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69 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 O PAPEL DA LUDICIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM INFANTIL Darlene Scholze1 Vantoir Roberto Brancher2 Cláudia Terra do Nascimento3 RESUM O Este trabalho tem como objetivo investigar a importância da ludicidade no processo de aprendizagem de crianças Para realizálo elaboramos uma pes quisa qualitativa de cunho bibliográfico buscando entender o que alguns autores compreendem sobre o jogo os brinquedos e as brincadeiras para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil Tentando apontar uma nova perspectiva para a ludicidade construímos este trabalho acreditando que muitas vezes não é levado em conta que é na hora das brincadeiras que a criança tem oportunidade de experimentar situações que ocorrem no seu diadia e transformálas em novos conhecimentos através das trocas e recriações que faz de sua realidade Este estudo traz alguns conceitos e concepções importantes que fazem parte da vida da criança como ludicidade infância educação pedagogia brincadeira brinquedo e jogos bem como a importância da presença do lúdico na construção de conheci mentos infantis PALAVRASCHAVE Infância Ludicidade Aprendizagem ABSTRACT This work has as an objective to investigate the importance of ludicity on childrens learning process To do that we elaborated a qualitative research based on bibliography so that we searched to understand what some authors comprehend about games toys and plays to childrens learning process and development Trying to point out a new perspective to ludicity we built this work believing that many times it is not consired that it exactly in the plays time children have the opportunity of experiencing situations that occur throughout their daily life and change them into new knowledges through changes and recreations they do from their own reality This study brings some important concepts and conceptions that are part of childrens life such as ludicity childhood education pedagogy plays toys and games as well as the importance of the ludic presence in the building of childrens knowledges KEYWORDS Childhood Ludicity Learning 1 Autora da Pesquisa Professora Email darlenescholzeyahoocombr 2 Professor M s em Educação substituto do Departamento de Fundamentos da EducaçãoUFSM Orientador da Pesquisa Email vantobryahoocombr 3 Psicopedagoga Professora M s substituta do Departamento de Fundamentos da Educação UFSM CoOrientadora da Pesquisa clauidia claudiapscbr 70 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 Introdução Esta pesquisa surgiu do desejo de conhecer o que diferentes autores pensam e apontam sobre a ludicidade hoje pois o ser humano necessita cada vez mais atingir metas cumprir horários o que pode deixá lo automatizado Em função disso é importante apontar outra perspecti va existencial do ser humano o homo ludens tese pouco trabalhada na contemporaneidade Garcia 2002 vai apontar para a relevância do jogo e das brincadeiras enquanto espaço de ressignificação da realidade bem como de constituição do sentimento de si Além disso destaca a impor tância destes na construção subjetiva do ser no mundo Diante dessas questões indagase e as nossas crianças Será que o nosso modo de viver mecanicamente não torna a educação escola algo também mecânico Estamos dando espaço para que a criança desenvolva se em todas suas possibilidades e dimensões e em todos os contextos Sobre estas questões Trindade Santos 2000 p 09 trazem a seguinte reflexão a gente olha e não vê a gente vê mas não percebe a gente percebe mas não sente a gente sente mas não ama e se a gente não ama a criança a vida que ela representa as infinitas possibilidades de manifesta ção dessa vida que ela traz a gente não investe nessa vida a gente não educa e se a gente não educa no espa ço tempo de educar a gente mata ou melhor a gente não educa para a vida a gente educa para a morte das infinitas possibilidade A gente educa se é que se pode dizer assim para uma morte em vida a invisibilidade TRINDADE SANTOS 2000 p 09 Vivese hoje em uma sociedade em que tempo é dinheiro e acabase submetendo as crianças a uma nova realidade Assim desta rea lidade estáse educando as crianças à competição oferecendolhes mui tas oportunidades acreditando que elas no futuro trabalhem em prol do cumprimento das metas dessa mesma sociedade O que muitos não enxergam é que estamos privandoas de sua especificidade infantil ima ginar e brincar Na escola percebemos que as brincadeiras têm tempo e hora na medida em que se avança nas séries ou fases subseqüentes Nesse contexto o espaço de brincadeiras tornase cada vez menor e por fim acaba Borba 2007 p 33 também se pergunta sobre esta questão Por que à medida que avançam os segmentos escolares se reduzem os espa ços e tempos do brincar e as crianças vão deixando de ser crianças para 71 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 serem alunos E mais adiante em seu texto responde afirmando a brincadeira está entre as atividades avaliadas por nós como tempo perdi do p 35 Pois por muito tempo a brincadeira foi vista apenas como aporte à frivolidade como oposição ao trabalho Nas escolas priorizamse os conteúdos e os ensinamentos séri os o brincar e a imaginação ficam limitados E somente na hora do re creio se pode viver aventuras e experimentar situações novas Após este período as crianças voltam a ser alunos e retornam aos assuntos conside rados importantes Garcia 2002 p 76 afirma que a relação de oposição entre a realidade e o brincar devese ao fato de que a atividade lúdica apóiase fundamentalmente no princípio do prazer E mais adiante con tinua dizendo que é através do jogo num processo de interrelação entre consciente inconsciente que a criança consegue elaborar a realidade e a fantasia A criança portanto usa meios da realidade e inserea em suas brincadeiras Nelas ela pode experimentar reelaborar situações do seu diadia e criar novas realidades afirma que O brincar envolve complexos processos de articulação entre o já dado e o novo entre experiência a memória e a imaginação entre a realidade e a fantasia BORBA 2007 p 36 Assim as crianças buscam em suas brincadeiras descobrir e construir novas visões de sua realidade A ludicidade O brincar sempre se fez presente na vida das crianças Através dele elas viajam do mundo real para um mundo imaginário onde tudo pode acontecer Objetos criam vida ao mesmo tempo em que desapare cem e adquirem novas formas e sentidos lugares distantes ficam a um passo do alcance e até planetas desconhecidos viram reais Podese construir e desconstruir mundos e objetos Nas brincadeiras podese ser rainha ou bruxa herói ou bandido pequeno ou grande pois elas nos permitem ir além Garcia 2002 p 56 comenta que ao brincar o sujeito ensaia treina aprende se distrai sim mas se constrói afirma assimila reorga niza descobre e inventa suas formas enfrenta os enigmas os desafios as oportunidades e as imposições que a vida lhe apresenta As brincadeiras permitem à criança imaginar e ao interagir nas brincadeiras Ela ao mes mo tempo em que cria saídas para situações reais assimila regras sociais observa o outro e elabora novos conhecimentos Brincar contudo não é apenas coisa de criança A ludicidade faz parte de toda a vida do homem e não é porque os adultos não brincam que ela deixa de existir Brancher 2007 entende o lúdico como atividade ine 72 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 rente ao ser humano Nós educadores devemos percebêlo não apenas enquanto prática utilitarista pois o jogo pelo jogo também pode promo ver produções de conhecimento A prática do jogo nos proporciona essa alegria alegria que também é saber saber viver e saber ser Almeida 1990 p 11 enfoca que ninguém é mais livre neste mundo do que aquele que consegue viver a alegria na liberdade a liberdade na alegria e a alegria no viver O jogo exige que o jogador crie estratégias envolvendo seus co nhecimentos na busca de soluções para sairse bem Ao conseguir resol ver os problemas o jogador assimila novos saberes e um sentimento de poder vencer os desafios As atividades lúdicas portanto nos permitem experimentar sentir criar e recriar mundos e situações Através dela podemos nos li bertar da nossa realidade mecânica e ir muito além deste mundo trocar experiências viver momentos de alegria e liberdade enfim aprender com as situações Conceitos e concepções Demorou muito tempo para que as crianças pudessem ser consi deradas como ser histórico e de direitos bem como sujeitos produtores de culturas e sendo construídos por estas Também tem que se levar em conta que existem diferentes processos na construção do que significa infância4 que varia de cultura para cultura e de sociedade para sociedade A própria palavra infância significa alguém que não possui fala Segundo Oliveira Oliveira 2006 p 42 A infância é uma invenção com isso não está garantida em nenhum momento histórico nem mesmo na contemporaneidade com todos os direitos e deveres garantidos em lei pela sociedade com relação às crianças e jovens Não basta ser criança para ter uma infância Uma primeira concepção de infância surge no século XVII quan do os adultos passaram a observar os movimentos de dependência das crianças pequenas e preocuparamse com as mesmas enquanto seres de pendentes e fracos É a partir daí que a infância foi designada como pri meira idade de vida a idade da necessidade e da proteção que perdura até hoje NASCIM ENTO BRANCHER OLIVEIRA 2007 p 05 Podese dizer então que a primeira preocupação com a infância foi no sentido ligado à disciplina e à difusão da cultura existente que 4 Quando usamos infância no singular ou infâncias no plural queremos dizer que não acreditamos em uma única concepção de infância Ela diferencia conforme o contexto em que a criança está inserida 73 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 limitava os movimentos infantis ligados ao aprendizado e ao prazer As crianças eram vistas como seres irracionais que não pensavam e sendo assim não eram vistas como seres sociais Foi com Rousseau 1995 que a criança passou a ser vista de ma neira diferente da concepção então existente Foi ele quem propôs uma Educação Infantil sem juizes sem prisões e sem exercícios Em 1789 com a Revolução Francesa modificouse a função do Estado com isso houve uma preocupação dos governantes com o bem estar e a educação das crianças Embora indiferente aos ideais democráticos tributários dos prin cípios de liberdade igualdade e fraternidade promulgadas pela Revolu ção Francesa bem como contrário à necessidade de respeitar os elementos constitutivos do ser criança Durkheim 1978 foi quem primeiro buscou tecer os fios da infância aos fios da escola com objetivos de moralizar e disciplinar a criança Segundo Durkheim 1978 a criança além de questionadora passa de uma impressão para outra de um sentimento para outro de uma ocupação para outra com a mais extraordinária rapi dez Seu humor não tem nada de fixo a cólera nasce e aquietase com a mesma instantaneidade as lágrimas sucedemse ao riso a simpatia ao ódio ou inversamente sem razão objetiva ou sob a influência da circuns tância mais tênue Portanto educar a criança passa a significar moralizála no sentido de inscrever na subjetividade desta os elementos da moralidade A infância no século XIX tornouse problema social Porém isso não foi motivo para que fossem feitas investigações científicas sobre ela Educação e infância até a década de 60 eram vistas como dois campos distintos A educação entre o final do século XIX e início do século XX segundo Ghiraldelli 1988 p10 é definida como o fato social pelo qual uma sociedade transmite o seu patrimônio cultural e suas experiências de uma geração mais velha para uma mais nova garantindo sua continuidade histórica Todavia não há uma única forma de educação cada grupo soci al possui fatores culturais distintos que considera importante para formar seus cidadãos A educação portanto é uma forma de transmissão de cultura entre os povos Ela também está em todo lugar A escola não é o único lugar que propícia construção de conhecimentos pois a educação aconte ce em todo lugar em que existam pessoas convivendo BRANDÃO 1981 Ainda conforme o autor supracitado a pedagogia é a teoria da edu cação cria situações próprias para o seu exercício produz métodos esta belece suas regras e tempos e constitui executores especializados 1981 p 26 A pedagogia então trabalha para que a educação seja transmitida 74 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 Assim ao mesmo tempo em que se reconheceu a infância surgi ram instituições protetoras para cuidar e formar os mais jovens Foi a par tir da escolarização das crianças e do desenvolvimento de uma pedagogia para elas que se pode dizer que houve uma construção social da infância A construção social da infância se concretiza pelo estabelecimento de valores morais e expectativas de conduta para ela Podemos falar de uma invenção social da infância a partir do século XVIII em que há uma funda ção de um estatuto para essa faixa etária Com a mudança da concepção da criança reconheceuse aquilo que é específico da infância nas palavras de Kramer 2006 p15 seu poder de imaginação a fantasia a criação a brincadeira entendida como experiência de cultura Crianças são cidadãs pessoas detentoras de direitos que produzem cultura e são nela produzidas Esse modo de ver as crianças favorece entendêlas e também ver o mundo a partir do seu ponto de vista A infância mais que estágio é categoria da história existe uma histó ria humana porque o homem tem infância As crianças brincam isso é o que as caracteriza Além de produzir cultura a brincadeira faz com que a criança se confronte com a cultura Na brincadeira a criança se relaciona com con teúdos culturais que ela produz e transforma dos quais ela se apropria e lhes dá uma significação BROUGÈRE 2004 p77 Tratando o brincar como atividade humana criadora Borba afirma que O brincar é uma atividade humana criadora na qual imaginação fantasia e realidade interagem na produ ção de novas possibilidades de interpretação de ex pressão e de ação pelas crianças assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujei tos crianças e adultos Tal concepção se afasta da visão predominante da brincadeira com atividade res trita à assimilação de códigos e papéis sociais e cultu rais cuja função principal seria facilitar o processo de socialização da criança e sua integração à socieda de Ultrapassando essa idéia o autor compreende que se por um lado a criança de fato reproduz e representa o mundo por meio das situações criadas nas ativida des de brincadeiras por outro lado tal reprodução não se faz passivamente mas mediante um processo ativo 75 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 de reinterpretarão do mundo que abre lugar para a invenção e a produção de novos significados saberes e práticas 2007 p35 Sendo assim a criança ao se deparar com situações reais que ela já experimentou em suas brincadeiras e já produziu novos significados e saberes poderá aplicar seus novos conhecimentos na prática Ao brincar as crianças criam uma nova forma de comunicação entre elas Percebemos a partir da obra de Brougère 2004 p 99 que A brincadeira só é possível se os seres que a ela se dedicam forem capazes de certo grau de metacomunicação ou seja se forem capazes de trocar sinais que veiculem a mensagem isto é uma brincadeira Além da metacomunicação a brincadeira exige que sejam formuladas regras a seu respeito Uma regra da brincadeira só tem valor se for aceita por aqueles que brincam e só vale durante a brincadeira BROUGÈRE 2004 p101 É brincando que a criança representa através da imaginação ou da imitação novas situações ou situações do seu cotidiano O brinquedo apareceu para dar à brincadeira possibilidades de ações coerentes com a representação BROUGÈRE 2004 p15 Podese afirmar que o brinquedo adquire valor simbólico enquanto objeto da brin cadeira que só terá sentido enquanto durar a brincadeira e para quem estiver participando dela Uma vassoura só serve para varrer quando ela está na mão de uma criança pode transformarse em cavalo fuzil ou até em uma árvore É através da imaginação da criança que o objeto passa a ter vida A criança através da brincadeira transforma o ser inanimado em ativo A criança dispõe de um acervo de significado Ela deve interpretálos a criança deve conferir significados ao brinquedo durante sua brincadeira Neste sentido o brinquedo não condiciona a ação da criança ele lhe oferece um suporte determinado mas que ganhará novos significados através da brincadeira BROUGERE 2004 p09 O brinquedo como objeto dá à brincadeira uma representação Ele traz imagens que a farão dar sentido à brincadeira traduzindo o real ou imaginário A brincadeira pode ser considerada como uma forma de in terpretação dos significados contidos no brinquedo BROUGERE 2004 p08 Os objetos têm uma tal força motivadora inerente no que diz res peito às ações de uma criança muito pequena e determinam tão extensi vamente o comportamento da criança VIGOTSKY 1987 p110 Como por 76 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 exemplo uma boneca como representa uma criança faz com que quem esteja brincando tenha cuidados específicos que se tem com um bebê como ninar cuidar trocar roupas etc Kishimoto 2003 p07 aponta o brinquedo como objeto supor te de brincadeira quer seja concreto ou ideológico concebido ou sim plesmente utilizado como tal ou mesmo puramente fortuito Diz ele esta definição bastante completa incorpora não só brinquedos criados pelo mundo adulto concebidos especialmente para brincadeiras infantis como os que a própria criança produz a partir de qualquer material ou investe de sentido lúdico Então um qualquer objeto pode servir como brinquedo desde que a criança atribua um significado a ele Esse significado só servi rá para o objeto enquanto durar a brincadeira Além de objeto representativo o brinquedo também exerce uma função social perante a criança Essa relação entre criança e objeto o ins creve no processo de socialização E como afirma Brougère 2004 com o brinquedo a criança constrói suas relações com o objeto relações de pos se de utilização de abandono de perda de desestruturação que consti tuem na mesma proporção os esquemas que ela produzirá com outros objetos na sua vida futura BROUGÈRE 2004 p64 Então é através do brinquedo que a criança experimenta relações sociais que no seu diadia ela viverá Dentro deste mundo de brinquedos e brincadeiras ainda pode mos encontrar os jogos que também são representações momento em que a criança assimila e transforma sua realidade O brinquedo é um objeto infantil e falar em brinquedo para um adulto tornase sempre um motivo de zomba ria de ligação com a infância O jogo ao contrário pode ser destinado tanto à criança quanto ao adulto ele não é restrito a uma faixa etária Os objetos lúdicos dos adul tos são chamados exclusivamente de jogos definindose assim pela sua função lúdica BROUGÈRE 2004 p13 Percebemos que a diferenciação de jogo e brinquedo surge a partir de diferentes concepções culturais Enquanto a criança brinca o adulto joga o brinquedo tornase próprio do mundo infantil A partir dis so poderíamos perguntar e inferir se já não estaria na concessão de brincar a dificuldade enfrentada por muitos professores de trabalhar ludicamente com seus alunos Podemos pensar assim que talvez até inconsciente mente alguns adultos pensassem que brincar com a criança seria sinôni mo de infantilidade eou loucura 77 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 Porém como afirma Vigotsky 1987 p108 poderseia ir mais além e propor que não existe brinquedo sem regra A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo contém regras de comportamento embo ra possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori E conti nua os assim chamados jogos puros com regras são essencialmente jogos com situações imaginárias Da mesma forma que uma situação imaginária tem que conter regras de comportamento todo jogo com regras contém uma situação imaginária VIGOTSKY 1987 p109 Ao jogar a criança cria regras sejam elas reais ou imaginárias para que o jogo tenha sentido O jogo é para a criança a representação e comunicação abertura ao imaginário à fantasia e à criatividade mas também unificação e integração da personalidade fator de interação com os outros O jogo possibilita experimentar criar e reconhecerse Contudo Kishimoto des taca que embora predomine na maioria das situações o prazer como distintivo do jogo há casos em que o desprazer é o elemento que caracteriza a situação lúdica Vigotsky é um dos que afirmam que nem sem pre o jogo possui essa característica porque em certos casos há esforço e desprazer na busca do objetivo da brincadeira A psicanálise também acrescenta o desprazer como constitutivo do jogo 2003 p 04 Quando a criança se vê forçada a fazer o que não quer ou quando se depara com situações desagradáveis para ela o jogo tornase algo ruim sem nenhum sentido de aprendizagem Por isso é que se deve permitir que a criança crie as regras da brincadeira mesmo que não sejam os obje tivos específicos a ser atingidos Também devese propiciar a experimen tação pois é errando e acertando que a criança tira suas conclusões sobre como agir Portanto o jogo o brinquedo e as brincadeiras proporcionam para a criança aprendizagens que lhes permitem construir as relações sociais que serão aplicadas na vida real A ludicidade e a aprendizagem infantil Podemos dizer que não existe uma única maneira de aprender e que não existe uma idade determinada para que se comece a aprender ou para que se pare de aprender A aprendizagem é uma mudança relativa mente permanente no comportamento que resulta da experiência Ela ocorre durante todo o tempo no desenvolvimento normal durante toda a vida desde que alguma coisa desperte nosso interesse Segundo Vigotsky 78 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 1987 p 9495 o aprendizado das crianças começa muito antes de las freqüentarem a escola quando a criança assimila os nomes de objetos em seu ambiente ela está aprendendo Enquanto brinca a criança aprende e percebese que há motiva ção e satisfação nesse tipo de aprendizagem pois ela pode basear sua nova aprendizagem em algo que lhes dá prazer e é familiar Porém te mos que levar em conta que como afirma Vigotsky 1987 p105 o brin car nem sempre representa para a criança uma atividade que lhe dá prazer O brincar só trará prazer para criança quando seu resultado for interessan te para ela Então se o resultado das brincadeiras for ruim se a criança perder essa atividade não terá prazer De acordo com Vigotsky 1987 a brincadeira cria uma zona de desenvolvimento proximal que possibilita rá ao individuo cheguar a uma zona real do desenvolvimento É através da brincadeira que a criança vai confrontando idéias sobre sua realidade apropriandose da cultura construindo conhecimen tos bem como tenta resolver problemas que lhe são propostos pelos que lhe rodeiam pessoas e realidade A brincadeira proporciona para a crian ça um aprendizado de relações com o mundo baseado em sua realidade Antunes 2004 afirma que é através do brincar que a criança se apropria do mundo o que significa dizer que não existe brincar sem aprender Quando brinca a criança aciona vários elementos sentir imagi nar falar experimentar etc estes elementos quando atrelados aos co nhecimentos que a criança já possui transformamse em novas significações que serão aplicadas no cotidiano da criança Wajskop cita Vigotsky para ressaltar a importância da brincadeira na aprendizagem para Vigotsky a aprendizagem configurase no de senvolvimento das funções superiores através da apro priação e internalizarão de signos e instrumentos em um contexto de interação A aprendizagem humana pressupõe uma natureza social especifica e um pro cesso mediante o qual a crianças acedem à vida inte lectual daqueles que a rodeiam A brincadeira é partilhada pelas crianças supondo um sistema de comunicação e interação da realidade que vai sendo negociado passo a passo pelos pares à medida que este se desenrola Da mesma forma implica uma ativi dade consciente e não evasiva dando a cada gesto significativo cada uso de objetos implica a re elabo ração constante das hipóteses da realidade com as quais esta confrontando 2001 p 34 79 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 A aprendizagem acontece então quando a criança experimenta a realidade e os objetos durante as brincadeiras quando ela troca expe riências brincando com outras crianças Enfim é enquanto brinca que ela cria e recria conceitos No momento em que cria e recria sua realidade a criança desen volve sua imaginação e sua capacidade de abstração além de possibilitar a produção de experiências tanto em termos de conteúdos escolares quan to no desenvolvimento psíquico Pois os jogos permitem estimular o es tudante a ter atitude de cooperação responsabilidade participação respeito iniciativa tomada de decisão Enfim ajuda o sujeito a tornarse um ser autônomo embora socializado ASCOLI BRANCHER 2006 p05 O jogador deparase com muitas possibilidades de jogadas ao escolher uma ele deverá arcar com as conseqüências dessa escolha seja ela boa ou ruim assim aprenderá Assim o brincar pode ser um exercício de autono mia e de autocontrole infantil A criança precisará analisar as possibilidades rapidamente cri ando estratégia para atingir seus objetivos bem como encontrar manei ras de dificultar as possibilidades positivas de seu oponente A criança aprenderá dentro de um quadro imaginário o jogo com as trocas de ex periências entre seus colegas Dessa forma é através das brincadeiras que o aluno constrói seus conhecimentos com maior facilidade Com os jogos os estudantes também podem adquirir uma visão mais aprofundada do meio em que vivem de forma que o educando adquira noções de socialização lealdade espírito crítico competitividade e descubrase como um ser diferente dos outros Ou seja trabalhamos a coletividade e a subjetividade concomitantemente ASCOLI BRANCHER 2006 p05 A realidade nunca fica fora das brincadeiras Ela está presente em cada jogada pois quem joga não consegue separarse de suas experi ências para entrar no mundo imaginário do jogo Temos que levar em conta que a escola acolhe crianças cuja atividade fundamental do ponto de vista afetivo social e cognitivo é a brincadeira de fazdeconta marcada pelos acontecimentos e relações sociais vividas por elas WAJSKOP 2001 p17 Por isso os jogos eou brincadeiras devem ser vistos por estas instituições como recursos para uma aprendizagem diferenciada significativa e prazerosa O jogo possui algumas características essenciais que fazem com que o sujeito que joga reencontrese a si mesmo no transcorrer das jogadas Entre estas caracte rísticas estão a liberdade de ação do jogador os limites de tempo e espa ço a existência de regras Regras estas que podem ser seguidas ou reinventadas pelos jogadores Conforme Ascoli et al 2006 ao seguir ou reinventar regras que o aluno constrói sua aprendizagem 80 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 O jogo e o brincar proporcionam à criança constituição de conhe cimentos no âmbito da cognição da linguagem e da sociabilidade Esses conhecimentos ao se juntarem com os conhecimentos que a criança já possui do seu diadia proporcionam para ela pensar o mundo e interpretá lo de formas diferentes Uma aprendizagem significativa que amplia e afirma o conhecimento sobre o mundo Como afirma Kishimoto 2003 p 22 qualquer jogo empregado na escola desde que respeite a natureza do ato lúdico apresenta o cará ter educativo e pode receber também a denominação de jogo educativo Então podemos afirmar que os jogos e as brincadeiras são possibilidades de aprendizagem dentro e fora da escola Desde que neles esteja pre sente a imaginação o sentir o olhar o criar o recriar o prazer permitin do que a criança interaja com novos e velhos conhecimentos podendo ser autônoma em suas decisões Algumas considerações finais Considerando as leituras realizadas podese perceber que a ludicidade está presente na vida de todos nós especialmente no desen volvimento infantil já que através dela a realidade pode ser assimilada decodificada e recriada estabelecendo novas formas de entendêla Ten do em vista os fatos históricos sabese que a infância é uma invenção moderna e que a partir dela surgiram problemáticas sobre como tratar a criança Precisouse também criar concepções o jogo o brinquedo as brincadeiras a educação e a pedagogia em torno do mundo infantil para melhor entender a criança e suas relações com o mundo M as com o pas sar dos anos esse mundo de imaginação e brincadeiras deu espaço para uma rotina de treinamento cujo objetivo expresso era a criação de adul tos com prestígio A educação passou a ser uma forma de exclusão só tem lugar na sociedade quem estuda e as brincadeiras passaram a ter tempo e hora determinada nas escolas A criança não tinha mais tempo de ser criança pois precisava correr para ser um adulto melhor que seu colega Atualmente a educação vem passando novamente por transfor mações no seu modo de ver a criança e de entender as suas especificidades As brincadeiras infantis estão voltando a ser vistas como fatores importantes e indispensáveis para a aprendizagem e o desenvol vimento infantil A ludicidade voltou a ser entendida não apenas como oposição às coisas sérias mas como fator de experimentação troca sen timento criação recriação momento em que a criança pode viver suas aventuras e aprender com elas Permitamonos adultos e crianças a viver um pouco mais essa 81 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 magia e trazer que a ludicidade nos proporciona Transformar realidade em imaginação viajar por terras desconhecidas acreditar que sonhos po dem se tornar reais olhar brincar pular jogar trocar sentir sorrir Enfim sermos mais humanos e menos mecânicos Por fim deixo marcado o questionamento de Kramer 2006 p16 será que é possível trabalhar com crianças sem saber brincar sem nunca ter brincado E pergunto Será que nós professores sabemos brincar Será que motivamos ou podamos nossas crianças quando estabelecemos momentos adequados para as brincadeiras Acredito que precisamos mudar nossa necessidade de ensinar baseados em livros didáticos não que eles não sejam importantes mas deixálos de lado a fim de perceber e conhecer quem são nossos alunos o que eles pensam e gostam Proporcionar momentos de trocas em que eles nos ensinem algumas coisas como por exemplo brincar Deixar de lado a idéia de que isso é coisa de criança arrancar as amarras de uma sociedade que se baseia no TER e não no SER Enfim construir um mundo melhor para se viver através da educação e da imaginação Referências bibliográficas ALM EIDA P N de Educação Lúdica Técnicas e jogos pedagógicos São Paulo Loyola 1990 ANTUNES C Educação Infantil prioridade imprescindível Petrópolis RJ Vozes 2004 ASCOLI C C B BRANCHER VR A importância dos jogos para o ensino aprendizagem da M atemática 2006 p 01 11 Digitado BORBA Â M O brincar como um modo de ser e estar no mundo In Brasil Ensino fundamental de nove anos orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade Brasília FNDE Estação Gráfica 2006 p 3345 BRANCHER V R Cultura Infantil problematizando a ludicidade e o ser cri ança hoje 2007 p 12 Digitado BRANDÃO C R O que é Educação 26 ed São Paulo Brasiliense 1981 BROUGÈRE G Brinquedo e cultura 5 ed São Paulo Cortez 2004 DURKHEIM E Educação e sociologia São Paulo M elhoramentos 1978 GARCIA R L org Crianças essas conhecidas tão desconhecidas Rio de Janeiro DPA 2002 GHIRALDELLI PJr O que é Pedagogia São Paulo Brasiliense 1988 KISHIM OTO T M O jogo e a educação infantil Pioneira Thomson Learning 2003 KRAM ER S A Infância e sua singularidade In Brasil Ensino fundamental de nove anos orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade Brasília FNDE Estação Gráfica 2006 p1324 82 Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 78 JanDez 2007 NASCIM ENTO C T BRANCHER V R OLIVEIRA VF A Construção Social do conceito de infância algumas interlocuções históricas e sociológicas 2007 p 0116 Digitado OLIVEIRA V F de OLIVREIRA W F de Criança e infância quando o encon tro é marcado e não acontece In OM EP Cadernos temáticos IV Vivências das infâncias Santa M aria RS 2006 3346 ROUSSEAU JeanJcques Emilio ou da educação 3 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1995 TRINDADE R dos SANTOS A L da M ulticulturalismo mil e uma faces da escola 2 ed Rio de Janeiro DPA 2000 VYGOTSKY L S A formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1987 WAJSKOP G Brincar na Préescola São Paulo Cortez 2001 RESENHA DO ARTIGO O PAPEL DA LUDICIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM INFANTIL SCHOLZE Darlene ROBERTO Vantoir TERRA Cláudia O PAPEL DA LUDICIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM INFANTIL Revista da Faculdade de Educação s l 2007 Darlene Scholze Vantoir Roberto e Cláudia Terra aborda a importância da ludicidade no processo de aprendizagem de crianças onde os próprios fazem uma pesquisa cujo relacionada a ludicidade nos dias atuais onde cada vez mais o ser humano se torna automatizado devido a um sistema trabalhista e trazem em questão outra perspectiva em relação a existência humana colocando em evidência essa realidade à educação infantil pois é desde pequena que a criança acaba se submetendo a uma nova era onde ela vai aprender a competir devido a uma sociedade onde o dinheiro é vultoso Os autores integram o quão é importante existir brincadeiras no aprendizado infantil visto que as escolas cada vez mais às limita As brincadeiras podem parecer trivial mas além de ser uma fonte de entretenimento é vital para o desenvolvimento geral da criança Através dela que elas crianças começam a expressar personalidades e emoções Para as elas os benefícios da brincadeira vão muito além de exercitar a criatividade e a fantasia Esta é uma atividade importante na construção de sua estrutura emocional e familiar quando adulta o que contribui para um amadurecimento emocional mais consistente Essa importância é uma construção histórica quando brincam as crianças experimentam novas sensações e acabam entrando no mundo adulto ou seja a criança assimilar o mundo à sua maneira não um compromisso com a realidade Além disto ressalva que o pedagogo se dá à garantia desse momento sabendo que o mesmo tem como base a compreensão do desenvolvimento humano sabendo que possa atender de maneira adequada e acorrer a o indivíduo identificar e como priorizar as suas necessidades desde cedo O brincar deve sempre fazer parte do dia a dia da criança porque é a principal atividade da infância Os espaços destinados às crianças devem atender necessidade ou seja respeito por cada faixa etária seja em casa na escola é importante que a criança tenha sua liberdade ao brincar autonomia e confiança no ambiente em que jogam Jogos e brinquedos são fundamentais para o desenvolvimento infantil porque auxilia no desenvolvimento motor e cognitivo Os brinquedos são o suporte para que o jogo aconteça e são indispensáveis no jogo Desenvolvimento infantil Brinquedos são ferramentas essenciais para as crianças compreender seu próprio mundo possibilitar novas descobertas pois como a criança se desenvolve física e mentalmente começa a escolher seus próprios brinquedos geralmente relacionados ao seu gênero e em última análise escolhem sempre um brinquedo favorito E brinquedos adequados as necessidades de aprendizagem de cada criança Por fim os autores ressaltam que se percebe que o brincar existe em todas as nossas vidas principalmente no desenvolvimento infantil pois por meio dele a realidade é assimilada decodificada e reconstruída estabelecendo novas formas de compreendêla A partir de fatos históricos todos sabemos que a infância é uma invenção e como tratála como criança é um problema Requer também a criação de conceitos brincadeiras brinquedos jogos educação e pedagogia no mundo das crianças e uma melhor compreensão das crianças e sua relação com o mundo Mas ao longo dos anos esse mundo de imaginação e brincadeiras deu lugar a programas de treinamento com o objetivo expresso de produzir adultos de prestígio