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46 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 O CORPO COMO RECURSO DE EXPRESSÃO EM MUSICOTERAPIA Gláucia Vicentini 6 DraBernadete Silveira Moraes 7 RESUMO Este artigo apresenta a Musicoterapia como uma forma de oportunizar ao corpo meios para recuperar movimentos ritmo musicalidade e gestos como recursos de expressão O texto visa abordar as manifestações de movimentos como forma de comunicação não verbal e reflete sobre a linguagem corporal e a expressão de conteúdos internos ao indicar a importância de um olhar integral ao ser humano e suas relações Por meio de um levantamento bibliográfico o texto repercute a noção histórica do corpo advinda de uma conotação dual apontando a prática da Musicoterapia para que o corpo possa fluir livremente A partir desta correlação intrínseca foi evidenciada a importância em conceber o corpo como veículo expressivo através da música e de movimentos além da linguagem verbal PALAVRASCHAVE Corpo Movimento Expressão Linguagem não verbal Integralidade ABSTRACT This article presents Music Therapy as a way to provide opportunities to the body to recover movements rhythm musicality and gestures as a source of expression The text intends to approach the movement expression as a form of nonverbal communication and reflects about body language and the manifestation of internal contents while indicates the relevance of an integral look at human being relationships The text considers through a bibliographic review study the historical notion of the body which comes from a dual connotation and indicates Music Therapy practices to make the body flow freely From this intrinsic correlation it has been clearly shown the importance of conceiving the body as an expressive means of communication through music and movements besides the verbal language KEYWORDS Body Movement Expression Nonverbal language Integrality 6 Pós graduanda em Musicoterapia Organizacional e Hospitalar da Faculdades Metropolitanas Unidas FMU Naturóloga pela Universidade de Santa CatarinaUNISUL Bailarina Clássica pela Royal Academy of Dancing Email glauciaporagmailcom Lattes httplattescnpqbr0808626783339409 7 Doutora em Ciências Sociais Antropologia 2009 pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Mestre em Antropologia 2000 e Bacharel Licenciada em Ciências Sociais PUCSP Atua na área de Antropologia estudos do corpo cultura urbana paisagens sonoras Formação em piano erudito e popular Na área de Saúde Medicina Tradicional Chinesa 2013 Mestre Liu Chih Ming Centro de teses e estudos de Medicina Tradicional e Cultura Chinesa CEMETRAC Curso de extensão e especialização em Yoga Marcos Rojo Consciência e Movimento Ministra aulas de Antropologia Etnomusicologia Expressão Corporal e Políticas de Saúde no curso de Musicoterapia Antropologia e Sociologia no curso de Direito nas Faculdades Metropolitanas Unidas Email bernadetemoraes08gmailcom Grupo de Pesquisa Investigação em Musicoterapia FMUSP 47 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 INTRODUÇÃO Com a formação em Naturologia8 pude compreender a necessidade de evitar uma visão reducionista de saúde e olhar para além do princípio de saúde e doença associando assim a música como recurso a esta visão global na edificação do conhecimento humano Prezar por uma saúde melhor na abordagem naturológica não é pensar em ausência de sintomas nem tampouco prescrever um estilo de vida a ser seguido mas se dar conta da totalidade dos fenômenos de saúde e do adoecer A Naturologia tem como objetivo integrar a capacidade criativa da arte e educação na interagencia9 ou seja na relação terapêutica Tais princípios direcionaram a relevância em abrir uma discussão sobre a importância do corpo e suas manifestações sonoras como expressões de conteúdos internos advindos de uma linguagem não verbal totalmente contida na Musicoterapia Conceber uma saúde integral é levar em conta as múltiplas dimensões manifestadas para que possa englobar e abordar de maneira indivisível não só o aspecto físico mas também o emocional o social e quiçá o espiritual Caracterizase por reconhecer que cada pessoa é única e portanto deve ser abordada em sua singularidade adotando a ideia de que o paciente tem possibilidade de cuidar de sua própria saúde e deve fazer parte do processo terapêutico percebendo e sendo encorajado a identificar seu corpo pelo qual manifesta os desequilíbrios ou queixas por ele trazidas com a espontaneidade que a música desperta 8 Naturologia é um conhecimento transdisciplinar que atua em um campo igualmente transdisciplinar Caracterizase por uma abordagem integral na área da saúde pela relação de interagência do ser humano consigo com o próximo e com o meio ambiente com o objetivo de promoção manutenção e recuperação da saúde e da qualidade de vida I Fórum Conceitual de Naturologia APANAT 2013 9 A influência mútua que ocorre no processo terapêutico faz com que o Ser cuidado interagente passe a ser transformador de si mesmo e que o cuidador naturólogo busque nessa relação uma nova maneira de ser no mundo Logo a interação ocorrida significa uma relação de transversalidade e não de causaefeito unidirecional HELLMANN MARTINS 2008 p 58 48 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 Tendo como propósito uma visão holística para o processo terapêutico será abordada a descrição de Wilber 1997 caracterizando o círculo do entendimento à visão integral uma proposta de que para entender o todo é preciso entender as partes e para entender as partes é preciso entender o todo a qual nos desperta para o significado para o valor para a visão Um dos esquemas propostos pelo autor para uma abordagem integral é o da experiência interior subjetiva e experiência exterior objetiva tanto do indivíduo quanto do coletivo ou seja uma das tarefas principais de uma abordagem integral é respeitar e integrar ambos os caminhos e explicar como eles podem ser igualmente significativos e importantes na compreensão da consciência e do comportamento humano WILBER 1997 p 20 Como face desta abordagem integral temos os quatro quadrantes de conhecimento intencional comportamental cultural e social estes podem ser abordados pela música em Musicoterapia A esfera intencional considera o indivíduo e a veracidade da sua interpretação combinada com o fato objetivo o único modo que temos de chegar ao interior um do outro é pela comunicação pela interpretação uma tentativa de entrar em contato com interpretar com maior veracidade e precisão nossos estados interiores sintomas símbolos sonhos desejos WILBER 1997 p 27 A esfera comportamental lida com o exterior e observável considerada como representativa ou de correspondência na verdade proposicional dizse que uma afirmação é verdadeira quando combina com o fato sentido as proposições estão atreladas a observáveis únicos empíricos e objetivos WILBER 1997 p 26 A esfera cultural abrange a maneira de entender como os sujeitos se encaixam em atos de compreensão mútua vamos ter de encontrar meios de reconhecer e respeitar os direitos um do outro e os da comunidade e esses direitos não podem ser encontrados de maneira objetiva WILBER 1997 p 29 A esfera social tenta situar todo indivíduo em uma rede objetiva que de muitas maneiras determina a função de cada parte no entrelaçamento das partes 49 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 individuais de modo que o todo empírico objetivo o sistema total seja a realidade primária WILBER 1997 p 28 Nesse sentido compreendese que consciência e forma subjetivo e objetivo interior e exterior constituemse numa trama universal em que a realidade não faria sentido se alguma das esferas fosse excluída Associada a este conhecimento a música de certa maneira também é tida como uma expressão universal que permeia todos os seres Logo Como nenhum dos quadrantes pode ser reduzido aos outros assim também nenhuma dessas linguagens pode ser reduzida às outras Cada uma é de importância vital e constituem uma parte crucial do universo como um todo para não dizer a parte vital no entendimento compreensivo da psicologia e da sociologia do ser humano WILBER 1997 p 31 Sob esta perspectiva de ampliar os sistemas de observação e interação com o outro a relação do corpo como expressão deve ser intrínseca à Musicoterapia preconizando um olhar integral no intuito de compreender a variedade destas manifestações Desta maneira podese conceber que o corpo é o inconsciente visível como afirmava Wilhem Reich É o nosso texto mais concreto nossa mensagem mais primordial a escritura da argila que somos É também o templo onde outros corpos mais sutis se abrigam LELOUPE 1998 p9 Dentre inúmeras definições que conceituam o que é Musicoterapia podemos considerála também como uma atividade total do corpo em função da liberação da energia interna dando forma aos impulsos que operam através de uma linguagem personalíssima a qual nem sempre é dizível A Musicoterapia que se estende para além do saber teórico da música e independe de estética na utilização dos instrumentos musicais há que se apoiar na sensibilidade emotiva do corpo dos movimentos dos sentimentos e ideias integrando a expressão nas manifestações através de sons 50 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 Em grande parte das bibliografias o enfoque sobre o corpo na música direciona se quase sempre para uma abordagem biomecânica do movimento relacionado à técnica vislumbrando o bom desempenho no contato com o instrumento musical Poucas reflexões são direcionadas ao corpo como comunicação em si sendo assim o objetivo deste artigo também é abrir uma discussão sobre o corpo e seus movimentos ritmo musicalidade gestos e expressividade fomentando a natureza deste instrumento que incondicionalmente faz música O direcionamento da metodologia buscou respaldo em observações para melhor dialogar com as ideias propostas pelos autores consultados estabelecendo relações associativas com a minha experiência como bailarina clássica Entretanto sem me ater a relatos descritivos sobre esta vivência tais vivências e observações pessoais estão inseridas no texto enquanto motivações implícitas neste artigo Minhas pretensões com este trabalho dirigiramse aos aspectos emocionais do ser e seu movimentosonoro como importante expressão musical fomentando a relevância da integração da linguagem corporal gestos movimentos como elementos inerentes ao processo musicoterápico a partir de uma visão integral do ser humano Corpo e sua bagagem histórica Embora esquecido pela história e pelos historiadores reinou por muito tempo a ideia de que o corpo pertencia à natureza e não à cultura Le Goff 2006 p16 ressalta que o corpo tem uma história Faz parte dela E até a constitui assim como as estruturas econômicas e sociais ou as representações mentais das quais ele é de certa maneira o produto e o agente O autor faz um resgate histórico redescobrindo a natureza a medicina e o corpo adentrando outro aspecto que não o do corpo como pecado desviando da esterilidade moral e ascética ressaltando outra perspectiva da Idade Média Não aquela que sobre nome de Satã perseguia a liberdade mas uma Idade Média em que exibe o corpo tanto em seus excessos quanto em seus sofrimentos tanto em sua pulsão de vida quanto em suas 51 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 epidemias Falar de Satã talvez fosse uma maneira de exprimir um mal estar que se situa em alguma outra parte na consciência ou na sociedade e antes de tudo no corpo SAADA apud LE GOFF 2006 p17 Esta é uma questão que independe da conotação religiosa atual mas que historicamente permanece intrínseca ao corpo e suas relações De um modo geral temos armazenado desde este período de triunfo do cristianismo no século IV e V uma revolução nos conceitos e nas práticas corporais Na Idade Média fora descoberto o corpo humano como principal fonte de energia embora tenham surgido nesta época os progressos técnicos que marcam o início da agricultura moderna que de certa maneira representa a matriz de nosso presente ainda que situemos seu término no final do século XV Afirma Le Goof 2006 p29 é de fato na Idade Média que se instala esse elemento fundamental de nossa identidade coletiva que é o cristianismo atormentado pela questão do corpo ao mesmo tempo glorificado e reprimido exaltado e rechaçado A partir deste marco religioso podemse observar simultaneamente a formação do Estado e ampliações nas cidades formações essas que levam à modelação do corpo o qual passa a ser visto em diferentes funções Essa Idade Média da nossa infância que não é nem negra nem dourada se instaura em torno do corpo martirizado e glorificado de Cristo Ela cria novos heróis santos que são em princípio mártires em seus corpos Mas a partir do século XIII com a Inquisição ela também faz da tortura uma prática legítima que se aplica a todos os suspeitos de heresia e não somente aos escravos como na antiguidade LE GOFF 2006 p30 Observando o corpo nesta época tornase fato concebêlo como o lugar crucial de tensões geradoras na dinâmica do Ocidente e ainda que se assista nesta época um declínio das práticas corporais assim como a supressão ou ainda seu confinamento o corpo se torna paradoxalmente o cerne da sociedade medieval Le Goff exemplifica 52 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 De um lado a ideologia do cristianismo tornando religião de Estado reprime o corpo e de outro com a encarnação de Deus no corpo de Cristo faz do corpo do homem o tabernáculo do Espírito Santo De um lado o clero reprime as práticas corporais de outro as glorifica De um lado a Quaresma se abate sobre a vida cotidiana do homem medieval de outro o Carnaval se entrega a seus exageros Sexualidade sonhos forma de vestir guerra gesto riso O corpo na Idade Média é uma fonte de debates alguns dos quais ressurgem contemporaneamente Le Goff 2006 p31 Em meio a essas considerações do corpo desprezado condenado humilhado fonte do pecado original também houve visões que conceberam o valor positivo do corpo neste mundo Le Goff 2006 cita que para Santo Tomás de Aquino o prazer corporal é um bem humano indispensável que deve ser regido pela razão em prol dos prazeres superiores do espírito e às paixões sensíveis que contribuem para o dinamismo do impulso espiritual Notase que o corpo medieval tornase composto por essa tensão e oscilação entre repressão e humilhação exaltação e veneração tornandose uma grande metáfora que descreve de certa forma as repercussões de ordem ou desordem mas sobretudo de vida orgânica Vale ressaltar também outro momento histórico mais atual em que essa vida orgânica do corpo adentra segundo Foucault 1996 uma maquinaria de poder que o esquadrinha o articula e o recompõe e passa a ser visto como objeto de poder corpo manipulável e treinado a obedecer e responder tornandose hábil e cujas forças se multiplicam O foco em meados do século XVII e XVIII passa a ser o domínio sob o corpo alheio Exemplifica Foucault a respeito da relação de docilidadeutilidade O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano que visa não unicamente o aumento de suas habilidades nem tampouco aprofundar sua sujeição mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil e inversamente Formase então uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo uma manipulação calculada de seus elementos de seus gestos de seus comportamentos A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados corpos dóceis Foucault 1996 P118 53 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 Tal dissociação do poder do corpo em aumentar a aptidão e capacidade invertendo a energia para a dominação acentuada do mesmo fora premissa básica desta nova anatomia política que conforme elucidada por Foucault 1996 tinha o objetivo de trabalhar o corpo detalhadamente e exercer sobre ele uma ameaça sem folga mantendoo ao nível da mecânica em movimentos gestos atitude e rapidez exercendo poder sobre o corpo ativo As atividades precursoras da disciplina eram controladas no tempo nos atos nos gestos e nas relações conforme descrito sob a visão de Foucault 1996 no bom emprego do corpo tudo deve ser chamado a formar o suporte do ato requerido Um corpo bem disciplinado forma o contexto de realização do mínimo gesto De certa maneira um ritmo era imposto constantemente aos corpos dóceis Em ressonância com esta ideia rítmica ressalta Sacks O poder quase irresistível do ritmo evidenciase em muitos outros contextos nas marchas serve para impulsionar e coordenar o movimento e para estimular uma excitação coletiva e talvez marcial Também vemos isso em todo tipo de canção de trabalho músicas rítmicas que provavelmente surgiram nos primórdios da agricultura quando arar o solo capinar e malhar grãos requeriam os esforços combinados e sincronizados de um grupo de pessoas Sacks 2007 p239 O pulso rítmico de mecanização do corpo humano mostrase em parte na incompatibilidade ainda concebida entre ciência e religião Esta diferença em ver o mundo e consequentemente o ser humano são frutos de um choque de crenças oriental e ocidental desconsiderando a força vital como forma de energia Assim conforme descreve Gerber 1997 p35 A força vital organiza os sistemas vivos e constantemente renova e reconstrói os seus veículos celulares de expressão Esta é uma das coisas que diferencia os sistemas vivos dos não vivos e as pessoas das máquinas 54 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 Formados de renovação constante constituídos de força vital organizada somos sistemas vivos com alto grau de capacidade e funções bem estabelecidas O corpo humano é rico em possibilidades e movimentase em direção a sua constante evolução e adaptação ao meio em que vive conforme adentraremos no tópico a seguir Corpo e sua funcionalidade De acordo com dados históricos segundo Bruscia a partir do corpo humano se originaram todos os instrumentos musicais materializados como um prolongamento do corpo e de seus inúmeros fenômenos naturais como bater palmas sobre o tórax esfregar sapatear deglutir chiar rir gargarejar bocejar dentre outros produtos sonoros com a boca a língua o nariz os braços as mãos os pés as pernas Bruscia 200 p 275 ou seja o corpo pode ser comparado à idéia primordial dos instrumentos em si Associado a esta inspiração de sonoridades decorrentes de movimentos corporais como precursores dos instrumentos sonoros podemos conceber que o ser humano possui inscrito em suas células um imenso leque de possibilidades assim como gestos que vão além dos objetivos funcionais e mecânicos O corpo humano é composto de vibrações eletrônicas Cada átomo e elemento do corpo cada órgão e organismo tem sua unidade eletrônica de vibração necessária à manutenção e ao equilíbrio desse organismo específico CAYCE 1928 apud GERBER 1997 p2 Essas múltiplas funções e inteligência distribuídas em cada célula humana de certa maneira contribuem para as variedades sonoras das quais desfrutamos hoje Podese considerar que o movimento é decorrente da capacidade de cada uma das unidades vivas do corpo logo este advém não somente de uma necessidade funcional mas também da expressão em si Elucida Bertazzo que os movimentos 55 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 estão amalgamados ao universo afetivo e cultural construindo pontes entre ações motoras e o mundo imaginário 2010 p26 Percebese que a evolução do movimento humano se ampliou conforme a necessidade da luta pela sobrevivência e tornouse evidente que A situação bípede proporcionou condições mais favoráveis dentre as espécies de animais na luta à permanência na Terra Estar sob os membros inferiores gera altura corpórea e um nível de força maior o que expandiu o destino humano numa altivez mais que necessária Tal posição diante do mundo legou à posteridade uma constante vigília de nossos corpos eretos sendo este um motivo considerável para um entendimento cada vez mais amplo daquilo que seria nosso templo nossa mais íntima moradia o corpo BERTAZZO 2010 p 27 A partir de um longo processo de seleção natural o qual moldou a estrutura anatômica do Homo sapiens efetivamos habilidades únicas dentre outros animais Dotados de ossos músculos e articulações capazes de realizar proezas como levantar pesos enormes expressar movimentos graciosos em um espetáculo de dança assim como fazer ajustes de alta precisão em objetos minúsculos são capacidades ímpares e unicamente humanas Mesmo com essa gama de possibilidades é nítido observar que os hábitos diários em geral tornam cada vez mais distantes as percepções e sensações referentes ao corpo embora latentes em cada ação e pensamento somado à incessante execução de tarefas desprazerosas e regras a serem seguidas esta realidade leva a grande maioria a ocultar conteúdos que acabam tornandose estagnados no próprio corpo e interferindo na personalidade e na capacidade de criar Sendo assim Usamos nosso corpo em desacordo com os fins para os quais foi selecionado Para que servem braços e pernas tão longos e musculosos no caso do animal que não vai andar Se a evolução nos tivesse preparado para o mundo atual poderíamos ter braços que apenas alcançassem o teclado do computador pernas de comprimento 56 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 suficiente para acelerar e brecar o carro e um traseiro enorme para servir de acolchoado nas cadeiras incômodas BERTAZZO 2010 p11 Embora nosso contexto moderno não estimule a exploração das potencialidades motoras que o corpo abrange Bertazzo salienta que o corpo tornase um verdadeiro laboratório de movimentos e em conjunto com a versatilidade no moverse fazse necessário despertar as partes do corpo que se encontram insensíveis pela simples falta de uso diário Neste contexto a Musicoterapia vem de encontro à necessidade desta reconexão afinal essa atenção para o corpo se faz com o auxílio da música que passa a reger os movimentos físicos o que exige um despertar suave do lado direito do cérebro o lado mais intuitivo menos racional AQUINO RAMOS p254 2009 Deixar de lado o racional a linguagem verbal o pensar antes de agir tornase intenso trabalho de expressão e confiança Corpo musical Rolando Benenzon evidencia a importância da sonoridade para o ser humano propondo o conceito de identidade sonora conceito este relevante para a musicoterapia Segundo BENENZON 1985 p43 ISO quer dizer igual e resume a noção da existência de um som ou um conjunto de sons ou fenômenos sonoros internos que nos caracteriza e nos individualiza É um fenômeno de som e movimento interno que resume nossos arquétipos sonoros nossas vivências sonoras gestacionais intrauterinas e nossas vivências sonoras de nascimento e infantis até nossos dias Esta definição pode ser representada sob a idéia de um mosaico sonoro Somos compostos pelas sonoridades que nos rodeiam e nossa personalidade também se estrutura a partir dos sons vivenciados Benenzon 1985 complementa sua teoria com 57 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 outras formas de ISO gestáltico inserindo ao conceito outros aspectos como o ISO complementar que são as pequenas mudanças que ocorrem no dia a dia pelas circunstâncias momentâneas o ISO grupal como uma síntese das identidades sonoras de cada indivíduo e o ISO universal que caracteriza todos os seres humanos independentemente dos contextos sociais culturais históricos e psicofisiológicos individuais Este princípio formulado por Benenzon é de fundamental importância para a musicoterapia que passa a ter como objeto próprio de estudo o complexo somser humano não se limitando a ser somente uma forma de tratamento mas sim de interação e conhecimento Desta maneira podemos conceber o corpo e seus movimentos como intrínsecos à identidade sonora às ações particulares de cada um sendo que todo movimento é dotado de um ritmo e que nossa saúde está relacionada a este Temos um ritmo diário tempo para cumprir determinadas funções e tons que estabelecemos com cada uma delas de maneira harmônica ou não com o meio circundante Sendo assim aprendemos que a saúde é uma condição de ritmo e de tons harmoniosos E o que é a música e a dança É ritmo e tom Quando nossa saúde está fora de ordem isto significa que nossa música também está desordenada Portanto quando a música não está harmoniosa em nós o auxílio da harmonia e do ritmo tornase muito necessário para nos conduzir a um estado de equilíbrio KHAN 1972 apud AQUINO RAMOS p251 2009 Como sinalizador da saúde mesmo este estado de equilíbrio passa a ser um movimento versátil que oscila e se altera assim como a transição dos dias onde a própria percepção das necessidades particulares que se articula em movimentos e ações está intimamente relacionada a fatores específicos pessoais que norteiam as escolhas e maneiras de agir no mundo Desse modo a música como estímulo ao corpo tornase libertadora de expressões que muitas vezes não são manifestadas ou até mesmo revertidas de 58 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 maneira consciente Pesquisas comprovam que a música influencia nas dimensões física mental emocional e espiritual O corpo reage com alterações na respiração freqüência cardíaca coordenação e regulação de hormônios percepção espacial e produtividade AQUINO RAMOS 2009 p251 Podemos observar a produção de uma sinergia positiva que a associação da música com movimentos sonoros pode gerar conforme exemplificado no tópico a seguir através da eminente experiência da bailarina e dançaterapeuta Maria Fux decorrente de sua relação com movimentos corporais e deficientes auditivos que não tinham nenhum registro sonoro Logo se torna evidente a correlação entre a música e o movimento A música como veículo de expressão do corpo É fato que quando damos liberdade ao corpo ao ouvir uma música que agrade movimentaríamos no mínimo alguma parte dele mas os tabus culturais e os próprios preconceitos incitam o não moverse apesar de sentir anseio antagônico há um estímulo para a expressão do corpo De um lado temos a música que mesmo sendo imaterial tem seu corpo suas leis internas seu modo de se relacionar com os outros e seu propósito PETRAGLIA 2010 p 17 Ao considerar a música um recurso ao corpo para expressão Fux afirma que não é possível compreender a música sem a experiência do corpo e com o corpo 1980 p41 Desta maneira tornase claro que a apreciação musical não deve ser estática sendo que o corpo ao ser estimulado pela música inicia um processo de comunicação Para compreendermos em que condição se dá essa movimentação produzida a partir da música ou a que elementos respondem há que se considerar a música como uma estrutura que se relaciona de maneira integral Sendo assim a partir do 59 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 movimento liberado através da música elucida Fux 1980 refletese a complexidade musical por meio do corpo em uma experiência ampla fazendo com que o corpo e todo o organismo reconheçam as frases musicais o ritmo e a melodia gerando assim possibilidade de improvisação e interação plena com as estruturas musicais Esse conhecimento assim adquirido musicalmente pelo corpo leva a uma união muito integrativa O movimento se realiza podemos dizer de acordo com cada grupo que pode ser mais ou menos musical mas posso assegurar que o movimento foi compreendido musicalmente FUX 1980 p41 Com base nesta visão do trabalho expressivo corporal unido à música compreendese que essa vivência se dá em uma totalidade criadora que abrange variadas idades contextos personalidades atribuindo ao corpo a capacidade de assimilar a música independente de compreendêla teoricamente Segundo a experiência de Fux em todos pude ver que a música se transforma e que o corpo é musica 1988 p42 Esta simbiose entre música vivenciada através de movimentos corporais elucida a necessidade de encontrar no movimento um canal para o corpo e sua comunicação Sob essa dimensão ao trabalharmos movimentos musicais também estamos conduzindo o outro a compor sonoridades ou até mesmo música que se expressa através da totalidade do corpo aprimorando também a escuta não somente a partir do ouvido mas a escuta do corpo e de suas possibilidades diante do movimento musical executado Neste sentido A música ao transformarse não apenas penetra pelo ouvido a vinculação se estabelece com todo o corpo o ouvido serve de ponte mas também a pele escuta a música e pode canalizála Quando é absorvida assim produz o movimento musical ou seja transformase em corpomovimento e o corpomovimento é musica FUX 1988 p45 60 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 Assim como a dança o movimento musical abrange várias dimensões além da expressão através da linguagem não verbal usa como base a capacidade física para executálo a cognição ao desempenhálo o caráter psicológico nos sentimentos por ele produzidos e complementando a consciência e integração no próprio processo terapêutico Assim O movimento também como a música produz transformações visíveis e palpáveis nos aspectos físicos e mentais No momento da decisão de iniciar um movimento já é possível detectar tais transformações pois a decisão é pautada nos mais diversos motivos Portanto o movimento não está limitado aos aspectos físicos e pode ser extrapolado para a saúde psicológica e para as questões sociais AQUINO RAMOS p253 2009 Por conseguinte somos seres em movimento constante assim como em permanente transformação e vivemos em uma sociedade rodeada de estímulos sonoros nas mais diversas situações Perceber o corpo e as dimensões de seus movimentos frente a esses sedutores e contagiantes estímulos de sons e linguagens sonoras passa a ser uma árdua observação e percepção de si Esta percepção básica deveria nascer da cinestesia corporal ou seja do reconhecimento da localização do corpo e sua posição da força exercida pelos músculos e de cada parte em relação às demais Algo simples mas que passa despercebido no dia a dia de cada pessoa Esta constante alienação do corpo no dia a dia mostra a necessidade da redescoberta pessoal em conexão ao meio conforme exemplificado O ato de colocarse em movimento possui um grande potencial transformador Quando a pessoa é considerada na sua totalidade e o ato motor realizado em conexão constante com o seu sentir vemos um caminho para o autoconhecimento no qual o contato com a experiência física promove o desenvolvimento pessoal do indivíduo Nesse contexto o indivíduo tem a possibilidade de ao colocarse em movimento reorganizar suas experiências vitais redescobrindose e articulando novas integrações O movimento integrado é um caminho para o fluir no contato dentro e fora do ser humano e um agente para a 61 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 eficácia da ação significativa do ser humano com o meio TURTELLI 2002 p164 As teorias de movimento do pesquisador artista plástico e coreógrafo Rudolf von Laban desenvolvidas na Alemanha na primeira metade do século XX podem ser concebidas como uma via de entendimento ao movimento e percepção do ser humano Corpo como recurso expressivo uma linguagem não verbal Ao problematizar a visão da psicologia que via o corpo como um instrumento controlado pela mente Laban foi também o precursor das teorias de ressurreição do corpo e através desta afirmava a centralidade do corpo e a experiência vivida na constituição do sentido Afirma o autor Um observador de uma pessoa em movimento fica imediatamente consciente não apenas aos percursos e ritmos de movimento mas também das atmosferas que os percursos carregam em si já que as formas do movimento através do espaço são tingidas pelos sentimentos e pelas ideias E o conteúdo dos pensamentos e emoções que temos ao nos movermos ou ao observarmos o movimento podem ser analisados tanto quanto as formas e linhas traçadas no espaço CIANE apud LABAN 2006 p22 Em consonância com este princípio de que o movimento em si traduz idéias guiadas por emoções que se tornam naturalmente explícitas durante o fluxo na manifestação do corpo pode se considerar que viver é um constante moverse e que em geral as ações provêm dos sentimentos e ideias vivenciadas pelo indivíduo Sendo assim tornase relevante exercitar a observação da vida como uma música posta em movimento por meio das ações do corpo no mundo Em concordância com Laban 1978 é importante não apenas se tornar ciente dos múltiplos movimentos corporais possíveis e de seu uso na criação de padrões espaciais e rítmicos como também perceber o estado de espírito e a atitude interna produzida pela ação corporal Essa 62 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 dança de se fazer entender e comunicar presentifica uma série de manifestações corporais importantes conforme ressalta Nanni O ser humano manifestase a partir da expressão e da comunicação verbal pictórica musical dançada dentre outras através de atividades e para tal coloca à sua disposição o movimento envolvendo simultaneamente a organização perceptiva das estruturas psicomotoras de base manipulação locomoção tônus postural e as percepções dos sentidos visual auditivo tátil olfativa e gustativas que possuem caráter cognitivo percepções cinestésicas estando unidas à linguagem Nanni 2005 p47 A percepção de gestos expressivoscomunicativos tornase premissa básica para interação em Musicoterapia O que passa a ser excepcional em uma observação seja ela a partir de um instrumento musical ou proveniente do corpo é a assimilação do que leva o paciente a manifestar determinado movimento de que maneira ele manifesta e como se sente ao manifestar Posto que Movimento e pensamento são integrados ao trabalho global do corpo e atuam como meio de relaçãocomunicação através da linguagem corporal gestos movimentos do ser humano que se integra com o meio ambiente por meio de atividades A linguagem corporal é uma forma de comunicação não verbal expressa por meio de gestos e movimentos em sintonia com ações corporais que se manifestam pela interação significativa e harmônica da totalidade do ser humano NANNI 2005 p47 Nesta totalidade a comunicação se dá através de movimentos expressivos que tem como base o corpo e suas manifestações o que possibilita olhar cada movimento como comunicativo gerando condições ao interagente de se auto determinar diante da percepção de estados de tensãorelaxamento de potencialidades motoras da consciência acerca da sua própria imagem corporal ao se expressar e da relação 63 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 tempo e espaço o qual está inserido Compreendese que as percepções se transformam em reações ou expressões o universo que temos da imagem do corpo é reconstituído Segundo Nanni 2005 a percepção da imagem do corpo é construída e determinada pela personalidade do ser ou seja repleta de atitudes emocionais A percepção consciente tem nas funções da pele relevante importância está associada à estimulação da consciência corporal bem como à identidade pessoal e à auto estima a consciência corporal advém da função tátil da pele como função intermediária entre corpo interno esquema imagem ego corporal gerada pela interocepção e a exteriocepção em nível de comportamento motor observável MONTAGU 1988 apud NANNI 2005 p48 Em atenção a cada movimento seja ele decorrente de uma ação mais flexível ou de uma ação mais direta e dispersiva Laban formulou as seguintes questões para determinar e descrever as ações Qual é a parte do corpo que se move Em qual direção ou direções do espaço o movimento se realiza Qual a velocidade em que se processa o movimento Que grau de energia muscular é gasto no movimento 1978 p55 Estas questões podem ser um parâmetro possível e de certa maneira direcionador na observação da expressão corporal durante a manipulação dos instrumentos musicais Afinal é o corpo que manipula o instrumento a fim de expressar e produzir sonoridades Inserida nesta ampla visão atribuída ao corpo surge a possibilidade de nomeálo como recurso musical conceito este muito mais abrangente do que simplesmente considerar o corpo como instrumento musical Ao considerálo um instrumento instala se uma conotação no sentido de objeto ou utensílio diferentemente de considerálo como um recurso no sentido de origem ou fonte exercitando uma outra percepção em relação ao corpo e sua ampla capacidade Evidenciase que ao produzir sonoridades a partir do corpo compõese música 64 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 O fato de sermos seres sonoros e possuirmos características específicas influencia a maneira de se explorar musicalmente ritmo melodia harmonia altura intensidade e duração as ações que cada ser expressa gerando manifestações únicas de infinita riqueza e grandes diversidades Podemos compreender os fenômenos sonoros a partir de um conceito relacionado à vida O fenômeno sonoro tem como polaridade fundamental os elementos do tom e do tempo O tempo é um impulso devorador vontade primordial manifesta cega e irrefreável Sua essência é movimento fluente e sem forma O tom em sua essência é ordem e regularidade vive como idéia e leis numéricas num plano atemporal Esses dois elementos são filhos indissociáveis da essência musical do próprio mundo PETRAGLIA 2010 p23 Comparando o impulso musical manifestado e refletido nos movimentos corporais observados nos acontecimentos diários conforme a ideia das polaridades do fenômeno sonoro descritas acima os movimentos em si também têm parâmetros ordenadores e são guiados por uma vontade no fluxo de existir de ser manifestado no mundo e de se fazer entender Assim o impulso musical se manifesta em nosso ser da maneira como exemplifica Petraglia Uma música predominantemente rítmica toca diretamente nossos membros impulsionanos ao movimento e à dança Uma música de caráter essencialmente melódico nos leva a um estado contemplativo e soa como uma fala sem palavras Na região central do nosso corpo no âmbito do nosso sentir origem de todo impulso musical ocorre a interligação entre as duas tendências polares e nela vivenciamos o elemento harmônico por excelência Sentimos no peito as alternâncias de contrações e expansões de consonâncias e dissonâncias do coração da música PETRAGLIA 2010 p24 Podemos observar também a partir de um conceito amplo os quatro parâmetros básicos do som a altura a intensidade a duração e o timbre e correlacionálos aos 65 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 movimentos sonoros que compõem a expressão humana Petraglia 2010 esclarece que a altura tem relação com a frequência ou seja frequências mais altas correlativas a sons agudos e frequências mais baixas correlativas a sons mais graves Considera também que A intensidade aquilo que chamamos de volume está diretamente relacionada à carga emocional de um som A duração é a vida do som no tempo É o motor de sua existência em todas as suas possibilidades do curtíssimo ao longo interminável Podemos dizer que o timbre é a roupagem que o som veste para se manifestar no plano audível uma vez que suas qualidades estão diretamente relacionadas à matéria que dá suporte à vibração Petraglia 2010 p25 Os sons manifestação vibratória percebida como sensação vibratória por meios de nosso sistema auditivo geram no corpo movimentos assim como o corpo também produz sons a partir de sua expressão determinando freqüências e intensidades em movimentos expansivos ou de contração seja esse um reflexo consciente ou não Em consonância a esta ideia o movimento sonoro reflete intensidade dando vazão aos sentimentos duração passa a refletir a vitalidade do corpo no tempo já o timbre demonstra a característica da fonte emissora CONSIDERAÇÕES FINAIS Para a realização de uma investigação profunda e minuciosa visando construir novas pontes entre música e corpo uma pesquisa abrangente poderia se efetivar através de procedimentos metodológicos mais específicos buscando compreender como ocorre tal relação tanto para músicos como para bailarinos O que quero ressaltar é a necessidade de interligar a música como meio catalisador da expressividade e relacionar o corpo como recurso musical em sua diversidade de 66 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 expressão o que possibilitaria novos caminhos à uma visão integral na Musicoterapia diante de considerações mais aprofundadas no tema Este estudo esclareceu e pontuou a necessidade de se observar o sentir e o expressar do diálogo corporal aprimorando a escuta deste enquanto corpo falante corpo que transcende a linguagem verbal e expressa emoções a todo instante Este enfoque se aprimora e evolui diante da importância da música como propulsora do movimento consciente Ante as perspectivas abordadas e através de um olhar integral conectando informações do corpo como constante produtor de sonoridades e impulsos vibracionais podemos perceber que o movimento corporal revela o humano a maneira como este se organiza espacialmente demonstrando também como faz as escolhas na vida Consequentemente a maneira de se perceber o mundo pode se materializar na forma como se organiza o espaço em torno de si Todo esse movimento tem um ritmo próprio e único Como parte na dinâmica da vida movimentos corporais atendem não só às inevitabilidades vitais como também sociais Compreendendo que mudar ações cotidianas pode ser uma procura humana fica evidente que para tais evoluções se faz necessário a recuperação dos gestos e não das palavras assim como da experiência do corpo e suas sensações frente aos acontecimentos Podemos compreender o corpo como pedaço de vida que une e conecta toda relação com o conhecimento algo novo em uma experiência imediata física gerando uma perplexidade que instantaneamente expressa um movimento para depois traduzi lo em linguagem verbal Ao relacionar aspectos emocionais do ser diante do seu processo de auto conhecimento se fez claro neste artigo que cada movimento torna se relevante na expressão musical atingindo uma linguagem personalíssima Logo a importância da integração da música como veículo catalisador de gestos e movimentos na liberação de energia interna e expressões de impulsos vem a revelar o corpo correlacionado intimamente ao processo musicoterapêutico 67 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 Portanto concluise neste estudo a fundamental relevância em vivificar o movimento corporal estimulado pela música valorando a expressividade e a comunicabilidade do corpo como meio norteador da sensibilidade e integralidade nas relações em Musicoterapia adotando um olhar íntegro a cada ser humano diante de suas potencialidades de expressão e possível experiência plena de si mesmo REFERÊNCIAS APANAT Associação Paulista de Naturologia Naturologia Disponível em httpwwwapanatorgbrsitenaturologia Acesso em 06 abril de 2013 BENENZON RO Teoria da Musicoterapia contribuição ao conhecimento não verbal São Paulo Summus 1988 BERTAZZO I Corpo Vivo Reeducação do Movimento São Paulo SESC 2010 BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia 2ª ed Rio de Janeiro Enelivros 2000 Tradução Mariza Fernandez Conde FERNANDES C O Corpo em Movimento o Sistema Laban Bartenieff na formação e pesquisa em artes cênicas São Paulo Annablume 2006 FONSECA K C BARBOSA M A SILVA D G FONSECA K V SIQUEIRA K M SOUZA M A Credibilidade e efeitos da música como modalidade terapêutica em saúde Revista Eletrônica de Enfermagem v 08 n 03 p 398 403 2006 Disponível em httpwwwfenufgbrrevistarevista83v8n3a10htm Acesso em 07 abril de 2013 FOUCAULT M Vigiar e Punir história da violência nas prisões São Paulo Vozes 1996 FUX M Dançaterapia São Paulo Summus 1988 GERBER R Medicina Vibracional uma medicina para o futuro São Paulo Cultrix 1997 HELLMMAN F MARTINS G T Sentidos da Educação Arte e Saúde na Relação de Interagência In HELLMANN F WEDEKIN L M DELLAGIUSTINA M Org Naturologia Aplicada reflexões sobre saúde integral Tubarão Unisul 2008 p 57 68 Disponível em httpaplicacoesunisulbrojsindexphpCadernosAcademicosarticleview584618U WGeyJOkoj4 Acesso em 7 abril de 2013 68 InCantare Rev do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia Curitiba v4 p 46 68 2013 LABAN R V Domínio do Movimento edição organizada por Lisa Ulmann São Paulo Summus 1978 LE GOFF J TRUONG N Uma história do Corpo na Idade Média Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2006 LELOUP J Y O Corpo e seus símbolos uma antropologia essencial Petrópolis Vozes 1998 NANNI D Fitness Performance O Ensino da Dança na EstruturaçãoExpansão da Consciência Corporal e da Autoestima do Educando V4 n1 p46 janfev Rio de Janeiro 2005 PETRAGLIA M S A Música e sua relação com o ser humano 1 ed São Paulo Ouvir Ativo 2010 RAMOS R C L AQUINO C R Música nas danças circulares e autoestima In LEÃO Elisete Ribeiro Cuidar de Pessoas e Música Uma visão Multiprofissional São Paulo Yendis Editora 2009 SACKS O Alucinações Musicais relatos sobre a música e o cérebro São Paulo Companhia das letras 2007 SAKAI F A LORENZZETTI C ZANCHETTA C Musicoterapia corporal In CONVENÇÃO BRASIL LATINO AMÉRICA CONGRESSO BRASILEIRO E ENCONTRO PARANAENSE DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS 1 4 9 Foz do Iguaçu Anais Centro Reichiano 2004 WEIL P ROLAND T O corpo fala a linguagem silenciosa da comunicação não verbal Petrópolis Vozes 1986 WILBER K O olho do espírito uma visão integral para um mundo que ficou ligeiramente louco São Paulo Cultrix 1997 TURTELLI L Caminhos da Pesquisa em Imagem Corporal na sua relação com o Movimento Revista Brasileira de Ciência do Esporte Campinas v 24 n 1 p 151 166 set 2002 Recebido em 29 de maio de 2013 Aprovado em 16 de junho de 2013