que dão subsídio teórico e prático à construção de um processo de avaliação institucional Salientamos a importância das trocas coope rativas nos grupos para entender outros pontos de vista e assimilar de forma mais plástica e flexível aquilo que é da ordem do não fami liar e do estrangeiro encarnado nos colegas de trabalho e de estudo Refletimos acerca das vantagens de analisar rivalidades e situações de coação no contexto natural da abordagem grupal Apresentamos o conceito de transversalidade como uma qualidade de abertura do grupo sujeito para autoconhecimento e estabelecimento de vínculos mais amplos e enriquecedores A partir das contribuições de PichonRivère apresentamos elemen tos e dinâmicas a serem observados no funcionamento grupal como um todo trazendo os conceitos de grupo operativo de aprendizagem e de portavoz que contribuem para um olhar sistêmico da análise do afrontamento do conflito cognitivo e afetivo presente nos grupos an siedades medos etc Abordamos ainda a noção de contrato narcisista 40 Avaliação psicopedagógica institucional Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo para ressaltar que todo grupo está permeado por discursos sociais e ideológicos mais amplos O caso do bullying e da segregação foi apresentado com um con flito contemporâneo presente em espaços institucionais diversos que se manifesta em atitudes de discriminação e que evidencia os valores éticos das organizações Quando denunciado pode constituir um fator analisador da organização Em síntese os autores e perspectivas teóricopráticas apresentadas convergem na necessidade de observar a dialética entre os conteúdos manifestos dos grupos e os conteúdos latentes que eles ocultam ou disfarçam É tarefa do avaliador poder explicitar esses mecanismos im plícitos ou evitados Alguns instrumentos mencionados que permitem mapear e indagar esses conteúdos latentes foram as rodas de conversa e a ferramentaconceitual pichoniana de tarefa e prétarefa Diante dessa rede de elementos e dinâmicas apresentados desta camos a necessidade de refletir acerca das perguntas e objetivos que orientam o psicopedagogo para escolher um determinado instrumento ou recurso de avaliação considerando a história e as características da organização em que pretende trabalhar Referências BANDEIRA Denise Ruschel HUTZ Claudio Simón Elaboração ou adaptação de instrumentos de avaliação psicológica para o contexto organizacional e do trabalho cuidados psicométricos In BANDEIRA Denise Ruschel et al org Avaliação psicológica no contexto organizacional e do trabalho Porto Alegre Artmed 2020 BERNARDEAU Corinne et al Le groupe logicomathématique une fabrique du nombre pour enfants présentant des troubles dapprentissage des mathémati ques Bulletin de psychologie v 2 n 530 p 143147 2014 41 Organização da avaliação institucional elementos e objetivos Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD da disciplina correspondente Proibida a reprodução e o compartilhamento digital sob as penas da Lei Editora Senac São Paulo CASTANHO Pablo Uma introdução aos grupos operativos teoria e técnica Vínculo Revista do NESME v 9 n 1 p 160 2012 CHAPELIER Jean Bernard Les psychothérapies de groupe chez lenfant et ladolescent les tentations éducatives Revue de psychothérapie psychanalytique de groupe v 2 n 53 p 927 2009 MONTI Mario Rossi Contrato narcisista e clínica do vazio Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental São Paulo v 11 n 2 p 239 253 jun 2008 PIAGET Jean Seis estudios de psicología Barcelona Seix Barral 1975 ROSSI André PASSOS Eduardo Análise institucional revisão conceitual e nuanças da pesquisaintervenção no Brasil Revista EPOS Rio de Janeiro v 5 n 1 p 156181 janjun 2014 SCHLEMENSON Silvia Enfoque psicoanalítico del tratamiento psicopedagógi co Cadernos de Psicopedagogia v 5 n 9 São Paulo 2005 SCHLEMENSON Silvia La clínica en el tratamiento psicopedagógico Buenos Aires Paidós 2009 URRIBARRI Rodulfo Descorriendo el velo sobre el trabajo de la latencia Revista LatinoAmericana de Psicanálise FEPAL v 3 n 1 p 257292 1999