·
Filosofia ·
Filosofia
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
8
Filosofia da Ciência da Mente e do Encéfalo USP - Materialismo vs Espiritualismo e Consciência
Filosofia
USP
8
Filosofia da Ciencia - Consciencia em Maquinas e Funcionalismo
Filosofia
USP
8
Filosofia da Ciência da Mente - Crítica ao Funcionalismo e Psicossubstancialismo
Filosofia
USP
17
Princípios das Coisas Materiais - Análise e Reflexões
Filosofia
USP
8
Paralelismo Psicofísico e Superveniência - Filosofia da Ciência da Mente USP
Filosofia
USP
42
Mecanicismo - Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciencia
Filosofia
USP
24
Revisitando o Cânone da Filosofia Moderna Inicial - Análise e Reflexões
Filosofia
USP
17
Historia das Teorias da Luz e Visao - Filosofia da Ciencia USP
Filosofia
USP
13
Imagens de Natureza e Ciencia - Atualizacoes e Novidades da Edicao
Filosofia
USP
8
Filosofia da Ciencia da Mente e do Encefalo - Sensacoes Qualitativas
Filosofia
USP
Preview text
GORGIAS DE PLATÃO OBRAS II DANIEL R N LOPES TRA D U Çà O EN SAIO IN TRO D U TÓ RIO E N O TAS TE X TO S 19 No diálogo Górgias de Platão encontra mos pela primeira vez a palavra retórica Górgias sofista e orador revelará quais são suas vantagens a liberdade para os homens e o domínio sobre os outros na própria cida de O comediógrafo Aristófanes zomba do bárbaro Górgias na realidade um grego da Sicília um estrangeiro em Atenas di zendo que pertence à raça astuta que enche a barriga com a língua Comparando essa raça a um animal refere a prática ateniense de cortar as línguas das vítimas nos sacrifí cios Xenofonte e Platão mencionam alguns dos discípulos do orador todos caracteriza dos pela ambição de poder e pelo desejo de riquezas Comentavase a riqueza do próprio Górgias e sua excentricidade diziase que aparecia em público vestido de púrpura A esse mestre de retórica e a sua ati vidade Platão dedica o diálogo que agora lemos na nova tradução em língua portu guesa de Daniel Lopes acompanhada de um amplo comentário Quem és como em uma cena homérica Sócrates quer in terrogar Górgias em sua identidade mas é o filósofo que aos poucos por meio de uma constante interrogação vai traçar a figura duradoura do artífice de persuasão Atra vés da sucessão das personagens do diálogo Górgias Polo e Cálicles percebemos que para entender a arte da palavra é necessário por um lado considerar a vida dos homens em comunidade e o exercício do poder por outro perscrutar o que cada um possui de mais íntimo observando cada indivíduo como este seria observado pelos deuses Paradoxalmente é por meio das artes da culinária das vestimentas e da retórica que vamos compreender o homem em sua saú de em sua nudez e no interior de sua alma GÓRGIAS DE PLATÃO t i i i i p r a j i B Pregão 0412 121212 R3288 Coleção Textos Dirigida por João Alexandre Barbosa 19372006 Roberto Romano Celso Lafer Trajano Vieira João Roberto Faria J Guinsburg Equipe de realização Preparação de texto Jonathan Busato Revisão Mareio Honorio de Godoy Ilustração Sergio Kon Projeto de capa Adriana Garcia Produção Ricardo W Neves Sergio Kon Luiz Henrique Soares e Raquel Fernandes Abranches GÓRGIAS DE PLATÃO CO OBRAS II DANIEL R N LOPES T R A D U Ç Ã O E N SA IO IN T R O D U T Ó R IO E N O T A S A japesp PERSPECTIVA 77463 ciPBrasil Catalogação na Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros rj V77g Platão 427347 aC Górgias Platão Daniel R N Lopes tradução ensaio introdutório e notas São Paulo Perspeciva Fapesp 2011 Textos 19 Inclui bibliografia e apêndice i s b n 9788527309103 1 Ética Obras anteriores a 1800 2 Ciência política Obras anteriores a 1800 1 Lopes Daniel R N 11 Título 111979 c d d 170 c d u 17 080411 110411 025655 Direitos reservados à ED ITO R A PERSPECTIV A SA Av Brigadeiro Luís Antônio 3025 01401000 São Paulo SP Brasil Telefax 11 38858388 wwweditoraperspectivacombr z 2011 SUMÁRIO Apresentação 9 Fnsaio Introdutório Tragédia e Comédia no Górgias de Platão Introdução Platão e o Teatro 19 A Comédia no Diálogo o Caso Polo41 A Tragédia no Diálogo o Caso Cálicles81 A Tragicidade do Discurso Socrático117 As Causas da Recalcitrância de Cálicles139 Sócrates Aquiles ou Odisseu 149 Górgias de Platão164 Bibliografia461 Anexo 1 Anônimo Jâm blico470 Anexo 2 Antifonte Sofista472 APRESENTAÇÃO presente trabalho que a editora Perspectiva traz agora ao pú blico é fruto parcial da minha pesquisa de doutorado realizada entre 2003 e 2007 junto ao Programa de Pósgraduação em l inguística área de Letras Clássicas do Instituto de Estudos da Linguagem iel da Universidade Estadual de Campinas Unicamp com estágio no exterior junto à Università di Pisa e A Scuola Normale Superiore di Pisa entre novembro de 2005 e outubro de 2006 Tratase de um resultado parcial porque este livro não corresponde exatamente à tese final submetida à apreciação da banca de defesa O Ensaio Introdutório que apre sento neste livro consiste numa adaptação do terceiro capítulo ile minha tese com acréscimos correções e supressões de certas parles a fim de adequálo a um público mais amplo Os outros dois capítulos bem como a Introdução e a Conclusão foram suprimidos Também foram acrescidas a esta edição as notas à li adução que não fizeram parte de minha tese final Esse tra balho foi desenvolvido em 2008 e durante o primeiro semestre de 1001 com o intuito de oferecer ao leitor informações bási i as sobre o texto bem como análises filosóficas e literárias que 10 GÓRGIAS DE PLATÃO possam remetêlo a outros diálogos de Platão e a outros autores da Antiguidade Clássica O texto grego utilizado na tradução é o da edição de John Burnet Platonis Opera Tomus m Oxford University Press 1968 reproduzido integralmente nesta edição bilíngue Aproveito a ocasião para agradecer a professores e amigos que contribuíram de uma forma ou de outra para o resultado final deste trabalho Agradeço primeiramente ao meu orientador prof dr Tra jano A R Vieira que desde a graduação incentivoume aos estudos helénicos e que durante os oitos anos de mestrado e doutorado sempre se mostrou um interlocutor generoso e aberto ao diálogo ao prof dr Paulo Butti de Lima da Università di Bari que pos sibilitou meu estágio de doutorado na Università di Pisa e na Scuola Normale Superiore di Pisa além de ter acompanhado minha pesquisa e de ter feito sugestões que foram de grande valia para a consecução do meu trabalho à profa dra Maria Michela Sassi e à profa dra Alessandra Fussi que gentilmente me receberam na Università di Pisa e me ofereceram todas as condições necessárias para o bom ren dimento desse estágio na Itália ao prof dr Giuseppe Cambiano da Scuola Normale Superiore di Pisa pela gentileza e cordialidade com que me acolheu em seu curso sobre o Sofista de Platão absolutamente relevante para os objetivos de minha pesquisa ao prof dr Marco Zingano da fflchusp e ao prof dr Flá vio Ribeiro de Oliveira do IELUnicamp que participaram da banca de qualificação da minha tese com observações muito valiosas e sugestões decisivas para seu término à profa dra Adriane Duarte da fflchusp à profa dra Ma ria Cecília de Miranda Coelho da fafichufmg ao prof dr APRESENTAÇÃO 11 Adriano Machado Ribeiro da fflchusp e ao prof dr Roberto Hnlzani Filho da fflchusp que aceitaram gentilmente o con vite para participarem da banca de defesa e que fizeram diver sas críticas sugestões e observações que foram extremamente i devantes para o aprimoramento deste presente trabalho ao prof Sidney Calheiros de Lima da fflchusp que além de grande amigo sempre manteve comigo uma interlocução bastante profícua sobre temas relativos à pesquisa que desen volvi em especial à minha mulher e companheira Bianca Fanelli Morganti que indubitavelmente participou de todas as etapas deste trabalho e que está de uma forma ou de outra presente em Ioda a sua extensão ii lapes pela bolsa de estágio no exterior pdee que me foi con i edida sem a qual este livro não teria sido realizado da forma i omo foi ao Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp no qual realizei toda a minha pósgraduação à Università di lIsa e á Scuola Normale Superiore di Pisa que concederamme a permissão para que eu pudesse usufruir de toda a sua estru tm a durante meu estágio na Itália e por fim a Jacó Guinsburg que acolheume gentilmente em nua editora e ofereceume todas as condições para que esta edi çito viesse a público Agradeço à Fapesp pela concessão do auxílio à publicação e à Capes que me concedeu uma bolsa de pesquisa pDEEpara a realização de parte deste trabalho junto à Università di Pisa e à Scuola Normale Superiore di Pisa Itália NTERNATIO I ELECTRONICS COKVERECE EIIT 1 07 E N S A IO IN T R O D U T Ó R IO TRAGÉDIA E COMÉDIA NO GÓRGIAS DE PLATÃO As traduções de todos os textos gregos e latinos citados no capítulo são de mlnlia autoria exceto a de Homero H de Campos Homero Ilíada Essa foi a morte Equécrates de nosso amigo Sócrates o homem que diríamos nós foi dentre os que outrora conhecemos o melhor e distintamente o mais sábio e o mais justo Ή δε ή τελευτή ώ Έχέκρατες του εταίρου ήμΐν έγένετο άνδρός ώς ημείς φαίμεν αν τών τότε ών έπειράθημεν άρίστου και άλλως φρονιμωτάτου και δικαιότατου Platão Fédon n 8 a i5 i7 Vos Atenienses condenastes à morte Sócrates o sofista porque ficou evidente que ele havia educado Crítias um dos Trinta que destituíram a democracia Έπειθ υμείς ώΑθηναίοι Σωκράτην μέν τον σοφιστήν άπεκτείνατε δτι Κριτίαν έφάνη πεπαιδευκώς ένατων τριάκοντα τών τον δήμον καταλυσάντων esquines Contra Timarco 173 INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO I É notória a censura de Platão aos poetas trágicos e cômicos sobretudo na reforma moral e educacional proposta pela per sonagem Sócrates nos Livros π e ui da República e na análise dos efeitos psicológicos da experiência poética no Livro x 1 Quando Platão se refere à antiga querela entre filosofia e poesia παλαιό τις διαφορά φιλοσοφία τε και ποιητική χ 6θ7056 os exem í Nos Livros ii e ui a preocupação precípua de Platão é mostrar como não há na poesia canônica seja em Homero em Hesíodo ou nos poetas trágicos o dis cernimento entre bem e mal justiça e injustiça temperança e intemperança na representação das ações de deuses e heróis Como a educação grega παιδεία se baseava eminentemente na poesia isso teria uma consequência perniciosa do ponto de vista moral pois é essa reprentação que serve de modelo de conduta moral para as ações particulares dos homens Já no Livro x Platão busca primeiro 59536020 fundamentar ontologicamente essa censura de cunho teológicomoral empreendida anteriormente nos Livros 11 e ui definindo a poesia em si como μίμησις enquanto imitação a poesia está três graus afastada do ser 597ε 599a 602c No segundo momento 6o2c6o8b ele analisa os efeitos psicológicos causados pela experiência poética mostrando como a poesia incita na alma humana seus elementos irracio nais as έπιθυμίαι e ο θυμός de modo a obscurecer as prescrições do que a razão compreende como o melhor a se fazer nas situações particulares 20 GÓRGIAS DE PLATÃO pios por ele escolhidos se referem antes a ataques da poesia à filosofia do que da filosofia à poesia como seriam elucidativos por exemplo os casos de Heráclito2 e Xenófanes3 Segundo Halliwell em seu comentário à obra dos quatro exemplos cita dos por Platão os dois primeiros embora de origem incerta são provavelmente oriundos de versos líricos enquanto os ou tros dois da comédia ática que já havia adotado como topos a sátira aos filósofos4 2 Heráclito frs d k 22 B 4 0 B56 e B42 respectivamente i Muita instrução não ensina a ter inteligência pois teria ensinado Hesíodo e depois Pitágoras Xenófanes e Hecateu i πολυμαθίη νόον εχειν ού διδάσκει Ησίοδον γάρ άν έδίδαξε και Πυθαγόρην αύτίς τε Ξενοφάνεά τε και Εκαταϊον ii Estão enganados os homens quanto ao conhecimento das coisas visíveis semelhantes a Homero que tornouse o mais sábio dentre todos os Helenos Pois as crianças matando piolhos enganaramno ao dizer tudo quanto vimos e pegamos dispensamos mas tudo quanto não vimos nem pegamos carregamos ii έξηπάτηνται φησίν οί άνθρωποι προς τήν γνώσιν τών φανερών παραπλησίως Όμήρωι ός έγένετο τών Ελλήνων σοφώτερος πάντων έκεΐνόν τε γάρ παιδες φθείρας κατακτείνοντες έξηπάτησαν είπόντες όσα εϊδομεν καί έλάβομεν ταΟτα άπολείπομεν οσα δε ούτε εϊδομεν οϋτ έλάβομεν ταϋτα φέρομεν iii Homero é digno de ser expulso das competições e de ser açoitado e Arquíloco igualmente iii τόν τε Ομηρον έφασκεν άξιον έκ τών άγώνων έκβάλλεσθαι καί ραπίζεσθαι καί Αρχίλοχον ομοίως 3 Xenófanes frs d k 21 B i i B14 e B15 respectivamente em D LopesXenó fanes Fragmentos p 2225 i Aos deuses Homero e Hesíodo atribuíram tudo o que entre os homens é injurioso e censurável roubar cometer adultério e enganar uns aos outros i πάντα θεοΐσ άνέθηκαν Ομηρός θ Ησίοδός τε όσσα παρ άνθρώποισιν όνείδεα καί ψόγος έστίν κλέπτειν μοιχεύειν τε καί άλλήλους άπατεύειν ii Mas os mortais acham que os deuses foram gerados e que como eles possuem vestes fala e corpo ii άλλ οί βροτοί δοκέουσι γεννάσθαι θεούς τήν σφετέρην δ έσθήτα εχειν φωνήν τε δέμας τε iii Mas se mãos tivessem os bois os cavalos ou os leões ou se com elas desenhassem e obras compusessem como os homens os cavalos desenhariam as formas dos deuses iguais a cavalos e os bois iguais a bois e os corpos fariam tais quais o corpo que cada um deles tem iii άλλ ει χεΐρας έχον βόες ϊπποι τ ήέ λέοντες ή γράψαι χείρεσσι και έργα τελεΐν άπερ άνδρες ίπποι μέν θ ϊπποισι βόες δέ τε βουσίν όμοιας καί κε θεών ιδέας έγραφον και σώματ έποίουν τοιαϋθ οίόν περ καυτοί δέμας είχον έκαστοι 4 S Halliwell Plato Republic 10 ρ 154155 Para uma discussão pormenorizada sobre o assunto ver J Adam The Republic of Plato v 11 p 418419 INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 21 Nesse sentido o caso de Aristófanes é paradigmático na co média As Nuvens apresentada em Atenas pela primeira vez em 423 aC5 Sócrates é representado na cena dependurado num cesto suspenso para observar mais próximo os fenômenos celes tes w 223234 além de ser representado como filósofo da na tureza Sócrates é associado diretamente aos sofistas quando a personagem Estrepsíades diz ao filho que ingressando no pen satório φροντιστήριον v 94 ele poderia aprender o discurso fraco que vence em defesa das causas mais injustas νικάν λέγοντά φασι τάδικώτερα ν 115 Tornar forte ο discurso fraco τόν ήττω λόγον κρείττω ποιων íçbsci como Platão sublinha na Apologia era uma das antigas acusações imputadas a Sócrates a qual atribuíalhe o título de mestre didaskalos6 o mesmo arrogado pelos chamados sofistas Essa expressão se refere precisamente à função proeminente do ensino da retórica no curriculum desses mestres itinerantes embora ele variasse de acordo com os interesses particulares de cada um deles como depreendemos do Protágoras7 Na Apologia Platão atribui a Aris 5 Sobre as duas versões da peça As Nuvens ver J Dover Aristophanes Clouds p lxxxxcviii 6 Platão Apologia 33a5b3 Jamais fui mestre de quem quer que seja Se alguém almejava ouvirme quando falava ou fazia as minhas coisas seja ele jovem ou velho eu jamais o impe dia tampouco dialogo por dinheiro como se sem dinheiro eu não dialogasse mas sem discriminação entre o rico e o pobre estou pronto para interrogálo caso ele queira respondendo as perguntas ouvir o que digo έγώ δέ διδάσκαλος μέν ούδενός πώποτ έγενόμην εί δέ τις μου λέγοντος και τα έμαυτοϋ πράττοντος έπιθυμοί άκούειν είτε νεώτερος είτε πρεσβύτερος οϋδενι πώποτε έφθόνησα ούδέ χρήματα μέν λαμβάνων διαλέγομαι μή λαμβάνων δέ οϋ άλλ ομοίως και πλουσίω και πένητι παρέχω έμαυτόν έρωταν και έάν τις βούληται άποκρινόμενος άκούειν ών αν λέγω Xenofonte recorre a um argumento semelhante nas Memoráveis Além disso Sócrates jamais professou ser mestre disso ie de virtude mas por ser manifesto que tipo de homem era ele fazia com que seus companheiros ti vessem a esperança de imitandoo tornaremse como ele 123 καίτοι γε ούδεπώποτε ύπέσχετο διδάσκαλος είναι τούτου άλλα τφ φανερός είναι τοιοϋτος ών έλπίζειν έποίει τούς συνδιατρίβοντας έαυτώ μιμουμένους έκεϊνον τοιούτους γενήσεσθαι 7 Ver Platão Protágoras 3180531932 Na Retórica Aristóteles atribui tal for mulação a Protágoras como vemos no trecho abaixo 22 GÓRGIAS DE PLATÃO tófanes e em específico à representação de Sócrates na comé dia As Nuvens uma das causas que concorreram decisivamente para a difamação de Sócrates que culminaria enfim com sua condenação à morte8 Mas a relação de Sócrates com a comédia não se restringe ao caso emblemático de Aristófanes Sócrates aparece também como personagem em outras peças da chamada Comédia A n tiga9 contemporâneas às aristofânicas que se conservaram ape nas em fragmentos compostas por Êupolis Frs 386 e 395 ka Amípsias Fr 9 ka Cálias Fr 15 ka e Teleclides Frs 3940 k10 Portanto antes do surgimento do novo gênero literário que Aristóteles alcunhou posteriormente de Σωκρατικοί λόγοι A Arte composta por Córax parte desse tópico se a culpa por um assalto não recair sobre alguém porque é fraco ele escapará da acusação pois é inverossí mil que ele seja culpado e se a culpa recair sobre alguém porque é forte também ele escapará da acusação pois é inverossímil que ele seja culpado na medida em que seria verossímil que ele parecesse ser o culpado E o mesmo vale também para os demais casos pois é necessário que a culpa recaia ou não recaia sobre alguém Ambos os casos então parecem verossímeis mas o primeiro é o verossímil ao passo que o segundo não o é diretamente mas como foi enunciado Isso é tornar forte o discurso fraco e a razão pela qual os homens se indispuseram de modo justo contra o dito de Protágoras pois é uma falsidade e não é verdadeiro porém aparentemente verossímil próprio de nenhuma outra arte senão da retórica e da erística n 140231728 έστι δ έκ τούτου τού τόπου ή Κόρακος τέχνη συγκείμενη αν τε γάρ μή ένοχος ή τή αιτία οϊον ασθενής ών αίκίας φεύγει ού γάρ είκός καν ένοχος ή οίον ισχυρός ών ού γάρ είκός δτι εικός έμελλε δόξειν ομοίως δέ και έπι των άλλων ή γάρ ένοχον ανάγκη ή μή ένοχον είναι τή αιτία φαίνεται μέν ούν άμφότερα είκότα έστι δέ τό μέν είκός τό δέ ούχ απλώς άλλ ώσπερ είρηται καί τό τον ήττω δέ λόγον κρείττω ποιεΐν τούτ έστιν και εντεύθεν δικαίως έδυσχέραινον οί άνθρωποι τό Πρωταγόρου επάγγελμα ψευδός τε γάρ έστιν καί ούκ άληθές άλλά φαινόμενον είκός και έν ούδεμιά τέχνη άλλ ή έν ρητορική και έριστική 8 Platão Apologia I9a8C5 9 Μ Silk Aristophanes and the Definition ofComedy p 67 Comédia An tiga é um termo antigo mas impreciso que cobre grosso modo o drama cômico do séc v aC e mais especiflcamente a produção cômica dos oitenta e poucos anos a partir da institucionalização da comédia em Atenas tradicionalmente datada em 486 até o fim da guerra do Peloponeso 404 As últimas duas das onze peças con servadas de Aristófanes estão fora desse período As primeiras nove de Os Acar nenses 425 até As Rãs 405 pertencem ao final daquela fase assim como as suas primeiras peças perdidas 4276 10 Ver R Brock Plato and Comedy em E M Craik org Owls to Athens p 40 INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 23 Sõkratikoi logoij11 antes de Sócrates ser construído por Platão como a figura do filósofo por excelência nos diálogos Sócrates comparecia com certa frequência nos palcos dos teatros como alvo de sátiras dos poetas cômicos de sua época uma perso nagem cômica antes de tudo Veremos na sequência da argu mentação como esse elemento cômico também está presente na representação platônica da figura de Sócrates Mas o outro lado daquela querela entre filosofia e poesia aludida por Platão ou seja os ataques da filosofia à poesia também é referido em contrapartida por Aristófanes em sua comédia As Rãs encenada em Atenas em 405 aC Nela o Coro da peça zomba da aversão de Sócrates à tragédia Agradável não é tagarelar sentado ao lado de Sócrates desprezando a poesia e recusando os cânones da arte trágica Gastar o tempo ocioso com discursos solenes e subterfúgios fúteis é coisa de gente desvairada w 14919 Χαρίεν ούν μή Σωκράτει παρακαθήμενον λαλεΐν άποβαλόντα μουσικήν τά τε μέγιστα παραλιπόντα τής τραγωδικής τέχνης Το δ έπι σεμνοΐσιν λόγοισι και σκαριφησμοΐσι λήρων li Aristóteles Poética I447b9 i 3 Pois não possuímos uma denominação comum para os mimos de Sófron e Xenarco e para os discursos socráticos tampouco quando a imitação é feita me diante trímetros versos elegíacos ou outros versos semelhantes ούδέν γάρ ãv εχοιμεν όνομάσαι κοινόν τούς Σώφρονος καί Ξενάρχου μίμους καί τούς Σωκρατικούς λόγους οϋδε εϊ τις διά τρίμετρων ή ελεγείων ή τών άλλων τινών τών τοιούτων ποιοΐτο τήν μίμησιν 24 GÓRGIAS DE PLATÃO ÔiaxpiPrv àpyòv noelcrBai TtapatppovoüvToc ctvôpóc Não apenas Sócrates mas também Platão e a Academia fo ram alvos das sátiras da chamada Comédia Média12 Segundo R Brock nos exíguos fragmentos conservados desses autores do séc iv aC os Acadêmicos são representados como homens de vulto elegante Antífanes Fr 33K Efipo Fr 14 ka e distintos pelas belas barbas Adespota Papyracea Fr 796 k Além desses elementos aá hominem as teorias platônicas não raras vezes aparecem também como motivo de sátira a imortalidade da alma Alexis Fr 152 cf Ânfis Fr 6 k a dificuldade de definir unidades Teopompo Fr 15 K cf Fédon 96e a diferença entre crença e conhecimento Cratino Jun Fr 10 ka a técnica da divisão õiatpeaiçj Epícrates Fr 10 ka e um de seus livros Ofélion Fr 3 k Outros fragmentos se referem ao hábito de Platão andar de um lado a outro Alexis Fr 147 k às suas ana logias simples Alexis Fr 1 k e às suas peculiaridades pessoais Anaxândrides Fr 19 k13 Assim como seu mestre Sócrates Platão também vivenciou pessoalmente essa contenda entre poesia e filosofia e seu ataque aos poetas na República ora cen trada na figura de Homero e Hesíodo ora na dos trágicos14 é certamente apenas um dos lados da questão 12 M Silk op cit p 1011 À época da morte de Alexandre em 323 aC um século depois das disputas de Aristófanes com Cléon uma reorientação cultural drástica aconteceu e todas as características distintivas da Comédia Antiga se per deram A Nova Comédia a comédia dos costumes de Menandro rejeita dentre inúmeras outras coisas a esfera pública e o interesse pelo particular a variedade discursiva e a imprevisibilidade exuberante o agõn e a parábase e o uso tradicional do coro o coro é agora tirado da ação e restrito ao interlúdio Esses desdobramen tos falando em linhas gerais começam no período tradicional convencional mente denominado Comédia Média ao qual as duas últimas peças conservadas de Aristófanes Mulheres na Assembleia e Pluto claramente pertencem as evidências acerca de suas últimas peças são ainda mais reveladoras 13 Ver R Brock op cit p 41 14 Platão República x 595b3C3 Cá entre nós pois não haveis de me denunciar aos poetas trágicos e a todos os outros imitadores todas as coisas dessa natureza parecem ser a mutilação da INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 25 Todavia a despeito dos argumentos que Platão apresenta em sua obra para justificar sua censura ao teatro em específico e à poesia como um todo sejam eles éticopolíticos Livros n e in da República ou ontológicos e psicológicos Livro x há indubi tavelmente nos diálogos platônicos enquanto gênero híbrido15 elementos comuns à tragédia e à comédial6 Se aplicássemos os preceitos de sua teoria poética à sua própria obra tal como II inteligência dos ouvintes de quantos não possuem como antídoto o conhecimento do que essas coisas realmente são Ό que tens em mente perguntou para falares assim Devo contálo respondi ainda que certa afeição e respeito que tenho desde a infância por Homero impeçamme de falar Pois ele parece ter sido o pri meiro mestre e guia de todos esses belos poetas trágicos Contudo não se deve honrar um homem acima da verdade mas como observei devo contálo Ως μέν προς ύμάς εϊρήσθαιού γάρ μου κατερείτε προς τούς τής τραγωδίας ποιητάς και τούς άλλους άπαντας τούς μιμητικούςλώβη έοικεν είναι πάντα τα τοιαΰτα τής τών άκουόντων διανοίας οσοι μή εχουσι φάρμακον το είδέναι αυτά οία τυγχάνει όντα Πή δή έφη διανοούμενος λέγεις Ρητέον ήν δ έγώ καίτοι φιλία γέ τις με και αιδώς έκ παιδός έχουσα περί Ομήρου άποκωλύει λέγειν έοικε μέν γάρ τών καλών απάντων τούτων τών τραγικών πρώτος διδάσκαλός τε και ήγεμών γενέσθαι άλλ ού γάρ πρό γε τής αλήθειας τιμητέος άνήρ άλλ õ λέγω ρητέον 15 A Nightingale Genres in Dialogue p 3 Se os gêneros não são simples mente formas artísticas mas formas de pensamento cada um deles está apto a re presentar e conceitualizar certos aspectos da experiência melhor do que os outros dessa forma um encontro entre dois gêneros em um único texto é em si mesmo uma espécie de diálogo Um diálogo desse tipo de fato pode se dar em um âmbito extremamente vasto compreendendo ética política e epistemologia bem como lin guagem e literatura Quando Platão incorpora o texto ou discurso de outro gênero no diálogo filosófico ele prepara uma cena na qual o gênero tanto fala quanto é falado é esse diálogo intergenérico que eu quero investigar neste livro 16 Sobre a constituição do gênero dialógico e a sua relação com os outros gêneros ver R Brock op cit R Blondell The Play of Character in Playos Dialo gues D Clay The Origins of the Socratic Dialogue em P A V Waerdt org The Socratic Movement R Desjardins Why Dialogues Platos Serious Play em C L Griswold org Platonic Writings Platonic Readings M Frede Platos Arguments and the Dialogue Form em J Annas ed Oxford Studies in Ancient Philosophy C Griswold Style and Dialogue The Case of Platos Dialogue The Monist J Laborde rie he Dialogue Platonicien de la Maturité A Levi Philosophy as Literature The Dialogue Philosophy and Rethoric P Lima Platão Uma Poética Para a Filosofia A Nightingale op cit R Rutherford The Art of Plato 26 GÓRGIAS DE PLATÃO apresentada no Livro in da República os diálogos platônicos seriam assim como a tragédia e a comédia miméticos no sen tido estrito da palavra ou seja o diálogo é constituído de per sonagens que falam em primeira pessoa independentemente de haver um narrador ou duas personagens que abrem o diá logo e reportam uma antiga discussão de Sócrates pois Platão nunca aparece como personagem tampouco como narrador ao contrário de Xenofonte nas Memoráveis por exemplo17 Esse elemento mimético constituinte do gênero dialógico aproxima intrinsecamente então o diálogo da comédia e da tragédia e a vívida figuração das personagens bem como os agõnes entre elas o Górgias é um exemplo claro disso fazem da obra de Pla tão uma teatralização dialógica para usar a expressão empre gada por M Vegetti8jTalvez esses elementos comuns a ambos os gêneros expliquem porque Trasilo no séc i dC propôs a divisão do corpus platonicum em tetralogias à semelhança dos poetas trágicos que concorriam aos prêmios dos festivais com três tragédias e um drama satírico19 Essa relação com o teatro não se dá apenas do ponto de vista da constituição do gênero dialógico mas aparece de certo modo também aludida nas diversas histórias e anedotas conservadas pela doxografia sobre Sócrates e Platão em especial pela obra de Diógenes Laércio Em relação a Sócrates o que ele nos reporta 17 Platão República ui 394b8c6 Compreendeste corretamente disse eu e creio que já está claro o que antes fui incapaz de te mostrar uma parte da poesia e da mitologia é inteiramente mimética a qual como dizes tu compreende a tragédia e a comédia outra parte é aquela narrada pelo próprio poeta e hás de encontrála sobretudo nos ditirambos e a terceira por sua vez consiste na mistura de ambas como é a poesia épica e ou tras formas diversas se me entendes Sim compreendo disse ele o que outrora querias dizer Ορθότατα εφην ύπέλαβες καιοιμαί σοι ήδη δηλοϋν õ έμπροσθεν ούχοίός τ ή ότι τής ποιήσεώς τε και μυθολογίας ή μεν διά μιμήσεως ολη έστίν ώσπερ σύ λέγεις τραγωδία τε και κωμωδία ή δέ δι απαγγελίας αύτοϋ του ποιητοϋεΰροις δ αν αυτήν μάλιστα που έν διθυράμβοις ή δ αύ δι άμφοτέρων εν τε τή τών επών ποιήσει πολλαχοϋ δέ και άλλοθι εϊ μοι μανθάνεις Ά λ λ α συνίημι έφη ô τότε έβούλου λέγειν ι8 Μ Vegetti Quindici lezioni su Platone p 61 19 Diógenes Laércio Vitae Phüosophorum 356 INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 27 são algumas referências da comédia satirizando a relação íntima de Sócrates com o tragediógrafo Eurípides como vemos nesses fragmentos da chamada Comédia Antiga 218 Parecia que Sócrates ajudava Eurípides em suas composições por isso Mnesíloco diz o seguinte Os Frígios são o novo drama de Eurípides no qual também Sócrates mete lenha e diz também as socráticas emendas euripidianas10 E Cálias em Os Prisioneiros A Mas por que tu és assim tão altiva B Porque me é lícito Sócrates é o culpado E Aristófanes em As Nuvens É ele que compõe para Eurípides as sábias tragédias cheias de tagarelice11 έδόκει δέ συμποιεΐν Ευριπίδη οθεν Μνησίλοχος οΰτω φησί Kock i 218 Φρύγες έστι καινόν δράμα τοΰτ Εύριπίδου φ και Σωκράτης τα φρύγαν ύποτίθησι και πάλιν Kock i 218 Εύριπίδας σωκρατογόμφους και Καλλίας Πεδήταις Kock i 696 A Τί δή σύ σεμνή και φρονείς οΰτω μεγα Β Έξεστι γάρ μοι Σωκράτης γάρ αίτιος Αριστοφάνης Νεφέλαις Kock i 490 Ευριπίδη δ ό τάς τραγωδίας ποιων τάς περιλαλούσας ούτός έστι τάς σοφάς 20 21 2 20 Teleclides frs 41 e 42 apud R Kassel C Austin ed Poetae Comici Graeci p c g BerlinNew York De Gruyter 1989 21 Cálias fr 15 apud R Kassel C Austin ed Poetae Comici Graeci p c g BerlinNew York De Gruyter 1983 22 Aristófanes As Nuvens primeira versão fr 392 apud R Kassel C Austin ed Poetae Comici Graeci p c g BerlinNew York De Gruyter 1984 28 GÓRGIAS DE PLATÃO Em relação a Platão por sua vez esses elementos comuns entre o diálogo e o teatro são provavelmente a referência de fundo da célebre anedota referida por Diógenes Laércio sobre a sua carreira como tragediógrafo Segundo ele 35 Platão praticava filosofia a princípio na Academia e posterior mente no jardim próximo a Colono como diz Alexandre em As Suces sões dos Filósofos sob a influência de Heráclito Depois porém quando estava prestes a ingressar na competição de tragédias diante do teatro de Dioniso deu ouvidos a Sócrates e ateou fogo a seus poemas dizendo Hefesto avançate Platão agora precisa de ti Έφιλοσόφει δέ τήν άρχήν έν Ακαδημεία ειτα έν τώ κήπω τώ παρά τον Κολωνόν ώς φησιν Αλέξανδρος έν Διαδοχαις FGm 273 F 89 καθ Ηράκλειτον έπειτα μέντοι μέλλων άγωνιείσθαι τραγωδία προ τού Διονυσιακού θεάτρου Σωκράτους άκούσας κατέφλεξε τά ποιήματα είπών Ηφαιστε πρόμολ ώδε Πλάτων νύ τι σειο χατίζει Ο mesmo tipo de anedota também é conservado por Olim piodoro em seu comentário sobre o Alcibíades Primeiro mas a respeito da relação de Platão com a comédia 265693 Platão se deleitava bastante com Aristófanes o poeta cômico e com Sófron cuja imitação das personagens nos diálogos lhe foi provei tosa Dizem que ele se deleitava tanto com eles que quando morreu foram encontradas em seu leito obras de Aristófanes e Sófron έχαιρεν δέ πάνυ και Άριστοφάνει τώ κωμικώ και Σώφρονι παρ ών και τήν μίμησιν τών προσώπων έν τοΐς διαλόγοις ώφελήθη λέγεται δέ οΰτως αύτοίς χαίρειν ώστε και ήνίκα έτελεύτησεν εύρεθήναι έν τή κλίνη αύτοΰ Αριστοφάνη και Σώφρονα 23 23 Quintiliano Institutionis Oratoriae 11017 Sófron um autor de mimos mas que agradou Platão a tal ponto que acre ditase que quando de sua morte ele tivesse sua cabeça apoiada sobre os livros dele Sophron mimorum quidem scriptor sed quem Plato adeo probauit ut sup positos capiti libros eius cum moreretur habuisse credatur INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 29 Embora saibamos que a historicidade desse tipo de teste munho é incerta tais anedotas fazem certo sentido quando levamos em consideração justamente os elementos dramáticos do gênero dialógico24 Assim a construção dos caracteres èthê das personagens se configura como um aspecto proeminente dos diálogos platônicos o conteúdo filosófico dos argumentos é apresentado por meio delas em especial Sócrates o grande protagonista de sua obra os argumentos sustentados por cada tipo de personagem não são postos à revelia por Platão mas são meios de expressão de certa disposição de caráter que se revela paulatinamente na dinâmica dialógica O contraste en tre os êthê de Sócrates e Cálicles no Górgias é um exemplo de como Platão ao compor o diálogo enfatiza esse elemento dra mático do gênero não se trata apenas de argumentos mas de argumentos sustentados por tal ou tal tipo de personagem que possui por sua vez tal ou tal disposição de caráter25 A impor tância do caráter êthos das personagens na constituição do gênero é também sublinhada por Diógenes Laérico quando ele apresenta a sua definição de diálogo διάλογος O diálogo é um discurso constituído de perguntas e respostas a res peito de algum tema filosófico ou político acompanhado da composição adequada dos caracteres das personagens escolhidas e da construção da elocução 348 εστι δέ διάλογος λόγος έξ έρωτήσεως και άποκρίσεως συγκείμενος περί τίνος τών φιλοσοφουμένων και πολιτικών μετά τής πρεπούσης ηθοποιίας τών παραλαμβανομένων προσώπων και τής κατά τήν λέξιν κατασκευής 24 R Blondell op cit p 15 Esse trecho DL 35 nos fala sucintamente da suposta importância da tragédia na formação intelectual de Platão e de seu po tencial como dramaturgo bem como de seu posicionamento crítico com relação ao gênero e à incompatibilidade potencial entre tragédia e filosofia Esse trecho nos fala que os diálogos são em certo sentido o substituto do drama mas que eles são tam bém radicalmente diferentes E sugere que a filosofia emerge das cinzas da poesia 25 Sobre as partes constituintes da tragédia dentre as quais os êthé ver Aris tóteles Poética i45oa7io 30 GÚRGIAS DE PLATÃO III Embora o elemento mimético aproxime formalmente o diá logo da tragédia e da comédia há diferenças cruciais entre esses gêneros além do fato de um ser discurso em prosa e os ou tros dois discursos em verso R Kraut sintetiza em seu artigo Introduction to the Study of Plato os aspectos extrínsecos que distinguem o diálogo da tragédia e da comédia Vejamos o trecho Mas a comparação entre os diálogos de Platão e as obras dramáticas é enganosa de várias maneiras a despeito do fato de que em cada gênero há um diálogo entre duas ou mais personagens Para começar com o que é mais óbvio as obras de Platão não foram escritas para participar de competições e ser encenadas em festivais religiosos cívicos como eram as peças trágicas e cômicas gregas Platão não atribui palavras às suas perso nagens a fim de ganhar uma competição ou de compor uma obra para ser considerada bela ou emocionalmente satisfatória pelos jurados oficiais ou por uma imensa audiência O dramaturgo tem esse intuito e se convém ao seu propósito fazer com que suas principais personagens expressem opiniões diferentes das dele próprio ele então o fará Mas se o intuito de Platão ao escrever é criar um instrumento que pode se corretamente usado guiar outras pessoas para a verdade e para o melhoramento de suas almas então pode servir a tal escopo criar uma personagem central que represente as convicções sinceras do próprio Platão O ponto é que se o intuito de Platão difere daquele dos dramaturgos então ele terá uma razão que escapa ao dramaturgo para usar suas personagens centrais como portavozes de suas próprias convicções p 25 Mas apesar de Sócrates ser certamente o grande protagonista da obra platônica de ser o portavoz nos diálogos intermediá rios das teorias e doutrinas desenvolvidas por Platão de ser a imagem do filósofo por excelência quer como modelo de virtude quer como modelo de argumentador arguto isso não implica ne cessariamente a identidade entre Platão e Sócrates A despeito da prevalência das posições sustentadas por Sócrates nos diálogos platônicos Platão também fala por meio das demais personagens INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 31 ile modo que em determinados contextos dialógicos as críticas a certos aspectos da estratégia argumentativa de Sócrates ou ao seu comportamento dúbio na discussão como fazem por exemplo Polo e Cálicles no Górgias 4óibc 482c483a também podem ser compreendidas dada a natureza do gênero dialógico como críticas do próprio Platão à forma como Sócrates conduz o elen chos A relação de Platão com a personagem longe de ser uma relação simples e direta é um aspecto extremamente problemá tico e complexo para o estudioso da filosofia platônica visto que Platão não fala em primeira pessoa6 Em seu estudo sobre o diálogo Górgias Socrates and Plato in Platos Górgias J Cooper busca demonstrar como Platão apre senta por meio da personagem Cálicles e não da de Sócrates conteúdos filosóficos relevantes concernentes a problemas de psi cologia moral a saber as diversas fontes da motivação humana além dos juízos determinados pela razão e por conseguinte a possibilidade do conflito interno à alma Sócrates defensor de uma psicologia moral fortemente racionalista que pode ser sin tetizada pela máxima de que o conhecimento é condição suficiente para a virtude26 27 não contempla esses problemas levantados por Cálicles quando caracteriza o homem temperante em contraste com o intemperante Em resumo Cooper defende a tese de que Platão apresenta no Górgias por meio da personagem Cálicles o problema do conflito interno à alma entre seus diversos elemen tos na perspectiva de Cálicles os três elementos da alma seriam a 26 Platão jamais aparece como personagem nos diálogos referindo a si mesmo apenas duas vez em toda a sua obra na Apologia quando Sócrates enumera seus amigos presentes no tribunal 34ai e no Fédon quando é justificada a sua ausência no cárcere momentos antes da morte de Sócrates por motivo de doença 59bio 27 Aristóteles considera essa tese defendida pela personagem Sócrates nos primeiros diálogos de Platão como genuinamente socrática como vemos neste I recho da Ética Eudêmia Sócrates julgava que o conhecimento era todas as virtudes de modo que sucedia ao mesmo tempo conhecer a justiça e ser justo tão logo tenhamos aprendido a geometria e arquitetura também somos arquitetos e geômetras i2i6b6io έπιστήμας γάρ ψετ είναι πάσας τάς άρετάς ώσθ άμα συμβαίνειν είδέναι τε ιήν δικαιοσύνην και είναι δίκαιον άμα μεν γάρ μεμαθήκαμεν τήν γεωμετρίαν και οίκοδομίαν και έσμεν οικοδόμοι καί γεωμέτραι 32 GÓRGIAS DE PLATÃO inteligência φρόνησις a coragem άνδρεία e os apetites έπιθυμίαι cf 49ie492a problema que virá a ser discutido em sua complé tude no Livro iv da RepúblicalS quando Platão expõe a sua teoria da alma tripartida το λογιστικόν το θυμοειδές το έπιθυμητικόν Sócrates por sua vez embora segundo Cooper se mostre ciente dos problemas implicados na perspectiva de Cálicles29 não os en frenta diretamente na medida em que segundo a sua máxima mo ral não há a possibilidade do conflito interno à alma a perspectiva socrática então não contemplaria o fenômeno da incontinência άκρασία de que o homem compreendendo os motivos para agir de tal ou tal maneira aja contrariamente aos desígnios da razão30 pois os homens agiriam ou por conhecimento ou por ignorância Analisarei com mais acuidade a tese de Cooper em outro tópico 28 J Cooper Sócrates and Plato in Gorgias p 66 29 Idem p 678 Avaliando os prós e os contras dessas proposições ele não diz absolutamente nada sobre os outros aspectos da concepção de Cálicles a respeito do melhor modo de vida em que Cálicles fala de coragem ou bravura como também necessária para sobrepujar qualquer impulso remanescente de medo ou repulsa que obstrua a satisfação dos apetites E Sócrates não incorpora em seu argumento sobre a vida ordenada nenhum aspecto correspondente requerido para sobrepujar qualquer apetite inapropriado Ele parece claramente ciente desses aspectos da visão de Cálicles e da implicação de que há desejos ou impulsos que agem na alma humana além daqueles que pertencem aos julgamentos racionais das pessoas sobre o que fazer Esses aspectos da visão de Cálicles reaparecem na história dos jarros e dos crivos que Sócrates conta imediatamente para se contrapor a Cálicles Como vimos Sócrates atenta para o fato de que Cálicles considera inteligência φρόνησις e coragem άνδρεία como duas coisas totalmente distintas segundo ponto em que a visão de Cálicles diverge bruscamente da sua própria como nós a conhecemos de outros diálogos Mas Sócrates prefere dei xar esses desacordos inexplorados Os argumentos que ele oferece para refutar Cálicles atacam outros pontos fracos como ele os entende das visões de Cálicles 30 Aristóteles Ética Nicomaqueia vn 11450217 Alguém poderia colocar o problema como uma pessoa tendo uma com preensão correta pode agir incontinentemente Alguns dizem que isso é impossí vel uma vez tendo o conhecimento pois havendo o conhecimento como julgava Sócrates seria espantoso que outra coisa o dominasse e o arrancasse de seu curso tal como a um escravo Pois Sócrates combatia totalmente esse argumento como se não houvesse a incontinência pois ninguém compreendendo as razões agiria contrariamente ao que é o melhor mas sim por causa da ignorância Άπορήσειε δ αν τις πώς ύπολαμβάνων όρθώς άκρατεύεταί τις έπιστάμενον μέν ούν οϋ φασί τινες οίόν τε είναι δεινόν γάρ έπιστήμης ένούσης ώς ωετο Σωκράτης άλλο τι κρατεΐν καί περιέλκειν αύτήν ώσπερ άνδράποδον Σωκράτης μέν γάρ ολως έμάχετο προς τον λόγον ώς ούκ οΰσης άκρασίας ούθένα γάρ ύπολαμβάνοντα πράττειν παρά τό βέλτιστον άλλα δι άγνοιαν INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 33 deste capítulo pois ela será importante na análise das causas e con sequências da ineficácia persuasiva do discurso socrático quando diante de um argumentador recalcitrante como Cálicles no mo mento bastanos a sua reflexão sobre a importância dos elementos do gênero dialógico para a compreensão adequada dos temas filo sóficos apresentados por Platão não apenas por meio de Sócrates mas também das demais personagens Vejamos o trecho em que Cooper sintetiza esse preceito metodológico No final então o Górgias e seu autor estão falando aos leitores que um trabalho filosófico muito maior precisa ser realizado antes de que a defesa socrática da vida moral como a melhor para qualquer pessoa possa estar efetivamente completa Nós temos claras indicações sobre onde um trabalho maior precisa ser realizado sobre a questão de se há desejos e impulsos humanos na ação que não derivam em última instância das ideias das pessoas sobre o que seria bom para elas fazerem sobre a ques tão da unidade da virtude sobre a análise do prazer e sua relação com o bem e sobretudo sobre o conteúdo do conhecimento moral sua relação com as outras virtudes humanas e a comparação entre tal conhecimento e o conhecimento técnico como aquele da medicina ou da construção naval O diálogo e Platão como seu autor não estão se comunicando com o leitor a respeito de questões filosóficas apenas por meio das palavras de seu protagonista Sócrates mas também e de forma independente por meio das palavras de seus interlocutores e por meio da interseção entre o que é dito por ambas as partes p 74 Portanto preservadas as diferenças de gênero entre o diálogo e o teatro a construção dos êthê das personagens se apresenta como um elemento de extrema relevância para a interpretação geral dos diálogos31 em especial dos primeiros diálogos nos quais os aspectos dramáticos são proeminentes e os embates entre 31 R Blondell op cit p 2 Forma e conteúdo estão além disso reciprocamente relacionados devido à preocupação de Platão com os efeitos da caracterização literária sobre o caráter moral de uma audiência A própria manipulação de suas personagens dramáticas cruza de forma única com questões de filosofia moral forma literária tradição cultural e método filosófico e pedagógico Ela se integra tanto à iniciativa de representar a comunicação humana num diálogo falado quanto à investigação fi losófica sobre o melhor modo de vida e comportamento humanos 34 GÕRGIAS DE PLATÃO Sócrates e seus interlocutores de contorno agonístico sobretudo quando se trata do confronto de Sócrates com os sofistas Tal vez a ênfase dada por Platão à caracterização das personagens reflita precisamente a sua compreensão dos mecanismos de se dução ou fascínio do discurso poético referidos geralmente pelos termos κήλησις ou γοητεία e seus derivados32 que para ele pareciam extremamente perniciosos do ponto de vista moral como discutido na República Nessa interface com a tragédia e a comédia Platão emprega então esses mesmos mecanismos de sedução através do logos em vista do estabelecimento de um novo discurso para a filosofia o diálogo No Livro x da Repú blica o autor delineia o problema moral envolvido na experiência poética nos seguintes termos E os apetites sexuais a ira e todos os apetites dolorosos e aprazíveis da alma que afirmamos acompanhar todas as nossas ações são coisas dessa natureza que a imitação poética nos provoca pois ela as nutre irrigandoas quando devia secálas e as impõe como nossos comandan tes quando deviam ser elas mesmas comandadas para nos tornarmos melhores e mais felizes ao invés de piores e mais miseráveis Não poderia dizer de outro modo disse ele 6o6di8 32 Platão República x 6oia4b4 Dessa maneira então também afirmaremos julgo eu que o poeta utiliza algumas cores para colorir cada uma das artes com frases e palavras sem nada sa ber a não ser imitar de tal maneira que pareça saber para quem quer que julgue a partir de seus discursos se alguém falar a respeito do ofício do sapateiro em me tro em ritmo e em harmonia parecerá ter dito muito bem seja sobre o comando militar seja sobre qualquer outra coisa assim por natureza essas mesmas coisas possuem enorme fascínio Uma vez desnudados os ditos poéticos das cores de sua música pronunciados sozinhos em si mesmos penso que tu conhecerás como eles se manifestam Οϋτω δή οίμαι και τον ποιητικόν φήσομεν χρώματα άττα έκαστων τών τεχνών τοΐς όνόμασι και ρήμασιν έπιχρωματίζειν αυτόν ούκ έπαΐοντα άλλ ή μιμεισθαι ώστε έτέροις τοιούτοις έκ τών λόγων θεωροΰσι δοκειν έάντε περι σκυτοτομίας τις λέγη έν μετρώ και ρυθμώ και αρμονία πάνυ εύ δοκειν λέγεσθαι έάντε περί στρατηγίας έάντε περι άλλου ότουοϋν οϋτω φύσει αύτά ταϋτα μεγάλην τινά κήλησιν έχειν έπει γυμνωθέντα γε τών της μουσικής χρωμάτων τα τών ποιητών αύτά έφ αυτών λεγάμενα οίμαί σε είδέναι οία φαίνεται Sobre ο fascínio do discurso retóricopoético ver G Casertano VEterna malattia dei discorso e J Romilly Magic and Rhetoric in Ancient Greece INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 35 Και περι αφροδισίων δή και θυμού καί περί πάντων τών έπιθυμητικών τε και λυπηρών και ήδέων έν τη ψυχή ά δή φαμεν πάση πράξει ήμΐν έπεσθαι δτι τοιαΰτα ημάς ή ποιητική μίμησις εργάζεται τρέφει γάρ ταϋτα άρδουσα δέον αύχμεϊν και άρχοντα ήμΐν καθίστησιν δέον άρχεσθαι αύτά ϊνα βελτίους τε και εύδαιμονέστεροι άντί χειρόνων και άθλιωτέρων γιγνώμεθα Ούκ εχω άλλως φάναι ή δ ος Servindose dos princípios de sua psicologia moral apresen tada no Livro iv a tripartição da alma Platão precisa aqui os efeitos funestos da experiência poética na alma do espectador eou ouvinte a poesia fortalece os seus elementos irracionais a saber a ira θυμός e os apetites έπιθυμίαι obscurecendo as prescrições da razão quando deveria ser ela a controlar esses impulsos para o homem ser virtuoso e feliz Nessa perspectiva a poesia seria promotora do conflito interno à alma entre os elementos irracionais que compreendem os thumoeidéticos e os apetitivos e a razão τό λογιστικόν conduzindo o homem a ações imorais e por conseguinte à infelicidade Como sabemos Platão se refere à poesia em si e não a um gênero poético específico quando examina o estatuto ontoló gico e os efeitos psicológicos da poesia no Livro x definindoa pelo termo mimêsis imitação no sentido lato do termo Mas do ponto de vista das formas do discurso poético tratadas no Livro ui Platão ressalta ainda um aspecto peculiar da poesia mimética entendida aqui em seu sentido estrito ie quando o discurso se dá em i â pessoa33 Nessa crítica à imitação dramática cujo en foque é precisamente a tragédia e a comédia34 Platão salienta o problema moral envolvido na identificação entre aquele que imita e o modelo imitado depois de ter mostrado por uma série de referências intertextuais justamente a ausência de discerni mento entre bem e mal entre justo e injusto entre temperança e intemperança na poesia a imitação de modelos moralmente 33 Platão República ui 394b8c6 34 Idem 394d395a 36 GÕRGIAS DE PLATÃO censuráveis induziria os homens a agirem de forma semelhante em ocasiões particulares e por isso tais modelos deveriam ser absolutamente evitados Vejamos o trecho em que esse pro blema concernente à mimêsis em sentido estrito é sintetizado pela personagem Sócrates Se portanto preservarmos o argumento prévio de que os nossos guardiães uma vez afastados de todos os demais artífices devem ser os artífices da liberdade da cidade muito precisos em seu ofício e sem se ocupar com aquilo que não os conduza a tal fim então eles não de veriam fazer outra coisa nem imitála Mas se imitarem eles deveriam imitar aquilo que lhes convém desde a infância ou seja homens corajo sos temperantes pios livres e todas as outras qualidades semelhantes ao passo que coisas desprovidas de liberdade ou qualquer outra coisa vergonhosa não deveriam fazêlas tampouco serem hábeis em imitá las a fim de que a partir da imitação não tomem gosto de ser o que imitam Ou não percebeste que as imitações quando se prolongam da infância até muito tempo depois fixamse nos hábitos e na natureza seja no corpo na voz ou no pensamento Com certeza disse ele spjbSdq Ei άρα τον πρώτον λόγον διασώσομεν τούς φύλακας ήμϊν τών άλλων πασών δημιουργιών άφειμένους δείν είναι δημιουργούς έλευθερίας τής πόλεως πάνυ άκριβεΐς και μηδέν άλλο έπιτηδεύειν δτι μη εις τούτο φέρει ούδέν δή δέοι άν αυτούς άλλο πράττειν ούδέ μιμείσθαι εάν δέ μιμώνται μιμείσθαι τά τούτοις προσήκοντα εύθύς έκ παίδων άνδρείους σώφρονας όσιους έλευθέρους και τά τοιαΰτα πάντα τά δε άνελεύθερα μήτε ποιεϊν μήτε δεινούς είναι μιμήσασθαι μηδε άλλο μηδέν τών αισχρών ϊνα μή έκ τής μιμήσεως τού είναι άπολαύσωσιν ή ούκ ήσθησαι δτι αί μιμήσεις έάν έκ νέων πόρρω διατελέσωσιν εις εθη τε και φύσιν καθίστανται και κατά σώμα και φωνάς και κατά την διάνοιαν Και μάλα ή δ δς Embora Platão centre a argumentação no perigo moral da imitação ele contudo ainda admite a possibilidade δέοι άν 395C2 de que os guardiães da cidade ideal imitem mode los de conduta moral virtuosos homens corajosos tempe INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 37 rantes pios livres e todas as outras qualidades semelhantes ανδρείους σώφρονας οσίους έλευθέρους και τά τοιαΰτα πάντα 395C45 dada a ausência desse tipo de modelo na re presentação dos heróis na poesia tradicional justificarseia aquela depuração e a expulsão dos poetas canônicos da ci dade ideal propostas pela personagem Sócrates no Livros n m e x da República Nesse sentido se interpretarmos do ponto de vista metapoético essa reflexão de Platão sobre a função positiva da imitação condicionada a um novo modelo de educação παιδεία então ele apresentaria ao leitor a razão de o gênero dialógico ser o modo de discurso apropriado à filosofia Pois assim como deuses e heróis são imitados na tragédia pelos atores e servem como modelo de conduta moral a ser imitado pelos espectadores em ações particulares de onde procede o problema moral envolvido na experiência poética quando não há discernimento entre bem e mal também Sócrates é repre sentado enquanto protagonista dos diálogos platônicos como modelo de homem virtuoso a ser imitado pelos membros da Academia eou pelos seus leitores35 Na Apologia Platão salienta precisamente como o comportamento crítico de Sócrates ao submeter os pretensos sábios ao elenchos induzia os jovens que admiravamno a imitálo Além do mais os jovens sobretudo os que dispõem de ócio mem bros das mais abastadas famílias que me acompanham por conta pró pria deleitamse quando ouvem os homens sendo examinados e eles próprios não raras vezes passam a me imitar e buscam assim exami nar os outros 23C25 35 M Erler La Felicità delle Api p 3 A imagem do filósofo Sócrates no Fédon é construída do ponto de vista literário seguindo as indicações dadas por Platão para uma tragédia filosófica que seja admissível na kallipolis 3876 605c Por meio de seu comportamento Sócrates oferece uma ilustração uma imagem um verdadeiro filósofo não se limita a argumentar através do raciocínio puro com base no destinatário e em vista do resultado Ele também possui o pleno controle de suas paixões estando também estas submetidas ao logos e sob qualquer aspecto ele renuncia a expressões e comportamentos que visem a compaixão dos ouvintes e amigos que possam estimulálos ou até mesmo exarcebálos 38 GÓRGIAS DE PLATÃO Προς δέ τούτοις oi νέοι μοι έπακολουθοΰντεςοίς μάλιστα σχολή έστιν οί τών πλουσιωτάτωναϋτόματοι χαίρουσιν άκούοντες εξεταζόμενων τών άνθρώπων και αύτοι πολλάκις έμέ μιμούνται εΐτα έπιχειρούσιν άλλους έξετάζειν Embora ο Sócrates de Xenofonte nas Memoráveis seja em diversos pontos diferente da personagem homônima repre sentada por Platão nos primeiros diálogos o autor também ressalta como Sócrates servia de modelo de conduta moral a ser imitado pelos seus companheiros τούς συνδιατρίβοντας como fica evidente nesta passagem do texto Além disso Sócrates jamais professou ser mestre disso ie de vir tude mas por ser manifesto que tipo de homem era ele fazia com que seus companheiros tivessem a esperança de imitandoo tornaremse como ele 123 καίτοι γε ούδεπώποτε ύπέσχετο διδάσκαλος είναι τούτου άλλά τώ φανερός είναι τοιοΰτος ών έλπίζειν έποίει τούς συνδιατρίβοντας έαυτώ μιμούμενους έκεϊνον τοιούτους γενήσεσθαι Portanto tendo em vista o problema moral e psicológico en volvido no processo de imitação dramática o que mais pode ríamos dizer dos próprios diálogos platônicos em especial dos primeiros diálogos nessa perspectiva metapoética7 Platão assim como na tragédia e na comédia não representa também persona gens cujo caráter êthos certamente não serviria de modelo a ser imitado pelos membros da Academia eou pelos seus leitores mas a ser ao contrário repudiado como no caso de Cálicles Por que Platão dá tanta ênfase à caracterização dessa personagem no Górgias apresentada por ele como o antípoda do filósofo Cá licles assim como Sócrates não poderia parecer também uma personagem sedutora ao leitor do diálogo e isso não seria pro piciado justamente pelas características do próprio gênero dia lógico E quanto a Sócrates seu comportamento em situações diversas em confronto com diferentes interlocutores é sempre o mesmo ou ele se adéqua àquela situação dialógica específica INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 39 e àquele determinado interlocutor e longe de ser uma persona gem unívoca apresentase antes como complexa e fragmentária Perguntas como essas elencadas acima são pertinentes na medida em que o discurso filosófico de Platão se constrói dialogicamente o que pressupõe a interação de ao menos dois interlocutores que se confrontam sendo assim o caráter èthos do filósofo na imagem de Sócrates é construído em oposição aos caracteres êthé de seus grandes adversários os sofistas os poetas e os po líticos como Platão diz nas Leis para se conhecer uma coisa é preciso conhecer o seu contrário assim como para se conhecer o sério é preciso conhecer o ridículo caso alguém pretenda ser um homem sábio εί μέλλει τις φρόνιμος έσεσθαι v ii 8i6ei2 Se essa natureza mimética dos diálogos platônicos é um elemento comum à tragédia e à comédia Platão compreendendo o poder de fascínio e sedução do discurso poético e os meios de como obter esse mesmo efeito em prol da construção do discurso filo sófico usa e transforma os elementos e os topoi do drama ático em uma nova forma de escrita em prosa o diálogo filosófico Supplement 13d June 1885 Charters of the New England colonies 755 AND INSTITUTIONS AND LAWS complained of the intemperate spirit they were filled with and violated their rights They further insisted on the establishment of a General Court consisting of an upper and a lower house both chosen by the freemen Such a court was created in September 1634 but not before the number of the colonies had increased At this time a General Court assembled containing representatives from all the towns of Boston Roxbury Watertown Cambridge and Newtown4 The members chosen by the towns met as an upper house and a lower house was formed of deputies or assistants chosen by all the inhabitants In 1635 the authority of the colony of Massachusetts was extended so as to include the territory north of Boston and east wards to the Merrimac River South of the colony lay the colony of Connecticut and the plantation of New Haven The several New England colonies consisted of many settlements about which there were no well defined boundaries and serious disputes arose as to the ownership of some of this territory In order to protect the interest of the territory claimed by New England it was considered expedient to have one Colonial Charter made extending over all under its jurisdiction This instrument was made in England and was signed by the King on June 24 1686 under the title of The Charter of the Dominion of New England This Dominion included the New England Colonies and the settled country adjoining to them including the counties of York and Cornwall in the Province of New York New Jersey and Delaware were ultimately added to these states The government of the Dominion of New England was to be vested in a governor with a council appointed by the Crown and to be independent of the General Assemblies which were usually elected by the people The Charter was made for trade and for more strict regulations respecting the plantations in America so that the trade might be the more industriously managed by 79 Supplement 13d June 1885 Charters of the New England colonies 757 or on speculation trade Throughout the years 1681 1682 and 1683 efforts were made to carry out the provisions of the Charter but great difficulties were encountered and the business of the government was almost always interrupted On August 18 1687 the Governor and Council issued an order sending instructions to the magistrates of all the towns under the jurisdiction of the Dominion to levy an impost of twenty per cent ad valorem on all inward goods except books and paper from England and on all outward goods exported to England and other places Such a duty was in accordance with the Indian and Plantations Act passed in England the same year Under this act a duty was laid and levied by the King on exports from and imports to the Plantations for the Kings use Whether the magistrates followed these instructions is not clear but the people resisted and not many years after the Charter was revoked The entire government under the Charter was soon afterward subverted Sir Edmond Andros the Governor of New England was imprisoned and sent back to England The Colonial Governments with their rights and privileges were restored again The charter of Massachusetts was chartered the next year but the Charter of the Dominion never had any real recognition The Charter of Dominion of New England was made for administration and trade and was not a form of government suitable to the people of New England 137 Supplement 13d June 1885 Charters of the New England colonies 759 AND INSTITUTIONS AND LAWS Dominion of New England It was framed in England for the honor and benefit of that Kingdom and to obtain rigid obedience to orders received from England This Charter was hostile in many respects to the rights and liberties of the people and was not adapted to the spirit of the civic institutions of the New England Colonies The government was despotic and employers by officers who had received commissions from the Crown and who were independent of the people The General Assemblies were to be absolutely dispensed with and the people were required to submit to the will of the Crown Such governments were instituted in the New England Colonies during the years 1680 1690 and were of relatively short duration Our interest in New England history therefore sheds light not only on the several states in the region but some features of political development for which we look in vain in other parts of English America The history in the early period of our country is a history of charitable communities essentially different from the commercial and plantation settlements of the south There was a virtue and disinterestedness in the beginning not found in other colonies The dominant motive was a religious one and the theory of government was largely accepted that its chief function was to encourage the welfare of the churches English settlers went to New England to seek a refuge from tyranny and oppression In conclusion it may be said that the Charters of the New England Colonies had an important influence in the molding of American institutions of later years The evident tendency to self government and local autonomy Centered in the older traditions of the English people found one of its most important expressions in the local government of New England The town meeting the county the General Court the frequent use of elected assemblies the frequent election of officers and the local judicial system all had their beginnings in the British Colonies of New England A C O M É D IA N O D IÁ L O G O O C A S O P O LO i Tendo em vista a reflexão proposta acima sobre o gênero dia lógico podemos afirmar então que há duas ordens de fatores envolvidas na relação de Platão com a comédia de um lado a crítica severa à representação do ridículo tò yeXoíov na poe sia e a análise dos efeitos morais funestos de sua experiência na alma do espectador1 de outro lado a apropriação e a recriação dos elementos e dos topoi da comédia em uma nova forma de í Platão República x 6060210 Porventura o mesmo argumento não cabe também ao ridículo Pois o que tu mesmo terias vergonha de cometer como risível quando ouves numa imitação cômica ou em particular te deleitas fortemente e não repudias como algo miserável não fazes a mesma coisa como em relação à piedade Pois continhas em ti mesmo pela razão o desejo de fazer coisas ridículas temendo a reputação de bufão para depois liberálo e tendo lá agido infantilmente não percebeste que muitas vezes havias te comportado em ocasiões particulares como se fosse um poeta cômico Com certeza disse Ά ρ ούν ούχ ό αύτός λόγος και περί του γελοίου οτι αν αυτός αίσχύνοιο γελωτοποιών έν μιμήσει δέ κωμωδική ή και Ιδία άκούων σφόδρα χάρης και μή μισης ώς πονηρά ταύτόν ποιείς δπερ έν τοϊς έλέοις ô γάρ τώ λόγω αύ κατείχες έν σαυτω βουλόμενον γελωτοποιεΐν φοβούμενος δόξαν βωμολοχίας τότ αύ άνιεΐς και έκεΐ 42 GÓRGIAS DE PLATÃO discurso em prosa o diálogo nesse movimento de constitui ção do discurso apropriado à filosofia Em outras palavras o juízo negativo de Platão com relação à representação do ridículo nas obras dos poetas cômicos não implica a sua recusa abso luta a procedimentos e elementos tipicamente cômicos que se fazem presentes em sua obra e que se prestam a determinados fins Esse tipo de intertextualidade ou melhor de relação in tergenérica está na base da constituição desse novo gênero os Sõkratikoi logoi a que se refere Aristóteles na Poética2 do qual Platão é seu grande expoente Como afirma A Nightingale ainda que Platão mostre uma séria aversão ao riso cf por exemplo Rep 388e ele tem possivel mente um débito maior com a comédia do que com qualquer ou tro gênero literário3 Mas essa aproximação com a comédia não se deve apenas ao humor que em diversas circunstâncias particulares dos diálogos colore a cena como por exemplo na hilariante apa rição de Alcibíades no final do Banquete 21202233 totalmente ébrio a narração da personagem sobre a resistência de Sócrates à sua investida amorosa ao mesmo tempo em que leva o leitor ao riso dada a comicidade da cena enfatiza concomitantemente um elemento extremamente importante do éthos de Sócrates a sua proverbial enkrateia εγκράτεια4 continência resistência ao prazer e à dor Além do humor há outros procedimentos e topoi νεανικόν ποιήσας έλαθες πολλάκις έν τοϊς οίκείοις έξενεχθείς ώστε κωμωδοποιός γενέσθαι Και μάλα έφη 2 Aristóteles Poética 14478913 3 A Nightingale Gemes in Dialogue p 172 4 Xenofonte também ressalta nas Memoráveis a enkrateia de Sócrates em sua defesa contra a acusação de que este corrompia a juventude Pareceme surpreendente também o fato de alguns terem sido persuadidos de que Sócrates corrompia os jovens ele que além do que já foi dito era em primeiro lugar o mais moderado dentre todos os homens com relação aos apetites sexuais e ventrais e em segundo lugar o mais resistente ao frio ao calor e a todas as outras fadigas além disso Sócrates era a tal ponto educado para ter necessidades comedidas que tendo adquirido muito pouca coisa ele tinha com muita facilidade o que lhe bastava 121 Θαυμαστόν δε φαίνεται μοι και τό πεισθήναί τινας ώς Σωκράτης τούς νέους διέφΟειρεν ός προς τοις είρημένοις πρώτον μέν αφροδισίων καί γαστρός πάντων Ανθρώπων έγκρατέστατος ήν είτα προς χειμώνα καί θέρος καί πάντας πόνους A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 43 mais específicos comuns na Comédia Antiga dos quais Platão se serve com frequência para compor os diálogos como elenca R Brock em seu breve mas sugestivo artigo i linguagem colo quial ii jogos de palavras iii criação de neologismos iv imagens como os cômicos Platão costuma recorrer a imagens de ani mais v paródia estilística vi sátira de pessoas5 e vii crítica aos políticos atenienses Isso é suficiente para mostrar que a censura moral de Platão à representação do ridículo tò yeXoIov como vemos na República é apenas um dos aspectos da complexa rela ção de Platão com a comédia na medida em que há elementos e procedimentos tipicamente cômicos que estão na própria cons tituição do gênero dialógico tal como foi desenvolvido por Pla tão Numa comparação bastante genérica assim como a figura do filósofo foi objeto de satirização e ridicularização na Comédia Antiga como o caso de Sócrates e na Comédia Média como o caso dos próprios acadêmicos os adversários de Platão também tiveram o mesmo fim nos diálogos II Passemos então à análise específica do caso Polo no Górgias e vejamos os elementos cômicos envolvidos na satirização da personagem quando submetida ao elenchos de Sócrates O Pró logo do Górgias se apresenta como uma espécie de prelúdio do que sucederá nos três Atos subsequentes do diálogo6 Assim καρτερικώτατος έτι δέ προς το μέτριων δεΐσθαι πεπαιδευμένος οϋτως ώστε πάνυ μικρά κεκτημένος πάνυ ραδίως έχειν άρκοΰντα 5 Ateneu Deipnosophistae 1111313 Dizem que até mesmo Górgias quando tomou conhecimento do diálogo homônimo disse a seus amigos como Platão sabe compor bem iambos λέγεται δε ώς και ό Γοργίας αυτός άναγνούς τον ομώνυμον αύτώ διάλογον προς τούς συνήθεις έφη ώς καλώς οΐδε Πλάτων ίαμβίζειν 6 Devido à semelhança estrutural entre o diálogo Górgias e as peças trágicas refirome durante o texto de maneira genérica aos Atos do diálogo que corres pondem à interlocução de Sócrates com cada uma das três personagens Górgias Polo e Cálicles As partes do diálogo portanto seriam estas Prólogo 4473144908 44 GÓRGIAS DE PLATÃO como o êthos de Cálicles já é aludido pela ocorrência não for tuita do verbo έττιθυμεΤν epithumein ao se dirigir a Querefonte έπιθυμεί anseia deseja 447b4 a sorte de Polo em seu con fronto com Sócrates já é antecipada quando ele intervém abrup tamente na cena durante a breve interlocução entre Querefonte e Górgias 448a a crítica de Sócrates às suas deficiências como interlocutor do diálogo tornarseão patentes durante o pro cesso do elenchos no 1 Ato do diálogo Polo é representado por Platão como uma personagem impa ciente cujo comportamento é muito inferior ao de seu mestre7 e essa diferença entre Górgias e Polo se refletirá na mudança de comportamento de Sócrates para com o interlocutor durante a discussão Se Sócrates usa de um procedimento lisonjeador quando dialoga com Górgias em vista de um determinado fim parodiando os mecanismos de persuasão atribuídos no diálogo à retórica enquanto κολακεία kolakeia lisonja cf 4Ó3ac 464b 466a com Polo a situação se torna diferente a lisonja de Só crates se transforma em uma ironia mordaz e seu modo de refutação se torna mais franco e agressivo A comicidade da cena nasce portanto dessa adequação do discurso e do com portamento de Sócrates ao caráter do interlocutor se Polo se configura como uma personagem φαύλος phaulos débil des prezível então Sócrates o tratará como tal e suas debilidades se revelarão paulatinamente na medida em que Sócrates o submete ao escrutínio do elenchos Como Polo representa no diálogo o produto da formação retórica representada pela figura emi nente de Górgias Sócrates identifica imediatamente esse traço da personagem assim que ouve o seu pequeno discurso em louvor à retórica e ao mestre Górgias 44803010 Outro elemento importante da caracterização da personagem Polo de extrema relevância para o pensamento político de Platão 1 Ato Sócrates vs Górgias 4490946182 2 Ato Sócrates vs Polo 4618348185 3 Ato Sócrates vs Cálicles 4818652208 Êxodo Mito Final 5233152767 7 Ver E Dodds Plato Górgias p 11 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 45 é a sua admiração pela figura do tirano macedônio Arquelau como exemplo de uma vida virtuosa e feliz a despeito das inú meras injustiças cometidas por ele até a sua ascenção ao poder 47iad Esse elemento dramático já apresentaria assim o pro blema do advento da tirania no seio da democracia como Platão discute detidamente nos Livros vm e ix da República Pois se Polo é apresentado como discípulo de Górgias formado para ser também ele mestre de retórica ele representa então aquele tipo de homem que se pretende educador dos futuros políticos que regerão por sua vez a democracia ateniense Nesse sentido se Polo acredita que inúmeros homens mesmo tendo cometido in justiça são felizes ώς πολλοί άδικοϋντες άνθρωποι εύδαίμονές είσιν 47odi2 como indica ο caso de Arquelau será então esse tipo de juízo moral a ser perpretado pela sua formação retórica o problema do uso da retórica para fins injustos como aludido por Górgias em seu discurso em defesa do ofício de rétor 456a 457c reaparece aqui com um força evidente Essa associação da figura do rétor com a do tirano como aparece textualmente na fala de Sócrates oi ρήτορες ώσπερ oi τύραννοι 466di é portanto um dos problemas de natureza éticopolítica abor dados por Platão na crítica à retórica praticada nas instituições democráticas No Górgias como veremos sobretudo na análise sobre Cálicles esse problema já aparece na própria constituição do êthos da personagem associada ao círculo de Górgias Ao construir então a figura de Polo como phaulos como uma personagem própria da comédia8 i Platão usa da caracteriza ção da personagem com o intuito de depreciar a retórica em sua 8 i Aristóteles Poética 144933234 A comédia é como dissemos imitação de pessoas desprezíveis não contudo pelo vício como um todo mas o ridículo é parte do que é vergonhoso Ή δέ κωμωδία έστιν ώσπερ εϊπομεν μίμησις φαυλότερων μέν ού μέντοι κατά πάσαν κακίαν άλλα του αισχρού έστι το γελοιον μόριον ii Aristóteles Poética 1448a 618 A mesma diferença também distingue a tragédia da comédia uma quer imitar pessoas piores do que na realidade enquanto a outra pessoas melhores έν αύτή δέ τρ διαφορά και ή τραγωδία προς τήν κωμωδίαν διέστηκεν ή μέν γάρ χείρους ή δέ βελτίους μιμεΐσθαι βούλεται των νυν 46 GÓRGIAS DE PLATÃO totalidade evidenciando nesse movimento seu juízo negativo que se revelará no decorrer do diálogo o produto da educação retórica representada pela figura de Górgias seria assim com parável a uma personagem da comédia o que implica sua debili dade intrínseca De acordo com K J Dover em seu estudo sobre a comédia aristofânica9 um dos propósitos da paródia é precisa mente criticar e ridicularizar aquilo que é parodiado assim como um dos alvos das paródias de Aristófanes é a tragédia e a sua seriedade como evidenciam as suas inúmeras referências inter textuais Platão utilizando esse mesmo tipo de recurso cômico parodia no Górgias não apenas o logos retórico por exemplo 448c 467c 47ie472d mas também o próprio êthos do rétor O índice textual talvez possamos dizer assim do registro cômico do 2 Ato é a ocorrência do verbo διακωμωδείν comediar 46267 nesta fala irônica de Sócrates antes de apresentar a sua definição de retórica como uma espécie de lisonja kolakeia pol A que atividade te referes soc Que não seja rude demais falar a verdade Pois hesito em di zêla por causa de Górgias com medo de que julgue que eu comedie a sua própria atividade Se essa porém é a retórica praticada por Górgias eu não sei aliás da discussão precedente nada se esclareceu sobre o que ele pensa mas eu chamo retórica parte de certa coisa que em nada ébela 4626546334 πωλ Τίνος λέγεις ταύτης ςω Μή άγροικότερον ή τό άληθές είπείν όκνώ γάρ Γοργίου ενεκα λέγειν μή οϊηταί με διακωμωδείν τό εαυτού έπιτήδευμα έγώ δέ εί μέν 9 9 J Dover Aristophanic Comedy ρ 73 A paródia tem dois propósitos dis tintos que podem ser percebidos simultaneamente mas que também podem ser percebidos separados um do outro O primeiro propósito é submeter a própria poesia séria à crítica e ao ridículo a paródia sugere por seleção e exagero que isto é tal como Eurípides é por exemplo Esse tipo de paródia pode ser encontrado na parte final de As Rãs em que Esquilo e Eurípides apresentam grotescas mas engra çadas paródias da parte lírica de cada um O segundo propósito da paródia e o mais comum é explorar as potencialidades humorísticas da incompatibilidade ao combinar a dicção trágica elevada e as alusões a situações trágicas bem conhecidas com a vulgaridade e as situações domésticas triviais Sobre a função da paródia ver tb A Nightingale op cit p 7 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 47 τοΰτό έστιν ή ρητορική ήν Γοργίας έπιτηδεύει ούκ οΐδακαί γάρ άρτι έκ τοΰ λόγου ούδέν ήμίν καταφανές έγένετο τί ποτέ ούτος ήγείταιό δ έγώ καλώ τήν ρητορικήν πράγματός τινός έστι μόριον ούδενός τών καλών Em mais uma instância em que Sócrates recorre à pwlépsis ou seja responder de modo antecipado a uma possível obje ção ele adverte Polo antecipadamente de um possível mal entendido da parte de Górgias com relação à sua real motivação ao apresentar sua própria concepção de retórica Pois bem se Sócrates de fato não fala com o simples escopo de fazer comédia da arte de Górgias como alega mas com o intuito de apresentar de forma séria a sua própria definição de retórica em oposição à gorgiana a forma como ele age e trata Polo na discussão en tretanto conflita flagrantemente com essa sua suposta serie dade Entendida porém como mais uma investida irônica de Sócrates Platão coloca na boca da personagem precisamente o tipo de estratégia argumentiva que se delineará no 2 Ato do diálogo indicado pela ocorrência do verbo διακωμωδειν comediar 46267 a ridicularização do interlocutor durante o processo do elenchos Platão certamente compreendia o poder persuasivo que a caracterização cômica de uma figura histórica poderia desempenhar no público como ele mesmo salienta na Apologia com relação ao caso de Sócrates a causa de sua difa mação é atribuída em grande parte por Platão à representação cômica de sua figura na peça As Nuvens de Aristófanes como vemos neste trecho Retomemos então desde o princípio qual é a acusação que engen drou essa calúnia contra mim com cuja crença Meleto impetrou esse processo Pois bem o que disseram os caluniadores para caluniarme Assim como sucede ao juramento dos acusadores devo lêla Sócrates comete injustiças e se ocupa de investigar as coisas subterrâneas e ce lestes de tornar o discurso fraco forte e de ensinar essas mesmas ma térias a outras pessoas Tal é a acusação E vós mesmos já vistes isso na comédia de Aristófanes na qual um certo Sócrates ronda pela cena a dizer que caminha pelo ar e a falar inúmeras outras bobagens a respeito das quais nada conheço absolutamente 193805 I 48 GÓRGIAS DE PLATÃO Άναλάβωμεν ούν έξ άρχής τις ή κατηγορία έστιν έξ ής ή έμή διαβολή γέγονεν ή δή και πιστεύων Μέλητός με έγράψατο τήν γραφήν ταύτην ειεν τί δή λέγοντες διέβαλλον οί διαβάλλοντες ώσπερ ούν κατηγόρων τήν άντωμοσίαν δει άναγνώναι αύτών Σωκράτης άδικεΐ και περιεργάζεται ζητών τά τε ύπό γής και ούράνια και τον ήττω λόγον κρείττω ποιων και άλλους ταύτά ταϋτα διδάσκων τοιαύτη τις έστιν ταΰτα γάρ έωράτε και αύτοι έν τή Άριστοφάνους κωμωδία Σωκράτη τινά εκεί περιφερόμενον φάσκοντά τε άεροβατεΐν καί άλλην πολλήν φλυαρίαν φλυαροΰντα ών έγώ ούδέν ούτε μέγα ούτε μικρόν πέρι έπαΐω III Ο que vemos então no Górgias é uma adaptação e recria ção por meio da paródia de elementos cômicos dentro do diá logo filosófico Mas que espécie dephaulos seria Polo Com que tipo de caráter ele é figurado tendo em vista a diversidade de êthê presente na Comédia Antiga Um aspecto crucial do ca ráter de Polo comum ao da personagem Górgias é a alazoneia άλαζονεία jactância presunção que se manifesta imediata mente na sua primeira intervenção no diálogo gor É verdade Querefonte Aliás era precisamente isso o que há pouco prometia e digo há muitos anos ninguém ainda me propôs uma pergunta nova que Ora então respondes com desembaraço Górgias gor Podes me testar Querefonte pol Por Zeus contanto que queiras testar a mim Querefonte Pois Górgias pareceme estar deveras exausto acabou de discorrer há pouco sobre vários assuntos que O quê Polo Achas que respondes melhor do que Górgias pol Por que a pergunta se te for o suficiente que Nada mas visto o teu querer responde então pol Pergunta 448atb3 ΓΟΡ Αληθή ώ Χαιρεφών και γάρ νυνδή αυτά ταΰτα έπηγγελλόμην και λέγω οτι ούδείς μέ πω ήρώτηκε καινόν ούδέν πολλών ετών καλ Η που άρα ραδίως άποκρινή ώ Γοργία A COMÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO POLO 49 γορ Πάρεστι τούτου πείραν ώ Χαιρεφών λαμβάνειν πωλ Νή Δία αν δέ γε βούλμ ώ Χαιρεφών έμοϋ Γοργίας μέν γάρ και άπειρηκέναι μοι δοκεΐ πολλά γάρ άρτι διελήλυθεν καλ Τί δέ ώ Πώλε οϊει σύ κάλλιον αν Γοργίου άποκρίνασθαι πωλ Τί δέ τούτο έάν σοί γε ίκανώς καλ Ούδέν άλλ επειδή σύ βούλει άποκρίνου πωλ Έρώτα A presunção do discípulo se evidencia quando arroga para si a mesma onipotência arrogada pelo mestre desafiando Que refonte a interpelálo Sócrates atento ao movimento da cena chamará em causa precisamente esse traço da personagem para justificar a prevalência da brakhulogia discurso breve na dis cussão 462aiio Mas além da jactância há outro elemento dramático co mum associado à figura do alazõn άλαζών jactante impos tor na comédia também recorrente no Górgias Em seu estudo sobre a comédia ática F Cornford ressalta que o alazõn é essen cialmente o entruso inoportuno que interrompe sacrifícios pre paros dos alimentos ou festas e reivindica uma parte imerecida nos frutos da vitória10 1 A abrupta intervenção de Polo no Pró logo uma ação que se repetirá depois da consumação do elen chos de Górgias abrindo o 2S Ato do diálogo em 461b se enquadraria dessa forma na caracterização proposta por Corn ford tendo em vista como Sócrates o admoesta por essa ação e o põe à parte na discussão passando a dialogar diretamente com Górgias 448d449a12 Esse traço do êthos de Polo é de 10 The Origin of Attic Comedy p 122 Todavia é preciso ressaltar que Polo sai em defesa do mestre que havia sido derrotado por Sócrates no primeiro agõn do diálogo ao invés de aproveitarse dos frutos da vitória como sugere Cornford Esse tipo de movimento intergenérico mostra como Platão ao apropriarse de topoi de outros gêneros transformaos na constituição do drama dialógico 11 Idem p 115 Essas figuras impertinentes os impostores aparecem quando a vitória do agõn já está sacramentada 12 Idem ibidem Depois de os impostores terem se exibido eles são man dados embora de forma ignominiosa frequentemente debaixo de pancadas Os Impostores são sempre colocados em oposição ao herói que ressalta os absurdos dele com ironia jocosa 50 GÓRGIAS DE PLATÃO certa forma uma imitação do comportamento de seu mestre Górgias cuja alazoneia é mais caricatural como se evidencia nestes dois trechos do Prólogo i que Entendo Vou interrogálo Górgias dizeme se é verdade o que nos conta Cálicles que prometes responder a qualquer pergunta que alguém te enderece gor É verdade Querefonte Aliás era precisamente isso o que há pouco prometia e digo há muitos anos ninguém ainda me propôs uma pergunta nova 447d6448a3 ΚΑΛ Μανθάνω και έρήσομαι Είπε μοι ώ Γοργία άληθή λέγει Καλλικλής δδε οτι έπαγγέλλη άποκρίνεσθαι δτι αν τις σε έρωτά γορ Άληθή ώ Χαιρεφών και γάρ νυνδή αύτά ταϋτα έπηγγελλόμην και λέγω οτι ούδείς μέ πω ήρώτηκε καινόν ούδέν πολλών έτών ii soc Portanto devemos te chamar de rétor gor De um bom rétor Sócrates se queres me chamar como diz Homero daquilo que rogo ser soc Mas eu quero chamálo gor Então chama soc Podemos dizer assim que és capaz de tornar rétores também outras pessoas gor Isso eu não prometo apenas aqui mas em todo e qualquer lugar 449a6b3 ςω Ρήτορα άρα χρή σε καλεΐν γορ Αγαθόν γε ώ Σώκρατες εί δή δ γε εύχομαι είναι ώς εφη Ομηρος βούλει με καλεΐν ςω Ά λ λ α βούλομαι γορ Κάλει δή ςω Ούκοΰν και άλλους σε φώμεν δυνατόν είναι ποιειν γορ Επαγγέλλομαι γε δή ταΰτα ού μόνον ένθάδε άλλά και άλλοθι Se a alazoneia então é um traço comum do caráter do ré tor no Górgias tendo em vista o comportamento semelhante das personagens Górgias e Polo ela o é também da figura dp rapsodo no diálogo íon como busca mostrar J Ranta em seu breve artigo The Drama of Platos íon Ele defende a tese de que A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 51 a nuance cômica do diálogo Ion se deve à forma como Platão constrói o êthos das personagens nessa interface com a comédia Platão estaria representando então a personagem homônima como alazõn jactante impostor e Sócrates em contrapartida como eirõn irônico tipos antagônicos13 que se enfrentam recor rentemente na Comédia Antiga14 enquanto o primeiro reclama para si qualidades mais elevadas do que aquelas que realmente possui o segundo apresenta a si mesmo como alguém inferior àquilo que realmente é15 A jactância de íon se manifesta por exemplo em passagens como esta do diálogo homônimo ion Dizes a verdade Sócrates A arte me impõe deveras esse gran diosíssimo trabalho e creio que sou eu quem melhor recita Homero de modo que nem Metrodoro de Lâmpsaco nem Estesímbroto de Tasos nem Glauco nem qualquer outro homem que um dia existiu é capaz de expor tantos belos pensamentos sobre Homero quanto eu soc Bem dito íon É evidente pois que não recusarás a fazerme uma exibição ion Decerto convém que ouças Sócrates como eu embelezo bem Homero a ponto de achar que eu mereça receber dos Homéridas a co roa de ouro 530c6d8 ion Αληθή λέγεις ώ Σώκρατες έμοι γοΰν τούτο πλεΐστον εργον παρέσχεν τής τέχνης και οίμαι κάλλιστα άνθρώπων λέγειν περί Ομήρου ώς ούτε Μητρόδωρος ό Λαμψακηνός ούτε Στησίμβροτος ό Θάσιος ούτε Γλαύκων ούτε άλλος ούδεις τών πώποτε γενομένων έσχεν είπεϊν οΰτω πολλάς και καλάς διανοίας περί Ό μηρου οσας έγώ ςω Εύ λέγεις ώ Ίων δήλον γάρ δτι οϋ φθονήσεις μοι έπιδείξαι ιων Και μήν άξιόν γε άκοΰσαι ώ Σώκρατες ώς εύ κεκόσμηκα τον Ομηρον ώστε οίμαι ύπό Όμηριδών άξιος είναι χρυσώ στεφάνψ στεφανωθήναι 13 Ver Aristóteles Ética Nkomaqueia 110831923 14 J Ranta The Drama of Platos Ion The Journal of Aesthetics and Art Criti cism p 222 Ion para repetir o argumento é um Alazõn extremamente contumaz se tal comparação é possível ele é mais parecido com o Alazõn da Comédia Antiga do que Sócrates é parecido com o Eirõn da Comédia Antiga 15 E Cornford op cit p 119 Como ressalta o estudioso ambos coincidem nesse elemento enganador de seu êthos enquanto o alazõn se vangloria das qua lidades que não possui o eirõn simula uma inferioridade que não possui 52 GÓRGIAS DE PLATÃO Esse elemento comum das personagens do rétor e do rap sodo no Górgias e no íon respectivamente não é uma simples coincidência de tipologia de éthê da qual se serve Platão para compor os diálogos mas aponta para uma questão mais pro funda sobre a relação entre poesia e retórica no Górgias Só crates afirma que a poesia é certa oratória pública δημηγορία άρα τίς έστιν ή ποιητική 502C12 na medida em que despo jada de seus elementos musicais canto ritmo metro ela não consiste em outra coisa senão em discursos λόγοι numa possível alusão intertextual às reflexões do Górgias histórico sobre o poder do logos16 Platão ressalta nessa associação pre cisamente a natureza pública do discurso retórico e poético com a diferença de que a poesia se estende à comunidade polí tica como um todo portanto mais perigosa do ponto de vista éticopolítico ao passo que a retórica está circunscrita àquela classe de homens apta a desempenhar as funções requeridas no Conselho na Assembleia e no Tribunal Nesse sentido todas as consequências que o título de kolakeia lisonja confere à retórica se aplicariam igualmente à poesia uma atividade que não é arte mas apenas experiência e rotina voltada para a pro moção do prazer na audiência por meio do que ela consegue persuadila a despeito de isso lhe vir a ser benéfico ou não uma prática irracional na medida em que não conhece a natureza daquilo a que se volta ou seja alma e não sabe justificar as suas ações tampouco identificar as suas causas Nos diálogos platônicos a metáfora do encantamento e do fascínio re feridos geralmente pelos termos κήλησις ou γοητεία e seus de rivados como foi dito acima se aplica ao poder sedutor tanto da poesia República x 601b quanto da retórica Menêxeno 16 Górgias Elogio de Helena 9 em H Diels W Kranz orgs Die fragmente der Vorsokratiker É preciso que eu mostre minha opinião aos ouvintes sobre isso toda a poesja eu considero e nomeio um discurso com metro δει δέ και δόξηι δεΐξαι τοίς άκούουσι τήν ποίησιν απασαν και νομίζω και ονομάζω λόγον εχοντα μέτρον A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 53 235a destacando precisamente esse elemento irracional de sua prática discursiva17 Se há essa coincidência de tipologia de caráter entre o ré tor Polo e o rapsodo íon na representação do Górgias e do íon então o elenchos socrático teria a função de mostrar ao alazõn e por conseguinte ao público presente naquela deter minada cena em que se funda a sua alazoneia O diagnóstico de Sócrates era recorrente quando em confronto com pessoas que não apenas tinham a reputação de sábias mas se consideravam como tais como vemos nesta passagem da Apologia Depois de ouvir isso de Querefonte fiz a seguinte reflexão o que quer dizer o deus qual será o enigma Não tenho eu o mínimo conhecimento de que sou sábio o que ele quer dizer então afirmando que eu sou o homem mais sábio Pois decerto não está mentindo não lhe é lícito E por longo tempo fiquei sem saber o que ele queria dizer Tempos depois embora relutante volvime para uma investigação do gênero dirigime a um homem que parecia ser sábio para assim refutar o oráculo e mostrar a ele que Esse homem é mais sábio do que eu mas tu afirmaste que era eu Examinando então esse homem não preciso referir seu nome mas era um dos políticos com o qual investigando e dialogando ó atenienses tive uma experiência do gênero pareceume que esse homem parecia ser sábio à grande massa de homens e sobre tudo a si mesmo sem sêlo Em seguida tentei mostrarlhe que ele pre sumia ser sábio mas não o era Como consequência torneime odiável a este e aos demais homens que estivessem ali presentes Depois de partir então refletia comigo mesmo que mais sábio do que esse homem eu 17 G Casertano UEterna malattia dei discorso p 63 Outro ponto impor tante de se destacar em todo esse discurso de Platão é o uso se não ambíguo pelo menos mais alusivo de quanto possa parecer num primeiro momento do verbo KTéu e por conseguinte do termo KqXqoiç Já vimos que a KqXqaiç exercitada pela poesia consiste na particular gama de emoções que ela consegue suscitar Podemos acrescentar que essa sedução não é própria somente da poesia mas por exemplo mais genericamente da palavra do logos Também os oradores e os rétores e em especial aquele do tipo gorgiano são capazes de jogar com os afetos da alma eles colorem tioikíXXovteç seus discursos com as palavras mais belas e assim encantam yoqTEÚEiv as nossas almas ao escutálos são seduzidas KqXoúpevoç É o que se dá no Menêxeno 235a num contexto certamente irônico no confronto com os rétores e por isso crítico no confronto com sua arte como crítico parecia precisamente o contexto das passagens da República que citamos 599b 602b 601b 54 GÕRGIAS DE PLATÃO sou é provável que nenhum de nós conheça algo de belo e bom mas ele presume saber algo embora não o saiba enquanto eu porque não sei tampouco presumo saber É plausível portanto que em alguma coisa ainda que diminuta seja eu mais sábio do que ele precisamente porque o que não sei não presumo sabêlo nb2d7 ταΰτα γάρ έγώ άκούσας ένεθυμούμην ούτωσί Τί ποτέ λέγει ό θεός και τί ποτέ αίνίττεται έγώ γάρ δή οΰτε μέγα οΰτε σμικρόν σύνοιδα έμαυτώ σοφός ών τί ούν ποτέ λέγει φάσκων έμέ σοφώτατον είναι ού γάρ δήπου ψεύδεται γε ού γάρ θέμις αύτώ και πολύν μέν χρόνον ήπόρουν τί ποτέ λέγει έπειτα μόγις πάνυ έπι ζήτησιν αύτοϋ τοιαύτην τινά έτραπόμην ήλθον έπί τινα τών δοκούντων σοφών είναι ώς ένταΰθα εϊπερ που έλέγξων τό μαντεΐον και άποφανών τώ χρησμώ δτι Ό ύτοσι έμοΰ σοφώτερός έστι σύ δ έμέ έφησθα διασκοπών ούν τοΰτονόνόματι γάρ ούδέν δέομαι λέγειν ήν δέ τις τών πολιτικών προς όν έγώ σκοπών τοιοϋτόν τι έπαθον ώ άνδρες Αθηναίοι και διαλεγόμενος αύτώέδοξέ μοι οΰτος ό άνήρ δοκεΐν μέν είναι σοφός άλλοις τε πολλοϊς άνθρώποις και μάλιστα έαυτώ είναι δ οΰ κάπειτα έπειρώμην αύτώ δεικνύναι δτι οϊοιτο μέν είναι σοφός είη δ ού έντεΰθεν ούν τούτω τε άπηχθόμην και πολλοϊς τών παρόντων προς έμαυτόν δ ούν άπιών έλογιζόμην δτι τούτου μέν τού ανθρώπου έγώ σοφώτερός είμι κινδυνεύει μέν γάρ ημών ούδέτερος ούδέν καλόν κάγαθόν είδέναι άλλ οΰτος μέν οϊεταί τι είδέναι ούκ είδώς έγώ δέ ώσπερ ούν ούκ οϊδα ούδέ οϊομαι έοικα γοΰν τούτου γε σμικρώ τινι αύτώ τούτω σοφώτερος είναι δτι ά μή οίδα ούδέ οϊομαι είδέναι IV Pois bem é nesse processo de desvelamento da ignorância do interlocutor propiciado pelo elenchos que o aspecto cômico pre sente no Górgias em específico e nos primeiros diálogos em geral surge com uma intensidade que varia de contexto para con texto Se na perspectiva de Sócrates o desvelamento tem uma função positiva para quem é refutado pois da ciência da própria ignorância nasce o desejo de aprender e buscar o conhecimento verdadeiro na perspectiva do refutado contudo a situação ridí cula perante o público presente pois de sábio ele passa a ser visto como ignorante o faz desconfiar da real motivação de Sócrates A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 55 na discussão e por conseguinte odiar a sua figura18 Essa seria uma das causas da difamação de Sócrates 23ab como Pla tão argumenta na Apologia na medida em que o poder desses supostos sábios se funda na doxa na reputação que possuem junto ao público nesse sentido o elenchos socrático se configura como uma ameaça potencial a esse poder fundado na aparência de um saber que eles próprios não possuem Por outro lado se quem é refutado reage furiosamente às investidas de Sócrates parte do público que assiste à cena em contrapartida se diverte com a situação embaraçosa do in terlocutor embora Platão não coloque expressamente nestes termos o elemento cômico presente no processo do elenchos seria uma das causas do deleite sentido por parte da audiência χαίρουσιν 23C4 Esse aspecto extrínseco envolvido no pro cesso do elenchos é ressaltado em outro trecho da Apologia Além do mais os jovens sobretudo os que dispõem de ócio mem bros das mais abastadas famílias que me acompanham por conta pró pria deleitamse quando ouvem os homens sendo examinados e eles próprios não raras vezes passam a me imitar e buscam assim examinar os outros Depois descobrem julgo eu um grande número de homens que presumem saber alguma coisa embora não saibam nada ou muito pouco Como consequência aqueles homens por eles examinados se enfurecem comigo e não consigo próprios e afirmam que há certo Sócrates o mais abominável dos homens que corrompe os jovens e quando alguém lhes pergunta por fazer o quê e por ensinar o quê não têm nada a dizer por ignoraremno mas a fim de não parecerem estar em embaraço assacam aquelas coisas ditas contra todos os filósofos ou seja as coisas celestes e as subterrâneas não reconhecer os deuses e tornar forte o discurso fraco 23C2d7 Προς δέ τούτοις οι νέοι μοι έπακολουθούντεςοίς μάλιστα σχολή έστιν οί τών πλουσιωτάτωναύτόματοι χαίρουσιν άκούοντες έξεταζομένων τών άνθρώπων και αύτοι πολλάκις έμέ μιμούνται εΐτα ι8 É interessante notar que Platão na Apologia salienta sempre a presença do público nas situações em que ele coloca em prática seu habitual elenchos como na passagem citada πολλοϊς τών παρόντων 2idi 56 GÓRGIAS DE PLATÃO έπιχειροΰσιν άλλους έξετάζειν κάπειτα οίμαι εύρίσκουσι πολλήν άφθονίαν οίομένων μέν είδέναι τι άνθρώπων είδότων δε ολίγα ή ούδέν εντεύθεν ούν οί ύπ αύτών έξεταζόμενοι έμοί οργίζονται ούχ αύτοίς καί λέγουσιν ώς Σωκράτης τίς έστι μιαρώτατος καί διαφθείρει τούς νέους καί έπειδάν τις αύτούς έρωτά δτι ποιων καί δτι διδάσκων έχουσι μέν ούδέν είπεΐν άλλ άγνοοΰσιν ϊνα δε μή δοκώσιν άπορείν τα κατά πάντων των φιλοσοφούντων πρόχειρα ταΰτα λέγουσιν δτι τα μετέωρα καί τα ύπό γης καί θεούς μή νομίζειν καί τον ήττω λόγον κρείττω ποιεΐν Em suma as nuances cômicas do diálogo surgem não ape nas da forma como Platão caracteriza as personagens mas da própria consecução do elenchos que revela paulatinamente a ig norância ou a inconsistência das opiniões do interlocutor a sua reação violenta contra Sócrates quando ela acontece se deve em parte à condição ridícula perante o público a que o constrange o elenchos19 É por esse motivo que a representação de Platão da audiência em diversos diálogos fazendoa presente nas circuns tâncias particulares em que Sócrates põe em prática o elenchos é um elemento dramático de extrema relevância para a com preensão da estratégia argumentativa de Sócrates No Górgias esse registro cômico perpassa todo o 2 Ato tendo em vista a mudança de comportamento de Sócrates na discussão como foi dito enquanto uma personagem phaulos Polo é tratado como tal desde o Prólogo Depois de sua abrupta intervenção em defesa de Górgias 448a ele é desprezado por Sócrates e deixado de lado à 19 A situação ridícula do refutado perante a audiência fica evidente na narra ção de Sócrates sobre o pathos de Clínias quando submetido ao elenchos dos erísticos Eutidemo e Dionisodoro no diálogo Eutidemo como vemos nestas passagens i Assim que Eutidemo disse isso os seguidores de Dionisodoro e Eutidemo como um coro regido pelos sinais do mestre irromperam num misto de algazarra e risos 276067 Ταΰτ ούν είπόντος αύτοϋ ώσπερ ύπό διδασκάλου χορός άποσημήναντος άμα άνεθορύβησάν τε και έγέλασαν οί επόμενοι εκείνοι μετά τού Διονυσοδώρου τε και Εύθυδήμου ii Depois disso os amantes de ambos os homens riam muito e faziam grande algazarra admirados pela sua sabedoria e nós outros abatidos nos calávamos 276d i3 Ενταύθα δή και πάνυ μέγα έγέλασάν τε και έθορύβησαν οί έρασται τοϊν άνδροίν άγασθέντες τής σοφίας αύτοίν οί δ άλλοι ημείς έκπεπληγμένοι έσιωπώμεν A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 57 margem da discussão que irá se constituir primeiro entre as duas figuras mais eminentes Sócrates e Górgias 44865449a4 Esse mesmo movimento se repete posteriormente numa situação similar mas agora é Górgias seu mestre que o põe de lado na discussão no breve interlúdio em que ele volta a ser o interlocutor de Sócrates 4630446401 Vejamos o trecho gor Não por Zeus Sócrates nem mesmo eu compreendo as tuas palavras soc É plausível Górgias pois não falo ainda de modo claro mas eis aqui Polo que é jovem e perspicaz gor Mas deixao de lado e dizeme como afirmas que a retórica é simulacro de uma parte da política Uósdóeq rop Mò τον Δία ώ Σώκρατες άλλ έγώ ούδέ αύτός συνίημι ότι λέγεις ςω Εικότως γε ώ Γοργία ούδέν γάρ πω σαφές λέγω Πώλος δέ οδε νέος έστι και οξύς γορ Ά λ λ α τούτον μέν έα έμοι δ είπε πώς λέγεις πολιτικής μορίου εϊδωλον είναι τήν ρητορικήν Polo é reduzido a um mero instrumento nas mãos dos in terlocutores principais como algo de que se pode prescindir e colocar à parte20 no Prólogo havia sido colocado de lado na discussão por Sócrates e no segundo momento pelo próprio mestre Górgias mostrando como a sua participação no diálogo é percebida de certa forma como uma intervenção inconve niente pelas demais personagens Polo é arrastado da cena ora de dentro para fora ora em sentido inverso movimento no qual se torna patente a sua debilidade moral e intelectual O interlúdio em que ocorre a troca de interlocutores 4630146417 concluise com Sócrates por sua vez ignorando a iniciativa de Górgias de prosseguir o diálogo mesmo depois de ter sido refu tado e determinando Polo como interlocutor para a exposição de sua concepção de retórica como pseudoarte 465a 46504 20 F Cornford op cit p 129 O Impostor em Aristófanes é regularmente escarnecido açoitado ou senão maltratado e expulso 58 GÓRGIAS DE PLATÃO Sendo assim se Górgias desprezou seu discípulo colocandoo de lado na discussão o mesmo pathos ele acabou sofrendo por sua vez nas mãos de Sócrates quando este ignora a sua inicia tiva e passa a dialogar definitivamente com Polo Nessa perspectiva de leitura representar Górgias sujeito à mesma condição de Polo arrastado da cena ao ser preterido por Sócrates é uma maneira de Platão por meio desse elemento dramático depreciar o estatuto da própria retórica na medida em que Górgias o rétor por excelência aparece como uma per sonagem muito inferior à doxa reputação que se lhe imputa e da qual ele próprio se vangloria repetidas vezes 448a 449a 452de 45óbc como revelará o elenchos socrático assim como a retórica praticada nas instituições democráticas não é arte mas apenas ro tina e experiência retórica enquanto kolakeia também o rétor não possui aquele poder de persuasão que presume ter pois ele só persuade a audiência quando a persuade porque a compraz a despeito de isso lhe ser benéfico ou não conhecimento que o rétor não possui em absoluto Platão parece reforçar essa ligação moral e intelectual entre as personagens Górgias o mestre e Polo o discípulo quando Sócrates e Cálicles passam a se referir aos dois em conjunto 482cd 487ab 494d salientando o mesmo pathos experimentado por ambos quando submetidos ao elenchos socrá tico A censura de Cálicles a Górgias por não ter tido a coragem suficiente de assumir as suas próprias opiniões devido à vergo nha 483a aparece naquele contexto dialógico particular do Górgias como um elemento de depreciação do estatuto da perso nagem uma crítica não de Sócrates mas da própria personagem que aparece no diálogo como seu anfitrão em Atenas v Retomemos o caso Polo Essa instrumentalização da perso nagem nas mãos de Sócrates se evidencia em diversas situações dramáticas durante o zü Ato A sua inaptidão para com o A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 59 diálogo διαλέγεσθαι 448dio já diagnosticada por Sócrates no Prólogo se revela paulatinamente na medida em que ele se submete ao elenchos socrático Esse aspecto do êthos da perso nagem se expressa na inadvertência com que colhe as palavras de Sócrates pouco atento às suas implicações soc Seria deveras um sofrimento terrível excelentíssimo homem se chegasses a Atenas cidade helénica onde há a maior licença para fa lar e somente tu tivesses o infortúnio de não fazêlo aqui Mas observa a situação inversa se tu fizesses um longo discurso e não quisesses res ponder as perguntas não seria um sofrimento terrível eu não poder ir embora para não te ouvir Mas se estás inquieto com algo do que foi dito e desejas corrigilo como há pouco dizia repara o que for de teu pare cer um interrogando e o outro sendo interrogado cada um a sua vez e assim como eu e Górgias refuta e sê refutado Pois decerto afirmas que também tu conheces as mesmas coisas que Górgias ou não pol Afirmo sim soc Então também tu não convidas em toda ocasião que te per guntem o que quiserem como se soubesses responder pol Certamente soc E agora cumpre a parte que te aprouver pergunta ou responde pol Sim hei de cumprila Respondeme Sócrates visto que Gór gias te parece cair em aporia sobre a retórica o que afirmas que ela é 46i e i 4ó2b5 ςω Δεινά μένταν πάθοις ώ βέλτιστε εί Άθήναζε άφικόμενος ού τής Ελλάδος πλείστη έστίν έξουσία τοΰ λέγειν έπειτα σύ ένταϋθα τούτου μόνος άτυχήσαις άλλα άντίθες τοι σου μακρά λέγοντος και μή έθέλοντος τό έρωτώμενον άποκρίνεσθαι ού δεινά άν αύ έγώ πάθοιμι εί μή έξέσται μοι άπιέναι και μή άκούειν σου άλλ εϊ τι κήδη τού λόγου τού είρημένου και έπανορθώσασθαι αυτόν βούλει ώσπερ νυνδή έλεγον άναθέμενος δτι σοι δοκεΐ έν τώ μέρει έρωτών τε και έρωτώμενος ώσπερ έγώ τε καί Γοργίας έλεγχέ τε καί έλέγχου φής γάρ δήπου καί σύ έπίστασθαι άπερ Γοργίας ή ού πωλ Έγωγε ςω Ούκοΰν καί σύ κελεύεις σαυτόν έρωταν έκάστοτε δτι άν τις βούληται ώς έπιστάμενος άποκρίνεσθαι πωλ Πάνυ μεν ούν ςω Καί νϋν δή τούτων όπότερον βούλει ποίει έρώτα ή άποκρίνου 60 GÓRGIAS DE PLATÃO ΠΩΛ Ά λ λ α ποιήσω ταΰτα καί μοι άπόκριναι ώ Σώκρατες έπειδή Γοργίας άπορεΐν σοι δοκεΐ περί τής ρητορικής σύ αύτήν τίνα φής είναι Seguindo ο paralelo sugerido pela comparação assim como eu e Górgias refuta e sê refutado ώσπερ έγώ τε και Γοργίας έλεγχέ τε καί έλέγχου 462a45 assim como Górgias será Polo também refutado por Sócrates que desempenhará por sua vez a sua habitual função de refutador Ele não percebe que a sua sorte no diálogo já é antecipada sutilmente nesse jogo de palavras feito por Sócrates e essa inadvertência é própria de quem não participa do círculo socrático de quem desconhece o procedimento dialó gico conduzido por ele Todavia dada a debilidade do interlocutor Sócrates lhe oferece a posssibilidade de escolher a própria função a ser desempenhada no registro da brakhulogia a qual Sócrates praticamente impõe como condição de possibilidade do diálogo como vemos no trecho acima Essa é uma situação excepcional no âmbito dos primeiros diálogos de Platão Sócrates oferece ao interlocutor a possibilidade de escolher a sua função no diálogo a de inquirido ou a de inquiridor pergunta ou responde έρωτα ή άποκρίνου 4ó2bi2 podendo assim encontrarse numa si tuação em que as funções estariam invertidas A eficácia do elenchos socrático pressupõe o estabelecimento prévio da função de cada interlocutor desempenhando Sócrates a do inquiridor naturalmente No i s Ato do diálogo essa é a primeira etapa da discussão com Górgias como ele se vangloria de ser experiente quer na makrologia discurso extenso quer na brakhulogia discurso breve 449bc Sócrates aproveita da alazoneia do interlocutor para estabelecer o diálogo como a nova forma de discussão substituindo a epideixis gorgiana que há pouco havia sido encerrada Mas a Górgias um interlocutor certamente mais experiente que Polo21 Sócrates não oferece em nenhuma circunstância o ensejo para a inversão de suas res pectivas funções pois a possibilidade do diálogo se desviar e se tornar enfim uma nova epideixis exibição caso fosse Górgias 2 1 Platão Górgias 4 5 7 C 4 5 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 61 a desempenhar a função de inquiridor certamente seria um obstáculo não desejável por Sócrates em vista da consumação do elenchos Com Polo em contrapartida Sócrates age de forma excepcional e permite a troca das funções dialógicas mas essa mudança em sua estratégia argumentativa se deve justamente à debilidade patente da personagem o desastre da participação de Polo como inquiridor é uma forma de Sócrates demonstrar a sua condição ridícula no domínio da brakhulogia decorrente de sua formação exclusivamente retórica 448d 471 d A comicidade da cena nessa troca de funções tornase patente na forma como Sócrates se dirige a Polo fazendo ressaltar a sua obtu sidade técnica devido à inexperiência com o diálogo διαλέγεσθαι 448dio 47 5 a ponto de ele próprio formular as perguntas e mandar que Polo simplesmente as repita Esse movimento de ins trumentalização de Polo ocorre duas vezes no 1 Ato i soc Queres então visto que honras o deleite deleitarme um pouco pol Sim soc Perguntame agora que arte me parece ser a culinária pol Pergunto sim que arte ela é soc Nenhuma Polo pol Mas o quê então Fala soc Falo sim certa experiência pol Qual Fala soc Falo sim de produção de certo deleite e prazer Polo pol Portanto a culinária e a retórica são a mesma coisa soc De forma nenhuma mas partes da mesma atividade 4620564 ςω Βούλει ούν επειδή τιμάς το χαρίζεσθαι σμικρόν τί μοι χαρίσασθαι πωλ Έγωγε ςω Έροΰ νυν με όψοποιία ήτις μοι δοκεϊ τέχνη είναι πωλ Ερωτώ δή τίς τέχνη όψοποιία ςω Ούδεμία ώ Πώλε πωλ Ά λ λ α τί φάθι ςω Φημί δή εμπειρία τις πωλ Τίς φάθι ςω Φημι δή χάριτος και ήδονής άπεργασίας ώ Πώλε πωλ Ταύτόν άρ έστιν όψοποιία και ρητορική ςω Ούδαμώς γε άλλά τής αυτής μεν έπιτηδεύσεως μόριον 62 GÓRGIAS DE PLATÃO ii soc Mas eu não lhe respondo se considero a retórica bela ou vergonhosa antes de lhe responder primeiro o que ela é Pois não é justo Polo mas se queres mesmo saber perguntame que parte da li sonja afirmo ser a retórica pol Pergunto sim e responde que parte ela é soc Compreenderias porventura a minha resposta A retórica é conforme meu argumento o simulacro de uma parte da política pol E então Afirmas que ela é bela ou vergonhosa soc Para mim vergonhosa pois chamo de vergonhosas as coi sas más visto que devo te responder como se já soubesses o que digo 463035 ςω έγώ δέ αύτώ ούκ άποκρινοϋμαι πρότερον είτε καλόν εϊτε αισχρόν ήγοϋμαι είναι την ρητορικήν πριν άν πρώτον άποκρίνωμαι ότι έστίν ού γάρ δίκαιον ώ Πώλε άλλ εϊπερ βούλει πυθέσθαι έρώτα όποιον μόριον τής κολακείας φημί είναι τήν ρητορικήν πωλ Ερωτώ δή και άπόκριναι όποιον μόριον ςω ΤΑρ ούν άν μάθοις άποκριναμένου έστιν γάρ ή ρητορική κατά τον έμόν λόγον πολιτικής μορίου εϊδωλον πωλ Τί ούν καλόν ή αισχρόν λέγεις αυτήν είναι ςω Αισχρόν έγωγετά γάρ κακά αισχρά καλώέπειδή δει σοι άποκρίνασθαι ώς ήδη είδότι ά έγώ λέγω Em ambos os trechos Sócrates ridiculariza o interlocutor tor nando patente ao público presente na cena e por conseguinte ao leitor a sua debilidade técnica o que contrasta com a onipo tência relativa à arte dos discursos tekhnê logõri arrogada ante riormente pela personagem Nesse processo evidenciase então o engano proveniente da alazoneia de Polo de onipotente ele passa a ignorante e impostor um contraste portanto entre o que ele é e o que parece ser A ridicularização de Polo é fruto portanto da ação de Sócrates No trecho i ele induz Polo ao erro fazendo com que o interlocutor conclua que a culinária é certa experiência de produção de deleite e prazer a mesma conclusão que haviam chegado pouco antes com relação à retórica 462c Polo faz uma inferência correta do ponto de vista formal ie de que retórica e culinária são a mesma coisa visto ambas possuírem a mesma de finição mas a conclusão é obviamente falsa como demonstrará A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 63 Sócrates na sequência do argumento No trecho ii Sócrates atenta para a recorrência de Polo no mesmo tipo de equívoco dialógico já cometido anteriormente no Prólogo 448ε a tendência de atri buir juízo de valor a uma coisa antes mesmo de sáber o que ela é ou seja o desconhecimento da prioridade da definição22 Dada a insistência de Polo em saber o que Sócrates pensa sobre a retórica se ela é bela ou vergonhosa Sócrates antecipa então seu juízo sem deixar de se referir ironicamente a mais um passo equivocado de Polo na dinâmica dialógica visto que devo te responder como se já soubesses o que digo επειδή δει σοι άποκρίνασθαι ώς ήδη είδότι α έγώ λέγω 4ó3d45 Todavia para ressaltar a debilidade de Polo o próprio Sócrates acaba por cometer os mesmos equívocos que havia censurado quando cometidos pelo interlocutor Essa debilidade técnica de Polo é usada por Sócrates para justificar o motivo pelo qual ele próprio acaba por infringir es sas regras da discussão que ele mesmo havia estabelecido para o domínio da brakhulogia Como vimos acima embora na con dição de inquirido Sócrates intervém na participação de Polo e passa a lhe formular as perguntas acumulando dessa forma também a função de inquiridor Na sequência da discussão usa da makrologia para expor a sua concepção de retórica como kolakeia 4Ó4b466a quando havia estabelecido a brakhulogia como condição de possibilidade do diálogo soc Talvez eu tenha incorrido em um absurdo porque não per mitindo que tu fizesses longos discursos eu mesmo acabei me prolon gando em um discurso extenso Contudo mereço teu perdão pois quando 22 Platão Mênon 7ibi8 soc Eu próprio Mênon estou nessa condição eu careço daquilo de que carecem meus concidadãos e censuro a mim mesmo por não saber absolutamente nada sobre a virtude aquilo que não sei o que é como poderia saber que qualidade tem Ou te parece possível que alguém desconhecendo absolutamente quem é Mê non saiba que ele é belo rico ou nobre ou o contrário disso Achas que é possível Έγώ οΰν και αυτός ώ Μένων ούτως έχω συμπένομαι τοΐς πολίταις τούτου του πράγματος και έμαυτόν καταμέμφομαι ώς ούκ είδώς περί αρετής τό παράπαν õ δέ μή οιδα τί έστιν πώς αν όποιον γέ τι είδείην ή δοκει σοι οΐόν τε είναι οστις Μένωνα μή γιγνώσκει τό παράπαν οστις έστίν τούτον είδεναι είτε καλός είτε πλούσιος είτε και γενναίος έστιν είτε και τάναντία τούτων δοκεί σοι οίόν τ είναι 64 GÓRGIAS DE PLATÃO eu falava brevemente tu não me entendias e nem eras minimamente capaz de fazer uso das respostas que te endereçava carecendo de explicação As sim se eu por minha vez não souber como usar as respostas que me deres prolonga também tu o discurso caso contrário deixa que eu as use pois é justo E agora se souberes como usar essa resposta usaa pol Mas o que dizes então A retórica te parece ser lisonja soc Eu disse deveras que ela é parte da lisonja Mas com essa idade não te recordas Polo O que farás agora pol Acaso te parece que os bons rétores enquanto lisonjeadores são considerados homens desprezíveis nas cidades soc Isso é uma pergunta ou o princípio de um discurso pol Uma pergunta soc A mim não parecem ser nem mesmo considerados 46501 466b3 ςω ίσως μέν ούν άτοπον πεποίηκα ότι σε ούκ έών μακρούς λόγους λέγειν αύτός συχνόν λόγον άποτέτακα άξιον μέν ούν έμοι συγγνώμην έχειν έστίν λέγοντος γάρ μου βραχέα ούκ έμάνθανες ούδέ χρήσθαι τή άποκρίσει ήν σοι άπεκρινάμην ούδέν οίός τ ήσθα άλλ έδέου διηγήσεως έάν μέν ούν και έγώ σοΰ άποκρινομένου μή έχω δτι χρήσωμαι άπότεινε και σύ λόγον έάν δέ έχω έα με χρήσθαι δίκαιον γάρ και νΰν ταύτη τή άποκρίσει εϊ τι έχεις χρήσθαι χρώ πωλ Τί ούν φής κολακεία δοκεΐ σοι είναι ή ρητορική ςω Κολακείας μέν ούν έγωγε εΐπον μόριον άλλ ού μνημονεύεις τηλικοΰτος ών ώ Πώλε τί τάχα δράσεις πωλ ΤΑρ ούν δοκοΰσί σοι ώς κόλακες έν ταις πόλεσι φαύλοι νομίζεσθαι οί άγαθοι ρήτορες ςω Ερώτημα τοϋτ έρωτας ή λόγου τίνος άρχήν λέγεις πωλ Ερωτώ έγωγε ςω Ούδέ νομίζεσθαι έμοιγε δοκοΰσιν Ao corrigir Polo e atentar sarcasticamente para a sua pouca memória Sócrates evidencia ao mesmo tempo que Polo não é apenas inexperto no registro da brakhulogia porém também no da makrologia que a princípio seria de sua competência técnica23 Contudo essa evidência é mais uma vez causada 23 Essa associação entre boa memória e o registro da makrologia aparece iro nicamente no Protágoras quando Sócrates justifica à personagem homônima porque a brakhulogia deve ser a condição de possibilidade da discussão 334075 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 65 propositalmente por Sócrates ele poderia ter sido compla cente com Polo quando ele pergunta se a retórica é lisonja e não parte dela pois não se trataria propriamente de um erro mas de falta de precisão Polo estaria recorrendo assim à definição genérica de retórica e não à específica Isso mos tra portanto que a estratégia argumentativa de Sócrates no 2 Ato não se restringe apenas à defesa de suas teses morais e à refutação das do adversário mas compreende também a ridicularização do interlocutor como havia apontado a ocor rência do verbo ôicxKtopuiôeiv comediar no início do 2 Ato 46267 Essa adequação do comportamento de Sócrates ao ca ráter do interlocutor todavia terá consequências importantes na construção do êthos do filósofo no Górgias como veremos abaixo na Seção 6 vi A obtusidade de Polo se torna mais evidente na medida em que Sócrates conduz a discussão para tópicos familiares a seu pensamento moral absolutamente estranhos em contrapar tida ao interlocutor Como Polo desconhece o procedimento dialógico tal como Sócrates o concebe ele é incapaz de com preender porque sua pergunta é para Sócrates ambígua Não assassinam como os tiranos quem eles quiserem e não rou bam dinheiro e expulsam da cidade quem for de seu parecer ούχ ώσπερ oí τύραννοι άποκτεινύασίν τε ον αν βούλωνται και άφαιροΰνται χρήματα και έκβάλλουσιν έκ τών πόλεων ον αν δοκή αύτοίς 466bnc2 A afirmação de Sócrates se fun damenta em uma determinada teoria sobre a motivação hu mana baseada na distinção entre fazer o que quer ποιειν ών βούλονται 466el e fazer o que parece melhor ποιειν ότι αν αύτοίς δόξη βέλτιστον είναι 466ei2 Tendo em vista a sua inexperiência nas discussões filosóficas e portanto a sua igno rância em questões de psicologia moral discutidas no âmbito 66 GÓRGIAS DE PLATÃO socrático ele não compreende as consequências dessa distinção proposta por Sócrates confundindo os conceitos soc Pois bem eu te digo que elas são duas perguntas e responder teei a ambas Eu afirmo Polo que tanto os rétores quanto os tiranos pos suem o mais ínfimo poder nas cidades como antes referia e que não fazem o que querem por assim dizer mas fazem o que lhes parece ser melhor p o l E então não é grandioso esse poder soc Não é como afirma Polo p o l Eu afirmo que não é Eu afirmo que é sim soc Não pelo tu não afirmas porque dizias que ter um gran dioso poder é um bem para quem o possui p o l E confirmo 46605e8 ςω Λέγω τοίνυν σοι οτι δύο ταΰτ έστιν τά έρωτήματα και άποκρινοϋμαί γέ σοι προς άμφότερα φημι γάρ ιϊ Πώλε έγώ και τούς ρήτορας και τούς τυράννους δύνασθαι μέν έν ταις πόλεσιν σμικρότατον ώσπερ νυνδή έλεγον ούδέν γάρ ποιεΐν ών βούλονται ώς έπος είπεϊν ποιεϊν μέντοι οτι αν αύτόΐς δόξη βέλτιστον είναι γτωλ Ούκοϋν τούτο έστιν τό μέγα δύνασθαι ςω Οϋχ ώς γέ φησιν Πώλος πωλ Έγώ οΰ φημι φημι μέν ούν έγωγε ςω Μα τόνού σύ γε έπει τό μέγα δύνασθαι έφης άγαθόν είναι τώ δυναμένω πωλ Φημι γάρ ούν A incompreensão de Polo com relação aos preceitos do ar gumento socrático se expressa em seu juízo de valor onde Só crates percebe a causa da impotência do rétor e do tirano Polo entende como fonte de grande poder pois a distinção entre fazer o que quer e fazer o que parece uma distinção con ceituai na psicologia moral defendida pelo filósofo não lhe faz qualquer sentido Esse mesmo tipo de incompreensão já havia ocorrido antes na discussão entre Sócrates e Górgias naquela oportunidade onde o primeiro percebia o motivo de a retórica ser uma pseudoarte enganadora como ele demonstrará pOs teriormente a Polo o segundo entendia como a sua grande vantagem e como fonte de sua superioridade sobre as demais A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 67 tekhnai24 No entanto a confusão de Polo não se deve simples mente à sua obtusidade caricatural mas também à forma como Sócrates age com o interlocutor na discussão criando proposi talmente os meios para ressaltála A tese defendida por Sócrates a partir de sua própria formulação 466d6e2 pressupõe uma série de demonstrações as quais exigem por sua vez segundo as próprias regras do diálogo estabelecidas por ele o assenti mento do interlocutor para serem legitimadas as suas conclusões Embora Sócrates faça as demonstrações na sequência da discus são 4670546805 nesse momento precedente a sua tese não está absolutamente justificada o que de certa forma explica a in compreensão de Polo Nesse sentido Sócrates cria os meios para salientar a obtusidade do interlocutor e nesse movimento os elementos cômicos da cena se tornam flagrantes Sócrates coloca palavras na boca de Polo afirma que ele diz o que não diz irrita a personagem e faz com que ela enfim depois de uma série de passos equivocados restitua a Sócrates a função de inquiridor soc Eu afirmo que eles não fazem o que querem vai refutame pol Há pouco não admitias que eles fazem aquilo que lhes parece ser melhor soc E continuo admitindo pol Não fazem então o que querem soc Isso eu não digo pol Fazendo o que lhes parece soc Isso eu digo pol Tuas palavras são perniciosas e sobrenaturais Sócrates soc Não me difames excelente Polo para falarte à tua maneira consueta Mas se tiveres perguntas a me fazer mostra que estou men tindo se não responde tu pol Mas prefiro responder para compreender o que dizes 4676204 ΣΩ Οϋ φημι ποιείν αυτούς α βούλονται άλλά μ έλεγχε πωλ Ούκ άρτι ώμολόγεις ποιείν α δοκεΐ αύτοίς βέλτιστα είναι τούτου πρόσθεν ςω Και γάρ νυν ομολογώ 24 Platão Górgias 459b6C4 68 GÓRGIAS DE PLATÃO πωλ Ούκ ούν ποιοΰσιν α βούλονται ςω Οΰ φημι πωλ Ποιοΰντες α δοκεΐ αύτοϊς ςω Φημί πωλ Σχέτλιά γε λέγεις και ύπερφυή ώ Σώκρατες ςω Μή κακηγόρει ώ λψστε Πώλε ϊνα προσείπω σε κατά σέ άλλ ει μέν έχεις έμέ έρωταν έπίδειξον οτι ψεύδομαι εί δέ μή αύτός άποκρίνου πωλ Ά λλ έθέλω άποκρίνεσθαι ϊνα και εϊδώ οτι λέγεις Como foi referido anteriormente a paródia é outro ele mento comum entre a Comédia Antiga e os diálogos platôni cos como salienta K Dover ela tem como função precípua criticar e ridicularizar aquilo que é parodiado25 A paródia da linguagem do tribunal como vemos no trecho acima Não me difames excelente Polo para falarte à tua maneira con sueta μή κακηγόρει ώ λώστε Πώλε ϊνα προσείπω σε κατά σε 4 6 7b n ci reaparece em grande relevo no discurso em que Sócrates distingue as duas formas de refutaçãoprova elen chos a retórica e a filosófica 4716147204 A maestria da personagem é justamente adequar um vocabulário de conota ção técnica empregado no âmbito dos tribunais ao contexto dialógico que lhe é a princípio estranho em vista de uma distin ção que exigiria a linguagem conceituai própria do pensamento filosófico A título de ilustração 0 vocabulário técnico paro diado por Sócrates nesse discurso seria este μάρτυς e relativos testemunha 47ie5 47234 as b7 ci παρέχομαι apresen tar 47ie5 e6 47234 bs b7 καταψευδομαρτυρέω e relativos prestar falso testemunho 472ai 472bs έκβάλλω banir ex pulsar 472b5 Este pequeno excerto do discurso é suficiente para ilustrar como a personagem Sócrates usa da paródia não apenas para criticar os procedimentos retóricos comuns nos tribunais atenienses mas para apresentar ao mesmo tempo uma distinção crucial para o pensamento filosófico de Platão entre o elenchos socrático e o elenchos retórico 25 J Dover Aristophanic Comedy p 73 Ver também A Nightingale op cit p 7 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 69 soc Todavia eu sendo um só contigo não concordo pois não me constranges a isso embora te empenhes apresentando contra mim falsas testemunhas em profusão para expulsarme do meu patri mônio e da verdade Mas se eu não te apresentar sendo tu apenas um como testemunha concorde ao que digo não terei chegado julgo eu a nenhuma conclusão digna de menção sobre o que versa a nossa discus são e creio que tampouco tu se eu sendo apenas um não testemunhar em teu favor e tu dispensares todos as demais Aquele é um modo de refutação como presumes tu e muitos outros homens mas há também outro modo como presumo eu por minha vez 472b3C4 ςω άλλ έγώ σοι είς ών ούχ ομολογώ ού γάρ με σύ άναγκάζεις άλλα ψευδομάρτυρας πολλούς κατ έμοΰ παρασχόμενος έπιχειρείς έκβάλλειν με έκ τής ούσίας και τού άληθοΰς έγώ δέ αν μή σέ αύτόν ένα όντα μάρτυρα παράσχωμαι όμολογοΰντα περί ών λέγω ούδέν οίμαι άξιον λόγου μοι πεπεράνθαι περι ών άν ήμιν ό λόγος ή οίμαι δέ ούδέ σοί έάν μή έγώ σοι μαρτυρώ είς ών μόνος τούς δ άλλους πάντας τούτους χαίρειν έάς εστιν μεν ούν ούτός τις τρόπος έλέγχου ώς σύ τε οϊει και άλλοι πολλοί έστιν δέ και άλλος ον έγώ αύ οίμαι Mas a paródia não é usada exclusivamente pela personagem Sócrates no Górgias Polo também parodia o recurso argumen tativo a que Sócrates havia recorrido antes quando dizia antes das demonstrações que requeririam o assentimento do inter locutor que não só ele mas também Polo afirma que os réto res bem como os tiranos não possuem grandioso poder nas cidades 46663 Polo tenta empregar o mesmo recurso contra Sócrates mas ele não é bemsucedido como não poderia ser diferente tendo em vista a debilidade técnica e moral da per sonagem soc E no começo da discussão Polo eu te elogiei porque me pare ces ter sido bem educado na retórica porém ter descurado do diálogo E é esse então o discurso com o qual até mesmo uma criança me refuta ria Porventura presumes que eu acabei de ser refutado por ti com esse discurso tendo eu afirmado que quem comete injustiça é infeliz Mas como bom homem Aliás não concordo com nada do que dizes pol Porque não desejas concordar visto que a tua opinião se con forma com o que digo 47id3ei 70 GÓRGIAS DE PLATÃO ςω Και κατ άρχάς τών λόγων ώ Πώλε έγωγέ σε έπήνεσα ότι μοι δοκείς εύ προς τήν ρητορικήν πεπαιδεΰσθαι τού δε διαλέγεσθαι ήμεληκέναι και νυν άλλο τι ούτός έστιν ό λόγος φ με και άν παίς έξελέγξειε και έγώ ύπό σοϋ νυν ώς σύ οϊει έξελήλεγμαι τούτω τώ λόγω φάσκων τον άδικοϋντα ούκ εύδαίμονα είναι πόθεν ώγαθέ και μήν ούδέν γέ σοι τούτων ομολογώ ών σύ φής πωλ Ού γάρ έθελεις έπει δοκεΐ γέ σοι ώς έγώ λέγω Esse tipo de estratégia argumentativa de Sócrates parodiada por Polo de colocar na boca do interlocutor palavras contrárias ao que ele próprio diz é justificada no diálogo pela sua convic ção de que Polo não reconhece a verdade das teses morais so cráticas porque não lhe foi demonstrado de modo conveniente que a partir de suas próprias opiniões conflitantes se deduz o contrário daquilo que ele reputava verdadeiro Sócrates tentará lhe mostrar que a partir da premissa de que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla Polo terá de admitir neces sariamente que além de mais vergonhoso é também pior o que Polo rejeitava a priori Nesse sentido do ponto de vista da psicologia moral socrática bastaria uma correção nessa gama de opiniões sustentadas de forma incoerente pelo interlocutor para este então passar a reconhecer primeiro a sua contradi ção interna e depois a verdade das teses morais socráticas essa seria portanto a função positiva do elenchos Na perspectiva de Sócrates então a convicção na verdade de suas teses morais justificaria esse tipo de recurso argumentativo sem a qual seu procedimento para com Polo não se distinguiria do procedi mento tipicamente erístico ilustrado sobretudo no diálogo Eutidemo VII Todavia esse aspecto sério do elenchos socrático que teria como fim beneficiar o refutado demonstrandolhe a sua ignorância e incutindolhe o desejo pelo verdadeiro conhecimento contrasta A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 71 com as nuances jocosas do tipo de estratégia argumentativa em pregada por Sócrates na discussão com Polo se a audiência pre sente na cena ou mesmo o leitor suspeita dos argumentos usados por Sócrates para justificar positivamente o elenchos a tentativa de ridicularizar o interlocutor parece confirmar precisamente que o intuito de Sócrates na verdade é simplesmente refutálo a des peito da verdade pretendida pelas suas demonstrações Platão re presenta essa ambiguidade do comportamento de Sócrates aos olhos do público quando faz Cálicles chamar o filósofo de amante da vitória cpiXóviKoc 51505 termo comumente usado para se referir ao procedimento erístico26 Nessa interface com a comé dia portanto deparamonos com a complexidade da represen tação do êthos de Sócrates no Górgias de um lado a seriedade do filósofo na busca pela verdade e pela reforma moral e po lítica daquela sociedade e de outro a jocosidade que acom panha as suas ações quando diante de um interlocutor débil e desprezível phaulos como é representado Polo Como foi dito anteriormente tendo em vista o aspecto ad hominem do elenchos Sócrates adéqua sua estratégia argumentativa ao tipo de interlocutor com o qual dialoga mas isso implica em con trapartida uma série de consequências na construção do êthos do filósofo no Górgias O elemento cômico envolvido no embate entre Sócrates e Polo por outro lado chama em causa outro diálogo o Euti demo Platão nos oferece uma caracterização cômica dos erísti cos representados pelas personagens Eutidemo e Dionisodoro a ridicularização do procedimento dialógico realizado por eles é uma forma de Platão depreciar na própria construção do drama a pretensão dessa classe de sofistas a um certo saber reduzindo a sua habilidade discursiva a um mero jogo infantil cujas peças são as palavras e os movimentos os silogismos Como foi dito acima a personagem Sócrates exercendo a fun ção de narrador do diálogo enfatiza reiteradamente a reação 26 No Górgias cf 4571X4 45705 50504 515b5 5i5b6 72 GÓRGIAS DE PLATÃO da audiência quando Clínias é submetido ao elenchos o riso caracteriza precisamente a situação ridícula do refutado aos olhos daquele determinado público composto de admiradores dos dois sofistas 276067 276di3 No Górgias entretanto vemos a própria personagem Sócrates adotando uma conduta similar ao buscar salientar a todo instante a obtusidade de Polo tornando o interlocutor um instrumento de legitimação de suas inferências e um objeto de satirização Em linhas gerais do ponto de vista das funções exercidas pelas personagens Só crates estaria para Eutidemo e Dionisodoro assim como Polo estaria para Clínias Isso se conforma ao juízo de Cálicles so bre os filósofos e em particular sobre Sócrates em sua invec tiva 484c486d o filósofo é percebido por ele como alguém que está constantemente brincando zombando jogando παίζοντας 485b2 παίζοντα 485C1 cal Todavia quando o homem já está velho mas ainda con tinua a filosofar aí é extremamente ridículo Sócrates e a experiência que tenho com os filósofos é precisamente a mesma que tenho com os balbuciantes e zombeteiros 48sa6b2 ςω έπειδάν δέ ήδη πρεσβύτερος ών άνθρωπος έτι φιλοσοφή καταγέλαστον ώ Σώκρατες τό χρήμα γίγνεται και εγωγε όμοιότατον πάσχω προς τούς φιλοσοφοΰντας ώσπερ προς τούς ψελλιζομένους και παίζοντας Esse aspecto infantil do jogo dialógico erístico referido por Platão no Eutidemo pelas diversas ocorrências de deriva dos da raiz paiz παίζ 27762 278b3 278b6 283b6 286b9 285a3 também é visto por Cálicles em contrapartida como uma característica da prática filósofica empreendida por Só crates Nesse sentido o contorno cômico de ambos os diálogos acaba coincidindo nesse elemento erístico que afeta o compor tamento das personagens e Sócrates no Górgias não obstante a sua seriedade arrogada enquanto filósofo não deixa de parti cipar dele quando opta pela estratégia argumentativa de ridicu A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 73 larizar o interlocutor A comicidade da cena nasce da interação entre os dois interlocutores e não exclusivamente da debilidade intrínseca da personagem Polo revelada pelo elenchos A dúvida de Cálicles com relação à motivação de Sócrates expressa na abertura do 3e Ato ilustraria assim esse aspecto ambíguo do êthos de Sócrates Dizeme Querefonte Sócrates fala sério ou está de brincadeira είπε μοι ώ Χαιρεφών σπουδάζει ταΰτα Σωκράτης ή παίζει 48ib67 Todavia como no Górgias não há um narrador não há a des crição da reação do público durante a refutação de Polo Platão não nos indica se ele assim como Clínias no Eutidemo também é motivo de riso para aquela determinada audiência Pelo contrá rio Platão enfatiza no Górgias por meio das outras personagens como é Sócrates quem parece pelo menos a determinado tipo de interlocutor e por conseguinte a determinado tipo de público uma figura ridícula Isso é dito expressamente por Cálicles em sua invectiva contra o filósofo 4840448601 soc Quando então os filósofos se deparam com alguma ação privada ou política são cobertos pelo ridículo como julgo que sucede aos políticos quando se envolvem com vosso passatempo e vossas dis cussões são absolutamente risíveis 4840763 ςω έπειδάν ούν ελθωσιν εϊς τινα ιδίαν ή πολιτικήν πραξιν καταγέλαστοι γίγνονται ώσπερ γε οΐμαι οί πολιτικοί έπειδάν αύ εις τάς ύμετέρας διατριβάς ελθωσιν και τούς λόγους καταγέλαστοι είσιν A inabilidade do filósofo para a política ou melhor para a política democrática discutirei a seguir a imagem de Sócrates como o verdadeiro homem político 5257 é na perspec tiva do homem democrático um aspecto risível da figura do filósofo Tal condição ridícula é reafirmada nesse mesmo dis curso repetidas vezes por Cálicles 48461 48463 48sa4 485C1 Polo por sua vez ri de Sócrates quando ele durante o exame da tese de que cometer injustiça é pior que sofrêla enunciada em 469c afirma que mais infeliz será aquele que escapou à punição e exerceu a tirania άθλιώτερος μέντοι ό διαφεύγων 74 GÓRGIAS DE PLATÃO και τυραννεύσας 473ei Cálicles ao se referir ao episódio da refutação de Górgias não deixa de mencionar o riso de Polo quando Sócrates levou o rétor a se contradizer 482d como uma forma de reação contra os meios utilizados pelo filósofo para consumar o elenchos A opinião de Cálicles sobre o filósofo por seu turno encontra respaldo no que o próprio Sócrates diz a Polo sobre a sua incompetência como político chamando em causa aquele episódio mencionado na Apologia17 em que teve de exercer a função de prítane soc Polo não sou um político Tendo sido sorteado ano passado para o Conselho quando meu grupo exercia a pritania e devia eu dar a pauta da votação torneime motivo de riso por ignorar como fazêlo Assim tampouco agora ordenes que eu dê a pauta da votação aos aqui presentes mas se não tens uma refutação melhor do que essa passame a vez como há pouco eu dizia e tenta me refutar como julgo que deva ser 4736647435 ςω Ώ Πώλε ούκ εϊμι των πολιτικών και πέρυσι βουλεύειν λαχών έπειδή ή φυλή έπρυτάνευε και έδει με έπιψηφίζειν γέλωτα παρείχον και ούκ ήπιστάμην έπιψηφίζειν μή ούν μηδέ νϋν με κέλευε έπιψηφίζειν τούς παρόντας άλλ εί μή έχεις τούτων βελτίω έλεγχον δπερ νυνδή έγώ έλεγον έμοι έν τώ μέρει παράδος και πείρασαι τού έλέγχου οίον έγώ οίμαι δεΐν είναι Temos no Górgias portanto duas perspectivas diferentes sobre o ridículo τό γελοίον Na perspectiva de Cálicles e Polo e genericamente do homem democrático ou do senso comum daquela sociedade ateniense Sócrates é ridículo na me dida em que está alheio ao processo político da democracia quando requerida a sua presença no Conselho por constrição das regras que atribui a cada pritania um décimo do ano para a coordenação da Assembleia Sócrates teve um comportamento ridículo aos olhos daquela audiência devido à sua incompetên cia e inexperiência em questões políticas assim como Polo parece 27 27 Platão Apologia 32ab A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 75 ridículo quando submetido ao domínio da brakhulogia ao do mínio discursivo da filosofia Esse fato particular ilustraria as sim a inutilidade do filósofo para o processo político da pólis Mas na perspectiva de Sócrates e genericamente do filósofo a condição ridícula é a de Polo que por não ter formação fi losófica e ser inexperiente no diálogo ôiaXéYO0ai ignora a sua própria ignorância e presume conhecer aquilo que não conhece quando submetido ao elenchos socrático a sua debili dade e por conseguinte o caráter enganador de sua alazoneia tornamse patentes à audiência da cena e ao leitor VIII Como vemos Platão é cuidadoso ao precisar em que condições a figura de Sócrates parece ridícula ele é ridículo segundo as ex pectativas daquela sociedade democrática ateniense com relação ao dever político de cada cidadão representada aqui pela visão de Polo e Cálicles Platão associa à democracia como um todo o tipo de moralidade ou de imoralidade defendida por Polo ex pressa genericamente no Górgias pela máxima de que cometer injustiça é melhor do que sofrêla como admite Sócrates a Polo no presente momento concordarão plenamente contigo quase todos os atenienses e estrangeiros se quiseres apresentar con tra mim testemunhas de que não falo a verdade και νυν περί ών σύ λέγεις ολίγου σοι πάντες συμφήσουσιν ταύτά Αθηναίοι καί οί ξένοι έάν βούλη κατ έμοϋ μάρτυρας παρασχέσθαι ώς ούκ αληθή λέγω 472a25 Cálicles por sua vez voltandose a Sócrates na abertura do 3a Ato diz que se as conclusões para doxais a que chegou com Polo fossem válidas então a vida de nós homens não estaria de pontacabeça e não estaríamos fazendo como parece tudo ao contrário do que deveríamos fazer άλλο τι ή ήμών ό βίος άνατετραμμένος άν εϊη τών άνθρώπων καί πάντα τά έναντία πράττομεν ώς έοικεν ή ά δει 481C24 Polo e Cálicles nesse sentido a despeito das diferenças da represen 76 GÓRG1AS DE PLATÃO tação de seus respectivos caracteres seriam os portavozes do senso comum daquela sociedade democrática28 a qual acabou por condenar Sócrates à morte o vaticínio de Cálicles como veremos adiante é uma referência direta a esse episódio A in vectiva de Cálicles contra o filósofo expressaria assim o ódio àTtqxOópev n d i e2 nutrido contra Sócrates referido na Apo logia causa precípua de sua condenação Sócrates portanto aos olhos do homem democrático apa rece como um atopos 473a 4810 494di como uma figura absolutamente idiossincrática seja do ponto de vista físico dada a sua proverbial feiura29 seja do ponto de vista moral e político Isso consequentemente faz de Sócrates uma figura potencial mente cômica e explica a razão de seu sucesso como personagem da 28 A passagem seguinte do Górgias parece confirmar esse ponto do meu ar gumento c a l Não sei como a todo momento consegues arrastar os argumentos de um lado para outro Sócrates ou não sabes que o imitador do tirano matará quem não o imite e furtará suas propriedades se ele quiser soc Eu sei bom Cálicles a menos que eu seja surdo pois já ouvi isso repe tidamente tanto de ti quanto de Polo momentos atrás e de quase todos os demais habitantes dessa cidade Mas ouve também tu o que digo se quiser ele um homem vicioso matará um homem belo e bom 5iia4b5 ΚΑΛ Ούκ οίδ όπη στρέφεις έκάστοτε τούς λόγους άνω και κάτω ώ Σώκρατες ή ούκ οίσθα ότι ούτος ό μιμούμενος τον μή μιμούμενον εκείνον άποκτενεί έάν βούληται και άφαιρήσεται τά όντα ςω ΟΙδα ώγαθέ Καλλίκλεις εί μή κωφός γ είμί καί σοϋ άκούων και Πώλου άρτι πολλάκις και τών άλλων ολίγου πάντων των έν τή πόλει άλλα και σύ έμοϋ ακούε ότι άποκτενεί μέν αν βούληται άλλα πονηρός ών καλόν κάγαθόν όντα 29 Cícero Tusculanas 48ο Mas aqueles que são considerados por natureza iracundos misericordiosos invejosos ou coisas do gênero são praticamente constituídos por um mau hábito da alma mas são curáveis como se diz de Sócrates quando durante uma reunião Zópiro que declarava capaz de perceber a natureza em si de quem quer que fosse a partir de sua fisionomia observou nele uma gama de vícios tornouse motivo de riso para aqueles que não reconheciam em Sócrates tais vícios Todavia o próprio Sócrates saiu em sua defesa dizendo que eles lhe eram congênitos mas que haviam sido vencidos pela própria razão Qui autem natura dicuntur iracundi aut misericordes aut inuidi aut tale quid ei sunt constituti quasi mala ualetudine animi sanabiles tamen ut Sócrates dicitur cum multa in conuentu uitia conlegisset in eum Zopyrus qui se naturam cuisque ex forma perspicere profitebatur derisus est a ceteris qui illa in Socrate uitia non agnoscerent ab ipso autem Socrate subleuatus cum illa sibi insita sed ratione a se deiecta diceret A COMÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO POLO 77 chamada Comédia Antiga sobretudo como vemos em As Nuvens de Aristófanes A discussão sobre a percepção da idiossincrasia pelo senso comum como ridículo γελοιον e por conseguinte como objeto da satirização cômica κωμωδείν 452di aparece no Livro v da República quando Sócrates delineia o papel das mulheres na cidade ideal Quando este propõe uma isonomia entre homens e mulheres de modo a ambos os gêneros passarem a desempenhar funções que pelos costumes eram estritamente masculinas como a função de guerreiro por exemplo30 ele faz a seguinte reflexão sobre o caso Se portanto empregarmos homens e mulheres nas mesmas fun ções as mesmas coisas também deverão ser ensinadas a elas Sim A música e a ginástica são concedidas a eles Sim Também a elas portanto devem ser concedidas ambas as artes e até mesmo os exercícios bélicos empregandoas nas mesmas funções É plausível pelo que dizes disse ele Talvez disse eu pareçam ridículas muitas coisas contra o costume que acabamos de dizer caso levemos à ação o que foi dito Certamente disse ele 4516645239 Ei άρα ταΐς γυναιξιν έπι ταύτά χρησόμεθα και τοϊς άνδράσι ταύτά και διδακτέον αύτάς Ναί Μουσική μήν έκείνοις γε και γυμναστική έδόθη Ναί Και ταΐς γυναιξιν άρα τούτω τώ τέχνα και τα περί τον πόλεμον άποδοτέον και χρηστέον κατά ταύτά Είκός έξ ών λέγεις εφη Ίσως δή ειπον παρά το έθος γελοία άν φαίνοιτο πολλά περι τά νυν λεγάμενα εί πράξεται ή λέγεται Και μάλα έφη 30 A Nightingale op cit ρ 176 Nessa passagem Sócrates caracteriza os poetas cômicos tanto do passado quanto do presente como se eles reagissem a novas ideias que eram contrárias aos costumes com escárnio e zombaria Ao fa zerem isso eles refletem a opinião da maioria que é levada a ver qualquer ideia verdadeiramente radical como ridícula 78 GÓRGIAS DE PLATÃO Talvez essa reflexão sobre o aspecto ridículo da idiossin crasia na perspectiva do senso comum dos costumes tradicio nalmente conservados reflita o próprio caso de Sócrates que é representado por Platão como uma figura em confronto com os valores da sociedade democrática de seu tempo Esse confronto é salientado por Cálicles nessa mesma invectiva cal Ademais tornamse inexperientes nas leis da cidade nos discursos que se deve empregar nas relações públicas e privadas nos prazeres e apetites humanos e em suma tornamse absolutamente inexperientes nos costumes dos homens 484d27 ΚΑΛ και γάρ τών νόμων άπειροι γίγνονται τών κατά τήν πόλιν και τών λόγων οις δει χρώμενον όμιλεΐν εν τοίς συμβολαίοις τοίς άνθρώποις και ιδία και δημοσία και τών ήδονών τε καί επιθυμιών τών άνθρωπείων και συλλήβδην τών ηθών παντάπασιν άπειροι γίγνονται Nesse sentido a percepção de Sócrates como atopos como alguém em conflito com os costumes humanos τών ηθών 484d6 a percepção de suas convicções morais como atopa como vemos no Górgias explicam de certa forma a razão de Sócrates ter sido em sua época uma figura potencialmente cômica Mas Platão oferece uma resposta a isso nessa inversão de valores operada pela perspectiva moral de Sócrates no caso específico do Górgias de que cometer injustiça é pior do que sofrêla e não o contrário como comumente é aceito serão Polo Cálicles e em suma o senso comum daquela sociedade democrática a desempenhar o papel de ridículo γελοιον e não mais Sócrates como se evidencia nesta passagem soc Eis o que na discussão precedente ficou manifesto e afirmo que isso está firme e atado se não for uma expressão muito rude por argumentos de ferro e diamante ao menos como haveria de parecer na atual conjuntura Assim se tu não o desatares ou qualquer outra pessoa ainda mais jovem e audaz do que tu será impossível que alguém afirmando coisas diferentes das que afirmo agora fale corre A COMÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO POLO 79 tamente Pois o meu argumento é sempre o mesmo que não sei como essas coisas são mas que das pessoas que tenho encontrado como na ocasião presente nenhuma é capaz de afirmar coisas diferentes sem ser extremamente ridícula 5086650937 ςω ταϋταήμίν άνω έκεΐέν τοΐς πρόσθεν λόγοις οϋτω φανέντα ώς έγώ λέγω κατέχεται καί δέδεται και εί άγροικότερόν τι είπειν έστιν σιδηροΐς και άδαμαντίνοις λόγοις ώς γοΰν αν δόξειεν ούτωσί οΰς σύ εί μή λύσεις ή σου τις νεανικώτερος ούχ οΐόν τε άλλως λέγοντα ή ώς έγώ νΰν λέγω καλώς λέγειν έπεί εμοιγε ό αύτός λόγος έστιν άεί δτι έγώ ταΰτα ούκ οιδα όπως εχει δτι μέντοι ών έγώ έντετύχηκα ώσπερ νυν ούδείς οιός τ έστιν άλλως λέγων μή ού καταγέλαστος είναι A TRAGÉDIA NO DIÁLOGO O CASO CÁLICLES I Quando iniciamos a leitura do 3a Ato percebemos pronta mente uma mudança radical não apenas na estratégia argumen tativa de Sócrates mas sobretudo na postura do interlocutor perante o elenchos socrático longe de ser uma personagem in gênua e débil como é Polo Cálicles representa aqui outro tipo de interlocutor o recalcitrante e talvez não haja no corpus pla tonicum uma discussão tão marcada pelo antagonismo entre as personagens como esta representada no Górgias1 Cálicles como o próprio Sócrates admite apresentase como o seu grande de safio a pedra de toque βασάνου 486d7 capaz de verificar de modo suficiente se as suas convicções morais são verdadeiras 1 Trasímaco no Livro i da República também se enquadraria no caso do interlocutor recalcitrante mas a sua breve intervenção a única depois de sua par ticipação no Livro I no diálogo junto a Glauco e Adimanto no início do Livro v 45oab contribuindo para a discussão em voga mostra um comportamento bem mais brando do que o de Cálicles no Górgias A diferença do comportamento de Trasímaco entre o Livro i e o Livro v mostra que o sofista naquela altura do diálogo já se encontrava de certa forma envolvido pelos argumentos de Sócrates 82 GÓRGIAS DE PLATÃO e se o modo de vida regido pela filosofia é o melhor modo de se viver 486d487b A condição para que essa verificação seja bemsucedida depende portanto do consentimento do inter locutor nas premissas do argumento socrático όμολογήσης 486e5 Esse princípio metodológico da brakhulogia aparece dito expressamente por Sócrates nesta passagem soc É evidente então que procedamos da mesma forma se tu concordares comigo em algum ponto na discussão nós já o teremos verificado suficientemente e prescindiremos de outra pedra de toque Pois jamais darias seu assentimento por carência de sabedoria ou por excesso de vergonha tampouco o darias para me enganar visto que és meu amigo como tu mesmo dizes O meu e o teu consentimento por tanto será realmente a completude da verdade 487d7e3 ςω εχει ôtj ούτωσι δήλον οτι τούτων πέρι νυνί έάν τι σύ έν τοίς λόγοις όμολογήσης μοι βεβασανισμένον τοΰτ ήδη έσται ίκανώς ύπ έμοϋ τε και σοΰ και ούκέτι αύτό δεήσει έπ άλλην βάσανον άναφέρειν ού γάρ άν ποτέ αύτό συνεχώρησας σύ ούτε σοφίας ένδεια οϋτ αισχύνης περιουσία ούδ αύ άπατων έμέ συγχωρήσαις άν φίλος γάρ μοι εΐ ώς και αύτός φής τώ άντι οΰν ή έμή και ή σή ομολογία τέλος ήδη εξει τής άληθείας Pois bem levando em consideração os próprios termos em que Sócrates coloca a questão o que implicaria o fracasso do elenchos quando aplicado a um tipo de interlocutor como Cáli cles Para Sócrates bastaria simplesmente o consentimento do interlocutor às premissas do argumento independentemente dos meios pelos quais ele obtém esse consentimento independen temente de ele refletir ou não as reais opiniões do interlocutor como sucede no caso de Cálicles Quais seriam as consequências para a legitimidade do elenchos quando o interlocutor já não mais participa seriamente da discussão recusando o diálogo 505Cd E por que Sócrates mesmo diante desse não de Cálicles conti nua a insistir na discussão rompendo as regras que ele próprio havia determinado para o domínio da brakhulogia recorrendo assim ao monólogo à própria negação em termo do diálogo A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 83 5060550904 Depois da recusa de Cálicles 505cd o restante do diálogo não seria apenas um simulacro ειδωλον A des peito da legitimidade ou não das inferências de Sócrates para provar suas convicções morais tendo Cálicles como interlocutor o fato marcante desse 3S Ato é indubitavelmente a ineficácia persuasiva do discurso socrático em diversas passagens do texto e por diversos modos Platão sublinha a resistência de Cálicles ao que diz Sócrates 493d 494a 5i3d 513c 516a 5i6cd 517a 518a 523a 527a culminando com a referência à sua absoluta indiferença ao conteúdo do mito que encerra o diálogo Provavelmente essas coisas parecerão a ti como um mito contado por uma anciã e tu as desprezarás 527356 Τάχα δ ούν ταΰτα μϋθός σοι δοκεί λέγεσθαι ώσπερ γραδς και καταφρονείς αυτών Pela própria declaração de Sócrates Cálicles no final do diálogo mostrase absolutamente convicto das opiniões que havia defendido antes e as diversas tentativas de Sócrates para demovêlo delas seja pelas demonstrações lógicas brakhulo gia seja pelos discursos retóricos makrologia seja pelos mitos muthos não surtiram qualquer efeito persuasivo no interlocu tor Estamos portanto diante dos limites do discurso socrático e de certo modo diante do fracasso de Sócrates como defen sor de suas convicções morais que ele tem seguramente por verdadeiras se Cálicles se apresenta como a pedra de toque βασάνου 486d7 capaz de verificar a verdade de tais convic ções mas não é absolutamente persuadido disso por Sócrates deparamonos então com o colapso de seu discurso Esse co lapso designarei aqui como a tragédia de Sócrates ou melhor a tragédia do discurso socrático ainda que Sócrates seja repre sentado aqui e em outros diálogos platônicos como um herói antitrágico como veremos adiante Esse contorno trágico do 32 Ato se dá sobretudo pela repre sentação do êthos de Cálicles e por conseguinte pela importân 84 GÓRGIAS DE PLATÃO cia desse confronto entre dois tipos de êthos antagônicos como tentarei mostrar adiante Cálicles condensa em si elementos do homem democrático e do homem tirânico e se essa relação do Górgias com a República for legítima o caso Cálicles seria um exemplo particular escolhido por Platão para representar nos diálogos precisamente o problema da gênese do tirano no seio da democracia pelo menos potencialmente pois Cálicles é um jovem político que ainda participa do processo democrático de Atenas Nessa perspectiva Cálicles seria então para Sócrates o seu grande desafio seria ele o tipo de homem que mais precisaria da correção1 do elenchos pois o tirano no caso de Cálicles o tirano em potencial é no pensamento político platônico o pior tipo de homem o antípoda do filósofo como vemos na República Se Sócrates não obtém qualquer sucesso nessa ten tativa de corrigir as opiniões de Cálicles ou de mostrar as suas inconsistências e fazer com que ele pondere outras vezes sobre os objeções levantadas então as consequências dessa ineficácia podem vir a ser funestas do ponto de vista moral e político será Cálicles e homens do mesmo tipo de Cálicles que hão de reger politicamente Atenas interessando diretamente toda a comuni dade política Como tentarei mostrar também talvez o caso de Cálicles seja uma reflexão de Platão sobre a relação problemática entre Sócrates e Alcibíades uma forma de justificar o fracasso 2 2 Platão Górgias 505bnc6 soc Portanto a punição é melhor para a alma do que a intemperança como tu há pouco presumias c a l Não entendo o que dizes Sócrates mas interroga outra pessoa qualquer soc Esse homem não tolera ser beneficiado e sofrer aquilo sobre o que discutimos ser punido c a l Nada do que dizes me interessa e é por Górgias que eu respondia as tuas perguntas ΣΩ Tò κολάζεσθαι άρα rfj ψυχή αμεινόν έστιν ή ή ακολασία ώσπερ σύ νυνδή ωου καλ Ούκ οίδ αττα λέγεις ώ Σώκρατες άλλ άλλον τινά έρωτα ςω Ούτος άνήρ ούχ ύπομένει ωφελούμενος και αυτός τούτο πάσχων περί ού ό λόγος έστί κολαζόμενος καλ Ούδέ γέ μοι μέλει οϋδέν ών σύ λέγεις και ταϋτά σοι Γοργίου χάριν άπεκρινάμην A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 85 de Sócrates como seu preceptor mas vejamos primeiro os elementos trágicos do 3a Ato II Refirome aqui em sentido lato à tragédia do discurso socrá tico pautado nas diversas referências de Platão a esse gênero no Górgias Como já foi aludido anteriormente a própria es trutura do diálogo se assemelha grosso modo à das peças trá gicas temos o Prólogo 447a449c depois a sequência dos três Atos ou agõnes com a alternância dos interlocutores de Sócrates 449d4óib 46ib48ib 48ib522e e o Mito Final na função do Êxodo 523a527d Além da semelhança formal o Górgias é um diálogo direto sem a mediação de um narrador como são os estásimos da tragédia segundo a própria teoria poética dos Livros ii e m da República o Górgias seria então mimético no sentido estrito do termo discurso em i â pessoa e seria classi ficado por conseguinte como gênero dramático apesar de não ter como finalidade a representação pública em festivais3 Mas esse aspecto formal não é suficiente para mostrar como os elementos da tragédia presentes no Górgias desempenham certa função no drama dialógico A referência mais explícita é a incorporação da tragédia Antíope de Eurípides como subtexto no discurso de Cálicles nessa alusão intertextual a personagem se compara a Zeto e Sócrates a Anfíon sugerindo assim uma semelhança na condição de ambos os pares de personagens em contextos e gêneros literários distintos4 Sócrates por seu 3 R Kraut Introduction to the Study of Plato The Cambridge Companion to Plato p 25 4 Apolodoro Biblioteca 34244 Antíope era filha de Nicteu da qual Zeus fez sua consorte Ela engravidou e sob as ameaças do pai fugiu para junto de Epopeu em Sícion e com ele se casou Nicteu abatido suicidouse deixando a Lico a incumbência de punir tanto Epopeu quanto Antíope Com uma expedição militar Lico conquistou Sícion matou Epo peu e fez de Antíope sua cativa Encarcerada deu à luz duas crianças em Eleuteras na Beócia Búcolo as encontrou abandonadas e as criou dando a uma o nome de 86 GÓRGIAS DE PLATÃO turno aceita o desafio proposto por Cálicles e coloca a ques tão nos mesmos termos Para mim Górgias seria um pra zer continuar o diálogo com Cálicles enquanto não tivesse lhe restituído o discurso de Anfíon em objeção ao de Zeto άλλά μέν δή ώ Γοργία και αύτός ήδέως μέν αν ΚαλλικλεΙ τούτω ετι διελεγόμην εως αύτω τήν του Άμφίονος άπέδωκα ρήσιν άντι τής τού Ζήθου 5o6t46 Se essa referência de Cálicles à An tíope tem uma determinada função retórica em seu discurso carregado de ironia como é próprio de uma invectiva Mas eu Sócrates nutro por ti uma justa amizade é provável que eu tenha agora o mesmo sentimento que Zeto teve por Anfíon na peça de Eurípides que rememorei έγώ δε ώ Σώκρατες προς σε έπιεικώς εχω φιλικώς κινδυνεύω ούν πεπονθέναι νϋν οπερ ό Ζήθος προς Αμφίονα ό Εύριπίδου ούπερ έμνήσθην 485624 do ponto de vista de Platão como autor do diálogo essa refe rência intertextual à obra euripidiana é um dos modos pelos quais o diálogo enquanto gênero comunicase com a tragédia Como afirma A Nightingale é somente no Górgias contudo que Platão usa uma tragédia inteira a Antíope de Eurípides como o subtexto para seu drama filosófico5 Zeto e à outra de Anfíon Zeto então cuidava do gado ao passo que Anfíon se dedidava à música com a lira que Hermes havia lhe presenteado Lico e a sua mu lher Dirce mantinham Antíope encarcerada e a torturavam Mas quando as suas amarras acidentalmente se desfizeram Antíope se dirigiu à choupana dos filhos sem que alguém a notasse desejosa de que eles a acolhessem E os filhos tendo re conhecido que era a sua mãe mataram Lico e amarraram Dirce para que um touro a matasse Depois a jogaram na fonte cujo nome Dirce dela advém Αντιόπη θυγάτηρ ήν Νυκτέως ταύτρ Ζευς συνήλθεν ή δέ ώς έγκυος έγένετο του πατρός άπειλοϋντος εις Σικυώνα αποδιδράσκει προς Έπωπέα και τούτω γαμεϊται Νυκτεύς δέ άθυμήσας εαυτόν φονεύει δούς έντολάς Λύκω παρά Έπωπέως καί παρά Αντιόπης λαβειν δίκας ό δέ στρατευσάμενος Σικυώνα χειρούται και τον μέν Επωπέα κτείνει τήν δέ Αντιόπην ήγαγεν αιχμάλωτον ή δέ άγομένη δύο γεννά παϊδας έν Έλευθεραϊς τής Βοιωτίας οϋς έκκειμένους ευρών βουκόλος άνατρέφει και τον μέν καλεΐ Ζήθον τον δέ Αμφίονα Ζήθος μέν ούν έπεμελεΐτο βουφορβίων Αμφίων δέ κιθαρφδίαν ήσκει δόντος αύτφ λύραν Έρμου Αντιόπην δέ ήκίζετο Λύκος καθείρξας και ή τούτου γυνή Δίρκη λαθοϋσα δέ ποτέ τών δεσμών αύτομάτων λυθέντων ήκεν έπι τήν τών παίδων έπαυλιν δεχθήναι προς αυτών θέλουσα οί δέ άναγνωρισάμενοι τήν μητέρα τον μέν Λύκον κτείνουσι τήν δέ Δίρκην δήσαντες έκ ταύρου ρίπτουσι θανοΰσαν εις κρήνην τήν άπ έκείνης καλουμένην Δίρκην 5 A Nightingale Gerires in Dialogue p 69 A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 87 Mas em que medida essa referência intertextual à Antíope de Eurípides pode nos ajudar a compreender o drama filosófico do Górgias6 7 Apresentarei aqui uma breve sinopse da interpretação de Nightingale pois pareceme a análise mais completa sobre a questão Sua tese geral é a de que Platão nesse movimento intertextual tem como escopo oferecer uma paródia crítica da tragédia tendo em vista definir e delimitar o âmbito da filoso fia6 em especial com relação ao âmbito da política Por meio dessa analogia entre as personagens Platão coloca de um lado Cálicles e Zeto como representantes da vida prática voltada para os negócios Zeto é um pastor e Cálicles um político e de outro Sócrates e Anfíon como representantes da vida con templativa Anfíon é um músico e Sócrates um filósofo Se gundo Dodds Platão se insere aqui no debate bastante em voga no séc v aC sobre os méritos e deméritos desses dois modos de vida a vida prática e por conseguinte a vida voltada para a política e a vida contemplativa voltada para o cultivo do intelecto7 entendidos nesse contexto como modos de vida excludentes8 Se em Eurípides esses dois modos de vida são tra tados como opostos um ao outro na imagem antagônica entre as duas personagens Platão oferece uma perspectiva diferente da questão como considera Cálicles a filosofia também é útil para a educação do homem político mas desde que praticada apenas durante a juventude 485ac pois caso contrário ela é a ruína dos homens διαφθορά τών άνθρώπων 484C78 6 Idem ibidem 7 E Dodds Plato Gorgias p 276 8 Essa visão proverbial do filósofo como um tipo de homem alheio ao mundo prático o que inclui o âmbito político aparece claramente expressa na célebre ane dota sobre Tales referida pelo próprio Platão no Teeteto 174a e reportada também por Diógenes Laércio 134 Dizem que Tales sendo levado para fora de casa por uma velha para con templar os astros caiu num buraco e que a velha estando ele a se queixar pergun toulhe o seguinte tu ó Tales não sendo capaz de ver as coisas a seus pés julgas poder conhecer as coisas celestes λέγεται δ αγόμενος υπό γραός έκ τής οικίας ϊνα τα άστρα κατανοήση εις βόθρον έμπεσεΐν και αύτφ άνοιμώξαντι φάναι την γραϋν σύ γάρ ώ Θαλή τά έν ποσιν ού δυνάμενος ίδειν τα έπι του ούρανοϋ οϊει γνώσεσθαι 88 GÓRGIAS DE PLATÃO Sócrates por sua vez critica duramente o homem democrático e a política democrática porém vislumbra o filósofo como o novo homem político e por conseguinte a possibilidade de uma nova política distinta daquela democrática 502e503b 504d 508c 5i7ac 519b 52ide 527c Ou seja assim como a vida política de Cálicles compreende certa formação filosófica pelo menos segundo a maneira como a personagem entende filosofia a vida intelectual de Sócrates compreende por sua vez a atividade política na medida em que apenas o filósofo se apresenta como 0 verdadeiro homem político Julgo que eu e mais alguns poucos atenienses para não dizer apenas eu sou o único contemporâneo a empreender a verdadeira arte política e a praticála οίμαι μετ ολίγων Αθηναίων ινα μή εϊπω μόνος έπιχειρείν τή άληθώς πολιτική τέχνη και πράττειν τά πολιτικά μόνος τών νυν 521CI68 Com essa imagem do filósofo como verdadeiro homem político Platão apresentaria assim uma nova solução distinta da de Eurípides na Antíope9 para o de bate sobre o melhor modo de vida a se viver a construção de Sócrates como novo herói do drama dialógico se faz portanto em contraste com o herói trágico quando Platão justapõe os pares de personagens da Antíope e do Górgias10 9 Nightingale considera que Eurípides diferentemente de Platão limitase a con trastar os dois modos de vida representados pelas personagens Zeto e Anfíon p 70 Platão por sua vez trataria a mesma questão de modo mais complexo mostrando como há de certa forma uma interseção entre eles expressa na imagem do filósofo como o verdadeiro homem político Todavia Nightingale parece desconsiderar um aspecto importante da intervenção do deus ex machina no final da peça segundo o próprio estudioso Hermes diz que a lira de Anfíon será a causa da construção das muralhas de Tebas Pois bem essa solução da Antíope não nos mostra que também na peça de Eurípides a vida intelectual e contemplativa de Anfíon acaba por se fundir com a vida prática da política Como sabemos do próprio Górgias a construção de muralhas é prerrogativa do homem político e é usada por Platão como exemplo de ação política 45 5e Nesse sentido a solução de Eurípides não estaria tão longe da de Platão se en tendêssemos que Hermes atribui à lira de Anfíon uma determinada função política representada aqui pela ideia da lira como causa da construção das muralhas 10 A Nightingale op cit p 72 Ao incorporar a Antíope de Eurípides como subtexto em seu próprio drama Platão está apto assim a estabelecer seu novo herói em oposição ao herói trágico Esse novo herói evidentemente é o filósofo E assim como Sócrates é justaposto ao herói da Antíope também a verdadeira filosofia é contrastada como o gênero da tragédia como um todo A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 89 Mas essa solução paródica não é o único meio pelo qual Pla tão se apropria da Antíope dando um novo sentido à peça den tro do diálogo Como ressalta Nightingale no Górgias há uma série de elementos temáticos e estruturais semelhantes aos da Antíope o agõn entre Zeto e Anfíon refletiria assim o embate entre Sócrates e Cálicles e o deus ex machina que determina o final da peça refletiria o mito escatológico do diálogo11 Nessa tragédia os dois irmãos se unem para salvar a mulher que se revelará a sua própria mãe mas antes de tal empreitada eles resolvem suas diferenças nesse agõn ao qual se refere Platão no Górgias a partir da referência de Horácio12 visto que a peça de Eurípides não se conservou senão fragmentariamente Anfíon perde o debate e é enfim persuadido por Zeto da prevalência da vida prática do irmão sobre a vida devotada à música Esse veredito porém é invertido no final da peça pela intervenção do deus ex machina Hermes que restitui a lira a Anfíon e pro clama que será ela a mover pedras e árvores para a construção da muralha de Tebas13 Portanto quando Cálicles se associa a Zeto em seu discurso ele chama em causa a vitória da personagem íi A Nightingale op cit p 73 12 Horácio Epístolas 1183945 Nem elogiarás os teus estudos nem censurarás os alheios tampouco quando ele quiser caçar comporás poemas Assim se desfez a concórdia entre os irmãos gêmeos Anfíon e Zeto até que sob o olhar severo do irmão a lira se calou Supõese que Anfíon cedera aos costumes do irmão cede também tu às afáveis ordens do poderoso amigo nec tua laudabis studia aut aliena reprendes nec cum uenari uolet ille poemata panges gratia sicfratrum geminorum Amphionis atque Zethi dissiluit donec suspecta seuero conticuit lyra fraternis cessisse putatur moribus Amphion tu cede potentis amici lenibus imperiis 13 A Nightingale op cit p 73 O deus ex machina então não apenas pro porciona uma resolução para a trama mas também resolve a questão levantada no agõn entre os dois irmãos embora Anfíon seja derrotado na discussão com seu ir mão ele é contudo reivindicado por Hermes no final da peça pois é sua música que irá construir as muralhas de Tebas 90 GÕRGIAS DE PLATÃO nesse embate verbal com o irmão e pretende com essa ana logia chegar ao mesmo fim na discussão com Sócrates e fazer com que ele enfim abandone a filosofia e se torne um homem político quando Sócrates por sua vez aceita o papel que lhe é atribuído e promete a Cálicles restituir o discurso de Anfíon em objeção ao de Zeto 506b ele pretende então superar a perso nagem trágica invertendo o resultado daquele agõn da Antíope o Mito Final nessa perspectiva cumpriria o papel que o deus ex machina desempenha na tragédia euripidiana Todavia se Sócrates diferentemente de Anfíon não é per suadido por Cálicles da prevalência da vida política da demo cracia sobre a vida voltada à filosofia ele próprio contudo não consegue persuadir Cálicles do contrário assim como Anfíon não persuade Zeto da superioridade de seu modo de vida Nessa análise intertextual a comparação entre Sócrates e Anfíon evi dencia então um elemento fundamental para a compreensão do caso Cálicles no Górgias a ineficácia persuasiva do discurso socrático Como já foi comentado nos capítulos anteriores o elenchos socrático mesmo quando o interlocutor cumpre os re quesitos requeridos pelas regras dialógicas não implica neces sariamente a persuasão do interlocutor problema evidenciado por Platão sobretudo no diálogo entre Sócrates e Cálicles o caso típico do interlocutor recalcitrante como evidenciam as inúmeras referências de Platão à sua resistência à estratégia ar gumentativa de Sócrates 493d 494a 5i3d 513c 516a 5i6cd 517a 518a 523a 527a Nesse sentido Nightingale ressalta a analogia entre as per sonagens Anfíon e Sócrates para interpretar assim a função do mito escatológico que encerra o Górgias Se há de fato uma semelhança estrutural entre a Antíope e o Górgias como su geriria ao leitor a incorporação da tragédia como subtexto no diálogo então o sentido do Mito Final poderia ser entendido à luz da função do deux ex machina no encerramento da peça14 14 Idem p 84 A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 91 assim como Anfíon é vingado por Hermes Sócrates uma vez que não consegue persuadir Cálicles será vingado pelos deu ses como ficará patente na narração do mito 526c15 Dada a ineficácia persuasiva de Sócrates no confronto com Cálicles situação essa que nos remete como veremos adiante ao seu fracasso no processo impetrado por Meleto Lícon e Anito que o condenou à morte a vitória de Sócrates sobre seu interlo cutor só se realiza de fato nessa perspectiva do mito quando há a substituição da justiça conduzida equivocadamente pelos homens pela justiça divina somente assim Sócrates será julgado de forma justa e a vida do filósofo se manifestará como o me lhor modo de vida somente assim Sócrates conseguirá enfim oferecer a Cálicles aquele discurso de Anfíon em objeção ao de Zeto τήν τοϋ Άμφίονος ρήσιν άντι τής τοϋ Ζήθου 5o6b56 mostrandolhe que será Cálicles que diante do tribunal di vino ficará turvado e boquiaberto χασμήση καί ιλιγγιάσεις 527a2 condenado a sofrer as punições mais extremas pelas injustiças cometidas em vida Como conclui Nightingale Embora Platão não vá tão longe a ponto de dar voz à divindade que irá reverter o falso veredito e pronunciar o verdadeiro a sua descrição mítica da troca dos falsos juízes pelos divinos que irão reivindicar o 15 Platão Górgias 5268405 Pois bem como eu dizia quando aquele Radamanto se apodera de um homem desse tipo não sabe nada a respeito dele nem quem ele é nem a sua progénie mas apenas que ele é vicioso Quando observa isso ele o envia para o Tártaro com um signo indicando se ele parece ser curável ou incurável e este por sua vez chegando ali sofre o que lhe cabe Às vezes quando ele vê uma alma que vivera piamente e conforme a verdade a alma de um homem comum ou de qualquer outro homem mas sobretudo é o que eu afirmo Cálicles a de um filósofo que fez o que lhe era apropriado e não se intrometeu em outros afazeres durante a vida ele a aprecia e a envia para a Ilha dos Venturosos δπερ οΰν ελεγον έπειδάν ό Ραδάμανθυς εκείνος τοιοϋτόν τινα λάβη άλλο μέν περί αύτοϋ ούκ οίδεν ούδέν οϋθ δστις οϋθ ώντινων δτι δέ πονηρός τις και τούτο κατιδών άπέπεμψεν εις Τάρταρον έπισημηνάμενος έάντε ιάσιμος έάντε ανίατος δοκή είναι ό δε έκεΐσε άφικόμενος τά προσήκοντα πάσχει ενίοτε δ άλλην είσιδών όσίως βεβιωκυιαν και μετ άληθείας άνδρός ιδιώτου ή άλλου τινός μάλιστα μεν εγωγέ φημι ώ Καλλίκλεις φιλοσόφου τά αύτοϋ πράξαντος και ού πολυπραγμονήσαντος έν τώ βίω ήγάσθη τε και ές μακάρων νήσους άπέπεμψε 92 GÓRGIAS DE PLATÃO filósofo aparentemente derrotado desempenha a mesma função dra mática que o deus ex machina na Antíope Se ele tem isso como escopo então é razoável concluir que Platão concebe o primeiro de seus mitos escatológicos como uma imitação consciente do desfecho de uma tra gédia grega p 87 III Pois bem creio que essa breve exposição do argumento de Ni ghtingale é suficiente para mostrar como elementos do gênero trágico presentes no Górgias sobretudo nesse caso em que há a incorporação da Antíope como subtexto no diálogo são extrema mente relevantes para a interpretação dos problemas apresen tados no drama filosófico Passarei a analisar agora um topos específico da tragédia o vaticínio Como já foi aludido ante riormente Cálicles em sua invectiva contra o filósofo e a filo sofia faz uma predição da morte de Sócrates de que ele seria condenado à morte no tribunal por um acusador extrema mente mísero e desprezível κατηγόρου τυχών πάνυ φαύλου και μοχθηρού 486023 uma vez que ele não havia se educado de modo suficiente porque se envolvera com a filosofia mais tempo que o devido Vejamos a passagem Aliás caro Sócrates e não te irrites comigo pois falarteei com benevolência não te parece vergonhoso esse comportamento que julgo eu tu possuis e todos os outros que se mantêm engajados na filo sofia por longo tempo Pois se hoje alguém te capturasse ou qualquer outro homem da tua estirpe e te encarcerasse sob a alegação de que cometeste injustiça ainda que não a tenhas cometido sabes que não terias o que fazer contigo mesmo mas ficarias turvado e boquiaberto sem ter o que dizer quando chegasses ao tribunal diante de um acusador extremamente mísero e desprezível tu morrerias caso ele quisesse te estipular a pena de morte 486a4b4 καίτοι ώ φίλε Σώκρατεςκαί μοι μηδέν άχθεσθής εύνοία γάρ έρώ τή σήούκ αισχρόν δοκεΐ σοι είναι ούτως εχειν ώς έγώ σέ οΐμαι εχειν και τούς άλλους τούς πόρρω άει φιλοσοφίας έλαύνοντας νΰν γάρ εϊ τις σοΰ A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 93 λαβόμενος ή άλλου ότουοϋν των τοιούτων εις τό δεσμωτήριον άπάγοι φάσκων άδικεΐν μηδέν άδικοΰντα οϊσθ δτι ούκ άν εχοις ότι χρήσαιο σαυτώ άλλ ίλιγγιώης άν και χασμψο ούκ έχων δτι εϊποις και εις τό δικαστήριον άναβάς κατηγόρου τυχών πάνυ φαύλου και μοχθηρού άποθάνοις άν εϊ βούλοιτο θανάτου σοι τιμάσθαι Se para ο público presente nessa cena do Górgias a predi ção de Cálicles pode ser entendida como uma simples ameaça verbal como seria próprio de uma invectiva para o leitor do diálogo entretanto a assertiva de Cálicles o remete diretamente à ideia do vaticínio pois Platão compôs toda a sua obra como é admitido consensualmente pela crítica após a morte de Só crates em 399 aC Platão por meio desse recurso confere en tão à cena um contorno trágico na medida em que o leitor do diálogo sabendo de antemão qual fora o destino de Sócrates é remetido diretamente a esse episódio prenunciado pela perso nagem Cálicles Para empregar uma analogia bastante genérica Platão com esse recurso provoca no leitor o mesmo tipo de pathos que um espectador do Édipo Rei experimentaria quando ouvisse a sorte de Édipo ser prenunciada por Tirésias no teatro Sócrates por sua vez na tentativa de refutar todas as acusações sofridas pelo adversário durante a discussão também profetiza a morte de Cálicles retribuindo na mesma moeda o vaticínio que havia recebido 5i8ei5i9b2 Mas qual seria o sentido de Platão recorrer a esse topos do gênero trágico além de provocar esse pathos no leitor do diá logo O que representaria o vaticínio de Cálicles do ponto de vista do drama dialógico Nessa interface com a tragédia Só crates seria apresentado por Platão como um herói trágico ou antitrágico Como tentarei mostrar adiante a tragicidade da personagem Sócrates no Górgias é relativa na medida em que diferentes personagens representam perspectivas diferentes a respeito de uma mesma questão sobretudo nesse confronto entre dois tipos de éthos antagônicos aos olhos de Cálicles e portanto do senso comum daquela sociedade democrática Só crates pode ser visto como uma personagem trágica tendo em 94 GÓRGIAS DE PLATÃO vista a forma ignóbil de sua morte profetizada no diálogo Na perspectiva do próprio Sócrates entretanto a partir dos argu mentos apresentados para justificar sua resignação perante o risco iminente de morte numa espécie de prefiguração da cena do tribunal representada na Apologia como veremos adiante ele se coloca inversamente como um herói antitrágico Como tentarei mostrar a despeito da situação aparentemente trágica que cerca o episódio da morte de Sócrates episódio evocado pelo vaticínio de Cálicles Platão ao contrastar a figura de Só crates com a de Anfíon nessa referência intertextual à Antíope busca definir a figura do filósofo como um herói antitrágico em oposição ao modelo do herói trágico que ele critica no Gór gias 50id502d e sobretudo na Repúblical6 Para isso usarei a Apologia como referência suplementar para a discussão sobre os argumentos presentes no Górgias que constroem essa imagem de Sócrates como herói antitrágico Analisemos mais detida mente ambas as perspectivas sobre a questão no diálogo Já no início da invectiva de Cálicles contra o filósofo e a fi losofia 4840448601 encontramos de modo surpreendente a acusação que será decisiva contra Sócrates no tribunal con forme conservada nos autos do processo transmitidos pela Apo logia de Platão e pelas Memoráveis de Xenofonte17 Segundo 16 A mesma tese defende Michael Erler com relação ao diálogo Fédon em seu texto La felicita delle Api Passione e virtü nel Fedone e nelle Reppublica apresen tado no Congresso Internacional Psychè in Platone realizado na cidade de Como Itália entre os dias 1 e 4 de fevereiro de 2006 e organizado pela International Plato Society Devo a ele portanto os argumentos principais que mostram a construção da imagem de Sócrates como herói antitrágico por Platão 17 i Xenofonte Memoráveis 111 Espanteime muitas vezes por quais argumentos os acusadores de Sócrates conseguiram persuadir os atenienses de que ele merecia a pena de morte por crime contra a cidade A acusação contra ele era mais ou menos esta Sócrates comete in justiça por não reconhecer os deuses que a cidade reconhece e por introduzir outras novas divindades Ele também comete injustiça por corromper a juventude Πολλάκις έθαύμασα τίσι ποτέ λόγοις Αθηναίους έπεισαν oi γραφόμενοι Σωκράτην ώς άξιος εϊη θανάτου τή πόλει ή μέν γάρ γραφή κατ αυτού τοιάδε τις ήν άδικε Σωκράτης οϋς μεν ή πόλις νομίζει θεούς ού νομίζων ετερα δέ καινά δαιμόνια είσφέρων άδικε δέ καί τούς νέους διαφθείρων ii Platão Apologia 24b6ci A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 95 Cálicles envolverse com a filosofia mais tempo que o devido pois filosofia é coisa de criança implica em última instân cia a ruína dos homens διαφθορά των άνθρώπων 484C78 A ocorrência do termo διαφθορά diaphthora remete direta mente à acusação formal do processo impetrado por Meleto Anito e Lícon contra Sócrates Mem 111 διαφθείρων Ap 24Ú9 διαφθείροντα Nesse discurso de Cálicles portanto há não apenas o vaticínio da sorte de Sócrates mas também uma referência en passant a uma das causas do processo que o con duzirá à morte remetendo diretamente o leitor ao episódio de sua condenação no tribunal A percepção de Cálicles do efeito moral perverso da filosofia representaria assim a percepção do público em geral acerca da influência perniciosa de Sócrates sobre a juventude seriam homens do mesmo tipo de Cálicles com valores e aspirações semelhantes com modos de vida si milares que representariam a maioria dos juízes que votaram pela condenação de Sócrates à morte Esse efeito corruptor da filosofia é salientado nesta passagem do discurso cal Se alguém mesmo de ótima natureza persistir na filo sofia além da conta tornarseá necessariamente inexperiente em tudo aquilo que deve ser experiente o homem que intenta ser belo bom e bem reputado 484c8d2 ΣΩ έάν γάρ και πάνυ εύφυής ή καί πόρρω τής ήλικίας φιλοσοφή ανάγκη πάντων άπειρον γεγονέναι έστιν ών χρή έμπειρον είναι τον μέλλοντα καλόν κάγαθόν και εύδόκιμον εσεσθαι άνδρα Nesse sentido a fala de Zeto ao irmão Anfíon na Antíope na tentativa de dissuadilo da vida voltada para a música serve convenientemente a Cálicles como argumento para ilustrar o seu juízo a respeito de Sócrates e da filosofia a arte apossandose Como se trata de outros acusadores tomemos novamente o juramento deles Eilo em linhas gerais afirmam que Sócrates comete injustiça por corromper a juventude e por não reconhecer os deuses que a cidade reconhece mas outras novas divindades αύθις γάρ δή ώσπερ ετέρων τούτων όντων κατηγόρων λάβωμεν αΰ την τούτων άντωμοσίαν έχει δέ πως ώδε Σωκράτη φησιν άδικεΐν τούς τε νέους διαφθείροντα και θεούς οϋς ή πόλις νομίζει ού νομίζοντα έτερα δέ δαιμόνια καινά 96 GÔRGIAS DE PLATÃO de um homem de ótima natureza tornao pior ήτις ευφυή λαβοϋσα τέχνη φώτα έθηκε χείρονα 48605 Cálicles enfatiza precisamente ο fato de uma ótima natureza εύφυής 48408 48504 48605 como seria a de Sócrates ser corrompida por uma atividade que o afasta da virtude virtude essa compreen dida nestes termos ca l Ademais tornamse inexperientes nas leis da cidade nos discursos que se deve empregar nas relações públicas e privadas nos prazeres e apetites humanos e em suma tornamse absolutamente inexperientes nos costumes dos homens Quando então se deparam com alguma ação privada ou política são cobertos pelo ridículo como julgo que sucede aos políticos quando se envolvem com vosso passatempo e vossas discussões são absolutamente risíveis 484d2e3 ΚΑΛ και γάρ τών νόμων άπειροι γίγνονται των κατά τήν πόλιν και τών λόγων οίς δει χρώμενον όμιλεΐν έν τοϊς συμβολαίοις τοίς άνθρώποις και ιδία και δημοσία και τών ήδονών τε και έπιθυμιών τών άνθρωπείων και συλλήβδην τών ηθών παντάπασιν άπειροι γίγνονται έπειδάν ούν ελθωσιν εις τινα ιδίαν ή πολιτικήν πράξιν καταγέλαστοι γίγνονται ώσπερ γε οίμαι οί πολιτικοί έπειδάν αύ εις τάς ύμετέρας διατριβάς ελθωσιν και τούς λόγους καταγέλαστοι είσιν A filosofia na perspectiva de Cálicles portanto corrompe as ótimas naturezas desviandoas da atividade política por meio da qual os homens se tornam virtuosos e bem reputa dos afastandoas da vida dos prazeres tornandoas estranhas aos costumes humanos como será elucidado posteriormente na discussão sobre o hedonismo o prazer equivale ao bem na concepção de Cálicles e portanto deve ser ele o fim precípuo de todas as ações humanas18 Por esse motivo Sócrates parece a Cálicles correr o extremo perigo de a qualquer momento e por qualquer acusador extremamente mísero e desprezível πάνυ φαύλου καί μοχθηρού 486023 ser conduzido ao tribunal ao cárcere e enfim à morte O vaticínio de Cálicles se fundamenta 18 Platão Górgias 468bi8 A TRAGÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO CÁLICLES 97 na percepção da debilidade de Sócrates da sua condição estra nha ao processo político democrático por constrição da pró pria filosofia que o afasta do centro da cidade e das ágoras onde segundo o poeta os homens se tornam distintos τά μέσα τής πόλεως και τάς άγοράς έν αίς έφη ό ποιητής τούς ανδρας άριπρεπεΐς γίγνεσθαι 485d5619 que ο impele a passar o resto da vida escondido a murmurar coisas pelos cantos junto a três ou quatro jovens τον λοιπόν βίον βιώναι μετά μειράκιων έν γωνία τριών ή τεττάρων ψιθυρίζοντα 485d7ei Ao contras tar ο âmbito público do discurso político ao âmbito particular quase que iniciático do discurso filosófico Cálicles alude profe ticamente à causa da ineficiência persuasiva de Sócrates quando diante do tribunal como se dará efetivamente no processo que o condenará à morte não apenas lhe faltarão os recursos retó ricos necessários para a persuasão dos juízes tendo em vista a sua inexperiência no âmbito político da democracia mas o seu próprio êthos se contraporá ao êthos ou êthè20 daqueles que jul garão o caso de modo a tornar praticamente inviável qualquer possibilidade de persuasão A referência profética ao fracasso de Sócrates no tribunal ilustra bem esse ponto c a l Pois o que me ocorre dizerte é semelhante ao que Zeto disse a seu irmão que Descuras Sócrates do que deves curar e a na tureza assim tão nobre de tua alma tu a reconfiguras em uma forma juvenil nos conselhos de justiça não acertarias o discurso nem anuirias ao verossímil e persuasivo tampouco proporias um conselho ardiloso no interesse de alguém 4856348633 ΚΑΛ κινδυνεύω ούν πεπονθέναι νυν όπερ ό Ζήθος προς τον Ά μφίονα ό Εύριπίδου ούπερ έμνήσθην και γάρ έμοί τοιαΰτ άττα επέρχεται προς σέ λέγειν οΐάπερ έκεινος προς τον αδελφόν ότι Αμελείς ώ Σώκρατες ών δει σε έπιμελεΐσθαι καί φύσιν ψυχής ώδε γενναίαν μειρακιώδει τινί διατρέπεις μορφώματι καί οΰτ αν δίκης 19 Segundo Ε Dodds ορ cit ρ 274 em Homero a Ágora é o local da As sembleia pública e não simplesmente do mercado e seria essa a referência de Cá licles ver Ilíada 9441 20 Sobre a pluralidade de éthé na democracia ver República viu 557Cd 98 GÓRGIAS DE PLATÃO βουλαίσι προσθεί αν όρθώς λόγον οΰτ είκός αν και πιθανόν αν λάβοις οΰθ ύπέρ άλλου νεανικόν βούλευμα βουλεύσαιο Nessa admoestação de Cálicles então Sócrates há de encon trar a morte no tribunal por um erro cometido por escolher uma vida voltada para a filosofia que acaba por corromper a sua própria natureza desviandoo da atividade política por meio da qual os homens tornamse virtuosos Esse erro άμαρτία será em última instância a causa de seu infortúnio δυστυχία e na perspectiva calicliana portanto Sócrates se configura como uma personagem trágica Seu caso poderia se enquadrar grosso modo na definição aristotélica da situação trágica por excelên cia como vemos nesta passagem da Poética O que resta portanto é a situação intermediária É desse tipo aquele que não se distingue pela virtude ou pela justiça que não cai em in fortúnio por causa do vício e da perversidade mas por causa de algum erro e que se inclui entre aqueles que gozam de grande reputação e são afortunados tal como Édipo Tiestes e homens excelsos oriundos de estirpes semelhantes 14533712 ó μεταξύ άρα τούτων λοιπός έστι δε τοιοΰτος ό μήτε άρετή διαφέρων και δικαιοσύνη μήτε διά κακίαν καί μοχθηρίαν μεταβάλλων εις τήν δυστυχίαν άλλα δι άμαρτίαν τινά τών έν μεγάλη δόξη οντων και εύτυχία οίον Οίδίπους και Θυέστης και oi έκ τών τοιούτων γενών επιφανείς άνδρες Ou seja Sócrates embora de ótima natureza εύφυής não é virtuoso segundo o que Cálicles entende por virtude άρετή uma vez que ele se mantém afastado da atividade política e en contra seu infortúnio δυστυχία pelo erro άμαρτία de ter esco lhido o modo de vida filosófico Seu infortúnio como profetiza Cálicles será encontrar a morte no tribunal sob a acusação de um mísero homem situação essa definida por Sócrates assim um vicioso matará um homem bom πονηρός γε ών άγαθόν όντα 52ib56 Mas a condição trágica de Sócrates não parece a Cálicles digna de piedade e terror δι έλέου και φόβου A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 99 1449027 como seria o efeito psicológico causado nos especta dores por uma situação trágica segundo a Poética de Aristóte les Como o vaticínio da morte de Sócrates aparece no contexto de uma invectiva que por sua própria natureza está mais pró xima ao registro cômico21 Sócrates parece a Cálicles digno de umas pancadas πληγών 485C2 d2 e não de piedade e ter ror Nesse sentido encontramse mesclados nesse discurso de Cálicles elementos trágicos e cômicos num contexto retórico do diálogo makrologia o que evidencia mais uma vez essa intergeneralidade do modo de escrita de Platão Essa fusão de elementos a princípio díspares talvez encontre respaldo no que a personagem Sócrates diz no final do Banquete afirmando que é próprio do mesmo homem saber compor tragédia e comédia e que aquele que é poeta trágico pela arte é também poeta cô mico του άνδρός είναι κωμωδίαν και τραγωδίαν έπίστασθαι ποιειν και τόν τέχνη τραγωδοποιόν όντα και κωμωδοποιόν είναι 223036 IV Mas como a personagem Sócrates se constrói como um herói antitrágico no Górgias em oposição à perspectiva de Cálicles e por conseguinte à do senso comum A diferença em relação ao herói trágico reside sobretudo na forma como Sócrates se com porta perante a morte vaticinada por Cálicles fundamentada na compreensão diferente da de seu interlocutor do que é o bem e o mal para o homem Sócrates já havia demonstrado a Polo que cometer injustiça é tanto pior quanto mais vergonhoso do que sofrêla e que o segundo maior mal para homem é cometer injustiça na medida em que o maior mal é cometêla mas não pa gar a justa pena 479cd Essas convicções morais que Sócrates 21 A Nightingale op cit p 183 Enquanto o exato grau de seriedade numa determinada passagem cômica será sempre motivo de disputa a presença da invectiva como uma característica regular e bastante distintiva desse gênero é indubitável 100 GÓRGIAS DE PLATÃO estipula como verdade moral ancorada no fato de jamais terem sido refutadas por qualquer interlocutor que pensasse o contrá rio 527bc redimensiona portanto o que é verdadeiramente o bem e o mal o infortúnio do homem não é a morte em si por mais ignominiosa que ela possa ser como seria a de Sócra tes segundo o vaticínio de Cálicles mas a vida vivida de forma injusta nesse sentido a preocupação precípua do homem se ele pretende ser feliz não é viver o quanto mais e buscar todos os meios possíveis para garantir uma vida longeva indepentemente da justiça essa seria uma das pseudoutilidades da retórica lisonjeadora e em específico da retórica judiciária cf 5 iid 513c mas viver o tempo que for de forma justa soc Pois o verdadeiro homem não deve se preocupar em vi ver o quanto tempo for nem se apegar à vida mas confiando essas coi sas ao deus e acreditando nas mulheres quando dizem que ninguém escaparia a seu destino ele deve se volver à seguinte investigação de que modo alguém que vive por certo tempo viveria da melhor maneira possível 5nd8e5 ΣΩ μή γάρ τούτο μέν τό ζην όποσονδή χρόνον τόν γε ώς άληθώς ανδρα έατέον έστίν και ού φιλοψυχητέον άλλά έπιτρέψαντα περί τούτων τώ θεψ και πιστεύσαντα ταΐς γυναιξιν ότι τήν ειμαρμένην ούδ αν είς έκφύγοι τό έπι τούτψ σκεπτέον τίν αν τρόπον τούτον ον μέλλοι χρόνον βιώναι ώς άριστα βιοίη Ο infortúnio δυστυχία portanto não seria de Sócrates por mais que a condição de sua morte pudesse parecer ignominiosa aos olhos da maioria aos olhos do público do teatro mas da quele que o acusa injustamente e o conduz ao tribunal visto que a injustiça é o mal da alma e não sofrer injustiça Sendo Sócrates condenado injustamente à morte quem será prejudi cado por essa ação injusta é quem a comete ou seja o acusador e não quem a sofre como Sócrates diz a Polo aquele que mata injustamente além de infeliz é digno de piedade έλεινόν γε ττρός 469012 e na perspectiva socrática a tragicidade recairia sobre quem comete a ação injusta e não sobre quem Faculdade de Educação da USP Biblioteca V A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 101 a sofre22 É essa inversão de valores operada por Sócrates que faz parecer paradoxais as conclusões a respeito da grandiosa utilidade da retórica ή μεγάλη χρεία τής ρητορικής 48oa2 apresentadas a Polo no final do 2 Ato não mais para justificar a injustiça e garantir assim a preservação da vida a qualquer preço mas para fazer valer a justiça sempre que alguma injustiça tenha sido cometida de modo a beneficiar assim aquele que paga a pena justa μδοόμδιό A resignação de Sócrates em face do vaticínio de Cálicles portanto fundamentase nessa convicção moral que é oposta à de seus interlocutores e por conseguinte à do senso comum daquela sociedade democrática não é a morte mas a injustiça o maior mal para o homem a qual deve ser evitada por todos os meios Vejamos a reação de Sócrates diante das ameaças proféticas de Cálicles soc Não me digas o que já disseste repetidas vezes que minha morte está nas mãos de quem quiser para que também eu por minha vez não responda que Um vicioso matará um homem bom nem que ele me furtará se eu tiver alguma propriedade para que eu por minha vez não responda que Mas se ele me furtar não saberá usar o que furtou mas assim como me roubou injustamente injustamente usará o que conquistou e se injustamente vergonhosamente e se vergonhosamente perversamente c a l Como tu me pareces Sócrates descrer na possibilidade de que tal sorte te acometa como se fosse longínqua a tua morada e não pudesses ser conduzido ao tribunal pela acusação talvez de um homem extremamente torpe e desprezível soc Eu seria portanto verdadeiramente estulto Cálicles se jul gasse que nesta cidade ninguém sofreria aquilo a que está suscetível Todavia estou seguro de que se eu tiver de apresentarme ao tribunal correndo um desses riscos mencionados por ti o meu acusador será um homem vicioso pois nenhuma pessoa útil acusaria um homem que não tenha cometido injustiça e não será absurdo se eu for condenado à morte Queres que eu te explique porque espero isso 52ib4d3 22 Platão Górgias 46gagbii 102 GÓRGIAS DE PLATÃO ςω Μή εϊπης õ πολλάκις εϊρηκας οτι άποκτενει με ό βουλόμενος ινα μή αύ και έγώ εϊπω οτι Πονηρός γε ών άγαθόν όντα μηδ οτι άφαιρήσεται έάν τι εχω ινα μή αύ έγώ εϊπω οτι Ά λ λ άφελόμενος ούχ έξει οτι χρήσεται αύτοϊς άλλ ώσπερ με άδίκως άφείλετο ούτως και λαβών άδίκως χρήσεται εί δέ άδίκως αίσχρώς εί δέ αίσχρώς κακώς καλ Ως μοι δοκεΐς ώ Σώκρατες πιστεύειν μηδ αν εν τούτων παθεϊν ώς οίκών έκποδών και ούκ αν είσαχθεις εις δικαστήριον ύπό πάνυ ϊσως μοχθηρού άνθρώπου και φαύλου ςω Ανόητος άρα είμί ώ Καλλίκλεις ώς άληθώς εί μή οίομαι έν τήδε τή πόλει όντινούν άν οτι τύχοι τούτο παθεϊν τόδε μέντοι εύ οϊδ οτι έάνπερ είσίω εις δικαστήριον περί τούτων τίνος κινδυνεύων ô σύ λέγεις πονηρός τίς μ εσται ό είσάγωνούδεις γάρ άν χρηστός μή άδικοΰντ άνθρωπον είσαγάγοικαι ούδέν γε άτοπον εί άποθάνοιμι βούλει σοι εϊπω δι δτι ταΰτα προσδοκώ Sócrates não refuta ο vaticínio de Cálicles pelo contrário ele aceita com resignação seu destino na pólis profetizado por aquelas palavras e dá razão às censuras volvidas pelo interlocutor tendo em vista o contraste entre o seu êthos e o éthos do homem democrático que por sua vez seria o perfil geral dos juízes em seu julgamento não seria absurdo άτοπον 52id3 o fato de ele eventualmente ser condenado à morte e sim uma consequência natural de sua condição idiossincrática naquela sociedade cuja constituição política se funda na injustiça e na ilegalidade como depreendemos de sua crítica à democracia ateniense no Górgias e na Apologia Na Apologia por exemplo Sócrates argumenta que sua vida só fora conduzida pela justiça da forma como foi con duzida devido ao fato de ele ter se mantido alheio ao processo político de Atenas seja durante o regime democrático seja du rante o oligárquico governo dos Trinta Tiranos em 404 aC se tivesse agido conforme o parecer da massa como no episódio do julgamento dos generais da batalha de Arginusas 406 aC ele teria certamente incorrido em ações injustas 32bc de modo que louvando a justiça acima de tudo tornouse necessária a sua abstenção do processo político ateniense 33ε Além do vaticínio da morte de Sócrates há no Górgias tam bém a prefiguração da cena do tribunal em que Sócrates antecipa A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 103 alguns dos argumentos que mais tarde usaria em sua defesa real tal como Platão a constrói na Apologia23 Nessa cena fic tícia do Górgias 5210352264 Sócrates passa a discursar como se estivesse diante do tribunal como se aquele público ali pre sente compusesse o corpo dos juízes como indica por exem plo a ocorrência da expressão formular ó juízes ώ ανδρες δικασταί 522C2 com Cálicles na função do acusador formal desempenhada por Meleto na Apologia Será o próprio Sócrates contudo a se referir profeticamente a uma das causas de seu processo à acusação de corrupção da juventude aludida pelas ocorrências do verbo diaphtheirein corromper nessa cena fic tícia διαφθείρει 52ie8 διαφθείρειν 522b7 Na sequência do diálogo Sócrates explica a Cálicles e à audiência as razões de sua resignação perante o risco iminente de morte decorrente do tipo de vida voltada para a filosofia cal Então parecete correto Sócrates um homem sujeito a essa condição na cidade e incapaz de socorrer a si mesmo soc Contanto que ele disponha daquela única coisa Cálicles com a qual inúmeras vezes concordaste que ele tenha socorrido a si mesmo sem ter incorrido em ações ou discursos injustos referentes a homens ou deuses Pois havíamos concordado repetidamente que essa forma de socorrer a si mesmo é superior a todas as outras Assim se alguém me refutasse provando que sou incapaz de prover esse socorro a mim mesmo ou a outra pessoa seja diante de muitas ou poucas pessoas seja sozinho por uma só seria eu tomado pela vergonha e se em razão dessa incapacidade eu encontrasse a morte haveria de me enfurecer Todavia se eu perdesse a vida por carência de uma retórica lisonjeadora estou seguro de que me verias suportar facilmente a morte Pois ninguém que não seja absolutamente irracional e covarde teme a morte em si teme porém ser injusto pois o cúmulo de todos os males é a alma chegar ao Hades plena de inúmeros atos injustos 5220464 ΚΑΛ Δοκεί οΰν σοι ώ Σώκρατες καλώς εχειν άνθρωπος έν πόλει οΰτως διακείμενος και άδύνατος ών έαυτώ βοηθεΐν 23 Digo aqui antecipar levando em consideração a temporalidade da per sonagem e não da relação cronológica entre o Górgias e a Apologia Nesse sentido essa parte do Górgias é uma antecipação do episódio da Apologia 104 GÓRGIAS DE PLATÃO ςω Εί έκεινό γε εν αύτψ ύπαρχοι ώ Καλλίκλεις ô σύ πολλάκις ώμολόγησας εΐ βεβοηθηκώς εϊη αύτψ μήτε περι ανθρώπους μήτε περί θεούς άδικον μηδέν μήτε είρηκώς μήτε είργασμένος αΰτη γάρ τής βοήθειας έαυτώ πολλάκις ήμΐν ώμολόγηται κρατίστη είναι εί μέν ούν εμέ τις έξελέγχοι ταύτην τήν βοήθειαν άδύνατον όντα έμαυτώ και άλλω βοηθειν αίσχυνοίμην άν καί έν πολλοις καί έν όλίγοις εξελεγχόμενος καί μόνος ύπό μόνου καί εί διά ταύτην τήν αδυναμίαν άποθνήσκοιμι άγανακτοίην άν εί δε κολακικής ρητορικής ένδεια τελευτώην έγωγε εύ οίδα ότι ραδίως ϊδοις άν με φέροντα τον θάνατον αυτό μέν γάρ τό άποθνήσκειν ούδείς φοβείται δστις μή παντάπασιν άλόγιστός τε καί άνανδρος έστιν τό δε άδικεΐν φοβείται πολλών γάρ άδικημάτων γέμοντα τήν ψυχήν εις Αιδου άφικέσθαι πάντων έσχατον κακών έστιν A coragem de Sócrates é justificada aqui como já foi subli nhado anteriormente pela compreensão de que o maior mal da alma é a injustiça e não a morte em si Esse conhecimento é a causa de sua resignação perante o risco de morte de seu comportamento sereno e moderado devido ao controle de suas paixões que a personagem mostrará ter seja no tribunal como vemos na Apologia seja na véspera de sua morte como é re tratado no Fédon Na Apologia entretanto embora Sócrates construa a mesma imagem de homem corajoso que encon tramos no Górgias comparandose a Aquiles quando diante da presciência de sua morte 28bd o argumento que justifica seu comportamento corajoso é decorrente de sua sabedoria a qual ele nomeia sabedoria humana ανθρώπινη σοφία iod8 ou seja o conhecimento da própria ignorância Na verdade temer a morte ó homens não é outra coisa senão pa recer ser sábio sem sêlo pois é parecer saber o que não sabe Ninguém conhece a morte ninguém sabe se ela acaso seja o supremo bem para o homem mas as pessoas tememna como se soubessem que ela é o supremo mal Ademais como não seria essa a ignorância mais deplo rável a de presumir saber o que não se sabe Mas eu ó homens talvez me difira da maioria dos homens precisamente nisto se eu afirmasse ser mais sábio que alguém em alguma coisa seria justamente porque não tendo conhecimento suficiente do que concerne ao Hades presumo não sabêlo mas que cometer injustiça e desobedecer ao superior seja ele A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 105 deus ou homem é mau e vergonhoso disso eu sei Assim ao contrário dos males que sei que são males jamais hei de temer e evitar aquilo que não sei se pode vir a ser até mesmo um bem 2934139 το γάρ τοι θάνατον δεδιέναι ώ άνδρες ούδέν άλλο έστιν ή δοκεΐν σοφόν είναι μή όντα δοκεΐν γάρ είδέναι έστιν α ούκ οΐδεν οίδε μέν γάρ ούδείς τον θάνατον ούδ εί τυγχάνει τω άνθρώπω πάντων μέγιστον όν των άγαθών δεδίασι δ ώς εύ είδότες ότι μέγιστον των κακών έστι καίτοι πώς ούκ άμαθία έστιν αΰτη ή έπονείδιστος ή τού οϊεσθαι είδέναι α ούκ οΐδεν έγώ δ ώ άνδρες τούτω καί ένταϋθα Ίσως διαφέρω τών πολλών άνθρώπων καί εί δή τω σοφώτερός του φαίην είναι τούτω άν οτι ούκ είδώς ίκανώς περί τών έν Αιδου οΰτω και οϊομαι ούκ είδέναι τό δέ άδικεΐν καί άπειθείν τώ βελτίονι καί θεώ καί άνθρώπω οτι κακόν καί αισχρόν έστιν οιδα προ οΰν τών κακών ών οΐδα οτι κακά έστιν ά μή οϊδα εί καί άγαθά όντα τυγχάνει ούδέποτε φοβήσομαι ούδέ φεύξομαι Embora sejam argumentos diferentes em contextos diferen tes24 ambos apontam para a construção do mesmo traço do cará ter de Sócrates a coragem ανδρεία uma das virtudes cardinais da filosofia moral platônica atribuída à personagem apresentada por Platão como modelo de conduta moral Na Apologia assim como no Górgias25 além de sábio pio temperante e justo o fi lósofo também é definido como corajoso verdadeiramente co rajoso pois ele sabe aquilo que deve e não deve ser temido Essa seria uma das consequências positivas daquele conhecimento negativo a que Sócrates chama em causa na Apologia pois não se deve temer aquilo que não conhecemos e de que não sabemos se suas consequências podem vir a ser boas ou más os homens comuns temem a morte por ignorância por não possuírem essa sabedoria humana ανθρώπινη σοφία 2od8 que Sócrates pos sui por não saberem o que deve ou não ser temido No Górgias por outro lado Sócrates baseia seu argumento na prioridade da injustiça em relação à morte a preocupação precípua do homem é viver de forma justa se ele pretende ser feliz e por isso ele deve temer a injustiça o maior mal da alma e não a morte o homem 24 S Slings Platos Apology of Socrates p 129130 25 Platão Górgias 507c 106 GÓRGIAS DE PLATÃO deve viver por quanto tempo estiver vivo da forma mais justa possível para ser feliz v Mas o que torna ainda mais surpreendente essa prefiguração do processo contra Sócrates no Górgias é que ele além de concordar com o vaticínio de seu adversário apresenta também as causas de seu próprio fracasso como orador justificando antecipadamente a ineficácia persuasiva de seu discurso como virá a acontecer efe tivamente no tribunal 521652203 A sua condição estranha ao âmbito dessa instituição democrática é retratada por meio de uma analogia com o médico retomando aquela distinção entre as verdadeiras artes tekhnai e as pseudoartes definidas por ele como espécies de lisonja kolakeia como havia sido apresen tado a Polo em sua epideixis 4640246633 serei julgado como se fosse um médico a ser julgado em meio a crianças sob a acu sação de um cozinheiro κρινοϋμαι γάρ ώς έν παιδίοις Ιατρός αν κρίνοιτο κατηγοροϋντος όψοποιοϋ 52ie34 Essa analogia é muito profícua exploremola um pouco mais Sócrates na figura do médico representaria aqui o detentor da verdadeira retórica τη άληθινή ρητορική 51735 da retórica praticada com tekhnê em função da promoção do supremo bem da audiência τό βέλτιστον 52id9 e não de seu simples com prazimento o acusador na figura do cozinheiro representaria por sua vez o praticante da retórica lisonjeadora τη κολακική 51736 cuja persuasão é obtida não por arte mas por simples ex periência e rotina έμπειρία και τριβή 46304 por salvaguardar os meios eficazes de comprazer a audiência e assim persuadila26 as crianças representariam enfim os juízes do tribunal aqueles que têm o mérito de julgar a culpabilidade ou não de Sócrates ou 26 Assim como a justiça para a alma é a contraparte da medicina para corpo αντίστροφον δε τή ιατρική τήν δικαιοσύνην 4ô4b8 a retórica é a contraparte da culi nária o âmbito da arte tekhnê e o âmbito da lisonja kolakeia respectivamente A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 107 seja pessoas absolutamente ignorantes do que é o bem e o mal o justo e o injusto o belo e o vergonhoso que tomam o prazer pelo bem como critério para seu juízo A verdadeira retórica de Sócrates nesse sentido não possuiria qualquer efeito persuasivo porque está voltada para um público absolutamente estranho a ela um público habituado a ser lisonjeado deleitado e comprazido em toda e qualquer circunstância por uma outra forma de retó rica ou melhor por uma pseudorretórica praticada por homens igualmente ignorantes do que é o bem e o mal tomandoos inver samente pelo prazer e pela dor Essa mesma imagem do embate verbal entre o médico e o cozinheiro já havia sido construída por Sócrates naquela epideixis referida acima 4640246633 soc Portanto na medicina se infiltrou a culinária simulando conhecer qual a suprema dieta para o corpo de modo que se o cozi nheiro e o médico em meio a crianças ou a homens igualmente igno rantes como crianças competissem para saber qual deles o médico ou o cozinheiro conhece a respeito das dietas salutares e nocivas o médico sucumbiria de fome 4640302 ύπό μέν ούν τήν ιατρικήν ή όψοποιική ύποδέδυκεν και προσποιείται τα βέλτιστα σιτία τώ σώματι είδέναι ώστ εί δέοι έν παισι διαγωνίζεσθαι όψοποιόν τε και ιατρόν ή έν άνδράσιν οΰτως άνοήτοις ώσπερ οί παΐδες πότερος έπαΐει περι των χρηστών σιτίων και πονηρών ό Ιατρός ή ό όψοποιός λιμώ αν άποθανεΐν τον ιατρόν Na perspectiva de Sócrates portanto o problema do prazer e da dor sobretudo na perspectiva do hedonismo sustentado por Cálicles cf 49164920 494c é central para compreendermos os motivos de seu fracasso como orador quando diante do tribunal Há uma incompatibilidade entre a retórica socrática e o público ao qual ela se destina o verdadeiro rétor sempre fala em vista do supremo bem το βέλτιστον a despeito de seu discurso ser aprazível ou não àquela determinada audiência mas essa audiência assim como as crianças equivale equivocadamente o bem ao prazer e o mal à dor de modo a estar muito mais sus cetível e muito mais habituada aos procedimentos lisonjeadores 108 GÚRGIAS DE PLATÃO daquela pseudorretórica que Sócrates tanto renega Ele não per suade precisamente porque o critério do juízo da audiência é o prazer e não o bem Isso fica evidente na cena fictícia do agõn entre o cozinheiro e o médico no tribunal soc Examina então que defesa poderia fazer um homem como esse surpreendido por tal circunstância se alguém o acusasse dizendo que Crianças este homem aqui presente cometeu inúmeros males contra vós próprios e corrompe vossos entes mais jovens lace randoos e cauterizandoos e vos deixa embaraçados emagrecendovos e sufocandovos ele vos oferta as mais acerbas poções e vos constrange à fome e à sede diferente de mim que vos empanturrava de toda sorte de coisa aprazível O que achas que o médico surpreendido por esse mal poderia falar Se ele dissesse a verdade que Eu fazia tudo isso crianças saudavelmente que tamanho alarido segundo a tua opinião fariam juízes como esses Não seria enorme c a l Talvez devemos supor que sim 52ie5522a8 ςω σκόπει γάρ τι αν άπολογοίτο ό τοιοϋτος άνθρωπος έν τούτοις ληφθείς εί αύτοϋ κατήγοροί τις λέγων ότι ΤΩ παίδες πολλά υμάς και κακά όδε εϊργασται άνήρ και αύτούς και τούς νεωτάτους υμών διαφθείρει τέμνων τε και κάων και ίσχναίνων και πνίγων άπορεΐν ποιεί πικρότατα πώματα διδούς και πεινήν και διψήν άναγκάζων ούχ ώσπερ έγώ πολλά και ήδεα και παντοδαπά ηύώχουν ύμάς τί άν οίει έν τούτψ τώ κακώ άποληφθέντα ιατρόν εχειν είπεΐν ή εί εϊποι τήν άλήθειαν ότι Ταΰτα πάντα έγώ έποίουν ώ παίδες ύγιεινώς πόσον τι οίει άν άναβοήσαι τούς τοιούτους δικαστάς ού μέγα KAL Ισως οϊεσθαί γε χρή Essa reação dos juízes conjeturada por Sócrates refletiria en tão como seu discurso afligiria o público ao invés de lisonjeálo como o prazer é o critério do juízo desse mesmo público de modo que quanto mais aprazível mais presuasivo será o dis curso é natural que o discurso socrático não tenha qualquer efi cácia persuasiva nesse contexto específico O problema portanto não seria propriamente a retórica socrática mas a sua relação conflituosa com o público ao qual ela se volta público esse mol dado pelos valores morais consagrados pela sociedade democrá tica de seu tempo opostos àqueles estipulados por Sócrates como A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CALICLES 109 verdade moral como vemos por exemplo no debate com Polo posteriormente retomado com Cálicles sobre cometer e sofrer injustiça Essa incongruência entre a finalidade do discurso socrático o bem e as expectativas da audiência do tribunal o prazer já figurada na analogia de Sócrates com o médico apa rece explicitamente na sequência do diálogo soc Não julgas então que ele o médico ficaria totalmente em baraçado sobre o que deve dizer c a l Absolutamente soc Sim estou seguro de que também eu experimentaria uma paixão semelhante se fosse conduzido ao tribunal Pois não poderei enumerarlhes os prazeres de que os provi prazeres que eles conside ram benfeitoria e benefício e tampouco hei de invejar quem lhes provê e quem por eles é provido Se alguém afirmar que eu corrompo os mais jovens por deixálos em embaraço ou que deprecio os mais velhos por proferirlhes discursos acerbos quer em privado quer em público não poderei dizer nem a verdade ou seja que Tudo o que eu digo é de forma justa ó juízes e ajo em vosso interesse nem qualquer outra coisa Consequentemente eu sofrerei o que a ocasião requerer 5223903 ςω Ούκούν οϊει èv πάση απορία αν αύτόν εχεσθαι οτι χρή είπεΐν καλ Πάνυ γε ςω Τοιοΰτον μέντοι και έγώ οιδα οτι πάθος πάθοιμι αν είσελθών εις δικαστήριον οΰτε γάρ ήδονάς ας έκπεπόρικα έξω αύτοίς λέγειν ας ούτοι εύεργεσίας και ώφελίας νομίζουσιν έγώ δέ οΰτε τούς πορίζοντας ζηλώ οΰτε οϊς πορίζεται έάν τέ τίς με ή νεωτέρους φη διαφθείρειν άπορεΐν ποιοΰντα ή τούς πρεσβυτέρους κακηγορείν λέγοντα πικρούς λόγους ή ίδια ή δημοσία οΰτε τό άληθές εξω είπεΐν οτι Δικαίως πάντα ταΰτα έγώ λέγω και πράττω τό ύμέτερον δή τούτο ώ άνδρες δικασταί οΰτε άλλο ούδέν ώστε ίσως οτι άν τύχω τούτο πείσομαι A sua resignação perante a morte vaticinada por Cálicles calcada em tais argumentos faz de Sócrates portanto uma per sonagem antitrágica no Górgias27 como Sócrates sublinha ele se 27 Acredito que essa interpretação também compreenda a representação da personagem Sócrates na Apologia no Críton e no Fédon mas vou me limitar aqui ao caso do Górgias para simplificar meu argumento Sobre a representação de Sócrates como personagem antitrágica no Fédon ver M Erler La felicita delle Api 110 GÕRGIAS DE PLATÃO enfureceria άγανακτοίην άν 522CI7 somente se alguém o refu tasse demonstrando que ele é incapaz de socorrer a si mesmo ou a outrem do maior perigo que há para o homem ou seja a injus tiça e então morresse em virtude dessa incapacidade mas se sua morte se devesse ao fato de ele não ter recorrido a procedimentos lisonjeadores para persuadir a qualquer preço a audiência de sua inculpabiblidade como seria efetivamente o seu caso então ele haveria de suportar facilmente a morte ραδίως φέροντα τον θάνατον 522d8ei Pois o mal da alma como assevera Sócrates no Górgias não é a morte mas a injustiça se alguém conseguisse lhe provar que sua vida foi vivida de forma injusta então Sócra tes teria motivos para se enfurecer άγανακτοίην αν S2idy e censurar a si próprio pois esse seria o verdadeiro infortúnio do homem δυστυχία nessas condições essa suposta reação des temperada de Sócrates teria sido própria de um herói trágico A ocorrência do verbo άγανακτέω nessa passagem do Gór gias não é fortuita ela aponta para a discussão sobre o caráter irascível τό άγανακτητικόν ήθος do herói trágico referido no Livro x da República Vejamos o trecho Por conseguinte o caráter irascível é o que admite a múltipla e va riada imitação enquanto o caráter sensato e calmo por ser ele próprio sempre semelhante a si mesmo nem é fácil de ser imitado nem acessível à compreensão quando imitado especialmente nos festivais e para toda sorte de homens que se reúnem no teatro pois é a imitação de uma ex periência estranha que lhes é apresentada Absolutamente É evidente então que o poeta imitador não está naturalmente vol tado para essa parte da alma e sua sabedoria caso pretenda ter boa reputação entre a maioria foi constituída para lhe agradar pelo con trário ele está voltado para o caráter irascível e variável por ser fácil de imitar Evidentemente óoqeióosaz Ούκοΰν τό μέν πολλήν μίμησιν και ποικίλην εχει τό άγανακτητικόν τό δέ φρόνιμόν τε και ήσύχιον ήθος παραπλήσιον ον άει αύτό αύτώ ούτε ρόδιον μιμήσασθαι οΰτε μιμούμενου εύπετές καταμαθεΐν άλλως τε A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 111 και πανηγύρει και παντοδαποΐς άνθρώποις εις θέατρα συλλεγομένοις άλλοτρίου γάρ που πάθους ή μίμησις αύτοϊς γίγνεται Παντάπασι μεν ούν Ό δή μιμητικός ποιητής δήλον δτι ού προς τό τοιοϋτον τής ψυχής πέφυκέ τε καί ή σοφία αύτοϋ τούτω άρέσκειν πέπηγεν εί μέλλει εύδοκιμήσειν έν τοις πολλοΐς άλλα προς τό άγανακτητικόν τε και ποικίλον ήθος διά τό εύμίμητον είναι Δήλον A referência explícita aos festivais e ao teatro mostra que o enfoque de Platão na crítica aos efeitos psicológicos da poesia mimética no Livro x é particularmente a tragédia e a comédia como ficará claro em 6o5c6o6d28 Essa oposição entre o ca ráter irascível e variável τό άγανακτητικόν τε και ποικίλον ήθος 60535 e ο caráter sensato e calmo τό φρόνιμόν τε και ήσυχίον ήθος όομει marca justamente esse contraste entre o êthos do filósofo e o éthos do herói trágico Sócrates con sequentemente não poderia ser modelo de imitação para os tragediógrafos pois compreendendo as razões de a morte não ser o verdadeiro mal para o homem e sabendo como rea gir convenientemente diante dos infortúnios ele controla suas paixões e não tem reações desmedidas como mostram ter as personagens da tragédia em situações semelhantes Se o efeito psicológico da experiência trágica é suscitar na audiência pie dade e terror como define Aristóteles na Poética δι έλέου και φόβου i449b27 não será certamente por meio de uma personagem que reaja com resignação perante o infortúnio que ele obterá esse efeito como Sócrates é representado no Górgias na Apologia no Críton e sobretudo no Fédon Sócrates ao con trário configurase como uma personagem antitrágica pois ele 28 A crítica de Platão ao teatro no Livro x da República se estende evidente mente a Homero considerado pela personagem Sócrates o primeiro mestre e guia de todos esses belos poetas trágicos των καλών απάντων τούτων τών τραγικών πρώτος διδάσκαλος τε και ήγεμών γενέσθαι 595C12 Todavia é preciso destacar que a análise dos efeitos psicológicos da experiência poética no Livro x 6o2c6o8c é centrada sobretudo na tragédia e na comédia tendo em vista essas alusões ao teatro e aos festivais 112 GÔRGIAS DE PLATÃO possui o caráter sensato e calmo το φρόνιμόν τε και ήσυχίον ήθος 6o4e2 Ο fato de no teatro os atores se entregarem às lamentações arrastados pelo sentimento de dor que obscurece as determinações da razão induz os próprios espectadores a adotarem conduta semelhante em situações particulares con duta essa moralmente censurável segundo a psicologia moral platônica A lei diz ser o mais correto sobretudo se comportar com sereni dade nas adversidades e não se irar pois nem é evidente se são bons ou maus tais infortúnios nem se há progresso futuramente para quem os suporta com dificuldade nem se é algo dentre as coisas humanas digno de grande importância o que é preciso nessas circunstâncias que nos sobrevenha o mais rapidamente a dor lhe impõe obstáculos A que te referes perguntou À deliberação respondi acerca do que nos ocorreu assim como no jogo de dados é necessário endireitar nossas posições conforme o lance através do que a razão retenha como melhor ao invés de gastar o tempo a gritar tal como as crianças machucadas se comportam com a ferida é necessário ao contrário sempre habituar a alma a curar e cor rigir o mais rapidamente o que caiu e adoeceu suprimindo a lamúria pela medicina 6o4b9d2 Λέγει που ό νόμος δτι κάλλιστον δτι μάλιστα ήσυχίαν άγειν έν ταΐς συμφοραϊς και μή άγανακτειν ώς οΰτε δήλου δντος του άγαθοϋ τε και κακού τών τοιούτων οΰτε εις τό πρόσθεν ούδέν προβαΐνον τώ χαλεπώς φέροντι οΰτε τι τών άνθρωπίνων άξιον ον μεγάλης σπουδής δ τε δει έν αύτοίς δτι τάχιστα παραγίγνεσθαι ήμΐν τούτω έμποδών γιγνόμενον τό λυπείσθαι Τίνι ή δ δς λέγεις Τώ βουλεύεσθαι ήν δ έγώ περι τό γεγονός και ώσπερ έν πτώσει κύβων προς τά πεπτωκότα τίθεσθαι τά αύτοΰ πράγματα δπη ό λόγος αίρει βέλτιστ αν εχειν άλλα μή προσπταίσαντας καθάπερ παίδας έχομένους τού πληγέντος έν τώ βοάν διατρίβειν άλλ άεί έθίζειν τήν ψυχήν δτι τάχιστα γίγνεσθαι προς τό ίάσθαί τε και έπανορθοΰν τό πεσόν τε καί νοσήσαν ιατρική θρηνωδίαν άφανίζοντα A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 113 VI A imagem de Sócrates como personagem antitrágica como per sonificação do controle da razão sobre as afecções do corpo como vemos no Górgias e implicitamente no Livro x da Re pública é recorrente também na Apologia Na peroração de seu primeiro discurso 34b635d8 Sócrates numa reflexão metar retórica recusa os artifícios geralmente usados pelos oradores que apelam à piedade da audiência para assim persuadila Analisemos as duas passagens i Que assim seja ó homens A defesa que eu teria de fazer é mais ou menos essa ou talvez outra semelhante Algum de vós talvez possa se enfurecer ao relembrar de si próprio quando enfrentando uma contenda menor do que esta aqui volveuse em implorações e súplicas aos juízes em meio a choradeiras apresentando os seus próprios filhos além de inúme ros outros parentes e amigos para incitarlhes ao máximo a piedade eu ao contrário mesmo correndo presumo eu o risco mais extremo não recorrerei a nenhum procedimento desse tipo 340607 Είεν δή ώ άνδρες α μέν έγώ έχοιμ αν άπολογείσθαι σχεδόν έστι ταϋτα και άλλα ίσως τοιαΰτα τάχα δ αν τις υμών άγανακτήσειεν άναμνησθεις εαυτού εί ό μεν και έλάττω τουτουΐ τού άγώνος άγώνα άγωνιζόμενος έδεήθη τε και ίκέτευσε τούς δικαστάς μετά πολλών δακρύων παιδία τε αυτού άναβιβασάμενος ϊνα δτι μάλιστα έλεηθείη και άλλους τών οικείων και φίλων πολλούς έγώ δε ούδεν άρα τούτων ποιήσω και ταύτα κινδυνεύων ώς άν δόξαιμι τον έσχατον κίνδυνον ii Por que não recorrerei então a qualquer procedimento do tipo Não por arrogância ó atenienses tampouco para desonrarvos se eu enfrento a morte com bravura ou não isso é matéria para outro dis curso Mas é em vista da minha reputação da vossa e de toda a cidade que pareceme vergonhoso que eu recorra a tais procedimentos com a idade que tenho e com esse renome que adquiri seja ele verdadeiro ou falso mas é parecer corrente que Sócrates se distingue em alguma coisa da maioria dos homens Se aqueles dentre vós que parecem se distinguir ou pela sabedoria ou pela coragem ou por qualquer outra virtude forem homens daquele tipo será então vergonhoso eu muitas vezes observei que alguns deles no momento do julgamento parecem 114 GÓRGIAS DE PLATÃO ser alguma coisa mas acabam por realizar feitos espantosos porque pre sumem uma sorte terrível se morrerem como se eles fossem imortais e vós não pudésseis condenálos à morte Esses homens parecemme cobrir a cidade de vergonha de modo que qualquer estrangeiro poderia supor que os atenienses que se distinguem pela virtude eleitos pelos próprios atenienses para o comando e para cargos honoríficos em nada se distinguem das mulheres 34CI83 5b3 τι δή οΰν ούδέν τούτων ποιήσω ούκ αύθαδιζόμενος ώ άνδρες Αθηναίοι ούδ υμάς άτιμάζων άλλ εί μεν θαρραλέως έγώ έχω προς θάνατον ή μή άλλος λόγος προς δ οΰν δόξαν και έμοι και ύμΐν και δλη τή πόλει οΰ μοι δοκεΐ καλόν είναι έμέ τούτων ούδέν ποιεΐν και τηλικόνδε δντα και τούτο τοΰνομα έχοντα εϊτ οΰν αληθές εϊτ οΰν ψεύδος άλλ οΰν δεδογμένον γέ έστί τω Σωκράτη διαφέρειν τών πολλών άνθρώπων εί οΰν υμών οί δοκούντες διαφέρειν είτε σοφία είτε άνδρεία είτε άλλη ήτινιούν άρετή τοιοΰτοι έσονται αισχρόν άν εϊη οϊουσπερ έγώ πολλάκις έώρακά τινας όταν κρίνωνται δοκοΰντας μέν τι είναι θαυμάσια δέ εργαζομένους ώς δεινόν τι οίομένους πείσεσθαι εί άποθανοΰνται ώσπερ άθανάτων έσομένων άν ύμείς αύτούς μή άποκτείνητε οϊ έμοί δοκοϋσιν αισχύνην τή πόλει περιάπτειν ώστ άν τινα και τών ξένων ύπολαβεΐν δτι οί διαφέροντες Αθηναίων εις άρετήν οΰς αύτοι εαυτών εν τε ταΐς άρχαΐς και ταίς άλλαις τιμαΐς προκρίνουσιν οΰτοι γυναικών ούδέν διαφέρουσιν Como observa Slings em seu comentário à obra a incur são de Platão no gênero judiciário é marcada por uma série de inversões eou subversões de seus topoP9 como vemos nessa peroração da Apologia Platão faz Sócrates prescindir de três dos quatro elementos que constituiriam em conjunto ou em separado o epílogos de um discurso forense segundo a Retórica de Aristóteles30 i a captatio beneuolentiae procedimento já re cusado no proêmio seu lugar por excelência ii a amplificação e a depreciação e iv a recapitulação31 O único elemento que interessa a Platão nessa reflexão metarretórica é precisamente iii a disposição da audiência em determinado estado de ânimo 29 S Slings op cit p 180 30 Ver Aristóteles Retórica 111141901014 31 S Slings op cit p 181 A TRAGÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO CÁLICLES 115 todavia ao invés do apelo de Sócrates às paixões e em especí fico à piedade da audiência έλεηθείη 34C4 encontramos uma reflexão crítica sobre o comportamento dos oradores que recorrem a esse tipo de apelo passional referido pelos verbos έδεήθη implorou e ίκέτευσε suplicou e pelo advérbio μετά πολλών δρακύων em meio a choradeiras 34C23 O contraste entre o comportamento de Sócrates e o daqueles que parecem se distinguir ou pela sabedoria ou pela coragem ou por qual quer outra virtude οι δοκοΰντες διαφέρειν είτε σοφία είτε άνδρεία ειτε άλλη ήτινιοϋν άρετή 3523 quando diante do tribunal define precisamente aquele tipo de caráter sensato e calmo como referido no Livro x da República τό φρόνιμόν τε και ήσυχίον ήθος 6o4e2 que faz de Sócrates uma personagem antitrágica onde o comum dos homens age de modo passio nal como se comportam as mulheres em situações semelhantes 35b332 Sócrates mantém o controle racional de suas paixões recusando o apelo à piedade dos juízes como seria comum à peroração de um discurso forense porque ele reconhece que esse tipo de conduta é vergonhosa não apenas para quem a pratica mas sobretudo para a cidade Ou seja recusando um dos cânones da retórica forense Sócrates garante a coerência de sua imagem de homem justo pio temperante corajoso e sábio devotado à pólis como nenhum outro homem político a qual emerge da Apologia como o modelo de conduta moral consagrado por Platão 32 O episódio de Xantipa no Fédon a mulher de Sócrates ilustra bem o caso Chegando lá encontramos Sócrates há pouco liberto das amarras e Xan tipa tu a conheces com o filho sentada ao lado dele Quando Xantipa nos viu gritou em meio ao choro e disse aquelas coisas que as mulheres costumam dizer Ó Sócrates é a última vez que teus amigos te verão e tu a eles E Sócrates olhando para Críton disse Ó Críton que alguém a leve para casa 59e86oa8 είσιόντες οΰν κατελαμβάνομεν tòv μέν Σωκράτη άρτι λελυμένον τήν δέ Ξανθίππηνγιγνώσκεις γάρεχουσάν τε τό παιδίον αύτοϋ και παρακαθημένην ώς ούν ειδεν ημάς ή Ξανθίππη άνηυφήμησέ τε καί τοιαϋτ άττα ειπεν οια δή είώθασιν αί γυναίκες δτι Ή Σώκρατες ύστατον δή σε προσεροϋσι νϋν οί επιτήδειοι καί σύ τούτους καί ό Σωκράτης βλέψας εις τον Κρίτωνα Ώ Κρίτων έφη άπαγέτω τις αύτήν οϊκαδε 116 GÓRGIAS DE PLATÃO Em suma essa condição idiossincrática faz de Sócrates por tanto uma personagem antitrágica nos diálogos platônicos em especial na Apologia no Críton no Górgias e no Fédon diálogos em que o episódio de sua morte aparece de uma forma ou de outra como motivo de reflexão Embora todas as circunstâncias que cercam tal episódio apontem para a tragicidade da perso nagem como seria na perpectiva de Cálicles e por conseguinte do senso comum daquela sociedade democrática33 Sócrates é construído por Platão como uma personagem antitrágica na Apologia a sua resignação perante o risco de morte mesmo sob condições aparentemente ignominiosas é fruto do reconheci mento da própria ignorância que o impede de temer aquilo que ele próprio não sabe se é bom ou mal ou seja a morte no Górgias esse mesmo traço da personagem quando diante do vaticínio de Cálicles fundase na compreensão de que o mal da alma não é a morte mas a injustiça a qual deve ser temida e evitada por todos os meios para que se tenha uma vida feliz34 33 Sobre Cálicles e Polo como portavozes do senso comum da sociedade democrática de Atenas cf Górgias 5iibi3 34 Como foi salientado anteriormente não entrarei na discussão sobre o Fé don pois desviaria assim o enfoque de minha análise Sobre a figura antitrágica de Sócrates no Fédon ver M Erler op cit A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO I Retomemos então a análise específica do diálogo Górgias O que haveria de trágico nesse confronto com Cálicles se Só crates se configura como uma personagem antitrágica Como eu havia sugerido antecipadamente se a tragédia não é da personagem do novo herói construído por Platão ela é então de seu discurso uma vez que ele não possui qualquer efeito persuasivo e fracassa sob todas as suas formas lógica retórica e mitológica como é sublinhado por diversas vezes no diá logo 493d 494a 5i3d 513ε 516a 5i6cd 517a 518a 523a 527a Se Cálicles é visto por Sócrates como a pedra de toque βασάνου 486d7 capaz de verificar se suas opiniões são real mente verdadeiras e se esse interlocutor não reconhece a ver dade das teses defendidas pelo filósofo durante uma discussão marcada pelo rompimento das regras do processo dialógico e por uma série de desentendimentos a respeito da forma como é conduzida então esse projeto de Sócrates pelo menos nessa circunstância específica entra em colapso 118 GÓRGIAS DE PLATÃO O caso Cálicles o do interlocutor recalcitrante evidencia assim os limites do elenchos socrático do ponto de vista de sua eficiência discursiva de sua capacidade de impelir o interlo cutor à filosofia e por conseguinte ao modo de vida filosófico caráter protréptico do elenchos Isso coloca em xeque a visão otimista de Sócrates com relação à onipotência da razão ex j pressa pela máxima moral de que o conhecimento é suficiente para a virtude referida pela crítica platônica como paradoxo li socrático1 bastaria a princípio a correção nas opiniões do J interlocutor uma vez contraditórias para que ele passasse a agir bem e seria essa a função positiva do elenchos que justi ficaria os meios empregados por Sócrates para demonstrar ao interlocutor a sua ignorância e impelilo assim à investigação filosófica Mas o problema seria tão somente de opinião ou de conhecimento e ignorância Ou o caso Cálicles conduz ja discussão para outra perspectiva que leva em consideração ioutros elementos além das opiniões como causa das ações humanas Penso que Platão está lidando com esse tipo de ques tionamento referente a problemas de psicologia moral que não são contemplados pela perspectiva dita socrática mas que de vem ser considerados para uma adequada compreensão do caso Cálicles Nesse sentido o diálogo Górgias apresenta questões de psicologia moral que Platão desenvolve em toda a sua extensão na República em especial no Livro iv embora a refutação de Górgias se baseie no paradoxo socrático 4óobc Platão nos oferece outras perspectivas para a compreensão do fenômeno moral que ultrapassam a socrática sobretudo por meio da personagem Cálicles como sugere J Cooper em seu artigo2 Vejamos alguns pontos da questão 1 J Beversluis CrossExamining Socrates p 308 A Fussi Logos Filosofico e Logos Persuasivo nella Confutazione Socratica di Gorgias em M Barale a cura di Materialiper un Lessico della Ragione p 117 T Irwin Plato Gorgias p 3 C Kahn Plato and the Socratic Dialogue p 7273 2 J Cooper Socrates and Plato in Gorgias J Cooper org Essays on Ancient Moral Psychology and Ethical Theory p 32 A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 119 II Em sentido amplo o caso Cálicles é portanto uma reflexão crítica de Platão a respeito dos alcances e da viabilidade do elenchos como instrumento discursivo para a filosofia a ne cessidade lógica das demonstrações dos argumentos susten tados por Sócrates seja para refutar as teses adversárias seja para confirmar as suas próprias não é suficiente para persua dir o interlocutor de sua verdade tampouco são persuasivos os recursos retóricos empregados por Sócrates na tentativa de demover Cálicles de suas convicções morais e exortálo à filosofia Sócrates demonstra no Górgias uma postura aná loga à da personagem Górgias a respeito do poder onipotente da retórica uma absoluta confiança na verdade de suas teses morais como vemos no final da refutação de Polo indicada pela ocorrência da forma verbal άποδέδεικται está demons trado 479e8 soc E não era nesse ponto meu caro que divergíamos Tu supu nhas que Arquelau era feliz tendo ele cometido as maiores injustiças e jamais tendo pago a justa pena enquanto eu julgava o contrário que se Arquelau ou qualquer outro homem não a pagasse uma vez cometida a injustiça conviria que ele fosse distintamente o mais infeliz dos ho mens e aquele que comete injustiça fosse sempre mais infeliz do que quem a sofre e aquele que não paga a justa pena mais infeliz do que quem a paga Não era isso o que eu dizia pol Sim soc Não está demonstrado então que se dizia a verdade pol É claro 479d7e9 ςω Ά ρ ούν ού περι τούτου ώ φίλε ήμφεσβητήσαμεν σύ μέν τον Αρχέλαον εύδαιμονίζων τον τα μέγιστα άδικοΰντα δίκην ούδεμίαν διδόντα έγώ δέ τουναντίον οίόμενος είτε Αρχέλαος εϊτ άλλος ανθρώπων όστισοϋν μή δίδωσι δίκην άδικων τούτω προσήκειν άθλίω είναι διαφερόντως τών άλλων άνθρώπων και άει τον άδικοΰντα τού άδικουμένου άθλιώτερον είναι και τον μή διδόντα δίκην τοΰ διδόντος ού ταϋτ ήν τά ύπ εμού λεγάμενα πωλ Ναί 120 GÓRGIAS DE PLATÃO ςω Ούκοΰν άποδέδεικται οτι άληθή έλέγετο πωλ Φαίνεται A confiança de Sócrates por sua vez fundamentase no fato de suas convicções morais jamais terem sido refutadas quando confrontadas com opiniões opostas em todas as circunstâncias em que Sócrates as colocou à prova como por exemplo nesses três Atos do Górgias elas se mostraram consistentes e jamais foram refutadas por qualquer interlocutor 5o8e6509a7 Mas se a legitimidade das inferências feitas por Sócrates que provariam a consistência de suas opiniões e a inconsistência das de seu adversário depende do consentimento do interlocutor nas premissas do argumento como define Sócrates o meu e o teu consentimento portanto será realmente a completude da verdade τώ οντι ούν ή έμή και ή σή ομολογία τέλος ήδη έξει τής άληθείας 48767 então as implicações decorrentes do caso Cálicles colocamna em xeque Os passos equivocados de ambos os interlocutores que vão de encontro ao que o próprio Sócrates estipula como regra para o registro da brakhulogia acabam por invalidar pelo menos no caso específico do debate com Cálicles essa pretensão otimista de Sócrates O princí pio da sinceridade do interlocutor 495a79 que se apresenta como condição imprescindível para o diálogo de orientação filosófica em oposição ao jogo erístico é deliberadamente ne gligenciado por Sócrates nesta passagem soc Mas dizeme novamente afirmas que aprazível e bom são o mesmo ou que há coisas aprazíveis que não são boas cal A fim de que a discussão não me contradiga se eu disser que são diferentes eu afirmo que são o mesmo soc Arruinas Cálicles a discussão precedente e deixarias de in vestigar comigo de modo suficiente o que as coisas são se falasses con trariamente a tuas opiniões cal Vale para ti também Sócrates soc Pois bem se faço isso não o faço corretamente tampouco tu o fazes Mas homem afortunado observa se o bem não consiste em deleitarse de qualquer modo Pois se assim o for tornarseão mani A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 121 festas aquelas inúmeras consequências vergonhosas há pouco insinua das e muitas outras mais c a l Segundo o teu juízo Sócrates soc Tu Cálicles realmente persistes nesse ponto c a l Sim soc Portanto tentemos discutir como se falasses seriamente c a l Absolutamente 495a2C2 ςω άλλ έτι και νυν λέγε πότερον φής είναι τό αύτό ήδύ και αγαθόν ή εΐναί τι τών ήδέων ο ούκ εστιν άγαθόν καλ Ίνα δή μοι μή άνομολογούμενος η ό λόγος έάν ετερον φήσω είναι τό αύτό φημι είναι ςω Διαφθείρεις ώ Καλλίκλεις τούς πρώτους λόγους και ούκ αν ετι μετ έμοΰ ίκανώς τά όντα έξετάζοις εϊπερ παρά τα δοκοϋντα σαυτώ έρεΐς καλ Και γάρ σύ ώ Σώκρατες ςω Ού τοίνυν όρθώς ποιώ οΰτ έγώ εϊπερ ποιώ τούτο ούτε σύ άλλ ώ μακάριε άθρει μή ού τούτο ή τό άγαθόν τό πάντως χαίρειν ταΰτά τε γάρ τά νυνδή αίνιχθέντα πολλά και αισχρά φαίνεται συμβαίνοντα εί τούτο ούτως εχει και άλλα πολλά καλ Ως σύ γε οϊει ώ Σώκρατες ςω Σύ δέ τώ όντι ώ Καλλίκλεις ταΰτα ίσχυρίζη καλ Έγωγε ςω Επιχειρώμεν άρα τώ λόγω ώς σοΰ σπουδάζοντος καλ Πάνυ γε σφόδρα Analisemos detidamente a passagem Sócrates pretende mostrar a Cálicles que sua concepção de virtude e de felici dade implica uma série de consequências que ele próprio con sidera vergonhosas concepção essa que parte do princípio da identidade entre prazer e bem Mas Cálicles apresenta a Só crates sua concepção hedonista de felicidade em dois momen tos diferentes da discussão 4916508 494023 que uma vez confrontados evidenciam diferenças importantes em sua for mulação não contempladas por Sócrates na refutação acima 4943549502 Vejamos os dois trechos a Mas o belo e justo por natureza para te dizer agora com franqueza é oseguinte o homem que pretende ter uma vida correta deve permitir que seus próprios apetites dilatem ao máximo e não refreálos e uma vez 122 GÓRGIAS DE PLATÃO supradilatados ser suficiente para servirlhes com coragem e inteligência e satisfazer o apetite sempre que lhe advier Mas isso julgo eu é impossível à massa ela assim vitupera tais homens por vergonha para encobrir a sua própria impotência e afirma que é vergonhosa a intemperança como eu dizia antes e escraviza os melhores homens por natureza ela própria incapaz de prover a satisfação de seus prazeres louva a temperança e a justiça por falta de hombridade 49ie6492bi άλλα τοΰτ έστιν τό κατά φύσιν καλόν καί δίκαιον ο έγώ σοι νΰν παρρησιαζόμενος λέγω οτι δε τον όρθώς βιωσόμενον τάς μέν έπιθυμίας τάς έαυτοΰ έάν ώς μεγίστας είναι και μή κολάζειν ταύταις δέ ώς μεγίσταις οΰσαις ικανόν είναι ϋπηρετεϊν δι ανδρείαν και φρόνησιν και άποπιμπλάναι ών αν άεί ή επιθυμία γίγνηται άλλα τοΰτ οίμαι τοΐς πολλοίς ού δυνατόν δθεν ψέγουσιν τούς τοιούτους δι αισχύνην άποκρυπτόμενοι τήν αυτών άδυναμίαν και αισχρόν δή φασιν είναι τήν άκολασίαν οπερ έν τοΐς πρόσθεν έγώ έλεγον δουλούμενοι τούς βελτίους τήν φύσιν άνθρώπους και αύτοί ού δυνάμενοι έκπορίζεσθαι ταϊς ήδοναΐς πλήρωσιν έπαινοΰσιν τήν σωφροσύνην και τήν δικαιοσύνην διά τήν αύτών άνανδρίαν b te r to d o s o s d e m a is a p etites e ser c a p a z d e sa ciálo s d e le i ta rse e v iv e r feliz 494C23 τάς αλλας έπιθυμίας άπάσας εχοντα καί δυνάμενον πληροΰντα χαίροντα εύδαιμόνως ζήν Na primeira versão do hedonismo Cálicles não diz categori camente que o homem que pretende viver bem deve ser capaz de satisfazer todos os apetites ele diz que quando os apetites surgem o homem deve deixar que eles engrandeçam ao máximo para as sim satisfazêlos tendo a coragem e a inteligência suficientes para reprimir qualquer tipo depathos que impeça esse processo como a vergonha ou o medo Isso não pressupõe que esse homem inteli gente e corajoso deva satisfazer todo e qualquer apetite pois pode acontecer que ponderando sobre a natureza de certo apetite ele prefira não satisfazêlo por considerálo indigno ou vergonhoso como por exemplo o apetite de se coçar ou o apetite dos homossexuais a que Sócrates recorre para refutar o hedonismo A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 123 b Não seria incoerente levando em consideração a formulação do hedonismo a se Cálicles distinguisse apetites bons de apetites maus e por conseguinte prazeres bons de prazeres maus na me dida em que o prazer advém da satisfação do apetite cf 49óde pois o homem virtuoso seria aquele capaz de engrandecer e dar vazão àqueles apetites dignos de serem saciados quaisquer que sejam eles e evitar aqueles indignos quaisquer que sejam eles Na segunda versão todavia Cálicles torna irrestrito o he donismo que Sócrates define como deleitarse de qualquer modo το πάντως χαίρειν 495b4 Nesse sentido o homem que pretende viver bem deve então ser capaz de satisfazer todo I e qualquer apetite inclusive aqueles elencados por Sócrates I O argumento socrático é válido portanto somente para o he donismo b o hedonismo categórico pois Cálicles diferen temente da versão a diz expressamente que o homem para i ser feliz deve ter e satisfazer todos os apetites άπάσας 494C2j Admitindo a identidade absoluta entre prazer e bem as con sequências apontadas por Sócrates são necessárias e Cálicles não teria como negálas tendo em vista o que ele próprio havia declarado anteriormente É nesse sentido que Cálicles aceita as conclusões do argumento para não ser incoerente com o que havia admitido antes ou seja que o homem para viver feliz deve ter e satisfazer todos os apetites e não porque elas refle tem o que ele realmente pensava Diante das conclusões in desejadas reveladas pelo elenchos Cálicles poderia como fará efetivamente adiante 499b admitir que há prazeres bons e prazeres maus distinção essa que seria perfeitamente admissí vel pelo hedonismo a o homem virtuoso deve permitir que os apetites bons quaisquer que sejam eles engrandeçam ao máximo para assim satisfazêlos tendo a coragem e a inteligên cia suficientes para isso3 Eis o dilema de Cálicles dizer o que realmente pensa que bem e prazer são diferentes e que aquele que se coça não é feliz e ser assim incoerente com o que havia 3 Idem p 723 124 GÓRGIAS DE PLATÃO admitido antes ou evitar tal incoerência sustentando algo em que não acredita4 Portanto na medida em que a refutação do hedonismo b5 não implica a refutação do hedonismo a a atitude de Cálicles é bastante razoável para não ser incoerente consigo próprio ele aceita as consequências vergonhosas do hedonismo categórico embora elas não reflitam as suas reais opiniões seria necessário assim uma reformulação nas premissas do argumento como por exemplo de que há bons e maus prazeres 499b para que o hedonismo fosse examinado de forma adequada conforme as opiniões reais de Cálicles Se Sócrates pretende provar ao interlocutor que bem e prazer são diferentes Cálicles estaria assim pronto para admitilo pois as consequências do hedo nismo categórico fundado na identidade entre prazer e bem não condizem com 0 que ele pensa tampouco são elas suficien tes para refutar o hedonismo a III Surpreendente todavia é a atitude de Sócrates diante da rea ção de Cálicles ao invés de investigar as reais opiniões do in terlocutor analisando o hedonismo a a partir da distinção entre bons e maus prazeres como Cálicles se mostra disposto a admitila e como admitirá efetivamente 499b Sócrates ig nora a ressalva de Cálicles e passa a dialogar como se ele fa lasse seriamente oTtouôáovTOç 495C1 Nesse momento da discussão não é Cálicles mas Sócrates a romper o princípio da sinceridade do interlocutor que distinguiria por sua vez 4 J Beversluis op cit p 354 5 Essa primeira refutação do hedonismo b 4 9 4 C 2 4 9 5 C 2 é ad hominem ou seja Sócrates está testando antes a franqueza de Cálicles 7tappqaiaópvoç 492e67 do que propriamente o hedonismo categórico como fará na sequência do diálogo 4 9 5 0 3 4 9 7 3 5 497a6499b3 assim como os homens mais fracos e a massa Cálicles também é acometido pelo sentimento da vergonha que na versão do hedo nismo a apresentase como um dos obstáculos a serem superados pela coragem e inteligência na busca pelo engrandecimento e satisfação dos apetites A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 125 o diálogo de orientação filosófica das meras disputas erísti cas Mas por que Sócrates age dessa maneira Porque Sócra tes não refuta o hedonismo categórico com tais exemplos e sim Cálicles como foi comentado acima sobre o aspecto ad hominem do elenchos socrático pois se Cálicles tivesse a co ragem suficiente para reprimir esse sentimento de vergonha comum à maioria dos homens e admitir todas aquelas conse quências insinuadas por Sócrates então ele não refutaria Cáli cles tampouco o hedonismo categórico Mesmo Cálicles sendo acometido pela vergonha isso não é suficiente para Sócrates refutar o hedonismo categórico b O elenchos propriamente dito se dá através de dois argumentos subsequentes 495C3 4975 497a6499b3 em que Sócrates demonstra i que 0 pra zer é diferente do bem e ii que aquele homem corajoso e inte ligente τόν φρόνιμον και άνδρειόν 499a2 reverenciado por Cálicles é tão bom quanto o estulto e covarde τόν άφρονα και δειλόν 49923 ou até mesmo pior caso se admita que pra zer e bem são a mesma coisa pois o covarde se compraz e sofre mais do que o corajoso Pois bem se essa leitura é aceitável Sócrates passa a discutir em vão 4950349903 pelo menos do ponto de vista do inter locutor pois pretende demonstrar aquilo que Cálicles já estava pronto para admitir de modo a evitar as consequências decor rentes da formulação categórica do hedonismo reveladas por Sócrates Como J Cooper salienta6 admitir a distinção entre bons e maus prazeres como Cálicles fará em 499b não é incon sistente com a formulação do hedonismo a que em última instância acaba não sendo refutada absolutamente por Sócrates no Górgias o valor central atribuído aos apetites epithumiai pela psicologia moral calicliana permanece consistente mesmo admitindo tal distinção Assim ao invés de levar a sério as pos síveis implicações decorrentes desse consentimento de Cálicles para a teoria hedonista Sócrates recorre à sua habitual ironia 6 J Cooper Sócrates and Plato in Platos Gorgias p 7273 126 GÓRGIAS DE PLATÃO c a l Há tempos te ouço Sócrates concordando contigo e refle tindo que ainda que alguém te conceda algum ponto por brincadeira te apegas a isso contente como um garoto Pois tu julgas de fato que eu ou qualquer outro homem não consideramos que há prazeres me lhores e piores soc Ah Ah Cálicles como és embusteiro e me tratas como se eu fosse criança ora afirmando que as mesmas coisas são de um modo ora de outro com o escopo de me enganar Aliás eu não julgava a princípio que seria enganado por ti voluntariamente visto que és meu amigo Porém acabaste de mentir e como é plausível é necessário que eu conforme o antigo ditado faça o melhor com o que tenho e aceite atua oferta 49406 ΚΑΛ Πάλαι τοί σου άκροώμαι ώ Σώκρατες καθομολογών ένθυμούμενος ότι καν παίζων τίς σοι ένδώ ότιοΰν τούτου άσμενος έχη ώσπερ τα μειράκια ώς δή σύ οϊει έμέ ή και άλλον όντινοΰν άνθρώπων ούχ ήγεΐσθαι τάς μεν βελτίους ήδονάς τάς δε χείρους ςω Ιου ίοΰ ώ Καλλίκλεις ώς πανούργος εΐ καί μοι ώσπερ παιδί χρή τοτέ μεν τά αυτά φάσκων ούτως εχειν τοτέ δέ έτέρως έξαπατών με καίτοι ούκ ώμην γε κατ άρχάς ΰπό σοΰ έκόντος είναι έξαπατηθήσεσθαι ώς οντος φίλου νυν δέ έψεύσθην και ώς εοικεν άνάγκη μοι κατά τον παλαιόν λόγον τό παρόν ευ ποιειν και τούτο δέχεσθαι τό διδόμενον παρά σοΰ A partir desse momento do diálogo 499d Sócrates aban dona de certo modo o interlocutor e a análise de suas opiniões e passa a expor as suas próprias ideias sobre o bem e o pra zer7 como se os argumentos anteriores tivessem sido suficien tes para refutar o hedonismo em sua completude mas como tentei mostrar Sócrates refuta apenas o hedonismo categórico b o qual Cálicles acaba por renegar como se aquele άπάσας todos em 494C2 fosse apenas um lapso na sua formulação ver bal alegando não refletir as suas opiniões reais talvez melhor expressas pela formulação a em 49ie6492c8 Sócrates passa a discutir então os critérios para se distinguir os bons dos maus prazeres argumentando que os bons são aqueles que promovem a boa disposição da alma justiça temperança etc enquanto os 7 Idem p 73 A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 127 maus aqueles que promovem a disposição contrária e assim por diante Essa mudança na estratégia argumentativa de Sócrates provoca o desinteresse gradativo de Cálicles pela discussão de modo que em 501x78 este declara que sua participação no diálogo é apenas para Sócrates concluir o argumento e para deleitar Górgias que o havia impedido de abandonar o debate 497b se não fosse a intervenção de Górgias certamente Cá licles já teria saído de cena Ele já não se comporta mais como aquele interlocutor franco e defensor fervoroso de suas con vicções tornandose complacente com Sócrates confirmando o que Sócrates espera que ele confirme para se chegar ao termo daquela conversa em vão Esse distanciamento entre os interlocutores culmina então com o monólogo de Sócrates 506C5509C4 que pelo próprio termo é a negação do diálogo διαλέγεσθαι do princípio ele mentar da filosofia uma conversa entre duas pessoas uma na função de inquiridor e outra na de inquirido como Sócrates definiu reiteradamente na discussão com Górgias e Polo 449bc 471x247204 Mas esse monólogo já havia de certa forma começado antes desde o momento em que Sócrates ignora o protesto de Cálicles quebrando o princípio da sinceridade do interlocutor 495ab Essa ação à revelia de Cálicles implica a negação da função do interlocutor de modo que se a com pletude da verdade τέλος τής άληθείας 48767 depende do consentimento de ambos nas premissas do argumento como define Sócrates então Cálicles não desempenha a sua função não se comporta como aquele interlocutor ideal 487a Cáli cles por conseguinte não poderia ser aquela pedra de toque βασάνου 486d7 que verificaria a verdade das teses socrá ticas frustrando assim a expectativa otimista de Sócrates Em última instância ainda que Sócrates ancore a sua convicção na verdade de suas teses morais no fato de jamais terem sido refuta das por qualquer interlocutor para se alcançar a completude da verdade ele precisaria de algo mais do que esse consentimento de Cálicles obtido sob tais condições e em tais circunstâncias 128 GÓRGIAS DE PLATÃO Mas por qual razão Sócrates insiste num diálogo que já não é mais diálogo conversando sozinho numa situação ridícula como ele próprio admite Talvez a personagem nos indique o caminho da resposta Depois que Cálicles sugere o monólogo como a única solução para o impasse e o desacordo a que che garam Sócrates diz o seguinte soc Para me valer do dito de Epicarmo eu serei suficiente mesmo sendo um só para o que dois homens diziam previamente Pois bem é provável que isso seja absolutamente necessário Todavia se tomar mos essa decisão julgo que todos nós devamos almejar a vitória em saber o que é verdadeiro e o que é falso em relação ao que dizemos pois é um bem comum a todos que isso se esclareça Farei a exposição do argumento então como me parecer melhor mas se algum de vós achar que eu concordo comigo mesmo a respeito de coisas que não são o caso será seu dever então tomar a palavra e refutarme Pois eu de fato não falo como conhecedor do que falo mas empreendo convosco uma investigação em comum de modo que se quem diverge de mim disserme algo manifesto serei eu o primeiro a consentilo Digo essas coisas contudo se parecer melhor que eu deva concluir a discussão mas se não quiserdes nos despeçamos agora mesmo e partamos gor Pareceme Sócrates que não devemos partir agora e que de ves tu expor o argumento Que essa é a opinião dos demais está mani festo De minha parte quero te ouvir percorrendo por ti mesmo o que lhe resta 5056150603 ςω Ινα μοι το τού Επιχάρμου γένηται α προ τού δύο άνδρες ελεγον είς ών ικανός γένωμαι άτάρ κινδυνεύει άναγκαιότατον είναι ούτως εί μέντοι ποιήσομεν οΐμαι εγωγε χρήναι πάντας ήμάς φιλονίκως εχειν προς τό ειδέναι τό άληθές τί έστιν περί ών λέγομεν καί τί ψεύδος κοινόν γάρ άγαθόν άπασι φανερόν γενέσθαι αύτό δίειμι μεν ούν τώ λόγω έγώ ώς άν μοι δοκή εχειν έάν δέ τω υμών μή τα όντα δοκώ όμολογεϊν έμαυτώ χρή άντιλαμβάνεσθαι και έλέγχειν ούδέ γάρ τοι εγωγε είδώς λέγω ά λέγω άλλα ζητώ κοινή μεθ ύμών ώστε αν τι φαίνηται λέγων ό άμφισβητών έμοί έγώ πρώτος συγχωρήσομαι λέγω μέντοι ταϋτα εί δοκεϊ χρήναι διαπερανθήναι τον λόγον εί δε μή βούλεσθε έώμεν ήδη χαίρειν καί άπίωμεν γορ Ά λλ έμοί μεν οϋ δοκεϊ ώ Σώκρατες χρήναι πω άπιέναι άλλα διεξελθεΐν σε τον λόγον φαίνεται δέ μοι καί τοΐς άλλοις δοκείν βούλομαι γάρ εγωγε καί αυτός άκοϋσαί σου αυτού διιόντος τα επίλοιπα A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 129 A referência a Epicarmo d k b i 6 é bastante significativa sobretudo porque ela parte da boca de Sócrates em seu comen tário ao Górgias Olimpiodoro afirma que esse poeta havia com posto uma comédia na qual duas personagens dialogam mas acaba uma falando também pela outra 34138 Nessa alusão à comédia Sócrates compara a sua condição à da personagem cô mica na situação excepcional de um monólogo dentro do diá logo Nesse sentido a própria personagem adverte que sua ação será ridícula mas a justifica atribuindo a causa a uma constrição da ocasião αναγκαιότατου 50503 na tentativa de se eximir da culpabilidade moral de seu comportamento risível9 Dada a re cusa de Cálicles Sócrates convida então a audiência da cena a desempenhar eventualmente a função de interlocutor e intervir no monólogo quando necessário ou seja Sócrates passa a dialo gar agora com a audiência da cena passa a se dirigir diretamente a ela agindo contra aquilo que ele próprio havia dito a Polo quando distinguia o elenchos filosófico do elenchos retórico soc Eu sei como apresentar uma única testemunha do que digo aquela com a qual eu discuto mas dispenso a maioria e sei como dar a pauta da votação a uma única pessoa mas não dialogo com mui tos 474a5bi ςω έγώ γάρ ών άν λέγω ένα μέν παρασχέσθαι μάρτυρα έπίσταμαι αυτόν προς ον άν poL ό λόγος η τούς δέ πολλούς έώ χαίρειν και ένα έπιψηφίζειν έπίσταμαι τοις δέ πολλοΐς ούδέ διαλέγομαι Nesse momento do diálogo então fica evidente que o dis curso de Sócrates já não se dirige mais precipuamente a Cálicles 8 Ver A Nightingale Genres in Dialogue p 82 E Dodds Plato Gorgias p 332 9 Sócrates recorre sempre ao mesmo tipo argumento para justificar suas ações moralmente censuráveis segundo o seu próprio ponto de vista buscando se exi mir assim de culpa i no Prólogo ele atribui a Querefonte a causa de ambos terem chegado depois de finalizada a epideixis de Górgias motivo pelo qual ele é pronta mente censurado por Cálicles άνάγκασας ημάς 447a8 ii no 2a Ato ele justifica sua makrologia para expor a sua concepção de retórica como lisonja κολακεία à obtusidade do interlocutor visto a deficiência de Polo no registro da brakhulogia 465e466a iíi no 3a Ato ele justifica novamente sua incursão pela makrologia pelo fato de Cálicles ter recusado responder às perguntas με ήνάγκασας 5i9d6 130 GÓRGIAS DE PLATÃO mas à audiência da cena composta de discípulos de Górgias eou aspirantes a tais Contudo para isso Sócrates acaba por contra riar os princípios basilares que definem o diálogo filosófico em oposição ao jogo verbal erístico Dessa forma à epideixis de Gór gias sucede a epideixis de Sócrates numa substituição simbólica do saber aparente do rétor pela verdadeira sabedoria do filósofo nesse sentido o público embora só apareça na cena referido por alguma personagem 458c 5o6ab desempenha uma impor tante função na dinâmica dialógica afetando de certo modo o comportamento das personagens inclusive o de Sócrates Pois é em função dessa audiência que se justificaria a insistência de Sócrates num diálogo que não se constitui mais como diálogo na minha leitura desde 495ab tendo em vista a resistência de Cálicles à estratégia argumentativa de Sócrates e a sua indisposi ção para se deixar persuadir por seus argumentos Se o discurso socrático não possui qualquer efeito persuasivo em Cálicles tal vez ele pudesse possuilo na audiência ou pelo menos em parte dela pela observação de Górgias ela se encontra envolvida pela discussão conduzida por Sócrates 5o6bi2 assim como já havia se mostrado favorável ao filósofo quando Górgias tenta polida mente se furtar ao debate 458be Mas essa perspectiva otimista ainda contrasta com o juízo de Cálicles quando diz que assim como à maioria das pessoas Sócrates não o persuade absoluta mente 513C46 Se esses passos equivocados de Sócrates durante o diálogo com Cálicles e por conseguinte o seu comportamento ridículo nesse monólogo se justificam pelos fins ou seja em vista da persuasão e da exortação da audiência à filosofia como indica o caráter protréptico do Mito Final10 então Cálicles teria razão em chamar Sócrates de orador público Sqpqyópoç 482C5 494di ele fala 10 Platão Górgias 526d5e4 Assim dou adeus às honras da maioria dos homens e tentarei realmente exerci tando a verdade viver de modo a ser o melhor o quanto me for possível ser e morrer quando a morte me acometer E exorto a isso todos os outros homens na medida do possível ademais exorto em resposta à tua exortação também a ti a essa vida e a essa luta a qual afirmo ser preferível a todas as demais lutas daqui A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 131 não apenas com o interlocutor mas também para a audiência a fim de lhe mostrar as deficiências da formação propiciada pela re tórica representada eminentemente por Górgias e os benefícios em contrapartida do modo de vida filosófico Como Cálicles é um interlocutor arguto ele percebe que a despeito de sua crítica à retórica praticada nas instituições democráticas Sócrates tam bém se vale de procedimentos típicos desse ambiente agonístico como por exemplo o jogo com as emoções do público Porém se entendermos por outro lado que Sócrates continua o diálogo mesmo diante da recusa de Cálicles com a esperança real de ainda persuadilo então ele se comporta de fato como uma persona gem cômica que dialoga como na peça de Epicarmo sozinha no palco diante de um interlocutor que não mostra qualquer interesse pelo conteúdo da discussão salvo em poucos e sucintos momentos 5ioab 513c 517a 520a 521c 522c Pois o pró prio Sócrates observa por diversas vezes no 3e Ato 493d 494a 5 t3cd 523a 527a que seu discurso não demove Cálicles de suas convicções morais ciente de que a recalcitrância do interlocutor é mais forte do que o poder persuasivo de seu discurso Quais as causas da recalcitrância de Cálicles veremos adiante a partir das indicações do próprio Platão no Górgias I V Sendo assim temos no Górgias de um lado o colapso da es tratégia argumentativa de Sócrates quando em confronto com um interlocutor recalcitrante que eu designei genericamente de tragédia do discurso socrático mas de outro lado uma expectativa otimista da personagem de persuadir a audiência ou pelo menos parte dela da superioridade do modo de vida χαίρειν ούν έάσας τάς τιμάς τάς τών πολλών ανθρώπων τήν αλήθειαν ασκών πειράσομαι τώ οντι ώς αν δύνωμαι βέλτιστος ών και ζήν και έπειδάν αποθνήσκω άποθνήσκειν παρακαλώ δέ και τούς άλλους πάντας ανθρώπους καθ όσον δύναμαι και δή καί σέ άντιπαρακαλώ έπί τούτον τον βίον και τον αγώνα τούτον ον έγώ φημι άντι πάντων τών ένθάδε αγώνων είναι 132 GÓRGIAS DE PLATÃO filosófico sobre o modo de vida político exortado por Cálicles Para empregar uma metáfora nietzschiana é como se Sócra tes fosse a ave de rapina em território estrangeiro investindo contra o rebanho de Górgias Essa perspectiva otimista só é razoável se admitirmos que Sócrates a partir de 495ab se di rige precipuamente à audiência tendo em vista a resistência indelével de Cálicles Essa leitura pareceme encontrar apoio no que Sócrates diz no Mito Final quando ele distingue as almas curáveis das incuráveis11 Vejamos o trecho Cabe a todos os que estão sujeitos ao desagravo cujo desagravo por parte de outrem seja correto tornaremse melhores e obterem alguma vantagem ou tornaremse modelo aos demais para que es tes últimos quando verem seu sofrimento fiquem amedrontados e se tornem melhores Mas os que são beneficiados e que recebem a justa pena infligida por deuses e homens são aqueles que comete ram erros curáveis contudo é por meio de sofrimentos e dores que eles são beneficiados aqui como no Hades pois não há outro modo de se livrarem da injustiça Por outro lado os que cometeram as in justiças mais extremas e tornaramse incuráveis devido a esses atos injustos tornamse modelo embora eles próprios jamais possam obter alguma vantagem porque são incuráveis Não obstante são os outros que obtêm alguma vantagem disso aqueles que os veem ex perimentar ininterruptamente os maiores os mais dolorosos e os mais temíveis sofrimentos por causa de seus erros dependurados íi Sócrates já antecipa esse argumento do mito ao aludir metaforicamente às doenças incuráveis da alma na discussão com Cálicles sobre a ideia de salvar a si mesmo Ele o piloto pondera então que se algum tripulante cujo corpo é acometido por doenças crônicas e incuráveis não se afogar ele será infeliz porque não morreu não obtendo qualquer benefício de sua parte e que para um tripulante acometido por inúmeras doenças incuráveis na alma que vale mais que o corpo a vida não lhe é digna e ele não obterá qualquer vantagem em ser salvo seja do mar ou do tribunal ou de qualquer outro lugar ele sabe que não é melhor para um homem perverso per sistir a viver pois é necessário que ele viva miseravelmente 5i2a2b2 ΣΩ λογίζεται ούν ότι ούκ ει μέν τις μεγάλοις και άνιάτοις νοσήμασιν κατά το σώμα συνεχόμενος μή άπεπνίγη ούτος μέν άθλιός έστιν οτι ούκ άπέθανεν και ούδέν ύπ αύτοϋ ώφέληται ει δέ τις άρα έν τώ τού σώματος τιμιωτέρω τη ψυχή πολλά νοσήματα έχει και ανίατα τούτοι δέ βιωτέον έστιν και τούτον όνήσει άντε έκ θαλάττης άντε έκ δικαστηρίου έάντε άλλοθεν όποθενοϋν σώση άλλ οίδεν ότι ούκ άμεινόν έστιν ζήν τώ μοχθηρώ άνθρώπω κακώς γάρ ανάγκη έστιν ζήν A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 133 no cárcere de Hades como simples modelo espetáculo e advertência para os injustos que ali chegam a todo instante Eu afirmo que Ar quelau inclusive será um deles se for verdadeiro o relato de Polo e qualquer outro tirano que se lhe assemelhe Creio também que a maior parte desses modelos provém de tiranos reis dinastas e dos envolvidos com as ações da cidade pois eles incorrem nos maiores e mais ímpios erros por causa de seu poder ilimitado 525bid6 προσήκει δέ παντί τώ έν τιμωρία δντι ύπ άλλου όρθώς τιμωρούμενα ή βελτίονι γίγνεσθαι και όνίνασθαι ή παραδείγματι τοΐς άλλοις γίγνεσθαι ϊνα άλλοι όρώντες πάσχοντα ά άν πάσχη φοβούμενοι βελτίους γίγνωνται είσιν δέ οί μέν ώφελούμενοί τε και δίκην διδόντες ύπό θεών τε και άνθρώπων οΰτοι οϊ άν ιάσιμα άμαρτήματα άμάρτωσιν όμως δέ δι άλγηδόνων και οδυνών γίγνεται αύτοίς ή ώφελία και ενθάδε και έν Αιδου ού γάρ οίόν τε άλλως άδικίας άπαλλάττεσθαι οϊ δ άν τά έσχατα άδικήσωσι και διά τά τοιαΰτα άδικήματα άνίατοι γένωνται έκ τούτων τά παραδείγματα γίγνεται και ούτοι αύτοί μέν ούκέτι όνίνανται ούδέν άτε άνίατοι άντες άλλοι δέ όνίνανται οί τούτους όρώντες διά τάς άμαρτίας τά μέγιστα και οδυνηρότατα και φοβερώτατα πάθη πάσχοντας τον άεί χρόνον άτεχνώς παραδείγματα άνηρτημένους έκεΐ έν Αιδου έν τώ δεσμωτηρίω τοϊς άεί των άδικων άφικνουμένοις θεάματα και νουθετήματα ών έγώ φημι ένα και Αρχέλαον εσεσθαι εί άληθή λέγει Πώλος και άλλον οστις άν τοιοΰτος τύραννος ή οίμαι δέ και τούς πολλούς είναι τούτων τών παραδειγμάτων έκ τυράννων και βασιλέων και δυναστών και τά τών πόλεων πραξάντων γεγονότας οΰτοι γάρ διά την έξουσίαν μέγιστα και άνοσιώτατα άμαρτήματα άμαρτάνουσι Ο caso Cálicles portanto ο do interlocutor recalcitrante corresponderia ao daquela alma cujos erros são incuráveis ανίατοι όντες 525C412 e que portanto é imune à cura ou à correção potencial do elenchos como Sócrates observa a certa altura do diálogo Cálicles não tolera ser beneficiado e sofrer aquilo sobre o que discutimos ser punido ούχ υπομένει ώφελούμενος και αύτός τούτο πάσχων περί ού ό λόγος έστί κολαζόμενος 505C34 A imagem do filósofo como o médico 12 Sócrates conta entre as almas incuráveis os envolvidos com as ações da ci dade τά τών πόλεων πραξάντων γεγονότας 525045 ou seja os políticos classe à qual pertence Cálicles como fica evidente durante o diálogo 134 GÓRGIAS DE PLATÃO da alma como aparece explicitamente no Protágoras13 e im plicitamente no Górgias através da analogia entre o médico e o verdadeiro homem político ou seja Sócrates cf 52id522a atribui ao elenchos socrático essa função corretiva de curar as almas das pessoas desviandoas do vício injustiça intempe rança covardia impiedade ignorância e incitandoas à virtude justiça temperança coragem piedade sabedoria 11 No entanto até que ponto o elenchos tem esse poder de cura j para quem se lhe submete Cálicles representa precisamente o 1 caso em que o remédio pharmakon de Sócrates é impotente para combater a doença moral que acomete o interlocutor intemperança injustiça etc na medida em que não é eficaz I persuasivamente Tendo em vista o limite do poder de cura do elenchos e o caso crônico da recalcitrância de Cálicles a perso nagem serviria então de modelo παραδείγματα 525C12 para aquela audiência como modo de vida e de éthos a ser evitado assim como as almas incuráveis servem de modelo e advertência para as que chegam ao Hades sentindo medo φοβούμενοι 52504 ao contemplar os sofrimentos a que são submetidas elas são advertidas para que ajam corretamente e evitem assim o mesmo fim que essas almas incuráveis o ver dadeiro infortúnio δυστυχία do homem Nessa perspectiva so crática do mito seria Cálicles a personagem trágica do diálogo e não Sócrates essa seria a resposta final de Anfíon a Zeto que Sócrates prometera oferecer depois de Cálicles haver recusado o diálogo 5o6bc completando assim a refutação retórica das acusações do interlocutor seria essa a função do deus ex machina representada pelo Mito Final assim como Hermes restitui a lira a Anfíon no encerramento da Antíope visto que Sócrates não consegue persuadir Cálicles de alguma coisa Portanto mesmo que Cálicles represente o colapso do dis curso socrático e que Sócrates adote um comportamento no diálogo muitas vezes conflitante com as regras estabelecidas 13 Ver Platão Protágoras 3130702 A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 135 para o processo dialógico ou um comportamento que beira o ridículo ainda assim há um sentido positivo no Górgias a pos sibilidade de persuasão da audiência de Górgias ou de parte dela da superioridade do modo de vida filósofico sobre o modo de vida político fundado na retórica modo de vida político da democracia ateniense estritamente falando14 Além das alusões à manifestação favorável do público a Sócrates 458cd 5o6ab isso pareceme indicado pelo caso Polo na medida em que a personagem no final do elenchos mostra certa suscetibilidade ao argumento socrático Vejamos como se encerra a sua última intervenção no diálogo no final do 2 Ato soc Devemos ou não devemos falar assim Polo pol Isso me parece um absurdo Sócrates Todavia talvez concorde com o que dizias anteriormente soc Então devemos suprimilo ou isso é consequência necessária pol Sim é isso o que sucede 48od6e4 ΣΩ φώμεν οίίτως ή μή φώμεν ώ Πώλε πωλ Ατοπα μεν ώ Σώκρατες εμοιγε δοκεΐ τοΐς μέντοι έμπροσθεν ίσως σοι όμολογεΐται ΣΩ Ούκοΰν ή κάκεΐνα λυτέον ή τάδε ανάγκη συμβαίνειν πωλ Ναί τοΰτό γε ούτως εχει Embora considere absurdas άτοπα 48oei as conse quências do argumento Polo declara todavia que talvez con corde com o que havia sido dito antes ou seja que a injustiça é o maior mal da alma como indica seu assentimento forte15 14 Pois a imagem de Sócrates como o verdadeiro homem político 52ide indica precisamente a superação desse antagonismo como veremos sobretudo na República com os filósofos comandando as ações políticas da pólis 15 J Beversluis afirma o seguinte sobre essa passagem do diálogo 479c8d6 Polo assente a cada passo do argumento ou diz que assente embora muito relutan temente Aparentemente φαίνεται como parece έοικεν e assim por diante op cit p 335 Mas vejamos detidamente este trecho comentado por Beversluis soc Se nosso consentimento for verdadeiro Polo será que percebes as consequências do argumento Ou queres que nós as recapitulemos p o l Se for de teu parecer soc Não decorre porventura que a injustiça e cometer injustiça são o maior mal 136 GÓRGIAS DE PLATÃO φαίνεται γε em 479CI116 Polo só não entende que esses pa radoxos absurdos decorrem necessariam ente da conclusão p o l É claro soc Com efeito pagar a justa pena é manifestamente a libertação desse mal não é p o l É p ro v á v el soc E não pagála a preservação do mal p o l Sim soc Portanto o segundo mal em magnitude é cometer injustiça mas não pagar a justa pena quando cometida a injustiça é naturalmente o primeiro e o maior de todos os males pol É plausível 479C4d6 ΣΩ εί δέ ημείς αληθή ώμολογήκαμεν ώ Πώλε άρ αίσθάνη τα συμβαίνοντα έκ τού λόγου ή βούλει συλλογισώμεθα αύτά ΠΩΛ Ei σοι γε δοκεΐ ςω Ά ρ ούν συμβαίνει μέγιστον κακόν ή αδικία και το άδικεΐν ΠΩΛ Φαίνεται γε ςω Και μην απαλλαγή γε έφάνη τούτου τοϋ κακού τό δίκην διδόναι ΠΩΛ Κινδυνεύει ςω Τό δέ γε μή διδόναι έμμονή τοϋ κακού ΠΩΛ Ναί ςω Δεύτερον άρα έστιν τών κακών μεγέθει τό άδικεΐν τό δέ άδικοϋντα μή διδόναι δίκην πάντων μέγιστόν τε και πρώτον κακών πέφυκεν ΠΩΛ Έοικεν Beversluis não observa aqui a diferença de grau do assentimento de Polo à cada uma das proposições φαίνεται na verdade φαίνεται γε cuja partícula re força o assentimento do interlocutor o que não é observado por Beversluis não tem o mesmo valor de κινδυνεύει ou de έοικεν por isso é claro ou é manifesto pareceme ser uma tradução mais adequada do que aparentemente como sugere o estudioso Sendo assim o assentimento de Polo varia segundo cada proposição i ele aceita que a injustiça é o maior mal pois decorre necesariamente do que foi dito antes por isso φαίνεται γε ii mas não está tão certo de que pagar a justa pena é livrarse desse mal pois isso envolveria dor e sofrimento como foi comentado acima o hedonismo é um dos traços do éthos da personagem de modo que a dor é vista como o mal por isso κινδυνεύει que mantém certa reserva do interlocutor quanto à validade absoluta da proposição iii por conseguinte que o maior mal é não ser punido quando se comete alguma injustiça é apenas verossímil para Polo e não necessariamente verdadeiro por isso έοικεν Enquanto Sócrates pretende mostrar que há uma concatenação necessária entre essas proposições Polo varia o grau de seu assentimento à medida em que essa proposição se aproxima ou se afasta de suas opiniões que Sócrates pretende mostrar conflitantes 16 Em sua análise sobre essa passagem do Górgias J Beversluis atentase so mente para a primeira proposição da personagem Isso me parece um absurdo Sócrates άτοπα μέν ώ Σώκρατες έμοιγε δοκεΐ 48oei e desconsidera comple tamente a segunda Todavia talvez concorde com o que dizias anteriormente τοΐς μέντοι έμπροσθεν ίσως σοι όμολγείται 48oei2 quando Polo se mostra de certa forma suscetível ao que diz Sócrates op cit p 337 Como seu intuito é levar às últimas consequências a crítica ao elenchos socrático e demonstrar o fra casso absoluto de Sócrates em defesa de suas convicções morais quer do ponto de vista lógico quer do retórico Beversluis acaba desconsiderando certas nuances do diálogo que são relevantes para a compreensão geral do elenchos no Górgias A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 137 geral anterior ou seja de que cometer injustiça é tanto pior quanto mais vergonhoso que sofrêla Essa incompreensão de Polo se deve como vimos na Seção 2 à sua obtusidade carac terística de uma personagem φαύλος desprezível obtusidade essa atribuída por Sócrates ao fato de ele ter negligenciado o diálogo διαλέγεσθαι e praticado exclusivamente a retórica 448d 47id Sócrates porém consegue afetar de certo modo o interlocutor mesmo que Polo não compreenda exatamente quais são as consequências disso quando confrontadas com as suas opiniões sustentadas durante o diálogo Sendo assim nessa perspectiva otimista aberta pelo mito Polo seria aquele caso das almas injustas que são curáveis οϊ άν ιάσιμα άμαρτήματα άμάρτωσιν 525b6 que ainda podem vir a ser beneficiadas ωφελούμενοι 52505 para isso seria necessário que ele ao contrário abandonasse a retórica praticasse junto a Sócrates o diálogo διαλέγεσθαι e fosse como Cálicles não foi punido eou refreado pelo elenchos κολαζόμενος 505C34 A suscetibilidade de Polo à investida de Sócrates portanto poderia ser interpretada como um reflexo do pathos da audiên cia da cena ou pelo menos de parte dela Nessa perspectiva se no confronto com Cálicles Sócrates encontra sua tragédia seu fracasso como argumentador em defesa de suas convicções morais ainda assim há a esperança de que seu discurso tenha um fim diferente para aquela audiência valendome da sugestão de Nightingale seria essa a visão otimista aberta pelo deus ex m achina representado no Górgias pelo Mito Final Mas se assim o for Cálicles observa com razão que Sócrates age durante o diálogo como um orador público δημηγόρος 48205 494di sublinhando precisamente como Sócrates não se dirige ape nas ao interlocutor como determinaria as regras do processo dialógico mas também ou talvez sobretudo àquele público presente na cena AS C A U SA S D A R E C A L C IT R  N C IA DE C Á L IC LE S I Pois bem quais são as razões da recalcitrância de Cálicles como Platão a explicaria no Górgias Por que Sócrates não consegue con vencer Cálicles da verdade de seus argumentos A esse propósito pareceme elucidativo o que Sócrates diz a Críton no diálogo ho mônimo e talvez seja um ponto de partida interessante para a dis cussão do problema no Górgias Vejamos a passagem soc Portanto não se deve retribuir um ato injusto com outro tam pouco fazer mal a algum homem qualquer que tenha sido o sofrimento infligido por ele a ti E vê Críton se concordas inteiramente com isso para que não dês teu assentimento contra a tua opinião pois sei que são e serão pouquíssimos os homens a crerem nisso Entre os que pos suem opiniões como essas e aqueles que não as possuem não há decisão em comum pelo contrário é necessário que desprezem uns aos outros quando observarem as suas respectivas decisões Então examina bem também tu se compartilhas da mesma opinião e se devemos ter como princípio estas decisões de que não é correto cometer injustiça nem re tribuila tampouco responder com uma ação vil alguma ação vil sofrida 140 GÓRGIAS DE PLATÃO ou se te eximes disso e não compartihas desse princípio Pois essa é a opinião que há muito tempo e ainda hoje tenho mas se tu tiveres outra diferente então fala e ensiname Se porém estiveres convicto do que foi dito antes escuta então o que decorre disso cri Mas eu estou convicto disso e essa é a minha opinião Fala 49Cioe3 ςω Οΰτε άρα άνταδικεΐν δει οΰτε κακώς ποιεΐν οϋδένα ανθρώπων ούδ αν ότιοϋν πάσχη ύπ αύτών καί δρα ώ Κρίτων ταΰτα καθομολογών όπως μή παρά δόξαν όμολογής οΐδα γάρ δτι όλίγοις τισι ταΰτα καί δοκεΐ καί δόξει οίς ούν οΰτω δέδοκται και οίς μή τούτοις ούκ εστι κοινή βουλή άλλα ανάγκη τούτους άλλήλων καταφρονεΐν όρώντας άλλήλων τά βουλεύματα σκόπει δή ούν και σύ εύ μάλα πότερον κοινωνεΐς καί συνδοκει σοι και άρχώμεθα έντεΰθεν βουλευόμενοι ώς ούδέποτε όρθώς εχοντος οΰτε τού άδικείν οΰτε τού άνταδικεΐν οΰτε κακώς πάσχοντα άμύνεσθαι άντιδρώντα κακώς ή άφίστασαι και ού κοινωνεΐς τής αρχής έμοι μέν γάρ καί πάλαι οΰτω και νΰν ετι δοκεΐ σοΐ δε εϊ πη άλλη δέδοκται λέγε και δίδασκε εί δ εμμένεις τοΐς πρόσθε το μετά τούτο ακούε κρ Άλλ εμμένω τε και συνδοκει μοι άλλά λέγε Críton seria ο antípoda de Cálicles aquele interlocutor que compartilha das mesmas convicções morais de Sócrates que louva a justiça a temperança a coragem a piedade e a sabedoria como a virtude do homem e que portanto está muito mais suscetível à persuasão do discurso socrático e menos propício a resistir à sua estratégia argumentativa nessas circunstâncias em que não há o desacordo de princípio τής αρχής 49d9 é possível uma concordância de juízo entre os interlocutores a respeito de uma determinada ação no caso do Críton a respeito da fuga de Sócra tes contra as prescrições da lei Cálicles todavia é precisamente aquele interlocutor que define virtude e felicidade αρετή τε και εύδαιμονία 492C56 com valores contrários daqueles lou vados por Sócrates luxúria intemperança e liberdade1 τρυφή í Liberdade no sentido em que Cálicles a concebe Para Sócrates todavia essa liberdade calicliana significa antes escravidão pelos prazeres em oposição ao homem temperante definido como senhor de si mesmo έαυτοϋ άρχοντα 4gid7 o verdadeiro homem livre AS CAUSAS DA RECALCITRÂNCIA DE CÁLICLES 141 καί άκολασία καί ελευθερία 492045 além da sua concepção da natureza do justo κατά φύσιν την τοϋ δικαίου 48362 que conflita com as convenções da justiça estabelecida pela maioria dos homens Nessas condições o desacordo entre dois interlocu tores que partem de princípios contrários é inevitável άνάγκη 49d4 quando se trata de questões de moralidade como ilustra muito bem o caso Cálicles no Górgias Nesse sentido se tomarmos como base essa reflexão de Sócrates no Críton então a eficácia persuasiva do discurso socrático está circunscrita a um pequeno grupo de pessoas pois o próprio Sócrates declara reiteradamente no Górgias 472a 511b que a maioria delas possui as mesmas opiniões sustentadas por Polo e Cálicles o que se conforma com o juízo de Cálicles c a l Não sei como me pareces falar corretamente Sócrates mas experimento a mesma paixão que a maioria tu não me persuades ab solutamente 513046 ΚΑΛ Ούκ οίδ δντινά μοι τρόπον δοκεΐς εΰ λέγειν ώ Σώκρατες πέπονθα δέ το τών πολλών πάθος ού πάνυ σοι πείθομαι Mas seria apenas uma questão de conflito entre opiniões ou haveria outras razões para se explicar a recalcitrância de Cálicles que levassem em consideração outros elementos concorrentes além das opiniões Sócrates responde o seguinte a essa declara ção de Cálicles sobre a ineficiência persuasiva de seu discurso soc Pois é o amor pelo povo existente na tua alma Cálicles que me obsta Mas se tornarmos a examinar melhor esse mesmo assunto repetidamente serás persuadido 5i3C7di I ςω Ο δήμου γάρ ερως ώ Καλλίκλεις ένών έν τή ψυχή τή σή άντιστατεΐ μοι άλλ έάν πολλάκις ίσως καί βελτιον ταύτά ταΰτα διασκοπώμεθα πεισθήση Sócrates entende então que a resistência de Cálicles que ο impede de assimilar a verdade de suas teses morais é esse amor 142 GÓRGIAS DE PLATÃO pelo povo ό δήμου ερως 513CÍ7 já referido por ele antes em sua invectiva contra Cálicles e o homem democrático 48ide ou seja há outro elemento envolvido na psicologia moral da re calcitrância além do conflito de opiniões A despeito de Sócrates crer que possa convencer Cálicles da verdade de suas convicções morais através da persuasão racional2 através do exame reiterado dessas opiniões pelo elenchos mas se tornarmos a examinar me lhor esse mesmo assunto repetidamente serás persuadido άλλ έσν πολλάκις ίσως και βέλτιον ταύτά ταϋτα διασκοπώμεθα πεισθήση 5i3c8di ele não deixa de enfatizar que no estado em que se encontra o problema há outro elemento envolvido no fenômeno da recalcitrância de Cálicles Talvez seja ele suficiente para impedir Cálicles de reconhecer a verdade das convicções morais de Sócrates II Mas em que sentido Sócrates se refere aqui ao amor pelo povo de Cálicles ό δήμου ερως 5i3d7 Para N Pieri essa resposta de Sócrates seria simplesmente uma ironia3 tendo em vista o desprezo de Cálicles pelas convenções morais estabelecidas pela maioria dos homens para impedir a prevalência dos melhores homens por natureza 48334840 0 aspecto antidemocrático do êthos da personagem Porém a estudiosa desconsidera aqui o fato de Cálicles ser efetivamente um homem envolvido com a política democrática 48id 515a 5i9ab de modo que se em seu discurso ele expõe uma concepção antidemocrática acerca da natureza política do homem não deixa de ser um produto dessa mesma democracia contra a qual ele se volta em seu discurso o aspecto democrático do êthos da persona gem Isso fica patente na segunda parte do mesmo discurso na invectiva contra Sócrates e a filosofia 48404860 Cálicles 2 T Irwin Plato Gorgias p 233 3 S Pieri Platone Gorgia p 480 AS CAUSAS DA RECALCITRÃNCIA DE CÁLICLES 143 tenta persuadir o filósofo das desvantagens de uma vida alheia às convenções e ao processo político da pólis prezando pelo ideal do homem belo e bom καλόν κάγαθόν 484di2 e bem reputado εύδόκιμον 484d24 valores consagrados pela sociedade democrática ateniense além disso a franqueza de Cálicles παρρησίαν 487a3 é referida na República como uma característica do homem democrático5 Nesse sentido como salienta R Woolf6 há uma contradição interna nos valores apre goados por Cálicles durante o diálogo de um lado um homem antidemocrático com aspirações tirânicas como indicaria a figura do leão em 48366 e de outro um homem enraizado nos valores morais daquela sociedade democrática Portanto a asserção de Sócrates só seria irônica como su gere Pieri se levássemos em consideração unicamente o as pecto antidemocrático do èthos da personagem pois o fato de Cálicles ter uma concepção antidemocrática acerca da natureza política do homem não implica que ele seja efetivamente um homem antidemocrático ou um daqueles homens que segundo ele são melhores por natureza para usar a dicotomia cara ao pensamento éticopolítico grego o que Cálicles professa no discurso λόγω não reflete necessariamente na ação εργω Talvez ele ainda não contenha em si as condições suficientes para se tornar aquele leão λέοντας 48366 que se rebela con tra os valores estabelecidos pelos homens mais fracos para fazer valer o justo por natureza índice dessa sua debilidade seria por exemplo precisamente o sentimento de vergonha que 0 aco mete quando Sócrates lhe mostra as consequências extremas do hedonismo categórico referidas acima 494C495C senti mento esse próprio daqueles homens fracos e inferiores que instituíram as leis contra os homens mais fortes e melhores δι αισχύνην 492a4 Como eu havia sugerido anteriormente 4 Platão Górgias 486c8di 5 Idem A República viu 557a9b7 6 R Woolf Callicles and Socrates em D N Sedley org Oxford Studies in Ancient Philosophy p 26 144 GÕRGIAS DE PLATÃO Platão ao construir a personagem Cálicles como o tirano em potencial retrata dramaticamente o problema da gênese da ti rania no seio da democracia o qual é analisado em sua com pletude nos Livros viu e ix da República Nesse sentido pareceme razoável o comentário de Dodds quando ele sugere que o amor pelo povo se equivaleria aqui genericamente ao amor pelo poder7 o mesmo tipo de afec ção a que Platão se refere no diálogo Alcibíades Primeiro com relação à personagem homônima a certa altura do diálogo Sócrates expressa seu receio com relação à corrupção de seu amante pela política Vejamos brevemente o trecho soc Pois este é o meu maior temor que tu tornandote amante do povo encontres a tua ruína 132323 ΣΩ τούτο γάρ δή μάλιστα έγώ φοβούμαι μή δημεραστής ήμίν γενόμενος διαφθαρής Essa relação entre a figura de Cálicles e a de Alcibíades que a princípio pode parecer distante pois são dois diálogos diferentes com finalidades distintas aparece de forma surpreendente no Górgias justificando de certa forma a analogia com o Alcibíades Primeiro sugerida por Dodds Em resposta ao vaticínio de Cá licles Sócrates profetiza a ruína de seu interlocutor na política ateniense com as seguintes palavras soc Dizem que eles tornaram a cidade grandiosa mas não percebem que ela está intumescida e inflamada por causa desses homens de outrora Pois sem justiça e temperança eles saciaram a cidade de portos estaleiros muralhas impostos e tolices do gênero mas quando sobrevier enfim aquele assalto de fraqueza inculparão os conselheiros presentes neste momento e elogiarão Temístocles Címon e Péricles os responsáveis pelos males Se não tiveres precaução talvez a taquem a ti e a m eu com pan heiro A lcib ía d es quando perderem tanto os bens por eles conquistados quanto os antigos bens ainda que não sejais responsáveis pelos males mas talvez corresponsáveis 51863512 7 E Dodds op cit p 352 AS CAUSAS DA RECALCITRÂNCIA DE CÁLICLES 145 ςω καί φασι μεγάλην την πόλιν πεποιηκέναι αυτούς οτι δε οίδεΐ και ύπουλος έστιν δι έκείνους τούς παλαιούς ούκ αισθάνονται άνευ γάρ σωφροσύνης και δικαιοσύνης λιμένων και νεωρίων και τειχών και φόρων καί τοιούτων φλυαριών έμπεπλήκασι τήν πόλιν όταν οΰν ελθη ή καταβολή αΰτη τής άσθενείας τούς τότε παρόντος αίτιάσονται συμβούλους Θεμιστοκλέα δέ καί Κίμωνα καί Περικλέα έγκωμιάσουσιν τούς αιτίους τών κακών σοΰ δέ ίσως έπιλήψονται έάν μή εύλαβή καί τού έμοΰ εταίρου Άλκιβιάδου όταν καί τά άρχαΐα προσαπολλύωσι προς οϊς έκτήσαντο ούκ αιτίων οντων τών κακών άλλ ίσως συναιτίων Essa alusão profética à sorte funesta de Cálicles e Alcibiades na política ateniense associando enigmaticamente as duas figu ras pareceme bastante sugestiva para os propósitos de minha interpretação sobre o problema da recalcitrância no Górgias A semelhança entre as personagens não se restringe ao fato de am bas estarem envolvidas com as ações políticas da pólis Alcibiades assim como Cálicles compartilha da mesma afecção que confi gura genericamente o homem democrático o amor pelo povo Gorg 5i3d7 ό δήμου ερως Aie i i32a3 δημεραστής que é a causa da inconstância de suas opiniões as quais variam de acordo com o contexto em vista do deleite do povo 48id482c Portanto sugiro aqui que a reflexão de Platão sobre o caso Cáli cles o caso exemplar da recalcitrância nos diálogos estendese de certo modo também ao caso Alcibiades como uma forma de Pla tão justificar o fracasso de Sócrates como seu preceptor moral o fim funesto de Alcibiades na política ateniense imediatamente evidente ao leitor como Tucídides narra nos Livros vi vii e vm de sua História confirma justamente aquele temor φοβούμαι i32a2 expresso por Sócrates no diálogo Alcibiades Primeiro Nesse sentido o caso Alcibiades tornaria ainda mais crônico o problema da ineficácia persuasiva do discurso socrático retratado no Górgias pois ele diferentemente de Cálicles além de seu amante 481 d era um homem que fazia parte do círculo de Sócrates e o louvava como modelo de virtude como depreendemos por exemplo da narração do Banquete 2i5a223a Pois a recalcitrância de Cáli cles além desse elemento referido por Sócrates como amor pelo 146 GÓRGIAS DE PLATÃO povo ó δήμου ερως 513CI7 se deve também ao fato de ambas as personagens terem convicções morais contrárias de não com partilharem do mesmo princípio τής αρχής 49dç que tornaria possível uma decisão em comum κοινή βουλή 49d3 entre am bas as partes como vimos discutido no Críton O caso Alcibíades por sua vez evidencia que mesmo quando há esse princípio em comum compartilhado por ambos os interlocutores ainda assim há outros elementos que podem prevalecer sobre as determinações da razão Em suma a reflexão de Platão sobre a recalcitrância de Cálicles é uma das vias possíveis para se compreender e por con seguinte para se justificar o fracasso de Sócrates na tentativa de persuadir Alcibíades da superioridade do modo de vida filosófico sobre o modo de vida político da democracia ateniense ainda que este último compartilhasse das convicções morais de Sócrates há outros impulsos em sua alma que são igualmente causa de ações e que podem por sua vez entrar em conflito com tais opiniões tomadas como verdadeiras Se essa interpretação sobre o fenômeno da recalcitrância no Górgias se sustenta então Platão já apresenta no Górgias ques tões de psicologia moral que são retomadas e desenvolvidas em toda a sua extensão sobretudo no Livro iv da República quando ele expõe a sua teoria da alma tripartida III Mas de onde provém esse amor pelo povo ó δήμου ερως 5i3d7 na alma de Cálicles Como foi dito acima Platão cons trói a personagem Cálicles como a tipificação do homem intem perante cuja felicidade consiste em ser capaz de por meio da coragem e da sabedoria engrandecer e satisfazer seus apetites de modo a se comprazer continuamente 49164920 A intem perança é portanto virtude para Cálicles e não a temperança como supõe universalmente Sócrates luxúria intemperança e liberdade uma vez asseguradas são virtude e felicidade τρυφή καί άκολασία και έλευθερία έάν έπικουριαν εχη τοϋτ έστίν άρετή καί εύδαιμονία 492C46 Numa alma intemperante é o elemento das epithumiai έπιθυμίαι apetites que rege as suas ações e é seu elemento preponderante Ao reconhecer no j Górgias o elemento apetitivo da alma na representação do caso Cálicles Platão parece abrir uma nova perspectiva sobre a mo f 1 tivação humana que o chamado paradoxo socrático não con1 templava além do elemento cognitivo da alma há também o apetitivo o domínio das epithumiai o que implica a possibi lidade de um conflito interno entre eles Considerando o uni verso dos chamados primeiros diálogos de Platão o Górgias parece ter a função peculiar de inserir as epithumiai na dis cussão sobre psicologia moral afastandose de certo modo da perspectiva socrática sobre a motivação humana que conside rava apenas o elemento cognitivo da alma como causa das ações conhecimento é condição suficiente para a virtude Nesse sentido a falência do discurso de Sócrates no Gór I gias pode ser explicada pelo viés dessa nova perspectiva dal psicologia moral platônica Na persuasão de um interlocutor como Cálicles não estariam em jogo apenas as opiniões que ele acredita serem verdadeiras mas também a condição em que se encontra sua alma no que tange à relação entre logos e epithumiai O elemento apetitivo é tão preponderante na alma de Cálicles que o reconhecimento pela razão da verdade das convicções morais de Sócrates se torna infactível por qualquer via de persuasão possível argumentos dialógicos mitos dis cursos longos exortações admoestações Os apetites dada a sua força proeminente na alma de Cálicles geram nela esse amor pelo povo entendido como amor pelo poder8 e impedem o exercício correto da razão Nessas condições a persuasão de que a temperança é virtude e não a intemperança tornase inviável 8 O amor pelo povo de Cálicles ò δήμου ερως 5i3d7 seria fruto da pre ponderância do elemento apetitivo de sua alma é a expressão máxima da busca incessante pelas condições ideais que lhe possibilitem a satisfação contínua de seus apetites no que consiste na perspectiva moral de Cálicles a virtude e a felicidade άρετή και ευδαιμονία 4 9 2 C 5 6 AS CAUSAS DA RECALCITRÃNCIA DE CÁLICLES 147 148 GÓRGIAS DE PLATÃO Para reconhecer racionalmente a verdade das teses morais de Sócrates o interlocutor deve ter certa disposição para se persua dir e a recalcitrância de Cálicles seria índice precisamente da ausência desse tipo de disposição Como foi analisado na Se ção 4 Cálicles seria portanto um exemplo particular da alma dos incuráveis referida no mito final àvíatoi õvreç 525C4 que serviria de modelo para a audiência e por conseguinte para o leitor dos limites da eficácia persuasiva do discurso de Sócrates Em suma na condição em que se encontra a alma de Cálicles cujas epithumiai predominam não há persuasão pos sível pela via da razão SÓ CR A TE S A Q U IL E S O U OD ISSEU I A interface do gênero dialógico com a tragédia e a comédia se reflete então na própria construção do êthos de Sócrates da imagem do filósofo por excelência tal como encontramos no Górgias de um lado o aspecto sério spoudaios de seu caráter e de outro o aspecto jocoso e sarcástico de seu comportamento no confronto com os seus adversários A tensão entre esses ele mentos opostos é expressa no diálogo pela dúvida de Cálicles com relação à real motivação de Sócrates durante a discussão com Polo tendo em vista as consequências paradoxais do ar gumento socrático sobre a utilidade da retórica c a l Dizeme Querefonte Sócrates fala sério ou está de brinca deira 48ib67 ΚΑΛ Είπέ μοι ώ Χαιρεφών σπουδάζει ταΰτα Σωκράτης ή παίζει Quando Sócrates por sua vez retoma a discussão sobre as es pécies de lisonja kolakeia no diálogo com Cálicles ele ressalta 150 GÓRGIAS DE PLATÃO novamente a seriedade de seu argumento assim como havia advertido Górgias anteriormente de que não se tratava de uma satirização da atividade exercida pelo rétor διακωμωδείν 462e7 como foi comentado na Seção 2 soc E pelo deus da Amizade Cálicles não julgues que devas brincar comigo nem venhas com respostas contrárias a tuas opiniões tampouco acolhas as minhas palavras como se fossem brincadeira Pois vês que nossos discursos versam sobre o modo como se deve vi ver a que qualquer homem mesmo de parca inteligência dispensaria a maior seriedade se é a vida a que me exortas fazendo coisas apro priadas a um homem fazer tais como falar em meio ao povo exercitar a retórica agir politicamente como hoje vós agis ou se é a vida volvida à filosofia e em que medida se diferem uma e outra Portanto o me lhor seja talvez distinguilas como há pouco tentei fazêlo e depois de distinguilas e de concordarmos entre nós que se tratam de duas formas de vida investigar em que elas se diferem e qual delas deve ser vivida 50ob5d4 ςω και προς Φιλιού ώ Καλλίκλεις μήτε αυτός οιου δεϊν προς έμε παίζειν μηδ δτι αν τύχης παρά τα δοκοΰντα άποκρίνου μήτ αύ τά παρ έμοϋ ούτως άποδέχου ώς παίζοντος όρας γάρ οτι περι τούτου ήμΐν είσιν οί λόγοι ού τί αν μάλλον σπουδάσειέ τις και σμικρόν νουν εχων άνθρωπος ή τούτο οντινα χρή τρόπον ζήν πότερον έπι δν σύ παρακαλεις έμέ τα τού άνδρός δή ταΰτα πράττοντα λεγοντά τε έν τφ δήμιο και ρητορικήν άσκοΰντα και πολιτευόμενον τούτον τον τρόπον ον υμείς νΰν πολιτεύεσθε ή έπι τόνδε τον βίον τον έν φιλοσοφία και τί ποτ έστιν ούτος έκείνου διαφέρων ίσως ούν βέλτιστόν έστιν ώς άρτι έγώ έπεχείρησα διαιρεϊσθαι διελομένους δέ και όμολογήσαντας άλλήλοις εί εστιν τούτω διττώ τώ βίω σκέψασθαι τί τε διαφέρετον άλλήλοιν καί όπότερον βιωτέον αύτοίν Todavia essa seriedade do conteúdo da discussão que diz respeito a questões de moralidade e do melhor modo de se viver contrasta com a forma pela qual Sócrates em certos momentos do diálogo conduz o elenchos como por exemplo i a reductio ad absurdum da concepção calicliana de ter mais πλεονεξία SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 151 49ob49ib1 exposta em sua teoria sobre a natureza política do homem 483bd e ii a refutação ad h om in em da franqueza παρρησία de Cálicles por meio de exemplos escatológicos da coceira e dos homossexuais passivos ó τών κίναιδων βίος 494e4 na análise das consequências do hedonismo categórico defendido naquela oportunidade pelo interlocutor 494C495C Se a refutação do hedonismo por exemplo é fundamental para a defesa das teses morais socráticas e para a exposição da psico logia moral do tempérante e do intempérante aspecto sério da argumentação de Sócrates tais exemplos contudo conferem à cena um tom jocoso mais próximo ao registro cômico2 1 Platão Górgias 4900804 c a l T u falas d e c o m id a s b e b id a s m é d ic o s e to lic e s m a s e u n ã o m e re firo a isso soc Não afirmas que o mais inteligente é o melhor Afirmas ou não c a l Sim soc Mas o melhor não deve possuir mais c a l Sim mas não comida nem bebida soc Compreendo mas talvez mantos e o melhor tecelão deverá possuir o maior manto e perambular envolto nas mais belas e abundantes vestes c a l Que mantos soc Em relação a sapatos é evidente que o melhor e mais inteligente nesse assunto deve possuir mais Talvez o sapateiro deva possuir os maiores sapatos e pas sear por aí calçado com vários deles c a l Que sapatos Dizes tolices ΚΑΛ Περί αιτία λέγεις και ποτά και ιατρούς και φλυαρίας έγώ δε ού ταϋτα λέγω ςω Πότερον ού τον φρονιμώτερον βελτίω λέγεις φάθι ή μή κ α λ Εγωγε ς ω Ά λλ ού τον βελτίω πλέον δείν έχειν κ α λ Ού αιτίων γε ούδέ ποτών ςω Μανθάνω άλλ ίσως ίματίων και δει τον ϋφαντικώτατον μέγιστον ίμάτιον έχειν και πλεΐστα και κάλλιστα άμπεχόμενον περιιέναι κ α λ Ποιων ίματίων ςω Ά λλ εις ύποδήματα δήλον ότι δει πλεονεκτειν τον φρονιμώτατον εις ταϋτα καί βέλτιστον τον σκυτοτόμον ίσως μέγιστα δει ύποδήματα και πλεΐστα ύποδεδεμένον περιπατεΐν κ α λ Ποια ύποδήματα φλυαρείς έχων 2 A Nightingale Genres in Dialogue p 91 152 GÓRGIAS DE PLATÃO II Pois bem analisemos primeiramente o aspecto sério do êthos do filósofo Sócrates constrói discursivamente a sua própria imagem elevada em momentos diferentes do diálogo i No i Ato como uma espécie de prelúdio para a consumação do elenchos de Górgias Sócrates procura justificar antecipa damente recurso à prolêpsis o sentido positivo da refutação calcado no argumento de que sua finalidade precípua é escla recer a questão προς τό πράγμα τού καταφανές γενέσθαι 45745 e livrarse assim do mal que é a opinião falsa δόξα ψευδής 458bi sobre o tema da discussão 457ei458b3 Esse é o argumento principal usado pela personagem no Górgias para distinguir o diálogo de cunho filosófico das meras disputas verbais erísticas salientando a sua seriedade como interlocu tor no diálogo como se não houvesse durante o elenchos qual quer motivação concomitante de ridicularizar de uma forma ou de outra Górgias perante a sua própria audiência o aspecto ad hominem que subjaz ao elenchos ii Associada à ideia de seriedade está a da coerência do filósofo que sempre diz as mesmas coisas em toda e qualquer circunstância a respeito dos mesmos assuntos em oposição ao político daquela sociedade democrática como seriam Cálicles e Alcibíades que muda de opinião de acordo com o contexto para sempre deleitar o público da Assembleia e assim persuadilo 48 ie A coerência de Sócrates se fundamenta precisamente na verdade que ele próprio atribui às suas convicções morais por isso suas opiniões são sempre as mesmas em oposição às opiniões instáveis do homem político que não conhece o que é o bem mas conjetura o que é aprazível àquele determinado público naquela circunstância específica3 soc Pois bem considera que também de mim deverás ouvir coisas do gênero e não te assombres que seja eu a dizer isso mas impede 3 Platão Górgias 46 4 C 3C I3 SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 153 antes a filosofia minha amante de dizêlo Ela diz meu caro amigo o que ouves de mim agora e ela me é muito menos volúvel do que meu outro amante pois Alcibíades filho de Clínias profere discursos di ferentes em diferentes ocasiões ao passo que a filosofia sempre diz as mesmas coisas e ela diz o que agora te assombras tu próprio estavas ali presente em seu pronunciamento 482a2b2 ΣΩ νόμιζε τοίνυν και παρ έμοϋ χρήναι ετερα τοιαΰτα άκούειν και μή θαύμαζε ότι έγώ ταΰτα λέγω άλλα τήν φιλοσοφίαν τα έμά παιδικά παΰσον ταϋτα λέγουσαν λέγει γάρ ώ φίλε έταίρε α νΰν έμοϋ ακούεις καί μοί έστιν τών έτέρων παιδικών πολύ ήττον έμπληκτος ό μέν γάρ Κλεινίειος ούτος άλλοτε άλλων έστι λόγων ή δέ φιλοσοφία άει τών αύτών λέγει δέ α σύ νΰν θαυμάζεις παρήσθα δέ και αύτός λεγομένοις iii Outra imagem elevada que aparece no Górgias ana lisada acima na Seção 5 é a metáfora do filósofo como mé dico da alma recorrente também no Protágoras 3i3ce Isso implica por conseguinte que o elenchos teria esse poder de curar a doença moral do interlocutor enfatizando a fun ção corretiva do método socrático assim como a doença é o mal do corpo a injustiça é o mal da alma 477a 478d 48oab A partir dessa relação de αντίστροφος contraparte entre a medicina e a justiça a justiça é a contraparte da medicina αντίστροφον δέ τή ιατρική τήν δικαιοσύνην 4Ó4b8 entre a instância do corpo e a da alma Sócrates personifica então a própria justiça assim como o médico a medicina o filósofo não é apenas um homem justo como se evidencia pela sua máxima moral de que cometer injustiça é pior que sofrêla 473 a4 mas se incumbe também de promover essa mesma justiça corrigindo o vício manifestado pelo interlocutor através 4 Aristóteles Retórica 1 136482123 E é melhor aquilo que o melhor homem escolheria seja porque é simples mente melhor seja porque ele é melhor como por exemplo sofrer injustiça ao invés de cometêla Pois o homem mais justo preferiria isso àquilo και ô ελοιτ ãv ό βελτίων ή απλώς ή fj βελτίων οίον το άδικεΐσθαι μάλλον ή άδικεΐν τούτο γάρ ό δικαιότερος αν ελοιτο 154 GÓRGIAS DE PLATÃO do elenchos e tornandoo assim um homem melhor 5i5ad como fica patente neste trecho soc Tu terias então maior preferência e não menor pelo pior e mais vergonhoso Não receies responder Polo Nenhum prejuízo há de te acometer mas apresentate de forma nobre perante o argumento como perante um médico e responde com sim ou não às minhas per guntas pol Mas eu não teria maior preferência Sócrates soc E algum outro homem a teria pol Não me parece conforme este argumento soc Portanto eu falava a verdade que nem eu nem tu nem qual quer outro homem preferiríamos cometer injustiça a sofrêla pois acon tece de ser pior pol É claro 475d4e6 ςω Δέξαιο ctv οΰν σύ μάλλον τό κάκιον και τό αϊσχιον άντι του ήττον μη οκνει άποκρίνασθαι ώ Πώλε ούδέν γάρ βλαβήση άλλα γενναίως τψ λόγω ώσπερ ιατρώ παρέχων άποκρίνου καί ή φάθι ή μή α έρωτώ πωλ Άλλοϋκ αν δεξαίμην ώ Σώκρατες ςω Άλλος δέ τις άνθρώπων πωλ Οϋ μοι δοκεΐ κατά γε τούτον τον λόγον ςω Αληθή άρα έγώ ελεγον ότι οΰτ άν έγώ οΰτ αν σύ οΰτ άλλος ούδεις άνθρώπων δέξαιτ άν μάλλον άδικεϊν ή άδικείσθαι κάκιον γάρ τυγχάνει άν πωλ Φαίνεται iv Todavia a imagem mais proeminente no Górgias segundo minha interpretação é a de Sócrates como o verdadeiro ho mem político o único capaz de promover o supremo bem τό βέλτιστον 52id9 da comunidade política na medida em que ele detém a arte política πολιτική τέχνη 52id7 Essa declara ção da personagem no final do diálogo é indubitavelmente uma resposta à acusação de Cálicles em sua invectiva 484C486d de que o filósofo é inútil para o processo político da pólis visto que ele se mantém afastado do centro da cidade e das ágoras onde segundo o poeta os homens se tornam distintos τα μέσα τής πόλεως και τάς άγοράς έν αίς έφη ό ποιητής τούς άνδρας άριπρεπεις γίγνεσθαι 485d56 Isso implica que Sócrates como o verdadeiro homem político pratica então a verdadeira retórica SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 155 τη άληθινή ρητορική 51735 e se apresenta em substituição ao rétor lisonjeador representado paradigmaticamente pela figura de Górgias como aquele rétor técnico e bom ô ρήτωρ εκείνος ό τεχνικός τε και άγαθός 504d56 ele conhece ο que é o bem para a alma dos cidadãos e sabe como promovêlo tecnicamente porque ele é bom5 Essa concatenação entre os termos tekhnikos te kai agathos indica que a condição sine qua non de a retórica ser uma atividade praticada com arte a arte retórica propria mente dita é precisamente o caráter moral do orador Vejamos mais uma vez o trecho em que Sócrates arroga para si o título de verdadeiro homem político soc Julgo que eu e mais alguns poucos atenienses para não dizer apenas eu sou o único contemporâneo a empreender a verdadeira arte política e a praticála Assim visto que não profiro os discursos que pro firo em toda ocasião visando o deleite mas o supremo bem e não o que é mais aprazível e visto que não desejo fazer essas sutilezas aconselhadas por ti eu decerto não saberei o que dizer no tribunal 52id6e2 ςω Οΐμαι μετ ολίγων Αθηναίων ϊνα μή εϊπω μόνος έπιχειρείν τή ώς αληθώς πολιτική τέχνη και πράττειν τα πολιτικά μόνος τών νϋν άτε ούν ού προς χάριν λέγων τούς λόγους οΰς λέγω έκάστοτε άλλά προς τό βέλτιστον ού προς το ήδιστον και ούκ έθέλων ποιεΐν S σύ παραινείς τά κομψά ταϋτα ούχ έξω ότι λέγω έν τώ δικαστή ρίω Mas a concepção de uma retórica que promova o bem da comunidade política e não simplesmente o deleite da audiência na Assembleia a ideia de uma boa retórica é reivindicada também pela personagem Górgias no i a Ato Naquela opor tunidade a fim de ilustrar a magnitude do poder da retó rica ή δύναμις τής ρητορικής 456a5 Górgias oferece então o exemplo de sua ação junto a seu irmão médico Heródico gor Ah se soubesses de tudo Sócrates todos os poderes por as sim dizer ela os mantém sob a sua égide Vou te contar uma grande prova disso muitas vezes eu me dirigi em companhia de meu irmão 5 Essa ideia de uma boa retórica aparece em diversos momentos do diálogo cf 502e503b 504d 508c 5i7ac 519b 52ide 527c 156 GÕRGIAS DE PLATÃO e de outros médicos a um doente que não queria tomar remédio nem permitir ao médico que lhe cortasse ou cauterizasse algo sendo o mé dico incapaz de persuadilo eu enfim o persuadi por meio de nenhuma outra arte senão da retórica 45637115 rop Ei πάντα γε είδείης ώ Σώκρατες δτι ώς έπος εϊπεΐν άπάσας τάς δυνάμεις συλλαβοϋσα ύφ αυτή εχει μέγα δέ σοι τεκμήριον έρώ πολλάκις γάρ ήδη έγωγε μετά τοΰ άδελφοϋ και μετά τών άλλων ιατρών είσελθών παρά τινα τών καμνόντων υύχι έθέλοντα ή φάρμακον πιείν ή τεμεΐν ή καΰσαι παρασχεΐν τώ ϊατρώ ού δυναμένου τοΰ ιατρού πείσαι έγώ επεισα ούκ άλλη τέχνη ή τή ρητορική Como vemos a relação entre medicina e retórica que será fundamental na exposição epideixis de Sócrates sobre a dis tinção entre as artes tekhnai e as espécies de lisonja ko lakeia 46404663 aparece no diálogo antecipadamente na boca de Górgias A provável resposta de Sócrates ao rétor se ria então que ainda que a sua retórica a lisonjeadora possa eventualmente contribuir em algum caso particular para a pro moção do bem como indicaria o exemplo que Górgias chama em causa para demonstrar a superioridade da retórica sobre as demais artes isso não se dá tecnicamente mas por mera conjectura στοχασαμένη 464C7 obtida por experiência e rotina εμπειρία και τριβή 46304 a verdadeira retórica τή άληθινή ρητορική 51735 só é praticada como arte tekhné por aquele que possui o conhecimento do que é o bem e o mal para a alma e que é por conseguinte um homem bom ó ρήτωρ εκείνος ό τεχνικός τε και άγαθός 504056 ou seja ο filósofo Essa ideia que emerge do Górgias de uma verdadeira retórica sob a égide da filosofia é retomada e desenvolvida por Platão na última parte do diálogo Fedro 25962743 como indica a alusão intertextual à discussão sobre a retórica no Górgias6 6 Platão Fedro 2590426034 soc Porventura não é preciso que para se discursar de modo correto e belo haja na mente do falante a verdade a respeito daquilo de que se pretende falar fed Sobre isso caro Sócrates eu ouvi o seguinte que não é necessário para quem pretende ser rétor aprender o que é realmente justo mas o que parece à multidão SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 157 Mas a imagem elevada de Sócrates como o verdadeiro rétor e o verdadeiro homem político construída discursivamente pela per sonagem não é a única perspectiva a respeito da retórica socrá tica no Górgias Ele também usa de procedimentos lisonjeadores na consecução do elenchos sobretudo no i e Ato empregando contra Górgias os seus próprios artifícios de persuasão que o teriam tornado tão célebre em Atenas depois de sua visita como embaixador de Leontine em 427 aC Esse contraste entre o que Sócrates professa no discurso λόγω e o que ele pratica em ato εργω indica precisamente como a construção do êthos da personagem no Górgias é apresentada por Platão como uma questão problemática Isso se torna evidente a partir dos próprios argumentos que Sócrates usa para censurar os grandes políticos da democracia ateniense do séc v aC Temístocles Péricles a qual será o juiz do caso tampouco o que é realmente bom ou belo mas tudo quanto há de parecer como tal pois é disso que decorre a persuasão e não da verdade ς ω Ap oúv ούχ ύπάρχειν δει τοϊς εύ γε και καλώς ρηθησομένοις τήν τοϋ λέγοντος διάνοιαν είδυίαν τό αληθές ών άν έρείν πέρι μέλλη ΦΑΙ Ούτωσί περί τούτου άκήκοα ώ φίλε Σώκρατες ούκ είναι ανάγκην τώ μέλλοντι ρήτορι έσεσθαι τά τώ όντι δίκαια μανθάνειν αλλά τά δόξαντ αν πλήθει οϊπερ δικάσουσιν ούδέ τά όντως άγαθά ή καλά άλλ όσα δάξει έκ γάρ τούτων είναι τό πείθειν άλλ ούκ έκ τής άληθείας A fala da personagem Fedro pareceme ser uma referência direta ao debate sobre a retórica no Górgias especiflcamente a este trecho soc Se o rétor é ou não inferior aos outros porque se encontra nessa condi ção em breve investigaremos no caso de ser pertinente para nossa discussão mas por ora examinemos primeiro o seguinte o rétor porventura encontrase a respeito do justo e do injusto do vergonhoso e do belo do bem e do mal na mesma condi ção em que se encontra a respeito da saúde e das demais coisas relativas às outras artes Ignorando as próprias coisas o que é o bem e o que é o mal o que é o belo e o que é o vergonhoso o que é o justo e o que é o injusto mas tramando a persuasão a respeito delas de modo a parecer conhecer mesmo ignorando em meio a quem é ignorante mais do que aquele que conhece 45jc6ei ΣΩ El μέν έλαττοΰται ή μή έλαττοϋται ό ρήτωρ των άλλων διά τό ούτως έχειν αύτίκα έπισκεψόμεθα έάν τι ήμιν προς λόγου ή νυν δε τόδε πρότερον σκεψώμεθα άρα τυγχάνει περι τό δίκαιον και τό άδικον καί τό αισχρόν και τό καλόν και άγαθόν και κακόν ούτως έχων ό Ρητορικός ώς περί τό υγιεινόν καί περί τά άλλα ών αί άλλαι τέχναι αύτά μέν ούκ είδώς τί άγαθόν ή τί κακόν έστιν ή τί καλόν ή τί αισχρόν ή δίκαιον ή άδικον πειθώ δέ περί αύτών μεμηχανημένος ώστε δοκεΐν είδέναι ούκ είδώς έν ούκ είδόσιν μάλλον τοϋ είδότος III 158 GÔRGIAS DE PLATÃO Címon e Milcíades na tentativa de dissuadir Cálicles da vida política Vejamos os argumentos soc E agora excelentíssimo homem visto que tu próprio come çaste recentemente a realizar os afazeres da cidade exortandome a isso e reprovandome porque não as realizo não investigaremos um ao outro desse modo Vamos lá Cálicles já tornou melhor algum cida dão Há alguém que antes era vicioso injusto intemperante e estulto e que se tornou um homem belo e bom por causa de Cálicles seja es trangeiro ou cidadão escravo ou homem livre Dizeme se alguém te indagar sobre isso Cálicles o que responderás Que homem dirás ter se tornado melhor com o teu convívio Hesitas em responder se há algum feito teu relativo a uma situação privada antes de empreenderes as ações públicas c a l Almejas a vitória Sócrates 5i5aib5 ςω Νυν δέ ώ βέλτιστε άνδρών επειδή σύ μέν αυτός άρτι αρχή πράττειν τα τής πόλεως πράγματα έμέ δέ παρακαλεις και ονειδίζεις δτι ού πράττω ούκ έπισκεψόμεθα άλλήλους Φέρε Καλλικλής ήδη τινά βελτίω πεποίηκεν τών πολιτών εστιν οστις πρότερον πονηρός ών άδικός τε και άκόλαστος και άφρων διά Καλλικλέα καλός τε κάγαθός γέγονεν ή ξένος ή άστός ή δούλος ή έλεύθερος λέγε μοι έάν τίς σε ταϋτα έξετάζη ώ Καλλίκλεις τί έρείς τίνα φήσεις βελτίω πεποιηκέναι άνθρωπον τή συνουσία τή σή όκνείς άποκρίνασθαι εϊπερ έστιν τι εργον σόν έτι ίδιωτεύοντος πριν δημοσιεύειν έπιχειρείν καλ Φιλόνικος ει ώ Σώκρατες Sócrates enfatiza aqui a prioridade do domínio particular ίδιωτεύοντος 51504 sobre o domínio público δημοσιεύειν 5i5b4 ou seja a condição para o homem se tornar político e ser capaz de promover o bem da comunidade política é ter praticado boas ações no âmbito privado ter sido capaz de tor nar alguém melhor do que era antes desviandoo do vício e impelindoo à virtude o caráter pmtréptico do elenchos Pois bem se Cálicles não satisfaz essa condição e acusa Sócrates em contrapartida de agir como erístico φιλόνικος 51505 o que poderíamos dizer de Sócrates usando contra ele o mesmo argu mento que emprega contra o interlocutor e contra os políticos SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 159 atenienses em geral O caso Alcibíades não seria também um indício da falibilidade da política privada de Sócrates como foi discutido na Seção 5 Pelo próprio argumento chamado em causa por Sócrates ele não poderia se configurar como aquele verdadeiro homem político que apregoa ser em 52ide pois também ele assim como Cálicles não foi capaz de tornar melhor algum cidadão τινά βελτίω πεποίηκεν τών πολιτών 5ΐ5Μ5 como ο caso Alcibíades imediatamente evidencia ao leitor7 Nesse sentido não é fortuita a referência de Platão à relação amorosa entre Sócrates e Alcibíades no Górgias 48id 482b pelo contrário ela nos indica precisamente como ela é problemática para a construção do êthos do filósofo no diálogo tendo em vista os próprios argumentos usados pela persona gem em sua crítica à democracia Se a recalcitrância de Cálicles ressalta os limites do elenchos socrático do ponto de vista de sua eficiência persuasiva o caso Alcibíades ilustra o fracasso da política privada de Sócrates contrariando assim a imagem construída por ele de o verdadeiro homem político I V A imagem séria e elevada de Sócrates portanto é apresen tada por Platão como uma questão problemática no Górgias De 7 Refirome aqui em específico ao caso de Alcibíades porque ele é mencio nado nominalmente no Górgias Poderíamos citar também o caso de Crítias que acabou por se tornar um dos Trinta Tiranos em 404 aC No Livro 1 das Memoráveis Xenofonte ao defender Sócrates contra a acusação de que ele corrompia os jovens faz uma longa digressão sobre a relação de amizade de Sócrates com Alcibíades e Crítias 121248 argumentando que as ações políticas perversas de ambas as figuras no final do séc v aC ocorreram justamente porque haviam abandonado o convívio de Sócrates enquanto eles faziam parte do círculo socrático segundo Xenofonte Alcibíades e Crítias eram homens moderados e justos à semelhança do mestre 1217 Seu argumento principal é que ambos buscaram se aproximar de Sócrates com o interesse de se beneficiarem da boa reputação do filósofo e obterem vantagens no mundo político 121516 Sócrates ficou a tal ponto estigmatizado por esse tipo de relação éticopolítica problemática que Esquines em 348 aC ainda a chamava em causa para censurar Sócrates como vemos em seu discurso Contra Timarco citado na epígrafe inicial deste livro 160 GÓRGIAS DE PLATÃO um lado o homem virtuoso por excelência temperante cora joso justo sábio o verdadeiro homem político o verdadeiro rétor o homem que diante da morte se comporta com resigna ção de modo comparável ao grandioso Aquiles na Ilíada como vemos referido na Apologia 28bd que se apresenta como o médico da alma capaz de curar a doença moral que acomete boa parte das pessoas que ele ordinariamente encontra uma vez diagnosticada pelo seu habitual elenchos De outro lado o homem de ironia mordaz que busca ridicularizar o interlocu tor ou melhor certo tipo de interlocutor perante a audiência como uma maneira de refutálo que recorre a exemplos pro vocativos durante a discussão para desqualificar os argumentos do interlocutor 49ode 494ce que irrita seu adversário por diversos modos que joga com as emoções da plateia como um verdadeiro orador público 494d 5i9d que rompe as re gras do processo dialógico que ele próprio havia estabelecido que atribui a culpa de seus erros à debilidade do interlocutor que age muitas vezes como uma personagem cômica como indica a alusão a Epicarmo 505c comentada acima Esse comporta mento ridículo de Sócrates no Górgias é enfim admitido pela própria personagem como vemos nesta passagem soc Extraordinário homem eu não os vitupero enquanto servi dores da cidade mas eles me parecem ter sido melhores servidores do que os contemporâneos e mais capazes de prover a cidade do que lhe apetecia Todavia redirecionar seus apetites e não lhes ceder usando a persuasão e a força de modo a tornar melhores os cidadãos nesse aspecto eles em nada se diferem dos outros por assim dizer e esse é o único feito de um bom político Quanto a naus muralhas estaleiros e todas as demais coisas do gênero eu também concordo que eles foram mais prodigiosos do que os contemporâneos em prover a cidade disso Assim tanto eu quanto tu agimos de modo ridículo na discussão durante todo 0 tempo em que dialogávamos não paramos de girar sempre em torno do mesmo ponto e de ignorar reciprocamente o que um ou outro dizia De fato creio que tu concordaste comigo repetidas vezes e com preendeste enfim que há duas atividades concernentes tanto ao corpo quanto à alma e que uma delas é servidora e capaz de prover o nosso SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 161 corpo de comida se houver fome de bebida se houver sede de man tos cobertores e sapatos se sentir frio e de outras coisas que apetecem o corpo E eu te falo por meio das mesmas imagens propositalmente a fim de que tua compreensão seja mais fácil 5i7b2d6 ςω Ώ δαιμόνιε ούδ έγώ ψέγω τούτους ώς γε διακόνους είναι πόλεως άλλα μοι δοκοΰσι τών γε νΰν διακονικώτεροι γεγονέναι και μάλλον οίοί τε έκπορίζειν τή πόλει ών έπεθύμει άλλα γάρ μεταβιβάζειν τάς επιθυμίας καί μή έπιτρέπειν πείθοντες και βιαζόμενοι έπι τούτο οθεν εμελλον άμείνους έσεσθαι οί πολΐται ώς έπος ειπεΐν ούδέν τούτων διέφερον έκεΐνοι δπερ μόνον εργον έστιν άγαθοϋ πολίτου ναϋς δέ και τείχη και νεώρια και άλλα πολλά τοιαΰτα και έγώ σοι ομολογώ δεινότερους είναι εκείνους τούτων έκπορίζειν πράγμα ουν γελοιον ποιοϋμεν έγώ τε και σύ έν τοϊς λόγοις έν παντι γάρ τώ χρόνω ον διαλεγόμεθα ούδέν παυόμεθα εις τό αύτό άει περιφερόμενοι και άγνοοΰντες άλλήλων δτι λέγομεν έγώ γοΰν σε πολλάκις οιμαι ώμολογηκέναι και έγνωκέναι ώς άρα διττή αΰτη τις ή πραγματεία έστιν και περι τό σώμα και περι τήν ψυχήν και ή μέν έτέρα διακονική έστιν ή δυνατόν είναι έκπορίζειν έάν μέν πεινή τα σώματα ήμών σιτία έάν δέ διψή ποτά έάν δέ ριγώ ίμάτια στρώματα ύποδήματα άλλ ών έρχεται σώματα εις έπιθυμίαν και έξεπίτηδές σοι διά τών αυτών εικόνων λέγω ϊνα ράον καταμάθης Nesse sentido se a imagem séria de Sócrates pode ser compa rável à de Aquiles seu comportamento jocoso em certas situações particulares como vemos representado no Górgias parece apro ximálo antes de Odisseu o polutropos πολύτροπος Od 11 o polumêtis πολυμήτις Od 21274 que usa de todo e qualquer meio ou artifício para obter o fim almejado8 9 no caso de Sócra tes a consumação do elenchos Essa comparação entre Sócrates e Odisseu que sugiro aqui embora possa parecer bastante genérica 8 O adjetivo polutropos significa genericamente de vários modos e aparece na Odisséia como epíteto de Odisseu que por vezes é substiuído por outros compos tos com o prefixo polu tais como polumêtis poliastucioso como traduz Haroldo de Campos Polutropos a princípio referese à errância de Odisseu que na volta de Troia para ítaca passou por diversos lugares até retornar a seu palácio como narra o poema homérico Por extensão tal adjetivo também conota versatilidade astúcia perspicácia aproximandose de seu correlato semântico polumêtis 9 R Robinson Platos Earlier Dialectic p 89 Sócrates parece preparado para empregar qualquer tipo de engano a fim de submeter as pessoas ao elenchos 162 GÓRGIAS DE PLATÃO foi concebida por Antístenes um dos autores dos Sõkratikoi logoi Discursos Socráticos a que se refere Aristóteles na Poé tica 11470913 A partir do catálogo de suas obras preservado por Diógenes Laércio 61518 Antístenes se dedicava entre outros assuntos à exegese de temas homéricos Segundo C Kahn10 1 12 Antístenes aparentemente concebia Odis seu como uma espécie de sábio socrático tendo em vista um dos fragmentos de sua obra exegética sobre Homero preservado por Porfírio Questionam Homericarum ad Odysseam Pertinentium Reliquiae 11121 Nesse fragmento numa discussão sobre a semântica do termo polutropos o mesmo tipo de debate a que se volta Platão no diálogo Hípias Menor cf 36433656 Antístenes se opõe a um contraargumentador anônimo que se apoiava no sentido dado ao termo por Aquiles na Ilíada12 quando ele cen sura Odisseu ou seja de dolo engano mentira Na concep ção de Antístenes contudo polutropos significava sobretudo ter a habilidade com o diálogo διαλέγεσθαι 1117 saber se exprimir por diversos modos πολλούς τρόπους iii8 e por conseguinte ser capaz de se relacionar com os homens de 10 C Kahn Plato and the Socratic Dialogue p 122123 11 Na interpretação de Kahn a exegese sobre Homero presente no Hípias Menor é uma referência de Platão a esse tipo de debate feito por Antístenes e não o inverso pois segundo as informações conservadas sobre o autor ele é bem mais velho que Platão e um escritor já bem estabelecido nos anos 390 aC op cit p 122 quando Platão provavelmente começou a escrever os diálogos 12 Homero Ilíada 9307313 trad Haroldo de Campos Falou então Aquiles pésvelozes O uve Laertíade poliastucioso sem meios termos claro direi quanto penso e farei para que ninguém sente junto a mim palrando um deste outro daquele lado Como às portas do Hades detesto quem fala uma coisa e esconde outra na mente Tòv δ άπαμειβόμενος προσέφη πόδας ώκύς Άχιλλεύς διογενες Λαερτιάδη πολυμήχαν Όδυσσεΰ χρή μέν δή τον μύθον άπηλεγέως άποειπεϊν η περ δή φρονέω τε και ώς τετελεσμένον έσται ώς μή μοι τρύζητε παρήμενοι αλλοθεν άλλος έχθρός γάρ μοι κείνος όμώς Αΐδαο πΰλμσιν δς χ έτερον μέν κεύθη ένι φρεσίν άλλο δέ εϊπη SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 163 diversas maneiras πολλοίς τρόττοις íin adequando o seu discurso ao caráter do interlocutor13 Se nesse fragmento An tístenes não cita nominalmente o filósofo de quem foi amigo e a quem dedicou parte de sua obra ao escrever Sõkratikoi logoi ao leitor dos diálogos platônicos entretanto a figura de Sócrates é imediatamente evocada Mas se os sábios são terrivelmente hábeis no diálogo eles também sabem exprimir o mesmo pensamento por diversos modos uma vez que eles conhecem diversos modos de discursos a respeito de uma mesma coisa eles seriam então polutropoi E se os sábios são bons também em se relacionar com os homens é por esse motivo que Homero diz que Odisseu sendo sábio é polutropos porque ele sabia deveras conviver com os homens de diversas maneiras 111721 εί δέ oi σοφοί δεινοί είσι διαλέγεσθαι και έπίστανται το αυτό νόημα κατά πολλούς τρόπους λέγειν έπιστάμενοι δέ πολλούς τρόπους λόγων περι τού αυτού πολύτροποι άν ειεν εί δέ οί σοφοί και άνθρώποις όμιλεΐν άγαθοί είσι διά τούτο φησι τον Οδυσσέα Ομηρος σοφόν όντα πολύτροπον είναι ότι δή τοΐς άνθρώποις ήπίστατο πολλοίς τρόποις συνεΐναι Como vemos no Górgias Sócrates é representado por Platão como o novo senhor da arte do discurso tekhné logõn em substituição à figura do rétor Ele domina não apenas os recursos próprios da brakhulogia mas também os da makrologia subordi nando o domínio discursivo da retórica ao domínio da filosofia O Mito Final narrado por Sócrates por sua vez representaria nessa perspectiva de leitura a apropriação do discurso poético e a sua reinvenção em uma nova forma de discurso em prosa em um novo gênero literário o diálogo o qual compreende tam bém elementos e topoi característicos da tragédia e da comédia Nesse movimento intergenérico a figura de Sócrates o grande protagonista da obra platônica emerge então como a do novo herói o filósofo como o polutropos do discurso 13 C Kahn op cit p 123 ΓΟΡΓΙΑΣ Καλλικλής ΚΑ Σωκράτης ΣΩ Χαιρεφών ΧΑ Γοργίας ΓΟΡ Πώλος ΠΩ GORGIAS Cálicles cal Sócrates soc Querefonte que Górgias gor Polo POL a ΚΑΛ Πολέμου καί μάχης φασί χρήναι ω Σωκρατες οντω μεταλαγχάνειν ΣίΙ Ά λλ ή το λεγόμενον κατόπιν εορτής ήκομεν καί νστερονμεν ΚΑΛ Καί μάλα γε αστείας εορτής πολλά γαρ καί καλά Τοργίας ήμίν ολίγον πρότερον επεδείζατο Σί2 Τούτων μεντοι ω Καλλίκλεις αίτιος Χαιρεφων όδε εν αγορά άναγκάσας ημάς διατρΐψαι S t 1 3 447 ï Ο diálogo Górgias não é marcado temporalmente nem espacialmente ele irrompe com a brusca entrada de Cálicles admoestando Sócrates pelo atraso Não sabemos onde se passa a cena se na casa de algum homem rico que se dispunha a ser anfitrião dos sofistas como Cálias no Protagoras ou em algum prédio público não sabemos se é tarde ou noite apenas que Sócrates chega após a epideixis exi bição de Górgias De qualquer modo é um ambiente dominado pela presença do ilustre rétor de seus discípulos e do restante da audiência Nesse sentido o diálogo representa o ingresso de Sócrates nesse ambiente como se fosse em uma guerra uma analogia bastante profícua para representar o que sucederá no diálogo sobre tudo no 3a Ato no debate entre Sócrates e Cálicles Toda a cena se desenvolve ali como se Sócrates estivesse em território inimigo fator que condicionará de certo modo o seu comportamento durante a discussão Por outro lado as duas primei ras palavras que abrem o diálogo guerra e batalha πολέμου και μάχης 447ai c a l Como dizem Sócrates eis a devida maneira de par ticipar da guerra e da batalha1 soc Mas o quê Chegamos como no ditado depois da festa e atrasados c a l E depois de uma festa muito distinta pois Górgias há pouco nos exibiu2 inúmeras coisas belas soc Mas o culpado disso é Querefonte Cálicles por sua força demoramos na ágora aludem à natureza agonística da retórica em que a finalidade predpua do orador é a vitória sobre seu adversário por meio da persuasão da audiência à qual se dirige seu discurso Isso ficará patente na analogia entre o ensino da retórica e o da luta no discurso da personagem Górgias logo adiante 456C457C 2 Platão emprega de modo marcado no Prólogo 4473144908 formas no minais e verbais da raiz έπιδεικepideik para se referir às exibições ou per formances de Górgias para o público como podemos constatar nesta série de ocorrências έπεδείξετο 447a6 έπιδείξεται 447b2 έπιδείξεται 447b8 έπίδειξιν 447C3 έπιδείξεως 447c6 έπίδειξιν 449C4 Também no diálogo Pwtágoras esse verbo é usado no mesmo sentido quando Sócrates desafia a personagem homônima a de monstrar que a virtude é ensinável a qual por sua vez oferece duas modalidades de epideixis exibição o mito μύθον λέγων ou a exposição por meio de racio cínio λόγω διεξελθών 32ob8C4 a St 1 P 4 4 7 168 GÓRGIAS DE PLATÃO b X A I Ούδεν πράγμα ώ Σωκρατες έγω yap καί Ιάσομαι φίλος yàp μοι Γοργίας ωστ έπιδείζεται ημίν el μέν ύοκεϊ νυν εάν be βούλη els ανθis ΚΑΛ T L be ω Χαιρεφων èπιθvμeΐ Σωκράτης άκουσαι Γ οργίου ΧΑΙ Ε π αυτό ye τοι τούτο πάρεσμεν ΚΑΛ Ονκοϋν όταν βούλησθε παρ έμε ηκειν οΐκαδε παρ έμοί γάρ Γοργίας καταλύει και έπιδείζεται νμΐν ΣΩ Εδ λέγεις ώ Καλλίκλεις άλλ άρα έθελησειεν αν c ημίν διαλεχθηναι βούλομαι γάρ πυθέσθαι παρ αυτού τις η δύναμις τη s τέχνης τού àvbpôs καί τί έστιν ο επαγγέλλεται τε και διδάσκει την be άλλην έπίδειζιν els αυθις ώσπερ σύ λέγεις ποιησάσθω ΚΑΛ Oùôèv οΐον το αυτόν έρωταν ω Σώκρατες καί γάρ αυτω εν τοϋτ ην της επώείζεως έκέλευε γούν νννδη έρωταν οτι τις βούλοιτο των ένδον οντων καί προς άπαντα έφη άποκρινείσθαι ΣΩ ΤΗ καλώς λέγεις ω Καιρεφων έροΰ αυτόν ΧΑΙ Τί έρωμαι d ΣΩ Οστις έστίν ΧΑΙ Πώΐ λέγεις ΣΩ Ωσπερ αν ει έτύγχανεν ων υποδημάτων δημιουργός απεκρίνατο αν δηπου σοι οτι σκυτοτόμος η ου μανθάνεις ώ λέγω 3 O verbo émGupéü epithumeõ colocado na boca de Cálicles para exprimir desejo traduzido aqui por almejar 44704 não é uma escolha fortuita de Pla tão mas antecipa de certa forma o tipo de caráter da personagem que se revelará no 3a Ato do diálogo 48ib527e Platão representa Cálicles como defensor da vida hedonista na qual o homem mais forte por natureza é capaz de por meio da coragem e da inteligência ôf àvôpeíav K a l tppóvqaiv 49282 engrandecer ao máximo e satisfazer os seus apetites tcu èniGupíac tàç éautoõ 49ie89 vivendo sem as rédeas da temperança e da justiça estabelecida pela lei dos mais fracos nisso consistiria a felicidade humana na perspectiva moral de Cálicles 49164920 Por tanto a ocorrência do verbo ètuGupéai epithumeõ nessa fala já exprime de certa forma o caráter hedonista da personagem 4 É a primeira vez no diálogo que aparece a oposição entre o diálogo ôiaXexGfjvai 447C1 pretendido por Sócrates e a exibição performática de Górgias èttíÔEiiv 447C3 que a princípio corresponderia à tensão entre os modos de discurso o filosófico e o GÓRGIAS 169 q u e Não há problema Sócrates Vou remediálo pois Gór gias é meu amigo Se for de teu parecer nos fará uma exibição agora ou se quiseres em outra ocasião c a l O quê Querefonte Sócrates almeja3 ouvir Górgias q u e Eis a razão de nossa presença c a l Basta então quererdes acompanharme até em casa pois Górgias é meu hóspede e há de vos fazer outra exibição soc Bem dito Cálicles Mas ele desejaria porventura dia logar conosco Pois quero saber dele qual é o poder da arte do homem e o que ele promete e ensina o resto da exibição dei xemos para outra ocasião como dizes4 c a l Nada como tu a indagálo Sócrates Aliás esse era um dos pontos de sua exibição há pouco mandou aos presentes que lhe perguntassem o que desejassem e afirmou que responderia a todas as perguntas soc Bem dito Querefonte interrogao q u e Sobre o que devo interrogálo soc Quem ele é q u e Como dizes soc Por exemplo se ele fosse artífice de sapatos ele decerto te responderia que é sapateiro ou não entendes o que digo retórico Tal oposição será cunhada no Prólogo pelos termos β ρ α χ υ λ ο γ ία brakhulo gia discurso breve e μ α κ ρ ο λ ο γ ία makrología discurso extenso respectivamente 449C5 No Górgias assim como em geral nos chamados primeiros diálogos de Platão não há ocorrências do termo de conotação técnica em Platão δ ια λ ε κ τικ ή dialektiké dialética para se referir ao modo de discurso eou ao método de Só crates para refutar ou provar alguma tese mas antes o verbo δ ια λ έ γ ε σ θ α ι dialeges thai dialogar Dentre os primeiros diálogos seria no Eutidemo diálogo que trata da erística a única ocorrência de formas derivadas da raiz δ ια λ ε κ τικ dialektik os dialéticos το ις δ ια λε κ τικ ο ίς 290C5 Isso talvez nos permita inferir que ao mesmo tempo em que Platão passa a apresentar paulatinamente a dialética como método de hipóteses em sua obra ou seja no Mcntm Ecdon e República principalmente ele passa a se referir mais precisamente através de termos derivados da raiz έρ ισ τικ eris tik à pseudodialética dos erísticos representados na obra platônica pelos irmãos Dionisodoro e Eutidemo no diálogo Eutidemo 170 GÓRG1AS DE PLATÃO ΧΑΙ Μανθάνω και ερησομαι Είπε μοι ω Γοργία αληθή λεγει Καλλικλής δδε οτι επαγγελλη αποκρίνεσθαι οτι αν ris σε ερωτά ΓΟΡ Αληθή ω Χαφεφων και γαρ νννδή αυτά ταϋτα επηγγελλόμην και λέγω οτι ουδείς με πω ήρώτηκε καινόν ονδεν πολλών ετών ΧΑΙ ΤΙ που αρα ραδίων αποκρινή ω Γοργία ΓΟΡ Πάρεση τούτον πείραν ω Χαιρεφών λαμβάνειν ΠΩΛ Ντ Αία άν δε γε βουλή ω Χαιρεφών εμού Γοργία μεν γάρ καί άπειρη κενά ι μοι δοκεν πολλά γαρ άρτι διεληλνθεν ΧΑΙ Τί δε ω Πώλε οϊει συ κάλλιον άν Γοργίου άποκρίνασθαι ΠΩΛ Τί δε τούτο εάν σοί γε ικανως ΧΑΙ Ονδεν àλλ επειδή συ βούλει άποκρίνον ΠΩΛ Έρωτα ΧΑΙ Έοωτω δν εί τυγγαυε Γοργία επιστήμων ων τής τέχνη s ήσπερ ô αδελφός αυτόν Ήροδικο τί άν αυτόν ώνομάζομεν δικαίως ουχ δπερ εκείνον ΠΩΛ Πάυυ γε ΧΑΙ Ιατρού αρα φάσκοντες αυτόν είναι καλώς αν ελεγομεν ΠΩΛ Ναί 5 5 A entrada em cena de Polo discípulo de Górgias interrompe bruscamente a interpelação que Querefonte discípulo de Sócrates fazia seguindo o modelo de perguntas por analogia argumento indutivo sugerido pelo mestre Assim nesse primeiro momento do diálogo ao invés de um debate imediato entre as duas figuras mais eminentes Górgias e Sócrates deparamonos com uma espécie de prelúdio de um grande ato que está por vir encenado pelos seus respectivos discípulos Por outro lado o argumento aduzido por Polo para explicar sua intrusão no diálogo o cansaço de Górgias é um elemento dramático que pode de certa forma justi ficar o rápido fracasso da personagem Górgias perante o elenchos de Sócrates no Ia Ato abrindo caminho para Polo e Cálicles desempenharem o papel de inter locutores de Sócrates GÓRGIAS 171 q u e Entendo Vou interrogálo Górgias dizeme se é ver dade o que nos conta Cálicles que prometes responder a qual quer pergunta que alguém te enderece g o r É verdade Querefonte Aliás era precisamente isso o que há pouco prometia e digo há muitos anos ninguém ainda me propôs uma pergunta nova q u e Ora então respondes com desembaraço Górgias g o r Podes me testar Querefonte p o l Por Zeus contanto que queiras testar a mim Quere fonte Pois Górgias pareceme estar deveras exausto acabou de discorrer há pouco sobre vários assuntos5 q u e O quê Polo Achas que respondes melhor do que Gór gias p o l Por que a pergunta se te for o suficiente q u e Nada mas visto o teu querer responde então p o l Pergunta q u e Pergunto sim Se Górgias tivesse o conhecimento da mesma arte que seu irmão Heródico6 que denominação lhe se ria mais justa Não seria a mesma que conferimos àquele p o l Certamente q u e Portanto diríamos acertadamente se afirmássemos que ele é médico p o l Sim 6 Como ressalva Dodds em seu comentário sobre o Górgias Plato Górgias p 191 não se trata aqui do médico homônimo referido por Platão diversas vezes nos diálogos natural de Mégara pois o irmão assim como Górgias seria presumivelmente de Leontine cidade da Sicília Dodds sugere que Heródico irmão de Górgias seja provavelmente a figura referida por Aristóteles na Retórica quando ele trata da se mântica dos nomes pois sendo irmão do rétor seria verossímil o seu encontro com o sofista Trasímaco personagem do Livro 1 da República e com Polo e como Heródico dizia a Trasímaco és sempre thrasumakhos audaz no combate e a Polo és sempre pólos potro 11 i40ob202i και Ήρόδικος Θρασύμαχον άεΐ θρασύμαχος εΓ και Πώλον άει σύ πώλος ει 44 b 172 GÓRGIAS DE PLATÃO ΧΑΙ E2 δέ γε ησπερ Άριστοφών 5 Άγλαοφώντος η δ αδελφός αντοΰ έμπειρος ην τέχνης τίνα αν αυτόν όρθώς εκαλοΰμεν ΠΩΛ Αηλον on ζωγράφον ΧΑΙ Nîy δ επειδή τίνος τέχνης επιστήμων έστίν τίνα αν καλουντες αυτόν όρθώς καλοιμεν ΠΩΛ Ώ Χαιρεφών πολλοί τέχναι έν άνθρώποις είσιν έκ των εμπειριών έμπείρως ηυρημέναι έμπειρία μεν γάρ ποια τον αιώνα ημών πορεύεσθαι κατά τέχνην απειρία ôè κατά τύχην έκαστων δέ τούτων μεταλαμβάνονσιν άλλοι άλλων άλλως των δε αρίστων οι άριστοι ών και Γοργίας εστϊν δδε και μετέχει της καλλίστης των τεχνών ΣΩ Καλώς γε ώ Γοργία φαίνεται ΓΤώλοΐ παρεσκευά σθαι εις λόγους αλλά γάρ δ υπέσχετο Χαιρεφώντι ου ποιεί ΓΟΡ Ύί μάλιστα ώ Σώκρατες ΣΩ Το έρωτώμενον ου πάνυ μοι φαίνεται άποκρίνεσθαι ΓΟΡ Άλλα συ εΐ βουλει έροΰ αυτόν 7 Irmão do famoso pintor Polignoto referido por Platão no diálogo lon tam bém como filho de Aglaofonte ΙΙολυγνώτου του Αγλαοφώντος 532e8 8 Platão representa aqui na fala dos discípulos o modo habitual de discurso de seus respectivos mestres Querefonte segue o modelo dialógico sugerido por Sócrates 447d o de perguntas por analogia Polo por sua vez faz um discurso grandilo quente primado pela beleza formal das figuras de linguagem O discurso de Polo como resposta à pergunta de Querefonte pode ser entendido aqui como uma paró dia platônica do que se tornou posteriormente o célebre estilo gorgiano de escrita A abundância de figuras de linguagem é flagrante poliptoto εμπειριών έμπειρώς εμπειρία άλλοι άλλων άλλως τών αρίστων oi άριστοι antítese εμπειρία άπειρία κατά τέχνην κατά τύχην άλλοι άλλων τών άριστων οι άριστοι paronomásia τέχνην τύχην isócolon άπειρία δέ κατά ψύχην τών δέ άριστων οί άριστοι Se compararmos com ο Elogio de Helena de Górgias uma das poucas obras do autor que foram conservadas integralmente observaremos a ocorrência das mesmas figu ras de linguagem e um estilo de escrita semelhante poliptoto βάρβαρος βάρβαρον 7 προς άλλων άπ άλλου μ όσοι όσους περί όσων 11 antítese κόσμος πόλει μεν εύανδρία τά δέ έναντία τούτων άκοσμία ι πέφυκε γάρ ού το κρεΐσσον ύπό τού ήσσονος κωλύεσθαι άλλα το ήσσον ύπό του κρείσσονος άρχεσθαι καί άγεσθαι 6 paronomásia αμαρτία καί άμαθία ι ô λαβούσα και ού λαθούσα GÓRGIAS 173 q u e Mas se ele fosse experiente na mesma arte que Aris tofonte7 filho de Aglaofonte ou que seu irmão como nós o chamaríamos corretamente p o l É evidente que de pintor q u e Agora uma vez que ele tem conhecimento de certa arte de que nome nós o chamaríamos corretamente p o l Querefonte as artes são abundantes entre os homens descobertas da experiência experimentalmente Pois a expe riência faz com que a nossa vida seja guiada pela arte enquanto a inexperiência pelo acaso Diferentes homens participam de cada uma delas de formas diferentes e das melhores artes os melhores homens Dentre estes últimos eis aqui Górgias que participa da mais bela arte8 soc Polo parece bem preparado para o discurso Górgias Porém não cumpre o que apregoava a Querefonte g o r Precisamente o quê Sócrates soc A pergunta não me pareceu ter sido absolutamente respondida g o r Mas então pergunta tu se quiseres 4 προβήσομαι και προθήσομαι 5 νομίζω και ονομάζω 9 isócolon σώματι δε κάλλος ψυχή δέ σοφία πράγματι δέ αρετή λόγω δέ αλήθεια ι οί δε εύγενείας παλαιός ευδοξίαν οί δέ αλκής ιδίας ευεξίαν 4 e a conjugação de figuras antí tese e isócolon καί το μέν κρείσσον ήγεισθαι το δέ ήσσον έπεσθαι 6 νόμω μέν ατιμίας λόγω δέ αιτίας 7 paronomásia e isócolon τών τε παρόντων έννοιαν τών τε μελλόντων πρόνοιαν ιι Além da abundância das figuras a ocorrência de αιώνα aiõna vida termo peculiar à poesia parodiaria a predileção de Gór gias de prover o discurso em prosa de recursos próprios da linguagem poética o que os autores subsequentes considerarão como marcas de sua elocução como por exemplo Dionísio de I lalicarnasso rétor historiador e crítico literário residente em Roma no séc 1 aC A linguagem poética e figurada influenciou os rétores de Atenas como afirma Timeu Fr 9 5 h h g i 2 1 6 depois de Górgias têla introduzido quando esteve em Atenas como embaixador arrebatando os ouvintes com um discurso público mas na verdade a admiração por essa linguagem já era bem mais antiga Sobre Lísias 3 ήψατο δέ καί τών Άθήνησι ρητόρων ή ποιητική τε και τροπική φράσις ώς μέν Τίμαιός φησι fr 95 fhg 1216 Γοργίου άρξαντος ήνίκ Άθήναζε πρεσβεύων κατεπλήξατο τούς άκούοντας τή δημηγορία ώς δέ τάληθές έχει τό καί παλαιότερον αίεί τι θαυμαζομένη 174 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ 0 υκ εί αντω γε σοι βονλομένω έστίν αποκρίνεσθαι άλλα πολύ αν ηδιον σι δηλος γάρ μοι Πώλο y και έζ ων εϊρηκεν Sri την καλόνμένην ρητορικήν μάλλον μεμελέτηκεν η διάλέγεσθαι ΠΩΛ Τι δη ώ Σωκρατες ΣΩ Οτι ώ Πώλ6 ερομένου Χαιρεφωντος τίνος Γοργίας επιστήμων τέχνης εγκωμιάζεις μεν αντου την τέχνην ώσπερ τίνος φέγοντος ήτις δε εστιν ουκ άπεκρίνω ΠΩΛ Ον γάρ απεκρινάμην οτι είη η καλλίστη ΣΩ Καί μάλα άλλ ουδεις έρωτά ποία τις η Γοργίου τέχνη άλλα τις καί δντινα δέοι καλείν τον Γοργίαν ωσττερ τα έμπροσθεν σοι νπετείνατο Χαιρεφων και αντω καλώς και δια βραχέων άπεκρίνω καί νυν ούτως είπε τίς η τέχνη καί τίνα Γοργίαν καλείν χρη ημάς μάλλον δέ ω Γοργία αυτός ημϊν είπέ τίνα σε χρη καλείν ως τίνος επιστήμονα τέχνης ΓΟΡ Tt js ρητορικής ω Εύκρατες ΣΩ Γητορα αρα χρη σε καλείν 9 10 9 É a primeira ocorrência do termo ρητορική rhètorikè retórica no diálogo em contraste direto com dialegesthai διαλέγεσθαι diálogo A tendência de Polo ao elogio do objeto em questão antes de se definir precisamente que objeto é esse ne gligenciando portanto a prioridade da definição sobre o juízo de valor que Sócrates estipula como regra para o correto proceder dialógico é um dos modos de Platão figurar do ponto de vista da construção das personagens no Górgias a oposição en tre dois modos de discursos diferentes o filosófico e o retórico Polo devido à sua inexperiência no domínio discursivo dialógico pelo menos segundo as expectativas de Sócrates é incapaz de dar uma resposta breve e simples conforme o argumento indutivo de Querefonte recorrendo em contrapartida ao discurso extenso e orna mentado do modelo retórico As consequências da inexperiência de Polo se tornarão evidentes quando ele passa a ser o interlocutor principal no 2a Ato 46ib48ib no qual Sócrates irá acentuar de modo jocoso a sua debilidade por meio do seu método de refutação elenchos 10 Sócrates entende a resposta de Polo como uma espécie de elogio ou encó mio εγκωμιάζεις 44863 como se ele estivesse respondendo a um vitupério τίνος ψέγοντος 448e4 da parte de algum antagonista Embora não haja em Platão um tipo de categorização formal tal como Aristóteles empreenderá posteriormente na Retórica vale notar que nesse passo do Górgias há uma clara atribuição do elogio e do vitupério ao domínio do que Platão chama de retórica no diálogo Em Aristóteles eles consistem precisamente em um dos gêneros do discurso retórico o epidítico como vemos nesta célebre passagem da Retórica Em número as espécies da retórica são três e o mesmo tanto resulta ser GÓRGIAS 175 soc Não se tu mesmo quiseres responder será mais aprazí vel interrogarte Pois é evidente que Polo pelo que acabou de di zer tem praticado antes a chamada retórica do quq p diálogo9 pol Por quê Sócrates soc Porque Polo Querefonte perguntou a ti de qual arte Górgias tinha conhecimento e tu passaste a elogiar a sua arte como se alguém a vituperasse10 mas que arte é essa não res pondeste pol Mas não respondi que é a mais bela soc Com certeza Mas ninguém está perguntando de que qualidade ela é e sim que arte é essa e por qual nome Górgias deve ser chamado Assim como Querefonte te formulou as perguntas anteriores e tu lhe respondeste correta e brevemente dizeme agora de modo semelhante que arte é essa e por qual nome de vemos chamar Górgias Ou melhor dizenos tu mesmo Górgias como devemos te chamar e de que arte tens conhecimento gor Da retórica Sócrates soc Portanto devemos te chamar de rétor também os ouvintes dos discursos O discurso se constitui de três coisas daquele que fala daquilo a respeito do que se fala e daquele a quem se fala e o fim é em vista deste refirome ao ouvinte O ouvinte é necessariamente espectador ou juiz e juiz de eventos passados ou futuros O juiz de eventos futuros é o membro da As sembleia o de eventos passados o juiz dos tribunais e quem observa o poder de quem fala é o espectador Por conseguinte é necessário que haja três gêneros de discurso retórico o deliberativo o judiciário e o epidítico Uma parte da delibera ção é a exortação e a outra a dissuasão tanto aqueles que aconselham em privado quanto os que discursam em público sempre cumprem uma dessas funções Uma parte do processo judiciário é a acusação a outra a defesa é necessário que as par tes contendentes cumpram ou uma ou outra dessas funções Uma parte do discurso epidítico é o elogio a outra o vitupério i 135833658013 έτιν δέ τής ρητορικής είδη τρία τον αριθμόν τοσοϋτοι γάρ καί oi άκροαται των λόγων ύπάρχουσιν οντες σύγκειται μέν γάρ έκ τριών ό λόγος εκ τε τού λέγοντος και περί ου λέγει και προς ον και το τέλος προς τούτον έστιν λέγω δέ τον άκροατήν άνάγκη δέ τόν άκροατήν ή θεωρόν είναι ή κριτήν κριτήν δέ ή τών γεγενημένων ή των μελλόντων έστιν δ ό μέν περί τών μελλόντων κρίνων ό εκκλησιαστής ό δέ περί τών γεγενημένων οίον ό δικαστής ό δέ περι τής δυνάμεως ό θεωρός ώστ έξ ανάγκης αν εϊη τρία γένη τών λόγων τών ρητορικών συμβουλευτικόν δικανικόν έπιδεικτικόν συμβουλής δέ τό μέν προτροπή το δέ αποτροπή άει γάρ και οί ιδία συμβουλεύοντες και οί κοινή δημηγορούντες τούτων θάτερον ποιοϋσιν δίκης δέ τό μέν κατηγορία τό δ άπολογία τούτων γάρ όποτερονοϋν ποιεϊν άνάγκη τούς άμφισβητοΰντας επιδεικτικού δέ τό μέν έπαινος τό δέ ψόγος e 449 176 GÔRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Αγαθόν γε ω Σωκράτη εί δη S γε εύχομαι είναι ως εφη Ομηροί βούλα με καλάν ΣΩ Άλλα βούλομαι ΓΟΡ Κάλΐ δή ΣΩ Ουκοΰν και άλλους σε φωμεν δυνατόν είναι τΐοιεϊν ΓΟΡ Επαγγέλλομαι γε όη ταΰτα ου μόνον ενθάδε άλλα και άλλοθι ΣΩ Ά ρ ουν εθελησαις αν ω Γοργία ώσπερ νυν δια λεγόμεθα διατελέσαι το μεν έρωτων το δ άποκρινόμενος το δε μήκος των λόγων τούτο οΧον και Πώλο ηρξατο εις αυθις άποθέσθαι άλλ όπερ νπισχνή μη ψευση αλλά εθέλησον κατά βραχύ το έρωτωμενον άποκρίνεσθαι ΓΟΡ Εϊσ μεν ώ Σώκρατες ενιαι των αποκρίσεων άναγκαιαι δια μακρών τους λόγους ποιεΐσθαι ου μην άλλα πειράσομαί γε ως δια βραχύτατων και γάρ αν καί τούτο εν εστιν ων φημι μηδένα αν εν βραχυτέροις εμού τα αυτά ειπεΐν GÓRGIAS 177 g o r De um bom rétor Sócrates se queres me chamar como diz Homero daquilo que rogo ser11 soc Mas eu quero chamálo g o r Então chama soc Podemos dizer assim que és capaz de tornar rétores b também outras pessoas gor Isso eu não prometo apenas aqui mas em todo e qual quer lugar soc Porventura desejarias Górgias assim como agora dia logamos terminar a conversa um interrogando e o outro respon dendo e esses discursos extensos como Polo principiou a fazêlo deixálos para outra ocasião Não traias o que asseveras mas de seja responder brevemente as perguntas a ti endereçadas g o r Há certas respostas Sócrates que obrigamnos a ela borar longos discursos Todavia tentarei responder o mais breve possível Ademais uma das coisas que professo é que ninguém c diz as mesmas coisas da maneira mais breve do que eu li Górgias é representado por Platão como uma personagem jactante presun çosa orgulhosa de sua onipotência na arte dos discursos τέχνη λόγων que se apre senta como mestre de certo saber A própria repreensão de Cálicles a Sócrates na abertura do diálogo é índice disso como se Sócrates não estivesse respeitando um homem de grande reputação tendo em vista o seu atraso na epideixis do rétor Da mesma forma a veemência com que Polo age para acudir Górgias como vimos logo acima 448c evidencia a veneração do discípulo para com o mestre tecendo elogios à sua pessoa e à sua arte Górgias se enquadraria então naquela galeria de homens sábios ou de pretensos sábios à qual pertencem políticos poetas artesãos e sofistas referida por Sócrates na Apologia 21 bc A função do método de refutação de Sócra tes elenchos seria justamente mostrar ao interlocutor e à audiência eventualmente presente como seu saber é na verdade um falso saber como sua sabedoria aparente consiste de fato numa falsa pretensão alazoneia αλαζονεία ao saber 178 GÓRGIAS DE PLATÃO d ΣΩ Τούτου μην δει ω Γοργία καί μοι έπίδειζιν αυτού τούτον ποίησαι τής βραχυλογίας μακρολογίας he είς αύθις ΓΟΡ Άλλα ποιήσω και ονδενος φήσεις βραχνλογωτέρον ακόυσα ι ΣΩ Φέρε δή ρητορικής γάρ φής επιστήμων τέχνης tivai και ποιήσαι αν και άλλον ρήτορα ή ρητορική περί τι των οντων τυγχάνει ονσα ώσπερ ή υφαντική περί την των ί ματ ίων εργασίαν ή γάρ ΓΟΡ Ναι ΣΩ Ο νκονν και ή μουσική περί τήν των μελών ποίησιν ΓΟΡ Ναι ΣΩ N τήνΉραν ω Γοργία άγαμαί γε τας αποκρίσεις οτι άποκρίνη ως οίόν τε δια βραχντάτων ΓΟΡ Πάνυ γάρ οΐμαι ω Σώκρατες επιεικώς τούτο ποιεϊν ΣΩ Ευ λέγεις ϊθι δη μοι άπόκριναι ούτως και περί της ρητορικής περί τι των οντων εστιν επιστήμη 12 12 Sócrates distingue portanto ο modo de discurso dialógico do retórico no primeiro momento do ponto de vista de sua extensão o discurso breve brakhulo gia β ρ α χ υ λ ο γ ί α 4 4 9 C 5 de um lado como Querefonte procedeu anteriormente na interlocução com Górgias e Polo em que um interlocutor formula as perguntas e o outro as responde de modo conciso é interessante notar como Sócrates exige brevi dade nas respostas mas não diz nada sobre a extensão das perguntas e o discurso longo makmlogia μ α κ ρ ο λ ο γ ί α 4 4 9 C 5 de outro como Polo principiou a fazêlo ao elogiar o ofício do mestre Como a personagem Górgias arroga onipotência no âmbito dos discursos seja no domínio da brakhulogia seja no da makrologia Sócra tes consegue facilmente conduzir a discussão para o âmbito dialógico evitando as incursões nos longos discursos próprios do registro retórico Situação similar mas bastante diferente é representada no diálogo Protágoras quando se estabelece um impasse quanto ao modo de discurso a ser adotado pelos interlocutores Protágoras e Sócrates Como a personagem homônima já havia sido refutada anteriormente sobre um ponto específico da discussão pois foi forçado por Sócrates a admitir no registro dialógico que temperança e sabedoria são a mesma coisa visto terem o mesmo contrário tese oposta à defendida por ele no início da discussão Protágo ras resiste à tentativa de Sócrates de estabelecer como condição de possibilidade da discussão a brakhulogia em detrimento da makrologia como vemos neste trecho Como então eu devo te responder o quanto me parece devido responder ou o quanto te parece Ao menos eu tenho escutado disse que a respeito dos mesmos assuntos GÓRGIAS 179 soc Eis o que é preciso Górgias e exibime justamente isto um discurso breve um discurso longo deixemos para ou tra ocasião12 gor Vou exibilo e dirás que jamais ouviste alguém tão breve no discurso soc Vamos lá Tu afirmas que conheces a arte retórica e que tornarias outra pessoa rétor a que coisa concerne a retórica Por exemplo a tecelagem à manufatura de roupas não é gor Sim soc E a música à composição de cantos gor Sim soc Por Hera Górgias agradamme as tuas respostas pois tu as formulas da maneira mais breve possível gor Julgo Sócrates que faço isso de modo muito conve niente soc Bem dito Adiante então respondeme de modo se melhante também a respeito da retórica a que concerne seu conhecimento és capaz tanto de fazer longos discursos e de ensinar os outros a fazêlo a ponto de jamais abdicar da palavra quanto de falar brevemente a ponto de não haver nin guém mais breve do que tu no discurso Assim se pretendes dialogar comigo utiliza o segundo modo o discurso breve para te volveres a mim Sócrates disse ele são inúmeros os homens com os quais já entrei em con tenda verbal e se eu fizesse o que me ordenas fazer tal como se o contendor me or denasse o diálogo e eu então dialogasse eu não seria manifestamente melhor do que ninguém tampouco haveria o nome de Protágoras entre os Helenos 3346233538 Πάτερα ούν όσα έμοί δοκεΐ δειν άποκρίνεσθαι τοσαϋτά σοι άποκρίνωμαι ή δσα σοί Άκήκοα γούν ήν δ έγώ ότι σύ οίός τ εΐ και αύτός και άλλον διδάξαι περι των αυτών και μακρά λέγειν έάν βούλη ούτως ώστε τον λόγον μηδέποτε έπιλιπεΐν και αύ βραχέα ούτως ώστε μηδένα σου έν βραχυτέροις είπειν εί ούν μέλλεις έμοι διαλέξεσθαι τώ έτέρψ χρώ τρόπω πρός με τή βραχυλογία Ώ Σώκρατες έφη έγώ πολλοϊς ήδη εις αγώνα λόγων άφικόμην άνθρώποις και εί τούτο έποίουν ô σύ κελεύεις ώς ό άντιλέγων έκέλευέν με διαλέγεσθαι ούτω διελεγόμην ούδενός αν βελτίων έφαινόμην ούδ έγένετο Πρωταγόρου όνομα έν τοίς Έλλησιν A interlocução entre eles só é restabelecida após uma longa deliberação dos membros da audiência 335b338e cuja resolução acaba se dando a favor de Sócrates instituindo assim o modelo dialógico como o modo de discurso a ser em preendido por ambos os interlocutores 180 GÓRGIAS DE PLATÃO e 4 5 0 b ΓΟΡ Πίτί λόγους ΣΩ Ποίουί τούτους ω Γοργία άρα οί δηλονσι τους κάμνοντας ως ϊιν διαιτώμζνοι υγιαίνουν ΓΟΡ 05 ΣΩ Ουκ αρα πρι πάντας γ τους λόγους ή ρητορική στινΓΟΡ Ου δήτα ΣΩ Άλλα μην λγΐν γ ποκΐ δυνατόνςΓΟΡ ΝαιΣΩ 0 νκοΰν πρι ωνπρ λγΐν και φρονΐν ΓΟΡ Πώί γαρ ον ΣΩ Ά ρ ούν ήν νννδή λίγομζν ή ιατρική περί των καμνόντων ποκΐ δυνατούς ΐναι φρονΐν καί λύγίΐνΓΟΡ Ανάγκη ΣΩ Και ή ιατρική αρα ως θΐκν πρι λόγονς στίν ΓΟΡ Ναι ΣΩ Του γ πρι τα νοσήματαΓΟΡ Μά λιστα ΣΩ Ονκονν καϊ ή γυμναστική ττβρι λόγονς ίστιν τους πρι νΐζίαν τ των σωμάτων και καχίζίανΓΟΡ Πάνυ γ ΣΩ Και μην καϊ αΐ αλλαι τύχναι ω Γοργία όντως χονσιν καστη αντων 7Τρι λογονς στιν τουτους οι τνγ γανουσιν οντς πρι το πραγμα ου καστη στιν ή τΐγνη 1 3 Ο campo semântico de logos λόγος traduzido nesse passo do diálogo por discurso é demasiadamente amplo e pode gerar controvérsias na leitura do texto platónico dependendo da opção que faz o tradutor ele pode tanto designar generica mente palavras frases discursos quanto se referir especiflcamente à expressão do pensamento racional e por conseguinte à razão ao cálculo ao argumento T Irwin em seu comentário ao Górgias Plato Gorgias p 1 1 4 considera que nesse diálogo há quatro diferentes sentidos de logos que não se excluem necessariamente mas que pelo contrário se encontram recorrentemente sobrepostos i logos significa geral mente discurso ou palavra falada ii às vezes ele designa um corpo organizado de discursos seja um discurso contínuo proferido por orador seja uma discussão entre interlocutores nesse sentido compreenderia tanto a brakhulogia quanto a makro logia como vimos acima no texto iii pode se referir a um discurso racional em oposição a uma mera história ou mito muthos μύθος 5 0 5 C 4 e 5 2 3 3 2 e iv pode GÕRGIAS 181 gor Aos discursos13 soc Mas a quais discursos Górgias São porventura aque les que mostram por qual regime os doentes devem recobrar a saúde gor Não soc Portanto a retórica não concerne a todos os discursos14 gor Certamente não soc Mas ela torna as pessoas aptas a falar gor Sim soc E a pensar então sobre aquilo que falam gor E como não soc Por acaso a medicina sobre a qual falávamos há pouco torna as pessoas aptas a pensar e a falar sobre os doentes gor Necessariamente soc Portanto também a medicina como é plausível con soe Àqueles relativos às doenças gor Certamente soc E a ginástica também não concerne a discursos àque gor Sem dúvida soc Com efeito também às outras artes Górgias sucede o mesmo cada uma delas concerne a discursos discursos esses que tratam daquilo de que cada uma é arte designar o procedimento de explicar as causas de um fenômeno oferecer uma consi deração racional dos eventos em contraste com as ações irrefletidas ou racionalmente injustificadas 465a 5ooe5oi a Nesse trecho específico do diálogo o sentido de logos subentendido por Sócrates uma vez que Górgias responde que a retórica concerne aos discursos περί λόγους 44901 compreenderia os quatro sentidos como ficará claro na sequência da discussão sobre o objeto específico da retórica 14 Por analogia com as outras artes Sócrates estabelece como condição para a tekhnê τέχνη ter um domínio específico um objeto determinado περί τί των οντων 449dí A resposta de Górgias todavia oferece uma definição genérica e não específica como espera Sócrates visto que também existem outras artes que dizem respeito a discursos περί λόγους 449ε i precisamente aqueles referentes ao domínio específico de sua atividade como no caso da medicina os seus discursos concernem à saúde e à doença cerne a discursos gor Sim les que tratam da boa e da má compleição dos corpos 182 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Φαίνεται ΣΩ Τ ί ουν δη ποτέ τάς άλλας τέχνας ου ρητορίκας καλεΐς ουσας περί λόγους εϊπερ ταυτην ρητορικήν καλεΐς ή άν ή περί λόγους ΓΟΡ Οτι ω Σωκράτης των μέν άλλων τεχνών περί χειρονργίας τε καί τοιαυτας πράζεις ώ έπος είπεΐν πασά εστιν η πίστημη της δέ ρητορικής ουδέν εστιν τοιοΰτον χειροΰργημα άλλα πάσα η πράξις και η κύρωσις δια λόγων έστίν δια ταυτ εγώ την ρητορικήν τέχνην άξιώ είναι περί λόγους όρθώς λίγων ώί εγώ φημι ΣΩ Αρ ουν μανθάνω οΐαν αυτήν βουλει καλεϊν τάχα δέ εϊσομαι σαφέστερου άλλ άπόκριναν είσιν ήμΐν τέχναι η γάρ ΓΟΡ Ναι Σί2 Πασών δη οΐμαι των τεχνών των μεν εργασία το πολύ εστιν καί λόγου βραχέος δέονται ενιαι δε ουδενος άλλα rò της τέχνης περαίνοιτο αν και διά σιγής οΐον γραφική και ανδριαντοποιία και άλλαι πολλαί τάς τοι αυτας μοι δοκεΐς λέγειν περί άς ου φρς την ρητορικήν είναι λ V η ον ΓΟΡ Πάνυ μεν ουν καλώς υπολαμβάνεις ώ Σώκρατες ΣΩ Ετεραι δέ γέ είσι των τεχνών αΧ δια λόγου παν περαίνουσι και έργου ώς έπος είπεϊν η ουδενος προσδέονται η βραχέος πάνυ οΐον η αριθμητική και λογιστική και γεω μετρική και πεττευτικη ye και άλλαι πολλαι τέχναι ών ενιαι σχεδόν τι ίσους τους λόγους εχονσι ταΐς πράζεσιν αί δέ πολλαι πλείους και το παράπαν πάσα η πράξις και τδ κύρος αυταΐς δια λόγων έστίν τών το ιόντων τινά μοι δοκέις λεγειν την ρητορικήν ΓΟΡ Αληθή λέγεις ΣΩ Ά λλ οντοι τούτων γε ονδεμίαν οΐμαί σε βουλεσθαι ρητορικήν καλΐν ονχ οτι τω ρήματι όντως enres οτι ή οια λογου το κύρος αχούσα ρητορική στιν καί νπολαροι αν τις εί βούλοιτο δυσχεραίνειν εν τοίς λόγοις Ύήν αριθμητικήν GÓRGIAS 183 g o r Aparentemente soc Por que então não chamas de retórica as outras artes que concernem a discursos visto que denominas retórica a arte g o r Porque Sócrates todo o conhecimento dessas outras artes por assim dizer concerne a ofícios manuais ou a práticas desse tipo ao passo que a retórica não consiste em ofício ma nual desse gênero pelo contrário toda a sua ação e realização j se fazem mediante discursos Por esse motivo eu estimo que a arte retórica diz respeito a discursos e digo que essa afirmação é correta soc Será que compreendo como queres chamála Talvez entenda de forma mais clara Mas respondeme existem artes ou não g o r Sim soc Dentre todas as artes presumo eu algumas são prepon derantemente ofício prático e requerem um ínfimo discurso en quanto outras nada disso requerem mas poderiam até mesmo cumprir em silêncio o que exige a sua arte como a pintura a es cultura e inúmeras outras A tais artes me pareces referir como não pertencentes ao domínio da retórica ou não g o r É absolutamentecorreta a tua suposição Sócrates j J soc Há porém outras artes que tudo cumprem mediante o discurso e que requerem por assim dizer ou nenhum ou um ínfimo exercício prático como a aritmética o cálculo a geo metria os jogos de peças e tantas outras artes Para algumas os discursos quase se equivalem às ações para a maioria eles as excedem e toda sua ação e realização se fazem inteiramente mediante o discurso Pareceme que tu incluis a retórica dentre essas últimas g o r Dizes a verdade soc Mas decerto tu presumo eu não queres chamar a re tórica de nenhuma dessas artes a despeito de afirmares con forme a tua asserção que a arte cuja realização se faça mediante o discurso é retórica Assim alguém sequioso de complicar o que diz respeito a discursos V j 184 GÓRGIAS DE PLATÃO αρα ρητορικήν ω I οργιά Λέγεις αλλ ονκ οιμαι σ οντ την αριθμητικήν ούτε την γεωμετρίαν ρητορικήν λεγειν 451 ΓΟΡ Όρθως γάρ οΪΐ ω Σωκρατες και δικαίως υπο λαμβάνεις ΣΩ Ιθι ννν καί αν την άπόκρισιν ήν ήρόμην διαπερανον ι V επει γαρ ρητορική τύγχανα μεν ουσα τούτων τις των τεχνών των το πολύ λόγω χρωμενων τνγχάνονσιν δέ και άλλαι τοιανται ουσαι πάρω είπείν η περί τί V λόγοις το κύρος εχουσα ρητορική εστιν ώσπερ αν εί τις με εροιτο ων νυνδη ελεγον περί ηστινοσοΰν των τεχνών Χ2 Σωκρατες τις b εστιν η αριθμητική τέχνη ειποιμ αν αυτω ώσπερ συ άρτι οτι των δια λογον τις το κύρος εχονσων και ει με επανε η η V 3 V 9 Λ λ λ V V ροιτο ίων περί τι ειποιμ αν οτι των περί το άρτιον τε καϊ περιττόν γικΰσυ δσα αν εκάτερα τυγχάνη δντα εΐ δ αυ εροιτο Την δε λογιστικήν τίνα καλεΐς τέχνην ειποιμ αν οτι και αυτή εστιν των λόγω το παν κυρουμενων και εί επανεροιτο Η περί τι ειποιμ αν ώσπερ οι εν τω οήμω ο συγγραφόμενοι οτι τα μεν άλλα καθάπερ η αριθμητική η λογιστική 6χαττρι το αντο γαρ ζστιν το Τ άρτιον και το περιττόνδιαφέρει δε τοσουτον οτι και προς αυτα και προς αλληλα πως εχει πλήθους επισκοπεί τδ περιττόν και τδ Άρτιον ή λογιστική και εί τις την αστρονομίαν άνέ ροιτο εμοΰ λεγοντος οτι και αϋτη λόγω κυρονται τα πάντα Οι δε λόγοι οι της αστρονομίας εί φαίη περί τί είσιν ω Σωκρατες ειποιμ άν ότι περί την των άστρων φοράν και ηλίου καί σελήνής πως προς αλληλα τάχους εχει ΓΟΡ Όρθώς γε λεγων συ ω Σωκρατες 15 15 A dificuldade dessa distinção reside no fato de que ambas as noções não correspondem exatamente ao que nós entendemos hoje por aritmética αριθμητική e cálculo λογιστική Segundo a explicação de Dodds op cit p 198199 aritmética diz respeito ao par e ao ímpar independentemente da quantidade ou seja qualquer que GÓRGIAS 185 argumento poderia concluir ora Górgias então dizes que a aritmética é retórica Mas dirás creio eu que nem a aritmética nem a geometria são retórica g o r E presumes corretamente Sócrates e é justa a tua su 45 posição soc Adiante então e responde conclusivamente ao que te perguntei Visto que a retórica consiste em uma dessas artes que se servem preponderantemente do discurso e visto que em con trapartida também há outras artes do gênero tenta dizer então a que coisa concerne a retórica cuja realização se dá no discurso Por exemplo se alguém me perguntasse a respeito de qualquer uma daquelas artes a que antes me referia Sócrates o que é a arte aritmética eu lhe diria como fizeste há pouco que uma b daquelas cuja realização se faz mediante o discurso E se ele tor nasse a perguntar dentre essas a respeito de quê eu lhe diria que uma daquelas cujo conhecimento concerne ao par e ao ím par à quantidade de cada um deles E se ele insistisse em pergun tar que arte consideras ser o cálculo eu lhe diria que também essa arte se inclui entre aquelas que se realizam inteiramente me diante o discurso E se ele tornasse a perguntar a respeito de quê eu lhe diria assim como os escrivães públicos que em c grande parte o cálculo e a aritmética se coincidem pois concer nem à mesma coisa ao par e ao ímpar embora se difiram neste ponto o cálculo examina a quantidade do par e do ímpar nas suas relações unilaterais e recíprocas15 E se alguém me pergun tasse a respeito da astronomia depois de ter dito que também ela tudo realiza mediante o discurso a que concerne os discur sos da astronomia eu lhe diria que a respeito dos movimentos dos astros do sol e da lua de como se relacionam suas respecti vas velocidades g o r Falas com acerto Sócrates seja o número de cada um deles equivaleria assim à teoria dos números concernente às propriedades das séries de números inteiros enquanto tais O cálculo por sua vez concerne a proposições sobre números particulares por exemplo três vezes sete é igual a 21 o que corresponderia inversamente ao que entendemos hoje por aritmética 186 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 452 b ΣΩ νΙ0ι δ ή και συ ώ Υοργία τυγχάνει μεν γάρ δή ή ρητορική ονσα των λόγω τα πάντα ύιαπραττομένων τε και κνρουμένων ή γάρ ΓΟΡ νΕστι ταντα ΣΩ λέγε δη των περί τί τί εστι τούτο των όντων πζρι ον ουτοι οι λογοι ΐσιν oty η ρητορική χρηται ΓΟΡ Τα μέγιστα των άνθρωπείων πραγμάτων ώ Σώ κρατες καί άριστα ΣΩ Άλλ ω Γοργία άμφισβητήσιμον και τούτο λέγεις και ονόξν 7τω σαφζς οιομαι γαρ σζ ακηκοςναι ev rots σνμποσίοις αδόντων ανθρώπων τούτο τδ σκολιόν εν ω κατ αριθμούνται δοντες οτι ύγιαίνειν μεν άριστόν έστιν τδ δ δεύτερον καλδν γενέσθαι τρίτον δε ώϊ φησιν δ ποιητής του σκολιοΰ τδ πλοντείν άδόλως ΓΟΡ Άκήκοα γάρ αλλά πρδς τί τούτο λέγεις ΣΩ Οτι εϊ σοι αντίκα παρασταΐεν οι δημιουργοί του των ων ΤΓρνΤν ο το σκολιον 7τοιήσας ιατρός re και παιδοτρίβης καί χρηματιστής και ειποι πρώτον μεν ό ιατρός οτι ΤΩ Σώκρατες εξαπατά σε Γοργίας ου γάρ έστιν η τούτον τέχνη περί τδ μέγιστον άγαθδν τοΐς άνθρώποις άλλ η εμη ει ουν αυτόν εγω εροιμην Συ οε τις ων ταντα λέγεις ειποι αν ίσως οτι ιατρός Τί ουν λέγεις ή τδ τής σης τέχνης εργον μέγιστον εστιν αγαθόν 11ωί γαρ ον φαίη άν ίσως ώ Σώκρατες νγίεια τί δ έστιν μεΐζον άγαθδν άνθρώποις νγιείας εϊ δ αυ μετά τούτον ό παιδοτρίβης εϊποι ι6 Depois de Sócrates mostrar a Górgias que a sua definição de retórica não era válida ou seja que a retórica concerne a discursos porque há igualmente ou tras artes como a aritmética e o cálculo que também concernem a discursos Gór gias tenta esclarecer o que diferencia a retórica dessas outras artes com relação ao objeto específico de seu discurso Todavia nessa segunda definição proposta ele acaba incorrendo no mesmo tipo de equívoco segundo as regras dialógicas esta belecidas por Sócrates cometido por Polo no Prólogo 448c A uma pergunta de definição objetiva do domínio específico do discurso retórico Górgias oferece uma resposta encomiasta como Sócrates disse naquela ocasião a Polo a pergunta não se refere à valoração do objeto em questão mas à sua definição Sócrates lhe mostra que a sua resposta não é satisfatória porque as melhores e mais importantes coisas humanas τά μέγιστα τών άνθρωπείων πραγμάτων και άριστα 4578 é uma asserção polêmica na medida em que há igualmente outros artífices o médico o GÓRGIAS 1 8 7 soc Adiante Górgias agora é a tua vez A retórica consiste d em uma daquelas artes que tudo praticam e realizam mediante o discurso não é g o r É soc Dizeme então dentre essas a respeito de quê A que coisa concernem esses discursos empregados pela retórica g o r Às melhores e às mais importantes coisas humanas Sócrates16 soc Mas Górgias é controverso e ainda obscuro o que di zes Creio que já ouviste nos banquetes homens entoando aquele e canto17 em que enumeram quando cantam as melhores coisas a primeira ter saúde a segunda tornarse um belo homem e a terceira como diz o poeta do canto enriquecerse sem dolo g o r Já ouvi Mas por que dizes isso soc Porque se te deparasses um dia com os artífices dessas 452 coisas elogiadas pelo canto do poeta a saber o médico o trei nador e o negociante e primeiro dissesse o médico Sócrates Górgias te engana pois não é a sua arte que concerne ao maior bem para os homens mas a minha e se eu então lhe pergun tasse Quem és tu para dizeres essas coisas ele provavelmente r responderia que um médico O que dizes Porventura o ofício de tua arte é o maior bem que há E como não seria a saúde Sócrates ele talvez diria que bem maior para os homens há senão a saúde E se por sua vez o treinador dissesse em b treinador e o negociante que reivindicam para sua arte o mesmo título A propen são ao elogio de si mesmo ou de seu ofício é um dos traços da personagem Górgias no diálogo que corresponde por sua vez a um dos elementos fundamentais do modo de discurso retórico 17 Nos escólios do lórgias há a citação do canto a que se refere Platão Ter saúde é o maior bem para o homem mortal o segundo hem vir a ter uma bela compleição o terceiro enriquecer se sem dolo e o quarto chegar à juventude junto aos amigos ύγιαίνειν μέν αριστον άνδρι θνητψ δεύτερον δε φυάν καλόν γενέσθαι το δε τρίτον πλουτεΐν άδόλως τεταρτιν δέ ήβάν μετά τών φίλων 188 GÓRGIAS DE PLATÃO οτι Θανμάζοιμί τάν ω Σώκρατες και αυτός εϊ σοι εχοι Γοργίας μεΐζον αγαθόν έπιδεΐξαι της αυτού τέχνης η εγώ της έμης ειποιμ άν αν και προς τούτον Σύ ôè δη τίς εί ώ άνθρωπε και τί το σόν έργου Παιδοτρίβης φαίη αν το ôè έργον μου εστιν καλούς τε και Ισχυρούς ποιαν τούς ανθρώπους τα σώματα μετά δέ τον παιδοτρίβην είποι αν δ χρηματιστής ώ έγωμαι πάνυ καταφρονών απάντων Σκόπει δητα ώ Σώκρατες ίάν σοι πλούτον φανη τι μειζον αγαθόν δν η παρά Γοργία η παρ άλλω ότωοΰν φαϊμεν άν ουν προς αυτόν Τ ί δε δη η σύ τούτον δημιουργός Φαίη άν Ύίς ών Χρηματιστής Τ ί ουν κρίνεις συ μέγιστόν άνθρώποις αγαθόν είναι πλούτον φησομεν Πώ γάρ ονκ έρεί Καί μην αμφισβητεί γε Γοργίας δδε την παρ αντω τέχνην μειζονος αγαθού αιτίαν είναι η την σην φαιμεν αν ημείς δηλον ουν οτι το μετά τούτο εροιτ αν Και τι εστιν τούτο τό άγαθόν άποκρινάσθω Γοργίας ίθι ουν νομίσας ω I οργιά ερωτασθαι και νπ εκείνων και υπ εμού απο κριναι τί εστιν τούτο b φης σύ μεγίστου άγαθόν είναι τοΐς άνθρώποις και σε δημιουργόν είναι αυτού ΓΟΡ Οπερ εστίν ώ Σώκρατες τη αλήθεια μεγίστου άγαθόν και αίτιον άμα μεν ελευθερίας αυτοΐς τοΐς άνθρώ ποις άμα δε τού άλλων άρχειν εν τη αυτού πόλει έκάστω ΣΩ Τί ουν δη τούτο λέγεις ΓΟΡ Το π είθε ιν εγωγ οίόν τ είναι τοίς λόγοις καί εν δικαστηρίω δικαστάς και εν βουλευτηρίω βουλευτάς και C d 1 8 O recurso ao interlocutor fictício é um dos elementos comuns da estratégia argumentativa da personagem Sócrates nos diálogos de Platão Em linhas gerais é um artifício que de certa forma confere um distanciamento entre a pessoa que fala e aquilo que é falado na medida em que essa relação é mediada pela máscara do interlocutor fictício Segundo o estudo de A Longo sobre o tema La Técnica delia Domanda e le Interrogazioni Fittizie in Platone p 373 ele é útil nas ocasiões em que falar de si e por si mesmo pode gerar inveja ou requerer um longo dis curso ou criar alguma disputa e em que falar do outro pode gerar difamação ou ser rude nesses casos usar como intermédio uma voz fictícia serviria para evitar um ambiente hostil na discussão GÓRGIAS 189 seguida que Eu mesmo também me admiraria Sócrates se Górgias pudesse te exibir um bem de sua arte maior do que quanto posso exibilo da minha eu perguntaria também para ele Quem és tu homem e qual o teu ofício Treinador res ponderia ele e meu ofício é tornar belos e vigorosos os corpos dos homens Depois do treinador diria o negociante com ab soluto menosprezo como presumo por todos eles Examina então Sócrates se te foi apresentado um bem maior que a ri queza seja por Górgias ou por qualquer outra pessoa Per guntarlheíamos então E aí Acaso és artífice da riqueza ele confirmaria Quem és tu e ele responderia Um nego ciante E então Julgas que a riqueza é o maior bem para os homens perguntaremos nós e ele dirá como não seria Todavia eis aqui Górgias que afirma ao contrário que a sua arte é causa de um bem maior que o da tua diríamos nós É evidente que depois disso ele diria o seguinte E que bem é esse Que responda Górgias Vai então Górgias considera como se tivesses sido perguntado por eles e por mim e res ponde que bem é esse que afirmas ser o maior bem para os homens e cujo artífice és tu18 g o r Aquele que é Sócrates verdadeiramente o maior bem e a causa simultânea de liberdade para os próprios homens e para cada um deles de domínio sobre os outros na sua própria cidade19 soc O que é isso então a que te referes g o r A meu ver ser capaz de persuadir mediante o discurso os juízes no tribunal os conselheiros no Conselho os membros 19 Como salienta Irwin em seu comentário Plato Górgias p 116 a no ção de liberdade ελευθερία possui aqui um duplo valor designa por um lado a condição do cidadão livre em oposição à do escravo estatuto legal e por outro a independência frente aos outros homens Nesse sentido manter a liberdade requer em certa medida poder e força suficientes para garantir a sua indepen dência e evitar as ameaças externas de outros Por isso se encontram concatena dos na fala de Górgias liberdade ελευθερία e domínio poder αρχειν Sobre a relação entre liberdade c poder do ponto de vista da relação entre as cidades ver os discursos dos atenienses em Esparta 17577 de Péricles 263 e de Cléon 337 em Tucídides 190 GÓRGIAS DE PLATÃO εν εκκλησία εκκλησιαστάς καί εν αλλω συλλόγω π αντί οστις αν πολίτικος σύλλογος γίγνηται καίτοι εν ταύτη rfj δυνάμει δούλον μεν εβεις τον Ιατρόν δούλον δέ τον παιδοτρίβην 6 he χρηματιστής οΐιτος αλλω άναφανήσεται χρηματιζόμενος και ονχ αντω άλλα σοί τω δυναμενω λεγειν και πείθειν τα πλήθη Σί2 Νυν μοι δοκεΐς δηλώσαι ώ Τοργία εγγύτατα την 453 ρητορικήν ηντινα τέχνην ηγη eivai και et τι ςγω σννιημι λεγεις οτι πειθούς δημιουργός εστιν η ρητορική και ή πρα γματεία αυτής άπασα καί το κεφάλαιον els τούτο τελευτά ή εχεις τι λεγειν επί πλέον την ρητορικήν δυνασθαι ή πειθώ τοΐς άκονουσιν εν τη ψυχή ποιειν ΓΟΡ Ονδαμώς ώ Σωκρατες αλλά μοι δοκεΐς ικανώς ορίζεσθαι εστιν γάρ τούτο το κεφάλαιον αυτής Σί2 Ακουσον δη ώ Τοργία εγώ γαρ εύ ϊσθ οτι ώς b εμαυτδν πείθω ειπερ τις άλλος αλλω διαλέγεται βουλό 20 Nessa quarta definição Górgias apresenta uma característica fundamental do discurso retórico ele é um discurso público voltado para as práticas políticas da democracia tendo em vista a referência explícita às suas três instituições basilares o Conselho a Assembleia e o Tribunal A sua finalidade precípua é portanto política A resposta de Górgias se divide em duas partes i responde à exigência de especifica ção de Sócrates relativa a que se entende por as melhores e mais importantes coisas humanas τά μέγιστα τών άνθρωπείων πραγμάτων και άριστα 45Φ 8 e ii refuta a presunção dos três artífices aludidos pelo canto cuja voz Sócrates confere ao inter locutor fictício Kssa segunda refutação representa aqui a afirmação da supremacia da retórica sobre a autoridade da poesia e se conforma ao caráter jactante da perso nagem seguro de seu saber e de seu mister A notoriedade adquirida pela retórica no séc v aC devido ao seu estreito vínculo com a política democrática se expressa na maneira pela qual Sócrates se refere a ela no Prólogo naquele momento ele a chamou de arte do homem τής τέχνης του άνδρός 447C13 no sentido de que a retórica era vista como a arte humana por excelência como sublinha S Pieri no seu comentário ao Górgias Platone Gorgia p 309 Portanto quando Górgias dialoga com Sócrates ele mostra uma preocupação constante em salientar a Sócrates e à audiência da cena a superioridade da retórica e por conseguinte de seu ofício como rétor sobre as demais artes e os demais artífices 21 Encontramos aqui o conceito central da discussão sobre a retórica no 12 Ato do Górgias persuasão peithõ πειθώ Pareceme que Platão ao introduzilo na dis cussão entre as personagens esteja se referindo à reflexão do Górgias histórico sobre o poder persuasivo do logos como podemos depreender do Elogio de Helena um dos poucos textos do autor conservados integralmente Embora haja uma dificuldade in delével em se reconstituir o pensamento de Górgias e dos demais sofistas como os alcunha Platão tendo em vista a corrupção de sua obra no tempo esse discurso nos GÕRGIAS 191 da Assembleia na Assembleia e em toda e qualquer reunião que seja uma reunião política Ademais por meio desse poder terás o médico como escravo e como escravo o treinador Tornarseá manifesto que aquele negociante negocia não para si próprio mas para outra pessoa para ti que tens o poder de falar e persuadir a multidão20 soc Agora sim Górgias tua indicação pareceme muito mais propínqua à qual arte consideras ser a retórica e se com 453 preendo alguma coisa afirmas que a retórica é artífice da per Y f suasão e todo seu exercício e cerne convergem a esse fim21 Ou tens algo mais a acrescentar ao poder da retórica além de in cutir na alma dos ouvintes a persuasão g o r De forma nenhuma Sócrates essa definição me pa rece suficiente pois é esse o seu cerne soc Escuta então Górgias Saibas bem que eu persuado a mim mesmo de que se há outra pessoa que quando dialoga b permite ao menos vislumbrar o tipo de reflexão empreendida por ele sobre o poder do logos Nesse discurso fictício cujo intuito é dirimir a má reputação de Helena Górgias elenca quatro causas possíveis de sua ida para Troia com Páris determinação divina necessidade força persuasão e amor Na argumentação referente à terceira causa Górgias oferece então uma profícua reflexão sobre o logos ressaltando o seu poder de suscitar paixões na alma dos homens como o medo a piedade a alegria e a tristeza a dor e o prazer funcionando como uma espécie de feitiço ou encantamento 910 de gerar na alma opiniões que conduzem os homens a uma determinada ação 1112 de persuadir a alma das opiniões mais díspares como mostram as dis putas entre os meteorologistas os oradores e os filósofos 13 e de agir na alma como um pharmakon remédio droga para o corpo tendo em vista seu poder ambivalente de curar ou levar à morte 14 Nesses parágrafos há uma série de formas verbais e nominais derivadas da raiz πειθ peith πείσας επεισε πείθουσι πειθούς επεισεν πιθέσθαι πεισθεΐσα πειθώ πειθοι que mostra como a discussão de Górgias sobre o logos gira em torno da noção de persuasão peithõ πειθώ Em nenhum momento do texto bem como nos demais fragmentos da obra do autor há ocorrências do termo ρητορική rhêtoriké retórica que Platão no Górgias usa para designar o ofício da personagem homônima Como busca mostrar o célebre artigo de E Schiappa Did Plato Coin Rhêtoriké o termo teria sido uma criação do próprio Platão nesse diá logo para definir a prática oratória de Górgias tendo em vista a sua predileção pelos substantivos com o sufixo ικη ikè para se referir às artes particulares e a ausência do termo ρητορική rhclorike em outros textos de autores anteriores e contemporâ neos a Platão nos quais esperaríamos encontrálo A despeito da tese de Schiappa no Elogio de Helena fica claro que Górgias fala da persuasão como uma propriedade do logos em geral circunscrevendo ao âmbito da opinião tanto o domínio do que Platão chama retórica no Górgias quanto o domínio da filosofia 192 GÓRGIAS DE PLATÃO Λ t f C 1 Î xezos1 etõezat αντο τούτο 7ren οτου o Aoyos ςστιν cat exe r eiwu τούτων ενα αςιω οε και σε ΓΟΡ Τί οΰι δη ώ Σώκρατες ΣΩ Eyà βρω xw èyà rrji από τη9 ρητορικής πειθώ ητις ποτ εστιν ην crv λεγεις και περί ωντινων πραγμάτων εστιν πειθώ σαφώς μεν ευ ΐσθ ότι ουκ οΐδα ον μήν άλλ νποπτενω γε ην οιμαι σε λεγειν και περί ων ονύεν μεντοι ήττον ερήσομαί σε τίνα ποτέ λεγεις την πειθώ την από της ρητορικής καί 7rept τινων αυτήν tivcu του ereca οη αυτός νποπτενων σε ερησομαι αλλ ονκ αυτός Αεγω ου σου ενεκα άλλα του λόγου ϊνα οΰτω προίη ώς μάλιστ αν ήμϊν j tf t ν tf καταφανές ποιοι πρι οτου Aeyerat σκοπεί yap et σοι δοκώ δικαίως άνερωτάν σε ώσπερ αν εί ετυγχανόν σε ερωτών τις εστιν των ζωγράφων Ζεΰζις εϊ μοι είπες οτι ο τα ςωα γραφών αρ ονκ αν δικαίως ae ηρομην ο τα ποια των ζώων γράφων και που ΓΟΡ Πάνν γε ΣΩ rApa δια τοΰτο ότι και άλλοι είσι ζωγράφοι γρά φοντες άλλα πολλά ζώα ΓΟΡ Ναι ΣΩ Ει δε γε μηδεις άλλος ή Ζεΰξις εγραφε καλώς άν 3 σοι απεκεκριτο ΓΟΡ Πω γάρ ου ΣΩ Ιθι δή και περί τής ρητορικής ειπε πότερόν σοι δοκεΐ πειθώ ποιεΐν ή ρητορική μόνη ή και άλλαι τεχναι λέγω δε το τοιόνδε όστις διδάσκει ότιονν πράγμα πότερον ο οιοασκει πείθει η ου ΓΟΡ Ου δήτα ώ Σώκρατες αλλά πάντων μάλιστα πείθει ΣΩ Πάλα δή επί τών αυτών τεχνών λεγωμεν ώνπερ νυνδή ή αριθμητική ου διδάσκει ημάς οσα εστϊν τά του αριθμού και 6 αριθμητικός άνθρωπος ΓΟΡ ΤΙάνυ γε 2 22 Zêuxis foi um famoso pintor do séc v aC cuja pintura de Eros teria sido refe rida por Aristófanes na comédia Os Acarnenses v 992 segundo o escoliasta da peça O pintor Zêuxis havia pintado na nave do templo de Afrodite em Atenas Eros no primor da juventude coroado de rosas GÓRGIAS 193 quer conhecer propriamente aquilo sobre o que versa a discussão eu me encerro nesse grupo e estimo que também tu gor E daí Sócrates soc Passo a te dizer agora Que persuasão é essa proveniente da retórica à qual te referes e a que coisa concerne a persuasão sai bas bem que não o sei claramente mas suspeito presumo eu de que persuasão falas e a que ela concerne Todavia não deixarei de perguntar a ti que persuasão provém da retórica à qual te referes e a que coisa ela concerne Em vista de que se eu tenho essa suspeita c perguntarteei ao invés de eu mesmo dizêlo Não em vista de ti mas em vista da discussão a fim de que dessa maneira avancemos ao máximo no esclarecimento daquilo a respeito do que se discute Examina pois se a minha pergunta te parece justa por exemplo se eu por acaso te perguntasse que pintor é Zêuxis22 e se tu me dissesses que é aquele que pinta figuras porventura não te pergun taria de forma justa de quais figuras ele é pintor e onde gor Com certeza soc Não é porque também há outros pintores que pintam d muitas outras figuras gor Sim soc Se somente Zêuxis as pintasse e ninguém mais tua resposta não teria sido correta gor E como não teria sido soc Adiante então e falame da retórica apenas ela se gundo teu parecer produz persuasão ou também as demais artes produzemna Refirome ao seguinte quando alguém en sina qualquer coisa ele persuade daquilo que ensina ou não gor Decerto Sócrates quem ensina persuade acima de tudo soc Retornemos então às mesmas artes há pouco men e cionadas a aritmética e o homem que é aritmético não nos ensina tudo quanto concerne ao número A GOR Certamente Ζεϋξις ò ζωγράφος έν τώ ναψ τής Αφροδίτης έν ταΐς Άθήναις έγραψε τον Έρωτα ώραιότατον έστεμμένον ρόδοις 194 GÓRGIAS DE PLATÃO 454 b ΣΩ Ούκονν καί πείθει ΓΟΡ Ναί ΣΩ ITeifloCi άρα δημιουργοί εστιν καί η αριθμητικήΓΟΡ Φαίνεται ΣΩ 0 νκονν εάν τις έρωτα ημάς ποιας πειθους και περί τι άποκρινονμεθά που αυτω δτι τής διδασκαλικής τής περί το άρτιόν τε καί τδ περιττόν οσον εστίν και ras αλλαϊ άς νυνδή ελεγομεν τεχνας άπάσας εξομεν άποδεϊξαι πειθους δημιουργούς ουσας και ήστινος και περί οτι η ου ΓΟΡ ΝαίΣΩ Ονκ άρα ρητορική μόνη πειθους εστιν δημιουργόςΓΟΡ Αληθή λεγεις ΣΩ Επειδή τοίνυν ου μόνη απεργάζεται τούτο τό εργον άλλα και άλλαι δικαίως ώσπερ περί τον ζωγράφου μετά τοΰτο επανεροίμεθ άν τον λεγοντα ΓΓοίαϊ δη πειθους και τής περί τί πειθους ή ρητορική εστιν τέχνη ή ου δοκεΐ σοι δίκαιον είναι επανερεσθαι ΓΟΡ Εμοιγε ΣΩ Άπόκριναι δή ω Γοργία επειδή γε καί σοί δοκεΐ όντως ΓΟΡ Ύαντης τοίνυν τής πειθους λέγω ω Σωκρατες τής εν τοις δικαστηριοις και εν τοις αλλοις οχλοις ώσπερ και άρτι ελεγον και περί τούτων α εστι δίκαια τε καί αδικα 23 23 Nessa definição do objeto específico do discurso retórico oferecida pela per sonagem Górgias sob o escrutínio de Sócrates Platão enfatiza o papel proeminente da retórica voltada para causas judiciárias dentro do programa de ensino atribuído a Górgias Essa ênfase pode ser entendida por um lado como reflexo da importância da instituição do tribunal em Atenas na segunda metade do séc v a C em diante e por conseguinte do interesse específico dos alunos em aprender técnicas discursivas em vista de causas particulares A proeminência da retórica judiciária no programa didático dos rétores aparece aludida por Platão no Fedro quando ele se refere ao con teúdo dos livros denominados genericamente de Arte nos livros escritos sobre a arte dos discursos έν τοϊς βιβλίοις τοϊς περί λόγων τέχνης 266d56 aqueles que escrevem atualmente sobre as artes dos discursos οι νυν γράφοντες τέχνας λόγων 271C12 Ao tratar da taxonomia das partes do discurso que estaria presente nessas obras proêmio narração testemunho indícios probabilidades prova prova adicional refutação refutação adicional ποοίμιον διήγησίν τινα μαρτυρίας τ έπ αυτή τεκμήρια είκότα πίστωσιν έπιπίστωσιν έλεγχον έπεξέλεγχον 266d267a fica evidente que a sua finalidade precípua seria a prática nos tribunais embora o aprendizado da técnica oratória pudesse ser igualmente útil na Assembleia 261b A referência explícita ao contexto judiciário nessa passagem do Fedro aparece na fala de soc E não persuade também gor Sim soc Portanto a aritmética também é artífice da persuasão gor É claro soc Assim se alguém nos perguntar de qual persuasão e a que coisa concerne responderemos a ele que daquela que nos ensina tudo quanto concerne ao par e ao ímpar Não poderemos demonstrar que todas as outras artes às quais há pouco nos referíamos também são artífices da persuasão e de qual per suasão e a que coisa concerne ou não gor Sim soc Portanto artífice da persuasão não é apenas a retórica gor Dizes a verdade soc Uma vez então que não é apenas ela a desempenhar esse ofício mas também as demais artes é justo como no caso do pintor que em seguida tornemos a interrogar nosso interlo cutor De qual persuasão e persuasão concernente a que a re tórica é arte Ou não te parece justo interrogálo novamente gor Pareceme soc Responde então Górgias visto que também a ti pa rece justo gor Pois bem refirome a esta persuasão Sócrates à per suasão nos tribunais e nas demais aglomerações como antes dizia e concernente ao justo e ao injustcP3 GÓRGIAS W5 Sócrates sobre Teodoro de Bizâncio considerado também por Aristóteles na Retórica como um importante escritor sobre a Arte dos Discursos m 1414b soc E a prova e aprova adicional creio que quem se refere a elas é o maior esperto nos discursos o homem de Bizâncio f e d r o Falas do bom Teo doro soc F como não Ele se refere também à refutação e à refutação adicional tal como devem ser feitas na acusação e na defesa 2666326732 ΣΩ και πίστωσιν οιμαι και έπιττίστωσιν λέγειν τόν γε βέλτιστον λογοδαίδαλον Βυζάντιον ανδρα ΦΑΙ Τόν χρηστόν λέγεις Θεόδωρον ΣΩ Τί μήν καί έλεγχόν γε καί ίπεξελεγχον ώς ποιητέον έν κατηγορία τε και απολογία For outro lado do ponto de vista dramático a proeminência conferida à re tórica judiciária 11a discussão entre as personagens pode ser entendida como alusão proléplica ao episódio da condenação de Sócrates como se evidenciará no 30 Ato do diálogo por meio do vaticínio de Cálicles 486ab 521c e da cena fictícia da defesa de Sócrates no tribunal 5210352204 remetendonos à Apologia de Sócrates 454 b 196 GÓRGIAS DE PLATÃO Σί2 Καί εγώ rot νπώτττίνον ταντην σε λγΐν την τκιθω καί irepl τούτων ω Γοργία άλλ ΐνα μη θαυμάζης èav καί ολίγον νστΐρον τοιουτόν τί σε ανίρωμαι ο δοκϊ μευ δήλον ívat βγω Ο βπαυβρωτω οπβρ yap λβγω τον ζζη ενκα ττραίνσθαι τον λόγον ρωτω ον σου ευεκα άλλ Ϊνα μη θιζωμθα νπονοοΰντξς προαρπάζαν αλλήλων τα λεγομευα άλλα συ τα σαντοΰ κατά την νπόθΐσιν οττως αν βουλή τΐίραίνης ΓΟΡ Καί όρθως γέ μοι δοκεΐΐ ποκϊν ω Σωκράτης Σί2 Tôt δη καί τοδε ττισκψωμθα καλέts π μίμαθη κίναιΓΟΡ ΚαλώΣί2 Τ ί δε τΐνπιστίνκέναιΓΟΡ ΈγωγεΣί2 Ποτερου ονν ταυτδν δοκει σοι eîvai μμαθη κίναι και πΐττιστΐνκίναι καί μάθησις και ττίστις η άλλο τιΓΟΡ Οϊομαι μν εγωγε ώ Σωκρατίς άλλο Σί2 Καλώ ï γαρ οίει γνώση δε νθνδ ει γάρ τ is σε ίροιτο Αρ στ IV τις ώ Γοργία ττίστις ψευδή ï καί αληθής φαίης αν ως γω όΐμαι ΓΟΡ Ναί ΣΓ2 Τίδε ΐτιστήμη στιν ψευδή καί αληθής ΓΟΡ Ουδαμως Σί2 Δήλου αρ αν Õrt ου ταυτόν στιν ΓΟΡ Αληθή λγΐς Σί2 Άλλα μην οι τ γ μμαθηκότς πατΐΐσμίνοι Ισιν καί οί 7ΓπιστνκότςΓΟΡ Έστι ταντα Σί2 Βουλει οΰν δυο είδη θωμν πάθους το μν τιίστιν 7ταρχόμνον ãvv του Ιδίναι το δ ττιστήμην ΓΟΡ Πάυυ GÓRGIAS 197 soc E eu já suspeitava de que dirias que era essa a persua são e a que concernia Górgias Mas para não te surpreenderes se daqui há pouco eu te endereçar novamente uma pergunta semelhante torno a te perguntar o que parece ser entretanto evidente é o que eu digo formulo as perguntas em vista de concluir ordenadamente a discussão e não em vista de ti mas a fim de que não nos habituemos a antecipar por meio de su posições o que cada um à sua volta tem a dizer Que tu con cluas como quiseres a tua parte conforme o argumento gor E tu me pareces fazer a coisa certa Sócrates soc Adiante então examinemos o seguinte Há algo que chamas ter aprendido gor Sim soc E aí Há o que chamas acreditar em algo gor Sim soc Segundo teu parecer ter aprendido e acreditar em algo aprendizagem e crença são a mesma coisa ou coisas distintas GOR Eu julgo Sócrates que são distintas soc E julgas bem logo entenderás Se alguém te pergun tasse Porventura há Górgias crença falsa e crença verda deira tu confirmarias presumo eu gor Sim soc E então Há conhecimento falso e conhecimento ver dadeiro gor De forma nenhuma soc Portanto é evidente por sua vez que não são a mesma coisa gor Dizes a verdade soc Contudo tanto aqueles que aprendem algo quanto aqueles que em algo acreditam são persuadidos gor f isso soc Queres assim que estabeleçamos duas formas de per suasão a que infunde crença sem o saber e a que infunde co nhecimento gor Com certeza 198 GÓRGIAS DE PLATÃO ye ΣΩ Ylorepav ούν η ρητορική πειθώ ποιεί εν δικαστη ρίου τε καί τοΐς άλλοι όχλοις Trepi τών δικαίων re καί αδίκων εζ ης 7τιστενειν γίγνεται άνευ του eΙδεναι η e η τδ είδεναι ΓΟΡ Αηλον δήπου ώ Σώκρατες δτι εζ rjs το πιστενειν ΣΏ Η ρητορική άρα ώ εοικεν πειθοΰς 455 δημιoυpγós εστιν πιστευτικής άλλ ου διδασκαλικής περί ro δίκαιόν re καί άδικονΓΟΡ Ναι ΣΩ Ουδ αρα διδασκαλικός δ ρητωρ εστίν δικαστηρίων re καί των άλ λων όχλων δικαίων re περί καί αδίκων άλλα πιστικός μόνον ου γάρ δηπου όχλον γ άν δυναιτο τοσοΰτον εν όλίγω χρόνω διδάζαι οϋτω μεγάλα πράγματα ΓΟΡ Ου δητα ΣΩ Φερε δη ίδωμεν τί ποτέ καί λεγομεν περί της b ρητορικής εγώ μεν γάρ τοι ονδ αυτός πω δύναμαι κατα νόησαι οτι λέγω όταν περί ιατρών αιρεσεως η τη ποΚει σύλλογος η περί ναυπηγών η περί άλλου τίνος δημιουργικού έθνους άλλο τι η τότε ό ρητορικός ον συμβουλεύσει δηλον γάρ ότι εν εκάστη αίρεσει τον τεχνικώτατον δει αίρείσθαι ουδ όταν τειχών περί οΙκοδομησεως η λιμένων κατασκευής η νεωρίων αλλ οι αρχιτέκτονες ουδ αν όταν στρατηγών αιρεσεως περί η τάζεώς τίνος προς πολεμίους η χωρίων c καταληφεως συμβουλή η άλλ οι στρατηγικοί τότε συμ βουλεύσουσιν οι ρητορικοί δε ον η πώς λεγεις ώ Τοργία τα τοιαΰτα επειδή γάρ αυτός τε φης ρητωρ είναι καί άλλους Λ V V Λ Λ V Λ ποιειν ρητορικούς εν εχει τα της σης τέχνης παρα σου πυνθάιιεσθαι καί εμε νυν νόμισον καί το σον σπενδειν ίσως γάρ καί τυγχάνει τις τών ένδον όντων μαθητης σου βονλόμενος γενεσθαι ώς εγώ τινας σχεδόν καί συχνούς αισθάνομαι οί ίσω αίσχννοιντ άν σε άνερεσθαι νπ 24 24 Platão se refere aqui ao uso da depsidra nos tribunais que regulava o tempo con ferido aos discursos de acusação e defesa ver Apologia 37a Teeteto 201a Leis 766e GÓRGIAS 199 soc Qual é entãoa persuasão que a retórica produz nos tribunais e nas demais aglomerações a respeito do justo e do in justo A que gera crença sem o saber ou a que gera o saber gor É deveras evidente Sócrates que aquela geradora de crença soc Portanto a retórica como parece é artífice da persua são que infunde crença mas não ensina nada a respeito do justo 455 e do injusto gor Sim soc Portanto tampouco o rétor está apto a ensinar os tribu nais e as demais aglomerações a respeito do justo e do injusto mas somente a fazêlos crer pois não seria decerto capaz de ensinar a tamanha multidão em pouco tempo24 coisas assim tão valiosas gor Certamente não seria soc Adiante então vejamos o que podemos dizer sobre a retórica Pois nem mesmo eu ainda sou capaz de compreender b o que digo Quando houver uma reunião na cidade para a eleição de médicos ou de construtores navais ou de qualquer outra sorte de artífice o rétor em nada poderá aconselhar não é Pois é evi dente que em cada eleição quem deve decidir é o mais apto tec nicamente Nem mesmo quando se tratar da construção de muralhas ou do aparelhamento de portos e estaleiros mas serão os arquitetos a aconselhar tampouco por sua vez quando o con selho se referir à eleição de generais militares à organização de campanhas bélicas ou à conquista de território mas serão os ge nerais que nessas circunstâncias hão de aconselhar e não os ré c tores o que tens a dizer sobre isso Górgias Pois visto que tu mesmo afirmas ser rétor e capaz de tornar outras pessoas rétores é razoável saber de ti o que é relativo à tua arte Considera agora que eu zele também por teu interesse Pois pode ser que haja ca sualmente aqui dentre os presentes alguém que queira tornarse seu discípulo pelo que percebo são em grande número mas que talvez tenha vergonha de te interpelar Assim mesmo sendo d εμού ουv άνερωτώμενος νόμισον καί υπ εκείνων άνερωτάσθαι Ύί ημίν ώ Τοργία εσται εάν σοι συνώμεν περί τίνων rff πόλει συμβουλεύειν oloí τε εσόμεθα πότερον περί δικαίου μόνον καί αδίκου η καί περί ών νυνδη Σωκράτης ελεγεν πειρώ ουν αυτοΐς άποκρίνεσθαι ΓΟΡ Άλλ εγώ σοι πειράσομαι ω Σώκρατες σαφώς άποκαλυφαι την της ρητορικής δυναμιν άπασαν αυτός γάρ καλώς νφηγησω οΐσθα γάρ δηπου οτι τα νεώρια ταυτα e καί τα τείχη τά Αθηναίων καί ή των λιμένων κατασκευή εκ της Θεμιστοκλέους συμβουλής γεγονεν τα δ εκ της Περικλεους άλλ ούκ εκ των δημιουργών ΣΩ Λεγεται ταυτα ω Τοργία περί Θεμιστοκλέους Περικλεούς δε καί αυτός ήκονον οτε συνεβουλευεν ημίν περί του διά μέσου τείχους 456 ΓΟΡ Καί όταν γε τις αϊρεσις fj ών νυνδη συ ελεγες ώ Σώκρατες όρας ότι οί ρήτορες είσιν οί σνμβουλευοντες καί οι νικώντες τάς γνώμας περί τούτων ΣΩ Ταυτα καί θαυμάζων ώ Τοργία πάλαι ερωτώ τίς ποτέ η δυναμίς εστιν της ρητορικής δαιμόνια γάρ τις εμοιγε καταφαίνεται το μεγεθος ουτω σκοπονντι ΓΟΡ Εΐ πάντα γε είδείης ω Σώκρατες ότι ώς έπος είπεΐν άπάσας τάς δυνάμεις συλλαβοΰσα νφ αυτή εχει b μεγα δε σοι τεκμηριον ερώ πολλάκις γάρ ηδη εγωγε μετά του αδελφού καί μετά των άλλων ιατρών είσελθών παρά τινα των καμνόντων ουχι εθελοντα η φάρμακον πιεΐν η τεμειν η καΰσαι παρασχεϊν τώ ίατρώ ου δυναμενου του 25 26 200 GÓRGIAS DE PLATÃO 25 Sobre a função do interlocutor fictício cf supra nota 18 26 Tucídides 1903 Depois que os lacedemônios disseram essas coisas os atenienses seguindo o plano de Temístocles responderam que lhes enviariam embaixadores para tratar do assunto e logo os dispensaram Temístocles ordenoulhes que ele próprio fosse enviado o mais rápido possível à Lacedemônia e que fossem escolhidos e enviados além dele outros embaixadores não imediatamente mas que aguardassem até que a muralha tivesse altura suficiente para que pudessem defendêla do ponto alto reque rido Ordenoulhes que todos da cidade homens mulheres e crianças trabalhassem em conjunto na construção da muralha e que não poupassem qualquer edifício pri vado ou público que pudesse ser útil à obra mas que demolissem todos GÓRGIAS 201 eu que te interrogue considera que sejas também por eles inter d rogado O que nos acontecerá Górgias se convivermos contigo À respeito de que seremos capazes de aconselhar a cidade So mente a respeito do justo e do injusto ou também a respeito do que há pouco dizia Sócrates Tenta então responder a eles25 g o r Sim tentarei Sócrates desvelar claramente todo o po der da retórica pois tu mesmo indicaste bem o caminho Decerto sabes que esses estaleiros e essas muralhas de Atenas e o apare e lhamento dos portos são frutos do conselho de Temístocles26 em parte do conselho de Péricles e não dos artífices soc É o que se fala Górgias sobre Temístocles quanto a Péricles eu mesmo o ouvi quando nos aconselhou sobre as muralhas medianas27 g o r E quando houver alguma eleição concernente àquelas 456 coisas por ti referidas há pouco Sócrates vês que são os rétores os que aconselham e fazem prevalecer as suas deliberações so bre o assunto soc Por admirar isso Górgias há tempos pergunto qual é o poder da retórica Pois quando examino a sua magnitude por esse prisma ele se mostra quase divino g o r Ah se soubesses de tudo Sócrates todos os poderes por assim dizer ela os mantém sob a sua égide Vou te contar uma grande prova disso muitas vezes eu me dirigi em compa b nhia de meu irmão e de outros médicos a um doente que não queria tomar remédio nem permitir ao médico que lhe cortasse ou cauterizasse algo sendo o médico incapaz de persuadilo οΐ δ Αθηναίοι Θεμιστοκλέους γνώμη τούς μέν Λακεδαιμονίους ταύτ είπόν Γας άποκρινάμενοι ότι πέμψουσιν ώς αυτούς πρέσβεις περι ώ λέγουσιν εύθύς άπήλλαίαν εαυτόν δ έκέλευεν άποστέλλειν ώς τάχιστα ό Θεμιστοκλής ές τήν Λακεδαίμονα άλλους δέ πρός έαυτώ έλομένους πρέσβεις μή εύθύς έκπέμπειν άλλ έπισχείν μέχρι τοσοΰτου εως άν τό τείχος ικανόν άρωσιν ώστε άπομάχεσθαι έκ τού άναγκαιοτάιου ύψους τειχίζειν δέ πάντας πανδημεί τούς έν τή πόλει και αυτούς και γυναίκας καί παίδας φειδομένους μήτε ίδιου μήτε δημοσίου οικοδομήματος όθεν τις ώφελία έσται ές τό έργον άλλα καθαιροΰντας πάντα 27 ΥετΤυείιΙίεΙοε 1170 ι 2 0 2 GÓRGIAS DE PLATÃO η λ 5 V ί Α η ιατρόν πείσαι εγω ειτεισα ονκ άλλη τέχνη η τη ρητορική φημϊ δε καί είί πάλιν οπη βονλει ελθόντα ρητορικόν άνδρα καί Ιατρόν εί δίοι λόγω διαγωνίζεσθαι εν εκκλησία η εν αλλω τινι σνλλόγω όπότερον δει αιρεθηναι Ιατρόν ονδαμοΰ αν φανηναι τον Ιατρόν άλλ αιρεθηναι αν τον είπεΐν δυνα τόν εί βούλοιτο και εΐ προς άλλον γε δημιουργόν δν τιναοΰν άγωνίζοιτο πείσειεν αν αυτόν ελεσθαι δ ρητορικοί μάλλον η άλλος οστισονν ον γαρ εστιν περί οτου ονκ αν πιθανωτερον ειποι ο ρητορικοί η άλλος οστισονν των οη μιονργων εν πληθει η μεν ουν ονναμις τοσαντη εστιν και τοιαντη της τέχνης δει μεντοι ω Σώ κρατεί τη ρητορική χρησθαι ώσπερ τη άλλη πάση αγωνία και γάρ τη άλλη αγωνία ου τούτον ενεκα δει προς άπαντας χρησθαι ανθρώπους ότι εμαθεν πυκτενειν τε καί παγκρατιάζειν και εν οπλοις μαχεσθαι ώστε κρειττων είναι και φίλων και εχθρών ον τούτον ενεκα τους φίλους δει τύπτειν οίιδε κεντεΐν τε και άποκτειννναι ονδε γε μα Αία εάν τις εις 7ταλαιστραν φοιτησας εν εγων το σώμα και πνκτικος γενο μένος επειτα τον πατέρα τνπτη και την μητέρα η άλλον τινα των οικείων η των φίλων ον τούτον ενεκα δει τονς παιδοτρίβας και τους εν τοΐς οπλοις διδάσκοντας μάχεσθαι 28 Sob o escrutínio de Sócrates Górgias é levado pela analogia com as demais tekhnai a determinar o âmbito específico de discurso concernente à retórica ou seja o justo e o injusto 454b cumprindo assim o requisito básico para que uma atividade seja considerada tekhnê Se analisarmos em contrapartida a caracterização da retórica oferecida pela personagem Górgias quando ela encontra a possibilidade de falar extensamente sobre o seu poder como nesse discurso 45634570 vemos que ela não está confinada efetivamente num domínio específico do conhecimento enquanto arte genérica do discurso ela serve para discorrer sobre qualquer assunto inclusive sobre aqueles para os quais há uma tekhnê específica Isso fica evidente nesse exemplo de Górgias sobre o caso de seu irmão médico Heródico não con seguindo fazer com que seu paciente se submetesse ao tratamento médico neces sário para curálo o médico recorreu a Górgias para que ele por meio da retórica o persuadisse 45óab O elogio de Górgias ao poder da retórica mostra que ela é efetivamente um instrumento que serve para discorrer sobre qualquer tema e não simplemente sobre o justo e o injusto pois ela seria a arte que ensina os homens a como onde e quando falar e não 0 quê falar Nesse sentido essa concepção de retó rica enquanto arte genérica do discurso atribuída por Platão à personagem Górgias se aproxima em certa medida da definição que Aristóteles posteriormente proporá na abertura da Retórica GÓRGIAS 203 eu enfim o persuadi por meio de nenhuma outra arte senão a da retórica E digo mais se um rétor e um médico se dirigirem a qualquer cidade que quiseres e lá se requerer uma disputa entre eles mediante o discurso na Assembleia ou em qualquer outra reunião sobre quem deve ser eleito como médico quem se apresentará jamais será o médico mas será eleito aquele que c tenha o poder de falar se assim ele o quiser E se disputasse com qualquer outro artífice o rétor ao invés de qualquer um deles persuadiria as pessoas a elegeremno pois não há nada sobre o que o rétor não seja mais persuasivo do que qualquer outro artífice em meio à multidão Esse é o tamanho e o tipo de poder dessa arte28 Todavia Sócrates devese usar a retórica como toda e qualquer forma de luta29 Não se deve decerto usar a luta con d tra todos os homens porque se aprendeu o pugilato o pancrácio ou o combate armado a ponto de ser superior tanto aos amigos quanto aos inimigos em força não é simplesmente por esse mo tivo que se deve bater ferir ou matar os amigos Nem por Zeus se alguém por frequentar o ginásio tiver uma boa compleição física e tornarse pugilista e depois bater no pai ou na mãe ou em qualquer outro parente ou amigo não é por esse motivo que se deve odiar ou expulsar da cidade seu treinador ou quem lhe e A retórica é a contraparte da dialética pois ambas tratam de coisas tais que são comuns de certo modo ao conhecimento de todos e que não são próprias de alguma ciên cia determinada Por isso todos participam de certo modo de ambas pois todos até certo ponto buscam examinar e sustentar um discurso se defender e acusar i 1354316 ή ρητορική έστιν αντίστροφος τή διαλεκτική άμφότεραι γάρ περι τοιούτων τινών είσιν ά κοινά τρόπον τινά απάντων έστι γνωρίζειν και ούδεμιάς επιστήμης άφωρισμένης διό και πάντες τρόπον τινά μετέχουσιν άμφοϊν πάντες γάρ μέχρι τίνος καί έξετάζειν και ύπέχειν λόγον και άπολογεΐσθαι και κατηγορείν έγχειροϋσιν 29 A analogia entre luta e discurso pautada na natureza agonística comum às competições esportivas e aos debates verbais agõnes αγώνες aparece em um dos fragmentos conservados do Górgias histórico Discurso Olímpico Fr dk 82 b8 Nossa competição segundo Górgias de Leontine requer duas virtudes co ragem e sabedoria coragem para suportar o perigo e sabedoria para saber trotear Pois o discurso como a proclamação do arauto em Olímpia convoca aquele que tem vontade mas coroa aquele que é capaz καί τό αγώνισμα ήμών κατά τον Λεοντίνον Γοργίαν διττών δέ άρετών δεϊται τόλμης καί σοφίας τόλμης μέν τό κίνδυνον ύπομειναι σοφίας δέ το πλίγμα γώναι ό γάρ τοι λόγος καθάπερ τό κήρυγμα τό Όλυμπίασι καλεΐ μέν τον βουλόμενον στέφανοί δέ τον δυνάμενον 204 GÕRGIAS DE PLATÃO μισεΐν τε καί εκ3άλλειν εκ των πόλεων εκεΐνοι μεν γάρ 7ταρεδοσαν επί τω δικαίως χρησθαι τουτοις προς τους 7roÀe μίονς και τους άδικονντας αμυνόμενους μη υπάρχοντας οί δε μεταστρεψαντες χρωνται ττ Ισχνϊ καί ττ τέχνη ονκ όρθως ουκουν οι διδάξαντες πονηροί ουδέ ή τέχνη ούτε αίτια ούτε πονηρά τούτον ενεκα εστιν αλλ οι μη χρωμενοι οίμαι όρθως δ αυτός δη λόγος καί περί της ρητορικής δυνατός μεν γαρ προς απαντας εστιν ο ρητωρ και περί παντός λεγειν ώστε πιθανωτερος είναι εν τοΐς πληθεσιν εμβραχυ περί οτου αν βούληται αλλ ουδεν τι μάλλον τούτον ενεκα δει οντε τους ιατρούς την δόξαν άφαιρεϊσθαι οτι δνναιτο αν τούτο ποιησαιοντε τους άλλους δημιουρ γούς αλλά δικαίως καί ττ ρητορική χρήσθαι ώσπερ καί ττ αγωνία εάν δέ οιμαι ρητορικός γενόμενός τις κατα ταύτη ττ δυνάμει καί ττ τέχνη άδικη ου τον διδάξαντα δεΐ μισεΐν τε καί εκβάλλειν εκ των πόλεων εκείνος μεν γαρ επί δικαίου χρεία παρεδωκεν 5 δ εναντίως χρηται τον ούν ούκ όρθως χρώμενον μισεΐν δίκαιον καί εκβάλλειν καί άποκτεινυναι αλλ ου τον διδάξαντα Σί2 Οίμαι ω Τοργία καί σε έμπειρον είναι πολλών λόγων καί καθεωρακεναι εν αντοΐς το τοιόνδε οτι οίι ραδίως f 3 Sobre a persuasão como meio para se cometer injustiça eou evitar a pu nição uma vez tendoa cometido ver República n 361b 3650 A ambivalência do I poder da retórica ressaltada aqui por Platão que depende da natureza e do caráter daquele que a emprega em vista de determinado fim é semelhante à reflexão do Górgias histórico no Elogio de Helena sobre o poder do logos através da analogia com o pharmakon remédio Ό mesmo argumento se aplica tanto ao poder do discurso para o ordena mento da alma quanto ao ordenamento dos remédios para a natureza dos corpos pois assim como certos remédios expurgam certos humores do corpo uns extin guindo a doença outros a vida também há discursos que afligem outros que delei tam outros que amedrontam uns infundem audácia nos ouvintes enquanto outros por meio de uma vil persuasão entorpecem e encantam alma 14 τον αστόν δέ λόγον έχει ή τε τού λόγου δύναμις προς την τής ψυχής τάξιν ή τε των φαρμάκων τάξις προς την τών σωμάτων φύσιν ώσπερ γαρ τών φαρμάκων άλλους άλλα χυμούς έκ τού σώματος εξάγει και τα μέν νόσου τά δε βίου παύει οϋτω καί τών λόγων οί μέν έλύπησαν οί δέ έτρεψαν οί δέ έφόβησαν οί δέ εις θάρσος κατέστησαν τούς ακούοντας οί δέ πειθοι τινι κακή τήν ψυχήν έφαρμάκευσαν και έξεγοήτευσαν 3ΐ Nesse discurso a personagem Górgias deixa entrever o problema relativo à moralidade do ensino da retórica Instigado por Sócrates a esclarecer em que consiste o GÕRGIAS 214 ensinou o combate armado Pois eles lhe transmitiram o uso justo dessas coisas contra inimigos e pessoas injustas para se defender e não para atacar ao passo que seus transgressores usam a força e a arte incorretamente Assim ignóbeis não são os mestres tam pouco culpada e ignóbil é a arte por tal motivo mas as pessoas que não a usam corretamente como presumo O mesmo argu mento também vale para a retórica o rétor é capaz de falar con tra todos e a respeito de tudo de modo a ser mais persuasivo em meio à multidão em suma acerca do que quiser porém nem mesmo por esse motivo ele deve furtar a reputação dos médi cos 0ois seria capaz de fazêlo nem a de qualquer outro artí fice mas usar a retórica de forma justa como no caso da luta E se alguém julgo eu tornarse rétor e cometer posteriormente alguma injustiça por meio desse poder e dessa arte não se deve odiar e expulsar da cidade quem os ensinou30 Pois este último lhe transmitiu o uso com justiça enquanto o primeiro usaos em sentido contrário Assim é justo odiar expulsar ou matar quem os usou incorretamente e não quem os ensinou31 soc Creio que também tu Górgias és experiente em inú meras discussões e já observaste nelas o seguinte não é fácil que seu poder Górgias faz um discurso que pode ser dividido grosso modo em duas partes i o encómio do poder persuasivo do discurso retórico 4563707 e ii a defesa do seu ofício 456C7457C3 Nela Górgias propõe o seguinte argumento enquanto mestre de retórica ele transmite sua arte a seus discípulos para ser empregada de forma justa embora eles possam usála injustamente todavia isso é de responsabilidade moral do agente que deve responder por suas próprias ações e não do mestre que lhe transmitiu aquela arte por meio da qual ele comete injustiça Esse tipo de defesa antecipatória em grego TtpóXqçnç prolêpsis como refere Quintiliano na Instituição Oratória iv 149 em que se presume os contraargumentos do adversário refutandoos antes de serem chamados em causa no debate Aristóteles Retórica ui 1418059 é um artifício ar gumentativo que Platão parece parodiar no Górgias não só pela boca da personagem homônima mas também pela de Sócrates como será comentado adiante Do ponto de vista do argumento essa declaração será crucial para a consumação do elenchos so crático 46oa46ia pois ela será uma das premissas a partir da qual Sócrates gerará a contradição da personagem Górgias como ficará claro na sequência da discussão Do ponto de vista moral essa defesa do ofício do rétor ilustra por um lado a sua condição delicada aos olhos da opinião pública fruto da ambivalência moral da prática retórica por outro lado ao ressaltar essa ambivalência Platão mostra o sentido de sua censura moral à retórica na medida em que ela é o instrumento por meio do qual as ações po líticas na democracia são conduzidas Assembleia Conselho e Tribunal 457 b c 206 GÓRGIAS DE PLATÃO δννανται 7τρί ών àv πιχίΐρήσωσιν διαλέγίσθαι διορισά μίνοι προς άλλήλους και μαθόντίς και διδάζαντς αυτόνς d οΰτω διαλύίσθαι τας συνουσίας αλλ àv πρί του άμφι σβητήσωσιν και μη φή δ Τρος τον τερον όρθώς λέγίΐν η μη σαφώς χαλπαίνονσί re και κατά φθόνον οΐονται τον αυτών λέγΐν φιλονικουντας αλλ ου ζητοϋντας το προκί μνον V τω λόγω καί evio í ye τλυτώντς αΐσχιστα άπαλλάττονται λοιδορηθέντς τ καί ίπόντς καί άκου σαντς πρι σφων αυτών τοιαυτα οια και τους παροντας αγθξσθαι υπέρ σφων αυτών οτι τοιουτων ανθρώπων ήζίωσαν e ακροαταί γενέσθαι του δη eνκα λέγω ταΰτα οτι νυν êμοί δοκίΐς συ ου πάνυ ακόλουθα λγΐν ουδέ σύμφωνα οΐς το πρώτον λγς πρί της ρητορικής φοβούμαι ουν δκ λέγχίΐν σ μη μ υπολάβης ον προς το πράγμα φιλονι κοΰντα λγαν του καταφανές γίνέσθαι αλλά προς σ 458 γω ουν eι μν και συ eι των ανθρώπων ωνπρ και γω ήδέως αν σ δκρωτωην d ôè μή ψην ν γω ôè τίνων ίμί των ήδέως μίν αν λγγθέντων ï τι μή αληθές λέγω ήδέως δ àv λγζάντων d τίς τι μή αληθές λέγοι ονκ αηδέστίρον μνταν λγγθέντων ή λίγζάντων μίΐζον γαρ αυτό αγαθόν ηγούμαι όσωπίρ μΐζον αγαθόν έστιν αυτόν άπαλλαγήναι κακού του μγίστου ή άλλον απαλλάξαι ovôev γαρ οιμαι τοσουτον κακόν ίναι ανθρωπω οσον οοςα b ψίυδης πρι ων τυγχανίΐ νυν ημιν ο Àoyos ων ι μν ουν καί συ φής τοιοΰτος ΐναι διαλγώμθα d ôè καί δοκϊ χρήναι àv ώμν ήδη χαίρΐν καί διαλύωμίν τον λόγον 32 Platão distingue aqui dois tipos de diálogo o filosófico cuja finalidade seria o consenso entre ambas as partes referido comumente pelo termo ομολογία homologia nos diálogos e o erístico cujo escopo último seria a vitória de uma parte sobre a outra referido aqui pelo termo φιλονικουντας philonikountas alme jando a vitória 457d4 Portanto temos de um lado a cooperação entre as partes em vista do esclarecimento sobre o que se discute e de outro a contenda em vista da afirmação de uma das partes em detrimento da outra a despeito da verdade encer rada nesse processo Sócrates chama em causa essa distinção precisamente por temer que Górgias uma vez refutado por ele creia que sua motivação seja simplesmente atacálo como se fosse uma rivalidade pessoal ao invés de buscar o esclarecimento do assunto em discussão A iniciativa de Sócrates de justificar antecipadamente uma possível acusação de Górgias contra seu comportamento agonístico exemplo de GÓRGIAS os homens consigam encerrar seus encontros depois de lerem definido entre si o assunto a respeito do qual intentam dialogar aprendendo e ensinando mutuamente pelo contrário se houver a controvérsia em algum ponto e um deles disser que o outro não diz de forma correta ou clara eles se enfurecem e presmnem que um discute com outro por malevolência almejando antes ãvitória do que investigar o que se propuseram a discutir alguns inclusive se separam depois dédarem cabo aos mais vergonho sos atos e em meio a ultrajes falam e escutam um do outro coisas tais que até os ali presentes se enervam consigo mesmos porque acharam digno ouvir homens como esses Em vista de que digo isso Porque o que me dizes agora não parece conforme e nem consonante ao que primeiramente disseste sobre a retórica temo te refutar de modo a supores que eu almejando a vitória não fale para esclarecer o assunto em questão mas para te atacar Se então também tu és um homem do mesmo tipo que eu te 45 rei o prazer de te interpelar caso contrário deixarei de lado Mas que tipo de homem sou eu Aquele que se compraz em ser re futado quando não digo a verdade e se compraz em refutar quando alguém não diz a verdade e deveras aquele que não menos se compraz em ser refutado do que refutar pois consi dero ser refutado precisamente um bem maior tanto quanto se livrar do maior mal é um bem maior do que livrar alguém dele Pois não há para o homem julgo eu tamanho mal quanto a opinião falsa sobre o assunto de nossa discussão Se então tam b bém tu afirmares ser um homem desse tipo continuemos a dia logar contudo se achares que devemos deixála de lado despeçamonos agora e encerremos a discussão32 prolêpsis cf supra nota 31 revela justamente o dilema em torno da personagem a sua real motivação quando coloca em prática seu método de refutação elenchos aos olhos dos outros Pois embora Sócrates alegue que sua motivação seja esclare cer a questão em busca da verdade e não refutar o interlocutor simplesmente por refutálo a refutação como meio para se chegar à verdade e não como fim em si mesmo isso não é suficiente em muitos casos para convencer seu interlocutor dessa suposta benevolência εύνοια O impacto fortemente negativo do elenchos sobre o interlocutor e por conseguinte sobre a sua doxa pode não parecer condi zente com a justificação positiva oferecida por Sócrates como vemos nesse trecho i m 2 0 8 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Άλλα φημι μεν εγωγε ω Σωκράτη και αυτός τοιοΰ τος εΊναι οΐον συ νφηγβ ίσως με ντοι χρήν ϊννοειν και το των παρόντων πάλαι γάρ τοι πριν και υμάς ελθεϊν εγώ t o îs παρονσι πολλά επεδειζάμην και νυν ίσως πόρρω άπο c τενοΰμεν ήν διαλεγωμεθα σκοπεΐν ονν χρή και το τούτων μη τινας αυτών κατεχομεν βουλομενους τι και άλλο πράττειν ΧΑΙ Του μεν θορύβου ω Γοργία τε και Σώκρατες αυτοι ακούετε τούτων των άνδρών βονλομενων άκούειν εάν τι λεγητε εμοι ο ουν και αυτω μη γενοιτο τοσαυτη ασχολία ώστε τοιούτων λόγων και οΰτω λεγομένων άφεμενω προυρ γιαίτερόν τι γνέσθαι άλλο πράττειν d ΚΑΛ Ντ τουί θεούς ώ Χαιρεφών και μεν δη και αυτός πολλοΐς ήδη λόγοις παραγενόμενος ουκ οΐδ εί πωποτε ήσθην ούτως ώσπερ νννί ώστ εμοιγε καν την ημέραν όλην εθελητε διαλεγεσθαι χαριείσθε ΣΩ Άλλα μην ω Καλλίκλεις τό y εμδν ουδεν κωλύει εΐπερ εθελει Γοργίας Na perspectiva de Cálicles por exemplo um interlocutor cujas convicções morais são contrárias às de Sócrates e que resiste à sua investida é indubitável que a jus tificação socrática do elenchos seja mero pretexto para encobrir a sua verdadeira motivação ie simplesmente refutar e ridicularizar o interlocutor 482ε Por tais motivos Cálicles está seguro de que Sócrates é um verdadeiro amante da vitória philonikos φιλόνικος 515bg Em suma se o problema para a personagem Górgias é a ambivalência moral da prática retórica tendo em vista a sua função política no contexto democrático para Sócrates em contrapartida é a ambivalência da prá tica do elenchos aos olhos do interlocutor uma vez que a distinção entre o diálogo erístico e diálogo filosófico consiste na sua real motivação ao refutálo em vista da refutação em si mesma ou em vista do conhecimento 33 É interessante notar como os verbos ήδομαι hédomai comprazerse e χαίρομαι khairomai deleitarse que pertencem ao mesmo campo semântico de έτπθυμέω epithumeõ cf supra nota 3 se conformam com a construção da GÓRGIAS 219 gor Mas ao menos eu Sócrates afirmo ser um homem do tipo ao qual aludiste mas talvez devêssemos pensar também na situação dos aqui presentes Pois muito antes de vós che gardes eu já havia lhes exibido inúmeras coisas e talvez agora nos estendamos em demasia se continuarmos a dialogar As sim devemos averiguar também a situação dessas pessoas a fim de que não nos surpreendamos se parte delas queira fazer alguma outra coisa que Escutai vós mesmos Górgias e Sócrates o rumor des ses homens sequiosos por ouvir o que tendes a falar quanto a mim tomara que nenhum compromisso exija que eu abandone tais discussões conduzidas desse modo para ter de fazer algo mais importante cal Sim pelos deuses Querefonte ademais eu mesmo que já estive presente em inúmeras discussões não sei se al guma vez me comprazi tanto quanto nessa ocasião mesmo se desejardes dialogar o dia inteiro vós me deleitareis33 soc De fato Cálicles nada me impede caso Górgias o queira personagem Cálicles cujo caráter hedonista se revelará no 3a Ato do diálogo Cálicles que na recepção de Sócrates mostrou certa hostilidade ao repreendêlo pelo atraso encontrase nessa altura fascinado pela discussão entre Sócrates e Górgias Seu desejo de que a discussão continue muito bem expresso pela hi pérbole mesmo se desejardes dialogar o dia inteiro vós me deleitareis ώστ εμοιγε καν τήν ημέραν όλην έθέλητε διαλέγεσθαι χαριεΐσθε 458034 mostra quão envolvido emocionalmente ele se encontra pela forma como Sócrates con duz o diálogo com Górgias A tal ponto Cálicles se regozija com o debate que ele não percebe o apelo do mestre Górgias à audiência como o último recurso para se desvencilhar de Sócrates e evitar assim ser refutado Sócrates havia declarado pouco antes que seria essa a sua sorte no diálogo 45764580 Cálicles em última instância vota a favor de Sócrates e o diálogo assim prossegue Seu estado de ânimo mudará completamente quando ele se torna o interlocutor principal de Sócrates depois que Polo sai de cena 481b 2 1 0 GÛRGIAS DE PLATÃO 459 b ΓΟΡ AΙσχρδν δη το λοιπόν ω Σώκρατεν γίγνεται εμέ γε μη εθέλειν αυτόν έπαγγειλάμενον έρωταν ότι t is βού λεται άλλ εί δοκει τουτοισί διαλέγου τε και έρωτα οτι βουλει ΣΩ Ακούε δη ω Γοργία à θαυμάζω εν rots λεγομένοιν υπό σου ισωΐ γάρ τοι σου ορθών λέγοντον εγω ουκ ορθών υπολαμβάνω ρητορικόν pfjs ποιειν οΐόν τ είναι εάν τιν βούληται παρά σου μανθάνεινΓΟΡ Ναι ΣΩ Ουκούν περί πάντων ωστ εν όχλω πιθανόν είναι ου διδάσκοντα άλλα πείθοντα ΓΟΡ ΓΙάυυ μεν ούνΣΩ vEAeyfs τοι νυνδη ότι καί περί του υγιεινού τού ιατρού πιθανώτερον εσται ΰ ρητωρΓΟΡ Και γάρ ελεγον εν γε όχλω ΣΩ Ούκουν το εν όχλω τούτο εστιν εν roîs μη είδόσιν ου γάρ δηπου εν γε roîs είδόσι τού ιατρού πιθανώτερον εσταιΓΟΡ Αληθή λεγειν ΣΩ Ο υκούν εϊπερ τού ιατρού πιθανώτερον εσται τού είδότον πιθανώτερον γίγνεταιΓΟΡ Πάνν γε ΣΩ Ουκ ιατρόν γε ων η γάρΓΟΡ ΝαίΣΩ Ό 34 Górgias diante da iminência da refutação de Sócrates tenta o último arti fício para se desvencilhar de sua investida apelando a um argumento ad hominem ele alega que Sócrates havia chegado no fim de sua epideixis e que seria preciso averiguar a condição da audiência deixando entrever polidamente a sua intenção de abandonar o diálogo no Prólogo Polo havia dito que Górgias estava exausto depois de sua apresentação 448a68 Assim Górgias recorre em última instância à audiência pois a manifestação do público em seu favor seria a única saída viável para evitar que o elenchos socrático se consumasse e que sua reputação fosse afetada negativamente Todavia Górgias não encontra respaldo em seu próprio público o qual rumoroso demonstra a vontade de que o diálogo continue A manifestação da audiência que tem Querefonte como portavoz representa aqui sutilmente a derrota antecipada de Górgias para Sócrates pois o jogo de forças já se encontra invertido a essa altura do diálogo Sócrates entra num ambiente que a princípio lhe é estranho povoado de discípulos eou pessoas associadas à personagem Górgias e consegue impor seu modo habitual de discurso o diálogo por meio de perguntas e respostas usando o próprio público de Górgias como instrumento de controle da situação dia lógica a ponto de conquistálo e têlo em seu favor 35 A m u ltid ã o év y e õxu 45933 c o m o c o n d iç ã o p a ra a e fic á c ia p e rs u a s iv a d o d is c u r so re tó ric o a p a re ce a lu d id a n esta p a ssa g e m d o L iv ro v d e H e ró d o to q u e co n ta c o m o A ris tá g o r a s d e M ile to co n se g u iu p e rs u a d ir o s ate n ie n se s a a ju d a r o s jô n io s n a re b e liã o c o n tra o im p é r io p e rsa so b o p o d e r d e D a rio Q u a n d o A ristá g o ra s se d irig iu a o p o v o ele d isse as m esm a s co isa s q u e h a v ia d ito e m E sp a rta a resp eito d o s b e n s d a Á sia e d a g u e rra d o s p ersas q u e eles d e sco GÓRGIAS 2 1 1 g o r Depois disso Sócrates seria vergonhoso que eu o re jeitasse visto que prometi que me perguntassem o que desejas sem Mas se é do parecer de todos dialoguemos e pergunta tu e o que quiseres34 soc Escuta então Górgias o que me surpreende em tuas palavras talvez tu fales corretamente e seja eu que não tenha a compreensão correta Afirmas ser capaz de tornar alguém rétor se ele quiser aprender contigo g o r Sim soc De modo a ser persuasivo a respeito de todos os assun tos em meio à multidão não a ensinando mas persuadindoa g o r Certamente soc Dizias há pouco pois que também a respeito da saúde 459 o rétor será mais persuasivo do que o médico g o r Sim dizia contanto que em meio à multidão35 soc Em meio à multidão não quer dizer em meio a igno rantes Pois decerto em meio a quem tem conhecimento não será mais persuasivo do que o médico g o r Dizes a verdade soc Se ele for então mais persuasivo do que o médico ele se torna mais persuasivo do que aquele que tem conhecimento g o r Absolutamente soc Mesmo não sendo médico não é b g o r Sim nheciam escudos e lanças e que eram facilmente sobrepujados A isso ele também acrescentou o seguinte que os milésios eram colonos dos atenienses e que por terem grande poder era razoável que eles os protegessem e diante da extrema urgência não havia promessa que não fizesse para persuadilos Pareceulhe mais fácil ludibriar muitos do que um único homem uma vez que foi incapaz de ludibriar Cleômenes um Inccdcmônio apenas enquanto a trinta mil atenienses logrou fazêlo 97 έπελθών δέ έπι τον δήμον ό Άρισταγόρης ταύτά έλεγε τά και έν τή Σπάρτη περί rciiv áyuOòiv των έν Άσίη και τοϋ πολέμου του Περσικού ώς ούτε ασπίδα ούτε δόρυ νομίζουσι εύπετέες τε χειρωθήναι εϊησαν ταύτά τε δή έλεγε καί προς τοΰτοισι τάδε ώς οί Μιλήσιοι τών Αθηναίων αίσΐ άποικοι καί οίκος σφεας είη ρύεσθαι δυναμένους μέγα και ούδέν õ τι ούκ ύπίσχετο οΐα κάρτα δεόμενος ές õ άνέπεισέ σφεας πολλούς γάρ οικε είναι εύπετέστερον διαβάλλειν ή ένα εΐ Κλεομένεα μέν τον Λακεδαιμόνιόν μούνον ούκ οίός τε έγένετο διαβάλλειν τρεις δέ μυριάδας Αθηναίων έποίησε τούτο 2 1 2 GÓRGIAS DE PLATÃO ν y f 9 y v y f δε μ η ια τρ ο ί γ ε ύήττου αν επ ισ τήμω ν ων ο ια τρ ο ί επ ισ τ ή μ ω ν ΓΟΡ Δ ή λ ο ν δ τ ι Σί2 Ό ουκ είδ ω ί αρα τοΰ είδ ό το ί ev ονκ ΐδοσι πιθανω τςρος e a r a i όταν ο ρητωρ τον ιατρού πιθανω τεροί ή τούτο σ υ μ β α ίν ει η άλλο τ ι ΓΟΡ Τούτο ενταΰθά γ ε σ υ μ β α ίν ει Σί2 Ονκοΰν και π ερ ί ras α λ λ α ί ά π ά σ α ί τ ε χ ν α ί ω σαύτω ί ε χ ε ι δ ρητωρ και ή ρητορική αυτά μ εν τα πράγματα ουδέ ν δ ει αυτήν είδε να ι οπ ω ί εχ ει μ ηχα νήν δε τινα π ειθ ο ϋ ί ηυρηκεναι ώ στε φ α ίνεσ θα ι τ ο ϊs ουκ είδό σ ι μ ά λλο ν είδενα ι τω ν είδότω ν ΓΟΡ Ο νκονν π ο λλή ραστώ νη ω Σ ω κρα τεί γ ίγ ν ετ α ι μή μαθόντα ταs α λ λ α ί τ ε χ ν α ί α λλά μ ία ν ταΰτην μηδέν ελα ττο νσ θα ι τω ν δημιουργώ ν ζ ί 2 Lt μν λα ττοντα ι η μη ίλ α ττο υ τα ι ο ρητω ρ των ά λλω ν διά το οΰτωί εχ ειν αυτίκα επ ισ κ εψ ό μ εθα εάν τ ι η μ ιν 7τρος λογον rj νυν oe roöe προτρον σ κ ζψ ω μ α m αρα τυ γ χ ά ν ει π ερί τδ δίκαιον καί το άδικον καί το αισχρόν και το καλόν και αγαυον και κακόν όντως εχω ν ο ρητορικός ως ττρι το υ γιεινό ν και ττρι τα αλλα ων αι α λλα ι τςχνα ι αντα μζν ονκ ΐδως τ ι αγαυον η τ ι κακόν σ τιν η τ ι καλόν η τ ι α ισχρόν η δίκαιον η άδικον πζιθω oe 7reu αντων μ e μ η χ α ν η μ εν ο ί ώ στε δοκειν ειοενα ι ονκ ειδ ω ί εν ονκ ειδοσ ιν 36 37 36 A d ife re n ça d e ju ízo en tre S ó crates e G ó rg ia s so b re o p o d e r d a retó rica m o s tra c o m o d o p o n to d e v ista d a c o n s tr u ç ã o d a s p e rso n a g e n s elas p o s s u e m v a lo re s a b so lu ta m e n te d ife re n te s re fle tin d o p o rta n to o a b ism o e n tre fd o s o fla e retó rica e n q u a n to p a ra S ó c ra te s e la co n siste n u m a p rá tic a irra c io n a l e n u m sa b e r ap aren te n a m e d id a e m q u e o ré to r n ã o p re c is a conhecer a q u ilo so b re o q u e d is cu rsa m as s o m e n te parecer conhecer à m u ltid ã o p a ra a q u a l d iscu rsa ra zã o su fic ie n te p a ra n ã o co n s id e rá la u m a tekhnê e m b o ra S ó c ra te s n ã o e x p licite essa tese n esse m o m e n to d o d iá lo g o p a ra G ó r g ia s é ju sta m e n te esse a sp e cto q u e a to rn a s u p e r io r às d e m a is tekhnai p o is parecer conhecer é c o n d iç ã o su fic ie n te p a ra p e rs u a d ir u m a m u ltid ã o ig n o ra n te d a q u ilo so b re o q u e se d iscu te O d o m ín io d o a p a re n te n ã o te m q u a lq u e r v a lo ra ç ã o n e g a tiv a p o r p a rte d a p e rso n a g e m G ó rg ia s e n q u a n to p a ra S ó cra tes in v er sa m e n te a b u sc a p e lo c o n h e c im e n to te m c o m o fim a su p re ssã o d o ap aren te 37 O q u e P la tã o d e fin e a q u i c o m o o d o m ín io m o r a l d o d is c u r s o re tó rico ie o b e m e o m a l o b e lo e o v e rg o n h o so o ju s to e in ju sto será ca te g o riz a d o p o s te rio r m e n te p o r A ris tó te le s n a Retórica c o m o o s fin s d e c a d a u m d o s g ên ero s O fim de cada um desses gêneros é diferente e por serem três três são os fins Do deliberativo o vantajoso e o prejudicial quem exorta aconselha aquilo como se fosse GÓRGIAS 213 soc Quem não é médico certamente não tem o conheci mento que o médico tem g o r É evidente soc Portanto o ignorante será mais persuasivo do que o conhecedor em meio a ignorantes quando o rétor for mais per suasivo que o médico É isso o que acontece ou não g o r É isso o que acontece em tais circunstâncias soc Assim no tocante a todas as demais artes o rétor e a retórica se encontram na mesma condição a retórica não deve conhecer como as coisas são em si mesmas mas descobrir al gum mecanismo persuasivo de modo a parecer aos ignorantes conhecer mais do que aquele que tem conhecimento g o r E então Sócrates não é uma enorme comodidade mesmo não tendo aprendido as demais artes mas apenas esta não ser em nada inferior aos artífices36 soc Se o rétor é ou não inferior aos outros porque se encon tra nessa condição em breve investigaremos no caso de ser per tinente para nossa discussão mas por ora examinemos primeiro o seguinte o rétor porventura encontrase a respeito do justo e do injusto do vergonhoso e do belo do bem e do mal na mesma condição em que se encontra a respeito da saúde e das demais coisas relativas às outras artes Ignorando as próprias coisas o que é o bem e o que é o mal o que é o belo e o que é o vergonhoso o que é o justo e o que é o injusto37 mas tramando a persuasão a respeito delas de modo a parecer conhecer mesmo ignorando em meio a quem é ignorante mais do que aquele que conhece o m elhor a o p asso qu e q u e m d issuade d issu ad e d aq u ilo co m o se fosse pior além de co m p reen d er e m acréscim o o s d em ais fin s o u seja o ju sto o u o injusto o b elo o u o vergo n h o so Para q u e m p articip a d o ju lg am en to o ju sto e o injusto além d e co m p reen der em acréscim o ta m b é m os d em ais fins P ara q u e m elo gia e vitu p era o b elo e o v e r g o n h o so além d e se referir em acréscim o ta m b é m aos d em ais fins I i358b 2 0 2 8 ιέ λ ο ς δέ έκάστοις το ύ τω ν έτερόν έστι και τρισίν ο ύσ ι τρία τψ μέν σ υ μ β ο υ λεύ ο ντι το σ υ μ φ έρ ο ν καί β λα β ερ ό ν ό μέν γ ά ρ π ρ ο τρ έπ ω ν ώ ς β έλ τιο ν σ υ μ β ο υ λ ε ύ ε ι ό δ έ ά π ο τρ επ ω ν ώ ς χ είρ ο νο ς άπ οτρέπ ει τά δ ά λ λ α π ρ ο ς τ ο ύ το σ υμ π α ρ α λα μ β ά νει ή δίκα ιον ή ά δικον η κ α λ ό ν ή α ισ χρόν το ΐς δ έ δ ικ α ζο μ έν ο ις τ ό δ ίκα ιον κα ι άδικον τ ά δ ά λ λ α κα ί ο ύ το ι σ υμ π α ρ α λα μ β ά νει π ρ ο ς ταϋτα το ΐς δέ έπ α ιν ο ϋ σ ιν κα ί ψ έγο υ σ ιν τ ό κ α λ ό ν κα ί τό α ισ χρ όν τά δ ά λ λ α καί ο ύ το ι π ρ ο ς τα ϋ τα έπαναφ έρουσιν 214 GÓRG1AS DE PLATÃO e 46 0 b μ ά λλο ν τον είδότο ς ή ανάγκη elbévai και beι προεπιστά μevov ταΰτα ά φ ικέσ θα ι παρά σε τον μ έλλο ν τα μα θήσ εσ θα ι τη ν ρ ητο ρ ικ ήν ei δε μ η σι 6 τής ρητορικής διδάσκαλοί τού των μ εν ονδεν διδά ξεις τον άφικνούμενον ον γάρ σον ίργο ν π ο ιή σ εις δ èv το ΐς ττολλοΐς boKeiv elbévai αυτόν τα τοιαντα ονκ είδότα και δοκεΐν αγαθόν eiva i ονκ δ ντα ή το παράπαν ονχ οίός Te εσ ρ αυτόν διδάξαι τη ν ρητορικήν èáv μη προειδή π ερ ί τούτω ν τη ν α λή θ εια ν ή πως τά τοιαντα χ ε ι ω Γ ο ρ γία και προς Α ιό ς ώ σπερ ά ρτι είπ ες άποκαλύψας τής ρητορικής ε ιπ ε τ ίς ποθ ή bύvaμíς εσ τιν ΓΟΡ Ά λλ εγω μ εν οΐμα ι ω Σω κρατες εάν τύχη μη ειδώς και ταντα παρ εμού μ α θή σ ετα ι Σ Ω νΕχ6 δή καλώς γάρ λ εγ ε ις εάνπερ ρητορικόν σύ τινα π ο ιήσ ης ανάγκη αυτόν elbévai τά δίκαια και τά άδικα ή το ι πρότερόν γ ε ή ύστερον μαθόντα παρά σου ΓΟΡ Π ά νν γ ε Σ Ω Τί ουν ό τά τεκτονικά μεμαθηκω ς τεκτονικός ή ού ΓΟΡ Ναί Σ Ω Ουκοΰν και δ τά μουσικά μο υσ ικό ς ΓΟΡ Ναί SÍ2 Καί ό τά Ιατοικά ίατοικός και τά λλα οντω κατά τον αυτόν λόγον δ μεμαθηκω ς εκαστα τοιουτος εσ τιν οιον η επ ισ τή μ η έκαστον α π εργά ζετα ι ΓΟΡ Πάνν γ ε Σί2 Ο υκοΰν κατά τούτον τον λόγον καί ό τά δίκαια μεμαθηκω ς δίκα ιος ΓΟΡ Πάντωΐ δήπου GÓRGIAS 215 Ou é necessário conhecêlas e quem pretende aprender a retórica contigo deve conhecêlas previamente quando te procurar Caso contrário tu o mestre de retórica não ensinarás nenhuma dessas coisas pois não é teu ofício porém farás com que ele em meio à multidão pareça conhecer sem conhecêlas e pareça ser bom sem sêlo Ou não serás absolutamente capaz de ensinarlhe a retórica caso ele não conheça previamente a verdade sobre essas coisas Ou o que sucede Górgias E por Zeus como dizias há pouco desvela a retórica e dizeme qual é o seu poder gor Eu julgo Sócrates que se acaso não conhecêlas ele aprenderá comigo essas coisas soc Um momento Bem dito Se tu tornares alguém rétor será necessário que ele conheça o justo e o injusto seja previa mente ou aprendendo contigo depois GOR Certamente soc E então Quem aprendeu carpintaria é carpinteiro ou não gor Sim soc Então também quem aprendeu música é músico gor Sim soc E a medicina médico E quanto às demais artes o mesmo argumento não se aplica desta forma quem aprendeu uma delas é tal qual o conhecimento que a produz gor Sem dúvida soc Conforme esse argumento pois também quem apren deu o justo é justo gor Absolutamente certo e 4 6 0 b 216 GÓRGIAS DE PLATÃO Σί2 Ό δε δίκα ιο ί δίκαιά που π ρ ά ττειΓΟΡ Ναί ο Σί2 Ουκοΰν ανάγκη τον ρητορικόν δίκαιον είνα ι τον δε δίκαιον βο υ λεσ θ α ι δίκαια π ρ ά ττειν ΓΟΡ Φ α ίν ετα ί γ ε ΣΩ Ο υδέποτε άρα βο υ λ η σ ετα ι ο γ ε δ ίκ α ιο ί ά δικ εΐν ΓΟΡ Α νάγκη ΣΩ Τον δε ρητορικόν ανάγκη εκ του λόγου δίκαιον είνα ι ΓΟΡ Ναί ΣΩ Ο υδέποτε άρα βο υ λ η σ ετα ι ό ρητορικοί ά δικεΐν ΓΟΡ Ο υ φ α ίνετα ί γ ε ΣΩ Μ εμ νη σ α ι ουν λεγω ν όλίγω πρότερον ο τι ου δ ει τ ο ΐί d π α ιδ ο τρ ίβ α ΐί εγκ α λεΐν ουδ εκ β ά λ λ ειν εκ τω ν πόλεω ν εάν ό π υ κ τη ί τη πυκτικη χ ρ η τα ί τ ε και άδίκω ί χ ρη τα ι καί άδικη ω σαυτω ί δε οΰτω ί και εάν ό ρητωρ τη ρητορική ά δίκω ί χ ρ η τα ι μη τω διδάξα ντι εγ κ α λεΐν μηδ εξελα ύνειν εκ τ η ί π ό λεω ί αλλά τω άδικουντι και ουκ όρθω ί χρω μενω τη ρητορική ερρηθη ταυτα η ο υ ΓΟΡ Έ ρ ρ η θ η ΣΩ Νυν ε οε γ ε ο α υτοί ο υτοί φ α ίνετα ι ο ρητορικοί ουκ αν π οτέ 38 N e sse p a s s o d o a r g u m e n to e n c o n tr a m o s a a n a lo g ia e n tre arte tekhnê τέ χ ν η e virtude areté α ρ ετή c o m u m e n te u sa d a p o r P la tã o n o s c h a m a d o s p r i m e iro s d iá lo g o s b a sta c o n h e c e r o q u e é ju s to p a ra a g ir d e fo rm a ju sta assim co m o b a s ta ter o c o n h e c im e n to d e c a rp in ta ria p a ra se r ca rp in te iro Isso im p lic a q u e o c o n h e c im e n to é c o n d iç ã o su fic ie n te p a ra a v irtu d e tese m o r a l d e sig n a d a c o m o p a r a d o x o s o c rá tic o p e lo s e stu d io so s d e P latã o i X e n o fo n te n a s Memoráveis a trib u i a S ó c ra te s co n sid e ra ç õ e s se m e lh a n te s ii a ssim c o m o A ristó te le s n a Ética Eudêmia ra z ã o p ela q u a l é g e ra lm e n te co n sid e ra d a u m a tese g e n u in a m e n te so crá tica i S ó crates d iz ia q u e a ju stiça e q u a lq u e r o u tra v irtu d e sã o sa b e d o ria e q u e as co isa s ju sta s e to d a s as a çõ e s v irtu o s a s sã o b elas e b o a s D iz ia q u e q u e m as c o n h e ce ja m a is p re fe riria o u tra s co isa s a elas en q u a n to q u e m as d e sc o n h e c e é in ca p a z d e a g ir d e m o d o ju s to e v irtu o s o e m e s m o se ele ten ta sse a g ir a ssim in c o rr e ria em erro D a m e s m a fo rm a o s sá b io s a g e m d e m o d o b e lo e b o m a o p a sso q u e o s ig n o ra n tes sã o in c a p a ze s d isso e m e s m o se te n ta sse m in c o rr e ria m e m erro P o rta n to u m a v e z q u e to d a s as a ç õ e s ju sta s b e la s e b o a s sã o v irtu o s a s é e v id e n te q u e ta n to a ju s tiç a q u a n to q u a lq u e r o u tra v ir tu d e sã o sa b e d o ria 3 9 5 εφ η δ έ κ α ι τ ή ν δ ικ α ιο σ ύ ν η ν κ α ί τ ή ν ά λ λ η ν π ά σ α ν α ρ ετή ν σ ο φ ία ν είνα ι τ ά τε γ ά ρ δ ίκ α ια κ α ι π ά ν τ α ό σ α α ρ ετή π ρ ά τ τ ε τ α ι κ α λ ά τε κ ά γ α θ ά είνα ι κ α ι ο ύ τ α ν τ ο ύ ς τ α ϋ τ α ε ίδ ό τ α ς ά λ λ ο ά ν τ ί τ ο ύ τ ω ν ο ύ δ έ ν π ρ ο ε λ έ σ θ α ι ο ύ τ ε τ ο ύ ς μή έ π ισ τ α μ έ ν ο υ ς δ ύ ν α σ θ α ι π ρ ά ττειν ά λ λ α κ α ι ε ά ν έγ χ ε ιρ ώ σ ιν ά μ α ρ τά ν ειν ο ϋ τ ω και τά κ α λ ά τε κ ά γ α θ ά τ ο ύ ς μ έν σ ο φ ο ύ ς π ρ ά ττειν τ ο ύ ς δ έ μή σ ο φ ο ύ ς ο ύ δ ύ ν α σ θ α ι α λ λ ά κ α ι εά ν έγ χ ειρ ώ σ ι άμα ρ τά νειν έπ ει ο ύ ν τά τε δ ίκ α ια και τ ά λ λ α κ α λ ά τ ε κ ά γ α θ ά π ά ν τα ά ρ ετή π ρ ά τ τ ε τ α ι δ ή λ ο ν είν α ι ο τ ι κ α ι δ ικ α ιο σ ύ ν η και ή ά λ λ η π ά σ α ά ρ ε τή σ ο φ ία έσ τί ii S ó crates ju lg a v a q u e o c o n h e c im e n to é to d a s as v irtu d e s d e m o d o q u e s u ce d ia sim u lta n e a m e n te co n h e c e r a ju stiça e ser ju sto tã o lo g o te n h a m o s ap ren d id o a g e o m e tria e a rq u ite tu ra ta m b é m s o m o s a rq u ite to s e g e ô m e tra s i2 i6 b 6 9 GÓRGIAS 217 soc E quem é justo age de forma justa gor Sim38 soc Não é necessário então que o rétor seja justo e que a pessoa justa queira agir de forma justa GOR É claro soc Portanto quem é justo jamais há de querer cometer injustiça gor Necessariamente soc E como decorrência do argumento é necessário que o rétor seja justo gor Sim soc Portanto o rétor jamais quererá cometer injustiça gor É claro que não há de querer39 soc Bem estás lembrado do que disseste há pouco que não se deve inculpar ou expulsar da cidade os treinadores caso o pugilista use o pugilato injustamente e cometa injustiça e da mesma forma caso o rétor use a retórica injustamente inculpar ou banir da cidade quem o ensinou mas quem cometeu injustiça e não uSou corretamente a retórica Isso foi dito ou não40 gor Foi dito soc Agora porém está claro que essa mesma pessoa o rétor jamais cometeria injustiça ou não έ π ισ τή μ α ς γ ά ρ ώ ε τ είν α ι π ά σ α ς τ ά ς ά ρ ετά ς ώ σ θ ά μ α σ υ μ β α ίν ε ιν ε ίδ έ ν α ι τε τ ή ν δ ικ α ιο σ ύ ν η ν κ α ι είνα ι δ ίκ α ιο ν ά μ α μ έν γ ά ρ μ ε μ α θ ή κ α μ εν τ ή ν γ ε ω μ ω τρ ία ν και ο ίκ ο δ ο μ ία ν κ α ι έμ έν ο ικ ο δ ό μ ο ι κα ι γ εω μ έτρ α ι 39 A o a c re se n ta r n a c o n c lu s ã o d o a r g u m e n to in d u tiv o q u e a p e ss o a q u e c o n h e c e o ju sto a lé m d e se r ju sta quer a g ir d e m o d o ju s to β ο υ λ ή σ ε τ α ι 460C5 S ó cra te s in tr o d u z n a d iscu ssã o u m a tese so b re a m o tiv a ç ã o m o r a l q u e u ltra p a ssa os lim ite s d a a n a lo g ia en tre a rte e v irtu d e C o m o sa lie n ta J C o o p e r esse a rg u m e n to d e S ó c ra te s é a b so lu ta m e n te in ju s tific a d o n o d iá lo g o e a sse n tid o ce g a m e n te p e la p e rs o n a g e m G ó rg ia s p o is s e ria m n e ce ssá rio s u lte rio re s a rg u m e n to s q u e lh e d e sse m fu n d a m e n to S ó cra te s a n d P la to in Górgias p 44 D ife re n te m e n te d o ca rp in te iro e d o m ú s ic o q u e u m a v e z e m p o s s e d o c o n h e c im e n to té c n ic o p o d e n ã o querer e m p re g á lo q u a n d o re q u e r id o se m d eixar p o r isso d e ser ca rp in te iro o u m ú sico a p e sso a ju sta d e v e n ã o so m e n te c o n h e c e r o q u e é ju sto m a s querer a g ir d e fo rm a ju sta q u a n d o é p re ciso a g ir T Irw in o p cit p 1 2 6 1 2 7 S o b re a c o n c e p ç ã o o p o sta d e q u e a ju s tiç a é c o m p u ls ó r ia e in v o lu n tá ria a trib u íd a p e la s p e rso n a g e n s G la u c o e A d im a n to à m a io ria d o s h o m e n s o í π ο λ λ ο ί v e r República 11 360c 36 6 cd 4 0 C f 4 5 6 C 4 5 7 C 218 GÓRGIAS DE PLATÃO 461 b c ά δικησα η ο υ ΓΟΡ Φ α ίν ετα ι Σί2 Και ευ τ ο ΐ πρώ τοι γ ω Γοργία λ ό γ ο ι ελ εγ ετο ο τι η ρητορική π ερ ί λόγον ειη ου του του αρτίου και ττεριττον ά λλα του του δικαίου καί ά δικο ν η γά ρ ΓΟΡ Ναι Σί2 Εγώ το ίννν σου τότε ταντα λ εγ ο ν το νπ ελα β ο ν ώ ουδεποτ άν ειη η ρητορική άδικον πράγμα ο γ ά εί ττερϊ δικαιοσύνη του λόγου π ο ιείτα ι επ ειδή δε ο λίγο ν ύστερον ε λ ε γ ε δ τι δ ρητω ρ τη ρητορική καν αδικώ χρωτο ουτω θαύμασα καί η γησ ά μ ε ν ο ου συνάδειν τα λεγά μενα εκείνον ειπ ον του λ ό γ ο ν δ τι εΐ μ εν κερδο ήγοΐο είνα ι τδ ελ εγ χ εσ θ α ι ώ σπερ εγω άξιον ειη δ ια λέγεσ θ α ι ε ί δε μ η εάν γ α ίρ ειν ύστερον δε ημώ ν επ ισκοπ ονμενω ν δρα δη καί α υτό δ τ ι αύ δμ ολογεϊτα ι τον ρητορικόν άδννατον είνα ι ά δίκω γρ η σ θα ι τ η ρητορική καί εθ ελ ειν ά δικεΐν τα ντα ουν οπη π ο τέ εχει μα τον κυνα ω I οργιά ονκ ο λίγ η ς συνουσίας σ τιν ωστ ικανως δια σ κ εψ α σ θα ι ΓΙί2Λ Τί δε ω Σ ώ κ ρ α τε ουτω καί συ π ερ ί τ η ρ η το ρ ικ ή δοξά ζει ώ σπερ νυν λ ε γ ε ι η ο ϊει οτι Γοργία ησ χννθη σοι μη π ροσομολογησα ι τον ρητορικόν άνδρα μ η ο ν γ ί καί τα δίκαια είδένα ι καί τα καλά καί τα άγαθά καί εάν μη ελθ η ταντα ειδ ω παρ αυτόν α υτό διδά ξειν επ ειτα εκ τα ύ τη ίσ ω τ η δ μ ο λο γία εναντίον τ ι σ υ ν έβ η εν τ ο ΐ λ ό γ ο ι τούτο δ δη ά γα πα αυτό άγαγω ν επ ί τοιαντα ερω τήματα επ ει τιν α ο ιει απαρνησεσΟαι μ η ουχι και αυτόν 41 42 41 Cf 454 b 42 C f 4820 5 43 N o d iá lo g o Mênon a p e rs o n a g e m h o m ô n im a re ssa lta p re cisa m e n te o fato d e G ó rg ia s d ife re n te m e n te d e o u tro s so fista s p ro m e te r e n sin a r so m e n te a té c n ic a o ra tó ria e n ã o a v irtu d e e m b o ra isso n ã o seja ra zã o su fic ie n te p a ra v a lid a r o u in v a lid a r o p ro te sto d e P o lo n o Górgias s o c E e n tã o E sses so fista s o s q u a is sã o o s ú n ic o s a p ro fe ssa re m ta l co isa te p a re c e m se r m e stre s d e v irtu d e GÓRGIAS 219 gor Está claro soc E no princípio da discussão Górgias foi dito que a re tórica não concernia aos discursos relativos ao par e ao ímpar mas aos relativos ao justo e ao injusto não é41 gor Sim soc Pois bem quando disseste isso eu supus que a retórica jamais seria uma prática injusta visto que sempre compõe dis cursos sobre a justiça mas quando pouco depois disseste que o rétor poderia usar a retórica também de forma injusta espan 461 teime e considerando inconsonantes tuas afirmações disse aquilo se considerasses vantajoso assim como eu ser refutado seria digno dialogarmos se não deixaríamos de lado Depois de nossa investigação ulterior tu mesmo vês que foi consentido pelo contrário ser impossível ao rétor usar injustamente a re tórica e querer cometer injustiça Assim pelo cão42 Górgias não é um encontro exíguo o modo conveniente de examinar b como essas coisas são X P P L Mas o quê Sócrates É essa a tua opinião sobre a re tórica como agora a exprimes Porventura julgas só porque Górgias ficou envergonhado de discordar de ti em que o rétor conhece o justo o belo o bem e que se alguém o procurasse sem conhecêlos ele próprio o ensinaria43 decorrendo em se guida talvez advinda desse consentimento alguma contradição no argumento coisa que muito te apraz pois és tu a lhe for c mular perguntas do gênero pois julgas que alguém negaria m e n D e G ó rg ia s S ó c ra te s a p re c io so b re tu d o isto tu ja m a is o u v ir ia s d ele tal p ro m e ssa p o is ele ri q u a n d o o u v e o s o u tro s p ro m e te re m ta l em p resa e le ju lg a q u e d e v e to rn a r as p e sso a s p ro d ig io s a s n o d iscu rso 9 5b 9C 5 ΣΩ T í δ έ δ ή o i σ ο φ ισ τ α ί σ ο ι ο ΰ το ι ο ϊπ ερ μ ό ν ο ι έ π α γ γ έ λ λ ο ν τ α ι δ ο κ ο ΰ σ ι δ ιδ ά σ κ α λ ο ι είνα ι α ρ ετή ς ΜΙΝ Κ α ι Γ ο ρ γίο υ μ ά λ ισ τ α ώ Σ ώ κ ρ α τ ε ς τ α ϋ τ α ά γ α μ α ι ο τ ι ο ύ κ α ν π ο τ έ αύ roO το ύ το ά κ ο ύ σ α ις ύ π ισ χ ν ο υ μ έν ο υ ά λ λ α κ α ι τ ω ν ά λ λ ω ν κ α τα γ ε λά ό τ α ν ά κ ο ύ σ η ό ιιισ χ ν ο ιιμ έ ν ω ν α λ λ ά λ έ γ ε ιν ο ίετα ι δ εΐν π ο ιε ϊν δ ειν ο ύ ς 2 2 0 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 462 επ ίσ τα σ θα ι τά δίκαια καί άλλου δ ιδ ά ξ ειν άλλ ei τα τοιαΰτα ά γειν π ο λλή αγροικία εσ τίν του λόγους Σ Ω Ω κ ά λ λ ισ τε Πώλβ αλλά τοι εξεπ ίτη δ ες κτω μεθα εταίρους και υεΐς ινα επ ειδάν αυτοί π ρ εσ βύ τερ ο ι γενόμενοι σ φ α λλώ μεθα παρόντες υ μ είς οί νεω τεροι επανορθώ τε ημώ ν τον β ίο ν και εν εργοις και εν λόγοις καί νυν ε ΐ τ ι εγω καί Γοργία ς εν το ΐς λόγοις σ φ α λλόμεθα συ παρών επανόρθου δίκαιος δ εΧ καί εγω εθελω τω ν ω μολογημένω ν ε ϊ τ ί σοι δο κεΐ μ η καλώς ω μολογησ θα ι αναθεσθαι ο τι άν συ βο υ λή εάν μοι εν μόνον φ υλά ττης ΠΩΛ Τί τούτο λ έ γ ε ις Σ Ω Τ η ν μακρολογίαν ω Πώλε ην καθέρξης fj το πρώτον επ εχείρησ α ς χρησ θα ι ΠΩΛ Τί δ έ ονκ έξέσ τα ι μ ο ι λ έγ ε ιν όπόσα αν βού λ ω μ α ι Σ Ω Α εινά μ έντα ν πάθοις ώ β έ λ τ ισ τ ε εί Ά Οήναζε αφικόμενος ου της Ε λλά δ ο ς π λ είσ τη έσ τίν εξουσία του λ έγ ε ιν έπ ειτα σ υ ενταύθα τούτον μόνος άτνχησα ις άλλα ά ντίθες τοι σου μακρά λέγο ντο ς καί μη έθέλοντος το έρωτω μενον άποκρίνεσθαι ου δεινά αν αυ εγω πάΟοιμι εί μη εξέσ τα ι μο ι ατηζναι και μη ακονςιν του αλλ et τ ι κήοη του λογον του είρημένου καί επανορθώ σασθαι αυτόν β ο ύ λ ει ώ σπερ 44 P o lo c o n sid e ra a v e rg o n h a d e G ó rg ia s q o x ú v G q 46135 a ca u sa d o s u ce sso d a re fu ta ç ã o d e S ó cra tes S e g u n d o ele G ó rg ia s c o n se n tiu e m u m a d a s p re m is sas d o a rg u m e n to co n stru íd o d ia lo g ica m e n te p o r Só crates n ã o p o rq u e ela co n d ize sse c o m as su as rea is o p in iõ e s e a ç õ e s m a s p o rq u e G ó r g ia s se v iu c o n s tr a n g id o p ela vergonha a a d m itir a lg o q u e n ã o se ria o ca so G ó rg ia s só te ria a d m itid o q u e e n s i n a v a o ju s to e o in ju sto a q u e m o p ro c u ra sse se m c o n h e c ê lo p o rq u e n in g u é m n a c o n d iç ã o d e G ó rg ia s d ir ia o co n trá rio e m o u tra s p a la v ra s p o rq u e lh e e ra c o n v e n ie n te e n q u a n to e stra n g e iro e m A te n a s C K a h n D r a m a a n d D ia le c tic in P la to s Górgias Oxford Studies in Ancient Philosophy p 8 0 8 1 re ssa lta r seu co m p r o m is s o c o m o s v a lo re s m o ra is d a q u e la c id a d e a in d a q u e n ã o c o n d iz e s s e c o m a su a p rá tica d e rétor E ssa se ria e n tã o a e stru tu ra fo rm a l d o elenchos s o c rá tic o 4 6 0 0 74 6 10 2 a p a rtir d as d u a s p re m issa s m a io re s a e b a A re tó rica c o n c e rn e a d iscu rso s relativo s a o ju sto e a o in ju sto 4 5 4 0 5 7 B A re tó ric a p o d e se r u sa d a p a ra fin s in ju sto s 4 5 6 C 6 4 5 7 C 3 i Q u e m p re te n d e a p re n d e r a re tó ric a d e v e c o n h e c e r p re v ia m e n te o q u e é ju s to e in ju sto o u a p re n d ê lo s d e G ó rg ia s GÓRGIAS 2 2 1 conhecer o justo e poder ensinálo aos outros Mas conduzir a discussãõ para essé lado é muito tosco44 soc Belíssimo Polo é com esse propósito que conquista mos amigos e filhos para que quando nós já velhos tropeçar mos em algo vós os mais novos estando a nosso flanco reergais nossas vidas quer em atos quer em palavras E nesse momento se eu e Górgias tropeçamos na discussão tu estando d a nosso flanco reerguenos pois és um homem justo e se algo do que fora consentido te parecer não ter sido consentido corretamente eu desejo reparar o que quiseres contanto que atentes a uma única coisa por mim p o l A que te referes soc Contanto que contenhas o discurso longo45 Polo o qual tentaste empregar anteriormente p o l O quê Não poderei falar o quanto quiser soc Seria deveras um sofrimento terrível excelentíssimo e homem se chegasses a Atenas cidade helénica onde há a maior licença para falar e somente tu tivesses o infortúnio de não fazêlo aqui Mas observa a situação inversa se tu fizesses um longo discurso e não quisesses responder as perguntas não se ria um sofrimento terrível eu não poder ir embora para não te ouvir Contudo se estás inquieto com algo do que foi dito e desejas corrigilo como há pouco dizia repara o que for de teu 462 i i iv v vi ii Q u e m a p re n d e u ca rp in ta ria m ú sic a o u m e d ic in a é ca rp in te iro m ú sico o u m é d ico iii D a m e sm a fo rm a q u e m a p re n d e u o q u e é ju s to é ju sto iv O h o m e m ju s to n ã o a p e n a s fa z c o isa s ju sta s m a s ta m b é m q u e r n e c e s s a ria m e n te se r ju s to e ja m a is q u e r se r in ju sto v E n tão o ré to r q u e a p re n d e u o q u e é ju sto é ju sto q u e r n e ce ssa ria m e n te ser jiislo e ja m a is q u e r se r in ju sto vi P o rta n to ele ja m a is q u e re rá u sa r a re tó ric a p a ra fin s in ju sto s B cv erslu is CrossExamining Socrates p 3 0 9 3 10 A d e le sa d e P o lo b u s c a in v a lid a r o elenchos m o s tr a n d o q u e a p re m iss a i iiiu i o iid iz co m a p rá tica d e G ó rg ia s e n q u a n to m e stre d e re tó ric a e q u e p o rta n to n ã o sei ia le g itim a a re fu ta ç ã o s o crá tic a v is to q u e o silo g is m o é c o n s tr u íd o p o r S ó cra te s c o m b a se em u m a p ro p o s iç ã o q u e n ã o e x p re ssa as v e rd a d e ira s o p in iõ e s d e ió rgia s 43 II su p ra n o la s 4 e 12 2 2 2 GÓRGIAS DE PLATÃO νννδη έλεγαν άναθέμενος ό τι σοι δοκεΐ εν τω μ έρ ει έρωτών τε καί έρω τω μενος ώ σπερ έγω τ ε και Γοργία ς ελ ε γ χ ε τε καί èAeyxoii 7jy yà δηπυυ καί σν έπ ίσ τα σ θα ι όπερ Γοργία ς η ον ΠΧ2Λ vEycoye Σ Ω 0 νκονν και συ κ ελεύ εις σαντδν έρωτάν έκάστοτε οτι αν τις βο νλη τα ι ως έπ ισ τά μενος α π οκρίνεσθα ι Πί2Λ Πάρυ μ εν οΰν Σ Ω Καί νυν δη τούτω ν όπότερον β ο ν λ ε ι π ο ίει έρωτα η αποκρίνου ΠίΙΛ Άλλα ποιήσω ταΰτα καί μ ο ι απόκριναι ω Σω κρατες έπ ειδη Γοργία ς ά πορεΐν σοι δοκεΐ π ερί της ρητορικής J I V συ αυτήν τινα φη eiv at Σ Ω Ά ρα έρωτας η ντινα τέχνη ν φ η μ ί είν α ι ΠΩΛ Τ γ ω γ ε ΣΩ Ο νδεμ ία εμ ο ιγε δοκεΐ ώ Πώλε ώ γ ε προς σί τα ληθή είρησ θα ι ΠΩΛ Άλλα τ ί σοι δοκεΐ ή ρητορική είν α ι Σ Ω Π ράγμα δ φης σν π οιησα ι τέχνη ν έν τω σνγγρά μμ α τι δ èyò εναγχος ανέγνω ν ΠΩΛ Τί τούτο λ έ γ ε ις ΣΩ Ε μ π ε ιρ ία ν έγω γέ τινα 46 46 Cf 448ah 47 Como foi comentado no Ensaio Introdutório 211 Polo é caracterizado por Platão no Górgias como uma personagem φαύλος phaulos desprezível débil com traços semelhantes a personagens da comédia Ele não está atento ao jogo de palavras feito por Sócrates assim como eu e Górgias refuta e sê refutado ώσπερ έγώ τε και Γοργίας έλεγχέ τε και ελέγχου 462845 que antecipa a sua sorte no diálogo Do ponto de vista da construção da personagem essa inadvertência é pró pria de quem não pertence ao círculo socrático de quem desconhece o procedimento dialógico conduzido por ele 448d Justamente por causa da debilidade inerente do interlocutor Sócrates lhe oferece a possibilidade de escolher a função a ser desempe nhada no registro da brakhulogia a qual Sócrates praticamente impõe como condi ção de possibilidade do diálogo Essa é uma situação rara no âmbito dos primeiros diálogos de Platão Sócrates oferece ao interlocutor a possibilidade de exercer a função de inquiridor e não a de inquirido encontrandose assim numa situação em que as funções se invertem mesmo que momentaneamente GÕRGIAS 223 parecer um interrogando e o outro sendo interrogado cada um a sua vez e assim como eu e Górgias refuta e sê refutado Pois decerto afirmas que também tu conheces as mesmas coisas que Górgias ou não pol Afirmo sim46 soc Então também tu não convidas em toda ocasião que te perguntem o que quiserem como se soubesses responder pol Certamente soc E agora cumpre a parte que te aprouver pergunta ou responde47 pol Sim hei de cumprila Respondeme Sócrates visto que Górgias te parece cair em aporia sobre a retórica o que afirmas que ela é soc Acaso perguntas que arte eu afirmo que ela seja pol Sim soc Nenhuma segundo meu parecer Polo para te dizer a verdade pol Mas o que a retórica te parece ser soc Uma coisa que tu afirmas produzir arte num escrito que recentemente li48 pol A que te referes soc A certa experiência 48 E m se u b re v e d is c u r so n o P ró lo g o 4 4 8 c P o lo d e fin iu o o fíc io d e G ó r gia s co m o u m a arte tekhnê τέχ ν η d e g ra n d e v a lo r q u e p ro v é m d a ex p e riê n cia Iempeiria έμ π ειρία Só crates e m co n tra p a rtid a b u sca rá m o stra r q u e a retórica ao co n trá rio d o q u e ju lg a m G ó rg ia s e P o lo está co n fin a d a n o â m b ito d a experiência e n ão se co n stitu i co m o arte A refe rê n cia d e Só crates a u m e scrito d e P o lo ao q u a l ele teria tid o acesso p o d e su g e rir q u e P latã o esteja cita n d o verbatim tre ch o d essa o b ra d a p erso n a g e m e m 448c m a s c o m o salien ta D o d d s op cit p 19 2 v isto q u e ela n ã o se c o n s e rv o u n o tem p o é ra zo á v e l c o n je tu ra rm o s q u e P latã o esteja p a ro d ia n d o a e n ã o i itim loa D e q u a lq u e r m o d o P latã o m e n cio n a n o Fedro o s tem p lo s d as p alavras d e P olo rà μ ο υ σ εία λό γ ω ν 2 6 7 b io in c lu in d o o en tre aq u eles au to res q u e escrevera m so b re a arte d o s d iscu rso s n o s liv ro s escrito s so b re a arte d o s d iscu rso s έν το ίς β ιβ λίο ις τ ο ϊς π ερ ί λ ό γ ω ν τέ χ ν η ς 26 6 d 56 a q u eles q u e escre ve m atu alm en te so b re as artes d o s d iscu rso s o i ν υ ν γ ρ ά φ ο ν τ ε ς τ έ χ ν α ς λ ό γ ω ν 2 71C 12 224 GÓRGIAS DE PLATÃO Πί2Λ Ε μ π ε ιρ ία αρα σοι δοκεΐ ή ρητορική είν α ι Σί2 Έ μ ο ιγ ε εί μη τ ι σι άλλο λ έγ ε ις Πί2Λ Τ ίν ο ς εμ π ειρ ία Σί2 Χ ά ριτός τίνος καί ηδονής απεργασίας Πί2Λ Ουκοΰν καλόν σοι δοκεΐ ή ρητορική είνα ι χαρί ζεσθαι οΐόν τ ε είνα ι άνθρώ ποις Σί2 Τ ί δέ ω ΙΊ ώ λε ήδη πέπυσα ι παρ έμοΰ ό τι φ η μ ι d αντην είνα ι ώ στε το μ ετά τούτο έρωτας ει ου καλή μο ι όοκεΐ είν α ι ΓΊ22Λ Ο ν y ap π έπ νσ μ α ι ό τι εμ π ειρ ία ν τινά αντην φής είν α ι Σί2 Βουλβι ουν επ ειδή τιμά ς το χα ρίζεσ θα ι σμικρόν τ ί μο ι χ α ρ ίσ α σ θα ι Πί2Λ Γ γ ω γ ε 2Í2 Έροί νυν μ ε όψ οπ οιία η τις μ ο ι όοκεΐ τέχνη είνα ι Πί2Λ Ερωτώ δή τ ις τέχ νη ό ψ ο π ο ιία Σί2 Ο υδεμία ω Πώλε Π22Λ Άλλα τ ί φ ά θ ιΣί2 Φ η μ ϊ δη εμ π ειρ ία τ ις ΠΧ2Λ Τί φ ά θι Σί2 Φ η μ ι δή χάριτος και ηδονής e α περγασίας ω ΓΙώλί Πί2Λ Ταιτόρ αρ εσ τιν όψ οπ οιία και ρητορικ ή Σί2 Ουδαμώς γ ε άλλα τής αυτής μ εν έπιτηδεύσεω ς μόριον ΓΙΩΛ TiVo λ έ γ ε ις τα ντης Σί2 Μ άγροικότερον y το α ληθές ε ίπ ε ΐν όκνώ γάρ Γ οργίου ενεκα λ έγ ε ιν μ ή ο ΐη τα ί μ ε διακω μω δεί ν το εαυτόν επ ιτήδευμα εγώ δέ εί μ εν τοντό εσ τιν ή ρητορική ήν Γοργία ς 463 έπ ιτη δ ευ ει ουκ οίδα και γάρ άρτι εκ του λόγον ουδέν ή μ ΐν καταφανές εγένετο τ ί ποτέ οντος η γ είτ α ι δ δ εγώ καλώ τη ν ρητορικήν πράγματός τινός ε σ τ ι μόριον ονδενδς των καλών 49 49 A o c o r r ê n c ia d o v e r b o c o m e d ia r ôiaK tapceôelv 4 6 26 7 n essa fala d e S ó crates in d ic a d e ce rto m o d o o tip o d e e stra té g ia a r g u m e n ta tiv a a d o ta d a p o r ele n a d is cu ssã o c o m P o lo re ssa lta n d o a to d o m o m e n to su a d e b ilid a d e rid ic u la riz a n d o su a in e x p e riê n c ia n o p ro c e sso d ia ló g ic o 4 4 8 d e x p o n d o à a u d iê n c ia c o m o o sab er p o r ele p ro fe ssa d o é ap en a s ap aren te GÓRGIAS 2 2 5 pol Portanto a retórica te parece ser experiência soc A mim pelo menos se não tens nada mais a acres centar pol Experiência de quê soc De produção de certo deleite e prazer pol A retórica não te parece ser bela então visto ser capaz de deleitar os homens soc O quê Polo Acabaste de saber de mim o que afirmo ser a retórica e já vens com a próxima pergunta se ela me pa d rece ser bela pol Pois já não sei que ela é certa experiência como afir mas soc Queres então visto que honras o deleite deleitarme um pouco pol Sim soc Perguntame agora que arte me parece ser a culinária pol Pergunto sim que arte ela é soc Nenhuma Polo pol Mas o quê então Fala soc Falo sim certa experiência pol Qual Fala soc Falo sim de produção de certo deleite e prazer Polo e pol Portanto a culinária e a retórica são a mesma coisa soc De forma nenhuma mas partes da mesma atividade pol A que atividade te referes soc Que não seja rude demais falar a verdade Pois hesito em dizêla por causa de Górgias com medo de que julgue que eu comedie a sua própria atividade49 Se essa porém é a retó rica praticada por Górgias eu não sei aliás da discussão pre 463 cedente nada se esclareceu sobre o que ele pensa mas eu chamo retórica parte de certa coisa que em nada é bela 2 2 6 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Ύίνος ω Σωκράτη είπε μηδέν εμε αίσχννθης Σ ίλ Αοκεΐ τοίνυν μοι ω Γοργιά είναι τι επιτήδευμα τεχνικόν μεν ου ψυχής δε στοχαστικής και ανδρείας καί φύσει δεινής προσομίλείν τοΐς ανθρωποις καλώ δε αυτόν εγω το κεφαλαίου κολακείαν ταύτης μοι δοκεΐ της επι τηδεύσεως πολλά μεν και αλλα μόρια είναι εν δε και η όφοποιικψ δ δοκεΐ μεν είναι τέχνη ως δε 5 εμός λόγος ονκ εστιν τέχνη άλλ εμπειρία καί τριβή ταύτης μόριον καί τήν ρητορικήν eyco καλώ και τήν γ κομμωτικήν και τήν σοφιστικήν τζτταρα ταντα μόρια τη τζτταρσιν 7τραγμασιν εί ονν βούλεται Πώλο πυνθάνεσθαι πυνθανεσθω ου γάρ πω πεπυσται όποιον φημι εγω της κολακείας μόριον είναι την ρητορικήν άλλ αυτόν λεληθα οϋπω άποκεκριμενος ο δέ επανερωτα ει ου καλόν ηγούμαι είναι εγω δε αντω ονκ αποκρινουμαι προτερον είτε καλόν είτε αισχρόν ηγούμαι είναι την ρητορικήν πριν αν πρώτον άποκρίνωμαι ότι εστίν ον γάρ δίκαιον ω Πωλε άλλ είπερ βούλει πνθεσθαι έρωτα οποίον μοριον της κολακείας φημι είναι την ρητορικήν 50 A definição de retórica como lisonja κολακείαν 4õ3bi e a analogia entre retórica e culinária cuja associação se deve à busca comum pela promoção do prazer na alma e no corpo respectivamente remontam de certo modo à sátira de Aristófanes em Os Cavaleiros de 424 aC do tipo de prática comum dos políticos na democracia ateniense O alvo prccípuo de Aristófanes nessa peça é em especial a figura de Cléon representado sob a máscara da personagem Paflagônio v 976 escravo do Povo carac terizado também como personagem Embora o termo específico ρητορική rhêtorikê retórica provavelmente cunhado por Platão fi Schiappa Did Plato Coin Rhétoriké The American Journal ofPhilosophy não ocorra na peça o objeto da sátira aristofânica é precisamente o tipo de prática oratória empregada pelos políticos em vista da persuasão do povo A passagem abaixo quando o Paflagônio é apresentado pelos outros dois escra vos da peça geralmente identificados com Demóstenes e Nícias generais atenienses sintetiza bem esses dois aspectos comuns à reflexão de Platão sobre a retórica no Górgias ie a prática oratória como lisonja em especial a concatenação dos quatro verbos no verso 48 ήκαλλ έθώπευ έκολάκευ έξήπατα e a analogia com a culinária Primeiro Escravo Vou dizer já Nosso senhor é rude colérico papafavas intempestivo o Povo da Pnix insaciável caquético mouco Ele comprou na lua nova um escravo homem dos curtumes Paflagônio o maior canalha e o maior difamador Ele o Paflagônio dos curtumes ao sacar o jeito do velho caiu em cima do senhor GÓRGIAS 227 g o r De que coisa Sócrates Fala Não te envergonhes por minha causa soc Pois bem Górgias ela me parece ser uma atividade que não é arte apropriada a uma alma dada a conjecturas corajosa e naturalmente prodigiosa para se relacionar com os homens o seu cerne eu denomino lisonja Dessa atividade presumo que haja inúmeras partes e uma delas é a culinária que parece ser arte mas conforme o meu argumento não é arte mas experiên cia e rotina50 Conto também como partes suas a retórica á in dumentária e a sofística quatro partes relativas a quatro coisas Se Polo quer saber que o saiba então Pois não sabe ainda qual é a parte da lisonja a qual afirmo ser a retórica e não percebendo que eu ainda não havia lhe respondido torna a me perguntar se não a considero bela Porém eu não lhe respondo se considero a retórica bela ou vergonhosa antes de lhe responder primeiro o que ela é51 Pois não é justo Polo mas se queres mesmo saber perguntame que parte da lisonja afirmo ser a retórica e o bajulou adulou lisonjeou e o enganou com tirinhas de couro dizendo assim Ó Povo depois de julgar um processo só um lavate então come engole olha a sobremesa toma os três óbolos quer que eu te sirva a janta Depois roubou o que um de nós havia preparado para o senhor e o deleitou com isso o tal Paflagônio w 4054 01 A Λέγοιμ üv ήδη νών γάρ έστι δεσπότης αγροίκος οργήν κυαμοτρώξ άκράχολος Δήμος Πυκνίτης δύσκολον γερόντιον ύπόκωφον οΰτος τή προτέρα νουμηνία έπρίατο δοϋλον βυρσοδέψην Παφλαγόνα πανουργότατον και διαβολώτατον τινα οΰτος καταγνούς τοϋ γέροντος τούς τρόπους ό βυρσοπαφλαγών ύποπεσών τον δεσπότην ήκαλλ έθώπευ έκολάκευ έξηπάτα κοσκυλματίοις ακροισι τοιαυτι λέγων Ώ Δήμε λοϋσαι πρώτον έκδικάσας μίαν ένθοϋ ρόφησον έντραγ έχε τριώβολον βούλει παραθώ σοι δόρπον Εϊτ άναρπάσας Õ τι άν τις ήμών σκευάση τώ δεσπότη Παφλαγών κεχάρισται τούτο Si f supra nota 9 228 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 464 b ΠΩΛ Ερωτώ brj καί απόκριναι οποίον μόριον ΣΩ Ά ρ ουν αν μάθοις αποκριναμένου εστιν yap η ρητορική κατα τον μου λόγον πολίτικης μορίου είδωλον ΠΩΛ Τί ουν καλόν η αισχρόν λέγας αυτήν είναι ΣΩ Αισχρόν eycoye τα γαρ κακα αισχρά καλώ επειδή δει σοι άποκρίνασθαι ως ήδη εΐδοτι γώ λέγω ΓΟΡ Μα τον Αία ώ Σωκράτης άλλ γω ονδε αυτός σννίημι οτι λέγας ΣΩ ΕΙκότως ye ώ Γοργία ονδέν γάρ πω σαφές λέγω Πώλοί δε δδε νέος έστι καί όύς ΓΟΡ Άλλα τούτον μέν εα εμοί δ είπε πως λέγας πολίτικης μορίου είδωλον είναι την ρητορικήν ΣΩ Ά λλ γω παράσομαι φράσαι δ γέ μοι φαίνεται είναι ή ρητορική εί δε μη τύγχανα δν τούτο Πώλοί οδε έλέγήα σώμα που καλας τι και ψυχήν ΓΟΡ Πώΐ γάρ ου ΣΩ Ουκοϋν και τούτων οϊα τινα είναι έκατέρου ενείαν ΓΟΡ Εγωγ ΣΩ Τί δε δοκονσαν μεν ενείαν ούσαν δ ου οιον τοιδνδε λέγω πολλοί δοκοΰσιν εν εχειν τα σώματα οϋς ουκ αν ραδίως αισθοιτό τις δτι ονκ εν χουσιν άλλ ή Ιατρός re και των γυμναστικών τιςΓΟΡ Αληθή λέγας ΣΩ Τδ τοιοΰτον λέγω και εν σώματι είναι καί εν ψυχή δ ποιεί μεν δοκειν εν εχειν τδ σώμα καί την ψυχήν έχα δε ονδεν μάλλον ΓΟΡ νΕστι ταΰτα 52 52 A distinção entre corpo e alma basilar no pensamento platônico é um dos elementos da argumentação do Górgias histórico no Elogio de Helena como por exem plo na analogia entre discurso íogos λόγος e remédio pharmakon φάρμακον referida acima cf supra nota 30 Mas ela já aparece no proêmio do discurso Para a cidade ordem é hombridade para o corpo beleza para a alma sa bedoria para o ato virtude para o discurso verdade o contrário disso é desordem Homem mulher discurso gesto cidade ato é preciso honrar com elogios os dignos de elogio e os indignos dele vituperálos 1 Κόσμος ττόλει μέν εύανδρία σώματι δέ κάλλος ψυχήι δέ σοφία πράγματι δέ αρετή λόγωι δέ αλήθεια τα δέ εναντία τούτων άκοσμία άνδρα δέ και γυναίκα και λόγον και εργον και πόλιν και πράγμα χρή τό μέν αξιον επαίνου έπαίνωι τιμάν τώι δέ άναξίωι μώμον έπιτιθέναι ίση γάρ αμαρτία και ήμαθία μέμφεσθαί τε τά έπαινετά και έπαινεϊν τά μωμητά 53 Como fica evidente nessa breve interlocução entre Sócrates e Górgias 46304643 o argumento que distingue aspseudoartes denominadas por Sócrates GÕRGIAS 2 2 9 p o l Pergunto sim e responde que parte ela é soc Compreenderias porventura a minha resposta A re tórica é conforme meu argumento o simulacro de uma parte da política p o l E então Afirmas que ela é bela ou vergonhosa soc Para mim vergonhosa pois chamo de vergonhosas as coisas más visto que devo te responder como se já sou besses o que digo g o r Não por Zeus Sócrates nem mesmo eu compreendo as tuas palavras soc É plausível Górgias pois não falo ainda de modo claro mas eis aqui Polo que é jovem e perspicaz GOR Mas deixao de lado e dizeme como afirmas que a retórica é simulacro de uma parte da política soc Eu tentarei explicar o que me parece ser a retórica se ela não consistir nisso eis aqui Polo para me refutar Há o que chamas corpo e o que chamas alma52 g o r E como não haveria soc Não julgas também que para cada um deles há uma boa compleição g o r Sim soc E então E aquela que parece ser boa compleição sem sêla É como se eu dissesse o seguinte muitas pessoas parecem possuir boa compleição física mas não seria fácil para qualquer um perceber que elas não a possuem exceto para um médico ou para algum professor de ginástica g o r Dizes a verdade soc Eu digo que tanto no corpo quanto na alma há algo do gênero que produz a aparência de o corpo e a alma possuí rem boa compleição sem teremna em absoluto53 go r É isso ilr lisonja kolakeia das verdadeiras artes está fundamentado em outra distinção basilar do pensamento platônico entre o domínio do ser einai είναι e o domí nio do parecer ser dokein einai δοκειν είναι sendo o último valorado negativa mente por 1latão devido à sua natureza enganadora mutável multiforme d e 464 b 230 GÓRGIAS DE PLATÃO C d e 465 ΣΩ Φέρε δη σοι εαν δύνωμαι σαφέστερον έπιδείζω ο λέγω δυοϊν όντοιν τοΐν ττραγμάτοιν δύο λέγω τέχνας την μέν επί τη φυχη πολιτικήν καλώ την δε επί σώματι μίαν μέν όντως ονομασαι ονκ εχω σοι μιας δε ονσης της του σώματος θεραπείας δυο μόρια λέγω την μέν γυμναστικήν την δε ιατρικήν της δε πολίτικης αντί μέν της γυμναστικής την νομοθετικήν αντίστροφον δε τη ιατρική την δικαιοσύνην επικοινωνονσι μν δη αλληλαις ατε τκρι το αντο ουσαι εκάτεραι τούτων η τε ιατρική τη γυμναστική καί η δικαιοσύνη τη νομοθετική όμως δε διαφέρονσίν τι αλληλων τεττάρων δη τούτων ουσών καί αεί προς τδ βέλτιστον Θεραπευονσών των μέν το σώμα των δε την φυγήν η κολακευτική αίσθομένη ού γνοΰσα λέγω άλλα στοχασαμένητέτραχα έαυτήν δια νείμασα υποδυσα υπό έκαστον των μορίων προσποιείται είναι τούτο οπερ υπέδυ καί τού μέν βέλτιστου ουδεν φροντίζει τω δε αει ηδιστω θηρεύεται την ανοιαν και εςαπατα ώστε δοκέι πλειστου αςια είναι υπο μεν ουν την ιατρικήν η όφοποιικη υποδέδυκεν καί προσποιείται τα βέλτιστα σιτία τω σώμα τι et Òvaiy ωστ et ôeot V τιαισι οιαγωνιζεσναι οφοποιον τε και ιατρόν η εν ανδρασιν ούτως ανοητοις ώσπερ οί παΐδες πότερος έπαιει περί των χρηστών σιτίων καί πονηρών ο ιατρός η ο οφοποιος λιμω αν αποθανειν τον Ιατρόν κολακείαν μέν ουν αντο καλώ καί αισχρόν φημι είναι το τοιοντον ώ ΓΙώλε τούτο γαρ προς σε λέγωοτι τού ήδέος στοχάζεται άνευ τού βέλτιστου τέχνην δε αυτήν ου φημι çtvat αλλ μττΐριαν οτι ονκ eet λογον ovòtva ω προσφζρί α προσφρςι οποί αττα την φυσιν ςστιν ωστ την αιτίαν έκαστου μη εχειν ειπειν εγω δε τέχνην ου καλώ δ άν η άλογον πράγμα τούτων δε περί εί αμφισβητείς εθέλω υποσχείν λόγον 54 Platão ressalta ο aspecto irracional envolvido na psicologia moral do fenô meno retórico a finalidade precípua da retórica é comprazer a audiência por meio do que ela a persuade a despeito de sua ação vir a ser benéfica ou nociva A aparente eficácia persuasiva do discurso retórico se deve portanto não ao conhecimento do objeto ao qual ele se volta ou seja a alma e dos meios pelos quais ele obtém esse fim ou seja o discurso mas ao hábito de persuadir a audiência mediante o seu deleite e GÓRGIAS 231 soc Vamos lá então Se eu for capaz vou te exibir de forma mais clara o que digo Com o são duas coisas afirmo que há duas artes em relação à alma eu a chamo de política ao passo que em relação ao corpo não posso chamála igual mente por um só nome no entanto visto que é único o cui dado para com o corpo duas partes dele distingo a ginástica e a medicina quanto à política em contraposição à ginástica há a legislação enquanto a justiça é a contraparte da medicina Cada par possui algo em comum por concernir à mesma coisa c a medicina e a ginástica de um lado e a justiça e a legislação de outro embora haja algo em que se difiram Assim na me dida em que são quatro e que cuidam sempre do supremo bem do corpo e da alma cada qual a seu turno a lisonja perce bendo esse feito não digo que sabendo mas conjeturando dividese em quatro e infiltrandose em cada uma dessas partes simula ser aquela na qual se infiltra Ela não zela pelo d supremo bem mas aliada ao prazer imediato encalça a igno rância e assim ludibria a ponto de parecer digna de grande mé rito Portanto na medicina se infiltrou a culinária simulando conhecer qual a suprema dieta para o corpo de modo que se o cozinheiro e o médico em meio a crianças ou a homens igual mente ignorantes como crianças competissem para saber qual deles o médico ou o cozinheiro conhece a respeito das dietas salutares e nocivas o médico sucumbiria de fome Isso eu chamo e de lisonja e afirmo que coisa desse tipo é vergonhosa Polo e isto eu digo a ti porque visa o prazer a despeito do supremo 465 bem Não afirmo que ela é arte mas experiência porque não possui nenhuma compreensão racional da natureza daquilo a que se aplica e daquilo que aplica e consequentemente não tem nada a dizer sobre a causa de cada um deles Eu não denomino arte algo que seja irracional mas se tiveres algum ponto a con teslar desejo colocar à prova o argumento54 i ini 1 iltncnto A retórica assim está confinada ao domínio da experiência empei ili iniuíuenãosealçaaoestatutodearte tekhnê τέχνη porque se configura iniiiii uma atividade irracional ela é em suma experiência έμπειρίαν 462C3 de piodin de deleite e prazer χάριτός τίνος και ηδονής άπεργασίας 46207 232 GÕRGIAS DE PLATÃO Tr μεν ούν Ιατρική ώσπερ λέγω ή όφοποιική κολακεία νποκειται τη δε γνμναστικτ κατα τον αντον τροπον τούτον η κομμωτική κακούργος re και απατηλή και αγεννής και ανελεύθερος σχήμασιν καί χρωμασιν και λειότητι και εσθήσιν άπατώσα ώστε ποιεΐν αλλότριον κάλλος εφελκομενους του οικείου τον διά τής γυμναστικής άμελείν ϊν ουν μή μακρολογώ εθελω σοι ειπείν ώσπερ οι γεωμετραιήδη γάρ αν Ισως άκολουθήσαιςorι ο κομμωτική προς γυμναστικήν τοΰτο σοφιστική προς νομοθετικήν και δτι δ όφοποιική προς ιατρικήν τούτο ρητορική προς δικαιοσύνην οπρ μςντοι λέγω διεστηκε μεν οντω φύσει άτε δ εγγύς δντων φύρονται εν τω αντω και περί ταυτα σοφισται και ρήτορες και ουκ εχονσιν δτι χρήσονται ούτε αυτοί εαντοΐς ούτε οι άλλοι άνθρωποι τούτοις και γάρ άν εί μή ή ψυχή τω σωματι επεστάτει άλλ αυτό αντω καί μή νπδ ταύτης κατεθεωρεϊτο και οΐκριντο η re οψοποιικι και ή ιατρική αλλ αντο το σώμα εκρινε σταθμωμενον ταΐς χάρισι ταϊς προς αυτό το του Άναζαγόρου άν πολύ ήν ω φίλε Πάλε σύ γάρ τούτων έμπειρος ομου αν παντα χρήματα εφνρετο εν τω αντω ακρίτων οντων των τε ιατρικών και υγιεινών και οψοποιικων 55 Como explica Dodds op cit p 231 a noção de proporção usada aqui por Sócrates para sintetizar o argumento era entendida pelos gregos como uma questão de geometria e não de aritmética como nós a entendemos hoje Sobre a distinção entre cálculo oytaTtKr e aritmética üpi0pqxiKr no pensamento matemático grego cf supra nota 15 56 Este é o quadro sinóptico que apresenta as quatro artes relativas ao corpo e à alma e suas respectivas espécies de lisonja kolakeia a r t e τ έ χ ν η corretiva regulativa A L M A C O R P O J U S T I Ç A M E D I C I N A L E G I S L A Ç Ã O G I N Á S T I C A l i s o n j a κ ο λ α κ ε ί α corretiva regulativa A L M A C O R P O R E T Ó R I C A C U L I N Á R I A S O F Í S T I C A I N D U M E N T Á R I A 57 Segundo o esquema acima a sofistica trataria portanto das leis eou das questões éticopolíticas em geral pois a noção de νόμος nomos possui sentido amplo enquanto a retórica estaria confinada no domínio da justiça cuja finali dade seria observar se as leis prescritas estão sendo observadas ou não pelos ci dadãos Como observa T Irwin op cit p 136 o sofista consideraria como as GÓRGIAS 213 À medicina então como estou dizendo a culinária subjaz b como lisonja e à ginástica subjaz de modo análogo a indumen tária capciosa enganadora vulgar servil que ludibria por meio de figuras cores polidez e vestes a ponto de fazer com que furtando uma beleza que lhe é alheia se negligencie a beleza legítima fruto da ginástica Então para que eu não me estenda em um longo discurso desejo te dizer como dizem os geômetras pois talvez já me acompanhes55 a indumentária está para a c ginástica assim como a sofística está para a legislação e a culi nária para a medicina assim como a retórica para a justiça56 Todavia saliento há por natureza tal diferença mas devido à sua contiguidade sofistas e rétores se diluem em uma mesma coisa e com relação às mesmas coisas e não sabem o que fazer de si mesmos tampouco os demais homens o que fazer deles57 Ademais se a alma não comandasse o corpo mas ele tivesse autocomando e se a culinária e a medicina não fossem por ela d perscrutadas e discernidas mas o próprio corpo as discernisse tendo como medida o deleite que lhe advém seria de grande valor o dito de Anaxágoras meu caro Polo tens experiência no assunto todas as coisas reunidas se diluiriam em uma única coisa visto que seria indiscernível o que é relativo à medicina leis e as questões éticopolíticas em geral devem ser propondose a ensinar essa matéria às pessoas que pudessem pagar por esse conhecimento na perspectiva de Platão um pseudoconhecimento um conhecimento aparente ao passo que o rétor partindo dessas leis prescritas as aplicaria nos processos particulares dos tribunais Todavia na medida em que sofística e retórica consistem em práticas li sonjeadoras destituídas de conhecimento e circunscritas ao âmbito da experiência riucini εμπειρία sem alçarse ao estatuto de arte tekhné τέχνη o sofista e o rétor são o mesmo ou muito próximos e semelhantes ταύτόν ώ μακάρι έστιν οοιριοτής και ρήτωρ ή εγγύς τι και παραπλήσιον 520a68 como Sócrates dirá posteriormente a Cálicles 234 GÓRGIAS DE PLATÃO e 466 b Λ ν Ί Ι ι ο μεν ονν εγω φημι την ρητορικήν είναι ακήκοας αντί στροφον όφοττοιίας έν ψυχή ώς έκεϊνο έν σώματι ίσως μεν ονν ατοττον ττεΊΐοίηκα οτι σε ονκ έών μάκρους λόγους λεγειν αυτός συχνόν λογον αποτετακα αςιον μεν ονν έμοι συγγνώμην εχειν έστίν λίγοντος γάρ μου βραχέα ονκ έμάνθανες ουδέ χρήσθαι τή άποκρίσει ήν σοι άπεκρινάμην ονδέν οΐός τ ήσθα άλλ έδέου διηγήσεως έαν μέν ονν και έγω σου άποκρινομένον μη έχω οτι χρήσωμαι άττότεινε και συ λόγον έαν δε έχω έα με χρήσθαι δίκαιον γάρ καί νυν ταΰττ τή άποκρίσει εΐ τι έχεις χρήσθαι χρώ ΓΊΧ2Λ Τί ουν φής κολακεία δοκει σοι είναι ή ρητορική ΣΩ Κολακεία μεν ουν έγωγε εΐπον μόρων άλλ ον μνημονεύεις τηλικοντος ων ω Πώλε τί τάχα δράσεις ΠΩΛ Αρ ονν δοκοΰσί σοι ώς κόλακες εν ταϊς πόλεσι φαύλοι νομίζεσθαι οί αγαθοί ρήτορες ΣΩ Ερώτημα τοϋτ έρωτας ή λόγον τίνος αρχήν λέγεις ΠΩΛ Ερωτώ έγωγε ΣΩ Ονδέ νομίζεσθαι έμοιγε δοκοΰσιν ΠΩΛ Πώ ον νομίζεσθαι ον μέγιστον δύνανται έν ταις πόλεσιν ΣΩ Οϋκ εί τό δννασθαί γε λέγεις αγαθόν τι είναι τω δνναμένω ΠΩΛ Άλλα μην λέγω γε ΣΩ Ελάχιστοι τοίνυν μοι δοκονσι τών έν τί πόλει δννασθαί οι ρήτορες 58 58 Sócrates se refere aqui às primeiras palavras do livro de Anaxágoras cerca 500428 aC que descrevem o caos antes da intervenção do nous νους Este frag mento foi preservado por Simplído Física 15523 Fr d k 59 b i Todas as coisas eram juntas ilimitadas quer em quantidade quer em peque nez pois o pequeno é ilimitado E visto que tudo era junto nada se evidenciava pela pequenez O ar e o éter continham tudo sendo ambos ilimitados Pois em meio ao GÕRGIAS 2 3 5 à saúde ou à culinária58 O qr eu então afirmo ser a retórica já ouviste a contraparte da culinária na alma assim como a culinária é a sua contraparte no corpo Talvez eu tenha incorrido em um absurdo porque não permitindo que tu fizesses longos discursos eu mesmo acabei me prolongando em um discurso extenso59 Contudo mereço teu perdão pois quando eu falava brevemente tu não me entendias e nem eras minimamente ca paz de fazer uso das respostas que te endereçava carecendo de explicação Assim se eu por minha vez não souber como usar as respostas que me deres prolonga também tu o discurso caso contrário deixa que eu as use pois é justo E agora se souberes como usar essa resposta usaa pol Mas o que dizes então A retórica te parece ser li sonja soc Eu disse deveras que ela é parte da lisonja Mas com essa idade não te recordas Polo O que farás agora pol Acaso te parece que os bons rétores enquanto lison jeadores são considerados homens desprezíveis nas cidades soc Isso é uma pergunta ou o princípio de um discurso pol Uma pergunta soc A mim não parecem ser nem mesmo considerados pol Como eles não são considerados Não possuem eles o poder supremo nas cidades soc Não se o poder a que te referes for um bem a quem o possui pol Mas certamente é soc Pois bem dentre os cidadãos os rétores me parecem possuir o mais ínfimo poder cfc ο ών ΓβηΛ i n u jt Ma jm ec c o y y ic I t o r iiinjunto de todas as coisas essas eram as maiores em quantidade e em grandeza όμοΰ πάντα χρήματα ήν άπειρα και πλήθος και σμικρότητα και γάρ το μικρόν άπειρον ήν και πάντων όμοΰ έόντων οϋδέν ένδηλον ήν ύπό σμικρότητος πάντα γάρ άήρ τε καί αιθήρ κατειχεν άμφοτέρα άπειρα έόντα ταΰτα γάρ μέγιστα fvi onv έν τοϊς σύμπασι και πλήθει και μεγέθει 5 Cf 4trd e 466 b 2 3 6 GÓRGIAS DE PLATÃO ΠΓ2Α Τι δε ουχ ώσπερ οι τύραννοι άποκτεινύασίν τε ς δν άν βονλωνται και άφαιροΰνται χρήματα και έκβάλλουσιν έκ των πόλεων δν δν δοκτ αυτοίς Σί2 Ντ τον κννα άμφιγνοώ μέντοι ώ Πώλε εφ έκαστον ων λεγείί ττότερον αυτοί ταΰτα λεγεις και γνώμην σαντοΰ άποφαίντ η εμέ έρωτας Πί2Λ Άλλ εγωγε σε ερωτώ Σί2 Ειευ ώ φίλε έπειτα δυο αμα με έρωτας ΠΩΛ Πώϊ δύο ΣΩ Ονκ άρτι οντω πως έλεγες ί9Η ουχι άποκτεινύασιν ά οι ρήτορες ονς άν βονλωνται ώσπερ οι τύραννοι και χρήματα άφαιροννται και εξελαύνονσιν εκ των πόλεων δν αν δοκτ 9 λ 99 αυτοί Πί2Λ νΕγωγε Σ12 Λέγω τοίννν σοι οτι δυο ταΰτ εστιν τα ερωτήματα και άποκρινούμαί γέ σοι προς άμφότερα φημϊ γάρ ω Πώλε εγώ και τους ρήτορας και τουί τυράννους δννασθαι μν ν γη τοΑσιν τμικροτατον ωσττρ νννοη Λγον ονόν ε γαρ ποιειν ων βούλονται ως έπος ειπειν ποιειν μεντοι οτι αν αύτοΐς δόη βελτιστον είναι Πί2Λ Ούκονν τούτο εστιν τδ μεγα δύνασθαι ΣΩ Ουχ ως γέ φησιν Πώλος Πί2Λ Εγώ ου φημι φημι μέν ουν εγωγε 6ο Sófocles Antígone w 506507 A N T Í G O N E A tirania é feliz por diversos modos E pode fazer e dizer o que quer άλλ ή τυραννις πολλά τ άλλ ευδαιμονεί κάξεστιν αύτρ δράν λέγειν θ α βούλεται 6ι A admiração de Polo pelo poder ilimitado do tirano introduz um ele mento crucial para a compreensão do problema envolvido na prática retórica na democracia segundo a discussão de Platão no Górgias No 12 Ato do diálogo a promessa da personagem Górgias a seus discípulos era que por meio da retórica se conquistaria liberdade e poder nas cidades 45 2d como se ambos fossem bens incondicionados Todavia a mesma personagem na defesa do seu ofício de rétor coloca o problema moral relativo aos meios para se alcançar tais fins argumentando que embora a retórica possa conferir ao homem um poder ilimitado ele não deve empregála de forma injusta 456b457b Em suma na perspectiva de Górgias seja ela sincera ou não tendo em vista o protesto de Polo cf 46ibc a prática retórica GÓRGIAS 237 pol Mas o quê Não assassinam como os tiranos quem eles quiserem60 e não roubam dinheiro e expulsam da cidade c quem for de seu parecer61 soc Pelo cão Estou de fato em dúvida Polo se a respeito de cada coisa que dizes és tu a afirmálas e a revelar o teu pró prio pensamento ou se estás me interrogando pol Mas eu estou te interrogando soc Que assim seja meu caro Tu me perguntas então duas coisas ao mesmo tempo pol Como duas soc Há pouco não dizias mais ou menos o seguinte mas os rétores não assassinam quem eles quiserem como os tiranos e não d roubam dinheiro e banem da cidade quem for de seu parecer pol Sim soc Pois bem eu te digo que elas são duas perguntas e responderteei a ambas Eu afirmo Polo que tanto os rétores quanto os tiranos possuem o mais ínfimo poder nas cidades como antes referia e que não fazem o que querem por assim e dizer mas fazem o que lhes parece ser melhor62 pol E então não é grandioso esse poder soc Não é como afirma Polo pol Eu afirmo que não é Eu afirmo que é sim deve ser regulada pelo princípio da justiça de modo que nem todos os meios são válidos para atingir os fins almejados Nessa comparação de Polo entre o poder do rétor e o do tirano Platão retoma então o problema da relação entre meios e fins na prática retórica sob outra perspectiva Polo entende que a superioridade do rétor consiste precisamente em poder por meio da retórica realizar todo tipo de ação seja ela justa ou injusta na medida em que a retórica e consequentemente o poder que dela deriva são bens incondicionados e não regulados pelo princípio da justiça É essa tese que Sócrates passará a refutar buscando mostrar a Polo como suas opiniões sobre a questão são conflitantes Do ponto de vista geral da filosofia política de Platão ele traz à tona no Górgias o problema da relação entre democra i ia c tirania tratado sobretudo na República ii O argumento de Sócrates se baseia na distinção entre fazer o que quer mm iv ότι βούλονται 466ei e fazer o que parece ser melhor ποιεΐν ότι άν αύτοΐς ΛόΙιι βΐλπατον είναι 466ei2 tratados como duas condições indistintas por Polo I onm observa atentamente Irwin Sócrates acrescenta à fala de Polo a ideia de o melhor βιλτιστον sem uma explicação suplementar op cit p 139 2 3 8 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Μα τον ον συ γ ε είτε το μ έ γ α δύνασθαι εφ ης α γα ϋο ν ζινα ι τω ονναμ ζνω ΠΩΛ Φ ημΙ γα ρ ονν ΣΩ Α γα θ ό ν ονν οΐει είνα ι εά ν n s ττοιή ταΰτα à αν δοκτ αντω β έ λ τ ισ τ α eivai νουν μη εχ ω ν και τούτο καλεΐς σ ν μ έ γ α όννα σ θα ι Πί2Λ Ο υκ έγω γε ΣΩ Ουκονν άττοδείζεις tovs ρήτορας νουν έχο ντα ς και τ έχ ν η ν τη ν ρητορικήν ά λ λ α μη κολακείαν εμ έ ε ζ ελ έ γζ α ς ei δέ μ ε έά σ εις α ν έλ εγκ τ ο ν οί ρήτορες οί ττοιονντες iv ταΐς ττόλεσιν α δοιεΐ αντοΐς και oi τύραννοι ουδέν α γα θόν τούτο κ κτή σ οντα ι ή δέ δνναμ ίς έσ τ ιν ως σ ν φ ή ς α γα θ όν το δέ ττοιεΐν ávev νοΰ à δοκεΐ και σ ν ο μ ο λο γείς κακόν ε ίν α ι A V η ον ΓΊΩΛ Έ γ ω γ ε ΣΩ Πώί αν ονν οί ρήτορες μ έ γ α δύναιντο ή οι τύραννοι εν τα ΐς ττόλεσιν εά ν μη Σω κράτης ε ζ ε λ ε γ χ θ ή νττδ Πώλου ότι ττοιοΰσιν α β ο ύ λ ο ντ α ι ΠΩΛ Ο ύτος άνήρ ΣΩ Ο ύ φ η μ ι ττοιεΐν αυτούς β ο ύ λ ο ν τ α ι αλλά μ έ λ ε γ χ ε ΠΩΛ Ο υκ άρτι ω μ ο λό γεις ττοιεΐν â δοκεΐ αντοΐς β έ λ τ ισ τ α είνα ι τούτου ττρόσθεν ΣΩ Και γα ρ νυ ν ομ ολογώ ΠΩΛ Ονκ ονν ττοιοΰσιν β ο ύ λ ο ντ α ι ΣΩ Ου φ η μ ι ΠΩΛ Ποίουυτ h δ οκ εΐ αντοΐς ΣΩ Φ ημι ΠΩΛ Σ χ έ τ λ ιά γ ε λ έ γ ε ις και υ π ερ φ υή ω Σώ κρατες ΣΩ Mrj κακηγόρει ω λωστε Πωλε ϊνα ττροσείττω σ ε κατα σ ε αλλ ει μ εν ε χ εις εμε έρω ταν εττιδειξον οτι ψ εύδομα ι ει δε μή αυτός άττοκρίνου 63 63 Sócrates se refere aqui à assonância em o ou paronomásia da fórmula Ô lÔiste PÔle d Xüjote ntõXc como algo característico da elocução de Polo E Dodds op cit p 235 GÓRGIAS 239 soc Não pelo tu não afirmas porque dizias que ter um grandioso poder é um bem para quem o possui pol E confirmo soc Julgas então que alguém fazer aquilo que lhe pareça ser melhor porém sem inteligência é um bem É isso o que tu chamas ter um grandioso poder pol Eu não soc Demonstrarás então que os rétores têm inteligência e que a retórica é arte e não lisonja para enfim me refutares 467 Caso contrário se te eximires de me refutar os rétores bem como os tiranos que nas cidades fazem aquilo que lhes parece não terão obtido nenhum bem contudo o poder como dizes é um bem enquanto fazer o que parece sem inteligência um mal com o que tu concordas não é pol Sim soc Como então os rétores ou os tiranos poderiam ter um grandioso poder nas cidades se Polo não refutar Sócrates provando que eles fazem o que querem pol Este homem b soc Eu afirmo que eles não fazem o que querem vai re futame pol Há pouco não admitias que eles fazem aquilo que lhes parece ser melhor soc E continuo admitindo pol Não fazem então o que querem soc Isso eu não digo pol Fazendo o que lhes parece soc Isso eu digo pol Tuas palavras são perniciosas e sobrenaturais Sócrates soc Não me difames excelente Polo para falarte à tua maneira consueta63 Mas se tiveres perguntas a me fazer mostra c que estou mentindo se não responde tu 2 Ί 0 GÓRGIAS DE PLATAO ΠΩΛ Ά λλ θ έλω ά π ο κ ρ ίνίσ θ α ι ΐνα και ίιδώ ότι λ ί γ α ΣΩ Τ ϊότΐρον ούν σ ο ι δοκούσιν οι άνθρω ποι τούτο β ο ν λ σ θ α ι ο αν π ρα ττω σ ιν κ α σ τ ο τί η κ α ν ό ον ν κ α π ρα τ τ ο ν σ ιν τοΰθ ο π ρ ά ττο νσ ιν οΐον οι τα φ άρμακα π ίν ο ν τ α παρά τω ν Ιατρών π ό τίρ ό ν σ ο ι δοκούσιν τούτο β ο ύ λ ίσ θ α ι δ π ρ π οιούσ ιν π ίν α ν το φ άρμακον και ά λ γ α ν η κ α νό το ν γ ια ίν α ν ου ΐν ίκ α π ίν ο ν σ ιν ΠΩΛ Α ή λ ο ν ό τι το d ν γ ια ίν α ν ΣΩ Ο ύκοΰν και οΐ π λ ίο ν τ ί τ και τον ά λ λ ο ν χρ η μ α τισ μ ό ν χρ η μ α τιζό μ ίνο ι ον τοΰτό σ τ ιν ο β ο ύ λ ο ντ α ι ο π ο ιο ύ σ ιν κ ά σ τ ο τί ris γά ρ β ο ύ λ ίτ α ι π λ ΐν re και κ ινδν vtveiv και π ρ α γμ α τ χ ΐν αλλ ζκ α νο οιμ α ι ον tvena π λ ίο υ σ ιν π λ ο ν τ ά ν π λο ύ το ν γά ρ ν ίκ α π λ ίο υ σ ιν ΠΩΛ Πάυυ γ ΣΩ Α λλο τ ι ούν οντω και πρι π ά ντω ν ά ν ris τι πράτττ νκ ά του ου τούτο β ο ύ λ ΐτ α ι ο π ρ ά τ τ α άλλ èκ α νό e ου ν ίκ α π ρ ά τ τ α ΠΩΛ ΝαιΣΩ ΤΑρ ούν σ τ ιν τι τω ν οντω ν ο ο ν χ ι ήτοι α γα θόν γ σ τ ιν η κακόν ή μ τ α ς ν τούτω ν ο ντ α γα θ ό ν ο ντ κακόν ΠΩΛ Πολλή ανάγκη ω Σ ώ κ ρ α τ ίΣΩ Ο νκ οΰν λ ί γ α ς Ινα ι α γα θ όν μ ίν σ ο φ ία ν τ και ν γ ία α ν και π λο ύ το ν καϊ τ ά λ λ α τα τοιαύτα κακά δ τά να ντία το ύ τω ν ΠΩΛ Έ γω γίΣΩ Τα ôè μ η τ αγαθά μ η τ κακα αρα roiaoe λeyets α eviore μ ζν μΤχΐ του α γα νο ν 468 ν ίο τ δ τού κακού ν ίο τ δ ο ν δ ίτ ίρ ο ν οΐον καθήσθαι και β α δ ίζ α ν και τ ρ ίχ α ν και π λ ά ν και οΐον αύ λ ίθ ο υ και ζύ λ α 64 64 A confusão de Polo é natural nesse momento da discussão pois Sócrates pressupõe uma concepção sobre o que é o querer referido no argumento pelo verbo βούλομαι boulomai sem explicála ao interlocutor Para demonstrar que o rétor e o tirano ao cometerem atos injustos não fazem o que querem ποιείν õti βούλονται 466ei mas o que lhes parece ser melhor ποιείν οτι αν αύτοΐς δόξη βέλτιστον είναι 466ei2 Sócrates deve fazer com que o interlocutor assinta em duas proposições fundamentais i que o homem quer somente as coisas boas perseguindoas em suas GÓRGIAS 241 pol Mas prefiro responder para compreender o que dizes64 soc Pois bem porventura os homens te parecem querer aquilo que fazem em cada ocasião particular ou aquilo em vista do que fazem o que fazem Por exemplo quem toma remédio por prescrição médica te parece querer simplesmente o que faz tomar remédio e sofrer ou aquilo em vista do que o faz ter saúde pol Ter saúde evidentemente soc Portanto também os navegadores e os demais nego d dantes não querem aquilo que fazem em cada ocasião particu lar pois quem há de querer navegar se arriscar e ter problemas mas querem julgo eu aquilo em vista do que navegam ou seja enriquecer pois é em vista da riqueza que eles navegam pol Com certeza soc E o mesmo não vale para todos os demais casos Se alguém faz alguma coisa em vista de algo o que ele quer não é aquilo que faz mas aquilo em vista do que faz pol Sim soc Por acaso há alguma coisa que não seja boa nem má e nem o meiotermo ou seja nem boa nem má pol É forçoso que não haja Sócrates soc Não afirmas então que a sabedoria é um bem assim como a saúde a riqueza e as demais coisas desse tipo e um mal os seus contrários pol Sim soc As coisas nem boas nem más às quais te referes são porventura aquelas que ora participam do bem ora do mal ora de nenhum deles como por exemplo sentar caminhar correr 468 navegar ou como as pedras as madeiras e as demais coisas do ações 46704686 e ii que a injustiça é um mal para a alma de quem a comete de modo que cometer injustiça é pior que sofrêla 468648 ib Ou seja Sócrates só po deria exigir o entendimento da parte de Polo depois de ter cumprido esses dois pas sos do argumento o que sucederá na discussão subsequente Nesse sentido Sócrates joga propositalmente com o interlocutor a fim de acentuar sua debilidade intelectual e moral tendo em vista sua inexperiência no diálogo 448d ie na discussão de natureza filosófica empreendida por Sócrates e seu círculo de amizade 2 4 2 GÓRGIAS DE PLATÃO και τ ά λ λ α τα τοιαντα ον τα ντα λ ε γ ε ις ή ά λ λ άττα καλεϊς τα μ ή τε αγα θά μ ή τε κακάΠΩΛ Ο ύκ α λ λ ά τα ντα ΣΩ Ώ ότερον ονν τα μ ετα ξύ τα ντα ενεκα τω ν α γα θώ ν π ρά τ τ ο ν σ ιν όταν πρά ττω σ ιν ή τα γα θ ά τω ν μ ετ α ξ ύ ΠΩΛ Τα μ ετα ξύ δήπου τω ν α γα θ ώ νΣΩ Το α γα θ ό ν άρα διώ κοντες και β α δ ίζο μ εν όταν βα δίζω μ εν οιόμενοι β ε λ τ ιο ν eivai και t f t y r t Λ το να ν τιο ν εετταμεν ότα ν εσ τω μ εv τον αντον eveKa του ά γα θον ή ο ν ΠΩΛ ΝαιΣΩ Ο νκ οΰν και ά ποκτείνυ μ εν εΐ τ ιν ά π οκ τείννμ εν και εκ β ά λ λ ο μ εν και ά φ α ιρονμεθα χρ ή μ α τα οιόμενοι ά μ εινον eiva i ή μ ΐν τα ντα π ο ιεϊν ή μ ή ΠΩΛ ΥΙάνν γ ε ΣΩ Eyec άρα του ά γα θ ον ά παντα τα ντα π ο ιο νσ ιν oi π οιονντεςΠΩΛ Φ η μ ί ΣΩ Ο νκονν ώ μ ο λο γή σ α μ εν a eveKa του π οιονμ εν μη εκείνα β ο ν λ εσ θ α ι άλλ εκείνο ον eveKa τα ντα π ο ιο νμ εν ΠΩΛ Μάλιστα ΣΩ Ο νκ άρα σ φ ά τ τειν ß o v λ ό μ e θ a ονδ ε κ β ά λ λ ε ιν εκ τώ ν π ό λεω ν ονδε χρ ή μ α τα ά φ α ιρ εϊσ θ α ι α π λώ ς όντω ς άλλ êàv μ εν ω φ έλιμ α ή τα ντα β ο ν λό μ εθ α π ρ ά ττειν αυτά β λ α β ε ρ ά δε όντα ον β ο νλό μ εθ α τα γά ρ αγα θά β ο ν λό μ εθ α ως φ ή ς τν τα δε μ ή τε α γα θά μ ή τε κακά ον β ο νλό μ εθ α ovòe τά κακά ή γά ρ αληθή σοι δοκώ λ ε γ ε ιν ώ Πώλί ή ον τ ί ονκ α π οκ ρ ίνη ΠΩΛ Α λ η θ ή ΣΩ Ο νκονν εϊπ ερ τα ντα ομ ολογούμ εν ε ΐ τις αποκτείνει τινά ή ε κ β ά λ λ ε ι εκ π ό λεω ς ή ά φ α ιρεΐτα ι χρήμ α τα είτε Λ V C V τύραννος ων είτε ρητωρ οιομενος α μ εινον είνα ι αντω τ ν γ χ α ν ει δε ον κάκιον οΐιτος δήπον π ο ιεί ά δοκεΐ αντώ ή γ ά ρ GÓRGIAS 2 4 3 gênero Não te referes a isso Ou chamas outras coisas de nem boas nem más pol Não são aquelas soc As pessoas então fazem essas coisas intermediárias em vista das boas quando fazemnas ou as coisas boas em vista das intermediárias pol Decerto as coisas intermediárias em vista das boas b soc Portanto quando caminhamos caminhamos no en calço do bem julgando ser melhor caminhar e ao contrário quando nos firmamos firmamonos em vista da mesma coisa do bem ou não pol Sim soc Da mesma forma não matamos se matamos alguém e o banimos e lhe roubamos dinheiro presumindo que é melhor para nós fazêlo do que não fazêlo pol Certamente soc Portanto quem faz todas essas coisas as faz em vista do bem pol Confirmo soc E não concordamos que não queremos as coisas feitas por nós em vista de algo mas aquilo em vista do que as fazemos c pol Sem dúvida soc Portanto não queremos simplesmente degolar alguém expulsálo da cidade ou roubarlhe dinheiro mas queremos fazer isso se houver algum benefício se houver prejuízo não queremos fazêlo Queremos as coisas boas como dizes po rém as coisas nem boas nem más não as queremos tampouco as más não é Pareço te dizer a verdade Polo ou não Por que não respondes pol Dizes a verdade soc Assim uma vez concordes nesse ponto se alguém d seja um tirano ou um rétor mata alguém expulsao da cidade ou roubalhe dinheiro presumindo que é melhor para si mas isso acontece de lhe ser pior ele decerto faz aquilo que lhe pa rece ou não 2 4 4 GÓRGIAS DE PLATÃO e 469 n í2 A N aí 2Í2 vAp ovv kcu a j3ovkerai ehrep Tvyyávei ravra nana õvra rí ovk àitoKpívrj M I A AÀA ov p0 1 òoKU iroieiv h j3ovkerai 2 Í2 vEoriz ovv oirvos ò toiovtos péya òvvarai êv rfj nókei Tavrj elnep èort to pÁya bvva aôai àyaOóv ti Karà rrjv rrzt ópokoyíav M 2 A O vk eoTLV 2Í2 AArjdrj apa è y à ekeyov kéyoov õn eanv ãv àpurrtov iroLOvvTa èv Ttókei à òoKei avrôi pí péya òvvarrOcu ptòè iroieiv a fiovkeTcu Ü Í2A íls òí TV w EwKpares ovk àv òéÇcuo èÇeivaí croL 7roieiv OTi oocet roí ev Tjj 7roÀet fjiaAAov 77 fxry o voe rjkols orav íôrs TLvà r àiroKTeívavra bv eòoÇev avrü f acpekopievov yj7paTa 17 oiTavTa 2 Í2 AiKaícos kéyeis r àòÍKoos M 2 A O TíÓTep àv iroifj ovk àpforépm flkoúTÓv ècrriv 2Í2 Eixptfnei u IlcüÀe M 2 A T íô j 2Í2 rO n ov xprj ovre tovs àÇijkÚTovs rjkovv ovre rovs ãôkíovs àkk èkeeiv EIÍ2A Tt ôé ovra a o i òok 1 êyeiv irepí ã v èyà Aeya ráv àvdpánrcúv 2Í2 rTô yàp ov M 2 A 0 m ovv aTTOKTeívvcnv bv àv bóij clvtui òikclíois aTTOKTeivvs àQkios òoKei crot eivai Kaí iketvós 65 65 Vejamos o resumo do argumento de Sócrates i os homens não querem aquilo que fazem mas aquilo em vista do que fazem ii há coisas boas coisas más e coisas intermediárias que ora participam do bem ora do mal ora de nenhum deles iii os homens fazem as coisas intermediárias em vista das boas e não o con trário iv os homens querem as coisas boas e não as intermediárias tampouco as más v quando o rétor e o tirano matam roubam ou expulsam homens das cida des eles o fazem presumindo que isso lhes seja benéfico ou melhor vi mas se isso lhe acontece de ser prejudicial ou pior eles não fazem o que querem mas somente o que lhes parece pois ninguém quer coisas más GÓRGIAS 2 4 5 pol Sim soc Porventura ele faz também o que quer se isso acontece de ser mau Por que não respondes pol Ele não me parece fazer o que quer soc É possível que alguém desse tipo tenha grandioso po der nessa cidade se ter grandioso poder é um bem conforme teu consentimento pol É impossível soc Portanto eu dizia a verdade quando afirmava que o homem fazer na cidade o que lhe parece não é ter grandioso poder tampouco fazer o que quer65 pol Como tu Sócrates poderias preferir ser impossível a ser possível fazer na cidade o que te parece e não invejarias alguém quando o visses matando quem lhe parecesse ou rou bandolhe dinheiro ou encarcerandoo soc Dizes de forma justa ou injusta pol Como quer que ele faça em ambos os casos não é in vejável soc Silêncio Polo pol Por quê soc Porque não se deve invejar quem não é invejável nem quem é infeliz mas apiedarse dele pol O quê Parecete ser esse o caso dos homens aos quais me refiro soc E como não seria pol Então aquele que mata quem lhe parece quando ma tao de forma justa parecete ser infeliz e digno de piedade vii portanto o rétor e o tirano não possuem grandioso poder nas cidades uma vez que ter grandioso poder é um bem para quem o possui Como fica evidente acima a proposição vi do argumento já aponta para a discussão ulterior 469648 ib quando Sócrates buscará mostrar a Polo que ao contrário do que pensa a maioria dos homens cometer injustiça é pior que sofrêla uma vez que a justiça é um mal da alma Isso se faz necessário pois Polo poderia replicar a Sócrates que ao roubar matar ou expulsar homens das cidades o tirano e o rélor prejudicam e fazem mal não a si mesmos mas às vítimas de suas ações e que ao agirem assim eles visam o seu próprio bem 246 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Ο νκ έμ ο ιγε ονδε μ έντο ι ζηλω τός ΠΩΛ Ο νκ άρτι ά θ λιο ν έφ η σ θ α eiva i b ΣΩ Ίον αδίκως γ ε ω εταίρε ά π οκ τείνα ντα και έλεινό ν γ ε 7τρός τον ôè δικαίως άζηλω τον ΠΩΛ ΤΗ π ου δ y e άποθνησκω ν αδίκως έλεινό ς τε και άθλιός εσ τ ιν ΣΩ Ηττοι η δ α π οκτειννς ω ΓΤώλβ και η ττον η δ δικαίω ς ά ποθνησκω ν ΠΩΛ Πώϊ δητα ω Σω κρατες ΣΩ Ο ντω ς ως μ έ γ ισ τό ν τω ν κακώ ν T vy x á ve i δν τδ άδικεΐν ΠΩΛ τίΙ γά ρ τοΰτο μ έγ ισ τ ο ν ον τδ ά δικεΐσθα ι μ εϊζον ΣΩ Η κιστα ye ΠΩΛ Σν άρα β ο ν λ ο ιο αν άδικεΐσθαι μ ά λ λ ο ν η α δ ι ΐν c ΣΩ Βονλοίμ η ν μν à v eycoye ουδέτερα ei δ ανα γκα ίου εϊη άδικεΐν η ά δικείσθαι ελο ίμ η ν άν μ ά λ λ ο ν ά δικ εΐσ θα ι η αδικεΐν ΠΩΛ Συ άρα τύ ρ α ννείν ονκ αν δεξαιο ΣΩ Ο νκ εί τδ τνρα ννεϊν γ ε λ έ γ ε ις οπερ εγώ ΠΩΛ Ά λλ έγω γ ε τοΰτο λ έ γ ω οπερ άρτι έξεΐνα ι εν τί π ό λ ε ι δ αν δοκτ αντω π ο ιεΐν τοΰτο και ά π ο κ τειννντι και έκ β ά λ λ ο ν τ ι και π ά ντα π ρ ά ττοντι κατα τη ν αντοΰ δόζαν 66 Na abertura do Livro ii da República a personagem Glauco se propõe a discorrer sobre o que é a justiça e sua origem segundo a opinião da maioria para que Sócrates refutasse e elogiasse a justiça em si mesma a despeito das consequências que dela advém para os homens Essa opinião atribuída por Glauco à maioria dos homens 358c aparece no Górgias na boca de Polo e a discussão sobre a origem da justiça se assemelha à tese defendida pela personagem Cálicles mais adiante no diálogo 482b483d Vejamos esse trecho da República Dizem que cometer injustiça é por natureza um bem ao passo que sofrêla um mal e que sofrer injustiça supera em males os bens em cometêla Por conse guinte quando os homens cometem e sofrem injustiças reciprocamente e provam de ambas as condições àqueles que são incapazes de evitar uma e fazer valer a outra parece vantajoso estabelecer um acordo entre si para que não cometam nem sofram injustiças A partir disso então começam a instituir leis e acordos entre si e deno minam legítimo e justo a prescrição da lei Essa é a origem e a essência da justiça estando no meiotermo entre o que é o melhor não pagar a justa pena uma vez tendo cometido injustiça e o que é o pior ser incapaz de se vingar uma vez tendo sofrido injustiça E o justo estando no meiotermo de ambos é adorado não porque é bom mas porque é digno de honra devido à debilidade de se cometer injustiça Pois quem é capaz de fazêlo e é verdadeiramente homem jamais estabeleceria um GÓRGIAS 247 soc Não me parece contudo não é invejável pol Há pouco não dizias que ele era infeliz soc Aquele que mata injustamente meu amigo e digno b de piedade além do mais Mas quem mata de forma justa não é invejável pol Mas decerto quem morre injustamente é digno de piedade e infeliz soc Menos do que aquele que mata Polo e menos do que aquele que morre de forma justa pol Como assim Sócrates soc Assim o maior mal é cometer injustiça pol Mas é esse o maior mal Sofrer injustiça não é pior soc Impossível pol Portanto quererias antes sofrer injustiça do que co metêla soc Pelo menos eu não quereria nem um nem outro mas c se fosse necessário ou cometer injustiça ou sofrêla preferiria sofrer a cometer injustiça66 pol Portanto tu não admitirias ser tirano soc Não se te referes ao mesmo tirano que eu pol Mas refirome ao mesmo caso dantes ser possível fa zer na cidade o que lhe parecer matar banir e fazer tudo con forme a sua própria opinião acordo com quem quer que seja para não cometer nem sofrer injustiças caso con trário seria um louco É desse tipo então Sócrates a natureza da justiça e são essas as circunstâncias de onde ela se origina segundo o argumento 3586335905 πεφυκέναι γάρ δή φασιν το μέν άδικειν αγαθόν το δέ άδικείσθαι κακόν πλέονι δέ κακώ ύπερβάλλειν το άδικείσθαι ή άγαθώ το άδικείν ώστ έπειδάν άλλήλους άδικώσί τε και άδικώνται και άμφοτέρων γεύωνται τοΐς μή δυναμένοις τό μέν έκφεύγειν τό δέ αίρεΐν δοκεϊ λυσιτελεΐν συνθέσθαι άλλήλοις μήτ άδικείν μήτ άδικείσθαι καί έντεϋθεν δή άρξασθαι νόμους τίθεσθαι καί συνθήκας αυτών καί όνομάσαι τό ύπό τοϋ νόμου έπίταγμα νόμιμόν τε καί δίκαιον καί είναι δή ταύτην γένεσίν τε καί ουσίαν διακαιοσύνης μεταξύ ούσαν τοϋ μέν άρίστου οντος έάν άδικων μή διδψ δίκην τοϋ δέ κακίστου έάν αδικούμενος τιμωρεϊσθαι αδύνατος ή τό δέ δίκαιον έν μέσω ον τούτων άμφοτέρων άγαπάσθαι ούχ ώς άγαθόν άλλ ώς άρρωστία τού άδικείν τιμώμενον έπεί τον δυνάμενον αύτό ποιείν καί ώς άληθώς άνδρα ούδ άν ένί ποτέ συνθέσθαι τό μήτε άδικείν μήτε άδικείσθαι μαίνεσθαι γάρ ίίν ή μέν ούν δή φύσις δικαιοσύνης ώ Σώκρατες αϋτη τε καί τοιαύτη καί έξ ών ιιίφυκε τοιαϋτα ώς ό λόγος 248 σ ό ΐ ΐ α Α Β ϋ Ε Ρ Ε Α Τ Α Ο ά ε 470 b Σί2 τί2 μακάριε εμοΰ δη λεγοντος τώ λόγω επιλαβον ει γάρ εγώ εν άγορα πληθοΰστ λαβών υπό μάλης ϊγχ ρίδιον λεγοιμι προς σε ότι Ω Πώλ6 εμοι δΰναμίς τις κα τυραννις θανμασια άρτι προσγεγονεν εαν γαρ αρα εμοι δόζη τινα τοντωνι των ανθρώπων ών συ όρς αντίκα μάλα δεΐν τεθνάναι τεθνήζει οΰτος ον άν δόξη καν τινα δόξη μοι της κεφαλής αυτών καταγήναι δεΐν κατεαγώς εσται αντίκα μάλα καν θοιμάτιον διεσγίσθαι διεσχισμενον εσταιοΰτω μεγα εγώ δύναμαι εν τήδε τί πόλει εί ουν άπιστονντί σοι δείζαιμι τό εγχειρίδιον Ισως αν εΐποις ίδών οτι Ώ Σώ ν Λ κρατςς οντω μν παντός αν μγα ονναιντο ΤΤί καν χπρ σθείη οικία τουτω τω τρόπω ήντινά σοι δοκοί και τά γε Αθηναίων νεώρια και αί τριήρεις και τά 7τλοΐα πάντα και τά δημοσία και τα ίδια αλλ ουκ αρα τουτ εστιν το μεγα δΰνασθαι το ποιεΐν ά δοκεΐ αντω η δοκεΐ σοι Πί2Λ Ού δητα οντω γε ΣΩ Έ χ α ί ουν ειπεΐν δι οτι μεμφη την τοιαύτην δΰναμιν Πί2Λ Εγωγε ΣΩ Τί δη λεγε Π12Λ Οτι άναγκαΐον τον οΰτω πράττοντα ζημιοΰσθαί εστιν ΣΩ Τό δέ ζημιοΰσθαί ον κακόν ΠΓ2Λ Πάιυ γε Σί2 Ονκοΰν ώ θαυμάσιε τό μεγα δΰνασθαι ττάλιν αΰ σοι φαίνεται εάν μεν ττράττοντι ά δοκέι επηται τό ώφελί μως ττραττειν αγαθόν τε είναι και τούτο ως εοικεν εστιν τό μεγα δΰνασθαι εί δε μη κακόν και σμικρόν δΰνασθαι σκεφώμεθα δε και τάδε άλλο τι όμολογονμεν ενίοτε μεν άμεινον είναι ταΰτα ποιεΐν ά νννδη ελεγομεν άποκτεινΰναι τε και εζελαΰνειν ανθρώπους και άφαιρεΐσθαι χρήματα ενίοτε Ν V V 06 ου GÕRGIAS 249 soc Venturoso homem rebate com argumentos o que eu digo Se na praça atulhada de gente eu dissesse a ti com um d punhal sob o braço Polo acabei de herdar um poder e uma tirania dignas de admiração portanto se eu achar que deva matar neste instante qualquer homem que ora vês estará morto quem for de meu parecer se eu achar que deva fender a cabeça de algum deles vai têla fendida neste instante e que deva atassalharlhe as vestes vai têlas atassalhadas tamanho é o meu poder nesta cidade Se tu então não acreditasses em e mim e eu te mostrasse o punhal assim que o visses dirias tal vez Sócrates todos teriam grandioso poder assim pois po derias da mesma forma incendiar qualquer casa que fosse de teu parecer ou os estaleiros de Atenas as trirremes e todas as embarcações sejam elas públicas ou privadas Contudo ter grandioso poder não é isso fazer o que parece a alguém ou a ti parece que seja67 pol Certamente não soc Podes dizer então por que desprezas tal poder 470 pol Sim soc Por que então Fala pol Porque é necessário que quem age dessa maneira seja punido soc E ser punido não é um mal pol Com certeza soc Então admirável homem está mais uma vez mani festo a ti que se fazer o que parece implicar agir de modo be néfico será um bem e como é plausível será isso ter grandioso poder caso contrário será um mal e ter ínfimo poder Exami nemos também o seguinte não concordamos que ora é melhor b fazer aquelas coisas a que há pouco nos referíamos matar ba nir homens e roubarlhes dinheiro mas ora não 67 Observe a coerência do vocabulário empregado por Sócrates para se referir a tais ações fictícias o agente ao praticálas não faz o que quer mas aquilo que lhe parece έμοί δόξη 46903 üv δόξη ds δόξη μοι ds σοι δοκοί e4 δοκεί αύτψ C7 conforme o argumento anterior 250 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΙΧ2Λ Ώάνν ye 2X2 Τούτο μεν δη ως εοικε και παρά τοΰ και παρ έμοΰ όμολογειται ΠΧ2Λ Ναι 2X2 Ποτέ ονν σύ φης άμεινον εΐναι ταντα ποιείν είπε τίνα ορον όρίζη ΠΧ2Λ Συ μεν ονν ω Σώκρατες άπόκριναι ταντο τοντο c 2X2 Eyiù μέν τοίνυν φημί ω Πώλε t σοι παρ εμον ηδιόν έστιν ακόυαν όταν μέν δίκαιων Tis ταντα που άμεινον είναι όταν ôè αδίκως κάκιον ΠΧ2Λ Χαλεπόν γέ σε ελέγξαι ώ 2 ώκpaτεs άλλ ουχι καν παϊς σε έλέγξειεν οτι ονκ άληθη λέγεις 2X2 Πολλίι άρα έγω τω παώϊ χάριν εζω ϊσην δε και σοί εάν με ελεγζης και άπαλλάζης φλυαρίας άλλα μη κόμης φίλον ανδρα ευεργετών άλλ έλεγχε ΠΧ2Λ Άλλα μην ω Σώκρατες ονδέν γέ σε δει παλαιοίς d πράγμασιν έλεγχειν τα γάρ εχθές καί πρώην γεγονότα ταντα ικανά σε εζελέγζαι έστιν και αποδεϊζαι ώΐ πολλοί άδικονντες άνθρωποι ενοαιμονες εισιν 2X2 Τα ποια ταντα ΠΧ2Λ Αρχέλαον δηπον τούτον τον Ώερδίκκου όράς άρχοντα Μακεδονίας 2X2 Ei δε μη άλλ ακούω γε ΠΧ2Α Ευδαίμων ονν σοι δοκεΐ είναι η άθλιος 2X2 Ονκ οιδα ώ Πώλε ον γάρ πω συγγέγονα τω άνδρί 68 69 70 68 Ver Platão Lísis 205C1 Eutidemo 301c 69 A discussão entre as personagens se volta agora para a relação entre felici dade eudaimonia ευδαιμονία e justiça dikaiosuné δικαιοσύνη Polo cita o caso de Arquelau rei da Macedônia como paradigma da vida de um homem que é injusto mas feliz na medida em que a justiça não é vista por ele como condição necessária para ά felicidade Sobre o problema moral e religioso envolvido na ideia de um homem injusto e feliz άδικος ευδαίμων ver Hesíodo Os Trabalhos e os Dias w 202285 Sólon fr 13 Teógnis 373380 Píndaro fr 201 Bowra 213 Snell Eurípides fr 286 70 Arquelau governou a Macedônia de 413 a 399 aC Segundo Aristóteles Retórica 111398824 Sócrates teria recusado um convite seu para visitálo Platão se refere à sua morte no diálogo Alcibíades Segundo GÓRGIAS 2 5 1 pol Com certeza soc A isso como é plausível tanto eu como tu anuímos pol Sim soc Em quais circunstâncias então afirmas que é melhor fazêlas Diz qual é a tua definição pol Responde tu então Sócrates soc Pois bem eu afirmo o seguinte Polo se te comprazes mais com ouvirme quando alguém fizer essas coisas de maneira justa será melhor e quando as fizer de maneira injusta será pior pol Como é difícil te refutar Sócrates Mas até mesmo uma criança poderia te refutar68 provando que não dizes a ver dade não poderia soc Portanto enorme graça há de concederme essa criança e igualmente tu se me refutares e me livrares da vanidade Mas não canses de beneficiar um amigo Refutame pol Mas Sócrates não é preciso te refutar com fatos ar caicos pois os acontecimentos recentes são suficientes para te refutar e demonstrar como inúmeros homens mesmo tendo cometido injustiça são felizes69 soc Quais acontecimentos pol Decerto vês que Arquelau filho de Perdicas domina a Macedônia70 soc Ver não vejo mas ouço a respeito pol Então ele te parece ser feliz ou infeliz soc Não sei Polo pois ainda não me encontrei com esse homem Suponho que tu não desconheças o que aconteceu ontem ou dois dias atrás quando o namorado de Arquelau tirano da Macedônia enamorado pela ti rania tanto quanto aquele pelo seu namorado matou seu amante para ser tirano e um homem feliz Depois de deter a tirania por três ou quatro dias ele próprio por sua vez foi morto pelas mãos de outros homens que contra ele conspiraram 14 1 d 5e3 οίμαι δέ σε ούκ άνήκοον είναι ένιά γε χθιζά τε και πρωϊζά γεγενημένα Λιε Αρχέλαον τον Μακεδόνων τύραννον τα παιδικά έρασθέντα τής τυραννίδος ούΟέν ήττον ήπερ εκείνος τών παιδικών άπέκτεινε τον εραστήν ώς τύραννός τε hui ευδαίμων άνήρ έσόμενος κατασχών δέ τρεις ή τέτταρας ημέρας τήν τυραννίδα πάλιν αύτός έπιβουλευθεις ύφ ετέρων τινών έτελεύτησεν 252 σ ό κ α ΐ Α ε ϋ Ε ρ ι λ τ Α ο 47ΐ ο ΠΩΛ Τ ί δε συγγενόμενον αν γνοίην άλλων δε αυτόθεν ου γιγνωσκειν ότι ευδαιμονεί ΣΩ Μά ΔΓ ου δήτα ΙΙΩΛ Αήλον δη ω Σωκρατεν ότι ουδέ τον μέγαν βασιλέα γιγνωσκειν φήσειν ευδαίμονα όντα ΣΩ Και αληθή γε έρω ου γάρ οίδα παιδείαν όπων εχει και δικαιοσύνην ΠΩΛ Τΐ δε εν τουτω η πάσα ευδαιμονία έστίν ΣΩ ΓΩ ί γε έγω λέγω ω Πώλε τον μεν γαρ καλόν και αγαθόν άνδρα και γυναίκα ευδαίμονα είναι φημι τον δε άδικον και πονηρόν άθλιον ΓΙΩΛ Αθλιον άρα οΰτόν εστιν ό Αρχέλαον κατά τον συν λόγον ΣΩ Εϊττερ γε ω φίλε άδικον ΠΩΛ Άλλα μεν δη ττων ουκ άδικον ώ γε προσήκε μεν την αρχήν ουδεν ήν νυν εχει όντι εκ γυναίκαν ή ήν δούλη Άλκέτου του Υίερδίκκου αδελφού και κατά μεν τό δίκαιον δοΰλον ην Αλκετου και εί έβουλετο τά δίκαια ποιεΐν εδου λευεν αν Άλκέτη και ήν ευδαίμων κατά τον σόν λόγον νυν δε θαυμάσιων ων άθλιον γέγονεν έπεϊ τά μέγιστα ηδί λ 1 κηκςν ον γζ πρώτον μζν τούτον αντον τον οζσποτην και θείον μεταπεμψάμενον ώϊ άποδωσων την αρχήν ήν Περδίκκαν αυτόν άφείλετο ξένισαν και καταμεθυσαν αυτόν τε και τον ΰόν αυτου Αλέξανδρον ανεψιόν αυτοΰ σχεδόν ήλικιωτην έμβαλων είν άμαξαν νύκτωρ έξαγαγων άπέσφαξέν τε και ήφάνισεν άμφοτέρουν καί ταΰτα αδίκησαν ελαθεν εαυτόν άθλιωτατον γενόμενον και ου μετεμέλησεν αΰτω άλλ ολίγον ύστερον τον αδελφόν τον γνήσιον του Περδίκκου ΰόν τταΐδα ί 7 1 V 1 3 ων ξπτςτη ον η αρχη ζγιγνζτο κατα το οικαων ονκ φυυ λήθη ευδαίμων γενέσθαι δικαίων εκθρέψαν και άποδουν την αρχήν έκείνω άλλ είν φρέαρ έμβαλων και άποπνίξαν ττρόν GÓRGIAS 253 p o l E então Se tivesses encontrado com ele tu saberias e de outro modo não há como saberes de pronto se ele é feliz soc Não por Zeus não há como p o l Dirás obviamente Sócrates que tampouco sabes se o Grande Rei é feliz71 soc E direi a verdade pois não sei em que condição ele se encontra no tocante à educação e à justiça p o l O quê É nisso que consiste toda a felicidade soc É como digo Polo o homem e a mulher que são belos e bons eu afirmo que são felizes e infelizes os injustos e ignóbeis p o l Portanto segundo teu argumento aquele Arquelau é 471 infeliz soc Contanto que ele seja injusto meu caro p o l Mas como não seria ele injusto Do poderio que hoje detém nenhum quinhão lhe cabia porque era filho de uma es crava de Álceto irmão de Perdicas Segundo o justo ele era escravo de Álceto72 e se quisesse agir de forma justa lhe serviria como es cravo e assim seria feliz conforme teu argumento Mas agora admiravelmente ele se tornou infeliz porque cometeu as maiores injustiças Primeiro ordenou que lhe trouxessem seu déspota o b seu tio Álceto sob o pretexto de restituirlhe o poderio que Per dicas havia lhe furtado depois de hospedálo e embriagálo em companhia de seu filho Alexandre seu primo quase coetâneo ele meteuos em um carro e partiu com os dois noite adentro degolouos e desapareceu com ambos os corpos E uma vez co metida essa injustiça ele próprio não notou que havia se tornado o mais infeliz dos homens e tampouco se arrependeu disso Pouco tempo depois porém não quis se tornar feliz criando de forma justa seu irmão e restituindolhe o poderio o filho legítimo de Perdicas um menino de sete anos que segundo o justo her c daria o poder ao invés disso atirouo em um fosso e o asfixiou 71 Ou seja o Rei da Pérsia Sobre a concepção do Grande Rei como modelo de felicidade eudaimonia ευδαιμονία ver Platão Apologia de Sócrates 4od Eutidemo 274a 72 O filho de uma mãe escrava e de um pai livre era propriedade do dono de sua mãe E Dodds op cit p 243 254 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 472 την μητέρα αυτόν Κλεοπάτραν χήνα εφη διώκοντα έμπεσεϊν καί άποθανείν τοιγάρτοι νυν άτε μέγιστα ηδικηκως των εν Μακεδονία άθλιωτατός έστιν πάντων Μακεδόνων άλλ ουκ ευδαιμονέστατος καί ίσως έστιν όστις Αθηναίων άπυ σου άρξάμενος δέξαιτ αν άλλος δστισοΰν Μακεδόνων γενέσθαι μάλλον η Αρχέλαος ΣΩ Και κατ άργας των λόγων ω Πώλ εγωγέ σε έπηνεσα οτι μοι δοκεΐς ευ προς την ρητορικήν πεπαιδενσθαι τοΰ δε διαλέγεσθαι ημεληκέναι και νυν άλλο τι ουτός έστιν δ λόγος ω με και αν παίς έξελέγξειε και έγω υπό σου νυν ως σΐ οίει έξελήλεγμαι τουτω τω λόγω φάσκων τον αδι κοΰντα ουκ εύδαίμονα είναι πόθεν ωγαθέ και μην ουδέν γέ σοι τούτων ομολογώ ων συ φης ΠΩΛ Ου γάρ έθέλεις επει δοκεΐ γέ σοι ώΐ έγω λέγω ΣΩ Ώ μακάριε ρητορικως γάρ με έπιχειρεις έλέγχειν ώσπερ οι έν τοίς δικαστηρίοις ηγούμενοι έλέγχειν και γάρ έκεΐ οί έτεροι τους ετέρους δοκοΰσιν έλέγχειν έπειδάν των λόγων ων αν λέγωσι μάρτυρας πολλούς παρέχωνται καί ευδόκιμους ό δε τάναντία λέγων εν a τινά παρέχηται η μηδένα ουτος δέ ό έλεγχος ουδενδς άξιός έστιν προς την αλήθειαν ένίοτε γάρ άν καί καταψευδομαρτυρηθείη τις υπο πολλών καί δοκούντων είναί τι καί νυν περί ων συ λέγεις ολίγου σοι πάντες συμφησουσιν ταυτά Αθηναίοι καί οί ξένοι έάν βουλή κατ έμοΰ μάρτυρας παρασχέσθαι ως ουκ άληθη λέγω μαρτυρησουσί σοι έάν μεν βουλή Νικίας δ N ikîj 73 74 73 Cf 448d 74 Polo busca usar os mesmos artifícios argumentativos empregados por Só crates como ironizar o interlocutor observe o tom irônico de Polo quando ele conta a história de Arquelau 47iad e lhe atribuir opiniões que ele expressamente recusa 466ε 75 Platão emprega o verbo ελέγχω elenkho para se referir aqui ao tipo de refutação ou de prova usado nos tribunais Do ponto de vista semântico o verbo ελέγχω significa em Homero primeiramente envergonhar desprezar alguém já sublinhando o sentido negativo do termo que posteriormente no séc v aC será GÓRGIAS 255 alegando à sua mãe Cleópatra que ele correndo atrás de um ganso caiu ali dentro e morreu Portanto porque cometeu as maiores injustiças cometidas na Macedônia ele é hoje o mais infeliz e não o mais feliz de todos os macedônios e talvez haja alguém dentre os atenienses a principiar por ti que prefira ser d qualquer outro macedônio a ser Arquelau soc E no começo da discussão Polo eu te elogiei porque me pareces ter sido bem educado na retórica porém ter des curado do diálogo73 E é esse então o discurso com o qual até mesmo uma criança me refutaria Porventura presumes que eu acabei de ser refutado por ti com esse discurso tendo eu afirmado que quem comete injustiça é infeliz Mas como bom homem Aliás não concordo com nada do que dizes p o l Porque não desejas concordar visto que a tua opinião e se conforma com o que digo74 soc Venturoso homem tentas me refutar retoricamente como quem presume refutar75 os outros nos tribunais Com efeito nesses lugares os homens creem refutar uns aos outros quando apresentam aos discursos que proferem grande nú mero de testemunhas de boa reputação ao passo que o contra argumentador apresenta apenas uma ou mesmo nenhuma Essa refutação não tem nenhum mérito perante a verdade pois pode acontecer de várias pessoas que pareçam ser alguma 472 coisa prestarem contra alguém falso testemunho E no pre sente momento concordarão plenamente contigo quase todos os atenienses e estrangeiros se quiseres apresentar contra mim testemunhas de que não falo a verdade Testemunharão em teu favor se quiseres Nícias76 filho de Nicérato e seus irmãos empregado para designar a prática forense de buscar refutar submeter alguém a um interrogatório provar convencer P Chantraine Dictionnare Étymologique de la Langue Grecque p 334 76 Nícias foi um dos generais que participou ativamente da Guerra do Pelopo neso entre Atenas e Esparta e seus respectivos aliados 431404 aC tendo sido um dos mediadores do tratado de paz de 421 aC ver Tucídides 524 Junto a Alcibía des e Lâmaco comandou os atenienses na expedição contra a Sicília ver Tucídides 68 onde morreu executado pelos siracusanos em 413 aC ver Tucídides 786 Nícias aparece também como personagem no diálogo Laques de Platão 256 GÓRGIAS DE PLATÃO ράτου και οι αδελφοί μίτ αυτόν ων οι τρίποδίς οι εφεής έστώτεί ίΐσιν Ιν τώ Αιονυσίω eàv δε βουλή Αριστοκράτης δ Σκελλίον ον αν δστιν èv ΐίνθίου τούτο το καλόν ανάθημα δάν δε βουλή η Τίΐρικλδους ολη οικία η άλλη συγγευεια ηντινα âv βουλή των ευάάδε εκλέξασθαι άλλ εγώ σοι ds ων ουχ ομολογώ ου γάρ με συ άναγκάζίΐς άλλα φευδο μάρτνρας πολλούς κατ έμοΰ παρασγόμνος επιχειρεί κβάλ λΐΐν με εκ της ουσίας και τον αληθούς εγώ δε âv μη σε αυτόν ëva οντα μάρτυρα παράσγωμαι όμολογονντα πρι ών λέγω ούδέν οΐμαι άζιον λόγον μοι πζπΐράνθαι πρί âv âv ημίν ό λογοϊ η οΐμαι δε οΰδε σοί eàv μη εγώ σοι μαρτυρώ εΐϊ ών μόνος τους δ άλλου πάντας τούτους yaipeiv εά εστιυ μν ουν ουτός τις τρόπος ελεγχου ώί συ τε οΓεt και άλλοι πολλοί εσπυ δε καϊ άλλος ον εγώ αυ οΐμαι παραβα λόντες ουν παρ άλληλους σκεφώμεάα εϊ τι διοίσουσιν άλλη b c 77 Nícias e seus irmãos Êucrates e Diogneto dedicaram ao templo de Dio niso localizado nas encostas da acrópole as trípodes que haviam ganhado como coregos E Dodds op cit p 244 78 Aristócrates também participou como mediador do tratado de paz de 421 aC ver Tucídides 524 e foi membro do governo oligárquico de 411 aC conhecido como os Quatrocentos ver Tucídides 889 Morreu em 405 aC de pois da batalha de Arginusas quando foram condenados à morte os seis generais inculpados pelo fracasso da expedição dentre eles Aristócrates ver Xenofonte Helénicas 172 Platão menciona o episódio do processo contra os generais na Apologia de Sócrates cf infra nota 87 Pito se refere aqui ao templo de Apoio em Delfos 79 Péricles renomado general e político passou a ser a principal figura da democracia ateniense depois do exílio de Címon 11 e da morte de Eflaltes no fi nal dos anos 460 aC os dois rivais políticos de maior influência naquela época Até a sua morte em 429 aC no começo da Guerra do Peloponeso Péricles foi eleito como general anualmente e manteve sua proeminência na condução das ações políticas de Atenas D Nails The People ofPlato p 227228 O elogio de Tucídides à sua figura é uma das imagens mais notórias que temos de Péricles na literatura grega A causa disso era que Péricles poderoso por seu prestígio e inteligência homem notoriamente incorruptível continha a multidão livremente e ao invés de ser conduzido por ela era ele quem a conduzia porque não obtivera seu poder por meios escusos e não discursava em vista do prazer mas se apoiava em seu prestígio para contradizêla deixandoa colérica Quando percebia nas pessoas uma con fiança inoportuna e insolente ele as acometia com palavras e lhes infundia medo e inversamente quando as via temerosas sem razão restituíalhes novamente a GÓRGIAS 257 cujas trípodes estão aferradas e alinhadas no templo de Dio niso77 se quiseres Aristócrates filho de Célio cuja bela ofe renda encontrase em Pito78 se quiseres toda a casa de Péricles ou qualquer outra família daqui que queiras convocar79 Todavia cu sendo um só contigo não concordo pois não me constran ges a isso embora te empenhes apresentando contra mim fal sas testemunhas em profusão para expulsarme do meu patrimônio e da verdade Mas se eu não te apresentar sendo tu apenas um como testemunha concorde ao que digo não terei chegado julgo eu a nenhuma conclusão digna de menção sobre o que versa a nossa discussão e creio que tampouco tu se eu sendo apenas um não testemunhar em teu favor e tu dispensares todos as demais Aquele é um modo de refutação como presumes tu e muitos outros homens mas há também ou tro modo como presumo eu por minha vez Assim comparando um ao outro examinemos se há qualquer diferença entre eles80 confiança No nome era democracia mas na prática o poder nas mãos do primeiro dos homens 26589 αίτιον δ ήν δτι έκεινος μέν δυνατός ών τώ τε άξιώματι και τή γνώμρ χρημάτων τε διαφανώς άδωρότατος γενόμενος κατείχε το πλήθος έλευθέρως καί ούκ ήγετο μάλλον ύπ αύτοϋ ή αυτός ήγε διά τό μή κτώμενος έξ ού προσηκόντων την δύναμιν προς ηδονήν τι λέγειν άλλ εχων επ άξιώσει και προς οργήν τι άντειπεΐν οπότε γοϋν αϊσθοιτό τι αύτούς παρά καιρόν ϋβρει θαρσοϋντας λέγων κατέπλησσεν έπϊ τό φοβείσθαι και δεδιότας αύ άλόγως άντικαθίστη πάλιν έπι τό θαρσεΐν έγίγνετό τε λόγω μέν δημοκρατία έργω δέ ύπό τού πρώτου άνδρός άρχή 8ο Como Sócrates sublinha em seu discurso a refutação retórica se opõe à filo sófica na medida em que ela busca refutar a parte adversária valendose não de argu mentos mas da reputação doxa das testemunhas chamadas em causa no processo litigioso sem que haja qualquer garantia pelo fato de serem bem reputadas de que elas estejam falando a verdade Nos tribunais a refutação elenkhos έλεγχος se fun damenta na opinião da maioria e o orador é eficaz quando ele persuade a maior parte dos juízes de sua própria inocência ou da culpabilidade do adversário mas a opinião da maioria não implica que a decisão tenha sido tomada com justiça e verdade Na refutação filosófica em contrapartida o embate se dá entre dois interlocutores que serão por si só suficientes para julgar a verdade da questão Para tal fim de nada vale a reputação doxa do interlocutor metaforicamente referido por Sócrates como testemunha μάρτυρα 472b mas simplesmente o que ele diz e o que ele assente o consenso όμολογοϋντα 472b7 entre ambas as partes é condição necessária e sufi ciente a princípio para a determinação do valor de verdade das conclusões alcançadas na discussão Não é por ser compartilhada pela maioria dos homens que uma opi nião é verdadeira a refutação filosófica teria justamente a função de examinar se tal opinião se sustenta ou não e por conseguinte se ela é verdadeira ou falsa 258 σ ό ΐ Μ ΪΙΑ β ϋ Ε Ρ ίΑ Τ Α Ο λων καϊ γάρ καϊ τύγχανα περί ων αμφισβητούμε ου ττάνυ σμικρά όντα άλλα σχεδόν τι ταντα περί ων είδεναι τε κάλλιστον μη είδεναι τε αΐσχιστον το γαρ κεφάλαιον αυτών λ t λ V V ττιν η γιγνω σ κ ΐν η α γνο ιν οσπ5 Τ ζνοαιμω ν σ τίν καί 3 οστι μ η α ν ή κ α πρώ τον πρι ου νυ ν ο Α ογος σ τίν συ ηγτ οΐόν τε είνα ι μ ακάριον άνδρα άδικονντά τ ε καϊ άδικον όντα εΐπ ερ Α ρ χ έλα ο ν άδικον μ εν η γη είνα ι ενδαίμονα δε άλλο τ ι ώϊ οντω σ ο ν νομ ίζοντος διανοω μεθα ΠΩΛ Πάιυ γε ΣΩ Έγώ δε φημι αδύνατον εν μεν τοντι άμφισβη τονμεν ειεν άδικων δε δη ευδαίμων εσται άρ αν τυγχάνη δίκης τε και τιμωρίας ΠΩΛ Ηκιστα γε επει οϋτω γ άν άθλιωτατος εΐη ε ΣΩ Άλλ εάν άρα μη τνγχάνη δίκης 6 άδικων κατά τον σον λογον ζνοαιμων ςσται ΠΩΛ Φημί ΣΩ Κατά δε γε την εμην δόξαν ω ΓΤώλε ό άδικων τε και ό άδικος πάντως μεν άθλιος άθλι ωτερος με ντο ι εάν μη δίδω δίκην μηδε τυγχάντ τιμωρίας άδικων ηττον δε άθλιος εάν δίδω δίκην καϊ τυγχάνη δίκης υπό θεών τε και ανθρώπων 473 ΠΩΛ Ατοπα γε ω Σώκρατες επιχειρείς λεγειν ΣΩ Πειράσομαι δε γε και σε ποιήσαι ω εταίρε ταυτά εμοι λεγειν φίλον γάρ σε ηγούμαι νυν μεν ουν ά διαφε ρομεθα ταυτ εστιν σκοπεί δε και συ ειπον εγω που εν τοΐς έμπροσθεν το άδικεΐν του άδικεΐσθαι κάκιον είναι ΠΩΛ ΪΙάνυ γε ΣΩ Σί δε το άδικεΐσθαι ΠΩΛ Ναι GÓRGIAS 2 5 9 Ademais o assunto a respeito do qual divergimos não acontece de ser trivial mas é simplesmente o que há de mais belo para se conhecer e de mais vergonhoso para se desconhecer pois a ques tão crucial é saber ou ignorar quem é feliz e quem não é81 O primeiro ponto relativo à corrente discussão é que tu consideras d possível ser venturoso um homem que cometa injustiça e seja injusto visto que consideras Arquelau feliz embora injusto Não é assim que devemos considerar o teu ponto de vista pol Certamente soc Eu afirmo que é impossível Divergimos neste ponto Seja Cometendo injustiça ele porventura será feliz caso en contre a justiça e o desagravo pol De forma nenhuma pois ele seria assim o mais in feliz dos homens82 soc Portanto se quem comete injustiça não encontrar a e justiça será feliz segundo o teu argumento pol Sim soc Porém segundo a minha opinião Polo quem comete injustiça e é injusto é absolutamente infeliz mais infeliz con tudo se não pagar a justa pena e não encontrar o desagravo tendo certa vez cometido injustiça e menos infeliz se pagála e encontrar a justiça quer a divina quer a humana pol É um absurdo Sócrates o que te esforças para dizer 473 soc Mas tentarei fazer com que também tu meu camarada digas as mesmas coisas que eu pois te considero meu amigo Por ora divergimos então no seguinte ponto Examina também tu eu dizia anteriormente que cometer injustiça é pior que sofrêla83 pol Com certeza soc E tu o contrário pol Sim 81 Como sublinha Sócrates a discussão não mais está centrada na definição de retórica e de seu estatuto como prática discursiva mas na questão moral por ex celência o que é a felicidade eudaimonia ευδαιμονία e sua relação com a justiça likttiosunê δικαιοσύνη 82 Cf supra nota 66 83 Cf 469b 260 GÕRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Καί t o v í αδικούνται αθλίους ίφην eivai Ιγώ καί ξηλέγχθην υπο σου ΠΩΛ Nat μα Αία b ΣΩ Ω ΐ συ ye oïei ω Πώλί ΠΩΛ Αληθη ye οΐόμΐνος ΣΩ νΙσω συ δύ ye υδαίμονας αυ τους άδικονντας iàv μη διδωσι δίκην ΠΩΛ Ώάνυ μν ουν ΣΩ Eyà δ4 γ αυτούς άθλιωτάτους φημί τους δέ δίδοντας δίκην ηττον βούλα και τούτο iàéyyeiv ΠΩΛ Ά λ λ en τουτ Ικάνου χαλατωτΐρόν 4στιν ω Σωκράτης έξίλέγζαι ΣΩ Ου δητα ω Πώλβ άλλ àôwaroiv rò γάρ αληθές ουδίποTe 4λ4γχται ΠΩΛ Πώΐ λίγας iàv άδικων άνθρωπος ληφθη τυραν c νίδι iπιβουλίύων καί ληφθάς στρεβλωται και κτίμνηται και τους οφθαλμούς i κκάηται και άλλας πολλάς καί μίγάλας και παντοδαπάς λώβας αυτός re λωβηθάς και τους αυτού ίπιδων παίδάς Te και γυναίκα το έσχατον άναστανρωθη η καταπιττωθη οΰτος υδαιμονίστίρος ίσται η iàv διαφυγών τύραννος καταστη και αργών iv τη πόλα διαβιω ποιων ότι αν βούληται ζηλωτάς ων και ευδαιμονιζόμΐνος νπο των d πολιτών και των άλλων ζύνων ταυτα λίγας αδύνατον eivai λγχ ιν ΣΩ Μορμολύττη αυ ώ yevvaïe Πώλί και ουκ èAéyyetr s ι Ç j í ν άρτι oc εμαρτυρου όμως oe υπομνησον μ σμικρον eav 84 84 É interessante observar como Sócrates no Górgias apresentase seguro da verdade de suas convicções morais e confia totalmente na objetividade das demons trações de seus argumentos sobretudo quando ele discute com Polo e com Cálicles Isso se deve principalmente ao fato de que Sócrates enquanto refuta as teses defen didas por esses dois interlocutores pretende provar concomitantemente as suas pró prias convicções morais Na discussão anterior com Górgias todavia Sócrates não faz qualquer tipo de declaração do gênero limitandose a apontar por meio do elenchos refutação a inconsistência das opiniões do rétor a respeito da retórica A diferença na forma como Sócrates conduz a discussão com cada uma das personagens corres ponde à diferença nos fins pretendidos por Sócrates em cada um dos Atos do diá logo no caso de Górgias Sócrates pretende simplesmente mostrar ao interlocutor e GÓRGIAS 261 soc E eu dizia que quem comete injustiça é infeliz e tu me refutaste pol Sim por Zeus soc É o que presumes Polo b pol E presumo a verdade soc Talvez E dizias por tua vez que quem comete injus tiça é feliz contanto que não pague a justa pena pol Certamente soc Eu porém afirmo que ele é o mais infeliz e quem paga a justa pena menos infeliz Queres refutar também esse ponto pol Mas esse é ainda mais difícil de refutar do que aquele Sócrates soc Decerto não Polo mas é impossível pois a verdade jamais é refutada84 pol Como dizes Se um homem for surpreendido conspi rando injustamente em vista de uma tirania e quando sur c preendido for torturado mutilado e tiver os olhos calcinados e depois de sofrer inúmeros e terríveis ultrajes de todo gênero e ver a mulher e os filhos terem a mesma sorte for enfim em palado ou untado para ser queimado ele será mais feliz do que escapando a isso tornarse tirano e tendo o domínio da cidade viver o resto da vida fazendo o que quiser sendo invejado e considerado feliz por concidadãos e estrangeiros É isso o que d dizes ser impossível refutar soc Tu me atemorizas nobre Polo e não me refutas acabaste de invocar testemunhas Contudo lembrame um à sua audiência que ele embora pareça saber nada sabe sobre a sua própria arte no caso de Polo e Cálicles por outro lado Sócrates busca refutar teses contrárias às suas convicções morais e nesse sentido a refutação do adversário implicaria a demons tração da verdade das suas próprias teses Seriam propósitos diferentes portanto que moveriam Sócrates nesses confrontos Seguindo as sugestões de P Woodruff são duas espécies de elenchos distintas que se distinguem precisamente por seu propósito o elenchos purgativo cujo intuito é conduzir o interlocutor à contradição como no caso de Górgias e o elenchos defensivo cujo intuito é mostrar ao interlocutor que defende leses contrárias às de Sócrates que é impossível continuar a defendêlas sem cair em contradição P Woodruff The Skeptical Side of Platos Method Revue Internationale ile 1hilosophie p 26 262 GÓRGIAS DE PLATÃO e 474 àòÍKCús επ ιβουλεΰω ν τνρ α ννίδ i e iv e s ΠΩΛ Eywye Σί2 Ενόαιμονέστρος μεν τοίννν ονδεποτε εσται ονδε λ V f 1 repôs αυτωυ oure ο κατειργασμνος την τνραννώα aotκως ovre o òlòous οικην ovoiv yap αθλιοιν ενοαιμονεστερος μev ούκ àv euj αθλιώτερος μεντοι ό διαφενγων καί rvpavvevcras τί toSto ώ Πώλ γελάς άλλο αν τούτο είδος ελέγχου eariVy eireioav m ti etτττ carayeAcu eAeyetu òe μη Πί2Α Ούκ οΐει εζεληλέγχθαι ώ Σώκρατες Õran τοιαΰτα kéyrjs a ουδέis αν φησειεν ανθρώπων έπει èpov τινα τουτωνί Σί2 ΤΩ Πώλβ οΰκ etpu των πολιτικών και πέρυσι βον Aeuetu Ααχωυ ετΐζώη η φυλή ζπρντaueue και eòet μ6 ert ψηφίζΐν γέλωτα παρεΐχον και ούκ ήπιστάμην έπιφηφίζειν 85 Aristóteles Retórica ui I4i9b37 A respeito do ridículo uma vez que ele parece ter certa utilidade nos de bates e que se deve como disse acertadamente Górgias arruinar a seriedade dos adversários com o riso e o riso deles com a seriedade já foi dito na Poética quantas formas do ridículo há περί δέ τών γελοίων έπειδή τινα δοκεΐ χρήσιν έχειν έν τοΐς άγώσι και δείν έφη Γοργίας τήν μέν σπουδήν διαφθείρειν τών εναντίων γέλωτι τον δέ γέλωτα σπουδή όρθώς λέγων εϊρηται πόσα είδη γελοίων έστιν έν τοϊς περί ποιητικής 86 Xenofonte Memoráveis 1615 Ε certa vez quando Antifonte lhe perguntou como ele considerava possível tornar outras pessoas homens políticos se ele próprio não se envolvia com as ações políticas embora tivesse conhecimento Sócrates disse Antifonte eu estaria mais envolvido com as ações políticas se apenas eu as praticasse ou se eu me preocupasse com que o maior número de pessoas tivesse a condição de praticálas Και πάλιν ποτέ τού Άντιφώντος έρομένου αυτόν πώς άλλους μέν ηγείται πολιτικούς ποιείν αυτός δ ού πράττει τά πολιτικά είπερ έπίσταται Ποτέρως δ άν έφη ώ Άντιφών μάλλον τά πολιτικά πράττοιμι εί μόνος αυτά πράττοιμι ή εί έπιμελοίμην τού ώς πλείστους ικανούς είναι πράττειν αυτά 87 Ο Conselho Boulé βουλή era formado por quinhentos cidadãos cin quenta de cada uma das dez tribos phulai φύλαι que compunham a cidade de Atenas Como o ano era dividido em dez meses cabia a cada uma das tribos exercer a pritania ie a comissão que organiza e preside as ações do Conselho por um mês e assim sucessivamente Era sorteado diariamente dentre os cinquenta cidadãos da quela tribo responsáveis pela pritania um prítane cuja denominação era επιστάτης epistatês que tinha o encargo de presidir o Conselho e coordenar os encontros e as votações da Assembleia ekklésia εκκλησία da qual poderiam participar todos os cidadãos livres E Dodds op cit p 247 S Pieri op cit p 394 Platão menciona esse episódio da atuação de Sócrates como prítane na Apologia de Sócrates GÓRGIAS 263 detalhe Mencionavas o caso de ele conspirar injustamente pela tirania pol Sim soc Pois bem nenhum deles nunca será mais feliz que o outro nem o que conquistou a tirania injustamente nem aquele que pagou a justa pena pois entre dois infelizes um não seria mais feliz que o outro todavia mais infeliz será aquele que escapou à punição e exerceu a tirania O que é isso Polo Ris Acaso seria essa outra forma de refutação rir quando alguém disser alguma coisa e não refutálo85 pol Presumes não seres refutado Sócrates quando dizes coisas tais que nenhum homem diria Pergunta pois a qual quer um dos aqui presentes soc Polo não sou um político86 Tendo sido sorteado ano passado para o Conselho quando meu grupo exercia a pritania e devia eu dar a pauta da votação torneime motivo de riso por ignorar como fazêlo87 Assim tampouco agora ordenes que eu Escutai então o que me aconteceu para saberdes que eu jamais me sub meteria a alguém contra o justo por medo da morte e que se eu recusasse me subme ter poderia até mesmo morrer Eu vos direi coisas comuns e usuais nos tribunais mas verdadeiras Eu ó atenienses jamais exerci qualquer outro cargo na cidade a não ser ter participado do Conselho Houve uma ocasião em que a pritania cabia à minha tribo Antióquida quando vós decidistes julgar em conjunto os dez generais que não haviam recolhido os sobreviventes da batalha naval uma decisão ilícita como posteriormente considerastes todos vós Naquela ocasião apenas eu dentre os prítanes me opus a vós para que nada fosse feito contra as leis não votando a fa vor E embora os oradores estivessem prestes a me indiciar e a me prender e vós os impelísseis aos berros eu julguei que devia antes correr o risco apoiado na lei e no justo do que participar da vossa decisão injusta por medo do cárcere ou da morte Isso aconteceu quando a cidade era ainda uma democracia 323504 ακούσατε δή μοι τα συμβεβηκότα ινα είδήτε οτι ούδ αν ένι ύπεικάθοιμι παρά το δίκαιον δείσας θάνατον μή ύπείκων δέ άλλα καν άπολοίμην έρώ δε ύμιν φορτικά μέν και δικανικά αληθή δέ έγώ γάρ ώ άνδρες Αθηναίοι άλλην μεν αρχήν ούδεμίαν πώποτε ήρξα έν τή πόλει έβούλευσα δέ και ετυχεν ήμών ή φυλή Άντιοχις πρυτανεύουσα οτε ύμεις τούς δέκα στρατηγούς τούς ούκ άνελομένους τούς έκ τής ναυμαχίας έβουλεύσασθε άθρόους κρίνειν παρανόμως ώς έν τώ ύστέρω χρόνω πάσιν ύμΐν εδοξεν τότ έγώ μόνος τών πρύτανεων ήναντιώθην ύμίν μηδέν ποιεΐν παρά τούς νόμους και εναντία έψηφισάμην και έτοιμων οντων ένδεικνύναι με και άπάγειν τών ρητόρων και ύμών κελευόντων και βοώντων μετά τού νόμου και τού δικαίου ψμην μάλλον με δείν διακινδυνεύειν ή μεθ ύμών γενέσθαι μή δίκαια βουλευομένων φοβηθέντα δεσμόν ή θάνατον και ταϋτα μέν ήν έτι δημοκρατουμένης τής πόλεως e 474 264 G0RGIAS DE PLATAO b c d μη ουν μηδέ νυν μ ε κεδευε έπ ιψ η φ ίζ ειν roos παρόντας άλλ εϊ μη εχ εις τούτων β ε δ τ ίω έδ εγχο ν δπερ νυνδή εγώ εδεγον έμ ο ί εν τω μ έρ ει παράδος καί π είρα σα ι τοΰ έλεγχου οΐον εγώ οΐμα ι δεΐν είναι εγώ y ap ών αν λέγω ένα μ εν παρασχέσθαι μαρτνρα π ιστα μα ι αυτόν προς ον αν μ ο ι ο λογος τονί 0 ποδδοΐις έώ χ α ίρ ειν και ένα έπ ιψ η φ ίζ ειν έπ ίστα μα ι τ ο ΐί δέ ποδδοΐς ουδέ δια λέγομα ι ορα ουν εΐ έθεδήσεις έν τω μ έρ ει διδόναι εδ εγχο ν α ποκρινομενοί τα ερω τω μενα εγω γαρ οη ο ΐμ α ι και εμ έ και σε και tovs ak k o v s ανθρώπους το ά δικεΐν του ά δικεΐσ θα ι κάκιον ή γ εΐσ θ α ι και τδ μ η διδόναι δίκην του διδόναι ΠΩΛ Εγώ δε γε ουτ εμέ ουτ άδδον ανθρώπων ουδένα έπεί συ δέξαι αν μάδδον άδικεΐσθαι η άδικεΐν ΣΩ Και συ γ αν και οι άλλοι πάντες ΠΩΛ Πολλοί γε δει άλλ ουτ εγώ ούτε συ ουτ akkos ουδέ is ΣΩ Οΐικονν άπ ακρινή ΠΩΛ Γίάνυ μέν ουν καί γαρ επιθυμώ είδέναι δτι ποτ έρε is ΣΩ Αέγε δ μοι ιν ειδής ώσπερ άν εί εξ άρχής σε ήρώτων πότερον δοκεΐ σοι ώ Πώλε κάκιον είναι τδ άδικεΐν ή τδ άδικεΐσθαι ΠΩΛ Τδ άδικεΐσθαι έμοιγε ΣΩ Τ ι δε δ αΐσχιον πότερον τδ άδικεΐν ή τδ άδικεΐσθαι άποκρίνον ΠΩΑ Τδ άδικεΐν ΣΩ Ουκουν καί κάκιον εϊπερ αΐσχιον ΠΩΛ Ήκιστά γε ΣΩ Μανθάνω ου ταυτδν ήγή συ ώς εοικας καδόν τε καί άγαθδν καί κακδν καί αισχρόν ΠΩΛ Ου δήτα ΣΩ Τ ι δέ τάδε τα καδά πάντα οΐον καί σώματα καί χρώματα καί σχήματα καί φωνάς καί επιτηδεύματα εις οίιδέν άποβδέπων καδεΐς έκάστοτε καδά οΐον πρώτον τα GÕRGIAS 265 dê a pauta da votação aos aqui presentes mas se não tens uma refutação melhor do que essa passame a vez como há pouco eu dizia e tenta me refutar como julgo que deva ser Eu sei como apresentar uma única testemunha do que digo aquela com a qual eu discuto contudo dispenso a maioria e sei como dar a pauta da votação a uma única pessoa mas não dialogo com muitos88 Vê então se desejarás me passar a vez de refutar b e responder as perguntas Pois julgo deveras que eu tu e os demais homens consideramos pior cometer injustiça do que sofrêla e não pagar a justa pena pior do que pagála po l Eu julgo porém que nem eu considero nem qualquer outro homem consideramos pois tu preferirias sofrer injustiça a cometêla soc E tu e todos os demais homens p o l Longe disso mas nem eu nem tu nem qualquer outro soc Responderás então c p o l Certamente ademais almejo saber o que pergunta rás adiante soc Para que o saibas dizeme então como se eu te in quirisse desde o começo O que te parece pior Polo cometer injustiça ou sofrêla p o l Para mim sofrer injustiça soc E aí É mais vergonhoso cometer injustiça ou sofrêla Responde p o l Cometer injustiça soc Então também é pior visto que é mais vergonhoso p o l Impossível soc Entendo não consideras a mesma coisa como parece belo e bom de um lado e mau e vergonhoso de outro d p o l Certamente não soc E o que dizes disto Todas as coisas belas como corpos dinheiro figuras sons atividades tu as chamas de belas em toda e qualquer ocasião sem nada observar Tomemos primeiro este exemplo não afirmas que os belos corpos são belos segundo a sua HK Cf supra nota 8o 266 0 0 ΙΚ 3 ΙΑ 5 ϋ Ε Ρ ίΑ Τ Α Ο ε 475 b σώματα τα καλά ονχι ήτοι κατά την χρείαν λέγεις καλά εΐναι προς ο αν έκαστον χρήσιμον ή προς τούτο ή κατά ηδονήν τινα έαν έν τω θεωρεΐσθαι χαίρειν ποιή τους θεω ροΰντας έχεις τι έκτος τούτων λέγειν περί σώματος κάλ λους ΠΩΛ Ονκ έχω ΣΩ Ονκοΰν και τάλλα πάντα οντω καί σχήματα και χρώματα ή διά ηδονήν τινα ή διά ώφελίαν ή δι άμφότερα καλά προσαγορεύεις ΠΩΛ Έ γωγε ΣΩ Ου και τάς φωνάς και τά κατά την μουσικήν πάντα ωσαύτως ΠΩΛ Ναι ΣΩ Και μην τά γε κατά τους νομούς και τα ϊτητηόζνματα ον οήπον κτο τούτων 6ττιν9 τα καλα τον η ωψΑίμα ΐναι η ηοα η αμψοτζρα ΠΩΛ Ονκ εμοιγε δοκεΐ ΣΩ Ούκονν και το των μαθη μάτων κάλλος ωσαύτως ΠΩΛ Παυυ γε και καλώς γε νυν δρίζη ώ Σώκρατες ηδονή τε και άγαθω οριζόμενος το καλόν ΣΩ Ονκούν το αισχρόν τω έναντίω λύπη τε και κακω ΠΩΛ Ανάγκη ΣΩ Οταν άρα δνοιν καλοΐν θά Λ I τερον καλλιον ρ η τω Τρω τοντοιν η αμψοτξροίς νπρ βάλλον κάλλιόν έστιν ήτοι ηδονή ή ώφελία ή άμφοτεροις ΠΩΛ Πάυυ γε ΣΩ Και όταν δε δή δνοιν αίσχροΐν το έτερον αισχιον ή ήτοι λύπη ή κακω νπερβάλλον αισχιον έσταγ ή ουκ ανάγκη ΠΩΛ Ναι ΣΩ Φέρε δή πώς έλεγετο νννδή περί του άδικειν και άδικεϊσθαι ούκ έλεγες το μεν άδικεϊσθαι κάκιον είναι το δέ άδικειν αισχιον ΠΩΛ νΕλεγυυ ΣΩ Ουκοΰυ είπερ αισχιον τδ άδικεΐν τον άδικεϊσθαι ήτοι λυπηρότερου έστιν GÓRGIAS 267 utilidade em relação à qual cada um deles é útil ou segundo certo prazer se o ato de contemplar trouxer deleite para quem os con templa Tens algo a acrescentar no tocante à beleza do corpo p o l Não tenho soc Então as figuras as cores e todas as outras coisas tu e não as chamas de belas do mesmo modo ou devido a algum prazer ou devido a algum benefício ou devido a ambos p o l Sim soc E quanto aos sons e a tudo o que concerne à música não sucede o mesmo p o l Sim soc Decerto as atividades e as questões referentes às leis as que são belas não se excluem disso e são belas porque são benéficas ou aprazíveis ou ambas p o l É o que me parece soc Não sucede o mesmo então à beleza dos estudos 475 p o l Certamente e agora apresentas uma bela definição Sócrates definindo o belo pelo prazer e pelo bem soc E o vergonhoso pelos seus contrários pela dor e pelo mal p o l Necessariamente soc Portanto quando entre duas coisas belas uma for mais bela que a outra será mais bela por superála em um ou em ambos os quesitos quer em prazer ou em benefício quer em ambos p o l Com certeza soc E quando entre duas coisas vergonhosas uma for mais vergonhosa que a outra será mais vergonhosa por superála b em dor ou em mal não é necessário p o l Sim soc Adiante então Como se dizia há pouco a respeito de cometer e sofrer injustiça Não afirmavas que sofrer injustiça é pior ao passo que cometêla é mais vergonhoso p o l Afirmava soc Assim uma vez que cometer injustiça é mais vergo nhoso que sofrêla não seria mais vergonhoso porque é mais 268 ΰ 0 Κ α Α 5 Ο Ε Ρ ίΑ Τ Α Ο καϊ λύπη νπερβάλλον αΐσχιον αν εΐη η κακω η άμφοτεροις ού καϊ τούτο ανάγκη ΠΩΛ Πώί γάρ ον ΣΩ Πρώτου μεν δη σκεφώμεθα άρα λύπη νπερβάλλει το άδικεΐν τού άδικεΐσθαι και άλγούσι μάλλον οι αδικούντο η οί αδικού μενοι ΠΩΛ Ονδαμώς ώ Σώκρατες τούτο γε ΣΩ Ούκ άρα λύπη γε νπερεχει ΠΩΛ Ον δητα ΣΩ Ονκονν εί μη λύπη άμφοτεροις μεν ονκ άν ετι νπερβάλλοι ΠΩΛ Ον φαίνεται ΣΩ Ονκοΰν τω ετερω λείπεται ΠΩΛ Ναι ΣΩ Τω κακω ΠΩΛ νΕοικευ ΣΩ Ονκούν κακω νπερ βάλλον τδ άδικεΐν κάκιον άν εΐη τού αδικείσθαι ΠΩΛ Αηλον δη ότι ΣΩ Ά λλ ο τι ονν νπδ μεν των πολλών ανθρώπων και νπο αού ώμολογεΐτο ημϊν εν τω έμπροσθεν χρόνω αΐσχιον είναι τδ άδικεΐν τού άδικεΐσθαιΠΩΛ Ναι ΣΩ Νΰυ δε γε κάκιον εφάνη ΠΩΛ Έ οικε ΣΩ Δεαιο άν ονν σν μάλλον τδ κάκιον και τδ αΐσχιον αντί τού ηττον μη υκνει άποκρίνασθαι ώ Πώλ ονδεν γάρ βλαβηση άλλα γενναίων τω λόγω ώσπερ ίατρω παρεχων άποκρίνον καί η φάθι η μη ά ερωτώΠΩΛ Άλλ ονκ άν δεζαίμην ώ Σώ κρατεν ΣΩ νΑλλοί δε τις άνθρώπων ΠΩΛ Ον μοι δοκεΐ κατά γε τούτον τδν λόγον ΣΩ Άληθη άρα εγώ GÓRGIAS 269 doloroso e supera o outro em dor ou em mal ou em ambos Isso também não é necessário p o l E como não seria soc Investiguemos primeiro então o seguinte porventura cometer injustiça supera em dor o sofrêla e padece mais quem c comete injustiça do que quem a sofre p o l De forma nenhuma Sócrates é o que acontece soc Portanto não o supera em dor p o l Certamente não soc Então se não o supera em dor muito menos poderia superálo em ambos p o l É claro que não soc Restanos assim a outra opção p o l Sim soc Superao em mal p o l Como parece soc Superandoo em mal cometer injustiça não seria en tão pior que sofrêla p o l É evidente soc Mas tu e muitos outros homens não concordáveis tem d pos atrás89 que é mais vergonhoso cometer injustiça do que so frêla p o l Sim soc E agora é manifesto que é pior p o l Como parece soc Tu terias então maior preferência e não menor pelo pior e mais vergonhoso Não receies responder Polo Nenhum prejuízo há de te acometer mas apresentate de forma nobre perante o argumento como perante um médico e responde com sim ou não às minhas perguntas p o l Mas eu não teria maior preferência Sócrates e soc E algum outro homem a teria p o l Não me parece conforme esse argumento 89 Cf 474c 270 GÓRGIAS DE PLATÃO ελεγον ότι οντ αν εγώ οντ αν συ οντ άλλος ονδεις ανθρώ πων δεζαιτ αν μάλλον άδικεΐν η άδικεΐσθαι κάκιον γάρ τυγχάνει ον ΓΙΩΛ Φαίνεται ΣΩ Οpas ουν ώ ΓΤώλβ ό ελεγχος παρά τον ελεγχον παραβαλλόμενος ότι ουδεν εοικεν αλλά σοι μεν οί άλλοι πάντες όμολογονσιν πλην εμού εμοϊ δέ σν εζαρκεΐς εϊς ών 476 μόνος και ομολογών καί μαρτύρων και εγώ σε μόνον επιψη φιζων τους άλλους εω χαιρειν και τούτο μεν ημιν όντως εχετω μετά τούτο δε περί ον το δεύτερον ήμφεσβητήσαμεν σκεψώμεθα τδ άδικούντα διδόναι δίκην άρα μεγίστου των κακών εστιν ώς σν ωον η μεΐζον το μη διδόναι ώ αν εγώ ωμήν Σκοπώμεθα δε τίδε τά διδόναι δίκην και το κολάζεσθαι δικαίως άδικοΰντα άρα το αυτά καλεΐς ΠΩ Λ Έγωγε b ΣΩ νΕχαί ονν λεγειν ώΐ ονχι τά γε δίκαια πάντα καλά εστιν καθ όσον δίκαια και διασκεψάμενος είπε ΠΩΛ Άλλα μοι δοκεΐ ώ Σώκρατες ΣΩ Σκόπει δη και τοδε IÇ Λ t αρα ει τις τι ποιεί αναγκη τι είναι και πασχον νπο τοντον τον ποιονντος Π Ω Λ Εμοιγε δοκεΐ ΣΩ Ά ρ α τούτο πάσχον ο το ποιούν ποιεΐ και τοιούτον οΐον ποιεί το ποιούν λέγω δε το τοιόνδε εϊ τις τύπτει ανάγκη τι τύπτεσθαι 90 90 Vejamos ο resumo do argumento de Sócrates 4740447506 que pretende refutar a tese de Polo fundamentada na disjunção entre belo e bom de um lado e vergonhoso e mal de outro A Sofrer injustiça é pior do que cometêla B mas cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla i nós julgamos belas as coisas ou porque elas são úteis κατά την χρείαν 474d6 ou porque elas causam prazer κατά ηδονήν τινα 474d8 em quem as con templa τούς θεωροϋντας 47409 ou por ambos δι άμφότερα 474e3 ii portanto julgamos uma coisa mais bela do que a outra quando ela a su pera em um desses critérios ou em ambos iii da mesma forma julgamos uma coisa mais vergonhosa do que a outra quando ela a supera em mal ou em dor ou em ambos iv aqueles que cometem injustiça não superam em dor aqueles que a sofrem v mas os superam em mal GÓRGIAS 271 soc Portanto eu falava a verdade que nem eu nem tu nem qualquer outro homem preferiríamos cometer injustiça a sofrêla pois acontece de ser pior pol É claro90 soc Vês então Polo que comparando uma refutação com a outra elas em nada se parecem embora contigo todos os ou tros concordem exceto eu para mim tu me bastas mesmo sendo apenas um pois concordas comigo e testemunhas em meu favor e eu dando a pauta da votação somente a ti dis penso os outros91 E que esse ponto esteja estabelecido por nós A seguir investiguemos sobre o segundo ponto em que diver gimos se pagar a justa pena uma vez cometida a injustiça é o maior dos males como tu presumias ou se não pagála é um mal maior como eu por minha vez presumia Examinemos o seguinte pagar a justa pena e punir de forma justa quem comete injustiça porventura consideras a mesma coisa pol Sim soc Tu dirias então que nem todas as coisas justas são be las na medida em que são justas Investiga bem e então dizeme pol Não me parece Sócrates soc Examina também o seguinte se alguém faz alguma coisa porventura é necessário que haja também uma coisa que sofra a ação daquele que faz pol Pareceme que sim soc Aquilo que sofre a ação daquele que faz porventura será tal qual a ação daquele que faz Refirome a algo do gênero se alguém açoitar é necessário que algo seja açoitado vi portanto na medida em que cometer injustiça supera em mal o sofrêla cometêla é pior do que sofrêla vii visto que Polo concordou que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla ou ele tem de ter maior preferência e não menor pelo pior e mais ver gonhoso ou conceder que cometer injustiça é pior do que sofrêla viii mas ele não teria maior preferência por um mal e uma vergonha maiores ix portanto ele tem de conceder que cometer injustiça é não só mais ver gonhoso como também pior do que sofrêla J Beversluis op cit p 329330 9t Cf supra nota 80 476 b 272 0 0 Κ σ ΐ Α 5 ϋ Ε Ρ ίΑ Τ Α Ο Π Ω Λ Ανάγκη ΣΩ Καί εί σφοδρά τύπτει ή ταχν 6 τύπτων οντω και το τυπτόμενοι τνπτεσθαι Π Ω Λ Ναί ΣΩ Τ οιούτον άοα πάθος τω τυπτομενω εστιν οΧον αν το τύπτον ποιτ Π Ω Λ Υίάνυ γε ΣΩ Ονκονν και εΐ κάει τις ανάγκη τι κάεσθαι Π Ω Λ Π ώϊ γάρ ού ΣΩ Καί εί οορα γ καα η αλγΐνω οντω καζσθαι το καομίνον ω αν το καον κάη Π Ω Λ Πάιυ γε ΣΩ Ο νκονν και εί τεμνει τι 6 αυτός λόγος τεμνεται γάρ τι Π Ω Λ Ναί ΣΩ Καί εί μεγα γε η βαθύ το τμήμα η αλγεινόν τοιοΰ τον τμήμα τζμνςται το τεμνομνον οίοντοτζμνον τξμνζι Π Ω Λ Φαίνεται ΣΩ Συλλήβδην δή όρα εί ομολογείς δ άρτι ελεγον περί πάντων οΧον άν ποιί τό ποιούν τοιοντον τό πάσχον πάσχειν Π Ω Λ Ά λ λ ομολογώ ΣΩ Τούτων δή δ μολογον μενών τό δίκην διδόναι πότερον πάσχειν τί εστιν ή ποιειν Π Ω Λ Ανάγκη ω Σώκρατες πάσχειν ΣΩ Ο νκονν υπό τίνος ποιονντος ΠΩ Λ Πώϊ γάρ ού υπό γε τού κολάζοντας ΣΩ Ό δε όρθως κολάζων δικαίως κολάζει Π Ω Λ Ναί ΣΩ Δίκαια ποιων ή ον ΠΩ Λ Δίκαια ΣΩ Ο νκονν ό κολαζόμενος δίκην διδονς GÓRGIAS 273 pol É necessário soc E se quem açoita açoitar impetuosa ou rapidamente quem é açoitado será açoitado também da mesma maneira pol Sim soc Portanto a afecção de quem é açoitado é tal qual a ação de quem açoita pol Certamente soc Então se alguém queimar será necessário que algo seja queimado pol E como não seria soc E se ele queimar impetuosa ou dolorosamente quem é queimado será queimado da mesma maneira que queima aquele que queima pol Certamente soc Então se alguém cortar alguma coisa o mesmo argu mento não se aplicará Pois alguma coisa será cortada pol Sim soc E se o corte for grande profundo ou doloroso quem é cortado terá esse corte tal como corta aquele que corta pol É claro soc Em suma vê se concordas como há pouco eu dizia que em todos esses casos a ação de quem faz é tal qual a afec ção de quem a sofre pol Concordo soc Uma vez concorde pagar a justa pena é porventura sofrer ou fazer algo pol Necessariamente Sócrates sofrer algo soc E não é pela ação de quem faz pol E como não seria De quem pune soc E quem pune corretamente pune de forma justa pol Sim soc Fazendo a coisa justa ou não pol A coisa justa soc Então quem é punido não sofre a coisa justa quando paga a justa pena 274 GÓRGIAS DE PLATÃO 477 b δίκαια πάσχει Π Ω Λ Φαίνεται ΣΩ Τά δε δίκαιά που καλά ωμολόγηται Π Ω Λ Πάνυ yε ΣΩ Τούτων άρα 6 μεν ποιεί καλά 6 δέ πάσχει ό κολαομενο Π Ω Λ Ναί ΣΩ Ουκούν είπε καλά αγαθά η γαρ τδεα η ώφε λιμα Π Ω Λ Ανάγκη ΣΩ Άγαθα αρα πάσχει ό δίκην διδου Π Ω Λ Έ οικεν ΣΩ Ω φελείται άρα Π Ω Λ Ναί ΣΩ Ά ρ α ηνπερ εχώ υπολαμβάνω την ώφελίαν 3ελ τίων την ψνχην γίγνεται είπερ δικαίωϊ κολάζεται ΠΩΛ Είκάϊ ye ΣΩ Κακία άρα φυχη άπαλλάττεται ό δίκην διδου Π Ω Λ Ναί ΣΩ Ά ρ α ούν τού peyiarov άπαλ λάττεται κακού aide δε σκοπεί ν χρημάτων κατασκευή άνθρωπον κακίαν άλλην τινα evopas η πενίαν Π Ω Λ Ουκ άλλα πενίαν ΣΩ Τ ί δ εν σώματο κατασκευή κακίαν ι J W N T ν ay φησαις ατυςνΐαν ΐναι και νοσον και αισχοί cat τα τοιαΰτα Π Ω Α νΕγωχε ΣΩ Ούκούν και εν ψυχή πονη ριάν ηγη τινα είναι Π Ω Λ Πώ yap ου ΣΩ Ταυτήν ουν ουκ αδικίαν καλεί καί άμαθίαν καί δειλίαν καί τά 92 92 Vejamos o resumo da primeira das três partes do argumento de Sócrates 4763747734 477a5e6 4776747969 que pretende refutar a tese de Polo de que pagar a justa pena uma vez tendo cometido injustiça é o maior dos males i Pagar a justa pena e ser punido de forma justa são a mesma coisa ii as coisas justas são belas na medida em que são justas iii quando alguém faz alguma coisa é necessário que haja outra coisa que sofra a ação daquele que faz como por exemplo quando alguém corta é necessário haver algo que seja cortado iv a ação de quem faz é tal qual a afecção de quem a sofre como por exem plo quando alguém provoca um corte profundo e doloroso a pessoa cortada sofre um corte profundo e doloroso v pagar a justa pena é sofrer algo vi aquele que pune alguém de forma correta o pune de forma justa e por tanto faz o que é justo vii aquele que sofre a punição justa experimenta o que é justo viii na medida em que segundo a premissa ii o que é justo é belo e bom quando aquele que pune o faz de forma justa ele faz o que é belo e bom e quando GÓRGIAS 275 pol É claro soc E há consenso de que as coisas justas sejam belas pol Com certeza soc Portanto um deles faz coisas belas enquanto o outro aquele que é punido as sofre pol Sim s o c Assim uma vez que são belas são boas Pois são ou 477 aprazíveis ou benéficas pol Necessariamente soc Portanto quem paga a justa pena não sofre coisas boas pol Como parece soc Portanto ele não se beneficia pol Sim soc Será porventura o benefício que concebo A sua alma se torna melhor quando ele é punido pol É plausível soc Portanto quem paga a justa pena não se livra do mal da alma pol Sim92 soc Livrase ele por acaso do mal maior Examina desta maneira quanto à provisão de riqueza vês outro mal para o b homem que não a pobreza pol Não é a pobreza soc E quanto à provisão do corpo Dirias que o mal é a fraqueza a doença a deformidade e coisas similares pol Sim soc E em relação à alma consideras que também há al gum vício pol Como não haveria soc E não o chamas de injustiça ignorância covardia e coisas do gênero aquele que é punido sofre uma justa punição ele sofre o que é belo e bom sendo assim beneficiado ix ser beneficiado é tornar melhor a alma e se livrar do mal da alma J Be versluis op cit p 333334 276 GÓRGIAS DE PLATÃO τοιαΰτα ΠΩΛ ΥΙάνυ μεν ονν ΣΩ Ονκοΰν χρημάτων I Λ Λ V V V και σώματος και ψυχής τριών οντων τριττας ειρηκας πονη ριάς πενίαν νόσον αδικίαν ΠΩΛ Ναι ΣΩ Τ ΐί ονν τούτων των πονηριών αίσχίστη ονχ η αδικία και συλλή βδην ή τής ψυχής πονηρία ΠΩΛ Πολά γε ΣΩ Ει δη αίσχίστη καί κάκιστη ΠΩΛ Πώί ω Σωκράτης λέγεις ΣΩ Ώ δί αεί τδ αϊσχιστον ήτοι λύπην μεγίστην παρεχον ή βλάβην ή άμφότερα αισχιστόν εστιν εκ των ώμολογημενων V τώ έμπροσθεν ΠΩΛ Μάλιστα ΣΩ Αϊσχιστον δε αδικία καί σνμπασα ψυχής πονηρία νυνδή ώμολόγηται ήμϊν ΠΩΛ Ώμολόγηται γάρ ΣΩ Ονκοΰν ή ανιαροτατον στι και ανία νπερβαλλον αϊσχιστον τούτων εστιν ή βλάβη ή άμφότρα ΠΩΑ Ανάγκη ΣΏ Ά ρ ονν άλγΐνοτερόν εστιν του πενεσθαι καί κάμνΐν το άδικον είναι καί ακόλαστον καί δειλόν καί αμαθή ΠΩΛ Ουκ εμοιγε δοκεϊ ω Σώκρατες από τούτων γ ΣΩ Ύπερφυεΐ τινι άρα ως μεγάλη βλάβη καί κακω θαυμασίω υπερβάλλονσα ταλλα η της ψνχη πονηριά αϊσχιστον ςστι πάντων πΐοη ονκ άλγηδόνι γε ως 6 σδϊ λόγος ΠΩΛ Φαίνεται ΣΩ Άλλα μην που τό γε μεγίστη βλάβη νπερβάλλον μεγιστον αν κακόν εϊη των οντων ΠΩΛ Ναί ΣΩ Η αδικία άρα καί ή ακολασία καί ή άλλη ψυχής πονηρία 93 Platão enumera aqui os quatro vícios da alma 477C4 injustiça adi kia αδικία intemperança akolasia ακολασία covardia deilia δειλία e ignorância amathia άμαθία que correspondem às quatro virtudes cardinais de sua filosofia moral justiça dikaiosuné δικαιοσύνη temperança sõphrosunê σωφροσύνη coragem andreia ανδρεία e sabedoria sophia phronêsis σοφία φρόνησις No Livro iv da República Platão apresenta pormenorizadamente em que consiste cada uma dessas virtudes e por conseguinte os vícios respecti vos segundo a concepção de uma alma tripartida ou seja composta do elemento racional to logistikon rò λογιστικόν do elemento irascível to thumoeides τό θυμοειδές e do elemento apetitivo to epithumêtikon τό επιθυμητικόν No Górgias todavia essa concepção de alma não se faz presente em sua completude embora haja o reconhecimento do elemento apetitivo da alma τής ψυχής τούτο έν ω έπιθυμίαι είσι 49333 τούτο τής ψυχής ού αί έπιθυμίαι είσί 4 9 3 b i como ficará GÓRGIAS 277 pol Certamente soc Então visto que riqueza corpo e alma são três coisas te referes a três vícios à pobreza à doença e à injustiça pol Sim soc Qual é então o mais vergonhoso desses vícios Não é a injustiça e em suma o vício da alma pol Sem dúvida soc E se é o mais vergonhoso não é o pior pol Como dizes Sócrates soc Assim o mais vergonhoso sempre será mais vergo nhoso por comportar a maior dor ou o maior prejuízo ou am bos conforme foi consentido previamente pol Absolutamente soc E não concordamos há pouco que a injustiça e todo o vício da alma é a coisa mais vergonhosa pol Concordamos soc Ela não é assim a mais penosa e a mais vergonhosa por superar os outros em dor ou em prejuízo ou em ambos pol Necessariamente soc Porventura ser injusto intemperante covarde e igno rante93 é mais doloroso do que ser pobre e doente pol Não me parece Sócrates a partir do que foi dito soc Portanto por superar os outros em um prejuízo ex cepcionalmente grandioso e em um mal estupendo o vício da alma é o mais vergonhoso de todos visto que não é em dor que os supera conforme teu argumento pol É claro soc Mas decerto aquilo que supera as demais coisas em maior prejuízo seria o maior mal existente pol Sim soc Portanto a injustiça a intemperança e qualquer outro vício da alma é o maior mal existente evidente no mito siciliano contado adiante por Sócrates sobre os jarros e os crivos na interlocução com Cálicles Sobre o elemento apetitivo da alma cf infra n 168 ver Ensaio Introdutório 5111 2 7 8 GÓRGIAS DE PLATÃO μεγίστου των δντων κακόν εστιν ΠΩΛ Φαίνεται ΣΩ Tís ουν τέχνη πενίας άπαλλάττει ου χρηματι στική ΠΩΛ Ναι ΣΩ Tis δε νόσον ονκ Ιατρική ΠΩΛ Ανάγκη ΣΩ Tís δε πονηριάς και αδικίας εί μή n 5 Λ f Λ t j v όντως ευπορείς ωοε σκοπεί ποι αγομεν και παρα τινας τους κάμνοντας τα σώματα ΠΩΛ Παρά τους ιατρούς ώ Σωκρατες ΣΩ Ποΐ δε τους άδικοΰντας και τούς άκολα σταίνοντας ΠΩΛ Παρά τούς δικαστάς Aeyeis ΣΩ Ον κούν όίκην δωσοντας ΠΩΑ Φημί ΣΩ τΑρ ουν ου δικαιοσύνη τινί χρωμενοι κολάζονσιν οι όρθως κολάζοντες ΠΩΛ Αήλον δή ΣΩ Χρηματιστική μεν άρα πενίας άπαλ λάττει ιατρική δε νόσον δίκη δε ακολασίας καί αδικίας ΠΩΑ Φαίνεται ΣΩ Τί ουν τούτων κάλλιστόν εστιν ών Aeyeis ΠΩΛ Ύίνων λεγεις ΣΩ Χρηματιστικής ιατρικής δίκης ΠΩΛ Πολύ διαφέρει ω Σωκρατες ή δίκη ΣΩ Ούκονν αύ ήτοι ηδονήν πλείστην ποιεί ή ώφελίαν ή αμφότερα εϊπερ κάλλιστόν εστιν ΠΩΛ Ναί ΣΩ Αρ ουν το ίατρεύε σθαι ήδύ εστιν καί χαίρονσιν οί ίατρενόμενοι ΠΩΛ Ονκ εμοιγε δοκεΐΣΩ Ά λλ ωφέλιμόν γε ή γάρ ΠΩΛ 94 94 Vejamos ο resumo da segunda parte do argumento de Sócrates 477a5e6 i assim como os males do corpo são a doença a fraqueza e coisas do gênero os males da alma são a injustiça a ignorância e a covardia ii desses males a injustiça é a mais vergonhosa porque ela é o vício da alma iii na medida em que a justiça é a mais vergonhosa ele deve ser também o maior mal e portanto deve causar a maior dor ou o maior prejuízo ou ambos iv visto que ela não causa a maior dor ele deve causar o maior prejuízo v aquilo que supera as demais coisas em prejuízo deve ser o maior dos males vi portanto a injustiça é o maior dos males J Beversluis op cit p 334 95 Platão assume aqui 4476747802 que a justiça é capaz não só de curar a alma da injustiça uma vez tendo a cometido mas também do vício em geral πονηριάς καί άδικίας 478ai e na sequência do argumento passa a associar a in justiça à intemperança ακολασίας και άδικίας 478bi Platão parece introduzir o problema da intemperança na discussão sobre a justiça porque o verbo empre gado aqui para designar a punição aplicada pelos juízes nos tribunais é kolazein κολάζουσιν oi κολάζοντες 478a7 da mesma raiz do substantivo que designa intemperança akolasia Ou seja do ponto de vista semântico a intemperança akolasia significaria ausência de punição de refreamento e a punição aplicada pela justiça seria capaz de refreála de livrála da akolasia Mas como salienta Irwin GÓRGIAS 2 7 9 pol É claro94 soc Qual é então a arte que nos livra da pobreza Não é a arte do negócio pol Sim soc E qual delas nos livra da doença Não é a medicina pol Necessariamente soc E qual delas nos livra do vício e da injustiça Se não 478 encontrares a via de resposta examina deste modo aonde e a quem levamos as pessoas cujo corpo está enfermo pol Aos médicos Sócrates soc E aonde levamos quem comete injustiça e é intem perante pol Aos juízes te referes a eles soc Não pagará então a justa pena pol Sim soc E quem pune corretamente porventura não pune em pregando certa justiça pol É evidente soc Portanto a arte do negócio nos livra da pobreza a me dicina da doença e a justiça da intemperança e da injustiça95 b pol É claro soc Qual delas então é a mais bela pol A que te referes soc À arte do negócio à medicina e à justiça pol A justiça se distingue em muito das demais Sócrates soc E ela por sua vez não produz decerto o maior prazer ou o maior benefício ou ambos visto que é a mais bela pol Sim soc O tratamento médico por acaso é aprazível e quem a ele se submete deleitase pol Não me parece soc Mas é benéfico ou não aqui ele força demais a linguagem ordinária A punição pode deixar alguém con trolado ou moderado sem ter mudado seus desejos e aspirações o tipo de mudança que Sócrates tem em mente op cit p 162 2 8 0 G0RGIAS DE PLATAO Ναι ΣΩ MeyaAou yap κακόν άπαλλάττεται ώστε λνσι τελεΐ νπομείναι την άλγηδόνα και υγιή είναι ΠΩΛ Πώϊ yap ού ΣΩ ΤΑρ ούν ούτως αν περί σώμα εύδαιμονεστατος άνθρωπος εϊη Ιατρενόμενος η μηδε κάμνων αρχήν ΠΩΛ Αηλον οτι μηδε κάμνων ΣΩ Ου γάρ τούτ ην ευδαιμονία ως εοικε κακού απαλλαγή άλλα την αρχήν μηδε κτησις ΠΩ Λ Εστι ταΰτα ΣΩ Τι δε άθλιώτερος πότερος δνοΐν εχόντοιν κακόν εϊτ εν σώματι εΐτ εν ψυχή ο ιατρένόμενος και άπαλλαττό μενος τού κακού η ό μη Ιατρενόμενος εχων δε ΠΩΛ Φαί νεται μοι ό μη ιατρενόμενος ΣΩ Ονκούν το δίκην διδόναι μεγίστου κακού απαλλαγή ην πονηριάς ΠΩΛ ΤΩ γάρ ΣΩ Σωφρονίζει γάρ που και δικαιότερους ποιεί και ια τρική γίγνεται πονηριάς η δίκη ΠΩΛ ΝαιΣΩ Εάδαι μονεστατος μεν άρα 6 μη εχων κακίαν εν ψυχή επειδή τούτο μεγιστον των κακών εφάνη ΠΩΛ Αηλον δη ΣΩ Αεύ τερος δε που ό άπαλλαττόμενος ΠΩΛ Εοικεν ΣΩ Ου τος δ ην ό νουθετούμενος τε και επιπληττόμένος και δίκην διδούςΠΩΛ Ναι ΣΩ Κάκιστα άρα ζη δ εχων αδικίαν καί μη άπαλλαττόμενος ΠΩΛ Φαίνεται GÓRGIAS 281 pol Sim soc Pois a pessoa se livra de um grande mal de modo que lhe é vantajoso suportar a dor e ser saudável pol E como não seria soc E quando o homem em relação ao corpo seria feliz ao máximo submetendose ao tratamento médico ou não adoe cendo desde o princípio pol É evidente que não adoecendo soc Pois a felicidade como é plausível não era livrarse do mal mas não adquirilo a princípio pol É isso soc E então Entre duas pessoas com um mal seja no corpo ou na alma qual é mais infeliz aquela que se submete ao tratamento médico e se livra do mal ou aquela que não se lhe submete e persiste com ele pol É claro que aquela que não se submete a ele soc Pagar a justa pena não era então a libertação do maior mal do vício pol Era soc Pois a justiça traz a temperança96 deixa as pessoas mais justas e se torna a medicina para o vício pol Sim soc Portanto é feliz ao máximo quem não possui o vício na alma visto que ele é manifestamente o maior dos males pol É evidente soc E em segundo lugar quem se livra dele pol Como parece soc E essa pessoa era aquela que foi admoestada castigada e que pagou a justa pena pol Sim soc Portanto vive da pior forma possível quem possui a injustiça e dela não se livra pol É claro 96 Cf supra nota 95 282 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Ουκοΰν ούτος τυγχάνει ων δς αν τα μέγιστα άδικων καί χρώμενος μεγίστη αδικία διαπράζηται ware μήτε νον 479 θετεΐσθαι μητε κολάζεσθαι μήτε δίκην διδόναι ώσπερ συ φης Αρχέλαον παρεσκευάσθαι καί τούς άλλους τυράννους t t καί ρήτορας καί 0νναατας Π Ω Λ Έοικ ΣΩ Σχεδόν yap που οΰτοι ώ αριστε το αυτδ διαπε πραγμενοι είσϊν ώσπερ αν εϊ τις τοις μεγίστοις νοσημασιν συνισχόμενος διαπράζαιτο μη διδόναι δίκην των περι τδ σώμα αμαρτημάτων τοΐς Ιατροϊς μηδε ίατρεύεσθαι φοβού μενος ώσπερανει παΐς τδ κάεσθαι καί τδ τεμνεσθαι ότι b άλγεινόν η ου δοκει καί σοϊ οΰτω Π Ω Λ Εμοιγε ΣΩ Αγνοων γε ως εοικεν οίον εστιν η νγιεια και αρετή σώματος κινδυνεύουσι γδρ εκ των νυν ημΐν ώμο λογημενων τοιοΰτόν τι ποιείν καί οι την δίκην φεύγοντες ω Πώλε τδ άλγεινδν αυτού καθοράν πρδς δε τδ ωφέλιμον τυφλως εχειν καί άγνοειν δσω άθλιώτερόν εστι μη υγιούς σώματος μη υγιεί ψυχή συνοικεΐν αλλά σαθρά και αδίκω c καί άνοσίω δθεν και παν ποιοΰσιν ώστε δίκην μη διδόναι μηδ άπαλλάττεσθαι τού μεγίστου κακού καί χρήματα παρα σκευαζόμενοι καί φίλους και όπως άν ώσιν ως πιθανώτατοι 97 97 Cf supra nota 70 98 Segundo Dodds op cit p 295 a dinastia seria o poder absoluto de um grupo de pessoas e não de um homem só como a tirania Nesse sentido a dinastia estaria para a oligarquia assim como a tirania para a monarquia São duas formas de governo arkhê ctpxfj não reguladas por um conjunto de leis próprio da cidade que esteja acima dos governantes ver Tucídides 4783 Por exemplo o governo dos Trinta Tiranos de Atenas em 404 aC instituído logo após o fim da Guerra do Peloponeso é denominado por Andócides como uma dinastia Uma vez que fostes persuadidos por esses homens a incorrer nos maiores erros contra vós próprios a ponto de trocar o poder pela escravidão quando insti tuístes uma dinastia no lugar da democracia por que qualquer um de vós haveria de se espantar caso fôsseis de algum modo persuadidos a incorrer em erros também contra mim 227 GÓRGIAS 283 soc E então esse não é o caso de quem cometendo os maio res delitos e servindose da maior injustiça age de modo a não ser admoestado não ser punido e nem pagar a justa pena como 479 dizes que Arquelau97 os demais tiranos os rétores e os dinastas98 estão dispostos a isso pol É plausível soc É como se essas pessoas excelente homem tivessem agido como quem contraindo as maiores doenças age de modo a não pagar aos médicos a justa pena relativa aos erros do corpo e a não se submeter a seu tratamento temeroso qual uma criança de alguma cauterização ou de algum corte devido à dor infligida Não é esse também o teu parecer b pol Sim soc Porque ignora como parece qual é a saúde e a virtude do corpo Pois a partir de nosso consentimento vigente é pro vável que quem escape à justiça também faça algo similar Polo observa a dor por ela infligida mas é cego para o que é bené fico ignorando o quanto é mais infeliz viver com a alma insa lubre do que com o corpo em semelhante estado uma alma avariada injusta e ímpia É por esse motivo que ele faz de tudo c para não pagar a justa pena e não se livrar do maior mal dis pondose de dinheiro de amigos e do modo de ser persuasivo δπου γάρ ύπό τών άνδρών τούτων αύτοι εις υμάς αυτούς έπείσθητε τα μέγιστα έξαμαρτεϊν ώστε άντι τής αρχής δουλείαν άλλάξασθαι έκ δημοκρατίας δυναστείαν καταστήσαντες τί αν τις υμών θαυμάζοι και εις έμέ εϊ τι έπείσθητε έξαμαρτεϊν A diferença entre tirania e realeza por sua vez era entendida por Sócrates segundo as Memoráveis de Xenofonte da seguinte maneira Sócrates considerava tanto a realeza quanto a tirania duas formas de poder mas admitia diferenças entre elas considerava a realeza o poder aceito voluntaria mente pelos homens e conforme as leis da cidade enquanto a tirania o poder contra a vontade dos homens e sem leis mas segundo a vontade do governante 4612 Βασιλείαν δέ και τυραννίδα άρχάς μέν άμφοτέρας ήγείτο είναι διαφέρειν δέ άλλήλων ένόμιζε τήν μέν γάρ έκόντων τε τών ανθρώπων καί κατά νόμους τών πόλεων αρχήν βασιλείαν ηγείτο τήν δέ άκόντων τε και μή κατά νόμους άλλ όπως ό άρχων βούλοιτο τυραννίδα 284 GÓRGIAS DE PLATÃO λέγειν εί δε ημείς αληθή ώμολογήκαμεν ω Π ωλί άρ αισθάνη τα συμβαίνοντα εκ του λόγου ή βούλει συλλο γισώμεθα αυτά Π Ω Λ Εΐ σοι γε δοκεϊ ΣΩ τΑρ ούν συμβαίνει μέγιστον κακόν ή αδικία και τδ d άδικεϊυ ΠΩΛ Φαίνεταί γε ΣΩ Και μην απαλλαγή γε φάνη τούτου τού κακού το δίκην διδόναι Π Ω Λ Κινδυ νευει ΣΩ Τό δέ γε μη διδόναι εμμονή του κακού Π Ω Λ Ναί ΣΩ Αεύτερον άρα έστιν των κακών μεγέθει το άοικειν το δε άδικούντα μη διδόναι δίκην πάντων μεγί στου τε και πρώτον κακών πέφυκεν Π Ω Λ νΕοικεν ΣΩ νΑρ ου ν ου περί τούτου ω φίλε ήμφεσβητήσαμεν συ μεν τον Αρχέλαον ενδαιμονίζων τον τα μέγιστα άδι 6 κονντα Οίκην ονθμιαν οιοοντα ςγω ό τουναντίον οωμνος είτε Αρχέλαος εϊτ άλλος ανθρώπων δστισονν μη δίδωσι δίκην άδικων τούτω προσήκειν άθλίω είναι διαφερόντως των άλλων άνθρώπων και άεϊ τον άδικοϋντα τού άδικον μένου άθλιώτερον είναι και τον μη διδόντα δίκην τού οώοντος ον ταντ ην τα νπ εμού Αγομνα ΠΩ Λ Ναί 9 9 9 Sócrates aborda aqui ο problema moral envolvido na prática oratória nos tribunais de justiça já ressaltado pela personagem Górgias no discurso de defesa de seu ofício 4 5 6 C 4 5 7 C o uso da retórica para justificar ações injustas e nesse caso específico para evitar que se pague a pena devida Nas comédias de Aristófanes um dos alvos da sátira política sobre a democracia ateniense é precisamente o pro pósito que levaria as pessoas a buscarem instrução na arte dos discursos tekhnê logõn τέχνη λόγων junto àqueles que se propunham a ensinála É o caso da personagem Estrepsíades na comédia As Nuvens de 4 2 3 aC que busca aprender o discurso fraco identificado pela personagem com o discurso injusto no pen satório de Sócrates φροντιστήριον v 9 4 representado na peça por assim dizer como filósofo da natureza e sofista Este trecho da peça resume bem a questão e contribui para a compreensão do tipo de problema moral da prática oratória nos tribunais abordado por Platão no Górgias e s t r e p s í a d e s Dizem que eles têm dois discursos o forte seja ele qual for e o fraco Um desses discursos o fraco dizem eles GÓRGIAS 285 ao máximo no discurso Se nosso consentimento for verda deiro Polo será que percebes as consequências do argumento Ou queres que nós as recapitulemos pol Se for de teu parecer soc Não decorre porventura que a injustiça e cometer injustiça são o maior mal pol É claro soc Com efeito pagar a justa pena é manifestamente a li bertação desse mal não é pol É provável soc E não pagála a preservação do mal pol Sim soc Portanto o segundo mal em magnitude é cometer in justiça mas não pagar a justa pena quando cometida a injus tiça é naturalmente o primeiro e o maior de todos os males pol É plausível soc E não era nesse ponto meu caro que divergíamos Tu supunhas que Arquelau era feliz tendo ele cometido as maiores injustiças e jamais tendo pago a justa pena enquanto eu julgava o contrário que se Arquelau ou qualquer outro homem não a pagasse uma vez cometida a injustiça conviria que ele fosse distintamente o mais infeliz dos homens e aquele que comete injustiça fosse sempre mais infeliz do que quem a sofre e aquele que não paga a justa pena mais infeliz do que quem a paga Não era isso o que eu dizia pol Sim vence em defesa das causas mais injustas Se então aprendesses para mim o discurso injusto dessas dívidas que hoje tenho por tua causa nada pagaria nem mesmo um óbolo w 1128 ΣΤ είναι παρ αύτοϊς φασιν αμφω τώ λόγω τόν κρείττον οστις έστί και τον ήττονα τούτοιν τόν ετερον τοίν λόγοιν τον ήττονα νικάν λέγοντά φασι τάδικώτερα ήν οΰν μάθης μοι τόν άδικον τούτον λόγον à νΰν οφείλω διά σέ τούτων των χρεών ούκ αν άποδοίην ούδ αν οβολόν ούδενί 286 GÓRGIAS DE PLATÃO 480 b c d Σ ίΙ Ονκονν άποδεδεικται on αληθή ελεγετο ΓΤΩΛ Φαίνεται Σ ίΙ Ειεζτ εί ουν δή ταΰτα αληθή ω Πώλε rts η μεγάλη χρεία εστίν τής ρητορικής δει μεν γάρ δη εκ των νυν ωμολογημενων αυτόν εαυτόν μάλιστα φυλάττειν όπως μη αδικήσει tus ικανόν κακόν εςοντα ου γαρ Π ί2Λ Πάιυ γε ΣΩ Έ αν δε γε άδικήση ή αυτός ή άλλος τις ων άν κήδηται αυτόν εκόντα Ιεναι εκεΐσε οπού ως ταχιστα δώσει δίκην παρά τον δικαστήν ώσπερ παρά τον ιατρόν σπευδοντα όπως μη εγχρονισθεν το νόσημα τής άδικίας ΰπουλον την ψυχήν ποιήσει καί ανίατον ή πως λεγο μεν ω Πώλε ειπερ τα πρότερον μενει ήμΐν δμολογήματα ούκ ανάγκη ταϋτα εκείνοις οΰτω μεν συμφωνεΐν άλλως Bè μη Π Ω Λ Τ ι γάρ δή φωμεν ω Σωκρατες Σ ίΙ Έ π ι μεν άρα το άπολογεΐσθαι υπέρ τής άδικίας τής αυτόν ή γονέων ή εταίρων ή παίδων ή πατρίδος άδικουσης ου χρήσιμος ουδεν ή ρητορική ήμΐν ω Πώλε εί μή εϊ τις υπολάβοι επί τουναντίον κατηγορεΐν δεΐν μάλιστα μεν εαυτοΰ επειτα δε καί των οικείων καί των άλλων 05 άν αεί των φίλων τυγχάνη άδικων καί μή άποκρύπτεσθαι άλλ εις το φανερόν άγειν τό άδίκημα ινα δω δίκην καί υγιής γενηται άναγκάζειν τε αυτόν καί τους άλλους μή άποδειλιάν αλλα παρεχειν μυσαντα ευ και ανδρειως ώσπερ τεμνειν καί κάειν Ιατρω τό άγαθόν καί καλόν διώκοντα μή υπολογι ζόμενον τδ αλγεινόν εάν μεν γε πληγών άξια ήδικηκως ή τΰπτειν παρεχοντα εάν δε δεσμού δεΐν εάν δε ζημίας íoo Vejamos o resumo da terceira parte do argumento de Sócrates 4776747969 i Assim como o doente deve ser levado ao médico também a pessoa injusta deve ser levada ao tribunal de justiça ii e assim como o doente submetido ao tratamento médico o considera do loroso mas se submete a ele porque é benéfico também a pessoa injusta submetida à punição a considera dolorosa mas se submete a ela porque é benéfica iii e assim como o doente que não se submete ao tratamento médico é mais infeliz do que aquele que se submete a ele também a pessoa injusta que não se sub mete à punição é mais infeliz do que aquela que se submete a ela GÓRGIAS 287 soc Não está demonstrado então que se dizia a verdade p o l É claro100 soc Seja Se isso então é verdadeiro Polo qual é a gran diosa utilidade da retórica Pois a partir de nosso consenti mento vigente o homem deve sobretudo vigiar a si mesmo para não cometer injustiça pois contrairia assim um mal su ficiente Ou não p o l Com certeza soc E se ele ou qualquer outro homem que a isso se atente cometer alguma injustiça ele próprio deverá se dirigir volunta riamente aonde possa pagar o mais rápido possível a justa pena apresentandose ao juiz como a um médico zelando para que a doença da injustiça não se torne crônica e não deixe na alma uma cicatriz incurável Ou o que diremos nós Polo visto que nosso consentimento anterior persevera Não é necessário que isto dito assim lhe seja consoante e não de outra maneira p o l E o que devemos dizer então Sócrates soc Pois bem para a defesa da injustiça quer de sua própria injustiça dos parentes dos amigos dos filhos ou de sua pátria a retórica não nos é minimamente útil Polo a não ser que alguém conceba seu uso em sentido contrário devese acusar antes de tudo a si mesmo e então os familiares ou qutro amigq qualqueL sempre que se cometa alguma injustiça ao invés de ocultálo devese trazer à luz o ato injusto a fim de pagar a justa pena e se tornar saudável devese constranger a si mesmo e aos demais a não se acovardarem mas a se apresentarem de olhos cerrados correta e corajosamente como se fosse a um médico para algum corte ou cauterização en calçando o bem e o belo e não cogitando a dor101 apresentandose para ser açoitado se o ato injusto merecer o açoite para ser preso se merecer a prisão para ser punido se merecer a punição para ser iv então o homem mais feliz é aquele que não possui o mal na alma e o segundo mais feliz é aquele que se libertou do mal da alma depois de se submeter à punição v portanto o homem mais infeliz é aquele que possui o mal na alma e que não foi punido de forma justa J Beversluis op cit p 335 1 0 1 Sobre a oposição entre prazer e bem de um lado e entre dor e mal de outro cf 4 9 4 C 5 0 0 a 4 8 0 b c d 288 GÓRGIAS DE PLATÃO 481 άποτίνοντα εάν δε φνγής φενγοντα εάν δε θανάτου am θνρσκοντα αυτόν πρώτον οντα κατήγορον καί αυτου και των άλλων οικείων καί Ιπϊ τούτο χρωμενον τρ ρητορική όπως άν καταδήλων των αδικημάτων γιγνομενων άπαλλάτ τωνται του μεγίστου κακοΰ αδικίας φωμεν οίτωί η μή φωμεν ω Πώλε ΓΊΩΛ Ατοπα μεν ω Σωκρατες εμοιγε δοκέΐ τοΐς μεντοι έμπροσθεν ίσως σοι δμολογείται Σ ί2 Ουκοΰν η κάκεΐνα λυτεον η τάδε ανάγκη συμβαίνειν Π Ω Λ Ναι τοντό γε ούτως χει Σ ίΙ Τουναντίον δε γε αν μεταβαλόντα εί αρα δει τινα κακώς ποιειν ειτ εχθρόν είτε οντινονν εαν μονον μη αυτός άδικήται υπό του εχθρόν τούτο μεν γαρ ενλαβητεον εάν δε άλλον άδική ό εχθρός παντι τρόπω παρασκεναστεον και πράττοντα και λεγοντα όπως μή δω δίκην μη δε Ιλθη παρά τον δικαστήν εάν δε ελθρ μηχανητεον όπως άν διαφυγή ι μή δω δίκην ό εχθρός άλλ εάντε χρνσίον ή ήρπακως και πολύ μή αποδίδω τούτο άλλ Ιχων άναλίσκρ και εις εαυτόν καί εις τους εαυτόν αδίκως και άθεως εάντε αυ θανάτου άξια ήδικηκως ρ όπως μή άποθανεΐται μάλιστα μεν μηδέ ποτε άλλ αθάνατος εσται πονηρός ων εί δε μή όπως ώϊ πλειστον χρόνον βιώσεται τοιοΰτος ων επί τά τοιαΰτα εμοιγε δοκεΐ ω Πωλε ή ρητορική χρήσιμος είναι επεί τω γε μή μελλοντι άδικεΐν ου μεγάλη τίς μοι δοκεΐ ή χρΐία αυτής είναι ει δή καί εστιν τις χρεία ως εν γε τοις πρόσθεν ουδαμρ εφάνη ουσα b 102 102 Sócrates retoma a discussão sobre a retórica reavaliando sua função depois das conclusões alcançadas sobre o valor da justiça e da injustiça para a alma dos ho mens Apoiado na convicção na verdade de suas inferências Sócrates pretende mostrar a Polo que se cometer injustiça é pior do que sofrêla se a injustiça é o maior mal da alma e se libertar dela é beneficiála e se pagar a justa pena é o modo de livrála desse mal então a retórica seria útil nas seguintes circunstâncias i para ajudar a condenar parentes e amigos uma vez tendo eles cometido injustiça se o intuito é beneficiálos e ii para ajudar a livrar os inimigos da justa punição se o intuito é prejudicálos Para Polo embora tenha assentido nas premissas do argumento conduzido dialogicamente por Sócrates tais conclusões são absurdas άτοπα 48oet ou seja paradoxais segundo o que pensa a maioria das pessoas Porém o pathos de Polo diante dessas conclusões é GÓRGIAS 2 8 9 exilado se merecer o exílio para ser morto se merecer pena de morte devese ser o primeiro a acusar a si próprio e aos demais familiares e utilizar a retórica com este escopo a fim de que uma vez fulgidos os atos injustos cometidos se livrem do maior mal da injustiça Devemos ou não devemos falar assim Polo p o l I sso me parece um absurdo Sócrates Todavia talvez e concorde com o que dizias anteriormente soc Então devemos suprimilo ou isso é consequência necessária p o l Sim é isso o que sucede soc Mas mudemos para a situação inversa pois bem se al guém deve fazer mal a um inimigo ou a quem quer que seja quando apenas ele não tenha sofrido alguma injustiça por parte desse inimigo é preciso se precaver contra isso embora outra pessoa a tenha sofrido ele deve se dispor de todos os meios quer em ações quer em palavras para que o inimigo não pague a justa 481 pena e não se apresente ao juiz contudo caso o inimigo se lhe apresente ele deve buscar algum subterfúgio para que ele fuja e não pague a justa pena se o inimigo tiver furtado certa soma de ouro para que ele não a restitua mas portea consigo e despendaa em seu próprio interesse e de seus comparsas injusta e impiamente se por sua vez seu delito merecer a pena de morte para que o inimigo não seja morto ou melhor jamais morto e que seja imortal ainda que vicioso se não for o caso para que o inimigo sobreviva o maior tempo possível sendo como ele é É em tais circunstân b cias Polo que a retórica pareceme ser útil visto que para quem não pretende cometer injustiça ela não me parece de grande uti lidade caso haja deveras alguma utilidade pois na discussão an terior ela não se manifestou em nenhuma instância102 causado propositalmente por Sócrates pois ele não se refere a uma outra circunstância em que a retórica também seria útil conforme o princípio da justiça para evitar que uma pessoa seja condenada injustamente Nesse caso a conclusão seria menos absurda aos olhos de Polo e estaria de acordo com o argumento Porém como a discussão com Polo é marcada pelo comportamento acentuadamente jocoso e irônico de Sócrates fazendo ressaltar a todo momento as debilidades morais e intelectuais da personagem é natural que o 2a Ato do diálogo termine com o embaraço completo do interlocutor 290 GÓRGIAS DE PLATÃO ΚΑΛ Είπε μοι ω Χαιρεφών σπουδάζει ταντα Σωκράτης η παίζει ΧΑΙ Έμοί μεν δοκεΐ ω Καλλίκλεις υπερφυών σπού δαζαν ουδεν μεντοι οΐον το αυτόν έρωταν ΚΑΛ Ν roòs θεούς άλλ επίθνμω είπε μοι ω Σώ ο κρατες πότερόν σε θωμεν νννϊ σπονδάζοντα η παίζοντα εΐ μεν γαρ σπουδάζεις τε και τυγχάνει ταϋτα άληθη όντα ά λεγεις άλλο τι η ημών ό βίος άνατετραμμενος άν ειη των αν θρωπων και παντα τα εναντία πραττομεν cos εοικεν η α Οει Σ Ά íl Καλλίκλεις εί μη τι ην τοΐς άνθρωποις πάθος τοΐς μεν Άλλο τι τοΐς δε Άλλο τι η το αυτό αλλά τις ημών ίδιάν τι επασχεν πάθος η οι Άλλοι ουκ αν ην ρόδιον d ενδείζασθαι τω ετερω το εαυτόν πάθημα λέγω δ εννοησας Άτι εγώ τε και συ νυν τυγχάνομεν ταυτόν τι πεπονθότες ερώντε δυο οντε δνοΐν εκάτερος εγω μεν Άλκιβιάδου τε του Κλεινίου και φιλοσοφίας συ δε δνοΐν του τε Άθη 103 Ο retorno de Cálicles à cena é marcado pela mudança de seu estado de ânimo diante da conduta de Sócrates na discussão com Polo Se na abertura do diá logo ele admoesta Sócrates por chegar atrasado à exibição epideixis de Górgias 447ab e em sua segunda intervenção manifesta deleite perante o debate entre Sócrates e Górgias 458d Cálicles ao assumir agora a função de interlocutor prin cipal expressa uma profunda desconfiança sobre a seriedade do protagonista que culminará com a invectiva contra a filosofia e o filósofo 485a486d 104 Alcibíades aparece como personagem em alguns diálogos de Platão Pro tágoras Banquete Alcibíades Primeiro e Segundo referido comumente como amante de Sócrates Na História da Guerra do Peloponeso Tucídides salienta sua importante e conturbada participação como general militar junto a Nícias e Lâmaco na cam panha de Atenas contra a Sicília em 415 aC 68 Alcibíades segundo Tucídides foi acusado de ter participado da ação sacrílega que mutilou as hermas de mármore existentes em Atenas 62829 pouco antes da partida da expedição naval Como ele já se encontrava na Sicília foi expedida uma nau para buscálo e trazêlo de volta a Atenas de modo que ele pudesse se defender de tal acusação 653 Mas ele con seguiu fugir durante a viagem 661 e acabou se exilando em Esparta passando a colaborar com os que outrora eram seus inimigos 688 Posteriormente em 411 aC foi chamado de volta do exílio pelos atenienses para comandar as tropas na ilha de Samos 88182 e em seguida aceito novamente em Atenas 897 Sua morte todavia não é referida por Tucídides na medida em que sua narração da guerra entre Atenas e Esparta é interrompida nos eventos do ano de 411 aC embora seu projeto inicial fosse narrála em sua completude até a derrota de Atenas em 404 aC A referência à sua morte em 404 é feita por Plutarco séc 1 dC na obra dedicada a Alcibíades ele teria sido assassinado na Frigia onde se encontrava sob a proteção do sátrapa Farnábazo por ordem do lacedemônio Lisandro que havia instituído GÓRGIAS 291 cal Dizeme Querefonte Sócrates fala sério ou está de brincadeira103 que Pareceme Cálicles que ele fala com uma seriedade soberba mas nada como tu a lhe perguntar cal Sim pelos deuses almejo fazêlo Dizeme Sócrates devemos considerar que nesse momento falas com seriedade ou estás de brincadeira Pois se falas sério e tuas palavras são verdadeiras a vida de nós homens não estaria de pontacabeça e não estaríamos fazendo como parece tudo ao contrário do que deveríamos fazer soc Cálicles se os homens não experimentassem a mesma paixão mas cada um a que lhe é própria e se cada um de nós tivesse uma paixão particular que os outros não tivessem não seria fácil mostrar a outrem aquela que lhe é própria Digo isso pensando que tanto eu quanto tu experimentamos hoje a mesma paixão cada um de nós tem dois amantes eu Alcibía des filho de Clínias104 e a filosofia e tu outros dois o demo cm Atenas depois de sua derrota frente a Esparta o goveno conhecido como os Trinta Tiranos Alcibíades 3839 Essa íntima relação entre Sócrates e Alcibíades ilustrada por Platão nos diálogos é vista como algo moralmente problemático por Xenofonte nas Memorá veis tendo em vista o contraste entre o exemplo de virtude moral representado pela figura de Sócrates e as ações imorais e politicamente nocivas a Atenas imputadas a Alcibíades Xenofonte na tentativa de justificar a relação de Sócrates com Alci bíades e Crítias um dos integrantes do governo dos Trinta Tiranos argumenta que enquanto eles conviviam com ele ambos se comportavam virtuosamente Me moráveis 1218 122426 mas depois de se afastarem de Sócrates passaram a se comportar tanto na vida pública como na privada de maneira insolente e desme dida O trecho abaixo das Memoráveis sintetiza bem a descrição de Xenofonte com relação à figura de Alcibíades Alcibíades por sua vez era caçado por inúmeras mulheres ilustres devido à sua beleza e por causa de seu poder na cidade e junto a seus aliados era exaurido por muitos homens hábeis em lisonjear além disso era estimado pelo povo e es lava sempre em primeiro lugar sem esforço assim como os atletas das competições esportivas descuram dos exercícios quando sem esforço são os primeiros também Alcibíades descurou de si próprio 1224 Αλκιβιάδης δ αύ διά μέν κάλλος ΰπό πολλών και σεμνών γυναικών Οηρώμενος διά δύναμιν δέ τήν έν τη πόλει και τοίς συμμάχοις ΰπό πολλών και δυνατών κολακεύειν άνθρώπων διαθρυπτόμενος ύπό δέ τοϋ δήμου τιμώμενος και ήμδίως πρωτεύων ώσπερ οί τών γυμνικών αγώνων άθληται ραδίως πρωτεύοντες Λμι λοϋσι τής άσκήσεως οϋτω κάκεΐνος ήμέλησεν αύτοϋ 292 GÓRGIAS DE PLATÃO e 482 ναίων δήμον και του ΤΙυριλάμπονς αισθάνομαι ονν σου εκάστοτε καίπερ οντος δεινού οτι άν φή σου τα παιδικά και όπως αν φή εχειν ον δνναμενον άντιλεγειν άλλ άνω και κάτω μεταβαλλόμενου V τε τη εκκλησία εάν τι σου λεγοντος 6 δήμος δ Αθηναίων μη φή όντως εχειν μετα βαλλόμενος λεγεις ά εκείνος βούλεται και προς τον Υίνρι λάμπονς νεανίαν τον καλόν τούτον τοιαΰτα ετερα πεπονθας τοΐς γάρ των παιδικών βονλεύμασίν τε και λόγοις ονχ οΐός τ εΐ εναντιούσθαι ώστε ει τίς σου λεγοντος εκάστοτε ά διά τούτους λεγεις θανμάζοι ως άτοπά εστιν ίσως εΐποις άν αυτω εί βούλοιο τάληθή λεγειν ότι εί μη τις παύσει τά σά παιδικά τούτων των λόγων ονδε συ παύση ποτέ ταντα λεγων νόμιζε τοιννν και παρ εμού χρηναι ετερα τοιαυτα άκούειν και μή θαύμαζε οτι εγίο ταντα λέγω αλλά την φιλοσοφίαν τά εμά παιδικά πανσον ταντα λεγουσαν εστιν των ετερων παιδικών πολύ ήττον εμπληκτος δ μεν γάρ Κλει νίειος οντος άλλοτε άλλων εστι λόγων ή δε φιλοσοφία άει 105 105 Sócrates faz um jogo com a palavra dêmos δήμος que significa povo mas que é também usada como nome próprio Demo Δήμος no caso aqui filho de Pirilampo Ele alude assim ao envolvimento de Cálicles com as ações políticas de Atenas por meio de uma metáfora erótica comparando sua relação afetiva com Demo à sua aspiração pelo poder no contexto da democracia ateniense veja a referência à Assembleia instituição soberana desse tipo de constituição política 48iei A beleza de Demo é referida por Aristófanes na comédia As Vespas de 422 aC E por Zeus se ele vir escrito na porta Demo belo filho de Pirilampo ele vem e escreve ao lado Cerno belo και νή Δί ήν ϊδη γέ που γεγραμμένον τό του Πυριλάμπους έν θύρα Δήμος καλός ιών παρέγραφε πλησίον Κημός καλός ν 9799 Segundo Lísias em uma de suas orações 1925 ele serviu como trierarca em Chipre Demo filho de Pirilampo quando era trierarca em Chipre pediu que eu procurasse Aristófanes e lhe dissesse que havia recebido do Grande Rei uma urna de ouro como garantia Δήμος γάρ ό Πυριλάμπους τριήραρχων εις Κύπρον έδεήθη μου προσελθειν αύτφ λέγων οτι ελαβε σύμβολον παρά βασιλέως τού μεγάλου φιάλην χρυσήν Em um dos fragmentos da comédia de Êupolis de 421 aC Πόλεις fr 213 K Demo é chamado metaforica mente de estúpido será que há cera nos ouvidos de Demo filho de Pirilampo GÓRGIAS 2 3 de Atenas eDem p filho de Pirilampo105 Em toda e qualquer ocasião percebo que tu embora sejas prodigioso não conse gues contradizer o que quer que teus amantes digam ou sus tentem mudando de posição ora aqui ora ali Na Assembleia se o demo de Atenas disser que teu discurso não procede tu mudas de posição e dizes o que ele quer por esse jovem e belo filho de Pirilampo és afetado de modo similar Pois não con segues te opor às decisões e aos discursos de teus amantes de modo que a alguém estupefato com o disparate que a todo momento dizes por causa deles tu talvez lhe dirias caso qui sesses falar a verdade que a menos que alguém impeça teus amantes de proferirem tais discursos tu jamais deixarás de proferilos Pois bem considera que também de mim deverás ouvir coisas do gênero e não te assombres que seja eu a dizer isso mas impede antes a filosofia minha amante de dizêlo106 Ela diz meu caro amigo o que ouves de mim agora e ela me é muito menos volúvel do que meu outro amante pois Alcibía des filho de Clínias profere discursos diferentes em diferentes και τψ Πυριλάμπους άρα Δήμω κυψέλη ένεστιν Por uma referência de Antifonte fr 57 Blass apud Ateneu 397cd depreendese que Demo manteve por vários anos uma criação de aves iniciada pelo pai quando trouxe de uma embaixada na Pérsia um par de pavões D Nails op cit p 124125 E Dodds op cit p 261 Sobre a sátira da relação erótica entre político democrático e o povo ou grosso modo do amor do político pelo poder ver Aristófanes Os Cavaleiros w 725811 106 A identificação de Sócrates com a filosofia tem como contraponto a iden tificação de Cálicles com a política democrática de Atenas de um lado o discurso unívoco do filósofo que sempre diz as mesmas coisas sobre os mesmos assuntos coerência própria de quem busca o conhecimento e de outro o discurso volúvel do político cujas opiniões variam de acordo com as circunstâncias e com as expectati vas do público ao qual se volta ou seja o corpo da Assembleia democrática Nessa breve caracterização da personagem Cálicles percebese então que se trata do con fronto de Sócrates representante máximo da filosofia com Cálicles representante dos políticos os quais são referidos na Apologia de Sócrates 2ibd como uma das classes dos pretensos sábios cujo conhecimento Sócrates punha à prova através de seu método de inquirição o elenchos cf infra nota 215 294 GÓRGIAS DE PLATÃO b των αυτών λεγει δε a συ νυν θαυμάζεις παρήσθα δε και αυτός λεγομενοις η ουν εκείνην εςελεγξον οπερ άρτι ίλεγον ως ου το άδικείν εστιν και άόικοΰντα δίκην μη δι δόναι απάντων έσχατον κακών η εΐ τούτο εάσεις ανέλεγκτον μα τον κύνα τον Αιγυπτίων θεόν ου σοι ομολογήσει Καλ λικλής ω Καλλίκλεις άλλα διαφωνήσει εν άπαντι τω βίω καίτοι εγωγε οϊμαι ω βέλτιστε καί την λύραν μοι κρεΐττον είναι ανάρμοστου τε καϊ διαφωνεϊν και χορδν ω χορηγοίην c και πλείστους ανθρώπους μή δμολογεϊν μοι αλλ εναντία λεγειν μάλλον ή ενα δντα εμε εμαυτω άσυμφωνον είναι και εναντία λεγειν ΚΑΛ ί2 Σώκρατες δοκεΐς νεανιενεσθαι εν τοΐς λόγοις ως αληθώς δημηγόρος ώ ν καί νυν ταΰτα δημηγορείς ταίιτον παθόντος Πώλου πάθος οπερ Τοργίου κατγόρει προς σε παθεΐν εφη γάρ που Τοργίαν ερωτώμενον υπό σου εάν άφίκηται παρ αυτόν μή επιστάμενος τα δίκαια ό την ρητο d ρικήν βουλόμενος μαθεΐν εί διδάξοι αυτόν δ Τοργίας αίσχυνθήναι αυτόν και φάναι διδάζειν διά το ίίθος των αν θρώπων ότι άγανακτοίεν άν εί τις μή φαίη διά δή ταύτην τήν ομολογίαν άναγκασθήναι εναντία αυτόν αιτώ είπεΐν 107 107 No diálogo Alcibíades Primeiro em que Alcibíades é representado dra maticamente na flor de sua juventude Sócrates expressa seu temor pela sorte do amigo conjeturando seu iminente envolvimento com a política ateniense como fica evidente neste trecho soc Pois bem eis a razão somente eu sou teu amante ao passo que os demais o são de tuas coisas e enquanto elas perdem seu frescor tu começas a florescer E da qui em diante se o povo de Atenas não te corromper e tu não vieres a ser motivo de vergonha possa eu não te abandonar Esse é deveras meu maior medo que te tornes amante do nosso povo e sejas assim corrompido Pois inúmeros atenienses homens bons tiveram essa sorte De fato o povo do magnânimo Erecteu possui belo vulto mas é preciso contemplálo desnudado Então toma a precaução a que me refiro i3ieioi32a5 ΣΩ Τοϋτο τοίνυν αίτιον ότι μόνος εραστής ήν σός οί δ άλλοι τών σών τα δέ σά λήγει ώρας σύ δ αρχή άνθεΐν και νϋν γε αν μή διαφθαρής ύπό τού Αθηναίων δήμου και αίσχίων γένη ού μή σε άπολίπω τοϋτο γάρ δή μάλιστα GÕRGIAS 2 9 5 ocasiões107 ao passo que a filosofia sempre diz as mesmas coisas b e ela diz o que agora te assombras tu próprio estavas ali presente em seu pronunciamento Então dirigindote a ela refuta o que há pouco eu dizia que cometer injustiça e uma vez cometida não pagar a justa pena são dentre todos os males os mais extremos Caso contrário se te eximires de refutála pelo deuscão dos Egíp cios Cálicles discordará de ti ó Cálicles e dirá coisas dissonantes por toda a vida108 Aliás ao menos eu julgo excelente homem que é melhor que minha lira ou o coro do qual sou corego seja desafinada e dissonante e que a maioria dos homens não concorde c comigo e afirme o contrário do que digo do que eu sendo um só dissone de mim mesmo e diga coisas contraditórias109 cal Sócrates tuas palavras têm ares de insolência juvenil como se fosses um verdadeiro orador público110 e ages como tal porque Polo experimentou a mesma paixão que segundo a sua própria acusação Górgias havia experimentado contigo Polo dizia que quando tu perguntaste a Górgias se ele ensina ria a pessoa que querendo aprender a retórica lhe procurasse d sem conhecer o justo Górgias ficou envergonhado e afirmou que o ensinaria devido ao costume dos homens pois se enfu receriam caso afirmasse o contrário e dizia que por causa desse consentimento ele foi constrangido a dizer coisas contrárias έγώ φοβούμαι μή δημεραστής ήμιν γενόμενος διαφθαρής πολλοί γάρ ήδη καί άγαθοί αύτό πεπόνθασιν Αθηναίων ευπρόσωπος γάρ ό τού μεγαλήτορος δήμος Ερεχθέως άλλ άποδύντα χρή αυτόν θεάσασθαι εύλαβοϋ οΰν τήν εύλάβειαν ήν έγώ λέγω ιο8 Essa afirmação de Sócrates está ancorada por um lado na convicção da verdade de sua tese moral cometer injustiça é tanto pior quanto mais vergonhoso do que sofrêla ainda que ela entre em conflito com a opinião da maioria dos ho mens πλείστους ανθρώπους 482cr e por outro no fato de Polo não ter obtido sucesso na tentativa de refutála Nesse sentido enquanto essa tese permanecer ir refutável Sócrates pode considerála universalmente válida de modo que Cálicles deverá necessariamente reconhecêla a menos que ele a refute Caso contrário ele sustentará duas opiniões contraditórias 109 Sobre a metáfora da harmonia musical ver Platão República 462a 110 A imputação de orador público δημηγόρος 4 8 2 C 5 feita por Cálicles é aceita por Sócrates adiante na discussão cf 5i9d 296 GÓRGIAS DE PLATÃO σε ύε αυτό τούτο αγαπάν καί σον καταγελάν ως γε μοι δοκεΐν όρθώς τότε νυν δε πάλιν αυτός ταυτόν τοντο ετταθεν και εγωγε κατ αυτό τούτο ουκ άγαμα ι Πώλον οτι σοι σννεχωρησεν το άδικείν αισχιον είναι του αδικεϊσθαι έκ e ταυτής γάρ αυ τηί ομολογίας αυτός υπό σου σνμποδισθείς εν rois λόγοις επεστομίσθη αίσχννθεις h ενοει είττείν συ γάρ τω δντι ώ Σωκρατες εις τοιαϋτα άγεις φορτικά και δημηγορικά φάσκων την αλήθειαν διώκειν â φύσει μεν ονκ εστιν καλά νόμω δε ώΐ τα πολλά δε ταντα έναντι άλλήλοις εστίν ή τε φνσις και 6 νόμος εάν ουν tis αίσχν 483 νηται καί μή τολμά λεγειν άττερ νοεί Αναγκάζεται εναντία λεγειν ο δή και συ τοντο το σοφόν κατανενοηκως κακουρ γείς εν τοίς λόγοις εάν μεν τις κατά νόμον λεγη κατά φνσιν ύπερωτων εάν δε τά τής φνσεως τά του νόμου u i Na perspectiva de Cálicles Górgias teve vergonha de dizer o que realmente pensa ou faz ou seja que ele não ensina o justo e o injusto a seus discípulos por que se assim o fizesse seria uma sentença anunciada de imoralidade uma afronta àquela classe de atenienses hostis ao ofício dos sofistas em geral e dos rétores em particular os quais por sua vez estavam na condição de estrangeiros naquela ci dade Kilui op cit p 8o 8 i Cálicles se refere a um tipo de exigência moral da sor iedade ateniense devido ao costume dos homens διά τό έθος τών ανθρώπων Hidi i em relação à prática educativa dos sofistas confrangido por essa exigência expressa pelo sentimento de vergonha o consentimento de Górgias não seria senão o reconhecimento dos valores morais daquela sociedade ainda que não condizesse com a sua verdadeira prática enquanto mestre de retórica Pois seria conveniente a Górgias naquele contexto dialógico específico admitir aquilo que não influenciasse negativamente a sua reputação doxa ou que pudesse lhe acarretar ódio e ressen timento ainda que houvesse contradição entre o seu discurso e as suas ações para usar a dicotomia λόγω εργω comum ao pensamento ético grego 112 Cálicles atribui à derrota de Polo a mesma causa que o próprio Polo havia entendido como motivo da refutação de Górgias o constrangimento provocado pelo sentimento de vergonha αίσχυνθείς 482e2 que impede o interlocutor de dizer o que realmente pensa Em última instância Cálicles entende que a eficácia do elenchos socrático se deve antes a esse elemento passional provocado pela própria natureza da discussão ou seja sobre questões morais do que propriamente à verdade do argumento de Sócrates legitimado pelo rigor lógico Vejamos a estrutura formal da refutação de Polo 4740447566 i É pior sofrer injustiça do que cometêla GÓRGIAS 297 a si mesmo e que era precisamente isso o que te aprazia e naquela ocasião Polo riu de ti corretamente como me parece111 Mas agora em contrapartida ele próprio experimentou essa mesma paixão É por essa razão que não admiro Polo porque concordou contigo que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla a partir desse consentimento por sua vez teve e os pés por ti atados na discussão e fechou o bico com vergonha de dizer o que pensa112 Tu na verdade Sócrates sob a alegação de que encalças a verdade te envolves com essas coisas típicas da oratória vulgar as quais não são belas por natureza mas pela lei Pois na maior parte dos casos natureza e lei são contrárias entre si de modo que se alguém envergonhado não ousar di zer o que pensa será constrangido a dizer coisas contraditórias 483 E tu ciente desse saber és capcioso na discussão se alguém fala sobre a lei tu lhe perguntas subrepticiamente sobre a natureza e se ele fala sobre a natureza tu tornas a lhe perguntar sobre a ii m a s é m a is v e r g o n h o s o c o m e tê la d o q u e so frê la iii o crité rio p a ra ju lg a r se as co isa s sã o b e la s o u n ã o é p o rq u e sã o ú teis o u p o rq u e p ro v e e m ce rto p ra ze r p a ra q u e m as co n te m p la iv p o rta n to se a lg u é m ju lg a q u e u m a co is a é m a is b e la d o q u e a o u tra é p o rq u e e la a su p e ra e m u m o u e m a m b o s o s c r ité rio s o u seja p o rq u e ela é m a is b e n é fic a e o u m a is a p ra zível v d a m e sm a fo rm a se a lg u é m ju lg a u m a co isa m a is v e r g o n h o s a d o q u e a o u tra é p o rq u e ela a su p e ra e m d o r eo u e m m al v i a q u e le q u e c o m e te in ju stiça n ã o su p e ra e m d o r a q u e le q u e a so fre v ii m a s ele o su p e ra e m m al v iii p o rta n to n a m e d id a e m q u e co m e te r in ju stiça su p e ra e m m a l o so frêla é p io r c o m e te r d o q u e so frê la ix v is to q u e P o lo c o n c o r d o u q u e c o m e te r in ju stiça é m a is v e r g o n h o s o d o q u e s o frê la ele d e v e e n tã o o u p re fe rir u m m a l e u m a v e r g o n h a m a io re s d o q u e m e n o re s o u a d m itir q u e c o m e te r in ju stiça é ta m b é m p io r d o q u e co m e tê la x ele n ã o p re fe ria u m m a l e u m a v e rg o n h a m a io re s d o q u e m en o res xi portanto ele deve admitir que cometer injustiça é pior do que sofrêla J Beversluis op cit p 329330 C á lic le s e n te n d e q u e se P o lo re fiz e sse su a s p o s iç õ e s e a ssu m is s e as su a s p ró p ria s o p in iõ e s a d iscu ssã o te ria o u tra o rie n ta çã o O u se ja se P o lo n ã o tive sse c o n c e d id o a S ó c ra te s a d is ju n ç ã o en tre bem e mal d e u m la d o e belo e vergonhoso d e o u tro e a ssu m id o q u e c o m e te r in ju stiça é ta n to p io r q u a n to m a is v e rg o n h o s o d o q u e s o frê la c o m o C á lic le s se p ro p o rá a fa z e r ta lv e z S ó c ra te s n ã o tive sse o r e fu ta d o c o m o o refu to u 298 GÓRGIAS DE PLATÃO ωσπΐρ αύτίκα V τούτοις τώ άδικίΐν τ καί τώ άδικΐσθαι Πώλου τό κατα νόμον αίσγμον λέγοντος συ τον λόγον διωκαθίί κατα φνσιν φυσά μέν γαρ παν αισχών στιν όπρ καί κάκιον το άδικάσθαι νόμω δέ το άδικΐν ουδέ γαρ άνδρός τοΰτό γ έστίν το πάθημα το άδικΐΐσθαι άλλ ανδραπόδου τίνος ω κρύττόν στιν Τθνάναι η ζην οστις άδίκούμζνος καί προπηλακιζόμνος μη οΐός τέ στιν αυτός αΰτώ βοηθίΐν μηδ αλλω ου αν κηδηται αλλ οΐμαί οί τιθμνοί τους νόμους οί άσθνΐς άνθρωποί Ισιν καί οί πολλοί προς αυτους ουν καί τό αΰτοΐς συμφέρον τους τ νόμους τίθίνται καί τους παίνους παινουσιν καί τους ψόγους ψέγονσιν κφοβοΰντς τουϊ ρρωμνστέρους των b C 113 Aristóteles comenta essa passagem do Górgias nas Refutações Sofisticas Um tópico de grande apelo é fazer com que se pronuncie paradoxos como faz Cálicles na descrição do Górgias a respeito do que é segundo a natureza e do que é segundo a lei e como todos os antigos acreditavam que assim procedesse Eles presu miam que lei e natureza são contrárias e que a justiça segundo a lei é bela mas segundo a natureza não Então perante alguém que fala com referência à natureza é preciso se dirigir à lei e perante alguém que fala com referência à lei se voltar para a natureza Em ambos os casos a consequência é que ele profira paradoxos Para eles o que concerne à natureza era verdadeiro e o que concerne à lei era o parecer da maioria dos homens Por conseguinte é evidente que aqueles antigos assim como os contemporâneos buscavam refutar ou fazer com que pronunciasse paradoxos aquele que responde 1733718 Πλεΐστος δέ τόπος έστι τοϋ ποιειν παράδοξα λέγειν ώσπερ καί ό Καλλικλής έν τώ Γοργία γέγραπται λέγων καί οί αρχαίοι δε πάντες φοντο συμβαίνειν παρά τό κατά φύσιν και κατά τον νόμον εναντία γάρ είναι φύσιν και νόμον και τήν δικαιοσύνην κατά νόμον μέν είναι καλόν κατά φύσιν δ ού καλόν δει ούν προς μέν τον είπόντα κατά φύσιν κατά νόμον απαντάν προς δέ τον κατά νόμον έπι τήν φύσιν αγειν άμφοτέρως γάρ συμβαίνει λέγειν παράδοξα ήν δέ τό μέν κατά φύσιν αύτοΐς τό άληθές τό δέ κατά νόμον τό τοΐς πολλοΐς δοκοϋν ώστε δήλον ότι κάκεϊνοι καθάπερ και oi νυν ή έλέγξαι ή παράδοξα λέγειν τον άποκρινόμενον έπεχείρουν ποιεϊν ιΐ4 Cálicles não entende a vergonha como única causa da refutação de Polo mas percebe concomitantemente que Sócrates utiliza um recurso típico da técnica erística para refutálo o jogo com o referencial semântico dos termos envolvidos na demonstração do argumento bem e mal belo e vergonhoso A avaliação de Cá licles é mais profunda do que a de Polo U6ibc quanto à estratégia argumentativa de Sócrates Ele acusa o filósofo de usar deliberadamente ciente desse saber τούτο τό σοφόν κατανενοηκώς 4832 a técnica de gerar uma contradição aparente ou uma contradição verbal em oposição à contradição genuína como propõe J Gentzler The Sophistic CrossExamination of Cálicles in the Górgias Ancient Philosophy p 21 a partir da ambiguidade semântica dos referenciais natureza phusis φύσις GÓRGIAS 299 lei113 Por exemplo na discussão anterior concernente a come ter e sofrer injustiça Polo falava do que era mais vergonhoso segundo a lei mas teu discurso encalçava o que era vergonhoso segundo a natureza114 Pois segundo a natureza tudo o que é mais vergonhoso também é pior ou seja sofrer injustiça ao passo que segundo a lei é cometêla Pois sofrer injustiça não b é uma afecção própria do homem mas de um escravo cuja morte é preferível à vida incapaz quando injustiçado e ultra jado de socorrer a si mesmo ou a alguém por quem zele Eu todavia julgo que os promulgadores das leis são os homens fracos e a massa Assim em vista de si mesmos e do que lhes é conveniente promulgam as leis e compõem os elogios e os vi tupérios Amedrontando os homens mais vigorosos e aptos a c e lei nomos νόμος Cálicles dissolviria a contradição de Polo se reconstituísse a estrutura silogística do argumento tendo como referência o bem e o mal o belo e o vergonhoso segundo a natureza kata phusin κατά φύσιν e reformulando aquelas premissas segundo a lei kata nomon κατά νόμον a saber as premissas ii e vii cf supra notas 112 e 113 i É pior sofrer injustiça do que cometêla ii é mais vergonhoso sofrêla do que cometêla iii o critério para julgar se as coisas são belas ou não é ou porque são úteis ou porque proveem certo prazer para quem as contempla iv portanto se alguém julga que uma coisa é mais bela do que a outra é porque ela a supera em um ou em ambos os critérios ie porque ela é mais bené fica eou mais aprazível v da mesma forma se alguém julga uma coisa mais vergonhosa do que a outra é porque ela a supera em dor eou em mal vi aquele que comete injustiça não supera em dor aquele que a sofre vii tampouco ele o supera em mal viii Portanto na medida em que sofrer injustiça supera em mal 0 cometêla é pior sofrer do que cometêla Na perspectiva de Cálicles a demonstração de Sócrates não procede porque entre as premissas i e ii há o deslocamento do referencial semântico dos termos en volvidos ou seja a primeira com relação à natureza e a segunda com relação à lei Ele considera que a investigação de Sócrates buscava o bem e o mal o belo e o vergonhoso segundo a natureza mas que a demonstração do argumento tinha como referência o que é prescrito pela lei O juízo de Cálicles coloca sob suspeita portanto a seriedade de Sócrates como interlocutor no diálogo se Sócrates usa capciosamente essa técnica tipicamente erística aquela sua pretensa justificativa de que o elenchos visa a verdade seria enganosa seria mero pretexto que encobriria a sua verdadeira motivação na discussão a saber simplesmente refutar o interlocutor independente da verdade da conclusão Sobre o tipo de argumentação erística ver o diálogo Eutidemo 300 GÓRGIAS DE PLATÃO ανθρώπων καί δυνατόνs õvras πλέον έχειν tVa μη αυτών πλέον έχωσιν λέγονσιν ώϊ αισχρόν και άδικον το πλΐον κτΐν καί τοντό έστιν το àòineiv το πλέον των άλλων ζητέϊν έχειν αγαπώσι yap οΐμαι αυτοί αν το tcrov έχωσιν φαυλότεροι õvTes δια ταΰτα δη νόμω μεν τούτο άδικον και αισχρόν λέγεται το πλέον ζητάν εχειν των πολλών και άδικεϊν αυτό καλοϋσιν η δέ γε οιμαι φνσις αυτή αποφαίνει d αυτό οτι δίκαιόν έστιν τον αμείνω τον χείρονος πλέον εχειν και τον δυνατώτερον του άδννατωτέρου δηλοϊ δέ ταΰτα πολλαχοΰ ότι ovrcos έχει και έν to is άλλου ζωοι καί των ανθρώπων έν δλαυ ταυ π όλε σι καί του γένεσιν οτι οντω το δίκαιον κεκριται τον κρειττω τον ηττονος αρχειν καί πλέον εχειν έπεί ποίω δικάιω χρώμΐνος Ξέρζηί έπί ιΐ5 No Livro ι da História da Guerra do Peloponeso Tucídides narra o debate acontecido em Esparta entre os embaixadores de Corinto e os de Atenas sobre a legi timidade do exercício do poder hegemônico arkhê άρχή dos atenienses no con texto que precede imediatemente o início da guerra em 431 aC 6188 Os termos que regem esse debate são similares aos usados por Cálicles neste discurso no Górgias envolvendo os conceitos de justiça lei força natureza escravidão liberdade equanimidade interesse Sendo assim é possível por meio de uma análise inter textual compreender a reflexão da personagem Cálicles sobre a natureza política do homem tendo em vista esse contexto do debate vigente na segunda metade do séc v aC sobre o exercício da arkhê άρχή na relação entre as cidades πόλεις ou seja se Cálicles propõe uma tese de caráter universal sobre a natureza política do homem em Tucídides podemos ver como esse tipo de reflexão se aplicava particularmente às relações de poder entre as cidades Em resposta às acusações dos coríntios de que Atenas a cidade mais forte e detentora da hegemonia agia de forma injusta pois es cravizava as cidades mais fracas por meio da força ήδίκουν δεδουλωμένους βία 6834 os embaixadores atenienses recorrem ao seguinte argumento Assim nenhuma de nossas ações é assombrosa tampouco em conflito com o comportamento humano uma vez que aceitamos o poder que nos foi transmitido e o qual não recusamos se vencidos por força maior honra medo e benefício Nem fomos nós os primeiros a tomar tal iniciativa mas o mais fraco ser dominado pelo mais forte é algo que sempre prevaleceu Nós nos consideramos dignos de tal condição e vós concor dáveis com isso até o momento atual em que tendo em mente vossos interesses recorreis ao discurso justo o qual ninguém proporia diante da possibilidade de se conquistar algo pela força abrindo mão assim do acúmulo de posses E merecem elogios aqueles que mesmo recorrendo à natureza humana a fim de exercer o poder sobre outros venham a ser mais justos do que as expectativas que se tem do poder que lhes cabe 17623 οϋτως οϋδ ήμεΐς θαυμαστόν ούδέν πεποιήκαμεν ούδ άπό τοϋ άνθρωπείου τρόπου εί αρχήν τε διδομένην έδεξάμεθα και ταΰτην μή άνεΐμεν ύπό τριών των μεγίστων νικηθέντες τιμής και δέους καί ώφελίας ούδ αύ πρώτοι τοϋ τοιούτου ύπάρξαντες άλλ αίει καθεστώτος τον ήσσω ύπό τοϋ δυνατωτέρου κατείργεσθαι GÓRGIAS 301 possuir mais eles dizem a fim de que estes não possuam mais do que eles que é vergonhoso e injusto esse acúmulo de posses e que cometer injustiça consiste na tentativa de possuir mais do que os outros pois visto que são mais débeis eles prezam julgo eu ter posses equânimes115 Eis porque a lei diz que a tentativa de possuir mais do que a massa é injusta e vergonhosa denomi nandoa cometer injustiça mas a própria natureza julgo eu re vela que justo é o homem mais nobre possuir mais que o pior e o mais potente mais do que o menos potente116 Está em toda parte tanto entre os animais quanto entre os homens de todas as cidades e estirpes a evidência de que esse é o caso de que o justo é determinado assim o superior domina o inferior e possui mais do que ele117 Pois respaldado em qual justiça Xerxes co mandou o exército contra a Hélade ou seu pai contra a Cítia118 άξιοι τε άμα νομίζοντες είναι καί ΰμίν δοκοϋντες μέχρι ού τα ξυμφέροντα λογιζόμενοι τφ δικαίω λόγω νϋν χρήσθε ον ούδείς πω παρατυχόν ίσχύι τι κτήσασθαι προθείς τοϋ μή πλέον έχειν άπετράπετο έπαινεΐσθαί τε άξιοι οϊτινες χρησάμενοι τή άνθρωπεία φύσει ώστε ετέρων άρχειν δικαιότεροι ή κατά τήν ύπάρχουσαν δύναμιν γένωνται n ó C f su p ra n o ta 66 1 1 7 D e m ó c rito fr d k 68 Β267 Por natureza o poder é próprio do mais forte φύσει τό αρχειν οίκήιον τψ κρέσσονι ι ι 8 No Livro v i i das Histórias Heródoto narra uma deliberação entre os conselheiros de Xerxes rei da Pérsia a respeito da viabilidade da expedição con tra os atenienses em particular e contra os helenos em geral e dos motivos que a justificam Mardônio o principal general do Grande Rei tenta persuadilo com argumentos que de certa forma se aproximam daqueles empregados por Cálicles com relação à prevalência do poder do mais forte Senhor tu não és apenas o melhor dentre os persas de outrora mas tam bém dentre os que estão por vir tuas palavras foram absolutamente verídicas e excelentes e não permitirás que os jônios habitantes da Europa escarneçam de nós sendo eles homens iméritos Seria deveras terrível se nós depois de termos arruinado e escravizado os sacas os hindus os etíopes os assírios e inúmeras outras etnias poderosas mesmo sem ter ocorrido qualquer injustiça por parte deles contra os persas mas movidos pela nossa vontade de acumular poder não vingarmos os helenos que tomaram a iniciativa de agir injustamente contra nós 79 Ώ δέσποτα ού μοΰνον εις τών γενομένων Περσέων άριστος άλλα καί τών έσομένων ος τά τε άλλα λέγων έπίκεο άριστα και αληθέστατα και Ίωνας τούς έν τή Εύρώπη κατοικημένους ούκ έάσεις καταγελάσαι ήμιν έόντας αναξίους Καί γάρ δεινόν αν εϊη πρήγμα εί Σάκας μεν καί Ινδούς καί Αιθίοπας τε καί Άσσυρίους άλλα τε έθνεα πολλά καί μεγάλα άδικήσαντα Πέρσας ούδέν άλλα δύναμιν προσκτάσθαι βουλόμενοι καταστρεψάμενοι δούλους έχομεν Ελληνας δέ ύπάρξαντας άδικίης ού τιμωρησόμεθα 302 GÓRGIAS DE PLATÃO e 484 b τ η ν Ε λ λ ά δ α έ σ τ ρ ά τ ε ν σ ε ν η ό πατήρ α υ τ ό ν έ π ι Σ κ υ θ α ς η ά λ λ α μ ύ ρ ια α ν τ ι ς έ χ ο ι τ ο ια ν τ α λ έ γ ε ι ν ά λ λ ό ΐμ α ι ο ΰ τ ο ι κ α τα φ υ σ ι ν τ η ν το υ δ ίκ α ιο υ τ α ν τ α π ρ α τ τ ο υ σ ιν και ν α ι μ α ια κ α τα ν ο μ ο ν γ ε τ ο ν τ η ς φ υ σ ε ω ς ο ν μ ε ν τ ο ι ίσ ω ς κ α τ α τ ο ύ τ ο ν ον η μ ε ίς τ ιθ έ μ ε θ α π λ ά τ τ ο ν τ ε ς τ ο υ ς β έ λ τ ι σ τ ο υ ς κα ι έ ρ ρ ω μ ε ν ε σ τ ά τ ο υ ς η μ ώ ν α υ τ ώ ν εκ ν έ ω ν λ α μ β ά ν ο ν τ ε ς ώ σ π ε ρ λ έ ο ν τ α ς κ α τ ε π ά δ ο ν τ έ ς τ ε κ α ι γ ο η τ ε ύ ο ν τ ε ς κ α τ α δ ο υ λ ο ν μ ε θ α λ ξ γ ο ν τ ζ ς ω ς το ίσ ο ν χ ρ η χ ίν καί τ ο ν τ ο ζ σ τ ί ν το κ α λ ό ν καί τ ο ο ικ α ίο ν ί α ν γ ζ ο ίμ α ι φ ν σ ί ν ικ α ν ή ν γ ε ν η τ α ί ε χ ω ν α νη ρ π α ν τ α τ α υ τ α α π ο σ ε ισ α μ ε ν ο ς κα ι ό ια ρ ρ η ς α ς κ α ι δ ια φ υ γ ώ ν κ α τ α π α τ η σ α ς τ α η μ έ τ ε ρ α γ ρ ά μ μ α τ α και μ α γ γ α ν ε ύ μ α τ α καί έ π ω δ ά ς κα ι ν ό μ ο υ ς τ ο υ ς π α ρ α φ υ σ ιν ά π α ν τ α ς ε π α ν α σ τ ά ς ά ν ε φ ά ν η δ ε σ π ό τ η ς η μ έ τ ε ρ ο ς ό δ ού λο ς κ α ί εντα ύ θ α έ ξ έ λ α μ ψ ε ν το τ η ς φ ύ σ ε ω ς δ ίκ α ιο ν δ ο κ ε ΐ δ έ μ ο ι και Π ίν δ α ρ ο ς ά π ε ρ έ γ ω λ έ γ ω έ ν δ ε ίκ ν υ σ θ α ι εν τ ώ α σ μ α τ ι εν ώ λ έ γ ε ι ό τ ι ν ό μ ο ς 5 π ά ν τ ω ν β α σ ι λ ε ύ ς θ ν α τ ώ ν τ ε και α θ α ν ά τ ω ν ο υ τ ο ς δε δ φ η σ ί ν ιΐ9 Sobre a discussão a respeito da oposição entre natureza phusis φύσις e lei om os νόμος ver as posições antagônicas nos fragmentos de Antifonte Sofista c Anônim o Jâmblico ver Anexos 120 A imagem do leão evocada por Cálicles pode ser entendida aqui com o metáfora para a gênese do tirano no seio da democracia T Irwin op cit p 178 na medida em que ela implica a superação das leis e dos costumes compartilhados pela maioria dos homens de modo a proporcionarlhe o exercício de um poder incondi cionado Na comédia Os Cavaleiros de Aristófanes vencedora do festival das Leneias de 424 a C o político Cléon figura de maior renome depois da morte de Péricles em 429 aC é representado na peça com o a personagem Paflagônio escravo do Povo também personagem cujas aspirações tirânicas são satirizadas pelo poeta No embate de oráculos com seu antagonista o Salsicheiro pela conquista da supremacia junto ao Povo o Paflagônio lê um oráculo em que ele é figurado como um leão p a f l a g ô n i o Meu caro escuta este e depois julga Há uma mulher que parirá um leão na sacra Atenas o qual lutará pelo povo contra um monte de moscas como em defesa de seus filhotes Cuida tu dele e constrói um muro de madeira e torres de ferro Entendes o que ele diz povo Por Apoio eu não p a f l a g ô n i o O deus disse claramente que tu hás de me salvar GÓRGIAS 303 Qualquer um poderia citar inúmeros exemplos do gênero Eu e julgo que esses homens agem assim segundo a natureza do justo sim por Zeus segundo a lei da natureza mas não de certo segundo essa lei por nós instituída119 A fim de plasmar mos os melhores e os mais vigorosos de nossos homens nós os capturamos ainda jovens como se fossem leões e com encantos e feitiços os escravizamos afirmando que se deve ter posses 484 equânimes e que isso é o belo e o justo Todavia se o homem tiver nascido julgo eu dotado de uma natureza suficiente ele demolirá destroçará e evitará tudo isso calcando nossos escri tos magias encantamentos e todas as leis contrárias à natureza nosso escravo sublevado se revelará déspota e o justo da natu reza então reluzirá120 Pareceme que também Píndaro expressa b o que digo em um de seus cantos com tais palavras Lei o supremo rei de mortais e imortais E diz que Pois eu estou na condição do leão para ti p o v o E como eu não havia percebido que te tornaras Antileão w 10361044 PA Ώ Tãv ακουσον ειτα διάκρινον τόδε Έ στι γυνή τέξει δέ λέονθ ίεραίς έν Ά θήναις ος περί τού δήμου πολλοΐς κώνωψι μαχεΐται ώς τε περι σκύμνοισι βεβηκώς τον σύ φυλάξαι τείχος ποιήσας ξύλινον πύργους τε σίδηρους Ταϋτ οΐσθ õ τι λέγει ΔΗ Μά τον Ά π ό λλ ω γώ μέν ου ΡΑ Έ φραζεν ό θεός σοι σαφώς σωζειν έμέ έγώ γάρ άντι τού λέοντός είμί σοι ΔΗ Και πώς μ έλελήθεις Ά ντιλέω ν γεγενη μένος Ο jogo de palavras com leão e Antileão tirano de Cálcide cidade da vizi nha Eubeia parece indicar que Aristófanes em sua sátira política busca representar Cléon com o um tirano em potência tendo em vista o tipo de prática política atri buída à personagem na peça adulação violência medo Nesse sentido a imagem do leão nessa passagem do G órgias pode ser entendida num sentido semelhante com o figuração da gênese do tirano na democracia tendo em vista a participação de Cálicles na política ateniense aludida por Sócrates anteriormente 48ide So bre a gênese do tirano na democracia ver R epú b lica ix 574d575b 304 G O R G IA S D E P L A T à O ayei δικαιών το βιαιότατου υπέρτατα χειρί τεκμαίρομαι εργοισιν Ήρακλεος επει άπpiaras λεγει ούτω ιnas το γάρ άσμα ουκ επίσταμαι λεγει δ οτι οϋτε 7τpιáμεvos ούτε δόντos του Γηρυόυον ήλάσατο ras βοΰς c ώΐ τούτου όντος του δικαίου φύσει και βοΰς και τάλλα κτή ματα είναι πάντα τον βελτίονός τε και κρείττονος τα των χειρόνων τε και ήττόνων Τ ο μ ε ν ο ύν α λ η θ έ ς ο ύ τ ω ς ε χ ε ι γ ν ώ σ η δε ά ν επι τ α μ ε ίζ ω ε λ θ η s ίά σ α ί ήδη φ ι λ ο σ ο φ ί α ν φ ι λ ο σ ο φ ί α γ ά ρ τ ο ί η r f v y tf ι t ε σ τ ι ν ω ζ ω κ ρ α τ ε ς χ α ρ ιε ν α ν t i s α υ τ ό ν μ ε τ ρ ιω ς α ψ η τ α ι ε ν τ η η λ ικ ία ε ά ν ôè π ε ρ α ιτ έ ρ ω το υ b i o v r o s ε ν δ ια τ ρ ίφ η δια φ θ ο ρ ά τ ω ν α ν θ ρ ώ π ω ν εαν γ α ρ κα ι π α ν υ ε υ φ υ ή ς ή και π ό ρ ρ ω τ ή ς η λ ι κ ί α ς φ ι λ ο σ ο φ ή α ν ά γ κ η π ά ν τ ω ν ά π ε ιρ ο ν γ ε γ ο d ν ε ν α ι ε σ τ ιν ω ν χ ρ ή έ μ π ε ιρ ο ν ε ίν α ι τ ο ν μ έ λ λ ο ν τ α κ α λ ό ν κ ά γ α θ ο ν κ α ι ε υ δ ό κ ιμ ο ν ε σ ε σ θ α ι ά νδρα κ α ι γ ά ρ τ ω ν ν ό μ ω ν ά π ε ιρ ο ι γ ί γ ν ο ν τ α ι τ ω ν κ α τά τ η ν π ό λ ι ν κ α ι τ ω ν λ ό γ ω ν o îs δ ε ΐ χ ρ ω μ ε ν ο ν ό μ ιλ ε ΐν ε ν τ ο ίς σ υ μ β ο λ α ί ο ι ς τ ο ΐ ς ά ν θ ρ ω π ο ις και ιδ ία και δ η μ ο σ ία και τ ω ν η δ ο ν ώ ν τ ε κα ι ε π ιθ υ μ ιώ ν τ ω ν ά ν θ ρ ω π ε ίω ν και σ υ λ λ ή β δ η ν τ ω ν η θ ώ ν π α ν τ ά π α σ ι ν ά π ε ιρ ο ι γ ί γ ν ο ν τ α ι ε π ε ιδ ά ν ούν ε λ θ ω σ ι ν eis τ ιν α ιδ ία ν ή π ο λ ιτ ικ ή ν e π ρ ά ζ ιν κ α τ α γ έ λ α σ τ ο ι γ ίγ ν ο ν τ α ι ώ σ π ε ρ γ ε ο ίμ α ι ο ί π ο λ ι τ ι κοί ε π ε ιδ ά ν αύ ε ις τ ά ς ΰ μ ε τ ε ρ α s δ ια τ ρ ιβ ά ς ε λ θ ω σ ι ν και το υ s 121 12 123 121 Fr 152 Bowra 187 Turyn 169 Snell Cálicles entende a ocorrência de lei nomos no poema de Píndaro como lei da natureza 48303 ou seja o direito natural do mais forte de prevalecer sobre os mais fracos conforme ele apregoa Mas como sublinha Dodds op cit p 270271 tratase provavelmente de uma interpre tação anacrônica da personagem pois esse tipo de discussão sobre a natureza política do homem como vemos por exemplo em Tucídides cf supra nota 115 em De mócrito cf supra nota 117 em Antifonte ver Anexos e depois em Platão é carac terística de uma época à qual não pertenceu Píndaro Segundo Dodds o sentido de nomos no poema de Píndaro provalmente não significa nem lei da natureza como entende Cálicles nem costume mas antes lei do destino que equivaleria por sua vez à vontade de Zeus 122 Este é um dos doze trabalhos de Héracles Guérion é um monstro de triplo corpo que vivia na longínqua ilha de Eritréia à oeste da Grécia 123 Essa visão do filósofo com o alguém apartado do mundo cotidiano tanto nas relações públicas quanto nas privadas é representada paradigmaticamente pela G Ó R G IA S 305 Com sua mão soberana rege a violência extrema tornandoa justa como testemunha conclamo os feitos de Héracles pois sem pagar121 Ele diz aproximadamente isso pois não tenho decorado o canto mas ele diz que Héracles trouxe os bois sem pagar por eles e sem têlos ganho de Guérion visto que o justo por natu reza é que os bois e todos os demais bens dos homens piores e inferiores pertençam ao melhor e superior122 Essa é a verdade e tu a compreenderás se abandonares agora mesmo a filosofia e te volveres para coisas de maior mérito A fi losofia Sócrates é decerto graciosa contanto que se engaje nela comedidamente na idade certa mas se perder com ela mais tempo que o devido é a ruína dos homens Pois se alguém mesmo de ótima natureza persistir na filosofia além da conta tornarseá necessariamente inexperiente em tudo aquilo que deve ser expe riente o homem que intenta ser belo bom e bem reputado Ade mais tornamse inexperientes nas leis da cidade nos discursos que se deve empregar nas relações públicas e privadas nos praze res e apetites humanos e em suma tornamse absolutamente inex perientes nos costumes dos homens Quando então se deparam com alguma ação privada ou política são cobertos pelo ridículo como julgo que sucede aos políticos quando se envolvem com vosso passatempo e vossas discussões são absolutamente risíveis123 anedota sobre Tales de Mileto a que se referem Platão no T eeteto 174a e Diógenes Laércio em sua obra Dizem que Tales sendo levado para fora de casa por uma velha para con templar os astros caiu num buraco e que a velha estando ele a se queixar pergun toulhe o seguinte tu ó Tales não sendo capaz de ver as coisas a seus pés julgas conhecer as coisas celestes 134 λέγεται δ αγόμενος ϋπό γραός έκ τής οικίας ϊνα τα άστρα κατανόηση εις βόθρον έμπεσεΐν και αύτώ άνοιμώξαντι φάναι τήν γραύν σύ γάρ ώ Θαλή τά έν ποσιν ού δυνάμενος ίδειν τα έπι τοΰ ουρανού οϊει γνώσεσθαι Sócrates responderá a essa invectiva de Cálicles mais adiante na discussão afirmando que somente ele senão alguns poucos é o único homem verdadeira mente político na medida em que todas as suas ações e todos seus discursos estão voltados precipuamente para a promoção do supremo bem para tornar melhores ao m áximo seus concidadãos 52id522a e não para simplesmente comprazêlos com o fazem geralmente os políticos na democracia ateniense 48 5 b c d λόγον κ α τ α γ έ λ α σ τ ο ι ε ίσ ιν σ υ μ β α ί ν ε ι γ α ρ το το υ Ε ν ρ ιπ ί è o v λ α μ π ρ ό ς τ έ ε σ τ ι ν έ κ α σ τ ο ς έ ν τ ο υ τ ω κ α ι έ π ι τ ο ΰ τ 7τ ε ί γ ε τ α ι ν έ μ ω ν τ ο π λ ε ΐ σ τ ο ν η μ έ ρ α ς τ ο υ τ ω μ έ ρ ο ς ΐν α υ τ ό ς α υ τ ο ύ τ υ γ χ ά ν ε ι β έ λ τ ι σ τ ο ς ω ν ό π ο υ δ α ν φ α ύ λ ο ς η ε ν τ ε ύ θ ε ν φ ε ύ γ ε ι κ α ι λ ο ιδ ο ρ ε ί το ύ τ ο τ ο ο erepov επ α ινεί evvoia rrj eavrov η γ ο ύ μ ε ν ο ς ό ν τ ω ς α υ τ ό ς ε α υ τό ν ε π α ιν ε ΐν à λ λ ο ιμ α ι τ ό ο ρ θ ό τ α τ ο υ έ σ τ ιν ά μ φ ο τ έ ρ ω ν μ ε τ α σ χ ε ΐ ν φ ι λ ο σ ο φ ί α ς μ ε ν ό σ ο ν π α ιδ ε ία ς χ ά ρ ιν κ α λ ό ν μ ε τ έ χ ε ι ν κ α ί ονκ α ισ χ ρ ό ν μ ε ιρ α κ ίω ο ν τ ι φ ι λ ο σ ο φ ί α ν ε π ε ιδ ά ν δε ηδη π ρ ε σ β ύ τ ε ρ ο ς ω ν ά ν θ ρ ω π ο ς έ τ ι φ ι λ ο σ ο φ η κ α τ α γ έ λ α σ τ ο υ ω Σ ω κ ρ α τ ε ς τ ό χ ρ ή μ α γ ί γ ν ε τ α ι και ε γ ω γ ε ο μ ο ιό τ α τ ο υ π ά σ χ ω π ρ ο ς τ ο υ ς φ ιλ ο σ ο φ ο ΰ ν τ α ς ώ σ π ε ρ π ρ ο ς τ ο υ ς φ ε λ λ ι ζ ο μ έ ν ο υ ς και π α ίζ ο ν τ α ς ό τ α ν μ ε ν γ ά ρ π α ιδ ίο ν ϊδω ω έ τ ι π ρ ο σ ή κ ε ι δ ια λ έ γ ε σ θ α ι ο ΰ τ ω φ ε λ λ ι ζ ό μ ε ν ο ν καί π α ϊζ ο ν χ α ίρ ω τ ε και χ α ρ ίε ν μ ο ι φ α ίν ε τ α ι κα ι ε λ ε υ θ έ ρ ιο ν και π ρ έ π ο ν τ ή του π α ιδ ίο ν η λ ικ ία ό τ α ν δε σ α φ ώ ς δ ια λ ε γ ο μ έ ν ο υ π α ιδ α ρ ίο υ α κ ο ύ σ ω π ικ ρ ό ν τ ί μ ο ι δ ο κ ε ΐ χ ρ ή μ α ε ίν α ι και à v iâ μ ο υ τά ωτα κ α ί μ ο ι δ ο κ ε ΐ δ ο υ λ ο π ρ ε π έ ς τ ι ε ίν α ι ό τ α ν ôè α νδ ρ ό ς ά κ ο ύ σ η τ ι ς φ ε λ λ ι ζ ο μ έ ν ο ν η π α ίζ ο ν τ α òpã κ α τ α γ έ λ α σ τ ο υ φ α ίν ε τ α ι και ά να νδ ρ ο υ κα ι π λ η γ ώ ν ά ζ ιο ν τ α υ τ ό ν ονν ε γ ω γ ε τούτο π ά σ χ ω καί π ρ ό ς τοί φ ιλ ο σ ο φ ο ΰ ν τ α ς π α ρ ά ν ε ω μ ε ν γ α ρ μ ε ιρ α κ ιω ο ρ ώ ν φ ιλ ο σ ο φ ία ν α γ α μ α ι κα ι π ρ ε π ε ιν μ ο ι δοκ έΐ και η γ ο ύ μ α ι έ λ ε ύ θ ε ρ ό ν τ ιν α ε ίν α ι τ ο ύ τ ο ν τ ο ν ά ν θ ρ ω π ο ν το ν δέ μ η φ ιλ ο σ ο φ ο ΰ ν τ α α ν ε λ ε ύ θ ε ρ ο υ καί ο υ δ έ π ο τ ε ουδενός ά ζ ιώ σ ο ν τ α ε α υ τό ν ο ύ τ ε κ α λ ο ΰ ούτε γ ε ν ν α ίο υ π ρ ά γ μ α τ ο ς ό τ α ν δε δη π ρ ε σ β ν τ ε ρ ο ν ΐδ ω ε τ ι φ ιλ ο σ ο φ ο ΰ ν τ α και μ η ά π α λ λ α τ τ ό μ ε ν ο ν π λ η γ ώ ν μ ο ι δ ο κ ε ΐ ηδη δ ε ΐσ θ α ι ω Σ ω κ ρ α τ ε ς ο υτ ο ς ο α νη ρ ο γ α ρ ννν δ ή ε λ ε γ ο ν υ π ά ρ χ ε ι τ ο υ τ ω τ ω ά ν θ ρ ώ π ω κ ά ν π ά ν υ ε υ φ υ ή ς ά νά νδ ρ ω γ ε ν έ σ θ α ι ε ν γ ο ν τ ι τ α μ έ σ α τ η ς π ο λ ε ω ς και τ α ς α γ ο ρ α ς ε ν α ις ε φ η ο 124 125 3 0 6 G Ó R G IA S D E P L A T à O 124 Euripides Antíope fr 183 Nauck 125 Cálicles ressalta na sua invectiva contra o filósofo e a filosofia 484C4 486di que o domínio do discurso próprio da filosofia é o diálogo ôiakeyoïiévou 485b5 pois ele é o índice por m eio do qual é possível identificar o filósofo e dis G Ó R G IA S 307 É o que decorre de um trecho de Eurípides cada um reluz naquilo em que se esforça124 ocupandose com isso a maior parte do dia onde ele seja superior a si mesmo Ele evita e censura aquilo em que é desprezível mas louva 485 o contrário por benevolência própria presumindo que dessa maneira ele louva a si mesmo Porém julgo que o mais correto é participar de ambos É belo e gracioso participar da filosofia com o escopo de se educar e não é vergonhoso que um jovem filosofe Todavia quando o homem já está velho mas ainda continua a filosofar aí é extremamente ridículo Sócrates e a experiência que tenho com os filósofos é precisamente a mesma b que tenho com os balbuciantes e zombeteiros Pois quando vejo uma criança a quem ainda convém essa sorte de diálogo bal buciando coisas e zombando isso me deleita e me parece gra cioso digno de quem é livre e adequado a uma criança de tal idade No entanto quando ouço um menino a dialogar nitida mente isso me soa acerbo lacera meus ouvidos me parece ser coisa própria de escravo125 E quando alguém ouve os balbucios de um homem e vê as suas zombarias ele se mostra absoluta c mente ridículo efeminado e merecedor de umas pancadas Essa então é a mesma experiência que tenho com os filósofos Pois quando a observo em um garoto novo aprecio a filosofia ela me parece conveniente e considero livre esse homem en quanto o avesso à filosofia um homem despojado de sua liber dade que jamais dignarseá de um feito belo ou nobre Quando vejo porém um homem já velho mas ainda dedicado à filoso d fia e dela não liberto ele me parece carecer de umas pancadas Sócrates Como há pouco dizia acontece que esse homem mesmo dotado de ótima natureza tornarseá efeminado e fu girá do centro da cidade e das ágoras onde segundo o poeta tinguilo dos demais homens Nesse sentido Cálides está de acordo com Sócra tes uma vez que ele contrasta a m akrologia do discurso retórico à bra khu log ia do processo dialógico que seria em última instância o m odo do discurso próprio da filosofia 448d 47id 474ab e 486 b G Ó R G IA S D E P L A T à O 7Γ οιητην τούν άνδραν άριπρε πεΐν γίγνεσθαι καταδεδυκότι δε τον λοιπόν βίον βιώναι μετά μειράκιων εν γωνία τριών η τεττάρων ψιθυρίζοντα ελεύθερον δε και μέγα και ικανόν μηδέποτε φθέγξασθαι eytu δέ ώ Σώκρατεν πρόν σβ επιει κών εχω φιλικών κινδυνεύω ουν πεπονθεναι νυν δπερ δ Ζηθον πρόν τον Άμφίονα ό Ευριπίδου ουπερ έμνήσθην και γάρ έμοϊ τοιαΰτ άττα επέρχεται προς σε λέγειν οϊάπερ εκείνον πρόν τον αδελφόν ότι Άμελεΐν ώ Σώκρατεν ών δει σε έπιμελεΐσθαι κα φύσιν ψυχήν ώδε γενναίαν μει ρακιώδει τινί διατρέπειν μορφώματι καί ου τ αν δίκην 3ου λαΐσι προσθεΐ αν ορθών λόγον οντ εικόν αν καϊ πιθανόν αν λάβοιν ουθ υπέρ άλλου νεανικόν βούλευμα βουλεύσαιο καίτοι ώ φίλε Σώκρατεν καί μοι μηδέν άχθεσθρν ευνοία γαρ ερω τη ση ουκ αισχρόν δοκει σοι είναι ουτων βχβυ ών εγώ σέ οίμαι εχειν και τουν άλλουν rois πόρρω άει φιλοσοφίαν ελαύνονταν νυν γάρ εΐ τιν σου λαβόμενον η ολλου δτουοϋν τών τοιούτων είν τό δεσμωτηρίου άπάγοι φάσκων αδικεΐν μηδέν άδικοΰντα οΐσθ ότι ουκ άν εχοιν οτι χρησαιο σαυτω αλλ ιλιγγιωην αν και χασμωο ουκ εχων οτι είποιν και είν τό δικαστηρίου άναβαν κατηγόρου τυχών πάνυ φαύλου και μοχθηρού άποθάνοιν αν εί βούλοιτο θανάτου 126 127 308 126 Homero Ilíada 9441 127 Com o ressaltam Dodds op cit p 275 e T Irwin op cit p 180 essa caracterização do comportamento do filósofo na sociedade é mais apropriada àque les que eventualmente faziam parte da Academ ia de Platão do que a Sócrates se levarmos em consideração a imagem que o próprio Platão constrói dele na A polog ia tenho o costume de falar tanto nas mesas da ágora onde a maioria de vós já me ouviu como em qualquer outro lugar δι ώνπερ εϊωθα λέγειν καί έν αγορά έπΐ τών τραπεζών ϊνα ύμών πολλοί άκηκόασι και άλλοθι 17c8 Tal imagem se conforma à descrição feita por Xenofonte nas M em o rá v eis a respeito do cotidiano de Sócrates Ele estava sempre à vista De manhã passeava e ia aos ginásios e quando a ágora enchia lá estava ele à vista no restante do dia sempre estava onde pudesse encontrar o maior número de pessoas 1110 Ά λ λ α μήν έκεινός γε άεί μέν ήν έν τώ φανερώ πρώ τε γάρ εις τούς περιπάτους και τα γυμνάσια ήει και πληθούσης αγοράς έκεί φανερός ήν και τό λοιπόν άει τής ήμέρας ήν όπου πλείστοις μέλλοι συνέσεσθαι GÓRGIAS 309 os homens se tornam distintos126 Ele passará o resto da vida escondido a murmurar coisas pelos cantos junto a três ou qua tro jovens sem jamais proferir algo livre valoroso e suficiente127 e Contudo eu Sócrates nutro por ti uma justa amizade é pro vável que eu tenha agora o mesmo sentimento que Zeto teve por Anfíon na peça de Eurípides que rememorei128 Pois o que me ocorre dizerte é semelhante ao que Zeto disse a seu irmão que Descuras Sócrates do que deves curar e a natureza assim tão nobre de tua alma tu a reconfiguras em uma forma juvenil 486 nos conselhos de justiça não acertarias o discurso nem anuirias ao verossímil e persuasivo tampouco proporias um conselho ardiloso no interesse de alguém129 Aliás caro Sócrates e não te irrites comigo pois falarteei com benevolência não te parece vergonhoso esse comportamento que julgo eu tu pos suis e todos os outros que se mantêm engajados na filosofia por longo tempo Pois se hoje alguém te capturasse ou qualquer outro homem da tua estirpe e te encarcerasse sob a alegação de que cometeste injustiça ainda que não a tenhas cometido sabes que não terias o que fazer contigo mesmo mas ficarias turvado e boquiaberto sem ter o que dizer quando chegasses b ao tribunal diante de um acusador extremamente mísero e 128 Apolodoro Biblioteca 34244 Cf p 85 nota 4 129 Nauck propõe a seguinte reconstituição da passagem original adaptada em prosa por Cálicles fr 185 em E Dodds op cit p 276 Descuras daquilo com que devias te preocupar Mesmo dotado de uma alma de nobre natureza O que avulta é a tua forma afeminada não combaterias bem Com o escudo côncavo tampouco proporias Um conselho ardiloso no interesse de outrem αμελείς ών σε φροντίζειν έχρήν ψυχής φύσιν γάρ ώδε γενναίαν λαχών γυναικομίμω διαπρεπείς μορφώματι κοϋτ αν άσπίδος κύτει καλώς όμιλήσειας οϋτ άλλων ϋπερ νεανικόν βούλευμα βουλεύσαιό τι 3 1 0 GÓRGIAS DE PLATÃO σοι τιμάσθαι καίτοι πως σοφόν τοντό έστιν ω Σωκράτης η τ ις ίυφ υη λ α β ο ΰ σ α τέχνη φώ τα ίθ η κ ΐ χίρονα μήτε αυτόν αύτω δυνάμωναν βοηθΐΐν μηδ ε κ σ ώ σ α ι εκ των μίγίστων κίνδυνων μ ή τ ε έαυτόν μήτε άλλον μηδίνα υπό δε c των έχθρων περισυλάσθαι πάσαν την ουσίαν άτΐχνως δε άτιμον ζην ev τη πάλα τον δε τοωΰτον ε ί τι και άγροικό Tepoν εΙρησθαι έζΐστιν επι κόρρης τυπτοντα μη διδόναι δίκην ά λ λ ωγαθέ ε μ ο ί ττΐίθου π α υσ α ι δ ε έ λ έ γ χ ω ν πρα γμ ά τω ν δ ε υ μ ο υ σ ία ν α σ κ ε ί καί α σ κ ε ί όπόθζν δάζίΐς φρονάν ά λ λ ο is τ α κομψ ά ταυτα ά φ ε ί ϊ ε ίτ ε ληρηματα χρη φάναι ε ίν α ι ε ίτ ε φλυαρίας έ ζ ν κ ΐν ο ίσ ιν έγ κ α το ι κ ή σ εις δόμο is ζήλων ουκ ελέγχοντας άνδρας τα μικρά d ταυτα ά λ λ ois ίστιν και βίος κα ί ό ό ζα κ α ί ά λ λ α π ο λ λ ά αγαθά ΣΩ Ε ί χρυσήν εχων έτύγχανον την ψυχήν ω Καλλί κλεΐϊ ουκ άν οίει με άσμενον eipeiv τούτων τινά των λίθων ή βασανιζουσιν τον χρυσόν την αριστην προς ηντινα εμελ 130 131 130 Cálicles usa do paradoxo patético ούκ αισχρόν S Usher Greek Oratory Tradítion and Originality p 25 como argumento contra a filosofia em um contexto argumentativo semelhante à objeção fictícia a que Sócrates recorre na Apologia para defender seu modo de vida Talvez alguém perguntasse então não te envergonhas Sócrates de te en volveres com tal ocupação a qual te põe agora em risco de morte E eu lhe objeta ria com um argmento justo tuas palavras não são belas homem se julgas que se deva considerar o risco de viver ou morrer cuja utilidade é praticamente ínfima mas deixar de observar apenas isto quando age se suas ações são justas ou injustas se seus gestos são próprios de um homem bom ou mau 28039 Ίσως αν ούν εΐποι τις Είτ ούκ αισχύνη ώ Σώκρατες τοιοϋτον έπιτήδευμα έπιτηδεύσας έξ ού κινδυνεύεις νυν άποθανειν έγώ δέ τούτψ αν δίκαιον λόγον άντείποιμι ότι Ού καλώς λέγεις ώ άνθρωπε εί οίει δειν κίνδυνον ύπολογίζεσθαι τού ζην ή τεθνάναι άνδρα οτου τι και σμικρόν οφελός έστιν άλλ ούκ έκεινο μόνον σκοπείν όταν πράττη πότερον δίκαια ή άδικα πράττει και άνδρός αγαθού έργα ή κακού 131 Nauck propõe a seguinte reconstituição da passagem original fr 186 em E Dodds op cit p 278 Como isto pode ser sábio que a arte apossandose De um homem de ótima natureza tornao pior πώς γάρ σοφόν τοΰτ έστιν ήτις εύφυά λαβούσα τέχνη φώτ έθηκε χείρονα GÓRGIAS 311 desprezível tu morrerias caso ele quisesse te estipular a pena de morte130 Ademais como isto pode ser sábio Sócrates que a arte apossandose de um homem de ótima natureza tornao pior131 incapaz de socorrer a si mesmo de salvar a si mesmo ou qualquer outra pessoa dos riscos mais extremos despojado pelos inimigos de todos os seus bens e vivendo absolutamente desonrado na cidade132 Para ser ainda mais rude qualquer um poderia rachar a têmpora de um homem como esse sem pagar a justa pena Acredita em mim bom homem para de refutar os outros aplicate à erudição das coisas aplicate àquilo que te confira a reputação de homem inteligente e deixa para os outros essas sutilezas sejam tolices ou bobagens o modo cor reto de chamálas em virtude das quais habitarás uma casa erma133 Não invejes os homens que vivem a refutar coisas de pequena monta mas aqueles que possuem recursos de vida reputação e muitos outros bens soc Se acaso eu tivesse a alma áurea Cálicles não julgas que eu seria afortunado caso encontrasse uma daquelas pedras a melhor delas com a qual se verifica o ouro e a cujo teste estaria 132 Cálicles compara a condição de Sócrates enquanto filósofo ao homem desonrado átimos άτιμος que no sentido legal se refere a quem por covardia ou prostituição ver Esquines 12730 perde o direito de reinvindicar judicialmente uma injustiça sofrida por parte de outrem de frequentar a ágora e os templos ver Lísias 624 Demóstenes 2195 Ou seja a inabilidade de Sócrates para se defender de um ultraje dessa natureza devido à inutilidade da filosofia para a vida pública e cotidiana é comparável à impossibilidade do átimos de exigir legalmente a repara ção de uma injustiça sofrida Irwin op cit p 180 133 Nauck propõe a seguinte reconstituição da passagem original fr 188 em E Dodds op cit p 278 Mas acredita em mim Para de cantar aplicate à erudição da guerra Canta coisas tais de modo a teres reputação de inteligente Cultivando arando a terra apascentando o rebanho Deixando para os outros esses sofismas sutis Em virtude dos quais habitarás uma casa vazia άλλ έμοι πίθου παϋσαι μελψδών πολέμων δ εύμουσίαν ασκεί τοιαϋτ άειδε καί δόξεις φρονεϊν σκαπτών άρών γην ποιμνίοις έπιστατών άλλοις τα κομψά ταϋτ άφεις σοφίσματα έξ ών κενοισιν έγκατοικήσεις δόμοις e 487 b λον προσαγαγων αυτήν εϊ μοι ομολογήσωιεν εκείνη καλώς τεθεραπεύσθαι την ψυχήν εΰ εϊσεσθαι οτι ίκανώς εχω καί ουδέν με δει άλλης βασάνου ΚΑΛ Πρόϊ τί δή τούτο έρωτας ω Σώκρατες Σ ί2 Εγώ σοι ερω νυν οΐμαι εγω σοι έντετυχηκώς τοιούτω έρμαίω έντετνχηκέναι ΚΑΛ Τ ί όή Σ ί2 Ευ οιδ οτι άν μοι συ όμολογήστρς περί ών ή έμή ψυχή δοξάζει ταντ ήδη εστίν αυτά τάληθή εννοώ γάρ οτι τον μέλλοντα βασανιέΐν Ικανώς ψυχής πέρι όρθώς re ζωσης και μή τρία αρα δει εχειν α συ ιταντα εχεις eπιστή μην re και εύνοιαν καϊ Παρρησίαν εγώ γάρ πολλοΐς έιτυγ χάνω οι εμέ ούχ οΐοί τέ είσιν βασανίζειν δια το μή σοφοί dvai ώσπερ σύ έτεροι δέ σοφοί μεν είσιν ουκ έθέλουσιν δέ μοι λέγειν τήν αλήθειαν διά το μή κήδεσθαί μου ώσπερ συ τώ δε ξένω τώδε Τοργίας τε καί Πώλο σοφω μέν καί φίλω εστάν εμώ ενδεεστέρω δε παρρησίας καί αίσχυντη ροτερω μάλλον τον δέοντος πως γαρ ου ω γε εις τοσουτον αισχύνης έληλνθατον ώστε δια το αίσχύνεσθαι τολμά εκά τερος αυτών αυτός αυτω εναντία λέγειν εναντίον πολλών ανθρώπων καί ταϋτα περί των μεγίστων συ δε ταΰτα πάντα εχεις à oi άλλοι ουκ εχονσιν πεπαίδευσαί τε γάρ 312 GÚRGIAS DE PLATÃO 134 Sócrates acentua metaforicamente aqui a função positiva do elenchos de determinar mediante o assentimento do interlocutor a verdade de suas convicções morais uma vez tendo sido bemsucedido Como ele dirá expressamente logo adiante o meu e o teu consentimento portanto será realmente a completude da verdade τώ οντι ούν ή έμή και ή σή ομολογία τέλος ήδη έξει τής άληθείας 487667 135 A franqueza atribuída a Cálicles παρρησίαν 48733 é referida na Re pública como uma carcaterística do homem democrático Qual é então perguntei o modo de vida desses homens E qual é por sua vez o tipo de constituição política Pois é evidente que tal homem se revelará democrático É evidente disse ele Então não serão em primeiro lugar livres e a cidade não virá a ser um misto de liberdade e franqueza e não haverá nela licença para se fazer o que quiser É o que se diz respondeu viu 557a9b7 Τίνα δή ούν ήν δ έγώ οΰτοι τρόπον οίκοϋσι και ποια τις ή τοιαύτη αύ πολιτεία δήλον γάρ οτι ό τοιούτος άνήρ δημοκρατικός τις άναφανήσεται GÓRGIAS 313 eu pronto para submeter a minha alma Se essa pedra me con sentisse que minha alma fora bem criada não julgas que eu saberia seguramente que ela me é suficiente e que não careço de outra pedra de toque134 c a l Por que fazes essa pergunta Sócrates e soc Dirteei julgo que acabei de encontrar tal dádiva quando me encontrei contigo c a l Por quê soc Bem sei que se tu concordares com as opiniões da mi nha alma bastará para elas próprias serem verdadeiras Pois penso que a pessoa apta a verificar de modo suficiente se a alma 487 vive ou não de forma correta deve ter três coisas que tu possuis em absoluto conhecimento benevolência e franqueza135 Eu te nho me deparado com inúmeros homens que são incapazes de me verificar porque não são sábios como tu ao passo que outros embora sábios não desejam me dizer a verdade porque não se preocupam comigo como tu te preocupas Estes dois estrangeiros aqui presentes Górgias e Polo apesar de serem sábios e meus amigos carecem de franqueza e são mais envergonhados que o b devido E como não seriam Foram acometidos por tamanha vergonha que ambos por causa dela ousaram se contradizer perante uma turba de homens e a respeito dos assuntos mais preciosos136 Mas tu possuis tudo de que eles carecem pois tiveste Δήλον εφη Ούκοϋν πρώτον μέν δή ελεύθεροι και έλευθερίας ή πόλις μεστή καί παρρησίας γίγνεται καί έξουσία έν αύτή ποιειν οτι τις βούλεται Λέγεται γε δή έφη 136 A objeção de Sócrates à análise de Cálicles sobre a refutação de Górgias e Polo é colorida pelo tom irônico do oximoro διά το αίσχύνεσθαι τολμά por causa da vergonha ousaram se contradizer 487034 Para Cálicles a vergonha é o sen timento moral que impede as pessoas de dizerem o que realmente pensam quando suas opiniões afrontam os valores morais instituídos pelas leis 482ce para Sócrates entretanto ela é o sentimento que motiva a ousadia de ambas as personagens de se contradizerem em público ousado não é dizer o que realmente pensa mas dizer coi sas contraditórias Assim a vergonha de Górgias e Polo na perspectiva de Sócrates teria um sentido contrário pois não haveria maior vergonha para o homem do que dizer coisas incoerentes sobre assuntos de suma importância para os homens Por tanto a valoração moral a respeito do que é vergonhoso para Sócrates de um lado e para Cálicles de outro não coincidem são duas concepções de moralidade opostas 314 GÓRGIAS DE PLATÃO ικανώς ώί πολλοί άν φήσακν Αθηναίων και μοί ΐ ννους τινι τκμηριω χρώμαι γω σοι ρω οιόα υμάς γω ω Καλλίκλίΐς τέτταρας όντας κοινωνούς γίγονότας σοφίας σ ί τ καί Τίίσαρδροιι τον Άφιδναιον και Ανδρωνα τον Ανδρο τίωνος και Ναυσικυδην τον Χολαργα καί ποτ υμών τώ πήκουσα βουλυομένων μέχρι οποί την σοφίαν άσκητέον ϊη και οίΐδα οτι νίκα V νμίν τοιάδ τις δόζα μη προθυ μίΐσθαι ίς την άκρίβΐαν φιλοσοφΐϊν άλλα υλαβίΐσθαι παρΚλύσθ άλληλοις όπως μη πέρα του δέοντος σοφώ τίροι γνόμνοι ληστ διαφθαρέντς έπΐδή ουν σου ακούω ταυτα έμοι συμβουλύοντος απρ τοϊς σαυτου έταιροτάτοις ικανόν μοι Τίκμηριον στιν οτι ως αληΰως μοι υνους α και μην ότι γ όίος παρρησιάζσθαι και μη αίσχννίσθαι αυτός τ φής και δ λόγος ον ολίγον πρότίρον λγς δμο λογίϊ σοι χ α δη ούτωσϊ δηλον ότι τούτων πέρι νυνί άν τι συ V τοϊς λόγοις δμολογήσης μοι β βασανισμένου τουτ ήδη σται ικανως υπ μου τ και σου και ουκτι αυτό δησΐ 7Γ άλλην βάσανον άναφέρίΐν ου γαρ αν ποτ αυτό συνίχωρησας συ ουτ σοφίας νθΐα ουτ αισχύνης πριουσια ουδ αυ απατών μ συγχωρήσαις α ν φίλος γαρ μοι ΐ ως καί αυτός φνς τω οντι ουν η μή και ή σή ομολογία τέλος ήδη ξΐ τής άληθίας πάντων δ καλ λίστη στιν ή σκέφις ώ Κ αλλίκλίΐς πρι τούτων ών συ 137 Sabese muito pouco sobre a vida de Tisandro apenas que ele era filho de Cefisodoro homem rico e renomado que aparece citado em inscrições sobre liturgias datadas do início do séc iv aC E Dodds op cit p 282 D Nails op cit p 295 138 Andron filho de Androtíon é mencionado por Platão também no Protá goras como um dos presentes na casa de Cálias onde se encontrava o sofista que dá nome ao diálogo além de Hípias de Élide e Pródico de Cós A importância de Andron do ponto de vista político se deve ao fato de ele ter integrado o governo oligárquico de 411 aC conhecido como os Quatrocentos episódio narrado por Tucídides na História da Guerra do Peloponeso 86371 Segundo PseudoPlutarco A Vidas dos Dez Ora dores 833df com o colapso do governo oligárquico Andron impetrou um processo contra Antifonte de Ramnunte pessoa a ele associada e talvez contra Arqueptôlemo e Onômacles D Nails op cit p 29 Segundo Dodds o intuito de Andron com tais processos era salvar a própria vida E Dodds op cit p 295 139 Nausícides de Colarges é provavelmente a mesma figura referida por Aris tófanes Mulheres na Assembleia w 424426 e Xenofonte Memoráveis 27S6 produtor de farinha e proprietário de escravos D Nails op cit p 210211 E GORGIAS 315 educação suficiente como diriam muitos atenienses e és bene volente comigo Que indício tenho eu disso Dirteei Sei que vós quatro Cálicles fundastes uma comunidade de sábios tu Tisandro de Afidna137 Andron filho de Androtíon138 e Nausí cides de Colarges139 Houve um dia em que vos ouvi deliberando sobre até que ponto se deve cultivar a sabedoria e sei que vos prevaleceu uma opinião deste tipo não aspirar à filosofia até a sua exatidão140 Exortáveis uns aos outros a ter precaução de não vos tornardes mais sábios que o devido e de não perceberdes assim a vossa ruína Uma vez então que ouço de ti os mesmos conselhos que deste aos teus melhores companheiros isso me é indício suficiente de que és benevolente comigo de verdade Com efeito que és franco e não tens vergonha tu mesmo o disseste e o discurso que acabaste de proferir concorda contigo É evidente então que procedamos da mesma forma se tu concordares co migo em algum ponto na discussão nós já o teremos verificado suficientemente e prescindiremos de outra pedra de toque Pois jamais darias seu assentimento por carência de sabedoria ou por excesso de vergonha tampouco o darias para me enganar visto que és meu amigo como tu mesmo dizes141 O meu e o teu con sentimento portanto serão realmente a completude da verdade Dentre todas as tuas censuras volvidas contra mim Cálicles esta Dodds op cit p 295 140 Isócrates A Nicocles 39 Considera sábios não aqueles que disputam entre si pela exatidão relativa a coisas de pequena monta mas aqueles que falam bem a respeito de coisas de suma importância Σοφούς νόμιζε μή τούς ακριβώς περι μικρών ερίζοντας άλλα τούς εύ περι τών μεγίστων λέγοντας ΐ4ΐ Platão ressalva aqui nessa asserção irônica de Sócrates precisamente o aspecto que determina o tipo de diálogo a ser empreendido com Cálicles a ausência de amizade philia φιλία entre os interlocutores A estratégia argumentativa de Sócrates bem como sua motivação no diálogo se adapta conforme o tipo de in terlocutor pois a busca pelo consentimento ομολογία 48707 em que ambas as partes contribuem para o esclarecimento do assunto em questão depende do inte resse comum dos interlocutores Quando há contudo o encontro de dois interlo cutores cujas convicções morais não se coadunam e cuja motivação ao dialogar não é a mesma a busca pelo consentimento tornase praticamente inviável Sobre a distinção entre diálogo filosófico e diálogo erístico cf supra nota 32 316 GÓRGIAS DE PLATÃO r Ν tf 5 077 juot 7Γπμησα ποιοζ τινα χρη β υ α ι roy α νο ρ α κ α ι τ ι 488 τητη0νΐν κ α ί μ έ χ ρ ι τ ο ν καί π ρ ξ σ β ν τ ς ρ ο ν κ α ι ν ξ ώ τ ζρ ο ν ο ν τα ε γ ω yap et rt μ η ορα ω ς π ρ ά τ τ ω κ α τα το ν ρ ιο ν τ ο ν ε μ α ν τ ο ν ευ ΐσ θ ι τ ο ύ τ ο ό τ ι ο υ χ εκ ω ν έ ξα μ α ρ τ ά ν ω α λ λ α μ α θ ία Tij ε μ ή συ ου ν ω σ π ε ρ η ρ ξω ν ο υ θ ε τ ε ϊν μ ε μ η α π ο σ τ ή ς α λ λ ίκ α νω μ ο ι ε ν ύ ε ιξ α ι τ ί ε σ τ ιν τ ο ύ τ ο ο ε π ιτ η ό ε ν τ έ ο ν μ ο ι και riía τ ρ ο π ο ν κ τ η σ α ιμ η ν α ν α ν τ ο κ α ι ea v μ ξ λaprjs ν ν ν μ ζ ν σ ο ι ο μ ο λ ο γ ή σ α ν τ α ev 0 τω νσ τ ρ ω χ ρ ο ν ω μ η τ α ν τ α π ρ ά τ τ ο ν τ α α π ερ ω μ ο λ ό γ η σ α π ά ν υ μ ε ή γ ο υ β λ ά κ α eiv a i και b μ η κ έ τ ι π ο τ έ μ ε ν ο ν θ ε τ ή σ η ς ύ σ τ ε ρ ο ν ω ς μ η ό ε ν ο ς α ζ ιο ν ο ντα ε ξ α ρ χ ή ς ό έ μ ο ι ε π α ν ά λ α β ε π ω ς φ ή ς τ ο ό ίκ α ιο ν ε χ ε ιν και σ υ κ α ί Υ Ιίνόα ρ ος τ ο κ α τα φ ν σ ιν α γ ε ιν β ία τ ο ν κ ρ ε ίτ τ ω τα τ ω ν ή τ τ ό ν ω ν και α ρ χ ε ιν τ ο ν β ε λ τ ίω τ ω ν χ ε ιρ ό ν ω ν κ α ι π λ έ ο ν έ χ ε ιν τ ο ν α μ ε ίν ω τ ο ν φ α υ λ ό τ ε ρ ο υ μ ή τ ι ά λ λ ο λ έ γ ε ις το λ r τ Λ ï λ λ t οικαιον είναι η οροως μεμνημαι ΚΑΛ Ά λλα ταντα ελεγον και τότε και νυν λεω 142 142 Esta é uma das decorrências do chamado Paradoxo Socrático como re ferido comumente pelos estudiosos da filosofia platônica segundo o qual o co nhecimento é condição suficiente para a virtude de modo que ninguém agiria mal voluntariamente mas por ignorância Tal máxima moral é atribuída ao Sócrates histórico por Aristóteles na Ética Nicomaqueia quando ele discute o fenômeno moral da incontinência akrasia άκρασία Alguém poderia colocar o problema como uma pessoa tendo uma com preensão correta pode agir incontinentemente Alguns dizem que isso é impossí vel uma vez tendo o conhecimento pois havendo o conhecimento como julgava Sócrates seria espantoso que outra coisa o dominasse e o arrancasse de seu curso tal como a um escravo Pois Sócrates combatia totalmente esse argumento como se não existisse a incontinência pois ninguém compreendendo as razões agiria contrariamente ao que é o melhor mas sim por ignorância vii ii45b2i27 Απορήσειε δ αν τις πώς ύπολαμβάνων όρθώς άκρατεύεταί τις έπιστάμενον μέν οΰν οΰ φασί τινες οΐόν τε είναι δεινόν γάρ επιστήμης ένούσης ώς ψετο Σωκράτης άλλο τι κρατείν καί περιέλκειν αυτήν ώσπερ άνδράποδον Σωκράτης μέν γάρ δλως έμάχετο προς τον λόγον ώς ούκ οΰσης άκρασίας ούθένα γάρ ϋπολαμβάνοντα πράττειν παρά το βέλτιστον άλλα δι άγνοιαν 143 Sócrates não contesta a interpretação de Cálicles referente à semântica de nomos no poema de Píndaro 484b mas passa a refutar a tese do interlocutor como se Píndaro dela compartilhasse Como a personagem Sócrates salienta em certos momentos nos diálogos de Platão não importa quem defende tal ou tal opinião mas o exame da opinião em si mesma se ela se sustenta ou não uma vez sob o escrutínio do elenchos Mas o exame de uma opinião não impede que no processo do elenchos GÓRGIAS 317 é a mais bela investigação de que tipo deve ser o homem com o que deve ele se ocupar e até que ponto seja ele velho ou jovem 488 Pois se eu não ajo corretamente durante minha vida saibas tu que não erro voluntariamente mas por ignorância própria142 Tu então assim como começaste a admoestarme não te eximis desse posto mas mostrame de forma suficiente aquilo com que devo me ocupar e de que modo poderia eu conquistálo se me surpreenderes concordando contigo agora mas logo depois agindo em discordância com o que concordei considerame um completo estúpido e jamais me admoestes futuramente pois nada b me é digno Porém retomame o princípio da discussão como tu e Píndaro entendeis o que é o justo o justo segundo a natureza143 Acaso seria o superior tomar pela força o que per tence aos inferiores o melhor dominar os piores e o mais nobre possuir mais que o mais débil O justo que mencionas é diferente disso ou minha lembrança é correta144 c a l Eu afirmava isso outrora e continuo afirmando agora o próprio interlocutor seja concomitantemente investigado e posto à prova como Sócrates afirma por exemplo nesta passagem do Protágoras A quem devo então dirigir a palavra à audiência ou a ti Se quiseres disse Protágoras discute primeiro o argumento sustentado pela maioria Mas para mim não faz diferença se isso condiz ou não com a tua opinião contanto que sejas apenas tu a responder às perguntas pois eu examino sobretudo o argumento embora suceda talvez que tanto eu que interrogo quanto aquele que responde sejamos igualmente examinados 333C39 Πότερον ούν προς εκείνους τον λόγον ποιήσομαι εφην ή προς σέ Εί βούλει εφη προς τούτον πρώτον τόν λόγον διαλέχθητι τον των πολλών Ά λλούδέν μοι διαφέρει έάν μόνον σύ γε άποκρίνΓ είτ ούν δοκει σοι ταύτα είτε μή τον γάρ λόγον έγωγε μάλιστα εξετάζω συμβαίνει μέντοι ίσως και έμε τόν έρωτώντα και τόν άποκρινόμενον έξετάζεσθαι 144 Sócrates passa a refutar a tese de Cálicles a respeito da natureza política do ho mem a partir de um problema semântico pois ele se refere em seu discurso 482C484C a um mesmo referente por meio de palavras distintas de um lado os mais vigorosos τούς έρρωμενεστέρους 483C1 o mais potente τόν δυνατώτερον 483d2 o supe rior τόν κρείττω 483d5 os melhores τούς βέλτιστους 4830448402 e o mais no bre τόν άμείνω 483di e de outro os fracos oi άσθενείς 483b5 o menos potente τού άδυνατωτέρου 483d2 o inferior τού ήττονος 483δξ o pior τού χείρονος 483di 484C3 e os mais débeis φαυλότεροι 483C6 A princípio κρείττων kreittõn pode designar uma superioridade do ponto de vista da força física mas designa também a superioridade em geral βέλτιων beltiõn por sua vez não designa propriamente uma superioridade física mas social eou moral T Irwin op cit p 184 318 GÓRGIAS DE PLATÃO c d e 4 8 9 2Í2 Iló repo v òe tov aíiròv fSekríoj Kakeís rv Kal Kpeírru ovôe yáp ro í rore olós r rj paOeiv crov t Í irore k éy o is nórepov to vs layyporépovs Kpeírrovs Kakeis kol òei aKpoâ xdai tov IfTyvporépov ro vs CKrOeveaTépovs 0lóv po 1 ÒOKeis kcu róre evheÍKVvadai ws aí pieyákai irókeis èiri rà s crxtKpàs Karà rò jmaei òlkcuov epyovrai St i Kpeírrovs eícrlv koX Kryyporepai ws to Kpeirrov kcu to loyyporcpov kcu p e k n o v ra vròv ov r e a n Pekríco pev eivai rjTTui òe Kal àaOevé crrepov Kal Kpeírrco pev eiva i poyOrjpárepov òé rj 6 avrbs bpos ècrrlv tov P ek río v o s Kal tov KpeÍTTovos roírò p01 I n t 5 A rt avTO rrapws oiopivov ra v ro v tj eTepov ecrTiv to KpeiTTOv Kai rò p é k rio v Kal rò liryypÓTepov KAA AAà èycú croí cratjws Àeyw or 1 ravróv èerriv 2Í2 O vkovv oi 7toAAoÍ tov evòs KpeÍTTovs elcrlv Karà cpvaiv oí òrj küI to vs vópovs rídevrai èirl rw kví coairep kcu ri apTL eÀeyeç KAA ITws yàp ov 2Í2 Tà rwu Trokkíòv ãpa vópupa rà rwt KpeiTTÓvoov ecrrív KAA ITcmi ye 2Í2 O vkovv Ta tGv p ek n ó v iú v oí yap Kpeírrovs fíe k ríovs TTokv Karà tov crbv kóyov KAA Naí 2Í2 O vkovv ra tovtiúv v óp ip a Karà pvm v Kaká Kpeir t Óvcúv ye ovtiúv KAA tripL 2Í2 TAp oòa oí 7Tokkol vopLÇpvcriv ovrcos ws apn au crá eÀeyes òÍküiov eivai rò íaop exeip Kal alaryiov rò ãòiKelv tov àòiKeíaôai eanv ravra fj ov Kal óVws pr àkióarj èvravôa av av aíayyvópevos vopíovaiv r ov 01 irokkol 145 145 Ao chamar a atenção para a vergonha de Cálicles aioxuvópevoç 48932 Sócrates evidencia o aspecto ad hominem envolvido no processo do elen chos seu intuito não é apenas refutar logicamente as opiniões de Cálicles fazen doo se contradizer mas testar concomitantemente se também ele assim como Górgias e Polo será acometido pelo sentimento de vergonha o que segundo o próprio Cálicles 482ce possibilitou o sucesso de Sócrates no confronto anterior GÓRGIAS 319 soc Porventura te referes ao melhor e superior como o mesmo homem Pois não consegui compreender naquela oca c sião o que dizias Acaso te referes aos mais fortes como supe riores e afirmas que os mais fracos devem ouvir o mais forte como parecias me mostrar àquela altura quando dizias que as grandes cidades se arrojam às pequenas segundo o justo por natureza por serem superiores e mais fortes visto que o supe rior o mais forte e o melhor são o mesmo Ou é possível ser melhor mas inferior e mais fraco ou ser superior porém mais mísero Ou a mesma definição vale para o melhor e para o su d perior Defineme este ponto claramente se o superior o me lhor e o mais forte são o mesmo ou se são diferentes c a l E eu te digo claramente são o mesmo soc Então a massa não será superior por natureza a um único homem É ela que institui as leis contra ele como tam bém tu há pouco dizias c a l E como não soc Portanto as leis da massa são as leis dos superiores c a l Com certeza soc Então não são as leis dos melhores Pois os superiores e são muito melhores conforme teu argumento c a l Sim soc Então as leis desses homens não são belas por natu reza uma vez que são superiores c a l Confirmo soc Não é esta a prescrição da massa como há pouco di zias que justo é ter posses equânimes e que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla É assim ou não é Atentate 489 para que a vergonha não se apodere de ti nesse momento145 A massa considera ou não que justo é ter posses equânimes e não com os dois interlocutores Em suma Sócrates está verificando até que ponto a franqueza παρρησίαν 48733 arrogada por Cálicles como uma espécie de an tídoto ao elenchos socrático é capaz de superar a vergonha de dizer o que real mente se pensa O ponto culminante desse teste da franqueza de Cálicles se dará em 494ε com os exemplos da coceira e dos homossexuais passivos na discussão sobre o hedonismo 320 GÓRGIAS DE PLATÃO το ίσον έχειν άλλ ον το πλέον δίκαιον είναι καί αίσχιον τδ άδικεΐν του άδικεΐσθαι μη φθάνει μοι άποκρίνασθαι τούτο Καλλίκλεις ίν εάν μοι δμολογήσης βεβαιωσωμαι ήδη 7ταρά σου άτε ικανού άνδρδς διαγνωναι ωμολογηκότος ΚΑΛ Ά λ λ οι γε πολλοί νομίζουσιν ούτως 2X2 Ον νόμω άρα μόνον έστίν αίσχιον τδ άδικεΐν του b άδικεΐσθαι ουδέ δίκαιον τδ ίσον εχειν άλλα καί φύσει ώστε κινδυνεύεις ονκ αληθή λεγειν εν τοΐς πρόσθεν ονδε όρθως εμοΰ κατηγορείν λέγων ότι εναντίον εστίν δ νόμος καί ή φύσις α δη καί έγω γνονς κακουργώ εν τοΐς λόγοις εαν μεν τις κατα φυσιν λεγη επι τον νομον άγων εανοε tls κατα νομον 774 την pvcriv ΚΑΛ Οντοσί άνήρ ον πανσεται φλύαρων είπε μοι ω Σωκρατες ονκ αισχύνη τηλικοντος ων ονόματα θηρενων καί c εάν τις ρήματι άμάρτη έρμαιου τούτο ποιούμενος εμέ γαρ οΐει άλλο τι λεγειν τδ κρείττους είναι ή τδ βελτίονς ον 146 Vejamos a estrutura formal da refutação de Cálicles relativa ao melhor e superior 488d5489bi i Por natureza os mais fracos que são a maioria são numericamente supe riores aos fortes que são poucos e instituem as leis para refreálos ii na medida em que o superiores são o mesmo que os melhores as leis dos superiores são as leis dos melhores iii na medida em que os superiores e os melhores são melhores e superiores por natureza as leis instituídas por eles são belas por natureza iv os mais fracos acreditam que a justiça consiste em ter posses equânimes e que é mais vergonhoso cometer injustiça do que sofrêla v portanto não é apenas pela lei mas também por natureza que a justiça consiste em ter posses equânimes e que é mais vergonhoso cometer injustiça do que sofrêla J Beversluis op cit p 344 14 7 Cálicles entende essa primeira tentativa de refutação de Sócrates como um mero jogo de palavras que não invalidaria absolutamente a verdade da sua tese O pontochave do argumento de Sócrates está na identificação do melhor e supe rior com o mais forte entendido aqui no sentido de superior em força física ώς τό κρείττον και τό ίσχυρότερον και βέλτιον ταύτόν õv 488C67 uma turba de escravos reunida seria portanto melhor e superior a um único homem quem quer que ele seja na medida em que o superam em força física Ao definir a refutação socrática como uma caça de palavras ονόματα θηρεϋων 48çb8 Cálicles evidencia mais uma vez seu juízo a respeito do comportamento de Sócrates na discussão como ele dirá a seguir Sócrates age como quem almeja a vitória φιλόνικος 51505 Cálicles em suma entende que Sócrates age como um erístico como alguém que quando discute GÓRGIAS 321 possuir mais do que outrem e que é mais vergonhoso cometer injustiça do que sofrêla Não me recuses essa resposta Cáli cles a fim de que se concordares comigo eu esteja assegurado por ti visto que em concordância comigo és um homem com petente para decidir a questão c a l É essa a prescrição da massa soc Portanto não é somente pela lei que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla e que justo é ter posses equânimes mas também por natureza146 Por conseguinte tu provavelmente não dizias a verdade na discussão anterior e não me acusavas cor retamente ao afirmar que a lei e a natureza são contrárias e que eu ciente disso era capcioso na discussão quando me referia à lei se alguém falasse sobre a natureza e à natureza se falasse sobre a lei cal Esse homem não deixará de lado essas tolices Dizeme Sócrates tu nessa idade não te envergonhas de caçar palavras presumindo obter algum proveito se alguém erra nas expressões147 Porventura julgas que eu disse que ser superior é diferente de ser visa exclusivamente a refutação do interlocutor a despeito da verdade das conclusões a que chegam cf supra nota 114 No diálogo Eutidemo Platão satiriza a sabedoria erística ταύτης τής σοφίας τής έριστικής 2720910 dos irmãos Eutidemo e Dioni sodoro fazendo uma caricatura cômica desses tipos de disputas verbais e jogos silogís ticos em contraste com o caráter protréptico do elenchos socrático cujo escopo seria conduzir o interlocutor para o caminho da filosofia e da virtude εις φιλοσοφίαν και αρετής επιμέλειαν 27582 Nesse sentido Cálicles no Górgias estaria identificando Sócrates com esse tipo de debatedor que Platão alcunha de erístico A passagem do Eutidemo abaixo esclarece melhor esse ponto D e fato esses e n sin a m e n to s são b rin c a d e ira s é p o r isso q u e e u a firm o q u e a m b o s o s h o m e n s e stã o b r in c a n d o c o n tig o e d ig o b rin c a d e ir a p o rq u e se a lg u é m a p re n d e sse p a rte d esses e n sin a m e n to s o u m e s m o to d o s eles isso n ã o a c re sce n ta ria n a d a a o se u co n h e cim e n to d e co m o as co isa s são to rn a rse ia p o ré m ap to a b rin c a r c o m o s h o m e n s fa z e n d o o s tr o p e ç a r e re v o lv e r p o r m e io d a d ife re n ç a d e p a la vra s c o m o q u e m ri e se d e le ita q u a n d o a rra n c a o b a n c o d e q u e m está p restes a se sen tar v e n d o o p ro s tra d o d e co sta s C o n s id e r a e n tã o q u e tu d o fo i u m a b rin c a d e ir a d a p a rte d e le s c o n tig o 278 b2C 2 ταϋτα δή τών μαθημάτων παιδιά έστινδιό καί φημι έγώ σοι τούτους προσπαίζεινπαιδιάν δέ λέγω διά ταϋτα οτι εί και πολλά τις ή και πάντα τα τοιαϋτα μάθοι τα μέν πράγματα ούδέν αν μάλλον είδείη πή εχει προσπαίζειν δέ οίός τ αν εϊη τοίς άνθρώποις διά τήν τών ονομάτων διαφοράν ϋποσκελίζων και άνατρέπων ώσπερ οί τα σκολύθρια τών μελλόντων καθιζήσεσθαι ύποσπώντες χαίρουσι και γελώσιν έπειδάν ϊδωσιν ύπτιον άνατετραμμένον ταϋτα μέν ούν σοι παρά τούτων νόμιζε παιδιάν γεγονέναι 322 GÕRGIAS DE PLATÃO d e 490 πάλαι σοι λέγω οτι ταύτόν φημι είναι το βέλτιον και το κρεΐττον η οϊει με λέγειν εάν συρφετοί συλλεγγ δούλων και παντοδαπων ανθρώπων μηδενοί άξιων πλην ΐσωί τω σωματι ισχυρίσασθαι και ουτοι φώσιν αντα ταύτα είναι νόμιμα ΣΩ ETez ω σοφωτατε Καλλίκλεΐί οϋτω λέγείί ΚΑΛ ΐϊάνν μέν ουν ΣΩ Ά λλ εγω μεν ω δαιμόνιε και αυτοί πάλαι τοπάζω τοιοΰτόν τί σε λέγειν το κρεΐττον και άνερωτω γλιγόμενοί σαφωί είδέναι οτι λέγείί ον γάρ δηπον συ γε τουί δυο βελτίουί ηγτ του ένόί ουδέ τουί σούί δούλουί βελτίονί σου ότι ισχυρότεροι είσιν η συ άλλα πάλιν εξ άρχήί είπε τί ποτέ λέγείί τουί βελτίουί επειδή ου τούί Ισχυροτέρονί και ω θαυμάσιε πραότερου με προδίδασκε ΐνα μη αποφοιτήσω παρά σου ΚΑΛ ΕΙρωνεύΐ ω Σώκρατεί ΣΩ Μα τον Ζήθον ω Καλλίκλεΐί ω συ χρώμενοί πολλά νυνδη ειρωνενου πρόί με άλλ ιθι είπέ τίναί λέγείί rovs βελτίουί είναι ΚΑΑ Τουί άμείνουί εγωγε ΣΩ Όράί άρα ότι σύ αυτοί ονόματα λέγείί δηλοΐί δέ ουδέν ούκ έρείί τούί βελτίουί και κρείττουί πότερον τούί φρονιμωτέρουί λέγείί η αλλουί τινάί ΚΑΛ Άλλα val μά Δία τούτουί λέγω καί σφόδρα γε ΣΩ ΥΙολλάκΐί άρα εΐί φρονων μυρίων μη φρονούντων κρείττων εστϊν κατά τον σόν λόγον καί τούτον άρχειν δει τούί δ άρχεσθαι καί πλέον έχειν τον άρχοντα των άρχο μένων τούτο γάρ μοι δοκεΐί βούλεσθαι λέγειν καί ου ρηματι θηρεύωet 6 εΐί των μυρίων κρείττων 148 149 148 Sócrates faz um jogo com a expressão não por Zeus ναι μά Δία iro nizando Cálicles Sobre Zeto cf supra nota 128 149 É Sócrates quem oferece a Cálicles uma definição mais precisa do que ele entende como os melhores e superiores τούς βελτίους και κρείττους 489e7 identificandoos com os mais inteligentes τούς φρονιμωτέρους 489e8 Talvez GÓRGIAS 323 melhor Há tempos não afirmo que ser superior e ser melhor são o mesmo Ou julgas que eu digo que uma turba congregada de escravos e de homens de toda sorte todos eles sem mérito exceto talvez pela força do corpo o que ela ditar serão as leis soc Assim seja sapientíssimo Cálicles É o que afirmas c a l Certamente soc Extraordinário homem mas eu também supunha há d tempos que tu dizias que o superior é algo desse tipo e volto a perguntar por desejo de entender claramente o teu argumento Pois decerto tu não consideras que dois homens sejam melhores do que um tampouco que teus escravos sejam melhores do que tu só porque são mais fortes Mas voltando novamente ao prin cípio dizeme o que entendes por os melhores uma vez que não são os mais fortes E admirável homem ensiname com mais brandura para que eu não abandone as tuas lições c a l Ironizas Sócrates e soc Não por Zeto148 Cálicles a quem há pouco recorreste inúmeras vezes para me ironizares Mas adiante dizeme quem são os melhores c a l Para mim os mais nobres soc Ora não vês que tu mesmo proferes nomes sem nada indicar com eles Não dirás o que entendes por os melhores e superiores se são eles os mais inteligentes ou se são outros149 c a l Sim por Zeus refirome precisamente a tais homens soc Portanto segundo teu argumento geralmente um 490 único homem inteligente é superior a milhares de homens es tultos e ele deve dominar enquanto os outros serem domina dos e quem domina possuir mais do que os dominados É isso o que tu me pareces querer dizer e não estou à caça de expres sões se um único homem é superior a milhares o pronto assentimento de Cálicles se deva ao fato de ele em sua invectiva contra o filósofo e a filosofia ter aconselhado Sócrates a buscar a reputação de homem in teligente δόξεις φρονειν 486C6 referida ali pela forma verbal φρονεϊν phronein da mesma raiz de φρόνιμος phronimos T Irwin op cit p 187 324 GÕRGIAS DE PLATÃO KAA Άλλα ταυτ έστιν à λέγω τοντο γάρ οΐμαι εγώ το δίκαιον eivai φύσει το βΐλτίω οντα καί φρονιμωτερον και apyjeiv καϊ πλέον εχειν των φανλοτέρων b ΣΩ Έχε δη αυτού τί ποre αν νυν Xéyeis εάν ev τω αυτω ώμεν ώσπερ νυν πολλοί αθρόοι και ημΐν η ev κοινω πολλά σιτία καί ποτά ώμεν δε παντοδαποί οι μεν ισχυροί οί δ aaOeveis eh δε ημών η φρονιμώτερος irepi ταντα ιατρός ων j ôe οιον ϊίκος των μςν ισχνροτρο των δε àa6evéarepos άλλο τι η ovtos φρονιμώτίρος ημών ων βελτίων και Kpeίττων εσται eis ταντα ΚΑΛ Πάνυ γε c ΣΩ Ή ονν τούτων των σιτίων πλέον ημών έκτέον αυτω οτι βλτιων εσπν η τω εν apxeiv παντα εκείνον οει veμeιv εν τω δε άναλίσκειν re αυτά και καταχρησθαι eis το εαυτοί σώμα ου πλεονεκτητεον ει μη μελλει ζημιονσθαι άλλα των μεν πλέον των δ ελαττον έκτέον εάν δέ τύχη πάντων άσθνέστατο5 ων πάντων έλάχιστον τω β ελτίστω ώ Καλ λίκλε ουχ ούτωί ώγαθέ ΚΑΑ Περί σιτία eyeis και ποτά και Ιατρόuy και φλυα d pías εγώ δε ου ταντα λέγω ΣΩ Ποτερον ον τον φρονιμωτερον β ελτίω λέγeιs φάθι η μη ΚΑΛ νΕγωγε ΣΩ Ά λλ ον τον β eλτíω πλέον δεϊν εχειν ΚΑΛ Ου σιτίων γε ουδέ ποτών ΣΩ Μανθάνω άλλ ϊσω ιματίων και δει τον νφαντι κωτατον μέγιστον Ιμάτιον εχειν καί πλεΐστα καί κάλλιστα àμ π eχό μ evov περιιεναι ΚΑΛ Ποιων Ιματίων 15 ο A discussão se volta agora para a análise semântica da ideia de ter mais πλέον εχειν 49oa8 πλεονεκτητέον 490C4 πλεονεκτεΐν 49odi 1 e se estende até 49ib4 151 Sócrates opta pela reductio ad absurdum para mostrar a inconsistência do argumento de Cálicles entendendoo da seguinte maneira se A é mais inteligente do que B a respeito de Fs então A deve ter mais Fs do que B T Irwin op cit p 188 J Berversluis op cit p 346 Mas o argumento tal como formulado por Cálicles GÓRGIAS 325 c a l Mas é isso o que afirmo Pois o justo por natureza julgo eu é que o melhor e mais inteligente domine os mais dé beis e possua mais do que eles soc Espera aí O que afirmas agora150 Se nós uma massa b aglomerada estivéssemos em um mesmo lugar como agora es tamos e partilhássemos grande quantidade de comida e bebida mas fôssemos homens de toda sorte uns fortes outros fracos se um de nós fosse mais inteligente nesse assunto no caso um mé dico mas fosse ele como é verossímil mais forte do que uns e mais fraco do que outros porventura não seria esse homem por ser ele mais inteligente do que nós o melhor e superior nesse aspecto c a l Com certeza soc E esse homem não deveria ter mais comida do que nós c visto que é melhor Ou porque tem o domínio deve ele distri buir toda a comida e não acumulála para despender e usar em prol de seu próprio corpo porém possuir mais do que uns e me nos do que outros caso pretenda passar impune E se ele for o mais fraco de todos nesse caso o melhor não deverá ter o menor quinhão Cálicles Não é o que acontece bom homem c a l T u falas de comidas bebidas médicos e tolices mas eu não me refiro a isso151 d soc Não afirmas que o mais inteligente é o melhor Afir mas ou não c a l Sim soc Mas o melhor não deve possuir mais c a l Sim mas não comida nem bebida soc Compreendo mas talvez mantos e o melhor tecelão deverá possuir o maior manto e perambular envolto nas mais belas e abundantes vestes c a l Que mantos não implica essa inferência de Sócrates pois Cálicles não determina o que o me lhor e mais inteligente tò βελτίω όντα και φρονιμώτερον 49a7 deve ter mais do que os mais débeis των φαυλότερων 49oa8 na ausência dessa determinação Sócrates a partir da analogia com os casos do médico do tecelão e do sapateiro reformula a tese de Cálicles afirmando que o melhor e mais inteligente deve ter mais aquilo a respeito do que ele é mais inteligente 326 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Ά λ λ eis υποδήματα δήλον οτι δει πλεονεκτάν τον e φρονιμώτατον eis ταντα και βέλτιστου τον σκυτοτόμον ίσως μέγιστα δει υποδήματα και πλεϊστα υποδεδεμένου περιπατεΐν ΚΑΛ Ποια υποδήματα φλυαρώ εχων ΣΩ Ά λ λ εί μή τα τοιαϋτα λέγεις ίσως τα τοιάδε οΧον γεωργικόν άνδρα περί γην φρόνιμόν τε και καλόν και αγαθόν τούτον δή Χσως δει πλεονεκτεϊν των σπερμάτων και ως πλείστω σπέρματι χρήσθαι eis την αυτού γην ΚΑΛ Ώς άει ταυτα λέγεις ω Σώκρατες ΣΩ Ου μόνον γε ω Καλλίκλεΐϊ άλλα και περι των αυτών ι ΚΑΛ Ντ Toîs θεούς άτεχνώς γε άει σκυτέας τε καί κναφέας και μαγείρους λέγων και Ιατρούς ουδέν πανη ως περι τούτων ήμΐν όντα τον λόγον ΣΩ Ούκοΰν συ έρεΐς περί τίνων ό κρείττων τε και φρονιμώτερος πλέον εχων δικαίως πλεονεκτεί ή ούτε εμού υποβάλλοντος άνέξη ούτ αυτός έρεΐς ΚΑΛ Ά λ λ εγωγε και πάλαι λέγω πρώτον μεν τους κρείττους οΐ εισιν ου σκυτοτόμους λέγω ουδέ μαγείρους άλλ b oî άν εις τα της πόλεως πράγματα φρόνιμοι ωσιν οντινα άν τρόπον ευ οίκοΐτο και μή μόνον φρόνιμοι άλλα και άνδρεΐοι ικανοί οντες â àv νοήσωσιν έπιτελεΐν και μή άποκάμνωσι δια μαλακίαν τής ψυχής ΣΩ Όρας ω βέλτιστε Καλλίκλεΐϊ ως ου ταύτά συ τ εμού κατηγορείς και εγω σου συ μεν γαρ εμε φής αει ταυτα λέγειν καί μέμφη μοι εγω δε σου τουναντίον ότι ουδέποτε ταύτά λέγεις περί των αυτών άλλα τότε μέν τούς c βελτίους τε καί κρείττους τούς ίσχυροτέρους ώρίζου αύθις δε τους φρονιμωτερους νυν δ αυ ετερον τι ηκεις εχων 152 152 Cálicles tem em mente portanto o homem político o qual se encontra por sua vez impedido de fazer prevalecer seu poder que pela natureza lhe é de di reito devido às leis instituídas pela maioria dos homens 483b494a GÓRGIAS 327 soc Em relação a sapatos é evidente que o melhor e mais inteligente nesse assunto deve possuir mais Talvez o sapateiro e deva possuir os maiores sapatos e passear por aí calçado com vários deles c a l Que sapatos Dizes tolices soc Mas se não te referes a coisas do gênero talvez te re firas a estas Por exemplo o agricultor que concernente à terra é inteligente belo e bom talvez deva possuir mais sementes e utilizálas ao máximo em sua terra c a l Como dizes sempre as mesmas coisas Sócrates soc Não somente isso Cálicles mas também a respeito das mesmas coisas c a l Pelos deuses Simplesmente tu não paras de falar de 491 sapateiros cardadores cozinheiros médicos como se a nossa discussão versasse sobre isso soc E então não dirás a que te referes quando dizes que o superior e mais inteligente uma vez com mais posses acumu laas de forma justa Não aceitarás as minhas sugestões nem serás tu a dizêlo c a l Mas há tempos eu digo Em primeiro lugar não são sapateiros nem cozinheiros os homens superiores aos quais me refiro mas aqueles que são inteligentes nos afazeres da cidade no b modo correto de administrála e não somente inteligentes mas também corajosos suficientemente capazes de levar a cabo o que pensam sem se abaterem pela indolência da alma152 soc Excelentíssimo Cálicles não vês que a tua acusação contra mim não é a mesma que a minha contra ti Pois tu dizes que eu sempre falo as mesmas coisas e me repreendes por isso enquanto eu digo o contrário que jamais dizes as mesmas coi sas sobre os mesmos assuntos153 mas ora defines os melhores e superiores como os mais fortes ora como os mais inteligentes c e agora mais uma vez chegas com uma nova afirmas que os 1 5 3 C f 4 8 KÍ4 8 2 C 3 2 8 GÓRGIAS DE PLATÃO άνδρειότεροί τινες υπο σου λέγονται οί κρείττους καί oi βελτίους άλλ ωγαθέ απών άπαλλάγηθι τίνας ποτέ λέγεις τους βελτίους τε και κρείττους καί εις οτι ΚΑΛ Ά λλ εϊρηκά γε εγωγε τον ï φρονίμους εις τα τής πόλεως πράγματα και ανδρείους τούτους γάρ d προσήκει των πόλεων άρχειν και το δίκαιον τούτ èarív πλέον έχειν τούτους των άλλων τους άρχοντας των αρχομένων Σί2 Τί δέ αυτών ω εταίρε τί ή τι άρχοντας ή αρχο μανούς ΚΑΛ Πώί λέγεις 2Í2 Ενα έκαστον λέγω αυτόν εαυτού άρχοντα ή τούτο μεν ουδέν δει αυτόν εαυτού άρχειν των δέ άλλων ΚΑΛ Πώί eαυτοί άρχοντα λέγεις 2X2 Ουδέν ποικίλον άλλ ώσπερ οι πολλοί σώφρονα δντα και έγκρατή αυτόν αυτού των ηδονών και επιθυμιών y λ ï λ e αρχοντα των ev eaimo ΚΑΛ Í2y ήδύς et τούς ηλιθίους λέγεις τούς σώφρονας Σί2 Πώί γάρ ου ουδεις οστις ουκ αν γνοίη οτι ου τούτο λέγω ΚΑΛ Πάυυ ye σφόδρα ω Σώκρατες έπει πως άν ευδαίμων γένοιτο άνθρωπος δονλύων ότωοϋν άλλα τουτ έστιν το κατά φύσιν καλόν καί δίκαιον δ εγώ σοι νυν παρ ρησιαζομενος λέγω άτι δει τον όρθώς βιωσόμενον τάς μεν επιθυμίας τάς εαυτού εάν ως μεγίστας είναι και μή κολάζειν 492 ταυταις ôe ωί μεγισταις ουσαις ικανόν είναι υπηρετειν οι ανδρείαν και φρόνησιν και άποπιμπλάναι ων αν άει ή επι θυμία γίγνηται αλλά τούτ οΐμαι τοΐς πολλοΐς ου δυνατόν οθεν ψέγουσιν τονί τοιούτονς δι αισχύνην άποκρυπτόμενοι 154 Sócrates desloca a discussão sobre dominar e ser dominado ή τι άρχοντας ή άρχομένους 493 do ponto de vista político a que se referia Cálicles até então para o ponto de vista do indivíduo ou seja do controle dos apetites e prazeres τών ηδονών και επιθυμιών 49idi ι A discussão passa a versar portanto sobre a tempe rança sõphwsunê σωφορσύνη uma das virtudes cardinais da filosofia platônica definida aqui grosso modo como o controle sobre os apetites e prazeres 155 Sobre a franqueza parrhêsia παρρησία de Cálicles cf supra notas 135 e 145 GÓRGIAS 329 superiores e melhores são certos homens mais corajosos Bom homem desembaraça tuas palavras e dizeme então quem são os melhores e superiores e em relação a quê c a l Mas eu acabei de dizer que são os homens inteligentes nos afazeres da cidade e corajosos Pois convém que tais homens dominem as cidades e o justo é que eles possuam mais do que d os outros os dominantes mais do que os dominados soc E aí Mais do que eles mesmos meu caro Eles domi nam ou são dominados c a l Como dizes soc Eu pergunto se cada um deles domina a si mesmo ou ele não deve dominar a si mesmo mas aos outros c a l O que designas por dominar a si mesmo soc Não é nada complexo porém é como diz a massa ser temperante e conter a si mesmo dominar os seus próprios pra zeres e apetites154 e c a l Como és aprazível Afirmas que os idiotas são os tem perantes soc Como Todos sabem que eu não digo isso c a l Certamente Sócrates Pois como poderia ser feliz o homem que é escravo de quem quer que seja Mas o belo e justo por natureza para te dizer agora com franqueza155 é o seguinte o homem que pretende ter uma vida correta deve permitir que seus próprios apetites dilatem ao máximo e não refreálos e uma vez supradilatados ser suficiente para servirlhes com co 492 ragem e inteligência e satisfazer o apetite sempre que lhe advier156 Mas isso julgo eu é impossível à massa ela assim vitupera tais homens por vergonha para encobrir a sua própria impotência 156 Nesse ponto do diálogo o contraste entre as convicções morais de Só crates e as de Cálicles encontra seu ápice para Cálicles ao contrário do que pensa Sócrates a felicidade do homem ευδαίμων 49ie6 consiste na sua capacidade de permitir que os apetites τάς έπιθυμίας 491 eg engrandeçam ao máximo para assim satisfazêlos tendo a coragem e a inteligência δΓ ανδρείαν και φρόνησιν 49232 suficientes para reprimir qualquer tipo depathos que impeça esse processo como a vergonha ou o medo por exemplo Portanto a intemperança ακολασίαν 49235 se apresenta como condição para a felicidade eudaimonia 330 GÕRGIAS DE PLATÃO τήν αύτών αδυναμίαν καί αισχρόν δη φασιν βΐναι την ακο λασίαν όπβρ iv τοΐς πρόσθβν βγω βλβγον δουλούμβνοι τους ββλτίους την φύσιν ανθρώπους και αυτοί ου δυνάμβνοι βκπορίζβσθαι ταΐς ήδοναΐς πλήρωσιν βπαινοΰσιν την σωφρο b συνην και την δικαιοσύνην δια την αυτών ανανδρίαν βπβϊ οσοις βζ αρχής νπήρξβν η βασιλίων νίσιν βΐναι η αυτούς rfj φνσβι ικανούς βκπορίσασθαι αρχήν τινα η τυραννίδα η δννα στβίαν τί άν rfj αληθβία αίσχιον καί κάκιον βϊη σωφρο σύνης και δικαιοσύνης τούτοις τοΐς άνθρωποις οΐς βξον άπολαύβιν των αγαθών και μηδβνος βμποδών οντος αυτοί βαυτοις δβσπότην βπαγάγοιντο τον τών πολλών ανθρώπων νόμον τβ καί λόγον καί ψόγον η πώς ονκ άν άθλιοι γβγονότβς c βίβν ΰπό του καλού του τής δικαιοσύνης καί τής σωφροσύνης μηδβν πλβον νβμοντβς τοΐς φίλοις τοΐς αυτών η τοΐς βχθροΐς καί ταϋτα άρχοντβς βν τί βαυτών πόλβι άλλα rfj άληθβία ω Σώκρατβς ήν φής συ διώκβιν ώδ χεί τρυφή καί άκο λασια και βλβυθβρια βαν βπικουριαν βχτ τουτ βστιν αρβτη τβ καί βυδαιμονία τα δβ άλλα ταύτ βστίν τα καλλωπίσματα τα παρά φύσιν συνθήματα ανθρώπων φλυαρία καί ουδβνος άξια d Σί2 Ονκ άγβννώς γβ ω Καλλίκλβις βπβξβρχτ τώ λόγω παρρησιαζόμβνος σαφώς γάρ συ νυν λβγβις ά οί άλλοι διανοούνται μβν λβγβιν δβ ουκ βθβλουσιν δβομαι ουν βγώ σου μηδβνί τρόπω άνβΐναι ϊνα τώ οντι κατάδηλον γβνηται πώς βιωτβον καί μοι λβγβ τας μβν βπιθυμίας φής ού κολαστβον βί μβλλβι τις οιον δβΐ βΐναι βώντα δέ αντάς ώϊ μβγίστας πλήρωσιν αυταΐς άμόθβν γβ ποθβν βτοιμάζβιν καί e τούτο βΐναι την άρβτήν ΚΑΛ Φημί ταύτα βγώ 157 Cf 483b484L 158 Tendo em vista o deslocamento da discussão para o âmbito da tempe rança sõphrosunê σωφορσύνη conduzido por Sócrates Cálicles a insere em sua concepção sobre a natureza política do homem 4834843 associandoa à justiça τήν σωφροσύνην καί τήν δικαιοσύνην 492a8bi assim como os mais fracos diante da incapacidade de prevalecer sobre os mais fortes instituíram as leis e determinaram que ter posses equânimes é o justo da mesma forma eles diante GÓRGIAS 331 e afirma que é vergonhosa a intemperança como eu dizia an tes157 e escraviza os melhores homens por natureza ela própria incapaz de prover a satisfação de seus prazeres louva a tempe rança e a justiça por falta de hombridade158 Pois para todos b que desde o nascimento são filhos de reis ou que são por na tureza suficientes para prover algum domínio alguma tirania ou dinastia o que seria na verdade mais vergonhoso e pior do que a temperança e a justiça para tais homens159 Embora pu dessem desfrutar as coisas boas sem qualquer empecilho eles elevariam sobre si mesmos a lei o discurso e a censura da massa de homens como seu déspota E como não se tornariam infe lizes sob a égide do belo da justiça e da temperança sem con c ceder aos próprios amigos mais posses do que aos inimigos ainda que possuam o domínio de sua própria cidade Na ver dade Sócrates o que dizes encalçar é isto luxúria intempe rança e liberdade uma vez asseguradas são virtude e felicidade o restante o que é instituído pelos homens contra a natureza é adorno uma tolice desprovida de valor soc É nobre como enfrentas a discussão e falas com fran d queza Cálicles pois agora dizes claramente o que os outros pen sam embora não desejem exprimilo Rogo então que não relaxes de modo algum para que realmente se esclareça como se deve viver Dizeme tu afirmas que se alguém pretende ser como se deve ser ele não tem de refrear seus apetites porém permitir que eles se dilatem ao máximo e se prontificar a satisfazêlos em toda e qualquer circunstância e que nisso consiste a virtude e cal É o que afirmo da incapacidade de satisfazer seus apetites e de se comprazer determinaram que a intemperança a ko lasia ακολασία é vergonhosa 159 Cálicles embora envolvido com a política democrática de Atenas conforme a alusão de Sócrates 48ide revela aqui explicitamente sua admiração pela figura do tirano na medida em que seu poder não está circunscrito às restrições impostas pela temperança e pela justiça σωφροσύνης καί δικαιοσύνης 492045 instituídas pela maioria dos homens como meio de impedir que os mais fortes por natureza prevale çam sobre eles Nesse sentido assim como para Polo 47od47id a vida do tirano se apresenta para Cálicles como modelo de felicidade eu d a im on ia Sobre a dinastia cf supra nota 98 sobre Cálicles como tirano em potência cf supra nota 120 332 GÓRGIAS DE PLATÃO 2Í2 Ο ίκ άρα όρθως λέγονται ol μηδενδς δεόμενοι ευδαί μονες είναι Κ Α Λ Οί λίθοι γάρ αν ουτω γε και ol νεκροί εύδαι μονέστατοι είεν ΣΩι Ά λλ α μεν δη και ως γε συ λέγεις δεινός ό βίος ου γάρ τοι θαυμάζοιμ άν εί Ευριπίδης άληθή εν τοΐσδε λέγει λέγων τίς δ οΐδεν εί το ζην μέν εστι κατθανειν το κατθανειν δέ ζην 493 καί ημείς τω δντι ίσως τέθναμεν ήδη γάρ τον εγωγε καί ήκονσα των σοφών ώϊ νυν ημείς τέθναμεν καί το μέν σωμά εστιν ημίν σήμα της δε ψυχής τούτο εν ω εττι θνμίαι είσί τυγχάνει ον οΐον άναπείθεσθαι καί μεταττίπτειν ι6ο Essa imagem do homem cujos apetites se encontram permanentemente satisfeitos e que de nada carece com o alguém morto em vida aparece por exemplo na fala do Mensageiro da A n tíg o n e de Sófocles m e n s a g e i r o Pois os prazeres Quando os homens deles abdicam não considero vida mas cadáver em vida com o penso w 11657 Τάς γάρ ήδονάς δταν προδώσιν ανδρες ού τίθημ έγώ ζην τούτον ά λλ έμψυχον ήγούμαι νεκρόν No Féd on Platão se refere a ela como uma opinião corrente entre os homens Pois é do parecer da maioria dos homens Símias que quem se abstém e não se compraz com nada disso não merece viver e que aquele que em nada se ocupa dos prazeres provenientes do corpo se encontra a um passo de estar morto 65348 Και δοκει γέ που ώ Σιμμία τοις πολλοϊς άνθρώποις ω μηδέν ήδΰ τών τοιούτων μηδέ μετέχει αυτών ούκ άξιον είναι ζην ά λλ εγγύς τι τείνειν τού τεθνάναι ό μηδέν φροντίζων τών ηδονών αϊ διά τού σώματός είσιν ι6 ι Tratase provavelmente de uma passagem da tragédia F rix o de Eurípides fr 833 segundo o escoliasta E Dodds op cit p 300 Os versos seriam estes Quem sabe se viver é o que chamam morrer E viver é morrer τίς δ οΐδεν εί ζην τούθ ô κέκληται θανειν το ζην δέ θνήσκειν έστί ι 62 Segundo Dodds op cit p 300 embora seja com um considerar esse mito reportado por Sócrates com o de natureza órfica ou órficopitagórica Sexto Empírico todavia atribiu a Heráclito uma concepção bastante similar a essa em sua obra Flipóteses Pirrônicas Heráclito diz que viver e morrer pertencem tanto à vida quanto à morte pois quando nós vivemos nossas almas estão mortas e sepultadas em nós ao passo que quando nós morremos nossas almas tornam à vida e passam a viver 3230 GÓRGIAS 3 3 3 soc Portanto é incorreto dizer que os homens que de nada carecem são felizes c a l Pois assim seriam felizes ao máximo as pedras e os cadáveres160 soc Todavia como tu dizes a vida seria prodigiosa Pois eu não me admiraria se Eurípides diz a verdade nestes versos ao afirmar que Quem sabe se viver é morrer e morrer é viver161 E talvez estejamos realmente mortos pois uma vez escutei de um sábio que nós nesse instante estamos mortos e o corpo sõma é nosso sepulcro sêma162 e que a parte da alma onde estão os ape tites é como se fosse persuadida e se lançasse de um lado ao outro163 ό δέ Ηράκλειτός φησιν ότι και τό ζην και το άποθανεΐν και έν τώ ζην ήμάς έστι και έν τφ τεθνάναι οτε μεν γάρ ήμεις ζώμεν τάς ψυχάς ημών τεθνάναι και έν ήμΐν τεθάφθαι οτε δέ ήμεις άποθνήσκομεν τάς ψυχάς άναβιοϋν και ζήν Apesar de não sabermos com precisão qual a fonte utilizada por Sexto nessa paráfrase dois fragmentos conservados de Heráclito sugerem algo semelhante i Imortais mortais mortais imortais vivendo a morte daqueles e da vida daqueles mortos fr d k 2 2 B 6 2 αθάνατοι θνητοί θνητοί αθάνατοι ζώντες τον έκείνων θάνατον τον δέ έκείνων βίον τεθνεώτες ii Ο mesmo é estar vivendo e estar morto estar desperto e estar dormindo jovem e velho pois o primeiro é o segundo quando muda e o segundo por sua vez é o primeiro quando muda fr d k 2 2 b 8 8 ταύτό τ ενι ζών και τεθνηκός και τό έγρηγορός και καθεϋδον και νέον και γηραιόν τάδε γάρ μεταπεσόντα έκεϊνά έστι κάκεΐνα πάλιν μεταπεσόντα ταϋτα Por fim Dodds ressalta que o mito não poderia ser de natureza órflca por que Platão no Crátilo 40obc diz que os órficos oí άμφίΟρφέα 400C5 derivam σώμα sõma corpo de σώζω sõizõ salvar em oposição àqueles que derivam σώμα sõmade σήμα sêma com o referido aqui no Górgias 163 Sócrates alude aqui à ideia de parte da alma τής ψυχής τοϋτο έν ψ έπιθυμίαι είσΐ 4933 τοϋτο τής ψυχής ού αί έπιθυμίαι είσί 493bi embora não seja suficiente para se afirm ar com segurança que Platão esteja se referindo elip ticamente à concepção tripartida da alma tal com o exposta no Livro iv da Re pública Com o salienta Irwin não é possível determ inar se com essa expressão Platão fala propriamente de partes ou mais genericam ente de aspectos da alma op cit p 195 Todavia J Cooper op cit p 66 observa que ao menos na psicologia m oral sustentada por Cálicles 49ie492c é possível vislumbrar uma noção de alma com três elementos a saber apetites inteligência e co ragem epithumiai phronêsis andreia έπιθυμίαι φρόνησις άνδρεία De qual quer m odo não seria suficiente para se afirm ar categoricam ente a presença da tripartição da alma no Górgias 493 33 4 GÖRGIAS DE PLATÃO άνω κάτω και τούτο άρα τις μυθολογων κομψός ανήρ Ισως Σικελός τις η Ιταλικός παράγων τω όνόματι διά το πιθανόν re και πειστικόν ωνόμασε πίθον τους δε àvorjrovs αμύητους των δ ανόητων τούτο της ψυχής ου αί επιθυμίαι elaί το ακόλαστόν αυτου και ου στεγανόν ως τετρημενος ειη πίθος δια την απληστίαν άπεικάσας τουναντίον δη ουτος σοί ω Κ αλλίκλεις ενδείκνυται ως των εν Αώου το άιδες δη λόγων ουτοι άθλιύτατοι άν είεν ol αμύητοι και φοροΐεν eis τον τετρημόνον πίθον ύδωρ ετερω τοιούτω τετρημενω κοσκινω το ôe κοσκινον αρα λεγει ωί εφη ο προς eμe λόγων την ψυχήν eivai την he ψυχήν κοσκίνω άπήκασεν την των ανόητων ως τerρημόνην are ου δυναμόνην στεγειν δι απιστίαν τε καί λήθην ταυτ επιεικώς μεν εστιν νπο τι άτοπα δηλοΐ μην δ όγω βουλομαί σοι όνδειζάμενος εάν πως οΐός τε ω πεΐσαι μεταθόσθαι αντί του άπλήστως και άκολάστως εχοντος βίου τον κοσμίως καί τοΐς αεί παροΰσιν Ικανως και εξαρκούντως εχοντα βίον ελεσθαι άλλα πάτε ρου πείθω τ ί σε καί μετατίθεσθαι ευδαιμονεστόρους είναι τους κοσμίους των ακολάστων ή ουδ άν άλλα πολλά τοιαυτα μυθολογώ ουδόν τι μάλλον μεταθήσρ ΚΑΛ Τουτ αληθέστερου εϊρηκας ω Σώκρατες ΣΩ Φόρε δη άλλην σοι εικόνα λόγω εκ του αυτου γυμνασίου ττ νυν σκόπει γάρ εΐ τοιόνδε λεγεις περι του βίου εκατόρου του τε σωφρονος και του ακολάστου οΐον εί δυοΐν άνδροΐν εκατερω πίθοι πολλοί είεν καί τω μεν ετερω υγιείς και πλήρεις ό μεν οίνου ό δε μέλιτος ό δε γάλακτος και άλλοι πολλοί πολλών νάματα δε σπάνια καί χαλεπά εκάστου τούτων εΐη καί μετά πολλών πόνων καί χαλεπών εκποριζόμενα δ μεν ουν ετερος πληρωσάμενος μήτ εποχετευοι μήτε τι φροντίζοι άλλ ευεκα τούτων ησυχίαν εχοι τω Ö ετερω τα μεν ναματα ώσπερ και εκείνω δυνατά μεν πορίζεσθαι χαλεπά δό τά δ αγγεία GÓRGIAS 3 3 5 Pois bem esse contador de mitos um homem fino talvez da Sicília ou da Itália derivando uma palavra da outra denominou jarro pi thon essa parte por ser ela persuasiva pithanon e persuasível os estultos anoêtous denominouos não iniciados amuètous e a parte da alma dos estultos onde estão os apetites a parte intempe b rante e inestancável figuroua como um jarro roto devido à sua insaciabilidade Esse homem mostra ao contrário de ti Cálicles que dentre os habitantes do Hades do Invisível aides como ele diz164 os não iniciados seriam os mais infelizes e que guarnece riam de água o jarro roto com um crivo igualmente roto Pois bem ele diz segundo o relato de quem me contou isso que o crivo é a alma e figurou como crivo a alma dos homens estultos por ser ela c rota visto que é incapaz de saciarse devido à incredulidade e ao esquecimento Isso é com razão um tanto absurdo contudo escla rece o que eu quero te mostrar a fim de caso seja capaz persuadirte a mudares de ideia e a escolheres ao invés de uma vida insaciável d e intemperante uma vida ordenada suficiente e conformada com o que se lhe dispõe Porventura persuadote de algum modo a mu dares de ideia e a considerares que os homens ordenados são mais felizes que os intemperantes ou mesmo que eu te conte inúmeros mitos como esse não mudarás de ideia absolutamente cal Acabaste de pronunciar uma grande verdade Sócrates soc Adiante então Vou te apresentar outra imagem prove niente da mesma escola já mencionada Examina então se o que dizes sobre ambas as vidas a do temperante e a do intemperante é algo do gênero Suponhamos que ambos os homens tivessem vários jarros um deles jarros salubres e repletos de vinho mel e leite e muitos outros jarros de conteúdos variados mas que as suas respectivas fontes fossem escassas e pouco acessíveis a muito custo extraídas esse homem uma vez repletos os jarros deixaria de se preocupar com enchêlos e por isso se acalmaria Suponha mos porém que as fontes do outro homem tal como as do pri meiro apesar de pouco acessíveis pudessem ser extraídas mas 164 Ver Platão F éd on 81c Crátilo 404b 3 3 6 GÓRGIAS DE PLATÃO τετρημένα καί σαθρά άναγκάζοιτο δ αεί καί νύκτα καί 494 ημέραν πιμπλάναι αυτά η rày εσχάτας λυποιτο λύπας αρα τοιοντου κάπρον οντο του ριου Aeyets τον του ακο λάστου ευδαιμονέστερον eivai η τον του κοσμίον πείθω τ ί σε ταντα λέγων συγχωρήσαι τον κόσμιον βίου του ακολάστου άμείνω είναι η ου πείθω ΚΑΛ Ου πείθεις ω Σωκρατες τω μεν γάρ πληρω σαμένω εκείνω ονκέτ εστιν ηδονή ουδεμία αλλά τοϋτ έστιν δ νυνδή έγω ελεγον το ώσπερ λίθον ζην επειδάν b πλήρωσή μήτε χαίροντα έτι μήτε λυπούμενον άλλ εν τοντω εστιν το ήδέως ζην εν τω ως πλεΐστον επιρρειν ΣΩ Ουκονν ανάγκη γ άν πολύ επιρρέη πολύ και το απιον είναι και μεγαλ αττα τα τρήματα είναι ταις εκροαις ΚΑΛ Πάνυ μεν ονν Σ ίΙ Χαραδριοΰ τινα αυ συ βίον λέγεις άλλ ου νεκρού ουδέ λίθου καί μοι λέγε το τοιόνδε λέγεις οΐον πεινήν καί πεινωντα εσθίειν ΚΑΛ Έγωγε c ΣΩ Καί διψήν γε καί διψωντα πίνειν ΚΑΛ Αέγω καί τάς αλλας επιθυμίας άπάσας εχοντα καί δυνάμειον πληρονντα χαίροντα ενδαιμόνως ζην 165 16 167 165 Com o resposta ao ideal do hom em in tem p éra n te louvado por Cálicles 49ie492c Sócrates entende que somente o tem p era n te é capaz de satisfazer πληρωσάμενος 49364 seus apetites de m odo a encontrando a quietude se com prazer ao passo que o intempérante é constrangido a buscar uma satisfação contínua que jamais alcançará ficando sujeito às dores mais extremas Sócrates portanto considera o prazer com o o resultado da satisfação dos apetites condição essa que o intempérante não conseguiria atingir pois os vasos rotos e avariados τα άγγεϊα τετμημένα και σαρθά 4938 não são possíveis de serem enchidos 166 Ao contrário do que ilustra Sócrates no mito Cálicles situa o prazer não no resultado do processo de satisfação do apetite que seria um estado de neutralidade μήτε χαίροντα ετι μήτε λυπούμενον 494bi mas precisamente durante seu processo de satis fação Portanto a condição para a felicidade humana consistiria na máxima fluidez dos apetites e em sua insaciabilidade conferindo ao homem um estado contínuo de prazer enquanto a continência dos apetites seria seu obstáculo T Irwin op cit p 196 167 Nos escólios do G órgias é dito que a tarambola é um pássaro que en quanto come defeca ορνις τις ός άμα τώ έσθίειν εκκρίνει GÓRGIAS 3 3 7 que os vasos estivessem rotos e avariados ele seria constrangido ininterruptamente a enchêlos dia e noite senão as dores mais pungentes o acometeriam165 Se assim vive cada um deles acaso afirmas que a vida do intemperante é mais feliz que a do orde 494 nado Quando digo essas coisas persuadote de algum modo a consentir que a vida ordenada é melhor que a intemperante ou não te persuado c a l Não me persuades Sócrates Pois o homem cujos jar ros se repletam não sente mais nenhum prazer e isso como há pouco dizia é viver como uma pedra pois quando se sacia nem se deleita nem sofre Todavia viver de forma aprazível b consiste precisamente na máxima fluidez166 soc Então não é necessário que se o fluxo é profuso seja também profuso o que se expele e haja grandes orifícios para sua vazão c a l Com certeza soc Então é a vida de uma tarambola167 de que falas e não a de um cadáver ou de uma pedra E dizeme te referes a algo semelhante a ter fome e uma vez faminto comer c a l Sim so c E ter sede e uma vez sedento beber c c a l Sim e ter todos os demais apetites e ser capaz de saciá los deleitarse e viver feliz168 168 Cálides torna categórico com essa asserção o hedonismo por ele apre goado ao se referir a todos os apetites τας άλλας επιθυμίας άπάσας 494C2 permitindo a Sócrates escolher os exemplos mais extremos e jocosos para mostrar as consequências de sua tese Na primeira versão do hedonismo 49164920 Cáli cies não diz categoricamente que o homem que pretende viver bem deve ser capaz de satisfazer a todos os apetites ele diz que quando os apetites surgem o homem deve deixar que eles engrandeçam ao máximo para assim satisfazêlos tendo a co ragem e a inteligência suficientes para reprimir qualquer tipo depathos que impeça esse processo como a vergonha ou o medo Isso não pressupõe que esse homem inteligente e corajoso deva satisfazer todo e qualquer apetite pois pode acontecer que ponderando sobre a natureza de certo apetite ele prefira não satisfazêlo por considerálo indigno ou vergonhoso como por exemplo o apetite de se coçar ou o apetite dos homossexuais passivos a que Sócrates recorrerá para refutar o he donismo Mas ao tornar sua tese categórica Cálicles legitima de certa forma as inferências propostas por Sócrates na sequência do diálogo 338 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 495 ΣΧ2 Eîye ω βέλτιστε διατελει γάρ ώσπερ ηρζω καί όπως μη άπαισχννη δει δε cos εοικε μηδ εμε άπαι σχννθηναι και πρώτον μεν είπε εί καί φωρώντα και κνησιώντα άφθόνως εχοντα του κνησθαι κνώμενον δια Γζλουντα τον βίον ευδαιμόνως εστι ζην ΚΑΛ Ω ς άτοπος εί ω Σωκράτη καί ατεχνώς δημηγόρος ΣΩ TotyàJTOi ώ Καλλίκλεις Πώλοι μεζ καί Γο yiat καί εζεπληζα καί αίσχύνεσθαι εποίησα συ δε οΰ μτ εκπλαγης ουδέ χτ αισχυνθης ανδρείος γαρ εί άλλ άπο κρίνου μόνον ΚΑΛ Φημί τοίννν καί τδί κνώμενον ηδεως άν βιώναι ΣΩ Ουκοΰι ehτερ ηδεως καί ευδαιμόνως ΚΑΛ Πάυυ yε ΣΩ Ποτερου εί την κεφαλήν μόνον κνησιω η ετι τί σε ερωτώ όρα ω Καλλίκλεις τί άποκρινη εάν ris σε τα εχόμενα τούτοis εφεξής άπαντα έρωτα καί τούτων τοιοντων οντων κεφάλαιον ό των κίναιδων βίος οντος ον δεινός και αισχρός καί άθλιος η τούτους τολμήσεις λεγειν ενδαίμονας είναι εάν άφθόνως εχωσιν ων δέονται ΚΑΛ Ονκ αισχύνη εις τοιαντα άγων ω Σώκρατες τούς 169 170 λόγους ΣΩ Ή γάρ εγώ άγω ενταύθα ω γενναίε η εκείνος os αν φη ανεοην ουτω τους χαιροντας ο πως αν χαιρωσιν ενδαίμονας είναι καί μη διορίζηται των ηδονών δποΐαι άγαθαί καί κακαί άλλ ετι καί νυν λεγε πότερον φης είναι το αυτό ηου και αγαθόν η είναι τι των ηοεων ο ονκ εστιν αγαθόν ΚΑΛ Ινα δη μοι μη άνομολογονμενος η δ λόγος εάν ετερον φησω είναι το αντο φημι είναι 169 Cf supra nota 145 170 Na medida em que para Cálicles o prazer não se encontra no resultado da satisfação de um apetite mas no próprio processo de satisfação o homem que se coça sem parar se encontra num estado de com prazim ento contínuo em que consiste a felicidade humana G Ó R G IA S 339 soc Muito bem excelente homem Termina como co meçaste e atentate para não seres tomado pela vergonha Tampouco eu como é plausível devo me envergonhar169 Em primeiro lugar dizeme se alguém com sarna e coceira coa gido a se coçar copiosamente teria uma vida feliz tendo de se coçar pelo resto de seus dias170 cal Tu és absurdo Sócrates Simplesmente um orador pú d blico171 soc Pois bem Cálicles deixei Polo e Górgias atordoados e envergonhados tu porém não te atordoes nem te envergonhes pois és corajoso Mas apenas respondeme cal Bem afirmo que quem se coça também teria uma vida aprazível soc Então uma vez aprazível também feliz cal Com certeza soc E se ele tiver coceira apenas na cabeça ou que per e gunta devo ainda te endereçar Vê Cálicles qual será a tua resposta caso alguém te inquira sobre todas as consequências uma após a outra do que dizes E o ponto culminante desse gênero de coisas a vida dos veados não é ela terrível vergo nhosa e infeliz Ou ousarás dizer que eles são felizes se possuí rem copiosamente aquilo de que carecem cal Não te envergonhas de conduzir a discussão a esse ponto Sócrates soc Porventura sou eu que a conduzo a esse ponto nobre homem ou aquele que afirma peremptoriamente que quem se deleita por qualquer modo que seja é feliz sem discernir quais 495 são os bons e os maus prazeres Mas dizeme novamente afir mas que aprazível e bom são o mesmo ou que há coisas apra zíveis que não são boas cal A fim de que a discussão não me contradiga se eu dis ser que são diferentes eu afirmo que são o mesmo 1 7 1 C f 5 1 9 i6 340 G Ó R G IA S D E P L A T à O ΣΩ Δ ια φ θείρεις ω Κ α λ λ ίκ λ ε ις τούς πρώ τους λό γο υς και ουκ αν ετι μ ε τ μ ο υ ικανω ς τα οντα εξετα ζο ις εητρ 7ταρά τα δοκοΰντα σαυτω ερεΐς ΚΑΛ Και γαρ σ υ ω Σ ω κ ρ α τς ΣΩ Ού τοίνυν όρθω ς π οιώ οντ εγώ εϊπ ερ π οιώ τούτο ούτε σ υ άλλ ω μακάριε άθρει μη ου τούτο η το αγαθόν τό π ά ν τω ς χ α ίρ ειν τα ύτά τ γάρ τα νννδη α ίν ιχ θ εν τα π ο λ λ ά και α ισ χ ρ ά φ α ίνετα ι σ υ μ β α ίν ο ν τα εί τούτο ούτω ς ε χ ε ι και ά λ λ α π ο λ λ ά ΚΑΛ Ωϊ συ γ ο ιει ω Σ ώ κ ρ α τς ΣΩ Συ δέ τω ό ντι ω Κα λ λ ίκ λ ε ις τα ύτα ίσ χ υ ρ ίζρ ΚΑΛ Ε γ ω γ ε ΣΩ Έ π ιχ ε ιρ ώ μ ε ν άρα τω λό γ ω ως σου σ π ο υ δ ά ζο ντο ς ΚΑΛ Τίάνυ γ σφόάρα ΣΩ νΙθ ι δη μ ο ι π α δ η ούτω δ ο κ ίΐ δ κ λ ο ΰ τά δ π ι σ τ η μ η ν που κ α λ ίϊς τ ι ΚΑΛ νΕ γ ω γ ΣΩ Ού και άν δρ ία ν νυνδη λ γ ς τιν α ΐν α ι μ ΐτ ά π ισ τ η μ η ς ΚΑΛ Έλίγον γ ά ρ ΣΩ Α λ λ ο τ ι ού ν ως τερ ο ν τη ν ανδρείαν τη ς π ισ τ η μ η ς δύο τα ύτα ε λ γ ς ΚΑΛ Σ φ οδρά γ ΣΩ Τ ί δε ηδονην και ε π ισ τ ή μ η ν τα ύτον η ετερ ο ν 172 173 172 Há dois aspectos a serem comentados quando Sócrates exige de Cálicles since ridade nas suas respostas ou seja que ele revele de fato as suas reais opiniões Por um lado Sócrates está colocando à prova a franqueza que Cálicles alega ter παρρησιαζόμενος 49ie7 em contraste com Górgias e Polo que segundo ele uma vez acometidos pela vergonha de dizerem o que realmente pensam acabaram sendo refutados 482ce nesse sentido os exemplos extremos referidos por Sócrates como consequência do he donismo categórico deleitarse de qualquer modo τό πάντως χαιρειν 49504 teriam essa função suplementar de examinar até que ponto Cálicles é imune ao sentimento de vergonha Esse seria o aspecto ad hominem envolvido no processo do elenchos conduzido por Sócrates Por outro lado Sócrates exige do interlocutor um dos princípios de legi timação do elenchos R Robinson Platos Earlier Dialectic p 15 pois se o interlocutor dá seu assentimento a premissas em que ele próprio desacredita então o resultado seria a refutação de opiniões mas não do interlocutor propriamente dito Sobre a sinceridade do interlocutor ver Platão República 346a Protagoras 360a 173 Cálicles já se mostra suscetível a admitir que há prazeres que não são bons como ele o fará expressamente em 499b como aqueles que Sócrates mencionou ante riormente mas para manter a coerência do argumento ele sustenta a opinião que prazer e bem são o mesmo Cálicles portanto não participa nesse momento seriamente ώς G Ô R G IA S 341 soc Arruinas Cálicles a discussão precedente e deixarias de investigar comigo de modo suficiente o que as coisas são se falasses contrariamente a tuas opiniões172 cal Vale para ti também Sócrates soc Pois bem se faço isso não o faço corretamente tam pouco tu o fazes Mas homem afortunado observa se o bem não consiste em deleitarse de qualquer modo Pois se assim o for tornarseão manifestas aquelas inúmeras consequências vergonhosas há pouco insinuadas e muitas outras mais cal Segundo o teu juízo Sócrates soc Tu Cálicles realmente persistes nesse ponto cal Sim soc Portanto tentemos discutir como se falasses seria mente173 cal Absolutamente soc Vamos lá Visto que teu parecer é esse defineme o seguinte há algo que chamas conhecimento cal Sim soc E não dizias há pouco que há também certa coragem com conhecimento174 cal Dizia sim soc Então sendo a coragem diferente do conhecimento não te referias a ambos como duas coisas cal Certamente soc E aí Prazer e conhecimento são a mesma coisa ou são diferentes σου σπουδάζοντος 4950 da discussão na medida em que suas reais opiniões já não estão mais em jogo Sócrates por sua vez ignora o princípio da sinceridade do interlo cutor cf supra nota 172 e não permite que Cálicles refaça as suas opiniões passando à demonstração de que o prazer e o bem não são a mesma coisa 4950349735 174 Sócrates retoma a tese hedonista de Cálicles 49ie492c segundo a qual o intempérante por meio da coragem e inteligência δΓ ανδρείαν και φρόνησιν 492a2 é capaz de engrandecer ao máximo seus apetites e satisfazêlos Porém ele entende aqui a inteligência phronêsis φρόνησις referida por Cálicles como co nhecimento epistëmë επιστήμη o que implica que ela não pode ser compreen dida senão como certo conhecimento teorético T Irwin op cit p 199 342 G Ó R G IA S D E P L A T à O d e 496 b ΚΑΛ Έ τερ ον δήπου ω σ ο φ ώ τα τε σ ύ ΣΩ ΤΗ καί α ν δρείαν ετέραν η δο νή ς ΚΑΛ Πώϊ γάρ οΰ ΣΩ Φερε δή όπω ς μ εμ ν η σ ό μ εθ α τα ϋτα ότι Κ α λ λ ικ λ ή ς εφ η Ά χ α ρ ν ε ύ ς ηόυ μ ζ ν και α γα θόν τα ντο ν ΐναι ε π ισ τή μ η ν οζ και ανορζιαν και ά λ λ ή λ ω ν και του αγαθού ετερον ΚΑΛ Σ ω κράτης δε γ ε ή μ ϊν δ Ά λ ω π ε κ ή θ ε ν ο υ χ ο μ ο λο γεί τα ϋτα ή ο μ ο λ ο γ ε ί ΣΩ Ο υ χ ο μ ο λο γεί ο ΐμ α ι δε γ ε ουδέ Κ α λ λ ικ λ ή ς όταν 5 V Λ ϊ Λ V Λ αυτός α υτόν υεα σ η τα ι οροω ς είπ ε γαρ μ ο ι τους ευ π ρ ατ το ντα ς το ϊς κακώς π ρ ά ττο υ σ ιν ου το υ ν α ν τίο ν ή γή πάθος π επ ο νθ ενα ι ΚΑΛ Έ α ΣΩ ΤΑρ ουν 7τερ ενα ντία ε σ τ ιν τα ϋτα ά λ λ ή λ ο ις ανάγκη π ερ ί αυτώ ν ε χ ε ιν ώ σ π ερ π ερ ί ν γ ιε ία ς ε χ ε ι και νόσου ου γα ρ ά μ α δήπου υ γ ια ίν ε ι τ ε και ν ο σ ε ί δ άνθρω π ος ουδέ άμα ά π α λ λ ά τ τ ε τ α ι ν γ ιε ία ς τ ε και νόσου ΚΑΑ Πώϊ λ ε γ ε ις Σ Ω Ο ΐο ν π ερ ί οτου β ο ύ λ ε ι του σ ώ μ α το ς α π ο λα β ώ ν σ κ οπ εί ν ο σ ε ί που άνθρω πος ο φ θα λμ ο ύς ω ονομα ο φ θ α λ μ ία ΚΑΛ Πώϊ γάρ ού ΣΩ Ο ν δήπου καί υ γ ια ίν ει γε άμα τ ο ύ ί α υτο ύς ΚΑΛ Ο υ δ δ π ω σ τιο ύ ν Σ Ω Τ ί δέ ότα ν τή ς ο φ θ α λμ ία ς ά π α λ λ ά τ τ η τ α ι άρα τ ό τ ε και τή ς ν γ ιεία ς ά π α λ λ ά τ τ ε τ α ι τώ ν ο φ θ α λμ ώ ν και τ ε λ ευ τώ ν άμα ά μφ οτερω ν ά π ή λ λ α κ τ α ι ΚΑΛ Ηκιστα γ ε ΣΩ θ α ν μ ά σ ιο ν γάρ ο ΐμ α ι και ά λο γο ν γ ίγ ν ε τ α ι ή γάρ ΚΑΛ Σ φ όδρα γ ε 175 O mesmo vocativo também é usado ironicamente por Sócrates no con fronto com Trasímaco no Livro 1 da República 33965 d a o q x Ó T a T e 176 Sócrates satiriza a fórmula geralmente empregada nos tribunais para iden tificar o depoente por meio de seu demo e Cálicles retribui o gracejo da mesma forma E Dodds op cit p 308 177 Cf 482b G Ó R G IA S 343 cal Diferentes por certo sapientíssimo homem175 d soc E a coragem também é diferente do prazer cal E como não soc Adiante então e não esqueçamos que Cálicles o Acarnense176 afirmou que aprazível e bom são a mesma coisa mas que conhecimento e coragem são diferentes tanto entre si quanto do bem cal E que Sócrates de Alopeque não concorda conosco sobre isso ou concorda soc Não concordo e presumo que tampouco Cálicles há e de concordar quando ele próprio contemplar a si mesmo corre tamente177 Dizeme não consideras que quem age bem expe rimenta uma afecção contrária a quem age mal cal Sim soc Então visto que essas coisas são contrárias entre si o que lhes sucede não é necessariamente semelhante ao que su cede à saúde e à doença Pois de fato o homem não é simulta neamente saudável e doente e nem perde a saúde e se livra da doença ao mesmo tempo cal Como dizes soc Por exemplo separa alguma parte do corpo que qui seres e examinaa O homem não pode ter uma doença óptica 496 denominada oftalmia cal E como não poderia soc Com certeza seus olhos não serão saudáveis simul taneamente não é cal Nem qualquer outra coisa soc E o que ocorre quando ele se livra da oftalmia Acaso nessa ocasião ele também se livra da saúde dos olhos e enfim acaba por se livrar de ambas cal Improvável soc Pois julgo eu seria assombroso e absurdo não é b cal Absolutamente 344 0 0 Ι 3 ΙΑ 5 ϋ Ε ΡΣΑΤΑΟ ΣΩ Άλλ ίν μ ίρ ίΐ ο ίμ α ι ίκ ά τΐρ ο ν και λ α μ β ά ν ίΐ και ά π ο λ λ ύ ΐ ΚΑΛ Φ η μ ί ΣΩ Ο νκοΰν και Ισ χ ν ν και α σ θένεια ν ω σ α ύτω ς ΚΑΛ Ναι ΣΩ Καί τά χ ο ς και β ρ α δ ύ τη τα ΚΑΛ Ώ άνν γ ΐ ΣΩ Ή καί τά γα θά και τη ν ευδα ιμονία ν και τά να ντία τούτω ν κακά τ ε και α θλιό τη τα εν μύρει λ α μ β ά ν ε ι και εν μ ερ ει ά π α λ λ ά τ τ ε τ α ι εκατερον ΚΑΛ Πάζτωϊ δηττου ΣΩ Έάι εϋρω μεν αρα ά ττα ώ ν άμα τε ά π α λ λ ά τ τ ε τ α ι άνθρωττος καί άμα ε χ ε ι δ ή λο ν ό τι τα ντά γ ε ονκ άν ειη τό τε αγαθόν και το κακόν ο μ ολογουμ εν τα υτα και ευ μ α λ α σ κ εφ ά μ ενο ς άιτοκρίνου ΚΑΛ Ά λλ υττερφνώς ως ο μ ο λ ο γ ώ ΣΩ νθι δη 7τι τα εμττροσθεν ώ μ ο λο γ η μ εν α τδ ττεινην ελεγ ες 7τοτερον ηου η ανιαρόν είνα ι αυτό λέγω το ττεινην ΚΑΛ Α νιαρόν ε γ ω γ ε το μ εν το ι ττεινώ ντα εσ θ ίε ιν ηδν λ έ γ ω ΣΩ Μ α νθ ά νω άλλ ονν τ ό γ ΐ ττεινην αυτό ανιαρόν η ο ν χ ί ΚΑΛ Φ η μ ί ΣΩ Ο νκοΰν και τδ δ ιφ η ν ΚΑΛ Σ φ όδρα γ ε ΣΩ ΥΙότερον ουν ετι 7τλείω ερω τώ η ο μ ο λο γ ε ίς άττασαν ενδειαν και εττιθνμίαν άνιαρδν ε ίν α ι ΚΑΛ Ο μ ο λ ο γ ώ ά λ λ α μη ερ ώ τα ΣΩ Ειεζ δ ιφ ώ ν τα δε δη ττίνειν ά λ λ ο τ ι η ηδυ φ ρς εΐν α ι ΚΑΛ Έ γ ω γ ε ΣΩ Ο νκοΰν τούτου ου λεγευ τδ μ εν δ ιφ ώ ν τα λνττούμενον δηττου ε σ τ ίν G Ó R G IA S 3 4 5 soc Mas presumo que ele adquire ou perde cada uma de las alternadamente cal Confirmo soc Não sucede o mesmo então à força e à fraqueza cal Sim soc E também à presteza e à lentidão cal Absolutamente soc E quanto aos bens e à felicidade e aos seus contrários os males e a infelicidade não se adquire alternadamente e se perde alternadamente cada um deles cal Absolutamente soc Portanto se descobrirmos alguma coisa que o homem perde e possui simultaneamente é evidente que não será o bem e o mal Concordamos com isso Examina bem antes de res ponder cal Concordo extraordinariamente soc Voltemos ao que foi consentido na discussão anterior Dizias que ter fome é aprazível ou doloroso Refirome a ter fome em si cal Doloroso Todavia afirmo que comer uma vez fa minto é aprazível soc Compreendo Mas então ter fome em si é doloroso ou não é cal É soc E não sucede o mesmo à sede cal Absolutamente soc Devo continuar te perguntando ou concordas que toda carência e apetite são dolorosos cal Concordo e para de me interrogar soc Seja Afirmas que beber uma vez sedento é aprazível ou algo diferente disso cal É aprazível soc Então conforme o teu argumento ter sede não é de certo sofrer 346 G Ó R G IA S D E P L A T à O e ΚΑΛ Ναι ΣΩ To δέ πίνειν πληρώσίς τε της ένδειας και ηδονή ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ουκοΰν κατά το πίναν χαί ρειν λέγεις ΚΑΛ Μάλιστα 2X2 Δ ιψώντά ye ΚΑΛ Φ η μ ί ΣΩ Α υ π ο υ μ εν ο ν ΚΑΛ Ναί ΣΩ Αίσ θά νη ουν το σ ν μ β α ΐν ο ν ο τι λυ π ο υ μ ενο ν χ α ίρ ειν λ έ γ ε ις άμα όταν δ ιψ ώ ντα π ίν α ν λέγτης η ουχ άμα τούτο γ ίγ ν ε τ α ι κατά y ι Λ ν τον αυτόν τοπον καί χρονον eire ψυχής sire σώματος βουλει ονδεν yap οΊμαι διαφέρει εστι ταντα η ον ΚΑΛ Εστιζ ΣΩ Αλλά μην ευ γε πράττοντα κακώς 497 πράττειν άμα αδύνατον φρς είναι ΚΑΛ Φημι γάρ ΣΩ Ανιωμενον δε γε χαίρειν δυνατόν ωμολόγηκας ΚΑΛ Φαίνεται ΣΩ Ουκ άρα τό χαίρειν έστιν ευ πράττειν ον δε το ανιασθαι κακώς ώστε ετερον γιγνεται το ηδν του αγαθού ΚΑΛ Ουκ οΐδ άττα σοφίζρ ω Σωκρατες Σ ί ϊ Οισθα άλλα ά κ κ ίζΐ ω Κα λ λ ίκ λ ε ις και π ρ ό ιθ ί γε ε τ ι εις τό έμ π ρ ο σ θ εν οτι έ χ ω ν λη ρ εΐς ΐνα ειδφς ως σοφ ός b ώ ν μ ε νουθετείς ο ν χ άμα διψ ώ ν τ ε έκ α σ το ς ημώ ν π έ π α ν τα ι και αμα ηδομενος δια του π ιν ε ιν ΚΑΛ Ο υκ οιδα ο τι λ έ γ ε ις 178 178 Vejamos o esquema completo do argumento de Sócrates para demonstrar que prazer e bem não são a mesma coisa 4950349735 i Há algo que se chama conhecimento ii há também certa coragem que o acompanha iii conhecimento e coragem são diferentes iv conhecimento e prazer também são diferentes v portanto coragem e prazer são diferentes vi aqueles que são felizes estão na condição contrária daqueles que são in felizes vii na medida em que felicidade e infelicidade são opostas elas se excluem necessariamente viii assim como uma pessoa não pode ser saudável e estar doente simultanea mente da mesma forma ela não pode ser boa feliz e má infeliz simultaneamente ix então se há algo que alguém possa ter e não ter simultaneamente isso não pode ser o bem e o mal x como toda carência fome e sede são dolorosas mas comer e beber quando alguém tem fome e sede são aprazíveis porque são a satisfação de uma carência xi beber quando alguém está sedento é beber quando se sente dor xii mas é também satisfazer uma carência e portanto é aprazível GÓRGIAS 347 CAL Sim e soc E beber não é tanto saciedade da carência quanto prazer cal Sim soc Não afirmas então que há deleite em beber cal Com certeza soc Quando se tem sede cal É isso soc Quando se está sofrendo cal Sim soc Percebes assim a consequência disso quando dizes que alguém uma vez sedento bebe alguma coisa tu não estás afirmando que ele sofre e se deleita simultaneamente Ou isso não acontece simultaneamente no mesmo lugar e momento seja na alma ou no corpo como quiseres Pois não faz diferença julgo eu É isso ou não cal É soc Todavia afirmas ser impossível agir bem e mal simul 497 taneamente cal Afirmo sim soc Mas concordaste que é possível se deleitar mesmo em padecimento cal É claro soc Portanto deleitarse não é agir bem nem sofrer agir mal de modo que o aprazível tornase diferente do bem178 cal Não entendo os teus sofismas Sócrates soc Entendes mas dissimulas Cálicles Avancemos um pouco mais no argumento precedente e verás como és sábio quando me admoestas Ter sede e comprazerse não cessam em b cada um de nós simultaneamente pelo ato de beber cal Não entendo o que dizes xiii portanto quando se bebe prazer e dor são simultâneos xiv na medida em que é impossível ser feliz e infeliz simultaneamente mas possível sentir dor e prazer simultaneamente prazer e dor não podem ser o mesmo que felicidade e infelicidade xv portanto o bem e o prazer não são o mesmo J Beversluis op cit p 355 348 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Μηδαμώς ω Καλλικλευ άλλ άποκρίνον καί ημών ένεκα ΐνα περανθώσιν οι λόγοι ΚΑΛ Ά λ λ act τοιοΰτός έστιν Σωκράτης ω Γοργία σμικρά και ολίγου άζια ανέρωτα και έζελεγχει ΓΟΡ Ά λ λ α τί σοι διαφέρει πάντως ον ση αυτή η τιμή ω ΚαλλίκλΕΐϊ άλλ νπόσχες Σωκράτει έξελέγξαι όπως αν βονληται c ΚΑΛ Έρωτα δη συ τα σμικρά re και στενά ταντα έπείπερ Γοργία δοκεΐ όντως ΣΩ Ευδαίμων εΐ ω Καλλίκλεις ότι τα μεγάλα με μύησαι πριν τα σμικρά έγω δ ονκ ωμήν θεμιτόν είναι όθεν ουν άπελιπες άποκρίνου ei ονχ άμα παύεται διψών έκαστος ημών και ηδόμενοςΚΑΛ Φημί Σ ί2 Ονκοΰν και πεινών καί των άλλων επιθυμιών καί ηδονών άμα παύεται ΚΑΛ Έ σ τι ταντα ΣΩ Ονκοΰν καί των λυπών d καί τών ηδονών άμα παύεται ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ά λλ α μην των αγαθών γε καί κακών ονχ αμα παύεται ως σν ώμολόγεις νυν δε ονχ ομολογείς ΚΑΛ vEywye τί οΰν δη ΣΩ Οτι ον τα αυτά γίγνεται ώ φίλε τάγαθά τοΐς ηδεσιν ουδέ τα κακά τοΐς άνιαροΐς τών μεν γάρ άμα παύεται των δε ου ως ετερων οντων πως ουν ταυτα αν εΐη τά ηδέα roty άγαθοΐς η τά ανιαρά roty κακοΐς εάν δε βούλη καί τηδε επίσκεψαι οΐμαι γάρ σοι ουδέ ταύτη e όμολογεΐσθαι άθρει δε τους αγαθούς ουχί αγαθών παρου 179 A súbita intervenção de Górgias garante o prosseguimento da discus são entre Cálicles e Sócrates da mesma forma que a intervenção de Cálicles no Ia Ato do diálogo permitiu a Sócrates consumar a refutação de Górgias quando ele demonstrava a intenção de abandonar o debate 458bd Se não fosse a in tervenção de Górgias nesse momento provavelmente Cálicles já teria saído de cena O desinteresse gradativo de Cálicles pela forma com que Sócrates conduz a discussão tornase evidente pela mudança de seu comportamento não mais o interlocutor franco e defensor fervoroso de suas convicções mas complacente confirmando o que Sócrates espera que ele confirme para se chegar ao termo dessa conversa em vão A atitude de Cálicles é calcada na sua desconfiança em relação à real motivação de Sócrates na prática do elenchos como ele havia dito antes Sócrates usa do pretexto da busca pela verdade para encobrir seu intuito GÓRGIAS 349 gor De forma nenhuma Cálicles Respondelhe em vista tam bém de nós aqui presentes para que a discussão tenha termo cal Mas Sócrates é sempre assim Górgias pergunta coisas pequenas desprovidas de valor e as refuta gor Mas que diferença faz para ti Isso não é absoluta mente de tua competência Cálicles Submetate à refutação como Sócrates quiser cal Pois bem pergunta essas coisas pequenas e tacanhas visto que é do parecer de Górgias179 soc És um homem feliz Cálicles porque és iniciado nos Grandes Mistérios antes de seres nos Pequenos180 eu julgava porém que era ilícito Partindo do ponto em que interrompeste respondame então se ter sede e comprazerse não cessam em cada um de nós simultaneamente cal Afirmo que sim soc Então a fome e os demais apetites e prazeres não ces sam simultaneamente cal É isso soc E as dores e os prazeres não cessam simultaneamente cal Sim soc Todavia os bens e os males não cessam simultanea mente como concordaste ainda concordas cal Sim e então soc E então Os bens e as coisas aprazíveis meu caro não são os mesmos nem os males e as coisas dolorosas Pois uns cessam simultaneamente enquanto os outros não porque são diferentes Portanto como seriam os mesmos as coisas aprazí veis e os bens ou as coisas dolorosas e os males Se quiseres examina a questão sob este prisma presumo que não concor darás com isto mas observa não chamas os bons homens de primordial que seria a simples contradição do interlocutor uma disposição pro priamente erística tpiXóviKoç d 51535 180 Segundo Dodds op cit p 313 ninguém poderia ser iniciado nos Gran des Mistérios realizados em Elêusis no outono antes de ter sido iniciado nos Pe quenos realizados em Agras na primavera como é referido nos escólios da comédia Pluto de Aristófanes Scholia in Plutum 845 350 α0ΙΙΟΙΑ ΌΕ ΡίΑΤΑΟ σία αγαθούς καλεΐς ώσπερ τους καλούς οΐς αν κάλλος 7ταρή ΚΑΛ Έ γω γεΣΩ Τ ί δε αγαθούς άνδρας καλάς άφρονας καί δειλούς ού γάρ άρτι γε άλλα τους άνδρείους και φρονίμους λίγες ή ου τούτους αγαθούς καλάς ΚΑΛ Πάνυ μεν ουν ΣΩ Τ ί δε τταΐδα άνόητον χαίροντα ήδη είδες ΚΑΛ Έ γω γε ΣΩ Ανδρα δε ούττω είδες άνόητον χαίροντα Κ Α Λ Οίμαι έγωγε άλλα τ ί τούτο 498 ΣΩ Ονδεν άλλ άποκρίνου ΚΑΛ Ειδον ΣΩ Τ ί δε νουν εχοντα λυπούμενον καί χαίροντα ΚΑΑ Φημί ΣΩ ΠοτεροΑ δέ μάλλον χαίρουσι και λυπούνται οι φρό νιμοι ή οΐ άφρονες Κ Α Λ Οΐμαι εγωγε ού πολύ τι δια φερεινΣΩ Ά λ λ άρκεΐ καί τούτο εν πολέμιο δε ήδη είδες άνδρα δειλόν ΚΑΑ Πώϊ γάρ ου ΣΩ Τ ί ουν άπιόντων των πολεμίων πότεροί σοι εδόκουν μάλλον χαί ρειν οί δειλοί ή οί άνδρεΐοι ΚΑΛ Άμφότεροι εμοιγε 6 μάλλον εί δέ μη παραπλησίως γε ΣΩ Ονδέν διαφέρει χαίρονσιν δ ουν καί οι δειλοί ΚΑΛ Σφόδρα γε ΣΩ Και οΐ άφρονες ως εοικεν ΚΑΛ ΝαίΣΩ Προσιοντων δέ οί δειλοί μόνον λυπούνται ή και οί άνδρεΐοι ΚΑΛ Ά μ φότεροι ΣΩ Ά ρ α ομοίως ΚΑΛ Μάλλον ίσως οί δειλοί ΣΩ Απιόντων δ ού μάλλον χαίρονσιν ΚΑΛ GÓRGIAS 351 bons devido à presença de coisas boas assim como chamas os belos homens de belos devido à beleza neles presente cal Sim soc E então Chamas os estultos e covardes de bons ho mens Não era esse o teu juízo pois te referias aos homens co rajosos e inteligentes ou não os chamas de bons cal Claro que sim soc E então Já viste criança estulta se deleitando cal Sim soc E já viste algum dia homem estulto se deleitando cal Creio que sim mas por que a pergunta soc Nada responde cal Já vi soc E então Já viste homem sensato sofrendo e delei tandose cal Sim soc E qual deles se deleita e sofre mais os inteligentes ou os estultos cal Julgo que não há grande diferença soc Isso basta E na guerra já viste homem covarde cal E como não teria visto soc E então Quando os inimigos se retraíam qual deles te parecia deleitarse mais os covardes ou os corajosos cal Para mim ambos senão a diferença é mínima soc Não faz diferença Então também os covardes se de leitam cal Absolutamente soc E os estultos como é plausível cal Sim soc Mas quando os inimigos atacam apenas os covardes sofrem ou os corajosos também cal Ambos sofrem soc Acaso de modo semelhante cal Talvez sofram mais os covardes soc E quando os inimigos se retraem não se deleitam mais 498 b 352 ΌΕ ΡΙΑΤΑΟ τωί ΣΩ Ονκονν λνποννται μεν καί γαίρουσιν καί οί άφρονες και οί φρόνιμοι και οι δειλοί καί οί ανδρείοι παρα πλήσιων ώ συ φης μάλλον δε οί δειλοί των ανδρείων ΚΑΛ ΦημίΣΩ Ά λ λ α μην οι γε φρόνιμοι καί οί ανδρείοι αγαθοί οί δε δειλοί καί άφρονες κακοί ΚΑΛ Ναι ΣΩ Παραπλήσιων άρα γαίρουσιν καί λυπούνται οί αγαθοί καί οί κακοί ΚΑΛ Φημί ΣΩ Ά ρ ονν παραπλήσιων εισίν αγαθοί καί κακοί οί αγαθοί τε καί οί κακοί η καί ετι μάλλον αγαθοί οί αγαθοί καί οί κακοί είσιν οί κακοί ΚΑΛ Ά λ λ α μα Α ί ουκ οιδ ότι λεγειν ΣΩ Ουκ οΐσθ ότι του αγαθούς αγαθών φης παρουσία ΐναι αγαθούς και κακού Οζ κακών τα θ αγαϋα ξίναι τα ηδονάς κακά δε ταν ανίαν ΚΑΛ Έ γω γε ΣΩ Ονκονν τοΐν γαίρουσιν πάρεστιν τάγαθά αί ηδοναί εΐπερ γαίρουσιν Κ Α Λ Πώϊ γαρ ον ΣΩ Ονκονν αγαθών παρόντων αγαθοί είσιν οί γαίροντεν ΚΑΛ Ναί ΣΩ Τ ί δε τοΐν άνιωμενοιν ον πάρεστιν τα κακά αί λνπαι ΚΑΛ Πάρεσην ΣΩ Κακών δε ε παρουσία φης συ είναι κακούς τονν κακούς η ουκετι φης ΚΑΛ Εγωγε ΣΩ Αγαθοί άρα οΐ αν γαίρωσι κακοί δε οΐ άν άνιώνται Κ Α Λ Πάνυ γε GÚRGIAS 353 cal Talvez soc Assim tanto os estultos e os inteligentes quanto os covardes e os corajosos sofrem e se deleitam de modo seme lhante como tu afirmas mas os covardes mais do que os cora josos não é cal Afirmo sim soc Contudo os inteligentes e os corajosos são bons en quanto os covardes e os estultos maus cal Sim soc Portanto os bons e os maus se deleitam e sofrem de modo semelhante cal Sim soc Porventura os bons e os maus são bons e maus de modo semelhante Ou os maus são ainda melhores cal Por Zeus não entendo o que dizes soc Não sabes que segundo a tua afirmação os homens bons são bons pela presença de coisas boas ao passo que os ho mens maus pela presença de coisas más E que as coisas boas são os prazeres e as más os sofrimentos cal Sei soc As coisas boas os prazeres não estão presentes em quem se deleita quando se deleita cal E como não soc Então quando as coisas boas estão presentes não é bom quem se deleita cal Sim soc E aí As coisas más as dores não estão presentes em quem padece cal Estão presentes soc E tu afirmas que pela presença de coisas más os ho mens maus são maus ou não continuas a afirmar isso cal Continuo soc Portanto quem se deleita é bom e quem padece é mau cal Absolutamente 3 5 4 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ 0Î μεν γε μάλλον μάλλον οί δ ηττον ηττον οί ôè παραπλησίως τταραττλησίως ΚΑΛ Ναι ΣΩ Ουκοϋν φης παραπλησίως χαίρειν και λνπεΐσθαι τους φρονίμους και τους άφρονας και τους δειλούς καϊ τους άνδρείους η και μάλλον ετι τους δειλούς ΚΑΛ Έγωγε ΣΩ Συλλόγισαι δη κοινή μετ εμού τί ημΐν συμβαίνει εκ των ωμολογημενων και δις γάρ τοι καϊ τρίς φασιν καλόν 499 είναι τα καλά λεγειν τε και επισκοπείσθαι αγαθόν μεν είναι τον φρόνιμον καϊ ανδρείάν φαμεν ή γάρ ΚΑΑ Ναι ΣΩ Κακοί ôè τον άφρονα και δειλόν ΚΑΛ Πάυυ γε ΣΩ Αγαθόν δε αυ τον γαίροντα ΚΑΛ Ναί ΣΩ Κακόν δε τον άνιωμενον ΚΑΛ Ανάγκη ΣΩ Άνιάσθαι δε καϊ χαίρειν τον αγαθόν καϊ κακόν ομοίως ΐσως δε καϊ μάλλον τον κακόν ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ουκοϋν ομοίως γίγνεται κακός καϊ άγαθός τω άγαθω η και μάλλον b άγαθός 6 κακός ου ταυτα συμβαίνει καϊ τά ττρότερα εκείνα εάν τις ταυτα φτ ηδεα τε καϊ αγαθά είναι ου ταυτα ανάγκη ω Καλλίκλεις ΚΑΛ Πάλαι τοί σου άκροωμαι ω Σώκρατες καθομο λογων ενθυμούμενος ότι κάν παίζων τίς σοι ενδω ότιοϋν Η rf ν c τούτον ασμενος εχη ωσττερ τα μειράκιά ως οη συ οιει 8 i8 i Sócrates apresenta mais um argumento 4970349903 contra a identifi cação entre o prazer e o bem de um lado e a dor e o mal de outro recorrendo ao artifício da reductio ad absurdum com o intuito de mostrar a Cálicles as conclusões paradoxais a que leva tal identidade Vejamos o esquema completo do argumento de Sócrates i Os homens corajosos e inteligentes são bons ao passo que os covardes e estultos são maus ii os covardes e inteligentes se deleitam de modo semelhante aos corajosos e inteligentes e talvez até mais do que eles iii os covardes e inteligentes sofrem de modo semelhante aos corajosos e inteligentes e talvez até mais do que eles iv os homens bons são bons pela presença de coisas boas ao passo que os maus são maus pela presença de coisas más GÓRGIAS 3 5 5 soc E quem sente mais é melhor quem sente menos pior e quem sente de modo semelhante é semelhante cal Sim soc Não afirmas então que tanto os inteligentes e os es tultos quanto os covardes e os corajosos se deleitam e sofrem de modo semelhante ou os covardes até mais cal Sim soc Pois bem recapitulemos nós dois juntos as conse quências de nossos consentimentos Pois dizem que é belo di zer e investigar o que é belo duas três vezes Bem afirmamos 499 que o homem inteligente é bom e corajoso não é cal Sim soc E que o estulto é mau e covarde cal Absolutamente soc E que quem se deleita por sua vez é bom cal Sim soc E mau quem padece cal Necessariamente soc E que o bom e o mau padecem e se deleitam de modo semelhante mas talvez ainda mais o mau cal Sim soc Portanto o mau não se torna mau e bom de modo semelhante ao bom ou até mesmo mais do que ele Isso não é consequência do que foi dito antes caso alguém afirme que b coisas aprazíveis e coisas boas são as mesmas Ou não é neces sário Cálicles181 cal Há tempos te ouço Sócrates concordando contigo e refletindo que ainda que alguém te conceda algum ponto por brincadeira te apegas a isso contente como um garoto Pois tu v as coisas boas são os prazeres e as más as dores vi portanto o homem mau é bom e mau de modo semelhante ao homem bom ou talvez seja até mesmo pior e melhor do que ele 356 GÓRGIAS DE PLATÃO εμε η καί άλλον όντινοΰν ανθρώπων ουχ ήγόίσθαι τάς μευ βΐλτίους ηόονάς τάς δε χάρους ΣΩ Ίου Ιου ώ Κ αλλίκλας ώϊ πανούργος ει καί μοι ς ώσπερ παιδί χρη τότε μευ τα αυτά φάσκων όντως εχειυ τότε δε ετερωί ίξαπατων με καιτοι ονκ ωμήν γε κατ άρχάς ύπο σου έκόντος ειυαι έξαπατηθησίσθαι ώ ουτΌϊ φίλον νυν δε έφάσθην και ώς εοικευ ανάγκη μοι κατά τον παλαιόν λόγον το παρόν ευ ποιαν και τούτο δεχεσδαι τδ διδδμευου παρα σου εσπυ δε δη ώί Ιοικευ δ υυυ λεγείϊ οτι ηόοναί τινές είσιυ αι μευ άγαθαί αί δε κακαί η γάρ ά ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ά ρ ουυ άγαθαί μευ αί ωφέλιμοι κακαι δε αί βλαβΐραί ΚΑΛ Πάυυ γε ΣΩ Ωφέλιμοι δε γε αί αγαθόν τι ποιοΰσαι κακαί δε αί κακόν τι ΚΑΛ Φημί ΣΩ Ά ρ ουν τάς τοιάσδε λεγει οΤου κατα γο σώμα ί υυυδη ελεγομευ ευ τω εσδίειυ κα πίναν ηόονάς η άρα τούτων αϊ μευ νγίααν ποιοΰσαι ευ τω σώματι η Ισχνν η άλλην τινά άροσην τον σώματος αΰται μέυ άγαθαί αί δε ε τάναντία τούτων κακαί ΚΑΛ ΓΤάυυ γε ΣΩ Ο υκοΰν και λΰπαι ωσαύτως αί μευ χρησταί άσιν αί δε πονηραί Κ Α Λ Πώϊ γαρ ον ΣΩ Ονκοΰν τάς μευ χρηστάς καί ήόονάς καί λύπας καί αίρίτέον Ιστίν καί πρακτέον ΚΑΛ ι 82 Cálicles acaba por admitir a disjunção entre prazer e bem de um lado e dor e mal de outro como ele já estava pronto para admitir anteriormente depois que Sócrates lhe apresentou as consequências do hedonismo categórico deleitarse de qualquer modo tò πάντως χαίρειν 495b4 por meio dos exemplos jocosos da coceira e dos homossexuais passivos Naquela oportunidade 49 5a Cálicles assumiu as consequências do que havia dito antes ou seja em 494 C 23 mas já evidenciava a vontade de redefinir seu argumento Sócrates contudo não permitiu que ele o fizesse àquela altura A postura de Cálicles naquele momento bem como agora ao admitir tal disjunção contradiz a formulação do hedonismo categórico mas não a primeira versão do hedonismo apregoado por ele como exemplo de felicidade su prema segundo a qual o homem virtuoso deve permitir que os apetites engrande çam ao máximo para assim satisfazêlos tendo a coragem e a inteligência suficientes para isso 49 1649 20 Cálicles naquele momento não fala na satisfação de todos os apetites como condição para a felicidade Nesse sentido mesmo admitindo que há bons e maus prazeres Cálicles mantém a coerência de sua primeira tese hedonista pois o homem virtuoso seria aquele capaz de engrandecer ao máximo os apetites GÓRGIAS 3 5 7 julgas de fato que eu ou qualquer outro homem não conside ramos que há prazeres melhores e piores182 soc Ah Ah Cálicles como és embusteiro e me tratas como se eu fosse criança ora afirmando que as mesmas coisas são de um modo ora de outro com o escopo de me enganar Aliás eu não julgava a princípio que seria enganado por ti voluntaria mente visto que és meu amigo183 Porém acabaste de mentir e como é plausível é necessário que eu conforme o antigo di tado faça o melhor com o que tenho e aceite a tua oferta Como parece tua afirmação agora é que há certos prazeres bons e outros maus não é c a l Sim soc Porventura os prazeres bons são os benéficos e os maus os nocivos c a l Certamente soc E benéficos são os que produzem algum bem ao passo que maus os que produzem algum mal c a l Confirmo soc Acaso te referes a tais prazeres como por exemplo aos prazeres da comida e da bebida referentes ao corpo sobre os quais falávamos há pouco Pois bem uns os prazeres bons produzem saúde física ou força ou qualquer outra virtude corpórea enquanto outros os prazeres maus produzem os efeitos contrários não é c a l Absolutamente soc Então o mesmo não sucede às dores umas são úteis e outras nocivas c a l E como não seriam soc Não se deve então escolher e usar os prazeres e as dores úteis bons quaisquer que sejam eles e satisfazêlos de modo a se comprazer os maus como o da coceira e o dos homossexuais aludidos por Sócrates por exemplo se fossem o caso deveriam ser evitados por não serem dignos de serem satisfeitos A coragem e a inteligência enfim conferiria a esse homem as condições de satisfação desses apetites garantindolhe assim uma vida feliz J Cooper op cit p 7273 183 Sobre a amizade cf supra nota 141 358 GÓRGIAS DE PLATÃO 500 Πάνυ γε ΣΩ Tàs δε πονηράς ονΚΑΛ Δήλου όή ΣΩ Ενεκα γάρ που των αγαθών άπαντα ήμιν εδοξεν πρακτεον είναι εί μνημονεύεις εμοί τε και Πώλω αρα και σοί συνδοκεΐ οντω τέλος είναι ανασών τών πράζεων το αγαθόν καί εκείνον ενεκα δεΐν πάντα τάλλα πράττεσθαι άλλ ονκ εκείνο τών άλλων σνμψηφος ήμιν εΐ καί σν εκ τρίτων ΚΑΛ Έγωγε ΣΩ Τώρ αγαθών άρα ενεκα δει καί τάλλα καί τά ήδεα πράττειν άλλ ον ταγαθά τών ήόεων ΚΑΛ Ώάνν γεΣΩ ΤΑρ ονν παντός άνδρός εστιν εκλεξασθαι ποια αγαθά τών ήόεων εστιν καί όποια κακά ή τεχνικού δει εις έκαστον ΚΑΛ Τεχνικοί ΣΩ Άναμνησθώμεν όή ων aíi εγώ προς Πώλοι και Γοργίαν ετνγχανον λεγων ελεγον γάρ αν εί μνημονεύεις Μ Al t λ λ οτι ειεν παρασκεναι αι μεν μέχρι ηοονης αντο τούτο μονον παρασκενάζονσαι άγνοονσαι όε τό βελτιον καί τό χείρον αί δε γιγνώσκονσαι οτι τε αγαθόν καί ότι κακόν καί ετίθην τών μεν περί τάς ήδονάς την μαγειρικήν εμπειρίαν αλλά ον τέχνην τών δε περί το αγαθόν τήν Ιατρικήν τέχνην καΧ προς Φιλιού ω Καλλίκλεις μήτε αντος οιον δεΐν προς εμε παίζειν μηδ άτι αν τύχης παρά rà δοκονντα άποκρίνον μήτ αν rà παρ εμοϋ όντως άποδεχου ως παίζοντος όρας γάρ άτι περί τούτου ήμιν είσιν οί λόγοι ου τί άν μάλλον σπονδάσειε 184 185 186 18 4 C f 467C468C 18 5 C f 4 6 4 b 4 6 5 e 186 Ο 3a Ato do diálogo inicia com a desconfiança de Cálicles com relação à seriedade de Sócrates depois de ele expor as consequências aparentemente pa radoxais a que chegou na discussão com Polo a respeito da verdadeira utilidade da retórica 481b Diante do desinteresse gradativo evidenciado por Cálicles pela forma como a discussão é conduzida Sócrates ressalva antecipadamente a sua seriedade tendo em vista a própria natureza do debate como se deve viver õvxiva χρή τρόπον ζην 50 0C 34 qual a melhor forma de vida Todavia a sus peita de que Sócrates esteja brincando contra o que ele próprio se defende aqui ώς παίζοντος sooci teria fundamento na medida em que a estratégia argu mentativa escolhida por ele para refutar as teses morais e políticas de Cálicles dá ensejo a isso a refutação da tese de que o superior e melhor deve possuir mais do que os outros 49ob49ib por meio de um tipo específico de argumento a GÕRGIAS 359 cal Certamente soc E os nocivos não cal Evidentemente soc Se te recordas pareceunos a mim e a Polo que se deve fazer tudo em vista das coisas boas184 Porventura com partilhas desta opinião que o bem é o fim de todas as ações e que em vista dele se deve fazer todas as outras coisas e não in versamente fazer o bem em vista das outras Contamos com 500 o teu terceiro voto cal Sim soc Portanto devese fazer as coisas aprazíveis e todas as demais em vista das boas e não as coisas boas em vista das aprazíveis cal Com certeza soc Será que todo e qualquer homem está apto a selecio nar dentre as coisas aprazíveis quais são as boas e quais são as más ou é preciso de um técnico para cada caso cal É preciso de um técnico soc Rememoremos então o que eu disse a Polo e a Gór gias naquela ocasião185 Eu dizia se te recordas que havia cer tas ocupações circunscritas ao prazer que somente a ele se b dispunham ignorando o que é o melhor e o pior enquanto outras conheciam o que é bom e o que é mau Dentre as que concernem aos prazeres considerei a culinária como experiên cia e não como arte e dentre as que concernem ao bem disse que a medicina é arte E pelo deus da Amizade Cálicles não julgues que devas brincar comigo nem venhas com respostas contrárias a tuas opiniões tampouco acolhas as minhas pala c vras como se fossem brincadeira186 Pois vês que nossos discursos reductio ad absurdum cujo aspecto jocoso é patente e a refutação do hedonismo categórico 493d494e em que Sócrates recorre a exemplos extremos para testar a franqueza parrhêsia παρρησία do interlocutor Do ponto de vista de Cáli cles portanto a suspeita com relação à seriedade de Sócrates seria plausível na medida em que ele é um interlocutor que resiste ao elenchos socrático e não está disposto a se deixar persuadir por Sócrates sobretudo por meio de uma estratégia argumentativa que passa pelo ridículo 360 GÓRGIAS DE PLATÃO τις και σμικρον νουν εχων άνθρωπος η τούτο οντινα χρη τρόπον ζην πάτερου επί ον συ παρακαλώ ís εμέ τα του άνδρος δη ταΰτα πράττοντα λέγοντά τε ευ τω δημω καί ρητορικήν άσκοΰντα και πολιτευόμενου τούτον τον τρόπον ον υμείς νυν πολιτεύεσθε η èirí τόνδε τον βίον τον εν φιλοσοφία και τί ποτ εστιν ουτος εκείνου διαφέρων ϊσως ονν βέλτιστου εστιν ως άρτι εγώ έπεχείρησα διαιρεΐσθαι διελομένους δε καί όμολογήσαντας άλληλοις εί εστιν τούτω διττώ τω βίω σκεφασθαι τί τε διαφέρετον άλλήλοιν καί δπότερον βιωτέον αντοΐν ίσως ονν ονπω οΐσθα τί λέγω ΚΑΛ Ού δήτα ΣΩ Άλλ εγώ σοι σαφέστερου ερώ επειδή ώμολο γηκαμεν εγώ τε καί συ είναι μεν τι αγαθόν είναι δε τι ήδυ ετερον δε rò ήδυ του αγαθού εκατέρου δε αντοΐν μελέτην τινα είναι και παρασκευήν της κτήσεως την μεν του ήοεος Θήραν την δε του αγαθού αυτό δε μοι τοΰτο πρώτον ή σνμφαθι ή μη σομφής ΚΑΛ Ούτως φημί ΣΩ Ίθι δη à καί προς τουσδε εγώ ελεγον διομολόγησαί μοι εί αρα σοι έδοζα τότε αληθή λέγειν ελεγον δε που οτι ή μεν όψοποιικη ου μοι δοκεϊ τέχνη είναι άλλ εμπειρία ή δ Ιατρική λέγων οτι ή μεν τούτου οΰ θεραπεύει καί την φυσιν εσκεπται και τήν αιτίαν ων πράττει και Κογον εχει τούτων έκαστου δούναι ή Ιατρική ή δ έτέρα τής ηδονής προς ήν ή θεραπεία αυτή εστιν απασα κομιδή ατέχνως επ αυτήν έρχεται ούτε τι τήν φύσιν σκεψαμένη τής ηδονής ούτε τήν alríav αλόγως τε παντάπασιν ώς έπος είπεΐν ουδέν διαριθμησαμένη τριβή καί έμπειρία μνήμην μόνον σωζομένη 187 187 Sócrates a princípio trata como antagônicos o modo de vida fdosófico e o político mas como se esclarecerá adiante essa não é a resposta definitiva para o problema Sócrates opõe aqui a vida regida pela filosofia à vida política tal qual vivida por Cálicles e pelos demais políticos naquele contexto da democracia ate niense do final do séc v aC data dramática do diálogo Mas a construção da imagem de Sócrates no Górgias como o verdadeiro homem político 52id522a funde o modo de vida político no filosófico embora pressuponha uma forma de GÓRGIAS 361 versam sobre o modo como se deve viver a que qualquer ho mem mesmo de parca inteligência dispensaria a maior serie dade se é a vida a que me exortas fazendo coisas apropriadas a um homem fazer tais como falar em meio ao povo exercitar a retórica agir politicamente como hoje vós agis ou se é a vida volvida à filosofia e em que medida se diferem uma e outra Portanto o melhor seja talvez distinguilas como há pouco tentei fazêlo e depois de distinguilas e de concordarmos en tre nós que se tratam de duas formas de vida investigar em que elas se diferem e qual delas deve ser vivida187 Talvez ainda não d compreendas o que digo c a l Não mesmo soc Vou te falar com mais clareza Uma vez que eu e tu concordamos que há algo bom e algo aprazível e que o aprazí vel é diferente do bem e que para cada um deles há uma prática e um treino para adquirilo a caça ao aprazível e a caça ao bem respectivamente mas primeiro confirmame ou não esse ponto Confirmas e c a l Confirmo sim soc Adiante então e consente tu o que eu disse também aos aqui presentes caso te pareça ter dito a verdade naquela ocasião188 Eu dizia que a culinária não me parece ser arte mas experiência enquanto a medicina arte Eu afirmava que a me dicina perscruta tanto a natureza daquilo de que cuida quanto a causa de suas ações e consegue dar razão a cada uma delas Eis a medicina A outra sem técnica alguma persegue o prazer 501 para que se volta todo o seu cuidado e não examina absoluta mente a natureza e a causa desse prazer e de forma completa mente irracional por assim dizer nada discerne pela rotina e experiência ela salvaguarda apenas a lembrança do que acontece política distinta daquela democrática Sobre a ideia da vida regida pela filosofia como alheia à vida pública cf supra nota 12 3 ver tb Platão Teeteto 17 2 C 17 7 C P Lima Platão Uma Poética para a Filosofia 188 Cf 464b465e 362 GÓRGIAS DE PLATÃO b του εΙωθότος γίγνεσθαι ω δή καί πορίζεται τας ήόονάς ταντ ονν πρώτον σκόπει el bond σοι ικανως λεγεσθαι καί είναι τινες καί περί ψυχήν τοιαΰται αλλα ι π pay ματ dai ai μεν τεχνικαί προμήθειάν τινα εχουσαι του βέλτιστου περί την ψυχήν ai be τούτον μεν όλιγωροΰσαι εσκεμμεναι δ αν ωσπep όκεϊ την ήόονήν μόνον της ψυχής τίνα αν αυτή τρόπον γίγνοιτο ήτις be ή βελτίων ή χείρων των ήόονων ούτε σκοπονμεναι ούτε μόλον ανταΐς άλλο ή χαρίζεσθαι ο μόνον eire βελτιον είτε χείρον εμοϊ μεν γάρ ω Καλ λίκλεις όοκονσίν τε είναι καί εγωγε φημι το τοιοντον κολακείαν είναι καί περί σώμα καί περί ψυχήν καί περί άλλο οτον αν τις την ήόονήν θεραπενη άσκεπτως 0χων του άμείνονός τε καί τον χείρονος συ be δη πότερον συγκατα τίθεσαι ήμΐν περί τούτων την αυτήν bóav ή αντίφης ΚΑΛ Ονκ εγωγε άλλα συγχωρώ ΐνα σοι καί περανθή ό λόγος καί Γοργία τωόε χαρίσωμαι d ΣΩ ITorcpov be περί μεν μίαν ψυχήν εστιν τούτο περί oe ovo και πολλά ονκ rriν ΚΑΛ Ονκ άλλα καί περί bvo καί περί πολλάς ΣΩ Ουκουν καί αθρόαις αμα χαρίζεσθαι εστι μηόεν σκοπουμενον το βελτιστον ΚΑΛ Οΐμαι εγωγε ΣΩ νΕ χα ΐ ονν είπειν αΐτινες είσιν ai επιτηόενσεις ai τούτο ποιονσαι μάλλον be el βούλει εμού ερωτωντος ή μεν αν σοι boKrj τούτων είναι φάθι ή δ άν μη μή φάθι e πρώτον ôè σκεψωμεθα τήν αυλητικήν ον boKeî σοι τοιαντη τις είναι ω Καλλίκλεις τήν ήόονήν ημών μόνον όιωκειν άλλο δ ουόεν φρόντιζειν ΚΑΛ Έμοιγε όοκεΐ GÓRGIAS 363 habitualmente por meio do que ela proporciona prazer Em b primeiro lugar então examina se te parece ser suficiente esse argumento e haver outras atividades concernentes à alma tais como aquelas referentes ao corpo umas que são técnicas e possuem presciência do que é o supremo bem para a alma e outras que disso se descuram e examinam por sua vez como no caso da culinária somente o prazer da alma e o modo como proporcionálo sem investigar quais prazeres são melhores ou piores e com a estrita preocupação de deleitála seja isso me lhor ou pior A mim Cálicles parece que tais atividades exis c tam e eu afirmo que essas últimas são lisonja seja concernente à alma ou ao corpo ou a qualquer outra coisa de cujo prazer alguém cuide sem examinar o que lhe é melhor ou pior E sobre isso acresces teu assentimento à nossa opinião ou a contestas cal Eu não mas concordo com ela para que tu concluas a discussão e eu deleite Górgias189 soc E isso é válido no caso de uma única alma e não de d duas ou mais cal Não também é válido no caso de duas ou mais soc Então não é possível também deleitálas em conjunto simultaneamente sem examinar o supremo bem cal Eu julgo que sim soc Poderias assim dizer quais são as atividades que fazem isso Ou melhor se quiseres eu te interrogo e tu me respondes com um sim àquela que te parecer inclusa nesse grupo e com um não àquela que não te parecer190 Examinemos primeiro a aulética191 não te parece ser ela uma atividade deste tipo Cáli e cies que encalça somente nosso prazer e descura do resto cal Pareceme 189 Cf 497bc 190 Cf supra nota 179 191 O aulo é um instrumento de sopro mais semelhante ao clarinete do que à flauta à qual é geralmente equiparado Era usado como acompanhamento musical no teatro mas estava especialmente associado às festas noturnas e aos banquetes Platão Teeteto i73d Banquete i76e e às danças frenéticas nos rituais dionisíacos e em cultos similares Aristóteles Política i342bi6 E Dodds op cit p 322 364 GÓRGIAS DE PLATÃO 502 b ΣΩ Ονκοΰν καί al τοιαίδε άπασαι οΐον η κιθαριστικη η έν τοΐς άγωσιν ΚΑΛ Ναι ΣΩ Τ ι δέ η των χορών διδασκαλία και ή των δι θυράμβων ποίησα ου τοιαύτη τα σοι καταφαίνεται η ηγγ τι φρόντιζειν Κινησίαν τον Μίλητος όπως έρει τι τοιοντον οθεν άν οΐ άκονοντες βελτίους γίγνοιντο η οτι μέλλει χαριεΐσθαι τω οχλω των θεατών ΚΑΛ Δήλον δη τοΰτό γε ω Σώκρατες Κ ινησίου γε πέρι ΣίΙ Τ ί δέ δ πατήρ αυτοΰ Μελής η προς το βέλτιστου βλέπων έδόκει σοι κιθαρωδεΐν η εκείνος μέν ουδέ προς τδ ηδιστόν ηνία yap αδων rows θεατάς άλλα δη σκοπεί ονχϊ η τε κιθαρωδικη δοκεΐ σοι πάσα και η των διθυράμβων ποίησα ηδονης χάριν ηυρησθαι ΚΑΛ Εμοιγε ΣΩ Τ ί δέ δη η σεμνή αυτή και θαυμαστή η της τραγωδίας ποίησα έφ ω έσποΰδακεν πάτερου έστιν αυτής το επιχείρημα και η σπονδή ως σοι δοκεΐ χαρίζεσθαι τοΐς θεαταΐς μόνον η καί διαμάχεσθαι εάν τι αντοΐς ηδυ μέν fj λ V 5 λ καί Κχαρισμνον ττονηρον oe οπωί τούτο μζν μη epei ei δέ τι τυγχάνει αηδές και ωφέλιμον τούτο δέ καί λεζει V if y t t και aσςται αντ χαιρωσιν eazre μη ποτζρως σοι οοκζΐ παρεσκενάσθαι η των τραγωδιών ποίησα 192 193 194 192 A cítara era maior do que a lira e acabou substituindoa nas apresentações musicais Conforme o registro nas Inscriptiones Graecae 2965 havia premiações no festival das Panatenaias para os recitais solos de cítara e para aqueles acompa nhados de canto Embora Platão argumente no Górgias que a cítara é empregada nesses recitais com a finalidade precípua de comprazer a audiência tanto na Repú blica 399d quanto nas Leis 8i2be ele admite sua utilidade para a cidade tendo em vista sua função educativa E Dodds op cit p 323 193 Platão distingue aqui o treinamento dos coros ditirâmbicos do ditirambo em si que compreenderia por sua vez a composição dos versos e da música Nos festivais das Grandes Dionísias e das Panatenaias os ditirambos e seus coros con corriam a prêmios E Dodds op cit p 323 194 Cinésias foi um poeta ditirâmbico cuja produção se deu nas duas últimas décadas do séc v aC e no início do séc iv aC E Dodds op cit p 323 Aparece como personagem na comédia As Aves de Aristófanes 414 aC e é satirizado por GÓRGIAS 365 soc Então não sucede o mesmo a todas as atividades desse tipo tal como a citarística praticada nas competições192 c a l Sim soc E quanto à direção dos coros e à poesia ditirâmbica193 Não te parecem ser do mesmo tipo Consideras que Cinésias194 filho de Meles preocupase em dizer coisas tais que tornariam melhores os ouvintes ou que ele se atenta ao deleite da turba de espectadores 502 c a l É evidente que este último é o caso de Cinésias Só crates soc E quanto a seu pai Meles195 Acaso te parecia ele tocar cítara visando o supremo bem Ou ele a tocava nem mesmo visando o que é mais aprazível Pois ele afligia os espectadores com seus cantos Examina então Não te parece que a citarís tica e a poesia ditirâmbica como um todo foram inventadas em prol do prazer c a l Sim soc E quanto à mais solene e admirável delas a poesia trágica b pelo que ela zela Seu intento e zelo são segundo teu parecer ape nas deleitar os espectadores ou também defendêlos evitando pro nunciar o que lhes for aprazível e deleitoso porém nocivo e dizendo e cantando o que não lhes for aprazível porém benéfico quer isso lhes deleite ou não A poesia trágica te parece disporse a quê Ferécrates como um poeta inábil na comédia Χείρων como vemos neste fragmento conservado fr 145 Kock Cinésias o ático abominável Compôs nuanças desarmônicas nas estrofes E arruinou a poesia ditirâmbica a ponto De sua destra parecer mais hábil No manejo do escudo Κινησίας δέ μ ό κατάρατος Αττικός έξαρμονίους καμπάς ποιων έν ταΐς στροφαις άπολώλεχ οϋτως ώστε τής ποιήσεως τών διθυράμβων καθάπερ έν ταις άσπίσιν άριστέρ αΰτοϋ φαίνεται τά δεξιά 195 Meles também foi satirizado por Ferécrates na comédia Άγριοι como vemos neste fragmento Fr 6 Kock Adiante então quem é o pior citarista que já existiu B Meles filho de Písio A E depois de Meles quem mais A Seguramente Quéris penso eu φέρ ϊδω κιθαρωδός τίς κάκιστος έγένετο Β ό Πεισίου Μέλης Α μετά δέ Μέλητα τίς Β έχ άτρέμ έγωδα Χαΐρις 366 GÓRGIAS DE PLATÃO Κ Α Λ Αήλον brj τοΰτό γε ω Σώκρατες οτι προς τήν flbovrjv μάλλον ωρμηται καί το χαρίζεσθαι τοΐς θεαταίς ΣΩ Ουκονν το τοιοΰτον ω Καλλίκλεις εφαμεν vvvbrj κολακείαν είναι Κ Α Λ Πάνυ ye ΣΩ Φέρε δή εΧ t i s περιέλοι τη s ποιήσεως ττάσης τ ο τε μέλος και τον ρυθμόν και το μέτρου άλλο τι η λόγοι γίγνονται το λειπόμενον ΚΑΛ Ανάγκη ΣΩ Ουκονν ττρος πολυν όχλον και bfaov οΰτοι λέγονται οι λόγοι ΚΑΛ Φημ 2X2 Αημηγορία αρα τς εστιν η ποιητική ΚΑΛ Φαίνεται ΣΩ Ουκονν ρητορική μηγορία αν εϊη η ον ρητορευειν boKovai σοι οϊ ποιηται εν rois θεάτροις ΚΑΛ Εμοιγε ΣΩ Ν ΐρ αρα ημείς ηνρήκαμεν ρητορικήν τινα ττρος bήμov τοιοΰτον οΧον παίδων τε όμοϋ καί γυναικών και άνδρών και δουλών καί ελευθέρων ήν ον πάνυ άγάμεθα κολακικήν γαρ αντην φαμςν eivac Κ Α Λ Πάνυ γε ΣΩ E iev τί ôè ή προς τον Αθηναίων bήμov ρητορική και τους άλλους rois εν ταις πόλεσιν bήμoυς τους τών ελευθέρων àvbpώv τ ί ποτέ ήμιν αυτή έστίν πάτερου σοι δοκοΰσιν προς το βέλτιστου αει λέγειν οί ρήτορες τούτον 196 196 Platão repõe aqui ο argumento de Górgias no Elogio de Helena Fr d k 82 Bi 1 sobre a poesia Pela descrição dos efeitos psicológicos da experiência poética é razoável inferir que a reflexão de Górgias se refira precipuamente à tragédia É preciso que eu mostre minha opinião aos ouvintes sobre isso toda a poe sia eu considero e nomeio um discurso com metro Os seus ouvintes são imbuídos de temeroso arrepio de piedade plangente e de desejo condolente a alma através das palavras experimenta um particular sofrimento dos infortúnios e das boas venturas de corpos e acontecimentos alheios 9 δει δέ και δόξηι δείξαι τοϊς άκούουσι την ποίησιν απασαν και νομίζω και ονομάζω λόγον εχοντα μέτρον ής τούς άκούοντας είσήλθε και φρίκη περίφοβος και ελεος πολύδακρυς και πόθος φιλοπενθής έπ άλλοτρίων τε πραγμάτων και GÓRGIAS 367 c a l É evidente Sócrates que ela está volvida sobretudo ao prazer e ao deleite dos espectadores soc Então Cálicles não é isso o que há pouco afirmáva mos ser a lisonja c a l Com certeza soc Vamos lá Se alguém retirasse de toda a poesia o canto o ritmo e o metro não restariam apenas os discursos196 c a l Necessariamente soc E esses discursos não são pronunciados publicamente para uma turba numerosa c a l Confirmo soc Portanto a poesia é certa oratória pública c a l É claro soc Oratória pública não seria então retórica Ou os poe tas nos teatros não te parecem agir como rétores c a l Parecemme soc Portanto acabamos de descobrir certa retórica diri gida ao povo composto de crianças homens e mulheres de es cravos e homens livres retórica essa que não nos é de grande apreço pois afirmamos que ela é lisonja197 c a l Com certeza soc Assim seja E o que é a retórica dirigida ao povo de Atenas e a todos os outros povos de homens livres que vivem nas cidades o que ela é então para nós Porventura os rétores te parecem falar sempre visando o supremo bem e tendoo σωμάτων εύτυχίαις και δυσπραγίαις ϊδιόν τι πάθημα διά τών λόγων επαθεν ή ψυχή φέρε δή προς άλλον άπ άλλου μεταστώ λόγον 197 Isócrates faz uma comparação entre o discurso poético e o discurso re tórico em específico o judiciário na Antídosis Há certos homens que não são inexperientes no que eu mencionei ante riormente no entanto preferem escrever discursos não sobre vossos compromissos mas sobre a Hélade a política e os panegíricos discursos esses que todos diriam ser mais afins àqueles compostos com música e ritmo do que aos proferidos no tribu nal 46 Είσιν γάρ τινες οϊ τών μέν προειρημένων ούκ άπείρως έχουσιν γράφειν δέ προήρηνται λόγους ού περι τών ϋμετέρων συμβολαίων άλλ Ελληνικούς καί πολιτικούς και πανηγυρικούς οΰς άπαντες άν φήσειαν όμοιοτέρους ειναι τοίς μετά μουσικής και ρυθμών πεποιημένοις ή τοίς έν δικαστηρίω λεγομένοις 368 GÓRGIAS DE PLATÃO 503 b στοχαζόμενοι όπως οι πολΐται ως βέλτιστοι εσονται δια τον s αντων λόγους η και ουτοι προς το χαρίζεσθαι τοίς πολίταις ωρμημένοι και ένεκα τον ίδιον τον αντων όλιγωρονντες τον κοινού ώσπερ παισι προσομιλοΰσι τοΐς δημοις χαρίζεσθαι αντοΐς πειρώμενοι μόνον εΐ δε γε βελτίονς εσονται η χείρονς δια ταΰτα ονδέν φροντίζουσιν ΚΑΛ Ονχ άπλονν ετι τοντο έρωτας είσι μέν y a p ο ι κηδόμενοι των πολιτών λέγονσιν a λέγουσιν είσιν ôè και οιονς συ λεγεις ΣΏ Έζαρκεΐ ει γδρ και τουτό εστι διπλοΰν τδ μέν έτερόν που τούτον κολακεία άν εΐη και αισχρά δημηγορία τδ δ έτερον καλόν τδ παρασκεύαζειν όπως ως βέλτισται εσονται των πολιτών ai ψνχαί και διαμάχεσθαι λεγοντα τα βέλτιστα είτε ηδίω είτε αηδέστερα εσται τοΐς ακοΰονσιν αλλ ον πωποτζ συ ταντην aoes την ρητορικήν η ΐ τινα Λ t Λ Λ των ρητόρων τοιοντον ziittiv τι ονγμ και μυι αντον ςφρασας τις στιν ΚΑΛ Αλλά μα Δία ονκ εχω εγωγέ σοι είπεϊν των γε Λ Ç νυν ρητόρων ovoeva ΣΏ Τ ί δέ των παλαιών έχεις τινα είπεϊν δι οντινα αιτίαν εχονσιν Αθηναίοι βελτίονς γεγονέναι επειδή εκείνος ηρζατο δημηγορείν εν τω πρόσθεν χρόνω χείρονς όντες έγω μέν γαρ ονκ οιδα τίς έστιν οντος 198 198 Na Terceira F ilíp ica de 341 a C Dem óstenes recorre a uma distinção semelhante entre uma boa e uma má retórica no seu discurso contra Filipe e con tra aqueles políticos atenienses condescendentes com a expansão do poderio ma cedônio na Hélade A causa disso talvez sejam várias e não é por uma ou duas que nos encon tramos nessa condição Mas se examinardes corretamente descobrireis que isso se deve sobretudo àqueles que preferem vos deleitar a dizer o que é melhor parte deles atenienses zela por aquilo em que se baseiam seu prestígio e poder e não possui qualquer previsão sobre as coisas futuras tam pouco julga que vós deveis fazêlo enquanto outra parte inculpando e difamando aqueles que se ocupam dos afazeres públicos não faz outra coisa senão observar o m odo de a própria cidade condenar a si mesma e de se ater a isso permitindo a Filipe dizer e fazer o que bem quer Esse tipo de ação política embora vos seja habitual é causa de males 23 πολλά μεν ούν ίσως έστιν αίτια τούτων και ού παρ εν ουδέ δύ εις τούτο τα πράγματ άφΐκται μάλιστα δ ανπερ έξετάζητ όρθώς έύρήσετε διά τούς χαρίζεσθαι μάλλον ή τά βέλτιστα λέγειν προαιρούμενους ών τινες μέν ώ άνδρες Αθηναίοι έν οίς GÓRGIAS 369 como mira a fim de que os cidadãos se tornem melhores ao máximo por meio de seus discursos Ou também eles se volvem ao deleite dos espectadores descuram do interesse comum em vista do seu em particular e relacionamse com os povos como se fossem eles crianças tentando apenas deleitálos sem a preo cupação de tornálos melhores ou piores por isso198 5 0 3 c a l Essa não é uma pergunta simples pois há de um lado quem zele pelos cidadãos quando pronuncia seus discursos e quem de outro seja do tipo a que te referes soc Isso basta Se é dúplice uma parte dela seria lisonja e oratória pública vergonhosa ao passo que a outra seria bela que se dispõe para tornar melhores ao máximo as almas dos cidadãos e as defende dizendo o que é melhor seja isso mais aprazível ou menos aprazível aos ouvintes Mas retórica como essa jamais viste199 ou melhor se podes nomear um rétor desse b tipo por que não me disseste quem ele é c a l Mas por Zeus eu não consigo te nomear nenhum rétor contemporâneo soc E então Podes nomear algum antigo rétor por cuja causa os atenienses tenham se tornado melhores depois de ter começado a discursar em público homens que eram anterior mente piores Pois eu não sei quem ele é εύδοκιμοϋσιν αύτοί καί δύνανται ταϋτα φυλάττοντες ούδεμίαν περί τών μελλόντων πρόνοιαν έχουσιν ούκοϋν ούδ ύμας οϊονται δεΐν έχειν έτεροι δε τούς έπι τοις πράγμασιν όντας αίτιώμενοι καί διαβάλλοντες ούδέν άλλο ποιουσιν ή όπως ή μέν πόλις αύτή παρ αυτής δίκην λήψεται καί περί τοϋτ έσται Φιλίππω δ έξέσται καί λέγειν καί πράττειν ό τι βούλεται αί δε τοιαϋται πολιτεΐαι συνήθεις μέν είσιν ύμΐν αίτιαι δέ τών κακών Sobre ο contraste entre ο discurso voltado para o comprazimento da au diência e aquele voltado para o bem comum ver Tucídides 265 Isócrates Sobre a Paz 35 75 126 Antídosis 233234 Demóstenes Terceira Filípica 24 199 Sócrates admite aqui a possibilidade de uma boa retórica ou seja daquela retórica voltada não para o comprazimento mas para o benefício da audiência visando o supremo bem προς τό βέλτιστον 50263 embora ele considere como ficará evi dente na discussão subsequente sobre os grandes políticos de Atenas do séc v aC que ela jamais tenha existido na prática na democracia ateniense Sócrates tornará a se referir a ela adiante como a verdadeira retórica τή άληθινή ρητορική 51735 a qual somente ele senão alguns poucos pratica efetivamente 52id522a Sobre a imagem como o verdadeiro homem político cf supra nota 187 370 GÓRGIAS DE PLATÃO c ΚΑΛ Ti δ ε Θεμιιττοκλεα ονκ ακούεις avbpa αγαθόν γεγονότα και Κίμωνα και Μιλτιάοην και ΤΙερικλεα τοντονϊ τον νεωστι τετελευτηκότα ον και συ άκήκοας Σ Ω Εΐ ίστιν ye ω Καλλίκλεις ην πρότερον σν ελεγες αρετήν αληθής το τάς επιθυμίας άποπιμπλάναι και τας αντον και τάς των άλλων el be μή τούτο άλλ oirep εν τω υστερώ λόγω ήvaγκάσθημev ημείς ό μολογ εϊν ότι αι μev των επιθυμιών πληρονμεναι βελτίω ποιοϋσι τον άνθρωπον d ταυτας μεν άποτελείν αίι δε γείρω μή τοντο δε τεγνη τις εΐη τοιοΰτον avbpa τούτων τινα γεγονεναι ουκ εγω εγωγε 7τως ειττω ΚΑΛ Ά λλ εαν ζητής καλώς ειψήσεις ΣΩ Ί δ ω ιε ν δ οντωσϊ άτρεμα σκσηουμενοι εΐ τις τούτων τοιουτος γεγονεν pepe yap ο αγαθός ανηρ και επι το βέλτιστον λίγων α αν λεγγ άλλο τι ονκ είκή ερεΐ άλλ e άττοβλίττων ττρός τι ωσττερ καί οι άλλοι ττάντες bppiovpyol βλεττοντες προς το αντων εργον έκαστος ονκ είκτ εκλεγό μενος προσφέρει προς το ίργον το αντων άλλ όπως αν εΐοός τι αντω σγβ τοντο ο εργάζεται οϊον εΐ βονλει ίδεΐν τονς ζωγράφους τονς οίκοδόμονς τους ναυπηγούς τους άλλους 20 201 200 Temístocles desempenhou a função de arconte epônimo em Atenas nos anos 493492 aC durante a qual dirigiu a construção das longas muralhas até o Pireu ver Tuddides 1933 Nos anos 483482 aC persuadiu os atenienses a usar os lucros pro venientes das minas de Láurio na ampliação da frota adicionandolhe no mínimo cem trirremes ver Heródoto 7144 Tucídides 1143 Aristóteles C onstituição de A tenas 227 Segundo Heródoto Livros vnix Temístocles serviu como general contra os persas por mar e por terra adquirindo admiração e honra devido a suas estratégias tanto políticas como militares como por exemplo ter ludibriado os persas a entrarem no porto de Salamina movimento decisivo para a vitória das forças helénicas Em 470 aC foi condenado ao ostracismo e se dirigiu para Argos de onde visitou outras cida des Segundo Tucídides 1138 Temístocles aprendeu a língua e os costumes persas e ganhou prestígio junto a Artaxerxes filho de Xerxes rei da Pérsia lá morreu por doença ou segundo outra versão por autoenvenenamento D Nails op cit p 280281 201 Cím on 11 filho de M ilcíades teve uma longa carreira política e foi um dos homens mais influentes em Atenas nas décadas de 470 e 460 aC em especial devido à sua rivalidade com Temístocles Era embaixador de Atenas em Esparta no decreto de Aristides em 479 aC Foi também eleito repetidas vezes general 478477 476475 quando no último ano teria trazido de volta a Atenas os ossos de Teseu ver Heródoto 7107 Tucídides 198 Entre os anos 476 e 463 aC junto a Aris GÓRGIAS 371 c a l E então Não ouves que Temístocles200 fora um bom homem além de Cím on201 M ildades202 e Péricles203 o qual morreu recentemente e cujos discursos também tu ouviste soc Contanto que seja verdadeira Cálicles esta virtude a que te referias na discussão precedente satisfazer os apetites tanto os próprios quanto os alheios Porém se esse não for o caso mas o que na discussão posterior fomos constrangidos a concordar que se deve satisfazer os apetites que uma vez saciados tornam melhor o homem e evitar aqueles que o tor nam pior e que isso seria uma arte pelo menos eu não con sigo nomear algum homem que tenha sido assim c a l Mas se procurares bem descobrirás soc Vejamos então Investiguemos com calma se houve outrora algum homem desse tipo Adiante O homem bom que fala visando o supremo bem não dirá aleatoriamente o que disser mas tendo em vista alguma coisa não é O mesmo su cede aos demais artífices cada um deles tendo em vista o seu próprio ofício não escolhe e aplica os componentes de forma aleatória porém para conferir forma ao que é produzido Por exemplo se quiseres observar os pintores os arquitetos os construtores navais e todos os demais artífices qualquer um à tides Címon sustentou a Liga Delia e comandou a maioria de suas operações No final da década de 460 seu principal rival era Efialtes cujo associado em ascenção na carreira política era Péricles Címon talvez tenha sido processado por Péricles por aceitar suborno de Alexandre da Macedônia em 463 ou 462 aC ver Plutarco Címon 142151 Foi condenado ao ostracismo em 461 conforme registrado nos ostrakas encontrados em expedições arqueológicas Por ação de Péricles Címon retornou a Atenas em 457 aC ver Plutarco Címon 176 e morreu em 450449 aC quando servia como general na campanha contra os persas em Chipre ver Tucídides 1112 D Nails op cit p 9697 202 Milcíades pai de Címon 11 desempenhou a função de arconte epônimo em Atenas nos anos 524523 aC Em 516515 aC foi enviado ao Quersoneso pelo tirano Hípias serviu a Dario rei da Pérsia por algum tempo e logo depois fez parte da chamada Revolta Jónica Com o fracasso da revolta Milcíades retornou a Atenas onde foi processado e absolvido da acusação de tirania no Quersoneso logo depois foi eleito general em 490489 aC Segundo Heródoto 6109110 teve participação decisiva na vitória contra os persas na batalha de Maratona Morreu por causa dos ferimentos decorrentes de uma campanha militar em Paros logo após o episódio de Maratona D Nails op cit p 206207 203 Sobre Péricles cf supra nota 79 372 GÓRGIAS DE PLATÃO 5 0 4 b c πάντας δημιουργούς όντινα βούλα αυτών as eis τάξιν τινά ίκαστος έκαστον τίθησιν ο αν τώη καί ττροσαναγκάζίΐ το eTepov τω ίτίρω π ρίπον τε eivai καί άρμόττε ιν ίως αν το άπαν σνστησηται τταγμίνον re και κΚοσμημίνον πράγμα και οι re ύη άλλοι δημιουργοί και οΰς νυνδη ίλίγομν οι περί το σώμα παιδοτρίβαι re και Ιατροί κοσμοϋσί που το σώμα και συντάττουσιν ομολογουμν οΰτω τούτ ίχΐν V V ου ΚΑΛ Εστω τούτο οΰτω ΣίΙ Τάεωϊ άρα και κόσμου τυχούσα οικία χρηστη άν όίη αταξίας δε μοχθηρά ΚΑΛ Φημί ΣΩ Ουκουν και πλοΐον ωσαύτως ΚΑΛ Ναί ΣΩ Και μην και τα σώματά φαμεν τά ημίτρα ΚΑΛ Πάνν γε ΣΩ Τ ί δ η ψυχή αταξίας τυχουσα ίσται χρηστη η ταξςως τβ και κοσμον τίνος ΚΑΛ 1Ανάγκη ίκ τών πρόσθεν και τούτο συνομολογΪν ΣΩ ι ί ουν ονομα στιν ν τω σωματι τω εκ της rαeωs καί τού κόσμου γιγνομίνω ΚΑΛ Ύγΐΐαν καί ίσχύν ίσως λeγeιs ΣΩ Εγωγ τί δε αυ τω ίν ττ ψνχτ ίγγιγνομίνω ίκ της ταξζως και του κοσμον πΐρω νρΐν και ΠΤΐν ωσπρ έκει τδ όνομα ΚΑΛ Τ ί δε ούκ αυτός λεγει ω Σώκρατς ΣΩ Ά λ λ eí σοι ηδιόν ίστιν ίγω ίρώ συ δί αν μίν σοι δοκώ ίγω καλώς λίγ6ΐν φάθι εί δε μη έλεγχε καί μη 204 Platão salienta aqui os elementos que fazem o trabalho de um artífice δημιουργοί 503ei se configurar como tekhné τέχνη τις 503di imprimir certa forma είδος τι 50364 na matéria com que trabalha de maneira ordenada e não aleatória ούκ είκή 50362 de modo que os elementos estejam em seu conjunto ordenados e arranjados τεταγμένον τε και κεκοσμημένον 504ai adquirindo assim harmonia άρμόττειν 503e8 É interessante observar que Platão no Gór gias considera a pintura como exemplo de atividade técnica tendo em vista seu GÓRGIAS 373 tua vontade verás que cada um deles confere certo arranjo a cada um dos componentes e força que uma coisa se adéque e harmonize à outra até que tudo esteja bem arranjado e orde 504 nado em seu conjunto204 E os outros artífices aos quais há pouco nos referíamos205 os que zelam pelo corpo os treinado res e os médicos também conferem ordem e arranjo ao corpo Concordamos que isso é assim ou não c a l Que assim seja soc Portanto se obtiver arranjo e ordem a casa será útil mas se não os obtiver será inutilizável c a l Confirmo soc Não sucede o mesmo então à embarcação c a l Sim b soc Com efeito podemos dizer o mesmo a respeito de nossos corpos c a l Absolutamente soc E quanto à alma É a ausência de arranjo a tornála útil ou a presença de certo arranjo e ordem c a l A partir do que foi dito antes é inevitável que eu dê mais uma vez a minha anuência soc Que nome terá então aquilo que surge no corpo advindo desse arranjo e dessa ordem c a l Talvez te refiras à saúde e à força soc Sim E que nome terá por sua vez aquilo que surge c na alma advindo desse arranjo e dessa ordem Procura desco brir e dizer o nome como no caso do corpo206 c a l Mas por que não falas tu mesmo Sócrates soc Se te for mais aprazível dirteei mas tu o confirma se te parecer que falo corretamente senão refutame e não cedas método sistemático e a finalidade de produzir um resultado correto T Irwin op cit p 214 Todavia no Livro x da República 596b598c ela é tratada assim como a poesia como imitação deturpada do objeto representado estando três graus afastada do ser τρίτα άπέχοντα του οντος 599a1 ou sejaa eia da coisaa coisa em particular e a coisa imitada pela pintura 205 Cf 464b466a 206 Cf 477bc 374 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 505 επίτρεπε εμοϊ γάρ δοκεΐ raîs μεν του σώματος τάξεσιν όνομα είναι υγιεινόν εξ ου èv αντώ ή νγίεια γίγνεται και ή άλλη άρετη του σώματος εστιν ταΰτα η ουκ ίστιν ΚΑΛ νΕστιν ΣΩ Tatî bé γε της ψυχής τάξεσι καί κοσμησεσιν νόμιμόν re και νόμος οθεν και νόμιμοι γίγνονται και κόσμων ταΰτα δ ίστιν δικαιοσύνη τε καί σωφροσύνη φης η οΰ ΚΑΛ Εστω ΣΩ Ούκοΰν προς ταΰτα βλεπων 6 ρητωρ εκείνος ό τεχνικός re και αγαθός και τούΐ λόγους προσοίσει ταις ψνχαις ους αν λίγη καί τας πράξεις απάσας και δώρον εάν τι δίδω δώσει καί εάν τι άφαιρηται άφαιρησεται προς τούτο αει τον νουν εχων όπως hv αυτοΰ τοΐς πολίταις δικαιοσύνη μεν εν ταις ψυχαΐς γίγνηται αδικία δε άπαλ λάττηται καί σωφροσύνη μεν εγγίγνηται ακολασία δε άπαλλάττηται και η άλλη αρετή εγγίγνηται κακία δε άπίη συγχωρείς η ου ΚΑΛ Συγχωρώ ΣΩ Τί γάρ όφελος ω Καλλίκλεις σώματί γε κάμνοντι και μοχθηρώς διακειμενω σιτία πολλά διδόναι και τα ηδιστα η ττοτα η αλλ οτιουν ο μη ονησα αντο σν οπ 7ΤΛον η τουναντίον κατά γε τον δίκαιον λόγον καί ελαττον εστι ταΰτα ΚΑΛ Εστω ΣΩ Ου γάρ οΐμαι λυσιτελεΐ μετά μοχθηρίας σώματος ζην άνθρώπω ανάγκη γάρ οΰτω και ζην μοχθηρώς η ονχ ούτως ΚΑΛ Ναι ΣΩ Ονκονν καί τας επιθυμίας άποπιμπλάναι dtov πει νώντα φαγεϊν όσον βούλεται η διψώντα πιειν υγιαίνοντα μεν εώσιν oi Ιατροί ως τά πολλά κάμνοντα δε ως έπος 2ογ Platão vislumbra no Górgias a possibilidade de uma boa retórica que vise a promoção da justiça dikaiosunê δικαιοσύνη 504ei e da temperança sõphrosunê σωφροσύνη 504e2 na alma dos cidadãos e não simplesmente seu comprazimento contudo não faz qualquer menção ao tipo de constituição política que condicionaria o GÓRGIAS 375 Pareceme que os arranjos do corpo denominamse saudáveis os quais são a origem da saúde e de toda e qualquer virtude do corpo É isso ou não é c a l É soc E os arranjos e ordenamentos da alma se denominam d legítimos e lei com o que as almas se tornam legítimas e ordenadas Isso é a justiça e a temperança Confirmas ou não c a l Seja soc Portanto aquele rétor o técnico e bom terá isso em vista quando volver às almas os discursos que vier a proferir e todas as suas ações e lhes presenteará caso houver algo a ser presenteado e lhes furtará caso houver algo a ser furtado Ele terá sua mente continuamente fixa nesse escopo a fim de que a justiça surja nas almas de seus concidadãos e da injustiça se e libertem a fim de que a temperança surja e da intemperança se libertem a fim de que toda e qualquer virtude surja e o vício parta207 É do teu consentimento ou não c a l É soc E que vantagem há Cálicles para o corpo doente e mísero quando se lhe oferece inúmeras comidas aprazíveis ou bebidas ou qualquer outra coisa do gênero se isso conforme o argumento justo não lhe favorece mais do que a prescrição contrária ou até mesmo menos Não é isso c a l Sim 505 soc Pois julgo eu não é vantajoso que o homem viva com o corpo mísero pois ele terá necessariamente uma vida mísera Não é o que acontece c a l Sim soc Então os médicos geralmente permitem que o homem saudável satisfaça seus apetites como por exemplo comer o quanto quiser quando faminto ou beber quando sedento enquanto ao surgimento desse orador técnico e bom ó τεχνικός τε και αγαθός 5Hd6 se na pró pria democracia embora Sócrates considere que em Atenas jamais houve um político dessa natureza 503b ou se numa outra forma de constituição política em que os governantes detém poder absoluto Sobre a boa retórica cf supra nota 199 376 GÓRGIAS DE PLATÃO είπεΐν ονόέποτ έωσιν εμπίμιτλασθαι ων επιθυμεί συγχωράς τοντό γε και σύ ΚΑΛ Εγωγς ΣΩ ΓΚρι Òè ψυχήν ω αριστε ουχ ό αυτοί τρόπος εως μν αν πονηρά η ανόητος τε ονσα και ακόλαστος και άδικος και ανόσιος εϊργειν αυτήν ôeí των επιθυμιών καί μη έπιτρέπειν αλλ αττα ποιεΐν η αφ ων βελτίων έσταί φης η ον ΚΑΛ Φημί Σί2 Οΰτω γάρ που αυτή όμεινον τή ψνχή ΚΑΛ Πάνυ ye ΣΩ Ουκοΰν το εϊργειν έστιν άφ ων επιθυμεί κολάζίΐν ΚΑΛ Ναι 1 ΣΩ Το κολάζσθαι αρα τη ψυχή άμεινόν έστιν η η ακολασία ώσπερ τί νννόη ωον ΚΑΛ Ονκ οΐδ αττα λέγεις ω Σωκρατες αλλ άλλον τινα έρωτα ΣΩ Οντος άνήρ ούχ υπομένει ωφελούμενος και αυτός τούτο πασχών περί ου δ λόγος έστί κολαζόμενος ΚΑΛ Οίδέ γέ μοι μέλει ονόέν ων συ λέγεις και ταντά σοι Γοργίου χάριν απεκρινάμην ΣΩ ΕΓίΐ τί ουν όη ποιήσομεν μεταξύ τον λόγον καταλυομεν ΚΑΛ Αυτός γνώση ΣΩ Ά λλ ουδέ τους μύθους φασι μεταξύ θέμις είναι καταλείπειν άλλ έπιθέντας κεφαλήν ϊνα μή αν ευ κεφαλής 208 Por meio da analogia entre o corpo saudável e a alma saudável e entre seus estados contrários Sócrates oferece uma objeção ulterior à tese hedonista de Cálicles 49ie492b segundo a qual a felicidade do homem εύδαίμων 49ie6 consiste na sua capacidade de permitir que os apetites τάς έπιθυμίας 49ieg en grandeçam ao máximo para assim satisfazêlos Assim como o corpo doente não pode satisfazer seus apetites por causa da restrição do regime imposto pelo médico em vista da recuperação de sua saúde também a alma intemperante não pode satifa zer plenamente seus apetites devido à sua condição viciosa se seu escopo é curarse do mal que lhe é próprio estultícia intemperança injustiça impiedade 505023 Portanto em resposta à tese hedonista de Cálicles não é o intemperante mas o temperante que se encontra na condição de satisfazer seus apetites άποτημπλάναι 505a6 desde que tais apetites não venham a prejudicar sua alma Nesse sentido GÓRGIAS 377 doente eles jamais permitem por assim dizer a satisfação do que lhe apetece não é Consentes mais uma vez c a l Consinto soc E à alma excelente homem não sucede o mesmo b Enquanto for viciosa por ser estulta intemperante injusta e ímpia ela deverá resistir aos apetites e não se permitir fazer senão aquilo que a torne melhor208 Confirmas ou não c a l Confirmo soc Pois assim é melhor para a própria alma não é c a l Absolutamente soc Então resistir aos apetites não é punila c a l Sim soc Portanto a punição é melhor para a alma do que a intemperança como tu há pouco presumias209 c a l Não entendo o que dizes Sócrates mas interroga ou c tra pessoa qualquer soc Esse homem não tolera ser beneficiado e sofrer aquilo sobre o que discutimos ser punido210 c a l Nada do que dizes me interessa e é por Górgias que eu respondia às tuas perguntas211 soc Seja O que faremos então Encerramos a discussão no meio c a l Hás de saber tu soc Mas como dizem nem os mitos é lícito abandoná los no meio porém se deve acrescentarlhes antes a cabeça d a fim de que não perambulem por aí decapitados212 Então tanto Cálicles quanto Sócrates acreditam que a felicidade de uma forma ou de outra está associada à satisfação dos apetites mas para Sócrates somente o tem pérante se encontra na condição saudável de satisfazêlos de modo razoável T Irwin op cit p 194 209 Platão joga com a semântica do verbo κολάζειν kolazein que signi fica tanto punir como vem sendo traduzido quanto refrear da mesma raiz de ακολασία akolasia intemperança Portanto refrear os apetites da alma intem perante akolastos άκόλαστος significa punila 210 Ou seja ser refreado κολαζόμενος 505C4 de sua intemperança 211 Cf 497bc 212 A mesma imagem é referida por Platão em outros diálogos ver Fedro 264c Filebo 66d Timeu 69b Leis 752a 378 G Ó R G IA S D E P L A T à O e 506 Trepitr άπόκριναι ουν και τα λοιπά ΐνα ημΐν ό λόγος κεφαλήν λάβτ ΚΑΛ Ώ ί βίαιος el ω Σωκρατες εάν be εμοι πείθη εάσεις χαίρειν τούτον τον λόγον η καί άλλω τω διάλεξη ΣΩ Τις ουν άλλος εθελει μη γάρ τοι ατελή ye τον λόγον καταλίπωμεν ΚΑΛ Αυτός be ούκ αν δυναιο διελθεΐν τον λόγον η λεγων κατα σαυτον η αττοκρινομενος σαυτω ΣΩ Ινα μοι ro του Επιχάρμου γενηται a προ του δυο άνδρες ελεγον είς ων Ικανός γενωμαι άτάρ κινδυ νεύει άναγκαιότατον είναι ούτως εΐ μεντοι ποιησομεν οιμαι εγωγε χρηναι πάντας ημάς φιλονίκως εχειν προς το εώεναι το αληθές τί εστιν περί ων λεγομεν καί τί ψεύδος κοινόν γάρ αγαθόν άπασι φανερόν γενεσθαι αυτό δίειμι μν ονν τω λογω βγω ω αν μοι Ooktj βχβιζ eav Μ τω νμων μη τα οντα οοκω ομολογΐν βμαυτω χρη αντιλαμ βάνεσθαι και ελεγχειν ουδέ γάρ τοι εγωγε είδως λέγω λέγω άλλα ζητώ κοινή μεθ υμών ώστε άν τι φαίνηται 213 213 Epicarmo fr 253 Kaibel fr 16 Diels Em seu comentário ao Górgias Olimpiodoro afirma que esse poeta havia composto uma comédia na qual duas personagens dialogam mas acaba uma falando também pela outra 3413 Dodds contudo considera mera conjetura de Olimpiodoro op cit p 332 No Teeteto Platão se refere a Epicarmo nos seguintes termos soc E sobre isso sejam colocados em conjunto e em ordem exceto Parmênides todos os sábios Protágoras Heráclito e Empédocles e dentre os poe tas os expoentes de uma e de outra poesia da comédia Epicarmo e da tragédia Homero 152625 G Ó R G IA S 379 respondeme o que resta para que nossa discussão adquira uma cabeça c a l Como és agressivo Sócrates Se creres em mim dá adeus a essa discussão ou dialoga com outro qualquer soc Quem desejaria então Não abandonemos de forma alguma inconclusa a discussão c a l Mas tu próprio não serias capaz de expor o argumento ora falando ora respondendo a ti mesmo soc Para me valer do dito de Epicarmo eu serei sufi ciente mesmo sendo um só para o que dois homens diziam previamente213 Pois bem é provável que isso seja absoluta mente necessário Todavia se tomarmos essa decisão julgo que todos nós devamos almejar a vitória em saber o que é verdadeiro e o que é falso em relação ao que dizemos pois é um bem comum a todos que isso se esclareça214 Farei a expo sição do argumento então como me parecer melhor mas se algum de vós achar que eu concordo comigo mesmo a respeito de coisas que não são o caso será seu dever então tomar a pa lavra e refutarme Pois eu de fato não falo como conhecedor do que falo mas empreendo convosco uma investigação em comum de modo que se quem diverge de mim disserme algo και περί τούτου πάντες έξης oi σοφοί πλήν Παρμενίδου συμφερέσθων Πρωταγόρας τε καί Ηράκλειτος καί Εμπεδοκλής καί τών ποιητών οί ακροι τής ποιήσεως έκατέρας κωμωδίας μεν Επίχαρμος τραγωδίας δέ Ομηρος 2ΐ4 Sócrates recorre aqui a um oximoro associando a busca pela verdade προς το είδέναι τό άθληθές τί έστιν 50504 própria do diálogo de cunho filosófico ao comportamento competitivo das disputas verbais erísticas φιλονίκως 50564 cujo escopo precípuo é refutar o interlocutor por qualquer meio independente mente da verdade das conclusões a que se chega Sobre a distinção entre diálogo filosófico e diálogo erístico cf supra nota 32 380 G Ó R G IA S D E P L A T à O λέγων δ άμφισβητων εμοί εγίο 7τρωτός σνγχωρησομαι Aeyio μεντοι ταντα εί δοκεΐ χρψαι διαπερανθηναι τον λόγον d δε μη βούλεσθε εωμεν ήδη γαίρειν καί άπίωμεν ΓΟΡ Ά λλ εμοί μεν ου δοκεΐ ω Σωκράτης χρηναί πω απιέναι άλλα διεζελθεΐν σε τον λόγον φαίνεται δε μοι καί róis αλλοΐί δοκέΐν βούλομαι γαρ εγωγε και αυτοί ακονσαί σου αυτόν διιόντοί τα επίλοιπα ΣΏ Άλλα μεν δη ω Γοργία καί αυτοί ηδεωί μεν αν Καλλικλεΐ τούτω ετι διελεγόμην εωί αυτω την του Άμ φίονοί απεδωκα ρησιν αντί τηί τού Ζηθον επειδή ôè σύ ω Καλλίκλεΐί ουκ εθελεΐί σννδιαπεραναι τον λόγον άλλ 215 Visto que Cálicles nega enfim sua participação como interlocutor do diálogo Sócrates recorre então ao monólogo desempenhando tanto a função de inquiridor quanto a de inquirido e convida a plateia a supervisionar a condução do argumento substituindo parcial e momentaneamente o papel até então exercido por Cálicles O apelo de Sócrates à sua proverbial ignorância que se dá em certos contextos específicos nos diálogos platônicos contrasta com seu comportamento positivo no Górgias em que ele se apresenta como defensor fervoroso de suas te ses morais e se apoia na convicção de que por meio de um diálogo corretamente conduzido é possível se alcançar a completude da verdade τέλος τής αλήθειας 487e7 O argumento usado por Sócrates para explicar o sentido de sua ignorância se encontra sobretudo nesta passagem da Apologia Depois de ouvir isso de Querefonte fiz a seguinte reflexão o que quer dizer o deus qual será o enigma Não tenho eu o mínimo conhecimento de que sou sábio o que ele quer dizer então afirmando que eu sou o homem mais sábio Pois decerto não está mentindo não lhe é lícito E por longo tempo fiquei sem sa ber o que ele queria dizer Tempos depois embora relutante volvime para uma investigação do gênero dirigime a um homem que parecia ser sábio para assim refutar o oráculo e mostrar a ele que Esse homem é mais sábio do que eu mas tu afirmaste que era eu Examinando então esse homem não preciso referir seu nome mas era um dos políticos com o qual investigando e dialogando ó atenien ses tive uma experiência do gênero pareceume que esse homem parecia ser sábio à grande massa de homens e sobretudo a si mesmo sem sêlo Em seguida tentei mostrarlhe que ele presumia ser sábio mas não o era Como consequência torneime odiável a esse e aos demais homens que estivessem ali presentes Depois de partir então refletia comigo mesmo que mais sábio do que este homem eu sou é provável que nenhum de nós conheça algo de belo e bom mas ele presume saber algo embora não o saiba enquanto eu porque não sei tampouco presumo saber É plausível portanto que em alguma coisa ainda que diminuta seja eu mais sábio do que ele precisamente porque o que não sei não presumo sabêlo 2ib2d7 ταϋτα γάρ έγώ άκούσας ένεθυμούμην ούτωσί Τί ποτέ λέγει ό θεός και τί ποτέ αίνίττεται έγώ γάρ δή ούτε μέγα οϋτε σμικρόν σύνοιδα έμαυτώ σοφός ών τί οΰν ποτέ λέγει φάσκων έμέ σοφώτατον είναι ού γάρ δήπου ψεύδεται γε ού γάρ G Ó R G IA S 381 manifesto serei eu o primeiro a consentilo215 Digo essas coi sas contudo se parecer melhor que eu deva concluir a dis cussão mas se não quiserdes nos despeçamos agora mesmo e partamos g o r Pareceme Sócrates que não devemos partir agora e que deves tu expor o argumento Que essa é a opinião dos de mais está manifesto De minha parte quero te ouvir percor rendo por ti mesmo o que lhe resta216 soc Para mim Górgias seria um prazer continuar o diá logo com Cálicles enquanto não tivesse lhe restituído o dis curso de Anfíon em objeção ao de Zeto217 Mas visto que tu Cálicles não desejas concluir comigo a discussão então ouveme θέμις αύτώ και πολύν μέν χρόνον ήπόρουν τί ποτέ λέγει έπειτα μόγις πάνυ έπί ζήτησιν αϋτοϋ τοιαύτην τινά έτραπόμην ήλθον έπί τινα των δοκούντων σοφών είναι ώς ενταύθα εϊπερ που έλέγξων τό μαντεϊον και άποφανών τώ χρησμώ ότι Ούτοσι έμοϋ σοφώτερός έστι σύ δ έμέ έφησθα διασκοπών ούν τοϋτονόνόματι γάρ ούδέν δέομαι λέγειν ήν δε τις τών πολιτικών προς ον έγώ σκοπών τοιοϋτόν τι έπαθον ώ ανδρες Αθηναίοι και διαλεγόμενος αύτώέδοξέ μοι ούτος ό άνήρ δοκεϊν μέν είναι σοφός αλλοις τε πολλοίς άνθρώποις καί μάλιστα έαυτώ είναι δ οΰ κάπειτα έπειρώμην αύτώ δεικνύναι ότι οϊοιτο μέν είναι σοφός εϊη δ οΰ έντεύθεν ούν τούτω τε άπηχθόμην καί πολλοίς τών παρόντων προς έμαυτόν δ ούν άπιών έλογιζόμην οτι τούτου μέν τού ανθρώπου έγώ σοφώτερός είμι κινδυνεύει μέν γάρ ημών ούδέτερος ούδέν καλόν κάγαθόν είδέναι άλλ ούτος μέν οίεταί τι είδέναι ούκ είδώς έγώ δε ώσπερ ούν ούκ οίδα ούδέ οϊομαι έοικα γοϋν τούτου γε σμικρώ τινι αύτώ τούτω σοφώτερος είναι ότι ά μή οίδα ούδέ οϊομαι είδέναι 216 Assim como a intervenção de Cálicles garantiu a continuidade da discussão entre Sócrates e Górgias quando este manifestou a vontade de abandonála 458bd Górgias intervém mais uma vez no diálogo e com seu poder de autoridade solicita que Sócrates prossiga no monólogo Platão usa tanto a voz de Cálicles naquela opor tunidade quanto a de Górgias neste momento para trazer à cena a plateia que essa é a opinião dos demais τοΐς αλλοις δοκεϊν 5o6bi2 que de uma forma ou de ou tra tem uma participação importante na dinâmica dialógica No primeiro momento 458bd Górgias não pôde uma vez diante de seu próprio público recusar o debate pois essa atitude prejudicaria sua reputação de sábio e não seria condizente com o que ele próprio havia professado no início do diálogo 448813 No segundo momento a presença da plateia justifica de certa forma o proceder de Sócrates pois o monólogo 506C5509C4 pelo próprio termo é a negação do diálogo do princípio elementar da filosofia uma conversa entre duas pessoas uma na função de inquiridor e outra na de inquirido como Sócrates define reiteradamente na discussão com Górgias e Polo 449bc 4716247204 Nesse sentido o interesse de Sócrates não seria mais o convencimento de Cálicles cuja recalcitrância se manifesta indelével mas da própria plateia ou de parte dela composta pelos discípulos ou admiradores de Górgias como uma ave de rapina sobre um rebanho alheio 217 Cf 485e486d 382 G O R G IA S D E P L A T A O ovv εμού γε άκούων επιλαμβάνον Ιάν τί σοι δοκώ μη καλώς λεγειν καί με εαν εξελεγχης ονκ άχθεσθησομαί σοι ωσπep συ exoi αλλα μγιστοί evepyenjs Trap μοι άναγεγράψη ΚΑΑ Aeye ώγαθε αυτός καί περαινε ΣΩ Ακούε δη εξ αρχής εμού άναλαβόντος τον λόγον Αρα ro 7δυ και το αγασου το αυτό στιυ ϋυ ταυτου ώ εγώ καί Καλλικλης ώμολογησαμεν ΐΐότερον δε το ηδυ ενεκα τον αγαθόν πρακτέον η τό αγαθόν ενεκα του ηδεος Τό ήδύ ενεκα τον αγαθόνΉδυ δε εστιν τούτο ου παραγενομενου ηδόμεθα αγαθόν δε ου παρόντος αγαθοί εσμεν ΐίάνν γε Άλλα μην αγαθοί γέ εσμεν καί ημείς καί ταλλα πάντα δσ αγαθά εστιν αρετής τίνος παραγενο μενηςνΕμοιγε δοκεΐ άναγκαΐον είναι ώ Καλλίκλεις Άλλα μεν δη η γε αρετή έκαστου και σκεύους και σώματος καί ψυχής αύ καί ωου παντός ού τω είκη κάλλιστα παρα γίγνεται άλλα τάξει καί όρθότητι καί τέχνη ητις εκάστω άποδεδοται αυτών άρα εστιν ταντα Εγώ μεν γάρ φημι αξει αρα τεταγμενον και κεκοσμημενον εστιν η αρετή έκαστου Φαίην αν εγωγεΚοσμοϊ τις άρα εγγενόμενος εν εκάστω ό έκαστου οικείος αγαθόν παρεχει έκαστον των όντων Έμοιγε δοκεϊ Και ψυχή αρα κόσμον εχουσα τον εαυτης άμείνων της ακόσμητουΑνάγκηΆλλα μην G Ó R G IA S 383 e toma a palavra se te parecer que eu não falo corretamente E se me refutares não me irritarei contigo como te irritaste comigo c mas terás te inscrito como o meu sumo benfeitor c a l Fala por ti mesmo bom homem e conclui a discussão soc Escuta então a recapitulação do argumento desde o princípio Porventura o aprazível e o bem são o mesmo Não são o mesmo como eu e Cálicles havíamos concor dado218 Devese fazer o aprazível em vista do bem ou o bem em vista do aprazível O aprazível em vista do bem219 E aprazível é aquilo com cujo advento nos comprazemos e bom aquilo por cuja presença somos bons220 d Absolutamente Mas decerto nós como tudo quanto é bom somos bons devido ao advento de alguma virtude Pareceme ser necessário Cálicles Contudo a virtude de cada coisa seja do artefato do corpo da alma ou de qualquer outro vivente não advém da maneira mais bela aleatoriamente mas pelo arranjo pela correção e pela arte relativa a cada uma delas221 Porventura não é isso Confirmo E a virtude de cada coisa não consiste em ser arranjada e e ordenada pelo arranjo Eu diria que sim Portanto há certa ordem apropriada a cada coisa que torna boa cada uma delas quando ela lhe advém Pareceme Portanto a alma dotada da ordem que lhe é própria é me lhor do que a desordenada Necessariamente 218 Cf 499c 219 Cf 500a 220 Cf 497de 221 Cf 503e 384 G Ó R G IA S D E P L A T à O ή ye κόσμον eχουσα κοσμία Πώϊ yap ου μελλειΊ ΐ be ye κοσμία σωφρων Πολλή ανάγκη Η άρα σωφρων ψυχή αγαθή όγώ μεν ουκ εχω παρά ταΰτα άλλα φάναι ώ ψίλε Καλλίκλει σν δ el εχείί δίδασκε ΚΑΛ Aey ώγαθό Σί2 Λεω δη on el η σωφρων αγαθή ίστιν η του ναντίον τη σώφρονι πεπονθυϊα κακή εστιν ην δε αυτή η άφρων τε καί ακόλαστό Πάνα ye Καί μην ο ye σω φρων τα προσήκοντα πράττοι αν καί περί 0eobi καί 7τερί ανθρώπους ου γάρ άν σωφρονοΐ τα μή προσήκοντα πράτ των Ανάγκη ταατ είναι ουτω Καί μην περί μέν άνθρώ V f ΐ ν που τα προσήκοντα πραττων qlkcu αν πραττοι πζρι oe θους όσια τον oe τα οικαια και όσια πραττοντα αναγκη δίκαιον και όσιον είναιΈστι ταΰταΚαί μεν δη καί ανδρείάν ye ανάγκη ου γάρ δή σώφρονος άνδρός όστιν οατε διώκειν ούτε φeύγeιv α μή προστκει άλλ ά δει καί πρά γματα καί ανθρώπους καί ήδονάς καί λύπας φevγeιv καί διώκειν καί ΰπομίνοντα Kaprepeiv οπού δεί ώστε πολλή ανάγκη ώ Καλλίκλει τον σώφρονα ώσπερ διήλθομεν δίκαιον οντα καί άνδρείον καί όσιον αγαθόν άνδρα είναι τελεω τον δε αγαθόν εδ τε καί καλώς πράττΐν ά άν πράττη τον δ εδ πράττοντα μακάριόν τε καί εαδαίμονα είναι τον δε πονηρόν καί κακώς πράττοντα άθλιον οΐιτος 2 222 Platão Eutífron i2ei8 soc Tenta então esclarecerme também tu qual parte do justo é pia a fim de dizermos a Meleto que não mais cometa injustiça contra nós e não nos acuse de irreverência visto que tu já nos ensinaste suficientemente o que é reverente e pio e o que não é e u t Pois bem Sócrates pareceme que a parte do justo que é reverente e pia é aquela que diz respeito ao zelo pelos deuses ao passo que a que diz respeito ao zelo pelos homens é a parte restante do justo ΣΩ Πειρώ δή και σύ έμέ οϋτω διδάξαι τό ποιον μέρος του δικαίου όσιόν έστιν ϊνα και Μελήτψ λέγωμεν μηκέθ ήμας άδικεϊν μηδέ άσεβείας γράφεσθαι ώς ίκανώς ήδη παρά σου μεμαθηκότας τά τε ευσεβή και όσια καί τα μή GÓRGIAS 385 Mas a alma dotada de ordem é ordenada E como não seria E a alma ordenada é temperante É absolutamente necessário Portanto a alma temperante é boa Eu não tenho nada mais 507 a acrescentar meu caro Cálicles Se tiveres algo a dizer ensina nos c a l Fala bom homem soc Digo que se a alma temperante é boa aquela que se encontra no estado contrário ao da temperante é má eis a alma estulta e intemperante Com certeza Com efeito o homem temperante faria o que convém fazer em relação aos deuses e aos homens pois não seria temperante se não fizesse o que convém É necessário que seja assim b Com efeito se fizer o que convém fazer em relação aos ho mens ele fará coisas justas e se fizer o que convém fazer em relação aos deuses coisas pias222 Quem faz coisas justas e pias é necessariamente justo e pio Sem dúvida E além disso é necessariamente corajoso Pois não é próprio do homem temperante encalçar e evitar o que não é conve niente mas encalçar e evitar o que é devido seja isso coisas ou homens prazeres ou dores e persistir e resistir onde é devido fazêlo Por conseguinte Cálicles é de absoluta necessidade que c o temperante tal como o retratamos seja um homem perfei tamente bom visto que é justo corajoso e pio223 e que o homem bom aja bem e de forma correta quando age e que quem age bem seja venturoso e feliz enquanto quem é vicioso e age mal ΕΥΘ Τούτο τοίνυν εμοιγε δοκεΐ ώ Σώκρατες το μέρος τού δικαίου είναι ευσεβές τε και όσιον το περί τήν των θεών θεραπείαν τό δε περί τήν τών ανθρώπων το λοιπόν είναι τού δικαίου μέρος 223 Sobre a unidade das virtudes ver Platão Protágoras 328d334C 3 8 6 GÓRGIAS DE PLATÃO δ àv Ϊη o όναντίως 0ων τω σώφρονι ό ακόλαστοί όν συ èirfiveLS Eyou μν ουν ταύτα ούτω τίθεμαι καί φημι ταντα αληθή eivai ei δε ίστιν αληθή τον βονλόμ6νον ώί eoiKev ev ϋαίμονα eivai σωφροσύνην μν διωκτύον και άσκητίον ακολασίαν δε φενκτύον ώί εχει ποδων όκαστος ημών και 7ταρασκναστίον μάλιστα μν μηδϊν δεΐσβαι του κολάζεσθαι èuv δε 0ηθή ή αυτοί ή άλλος tis των οικείων ή ιδιώτης ή πόλις ίπι0τίον δίκην και κολαστίον el μéλλeι υδαίμων eivai οΰτος εμoiye δοκεί ό σκοπός eivai προς ον βλύ ποντα δει ζήν και πάντα eis τούτο τα αΰτοΰ avvTeívovTa και τα τής πδλεωί όπως δικαιοσύνη παρίσται και σωφρο σύνη τω μακαρίω μύλλοντι Ζσεσθαι οΰτω πράττΐν ουκ επιθυμίας ϊώντα ακολάστους eivai και ταύτας όπνχιρούντα πληρούν άνήνυτον κακόν ληστον βίον ζώντα ome yáp αν αλλω ανθρώπω προσφιλής àv eírj ό τοιοντος οίτε 0εω κοινωνΐν yáp αδύνατος ότω δε μή evi κοινωνία φιλία ουκ αν Ϊη φασι δ οι σοφοί ω Καλλίκλεΐϊ και ουρανόν και 24 25 224 Vejamos o esquema completo do argumento de Sócrates 506C5507C7 i O aprazível e o bem não são o mesmo ii o aprazível dever ser feito em vista do bem e não o bem em vista do aprazível iii o aprazível é aquilo que confere prazer ao passo que o bem é aquilo que nos torna bons iv um homem é bom na medida em que a virtude está presente nele v a virtude não está presente aleatoriamente mas pelo arranjo correção e arte vi então uma alma ordenada e boa é melhor do que uma desordenada e má porque ela é temperante ao passo que a desordenada e má é intempérante vii o homem temperante faz o que é conveniente em relação a deuses e homens ie ele é pio e justo ele é também corajoso encalçando e evitando o que deve ser encalçado e evitado viii portanto na medida em que o temperante é justo corajoso e pio ele faz o que é bom e correto e é feliz e na medida em que o intempérante faz ó que é mau e vergonhoso ele é infeliz J Beversluis op cit p 361 225 As ações do homem intempérante têm como fim a satisfação de seus apetites sendo ele incapaz de refreálos Nessa busca incessante pela satisfação ele acaba por incorrer em atos injustos na medida em que não é capaz de observar o interesse comum em detrimento de seus próprios interesses quando se requer dele o refreamento de seus apetites Portanto o homem intempérante não consegue es tabelecer relações de amizade e por conseguinte viver em comunidade No mito atribuído por Platão à personagem Protágoras no diálogo homônimo a justiça e o GÓRGIAS 3 8 7 seja infeliz Esse seria o homem cujo estado é contrário ao do temperante o intemperante o qual louvavas224 Eu então coloco as coisas nestes termos e afirmo que são verdadeiras Se elas são verdadeiras quem quer ser feliz deve como é plausível encalçar e exercitar a temperança e escapar da d intemperança com os pés tão céleres quanto possamos mantêlos e disporse sobretudo para não precisar de qualquer punição Mas se a própria pessoa ou algum parente seu um cidadão co mum ou uma cidade dela precisar então deverá pagar a justa pena e ser punido caso intente ser feliz Esse me parece ser o es copo com cuja observância se deve viver e segundo o qual se deve agir concentrando nele todos os esforços privados e públicos para que a justiça e a temperança estejam presentes em quem e pretende ser venturoso impedindo que os apetites se destempe rem e tentando saciálos um mal inexaurível enquanto se leva uma vida de gatuno Pois um homem daquele tipo não nutriria amizade por outro homem tampouco por um deus porque é incapaz de viver em comunidade e onde não há comunidade não existiria amizade225 Os sábios dizem Cálicles que o céu e a pudor αιδώ τε καί δίκην 322α são enviados por Zeus como condição de possi bilidade da vida na pólis como ilustra bem esta passagem Zeus então temeroso de que nossa geração perecesse por completo envia Hermes aos homens portando justiça e pudor para que houvesse ordem nas cidades e vínculos estreitos de amizade Hermes pergunta então a Zeus de que modo ele daria aos homens justiça e pudor assim como estão distribuídas as artes devo distribuir também estas As artes estão distribuídas da seguinte maneira um único médico é suficiente para muitos homens comuns e o mesmo se aplica aos demais artífices É assim que devo infundir nos homens justiça e pudor ou distribuílos a todos A to dos disse Zeus é que todos participem de ambos pois não haveria cidades se ape nas poucos homens deles participassem tal como sucede às demais artes E em meu nome institui a lei segundo a qual se deve matar aquele que é incapaz de participar da justiça e do pudor como se fosse ele uma doença da cidade 322cid5 Ζεύς ούν δείσας περι τώ γένει ημών μή άπόλοιτο παν Έρμήν πέμπει άγοντα εις άνθρώπους αιδώ τε και δίκην ϊν είεν πόλεων κόσμοι τε και δεσμοί φιλίας συναγωγοί έρωτά ούν Ερμής Δία τίνα ούν τρόπον δοίη δίκην και αιδώ άνθρώποις Πότερον ώς αί τέχναι νενέμηνται οΰτω και ταύτας νείμω νενέμηνται δε ώδε εις εχων ιατρικήν πολλοις ικανός ίδιώταις και οί άλλοι δημιουργοί καί δίκην δή και αιδώ οΰτω θώ έν τοΐς άνθρώποις ή έπί πάντας νείμω Επί πάντας εφη ό Ζεύς και πάντες μετεχόντων ού γάρ αν γένοιντο πόλεις εί ολίγοι αύτών μετέχοιεν ώσπερ άλλων τεχνών και νόμον γε θές παρ έμοϋ τον μή δυνάμενον αίδούς καί δίκης μετέχειν κτείνειν ώς νόσον πόλεως 388 GÓRGIAS DE PLATÃO 508 γην και θεούς και ανθρώπους την κοινωνίαν συνεχειν και φιλίαν καί κοσμιότητα και σωφροσύνην και δικαιοτητα και το όλον τούτο διά ταυτα κόσμον καλοϋσιν ώ εταίρε ουκ ακοσμίαν ουδέ ακολασίαν συ δε μοι δοκεΐς ου προσ εχειν τον νουν τούτοις καί ταυτα σοφός ών άλλα λεληθεν σε οτι η ίσότης η γεωμετρική καί εν θεοϊς και εν άνθρώποις μεγα δύναται συ δ πλεονεξίαν οΐει δείν ασκείν γεωμε τρίας γάρ αμελείς είεν η εξελεγκτεος δη ουτος ό λόγος b ήμΐν εστιν os ου δικαιοσύνης και σωφροσύνης κτήσει ευδαί μονες οι ευδαίμονες κακίας δε ol άθλιοι η εί ουτος αληθης ΐστιν σκεπτεον τί τα συμβαίνοντα τα πρόσθεν εκείνα ω Καλλίκλεις συμβαίνει πάντα εφ οίς συ με ηρου εί σπουδάζων λεγοιμι λεγοντα ότι κατηγορητεον εΐη καί αυτού t f t r t και veos και eraipov αν τι αοικρ και rrj ρητορικρ ΐτι τούτο χρηστεον και a ΤΙώλον αισχύνη ωου συγχωρεΐν αληθη αρα ην τό είναι τό άδικεΐν τού άδικεΐσθαι οσωπερ c αίσχιον τοσούτω κάκιον και τον μέλλοντα όρθώς ρητορικόν εσεσθαι δίκαιον άρα δει είναι και επιστήμονα των δικαίων ό αύ Γοργίαν εφη Πωλοΐ δι αισχύνην δμολογησαι Τ ούτων δε ούτως εχόντων σκεψώμεθα τί ποτ εστιν a συ εμοι ονειδίζεις αρα καλώς λεγεται η ου ώς αρα εγώ ούχ οΐός τ ειμι βοηθησαι ούτε εμαυτω οϋτe των φίλων ουδενι ουδέ των οικείων ουδ εκσώσαι εκ των μεγίστων κινδύνων ειμι δε επι τω βουλομενω ώσπερ οι άτιμοι τού εθελοντος d άντε τύπτειν βούληται τό νεανικόν δη τούτο τό τού σοΰ Na psicologia moral desenvolvida por Platão no Górgias por sua vez não apenas a justiça mas também a temperança aparecem como condição de possibi lidade da vida em comunidade tendo em vista a relação necessária entre essas duas virtudes όπως δικαιοσύνη παρέσται και σωφροσύνη 507d8ei 226 Sobre a função da amizade numa perspectiva cosmológica ver Empé docles d k 31 B26 em Die Fragmente der Vorsokratiker 227 Segundo Dodds op cit p 339 igualdade geométrica significaria a igualdade das razões encontrada no que é chamado de progressão geométrica por ex na série 2468 onde 24 48 816 Ela por sua vez contrastaria com a igualdade numérica e com a progressão geométrica em que a razão obtida entre os termos menores das séries é maior do que a obtida entre os termos maiores por ex na série 2468 24 é maior do que 46 que é maior do que 68 GÓRGIAS 389 terra os deuses e os homens a amizade e o ordenamento a tem perança e a justiça constituem uma comunidade e por essa ra zão meu caro chamam a totalidade de cosmos de ordem e não de desordem ou de intemperança226 Tu porém não me pareces zelar por eles mesmo sendo sábio em assuntos do gênero e es queces que a igualdade geométrica tem um poder magnífico en tre deuses e homens227 Mas a tua opinião é que se deve buscar possuir mais já que descuras da geometria Assim seja Devemos então ou refutar este argumento de que os homens felizes são felizes pela aquisição da justiça e da temperança e os infelizes pela aquisição do vício ou se for verdadeiro examinar as suas consequências As consequências Cálicles são todas aquelas alu didas anteriormente quando tu me perguntaste se eu falava com seriedade afirmando que se deve acusar a si próprio ou a um filho ou companheiro caso tenha cometido alguma injustiça e que era esse o uso devido da retórica228 era verdadeiro portanto o que segundo teu juízo Polo havia consentido por vergonha que ser injusto e cometer injustiça é tanto mais vergonhoso quanto pior do que sofrêla e que portanto deve ser justo e co nhecedor do que é justo quem intenta ser um rétor correto com o que Górgias por sua vez havia concordado por vergonha se gundo Polo229 Se é isso o que sucede investiguemos então em que consistem as tuas censuras contra mim se elas são corretas ou não que eu sou incapaz de socorrer a mim mesmo ou a qualquer outro amigo ou parente tampouco salválos dos perigos mais extremos que estou sujeito ao modo dos homens desonrados à vontade de qual quer um caso ele queira rachar a minha têmpora expressão juvenil de teu discurso230 ou furtar meu dinheiro ou banirme 228 Cf 48ob48ib 229 Cf 461b 230 Sócrates se refere à expressão juvenil τό νεανικόν 508dl empregada iinteriormente por Cálicles na sua invectiva contra o filósofo e a filosofia 484c Hid respondendo na mesma moeda à acusação de Cálicles com relação à inso Ιιικ ia juvenil νεανιεύεσθαι 4 8 2 C 4 de seu comportamento na discussão 5 0 8 b c d 390 GÓRGIAS DE PLATÃO e 509 b λόγον επί κόρρης άντ γρηματα άφαιράσθαι έάυτε έκ βάλλαν εκ τής πόλως έάυτε τό έσχατον άποκτείυαι καί οΰτω διακάσθαι πάντων δη αίσγιστόν ίστιν ώί 5 σόϊ λόγος ό δέ δη έμόί δστις πολλάκις μέυ ήδη είρηται ούδέυ δε κωλύει και ετι λέγεσύαι Ου φημι ώ Κ αλλίκλίΐς το τν πτζσθαι επί κόρρης αδίκως αϊσχιστον ειυαι ουδέ γε τδ τεμ νσθαι ούτε τδ σώμα τδ έμόυ ούτε τδ βαλλάντιον άλλα τδ τύπτΐΐν και εμέ και τα έμα αδίκως και τεμυειν και αίσχιον και κάκιον και κλεπτειν γε άμα και άνδραποδιζίσθαι και τοιγωρνχίΐν καί συλλήβδην δτιοΰν αδικεΐυ καί εμέ και τα V Λ Λ f V Α εμα τω αδικονντι και κακιον και αισχιον ειυαι η εμοι τω άδικονμίνω ταυτα ήμίν άνω εκεί èv τοΐς πρόσθίν λόγοις οντω φανίντα ώϊ εγώ λεγω κατεχεται και δίδίται καί εί άγροικότρόν τι είπεΐυ έστιυ σιδηροΐς καί άδαμαντίνοις λόγοις ώί γονν αν δόζκν ουτωσί ους συ εί μη λυσας η σον τις νανικώτρος ονγ οΐόν τε άλλως λίγοντα η ως εγώ ννν λίγω καλώς λεγειυ έπεί έμοιγε ό αντδς λόγος 1 yt ff f στιν αει οτι εγω ταυτα ουκ οιοα όπως εχει οτι μευτοι ώυ εγώ έυτεπίχηκα ώσπερ υΰυ ονδάς οΐός τ στίν άλλως λεγωυ μη οΰ καταγέλαστος eivai εγώ μέυ ow αυ τίθημι ταυτα ούτως εχειυ εί δέ ούτως εχει καί μεγίστου τώυ κακών έστιυ ή αδικία τω αδικονντι καί ετι τούτον μάζον μγίστον οντος εί οίου τε τό άδικονντα μη διδόναι δίκην τίνα αν βοήθααν μη δννάμίνος άνθρωπος βοηθάν αντω καταγί λαστος άν τη αλητεία είη αρα ον ταύτην ητις άποτρίφα 231 232 231 Cf 486ac 232 Pode parecer paradoxal o argumento de Sócrates ao dizer que a tese de que é pior e mais vergonhoso cometer injustiça do que sofrêia está firme e atada por argu mentos de ferro e diamante κατεχεται και δέδεται σιδηροΐς και άδαμαντίνως λόγοις 509ai e concomitantemente afirmar que ele não sabe como essas coisas são ότι έγώ ταυτα ούκ οίδα όπως εχει 50935 ou seja como Sócrates pode alegar ignorância sobre o assunto em questão porém afirmar metaforicamente que seus argumentos são irrefutáveis O fato de seus argumentos quando postos à prova mediante inter locutores que possuem opiniões contrárias às suas como no caso de Polo e Cálicles mostraremse consistentes e imunes ao elenchos enquanto os de seus interlocutores serem falíveis e contraditórios permite a Sócrates afirmar que ao menos enquanto eles forem irrefutáveis é legítimo conferirlhes valor de verdade mas isso não implicaria conhecimento pois ainda há a possibilidade de que algum interlocutor mais qualificado GÓRGIAS 391 da cidade ou na situação limite matarme e que essa é a mais vergonhosa condição segundo o teu argumento231 Contudo o meu argumento que já foi dito inúmeras vezes embora nada o impeça de ser repetido é este eu afirmo Cálicles que o mais ver gonhoso não é ter a têmpora rachada injustamente ou ter a minha bolsa ou o meu corpo lacerados mas é pior e mais vergonhoso e rachar a minha têmpora e lacerar as minhas propriedades injus tamente ou roubarme escravizarme violar a minha casa em suma qualquer que seja a injustiça cometida contra mim ou con tra minhas propriedades é pior e mais vergonhoso para quem comete injustiça do que para mim que a sofro Eis o que na dis cussão precedente ficou manifesto e afirmo que isso está firme e atado se não for uma expressão muito rude por argumentos 509 de ferro e diamante ao menos como haveria de parecer na atual conjuntura Assim se tu não o desatares ou qualquer outra pessoa ainda mais jovem e audaz do que tu será impossível que alguém afirmando coisas diferentes das que eu afirmo agora fale correta mente Pois o meu argumento é sempre o mesmo que eu não sei como essas coisas são mas que das pessoas que tenho encontrado como na ocasião presente nenhuma é capaz de afirmar coisas diferentes sem ser extremamente ridícula232 Eu portanto coloco mais uma vez as coisas nestes termos e se as coisas forem assim e b a injustiça for o mal supremo para quem a comete ou se houver a possibilidade de um mal ainda maior do que esse mal supremo ou seja não pagar ajusta pena uma vez cometida a injustiça que tipo de socorro seria esse que tornaria o homem verdadeiramente ridículo quando incapaz de socorrer a si mesmo Porventura não do que Polo e Cálicles possa colocálos em xeque mediante o elenchos corretamente conduzido Esse otimismo de Sócrates com relação à veracidade de suas convicções morais se justifica pelo que ele próprio disse no início do 3a Ato Cálicles possui os três atributos fundamentais enquanto interlocutor para verificar de modo suficiente as opiniões de sua alma conhecimento benevolência e franqueza έτπστήμην τε καί εύνοιαν καί παρρησίαν 487823 se Sócrates conseguir fazer com que Cálicles de um modo ou de outro concorde com as suas opiniões bastará para elas próprias serem verdadeiras ταϋτ ήδη έστιν αύτά τάληθή 486e6 pois visto que Cálicles defende opiniões contrárias ele se configura então como aquela pedra de toque βασάνου 486d7 por meio da qual se pode distinguir o verdadeiro do falso 392 GORGIAS DE PLATAO 510 την μεγίστην ημών βλάβην άλλα πολλή άνάγκη ταύτην είναι την αισχίστην βοήθειαν μη δννασθαι βοηθεΐν μήτε αντω μήτε τοΐς αντοΰ φίλοις τε καί οικείοις δεντέραν δέ την του δευτέρου κακού και τρίτην την του τρίτου καί τάλλα όντως ώ έκαστου κακού μέγεθος πέφυκεν οΰτω και κάλλος τον δυνατόν είναι εφ εκαστα βοηθέιν και αισχύνη του μη άρα άλλα η ούτως εχει ω Καλλίκλεις ΚΑΛ Ονκ άλλως Σ ί2 Ανοΐν ουν οντοιν του άδικεΐν τε και άδικεΐσθαι μεΐζον μέν φαμεν κακόν το άδικεΐν ελαττον δε το άδικεΐσθαι τι ουν άν παρασκευασάμενος άνθρωπος βοηθησειεν αντω ώστε άμφοτέρας τάς ωφελίας ταύτας έχειν την τε άπο του μη άδικεΐν και την από του μη άδικεΐσθαι πάτερα δνναμιν η βούλησιν ωδε δέ λέγω πότερον εάν μη βούληται άδι λ Λ 1 1 Λ Λ 1 V Λ 1 κεισθαι ονκ αδικήσεται η εαν δνναμιν παρασκευασηται του μη άδικεΐσθαι ονκ άδικησεται ΚΑΛ Αήλον δη τοντό γε άτι εάν δνναμιν Σ ίΙ Τ ϊ δέ δη τον άδικεΐν πότερον εάν μη βούληται αδικειν ικανόν τουτ εστιν ου γαρ αδικήσει η και επι τούτο δει δνναμιν τινα καί τέχνην παρασκενάσασθαι ώ çav μη μαση αντα και άσκηση αοικήσςι τι ονκ αυτό γ μοι τούτο άπεκρίνω ώ Καλλίκλεις πότερον σοι δοκονμεν όρθως άναγκασθήναι όμολογεΐν εν τοΐς έμπροσθεν λόγοις έγω τε και Πώλο η ού ήνίκα ωμολογήσαμεν μηδένα βονλόμενον άδικεΐν άλλ άκοντας τούς άδικονντας πάντας άδικεΐν ΚΑΛ νΕστω σοι τούτο ω Σωκρατες όντως ΐνα δια περάνρς τον λόγον 233 Sócrates retoma aqui a discussão sobre o querer boulésis βούλησιν 509d3 analisada anteriormente com Polo a partir da distinção entre fazer o que quer ποιεΐν ών βούλονται e fazer o que parece ποιεΐν ότι άν αύτοΐς δόξη 466b469e 234 Na medida em que a injustiça é o mal da alma portanto quem é preju dicado é o agente e não quem sofre a ação injusta e ninguém pode querer o mal quem comete injustiça a comete involuntariamente por ignorância A mesma tese é defendida pela personagem Sócrates no diálogo Protágoras GÓRG1AS 393 seria aquele socorro que nos afasta do maior malefício Porém é absolutamente necessário que o socorro mais vergonhoso seja ser incapaz de socorrer a si mesmo ou a seus amigos e parentes e o segundo mais vergonhoso o relativo ao segundo mal e o terceiro c o relativo ao terceiro mal e assim por diante Como cada mal pos sui por natureza uma magnitude a beleza de ser capaz de se so correr contra cada um deles lhe é proporcional bem como a vergonha de não sêlo Porventura é algo diferente disso o que sucede Cálicles c a l É o que sucede soc Então se cometer injustiça e sofrer injustiça são duas coisas afirmamos que cometêla é um mal maior ao passo que sofrêla um mal menor Assim dispondo de que coisa o ho mem socorreria a si mesmo de modo a obter ambos os benefí d cios o de não cometer injustiça e o de não sofrêla Do poder ou do querer233 Digo o seguinte ele não sofrerá injustiça se não quiser sofrêla ou se dispuser do poder de não sofrêla c a l Evidentemente no caso de dispor desse poder soc E quanto a cometer injustiça Se ele não quiser cometêla isso será suficiente pois não a cometerá ou igualmente nesse caso ele deve dispor de certo poder e arte pois a menos que e os tenha aprendido e exercitado cometerá injustiça Por que não me respondeste Cálicles quando indagado se eu e Polo segundo tua opinião fomos constrangidos na discussão ante rior a consentir de forma correta ou incorreta ao concordarmos que ninguém quer cometer injustiça mas que todos os que co metem injustiça a cometem involuntariamente234 c a l Que assim seja Sócrates a fim de que concluas o ar 510 gumento soc Pois pelo menos eu julgo que qualquer um dentre os sábios considera que nenhum homem erra voluntariamente nem realiza coisas vergonhosas e más voluntariamente mas reconhece bem que todos aqueles que fazem coisas vergo nhosas e más fazemnas involuntariamente 345d9e4 έγώ γάρ σχεδόν τι οιμαι τούτο ότι ούδεις τών σοφών άνδρών ηγείται ούδένα ανθρώπων έκόντα έξαμαρτάνειν ουδέ αισχρά τε καί κακά έκόντα έργάζεσθαι άλλ εύ ϊσασιν οτι πάντες οί τά αισχρά καί τά κακά ποιοϋντες άκοντες ποιοϋσιν 394 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Και έπϊ τούτο apa ως eoiKev παρασκεναστέον έστϊ δύναμίν τιυα καί τέχνην όπως μη άδικησωμβν ΚΑΛ Πάίυ ye ΣΩ Tís ονυ ποτ έστϊν τέχνη τη ς παρασκυής του μηδέν αδικεΐσθαι η ως ολίγιστα σκέψαι et σοι δοκεΐ ηπερ έμοί έμοϊ μέν γαρ δοκεΐ ηδε η αυτόν άρχειν δεΐν έν τί πόλει η καί τυραννεΐν ή της νπαρχούσης ττολίτείας έταΐρον είναι ΚΑΑ Όρας ω Σωκρατες ώϊ εγώ έτοιμοί Ιμι έπαινεΐν αν τι καλώς λέγης τουτό μοι δοκέΪ5 ττάνυ καλώς είρηκέναι ΣΩ Σκοπεί δη και roôe έάν σοι δοκώ ev λέγειν φίλος μοι δοκεΐ έκαστος έκάστω eivai ως οίόν re μάλιστα όνπερ oi παλαιοί re και σοφοί λέγουσιν ό όμοιος τω όμοίω ον καί σοί ΚΑ Λ Έμοιγε ΣΩ Ονκονν όπου τύραννός έστιν αρχών άγριος καί απαίδευτος eí τις τούτου έν τη πόλeι πολύ βελτίων εϊη φοβοϊτο δηπον αν αυτόν ό τύραννος και τούτω έ άπαντος του νού ούκ άν π ore δύναιτο φίλος γενέσθαι ΚΑΑ Έ σ η ταΰτα 235 235 Ο q u e re r boulêsis β ο ύ λ η σ ιν 5 9 d 3 n ã o é c o n d iç ã o s u fic ie n te p a ra o a g e n te a g ir d e fo r m a ju sta sã o n e c e s s á rio s ta m b é m c e r to p o d e r dunamis δ ύ να μ ίν 5 io a 4 e arte tekhnè τέχ ν η ν 5 io a 4 S e g u n d o D o d d s o p cit p 343 p o d e r n ã o co n siste a q u i e m c e rto p o d e r m a te ria l m a s n a c a p a c id a d e d e c o m p re e n d e r n o ss o v e r d a d e ir o in te re sse a o p a sso q u e a rte c o m o o p r ó p r io P la tã o s a lie n to u a n te rio rm e n te 50 0 346 50 3C 7 d 2 co n siste n o c o n h e c im e n to q u e n o s p e rm ite d is tin g u ir o s p ra ze re s e a p e tite s b o n s d o s m au s 236 O p ro v é rb io se e n c o n tr a e m H o m e ro d e u s a p ro x im a se m p re o s e m e lh a n te d o sem elh an te ώ ς α ίεΐ τ ο ν ό μ ο ΐο ν ά γει θ εό ς ώ ς τ ο ν ό μ ο ιο ν Odisseia 17 2 18 N o d iá lo g o Lísis P latã o se refere ta m b é m à q u eles q u e e scre v e ra m so b re a n atu reza π ερ ί φ ύ σ εω ς 2 i4 b 5 c o m o sá b io s q u e co m p a rtilh a m d a m e sm a m á x im a m o ral E n tão já n ão d ep a ra ste ta m b é m co m sáb io s cu jo s escrito s a firm a m a m esm a co isa q u e é n e ce ssá rio q u e o se m e lh a n te seja se m p re a m ig o d e se u sem elh a n te São eles d e c e r to aq u e le s q u e o s e s c r e v e m e co n v e rsa m so b re a n a tu re za e o to d o GÓRGIAS 395 soc Portanto também nessa circunstância como é plau sível devemos dispor de certo poder e arte para que não co metamos injustiça235 c a l Absolutamente soc Que arte é essa então que nos dispõe para não sofrer mos qualquer injustiça ou o mínimo possível Examina se tua opinião se conforma à minha pois pareceme que seja esta a própria pessoa deve dominar a cidade até mesmo exercer a ti rania ou ser partidária da constituição política vigente c a l Vês Sócrates como estou pronto para tecerte elogios quando dizes algo correto O que acabaste de dizer pareceme absolutamente correto soc Examina então se te parece ser correta também esta minha afirmação Creio que cada um é amigo ao máximo de outrem como dizem os antigos sábios236 quando um é seme lhante ao outro És da mesma opinião c a l Sim soc Assim se houvesse na cidade onde um tirano selva gem e ignorante domina alguém muito melhor do que ele esse tirano o temeria deveras e seria incapaz de um dia tornarse seu amigo com todo o seu ânimo não é c a l É isso D iz e s a v erd a d e re sp o n d e u 2 i4 b 2 6 Ο ύ κ ο ϋ ν κ α ί τ ο ίς τ ω ν σ ο φ ω τ ά τ ω ν σ υ γ γ ρ ά μ μ α σ ιν έ ν τ ε τ ύ χ η κ α ς τ α ΰ τα α ύ τά λ έ γ ο υ σ ιν δ τ ι τ ό ο μ ο ιο ν τ φ ό μ ο ίψ α ν ά γ κ η άει φ ίλ ο ν είνα ι είσ ίν δ έ π ο υ ο ύ τ ο ι o i π ερ ί φ ύ σ ε ώ ς τ ε κ α ι το ύ ό λ ο υ δ ια λ ε γ ό μ ε ν ο ι κ α ι γ ρ ά φ ο ν τ ε ς Α λ η θ ή έφ η λ έ γ ε ις P ro v a v a lm e n te P la tã o se re fira n essa p a ssa g e m d o Lísis a p e n sa d o re s co m o E m p é d o c le s e m cu ja d o u tr in a c o s m o ló g ic a a A m iz a d e Philotés Φ ιλ ό τ η ς e a D is c ó rd ia Neikos Ν εΐκ ο ς sã o p rin c íp io s e m p re g a d o s p a ra e x p lic a r o p ro ce sso d e c r ia ç ã o d o u n o a p a rtir d a m u ltip lic id a d e e d a m u ltip lic id a d e a p a rtir d o u n o re sp e ctiva m e n te v er E m p é d o c le s frs d k 3 1 B 17 e 26 N este fra g m e n to d k 31 B90 p o r su a v e z p o d e s e o b s e rv a r e c o s d e ssa m á x im a re fe rid a a q u i n o Górgias O d o c e d o d o c e se a p o d e ra v a o a m a rg o so b re o a m a rg o se p re cip ito u O á c id o ao á c id o se d irig iu e o a rd e n te m o n ta v a so b re o ard en te ώ ς γ λ υ κ ύ μ έν γ λ υ κ ύ μ ά ρ π τε π ικ ρ ό ν δ έπι π ικ ρ ό ν ο ρ ο υ σ εν ό ξύ δ έπ ό ξύ έβ η δ α ε ρ ό ν δ ε π ο χ είτο δ α η ρ ώ ι 396 GÓRGIAS DE PLATÃO 2Í2 Ουδέ γε et t i s πολν φαυλότερος εϊη ονδ αν οΰτος καταφρονοϊ γαρ αν αυτόν δ τύραννος καί ονκ αν ποτέ ώϊ προς φίλον σπονδάσειεν ΚΑΛ Καί ταντ αληθή ΣΩ Αείπεται δή εκείνος μόνος άξιος λόγον φίλος τω τοιοντω ος αν όμοήθης ων ταντα ψεγων και επαίνων εθελτ αρχεσθαι καί νποκείσθαι τω αρχοντι οΰτος μεγα d εν τανττ rfj πόλει δυνήσεται τούτον ουδεις χαίρων αδικήσει οΰχ όντως εχει 237 N a tr a g é d ia lon d e E u ríp id e s e n c o n tr a m o s u m a p o s iç ã o d iv e rs a so b re a a m iz a d e e n tre o tira n o e p e sso a s d e c o n d iç ã o in fe rio r S e ria fe liz se ria a fo rtu n a d o Q u e m p assasse a v id a c o m m e d o e d e o lh o N a v io lê n c ia E u p re fe riria v iv e r co m o u m c id a d ã o c o m u m e a fo rtu n a d o a ser u m tira n o O q u a l se c o m p r a z c o m te r o s v is c o m o a m ig o s e o d e ia o s n o b re s p o r te m o r d e ser m o rto w 6 236 28 τ ις γ ά ρ μ α κ ά ρ ιο ς τίς ευ τυ χ ή ς ο σ τ ις δ ε δ ο ικ ώ ς κ α ι π ε ρ ιβ λ ε π ω ν β ία ν α ιώ ν α τείνει δ η μ ό τ η ς α ν ευ τυ χ ή ς ζή ν α ν θ έ λ ο ιμ ι μ ά λ λ ο ν ή τ ύ ρ α ν ν ο ς ώ ν ώ ι τ ο ύ ς π ο ν η ρ ο ύ ς ή δ ο ν ή φ ίλ ο υ ς εχειν έ σ θ λ ο ύ ς δ ε μ ισ εί κ α τ θ α ν ε ίν φ ο β ο ύ μ ε ν ο ς 238 V e r A ristó te le s Ética Nicomaqueia 1 1 5 7 8 1 0 1 2 1 16 9 8 9 1 5 239 C o m o o b serv a T Irw in op cit p 230 essa p assagem p arece in con sisten te co m o q u e foi d ito a n terio rm en te so b re o h o m e m in tem p eran te 50 7e in cap az d e esta belecer relações d e am izade philia φιλία e p o r conseguinte de viver em co m u n id ad e cf su pra n o ta 225 O argu m en to a p rin cíp io levaria a u m a co n clu são paradoxal i P a ra se r a m ig o d e u m tira n o e o tira n o se r se u a m ig o é p re ciso se r co m o o tira n o ό μ ο ή θ η ς 5 io c 8 ii o tira n o é in te m p e ra n te iii p o rta n to p a ra se r a m ig o d e u m tira n o é p re c is o se r in tem p era n te iv to d o s o s h o m e n s in te m p e ra n te s sã o in c a p a ze s d e te r a m ig o s 50 7ε v p ortan to p ara ser a m ig o d e u m tira n o é p reciso ser in ca p a z d e ter am igo s A d e sp e ito d e tal in c o n s is tê n c ia in a d v e rtid a p o r S ó c ra te s n esse tr e c h o d o Górgias p a re c e se r u m tó p ic o d o p e n sa m e n to p o lític o g re g o c o n s id e ra r o tira n o c o m o u m tip o d e h o m e m in c a p a z d e e ste b e le ce r re la çõ e s d e a m iz a d e c o m o u tro s h o m e n s te n d o e m v ista as c o n d iç õ e s e m q u e se fu n d a se u p o d e r N a s p a ssa g e n s q u e se g u e m a b a ix o d e a u to res e g ê n e ro s d ife re n te s p o d e s e o b s e rv a r e le m e n to s d e c a ra c te riz a ç ã o co m u n s d a fig u r a d o tira n o i E u ríp id e s fr 605 E is o q u e h á d e m a is e x tre m o e a sso m b ro so e n tre o s h o m en s GÓRGIAS 397 s o c T a m p o u c o se h o u v e sse a lg u é m m ais d esp re zível p o is o tira n o o m e n o sp re za ria e ja m a is o tra ta ria seria m en te c o m o se fo sse u m a m ig o 237 c a l Isso ta m b é m é verd ad e iro s o c Só resta então a ú n ica p essoa d ig n a d e m en çã o q u e seria am ig a de u m h o m e m d e tal tipo aquela qu e tem caráter se m elh an te238 e lou va e vitu p era as m esm as coisas e qu e deseja ser d o m in a d a e se subm eter a q u e m dom in a E ssa p essoa terá m a g n í fico p o d e r em u m a cid a d e co m o essa e n in g u é m se deleitará c o m e ten d o injustiça contra ela239 N ã o é isso o q u e acontece A tira n ia n ã o e n co n tr a ria s o u tra co isa m a is in fe liz É p re ciso a r ru in a r e m a ta r o s a m ig o s a c o m e tid o p e lo m e d o in g e n te d e q u e fa ç a m algo τ ο δ έ σ χ α τ ο ν δ ή τ ο ύ τ ο θ α υ μ α σ τ ό ν β ρ ο τ ο ίς τ υ ρ α ν ν ίς ο ύ χ ε ϋ ρ ο ις α ν ά θ λ ιώ τερ ο ν φ ίλ ο υ ς τε π ο ρ θ ε ϊν κ α ι κ α τα κ τα ν ε ΐν χρ εώ ν π λ ε ΐσ τ ο ς φ ό β ο ς π ρ ό σ ε σ τ ι μή δ ρ ά σ ω σ ί τι ii X e n o fo n te Hieron 389 P ois b em se qu iseres o b se rv a r isso d esco b rirás q u e o s h o m en s co m u n s são m u ito a m a d o s p o r essas p esso as ie paren tes filh o s esposas am ig o s ao p asso que d en tre os in ú m ero s tiranos m u ito s assassinaram os p róp rio s filho s m u ito s ou tro s p elos filh o s fo ram m orto s o u tro s ain d a ten d o o s irm ã o s co m o p artícip es d a tiran ia a ca b a ra m m a ta n d o u n s ao s ou tro s e m u ito s o u tro s fo ra m a rru in a d o s p elas suas p ró p ria s m u lh eres o u p elo s seus co m p a n h e iro s os qu ais p areciam ser a m ig o s a cim a d e tu d o εί τ ο ίν υ ν έ θ έ λ ε ις κ α τ α ν ο ε ΐν ε ύ ρ ή σ ε ις τ ο ύ ς μ ε ν ϊδ ιώ τ α ς υ π ό τ ο ύ τ ω ν μ ά λ ισ τα φ ιλ ο υ μ έν ο υ ς τ ο ύ ς δ έ τ υ ρ ά ν ν ο υ ς π ο λ λ ο ύ ς μέν π α ιδ α ς εα υ τώ ν ά π εκ το ν ό τα ς π ο λ λ ο ύ ς δ ύ π ό π α ίδ ω ν α ύ τ ο ύ ς ά π ο λ ω λ ό τ α ς π ο λ λ ο ύ ς δ έ ά δ ε λ φ ο ύ ς έ ν τ υ ρ α ν ν ίσ ιν ά λ λ η λ ο φ ό ν ο υ ς γ ε γ ε ν η μ έ ν ο υ ς π ο λ λ ο ύ ς δ έ κα ι ύ π ό γ υ ν α ικ ώ ν τώ ν έα υ τώ ν τ υ ρ ά ν ν ο υ ς δ ιε φ θ α ρ μ έ ν ο υ ς κ α ί ύ π ό ε τα ίρ ω ν γ ε τ ώ ν μ ά λ ισ τ α δ ο κ ο ΰ ν τ ω ν φ ίλ ω ν είναι iii Isó cra tes A Nicocles 4 Aos tiran o s n ã o su ced e tal coisa m a s são eles m ais d o q u e os o u tro s qu e d evem ser educados qu an do se estabelecem n o poder passam a viver sem serem a d m o es tad os A m aio ria d os h o m e n s n ã o se a p ro xim a deles en q u a n to os q u e co m eles c o n v iv e m se lh es asso ciam e m v ista d e o b te r a lg u m favor D e fato ap esar d e ad q u irirem au torid ad e sobre gran d e so m a d e d in h eiro e sobre in ú m eros ben s fazem co m que m uitas p essoas p elo fato d e eles n ão u sarem b e m tais recu rsos d isp u tem se é d ig n o p referir a v id a d e u m h o m e m co m u m m as cu jas ações são m o d era d as à vid a d e um tirano Τ ο ΐς δ έ τ υ ρ ά ν ν ο ις ο ύ δ έ ν υ π ά ρ χ ε ι το ιο ύ τ ο ν ά λ λ ο ΰ ς έ δ ε ι π α ιδ ε ύ ε σ θ α ι μ ά λ λ ο ν τ ώ ν ά λ λ ω ν έπ ειδ ά ν εις τ ή ν ά ρ χή ν κ α τα σ τώ σ ιν ά ν ο υ θ έ τ η τ ο ι δ ια τε λ ο ΰ σ ιν οι μέν γ ά ρ π λ ε ισ τ ο ι τώ ν ά ν θ ρ ώ π ω ν α ύ το ΐς ο ύ π λ η σ ιά ζο υ σ ιν ο ί δ έ σ υ ν ό ν τ ε ς π ρ ο ς χά ρ ιν ό μ ιλ ο ΰ σ ιν Κ α ί γ ά ρ τ ο ι κ ύ ρ ιο ι γ ιγ ν ό μ ε ν ο ι κ α ί χ ρ η μ ά τ ω ν π λ ε ίσ τ ω ν κ α ί π ρ α γ μ ά τω ν μ ε γ ίσ τ ω ν δ ιά τ ό μή κ α λ ώ ς χ ρ ή σ θ α ι τ α ύ τ α ις τ α ΐς ά φ ο ρ μ α ίς π ε π ο ιή κ α σ ιν ώ σ τ ε π ο λ λ ο ύ ς ά μ φ ισ β η τε ίν π ό τ ε ρ ό ν έσ τιν ά ξιο ν έ λ έ σ θ α ι τ ο ν β ίο ν τ ο ν τ ώ ν ίδ ιω τ ε υ ό ν τ ω ν μέν έ π ιεικ ώ ς δ έ π ρ α τ τ ό ν τ ω ν ή τ ο ν τ ώ ν τ υ ρ α ν ν ε υ ό ν τ ω ν 398 GÓRGIAS DE PLATÃO ΚΑΛ Naú ΣΩ E i ápa τις εννόησεisv εν ταύτη rfj 7τόλει των νέων T ίνα αν τρόταν εγω μεγα δυναιμην και μηδείς με άδικοι αυτή ως εοικεν αντω όδός έστιν ενθυς εκ νέου εθίζειν αυτόν τοΐς αυτοίς χαίρειν και άχθεσθαι τω δεσπότη και 7ταρασκευαζειν oτωs οτι μαλιστα ομοιος sarai εκεινω ονχ όντως Κ Α Λ N aí ΣΏ Ουκονν τούτω τό μεν μη άδικείσθαι και μέγα δυνασθαι ως 5 νμέτερος λόγος εν τη τόλει διατετρά ξεται Κ Α Λ Ylàvv γε ΣΩ ΤΑ ρ ουν και τό μη άδικείν η τολλον δίΐ εϊτερ όμοιος sarai τω άρχοντι όντι αδικώ και ταρα τούτω μεγα ουνησerat αλλ οιμαι eycoye παν τουναντίον οντωσι η παρασκευή έοται αντω επί τό οΐω rs είναι s τλεϊατα άδικείν και άδικονντα μη διδόναι δίκην η γάρ Κ Α Λ Φαίνεται ΣΩ Ουκονν τό μεγίστου αντω κακόν υπάρξει μοχθηρω όντι την ψυχήν καϊ λελωβημένω δια την μίμησιν τον δε στότον και δνναμιν ΚΑΛ Ο νκ οίδ 0τη στρέφεις εκάστοτε τους λόγους άνω και κάτω ω Σωκρατες η ονκ οίσθα ότι ουτος 6 μιμούμενος τον μη μιμούμενου εκείνον ατοκτενει εαν ρουληται και άφαιρησεται τα όντα ΣΩ Οιδα ωγαθέ Κ αλλίκλεις εΐ μη κωφός y είμί κα σου άκούων και Πώλου άρτι τολλάκις και των άλλων ολίγου 7ταντων των εν rfj τολει αλλω και συ εμού ακούε οτι ατοκτενει μεν αν βούληται άλλα τονηρός ων καλόν καγαθόν όντα iv A ristó te le s Política I 3 i3 b 2 8 3 i Ο tira n o é b e lic o s o a fim d e q u e as p e sso a s m a te n h a m s e o cu p a d a s e c o n tin u e m p re c isa n d o d e u m c o m a n d a n te E a re a le za é su ste n ta d a p e lo s a m ig o s a o p a sso q u e é p ró p rio d o tira n o d e s c o n fia r a o m á x im o d o s a m ig o s p o is e m b o ra to d o s q u e ira m d e stitu ilo d o p o d e r é s o b re tu d o a eles q u e isso é p o ssív e l ε σ τ ι δ έ κ α ι π ο λ ε μ ο π ο ιό ς ό τ ύ ρ α ν ν ο ς ό π ω ς δ ή α σ χ ο λ ο ί τ ε ώ σ ι κ α ί ή γ ε μ ό ν ο ς έ ν χ ρ ε ία δ ια τ ε λ ώ σ ιν ό ν τ ε ς κ α ι ή μ εν β α σ ιλ ε ία σ ώ ζε τ α ι δ ιά τ ώ ν φ ίλω ν GÓRGIAS 399 cal Sim soc Portanto se algum jovem dessa cidade pensasse de que modo eu poderia ter magnífico poder e não sofrer injustiça de nin guém o seu caminho seria como é plausível desde muito jovem habituarse aos mesmos deleites e às mesmas aflições de seu dés pota e disporse para se lhe assemelhar ao máximo Não é assim cal É soc Portanto essa pessoa conseguirá segundo o vosso argumento240 não sofrer injustiça e ter magnífico poder na e cidade cal Certamente soc E quanto a não cometer injustiça porventura sucede o mesmo Ou muito longe disso visto que ele será semelhan temente injusto a quem o domina e terá magnífico poder ao lado dele Mas eu creio que sucederá tudo ao contrário que ele se disporá para ser capaz de cometer o máximo de injustiça e quando cometida não pagar a justa pena Não é cal É claro soc Ele será então acometido pelo mal supremo debilitando 511 e mutilando sua alma pela imitação e pelo poder do déspota cal Não sei como a todo momento consegues arrastar os argumentos de um lado para outro Sócrates ou não sabes que o imitador do tirano matará quem não o imite e furtará suas propriedades se ele quiser soc Eu sei bom Cálicles a menos que eu seja surdo pois b já ouvi isso repetidamente tanto de ti quanto de Polo momen tos atrás e de quase todos os demais habitantes dessa cidade14 Mas ouve também tu o que digo se quiser ele um homem vi cioso matará um homem belo e bom τυραννικόν δε τό μάλιστ άπιστεΐν τοΐς φίλοις ώς βουλομένων μεν πάντων δυναμένων δέ μάλιστα τούτων 240 C f 4 66d 2 4 1 Sócrates co n sid era q u e a a d m ira çã o p ela v id a d o tiran o expressa p o r ΙοΙο e C á licles é co m u m à m aio ria d o s atenienses ressaltando assim u m p rob lem a que se g u n d o a teo ria p olítica d e Platão é in eren te à p róp ria co n stitu ição d em ocrática a gênese d a tiran ia Para u m a d iscu ssã o p o rm e n o riza d a so bre o p rob lem a ver o L ivro v i m d a República S o b re a relação en tre tiran ia e d e m o cra cia n o GYirçVts c f supra nota 120 400 GÔRGIAS DE PLATÂO ΚΑΛ Ονκονν τούτο δή και το άγανακτητόν ΣΩ Ου νουν γε εχοντι ως ό λόγος σημαίνει η οϊει δεΐν τοντο παρασκευάζεσθαι άνθρωπον ώΐ πλεϊστον χρόνον ζην καί μελετάν τας τεχνας ταύταs ai ημάς àt εκ των c κινδύνων σώζουσιν ώσπερ και ήν συ κελεύεις εμε μελετάν την ρητορικήν την εν τοΐς δικαστηρίοις διασωζουσαν ΚΑΛ Ναί μα Δία όρθως γε σοι σνμβονλεύων ΣΩ Τ ι δε ω βέλτιστε η και η του νεΐν επιστήμη r t s λ σςμνη n s σοι οοκέΐ έΐναι ΚΑ Λ Μα Δ Γ ουκ εμοιγε ΣΩ Καί μην σώζει γε καί αυτή εκ Θανάτου τους ανθρώ πους όταν εις τι τοιοντον εμπίσωσιν ου δει τούτης της επιστήμης ει δ αυτή σοι δοκει σμικρα είναι εγω σοι d μείζω τούτης ερώ την κυβερνητικήν ή ου μόνον τας φυχας σώζει αλλα και τα σώματα και τα χρήματα εκ των εσχάτων κινδύνων ώσπερ ή ρητορική και αυτή μεν προσεσταλμενη 5 y t t ςστιν και κόσμια και ον σέμνννέται σχηματισμένη as υπερήφανόν τι διαπραττομενη άλλα ταύτά διαπραζαμενη τrj δικανική εαν μεν εξ ΑΙγίνης δεύρο σώσΐβ οίμαι δύ οβολούς επράξατο εάν δε εζ A ίγύπτου ή εκ του Πόντου e εάν πάμπολυ τούτης τής μεγάλης ευεργεσίας σώσασα h νυνδή ελεγον και αυτόν και παιδας καί χρήματα καί γυναί κας άποβιβάσασ εις τον λιμένα δύο δραχμάς επράζατο και αυτός 6 εχων τήν τέχνην καί ταντα διαπραζάμενος εκβάς παρά τήν θάλατταν και τήν ναΰν περιπατεί εν μετρίω σχήματι λογίζεσθαι γάρ οίμαι επίσταται ότι άδηλόν εστιν οϋστινάς τε ώφεληκεν των σνμπλεόντων ουκ εάσας καταποντωθήναι καί οϋστινάς εβλαφεν είδώς ότι ουδεν 512 αυτούς βελτίους εξεβίβασεν ή οΐοι ενέβησαν ούτε τα σώ ματα ούτε τας φυχάς λογίζεται οΰν ότι ουκ ει μεν τις t y r ν Λ r μςγαλοις και ανία rois νοσημασιν κατα το σώμα σννέχο μένος μή απεπνιγη ουτος μεν άθλιος εστιν οτι ουκ απε GÓRGIAS 401 c a l E isso não é motivo de fúria soc Não para quem é inteligente como indica o argu mento O u julgas que o homem deve se dispor para o quanto mais viver e praticar aquelas artes que sempre nos salvam dos perigos tal como a retórica nos salva nos tribunais a qual me c ordenas praticar242 c a l Sim por Zeus e te aconselho corretamente soc E então excelente homem Acaso o conhecimento da natação te parece ser um conhecimento solene c a l Não por Zeus não a mim soc Não obstante também ele salva os homens da morte quando se defrontam com situações que exigem esse conheci mçnto Mas se ele te parece ínfimo vou te mencionar outro conhecimento de maior mérito a arte da navegação que salva d dos perigos mais extremos não só as almas como também os corpos e os bens semelhante à retórica243 Esse conhecimento é modesto e ordenado e não é solene porque realiza algo es plêndido fazendo as mesmas coisas que a jurisprudência ele cobraria dois óbolos julgo eu se nos trouxesse salvos de Egina para cá se nos trouxesse salvos do Egito ou de Ponto a cobrança seria depois de atracar ao porto de no máximo duas dracmas em troca desta grande benfeitoria trazer a salvo o que há pouco e mencionava ou seja a si mesmo as crianças os bens e as mu lheres Esse homem detentor dessa arte e realizador dessas coi sas após o desembarque caminha à margem do mar e de sua nau com aspecto moderado Pois ele sabe ponderar julgo eu que não são evidentes quais tripulantes ele beneficiou e quais ele prejudicou evitando que naufragassem ciente de que quando os embarcou não eram em nada melhores do que quando 512 os desembarcou quer em relação ao corpo quer em relação à alma Ele pondera então que se algum tripulante cujo corpo é acometido por doenças crônicas e incuráveis não se afogar ele será infeliz porque não morreu não obtendo qualquer benefício 2 4 2 C f 484CCÍ 2 4 3 V e r P latã o Epínomis 9 7 5 e 9 7 6 b I GÓRGIAS DE PLATÃO θανεν και ουδεν ΰπ αυτόν ώφεληται εί δε τις άρα εν τω του σώματος τιμιωτερω τη ψυχή πολλά νοσήματα εχει και ανίατα τούτω δε βιωτεον εστιν καί τούτον όνήσει αντΐ εκ θαλάττης άντε εκ δικαστηρίου εάντε άλλοθεν δπο θειονν σώση άλλ οίδΐν οτι ουκ άμεινόν εστιν ζην τω μοχθηρά άνθρώπω κακώς γάρ ανάγκη ΐστιν ζην Δια ταντα ον νόμος εστι σεμνύνεσθαι τον κυβερνήτην καίπερ σωζοντα ημάς ουδέ γε ώ θαυμάσιε τον μηχανο ποιόν δς ούτε στρατηγόν μη ότι κυβερνήτου οϋτε άλλου ονδενδς ελάττω ενίοτε δυναται σωζειν πόλεις γάρ εστιν οτε ολας σώζει μή σοι δοκεΐ κατά τον δικανικδν είναι καίτοι εί βονλοιτο λεγειν ώ Καλλίκλεις άπερ υμείς σεμ νύνων τδ πράγμα καταχώσειεν άν υμάς τοΐς λόγοις λεγων και παρακαλών επι τδ δεΐν γίγνεσθαι μηχανοποιούς ώϊ ουδεν τάλλά ΐστιν ικανός γαρ αυτω δ λόγος άλλα συ ουδεν ήττον αντοΰ καταφρονείς και τής τέχνης τής εκεί νον και ώϊ εν όνείδει άποκαλεσαις άν μηχανοποιόν και τω νεΐ αύτοΰ ουτ άν δούναι θυγατέρα εθελοις ουτ άν αυτός λαβεΐν την ΐκείνον καίτοι ΐ ζ ών τα σαυτου επαι νείς τίνι δικαίω λόγω τον μηχανοποιοΰ καταφρονείς και των άλλων ών νννδή ΐλεγον οι δ οτι φαίης άν βελτίων είναι και εκ βελτιόνων τδ δε βελτιον εί μή εστιν δ εγώ Αγω αλλ αυτό τουτ στιν αρτή το σωζξίν αντον και τα εαντοΰ όντα οποίος τις ετνχεν καταγέλαστος σοι ό ψόγος γίγνεται και μηχανοποιοΰ και ιατρού και των άλλων b c d 244 Sobre a superioridade da alma sobre o corpo ver Protágoras 313a Ban quete 210b República 445a Leis 72γά 245 Por meio da comparação com a navegação Sócrates pretende mostrar a Cálicles que a retórica não tem qualquer valor ao evitar que alguém seja condenado à morte se tal pessoa não tiver levado uma vida moralmente correta A retórica nesse caso não teria o poder de curar a doença da alma ou seja a injustiça mas de apenas protelar uma vida viciosa indigna de ser vivida Sendo assim qual seria a utilidade da retórica se o que importa é uma vida regida pela virtude e não uma vida a qualquer preço em que seria preferível a morte Todavia se supôssemos que esse discurso de Sócrates se configura como resposta à admoestação de Cáli cles 486ab quando ele vaticina a condenação de Sócrates à morte no tribunal diante de um acusador extremamente mísero e desprezível κατηγόρου τυχών πάνυ φαύλου και μοχθηρού 486b23 a retórica não seria assim útil e digna na GÓRGIAS 403 de sua parte e que para um tripulante acometido por inúmeras doenças incuráveis na alma que vale mais que o corpo244 a vida não lhe é digna e ele não obterá qualquer vantagem em ser salvo seja do mar ou do tribunal ou de qualquer outro lugar ele sabe que não é melhor para um homem perverso persistir a viver pois b é necessário que ele viva miseravelmente245 Por isso o piloto não costuma ser solene ainda que nos traga salvos tampouco o construtor militar ó admirável homem que tanto quanto o general ou qualquer outro além do piloto é capaz de salvarnos em certas ocasiões pois ele salva às vezes cidades inteiras O caso do jurisprudente não te parece semelhante246 Aliás se ele quisesse dizer Cálicles as mesmas coisas que dizeis vós ele solenizaria o seu ofício e vos amortalharia com discur c sos e exortações de que deveis vos tornar construtores militares e que o resto de nada vale pois o argumento lhe é suficiente Mas tu o desprezas tanto quanto a sua arte e o chamarias de construtor militar como se o censurasse e não desejarias con ceder a tua filha em casamento ao filho dele tampouco tu acei tar a sua filha Ademais segundo as razões pelas quais elogias as tuas próprias coisas com que argumento justo desprezas o construtor militar e todos os outros referidos há pouco247 Sei que dirias que és melhor e de melhor progénie Contudo se o d melhor não for o que eu afirmo que seja e a virtude consistir em salvar a si mesmo e as suas propriedades independente do tipo de homem que seja tornarseá absolutamente ridículo o medida em que poderia salvar da morte alguém que viveu corretamente Mesmo nesse caso a retórica seria de pouco utilidade pois a preocupação de se viver uma vida justa está acima de qualquer preocupação com o risco de morte Argumento semelhante é empregado por Sócrates na Apologia cf supra nota 130 246 Sobre a crítica de Platão aos jurisprudentes ver Teeteto 17201763 247 Se na perspectiva de Cálicles a utilidade de retórica consiste em tornar o ho mem apto a preservar a sua própria vida ou a de outrem quando diante de uma acusa ção no tribunal 485d486c e se a virtude consiste precisamente em salvar a si mesmo e as suas propriedades το σώζειν αυτόν καί τά έαυτοϋ όντα 5i2d34 então a arte da navegação da construção militar e da estratégia em nada seriam inferiores à retórica Por conseguinte o homem melhor e superior τούς βελτίους και κρειττους 4897 concebido por Cálicles não diferiria do ponto de vista da virtude de qualquer um desses técnicos que segundo Sócrates Cálicles desprezaria como homens inferiores 404 GÓRGIAS DE PLATÃO τεχνών ocrât του σωζειν ένεκα πεποίηνται αλλ ω μακάρι όρα μη άλλο τι το γενναίου και το αγαθόν fj η το σωζειν τε και σωζεσθαι μη yap τούτο μέν το ζην όπο e crovbr χρόνον τόν γε ώΐ αληθώς àvbpa έατέον icττϊν και ου φιλοφυχητέον άλλα έπιτρέφαντα περί τούτων τω θεω Μ και πισπνοαντα rais yvvaiçiv οτι την ημαρμζνην ovo αν ç 1 1 9 1 A t λ n s κψυγοι το ττι τουτω σκςπτζον τιν αν τροττον τοντον ον μέλλοι χρόνον βιωναι ώΐ άριστα βιοίη άρα εζομοιων ΐ3 αυτόν τη πολιτεία ταύτη èv η αν οικη καϊ νυν be άρα bei σε ως όμοιότατον γίγνεσθαι τω οήμω τω Αθηναίων ei μέλλεις τούτω προσφιλής είναι και μέγα ούνασθαι εν τη πόλει τοί30 ορα ei σοι λυσιτελεΐ και έμοί όπως μη ω όαιμόνιε πεισόμεθα όπερ φασι τας την σελήνήν καθαι ρονσας τας θετταλίόας συν τοΐς φιλτάτοις η αΐρεσις ημιν εσται ταντης της bυváμεως της εν τη πόλει ει bé σοι οιει όντινοΰν ανθρώπων παραόωσειν τέχνην τινά τοιαύτην ητις b σε ποιήσει μεγα όυνασθαι εν τη πόλει τηόε ανόμοιον όντα τη πολιτεία εϊτ επϊ τό βέλτιον εϊτ επι το χείρον ώς εμοι όοκεΐ ονκ όρθως βουλενη ω Καλλίκλεις ου γάρ μιμητην bei εΐναι άλλ αντοφυως ομοιον τοντοις el μέλλεις τι γνή σιον απεργάζεσθαι εις φιλίαν τω Αθηναίων όήμω καί ναι 248 Segundo Dodds ορ cit ρ 35 Platão estaria aludindo aqui antes a um ditado corrente entre as mulheres de Atenas do que às palavras de Héctor na Ilíada digo que nenhum homem pode escapar de seu destino μοίρα δ ου τινά φημι πεφυγμένον εμμεναι άνδρών 6488 como supõem outros estudiosos tais como Croiset e Labarbe 249 Purificar a lua significa causar um eclipse E Dodds op cit p 350 poder atribuído às feiticeiras da Tessália como afirma por exemplo Aristófanes na comédia As Nuvens e s t r e p s í a d e s Se eu comprasse uma feiticeira da Tessália E roubasse a lua à noite eu então a guardaria Num cesto esférico como se fosse um espelho E a manteria escondida comigo w 749752 ΣΤ γυναίκα φαρμακίδ εί πριάμενος Θετταλήν καθέλοιμι νύκτωρ τήν σελήνην είτα δή αυτήν καθείρξαιμ εις λοφεΐον στρογγύλον ώσπερ κάτροπτον κάτα τηροίην εχων 250 A observação de Sócrates ressalta o aspecto contraditório do caráter da personagem Cálicles de um lado um crítico feroz aos costumes nomoi νόμοι instituídos pelo consenso dos homens naturalmente mais fracos e inferiores GÓRGIAS 405 teu vitupério ao construtor militar ao médico ou a qualquer outra arte que se realiza em vista de nossa salvação Mas ho mem venturoso observa se o nobre e o bem não se diferem de salvar e ser salvo Pois o verdadeiro homem não deve se preo e cupar em viver o quanto tempo for nem se apegar à vida mas confiando essas coisas ao deus e acreditando nas mulheres quando dizem que ninguém escaparia a seu destino248 ele deve se volver à seguinte investigação de que modo alguém que vive por certo tempo viveria da melhor maneira possível Acaso assemelhandose a essa constituição política em que vive Tu 513 portanto deves agora te assemelhar ao povo de Atenas o quanto puderes se pretendes terlhe amizade e magnífico poder na cidade Observa se isso é vantajoso a ti e a mim para que não tenhamos homem extraordinário o mesmo sofrimento por que passam segundo dizem as mulheres da Tessália as puri ficadoras da lua249 a escolha desse poder na cidade será para nós a custo do que nos é mais caro Porém se julgas que um homem qualquer poderá te transmitir uma arte apta a te con ferir magnífico poder nessa cidade sem que te assemelhes à sua b constituição política seja para melhor ou para pior tu como me parece não deliberas corretamente Cálicles Pois não deves ser imitador mas naturalmente semelhante a tais homens se intentas criar uma amizade legítima com o povo de Atenas250 movido por certo desprezo pelos valores morais da maioria dos homens 483a 484c um homem portanto de espírito antidemocrático a figura do tirano em potência cf supra notas 120 e 241 de outro um homem envolvido com a política democrática ateniense 515a que preza pelo ideal do homem belo e bom καλόν κάγαθόν 484012 e bem reputado εύδόκιμον 484d2 que valoriza a franqueza como virtude παρρησίαν 48733 referida na República como uma carcaterística do homem democrático viu 5574907 Mas se Cálicles almeja ter efetivamente um poder magnífico μέγα δύνασθαι 5i3bi em Atenas não lhe basta apenas usar a constituição democrática em vista de seus próprios interesses mas é preciso ser naturalmente semelhante αύτοφυώς ομοιον 51304 ao homem democrático Todavia o seu desprezo manifesto pelo lema ter posses iguais αύτοι αν τό ϊσον εχωσιν 483C5 instituído pela maioria dos homens como o belo e o justo 483bd conflita com o que o Sócrates estipula como condição de possibilidade para se ter magnífico poder em uma cidade T Irwin op cit p 232 Nesse sentido o con flito interno da alma de Cálicles impediria que ele obtivesse assim tal poder e es tabelecesse relações de amizade em Atenas 406 ϋ ό ΐία Α Β ΟΕ ΡίΑΤΑΟ μα Δία τω Πυριλάμπους γε προς όστις ονν σε τούτο ις ομοιότατον άπεργάσεται οΰτός σε ποιήσει ώϊ επιθυμείς πολίτικος είναι πολιτικόν καί ρητορικόν τω αυτών γάρ ε ηθζι λεγομένων των λόγων έκαστοι χαίρουσι τω δε άλλο τρίω άχθονται εΐ μη τι συ άλλο λέγεις ω φίλη κεφαλή λέγομέν τι προς ταΰτα ω Κ αλλίκλεις ΚΑΛ Ούκ οΐδ όντινά μοι τρόπον δοκεΐς ευ λέγειν ω Σώκρατες πέπονθα δε το των πολλών πάθος ου πάνυ σοι πείθομαι ΣΩ Ό δήμου γαρ ερως ω Κ αλλίκλεις ένων εν τη ψυχή τη σή άντιστατεΐ μοι άλλ εάν πολλάκις ίσωϊ και βέλτιον ά ταυτά ταΰτα διασκοπωμεθα πεισθήση άναμνήσθητι δ ουν ότι δυ έφαμεν είναι τάς παρασκευάς επϊ τό έκαστον θερα 7τευειν καί σώμα καί ψυχήν μίαν μεν προς ηδονήν όμιλεϊν την έτέραν δε προς το βέλτιστον μη καταχαριζόμενον άλλα διαμαχόμενον ου ταΰτα ήν δ τότε ωριζόμεθα ΚΑΑ Πάυυ γε ΣΩ Ουκοΰν ή μεν ετέρα ή προς ηδονήν άγεννής καί ουδέν άλλο ή κολακεία τυγχάνει οΰσα ή γάρ ε ΚΑΛ Έστω εΐ βούλει σοί ούτως ΣΩ Ή δέ γε ετέρα όπως ώϊ βέλτιστον εσται τούτο είτε σώμα τυγχάνει δν είτε ψυχή δ θεραπευομεν ΚΑΛ Πάυυ γε GÓRGIAS 407 e por Zeus com o filho de Pirilampo também251 Assim quem quer que te faça ao máximo semelhante a eles essa pessoa te tornará político e rétor visto que almejas ser político pois cada um se deleita com os discursos tangentes ao seu próprio caráter mas se aflige com os alheios a não ser que tenhas algo diferente disso a dizer meu querido Temos algo a acrescentar Cálicles c a l Não sei como me pareces falar corretamente Sócra tes mas experimento a mesma paixão que a maioria tu não me persuades absolutamente soc Pois é o amor pelo povo existente na tua alma Cáli cles que me obsta Mas se tornarmos a examinar melhor esse mesmo assunto repetidamente serás persuadido252 Relembra então que afirmamos haver dois modos de nos dispormos para cuidar tanto da alma quanto do corpo um associado ao prazer e o outro ao supremo bem o qual não lhe concede graça mas o combate253 Não era isso o que outrora havíamos definido c a l Absolutamente soc Então aquele modo associado ao prazer é ignóbil e não consiste em outra coisa senão em lisonja não é c a l Que assim seja para ti se quiseres soc E o outro modo não zela para que seja o quanto me lhor o objeto de nossos cuidados seja ele o corpo ou a alma c a l Absolutamente 251 Sobre Demo filho de Pirilampo cf supra nota 105 252 Embora Sócrates tenha conseguido de certa forma incitar novamente o interesse de Cálicles pela discussão por meio do argumento da semelhança entre indivíduo e constituição política e apesar de concordar parcialmente com o que diz Sócrates Cálicles contudo não se mostra convencido decisivamente pelos ar gumentos do filósofo Nesse passo do diálogo Platão nos oferece uma explicação possível para a recalcitrância de Cálicles o amor pelo povo ó δήμου ερως 513C7 no sentido de amor pelo poder como sugere Dodds op cit p 3 5 2 Nesse sentido o que impede Cálicles de compreender racionalmente a verdade das convicções mo rais de Sócrates seria precisamente esse amor fruto da proeminência do elemento apetitivo de sua alma Todavia Sócrates ainda vislumbra a possibilidade de Cálicles ser racionalmente persuadido desde que ele se submeta continuamente ao eíenchos de modo a constatar peremptoriamente a verdade moral das teses defendidas por Sócrates Sobre o amor pelo povo de Cálicles ver Ensaio Introdutório 5 iiin 253 Cf 5oobd 408 GÓRGIAS DE PLATÃO 514 b c d 2Í2 TAp ουν όντως επιχειρητέον ημίν εστιν rfj πόλει και τοΐς πολίταις θεραπενειν ως βέλτιστους αυτους τους πολίτας ποιονντας άνεν γάρ δη τούτον ώί εν τοΐς έμ προσθεν ηνρίσκομεν ουδέν όφελος άλλην ευεργεσίαν ουδε μίαν προσφέρειν εάν μη καλή κάγαθη η òtávoLa fj των μελλόντων η χρήματα πολλά λαμβάνειν η άρχην τινων η άλλην δυναμιν ηντινοΰν φώμεν όντως έχειν ΚΑΛ Πάνυ γε εΐ σοι ήδιον ΣΏ Ει ουν παρεκαλοΰμεν αλληλους ω Κ αλλίκλεις δη μοσία πράζοντες των πολίτικων πραγμάτων επί τα οικοδο μικά η τειχών η νεωρίων η ιερών επι τα μέγιστα οικοδομή ματα πότερον έδει αν ημάς σκεφασθαι ημάς αυτους και εξετάσαι πρώτον μεν εί έπιστάμεθα την τέχνην η ονκ επιστάμεθα την οικοδομικήν και παρά του εμάθομεν έδει αν ή ου ΚΑΛ Πάνυ γε ΣΩ Ονκοΰν δεύτερον αν τάδε εΧ τι πώποτε οικοδόμημα ωκοδομηκαμεν ιδία η των φίλων τινι η ήμέτερον αυτών καί τούτο το οίκοδόμημα καλόν η αίσχρόν εστιν και εΐ μεν ηνρίσκομεν σκοπονμενοι διδασκάλους τε ημών αγαθούς και ελλογίμους γεγονότας και οίκοδομηματα πολλά μεν και καλά μετά των διδασκάλων φκοδομημένα ημίν πολλά δέ καΧ Ιδια ημών επειδή των διδασκάλων άπηλλάγημεν οντω μεν δια κείμενων νουν εχοντων ην αν ίεναι επι τα δημοσία έργα εΐ δε μήτε διδάσκαλον εϊχομεν ημών αυτών επιδεΐξαι οίκο δομηματά τε η μηδέν η πολλά και μηδενος άξια οΰτω δη άνόητον ην δηπου έπιχειρείν τοΐς δημοσίοις έργοις και παρακαλεΐν αλληλους επ αυτά φωμεν ταντα όρθώς λέ γεσθαι η ον 254 Essa seria a finalidade da verdadeira arte política como Sócrates ressalta no Protágoras Ό que eu ensino é tomar boas decisões a respeito dos afazeres domésticos a fim de que se administre a própria casa da melhor maneira possível e a respeito dos afazeres da cidade para que se torne apto ao máximo nas ações e nos discursos Porventura Protágoras disse eu estou compreendendo tuas palavras Pa receme que te referes à arte política e prometes tornar os homens bons cidadãos É exatamente isso o que eu professo Sócrates respondeu 3i8e53i9a7 GÔRGIAS 409 soc Não devemos então tentar cuidar da cidade e dos ci dadãos de modo a tornar os próprios cidadãos melhores ao máximo254 Pois como descobrimos na discussão anterior255 sem isso nenhuma vantagem há em oferecerlhes qualquer benfeito ria se não for belo e bom o pensamento de quem intenta adqui 514 rir grande soma de dinheiro ou o domínio sobre outros ou qualquer outro poder Afirmemos que é isso o que sucede c a l Absolutamente se assim te for mais aprazível soc Se nós Cálicles com o intuito de realizar publica mente as ações políticas consultássemos um ao outro sobre obras arquitetônicas sobre a construção de prédios magníficos como muralhas estaleiros santuários porventura não deve ríamos examinar a nós mesmos e inquirir primeiro se conhe b cemos ou não a arte da arquitetura e com quem a aprendemos Deveríamos ou não c a l Absolutamente soc E em segundo lugar examinar se havíamos cons truído outrora alguma obra privada para um amigo ou para nós mesmos e se essa obra é bela ou vergonhosa não é E se por um lado investigássemos e descobríssemos que nossos mestres eram bons e estimados e que havíamos construído c inúmeras belas obras sob a sua tutela além de muitos outros prédios privados depois de termos nos separado de nossos mes tres bem nessas condições nos volveríamos com sensatez às obras públicas Se por outro lado não tivéssemos como exibir nosso mestre ou nenhuma obra ou ainda que muitas obras mas desprovidas de valor nesse caso seria deveras estulto em preendermos obras públicas e consultarmos um ao outro sobre tal ofício Digamos que são corretas essas afirmações ou não d τό δέ μάθημά έστιν εύβουλία περί τών οικείων όπως αν άριστα τήν αύτοϋ οικίαν διοικοΐ καί περί τών τής πόλεως όπως τά τής πόλεως δυνατώτατος άν εϊη καί πράττειν καί λέγειν Ά ρα έφην έγώ έπομαι σου τψ λόγω δοκεϊς γάρ μοι λέγειν τήν πολιτικήν τέχνην καί ύπισχνείσθαι ποιείν άνδρας αγαθούς πολίτας Αυτό μέν ούν τοϋτό έστιν έφη ώ Σώκρατες τό έπάγγελμα ό επαγγέλλομαι 255 Οί 50405050 410 GÓRGIAS DE PLATÃO ΚΑΛ Γίάνυ γε ΣΩ Ονκονν ούτω πάντα τά re άλλα κάν et έπιχειρη σαντες δημοσιεύειν παρεκαλοΰμεν άλληλονς ως Ικανοί Ιατροί οντες επεσκεψάμεθα δήπον άν εγώ re σέ και σΐ εμέ Φ ερε 7Tpbs θεών αύτδς δε δ Σωκράτης πως έχει το σώμα προς νγίειαν η ηδη τις άλλος διά Σωκράτην άπηλλάγη νόσον η δούλος η ελεύθερος κάν εγώ όΐμαι περί σον ετερα τοιαντα εσκοπούν και el μη ηυρίσκομεν δι ημάς μηδίνα e βελτίω γεγονότα τδ σώμα μήτε των ζενων μήτε των αστών μήτε άνδρα μήτε γυναίκα προς A ιός ώ Καλλίκλεις ον καταγέλαστου àv fjv rfj αλήθεια εις τοσοντον άνοιας έλθείν ανθρώπους ώστε πριν Ιδιωτεύοντας πολλά μεν όπως ετύχομεν ποιησαι πολλά δέ κατορθωσαι και γνμνάσασθαι ίκανώς την τέχνην τδ λεγόμενον δη τούτο εν τώ πίθω την κέραμέίαν έπιχειρειν μανθάνειν και αυτούς τε δημοσιεύειν έπιχειρειν και άλλους τοιούτους παρακαλεΐν ουκ ανόητον Ç Λ A ψ f I σοι οοκει αν είναι ουτω πραττειν Κ Α Λ Έμοιγε 5ΐ5 ΣΩ Ν ίρ δέ ω βέλτιστε άνδρών έπειδη σν μεν αντδς άρτι άρχη πράττειν τά της πόλεως πράγματα εμέ δέ παρα καλείς και ονειδίζεις ότι ου πράττω ουκ έπισκεψόμεθα άλληλονς Φέρε Κ αλλικλης ηδη τινά βελτίω πεποίηκεν των πολιτών εστιν δστις πρότερον πονηρδς ών άδικός τε και άκόλαστος και άφρων διά Κ αλλικλέα καλός τε κάγαθδς γέγονεν η ζένος η αστός η δούλος η ελεύθερος λέγε μοι b εάν τίς σε ταντα έζετάζη ώ Καλλίκλεις τ ί έρεΐς τίνα φήσεις βελτίω πεποιηκέναι άνθρωπον τη συνουσία τη ση 256 256 Ο provérbio alude à tentativa de se aprender uma arte tekhnè τέχνη sem passar pelas etapas preliminares de qualquer aprendizagem ou seja do mais fácil para o mais difícil assim como para se aprender a confeccionar um jarro grande se requer o aprendizado da confecção de objetos menores para que uma pessoa esteja apta a conduzir as ações da cidade o âmbito da política o macro GÓRGIAS 411 c a l Absolutamente soc Isso não vale então para todos os demais casos Se empreendêssemos os afazeres públicos e consultássemos um ao outro como se fôssemos médicos qualificados decerto nos examinaríamos reciprocamente eu a ti e tu a mim da seguinte forma Vamos lá pelos deuses em que estado se encontra o corpo de Sócrates relativamente à saúde Há alguém que já se livrou de alguma doença pela intervenção de Sócrates seja ele escravo ou homem livre E eu creio faria contigo um exame similar E se não descobríssemos nenhum corpo que tenha me lhorado por nossa intervenção seja de um estrangeiro ou de e um cidadão de um homem ou de uma mulher por Zeus Cá licles não seria verdadeiramente o cúmulo do ridículo que os homens chegassem a tamanho desvario a ponto de antes de cumprirem várias ações privadamente vacilando em umas acertando em outras e de exercitarem suficientemente a arte tentar aprender a cerâmica no jarro grande256 como diz o di tado e empreender os afazeres públicos e consultar outros ho mens igualmente desqualificados Não te parece que seria estulto agir assim c a l Pareceme soc E agora excelentíssimo homem visto que tu próprio 515 começaste recentemente a realizar os afazeres da cidade exor tandome a isso e reprovandome porque não as realizo257 não investigaremos um ao outro deste modo Vamos lá Cálicles já tornou melhor algum cidadão Há alguém que antes era vicioso injusto intemperante e estulto e que se tornou um homem belo e bom por causa de Cálicles seja estrangeiro ou cidadão es cravo ou homem livre Dizeme se alguém te indagar sobre isso Cálicles o que responderás Que homem dirás ter se tor b nado melhor com o teu convívio Hesitas em responder se há cosmo ela deve antes ter aprendido a conduzir corretamente as ações privadas o âmbito do οίκος oifcos o microcosmo O mesmo provérbio é referido por Platão no Laques 187b 2 5 7 Cf 484C486C 412 GÓRGIAS DE PLATÃO όκνεϊς άποκρίνασθαι είπερ εστιν τι εργον σόν ετι Ιδιω τενοντος πριν δημοσιεύειν έπιχεφεΐν ΚΑΑ Φ ιλόνικος εΐ ώ Σώκρατες ΣΩ Ά λ λ ον φιλονικία γε ερωτώ άλλ ώϊ αληθώς βου λόμενος είδέναι δντινά ποτέ τρόπον οιει δεΐν πολιτενεσθαι ν ημΐν η άλλον τον αρα έπιμελήση ημΐν έλθών έπι τα της πόλεως πράγματα η όπως οτι βέλτιστοι οι πολΐται ώμεν η ον πολλάκις ήδη ώμολογηκαμεν τούτο δεΐν πράττε ιν τον πολιτικόν ανδρα ωμολογηκαμίν η ον άποκρίνον ωμο λογηκαμεν εγώ υπέρ σου άποκρινονμαι εί τοίννν τούτο δει τον αγαθόν ανδρα παρασκεύαζαν τη εαυτόν πόλει νυν μοι άναμνησθεις είπε περί εκείνων των άνδρών ων όλίγω πρότερον έλεγες εί έτι σοι δοκοΰσιν αγαθοί πολΐται γεγο νέναι Περικλής καί Κίμων και Μιλτιάδης καί Θεμιστοκλής ΚΑΑ νΕμοιγε ΣΩ 0νκοΰν είπερ αγαθοί δηλον οτι έκαστος αυτών βελτίους έποίει τους πολίτας αντί χειρόνων έποίει η ού ΚΑΑ Ναι ΣΩ Ονκονν δτε Περικλής ηρχετο λέγειν εν τώ δημω χείρους ησαν οι Αθηναίοι η οτε τα τελευταία ελεγεν ΚΑΑ Τσακ ΣΩ Ούκ ίσως δη ώ βέλτιστε άλλ ανάγκη εκ των ώμολογημένων είπερ αγαθός γ ην εκείνος πολίτης ΚΑΑ Τ ί ουν δή ΣΩ Ονδέν άλλα τάδε μοι είπε έπι τοντω εί λέγονται Αθηναίοι διά Περικλέα βελτίους γεγονέναι η παν τονναν 258 258 A concepção da política como uma espécie de arte tekhnê τέχνη também aparece na boca de Sócrates nas Memoráveis de Xenofonte E num primeiro momento quando alguém quis saber se Temístocles dis tinguiuse de seus concidadãos devido ao convívio com algum sábio ou devido à sua natureza a ponto de a cidade voltar seus olhos para ele quando se requeria um homem excelente Sócrates disse a fim de incitar Eutidemo que era ingênuo consi derar que as artes de menor valor não adquirem excelência sem mestres competen tes mas o comando da cidade dentre todos os ofícios o mais importante considerar que advém aos homens automaticamente 422 και πρώτον μέν πυνθανομένου τίνος πότερον Θεμιστοκλής διά συνουσίαν τίνος τών σοφών ή φύσει τοσοϋτον διήνεγκε τών πολιτών ώστε προς έκεΐνον GÓRGIAS 413 algum feito teu relativo a uma situação privada antes de em preenderes as ações públicas258 c a l Almejas a vitória Sócrates259 soc Mas eu não te interrogo almejando a vitória porém querendo verdadeiramente saber segundo teu juízo como se deve agir politicamente entre nós Ou quando te volves aos afa zeres da cidade não te preocupas com outra coisa senão que nós cidadãos nos tornemos o quanto melhores Já não concorda mos repetidas vezes que o homem político deve agir assim Concordamos ou não Responde Concordamos eu responde rei por ti Pois bem se o homem bom deve dispor a sua própria cidade nessa condição relembrame agora e dizeme se aqueles homens que mencionavas há pouco Péricles Címon Milcíades Temístocles260 ainda te parecem ter sido bons cidadãos c a l Parecemme ter sido soc Então se foram bons não é evidente que cada um deles tornou melhores e não piores os cidadãos Tornouos ou não c a l Sim soc Então quando Péricles começou a falar publicamente os atenienses não eram piores do que quando ele proferiu seus derradeiros discursos c a l Talvez soc Talvez não excelente homem mas necessariamente segundo o que havíamos assentido uma vez que ele era um bom cidadão c a l E então soc Nada Mas dizeme o que se fala dos atenienses eles se tornaram melhores por causa de Péricles ou pelo contrário άποβλέπειν τήν πόλιν οπότε σπουδαίου άνδρός δεηθείη ό Σωκράτης βουλόμενος κινείν τον Εύθύδημον εΰηθες εφη είναι το οϊεσθαι τάς μέν ολίγου αξίας τέχνας μή γίγνεσθαι σπουδαίους άνευ διδασκάλων ικανών τό δέ προεστάναι πόλεως πάντων έργων μέγιστον ον από ταϋτομάτου παραγίγνεσθαι τοίς άνθρώποις 259 Sobre a ocorrência de termos da mesma raiz de φιλόνικος philonikos ver 457d4 457e3 50504 Sobre a distinção entre o diálogo filosófico e o diálogo erístico cf supra notas 32 141 e 214 260 Cf supra notas 79 200 201 e 202 414 GÓRGIAS DE PLATÃO τίον διαφθαρηναι νπ εκείνου ταυτί yap εγωγε ακούω Περικλεα πεποιηκεναι Αθηναίους αργούς καί δειλούς καί λάλους και φιλάργυρους εις μισθοφορίαν πρώτον καταστη σαντα ΚΑΛ Ύων τα ωτα κατεαγότων άκούεις ταύτα ω Σώ κρατες Σ ίΐ Ά λ λ α τάδε ουκετι ακούω αλλ οΐδα σαφώς καί εγω και σύ ότι το μεν πρώτον ηυδοκίμει Περικλής καί ουδεμίαν αισχρόν δίκην κατεψηφίσαντο αυτού Αθηναίοι ηνίκα χείρους ήσαν επειδή δε καλοί κάγαθοί εγεγόνεσαν ΰπ αυτού επί τελευτή τού βίου τού Περικλεούς κλοπήν αντου κατεψηφίσαντο ολίγου οε και θανατου ετιμησαν 2όι Segundo Aristóteles na Política Pérides instituiu o pagamento de dois e posteriormente três óbolos por dia δικαστικός μισθός dikastikos misthos para cada membro do corpo de juízes que compunha os tribunais de Atenas Parece que Sólon não aboliu aquelas instituições que já existiam anterior mente ou seja o Conselho e a eleição dos comandantes mas estabeleceu a partici pação do povo quando criou os tribunais compostos de todos os cidadãos Por isto inclusive algumas pessoas o censuram por ter abolido uma daquelas instituições e atribuído ao tribunal cujos membros eram escolhidos por sorteio autoridade sobre todos os assuntos Na medida em que isso se fortaleceu deleitaram o povo como se fosse ele um tirano e transformaram a consituição política em democracia Eflaltes e depois Pérides diminuíram a importância do Conselho do Areópago e Péricles estabeleceu pagamento para os membros dos tribunais dessa maneira então agiu cada um dos demagogos de modo a fortalecer a atual democracia 12743111 εοικε δέ Σόλων έκεΐνα μέν υπάρχοντα πρότερον ού καταλΰσαι τήν τε βουλήν και τήν τών αρχών αϊρεσιν τον δέ δήμον καταστήσαι τά δικαστήρια ποιήσας έκ πάντων διό καί μεμφονταί τινες αύτφ λϋσαι γάρ θάτερα κύριον ποιήσαντα το δικαστήριον πάντων κληρωτόν ον έπει γάρ τοϋτ ϊσχυσεν ώσπερ τυράννω τώ δήμω χαριζόμενοι τήν πολιτείαν εις τήν νυν δημοκρατίαν μετέστησαν και τήν μέν έν Άρείω πάγω βουλήν Εφιάλτης έκόλουσε καί Περικλής τά δέ δικαστήρια μισθοφόρο κατέστησε Περικλής καί τούτον δή τον τρόπον έκαστος τών δημαγωγών προήγαγεν αύξων εις τήν νυν δημοκρατίαν 262 Tratase provavelmente de uma referência aos oligarcas que tinham sim patia pelas instituições espartanas As orelhas rachadas τών τά ώτα κατεαγότων 5158 aludem aos efeitos da prática do boxe nos atletas espartanos característica GÓRGIAS 415 foram por ele corrompidos Pois pelo menos eu tenho escutado que Péricles tornou os atenienses preguiçosos covardes tagarelas e avarentos quando instituiu ineditamente as recompensas261 c a l Ouves essas coisas de pessoas com orelhas rachadas Sócrates262 soc Não apenas ouço tais coisas mas tanto eu quanto tu sabemos claramente que no princípio Péricles tinha boa repu tação e nenhum processo vergonhoso contra ele foi votado pe los atenienses quando estes eram piores Porém quando se tornaram homens belos e bons por causa de Péricles já no li miar de sua vida votaram contra ele um processo de roubo263 referida por Platão no Protágoras 342b como distintiva daquele povo O próprio Sócrates é satirizado por Aristófanes como um homem filoespartano como vemos nestes versos da comédia As Aves de 414 aC Antes de tu teres fundado essa cidade Todos os homens de então eram loucos pelos modos lacônicos De longas cabeleiras passavam fome eram sujos tipo Sócrates E portavam cajadinhos w 12801283 Πριν μέν γάρ οίκίσαι σε τήνδε τήν πόλιν έλακωνομάνουν απαντες άνθρωποι τότε έκόμων έπείνων έρρύπων έσωκράτων σκυτάλι έφόρουν 2ό3 Informações mais específicas sobre o processo de roubo contra Péricles ou seja de apropriação indébita do erário público encontramos sobretudo na his toriografia tardia pois embora Tucídides se refira ao caso em sua obra 2653 ele não oferece dados mais precisos tampouco define qual teria sido o teor da acusação Segundo Diodoro Sículo 12454 a acusação foi retirada sendolhe aplicada uma multa de oitenta talentos por questões de pouco valor segundo Plutarco Péricles 3545 a acusação foi retirada sendolhe aplicada uma multa de quinze ou cin quenta talentos segundo Idomeneu de Lâmpsaco FGrHist 338 F 9 a acusação partiu de Cléon que se tornou depois da morte de Péricles em 429 aC político de maior influência em Atenas segundo Teofrasto Fr 616 Fortenbaugh e Heráclito Pôntico Fr 47 Wehrli a acusação partiu de figuras de menor renome Símias e Lacrátides segundo Ateneu X11 589ε Péricles correu risco de perder a vida ou seu patrimônio U Fantasia Tucidide p 490491 416 GÔRGIAS DE PLATÃO δηλον ότι ωί πονηρού ovtoí ΚΑΛ T í ovv τούτον ϊνζκα κακοί ην ΥΙΐρικληί Σ ί2 Ονων yovv αν ίπιμξλητηί καί Ιππων καί βοών τοιοντοί ων κακοί αν έδόκει eivai d παραλαβών μη λακτί ζονταί kavrov μη0 κνρίττονταί μηθ δάκνονταί απέδζΐξΐ ταντα άπαντα ποιοννταί δι αγριότητα η ου δοκΐΐ σοι 264 Platão se refere aqui ao processo contra Péricles mencionado por Tucídi des em sua obra como vemos nesta passagem Todavia a cólera de todos contra Péricles não se arrefeceu até que ele foi condenado a pagar uma multa em dinheiro Não muito tempo depois por sua vez como a multidão adora fazer elegeramno general e entregaramlhe todos os ne gócios na medida em que o sofrimento de cada um se tornava menos lancinante e toda a cidade o requeria por considerálo homem de grande valor Pois durante os tempos de paz em que comandou a cidade ele a conduziu de forma moderada e a protegeu com segurança a cidade tornouse a mais grandiosa em suas mãos e quando a guerra foi deflagrada também nessa circunstância ele soube claramente estimar o poder que ela detinha 26535 ού μέντοι πρότερόν γε οί ξύμπαντες έπαύσαντο έν οργή εχοντες αυτόν πριν έζημίωσαν χρήμασιν ύστερον δ αύθις ού πολλψ όπερ φιλεΐ όμιλος ποιεΐν στρατηγόν εϊλοντο και πάντα τά πράγματα έπέτρεψαν ών μέν περί τά οικεία έκαστος ήλγει άμβλύτεροι ήδη όντες ών δέ ή ξύμπασα πόλις προσεδεϊτο πλείστου άξιον νομίζοντες είναι όσον τε γάρ χρόνον προύστη τής πόλεως έν τή ειρήνη μετρίως εξηγείτο και ασφαλώς διεφύλαξεν αύτήν και έγένετο έπ εκείνου μεγίστη επειδή τε ό πόλεμος κατέστη ό δέ φαίνεται και έν τούτω προγνούς τήν δύναμιν Tucídides em seu célebre elogio em primeira pessoa à figura de Péricles cf supra nota 79 o considerava o homem político por excelência cujos atributos prin cipais eram prestígio inteligência incorruptibilidade e técnica oratória Segundo ele diferentemente dos políticos que depois de sua morte em 429 aC passaram a co mandar as ações da cidade durante a guerra contra Esparta como Cléon por exem plo Péricles não recorria à lisonja para fazer prevalecer suas deliberações ainda que tivesse de enfrentar a cólera popular Tucídides mesmo quando se refere ao processo contra Péricles parece atribuirlhe uma função positiva dentro do mecanismo da democracia ateniense tendo em vista o contexto crítico em que se deu tal processo a peste o assédio de Esparta e de seus aliados ao território ático as más condições em que se encontrava o povo confinado dentro dos muros da cidade os sofrimentos particulares etc Ou seja o processo contra Péricles seja ele qual for é de certa forma entendido por Tucídides como consequência da condição precária em que estava Ate nas naquele momento tendo em vista a conduta passional que é própria à multidão em tais contextos Como Péricles era o principal político e responsável pela deflagra ção da guerra que parecia tender para o lado espartano seria natural que a vítima da cólera do povo fosse ele nesse caso processos judiciais e aplicações de multa seriam meios de manifestação do descontentamento do povo para com a política da cidade A Gomme An Histórical Commentary on Thucydides p 183 índice disso seria que o próprio Tucídides não emite qualquer juízo a respeito do processo se ele foi justo ou injusto tampouco define qual o seu teor um episódio que não incide negativamente sobre o êthos de Péricles nem faz dele um homem político de menor valor GÓRGIAS 417 e não o condenaram por pouco à morte264 Isso é evidência de que ele era um homem vicioso c a l E então Em vista disso Péricles era um homem mau soc Comparandoo ao pastor de asnos cavalos e bois265 ele pareceria mau se recebesse animais que não recalcitram não marram e não mordem e depois os apresentasse com todos esses defeitos em função de sua natureza selvagem Ou não te Nesse sentido pareceme razoável supor que Platão neste passo do Górgias esteja de certa forma respondendo ao elogio de Tucídides a Péricles como o grande homem político da democracia ateniense Para Platão Péricles assim como os demais políticos democráticos de renome não se constitui como o verdadeiro homem polí tico aquele que tenta cuidar da cidade e dos cidadãos de modo a tornar os próprios cidadãos melhores ao máximo έπιχειρητέον ήμίν έστιν τή πόλει και τοΐς πολίταις θεραπεύειν ώς βέλτιστους αυτούς τούς πολίτας ποιοΰντας 51357 Tal processo que Platão afirma ser concernente a roubo κλοπήν 5i6ai seria precisamente índice de que Péricles não foi um bom político pois se o processo foi justo então ele agiu injustamente e isso não é próprio do verdadeiro homem político se por sua vez foi injusta a sua condenação então Péricles não tornou melhores os cidadãos revelando sua falência como homem político O paradoxo em que é enredado Péricles é um dos recursos usados por Platão para revelar no Górgias sua crítica mais profunda à de mocracia como um todo nunca houve um verdadeiro homem político na história da democracia ateniense porque o problema seria a própria constituição democrática Embora esse tema seja tratado em sua completude apenas na República Platão já de lineia no Górgias ainda que apenas em esboço a figura do novo homem político do verdadeiro homem político o filósofo na imagem de Sócrates 52id 265 A metáfora do reipastor aparece pela primeira vez na literatura grega em Homero Ilíada 2243 quando Agamêmnon é chamado de pastor de povos ποιμήν λαών A comparação entre o homem político e o pastor de rebanhos é re corrente em Xenofonte como vemos nesta passagem das Memoráveis Quando os Trinta Tiranos mataram inúmeros homens que não eram os cidadãos mais vis e induziram inúmeros outros a praticar ações injustas Sócrates disse que lhe pareceria espantoso se alguém depois de se tornar pastor de reba nhos tornasse os bois inferiores e piores e não admitisse ser um mau boiadeiro e lhe pareceria ainda mais espantoso se alguém depois de se tornar o comandante da cidade tornasse os cidadãos inferiores e piores e não se envergonhasse disso e nem se considerasse um mal comandante da cidade 1232 έπεί γάρ oi τριάκοντα πολλούς μέν τών πολιτών και ού τούς χειρίστους άπέκτεινον πολλούς δέ προετρέποντο άδικείν είπε που ό Σωκράτης δτι θαυμαστόν οί δοκοίη είναι εϊ τις γενόμενος βοών αγέλης νομεύς και τάς βοΰς έλάττους τε και χείρους ποιών μή όμολογοίη κακός βουκόλος είναι ετι δέ θαυμαστότερον εϊ τις προστάτης γενόμενος πόλεως και ποιών τούς πολίτας έλάττους τε και χείρους μή αίσχύνεται μηδ οϊεται κακός είναι προστάτης τής πόλεως Sobre ο tema do reipastor ver Platão Político 2ô7a268d Aristóteles Ética Nicomaqueia viu 11613145 418 GÓRGIAS DE PLATÃO Λ Λ Λ Λ b κακοί αυαι επιμελητής οστισονν οτονονν ξωον os αν παρα λαβών ήμερωτερα απόδειξη άγριωτερα ή παρελαβε δοκεΐ ν η ον Κ Α Λ Πάνν γε ινα σοι γαρίσωμαι ΣΩ Καί τάδε τοίννν μοι χάρισαι άποκρινάμενος πότε ρον καί ο άνθρωπος εν των ζωων εστιν η ον Κ Α Λ Πώϊ γαρ ον ΣΩ Ονκονν ανθρώπων Περικλή επεμελετο ΚΑΛ Ναί ΣΩ Τ ί ονν ονκ εδε ι αντονς ως άρτι ω μολογον μεν δικαιοτερονς γεγονεναι αντί άδικωτερων νπ εκείνον εΐπερ c εκείνος επεμελεΐτο αντων αγαθός ων τα πολιτικά ΚΑΛ Πάυυ γε ΣΩ Ονκονν οι γε δίκαιοι ήμεροι ώί εφη Ομηρος συ δε τί φής οΰχ όντως ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ά λλ α μην αγριωτερονς γε αντονς άπεφηνεν η οίονς παρελαβεν και ταντ είς αυτόν δν ήκιστ αν ίβονλετο ΚΑΛ Βουλ σοι ομολογήσω ΣΩ Εί δοκω γε σοι αληθή λεγειν ΚΑΛ Έ στω δή ταντα ΣΩ Ονκονν εϊπερ αγριωτερονς άδικωτερονς τε και χείρονς d ΚΑΛ Έ στω ΣΩ Ουκ αρ αγαθός τα πολιτικά Περικλής ήν εκ τούτον τον λόγον ΚΑΛ Ον συ γε φής ΣΩ Μα Δ ί ονδε γε συ εξ ων ωμολόγεις πάλιν δε Λεγε μοι περί Κ ίμωνος ουκ εξωστράκισαν αϊτόν οντοι ονς GÓRGIAS 419 parece mau qualquer pastor de quaisquer animais que os recebesse b mais mansos e depois os apresentasse mais selvagens do que quando os recebeu Parecete ou não c a l Absolutamente para que eu te deleite soc Pois bem deleitame respondendo o seguinte se tam bém o homem é um animal ou não c a l E como não seria soc E Péricles não cuidava dos homens c a l Sim soc E então Eles não deviam como há pouco concordamos ter se tornado mais justos por causa de Péricles ao invés de mais injustos visto que ele cuidou deles e era bom nas ações políticas c c a l Absolutamente soc Os homens justos não são mansos como dizia Home ro2 E tu o que dizes Não é assim c a l É soc Todavia Péricles os mostrou mais selvagens do que quando os recebeu uma selvageria contra ele próprio contra quem ele menos haveria de querer c a l Queres que eu concorde contigo soc Contanto que eu pareça te dizer a verdade c a l Que assim seja soc Então uma vez mais selvagens mais injustos e pio res não é c a l Seja d soc Portanto Péricles segundo esse argumento não era bom na ação política c a l Não é o que tu dizes soc Por Zeus já que deste teu consentimento também tu o dizes26 267 Mas falame sobre Címon mais uma vez os homens de quem ele cuidava não o condenaram ao ostracismo para 266 Homero Odisseia 6120 os violentos e selvagens e injustos ή ρ οϊ γ ϋβρισταί τε και άγριοι ούδέ δίκαιοι 267 Cf 487ε 420 GÓRGIAS DE PLATÃO e 517 b έθεράπενεν iva αυτόν δέκα ετών μή ακούσειαν τη ς φωνής και Θεμιστοκλέα ταντα ταντα εποίησαν καϊ φυγή προσε ζημίωσαν Μιλτιάδης δέ τον Μαραθωνι εις το βάραθρον έμβαλεΐν εψηφίσαντο καϊ ει μή δια τον πρύτανιν ένέπεσεν αν καιτοι ούτοι εΐ ήσαν άνδρες αγαθοί ως συ φις ονκ αν 7rore ταντα επασχον ονκονν οι γε αγαθοί ηνίοχοι κατ άρχάς μεν ονκ εκπίπτονσιν εκ των ζευγών επ είδαν δέ θεραπενσωσιν τους ίππους και αυτοί άμείνονς γένωνται y λ V ι ηνίοχοι τοτ εκπιπτονσιν ονκ εστι ταντ οντ εν ηνιοχεια οΰτ εν αλλω εργω ουδενί ή δοκεΐ σοι ΚΑΛ Ονκ εμοιγε ΣΩ Αληθείς άρα ως εοικεν οι έμπροσθεν λόγοι ήσαν ότι ονδενα τιαεΐς ίσαεν ανδοα άναθόν νενονότα τα πολιτικά εν τήδε τη πόλει σν δε ωμολόγεις των ye νυν ονδενα των μέντοι έμπροσθεν καϊ προείλον τούτονς τονς ανδρας ουτοι δε ανεφάνησαν εζ ίσου τοΧς νυν όντες ώστε εΐ οντοι f V 9 λ V ρήτορες ήσαν ούτε τη αληθινή ρητορική εχρωντο ου γαρ αν εξεπεσον ούτε τη κολακικη ΚΑΛ Αλλα μέντοι πολλοί γε δει ω Σωκρατες μή ποτέ τις των νυν έργα τοιαΰτα έργάσηται οΧα τούτων όστις βονλει εΐργασται ΣΩ Ω δαιμόνιε ονδ εγω ψέγω τούτους ως γε διακό νους είναι πόλεως αλλά μοι δοκονσι των γε νυν διακονικω 268 269 268 Ο ostracismo ostrakismos όστρακισμός diferentemente do exílio phugê φυγή não era uma punição por má conduta mas por uma ação polí tica malsucedida Címon foi condenado ao ostracismo em 461 aC depois do fracasso de sua intervenção em favor dos espartanos na chamada terceira Guerra Messênica Segundo Plutarco Címon 178 Címon não cumpriu os dez anos de banimento estipulado por tal punição mas foi chamado de volta a Atenas em 457 aC depois da batalha de Tanagra por um decreto proposto por Péricles E Dodds op cit p 359 269 Não se sabe ao certo a data do ostracismo de Temístocles mas supõese ter acontecido em 474 aC um ou dois anos depois de sua condenação por traição quando os espartanos deram provas de seu envolvimento com Pausânias ver Tucí dides 1135 e de sua partida para a Pérsia E Dodds op cit p 359 GÕRGIAS 421 que não ouvissem por dez anos a sua voz268 E não fizeram o mesmo a Temístocles e o puniram com o exílio269 E Milcíades de Maratona não votaram a favor de que ele fosse atirado ao precipício e se não tivesse sido a intervenção do pritaneu teria e ali se precipitado270 Com efeito esses homens se fossem bons como dizes jamais teriam sofrido essa sorte Os bons cocheiros não são os que no princípio conseguem se suster na parelha e só tempos depois dela caem quando já haviam cuidado dos cavalos e se tornado eles próprios melhores cocheiros Isso não acontece nem na condução de parelhas nem em qualquer ou tro ofício Ou te parece que aconteça c a l Não a mim soc Portanto como é plausível os argumentos anteriores eram verdadeiros271 que nós não conhecemos nenhum homem 517 que tenha sido bom homem político nessa cidade E tu concor davas que não havia nenhum entre os contemporâneos mas que entre os predecessores sim e selecionou esses homens contudo eles se revelaram iguais aos de hoje de modo que se rétores eles foram não empregaram nem a verdadeira retó rica272 pois não teriam sucumbido nem a lisonjeadora c a l Muito longe disso Sócrates nenhum homem contem porâneo jamais realizará feitos semelhantes aos realizados por qualquer um desses predecessores à tua escolha b soc Extraordinário homem eu não os vitupero enquanto servidores da cidade mas eles me parecem ter sido melhores 270 Heródoto a única fonte que se refere a esse episódio diz apenas que Mil cíades sofreu um processo que estipulava pena capital mas não especifica qual seria ela 6136 Acabou se livrando da morte pagando em contrapartida uma multa de cinquenta talentos Segundo Xenofonte Helénicas 1720 ser atirado ao preci pício foi durante certo tempo a pena determinada pelo decreto de Canono contra os inimigos do povo E Dodds op cit p 359 271 Cf 503bc 272 Sobre a verdadeira retórica cf supra nota 199 Sobre o desenvolvi mento da concepção de uma retórica filosófica que se constitui como arte tekhnè τέχνη e não como lisonja kolakeia κολακεία ver Platão hedro 266c274a 422 GÓRGIAS DE PLATÃO τεροι γεγονεναι και μάλλον οΐοί τε εκπορίζειν rrj πόλει ών επεθύμει άλλα γάρ μεταβιβάζειν τας επιθυμίας και μη επίτρεπαν πείθοντες και βιαζόμενοι ειτι τούτο όθεν εμελ λον άμείνους εσεσθαι οι πολΐται ώί έπος είπεΐν ονδεν c τούτων διεφερον κείνοι οπερ μόνον εργον εστιν άγαθου πολίτου ναΰς ôè καί τείχη και νεώρια και άλλα πολλά τοιαΰτα και εγώ σοι ομολογώ δεινότερους είναι εκείνους τούτων εκποριζειν πραγμα ουν γελοιον ποιονμεν εγω τε και συ εν τοΐς λόγοις εν π αντί γάρ τώ χρόνω ον διαλεγό μεθα ουδεν παυόμεθα είς το αυτό άεϊ περιφερόμενοι και άγνοούντες αλληλων ότι λεγομεν εγώ γουν σε πολλάκις οίμαι ώμολογηκεναι καϊ εγνωκεναι ώί αρα διττή αυτή τις d η πραγματεία εστιν και περί το σώμα και περί την ψυχήν και η μεν ετερα διακονική εστιν fj δυνατόν είναι εκπορίζειν εαν μεν πεινί τα σώματα ημών σιτια εαν οε οιψτ ποτά εάν δε ριγώ ίμάτια στρώματα υποδήματα αλλ ών ερχεται σώματα εις επιθυμίαν και εζεπίτηδύς σοι δια τών αυτών εικόνων λέγω ΐνα ραον καταμάθης τούτων γάρ ποριστικον είναι η κάπηλον όντα η έμπορον η δημιουργόν του αυτών e τούτων σιτοποιόν η όψοποιόν η ΰφάντην η σκυτοτόμον η σκυτοδεφόν ουδεν θαυμαστόν εστιν όντα τοιοΰτον δόζαι και αΰτώ καϊ τοΐς αλλοις θεραπευτήν είναι σώματος παντι τώ 273 273 Essa personificação da cidade referida como uma espécie de organismo cujos apetites τάς έπιθυμίας 5i7bs são satisfeitos pela ação lisonjeadora pró pria da política democrática nos remete de certo modo ao princípio metodológico adotado pela personagem Sócrates na construção da cidade ideal na República n 368d3ó9a para encontrar a definição apropriada de justiça Sócrates parte da ci dade macrocosmo para chegar ao indivíduo microcosmo tendo em vista a si milaridade de sua constituição interna Além da analogia entre cidade e indivíduo 503c 5iocd 5i2e5i3a 5i7b5i8a 5i8e5i9a há no Górgias outros aspectos comuns à República tais como i a concepção do querer boulésis βούλησις pressuposta nos argumentos de Sócrates 4óoac 467C468e mas que não é ex plorada a fundo no diálogo ii a noção de uma alma com três elementos na psico logia moral sustentada por Cálicles έπιθυμίαι φρόνησις ανδρεία como observa J Cooper em seu artigo op cit p 66 já aludindo de certa forma à concepção de uma alma tripartida exposta no Livro iv da República iii a referência de Sócrates à ideia de parte da alma no mito siciliano reportado por ele τής ψυχής τούτο έν ω έπιθυμίαι είσι 4933 τούτο τής ψυχής ού αί έπιθυμίαι είσί 493bi embora ela não seja desenvolvida iv a presença marcante do elemento thumos θυμός na dinâmica GÓRGIAS 423 servidores do que os contemporâneos e mais capazes de prover a cidade do que lhe apetecia273 Todavia redirecionar seus ape tites e não lhes ceder usando a persuasão e a força274 de modo a tornar melhores os cidadãos nesse aspecto eles em nada se diferem dos outros por assim dizer e esse é o único feito de um bom político Quanto a naus muralhas estaleiros e todas as demais coisas do gênero275 eu também concordo que eles foram mais prodigiosos do que os contemporâneos em prover a cidade disso Assim tanto eu quanto tu agimos de modo ri dículo na discussão durante todo o tempo em que dialogáva mos não paramos de girar sempre em torno do mesmo ponto e de ignorar reciprocamente o que um ou outro dizia De fato creio que tu concordaste comigo repetidas vezes e compreen deste enfim que há duas atividades concernentes tanto ao corpo quanto à alma e que uma delas é servidora e capaz de prover o nosso corpo de comida se houver fome de bebida se houver sede de mantos cobertores e sapatos se sentir frio e de outras coisas que apetecem o corpo E eu te falo por meio das mesmas imagens propositalmente a fim de que tua com preensão seja mais fácil Como o comerciante o negociante e os artífices entre eles o padeiro o cozinheiro o tecelão o sa pateiro e o curtidor são provedores dessas coisas não é ad mirável que eles sendo como são pareçam ser a si próprios e dialógica sobretudo com relação à vergonha que aparece referida como causa con corrente da motivação humana 455cd 461b 482d v a ideia do thumos aliado da razão sugerida en passant por Sócrates 511b vi o problema do advento da tirania no seio da democracia representado metaforicamente pela imagem do leão na teoria sobre a natureza política do homem sustentada por Cálicles 48364840 vii as semelhanças entre os argumentos sustentados por Cálicles e Trasímaco Livro 1 da República sobre a natureza da justiça e enfim viii o Mito Final que nos remete ao Mito de Er que encerra a República 274 Sobre a função positiva da persuação e da força πείθοντες καί βιαζόμενοι 517b6 na filosofia política de Platão como meio para a promoção do bem comum ver República v i i 5 i 9 e 5 2 o a Político 2 9 6 a 2 9 7 b 275 Tanto Heródoto 7144 quanto Tucídides 1143 atribuem a Tcmístocles o fortalecimento da frota ateniense fator decisivo na resistência contra a invasão persa a construção de muralhas e estaleiros foi referida acima 45 sde como fruto das ações de Temístocles e Péricles O mesmo tema é referido por Sócrates prova velmente de forma irônica no Menêxeno 245a 424 GÓRGIAS DE PLATÃO 5 1 8 b c d μη Ιδότι Sn έστιν τις παρά ταύτας απάσας τέχνη γυμνά στική τε και ιατρική η δή τω οντι γ στιν σώματος θΐραπάα ήνπρ και προσήκα τούτων αρχήν πασών των τίχνών και χρήσθαι τοΐς τούτων έργοις δια το Ιδέναι άτι χρηστόν και πονηρον των σιτιων ή ποτών στιν et αρίτην σώματος τας δ άλλας πάσας ταύτας άγνοίΐν όιο όή και ταύτας μέν δουλοπρπΐς τ καί διακονικός και ανλυθέρους ΐναι πρϊ σώματος πραγματΐίαν τάς άλλας τέχνας την δε γυμναστικήν και ιατρικήν κατά τδ δίκαιον δίσποίνας ΐναι τούτων ταντα ουν ταυτα οτι στιν και πρι ψυχήν τοτ μέν μοι δοκϊς μανθάνίΐν οτι λέγω καί δμολογάς ως ίδώς οτι γώ λέγω ήκΐς δε ολίγον ύστίρον λέγων οτι άνθρωποι καλοί κάγαθοϊ γίγόνασιν πολΐται έν τί πόλΐ και πηδάν γώ έρωτώ οΐτινς δοκΐς μοι δμοιοτάταυς προτίνσθαι ανθρώπους πρι τα πολιτικά ώσπίρ αν et περί τα γυμνα στικά έμον έρωτώντος οΐτινς αγαθοί γγόνασιν η ίσιν σωμάτων θραπυταί έλγές μοι πάνυ σπονδάζων Θαρίων δ άρτοκόπος και Μίθαικος δ την όψοποιίαν συγγγραφώς την Σικελικήν και Σάραμβος δ κάπηλος οτι ουτοι θαυμάσιοι γίγόνασιν σωμάτων θραπνταί δ μέν άρτους θαυμαστούς παρασκίυάζων δ δε οψον δ δε οίνον ίσως άν ουν ηγα νάκτίΐς ΐ σοι έλγον γώ οτι Ανθρωπί επαίει ούδν πρϊ γυμναστικής διακόνους μοι λέγας καί έπιθυμιών παρασκυαστάς ανθρώπους ουκ έπαΐοντας καλάν κάγαθον ουδέν περί αυτών οι άν οίτω τνχωσιν έμπλήσαντίς και V ί Λ 7ταχνναντ τα σώματα των αννρωτιων τταινονμνοι νπ αυτών προσαπολουσιν αυτών και τας αρχαίας σαρκας οι δ αύ δι απίΐρίαν ου τούς έστιώντας αίτιάσονται τών νόσων αιτίους ΐναι καί τής αποβολής τών αρχαίων σαρκών αλλ οί αν αυτοΐς τύχωσι τότ παρόντίς και συμβουλύοντές τι 276 278 276 Cf 46465 50obd 277 Cf supra nota 56 278 Teárion era proprietário de uma padaria em Atenas provavelmente bas tante conhecida tendo em vista a referência de Aristófanes em uma de suas peças venho da padaria de Teárion ήκω Θεαρίωνος άρτοπώλιον λιπών fri e o elo gio de uma personagem de Antífanes aos pães de composição branca όρων μέν G Ó R G IA S 425 aos demais homens os que cuidam do corpo a todos que igno ram que há além de todas essas atividades a arte da ginástica e da medicina que cuidam realmente do corpo276 A ambas convém dominar todas essas artes e utilizar os seus ofícios por que elas sabem quais comidas e bebidas são úteis ou nocivas à virtude do corpo enquanto todas as demais o ignoram Por esse 518 motivo não é admirável que estas últimas em relação à ativi dade do corpo sejam escravas servidoras e desprovidas de li berdade enquanto a ginástica e a medicina conforme o que é justo sejam as suas déspotas O mesmo argumento então é válido para a alma277 por ora tu me pareces entender o que digo e concordas comigo como se soubesses o que falo mas instantes depois vens afirmar que certos homens foram belos b e bons cidadãos na cidade Quando te pergunto quem foram eles tu me pareces indicar homens na política como se inqui rido no tocante à ginástica sobre quais homens foram ou são os que cuidam do corpo tu me respondesses com absoluta se riedade que foram diligentes admiráveis do corpo Teárion o padeiro Miteco escritor sobre a culinária siciliana e Sarambo o comerciante um guarnecedor de tortas admiráveis o outro de comida e o outro de vinho278 Assim talvez te enfurecesses c se eu dissesse que Homem não sabes nada a respeito da gi nástica te referes a homens servidores e guarnecedores de ape tites ignorantes de tudo o que é belo e bom sobre o assunto Eles quando obtêm sucesso fazem saciar e engordar o corpo das pessoas motivo pelo qual são louvados por elas mas des troem a sua antiga compleição muscular E tais pessoas por sua vez devido à inexperiência no assunto não inculparão esses d anfitriões de responsáveis pelas doenças e pela degeneração de sua antiga compleição muscular Quando a saciedade lhes ad vém acarretandolhes tempos depois a doença sem a promoção ά ρ το υ ς τ ο ύ σ δ ε λ ε υ κ ο σ ω μ ά το υ ς d e su a lo ja fr 17 6 K o c k S o b re M iteco M á x im o de T ir e a firm a q u e ele era d e S ira c u sa e e ra tã o b o m c o z in h e iro q u a n to P id ias era b o m e scu lto r a c o z in h a sira cu sa n a e ra fa m o sa p o r su a lu x ú ria v er P latão República m 404d A ristó fa n e s Comoediae fr 2 16 H o r á c io Odes 3 11 8 Z e n ó b io 594 S o b re S a ra m b o P la tã o é p ro v a v e lm e n te a ú n ic a fo n te E D o d d s o p cit p 363 426 G Ó R G IA S D E P L A T à O e 519 b c όταν όη αϊτοί ηκη η τότε πλησμονή νόσον φέρονσα σνχνω f t t tf if rs rs λ ύστερον χρονω are αν ευ του υγιεινού γεγονυια τοντονς αιτιάσονται και ψεξουσιν και κακόν τι ποιησονσιν άν οΐοί τ ωσι tovs δε προτερους εκείνους και αίτιους των κακών εγκωμιάσουσιν και συ νυν ώ Καλλίκλεις ομοιότατου τούτω εργάζτ εγκωμιάζεις ανθρώπους οι τούτους εϊστιά κασιν ευωχούντες ων επεθύμουν καί φασι μεγάλην την πόλιν πεποιηκεναι αυτούς ότι δε οιδεΐ και ύπουλος εστιν δι εκείνους τους παλαιούς ούκ αισθάνονται άνευ γάρ σωφροσύνης και δικαιοσύνης λιμένων και νεωρίων και τειχών και φόρων και τοιούτων φλυαριών εμπεπλήκασι την πάλιν όταν ούν ελθη η καταβολή αυτή της ασθένειας τους τότε παρόντας αιτιάσονται συμβούλους Θεμιστοκλεα δ καί Κίμωνα και Ώερικλεα εγκωμιάσουσιν τους αιτίους των κακών σου δε ίσως επιληψονται εάν μη ευλαβγ καί ro í εμού εταίρου Άλκιβιάδου όταν και τά αρχαία προσ απολλύωσι προς οΐς εκτησαντο ουκ αιτίων δντων των κακών άλλ ίσως συναιτίων καίτοι εγωγε ανόητου πράγμα καί νυν ορώ γιγνόμενον καί ακούω τών παλαιών άνδρών περί αισθάνομαι γάρ όταν η πόλις τινά τών πολιτικών άνδρών μεταχειρίζηται ώς άδικούντα άγανακτονντων καί σχετλια ζόντων ώς δεινά πάσχουσι πολλά καί άγαθά την πόλιν πεποιηκότες άρα αδίκως υπ αυτής άπόλλυνται ώς ο τούτων λόγος τά δε ολον ψευδός εσ τιν προστάτης γάρ πόλεως ούδ αν εις ποτέ αδίκως άπόλοιτο υπ αυτής της πόλεως ης προστατεΐ κινδυνεύει γάρ ταυτάν είναι όσοι τε πολιτικοί προσποιούνται είναι καί όσοι σοφισταί καί γάρ οί σοφι σταί τάλλα σοφοί δντες τούτο άτοπου εργάζονται πράγμα φάσκοντες γάρ αρετής διδάσκαλοι είναι πολλάκις κατηγο ροϋσιν τών μαθητών ώς άδικούσι σφάς arrows τούς τε 279 279 S ó c ra te s u sa a m e sm a p a la v r a to lice s φ λ υ α ρ ιώ ν 5 19 3 3 p a ra co n d e n a r as a ç õ e s d o s p o lític o s d e m o c rá tic o s q u e C á lic le s h a v ia u s a d o p a ra c e n s u ra r a su a d e fe sa d a ju s tiç a e d a te m p e ra n ç a 492C 7 280 S o b re T em ísto cles C ím o n e P éricles cf su p ra n o ta s 200 201 e 79 re s p e c tiv a m e n te S e g u n d o T u c íd id e s 2 6 5 o p ró p rio P é ricle s te ria sid o v ítim a d a có le ra d o p o v o q u e o c o n d e n o u a p a g a r u m a m u lta n o m o m e n to d e cr is e e m 430 a C G Ó R G IA S 4 2 7 de sua saúde elas inculparão vituperarão e maltratarão à me dida de sua capacidade quem estiver presente àquela ocasião e prestar algum conselho enquanto àqueles primeiros os res ponsáveis pelos males só lhes tecerão elogios E o que fazes agora Cálicles é muito semelhante elogias homens que foram e anfitriões e que empanturraram essas pessoas do que lhes ape tecia Dizem que eles tornaram a cidade grandiosa mas não percebem que ela está intumescida e inflamada por causa des ses homens de outrora Pois sem justiça e temperança eles sa 519 ciaram a cidade de portos estaleiros muralhas impostos e tolices do gênero279 porém quando sobrevier enfim aquele assalto de fraqueza inculparão os conselheiros presentes nesse momento e elogiarão Temístocles Címon e Péricles280 os res ponsáveis pelos males Se não tiveres precaução talvez ataquem a ti e a meu companheiro Alcibíades281 quando perderem tanto os bens por eles conquistados quanto os antigos bens ainda b que não sejais responsáveis pelos males mas talvez correspon sáveis Ademais é estulto o que vejo acontecer hoje e o que ouço a respeito desses homens de outrora Pois percebo que quando a cidade surpreende alguns desses políticos cometendo injus tiça eles se enfurecem e se queixam da sorte terrível que sofrem Eis o seu contraargumento que eles depois de terem realizado inúmeros bens à cidade são por ela arruinados É uma com pleta mentira pois jamais um líder da cidade seria arruinado c injustamente pela própria cidade da qual é líder É provável que tanto os políticos de fachada quanto os sofistas sejam os mes mos Pois os sofistas apesar de serem sábios em outros assun tos incorrem no seguinte absurdo afirmam que são mestres de virtude mas acusam frequentemente seus discípulos de co meterem injustiças contra eles quando os privam de salários e q u a n d o A te n a s se e n c o n tr a v a a sso la d a p e la p este p e lo a ssé d io d e Iisp arta e d e seu s a lia d o s p e la s m ás c o n d iç õ e s e m q u e se e n c o n tr a v a o p o v o c o n fin a d o d e n tro d o s m u ro s d a cid a d e d e n tre o u tro s fa to res cf su p ra n o ta 264 2 8 1 S o b re A lcib ía d e s cf su p ra n o tas 10 4 e 107 S o b re o p ro ce sso co n tra A lc i b ía d e s e m 4 15 a G q u a n d o e m c a m p a n h a n a S icília a re sp e ito d a m u tila ç ã o d as h e rm a s e d a p ro fa n a ç ã o d o s m isté rio s v e r T u c íd id e s 6 28 29 6 5 3 6 6 1 428 G Ó R G IA S D E P L A T à O μισθούς αποστερούντες καϊ άλλην χάριν ονκ άποόιόόντες d ευ παθόντες νπ αυτών και τούτον του λόγου τ ί êtv άλογώ τερον εϊη πράγμα ανθρώπους άγαθούς και όικαίονς γινο μένους εξαιρεθεντας μεν αδικίαν υπό του διδασκάλου σχόντας be δικαιοσύνην àbiKeîv τοντω ω ονκ εχονσιν ου boKeî σοι τούτο ατοπον eivai ώ έταîpe ώΐ αληθώς δημη γορειν μ ήνάγκασας ώ Καλλίκλεις ονκ έθελων άποκρί νεσθαι ΚΑΛ Συ δ ονκ άν οΐός τ εϊης λéγeιv ei μη τίς σοι αποκρίνοιτο e ΣΩ Εοικά ye νυν γουν συχνούς reiνω των λόγων επειδή μοι ονκ έθελεις άποκρίνεσθαι άλλ ώγαθε ewe προς Φιλίον ου δοκει σοι αλογον eivai αγαθόν φάσκοντα πεποιηκεναι τινα μεμφεσθαι τοντω ότι νφ εαντοΰ αγαθός γεγονώς Te και ών έπειτα πονηρός εστιν ΚΑΛ Εμοιγε δοκεΊ ΣΩ Ονκοΰν άκούεις τοιαντα λεγόντων των φασκόντων παιδευειν ανθρώπους el ς αρετήν 282 282 A r g u m e n to se m e lh a n te é e m p re g a d o p o r Isó cra te s n o se u d is c u r s o Con tra os Sofistas 5 E o q u e é m a is rid íc u lo d a q u e le s d e q u e m é p re cis o re c e b e r d in h e iro a o s q u a is p re te n d e m tr a n sm itir a ju s tiç a eles d e s c o n fia m a o p a sso q u e d a q u e le s d e q u e m ja m a is fo ra m m e stre s eles e x ig e m as m e sm a s g a ra n tia s e x ig id a s a o s d is c í p u lo s d e lib e ra n d o b e m so b re a su a p ró p ria se g u ra n ça m as a g in d o c o n tra ria m e n te a o q u e p ro fessa m 6 C o n v é m à q u eles q u e e n sin a m o u tra m a téria q u a lq u e r o b se rv a r co m acu id a d e os seus interesses p o is n a d a im p ed e qu e os q u e se to rn a ram p ro d ig io so s e m o u tra s co isa s n ã o sejam h o n e sto s q u a n to ao s co n trato s T o d avia co m o n ã o seria iló g ic o aq u e le s q u e p ro m o v e m a v ir tu d e e a te m p e ra n ç a n ã o co n fia re m so b re tu d o e m seu s d iscíp u lo s P ois se p a ra c o m o s d em ais h o m e n s eles sã o v irtu o so s e ju sto s ce rta m en te n ã o en g a n a rã o a q u eles p o r m e io d o s q u a is v ie ra m a ser o q u e são 56 Ο δέ πάντων οτι παρά μέν ών δει λαβεΐν αυτούς τούτοις μέν άπιστούσιν οις μέλλουσι την δικαιοσύνην παραδώσειν ών δ ούδεπώποτε διδάσκαλοι γεγόνασιν παρά τούτοις τά παρά τών μαθητών μεσεγγυοϋνται προς μεν την ασφάλειαν ευ βουλευόμενοι τώ δ έπαγγέλματι τάναντία πράττοντες Τούς μέν γάρ άλλο τι παιδεύοντας προσήκει διακριβοΰσθαι περί τών διαφερόντων ούδεν γάρ κωλύει τούς περι έτερα δεινούς γενομένους μή χρηστούς είναι περί τά συμβόλαια τούς δέ G Ó R G IA S 429 não lhes restituem outra recompensa embora tenham obtido sucesso por causa de suas lições282 E o que seria mais irracional do que este argumento de que homens que se tornaram bons e justos que tiveram a injustiça arrancada pelo mestre e a jus tiça posta no lugar cometerem injustiça com aquilo que não possuem mais Isso não te parece absurdo meu amigo Tu me constrangeste a agir como um verdadeiro orador público Cá licles porque não desejaste responder283 c a l E tu não serias capaz de falar se alguém não respon desse às tuas perguntas soc É plausível nesse momento estendome em discursos contínuos porque não desejas responder minhas perguntas Mas bom homem dizeme pelo deus da Amizade não te pa rece irracional que alguém afirme ter tornado bom outro ho mem e o censures porque ele é vicioso embora ele tenha se tornado bom e seja bom por sua causa c a l Pareceme soc Não escutas então coisas do gênero daqueles que afir mam educar os homens em vista da virtude284 τ ή ν α ρ ε τ ή ν κ α ι τ ή ν σ ω φ ρ ο σ ύ ν η ν έ ν ε ρ γ α ζο μ έ ν ο υ ς π ώ ς ο ύ κ α λ ο γ ό ν έ σ τιν μή το ΐς μ α θ η τα ΐς μ ά λ ισ τα π ισ τε ύ ειν Ο ύ γ ά ρ δή π ο υ π ερ ί τ ο ύ ς ά λ λ ο υ ς ό ν τ ε ς κ α λ ο ί κ ά γ α θ ο ί κ α ί δ ίκ α ιο ι π ερ ί τ ο ύ τ ο υ ς έ ξ α μ α ρ τ ή σ ο ν τ α ι δ ι ο ϋ ς τ ο ιο ϋ τ ο ι γ εγ ό ν α σ ιν 283 S ó crates ju stifica seu re cu rso à makrologia co m o ten tativa d e d issu asã o de C á lic le s d a v id a p o lítica a trib u in d o cu lp a à reca lcitrâ n cia d o in terlo cu to r q u a n d o ele se n e g o u a co n tin u a r o d iá lo g o 5 0 5 C d O u so d o v e rb o c o n str a n g e r ή ν ά γ κ α σ α ς 5 i9 d 6 in d ic a p re cisa m e n te q u e a su a perfomance c o m o r é to r n e sse m o m e n to d o d iá lo g o n ã o se d e v e a u m ato v o lu n tá r io m a s à n e ce ssid a d e d a o ca siã o S eria esse o a r g u m e n to d e S ó c ra te s p a ra e x p lic a r seu c o m p o rta m e n to p a ra d o x a l n o p rin cíp io d o d iá lo g o se u in tu ito fo i g a ra n tir q u e G ó rg ia s p e rm a n e ce sse re strito a o d o m ín io d a brakhulogia e e v ita sse a makrologia típ ic a d o d iscu rso re tó rico 4 4 9 b c a o p asso q u e a g o ra ele p ró p rio se se rv e d a q u e le m e s m o m o d o d e d is c u r so q u e h avia im p e d id o seu s in te rlo cu to re s d e usar 284 E ssa é a ca ra c te riz a ç ã o g e ra l d o s so fista s d e lin e a d a p o r P latã o n o s d iá lo gos m e stre s d e v irtu d e a d e sp e ito d o q u e ca d a u m d eles em p a rtic u la r e n te n d e p elo te r m o α ρ ετή areté v e r Protâgoras 3 i8 e 3 ig a 349a Hípias Maior 283c Apologia i9 d 2 o c Mênon 9 5 b c Eutidemo 2 7 3 d S o b re a p e c u lia rid a d e d e G ó rg ia s em re la ç ã o a o s d e m a is so fistas cf su p ra n o ta 43 430 G Ó R G IA S D E P L A T à O ίο ΚΑΛ Έγωγε άλλα τ ί άν λεγοις ανθρώπων περί ούδενος άξιων ΣΩ Τ ί δ αν περί εκείνων λεγοις οι φάσκοντες προε στάναι της πόλεως καί επιμελεΐσθαι όπως ώς βέλτιστη εσται πάλιν αυτής κατηγοροΰσιν όταν τύχωσιν ώς πονη ρότατης οϊει τι διαφερειν τούτους κείνων ταυτόν ω μακάρι εστϊν σοφιστής καί ρήτωρ η εγγύς τι και παρα πλήσιου ώσπερ εγώ ίλεγον προς Πώλοι σν δε δι άγνοιαν b το μεν παγκαλον τι οιει είναι την ρητορικήν του οε κατα φρονείς ττ δε αλήθεια κάλλιαν έστιν σοφιστική ρητο ρικής οσωπερ νομοθετική δικαστικής και γυμναστική ιατρικής μόνοις δ εγωγε και ωμήν τοΐς δημηγόροις τε και σοφισταίς ουκ εγχωρειν μεμφεσθαι τούτω τω πράγματι δ αυτοί παι δεύουσιν ώς πονηρόν εστιν εις σφάς ή τω αυτω λόγω τούτω άμα και εαυτών κατηγορεΐν ότι ουδεν ώφελήκασιν ους φασιν ώφελεΐν ονχ ούτως χΐ ο ΚΑΛ Πάιυ γε ΣΩ Καί προεσθαι γε δήπου την ευεργεσίαν άνευ μισθού ώς τδ είκός μόνοις τούτοις ίνεχώρει εϊπερ αληθή ίλεγον άλλην μεν γάρ ευεργεσίαν τις ευεργετηθείς οΐον ταχύς γενόμενος διά παιδοτρίβην ίσως άν άποστερήσειε την χάριν εί προοΐτο αυτω 6 παιδοτρίβης και μη συνθεμένος αυτω μισθόν ότι μάλιστα άμα μεταδιδούς τού τάχους λαμ 1 βάνοι τδ άργύριον ου γάρ δη τή βραδυτήτι οΐμαι άδικουσιν οι άνθρωποι άλλ αδικία ή γάρ ΚΑΛ Ναι 285 285 S e m e lh a n te re p u lsa a o o fíc io d o s so fista s é m a n ife s ta d a p e la p e rs o n a g e m A n ito n o d iá lo g o Mênon s o c D e c e r to ta m b é m tu e stá s cie n te d e q u e sã o eles o s ch a m a d o s so fista s p e lo s h o m e n s a n P o r H é rcu le s ca la te S ó cra te s Q u e ta m a n h o d e sv a rio n ã o se a p o d e re d e n e n h u m p a re n te o u a m ig o m e u se ja e le c id a d ã o o u e stra n g e iro q u e o le v e a p ro c u rá lo s e a ser d eso n ra d o p o r eles u m a v e z q u e tais h o m e n s sã o m a n ifesta m en te a d e so n r a e a r u ín a p a ra q u e m c o m eles co n v iv e 9 ib 7 C 4 ΣΩ Ο ϊσ θ α δ ή π ο υ κα ι σ ύ ο τι ο ύ τ ο ί είσιν ο ϋ ς ο ί ά ν θ ρ ω π ο ι κ α λ ο ϋ σ ι σ οφ ισ τή ς G Ó R G IA S 431 c a l Sim Mas o que dirias sobre homens sem mérito285 520 soc E o que dirias sobre os que afirmam ser líderes e cui dar da cidade para que ela seja o quanto melhor e em troca acusamna quando lhes é propício de ser a mais viciosa Julgas que há alguma diferença entre esses homens e aqueles O sofista e o rétor homem venturoso são o mesmo ou muito próximos e semelhantes como eu dizia a Polo286 mas devido à tua igno rância julgas que a retórica é de todo bela e desprezas a outra b Na verdade a sofística é mais bela do que a retórica tanto quanto a legislação é mais bela do que a justiça e a ginástica do que a medicina287 E eu também julgava que somente aos oradores públicos e aos sofistas não é permitido censurar a pessoa que eles próprios educam alegando que ela os prejudica senão com esse mesmo argumento eles acusam simultaneamente a si pró prios porque em nada beneficiaram quem eles dizem benefi ciar Não é assim c a l Absolutamente c soc E decerto somente a eles seria permitido como é ve rossímil conceder benfeitorias sem exigir salário se é verdade o que diziam Pois se alguém fosse beneficiado de algum outro modo como por exemplo tornarse veloz pelo trabalho do treinador ele poderia talvez priválo da recompensa caso o treinador confiasse nele e sem ter fixado o salário não rece besse o dinheiro se possível enquanto o treinava Pois julgo eu os homens não cometem injustiça pela lentidão mas pela d injustiça ou não c a l Sim A N Η ρ ά κ λεις εύφ ή μ ει ώ Σ ώ κ ρ α τες μ η δ έν α τ ώ ν έμ ώ ν μή τε ο ικ ε ίω ν μήτε φ ίλω ν μ ή τε α σ τ ό ν μ ή τε ξέν ο ν το ια ύ τ η μ α ν ία λ ά β ο ι ώ σ τ ε π α ρ ά τ ο ύ τ ο υ ς έ λ θ ό ν τ α λ ω β η θ ή ν α ι έπ ει ο ύ το ί γ ε φ α ν ε ρ ά έσ τι λ ώ β η τ ε κ α ι δ ια φ θ ο ρ ά τώ ν σ υ γ γ ιγ ν ο μ έ ν ω ν S o b re a su sp e ita re la tiva à fu n ç ã o e d u ca tiv a d o s so fista s v e r P latã o Protá goras 3 1 6 C 3 1 7 C 286 C f 46 5c 287 A leg isla çã o é m a is b e la q u e a ju stiça n a m e d id a e m q u e a p rim eira tem a fu n ç ã o d e reg u la r e g a ra n tir o fu n cio n a m e n to co rre to d as relaçõ es en tre o s h o m en s e n q u a n to a segu n d a a fu n çã o d e co rrig ir as d isfu n çõ e s d o co rp o so cial q u a n d o o co rre ju sta m e n te a tran gressão d as leis p re v ia m e n te esta b elecid as S P ieri op cit p 489 432 G Ó R G IA S D E P L A T à O e 521 b ΣΩ Ονκονν εΐ τις αυτό τούτο αφαιρεΐ την άδικίαν ονδέν δεινόν αντω μήποτε αδικηθή άλλα μόνω ασφαλή ταντην την ενεργεσίαν προέσθαι etπερ τω οντt δνναιτο τΐί αγαθούς ποιεϊν ουχ οϋτω ΚΑΛ Φημί ΣΩ Δια ταντ αρα ως eottce ràs μϊν άλλα σνμβονλας σνμβουλενειν λαμβάνοντα αργυρών οΐον οίκοδομίας πέρι η των άλλων τεχνών ονδεν αισχρόν ΚΑΛ vEoué ye ΣΩ Tlept δέ ye ταυτής της πράζεως οντιν αν τις τρό πον ως βέλτιστος είη και άριστά την αύτοΰ οικίαν διοικοΐ η ττόλιν αισχρόν νενόμισται μη φάναι συμβονλεύειν έαν μη τις αντω αργυρών διοω η γαρ ΚΑΛ Ναι ΣΩ Δήλον γαρ οτι τούτο αίτιόν έστιν οτι μόνη αυτή των ενεργεσιων τον ευ τταθόντα έπιθυμεϊν ποιεί άντ ευ ποιείν ώστε καλόν δοιcet rò σημείου είναι et ευ ποιήσας ταυτην την ευεργεσίαν αντ ευ πεισεταί et òe μη ου έστι ταΰτα ούτως έχοντα ΚΑΛ Έ στιν ΣΩ Έπι πατέραν ουν με παρακαλεΐς την θεραπείαν της πόλεως διόρισόν μοι την τον διαμάχεσθαι Αθηναίοις όπως ως βέλτιστοι εσονται ως ιατρόν η ως διακονησοντα και προς χάριν δμιλήσοντα ταληθή μοι είπέ ω Καλλίκλεις δίκαιος γαρ et ώσπερ ηρζω παρρησιάζεσθαι προς εμέ διατελείν νοείς λέγων και νυν εν και γενναίως είπέ ΚΑΛ Αέγω τοίνυν οτι ως διακονησοντα ΣΩ Κολακευσοντα αρα με ώ γενναιότατε παρακαλείς ΚΑΛ Et σοι Μυσόν γε ήδων καλεΐν ω Σωκρατες ως εί μη ταΰτά γε ποιήσεις 28 289 290 288 C f su p ra n o ta 254 289 S o b re a fra n q u e za parrhésia π α ρ ρ η σ ία d e C á lid e s cf s u p ra n o ta s 13 5 e 14 5 290 O u seja d o m o d o m a is o fe n siv o lis o n je a d o r κ ο λ α κ ε ύ σ ο ν τ α 5 2 i b i a o in v é s d e se rv il δ ια κ ο ν η σ ο ν τ α 5 2 ia 8 E D o d d s o p cit p 36 8 3 6 9 P ieri GÓRGIAS 133 soc Então se alguém elimina precisamente a injustiça não há nenhum terrível risco de que ele sofra injustiça algum dia mas somente ele poderá conceder essa benfeitoria com segu rança se houver alguém realmente capaz de tornar os homens bons Não é assim c a l É soc Portanto é por esse motivo que não é vergonhoso como parece oferecer outros tipos de conselhos em troca de dinheiro como sobre a arquitetura e as demais artes c a l Parece que sim e soc Contudo a respeito desta ação do modo pelo qual al guém se tornaria o quanto melhor e administraria a própria casa ou a cidade da melhor forma288 é considerado vergonhoso recu sar oferecer conselhos se alguém não lhe der dinheiro não é c a l Sim soc Pois evidentemente a causa é esta apenas essa benfei toria faz com que quem sofreu uma boa ação almeje restituíla de modo que parece ser um belo sinal sofrer uma boa ação em restituição a uma benfeitoria feita Porém para sofrêla é pre ciso fazêla É isso o que acontece c a l É 521 soc Defineme então qual o modo de cuidar da cidade a que me exortas o que luta com os atenienses para que se tor nem o quanto melhores tal como o médico o faz ou aquele que lhes é servil e se lhes associa visando o deleite Dizeme a verdade Cálicles Pois é justo que assim como foste franco comigo desde o princípio termines dizendo o que pensas281 E agora dizeme de forma correta e nobre c a l Pois bem digo que o modo servil soc Portanto nobre homem tu me exortas ao modo li h sonjeador c a l Se te é mais aprazível chamálo de Mísio Socrates2 pois se não fizeres isso contudo sugere uma leitura diversa quem se volta ao modo lisonjeador de se fazer política será um servo do povo como os servos da Mísia op cit p 490 434 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Μτ ειπηε δ πολλάκιε εΐρηκαε δτι άποκτενεΐ με δ βουλόμενοε ΐνα μη αυ και εγω εϊπω δτι Πονηρόε γε ων αγαθόν δντα μηδ οτι άφαφησεται εάν τι εχω ΐνα μη αυ εγω εϊπω οτι Ά λ λ άφελόμενοε ουχ εξει δτι χρή σεται αυτοΐε άλλ ώσπερ με άδίκωε άφείλετο οντωε και ε λαβών άδίκωε χρησεται εί δε άδίκωε αίσχρωε εί δε αίσχρωε κακωε ΚΑΛ Ώε μοι δοκεΐε ω Σωκρατεε πίστευαν μηδ αν ν τούτων παθεΐν ωε οίκων εκποδών καί ονκ άν είσαχθειε είε δικαστηρίου νπδ πάνυ ϊσωε μοχθηρού άνθρωπον καί φαύλου ΣΩ Άνόητοε αρα είμί ώ Καλλίκλευ ωε άληθώε εί μη ΰίομαι εν τηδε τη πδλει δντινονν άν δτι τυχοι τούτο παθεΐν τάδε μεντοι ευ οιδ δτι εάνπερ είσίω είε δικαστηρίου περί ά τούτων τινδε κινδννεύων δ σύ λεγειε πονηρόε τίε μ εσται ό είσάγων ονδείε γάρ άν χρηστδε μη άδικονντ άνθρωπον είσαγάγοι και ονδεν γε ατοπον εί άποθάνοιμι βούλει σοι εϊπω δι δτι ταντα προσδοκώ ΚΑΛ ΤΙάνυ γε ΣΩ ΟΊμαι μετ ολίγων Αθηναίων ΐνα μη ειπω μόνοε επιχειρεΐν τη ώϊ άληθωε πολίτικη τέχνη και πράττειν τα πολιτικά μόνοε των νυν ατε ούν ου πρδε χάριν λεγων τόνε λόγουε ούε λέγω εκάστοτε άλλα πρδε το βέλτιστου ου πρδε ε τδ ηδιστον και ονκ εθελων ποιεΐν ά συ παραινεϊε τα κομψά 291 Cf 486b 5iiab 292 Sobre o vaticínio da morte de Sócrates na boca de Cálicles e a sua função dramática ver Ensaio Introdutório 3111 293 Sobre Sócrates como verdadeiro homem político cf supra notas 187199 e 264 Essa imagem é de certa forma construída por Platão também na Apologia Porventura julgais que eu sobreviveria tantos anos se eu me envolvesse com as ações públicas se eu agisse como é digno que aja um homem bom em socorro do que é justo e me dedicasse a isso acima de todas as coisas como é devido fazer Longe disso atenienses tampouco sobreviveria qualquer outro homem Eu contudo durante toda a minha vida revelome sempre o mesmo seja quando me envolvi eventualmente com alguma ação pública seja na minha vida particular jamais fui condescendente com quem quer que tenha agido contra o justo nem mesmo com aqueles que meus caluniadores afirmam serem meus discípulos 32623335 GÓRGIAS 435 soc Não me digas o que já disseste repetidas vezes291 que minha morte está nas mãos de quem quiser para que também eu por minha vez não responda que Um vicioso matará um homem bom nem que ele me furtará se eu tiver alguma pro priedade para que eu por minha vez não responda que Mas se ele me furtar não saberá usar o que furtou mas assim como me roubou injustamente injustamente usará o que conquistou e se injustamente vergonhosamente e se vergonhosamente perversamente c a l Como tu me pareces Sócrates descrer na possibili dade de que tal sorte te acometa como se fosse longínqua a tua morada e não pudesses ser conduzido ao tribunal pela acusação talvez de um homem extremamente torpe e desprezível292 soc Eu seria portanto verdadeiramente estulto Cálicles se julgasse que nessa cidade ninguém sofreria aquilo a que está suscetível Todavia estou seguro de que se eu tiver de apresen tarme ao tribunal correndo um desses riscos mencionados por ti o meu acusador será um homem vicioso pois nenhuma pessoa útil acusaria um homem que não tenha cometido injus tiça e não será absurdo se eu for condenado à morte Queres que eu te explique porque espero isso c a l Absolutamente soc Julgo que eu e mais alguns poucos atenienses para não dizer apenas eu sou o único contemporâneo a empreender a verdadeira arte política e a praticála293 Assim visto que não profiro os discursos que profiro em toda ocasião visando o de leite mas o supremo bem e não o que é mais aprazível e visto que não desejo fazer essas sutilezas aconselhadas por ti294 eu Ά ρ ούν άν με οϊεσθε τοσάδε έτη διαγενέσθαι ει έπρατταν τα δημόσια και πράττων άξίως άνδρός αγαθού έβοήθουν τοΐς δικαίοις και ώσπερ χρή τούτο περι πλείστου έποιούμην πολλού γε δεί ώ άνδρες Αθηναίοι ουδέ γάρ αν άλλος ανθρώπων ούδείς άλλ έγώ διά παντός τού βίου δημοσία τε εϊ πού τι έπραξα τοιούτος φανούμαι και ίδια ό αυτός ούτος ούδενί πώποτε συγχωρήσας ούδέν παρά τό δίκαιον ούτε άλλψ ούτε τούτων ούδενί ους δή διαβάλλοντες έμέ φασιν έμούς μαθητάς είναι 294 Sócrates remete à citação de Cálicles de um verso da tragédia Antíope de Eu ripides deixa para os outros essas sutilezas άλλοις τά κομψά ταύτα άφείς 486c6 436 GÓRGIAS DE PLATÃO λ tt f ff f y λ f 3 ταντα ονχ ςω οτι Aeyco V τω οικαστηριω ο αυτό oe μοι ηκα λόγος ovirep προς Πώλοι èAeyov κρινονμαι γάρ ως V παώίοις Ιατρός αν κρίνοιτο κατηγορονντος όφοποιοΰ σκόπα γάρ τί αν άπολογοΐτο ο τοιοντος άνθρωπος cv τούτοις ληφθίίς cl αυτόν κατήγοροί τις λίγων ότι τί 2 παΐός πολλά υμάς και κακα oôe αργασται ανηρ καί αντονς και τους ικωτάτονς υμών διαφθψί τέμνων tc και κάων καί 522 ισχναίνων κα πνιγών άπορν ποΐΪ πικρότατα πώματα διδονς και πανήν και διψην άναγκάζων ονχ ωσιTcp γώ πολλά και ηδία και παντοδαπα ηυώχονν υμάς τί αν oïci ν τοντω τω κακω αποληφοξντα ιατρόν χΐν ΐπιν η a ξίποι την αλήθααυ οτι 1 αυτα παντα cγω ποιούν ω παϊδίς νγΐΐνώς πόσον τι oïei αν αναβοησαι του τοιούτους 5 3 οικαστας ον μςγα ΚΑΛ Tiras oicaOai ye χρη ΣΩ Ονκονν oïci cv πάση απορία L αυτόν ίχζσθαι οτι b χρη cfativ ΚΑΛ Πάνυ ye 295 295 Cf 464f 296 Essa imagem de Sócrates e por conseguinte do filósofo como médico mais especificamente como médico da alma aparece também no diálogo Protágoras Cuidado para que o sofista meu amigo não nos engane com elogios à sua mercadoria como aqueles envolvidos com a nutrição do corpo o mercador e o traficante Eles próprios dos produtos que transportam desconhecem o que é útil ou nocivo ao corpo elogiando tudo quanto está à venda como também o desconhecem os seus consumidores exceto se houver entre eles um treinador ou um médico Da mesma forma os mercadores e traficantes de ensinamentos que rondam as cidades elogiam tudo quanto vendem a qualquer um que almeje comprálo mas talvez haja excelente homem dentre eles aqueles que ignorem quais de suas mercadorias são úteis ou nocivas à alma como também o ignoram os seus consumidores exceto se houver entre eles um médico da alma 3130702 και όπως γε μή ώ εταίρε ό σοφιστής έπαινών α πωλεΐ έξαπατήση ημάς ώσπερ οί περί τήν τού σώματος τροφήν ό έμπορός τε και κάπηλος και γάρ ούτοί που ών άγουσιν άγωγίμων ούτε αύτοι ϊσασιν ότι χρηστόν ή πονηρόν περί τό σώμα έπαινοϋσιν δε πάντα πωλοΰντες οΰτε οί ώνούμενοι παρ αυτών εάν μή τις τύχη γυμναστικός ή ιατρός ών οϋτω δέ και οί τα μαθήματα περιάγοντες κατά τάς πόλεις καί πωλοΰντες και καπηλεύοντες τώ άει έπιθυμοϋντι έπαινοϋσιν μέν πάντα ά πωλοΰσιν τάχα δ άν τινες ώ άριστε καί τούτων άγνοοϊεν ών πωλοΰσιν ότι χρηστόν ή πονηρόν προς τήν ψυχήν ώς δ αϋτως καί οί ώνούμενοι παρ αυτών εάν μή τις τύχη περί τήν ψυχήν αύ ιατρικός ών GÓRGIAS 437 decerto não saberei o que dizer no tribunal Mas o argumento que me ocorre é o mesmo que expus a Polo295 pois serei julgado como se fosse um médico a ser julgado em meio a crianças sob a acusação de um cozinheiro296 Examina então que defesa po deria fazer um homem como esse surpreendido por tal circuns tância se alguém o acusasse dizendo que Crianças esse homem aqui presente cometeu inúmeros males contra vós próprios e corrompe297 vossos entes mais jovens lacerandoos e cauterizan doos e vos deixa embaraçados emagrecendovos e sufocando 522 vos ele vos oferta as mais acerbas poções e vos constrange à fome e à sede diferente de mim que vos empanturrava de toda sorte de coisa aprazível O que achas que o médico surpreendido por esse mal poderia falar Se ele dissesse a verdade que Eu fazia tudo isso crianças saudavelmente que tamanho alarido segundo a tua opinião fariam juízes como esses Não seria enorme c a l Talvez devemos supor que sim soc Não julgas então que ele ficaria totalmente embara çado sobre o que deve dizer b c a l Absolutamente 297 A referência ao verbo corromper διαφθείρει 52ie8 nos remete di retamente aos termos da acusação impetrada contra Sócrates por Meleto Anito e Lícon conforme os testemunhos de Xenofonte e Platão i Xenofonte Memoráveis 111 Espanteime muitas vezes por quais argumentos os acusadores de Sócrates conseguiram persuadir os atenienses de que ele merecia a pena de morte por crime contra a cidade A acusação contra ele era mais ou menos esta Sócrates comete in justiça por não reconhecer os deuses que a cidade reconhece e por introduzir outras novas divindades Ele também comete injustiça por corromper a juventude Πολλάκις έθαύμασα τίσι ποτέ Χόγοις Αθηναίους έπεισαν οί γραψάμενοι Σωκράτην ώς άξιος εϊη θανάτου τή πόλει ή μεν γάρ γραφή κατ αύτοϋ τοιάδε τις ήν αδικεί Σωκράτης οΰς μέν ή πόλις νομίζει θεούς ού νομίζων ετερα δέ καινά δαιμόνια είσφέρων άδικεϊ δέ και τούς νέους διαφθείρων ii Platão Apologia 24b6ci Como se trata de outros acusadores tomemos novamente o juramento deles Eilo em linhas gerais afirmam que Sócrates comete injustiça por corromper a juventude e por não reconhecer os deuses que a cidade reconhece mas outras novas divindades αύθις γάρ δή ώσπερ ετέρων τούτων όντων κατηγόρων λάβωμεν αύ τήν τούτων άντωμοσίαν έχει δέ πως ώδε Σωκράτη φησιν άδικεϊν τούς τε νέους διαφθείροντα και θεούς οΰς ή πόλις νομίζει ού νομίζοντα ετερα δέ δαιμόνια καινά 438 GÓRGIAS DE PLATÃO Σί2 Τοιούτοι μίντοι καί ίγω οιδα δτι πάθος πάθοιμι αν ίΐσΐλθων ils δικαστηρίου ούτε γάρ ήδονάς άς ϊκπίπόρικα ίζω αυτόΐς λίγΐΐν às ούτοι iíiepy ίσιας και ωφίλίας νομί ζουσιν èyù δε ούτε τους πορίζοντας ζηλώ ουτί oîy πορίζίταί εάυ τ ί τίς ρε η υεωτερου φη διαφθίίραν άπορίϊν ποιοΰντα η τούΐ πρΐσβυτίρους κακηγορπν λίγοντα πικρούς λόγους η Ιδία η δημοσία ουτί το αληϋίς ίζω ίιπίΐν οτι Δικαίως παντα ταυτα έγω λέγω και πράττω το υμίΤίρον οη τούτο ώ άνδρίς δικασταί ούτε άλλο ουδευ ώστε ίσως δτι αν τυχω τούτο πίίσομαι ΚΑΛ Αοκίΐ ουν σοι ω Σωκρατες καλώς εχειυ άνθρω πος èv πόλει ούτως διακείμενος και αδύνατος ων ίαυτω βοηθάν ΣΩ El εκείνο ye h αυτω ύπαρχοι ω Καλλίκλεις δ συ πολλάκις ωμολόγησας εί βΐβοηθηκως εϊη αυτω μήτε περί ανθρώπους μήτε περί θεούς άδικον μηδέν μήτε είρηκως μήτε εΐργασμενος αυτή γάρ της βοήθειας έαυτω πολλάκις ημΐν ωμολόγηται κρατίστη Είναι il μεν ουν εμε τις εζελεγχοι ταύτην την βοήθειαν αδύνατον όντα εμαντω και άλλω βοηθάν αίσχυνοίμην άν και ευ πολλοΐς και ευ όλίγοις εξελεγχόμενος και μόνος υπό μόνου και εΐ διά ταύτην την αδυναμίαν άιτοθνη σκοιμι άγανακτοίην αν d δε κολακικής ρητορικής ενδεία τελευτωην εγωγε ευ οιδα οτι ραδίως ίδοις άν pi φίροντα 298 298 Cf supra nota 297 299 Na Apologia depois de terem definido a pena de morte para seu caso Só crates se recusa a chamar de juízes δικαστάς 4033 aqueles que votaram pela sua condenação uma vez que eles o condenaram injustamente pois na perspectiva de Sócrates seria uma contradição em termos o fato de um juiz dikastês δικαστής agir de forma injusta Vejamos as duas passagens i A vós que sois meus amigos ie os que me absolveram desejo mostrar o que penso sobre o que há pouco me ocorreu A mim ó juízes pois seria uma deno minação correta se eu vos chamasse de juízes sucedeu algo admirável 39654083 ύμιν γάρ ώς φίλοις ούσιν έπιδεΐξαι έθέλω τό νυνί μοι συμβεβηκός τί ποτέ νοεί έμοι γάρ ώ άνδρες δικασταίύμάς γάρ δικαστάς καλών όρθώς αν καλοίην θαυμάσιόν τι γέγονεν ii Se alguém chegasse ao Hades depois de ter se livrado desses homens que professam ser juízes e se deparasse com os verdadeiros juízes os quais segundo dizem também lá proferem julgamentos Minos Radamanto Éaco Triptólemo e GÓRGIAS 439 soc Sim estou seguro de que também eu experimentaria uma paixão semelhante se fosse conduzido ao tribunal Pois não poderei enumerarlhes os prazeres de que os provi pra zeres que eles consideram benfeitoria e benefício e tampouco hei de invejar quem lhes provê e quem por eles é provido Se alguém afirmar que eu corrompo298 os mais jovens por deixá los em embaraço ou que deprecio os mais velhos por profe rirlhes discursos acerbos quer em privado quer em público não poderei dizer nem a verdade ou seja que Tudo o que eu digo é de forma justa ó juízes299 e ajo em vosso interesse nem qualquer outra coisa Consequentemente eu sofrerei o que a ocasião requerer c a l Então parecete correto Sócrates um homem sujeito a essa condição na cidade e incapaz de socorrer a si mesmo soc Contanto que ele disponha daquela única coisa Cá licles com a qual inúmeras vezes concordaste300 que ele tenha socorrido a si mesmo sem ter incorrido em ações ou discur sos injustos referentes a homens ou deuses Pois havíamos concordado repetidamente que essa forma de socorrer a si mesmo é superior a todas as outras Assim se alguém me re futasse provando que sou incapaz de prover esse socorro a mim mesmo ou a outra pessoa seja diante de muitas ou pou cas pessoas seja sozinho por uma só301 seria eu tomado pela vergonha e se em razão dessa incapacidade eu encontrasse a morte haveria de me enfurecer Todavia se eu perdesse a vida por carência de uma retórica lisonjeadora estou seguro de os demais semideuses que em vida vieram a ser justos porventura seria coisa de pouca monta essa viagem 40674135 εί γάρ τις άφικόμενος εις Αιδου απαλλαγείς τουτωνί τών φασκόντων δικαστών είναι εύρήσει τούς ώς αληθώς δικαστής οϊπερ και λέγονται έκεϊ δικάζειν Μίνως τε καί Ραδάμανθυς καί Αιακός καί Τριπτόλεμος καί άλλοι όσοι τών ημιθέων δίκαιοι έγένοντο έν τώ έαυτών βίω άρα φαύλη άν εϊη ή αποδημία 300 Cf 509bc 510a 301 Ou seja a refutação elenkhos έλεγχος praticada no tribunal e a re futação mediante o diálogo Sobre a distinção entre as duas formas de elenchos e a prioridade da segunda em relação à primeira cf supra nota 80 440 ϋΕ ΡίΑΤΑΟ τον θάνατον αντο μεν γάρ το άποθνρσκειν ουδεις φοβείται οστις μη παντάπασιν αλόγιστοί τε και άνανδρος εστιν το δε άδικεΐν φοβείται πολλών γάρ αδικημάτων γέμοντα την φνχην είς Αιδού άφικέσθαι πάντων έσχατον κακών εστιν ει δε βονλει σοι εγώ ως τούτο όντως έχει εθελω λόγον λεξαι ΚΑΛ Ά λλ επείπερ γε καΧ τάλλα επέρανας και τούτο περανον ΣΩ Άκουε δη φασί μάλα καλού λόγον ον συ μεν ηγηση μύθον ώί εγώ οΐμαι εγώ δε λόγον ώς αληθη γάρ όντα σοι λεξω ά μέλλω λεγειν ώσπερ γάρ Όμηρος λέγει GÓRGIAS 441 que me verias suportar facilmente a morte302 Pois ninguém que não seja absolutamente irracional e covarde teme a morte em si teme porém ser injusto pois o cúmulo de todos os males é a alma chegar ao Hades plena de inúmeros atos injus tos Se quiseres eu desejo pronunciar um discurso sobre como isso acontece c a l Como já terminaste os demais termina esse também soc Então escuta como dizem um belíssimo discurso o qual tu suponho terás por um mito embora eu o tenha por um discurso pois as coisas que estou prestes a te contar eu as 302 Na peroração da Apologia Sócrates censura o comportamento daqueles oradores que apelam às paixões dos juízes para conseguirem absolvição a qualquer preço fazendo menção a um tipo de prática característica da retórica lisonjeadora nos tribunais Não digo isso a todos vós mas àqueles que votaram pela pena de morte A eles digo ainda o seguinte Talvez julgueis atenienses que eu tenha sido conde nado por carência daquele tipo de discurso com o qual eu teria vos persuadido se eu achasse devido fazer de tudo quer em palavras ou em ações para ser absolvido Longe disso Fui decerto condenado por carência mas não de discursos e sim de audácia de impudência e de não querer vos dizer aquele gênero de coisas que vos comprazeria ao máximo lamúrias e gemidos fazendo e dizendo tudo aquilo que afirmo ser indigno de mim coisas que estais habituados a ouvir dos outros 38c7e2 λέγω δέ τούτο ού προς πάντας ύμάς άλλα προς τούς εμού καταψηφισαμένους θάνατον λέγω δέ καί τόδε προς τούς αυτούς τούτους ίσως με οϊεσθε ώ άνδρες Αθηναίοι απορία λόγων έαλωκέναι τοιούτων οίς άν ύμας έπεισα εί ώμην δείν άπαντα ποιείν καί λέγειν ώστε άποφυγεϊν την δίκην πολλού γε δει άλλ απορία μέν έάλωκα ού μέντοι λόγων άλλα τόλμης καί άναισχυντίας και τού μή έθέλειν λέγειν προς ύμας τοιαΰτα οΓ αν ύμϊν μέν ήδιστα ήν άκούειν θρηνοϋντός τέ μου καί όδυρομένου και άλλα ποιοΰντος και λέγοντος πολλά καί άνάξια έμού ώς έγώ φημι οία δή και εϊθισθε ύμεϊς τών άλλων άκούειν e 523 442 GÓRGIAS DE PLATÃO δκνΐίμαντο την αρχήν 6 Zeus και δ Ποσειδώυ και ό ΥΙΧούτων πώη παρά τον πατρδ παρίλαβον ην ονν νομοί õôe πρι ανθρώπων eπι Κρονου και aei και νυν erι ίστιν eu öeots των ανθρώπων τον μν δικαίως τον βίον δκλθόντα και 303 Sócrates considera a descrição do julgamento post mortem que irá em preender não como mito muthos μύθος mas como discurso ogos λόγος tendo como critério a verdade contida na narração ou seja se ela é verdadeira então é logos pois o muthos seria por natureza falso Porém em que sentido essa narração seria verdadeira Dodds op cit p 376377 sugere que a resposta mais direta para a questão Platão teria dado no Fédon quando Sócrates justifica a seus amigos o sentido do mito escatológico narrado por ele Afirmar com segurança que essas coisas são assim como eu acabei de con tar não convém a um homem de senso Todavia que é assim ou algo semelhante o que concerne às nossas almas e à sua morada uma vez que a alma é manifestamente imortal pareceme conveniente considerálo e digno o risco para quem supõe que seja assim pois é belo o risco ii4di6 Tò μέν ούν ταϋτα διισχυρίσασθαι ούτως έχειν ώς έγώ διελήλυθα ού πρέπει νοΰν έχοντι άνδρί δτι μέντοι ή ταϋτ έστίν ή τοιαϋτ αττα περι τάς ψυχάς ημών και τάς οικήσεις έπείπερ άθάνατόν γε ή ψυχή φαίνεται οΰσα τούτο και πρέπειν μοι δοκεϊ και άξιον κινδυνεΰσαι οίομένψ ούτως έχεινκαλός γάρ ό κίνδυνος Seguindo a leitura de Friedländer Dodds considera o mito platônico como ex trapolação ou prolongamento de seu projeto filosófico no âmbito do irracional por isso a posição do mito no final do diálogo Nesse sentido essa narração do mundo post mortem se configuraria como logos porque ela seria uma expressão por imagens de uma verdade de religião tendo em vista o que Platão diz na Carta Sétima Devese sempre acreditar verdadeiramente nos discursos antigos e sacros que nos contam que a alma é imortal que ela é subjugada a juízes e está sujeita a pa gar as maiores penas quando se liberta do corpo Por isso devese considerar um mal menor sofrer do que cometer grandes erros e grandes injustiças 335a27 πείθεσθαι δε όντως άει χρή τοΐς παλαιοϊς τε και ίεροις λόγοις οϊ δή μηνύουσιν ήμιν αθάνατον ψυχήν είναι δικαστάς τε ϊσχειν και τίνειν τάς μεγίστας τιμωρίας όταν τις άπαλλαχθή τού σώματος διό και τα μεγάλα αμαρτήματα καί άδικήματα σμικρότερον είναι χρή νομίζειν κακόν πάσχειν ή δράσαι No entanto se recorrermos à República encontraremos uma posição diferente de Platão com relação à classificação do mito do Górgias como logos Vejamos a passagem em que Sócrates discute sobre o modelo de educação a ser adotado para os guardiães da cidade Qual será então a educação Ou seria difícil descobrir uma melhor do que aquela descoberta já há muito tempo Ela consiste na ginástica para o corpo e na música para a alma É isso Porventura não começaremos a educálos antes pela música do que pela ginástica E como não GÓRGIAS 443 contarei como verdadeiras303 Como diz Homero Zeus Posei don e Pluto dividiam o domínio depois que o herdaram do pai304 Havia então a seguinte lei concernente aos homens no tempo de Crono lei que sempre houve e que ainda hoje preva lece entre os deuses o homem cujo curso da vida foi justo e pio Na música disse eu tu incluis os discursos ou não Incluo E não há duas espécies de discursos os verdadeiros de um lado e os falsos de outro Sim E não devemos educálos em ambos mas primeiro nos falsos Não compreendo o que dizes disse ele Não compreendes tornei eu que contamos primeiro os mitos às crian ças Como um todo por assim dizer eles são falsos embora neles haja verdades Ministramos às crianças os mitos antes dos exercícios gímnicos É isso Pois bem era isso o que eu dizia que se deve ter contato antes com a mú sica do que com a ginástica Correto disse ele 37662377311 Τις ούν ή παιδεία ή χαλεπόν εύρεΐν βελτίω τής ύπό τοϋ πολλοΰ χρόνου ηύρημένης έστιν δέ που ή μέν έπι σώμασι γυμναστική ή δ έπι ψυχή μουσική Έ στιν γάρ Ά ρ ούν ού μουσική πρότερον άρξόμεθα παιδεύοντες ή γυμναστική Πώς δ οΰ Μουσικής δ είπον τιθεΐς λόγους ή ου Εγωγε Λόγων δέ διττόν είδος τό μέν αληθές ψεύδος δ έτερον Ναί Παιδευτέον δ έν άμφοτέροις πρότερον δ έν τοίς ψευδέσιν Ού μανθάνω έφη πώς λέγεις Οϋ μανθάνεις ήν δ έγώ ότι πρώτον τοΐς παιδίοις μύθους λέγομεν τούτο δέ που ώς τό δλον είπεϊν ψεύδος ένι δέ και άληθή πρότερον δέ μύθοις προς τά παιδία ή γυμνασίοις χρώμεθα Έ στι ταύτα Τούτο δή ελεγον δτι μουσικής πρότερον άπτέον ή γυμναστικής Όρθώς έφη Equanto logos ο mito do Górgias seria classificado então como discurso falso dentre os quais se encontram os muthoi Mas enquanto muthos embora ele seja por natureza falso ele ainda pode transmitir certas verdades que podem ser entendidas aqui no sentido de verdade moral em outras palavras 0 que é contado pelos mitos é falso mas em vista do que eles são contados é verdadeiro J Adam contudo em seu célebre comentário à República p 110 considera inversamente que a verdade contida no mito referida aqui por Platão diz respeito à verdade his tórica e não à verdade moral 304 Ver Homero Ilíada 15185192 444 GÓRGIAS DE PLATÃO ό σ ίω ς έ π ε ώ ά ν τ ε λ ιν τ ή σ η e îs μ α κ ά ρ ω ν ν ή σ ο ν s ά π ιό ν τα ο ίκ εΪν t v π ά σ η ε υ δ α ιμ ο ν ία ècròí κα κ ώ ν τ ο ν be α ό ίκ ω ς κα ι ά θ έω ς e ls τ ο Trjs T ia eû is Te κ α ι ό ίκ η s δ ε σ μ ω τ ή ρ ιο ν ο δή Τ ά ρ τ α ρ ο ν κ α λ ο ύ σ ιν le v a i τ ο ύ τ ω ν be ό ικ α σ τ α ι ε π ί Κ ρ ό ν ο υ κ α ι e n ν ε ω σ τ ί τ ο ύ A io s τ ή ν α ρ χ ή ν έ χ ο ν τ ο 5 Cuivres ή σ α ν ζω ν τ ω ν ε κ ε ίν η τ ή η μ έ ρ α δ ικ ά ζο ν τε 5 ή μ έ λ λ ο υ ν τ ε λ ε υ τ ά ν κακώί ονν a l ό ίκ α ι ε κ ρ ίν ο ν τ ο ό re ο ν ν Πλοιτωρ και ο ι έ π ιμ ε λ ι τ α ϊ οί έκ μ α κ ά ρ ω ν ν ή σ ω ν lo v r e s e k e y o v rrpòs τ ο ν Δ ία ό τ ι φ ο ιτ ω έ ν σ φ ιν ά ν θ ρ ω π ο ι ε κ α τέ ρ ω σ ε α ν ά ξ ιο ι εύπ εν ο ν ν à Z e v s Ά λλ ε γ ω ε φ η π α υ σ ω το ύ τ ο γ ιγ ν ο μ ε ν ο ν ν ν ν pev y a p κακωΐ a i ό ίκ α ι δ ικ ά ζο ν τ α ι ά μ π ε χ ό μ ε ν ο ι γ ά ρ ε φ η ot K pivôpevoi κ ρ ίν ο ν τ α ι la v res γ ά ρ κ ρ ίν ο ν τ α ι π ο λ λ ο ί ο ν ν ή δ ò s ψ υ χ ά π o v η p ά s e o v r e s ή μ φ ιε σ μ έ ν ο ι ε ΐσ ί σ ώ μ α τ ά r e κ α λά κ α ι γ έ ν η κα ttX o v t o v s κ α ί έ π ε ιδ ά ν ή κ ρ ίσ ις ή έ ρ χ ο ν τ α ι a vT oîs τ τ ο λ λ ο ι μ ά ρ τ v p e s μ α ρ τ υ ρ ή σ ο ν τ ε ς ώ ΐ δ ικ a íω s β ε β ιω κ α σ ι ν οΐ ο ν ν ό ικ α σ τ α ι υ π ό r e τ ο ύ τ ω ν ε κ π λ ή τ τ ο ν τ α ι κα ί ά μ α κ α ι α υ τ ο ί ά μ π ε χ ό μ ε ν ο ι ό ι κ ά ζο ν σ ι π ρ ο τη ψ υ χ ή s τ η s α υ τ ώ ν ò φ θ a λ μ o ύ s κα ί ω τ α κ α ί ο λ ο ν το σ ώ μ α π ρ ο κ ε κ α λ υ μ μ έ ν ο ι τ α ΰ τ α δη α ν το ι s π ά ν τ α ε π ίπ ρ ο σ θ ε ν γ ίγ ν ε τ α ι καί τ α α υ τ ώ ν α μ φ ιέ σ μ α τ α κα ί τ ά τ ω ν κ ρ ιν ο μ έ ν ω ν π ρ ώ τ ο ν μ έ ν ο ν ν έ φ η π α υ σ τ έ ο ν έ σ τ ιν π ρ ο ε ιδ ό τ α ς α υτού s τ ο ν θ ά ν α τ ο ν ν ν ν γ ά ρ π ρ ο ισ α σ ι τ ο ύ τ ο μ έ ν ούν κ α ι όή ε ΐρ η τ α ι τώ Π ρ ο μ η θ ε ΐ ό π ω ΐ ά ν π α ύ σ η α ν τ ω ν έ π ε ιτ α γ υ μ ν ο ύ s κ ρ ιτέ ο ν α π ά ν τ ω ν τ ο ύ τ ω ν τ ε θ ν ε ώ τ α s γ ά ρ b e î κ ρ ίν ε σ θ α ι κ α ι το ν κ ρ ιτ ή ν b eî γ υ μ ν ό ν ε ίν α ι τ ε θ ν ε ω τ α α υ τή τ η ψ υ χ ή α υ τ ή ν τ ή ν ψ υ χ ή ν θ εω ρ ο νντα έ ξ α ίφ ν η ς ά π ο θ α ν ό ν το 5 έ κ ά σ το υ έρ η μ ο ν π ά ν τ ω ν τ ω ν σ υ γ γ ε ν ώ ν κ α ι κ α τ α λ ιπ ό ν τ α ε π ί rtfs γ η s π ά ν τ α Κΐνον τ ο ν κ ο σ μ ο ν iv a úuccua η κ ρ κ η ς rj γω μ ν ο νν τ α ύ τ α έγ ν ω κ ω 5 π ρ ό τ ε ρ ο ς ή υμεΪ3 ε π ο ιη σ ά μ η ν δικαστάΐ v e îs έ μ α υ το ύ δ ύο μ ε ν έκ τ ή ς Α σ ία Μ ιρ ω τ ε καί Ύ α δ ά μ α ν θ ν ν 305 306 b d 305 Morada dos heróis ver Hesíodo Os Trabalhos e os Dias w 166173 e dos homens bons em geral ver Píndaro Olímpicas 26872 Platão República v i i 54obc 306 Em Homero apenas os Titãs habitavam o Tártaro Ilíada 8478ss mas no séc v aC havia a crença de que criminosos poderiam ser enviados para lá como indica por exemplo o temor de Orestes na tragédia de Euripides Orestes w 264265 GÓRGIAS 445 quandomorresse iria para a Ilha dos Venturosos305 e lá habita b ria em absoluta felicidade e apartado dos males enquanto o homem de uma vida injusta e ímpia iria para o cárcere do de sagravo e da justiça cujo nome é Tártaro306 Quer na época de Crono quer na mais recente quando Zeus passou a exercer o domínio os juízes ainda vivos julgavam esses homens em vida no dia de sua iminente morte e por esse motivo os processos eram mal julgados Pluto e os guardiões da Ilha dos Venturosos se dirigiram então a Zeus e lhe disseram que a ambos os luga res chegavam homens iméritos de sua sorte E Zeus lhes disse c Mas eu impedirei que isso aconteça Pois hoje os processos são mal julgados porque quem julga disse ele julga vestido por que o faz em vida Muitos disse cuja alma é viciosa estão vestidos em belos corpos progénies e riquezas e no instante do julgamento acompanhamnos inúmeras testemunhas para testemunhar a vida justa que cumpriram307 Os juízes assim d aturdemse com isso ao mesmo tempo em que julgam vestidos com a alma encoberta por olhos ouvidos e pelo corpo inteiro Todas essas coisas lhes são de obstáculos quer as suas próprias vestes quer as dos julgados Em primeiro lugar então disse ele é preciso impedir que eles tenham a presciência da morte visto que hoje a possuem Prometeu de fato já havia me dito e para acabar com isso308 Em seguida é preciso julgálos desnu dados de todas essas coisaspois o julgamento deve ser feito quando mortos Também o juiz deve estar nu já morto e pers crutar com sua própria alma a própria alma de cada um assim que morrer privado de sua família inteira e despojado de todo aquele ornato enjeitado na terra para que enfim o julgamento seja justo Então eu ciente disso antes de vós determinei como juízes meus filhos dois da Ásia Minos e Radamanto e um da Segundo Aristóteles nos Segundos Analíticos 94033 o Tártaro fazia parte do con junto de crenças pitagóricas E Dodds op cit p 377 307 O procedimento do tribunal post mortem antes da reforma feita por Zeus reflete os mesmos problemas dos tribunais de Atenas conforme a descrição presente no próprio Górgias 47ie 475e47ôa T Irwin op cit p 243 308 Ver Esquilo Prometeu Prisioneiro v 248 446 GÓRGIAS DE PLATÃO 5 2 4 b c d eva be εκ της Ευρώπης Αιακόν ούτοι ovv επειδάν τελευ τήσωσι δικάσουσιν εν τω λειμώνι εν rfj τριόδω εζ rjs φερετον τώ όδώ η μεν eis μακάρων νήσους η δ eis Τάρ ταρον και τους μεν εκ της Ασίας Ραδάμανθυς κρίνει τους be εκ της Ευρώπης Αιακός Μίνω be πρεσβεία δώσω επιδια κρίνειν εάν άπορήτόν τι τώ ετερω iva às δικαιότατη η κρίσις ή περί της πορείας τοΐς ανθρώποις ΤαΟτ εστιν ώ Καλλίκλεις á εγώ άκηκοώς πιστεύω αληθή είναι και εκ τούτων των λόγων τοιόνδε τι λογίζομαι συμβαίνειν ό θάνατος τυγχάνει ων ως εμοϊ δοκεΐ ουδεν άλλο η δυοΐν πραγμάτοιν διάλνσις της ψυχής και τοΰ σώματος απ άλληλοιν επειδάν δε διαλυθητον άρα απ αλληλοιν ου πολύ ήττον εκάτερον αυτοΐν εχει την εζιν την αυτού ηνπερ και δτε εζη ό άνθρωπος το τε σώμα την φύσιν την αυτού καί τά θεραπεύματα καί τά παθήματα ενδηλα παντα οι ον ει τίνος μεγα ην το σώμα φύσει η τροφή η άμφότερα ζώντος τούτον και επειδάν αποθάνη δ νεκρός μύγας και ει παχύς παχύς και άποθανόντος και τάλλα ούτως και ει αΰ επετηδενε κομάν κομήτης τούτου καί 6 νεκρός μαστιγίας αύ εί τις ήν και ίχνη είχε των πληγών ουλάς εν τω σώματι ή υπό μαστίγων ή άλλων τραυμάτων ζών και τεθνεωτος το σώμα εστιν ιδειν ταύτα εχον ή κατεαγότα ει του ήν μέλη ή διεστραμμένα ζώντος καί τεθνεωτος ταντά ταύτα ενδηλα ενϊ δ λόγω οΐος είναι παρεσκεύαστο το σώμα ζών ενδηλα ταύτα καί τελευτήσαντος ή πάντα ή τα πολλά επί τινα χρόνον ταυτον δη μοι δοκεΐ 309 309 Platão Fédon 64C 19 Falemos entre nós mesmos disse Sócrates e dispensemos aqueles ho mens Consideramos que a morte é alguma coisa Absolutamente disse Símias tendo compreendido a pergunta Por acaso seria algo diferente da separação entre a alma e o corpo E estar morto não seria isto de um lado o corpo tendo se separado da alma vir a ser ele próprio em si mesmo e de outro a alma tendo se separado do corpo ser ela pró pria em si mesma Por acaso seria a morte algo diferente disso Não é isso mesmo respondeu GÓRGIAS 447 Europa Éaco Eles quando estiverem mortos realizarão os jul 524 gamentos no prado na tripla encruzilhada onde se bifurcam duas estradas uma para a Ilha dos Venturosos e a outra para o Tártaro Radamanto julgará os que vierem da Ásia enquanto Éaco os da Europa a Minos por suavez concederei o privilé gio de julgar em última instância se um ou outro não souber como fazêlo a fim de que o julgamento sobre o percurso dos homens seja o quanto mais justo Isso é o que eu Cálicles depois de ter ouvido creio que seja verdade e desses discursos calculo que sejam estas as suas con b sequências A morte consiste como me parece simplesmente na separação de duas coisas da alma e do corpo uma da ou tra309 Quando então se separam cada uma delas conserva o seu estado muito próximo daquele que possuíam quando o ho mem ainda vivia O corpo mantém manifestos a sua própria natureza e todos os cuidados e afecções por exemplo se o corpo de alguém em vida fosse grande por natureza ou por nutrição c ou por ambas as coisas quando morresse seria um cadáver grande e se fosse gordo seria gordo também quando morresse e assim por diante se por sua vez cultivasse longos cabelos seu cadáver também os conservaria Se fosse um criminoso em vida e tivesse como marcas no corpo as cicatrizes das pancadas seja dos açoites ou das úlceras depois de morto seria possível vêlas impressas no corpo ou se tivesse em vida os membros fissurados ou retorcidos depois de morto coisas desse gênero também estariam manifestas Em suma quaisquer disposições d que o corpo tenha adquirido em vida todas ou a sua maior parte estarão manifestas também depois da morte por certo είπωμεν γάρ εφη προς ήμς αυτούς χαίρειν ειπόντες έκείνοις ήγούμεθά τι τόν θάνατον είναι Πάνυ γε έφη ύπολαβών ό Σιμμίας Ά ρ α μή άλλο τι ή τήν τής ψυχής άπό του σώματος απαλλαγήν και είναι τούτο τό τεθνάναι χωρίς μέν άπό τής ψυχής άπαλλαγέν αύτό καθ αυτό τό σώμα γεγονέναι χωρις δέ τήν ψυχήν άπό τού σώματος άπαλλαγεΐσαν αυτήν καθ αυτήν είναι άρα μή άλλο τι ή ό θάνατος ή τούτο Οΰκ άλλα τούτο εφη 448 GÓRGIAS DE PLATÃO e 525 b τοΰτ άρα καί περί τήν ψυχήν εΐιαι ώ Καλλίκλεις ενδηλα πάντα εστίν εν τη ψυχή επειδάν γυμνωθή τον σώματος τά τε της φυσεως και τα παθήματα διά την επιτήδενσιυ εκάστου πράγματος εσχεν εν τη ψυχή 6 άνθρωπος επειδάν ουν άφίκωνται παρά τον δικαστήν οί μεν εκ της Ασίας παρά τον Ραδάμανθυν δ Ραδάμανθυς εκείνους Ιπιστήσας θεάται εκάστου την ψυχήν ουκ είδώς οτον εστίν άλλα πολλάκις του μεγάλου βασιλεως επιλαβόμενος η άλλου δτονονν βασιλεως η δυνάστου κατεΐδεν ονδεν υγιές ον τής ψυχής αλλά διαμεμαστιγωμενην και ουλών μεστήν υπο επιορκιών και αδικίας ά εκάστη ή πράζις αυτόν εξωμόρξατο εις την ψυχήν και πάντα σκολιά υπο ψευδονς και άλα ζονείας και ουδέ ν ευθυ διά το άνεν αλήθειας τεθράφθαι καί υπο εξουσίας καί τρυφής καί ύβρεως καί άκρατίας τών πραςϊων ασνμμζτριας Τ και ακτχροτητος γμονσαν την ψυχήν εΐδεν Ιδών δ άτίμως ταύτην άπεπεμψεν ευθυ τής φρουράς οι μελλει ελθοϋσα άνατλήναι τά προσήκοντα πάθη 7τροσήκει δε παντί τώ εν τιμωρία δντι ύπ άλλου όρθώς τιμωρούμενα ή βελτίονι γίγνεσθαι καί όνίνασθαι ή παρα δείγματι τοΐς άλλοις γίγνεσθαι ινα άλλοι δρώντες πάσχοντα 3ΐο Platão recupera aqui uma ideia antiga e difundida na Grécia de que os mortos quando aparecem para os vivos trazem consigo as marcas e cicatrizes fí sicas adquiridas em vida E Dodds op cit p 379 como vemos por exemplo no Livro xi da Odisseia quando Odisseu visita o Hades Muitos deles feridos por lanças de bronze Homens vítimas de Ares de armas encrustradas de sangue w 4041 πολλοί δ ούτάμενοι χαλκήρεσιν έγχείρσιν ανδρες άρηΐφατοι βεβροτωμένα τεύχε εχοντες 3ΐι Cf supra nota 7 ΐ 312 Sobre a dinastia e a realeza cf supra nota 98 GÓRGIAS 449 tempo310 Portanto pareceme que o mesmo sucede à alma Cálicles quando desnudada do corpo todas essas coisas estão manifestas nela seja o que concerne à sua natureza seja as afec ções que o homem possui na alma mediante cada atividade Quando se apresentam então ao juiz os provenientes da Ásia a Radamanto Radamanto os detém e contempla a alma de e cada um sem saber de quem ela é não raro apoderouse do Grande Rei311 ou de qualquer outro rei ou dinasta312 e obser vou que nada em sua alma era saudável mas que ela foi açoitada e estava plena de cicatrizes pelos perjuros e pela injustiça cujas marcas foram impressas na alma por cada uma de suas ações 525 Ele observou que a mentira e a jactância deixaram tudo con torcido e que nenhuma retidão havia porque fora criada apar tada da verdade e viu que pelo poder ilimitado pela luxúria pela desmedida e pela incontinência de suas ações313 a alma estava plena de assimetria314 e vergonha Depois de ter visto tais coisas ele a enviou desonrada315 direto à prisão aonde se diri giu pronta para suportar os sofrimentos que lhe cabiam Cabe a todos os que estão sujeitos ao desagravo cujo desa b gravo por parte de outrem seja correto tornaremse melhores e obterem alguma vantagem ou tornaremse modelo aos de mais para que estes últimos quando virem seu sofrimento 313 Essa é a censura final de Sócrates na perspectiva mitológica ao ideal de virtude aretè apregoado por Cálicles anteriormente luxúria intemperança e liber dade uma vez asseguradas são virtude e felicidade τρυφή και ακολασία και ελευθερία έάν επικουρίαν εχη τοϋτ έστιν αρετή καί ευδαιμονία 492C46 Vale notar contudo que ao invés de liberdade Sócrates se refere aqui a poder ilimitado έξουσίας 525a4 e ao invés de intemperança à incontinência άκρατίας 52534 314 Como foi sublinado por Sócrates anteriormente assimetria άσυμμετρίας 52585 implica ausência de medida e de proporção 508a e portanto ausência de ordem 503d504d T Irwin op cit p 244 315 Sócrates responde aqui a um dos pontos da invectiva de Cálicles contra o filósofo e a filosofia 486c Sobre a desonra atímia ατιμία cf supra nota 132 4 5 0 GÓRGIAS DE PLATÃO α αν πάσχρ φοβούμενοι βελτίους γίγνωνται είσίν δε οι μεν ωφελούμενοι τε και δίκην διδόντες υπό θεών τε και ανθρώπων ουτοι οί άν Ιάσιμα αμαρτήματα άμάρτωσιν όμως oe δι άλγηδόνων και οδυνών γίγνεται αυτοΐς η ώφελία και ενθάδε καί εν Αιδου ον yap υιόν τε άλλως αδικίας άπαλ λάττεσθαι οί δ άν τα έσχατα άδικήσωσι καί διά τα τοιαΰτα αδικήματα ανίατοι γένωνται εκ τούτων τα παρα δείγματα γίγνεται καί ούτοι αυτοί μεν ουκέτι δνίνανται ουδεν άτε ανίατοι όντες άλλοι δε δνίνανται οι τούτους υρώντες διά τάς αμαρτίας τα μέγιστα καί δδννηρότατα καί φοβερώτατα πάθη πάσχοντας τον αεί χρόνον άτεχνώς παρα δείγματα άνηρτημενονς εκεΐ εν Αώου εν τω δεσμώτηρίω τοΐς αεί των αδίκων άφικνουμένοις θεάματα καί νονθετήματα ών εγώ φημι ένα καί Αρχέλαον έσεσθαι εί αληθή λέγει Πώλο καί άλλον δστις άν τοιοντος τύραννος ρ όίμαι δε καί τούς πολλούς είναι τούτων των παραδειγμάτων εκ τυράννων καί βασιλέων καί δυναστών καί τα τών πόλεων πραςαντων γεγονοτας ουτοι γαρ δια την εξουσίαν μέγιστα και ανοσιωτατα αμαρτήματα αμαρτανουσι μαρτυρεί οε τουτοις καί Ομηρος βασιλέας γάρ καί δυνάστας εκείνος πεποίηκεν τούς εν Αιδού τον αεί χρόνον τιμωρουμένους Τάνταλον καί Σίσυφον καί Τ ιτυόν Θερσίτην δέ καί εΐ τις άλλος πονηρός 3ΐ6 Α mesma função atribuída à punição aqui por Sócrates encontramos sa lientada pela personagem Protágoras no mito sobre a gênese e a função da justiça presente no diálogo homônimo Vejamos a passagem Se quiseres refletir sobre a punição Sócrates sobre o que ela é capaz de fazer com quem cometeu injustiça ela mesma te ensinará que os homens conside ram que a virtude pode ser adquirida Pois ninguém cujo desagravo não seja irra cional como se fosse um animal pune quem cometeu injustiça com a mente fixa nisto e em vista disto ou seja porque alguém cometeu injustiça quem busca punir de forma racional pune não em vista do ato injusto já consumado pois o que foi feito já aconteceu mas em vista do futuro a fim de que ninguém torne a cometer injustiça seja a pessoa punida seja quem a viu ser punida 324335 εί γάρ έθέλεις έννοήσαι τό κολάζειν ώ Σώκρατες τούς άδικοϋντας τί ποτέ δύναται αυτό σε διδάξει δτι οϊ γε άνθρωποι ηγούνται παρασκευαστόν είναι αρετήν ούδεις γάρ κολάζει τούς άδικοϋντας προς τούτω τον νοϋν εχων καί τούτου GÓRGIAS 451 fiquem amedrontados e se tornem melhores316 Mas os que são beneficiados e que recebem a justa pena infligida por deuses e homens são aqueles que cometeram erros curáveis contudo é por meio de sofrimentos e dores que eles são beneficiados aqui como no Hades pois não há outro modo de se livrarem da in justiça Por outro lado os que cometeram as injustiças mais extremas e tornaramse incuráveis devido a esses atos injustos tornamse modelo embora eles próprios jamais possam obter alguma vantagem porque são incuráveis317 Não obstante são os outros que obtêm alguma vantagem disso aqueles que os veem experimentar ininterruptamente os maiores os mais do lorosos e os mais temíveis sofrimentos por causa de seus erros dependurados no cárcere de Hades como simples modelo es petáculo e advertência para os injustos que ali chegam a todo instante Eu afirmo que Arquelau318 inclusive será um deles se for verdadeiro o relato de Polo319 e qualquer outro tirano que se lhe assemelhe Creio também que a maior parte desses modelos provém de tiranos reis dinastas320 e dos envolvidos com as ações da cidade pois eles incorrem nos maiores e mais ímpios erros por causa de seu poder ilimitado Homero é tes temunha disso pois ele fez reis e dinastas sujeitos ininterrup tamente ao desagravo no Hades como Tântalo Sísifo e Tício321 ένεκα δτι ήδίκησεν οστις μή ώσπερ θηρίον άλογίστως τιμωρείται ό δέ μετά λόγου επιχειρών κολάζειν ού του παρεληλυθότος ενεκα αδικήματος τιμωρεΐταιού γάρ αν τό γε πραχθέν άγένητον θείηάλλά τού μέλλοντος χάριν ϊνα μή αύθις άδικήση μήτε αυτός ούτος μήτε άλλος ό τούτον ίδών κολασθέντα 317 As almas incuráveis ανίατοι 525C2 para as quais as punições são ineficazes também aparecem no Mito de Er da República άνιάτως X 6i 5e3 e no mito do Fédon άνιάτως H3e2 Sobre Cálicles como exemplo de uma alma in curável ver Ensaio Introdutório 4IV 318 Sobre Arquelau da Macedônia cf supra nota 70 319 Cf 47iac 320 Sobre a diferença entre tirania dinastia e realeza cf supra nota 98 321 Sobre os sofrimentos de Tântalo no Hades ver Homero Odisseia 1158393 sobre os sofrimentos de Sísifo no Hades ver Homero Odisseia 11593600 sobre os sofrimentos de Tício no Hades ver Homero Odisseia 11576581 452 GÓRGIAS DE PLATÃO ην ιδιώτης ονδάς πποίηκν μίγάλαις τιμωρίαις σννίχό μΐνον ώϊ ανίατον ον γάρ οιμαι ζην αύτώ διδ καί υδαιμο νύστίρος ην η οίς ζην άλλα γάρ ώ Καλλίκλεΐϊ εκ των 526 δυναμώνων ίσΐ και οι σφοδρά πονηροί γιγνόμίνοι άνθρωποι ουδν μην κωλύίΐ και V τούτοις αγαθούς άνδρας γγίγνίσθαι και σφοδρά γ άζιον άγασθαι των γιγνομύνων χαλπδν γάρ ω Καλλίκλε και πολλοΰ παίνου αζιον Ιν μίγάλη ζονσία του άδικίΐν γνόμνον δικαίως διαβιώναι ολίγοι δέ γίγνονται οι τοιοΰτοι έπεί και νθάδ και άλλοθι γίγόνασιν οιμαι δέ και σονται καλοί κάγαθοι ταντην την άρίτην την τον δικαίως Β διαχίΐρίζαν δ αν τις πιτρύπη ΐς δε και πάνν λλόγιμος γύγονίν και ίς τονς άλλους Ελληνας Αριστίδης ό Ανσι μάχον οι δ πολλοί ω άριστ κακοί γίγνονται των δυνα στών δπρ ούν λγον πΐδάν ό Ραδάμανθυς Κίΐνος τοιοΰτόν τινα λάβη άλλο μν πρι αυτού ου κ οίδν ονδύν ουθ οστις ουθ ωντινων οτι δ πονηρος τις και τούτο κατιδών άπίπμφν Ις Ύάρταρον πισημηνάμίνος άντ ιάσιμος άντ ανίατος δοκη ΐναι δ δε εκεΐσε φικόμνος 32 323 322 Tersites aparece na Ilíada como uma personagem moral e fisicamente débil uma espécie de antiherói Tinha o costume de insultar indecorosamente os reis para fazer rir os guerreiros Esta é a sua descrição em Homero Era o homem mais feio da expedição de Troia Tinha as pernas tortas e era manco de um pé os ombros Curvos comprimiamse sobre o peito e em cima deles O crânio em ponta pendia onde pouco cabelo se assentava Era sobretudo odioso a Aquiles e a Odisseu 2216220 αϊσχιστος δέ άνήρ ύπό Ιλιον ήλθε φολκός εην χωλός δ ετερον πόδα τώ δέ οί ώμω κυρτώ έπι στήθος συνοχωκότε αύτάρ ϋπερθε φοξός εην κεφαλήν ψεδνή δ έπενήνοθε λάχνη εχθιστος δ Άχιλήϊ μάλιστ ήν ήδ Όδυσήϊ Tersites também é referido no Mito de Er da República X 620c escolhendo a vida de um macaco para renascer 323 Aristides pode ter sido o general na vitória dos atenienses sobre os persas na batalha de Maratona em 490489 aC como afirma Plutarco Aristides 11 mas foi seguramente o arconte epônimo em 489488 aC ig 1 103123 catálogo dos ar contes e o Mármore Pário fgth 239 A 49 Foi condenado ao ostracismo em 482 aC Escólios Aristófanes Os Cavaleiros 855 Aristóteles Constituição de Atenas 227 mas foi chamado de volta para comandar a vitória das forças atenienses sobre os persas na batalha de Salamina em 480 aC Heródoto 895 Aristides foi de certo i GÓRGIAS 453 Tersites322 no entanto ou qualquer outro homem comum que seja vicioso ninguém o fez submetido a grandes desagravos como se fosse incurável pois julgo eu ele não possuía esse po der ilimitado eis por que era mais feliz do que quem o possuía Certamente é dentre os poderosos Cálicles que surgem os homens fortemente viciosos Todavia nada impede que entre 526 eles também surjam homens bons e quando isso acontece merecem enorme admiração pois é difícil Cálicles e digno de inúmeros elogios que alguém disponha de poder ilimitado para cometer injustiças e leve uma vida inteira justa Homens desse tipo são poucos mas aqui e ali eles têm surgido e serão julgo eu homens belos e bons no tocante à virtude de gerir de forma justa o que alguém lhes confia Houve apenas um que fora b muito estimado até mesmo pelos outros helenos Aristides filho de Lisímaco323 mas a maioria dos dinastas excelente ho mem tornase má Pois bem como eu dizia324 quando aquele Radamanto se apodera de um homem desse tipo não sabe nada a respeito dele nem quem ele é nem a sua progénie mas ape nas que ele é vicioso Quando observa isso ele o envia para o Tártaro com um signo325 indicando se ele parece ser curável ou modo o mentor de Címon n Plutarco Címon 54 e trabalhou junto a Temístocles na reconstrução das forças atenienses Serviu como embaixador em Esparta em 478477 aC Tucídides 1913 Aristóteles Constituição de Atenas 233 Morreu por volta de 467 aC D Nails op cit p 4749 324 Cf 524ε 325 Platão República x 6i4b8di Disse que quando sua alma partira ela viajou junto com muitas outras e chegaram num lugar extraordinário onde na terra havia dois abismos contíguos e no céu por sua vez na parte superior dois outros do lado oposto Havia juízes sentados entre um e outro que depois de julgarem ordenavam que os justos se guissem a via superior da direita através do céu atando os signos dos julgamentos na frente ao passo que os injustos a via inferior da esquerda portando também esses na parte de trás os signos de tudo o que haviam feito έφη δέ έπειδή ού έκβήναι την ψυχήν πορεύεσθαι μετά πολλών καί άφικνείσθαι σφάς εις τόπον τινά δαιμόνιον έν φ τής τε γής δύ είναι χάσματα έχομένω άλλήλοιν και τού ούρανοϋ αύ έν τψ άνω άλλα καταντικρύ δικαστάς δέ μεταξύ τούτων καθήσθαι οϋς επειδή διαδικάσειαν τούς μέν δικαίους κελεύειν πορεύεσθαι τήν εις δεξιάν τε και άνω διά τού ούρανοϋ σημεία περιάψαντας τών δεδικασμένων έν τφ πρόσθεν τούς δέ άδικους τήν εις άριστεράν τε καί κάτω έχοντας καί τούτους έν τψ όπισθεν σημεία πάντων ών έπραξαν 454 GÓRGIAS DE PLATÃO c τά προσήκοντα πάσχει ενίοτε δ άλλην είσιδων οσιως βεβιωκυϊαν καί per αλήθειας άνδρος ιδιώτου η άλλον τινός μάλιστα μεν εγωγε φημι ώ Καλλίκλεις φιλοσοφου τα αύτοΰ πράξαντος καί ού πολυπραγμονησαντος εν τω βίω ήγάσθη τε και ες μακάρων νήσους άπεπεμψε ταυτα δε ταυτα και ό Αιακός εκάτερος τούτων ράβδον εχων δι κάζει ό δε Μίνως επισκοπών κάθηται μόνος εχων χρυσοϋν d σκήπτρον ώί φησιν Όδυσσευς ό Όμηρου Ιδεΐν αυτόν λ yf r f I χρυσεον σκηπτρον εχοντα αεμιστενοντα νεκνσσιν εγω μεν ουν ώ Κ αλλίκλεις υπό τε τούτων των λόγων πεπεισμαι και σκοπώ όπως άποφανονμαι τω κριτή ως νγιε στάτην την ψυχήν χαίρειν ουν εάσας τας τιμάς τάς των πολλών ανθρώπων την αλήθειαν ασκών πειράσομαι τω οντι ως άν δύνωμαι βέλτιστος ων και ζην και επειδάν αποθνήσκω e άποθνησκειν παρακαλώ δε και τους άλλους πάντας ανθρώ πους καθ οσον δύναμαι και δη και σε άντιπαρακαλώ επι τούτον τον βιον και τον αγώνα τούτον ον εγω φημι αντί πάντων τών ενθάδε αγώνων είναι και ονειδίζω σοι ότι ονχ oios τ εση σαυτω βοηθησαι όταν η δίκη σοι η και η κρισις ην νυνδη εγω ελεγον άλλα ελθων παρά τον δικαστήν 326 326 A não intromissão do filósofo em outros afazeres ού πολυπραγμονή σαντος 52604 que não lhe sejam próprios se contrapõe à vida do político na demo cracia ateniense que requer inversamente o envolvimento em inúmeros assuntos e atividades Na República a não intromissão apmgtnosuné άπραγμοσύνη está associada à ideia de fazer o que lhe é próprio e por conseguinte à justiça T Irwin op cit p 247 como vemos neste trecho Mas escuta se faz sentido o que digo disse eu O que desde o princípio es tabelecemos quando começamos a fundar a cidade ser preciso observar em tudo é como me parece a justiça ou alguma forma dela Estabelecemos deveras e afir mamos inúmeras vezes se te recordas que cada um deve se ocupar com uma única coisa concernente à cidade aquela para a qual sua natureza está naturalmente mais adaptada A fir m a m o s d e fato Com efeito que a justiça é fazer o que lhe é próprio e não se intrometer em outras coisas já o ouvimos de muitas outras pessoas e nós mesmos já o dissemos inúmeras vezes Já o dissemos de fato iv 433aib2 Ά λλ ήν δ έγώ ακούε εϊ τι αρα λέγω ô γάρ έξ αρχής έθέμεθα δεΐν ποιεΐν διά παντός δτε τήν πόλιν κατωκίζομεν τούτο έστιν ώς έμοι δοκεΐ ήτοι τούτου τι I GÓRGIAS 4 5 5 incurável e este por sua vez chegando ali sofre o que lhe cabe Às vezes quando ele vê uma alma que vivera piamente e conforme a verdade a alma de um homem comum ou de qualquer outro homem mas sobretudo é o que eu afirmo Cálicles a de um filósofo que fez o que lhe era apropriado e não se intrometeu em outros afazeres durante a vida326 ele a aprecia e a envia para a Ilha dos Venturosos E o mesmo faz Éaco ambos realizam o julga mento com um cajado na mão enquanto Minos os perscruta sentado o único a portar um cetro áureo como diz Odisseu quando o viu segundo Homero portando o cetro áureo ditando ordens entre os mortos327 Pois bem Cálicles eu estou persuadido por esses discursos e atentome ao modo pelo qual apresentarei ao juiz a minha alma o quanto mais saudável Assim dou adeus às honras da maioria dos homens e tentarei realmente exercitando a ver dade viver de modo a ser o melhor o quanto me for possível ser e morrer quando a morte me acometer E exorto a isso to dos os outros homens na medida do possível ademais exorto em resposta à tua exortação também a ti a essa vida e a essa luta a qual afirmo ser preferível a todas as demais lutas daqui328 E te censuro porque serás incapaz de socorrer a ti mesmo quando chegar a hora de teu processo e julgamento o qual είδος ή δικαιοσύνη έθέμεθα δέ δήπου καί πολλάκις έλέγομεν εΐ μέμνησαι ότι ένα έκαστον εν δέοι έπιτηδεύειν τών περί τήν πόλιν εις ô αύτοϋ ή φύσις έπιτηδειοτάτη πεφυκυΐα εϊη Έλέγομεν γάρ Καί μήν ότι γε τό τα αυτού πράττειν καί μή πολυπραγμονεϊν δικαιοσύνη έστί καί τούτο άλλων τε πολλών άκηκόαμεν καί αυτοί πολλάκις είρήκαμεν Είρήκαμεν γάρ Sobre a άπραγμοσύνη apragmosune ver Tucídides 2402 2632 2644 6186 Sobre a definição de temperança sõphrosuné σωφροσύνη como fazer o que lhe é próprio τα έαυτοΰ πράττειν ver Platão Cármides i6ibi62b 327 Homero Odisseia 11569 Vale observar que Platão atribui uma função a Minos diferente da que encontramos em Homero na medida em que no poema Minos não está designado a julgar as vidas vividas pelos mortos mas apenas as dis putas eventuais entre eles E Dodds op cit p 383 328 Sócrates provavelmente se refere aqui em específico aos άγώνες agõnes dos tribunais dos quais ele próprio será vítima episódio aludido profeticamente no Górgias 456 GÓRGIAS DE PLATÃO 527 τον τής Αίγίνης υόν επειδάν σου επιλαβόμειος άγη χασμήση καί ϊλιγγιάσεις ούδεν ήττον ή εγω ενθάδε συ ίκεΐ καί σε ισωί τυπτήσει ris καί επί κόρρης άτίμως και πάντως προπηλακιεΐ Τάχα δ οΰν ταΰτα μύθος σοι δοκεΐ λεγεσθαι ώσπερ γραδς και καταφρονείς αυτών καί ουδεν γ αν ην θαυμαστόν κατα φρονειν τούτων εϊ πη ζητοϋντες εϊχομεν αυτών βελτίω καί αληθέστερα ευρειν νυν δε δρας δτι τρεις δντες υμείς οϊπερ σοφωτατοί εστε των νυν Ε λλήνων συ τε καί Πώλοί καί b Γοργίας ουκ εχετε άποδεΐξαι ώΐ δει άλλον τινα βίον ζην η τούτον δσπερ καί εκεισε φαίνεται συμφερων άλλ εν τοσούτοις λόγοις των άλλων ελεγχόμενων μόνος ούτος ηρεμεί δ λόγος ως ευλαβητεον εστϊν τδ αδικειν μάλλον η το άδικεΐσθαι καί παντδς μάλλον άνδρϊ μελετητεον ου τδ δοκειν είναι άγαθδν άλλα τδ είναι καί Ιδία καί δημοσία εάν δε τις κατά τι κακδς γίγνηται κολαστεος εστί καί τούτο δεύτερον άγαθδν μετά τδ είναι δίκαιον τδ γίγνεσθαι καί c κολαζόμενον διδόναι δίκην καί πάσαν κολακείαν καί την περί εαυτδν καί την περί τους άλλους καί περί ολίγους καί περί πολλούς φευκτεον καί τη ρητορική οϋτω χρηστεον επί τδ δίκαιον αεί καί τη άλλη πάση πράζει εμοί ουν πειθόμενος ακολούθησαν ενταύθα οϊ άφικόμενος ευδαιμο νήσεις καί ζων καί τελευτή σας ως δ λόγος σημαίνει καί εασόν τινά σου καταφρονησαι ως άνοητου καί προπηλακίσαι εάν βούληται καί ναι μά Αία συ yε θαρρών πατάζαι την d άτιμον τούτην πληγήν ουδεν γάρ δεινδν πείση εάν τω όντι ης καλός καγαθος ασκών αρετήν καπειτα ουτω κοινή 329 30 329 Tratase da ninfa epônimo da ilha de Egina que levou Éaco para Zeus Píndaro Istmicas 81923 330 Esse discurso protréptico e admoestativo é a resposta de Sócrates à in vectiva de Cálicles contra o filósofo e a filosofia 486ad usando da mesma lin guagem empregada anteriormente pelo seu antagonista Tratase da inversão final do argumento de Cálicles GÓRGIAS 4 5 7 mencionei há pouco Quando te apresentares ao juiz o filho de 527 Egina329 e ele te levar preso ficarás turvado e boquiaberto neste lugar tanto quanto eu ficarei aqui e talvez alguém rache tam bém a tua têmpora de forma desonrosa e te ultraje de todos os modos330 Provavelmente essas coisas parecerão a ti como um mito331 contado por uma anciã e tu as desprezarás E não seria espantoso desprezálas se procurássemos e conseguíssemos descobrir em outro lugar algo melhor e mais verdadeiro Todavia vês neste momento que vós três tu Polo e Górgias os mais sábios entre os helenos contemporâneos não sois capazes de demonstrar que b se deve viver uma vida diferente desta a qual se revele vantajosa também no alémmundo Entre tantos argumentos porém todos os demais foram refutados e somente este persiste que é preciso ter maior precaução para não cometer injustiça do que para so frêla que o homem deve sobretudo preocuparse em ser bom e não parecer sêlo quer privada ou publicamente332 que se al guém vier a se tornar mau em alguma coisa ele deve ser punido que tornarse justo e uma vez punido pagar a justa pena é o segundo bem depois de ser justo que se deve evitar toda forma c de lisonja em relação a si próprio ou aos outros sejam esses pou cos ou muitos e que se deve empregar a retórica e qualquer ou tra ação visando sempre o justo333 Portanto se fores persuadido por mim acompanhame até onde tu quando chegares serás feliz quer em vida quer após a morte como o discurso indica E deixa que alguém te menos preze como se fosses estulto e te ultraje se ele quiser e por Zeus sê confiante e deixa que ele te desfira esse golpe desonroso pois d nada terrível sofrerás se realmente fores belo e bom e exercitares 331 Sobre a distinção entre muthos e logos cf supra nota 303 332 Esquilo Sete Contra Tebas v 592 Ele não deseja parecer excelente mas sêlo ού γάρ δοκείν αριστος άλ είναι θέλει Sobre a discussão a respeito das vantagens e desvantagens de parecer ser uslo e ser justo ver Platão República 11 3623630 333 Sobre a boa retórica cf supra notas 199 207 e 272 4 5 8 GÓRGIAS DE PLATÃO άσκήσαντες τότε ήδη εάν δοκή χρήναι επιθησόμεθα τοΐs πολιτικοις ή όποιον αν τι ήμϊν δοκτ rore βονλευσόμεθα βελτίουϊ όντες βουλευεσθαι ή νυν αισχρόν γαρ εχοντάί ye ώΐ νυν φαινόμεθα εχειν επειτα νεανιεύεσθαι às ri õvras ois ουδέποτε ταύτα δοκεΐ περί των αυτών και ταντα περί των μεγίστων eis τοσοΰτον ήκομεν άπαιδενσίας ώσπερ ουν ήγεμόνι τω λόγω χρησωμεθα τω νυν παραφανεντι os ήμιν σημαίνει ότι οϊιτος ό τρόπο s αριστος του βίου και την δικαιοσύνην καί την άλλην αρετήν άσκονντας καί ζην καί τεθνάναι τουτω ουν επώμεθα καί του s âkkovs παρακα λωμεν μή εκείνω ω συ πιστευων εμε παρακαλεΐί εστι γαρ ουδενόs ãios ω KaÀAÍKÀeis GÛRGIAS 459 a virtude Em seguida só depois de a exercitarmos em comum nos envolveremos com a política se parecer que devemos fazêlo ou aconselharemos o que for de nosso parecer pois seremos me lhores como conselheiros do que o somos hoje334 Pois é vergo nhoso encontrarmonos nessa condição que patentemente nos encontramos e incorrermos nessa insolência juvenil335 como se fôssemos algo a quem jamais as coisas parecem ser as mesmas a respeito dos mesmos assuntos inclusive a respeito dos mais preciosos a tamanha ignorância chegamos Então tomemos como nosso guia este discurso que agora se revela a nós discurso que nos indica que o melhor modo de vida é viver e morrer exer citando a justiça e o restante da virtude Assim sigamos este dis curso e a ele exortemos os outros homens e não aquele no qual acreditas e ao qual me exortas pois ele não tem qualquer valor Cálicles 334 Cf 5 i4 a e 335 Sócrates ao empregar o termo veavieúeaGai neanieuesthai insolên cia juvenil 5271I6 se remonta ao início da invectiva de Cálicles contra o filósofo e a filosofia 482C4 AT KINGS COLLEGE LONDON B IB LIO G R A F IA I Edições dos Textos Gregos e Latinos A N D O C I D E S D iscou rs Texto estabelecido e traduzido por Georges Dalmeyda Paris Les Belles Lettres 1966 A P O L O D O R O T h e Library E d Jam es G e o r g e F ra zer C a m b r id g e H a r v a r d U n v e r s ity P ress 1995 T h e L o e b C la s s ic a l L ib rary A R I S T Ó F A N E S C o m o ed ia e Eds F W Hall W M Geldart London Oxford University Press 1970 A R I S T Ó T E L E S A rs R h etorica Ed W D Ross Oxford Oxford University Press 1959 D e A rte P o etica Liber Ed Rudolf Kassel Oxford Clarendon 1965 E th ica N ico m a ch ea E d L B y w ater O x fo rd O x fo r d U n iv e r sity P ress 1894 Ethica E udem ia E ds R ich ard R W a lze r e Jean M M in gay N e w Y ork O x fo rd U n i v e rsity Press 19 9 1 P o litico Ed W D Ross Oxford Oxford University Press 1988 Topica e t S o p h istici E len ch i Ed W D Ross Oxford University Press 1958 A T E N E U T h e deip nosophists Ed Charles Burton Gulick Cambridge Harvard University Press 1987 The Loeb Classical Library 462 GÕRGIAS DE PLATÃO C ÍC E R O Tusculanes Texto estabelecido por Georges Fohlen e traduzido por Jules Hum bert Paris Les Belles Lettres 1931 D E M Ó S T E N E S Orationes Tomus I Ed S H Butcher Oxford Oxford University Press 1903 D IO D O R O S ÍC U L O Bibliothèque Historique Livre x i i Texto estabelecido e traduzido por Michel Casevitz Paris Les Belles Lettres 1969 D IO G E N E S L A É R C IO Vite e Dottrine dei Piü Celebri Filosofi A cura di Giovanni Reali Milano Bom piani 2005 Vitae Philosophorum Ed Miroslav Marcovich Stvrgardiae Bibliotheca Teub neriana 1999 D IO N ÍSIO D E H A L IC A R N A SSO Antiquités Romaines Texto estabelecido e traduzido por Valerie Fromentin Paris Les Belles Lettres 1998 E SQ U IL O Eschyle Texto estabelecido e traduzido por Paul Mazon Paris Les Belles Lettres 2000 E S Q U IN E S Discours Tomo 1 Texto estabelecido e traduzido por Victor Martin e Guy de Budé Paris Les Belles Lettres 1973 E U R IP ID E S Tragicorum Graecorum Fragmenta Comentários de August Nauck Lapsiae Bibliotheca Teubneriana 1889 Euripide Texto estabelecido e traduzido por Leon Parmentier e Henri Grégoire Paris Les Belles Lettres 1973 H E R Ó D O T O Histoires Texto estabelecido e traduzido por PE Legrand Paris Les Belles Lettres 1946 H O M E R O Opera Eds David B Monro Thomas W Allen Oxford Oxford University Press 1920 H O R Á c io Opera Ed E C Wickham editio altera curante H W Garrod Oxford Oxford University Press 1988 I s o c r a t e s Opera Omnia Ed Basileios G Mandilaras Bibliotheca Teubneriana 2003 L ÍS IA S Orationes Ed Charles Hude Oxford Oxford University Press 1912 o l i m p i o d o r o In Platonis Gorgiam Commentaria Ed Leendert Gerrit Westerink Leipzig Bibliotheca Teubneriana 1970 BIBLIOGRAFIA 463 P ÍN D A R O Isthmiques et Fragments Tome iv Texto estabelecido e traduzido por Aimé Puech Paris Les Belles Lettres 1923 PLA Tà O Platonis Opera Ed John Burnet Oxford Clarendon 1968 P L U T A R C O Péricles Vies Tome in Texto estabelecido e traduzido por Robert Flacelière e Émile Chambry Paris Les Belles Lettres 1969 P R É S O C R Á T IC O S Die Fragmente der Vorsokratiker Eds Herman Diels e Walter Kranz Zürich Weidmann 1989 S E X T O E M P ÍR IC O Sextus Empiricus Ed R G Bury Cambridge Harvard Unversity Press 1976 The Loeb Classical Library S Ó F O C L E S Fabulae Ed Hugh LloydJones e Nigel Guy Wilson Oxford Oxford University Press 1990 Q U IN T IL IA N O Institutionis Oratoriae Tomus 1 Oxford Oxford University Press 1970 T U C ÍD ID E S Historiae Eds Henry Stuart Jones e J Enoch Powell Oxford Oxford University Press 1988 X E N O F O N T E Opera Omnia Ed Edgar Cardew Marchant Oxford Oxford University Press 1921 ii Bibliografia Crítica a d a m James The Republic of Plato Cambridge Cambridge University Press 1979 v 1 a d o r n o Francesco lntroduzione a Platone Roma Laterza 1986 Platone Gorgia Tradução e introdução RomaBari Laterza 1997 a l l e n Reginald E The Dialogues of Plato Euthyphro Apology Crito Meno Gor gias Menexenus New Haven Yale University Press 1984 v 1 B a k h t i n Mikhail Problemas da Poética de Dostoiévski Trad Paulo Bezerra Rio de Janeiro ForenseUniversitária 1981 B E L L iD O Antonio Melro Sofistas Testimonios y Fragmentos Madri Gredos 1996 b e v e r s l u i s John Does Socrates Commit the Socratic Fallacy In b e n s o n Hugh H ed Essays on the Philosophy of Socrates New York Oxford University Press 1992 CrossExamining Socrates A Defense of the Interlocutors in Platos Early Dia logues CambridgeNew York Cambridge University Press 2000 464 GÓRGIAS DE PLATÃO B L O N D E L L Ruby The Play of Character in Platos Dialogues Cambridge Cambridge University Press 2002 B R iC K H O U S E Thomas C s m i t h Nicholas D Platos Socrates New York Oxford University Press 1994 b r o c k Roger Plato and Comedy In c r a i k Elizabeth M ed Owls to Athens Oxford Clarendon 1990 C A M B IA N O Giuseppe Platone e le Tecniche Torino Giulio Einaudi 1971 c a m p o s Haroldo de Homero Ilíada Introdução de Trajano Vieira São Paulo Arx 2001 c a n f o r a Luciano Pathos e Storiografia Drammatica Elenchos Roma Bibliopolis 1995 anno xvi fase 1 Atti del Convegno tenuto a Taormina c a n t o Monique Platon Gorgias Tradução introdução e notas Paris Flamma rion 1993 c a s e r t a n o Giovanni LEterna Malattia del Discorso Quattro Studi su Platone Napoli Liguori 1991 c a s s i n Barbara LEffet sophistique Paris Gallimard 1995 c e n t r o n e Bruno Pathos e Ousia nei Primi Dialoghi di Platone Elenchos Roma Bibliopolis 1995 anno xvi fasc 1 Atti del Convegno tenuto a Taormina 1994 C h a n t r a i n e Pierre Dictionnaire étymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1968 c h i r o n Pierre PseudoAristote Rhétorique à Alexandre Texto estabelecido e tra duzido Paris Les Belles Lettres 2002 c l a y Diskin The Origins of the Socratic Dialogue In w a e r d t Paul A Vander ed The Socratic Movement Ithaca Cornell University Press 1994 c o l e Thomas The Origins of Rhetoric in Ancient Greece Baltimore The Johns Hopkins University Press 1991 c o o p e r John M Notes on Xenophons Socrates In c o o p e r John M ed Essays on Ancient Moral Psychology and Ethical Theory Princeton Princeton Univer sity Press 1999 Socrates and Plato in Gorgias In c o o p e r J ed Essays on Ancient Moral Psychology and Ethical Theory Princeton University Press 1999b c o p e Edward Meredith s a n d y s John Edwin The Rhetoric of Aristotle Salem Ayer 1988 v 111 e m C O R N F O R D Francis MacDonald The Origin of Attic Comedy New York Anchor 1961 d e s c l o s MarieLaurence Structure des Dialogues de Platon Paris Ellipses 2000 d e s j a r d i n s Rosemary Why Dialogues Platos Serious Play In G r i s w o l d Charles L ed Platonic Writings Platonic Readings Londres Routledge 1988 d e s p l a c e s Édouard Lexique Platon Oeuvres Complètes Paris Les Belles Lettres 1970 t x iv e xv d o d d s Eric R 1959 Plato Gorgias A Revised Text Oxford Clarendon 1990 D o r a t i Marco Aristotele Retórica Texto critico tradução e notas Milano Mon dadori 1996 D o v e r Keneth James Aristophanic Comedy Berkeley University of California Press 1972 BIBLIOGRAFIA 465 Aristophanes Clouds Oxford Carendon 1989 E R L E R M La Felidtà delle Api Passione e Virtù nel Fedone e nella Repubblica Trad G Ranocchia In m i g l i o r i M v a l d i t a r a L M N f e r m a n i A eds Inte riorità e anima La Psyché in Platone Milano Vita e Pensiero 2007 f a n t a s i a Ugo Tucidide La Guerra del Peloponneso libro 11 Texto tradução com mentários e ensaio introdutório Pisa Ets 2003 f a r n e s s Jay Missing Socrates Problems of Platos Writings University Park The Pennsylvania State University Press 1991 f r e d e Michael Platos Arguments and the Dialogue Form In a n n a s Julia ed Oxford Studies in Ancient Philosophy Supplementary Volume Oxford Claren don 1992 Fussi Alessandra Why is the Gorgias so Bitter Philosophy and Rhetoric The Penn sylvania State University Press v 33 n 1 2000 Logos Filosofico e Logos Persuasivo nella Confutazione Socratica di Gor gias In B A R A L E Massimo a cura di Materiali per un Lessico della Ragione Pisa Ets 2001 The Myth of the Last Judgment in the Gorgias The Review of Metaphysics 54 2001 Retórica e Potere Una Lettura del Gorgia di Platone Pisa Ets 2006 g a l l o p David The Rhetoric of Philosophy Socrates Swansong In m i c h e l i n i Ann N ed Plato as Author The Rhetoric of Philosophy LeidenBoston Brill 2003 g a s t a l d i Silvia II Teatro delle Passioni Pathos nella Retórica Antica Elenchos Atti del Convegno tenuto a Taormina 1994 Anno xvi fasc 1 Roma Bibliopolis 1995 g e n t z l e r Jyl The Sophistic CrossExamination of Calicles in the Gorgias Ancient Philosophy 15 Pittsburgh Mathesis 1995 g i a n n a n t o n i Gabriele et al Socrate Tutte le Testimonianze Da Aristofane e Se nofonte ai Padri Cristiani RomaBari Laterza 1986 1 Presocratici Testimonianzi e Frammenti RomaBari Laterza 1993 g i a n n a n t o n i Gabriele Socratis et Socraticorum Reliquiae Roma Bibliopolis 1990 g o m m e Arnold Wycombe An Historical Commentary on Thucydides Oxford Clarendon 1956 v 11 G o n z a l e z Francisco J Introduction A Short History of Platonic Interpretation and the Third Way The Third Way New Directions in Platonic Studies Lan ham Rowman Littlefield 1995 g r i l l i Alessandro Aristofane Le Nuvole Introdução tradução e notas Milano b u r 2005 G r i m a l d i William M A Aristotle Rhetoric 1 a Commentary New York Fordham University Press 1980 Aristotle Rhetoric n a Commentary New York Fordham University Press 1988 G r i s w o l d Charles L Style and Dialogue The Case of Platos Dialogue The Monist La Salle vol 63 n 4 1980 Platos Metaphilosophy Why Plato Wrote Dialogues Platonic Writings Pla tonic Readings Londres Routledge 1988 466 GÓRGIAS DE PLATÃO G u t h r i e William K C Los Filósofos Griegos Trad Florentino M Torner México Fondo de Cultura Económica 2000 H A L L iw E L L Stephen Plato Republic 10 Tradução e comentário Wiltshare Aris Phillips 1988 I r w i n Terence Coercion and Objectivity in Platos Dialectic Revue Internationale de Philosophie Paris n 156157 fasc 121986 Plato Gorgias Oxford Clarendon 1995 Platos Ethics Oxford Oxford University Press 1995 Ja c k s o n Robin l y c o s Kim t a r r a n t Harold eds Olympiodorus Commentary on Platos Gorgias Leiden Brill 1998 K a h n Charles Drama and Dialectic in Platos Gorgias Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Clarendon 1983 vol 1 Did Plato Write Socratic Dialogues In b e n s o n Hugh H ed Essays on the Philosophy of Socrates New York Oxford University Press 1992 Plato and the Socratic Dialogue Cambridge Cambridge University Press 1996 Sobre 0 Verbo Grego Ser e 0 Conceito de Ser Trad Maura Iglésias et al Depto de Filosofia p u c R ío 1997 K a u f f m a n Charles Enactment as Argument in the Gorgias Philosophy and Rheto ric University P a r k P A v 12 n 2 1979 K e n n e d y George A A New History of Classical Rhetoric Princeton Princeton Univer sity Press 1994 Aristotle On Rhetoric a Theory of Civic Discourse Tradução introdução notas e apêndices Oxford Oxford University Press 2007 K E R F E R D George B Le Sophiste v u par Platon un Philosophe Imparfait In c a s s i n Barbara ed Positions de la Sophistique Coloque de Cerisy Paris Vrin 1986 The Sophistic Movement Cambridge Cambridge University Press 1991 k o s m a n Louis Arych Silence and Imitation in the Platonic Dialogues In a n n a s Julia ed Oxford Studies in Ancient Philosophy Supplementary Volume Oxford Clarendon 1992 k r a u t Richard Comments on Gregory Vlastos The Socratic Elenchus Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Clarendon 1983 v 1 Introduction to the Study of Plato In k r a u t Richard ed The Cambridge Companion to Plato Cambridge Cambridge University Press 1992 LA B O R D E R IE Jean Le Dialogue platonicien de la maturité Paris Les Belles Lettres 1978 L a n z a Diego Aristotele Poética Introdução tradução e notas Milano b u r 2004 L A U S B E R G Heinrich Manual de Retórica Literaria Trad José Pérez Riesco Ma drid Gredos 1968 l e v i A W Philosophy as Literature The Dialogue Philosophy and Rhetoric Uni versity ParkPA vol 9 n 1 1976 l i m a Paulo Butti Platão Uma Poética para a Filosofia São Paulo Perspectiva 2004 l o n g o Angela La Técnica delia domanda e le interrogazioni fittizie in Platone Pisa Scuola Normale Superiore 2000 l o p e s Daniel Rossi Nunes Xenófanes Fragmentos São Paulo Olavobrás 2003 BIBLIOGRAFIA 467 m a g a l h ã e s v i l h e n a Vasco de O Problema de Sócrates Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1952 m a l h a d a s Daisi s a r i a n Haiganuch Teofrasto Os Caracteres São Paulo Editora Pedagógica e Universitária 1978 m a u r o L Eristica e Dialettica nel Gorgia di Platone Verifiche Vicenza anno xm n 4 1984 m c k i m Richard Shame and Truth in Platos Gorgias In G r i s w o l d Charles L ed Platonic Writings Platonic Readings Londres Routledge 1988 m i t t e l s t r a s s Jurgen On Socratic Dialogue In G r i s w o l d Charles L ed Platonic Writings Platonic Readings Londres Routledge 1988 m o r r o w Gleen R Platos Conception of Persuasion The Philosophical Review Ithaca 1953 m o s s Jessica Shame Pleasure and the Divided Soul Oxford Studies in Ancient Phi losophy Oxford Carendon 2005 m o s t G W Generating Genres The Idea of the Tragic In d e p e w Mary o b b i n k Dirk eds Matrices of Genre Authors Canons and Society CambridgeLondres Har vard University Press 2000 m o u r e l a t o s Alexander P D Gorgias on the Function of Language Philosophical Topics Fayetteville vol xv n 21987 M u r r a y John S Plato on Knowledge Persuasion and the Art of Rhetoric Gorgias 452e455a Ancient Philosophy Pittsburgh vol 8 n 1 1988 n a i l s Debra The People of Plato A Prosopography of Plato and other Socratics India napolis Hackett 2002 n e h a m a s Alexander Eristic Antilogic Sophistic Dialectic Platos Demarcation of Philosophy from Sophistry In n e h a m a s Alexander ed Virtues of Authenticity Essays on Plato and Socrates Princeton Princeton University Press 1999 n i e t z s c h e Friedrich Curso de Retórica Trad Thelma Lessa da Fonseca Cadernos de Tradução São Paulo n 41999 n i g h t i n g a l e Andrea W Genres in Dialogue Cambridge Cambridge University Press 1995 O w e n Gwilym Ellis Lane Philosophical Invective Oxford Studies in Ancient Phi losophy Oxford Clarendon 1983 v 1 Pa t t e r s o n Richard The Platonic Art of Comedy and Tragedy Philosophy and Literature Baltimore vol 6 n 12 1982 piE R i Stefania Nonvel Platone Gorgia Traduzione introduzione e commento Napoli Loffredo 1991 p l o c h m a n n George Kimball r o b i n s o n F E A Friendly Companion to Platos Gorgias Carbondale Southern Illinois University Press 1988 q u i m b y R W The Growth of Platos Perception of Rhetoric In E r i c k s o n K V Plato True and Sophistic Rhetoric Amsterdam Rodopi 1979 r a n d a l l Jr John Herman Plato Dramatist of the Life of Reason New York Colum bia University Press 1970 r a n t a Jerrald The Drama of Platos Ion The Journal of Aesthetics and Art Criti cism Madison vol 26 n 2 1967 468 GÓRGIAS DE PLATÃO R E N D A L L Steven Dialogue Philosophy and Rhetoric The Example of Platos Gor gias Philosophy and Rhetoric University ParkPA v 10 n 31977 R o b i n s o n Richard Platos Consciousness of Fallacy Essays in Greek Philosophy Oxford Clarendon Press 1969 Platos Earlier Dialectic Londres Oxford University Press 1953 R O M IL LY Jacqueline de Magic and Rhetoric in Ancient Greece Cambridge Harvard University Press 1975 R o s s e t t i Livio The Rhetoric of Socrates Philosophy and Rhetoric University P a r k P A v 22 n 4 1989 R o w e Christopher 1976 Introduccion a la Etica Griega Trad Francisco Gonzalez Aramburo México Fondo de Cultura Económica 1993 R u t h e r f o r d R B The Art of Plato Londres Duckworth 1995 S A S S i Maria Michela La Scienza dell Uomo nella Grecia Antica Torino Bollati Boringhieri 1988 La morte di Socrate In s e t t i s Salvatore a cura di r Greci Torino Einaudi 1987 s c h i a p p a Edward Did Plato Coin Rhêtoriké The American Journal of Philology Baltimore v 111 n 41990 s c h l e i e r m a c h e r F D E Introdução aos Diálogos de Platão Trad George Ott Belo Horizonte Editora u f m g 2002 S c o t t Dominic Platonic Pessimism and Moral Education Oxford Studies in An cient Philosophy Oxford v 17 1999 s e s o n s k e A To Make the Weaker Argument Defeat the Stronger In e r i c k s o n K V ed Plato True and Sophistic Rhetoric Amsterdam Rodopi 1979 s i l k Michael S Aristophanes and the Definition of Comedy Oxford Oxford Uni versity Press 2002 s l i n g s Simon R s t r y k e r Emile de Platos Apology of Socrates A Literary and Philosophy Study with a Running Commentary Leiden E J Brill 1994 s m i t h Josiah Renick Xenophon Memorabilia Introdução e comentários New York Arno 1979 s m i t h R Aristotles Topics Books 1 a n d v i i Tradução e comentário Oxford Claren don 1997 s p i t z e r Adele The SelfReference of the Gorgias Philosophy and Rhetoric Univer sity P a r k P A vol 8 n 11975 T a r r a n t Harold Platos First Interpreters Londres Duckworth 2 0 0 0 T a y l o r C C W Platos Protagoras Oxford Clarendon Press 1991 t h e s l e f f Holger Studies in the Styles of Plato Acta Philosophica Fennica Hel sinki fasc xx 1967 t h o m a s C G W e b b E K From Orality to Rhetoric an Intellectual Transforma tion In W o r t h i n g t o n Ian ed Persuasion Greek Rhetoric in Action Lon dres Routledge 1994 T R A B A T T O N i Franco Oralidade e Escrita em Platão Trad Fernando Puente Roberto Bolzani Filho São Paulo Discurso Editorial 2003 T U L L i Mauro AUOrigine del Rapporto fra la Retórica e la Filosofia da Omero a Gorgia Atene e Roma ano x l v i i fasc 1 2002 BIBLIOGRAFIA 469 U N T E R S T E IN E R M Sofisti Testimonianze e Frammenti Firenze La Nuova Italia 1949 t II 1 Sofisti Milão Ed Bruno Mondadori 1996 u s h e r Stephen Greek Oratory Tradition and Originality Oxford Oxford Univer sity Press 1999 v e g e t t i Mario Platone La Repubblica Tradução e comentário Roma Bibliopo lis 1998 Quindici Lezioni su Platone Torino Einaudi 2003 v l a s t o s Gregory The Paradox of Socrates In g r a h a m Daniel W ed Studies in Greek Philosophy Princeton Princeton University Press 1995 Was Polus Refuted In g r a h a m Daniel W ed Studies in Greek Philoso phy Princeton Princeton University Press 1995 The Socratic Elenchus Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford vol 1 1983 Afterthoughts on The Socratic Elenchus Oxford Studies in Ancient Philoso phy Oxford v 1 1983 Socratic Irony In b e n s o n Hugh H e d Essays on the Philosophy of Socrates New York Oxford University Press 1992 w a e r d t Paul A Vander Socrates in the Clouds In w a e r d t Paul A Vander ed The Socratic Movement Ithaca Cornell University Press 1994 w a r d y Robert The Birth of Rhetoric Londres Routledge 1996 W A R TELLE Andre Lexique de la Rhétorique dAristote Paris Les Belles Lettres 1982 Lexique de la Poétique dAristote Paris Les Belles Lettres 1985 w o o d r u f f Paul The Skeptical Side o f Platos Method Revue Internationale de Philoso phie Paris n 156157 fasc 12 1986 Rhetoric and Relativism The Cambridge Companion to the Early Greek Philoso phy Cambridge Cambridge University Press 1999 W o o l f Raphael Callicles and Socrates Psychic Disharmony in the Gorgias Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford v 182000 z e y l Donald J Plato Gorgias Translation with introduction and notes Indianapolis Hackett 1987 ANEXO 1 A n ô n im o Jâm b lico Fr dk 6 a 89 p 100 5 ρ ιοο 5 ι έτι τοίνυν ούκ έπί πλεονεξίαν όρμον δει ούδέ τό κράτος τό έπι τήι πλεονεξίαι ήγείσθαι αρετήν είναι τό δε τών νόμων ύπακούειν δειλίαν πονηροτάτη γάρ αΰτη ή διάνοιά έστι και έξ αύτής πάντα τάναντία τοις άγαθοίς γίγνεται κακία τε και βλάβη εί γάρ έφυσαν μέν οί άνθρωποι άδύνατοι καθ ένα ζήν συνήλθον δέ προς άλλήλους τήι άνάγκηι εϊκοντες πάσα δέ ή ζωή αύτοις εϋρηται καί τά τεχνήματα πρός ταύτην σύν άλλήλοις δέ είναι αύτούς κάν άνομίαι διαιτάσθαι ούχ οϊόν τε μείζω γάρ αύτοις ζημίαν άν οϋτω γίγνεσθαι έκείνης τής κατά ένα διαίτης διά ταύτας τοίνυν τάς άνάγκας τόν τε νόμον καί τό δίκαιον έμβασιλεύειν τοΐς άνθρώποις καί ούδαμήι μεταστήναι αν αυτά φύσει γάρ ισχυρά ένδεδέσθαι ταΰτα 2 εί μέν δή γένοιτό τις έξ άρχής φύσιν τοιάνδε έχων άτρωτος τόν χρώτα άνοσός τε καί άπαθής καί υπερφυής καί άδαμάντινος τό τε σώμα καί τήν ψυχήν τώι τοιούτωι ίσως άν τις άρκειν ένόμισε τό έπί τήι πλεονεξίαι κράτος τόν γάρ τοιοΰτον τώι νόμωι μή ύποδύνοντα δύνασθαι άθώιον είναι ού μήν όρθώς ούτος οίεται 3 εί γάρ καί τοιοΰτός τις είη ώς ούκ άν γένοιτο τοις μέν νόμοις συμμαχών καί τώι δικαίωι καί ταΰτα κρατύνων καί τήι ίσχύι χρώμενος έπί ταϋτά τε καί τά τούτοις έπικουροΰντα οϋτω μέν άν σώιζοιτο ό τοιοϋτος άλλως δέ ούκ άν διαμένοι μ δοκεϊν γάρ άν τούς άπαντας άνθρώπους τώι τοιούτωι φύντι πολεμίους κατασταθέντας διά τήν εαυτών εύνομίαν καί τό πλήθος ή τέχνηι ή δυνάμει ϋπερβαλέσθαι άν καί περιγενέσθαι τού τοιούτου άνδρός 5 οΰτω φαίνεται καί αύτό τό κράτος δπερ δή κράτος έστί διά τε τού νόμου καί διά τήν δίκην σωιζόμενον ANEXO 471 i Além do mais não se deve ansiar por ter mais posses tampouco con siderar que o poder de acumular mais seja excelência e a obediência às leis covardia Esse pensamento é pernicioso ao máximo é causa de tudo quanto é contrário às coisas boas causa da maldade e do detrimento Como os homens foram naturalmente incapazes de viver cada um iso ladamente e congregaramse por força da necessidade como eles por causa dela descobriram todos os recursos de vida e as técnicas sendo impossível que eles convivessem em meio à ilegalidade pois viver assim lhes seria uma punição maior do que aquela vida em isolamento recí proco pois bem é por tais constrições que a lei e o justo devem reger soberanamente os homens sem jamais serem deles subtraídas porque estão fortemente ligadas a eles por natureza 2 Se alguém nascesse com uma natureza tal a ponto de ter o corpo invulnerável de ser incólume intangível extraordinário dotado de corpo e alma diamantinos poder seia pensar talvez que para um homem desse tipo bastasse a supre macia fundada no acúmulo de posses pois ele seria capaz de manterse impune mesmo sem a submissão à lei todavia um juízo como esse é errôneo 3 Pois ainda que houvesse alguém assim ele não subsistiria um homem desse tipo só garantiria a sua sobrevivência se lutasse pelas leis e pelo justo reforçandoos e empregasse sua força para esse fim e para aquilo que lhe concorre pois caso contrário ele não perseveraria 4 Bastaria que todos declarassem guerra contra esse homem de na tureza excepcional e se servissem da boa legislação e da superioridade numérica para suplantálo e prevalecer sobre ele por meio do poder e da arte 5 E é evidente que a própria supremacia enquanto suprema cia é conservada pela lei e pela justiça ANEXO 2 A n tifon te S o fista FrDK 4 4 B 8 7 vgl 99B n8s Oxyrh Pap xi n 1364 ed H u nt Fragm en to A Δικαιοσύνη πάντα τά τής πόλεως νόμιμα έν ή αν πολιτεύηταί τις μή παραβαίνειν χρωτ αν ούν άνθρωπος μάλιστα έαυτώ ξυμφε ρόντως δικαιοσύνη εί μετά μέν μαρτύρων τούς νόμους μεγάλους άγοι μονούμενος δέ μαρτύρων τά τής φύσεως τά μέν γάρ τών νόμων έπίθετα τά δέ τής φύσεως άναγκαία και τά μέν τών νόμων όμολογηθέντα ού φύντ έστίν τά δέ τής φύσεως φύντα ούχ όμολογητά τά ούν νόμιμα παραβαίνων ή άν λάθη τούς όμολογήσαντας και αισχύνης καί ζημίας άπήλλακται μή λαθών δ οΰ τών δέ τή φύσει ξυμφύτων έάν τι παρά τό δυνατόν βιάζηται εάν τε πάντας άνθρώπους λάθη ούδέν έλαττον κακόν έάν τε πάντες ϊδωσιν ούδέν μείζον ού γάρ διά δόξαν βλάπτεται άλλά δι άληθείαν Έστι δέ πάντων ενεκα τούτων ή σκέψις δτι τά πολλά τών κατά νόμον δικαίων πολεμίως τή φύσει κεΐται νενομοθέτηται γάρ έπί τε τοίς όφθαλμοϊς ά δει αύτούς όράν και ά ού δεί και έπί τοίς ώσιν ά δεί αυτά άκούειν και ά ού δει και έπι τή γλώττη ά τε δεί αύτήν λέγειν και ά ού δει καί έπι ταίς χερσίν ά τε δει αύτάς δράν και ά ού δει καί έπί τοίς ποσίν έφ ά τε δεί αύτούς ίέναι καί έφ ά ού δει καί έπί τώ νώ ών τε δεί αύτόν έπιθυμεΐν καί ών μή Έστιν ούν ούδέν τή φύσει φιλιώτερα ούδ οίκειότερα άφ ώνοίνόμοιάποτρέπουσιτούς άνθρώπους ή έφ ά προτρέπουσιν τό γάρ ζήν έστι τής φύσεως καί τό άποθανεΐν καί τό μέν ζήν αύτοΐς έστιν άπό τών ξυμφερόντων τό δέ άποθανεΐν άπό τών μή ξυμφερόντων τά δέ ξυμφέροντα τά μέν ύπό τών νόμων κείμενα δεσμά τής φύσεως έστί τά δ ύπό τής φύσεως έλεύθερα οϋκουν τά άλγύνοντα όρθώ γε λόγω όνίνησιν τήν φύσιν μάλλον ή τά εύφραίνοντα οΰκουν άν ουδέ ξυμφέροντ εϊη τά λυποΰντα μάλλον ή τά ήδοντα τά γάρ τώ άληθεΐ ξυμφέροντα ού βλάπτειν δει άλλ ώφελεΐν τά τοίνυν τή φύσει ξυμφέροντα τ ANEXO 473 Justiça é não transgredir as leis da cidade constituída de cidadãos Então o homem empregaria a justiça sobretudo em seu interesse próprio se diante de testemunhas aplicasse as leis em profusão mas na ausência de testemunhas seguisse as prescrições da natureza Pois as prescrições das leis são instituídas enquanto as da natureza são necessárias o acordo das leis não é inato ao passo que as prescrições da natureza são inatas e não acordadas Assim quando alguém transgredir as leis a vergonha e a pu nição não o acometerão se ele escapar aos olhos dos partícipes daquele acordo mas se for pego a sorte lhe será contrária Porém quando alguém ultrajar além do limite alguma prescrição inata da natureza o mal será em nada menor se ele escapar aos olhos de todos os homens e em nada maior se todos o verem Pois o seu prejuízo não se deve à opinião mas à verdade Eis o motivo completo desta investigação que a maior parte do que é justo segundo a lei encontrase em guerra com a natureza Pois a lei institui para os olhos o que devem ver e o que não devem para os ouvidos o que devem ouvir e o que não devem para a língua o que deve dizer e o que não deve para as mãos o que devem fazer e o que não devem para os pés aonde devem ir e aonde não devem e para a mente o que deve almejar e o que não deve Portanto as privações dos homens provocadas pelas leis não são menos afins nem menos familiares à natureza do que as suas ordenações A vida e a morte são por sua vez propriedades da natureza e a vida provém para os homens daquilo que lhes é vantajoso enquanto a morte daquilo que lhes é desvantajoso E quanto ao vantajoso as prescrições das leis são amarras da natureza enquanto as da natureza são livres Então segundo o raciocínio correto as coisas dolorosas não são mais proveitosas à natureza do que as aprazíveis tampouco as dores seriam mais vantajosas do que os prazeres Pois é necessário que o que é verdadeiramente vantajoso não seja danoso porém benéfico 474 Θ όΚ αΑ β ϋΕ ΡΙΑΤΑΟ Οϊτινες αν παθόντες άμύνωνται και μή αύτοι άρχωσι τοϋ δράν και οϊτινες αν τούς γειναμένους και κακούς όντας εις αυτούς εύ ποιώσιν και οϊ κατόμνυσθαι διδόντες έτέροις αύτοί μή κατομνύμενοι και τούτων τών είρημένων πόλλ αν τις εϋροι πολέμια τή φύσει ένι γε αύτοις άλγύνεσθαί τε μάλλον έξόν ήττω και έλάττω ήδεσθαι εξόν πλείω και κακώς πάσχειν έξόν μή πάσχειν εί μέν ούν τις τοίς τοιαΰτα προϊεμένοις έπικούρησις έγίγνετο παρά τών νόμων τοΐς δέ μή προϊεμένοις άλλ έναντιουμένοις έλάττωσις ούκ άνωφελές αν ήν τοϊς νόμοις πείθεσθαι νύν δέ φαίνεται τοϊς προσιεμένοις τά τοιαΰτα τό έκ νόμου δίκαήον ούχ ικανόν έπικουρεΐν ό γε πρώτον μέν επιτρέπει τώ πάσχοντι παθειν και τώ δρώντι δράσαι και ούτε ένθαΰτα διεκώλυε τόν πάσχοντα μή παθειν ούδέ τον δρώντα δράσαι εις τε τήν τιμωρίαν άναφερόμενον ούδέν ίδιώτερον έπι τώ πεπονθότι ή τώ δεδρακότι ταύτα δέ καταλείπεται και τώ δράσαντι άρνείσθαι έλομένωι έστιν μάλλον όσηπερ τώι κατηγοροΰντι ή τής κατηγορίας πειθώ άμύνειν τώι τε πεπονθότι και τώι δεδρακότι γίγνεται γάρ νίκη και ρήμασι και ANEXO 475 Portanto o que é vantajoso por natureza E quando alguém ao passar por certo padecimento se defender mas não tomar a iniciativa do ataque e quando alguém tratar bem seus genitores embora estes o maltra tem e quando alguém conceder juramento a outros embora estes não o façam pois bem desses casos citados qualquer um veria que a maior parte está em guerra com a natureza a dor o acomete mais quando é possível menos e o prazer menos quando é possível mais e sofre injú ria quando se pode evitála Assim se houvesse alguma proteção das leis àqueles que se submetem a tal condição e alguma perda para os que não se lhe submetem não seria em vão a obediência às leis Todavia é deveras evidente que aqueles que se submetem a tal condição o justo da lei não lhes provê de proteção suficiente pois em princípio admite que padeça quem padece e que ofenda quem ofende e depois não impede o padecimento de quem padece tampouco a ofensa de quem ofende quando aplica as punições trata tanto quem padece quanto quem ofende de forma paritária Pois o primeiro deve persuadir de seu padecimento quem aplica as punições e exigir que a justiça possa lhe valer a quem ofende resta negar o que lhe é imputado A persuasão da acu sação conferida ao acusador protege igualmente quem tenha padecido e quem tenha ofendido Pois a vitória surge e com frases Benaud Cornwall Gonzalez KOLKATA 1981 Roses and Roses Brugnoli Huie Malone SONOMA CALIFORNIA 1981 5Five portraits Cheevers Hoi Hunn Brown WAYNE NEW JERSEY 1980 Lopez ran orO sUU anenic lucuKard mee Barez Pablo PANAO AE 1978 6 The art of Happy Valley YAKIMA WASHINGTON 1981 Five studies Braund Anna Zell Beckett Douglas ALBUQUERQUE NEW MEXICO 1981 Circle Studies Lagace Adam Dacey Hinkle ERIE PENNSYLVANIA 1981 The Beauty of the Roses Brugnoli Huie Malone KALAMAZOO MICHIGAN 1981 Mir Tress Abramovich Henrich Sawicki DUBLEIN IRELAND 1976 9PAINTERS CHOICE 1981 COLEÇÃO TEXTOS 1 Marta a Árvore e o Relógio Jorge Andrade 2 Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial Sérgio Buarque de Holanda 3 A Filha do Capitão e 0 Jogo das Epígrafes Aleksandr S Púchkin Helena S Nazario 4 Textos Críticos Augusto Meyer João Alexandre Barbosa org 5 O Dibuk Sch Anski J Guinsburg org 6 Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro 2 v Andrade Muricy 7 Ensaios Thomas Mann Anatol Rosenfeld seleção 8 Leone de Sommi Um Judeu no Teatro da Renascença Italiana J Guinsburg org 9 Caminhos do Decadentismo Francês Fulvia M L Moretto org ío Urgência e Ruptura Consuelo de Castro 11 Pirandello Do Teatro no Teatro J Guinsburg org 12 Diderot Obras i Filosofia e Política J Guinsburg org Diderot Obras Estética Poética e Contos J Guinsburg org Diderot Obras ui O Sobrinho de Rameau J Guinsburg org Diderot Obras iv Jacques O Fatalista e seu Amo J Guinsburg org Diderot Obras v O Filho Natural J Guinsburg org Diderot Obras vi i O Enciclopedista História da Filosofia i J Guinsburg e Roberto Romano orgs Diderot Obras vi 2 O Enciclopedista História da Filosofia 11 J Guinsburg e Roberto Romano orgs Diderot Obras vi 3 O Enciclopedista Arte Filosofia e Política J Guinsburg e Roberto Romano orgs Diderot Obras v i i A Religiosa J Guinsburg org 13 Makunaíma e Jurupari Cosmogonias Ameríndias Sérgio Medeiros org 14 Canetti 0 Teatro Terrível Elias Canetti 15 Idéias Teatrais O Século xix no Brasil João Roberto Faria 16 Heiner Müller O Espanto no Teatro Ingrid D Koudela org 17 Büchner Na Pena e na Cena J Guinsburg e Ingrid D Koudela orgs 18 Teatro Completo Renata Pallottini 19 A República de Platão Obras 1 J Guinsburg org Górgias de Platão Obras 11 Daniel R N Lopes org 20 Barbara Heliodora Escritos sobre Teatro Claudia Braga org 21 Hegel e 0 Estado Franz Rosenzweig 22 Almas Mortas Nikolai Gógol 23 Machado de Assis Do Teatro João Roberto Faria org 24 Descartes Obras Escolhidas J Guinsburg Roberto Romano e Newton Cunha orgs 25 Luís Alberto de Abreu Um Teatro de Pesquisa Adélia Nicolete org Este livro foi impresso na cidade de São Paulo nas oficinas da Cromosete Gráfica e Editora Ltda em maio de 2011 para a Editora Perspectiva sA Como num jogo das partes e Daniel Lopes em sua apresentação acentua a importância do teatro na construção deste texto acabamos por olhar não mais para Górgias mas para Sócrates e do ponto de vista de um de seus críticos mais ferozes Cálicles A cada linha lembramonos do destino do filósofo de sua condenação à morte e de sua própria arte da palavra Essa discussão violenta conclui o diálogo em páginas destinadas a marcar o caminho da reflexão política e filosófica de épocas sucessivas Paulo Butti de Lima Professor da Universidade de Bari e responsável científico da Scuola Superiore di Studi Storici di San Marino é doutor em grego clássico pela Universidade Estadual de Campinas Unicamp e professor de língua e literatura gregas da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universida de de São Paulo fflchusp É autor do livro Xenófanes de Cólofon Fragmentos Olavobrás 2003 e colaborou com a edi ção de A República de Platão Perspectiva 2006 Tem se dedicado prioritariamente à tradução de diálogos de Platão e aos estu dos sobre filosofia antiga historiografia e oratória gregas Górgias é o segundo volume dedicado a Platão que a editora Perspectiva traz ao leitor brasileiro em sua coleção Textos depois da República Traduzido dire tamente do grego por Daniel Lopes autor das notas e do ensaio introdutório este diálogo aparece no catálogo de Diógenes Laércio séc 11 dC e nos manuscritos medie vais com o subtítulo Sobre Retórica Todavia o leitor que se aventura pelos caminhos dialógicos percorridos pelos interlocutores logo constata que a discussão vai além da tentativa de definir o que é essa arte ou mesmo se ela é verdadeiramente uma arte À medida que o exa me conduzido por Sócrates passa de uma personagem a outra emerge a questão fundamental que é a do melhor m odo de se viver será a vida política da democracia ateniense da qual a retórica é parte imanente ou a filo sófica na imagem de Sócrates construída por Platão O desafio socrático é persuadir de que a justiça é superior à injustiça e que a felicidade humana está na vida virtuo sa Nesse viés moral a pergunta é qual a utilidade da retórica Concebida por Górgias Polo e Cálicles como meio de alcançar uma existência afortunada através do poder e da liberdade ela é para Sócrates instrumento para a prática da injustiça no âmbito político O debate aponta portanto para uma crítica mais ampla de Platão à democracia uma vez que dela se gera o antípoda do filósofo o tirano como se lê na República JA P E SP ISBN 9 7 8 8 5 2 7 3 0 9 1 0 3
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
8
Filosofia da Ciência da Mente e do Encéfalo USP - Materialismo vs Espiritualismo e Consciência
Filosofia
USP
8
Filosofia da Ciencia - Consciencia em Maquinas e Funcionalismo
Filosofia
USP
8
Filosofia da Ciência da Mente - Crítica ao Funcionalismo e Psicossubstancialismo
Filosofia
USP
17
Princípios das Coisas Materiais - Análise e Reflexões
Filosofia
USP
8
Paralelismo Psicofísico e Superveniência - Filosofia da Ciência da Mente USP
Filosofia
USP
42
Mecanicismo - Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciencia
Filosofia
USP
24
Revisitando o Cânone da Filosofia Moderna Inicial - Análise e Reflexões
Filosofia
USP
17
Historia das Teorias da Luz e Visao - Filosofia da Ciencia USP
Filosofia
USP
13
Imagens de Natureza e Ciencia - Atualizacoes e Novidades da Edicao
Filosofia
USP
8
Filosofia da Ciencia da Mente e do Encefalo - Sensacoes Qualitativas
Filosofia
USP
Preview text
GORGIAS DE PLATÃO OBRAS II DANIEL R N LOPES TRA D U Çà O EN SAIO IN TRO D U TÓ RIO E N O TAS TE X TO S 19 No diálogo Górgias de Platão encontra mos pela primeira vez a palavra retórica Górgias sofista e orador revelará quais são suas vantagens a liberdade para os homens e o domínio sobre os outros na própria cida de O comediógrafo Aristófanes zomba do bárbaro Górgias na realidade um grego da Sicília um estrangeiro em Atenas di zendo que pertence à raça astuta que enche a barriga com a língua Comparando essa raça a um animal refere a prática ateniense de cortar as línguas das vítimas nos sacrifí cios Xenofonte e Platão mencionam alguns dos discípulos do orador todos caracteriza dos pela ambição de poder e pelo desejo de riquezas Comentavase a riqueza do próprio Górgias e sua excentricidade diziase que aparecia em público vestido de púrpura A esse mestre de retórica e a sua ati vidade Platão dedica o diálogo que agora lemos na nova tradução em língua portu guesa de Daniel Lopes acompanhada de um amplo comentário Quem és como em uma cena homérica Sócrates quer in terrogar Górgias em sua identidade mas é o filósofo que aos poucos por meio de uma constante interrogação vai traçar a figura duradoura do artífice de persuasão Atra vés da sucessão das personagens do diálogo Górgias Polo e Cálicles percebemos que para entender a arte da palavra é necessário por um lado considerar a vida dos homens em comunidade e o exercício do poder por outro perscrutar o que cada um possui de mais íntimo observando cada indivíduo como este seria observado pelos deuses Paradoxalmente é por meio das artes da culinária das vestimentas e da retórica que vamos compreender o homem em sua saú de em sua nudez e no interior de sua alma GÓRGIAS DE PLATÃO t i i i i p r a j i B Pregão 0412 121212 R3288 Coleção Textos Dirigida por João Alexandre Barbosa 19372006 Roberto Romano Celso Lafer Trajano Vieira João Roberto Faria J Guinsburg Equipe de realização Preparação de texto Jonathan Busato Revisão Mareio Honorio de Godoy Ilustração Sergio Kon Projeto de capa Adriana Garcia Produção Ricardo W Neves Sergio Kon Luiz Henrique Soares e Raquel Fernandes Abranches GÓRGIAS DE PLATÃO CO OBRAS II DANIEL R N LOPES T R A D U Ç Ã O E N SA IO IN T R O D U T Ó R IO E N O T A S A japesp PERSPECTIVA 77463 ciPBrasil Catalogação na Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros rj V77g Platão 427347 aC Górgias Platão Daniel R N Lopes tradução ensaio introdutório e notas São Paulo Perspeciva Fapesp 2011 Textos 19 Inclui bibliografia e apêndice i s b n 9788527309103 1 Ética Obras anteriores a 1800 2 Ciência política Obras anteriores a 1800 1 Lopes Daniel R N 11 Título 111979 c d d 170 c d u 17 080411 110411 025655 Direitos reservados à ED ITO R A PERSPECTIV A SA Av Brigadeiro Luís Antônio 3025 01401000 São Paulo SP Brasil Telefax 11 38858388 wwweditoraperspectivacombr z 2011 SUMÁRIO Apresentação 9 Fnsaio Introdutório Tragédia e Comédia no Górgias de Platão Introdução Platão e o Teatro 19 A Comédia no Diálogo o Caso Polo41 A Tragédia no Diálogo o Caso Cálicles81 A Tragicidade do Discurso Socrático117 As Causas da Recalcitrância de Cálicles139 Sócrates Aquiles ou Odisseu 149 Górgias de Platão164 Bibliografia461 Anexo 1 Anônimo Jâm blico470 Anexo 2 Antifonte Sofista472 APRESENTAÇÃO presente trabalho que a editora Perspectiva traz agora ao pú blico é fruto parcial da minha pesquisa de doutorado realizada entre 2003 e 2007 junto ao Programa de Pósgraduação em l inguística área de Letras Clássicas do Instituto de Estudos da Linguagem iel da Universidade Estadual de Campinas Unicamp com estágio no exterior junto à Università di Pisa e A Scuola Normale Superiore di Pisa entre novembro de 2005 e outubro de 2006 Tratase de um resultado parcial porque este livro não corresponde exatamente à tese final submetida à apreciação da banca de defesa O Ensaio Introdutório que apre sento neste livro consiste numa adaptação do terceiro capítulo ile minha tese com acréscimos correções e supressões de certas parles a fim de adequálo a um público mais amplo Os outros dois capítulos bem como a Introdução e a Conclusão foram suprimidos Também foram acrescidas a esta edição as notas à li adução que não fizeram parte de minha tese final Esse tra balho foi desenvolvido em 2008 e durante o primeiro semestre de 1001 com o intuito de oferecer ao leitor informações bási i as sobre o texto bem como análises filosóficas e literárias que 10 GÓRGIAS DE PLATÃO possam remetêlo a outros diálogos de Platão e a outros autores da Antiguidade Clássica O texto grego utilizado na tradução é o da edição de John Burnet Platonis Opera Tomus m Oxford University Press 1968 reproduzido integralmente nesta edição bilíngue Aproveito a ocasião para agradecer a professores e amigos que contribuíram de uma forma ou de outra para o resultado final deste trabalho Agradeço primeiramente ao meu orientador prof dr Tra jano A R Vieira que desde a graduação incentivoume aos estudos helénicos e que durante os oitos anos de mestrado e doutorado sempre se mostrou um interlocutor generoso e aberto ao diálogo ao prof dr Paulo Butti de Lima da Università di Bari que pos sibilitou meu estágio de doutorado na Università di Pisa e na Scuola Normale Superiore di Pisa além de ter acompanhado minha pesquisa e de ter feito sugestões que foram de grande valia para a consecução do meu trabalho à profa dra Maria Michela Sassi e à profa dra Alessandra Fussi que gentilmente me receberam na Università di Pisa e me ofereceram todas as condições necessárias para o bom ren dimento desse estágio na Itália ao prof dr Giuseppe Cambiano da Scuola Normale Superiore di Pisa pela gentileza e cordialidade com que me acolheu em seu curso sobre o Sofista de Platão absolutamente relevante para os objetivos de minha pesquisa ao prof dr Marco Zingano da fflchusp e ao prof dr Flá vio Ribeiro de Oliveira do IELUnicamp que participaram da banca de qualificação da minha tese com observações muito valiosas e sugestões decisivas para seu término à profa dra Adriane Duarte da fflchusp à profa dra Ma ria Cecília de Miranda Coelho da fafichufmg ao prof dr APRESENTAÇÃO 11 Adriano Machado Ribeiro da fflchusp e ao prof dr Roberto Hnlzani Filho da fflchusp que aceitaram gentilmente o con vite para participarem da banca de defesa e que fizeram diver sas críticas sugestões e observações que foram extremamente i devantes para o aprimoramento deste presente trabalho ao prof Sidney Calheiros de Lima da fflchusp que além de grande amigo sempre manteve comigo uma interlocução bastante profícua sobre temas relativos à pesquisa que desen volvi em especial à minha mulher e companheira Bianca Fanelli Morganti que indubitavelmente participou de todas as etapas deste trabalho e que está de uma forma ou de outra presente em Ioda a sua extensão ii lapes pela bolsa de estágio no exterior pdee que me foi con i edida sem a qual este livro não teria sido realizado da forma i omo foi ao Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp no qual realizei toda a minha pósgraduação à Università di lIsa e á Scuola Normale Superiore di Pisa que concederamme a permissão para que eu pudesse usufruir de toda a sua estru tm a durante meu estágio na Itália e por fim a Jacó Guinsburg que acolheume gentilmente em nua editora e ofereceume todas as condições para que esta edi çito viesse a público Agradeço à Fapesp pela concessão do auxílio à publicação e à Capes que me concedeu uma bolsa de pesquisa pDEEpara a realização de parte deste trabalho junto à Università di Pisa e à Scuola Normale Superiore di Pisa Itália NTERNATIO I ELECTRONICS COKVERECE EIIT 1 07 E N S A IO IN T R O D U T Ó R IO TRAGÉDIA E COMÉDIA NO GÓRGIAS DE PLATÃO As traduções de todos os textos gregos e latinos citados no capítulo são de mlnlia autoria exceto a de Homero H de Campos Homero Ilíada Essa foi a morte Equécrates de nosso amigo Sócrates o homem que diríamos nós foi dentre os que outrora conhecemos o melhor e distintamente o mais sábio e o mais justo Ή δε ή τελευτή ώ Έχέκρατες του εταίρου ήμΐν έγένετο άνδρός ώς ημείς φαίμεν αν τών τότε ών έπειράθημεν άρίστου και άλλως φρονιμωτάτου και δικαιότατου Platão Fédon n 8 a i5 i7 Vos Atenienses condenastes à morte Sócrates o sofista porque ficou evidente que ele havia educado Crítias um dos Trinta que destituíram a democracia Έπειθ υμείς ώΑθηναίοι Σωκράτην μέν τον σοφιστήν άπεκτείνατε δτι Κριτίαν έφάνη πεπαιδευκώς ένατων τριάκοντα τών τον δήμον καταλυσάντων esquines Contra Timarco 173 INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO I É notória a censura de Platão aos poetas trágicos e cômicos sobretudo na reforma moral e educacional proposta pela per sonagem Sócrates nos Livros π e ui da República e na análise dos efeitos psicológicos da experiência poética no Livro x 1 Quando Platão se refere à antiga querela entre filosofia e poesia παλαιό τις διαφορά φιλοσοφία τε και ποιητική χ 6θ7056 os exem í Nos Livros ii e ui a preocupação precípua de Platão é mostrar como não há na poesia canônica seja em Homero em Hesíodo ou nos poetas trágicos o dis cernimento entre bem e mal justiça e injustiça temperança e intemperança na representação das ações de deuses e heróis Como a educação grega παιδεία se baseava eminentemente na poesia isso teria uma consequência perniciosa do ponto de vista moral pois é essa reprentação que serve de modelo de conduta moral para as ações particulares dos homens Já no Livro x Platão busca primeiro 59536020 fundamentar ontologicamente essa censura de cunho teológicomoral empreendida anteriormente nos Livros 11 e ui definindo a poesia em si como μίμησις enquanto imitação a poesia está três graus afastada do ser 597ε 599a 602c No segundo momento 6o2c6o8b ele analisa os efeitos psicológicos causados pela experiência poética mostrando como a poesia incita na alma humana seus elementos irracio nais as έπιθυμίαι e ο θυμός de modo a obscurecer as prescrições do que a razão compreende como o melhor a se fazer nas situações particulares 20 GÓRGIAS DE PLATÃO pios por ele escolhidos se referem antes a ataques da poesia à filosofia do que da filosofia à poesia como seriam elucidativos por exemplo os casos de Heráclito2 e Xenófanes3 Segundo Halliwell em seu comentário à obra dos quatro exemplos cita dos por Platão os dois primeiros embora de origem incerta são provavelmente oriundos de versos líricos enquanto os ou tros dois da comédia ática que já havia adotado como topos a sátira aos filósofos4 2 Heráclito frs d k 22 B 4 0 B56 e B42 respectivamente i Muita instrução não ensina a ter inteligência pois teria ensinado Hesíodo e depois Pitágoras Xenófanes e Hecateu i πολυμαθίη νόον εχειν ού διδάσκει Ησίοδον γάρ άν έδίδαξε και Πυθαγόρην αύτίς τε Ξενοφάνεά τε και Εκαταϊον ii Estão enganados os homens quanto ao conhecimento das coisas visíveis semelhantes a Homero que tornouse o mais sábio dentre todos os Helenos Pois as crianças matando piolhos enganaramno ao dizer tudo quanto vimos e pegamos dispensamos mas tudo quanto não vimos nem pegamos carregamos ii έξηπάτηνται φησίν οί άνθρωποι προς τήν γνώσιν τών φανερών παραπλησίως Όμήρωι ός έγένετο τών Ελλήνων σοφώτερος πάντων έκεΐνόν τε γάρ παιδες φθείρας κατακτείνοντες έξηπάτησαν είπόντες όσα εϊδομεν καί έλάβομεν ταΟτα άπολείπομεν οσα δε ούτε εϊδομεν οϋτ έλάβομεν ταϋτα φέρομεν iii Homero é digno de ser expulso das competições e de ser açoitado e Arquíloco igualmente iii τόν τε Ομηρον έφασκεν άξιον έκ τών άγώνων έκβάλλεσθαι καί ραπίζεσθαι καί Αρχίλοχον ομοίως 3 Xenófanes frs d k 21 B i i B14 e B15 respectivamente em D LopesXenó fanes Fragmentos p 2225 i Aos deuses Homero e Hesíodo atribuíram tudo o que entre os homens é injurioso e censurável roubar cometer adultério e enganar uns aos outros i πάντα θεοΐσ άνέθηκαν Ομηρός θ Ησίοδός τε όσσα παρ άνθρώποισιν όνείδεα καί ψόγος έστίν κλέπτειν μοιχεύειν τε καί άλλήλους άπατεύειν ii Mas os mortais acham que os deuses foram gerados e que como eles possuem vestes fala e corpo ii άλλ οί βροτοί δοκέουσι γεννάσθαι θεούς τήν σφετέρην δ έσθήτα εχειν φωνήν τε δέμας τε iii Mas se mãos tivessem os bois os cavalos ou os leões ou se com elas desenhassem e obras compusessem como os homens os cavalos desenhariam as formas dos deuses iguais a cavalos e os bois iguais a bois e os corpos fariam tais quais o corpo que cada um deles tem iii άλλ ει χεΐρας έχον βόες ϊπποι τ ήέ λέοντες ή γράψαι χείρεσσι και έργα τελεΐν άπερ άνδρες ίπποι μέν θ ϊπποισι βόες δέ τε βουσίν όμοιας καί κε θεών ιδέας έγραφον και σώματ έποίουν τοιαϋθ οίόν περ καυτοί δέμας είχον έκαστοι 4 S Halliwell Plato Republic 10 ρ 154155 Para uma discussão pormenorizada sobre o assunto ver J Adam The Republic of Plato v 11 p 418419 INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 21 Nesse sentido o caso de Aristófanes é paradigmático na co média As Nuvens apresentada em Atenas pela primeira vez em 423 aC5 Sócrates é representado na cena dependurado num cesto suspenso para observar mais próximo os fenômenos celes tes w 223234 além de ser representado como filósofo da na tureza Sócrates é associado diretamente aos sofistas quando a personagem Estrepsíades diz ao filho que ingressando no pen satório φροντιστήριον v 94 ele poderia aprender o discurso fraco que vence em defesa das causas mais injustas νικάν λέγοντά φασι τάδικώτερα ν 115 Tornar forte ο discurso fraco τόν ήττω λόγον κρείττω ποιων íçbsci como Platão sublinha na Apologia era uma das antigas acusações imputadas a Sócrates a qual atribuíalhe o título de mestre didaskalos6 o mesmo arrogado pelos chamados sofistas Essa expressão se refere precisamente à função proeminente do ensino da retórica no curriculum desses mestres itinerantes embora ele variasse de acordo com os interesses particulares de cada um deles como depreendemos do Protágoras7 Na Apologia Platão atribui a Aris 5 Sobre as duas versões da peça As Nuvens ver J Dover Aristophanes Clouds p lxxxxcviii 6 Platão Apologia 33a5b3 Jamais fui mestre de quem quer que seja Se alguém almejava ouvirme quando falava ou fazia as minhas coisas seja ele jovem ou velho eu jamais o impe dia tampouco dialogo por dinheiro como se sem dinheiro eu não dialogasse mas sem discriminação entre o rico e o pobre estou pronto para interrogálo caso ele queira respondendo as perguntas ouvir o que digo έγώ δέ διδάσκαλος μέν ούδενός πώποτ έγενόμην εί δέ τις μου λέγοντος και τα έμαυτοϋ πράττοντος έπιθυμοί άκούειν είτε νεώτερος είτε πρεσβύτερος οϋδενι πώποτε έφθόνησα ούδέ χρήματα μέν λαμβάνων διαλέγομαι μή λαμβάνων δέ οϋ άλλ ομοίως και πλουσίω και πένητι παρέχω έμαυτόν έρωταν και έάν τις βούληται άποκρινόμενος άκούειν ών αν λέγω Xenofonte recorre a um argumento semelhante nas Memoráveis Além disso Sócrates jamais professou ser mestre disso ie de virtude mas por ser manifesto que tipo de homem era ele fazia com que seus companheiros ti vessem a esperança de imitandoo tornaremse como ele 123 καίτοι γε ούδεπώποτε ύπέσχετο διδάσκαλος είναι τούτου άλλα τφ φανερός είναι τοιοϋτος ών έλπίζειν έποίει τούς συνδιατρίβοντας έαυτώ μιμουμένους έκεϊνον τοιούτους γενήσεσθαι 7 Ver Platão Protágoras 3180531932 Na Retórica Aristóteles atribui tal for mulação a Protágoras como vemos no trecho abaixo 22 GÓRGIAS DE PLATÃO tófanes e em específico à representação de Sócrates na comé dia As Nuvens uma das causas que concorreram decisivamente para a difamação de Sócrates que culminaria enfim com sua condenação à morte8 Mas a relação de Sócrates com a comédia não se restringe ao caso emblemático de Aristófanes Sócrates aparece também como personagem em outras peças da chamada Comédia A n tiga9 contemporâneas às aristofânicas que se conservaram ape nas em fragmentos compostas por Êupolis Frs 386 e 395 ka Amípsias Fr 9 ka Cálias Fr 15 ka e Teleclides Frs 3940 k10 Portanto antes do surgimento do novo gênero literário que Aristóteles alcunhou posteriormente de Σωκρατικοί λόγοι A Arte composta por Córax parte desse tópico se a culpa por um assalto não recair sobre alguém porque é fraco ele escapará da acusação pois é inverossí mil que ele seja culpado e se a culpa recair sobre alguém porque é forte também ele escapará da acusação pois é inverossímil que ele seja culpado na medida em que seria verossímil que ele parecesse ser o culpado E o mesmo vale também para os demais casos pois é necessário que a culpa recaia ou não recaia sobre alguém Ambos os casos então parecem verossímeis mas o primeiro é o verossímil ao passo que o segundo não o é diretamente mas como foi enunciado Isso é tornar forte o discurso fraco e a razão pela qual os homens se indispuseram de modo justo contra o dito de Protágoras pois é uma falsidade e não é verdadeiro porém aparentemente verossímil próprio de nenhuma outra arte senão da retórica e da erística n 140231728 έστι δ έκ τούτου τού τόπου ή Κόρακος τέχνη συγκείμενη αν τε γάρ μή ένοχος ή τή αιτία οϊον ασθενής ών αίκίας φεύγει ού γάρ είκός καν ένοχος ή οίον ισχυρός ών ού γάρ είκός δτι εικός έμελλε δόξειν ομοίως δέ και έπι των άλλων ή γάρ ένοχον ανάγκη ή μή ένοχον είναι τή αιτία φαίνεται μέν ούν άμφότερα είκότα έστι δέ τό μέν είκός τό δέ ούχ απλώς άλλ ώσπερ είρηται καί τό τον ήττω δέ λόγον κρείττω ποιεΐν τούτ έστιν και εντεύθεν δικαίως έδυσχέραινον οί άνθρωποι τό Πρωταγόρου επάγγελμα ψευδός τε γάρ έστιν καί ούκ άληθές άλλά φαινόμενον είκός και έν ούδεμιά τέχνη άλλ ή έν ρητορική και έριστική 8 Platão Apologia I9a8C5 9 Μ Silk Aristophanes and the Definition ofComedy p 67 Comédia An tiga é um termo antigo mas impreciso que cobre grosso modo o drama cômico do séc v aC e mais especiflcamente a produção cômica dos oitenta e poucos anos a partir da institucionalização da comédia em Atenas tradicionalmente datada em 486 até o fim da guerra do Peloponeso 404 As últimas duas das onze peças con servadas de Aristófanes estão fora desse período As primeiras nove de Os Acar nenses 425 até As Rãs 405 pertencem ao final daquela fase assim como as suas primeiras peças perdidas 4276 10 Ver R Brock Plato and Comedy em E M Craik org Owls to Athens p 40 INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 23 Sõkratikoi logoij11 antes de Sócrates ser construído por Platão como a figura do filósofo por excelência nos diálogos Sócrates comparecia com certa frequência nos palcos dos teatros como alvo de sátiras dos poetas cômicos de sua época uma perso nagem cômica antes de tudo Veremos na sequência da argu mentação como esse elemento cômico também está presente na representação platônica da figura de Sócrates Mas o outro lado daquela querela entre filosofia e poesia aludida por Platão ou seja os ataques da filosofia à poesia também é referido em contrapartida por Aristófanes em sua comédia As Rãs encenada em Atenas em 405 aC Nela o Coro da peça zomba da aversão de Sócrates à tragédia Agradável não é tagarelar sentado ao lado de Sócrates desprezando a poesia e recusando os cânones da arte trágica Gastar o tempo ocioso com discursos solenes e subterfúgios fúteis é coisa de gente desvairada w 14919 Χαρίεν ούν μή Σωκράτει παρακαθήμενον λαλεΐν άποβαλόντα μουσικήν τά τε μέγιστα παραλιπόντα τής τραγωδικής τέχνης Το δ έπι σεμνοΐσιν λόγοισι και σκαριφησμοΐσι λήρων li Aristóteles Poética I447b9 i 3 Pois não possuímos uma denominação comum para os mimos de Sófron e Xenarco e para os discursos socráticos tampouco quando a imitação é feita me diante trímetros versos elegíacos ou outros versos semelhantes ούδέν γάρ ãv εχοιμεν όνομάσαι κοινόν τούς Σώφρονος καί Ξενάρχου μίμους καί τούς Σωκρατικούς λόγους οϋδε εϊ τις διά τρίμετρων ή ελεγείων ή τών άλλων τινών τών τοιούτων ποιοΐτο τήν μίμησιν 24 GÓRGIAS DE PLATÃO ÔiaxpiPrv àpyòv noelcrBai TtapatppovoüvToc ctvôpóc Não apenas Sócrates mas também Platão e a Academia fo ram alvos das sátiras da chamada Comédia Média12 Segundo R Brock nos exíguos fragmentos conservados desses autores do séc iv aC os Acadêmicos são representados como homens de vulto elegante Antífanes Fr 33K Efipo Fr 14 ka e distintos pelas belas barbas Adespota Papyracea Fr 796 k Além desses elementos aá hominem as teorias platônicas não raras vezes aparecem também como motivo de sátira a imortalidade da alma Alexis Fr 152 cf Ânfis Fr 6 k a dificuldade de definir unidades Teopompo Fr 15 K cf Fédon 96e a diferença entre crença e conhecimento Cratino Jun Fr 10 ka a técnica da divisão õiatpeaiçj Epícrates Fr 10 ka e um de seus livros Ofélion Fr 3 k Outros fragmentos se referem ao hábito de Platão andar de um lado a outro Alexis Fr 147 k às suas ana logias simples Alexis Fr 1 k e às suas peculiaridades pessoais Anaxândrides Fr 19 k13 Assim como seu mestre Sócrates Platão também vivenciou pessoalmente essa contenda entre poesia e filosofia e seu ataque aos poetas na República ora cen trada na figura de Homero e Hesíodo ora na dos trágicos14 é certamente apenas um dos lados da questão 12 M Silk op cit p 1011 À época da morte de Alexandre em 323 aC um século depois das disputas de Aristófanes com Cléon uma reorientação cultural drástica aconteceu e todas as características distintivas da Comédia Antiga se per deram A Nova Comédia a comédia dos costumes de Menandro rejeita dentre inúmeras outras coisas a esfera pública e o interesse pelo particular a variedade discursiva e a imprevisibilidade exuberante o agõn e a parábase e o uso tradicional do coro o coro é agora tirado da ação e restrito ao interlúdio Esses desdobramen tos falando em linhas gerais começam no período tradicional convencional mente denominado Comédia Média ao qual as duas últimas peças conservadas de Aristófanes Mulheres na Assembleia e Pluto claramente pertencem as evidências acerca de suas últimas peças são ainda mais reveladoras 13 Ver R Brock op cit p 41 14 Platão República x 595b3C3 Cá entre nós pois não haveis de me denunciar aos poetas trágicos e a todos os outros imitadores todas as coisas dessa natureza parecem ser a mutilação da INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 25 Todavia a despeito dos argumentos que Platão apresenta em sua obra para justificar sua censura ao teatro em específico e à poesia como um todo sejam eles éticopolíticos Livros n e in da República ou ontológicos e psicológicos Livro x há indubi tavelmente nos diálogos platônicos enquanto gênero híbrido15 elementos comuns à tragédia e à comédial6 Se aplicássemos os preceitos de sua teoria poética à sua própria obra tal como II inteligência dos ouvintes de quantos não possuem como antídoto o conhecimento do que essas coisas realmente são Ό que tens em mente perguntou para falares assim Devo contálo respondi ainda que certa afeição e respeito que tenho desde a infância por Homero impeçamme de falar Pois ele parece ter sido o pri meiro mestre e guia de todos esses belos poetas trágicos Contudo não se deve honrar um homem acima da verdade mas como observei devo contálo Ως μέν προς ύμάς εϊρήσθαιού γάρ μου κατερείτε προς τούς τής τραγωδίας ποιητάς και τούς άλλους άπαντας τούς μιμητικούςλώβη έοικεν είναι πάντα τα τοιαΰτα τής τών άκουόντων διανοίας οσοι μή εχουσι φάρμακον το είδέναι αυτά οία τυγχάνει όντα Πή δή έφη διανοούμενος λέγεις Ρητέον ήν δ έγώ καίτοι φιλία γέ τις με και αιδώς έκ παιδός έχουσα περί Ομήρου άποκωλύει λέγειν έοικε μέν γάρ τών καλών απάντων τούτων τών τραγικών πρώτος διδάσκαλός τε και ήγεμών γενέσθαι άλλ ού γάρ πρό γε τής αλήθειας τιμητέος άνήρ άλλ õ λέγω ρητέον 15 A Nightingale Genres in Dialogue p 3 Se os gêneros não são simples mente formas artísticas mas formas de pensamento cada um deles está apto a re presentar e conceitualizar certos aspectos da experiência melhor do que os outros dessa forma um encontro entre dois gêneros em um único texto é em si mesmo uma espécie de diálogo Um diálogo desse tipo de fato pode se dar em um âmbito extremamente vasto compreendendo ética política e epistemologia bem como lin guagem e literatura Quando Platão incorpora o texto ou discurso de outro gênero no diálogo filosófico ele prepara uma cena na qual o gênero tanto fala quanto é falado é esse diálogo intergenérico que eu quero investigar neste livro 16 Sobre a constituição do gênero dialógico e a sua relação com os outros gêneros ver R Brock op cit R Blondell The Play of Character in Playos Dialo gues D Clay The Origins of the Socratic Dialogue em P A V Waerdt org The Socratic Movement R Desjardins Why Dialogues Platos Serious Play em C L Griswold org Platonic Writings Platonic Readings M Frede Platos Arguments and the Dialogue Form em J Annas ed Oxford Studies in Ancient Philosophy C Griswold Style and Dialogue The Case of Platos Dialogue The Monist J Laborde rie he Dialogue Platonicien de la Maturité A Levi Philosophy as Literature The Dialogue Philosophy and Rethoric P Lima Platão Uma Poética Para a Filosofia A Nightingale op cit R Rutherford The Art of Plato 26 GÓRGIAS DE PLATÃO apresentada no Livro in da República os diálogos platônicos seriam assim como a tragédia e a comédia miméticos no sen tido estrito da palavra ou seja o diálogo é constituído de per sonagens que falam em primeira pessoa independentemente de haver um narrador ou duas personagens que abrem o diá logo e reportam uma antiga discussão de Sócrates pois Platão nunca aparece como personagem tampouco como narrador ao contrário de Xenofonte nas Memoráveis por exemplo17 Esse elemento mimético constituinte do gênero dialógico aproxima intrinsecamente então o diálogo da comédia e da tragédia e a vívida figuração das personagens bem como os agõnes entre elas o Górgias é um exemplo claro disso fazem da obra de Pla tão uma teatralização dialógica para usar a expressão empre gada por M Vegetti8jTalvez esses elementos comuns a ambos os gêneros expliquem porque Trasilo no séc i dC propôs a divisão do corpus platonicum em tetralogias à semelhança dos poetas trágicos que concorriam aos prêmios dos festivais com três tragédias e um drama satírico19 Essa relação com o teatro não se dá apenas do ponto de vista da constituição do gênero dialógico mas aparece de certo modo também aludida nas diversas histórias e anedotas conservadas pela doxografia sobre Sócrates e Platão em especial pela obra de Diógenes Laércio Em relação a Sócrates o que ele nos reporta 17 Platão República ui 394b8c6 Compreendeste corretamente disse eu e creio que já está claro o que antes fui incapaz de te mostrar uma parte da poesia e da mitologia é inteiramente mimética a qual como dizes tu compreende a tragédia e a comédia outra parte é aquela narrada pelo próprio poeta e hás de encontrála sobretudo nos ditirambos e a terceira por sua vez consiste na mistura de ambas como é a poesia épica e ou tras formas diversas se me entendes Sim compreendo disse ele o que outrora querias dizer Ορθότατα εφην ύπέλαβες καιοιμαί σοι ήδη δηλοϋν õ έμπροσθεν ούχοίός τ ή ότι τής ποιήσεώς τε και μυθολογίας ή μεν διά μιμήσεως ολη έστίν ώσπερ σύ λέγεις τραγωδία τε και κωμωδία ή δέ δι απαγγελίας αύτοϋ του ποιητοϋεΰροις δ αν αυτήν μάλιστα που έν διθυράμβοις ή δ αύ δι άμφοτέρων εν τε τή τών επών ποιήσει πολλαχοϋ δέ και άλλοθι εϊ μοι μανθάνεις Ά λ λ α συνίημι έφη ô τότε έβούλου λέγειν ι8 Μ Vegetti Quindici lezioni su Platone p 61 19 Diógenes Laércio Vitae Phüosophorum 356 INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 27 são algumas referências da comédia satirizando a relação íntima de Sócrates com o tragediógrafo Eurípides como vemos nesses fragmentos da chamada Comédia Antiga 218 Parecia que Sócrates ajudava Eurípides em suas composições por isso Mnesíloco diz o seguinte Os Frígios são o novo drama de Eurípides no qual também Sócrates mete lenha e diz também as socráticas emendas euripidianas10 E Cálias em Os Prisioneiros A Mas por que tu és assim tão altiva B Porque me é lícito Sócrates é o culpado E Aristófanes em As Nuvens É ele que compõe para Eurípides as sábias tragédias cheias de tagarelice11 έδόκει δέ συμποιεΐν Ευριπίδη οθεν Μνησίλοχος οΰτω φησί Kock i 218 Φρύγες έστι καινόν δράμα τοΰτ Εύριπίδου φ και Σωκράτης τα φρύγαν ύποτίθησι και πάλιν Kock i 218 Εύριπίδας σωκρατογόμφους και Καλλίας Πεδήταις Kock i 696 A Τί δή σύ σεμνή και φρονείς οΰτω μεγα Β Έξεστι γάρ μοι Σωκράτης γάρ αίτιος Αριστοφάνης Νεφέλαις Kock i 490 Ευριπίδη δ ό τάς τραγωδίας ποιων τάς περιλαλούσας ούτός έστι τάς σοφάς 20 21 2 20 Teleclides frs 41 e 42 apud R Kassel C Austin ed Poetae Comici Graeci p c g BerlinNew York De Gruyter 1989 21 Cálias fr 15 apud R Kassel C Austin ed Poetae Comici Graeci p c g BerlinNew York De Gruyter 1983 22 Aristófanes As Nuvens primeira versão fr 392 apud R Kassel C Austin ed Poetae Comici Graeci p c g BerlinNew York De Gruyter 1984 28 GÓRGIAS DE PLATÃO Em relação a Platão por sua vez esses elementos comuns entre o diálogo e o teatro são provavelmente a referência de fundo da célebre anedota referida por Diógenes Laércio sobre a sua carreira como tragediógrafo Segundo ele 35 Platão praticava filosofia a princípio na Academia e posterior mente no jardim próximo a Colono como diz Alexandre em As Suces sões dos Filósofos sob a influência de Heráclito Depois porém quando estava prestes a ingressar na competição de tragédias diante do teatro de Dioniso deu ouvidos a Sócrates e ateou fogo a seus poemas dizendo Hefesto avançate Platão agora precisa de ti Έφιλοσόφει δέ τήν άρχήν έν Ακαδημεία ειτα έν τώ κήπω τώ παρά τον Κολωνόν ώς φησιν Αλέξανδρος έν Διαδοχαις FGm 273 F 89 καθ Ηράκλειτον έπειτα μέντοι μέλλων άγωνιείσθαι τραγωδία προ τού Διονυσιακού θεάτρου Σωκράτους άκούσας κατέφλεξε τά ποιήματα είπών Ηφαιστε πρόμολ ώδε Πλάτων νύ τι σειο χατίζει Ο mesmo tipo de anedota também é conservado por Olim piodoro em seu comentário sobre o Alcibíades Primeiro mas a respeito da relação de Platão com a comédia 265693 Platão se deleitava bastante com Aristófanes o poeta cômico e com Sófron cuja imitação das personagens nos diálogos lhe foi provei tosa Dizem que ele se deleitava tanto com eles que quando morreu foram encontradas em seu leito obras de Aristófanes e Sófron έχαιρεν δέ πάνυ και Άριστοφάνει τώ κωμικώ και Σώφρονι παρ ών και τήν μίμησιν τών προσώπων έν τοΐς διαλόγοις ώφελήθη λέγεται δέ οΰτως αύτοίς χαίρειν ώστε και ήνίκα έτελεύτησεν εύρεθήναι έν τή κλίνη αύτοΰ Αριστοφάνη και Σώφρονα 23 23 Quintiliano Institutionis Oratoriae 11017 Sófron um autor de mimos mas que agradou Platão a tal ponto que acre ditase que quando de sua morte ele tivesse sua cabeça apoiada sobre os livros dele Sophron mimorum quidem scriptor sed quem Plato adeo probauit ut sup positos capiti libros eius cum moreretur habuisse credatur INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 29 Embora saibamos que a historicidade desse tipo de teste munho é incerta tais anedotas fazem certo sentido quando levamos em consideração justamente os elementos dramáticos do gênero dialógico24 Assim a construção dos caracteres èthê das personagens se configura como um aspecto proeminente dos diálogos platônicos o conteúdo filosófico dos argumentos é apresentado por meio delas em especial Sócrates o grande protagonista de sua obra os argumentos sustentados por cada tipo de personagem não são postos à revelia por Platão mas são meios de expressão de certa disposição de caráter que se revela paulatinamente na dinâmica dialógica O contraste en tre os êthê de Sócrates e Cálicles no Górgias é um exemplo de como Platão ao compor o diálogo enfatiza esse elemento dra mático do gênero não se trata apenas de argumentos mas de argumentos sustentados por tal ou tal tipo de personagem que possui por sua vez tal ou tal disposição de caráter25 A impor tância do caráter êthos das personagens na constituição do gênero é também sublinhada por Diógenes Laérico quando ele apresenta a sua definição de diálogo διάλογος O diálogo é um discurso constituído de perguntas e respostas a res peito de algum tema filosófico ou político acompanhado da composição adequada dos caracteres das personagens escolhidas e da construção da elocução 348 εστι δέ διάλογος λόγος έξ έρωτήσεως και άποκρίσεως συγκείμενος περί τίνος τών φιλοσοφουμένων και πολιτικών μετά τής πρεπούσης ηθοποιίας τών παραλαμβανομένων προσώπων και τής κατά τήν λέξιν κατασκευής 24 R Blondell op cit p 15 Esse trecho DL 35 nos fala sucintamente da suposta importância da tragédia na formação intelectual de Platão e de seu po tencial como dramaturgo bem como de seu posicionamento crítico com relação ao gênero e à incompatibilidade potencial entre tragédia e filosofia Esse trecho nos fala que os diálogos são em certo sentido o substituto do drama mas que eles são tam bém radicalmente diferentes E sugere que a filosofia emerge das cinzas da poesia 25 Sobre as partes constituintes da tragédia dentre as quais os êthé ver Aris tóteles Poética i45oa7io 30 GÚRGIAS DE PLATÃO III Embora o elemento mimético aproxime formalmente o diá logo da tragédia e da comédia há diferenças cruciais entre esses gêneros além do fato de um ser discurso em prosa e os ou tros dois discursos em verso R Kraut sintetiza em seu artigo Introduction to the Study of Plato os aspectos extrínsecos que distinguem o diálogo da tragédia e da comédia Vejamos o trecho Mas a comparação entre os diálogos de Platão e as obras dramáticas é enganosa de várias maneiras a despeito do fato de que em cada gênero há um diálogo entre duas ou mais personagens Para começar com o que é mais óbvio as obras de Platão não foram escritas para participar de competições e ser encenadas em festivais religiosos cívicos como eram as peças trágicas e cômicas gregas Platão não atribui palavras às suas perso nagens a fim de ganhar uma competição ou de compor uma obra para ser considerada bela ou emocionalmente satisfatória pelos jurados oficiais ou por uma imensa audiência O dramaturgo tem esse intuito e se convém ao seu propósito fazer com que suas principais personagens expressem opiniões diferentes das dele próprio ele então o fará Mas se o intuito de Platão ao escrever é criar um instrumento que pode se corretamente usado guiar outras pessoas para a verdade e para o melhoramento de suas almas então pode servir a tal escopo criar uma personagem central que represente as convicções sinceras do próprio Platão O ponto é que se o intuito de Platão difere daquele dos dramaturgos então ele terá uma razão que escapa ao dramaturgo para usar suas personagens centrais como portavozes de suas próprias convicções p 25 Mas apesar de Sócrates ser certamente o grande protagonista da obra platônica de ser o portavoz nos diálogos intermediá rios das teorias e doutrinas desenvolvidas por Platão de ser a imagem do filósofo por excelência quer como modelo de virtude quer como modelo de argumentador arguto isso não implica ne cessariamente a identidade entre Platão e Sócrates A despeito da prevalência das posições sustentadas por Sócrates nos diálogos platônicos Platão também fala por meio das demais personagens INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 31 ile modo que em determinados contextos dialógicos as críticas a certos aspectos da estratégia argumentativa de Sócrates ou ao seu comportamento dúbio na discussão como fazem por exemplo Polo e Cálicles no Górgias 4óibc 482c483a também podem ser compreendidas dada a natureza do gênero dialógico como críticas do próprio Platão à forma como Sócrates conduz o elen chos A relação de Platão com a personagem longe de ser uma relação simples e direta é um aspecto extremamente problemá tico e complexo para o estudioso da filosofia platônica visto que Platão não fala em primeira pessoa6 Em seu estudo sobre o diálogo Górgias Socrates and Plato in Platos Górgias J Cooper busca demonstrar como Platão apre senta por meio da personagem Cálicles e não da de Sócrates conteúdos filosóficos relevantes concernentes a problemas de psi cologia moral a saber as diversas fontes da motivação humana além dos juízos determinados pela razão e por conseguinte a possibilidade do conflito interno à alma Sócrates defensor de uma psicologia moral fortemente racionalista que pode ser sin tetizada pela máxima de que o conhecimento é condição suficiente para a virtude26 27 não contempla esses problemas levantados por Cálicles quando caracteriza o homem temperante em contraste com o intemperante Em resumo Cooper defende a tese de que Platão apresenta no Górgias por meio da personagem Cálicles o problema do conflito interno à alma entre seus diversos elemen tos na perspectiva de Cálicles os três elementos da alma seriam a 26 Platão jamais aparece como personagem nos diálogos referindo a si mesmo apenas duas vez em toda a sua obra na Apologia quando Sócrates enumera seus amigos presentes no tribunal 34ai e no Fédon quando é justificada a sua ausência no cárcere momentos antes da morte de Sócrates por motivo de doença 59bio 27 Aristóteles considera essa tese defendida pela personagem Sócrates nos primeiros diálogos de Platão como genuinamente socrática como vemos neste I recho da Ética Eudêmia Sócrates julgava que o conhecimento era todas as virtudes de modo que sucedia ao mesmo tempo conhecer a justiça e ser justo tão logo tenhamos aprendido a geometria e arquitetura também somos arquitetos e geômetras i2i6b6io έπιστήμας γάρ ψετ είναι πάσας τάς άρετάς ώσθ άμα συμβαίνειν είδέναι τε ιήν δικαιοσύνην και είναι δίκαιον άμα μεν γάρ μεμαθήκαμεν τήν γεωμετρίαν και οίκοδομίαν και έσμεν οικοδόμοι καί γεωμέτραι 32 GÓRGIAS DE PLATÃO inteligência φρόνησις a coragem άνδρεία e os apetites έπιθυμίαι cf 49ie492a problema que virá a ser discutido em sua complé tude no Livro iv da RepúblicalS quando Platão expõe a sua teoria da alma tripartida το λογιστικόν το θυμοειδές το έπιθυμητικόν Sócrates por sua vez embora segundo Cooper se mostre ciente dos problemas implicados na perspectiva de Cálicles29 não os en frenta diretamente na medida em que segundo a sua máxima mo ral não há a possibilidade do conflito interno à alma a perspectiva socrática então não contemplaria o fenômeno da incontinência άκρασία de que o homem compreendendo os motivos para agir de tal ou tal maneira aja contrariamente aos desígnios da razão30 pois os homens agiriam ou por conhecimento ou por ignorância Analisarei com mais acuidade a tese de Cooper em outro tópico 28 J Cooper Sócrates and Plato in Gorgias p 66 29 Idem p 678 Avaliando os prós e os contras dessas proposições ele não diz absolutamente nada sobre os outros aspectos da concepção de Cálicles a respeito do melhor modo de vida em que Cálicles fala de coragem ou bravura como também necessária para sobrepujar qualquer impulso remanescente de medo ou repulsa que obstrua a satisfação dos apetites E Sócrates não incorpora em seu argumento sobre a vida ordenada nenhum aspecto correspondente requerido para sobrepujar qualquer apetite inapropriado Ele parece claramente ciente desses aspectos da visão de Cálicles e da implicação de que há desejos ou impulsos que agem na alma humana além daqueles que pertencem aos julgamentos racionais das pessoas sobre o que fazer Esses aspectos da visão de Cálicles reaparecem na história dos jarros e dos crivos que Sócrates conta imediatamente para se contrapor a Cálicles Como vimos Sócrates atenta para o fato de que Cálicles considera inteligência φρόνησις e coragem άνδρεία como duas coisas totalmente distintas segundo ponto em que a visão de Cálicles diverge bruscamente da sua própria como nós a conhecemos de outros diálogos Mas Sócrates prefere dei xar esses desacordos inexplorados Os argumentos que ele oferece para refutar Cálicles atacam outros pontos fracos como ele os entende das visões de Cálicles 30 Aristóteles Ética Nicomaqueia vn 11450217 Alguém poderia colocar o problema como uma pessoa tendo uma com preensão correta pode agir incontinentemente Alguns dizem que isso é impossí vel uma vez tendo o conhecimento pois havendo o conhecimento como julgava Sócrates seria espantoso que outra coisa o dominasse e o arrancasse de seu curso tal como a um escravo Pois Sócrates combatia totalmente esse argumento como se não houvesse a incontinência pois ninguém compreendendo as razões agiria contrariamente ao que é o melhor mas sim por causa da ignorância Άπορήσειε δ αν τις πώς ύπολαμβάνων όρθώς άκρατεύεταί τις έπιστάμενον μέν ούν οϋ φασί τινες οίόν τε είναι δεινόν γάρ έπιστήμης ένούσης ώς ωετο Σωκράτης άλλο τι κρατεΐν καί περιέλκειν αύτήν ώσπερ άνδράποδον Σωκράτης μέν γάρ ολως έμάχετο προς τον λόγον ώς ούκ οΰσης άκρασίας ούθένα γάρ ύπολαμβάνοντα πράττειν παρά τό βέλτιστον άλλα δι άγνοιαν INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 33 deste capítulo pois ela será importante na análise das causas e con sequências da ineficácia persuasiva do discurso socrático quando diante de um argumentador recalcitrante como Cálicles no mo mento bastanos a sua reflexão sobre a importância dos elementos do gênero dialógico para a compreensão adequada dos temas filo sóficos apresentados por Platão não apenas por meio de Sócrates mas também das demais personagens Vejamos o trecho em que Cooper sintetiza esse preceito metodológico No final então o Górgias e seu autor estão falando aos leitores que um trabalho filosófico muito maior precisa ser realizado antes de que a defesa socrática da vida moral como a melhor para qualquer pessoa possa estar efetivamente completa Nós temos claras indicações sobre onde um trabalho maior precisa ser realizado sobre a questão de se há desejos e impulsos humanos na ação que não derivam em última instância das ideias das pessoas sobre o que seria bom para elas fazerem sobre a ques tão da unidade da virtude sobre a análise do prazer e sua relação com o bem e sobretudo sobre o conteúdo do conhecimento moral sua relação com as outras virtudes humanas e a comparação entre tal conhecimento e o conhecimento técnico como aquele da medicina ou da construção naval O diálogo e Platão como seu autor não estão se comunicando com o leitor a respeito de questões filosóficas apenas por meio das palavras de seu protagonista Sócrates mas também e de forma independente por meio das palavras de seus interlocutores e por meio da interseção entre o que é dito por ambas as partes p 74 Portanto preservadas as diferenças de gênero entre o diálogo e o teatro a construção dos êthê das personagens se apresenta como um elemento de extrema relevância para a interpretação geral dos diálogos31 em especial dos primeiros diálogos nos quais os aspectos dramáticos são proeminentes e os embates entre 31 R Blondell op cit p 2 Forma e conteúdo estão além disso reciprocamente relacionados devido à preocupação de Platão com os efeitos da caracterização literária sobre o caráter moral de uma audiência A própria manipulação de suas personagens dramáticas cruza de forma única com questões de filosofia moral forma literária tradição cultural e método filosófico e pedagógico Ela se integra tanto à iniciativa de representar a comunicação humana num diálogo falado quanto à investigação fi losófica sobre o melhor modo de vida e comportamento humanos 34 GÕRGIAS DE PLATÃO Sócrates e seus interlocutores de contorno agonístico sobretudo quando se trata do confronto de Sócrates com os sofistas Tal vez a ênfase dada por Platão à caracterização das personagens reflita precisamente a sua compreensão dos mecanismos de se dução ou fascínio do discurso poético referidos geralmente pelos termos κήλησις ou γοητεία e seus derivados32 que para ele pareciam extremamente perniciosos do ponto de vista moral como discutido na República Nessa interface com a tragédia e a comédia Platão emprega então esses mesmos mecanismos de sedução através do logos em vista do estabelecimento de um novo discurso para a filosofia o diálogo No Livro x da Repú blica o autor delineia o problema moral envolvido na experiência poética nos seguintes termos E os apetites sexuais a ira e todos os apetites dolorosos e aprazíveis da alma que afirmamos acompanhar todas as nossas ações são coisas dessa natureza que a imitação poética nos provoca pois ela as nutre irrigandoas quando devia secálas e as impõe como nossos comandan tes quando deviam ser elas mesmas comandadas para nos tornarmos melhores e mais felizes ao invés de piores e mais miseráveis Não poderia dizer de outro modo disse ele 6o6di8 32 Platão República x 6oia4b4 Dessa maneira então também afirmaremos julgo eu que o poeta utiliza algumas cores para colorir cada uma das artes com frases e palavras sem nada sa ber a não ser imitar de tal maneira que pareça saber para quem quer que julgue a partir de seus discursos se alguém falar a respeito do ofício do sapateiro em me tro em ritmo e em harmonia parecerá ter dito muito bem seja sobre o comando militar seja sobre qualquer outra coisa assim por natureza essas mesmas coisas possuem enorme fascínio Uma vez desnudados os ditos poéticos das cores de sua música pronunciados sozinhos em si mesmos penso que tu conhecerás como eles se manifestam Οϋτω δή οίμαι και τον ποιητικόν φήσομεν χρώματα άττα έκαστων τών τεχνών τοΐς όνόμασι και ρήμασιν έπιχρωματίζειν αυτόν ούκ έπαΐοντα άλλ ή μιμεισθαι ώστε έτέροις τοιούτοις έκ τών λόγων θεωροΰσι δοκειν έάντε περι σκυτοτομίας τις λέγη έν μετρώ και ρυθμώ και αρμονία πάνυ εύ δοκειν λέγεσθαι έάντε περί στρατηγίας έάντε περι άλλου ότουοϋν οϋτω φύσει αύτά ταϋτα μεγάλην τινά κήλησιν έχειν έπει γυμνωθέντα γε τών της μουσικής χρωμάτων τα τών ποιητών αύτά έφ αυτών λεγάμενα οίμαί σε είδέναι οία φαίνεται Sobre ο fascínio do discurso retóricopoético ver G Casertano VEterna malattia dei discorso e J Romilly Magic and Rhetoric in Ancient Greece INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 35 Και περι αφροδισίων δή και θυμού καί περί πάντων τών έπιθυμητικών τε και λυπηρών και ήδέων έν τη ψυχή ά δή φαμεν πάση πράξει ήμΐν έπεσθαι δτι τοιαΰτα ημάς ή ποιητική μίμησις εργάζεται τρέφει γάρ ταϋτα άρδουσα δέον αύχμεϊν και άρχοντα ήμΐν καθίστησιν δέον άρχεσθαι αύτά ϊνα βελτίους τε και εύδαιμονέστεροι άντί χειρόνων και άθλιωτέρων γιγνώμεθα Ούκ εχω άλλως φάναι ή δ ος Servindose dos princípios de sua psicologia moral apresen tada no Livro iv a tripartição da alma Platão precisa aqui os efeitos funestos da experiência poética na alma do espectador eou ouvinte a poesia fortalece os seus elementos irracionais a saber a ira θυμός e os apetites έπιθυμίαι obscurecendo as prescrições da razão quando deveria ser ela a controlar esses impulsos para o homem ser virtuoso e feliz Nessa perspectiva a poesia seria promotora do conflito interno à alma entre os elementos irracionais que compreendem os thumoeidéticos e os apetitivos e a razão τό λογιστικόν conduzindo o homem a ações imorais e por conseguinte à infelicidade Como sabemos Platão se refere à poesia em si e não a um gênero poético específico quando examina o estatuto ontoló gico e os efeitos psicológicos da poesia no Livro x definindoa pelo termo mimêsis imitação no sentido lato do termo Mas do ponto de vista das formas do discurso poético tratadas no Livro ui Platão ressalta ainda um aspecto peculiar da poesia mimética entendida aqui em seu sentido estrito ie quando o discurso se dá em i â pessoa33 Nessa crítica à imitação dramática cujo en foque é precisamente a tragédia e a comédia34 Platão salienta o problema moral envolvido na identificação entre aquele que imita e o modelo imitado depois de ter mostrado por uma série de referências intertextuais justamente a ausência de discerni mento entre bem e mal entre justo e injusto entre temperança e intemperança na poesia a imitação de modelos moralmente 33 Platão República ui 394b8c6 34 Idem 394d395a 36 GÕRGIAS DE PLATÃO censuráveis induziria os homens a agirem de forma semelhante em ocasiões particulares e por isso tais modelos deveriam ser absolutamente evitados Vejamos o trecho em que esse pro blema concernente à mimêsis em sentido estrito é sintetizado pela personagem Sócrates Se portanto preservarmos o argumento prévio de que os nossos guardiães uma vez afastados de todos os demais artífices devem ser os artífices da liberdade da cidade muito precisos em seu ofício e sem se ocupar com aquilo que não os conduza a tal fim então eles não de veriam fazer outra coisa nem imitála Mas se imitarem eles deveriam imitar aquilo que lhes convém desde a infância ou seja homens corajo sos temperantes pios livres e todas as outras qualidades semelhantes ao passo que coisas desprovidas de liberdade ou qualquer outra coisa vergonhosa não deveriam fazêlas tampouco serem hábeis em imitá las a fim de que a partir da imitação não tomem gosto de ser o que imitam Ou não percebeste que as imitações quando se prolongam da infância até muito tempo depois fixamse nos hábitos e na natureza seja no corpo na voz ou no pensamento Com certeza disse ele spjbSdq Ei άρα τον πρώτον λόγον διασώσομεν τούς φύλακας ήμϊν τών άλλων πασών δημιουργιών άφειμένους δείν είναι δημιουργούς έλευθερίας τής πόλεως πάνυ άκριβεΐς και μηδέν άλλο έπιτηδεύειν δτι μη εις τούτο φέρει ούδέν δή δέοι άν αυτούς άλλο πράττειν ούδέ μιμείσθαι εάν δέ μιμώνται μιμείσθαι τά τούτοις προσήκοντα εύθύς έκ παίδων άνδρείους σώφρονας όσιους έλευθέρους και τά τοιαΰτα πάντα τά δε άνελεύθερα μήτε ποιεϊν μήτε δεινούς είναι μιμήσασθαι μηδε άλλο μηδέν τών αισχρών ϊνα μή έκ τής μιμήσεως τού είναι άπολαύσωσιν ή ούκ ήσθησαι δτι αί μιμήσεις έάν έκ νέων πόρρω διατελέσωσιν εις εθη τε και φύσιν καθίστανται και κατά σώμα και φωνάς και κατά την διάνοιαν Και μάλα ή δ δς Embora Platão centre a argumentação no perigo moral da imitação ele contudo ainda admite a possibilidade δέοι άν 395C2 de que os guardiães da cidade ideal imitem mode los de conduta moral virtuosos homens corajosos tempe INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 37 rantes pios livres e todas as outras qualidades semelhantes ανδρείους σώφρονας οσίους έλευθέρους και τά τοιαΰτα πάντα 395C45 dada a ausência desse tipo de modelo na re presentação dos heróis na poesia tradicional justificarseia aquela depuração e a expulsão dos poetas canônicos da ci dade ideal propostas pela personagem Sócrates no Livros n m e x da República Nesse sentido se interpretarmos do ponto de vista metapoético essa reflexão de Platão sobre a função positiva da imitação condicionada a um novo modelo de educação παιδεία então ele apresentaria ao leitor a razão de o gênero dialógico ser o modo de discurso apropriado à filosofia Pois assim como deuses e heróis são imitados na tragédia pelos atores e servem como modelo de conduta moral a ser imitado pelos espectadores em ações particulares de onde procede o problema moral envolvido na experiência poética quando não há discernimento entre bem e mal também Sócrates é repre sentado enquanto protagonista dos diálogos platônicos como modelo de homem virtuoso a ser imitado pelos membros da Academia eou pelos seus leitores35 Na Apologia Platão salienta precisamente como o comportamento crítico de Sócrates ao submeter os pretensos sábios ao elenchos induzia os jovens que admiravamno a imitálo Além do mais os jovens sobretudo os que dispõem de ócio mem bros das mais abastadas famílias que me acompanham por conta pró pria deleitamse quando ouvem os homens sendo examinados e eles próprios não raras vezes passam a me imitar e buscam assim exami nar os outros 23C25 35 M Erler La Felicità delle Api p 3 A imagem do filósofo Sócrates no Fédon é construída do ponto de vista literário seguindo as indicações dadas por Platão para uma tragédia filosófica que seja admissível na kallipolis 3876 605c Por meio de seu comportamento Sócrates oferece uma ilustração uma imagem um verdadeiro filósofo não se limita a argumentar através do raciocínio puro com base no destinatário e em vista do resultado Ele também possui o pleno controle de suas paixões estando também estas submetidas ao logos e sob qualquer aspecto ele renuncia a expressões e comportamentos que visem a compaixão dos ouvintes e amigos que possam estimulálos ou até mesmo exarcebálos 38 GÓRGIAS DE PLATÃO Προς δέ τούτοις oi νέοι μοι έπακολουθοΰντεςοίς μάλιστα σχολή έστιν οί τών πλουσιωτάτωναϋτόματοι χαίρουσιν άκούοντες εξεταζόμενων τών άνθρώπων και αύτοι πολλάκις έμέ μιμούνται εΐτα έπιχειρούσιν άλλους έξετάζειν Embora ο Sócrates de Xenofonte nas Memoráveis seja em diversos pontos diferente da personagem homônima repre sentada por Platão nos primeiros diálogos o autor também ressalta como Sócrates servia de modelo de conduta moral a ser imitado pelos seus companheiros τούς συνδιατρίβοντας como fica evidente nesta passagem do texto Além disso Sócrates jamais professou ser mestre disso ie de vir tude mas por ser manifesto que tipo de homem era ele fazia com que seus companheiros tivessem a esperança de imitandoo tornaremse como ele 123 καίτοι γε ούδεπώποτε ύπέσχετο διδάσκαλος είναι τούτου άλλά τώ φανερός είναι τοιοΰτος ών έλπίζειν έποίει τούς συνδιατρίβοντας έαυτώ μιμούμενους έκεϊνον τοιούτους γενήσεσθαι Portanto tendo em vista o problema moral e psicológico en volvido no processo de imitação dramática o que mais pode ríamos dizer dos próprios diálogos platônicos em especial dos primeiros diálogos nessa perspectiva metapoética7 Platão assim como na tragédia e na comédia não representa também persona gens cujo caráter êthos certamente não serviria de modelo a ser imitado pelos membros da Academia eou pelos seus leitores mas a ser ao contrário repudiado como no caso de Cálicles Por que Platão dá tanta ênfase à caracterização dessa personagem no Górgias apresentada por ele como o antípoda do filósofo Cá licles assim como Sócrates não poderia parecer também uma personagem sedutora ao leitor do diálogo e isso não seria pro piciado justamente pelas características do próprio gênero dia lógico E quanto a Sócrates seu comportamento em situações diversas em confronto com diferentes interlocutores é sempre o mesmo ou ele se adéqua àquela situação dialógica específica INTRODUÇÃO PLATÃO E O TEATRO 39 e àquele determinado interlocutor e longe de ser uma persona gem unívoca apresentase antes como complexa e fragmentária Perguntas como essas elencadas acima são pertinentes na medida em que o discurso filosófico de Platão se constrói dialogicamente o que pressupõe a interação de ao menos dois interlocutores que se confrontam sendo assim o caráter èthos do filósofo na imagem de Sócrates é construído em oposição aos caracteres êthé de seus grandes adversários os sofistas os poetas e os po líticos como Platão diz nas Leis para se conhecer uma coisa é preciso conhecer o seu contrário assim como para se conhecer o sério é preciso conhecer o ridículo caso alguém pretenda ser um homem sábio εί μέλλει τις φρόνιμος έσεσθαι v ii 8i6ei2 Se essa natureza mimética dos diálogos platônicos é um elemento comum à tragédia e à comédia Platão compreendendo o poder de fascínio e sedução do discurso poético e os meios de como obter esse mesmo efeito em prol da construção do discurso filo sófico usa e transforma os elementos e os topoi do drama ático em uma nova forma de escrita em prosa o diálogo filosófico Supplement 13d June 1885 Charters of the New England colonies 755 AND INSTITUTIONS AND LAWS complained of the intemperate spirit they were filled with and violated their rights They further insisted on the establishment of a General Court consisting of an upper and a lower house both chosen by the freemen Such a court was created in September 1634 but not before the number of the colonies had increased At this time a General Court assembled containing representatives from all the towns of Boston Roxbury Watertown Cambridge and Newtown4 The members chosen by the towns met as an upper house and a lower house was formed of deputies or assistants chosen by all the inhabitants In 1635 the authority of the colony of Massachusetts was extended so as to include the territory north of Boston and east wards to the Merrimac River South of the colony lay the colony of Connecticut and the plantation of New Haven The several New England colonies consisted of many settlements about which there were no well defined boundaries and serious disputes arose as to the ownership of some of this territory In order to protect the interest of the territory claimed by New England it was considered expedient to have one Colonial Charter made extending over all under its jurisdiction This instrument was made in England and was signed by the King on June 24 1686 under the title of The Charter of the Dominion of New England This Dominion included the New England Colonies and the settled country adjoining to them including the counties of York and Cornwall in the Province of New York New Jersey and Delaware were ultimately added to these states The government of the Dominion of New England was to be vested in a governor with a council appointed by the Crown and to be independent of the General Assemblies which were usually elected by the people The Charter was made for trade and for more strict regulations respecting the plantations in America so that the trade might be the more industriously managed by 79 Supplement 13d June 1885 Charters of the New England colonies 757 or on speculation trade Throughout the years 1681 1682 and 1683 efforts were made to carry out the provisions of the Charter but great difficulties were encountered and the business of the government was almost always interrupted On August 18 1687 the Governor and Council issued an order sending instructions to the magistrates of all the towns under the jurisdiction of the Dominion to levy an impost of twenty per cent ad valorem on all inward goods except books and paper from England and on all outward goods exported to England and other places Such a duty was in accordance with the Indian and Plantations Act passed in England the same year Under this act a duty was laid and levied by the King on exports from and imports to the Plantations for the Kings use Whether the magistrates followed these instructions is not clear but the people resisted and not many years after the Charter was revoked The entire government under the Charter was soon afterward subverted Sir Edmond Andros the Governor of New England was imprisoned and sent back to England The Colonial Governments with their rights and privileges were restored again The charter of Massachusetts was chartered the next year but the Charter of the Dominion never had any real recognition The Charter of Dominion of New England was made for administration and trade and was not a form of government suitable to the people of New England 137 Supplement 13d June 1885 Charters of the New England colonies 759 AND INSTITUTIONS AND LAWS Dominion of New England It was framed in England for the honor and benefit of that Kingdom and to obtain rigid obedience to orders received from England This Charter was hostile in many respects to the rights and liberties of the people and was not adapted to the spirit of the civic institutions of the New England Colonies The government was despotic and employers by officers who had received commissions from the Crown and who were independent of the people The General Assemblies were to be absolutely dispensed with and the people were required to submit to the will of the Crown Such governments were instituted in the New England Colonies during the years 1680 1690 and were of relatively short duration Our interest in New England history therefore sheds light not only on the several states in the region but some features of political development for which we look in vain in other parts of English America The history in the early period of our country is a history of charitable communities essentially different from the commercial and plantation settlements of the south There was a virtue and disinterestedness in the beginning not found in other colonies The dominant motive was a religious one and the theory of government was largely accepted that its chief function was to encourage the welfare of the churches English settlers went to New England to seek a refuge from tyranny and oppression In conclusion it may be said that the Charters of the New England Colonies had an important influence in the molding of American institutions of later years The evident tendency to self government and local autonomy Centered in the older traditions of the English people found one of its most important expressions in the local government of New England The town meeting the county the General Court the frequent use of elected assemblies the frequent election of officers and the local judicial system all had their beginnings in the British Colonies of New England A C O M É D IA N O D IÁ L O G O O C A S O P O LO i Tendo em vista a reflexão proposta acima sobre o gênero dia lógico podemos afirmar então que há duas ordens de fatores envolvidas na relação de Platão com a comédia de um lado a crítica severa à representação do ridículo tò yeXoíov na poe sia e a análise dos efeitos morais funestos de sua experiência na alma do espectador1 de outro lado a apropriação e a recriação dos elementos e dos topoi da comédia em uma nova forma de í Platão República x 6060210 Porventura o mesmo argumento não cabe também ao ridículo Pois o que tu mesmo terias vergonha de cometer como risível quando ouves numa imitação cômica ou em particular te deleitas fortemente e não repudias como algo miserável não fazes a mesma coisa como em relação à piedade Pois continhas em ti mesmo pela razão o desejo de fazer coisas ridículas temendo a reputação de bufão para depois liberálo e tendo lá agido infantilmente não percebeste que muitas vezes havias te comportado em ocasiões particulares como se fosse um poeta cômico Com certeza disse Ά ρ ούν ούχ ό αύτός λόγος και περί του γελοίου οτι αν αυτός αίσχύνοιο γελωτοποιών έν μιμήσει δέ κωμωδική ή και Ιδία άκούων σφόδρα χάρης και μή μισης ώς πονηρά ταύτόν ποιείς δπερ έν τοϊς έλέοις ô γάρ τώ λόγω αύ κατείχες έν σαυτω βουλόμενον γελωτοποιεΐν φοβούμενος δόξαν βωμολοχίας τότ αύ άνιεΐς και έκεΐ 42 GÓRGIAS DE PLATÃO discurso em prosa o diálogo nesse movimento de constitui ção do discurso apropriado à filosofia Em outras palavras o juízo negativo de Platão com relação à representação do ridículo nas obras dos poetas cômicos não implica a sua recusa abso luta a procedimentos e elementos tipicamente cômicos que se fazem presentes em sua obra e que se prestam a determinados fins Esse tipo de intertextualidade ou melhor de relação in tergenérica está na base da constituição desse novo gênero os Sõkratikoi logoi a que se refere Aristóteles na Poética2 do qual Platão é seu grande expoente Como afirma A Nightingale ainda que Platão mostre uma séria aversão ao riso cf por exemplo Rep 388e ele tem possivel mente um débito maior com a comédia do que com qualquer ou tro gênero literário3 Mas essa aproximação com a comédia não se deve apenas ao humor que em diversas circunstâncias particulares dos diálogos colore a cena como por exemplo na hilariante apa rição de Alcibíades no final do Banquete 21202233 totalmente ébrio a narração da personagem sobre a resistência de Sócrates à sua investida amorosa ao mesmo tempo em que leva o leitor ao riso dada a comicidade da cena enfatiza concomitantemente um elemento extremamente importante do éthos de Sócrates a sua proverbial enkrateia εγκράτεια4 continência resistência ao prazer e à dor Além do humor há outros procedimentos e topoi νεανικόν ποιήσας έλαθες πολλάκις έν τοϊς οίκείοις έξενεχθείς ώστε κωμωδοποιός γενέσθαι Και μάλα έφη 2 Aristóteles Poética 14478913 3 A Nightingale Gemes in Dialogue p 172 4 Xenofonte também ressalta nas Memoráveis a enkrateia de Sócrates em sua defesa contra a acusação de que este corrompia a juventude Pareceme surpreendente também o fato de alguns terem sido persuadidos de que Sócrates corrompia os jovens ele que além do que já foi dito era em primeiro lugar o mais moderado dentre todos os homens com relação aos apetites sexuais e ventrais e em segundo lugar o mais resistente ao frio ao calor e a todas as outras fadigas além disso Sócrates era a tal ponto educado para ter necessidades comedidas que tendo adquirido muito pouca coisa ele tinha com muita facilidade o que lhe bastava 121 Θαυμαστόν δε φαίνεται μοι και τό πεισθήναί τινας ώς Σωκράτης τούς νέους διέφΟειρεν ός προς τοις είρημένοις πρώτον μέν αφροδισίων καί γαστρός πάντων Ανθρώπων έγκρατέστατος ήν είτα προς χειμώνα καί θέρος καί πάντας πόνους A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 43 mais específicos comuns na Comédia Antiga dos quais Platão se serve com frequência para compor os diálogos como elenca R Brock em seu breve mas sugestivo artigo i linguagem colo quial ii jogos de palavras iii criação de neologismos iv imagens como os cômicos Platão costuma recorrer a imagens de ani mais v paródia estilística vi sátira de pessoas5 e vii crítica aos políticos atenienses Isso é suficiente para mostrar que a censura moral de Platão à representação do ridículo tò yeXoIov como vemos na República é apenas um dos aspectos da complexa rela ção de Platão com a comédia na medida em que há elementos e procedimentos tipicamente cômicos que estão na própria cons tituição do gênero dialógico tal como foi desenvolvido por Pla tão Numa comparação bastante genérica assim como a figura do filósofo foi objeto de satirização e ridicularização na Comédia Antiga como o caso de Sócrates e na Comédia Média como o caso dos próprios acadêmicos os adversários de Platão também tiveram o mesmo fim nos diálogos II Passemos então à análise específica do caso Polo no Górgias e vejamos os elementos cômicos envolvidos na satirização da personagem quando submetida ao elenchos de Sócrates O Pró logo do Górgias se apresenta como uma espécie de prelúdio do que sucederá nos três Atos subsequentes do diálogo6 Assim καρτερικώτατος έτι δέ προς το μέτριων δεΐσθαι πεπαιδευμένος οϋτως ώστε πάνυ μικρά κεκτημένος πάνυ ραδίως έχειν άρκοΰντα 5 Ateneu Deipnosophistae 1111313 Dizem que até mesmo Górgias quando tomou conhecimento do diálogo homônimo disse a seus amigos como Platão sabe compor bem iambos λέγεται δε ώς και ό Γοργίας αυτός άναγνούς τον ομώνυμον αύτώ διάλογον προς τούς συνήθεις έφη ώς καλώς οΐδε Πλάτων ίαμβίζειν 6 Devido à semelhança estrutural entre o diálogo Górgias e as peças trágicas refirome durante o texto de maneira genérica aos Atos do diálogo que corres pondem à interlocução de Sócrates com cada uma das três personagens Górgias Polo e Cálicles As partes do diálogo portanto seriam estas Prólogo 4473144908 44 GÓRGIAS DE PLATÃO como o êthos de Cálicles já é aludido pela ocorrência não for tuita do verbo έττιθυμεΤν epithumein ao se dirigir a Querefonte έπιθυμεί anseia deseja 447b4 a sorte de Polo em seu con fronto com Sócrates já é antecipada quando ele intervém abrup tamente na cena durante a breve interlocução entre Querefonte e Górgias 448a a crítica de Sócrates às suas deficiências como interlocutor do diálogo tornarseão patentes durante o pro cesso do elenchos no 1 Ato do diálogo Polo é representado por Platão como uma personagem impa ciente cujo comportamento é muito inferior ao de seu mestre7 e essa diferença entre Górgias e Polo se refletirá na mudança de comportamento de Sócrates para com o interlocutor durante a discussão Se Sócrates usa de um procedimento lisonjeador quando dialoga com Górgias em vista de um determinado fim parodiando os mecanismos de persuasão atribuídos no diálogo à retórica enquanto κολακεία kolakeia lisonja cf 4Ó3ac 464b 466a com Polo a situação se torna diferente a lisonja de Só crates se transforma em uma ironia mordaz e seu modo de refutação se torna mais franco e agressivo A comicidade da cena nasce portanto dessa adequação do discurso e do com portamento de Sócrates ao caráter do interlocutor se Polo se configura como uma personagem φαύλος phaulos débil des prezível então Sócrates o tratará como tal e suas debilidades se revelarão paulatinamente na medida em que Sócrates o submete ao escrutínio do elenchos Como Polo representa no diálogo o produto da formação retórica representada pela figura emi nente de Górgias Sócrates identifica imediatamente esse traço da personagem assim que ouve o seu pequeno discurso em louvor à retórica e ao mestre Górgias 44803010 Outro elemento importante da caracterização da personagem Polo de extrema relevância para o pensamento político de Platão 1 Ato Sócrates vs Górgias 4490946182 2 Ato Sócrates vs Polo 4618348185 3 Ato Sócrates vs Cálicles 4818652208 Êxodo Mito Final 5233152767 7 Ver E Dodds Plato Górgias p 11 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 45 é a sua admiração pela figura do tirano macedônio Arquelau como exemplo de uma vida virtuosa e feliz a despeito das inú meras injustiças cometidas por ele até a sua ascenção ao poder 47iad Esse elemento dramático já apresentaria assim o pro blema do advento da tirania no seio da democracia como Platão discute detidamente nos Livros vm e ix da República Pois se Polo é apresentado como discípulo de Górgias formado para ser também ele mestre de retórica ele representa então aquele tipo de homem que se pretende educador dos futuros políticos que regerão por sua vez a democracia ateniense Nesse sentido se Polo acredita que inúmeros homens mesmo tendo cometido in justiça são felizes ώς πολλοί άδικοϋντες άνθρωποι εύδαίμονές είσιν 47odi2 como indica ο caso de Arquelau será então esse tipo de juízo moral a ser perpretado pela sua formação retórica o problema do uso da retórica para fins injustos como aludido por Górgias em seu discurso em defesa do ofício de rétor 456a 457c reaparece aqui com um força evidente Essa associação da figura do rétor com a do tirano como aparece textualmente na fala de Sócrates oi ρήτορες ώσπερ oi τύραννοι 466di é portanto um dos problemas de natureza éticopolítica abor dados por Platão na crítica à retórica praticada nas instituições democráticas No Górgias como veremos sobretudo na análise sobre Cálicles esse problema já aparece na própria constituição do êthos da personagem associada ao círculo de Górgias Ao construir então a figura de Polo como phaulos como uma personagem própria da comédia8 i Platão usa da caracteriza ção da personagem com o intuito de depreciar a retórica em sua 8 i Aristóteles Poética 144933234 A comédia é como dissemos imitação de pessoas desprezíveis não contudo pelo vício como um todo mas o ridículo é parte do que é vergonhoso Ή δέ κωμωδία έστιν ώσπερ εϊπομεν μίμησις φαυλότερων μέν ού μέντοι κατά πάσαν κακίαν άλλα του αισχρού έστι το γελοιον μόριον ii Aristóteles Poética 1448a 618 A mesma diferença também distingue a tragédia da comédia uma quer imitar pessoas piores do que na realidade enquanto a outra pessoas melhores έν αύτή δέ τρ διαφορά και ή τραγωδία προς τήν κωμωδίαν διέστηκεν ή μέν γάρ χείρους ή δέ βελτίους μιμεΐσθαι βούλεται των νυν 46 GÓRGIAS DE PLATÃO totalidade evidenciando nesse movimento seu juízo negativo que se revelará no decorrer do diálogo o produto da educação retórica representada pela figura de Górgias seria assim com parável a uma personagem da comédia o que implica sua debili dade intrínseca De acordo com K J Dover em seu estudo sobre a comédia aristofânica9 um dos propósitos da paródia é precisa mente criticar e ridicularizar aquilo que é parodiado assim como um dos alvos das paródias de Aristófanes é a tragédia e a sua seriedade como evidenciam as suas inúmeras referências inter textuais Platão utilizando esse mesmo tipo de recurso cômico parodia no Górgias não apenas o logos retórico por exemplo 448c 467c 47ie472d mas também o próprio êthos do rétor O índice textual talvez possamos dizer assim do registro cômico do 2 Ato é a ocorrência do verbo διακωμωδείν comediar 46267 nesta fala irônica de Sócrates antes de apresentar a sua definição de retórica como uma espécie de lisonja kolakeia pol A que atividade te referes soc Que não seja rude demais falar a verdade Pois hesito em di zêla por causa de Górgias com medo de que julgue que eu comedie a sua própria atividade Se essa porém é a retórica praticada por Górgias eu não sei aliás da discussão precedente nada se esclareceu sobre o que ele pensa mas eu chamo retórica parte de certa coisa que em nada ébela 4626546334 πωλ Τίνος λέγεις ταύτης ςω Μή άγροικότερον ή τό άληθές είπείν όκνώ γάρ Γοργίου ενεκα λέγειν μή οϊηταί με διακωμωδείν τό εαυτού έπιτήδευμα έγώ δέ εί μέν 9 9 J Dover Aristophanic Comedy ρ 73 A paródia tem dois propósitos dis tintos que podem ser percebidos simultaneamente mas que também podem ser percebidos separados um do outro O primeiro propósito é submeter a própria poesia séria à crítica e ao ridículo a paródia sugere por seleção e exagero que isto é tal como Eurípides é por exemplo Esse tipo de paródia pode ser encontrado na parte final de As Rãs em que Esquilo e Eurípides apresentam grotescas mas engra çadas paródias da parte lírica de cada um O segundo propósito da paródia e o mais comum é explorar as potencialidades humorísticas da incompatibilidade ao combinar a dicção trágica elevada e as alusões a situações trágicas bem conhecidas com a vulgaridade e as situações domésticas triviais Sobre a função da paródia ver tb A Nightingale op cit p 7 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 47 τοΰτό έστιν ή ρητορική ήν Γοργίας έπιτηδεύει ούκ οΐδακαί γάρ άρτι έκ τοΰ λόγου ούδέν ήμίν καταφανές έγένετο τί ποτέ ούτος ήγείταιό δ έγώ καλώ τήν ρητορικήν πράγματός τινός έστι μόριον ούδενός τών καλών Em mais uma instância em que Sócrates recorre à pwlépsis ou seja responder de modo antecipado a uma possível obje ção ele adverte Polo antecipadamente de um possível mal entendido da parte de Górgias com relação à sua real motivação ao apresentar sua própria concepção de retórica Pois bem se Sócrates de fato não fala com o simples escopo de fazer comédia da arte de Górgias como alega mas com o intuito de apresentar de forma séria a sua própria definição de retórica em oposição à gorgiana a forma como ele age e trata Polo na discussão en tretanto conflita flagrantemente com essa sua suposta serie dade Entendida porém como mais uma investida irônica de Sócrates Platão coloca na boca da personagem precisamente o tipo de estratégia argumentiva que se delineará no 2 Ato do diálogo indicado pela ocorrência do verbo διακωμωδειν comediar 46267 a ridicularização do interlocutor durante o processo do elenchos Platão certamente compreendia o poder persuasivo que a caracterização cômica de uma figura histórica poderia desempenhar no público como ele mesmo salienta na Apologia com relação ao caso de Sócrates a causa de sua difa mação é atribuída em grande parte por Platão à representação cômica de sua figura na peça As Nuvens de Aristófanes como vemos neste trecho Retomemos então desde o princípio qual é a acusação que engen drou essa calúnia contra mim com cuja crença Meleto impetrou esse processo Pois bem o que disseram os caluniadores para caluniarme Assim como sucede ao juramento dos acusadores devo lêla Sócrates comete injustiças e se ocupa de investigar as coisas subterrâneas e ce lestes de tornar o discurso fraco forte e de ensinar essas mesmas ma térias a outras pessoas Tal é a acusação E vós mesmos já vistes isso na comédia de Aristófanes na qual um certo Sócrates ronda pela cena a dizer que caminha pelo ar e a falar inúmeras outras bobagens a respeito das quais nada conheço absolutamente 193805 I 48 GÓRGIAS DE PLATÃO Άναλάβωμεν ούν έξ άρχής τις ή κατηγορία έστιν έξ ής ή έμή διαβολή γέγονεν ή δή και πιστεύων Μέλητός με έγράψατο τήν γραφήν ταύτην ειεν τί δή λέγοντες διέβαλλον οί διαβάλλοντες ώσπερ ούν κατηγόρων τήν άντωμοσίαν δει άναγνώναι αύτών Σωκράτης άδικεΐ και περιεργάζεται ζητών τά τε ύπό γής και ούράνια και τον ήττω λόγον κρείττω ποιων και άλλους ταύτά ταϋτα διδάσκων τοιαύτη τις έστιν ταΰτα γάρ έωράτε και αύτοι έν τή Άριστοφάνους κωμωδία Σωκράτη τινά εκεί περιφερόμενον φάσκοντά τε άεροβατεΐν καί άλλην πολλήν φλυαρίαν φλυαροΰντα ών έγώ ούδέν ούτε μέγα ούτε μικρόν πέρι έπαΐω III Ο que vemos então no Górgias é uma adaptação e recria ção por meio da paródia de elementos cômicos dentro do diá logo filosófico Mas que espécie dephaulos seria Polo Com que tipo de caráter ele é figurado tendo em vista a diversidade de êthê presente na Comédia Antiga Um aspecto crucial do ca ráter de Polo comum ao da personagem Górgias é a alazoneia άλαζονεία jactância presunção que se manifesta imediata mente na sua primeira intervenção no diálogo gor É verdade Querefonte Aliás era precisamente isso o que há pouco prometia e digo há muitos anos ninguém ainda me propôs uma pergunta nova que Ora então respondes com desembaraço Górgias gor Podes me testar Querefonte pol Por Zeus contanto que queiras testar a mim Querefonte Pois Górgias pareceme estar deveras exausto acabou de discorrer há pouco sobre vários assuntos que O quê Polo Achas que respondes melhor do que Górgias pol Por que a pergunta se te for o suficiente que Nada mas visto o teu querer responde então pol Pergunta 448atb3 ΓΟΡ Αληθή ώ Χαιρεφών και γάρ νυνδή αυτά ταΰτα έπηγγελλόμην και λέγω οτι ούδείς μέ πω ήρώτηκε καινόν ούδέν πολλών ετών καλ Η που άρα ραδίως άποκρινή ώ Γοργία A COMÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO POLO 49 γορ Πάρεστι τούτου πείραν ώ Χαιρεφών λαμβάνειν πωλ Νή Δία αν δέ γε βούλμ ώ Χαιρεφών έμοϋ Γοργίας μέν γάρ και άπειρηκέναι μοι δοκεΐ πολλά γάρ άρτι διελήλυθεν καλ Τί δέ ώ Πώλε οϊει σύ κάλλιον αν Γοργίου άποκρίνασθαι πωλ Τί δέ τούτο έάν σοί γε ίκανώς καλ Ούδέν άλλ επειδή σύ βούλει άποκρίνου πωλ Έρώτα A presunção do discípulo se evidencia quando arroga para si a mesma onipotência arrogada pelo mestre desafiando Que refonte a interpelálo Sócrates atento ao movimento da cena chamará em causa precisamente esse traço da personagem para justificar a prevalência da brakhulogia discurso breve na dis cussão 462aiio Mas além da jactância há outro elemento dramático co mum associado à figura do alazõn άλαζών jactante impos tor na comédia também recorrente no Górgias Em seu estudo sobre a comédia ática F Cornford ressalta que o alazõn é essen cialmente o entruso inoportuno que interrompe sacrifícios pre paros dos alimentos ou festas e reivindica uma parte imerecida nos frutos da vitória10 1 A abrupta intervenção de Polo no Pró logo uma ação que se repetirá depois da consumação do elen chos de Górgias abrindo o 2S Ato do diálogo em 461b se enquadraria dessa forma na caracterização proposta por Corn ford tendo em vista como Sócrates o admoesta por essa ação e o põe à parte na discussão passando a dialogar diretamente com Górgias 448d449a12 Esse traço do êthos de Polo é de 10 The Origin of Attic Comedy p 122 Todavia é preciso ressaltar que Polo sai em defesa do mestre que havia sido derrotado por Sócrates no primeiro agõn do diálogo ao invés de aproveitarse dos frutos da vitória como sugere Cornford Esse tipo de movimento intergenérico mostra como Platão ao apropriarse de topoi de outros gêneros transformaos na constituição do drama dialógico 11 Idem p 115 Essas figuras impertinentes os impostores aparecem quando a vitória do agõn já está sacramentada 12 Idem ibidem Depois de os impostores terem se exibido eles são man dados embora de forma ignominiosa frequentemente debaixo de pancadas Os Impostores são sempre colocados em oposição ao herói que ressalta os absurdos dele com ironia jocosa 50 GÓRGIAS DE PLATÃO certa forma uma imitação do comportamento de seu mestre Górgias cuja alazoneia é mais caricatural como se evidencia nestes dois trechos do Prólogo i que Entendo Vou interrogálo Górgias dizeme se é verdade o que nos conta Cálicles que prometes responder a qualquer pergunta que alguém te enderece gor É verdade Querefonte Aliás era precisamente isso o que há pouco prometia e digo há muitos anos ninguém ainda me propôs uma pergunta nova 447d6448a3 ΚΑΛ Μανθάνω και έρήσομαι Είπε μοι ώ Γοργία άληθή λέγει Καλλικλής δδε οτι έπαγγέλλη άποκρίνεσθαι δτι αν τις σε έρωτά γορ Άληθή ώ Χαιρεφών και γάρ νυνδή αύτά ταϋτα έπηγγελλόμην και λέγω οτι ούδείς μέ πω ήρώτηκε καινόν ούδέν πολλών έτών ii soc Portanto devemos te chamar de rétor gor De um bom rétor Sócrates se queres me chamar como diz Homero daquilo que rogo ser soc Mas eu quero chamálo gor Então chama soc Podemos dizer assim que és capaz de tornar rétores também outras pessoas gor Isso eu não prometo apenas aqui mas em todo e qualquer lugar 449a6b3 ςω Ρήτορα άρα χρή σε καλεΐν γορ Αγαθόν γε ώ Σώκρατες εί δή δ γε εύχομαι είναι ώς εφη Ομηρος βούλει με καλεΐν ςω Ά λ λ α βούλομαι γορ Κάλει δή ςω Ούκοΰν και άλλους σε φώμεν δυνατόν είναι ποιειν γορ Επαγγέλλομαι γε δή ταΰτα ού μόνον ένθάδε άλλά και άλλοθι Se a alazoneia então é um traço comum do caráter do ré tor no Górgias tendo em vista o comportamento semelhante das personagens Górgias e Polo ela o é também da figura dp rapsodo no diálogo íon como busca mostrar J Ranta em seu breve artigo The Drama of Platos íon Ele defende a tese de que A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 51 a nuance cômica do diálogo Ion se deve à forma como Platão constrói o êthos das personagens nessa interface com a comédia Platão estaria representando então a personagem homônima como alazõn jactante impostor e Sócrates em contrapartida como eirõn irônico tipos antagônicos13 que se enfrentam recor rentemente na Comédia Antiga14 enquanto o primeiro reclama para si qualidades mais elevadas do que aquelas que realmente possui o segundo apresenta a si mesmo como alguém inferior àquilo que realmente é15 A jactância de íon se manifesta por exemplo em passagens como esta do diálogo homônimo ion Dizes a verdade Sócrates A arte me impõe deveras esse gran diosíssimo trabalho e creio que sou eu quem melhor recita Homero de modo que nem Metrodoro de Lâmpsaco nem Estesímbroto de Tasos nem Glauco nem qualquer outro homem que um dia existiu é capaz de expor tantos belos pensamentos sobre Homero quanto eu soc Bem dito íon É evidente pois que não recusarás a fazerme uma exibição ion Decerto convém que ouças Sócrates como eu embelezo bem Homero a ponto de achar que eu mereça receber dos Homéridas a co roa de ouro 530c6d8 ion Αληθή λέγεις ώ Σώκρατες έμοι γοΰν τούτο πλεΐστον εργον παρέσχεν τής τέχνης και οίμαι κάλλιστα άνθρώπων λέγειν περί Ομήρου ώς ούτε Μητρόδωρος ό Λαμψακηνός ούτε Στησίμβροτος ό Θάσιος ούτε Γλαύκων ούτε άλλος ούδεις τών πώποτε γενομένων έσχεν είπεϊν οΰτω πολλάς και καλάς διανοίας περί Ό μηρου οσας έγώ ςω Εύ λέγεις ώ Ίων δήλον γάρ δτι οϋ φθονήσεις μοι έπιδείξαι ιων Και μήν άξιόν γε άκοΰσαι ώ Σώκρατες ώς εύ κεκόσμηκα τον Ομηρον ώστε οίμαι ύπό Όμηριδών άξιος είναι χρυσώ στεφάνψ στεφανωθήναι 13 Ver Aristóteles Ética Nkomaqueia 110831923 14 J Ranta The Drama of Platos Ion The Journal of Aesthetics and Art Criti cism p 222 Ion para repetir o argumento é um Alazõn extremamente contumaz se tal comparação é possível ele é mais parecido com o Alazõn da Comédia Antiga do que Sócrates é parecido com o Eirõn da Comédia Antiga 15 E Cornford op cit p 119 Como ressalta o estudioso ambos coincidem nesse elemento enganador de seu êthos enquanto o alazõn se vangloria das qua lidades que não possui o eirõn simula uma inferioridade que não possui 52 GÓRGIAS DE PLATÃO Esse elemento comum das personagens do rétor e do rap sodo no Górgias e no íon respectivamente não é uma simples coincidência de tipologia de éthê da qual se serve Platão para compor os diálogos mas aponta para uma questão mais pro funda sobre a relação entre poesia e retórica no Górgias Só crates afirma que a poesia é certa oratória pública δημηγορία άρα τίς έστιν ή ποιητική 502C12 na medida em que despo jada de seus elementos musicais canto ritmo metro ela não consiste em outra coisa senão em discursos λόγοι numa possível alusão intertextual às reflexões do Górgias histórico sobre o poder do logos16 Platão ressalta nessa associação pre cisamente a natureza pública do discurso retórico e poético com a diferença de que a poesia se estende à comunidade polí tica como um todo portanto mais perigosa do ponto de vista éticopolítico ao passo que a retórica está circunscrita àquela classe de homens apta a desempenhar as funções requeridas no Conselho na Assembleia e no Tribunal Nesse sentido todas as consequências que o título de kolakeia lisonja confere à retórica se aplicariam igualmente à poesia uma atividade que não é arte mas apenas experiência e rotina voltada para a pro moção do prazer na audiência por meio do que ela consegue persuadila a despeito de isso lhe vir a ser benéfico ou não uma prática irracional na medida em que não conhece a natureza daquilo a que se volta ou seja alma e não sabe justificar as suas ações tampouco identificar as suas causas Nos diálogos platônicos a metáfora do encantamento e do fascínio re feridos geralmente pelos termos κήλησις ou γοητεία e seus de rivados como foi dito acima se aplica ao poder sedutor tanto da poesia República x 601b quanto da retórica Menêxeno 16 Górgias Elogio de Helena 9 em H Diels W Kranz orgs Die fragmente der Vorsokratiker É preciso que eu mostre minha opinião aos ouvintes sobre isso toda a poesja eu considero e nomeio um discurso com metro δει δέ και δόξηι δεΐξαι τοίς άκούουσι τήν ποίησιν απασαν και νομίζω και ονομάζω λόγον εχοντα μέτρον A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 53 235a destacando precisamente esse elemento irracional de sua prática discursiva17 Se há essa coincidência de tipologia de caráter entre o ré tor Polo e o rapsodo íon na representação do Górgias e do íon então o elenchos socrático teria a função de mostrar ao alazõn e por conseguinte ao público presente naquela deter minada cena em que se funda a sua alazoneia O diagnóstico de Sócrates era recorrente quando em confronto com pessoas que não apenas tinham a reputação de sábias mas se consideravam como tais como vemos nesta passagem da Apologia Depois de ouvir isso de Querefonte fiz a seguinte reflexão o que quer dizer o deus qual será o enigma Não tenho eu o mínimo conhecimento de que sou sábio o que ele quer dizer então afirmando que eu sou o homem mais sábio Pois decerto não está mentindo não lhe é lícito E por longo tempo fiquei sem saber o que ele queria dizer Tempos depois embora relutante volvime para uma investigação do gênero dirigime a um homem que parecia ser sábio para assim refutar o oráculo e mostrar a ele que Esse homem é mais sábio do que eu mas tu afirmaste que era eu Examinando então esse homem não preciso referir seu nome mas era um dos políticos com o qual investigando e dialogando ó atenienses tive uma experiência do gênero pareceume que esse homem parecia ser sábio à grande massa de homens e sobre tudo a si mesmo sem sêlo Em seguida tentei mostrarlhe que ele pre sumia ser sábio mas não o era Como consequência torneime odiável a este e aos demais homens que estivessem ali presentes Depois de partir então refletia comigo mesmo que mais sábio do que esse homem eu 17 G Casertano UEterna malattia dei discorso p 63 Outro ponto impor tante de se destacar em todo esse discurso de Platão é o uso se não ambíguo pelo menos mais alusivo de quanto possa parecer num primeiro momento do verbo KTéu e por conseguinte do termo KqXqoiç Já vimos que a KqXqaiç exercitada pela poesia consiste na particular gama de emoções que ela consegue suscitar Podemos acrescentar que essa sedução não é própria somente da poesia mas por exemplo mais genericamente da palavra do logos Também os oradores e os rétores e em especial aquele do tipo gorgiano são capazes de jogar com os afetos da alma eles colorem tioikíXXovteç seus discursos com as palavras mais belas e assim encantam yoqTEÚEiv as nossas almas ao escutálos são seduzidas KqXoúpevoç É o que se dá no Menêxeno 235a num contexto certamente irônico no confronto com os rétores e por isso crítico no confronto com sua arte como crítico parecia precisamente o contexto das passagens da República que citamos 599b 602b 601b 54 GÕRGIAS DE PLATÃO sou é provável que nenhum de nós conheça algo de belo e bom mas ele presume saber algo embora não o saiba enquanto eu porque não sei tampouco presumo saber É plausível portanto que em alguma coisa ainda que diminuta seja eu mais sábio do que ele precisamente porque o que não sei não presumo sabêlo nb2d7 ταΰτα γάρ έγώ άκούσας ένεθυμούμην ούτωσί Τί ποτέ λέγει ό θεός και τί ποτέ αίνίττεται έγώ γάρ δή οΰτε μέγα οΰτε σμικρόν σύνοιδα έμαυτώ σοφός ών τί ούν ποτέ λέγει φάσκων έμέ σοφώτατον είναι ού γάρ δήπου ψεύδεται γε ού γάρ θέμις αύτώ και πολύν μέν χρόνον ήπόρουν τί ποτέ λέγει έπειτα μόγις πάνυ έπι ζήτησιν αύτοϋ τοιαύτην τινά έτραπόμην ήλθον έπί τινα τών δοκούντων σοφών είναι ώς ένταΰθα εϊπερ που έλέγξων τό μαντεΐον και άποφανών τώ χρησμώ δτι Ό ύτοσι έμοΰ σοφώτερός έστι σύ δ έμέ έφησθα διασκοπών ούν τοΰτονόνόματι γάρ ούδέν δέομαι λέγειν ήν δέ τις τών πολιτικών προς όν έγώ σκοπών τοιοϋτόν τι έπαθον ώ άνδρες Αθηναίοι και διαλεγόμενος αύτώέδοξέ μοι οΰτος ό άνήρ δοκεΐν μέν είναι σοφός άλλοις τε πολλοϊς άνθρώποις και μάλιστα έαυτώ είναι δ οΰ κάπειτα έπειρώμην αύτώ δεικνύναι δτι οϊοιτο μέν είναι σοφός είη δ ού έντεΰθεν ούν τούτω τε άπηχθόμην και πολλοϊς τών παρόντων προς έμαυτόν δ ούν άπιών έλογιζόμην δτι τούτου μέν τού ανθρώπου έγώ σοφώτερός είμι κινδυνεύει μέν γάρ ημών ούδέτερος ούδέν καλόν κάγαθόν είδέναι άλλ οΰτος μέν οϊεταί τι είδέναι ούκ είδώς έγώ δέ ώσπερ ούν ούκ οϊδα ούδέ οϊομαι έοικα γοΰν τούτου γε σμικρώ τινι αύτώ τούτω σοφώτερος είναι δτι ά μή οίδα ούδέ οϊομαι είδέναι IV Pois bem é nesse processo de desvelamento da ignorância do interlocutor propiciado pelo elenchos que o aspecto cômico pre sente no Górgias em específico e nos primeiros diálogos em geral surge com uma intensidade que varia de contexto para con texto Se na perspectiva de Sócrates o desvelamento tem uma função positiva para quem é refutado pois da ciência da própria ignorância nasce o desejo de aprender e buscar o conhecimento verdadeiro na perspectiva do refutado contudo a situação ridí cula perante o público presente pois de sábio ele passa a ser visto como ignorante o faz desconfiar da real motivação de Sócrates A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 55 na discussão e por conseguinte odiar a sua figura18 Essa seria uma das causas da difamação de Sócrates 23ab como Pla tão argumenta na Apologia na medida em que o poder desses supostos sábios se funda na doxa na reputação que possuem junto ao público nesse sentido o elenchos socrático se configura como uma ameaça potencial a esse poder fundado na aparência de um saber que eles próprios não possuem Por outro lado se quem é refutado reage furiosamente às investidas de Sócrates parte do público que assiste à cena em contrapartida se diverte com a situação embaraçosa do in terlocutor embora Platão não coloque expressamente nestes termos o elemento cômico presente no processo do elenchos seria uma das causas do deleite sentido por parte da audiência χαίρουσιν 23C4 Esse aspecto extrínseco envolvido no pro cesso do elenchos é ressaltado em outro trecho da Apologia Além do mais os jovens sobretudo os que dispõem de ócio mem bros das mais abastadas famílias que me acompanham por conta pró pria deleitamse quando ouvem os homens sendo examinados e eles próprios não raras vezes passam a me imitar e buscam assim examinar os outros Depois descobrem julgo eu um grande número de homens que presumem saber alguma coisa embora não saibam nada ou muito pouco Como consequência aqueles homens por eles examinados se enfurecem comigo e não consigo próprios e afirmam que há certo Sócrates o mais abominável dos homens que corrompe os jovens e quando alguém lhes pergunta por fazer o quê e por ensinar o quê não têm nada a dizer por ignoraremno mas a fim de não parecerem estar em embaraço assacam aquelas coisas ditas contra todos os filósofos ou seja as coisas celestes e as subterrâneas não reconhecer os deuses e tornar forte o discurso fraco 23C2d7 Προς δέ τούτοις οι νέοι μοι έπακολουθούντεςοίς μάλιστα σχολή έστιν οί τών πλουσιωτάτωναύτόματοι χαίρουσιν άκούοντες έξεταζομένων τών άνθρώπων και αύτοι πολλάκις έμέ μιμούνται εΐτα ι8 É interessante notar que Platão na Apologia salienta sempre a presença do público nas situações em que ele coloca em prática seu habitual elenchos como na passagem citada πολλοϊς τών παρόντων 2idi 56 GÓRGIAS DE PLATÃO έπιχειροΰσιν άλλους έξετάζειν κάπειτα οίμαι εύρίσκουσι πολλήν άφθονίαν οίομένων μέν είδέναι τι άνθρώπων είδότων δε ολίγα ή ούδέν εντεύθεν ούν οί ύπ αύτών έξεταζόμενοι έμοί οργίζονται ούχ αύτοίς καί λέγουσιν ώς Σωκράτης τίς έστι μιαρώτατος καί διαφθείρει τούς νέους καί έπειδάν τις αύτούς έρωτά δτι ποιων καί δτι διδάσκων έχουσι μέν ούδέν είπεΐν άλλ άγνοοΰσιν ϊνα δε μή δοκώσιν άπορείν τα κατά πάντων των φιλοσοφούντων πρόχειρα ταΰτα λέγουσιν δτι τα μετέωρα καί τα ύπό γης καί θεούς μή νομίζειν καί τον ήττω λόγον κρείττω ποιεΐν Em suma as nuances cômicas do diálogo surgem não ape nas da forma como Platão caracteriza as personagens mas da própria consecução do elenchos que revela paulatinamente a ig norância ou a inconsistência das opiniões do interlocutor a sua reação violenta contra Sócrates quando ela acontece se deve em parte à condição ridícula perante o público a que o constrange o elenchos19 É por esse motivo que a representação de Platão da audiência em diversos diálogos fazendoa presente nas circuns tâncias particulares em que Sócrates põe em prática o elenchos é um elemento dramático de extrema relevância para a com preensão da estratégia argumentativa de Sócrates No Górgias esse registro cômico perpassa todo o 2 Ato tendo em vista a mudança de comportamento de Sócrates na discussão como foi dito enquanto uma personagem phaulos Polo é tratado como tal desde o Prólogo Depois de sua abrupta intervenção em defesa de Górgias 448a ele é desprezado por Sócrates e deixado de lado à 19 A situação ridícula do refutado perante a audiência fica evidente na narra ção de Sócrates sobre o pathos de Clínias quando submetido ao elenchos dos erísticos Eutidemo e Dionisodoro no diálogo Eutidemo como vemos nestas passagens i Assim que Eutidemo disse isso os seguidores de Dionisodoro e Eutidemo como um coro regido pelos sinais do mestre irromperam num misto de algazarra e risos 276067 Ταΰτ ούν είπόντος αύτοϋ ώσπερ ύπό διδασκάλου χορός άποσημήναντος άμα άνεθορύβησάν τε και έγέλασαν οί επόμενοι εκείνοι μετά τού Διονυσοδώρου τε και Εύθυδήμου ii Depois disso os amantes de ambos os homens riam muito e faziam grande algazarra admirados pela sua sabedoria e nós outros abatidos nos calávamos 276d i3 Ενταύθα δή και πάνυ μέγα έγέλασάν τε και έθορύβησαν οί έρασται τοϊν άνδροίν άγασθέντες τής σοφίας αύτοίν οί δ άλλοι ημείς έκπεπληγμένοι έσιωπώμεν A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 57 margem da discussão que irá se constituir primeiro entre as duas figuras mais eminentes Sócrates e Górgias 44865449a4 Esse mesmo movimento se repete posteriormente numa situação similar mas agora é Górgias seu mestre que o põe de lado na discussão no breve interlúdio em que ele volta a ser o interlocutor de Sócrates 4630446401 Vejamos o trecho gor Não por Zeus Sócrates nem mesmo eu compreendo as tuas palavras soc É plausível Górgias pois não falo ainda de modo claro mas eis aqui Polo que é jovem e perspicaz gor Mas deixao de lado e dizeme como afirmas que a retórica é simulacro de uma parte da política Uósdóeq rop Mò τον Δία ώ Σώκρατες άλλ έγώ ούδέ αύτός συνίημι ότι λέγεις ςω Εικότως γε ώ Γοργία ούδέν γάρ πω σαφές λέγω Πώλος δέ οδε νέος έστι και οξύς γορ Ά λ λ α τούτον μέν έα έμοι δ είπε πώς λέγεις πολιτικής μορίου εϊδωλον είναι τήν ρητορικήν Polo é reduzido a um mero instrumento nas mãos dos in terlocutores principais como algo de que se pode prescindir e colocar à parte20 no Prólogo havia sido colocado de lado na discussão por Sócrates e no segundo momento pelo próprio mestre Górgias mostrando como a sua participação no diálogo é percebida de certa forma como uma intervenção inconve niente pelas demais personagens Polo é arrastado da cena ora de dentro para fora ora em sentido inverso movimento no qual se torna patente a sua debilidade moral e intelectual O interlúdio em que ocorre a troca de interlocutores 4630146417 concluise com Sócrates por sua vez ignorando a iniciativa de Górgias de prosseguir o diálogo mesmo depois de ter sido refu tado e determinando Polo como interlocutor para a exposição de sua concepção de retórica como pseudoarte 465a 46504 20 F Cornford op cit p 129 O Impostor em Aristófanes é regularmente escarnecido açoitado ou senão maltratado e expulso 58 GÓRGIAS DE PLATÃO Sendo assim se Górgias desprezou seu discípulo colocandoo de lado na discussão o mesmo pathos ele acabou sofrendo por sua vez nas mãos de Sócrates quando este ignora a sua inicia tiva e passa a dialogar definitivamente com Polo Nessa perspectiva de leitura representar Górgias sujeito à mesma condição de Polo arrastado da cena ao ser preterido por Sócrates é uma maneira de Platão por meio desse elemento dramático depreciar o estatuto da própria retórica na medida em que Górgias o rétor por excelência aparece como uma per sonagem muito inferior à doxa reputação que se lhe imputa e da qual ele próprio se vangloria repetidas vezes 448a 449a 452de 45óbc como revelará o elenchos socrático assim como a retórica praticada nas instituições democráticas não é arte mas apenas ro tina e experiência retórica enquanto kolakeia também o rétor não possui aquele poder de persuasão que presume ter pois ele só persuade a audiência quando a persuade porque a compraz a despeito de isso lhe ser benéfico ou não conhecimento que o rétor não possui em absoluto Platão parece reforçar essa ligação moral e intelectual entre as personagens Górgias o mestre e Polo o discípulo quando Sócrates e Cálicles passam a se referir aos dois em conjunto 482cd 487ab 494d salientando o mesmo pathos experimentado por ambos quando submetidos ao elenchos socrá tico A censura de Cálicles a Górgias por não ter tido a coragem suficiente de assumir as suas próprias opiniões devido à vergo nha 483a aparece naquele contexto dialógico particular do Górgias como um elemento de depreciação do estatuto da perso nagem uma crítica não de Sócrates mas da própria personagem que aparece no diálogo como seu anfitrão em Atenas v Retomemos o caso Polo Essa instrumentalização da perso nagem nas mãos de Sócrates se evidencia em diversas situações dramáticas durante o zü Ato A sua inaptidão para com o A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 59 diálogo διαλέγεσθαι 448dio já diagnosticada por Sócrates no Prólogo se revela paulatinamente na medida em que ele se submete ao elenchos socrático Esse aspecto do êthos da perso nagem se expressa na inadvertência com que colhe as palavras de Sócrates pouco atento às suas implicações soc Seria deveras um sofrimento terrível excelentíssimo homem se chegasses a Atenas cidade helénica onde há a maior licença para fa lar e somente tu tivesses o infortúnio de não fazêlo aqui Mas observa a situação inversa se tu fizesses um longo discurso e não quisesses res ponder as perguntas não seria um sofrimento terrível eu não poder ir embora para não te ouvir Mas se estás inquieto com algo do que foi dito e desejas corrigilo como há pouco dizia repara o que for de teu pare cer um interrogando e o outro sendo interrogado cada um a sua vez e assim como eu e Górgias refuta e sê refutado Pois decerto afirmas que também tu conheces as mesmas coisas que Górgias ou não pol Afirmo sim soc Então também tu não convidas em toda ocasião que te per guntem o que quiserem como se soubesses responder pol Certamente soc E agora cumpre a parte que te aprouver pergunta ou responde pol Sim hei de cumprila Respondeme Sócrates visto que Gór gias te parece cair em aporia sobre a retórica o que afirmas que ela é 46i e i 4ó2b5 ςω Δεινά μένταν πάθοις ώ βέλτιστε εί Άθήναζε άφικόμενος ού τής Ελλάδος πλείστη έστίν έξουσία τοΰ λέγειν έπειτα σύ ένταϋθα τούτου μόνος άτυχήσαις άλλα άντίθες τοι σου μακρά λέγοντος και μή έθέλοντος τό έρωτώμενον άποκρίνεσθαι ού δεινά άν αύ έγώ πάθοιμι εί μή έξέσται μοι άπιέναι και μή άκούειν σου άλλ εϊ τι κήδη τού λόγου τού είρημένου και έπανορθώσασθαι αυτόν βούλει ώσπερ νυνδή έλεγον άναθέμενος δτι σοι δοκεΐ έν τώ μέρει έρωτών τε και έρωτώμενος ώσπερ έγώ τε καί Γοργίας έλεγχέ τε καί έλέγχου φής γάρ δήπου καί σύ έπίστασθαι άπερ Γοργίας ή ού πωλ Έγωγε ςω Ούκοΰν καί σύ κελεύεις σαυτόν έρωταν έκάστοτε δτι άν τις βούληται ώς έπιστάμενος άποκρίνεσθαι πωλ Πάνυ μεν ούν ςω Καί νϋν δή τούτων όπότερον βούλει ποίει έρώτα ή άποκρίνου 60 GÓRGIAS DE PLATÃO ΠΩΛ Ά λ λ α ποιήσω ταΰτα καί μοι άπόκριναι ώ Σώκρατες έπειδή Γοργίας άπορεΐν σοι δοκεΐ περί τής ρητορικής σύ αύτήν τίνα φής είναι Seguindo ο paralelo sugerido pela comparação assim como eu e Górgias refuta e sê refutado ώσπερ έγώ τε και Γοργίας έλεγχέ τε καί έλέγχου 462a45 assim como Górgias será Polo também refutado por Sócrates que desempenhará por sua vez a sua habitual função de refutador Ele não percebe que a sua sorte no diálogo já é antecipada sutilmente nesse jogo de palavras feito por Sócrates e essa inadvertência é própria de quem não participa do círculo socrático de quem desconhece o procedimento dialó gico conduzido por ele Todavia dada a debilidade do interlocutor Sócrates lhe oferece a posssibilidade de escolher a própria função a ser desempenhada no registro da brakhulogia a qual Sócrates praticamente impõe como condição de possibilidade do diálogo como vemos no trecho acima Essa é uma situação excepcional no âmbito dos primeiros diálogos de Platão Sócrates oferece ao interlocutor a possibilidade de escolher a sua função no diálogo a de inquirido ou a de inquiridor pergunta ou responde έρωτα ή άποκρίνου 4ó2bi2 podendo assim encontrarse numa si tuação em que as funções estariam invertidas A eficácia do elenchos socrático pressupõe o estabelecimento prévio da função de cada interlocutor desempenhando Sócrates a do inquiridor naturalmente No i s Ato do diálogo essa é a primeira etapa da discussão com Górgias como ele se vangloria de ser experiente quer na makrologia discurso extenso quer na brakhulogia discurso breve 449bc Sócrates aproveita da alazoneia do interlocutor para estabelecer o diálogo como a nova forma de discussão substituindo a epideixis gorgiana que há pouco havia sido encerrada Mas a Górgias um interlocutor certamente mais experiente que Polo21 Sócrates não oferece em nenhuma circunstância o ensejo para a inversão de suas res pectivas funções pois a possibilidade do diálogo se desviar e se tornar enfim uma nova epideixis exibição caso fosse Górgias 2 1 Platão Górgias 4 5 7 C 4 5 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 61 a desempenhar a função de inquiridor certamente seria um obstáculo não desejável por Sócrates em vista da consumação do elenchos Com Polo em contrapartida Sócrates age de forma excepcional e permite a troca das funções dialógicas mas essa mudança em sua estratégia argumentativa se deve justamente à debilidade patente da personagem o desastre da participação de Polo como inquiridor é uma forma de Sócrates demonstrar a sua condição ridícula no domínio da brakhulogia decorrente de sua formação exclusivamente retórica 448d 471 d A comicidade da cena nessa troca de funções tornase patente na forma como Sócrates se dirige a Polo fazendo ressaltar a sua obtu sidade técnica devido à inexperiência com o diálogo διαλέγεσθαι 448dio 47 5 a ponto de ele próprio formular as perguntas e mandar que Polo simplesmente as repita Esse movimento de ins trumentalização de Polo ocorre duas vezes no 1 Ato i soc Queres então visto que honras o deleite deleitarme um pouco pol Sim soc Perguntame agora que arte me parece ser a culinária pol Pergunto sim que arte ela é soc Nenhuma Polo pol Mas o quê então Fala soc Falo sim certa experiência pol Qual Fala soc Falo sim de produção de certo deleite e prazer Polo pol Portanto a culinária e a retórica são a mesma coisa soc De forma nenhuma mas partes da mesma atividade 4620564 ςω Βούλει ούν επειδή τιμάς το χαρίζεσθαι σμικρόν τί μοι χαρίσασθαι πωλ Έγωγε ςω Έροΰ νυν με όψοποιία ήτις μοι δοκεϊ τέχνη είναι πωλ Ερωτώ δή τίς τέχνη όψοποιία ςω Ούδεμία ώ Πώλε πωλ Ά λ λ α τί φάθι ςω Φημί δή εμπειρία τις πωλ Τίς φάθι ςω Φημι δή χάριτος και ήδονής άπεργασίας ώ Πώλε πωλ Ταύτόν άρ έστιν όψοποιία και ρητορική ςω Ούδαμώς γε άλλά τής αυτής μεν έπιτηδεύσεως μόριον 62 GÓRGIAS DE PLATÃO ii soc Mas eu não lhe respondo se considero a retórica bela ou vergonhosa antes de lhe responder primeiro o que ela é Pois não é justo Polo mas se queres mesmo saber perguntame que parte da li sonja afirmo ser a retórica pol Pergunto sim e responde que parte ela é soc Compreenderias porventura a minha resposta A retórica é conforme meu argumento o simulacro de uma parte da política pol E então Afirmas que ela é bela ou vergonhosa soc Para mim vergonhosa pois chamo de vergonhosas as coi sas más visto que devo te responder como se já soubesses o que digo 463035 ςω έγώ δέ αύτώ ούκ άποκρινοϋμαι πρότερον είτε καλόν εϊτε αισχρόν ήγοϋμαι είναι την ρητορικήν πριν άν πρώτον άποκρίνωμαι ότι έστίν ού γάρ δίκαιον ώ Πώλε άλλ εϊπερ βούλει πυθέσθαι έρώτα όποιον μόριον τής κολακείας φημί είναι τήν ρητορικήν πωλ Ερωτώ δή και άπόκριναι όποιον μόριον ςω ΤΑρ ούν άν μάθοις άποκριναμένου έστιν γάρ ή ρητορική κατά τον έμόν λόγον πολιτικής μορίου εϊδωλον πωλ Τί ούν καλόν ή αισχρόν λέγεις αυτήν είναι ςω Αισχρόν έγωγετά γάρ κακά αισχρά καλώέπειδή δει σοι άποκρίνασθαι ώς ήδη είδότι ά έγώ λέγω Em ambos os trechos Sócrates ridiculariza o interlocutor tor nando patente ao público presente na cena e por conseguinte ao leitor a sua debilidade técnica o que contrasta com a onipo tência relativa à arte dos discursos tekhnê logõri arrogada ante riormente pela personagem Nesse processo evidenciase então o engano proveniente da alazoneia de Polo de onipotente ele passa a ignorante e impostor um contraste portanto entre o que ele é e o que parece ser A ridicularização de Polo é fruto portanto da ação de Sócrates No trecho i ele induz Polo ao erro fazendo com que o interlocutor conclua que a culinária é certa experiência de produção de deleite e prazer a mesma conclusão que haviam chegado pouco antes com relação à retórica 462c Polo faz uma inferência correta do ponto de vista formal ie de que retórica e culinária são a mesma coisa visto ambas possuírem a mesma de finição mas a conclusão é obviamente falsa como demonstrará A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 63 Sócrates na sequência do argumento No trecho ii Sócrates atenta para a recorrência de Polo no mesmo tipo de equívoco dialógico já cometido anteriormente no Prólogo 448ε a tendência de atri buir juízo de valor a uma coisa antes mesmo de sáber o que ela é ou seja o desconhecimento da prioridade da definição22 Dada a insistência de Polo em saber o que Sócrates pensa sobre a retórica se ela é bela ou vergonhosa Sócrates antecipa então seu juízo sem deixar de se referir ironicamente a mais um passo equivocado de Polo na dinâmica dialógica visto que devo te responder como se já soubesses o que digo επειδή δει σοι άποκρίνασθαι ώς ήδη είδότι α έγώ λέγω 4ó3d45 Todavia para ressaltar a debilidade de Polo o próprio Sócrates acaba por cometer os mesmos equívocos que havia censurado quando cometidos pelo interlocutor Essa debilidade técnica de Polo é usada por Sócrates para justificar o motivo pelo qual ele próprio acaba por infringir es sas regras da discussão que ele mesmo havia estabelecido para o domínio da brakhulogia Como vimos acima embora na con dição de inquirido Sócrates intervém na participação de Polo e passa a lhe formular as perguntas acumulando dessa forma também a função de inquiridor Na sequência da discussão usa da makrologia para expor a sua concepção de retórica como kolakeia 4Ó4b466a quando havia estabelecido a brakhulogia como condição de possibilidade do diálogo soc Talvez eu tenha incorrido em um absurdo porque não per mitindo que tu fizesses longos discursos eu mesmo acabei me prolon gando em um discurso extenso Contudo mereço teu perdão pois quando 22 Platão Mênon 7ibi8 soc Eu próprio Mênon estou nessa condição eu careço daquilo de que carecem meus concidadãos e censuro a mim mesmo por não saber absolutamente nada sobre a virtude aquilo que não sei o que é como poderia saber que qualidade tem Ou te parece possível que alguém desconhecendo absolutamente quem é Mê non saiba que ele é belo rico ou nobre ou o contrário disso Achas que é possível Έγώ οΰν και αυτός ώ Μένων ούτως έχω συμπένομαι τοΐς πολίταις τούτου του πράγματος και έμαυτόν καταμέμφομαι ώς ούκ είδώς περί αρετής τό παράπαν õ δέ μή οιδα τί έστιν πώς αν όποιον γέ τι είδείην ή δοκει σοι οΐόν τε είναι οστις Μένωνα μή γιγνώσκει τό παράπαν οστις έστίν τούτον είδεναι είτε καλός είτε πλούσιος είτε και γενναίος έστιν είτε και τάναντία τούτων δοκεί σοι οίόν τ είναι 64 GÓRGIAS DE PLATÃO eu falava brevemente tu não me entendias e nem eras minimamente capaz de fazer uso das respostas que te endereçava carecendo de explicação As sim se eu por minha vez não souber como usar as respostas que me deres prolonga também tu o discurso caso contrário deixa que eu as use pois é justo E agora se souberes como usar essa resposta usaa pol Mas o que dizes então A retórica te parece ser lisonja soc Eu disse deveras que ela é parte da lisonja Mas com essa idade não te recordas Polo O que farás agora pol Acaso te parece que os bons rétores enquanto lisonjeadores são considerados homens desprezíveis nas cidades soc Isso é uma pergunta ou o princípio de um discurso pol Uma pergunta soc A mim não parecem ser nem mesmo considerados 46501 466b3 ςω ίσως μέν ούν άτοπον πεποίηκα ότι σε ούκ έών μακρούς λόγους λέγειν αύτός συχνόν λόγον άποτέτακα άξιον μέν ούν έμοι συγγνώμην έχειν έστίν λέγοντος γάρ μου βραχέα ούκ έμάνθανες ούδέ χρήσθαι τή άποκρίσει ήν σοι άπεκρινάμην ούδέν οίός τ ήσθα άλλ έδέου διηγήσεως έάν μέν ούν και έγώ σοΰ άποκρινομένου μή έχω δτι χρήσωμαι άπότεινε και σύ λόγον έάν δέ έχω έα με χρήσθαι δίκαιον γάρ και νΰν ταύτη τή άποκρίσει εϊ τι έχεις χρήσθαι χρώ πωλ Τί ούν φής κολακεία δοκεΐ σοι είναι ή ρητορική ςω Κολακείας μέν ούν έγωγε εΐπον μόριον άλλ ού μνημονεύεις τηλικοΰτος ών ώ Πώλε τί τάχα δράσεις πωλ ΤΑρ ούν δοκοΰσί σοι ώς κόλακες έν ταις πόλεσι φαύλοι νομίζεσθαι οί άγαθοι ρήτορες ςω Ερώτημα τοϋτ έρωτας ή λόγου τίνος άρχήν λέγεις πωλ Ερωτώ έγωγε ςω Ούδέ νομίζεσθαι έμοιγε δοκοΰσιν Ao corrigir Polo e atentar sarcasticamente para a sua pouca memória Sócrates evidencia ao mesmo tempo que Polo não é apenas inexperto no registro da brakhulogia porém também no da makrologia que a princípio seria de sua competência técnica23 Contudo essa evidência é mais uma vez causada 23 Essa associação entre boa memória e o registro da makrologia aparece iro nicamente no Protágoras quando Sócrates justifica à personagem homônima porque a brakhulogia deve ser a condição de possibilidade da discussão 334075 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 65 propositalmente por Sócrates ele poderia ter sido compla cente com Polo quando ele pergunta se a retórica é lisonja e não parte dela pois não se trataria propriamente de um erro mas de falta de precisão Polo estaria recorrendo assim à definição genérica de retórica e não à específica Isso mos tra portanto que a estratégia argumentativa de Sócrates no 2 Ato não se restringe apenas à defesa de suas teses morais e à refutação das do adversário mas compreende também a ridicularização do interlocutor como havia apontado a ocor rência do verbo ôicxKtopuiôeiv comediar no início do 2 Ato 46267 Essa adequação do comportamento de Sócrates ao ca ráter do interlocutor todavia terá consequências importantes na construção do êthos do filósofo no Górgias como veremos abaixo na Seção 6 vi A obtusidade de Polo se torna mais evidente na medida em que Sócrates conduz a discussão para tópicos familiares a seu pensamento moral absolutamente estranhos em contrapar tida ao interlocutor Como Polo desconhece o procedimento dialógico tal como Sócrates o concebe ele é incapaz de com preender porque sua pergunta é para Sócrates ambígua Não assassinam como os tiranos quem eles quiserem e não rou bam dinheiro e expulsam da cidade quem for de seu parecer ούχ ώσπερ oí τύραννοι άποκτεινύασίν τε ον αν βούλωνται και άφαιροΰνται χρήματα και έκβάλλουσιν έκ τών πόλεων ον αν δοκή αύτοίς 466bnc2 A afirmação de Sócrates se fun damenta em uma determinada teoria sobre a motivação hu mana baseada na distinção entre fazer o que quer ποιειν ών βούλονται 466el e fazer o que parece melhor ποιειν ότι αν αύτοίς δόξη βέλτιστον είναι 466ei2 Tendo em vista a sua inexperiência nas discussões filosóficas e portanto a sua igno rância em questões de psicologia moral discutidas no âmbito 66 GÓRGIAS DE PLATÃO socrático ele não compreende as consequências dessa distinção proposta por Sócrates confundindo os conceitos soc Pois bem eu te digo que elas são duas perguntas e responder teei a ambas Eu afirmo Polo que tanto os rétores quanto os tiranos pos suem o mais ínfimo poder nas cidades como antes referia e que não fazem o que querem por assim dizer mas fazem o que lhes parece ser melhor p o l E então não é grandioso esse poder soc Não é como afirma Polo p o l Eu afirmo que não é Eu afirmo que é sim soc Não pelo tu não afirmas porque dizias que ter um gran dioso poder é um bem para quem o possui p o l E confirmo 46605e8 ςω Λέγω τοίνυν σοι οτι δύο ταΰτ έστιν τά έρωτήματα και άποκρινοϋμαί γέ σοι προς άμφότερα φημι γάρ ιϊ Πώλε έγώ και τούς ρήτορας και τούς τυράννους δύνασθαι μέν έν ταις πόλεσιν σμικρότατον ώσπερ νυνδή έλεγον ούδέν γάρ ποιεΐν ών βούλονται ώς έπος είπεϊν ποιεϊν μέντοι οτι αν αύτόΐς δόξη βέλτιστον είναι γτωλ Ούκοϋν τούτο έστιν τό μέγα δύνασθαι ςω Οϋχ ώς γέ φησιν Πώλος πωλ Έγώ οΰ φημι φημι μέν ούν έγωγε ςω Μα τόνού σύ γε έπει τό μέγα δύνασθαι έφης άγαθόν είναι τώ δυναμένω πωλ Φημι γάρ ούν A incompreensão de Polo com relação aos preceitos do ar gumento socrático se expressa em seu juízo de valor onde Só crates percebe a causa da impotência do rétor e do tirano Polo entende como fonte de grande poder pois a distinção entre fazer o que quer e fazer o que parece uma distinção con ceituai na psicologia moral defendida pelo filósofo não lhe faz qualquer sentido Esse mesmo tipo de incompreensão já havia ocorrido antes na discussão entre Sócrates e Górgias naquela oportunidade onde o primeiro percebia o motivo de a retórica ser uma pseudoarte enganadora como ele demonstrará pOs teriormente a Polo o segundo entendia como a sua grande vantagem e como fonte de sua superioridade sobre as demais A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 67 tekhnai24 No entanto a confusão de Polo não se deve simples mente à sua obtusidade caricatural mas também à forma como Sócrates age com o interlocutor na discussão criando proposi talmente os meios para ressaltála A tese defendida por Sócrates a partir de sua própria formulação 466d6e2 pressupõe uma série de demonstrações as quais exigem por sua vez segundo as próprias regras do diálogo estabelecidas por ele o assenti mento do interlocutor para serem legitimadas as suas conclusões Embora Sócrates faça as demonstrações na sequência da discus são 4670546805 nesse momento precedente a sua tese não está absolutamente justificada o que de certa forma explica a in compreensão de Polo Nesse sentido Sócrates cria os meios para salientar a obtusidade do interlocutor e nesse movimento os elementos cômicos da cena se tornam flagrantes Sócrates coloca palavras na boca de Polo afirma que ele diz o que não diz irrita a personagem e faz com que ela enfim depois de uma série de passos equivocados restitua a Sócrates a função de inquiridor soc Eu afirmo que eles não fazem o que querem vai refutame pol Há pouco não admitias que eles fazem aquilo que lhes parece ser melhor soc E continuo admitindo pol Não fazem então o que querem soc Isso eu não digo pol Fazendo o que lhes parece soc Isso eu digo pol Tuas palavras são perniciosas e sobrenaturais Sócrates soc Não me difames excelente Polo para falarte à tua maneira consueta Mas se tiveres perguntas a me fazer mostra que estou men tindo se não responde tu pol Mas prefiro responder para compreender o que dizes 4676204 ΣΩ Οϋ φημι ποιείν αυτούς α βούλονται άλλά μ έλεγχε πωλ Ούκ άρτι ώμολόγεις ποιείν α δοκεΐ αύτοίς βέλτιστα είναι τούτου πρόσθεν ςω Και γάρ νυν ομολογώ 24 Platão Górgias 459b6C4 68 GÓRGIAS DE PLATÃO πωλ Ούκ ούν ποιοΰσιν α βούλονται ςω Οΰ φημι πωλ Ποιοΰντες α δοκεΐ αύτοϊς ςω Φημί πωλ Σχέτλιά γε λέγεις και ύπερφυή ώ Σώκρατες ςω Μή κακηγόρει ώ λψστε Πώλε ϊνα προσείπω σε κατά σέ άλλ ει μέν έχεις έμέ έρωταν έπίδειξον οτι ψεύδομαι εί δέ μή αύτός άποκρίνου πωλ Ά λλ έθέλω άποκρίνεσθαι ϊνα και εϊδώ οτι λέγεις Como foi referido anteriormente a paródia é outro ele mento comum entre a Comédia Antiga e os diálogos platôni cos como salienta K Dover ela tem como função precípua criticar e ridicularizar aquilo que é parodiado25 A paródia da linguagem do tribunal como vemos no trecho acima Não me difames excelente Polo para falarte à tua maneira con sueta μή κακηγόρει ώ λώστε Πώλε ϊνα προσείπω σε κατά σε 4 6 7b n ci reaparece em grande relevo no discurso em que Sócrates distingue as duas formas de refutaçãoprova elen chos a retórica e a filosófica 4716147204 A maestria da personagem é justamente adequar um vocabulário de conota ção técnica empregado no âmbito dos tribunais ao contexto dialógico que lhe é a princípio estranho em vista de uma distin ção que exigiria a linguagem conceituai própria do pensamento filosófico A título de ilustração 0 vocabulário técnico paro diado por Sócrates nesse discurso seria este μάρτυς e relativos testemunha 47ie5 47234 as b7 ci παρέχομαι apresen tar 47ie5 e6 47234 bs b7 καταψευδομαρτυρέω e relativos prestar falso testemunho 472ai 472bs έκβάλλω banir ex pulsar 472b5 Este pequeno excerto do discurso é suficiente para ilustrar como a personagem Sócrates usa da paródia não apenas para criticar os procedimentos retóricos comuns nos tribunais atenienses mas para apresentar ao mesmo tempo uma distinção crucial para o pensamento filosófico de Platão entre o elenchos socrático e o elenchos retórico 25 J Dover Aristophanic Comedy p 73 Ver também A Nightingale op cit p 7 A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 69 soc Todavia eu sendo um só contigo não concordo pois não me constranges a isso embora te empenhes apresentando contra mim falsas testemunhas em profusão para expulsarme do meu patri mônio e da verdade Mas se eu não te apresentar sendo tu apenas um como testemunha concorde ao que digo não terei chegado julgo eu a nenhuma conclusão digna de menção sobre o que versa a nossa discus são e creio que tampouco tu se eu sendo apenas um não testemunhar em teu favor e tu dispensares todos as demais Aquele é um modo de refutação como presumes tu e muitos outros homens mas há também outro modo como presumo eu por minha vez 472b3C4 ςω άλλ έγώ σοι είς ών ούχ ομολογώ ού γάρ με σύ άναγκάζεις άλλα ψευδομάρτυρας πολλούς κατ έμοΰ παρασχόμενος έπιχειρείς έκβάλλειν με έκ τής ούσίας και τού άληθοΰς έγώ δέ αν μή σέ αύτόν ένα όντα μάρτυρα παράσχωμαι όμολογοΰντα περί ών λέγω ούδέν οίμαι άξιον λόγου μοι πεπεράνθαι περι ών άν ήμιν ό λόγος ή οίμαι δέ ούδέ σοί έάν μή έγώ σοι μαρτυρώ είς ών μόνος τούς δ άλλους πάντας τούτους χαίρειν έάς εστιν μεν ούν ούτός τις τρόπος έλέγχου ώς σύ τε οϊει και άλλοι πολλοί έστιν δέ και άλλος ον έγώ αύ οίμαι Mas a paródia não é usada exclusivamente pela personagem Sócrates no Górgias Polo também parodia o recurso argumen tativo a que Sócrates havia recorrido antes quando dizia antes das demonstrações que requeririam o assentimento do inter locutor que não só ele mas também Polo afirma que os réto res bem como os tiranos não possuem grandioso poder nas cidades 46663 Polo tenta empregar o mesmo recurso contra Sócrates mas ele não é bemsucedido como não poderia ser diferente tendo em vista a debilidade técnica e moral da per sonagem soc E no começo da discussão Polo eu te elogiei porque me pare ces ter sido bem educado na retórica porém ter descurado do diálogo E é esse então o discurso com o qual até mesmo uma criança me refuta ria Porventura presumes que eu acabei de ser refutado por ti com esse discurso tendo eu afirmado que quem comete injustiça é infeliz Mas como bom homem Aliás não concordo com nada do que dizes pol Porque não desejas concordar visto que a tua opinião se con forma com o que digo 47id3ei 70 GÓRGIAS DE PLATÃO ςω Και κατ άρχάς τών λόγων ώ Πώλε έγωγέ σε έπήνεσα ότι μοι δοκείς εύ προς τήν ρητορικήν πεπαιδεΰσθαι τού δε διαλέγεσθαι ήμεληκέναι και νυν άλλο τι ούτός έστιν ό λόγος φ με και άν παίς έξελέγξειε και έγώ ύπό σοϋ νυν ώς σύ οϊει έξελήλεγμαι τούτω τώ λόγω φάσκων τον άδικοϋντα ούκ εύδαίμονα είναι πόθεν ώγαθέ και μήν ούδέν γέ σοι τούτων ομολογώ ών σύ φής πωλ Ού γάρ έθελεις έπει δοκεΐ γέ σοι ώς έγώ λέγω Esse tipo de estratégia argumentativa de Sócrates parodiada por Polo de colocar na boca do interlocutor palavras contrárias ao que ele próprio diz é justificada no diálogo pela sua convic ção de que Polo não reconhece a verdade das teses morais so cráticas porque não lhe foi demonstrado de modo conveniente que a partir de suas próprias opiniões conflitantes se deduz o contrário daquilo que ele reputava verdadeiro Sócrates tentará lhe mostrar que a partir da premissa de que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla Polo terá de admitir neces sariamente que além de mais vergonhoso é também pior o que Polo rejeitava a priori Nesse sentido do ponto de vista da psicologia moral socrática bastaria uma correção nessa gama de opiniões sustentadas de forma incoerente pelo interlocutor para este então passar a reconhecer primeiro a sua contradi ção interna e depois a verdade das teses morais socráticas essa seria portanto a função positiva do elenchos Na perspectiva de Sócrates então a convicção na verdade de suas teses morais justificaria esse tipo de recurso argumentativo sem a qual seu procedimento para com Polo não se distinguiria do procedi mento tipicamente erístico ilustrado sobretudo no diálogo Eutidemo VII Todavia esse aspecto sério do elenchos socrático que teria como fim beneficiar o refutado demonstrandolhe a sua ignorância e incutindolhe o desejo pelo verdadeiro conhecimento contrasta A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 71 com as nuances jocosas do tipo de estratégia argumentativa em pregada por Sócrates na discussão com Polo se a audiência pre sente na cena ou mesmo o leitor suspeita dos argumentos usados por Sócrates para justificar positivamente o elenchos a tentativa de ridicularizar o interlocutor parece confirmar precisamente que o intuito de Sócrates na verdade é simplesmente refutálo a des peito da verdade pretendida pelas suas demonstrações Platão re presenta essa ambiguidade do comportamento de Sócrates aos olhos do público quando faz Cálicles chamar o filósofo de amante da vitória cpiXóviKoc 51505 termo comumente usado para se referir ao procedimento erístico26 Nessa interface com a comé dia portanto deparamonos com a complexidade da represen tação do êthos de Sócrates no Górgias de um lado a seriedade do filósofo na busca pela verdade e pela reforma moral e po lítica daquela sociedade e de outro a jocosidade que acom panha as suas ações quando diante de um interlocutor débil e desprezível phaulos como é representado Polo Como foi dito anteriormente tendo em vista o aspecto ad hominem do elenchos Sócrates adéqua sua estratégia argumentativa ao tipo de interlocutor com o qual dialoga mas isso implica em con trapartida uma série de consequências na construção do êthos do filósofo no Górgias O elemento cômico envolvido no embate entre Sócrates e Polo por outro lado chama em causa outro diálogo o Euti demo Platão nos oferece uma caracterização cômica dos erísti cos representados pelas personagens Eutidemo e Dionisodoro a ridicularização do procedimento dialógico realizado por eles é uma forma de Platão depreciar na própria construção do drama a pretensão dessa classe de sofistas a um certo saber reduzindo a sua habilidade discursiva a um mero jogo infantil cujas peças são as palavras e os movimentos os silogismos Como foi dito acima a personagem Sócrates exercendo a fun ção de narrador do diálogo enfatiza reiteradamente a reação 26 No Górgias cf 4571X4 45705 50504 515b5 5i5b6 72 GÓRGIAS DE PLATÃO da audiência quando Clínias é submetido ao elenchos o riso caracteriza precisamente a situação ridícula do refutado aos olhos daquele determinado público composto de admiradores dos dois sofistas 276067 276di3 No Górgias entretanto vemos a própria personagem Sócrates adotando uma conduta similar ao buscar salientar a todo instante a obtusidade de Polo tornando o interlocutor um instrumento de legitimação de suas inferências e um objeto de satirização Em linhas gerais do ponto de vista das funções exercidas pelas personagens Só crates estaria para Eutidemo e Dionisodoro assim como Polo estaria para Clínias Isso se conforma ao juízo de Cálicles so bre os filósofos e em particular sobre Sócrates em sua invec tiva 484c486d o filósofo é percebido por ele como alguém que está constantemente brincando zombando jogando παίζοντας 485b2 παίζοντα 485C1 cal Todavia quando o homem já está velho mas ainda con tinua a filosofar aí é extremamente ridículo Sócrates e a experiência que tenho com os filósofos é precisamente a mesma que tenho com os balbuciantes e zombeteiros 48sa6b2 ςω έπειδάν δέ ήδη πρεσβύτερος ών άνθρωπος έτι φιλοσοφή καταγέλαστον ώ Σώκρατες τό χρήμα γίγνεται και εγωγε όμοιότατον πάσχω προς τούς φιλοσοφοΰντας ώσπερ προς τούς ψελλιζομένους και παίζοντας Esse aspecto infantil do jogo dialógico erístico referido por Platão no Eutidemo pelas diversas ocorrências de deriva dos da raiz paiz παίζ 27762 278b3 278b6 283b6 286b9 285a3 também é visto por Cálicles em contrapartida como uma característica da prática filósofica empreendida por Só crates Nesse sentido o contorno cômico de ambos os diálogos acaba coincidindo nesse elemento erístico que afeta o compor tamento das personagens e Sócrates no Górgias não obstante a sua seriedade arrogada enquanto filósofo não deixa de parti cipar dele quando opta pela estratégia argumentativa de ridicu A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 73 larizar o interlocutor A comicidade da cena nasce da interação entre os dois interlocutores e não exclusivamente da debilidade intrínseca da personagem Polo revelada pelo elenchos A dúvida de Cálicles com relação à motivação de Sócrates expressa na abertura do 3e Ato ilustraria assim esse aspecto ambíguo do êthos de Sócrates Dizeme Querefonte Sócrates fala sério ou está de brincadeira είπε μοι ώ Χαιρεφών σπουδάζει ταΰτα Σωκράτης ή παίζει 48ib67 Todavia como no Górgias não há um narrador não há a des crição da reação do público durante a refutação de Polo Platão não nos indica se ele assim como Clínias no Eutidemo também é motivo de riso para aquela determinada audiência Pelo contrá rio Platão enfatiza no Górgias por meio das outras personagens como é Sócrates quem parece pelo menos a determinado tipo de interlocutor e por conseguinte a determinado tipo de público uma figura ridícula Isso é dito expressamente por Cálicles em sua invectiva contra o filósofo 4840448601 soc Quando então os filósofos se deparam com alguma ação privada ou política são cobertos pelo ridículo como julgo que sucede aos políticos quando se envolvem com vosso passatempo e vossas dis cussões são absolutamente risíveis 4840763 ςω έπειδάν ούν ελθωσιν εϊς τινα ιδίαν ή πολιτικήν πραξιν καταγέλαστοι γίγνονται ώσπερ γε οΐμαι οί πολιτικοί έπειδάν αύ εις τάς ύμετέρας διατριβάς ελθωσιν και τούς λόγους καταγέλαστοι είσιν A inabilidade do filósofo para a política ou melhor para a política democrática discutirei a seguir a imagem de Sócrates como o verdadeiro homem político 5257 é na perspec tiva do homem democrático um aspecto risível da figura do filósofo Tal condição ridícula é reafirmada nesse mesmo dis curso repetidas vezes por Cálicles 48461 48463 48sa4 485C1 Polo por sua vez ri de Sócrates quando ele durante o exame da tese de que cometer injustiça é pior que sofrêla enunciada em 469c afirma que mais infeliz será aquele que escapou à punição e exerceu a tirania άθλιώτερος μέντοι ό διαφεύγων 74 GÓRGIAS DE PLATÃO και τυραννεύσας 473ei Cálicles ao se referir ao episódio da refutação de Górgias não deixa de mencionar o riso de Polo quando Sócrates levou o rétor a se contradizer 482d como uma forma de reação contra os meios utilizados pelo filósofo para consumar o elenchos A opinião de Cálicles sobre o filósofo por seu turno encontra respaldo no que o próprio Sócrates diz a Polo sobre a sua incompetência como político chamando em causa aquele episódio mencionado na Apologia17 em que teve de exercer a função de prítane soc Polo não sou um político Tendo sido sorteado ano passado para o Conselho quando meu grupo exercia a pritania e devia eu dar a pauta da votação torneime motivo de riso por ignorar como fazêlo Assim tampouco agora ordenes que eu dê a pauta da votação aos aqui presentes mas se não tens uma refutação melhor do que essa passame a vez como há pouco eu dizia e tenta me refutar como julgo que deva ser 4736647435 ςω Ώ Πώλε ούκ εϊμι των πολιτικών και πέρυσι βουλεύειν λαχών έπειδή ή φυλή έπρυτάνευε και έδει με έπιψηφίζειν γέλωτα παρείχον και ούκ ήπιστάμην έπιψηφίζειν μή ούν μηδέ νϋν με κέλευε έπιψηφίζειν τούς παρόντας άλλ εί μή έχεις τούτων βελτίω έλεγχον δπερ νυνδή έγώ έλεγον έμοι έν τώ μέρει παράδος και πείρασαι τού έλέγχου οίον έγώ οίμαι δεΐν είναι Temos no Górgias portanto duas perspectivas diferentes sobre o ridículo τό γελοίον Na perspectiva de Cálicles e Polo e genericamente do homem democrático ou do senso comum daquela sociedade ateniense Sócrates é ridículo na me dida em que está alheio ao processo político da democracia quando requerida a sua presença no Conselho por constrição das regras que atribui a cada pritania um décimo do ano para a coordenação da Assembleia Sócrates teve um comportamento ridículo aos olhos daquela audiência devido à sua incompetên cia e inexperiência em questões políticas assim como Polo parece 27 27 Platão Apologia 32ab A COMÉDIA NO D I Á L O G O O CASO POLO 75 ridículo quando submetido ao domínio da brakhulogia ao do mínio discursivo da filosofia Esse fato particular ilustraria as sim a inutilidade do filósofo para o processo político da pólis Mas na perspectiva de Sócrates e genericamente do filósofo a condição ridícula é a de Polo que por não ter formação fi losófica e ser inexperiente no diálogo ôiaXéYO0ai ignora a sua própria ignorância e presume conhecer aquilo que não conhece quando submetido ao elenchos socrático a sua debili dade e por conseguinte o caráter enganador de sua alazoneia tornamse patentes à audiência da cena e ao leitor VIII Como vemos Platão é cuidadoso ao precisar em que condições a figura de Sócrates parece ridícula ele é ridículo segundo as ex pectativas daquela sociedade democrática ateniense com relação ao dever político de cada cidadão representada aqui pela visão de Polo e Cálicles Platão associa à democracia como um todo o tipo de moralidade ou de imoralidade defendida por Polo ex pressa genericamente no Górgias pela máxima de que cometer injustiça é melhor do que sofrêla como admite Sócrates a Polo no presente momento concordarão plenamente contigo quase todos os atenienses e estrangeiros se quiseres apresentar con tra mim testemunhas de que não falo a verdade και νυν περί ών σύ λέγεις ολίγου σοι πάντες συμφήσουσιν ταύτά Αθηναίοι καί οί ξένοι έάν βούλη κατ έμοϋ μάρτυρας παρασχέσθαι ώς ούκ αληθή λέγω 472a25 Cálicles por sua vez voltandose a Sócrates na abertura do 3a Ato diz que se as conclusões para doxais a que chegou com Polo fossem válidas então a vida de nós homens não estaria de pontacabeça e não estaríamos fazendo como parece tudo ao contrário do que deveríamos fazer άλλο τι ή ήμών ό βίος άνατετραμμένος άν εϊη τών άνθρώπων καί πάντα τά έναντία πράττομεν ώς έοικεν ή ά δει 481C24 Polo e Cálicles nesse sentido a despeito das diferenças da represen 76 GÓRG1AS DE PLATÃO tação de seus respectivos caracteres seriam os portavozes do senso comum daquela sociedade democrática28 a qual acabou por condenar Sócrates à morte o vaticínio de Cálicles como veremos adiante é uma referência direta a esse episódio A in vectiva de Cálicles contra o filósofo expressaria assim o ódio àTtqxOópev n d i e2 nutrido contra Sócrates referido na Apo logia causa precípua de sua condenação Sócrates portanto aos olhos do homem democrático apa rece como um atopos 473a 4810 494di como uma figura absolutamente idiossincrática seja do ponto de vista físico dada a sua proverbial feiura29 seja do ponto de vista moral e político Isso consequentemente faz de Sócrates uma figura potencial mente cômica e explica a razão de seu sucesso como personagem da 28 A passagem seguinte do Górgias parece confirmar esse ponto do meu ar gumento c a l Não sei como a todo momento consegues arrastar os argumentos de um lado para outro Sócrates ou não sabes que o imitador do tirano matará quem não o imite e furtará suas propriedades se ele quiser soc Eu sei bom Cálicles a menos que eu seja surdo pois já ouvi isso repe tidamente tanto de ti quanto de Polo momentos atrás e de quase todos os demais habitantes dessa cidade Mas ouve também tu o que digo se quiser ele um homem vicioso matará um homem belo e bom 5iia4b5 ΚΑΛ Ούκ οίδ όπη στρέφεις έκάστοτε τούς λόγους άνω και κάτω ώ Σώκρατες ή ούκ οίσθα ότι ούτος ό μιμούμενος τον μή μιμούμενον εκείνον άποκτενεί έάν βούληται και άφαιρήσεται τά όντα ςω ΟΙδα ώγαθέ Καλλίκλεις εί μή κωφός γ είμί καί σοϋ άκούων και Πώλου άρτι πολλάκις και τών άλλων ολίγου πάντων των έν τή πόλει άλλα και σύ έμοϋ ακούε ότι άποκτενεί μέν αν βούληται άλλα πονηρός ών καλόν κάγαθόν όντα 29 Cícero Tusculanas 48ο Mas aqueles que são considerados por natureza iracundos misericordiosos invejosos ou coisas do gênero são praticamente constituídos por um mau hábito da alma mas são curáveis como se diz de Sócrates quando durante uma reunião Zópiro que declarava capaz de perceber a natureza em si de quem quer que fosse a partir de sua fisionomia observou nele uma gama de vícios tornouse motivo de riso para aqueles que não reconheciam em Sócrates tais vícios Todavia o próprio Sócrates saiu em sua defesa dizendo que eles lhe eram congênitos mas que haviam sido vencidos pela própria razão Qui autem natura dicuntur iracundi aut misericordes aut inuidi aut tale quid ei sunt constituti quasi mala ualetudine animi sanabiles tamen ut Sócrates dicitur cum multa in conuentu uitia conlegisset in eum Zopyrus qui se naturam cuisque ex forma perspicere profitebatur derisus est a ceteris qui illa in Socrate uitia non agnoscerent ab ipso autem Socrate subleuatus cum illa sibi insita sed ratione a se deiecta diceret A COMÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO POLO 77 chamada Comédia Antiga sobretudo como vemos em As Nuvens de Aristófanes A discussão sobre a percepção da idiossincrasia pelo senso comum como ridículo γελοιον e por conseguinte como objeto da satirização cômica κωμωδείν 452di aparece no Livro v da República quando Sócrates delineia o papel das mulheres na cidade ideal Quando este propõe uma isonomia entre homens e mulheres de modo a ambos os gêneros passarem a desempenhar funções que pelos costumes eram estritamente masculinas como a função de guerreiro por exemplo30 ele faz a seguinte reflexão sobre o caso Se portanto empregarmos homens e mulheres nas mesmas fun ções as mesmas coisas também deverão ser ensinadas a elas Sim A música e a ginástica são concedidas a eles Sim Também a elas portanto devem ser concedidas ambas as artes e até mesmo os exercícios bélicos empregandoas nas mesmas funções É plausível pelo que dizes disse ele Talvez disse eu pareçam ridículas muitas coisas contra o costume que acabamos de dizer caso levemos à ação o que foi dito Certamente disse ele 4516645239 Ei άρα ταΐς γυναιξιν έπι ταύτά χρησόμεθα και τοϊς άνδράσι ταύτά και διδακτέον αύτάς Ναί Μουσική μήν έκείνοις γε και γυμναστική έδόθη Ναί Και ταΐς γυναιξιν άρα τούτω τώ τέχνα και τα περί τον πόλεμον άποδοτέον και χρηστέον κατά ταύτά Είκός έξ ών λέγεις εφη Ίσως δή ειπον παρά το έθος γελοία άν φαίνοιτο πολλά περι τά νυν λεγάμενα εί πράξεται ή λέγεται Και μάλα έφη 30 A Nightingale op cit ρ 176 Nessa passagem Sócrates caracteriza os poetas cômicos tanto do passado quanto do presente como se eles reagissem a novas ideias que eram contrárias aos costumes com escárnio e zombaria Ao fa zerem isso eles refletem a opinião da maioria que é levada a ver qualquer ideia verdadeiramente radical como ridícula 78 GÓRGIAS DE PLATÃO Talvez essa reflexão sobre o aspecto ridículo da idiossin crasia na perspectiva do senso comum dos costumes tradicio nalmente conservados reflita o próprio caso de Sócrates que é representado por Platão como uma figura em confronto com os valores da sociedade democrática de seu tempo Esse confronto é salientado por Cálicles nessa mesma invectiva cal Ademais tornamse inexperientes nas leis da cidade nos discursos que se deve empregar nas relações públicas e privadas nos prazeres e apetites humanos e em suma tornamse absolutamente inexperientes nos costumes dos homens 484d27 ΚΑΛ και γάρ τών νόμων άπειροι γίγνονται τών κατά τήν πόλιν και τών λόγων οις δει χρώμενον όμιλεΐν εν τοίς συμβολαίοις τοίς άνθρώποις και ιδία και δημοσία και τών ήδονών τε καί επιθυμιών τών άνθρωπείων και συλλήβδην τών ηθών παντάπασιν άπειροι γίγνονται Nesse sentido a percepção de Sócrates como atopos como alguém em conflito com os costumes humanos τών ηθών 484d6 a percepção de suas convicções morais como atopa como vemos no Górgias explicam de certa forma a razão de Sócrates ter sido em sua época uma figura potencialmente cômica Mas Platão oferece uma resposta a isso nessa inversão de valores operada pela perspectiva moral de Sócrates no caso específico do Górgias de que cometer injustiça é pior do que sofrêla e não o contrário como comumente é aceito serão Polo Cálicles e em suma o senso comum daquela sociedade democrática a desempenhar o papel de ridículo γελοιον e não mais Sócrates como se evidencia nesta passagem soc Eis o que na discussão precedente ficou manifesto e afirmo que isso está firme e atado se não for uma expressão muito rude por argumentos de ferro e diamante ao menos como haveria de parecer na atual conjuntura Assim se tu não o desatares ou qualquer outra pessoa ainda mais jovem e audaz do que tu será impossível que alguém afirmando coisas diferentes das que afirmo agora fale corre A COMÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO POLO 79 tamente Pois o meu argumento é sempre o mesmo que não sei como essas coisas são mas que das pessoas que tenho encontrado como na ocasião presente nenhuma é capaz de afirmar coisas diferentes sem ser extremamente ridícula 5086650937 ςω ταϋταήμίν άνω έκεΐέν τοΐς πρόσθεν λόγοις οϋτω φανέντα ώς έγώ λέγω κατέχεται καί δέδεται και εί άγροικότερόν τι είπειν έστιν σιδηροΐς και άδαμαντίνοις λόγοις ώς γοΰν αν δόξειεν ούτωσί οΰς σύ εί μή λύσεις ή σου τις νεανικώτερος ούχ οΐόν τε άλλως λέγοντα ή ώς έγώ νΰν λέγω καλώς λέγειν έπεί εμοιγε ό αύτός λόγος έστιν άεί δτι έγώ ταΰτα ούκ οιδα όπως εχει δτι μέντοι ών έγώ έντετύχηκα ώσπερ νυν ούδείς οιός τ έστιν άλλως λέγων μή ού καταγέλαστος είναι A TRAGÉDIA NO DIÁLOGO O CASO CÁLICLES I Quando iniciamos a leitura do 3a Ato percebemos pronta mente uma mudança radical não apenas na estratégia argumen tativa de Sócrates mas sobretudo na postura do interlocutor perante o elenchos socrático longe de ser uma personagem in gênua e débil como é Polo Cálicles representa aqui outro tipo de interlocutor o recalcitrante e talvez não haja no corpus pla tonicum uma discussão tão marcada pelo antagonismo entre as personagens como esta representada no Górgias1 Cálicles como o próprio Sócrates admite apresentase como o seu grande de safio a pedra de toque βασάνου 486d7 capaz de verificar de modo suficiente se as suas convicções morais são verdadeiras 1 Trasímaco no Livro i da República também se enquadraria no caso do interlocutor recalcitrante mas a sua breve intervenção a única depois de sua par ticipação no Livro I no diálogo junto a Glauco e Adimanto no início do Livro v 45oab contribuindo para a discussão em voga mostra um comportamento bem mais brando do que o de Cálicles no Górgias A diferença do comportamento de Trasímaco entre o Livro i e o Livro v mostra que o sofista naquela altura do diálogo já se encontrava de certa forma envolvido pelos argumentos de Sócrates 82 GÓRGIAS DE PLATÃO e se o modo de vida regido pela filosofia é o melhor modo de se viver 486d487b A condição para que essa verificação seja bemsucedida depende portanto do consentimento do inter locutor nas premissas do argumento socrático όμολογήσης 486e5 Esse princípio metodológico da brakhulogia aparece dito expressamente por Sócrates nesta passagem soc É evidente então que procedamos da mesma forma se tu concordares comigo em algum ponto na discussão nós já o teremos verificado suficientemente e prescindiremos de outra pedra de toque Pois jamais darias seu assentimento por carência de sabedoria ou por excesso de vergonha tampouco o darias para me enganar visto que és meu amigo como tu mesmo dizes O meu e o teu consentimento por tanto será realmente a completude da verdade 487d7e3 ςω εχει ôtj ούτωσι δήλον οτι τούτων πέρι νυνί έάν τι σύ έν τοίς λόγοις όμολογήσης μοι βεβασανισμένον τοΰτ ήδη έσται ίκανώς ύπ έμοϋ τε και σοΰ και ούκέτι αύτό δεήσει έπ άλλην βάσανον άναφέρειν ού γάρ άν ποτέ αύτό συνεχώρησας σύ ούτε σοφίας ένδεια οϋτ αισχύνης περιουσία ούδ αύ άπατων έμέ συγχωρήσαις άν φίλος γάρ μοι εΐ ώς και αύτός φής τώ άντι οΰν ή έμή και ή σή ομολογία τέλος ήδη εξει τής άληθείας Pois bem levando em consideração os próprios termos em que Sócrates coloca a questão o que implicaria o fracasso do elenchos quando aplicado a um tipo de interlocutor como Cáli cles Para Sócrates bastaria simplesmente o consentimento do interlocutor às premissas do argumento independentemente dos meios pelos quais ele obtém esse consentimento independen temente de ele refletir ou não as reais opiniões do interlocutor como sucede no caso de Cálicles Quais seriam as consequências para a legitimidade do elenchos quando o interlocutor já não mais participa seriamente da discussão recusando o diálogo 505Cd E por que Sócrates mesmo diante desse não de Cálicles conti nua a insistir na discussão rompendo as regras que ele próprio havia determinado para o domínio da brakhulogia recorrendo assim ao monólogo à própria negação em termo do diálogo A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 83 5060550904 Depois da recusa de Cálicles 505cd o restante do diálogo não seria apenas um simulacro ειδωλον A des peito da legitimidade ou não das inferências de Sócrates para provar suas convicções morais tendo Cálicles como interlocutor o fato marcante desse 3S Ato é indubitavelmente a ineficácia persuasiva do discurso socrático em diversas passagens do texto e por diversos modos Platão sublinha a resistência de Cálicles ao que diz Sócrates 493d 494a 5i3d 513c 516a 5i6cd 517a 518a 523a 527a culminando com a referência à sua absoluta indiferença ao conteúdo do mito que encerra o diálogo Provavelmente essas coisas parecerão a ti como um mito contado por uma anciã e tu as desprezarás 527356 Τάχα δ ούν ταΰτα μϋθός σοι δοκεί λέγεσθαι ώσπερ γραδς και καταφρονείς αυτών Pela própria declaração de Sócrates Cálicles no final do diálogo mostrase absolutamente convicto das opiniões que havia defendido antes e as diversas tentativas de Sócrates para demovêlo delas seja pelas demonstrações lógicas brakhulo gia seja pelos discursos retóricos makrologia seja pelos mitos muthos não surtiram qualquer efeito persuasivo no interlocu tor Estamos portanto diante dos limites do discurso socrático e de certo modo diante do fracasso de Sócrates como defen sor de suas convicções morais que ele tem seguramente por verdadeiras se Cálicles se apresenta como a pedra de toque βασάνου 486d7 capaz de verificar a verdade de tais convic ções mas não é absolutamente persuadido disso por Sócrates deparamonos então com o colapso de seu discurso Esse co lapso designarei aqui como a tragédia de Sócrates ou melhor a tragédia do discurso socrático ainda que Sócrates seja repre sentado aqui e em outros diálogos platônicos como um herói antitrágico como veremos adiante Esse contorno trágico do 32 Ato se dá sobretudo pela repre sentação do êthos de Cálicles e por conseguinte pela importân 84 GÓRGIAS DE PLATÃO cia desse confronto entre dois tipos de êthos antagônicos como tentarei mostrar adiante Cálicles condensa em si elementos do homem democrático e do homem tirânico e se essa relação do Górgias com a República for legítima o caso Cálicles seria um exemplo particular escolhido por Platão para representar nos diálogos precisamente o problema da gênese do tirano no seio da democracia pelo menos potencialmente pois Cálicles é um jovem político que ainda participa do processo democrático de Atenas Nessa perspectiva Cálicles seria então para Sócrates o seu grande desafio seria ele o tipo de homem que mais precisaria da correção1 do elenchos pois o tirano no caso de Cálicles o tirano em potencial é no pensamento político platônico o pior tipo de homem o antípoda do filósofo como vemos na República Se Sócrates não obtém qualquer sucesso nessa ten tativa de corrigir as opiniões de Cálicles ou de mostrar as suas inconsistências e fazer com que ele pondere outras vezes sobre os objeções levantadas então as consequências dessa ineficácia podem vir a ser funestas do ponto de vista moral e político será Cálicles e homens do mesmo tipo de Cálicles que hão de reger politicamente Atenas interessando diretamente toda a comuni dade política Como tentarei mostrar também talvez o caso de Cálicles seja uma reflexão de Platão sobre a relação problemática entre Sócrates e Alcibíades uma forma de justificar o fracasso 2 2 Platão Górgias 505bnc6 soc Portanto a punição é melhor para a alma do que a intemperança como tu há pouco presumias c a l Não entendo o que dizes Sócrates mas interroga outra pessoa qualquer soc Esse homem não tolera ser beneficiado e sofrer aquilo sobre o que discutimos ser punido c a l Nada do que dizes me interessa e é por Górgias que eu respondia as tuas perguntas ΣΩ Tò κολάζεσθαι άρα rfj ψυχή αμεινόν έστιν ή ή ακολασία ώσπερ σύ νυνδή ωου καλ Ούκ οίδ αττα λέγεις ώ Σώκρατες άλλ άλλον τινά έρωτα ςω Ούτος άνήρ ούχ ύπομένει ωφελούμενος και αυτός τούτο πάσχων περί ού ό λόγος έστί κολαζόμενος καλ Ούδέ γέ μοι μέλει οϋδέν ών σύ λέγεις και ταϋτά σοι Γοργίου χάριν άπεκρινάμην A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 85 de Sócrates como seu preceptor mas vejamos primeiro os elementos trágicos do 3a Ato II Refirome aqui em sentido lato à tragédia do discurso socrá tico pautado nas diversas referências de Platão a esse gênero no Górgias Como já foi aludido anteriormente a própria es trutura do diálogo se assemelha grosso modo à das peças trá gicas temos o Prólogo 447a449c depois a sequência dos três Atos ou agõnes com a alternância dos interlocutores de Sócrates 449d4óib 46ib48ib 48ib522e e o Mito Final na função do Êxodo 523a527d Além da semelhança formal o Górgias é um diálogo direto sem a mediação de um narrador como são os estásimos da tragédia segundo a própria teoria poética dos Livros ii e m da República o Górgias seria então mimético no sentido estrito do termo discurso em i â pessoa e seria classi ficado por conseguinte como gênero dramático apesar de não ter como finalidade a representação pública em festivais3 Mas esse aspecto formal não é suficiente para mostrar como os elementos da tragédia presentes no Górgias desempenham certa função no drama dialógico A referência mais explícita é a incorporação da tragédia Antíope de Eurípides como subtexto no discurso de Cálicles nessa alusão intertextual a personagem se compara a Zeto e Sócrates a Anfíon sugerindo assim uma semelhança na condição de ambos os pares de personagens em contextos e gêneros literários distintos4 Sócrates por seu 3 R Kraut Introduction to the Study of Plato The Cambridge Companion to Plato p 25 4 Apolodoro Biblioteca 34244 Antíope era filha de Nicteu da qual Zeus fez sua consorte Ela engravidou e sob as ameaças do pai fugiu para junto de Epopeu em Sícion e com ele se casou Nicteu abatido suicidouse deixando a Lico a incumbência de punir tanto Epopeu quanto Antíope Com uma expedição militar Lico conquistou Sícion matou Epo peu e fez de Antíope sua cativa Encarcerada deu à luz duas crianças em Eleuteras na Beócia Búcolo as encontrou abandonadas e as criou dando a uma o nome de 86 GÓRGIAS DE PLATÃO turno aceita o desafio proposto por Cálicles e coloca a ques tão nos mesmos termos Para mim Górgias seria um pra zer continuar o diálogo com Cálicles enquanto não tivesse lhe restituído o discurso de Anfíon em objeção ao de Zeto άλλά μέν δή ώ Γοργία και αύτός ήδέως μέν αν ΚαλλικλεΙ τούτω ετι διελεγόμην εως αύτω τήν του Άμφίονος άπέδωκα ρήσιν άντι τής τού Ζήθου 5o6t46 Se essa referência de Cálicles à An tíope tem uma determinada função retórica em seu discurso carregado de ironia como é próprio de uma invectiva Mas eu Sócrates nutro por ti uma justa amizade é provável que eu tenha agora o mesmo sentimento que Zeto teve por Anfíon na peça de Eurípides que rememorei έγώ δε ώ Σώκρατες προς σε έπιεικώς εχω φιλικώς κινδυνεύω ούν πεπονθέναι νϋν οπερ ό Ζήθος προς Αμφίονα ό Εύριπίδου ούπερ έμνήσθην 485624 do ponto de vista de Platão como autor do diálogo essa refe rência intertextual à obra euripidiana é um dos modos pelos quais o diálogo enquanto gênero comunicase com a tragédia Como afirma A Nightingale é somente no Górgias contudo que Platão usa uma tragédia inteira a Antíope de Eurípides como o subtexto para seu drama filosófico5 Zeto e à outra de Anfíon Zeto então cuidava do gado ao passo que Anfíon se dedidava à música com a lira que Hermes havia lhe presenteado Lico e a sua mu lher Dirce mantinham Antíope encarcerada e a torturavam Mas quando as suas amarras acidentalmente se desfizeram Antíope se dirigiu à choupana dos filhos sem que alguém a notasse desejosa de que eles a acolhessem E os filhos tendo re conhecido que era a sua mãe mataram Lico e amarraram Dirce para que um touro a matasse Depois a jogaram na fonte cujo nome Dirce dela advém Αντιόπη θυγάτηρ ήν Νυκτέως ταύτρ Ζευς συνήλθεν ή δέ ώς έγκυος έγένετο του πατρός άπειλοϋντος εις Σικυώνα αποδιδράσκει προς Έπωπέα και τούτω γαμεϊται Νυκτεύς δέ άθυμήσας εαυτόν φονεύει δούς έντολάς Λύκω παρά Έπωπέως καί παρά Αντιόπης λαβειν δίκας ό δέ στρατευσάμενος Σικυώνα χειρούται και τον μέν Επωπέα κτείνει τήν δέ Αντιόπην ήγαγεν αιχμάλωτον ή δέ άγομένη δύο γεννά παϊδας έν Έλευθεραϊς τής Βοιωτίας οϋς έκκειμένους ευρών βουκόλος άνατρέφει και τον μέν καλεΐ Ζήθον τον δέ Αμφίονα Ζήθος μέν ούν έπεμελεΐτο βουφορβίων Αμφίων δέ κιθαρφδίαν ήσκει δόντος αύτφ λύραν Έρμου Αντιόπην δέ ήκίζετο Λύκος καθείρξας και ή τούτου γυνή Δίρκη λαθοϋσα δέ ποτέ τών δεσμών αύτομάτων λυθέντων ήκεν έπι τήν τών παίδων έπαυλιν δεχθήναι προς αυτών θέλουσα οί δέ άναγνωρισάμενοι τήν μητέρα τον μέν Λύκον κτείνουσι τήν δέ Δίρκην δήσαντες έκ ταύρου ρίπτουσι θανοΰσαν εις κρήνην τήν άπ έκείνης καλουμένην Δίρκην 5 A Nightingale Gerires in Dialogue p 69 A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 87 Mas em que medida essa referência intertextual à Antíope de Eurípides pode nos ajudar a compreender o drama filosófico do Górgias6 7 Apresentarei aqui uma breve sinopse da interpretação de Nightingale pois pareceme a análise mais completa sobre a questão Sua tese geral é a de que Platão nesse movimento intertextual tem como escopo oferecer uma paródia crítica da tragédia tendo em vista definir e delimitar o âmbito da filoso fia6 em especial com relação ao âmbito da política Por meio dessa analogia entre as personagens Platão coloca de um lado Cálicles e Zeto como representantes da vida prática voltada para os negócios Zeto é um pastor e Cálicles um político e de outro Sócrates e Anfíon como representantes da vida con templativa Anfíon é um músico e Sócrates um filósofo Se gundo Dodds Platão se insere aqui no debate bastante em voga no séc v aC sobre os méritos e deméritos desses dois modos de vida a vida prática e por conseguinte a vida voltada para a política e a vida contemplativa voltada para o cultivo do intelecto7 entendidos nesse contexto como modos de vida excludentes8 Se em Eurípides esses dois modos de vida são tra tados como opostos um ao outro na imagem antagônica entre as duas personagens Platão oferece uma perspectiva diferente da questão como considera Cálicles a filosofia também é útil para a educação do homem político mas desde que praticada apenas durante a juventude 485ac pois caso contrário ela é a ruína dos homens διαφθορά τών άνθρώπων 484C78 6 Idem ibidem 7 E Dodds Plato Gorgias p 276 8 Essa visão proverbial do filósofo como um tipo de homem alheio ao mundo prático o que inclui o âmbito político aparece claramente expressa na célebre ane dota sobre Tales referida pelo próprio Platão no Teeteto 174a e reportada também por Diógenes Laércio 134 Dizem que Tales sendo levado para fora de casa por uma velha para con templar os astros caiu num buraco e que a velha estando ele a se queixar pergun toulhe o seguinte tu ó Tales não sendo capaz de ver as coisas a seus pés julgas poder conhecer as coisas celestes λέγεται δ αγόμενος υπό γραός έκ τής οικίας ϊνα τα άστρα κατανοήση εις βόθρον έμπεσεΐν και αύτφ άνοιμώξαντι φάναι την γραϋν σύ γάρ ώ Θαλή τά έν ποσιν ού δυνάμενος ίδειν τα έπι του ούρανοϋ οϊει γνώσεσθαι 88 GÓRGIAS DE PLATÃO Sócrates por sua vez critica duramente o homem democrático e a política democrática porém vislumbra o filósofo como o novo homem político e por conseguinte a possibilidade de uma nova política distinta daquela democrática 502e503b 504d 508c 5i7ac 519b 52ide 527c Ou seja assim como a vida política de Cálicles compreende certa formação filosófica pelo menos segundo a maneira como a personagem entende filosofia a vida intelectual de Sócrates compreende por sua vez a atividade política na medida em que apenas o filósofo se apresenta como 0 verdadeiro homem político Julgo que eu e mais alguns poucos atenienses para não dizer apenas eu sou o único contemporâneo a empreender a verdadeira arte política e a praticála οίμαι μετ ολίγων Αθηναίων ινα μή εϊπω μόνος έπιχειρείν τή άληθώς πολιτική τέχνη και πράττειν τά πολιτικά μόνος τών νυν 521CI68 Com essa imagem do filósofo como verdadeiro homem político Platão apresentaria assim uma nova solução distinta da de Eurípides na Antíope9 para o de bate sobre o melhor modo de vida a se viver a construção de Sócrates como novo herói do drama dialógico se faz portanto em contraste com o herói trágico quando Platão justapõe os pares de personagens da Antíope e do Górgias10 9 Nightingale considera que Eurípides diferentemente de Platão limitase a con trastar os dois modos de vida representados pelas personagens Zeto e Anfíon p 70 Platão por sua vez trataria a mesma questão de modo mais complexo mostrando como há de certa forma uma interseção entre eles expressa na imagem do filósofo como o verdadeiro homem político Todavia Nightingale parece desconsiderar um aspecto importante da intervenção do deus ex machina no final da peça segundo o próprio estudioso Hermes diz que a lira de Anfíon será a causa da construção das muralhas de Tebas Pois bem essa solução da Antíope não nos mostra que também na peça de Eurípides a vida intelectual e contemplativa de Anfíon acaba por se fundir com a vida prática da política Como sabemos do próprio Górgias a construção de muralhas é prerrogativa do homem político e é usada por Platão como exemplo de ação política 45 5e Nesse sentido a solução de Eurípides não estaria tão longe da de Platão se en tendêssemos que Hermes atribui à lira de Anfíon uma determinada função política representada aqui pela ideia da lira como causa da construção das muralhas 10 A Nightingale op cit p 72 Ao incorporar a Antíope de Eurípides como subtexto em seu próprio drama Platão está apto assim a estabelecer seu novo herói em oposição ao herói trágico Esse novo herói evidentemente é o filósofo E assim como Sócrates é justaposto ao herói da Antíope também a verdadeira filosofia é contrastada como o gênero da tragédia como um todo A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 89 Mas essa solução paródica não é o único meio pelo qual Pla tão se apropria da Antíope dando um novo sentido à peça den tro do diálogo Como ressalta Nightingale no Górgias há uma série de elementos temáticos e estruturais semelhantes aos da Antíope o agõn entre Zeto e Anfíon refletiria assim o embate entre Sócrates e Cálicles e o deus ex machina que determina o final da peça refletiria o mito escatológico do diálogo11 Nessa tragédia os dois irmãos se unem para salvar a mulher que se revelará a sua própria mãe mas antes de tal empreitada eles resolvem suas diferenças nesse agõn ao qual se refere Platão no Górgias a partir da referência de Horácio12 visto que a peça de Eurípides não se conservou senão fragmentariamente Anfíon perde o debate e é enfim persuadido por Zeto da prevalência da vida prática do irmão sobre a vida devotada à música Esse veredito porém é invertido no final da peça pela intervenção do deus ex machina Hermes que restitui a lira a Anfíon e pro clama que será ela a mover pedras e árvores para a construção da muralha de Tebas13 Portanto quando Cálicles se associa a Zeto em seu discurso ele chama em causa a vitória da personagem íi A Nightingale op cit p 73 12 Horácio Epístolas 1183945 Nem elogiarás os teus estudos nem censurarás os alheios tampouco quando ele quiser caçar comporás poemas Assim se desfez a concórdia entre os irmãos gêmeos Anfíon e Zeto até que sob o olhar severo do irmão a lira se calou Supõese que Anfíon cedera aos costumes do irmão cede também tu às afáveis ordens do poderoso amigo nec tua laudabis studia aut aliena reprendes nec cum uenari uolet ille poemata panges gratia sicfratrum geminorum Amphionis atque Zethi dissiluit donec suspecta seuero conticuit lyra fraternis cessisse putatur moribus Amphion tu cede potentis amici lenibus imperiis 13 A Nightingale op cit p 73 O deus ex machina então não apenas pro porciona uma resolução para a trama mas também resolve a questão levantada no agõn entre os dois irmãos embora Anfíon seja derrotado na discussão com seu ir mão ele é contudo reivindicado por Hermes no final da peça pois é sua música que irá construir as muralhas de Tebas 90 GÕRGIAS DE PLATÃO nesse embate verbal com o irmão e pretende com essa ana logia chegar ao mesmo fim na discussão com Sócrates e fazer com que ele enfim abandone a filosofia e se torne um homem político quando Sócrates por sua vez aceita o papel que lhe é atribuído e promete a Cálicles restituir o discurso de Anfíon em objeção ao de Zeto 506b ele pretende então superar a perso nagem trágica invertendo o resultado daquele agõn da Antíope o Mito Final nessa perspectiva cumpriria o papel que o deus ex machina desempenha na tragédia euripidiana Todavia se Sócrates diferentemente de Anfíon não é per suadido por Cálicles da prevalência da vida política da demo cracia sobre a vida voltada à filosofia ele próprio contudo não consegue persuadir Cálicles do contrário assim como Anfíon não persuade Zeto da superioridade de seu modo de vida Nessa análise intertextual a comparação entre Sócrates e Anfíon evi dencia então um elemento fundamental para a compreensão do caso Cálicles no Górgias a ineficácia persuasiva do discurso socrático Como já foi comentado nos capítulos anteriores o elenchos socrático mesmo quando o interlocutor cumpre os re quesitos requeridos pelas regras dialógicas não implica neces sariamente a persuasão do interlocutor problema evidenciado por Platão sobretudo no diálogo entre Sócrates e Cálicles o caso típico do interlocutor recalcitrante como evidenciam as inúmeras referências de Platão à sua resistência à estratégia ar gumentativa de Sócrates 493d 494a 5i3d 513c 516a 5i6cd 517a 518a 523a 527a Nesse sentido Nightingale ressalta a analogia entre as per sonagens Anfíon e Sócrates para interpretar assim a função do mito escatológico que encerra o Górgias Se há de fato uma semelhança estrutural entre a Antíope e o Górgias como su geriria ao leitor a incorporação da tragédia como subtexto no diálogo então o sentido do Mito Final poderia ser entendido à luz da função do deux ex machina no encerramento da peça14 14 Idem p 84 A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 91 assim como Anfíon é vingado por Hermes Sócrates uma vez que não consegue persuadir Cálicles será vingado pelos deu ses como ficará patente na narração do mito 526c15 Dada a ineficácia persuasiva de Sócrates no confronto com Cálicles situação essa que nos remete como veremos adiante ao seu fracasso no processo impetrado por Meleto Lícon e Anito que o condenou à morte a vitória de Sócrates sobre seu interlo cutor só se realiza de fato nessa perspectiva do mito quando há a substituição da justiça conduzida equivocadamente pelos homens pela justiça divina somente assim Sócrates será julgado de forma justa e a vida do filósofo se manifestará como o me lhor modo de vida somente assim Sócrates conseguirá enfim oferecer a Cálicles aquele discurso de Anfíon em objeção ao de Zeto τήν τοϋ Άμφίονος ρήσιν άντι τής τοϋ Ζήθου 5o6b56 mostrandolhe que será Cálicles que diante do tribunal di vino ficará turvado e boquiaberto χασμήση καί ιλιγγιάσεις 527a2 condenado a sofrer as punições mais extremas pelas injustiças cometidas em vida Como conclui Nightingale Embora Platão não vá tão longe a ponto de dar voz à divindade que irá reverter o falso veredito e pronunciar o verdadeiro a sua descrição mítica da troca dos falsos juízes pelos divinos que irão reivindicar o 15 Platão Górgias 5268405 Pois bem como eu dizia quando aquele Radamanto se apodera de um homem desse tipo não sabe nada a respeito dele nem quem ele é nem a sua progénie mas apenas que ele é vicioso Quando observa isso ele o envia para o Tártaro com um signo indicando se ele parece ser curável ou incurável e este por sua vez chegando ali sofre o que lhe cabe Às vezes quando ele vê uma alma que vivera piamente e conforme a verdade a alma de um homem comum ou de qualquer outro homem mas sobretudo é o que eu afirmo Cálicles a de um filósofo que fez o que lhe era apropriado e não se intrometeu em outros afazeres durante a vida ele a aprecia e a envia para a Ilha dos Venturosos δπερ οΰν ελεγον έπειδάν ό Ραδάμανθυς εκείνος τοιοϋτόν τινα λάβη άλλο μέν περί αύτοϋ ούκ οίδεν ούδέν οϋθ δστις οϋθ ώντινων δτι δέ πονηρός τις και τούτο κατιδών άπέπεμψεν εις Τάρταρον έπισημηνάμενος έάντε ιάσιμος έάντε ανίατος δοκή είναι ό δε έκεΐσε άφικόμενος τά προσήκοντα πάσχει ενίοτε δ άλλην είσιδών όσίως βεβιωκυιαν και μετ άληθείας άνδρός ιδιώτου ή άλλου τινός μάλιστα μεν εγωγέ φημι ώ Καλλίκλεις φιλοσόφου τά αύτοϋ πράξαντος και ού πολυπραγμονήσαντος έν τώ βίω ήγάσθη τε και ές μακάρων νήσους άπέπεμψε 92 GÓRGIAS DE PLATÃO filósofo aparentemente derrotado desempenha a mesma função dra mática que o deus ex machina na Antíope Se ele tem isso como escopo então é razoável concluir que Platão concebe o primeiro de seus mitos escatológicos como uma imitação consciente do desfecho de uma tra gédia grega p 87 III Pois bem creio que essa breve exposição do argumento de Ni ghtingale é suficiente para mostrar como elementos do gênero trágico presentes no Górgias sobretudo nesse caso em que há a incorporação da Antíope como subtexto no diálogo são extrema mente relevantes para a interpretação dos problemas apresen tados no drama filosófico Passarei a analisar agora um topos específico da tragédia o vaticínio Como já foi aludido ante riormente Cálicles em sua invectiva contra o filósofo e a filo sofia faz uma predição da morte de Sócrates de que ele seria condenado à morte no tribunal por um acusador extrema mente mísero e desprezível κατηγόρου τυχών πάνυ φαύλου και μοχθηρού 486023 uma vez que ele não havia se educado de modo suficiente porque se envolvera com a filosofia mais tempo que o devido Vejamos a passagem Aliás caro Sócrates e não te irrites comigo pois falarteei com benevolência não te parece vergonhoso esse comportamento que julgo eu tu possuis e todos os outros que se mantêm engajados na filo sofia por longo tempo Pois se hoje alguém te capturasse ou qualquer outro homem da tua estirpe e te encarcerasse sob a alegação de que cometeste injustiça ainda que não a tenhas cometido sabes que não terias o que fazer contigo mesmo mas ficarias turvado e boquiaberto sem ter o que dizer quando chegasses ao tribunal diante de um acusador extremamente mísero e desprezível tu morrerias caso ele quisesse te estipular a pena de morte 486a4b4 καίτοι ώ φίλε Σώκρατεςκαί μοι μηδέν άχθεσθής εύνοία γάρ έρώ τή σήούκ αισχρόν δοκεΐ σοι είναι ούτως εχειν ώς έγώ σέ οΐμαι εχειν και τούς άλλους τούς πόρρω άει φιλοσοφίας έλαύνοντας νΰν γάρ εϊ τις σοΰ A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 93 λαβόμενος ή άλλου ότουοϋν των τοιούτων εις τό δεσμωτήριον άπάγοι φάσκων άδικεΐν μηδέν άδικοΰντα οϊσθ δτι ούκ άν εχοις ότι χρήσαιο σαυτώ άλλ ίλιγγιώης άν και χασμψο ούκ έχων δτι εϊποις και εις τό δικαστήριον άναβάς κατηγόρου τυχών πάνυ φαύλου και μοχθηρού άποθάνοις άν εϊ βούλοιτο θανάτου σοι τιμάσθαι Se para ο público presente nessa cena do Górgias a predi ção de Cálicles pode ser entendida como uma simples ameaça verbal como seria próprio de uma invectiva para o leitor do diálogo entretanto a assertiva de Cálicles o remete diretamente à ideia do vaticínio pois Platão compôs toda a sua obra como é admitido consensualmente pela crítica após a morte de Só crates em 399 aC Platão por meio desse recurso confere en tão à cena um contorno trágico na medida em que o leitor do diálogo sabendo de antemão qual fora o destino de Sócrates é remetido diretamente a esse episódio prenunciado pela perso nagem Cálicles Para empregar uma analogia bastante genérica Platão com esse recurso provoca no leitor o mesmo tipo de pathos que um espectador do Édipo Rei experimentaria quando ouvisse a sorte de Édipo ser prenunciada por Tirésias no teatro Sócrates por sua vez na tentativa de refutar todas as acusações sofridas pelo adversário durante a discussão também profetiza a morte de Cálicles retribuindo na mesma moeda o vaticínio que havia recebido 5i8ei5i9b2 Mas qual seria o sentido de Platão recorrer a esse topos do gênero trágico além de provocar esse pathos no leitor do diá logo O que representaria o vaticínio de Cálicles do ponto de vista do drama dialógico Nessa interface com a tragédia Só crates seria apresentado por Platão como um herói trágico ou antitrágico Como tentarei mostrar adiante a tragicidade da personagem Sócrates no Górgias é relativa na medida em que diferentes personagens representam perspectivas diferentes a respeito de uma mesma questão sobretudo nesse confronto entre dois tipos de éthos antagônicos aos olhos de Cálicles e portanto do senso comum daquela sociedade democrática Só crates pode ser visto como uma personagem trágica tendo em 94 GÓRGIAS DE PLATÃO vista a forma ignóbil de sua morte profetizada no diálogo Na perspectiva do próprio Sócrates entretanto a partir dos argu mentos apresentados para justificar sua resignação perante o risco iminente de morte numa espécie de prefiguração da cena do tribunal representada na Apologia como veremos adiante ele se coloca inversamente como um herói antitrágico Como tentarei mostrar a despeito da situação aparentemente trágica que cerca o episódio da morte de Sócrates episódio evocado pelo vaticínio de Cálicles Platão ao contrastar a figura de Só crates com a de Anfíon nessa referência intertextual à Antíope busca definir a figura do filósofo como um herói antitrágico em oposição ao modelo do herói trágico que ele critica no Gór gias 50id502d e sobretudo na Repúblical6 Para isso usarei a Apologia como referência suplementar para a discussão sobre os argumentos presentes no Górgias que constroem essa imagem de Sócrates como herói antitrágico Analisemos mais detida mente ambas as perspectivas sobre a questão no diálogo Já no início da invectiva de Cálicles contra o filósofo e a fi losofia 4840448601 encontramos de modo surpreendente a acusação que será decisiva contra Sócrates no tribunal con forme conservada nos autos do processo transmitidos pela Apo logia de Platão e pelas Memoráveis de Xenofonte17 Segundo 16 A mesma tese defende Michael Erler com relação ao diálogo Fédon em seu texto La felicita delle Api Passione e virtü nel Fedone e nelle Reppublica apresen tado no Congresso Internacional Psychè in Platone realizado na cidade de Como Itália entre os dias 1 e 4 de fevereiro de 2006 e organizado pela International Plato Society Devo a ele portanto os argumentos principais que mostram a construção da imagem de Sócrates como herói antitrágico por Platão 17 i Xenofonte Memoráveis 111 Espanteime muitas vezes por quais argumentos os acusadores de Sócrates conseguiram persuadir os atenienses de que ele merecia a pena de morte por crime contra a cidade A acusação contra ele era mais ou menos esta Sócrates comete in justiça por não reconhecer os deuses que a cidade reconhece e por introduzir outras novas divindades Ele também comete injustiça por corromper a juventude Πολλάκις έθαύμασα τίσι ποτέ λόγοις Αθηναίους έπεισαν oi γραφόμενοι Σωκράτην ώς άξιος εϊη θανάτου τή πόλει ή μέν γάρ γραφή κατ αυτού τοιάδε τις ήν άδικε Σωκράτης οϋς μεν ή πόλις νομίζει θεούς ού νομίζων ετερα δέ καινά δαιμόνια είσφέρων άδικε δέ καί τούς νέους διαφθείρων ii Platão Apologia 24b6ci A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 95 Cálicles envolverse com a filosofia mais tempo que o devido pois filosofia é coisa de criança implica em última instân cia a ruína dos homens διαφθορά των άνθρώπων 484C78 A ocorrência do termo διαφθορά diaphthora remete direta mente à acusação formal do processo impetrado por Meleto Anito e Lícon contra Sócrates Mem 111 διαφθείρων Ap 24Ú9 διαφθείροντα Nesse discurso de Cálicles portanto há não apenas o vaticínio da sorte de Sócrates mas também uma referência en passant a uma das causas do processo que o con duzirá à morte remetendo diretamente o leitor ao episódio de sua condenação no tribunal A percepção de Cálicles do efeito moral perverso da filosofia representaria assim a percepção do público em geral acerca da influência perniciosa de Sócrates sobre a juventude seriam homens do mesmo tipo de Cálicles com valores e aspirações semelhantes com modos de vida si milares que representariam a maioria dos juízes que votaram pela condenação de Sócrates à morte Esse efeito corruptor da filosofia é salientado nesta passagem do discurso cal Se alguém mesmo de ótima natureza persistir na filo sofia além da conta tornarseá necessariamente inexperiente em tudo aquilo que deve ser experiente o homem que intenta ser belo bom e bem reputado 484c8d2 ΣΩ έάν γάρ και πάνυ εύφυής ή καί πόρρω τής ήλικίας φιλοσοφή ανάγκη πάντων άπειρον γεγονέναι έστιν ών χρή έμπειρον είναι τον μέλλοντα καλόν κάγαθόν και εύδόκιμον εσεσθαι άνδρα Nesse sentido a fala de Zeto ao irmão Anfíon na Antíope na tentativa de dissuadilo da vida voltada para a música serve convenientemente a Cálicles como argumento para ilustrar o seu juízo a respeito de Sócrates e da filosofia a arte apossandose Como se trata de outros acusadores tomemos novamente o juramento deles Eilo em linhas gerais afirmam que Sócrates comete injustiça por corromper a juventude e por não reconhecer os deuses que a cidade reconhece mas outras novas divindades αύθις γάρ δή ώσπερ ετέρων τούτων όντων κατηγόρων λάβωμεν αΰ την τούτων άντωμοσίαν έχει δέ πως ώδε Σωκράτη φησιν άδικεΐν τούς τε νέους διαφθείροντα και θεούς οϋς ή πόλις νομίζει ού νομίζοντα έτερα δέ δαιμόνια καινά 96 GÔRGIAS DE PLATÃO de um homem de ótima natureza tornao pior ήτις ευφυή λαβοϋσα τέχνη φώτα έθηκε χείρονα 48605 Cálicles enfatiza precisamente ο fato de uma ótima natureza εύφυής 48408 48504 48605 como seria a de Sócrates ser corrompida por uma atividade que o afasta da virtude virtude essa compreen dida nestes termos ca l Ademais tornamse inexperientes nas leis da cidade nos discursos que se deve empregar nas relações públicas e privadas nos prazeres e apetites humanos e em suma tornamse absolutamente inexperientes nos costumes dos homens Quando então se deparam com alguma ação privada ou política são cobertos pelo ridículo como julgo que sucede aos políticos quando se envolvem com vosso passatempo e vossas discussões são absolutamente risíveis 484d2e3 ΚΑΛ και γάρ τών νόμων άπειροι γίγνονται των κατά τήν πόλιν και τών λόγων οίς δει χρώμενον όμιλεΐν έν τοϊς συμβολαίοις τοίς άνθρώποις και ιδία και δημοσία και τών ήδονών τε και έπιθυμιών τών άνθρωπείων και συλλήβδην τών ηθών παντάπασιν άπειροι γίγνονται έπειδάν ούν ελθωσιν εις τινα ιδίαν ή πολιτικήν πράξιν καταγέλαστοι γίγνονται ώσπερ γε οίμαι οί πολιτικοί έπειδάν αύ εις τάς ύμετέρας διατριβάς ελθωσιν και τούς λόγους καταγέλαστοι είσιν A filosofia na perspectiva de Cálicles portanto corrompe as ótimas naturezas desviandoas da atividade política por meio da qual os homens se tornam virtuosos e bem reputa dos afastandoas da vida dos prazeres tornandoas estranhas aos costumes humanos como será elucidado posteriormente na discussão sobre o hedonismo o prazer equivale ao bem na concepção de Cálicles e portanto deve ser ele o fim precípuo de todas as ações humanas18 Por esse motivo Sócrates parece a Cálicles correr o extremo perigo de a qualquer momento e por qualquer acusador extremamente mísero e desprezível πάνυ φαύλου καί μοχθηρού 486023 ser conduzido ao tribunal ao cárcere e enfim à morte O vaticínio de Cálicles se fundamenta 18 Platão Górgias 468bi8 A TRAGÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO CÁLICLES 97 na percepção da debilidade de Sócrates da sua condição estra nha ao processo político democrático por constrição da pró pria filosofia que o afasta do centro da cidade e das ágoras onde segundo o poeta os homens se tornam distintos τά μέσα τής πόλεως και τάς άγοράς έν αίς έφη ό ποιητής τούς ανδρας άριπρεπεΐς γίγνεσθαι 485d5619 que ο impele a passar o resto da vida escondido a murmurar coisas pelos cantos junto a três ou quatro jovens τον λοιπόν βίον βιώναι μετά μειράκιων έν γωνία τριών ή τεττάρων ψιθυρίζοντα 485d7ei Ao contras tar ο âmbito público do discurso político ao âmbito particular quase que iniciático do discurso filosófico Cálicles alude profe ticamente à causa da ineficiência persuasiva de Sócrates quando diante do tribunal como se dará efetivamente no processo que o condenará à morte não apenas lhe faltarão os recursos retó ricos necessários para a persuasão dos juízes tendo em vista a sua inexperiência no âmbito político da democracia mas o seu próprio êthos se contraporá ao êthos ou êthè20 daqueles que jul garão o caso de modo a tornar praticamente inviável qualquer possibilidade de persuasão A referência profética ao fracasso de Sócrates no tribunal ilustra bem esse ponto c a l Pois o que me ocorre dizerte é semelhante ao que Zeto disse a seu irmão que Descuras Sócrates do que deves curar e a na tureza assim tão nobre de tua alma tu a reconfiguras em uma forma juvenil nos conselhos de justiça não acertarias o discurso nem anuirias ao verossímil e persuasivo tampouco proporias um conselho ardiloso no interesse de alguém 4856348633 ΚΑΛ κινδυνεύω ούν πεπονθέναι νυν όπερ ό Ζήθος προς τον Ά μφίονα ό Εύριπίδου ούπερ έμνήσθην και γάρ έμοί τοιαΰτ άττα επέρχεται προς σέ λέγειν οΐάπερ έκεινος προς τον αδελφόν ότι Αμελείς ώ Σώκρατες ών δει σε έπιμελεΐσθαι καί φύσιν ψυχής ώδε γενναίαν μειρακιώδει τινί διατρέπεις μορφώματι καί οΰτ αν δίκης 19 Segundo Ε Dodds ορ cit ρ 274 em Homero a Ágora é o local da As sembleia pública e não simplesmente do mercado e seria essa a referência de Cá licles ver Ilíada 9441 20 Sobre a pluralidade de éthé na democracia ver República viu 557Cd 98 GÓRGIAS DE PLATÃO βουλαίσι προσθεί αν όρθώς λόγον οΰτ είκός αν και πιθανόν αν λάβοις οΰθ ύπέρ άλλου νεανικόν βούλευμα βουλεύσαιο Nessa admoestação de Cálicles então Sócrates há de encon trar a morte no tribunal por um erro cometido por escolher uma vida voltada para a filosofia que acaba por corromper a sua própria natureza desviandoo da atividade política por meio da qual os homens tornamse virtuosos Esse erro άμαρτία será em última instância a causa de seu infortúnio δυστυχία e na perspectiva calicliana portanto Sócrates se configura como uma personagem trágica Seu caso poderia se enquadrar grosso modo na definição aristotélica da situação trágica por excelên cia como vemos nesta passagem da Poética O que resta portanto é a situação intermediária É desse tipo aquele que não se distingue pela virtude ou pela justiça que não cai em in fortúnio por causa do vício e da perversidade mas por causa de algum erro e que se inclui entre aqueles que gozam de grande reputação e são afortunados tal como Édipo Tiestes e homens excelsos oriundos de estirpes semelhantes 14533712 ó μεταξύ άρα τούτων λοιπός έστι δε τοιοΰτος ό μήτε άρετή διαφέρων και δικαιοσύνη μήτε διά κακίαν καί μοχθηρίαν μεταβάλλων εις τήν δυστυχίαν άλλα δι άμαρτίαν τινά τών έν μεγάλη δόξη οντων και εύτυχία οίον Οίδίπους και Θυέστης και oi έκ τών τοιούτων γενών επιφανείς άνδρες Ou seja Sócrates embora de ótima natureza εύφυής não é virtuoso segundo o que Cálicles entende por virtude άρετή uma vez que ele se mantém afastado da atividade política e en contra seu infortúnio δυστυχία pelo erro άμαρτία de ter esco lhido o modo de vida filosófico Seu infortúnio como profetiza Cálicles será encontrar a morte no tribunal sob a acusação de um mísero homem situação essa definida por Sócrates assim um vicioso matará um homem bom πονηρός γε ών άγαθόν όντα 52ib56 Mas a condição trágica de Sócrates não parece a Cálicles digna de piedade e terror δι έλέου και φόβου A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 99 1449027 como seria o efeito psicológico causado nos especta dores por uma situação trágica segundo a Poética de Aristóte les Como o vaticínio da morte de Sócrates aparece no contexto de uma invectiva que por sua própria natureza está mais pró xima ao registro cômico21 Sócrates parece a Cálicles digno de umas pancadas πληγών 485C2 d2 e não de piedade e ter ror Nesse sentido encontramse mesclados nesse discurso de Cálicles elementos trágicos e cômicos num contexto retórico do diálogo makrologia o que evidencia mais uma vez essa intergeneralidade do modo de escrita de Platão Essa fusão de elementos a princípio díspares talvez encontre respaldo no que a personagem Sócrates diz no final do Banquete afirmando que é próprio do mesmo homem saber compor tragédia e comédia e que aquele que é poeta trágico pela arte é também poeta cô mico του άνδρός είναι κωμωδίαν και τραγωδίαν έπίστασθαι ποιειν και τόν τέχνη τραγωδοποιόν όντα και κωμωδοποιόν είναι 223036 IV Mas como a personagem Sócrates se constrói como um herói antitrágico no Górgias em oposição à perspectiva de Cálicles e por conseguinte à do senso comum A diferença em relação ao herói trágico reside sobretudo na forma como Sócrates se com porta perante a morte vaticinada por Cálicles fundamentada na compreensão diferente da de seu interlocutor do que é o bem e o mal para o homem Sócrates já havia demonstrado a Polo que cometer injustiça é tanto pior quanto mais vergonhoso do que sofrêla e que o segundo maior mal para homem é cometer injustiça na medida em que o maior mal é cometêla mas não pa gar a justa pena 479cd Essas convicções morais que Sócrates 21 A Nightingale op cit p 183 Enquanto o exato grau de seriedade numa determinada passagem cômica será sempre motivo de disputa a presença da invectiva como uma característica regular e bastante distintiva desse gênero é indubitável 100 GÓRGIAS DE PLATÃO estipula como verdade moral ancorada no fato de jamais terem sido refutadas por qualquer interlocutor que pensasse o contrá rio 527bc redimensiona portanto o que é verdadeiramente o bem e o mal o infortúnio do homem não é a morte em si por mais ignominiosa que ela possa ser como seria a de Sócra tes segundo o vaticínio de Cálicles mas a vida vivida de forma injusta nesse sentido a preocupação precípua do homem se ele pretende ser feliz não é viver o quanto mais e buscar todos os meios possíveis para garantir uma vida longeva indepentemente da justiça essa seria uma das pseudoutilidades da retórica lisonjeadora e em específico da retórica judiciária cf 5 iid 513c mas viver o tempo que for de forma justa soc Pois o verdadeiro homem não deve se preocupar em vi ver o quanto tempo for nem se apegar à vida mas confiando essas coi sas ao deus e acreditando nas mulheres quando dizem que ninguém escaparia a seu destino ele deve se volver à seguinte investigação de que modo alguém que vive por certo tempo viveria da melhor maneira possível 5nd8e5 ΣΩ μή γάρ τούτο μέν τό ζην όποσονδή χρόνον τόν γε ώς άληθώς ανδρα έατέον έστίν και ού φιλοψυχητέον άλλά έπιτρέψαντα περί τούτων τώ θεψ και πιστεύσαντα ταΐς γυναιξιν ότι τήν ειμαρμένην ούδ αν είς έκφύγοι τό έπι τούτψ σκεπτέον τίν αν τρόπον τούτον ον μέλλοι χρόνον βιώναι ώς άριστα βιοίη Ο infortúnio δυστυχία portanto não seria de Sócrates por mais que a condição de sua morte pudesse parecer ignominiosa aos olhos da maioria aos olhos do público do teatro mas da quele que o acusa injustamente e o conduz ao tribunal visto que a injustiça é o mal da alma e não sofrer injustiça Sendo Sócrates condenado injustamente à morte quem será prejudi cado por essa ação injusta é quem a comete ou seja o acusador e não quem a sofre como Sócrates diz a Polo aquele que mata injustamente além de infeliz é digno de piedade έλεινόν γε ττρός 469012 e na perspectiva socrática a tragicidade recairia sobre quem comete a ação injusta e não sobre quem Faculdade de Educação da USP Biblioteca V A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 101 a sofre22 É essa inversão de valores operada por Sócrates que faz parecer paradoxais as conclusões a respeito da grandiosa utilidade da retórica ή μεγάλη χρεία τής ρητορικής 48oa2 apresentadas a Polo no final do 2 Ato não mais para justificar a injustiça e garantir assim a preservação da vida a qualquer preço mas para fazer valer a justiça sempre que alguma injustiça tenha sido cometida de modo a beneficiar assim aquele que paga a pena justa μδοόμδιό A resignação de Sócrates em face do vaticínio de Cálicles portanto fundamentase nessa convicção moral que é oposta à de seus interlocutores e por conseguinte à do senso comum daquela sociedade democrática não é a morte mas a injustiça o maior mal para o homem a qual deve ser evitada por todos os meios Vejamos a reação de Sócrates diante das ameaças proféticas de Cálicles soc Não me digas o que já disseste repetidas vezes que minha morte está nas mãos de quem quiser para que também eu por minha vez não responda que Um vicioso matará um homem bom nem que ele me furtará se eu tiver alguma propriedade para que eu por minha vez não responda que Mas se ele me furtar não saberá usar o que furtou mas assim como me roubou injustamente injustamente usará o que conquistou e se injustamente vergonhosamente e se vergonhosamente perversamente c a l Como tu me pareces Sócrates descrer na possibilidade de que tal sorte te acometa como se fosse longínqua a tua morada e não pudesses ser conduzido ao tribunal pela acusação talvez de um homem extremamente torpe e desprezível soc Eu seria portanto verdadeiramente estulto Cálicles se jul gasse que nesta cidade ninguém sofreria aquilo a que está suscetível Todavia estou seguro de que se eu tiver de apresentarme ao tribunal correndo um desses riscos mencionados por ti o meu acusador será um homem vicioso pois nenhuma pessoa útil acusaria um homem que não tenha cometido injustiça e não será absurdo se eu for condenado à morte Queres que eu te explique porque espero isso 52ib4d3 22 Platão Górgias 46gagbii 102 GÓRGIAS DE PLATÃO ςω Μή εϊπης õ πολλάκις εϊρηκας οτι άποκτενει με ό βουλόμενος ινα μή αύ και έγώ εϊπω οτι Πονηρός γε ών άγαθόν όντα μηδ οτι άφαιρήσεται έάν τι εχω ινα μή αύ έγώ εϊπω οτι Ά λ λ άφελόμενος ούχ έξει οτι χρήσεται αύτοϊς άλλ ώσπερ με άδίκως άφείλετο ούτως και λαβών άδίκως χρήσεται εί δέ άδίκως αίσχρώς εί δέ αίσχρώς κακώς καλ Ως μοι δοκεΐς ώ Σώκρατες πιστεύειν μηδ αν εν τούτων παθεϊν ώς οίκών έκποδών και ούκ αν είσαχθεις εις δικαστήριον ύπό πάνυ ϊσως μοχθηρού άνθρώπου και φαύλου ςω Ανόητος άρα είμί ώ Καλλίκλεις ώς άληθώς εί μή οίομαι έν τήδε τή πόλει όντινούν άν οτι τύχοι τούτο παθεϊν τόδε μέντοι εύ οϊδ οτι έάνπερ είσίω εις δικαστήριον περί τούτων τίνος κινδυνεύων ô σύ λέγεις πονηρός τίς μ εσται ό είσάγωνούδεις γάρ άν χρηστός μή άδικοΰντ άνθρωπον είσαγάγοικαι ούδέν γε άτοπον εί άποθάνοιμι βούλει σοι εϊπω δι δτι ταΰτα προσδοκώ Sócrates não refuta ο vaticínio de Cálicles pelo contrário ele aceita com resignação seu destino na pólis profetizado por aquelas palavras e dá razão às censuras volvidas pelo interlocutor tendo em vista o contraste entre o seu êthos e o éthos do homem democrático que por sua vez seria o perfil geral dos juízes em seu julgamento não seria absurdo άτοπον 52id3 o fato de ele eventualmente ser condenado à morte e sim uma consequência natural de sua condição idiossincrática naquela sociedade cuja constituição política se funda na injustiça e na ilegalidade como depreendemos de sua crítica à democracia ateniense no Górgias e na Apologia Na Apologia por exemplo Sócrates argumenta que sua vida só fora conduzida pela justiça da forma como foi con duzida devido ao fato de ele ter se mantido alheio ao processo político de Atenas seja durante o regime democrático seja du rante o oligárquico governo dos Trinta Tiranos em 404 aC se tivesse agido conforme o parecer da massa como no episódio do julgamento dos generais da batalha de Arginusas 406 aC ele teria certamente incorrido em ações injustas 32bc de modo que louvando a justiça acima de tudo tornouse necessária a sua abstenção do processo político ateniense 33ε Além do vaticínio da morte de Sócrates há no Górgias tam bém a prefiguração da cena do tribunal em que Sócrates antecipa A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 103 alguns dos argumentos que mais tarde usaria em sua defesa real tal como Platão a constrói na Apologia23 Nessa cena fic tícia do Górgias 5210352264 Sócrates passa a discursar como se estivesse diante do tribunal como se aquele público ali pre sente compusesse o corpo dos juízes como indica por exem plo a ocorrência da expressão formular ó juízes ώ ανδρες δικασταί 522C2 com Cálicles na função do acusador formal desempenhada por Meleto na Apologia Será o próprio Sócrates contudo a se referir profeticamente a uma das causas de seu processo à acusação de corrupção da juventude aludida pelas ocorrências do verbo diaphtheirein corromper nessa cena fic tícia διαφθείρει 52ie8 διαφθείρειν 522b7 Na sequência do diálogo Sócrates explica a Cálicles e à audiência as razões de sua resignação perante o risco iminente de morte decorrente do tipo de vida voltada para a filosofia cal Então parecete correto Sócrates um homem sujeito a essa condição na cidade e incapaz de socorrer a si mesmo soc Contanto que ele disponha daquela única coisa Cálicles com a qual inúmeras vezes concordaste que ele tenha socorrido a si mesmo sem ter incorrido em ações ou discursos injustos referentes a homens ou deuses Pois havíamos concordado repetidamente que essa forma de socorrer a si mesmo é superior a todas as outras Assim se alguém me refutasse provando que sou incapaz de prover esse socorro a mim mesmo ou a outra pessoa seja diante de muitas ou poucas pessoas seja sozinho por uma só seria eu tomado pela vergonha e se em razão dessa incapacidade eu encontrasse a morte haveria de me enfurecer Todavia se eu perdesse a vida por carência de uma retórica lisonjeadora estou seguro de que me verias suportar facilmente a morte Pois ninguém que não seja absolutamente irracional e covarde teme a morte em si teme porém ser injusto pois o cúmulo de todos os males é a alma chegar ao Hades plena de inúmeros atos injustos 5220464 ΚΑΛ Δοκεί οΰν σοι ώ Σώκρατες καλώς εχειν άνθρωπος έν πόλει οΰτως διακείμενος και άδύνατος ών έαυτώ βοηθεΐν 23 Digo aqui antecipar levando em consideração a temporalidade da per sonagem e não da relação cronológica entre o Górgias e a Apologia Nesse sentido essa parte do Górgias é uma antecipação do episódio da Apologia 104 GÓRGIAS DE PLATÃO ςω Εί έκεινό γε εν αύτψ ύπαρχοι ώ Καλλίκλεις ô σύ πολλάκις ώμολόγησας εΐ βεβοηθηκώς εϊη αύτψ μήτε περι ανθρώπους μήτε περί θεούς άδικον μηδέν μήτε είρηκώς μήτε είργασμένος αΰτη γάρ τής βοήθειας έαυτώ πολλάκις ήμΐν ώμολόγηται κρατίστη είναι εί μέν ούν εμέ τις έξελέγχοι ταύτην τήν βοήθειαν άδύνατον όντα έμαυτώ και άλλω βοηθειν αίσχυνοίμην άν καί έν πολλοις καί έν όλίγοις εξελεγχόμενος καί μόνος ύπό μόνου καί εί διά ταύτην τήν αδυναμίαν άποθνήσκοιμι άγανακτοίην άν εί δε κολακικής ρητορικής ένδεια τελευτώην έγωγε εύ οίδα ότι ραδίως ϊδοις άν με φέροντα τον θάνατον αυτό μέν γάρ τό άποθνήσκειν ούδείς φοβείται δστις μή παντάπασιν άλόγιστός τε καί άνανδρος έστιν τό δε άδικεΐν φοβείται πολλών γάρ άδικημάτων γέμοντα τήν ψυχήν εις Αιδου άφικέσθαι πάντων έσχατον κακών έστιν A coragem de Sócrates é justificada aqui como já foi subli nhado anteriormente pela compreensão de que o maior mal da alma é a injustiça e não a morte em si Esse conhecimento é a causa de sua resignação perante o risco de morte de seu comportamento sereno e moderado devido ao controle de suas paixões que a personagem mostrará ter seja no tribunal como vemos na Apologia seja na véspera de sua morte como é re tratado no Fédon Na Apologia entretanto embora Sócrates construa a mesma imagem de homem corajoso que encon tramos no Górgias comparandose a Aquiles quando diante da presciência de sua morte 28bd o argumento que justifica seu comportamento corajoso é decorrente de sua sabedoria a qual ele nomeia sabedoria humana ανθρώπινη σοφία iod8 ou seja o conhecimento da própria ignorância Na verdade temer a morte ó homens não é outra coisa senão pa recer ser sábio sem sêlo pois é parecer saber o que não sabe Ninguém conhece a morte ninguém sabe se ela acaso seja o supremo bem para o homem mas as pessoas tememna como se soubessem que ela é o supremo mal Ademais como não seria essa a ignorância mais deplo rável a de presumir saber o que não se sabe Mas eu ó homens talvez me difira da maioria dos homens precisamente nisto se eu afirmasse ser mais sábio que alguém em alguma coisa seria justamente porque não tendo conhecimento suficiente do que concerne ao Hades presumo não sabêlo mas que cometer injustiça e desobedecer ao superior seja ele A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 105 deus ou homem é mau e vergonhoso disso eu sei Assim ao contrário dos males que sei que são males jamais hei de temer e evitar aquilo que não sei se pode vir a ser até mesmo um bem 2934139 το γάρ τοι θάνατον δεδιέναι ώ άνδρες ούδέν άλλο έστιν ή δοκεΐν σοφόν είναι μή όντα δοκεΐν γάρ είδέναι έστιν α ούκ οΐδεν οίδε μέν γάρ ούδείς τον θάνατον ούδ εί τυγχάνει τω άνθρώπω πάντων μέγιστον όν των άγαθών δεδίασι δ ώς εύ είδότες ότι μέγιστον των κακών έστι καίτοι πώς ούκ άμαθία έστιν αΰτη ή έπονείδιστος ή τού οϊεσθαι είδέναι α ούκ οΐδεν έγώ δ ώ άνδρες τούτω καί ένταϋθα Ίσως διαφέρω τών πολλών άνθρώπων καί εί δή τω σοφώτερός του φαίην είναι τούτω άν οτι ούκ είδώς ίκανώς περί τών έν Αιδου οΰτω και οϊομαι ούκ είδέναι τό δέ άδικεΐν καί άπειθείν τώ βελτίονι καί θεώ καί άνθρώπω οτι κακόν καί αισχρόν έστιν οιδα προ οΰν τών κακών ών οΐδα οτι κακά έστιν ά μή οϊδα εί καί άγαθά όντα τυγχάνει ούδέποτε φοβήσομαι ούδέ φεύξομαι Embora sejam argumentos diferentes em contextos diferen tes24 ambos apontam para a construção do mesmo traço do cará ter de Sócrates a coragem ανδρεία uma das virtudes cardinais da filosofia moral platônica atribuída à personagem apresentada por Platão como modelo de conduta moral Na Apologia assim como no Górgias25 além de sábio pio temperante e justo o fi lósofo também é definido como corajoso verdadeiramente co rajoso pois ele sabe aquilo que deve e não deve ser temido Essa seria uma das consequências positivas daquele conhecimento negativo a que Sócrates chama em causa na Apologia pois não se deve temer aquilo que não conhecemos e de que não sabemos se suas consequências podem vir a ser boas ou más os homens comuns temem a morte por ignorância por não possuírem essa sabedoria humana ανθρώπινη σοφία 2od8 que Sócrates pos sui por não saberem o que deve ou não ser temido No Górgias por outro lado Sócrates baseia seu argumento na prioridade da injustiça em relação à morte a preocupação precípua do homem é viver de forma justa se ele pretende ser feliz e por isso ele deve temer a injustiça o maior mal da alma e não a morte o homem 24 S Slings Platos Apology of Socrates p 129130 25 Platão Górgias 507c 106 GÓRGIAS DE PLATÃO deve viver por quanto tempo estiver vivo da forma mais justa possível para ser feliz v Mas o que torna ainda mais surpreendente essa prefiguração do processo contra Sócrates no Górgias é que ele além de concordar com o vaticínio de seu adversário apresenta também as causas de seu próprio fracasso como orador justificando antecipadamente a ineficácia persuasiva de seu discurso como virá a acontecer efe tivamente no tribunal 521652203 A sua condição estranha ao âmbito dessa instituição democrática é retratada por meio de uma analogia com o médico retomando aquela distinção entre as verdadeiras artes tekhnai e as pseudoartes definidas por ele como espécies de lisonja kolakeia como havia sido apresen tado a Polo em sua epideixis 4640246633 serei julgado como se fosse um médico a ser julgado em meio a crianças sob a acu sação de um cozinheiro κρινοϋμαι γάρ ώς έν παιδίοις Ιατρός αν κρίνοιτο κατηγοροϋντος όψοποιοϋ 52ie34 Essa analogia é muito profícua exploremola um pouco mais Sócrates na figura do médico representaria aqui o detentor da verdadeira retórica τη άληθινή ρητορική 51735 da retórica praticada com tekhnê em função da promoção do supremo bem da audiência τό βέλτιστον 52id9 e não de seu simples com prazimento o acusador na figura do cozinheiro representaria por sua vez o praticante da retórica lisonjeadora τη κολακική 51736 cuja persuasão é obtida não por arte mas por simples ex periência e rotina έμπειρία και τριβή 46304 por salvaguardar os meios eficazes de comprazer a audiência e assim persuadila26 as crianças representariam enfim os juízes do tribunal aqueles que têm o mérito de julgar a culpabilidade ou não de Sócrates ou 26 Assim como a justiça para a alma é a contraparte da medicina para corpo αντίστροφον δε τή ιατρική τήν δικαιοσύνην 4ô4b8 a retórica é a contraparte da culi nária o âmbito da arte tekhnê e o âmbito da lisonja kolakeia respectivamente A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 107 seja pessoas absolutamente ignorantes do que é o bem e o mal o justo e o injusto o belo e o vergonhoso que tomam o prazer pelo bem como critério para seu juízo A verdadeira retórica de Sócrates nesse sentido não possuiria qualquer efeito persuasivo porque está voltada para um público absolutamente estranho a ela um público habituado a ser lisonjeado deleitado e comprazido em toda e qualquer circunstância por uma outra forma de retó rica ou melhor por uma pseudorretórica praticada por homens igualmente ignorantes do que é o bem e o mal tomandoos inver samente pelo prazer e pela dor Essa mesma imagem do embate verbal entre o médico e o cozinheiro já havia sido construída por Sócrates naquela epideixis referida acima 4640246633 soc Portanto na medicina se infiltrou a culinária simulando conhecer qual a suprema dieta para o corpo de modo que se o cozi nheiro e o médico em meio a crianças ou a homens igualmente igno rantes como crianças competissem para saber qual deles o médico ou o cozinheiro conhece a respeito das dietas salutares e nocivas o médico sucumbiria de fome 4640302 ύπό μέν ούν τήν ιατρικήν ή όψοποιική ύποδέδυκεν και προσποιείται τα βέλτιστα σιτία τώ σώματι είδέναι ώστ εί δέοι έν παισι διαγωνίζεσθαι όψοποιόν τε και ιατρόν ή έν άνδράσιν οΰτως άνοήτοις ώσπερ οί παΐδες πότερος έπαΐει περι των χρηστών σιτίων και πονηρών ό Ιατρός ή ό όψοποιός λιμώ αν άποθανεΐν τον ιατρόν Na perspectiva de Sócrates portanto o problema do prazer e da dor sobretudo na perspectiva do hedonismo sustentado por Cálicles cf 49164920 494c é central para compreendermos os motivos de seu fracasso como orador quando diante do tribunal Há uma incompatibilidade entre a retórica socrática e o público ao qual ela se destina o verdadeiro rétor sempre fala em vista do supremo bem το βέλτιστον a despeito de seu discurso ser aprazível ou não àquela determinada audiência mas essa audiência assim como as crianças equivale equivocadamente o bem ao prazer e o mal à dor de modo a estar muito mais sus cetível e muito mais habituada aos procedimentos lisonjeadores 108 GÚRGIAS DE PLATÃO daquela pseudorretórica que Sócrates tanto renega Ele não per suade precisamente porque o critério do juízo da audiência é o prazer e não o bem Isso fica evidente na cena fictícia do agõn entre o cozinheiro e o médico no tribunal soc Examina então que defesa poderia fazer um homem como esse surpreendido por tal circunstância se alguém o acusasse dizendo que Crianças este homem aqui presente cometeu inúmeros males contra vós próprios e corrompe vossos entes mais jovens lace randoos e cauterizandoos e vos deixa embaraçados emagrecendovos e sufocandovos ele vos oferta as mais acerbas poções e vos constrange à fome e à sede diferente de mim que vos empanturrava de toda sorte de coisa aprazível O que achas que o médico surpreendido por esse mal poderia falar Se ele dissesse a verdade que Eu fazia tudo isso crianças saudavelmente que tamanho alarido segundo a tua opinião fariam juízes como esses Não seria enorme c a l Talvez devemos supor que sim 52ie5522a8 ςω σκόπει γάρ τι αν άπολογοίτο ό τοιοϋτος άνθρωπος έν τούτοις ληφθείς εί αύτοϋ κατήγοροί τις λέγων ότι ΤΩ παίδες πολλά υμάς και κακά όδε εϊργασται άνήρ και αύτούς και τούς νεωτάτους υμών διαφθείρει τέμνων τε και κάων και ίσχναίνων και πνίγων άπορεΐν ποιεί πικρότατα πώματα διδούς και πεινήν και διψήν άναγκάζων ούχ ώσπερ έγώ πολλά και ήδεα και παντοδαπά ηύώχουν ύμάς τί άν οίει έν τούτψ τώ κακώ άποληφθέντα ιατρόν εχειν είπεΐν ή εί εϊποι τήν άλήθειαν ότι Ταΰτα πάντα έγώ έποίουν ώ παίδες ύγιεινώς πόσον τι οίει άν άναβοήσαι τούς τοιούτους δικαστάς ού μέγα KAL Ισως οϊεσθαί γε χρή Essa reação dos juízes conjeturada por Sócrates refletiria en tão como seu discurso afligiria o público ao invés de lisonjeálo como o prazer é o critério do juízo desse mesmo público de modo que quanto mais aprazível mais presuasivo será o dis curso é natural que o discurso socrático não tenha qualquer efi cácia persuasiva nesse contexto específico O problema portanto não seria propriamente a retórica socrática mas a sua relação conflituosa com o público ao qual ela se volta público esse mol dado pelos valores morais consagrados pela sociedade democrá tica de seu tempo opostos àqueles estipulados por Sócrates como A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CALICLES 109 verdade moral como vemos por exemplo no debate com Polo posteriormente retomado com Cálicles sobre cometer e sofrer injustiça Essa incongruência entre a finalidade do discurso socrático o bem e as expectativas da audiência do tribunal o prazer já figurada na analogia de Sócrates com o médico apa rece explicitamente na sequência do diálogo soc Não julgas então que ele o médico ficaria totalmente em baraçado sobre o que deve dizer c a l Absolutamente soc Sim estou seguro de que também eu experimentaria uma paixão semelhante se fosse conduzido ao tribunal Pois não poderei enumerarlhes os prazeres de que os provi prazeres que eles conside ram benfeitoria e benefício e tampouco hei de invejar quem lhes provê e quem por eles é provido Se alguém afirmar que eu corrompo os mais jovens por deixálos em embaraço ou que deprecio os mais velhos por proferirlhes discursos acerbos quer em privado quer em público não poderei dizer nem a verdade ou seja que Tudo o que eu digo é de forma justa ó juízes e ajo em vosso interesse nem qualquer outra coisa Consequentemente eu sofrerei o que a ocasião requerer 5223903 ςω Ούκούν οϊει èv πάση απορία αν αύτόν εχεσθαι οτι χρή είπεΐν καλ Πάνυ γε ςω Τοιοΰτον μέντοι και έγώ οιδα οτι πάθος πάθοιμι αν είσελθών εις δικαστήριον οΰτε γάρ ήδονάς ας έκπεπόρικα έξω αύτοίς λέγειν ας ούτοι εύεργεσίας και ώφελίας νομίζουσιν έγώ δέ οΰτε τούς πορίζοντας ζηλώ οΰτε οϊς πορίζεται έάν τέ τίς με ή νεωτέρους φη διαφθείρειν άπορεΐν ποιοΰντα ή τούς πρεσβυτέρους κακηγορείν λέγοντα πικρούς λόγους ή ίδια ή δημοσία οΰτε τό άληθές εξω είπεΐν οτι Δικαίως πάντα ταΰτα έγώ λέγω και πράττω τό ύμέτερον δή τούτο ώ άνδρες δικασταί οΰτε άλλο ούδέν ώστε ίσως οτι άν τύχω τούτο πείσομαι A sua resignação perante a morte vaticinada por Cálicles calcada em tais argumentos faz de Sócrates portanto uma per sonagem antitrágica no Górgias27 como Sócrates sublinha ele se 27 Acredito que essa interpretação também compreenda a representação da personagem Sócrates na Apologia no Críton e no Fédon mas vou me limitar aqui ao caso do Górgias para simplificar meu argumento Sobre a representação de Sócrates como personagem antitrágica no Fédon ver M Erler La felicita delle Api 110 GÕRGIAS DE PLATÃO enfureceria άγανακτοίην άν 522CI7 somente se alguém o refu tasse demonstrando que ele é incapaz de socorrer a si mesmo ou a outrem do maior perigo que há para o homem ou seja a injus tiça e então morresse em virtude dessa incapacidade mas se sua morte se devesse ao fato de ele não ter recorrido a procedimentos lisonjeadores para persuadir a qualquer preço a audiência de sua inculpabiblidade como seria efetivamente o seu caso então ele haveria de suportar facilmente a morte ραδίως φέροντα τον θάνατον 522d8ei Pois o mal da alma como assevera Sócrates no Górgias não é a morte mas a injustiça se alguém conseguisse lhe provar que sua vida foi vivida de forma injusta então Sócra tes teria motivos para se enfurecer άγανακτοίην αν S2idy e censurar a si próprio pois esse seria o verdadeiro infortúnio do homem δυστυχία nessas condições essa suposta reação des temperada de Sócrates teria sido própria de um herói trágico A ocorrência do verbo άγανακτέω nessa passagem do Gór gias não é fortuita ela aponta para a discussão sobre o caráter irascível τό άγανακτητικόν ήθος do herói trágico referido no Livro x da República Vejamos o trecho Por conseguinte o caráter irascível é o que admite a múltipla e va riada imitação enquanto o caráter sensato e calmo por ser ele próprio sempre semelhante a si mesmo nem é fácil de ser imitado nem acessível à compreensão quando imitado especialmente nos festivais e para toda sorte de homens que se reúnem no teatro pois é a imitação de uma ex periência estranha que lhes é apresentada Absolutamente É evidente então que o poeta imitador não está naturalmente vol tado para essa parte da alma e sua sabedoria caso pretenda ter boa reputação entre a maioria foi constituída para lhe agradar pelo con trário ele está voltado para o caráter irascível e variável por ser fácil de imitar Evidentemente óoqeióosaz Ούκοΰν τό μέν πολλήν μίμησιν και ποικίλην εχει τό άγανακτητικόν τό δέ φρόνιμόν τε και ήσύχιον ήθος παραπλήσιον ον άει αύτό αύτώ ούτε ρόδιον μιμήσασθαι οΰτε μιμούμενου εύπετές καταμαθεΐν άλλως τε A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 111 και πανηγύρει και παντοδαποΐς άνθρώποις εις θέατρα συλλεγομένοις άλλοτρίου γάρ που πάθους ή μίμησις αύτοϊς γίγνεται Παντάπασι μεν ούν Ό δή μιμητικός ποιητής δήλον δτι ού προς τό τοιοϋτον τής ψυχής πέφυκέ τε καί ή σοφία αύτοϋ τούτω άρέσκειν πέπηγεν εί μέλλει εύδοκιμήσειν έν τοις πολλοΐς άλλα προς τό άγανακτητικόν τε και ποικίλον ήθος διά τό εύμίμητον είναι Δήλον A referência explícita aos festivais e ao teatro mostra que o enfoque de Platão na crítica aos efeitos psicológicos da poesia mimética no Livro x é particularmente a tragédia e a comédia como ficará claro em 6o5c6o6d28 Essa oposição entre o ca ráter irascível e variável τό άγανακτητικόν τε και ποικίλον ήθος 60535 e ο caráter sensato e calmo τό φρόνιμόν τε και ήσυχίον ήθος όομει marca justamente esse contraste entre o êthos do filósofo e o éthos do herói trágico Sócrates con sequentemente não poderia ser modelo de imitação para os tragediógrafos pois compreendendo as razões de a morte não ser o verdadeiro mal para o homem e sabendo como rea gir convenientemente diante dos infortúnios ele controla suas paixões e não tem reações desmedidas como mostram ter as personagens da tragédia em situações semelhantes Se o efeito psicológico da experiência trágica é suscitar na audiência pie dade e terror como define Aristóteles na Poética δι έλέου και φόβου i449b27 não será certamente por meio de uma personagem que reaja com resignação perante o infortúnio que ele obterá esse efeito como Sócrates é representado no Górgias na Apologia no Críton e sobretudo no Fédon Sócrates ao con trário configurase como uma personagem antitrágica pois ele 28 A crítica de Platão ao teatro no Livro x da República se estende evidente mente a Homero considerado pela personagem Sócrates o primeiro mestre e guia de todos esses belos poetas trágicos των καλών απάντων τούτων τών τραγικών πρώτος διδάσκαλος τε και ήγεμών γενέσθαι 595C12 Todavia é preciso destacar que a análise dos efeitos psicológicos da experiência poética no Livro x 6o2c6o8c é centrada sobretudo na tragédia e na comédia tendo em vista essas alusões ao teatro e aos festivais 112 GÔRGIAS DE PLATÃO possui o caráter sensato e calmo το φρόνιμόν τε και ήσυχίον ήθος 6o4e2 Ο fato de no teatro os atores se entregarem às lamentações arrastados pelo sentimento de dor que obscurece as determinações da razão induz os próprios espectadores a adotarem conduta semelhante em situações particulares con duta essa moralmente censurável segundo a psicologia moral platônica A lei diz ser o mais correto sobretudo se comportar com sereni dade nas adversidades e não se irar pois nem é evidente se são bons ou maus tais infortúnios nem se há progresso futuramente para quem os suporta com dificuldade nem se é algo dentre as coisas humanas digno de grande importância o que é preciso nessas circunstâncias que nos sobrevenha o mais rapidamente a dor lhe impõe obstáculos A que te referes perguntou À deliberação respondi acerca do que nos ocorreu assim como no jogo de dados é necessário endireitar nossas posições conforme o lance através do que a razão retenha como melhor ao invés de gastar o tempo a gritar tal como as crianças machucadas se comportam com a ferida é necessário ao contrário sempre habituar a alma a curar e cor rigir o mais rapidamente o que caiu e adoeceu suprimindo a lamúria pela medicina 6o4b9d2 Λέγει που ό νόμος δτι κάλλιστον δτι μάλιστα ήσυχίαν άγειν έν ταΐς συμφοραϊς και μή άγανακτειν ώς οΰτε δήλου δντος του άγαθοϋ τε και κακού τών τοιούτων οΰτε εις τό πρόσθεν ούδέν προβαΐνον τώ χαλεπώς φέροντι οΰτε τι τών άνθρωπίνων άξιον ον μεγάλης σπουδής δ τε δει έν αύτοίς δτι τάχιστα παραγίγνεσθαι ήμΐν τούτω έμποδών γιγνόμενον τό λυπείσθαι Τίνι ή δ δς λέγεις Τώ βουλεύεσθαι ήν δ έγώ περι τό γεγονός και ώσπερ έν πτώσει κύβων προς τά πεπτωκότα τίθεσθαι τά αύτοΰ πράγματα δπη ό λόγος αίρει βέλτιστ αν εχειν άλλα μή προσπταίσαντας καθάπερ παίδας έχομένους τού πληγέντος έν τώ βοάν διατρίβειν άλλ άεί έθίζειν τήν ψυχήν δτι τάχιστα γίγνεσθαι προς τό ίάσθαί τε και έπανορθοΰν τό πεσόν τε καί νοσήσαν ιατρική θρηνωδίαν άφανίζοντα A TRAGÉDIA NO D I Á L O G O O CASO CÁLICLES 113 VI A imagem de Sócrates como personagem antitrágica como per sonificação do controle da razão sobre as afecções do corpo como vemos no Górgias e implicitamente no Livro x da Re pública é recorrente também na Apologia Na peroração de seu primeiro discurso 34b635d8 Sócrates numa reflexão metar retórica recusa os artifícios geralmente usados pelos oradores que apelam à piedade da audiência para assim persuadila Analisemos as duas passagens i Que assim seja ó homens A defesa que eu teria de fazer é mais ou menos essa ou talvez outra semelhante Algum de vós talvez possa se enfurecer ao relembrar de si próprio quando enfrentando uma contenda menor do que esta aqui volveuse em implorações e súplicas aos juízes em meio a choradeiras apresentando os seus próprios filhos além de inúme ros outros parentes e amigos para incitarlhes ao máximo a piedade eu ao contrário mesmo correndo presumo eu o risco mais extremo não recorrerei a nenhum procedimento desse tipo 340607 Είεν δή ώ άνδρες α μέν έγώ έχοιμ αν άπολογείσθαι σχεδόν έστι ταϋτα και άλλα ίσως τοιαΰτα τάχα δ αν τις υμών άγανακτήσειεν άναμνησθεις εαυτού εί ό μεν και έλάττω τουτουΐ τού άγώνος άγώνα άγωνιζόμενος έδεήθη τε και ίκέτευσε τούς δικαστάς μετά πολλών δακρύων παιδία τε αυτού άναβιβασάμενος ϊνα δτι μάλιστα έλεηθείη και άλλους τών οικείων και φίλων πολλούς έγώ δε ούδεν άρα τούτων ποιήσω και ταύτα κινδυνεύων ώς άν δόξαιμι τον έσχατον κίνδυνον ii Por que não recorrerei então a qualquer procedimento do tipo Não por arrogância ó atenienses tampouco para desonrarvos se eu enfrento a morte com bravura ou não isso é matéria para outro dis curso Mas é em vista da minha reputação da vossa e de toda a cidade que pareceme vergonhoso que eu recorra a tais procedimentos com a idade que tenho e com esse renome que adquiri seja ele verdadeiro ou falso mas é parecer corrente que Sócrates se distingue em alguma coisa da maioria dos homens Se aqueles dentre vós que parecem se distinguir ou pela sabedoria ou pela coragem ou por qualquer outra virtude forem homens daquele tipo será então vergonhoso eu muitas vezes observei que alguns deles no momento do julgamento parecem 114 GÓRGIAS DE PLATÃO ser alguma coisa mas acabam por realizar feitos espantosos porque pre sumem uma sorte terrível se morrerem como se eles fossem imortais e vós não pudésseis condenálos à morte Esses homens parecemme cobrir a cidade de vergonha de modo que qualquer estrangeiro poderia supor que os atenienses que se distinguem pela virtude eleitos pelos próprios atenienses para o comando e para cargos honoríficos em nada se distinguem das mulheres 34CI83 5b3 τι δή οΰν ούδέν τούτων ποιήσω ούκ αύθαδιζόμενος ώ άνδρες Αθηναίοι ούδ υμάς άτιμάζων άλλ εί μεν θαρραλέως έγώ έχω προς θάνατον ή μή άλλος λόγος προς δ οΰν δόξαν και έμοι και ύμΐν και δλη τή πόλει οΰ μοι δοκεΐ καλόν είναι έμέ τούτων ούδέν ποιεΐν και τηλικόνδε δντα και τούτο τοΰνομα έχοντα εϊτ οΰν αληθές εϊτ οΰν ψεύδος άλλ οΰν δεδογμένον γέ έστί τω Σωκράτη διαφέρειν τών πολλών άνθρώπων εί οΰν υμών οί δοκούντες διαφέρειν είτε σοφία είτε άνδρεία είτε άλλη ήτινιούν άρετή τοιοΰτοι έσονται αισχρόν άν εϊη οϊουσπερ έγώ πολλάκις έώρακά τινας όταν κρίνωνται δοκοΰντας μέν τι είναι θαυμάσια δέ εργαζομένους ώς δεινόν τι οίομένους πείσεσθαι εί άποθανοΰνται ώσπερ άθανάτων έσομένων άν ύμείς αύτούς μή άποκτείνητε οϊ έμοί δοκοϋσιν αισχύνην τή πόλει περιάπτειν ώστ άν τινα και τών ξένων ύπολαβεΐν δτι οί διαφέροντες Αθηναίων εις άρετήν οΰς αύτοι εαυτών εν τε ταΐς άρχαΐς και ταίς άλλαις τιμαΐς προκρίνουσιν οΰτοι γυναικών ούδέν διαφέρουσιν Como observa Slings em seu comentário à obra a incur são de Platão no gênero judiciário é marcada por uma série de inversões eou subversões de seus topoP9 como vemos nessa peroração da Apologia Platão faz Sócrates prescindir de três dos quatro elementos que constituiriam em conjunto ou em separado o epílogos de um discurso forense segundo a Retórica de Aristóteles30 i a captatio beneuolentiae procedimento já re cusado no proêmio seu lugar por excelência ii a amplificação e a depreciação e iv a recapitulação31 O único elemento que interessa a Platão nessa reflexão metarretórica é precisamente iii a disposição da audiência em determinado estado de ânimo 29 S Slings op cit p 180 30 Ver Aristóteles Retórica 111141901014 31 S Slings op cit p 181 A TRAGÉDIA NO D IÁ L O G O O CASO CÁLICLES 115 todavia ao invés do apelo de Sócrates às paixões e em especí fico à piedade da audiência έλεηθείη 34C4 encontramos uma reflexão crítica sobre o comportamento dos oradores que recorrem a esse tipo de apelo passional referido pelos verbos έδεήθη implorou e ίκέτευσε suplicou e pelo advérbio μετά πολλών δρακύων em meio a choradeiras 34C23 O contraste entre o comportamento de Sócrates e o daqueles que parecem se distinguir ou pela sabedoria ou pela coragem ou por qual quer outra virtude οι δοκοΰντες διαφέρειν είτε σοφία είτε άνδρεία ειτε άλλη ήτινιοϋν άρετή 3523 quando diante do tribunal define precisamente aquele tipo de caráter sensato e calmo como referido no Livro x da República τό φρόνιμόν τε και ήσυχίον ήθος 6o4e2 que faz de Sócrates uma personagem antitrágica onde o comum dos homens age de modo passio nal como se comportam as mulheres em situações semelhantes 35b332 Sócrates mantém o controle racional de suas paixões recusando o apelo à piedade dos juízes como seria comum à peroração de um discurso forense porque ele reconhece que esse tipo de conduta é vergonhosa não apenas para quem a pratica mas sobretudo para a cidade Ou seja recusando um dos cânones da retórica forense Sócrates garante a coerência de sua imagem de homem justo pio temperante corajoso e sábio devotado à pólis como nenhum outro homem político a qual emerge da Apologia como o modelo de conduta moral consagrado por Platão 32 O episódio de Xantipa no Fédon a mulher de Sócrates ilustra bem o caso Chegando lá encontramos Sócrates há pouco liberto das amarras e Xan tipa tu a conheces com o filho sentada ao lado dele Quando Xantipa nos viu gritou em meio ao choro e disse aquelas coisas que as mulheres costumam dizer Ó Sócrates é a última vez que teus amigos te verão e tu a eles E Sócrates olhando para Críton disse Ó Críton que alguém a leve para casa 59e86oa8 είσιόντες οΰν κατελαμβάνομεν tòv μέν Σωκράτη άρτι λελυμένον τήν δέ Ξανθίππηνγιγνώσκεις γάρεχουσάν τε τό παιδίον αύτοϋ και παρακαθημένην ώς ούν ειδεν ημάς ή Ξανθίππη άνηυφήμησέ τε καί τοιαϋτ άττα ειπεν οια δή είώθασιν αί γυναίκες δτι Ή Σώκρατες ύστατον δή σε προσεροϋσι νϋν οί επιτήδειοι καί σύ τούτους καί ό Σωκράτης βλέψας εις τον Κρίτωνα Ώ Κρίτων έφη άπαγέτω τις αύτήν οϊκαδε 116 GÓRGIAS DE PLATÃO Em suma essa condição idiossincrática faz de Sócrates por tanto uma personagem antitrágica nos diálogos platônicos em especial na Apologia no Críton no Górgias e no Fédon diálogos em que o episódio de sua morte aparece de uma forma ou de outra como motivo de reflexão Embora todas as circunstâncias que cercam tal episódio apontem para a tragicidade da perso nagem como seria na perpectiva de Cálicles e por conseguinte do senso comum daquela sociedade democrática33 Sócrates é construído por Platão como uma personagem antitrágica na Apologia a sua resignação perante o risco de morte mesmo sob condições aparentemente ignominiosas é fruto do reconheci mento da própria ignorância que o impede de temer aquilo que ele próprio não sabe se é bom ou mal ou seja a morte no Górgias esse mesmo traço da personagem quando diante do vaticínio de Cálicles fundase na compreensão de que o mal da alma não é a morte mas a injustiça a qual deve ser temida e evitada por todos os meios para que se tenha uma vida feliz34 33 Sobre Cálicles e Polo como portavozes do senso comum da sociedade democrática de Atenas cf Górgias 5iibi3 34 Como foi salientado anteriormente não entrarei na discussão sobre o Fé don pois desviaria assim o enfoque de minha análise Sobre a figura antitrágica de Sócrates no Fédon ver M Erler op cit A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO I Retomemos então a análise específica do diálogo Górgias O que haveria de trágico nesse confronto com Cálicles se Só crates se configura como uma personagem antitrágica Como eu havia sugerido antecipadamente se a tragédia não é da personagem do novo herói construído por Platão ela é então de seu discurso uma vez que ele não possui qualquer efeito persuasivo e fracassa sob todas as suas formas lógica retórica e mitológica como é sublinhado por diversas vezes no diá logo 493d 494a 5i3d 513ε 516a 5i6cd 517a 518a 523a 527a Se Cálicles é visto por Sócrates como a pedra de toque βασάνου 486d7 capaz de verificar se suas opiniões são real mente verdadeiras e se esse interlocutor não reconhece a ver dade das teses defendidas pelo filósofo durante uma discussão marcada pelo rompimento das regras do processo dialógico e por uma série de desentendimentos a respeito da forma como é conduzida então esse projeto de Sócrates pelo menos nessa circunstância específica entra em colapso 118 GÓRGIAS DE PLATÃO O caso Cálicles o do interlocutor recalcitrante evidencia assim os limites do elenchos socrático do ponto de vista de sua eficiência discursiva de sua capacidade de impelir o interlo cutor à filosofia e por conseguinte ao modo de vida filosófico caráter protréptico do elenchos Isso coloca em xeque a visão otimista de Sócrates com relação à onipotência da razão ex j pressa pela máxima moral de que o conhecimento é suficiente para a virtude referida pela crítica platônica como paradoxo li socrático1 bastaria a princípio a correção nas opiniões do J interlocutor uma vez contraditórias para que ele passasse a agir bem e seria essa a função positiva do elenchos que justi ficaria os meios empregados por Sócrates para demonstrar ao interlocutor a sua ignorância e impelilo assim à investigação filosófica Mas o problema seria tão somente de opinião ou de conhecimento e ignorância Ou o caso Cálicles conduz ja discussão para outra perspectiva que leva em consideração ioutros elementos além das opiniões como causa das ações humanas Penso que Platão está lidando com esse tipo de ques tionamento referente a problemas de psicologia moral que não são contemplados pela perspectiva dita socrática mas que de vem ser considerados para uma adequada compreensão do caso Cálicles Nesse sentido o diálogo Górgias apresenta questões de psicologia moral que Platão desenvolve em toda a sua extensão na República em especial no Livro iv embora a refutação de Górgias se baseie no paradoxo socrático 4óobc Platão nos oferece outras perspectivas para a compreensão do fenômeno moral que ultrapassam a socrática sobretudo por meio da personagem Cálicles como sugere J Cooper em seu artigo2 Vejamos alguns pontos da questão 1 J Beversluis CrossExamining Socrates p 308 A Fussi Logos Filosofico e Logos Persuasivo nella Confutazione Socratica di Gorgias em M Barale a cura di Materialiper un Lessico della Ragione p 117 T Irwin Plato Gorgias p 3 C Kahn Plato and the Socratic Dialogue p 7273 2 J Cooper Socrates and Plato in Gorgias J Cooper org Essays on Ancient Moral Psychology and Ethical Theory p 32 A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 119 II Em sentido amplo o caso Cálicles é portanto uma reflexão crítica de Platão a respeito dos alcances e da viabilidade do elenchos como instrumento discursivo para a filosofia a ne cessidade lógica das demonstrações dos argumentos susten tados por Sócrates seja para refutar as teses adversárias seja para confirmar as suas próprias não é suficiente para persua dir o interlocutor de sua verdade tampouco são persuasivos os recursos retóricos empregados por Sócrates na tentativa de demover Cálicles de suas convicções morais e exortálo à filosofia Sócrates demonstra no Górgias uma postura aná loga à da personagem Górgias a respeito do poder onipotente da retórica uma absoluta confiança na verdade de suas teses morais como vemos no final da refutação de Polo indicada pela ocorrência da forma verbal άποδέδεικται está demons trado 479e8 soc E não era nesse ponto meu caro que divergíamos Tu supu nhas que Arquelau era feliz tendo ele cometido as maiores injustiças e jamais tendo pago a justa pena enquanto eu julgava o contrário que se Arquelau ou qualquer outro homem não a pagasse uma vez cometida a injustiça conviria que ele fosse distintamente o mais infeliz dos ho mens e aquele que comete injustiça fosse sempre mais infeliz do que quem a sofre e aquele que não paga a justa pena mais infeliz do que quem a paga Não era isso o que eu dizia pol Sim soc Não está demonstrado então que se dizia a verdade pol É claro 479d7e9 ςω Ά ρ ούν ού περι τούτου ώ φίλε ήμφεσβητήσαμεν σύ μέν τον Αρχέλαον εύδαιμονίζων τον τα μέγιστα άδικοΰντα δίκην ούδεμίαν διδόντα έγώ δέ τουναντίον οίόμενος είτε Αρχέλαος εϊτ άλλος ανθρώπων όστισοϋν μή δίδωσι δίκην άδικων τούτω προσήκειν άθλίω είναι διαφερόντως τών άλλων άνθρώπων και άει τον άδικοΰντα τού άδικουμένου άθλιώτερον είναι και τον μή διδόντα δίκην τοΰ διδόντος ού ταϋτ ήν τά ύπ εμού λεγάμενα πωλ Ναί 120 GÓRGIAS DE PLATÃO ςω Ούκοΰν άποδέδεικται οτι άληθή έλέγετο πωλ Φαίνεται A confiança de Sócrates por sua vez fundamentase no fato de suas convicções morais jamais terem sido refutadas quando confrontadas com opiniões opostas em todas as circunstâncias em que Sócrates as colocou à prova como por exemplo nesses três Atos do Górgias elas se mostraram consistentes e jamais foram refutadas por qualquer interlocutor 5o8e6509a7 Mas se a legitimidade das inferências feitas por Sócrates que provariam a consistência de suas opiniões e a inconsistência das de seu adversário depende do consentimento do interlocutor nas premissas do argumento como define Sócrates o meu e o teu consentimento portanto será realmente a completude da verdade τώ οντι ούν ή έμή και ή σή ομολογία τέλος ήδη έξει τής άληθείας 48767 então as implicações decorrentes do caso Cálicles colocamna em xeque Os passos equivocados de ambos os interlocutores que vão de encontro ao que o próprio Sócrates estipula como regra para o registro da brakhulogia acabam por invalidar pelo menos no caso específico do debate com Cálicles essa pretensão otimista de Sócrates O princí pio da sinceridade do interlocutor 495a79 que se apresenta como condição imprescindível para o diálogo de orientação filosófica em oposição ao jogo erístico é deliberadamente ne gligenciado por Sócrates nesta passagem soc Mas dizeme novamente afirmas que aprazível e bom são o mesmo ou que há coisas aprazíveis que não são boas cal A fim de que a discussão não me contradiga se eu disser que são diferentes eu afirmo que são o mesmo soc Arruinas Cálicles a discussão precedente e deixarias de in vestigar comigo de modo suficiente o que as coisas são se falasses con trariamente a tuas opiniões cal Vale para ti também Sócrates soc Pois bem se faço isso não o faço corretamente tampouco tu o fazes Mas homem afortunado observa se o bem não consiste em deleitarse de qualquer modo Pois se assim o for tornarseão mani A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 121 festas aquelas inúmeras consequências vergonhosas há pouco insinua das e muitas outras mais c a l Segundo o teu juízo Sócrates soc Tu Cálicles realmente persistes nesse ponto c a l Sim soc Portanto tentemos discutir como se falasses seriamente c a l Absolutamente 495a2C2 ςω άλλ έτι και νυν λέγε πότερον φής είναι τό αύτό ήδύ και αγαθόν ή εΐναί τι τών ήδέων ο ούκ εστιν άγαθόν καλ Ίνα δή μοι μή άνομολογούμενος η ό λόγος έάν ετερον φήσω είναι τό αύτό φημι είναι ςω Διαφθείρεις ώ Καλλίκλεις τούς πρώτους λόγους και ούκ αν ετι μετ έμοΰ ίκανώς τά όντα έξετάζοις εϊπερ παρά τα δοκοϋντα σαυτώ έρεΐς καλ Και γάρ σύ ώ Σώκρατες ςω Ού τοίνυν όρθώς ποιώ οΰτ έγώ εϊπερ ποιώ τούτο ούτε σύ άλλ ώ μακάριε άθρει μή ού τούτο ή τό άγαθόν τό πάντως χαίρειν ταΰτά τε γάρ τά νυνδή αίνιχθέντα πολλά και αισχρά φαίνεται συμβαίνοντα εί τούτο ούτως εχει και άλλα πολλά καλ Ως σύ γε οϊει ώ Σώκρατες ςω Σύ δέ τώ όντι ώ Καλλίκλεις ταΰτα ίσχυρίζη καλ Έγωγε ςω Επιχειρώμεν άρα τώ λόγω ώς σοΰ σπουδάζοντος καλ Πάνυ γε σφόδρα Analisemos detidamente a passagem Sócrates pretende mostrar a Cálicles que sua concepção de virtude e de felici dade implica uma série de consequências que ele próprio con sidera vergonhosas concepção essa que parte do princípio da identidade entre prazer e bem Mas Cálicles apresenta a Só crates sua concepção hedonista de felicidade em dois momen tos diferentes da discussão 4916508 494023 que uma vez confrontados evidenciam diferenças importantes em sua for mulação não contempladas por Sócrates na refutação acima 4943549502 Vejamos os dois trechos a Mas o belo e justo por natureza para te dizer agora com franqueza é oseguinte o homem que pretende ter uma vida correta deve permitir que seus próprios apetites dilatem ao máximo e não refreálos e uma vez 122 GÓRGIAS DE PLATÃO supradilatados ser suficiente para servirlhes com coragem e inteligência e satisfazer o apetite sempre que lhe advier Mas isso julgo eu é impossível à massa ela assim vitupera tais homens por vergonha para encobrir a sua própria impotência e afirma que é vergonhosa a intemperança como eu dizia antes e escraviza os melhores homens por natureza ela própria incapaz de prover a satisfação de seus prazeres louva a temperança e a justiça por falta de hombridade 49ie6492bi άλλα τοΰτ έστιν τό κατά φύσιν καλόν καί δίκαιον ο έγώ σοι νΰν παρρησιαζόμενος λέγω οτι δε τον όρθώς βιωσόμενον τάς μέν έπιθυμίας τάς έαυτοΰ έάν ώς μεγίστας είναι και μή κολάζειν ταύταις δέ ώς μεγίσταις οΰσαις ικανόν είναι ϋπηρετεϊν δι ανδρείαν και φρόνησιν και άποπιμπλάναι ών αν άεί ή επιθυμία γίγνηται άλλα τοΰτ οίμαι τοΐς πολλοίς ού δυνατόν δθεν ψέγουσιν τούς τοιούτους δι αισχύνην άποκρυπτόμενοι τήν αυτών άδυναμίαν και αισχρόν δή φασιν είναι τήν άκολασίαν οπερ έν τοΐς πρόσθεν έγώ έλεγον δουλούμενοι τούς βελτίους τήν φύσιν άνθρώπους και αύτοί ού δυνάμενοι έκπορίζεσθαι ταϊς ήδοναΐς πλήρωσιν έπαινοΰσιν τήν σωφροσύνην και τήν δικαιοσύνην διά τήν αύτών άνανδρίαν b te r to d o s o s d e m a is a p etites e ser c a p a z d e sa ciálo s d e le i ta rse e v iv e r feliz 494C23 τάς αλλας έπιθυμίας άπάσας εχοντα καί δυνάμενον πληροΰντα χαίροντα εύδαιμόνως ζήν Na primeira versão do hedonismo Cálicles não diz categori camente que o homem que pretende viver bem deve ser capaz de satisfazer todos os apetites ele diz que quando os apetites surgem o homem deve deixar que eles engrandeçam ao máximo para as sim satisfazêlos tendo a coragem e a inteligência suficientes para reprimir qualquer tipo depathos que impeça esse processo como a vergonha ou o medo Isso não pressupõe que esse homem inteli gente e corajoso deva satisfazer todo e qualquer apetite pois pode acontecer que ponderando sobre a natureza de certo apetite ele prefira não satisfazêlo por considerálo indigno ou vergonhoso como por exemplo o apetite de se coçar ou o apetite dos homossexuais a que Sócrates recorre para refutar o hedonismo A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 123 b Não seria incoerente levando em consideração a formulação do hedonismo a se Cálicles distinguisse apetites bons de apetites maus e por conseguinte prazeres bons de prazeres maus na me dida em que o prazer advém da satisfação do apetite cf 49óde pois o homem virtuoso seria aquele capaz de engrandecer e dar vazão àqueles apetites dignos de serem saciados quaisquer que sejam eles e evitar aqueles indignos quaisquer que sejam eles Na segunda versão todavia Cálicles torna irrestrito o he donismo que Sócrates define como deleitarse de qualquer modo το πάντως χαίρειν 495b4 Nesse sentido o homem que pretende viver bem deve então ser capaz de satisfazer todo I e qualquer apetite inclusive aqueles elencados por Sócrates I O argumento socrático é válido portanto somente para o he donismo b o hedonismo categórico pois Cálicles diferen temente da versão a diz expressamente que o homem para i ser feliz deve ter e satisfazer todos os apetites άπάσας 494C2j Admitindo a identidade absoluta entre prazer e bem as con sequências apontadas por Sócrates são necessárias e Cálicles não teria como negálas tendo em vista o que ele próprio havia declarado anteriormente É nesse sentido que Cálicles aceita as conclusões do argumento para não ser incoerente com o que havia admitido antes ou seja que o homem para viver feliz deve ter e satisfazer todos os apetites e não porque elas refle tem o que ele realmente pensava Diante das conclusões in desejadas reveladas pelo elenchos Cálicles poderia como fará efetivamente adiante 499b admitir que há prazeres bons e prazeres maus distinção essa que seria perfeitamente admissí vel pelo hedonismo a o homem virtuoso deve permitir que os apetites bons quaisquer que sejam eles engrandeçam ao máximo para assim satisfazêlos tendo a coragem e a inteligên cia suficientes para isso3 Eis o dilema de Cálicles dizer o que realmente pensa que bem e prazer são diferentes e que aquele que se coça não é feliz e ser assim incoerente com o que havia 3 Idem p 723 124 GÓRGIAS DE PLATÃO admitido antes ou evitar tal incoerência sustentando algo em que não acredita4 Portanto na medida em que a refutação do hedonismo b5 não implica a refutação do hedonismo a a atitude de Cálicles é bastante razoável para não ser incoerente consigo próprio ele aceita as consequências vergonhosas do hedonismo categórico embora elas não reflitam as suas reais opiniões seria necessário assim uma reformulação nas premissas do argumento como por exemplo de que há bons e maus prazeres 499b para que o hedonismo fosse examinado de forma adequada conforme as opiniões reais de Cálicles Se Sócrates pretende provar ao interlocutor que bem e prazer são diferentes Cálicles estaria assim pronto para admitilo pois as consequências do hedo nismo categórico fundado na identidade entre prazer e bem não condizem com 0 que ele pensa tampouco são elas suficien tes para refutar o hedonismo a III Surpreendente todavia é a atitude de Sócrates diante da rea ção de Cálicles ao invés de investigar as reais opiniões do in terlocutor analisando o hedonismo a a partir da distinção entre bons e maus prazeres como Cálicles se mostra disposto a admitila e como admitirá efetivamente 499b Sócrates ig nora a ressalva de Cálicles e passa a dialogar como se ele fa lasse seriamente oTtouôáovTOç 495C1 Nesse momento da discussão não é Cálicles mas Sócrates a romper o princípio da sinceridade do interlocutor que distinguiria por sua vez 4 J Beversluis op cit p 354 5 Essa primeira refutação do hedonismo b 4 9 4 C 2 4 9 5 C 2 é ad hominem ou seja Sócrates está testando antes a franqueza de Cálicles 7tappqaiaópvoç 492e67 do que propriamente o hedonismo categórico como fará na sequência do diálogo 4 9 5 0 3 4 9 7 3 5 497a6499b3 assim como os homens mais fracos e a massa Cálicles também é acometido pelo sentimento da vergonha que na versão do hedo nismo a apresentase como um dos obstáculos a serem superados pela coragem e inteligência na busca pelo engrandecimento e satisfação dos apetites A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 125 o diálogo de orientação filosófica das meras disputas erísti cas Mas por que Sócrates age dessa maneira Porque Sócra tes não refuta o hedonismo categórico com tais exemplos e sim Cálicles como foi comentado acima sobre o aspecto ad hominem do elenchos socrático pois se Cálicles tivesse a co ragem suficiente para reprimir esse sentimento de vergonha comum à maioria dos homens e admitir todas aquelas conse quências insinuadas por Sócrates então ele não refutaria Cáli cles tampouco o hedonismo categórico Mesmo Cálicles sendo acometido pela vergonha isso não é suficiente para Sócrates refutar o hedonismo categórico b O elenchos propriamente dito se dá através de dois argumentos subsequentes 495C3 4975 497a6499b3 em que Sócrates demonstra i que 0 pra zer é diferente do bem e ii que aquele homem corajoso e inte ligente τόν φρόνιμον και άνδρειόν 499a2 reverenciado por Cálicles é tão bom quanto o estulto e covarde τόν άφρονα και δειλόν 49923 ou até mesmo pior caso se admita que pra zer e bem são a mesma coisa pois o covarde se compraz e sofre mais do que o corajoso Pois bem se essa leitura é aceitável Sócrates passa a discutir em vão 4950349903 pelo menos do ponto de vista do inter locutor pois pretende demonstrar aquilo que Cálicles já estava pronto para admitir de modo a evitar as consequências decor rentes da formulação categórica do hedonismo reveladas por Sócrates Como J Cooper salienta6 admitir a distinção entre bons e maus prazeres como Cálicles fará em 499b não é incon sistente com a formulação do hedonismo a que em última instância acaba não sendo refutada absolutamente por Sócrates no Górgias o valor central atribuído aos apetites epithumiai pela psicologia moral calicliana permanece consistente mesmo admitindo tal distinção Assim ao invés de levar a sério as pos síveis implicações decorrentes desse consentimento de Cálicles para a teoria hedonista Sócrates recorre à sua habitual ironia 6 J Cooper Sócrates and Plato in Platos Gorgias p 7273 126 GÓRGIAS DE PLATÃO c a l Há tempos te ouço Sócrates concordando contigo e refle tindo que ainda que alguém te conceda algum ponto por brincadeira te apegas a isso contente como um garoto Pois tu julgas de fato que eu ou qualquer outro homem não consideramos que há prazeres me lhores e piores soc Ah Ah Cálicles como és embusteiro e me tratas como se eu fosse criança ora afirmando que as mesmas coisas são de um modo ora de outro com o escopo de me enganar Aliás eu não julgava a princípio que seria enganado por ti voluntariamente visto que és meu amigo Porém acabaste de mentir e como é plausível é necessário que eu conforme o antigo ditado faça o melhor com o que tenho e aceite atua oferta 49406 ΚΑΛ Πάλαι τοί σου άκροώμαι ώ Σώκρατες καθομολογών ένθυμούμενος ότι καν παίζων τίς σοι ένδώ ότιοΰν τούτου άσμενος έχη ώσπερ τα μειράκια ώς δή σύ οϊει έμέ ή και άλλον όντινοΰν άνθρώπων ούχ ήγεΐσθαι τάς μεν βελτίους ήδονάς τάς δε χείρους ςω Ιου ίοΰ ώ Καλλίκλεις ώς πανούργος εΐ καί μοι ώσπερ παιδί χρή τοτέ μεν τά αυτά φάσκων ούτως εχειν τοτέ δέ έτέρως έξαπατών με καίτοι ούκ ώμην γε κατ άρχάς ΰπό σοΰ έκόντος είναι έξαπατηθήσεσθαι ώς οντος φίλου νυν δέ έψεύσθην και ώς εοικεν άνάγκη μοι κατά τον παλαιόν λόγον τό παρόν ευ ποιειν και τούτο δέχεσθαι τό διδόμενον παρά σοΰ A partir desse momento do diálogo 499d Sócrates aban dona de certo modo o interlocutor e a análise de suas opiniões e passa a expor as suas próprias ideias sobre o bem e o pra zer7 como se os argumentos anteriores tivessem sido suficien tes para refutar o hedonismo em sua completude mas como tentei mostrar Sócrates refuta apenas o hedonismo categórico b o qual Cálicles acaba por renegar como se aquele άπάσας todos em 494C2 fosse apenas um lapso na sua formulação ver bal alegando não refletir as suas opiniões reais talvez melhor expressas pela formulação a em 49ie6492c8 Sócrates passa a discutir então os critérios para se distinguir os bons dos maus prazeres argumentando que os bons são aqueles que promovem a boa disposição da alma justiça temperança etc enquanto os 7 Idem p 73 A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 127 maus aqueles que promovem a disposição contrária e assim por diante Essa mudança na estratégia argumentativa de Sócrates provoca o desinteresse gradativo de Cálicles pela discussão de modo que em 501x78 este declara que sua participação no diálogo é apenas para Sócrates concluir o argumento e para deleitar Górgias que o havia impedido de abandonar o debate 497b se não fosse a intervenção de Górgias certamente Cá licles já teria saído de cena Ele já não se comporta mais como aquele interlocutor franco e defensor fervoroso de suas con vicções tornandose complacente com Sócrates confirmando o que Sócrates espera que ele confirme para se chegar ao termo daquela conversa em vão Esse distanciamento entre os interlocutores culmina então com o monólogo de Sócrates 506C5509C4 que pelo próprio termo é a negação do diálogo διαλέγεσθαι do princípio ele mentar da filosofia uma conversa entre duas pessoas uma na função de inquiridor e outra na de inquirido como Sócrates definiu reiteradamente na discussão com Górgias e Polo 449bc 471x247204 Mas esse monólogo já havia de certa forma começado antes desde o momento em que Sócrates ignora o protesto de Cálicles quebrando o princípio da sinceridade do interlocutor 495ab Essa ação à revelia de Cálicles implica a negação da função do interlocutor de modo que se a com pletude da verdade τέλος τής άληθείας 48767 depende do consentimento de ambos nas premissas do argumento como define Sócrates então Cálicles não desempenha a sua função não se comporta como aquele interlocutor ideal 487a Cáli cles por conseguinte não poderia ser aquela pedra de toque βασάνου 486d7 que verificaria a verdade das teses socrá ticas frustrando assim a expectativa otimista de Sócrates Em última instância ainda que Sócrates ancore a sua convicção na verdade de suas teses morais no fato de jamais terem sido refuta das por qualquer interlocutor para se alcançar a completude da verdade ele precisaria de algo mais do que esse consentimento de Cálicles obtido sob tais condições e em tais circunstâncias 128 GÓRGIAS DE PLATÃO Mas por qual razão Sócrates insiste num diálogo que já não é mais diálogo conversando sozinho numa situação ridícula como ele próprio admite Talvez a personagem nos indique o caminho da resposta Depois que Cálicles sugere o monólogo como a única solução para o impasse e o desacordo a que che garam Sócrates diz o seguinte soc Para me valer do dito de Epicarmo eu serei suficiente mesmo sendo um só para o que dois homens diziam previamente Pois bem é provável que isso seja absolutamente necessário Todavia se tomar mos essa decisão julgo que todos nós devamos almejar a vitória em saber o que é verdadeiro e o que é falso em relação ao que dizemos pois é um bem comum a todos que isso se esclareça Farei a exposição do argumento então como me parecer melhor mas se algum de vós achar que eu concordo comigo mesmo a respeito de coisas que não são o caso será seu dever então tomar a palavra e refutarme Pois eu de fato não falo como conhecedor do que falo mas empreendo convosco uma investigação em comum de modo que se quem diverge de mim disserme algo manifesto serei eu o primeiro a consentilo Digo essas coisas contudo se parecer melhor que eu deva concluir a discussão mas se não quiserdes nos despeçamos agora mesmo e partamos gor Pareceme Sócrates que não devemos partir agora e que de ves tu expor o argumento Que essa é a opinião dos demais está mani festo De minha parte quero te ouvir percorrendo por ti mesmo o que lhe resta 5056150603 ςω Ινα μοι το τού Επιχάρμου γένηται α προ τού δύο άνδρες ελεγον είς ών ικανός γένωμαι άτάρ κινδυνεύει άναγκαιότατον είναι ούτως εί μέντοι ποιήσομεν οΐμαι εγωγε χρήναι πάντας ήμάς φιλονίκως εχειν προς τό ειδέναι τό άληθές τί έστιν περί ών λέγομεν καί τί ψεύδος κοινόν γάρ άγαθόν άπασι φανερόν γενέσθαι αύτό δίειμι μεν ούν τώ λόγω έγώ ώς άν μοι δοκή εχειν έάν δέ τω υμών μή τα όντα δοκώ όμολογεϊν έμαυτώ χρή άντιλαμβάνεσθαι και έλέγχειν ούδέ γάρ τοι εγωγε είδώς λέγω ά λέγω άλλα ζητώ κοινή μεθ ύμών ώστε αν τι φαίνηται λέγων ό άμφισβητών έμοί έγώ πρώτος συγχωρήσομαι λέγω μέντοι ταϋτα εί δοκεϊ χρήναι διαπερανθήναι τον λόγον εί δε μή βούλεσθε έώμεν ήδη χαίρειν καί άπίωμεν γορ Ά λλ έμοί μεν οϋ δοκεϊ ώ Σώκρατες χρήναι πω άπιέναι άλλα διεξελθεΐν σε τον λόγον φαίνεται δέ μοι καί τοΐς άλλοις δοκείν βούλομαι γάρ εγωγε καί αυτός άκοϋσαί σου αυτού διιόντος τα επίλοιπα A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 129 A referência a Epicarmo d k b i 6 é bastante significativa sobretudo porque ela parte da boca de Sócrates em seu comen tário ao Górgias Olimpiodoro afirma que esse poeta havia com posto uma comédia na qual duas personagens dialogam mas acaba uma falando também pela outra 34138 Nessa alusão à comédia Sócrates compara a sua condição à da personagem cô mica na situação excepcional de um monólogo dentro do diá logo Nesse sentido a própria personagem adverte que sua ação será ridícula mas a justifica atribuindo a causa a uma constrição da ocasião αναγκαιότατου 50503 na tentativa de se eximir da culpabilidade moral de seu comportamento risível9 Dada a re cusa de Cálicles Sócrates convida então a audiência da cena a desempenhar eventualmente a função de interlocutor e intervir no monólogo quando necessário ou seja Sócrates passa a dialo gar agora com a audiência da cena passa a se dirigir diretamente a ela agindo contra aquilo que ele próprio havia dito a Polo quando distinguia o elenchos filosófico do elenchos retórico soc Eu sei como apresentar uma única testemunha do que digo aquela com a qual eu discuto mas dispenso a maioria e sei como dar a pauta da votação a uma única pessoa mas não dialogo com mui tos 474a5bi ςω έγώ γάρ ών άν λέγω ένα μέν παρασχέσθαι μάρτυρα έπίσταμαι αυτόν προς ον άν poL ό λόγος η τούς δέ πολλούς έώ χαίρειν και ένα έπιψηφίζειν έπίσταμαι τοις δέ πολλοΐς ούδέ διαλέγομαι Nesse momento do diálogo então fica evidente que o dis curso de Sócrates já não se dirige mais precipuamente a Cálicles 8 Ver A Nightingale Genres in Dialogue p 82 E Dodds Plato Gorgias p 332 9 Sócrates recorre sempre ao mesmo tipo argumento para justificar suas ações moralmente censuráveis segundo o seu próprio ponto de vista buscando se exi mir assim de culpa i no Prólogo ele atribui a Querefonte a causa de ambos terem chegado depois de finalizada a epideixis de Górgias motivo pelo qual ele é pronta mente censurado por Cálicles άνάγκασας ημάς 447a8 ii no 2a Ato ele justifica sua makrologia para expor a sua concepção de retórica como lisonja κολακεία à obtusidade do interlocutor visto a deficiência de Polo no registro da brakhulogia 465e466a iíi no 3a Ato ele justifica novamente sua incursão pela makrologia pelo fato de Cálicles ter recusado responder às perguntas με ήνάγκασας 5i9d6 130 GÓRGIAS DE PLATÃO mas à audiência da cena composta de discípulos de Górgias eou aspirantes a tais Contudo para isso Sócrates acaba por contra riar os princípios basilares que definem o diálogo filosófico em oposição ao jogo verbal erístico Dessa forma à epideixis de Gór gias sucede a epideixis de Sócrates numa substituição simbólica do saber aparente do rétor pela verdadeira sabedoria do filósofo nesse sentido o público embora só apareça na cena referido por alguma personagem 458c 5o6ab desempenha uma impor tante função na dinâmica dialógica afetando de certo modo o comportamento das personagens inclusive o de Sócrates Pois é em função dessa audiência que se justificaria a insistência de Sócrates num diálogo que não se constitui mais como diálogo na minha leitura desde 495ab tendo em vista a resistência de Cálicles à estratégia argumentativa de Sócrates e a sua indisposi ção para se deixar persuadir por seus argumentos Se o discurso socrático não possui qualquer efeito persuasivo em Cálicles tal vez ele pudesse possuilo na audiência ou pelo menos em parte dela pela observação de Górgias ela se encontra envolvida pela discussão conduzida por Sócrates 5o6bi2 assim como já havia se mostrado favorável ao filósofo quando Górgias tenta polida mente se furtar ao debate 458be Mas essa perspectiva otimista ainda contrasta com o juízo de Cálicles quando diz que assim como à maioria das pessoas Sócrates não o persuade absoluta mente 513C46 Se esses passos equivocados de Sócrates durante o diálogo com Cálicles e por conseguinte o seu comportamento ridículo nesse monólogo se justificam pelos fins ou seja em vista da persuasão e da exortação da audiência à filosofia como indica o caráter protréptico do Mito Final10 então Cálicles teria razão em chamar Sócrates de orador público Sqpqyópoç 482C5 494di ele fala 10 Platão Górgias 526d5e4 Assim dou adeus às honras da maioria dos homens e tentarei realmente exerci tando a verdade viver de modo a ser o melhor o quanto me for possível ser e morrer quando a morte me acometer E exorto a isso todos os outros homens na medida do possível ademais exorto em resposta à tua exortação também a ti a essa vida e a essa luta a qual afirmo ser preferível a todas as demais lutas daqui A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 131 não apenas com o interlocutor mas também para a audiência a fim de lhe mostrar as deficiências da formação propiciada pela re tórica representada eminentemente por Górgias e os benefícios em contrapartida do modo de vida filosófico Como Cálicles é um interlocutor arguto ele percebe que a despeito de sua crítica à retórica praticada nas instituições democráticas Sócrates tam bém se vale de procedimentos típicos desse ambiente agonístico como por exemplo o jogo com as emoções do público Porém se entendermos por outro lado que Sócrates continua o diálogo mesmo diante da recusa de Cálicles com a esperança real de ainda persuadilo então ele se comporta de fato como uma persona gem cômica que dialoga como na peça de Epicarmo sozinha no palco diante de um interlocutor que não mostra qualquer interesse pelo conteúdo da discussão salvo em poucos e sucintos momentos 5ioab 513c 517a 520a 521c 522c Pois o pró prio Sócrates observa por diversas vezes no 3e Ato 493d 494a 5 t3cd 523a 527a que seu discurso não demove Cálicles de suas convicções morais ciente de que a recalcitrância do interlocutor é mais forte do que o poder persuasivo de seu discurso Quais as causas da recalcitrância de Cálicles veremos adiante a partir das indicações do próprio Platão no Górgias I V Sendo assim temos no Górgias de um lado o colapso da es tratégia argumentativa de Sócrates quando em confronto com um interlocutor recalcitrante que eu designei genericamente de tragédia do discurso socrático mas de outro lado uma expectativa otimista da personagem de persuadir a audiência ou pelo menos parte dela da superioridade do modo de vida χαίρειν ούν έάσας τάς τιμάς τάς τών πολλών ανθρώπων τήν αλήθειαν ασκών πειράσομαι τώ οντι ώς αν δύνωμαι βέλτιστος ών και ζήν και έπειδάν αποθνήσκω άποθνήσκειν παρακαλώ δέ και τούς άλλους πάντας ανθρώπους καθ όσον δύναμαι και δή καί σέ άντιπαρακαλώ έπί τούτον τον βίον και τον αγώνα τούτον ον έγώ φημι άντι πάντων τών ένθάδε αγώνων είναι 132 GÓRGIAS DE PLATÃO filosófico sobre o modo de vida político exortado por Cálicles Para empregar uma metáfora nietzschiana é como se Sócra tes fosse a ave de rapina em território estrangeiro investindo contra o rebanho de Górgias Essa perspectiva otimista só é razoável se admitirmos que Sócrates a partir de 495ab se di rige precipuamente à audiência tendo em vista a resistência indelével de Cálicles Essa leitura pareceme encontrar apoio no que Sócrates diz no Mito Final quando ele distingue as almas curáveis das incuráveis11 Vejamos o trecho Cabe a todos os que estão sujeitos ao desagravo cujo desagravo por parte de outrem seja correto tornaremse melhores e obterem alguma vantagem ou tornaremse modelo aos demais para que es tes últimos quando verem seu sofrimento fiquem amedrontados e se tornem melhores Mas os que são beneficiados e que recebem a justa pena infligida por deuses e homens são aqueles que comete ram erros curáveis contudo é por meio de sofrimentos e dores que eles são beneficiados aqui como no Hades pois não há outro modo de se livrarem da injustiça Por outro lado os que cometeram as in justiças mais extremas e tornaramse incuráveis devido a esses atos injustos tornamse modelo embora eles próprios jamais possam obter alguma vantagem porque são incuráveis Não obstante são os outros que obtêm alguma vantagem disso aqueles que os veem ex perimentar ininterruptamente os maiores os mais dolorosos e os mais temíveis sofrimentos por causa de seus erros dependurados íi Sócrates já antecipa esse argumento do mito ao aludir metaforicamente às doenças incuráveis da alma na discussão com Cálicles sobre a ideia de salvar a si mesmo Ele o piloto pondera então que se algum tripulante cujo corpo é acometido por doenças crônicas e incuráveis não se afogar ele será infeliz porque não morreu não obtendo qualquer benefício de sua parte e que para um tripulante acometido por inúmeras doenças incuráveis na alma que vale mais que o corpo a vida não lhe é digna e ele não obterá qualquer vantagem em ser salvo seja do mar ou do tribunal ou de qualquer outro lugar ele sabe que não é melhor para um homem perverso per sistir a viver pois é necessário que ele viva miseravelmente 5i2a2b2 ΣΩ λογίζεται ούν ότι ούκ ει μέν τις μεγάλοις και άνιάτοις νοσήμασιν κατά το σώμα συνεχόμενος μή άπεπνίγη ούτος μέν άθλιός έστιν οτι ούκ άπέθανεν και ούδέν ύπ αύτοϋ ώφέληται ει δέ τις άρα έν τώ τού σώματος τιμιωτέρω τη ψυχή πολλά νοσήματα έχει και ανίατα τούτοι δέ βιωτέον έστιν και τούτον όνήσει άντε έκ θαλάττης άντε έκ δικαστηρίου έάντε άλλοθεν όποθενοϋν σώση άλλ οίδεν ότι ούκ άμεινόν έστιν ζήν τώ μοχθηρώ άνθρώπω κακώς γάρ ανάγκη έστιν ζήν A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 133 no cárcere de Hades como simples modelo espetáculo e advertência para os injustos que ali chegam a todo instante Eu afirmo que Ar quelau inclusive será um deles se for verdadeiro o relato de Polo e qualquer outro tirano que se lhe assemelhe Creio também que a maior parte desses modelos provém de tiranos reis dinastas e dos envolvidos com as ações da cidade pois eles incorrem nos maiores e mais ímpios erros por causa de seu poder ilimitado 525bid6 προσήκει δέ παντί τώ έν τιμωρία δντι ύπ άλλου όρθώς τιμωρούμενα ή βελτίονι γίγνεσθαι και όνίνασθαι ή παραδείγματι τοΐς άλλοις γίγνεσθαι ϊνα άλλοι όρώντες πάσχοντα ά άν πάσχη φοβούμενοι βελτίους γίγνωνται είσιν δέ οί μέν ώφελούμενοί τε και δίκην διδόντες ύπό θεών τε και άνθρώπων οΰτοι οϊ άν ιάσιμα άμαρτήματα άμάρτωσιν όμως δέ δι άλγηδόνων και οδυνών γίγνεται αύτοίς ή ώφελία και ενθάδε και έν Αιδου ού γάρ οίόν τε άλλως άδικίας άπαλλάττεσθαι οϊ δ άν τά έσχατα άδικήσωσι και διά τά τοιαΰτα άδικήματα άνίατοι γένωνται έκ τούτων τά παραδείγματα γίγνεται και ούτοι αύτοί μέν ούκέτι όνίνανται ούδέν άτε άνίατοι άντες άλλοι δέ όνίνανται οί τούτους όρώντες διά τάς άμαρτίας τά μέγιστα και οδυνηρότατα και φοβερώτατα πάθη πάσχοντας τον άεί χρόνον άτεχνώς παραδείγματα άνηρτημένους έκεΐ έν Αιδου έν τώ δεσμωτηρίω τοϊς άεί των άδικων άφικνουμένοις θεάματα και νουθετήματα ών έγώ φημι ένα και Αρχέλαον εσεσθαι εί άληθή λέγει Πώλος και άλλον οστις άν τοιοΰτος τύραννος ή οίμαι δέ και τούς πολλούς είναι τούτων τών παραδειγμάτων έκ τυράννων και βασιλέων και δυναστών και τά τών πόλεων πραξάντων γεγονότας οΰτοι γάρ διά την έξουσίαν μέγιστα και άνοσιώτατα άμαρτήματα άμαρτάνουσι Ο caso Cálicles portanto ο do interlocutor recalcitrante corresponderia ao daquela alma cujos erros são incuráveis ανίατοι όντες 525C412 e que portanto é imune à cura ou à correção potencial do elenchos como Sócrates observa a certa altura do diálogo Cálicles não tolera ser beneficiado e sofrer aquilo sobre o que discutimos ser punido ούχ υπομένει ώφελούμενος και αύτός τούτο πάσχων περί ού ό λόγος έστί κολαζόμενος 505C34 A imagem do filósofo como o médico 12 Sócrates conta entre as almas incuráveis os envolvidos com as ações da ci dade τά τών πόλεων πραξάντων γεγονότας 525045 ou seja os políticos classe à qual pertence Cálicles como fica evidente durante o diálogo 134 GÓRGIAS DE PLATÃO da alma como aparece explicitamente no Protágoras13 e im plicitamente no Górgias através da analogia entre o médico e o verdadeiro homem político ou seja Sócrates cf 52id522a atribui ao elenchos socrático essa função corretiva de curar as almas das pessoas desviandoas do vício injustiça intempe rança covardia impiedade ignorância e incitandoas à virtude justiça temperança coragem piedade sabedoria 11 No entanto até que ponto o elenchos tem esse poder de cura j para quem se lhe submete Cálicles representa precisamente o 1 caso em que o remédio pharmakon de Sócrates é impotente para combater a doença moral que acomete o interlocutor intemperança injustiça etc na medida em que não é eficaz I persuasivamente Tendo em vista o limite do poder de cura do elenchos e o caso crônico da recalcitrância de Cálicles a perso nagem serviria então de modelo παραδείγματα 525C12 para aquela audiência como modo de vida e de éthos a ser evitado assim como as almas incuráveis servem de modelo e advertência para as que chegam ao Hades sentindo medo φοβούμενοι 52504 ao contemplar os sofrimentos a que são submetidas elas são advertidas para que ajam corretamente e evitem assim o mesmo fim que essas almas incuráveis o ver dadeiro infortúnio δυστυχία do homem Nessa perspectiva so crática do mito seria Cálicles a personagem trágica do diálogo e não Sócrates essa seria a resposta final de Anfíon a Zeto que Sócrates prometera oferecer depois de Cálicles haver recusado o diálogo 5o6bc completando assim a refutação retórica das acusações do interlocutor seria essa a função do deus ex machina representada pelo Mito Final assim como Hermes restitui a lira a Anfíon no encerramento da Antíope visto que Sócrates não consegue persuadir Cálicles de alguma coisa Portanto mesmo que Cálicles represente o colapso do dis curso socrático e que Sócrates adote um comportamento no diálogo muitas vezes conflitante com as regras estabelecidas 13 Ver Platão Protágoras 3130702 A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 135 para o processo dialógico ou um comportamento que beira o ridículo ainda assim há um sentido positivo no Górgias a pos sibilidade de persuasão da audiência de Górgias ou de parte dela da superioridade do modo de vida filósofico sobre o modo de vida político fundado na retórica modo de vida político da democracia ateniense estritamente falando14 Além das alusões à manifestação favorável do público a Sócrates 458cd 5o6ab isso pareceme indicado pelo caso Polo na medida em que a personagem no final do elenchos mostra certa suscetibilidade ao argumento socrático Vejamos como se encerra a sua última intervenção no diálogo no final do 2 Ato soc Devemos ou não devemos falar assim Polo pol Isso me parece um absurdo Sócrates Todavia talvez concorde com o que dizias anteriormente soc Então devemos suprimilo ou isso é consequência necessária pol Sim é isso o que sucede 48od6e4 ΣΩ φώμεν οίίτως ή μή φώμεν ώ Πώλε πωλ Ατοπα μεν ώ Σώκρατες εμοιγε δοκεΐ τοΐς μέντοι έμπροσθεν ίσως σοι όμολογεΐται ΣΩ Ούκοΰν ή κάκεΐνα λυτέον ή τάδε ανάγκη συμβαίνειν πωλ Ναί τοΰτό γε ούτως εχει Embora considere absurdas άτοπα 48oei as conse quências do argumento Polo declara todavia que talvez con corde com o que havia sido dito antes ou seja que a injustiça é o maior mal da alma como indica seu assentimento forte15 14 Pois a imagem de Sócrates como o verdadeiro homem político 52ide indica precisamente a superação desse antagonismo como veremos sobretudo na República com os filósofos comandando as ações políticas da pólis 15 J Beversluis afirma o seguinte sobre essa passagem do diálogo 479c8d6 Polo assente a cada passo do argumento ou diz que assente embora muito relutan temente Aparentemente φαίνεται como parece έοικεν e assim por diante op cit p 335 Mas vejamos detidamente este trecho comentado por Beversluis soc Se nosso consentimento for verdadeiro Polo será que percebes as consequências do argumento Ou queres que nós as recapitulemos p o l Se for de teu parecer soc Não decorre porventura que a injustiça e cometer injustiça são o maior mal 136 GÓRGIAS DE PLATÃO φαίνεται γε em 479CI116 Polo só não entende que esses pa radoxos absurdos decorrem necessariam ente da conclusão p o l É claro soc Com efeito pagar a justa pena é manifestamente a libertação desse mal não é p o l É p ro v á v el soc E não pagála a preservação do mal p o l Sim soc Portanto o segundo mal em magnitude é cometer injustiça mas não pagar a justa pena quando cometida a injustiça é naturalmente o primeiro e o maior de todos os males pol É plausível 479C4d6 ΣΩ εί δέ ημείς αληθή ώμολογήκαμεν ώ Πώλε άρ αίσθάνη τα συμβαίνοντα έκ τού λόγου ή βούλει συλλογισώμεθα αύτά ΠΩΛ Ei σοι γε δοκεΐ ςω Ά ρ ούν συμβαίνει μέγιστον κακόν ή αδικία και το άδικεΐν ΠΩΛ Φαίνεται γε ςω Και μην απαλλαγή γε έφάνη τούτου τοϋ κακού τό δίκην διδόναι ΠΩΛ Κινδυνεύει ςω Τό δέ γε μή διδόναι έμμονή τοϋ κακού ΠΩΛ Ναί ςω Δεύτερον άρα έστιν τών κακών μεγέθει τό άδικεΐν τό δέ άδικοϋντα μή διδόναι δίκην πάντων μέγιστόν τε και πρώτον κακών πέφυκεν ΠΩΛ Έοικεν Beversluis não observa aqui a diferença de grau do assentimento de Polo à cada uma das proposições φαίνεται na verdade φαίνεται γε cuja partícula re força o assentimento do interlocutor o que não é observado por Beversluis não tem o mesmo valor de κινδυνεύει ou de έοικεν por isso é claro ou é manifesto pareceme ser uma tradução mais adequada do que aparentemente como sugere o estudioso Sendo assim o assentimento de Polo varia segundo cada proposição i ele aceita que a injustiça é o maior mal pois decorre necesariamente do que foi dito antes por isso φαίνεται γε ii mas não está tão certo de que pagar a justa pena é livrarse desse mal pois isso envolveria dor e sofrimento como foi comentado acima o hedonismo é um dos traços do éthos da personagem de modo que a dor é vista como o mal por isso κινδυνεύει que mantém certa reserva do interlocutor quanto à validade absoluta da proposição iii por conseguinte que o maior mal é não ser punido quando se comete alguma injustiça é apenas verossímil para Polo e não necessariamente verdadeiro por isso έοικεν Enquanto Sócrates pretende mostrar que há uma concatenação necessária entre essas proposições Polo varia o grau de seu assentimento à medida em que essa proposição se aproxima ou se afasta de suas opiniões que Sócrates pretende mostrar conflitantes 16 Em sua análise sobre essa passagem do Górgias J Beversluis atentase so mente para a primeira proposição da personagem Isso me parece um absurdo Sócrates άτοπα μέν ώ Σώκρατες έμοιγε δοκεΐ 48oei e desconsidera comple tamente a segunda Todavia talvez concorde com o que dizias anteriormente τοΐς μέντοι έμπροσθεν ίσως σοι όμολγείται 48oei2 quando Polo se mostra de certa forma suscetível ao que diz Sócrates op cit p 337 Como seu intuito é levar às últimas consequências a crítica ao elenchos socrático e demonstrar o fra casso absoluto de Sócrates em defesa de suas convicções morais quer do ponto de vista lógico quer do retórico Beversluis acaba desconsiderando certas nuances do diálogo que são relevantes para a compreensão geral do elenchos no Górgias A TRAGICIDADE DO DISCURSO SOCRÁTICO 137 geral anterior ou seja de que cometer injustiça é tanto pior quanto mais vergonhoso que sofrêla Essa incompreensão de Polo se deve como vimos na Seção 2 à sua obtusidade carac terística de uma personagem φαύλος desprezível obtusidade essa atribuída por Sócrates ao fato de ele ter negligenciado o diálogo διαλέγεσθαι e praticado exclusivamente a retórica 448d 47id Sócrates porém consegue afetar de certo modo o interlocutor mesmo que Polo não compreenda exatamente quais são as consequências disso quando confrontadas com as suas opiniões sustentadas durante o diálogo Sendo assim nessa perspectiva otimista aberta pelo mito Polo seria aquele caso das almas injustas que são curáveis οϊ άν ιάσιμα άμαρτήματα άμάρτωσιν 525b6 que ainda podem vir a ser beneficiadas ωφελούμενοι 52505 para isso seria necessário que ele ao contrário abandonasse a retórica praticasse junto a Sócrates o diálogo διαλέγεσθαι e fosse como Cálicles não foi punido eou refreado pelo elenchos κολαζόμενος 505C34 A suscetibilidade de Polo à investida de Sócrates portanto poderia ser interpretada como um reflexo do pathos da audiên cia da cena ou pelo menos de parte dela Nessa perspectiva se no confronto com Cálicles Sócrates encontra sua tragédia seu fracasso como argumentador em defesa de suas convicções morais ainda assim há a esperança de que seu discurso tenha um fim diferente para aquela audiência valendome da sugestão de Nightingale seria essa a visão otimista aberta pelo deus ex m achina representado no Górgias pelo Mito Final Mas se assim o for Cálicles observa com razão que Sócrates age durante o diálogo como um orador público δημηγόρος 48205 494di sublinhando precisamente como Sócrates não se dirige ape nas ao interlocutor como determinaria as regras do processo dialógico mas também ou talvez sobretudo àquele público presente na cena AS C A U SA S D A R E C A L C IT R  N C IA DE C Á L IC LE S I Pois bem quais são as razões da recalcitrância de Cálicles como Platão a explicaria no Górgias Por que Sócrates não consegue con vencer Cálicles da verdade de seus argumentos A esse propósito pareceme elucidativo o que Sócrates diz a Críton no diálogo ho mônimo e talvez seja um ponto de partida interessante para a dis cussão do problema no Górgias Vejamos a passagem soc Portanto não se deve retribuir um ato injusto com outro tam pouco fazer mal a algum homem qualquer que tenha sido o sofrimento infligido por ele a ti E vê Críton se concordas inteiramente com isso para que não dês teu assentimento contra a tua opinião pois sei que são e serão pouquíssimos os homens a crerem nisso Entre os que pos suem opiniões como essas e aqueles que não as possuem não há decisão em comum pelo contrário é necessário que desprezem uns aos outros quando observarem as suas respectivas decisões Então examina bem também tu se compartilhas da mesma opinião e se devemos ter como princípio estas decisões de que não é correto cometer injustiça nem re tribuila tampouco responder com uma ação vil alguma ação vil sofrida 140 GÓRGIAS DE PLATÃO ou se te eximes disso e não compartihas desse princípio Pois essa é a opinião que há muito tempo e ainda hoje tenho mas se tu tiveres outra diferente então fala e ensiname Se porém estiveres convicto do que foi dito antes escuta então o que decorre disso cri Mas eu estou convicto disso e essa é a minha opinião Fala 49Cioe3 ςω Οΰτε άρα άνταδικεΐν δει οΰτε κακώς ποιεΐν οϋδένα ανθρώπων ούδ αν ότιοϋν πάσχη ύπ αύτών καί δρα ώ Κρίτων ταΰτα καθομολογών όπως μή παρά δόξαν όμολογής οΐδα γάρ δτι όλίγοις τισι ταΰτα καί δοκεΐ καί δόξει οίς ούν οΰτω δέδοκται και οίς μή τούτοις ούκ εστι κοινή βουλή άλλα ανάγκη τούτους άλλήλων καταφρονεΐν όρώντας άλλήλων τά βουλεύματα σκόπει δή ούν και σύ εύ μάλα πότερον κοινωνεΐς καί συνδοκει σοι και άρχώμεθα έντεΰθεν βουλευόμενοι ώς ούδέποτε όρθώς εχοντος οΰτε τού άδικείν οΰτε τού άνταδικεΐν οΰτε κακώς πάσχοντα άμύνεσθαι άντιδρώντα κακώς ή άφίστασαι και ού κοινωνεΐς τής αρχής έμοι μέν γάρ καί πάλαι οΰτω και νΰν ετι δοκεΐ σοΐ δε εϊ πη άλλη δέδοκται λέγε και δίδασκε εί δ εμμένεις τοΐς πρόσθε το μετά τούτο ακούε κρ Άλλ εμμένω τε και συνδοκει μοι άλλά λέγε Críton seria ο antípoda de Cálicles aquele interlocutor que compartilha das mesmas convicções morais de Sócrates que louva a justiça a temperança a coragem a piedade e a sabedoria como a virtude do homem e que portanto está muito mais suscetível à persuasão do discurso socrático e menos propício a resistir à sua estratégia argumentativa nessas circunstâncias em que não há o desacordo de princípio τής αρχής 49d9 é possível uma concordância de juízo entre os interlocutores a respeito de uma determinada ação no caso do Críton a respeito da fuga de Sócra tes contra as prescrições da lei Cálicles todavia é precisamente aquele interlocutor que define virtude e felicidade αρετή τε και εύδαιμονία 492C56 com valores contrários daqueles lou vados por Sócrates luxúria intemperança e liberdade1 τρυφή í Liberdade no sentido em que Cálicles a concebe Para Sócrates todavia essa liberdade calicliana significa antes escravidão pelos prazeres em oposição ao homem temperante definido como senhor de si mesmo έαυτοϋ άρχοντα 4gid7 o verdadeiro homem livre AS CAUSAS DA RECALCITRÂNCIA DE CÁLICLES 141 καί άκολασία καί ελευθερία 492045 além da sua concepção da natureza do justo κατά φύσιν την τοϋ δικαίου 48362 que conflita com as convenções da justiça estabelecida pela maioria dos homens Nessas condições o desacordo entre dois interlocu tores que partem de princípios contrários é inevitável άνάγκη 49d4 quando se trata de questões de moralidade como ilustra muito bem o caso Cálicles no Górgias Nesse sentido se tomarmos como base essa reflexão de Sócrates no Críton então a eficácia persuasiva do discurso socrático está circunscrita a um pequeno grupo de pessoas pois o próprio Sócrates declara reiteradamente no Górgias 472a 511b que a maioria delas possui as mesmas opiniões sustentadas por Polo e Cálicles o que se conforma com o juízo de Cálicles c a l Não sei como me pareces falar corretamente Sócrates mas experimento a mesma paixão que a maioria tu não me persuades ab solutamente 513046 ΚΑΛ Ούκ οίδ δντινά μοι τρόπον δοκεΐς εΰ λέγειν ώ Σώκρατες πέπονθα δέ το τών πολλών πάθος ού πάνυ σοι πείθομαι Mas seria apenas uma questão de conflito entre opiniões ou haveria outras razões para se explicar a recalcitrância de Cálicles que levassem em consideração outros elementos concorrentes além das opiniões Sócrates responde o seguinte a essa declara ção de Cálicles sobre a ineficiência persuasiva de seu discurso soc Pois é o amor pelo povo existente na tua alma Cálicles que me obsta Mas se tornarmos a examinar melhor esse mesmo assunto repetidamente serás persuadido 5i3C7di I ςω Ο δήμου γάρ ερως ώ Καλλίκλεις ένών έν τή ψυχή τή σή άντιστατεΐ μοι άλλ έάν πολλάκις ίσως καί βελτιον ταύτά ταΰτα διασκοπώμεθα πεισθήση Sócrates entende então que a resistência de Cálicles que ο impede de assimilar a verdade de suas teses morais é esse amor 142 GÓRGIAS DE PLATÃO pelo povo ό δήμου ερως 513CÍ7 já referido por ele antes em sua invectiva contra Cálicles e o homem democrático 48ide ou seja há outro elemento envolvido na psicologia moral da re calcitrância além do conflito de opiniões A despeito de Sócrates crer que possa convencer Cálicles da verdade de suas convicções morais através da persuasão racional2 através do exame reiterado dessas opiniões pelo elenchos mas se tornarmos a examinar me lhor esse mesmo assunto repetidamente serás persuadido άλλ έσν πολλάκις ίσως και βέλτιον ταύτά ταϋτα διασκοπώμεθα πεισθήση 5i3c8di ele não deixa de enfatizar que no estado em que se encontra o problema há outro elemento envolvido no fenômeno da recalcitrância de Cálicles Talvez seja ele suficiente para impedir Cálicles de reconhecer a verdade das convicções morais de Sócrates II Mas em que sentido Sócrates se refere aqui ao amor pelo povo de Cálicles ό δήμου ερως 5i3d7 Para N Pieri essa resposta de Sócrates seria simplesmente uma ironia3 tendo em vista o desprezo de Cálicles pelas convenções morais estabelecidas pela maioria dos homens para impedir a prevalência dos melhores homens por natureza 48334840 0 aspecto antidemocrático do êthos da personagem Porém a estudiosa desconsidera aqui o fato de Cálicles ser efetivamente um homem envolvido com a política democrática 48id 515a 5i9ab de modo que se em seu discurso ele expõe uma concepção antidemocrática acerca da natureza política do homem não deixa de ser um produto dessa mesma democracia contra a qual ele se volta em seu discurso o aspecto democrático do êthos da persona gem Isso fica patente na segunda parte do mesmo discurso na invectiva contra Sócrates e a filosofia 48404860 Cálicles 2 T Irwin Plato Gorgias p 233 3 S Pieri Platone Gorgia p 480 AS CAUSAS DA RECALCITRÃNCIA DE CÁLICLES 143 tenta persuadir o filósofo das desvantagens de uma vida alheia às convenções e ao processo político da pólis prezando pelo ideal do homem belo e bom καλόν κάγαθόν 484di2 e bem reputado εύδόκιμον 484d24 valores consagrados pela sociedade democrática ateniense além disso a franqueza de Cálicles παρρησίαν 487a3 é referida na República como uma característica do homem democrático5 Nesse sentido como salienta R Woolf6 há uma contradição interna nos valores apre goados por Cálicles durante o diálogo de um lado um homem antidemocrático com aspirações tirânicas como indicaria a figura do leão em 48366 e de outro um homem enraizado nos valores morais daquela sociedade democrática Portanto a asserção de Sócrates só seria irônica como su gere Pieri se levássemos em consideração unicamente o as pecto antidemocrático do èthos da personagem pois o fato de Cálicles ter uma concepção antidemocrática acerca da natureza política do homem não implica que ele seja efetivamente um homem antidemocrático ou um daqueles homens que segundo ele são melhores por natureza para usar a dicotomia cara ao pensamento éticopolítico grego o que Cálicles professa no discurso λόγω não reflete necessariamente na ação εργω Talvez ele ainda não contenha em si as condições suficientes para se tornar aquele leão λέοντας 48366 que se rebela con tra os valores estabelecidos pelos homens mais fracos para fazer valer o justo por natureza índice dessa sua debilidade seria por exemplo precisamente o sentimento de vergonha que 0 aco mete quando Sócrates lhe mostra as consequências extremas do hedonismo categórico referidas acima 494C495C senti mento esse próprio daqueles homens fracos e inferiores que instituíram as leis contra os homens mais fortes e melhores δι αισχύνην 492a4 Como eu havia sugerido anteriormente 4 Platão Górgias 486c8di 5 Idem A República viu 557a9b7 6 R Woolf Callicles and Socrates em D N Sedley org Oxford Studies in Ancient Philosophy p 26 144 GÕRGIAS DE PLATÃO Platão ao construir a personagem Cálicles como o tirano em potencial retrata dramaticamente o problema da gênese da ti rania no seio da democracia o qual é analisado em sua com pletude nos Livros viu e ix da República Nesse sentido pareceme razoável o comentário de Dodds quando ele sugere que o amor pelo povo se equivaleria aqui genericamente ao amor pelo poder7 o mesmo tipo de afec ção a que Platão se refere no diálogo Alcibíades Primeiro com relação à personagem homônima a certa altura do diálogo Sócrates expressa seu receio com relação à corrupção de seu amante pela política Vejamos brevemente o trecho soc Pois este é o meu maior temor que tu tornandote amante do povo encontres a tua ruína 132323 ΣΩ τούτο γάρ δή μάλιστα έγώ φοβούμαι μή δημεραστής ήμίν γενόμενος διαφθαρής Essa relação entre a figura de Cálicles e a de Alcibíades que a princípio pode parecer distante pois são dois diálogos diferentes com finalidades distintas aparece de forma surpreendente no Górgias justificando de certa forma a analogia com o Alcibíades Primeiro sugerida por Dodds Em resposta ao vaticínio de Cá licles Sócrates profetiza a ruína de seu interlocutor na política ateniense com as seguintes palavras soc Dizem que eles tornaram a cidade grandiosa mas não percebem que ela está intumescida e inflamada por causa desses homens de outrora Pois sem justiça e temperança eles saciaram a cidade de portos estaleiros muralhas impostos e tolices do gênero mas quando sobrevier enfim aquele assalto de fraqueza inculparão os conselheiros presentes neste momento e elogiarão Temístocles Címon e Péricles os responsáveis pelos males Se não tiveres precaução talvez a taquem a ti e a m eu com pan heiro A lcib ía d es quando perderem tanto os bens por eles conquistados quanto os antigos bens ainda que não sejais responsáveis pelos males mas talvez corresponsáveis 51863512 7 E Dodds op cit p 352 AS CAUSAS DA RECALCITRÂNCIA DE CÁLICLES 145 ςω καί φασι μεγάλην την πόλιν πεποιηκέναι αυτούς οτι δε οίδεΐ και ύπουλος έστιν δι έκείνους τούς παλαιούς ούκ αισθάνονται άνευ γάρ σωφροσύνης και δικαιοσύνης λιμένων και νεωρίων και τειχών και φόρων καί τοιούτων φλυαριών έμπεπλήκασι τήν πόλιν όταν οΰν ελθη ή καταβολή αΰτη τής άσθενείας τούς τότε παρόντος αίτιάσονται συμβούλους Θεμιστοκλέα δέ καί Κίμωνα καί Περικλέα έγκωμιάσουσιν τούς αιτίους τών κακών σοΰ δέ ίσως έπιλήψονται έάν μή εύλαβή καί τού έμοΰ εταίρου Άλκιβιάδου όταν καί τά άρχαΐα προσαπολλύωσι προς οϊς έκτήσαντο ούκ αιτίων οντων τών κακών άλλ ίσως συναιτίων Essa alusão profética à sorte funesta de Cálicles e Alcibiades na política ateniense associando enigmaticamente as duas figu ras pareceme bastante sugestiva para os propósitos de minha interpretação sobre o problema da recalcitrância no Górgias A semelhança entre as personagens não se restringe ao fato de am bas estarem envolvidas com as ações políticas da pólis Alcibiades assim como Cálicles compartilha da mesma afecção que confi gura genericamente o homem democrático o amor pelo povo Gorg 5i3d7 ό δήμου ερως Aie i i32a3 δημεραστής que é a causa da inconstância de suas opiniões as quais variam de acordo com o contexto em vista do deleite do povo 48id482c Portanto sugiro aqui que a reflexão de Platão sobre o caso Cáli cles o caso exemplar da recalcitrância nos diálogos estendese de certo modo também ao caso Alcibiades como uma forma de Pla tão justificar o fracasso de Sócrates como seu preceptor moral o fim funesto de Alcibiades na política ateniense imediatamente evidente ao leitor como Tucídides narra nos Livros vi vii e vm de sua História confirma justamente aquele temor φοβούμαι i32a2 expresso por Sócrates no diálogo Alcibiades Primeiro Nesse sentido o caso Alcibiades tornaria ainda mais crônico o problema da ineficácia persuasiva do discurso socrático retratado no Górgias pois ele diferentemente de Cálicles além de seu amante 481 d era um homem que fazia parte do círculo de Sócrates e o louvava como modelo de virtude como depreendemos por exemplo da narração do Banquete 2i5a223a Pois a recalcitrância de Cáli cles além desse elemento referido por Sócrates como amor pelo 146 GÓRGIAS DE PLATÃO povo ó δήμου ερως 513CI7 se deve também ao fato de ambas as personagens terem convicções morais contrárias de não com partilharem do mesmo princípio τής αρχής 49dç que tornaria possível uma decisão em comum κοινή βουλή 49d3 entre am bas as partes como vimos discutido no Críton O caso Alcibíades por sua vez evidencia que mesmo quando há esse princípio em comum compartilhado por ambos os interlocutores ainda assim há outros elementos que podem prevalecer sobre as determinações da razão Em suma a reflexão de Platão sobre a recalcitrância de Cálicles é uma das vias possíveis para se compreender e por con seguinte para se justificar o fracasso de Sócrates na tentativa de persuadir Alcibíades da superioridade do modo de vida filosófico sobre o modo de vida político da democracia ateniense ainda que este último compartilhasse das convicções morais de Sócrates há outros impulsos em sua alma que são igualmente causa de ações e que podem por sua vez entrar em conflito com tais opiniões tomadas como verdadeiras Se essa interpretação sobre o fenômeno da recalcitrância no Górgias se sustenta então Platão já apresenta no Górgias ques tões de psicologia moral que são retomadas e desenvolvidas em toda a sua extensão sobretudo no Livro iv da República quando ele expõe a sua teoria da alma tripartida III Mas de onde provém esse amor pelo povo ó δήμου ερως 5i3d7 na alma de Cálicles Como foi dito acima Platão cons trói a personagem Cálicles como a tipificação do homem intem perante cuja felicidade consiste em ser capaz de por meio da coragem e da sabedoria engrandecer e satisfazer seus apetites de modo a se comprazer continuamente 49164920 A intem perança é portanto virtude para Cálicles e não a temperança como supõe universalmente Sócrates luxúria intemperança e liberdade uma vez asseguradas são virtude e felicidade τρυφή καί άκολασία και έλευθερία έάν έπικουριαν εχη τοϋτ έστίν άρετή καί εύδαιμονία 492C46 Numa alma intemperante é o elemento das epithumiai έπιθυμίαι apetites que rege as suas ações e é seu elemento preponderante Ao reconhecer no j Górgias o elemento apetitivo da alma na representação do caso Cálicles Platão parece abrir uma nova perspectiva sobre a mo f 1 tivação humana que o chamado paradoxo socrático não con1 templava além do elemento cognitivo da alma há também o apetitivo o domínio das epithumiai o que implica a possibi lidade de um conflito interno entre eles Considerando o uni verso dos chamados primeiros diálogos de Platão o Górgias parece ter a função peculiar de inserir as epithumiai na dis cussão sobre psicologia moral afastandose de certo modo da perspectiva socrática sobre a motivação humana que conside rava apenas o elemento cognitivo da alma como causa das ações conhecimento é condição suficiente para a virtude Nesse sentido a falência do discurso de Sócrates no Gór I gias pode ser explicada pelo viés dessa nova perspectiva dal psicologia moral platônica Na persuasão de um interlocutor como Cálicles não estariam em jogo apenas as opiniões que ele acredita serem verdadeiras mas também a condição em que se encontra sua alma no que tange à relação entre logos e epithumiai O elemento apetitivo é tão preponderante na alma de Cálicles que o reconhecimento pela razão da verdade das convicções morais de Sócrates se torna infactível por qualquer via de persuasão possível argumentos dialógicos mitos dis cursos longos exortações admoestações Os apetites dada a sua força proeminente na alma de Cálicles geram nela esse amor pelo povo entendido como amor pelo poder8 e impedem o exercício correto da razão Nessas condições a persuasão de que a temperança é virtude e não a intemperança tornase inviável 8 O amor pelo povo de Cálicles ò δήμου ερως 5i3d7 seria fruto da pre ponderância do elemento apetitivo de sua alma é a expressão máxima da busca incessante pelas condições ideais que lhe possibilitem a satisfação contínua de seus apetites no que consiste na perspectiva moral de Cálicles a virtude e a felicidade άρετή και ευδαιμονία 4 9 2 C 5 6 AS CAUSAS DA RECALCITRÃNCIA DE CÁLICLES 147 148 GÓRGIAS DE PLATÃO Para reconhecer racionalmente a verdade das teses morais de Sócrates o interlocutor deve ter certa disposição para se persua dir e a recalcitrância de Cálicles seria índice precisamente da ausência desse tipo de disposição Como foi analisado na Se ção 4 Cálicles seria portanto um exemplo particular da alma dos incuráveis referida no mito final àvíatoi õvreç 525C4 que serviria de modelo para a audiência e por conseguinte para o leitor dos limites da eficácia persuasiva do discurso de Sócrates Em suma na condição em que se encontra a alma de Cálicles cujas epithumiai predominam não há persuasão pos sível pela via da razão SÓ CR A TE S A Q U IL E S O U OD ISSEU I A interface do gênero dialógico com a tragédia e a comédia se reflete então na própria construção do êthos de Sócrates da imagem do filósofo por excelência tal como encontramos no Górgias de um lado o aspecto sério spoudaios de seu caráter e de outro o aspecto jocoso e sarcástico de seu comportamento no confronto com os seus adversários A tensão entre esses ele mentos opostos é expressa no diálogo pela dúvida de Cálicles com relação à real motivação de Sócrates durante a discussão com Polo tendo em vista as consequências paradoxais do ar gumento socrático sobre a utilidade da retórica c a l Dizeme Querefonte Sócrates fala sério ou está de brinca deira 48ib67 ΚΑΛ Είπέ μοι ώ Χαιρεφών σπουδάζει ταΰτα Σωκράτης ή παίζει Quando Sócrates por sua vez retoma a discussão sobre as es pécies de lisonja kolakeia no diálogo com Cálicles ele ressalta 150 GÓRGIAS DE PLATÃO novamente a seriedade de seu argumento assim como havia advertido Górgias anteriormente de que não se tratava de uma satirização da atividade exercida pelo rétor διακωμωδείν 462e7 como foi comentado na Seção 2 soc E pelo deus da Amizade Cálicles não julgues que devas brincar comigo nem venhas com respostas contrárias a tuas opiniões tampouco acolhas as minhas palavras como se fossem brincadeira Pois vês que nossos discursos versam sobre o modo como se deve vi ver a que qualquer homem mesmo de parca inteligência dispensaria a maior seriedade se é a vida a que me exortas fazendo coisas apro priadas a um homem fazer tais como falar em meio ao povo exercitar a retórica agir politicamente como hoje vós agis ou se é a vida volvida à filosofia e em que medida se diferem uma e outra Portanto o me lhor seja talvez distinguilas como há pouco tentei fazêlo e depois de distinguilas e de concordarmos entre nós que se tratam de duas formas de vida investigar em que elas se diferem e qual delas deve ser vivida 50ob5d4 ςω και προς Φιλιού ώ Καλλίκλεις μήτε αυτός οιου δεϊν προς έμε παίζειν μηδ δτι αν τύχης παρά τα δοκοΰντα άποκρίνου μήτ αύ τά παρ έμοϋ ούτως άποδέχου ώς παίζοντος όρας γάρ οτι περι τούτου ήμΐν είσιν οί λόγοι ού τί αν μάλλον σπουδάσειέ τις και σμικρόν νουν εχων άνθρωπος ή τούτο οντινα χρή τρόπον ζήν πότερον έπι δν σύ παρακαλεις έμέ τα τού άνδρός δή ταΰτα πράττοντα λεγοντά τε έν τφ δήμιο και ρητορικήν άσκοΰντα και πολιτευόμενον τούτον τον τρόπον ον υμείς νΰν πολιτεύεσθε ή έπι τόνδε τον βίον τον έν φιλοσοφία και τί ποτ έστιν ούτος έκείνου διαφέρων ίσως ούν βέλτιστόν έστιν ώς άρτι έγώ έπεχείρησα διαιρεϊσθαι διελομένους δέ και όμολογήσαντας άλλήλοις εί εστιν τούτω διττώ τώ βίω σκέψασθαι τί τε διαφέρετον άλλήλοιν καί όπότερον βιωτέον αύτοίν Todavia essa seriedade do conteúdo da discussão que diz respeito a questões de moralidade e do melhor modo de se viver contrasta com a forma pela qual Sócrates em certos momentos do diálogo conduz o elenchos como por exemplo i a reductio ad absurdum da concepção calicliana de ter mais πλεονεξία SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 151 49ob49ib1 exposta em sua teoria sobre a natureza política do homem 483bd e ii a refutação ad h om in em da franqueza παρρησία de Cálicles por meio de exemplos escatológicos da coceira e dos homossexuais passivos ó τών κίναιδων βίος 494e4 na análise das consequências do hedonismo categórico defendido naquela oportunidade pelo interlocutor 494C495C Se a refutação do hedonismo por exemplo é fundamental para a defesa das teses morais socráticas e para a exposição da psico logia moral do tempérante e do intempérante aspecto sério da argumentação de Sócrates tais exemplos contudo conferem à cena um tom jocoso mais próximo ao registro cômico2 1 Platão Górgias 4900804 c a l T u falas d e c o m id a s b e b id a s m é d ic o s e to lic e s m a s e u n ã o m e re firo a isso soc Não afirmas que o mais inteligente é o melhor Afirmas ou não c a l Sim soc Mas o melhor não deve possuir mais c a l Sim mas não comida nem bebida soc Compreendo mas talvez mantos e o melhor tecelão deverá possuir o maior manto e perambular envolto nas mais belas e abundantes vestes c a l Que mantos soc Em relação a sapatos é evidente que o melhor e mais inteligente nesse assunto deve possuir mais Talvez o sapateiro deva possuir os maiores sapatos e pas sear por aí calçado com vários deles c a l Que sapatos Dizes tolices ΚΑΛ Περί αιτία λέγεις και ποτά και ιατρούς και φλυαρίας έγώ δε ού ταϋτα λέγω ςω Πότερον ού τον φρονιμώτερον βελτίω λέγεις φάθι ή μή κ α λ Εγωγε ς ω Ά λλ ού τον βελτίω πλέον δείν έχειν κ α λ Ού αιτίων γε ούδέ ποτών ςω Μανθάνω άλλ ίσως ίματίων και δει τον ϋφαντικώτατον μέγιστον ίμάτιον έχειν και πλεΐστα και κάλλιστα άμπεχόμενον περιιέναι κ α λ Ποιων ίματίων ςω Ά λλ εις ύποδήματα δήλον ότι δει πλεονεκτειν τον φρονιμώτατον εις ταϋτα καί βέλτιστον τον σκυτοτόμον ίσως μέγιστα δει ύποδήματα και πλεΐστα ύποδεδεμένον περιπατεΐν κ α λ Ποια ύποδήματα φλυαρείς έχων 2 A Nightingale Genres in Dialogue p 91 152 GÓRGIAS DE PLATÃO II Pois bem analisemos primeiramente o aspecto sério do êthos do filósofo Sócrates constrói discursivamente a sua própria imagem elevada em momentos diferentes do diálogo i No i Ato como uma espécie de prelúdio para a consumação do elenchos de Górgias Sócrates procura justificar antecipa damente recurso à prolêpsis o sentido positivo da refutação calcado no argumento de que sua finalidade precípua é escla recer a questão προς τό πράγμα τού καταφανές γενέσθαι 45745 e livrarse assim do mal que é a opinião falsa δόξα ψευδής 458bi sobre o tema da discussão 457ei458b3 Esse é o argumento principal usado pela personagem no Górgias para distinguir o diálogo de cunho filosófico das meras disputas verbais erísticas salientando a sua seriedade como interlocu tor no diálogo como se não houvesse durante o elenchos qual quer motivação concomitante de ridicularizar de uma forma ou de outra Górgias perante a sua própria audiência o aspecto ad hominem que subjaz ao elenchos ii Associada à ideia de seriedade está a da coerência do filósofo que sempre diz as mesmas coisas em toda e qualquer circunstância a respeito dos mesmos assuntos em oposição ao político daquela sociedade democrática como seriam Cálicles e Alcibíades que muda de opinião de acordo com o contexto para sempre deleitar o público da Assembleia e assim persuadilo 48 ie A coerência de Sócrates se fundamenta precisamente na verdade que ele próprio atribui às suas convicções morais por isso suas opiniões são sempre as mesmas em oposição às opiniões instáveis do homem político que não conhece o que é o bem mas conjetura o que é aprazível àquele determinado público naquela circunstância específica3 soc Pois bem considera que também de mim deverás ouvir coisas do gênero e não te assombres que seja eu a dizer isso mas impede 3 Platão Górgias 46 4 C 3C I3 SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 153 antes a filosofia minha amante de dizêlo Ela diz meu caro amigo o que ouves de mim agora e ela me é muito menos volúvel do que meu outro amante pois Alcibíades filho de Clínias profere discursos di ferentes em diferentes ocasiões ao passo que a filosofia sempre diz as mesmas coisas e ela diz o que agora te assombras tu próprio estavas ali presente em seu pronunciamento 482a2b2 ΣΩ νόμιζε τοίνυν και παρ έμοϋ χρήναι ετερα τοιαΰτα άκούειν και μή θαύμαζε ότι έγώ ταΰτα λέγω άλλα τήν φιλοσοφίαν τα έμά παιδικά παΰσον ταϋτα λέγουσαν λέγει γάρ ώ φίλε έταίρε α νΰν έμοϋ ακούεις καί μοί έστιν τών έτέρων παιδικών πολύ ήττον έμπληκτος ό μέν γάρ Κλεινίειος ούτος άλλοτε άλλων έστι λόγων ή δέ φιλοσοφία άει τών αύτών λέγει δέ α σύ νΰν θαυμάζεις παρήσθα δέ και αύτός λεγομένοις iii Outra imagem elevada que aparece no Górgias ana lisada acima na Seção 5 é a metáfora do filósofo como mé dico da alma recorrente também no Protágoras 3i3ce Isso implica por conseguinte que o elenchos teria esse poder de curar a doença moral do interlocutor enfatizando a fun ção corretiva do método socrático assim como a doença é o mal do corpo a injustiça é o mal da alma 477a 478d 48oab A partir dessa relação de αντίστροφος contraparte entre a medicina e a justiça a justiça é a contraparte da medicina αντίστροφον δέ τή ιατρική τήν δικαιοσύνην 4Ó4b8 entre a instância do corpo e a da alma Sócrates personifica então a própria justiça assim como o médico a medicina o filósofo não é apenas um homem justo como se evidencia pela sua máxima moral de que cometer injustiça é pior que sofrêla 473 a4 mas se incumbe também de promover essa mesma justiça corrigindo o vício manifestado pelo interlocutor através 4 Aristóteles Retórica 1 136482123 E é melhor aquilo que o melhor homem escolheria seja porque é simples mente melhor seja porque ele é melhor como por exemplo sofrer injustiça ao invés de cometêla Pois o homem mais justo preferiria isso àquilo και ô ελοιτ ãv ό βελτίων ή απλώς ή fj βελτίων οίον το άδικεΐσθαι μάλλον ή άδικεΐν τούτο γάρ ό δικαιότερος αν ελοιτο 154 GÓRGIAS DE PLATÃO do elenchos e tornandoo assim um homem melhor 5i5ad como fica patente neste trecho soc Tu terias então maior preferência e não menor pelo pior e mais vergonhoso Não receies responder Polo Nenhum prejuízo há de te acometer mas apresentate de forma nobre perante o argumento como perante um médico e responde com sim ou não às minhas per guntas pol Mas eu não teria maior preferência Sócrates soc E algum outro homem a teria pol Não me parece conforme este argumento soc Portanto eu falava a verdade que nem eu nem tu nem qual quer outro homem preferiríamos cometer injustiça a sofrêla pois acon tece de ser pior pol É claro 475d4e6 ςω Δέξαιο ctv οΰν σύ μάλλον τό κάκιον και τό αϊσχιον άντι του ήττον μη οκνει άποκρίνασθαι ώ Πώλε ούδέν γάρ βλαβήση άλλα γενναίως τψ λόγω ώσπερ ιατρώ παρέχων άποκρίνου καί ή φάθι ή μή α έρωτώ πωλ Άλλοϋκ αν δεξαίμην ώ Σώκρατες ςω Άλλος δέ τις άνθρώπων πωλ Οϋ μοι δοκεΐ κατά γε τούτον τον λόγον ςω Αληθή άρα έγώ ελεγον ότι οΰτ άν έγώ οΰτ αν σύ οΰτ άλλος ούδεις άνθρώπων δέξαιτ άν μάλλον άδικεϊν ή άδικείσθαι κάκιον γάρ τυγχάνει άν πωλ Φαίνεται iv Todavia a imagem mais proeminente no Górgias segundo minha interpretação é a de Sócrates como o verdadeiro ho mem político o único capaz de promover o supremo bem τό βέλτιστον 52id9 da comunidade política na medida em que ele detém a arte política πολιτική τέχνη 52id7 Essa declara ção da personagem no final do diálogo é indubitavelmente uma resposta à acusação de Cálicles em sua invectiva 484C486d de que o filósofo é inútil para o processo político da pólis visto que ele se mantém afastado do centro da cidade e das ágoras onde segundo o poeta os homens se tornam distintos τα μέσα τής πόλεως και τάς άγοράς έν αίς έφη ό ποιητής τούς άνδρας άριπρεπεις γίγνεσθαι 485d56 Isso implica que Sócrates como o verdadeiro homem político pratica então a verdadeira retórica SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 155 τη άληθινή ρητορική 51735 e se apresenta em substituição ao rétor lisonjeador representado paradigmaticamente pela figura de Górgias como aquele rétor técnico e bom ô ρήτωρ εκείνος ό τεχνικός τε και άγαθός 504d56 ele conhece ο que é o bem para a alma dos cidadãos e sabe como promovêlo tecnicamente porque ele é bom5 Essa concatenação entre os termos tekhnikos te kai agathos indica que a condição sine qua non de a retórica ser uma atividade praticada com arte a arte retórica propria mente dita é precisamente o caráter moral do orador Vejamos mais uma vez o trecho em que Sócrates arroga para si o título de verdadeiro homem político soc Julgo que eu e mais alguns poucos atenienses para não dizer apenas eu sou o único contemporâneo a empreender a verdadeira arte política e a praticála Assim visto que não profiro os discursos que pro firo em toda ocasião visando o deleite mas o supremo bem e não o que é mais aprazível e visto que não desejo fazer essas sutilezas aconselhadas por ti eu decerto não saberei o que dizer no tribunal 52id6e2 ςω Οΐμαι μετ ολίγων Αθηναίων ϊνα μή εϊπω μόνος έπιχειρείν τή ώς αληθώς πολιτική τέχνη και πράττειν τα πολιτικά μόνος τών νϋν άτε ούν ού προς χάριν λέγων τούς λόγους οΰς λέγω έκάστοτε άλλά προς τό βέλτιστον ού προς το ήδιστον και ούκ έθέλων ποιεΐν S σύ παραινείς τά κομψά ταϋτα ούχ έξω ότι λέγω έν τώ δικαστή ρίω Mas a concepção de uma retórica que promova o bem da comunidade política e não simplesmente o deleite da audiência na Assembleia a ideia de uma boa retórica é reivindicada também pela personagem Górgias no i a Ato Naquela opor tunidade a fim de ilustrar a magnitude do poder da retó rica ή δύναμις τής ρητορικής 456a5 Górgias oferece então o exemplo de sua ação junto a seu irmão médico Heródico gor Ah se soubesses de tudo Sócrates todos os poderes por as sim dizer ela os mantém sob a sua égide Vou te contar uma grande prova disso muitas vezes eu me dirigi em companhia de meu irmão 5 Essa ideia de uma boa retórica aparece em diversos momentos do diálogo cf 502e503b 504d 508c 5i7ac 519b 52ide 527c 156 GÕRGIAS DE PLATÃO e de outros médicos a um doente que não queria tomar remédio nem permitir ao médico que lhe cortasse ou cauterizasse algo sendo o mé dico incapaz de persuadilo eu enfim o persuadi por meio de nenhuma outra arte senão da retórica 45637115 rop Ei πάντα γε είδείης ώ Σώκρατες δτι ώς έπος εϊπεΐν άπάσας τάς δυνάμεις συλλαβοϋσα ύφ αυτή εχει μέγα δέ σοι τεκμήριον έρώ πολλάκις γάρ ήδη έγωγε μετά τοΰ άδελφοϋ και μετά τών άλλων ιατρών είσελθών παρά τινα τών καμνόντων υύχι έθέλοντα ή φάρμακον πιείν ή τεμεΐν ή καΰσαι παρασχεΐν τώ ϊατρώ ού δυναμένου τοΰ ιατρού πείσαι έγώ επεισα ούκ άλλη τέχνη ή τή ρητορική Como vemos a relação entre medicina e retórica que será fundamental na exposição epideixis de Sócrates sobre a dis tinção entre as artes tekhnai e as espécies de lisonja ko lakeia 46404663 aparece no diálogo antecipadamente na boca de Górgias A provável resposta de Sócrates ao rétor se ria então que ainda que a sua retórica a lisonjeadora possa eventualmente contribuir em algum caso particular para a pro moção do bem como indicaria o exemplo que Górgias chama em causa para demonstrar a superioridade da retórica sobre as demais artes isso não se dá tecnicamente mas por mera conjectura στοχασαμένη 464C7 obtida por experiência e rotina εμπειρία και τριβή 46304 a verdadeira retórica τή άληθινή ρητορική 51735 só é praticada como arte tekhné por aquele que possui o conhecimento do que é o bem e o mal para a alma e que é por conseguinte um homem bom ó ρήτωρ εκείνος ό τεχνικός τε και άγαθός 504056 ou seja ο filósofo Essa ideia que emerge do Górgias de uma verdadeira retórica sob a égide da filosofia é retomada e desenvolvida por Platão na última parte do diálogo Fedro 25962743 como indica a alusão intertextual à discussão sobre a retórica no Górgias6 6 Platão Fedro 2590426034 soc Porventura não é preciso que para se discursar de modo correto e belo haja na mente do falante a verdade a respeito daquilo de que se pretende falar fed Sobre isso caro Sócrates eu ouvi o seguinte que não é necessário para quem pretende ser rétor aprender o que é realmente justo mas o que parece à multidão SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 157 Mas a imagem elevada de Sócrates como o verdadeiro rétor e o verdadeiro homem político construída discursivamente pela per sonagem não é a única perspectiva a respeito da retórica socrá tica no Górgias Ele também usa de procedimentos lisonjeadores na consecução do elenchos sobretudo no i e Ato empregando contra Górgias os seus próprios artifícios de persuasão que o teriam tornado tão célebre em Atenas depois de sua visita como embaixador de Leontine em 427 aC Esse contraste entre o que Sócrates professa no discurso λόγω e o que ele pratica em ato εργω indica precisamente como a construção do êthos da personagem no Górgias é apresentada por Platão como uma questão problemática Isso se torna evidente a partir dos próprios argumentos que Sócrates usa para censurar os grandes políticos da democracia ateniense do séc v aC Temístocles Péricles a qual será o juiz do caso tampouco o que é realmente bom ou belo mas tudo quanto há de parecer como tal pois é disso que decorre a persuasão e não da verdade ς ω Ap oúv ούχ ύπάρχειν δει τοϊς εύ γε και καλώς ρηθησομένοις τήν τοϋ λέγοντος διάνοιαν είδυίαν τό αληθές ών άν έρείν πέρι μέλλη ΦΑΙ Ούτωσί περί τούτου άκήκοα ώ φίλε Σώκρατες ούκ είναι ανάγκην τώ μέλλοντι ρήτορι έσεσθαι τά τώ όντι δίκαια μανθάνειν αλλά τά δόξαντ αν πλήθει οϊπερ δικάσουσιν ούδέ τά όντως άγαθά ή καλά άλλ όσα δάξει έκ γάρ τούτων είναι τό πείθειν άλλ ούκ έκ τής άληθείας A fala da personagem Fedro pareceme ser uma referência direta ao debate sobre a retórica no Górgias especiflcamente a este trecho soc Se o rétor é ou não inferior aos outros porque se encontra nessa condi ção em breve investigaremos no caso de ser pertinente para nossa discussão mas por ora examinemos primeiro o seguinte o rétor porventura encontrase a respeito do justo e do injusto do vergonhoso e do belo do bem e do mal na mesma condi ção em que se encontra a respeito da saúde e das demais coisas relativas às outras artes Ignorando as próprias coisas o que é o bem e o que é o mal o que é o belo e o que é o vergonhoso o que é o justo e o que é o injusto mas tramando a persuasão a respeito delas de modo a parecer conhecer mesmo ignorando em meio a quem é ignorante mais do que aquele que conhece 45jc6ei ΣΩ El μέν έλαττοΰται ή μή έλαττοϋται ό ρήτωρ των άλλων διά τό ούτως έχειν αύτίκα έπισκεψόμεθα έάν τι ήμιν προς λόγου ή νυν δε τόδε πρότερον σκεψώμεθα άρα τυγχάνει περι τό δίκαιον και τό άδικον καί τό αισχρόν και τό καλόν και άγαθόν και κακόν ούτως έχων ό Ρητορικός ώς περί τό υγιεινόν καί περί τά άλλα ών αί άλλαι τέχναι αύτά μέν ούκ είδώς τί άγαθόν ή τί κακόν έστιν ή τί καλόν ή τί αισχρόν ή δίκαιον ή άδικον πειθώ δέ περί αύτών μεμηχανημένος ώστε δοκεΐν είδέναι ούκ είδώς έν ούκ είδόσιν μάλλον τοϋ είδότος III 158 GÔRGIAS DE PLATÃO Címon e Milcíades na tentativa de dissuadir Cálicles da vida política Vejamos os argumentos soc E agora excelentíssimo homem visto que tu próprio come çaste recentemente a realizar os afazeres da cidade exortandome a isso e reprovandome porque não as realizo não investigaremos um ao outro desse modo Vamos lá Cálicles já tornou melhor algum cida dão Há alguém que antes era vicioso injusto intemperante e estulto e que se tornou um homem belo e bom por causa de Cálicles seja es trangeiro ou cidadão escravo ou homem livre Dizeme se alguém te indagar sobre isso Cálicles o que responderás Que homem dirás ter se tornado melhor com o teu convívio Hesitas em responder se há algum feito teu relativo a uma situação privada antes de empreenderes as ações públicas c a l Almejas a vitória Sócrates 5i5aib5 ςω Νυν δέ ώ βέλτιστε άνδρών επειδή σύ μέν αυτός άρτι αρχή πράττειν τα τής πόλεως πράγματα έμέ δέ παρακαλεις και ονειδίζεις δτι ού πράττω ούκ έπισκεψόμεθα άλλήλους Φέρε Καλλικλής ήδη τινά βελτίω πεποίηκεν τών πολιτών εστιν οστις πρότερον πονηρός ών άδικός τε και άκόλαστος και άφρων διά Καλλικλέα καλός τε κάγαθός γέγονεν ή ξένος ή άστός ή δούλος ή έλεύθερος λέγε μοι έάν τίς σε ταϋτα έξετάζη ώ Καλλίκλεις τί έρείς τίνα φήσεις βελτίω πεποιηκέναι άνθρωπον τή συνουσία τή σή όκνείς άποκρίνασθαι εϊπερ έστιν τι εργον σόν έτι ίδιωτεύοντος πριν δημοσιεύειν έπιχειρείν καλ Φιλόνικος ει ώ Σώκρατες Sócrates enfatiza aqui a prioridade do domínio particular ίδιωτεύοντος 51504 sobre o domínio público δημοσιεύειν 5i5b4 ou seja a condição para o homem se tornar político e ser capaz de promover o bem da comunidade política é ter praticado boas ações no âmbito privado ter sido capaz de tor nar alguém melhor do que era antes desviandoo do vício e impelindoo à virtude o caráter pmtréptico do elenchos Pois bem se Cálicles não satisfaz essa condição e acusa Sócrates em contrapartida de agir como erístico φιλόνικος 51505 o que poderíamos dizer de Sócrates usando contra ele o mesmo argu mento que emprega contra o interlocutor e contra os políticos SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 159 atenienses em geral O caso Alcibíades não seria também um indício da falibilidade da política privada de Sócrates como foi discutido na Seção 5 Pelo próprio argumento chamado em causa por Sócrates ele não poderia se configurar como aquele verdadeiro homem político que apregoa ser em 52ide pois também ele assim como Cálicles não foi capaz de tornar melhor algum cidadão τινά βελτίω πεποίηκεν τών πολιτών 5ΐ5Μ5 como ο caso Alcibíades imediatamente evidencia ao leitor7 Nesse sentido não é fortuita a referência de Platão à relação amorosa entre Sócrates e Alcibíades no Górgias 48id 482b pelo contrário ela nos indica precisamente como ela é problemática para a construção do êthos do filósofo no diálogo tendo em vista os próprios argumentos usados pela persona gem em sua crítica à democracia Se a recalcitrância de Cálicles ressalta os limites do elenchos socrático do ponto de vista de sua eficiência persuasiva o caso Alcibíades ilustra o fracasso da política privada de Sócrates contrariando assim a imagem construída por ele de o verdadeiro homem político I V A imagem séria e elevada de Sócrates portanto é apresen tada por Platão como uma questão problemática no Górgias De 7 Refirome aqui em específico ao caso de Alcibíades porque ele é mencio nado nominalmente no Górgias Poderíamos citar também o caso de Crítias que acabou por se tornar um dos Trinta Tiranos em 404 aC No Livro 1 das Memoráveis Xenofonte ao defender Sócrates contra a acusação de que ele corrompia os jovens faz uma longa digressão sobre a relação de amizade de Sócrates com Alcibíades e Crítias 121248 argumentando que as ações políticas perversas de ambas as figuras no final do séc v aC ocorreram justamente porque haviam abandonado o convívio de Sócrates enquanto eles faziam parte do círculo socrático segundo Xenofonte Alcibíades e Crítias eram homens moderados e justos à semelhança do mestre 1217 Seu argumento principal é que ambos buscaram se aproximar de Sócrates com o interesse de se beneficiarem da boa reputação do filósofo e obterem vantagens no mundo político 121516 Sócrates ficou a tal ponto estigmatizado por esse tipo de relação éticopolítica problemática que Esquines em 348 aC ainda a chamava em causa para censurar Sócrates como vemos em seu discurso Contra Timarco citado na epígrafe inicial deste livro 160 GÓRGIAS DE PLATÃO um lado o homem virtuoso por excelência temperante cora joso justo sábio o verdadeiro homem político o verdadeiro rétor o homem que diante da morte se comporta com resigna ção de modo comparável ao grandioso Aquiles na Ilíada como vemos referido na Apologia 28bd que se apresenta como o médico da alma capaz de curar a doença moral que acomete boa parte das pessoas que ele ordinariamente encontra uma vez diagnosticada pelo seu habitual elenchos De outro lado o homem de ironia mordaz que busca ridicularizar o interlocu tor ou melhor certo tipo de interlocutor perante a audiência como uma maneira de refutálo que recorre a exemplos pro vocativos durante a discussão para desqualificar os argumentos do interlocutor 49ode 494ce que irrita seu adversário por diversos modos que joga com as emoções da plateia como um verdadeiro orador público 494d 5i9d que rompe as re gras do processo dialógico que ele próprio havia estabelecido que atribui a culpa de seus erros à debilidade do interlocutor que age muitas vezes como uma personagem cômica como indica a alusão a Epicarmo 505c comentada acima Esse comporta mento ridículo de Sócrates no Górgias é enfim admitido pela própria personagem como vemos nesta passagem soc Extraordinário homem eu não os vitupero enquanto servi dores da cidade mas eles me parecem ter sido melhores servidores do que os contemporâneos e mais capazes de prover a cidade do que lhe apetecia Todavia redirecionar seus apetites e não lhes ceder usando a persuasão e a força de modo a tornar melhores os cidadãos nesse aspecto eles em nada se diferem dos outros por assim dizer e esse é o único feito de um bom político Quanto a naus muralhas estaleiros e todas as demais coisas do gênero eu também concordo que eles foram mais prodigiosos do que os contemporâneos em prover a cidade disso Assim tanto eu quanto tu agimos de modo ridículo na discussão durante todo 0 tempo em que dialogávamos não paramos de girar sempre em torno do mesmo ponto e de ignorar reciprocamente o que um ou outro dizia De fato creio que tu concordaste comigo repetidas vezes e com preendeste enfim que há duas atividades concernentes tanto ao corpo quanto à alma e que uma delas é servidora e capaz de prover o nosso SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 161 corpo de comida se houver fome de bebida se houver sede de man tos cobertores e sapatos se sentir frio e de outras coisas que apetecem o corpo E eu te falo por meio das mesmas imagens propositalmente a fim de que tua compreensão seja mais fácil 5i7b2d6 ςω Ώ δαιμόνιε ούδ έγώ ψέγω τούτους ώς γε διακόνους είναι πόλεως άλλα μοι δοκοΰσι τών γε νΰν διακονικώτεροι γεγονέναι και μάλλον οίοί τε έκπορίζειν τή πόλει ών έπεθύμει άλλα γάρ μεταβιβάζειν τάς επιθυμίας καί μή έπιτρέπειν πείθοντες και βιαζόμενοι έπι τούτο οθεν εμελλον άμείνους έσεσθαι οί πολΐται ώς έπος ειπεΐν ούδέν τούτων διέφερον έκεΐνοι δπερ μόνον εργον έστιν άγαθοϋ πολίτου ναϋς δέ και τείχη και νεώρια και άλλα πολλά τοιαΰτα και έγώ σοι ομολογώ δεινότερους είναι εκείνους τούτων έκπορίζειν πράγμα ουν γελοιον ποιοϋμεν έγώ τε και σύ έν τοϊς λόγοις έν παντι γάρ τώ χρόνω ον διαλεγόμεθα ούδέν παυόμεθα εις τό αύτό άει περιφερόμενοι και άγνοοΰντες άλλήλων δτι λέγομεν έγώ γοΰν σε πολλάκις οιμαι ώμολογηκέναι και έγνωκέναι ώς άρα διττή αΰτη τις ή πραγματεία έστιν και περι τό σώμα και περι τήν ψυχήν και ή μέν έτέρα διακονική έστιν ή δυνατόν είναι έκπορίζειν έάν μέν πεινή τα σώματα ήμών σιτία έάν δέ διψή ποτά έάν δέ ριγώ ίμάτια στρώματα ύποδήματα άλλ ών έρχεται σώματα εις έπιθυμίαν και έξεπίτηδές σοι διά τών αυτών εικόνων λέγω ϊνα ράον καταμάθης Nesse sentido se a imagem séria de Sócrates pode ser compa rável à de Aquiles seu comportamento jocoso em certas situações particulares como vemos representado no Górgias parece apro ximálo antes de Odisseu o polutropos πολύτροπος Od 11 o polumêtis πολυμήτις Od 21274 que usa de todo e qualquer meio ou artifício para obter o fim almejado8 9 no caso de Sócra tes a consumação do elenchos Essa comparação entre Sócrates e Odisseu que sugiro aqui embora possa parecer bastante genérica 8 O adjetivo polutropos significa genericamente de vários modos e aparece na Odisséia como epíteto de Odisseu que por vezes é substiuído por outros compos tos com o prefixo polu tais como polumêtis poliastucioso como traduz Haroldo de Campos Polutropos a princípio referese à errância de Odisseu que na volta de Troia para ítaca passou por diversos lugares até retornar a seu palácio como narra o poema homérico Por extensão tal adjetivo também conota versatilidade astúcia perspicácia aproximandose de seu correlato semântico polumêtis 9 R Robinson Platos Earlier Dialectic p 89 Sócrates parece preparado para empregar qualquer tipo de engano a fim de submeter as pessoas ao elenchos 162 GÓRGIAS DE PLATÃO foi concebida por Antístenes um dos autores dos Sõkratikoi logoi Discursos Socráticos a que se refere Aristóteles na Poé tica 11470913 A partir do catálogo de suas obras preservado por Diógenes Laércio 61518 Antístenes se dedicava entre outros assuntos à exegese de temas homéricos Segundo C Kahn10 1 12 Antístenes aparentemente concebia Odis seu como uma espécie de sábio socrático tendo em vista um dos fragmentos de sua obra exegética sobre Homero preservado por Porfírio Questionam Homericarum ad Odysseam Pertinentium Reliquiae 11121 Nesse fragmento numa discussão sobre a semântica do termo polutropos o mesmo tipo de debate a que se volta Platão no diálogo Hípias Menor cf 36433656 Antístenes se opõe a um contraargumentador anônimo que se apoiava no sentido dado ao termo por Aquiles na Ilíada12 quando ele cen sura Odisseu ou seja de dolo engano mentira Na concep ção de Antístenes contudo polutropos significava sobretudo ter a habilidade com o diálogo διαλέγεσθαι 1117 saber se exprimir por diversos modos πολλούς τρόπους iii8 e por conseguinte ser capaz de se relacionar com os homens de 10 C Kahn Plato and the Socratic Dialogue p 122123 11 Na interpretação de Kahn a exegese sobre Homero presente no Hípias Menor é uma referência de Platão a esse tipo de debate feito por Antístenes e não o inverso pois segundo as informações conservadas sobre o autor ele é bem mais velho que Platão e um escritor já bem estabelecido nos anos 390 aC op cit p 122 quando Platão provavelmente começou a escrever os diálogos 12 Homero Ilíada 9307313 trad Haroldo de Campos Falou então Aquiles pésvelozes O uve Laertíade poliastucioso sem meios termos claro direi quanto penso e farei para que ninguém sente junto a mim palrando um deste outro daquele lado Como às portas do Hades detesto quem fala uma coisa e esconde outra na mente Tòv δ άπαμειβόμενος προσέφη πόδας ώκύς Άχιλλεύς διογενες Λαερτιάδη πολυμήχαν Όδυσσεΰ χρή μέν δή τον μύθον άπηλεγέως άποειπεϊν η περ δή φρονέω τε και ώς τετελεσμένον έσται ώς μή μοι τρύζητε παρήμενοι αλλοθεν άλλος έχθρός γάρ μοι κείνος όμώς Αΐδαο πΰλμσιν δς χ έτερον μέν κεύθη ένι φρεσίν άλλο δέ εϊπη SÓCRATES AQUILES OU ODISSEU 163 diversas maneiras πολλοίς τρόττοις íin adequando o seu discurso ao caráter do interlocutor13 Se nesse fragmento An tístenes não cita nominalmente o filósofo de quem foi amigo e a quem dedicou parte de sua obra ao escrever Sõkratikoi logoi ao leitor dos diálogos platônicos entretanto a figura de Sócrates é imediatamente evocada Mas se os sábios são terrivelmente hábeis no diálogo eles também sabem exprimir o mesmo pensamento por diversos modos uma vez que eles conhecem diversos modos de discursos a respeito de uma mesma coisa eles seriam então polutropoi E se os sábios são bons também em se relacionar com os homens é por esse motivo que Homero diz que Odisseu sendo sábio é polutropos porque ele sabia deveras conviver com os homens de diversas maneiras 111721 εί δέ oi σοφοί δεινοί είσι διαλέγεσθαι και έπίστανται το αυτό νόημα κατά πολλούς τρόπους λέγειν έπιστάμενοι δέ πολλούς τρόπους λόγων περι τού αυτού πολύτροποι άν ειεν εί δέ οί σοφοί και άνθρώποις όμιλεΐν άγαθοί είσι διά τούτο φησι τον Οδυσσέα Ομηρος σοφόν όντα πολύτροπον είναι ότι δή τοΐς άνθρώποις ήπίστατο πολλοίς τρόποις συνεΐναι Como vemos no Górgias Sócrates é representado por Platão como o novo senhor da arte do discurso tekhné logõn em substituição à figura do rétor Ele domina não apenas os recursos próprios da brakhulogia mas também os da makrologia subordi nando o domínio discursivo da retórica ao domínio da filosofia O Mito Final narrado por Sócrates por sua vez representaria nessa perspectiva de leitura a apropriação do discurso poético e a sua reinvenção em uma nova forma de discurso em prosa em um novo gênero literário o diálogo o qual compreende tam bém elementos e topoi característicos da tragédia e da comédia Nesse movimento intergenérico a figura de Sócrates o grande protagonista da obra platônica emerge então como a do novo herói o filósofo como o polutropos do discurso 13 C Kahn op cit p 123 ΓΟΡΓΙΑΣ Καλλικλής ΚΑ Σωκράτης ΣΩ Χαιρεφών ΧΑ Γοργίας ΓΟΡ Πώλος ΠΩ GORGIAS Cálicles cal Sócrates soc Querefonte que Górgias gor Polo POL a ΚΑΛ Πολέμου καί μάχης φασί χρήναι ω Σωκρατες οντω μεταλαγχάνειν ΣίΙ Ά λλ ή το λεγόμενον κατόπιν εορτής ήκομεν καί νστερονμεν ΚΑΛ Καί μάλα γε αστείας εορτής πολλά γαρ καί καλά Τοργίας ήμίν ολίγον πρότερον επεδείζατο Σί2 Τούτων μεντοι ω Καλλίκλεις αίτιος Χαιρεφων όδε εν αγορά άναγκάσας ημάς διατρΐψαι S t 1 3 447 ï Ο diálogo Górgias não é marcado temporalmente nem espacialmente ele irrompe com a brusca entrada de Cálicles admoestando Sócrates pelo atraso Não sabemos onde se passa a cena se na casa de algum homem rico que se dispunha a ser anfitrião dos sofistas como Cálias no Protagoras ou em algum prédio público não sabemos se é tarde ou noite apenas que Sócrates chega após a epideixis exi bição de Górgias De qualquer modo é um ambiente dominado pela presença do ilustre rétor de seus discípulos e do restante da audiência Nesse sentido o diálogo representa o ingresso de Sócrates nesse ambiente como se fosse em uma guerra uma analogia bastante profícua para representar o que sucederá no diálogo sobre tudo no 3a Ato no debate entre Sócrates e Cálicles Toda a cena se desenvolve ali como se Sócrates estivesse em território inimigo fator que condicionará de certo modo o seu comportamento durante a discussão Por outro lado as duas primei ras palavras que abrem o diálogo guerra e batalha πολέμου και μάχης 447ai c a l Como dizem Sócrates eis a devida maneira de par ticipar da guerra e da batalha1 soc Mas o quê Chegamos como no ditado depois da festa e atrasados c a l E depois de uma festa muito distinta pois Górgias há pouco nos exibiu2 inúmeras coisas belas soc Mas o culpado disso é Querefonte Cálicles por sua força demoramos na ágora aludem à natureza agonística da retórica em que a finalidade predpua do orador é a vitória sobre seu adversário por meio da persuasão da audiência à qual se dirige seu discurso Isso ficará patente na analogia entre o ensino da retórica e o da luta no discurso da personagem Górgias logo adiante 456C457C 2 Platão emprega de modo marcado no Prólogo 4473144908 formas no minais e verbais da raiz έπιδεικepideik para se referir às exibições ou per formances de Górgias para o público como podemos constatar nesta série de ocorrências έπεδείξετο 447a6 έπιδείξεται 447b2 έπιδείξεται 447b8 έπίδειξιν 447C3 έπιδείξεως 447c6 έπίδειξιν 449C4 Também no diálogo Pwtágoras esse verbo é usado no mesmo sentido quando Sócrates desafia a personagem homônima a de monstrar que a virtude é ensinável a qual por sua vez oferece duas modalidades de epideixis exibição o mito μύθον λέγων ou a exposição por meio de racio cínio λόγω διεξελθών 32ob8C4 a St 1 P 4 4 7 168 GÓRGIAS DE PLATÃO b X A I Ούδεν πράγμα ώ Σωκρατες έγω yap καί Ιάσομαι φίλος yàp μοι Γοργίας ωστ έπιδείζεται ημίν el μέν ύοκεϊ νυν εάν be βούλη els ανθis ΚΑΛ T L be ω Χαιρεφων èπιθvμeΐ Σωκράτης άκουσαι Γ οργίου ΧΑΙ Ε π αυτό ye τοι τούτο πάρεσμεν ΚΑΛ Ονκοϋν όταν βούλησθε παρ έμε ηκειν οΐκαδε παρ έμοί γάρ Γοργίας καταλύει και έπιδείζεται νμΐν ΣΩ Εδ λέγεις ώ Καλλίκλεις άλλ άρα έθελησειεν αν c ημίν διαλεχθηναι βούλομαι γάρ πυθέσθαι παρ αυτού τις η δύναμις τη s τέχνης τού àvbpôs καί τί έστιν ο επαγγέλλεται τε και διδάσκει την be άλλην έπίδειζιν els αυθις ώσπερ σύ λέγεις ποιησάσθω ΚΑΛ Oùôèv οΐον το αυτόν έρωταν ω Σώκρατες καί γάρ αυτω εν τοϋτ ην της επώείζεως έκέλευε γούν νννδη έρωταν οτι τις βούλοιτο των ένδον οντων καί προς άπαντα έφη άποκρινείσθαι ΣΩ ΤΗ καλώς λέγεις ω Καιρεφων έροΰ αυτόν ΧΑΙ Τί έρωμαι d ΣΩ Οστις έστίν ΧΑΙ Πώΐ λέγεις ΣΩ Ωσπερ αν ει έτύγχανεν ων υποδημάτων δημιουργός απεκρίνατο αν δηπου σοι οτι σκυτοτόμος η ου μανθάνεις ώ λέγω 3 O verbo émGupéü epithumeõ colocado na boca de Cálicles para exprimir desejo traduzido aqui por almejar 44704 não é uma escolha fortuita de Pla tão mas antecipa de certa forma o tipo de caráter da personagem que se revelará no 3a Ato do diálogo 48ib527e Platão representa Cálicles como defensor da vida hedonista na qual o homem mais forte por natureza é capaz de por meio da coragem e da inteligência ôf àvôpeíav K a l tppóvqaiv 49282 engrandecer ao máximo e satisfazer os seus apetites tcu èniGupíac tàç éautoõ 49ie89 vivendo sem as rédeas da temperança e da justiça estabelecida pela lei dos mais fracos nisso consistiria a felicidade humana na perspectiva moral de Cálicles 49164920 Por tanto a ocorrência do verbo ètuGupéai epithumeõ nessa fala já exprime de certa forma o caráter hedonista da personagem 4 É a primeira vez no diálogo que aparece a oposição entre o diálogo ôiaXexGfjvai 447C1 pretendido por Sócrates e a exibição performática de Górgias èttíÔEiiv 447C3 que a princípio corresponderia à tensão entre os modos de discurso o filosófico e o GÓRGIAS 169 q u e Não há problema Sócrates Vou remediálo pois Gór gias é meu amigo Se for de teu parecer nos fará uma exibição agora ou se quiseres em outra ocasião c a l O quê Querefonte Sócrates almeja3 ouvir Górgias q u e Eis a razão de nossa presença c a l Basta então quererdes acompanharme até em casa pois Górgias é meu hóspede e há de vos fazer outra exibição soc Bem dito Cálicles Mas ele desejaria porventura dia logar conosco Pois quero saber dele qual é o poder da arte do homem e o que ele promete e ensina o resto da exibição dei xemos para outra ocasião como dizes4 c a l Nada como tu a indagálo Sócrates Aliás esse era um dos pontos de sua exibição há pouco mandou aos presentes que lhe perguntassem o que desejassem e afirmou que responderia a todas as perguntas soc Bem dito Querefonte interrogao q u e Sobre o que devo interrogálo soc Quem ele é q u e Como dizes soc Por exemplo se ele fosse artífice de sapatos ele decerto te responderia que é sapateiro ou não entendes o que digo retórico Tal oposição será cunhada no Prólogo pelos termos β ρ α χ υ λ ο γ ία brakhulo gia discurso breve e μ α κ ρ ο λ ο γ ία makrología discurso extenso respectivamente 449C5 No Górgias assim como em geral nos chamados primeiros diálogos de Platão não há ocorrências do termo de conotação técnica em Platão δ ια λ ε κ τικ ή dialektiké dialética para se referir ao modo de discurso eou ao método de Só crates para refutar ou provar alguma tese mas antes o verbo δ ια λ έ γ ε σ θ α ι dialeges thai dialogar Dentre os primeiros diálogos seria no Eutidemo diálogo que trata da erística a única ocorrência de formas derivadas da raiz δ ια λ ε κ τικ dialektik os dialéticos το ις δ ια λε κ τικ ο ίς 290C5 Isso talvez nos permita inferir que ao mesmo tempo em que Platão passa a apresentar paulatinamente a dialética como método de hipóteses em sua obra ou seja no Mcntm Ecdon e República principalmente ele passa a se referir mais precisamente através de termos derivados da raiz έρ ισ τικ eris tik à pseudodialética dos erísticos representados na obra platônica pelos irmãos Dionisodoro e Eutidemo no diálogo Eutidemo 170 GÓRG1AS DE PLATÃO ΧΑΙ Μανθάνω και ερησομαι Είπε μοι ω Γοργία αληθή λεγει Καλλικλής δδε οτι επαγγελλη αποκρίνεσθαι οτι αν ris σε ερωτά ΓΟΡ Αληθή ω Χαφεφων και γαρ νννδή αυτά ταϋτα επηγγελλόμην και λέγω οτι ουδείς με πω ήρώτηκε καινόν ονδεν πολλών ετών ΧΑΙ ΤΙ που αρα ραδίων αποκρινή ω Γοργία ΓΟΡ Πάρεση τούτον πείραν ω Χαιρεφών λαμβάνειν ΠΩΛ Ντ Αία άν δε γε βουλή ω Χαιρεφών εμού Γοργία μεν γάρ καί άπειρη κενά ι μοι δοκεν πολλά γαρ άρτι διεληλνθεν ΧΑΙ Τί δε ω Πώλε οϊει συ κάλλιον άν Γοργίου άποκρίνασθαι ΠΩΛ Τί δε τούτο εάν σοί γε ικανως ΧΑΙ Ονδεν àλλ επειδή συ βούλει άποκρίνον ΠΩΛ Έρωτα ΧΑΙ Έοωτω δν εί τυγγαυε Γοργία επιστήμων ων τής τέχνη s ήσπερ ô αδελφός αυτόν Ήροδικο τί άν αυτόν ώνομάζομεν δικαίως ουχ δπερ εκείνον ΠΩΛ Πάυυ γε ΧΑΙ Ιατρού αρα φάσκοντες αυτόν είναι καλώς αν ελεγομεν ΠΩΛ Ναί 5 5 A entrada em cena de Polo discípulo de Górgias interrompe bruscamente a interpelação que Querefonte discípulo de Sócrates fazia seguindo o modelo de perguntas por analogia argumento indutivo sugerido pelo mestre Assim nesse primeiro momento do diálogo ao invés de um debate imediato entre as duas figuras mais eminentes Górgias e Sócrates deparamonos com uma espécie de prelúdio de um grande ato que está por vir encenado pelos seus respectivos discípulos Por outro lado o argumento aduzido por Polo para explicar sua intrusão no diálogo o cansaço de Górgias é um elemento dramático que pode de certa forma justi ficar o rápido fracasso da personagem Górgias perante o elenchos de Sócrates no Ia Ato abrindo caminho para Polo e Cálicles desempenharem o papel de inter locutores de Sócrates GÓRGIAS 171 q u e Entendo Vou interrogálo Górgias dizeme se é ver dade o que nos conta Cálicles que prometes responder a qual quer pergunta que alguém te enderece g o r É verdade Querefonte Aliás era precisamente isso o que há pouco prometia e digo há muitos anos ninguém ainda me propôs uma pergunta nova q u e Ora então respondes com desembaraço Górgias g o r Podes me testar Querefonte p o l Por Zeus contanto que queiras testar a mim Quere fonte Pois Górgias pareceme estar deveras exausto acabou de discorrer há pouco sobre vários assuntos5 q u e O quê Polo Achas que respondes melhor do que Gór gias p o l Por que a pergunta se te for o suficiente q u e Nada mas visto o teu querer responde então p o l Pergunta q u e Pergunto sim Se Górgias tivesse o conhecimento da mesma arte que seu irmão Heródico6 que denominação lhe se ria mais justa Não seria a mesma que conferimos àquele p o l Certamente q u e Portanto diríamos acertadamente se afirmássemos que ele é médico p o l Sim 6 Como ressalva Dodds em seu comentário sobre o Górgias Plato Górgias p 191 não se trata aqui do médico homônimo referido por Platão diversas vezes nos diálogos natural de Mégara pois o irmão assim como Górgias seria presumivelmente de Leontine cidade da Sicília Dodds sugere que Heródico irmão de Górgias seja provavelmente a figura referida por Aristóteles na Retórica quando ele trata da se mântica dos nomes pois sendo irmão do rétor seria verossímil o seu encontro com o sofista Trasímaco personagem do Livro 1 da República e com Polo e como Heródico dizia a Trasímaco és sempre thrasumakhos audaz no combate e a Polo és sempre pólos potro 11 i40ob202i και Ήρόδικος Θρασύμαχον άεΐ θρασύμαχος εΓ και Πώλον άει σύ πώλος ει 44 b 172 GÓRGIAS DE PLATÃO ΧΑΙ E2 δέ γε ησπερ Άριστοφών 5 Άγλαοφώντος η δ αδελφός αντοΰ έμπειρος ην τέχνης τίνα αν αυτόν όρθώς εκαλοΰμεν ΠΩΛ Αηλον on ζωγράφον ΧΑΙ Nîy δ επειδή τίνος τέχνης επιστήμων έστίν τίνα αν καλουντες αυτόν όρθώς καλοιμεν ΠΩΛ Ώ Χαιρεφών πολλοί τέχναι έν άνθρώποις είσιν έκ των εμπειριών έμπείρως ηυρημέναι έμπειρία μεν γάρ ποια τον αιώνα ημών πορεύεσθαι κατά τέχνην απειρία ôè κατά τύχην έκαστων δέ τούτων μεταλαμβάνονσιν άλλοι άλλων άλλως των δε αρίστων οι άριστοι ών και Γοργίας εστϊν δδε και μετέχει της καλλίστης των τεχνών ΣΩ Καλώς γε ώ Γοργία φαίνεται ΓΤώλοΐ παρεσκευά σθαι εις λόγους αλλά γάρ δ υπέσχετο Χαιρεφώντι ου ποιεί ΓΟΡ Ύί μάλιστα ώ Σώκρατες ΣΩ Το έρωτώμενον ου πάνυ μοι φαίνεται άποκρίνεσθαι ΓΟΡ Άλλα συ εΐ βουλει έροΰ αυτόν 7 Irmão do famoso pintor Polignoto referido por Platão no diálogo lon tam bém como filho de Aglaofonte ΙΙολυγνώτου του Αγλαοφώντος 532e8 8 Platão representa aqui na fala dos discípulos o modo habitual de discurso de seus respectivos mestres Querefonte segue o modelo dialógico sugerido por Sócrates 447d o de perguntas por analogia Polo por sua vez faz um discurso grandilo quente primado pela beleza formal das figuras de linguagem O discurso de Polo como resposta à pergunta de Querefonte pode ser entendido aqui como uma paró dia platônica do que se tornou posteriormente o célebre estilo gorgiano de escrita A abundância de figuras de linguagem é flagrante poliptoto εμπειριών έμπειρώς εμπειρία άλλοι άλλων άλλως τών αρίστων oi άριστοι antítese εμπειρία άπειρία κατά τέχνην κατά τύχην άλλοι άλλων τών άριστων οι άριστοι paronomásia τέχνην τύχην isócolon άπειρία δέ κατά ψύχην τών δέ άριστων οί άριστοι Se compararmos com ο Elogio de Helena de Górgias uma das poucas obras do autor que foram conservadas integralmente observaremos a ocorrência das mesmas figu ras de linguagem e um estilo de escrita semelhante poliptoto βάρβαρος βάρβαρον 7 προς άλλων άπ άλλου μ όσοι όσους περί όσων 11 antítese κόσμος πόλει μεν εύανδρία τά δέ έναντία τούτων άκοσμία ι πέφυκε γάρ ού το κρεΐσσον ύπό τού ήσσονος κωλύεσθαι άλλα το ήσσον ύπό του κρείσσονος άρχεσθαι καί άγεσθαι 6 paronomásia αμαρτία καί άμαθία ι ô λαβούσα και ού λαθούσα GÓRGIAS 173 q u e Mas se ele fosse experiente na mesma arte que Aris tofonte7 filho de Aglaofonte ou que seu irmão como nós o chamaríamos corretamente p o l É evidente que de pintor q u e Agora uma vez que ele tem conhecimento de certa arte de que nome nós o chamaríamos corretamente p o l Querefonte as artes são abundantes entre os homens descobertas da experiência experimentalmente Pois a expe riência faz com que a nossa vida seja guiada pela arte enquanto a inexperiência pelo acaso Diferentes homens participam de cada uma delas de formas diferentes e das melhores artes os melhores homens Dentre estes últimos eis aqui Górgias que participa da mais bela arte8 soc Polo parece bem preparado para o discurso Górgias Porém não cumpre o que apregoava a Querefonte g o r Precisamente o quê Sócrates soc A pergunta não me pareceu ter sido absolutamente respondida g o r Mas então pergunta tu se quiseres 4 προβήσομαι και προθήσομαι 5 νομίζω και ονομάζω 9 isócolon σώματι δε κάλλος ψυχή δέ σοφία πράγματι δέ αρετή λόγω δέ αλήθεια ι οί δε εύγενείας παλαιός ευδοξίαν οί δέ αλκής ιδίας ευεξίαν 4 e a conjugação de figuras antí tese e isócolon καί το μέν κρείσσον ήγεισθαι το δέ ήσσον έπεσθαι 6 νόμω μέν ατιμίας λόγω δέ αιτίας 7 paronomásia e isócolon τών τε παρόντων έννοιαν τών τε μελλόντων πρόνοιαν ιι Além da abundância das figuras a ocorrência de αιώνα aiõna vida termo peculiar à poesia parodiaria a predileção de Gór gias de prover o discurso em prosa de recursos próprios da linguagem poética o que os autores subsequentes considerarão como marcas de sua elocução como por exemplo Dionísio de I lalicarnasso rétor historiador e crítico literário residente em Roma no séc 1 aC A linguagem poética e figurada influenciou os rétores de Atenas como afirma Timeu Fr 9 5 h h g i 2 1 6 depois de Górgias têla introduzido quando esteve em Atenas como embaixador arrebatando os ouvintes com um discurso público mas na verdade a admiração por essa linguagem já era bem mais antiga Sobre Lísias 3 ήψατο δέ καί τών Άθήνησι ρητόρων ή ποιητική τε και τροπική φράσις ώς μέν Τίμαιός φησι fr 95 fhg 1216 Γοργίου άρξαντος ήνίκ Άθήναζε πρεσβεύων κατεπλήξατο τούς άκούοντας τή δημηγορία ώς δέ τάληθές έχει τό καί παλαιότερον αίεί τι θαυμαζομένη 174 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ 0 υκ εί αντω γε σοι βονλομένω έστίν αποκρίνεσθαι άλλα πολύ αν ηδιον σι δηλος γάρ μοι Πώλο y και έζ ων εϊρηκεν Sri την καλόνμένην ρητορικήν μάλλον μεμελέτηκεν η διάλέγεσθαι ΠΩΛ Τι δη ώ Σωκρατες ΣΩ Οτι ώ Πώλ6 ερομένου Χαιρεφωντος τίνος Γοργίας επιστήμων τέχνης εγκωμιάζεις μεν αντου την τέχνην ώσπερ τίνος φέγοντος ήτις δε εστιν ουκ άπεκρίνω ΠΩΛ Ον γάρ απεκρινάμην οτι είη η καλλίστη ΣΩ Καί μάλα άλλ ουδεις έρωτά ποία τις η Γοργίου τέχνη άλλα τις καί δντινα δέοι καλείν τον Γοργίαν ωσττερ τα έμπροσθεν σοι νπετείνατο Χαιρεφων και αντω καλώς και δια βραχέων άπεκρίνω καί νυν ούτως είπε τίς η τέχνη καί τίνα Γοργίαν καλείν χρη ημάς μάλλον δέ ω Γοργία αυτός ημϊν είπέ τίνα σε χρη καλείν ως τίνος επιστήμονα τέχνης ΓΟΡ Tt js ρητορικής ω Εύκρατες ΣΩ Γητορα αρα χρη σε καλείν 9 10 9 É a primeira ocorrência do termo ρητορική rhètorikè retórica no diálogo em contraste direto com dialegesthai διαλέγεσθαι diálogo A tendência de Polo ao elogio do objeto em questão antes de se definir precisamente que objeto é esse ne gligenciando portanto a prioridade da definição sobre o juízo de valor que Sócrates estipula como regra para o correto proceder dialógico é um dos modos de Platão figurar do ponto de vista da construção das personagens no Górgias a oposição en tre dois modos de discursos diferentes o filosófico e o retórico Polo devido à sua inexperiência no domínio discursivo dialógico pelo menos segundo as expectativas de Sócrates é incapaz de dar uma resposta breve e simples conforme o argumento indutivo de Querefonte recorrendo em contrapartida ao discurso extenso e orna mentado do modelo retórico As consequências da inexperiência de Polo se tornarão evidentes quando ele passa a ser o interlocutor principal no 2a Ato 46ib48ib no qual Sócrates irá acentuar de modo jocoso a sua debilidade por meio do seu método de refutação elenchos 10 Sócrates entende a resposta de Polo como uma espécie de elogio ou encó mio εγκωμιάζεις 44863 como se ele estivesse respondendo a um vitupério τίνος ψέγοντος 448e4 da parte de algum antagonista Embora não haja em Platão um tipo de categorização formal tal como Aristóteles empreenderá posteriormente na Retórica vale notar que nesse passo do Górgias há uma clara atribuição do elogio e do vitupério ao domínio do que Platão chama de retórica no diálogo Em Aristóteles eles consistem precisamente em um dos gêneros do discurso retórico o epidítico como vemos nesta célebre passagem da Retórica Em número as espécies da retórica são três e o mesmo tanto resulta ser GÓRGIAS 175 soc Não se tu mesmo quiseres responder será mais aprazí vel interrogarte Pois é evidente que Polo pelo que acabou de di zer tem praticado antes a chamada retórica do quq p diálogo9 pol Por quê Sócrates soc Porque Polo Querefonte perguntou a ti de qual arte Górgias tinha conhecimento e tu passaste a elogiar a sua arte como se alguém a vituperasse10 mas que arte é essa não res pondeste pol Mas não respondi que é a mais bela soc Com certeza Mas ninguém está perguntando de que qualidade ela é e sim que arte é essa e por qual nome Górgias deve ser chamado Assim como Querefonte te formulou as perguntas anteriores e tu lhe respondeste correta e brevemente dizeme agora de modo semelhante que arte é essa e por qual nome de vemos chamar Górgias Ou melhor dizenos tu mesmo Górgias como devemos te chamar e de que arte tens conhecimento gor Da retórica Sócrates soc Portanto devemos te chamar de rétor também os ouvintes dos discursos O discurso se constitui de três coisas daquele que fala daquilo a respeito do que se fala e daquele a quem se fala e o fim é em vista deste refirome ao ouvinte O ouvinte é necessariamente espectador ou juiz e juiz de eventos passados ou futuros O juiz de eventos futuros é o membro da As sembleia o de eventos passados o juiz dos tribunais e quem observa o poder de quem fala é o espectador Por conseguinte é necessário que haja três gêneros de discurso retórico o deliberativo o judiciário e o epidítico Uma parte da delibera ção é a exortação e a outra a dissuasão tanto aqueles que aconselham em privado quanto os que discursam em público sempre cumprem uma dessas funções Uma parte do processo judiciário é a acusação a outra a defesa é necessário que as par tes contendentes cumpram ou uma ou outra dessas funções Uma parte do discurso epidítico é o elogio a outra o vitupério i 135833658013 έτιν δέ τής ρητορικής είδη τρία τον αριθμόν τοσοϋτοι γάρ καί oi άκροαται των λόγων ύπάρχουσιν οντες σύγκειται μέν γάρ έκ τριών ό λόγος εκ τε τού λέγοντος και περί ου λέγει και προς ον και το τέλος προς τούτον έστιν λέγω δέ τον άκροατήν άνάγκη δέ τόν άκροατήν ή θεωρόν είναι ή κριτήν κριτήν δέ ή τών γεγενημένων ή των μελλόντων έστιν δ ό μέν περί τών μελλόντων κρίνων ό εκκλησιαστής ό δέ περί τών γεγενημένων οίον ό δικαστής ό δέ περι τής δυνάμεως ό θεωρός ώστ έξ ανάγκης αν εϊη τρία γένη τών λόγων τών ρητορικών συμβουλευτικόν δικανικόν έπιδεικτικόν συμβουλής δέ τό μέν προτροπή το δέ αποτροπή άει γάρ και οί ιδία συμβουλεύοντες και οί κοινή δημηγορούντες τούτων θάτερον ποιοϋσιν δίκης δέ τό μέν κατηγορία τό δ άπολογία τούτων γάρ όποτερονοϋν ποιεϊν άνάγκη τούς άμφισβητοΰντας επιδεικτικού δέ τό μέν έπαινος τό δέ ψόγος e 449 176 GÔRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Αγαθόν γε ω Σωκράτη εί δη S γε εύχομαι είναι ως εφη Ομηροί βούλα με καλάν ΣΩ Άλλα βούλομαι ΓΟΡ Κάλΐ δή ΣΩ Ουκοΰν και άλλους σε φωμεν δυνατόν είναι τΐοιεϊν ΓΟΡ Επαγγέλλομαι γε όη ταΰτα ου μόνον ενθάδε άλλα και άλλοθι ΣΩ Ά ρ ουν εθελησαις αν ω Γοργία ώσπερ νυν δια λεγόμεθα διατελέσαι το μεν έρωτων το δ άποκρινόμενος το δε μήκος των λόγων τούτο οΧον και Πώλο ηρξατο εις αυθις άποθέσθαι άλλ όπερ νπισχνή μη ψευση αλλά εθέλησον κατά βραχύ το έρωτωμενον άποκρίνεσθαι ΓΟΡ Εϊσ μεν ώ Σώκρατες ενιαι των αποκρίσεων άναγκαιαι δια μακρών τους λόγους ποιεΐσθαι ου μην άλλα πειράσομαί γε ως δια βραχύτατων και γάρ αν καί τούτο εν εστιν ων φημι μηδένα αν εν βραχυτέροις εμού τα αυτά ειπεΐν GÓRGIAS 177 g o r De um bom rétor Sócrates se queres me chamar como diz Homero daquilo que rogo ser11 soc Mas eu quero chamálo g o r Então chama soc Podemos dizer assim que és capaz de tornar rétores b também outras pessoas gor Isso eu não prometo apenas aqui mas em todo e qual quer lugar soc Porventura desejarias Górgias assim como agora dia logamos terminar a conversa um interrogando e o outro respon dendo e esses discursos extensos como Polo principiou a fazêlo deixálos para outra ocasião Não traias o que asseveras mas de seja responder brevemente as perguntas a ti endereçadas g o r Há certas respostas Sócrates que obrigamnos a ela borar longos discursos Todavia tentarei responder o mais breve possível Ademais uma das coisas que professo é que ninguém c diz as mesmas coisas da maneira mais breve do que eu li Górgias é representado por Platão como uma personagem jactante presun çosa orgulhosa de sua onipotência na arte dos discursos τέχνη λόγων que se apre senta como mestre de certo saber A própria repreensão de Cálicles a Sócrates na abertura do diálogo é índice disso como se Sócrates não estivesse respeitando um homem de grande reputação tendo em vista o seu atraso na epideixis do rétor Da mesma forma a veemência com que Polo age para acudir Górgias como vimos logo acima 448c evidencia a veneração do discípulo para com o mestre tecendo elogios à sua pessoa e à sua arte Górgias se enquadraria então naquela galeria de homens sábios ou de pretensos sábios à qual pertencem políticos poetas artesãos e sofistas referida por Sócrates na Apologia 21 bc A função do método de refutação de Sócra tes elenchos seria justamente mostrar ao interlocutor e à audiência eventualmente presente como seu saber é na verdade um falso saber como sua sabedoria aparente consiste de fato numa falsa pretensão alazoneia αλαζονεία ao saber 178 GÓRGIAS DE PLATÃO d ΣΩ Τούτου μην δει ω Γοργία καί μοι έπίδειζιν αυτού τούτον ποίησαι τής βραχυλογίας μακρολογίας he είς αύθις ΓΟΡ Άλλα ποιήσω και ονδενος φήσεις βραχνλογωτέρον ακόυσα ι ΣΩ Φέρε δή ρητορικής γάρ φής επιστήμων τέχνης tivai και ποιήσαι αν και άλλον ρήτορα ή ρητορική περί τι των οντων τυγχάνει ονσα ώσπερ ή υφαντική περί την των ί ματ ίων εργασίαν ή γάρ ΓΟΡ Ναι ΣΩ Ο νκονν και ή μουσική περί τήν των μελών ποίησιν ΓΟΡ Ναι ΣΩ N τήνΉραν ω Γοργία άγαμαί γε τας αποκρίσεις οτι άποκρίνη ως οίόν τε δια βραχντάτων ΓΟΡ Πάνυ γάρ οΐμαι ω Σώκρατες επιεικώς τούτο ποιεϊν ΣΩ Ευ λέγεις ϊθι δη μοι άπόκριναι ούτως και περί της ρητορικής περί τι των οντων εστιν επιστήμη 12 12 Sócrates distingue portanto ο modo de discurso dialógico do retórico no primeiro momento do ponto de vista de sua extensão o discurso breve brakhulo gia β ρ α χ υ λ ο γ ί α 4 4 9 C 5 de um lado como Querefonte procedeu anteriormente na interlocução com Górgias e Polo em que um interlocutor formula as perguntas e o outro as responde de modo conciso é interessante notar como Sócrates exige brevi dade nas respostas mas não diz nada sobre a extensão das perguntas e o discurso longo makmlogia μ α κ ρ ο λ ο γ ί α 4 4 9 C 5 de outro como Polo principiou a fazêlo ao elogiar o ofício do mestre Como a personagem Górgias arroga onipotência no âmbito dos discursos seja no domínio da brakhulogia seja no da makrologia Sócra tes consegue facilmente conduzir a discussão para o âmbito dialógico evitando as incursões nos longos discursos próprios do registro retórico Situação similar mas bastante diferente é representada no diálogo Protágoras quando se estabelece um impasse quanto ao modo de discurso a ser adotado pelos interlocutores Protágoras e Sócrates Como a personagem homônima já havia sido refutada anteriormente sobre um ponto específico da discussão pois foi forçado por Sócrates a admitir no registro dialógico que temperança e sabedoria são a mesma coisa visto terem o mesmo contrário tese oposta à defendida por ele no início da discussão Protágo ras resiste à tentativa de Sócrates de estabelecer como condição de possibilidade da discussão a brakhulogia em detrimento da makrologia como vemos neste trecho Como então eu devo te responder o quanto me parece devido responder ou o quanto te parece Ao menos eu tenho escutado disse que a respeito dos mesmos assuntos GÓRGIAS 179 soc Eis o que é preciso Górgias e exibime justamente isto um discurso breve um discurso longo deixemos para ou tra ocasião12 gor Vou exibilo e dirás que jamais ouviste alguém tão breve no discurso soc Vamos lá Tu afirmas que conheces a arte retórica e que tornarias outra pessoa rétor a que coisa concerne a retórica Por exemplo a tecelagem à manufatura de roupas não é gor Sim soc E a música à composição de cantos gor Sim soc Por Hera Górgias agradamme as tuas respostas pois tu as formulas da maneira mais breve possível gor Julgo Sócrates que faço isso de modo muito conve niente soc Bem dito Adiante então respondeme de modo se melhante também a respeito da retórica a que concerne seu conhecimento és capaz tanto de fazer longos discursos e de ensinar os outros a fazêlo a ponto de jamais abdicar da palavra quanto de falar brevemente a ponto de não haver nin guém mais breve do que tu no discurso Assim se pretendes dialogar comigo utiliza o segundo modo o discurso breve para te volveres a mim Sócrates disse ele são inúmeros os homens com os quais já entrei em con tenda verbal e se eu fizesse o que me ordenas fazer tal como se o contendor me or denasse o diálogo e eu então dialogasse eu não seria manifestamente melhor do que ninguém tampouco haveria o nome de Protágoras entre os Helenos 3346233538 Πάτερα ούν όσα έμοί δοκεΐ δειν άποκρίνεσθαι τοσαϋτά σοι άποκρίνωμαι ή δσα σοί Άκήκοα γούν ήν δ έγώ ότι σύ οίός τ εΐ και αύτός και άλλον διδάξαι περι των αυτών και μακρά λέγειν έάν βούλη ούτως ώστε τον λόγον μηδέποτε έπιλιπεΐν και αύ βραχέα ούτως ώστε μηδένα σου έν βραχυτέροις είπειν εί ούν μέλλεις έμοι διαλέξεσθαι τώ έτέρψ χρώ τρόπω πρός με τή βραχυλογία Ώ Σώκρατες έφη έγώ πολλοϊς ήδη εις αγώνα λόγων άφικόμην άνθρώποις και εί τούτο έποίουν ô σύ κελεύεις ώς ό άντιλέγων έκέλευέν με διαλέγεσθαι ούτω διελεγόμην ούδενός αν βελτίων έφαινόμην ούδ έγένετο Πρωταγόρου όνομα έν τοίς Έλλησιν A interlocução entre eles só é restabelecida após uma longa deliberação dos membros da audiência 335b338e cuja resolução acaba se dando a favor de Sócrates instituindo assim o modelo dialógico como o modo de discurso a ser em preendido por ambos os interlocutores 180 GÓRGIAS DE PLATÃO e 4 5 0 b ΓΟΡ Πίτί λόγους ΣΩ Ποίουί τούτους ω Γοργία άρα οί δηλονσι τους κάμνοντας ως ϊιν διαιτώμζνοι υγιαίνουν ΓΟΡ 05 ΣΩ Ουκ αρα πρι πάντας γ τους λόγους ή ρητορική στινΓΟΡ Ου δήτα ΣΩ Άλλα μην λγΐν γ ποκΐ δυνατόνςΓΟΡ ΝαιΣΩ 0 νκοΰν πρι ωνπρ λγΐν και φρονΐν ΓΟΡ Πώί γαρ ον ΣΩ Ά ρ ούν ήν νννδή λίγομζν ή ιατρική περί των καμνόντων ποκΐ δυνατούς ΐναι φρονΐν καί λύγίΐνΓΟΡ Ανάγκη ΣΩ Και ή ιατρική αρα ως θΐκν πρι λόγονς στίν ΓΟΡ Ναι ΣΩ Του γ πρι τα νοσήματαΓΟΡ Μά λιστα ΣΩ Ονκονν καϊ ή γυμναστική ττβρι λόγονς ίστιν τους πρι νΐζίαν τ των σωμάτων και καχίζίανΓΟΡ Πάνυ γ ΣΩ Και μην καϊ αΐ αλλαι τύχναι ω Γοργία όντως χονσιν καστη αντων 7Τρι λογονς στιν τουτους οι τνγ γανουσιν οντς πρι το πραγμα ου καστη στιν ή τΐγνη 1 3 Ο campo semântico de logos λόγος traduzido nesse passo do diálogo por discurso é demasiadamente amplo e pode gerar controvérsias na leitura do texto platónico dependendo da opção que faz o tradutor ele pode tanto designar generica mente palavras frases discursos quanto se referir especiflcamente à expressão do pensamento racional e por conseguinte à razão ao cálculo ao argumento T Irwin em seu comentário ao Górgias Plato Gorgias p 1 1 4 considera que nesse diálogo há quatro diferentes sentidos de logos que não se excluem necessariamente mas que pelo contrário se encontram recorrentemente sobrepostos i logos significa geral mente discurso ou palavra falada ii às vezes ele designa um corpo organizado de discursos seja um discurso contínuo proferido por orador seja uma discussão entre interlocutores nesse sentido compreenderia tanto a brakhulogia quanto a makro logia como vimos acima no texto iii pode se referir a um discurso racional em oposição a uma mera história ou mito muthos μύθος 5 0 5 C 4 e 5 2 3 3 2 e iv pode GÕRGIAS 181 gor Aos discursos13 soc Mas a quais discursos Górgias São porventura aque les que mostram por qual regime os doentes devem recobrar a saúde gor Não soc Portanto a retórica não concerne a todos os discursos14 gor Certamente não soc Mas ela torna as pessoas aptas a falar gor Sim soc E a pensar então sobre aquilo que falam gor E como não soc Por acaso a medicina sobre a qual falávamos há pouco torna as pessoas aptas a pensar e a falar sobre os doentes gor Necessariamente soc Portanto também a medicina como é plausível con soe Àqueles relativos às doenças gor Certamente soc E a ginástica também não concerne a discursos àque gor Sem dúvida soc Com efeito também às outras artes Górgias sucede o mesmo cada uma delas concerne a discursos discursos esses que tratam daquilo de que cada uma é arte designar o procedimento de explicar as causas de um fenômeno oferecer uma consi deração racional dos eventos em contraste com as ações irrefletidas ou racionalmente injustificadas 465a 5ooe5oi a Nesse trecho específico do diálogo o sentido de logos subentendido por Sócrates uma vez que Górgias responde que a retórica concerne aos discursos περί λόγους 44901 compreenderia os quatro sentidos como ficará claro na sequência da discussão sobre o objeto específico da retórica 14 Por analogia com as outras artes Sócrates estabelece como condição para a tekhnê τέχνη ter um domínio específico um objeto determinado περί τί των οντων 449dí A resposta de Górgias todavia oferece uma definição genérica e não específica como espera Sócrates visto que também existem outras artes que dizem respeito a discursos περί λόγους 449ε i precisamente aqueles referentes ao domínio específico de sua atividade como no caso da medicina os seus discursos concernem à saúde e à doença cerne a discursos gor Sim les que tratam da boa e da má compleição dos corpos 182 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Φαίνεται ΣΩ Τ ί ουν δη ποτέ τάς άλλας τέχνας ου ρητορίκας καλεΐς ουσας περί λόγους εϊπερ ταυτην ρητορικήν καλεΐς ή άν ή περί λόγους ΓΟΡ Οτι ω Σωκράτης των μέν άλλων τεχνών περί χειρονργίας τε καί τοιαυτας πράζεις ώ έπος είπεΐν πασά εστιν η πίστημη της δέ ρητορικής ουδέν εστιν τοιοΰτον χειροΰργημα άλλα πάσα η πράξις και η κύρωσις δια λόγων έστίν δια ταυτ εγώ την ρητορικήν τέχνην άξιώ είναι περί λόγους όρθώς λίγων ώί εγώ φημι ΣΩ Αρ ουν μανθάνω οΐαν αυτήν βουλει καλεϊν τάχα δέ εϊσομαι σαφέστερου άλλ άπόκριναν είσιν ήμΐν τέχναι η γάρ ΓΟΡ Ναι Σί2 Πασών δη οΐμαι των τεχνών των μεν εργασία το πολύ εστιν καί λόγου βραχέος δέονται ενιαι δε ουδενος άλλα rò της τέχνης περαίνοιτο αν και διά σιγής οΐον γραφική και ανδριαντοποιία και άλλαι πολλαί τάς τοι αυτας μοι δοκεΐς λέγειν περί άς ου φρς την ρητορικήν είναι λ V η ον ΓΟΡ Πάνυ μεν ουν καλώς υπολαμβάνεις ώ Σώκρατες ΣΩ Ετεραι δέ γέ είσι των τεχνών αΧ δια λόγου παν περαίνουσι και έργου ώς έπος είπεϊν η ουδενος προσδέονται η βραχέος πάνυ οΐον η αριθμητική και λογιστική και γεω μετρική και πεττευτικη ye και άλλαι πολλαι τέχναι ών ενιαι σχεδόν τι ίσους τους λόγους εχονσι ταΐς πράζεσιν αί δέ πολλαι πλείους και το παράπαν πάσα η πράξις και τδ κύρος αυταΐς δια λόγων έστίν τών το ιόντων τινά μοι δοκέις λεγειν την ρητορικήν ΓΟΡ Αληθή λέγεις ΣΩ Ά λλ οντοι τούτων γε ονδεμίαν οΐμαί σε βουλεσθαι ρητορικήν καλΐν ονχ οτι τω ρήματι όντως enres οτι ή οια λογου το κύρος αχούσα ρητορική στιν καί νπολαροι αν τις εί βούλοιτο δυσχεραίνειν εν τοίς λόγοις Ύήν αριθμητικήν GÓRGIAS 183 g o r Aparentemente soc Por que então não chamas de retórica as outras artes que concernem a discursos visto que denominas retórica a arte g o r Porque Sócrates todo o conhecimento dessas outras artes por assim dizer concerne a ofícios manuais ou a práticas desse tipo ao passo que a retórica não consiste em ofício ma nual desse gênero pelo contrário toda a sua ação e realização j se fazem mediante discursos Por esse motivo eu estimo que a arte retórica diz respeito a discursos e digo que essa afirmação é correta soc Será que compreendo como queres chamála Talvez entenda de forma mais clara Mas respondeme existem artes ou não g o r Sim soc Dentre todas as artes presumo eu algumas são prepon derantemente ofício prático e requerem um ínfimo discurso en quanto outras nada disso requerem mas poderiam até mesmo cumprir em silêncio o que exige a sua arte como a pintura a es cultura e inúmeras outras A tais artes me pareces referir como não pertencentes ao domínio da retórica ou não g o r É absolutamentecorreta a tua suposição Sócrates j J soc Há porém outras artes que tudo cumprem mediante o discurso e que requerem por assim dizer ou nenhum ou um ínfimo exercício prático como a aritmética o cálculo a geo metria os jogos de peças e tantas outras artes Para algumas os discursos quase se equivalem às ações para a maioria eles as excedem e toda sua ação e realização se fazem inteiramente mediante o discurso Pareceme que tu incluis a retórica dentre essas últimas g o r Dizes a verdade soc Mas decerto tu presumo eu não queres chamar a re tórica de nenhuma dessas artes a despeito de afirmares con forme a tua asserção que a arte cuja realização se faça mediante o discurso é retórica Assim alguém sequioso de complicar o que diz respeito a discursos V j 184 GÓRGIAS DE PLATÃO αρα ρητορικήν ω I οργιά Λέγεις αλλ ονκ οιμαι σ οντ την αριθμητικήν ούτε την γεωμετρίαν ρητορικήν λεγειν 451 ΓΟΡ Όρθως γάρ οΪΐ ω Σωκρατες και δικαίως υπο λαμβάνεις ΣΩ Ιθι ννν καί αν την άπόκρισιν ήν ήρόμην διαπερανον ι V επει γαρ ρητορική τύγχανα μεν ουσα τούτων τις των τεχνών των το πολύ λόγω χρωμενων τνγχάνονσιν δέ και άλλαι τοιανται ουσαι πάρω είπείν η περί τί V λόγοις το κύρος εχουσα ρητορική εστιν ώσπερ αν εί τις με εροιτο ων νυνδη ελεγον περί ηστινοσοΰν των τεχνών Χ2 Σωκρατες τις b εστιν η αριθμητική τέχνη ειποιμ αν αυτω ώσπερ συ άρτι οτι των δια λογον τις το κύρος εχονσων και ει με επανε η η V 3 V 9 Λ λ λ V V ροιτο ίων περί τι ειποιμ αν οτι των περί το άρτιον τε καϊ περιττόν γικΰσυ δσα αν εκάτερα τυγχάνη δντα εΐ δ αυ εροιτο Την δε λογιστικήν τίνα καλεΐς τέχνην ειποιμ αν οτι και αυτή εστιν των λόγω το παν κυρουμενων και εί επανεροιτο Η περί τι ειποιμ αν ώσπερ οι εν τω οήμω ο συγγραφόμενοι οτι τα μεν άλλα καθάπερ η αριθμητική η λογιστική 6χαττρι το αντο γαρ ζστιν το Τ άρτιον και το περιττόνδιαφέρει δε τοσουτον οτι και προς αυτα και προς αλληλα πως εχει πλήθους επισκοπεί τδ περιττόν και τδ Άρτιον ή λογιστική και εί τις την αστρονομίαν άνέ ροιτο εμοΰ λεγοντος οτι και αϋτη λόγω κυρονται τα πάντα Οι δε λόγοι οι της αστρονομίας εί φαίη περί τί είσιν ω Σωκρατες ειποιμ άν ότι περί την των άστρων φοράν και ηλίου καί σελήνής πως προς αλληλα τάχους εχει ΓΟΡ Όρθώς γε λεγων συ ω Σωκρατες 15 15 A dificuldade dessa distinção reside no fato de que ambas as noções não correspondem exatamente ao que nós entendemos hoje por aritmética αριθμητική e cálculo λογιστική Segundo a explicação de Dodds op cit p 198199 aritmética diz respeito ao par e ao ímpar independentemente da quantidade ou seja qualquer que GÓRGIAS 185 argumento poderia concluir ora Górgias então dizes que a aritmética é retórica Mas dirás creio eu que nem a aritmética nem a geometria são retórica g o r E presumes corretamente Sócrates e é justa a tua su 45 posição soc Adiante então e responde conclusivamente ao que te perguntei Visto que a retórica consiste em uma dessas artes que se servem preponderantemente do discurso e visto que em con trapartida também há outras artes do gênero tenta dizer então a que coisa concerne a retórica cuja realização se dá no discurso Por exemplo se alguém me perguntasse a respeito de qualquer uma daquelas artes a que antes me referia Sócrates o que é a arte aritmética eu lhe diria como fizeste há pouco que uma b daquelas cuja realização se faz mediante o discurso E se ele tor nasse a perguntar dentre essas a respeito de quê eu lhe diria que uma daquelas cujo conhecimento concerne ao par e ao ím par à quantidade de cada um deles E se ele insistisse em pergun tar que arte consideras ser o cálculo eu lhe diria que também essa arte se inclui entre aquelas que se realizam inteiramente me diante o discurso E se ele tornasse a perguntar a respeito de quê eu lhe diria assim como os escrivães públicos que em c grande parte o cálculo e a aritmética se coincidem pois concer nem à mesma coisa ao par e ao ímpar embora se difiram neste ponto o cálculo examina a quantidade do par e do ímpar nas suas relações unilaterais e recíprocas15 E se alguém me pergun tasse a respeito da astronomia depois de ter dito que também ela tudo realiza mediante o discurso a que concerne os discur sos da astronomia eu lhe diria que a respeito dos movimentos dos astros do sol e da lua de como se relacionam suas respecti vas velocidades g o r Falas com acerto Sócrates seja o número de cada um deles equivaleria assim à teoria dos números concernente às propriedades das séries de números inteiros enquanto tais O cálculo por sua vez concerne a proposições sobre números particulares por exemplo três vezes sete é igual a 21 o que corresponderia inversamente ao que entendemos hoje por aritmética 186 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 452 b ΣΩ νΙ0ι δ ή και συ ώ Υοργία τυγχάνει μεν γάρ δή ή ρητορική ονσα των λόγω τα πάντα ύιαπραττομένων τε και κνρουμένων ή γάρ ΓΟΡ νΕστι ταντα ΣΩ λέγε δη των περί τί τί εστι τούτο των όντων πζρι ον ουτοι οι λογοι ΐσιν oty η ρητορική χρηται ΓΟΡ Τα μέγιστα των άνθρωπείων πραγμάτων ώ Σώ κρατες καί άριστα ΣΩ Άλλ ω Γοργία άμφισβητήσιμον και τούτο λέγεις και ονόξν 7τω σαφζς οιομαι γαρ σζ ακηκοςναι ev rots σνμποσίοις αδόντων ανθρώπων τούτο τδ σκολιόν εν ω κατ αριθμούνται δοντες οτι ύγιαίνειν μεν άριστόν έστιν τδ δ δεύτερον καλδν γενέσθαι τρίτον δε ώϊ φησιν δ ποιητής του σκολιοΰ τδ πλοντείν άδόλως ΓΟΡ Άκήκοα γάρ αλλά πρδς τί τούτο λέγεις ΣΩ Οτι εϊ σοι αντίκα παρασταΐεν οι δημιουργοί του των ων ΤΓρνΤν ο το σκολιον 7τοιήσας ιατρός re και παιδοτρίβης καί χρηματιστής και ειποι πρώτον μεν ό ιατρός οτι ΤΩ Σώκρατες εξαπατά σε Γοργίας ου γάρ έστιν η τούτον τέχνη περί τδ μέγιστον άγαθδν τοΐς άνθρώποις άλλ η εμη ει ουν αυτόν εγω εροιμην Συ οε τις ων ταντα λέγεις ειποι αν ίσως οτι ιατρός Τί ουν λέγεις ή τδ τής σης τέχνης εργον μέγιστον εστιν αγαθόν 11ωί γαρ ον φαίη άν ίσως ώ Σώκρατες νγίεια τί δ έστιν μεΐζον άγαθδν άνθρώποις νγιείας εϊ δ αυ μετά τούτον ό παιδοτρίβης εϊποι ι6 Depois de Sócrates mostrar a Górgias que a sua definição de retórica não era válida ou seja que a retórica concerne a discursos porque há igualmente ou tras artes como a aritmética e o cálculo que também concernem a discursos Gór gias tenta esclarecer o que diferencia a retórica dessas outras artes com relação ao objeto específico de seu discurso Todavia nessa segunda definição proposta ele acaba incorrendo no mesmo tipo de equívoco segundo as regras dialógicas esta belecidas por Sócrates cometido por Polo no Prólogo 448c A uma pergunta de definição objetiva do domínio específico do discurso retórico Górgias oferece uma resposta encomiasta como Sócrates disse naquela ocasião a Polo a pergunta não se refere à valoração do objeto em questão mas à sua definição Sócrates lhe mostra que a sua resposta não é satisfatória porque as melhores e mais importantes coisas humanas τά μέγιστα τών άνθρωπείων πραγμάτων και άριστα 4578 é uma asserção polêmica na medida em que há igualmente outros artífices o médico o GÓRGIAS 1 8 7 soc Adiante Górgias agora é a tua vez A retórica consiste d em uma daquelas artes que tudo praticam e realizam mediante o discurso não é g o r É soc Dizeme então dentre essas a respeito de quê A que coisa concernem esses discursos empregados pela retórica g o r Às melhores e às mais importantes coisas humanas Sócrates16 soc Mas Górgias é controverso e ainda obscuro o que di zes Creio que já ouviste nos banquetes homens entoando aquele e canto17 em que enumeram quando cantam as melhores coisas a primeira ter saúde a segunda tornarse um belo homem e a terceira como diz o poeta do canto enriquecerse sem dolo g o r Já ouvi Mas por que dizes isso soc Porque se te deparasses um dia com os artífices dessas 452 coisas elogiadas pelo canto do poeta a saber o médico o trei nador e o negociante e primeiro dissesse o médico Sócrates Górgias te engana pois não é a sua arte que concerne ao maior bem para os homens mas a minha e se eu então lhe pergun tasse Quem és tu para dizeres essas coisas ele provavelmente r responderia que um médico O que dizes Porventura o ofício de tua arte é o maior bem que há E como não seria a saúde Sócrates ele talvez diria que bem maior para os homens há senão a saúde E se por sua vez o treinador dissesse em b treinador e o negociante que reivindicam para sua arte o mesmo título A propen são ao elogio de si mesmo ou de seu ofício é um dos traços da personagem Górgias no diálogo que corresponde por sua vez a um dos elementos fundamentais do modo de discurso retórico 17 Nos escólios do lórgias há a citação do canto a que se refere Platão Ter saúde é o maior bem para o homem mortal o segundo hem vir a ter uma bela compleição o terceiro enriquecer se sem dolo e o quarto chegar à juventude junto aos amigos ύγιαίνειν μέν αριστον άνδρι θνητψ δεύτερον δε φυάν καλόν γενέσθαι το δε τρίτον πλουτεΐν άδόλως τεταρτιν δέ ήβάν μετά τών φίλων 188 GÓRGIAS DE PLATÃO οτι Θανμάζοιμί τάν ω Σώκρατες και αυτός εϊ σοι εχοι Γοργίας μεΐζον αγαθόν έπιδεΐξαι της αυτού τέχνης η εγώ της έμης ειποιμ άν αν και προς τούτον Σύ ôè δη τίς εί ώ άνθρωπε και τί το σόν έργου Παιδοτρίβης φαίη αν το ôè έργον μου εστιν καλούς τε και Ισχυρούς ποιαν τούς ανθρώπους τα σώματα μετά δέ τον παιδοτρίβην είποι αν δ χρηματιστής ώ έγωμαι πάνυ καταφρονών απάντων Σκόπει δητα ώ Σώκρατες ίάν σοι πλούτον φανη τι μειζον αγαθόν δν η παρά Γοργία η παρ άλλω ότωοΰν φαϊμεν άν ουν προς αυτόν Τ ί δε δη η σύ τούτον δημιουργός Φαίη άν Ύίς ών Χρηματιστής Τ ί ουν κρίνεις συ μέγιστόν άνθρώποις αγαθόν είναι πλούτον φησομεν Πώ γάρ ονκ έρεί Καί μην αμφισβητεί γε Γοργίας δδε την παρ αντω τέχνην μειζονος αγαθού αιτίαν είναι η την σην φαιμεν αν ημείς δηλον ουν οτι το μετά τούτο εροιτ αν Και τι εστιν τούτο τό άγαθόν άποκρινάσθω Γοργίας ίθι ουν νομίσας ω I οργιά ερωτασθαι και νπ εκείνων και υπ εμού απο κριναι τί εστιν τούτο b φης σύ μεγίστου άγαθόν είναι τοΐς άνθρώποις και σε δημιουργόν είναι αυτού ΓΟΡ Οπερ εστίν ώ Σώκρατες τη αλήθεια μεγίστου άγαθόν και αίτιον άμα μεν ελευθερίας αυτοΐς τοΐς άνθρώ ποις άμα δε τού άλλων άρχειν εν τη αυτού πόλει έκάστω ΣΩ Τί ουν δη τούτο λέγεις ΓΟΡ Το π είθε ιν εγωγ οίόν τ είναι τοίς λόγοις καί εν δικαστηρίω δικαστάς και εν βουλευτηρίω βουλευτάς και C d 1 8 O recurso ao interlocutor fictício é um dos elementos comuns da estratégia argumentativa da personagem Sócrates nos diálogos de Platão Em linhas gerais é um artifício que de certa forma confere um distanciamento entre a pessoa que fala e aquilo que é falado na medida em que essa relação é mediada pela máscara do interlocutor fictício Segundo o estudo de A Longo sobre o tema La Técnica delia Domanda e le Interrogazioni Fittizie in Platone p 373 ele é útil nas ocasiões em que falar de si e por si mesmo pode gerar inveja ou requerer um longo dis curso ou criar alguma disputa e em que falar do outro pode gerar difamação ou ser rude nesses casos usar como intermédio uma voz fictícia serviria para evitar um ambiente hostil na discussão GÓRGIAS 189 seguida que Eu mesmo também me admiraria Sócrates se Górgias pudesse te exibir um bem de sua arte maior do que quanto posso exibilo da minha eu perguntaria também para ele Quem és tu homem e qual o teu ofício Treinador res ponderia ele e meu ofício é tornar belos e vigorosos os corpos dos homens Depois do treinador diria o negociante com ab soluto menosprezo como presumo por todos eles Examina então Sócrates se te foi apresentado um bem maior que a ri queza seja por Górgias ou por qualquer outra pessoa Per guntarlheíamos então E aí Acaso és artífice da riqueza ele confirmaria Quem és tu e ele responderia Um nego ciante E então Julgas que a riqueza é o maior bem para os homens perguntaremos nós e ele dirá como não seria Todavia eis aqui Górgias que afirma ao contrário que a sua arte é causa de um bem maior que o da tua diríamos nós É evidente que depois disso ele diria o seguinte E que bem é esse Que responda Górgias Vai então Górgias considera como se tivesses sido perguntado por eles e por mim e res ponde que bem é esse que afirmas ser o maior bem para os homens e cujo artífice és tu18 g o r Aquele que é Sócrates verdadeiramente o maior bem e a causa simultânea de liberdade para os próprios homens e para cada um deles de domínio sobre os outros na sua própria cidade19 soc O que é isso então a que te referes g o r A meu ver ser capaz de persuadir mediante o discurso os juízes no tribunal os conselheiros no Conselho os membros 19 Como salienta Irwin em seu comentário Plato Górgias p 116 a no ção de liberdade ελευθερία possui aqui um duplo valor designa por um lado a condição do cidadão livre em oposição à do escravo estatuto legal e por outro a independência frente aos outros homens Nesse sentido manter a liberdade requer em certa medida poder e força suficientes para garantir a sua indepen dência e evitar as ameaças externas de outros Por isso se encontram concatena dos na fala de Górgias liberdade ελευθερία e domínio poder αρχειν Sobre a relação entre liberdade c poder do ponto de vista da relação entre as cidades ver os discursos dos atenienses em Esparta 17577 de Péricles 263 e de Cléon 337 em Tucídides 190 GÓRGIAS DE PLATÃO εν εκκλησία εκκλησιαστάς καί εν αλλω συλλόγω π αντί οστις αν πολίτικος σύλλογος γίγνηται καίτοι εν ταύτη rfj δυνάμει δούλον μεν εβεις τον Ιατρόν δούλον δέ τον παιδοτρίβην 6 he χρηματιστής οΐιτος αλλω άναφανήσεται χρηματιζόμενος και ονχ αντω άλλα σοί τω δυναμενω λεγειν και πείθειν τα πλήθη Σί2 Νυν μοι δοκεΐς δηλώσαι ώ Τοργία εγγύτατα την 453 ρητορικήν ηντινα τέχνην ηγη eivai και et τι ςγω σννιημι λεγεις οτι πειθούς δημιουργός εστιν η ρητορική και ή πρα γματεία αυτής άπασα καί το κεφάλαιον els τούτο τελευτά ή εχεις τι λεγειν επί πλέον την ρητορικήν δυνασθαι ή πειθώ τοΐς άκονουσιν εν τη ψυχή ποιειν ΓΟΡ Ονδαμώς ώ Σωκρατες αλλά μοι δοκεΐς ικανώς ορίζεσθαι εστιν γάρ τούτο το κεφάλαιον αυτής Σί2 Ακουσον δη ώ Τοργία εγώ γαρ εύ ϊσθ οτι ώς b εμαυτδν πείθω ειπερ τις άλλος αλλω διαλέγεται βουλό 20 Nessa quarta definição Górgias apresenta uma característica fundamental do discurso retórico ele é um discurso público voltado para as práticas políticas da democracia tendo em vista a referência explícita às suas três instituições basilares o Conselho a Assembleia e o Tribunal A sua finalidade precípua é portanto política A resposta de Górgias se divide em duas partes i responde à exigência de especifica ção de Sócrates relativa a que se entende por as melhores e mais importantes coisas humanas τά μέγιστα τών άνθρωπείων πραγμάτων και άριστα 45Φ 8 e ii refuta a presunção dos três artífices aludidos pelo canto cuja voz Sócrates confere ao inter locutor fictício Kssa segunda refutação representa aqui a afirmação da supremacia da retórica sobre a autoridade da poesia e se conforma ao caráter jactante da perso nagem seguro de seu saber e de seu mister A notoriedade adquirida pela retórica no séc v aC devido ao seu estreito vínculo com a política democrática se expressa na maneira pela qual Sócrates se refere a ela no Prólogo naquele momento ele a chamou de arte do homem τής τέχνης του άνδρός 447C13 no sentido de que a retórica era vista como a arte humana por excelência como sublinha S Pieri no seu comentário ao Górgias Platone Gorgia p 309 Portanto quando Górgias dialoga com Sócrates ele mostra uma preocupação constante em salientar a Sócrates e à audiência da cena a superioridade da retórica e por conseguinte de seu ofício como rétor sobre as demais artes e os demais artífices 21 Encontramos aqui o conceito central da discussão sobre a retórica no 12 Ato do Górgias persuasão peithõ πειθώ Pareceme que Platão ao introduzilo na dis cussão entre as personagens esteja se referindo à reflexão do Górgias histórico sobre o poder persuasivo do logos como podemos depreender do Elogio de Helena um dos poucos textos do autor conservados integralmente Embora haja uma dificuldade in delével em se reconstituir o pensamento de Górgias e dos demais sofistas como os alcunha Platão tendo em vista a corrupção de sua obra no tempo esse discurso nos GÕRGIAS 191 da Assembleia na Assembleia e em toda e qualquer reunião que seja uma reunião política Ademais por meio desse poder terás o médico como escravo e como escravo o treinador Tornarseá manifesto que aquele negociante negocia não para si próprio mas para outra pessoa para ti que tens o poder de falar e persuadir a multidão20 soc Agora sim Górgias tua indicação pareceme muito mais propínqua à qual arte consideras ser a retórica e se com 453 preendo alguma coisa afirmas que a retórica é artífice da per Y f suasão e todo seu exercício e cerne convergem a esse fim21 Ou tens algo mais a acrescentar ao poder da retórica além de in cutir na alma dos ouvintes a persuasão g o r De forma nenhuma Sócrates essa definição me pa rece suficiente pois é esse o seu cerne soc Escuta então Górgias Saibas bem que eu persuado a mim mesmo de que se há outra pessoa que quando dialoga b permite ao menos vislumbrar o tipo de reflexão empreendida por ele sobre o poder do logos Nesse discurso fictício cujo intuito é dirimir a má reputação de Helena Górgias elenca quatro causas possíveis de sua ida para Troia com Páris determinação divina necessidade força persuasão e amor Na argumentação referente à terceira causa Górgias oferece então uma profícua reflexão sobre o logos ressaltando o seu poder de suscitar paixões na alma dos homens como o medo a piedade a alegria e a tristeza a dor e o prazer funcionando como uma espécie de feitiço ou encantamento 910 de gerar na alma opiniões que conduzem os homens a uma determinada ação 1112 de persuadir a alma das opiniões mais díspares como mostram as dis putas entre os meteorologistas os oradores e os filósofos 13 e de agir na alma como um pharmakon remédio droga para o corpo tendo em vista seu poder ambivalente de curar ou levar à morte 14 Nesses parágrafos há uma série de formas verbais e nominais derivadas da raiz πειθ peith πείσας επεισε πείθουσι πειθούς επεισεν πιθέσθαι πεισθεΐσα πειθώ πειθοι que mostra como a discussão de Górgias sobre o logos gira em torno da noção de persuasão peithõ πειθώ Em nenhum momento do texto bem como nos demais fragmentos da obra do autor há ocorrências do termo ρητορική rhêtoriké retórica que Platão no Górgias usa para designar o ofício da personagem homônima Como busca mostrar o célebre artigo de E Schiappa Did Plato Coin Rhêtoriké o termo teria sido uma criação do próprio Platão nesse diá logo para definir a prática oratória de Górgias tendo em vista a sua predileção pelos substantivos com o sufixo ικη ikè para se referir às artes particulares e a ausência do termo ρητορική rhclorike em outros textos de autores anteriores e contemporâ neos a Platão nos quais esperaríamos encontrálo A despeito da tese de Schiappa no Elogio de Helena fica claro que Górgias fala da persuasão como uma propriedade do logos em geral circunscrevendo ao âmbito da opinião tanto o domínio do que Platão chama retórica no Górgias quanto o domínio da filosofia 192 GÓRGIAS DE PLATÃO Λ t f C 1 Î xezos1 etõezat αντο τούτο 7ren οτου o Aoyos ςστιν cat exe r eiwu τούτων ενα αςιω οε και σε ΓΟΡ Τί οΰι δη ώ Σώκρατες ΣΩ Eyà βρω xw èyà rrji από τη9 ρητορικής πειθώ ητις ποτ εστιν ην crv λεγεις και περί ωντινων πραγμάτων εστιν πειθώ σαφώς μεν ευ ΐσθ ότι ουκ οΐδα ον μήν άλλ νποπτενω γε ην οιμαι σε λεγειν και περί ων ονύεν μεντοι ήττον ερήσομαί σε τίνα ποτέ λεγεις την πειθώ την από της ρητορικής καί 7rept τινων αυτήν tivcu του ereca οη αυτός νποπτενων σε ερησομαι αλλ ονκ αυτός Αεγω ου σου ενεκα άλλα του λόγου ϊνα οΰτω προίη ώς μάλιστ αν ήμϊν j tf t ν tf καταφανές ποιοι πρι οτου Aeyerat σκοπεί yap et σοι δοκώ δικαίως άνερωτάν σε ώσπερ αν εί ετυγχανόν σε ερωτών τις εστιν των ζωγράφων Ζεΰζις εϊ μοι είπες οτι ο τα ςωα γραφών αρ ονκ αν δικαίως ae ηρομην ο τα ποια των ζώων γράφων και που ΓΟΡ Πάνν γε ΣΩ rApa δια τοΰτο ότι και άλλοι είσι ζωγράφοι γρά φοντες άλλα πολλά ζώα ΓΟΡ Ναι ΣΩ Ει δε γε μηδεις άλλος ή Ζεΰξις εγραφε καλώς άν 3 σοι απεκεκριτο ΓΟΡ Πω γάρ ου ΣΩ Ιθι δή και περί τής ρητορικής ειπε πότερόν σοι δοκεΐ πειθώ ποιεΐν ή ρητορική μόνη ή και άλλαι τεχναι λέγω δε το τοιόνδε όστις διδάσκει ότιονν πράγμα πότερον ο οιοασκει πείθει η ου ΓΟΡ Ου δήτα ώ Σώκρατες αλλά πάντων μάλιστα πείθει ΣΩ Πάλα δή επί τών αυτών τεχνών λεγωμεν ώνπερ νυνδή ή αριθμητική ου διδάσκει ημάς οσα εστϊν τά του αριθμού και 6 αριθμητικός άνθρωπος ΓΟΡ ΤΙάνυ γε 2 22 Zêuxis foi um famoso pintor do séc v aC cuja pintura de Eros teria sido refe rida por Aristófanes na comédia Os Acarnenses v 992 segundo o escoliasta da peça O pintor Zêuxis havia pintado na nave do templo de Afrodite em Atenas Eros no primor da juventude coroado de rosas GÓRGIAS 193 quer conhecer propriamente aquilo sobre o que versa a discussão eu me encerro nesse grupo e estimo que também tu gor E daí Sócrates soc Passo a te dizer agora Que persuasão é essa proveniente da retórica à qual te referes e a que coisa concerne a persuasão sai bas bem que não o sei claramente mas suspeito presumo eu de que persuasão falas e a que ela concerne Todavia não deixarei de perguntar a ti que persuasão provém da retórica à qual te referes e a que coisa ela concerne Em vista de que se eu tenho essa suspeita c perguntarteei ao invés de eu mesmo dizêlo Não em vista de ti mas em vista da discussão a fim de que dessa maneira avancemos ao máximo no esclarecimento daquilo a respeito do que se discute Examina pois se a minha pergunta te parece justa por exemplo se eu por acaso te perguntasse que pintor é Zêuxis22 e se tu me dissesses que é aquele que pinta figuras porventura não te pergun taria de forma justa de quais figuras ele é pintor e onde gor Com certeza soc Não é porque também há outros pintores que pintam d muitas outras figuras gor Sim soc Se somente Zêuxis as pintasse e ninguém mais tua resposta não teria sido correta gor E como não teria sido soc Adiante então e falame da retórica apenas ela se gundo teu parecer produz persuasão ou também as demais artes produzemna Refirome ao seguinte quando alguém en sina qualquer coisa ele persuade daquilo que ensina ou não gor Decerto Sócrates quem ensina persuade acima de tudo soc Retornemos então às mesmas artes há pouco men e cionadas a aritmética e o homem que é aritmético não nos ensina tudo quanto concerne ao número A GOR Certamente Ζεϋξις ò ζωγράφος έν τώ ναψ τής Αφροδίτης έν ταΐς Άθήναις έγραψε τον Έρωτα ώραιότατον έστεμμένον ρόδοις 194 GÓRGIAS DE PLATÃO 454 b ΣΩ Ούκονν καί πείθει ΓΟΡ Ναί ΣΩ ITeifloCi άρα δημιουργοί εστιν καί η αριθμητικήΓΟΡ Φαίνεται ΣΩ 0 νκονν εάν τις έρωτα ημάς ποιας πειθους και περί τι άποκρινονμεθά που αυτω δτι τής διδασκαλικής τής περί το άρτιόν τε καί τδ περιττόν οσον εστίν και ras αλλαϊ άς νυνδή ελεγομεν τεχνας άπάσας εξομεν άποδεϊξαι πειθους δημιουργούς ουσας και ήστινος και περί οτι η ου ΓΟΡ ΝαίΣΩ Ονκ άρα ρητορική μόνη πειθους εστιν δημιουργόςΓΟΡ Αληθή λεγεις ΣΩ Επειδή τοίνυν ου μόνη απεργάζεται τούτο τό εργον άλλα και άλλαι δικαίως ώσπερ περί τον ζωγράφου μετά τοΰτο επανεροίμεθ άν τον λεγοντα ΓΓοίαϊ δη πειθους και τής περί τί πειθους ή ρητορική εστιν τέχνη ή ου δοκεΐ σοι δίκαιον είναι επανερεσθαι ΓΟΡ Εμοιγε ΣΩ Άπόκριναι δή ω Γοργία επειδή γε καί σοί δοκεΐ όντως ΓΟΡ Ύαντης τοίνυν τής πειθους λέγω ω Σωκρατες τής εν τοις δικαστηριοις και εν τοις αλλοις οχλοις ώσπερ και άρτι ελεγον και περί τούτων α εστι δίκαια τε καί αδικα 23 23 Nessa definição do objeto específico do discurso retórico oferecida pela per sonagem Górgias sob o escrutínio de Sócrates Platão enfatiza o papel proeminente da retórica voltada para causas judiciárias dentro do programa de ensino atribuído a Górgias Essa ênfase pode ser entendida por um lado como reflexo da importância da instituição do tribunal em Atenas na segunda metade do séc v a C em diante e por conseguinte do interesse específico dos alunos em aprender técnicas discursivas em vista de causas particulares A proeminência da retórica judiciária no programa didático dos rétores aparece aludida por Platão no Fedro quando ele se refere ao con teúdo dos livros denominados genericamente de Arte nos livros escritos sobre a arte dos discursos έν τοϊς βιβλίοις τοϊς περί λόγων τέχνης 266d56 aqueles que escrevem atualmente sobre as artes dos discursos οι νυν γράφοντες τέχνας λόγων 271C12 Ao tratar da taxonomia das partes do discurso que estaria presente nessas obras proêmio narração testemunho indícios probabilidades prova prova adicional refutação refutação adicional ποοίμιον διήγησίν τινα μαρτυρίας τ έπ αυτή τεκμήρια είκότα πίστωσιν έπιπίστωσιν έλεγχον έπεξέλεγχον 266d267a fica evidente que a sua finalidade precípua seria a prática nos tribunais embora o aprendizado da técnica oratória pudesse ser igualmente útil na Assembleia 261b A referência explícita ao contexto judiciário nessa passagem do Fedro aparece na fala de soc E não persuade também gor Sim soc Portanto a aritmética também é artífice da persuasão gor É claro soc Assim se alguém nos perguntar de qual persuasão e a que coisa concerne responderemos a ele que daquela que nos ensina tudo quanto concerne ao par e ao ímpar Não poderemos demonstrar que todas as outras artes às quais há pouco nos referíamos também são artífices da persuasão e de qual per suasão e a que coisa concerne ou não gor Sim soc Portanto artífice da persuasão não é apenas a retórica gor Dizes a verdade soc Uma vez então que não é apenas ela a desempenhar esse ofício mas também as demais artes é justo como no caso do pintor que em seguida tornemos a interrogar nosso interlo cutor De qual persuasão e persuasão concernente a que a re tórica é arte Ou não te parece justo interrogálo novamente gor Pareceme soc Responde então Górgias visto que também a ti pa rece justo gor Pois bem refirome a esta persuasão Sócrates à per suasão nos tribunais e nas demais aglomerações como antes dizia e concernente ao justo e ao injustcP3 GÓRGIAS W5 Sócrates sobre Teodoro de Bizâncio considerado também por Aristóteles na Retórica como um importante escritor sobre a Arte dos Discursos m 1414b soc E a prova e aprova adicional creio que quem se refere a elas é o maior esperto nos discursos o homem de Bizâncio f e d r o Falas do bom Teo doro soc F como não Ele se refere também à refutação e à refutação adicional tal como devem ser feitas na acusação e na defesa 2666326732 ΣΩ και πίστωσιν οιμαι και έπιττίστωσιν λέγειν τόν γε βέλτιστον λογοδαίδαλον Βυζάντιον ανδρα ΦΑΙ Τόν χρηστόν λέγεις Θεόδωρον ΣΩ Τί μήν καί έλεγχόν γε καί ίπεξελεγχον ώς ποιητέον έν κατηγορία τε και απολογία For outro lado do ponto de vista dramático a proeminência conferida à re tórica judiciária 11a discussão entre as personagens pode ser entendida como alusão proléplica ao episódio da condenação de Sócrates como se evidenciará no 30 Ato do diálogo por meio do vaticínio de Cálicles 486ab 521c e da cena fictícia da defesa de Sócrates no tribunal 5210352204 remetendonos à Apologia de Sócrates 454 b 196 GÓRGIAS DE PLATÃO Σί2 Καί εγώ rot νπώτττίνον ταντην σε λγΐν την τκιθω καί irepl τούτων ω Γοργία άλλ ΐνα μη θαυμάζης èav καί ολίγον νστΐρον τοιουτόν τί σε ανίρωμαι ο δοκϊ μευ δήλον ívat βγω Ο βπαυβρωτω οπβρ yap λβγω τον ζζη ενκα ττραίνσθαι τον λόγον ρωτω ον σου ευεκα άλλ Ϊνα μη θιζωμθα νπονοοΰντξς προαρπάζαν αλλήλων τα λεγομευα άλλα συ τα σαντοΰ κατά την νπόθΐσιν οττως αν βουλή τΐίραίνης ΓΟΡ Καί όρθως γέ μοι δοκεΐΐ ποκϊν ω Σωκράτης Σί2 Tôt δη καί τοδε ττισκψωμθα καλέts π μίμαθη κίναιΓΟΡ ΚαλώΣί2 Τ ί δε τΐνπιστίνκέναιΓΟΡ ΈγωγεΣί2 Ποτερου ονν ταυτδν δοκει σοι eîvai μμαθη κίναι και πΐττιστΐνκίναι καί μάθησις και ττίστις η άλλο τιΓΟΡ Οϊομαι μν εγωγε ώ Σωκρατίς άλλο Σί2 Καλώ ï γαρ οίει γνώση δε νθνδ ει γάρ τ is σε ίροιτο Αρ στ IV τις ώ Γοργία ττίστις ψευδή ï καί αληθής φαίης αν ως γω όΐμαι ΓΟΡ Ναί ΣΓ2 Τίδε ΐτιστήμη στιν ψευδή καί αληθής ΓΟΡ Ουδαμως Σί2 Δήλου αρ αν Õrt ου ταυτόν στιν ΓΟΡ Αληθή λγΐς Σί2 Άλλα μην οι τ γ μμαθηκότς πατΐΐσμίνοι Ισιν καί οί 7ΓπιστνκότςΓΟΡ Έστι ταντα Σί2 Βουλει οΰν δυο είδη θωμν πάθους το μν τιίστιν 7ταρχόμνον ãvv του Ιδίναι το δ ττιστήμην ΓΟΡ Πάυυ GÓRGIAS 197 soc E eu já suspeitava de que dirias que era essa a persua são e a que concernia Górgias Mas para não te surpreenderes se daqui há pouco eu te endereçar novamente uma pergunta semelhante torno a te perguntar o que parece ser entretanto evidente é o que eu digo formulo as perguntas em vista de concluir ordenadamente a discussão e não em vista de ti mas a fim de que não nos habituemos a antecipar por meio de su posições o que cada um à sua volta tem a dizer Que tu con cluas como quiseres a tua parte conforme o argumento gor E tu me pareces fazer a coisa certa Sócrates soc Adiante então examinemos o seguinte Há algo que chamas ter aprendido gor Sim soc E aí Há o que chamas acreditar em algo gor Sim soc Segundo teu parecer ter aprendido e acreditar em algo aprendizagem e crença são a mesma coisa ou coisas distintas GOR Eu julgo Sócrates que são distintas soc E julgas bem logo entenderás Se alguém te pergun tasse Porventura há Górgias crença falsa e crença verda deira tu confirmarias presumo eu gor Sim soc E então Há conhecimento falso e conhecimento ver dadeiro gor De forma nenhuma soc Portanto é evidente por sua vez que não são a mesma coisa gor Dizes a verdade soc Contudo tanto aqueles que aprendem algo quanto aqueles que em algo acreditam são persuadidos gor f isso soc Queres assim que estabeleçamos duas formas de per suasão a que infunde crença sem o saber e a que infunde co nhecimento gor Com certeza 198 GÓRGIAS DE PLATÃO ye ΣΩ Ylorepav ούν η ρητορική πειθώ ποιεί εν δικαστη ρίου τε καί τοΐς άλλοι όχλοις Trepi τών δικαίων re καί αδίκων εζ ης 7τιστενειν γίγνεται άνευ του eΙδεναι η e η τδ είδεναι ΓΟΡ Αηλον δήπου ώ Σώκρατες δτι εζ rjs το πιστενειν ΣΏ Η ρητορική άρα ώ εοικεν πειθοΰς 455 δημιoυpγós εστιν πιστευτικής άλλ ου διδασκαλικής περί ro δίκαιόν re καί άδικονΓΟΡ Ναι ΣΩ Ουδ αρα διδασκαλικός δ ρητωρ εστίν δικαστηρίων re καί των άλ λων όχλων δικαίων re περί καί αδίκων άλλα πιστικός μόνον ου γάρ δηπου όχλον γ άν δυναιτο τοσοΰτον εν όλίγω χρόνω διδάζαι οϋτω μεγάλα πράγματα ΓΟΡ Ου δητα ΣΩ Φερε δη ίδωμεν τί ποτέ καί λεγομεν περί της b ρητορικής εγώ μεν γάρ τοι ονδ αυτός πω δύναμαι κατα νόησαι οτι λέγω όταν περί ιατρών αιρεσεως η τη ποΚει σύλλογος η περί ναυπηγών η περί άλλου τίνος δημιουργικού έθνους άλλο τι η τότε ό ρητορικός ον συμβουλεύσει δηλον γάρ ότι εν εκάστη αίρεσει τον τεχνικώτατον δει αίρείσθαι ουδ όταν τειχών περί οΙκοδομησεως η λιμένων κατασκευής η νεωρίων αλλ οι αρχιτέκτονες ουδ αν όταν στρατηγών αιρεσεως περί η τάζεώς τίνος προς πολεμίους η χωρίων c καταληφεως συμβουλή η άλλ οι στρατηγικοί τότε συμ βουλεύσουσιν οι ρητορικοί δε ον η πώς λεγεις ώ Τοργία τα τοιαΰτα επειδή γάρ αυτός τε φης ρητωρ είναι καί άλλους Λ V V Λ Λ V Λ ποιειν ρητορικούς εν εχει τα της σης τέχνης παρα σου πυνθάιιεσθαι καί εμε νυν νόμισον καί το σον σπενδειν ίσως γάρ καί τυγχάνει τις τών ένδον όντων μαθητης σου βονλόμενος γενεσθαι ώς εγώ τινας σχεδόν καί συχνούς αισθάνομαι οί ίσω αίσχννοιντ άν σε άνερεσθαι νπ 24 24 Platão se refere aqui ao uso da depsidra nos tribunais que regulava o tempo con ferido aos discursos de acusação e defesa ver Apologia 37a Teeteto 201a Leis 766e GÓRGIAS 199 soc Qual é entãoa persuasão que a retórica produz nos tribunais e nas demais aglomerações a respeito do justo e do in justo A que gera crença sem o saber ou a que gera o saber gor É deveras evidente Sócrates que aquela geradora de crença soc Portanto a retórica como parece é artífice da persua são que infunde crença mas não ensina nada a respeito do justo 455 e do injusto gor Sim soc Portanto tampouco o rétor está apto a ensinar os tribu nais e as demais aglomerações a respeito do justo e do injusto mas somente a fazêlos crer pois não seria decerto capaz de ensinar a tamanha multidão em pouco tempo24 coisas assim tão valiosas gor Certamente não seria soc Adiante então vejamos o que podemos dizer sobre a retórica Pois nem mesmo eu ainda sou capaz de compreender b o que digo Quando houver uma reunião na cidade para a eleição de médicos ou de construtores navais ou de qualquer outra sorte de artífice o rétor em nada poderá aconselhar não é Pois é evi dente que em cada eleição quem deve decidir é o mais apto tec nicamente Nem mesmo quando se tratar da construção de muralhas ou do aparelhamento de portos e estaleiros mas serão os arquitetos a aconselhar tampouco por sua vez quando o con selho se referir à eleição de generais militares à organização de campanhas bélicas ou à conquista de território mas serão os ge nerais que nessas circunstâncias hão de aconselhar e não os ré c tores o que tens a dizer sobre isso Górgias Pois visto que tu mesmo afirmas ser rétor e capaz de tornar outras pessoas rétores é razoável saber de ti o que é relativo à tua arte Considera agora que eu zele também por teu interesse Pois pode ser que haja ca sualmente aqui dentre os presentes alguém que queira tornarse seu discípulo pelo que percebo são em grande número mas que talvez tenha vergonha de te interpelar Assim mesmo sendo d εμού ουv άνερωτώμενος νόμισον καί υπ εκείνων άνερωτάσθαι Ύί ημίν ώ Τοργία εσται εάν σοι συνώμεν περί τίνων rff πόλει συμβουλεύειν oloí τε εσόμεθα πότερον περί δικαίου μόνον καί αδίκου η καί περί ών νυνδη Σωκράτης ελεγεν πειρώ ουν αυτοΐς άποκρίνεσθαι ΓΟΡ Άλλ εγώ σοι πειράσομαι ω Σώκρατες σαφώς άποκαλυφαι την της ρητορικής δυναμιν άπασαν αυτός γάρ καλώς νφηγησω οΐσθα γάρ δηπου οτι τα νεώρια ταυτα e καί τα τείχη τά Αθηναίων καί ή των λιμένων κατασκευή εκ της Θεμιστοκλέους συμβουλής γεγονεν τα δ εκ της Περικλεους άλλ ούκ εκ των δημιουργών ΣΩ Λεγεται ταυτα ω Τοργία περί Θεμιστοκλέους Περικλεούς δε καί αυτός ήκονον οτε συνεβουλευεν ημίν περί του διά μέσου τείχους 456 ΓΟΡ Καί όταν γε τις αϊρεσις fj ών νυνδη συ ελεγες ώ Σώκρατες όρας ότι οί ρήτορες είσιν οί σνμβουλευοντες καί οι νικώντες τάς γνώμας περί τούτων ΣΩ Ταυτα καί θαυμάζων ώ Τοργία πάλαι ερωτώ τίς ποτέ η δυναμίς εστιν της ρητορικής δαιμόνια γάρ τις εμοιγε καταφαίνεται το μεγεθος ουτω σκοπονντι ΓΟΡ Εΐ πάντα γε είδείης ω Σώκρατες ότι ώς έπος είπεΐν άπάσας τάς δυνάμεις συλλαβοΰσα νφ αυτή εχει b μεγα δε σοι τεκμηριον ερώ πολλάκις γάρ ηδη εγωγε μετά του αδελφού καί μετά των άλλων ιατρών είσελθών παρά τινα των καμνόντων ουχι εθελοντα η φάρμακον πιεΐν η τεμειν η καΰσαι παρασχεϊν τώ ίατρώ ου δυναμενου του 25 26 200 GÓRGIAS DE PLATÃO 25 Sobre a função do interlocutor fictício cf supra nota 18 26 Tucídides 1903 Depois que os lacedemônios disseram essas coisas os atenienses seguindo o plano de Temístocles responderam que lhes enviariam embaixadores para tratar do assunto e logo os dispensaram Temístocles ordenoulhes que ele próprio fosse enviado o mais rápido possível à Lacedemônia e que fossem escolhidos e enviados além dele outros embaixadores não imediatamente mas que aguardassem até que a muralha tivesse altura suficiente para que pudessem defendêla do ponto alto reque rido Ordenoulhes que todos da cidade homens mulheres e crianças trabalhassem em conjunto na construção da muralha e que não poupassem qualquer edifício pri vado ou público que pudesse ser útil à obra mas que demolissem todos GÓRGIAS 201 eu que te interrogue considera que sejas também por eles inter d rogado O que nos acontecerá Górgias se convivermos contigo À respeito de que seremos capazes de aconselhar a cidade So mente a respeito do justo e do injusto ou também a respeito do que há pouco dizia Sócrates Tenta então responder a eles25 g o r Sim tentarei Sócrates desvelar claramente todo o po der da retórica pois tu mesmo indicaste bem o caminho Decerto sabes que esses estaleiros e essas muralhas de Atenas e o apare e lhamento dos portos são frutos do conselho de Temístocles26 em parte do conselho de Péricles e não dos artífices soc É o que se fala Górgias sobre Temístocles quanto a Péricles eu mesmo o ouvi quando nos aconselhou sobre as muralhas medianas27 g o r E quando houver alguma eleição concernente àquelas 456 coisas por ti referidas há pouco Sócrates vês que são os rétores os que aconselham e fazem prevalecer as suas deliberações so bre o assunto soc Por admirar isso Górgias há tempos pergunto qual é o poder da retórica Pois quando examino a sua magnitude por esse prisma ele se mostra quase divino g o r Ah se soubesses de tudo Sócrates todos os poderes por assim dizer ela os mantém sob a sua égide Vou te contar uma grande prova disso muitas vezes eu me dirigi em compa b nhia de meu irmão e de outros médicos a um doente que não queria tomar remédio nem permitir ao médico que lhe cortasse ou cauterizasse algo sendo o médico incapaz de persuadilo οΐ δ Αθηναίοι Θεμιστοκλέους γνώμη τούς μέν Λακεδαιμονίους ταύτ είπόν Γας άποκρινάμενοι ότι πέμψουσιν ώς αυτούς πρέσβεις περι ώ λέγουσιν εύθύς άπήλλαίαν εαυτόν δ έκέλευεν άποστέλλειν ώς τάχιστα ό Θεμιστοκλής ές τήν Λακεδαίμονα άλλους δέ πρός έαυτώ έλομένους πρέσβεις μή εύθύς έκπέμπειν άλλ έπισχείν μέχρι τοσοΰτου εως άν τό τείχος ικανόν άρωσιν ώστε άπομάχεσθαι έκ τού άναγκαιοτάιου ύψους τειχίζειν δέ πάντας πανδημεί τούς έν τή πόλει και αυτούς και γυναίκας καί παίδας φειδομένους μήτε ίδιου μήτε δημοσίου οικοδομήματος όθεν τις ώφελία έσται ές τό έργον άλλα καθαιροΰντας πάντα 27 ΥετΤυείιΙίεΙοε 1170 ι 2 0 2 GÓRGIAS DE PLATÃO η λ 5 V ί Α η ιατρόν πείσαι εγω ειτεισα ονκ άλλη τέχνη η τη ρητορική φημϊ δε καί είί πάλιν οπη βονλει ελθόντα ρητορικόν άνδρα καί Ιατρόν εί δίοι λόγω διαγωνίζεσθαι εν εκκλησία η εν αλλω τινι σνλλόγω όπότερον δει αιρεθηναι Ιατρόν ονδαμοΰ αν φανηναι τον Ιατρόν άλλ αιρεθηναι αν τον είπεΐν δυνα τόν εί βούλοιτο και εΐ προς άλλον γε δημιουργόν δν τιναοΰν άγωνίζοιτο πείσειεν αν αυτόν ελεσθαι δ ρητορικοί μάλλον η άλλος οστισονν ον γαρ εστιν περί οτου ονκ αν πιθανωτερον ειποι ο ρητορικοί η άλλος οστισονν των οη μιονργων εν πληθει η μεν ουν ονναμις τοσαντη εστιν και τοιαντη της τέχνης δει μεντοι ω Σώ κρατεί τη ρητορική χρησθαι ώσπερ τη άλλη πάση αγωνία και γάρ τη άλλη αγωνία ου τούτον ενεκα δει προς άπαντας χρησθαι ανθρώπους ότι εμαθεν πυκτενειν τε καί παγκρατιάζειν και εν οπλοις μαχεσθαι ώστε κρειττων είναι και φίλων και εχθρών ον τούτον ενεκα τους φίλους δει τύπτειν οίιδε κεντεΐν τε και άποκτειννναι ονδε γε μα Αία εάν τις εις 7ταλαιστραν φοιτησας εν εγων το σώμα και πνκτικος γενο μένος επειτα τον πατέρα τνπτη και την μητέρα η άλλον τινα των οικείων η των φίλων ον τούτον ενεκα δει τονς παιδοτρίβας και τους εν τοΐς οπλοις διδάσκοντας μάχεσθαι 28 Sob o escrutínio de Sócrates Górgias é levado pela analogia com as demais tekhnai a determinar o âmbito específico de discurso concernente à retórica ou seja o justo e o injusto 454b cumprindo assim o requisito básico para que uma atividade seja considerada tekhnê Se analisarmos em contrapartida a caracterização da retórica oferecida pela personagem Górgias quando ela encontra a possibilidade de falar extensamente sobre o seu poder como nesse discurso 45634570 vemos que ela não está confinada efetivamente num domínio específico do conhecimento enquanto arte genérica do discurso ela serve para discorrer sobre qualquer assunto inclusive sobre aqueles para os quais há uma tekhnê específica Isso fica evidente nesse exemplo de Górgias sobre o caso de seu irmão médico Heródico não con seguindo fazer com que seu paciente se submetesse ao tratamento médico neces sário para curálo o médico recorreu a Górgias para que ele por meio da retórica o persuadisse 45óab O elogio de Górgias ao poder da retórica mostra que ela é efetivamente um instrumento que serve para discorrer sobre qualquer tema e não simplemente sobre o justo e o injusto pois ela seria a arte que ensina os homens a como onde e quando falar e não 0 quê falar Nesse sentido essa concepção de retó rica enquanto arte genérica do discurso atribuída por Platão à personagem Górgias se aproxima em certa medida da definição que Aristóteles posteriormente proporá na abertura da Retórica GÓRGIAS 203 eu enfim o persuadi por meio de nenhuma outra arte senão a da retórica E digo mais se um rétor e um médico se dirigirem a qualquer cidade que quiseres e lá se requerer uma disputa entre eles mediante o discurso na Assembleia ou em qualquer outra reunião sobre quem deve ser eleito como médico quem se apresentará jamais será o médico mas será eleito aquele que c tenha o poder de falar se assim ele o quiser E se disputasse com qualquer outro artífice o rétor ao invés de qualquer um deles persuadiria as pessoas a elegeremno pois não há nada sobre o que o rétor não seja mais persuasivo do que qualquer outro artífice em meio à multidão Esse é o tamanho e o tipo de poder dessa arte28 Todavia Sócrates devese usar a retórica como toda e qualquer forma de luta29 Não se deve decerto usar a luta con d tra todos os homens porque se aprendeu o pugilato o pancrácio ou o combate armado a ponto de ser superior tanto aos amigos quanto aos inimigos em força não é simplesmente por esse mo tivo que se deve bater ferir ou matar os amigos Nem por Zeus se alguém por frequentar o ginásio tiver uma boa compleição física e tornarse pugilista e depois bater no pai ou na mãe ou em qualquer outro parente ou amigo não é por esse motivo que se deve odiar ou expulsar da cidade seu treinador ou quem lhe e A retórica é a contraparte da dialética pois ambas tratam de coisas tais que são comuns de certo modo ao conhecimento de todos e que não são próprias de alguma ciên cia determinada Por isso todos participam de certo modo de ambas pois todos até certo ponto buscam examinar e sustentar um discurso se defender e acusar i 1354316 ή ρητορική έστιν αντίστροφος τή διαλεκτική άμφότεραι γάρ περι τοιούτων τινών είσιν ά κοινά τρόπον τινά απάντων έστι γνωρίζειν και ούδεμιάς επιστήμης άφωρισμένης διό και πάντες τρόπον τινά μετέχουσιν άμφοϊν πάντες γάρ μέχρι τίνος καί έξετάζειν και ύπέχειν λόγον και άπολογεΐσθαι και κατηγορείν έγχειροϋσιν 29 A analogia entre luta e discurso pautada na natureza agonística comum às competições esportivas e aos debates verbais agõnes αγώνες aparece em um dos fragmentos conservados do Górgias histórico Discurso Olímpico Fr dk 82 b8 Nossa competição segundo Górgias de Leontine requer duas virtudes co ragem e sabedoria coragem para suportar o perigo e sabedoria para saber trotear Pois o discurso como a proclamação do arauto em Olímpia convoca aquele que tem vontade mas coroa aquele que é capaz καί τό αγώνισμα ήμών κατά τον Λεοντίνον Γοργίαν διττών δέ άρετών δεϊται τόλμης καί σοφίας τόλμης μέν τό κίνδυνον ύπομειναι σοφίας δέ το πλίγμα γώναι ό γάρ τοι λόγος καθάπερ τό κήρυγμα τό Όλυμπίασι καλεΐ μέν τον βουλόμενον στέφανοί δέ τον δυνάμενον 204 GÕRGIAS DE PLATÃO μισεΐν τε καί εκ3άλλειν εκ των πόλεων εκεΐνοι μεν γάρ 7ταρεδοσαν επί τω δικαίως χρησθαι τουτοις προς τους 7roÀe μίονς και τους άδικονντας αμυνόμενους μη υπάρχοντας οί δε μεταστρεψαντες χρωνται ττ Ισχνϊ καί ττ τέχνη ονκ όρθως ουκουν οι διδάξαντες πονηροί ουδέ ή τέχνη ούτε αίτια ούτε πονηρά τούτον ενεκα εστιν αλλ οι μη χρωμενοι οίμαι όρθως δ αυτός δη λόγος καί περί της ρητορικής δυνατός μεν γαρ προς απαντας εστιν ο ρητωρ και περί παντός λεγειν ώστε πιθανωτερος είναι εν τοΐς πληθεσιν εμβραχυ περί οτου αν βούληται αλλ ουδεν τι μάλλον τούτον ενεκα δει οντε τους ιατρούς την δόξαν άφαιρεϊσθαι οτι δνναιτο αν τούτο ποιησαιοντε τους άλλους δημιουρ γούς αλλά δικαίως καί ττ ρητορική χρήσθαι ώσπερ καί ττ αγωνία εάν δέ οιμαι ρητορικός γενόμενός τις κατα ταύτη ττ δυνάμει καί ττ τέχνη άδικη ου τον διδάξαντα δεΐ μισεΐν τε καί εκβάλλειν εκ των πόλεων εκείνος μεν γαρ επί δικαίου χρεία παρεδωκεν 5 δ εναντίως χρηται τον ούν ούκ όρθως χρώμενον μισεΐν δίκαιον καί εκβάλλειν καί άποκτεινυναι αλλ ου τον διδάξαντα Σί2 Οίμαι ω Τοργία καί σε έμπειρον είναι πολλών λόγων καί καθεωρακεναι εν αντοΐς το τοιόνδε οτι οίι ραδίως f 3 Sobre a persuasão como meio para se cometer injustiça eou evitar a pu nição uma vez tendoa cometido ver República n 361b 3650 A ambivalência do I poder da retórica ressaltada aqui por Platão que depende da natureza e do caráter daquele que a emprega em vista de determinado fim é semelhante à reflexão do Górgias histórico no Elogio de Helena sobre o poder do logos através da analogia com o pharmakon remédio Ό mesmo argumento se aplica tanto ao poder do discurso para o ordena mento da alma quanto ao ordenamento dos remédios para a natureza dos corpos pois assim como certos remédios expurgam certos humores do corpo uns extin guindo a doença outros a vida também há discursos que afligem outros que delei tam outros que amedrontam uns infundem audácia nos ouvintes enquanto outros por meio de uma vil persuasão entorpecem e encantam alma 14 τον αστόν δέ λόγον έχει ή τε τού λόγου δύναμις προς την τής ψυχής τάξιν ή τε των φαρμάκων τάξις προς την τών σωμάτων φύσιν ώσπερ γαρ τών φαρμάκων άλλους άλλα χυμούς έκ τού σώματος εξάγει και τα μέν νόσου τά δε βίου παύει οϋτω καί τών λόγων οί μέν έλύπησαν οί δέ έτρεψαν οί δέ έφόβησαν οί δέ εις θάρσος κατέστησαν τούς ακούοντας οί δέ πειθοι τινι κακή τήν ψυχήν έφαρμάκευσαν και έξεγοήτευσαν 3ΐ Nesse discurso a personagem Górgias deixa entrever o problema relativo à moralidade do ensino da retórica Instigado por Sócrates a esclarecer em que consiste o GÕRGIAS 214 ensinou o combate armado Pois eles lhe transmitiram o uso justo dessas coisas contra inimigos e pessoas injustas para se defender e não para atacar ao passo que seus transgressores usam a força e a arte incorretamente Assim ignóbeis não são os mestres tam pouco culpada e ignóbil é a arte por tal motivo mas as pessoas que não a usam corretamente como presumo O mesmo argu mento também vale para a retórica o rétor é capaz de falar con tra todos e a respeito de tudo de modo a ser mais persuasivo em meio à multidão em suma acerca do que quiser porém nem mesmo por esse motivo ele deve furtar a reputação dos médi cos 0ois seria capaz de fazêlo nem a de qualquer outro artí fice mas usar a retórica de forma justa como no caso da luta E se alguém julgo eu tornarse rétor e cometer posteriormente alguma injustiça por meio desse poder e dessa arte não se deve odiar e expulsar da cidade quem os ensinou30 Pois este último lhe transmitiu o uso com justiça enquanto o primeiro usaos em sentido contrário Assim é justo odiar expulsar ou matar quem os usou incorretamente e não quem os ensinou31 soc Creio que também tu Górgias és experiente em inú meras discussões e já observaste nelas o seguinte não é fácil que seu poder Górgias faz um discurso que pode ser dividido grosso modo em duas partes i o encómio do poder persuasivo do discurso retórico 4563707 e ii a defesa do seu ofício 456C7457C3 Nela Górgias propõe o seguinte argumento enquanto mestre de retórica ele transmite sua arte a seus discípulos para ser empregada de forma justa embora eles possam usála injustamente todavia isso é de responsabilidade moral do agente que deve responder por suas próprias ações e não do mestre que lhe transmitiu aquela arte por meio da qual ele comete injustiça Esse tipo de defesa antecipatória em grego TtpóXqçnç prolêpsis como refere Quintiliano na Instituição Oratória iv 149 em que se presume os contraargumentos do adversário refutandoos antes de serem chamados em causa no debate Aristóteles Retórica ui 1418059 é um artifício ar gumentativo que Platão parece parodiar no Górgias não só pela boca da personagem homônima mas também pela de Sócrates como será comentado adiante Do ponto de vista do argumento essa declaração será crucial para a consumação do elenchos so crático 46oa46ia pois ela será uma das premissas a partir da qual Sócrates gerará a contradição da personagem Górgias como ficará claro na sequência da discussão Do ponto de vista moral essa defesa do ofício do rétor ilustra por um lado a sua condição delicada aos olhos da opinião pública fruto da ambivalência moral da prática retórica por outro lado ao ressaltar essa ambivalência Platão mostra o sentido de sua censura moral à retórica na medida em que ela é o instrumento por meio do qual as ações po líticas na democracia são conduzidas Assembleia Conselho e Tribunal 457 b c 206 GÓRGIAS DE PLATÃO δννανται 7τρί ών àv πιχίΐρήσωσιν διαλέγίσθαι διορισά μίνοι προς άλλήλους και μαθόντίς και διδάζαντς αυτόνς d οΰτω διαλύίσθαι τας συνουσίας αλλ àv πρί του άμφι σβητήσωσιν και μη φή δ Τρος τον τερον όρθώς λέγίΐν η μη σαφώς χαλπαίνονσί re και κατά φθόνον οΐονται τον αυτών λέγΐν φιλονικουντας αλλ ου ζητοϋντας το προκί μνον V τω λόγω καί evio í ye τλυτώντς αΐσχιστα άπαλλάττονται λοιδορηθέντς τ καί ίπόντς καί άκου σαντς πρι σφων αυτών τοιαυτα οια και τους παροντας αγθξσθαι υπέρ σφων αυτών οτι τοιουτων ανθρώπων ήζίωσαν e ακροαταί γενέσθαι του δη eνκα λέγω ταΰτα οτι νυν êμοί δοκίΐς συ ου πάνυ ακόλουθα λγΐν ουδέ σύμφωνα οΐς το πρώτον λγς πρί της ρητορικής φοβούμαι ουν δκ λέγχίΐν σ μη μ υπολάβης ον προς το πράγμα φιλονι κοΰντα λγαν του καταφανές γίνέσθαι αλλά προς σ 458 γω ουν eι μν και συ eι των ανθρώπων ωνπρ και γω ήδέως αν σ δκρωτωην d ôè μή ψην ν γω ôè τίνων ίμί των ήδέως μίν αν λγγθέντων ï τι μή αληθές λέγω ήδέως δ àv λγζάντων d τίς τι μή αληθές λέγοι ονκ αηδέστίρον μνταν λγγθέντων ή λίγζάντων μίΐζον γαρ αυτό αγαθόν ηγούμαι όσωπίρ μΐζον αγαθόν έστιν αυτόν άπαλλαγήναι κακού του μγίστου ή άλλον απαλλάξαι ovôev γαρ οιμαι τοσουτον κακόν ίναι ανθρωπω οσον οοςα b ψίυδης πρι ων τυγχανίΐ νυν ημιν ο Àoyos ων ι μν ουν καί συ φής τοιοΰτος ΐναι διαλγώμθα d ôè καί δοκϊ χρήναι àv ώμν ήδη χαίρΐν καί διαλύωμίν τον λόγον 32 Platão distingue aqui dois tipos de diálogo o filosófico cuja finalidade seria o consenso entre ambas as partes referido comumente pelo termo ομολογία homologia nos diálogos e o erístico cujo escopo último seria a vitória de uma parte sobre a outra referido aqui pelo termo φιλονικουντας philonikountas alme jando a vitória 457d4 Portanto temos de um lado a cooperação entre as partes em vista do esclarecimento sobre o que se discute e de outro a contenda em vista da afirmação de uma das partes em detrimento da outra a despeito da verdade encer rada nesse processo Sócrates chama em causa essa distinção precisamente por temer que Górgias uma vez refutado por ele creia que sua motivação seja simplesmente atacálo como se fosse uma rivalidade pessoal ao invés de buscar o esclarecimento do assunto em discussão A iniciativa de Sócrates de justificar antecipadamente uma possível acusação de Górgias contra seu comportamento agonístico exemplo de GÓRGIAS os homens consigam encerrar seus encontros depois de lerem definido entre si o assunto a respeito do qual intentam dialogar aprendendo e ensinando mutuamente pelo contrário se houver a controvérsia em algum ponto e um deles disser que o outro não diz de forma correta ou clara eles se enfurecem e presmnem que um discute com outro por malevolência almejando antes ãvitória do que investigar o que se propuseram a discutir alguns inclusive se separam depois dédarem cabo aos mais vergonho sos atos e em meio a ultrajes falam e escutam um do outro coisas tais que até os ali presentes se enervam consigo mesmos porque acharam digno ouvir homens como esses Em vista de que digo isso Porque o que me dizes agora não parece conforme e nem consonante ao que primeiramente disseste sobre a retórica temo te refutar de modo a supores que eu almejando a vitória não fale para esclarecer o assunto em questão mas para te atacar Se então também tu és um homem do mesmo tipo que eu te 45 rei o prazer de te interpelar caso contrário deixarei de lado Mas que tipo de homem sou eu Aquele que se compraz em ser re futado quando não digo a verdade e se compraz em refutar quando alguém não diz a verdade e deveras aquele que não menos se compraz em ser refutado do que refutar pois consi dero ser refutado precisamente um bem maior tanto quanto se livrar do maior mal é um bem maior do que livrar alguém dele Pois não há para o homem julgo eu tamanho mal quanto a opinião falsa sobre o assunto de nossa discussão Se então tam b bém tu afirmares ser um homem desse tipo continuemos a dia logar contudo se achares que devemos deixála de lado despeçamonos agora e encerremos a discussão32 prolêpsis cf supra nota 31 revela justamente o dilema em torno da personagem a sua real motivação quando coloca em prática seu método de refutação elenchos aos olhos dos outros Pois embora Sócrates alegue que sua motivação seja esclare cer a questão em busca da verdade e não refutar o interlocutor simplesmente por refutálo a refutação como meio para se chegar à verdade e não como fim em si mesmo isso não é suficiente em muitos casos para convencer seu interlocutor dessa suposta benevolência εύνοια O impacto fortemente negativo do elenchos sobre o interlocutor e por conseguinte sobre a sua doxa pode não parecer condi zente com a justificação positiva oferecida por Sócrates como vemos nesse trecho i m 2 0 8 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Άλλα φημι μεν εγωγε ω Σωκράτη και αυτός τοιοΰ τος εΊναι οΐον συ νφηγβ ίσως με ντοι χρήν ϊννοειν και το των παρόντων πάλαι γάρ τοι πριν και υμάς ελθεϊν εγώ t o îs παρονσι πολλά επεδειζάμην και νυν ίσως πόρρω άπο c τενοΰμεν ήν διαλεγωμεθα σκοπεΐν ονν χρή και το τούτων μη τινας αυτών κατεχομεν βουλομενους τι και άλλο πράττειν ΧΑΙ Του μεν θορύβου ω Γοργία τε και Σώκρατες αυτοι ακούετε τούτων των άνδρών βονλομενων άκούειν εάν τι λεγητε εμοι ο ουν και αυτω μη γενοιτο τοσαυτη ασχολία ώστε τοιούτων λόγων και οΰτω λεγομένων άφεμενω προυρ γιαίτερόν τι γνέσθαι άλλο πράττειν d ΚΑΛ Ντ τουί θεούς ώ Χαιρεφών και μεν δη και αυτός πολλοΐς ήδη λόγοις παραγενόμενος ουκ οΐδ εί πωποτε ήσθην ούτως ώσπερ νννί ώστ εμοιγε καν την ημέραν όλην εθελητε διαλεγεσθαι χαριείσθε ΣΩ Άλλα μην ω Καλλίκλεις τό y εμδν ουδεν κωλύει εΐπερ εθελει Γοργίας Na perspectiva de Cálicles por exemplo um interlocutor cujas convicções morais são contrárias às de Sócrates e que resiste à sua investida é indubitável que a jus tificação socrática do elenchos seja mero pretexto para encobrir a sua verdadeira motivação ie simplesmente refutar e ridicularizar o interlocutor 482ε Por tais motivos Cálicles está seguro de que Sócrates é um verdadeiro amante da vitória philonikos φιλόνικος 515bg Em suma se o problema para a personagem Górgias é a ambivalência moral da prática retórica tendo em vista a sua função política no contexto democrático para Sócrates em contrapartida é a ambivalência da prá tica do elenchos aos olhos do interlocutor uma vez que a distinção entre o diálogo erístico e diálogo filosófico consiste na sua real motivação ao refutálo em vista da refutação em si mesma ou em vista do conhecimento 33 É interessante notar como os verbos ήδομαι hédomai comprazerse e χαίρομαι khairomai deleitarse que pertencem ao mesmo campo semântico de έτπθυμέω epithumeõ cf supra nota 3 se conformam com a construção da GÓRGIAS 219 gor Mas ao menos eu Sócrates afirmo ser um homem do tipo ao qual aludiste mas talvez devêssemos pensar também na situação dos aqui presentes Pois muito antes de vós che gardes eu já havia lhes exibido inúmeras coisas e talvez agora nos estendamos em demasia se continuarmos a dialogar As sim devemos averiguar também a situação dessas pessoas a fim de que não nos surpreendamos se parte delas queira fazer alguma outra coisa que Escutai vós mesmos Górgias e Sócrates o rumor des ses homens sequiosos por ouvir o que tendes a falar quanto a mim tomara que nenhum compromisso exija que eu abandone tais discussões conduzidas desse modo para ter de fazer algo mais importante cal Sim pelos deuses Querefonte ademais eu mesmo que já estive presente em inúmeras discussões não sei se al guma vez me comprazi tanto quanto nessa ocasião mesmo se desejardes dialogar o dia inteiro vós me deleitareis33 soc De fato Cálicles nada me impede caso Górgias o queira personagem Cálicles cujo caráter hedonista se revelará no 3a Ato do diálogo Cálicles que na recepção de Sócrates mostrou certa hostilidade ao repreendêlo pelo atraso encontrase nessa altura fascinado pela discussão entre Sócrates e Górgias Seu desejo de que a discussão continue muito bem expresso pela hi pérbole mesmo se desejardes dialogar o dia inteiro vós me deleitareis ώστ εμοιγε καν τήν ημέραν όλην έθέλητε διαλέγεσθαι χαριεΐσθε 458034 mostra quão envolvido emocionalmente ele se encontra pela forma como Sócrates con duz o diálogo com Górgias A tal ponto Cálicles se regozija com o debate que ele não percebe o apelo do mestre Górgias à audiência como o último recurso para se desvencilhar de Sócrates e evitar assim ser refutado Sócrates havia declarado pouco antes que seria essa a sua sorte no diálogo 45764580 Cálicles em última instância vota a favor de Sócrates e o diálogo assim prossegue Seu estado de ânimo mudará completamente quando ele se torna o interlocutor principal de Sócrates depois que Polo sai de cena 481b 2 1 0 GÛRGIAS DE PLATÃO 459 b ΓΟΡ AΙσχρδν δη το λοιπόν ω Σώκρατεν γίγνεται εμέ γε μη εθέλειν αυτόν έπαγγειλάμενον έρωταν ότι t is βού λεται άλλ εί δοκει τουτοισί διαλέγου τε και έρωτα οτι βουλει ΣΩ Ακούε δη ω Γοργία à θαυμάζω εν rots λεγομένοιν υπό σου ισωΐ γάρ τοι σου ορθών λέγοντον εγω ουκ ορθών υπολαμβάνω ρητορικόν pfjs ποιειν οΐόν τ είναι εάν τιν βούληται παρά σου μανθάνεινΓΟΡ Ναι ΣΩ Ουκούν περί πάντων ωστ εν όχλω πιθανόν είναι ου διδάσκοντα άλλα πείθοντα ΓΟΡ ΓΙάυυ μεν ούνΣΩ vEAeyfs τοι νυνδη ότι καί περί του υγιεινού τού ιατρού πιθανώτερον εσται ΰ ρητωρΓΟΡ Και γάρ ελεγον εν γε όχλω ΣΩ Ούκουν το εν όχλω τούτο εστιν εν roîs μη είδόσιν ου γάρ δηπου εν γε roîs είδόσι τού ιατρού πιθανώτερον εσταιΓΟΡ Αληθή λεγειν ΣΩ Ο υκούν εϊπερ τού ιατρού πιθανώτερον εσται τού είδότον πιθανώτερον γίγνεταιΓΟΡ Πάνν γε ΣΩ Ουκ ιατρόν γε ων η γάρΓΟΡ ΝαίΣΩ Ό 34 Górgias diante da iminência da refutação de Sócrates tenta o último arti fício para se desvencilhar de sua investida apelando a um argumento ad hominem ele alega que Sócrates havia chegado no fim de sua epideixis e que seria preciso averiguar a condição da audiência deixando entrever polidamente a sua intenção de abandonar o diálogo no Prólogo Polo havia dito que Górgias estava exausto depois de sua apresentação 448a68 Assim Górgias recorre em última instância à audiência pois a manifestação do público em seu favor seria a única saída viável para evitar que o elenchos socrático se consumasse e que sua reputação fosse afetada negativamente Todavia Górgias não encontra respaldo em seu próprio público o qual rumoroso demonstra a vontade de que o diálogo continue A manifestação da audiência que tem Querefonte como portavoz representa aqui sutilmente a derrota antecipada de Górgias para Sócrates pois o jogo de forças já se encontra invertido a essa altura do diálogo Sócrates entra num ambiente que a princípio lhe é estranho povoado de discípulos eou pessoas associadas à personagem Górgias e consegue impor seu modo habitual de discurso o diálogo por meio de perguntas e respostas usando o próprio público de Górgias como instrumento de controle da situação dia lógica a ponto de conquistálo e têlo em seu favor 35 A m u ltid ã o év y e õxu 45933 c o m o c o n d iç ã o p a ra a e fic á c ia p e rs u a s iv a d o d is c u r so re tó ric o a p a re ce a lu d id a n esta p a ssa g e m d o L iv ro v d e H e ró d o to q u e co n ta c o m o A ris tá g o r a s d e M ile to co n se g u iu p e rs u a d ir o s ate n ie n se s a a ju d a r o s jô n io s n a re b e liã o c o n tra o im p é r io p e rsa so b o p o d e r d e D a rio Q u a n d o A ristá g o ra s se d irig iu a o p o v o ele d isse as m esm a s co isa s q u e h a v ia d ito e m E sp a rta a resp eito d o s b e n s d a Á sia e d a g u e rra d o s p ersas q u e eles d e sco GÓRGIAS 2 1 1 g o r Depois disso Sócrates seria vergonhoso que eu o re jeitasse visto que prometi que me perguntassem o que desejas sem Mas se é do parecer de todos dialoguemos e pergunta tu e o que quiseres34 soc Escuta então Górgias o que me surpreende em tuas palavras talvez tu fales corretamente e seja eu que não tenha a compreensão correta Afirmas ser capaz de tornar alguém rétor se ele quiser aprender contigo g o r Sim soc De modo a ser persuasivo a respeito de todos os assun tos em meio à multidão não a ensinando mas persuadindoa g o r Certamente soc Dizias há pouco pois que também a respeito da saúde 459 o rétor será mais persuasivo do que o médico g o r Sim dizia contanto que em meio à multidão35 soc Em meio à multidão não quer dizer em meio a igno rantes Pois decerto em meio a quem tem conhecimento não será mais persuasivo do que o médico g o r Dizes a verdade soc Se ele for então mais persuasivo do que o médico ele se torna mais persuasivo do que aquele que tem conhecimento g o r Absolutamente soc Mesmo não sendo médico não é b g o r Sim nheciam escudos e lanças e que eram facilmente sobrepujados A isso ele também acrescentou o seguinte que os milésios eram colonos dos atenienses e que por terem grande poder era razoável que eles os protegessem e diante da extrema urgência não havia promessa que não fizesse para persuadilos Pareceulhe mais fácil ludibriar muitos do que um único homem uma vez que foi incapaz de ludibriar Cleômenes um Inccdcmônio apenas enquanto a trinta mil atenienses logrou fazêlo 97 έπελθών δέ έπι τον δήμον ό Άρισταγόρης ταύτά έλεγε τά και έν τή Σπάρτη περί rciiv áyuOòiv των έν Άσίη και τοϋ πολέμου του Περσικού ώς ούτε ασπίδα ούτε δόρυ νομίζουσι εύπετέες τε χειρωθήναι εϊησαν ταύτά τε δή έλεγε καί προς τοΰτοισι τάδε ώς οί Μιλήσιοι τών Αθηναίων αίσΐ άποικοι καί οίκος σφεας είη ρύεσθαι δυναμένους μέγα και ούδέν õ τι ούκ ύπίσχετο οΐα κάρτα δεόμενος ές õ άνέπεισέ σφεας πολλούς γάρ οικε είναι εύπετέστερον διαβάλλειν ή ένα εΐ Κλεομένεα μέν τον Λακεδαιμόνιόν μούνον ούκ οίός τε έγένετο διαβάλλειν τρεις δέ μυριάδας Αθηναίων έποίησε τούτο 2 1 2 GÓRGIAS DE PLATÃO ν y f 9 y v y f δε μ η ια τρ ο ί γ ε ύήττου αν επ ισ τήμω ν ων ο ια τρ ο ί επ ισ τ ή μ ω ν ΓΟΡ Δ ή λ ο ν δ τ ι Σί2 Ό ουκ είδ ω ί αρα τοΰ είδ ό το ί ev ονκ ΐδοσι πιθανω τςρος e a r a i όταν ο ρητωρ τον ιατρού πιθανω τεροί ή τούτο σ υ μ β α ίν ει η άλλο τ ι ΓΟΡ Τούτο ενταΰθά γ ε σ υ μ β α ίν ει Σί2 Ονκοΰν και π ερ ί ras α λ λ α ί ά π ά σ α ί τ ε χ ν α ί ω σαύτω ί ε χ ε ι δ ρητωρ και ή ρητορική αυτά μ εν τα πράγματα ουδέ ν δ ει αυτήν είδε να ι οπ ω ί εχ ει μ ηχα νήν δε τινα π ειθ ο ϋ ί ηυρηκεναι ώ στε φ α ίνεσ θα ι τ ο ϊs ουκ είδό σ ι μ ά λλο ν είδενα ι τω ν είδότω ν ΓΟΡ Ο νκονν π ο λλή ραστώ νη ω Σ ω κρα τεί γ ίγ ν ετ α ι μή μαθόντα ταs α λ λ α ί τ ε χ ν α ί α λλά μ ία ν ταΰτην μηδέν ελα ττο νσ θα ι τω ν δημιουργώ ν ζ ί 2 Lt μν λα ττοντα ι η μη ίλ α ττο υ τα ι ο ρητω ρ των ά λλω ν διά το οΰτωί εχ ειν αυτίκα επ ισ κ εψ ό μ εθα εάν τ ι η μ ιν 7τρος λογον rj νυν oe roöe προτρον σ κ ζψ ω μ α m αρα τυ γ χ ά ν ει π ερί τδ δίκαιον καί το άδικον καί το αισχρόν και το καλόν και αγαυον και κακόν όντως εχω ν ο ρητορικός ως ττρι το υ γιεινό ν και ττρι τα αλλα ων αι α λλα ι τςχνα ι αντα μζν ονκ ΐδως τ ι αγαυον η τ ι κακόν σ τιν η τ ι καλόν η τ ι α ισχρόν η δίκαιον η άδικον πζιθω oe 7reu αντων μ e μ η χ α ν η μ εν ο ί ώ στε δοκειν ειοενα ι ονκ ειδ ω ί εν ονκ ειδοσ ιν 36 37 36 A d ife re n ça d e ju ízo en tre S ó crates e G ó rg ia s so b re o p o d e r d a retó rica m o s tra c o m o d o p o n to d e v ista d a c o n s tr u ç ã o d a s p e rso n a g e n s elas p o s s u e m v a lo re s a b so lu ta m e n te d ife re n te s re fle tin d o p o rta n to o a b ism o e n tre fd o s o fla e retó rica e n q u a n to p a ra S ó c ra te s e la co n siste n u m a p rá tic a irra c io n a l e n u m sa b e r ap aren te n a m e d id a e m q u e o ré to r n ã o p re c is a conhecer a q u ilo so b re o q u e d is cu rsa m as s o m e n te parecer conhecer à m u ltid ã o p a ra a q u a l d iscu rsa ra zã o su fic ie n te p a ra n ã o co n s id e rá la u m a tekhnê e m b o ra S ó c ra te s n ã o e x p licite essa tese n esse m o m e n to d o d iá lo g o p a ra G ó r g ia s é ju sta m e n te esse a sp e cto q u e a to rn a s u p e r io r às d e m a is tekhnai p o is parecer conhecer é c o n d iç ã o su fic ie n te p a ra p e rs u a d ir u m a m u ltid ã o ig n o ra n te d a q u ilo so b re o q u e se d iscu te O d o m ín io d o a p a re n te n ã o te m q u a lq u e r v a lo ra ç ã o n e g a tiv a p o r p a rte d a p e rso n a g e m G ó rg ia s e n q u a n to p a ra S ó cra tes in v er sa m e n te a b u sc a p e lo c o n h e c im e n to te m c o m o fim a su p re ssã o d o ap aren te 37 O q u e P la tã o d e fin e a q u i c o m o o d o m ín io m o r a l d o d is c u r s o re tó rico ie o b e m e o m a l o b e lo e o v e rg o n h o so o ju s to e in ju sto será ca te g o riz a d o p o s te rio r m e n te p o r A ris tó te le s n a Retórica c o m o o s fin s d e c a d a u m d o s g ên ero s O fim de cada um desses gêneros é diferente e por serem três três são os fins Do deliberativo o vantajoso e o prejudicial quem exorta aconselha aquilo como se fosse GÓRGIAS 213 soc Quem não é médico certamente não tem o conheci mento que o médico tem g o r É evidente soc Portanto o ignorante será mais persuasivo do que o conhecedor em meio a ignorantes quando o rétor for mais per suasivo que o médico É isso o que acontece ou não g o r É isso o que acontece em tais circunstâncias soc Assim no tocante a todas as demais artes o rétor e a retórica se encontram na mesma condição a retórica não deve conhecer como as coisas são em si mesmas mas descobrir al gum mecanismo persuasivo de modo a parecer aos ignorantes conhecer mais do que aquele que tem conhecimento g o r E então Sócrates não é uma enorme comodidade mesmo não tendo aprendido as demais artes mas apenas esta não ser em nada inferior aos artífices36 soc Se o rétor é ou não inferior aos outros porque se encon tra nessa condição em breve investigaremos no caso de ser per tinente para nossa discussão mas por ora examinemos primeiro o seguinte o rétor porventura encontrase a respeito do justo e do injusto do vergonhoso e do belo do bem e do mal na mesma condição em que se encontra a respeito da saúde e das demais coisas relativas às outras artes Ignorando as próprias coisas o que é o bem e o que é o mal o que é o belo e o que é o vergonhoso o que é o justo e o que é o injusto37 mas tramando a persuasão a respeito delas de modo a parecer conhecer mesmo ignorando em meio a quem é ignorante mais do que aquele que conhece o m elhor a o p asso qu e q u e m d issuade d issu ad e d aq u ilo co m o se fosse pior além de co m p reen d er e m acréscim o o s d em ais fin s o u seja o ju sto o u o injusto o b elo o u o vergo n h o so Para q u e m p articip a d o ju lg am en to o ju sto e o injusto além d e co m p reen der em acréscim o ta m b é m os d em ais fins P ara q u e m elo gia e vitu p era o b elo e o v e r g o n h o so além d e se referir em acréscim o ta m b é m aos d em ais fins I i358b 2 0 2 8 ιέ λ ο ς δέ έκάστοις το ύ τω ν έτερόν έστι και τρισίν ο ύσ ι τρία τψ μέν σ υ μ β ο υ λεύ ο ντι το σ υ μ φ έρ ο ν καί β λα β ερ ό ν ό μέν γ ά ρ π ρ ο τρ έπ ω ν ώ ς β έλ τιο ν σ υ μ β ο υ λ ε ύ ε ι ό δ έ ά π ο τρ επ ω ν ώ ς χ είρ ο νο ς άπ οτρέπ ει τά δ ά λ λ α π ρ ο ς τ ο ύ το σ υμ π α ρ α λα μ β ά νει ή δίκα ιον ή ά δικον η κ α λ ό ν ή α ισ χρόν το ΐς δ έ δ ικ α ζο μ έν ο ις τ ό δ ίκα ιον κα ι άδικον τ ά δ ά λ λ α κα ί ο ύ το ι σ υμ π α ρ α λα μ β ά νει π ρ ο ς ταϋτα το ΐς δέ έπ α ιν ο ϋ σ ιν κα ί ψ έγο υ σ ιν τ ό κ α λ ό ν κα ί τό α ισ χρ όν τά δ ά λ λ α καί ο ύ το ι π ρ ο ς τα ϋ τα έπαναφ έρουσιν 214 GÓRG1AS DE PLATÃO e 46 0 b μ ά λλο ν τον είδότο ς ή ανάγκη elbévai και beι προεπιστά μevov ταΰτα ά φ ικέσ θα ι παρά σε τον μ έλλο ν τα μα θήσ εσ θα ι τη ν ρ ητο ρ ικ ήν ei δε μ η σι 6 τής ρητορικής διδάσκαλοί τού των μ εν ονδεν διδά ξεις τον άφικνούμενον ον γάρ σον ίργο ν π ο ιή σ εις δ èv το ΐς ττολλοΐς boKeiv elbévai αυτόν τα τοιαντα ονκ είδότα και δοκεΐν αγαθόν eiva i ονκ δ ντα ή το παράπαν ονχ οίός Te εσ ρ αυτόν διδάξαι τη ν ρητορικήν èáv μη προειδή π ερ ί τούτω ν τη ν α λή θ εια ν ή πως τά τοιαντα χ ε ι ω Γ ο ρ γία και προς Α ιό ς ώ σπερ ά ρτι είπ ες άποκαλύψας τής ρητορικής ε ιπ ε τ ίς ποθ ή bύvaμíς εσ τιν ΓΟΡ Ά λλ εγω μ εν οΐμα ι ω Σω κρατες εάν τύχη μη ειδώς και ταντα παρ εμού μ α θή σ ετα ι Σ Ω νΕχ6 δή καλώς γάρ λ εγ ε ις εάνπερ ρητορικόν σύ τινα π ο ιήσ ης ανάγκη αυτόν elbévai τά δίκαια και τά άδικα ή το ι πρότερόν γ ε ή ύστερον μαθόντα παρά σου ΓΟΡ Π ά νν γ ε Σ Ω Τί ουν ό τά τεκτονικά μεμαθηκω ς τεκτονικός ή ού ΓΟΡ Ναί Σ Ω Ουκοΰν και δ τά μουσικά μο υσ ικό ς ΓΟΡ Ναί SÍ2 Καί ό τά Ιατοικά ίατοικός και τά λλα οντω κατά τον αυτόν λόγον δ μεμαθηκω ς εκαστα τοιουτος εσ τιν οιον η επ ισ τή μ η έκαστον α π εργά ζετα ι ΓΟΡ Πάνν γ ε Σί2 Ο υκοΰν κατά τούτον τον λόγον καί ό τά δίκαια μεμαθηκω ς δίκα ιος ΓΟΡ Πάντωΐ δήπου GÓRGIAS 215 Ou é necessário conhecêlas e quem pretende aprender a retórica contigo deve conhecêlas previamente quando te procurar Caso contrário tu o mestre de retórica não ensinarás nenhuma dessas coisas pois não é teu ofício porém farás com que ele em meio à multidão pareça conhecer sem conhecêlas e pareça ser bom sem sêlo Ou não serás absolutamente capaz de ensinarlhe a retórica caso ele não conheça previamente a verdade sobre essas coisas Ou o que sucede Górgias E por Zeus como dizias há pouco desvela a retórica e dizeme qual é o seu poder gor Eu julgo Sócrates que se acaso não conhecêlas ele aprenderá comigo essas coisas soc Um momento Bem dito Se tu tornares alguém rétor será necessário que ele conheça o justo e o injusto seja previa mente ou aprendendo contigo depois GOR Certamente soc E então Quem aprendeu carpintaria é carpinteiro ou não gor Sim soc Então também quem aprendeu música é músico gor Sim soc E a medicina médico E quanto às demais artes o mesmo argumento não se aplica desta forma quem aprendeu uma delas é tal qual o conhecimento que a produz gor Sem dúvida soc Conforme esse argumento pois também quem apren deu o justo é justo gor Absolutamente certo e 4 6 0 b 216 GÓRGIAS DE PLATÃO Σί2 Ό δε δίκα ιο ί δίκαιά που π ρ ά ττειΓΟΡ Ναί ο Σί2 Ουκοΰν ανάγκη τον ρητορικόν δίκαιον είνα ι τον δε δίκαιον βο υ λεσ θ α ι δίκαια π ρ ά ττειν ΓΟΡ Φ α ίν ετα ί γ ε ΣΩ Ο υδέποτε άρα βο υ λ η σ ετα ι ο γ ε δ ίκ α ιο ί ά δικ εΐν ΓΟΡ Α νάγκη ΣΩ Τον δε ρητορικόν ανάγκη εκ του λόγου δίκαιον είνα ι ΓΟΡ Ναί ΣΩ Ο υδέποτε άρα βο υ λ η σ ετα ι ό ρητορικοί ά δικεΐν ΓΟΡ Ο υ φ α ίνετα ί γ ε ΣΩ Μ εμ νη σ α ι ουν λεγω ν όλίγω πρότερον ο τι ου δ ει τ ο ΐί d π α ιδ ο τρ ίβ α ΐί εγκ α λεΐν ουδ εκ β ά λ λ ειν εκ τω ν πόλεω ν εάν ό π υ κ τη ί τη πυκτικη χ ρ η τα ί τ ε και άδίκω ί χ ρη τα ι καί άδικη ω σαυτω ί δε οΰτω ί και εάν ό ρητωρ τη ρητορική ά δίκω ί χ ρ η τα ι μη τω διδάξα ντι εγ κ α λεΐν μηδ εξελα ύνειν εκ τ η ί π ό λεω ί αλλά τω άδικουντι και ουκ όρθω ί χρω μενω τη ρητορική ερρηθη ταυτα η ο υ ΓΟΡ Έ ρ ρ η θ η ΣΩ Νυν ε οε γ ε ο α υτοί ο υτοί φ α ίνετα ι ο ρητορικοί ουκ αν π οτέ 38 N e sse p a s s o d o a r g u m e n to e n c o n tr a m o s a a n a lo g ia e n tre arte tekhnê τέ χ ν η e virtude areté α ρ ετή c o m u m e n te u sa d a p o r P la tã o n o s c h a m a d o s p r i m e iro s d iá lo g o s b a sta c o n h e c e r o q u e é ju s to p a ra a g ir d e fo rm a ju sta assim co m o b a s ta ter o c o n h e c im e n to d e c a rp in ta ria p a ra se r ca rp in te iro Isso im p lic a q u e o c o n h e c im e n to é c o n d iç ã o su fic ie n te p a ra a v irtu d e tese m o r a l d e sig n a d a c o m o p a r a d o x o s o c rá tic o p e lo s e stu d io so s d e P latã o i X e n o fo n te n a s Memoráveis a trib u i a S ó c ra te s co n sid e ra ç õ e s se m e lh a n te s ii a ssim c o m o A ristó te le s n a Ética Eudêmia ra z ã o p ela q u a l é g e ra lm e n te co n sid e ra d a u m a tese g e n u in a m e n te so crá tica i S ó crates d iz ia q u e a ju stiça e q u a lq u e r o u tra v irtu d e sã o sa b e d o ria e q u e as co isa s ju sta s e to d a s as a çõ e s v irtu o s a s sã o b elas e b o a s D iz ia q u e q u e m as c o n h e ce ja m a is p re fe riria o u tra s co isa s a elas en q u a n to q u e m as d e sc o n h e c e é in ca p a z d e a g ir d e m o d o ju s to e v irtu o s o e m e s m o se ele ten ta sse a g ir a ssim in c o rr e ria em erro D a m e s m a fo rm a o s sá b io s a g e m d e m o d o b e lo e b o m a o p a sso q u e o s ig n o ra n tes sã o in c a p a ze s d isso e m e s m o se te n ta sse m in c o rr e ria m e m erro P o rta n to u m a v e z q u e to d a s as a ç õ e s ju sta s b e la s e b o a s sã o v irtu o s a s é e v id e n te q u e ta n to a ju s tiç a q u a n to q u a lq u e r o u tra v ir tu d e sã o sa b e d o ria 3 9 5 εφ η δ έ κ α ι τ ή ν δ ικ α ιο σ ύ ν η ν κ α ί τ ή ν ά λ λ η ν π ά σ α ν α ρ ετή ν σ ο φ ία ν είνα ι τ ά τε γ ά ρ δ ίκ α ια κ α ι π ά ν τ α ό σ α α ρ ετή π ρ ά τ τ ε τ α ι κ α λ ά τε κ ά γ α θ ά είνα ι κ α ι ο ύ τ α ν τ ο ύ ς τ α ϋ τ α ε ίδ ό τ α ς ά λ λ ο ά ν τ ί τ ο ύ τ ω ν ο ύ δ έ ν π ρ ο ε λ έ σ θ α ι ο ύ τ ε τ ο ύ ς μή έ π ισ τ α μ έ ν ο υ ς δ ύ ν α σ θ α ι π ρ ά ττειν ά λ λ α κ α ι ε ά ν έγ χ ε ιρ ώ σ ιν ά μ α ρ τά ν ειν ο ϋ τ ω και τά κ α λ ά τε κ ά γ α θ ά τ ο ύ ς μ έν σ ο φ ο ύ ς π ρ ά ττειν τ ο ύ ς δ έ μή σ ο φ ο ύ ς ο ύ δ ύ ν α σ θ α ι α λ λ ά κ α ι εά ν έγ χ ειρ ώ σ ι άμα ρ τά νειν έπ ει ο ύ ν τά τε δ ίκ α ια και τ ά λ λ α κ α λ ά τ ε κ ά γ α θ ά π ά ν τα ά ρ ετή π ρ ά τ τ ε τ α ι δ ή λ ο ν είν α ι ο τ ι κ α ι δ ικ α ιο σ ύ ν η και ή ά λ λ η π ά σ α ά ρ ε τή σ ο φ ία έσ τί ii S ó crates ju lg a v a q u e o c o n h e c im e n to é to d a s as v irtu d e s d e m o d o q u e s u ce d ia sim u lta n e a m e n te co n h e c e r a ju stiça e ser ju sto tã o lo g o te n h a m o s ap ren d id o a g e o m e tria e a rq u ite tu ra ta m b é m s o m o s a rq u ite to s e g e ô m e tra s i2 i6 b 6 9 GÓRGIAS 217 soc E quem é justo age de forma justa gor Sim38 soc Não é necessário então que o rétor seja justo e que a pessoa justa queira agir de forma justa GOR É claro soc Portanto quem é justo jamais há de querer cometer injustiça gor Necessariamente soc E como decorrência do argumento é necessário que o rétor seja justo gor Sim soc Portanto o rétor jamais quererá cometer injustiça gor É claro que não há de querer39 soc Bem estás lembrado do que disseste há pouco que não se deve inculpar ou expulsar da cidade os treinadores caso o pugilista use o pugilato injustamente e cometa injustiça e da mesma forma caso o rétor use a retórica injustamente inculpar ou banir da cidade quem o ensinou mas quem cometeu injustiça e não uSou corretamente a retórica Isso foi dito ou não40 gor Foi dito soc Agora porém está claro que essa mesma pessoa o rétor jamais cometeria injustiça ou não έ π ισ τή μ α ς γ ά ρ ώ ε τ είν α ι π ά σ α ς τ ά ς ά ρ ετά ς ώ σ θ ά μ α σ υ μ β α ίν ε ιν ε ίδ έ ν α ι τε τ ή ν δ ικ α ιο σ ύ ν η ν κ α ι είνα ι δ ίκ α ιο ν ά μ α μ έν γ ά ρ μ ε μ α θ ή κ α μ εν τ ή ν γ ε ω μ ω τρ ία ν και ο ίκ ο δ ο μ ία ν κ α ι έμ έν ο ικ ο δ ό μ ο ι κα ι γ εω μ έτρ α ι 39 A o a c re se n ta r n a c o n c lu s ã o d o a r g u m e n to in d u tiv o q u e a p e ss o a q u e c o n h e c e o ju sto a lé m d e se r ju sta quer a g ir d e m o d o ju s to β ο υ λ ή σ ε τ α ι 460C5 S ó cra te s in tr o d u z n a d iscu ssã o u m a tese so b re a m o tiv a ç ã o m o r a l q u e u ltra p a ssa os lim ite s d a a n a lo g ia en tre a rte e v irtu d e C o m o sa lie n ta J C o o p e r esse a rg u m e n to d e S ó c ra te s é a b so lu ta m e n te in ju s tific a d o n o d iá lo g o e a sse n tid o ce g a m e n te p e la p e rs o n a g e m G ó rg ia s p o is s e ria m n e ce ssá rio s u lte rio re s a rg u m e n to s q u e lh e d e sse m fu n d a m e n to S ó cra te s a n d P la to in Górgias p 44 D ife re n te m e n te d o ca rp in te iro e d o m ú s ic o q u e u m a v e z e m p o s s e d o c o n h e c im e n to té c n ic o p o d e n ã o querer e m p re g á lo q u a n d o re q u e r id o se m d eixar p o r isso d e ser ca rp in te iro o u m ú sico a p e sso a ju sta d e v e n ã o so m e n te c o n h e c e r o q u e é ju sto m a s querer a g ir d e fo rm a ju sta q u a n d o é p re ciso a g ir T Irw in o p cit p 1 2 6 1 2 7 S o b re a c o n c e p ç ã o o p o sta d e q u e a ju s tiç a é c o m p u ls ó r ia e in v o lu n tá ria a trib u íd a p e la s p e rso n a g e n s G la u c o e A d im a n to à m a io ria d o s h o m e n s o í π ο λ λ ο ί v e r República 11 360c 36 6 cd 4 0 C f 4 5 6 C 4 5 7 C 218 GÓRGIAS DE PLATÃO 461 b c ά δικησα η ο υ ΓΟΡ Φ α ίν ετα ι Σί2 Και ευ τ ο ΐ πρώ τοι γ ω Γοργία λ ό γ ο ι ελ εγ ετο ο τι η ρητορική π ερ ί λόγον ειη ου του του αρτίου και ττεριττον ά λλα του του δικαίου καί ά δικο ν η γά ρ ΓΟΡ Ναι Σί2 Εγώ το ίννν σου τότε ταντα λ εγ ο ν το νπ ελα β ο ν ώ ουδεποτ άν ειη η ρητορική άδικον πράγμα ο γ ά εί ττερϊ δικαιοσύνη του λόγου π ο ιείτα ι επ ειδή δε ο λίγο ν ύστερον ε λ ε γ ε δ τι δ ρητω ρ τη ρητορική καν αδικώ χρωτο ουτω θαύμασα καί η γησ ά μ ε ν ο ου συνάδειν τα λεγά μενα εκείνον ειπ ον του λ ό γ ο ν δ τι εΐ μ εν κερδο ήγοΐο είνα ι τδ ελ εγ χ εσ θ α ι ώ σπερ εγω άξιον ειη δ ια λέγεσ θ α ι ε ί δε μ η εάν γ α ίρ ειν ύστερον δε ημώ ν επ ισκοπ ονμενω ν δρα δη καί α υτό δ τ ι αύ δμ ολογεϊτα ι τον ρητορικόν άδννατον είνα ι ά δίκω γρ η σ θα ι τ η ρητορική καί εθ ελ ειν ά δικεΐν τα ντα ουν οπη π ο τέ εχει μα τον κυνα ω I οργιά ονκ ο λίγ η ς συνουσίας σ τιν ωστ ικανως δια σ κ εψ α σ θα ι ΓΙί2Λ Τί δε ω Σ ώ κ ρ α τε ουτω καί συ π ερ ί τ η ρ η το ρ ικ ή δοξά ζει ώ σπερ νυν λ ε γ ε ι η ο ϊει οτι Γοργία ησ χννθη σοι μη π ροσομολογησα ι τον ρητορικόν άνδρα μ η ο ν γ ί καί τα δίκαια είδένα ι καί τα καλά καί τα άγαθά καί εάν μη ελθ η ταντα ειδ ω παρ αυτόν α υτό διδά ξειν επ ειτα εκ τα ύ τη ίσ ω τ η δ μ ο λο γία εναντίον τ ι σ υ ν έβ η εν τ ο ΐ λ ό γ ο ι τούτο δ δη ά γα πα αυτό άγαγω ν επ ί τοιαντα ερω τήματα επ ει τιν α ο ιει απαρνησεσΟαι μ η ουχι και αυτόν 41 42 41 Cf 454 b 42 C f 4820 5 43 N o d iá lo g o Mênon a p e rs o n a g e m h o m ô n im a re ssa lta p re cisa m e n te o fato d e G ó rg ia s d ife re n te m e n te d e o u tro s so fista s p ro m e te r e n sin a r so m e n te a té c n ic a o ra tó ria e n ã o a v irtu d e e m b o ra isso n ã o seja ra zã o su fic ie n te p a ra v a lid a r o u in v a lid a r o p ro te sto d e P o lo n o Górgias s o c E e n tã o E sses so fista s o s q u a is sã o o s ú n ic o s a p ro fe ssa re m ta l co isa te p a re c e m se r m e stre s d e v irtu d e GÓRGIAS 219 gor Está claro soc E no princípio da discussão Górgias foi dito que a re tórica não concernia aos discursos relativos ao par e ao ímpar mas aos relativos ao justo e ao injusto não é41 gor Sim soc Pois bem quando disseste isso eu supus que a retórica jamais seria uma prática injusta visto que sempre compõe dis cursos sobre a justiça mas quando pouco depois disseste que o rétor poderia usar a retórica também de forma injusta espan 461 teime e considerando inconsonantes tuas afirmações disse aquilo se considerasses vantajoso assim como eu ser refutado seria digno dialogarmos se não deixaríamos de lado Depois de nossa investigação ulterior tu mesmo vês que foi consentido pelo contrário ser impossível ao rétor usar injustamente a re tórica e querer cometer injustiça Assim pelo cão42 Górgias não é um encontro exíguo o modo conveniente de examinar b como essas coisas são X P P L Mas o quê Sócrates É essa a tua opinião sobre a re tórica como agora a exprimes Porventura julgas só porque Górgias ficou envergonhado de discordar de ti em que o rétor conhece o justo o belo o bem e que se alguém o procurasse sem conhecêlos ele próprio o ensinaria43 decorrendo em se guida talvez advinda desse consentimento alguma contradição no argumento coisa que muito te apraz pois és tu a lhe for c mular perguntas do gênero pois julgas que alguém negaria m e n D e G ó rg ia s S ó c ra te s a p re c io so b re tu d o isto tu ja m a is o u v ir ia s d ele tal p ro m e ssa p o is ele ri q u a n d o o u v e o s o u tro s p ro m e te re m ta l em p resa e le ju lg a q u e d e v e to rn a r as p e sso a s p ro d ig io s a s n o d iscu rso 9 5b 9C 5 ΣΩ T í δ έ δ ή o i σ ο φ ισ τ α ί σ ο ι ο ΰ το ι ο ϊπ ερ μ ό ν ο ι έ π α γ γ έ λ λ ο ν τ α ι δ ο κ ο ΰ σ ι δ ιδ ά σ κ α λ ο ι είνα ι α ρ ετή ς ΜΙΝ Κ α ι Γ ο ρ γίο υ μ ά λ ισ τ α ώ Σ ώ κ ρ α τ ε ς τ α ϋ τ α ά γ α μ α ι ο τ ι ο ύ κ α ν π ο τ έ αύ roO το ύ το ά κ ο ύ σ α ις ύ π ισ χ ν ο υ μ έν ο υ ά λ λ α κ α ι τ ω ν ά λ λ ω ν κ α τα γ ε λά ό τ α ν ά κ ο ύ σ η ό ιιισ χ ν ο ιιμ έ ν ω ν α λ λ ά λ έ γ ε ιν ο ίετα ι δ εΐν π ο ιε ϊν δ ειν ο ύ ς 2 2 0 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 462 επ ίσ τα σ θα ι τά δίκαια καί άλλου δ ιδ ά ξ ειν άλλ ei τα τοιαΰτα ά γειν π ο λλή αγροικία εσ τίν του λόγους Σ Ω Ω κ ά λ λ ισ τε Πώλβ αλλά τοι εξεπ ίτη δ ες κτω μεθα εταίρους και υεΐς ινα επ ειδάν αυτοί π ρ εσ βύ τερ ο ι γενόμενοι σ φ α λλώ μεθα παρόντες υ μ είς οί νεω τεροι επανορθώ τε ημώ ν τον β ίο ν και εν εργοις και εν λόγοις καί νυν ε ΐ τ ι εγω καί Γοργία ς εν το ΐς λόγοις σ φ α λλόμεθα συ παρών επανόρθου δίκαιος δ εΧ καί εγω εθελω τω ν ω μολογημένω ν ε ϊ τ ί σοι δο κεΐ μ η καλώς ω μολογησ θα ι αναθεσθαι ο τι άν συ βο υ λή εάν μοι εν μόνον φ υλά ττης ΠΩΛ Τί τούτο λ έ γ ε ις Σ Ω Τ η ν μακρολογίαν ω Πώλε ην καθέρξης fj το πρώτον επ εχείρησ α ς χρησ θα ι ΠΩΛ Τί δ έ ονκ έξέσ τα ι μ ο ι λ έγ ε ιν όπόσα αν βού λ ω μ α ι Σ Ω Α εινά μ έντα ν πάθοις ώ β έ λ τ ισ τ ε εί Ά Οήναζε αφικόμενος ου της Ε λλά δ ο ς π λ είσ τη έσ τίν εξουσία του λ έγ ε ιν έπ ειτα σ υ ενταύθα τούτον μόνος άτνχησα ις άλλα ά ντίθες τοι σου μακρά λέγο ντο ς καί μη έθέλοντος το έρωτω μενον άποκρίνεσθαι ου δεινά αν αυ εγω πάΟοιμι εί μη εξέσ τα ι μο ι ατηζναι και μη ακονςιν του αλλ et τ ι κήοη του λογον του είρημένου καί επανορθώ σασθαι αυτόν β ο ύ λ ει ώ σπερ 44 P o lo c o n sid e ra a v e rg o n h a d e G ó rg ia s q o x ú v G q 46135 a ca u sa d o s u ce sso d a re fu ta ç ã o d e S ó cra tes S e g u n d o ele G ó rg ia s c o n se n tiu e m u m a d a s p re m is sas d o a rg u m e n to co n stru íd o d ia lo g ica m e n te p o r Só crates n ã o p o rq u e ela co n d ize sse c o m as su as rea is o p in iõ e s e a ç õ e s m a s p o rq u e G ó r g ia s se v iu c o n s tr a n g id o p ela vergonha a a d m itir a lg o q u e n ã o se ria o ca so G ó rg ia s só te ria a d m itid o q u e e n s i n a v a o ju s to e o in ju sto a q u e m o p ro c u ra sse se m c o n h e c ê lo p o rq u e n in g u é m n a c o n d iç ã o d e G ó rg ia s d ir ia o co n trá rio e m o u tra s p a la v ra s p o rq u e lh e e ra c o n v e n ie n te e n q u a n to e stra n g e iro e m A te n a s C K a h n D r a m a a n d D ia le c tic in P la to s Górgias Oxford Studies in Ancient Philosophy p 8 0 8 1 re ssa lta r seu co m p r o m is s o c o m o s v a lo re s m o ra is d a q u e la c id a d e a in d a q u e n ã o c o n d iz e s s e c o m a su a p rá tica d e rétor E ssa se ria e n tã o a e stru tu ra fo rm a l d o elenchos s o c rá tic o 4 6 0 0 74 6 10 2 a p a rtir d as d u a s p re m issa s m a io re s a e b a A re tó rica c o n c e rn e a d iscu rso s relativo s a o ju sto e a o in ju sto 4 5 4 0 5 7 B A re tó ric a p o d e se r u sa d a p a ra fin s in ju sto s 4 5 6 C 6 4 5 7 C 3 i Q u e m p re te n d e a p re n d e r a re tó ric a d e v e c o n h e c e r p re v ia m e n te o q u e é ju s to e in ju sto o u a p re n d ê lo s d e G ó rg ia s GÓRGIAS 2 2 1 conhecer o justo e poder ensinálo aos outros Mas conduzir a discussãõ para essé lado é muito tosco44 soc Belíssimo Polo é com esse propósito que conquista mos amigos e filhos para que quando nós já velhos tropeçar mos em algo vós os mais novos estando a nosso flanco reergais nossas vidas quer em atos quer em palavras E nesse momento se eu e Górgias tropeçamos na discussão tu estando d a nosso flanco reerguenos pois és um homem justo e se algo do que fora consentido te parecer não ter sido consentido corretamente eu desejo reparar o que quiseres contanto que atentes a uma única coisa por mim p o l A que te referes soc Contanto que contenhas o discurso longo45 Polo o qual tentaste empregar anteriormente p o l O quê Não poderei falar o quanto quiser soc Seria deveras um sofrimento terrível excelentíssimo e homem se chegasses a Atenas cidade helénica onde há a maior licença para falar e somente tu tivesses o infortúnio de não fazêlo aqui Mas observa a situação inversa se tu fizesses um longo discurso e não quisesses responder as perguntas não se ria um sofrimento terrível eu não poder ir embora para não te ouvir Contudo se estás inquieto com algo do que foi dito e desejas corrigilo como há pouco dizia repara o que for de teu 462 i i iv v vi ii Q u e m a p re n d e u ca rp in ta ria m ú sic a o u m e d ic in a é ca rp in te iro m ú sico o u m é d ico iii D a m e sm a fo rm a q u e m a p re n d e u o q u e é ju s to é ju sto iv O h o m e m ju s to n ã o a p e n a s fa z c o isa s ju sta s m a s ta m b é m q u e r n e c e s s a ria m e n te se r ju s to e ja m a is q u e r se r in ju sto v E n tão o ré to r q u e a p re n d e u o q u e é ju sto é ju sto q u e r n e ce ssa ria m e n te ser jiislo e ja m a is q u e r se r in ju sto vi P o rta n to ele ja m a is q u e re rá u sa r a re tó ric a p a ra fin s in ju sto s B cv erslu is CrossExamining Socrates p 3 0 9 3 10 A d e le sa d e P o lo b u s c a in v a lid a r o elenchos m o s tr a n d o q u e a p re m iss a i iiiu i o iid iz co m a p rá tica d e G ó rg ia s e n q u a n to m e stre d e re tó ric a e q u e p o rta n to n ã o sei ia le g itim a a re fu ta ç ã o s o crá tic a v is to q u e o silo g is m o é c o n s tr u íd o p o r S ó cra te s c o m b a se em u m a p ro p o s iç ã o q u e n ã o e x p re ssa as v e rd a d e ira s o p in iõ e s d e ió rgia s 43 II su p ra n o la s 4 e 12 2 2 2 GÓRGIAS DE PLATÃO νννδη έλεγαν άναθέμενος ό τι σοι δοκεΐ εν τω μ έρ ει έρωτών τε καί έρω τω μενος ώ σπερ έγω τ ε και Γοργία ς ελ ε γ χ ε τε καί èAeyxoii 7jy yà δηπυυ καί σν έπ ίσ τα σ θα ι όπερ Γοργία ς η ον ΠΧ2Λ vEycoye Σ Ω 0 νκονν και συ κ ελεύ εις σαντδν έρωτάν έκάστοτε οτι αν τις βο νλη τα ι ως έπ ισ τά μενος α π οκρίνεσθα ι Πί2Λ Πάρυ μ εν οΰν Σ Ω Καί νυν δη τούτω ν όπότερον β ο ν λ ε ι π ο ίει έρωτα η αποκρίνου ΠίΙΛ Άλλα ποιήσω ταΰτα καί μ ο ι απόκριναι ω Σω κρατες έπ ειδη Γοργία ς ά πορεΐν σοι δοκεΐ π ερί της ρητορικής J I V συ αυτήν τινα φη eiv at Σ Ω Ά ρα έρωτας η ντινα τέχνη ν φ η μ ί είν α ι ΠΩΛ Τ γ ω γ ε ΣΩ Ο νδεμ ία εμ ο ιγε δοκεΐ ώ Πώλε ώ γ ε προς σί τα ληθή είρησ θα ι ΠΩΛ Άλλα τ ί σοι δοκεΐ ή ρητορική είν α ι Σ Ω Π ράγμα δ φης σν π οιησα ι τέχνη ν έν τω σνγγρά μμ α τι δ èyò εναγχος ανέγνω ν ΠΩΛ Τί τούτο λ έ γ ε ις ΣΩ Ε μ π ε ιρ ία ν έγω γέ τινα 46 46 Cf 448ah 47 Como foi comentado no Ensaio Introdutório 211 Polo é caracterizado por Platão no Górgias como uma personagem φαύλος phaulos desprezível débil com traços semelhantes a personagens da comédia Ele não está atento ao jogo de palavras feito por Sócrates assim como eu e Górgias refuta e sê refutado ώσπερ έγώ τε και Γοργίας έλεγχέ τε και ελέγχου 462845 que antecipa a sua sorte no diálogo Do ponto de vista da construção da personagem essa inadvertência é pró pria de quem não pertence ao círculo socrático de quem desconhece o procedimento dialógico conduzido por ele 448d Justamente por causa da debilidade inerente do interlocutor Sócrates lhe oferece a possibilidade de escolher a função a ser desempe nhada no registro da brakhulogia a qual Sócrates praticamente impõe como condi ção de possibilidade do diálogo Essa é uma situação rara no âmbito dos primeiros diálogos de Platão Sócrates oferece ao interlocutor a possibilidade de exercer a função de inquiridor e não a de inquirido encontrandose assim numa situação em que as funções se invertem mesmo que momentaneamente GÕRGIAS 223 parecer um interrogando e o outro sendo interrogado cada um a sua vez e assim como eu e Górgias refuta e sê refutado Pois decerto afirmas que também tu conheces as mesmas coisas que Górgias ou não pol Afirmo sim46 soc Então também tu não convidas em toda ocasião que te perguntem o que quiserem como se soubesses responder pol Certamente soc E agora cumpre a parte que te aprouver pergunta ou responde47 pol Sim hei de cumprila Respondeme Sócrates visto que Górgias te parece cair em aporia sobre a retórica o que afirmas que ela é soc Acaso perguntas que arte eu afirmo que ela seja pol Sim soc Nenhuma segundo meu parecer Polo para te dizer a verdade pol Mas o que a retórica te parece ser soc Uma coisa que tu afirmas produzir arte num escrito que recentemente li48 pol A que te referes soc A certa experiência 48 E m se u b re v e d is c u r so n o P ró lo g o 4 4 8 c P o lo d e fin iu o o fíc io d e G ó r gia s co m o u m a arte tekhnê τέχ ν η d e g ra n d e v a lo r q u e p ro v é m d a ex p e riê n cia Iempeiria έμ π ειρία Só crates e m co n tra p a rtid a b u sca rá m o stra r q u e a retórica ao co n trá rio d o q u e ju lg a m G ó rg ia s e P o lo está co n fin a d a n o â m b ito d a experiência e n ão se co n stitu i co m o arte A refe rê n cia d e Só crates a u m e scrito d e P o lo ao q u a l ele teria tid o acesso p o d e su g e rir q u e P latã o esteja cita n d o verbatim tre ch o d essa o b ra d a p erso n a g e m e m 448c m a s c o m o salien ta D o d d s op cit p 19 2 v isto q u e ela n ã o se c o n s e rv o u n o tem p o é ra zo á v e l c o n je tu ra rm o s q u e P latã o esteja p a ro d ia n d o a e n ã o i itim loa D e q u a lq u e r m o d o P latã o m e n cio n a n o Fedro o s tem p lo s d as p alavras d e P olo rà μ ο υ σ εία λό γ ω ν 2 6 7 b io in c lu in d o o en tre aq u eles au to res q u e escrevera m so b re a arte d o s d iscu rso s n o s liv ro s escrito s so b re a arte d o s d iscu rso s έν το ίς β ιβ λίο ις τ ο ϊς π ερ ί λ ό γ ω ν τέ χ ν η ς 26 6 d 56 a q u eles q u e escre ve m atu alm en te so b re as artes d o s d iscu rso s o i ν υ ν γ ρ ά φ ο ν τ ε ς τ έ χ ν α ς λ ό γ ω ν 2 71C 12 224 GÓRGIAS DE PLATÃO Πί2Λ Ε μ π ε ιρ ία αρα σοι δοκεΐ ή ρητορική είν α ι Σί2 Έ μ ο ιγ ε εί μη τ ι σι άλλο λ έγ ε ις Πί2Λ Τ ίν ο ς εμ π ειρ ία Σί2 Χ ά ριτός τίνος καί ηδονής απεργασίας Πί2Λ Ουκοΰν καλόν σοι δοκεΐ ή ρητορική είνα ι χαρί ζεσθαι οΐόν τ ε είνα ι άνθρώ ποις Σί2 Τ ί δέ ω ΙΊ ώ λε ήδη πέπυσα ι παρ έμοΰ ό τι φ η μ ι d αντην είνα ι ώ στε το μ ετά τούτο έρωτας ει ου καλή μο ι όοκεΐ είν α ι ΓΊ22Λ Ο ν y ap π έπ νσ μ α ι ό τι εμ π ειρ ία ν τινά αντην φής είν α ι Σί2 Βουλβι ουν επ ειδή τιμά ς το χα ρίζεσ θα ι σμικρόν τ ί μο ι χ α ρ ίσ α σ θα ι Πί2Λ Γ γ ω γ ε 2Í2 Έροί νυν μ ε όψ οπ οιία η τις μ ο ι όοκεΐ τέχνη είνα ι Πί2Λ Ερωτώ δή τ ις τέχ νη ό ψ ο π ο ιία Σί2 Ο υδεμία ω Πώλε Π22Λ Άλλα τ ί φ ά θ ιΣί2 Φ η μ ϊ δη εμ π ειρ ία τ ις ΠΧ2Λ Τί φ ά θι Σί2 Φ η μ ι δή χάριτος και ηδονής e α περγασίας ω ΓΙώλί Πί2Λ Ταιτόρ αρ εσ τιν όψ οπ οιία και ρητορικ ή Σί2 Ουδαμώς γ ε άλλα τής αυτής μ εν έπιτηδεύσεω ς μόριον ΓΙΩΛ TiVo λ έ γ ε ις τα ντης Σί2 Μ άγροικότερον y το α ληθές ε ίπ ε ΐν όκνώ γάρ Γ οργίου ενεκα λ έγ ε ιν μ ή ο ΐη τα ί μ ε διακω μω δεί ν το εαυτόν επ ιτήδευμα εγώ δέ εί μ εν τοντό εσ τιν ή ρητορική ήν Γοργία ς 463 έπ ιτη δ ευ ει ουκ οίδα και γάρ άρτι εκ του λόγον ουδέν ή μ ΐν καταφανές εγένετο τ ί ποτέ οντος η γ είτ α ι δ δ εγώ καλώ τη ν ρητορικήν πράγματός τινός ε σ τ ι μόριον ονδενδς των καλών 49 49 A o c o r r ê n c ia d o v e r b o c o m e d ia r ôiaK tapceôelv 4 6 26 7 n essa fala d e S ó crates in d ic a d e ce rto m o d o o tip o d e e stra té g ia a r g u m e n ta tiv a a d o ta d a p o r ele n a d is cu ssã o c o m P o lo re ssa lta n d o a to d o m o m e n to su a d e b ilid a d e rid ic u la riz a n d o su a in e x p e riê n c ia n o p ro c e sso d ia ló g ic o 4 4 8 d e x p o n d o à a u d iê n c ia c o m o o sab er p o r ele p ro fe ssa d o é ap en a s ap aren te GÓRGIAS 2 2 5 pol Portanto a retórica te parece ser experiência soc A mim pelo menos se não tens nada mais a acres centar pol Experiência de quê soc De produção de certo deleite e prazer pol A retórica não te parece ser bela então visto ser capaz de deleitar os homens soc O quê Polo Acabaste de saber de mim o que afirmo ser a retórica e já vens com a próxima pergunta se ela me pa d rece ser bela pol Pois já não sei que ela é certa experiência como afir mas soc Queres então visto que honras o deleite deleitarme um pouco pol Sim soc Perguntame agora que arte me parece ser a culinária pol Pergunto sim que arte ela é soc Nenhuma Polo pol Mas o quê então Fala soc Falo sim certa experiência pol Qual Fala soc Falo sim de produção de certo deleite e prazer Polo e pol Portanto a culinária e a retórica são a mesma coisa soc De forma nenhuma mas partes da mesma atividade pol A que atividade te referes soc Que não seja rude demais falar a verdade Pois hesito em dizêla por causa de Górgias com medo de que julgue que eu comedie a sua própria atividade49 Se essa porém é a retó rica praticada por Górgias eu não sei aliás da discussão pre 463 cedente nada se esclareceu sobre o que ele pensa mas eu chamo retórica parte de certa coisa que em nada é bela 2 2 6 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Ύίνος ω Σωκράτη είπε μηδέν εμε αίσχννθης Σ ίλ Αοκεΐ τοίνυν μοι ω Γοργιά είναι τι επιτήδευμα τεχνικόν μεν ου ψυχής δε στοχαστικής και ανδρείας καί φύσει δεινής προσομίλείν τοΐς ανθρωποις καλώ δε αυτόν εγω το κεφαλαίου κολακείαν ταύτης μοι δοκεΐ της επι τηδεύσεως πολλά μεν και αλλα μόρια είναι εν δε και η όφοποιικψ δ δοκεΐ μεν είναι τέχνη ως δε 5 εμός λόγος ονκ εστιν τέχνη άλλ εμπειρία καί τριβή ταύτης μόριον καί τήν ρητορικήν eyco καλώ και τήν γ κομμωτικήν και τήν σοφιστικήν τζτταρα ταντα μόρια τη τζτταρσιν 7τραγμασιν εί ονν βούλεται Πώλο πυνθάνεσθαι πυνθανεσθω ου γάρ πω πεπυσται όποιον φημι εγω της κολακείας μόριον είναι την ρητορικήν άλλ αυτόν λεληθα οϋπω άποκεκριμενος ο δέ επανερωτα ει ου καλόν ηγούμαι είναι εγω δε αντω ονκ αποκρινουμαι προτερον είτε καλόν είτε αισχρόν ηγούμαι είναι την ρητορικήν πριν αν πρώτον άποκρίνωμαι ότι εστίν ον γάρ δίκαιον ω Πωλε άλλ είπερ βούλει πνθεσθαι έρωτα οποίον μοριον της κολακείας φημι είναι την ρητορικήν 50 A definição de retórica como lisonja κολακείαν 4õ3bi e a analogia entre retórica e culinária cuja associação se deve à busca comum pela promoção do prazer na alma e no corpo respectivamente remontam de certo modo à sátira de Aristófanes em Os Cavaleiros de 424 aC do tipo de prática comum dos políticos na democracia ateniense O alvo prccípuo de Aristófanes nessa peça é em especial a figura de Cléon representado sob a máscara da personagem Paflagônio v 976 escravo do Povo carac terizado também como personagem Embora o termo específico ρητορική rhêtorikê retórica provavelmente cunhado por Platão fi Schiappa Did Plato Coin Rhétoriké The American Journal ofPhilosophy não ocorra na peça o objeto da sátira aristofânica é precisamente o tipo de prática oratória empregada pelos políticos em vista da persuasão do povo A passagem abaixo quando o Paflagônio é apresentado pelos outros dois escra vos da peça geralmente identificados com Demóstenes e Nícias generais atenienses sintetiza bem esses dois aspectos comuns à reflexão de Platão sobre a retórica no Górgias ie a prática oratória como lisonja em especial a concatenação dos quatro verbos no verso 48 ήκαλλ έθώπευ έκολάκευ έξήπατα e a analogia com a culinária Primeiro Escravo Vou dizer já Nosso senhor é rude colérico papafavas intempestivo o Povo da Pnix insaciável caquético mouco Ele comprou na lua nova um escravo homem dos curtumes Paflagônio o maior canalha e o maior difamador Ele o Paflagônio dos curtumes ao sacar o jeito do velho caiu em cima do senhor GÓRGIAS 227 g o r De que coisa Sócrates Fala Não te envergonhes por minha causa soc Pois bem Górgias ela me parece ser uma atividade que não é arte apropriada a uma alma dada a conjecturas corajosa e naturalmente prodigiosa para se relacionar com os homens o seu cerne eu denomino lisonja Dessa atividade presumo que haja inúmeras partes e uma delas é a culinária que parece ser arte mas conforme o meu argumento não é arte mas experiên cia e rotina50 Conto também como partes suas a retórica á in dumentária e a sofística quatro partes relativas a quatro coisas Se Polo quer saber que o saiba então Pois não sabe ainda qual é a parte da lisonja a qual afirmo ser a retórica e não percebendo que eu ainda não havia lhe respondido torna a me perguntar se não a considero bela Porém eu não lhe respondo se considero a retórica bela ou vergonhosa antes de lhe responder primeiro o que ela é51 Pois não é justo Polo mas se queres mesmo saber perguntame que parte da lisonja afirmo ser a retórica e o bajulou adulou lisonjeou e o enganou com tirinhas de couro dizendo assim Ó Povo depois de julgar um processo só um lavate então come engole olha a sobremesa toma os três óbolos quer que eu te sirva a janta Depois roubou o que um de nós havia preparado para o senhor e o deleitou com isso o tal Paflagônio w 4054 01 A Λέγοιμ üv ήδη νών γάρ έστι δεσπότης αγροίκος οργήν κυαμοτρώξ άκράχολος Δήμος Πυκνίτης δύσκολον γερόντιον ύπόκωφον οΰτος τή προτέρα νουμηνία έπρίατο δοϋλον βυρσοδέψην Παφλαγόνα πανουργότατον και διαβολώτατον τινα οΰτος καταγνούς τοϋ γέροντος τούς τρόπους ό βυρσοπαφλαγών ύποπεσών τον δεσπότην ήκαλλ έθώπευ έκολάκευ έξηπάτα κοσκυλματίοις ακροισι τοιαυτι λέγων Ώ Δήμε λοϋσαι πρώτον έκδικάσας μίαν ένθοϋ ρόφησον έντραγ έχε τριώβολον βούλει παραθώ σοι δόρπον Εϊτ άναρπάσας Õ τι άν τις ήμών σκευάση τώ δεσπότη Παφλαγών κεχάρισται τούτο Si f supra nota 9 228 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 464 b ΠΩΛ Ερωτώ brj καί απόκριναι οποίον μόριον ΣΩ Ά ρ ουν αν μάθοις αποκριναμένου εστιν yap η ρητορική κατα τον μου λόγον πολίτικης μορίου είδωλον ΠΩΛ Τί ουν καλόν η αισχρόν λέγας αυτήν είναι ΣΩ Αισχρόν eycoye τα γαρ κακα αισχρά καλώ επειδή δει σοι άποκρίνασθαι ως ήδη εΐδοτι γώ λέγω ΓΟΡ Μα τον Αία ώ Σωκράτης άλλ γω ονδε αυτός σννίημι οτι λέγας ΣΩ ΕΙκότως ye ώ Γοργία ονδέν γάρ πω σαφές λέγω Πώλοί δε δδε νέος έστι καί όύς ΓΟΡ Άλλα τούτον μέν εα εμοί δ είπε πως λέγας πολίτικης μορίου είδωλον είναι την ρητορικήν ΣΩ Ά λλ γω παράσομαι φράσαι δ γέ μοι φαίνεται είναι ή ρητορική εί δε μη τύγχανα δν τούτο Πώλοί οδε έλέγήα σώμα που καλας τι και ψυχήν ΓΟΡ Πώΐ γάρ ου ΣΩ Ουκοϋν και τούτων οϊα τινα είναι έκατέρου ενείαν ΓΟΡ Εγωγ ΣΩ Τί δε δοκονσαν μεν ενείαν ούσαν δ ου οιον τοιδνδε λέγω πολλοί δοκοΰσιν εν εχειν τα σώματα οϋς ουκ αν ραδίως αισθοιτό τις δτι ονκ εν χουσιν άλλ ή Ιατρός re και των γυμναστικών τιςΓΟΡ Αληθή λέγας ΣΩ Τδ τοιοΰτον λέγω και εν σώματι είναι καί εν ψυχή δ ποιεί μεν δοκειν εν εχειν τδ σώμα καί την ψυχήν έχα δε ονδεν μάλλον ΓΟΡ νΕστι ταΰτα 52 52 A distinção entre corpo e alma basilar no pensamento platônico é um dos elementos da argumentação do Górgias histórico no Elogio de Helena como por exem plo na analogia entre discurso íogos λόγος e remédio pharmakon φάρμακον referida acima cf supra nota 30 Mas ela já aparece no proêmio do discurso Para a cidade ordem é hombridade para o corpo beleza para a alma sa bedoria para o ato virtude para o discurso verdade o contrário disso é desordem Homem mulher discurso gesto cidade ato é preciso honrar com elogios os dignos de elogio e os indignos dele vituperálos 1 Κόσμος ττόλει μέν εύανδρία σώματι δέ κάλλος ψυχήι δέ σοφία πράγματι δέ αρετή λόγωι δέ αλήθεια τα δέ εναντία τούτων άκοσμία άνδρα δέ και γυναίκα και λόγον και εργον και πόλιν και πράγμα χρή τό μέν αξιον επαίνου έπαίνωι τιμάν τώι δέ άναξίωι μώμον έπιτιθέναι ίση γάρ αμαρτία και ήμαθία μέμφεσθαί τε τά έπαινετά και έπαινεϊν τά μωμητά 53 Como fica evidente nessa breve interlocução entre Sócrates e Górgias 46304643 o argumento que distingue aspseudoartes denominadas por Sócrates GÕRGIAS 2 2 9 p o l Pergunto sim e responde que parte ela é soc Compreenderias porventura a minha resposta A re tórica é conforme meu argumento o simulacro de uma parte da política p o l E então Afirmas que ela é bela ou vergonhosa soc Para mim vergonhosa pois chamo de vergonhosas as coisas más visto que devo te responder como se já sou besses o que digo g o r Não por Zeus Sócrates nem mesmo eu compreendo as tuas palavras soc É plausível Górgias pois não falo ainda de modo claro mas eis aqui Polo que é jovem e perspicaz GOR Mas deixao de lado e dizeme como afirmas que a retórica é simulacro de uma parte da política soc Eu tentarei explicar o que me parece ser a retórica se ela não consistir nisso eis aqui Polo para me refutar Há o que chamas corpo e o que chamas alma52 g o r E como não haveria soc Não julgas também que para cada um deles há uma boa compleição g o r Sim soc E então E aquela que parece ser boa compleição sem sêla É como se eu dissesse o seguinte muitas pessoas parecem possuir boa compleição física mas não seria fácil para qualquer um perceber que elas não a possuem exceto para um médico ou para algum professor de ginástica g o r Dizes a verdade soc Eu digo que tanto no corpo quanto na alma há algo do gênero que produz a aparência de o corpo e a alma possuí rem boa compleição sem teremna em absoluto53 go r É isso ilr lisonja kolakeia das verdadeiras artes está fundamentado em outra distinção basilar do pensamento platônico entre o domínio do ser einai είναι e o domí nio do parecer ser dokein einai δοκειν είναι sendo o último valorado negativa mente por 1latão devido à sua natureza enganadora mutável multiforme d e 464 b 230 GÓRGIAS DE PLATÃO C d e 465 ΣΩ Φέρε δη σοι εαν δύνωμαι σαφέστερον έπιδείζω ο λέγω δυοϊν όντοιν τοΐν ττραγμάτοιν δύο λέγω τέχνας την μέν επί τη φυχη πολιτικήν καλώ την δε επί σώματι μίαν μέν όντως ονομασαι ονκ εχω σοι μιας δε ονσης της του σώματος θεραπείας δυο μόρια λέγω την μέν γυμναστικήν την δε ιατρικήν της δε πολίτικης αντί μέν της γυμναστικής την νομοθετικήν αντίστροφον δε τη ιατρική την δικαιοσύνην επικοινωνονσι μν δη αλληλαις ατε τκρι το αντο ουσαι εκάτεραι τούτων η τε ιατρική τη γυμναστική καί η δικαιοσύνη τη νομοθετική όμως δε διαφέρονσίν τι αλληλων τεττάρων δη τούτων ουσών καί αεί προς τδ βέλτιστον Θεραπευονσών των μέν το σώμα των δε την φυγήν η κολακευτική αίσθομένη ού γνοΰσα λέγω άλλα στοχασαμένητέτραχα έαυτήν δια νείμασα υποδυσα υπό έκαστον των μορίων προσποιείται είναι τούτο οπερ υπέδυ καί τού μέν βέλτιστου ουδεν φροντίζει τω δε αει ηδιστω θηρεύεται την ανοιαν και εςαπατα ώστε δοκέι πλειστου αςια είναι υπο μεν ουν την ιατρικήν η όφοποιικη υποδέδυκεν καί προσποιείται τα βέλτιστα σιτία τω σώμα τι et Òvaiy ωστ et ôeot V τιαισι οιαγωνιζεσναι οφοποιον τε και ιατρόν η εν ανδρασιν ούτως ανοητοις ώσπερ οί παΐδες πότερος έπαιει περί των χρηστών σιτίων καί πονηρών ο ιατρός η ο οφοποιος λιμω αν αποθανειν τον Ιατρόν κολακείαν μέν ουν αντο καλώ καί αισχρόν φημι είναι το τοιοντον ώ ΓΙώλε τούτο γαρ προς σε λέγωοτι τού ήδέος στοχάζεται άνευ τού βέλτιστου τέχνην δε αυτήν ου φημι çtvat αλλ μττΐριαν οτι ονκ eet λογον ovòtva ω προσφζρί α προσφρςι οποί αττα την φυσιν ςστιν ωστ την αιτίαν έκαστου μη εχειν ειπειν εγω δε τέχνην ου καλώ δ άν η άλογον πράγμα τούτων δε περί εί αμφισβητείς εθέλω υποσχείν λόγον 54 Platão ressalta ο aspecto irracional envolvido na psicologia moral do fenô meno retórico a finalidade precípua da retórica é comprazer a audiência por meio do que ela a persuade a despeito de sua ação vir a ser benéfica ou nociva A aparente eficácia persuasiva do discurso retórico se deve portanto não ao conhecimento do objeto ao qual ele se volta ou seja a alma e dos meios pelos quais ele obtém esse fim ou seja o discurso mas ao hábito de persuadir a audiência mediante o seu deleite e GÓRGIAS 231 soc Vamos lá então Se eu for capaz vou te exibir de forma mais clara o que digo Com o são duas coisas afirmo que há duas artes em relação à alma eu a chamo de política ao passo que em relação ao corpo não posso chamála igual mente por um só nome no entanto visto que é único o cui dado para com o corpo duas partes dele distingo a ginástica e a medicina quanto à política em contraposição à ginástica há a legislação enquanto a justiça é a contraparte da medicina Cada par possui algo em comum por concernir à mesma coisa c a medicina e a ginástica de um lado e a justiça e a legislação de outro embora haja algo em que se difiram Assim na me dida em que são quatro e que cuidam sempre do supremo bem do corpo e da alma cada qual a seu turno a lisonja perce bendo esse feito não digo que sabendo mas conjeturando dividese em quatro e infiltrandose em cada uma dessas partes simula ser aquela na qual se infiltra Ela não zela pelo d supremo bem mas aliada ao prazer imediato encalça a igno rância e assim ludibria a ponto de parecer digna de grande mé rito Portanto na medicina se infiltrou a culinária simulando conhecer qual a suprema dieta para o corpo de modo que se o cozinheiro e o médico em meio a crianças ou a homens igual mente ignorantes como crianças competissem para saber qual deles o médico ou o cozinheiro conhece a respeito das dietas salutares e nocivas o médico sucumbiria de fome Isso eu chamo e de lisonja e afirmo que coisa desse tipo é vergonhosa Polo e isto eu digo a ti porque visa o prazer a despeito do supremo 465 bem Não afirmo que ela é arte mas experiência porque não possui nenhuma compreensão racional da natureza daquilo a que se aplica e daquilo que aplica e consequentemente não tem nada a dizer sobre a causa de cada um deles Eu não denomino arte algo que seja irracional mas se tiveres algum ponto a con teslar desejo colocar à prova o argumento54 i ini 1 iltncnto A retórica assim está confinada ao domínio da experiência empei ili iniuíuenãosealçaaoestatutodearte tekhnê τέχνη porque se configura iniiiii uma atividade irracional ela é em suma experiência έμπειρίαν 462C3 de piodin de deleite e prazer χάριτός τίνος και ηδονής άπεργασίας 46207 232 GÕRGIAS DE PLATÃO Tr μεν ούν Ιατρική ώσπερ λέγω ή όφοποιική κολακεία νποκειται τη δε γνμναστικτ κατα τον αντον τροπον τούτον η κομμωτική κακούργος re και απατηλή και αγεννής και ανελεύθερος σχήμασιν καί χρωμασιν και λειότητι και εσθήσιν άπατώσα ώστε ποιεΐν αλλότριον κάλλος εφελκομενους του οικείου τον διά τής γυμναστικής άμελείν ϊν ουν μή μακρολογώ εθελω σοι ειπείν ώσπερ οι γεωμετραιήδη γάρ αν Ισως άκολουθήσαιςorι ο κομμωτική προς γυμναστικήν τοΰτο σοφιστική προς νομοθετικήν και δτι δ όφοποιική προς ιατρικήν τούτο ρητορική προς δικαιοσύνην οπρ μςντοι λέγω διεστηκε μεν οντω φύσει άτε δ εγγύς δντων φύρονται εν τω αντω και περί ταυτα σοφισται και ρήτορες και ουκ εχονσιν δτι χρήσονται ούτε αυτοί εαντοΐς ούτε οι άλλοι άνθρωποι τούτοις και γάρ άν εί μή ή ψυχή τω σωματι επεστάτει άλλ αυτό αντω καί μή νπδ ταύτης κατεθεωρεϊτο και οΐκριντο η re οψοποιικι και ή ιατρική αλλ αντο το σώμα εκρινε σταθμωμενον ταΐς χάρισι ταϊς προς αυτό το του Άναζαγόρου άν πολύ ήν ω φίλε Πάλε σύ γάρ τούτων έμπειρος ομου αν παντα χρήματα εφνρετο εν τω αντω ακρίτων οντων των τε ιατρικών και υγιεινών και οψοποιικων 55 Como explica Dodds op cit p 231 a noção de proporção usada aqui por Sócrates para sintetizar o argumento era entendida pelos gregos como uma questão de geometria e não de aritmética como nós a entendemos hoje Sobre a distinção entre cálculo oytaTtKr e aritmética üpi0pqxiKr no pensamento matemático grego cf supra nota 15 56 Este é o quadro sinóptico que apresenta as quatro artes relativas ao corpo e à alma e suas respectivas espécies de lisonja kolakeia a r t e τ έ χ ν η corretiva regulativa A L M A C O R P O J U S T I Ç A M E D I C I N A L E G I S L A Ç Ã O G I N Á S T I C A l i s o n j a κ ο λ α κ ε ί α corretiva regulativa A L M A C O R P O R E T Ó R I C A C U L I N Á R I A S O F Í S T I C A I N D U M E N T Á R I A 57 Segundo o esquema acima a sofistica trataria portanto das leis eou das questões éticopolíticas em geral pois a noção de νόμος nomos possui sentido amplo enquanto a retórica estaria confinada no domínio da justiça cuja finali dade seria observar se as leis prescritas estão sendo observadas ou não pelos ci dadãos Como observa T Irwin op cit p 136 o sofista consideraria como as GÓRGIAS 213 À medicina então como estou dizendo a culinária subjaz b como lisonja e à ginástica subjaz de modo análogo a indumen tária capciosa enganadora vulgar servil que ludibria por meio de figuras cores polidez e vestes a ponto de fazer com que furtando uma beleza que lhe é alheia se negligencie a beleza legítima fruto da ginástica Então para que eu não me estenda em um longo discurso desejo te dizer como dizem os geômetras pois talvez já me acompanhes55 a indumentária está para a c ginástica assim como a sofística está para a legislação e a culi nária para a medicina assim como a retórica para a justiça56 Todavia saliento há por natureza tal diferença mas devido à sua contiguidade sofistas e rétores se diluem em uma mesma coisa e com relação às mesmas coisas e não sabem o que fazer de si mesmos tampouco os demais homens o que fazer deles57 Ademais se a alma não comandasse o corpo mas ele tivesse autocomando e se a culinária e a medicina não fossem por ela d perscrutadas e discernidas mas o próprio corpo as discernisse tendo como medida o deleite que lhe advém seria de grande valor o dito de Anaxágoras meu caro Polo tens experiência no assunto todas as coisas reunidas se diluiriam em uma única coisa visto que seria indiscernível o que é relativo à medicina leis e as questões éticopolíticas em geral devem ser propondose a ensinar essa matéria às pessoas que pudessem pagar por esse conhecimento na perspectiva de Platão um pseudoconhecimento um conhecimento aparente ao passo que o rétor partindo dessas leis prescritas as aplicaria nos processos particulares dos tribunais Todavia na medida em que sofística e retórica consistem em práticas li sonjeadoras destituídas de conhecimento e circunscritas ao âmbito da experiência riucini εμπειρία sem alçarse ao estatuto de arte tekhné τέχνη o sofista e o rétor são o mesmo ou muito próximos e semelhantes ταύτόν ώ μακάρι έστιν οοιριοτής και ρήτωρ ή εγγύς τι και παραπλήσιον 520a68 como Sócrates dirá posteriormente a Cálicles 234 GÓRGIAS DE PLATÃO e 466 b Λ ν Ί Ι ι ο μεν ονν εγω φημι την ρητορικήν είναι ακήκοας αντί στροφον όφοττοιίας έν ψυχή ώς έκεϊνο έν σώματι ίσως μεν ονν ατοττον ττεΊΐοίηκα οτι σε ονκ έών μάκρους λόγους λεγειν αυτός συχνόν λογον αποτετακα αςιον μεν ονν έμοι συγγνώμην εχειν έστίν λίγοντος γάρ μου βραχέα ονκ έμάνθανες ουδέ χρήσθαι τή άποκρίσει ήν σοι άπεκρινάμην ονδέν οΐός τ ήσθα άλλ έδέου διηγήσεως έαν μέν ονν και έγω σου άποκρινομένον μη έχω οτι χρήσωμαι άττότεινε και συ λόγον έαν δε έχω έα με χρήσθαι δίκαιον γάρ καί νυν ταΰττ τή άποκρίσει εΐ τι έχεις χρήσθαι χρώ ΓΊΧ2Λ Τί ουν φής κολακεία δοκει σοι είναι ή ρητορική ΣΩ Κολακεία μεν ουν έγωγε εΐπον μόρων άλλ ον μνημονεύεις τηλικοντος ων ω Πώλε τί τάχα δράσεις ΠΩΛ Αρ ονν δοκοΰσί σοι ώς κόλακες εν ταϊς πόλεσι φαύλοι νομίζεσθαι οί αγαθοί ρήτορες ΣΩ Ερώτημα τοϋτ έρωτας ή λόγον τίνος αρχήν λέγεις ΠΩΛ Ερωτώ έγωγε ΣΩ Ονδέ νομίζεσθαι έμοιγε δοκοΰσιν ΠΩΛ Πώ ον νομίζεσθαι ον μέγιστον δύνανται έν ταις πόλεσιν ΣΩ Οϋκ εί τό δννασθαί γε λέγεις αγαθόν τι είναι τω δνναμένω ΠΩΛ Άλλα μην λέγω γε ΣΩ Ελάχιστοι τοίνυν μοι δοκονσι τών έν τί πόλει δννασθαί οι ρήτορες 58 58 Sócrates se refere aqui às primeiras palavras do livro de Anaxágoras cerca 500428 aC que descrevem o caos antes da intervenção do nous νους Este frag mento foi preservado por Simplído Física 15523 Fr d k 59 b i Todas as coisas eram juntas ilimitadas quer em quantidade quer em peque nez pois o pequeno é ilimitado E visto que tudo era junto nada se evidenciava pela pequenez O ar e o éter continham tudo sendo ambos ilimitados Pois em meio ao GÕRGIAS 2 3 5 à saúde ou à culinária58 O qr eu então afirmo ser a retórica já ouviste a contraparte da culinária na alma assim como a culinária é a sua contraparte no corpo Talvez eu tenha incorrido em um absurdo porque não permitindo que tu fizesses longos discursos eu mesmo acabei me prolongando em um discurso extenso59 Contudo mereço teu perdão pois quando eu falava brevemente tu não me entendias e nem eras minimamente ca paz de fazer uso das respostas que te endereçava carecendo de explicação Assim se eu por minha vez não souber como usar as respostas que me deres prolonga também tu o discurso caso contrário deixa que eu as use pois é justo E agora se souberes como usar essa resposta usaa pol Mas o que dizes então A retórica te parece ser li sonja soc Eu disse deveras que ela é parte da lisonja Mas com essa idade não te recordas Polo O que farás agora pol Acaso te parece que os bons rétores enquanto lison jeadores são considerados homens desprezíveis nas cidades soc Isso é uma pergunta ou o princípio de um discurso pol Uma pergunta soc A mim não parecem ser nem mesmo considerados pol Como eles não são considerados Não possuem eles o poder supremo nas cidades soc Não se o poder a que te referes for um bem a quem o possui pol Mas certamente é soc Pois bem dentre os cidadãos os rétores me parecem possuir o mais ínfimo poder cfc ο ών ΓβηΛ i n u jt Ma jm ec c o y y ic I t o r iiinjunto de todas as coisas essas eram as maiores em quantidade e em grandeza όμοΰ πάντα χρήματα ήν άπειρα και πλήθος και σμικρότητα και γάρ το μικρόν άπειρον ήν και πάντων όμοΰ έόντων οϋδέν ένδηλον ήν ύπό σμικρότητος πάντα γάρ άήρ τε καί αιθήρ κατειχεν άμφοτέρα άπειρα έόντα ταΰτα γάρ μέγιστα fvi onv έν τοϊς σύμπασι και πλήθει και μεγέθει 5 Cf 4trd e 466 b 2 3 6 GÓRGIAS DE PLATÃO ΠΓ2Α Τι δε ουχ ώσπερ οι τύραννοι άποκτεινύασίν τε ς δν άν βονλωνται και άφαιροΰνται χρήματα και έκβάλλουσιν έκ των πόλεων δν δν δοκτ αυτοίς Σί2 Ντ τον κννα άμφιγνοώ μέντοι ώ Πώλε εφ έκαστον ων λεγείί ττότερον αυτοί ταΰτα λεγεις και γνώμην σαντοΰ άποφαίντ η εμέ έρωτας Πί2Λ Άλλ εγωγε σε ερωτώ Σί2 Ειευ ώ φίλε έπειτα δυο αμα με έρωτας ΠΩΛ Πώϊ δύο ΣΩ Ονκ άρτι οντω πως έλεγες ί9Η ουχι άποκτεινύασιν ά οι ρήτορες ονς άν βονλωνται ώσπερ οι τύραννοι και χρήματα άφαιροννται και εξελαύνονσιν εκ των πόλεων δν αν δοκτ 9 λ 99 αυτοί Πί2Λ νΕγωγε Σ12 Λέγω τοίννν σοι οτι δυο ταΰτ εστιν τα ερωτήματα και άποκρινούμαί γέ σοι προς άμφότερα φημϊ γάρ ω Πώλε εγώ και τους ρήτορας και τουί τυράννους δννασθαι μν ν γη τοΑσιν τμικροτατον ωσττρ νννοη Λγον ονόν ε γαρ ποιειν ων βούλονται ως έπος ειπειν ποιειν μεντοι οτι αν αύτοΐς δόη βελτιστον είναι Πί2Λ Ούκονν τούτο εστιν τδ μεγα δύνασθαι ΣΩ Ουχ ως γέ φησιν Πώλος Πί2Λ Εγώ ου φημι φημι μέν ουν εγωγε 6ο Sófocles Antígone w 506507 A N T Í G O N E A tirania é feliz por diversos modos E pode fazer e dizer o que quer άλλ ή τυραννις πολλά τ άλλ ευδαιμονεί κάξεστιν αύτρ δράν λέγειν θ α βούλεται 6ι A admiração de Polo pelo poder ilimitado do tirano introduz um ele mento crucial para a compreensão do problema envolvido na prática retórica na democracia segundo a discussão de Platão no Górgias No 12 Ato do diálogo a promessa da personagem Górgias a seus discípulos era que por meio da retórica se conquistaria liberdade e poder nas cidades 45 2d como se ambos fossem bens incondicionados Todavia a mesma personagem na defesa do seu ofício de rétor coloca o problema moral relativo aos meios para se alcançar tais fins argumentando que embora a retórica possa conferir ao homem um poder ilimitado ele não deve empregála de forma injusta 456b457b Em suma na perspectiva de Górgias seja ela sincera ou não tendo em vista o protesto de Polo cf 46ibc a prática retórica GÓRGIAS 237 pol Mas o quê Não assassinam como os tiranos quem eles quiserem60 e não roubam dinheiro e expulsam da cidade c quem for de seu parecer61 soc Pelo cão Estou de fato em dúvida Polo se a respeito de cada coisa que dizes és tu a afirmálas e a revelar o teu pró prio pensamento ou se estás me interrogando pol Mas eu estou te interrogando soc Que assim seja meu caro Tu me perguntas então duas coisas ao mesmo tempo pol Como duas soc Há pouco não dizias mais ou menos o seguinte mas os rétores não assassinam quem eles quiserem como os tiranos e não d roubam dinheiro e banem da cidade quem for de seu parecer pol Sim soc Pois bem eu te digo que elas são duas perguntas e responderteei a ambas Eu afirmo Polo que tanto os rétores quanto os tiranos possuem o mais ínfimo poder nas cidades como antes referia e que não fazem o que querem por assim e dizer mas fazem o que lhes parece ser melhor62 pol E então não é grandioso esse poder soc Não é como afirma Polo pol Eu afirmo que não é Eu afirmo que é sim deve ser regulada pelo princípio da justiça de modo que nem todos os meios são válidos para atingir os fins almejados Nessa comparação de Polo entre o poder do rétor e o do tirano Platão retoma então o problema da relação entre meios e fins na prática retórica sob outra perspectiva Polo entende que a superioridade do rétor consiste precisamente em poder por meio da retórica realizar todo tipo de ação seja ela justa ou injusta na medida em que a retórica e consequentemente o poder que dela deriva são bens incondicionados e não regulados pelo princípio da justiça É essa tese que Sócrates passará a refutar buscando mostrar a Polo como suas opiniões sobre a questão são conflitantes Do ponto de vista geral da filosofia política de Platão ele traz à tona no Górgias o problema da relação entre democra i ia c tirania tratado sobretudo na República ii O argumento de Sócrates se baseia na distinção entre fazer o que quer mm iv ότι βούλονται 466ei e fazer o que parece ser melhor ποιεΐν ότι άν αύτοΐς ΛόΙιι βΐλπατον είναι 466ei2 tratados como duas condições indistintas por Polo I onm observa atentamente Irwin Sócrates acrescenta à fala de Polo a ideia de o melhor βιλτιστον sem uma explicação suplementar op cit p 139 2 3 8 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Μα τον ον συ γ ε είτε το μ έ γ α δύνασθαι εφ ης α γα ϋο ν ζινα ι τω ονναμ ζνω ΠΩΛ Φ ημΙ γα ρ ονν ΣΩ Α γα θ ό ν ονν οΐει είνα ι εά ν n s ττοιή ταΰτα à αν δοκτ αντω β έ λ τ ισ τ α eivai νουν μη εχ ω ν και τούτο καλεΐς σ ν μ έ γ α όννα σ θα ι Πί2Λ Ο υκ έγω γε ΣΩ Ουκονν άττοδείζεις tovs ρήτορας νουν έχο ντα ς και τ έχ ν η ν τη ν ρητορικήν ά λ λ α μη κολακείαν εμ έ ε ζ ελ έ γζ α ς ei δέ μ ε έά σ εις α ν έλ εγκ τ ο ν οί ρήτορες οί ττοιονντες iv ταΐς ττόλεσιν α δοιεΐ αντοΐς και oi τύραννοι ουδέν α γα θόν τούτο κ κτή σ οντα ι ή δέ δνναμ ίς έσ τ ιν ως σ ν φ ή ς α γα θ όν το δέ ττοιεΐν ávev νοΰ à δοκεΐ και σ ν ο μ ο λο γείς κακόν ε ίν α ι A V η ον ΓΊΩΛ Έ γ ω γ ε ΣΩ Πώί αν ονν οί ρήτορες μ έ γ α δύναιντο ή οι τύραννοι εν τα ΐς ττόλεσιν εά ν μη Σω κράτης ε ζ ε λ ε γ χ θ ή νττδ Πώλου ότι ττοιοΰσιν α β ο ύ λ ο ντ α ι ΠΩΛ Ο ύτος άνήρ ΣΩ Ο ύ φ η μ ι ττοιεΐν αυτούς β ο ύ λ ο ν τ α ι αλλά μ έ λ ε γ χ ε ΠΩΛ Ο υκ άρτι ω μ ο λό γεις ττοιεΐν â δοκεΐ αντοΐς β έ λ τ ισ τ α είνα ι τούτου ττρόσθεν ΣΩ Και γα ρ νυ ν ομ ολογώ ΠΩΛ Ονκ ονν ττοιοΰσιν β ο ύ λ ο ντ α ι ΣΩ Ου φ η μ ι ΠΩΛ Ποίουυτ h δ οκ εΐ αντοΐς ΣΩ Φ ημι ΠΩΛ Σ χ έ τ λ ιά γ ε λ έ γ ε ις και υ π ερ φ υή ω Σώ κρατες ΣΩ Mrj κακηγόρει ω λωστε Πωλε ϊνα ττροσείττω σ ε κατα σ ε αλλ ει μ εν ε χ εις εμε έρω ταν εττιδειξον οτι ψ εύδομα ι ει δε μή αυτός άττοκρίνου 63 63 Sócrates se refere aqui à assonância em o ou paronomásia da fórmula Ô lÔiste PÔle d Xüjote ntõXc como algo característico da elocução de Polo E Dodds op cit p 235 GÓRGIAS 239 soc Não pelo tu não afirmas porque dizias que ter um grandioso poder é um bem para quem o possui pol E confirmo soc Julgas então que alguém fazer aquilo que lhe pareça ser melhor porém sem inteligência é um bem É isso o que tu chamas ter um grandioso poder pol Eu não soc Demonstrarás então que os rétores têm inteligência e que a retórica é arte e não lisonja para enfim me refutares 467 Caso contrário se te eximires de me refutar os rétores bem como os tiranos que nas cidades fazem aquilo que lhes parece não terão obtido nenhum bem contudo o poder como dizes é um bem enquanto fazer o que parece sem inteligência um mal com o que tu concordas não é pol Sim soc Como então os rétores ou os tiranos poderiam ter um grandioso poder nas cidades se Polo não refutar Sócrates provando que eles fazem o que querem pol Este homem b soc Eu afirmo que eles não fazem o que querem vai re futame pol Há pouco não admitias que eles fazem aquilo que lhes parece ser melhor soc E continuo admitindo pol Não fazem então o que querem soc Isso eu não digo pol Fazendo o que lhes parece soc Isso eu digo pol Tuas palavras são perniciosas e sobrenaturais Sócrates soc Não me difames excelente Polo para falarte à tua maneira consueta63 Mas se tiveres perguntas a me fazer mostra c que estou mentindo se não responde tu 2 Ί 0 GÓRGIAS DE PLATAO ΠΩΛ Ά λλ θ έλω ά π ο κ ρ ίνίσ θ α ι ΐνα και ίιδώ ότι λ ί γ α ΣΩ Τ ϊότΐρον ούν σ ο ι δοκούσιν οι άνθρω ποι τούτο β ο ν λ σ θ α ι ο αν π ρα ττω σ ιν κ α σ τ ο τί η κ α ν ό ον ν κ α π ρα τ τ ο ν σ ιν τοΰθ ο π ρ ά ττο νσ ιν οΐον οι τα φ άρμακα π ίν ο ν τ α παρά τω ν Ιατρών π ό τίρ ό ν σ ο ι δοκούσιν τούτο β ο ύ λ ίσ θ α ι δ π ρ π οιούσ ιν π ίν α ν το φ άρμακον και ά λ γ α ν η κ α νό το ν γ ια ίν α ν ου ΐν ίκ α π ίν ο ν σ ιν ΠΩΛ Α ή λ ο ν ό τι το d ν γ ια ίν α ν ΣΩ Ο ύκοΰν και οΐ π λ ίο ν τ ί τ και τον ά λ λ ο ν χρ η μ α τισ μ ό ν χρ η μ α τιζό μ ίνο ι ον τοΰτό σ τ ιν ο β ο ύ λ ο ντ α ι ο π ο ιο ύ σ ιν κ ά σ τ ο τί ris γά ρ β ο ύ λ ίτ α ι π λ ΐν re και κ ινδν vtveiv και π ρ α γμ α τ χ ΐν αλλ ζκ α νο οιμ α ι ον tvena π λ ίο υ σ ιν π λ ο ν τ ά ν π λο ύ το ν γά ρ ν ίκ α π λ ίο υ σ ιν ΠΩΛ Πάυυ γ ΣΩ Α λλο τ ι ούν οντω και πρι π ά ντω ν ά ν ris τι πράτττ νκ ά του ου τούτο β ο ύ λ ΐτ α ι ο π ρ ά τ τ α άλλ èκ α νό e ου ν ίκ α π ρ ά τ τ α ΠΩΛ ΝαιΣΩ ΤΑρ ούν σ τ ιν τι τω ν οντω ν ο ο ν χ ι ήτοι α γα θόν γ σ τ ιν η κακόν ή μ τ α ς ν τούτω ν ο ντ α γα θ ό ν ο ντ κακόν ΠΩΛ Πολλή ανάγκη ω Σ ώ κ ρ α τ ίΣΩ Ο νκ οΰν λ ί γ α ς Ινα ι α γα θ όν μ ίν σ ο φ ία ν τ και ν γ ία α ν και π λο ύ το ν καϊ τ ά λ λ α τα τοιαύτα κακά δ τά να ντία το ύ τω ν ΠΩΛ Έ γω γίΣΩ Τα ôè μ η τ αγαθά μ η τ κακα αρα roiaoe λeyets α eviore μ ζν μΤχΐ του α γα νο ν 468 ν ίο τ δ τού κακού ν ίο τ δ ο ν δ ίτ ίρ ο ν οΐον καθήσθαι και β α δ ίζ α ν και τ ρ ίχ α ν και π λ ά ν και οΐον αύ λ ίθ ο υ και ζύ λ α 64 64 A confusão de Polo é natural nesse momento da discussão pois Sócrates pressupõe uma concepção sobre o que é o querer referido no argumento pelo verbo βούλομαι boulomai sem explicála ao interlocutor Para demonstrar que o rétor e o tirano ao cometerem atos injustos não fazem o que querem ποιείν õti βούλονται 466ei mas o que lhes parece ser melhor ποιείν οτι αν αύτοΐς δόξη βέλτιστον είναι 466ei2 Sócrates deve fazer com que o interlocutor assinta em duas proposições fundamentais i que o homem quer somente as coisas boas perseguindoas em suas GÓRGIAS 241 pol Mas prefiro responder para compreender o que dizes64 soc Pois bem porventura os homens te parecem querer aquilo que fazem em cada ocasião particular ou aquilo em vista do que fazem o que fazem Por exemplo quem toma remédio por prescrição médica te parece querer simplesmente o que faz tomar remédio e sofrer ou aquilo em vista do que o faz ter saúde pol Ter saúde evidentemente soc Portanto também os navegadores e os demais nego d dantes não querem aquilo que fazem em cada ocasião particu lar pois quem há de querer navegar se arriscar e ter problemas mas querem julgo eu aquilo em vista do que navegam ou seja enriquecer pois é em vista da riqueza que eles navegam pol Com certeza soc E o mesmo não vale para todos os demais casos Se alguém faz alguma coisa em vista de algo o que ele quer não é aquilo que faz mas aquilo em vista do que faz pol Sim soc Por acaso há alguma coisa que não seja boa nem má e nem o meiotermo ou seja nem boa nem má pol É forçoso que não haja Sócrates soc Não afirmas então que a sabedoria é um bem assim como a saúde a riqueza e as demais coisas desse tipo e um mal os seus contrários pol Sim soc As coisas nem boas nem más às quais te referes são porventura aquelas que ora participam do bem ora do mal ora de nenhum deles como por exemplo sentar caminhar correr 468 navegar ou como as pedras as madeiras e as demais coisas do ações 46704686 e ii que a injustiça é um mal para a alma de quem a comete de modo que cometer injustiça é pior que sofrêla 468648 ib Ou seja Sócrates só po deria exigir o entendimento da parte de Polo depois de ter cumprido esses dois pas sos do argumento o que sucederá na discussão subsequente Nesse sentido Sócrates joga propositalmente com o interlocutor a fim de acentuar sua debilidade intelectual e moral tendo em vista sua inexperiência no diálogo 448d ie na discussão de natureza filosófica empreendida por Sócrates e seu círculo de amizade 2 4 2 GÓRGIAS DE PLATÃO και τ ά λ λ α τα τοιαντα ον τα ντα λ ε γ ε ις ή ά λ λ άττα καλεϊς τα μ ή τε αγα θά μ ή τε κακάΠΩΛ Ο ύκ α λ λ ά τα ντα ΣΩ Ώ ότερον ονν τα μ ετα ξύ τα ντα ενεκα τω ν α γα θώ ν π ρά τ τ ο ν σ ιν όταν πρά ττω σ ιν ή τα γα θ ά τω ν μ ετ α ξ ύ ΠΩΛ Τα μ ετα ξύ δήπου τω ν α γα θ ώ νΣΩ Το α γα θ ό ν άρα διώ κοντες και β α δ ίζο μ εν όταν βα δίζω μ εν οιόμενοι β ε λ τ ιο ν eivai και t f t y r t Λ το να ν τιο ν εετταμεν ότα ν εσ τω μ εv τον αντον eveKa του ά γα θον ή ο ν ΠΩΛ ΝαιΣΩ Ο νκ οΰν και ά ποκτείνυ μ εν εΐ τ ιν ά π οκ τείννμ εν και εκ β ά λ λ ο μ εν και ά φ α ιρονμεθα χρ ή μ α τα οιόμενοι ά μ εινον eiva i ή μ ΐν τα ντα π ο ιεϊν ή μ ή ΠΩΛ ΥΙάνν γ ε ΣΩ Eyec άρα του ά γα θ ον ά παντα τα ντα π ο ιο νσ ιν oi π οιονντεςΠΩΛ Φ η μ ί ΣΩ Ο νκονν ώ μ ο λο γή σ α μ εν a eveKa του π οιονμ εν μη εκείνα β ο ν λ εσ θ α ι άλλ εκείνο ον eveKa τα ντα π ο ιο νμ εν ΠΩΛ Μάλιστα ΣΩ Ο νκ άρα σ φ ά τ τειν ß o v λ ό μ e θ a ονδ ε κ β ά λ λ ε ιν εκ τώ ν π ό λεω ν ονδε χρ ή μ α τα ά φ α ιρ εϊσ θ α ι α π λώ ς όντω ς άλλ êàv μ εν ω φ έλιμ α ή τα ντα β ο ν λό μ εθ α π ρ ά ττειν αυτά β λ α β ε ρ ά δε όντα ον β ο νλό μ εθ α τα γά ρ αγα θά β ο ν λό μ εθ α ως φ ή ς τν τα δε μ ή τε α γα θά μ ή τε κακά ον β ο νλό μ εθ α ovòe τά κακά ή γά ρ αληθή σοι δοκώ λ ε γ ε ιν ώ Πώλί ή ον τ ί ονκ α π οκ ρ ίνη ΠΩΛ Α λ η θ ή ΣΩ Ο νκονν εϊπ ερ τα ντα ομ ολογούμ εν ε ΐ τις αποκτείνει τινά ή ε κ β ά λ λ ε ι εκ π ό λεω ς ή ά φ α ιρεΐτα ι χρήμ α τα είτε Λ V C V τύραννος ων είτε ρητωρ οιομενος α μ εινον είνα ι αντω τ ν γ χ α ν ει δε ον κάκιον οΐιτος δήπον π ο ιεί ά δοκεΐ αντώ ή γ ά ρ GÓRGIAS 2 4 3 gênero Não te referes a isso Ou chamas outras coisas de nem boas nem más pol Não são aquelas soc As pessoas então fazem essas coisas intermediárias em vista das boas quando fazemnas ou as coisas boas em vista das intermediárias pol Decerto as coisas intermediárias em vista das boas b soc Portanto quando caminhamos caminhamos no en calço do bem julgando ser melhor caminhar e ao contrário quando nos firmamos firmamonos em vista da mesma coisa do bem ou não pol Sim soc Da mesma forma não matamos se matamos alguém e o banimos e lhe roubamos dinheiro presumindo que é melhor para nós fazêlo do que não fazêlo pol Certamente soc Portanto quem faz todas essas coisas as faz em vista do bem pol Confirmo soc E não concordamos que não queremos as coisas feitas por nós em vista de algo mas aquilo em vista do que as fazemos c pol Sem dúvida soc Portanto não queremos simplesmente degolar alguém expulsálo da cidade ou roubarlhe dinheiro mas queremos fazer isso se houver algum benefício se houver prejuízo não queremos fazêlo Queremos as coisas boas como dizes po rém as coisas nem boas nem más não as queremos tampouco as más não é Pareço te dizer a verdade Polo ou não Por que não respondes pol Dizes a verdade soc Assim uma vez concordes nesse ponto se alguém d seja um tirano ou um rétor mata alguém expulsao da cidade ou roubalhe dinheiro presumindo que é melhor para si mas isso acontece de lhe ser pior ele decerto faz aquilo que lhe pa rece ou não 2 4 4 GÓRGIAS DE PLATÃO e 469 n í2 A N aí 2Í2 vAp ovv kcu a j3ovkerai ehrep Tvyyávei ravra nana õvra rí ovk àitoKpívrj M I A AÀA ov p0 1 òoKU iroieiv h j3ovkerai 2 Í2 vEoriz ovv oirvos ò toiovtos péya òvvarai êv rfj nókei Tavrj elnep èort to pÁya bvva aôai àyaOóv ti Karà rrjv rrzt ópokoyíav M 2 A O vk eoTLV 2Í2 AArjdrj apa è y à ekeyov kéyoov õn eanv ãv àpurrtov iroLOvvTa èv Ttókei à òoKei avrôi pí péya òvvarrOcu ptòè iroieiv a fiovkeTcu Ü Í2A íls òí TV w EwKpares ovk àv òéÇcuo èÇeivaí croL 7roieiv OTi oocet roí ev Tjj 7roÀet fjiaAAov 77 fxry o voe rjkols orav íôrs TLvà r àiroKTeívavra bv eòoÇev avrü f acpekopievov yj7paTa 17 oiTavTa 2 Í2 AiKaícos kéyeis r àòÍKoos M 2 A O TíÓTep àv iroifj ovk àpforépm flkoúTÓv ècrriv 2Í2 Eixptfnei u IlcüÀe M 2 A T íô j 2Í2 rO n ov xprj ovre tovs àÇijkÚTovs rjkovv ovre rovs ãôkíovs àkk èkeeiv EIÍ2A Tt ôé ovra a o i òok 1 êyeiv irepí ã v èyà Aeya ráv àvdpánrcúv 2Í2 rTô yàp ov M 2 A 0 m ovv aTTOKTeívvcnv bv àv bóij clvtui òikclíois aTTOKTeivvs àQkios òoKei crot eivai Kaí iketvós 65 65 Vejamos o resumo do argumento de Sócrates i os homens não querem aquilo que fazem mas aquilo em vista do que fazem ii há coisas boas coisas más e coisas intermediárias que ora participam do bem ora do mal ora de nenhum deles iii os homens fazem as coisas intermediárias em vista das boas e não o con trário iv os homens querem as coisas boas e não as intermediárias tampouco as más v quando o rétor e o tirano matam roubam ou expulsam homens das cida des eles o fazem presumindo que isso lhes seja benéfico ou melhor vi mas se isso lhe acontece de ser prejudicial ou pior eles não fazem o que querem mas somente o que lhes parece pois ninguém quer coisas más GÓRGIAS 2 4 5 pol Sim soc Porventura ele faz também o que quer se isso acontece de ser mau Por que não respondes pol Ele não me parece fazer o que quer soc É possível que alguém desse tipo tenha grandioso po der nessa cidade se ter grandioso poder é um bem conforme teu consentimento pol É impossível soc Portanto eu dizia a verdade quando afirmava que o homem fazer na cidade o que lhe parece não é ter grandioso poder tampouco fazer o que quer65 pol Como tu Sócrates poderias preferir ser impossível a ser possível fazer na cidade o que te parece e não invejarias alguém quando o visses matando quem lhe parecesse ou rou bandolhe dinheiro ou encarcerandoo soc Dizes de forma justa ou injusta pol Como quer que ele faça em ambos os casos não é in vejável soc Silêncio Polo pol Por quê soc Porque não se deve invejar quem não é invejável nem quem é infeliz mas apiedarse dele pol O quê Parecete ser esse o caso dos homens aos quais me refiro soc E como não seria pol Então aquele que mata quem lhe parece quando ma tao de forma justa parecete ser infeliz e digno de piedade vii portanto o rétor e o tirano não possuem grandioso poder nas cidades uma vez que ter grandioso poder é um bem para quem o possui Como fica evidente acima a proposição vi do argumento já aponta para a discussão ulterior 469648 ib quando Sócrates buscará mostrar a Polo que ao contrário do que pensa a maioria dos homens cometer injustiça é pior que sofrêla uma vez que a justiça é um mal da alma Isso se faz necessário pois Polo poderia replicar a Sócrates que ao roubar matar ou expulsar homens das cidades o tirano e o rélor prejudicam e fazem mal não a si mesmos mas às vítimas de suas ações e que ao agirem assim eles visam o seu próprio bem 246 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Ο νκ έμ ο ιγε ονδε μ έντο ι ζηλω τός ΠΩΛ Ο νκ άρτι ά θ λιο ν έφ η σ θ α eiva i b ΣΩ Ίον αδίκως γ ε ω εταίρε ά π οκ τείνα ντα και έλεινό ν γ ε 7τρός τον ôè δικαίως άζηλω τον ΠΩΛ ΤΗ π ου δ y e άποθνησκω ν αδίκως έλεινό ς τε και άθλιός εσ τ ιν ΣΩ Ηττοι η δ α π οκτειννς ω ΓΤώλβ και η ττον η δ δικαίω ς ά ποθνησκω ν ΠΩΛ Πώϊ δητα ω Σω κρατες ΣΩ Ο ντω ς ως μ έ γ ισ τό ν τω ν κακώ ν T vy x á ve i δν τδ άδικεΐν ΠΩΛ τίΙ γά ρ τοΰτο μ έγ ισ τ ο ν ον τδ ά δικεΐσθα ι μ εϊζον ΣΩ Η κιστα ye ΠΩΛ Σν άρα β ο ν λ ο ιο αν άδικεΐσθαι μ ά λ λ ο ν η α δ ι ΐν c ΣΩ Βονλοίμ η ν μν à v eycoye ουδέτερα ei δ ανα γκα ίου εϊη άδικεΐν η ά δικείσθαι ελο ίμ η ν άν μ ά λ λ ο ν ά δικ εΐσ θα ι η αδικεΐν ΠΩΛ Συ άρα τύ ρ α ννείν ονκ αν δεξαιο ΣΩ Ο νκ εί τδ τνρα ννεϊν γ ε λ έ γ ε ις οπερ εγώ ΠΩΛ Ά λλ έγω γ ε τοΰτο λ έ γ ω οπερ άρτι έξεΐνα ι εν τί π ό λ ε ι δ αν δοκτ αντω π ο ιεΐν τοΰτο και ά π ο κ τειννντι και έκ β ά λ λ ο ν τ ι και π ά ντα π ρ ά ττοντι κατα τη ν αντοΰ δόζαν 66 Na abertura do Livro ii da República a personagem Glauco se propõe a discorrer sobre o que é a justiça e sua origem segundo a opinião da maioria para que Sócrates refutasse e elogiasse a justiça em si mesma a despeito das consequências que dela advém para os homens Essa opinião atribuída por Glauco à maioria dos homens 358c aparece no Górgias na boca de Polo e a discussão sobre a origem da justiça se assemelha à tese defendida pela personagem Cálicles mais adiante no diálogo 482b483d Vejamos esse trecho da República Dizem que cometer injustiça é por natureza um bem ao passo que sofrêla um mal e que sofrer injustiça supera em males os bens em cometêla Por conse guinte quando os homens cometem e sofrem injustiças reciprocamente e provam de ambas as condições àqueles que são incapazes de evitar uma e fazer valer a outra parece vantajoso estabelecer um acordo entre si para que não cometam nem sofram injustiças A partir disso então começam a instituir leis e acordos entre si e deno minam legítimo e justo a prescrição da lei Essa é a origem e a essência da justiça estando no meiotermo entre o que é o melhor não pagar a justa pena uma vez tendo cometido injustiça e o que é o pior ser incapaz de se vingar uma vez tendo sofrido injustiça E o justo estando no meiotermo de ambos é adorado não porque é bom mas porque é digno de honra devido à debilidade de se cometer injustiça Pois quem é capaz de fazêlo e é verdadeiramente homem jamais estabeleceria um GÓRGIAS 247 soc Não me parece contudo não é invejável pol Há pouco não dizias que ele era infeliz soc Aquele que mata injustamente meu amigo e digno b de piedade além do mais Mas quem mata de forma justa não é invejável pol Mas decerto quem morre injustamente é digno de piedade e infeliz soc Menos do que aquele que mata Polo e menos do que aquele que morre de forma justa pol Como assim Sócrates soc Assim o maior mal é cometer injustiça pol Mas é esse o maior mal Sofrer injustiça não é pior soc Impossível pol Portanto quererias antes sofrer injustiça do que co metêla soc Pelo menos eu não quereria nem um nem outro mas c se fosse necessário ou cometer injustiça ou sofrêla preferiria sofrer a cometer injustiça66 pol Portanto tu não admitirias ser tirano soc Não se te referes ao mesmo tirano que eu pol Mas refirome ao mesmo caso dantes ser possível fa zer na cidade o que lhe parecer matar banir e fazer tudo con forme a sua própria opinião acordo com quem quer que seja para não cometer nem sofrer injustiças caso con trário seria um louco É desse tipo então Sócrates a natureza da justiça e são essas as circunstâncias de onde ela se origina segundo o argumento 3586335905 πεφυκέναι γάρ δή φασιν το μέν άδικειν αγαθόν το δέ άδικείσθαι κακόν πλέονι δέ κακώ ύπερβάλλειν το άδικείσθαι ή άγαθώ το άδικείν ώστ έπειδάν άλλήλους άδικώσί τε και άδικώνται και άμφοτέρων γεύωνται τοΐς μή δυναμένοις τό μέν έκφεύγειν τό δέ αίρεΐν δοκεϊ λυσιτελεΐν συνθέσθαι άλλήλοις μήτ άδικείν μήτ άδικείσθαι καί έντεϋθεν δή άρξασθαι νόμους τίθεσθαι καί συνθήκας αυτών καί όνομάσαι τό ύπό τοϋ νόμου έπίταγμα νόμιμόν τε καί δίκαιον καί είναι δή ταύτην γένεσίν τε καί ουσίαν διακαιοσύνης μεταξύ ούσαν τοϋ μέν άρίστου οντος έάν άδικων μή διδψ δίκην τοϋ δέ κακίστου έάν αδικούμενος τιμωρεϊσθαι αδύνατος ή τό δέ δίκαιον έν μέσω ον τούτων άμφοτέρων άγαπάσθαι ούχ ώς άγαθόν άλλ ώς άρρωστία τού άδικείν τιμώμενον έπεί τον δυνάμενον αύτό ποιείν καί ώς άληθώς άνδρα ούδ άν ένί ποτέ συνθέσθαι τό μήτε άδικείν μήτε άδικείσθαι μαίνεσθαι γάρ ίίν ή μέν ούν δή φύσις δικαιοσύνης ώ Σώκρατες αϋτη τε καί τοιαύτη καί έξ ών ιιίφυκε τοιαϋτα ώς ό λόγος 248 σ ό ΐ ΐ α Α Β ϋ Ε Ρ Ε Α Τ Α Ο ά ε 470 b Σί2 τί2 μακάριε εμοΰ δη λεγοντος τώ λόγω επιλαβον ει γάρ εγώ εν άγορα πληθοΰστ λαβών υπό μάλης ϊγχ ρίδιον λεγοιμι προς σε ότι Ω Πώλ6 εμοι δΰναμίς τις κα τυραννις θανμασια άρτι προσγεγονεν εαν γαρ αρα εμοι δόζη τινα τοντωνι των ανθρώπων ών συ όρς αντίκα μάλα δεΐν τεθνάναι τεθνήζει οΰτος ον άν δόξη καν τινα δόξη μοι της κεφαλής αυτών καταγήναι δεΐν κατεαγώς εσται αντίκα μάλα καν θοιμάτιον διεσγίσθαι διεσχισμενον εσταιοΰτω μεγα εγώ δύναμαι εν τήδε τί πόλει εί ουν άπιστονντί σοι δείζαιμι τό εγχειρίδιον Ισως αν εΐποις ίδών οτι Ώ Σώ ν Λ κρατςς οντω μν παντός αν μγα ονναιντο ΤΤί καν χπρ σθείη οικία τουτω τω τρόπω ήντινά σοι δοκοί και τά γε Αθηναίων νεώρια και αί τριήρεις και τά 7τλοΐα πάντα και τά δημοσία και τα ίδια αλλ ουκ αρα τουτ εστιν το μεγα δΰνασθαι το ποιεΐν ά δοκεΐ αντω η δοκεΐ σοι Πί2Λ Ού δητα οντω γε ΣΩ Έ χ α ί ουν ειπεΐν δι οτι μεμφη την τοιαύτην δΰναμιν Πί2Λ Εγωγε ΣΩ Τί δη λεγε Π12Λ Οτι άναγκαΐον τον οΰτω πράττοντα ζημιοΰσθαί εστιν ΣΩ Τό δέ ζημιοΰσθαί ον κακόν ΠΓ2Λ Πάιυ γε Σί2 Ονκοΰν ώ θαυμάσιε τό μεγα δΰνασθαι ττάλιν αΰ σοι φαίνεται εάν μεν ττράττοντι ά δοκέι επηται τό ώφελί μως ττραττειν αγαθόν τε είναι και τούτο ως εοικεν εστιν τό μεγα δΰνασθαι εί δε μη κακόν και σμικρόν δΰνασθαι σκεφώμεθα δε και τάδε άλλο τι όμολογονμεν ενίοτε μεν άμεινον είναι ταΰτα ποιεΐν ά νννδη ελεγομεν άποκτεινΰναι τε και εζελαΰνειν ανθρώπους και άφαιρεΐσθαι χρήματα ενίοτε Ν V V 06 ου GÕRGIAS 249 soc Venturoso homem rebate com argumentos o que eu digo Se na praça atulhada de gente eu dissesse a ti com um d punhal sob o braço Polo acabei de herdar um poder e uma tirania dignas de admiração portanto se eu achar que deva matar neste instante qualquer homem que ora vês estará morto quem for de meu parecer se eu achar que deva fender a cabeça de algum deles vai têla fendida neste instante e que deva atassalharlhe as vestes vai têlas atassalhadas tamanho é o meu poder nesta cidade Se tu então não acreditasses em e mim e eu te mostrasse o punhal assim que o visses dirias tal vez Sócrates todos teriam grandioso poder assim pois po derias da mesma forma incendiar qualquer casa que fosse de teu parecer ou os estaleiros de Atenas as trirremes e todas as embarcações sejam elas públicas ou privadas Contudo ter grandioso poder não é isso fazer o que parece a alguém ou a ti parece que seja67 pol Certamente não soc Podes dizer então por que desprezas tal poder 470 pol Sim soc Por que então Fala pol Porque é necessário que quem age dessa maneira seja punido soc E ser punido não é um mal pol Com certeza soc Então admirável homem está mais uma vez mani festo a ti que se fazer o que parece implicar agir de modo be néfico será um bem e como é plausível será isso ter grandioso poder caso contrário será um mal e ter ínfimo poder Exami nemos também o seguinte não concordamos que ora é melhor b fazer aquelas coisas a que há pouco nos referíamos matar ba nir homens e roubarlhes dinheiro mas ora não 67 Observe a coerência do vocabulário empregado por Sócrates para se referir a tais ações fictícias o agente ao praticálas não faz o que quer mas aquilo que lhe parece έμοί δόξη 46903 üv δόξη ds δόξη μοι ds σοι δοκοί e4 δοκεί αύτψ C7 conforme o argumento anterior 250 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΙΧ2Λ Ώάνν ye 2X2 Τούτο μεν δη ως εοικε και παρά τοΰ και παρ έμοΰ όμολογειται ΠΧ2Λ Ναι 2X2 Ποτέ ονν σύ φης άμεινον εΐναι ταντα ποιείν είπε τίνα ορον όρίζη ΠΧ2Λ Συ μεν ονν ω Σώκρατες άπόκριναι ταντο τοντο c 2X2 Eyiù μέν τοίνυν φημί ω Πώλε t σοι παρ εμον ηδιόν έστιν ακόυαν όταν μέν δίκαιων Tis ταντα που άμεινον είναι όταν ôè αδίκως κάκιον ΠΧ2Λ Χαλεπόν γέ σε ελέγξαι ώ 2 ώκpaτεs άλλ ουχι καν παϊς σε έλέγξειεν οτι ονκ άληθη λέγεις 2X2 Πολλίι άρα έγω τω παώϊ χάριν εζω ϊσην δε και σοί εάν με ελεγζης και άπαλλάζης φλυαρίας άλλα μη κόμης φίλον ανδρα ευεργετών άλλ έλεγχε ΠΧ2Λ Άλλα μην ω Σώκρατες ονδέν γέ σε δει παλαιοίς d πράγμασιν έλεγχειν τα γάρ εχθές καί πρώην γεγονότα ταντα ικανά σε εζελέγζαι έστιν και αποδεϊζαι ώΐ πολλοί άδικονντες άνθρωποι ενοαιμονες εισιν 2X2 Τα ποια ταντα ΠΧ2Λ Αρχέλαον δηπον τούτον τον Ώερδίκκου όράς άρχοντα Μακεδονίας 2X2 Ei δε μη άλλ ακούω γε ΠΧ2Α Ευδαίμων ονν σοι δοκεΐ είναι η άθλιος 2X2 Ονκ οιδα ώ Πώλε ον γάρ πω συγγέγονα τω άνδρί 68 69 70 68 Ver Platão Lísis 205C1 Eutidemo 301c 69 A discussão entre as personagens se volta agora para a relação entre felici dade eudaimonia ευδαιμονία e justiça dikaiosuné δικαιοσύνη Polo cita o caso de Arquelau rei da Macedônia como paradigma da vida de um homem que é injusto mas feliz na medida em que a justiça não é vista por ele como condição necessária para ά felicidade Sobre o problema moral e religioso envolvido na ideia de um homem injusto e feliz άδικος ευδαίμων ver Hesíodo Os Trabalhos e os Dias w 202285 Sólon fr 13 Teógnis 373380 Píndaro fr 201 Bowra 213 Snell Eurípides fr 286 70 Arquelau governou a Macedônia de 413 a 399 aC Segundo Aristóteles Retórica 111398824 Sócrates teria recusado um convite seu para visitálo Platão se refere à sua morte no diálogo Alcibíades Segundo GÓRGIAS 2 5 1 pol Com certeza soc A isso como é plausível tanto eu como tu anuímos pol Sim soc Em quais circunstâncias então afirmas que é melhor fazêlas Diz qual é a tua definição pol Responde tu então Sócrates soc Pois bem eu afirmo o seguinte Polo se te comprazes mais com ouvirme quando alguém fizer essas coisas de maneira justa será melhor e quando as fizer de maneira injusta será pior pol Como é difícil te refutar Sócrates Mas até mesmo uma criança poderia te refutar68 provando que não dizes a ver dade não poderia soc Portanto enorme graça há de concederme essa criança e igualmente tu se me refutares e me livrares da vanidade Mas não canses de beneficiar um amigo Refutame pol Mas Sócrates não é preciso te refutar com fatos ar caicos pois os acontecimentos recentes são suficientes para te refutar e demonstrar como inúmeros homens mesmo tendo cometido injustiça são felizes69 soc Quais acontecimentos pol Decerto vês que Arquelau filho de Perdicas domina a Macedônia70 soc Ver não vejo mas ouço a respeito pol Então ele te parece ser feliz ou infeliz soc Não sei Polo pois ainda não me encontrei com esse homem Suponho que tu não desconheças o que aconteceu ontem ou dois dias atrás quando o namorado de Arquelau tirano da Macedônia enamorado pela ti rania tanto quanto aquele pelo seu namorado matou seu amante para ser tirano e um homem feliz Depois de deter a tirania por três ou quatro dias ele próprio por sua vez foi morto pelas mãos de outros homens que contra ele conspiraram 14 1 d 5e3 οίμαι δέ σε ούκ άνήκοον είναι ένιά γε χθιζά τε και πρωϊζά γεγενημένα Λιε Αρχέλαον τον Μακεδόνων τύραννον τα παιδικά έρασθέντα τής τυραννίδος ούΟέν ήττον ήπερ εκείνος τών παιδικών άπέκτεινε τον εραστήν ώς τύραννός τε hui ευδαίμων άνήρ έσόμενος κατασχών δέ τρεις ή τέτταρας ημέρας τήν τυραννίδα πάλιν αύτός έπιβουλευθεις ύφ ετέρων τινών έτελεύτησεν 252 σ ό κ α ΐ Α ε ϋ Ε ρ ι λ τ Α ο 47ΐ ο ΠΩΛ Τ ί δε συγγενόμενον αν γνοίην άλλων δε αυτόθεν ου γιγνωσκειν ότι ευδαιμονεί ΣΩ Μά ΔΓ ου δήτα ΙΙΩΛ Αήλον δη ω Σωκρατεν ότι ουδέ τον μέγαν βασιλέα γιγνωσκειν φήσειν ευδαίμονα όντα ΣΩ Και αληθή γε έρω ου γάρ οίδα παιδείαν όπων εχει και δικαιοσύνην ΠΩΛ Τΐ δε εν τουτω η πάσα ευδαιμονία έστίν ΣΩ ΓΩ ί γε έγω λέγω ω Πώλε τον μεν γαρ καλόν και αγαθόν άνδρα και γυναίκα ευδαίμονα είναι φημι τον δε άδικον και πονηρόν άθλιον ΓΙΩΛ Αθλιον άρα οΰτόν εστιν ό Αρχέλαον κατά τον συν λόγον ΣΩ Εϊττερ γε ω φίλε άδικον ΠΩΛ Άλλα μεν δη ττων ουκ άδικον ώ γε προσήκε μεν την αρχήν ουδεν ήν νυν εχει όντι εκ γυναίκαν ή ήν δούλη Άλκέτου του Υίερδίκκου αδελφού και κατά μεν τό δίκαιον δοΰλον ην Αλκετου και εί έβουλετο τά δίκαια ποιεΐν εδου λευεν αν Άλκέτη και ήν ευδαίμων κατά τον σόν λόγον νυν δε θαυμάσιων ων άθλιον γέγονεν έπεϊ τά μέγιστα ηδί λ 1 κηκςν ον γζ πρώτον μζν τούτον αντον τον οζσποτην και θείον μεταπεμψάμενον ώϊ άποδωσων την αρχήν ήν Περδίκκαν αυτόν άφείλετο ξένισαν και καταμεθυσαν αυτόν τε και τον ΰόν αυτου Αλέξανδρον ανεψιόν αυτοΰ σχεδόν ήλικιωτην έμβαλων είν άμαξαν νύκτωρ έξαγαγων άπέσφαξέν τε και ήφάνισεν άμφοτέρουν καί ταΰτα αδίκησαν ελαθεν εαυτόν άθλιωτατον γενόμενον και ου μετεμέλησεν αΰτω άλλ ολίγον ύστερον τον αδελφόν τον γνήσιον του Περδίκκου ΰόν τταΐδα ί 7 1 V 1 3 ων ξπτςτη ον η αρχη ζγιγνζτο κατα το οικαων ονκ φυυ λήθη ευδαίμων γενέσθαι δικαίων εκθρέψαν και άποδουν την αρχήν έκείνω άλλ είν φρέαρ έμβαλων και άποπνίξαν ττρόν GÓRGIAS 253 p o l E então Se tivesses encontrado com ele tu saberias e de outro modo não há como saberes de pronto se ele é feliz soc Não por Zeus não há como p o l Dirás obviamente Sócrates que tampouco sabes se o Grande Rei é feliz71 soc E direi a verdade pois não sei em que condição ele se encontra no tocante à educação e à justiça p o l O quê É nisso que consiste toda a felicidade soc É como digo Polo o homem e a mulher que são belos e bons eu afirmo que são felizes e infelizes os injustos e ignóbeis p o l Portanto segundo teu argumento aquele Arquelau é 471 infeliz soc Contanto que ele seja injusto meu caro p o l Mas como não seria ele injusto Do poderio que hoje detém nenhum quinhão lhe cabia porque era filho de uma es crava de Álceto irmão de Perdicas Segundo o justo ele era escravo de Álceto72 e se quisesse agir de forma justa lhe serviria como es cravo e assim seria feliz conforme teu argumento Mas agora admiravelmente ele se tornou infeliz porque cometeu as maiores injustiças Primeiro ordenou que lhe trouxessem seu déspota o b seu tio Álceto sob o pretexto de restituirlhe o poderio que Per dicas havia lhe furtado depois de hospedálo e embriagálo em companhia de seu filho Alexandre seu primo quase coetâneo ele meteuos em um carro e partiu com os dois noite adentro degolouos e desapareceu com ambos os corpos E uma vez co metida essa injustiça ele próprio não notou que havia se tornado o mais infeliz dos homens e tampouco se arrependeu disso Pouco tempo depois porém não quis se tornar feliz criando de forma justa seu irmão e restituindolhe o poderio o filho legítimo de Perdicas um menino de sete anos que segundo o justo her c daria o poder ao invés disso atirouo em um fosso e o asfixiou 71 Ou seja o Rei da Pérsia Sobre a concepção do Grande Rei como modelo de felicidade eudaimonia ευδαιμονία ver Platão Apologia de Sócrates 4od Eutidemo 274a 72 O filho de uma mãe escrava e de um pai livre era propriedade do dono de sua mãe E Dodds op cit p 243 254 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 472 την μητέρα αυτόν Κλεοπάτραν χήνα εφη διώκοντα έμπεσεϊν καί άποθανείν τοιγάρτοι νυν άτε μέγιστα ηδικηκως των εν Μακεδονία άθλιωτατός έστιν πάντων Μακεδόνων άλλ ουκ ευδαιμονέστατος καί ίσως έστιν όστις Αθηναίων άπυ σου άρξάμενος δέξαιτ αν άλλος δστισοΰν Μακεδόνων γενέσθαι μάλλον η Αρχέλαος ΣΩ Και κατ άργας των λόγων ω Πώλ εγωγέ σε έπηνεσα οτι μοι δοκεΐς ευ προς την ρητορικήν πεπαιδενσθαι τοΰ δε διαλέγεσθαι ημεληκέναι και νυν άλλο τι ουτός έστιν δ λόγος ω με και αν παίς έξελέγξειε και έγω υπό σου νυν ως σΐ οίει έξελήλεγμαι τουτω τω λόγω φάσκων τον αδι κοΰντα ουκ εύδαίμονα είναι πόθεν ωγαθέ και μην ουδέν γέ σοι τούτων ομολογώ ων συ φης ΠΩΛ Ου γάρ έθέλεις επει δοκεΐ γέ σοι ώΐ έγω λέγω ΣΩ Ώ μακάριε ρητορικως γάρ με έπιχειρεις έλέγχειν ώσπερ οι έν τοίς δικαστηρίοις ηγούμενοι έλέγχειν και γάρ έκεΐ οί έτεροι τους ετέρους δοκοΰσιν έλέγχειν έπειδάν των λόγων ων αν λέγωσι μάρτυρας πολλούς παρέχωνται καί ευδόκιμους ό δε τάναντία λέγων εν a τινά παρέχηται η μηδένα ουτος δέ ό έλεγχος ουδενδς άξιός έστιν προς την αλήθειαν ένίοτε γάρ άν καί καταψευδομαρτυρηθείη τις υπο πολλών καί δοκούντων είναί τι καί νυν περί ων συ λέγεις ολίγου σοι πάντες συμφησουσιν ταυτά Αθηναίοι καί οί ξένοι έάν βουλή κατ έμοΰ μάρτυρας παρασχέσθαι ως ουκ άληθη λέγω μαρτυρησουσί σοι έάν μεν βουλή Νικίας δ N ikîj 73 74 73 Cf 448d 74 Polo busca usar os mesmos artifícios argumentativos empregados por Só crates como ironizar o interlocutor observe o tom irônico de Polo quando ele conta a história de Arquelau 47iad e lhe atribuir opiniões que ele expressamente recusa 466ε 75 Platão emprega o verbo ελέγχω elenkho para se referir aqui ao tipo de refutação ou de prova usado nos tribunais Do ponto de vista semântico o verbo ελέγχω significa em Homero primeiramente envergonhar desprezar alguém já sublinhando o sentido negativo do termo que posteriormente no séc v aC será GÓRGIAS 255 alegando à sua mãe Cleópatra que ele correndo atrás de um ganso caiu ali dentro e morreu Portanto porque cometeu as maiores injustiças cometidas na Macedônia ele é hoje o mais infeliz e não o mais feliz de todos os macedônios e talvez haja alguém dentre os atenienses a principiar por ti que prefira ser d qualquer outro macedônio a ser Arquelau soc E no começo da discussão Polo eu te elogiei porque me pareces ter sido bem educado na retórica porém ter des curado do diálogo73 E é esse então o discurso com o qual até mesmo uma criança me refutaria Porventura presumes que eu acabei de ser refutado por ti com esse discurso tendo eu afirmado que quem comete injustiça é infeliz Mas como bom homem Aliás não concordo com nada do que dizes p o l Porque não desejas concordar visto que a tua opinião e se conforma com o que digo74 soc Venturoso homem tentas me refutar retoricamente como quem presume refutar75 os outros nos tribunais Com efeito nesses lugares os homens creem refutar uns aos outros quando apresentam aos discursos que proferem grande nú mero de testemunhas de boa reputação ao passo que o contra argumentador apresenta apenas uma ou mesmo nenhuma Essa refutação não tem nenhum mérito perante a verdade pois pode acontecer de várias pessoas que pareçam ser alguma 472 coisa prestarem contra alguém falso testemunho E no pre sente momento concordarão plenamente contigo quase todos os atenienses e estrangeiros se quiseres apresentar contra mim testemunhas de que não falo a verdade Testemunharão em teu favor se quiseres Nícias76 filho de Nicérato e seus irmãos empregado para designar a prática forense de buscar refutar submeter alguém a um interrogatório provar convencer P Chantraine Dictionnare Étymologique de la Langue Grecque p 334 76 Nícias foi um dos generais que participou ativamente da Guerra do Pelopo neso entre Atenas e Esparta e seus respectivos aliados 431404 aC tendo sido um dos mediadores do tratado de paz de 421 aC ver Tucídides 524 Junto a Alcibía des e Lâmaco comandou os atenienses na expedição contra a Sicília ver Tucídides 68 onde morreu executado pelos siracusanos em 413 aC ver Tucídides 786 Nícias aparece também como personagem no diálogo Laques de Platão 256 GÓRGIAS DE PLATÃO ράτου και οι αδελφοί μίτ αυτόν ων οι τρίποδίς οι εφεής έστώτεί ίΐσιν Ιν τώ Αιονυσίω eàv δε βουλή Αριστοκράτης δ Σκελλίον ον αν δστιν èv ΐίνθίου τούτο το καλόν ανάθημα δάν δε βουλή η Τίΐρικλδους ολη οικία η άλλη συγγευεια ηντινα âv βουλή των ευάάδε εκλέξασθαι άλλ εγώ σοι ds ων ουχ ομολογώ ου γάρ με συ άναγκάζίΐς άλλα φευδο μάρτνρας πολλούς κατ έμοΰ παρασγόμνος επιχειρεί κβάλ λΐΐν με εκ της ουσίας και τον αληθούς εγώ δε âv μη σε αυτόν ëva οντα μάρτυρα παράσγωμαι όμολογονντα πρι ών λέγω ούδέν οΐμαι άζιον λόγον μοι πζπΐράνθαι πρί âv âv ημίν ό λογοϊ η οΐμαι δε οΰδε σοί eàv μη εγώ σοι μαρτυρώ εΐϊ ών μόνος τους δ άλλου πάντας τούτους yaipeiv εά εστιυ μν ουν ουτός τις τρόπος ελεγχου ώί συ τε οΓεt και άλλοι πολλοί εσπυ δε καϊ άλλος ον εγώ αυ οΐμαι παραβα λόντες ουν παρ άλληλους σκεφώμεάα εϊ τι διοίσουσιν άλλη b c 77 Nícias e seus irmãos Êucrates e Diogneto dedicaram ao templo de Dio niso localizado nas encostas da acrópole as trípodes que haviam ganhado como coregos E Dodds op cit p 244 78 Aristócrates também participou como mediador do tratado de paz de 421 aC ver Tucídides 524 e foi membro do governo oligárquico de 411 aC conhecido como os Quatrocentos ver Tucídides 889 Morreu em 405 aC de pois da batalha de Arginusas quando foram condenados à morte os seis generais inculpados pelo fracasso da expedição dentre eles Aristócrates ver Xenofonte Helénicas 172 Platão menciona o episódio do processo contra os generais na Apologia de Sócrates cf infra nota 87 Pito se refere aqui ao templo de Apoio em Delfos 79 Péricles renomado general e político passou a ser a principal figura da democracia ateniense depois do exílio de Címon 11 e da morte de Eflaltes no fi nal dos anos 460 aC os dois rivais políticos de maior influência naquela época Até a sua morte em 429 aC no começo da Guerra do Peloponeso Péricles foi eleito como general anualmente e manteve sua proeminência na condução das ações políticas de Atenas D Nails The People ofPlato p 227228 O elogio de Tucídides à sua figura é uma das imagens mais notórias que temos de Péricles na literatura grega A causa disso era que Péricles poderoso por seu prestígio e inteligência homem notoriamente incorruptível continha a multidão livremente e ao invés de ser conduzido por ela era ele quem a conduzia porque não obtivera seu poder por meios escusos e não discursava em vista do prazer mas se apoiava em seu prestígio para contradizêla deixandoa colérica Quando percebia nas pessoas uma con fiança inoportuna e insolente ele as acometia com palavras e lhes infundia medo e inversamente quando as via temerosas sem razão restituíalhes novamente a GÓRGIAS 257 cujas trípodes estão aferradas e alinhadas no templo de Dio niso77 se quiseres Aristócrates filho de Célio cuja bela ofe renda encontrase em Pito78 se quiseres toda a casa de Péricles ou qualquer outra família daqui que queiras convocar79 Todavia cu sendo um só contigo não concordo pois não me constran ges a isso embora te empenhes apresentando contra mim fal sas testemunhas em profusão para expulsarme do meu patrimônio e da verdade Mas se eu não te apresentar sendo tu apenas um como testemunha concorde ao que digo não terei chegado julgo eu a nenhuma conclusão digna de menção sobre o que versa a nossa discussão e creio que tampouco tu se eu sendo apenas um não testemunhar em teu favor e tu dispensares todos as demais Aquele é um modo de refutação como presumes tu e muitos outros homens mas há também ou tro modo como presumo eu por minha vez Assim comparando um ao outro examinemos se há qualquer diferença entre eles80 confiança No nome era democracia mas na prática o poder nas mãos do primeiro dos homens 26589 αίτιον δ ήν δτι έκεινος μέν δυνατός ών τώ τε άξιώματι και τή γνώμρ χρημάτων τε διαφανώς άδωρότατος γενόμενος κατείχε το πλήθος έλευθέρως καί ούκ ήγετο μάλλον ύπ αύτοϋ ή αυτός ήγε διά τό μή κτώμενος έξ ού προσηκόντων την δύναμιν προς ηδονήν τι λέγειν άλλ εχων επ άξιώσει και προς οργήν τι άντειπεΐν οπότε γοϋν αϊσθοιτό τι αύτούς παρά καιρόν ϋβρει θαρσοϋντας λέγων κατέπλησσεν έπϊ τό φοβείσθαι και δεδιότας αύ άλόγως άντικαθίστη πάλιν έπι τό θαρσεΐν έγίγνετό τε λόγω μέν δημοκρατία έργω δέ ύπό τού πρώτου άνδρός άρχή 8ο Como Sócrates sublinha em seu discurso a refutação retórica se opõe à filo sófica na medida em que ela busca refutar a parte adversária valendose não de argu mentos mas da reputação doxa das testemunhas chamadas em causa no processo litigioso sem que haja qualquer garantia pelo fato de serem bem reputadas de que elas estejam falando a verdade Nos tribunais a refutação elenkhos έλεγχος se fun damenta na opinião da maioria e o orador é eficaz quando ele persuade a maior parte dos juízes de sua própria inocência ou da culpabilidade do adversário mas a opinião da maioria não implica que a decisão tenha sido tomada com justiça e verdade Na refutação filosófica em contrapartida o embate se dá entre dois interlocutores que serão por si só suficientes para julgar a verdade da questão Para tal fim de nada vale a reputação doxa do interlocutor metaforicamente referido por Sócrates como testemunha μάρτυρα 472b mas simplesmente o que ele diz e o que ele assente o consenso όμολογοϋντα 472b7 entre ambas as partes é condição necessária e sufi ciente a princípio para a determinação do valor de verdade das conclusões alcançadas na discussão Não é por ser compartilhada pela maioria dos homens que uma opi nião é verdadeira a refutação filosófica teria justamente a função de examinar se tal opinião se sustenta ou não e por conseguinte se ela é verdadeira ou falsa 258 σ ό ΐ Μ ΪΙΑ β ϋ Ε Ρ ίΑ Τ Α Ο λων καϊ γάρ καϊ τύγχανα περί ων αμφισβητούμε ου ττάνυ σμικρά όντα άλλα σχεδόν τι ταντα περί ων είδεναι τε κάλλιστον μη είδεναι τε αΐσχιστον το γαρ κεφάλαιον αυτών λ t λ V V ττιν η γιγνω σ κ ΐν η α γνο ιν οσπ5 Τ ζνοαιμω ν σ τίν καί 3 οστι μ η α ν ή κ α πρώ τον πρι ου νυ ν ο Α ογος σ τίν συ ηγτ οΐόν τε είνα ι μ ακάριον άνδρα άδικονντά τ ε καϊ άδικον όντα εΐπ ερ Α ρ χ έλα ο ν άδικον μ εν η γη είνα ι ενδαίμονα δε άλλο τ ι ώϊ οντω σ ο ν νομ ίζοντος διανοω μεθα ΠΩΛ Πάιυ γε ΣΩ Έγώ δε φημι αδύνατον εν μεν τοντι άμφισβη τονμεν ειεν άδικων δε δη ευδαίμων εσται άρ αν τυγχάνη δίκης τε και τιμωρίας ΠΩΛ Ηκιστα γε επει οϋτω γ άν άθλιωτατος εΐη ε ΣΩ Άλλ εάν άρα μη τνγχάνη δίκης 6 άδικων κατά τον σον λογον ζνοαιμων ςσται ΠΩΛ Φημί ΣΩ Κατά δε γε την εμην δόξαν ω ΓΤώλε ό άδικων τε και ό άδικος πάντως μεν άθλιος άθλι ωτερος με ντο ι εάν μη δίδω δίκην μηδε τυγχάντ τιμωρίας άδικων ηττον δε άθλιος εάν δίδω δίκην καϊ τυγχάνη δίκης υπό θεών τε και ανθρώπων 473 ΠΩΛ Ατοπα γε ω Σώκρατες επιχειρείς λεγειν ΣΩ Πειράσομαι δε γε και σε ποιήσαι ω εταίρε ταυτά εμοι λεγειν φίλον γάρ σε ηγούμαι νυν μεν ουν ά διαφε ρομεθα ταυτ εστιν σκοπεί δε και συ ειπον εγω που εν τοΐς έμπροσθεν το άδικεΐν του άδικεΐσθαι κάκιον είναι ΠΩΛ ΪΙάνυ γε ΣΩ Σί δε το άδικεΐσθαι ΠΩΛ Ναι GÓRGIAS 2 5 9 Ademais o assunto a respeito do qual divergimos não acontece de ser trivial mas é simplesmente o que há de mais belo para se conhecer e de mais vergonhoso para se desconhecer pois a ques tão crucial é saber ou ignorar quem é feliz e quem não é81 O primeiro ponto relativo à corrente discussão é que tu consideras d possível ser venturoso um homem que cometa injustiça e seja injusto visto que consideras Arquelau feliz embora injusto Não é assim que devemos considerar o teu ponto de vista pol Certamente soc Eu afirmo que é impossível Divergimos neste ponto Seja Cometendo injustiça ele porventura será feliz caso en contre a justiça e o desagravo pol De forma nenhuma pois ele seria assim o mais in feliz dos homens82 soc Portanto se quem comete injustiça não encontrar a e justiça será feliz segundo o teu argumento pol Sim soc Porém segundo a minha opinião Polo quem comete injustiça e é injusto é absolutamente infeliz mais infeliz con tudo se não pagar a justa pena e não encontrar o desagravo tendo certa vez cometido injustiça e menos infeliz se pagála e encontrar a justiça quer a divina quer a humana pol É um absurdo Sócrates o que te esforças para dizer 473 soc Mas tentarei fazer com que também tu meu camarada digas as mesmas coisas que eu pois te considero meu amigo Por ora divergimos então no seguinte ponto Examina também tu eu dizia anteriormente que cometer injustiça é pior que sofrêla83 pol Com certeza soc E tu o contrário pol Sim 81 Como sublinha Sócrates a discussão não mais está centrada na definição de retórica e de seu estatuto como prática discursiva mas na questão moral por ex celência o que é a felicidade eudaimonia ευδαιμονία e sua relação com a justiça likttiosunê δικαιοσύνη 82 Cf supra nota 66 83 Cf 469b 260 GÕRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Καί t o v í αδικούνται αθλίους ίφην eivai Ιγώ καί ξηλέγχθην υπο σου ΠΩΛ Nat μα Αία b ΣΩ Ω ΐ συ ye oïei ω Πώλί ΠΩΛ Αληθη ye οΐόμΐνος ΣΩ νΙσω συ δύ ye υδαίμονας αυ τους άδικονντας iàv μη διδωσι δίκην ΠΩΛ Ώάνυ μν ουν ΣΩ Eyà δ4 γ αυτούς άθλιωτάτους φημί τους δέ δίδοντας δίκην ηττον βούλα και τούτο iàéyyeiv ΠΩΛ Ά λ λ en τουτ Ικάνου χαλατωτΐρόν 4στιν ω Σωκράτης έξίλέγζαι ΣΩ Ου δητα ω Πώλβ άλλ àôwaroiv rò γάρ αληθές ουδίποTe 4λ4γχται ΠΩΛ Πώΐ λίγας iàv άδικων άνθρωπος ληφθη τυραν c νίδι iπιβουλίύων καί ληφθάς στρεβλωται και κτίμνηται και τους οφθαλμούς i κκάηται και άλλας πολλάς καί μίγάλας και παντοδαπάς λώβας αυτός re λωβηθάς και τους αυτού ίπιδων παίδάς Te και γυναίκα το έσχατον άναστανρωθη η καταπιττωθη οΰτος υδαιμονίστίρος ίσται η iàv διαφυγών τύραννος καταστη και αργών iv τη πόλα διαβιω ποιων ότι αν βούληται ζηλωτάς ων και ευδαιμονιζόμΐνος νπο των d πολιτών και των άλλων ζύνων ταυτα λίγας αδύνατον eivai λγχ ιν ΣΩ Μορμολύττη αυ ώ yevvaïe Πώλί και ουκ èAéyyetr s ι Ç j í ν άρτι oc εμαρτυρου όμως oe υπομνησον μ σμικρον eav 84 84 É interessante observar como Sócrates no Górgias apresentase seguro da verdade de suas convicções morais e confia totalmente na objetividade das demons trações de seus argumentos sobretudo quando ele discute com Polo e com Cálicles Isso se deve principalmente ao fato de que Sócrates enquanto refuta as teses defen didas por esses dois interlocutores pretende provar concomitantemente as suas pró prias convicções morais Na discussão anterior com Górgias todavia Sócrates não faz qualquer tipo de declaração do gênero limitandose a apontar por meio do elenchos refutação a inconsistência das opiniões do rétor a respeito da retórica A diferença na forma como Sócrates conduz a discussão com cada uma das personagens corres ponde à diferença nos fins pretendidos por Sócrates em cada um dos Atos do diá logo no caso de Górgias Sócrates pretende simplesmente mostrar ao interlocutor e GÓRGIAS 261 soc E eu dizia que quem comete injustiça é infeliz e tu me refutaste pol Sim por Zeus soc É o que presumes Polo b pol E presumo a verdade soc Talvez E dizias por tua vez que quem comete injus tiça é feliz contanto que não pague a justa pena pol Certamente soc Eu porém afirmo que ele é o mais infeliz e quem paga a justa pena menos infeliz Queres refutar também esse ponto pol Mas esse é ainda mais difícil de refutar do que aquele Sócrates soc Decerto não Polo mas é impossível pois a verdade jamais é refutada84 pol Como dizes Se um homem for surpreendido conspi rando injustamente em vista de uma tirania e quando sur c preendido for torturado mutilado e tiver os olhos calcinados e depois de sofrer inúmeros e terríveis ultrajes de todo gênero e ver a mulher e os filhos terem a mesma sorte for enfim em palado ou untado para ser queimado ele será mais feliz do que escapando a isso tornarse tirano e tendo o domínio da cidade viver o resto da vida fazendo o que quiser sendo invejado e considerado feliz por concidadãos e estrangeiros É isso o que d dizes ser impossível refutar soc Tu me atemorizas nobre Polo e não me refutas acabaste de invocar testemunhas Contudo lembrame um à sua audiência que ele embora pareça saber nada sabe sobre a sua própria arte no caso de Polo e Cálicles por outro lado Sócrates busca refutar teses contrárias às suas convicções morais e nesse sentido a refutação do adversário implicaria a demons tração da verdade das suas próprias teses Seriam propósitos diferentes portanto que moveriam Sócrates nesses confrontos Seguindo as sugestões de P Woodruff são duas espécies de elenchos distintas que se distinguem precisamente por seu propósito o elenchos purgativo cujo intuito é conduzir o interlocutor à contradição como no caso de Górgias e o elenchos defensivo cujo intuito é mostrar ao interlocutor que defende leses contrárias às de Sócrates que é impossível continuar a defendêlas sem cair em contradição P Woodruff The Skeptical Side of Platos Method Revue Internationale ile 1hilosophie p 26 262 GÓRGIAS DE PLATÃO e 474 àòÍKCús επ ιβουλεΰω ν τνρ α ννίδ i e iv e s ΠΩΛ Eywye Σί2 Ενόαιμονέστρος μεν τοίννν ονδεποτε εσται ονδε λ V f 1 repôs αυτωυ oure ο κατειργασμνος την τνραννώα aotκως ovre o òlòous οικην ovoiv yap αθλιοιν ενοαιμονεστερος μev ούκ àv euj αθλιώτερος μεντοι ό διαφενγων καί rvpavvevcras τί toSto ώ Πώλ γελάς άλλο αν τούτο είδος ελέγχου eariVy eireioav m ti etτττ carayeAcu eAeyetu òe μη Πί2Α Ούκ οΐει εζεληλέγχθαι ώ Σώκρατες Õran τοιαΰτα kéyrjs a ουδέis αν φησειεν ανθρώπων έπει èpov τινα τουτωνί Σί2 ΤΩ Πώλβ οΰκ etpu των πολιτικών και πέρυσι βον Aeuetu Ααχωυ ετΐζώη η φυλή ζπρντaueue και eòet μ6 ert ψηφίζΐν γέλωτα παρεΐχον και ούκ ήπιστάμην έπιφηφίζειν 85 Aristóteles Retórica ui I4i9b37 A respeito do ridículo uma vez que ele parece ter certa utilidade nos de bates e que se deve como disse acertadamente Górgias arruinar a seriedade dos adversários com o riso e o riso deles com a seriedade já foi dito na Poética quantas formas do ridículo há περί δέ τών γελοίων έπειδή τινα δοκεΐ χρήσιν έχειν έν τοΐς άγώσι και δείν έφη Γοργίας τήν μέν σπουδήν διαφθείρειν τών εναντίων γέλωτι τον δέ γέλωτα σπουδή όρθώς λέγων εϊρηται πόσα είδη γελοίων έστιν έν τοϊς περί ποιητικής 86 Xenofonte Memoráveis 1615 Ε certa vez quando Antifonte lhe perguntou como ele considerava possível tornar outras pessoas homens políticos se ele próprio não se envolvia com as ações políticas embora tivesse conhecimento Sócrates disse Antifonte eu estaria mais envolvido com as ações políticas se apenas eu as praticasse ou se eu me preocupasse com que o maior número de pessoas tivesse a condição de praticálas Και πάλιν ποτέ τού Άντιφώντος έρομένου αυτόν πώς άλλους μέν ηγείται πολιτικούς ποιείν αυτός δ ού πράττει τά πολιτικά είπερ έπίσταται Ποτέρως δ άν έφη ώ Άντιφών μάλλον τά πολιτικά πράττοιμι εί μόνος αυτά πράττοιμι ή εί έπιμελοίμην τού ώς πλείστους ικανούς είναι πράττειν αυτά 87 Ο Conselho Boulé βουλή era formado por quinhentos cidadãos cin quenta de cada uma das dez tribos phulai φύλαι que compunham a cidade de Atenas Como o ano era dividido em dez meses cabia a cada uma das tribos exercer a pritania ie a comissão que organiza e preside as ações do Conselho por um mês e assim sucessivamente Era sorteado diariamente dentre os cinquenta cidadãos da quela tribo responsáveis pela pritania um prítane cuja denominação era επιστάτης epistatês que tinha o encargo de presidir o Conselho e coordenar os encontros e as votações da Assembleia ekklésia εκκλησία da qual poderiam participar todos os cidadãos livres E Dodds op cit p 247 S Pieri op cit p 394 Platão menciona esse episódio da atuação de Sócrates como prítane na Apologia de Sócrates GÓRGIAS 263 detalhe Mencionavas o caso de ele conspirar injustamente pela tirania pol Sim soc Pois bem nenhum deles nunca será mais feliz que o outro nem o que conquistou a tirania injustamente nem aquele que pagou a justa pena pois entre dois infelizes um não seria mais feliz que o outro todavia mais infeliz será aquele que escapou à punição e exerceu a tirania O que é isso Polo Ris Acaso seria essa outra forma de refutação rir quando alguém disser alguma coisa e não refutálo85 pol Presumes não seres refutado Sócrates quando dizes coisas tais que nenhum homem diria Pergunta pois a qual quer um dos aqui presentes soc Polo não sou um político86 Tendo sido sorteado ano passado para o Conselho quando meu grupo exercia a pritania e devia eu dar a pauta da votação torneime motivo de riso por ignorar como fazêlo87 Assim tampouco agora ordenes que eu Escutai então o que me aconteceu para saberdes que eu jamais me sub meteria a alguém contra o justo por medo da morte e que se eu recusasse me subme ter poderia até mesmo morrer Eu vos direi coisas comuns e usuais nos tribunais mas verdadeiras Eu ó atenienses jamais exerci qualquer outro cargo na cidade a não ser ter participado do Conselho Houve uma ocasião em que a pritania cabia à minha tribo Antióquida quando vós decidistes julgar em conjunto os dez generais que não haviam recolhido os sobreviventes da batalha naval uma decisão ilícita como posteriormente considerastes todos vós Naquela ocasião apenas eu dentre os prítanes me opus a vós para que nada fosse feito contra as leis não votando a fa vor E embora os oradores estivessem prestes a me indiciar e a me prender e vós os impelísseis aos berros eu julguei que devia antes correr o risco apoiado na lei e no justo do que participar da vossa decisão injusta por medo do cárcere ou da morte Isso aconteceu quando a cidade era ainda uma democracia 323504 ακούσατε δή μοι τα συμβεβηκότα ινα είδήτε οτι ούδ αν ένι ύπεικάθοιμι παρά το δίκαιον δείσας θάνατον μή ύπείκων δέ άλλα καν άπολοίμην έρώ δε ύμιν φορτικά μέν και δικανικά αληθή δέ έγώ γάρ ώ άνδρες Αθηναίοι άλλην μεν αρχήν ούδεμίαν πώποτε ήρξα έν τή πόλει έβούλευσα δέ και ετυχεν ήμών ή φυλή Άντιοχις πρυτανεύουσα οτε ύμεις τούς δέκα στρατηγούς τούς ούκ άνελομένους τούς έκ τής ναυμαχίας έβουλεύσασθε άθρόους κρίνειν παρανόμως ώς έν τώ ύστέρω χρόνω πάσιν ύμΐν εδοξεν τότ έγώ μόνος τών πρύτανεων ήναντιώθην ύμίν μηδέν ποιεΐν παρά τούς νόμους και εναντία έψηφισάμην και έτοιμων οντων ένδεικνύναι με και άπάγειν τών ρητόρων και ύμών κελευόντων και βοώντων μετά τού νόμου και τού δικαίου ψμην μάλλον με δείν διακινδυνεύειν ή μεθ ύμών γενέσθαι μή δίκαια βουλευομένων φοβηθέντα δεσμόν ή θάνατον και ταϋτα μέν ήν έτι δημοκρατουμένης τής πόλεως e 474 264 G0RGIAS DE PLATAO b c d μη ουν μηδέ νυν μ ε κεδευε έπ ιψ η φ ίζ ειν roos παρόντας άλλ εϊ μη εχ εις τούτων β ε δ τ ίω έδ εγχο ν δπερ νυνδή εγώ εδεγον έμ ο ί εν τω μ έρ ει παράδος καί π είρα σα ι τοΰ έλεγχου οΐον εγώ οΐμα ι δεΐν είναι εγώ y ap ών αν λέγω ένα μ εν παρασχέσθαι μαρτνρα π ιστα μα ι αυτόν προς ον αν μ ο ι ο λογος τονί 0 ποδδοΐις έώ χ α ίρ ειν και ένα έπ ιψ η φ ίζ ειν έπ ίστα μα ι τ ο ΐί δέ ποδδοΐς ουδέ δια λέγομα ι ορα ουν εΐ έθεδήσεις έν τω μ έρ ει διδόναι εδ εγχο ν α ποκρινομενοί τα ερω τω μενα εγω γαρ οη ο ΐμ α ι και εμ έ και σε και tovs ak k o v s ανθρώπους το ά δικεΐν του ά δικεΐσ θα ι κάκιον ή γ εΐσ θ α ι και τδ μ η διδόναι δίκην του διδόναι ΠΩΛ Εγώ δε γε ουτ εμέ ουτ άδδον ανθρώπων ουδένα έπεί συ δέξαι αν μάδδον άδικεΐσθαι η άδικεΐν ΣΩ Και συ γ αν και οι άλλοι πάντες ΠΩΛ Πολλοί γε δει άλλ ουτ εγώ ούτε συ ουτ akkos ουδέ is ΣΩ Οΐικονν άπ ακρινή ΠΩΛ Γίάνυ μέν ουν καί γαρ επιθυμώ είδέναι δτι ποτ έρε is ΣΩ Αέγε δ μοι ιν ειδής ώσπερ άν εί εξ άρχής σε ήρώτων πότερον δοκεΐ σοι ώ Πώλε κάκιον είναι τδ άδικεΐν ή τδ άδικεΐσθαι ΠΩΛ Τδ άδικεΐσθαι έμοιγε ΣΩ Τ ι δε δ αΐσχιον πότερον τδ άδικεΐν ή τδ άδικεΐσθαι άποκρίνον ΠΩΑ Τδ άδικεΐν ΣΩ Ουκουν καί κάκιον εϊπερ αΐσχιον ΠΩΛ Ήκιστά γε ΣΩ Μανθάνω ου ταυτδν ήγή συ ώς εοικας καδόν τε καί άγαθδν καί κακδν καί αισχρόν ΠΩΛ Ου δήτα ΣΩ Τ ι δέ τάδε τα καδά πάντα οΐον καί σώματα καί χρώματα καί σχήματα καί φωνάς καί επιτηδεύματα εις οίιδέν άποβδέπων καδεΐς έκάστοτε καδά οΐον πρώτον τα GÕRGIAS 265 dê a pauta da votação aos aqui presentes mas se não tens uma refutação melhor do que essa passame a vez como há pouco eu dizia e tenta me refutar como julgo que deva ser Eu sei como apresentar uma única testemunha do que digo aquela com a qual eu discuto contudo dispenso a maioria e sei como dar a pauta da votação a uma única pessoa mas não dialogo com muitos88 Vê então se desejarás me passar a vez de refutar b e responder as perguntas Pois julgo deveras que eu tu e os demais homens consideramos pior cometer injustiça do que sofrêla e não pagar a justa pena pior do que pagála po l Eu julgo porém que nem eu considero nem qualquer outro homem consideramos pois tu preferirias sofrer injustiça a cometêla soc E tu e todos os demais homens p o l Longe disso mas nem eu nem tu nem qualquer outro soc Responderás então c p o l Certamente ademais almejo saber o que pergunta rás adiante soc Para que o saibas dizeme então como se eu te in quirisse desde o começo O que te parece pior Polo cometer injustiça ou sofrêla p o l Para mim sofrer injustiça soc E aí É mais vergonhoso cometer injustiça ou sofrêla Responde p o l Cometer injustiça soc Então também é pior visto que é mais vergonhoso p o l Impossível soc Entendo não consideras a mesma coisa como parece belo e bom de um lado e mau e vergonhoso de outro d p o l Certamente não soc E o que dizes disto Todas as coisas belas como corpos dinheiro figuras sons atividades tu as chamas de belas em toda e qualquer ocasião sem nada observar Tomemos primeiro este exemplo não afirmas que os belos corpos são belos segundo a sua HK Cf supra nota 8o 266 0 0 ΙΚ 3 ΙΑ 5 ϋ Ε Ρ ίΑ Τ Α Ο ε 475 b σώματα τα καλά ονχι ήτοι κατά την χρείαν λέγεις καλά εΐναι προς ο αν έκαστον χρήσιμον ή προς τούτο ή κατά ηδονήν τινα έαν έν τω θεωρεΐσθαι χαίρειν ποιή τους θεω ροΰντας έχεις τι έκτος τούτων λέγειν περί σώματος κάλ λους ΠΩΛ Ονκ έχω ΣΩ Ονκοΰν και τάλλα πάντα οντω καί σχήματα και χρώματα ή διά ηδονήν τινα ή διά ώφελίαν ή δι άμφότερα καλά προσαγορεύεις ΠΩΛ Έ γωγε ΣΩ Ου και τάς φωνάς και τά κατά την μουσικήν πάντα ωσαύτως ΠΩΛ Ναι ΣΩ Και μην τά γε κατά τους νομούς και τα ϊτητηόζνματα ον οήπον κτο τούτων 6ττιν9 τα καλα τον η ωψΑίμα ΐναι η ηοα η αμψοτζρα ΠΩΛ Ονκ εμοιγε δοκεΐ ΣΩ Ούκονν και το των μαθη μάτων κάλλος ωσαύτως ΠΩΛ Παυυ γε και καλώς γε νυν δρίζη ώ Σώκρατες ηδονή τε και άγαθω οριζόμενος το καλόν ΣΩ Ονκούν το αισχρόν τω έναντίω λύπη τε και κακω ΠΩΛ Ανάγκη ΣΩ Οταν άρα δνοιν καλοΐν θά Λ I τερον καλλιον ρ η τω Τρω τοντοιν η αμψοτξροίς νπρ βάλλον κάλλιόν έστιν ήτοι ηδονή ή ώφελία ή άμφοτεροις ΠΩΛ Πάυυ γε ΣΩ Και όταν δε δή δνοιν αίσχροΐν το έτερον αισχιον ή ήτοι λύπη ή κακω νπερβάλλον αισχιον έσταγ ή ουκ ανάγκη ΠΩΛ Ναι ΣΩ Φέρε δή πώς έλεγετο νννδή περί του άδικειν και άδικεϊσθαι ούκ έλεγες το μεν άδικεϊσθαι κάκιον είναι το δέ άδικειν αισχιον ΠΩΛ νΕλεγυυ ΣΩ Ουκοΰυ είπερ αισχιον τδ άδικεΐν τον άδικεϊσθαι ήτοι λυπηρότερου έστιν GÓRGIAS 267 utilidade em relação à qual cada um deles é útil ou segundo certo prazer se o ato de contemplar trouxer deleite para quem os con templa Tens algo a acrescentar no tocante à beleza do corpo p o l Não tenho soc Então as figuras as cores e todas as outras coisas tu e não as chamas de belas do mesmo modo ou devido a algum prazer ou devido a algum benefício ou devido a ambos p o l Sim soc E quanto aos sons e a tudo o que concerne à música não sucede o mesmo p o l Sim soc Decerto as atividades e as questões referentes às leis as que são belas não se excluem disso e são belas porque são benéficas ou aprazíveis ou ambas p o l É o que me parece soc Não sucede o mesmo então à beleza dos estudos 475 p o l Certamente e agora apresentas uma bela definição Sócrates definindo o belo pelo prazer e pelo bem soc E o vergonhoso pelos seus contrários pela dor e pelo mal p o l Necessariamente soc Portanto quando entre duas coisas belas uma for mais bela que a outra será mais bela por superála em um ou em ambos os quesitos quer em prazer ou em benefício quer em ambos p o l Com certeza soc E quando entre duas coisas vergonhosas uma for mais vergonhosa que a outra será mais vergonhosa por superála b em dor ou em mal não é necessário p o l Sim soc Adiante então Como se dizia há pouco a respeito de cometer e sofrer injustiça Não afirmavas que sofrer injustiça é pior ao passo que cometêla é mais vergonhoso p o l Afirmava soc Assim uma vez que cometer injustiça é mais vergo nhoso que sofrêla não seria mais vergonhoso porque é mais 268 ΰ 0 Κ α Α 5 Ο Ε Ρ ίΑ Τ Α Ο καϊ λύπη νπερβάλλον αΐσχιον αν εΐη η κακω η άμφοτεροις ού καϊ τούτο ανάγκη ΠΩΛ Πώί γάρ ον ΣΩ Πρώτου μεν δη σκεφώμεθα άρα λύπη νπερβάλλει το άδικεΐν τού άδικεΐσθαι και άλγούσι μάλλον οι αδικούντο η οί αδικού μενοι ΠΩΛ Ονδαμώς ώ Σώκρατες τούτο γε ΣΩ Ούκ άρα λύπη γε νπερεχει ΠΩΛ Ον δητα ΣΩ Ονκονν εί μη λύπη άμφοτεροις μεν ονκ άν ετι νπερβάλλοι ΠΩΛ Ον φαίνεται ΣΩ Ονκοΰν τω ετερω λείπεται ΠΩΛ Ναι ΣΩ Τω κακω ΠΩΛ νΕοικευ ΣΩ Ονκούν κακω νπερ βάλλον τδ άδικεΐν κάκιον άν εΐη τού αδικείσθαι ΠΩΛ Αηλον δη ότι ΣΩ Ά λλ ο τι ονν νπδ μεν των πολλών ανθρώπων και νπο αού ώμολογεΐτο ημϊν εν τω έμπροσθεν χρόνω αΐσχιον είναι τδ άδικεΐν τού άδικεΐσθαιΠΩΛ Ναι ΣΩ Νΰυ δε γε κάκιον εφάνη ΠΩΛ Έ οικε ΣΩ Δεαιο άν ονν σν μάλλον τδ κάκιον και τδ αΐσχιον αντί τού ηττον μη υκνει άποκρίνασθαι ώ Πώλ ονδεν γάρ βλαβηση άλλα γενναίων τω λόγω ώσπερ ίατρω παρεχων άποκρίνον καί η φάθι η μη ά ερωτώΠΩΛ Άλλ ονκ άν δεζαίμην ώ Σώ κρατεν ΣΩ νΑλλοί δε τις άνθρώπων ΠΩΛ Ον μοι δοκεΐ κατά γε τούτον τδν λόγον ΣΩ Άληθη άρα εγώ GÓRGIAS 269 doloroso e supera o outro em dor ou em mal ou em ambos Isso também não é necessário p o l E como não seria soc Investiguemos primeiro então o seguinte porventura cometer injustiça supera em dor o sofrêla e padece mais quem c comete injustiça do que quem a sofre p o l De forma nenhuma Sócrates é o que acontece soc Portanto não o supera em dor p o l Certamente não soc Então se não o supera em dor muito menos poderia superálo em ambos p o l É claro que não soc Restanos assim a outra opção p o l Sim soc Superao em mal p o l Como parece soc Superandoo em mal cometer injustiça não seria en tão pior que sofrêla p o l É evidente soc Mas tu e muitos outros homens não concordáveis tem d pos atrás89 que é mais vergonhoso cometer injustiça do que so frêla p o l Sim soc E agora é manifesto que é pior p o l Como parece soc Tu terias então maior preferência e não menor pelo pior e mais vergonhoso Não receies responder Polo Nenhum prejuízo há de te acometer mas apresentate de forma nobre perante o argumento como perante um médico e responde com sim ou não às minhas perguntas p o l Mas eu não teria maior preferência Sócrates e soc E algum outro homem a teria p o l Não me parece conforme esse argumento 89 Cf 474c 270 GÓRGIAS DE PLATÃO ελεγον ότι οντ αν εγώ οντ αν συ οντ άλλος ονδεις ανθρώ πων δεζαιτ αν μάλλον άδικεΐν η άδικεΐσθαι κάκιον γάρ τυγχάνει ον ΓΙΩΛ Φαίνεται ΣΩ Οpas ουν ώ ΓΤώλβ ό ελεγχος παρά τον ελεγχον παραβαλλόμενος ότι ουδεν εοικεν αλλά σοι μεν οί άλλοι πάντες όμολογονσιν πλην εμού εμοϊ δέ σν εζαρκεΐς εϊς ών 476 μόνος και ομολογών καί μαρτύρων και εγώ σε μόνον επιψη φιζων τους άλλους εω χαιρειν και τούτο μεν ημιν όντως εχετω μετά τούτο δε περί ον το δεύτερον ήμφεσβητήσαμεν σκεψώμεθα τδ άδικούντα διδόναι δίκην άρα μεγίστου των κακών εστιν ώς σν ωον η μεΐζον το μη διδόναι ώ αν εγώ ωμήν Σκοπώμεθα δε τίδε τά διδόναι δίκην και το κολάζεσθαι δικαίως άδικοΰντα άρα το αυτά καλεΐς ΠΩ Λ Έγωγε b ΣΩ νΕχαί ονν λεγειν ώΐ ονχι τά γε δίκαια πάντα καλά εστιν καθ όσον δίκαια και διασκεψάμενος είπε ΠΩΛ Άλλα μοι δοκεΐ ώ Σώκρατες ΣΩ Σκόπει δη και τοδε IÇ Λ t αρα ει τις τι ποιεί αναγκη τι είναι και πασχον νπο τοντον τον ποιονντος Π Ω Λ Εμοιγε δοκεΐ ΣΩ Ά ρ α τούτο πάσχον ο το ποιούν ποιεΐ και τοιούτον οΐον ποιεί το ποιούν λέγω δε το τοιόνδε εϊ τις τύπτει ανάγκη τι τύπτεσθαι 90 90 Vejamos ο resumo do argumento de Sócrates 4740447506 que pretende refutar a tese de Polo fundamentada na disjunção entre belo e bom de um lado e vergonhoso e mal de outro A Sofrer injustiça é pior do que cometêla B mas cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla i nós julgamos belas as coisas ou porque elas são úteis κατά την χρείαν 474d6 ou porque elas causam prazer κατά ηδονήν τινα 474d8 em quem as con templa τούς θεωροϋντας 47409 ou por ambos δι άμφότερα 474e3 ii portanto julgamos uma coisa mais bela do que a outra quando ela a su pera em um desses critérios ou em ambos iii da mesma forma julgamos uma coisa mais vergonhosa do que a outra quando ela a supera em mal ou em dor ou em ambos iv aqueles que cometem injustiça não superam em dor aqueles que a sofrem v mas os superam em mal GÓRGIAS 271 soc Portanto eu falava a verdade que nem eu nem tu nem qualquer outro homem preferiríamos cometer injustiça a sofrêla pois acontece de ser pior pol É claro90 soc Vês então Polo que comparando uma refutação com a outra elas em nada se parecem embora contigo todos os ou tros concordem exceto eu para mim tu me bastas mesmo sendo apenas um pois concordas comigo e testemunhas em meu favor e eu dando a pauta da votação somente a ti dis penso os outros91 E que esse ponto esteja estabelecido por nós A seguir investiguemos sobre o segundo ponto em que diver gimos se pagar a justa pena uma vez cometida a injustiça é o maior dos males como tu presumias ou se não pagála é um mal maior como eu por minha vez presumia Examinemos o seguinte pagar a justa pena e punir de forma justa quem comete injustiça porventura consideras a mesma coisa pol Sim soc Tu dirias então que nem todas as coisas justas são be las na medida em que são justas Investiga bem e então dizeme pol Não me parece Sócrates soc Examina também o seguinte se alguém faz alguma coisa porventura é necessário que haja também uma coisa que sofra a ação daquele que faz pol Pareceme que sim soc Aquilo que sofre a ação daquele que faz porventura será tal qual a ação daquele que faz Refirome a algo do gênero se alguém açoitar é necessário que algo seja açoitado vi portanto na medida em que cometer injustiça supera em mal o sofrêla cometêla é pior do que sofrêla vii visto que Polo concordou que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla ou ele tem de ter maior preferência e não menor pelo pior e mais ver gonhoso ou conceder que cometer injustiça é pior do que sofrêla viii mas ele não teria maior preferência por um mal e uma vergonha maiores ix portanto ele tem de conceder que cometer injustiça é não só mais ver gonhoso como também pior do que sofrêla J Beversluis op cit p 329330 9t Cf supra nota 80 476 b 272 0 0 Κ σ ΐ Α 5 ϋ Ε Ρ ίΑ Τ Α Ο Π Ω Λ Ανάγκη ΣΩ Καί εί σφοδρά τύπτει ή ταχν 6 τύπτων οντω και το τυπτόμενοι τνπτεσθαι Π Ω Λ Ναί ΣΩ Τ οιούτον άοα πάθος τω τυπτομενω εστιν οΧον αν το τύπτον ποιτ Π Ω Λ Υίάνυ γε ΣΩ Ονκονν και εΐ κάει τις ανάγκη τι κάεσθαι Π Ω Λ Π ώϊ γάρ ού ΣΩ Καί εί οορα γ καα η αλγΐνω οντω καζσθαι το καομίνον ω αν το καον κάη Π Ω Λ Πάιυ γε ΣΩ Ο νκονν και εί τεμνει τι 6 αυτός λόγος τεμνεται γάρ τι Π Ω Λ Ναί ΣΩ Καί εί μεγα γε η βαθύ το τμήμα η αλγεινόν τοιοΰ τον τμήμα τζμνςται το τεμνομνον οίοντοτζμνον τξμνζι Π Ω Λ Φαίνεται ΣΩ Συλλήβδην δή όρα εί ομολογείς δ άρτι ελεγον περί πάντων οΧον άν ποιί τό ποιούν τοιοντον τό πάσχον πάσχειν Π Ω Λ Ά λ λ ομολογώ ΣΩ Τούτων δή δ μολογον μενών τό δίκην διδόναι πότερον πάσχειν τί εστιν ή ποιειν Π Ω Λ Ανάγκη ω Σώκρατες πάσχειν ΣΩ Ο νκονν υπό τίνος ποιονντος ΠΩ Λ Πώϊ γάρ ού υπό γε τού κολάζοντας ΣΩ Ό δε όρθως κολάζων δικαίως κολάζει Π Ω Λ Ναί ΣΩ Δίκαια ποιων ή ον ΠΩ Λ Δίκαια ΣΩ Ο νκονν ό κολαζόμενος δίκην διδονς GÓRGIAS 273 pol É necessário soc E se quem açoita açoitar impetuosa ou rapidamente quem é açoitado será açoitado também da mesma maneira pol Sim soc Portanto a afecção de quem é açoitado é tal qual a ação de quem açoita pol Certamente soc Então se alguém queimar será necessário que algo seja queimado pol E como não seria soc E se ele queimar impetuosa ou dolorosamente quem é queimado será queimado da mesma maneira que queima aquele que queima pol Certamente soc Então se alguém cortar alguma coisa o mesmo argu mento não se aplicará Pois alguma coisa será cortada pol Sim soc E se o corte for grande profundo ou doloroso quem é cortado terá esse corte tal como corta aquele que corta pol É claro soc Em suma vê se concordas como há pouco eu dizia que em todos esses casos a ação de quem faz é tal qual a afec ção de quem a sofre pol Concordo soc Uma vez concorde pagar a justa pena é porventura sofrer ou fazer algo pol Necessariamente Sócrates sofrer algo soc E não é pela ação de quem faz pol E como não seria De quem pune soc E quem pune corretamente pune de forma justa pol Sim soc Fazendo a coisa justa ou não pol A coisa justa soc Então quem é punido não sofre a coisa justa quando paga a justa pena 274 GÓRGIAS DE PLATÃO 477 b δίκαια πάσχει Π Ω Λ Φαίνεται ΣΩ Τά δε δίκαιά που καλά ωμολόγηται Π Ω Λ Πάνυ yε ΣΩ Τούτων άρα 6 μεν ποιεί καλά 6 δέ πάσχει ό κολαομενο Π Ω Λ Ναί ΣΩ Ουκούν είπε καλά αγαθά η γαρ τδεα η ώφε λιμα Π Ω Λ Ανάγκη ΣΩ Άγαθα αρα πάσχει ό δίκην διδου Π Ω Λ Έ οικεν ΣΩ Ω φελείται άρα Π Ω Λ Ναί ΣΩ Ά ρ α ηνπερ εχώ υπολαμβάνω την ώφελίαν 3ελ τίων την ψνχην γίγνεται είπερ δικαίωϊ κολάζεται ΠΩΛ Είκάϊ ye ΣΩ Κακία άρα φυχη άπαλλάττεται ό δίκην διδου Π Ω Λ Ναί ΣΩ Ά ρ α ούν τού peyiarov άπαλ λάττεται κακού aide δε σκοπεί ν χρημάτων κατασκευή άνθρωπον κακίαν άλλην τινα evopas η πενίαν Π Ω Λ Ουκ άλλα πενίαν ΣΩ Τ ί δ εν σώματο κατασκευή κακίαν ι J W N T ν ay φησαις ατυςνΐαν ΐναι και νοσον και αισχοί cat τα τοιαΰτα Π Ω Α νΕγωχε ΣΩ Ούκούν και εν ψυχή πονη ριάν ηγη τινα είναι Π Ω Λ Πώ yap ου ΣΩ Ταυτήν ουν ουκ αδικίαν καλεί καί άμαθίαν καί δειλίαν καί τά 92 92 Vejamos o resumo da primeira das três partes do argumento de Sócrates 4763747734 477a5e6 4776747969 que pretende refutar a tese de Polo de que pagar a justa pena uma vez tendo cometido injustiça é o maior dos males i Pagar a justa pena e ser punido de forma justa são a mesma coisa ii as coisas justas são belas na medida em que são justas iii quando alguém faz alguma coisa é necessário que haja outra coisa que sofra a ação daquele que faz como por exemplo quando alguém corta é necessário haver algo que seja cortado iv a ação de quem faz é tal qual a afecção de quem a sofre como por exem plo quando alguém provoca um corte profundo e doloroso a pessoa cortada sofre um corte profundo e doloroso v pagar a justa pena é sofrer algo vi aquele que pune alguém de forma correta o pune de forma justa e por tanto faz o que é justo vii aquele que sofre a punição justa experimenta o que é justo viii na medida em que segundo a premissa ii o que é justo é belo e bom quando aquele que pune o faz de forma justa ele faz o que é belo e bom e quando GÓRGIAS 275 pol É claro soc E há consenso de que as coisas justas sejam belas pol Com certeza soc Portanto um deles faz coisas belas enquanto o outro aquele que é punido as sofre pol Sim s o c Assim uma vez que são belas são boas Pois são ou 477 aprazíveis ou benéficas pol Necessariamente soc Portanto quem paga a justa pena não sofre coisas boas pol Como parece soc Portanto ele não se beneficia pol Sim soc Será porventura o benefício que concebo A sua alma se torna melhor quando ele é punido pol É plausível soc Portanto quem paga a justa pena não se livra do mal da alma pol Sim92 soc Livrase ele por acaso do mal maior Examina desta maneira quanto à provisão de riqueza vês outro mal para o b homem que não a pobreza pol Não é a pobreza soc E quanto à provisão do corpo Dirias que o mal é a fraqueza a doença a deformidade e coisas similares pol Sim soc E em relação à alma consideras que também há al gum vício pol Como não haveria soc E não o chamas de injustiça ignorância covardia e coisas do gênero aquele que é punido sofre uma justa punição ele sofre o que é belo e bom sendo assim beneficiado ix ser beneficiado é tornar melhor a alma e se livrar do mal da alma J Be versluis op cit p 333334 276 GÓRGIAS DE PLATÃO τοιαΰτα ΠΩΛ ΥΙάνυ μεν ονν ΣΩ Ονκοΰν χρημάτων I Λ Λ V V V και σώματος και ψυχής τριών οντων τριττας ειρηκας πονη ριάς πενίαν νόσον αδικίαν ΠΩΛ Ναι ΣΩ Τ ΐί ονν τούτων των πονηριών αίσχίστη ονχ η αδικία και συλλή βδην ή τής ψυχής πονηρία ΠΩΛ Πολά γε ΣΩ Ει δη αίσχίστη καί κάκιστη ΠΩΛ Πώί ω Σωκράτης λέγεις ΣΩ Ώ δί αεί τδ αϊσχιστον ήτοι λύπην μεγίστην παρεχον ή βλάβην ή άμφότερα αισχιστόν εστιν εκ των ώμολογημενων V τώ έμπροσθεν ΠΩΛ Μάλιστα ΣΩ Αϊσχιστον δε αδικία καί σνμπασα ψυχής πονηρία νυνδή ώμολόγηται ήμϊν ΠΩΛ Ώμολόγηται γάρ ΣΩ Ονκοΰν ή ανιαροτατον στι και ανία νπερβαλλον αϊσχιστον τούτων εστιν ή βλάβη ή άμφότρα ΠΩΑ Ανάγκη ΣΏ Ά ρ ονν άλγΐνοτερόν εστιν του πενεσθαι καί κάμνΐν το άδικον είναι καί ακόλαστον καί δειλόν καί αμαθή ΠΩΛ Ουκ εμοιγε δοκεϊ ω Σώκρατες από τούτων γ ΣΩ Ύπερφυεΐ τινι άρα ως μεγάλη βλάβη καί κακω θαυμασίω υπερβάλλονσα ταλλα η της ψνχη πονηριά αϊσχιστον ςστι πάντων πΐοη ονκ άλγηδόνι γε ως 6 σδϊ λόγος ΠΩΛ Φαίνεται ΣΩ Άλλα μην που τό γε μεγίστη βλάβη νπερβάλλον μεγιστον αν κακόν εϊη των οντων ΠΩΛ Ναί ΣΩ Η αδικία άρα καί ή ακολασία καί ή άλλη ψυχής πονηρία 93 Platão enumera aqui os quatro vícios da alma 477C4 injustiça adi kia αδικία intemperança akolasia ακολασία covardia deilia δειλία e ignorância amathia άμαθία que correspondem às quatro virtudes cardinais de sua filosofia moral justiça dikaiosuné δικαιοσύνη temperança sõphrosunê σωφροσύνη coragem andreia ανδρεία e sabedoria sophia phronêsis σοφία φρόνησις No Livro iv da República Platão apresenta pormenorizadamente em que consiste cada uma dessas virtudes e por conseguinte os vícios respecti vos segundo a concepção de uma alma tripartida ou seja composta do elemento racional to logistikon rò λογιστικόν do elemento irascível to thumoeides τό θυμοειδές e do elemento apetitivo to epithumêtikon τό επιθυμητικόν No Górgias todavia essa concepção de alma não se faz presente em sua completude embora haja o reconhecimento do elemento apetitivo da alma τής ψυχής τούτο έν ω έπιθυμίαι είσι 49333 τούτο τής ψυχής ού αί έπιθυμίαι είσί 4 9 3 b i como ficará GÓRGIAS 277 pol Certamente soc Então visto que riqueza corpo e alma são três coisas te referes a três vícios à pobreza à doença e à injustiça pol Sim soc Qual é então o mais vergonhoso desses vícios Não é a injustiça e em suma o vício da alma pol Sem dúvida soc E se é o mais vergonhoso não é o pior pol Como dizes Sócrates soc Assim o mais vergonhoso sempre será mais vergo nhoso por comportar a maior dor ou o maior prejuízo ou am bos conforme foi consentido previamente pol Absolutamente soc E não concordamos há pouco que a injustiça e todo o vício da alma é a coisa mais vergonhosa pol Concordamos soc Ela não é assim a mais penosa e a mais vergonhosa por superar os outros em dor ou em prejuízo ou em ambos pol Necessariamente soc Porventura ser injusto intemperante covarde e igno rante93 é mais doloroso do que ser pobre e doente pol Não me parece Sócrates a partir do que foi dito soc Portanto por superar os outros em um prejuízo ex cepcionalmente grandioso e em um mal estupendo o vício da alma é o mais vergonhoso de todos visto que não é em dor que os supera conforme teu argumento pol É claro soc Mas decerto aquilo que supera as demais coisas em maior prejuízo seria o maior mal existente pol Sim soc Portanto a injustiça a intemperança e qualquer outro vício da alma é o maior mal existente evidente no mito siciliano contado adiante por Sócrates sobre os jarros e os crivos na interlocução com Cálicles Sobre o elemento apetitivo da alma cf infra n 168 ver Ensaio Introdutório 5111 2 7 8 GÓRGIAS DE PLATÃO μεγίστου των δντων κακόν εστιν ΠΩΛ Φαίνεται ΣΩ Tís ουν τέχνη πενίας άπαλλάττει ου χρηματι στική ΠΩΛ Ναι ΣΩ Tis δε νόσον ονκ Ιατρική ΠΩΛ Ανάγκη ΣΩ Tís δε πονηριάς και αδικίας εί μή n 5 Λ f Λ t j v όντως ευπορείς ωοε σκοπεί ποι αγομεν και παρα τινας τους κάμνοντας τα σώματα ΠΩΛ Παρά τους ιατρούς ώ Σωκρατες ΣΩ Ποΐ δε τους άδικοΰντας και τούς άκολα σταίνοντας ΠΩΛ Παρά τούς δικαστάς Aeyeis ΣΩ Ον κούν όίκην δωσοντας ΠΩΑ Φημί ΣΩ τΑρ ουν ου δικαιοσύνη τινί χρωμενοι κολάζονσιν οι όρθως κολάζοντες ΠΩΛ Αήλον δή ΣΩ Χρηματιστική μεν άρα πενίας άπαλ λάττει ιατρική δε νόσον δίκη δε ακολασίας καί αδικίας ΠΩΑ Φαίνεται ΣΩ Τί ουν τούτων κάλλιστόν εστιν ών Aeyeis ΠΩΛ Ύίνων λεγεις ΣΩ Χρηματιστικής ιατρικής δίκης ΠΩΛ Πολύ διαφέρει ω Σωκρατες ή δίκη ΣΩ Ούκονν αύ ήτοι ηδονήν πλείστην ποιεί ή ώφελίαν ή αμφότερα εϊπερ κάλλιστόν εστιν ΠΩΛ Ναί ΣΩ Αρ ουν το ίατρεύε σθαι ήδύ εστιν καί χαίρονσιν οί ίατρενόμενοι ΠΩΛ Ονκ εμοιγε δοκεΐΣΩ Ά λλ ωφέλιμόν γε ή γάρ ΠΩΛ 94 94 Vejamos ο resumo da segunda parte do argumento de Sócrates 477a5e6 i assim como os males do corpo são a doença a fraqueza e coisas do gênero os males da alma são a injustiça a ignorância e a covardia ii desses males a injustiça é a mais vergonhosa porque ela é o vício da alma iii na medida em que a justiça é a mais vergonhosa ele deve ser também o maior mal e portanto deve causar a maior dor ou o maior prejuízo ou ambos iv visto que ela não causa a maior dor ele deve causar o maior prejuízo v aquilo que supera as demais coisas em prejuízo deve ser o maior dos males vi portanto a injustiça é o maior dos males J Beversluis op cit p 334 95 Platão assume aqui 4476747802 que a justiça é capaz não só de curar a alma da injustiça uma vez tendo a cometido mas também do vício em geral πονηριάς καί άδικίας 478ai e na sequência do argumento passa a associar a in justiça à intemperança ακολασίας και άδικίας 478bi Platão parece introduzir o problema da intemperança na discussão sobre a justiça porque o verbo empre gado aqui para designar a punição aplicada pelos juízes nos tribunais é kolazein κολάζουσιν oi κολάζοντες 478a7 da mesma raiz do substantivo que designa intemperança akolasia Ou seja do ponto de vista semântico a intemperança akolasia significaria ausência de punição de refreamento e a punição aplicada pela justiça seria capaz de refreála de livrála da akolasia Mas como salienta Irwin GÓRGIAS 2 7 9 pol É claro94 soc Qual é então a arte que nos livra da pobreza Não é a arte do negócio pol Sim soc E qual delas nos livra da doença Não é a medicina pol Necessariamente soc E qual delas nos livra do vício e da injustiça Se não 478 encontrares a via de resposta examina deste modo aonde e a quem levamos as pessoas cujo corpo está enfermo pol Aos médicos Sócrates soc E aonde levamos quem comete injustiça e é intem perante pol Aos juízes te referes a eles soc Não pagará então a justa pena pol Sim soc E quem pune corretamente porventura não pune em pregando certa justiça pol É evidente soc Portanto a arte do negócio nos livra da pobreza a me dicina da doença e a justiça da intemperança e da injustiça95 b pol É claro soc Qual delas então é a mais bela pol A que te referes soc À arte do negócio à medicina e à justiça pol A justiça se distingue em muito das demais Sócrates soc E ela por sua vez não produz decerto o maior prazer ou o maior benefício ou ambos visto que é a mais bela pol Sim soc O tratamento médico por acaso é aprazível e quem a ele se submete deleitase pol Não me parece soc Mas é benéfico ou não aqui ele força demais a linguagem ordinária A punição pode deixar alguém con trolado ou moderado sem ter mudado seus desejos e aspirações o tipo de mudança que Sócrates tem em mente op cit p 162 2 8 0 G0RGIAS DE PLATAO Ναι ΣΩ MeyaAou yap κακόν άπαλλάττεται ώστε λνσι τελεΐ νπομείναι την άλγηδόνα και υγιή είναι ΠΩΛ Πώϊ yap ού ΣΩ ΤΑρ ούν ούτως αν περί σώμα εύδαιμονεστατος άνθρωπος εϊη Ιατρενόμενος η μηδε κάμνων αρχήν ΠΩΛ Αηλον οτι μηδε κάμνων ΣΩ Ου γάρ τούτ ην ευδαιμονία ως εοικε κακού απαλλαγή άλλα την αρχήν μηδε κτησις ΠΩ Λ Εστι ταΰτα ΣΩ Τι δε άθλιώτερος πότερος δνοΐν εχόντοιν κακόν εϊτ εν σώματι εΐτ εν ψυχή ο ιατρένόμενος και άπαλλαττό μενος τού κακού η ό μη Ιατρενόμενος εχων δε ΠΩΛ Φαί νεται μοι ό μη ιατρενόμενος ΣΩ Ονκούν το δίκην διδόναι μεγίστου κακού απαλλαγή ην πονηριάς ΠΩΛ ΤΩ γάρ ΣΩ Σωφρονίζει γάρ που και δικαιότερους ποιεί και ια τρική γίγνεται πονηριάς η δίκη ΠΩΛ ΝαιΣΩ Εάδαι μονεστατος μεν άρα 6 μη εχων κακίαν εν ψυχή επειδή τούτο μεγιστον των κακών εφάνη ΠΩΛ Αηλον δη ΣΩ Αεύ τερος δε που ό άπαλλαττόμενος ΠΩΛ Εοικεν ΣΩ Ου τος δ ην ό νουθετούμενος τε και επιπληττόμένος και δίκην διδούςΠΩΛ Ναι ΣΩ Κάκιστα άρα ζη δ εχων αδικίαν καί μη άπαλλαττόμενος ΠΩΛ Φαίνεται GÓRGIAS 281 pol Sim soc Pois a pessoa se livra de um grande mal de modo que lhe é vantajoso suportar a dor e ser saudável pol E como não seria soc E quando o homem em relação ao corpo seria feliz ao máximo submetendose ao tratamento médico ou não adoe cendo desde o princípio pol É evidente que não adoecendo soc Pois a felicidade como é plausível não era livrarse do mal mas não adquirilo a princípio pol É isso soc E então Entre duas pessoas com um mal seja no corpo ou na alma qual é mais infeliz aquela que se submete ao tratamento médico e se livra do mal ou aquela que não se lhe submete e persiste com ele pol É claro que aquela que não se submete a ele soc Pagar a justa pena não era então a libertação do maior mal do vício pol Era soc Pois a justiça traz a temperança96 deixa as pessoas mais justas e se torna a medicina para o vício pol Sim soc Portanto é feliz ao máximo quem não possui o vício na alma visto que ele é manifestamente o maior dos males pol É evidente soc E em segundo lugar quem se livra dele pol Como parece soc E essa pessoa era aquela que foi admoestada castigada e que pagou a justa pena pol Sim soc Portanto vive da pior forma possível quem possui a injustiça e dela não se livra pol É claro 96 Cf supra nota 95 282 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Ουκοΰν ούτος τυγχάνει ων δς αν τα μέγιστα άδικων καί χρώμενος μεγίστη αδικία διαπράζηται ware μήτε νον 479 θετεΐσθαι μητε κολάζεσθαι μήτε δίκην διδόναι ώσπερ συ φης Αρχέλαον παρεσκευάσθαι καί τούς άλλους τυράννους t t καί ρήτορας καί 0νναατας Π Ω Λ Έοικ ΣΩ Σχεδόν yap που οΰτοι ώ αριστε το αυτδ διαπε πραγμενοι είσϊν ώσπερ αν εϊ τις τοις μεγίστοις νοσημασιν συνισχόμενος διαπράζαιτο μη διδόναι δίκην των περι τδ σώμα αμαρτημάτων τοΐς Ιατροϊς μηδε ίατρεύεσθαι φοβού μενος ώσπερανει παΐς τδ κάεσθαι καί τδ τεμνεσθαι ότι b άλγεινόν η ου δοκει καί σοϊ οΰτω Π Ω Λ Εμοιγε ΣΩ Αγνοων γε ως εοικεν οίον εστιν η νγιεια και αρετή σώματος κινδυνεύουσι γδρ εκ των νυν ημΐν ώμο λογημενων τοιοΰτόν τι ποιείν καί οι την δίκην φεύγοντες ω Πώλε τδ άλγεινδν αυτού καθοράν πρδς δε τδ ωφέλιμον τυφλως εχειν καί άγνοειν δσω άθλιώτερόν εστι μη υγιούς σώματος μη υγιεί ψυχή συνοικεΐν αλλά σαθρά και αδίκω c καί άνοσίω δθεν και παν ποιοΰσιν ώστε δίκην μη διδόναι μηδ άπαλλάττεσθαι τού μεγίστου κακού καί χρήματα παρα σκευαζόμενοι καί φίλους και όπως άν ώσιν ως πιθανώτατοι 97 97 Cf supra nota 70 98 Segundo Dodds op cit p 295 a dinastia seria o poder absoluto de um grupo de pessoas e não de um homem só como a tirania Nesse sentido a dinastia estaria para a oligarquia assim como a tirania para a monarquia São duas formas de governo arkhê ctpxfj não reguladas por um conjunto de leis próprio da cidade que esteja acima dos governantes ver Tucídides 4783 Por exemplo o governo dos Trinta Tiranos de Atenas em 404 aC instituído logo após o fim da Guerra do Peloponeso é denominado por Andócides como uma dinastia Uma vez que fostes persuadidos por esses homens a incorrer nos maiores erros contra vós próprios a ponto de trocar o poder pela escravidão quando insti tuístes uma dinastia no lugar da democracia por que qualquer um de vós haveria de se espantar caso fôsseis de algum modo persuadidos a incorrer em erros também contra mim 227 GÓRGIAS 283 soc E então esse não é o caso de quem cometendo os maio res delitos e servindose da maior injustiça age de modo a não ser admoestado não ser punido e nem pagar a justa pena como 479 dizes que Arquelau97 os demais tiranos os rétores e os dinastas98 estão dispostos a isso pol É plausível soc É como se essas pessoas excelente homem tivessem agido como quem contraindo as maiores doenças age de modo a não pagar aos médicos a justa pena relativa aos erros do corpo e a não se submeter a seu tratamento temeroso qual uma criança de alguma cauterização ou de algum corte devido à dor infligida Não é esse também o teu parecer b pol Sim soc Porque ignora como parece qual é a saúde e a virtude do corpo Pois a partir de nosso consentimento vigente é pro vável que quem escape à justiça também faça algo similar Polo observa a dor por ela infligida mas é cego para o que é bené fico ignorando o quanto é mais infeliz viver com a alma insa lubre do que com o corpo em semelhante estado uma alma avariada injusta e ímpia É por esse motivo que ele faz de tudo c para não pagar a justa pena e não se livrar do maior mal dis pondose de dinheiro de amigos e do modo de ser persuasivo δπου γάρ ύπό τών άνδρών τούτων αύτοι εις υμάς αυτούς έπείσθητε τα μέγιστα έξαμαρτεϊν ώστε άντι τής αρχής δουλείαν άλλάξασθαι έκ δημοκρατίας δυναστείαν καταστήσαντες τί αν τις υμών θαυμάζοι και εις έμέ εϊ τι έπείσθητε έξαμαρτεϊν A diferença entre tirania e realeza por sua vez era entendida por Sócrates segundo as Memoráveis de Xenofonte da seguinte maneira Sócrates considerava tanto a realeza quanto a tirania duas formas de poder mas admitia diferenças entre elas considerava a realeza o poder aceito voluntaria mente pelos homens e conforme as leis da cidade enquanto a tirania o poder contra a vontade dos homens e sem leis mas segundo a vontade do governante 4612 Βασιλείαν δέ και τυραννίδα άρχάς μέν άμφοτέρας ήγείτο είναι διαφέρειν δέ άλλήλων ένόμιζε τήν μέν γάρ έκόντων τε τών ανθρώπων καί κατά νόμους τών πόλεων αρχήν βασιλείαν ηγείτο τήν δέ άκόντων τε και μή κατά νόμους άλλ όπως ό άρχων βούλοιτο τυραννίδα 284 GÓRGIAS DE PLATÃO λέγειν εί δε ημείς αληθή ώμολογήκαμεν ω Π ωλί άρ αισθάνη τα συμβαίνοντα εκ του λόγου ή βούλει συλλο γισώμεθα αυτά Π Ω Λ Εΐ σοι γε δοκεϊ ΣΩ τΑρ ούν συμβαίνει μέγιστον κακόν ή αδικία και τδ d άδικεϊυ ΠΩΛ Φαίνεταί γε ΣΩ Και μην απαλλαγή γε φάνη τούτου τού κακού το δίκην διδόναι Π Ω Λ Κινδυ νευει ΣΩ Τό δέ γε μη διδόναι εμμονή του κακού Π Ω Λ Ναί ΣΩ Αεύτερον άρα έστιν των κακών μεγέθει το άοικειν το δε άδικούντα μη διδόναι δίκην πάντων μεγί στου τε και πρώτον κακών πέφυκεν Π Ω Λ νΕοικεν ΣΩ νΑρ ου ν ου περί τούτου ω φίλε ήμφεσβητήσαμεν συ μεν τον Αρχέλαον ενδαιμονίζων τον τα μέγιστα άδι 6 κονντα Οίκην ονθμιαν οιοοντα ςγω ό τουναντίον οωμνος είτε Αρχέλαος εϊτ άλλος ανθρώπων δστισονν μη δίδωσι δίκην άδικων τούτω προσήκειν άθλίω είναι διαφερόντως των άλλων άνθρώπων και άεϊ τον άδικοϋντα τού άδικον μένου άθλιώτερον είναι και τον μη διδόντα δίκην τού οώοντος ον ταντ ην τα νπ εμού Αγομνα ΠΩ Λ Ναί 9 9 9 Sócrates aborda aqui ο problema moral envolvido na prática oratória nos tribunais de justiça já ressaltado pela personagem Górgias no discurso de defesa de seu ofício 4 5 6 C 4 5 7 C o uso da retórica para justificar ações injustas e nesse caso específico para evitar que se pague a pena devida Nas comédias de Aristófanes um dos alvos da sátira política sobre a democracia ateniense é precisamente o pro pósito que levaria as pessoas a buscarem instrução na arte dos discursos tekhnê logõn τέχνη λόγων junto àqueles que se propunham a ensinála É o caso da personagem Estrepsíades na comédia As Nuvens de 4 2 3 aC que busca aprender o discurso fraco identificado pela personagem com o discurso injusto no pen satório de Sócrates φροντιστήριον v 9 4 representado na peça por assim dizer como filósofo da natureza e sofista Este trecho da peça resume bem a questão e contribui para a compreensão do tipo de problema moral da prática oratória nos tribunais abordado por Platão no Górgias e s t r e p s í a d e s Dizem que eles têm dois discursos o forte seja ele qual for e o fraco Um desses discursos o fraco dizem eles GÓRGIAS 285 ao máximo no discurso Se nosso consentimento for verda deiro Polo será que percebes as consequências do argumento Ou queres que nós as recapitulemos pol Se for de teu parecer soc Não decorre porventura que a injustiça e cometer injustiça são o maior mal pol É claro soc Com efeito pagar a justa pena é manifestamente a li bertação desse mal não é pol É provável soc E não pagála a preservação do mal pol Sim soc Portanto o segundo mal em magnitude é cometer in justiça mas não pagar a justa pena quando cometida a injus tiça é naturalmente o primeiro e o maior de todos os males pol É plausível soc E não era nesse ponto meu caro que divergíamos Tu supunhas que Arquelau era feliz tendo ele cometido as maiores injustiças e jamais tendo pago a justa pena enquanto eu julgava o contrário que se Arquelau ou qualquer outro homem não a pagasse uma vez cometida a injustiça conviria que ele fosse distintamente o mais infeliz dos homens e aquele que comete injustiça fosse sempre mais infeliz do que quem a sofre e aquele que não paga a justa pena mais infeliz do que quem a paga Não era isso o que eu dizia pol Sim vence em defesa das causas mais injustas Se então aprendesses para mim o discurso injusto dessas dívidas que hoje tenho por tua causa nada pagaria nem mesmo um óbolo w 1128 ΣΤ είναι παρ αύτοϊς φασιν αμφω τώ λόγω τόν κρείττον οστις έστί και τον ήττονα τούτοιν τόν ετερον τοίν λόγοιν τον ήττονα νικάν λέγοντά φασι τάδικώτερα ήν οΰν μάθης μοι τόν άδικον τούτον λόγον à νΰν οφείλω διά σέ τούτων των χρεών ούκ αν άποδοίην ούδ αν οβολόν ούδενί 286 GÓRGIAS DE PLATÃO 480 b c d Σ ίΙ Ονκονν άποδεδεικται on αληθή ελεγετο ΓΤΩΛ Φαίνεται Σ ίΙ Ειεζτ εί ουν δή ταΰτα αληθή ω Πώλε rts η μεγάλη χρεία εστίν τής ρητορικής δει μεν γάρ δη εκ των νυν ωμολογημενων αυτόν εαυτόν μάλιστα φυλάττειν όπως μη αδικήσει tus ικανόν κακόν εςοντα ου γαρ Π ί2Λ Πάιυ γε ΣΩ Έ αν δε γε άδικήση ή αυτός ή άλλος τις ων άν κήδηται αυτόν εκόντα Ιεναι εκεΐσε οπού ως ταχιστα δώσει δίκην παρά τον δικαστήν ώσπερ παρά τον ιατρόν σπευδοντα όπως μη εγχρονισθεν το νόσημα τής άδικίας ΰπουλον την ψυχήν ποιήσει καί ανίατον ή πως λεγο μεν ω Πώλε ειπερ τα πρότερον μενει ήμΐν δμολογήματα ούκ ανάγκη ταϋτα εκείνοις οΰτω μεν συμφωνεΐν άλλως Bè μη Π Ω Λ Τ ι γάρ δή φωμεν ω Σωκρατες Σ ίΙ Έ π ι μεν άρα το άπολογεΐσθαι υπέρ τής άδικίας τής αυτόν ή γονέων ή εταίρων ή παίδων ή πατρίδος άδικουσης ου χρήσιμος ουδεν ή ρητορική ήμΐν ω Πώλε εί μή εϊ τις υπολάβοι επί τουναντίον κατηγορεΐν δεΐν μάλιστα μεν εαυτοΰ επειτα δε καί των οικείων καί των άλλων 05 άν αεί των φίλων τυγχάνη άδικων καί μή άποκρύπτεσθαι άλλ εις το φανερόν άγειν τό άδίκημα ινα δω δίκην καί υγιής γενηται άναγκάζειν τε αυτόν καί τους άλλους μή άποδειλιάν αλλα παρεχειν μυσαντα ευ και ανδρειως ώσπερ τεμνειν καί κάειν Ιατρω τό άγαθόν καί καλόν διώκοντα μή υπολογι ζόμενον τδ αλγεινόν εάν μεν γε πληγών άξια ήδικηκως ή τΰπτειν παρεχοντα εάν δε δεσμού δεΐν εάν δε ζημίας íoo Vejamos o resumo da terceira parte do argumento de Sócrates 4776747969 i Assim como o doente deve ser levado ao médico também a pessoa injusta deve ser levada ao tribunal de justiça ii e assim como o doente submetido ao tratamento médico o considera do loroso mas se submete a ele porque é benéfico também a pessoa injusta submetida à punição a considera dolorosa mas se submete a ela porque é benéfica iii e assim como o doente que não se submete ao tratamento médico é mais infeliz do que aquele que se submete a ele também a pessoa injusta que não se sub mete à punição é mais infeliz do que aquela que se submete a ela GÓRGIAS 287 soc Não está demonstrado então que se dizia a verdade p o l É claro100 soc Seja Se isso então é verdadeiro Polo qual é a gran diosa utilidade da retórica Pois a partir de nosso consenti mento vigente o homem deve sobretudo vigiar a si mesmo para não cometer injustiça pois contrairia assim um mal su ficiente Ou não p o l Com certeza soc E se ele ou qualquer outro homem que a isso se atente cometer alguma injustiça ele próprio deverá se dirigir volunta riamente aonde possa pagar o mais rápido possível a justa pena apresentandose ao juiz como a um médico zelando para que a doença da injustiça não se torne crônica e não deixe na alma uma cicatriz incurável Ou o que diremos nós Polo visto que nosso consentimento anterior persevera Não é necessário que isto dito assim lhe seja consoante e não de outra maneira p o l E o que devemos dizer então Sócrates soc Pois bem para a defesa da injustiça quer de sua própria injustiça dos parentes dos amigos dos filhos ou de sua pátria a retórica não nos é minimamente útil Polo a não ser que alguém conceba seu uso em sentido contrário devese acusar antes de tudo a si mesmo e então os familiares ou qutro amigq qualqueL sempre que se cometa alguma injustiça ao invés de ocultálo devese trazer à luz o ato injusto a fim de pagar a justa pena e se tornar saudável devese constranger a si mesmo e aos demais a não se acovardarem mas a se apresentarem de olhos cerrados correta e corajosamente como se fosse a um médico para algum corte ou cauterização en calçando o bem e o belo e não cogitando a dor101 apresentandose para ser açoitado se o ato injusto merecer o açoite para ser preso se merecer a prisão para ser punido se merecer a punição para ser iv então o homem mais feliz é aquele que não possui o mal na alma e o segundo mais feliz é aquele que se libertou do mal da alma depois de se submeter à punição v portanto o homem mais infeliz é aquele que possui o mal na alma e que não foi punido de forma justa J Beversluis op cit p 335 1 0 1 Sobre a oposição entre prazer e bem de um lado e entre dor e mal de outro cf 4 9 4 C 5 0 0 a 4 8 0 b c d 288 GÓRGIAS DE PLATÃO 481 άποτίνοντα εάν δε φνγής φενγοντα εάν δε θανάτου am θνρσκοντα αυτόν πρώτον οντα κατήγορον καί αυτου και των άλλων οικείων καί Ιπϊ τούτο χρωμενον τρ ρητορική όπως άν καταδήλων των αδικημάτων γιγνομενων άπαλλάτ τωνται του μεγίστου κακοΰ αδικίας φωμεν οίτωί η μή φωμεν ω Πώλε ΓΊΩΛ Ατοπα μεν ω Σωκρατες εμοιγε δοκέΐ τοΐς μεντοι έμπροσθεν ίσως σοι δμολογείται Σ ί2 Ουκοΰν η κάκεΐνα λυτεον η τάδε ανάγκη συμβαίνειν Π Ω Λ Ναι τοντό γε ούτως χει Σ ίΙ Τουναντίον δε γε αν μεταβαλόντα εί αρα δει τινα κακώς ποιειν ειτ εχθρόν είτε οντινονν εαν μονον μη αυτός άδικήται υπό του εχθρόν τούτο μεν γαρ ενλαβητεον εάν δε άλλον άδική ό εχθρός παντι τρόπω παρασκεναστεον και πράττοντα και λεγοντα όπως μή δω δίκην μη δε Ιλθη παρά τον δικαστήν εάν δε ελθρ μηχανητεον όπως άν διαφυγή ι μή δω δίκην ό εχθρός άλλ εάντε χρνσίον ή ήρπακως και πολύ μή αποδίδω τούτο άλλ Ιχων άναλίσκρ και εις εαυτόν καί εις τους εαυτόν αδίκως και άθεως εάντε αυ θανάτου άξια ήδικηκως ρ όπως μή άποθανεΐται μάλιστα μεν μηδέ ποτε άλλ αθάνατος εσται πονηρός ων εί δε μή όπως ώϊ πλειστον χρόνον βιώσεται τοιοΰτος ων επί τά τοιαΰτα εμοιγε δοκεΐ ω Πωλε ή ρητορική χρήσιμος είναι επεί τω γε μή μελλοντι άδικεΐν ου μεγάλη τίς μοι δοκεΐ ή χρΐία αυτής είναι ει δή καί εστιν τις χρεία ως εν γε τοις πρόσθεν ουδαμρ εφάνη ουσα b 102 102 Sócrates retoma a discussão sobre a retórica reavaliando sua função depois das conclusões alcançadas sobre o valor da justiça e da injustiça para a alma dos ho mens Apoiado na convicção na verdade de suas inferências Sócrates pretende mostrar a Polo que se cometer injustiça é pior do que sofrêla se a injustiça é o maior mal da alma e se libertar dela é beneficiála e se pagar a justa pena é o modo de livrála desse mal então a retórica seria útil nas seguintes circunstâncias i para ajudar a condenar parentes e amigos uma vez tendo eles cometido injustiça se o intuito é beneficiálos e ii para ajudar a livrar os inimigos da justa punição se o intuito é prejudicálos Para Polo embora tenha assentido nas premissas do argumento conduzido dialogicamente por Sócrates tais conclusões são absurdas άτοπα 48oet ou seja paradoxais segundo o que pensa a maioria das pessoas Porém o pathos de Polo diante dessas conclusões é GÓRGIAS 2 8 9 exilado se merecer o exílio para ser morto se merecer pena de morte devese ser o primeiro a acusar a si próprio e aos demais familiares e utilizar a retórica com este escopo a fim de que uma vez fulgidos os atos injustos cometidos se livrem do maior mal da injustiça Devemos ou não devemos falar assim Polo p o l I sso me parece um absurdo Sócrates Todavia talvez e concorde com o que dizias anteriormente soc Então devemos suprimilo ou isso é consequência necessária p o l Sim é isso o que sucede soc Mas mudemos para a situação inversa pois bem se al guém deve fazer mal a um inimigo ou a quem quer que seja quando apenas ele não tenha sofrido alguma injustiça por parte desse inimigo é preciso se precaver contra isso embora outra pessoa a tenha sofrido ele deve se dispor de todos os meios quer em ações quer em palavras para que o inimigo não pague a justa 481 pena e não se apresente ao juiz contudo caso o inimigo se lhe apresente ele deve buscar algum subterfúgio para que ele fuja e não pague a justa pena se o inimigo tiver furtado certa soma de ouro para que ele não a restitua mas portea consigo e despendaa em seu próprio interesse e de seus comparsas injusta e impiamente se por sua vez seu delito merecer a pena de morte para que o inimigo não seja morto ou melhor jamais morto e que seja imortal ainda que vicioso se não for o caso para que o inimigo sobreviva o maior tempo possível sendo como ele é É em tais circunstân b cias Polo que a retórica pareceme ser útil visto que para quem não pretende cometer injustiça ela não me parece de grande uti lidade caso haja deveras alguma utilidade pois na discussão an terior ela não se manifestou em nenhuma instância102 causado propositalmente por Sócrates pois ele não se refere a uma outra circunstância em que a retórica também seria útil conforme o princípio da justiça para evitar que uma pessoa seja condenada injustamente Nesse caso a conclusão seria menos absurda aos olhos de Polo e estaria de acordo com o argumento Porém como a discussão com Polo é marcada pelo comportamento acentuadamente jocoso e irônico de Sócrates fazendo ressaltar a todo momento as debilidades morais e intelectuais da personagem é natural que o 2a Ato do diálogo termine com o embaraço completo do interlocutor 290 GÓRGIAS DE PLATÃO ΚΑΛ Είπε μοι ω Χαιρεφών σπουδάζει ταντα Σωκράτης η παίζει ΧΑΙ Έμοί μεν δοκεΐ ω Καλλίκλεις υπερφυών σπού δαζαν ουδεν μεντοι οΐον το αυτόν έρωταν ΚΑΛ Ν roòs θεούς άλλ επίθνμω είπε μοι ω Σώ ο κρατες πότερόν σε θωμεν νννϊ σπονδάζοντα η παίζοντα εΐ μεν γαρ σπουδάζεις τε και τυγχάνει ταϋτα άληθη όντα ά λεγεις άλλο τι η ημών ό βίος άνατετραμμενος άν ειη των αν θρωπων και παντα τα εναντία πραττομεν cos εοικεν η α Οει Σ Ά íl Καλλίκλεις εί μη τι ην τοΐς άνθρωποις πάθος τοΐς μεν Άλλο τι τοΐς δε Άλλο τι η το αυτό αλλά τις ημών ίδιάν τι επασχεν πάθος η οι Άλλοι ουκ αν ην ρόδιον d ενδείζασθαι τω ετερω το εαυτόν πάθημα λέγω δ εννοησας Άτι εγώ τε και συ νυν τυγχάνομεν ταυτόν τι πεπονθότες ερώντε δυο οντε δνοΐν εκάτερος εγω μεν Άλκιβιάδου τε του Κλεινίου και φιλοσοφίας συ δε δνοΐν του τε Άθη 103 Ο retorno de Cálicles à cena é marcado pela mudança de seu estado de ânimo diante da conduta de Sócrates na discussão com Polo Se na abertura do diá logo ele admoesta Sócrates por chegar atrasado à exibição epideixis de Górgias 447ab e em sua segunda intervenção manifesta deleite perante o debate entre Sócrates e Górgias 458d Cálicles ao assumir agora a função de interlocutor prin cipal expressa uma profunda desconfiança sobre a seriedade do protagonista que culminará com a invectiva contra a filosofia e o filósofo 485a486d 104 Alcibíades aparece como personagem em alguns diálogos de Platão Pro tágoras Banquete Alcibíades Primeiro e Segundo referido comumente como amante de Sócrates Na História da Guerra do Peloponeso Tucídides salienta sua importante e conturbada participação como general militar junto a Nícias e Lâmaco na cam panha de Atenas contra a Sicília em 415 aC 68 Alcibíades segundo Tucídides foi acusado de ter participado da ação sacrílega que mutilou as hermas de mármore existentes em Atenas 62829 pouco antes da partida da expedição naval Como ele já se encontrava na Sicília foi expedida uma nau para buscálo e trazêlo de volta a Atenas de modo que ele pudesse se defender de tal acusação 653 Mas ele con seguiu fugir durante a viagem 661 e acabou se exilando em Esparta passando a colaborar com os que outrora eram seus inimigos 688 Posteriormente em 411 aC foi chamado de volta do exílio pelos atenienses para comandar as tropas na ilha de Samos 88182 e em seguida aceito novamente em Atenas 897 Sua morte todavia não é referida por Tucídides na medida em que sua narração da guerra entre Atenas e Esparta é interrompida nos eventos do ano de 411 aC embora seu projeto inicial fosse narrála em sua completude até a derrota de Atenas em 404 aC A referência à sua morte em 404 é feita por Plutarco séc 1 dC na obra dedicada a Alcibíades ele teria sido assassinado na Frigia onde se encontrava sob a proteção do sátrapa Farnábazo por ordem do lacedemônio Lisandro que havia instituído GÓRGIAS 291 cal Dizeme Querefonte Sócrates fala sério ou está de brincadeira103 que Pareceme Cálicles que ele fala com uma seriedade soberba mas nada como tu a lhe perguntar cal Sim pelos deuses almejo fazêlo Dizeme Sócrates devemos considerar que nesse momento falas com seriedade ou estás de brincadeira Pois se falas sério e tuas palavras são verdadeiras a vida de nós homens não estaria de pontacabeça e não estaríamos fazendo como parece tudo ao contrário do que deveríamos fazer soc Cálicles se os homens não experimentassem a mesma paixão mas cada um a que lhe é própria e se cada um de nós tivesse uma paixão particular que os outros não tivessem não seria fácil mostrar a outrem aquela que lhe é própria Digo isso pensando que tanto eu quanto tu experimentamos hoje a mesma paixão cada um de nós tem dois amantes eu Alcibía des filho de Clínias104 e a filosofia e tu outros dois o demo cm Atenas depois de sua derrota frente a Esparta o goveno conhecido como os Trinta Tiranos Alcibíades 3839 Essa íntima relação entre Sócrates e Alcibíades ilustrada por Platão nos diálogos é vista como algo moralmente problemático por Xenofonte nas Memorá veis tendo em vista o contraste entre o exemplo de virtude moral representado pela figura de Sócrates e as ações imorais e politicamente nocivas a Atenas imputadas a Alcibíades Xenofonte na tentativa de justificar a relação de Sócrates com Alci bíades e Crítias um dos integrantes do governo dos Trinta Tiranos argumenta que enquanto eles conviviam com ele ambos se comportavam virtuosamente Me moráveis 1218 122426 mas depois de se afastarem de Sócrates passaram a se comportar tanto na vida pública como na privada de maneira insolente e desme dida O trecho abaixo das Memoráveis sintetiza bem a descrição de Xenofonte com relação à figura de Alcibíades Alcibíades por sua vez era caçado por inúmeras mulheres ilustres devido à sua beleza e por causa de seu poder na cidade e junto a seus aliados era exaurido por muitos homens hábeis em lisonjear além disso era estimado pelo povo e es lava sempre em primeiro lugar sem esforço assim como os atletas das competições esportivas descuram dos exercícios quando sem esforço são os primeiros também Alcibíades descurou de si próprio 1224 Αλκιβιάδης δ αύ διά μέν κάλλος ΰπό πολλών και σεμνών γυναικών Οηρώμενος διά δύναμιν δέ τήν έν τη πόλει και τοίς συμμάχοις ΰπό πολλών και δυνατών κολακεύειν άνθρώπων διαθρυπτόμενος ύπό δέ τοϋ δήμου τιμώμενος και ήμδίως πρωτεύων ώσπερ οί τών γυμνικών αγώνων άθληται ραδίως πρωτεύοντες Λμι λοϋσι τής άσκήσεως οϋτω κάκεΐνος ήμέλησεν αύτοϋ 292 GÓRGIAS DE PLATÃO e 482 ναίων δήμον και του ΤΙυριλάμπονς αισθάνομαι ονν σου εκάστοτε καίπερ οντος δεινού οτι άν φή σου τα παιδικά και όπως αν φή εχειν ον δνναμενον άντιλεγειν άλλ άνω και κάτω μεταβαλλόμενου V τε τη εκκλησία εάν τι σου λεγοντος 6 δήμος δ Αθηναίων μη φή όντως εχειν μετα βαλλόμενος λεγεις ά εκείνος βούλεται και προς τον Υίνρι λάμπονς νεανίαν τον καλόν τούτον τοιαΰτα ετερα πεπονθας τοΐς γάρ των παιδικών βονλεύμασίν τε και λόγοις ονχ οΐός τ εΐ εναντιούσθαι ώστε ει τίς σου λεγοντος εκάστοτε ά διά τούτους λεγεις θανμάζοι ως άτοπά εστιν ίσως εΐποις άν αυτω εί βούλοιο τάληθή λεγειν ότι εί μη τις παύσει τά σά παιδικά τούτων των λόγων ονδε συ παύση ποτέ ταντα λεγων νόμιζε τοιννν και παρ εμού χρηναι ετερα τοιαυτα άκούειν και μή θαύμαζε οτι εγίο ταντα λέγω αλλά την φιλοσοφίαν τά εμά παιδικά πανσον ταντα λεγουσαν εστιν των ετερων παιδικών πολύ ήττον εμπληκτος δ μεν γάρ Κλει νίειος οντος άλλοτε άλλων εστι λόγων ή δε φιλοσοφία άει 105 105 Sócrates faz um jogo com a palavra dêmos δήμος que significa povo mas que é também usada como nome próprio Demo Δήμος no caso aqui filho de Pirilampo Ele alude assim ao envolvimento de Cálicles com as ações políticas de Atenas por meio de uma metáfora erótica comparando sua relação afetiva com Demo à sua aspiração pelo poder no contexto da democracia ateniense veja a referência à Assembleia instituição soberana desse tipo de constituição política 48iei A beleza de Demo é referida por Aristófanes na comédia As Vespas de 422 aC E por Zeus se ele vir escrito na porta Demo belo filho de Pirilampo ele vem e escreve ao lado Cerno belo και νή Δί ήν ϊδη γέ που γεγραμμένον τό του Πυριλάμπους έν θύρα Δήμος καλός ιών παρέγραφε πλησίον Κημός καλός ν 9799 Segundo Lísias em uma de suas orações 1925 ele serviu como trierarca em Chipre Demo filho de Pirilampo quando era trierarca em Chipre pediu que eu procurasse Aristófanes e lhe dissesse que havia recebido do Grande Rei uma urna de ouro como garantia Δήμος γάρ ό Πυριλάμπους τριήραρχων εις Κύπρον έδεήθη μου προσελθειν αύτφ λέγων οτι ελαβε σύμβολον παρά βασιλέως τού μεγάλου φιάλην χρυσήν Em um dos fragmentos da comédia de Êupolis de 421 aC Πόλεις fr 213 K Demo é chamado metaforica mente de estúpido será que há cera nos ouvidos de Demo filho de Pirilampo GÓRGIAS 2 3 de Atenas eDem p filho de Pirilampo105 Em toda e qualquer ocasião percebo que tu embora sejas prodigioso não conse gues contradizer o que quer que teus amantes digam ou sus tentem mudando de posição ora aqui ora ali Na Assembleia se o demo de Atenas disser que teu discurso não procede tu mudas de posição e dizes o que ele quer por esse jovem e belo filho de Pirilampo és afetado de modo similar Pois não con segues te opor às decisões e aos discursos de teus amantes de modo que a alguém estupefato com o disparate que a todo momento dizes por causa deles tu talvez lhe dirias caso qui sesses falar a verdade que a menos que alguém impeça teus amantes de proferirem tais discursos tu jamais deixarás de proferilos Pois bem considera que também de mim deverás ouvir coisas do gênero e não te assombres que seja eu a dizer isso mas impede antes a filosofia minha amante de dizêlo106 Ela diz meu caro amigo o que ouves de mim agora e ela me é muito menos volúvel do que meu outro amante pois Alcibía des filho de Clínias profere discursos diferentes em diferentes και τψ Πυριλάμπους άρα Δήμω κυψέλη ένεστιν Por uma referência de Antifonte fr 57 Blass apud Ateneu 397cd depreendese que Demo manteve por vários anos uma criação de aves iniciada pelo pai quando trouxe de uma embaixada na Pérsia um par de pavões D Nails op cit p 124125 E Dodds op cit p 261 Sobre a sátira da relação erótica entre político democrático e o povo ou grosso modo do amor do político pelo poder ver Aristófanes Os Cavaleiros w 725811 106 A identificação de Sócrates com a filosofia tem como contraponto a iden tificação de Cálicles com a política democrática de Atenas de um lado o discurso unívoco do filósofo que sempre diz as mesmas coisas sobre os mesmos assuntos coerência própria de quem busca o conhecimento e de outro o discurso volúvel do político cujas opiniões variam de acordo com as circunstâncias e com as expectati vas do público ao qual se volta ou seja o corpo da Assembleia democrática Nessa breve caracterização da personagem Cálicles percebese então que se trata do con fronto de Sócrates representante máximo da filosofia com Cálicles representante dos políticos os quais são referidos na Apologia de Sócrates 2ibd como uma das classes dos pretensos sábios cujo conhecimento Sócrates punha à prova através de seu método de inquirição o elenchos cf infra nota 215 294 GÓRGIAS DE PLATÃO b των αυτών λεγει δε a συ νυν θαυμάζεις παρήσθα δε και αυτός λεγομενοις η ουν εκείνην εςελεγξον οπερ άρτι ίλεγον ως ου το άδικείν εστιν και άόικοΰντα δίκην μη δι δόναι απάντων έσχατον κακών η εΐ τούτο εάσεις ανέλεγκτον μα τον κύνα τον Αιγυπτίων θεόν ου σοι ομολογήσει Καλ λικλής ω Καλλίκλεις άλλα διαφωνήσει εν άπαντι τω βίω καίτοι εγωγε οϊμαι ω βέλτιστε καί την λύραν μοι κρεΐττον είναι ανάρμοστου τε καϊ διαφωνεϊν και χορδν ω χορηγοίην c και πλείστους ανθρώπους μή δμολογεϊν μοι αλλ εναντία λεγειν μάλλον ή ενα δντα εμε εμαυτω άσυμφωνον είναι και εναντία λεγειν ΚΑΛ ί2 Σώκρατες δοκεΐς νεανιενεσθαι εν τοΐς λόγοις ως αληθώς δημηγόρος ώ ν καί νυν ταΰτα δημηγορείς ταίιτον παθόντος Πώλου πάθος οπερ Τοργίου κατγόρει προς σε παθεΐν εφη γάρ που Τοργίαν ερωτώμενον υπό σου εάν άφίκηται παρ αυτόν μή επιστάμενος τα δίκαια ό την ρητο d ρικήν βουλόμενος μαθεΐν εί διδάξοι αυτόν δ Τοργίας αίσχυνθήναι αυτόν και φάναι διδάζειν διά το ίίθος των αν θρώπων ότι άγανακτοίεν άν εί τις μή φαίη διά δή ταύτην τήν ομολογίαν άναγκασθήναι εναντία αυτόν αιτώ είπεΐν 107 107 No diálogo Alcibíades Primeiro em que Alcibíades é representado dra maticamente na flor de sua juventude Sócrates expressa seu temor pela sorte do amigo conjeturando seu iminente envolvimento com a política ateniense como fica evidente neste trecho soc Pois bem eis a razão somente eu sou teu amante ao passo que os demais o são de tuas coisas e enquanto elas perdem seu frescor tu começas a florescer E da qui em diante se o povo de Atenas não te corromper e tu não vieres a ser motivo de vergonha possa eu não te abandonar Esse é deveras meu maior medo que te tornes amante do nosso povo e sejas assim corrompido Pois inúmeros atenienses homens bons tiveram essa sorte De fato o povo do magnânimo Erecteu possui belo vulto mas é preciso contemplálo desnudado Então toma a precaução a que me refiro i3ieioi32a5 ΣΩ Τοϋτο τοίνυν αίτιον ότι μόνος εραστής ήν σός οί δ άλλοι τών σών τα δέ σά λήγει ώρας σύ δ αρχή άνθεΐν και νϋν γε αν μή διαφθαρής ύπό τού Αθηναίων δήμου και αίσχίων γένη ού μή σε άπολίπω τοϋτο γάρ δή μάλιστα GÕRGIAS 2 9 5 ocasiões107 ao passo que a filosofia sempre diz as mesmas coisas b e ela diz o que agora te assombras tu próprio estavas ali presente em seu pronunciamento Então dirigindote a ela refuta o que há pouco eu dizia que cometer injustiça e uma vez cometida não pagar a justa pena são dentre todos os males os mais extremos Caso contrário se te eximires de refutála pelo deuscão dos Egíp cios Cálicles discordará de ti ó Cálicles e dirá coisas dissonantes por toda a vida108 Aliás ao menos eu julgo excelente homem que é melhor que minha lira ou o coro do qual sou corego seja desafinada e dissonante e que a maioria dos homens não concorde c comigo e afirme o contrário do que digo do que eu sendo um só dissone de mim mesmo e diga coisas contraditórias109 cal Sócrates tuas palavras têm ares de insolência juvenil como se fosses um verdadeiro orador público110 e ages como tal porque Polo experimentou a mesma paixão que segundo a sua própria acusação Górgias havia experimentado contigo Polo dizia que quando tu perguntaste a Górgias se ele ensina ria a pessoa que querendo aprender a retórica lhe procurasse d sem conhecer o justo Górgias ficou envergonhado e afirmou que o ensinaria devido ao costume dos homens pois se enfu receriam caso afirmasse o contrário e dizia que por causa desse consentimento ele foi constrangido a dizer coisas contrárias έγώ φοβούμαι μή δημεραστής ήμιν γενόμενος διαφθαρής πολλοί γάρ ήδη καί άγαθοί αύτό πεπόνθασιν Αθηναίων ευπρόσωπος γάρ ό τού μεγαλήτορος δήμος Ερεχθέως άλλ άποδύντα χρή αυτόν θεάσασθαι εύλαβοϋ οΰν τήν εύλάβειαν ήν έγώ λέγω ιο8 Essa afirmação de Sócrates está ancorada por um lado na convicção da verdade de sua tese moral cometer injustiça é tanto pior quanto mais vergonhoso do que sofrêla ainda que ela entre em conflito com a opinião da maioria dos ho mens πλείστους ανθρώπους 482cr e por outro no fato de Polo não ter obtido sucesso na tentativa de refutála Nesse sentido enquanto essa tese permanecer ir refutável Sócrates pode considerála universalmente válida de modo que Cálicles deverá necessariamente reconhecêla a menos que ele a refute Caso contrário ele sustentará duas opiniões contraditórias 109 Sobre a metáfora da harmonia musical ver Platão República 462a 110 A imputação de orador público δημηγόρος 4 8 2 C 5 feita por Cálicles é aceita por Sócrates adiante na discussão cf 5i9d 296 GÓRGIAS DE PLATÃO σε ύε αυτό τούτο αγαπάν καί σον καταγελάν ως γε μοι δοκεΐν όρθώς τότε νυν δε πάλιν αυτός ταυτόν τοντο ετταθεν και εγωγε κατ αυτό τούτο ουκ άγαμα ι Πώλον οτι σοι σννεχωρησεν το άδικείν αισχιον είναι του αδικεϊσθαι έκ e ταυτής γάρ αυ τηί ομολογίας αυτός υπό σου σνμποδισθείς εν rois λόγοις επεστομίσθη αίσχννθεις h ενοει είττείν συ γάρ τω δντι ώ Σωκρατες εις τοιαϋτα άγεις φορτικά και δημηγορικά φάσκων την αλήθειαν διώκειν â φύσει μεν ονκ εστιν καλά νόμω δε ώΐ τα πολλά δε ταντα έναντι άλλήλοις εστίν ή τε φνσις και 6 νόμος εάν ουν tis αίσχν 483 νηται καί μή τολμά λεγειν άττερ νοεί Αναγκάζεται εναντία λεγειν ο δή και συ τοντο το σοφόν κατανενοηκως κακουρ γείς εν τοίς λόγοις εάν μεν τις κατά νόμον λεγη κατά φνσιν ύπερωτων εάν δε τά τής φνσεως τά του νόμου u i Na perspectiva de Cálicles Górgias teve vergonha de dizer o que realmente pensa ou faz ou seja que ele não ensina o justo e o injusto a seus discípulos por que se assim o fizesse seria uma sentença anunciada de imoralidade uma afronta àquela classe de atenienses hostis ao ofício dos sofistas em geral e dos rétores em particular os quais por sua vez estavam na condição de estrangeiros naquela ci dade Kilui op cit p 8o 8 i Cálicles se refere a um tipo de exigência moral da sor iedade ateniense devido ao costume dos homens διά τό έθος τών ανθρώπων Hidi i em relação à prática educativa dos sofistas confrangido por essa exigência expressa pelo sentimento de vergonha o consentimento de Górgias não seria senão o reconhecimento dos valores morais daquela sociedade ainda que não condizesse com a sua verdadeira prática enquanto mestre de retórica Pois seria conveniente a Górgias naquele contexto dialógico específico admitir aquilo que não influenciasse negativamente a sua reputação doxa ou que pudesse lhe acarretar ódio e ressen timento ainda que houvesse contradição entre o seu discurso e as suas ações para usar a dicotomia λόγω εργω comum ao pensamento ético grego 112 Cálicles atribui à derrota de Polo a mesma causa que o próprio Polo havia entendido como motivo da refutação de Górgias o constrangimento provocado pelo sentimento de vergonha αίσχυνθείς 482e2 que impede o interlocutor de dizer o que realmente pensa Em última instância Cálicles entende que a eficácia do elenchos socrático se deve antes a esse elemento passional provocado pela própria natureza da discussão ou seja sobre questões morais do que propriamente à verdade do argumento de Sócrates legitimado pelo rigor lógico Vejamos a estrutura formal da refutação de Polo 4740447566 i É pior sofrer injustiça do que cometêla GÓRGIAS 297 a si mesmo e que era precisamente isso o que te aprazia e naquela ocasião Polo riu de ti corretamente como me parece111 Mas agora em contrapartida ele próprio experimentou essa mesma paixão É por essa razão que não admiro Polo porque concordou contigo que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla a partir desse consentimento por sua vez teve e os pés por ti atados na discussão e fechou o bico com vergonha de dizer o que pensa112 Tu na verdade Sócrates sob a alegação de que encalças a verdade te envolves com essas coisas típicas da oratória vulgar as quais não são belas por natureza mas pela lei Pois na maior parte dos casos natureza e lei são contrárias entre si de modo que se alguém envergonhado não ousar di zer o que pensa será constrangido a dizer coisas contraditórias 483 E tu ciente desse saber és capcioso na discussão se alguém fala sobre a lei tu lhe perguntas subrepticiamente sobre a natureza e se ele fala sobre a natureza tu tornas a lhe perguntar sobre a ii m a s é m a is v e r g o n h o s o c o m e tê la d o q u e so frê la iii o crité rio p a ra ju lg a r se as co isa s sã o b e la s o u n ã o é p o rq u e sã o ú teis o u p o rq u e p ro v e e m ce rto p ra ze r p a ra q u e m as co n te m p la iv p o rta n to se a lg u é m ju lg a q u e u m a co is a é m a is b e la d o q u e a o u tra é p o rq u e e la a su p e ra e m u m o u e m a m b o s o s c r ité rio s o u seja p o rq u e ela é m a is b e n é fic a e o u m a is a p ra zível v d a m e sm a fo rm a se a lg u é m ju lg a u m a co isa m a is v e r g o n h o s a d o q u e a o u tra é p o rq u e ela a su p e ra e m d o r eo u e m m al v i a q u e le q u e c o m e te in ju stiça n ã o su p e ra e m d o r a q u e le q u e a so fre v ii m a s ele o su p e ra e m m al v iii p o rta n to n a m e d id a e m q u e co m e te r in ju stiça su p e ra e m m a l o so frêla é p io r c o m e te r d o q u e so frê la ix v is to q u e P o lo c o n c o r d o u q u e c o m e te r in ju stiça é m a is v e r g o n h o s o d o q u e s o frê la ele d e v e e n tã o o u p re fe rir u m m a l e u m a v e r g o n h a m a io re s d o q u e m e n o re s o u a d m itir q u e c o m e te r in ju stiça é ta m b é m p io r d o q u e co m e tê la x ele n ã o p re fe ria u m m a l e u m a v e rg o n h a m a io re s d o q u e m en o res xi portanto ele deve admitir que cometer injustiça é pior do que sofrêla J Beversluis op cit p 329330 C á lic le s e n te n d e q u e se P o lo re fiz e sse su a s p o s iç õ e s e a ssu m is s e as su a s p ró p ria s o p in iõ e s a d iscu ssã o te ria o u tra o rie n ta çã o O u se ja se P o lo n ã o tive sse c o n c e d id o a S ó c ra te s a d is ju n ç ã o en tre bem e mal d e u m la d o e belo e vergonhoso d e o u tro e a ssu m id o q u e c o m e te r in ju stiça é ta n to p io r q u a n to m a is v e rg o n h o s o d o q u e s o frê la c o m o C á lic le s se p ro p o rá a fa z e r ta lv e z S ó c ra te s n ã o tive sse o r e fu ta d o c o m o o refu to u 298 GÓRGIAS DE PLATÃO ωσπΐρ αύτίκα V τούτοις τώ άδικίΐν τ καί τώ άδικΐσθαι Πώλου τό κατα νόμον αίσγμον λέγοντος συ τον λόγον διωκαθίί κατα φνσιν φυσά μέν γαρ παν αισχών στιν όπρ καί κάκιον το άδικάσθαι νόμω δέ το άδικΐν ουδέ γαρ άνδρός τοΰτό γ έστίν το πάθημα το άδικΐΐσθαι άλλ ανδραπόδου τίνος ω κρύττόν στιν Τθνάναι η ζην οστις άδίκούμζνος καί προπηλακιζόμνος μη οΐός τέ στιν αυτός αΰτώ βοηθίΐν μηδ αλλω ου αν κηδηται αλλ οΐμαί οί τιθμνοί τους νόμους οί άσθνΐς άνθρωποί Ισιν καί οί πολλοί προς αυτους ουν καί τό αΰτοΐς συμφέρον τους τ νόμους τίθίνται καί τους παίνους παινουσιν καί τους ψόγους ψέγονσιν κφοβοΰντς τουϊ ρρωμνστέρους των b C 113 Aristóteles comenta essa passagem do Górgias nas Refutações Sofisticas Um tópico de grande apelo é fazer com que se pronuncie paradoxos como faz Cálicles na descrição do Górgias a respeito do que é segundo a natureza e do que é segundo a lei e como todos os antigos acreditavam que assim procedesse Eles presu miam que lei e natureza são contrárias e que a justiça segundo a lei é bela mas segundo a natureza não Então perante alguém que fala com referência à natureza é preciso se dirigir à lei e perante alguém que fala com referência à lei se voltar para a natureza Em ambos os casos a consequência é que ele profira paradoxos Para eles o que concerne à natureza era verdadeiro e o que concerne à lei era o parecer da maioria dos homens Por conseguinte é evidente que aqueles antigos assim como os contemporâneos buscavam refutar ou fazer com que pronunciasse paradoxos aquele que responde 1733718 Πλεΐστος δέ τόπος έστι τοϋ ποιειν παράδοξα λέγειν ώσπερ καί ό Καλλικλής έν τώ Γοργία γέγραπται λέγων καί οί αρχαίοι δε πάντες φοντο συμβαίνειν παρά τό κατά φύσιν και κατά τον νόμον εναντία γάρ είναι φύσιν και νόμον και τήν δικαιοσύνην κατά νόμον μέν είναι καλόν κατά φύσιν δ ού καλόν δει ούν προς μέν τον είπόντα κατά φύσιν κατά νόμον απαντάν προς δέ τον κατά νόμον έπι τήν φύσιν αγειν άμφοτέρως γάρ συμβαίνει λέγειν παράδοξα ήν δέ τό μέν κατά φύσιν αύτοΐς τό άληθές τό δέ κατά νόμον τό τοΐς πολλοΐς δοκοϋν ώστε δήλον ότι κάκεϊνοι καθάπερ και oi νυν ή έλέγξαι ή παράδοξα λέγειν τον άποκρινόμενον έπεχείρουν ποιεϊν ιΐ4 Cálicles não entende a vergonha como única causa da refutação de Polo mas percebe concomitantemente que Sócrates utiliza um recurso típico da técnica erística para refutálo o jogo com o referencial semântico dos termos envolvidos na demonstração do argumento bem e mal belo e vergonhoso A avaliação de Cá licles é mais profunda do que a de Polo U6ibc quanto à estratégia argumentativa de Sócrates Ele acusa o filósofo de usar deliberadamente ciente desse saber τούτο τό σοφόν κατανενοηκώς 4832 a técnica de gerar uma contradição aparente ou uma contradição verbal em oposição à contradição genuína como propõe J Gentzler The Sophistic CrossExamination of Cálicles in the Górgias Ancient Philosophy p 21 a partir da ambiguidade semântica dos referenciais natureza phusis φύσις GÓRGIAS 299 lei113 Por exemplo na discussão anterior concernente a come ter e sofrer injustiça Polo falava do que era mais vergonhoso segundo a lei mas teu discurso encalçava o que era vergonhoso segundo a natureza114 Pois segundo a natureza tudo o que é mais vergonhoso também é pior ou seja sofrer injustiça ao passo que segundo a lei é cometêla Pois sofrer injustiça não b é uma afecção própria do homem mas de um escravo cuja morte é preferível à vida incapaz quando injustiçado e ultra jado de socorrer a si mesmo ou a alguém por quem zele Eu todavia julgo que os promulgadores das leis são os homens fracos e a massa Assim em vista de si mesmos e do que lhes é conveniente promulgam as leis e compõem os elogios e os vi tupérios Amedrontando os homens mais vigorosos e aptos a c e lei nomos νόμος Cálicles dissolviria a contradição de Polo se reconstituísse a estrutura silogística do argumento tendo como referência o bem e o mal o belo e o vergonhoso segundo a natureza kata phusin κατά φύσιν e reformulando aquelas premissas segundo a lei kata nomon κατά νόμον a saber as premissas ii e vii cf supra notas 112 e 113 i É pior sofrer injustiça do que cometêla ii é mais vergonhoso sofrêla do que cometêla iii o critério para julgar se as coisas são belas ou não é ou porque são úteis ou porque proveem certo prazer para quem as contempla iv portanto se alguém julga que uma coisa é mais bela do que a outra é porque ela a supera em um ou em ambos os critérios ie porque ela é mais bené fica eou mais aprazível v da mesma forma se alguém julga uma coisa mais vergonhosa do que a outra é porque ela a supera em dor eou em mal vi aquele que comete injustiça não supera em dor aquele que a sofre vii tampouco ele o supera em mal viii Portanto na medida em que sofrer injustiça supera em mal 0 cometêla é pior sofrer do que cometêla Na perspectiva de Cálicles a demonstração de Sócrates não procede porque entre as premissas i e ii há o deslocamento do referencial semântico dos termos en volvidos ou seja a primeira com relação à natureza e a segunda com relação à lei Ele considera que a investigação de Sócrates buscava o bem e o mal o belo e o vergonhoso segundo a natureza mas que a demonstração do argumento tinha como referência o que é prescrito pela lei O juízo de Cálicles coloca sob suspeita portanto a seriedade de Sócrates como interlocutor no diálogo se Sócrates usa capciosamente essa técnica tipicamente erística aquela sua pretensa justificativa de que o elenchos visa a verdade seria enganosa seria mero pretexto que encobriria a sua verdadeira motivação na discussão a saber simplesmente refutar o interlocutor independente da verdade da conclusão Sobre o tipo de argumentação erística ver o diálogo Eutidemo 300 GÓRGIAS DE PLATÃO ανθρώπων καί δυνατόνs õvras πλέον έχειν tVa μη αυτών πλέον έχωσιν λέγονσιν ώϊ αισχρόν και άδικον το πλΐον κτΐν καί τοντό έστιν το àòineiv το πλέον των άλλων ζητέϊν έχειν αγαπώσι yap οΐμαι αυτοί αν το tcrov έχωσιν φαυλότεροι õvTes δια ταΰτα δη νόμω μεν τούτο άδικον και αισχρόν λέγεται το πλέον ζητάν εχειν των πολλών και άδικεϊν αυτό καλοϋσιν η δέ γε οιμαι φνσις αυτή αποφαίνει d αυτό οτι δίκαιόν έστιν τον αμείνω τον χείρονος πλέον εχειν και τον δυνατώτερον του άδννατωτέρου δηλοϊ δέ ταΰτα πολλαχοΰ ότι ovrcos έχει και έν to is άλλου ζωοι καί των ανθρώπων έν δλαυ ταυ π όλε σι καί του γένεσιν οτι οντω το δίκαιον κεκριται τον κρειττω τον ηττονος αρχειν καί πλέον εχειν έπεί ποίω δικάιω χρώμΐνος Ξέρζηί έπί ιΐ5 No Livro ι da História da Guerra do Peloponeso Tucídides narra o debate acontecido em Esparta entre os embaixadores de Corinto e os de Atenas sobre a legi timidade do exercício do poder hegemônico arkhê άρχή dos atenienses no con texto que precede imediatemente o início da guerra em 431 aC 6188 Os termos que regem esse debate são similares aos usados por Cálicles neste discurso no Górgias envolvendo os conceitos de justiça lei força natureza escravidão liberdade equanimidade interesse Sendo assim é possível por meio de uma análise inter textual compreender a reflexão da personagem Cálicles sobre a natureza política do homem tendo em vista esse contexto do debate vigente na segunda metade do séc v aC sobre o exercício da arkhê άρχή na relação entre as cidades πόλεις ou seja se Cálicles propõe uma tese de caráter universal sobre a natureza política do homem em Tucídides podemos ver como esse tipo de reflexão se aplicava particularmente às relações de poder entre as cidades Em resposta às acusações dos coríntios de que Atenas a cidade mais forte e detentora da hegemonia agia de forma injusta pois es cravizava as cidades mais fracas por meio da força ήδίκουν δεδουλωμένους βία 6834 os embaixadores atenienses recorrem ao seguinte argumento Assim nenhuma de nossas ações é assombrosa tampouco em conflito com o comportamento humano uma vez que aceitamos o poder que nos foi transmitido e o qual não recusamos se vencidos por força maior honra medo e benefício Nem fomos nós os primeiros a tomar tal iniciativa mas o mais fraco ser dominado pelo mais forte é algo que sempre prevaleceu Nós nos consideramos dignos de tal condição e vós concor dáveis com isso até o momento atual em que tendo em mente vossos interesses recorreis ao discurso justo o qual ninguém proporia diante da possibilidade de se conquistar algo pela força abrindo mão assim do acúmulo de posses E merecem elogios aqueles que mesmo recorrendo à natureza humana a fim de exercer o poder sobre outros venham a ser mais justos do que as expectativas que se tem do poder que lhes cabe 17623 οϋτως οϋδ ήμεΐς θαυμαστόν ούδέν πεποιήκαμεν ούδ άπό τοϋ άνθρωπείου τρόπου εί αρχήν τε διδομένην έδεξάμεθα και ταΰτην μή άνεΐμεν ύπό τριών των μεγίστων νικηθέντες τιμής και δέους καί ώφελίας ούδ αύ πρώτοι τοϋ τοιούτου ύπάρξαντες άλλ αίει καθεστώτος τον ήσσω ύπό τοϋ δυνατωτέρου κατείργεσθαι GÓRGIAS 301 possuir mais eles dizem a fim de que estes não possuam mais do que eles que é vergonhoso e injusto esse acúmulo de posses e que cometer injustiça consiste na tentativa de possuir mais do que os outros pois visto que são mais débeis eles prezam julgo eu ter posses equânimes115 Eis porque a lei diz que a tentativa de possuir mais do que a massa é injusta e vergonhosa denomi nandoa cometer injustiça mas a própria natureza julgo eu re vela que justo é o homem mais nobre possuir mais que o pior e o mais potente mais do que o menos potente116 Está em toda parte tanto entre os animais quanto entre os homens de todas as cidades e estirpes a evidência de que esse é o caso de que o justo é determinado assim o superior domina o inferior e possui mais do que ele117 Pois respaldado em qual justiça Xerxes co mandou o exército contra a Hélade ou seu pai contra a Cítia118 άξιοι τε άμα νομίζοντες είναι καί ΰμίν δοκοϋντες μέχρι ού τα ξυμφέροντα λογιζόμενοι τφ δικαίω λόγω νϋν χρήσθε ον ούδείς πω παρατυχόν ίσχύι τι κτήσασθαι προθείς τοϋ μή πλέον έχειν άπετράπετο έπαινεΐσθαί τε άξιοι οϊτινες χρησάμενοι τή άνθρωπεία φύσει ώστε ετέρων άρχειν δικαιότεροι ή κατά τήν ύπάρχουσαν δύναμιν γένωνται n ó C f su p ra n o ta 66 1 1 7 D e m ó c rito fr d k 68 Β267 Por natureza o poder é próprio do mais forte φύσει τό αρχειν οίκήιον τψ κρέσσονι ι ι 8 No Livro v i i das Histórias Heródoto narra uma deliberação entre os conselheiros de Xerxes rei da Pérsia a respeito da viabilidade da expedição con tra os atenienses em particular e contra os helenos em geral e dos motivos que a justificam Mardônio o principal general do Grande Rei tenta persuadilo com argumentos que de certa forma se aproximam daqueles empregados por Cálicles com relação à prevalência do poder do mais forte Senhor tu não és apenas o melhor dentre os persas de outrora mas tam bém dentre os que estão por vir tuas palavras foram absolutamente verídicas e excelentes e não permitirás que os jônios habitantes da Europa escarneçam de nós sendo eles homens iméritos Seria deveras terrível se nós depois de termos arruinado e escravizado os sacas os hindus os etíopes os assírios e inúmeras outras etnias poderosas mesmo sem ter ocorrido qualquer injustiça por parte deles contra os persas mas movidos pela nossa vontade de acumular poder não vingarmos os helenos que tomaram a iniciativa de agir injustamente contra nós 79 Ώ δέσποτα ού μοΰνον εις τών γενομένων Περσέων άριστος άλλα καί τών έσομένων ος τά τε άλλα λέγων έπίκεο άριστα και αληθέστατα και Ίωνας τούς έν τή Εύρώπη κατοικημένους ούκ έάσεις καταγελάσαι ήμιν έόντας αναξίους Καί γάρ δεινόν αν εϊη πρήγμα εί Σάκας μεν καί Ινδούς καί Αιθίοπας τε καί Άσσυρίους άλλα τε έθνεα πολλά καί μεγάλα άδικήσαντα Πέρσας ούδέν άλλα δύναμιν προσκτάσθαι βουλόμενοι καταστρεψάμενοι δούλους έχομεν Ελληνας δέ ύπάρξαντας άδικίης ού τιμωρησόμεθα 302 GÓRGIAS DE PLATÃO e 484 b τ η ν Ε λ λ ά δ α έ σ τ ρ ά τ ε ν σ ε ν η ό πατήρ α υ τ ό ν έ π ι Σ κ υ θ α ς η ά λ λ α μ ύ ρ ια α ν τ ι ς έ χ ο ι τ ο ια ν τ α λ έ γ ε ι ν ά λ λ ό ΐμ α ι ο ΰ τ ο ι κ α τα φ υ σ ι ν τ η ν το υ δ ίκ α ιο υ τ α ν τ α π ρ α τ τ ο υ σ ιν και ν α ι μ α ια κ α τα ν ο μ ο ν γ ε τ ο ν τ η ς φ υ σ ε ω ς ο ν μ ε ν τ ο ι ίσ ω ς κ α τ α τ ο ύ τ ο ν ον η μ ε ίς τ ιθ έ μ ε θ α π λ ά τ τ ο ν τ ε ς τ ο υ ς β έ λ τ ι σ τ ο υ ς κα ι έ ρ ρ ω μ ε ν ε σ τ ά τ ο υ ς η μ ώ ν α υ τ ώ ν εκ ν έ ω ν λ α μ β ά ν ο ν τ ε ς ώ σ π ε ρ λ έ ο ν τ α ς κ α τ ε π ά δ ο ν τ έ ς τ ε κ α ι γ ο η τ ε ύ ο ν τ ε ς κ α τ α δ ο υ λ ο ν μ ε θ α λ ξ γ ο ν τ ζ ς ω ς το ίσ ο ν χ ρ η χ ίν καί τ ο ν τ ο ζ σ τ ί ν το κ α λ ό ν καί τ ο ο ικ α ίο ν ί α ν γ ζ ο ίμ α ι φ ν σ ί ν ικ α ν ή ν γ ε ν η τ α ί ε χ ω ν α νη ρ π α ν τ α τ α υ τ α α π ο σ ε ισ α μ ε ν ο ς κα ι ό ια ρ ρ η ς α ς κ α ι δ ια φ υ γ ώ ν κ α τ α π α τ η σ α ς τ α η μ έ τ ε ρ α γ ρ ά μ μ α τ α και μ α γ γ α ν ε ύ μ α τ α καί έ π ω δ ά ς κα ι ν ό μ ο υ ς τ ο υ ς π α ρ α φ υ σ ιν ά π α ν τ α ς ε π α ν α σ τ ά ς ά ν ε φ ά ν η δ ε σ π ό τ η ς η μ έ τ ε ρ ο ς ό δ ού λο ς κ α ί εντα ύ θ α έ ξ έ λ α μ ψ ε ν το τ η ς φ ύ σ ε ω ς δ ίκ α ιο ν δ ο κ ε ΐ δ έ μ ο ι και Π ίν δ α ρ ο ς ά π ε ρ έ γ ω λ έ γ ω έ ν δ ε ίκ ν υ σ θ α ι εν τ ώ α σ μ α τ ι εν ώ λ έ γ ε ι ό τ ι ν ό μ ο ς 5 π ά ν τ ω ν β α σ ι λ ε ύ ς θ ν α τ ώ ν τ ε και α θ α ν ά τ ω ν ο υ τ ο ς δε δ φ η σ ί ν ιΐ9 Sobre a discussão a respeito da oposição entre natureza phusis φύσις e lei om os νόμος ver as posições antagônicas nos fragmentos de Antifonte Sofista c Anônim o Jâmblico ver Anexos 120 A imagem do leão evocada por Cálicles pode ser entendida aqui com o metáfora para a gênese do tirano no seio da democracia T Irwin op cit p 178 na medida em que ela implica a superação das leis e dos costumes compartilhados pela maioria dos homens de modo a proporcionarlhe o exercício de um poder incondi cionado Na comédia Os Cavaleiros de Aristófanes vencedora do festival das Leneias de 424 a C o político Cléon figura de maior renome depois da morte de Péricles em 429 aC é representado na peça com o a personagem Paflagônio escravo do Povo também personagem cujas aspirações tirânicas são satirizadas pelo poeta No embate de oráculos com seu antagonista o Salsicheiro pela conquista da supremacia junto ao Povo o Paflagônio lê um oráculo em que ele é figurado como um leão p a f l a g ô n i o Meu caro escuta este e depois julga Há uma mulher que parirá um leão na sacra Atenas o qual lutará pelo povo contra um monte de moscas como em defesa de seus filhotes Cuida tu dele e constrói um muro de madeira e torres de ferro Entendes o que ele diz povo Por Apoio eu não p a f l a g ô n i o O deus disse claramente que tu hás de me salvar GÓRGIAS 303 Qualquer um poderia citar inúmeros exemplos do gênero Eu e julgo que esses homens agem assim segundo a natureza do justo sim por Zeus segundo a lei da natureza mas não de certo segundo essa lei por nós instituída119 A fim de plasmar mos os melhores e os mais vigorosos de nossos homens nós os capturamos ainda jovens como se fossem leões e com encantos e feitiços os escravizamos afirmando que se deve ter posses 484 equânimes e que isso é o belo e o justo Todavia se o homem tiver nascido julgo eu dotado de uma natureza suficiente ele demolirá destroçará e evitará tudo isso calcando nossos escri tos magias encantamentos e todas as leis contrárias à natureza nosso escravo sublevado se revelará déspota e o justo da natu reza então reluzirá120 Pareceme que também Píndaro expressa b o que digo em um de seus cantos com tais palavras Lei o supremo rei de mortais e imortais E diz que Pois eu estou na condição do leão para ti p o v o E como eu não havia percebido que te tornaras Antileão w 10361044 PA Ώ Tãv ακουσον ειτα διάκρινον τόδε Έ στι γυνή τέξει δέ λέονθ ίεραίς έν Ά θήναις ος περί τού δήμου πολλοΐς κώνωψι μαχεΐται ώς τε περι σκύμνοισι βεβηκώς τον σύ φυλάξαι τείχος ποιήσας ξύλινον πύργους τε σίδηρους Ταϋτ οΐσθ õ τι λέγει ΔΗ Μά τον Ά π ό λλ ω γώ μέν ου ΡΑ Έ φραζεν ό θεός σοι σαφώς σωζειν έμέ έγώ γάρ άντι τού λέοντός είμί σοι ΔΗ Και πώς μ έλελήθεις Ά ντιλέω ν γεγενη μένος Ο jogo de palavras com leão e Antileão tirano de Cálcide cidade da vizi nha Eubeia parece indicar que Aristófanes em sua sátira política busca representar Cléon com o um tirano em potência tendo em vista o tipo de prática política atri buída à personagem na peça adulação violência medo Nesse sentido a imagem do leão nessa passagem do G órgias pode ser entendida num sentido semelhante com o figuração da gênese do tirano na democracia tendo em vista a participação de Cálicles na política ateniense aludida por Sócrates anteriormente 48ide So bre a gênese do tirano na democracia ver R epú b lica ix 574d575b 304 G O R G IA S D E P L A T à O ayei δικαιών το βιαιότατου υπέρτατα χειρί τεκμαίρομαι εργοισιν Ήρακλεος επει άπpiaras λεγει ούτω ιnas το γάρ άσμα ουκ επίσταμαι λεγει δ οτι οϋτε 7τpιáμεvos ούτε δόντos του Γηρυόυον ήλάσατο ras βοΰς c ώΐ τούτου όντος του δικαίου φύσει και βοΰς και τάλλα κτή ματα είναι πάντα τον βελτίονός τε και κρείττονος τα των χειρόνων τε και ήττόνων Τ ο μ ε ν ο ύν α λ η θ έ ς ο ύ τ ω ς ε χ ε ι γ ν ώ σ η δε ά ν επι τ α μ ε ίζ ω ε λ θ η s ίά σ α ί ήδη φ ι λ ο σ ο φ ί α ν φ ι λ ο σ ο φ ί α γ ά ρ τ ο ί η r f v y tf ι t ε σ τ ι ν ω ζ ω κ ρ α τ ε ς χ α ρ ιε ν α ν t i s α υ τ ό ν μ ε τ ρ ιω ς α ψ η τ α ι ε ν τ η η λ ικ ία ε ά ν ôè π ε ρ α ιτ έ ρ ω το υ b i o v r o s ε ν δ ια τ ρ ίφ η δια φ θ ο ρ ά τ ω ν α ν θ ρ ώ π ω ν εαν γ α ρ κα ι π α ν υ ε υ φ υ ή ς ή και π ό ρ ρ ω τ ή ς η λ ι κ ί α ς φ ι λ ο σ ο φ ή α ν ά γ κ η π ά ν τ ω ν ά π ε ιρ ο ν γ ε γ ο d ν ε ν α ι ε σ τ ιν ω ν χ ρ ή έ μ π ε ιρ ο ν ε ίν α ι τ ο ν μ έ λ λ ο ν τ α κ α λ ό ν κ ά γ α θ ο ν κ α ι ε υ δ ό κ ιμ ο ν ε σ ε σ θ α ι ά νδρα κ α ι γ ά ρ τ ω ν ν ό μ ω ν ά π ε ιρ ο ι γ ί γ ν ο ν τ α ι τ ω ν κ α τά τ η ν π ό λ ι ν κ α ι τ ω ν λ ό γ ω ν o îs δ ε ΐ χ ρ ω μ ε ν ο ν ό μ ιλ ε ΐν ε ν τ ο ίς σ υ μ β ο λ α ί ο ι ς τ ο ΐ ς ά ν θ ρ ω π ο ις και ιδ ία και δ η μ ο σ ία και τ ω ν η δ ο ν ώ ν τ ε κα ι ε π ιθ υ μ ιώ ν τ ω ν ά ν θ ρ ω π ε ίω ν και σ υ λ λ ή β δ η ν τ ω ν η θ ώ ν π α ν τ ά π α σ ι ν ά π ε ιρ ο ι γ ί γ ν ο ν τ α ι ε π ε ιδ ά ν ούν ε λ θ ω σ ι ν eis τ ιν α ιδ ία ν ή π ο λ ιτ ικ ή ν e π ρ ά ζ ιν κ α τ α γ έ λ α σ τ ο ι γ ίγ ν ο ν τ α ι ώ σ π ε ρ γ ε ο ίμ α ι ο ί π ο λ ι τ ι κοί ε π ε ιδ ά ν αύ ε ις τ ά ς ΰ μ ε τ ε ρ α s δ ια τ ρ ιβ ά ς ε λ θ ω σ ι ν και το υ s 121 12 123 121 Fr 152 Bowra 187 Turyn 169 Snell Cálicles entende a ocorrência de lei nomos no poema de Píndaro como lei da natureza 48303 ou seja o direito natural do mais forte de prevalecer sobre os mais fracos conforme ele apregoa Mas como sublinha Dodds op cit p 270271 tratase provavelmente de uma interpre tação anacrônica da personagem pois esse tipo de discussão sobre a natureza política do homem como vemos por exemplo em Tucídides cf supra nota 115 em De mócrito cf supra nota 117 em Antifonte ver Anexos e depois em Platão é carac terística de uma época à qual não pertenceu Píndaro Segundo Dodds o sentido de nomos no poema de Píndaro provalmente não significa nem lei da natureza como entende Cálicles nem costume mas antes lei do destino que equivaleria por sua vez à vontade de Zeus 122 Este é um dos doze trabalhos de Héracles Guérion é um monstro de triplo corpo que vivia na longínqua ilha de Eritréia à oeste da Grécia 123 Essa visão do filósofo com o alguém apartado do mundo cotidiano tanto nas relações públicas quanto nas privadas é representada paradigmaticamente pela G Ó R G IA S 305 Com sua mão soberana rege a violência extrema tornandoa justa como testemunha conclamo os feitos de Héracles pois sem pagar121 Ele diz aproximadamente isso pois não tenho decorado o canto mas ele diz que Héracles trouxe os bois sem pagar por eles e sem têlos ganho de Guérion visto que o justo por natu reza é que os bois e todos os demais bens dos homens piores e inferiores pertençam ao melhor e superior122 Essa é a verdade e tu a compreenderás se abandonares agora mesmo a filosofia e te volveres para coisas de maior mérito A fi losofia Sócrates é decerto graciosa contanto que se engaje nela comedidamente na idade certa mas se perder com ela mais tempo que o devido é a ruína dos homens Pois se alguém mesmo de ótima natureza persistir na filosofia além da conta tornarseá necessariamente inexperiente em tudo aquilo que deve ser expe riente o homem que intenta ser belo bom e bem reputado Ade mais tornamse inexperientes nas leis da cidade nos discursos que se deve empregar nas relações públicas e privadas nos praze res e apetites humanos e em suma tornamse absolutamente inex perientes nos costumes dos homens Quando então se deparam com alguma ação privada ou política são cobertos pelo ridículo como julgo que sucede aos políticos quando se envolvem com vosso passatempo e vossas discussões são absolutamente risíveis123 anedota sobre Tales de Mileto a que se referem Platão no T eeteto 174a e Diógenes Laércio em sua obra Dizem que Tales sendo levado para fora de casa por uma velha para con templar os astros caiu num buraco e que a velha estando ele a se queixar pergun toulhe o seguinte tu ó Tales não sendo capaz de ver as coisas a seus pés julgas conhecer as coisas celestes 134 λέγεται δ αγόμενος ϋπό γραός έκ τής οικίας ϊνα τα άστρα κατανόηση εις βόθρον έμπεσεΐν και αύτώ άνοιμώξαντι φάναι τήν γραύν σύ γάρ ώ Θαλή τά έν ποσιν ού δυνάμενος ίδειν τα έπι τοΰ ουρανού οϊει γνώσεσθαι Sócrates responderá a essa invectiva de Cálicles mais adiante na discussão afirmando que somente ele senão alguns poucos é o único homem verdadeira mente político na medida em que todas as suas ações e todos seus discursos estão voltados precipuamente para a promoção do supremo bem para tornar melhores ao m áximo seus concidadãos 52id522a e não para simplesmente comprazêlos com o fazem geralmente os políticos na democracia ateniense 48 5 b c d λόγον κ α τ α γ έ λ α σ τ ο ι ε ίσ ιν σ υ μ β α ί ν ε ι γ α ρ το το υ Ε ν ρ ιπ ί è o v λ α μ π ρ ό ς τ έ ε σ τ ι ν έ κ α σ τ ο ς έ ν τ ο υ τ ω κ α ι έ π ι τ ο ΰ τ 7τ ε ί γ ε τ α ι ν έ μ ω ν τ ο π λ ε ΐ σ τ ο ν η μ έ ρ α ς τ ο υ τ ω μ έ ρ ο ς ΐν α υ τ ό ς α υ τ ο ύ τ υ γ χ ά ν ε ι β έ λ τ ι σ τ ο ς ω ν ό π ο υ δ α ν φ α ύ λ ο ς η ε ν τ ε ύ θ ε ν φ ε ύ γ ε ι κ α ι λ ο ιδ ο ρ ε ί το ύ τ ο τ ο ο erepov επ α ινεί evvoia rrj eavrov η γ ο ύ μ ε ν ο ς ό ν τ ω ς α υ τ ό ς ε α υ τό ν ε π α ιν ε ΐν à λ λ ο ιμ α ι τ ό ο ρ θ ό τ α τ ο υ έ σ τ ιν ά μ φ ο τ έ ρ ω ν μ ε τ α σ χ ε ΐ ν φ ι λ ο σ ο φ ί α ς μ ε ν ό σ ο ν π α ιδ ε ία ς χ ά ρ ιν κ α λ ό ν μ ε τ έ χ ε ι ν κ α ί ονκ α ισ χ ρ ό ν μ ε ιρ α κ ίω ο ν τ ι φ ι λ ο σ ο φ ί α ν ε π ε ιδ ά ν δε ηδη π ρ ε σ β ύ τ ε ρ ο ς ω ν ά ν θ ρ ω π ο ς έ τ ι φ ι λ ο σ ο φ η κ α τ α γ έ λ α σ τ ο υ ω Σ ω κ ρ α τ ε ς τ ό χ ρ ή μ α γ ί γ ν ε τ α ι και ε γ ω γ ε ο μ ο ιό τ α τ ο υ π ά σ χ ω π ρ ο ς τ ο υ ς φ ιλ ο σ ο φ ο ΰ ν τ α ς ώ σ π ε ρ π ρ ο ς τ ο υ ς φ ε λ λ ι ζ ο μ έ ν ο υ ς και π α ίζ ο ν τ α ς ό τ α ν μ ε ν γ ά ρ π α ιδ ίο ν ϊδω ω έ τ ι π ρ ο σ ή κ ε ι δ ια λ έ γ ε σ θ α ι ο ΰ τ ω φ ε λ λ ι ζ ό μ ε ν ο ν καί π α ϊζ ο ν χ α ίρ ω τ ε και χ α ρ ίε ν μ ο ι φ α ίν ε τ α ι κα ι ε λ ε υ θ έ ρ ιο ν και π ρ έ π ο ν τ ή του π α ιδ ίο ν η λ ικ ία ό τ α ν δε σ α φ ώ ς δ ια λ ε γ ο μ έ ν ο υ π α ιδ α ρ ίο υ α κ ο ύ σ ω π ικ ρ ό ν τ ί μ ο ι δ ο κ ε ΐ χ ρ ή μ α ε ίν α ι και à v iâ μ ο υ τά ωτα κ α ί μ ο ι δ ο κ ε ΐ δ ο υ λ ο π ρ ε π έ ς τ ι ε ίν α ι ό τ α ν ôè α νδ ρ ό ς ά κ ο ύ σ η τ ι ς φ ε λ λ ι ζ ο μ έ ν ο ν η π α ίζ ο ν τ α òpã κ α τ α γ έ λ α σ τ ο υ φ α ίν ε τ α ι και ά να νδ ρ ο υ κα ι π λ η γ ώ ν ά ζ ιο ν τ α υ τ ό ν ονν ε γ ω γ ε τούτο π ά σ χ ω καί π ρ ό ς τοί φ ιλ ο σ ο φ ο ΰ ν τ α ς π α ρ ά ν ε ω μ ε ν γ α ρ μ ε ιρ α κ ιω ο ρ ώ ν φ ιλ ο σ ο φ ία ν α γ α μ α ι κα ι π ρ ε π ε ιν μ ο ι δοκ έΐ και η γ ο ύ μ α ι έ λ ε ύ θ ε ρ ό ν τ ιν α ε ίν α ι τ ο ύ τ ο ν τ ο ν ά ν θ ρ ω π ο ν το ν δέ μ η φ ιλ ο σ ο φ ο ΰ ν τ α α ν ε λ ε ύ θ ε ρ ο υ καί ο υ δ έ π ο τ ε ουδενός ά ζ ιώ σ ο ν τ α ε α υ τό ν ο ύ τ ε κ α λ ο ΰ ούτε γ ε ν ν α ίο υ π ρ ά γ μ α τ ο ς ό τ α ν δε δη π ρ ε σ β ν τ ε ρ ο ν ΐδ ω ε τ ι φ ιλ ο σ ο φ ο ΰ ν τ α και μ η ά π α λ λ α τ τ ό μ ε ν ο ν π λ η γ ώ ν μ ο ι δ ο κ ε ΐ ηδη δ ε ΐσ θ α ι ω Σ ω κ ρ α τ ε ς ο υτ ο ς ο α νη ρ ο γ α ρ ννν δ ή ε λ ε γ ο ν υ π ά ρ χ ε ι τ ο υ τ ω τ ω ά ν θ ρ ώ π ω κ ά ν π ά ν υ ε υ φ υ ή ς ά νά νδ ρ ω γ ε ν έ σ θ α ι ε ν γ ο ν τ ι τ α μ έ σ α τ η ς π ο λ ε ω ς και τ α ς α γ ο ρ α ς ε ν α ις ε φ η ο 124 125 3 0 6 G Ó R G IA S D E P L A T à O 124 Euripides Antíope fr 183 Nauck 125 Cálicles ressalta na sua invectiva contra o filósofo e a filosofia 484C4 486di que o domínio do discurso próprio da filosofia é o diálogo ôiakeyoïiévou 485b5 pois ele é o índice por m eio do qual é possível identificar o filósofo e dis G Ó R G IA S 307 É o que decorre de um trecho de Eurípides cada um reluz naquilo em que se esforça124 ocupandose com isso a maior parte do dia onde ele seja superior a si mesmo Ele evita e censura aquilo em que é desprezível mas louva 485 o contrário por benevolência própria presumindo que dessa maneira ele louva a si mesmo Porém julgo que o mais correto é participar de ambos É belo e gracioso participar da filosofia com o escopo de se educar e não é vergonhoso que um jovem filosofe Todavia quando o homem já está velho mas ainda continua a filosofar aí é extremamente ridículo Sócrates e a experiência que tenho com os filósofos é precisamente a mesma b que tenho com os balbuciantes e zombeteiros Pois quando vejo uma criança a quem ainda convém essa sorte de diálogo bal buciando coisas e zombando isso me deleita e me parece gra cioso digno de quem é livre e adequado a uma criança de tal idade No entanto quando ouço um menino a dialogar nitida mente isso me soa acerbo lacera meus ouvidos me parece ser coisa própria de escravo125 E quando alguém ouve os balbucios de um homem e vê as suas zombarias ele se mostra absoluta c mente ridículo efeminado e merecedor de umas pancadas Essa então é a mesma experiência que tenho com os filósofos Pois quando a observo em um garoto novo aprecio a filosofia ela me parece conveniente e considero livre esse homem en quanto o avesso à filosofia um homem despojado de sua liber dade que jamais dignarseá de um feito belo ou nobre Quando vejo porém um homem já velho mas ainda dedicado à filoso d fia e dela não liberto ele me parece carecer de umas pancadas Sócrates Como há pouco dizia acontece que esse homem mesmo dotado de ótima natureza tornarseá efeminado e fu girá do centro da cidade e das ágoras onde segundo o poeta tinguilo dos demais homens Nesse sentido Cálides está de acordo com Sócra tes uma vez que ele contrasta a m akrologia do discurso retórico à bra khu log ia do processo dialógico que seria em última instância o m odo do discurso próprio da filosofia 448d 47id 474ab e 486 b G Ó R G IA S D E P L A T à O 7Γ οιητην τούν άνδραν άριπρε πεΐν γίγνεσθαι καταδεδυκότι δε τον λοιπόν βίον βιώναι μετά μειράκιων εν γωνία τριών η τεττάρων ψιθυρίζοντα ελεύθερον δε και μέγα και ικανόν μηδέποτε φθέγξασθαι eytu δέ ώ Σώκρατεν πρόν σβ επιει κών εχω φιλικών κινδυνεύω ουν πεπονθεναι νυν δπερ δ Ζηθον πρόν τον Άμφίονα ό Ευριπίδου ουπερ έμνήσθην και γάρ έμοϊ τοιαΰτ άττα επέρχεται προς σε λέγειν οϊάπερ εκείνον πρόν τον αδελφόν ότι Άμελεΐν ώ Σώκρατεν ών δει σε έπιμελεΐσθαι κα φύσιν ψυχήν ώδε γενναίαν μει ρακιώδει τινί διατρέπειν μορφώματι καί ου τ αν δίκην 3ου λαΐσι προσθεΐ αν ορθών λόγον οντ εικόν αν καϊ πιθανόν αν λάβοιν ουθ υπέρ άλλου νεανικόν βούλευμα βουλεύσαιο καίτοι ώ φίλε Σώκρατεν καί μοι μηδέν άχθεσθρν ευνοία γαρ ερω τη ση ουκ αισχρόν δοκει σοι είναι ουτων βχβυ ών εγώ σέ οίμαι εχειν και τουν άλλουν rois πόρρω άει φιλοσοφίαν ελαύνονταν νυν γάρ εΐ τιν σου λαβόμενον η ολλου δτουοϋν τών τοιούτων είν τό δεσμωτηρίου άπάγοι φάσκων αδικεΐν μηδέν άδικοΰντα οΐσθ ότι ουκ άν εχοιν οτι χρησαιο σαυτω αλλ ιλιγγιωην αν και χασμωο ουκ εχων οτι είποιν και είν τό δικαστηρίου άναβαν κατηγόρου τυχών πάνυ φαύλου και μοχθηρού άποθάνοιν αν εί βούλοιτο θανάτου 126 127 308 126 Homero Ilíada 9441 127 Com o ressaltam Dodds op cit p 275 e T Irwin op cit p 180 essa caracterização do comportamento do filósofo na sociedade é mais apropriada àque les que eventualmente faziam parte da Academ ia de Platão do que a Sócrates se levarmos em consideração a imagem que o próprio Platão constrói dele na A polog ia tenho o costume de falar tanto nas mesas da ágora onde a maioria de vós já me ouviu como em qualquer outro lugar δι ώνπερ εϊωθα λέγειν καί έν αγορά έπΐ τών τραπεζών ϊνα ύμών πολλοί άκηκόασι και άλλοθι 17c8 Tal imagem se conforma à descrição feita por Xenofonte nas M em o rá v eis a respeito do cotidiano de Sócrates Ele estava sempre à vista De manhã passeava e ia aos ginásios e quando a ágora enchia lá estava ele à vista no restante do dia sempre estava onde pudesse encontrar o maior número de pessoas 1110 Ά λ λ α μήν έκεινός γε άεί μέν ήν έν τώ φανερώ πρώ τε γάρ εις τούς περιπάτους και τα γυμνάσια ήει και πληθούσης αγοράς έκεί φανερός ήν και τό λοιπόν άει τής ήμέρας ήν όπου πλείστοις μέλλοι συνέσεσθαι GÓRGIAS 309 os homens se tornam distintos126 Ele passará o resto da vida escondido a murmurar coisas pelos cantos junto a três ou qua tro jovens sem jamais proferir algo livre valoroso e suficiente127 e Contudo eu Sócrates nutro por ti uma justa amizade é pro vável que eu tenha agora o mesmo sentimento que Zeto teve por Anfíon na peça de Eurípides que rememorei128 Pois o que me ocorre dizerte é semelhante ao que Zeto disse a seu irmão que Descuras Sócrates do que deves curar e a natureza assim tão nobre de tua alma tu a reconfiguras em uma forma juvenil 486 nos conselhos de justiça não acertarias o discurso nem anuirias ao verossímil e persuasivo tampouco proporias um conselho ardiloso no interesse de alguém129 Aliás caro Sócrates e não te irrites comigo pois falarteei com benevolência não te parece vergonhoso esse comportamento que julgo eu tu pos suis e todos os outros que se mantêm engajados na filosofia por longo tempo Pois se hoje alguém te capturasse ou qualquer outro homem da tua estirpe e te encarcerasse sob a alegação de que cometeste injustiça ainda que não a tenhas cometido sabes que não terias o que fazer contigo mesmo mas ficarias turvado e boquiaberto sem ter o que dizer quando chegasses b ao tribunal diante de um acusador extremamente mísero e 128 Apolodoro Biblioteca 34244 Cf p 85 nota 4 129 Nauck propõe a seguinte reconstituição da passagem original adaptada em prosa por Cálicles fr 185 em E Dodds op cit p 276 Descuras daquilo com que devias te preocupar Mesmo dotado de uma alma de nobre natureza O que avulta é a tua forma afeminada não combaterias bem Com o escudo côncavo tampouco proporias Um conselho ardiloso no interesse de outrem αμελείς ών σε φροντίζειν έχρήν ψυχής φύσιν γάρ ώδε γενναίαν λαχών γυναικομίμω διαπρεπείς μορφώματι κοϋτ αν άσπίδος κύτει καλώς όμιλήσειας οϋτ άλλων ϋπερ νεανικόν βούλευμα βουλεύσαιό τι 3 1 0 GÓRGIAS DE PLATÃO σοι τιμάσθαι καίτοι πως σοφόν τοντό έστιν ω Σωκράτης η τ ις ίυφ υη λ α β ο ΰ σ α τέχνη φώ τα ίθ η κ ΐ χίρονα μήτε αυτόν αύτω δυνάμωναν βοηθΐΐν μηδ ε κ σ ώ σ α ι εκ των μίγίστων κίνδυνων μ ή τ ε έαυτόν μήτε άλλον μηδίνα υπό δε c των έχθρων περισυλάσθαι πάσαν την ουσίαν άτΐχνως δε άτιμον ζην ev τη πάλα τον δε τοωΰτον ε ί τι και άγροικό Tepoν εΙρησθαι έζΐστιν επι κόρρης τυπτοντα μη διδόναι δίκην ά λ λ ωγαθέ ε μ ο ί ττΐίθου π α υσ α ι δ ε έ λ έ γ χ ω ν πρα γμ ά τω ν δ ε υ μ ο υ σ ία ν α σ κ ε ί καί α σ κ ε ί όπόθζν δάζίΐς φρονάν ά λ λ ο is τ α κομψ ά ταυτα ά φ ε ί ϊ ε ίτ ε ληρηματα χρη φάναι ε ίν α ι ε ίτ ε φλυαρίας έ ζ ν κ ΐν ο ίσ ιν έγ κ α το ι κ ή σ εις δόμο is ζήλων ουκ ελέγχοντας άνδρας τα μικρά d ταυτα ά λ λ ois ίστιν και βίος κα ί ό ό ζα κ α ί ά λ λ α π ο λ λ ά αγαθά ΣΩ Ε ί χρυσήν εχων έτύγχανον την ψυχήν ω Καλλί κλεΐϊ ουκ άν οίει με άσμενον eipeiv τούτων τινά των λίθων ή βασανιζουσιν τον χρυσόν την αριστην προς ηντινα εμελ 130 131 130 Cálicles usa do paradoxo patético ούκ αισχρόν S Usher Greek Oratory Tradítion and Originality p 25 como argumento contra a filosofia em um contexto argumentativo semelhante à objeção fictícia a que Sócrates recorre na Apologia para defender seu modo de vida Talvez alguém perguntasse então não te envergonhas Sócrates de te en volveres com tal ocupação a qual te põe agora em risco de morte E eu lhe objeta ria com um argmento justo tuas palavras não são belas homem se julgas que se deva considerar o risco de viver ou morrer cuja utilidade é praticamente ínfima mas deixar de observar apenas isto quando age se suas ações são justas ou injustas se seus gestos são próprios de um homem bom ou mau 28039 Ίσως αν ούν εΐποι τις Είτ ούκ αισχύνη ώ Σώκρατες τοιοϋτον έπιτήδευμα έπιτηδεύσας έξ ού κινδυνεύεις νυν άποθανειν έγώ δέ τούτψ αν δίκαιον λόγον άντείποιμι ότι Ού καλώς λέγεις ώ άνθρωπε εί οίει δειν κίνδυνον ύπολογίζεσθαι τού ζην ή τεθνάναι άνδρα οτου τι και σμικρόν οφελός έστιν άλλ ούκ έκεινο μόνον σκοπείν όταν πράττη πότερον δίκαια ή άδικα πράττει και άνδρός αγαθού έργα ή κακού 131 Nauck propõe a seguinte reconstituição da passagem original fr 186 em E Dodds op cit p 278 Como isto pode ser sábio que a arte apossandose De um homem de ótima natureza tornao pior πώς γάρ σοφόν τοΰτ έστιν ήτις εύφυά λαβούσα τέχνη φώτ έθηκε χείρονα GÓRGIAS 311 desprezível tu morrerias caso ele quisesse te estipular a pena de morte130 Ademais como isto pode ser sábio Sócrates que a arte apossandose de um homem de ótima natureza tornao pior131 incapaz de socorrer a si mesmo de salvar a si mesmo ou qualquer outra pessoa dos riscos mais extremos despojado pelos inimigos de todos os seus bens e vivendo absolutamente desonrado na cidade132 Para ser ainda mais rude qualquer um poderia rachar a têmpora de um homem como esse sem pagar a justa pena Acredita em mim bom homem para de refutar os outros aplicate à erudição das coisas aplicate àquilo que te confira a reputação de homem inteligente e deixa para os outros essas sutilezas sejam tolices ou bobagens o modo cor reto de chamálas em virtude das quais habitarás uma casa erma133 Não invejes os homens que vivem a refutar coisas de pequena monta mas aqueles que possuem recursos de vida reputação e muitos outros bens soc Se acaso eu tivesse a alma áurea Cálicles não julgas que eu seria afortunado caso encontrasse uma daquelas pedras a melhor delas com a qual se verifica o ouro e a cujo teste estaria 132 Cálicles compara a condição de Sócrates enquanto filósofo ao homem desonrado átimos άτιμος que no sentido legal se refere a quem por covardia ou prostituição ver Esquines 12730 perde o direito de reinvindicar judicialmente uma injustiça sofrida por parte de outrem de frequentar a ágora e os templos ver Lísias 624 Demóstenes 2195 Ou seja a inabilidade de Sócrates para se defender de um ultraje dessa natureza devido à inutilidade da filosofia para a vida pública e cotidiana é comparável à impossibilidade do átimos de exigir legalmente a repara ção de uma injustiça sofrida Irwin op cit p 180 133 Nauck propõe a seguinte reconstituição da passagem original fr 188 em E Dodds op cit p 278 Mas acredita em mim Para de cantar aplicate à erudição da guerra Canta coisas tais de modo a teres reputação de inteligente Cultivando arando a terra apascentando o rebanho Deixando para os outros esses sofismas sutis Em virtude dos quais habitarás uma casa vazia άλλ έμοι πίθου παϋσαι μελψδών πολέμων δ εύμουσίαν ασκεί τοιαϋτ άειδε καί δόξεις φρονεϊν σκαπτών άρών γην ποιμνίοις έπιστατών άλλοις τα κομψά ταϋτ άφεις σοφίσματα έξ ών κενοισιν έγκατοικήσεις δόμοις e 487 b λον προσαγαγων αυτήν εϊ μοι ομολογήσωιεν εκείνη καλώς τεθεραπεύσθαι την ψυχήν εΰ εϊσεσθαι οτι ίκανώς εχω καί ουδέν με δει άλλης βασάνου ΚΑΛ Πρόϊ τί δή τούτο έρωτας ω Σώκρατες Σ ί2 Εγώ σοι ερω νυν οΐμαι εγω σοι έντετυχηκώς τοιούτω έρμαίω έντετνχηκέναι ΚΑΛ Τ ί όή Σ ί2 Ευ οιδ οτι άν μοι συ όμολογήστρς περί ών ή έμή ψυχή δοξάζει ταντ ήδη εστίν αυτά τάληθή εννοώ γάρ οτι τον μέλλοντα βασανιέΐν Ικανώς ψυχής πέρι όρθώς re ζωσης και μή τρία αρα δει εχειν α συ ιταντα εχεις eπιστή μην re και εύνοιαν καϊ Παρρησίαν εγώ γάρ πολλοΐς έιτυγ χάνω οι εμέ ούχ οΐοί τέ είσιν βασανίζειν δια το μή σοφοί dvai ώσπερ σύ έτεροι δέ σοφοί μεν είσιν ουκ έθέλουσιν δέ μοι λέγειν τήν αλήθειαν διά το μή κήδεσθαί μου ώσπερ συ τώ δε ξένω τώδε Τοργίας τε καί Πώλο σοφω μέν καί φίλω εστάν εμώ ενδεεστέρω δε παρρησίας καί αίσχυντη ροτερω μάλλον τον δέοντος πως γαρ ου ω γε εις τοσουτον αισχύνης έληλνθατον ώστε δια το αίσχύνεσθαι τολμά εκά τερος αυτών αυτός αυτω εναντία λέγειν εναντίον πολλών ανθρώπων καί ταϋτα περί των μεγίστων συ δε ταΰτα πάντα εχεις à oi άλλοι ουκ εχονσιν πεπαίδευσαί τε γάρ 312 GÚRGIAS DE PLATÃO 134 Sócrates acentua metaforicamente aqui a função positiva do elenchos de determinar mediante o assentimento do interlocutor a verdade de suas convicções morais uma vez tendo sido bemsucedido Como ele dirá expressamente logo adiante o meu e o teu consentimento portanto será realmente a completude da verdade τώ οντι ούν ή έμή και ή σή ομολογία τέλος ήδη έξει τής άληθείας 487667 135 A franqueza atribuída a Cálicles παρρησίαν 48733 é referida na Re pública como uma carcaterística do homem democrático Qual é então perguntei o modo de vida desses homens E qual é por sua vez o tipo de constituição política Pois é evidente que tal homem se revelará democrático É evidente disse ele Então não serão em primeiro lugar livres e a cidade não virá a ser um misto de liberdade e franqueza e não haverá nela licença para se fazer o que quiser É o que se diz respondeu viu 557a9b7 Τίνα δή ούν ήν δ έγώ οΰτοι τρόπον οίκοϋσι και ποια τις ή τοιαύτη αύ πολιτεία δήλον γάρ οτι ό τοιούτος άνήρ δημοκρατικός τις άναφανήσεται GÓRGIAS 313 eu pronto para submeter a minha alma Se essa pedra me con sentisse que minha alma fora bem criada não julgas que eu saberia seguramente que ela me é suficiente e que não careço de outra pedra de toque134 c a l Por que fazes essa pergunta Sócrates e soc Dirteei julgo que acabei de encontrar tal dádiva quando me encontrei contigo c a l Por quê soc Bem sei que se tu concordares com as opiniões da mi nha alma bastará para elas próprias serem verdadeiras Pois penso que a pessoa apta a verificar de modo suficiente se a alma 487 vive ou não de forma correta deve ter três coisas que tu possuis em absoluto conhecimento benevolência e franqueza135 Eu te nho me deparado com inúmeros homens que são incapazes de me verificar porque não são sábios como tu ao passo que outros embora sábios não desejam me dizer a verdade porque não se preocupam comigo como tu te preocupas Estes dois estrangeiros aqui presentes Górgias e Polo apesar de serem sábios e meus amigos carecem de franqueza e são mais envergonhados que o b devido E como não seriam Foram acometidos por tamanha vergonha que ambos por causa dela ousaram se contradizer perante uma turba de homens e a respeito dos assuntos mais preciosos136 Mas tu possuis tudo de que eles carecem pois tiveste Δήλον εφη Ούκοϋν πρώτον μέν δή ελεύθεροι και έλευθερίας ή πόλις μεστή καί παρρησίας γίγνεται καί έξουσία έν αύτή ποιειν οτι τις βούλεται Λέγεται γε δή έφη 136 A objeção de Sócrates à análise de Cálicles sobre a refutação de Górgias e Polo é colorida pelo tom irônico do oximoro διά το αίσχύνεσθαι τολμά por causa da vergonha ousaram se contradizer 487034 Para Cálicles a vergonha é o sen timento moral que impede as pessoas de dizerem o que realmente pensam quando suas opiniões afrontam os valores morais instituídos pelas leis 482ce para Sócrates entretanto ela é o sentimento que motiva a ousadia de ambas as personagens de se contradizerem em público ousado não é dizer o que realmente pensa mas dizer coi sas contraditórias Assim a vergonha de Górgias e Polo na perspectiva de Sócrates teria um sentido contrário pois não haveria maior vergonha para o homem do que dizer coisas incoerentes sobre assuntos de suma importância para os homens Por tanto a valoração moral a respeito do que é vergonhoso para Sócrates de um lado e para Cálicles de outro não coincidem são duas concepções de moralidade opostas 314 GÓRGIAS DE PLATÃO ικανώς ώί πολλοί άν φήσακν Αθηναίων και μοί ΐ ννους τινι τκμηριω χρώμαι γω σοι ρω οιόα υμάς γω ω Καλλίκλίΐς τέτταρας όντας κοινωνούς γίγονότας σοφίας σ ί τ καί Τίίσαρδροιι τον Άφιδναιον και Ανδρωνα τον Ανδρο τίωνος και Ναυσικυδην τον Χολαργα καί ποτ υμών τώ πήκουσα βουλυομένων μέχρι οποί την σοφίαν άσκητέον ϊη και οίΐδα οτι νίκα V νμίν τοιάδ τις δόζα μη προθυ μίΐσθαι ίς την άκρίβΐαν φιλοσοφΐϊν άλλα υλαβίΐσθαι παρΚλύσθ άλληλοις όπως μη πέρα του δέοντος σοφώ τίροι γνόμνοι ληστ διαφθαρέντς έπΐδή ουν σου ακούω ταυτα έμοι συμβουλύοντος απρ τοϊς σαυτου έταιροτάτοις ικανόν μοι Τίκμηριον στιν οτι ως αληΰως μοι υνους α και μην ότι γ όίος παρρησιάζσθαι και μη αίσχννίσθαι αυτός τ φής και δ λόγος ον ολίγον πρότίρον λγς δμο λογίϊ σοι χ α δη ούτωσϊ δηλον ότι τούτων πέρι νυνί άν τι συ V τοϊς λόγοις δμολογήσης μοι β βασανισμένου τουτ ήδη σται ικανως υπ μου τ και σου και ουκτι αυτό δησΐ 7Γ άλλην βάσανον άναφέρίΐν ου γαρ αν ποτ αυτό συνίχωρησας συ ουτ σοφίας νθΐα ουτ αισχύνης πριουσια ουδ αυ απατών μ συγχωρήσαις α ν φίλος γαρ μοι ΐ ως καί αυτός φνς τω οντι ουν η μή και ή σή ομολογία τέλος ήδη ξΐ τής άληθίας πάντων δ καλ λίστη στιν ή σκέφις ώ Κ αλλίκλίΐς πρι τούτων ών συ 137 Sabese muito pouco sobre a vida de Tisandro apenas que ele era filho de Cefisodoro homem rico e renomado que aparece citado em inscrições sobre liturgias datadas do início do séc iv aC E Dodds op cit p 282 D Nails op cit p 295 138 Andron filho de Androtíon é mencionado por Platão também no Protá goras como um dos presentes na casa de Cálias onde se encontrava o sofista que dá nome ao diálogo além de Hípias de Élide e Pródico de Cós A importância de Andron do ponto de vista político se deve ao fato de ele ter integrado o governo oligárquico de 411 aC conhecido como os Quatrocentos episódio narrado por Tucídides na História da Guerra do Peloponeso 86371 Segundo PseudoPlutarco A Vidas dos Dez Ora dores 833df com o colapso do governo oligárquico Andron impetrou um processo contra Antifonte de Ramnunte pessoa a ele associada e talvez contra Arqueptôlemo e Onômacles D Nails op cit p 29 Segundo Dodds o intuito de Andron com tais processos era salvar a própria vida E Dodds op cit p 295 139 Nausícides de Colarges é provavelmente a mesma figura referida por Aris tófanes Mulheres na Assembleia w 424426 e Xenofonte Memoráveis 27S6 produtor de farinha e proprietário de escravos D Nails op cit p 210211 E GORGIAS 315 educação suficiente como diriam muitos atenienses e és bene volente comigo Que indício tenho eu disso Dirteei Sei que vós quatro Cálicles fundastes uma comunidade de sábios tu Tisandro de Afidna137 Andron filho de Androtíon138 e Nausí cides de Colarges139 Houve um dia em que vos ouvi deliberando sobre até que ponto se deve cultivar a sabedoria e sei que vos prevaleceu uma opinião deste tipo não aspirar à filosofia até a sua exatidão140 Exortáveis uns aos outros a ter precaução de não vos tornardes mais sábios que o devido e de não perceberdes assim a vossa ruína Uma vez então que ouço de ti os mesmos conselhos que deste aos teus melhores companheiros isso me é indício suficiente de que és benevolente comigo de verdade Com efeito que és franco e não tens vergonha tu mesmo o disseste e o discurso que acabaste de proferir concorda contigo É evidente então que procedamos da mesma forma se tu concordares co migo em algum ponto na discussão nós já o teremos verificado suficientemente e prescindiremos de outra pedra de toque Pois jamais darias seu assentimento por carência de sabedoria ou por excesso de vergonha tampouco o darias para me enganar visto que és meu amigo como tu mesmo dizes141 O meu e o teu con sentimento portanto serão realmente a completude da verdade Dentre todas as tuas censuras volvidas contra mim Cálicles esta Dodds op cit p 295 140 Isócrates A Nicocles 39 Considera sábios não aqueles que disputam entre si pela exatidão relativa a coisas de pequena monta mas aqueles que falam bem a respeito de coisas de suma importância Σοφούς νόμιζε μή τούς ακριβώς περι μικρών ερίζοντας άλλα τούς εύ περι τών μεγίστων λέγοντας ΐ4ΐ Platão ressalva aqui nessa asserção irônica de Sócrates precisamente o aspecto que determina o tipo de diálogo a ser empreendido com Cálicles a ausência de amizade philia φιλία entre os interlocutores A estratégia argumentativa de Sócrates bem como sua motivação no diálogo se adapta conforme o tipo de in terlocutor pois a busca pelo consentimento ομολογία 48707 em que ambas as partes contribuem para o esclarecimento do assunto em questão depende do inte resse comum dos interlocutores Quando há contudo o encontro de dois interlo cutores cujas convicções morais não se coadunam e cuja motivação ao dialogar não é a mesma a busca pelo consentimento tornase praticamente inviável Sobre a distinção entre diálogo filosófico e diálogo erístico cf supra nota 32 316 GÓRGIAS DE PLATÃO r Ν tf 5 077 juot 7Γπμησα ποιοζ τινα χρη β υ α ι roy α νο ρ α κ α ι τ ι 488 τητη0νΐν κ α ί μ έ χ ρ ι τ ο ν καί π ρ ξ σ β ν τ ς ρ ο ν κ α ι ν ξ ώ τ ζρ ο ν ο ν τα ε γ ω yap et rt μ η ορα ω ς π ρ ά τ τ ω κ α τα το ν ρ ιο ν τ ο ν ε μ α ν τ ο ν ευ ΐσ θ ι τ ο ύ τ ο ό τ ι ο υ χ εκ ω ν έ ξα μ α ρ τ ά ν ω α λ λ α μ α θ ία Tij ε μ ή συ ου ν ω σ π ε ρ η ρ ξω ν ο υ θ ε τ ε ϊν μ ε μ η α π ο σ τ ή ς α λ λ ίκ α νω μ ο ι ε ν ύ ε ιξ α ι τ ί ε σ τ ιν τ ο ύ τ ο ο ε π ιτ η ό ε ν τ έ ο ν μ ο ι και riía τ ρ ο π ο ν κ τ η σ α ιμ η ν α ν α ν τ ο κ α ι ea v μ ξ λaprjs ν ν ν μ ζ ν σ ο ι ο μ ο λ ο γ ή σ α ν τ α ev 0 τω νσ τ ρ ω χ ρ ο ν ω μ η τ α ν τ α π ρ ά τ τ ο ν τ α α π ερ ω μ ο λ ό γ η σ α π ά ν υ μ ε ή γ ο υ β λ ά κ α eiv a i και b μ η κ έ τ ι π ο τ έ μ ε ν ο ν θ ε τ ή σ η ς ύ σ τ ε ρ ο ν ω ς μ η ό ε ν ο ς α ζ ιο ν ο ντα ε ξ α ρ χ ή ς ό έ μ ο ι ε π α ν ά λ α β ε π ω ς φ ή ς τ ο ό ίκ α ιο ν ε χ ε ιν και σ υ κ α ί Υ Ιίνόα ρ ος τ ο κ α τα φ ν σ ιν α γ ε ιν β ία τ ο ν κ ρ ε ίτ τ ω τα τ ω ν ή τ τ ό ν ω ν και α ρ χ ε ιν τ ο ν β ε λ τ ίω τ ω ν χ ε ιρ ό ν ω ν κ α ι π λ έ ο ν έ χ ε ιν τ ο ν α μ ε ίν ω τ ο ν φ α υ λ ό τ ε ρ ο υ μ ή τ ι ά λ λ ο λ έ γ ε ις το λ r τ Λ ï λ λ t οικαιον είναι η οροως μεμνημαι ΚΑΛ Ά λλα ταντα ελεγον και τότε και νυν λεω 142 142 Esta é uma das decorrências do chamado Paradoxo Socrático como re ferido comumente pelos estudiosos da filosofia platônica segundo o qual o co nhecimento é condição suficiente para a virtude de modo que ninguém agiria mal voluntariamente mas por ignorância Tal máxima moral é atribuída ao Sócrates histórico por Aristóteles na Ética Nicomaqueia quando ele discute o fenômeno moral da incontinência akrasia άκρασία Alguém poderia colocar o problema como uma pessoa tendo uma com preensão correta pode agir incontinentemente Alguns dizem que isso é impossí vel uma vez tendo o conhecimento pois havendo o conhecimento como julgava Sócrates seria espantoso que outra coisa o dominasse e o arrancasse de seu curso tal como a um escravo Pois Sócrates combatia totalmente esse argumento como se não existisse a incontinência pois ninguém compreendendo as razões agiria contrariamente ao que é o melhor mas sim por ignorância vii ii45b2i27 Απορήσειε δ αν τις πώς ύπολαμβάνων όρθώς άκρατεύεταί τις έπιστάμενον μέν οΰν οΰ φασί τινες οΐόν τε είναι δεινόν γάρ επιστήμης ένούσης ώς ψετο Σωκράτης άλλο τι κρατείν καί περιέλκειν αυτήν ώσπερ άνδράποδον Σωκράτης μέν γάρ δλως έμάχετο προς τον λόγον ώς ούκ οΰσης άκρασίας ούθένα γάρ ϋπολαμβάνοντα πράττειν παρά το βέλτιστον άλλα δι άγνοιαν 143 Sócrates não contesta a interpretação de Cálicles referente à semântica de nomos no poema de Píndaro 484b mas passa a refutar a tese do interlocutor como se Píndaro dela compartilhasse Como a personagem Sócrates salienta em certos momentos nos diálogos de Platão não importa quem defende tal ou tal opinião mas o exame da opinião em si mesma se ela se sustenta ou não uma vez sob o escrutínio do elenchos Mas o exame de uma opinião não impede que no processo do elenchos GÓRGIAS 317 é a mais bela investigação de que tipo deve ser o homem com o que deve ele se ocupar e até que ponto seja ele velho ou jovem 488 Pois se eu não ajo corretamente durante minha vida saibas tu que não erro voluntariamente mas por ignorância própria142 Tu então assim como começaste a admoestarme não te eximis desse posto mas mostrame de forma suficiente aquilo com que devo me ocupar e de que modo poderia eu conquistálo se me surpreenderes concordando contigo agora mas logo depois agindo em discordância com o que concordei considerame um completo estúpido e jamais me admoestes futuramente pois nada b me é digno Porém retomame o princípio da discussão como tu e Píndaro entendeis o que é o justo o justo segundo a natureza143 Acaso seria o superior tomar pela força o que per tence aos inferiores o melhor dominar os piores e o mais nobre possuir mais que o mais débil O justo que mencionas é diferente disso ou minha lembrança é correta144 c a l Eu afirmava isso outrora e continuo afirmando agora o próprio interlocutor seja concomitantemente investigado e posto à prova como Sócrates afirma por exemplo nesta passagem do Protágoras A quem devo então dirigir a palavra à audiência ou a ti Se quiseres disse Protágoras discute primeiro o argumento sustentado pela maioria Mas para mim não faz diferença se isso condiz ou não com a tua opinião contanto que sejas apenas tu a responder às perguntas pois eu examino sobretudo o argumento embora suceda talvez que tanto eu que interrogo quanto aquele que responde sejamos igualmente examinados 333C39 Πότερον ούν προς εκείνους τον λόγον ποιήσομαι εφην ή προς σέ Εί βούλει εφη προς τούτον πρώτον τόν λόγον διαλέχθητι τον των πολλών Ά λλούδέν μοι διαφέρει έάν μόνον σύ γε άποκρίνΓ είτ ούν δοκει σοι ταύτα είτε μή τον γάρ λόγον έγωγε μάλιστα εξετάζω συμβαίνει μέντοι ίσως και έμε τόν έρωτώντα και τόν άποκρινόμενον έξετάζεσθαι 144 Sócrates passa a refutar a tese de Cálicles a respeito da natureza política do ho mem a partir de um problema semântico pois ele se refere em seu discurso 482C484C a um mesmo referente por meio de palavras distintas de um lado os mais vigorosos τούς έρρωμενεστέρους 483C1 o mais potente τόν δυνατώτερον 483d2 o supe rior τόν κρείττω 483d5 os melhores τούς βέλτιστους 4830448402 e o mais no bre τόν άμείνω 483di e de outro os fracos oi άσθενείς 483b5 o menos potente τού άδυνατωτέρου 483d2 o inferior τού ήττονος 483δξ o pior τού χείρονος 483di 484C3 e os mais débeis φαυλότεροι 483C6 A princípio κρείττων kreittõn pode designar uma superioridade do ponto de vista da força física mas designa também a superioridade em geral βέλτιων beltiõn por sua vez não designa propriamente uma superioridade física mas social eou moral T Irwin op cit p 184 318 GÓRGIAS DE PLATÃO c d e 4 8 9 2Í2 Iló repo v òe tov aíiròv fSekríoj Kakeís rv Kal Kpeírru ovôe yáp ro í rore olós r rj paOeiv crov t Í irore k éy o is nórepov to vs layyporépovs Kpeírrovs Kakeis kol òei aKpoâ xdai tov IfTyvporépov ro vs CKrOeveaTépovs 0lóv po 1 ÒOKeis kcu róre evheÍKVvadai ws aí pieyákai irókeis èiri rà s crxtKpàs Karà rò jmaei òlkcuov epyovrai St i Kpeírrovs eícrlv koX Kryyporepai ws to Kpeirrov kcu to loyyporcpov kcu p e k n o v ra vròv ov r e a n Pekríco pev eivai rjTTui òe Kal àaOevé crrepov Kal Kpeírrco pev eiva i poyOrjpárepov òé rj 6 avrbs bpos ècrrlv tov P ek río v o s Kal tov KpeÍTTovos roírò p01 I n t 5 A rt avTO rrapws oiopivov ra v ro v tj eTepov ecrTiv to KpeiTTOv Kai rò p é k rio v Kal rò liryypÓTepov KAA AAà èycú croí cratjws Àeyw or 1 ravróv èerriv 2Í2 O vkovv oi 7toAAoÍ tov evòs KpeÍTTovs elcrlv Karà cpvaiv oí òrj küI to vs vópovs rídevrai èirl rw kví coairep kcu ri apTL eÀeyeç KAA ITws yàp ov 2Í2 Tà rwu Trokkíòv ãpa vópupa rà rwt KpeiTTÓvoov ecrrív KAA ITcmi ye 2Í2 O vkovv Ta tGv p ek n ó v iú v oí yap Kpeírrovs fíe k ríovs TTokv Karà tov crbv kóyov KAA Naí 2Í2 O vkovv ra tovtiúv v óp ip a Karà pvm v Kaká Kpeir t Óvcúv ye ovtiúv KAA tripL 2Í2 TAp oòa oí 7Tokkol vopLÇpvcriv ovrcos ws apn au crá eÀeyes òÍküiov eivai rò íaop exeip Kal alaryiov rò ãòiKelv tov àòiKeíaôai eanv ravra fj ov Kal óVws pr àkióarj èvravôa av av aíayyvópevos vopíovaiv r ov 01 irokkol 145 145 Ao chamar a atenção para a vergonha de Cálicles aioxuvópevoç 48932 Sócrates evidencia o aspecto ad hominem envolvido no processo do elen chos seu intuito não é apenas refutar logicamente as opiniões de Cálicles fazen doo se contradizer mas testar concomitantemente se também ele assim como Górgias e Polo será acometido pelo sentimento de vergonha o que segundo o próprio Cálicles 482ce possibilitou o sucesso de Sócrates no confronto anterior GÓRGIAS 319 soc Porventura te referes ao melhor e superior como o mesmo homem Pois não consegui compreender naquela oca c sião o que dizias Acaso te referes aos mais fortes como supe riores e afirmas que os mais fracos devem ouvir o mais forte como parecias me mostrar àquela altura quando dizias que as grandes cidades se arrojam às pequenas segundo o justo por natureza por serem superiores e mais fortes visto que o supe rior o mais forte e o melhor são o mesmo Ou é possível ser melhor mas inferior e mais fraco ou ser superior porém mais mísero Ou a mesma definição vale para o melhor e para o su d perior Defineme este ponto claramente se o superior o me lhor e o mais forte são o mesmo ou se são diferentes c a l E eu te digo claramente são o mesmo soc Então a massa não será superior por natureza a um único homem É ela que institui as leis contra ele como tam bém tu há pouco dizias c a l E como não soc Portanto as leis da massa são as leis dos superiores c a l Com certeza soc Então não são as leis dos melhores Pois os superiores e são muito melhores conforme teu argumento c a l Sim soc Então as leis desses homens não são belas por natu reza uma vez que são superiores c a l Confirmo soc Não é esta a prescrição da massa como há pouco di zias que justo é ter posses equânimes e que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla É assim ou não é Atentate 489 para que a vergonha não se apodere de ti nesse momento145 A massa considera ou não que justo é ter posses equânimes e não com os dois interlocutores Em suma Sócrates está verificando até que ponto a franqueza παρρησίαν 48733 arrogada por Cálicles como uma espécie de an tídoto ao elenchos socrático é capaz de superar a vergonha de dizer o que real mente se pensa O ponto culminante desse teste da franqueza de Cálicles se dará em 494ε com os exemplos da coceira e dos homossexuais passivos na discussão sobre o hedonismo 320 GÓRGIAS DE PLATÃO το ίσον έχειν άλλ ον το πλέον δίκαιον είναι καί αίσχιον τδ άδικεΐν του άδικεΐσθαι μη φθάνει μοι άποκρίνασθαι τούτο Καλλίκλεις ίν εάν μοι δμολογήσης βεβαιωσωμαι ήδη 7ταρά σου άτε ικανού άνδρδς διαγνωναι ωμολογηκότος ΚΑΛ Ά λ λ οι γε πολλοί νομίζουσιν ούτως 2X2 Ον νόμω άρα μόνον έστίν αίσχιον τδ άδικεΐν του b άδικεΐσθαι ουδέ δίκαιον τδ ίσον εχειν άλλα καί φύσει ώστε κινδυνεύεις ονκ αληθή λεγειν εν τοΐς πρόσθεν ονδε όρθως εμοΰ κατηγορείν λέγων ότι εναντίον εστίν δ νόμος καί ή φύσις α δη καί έγω γνονς κακουργώ εν τοΐς λόγοις εαν μεν τις κατα φυσιν λεγη επι τον νομον άγων εανοε tls κατα νομον 774 την pvcriv ΚΑΛ Οντοσί άνήρ ον πανσεται φλύαρων είπε μοι ω Σωκρατες ονκ αισχύνη τηλικοντος ων ονόματα θηρενων καί c εάν τις ρήματι άμάρτη έρμαιου τούτο ποιούμενος εμέ γαρ οΐει άλλο τι λεγειν τδ κρείττους είναι ή τδ βελτίονς ον 146 Vejamos a estrutura formal da refutação de Cálicles relativa ao melhor e superior 488d5489bi i Por natureza os mais fracos que são a maioria são numericamente supe riores aos fortes que são poucos e instituem as leis para refreálos ii na medida em que o superiores são o mesmo que os melhores as leis dos superiores são as leis dos melhores iii na medida em que os superiores e os melhores são melhores e superiores por natureza as leis instituídas por eles são belas por natureza iv os mais fracos acreditam que a justiça consiste em ter posses equânimes e que é mais vergonhoso cometer injustiça do que sofrêla v portanto não é apenas pela lei mas também por natureza que a justiça consiste em ter posses equânimes e que é mais vergonhoso cometer injustiça do que sofrêla J Beversluis op cit p 344 14 7 Cálicles entende essa primeira tentativa de refutação de Sócrates como um mero jogo de palavras que não invalidaria absolutamente a verdade da sua tese O pontochave do argumento de Sócrates está na identificação do melhor e supe rior com o mais forte entendido aqui no sentido de superior em força física ώς τό κρείττον και τό ίσχυρότερον και βέλτιον ταύτόν õv 488C67 uma turba de escravos reunida seria portanto melhor e superior a um único homem quem quer que ele seja na medida em que o superam em força física Ao definir a refutação socrática como uma caça de palavras ονόματα θηρεϋων 48çb8 Cálicles evidencia mais uma vez seu juízo a respeito do comportamento de Sócrates na discussão como ele dirá a seguir Sócrates age como quem almeja a vitória φιλόνικος 51505 Cálicles em suma entende que Sócrates age como um erístico como alguém que quando discute GÓRGIAS 321 possuir mais do que outrem e que é mais vergonhoso cometer injustiça do que sofrêla Não me recuses essa resposta Cáli cles a fim de que se concordares comigo eu esteja assegurado por ti visto que em concordância comigo és um homem com petente para decidir a questão c a l É essa a prescrição da massa soc Portanto não é somente pela lei que cometer injustiça é mais vergonhoso do que sofrêla e que justo é ter posses equânimes mas também por natureza146 Por conseguinte tu provavelmente não dizias a verdade na discussão anterior e não me acusavas cor retamente ao afirmar que a lei e a natureza são contrárias e que eu ciente disso era capcioso na discussão quando me referia à lei se alguém falasse sobre a natureza e à natureza se falasse sobre a lei cal Esse homem não deixará de lado essas tolices Dizeme Sócrates tu nessa idade não te envergonhas de caçar palavras presumindo obter algum proveito se alguém erra nas expressões147 Porventura julgas que eu disse que ser superior é diferente de ser visa exclusivamente a refutação do interlocutor a despeito da verdade das conclusões a que chegam cf supra nota 114 No diálogo Eutidemo Platão satiriza a sabedoria erística ταύτης τής σοφίας τής έριστικής 2720910 dos irmãos Eutidemo e Dioni sodoro fazendo uma caricatura cômica desses tipos de disputas verbais e jogos silogís ticos em contraste com o caráter protréptico do elenchos socrático cujo escopo seria conduzir o interlocutor para o caminho da filosofia e da virtude εις φιλοσοφίαν και αρετής επιμέλειαν 27582 Nesse sentido Cálicles no Górgias estaria identificando Sócrates com esse tipo de debatedor que Platão alcunha de erístico A passagem do Eutidemo abaixo esclarece melhor esse ponto D e fato esses e n sin a m e n to s são b rin c a d e ira s é p o r isso q u e e u a firm o q u e a m b o s o s h o m e n s e stã o b r in c a n d o c o n tig o e d ig o b rin c a d e ir a p o rq u e se a lg u é m a p re n d e sse p a rte d esses e n sin a m e n to s o u m e s m o to d o s eles isso n ã o a c re sce n ta ria n a d a a o se u co n h e cim e n to d e co m o as co isa s são to rn a rse ia p o ré m ap to a b rin c a r c o m o s h o m e n s fa z e n d o o s tr o p e ç a r e re v o lv e r p o r m e io d a d ife re n ç a d e p a la vra s c o m o q u e m ri e se d e le ita q u a n d o a rra n c a o b a n c o d e q u e m está p restes a se sen tar v e n d o o p ro s tra d o d e co sta s C o n s id e r a e n tã o q u e tu d o fo i u m a b rin c a d e ir a d a p a rte d e le s c o n tig o 278 b2C 2 ταϋτα δή τών μαθημάτων παιδιά έστινδιό καί φημι έγώ σοι τούτους προσπαίζεινπαιδιάν δέ λέγω διά ταϋτα οτι εί και πολλά τις ή και πάντα τα τοιαϋτα μάθοι τα μέν πράγματα ούδέν αν μάλλον είδείη πή εχει προσπαίζειν δέ οίός τ αν εϊη τοίς άνθρώποις διά τήν τών ονομάτων διαφοράν ϋποσκελίζων και άνατρέπων ώσπερ οί τα σκολύθρια τών μελλόντων καθιζήσεσθαι ύποσπώντες χαίρουσι και γελώσιν έπειδάν ϊδωσιν ύπτιον άνατετραμμένον ταϋτα μέν ούν σοι παρά τούτων νόμιζε παιδιάν γεγονέναι 322 GÕRGIAS DE PLATÃO d e 490 πάλαι σοι λέγω οτι ταύτόν φημι είναι το βέλτιον και το κρεΐττον η οϊει με λέγειν εάν συρφετοί συλλεγγ δούλων και παντοδαπων ανθρώπων μηδενοί άξιων πλην ΐσωί τω σωματι ισχυρίσασθαι και ουτοι φώσιν αντα ταύτα είναι νόμιμα ΣΩ ETez ω σοφωτατε Καλλίκλεΐί οϋτω λέγείί ΚΑΛ ΐϊάνν μέν ουν ΣΩ Ά λλ εγω μεν ω δαιμόνιε και αυτοί πάλαι τοπάζω τοιοΰτόν τί σε λέγειν το κρεΐττον και άνερωτω γλιγόμενοί σαφωί είδέναι οτι λέγείί ον γάρ δηπον συ γε τουί δυο βελτίουί ηγτ του ένόί ουδέ τουί σούί δούλουί βελτίονί σου ότι ισχυρότεροι είσιν η συ άλλα πάλιν εξ άρχήί είπε τί ποτέ λέγείί τουί βελτίουί επειδή ου τούί Ισχυροτέρονί και ω θαυμάσιε πραότερου με προδίδασκε ΐνα μη αποφοιτήσω παρά σου ΚΑΛ ΕΙρωνεύΐ ω Σώκρατεί ΣΩ Μα τον Ζήθον ω Καλλίκλεΐί ω συ χρώμενοί πολλά νυνδη ειρωνενου πρόί με άλλ ιθι είπέ τίναί λέγείί rovs βελτίουί είναι ΚΑΑ Τουί άμείνουί εγωγε ΣΩ Όράί άρα ότι σύ αυτοί ονόματα λέγείί δηλοΐί δέ ουδέν ούκ έρείί τούί βελτίουί και κρείττουί πότερον τούί φρονιμωτέρουί λέγείί η αλλουί τινάί ΚΑΛ Άλλα val μά Δία τούτουί λέγω καί σφόδρα γε ΣΩ ΥΙολλάκΐί άρα εΐί φρονων μυρίων μη φρονούντων κρείττων εστϊν κατά τον σόν λόγον καί τούτον άρχειν δει τούί δ άρχεσθαι καί πλέον έχειν τον άρχοντα των άρχο μένων τούτο γάρ μοι δοκεΐί βούλεσθαι λέγειν καί ου ρηματι θηρεύωet 6 εΐί των μυρίων κρείττων 148 149 148 Sócrates faz um jogo com a expressão não por Zeus ναι μά Δία iro nizando Cálicles Sobre Zeto cf supra nota 128 149 É Sócrates quem oferece a Cálicles uma definição mais precisa do que ele entende como os melhores e superiores τούς βελτίους και κρείττους 489e7 identificandoos com os mais inteligentes τούς φρονιμωτέρους 489e8 Talvez GÓRGIAS 323 melhor Há tempos não afirmo que ser superior e ser melhor são o mesmo Ou julgas que eu digo que uma turba congregada de escravos e de homens de toda sorte todos eles sem mérito exceto talvez pela força do corpo o que ela ditar serão as leis soc Assim seja sapientíssimo Cálicles É o que afirmas c a l Certamente soc Extraordinário homem mas eu também supunha há d tempos que tu dizias que o superior é algo desse tipo e volto a perguntar por desejo de entender claramente o teu argumento Pois decerto tu não consideras que dois homens sejam melhores do que um tampouco que teus escravos sejam melhores do que tu só porque são mais fortes Mas voltando novamente ao prin cípio dizeme o que entendes por os melhores uma vez que não são os mais fortes E admirável homem ensiname com mais brandura para que eu não abandone as tuas lições c a l Ironizas Sócrates e soc Não por Zeto148 Cálicles a quem há pouco recorreste inúmeras vezes para me ironizares Mas adiante dizeme quem são os melhores c a l Para mim os mais nobres soc Ora não vês que tu mesmo proferes nomes sem nada indicar com eles Não dirás o que entendes por os melhores e superiores se são eles os mais inteligentes ou se são outros149 c a l Sim por Zeus refirome precisamente a tais homens soc Portanto segundo teu argumento geralmente um 490 único homem inteligente é superior a milhares de homens es tultos e ele deve dominar enquanto os outros serem domina dos e quem domina possuir mais do que os dominados É isso o que tu me pareces querer dizer e não estou à caça de expres sões se um único homem é superior a milhares o pronto assentimento de Cálicles se deva ao fato de ele em sua invectiva contra o filósofo e a filosofia ter aconselhado Sócrates a buscar a reputação de homem in teligente δόξεις φρονειν 486C6 referida ali pela forma verbal φρονεϊν phronein da mesma raiz de φρόνιμος phronimos T Irwin op cit p 187 324 GÕRGIAS DE PLATÃO KAA Άλλα ταυτ έστιν à λέγω τοντο γάρ οΐμαι εγώ το δίκαιον eivai φύσει το βΐλτίω οντα καί φρονιμωτερον και apyjeiv καϊ πλέον εχειν των φανλοτέρων b ΣΩ Έχε δη αυτού τί ποre αν νυν Xéyeis εάν ev τω αυτω ώμεν ώσπερ νυν πολλοί αθρόοι και ημΐν η ev κοινω πολλά σιτία καί ποτά ώμεν δε παντοδαποί οι μεν ισχυροί οί δ aaOeveis eh δε ημών η φρονιμώτερος irepi ταντα ιατρός ων j ôe οιον ϊίκος των μςν ισχνροτρο των δε àa6evéarepos άλλο τι η ovtos φρονιμώτίρος ημών ων βελτίων και Kpeίττων εσται eis ταντα ΚΑΛ Πάνυ γε c ΣΩ Ή ονν τούτων των σιτίων πλέον ημών έκτέον αυτω οτι βλτιων εσπν η τω εν apxeiv παντα εκείνον οει veμeιv εν τω δε άναλίσκειν re αυτά και καταχρησθαι eis το εαυτοί σώμα ου πλεονεκτητεον ει μη μελλει ζημιονσθαι άλλα των μεν πλέον των δ ελαττον έκτέον εάν δέ τύχη πάντων άσθνέστατο5 ων πάντων έλάχιστον τω β ελτίστω ώ Καλ λίκλε ουχ ούτωί ώγαθέ ΚΑΑ Περί σιτία eyeis και ποτά και Ιατρόuy και φλυα d pías εγώ δε ου ταντα λέγω ΣΩ Ποτερον ον τον φρονιμωτερον β ελτίω λέγeιs φάθι η μη ΚΑΛ νΕγωγε ΣΩ Ά λλ ον τον β eλτíω πλέον δεϊν εχειν ΚΑΛ Ου σιτίων γε ουδέ ποτών ΣΩ Μανθάνω άλλ ϊσω ιματίων και δει τον νφαντι κωτατον μέγιστον Ιμάτιον εχειν καί πλεΐστα καί κάλλιστα àμ π eχό μ evov περιιεναι ΚΑΛ Ποιων Ιματίων 15 ο A discussão se volta agora para a análise semântica da ideia de ter mais πλέον εχειν 49oa8 πλεονεκτητέον 490C4 πλεονεκτεΐν 49odi 1 e se estende até 49ib4 151 Sócrates opta pela reductio ad absurdum para mostrar a inconsistência do argumento de Cálicles entendendoo da seguinte maneira se A é mais inteligente do que B a respeito de Fs então A deve ter mais Fs do que B T Irwin op cit p 188 J Berversluis op cit p 346 Mas o argumento tal como formulado por Cálicles GÓRGIAS 325 c a l Mas é isso o que afirmo Pois o justo por natureza julgo eu é que o melhor e mais inteligente domine os mais dé beis e possua mais do que eles soc Espera aí O que afirmas agora150 Se nós uma massa b aglomerada estivéssemos em um mesmo lugar como agora es tamos e partilhássemos grande quantidade de comida e bebida mas fôssemos homens de toda sorte uns fortes outros fracos se um de nós fosse mais inteligente nesse assunto no caso um mé dico mas fosse ele como é verossímil mais forte do que uns e mais fraco do que outros porventura não seria esse homem por ser ele mais inteligente do que nós o melhor e superior nesse aspecto c a l Com certeza soc E esse homem não deveria ter mais comida do que nós c visto que é melhor Ou porque tem o domínio deve ele distri buir toda a comida e não acumulála para despender e usar em prol de seu próprio corpo porém possuir mais do que uns e me nos do que outros caso pretenda passar impune E se ele for o mais fraco de todos nesse caso o melhor não deverá ter o menor quinhão Cálicles Não é o que acontece bom homem c a l T u falas de comidas bebidas médicos e tolices mas eu não me refiro a isso151 d soc Não afirmas que o mais inteligente é o melhor Afir mas ou não c a l Sim soc Mas o melhor não deve possuir mais c a l Sim mas não comida nem bebida soc Compreendo mas talvez mantos e o melhor tecelão deverá possuir o maior manto e perambular envolto nas mais belas e abundantes vestes c a l Que mantos não implica essa inferência de Sócrates pois Cálicles não determina o que o me lhor e mais inteligente tò βελτίω όντα και φρονιμώτερον 49a7 deve ter mais do que os mais débeis των φαυλότερων 49oa8 na ausência dessa determinação Sócrates a partir da analogia com os casos do médico do tecelão e do sapateiro reformula a tese de Cálicles afirmando que o melhor e mais inteligente deve ter mais aquilo a respeito do que ele é mais inteligente 326 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Ά λ λ eis υποδήματα δήλον οτι δει πλεονεκτάν τον e φρονιμώτατον eis ταντα και βέλτιστου τον σκυτοτόμον ίσως μέγιστα δει υποδήματα και πλεϊστα υποδεδεμένου περιπατεΐν ΚΑΛ Ποια υποδήματα φλυαρώ εχων ΣΩ Ά λ λ εί μή τα τοιαϋτα λέγεις ίσως τα τοιάδε οΧον γεωργικόν άνδρα περί γην φρόνιμόν τε και καλόν και αγαθόν τούτον δή Χσως δει πλεονεκτεϊν των σπερμάτων και ως πλείστω σπέρματι χρήσθαι eis την αυτού γην ΚΑΛ Ώς άει ταυτα λέγεις ω Σώκρατες ΣΩ Ου μόνον γε ω Καλλίκλεΐϊ άλλα και περι των αυτών ι ΚΑΛ Ντ Toîs θεούς άτεχνώς γε άει σκυτέας τε καί κναφέας και μαγείρους λέγων και Ιατρούς ουδέν πανη ως περι τούτων ήμΐν όντα τον λόγον ΣΩ Ούκοΰν συ έρεΐς περί τίνων ό κρείττων τε και φρονιμώτερος πλέον εχων δικαίως πλεονεκτεί ή ούτε εμού υποβάλλοντος άνέξη ούτ αυτός έρεΐς ΚΑΛ Ά λ λ εγωγε και πάλαι λέγω πρώτον μεν τους κρείττους οΐ εισιν ου σκυτοτόμους λέγω ουδέ μαγείρους άλλ b oî άν εις τα της πόλεως πράγματα φρόνιμοι ωσιν οντινα άν τρόπον ευ οίκοΐτο και μή μόνον φρόνιμοι άλλα και άνδρεΐοι ικανοί οντες â àv νοήσωσιν έπιτελεΐν και μή άποκάμνωσι δια μαλακίαν τής ψυχής ΣΩ Όρας ω βέλτιστε Καλλίκλεΐϊ ως ου ταύτά συ τ εμού κατηγορείς και εγω σου συ μεν γαρ εμε φής αει ταυτα λέγειν καί μέμφη μοι εγω δε σου τουναντίον ότι ουδέποτε ταύτά λέγεις περί των αυτών άλλα τότε μέν τούς c βελτίους τε καί κρείττους τούς ίσχυροτέρους ώρίζου αύθις δε τους φρονιμωτερους νυν δ αυ ετερον τι ηκεις εχων 152 152 Cálicles tem em mente portanto o homem político o qual se encontra por sua vez impedido de fazer prevalecer seu poder que pela natureza lhe é de di reito devido às leis instituídas pela maioria dos homens 483b494a GÓRGIAS 327 soc Em relação a sapatos é evidente que o melhor e mais inteligente nesse assunto deve possuir mais Talvez o sapateiro e deva possuir os maiores sapatos e passear por aí calçado com vários deles c a l Que sapatos Dizes tolices soc Mas se não te referes a coisas do gênero talvez te re firas a estas Por exemplo o agricultor que concernente à terra é inteligente belo e bom talvez deva possuir mais sementes e utilizálas ao máximo em sua terra c a l Como dizes sempre as mesmas coisas Sócrates soc Não somente isso Cálicles mas também a respeito das mesmas coisas c a l Pelos deuses Simplesmente tu não paras de falar de 491 sapateiros cardadores cozinheiros médicos como se a nossa discussão versasse sobre isso soc E então não dirás a que te referes quando dizes que o superior e mais inteligente uma vez com mais posses acumu laas de forma justa Não aceitarás as minhas sugestões nem serás tu a dizêlo c a l Mas há tempos eu digo Em primeiro lugar não são sapateiros nem cozinheiros os homens superiores aos quais me refiro mas aqueles que são inteligentes nos afazeres da cidade no b modo correto de administrála e não somente inteligentes mas também corajosos suficientemente capazes de levar a cabo o que pensam sem se abaterem pela indolência da alma152 soc Excelentíssimo Cálicles não vês que a tua acusação contra mim não é a mesma que a minha contra ti Pois tu dizes que eu sempre falo as mesmas coisas e me repreendes por isso enquanto eu digo o contrário que jamais dizes as mesmas coi sas sobre os mesmos assuntos153 mas ora defines os melhores e superiores como os mais fortes ora como os mais inteligentes c e agora mais uma vez chegas com uma nova afirmas que os 1 5 3 C f 4 8 KÍ4 8 2 C 3 2 8 GÓRGIAS DE PLATÃO άνδρειότεροί τινες υπο σου λέγονται οί κρείττους καί oi βελτίους άλλ ωγαθέ απών άπαλλάγηθι τίνας ποτέ λέγεις τους βελτίους τε και κρείττους καί εις οτι ΚΑΛ Ά λλ εϊρηκά γε εγωγε τον ï φρονίμους εις τα τής πόλεως πράγματα και ανδρείους τούτους γάρ d προσήκει των πόλεων άρχειν και το δίκαιον τούτ èarív πλέον έχειν τούτους των άλλων τους άρχοντας των αρχομένων Σί2 Τί δέ αυτών ω εταίρε τί ή τι άρχοντας ή αρχο μανούς ΚΑΛ Πώί λέγεις 2Í2 Ενα έκαστον λέγω αυτόν εαυτού άρχοντα ή τούτο μεν ουδέν δει αυτόν εαυτού άρχειν των δέ άλλων ΚΑΛ Πώί eαυτοί άρχοντα λέγεις 2X2 Ουδέν ποικίλον άλλ ώσπερ οι πολλοί σώφρονα δντα και έγκρατή αυτόν αυτού των ηδονών και επιθυμιών y λ ï λ e αρχοντα των ev eaimo ΚΑΛ Í2y ήδύς et τούς ηλιθίους λέγεις τούς σώφρονας Σί2 Πώί γάρ ου ουδεις οστις ουκ αν γνοίη οτι ου τούτο λέγω ΚΑΛ Πάυυ ye σφόδρα ω Σώκρατες έπει πως άν ευδαίμων γένοιτο άνθρωπος δονλύων ότωοϋν άλλα τουτ έστιν το κατά φύσιν καλόν καί δίκαιον δ εγώ σοι νυν παρ ρησιαζομενος λέγω άτι δει τον όρθώς βιωσόμενον τάς μεν επιθυμίας τάς εαυτού εάν ως μεγίστας είναι και μή κολάζειν 492 ταυταις ôe ωί μεγισταις ουσαις ικανόν είναι υπηρετειν οι ανδρείαν και φρόνησιν και άποπιμπλάναι ων αν άει ή επι θυμία γίγνηται αλλά τούτ οΐμαι τοΐς πολλοΐς ου δυνατόν οθεν ψέγουσιν τονί τοιούτονς δι αισχύνην άποκρυπτόμενοι 154 Sócrates desloca a discussão sobre dominar e ser dominado ή τι άρχοντας ή άρχομένους 493 do ponto de vista político a que se referia Cálicles até então para o ponto de vista do indivíduo ou seja do controle dos apetites e prazeres τών ηδονών και επιθυμιών 49idi ι A discussão passa a versar portanto sobre a tempe rança sõphwsunê σωφορσύνη uma das virtudes cardinais da filosofia platônica definida aqui grosso modo como o controle sobre os apetites e prazeres 155 Sobre a franqueza parrhêsia παρρησία de Cálicles cf supra notas 135 e 145 GÓRGIAS 329 superiores e melhores são certos homens mais corajosos Bom homem desembaraça tuas palavras e dizeme então quem são os melhores e superiores e em relação a quê c a l Mas eu acabei de dizer que são os homens inteligentes nos afazeres da cidade e corajosos Pois convém que tais homens dominem as cidades e o justo é que eles possuam mais do que d os outros os dominantes mais do que os dominados soc E aí Mais do que eles mesmos meu caro Eles domi nam ou são dominados c a l Como dizes soc Eu pergunto se cada um deles domina a si mesmo ou ele não deve dominar a si mesmo mas aos outros c a l O que designas por dominar a si mesmo soc Não é nada complexo porém é como diz a massa ser temperante e conter a si mesmo dominar os seus próprios pra zeres e apetites154 e c a l Como és aprazível Afirmas que os idiotas são os tem perantes soc Como Todos sabem que eu não digo isso c a l Certamente Sócrates Pois como poderia ser feliz o homem que é escravo de quem quer que seja Mas o belo e justo por natureza para te dizer agora com franqueza155 é o seguinte o homem que pretende ter uma vida correta deve permitir que seus próprios apetites dilatem ao máximo e não refreálos e uma vez supradilatados ser suficiente para servirlhes com co 492 ragem e inteligência e satisfazer o apetite sempre que lhe advier156 Mas isso julgo eu é impossível à massa ela assim vitupera tais homens por vergonha para encobrir a sua própria impotência 156 Nesse ponto do diálogo o contraste entre as convicções morais de Só crates e as de Cálicles encontra seu ápice para Cálicles ao contrário do que pensa Sócrates a felicidade do homem ευδαίμων 49ie6 consiste na sua capacidade de permitir que os apetites τάς έπιθυμίας 491 eg engrandeçam ao máximo para assim satisfazêlos tendo a coragem e a inteligência δΓ ανδρείαν και φρόνησιν 49232 suficientes para reprimir qualquer tipo depathos que impeça esse processo como a vergonha ou o medo por exemplo Portanto a intemperança ακολασίαν 49235 se apresenta como condição para a felicidade eudaimonia 330 GÕRGIAS DE PLATÃO τήν αύτών αδυναμίαν καί αισχρόν δη φασιν βΐναι την ακο λασίαν όπβρ iv τοΐς πρόσθβν βγω βλβγον δουλούμβνοι τους ββλτίους την φύσιν ανθρώπους και αυτοί ου δυνάμβνοι βκπορίζβσθαι ταΐς ήδοναΐς πλήρωσιν βπαινοΰσιν την σωφρο b συνην και την δικαιοσύνην δια την αυτών ανανδρίαν βπβϊ οσοις βζ αρχής νπήρξβν η βασιλίων νίσιν βΐναι η αυτούς rfj φνσβι ικανούς βκπορίσασθαι αρχήν τινα η τυραννίδα η δννα στβίαν τί άν rfj αληθβία αίσχιον καί κάκιον βϊη σωφρο σύνης και δικαιοσύνης τούτοις τοΐς άνθρωποις οΐς βξον άπολαύβιν των αγαθών και μηδβνος βμποδών οντος αυτοί βαυτοις δβσπότην βπαγάγοιντο τον τών πολλών ανθρώπων νόμον τβ καί λόγον καί ψόγον η πώς ονκ άν άθλιοι γβγονότβς c βίβν ΰπό του καλού του τής δικαιοσύνης καί τής σωφροσύνης μηδβν πλβον νβμοντβς τοΐς φίλοις τοΐς αυτών η τοΐς βχθροΐς καί ταϋτα άρχοντβς βν τί βαυτών πόλβι άλλα rfj άληθβία ω Σώκρατβς ήν φής συ διώκβιν ώδ χεί τρυφή καί άκο λασια και βλβυθβρια βαν βπικουριαν βχτ τουτ βστιν αρβτη τβ καί βυδαιμονία τα δβ άλλα ταύτ βστίν τα καλλωπίσματα τα παρά φύσιν συνθήματα ανθρώπων φλυαρία καί ουδβνος άξια d Σί2 Ονκ άγβννώς γβ ω Καλλίκλβις βπβξβρχτ τώ λόγω παρρησιαζόμβνος σαφώς γάρ συ νυν λβγβις ά οί άλλοι διανοούνται μβν λβγβιν δβ ουκ βθβλουσιν δβομαι ουν βγώ σου μηδβνί τρόπω άνβΐναι ϊνα τώ οντι κατάδηλον γβνηται πώς βιωτβον καί μοι λβγβ τας μβν βπιθυμίας φής ού κολαστβον βί μβλλβι τις οιον δβΐ βΐναι βώντα δέ αντάς ώϊ μβγίστας πλήρωσιν αυταΐς άμόθβν γβ ποθβν βτοιμάζβιν καί e τούτο βΐναι την άρβτήν ΚΑΛ Φημί ταύτα βγώ 157 Cf 483b484L 158 Tendo em vista o deslocamento da discussão para o âmbito da tempe rança sõphrosunê σωφορσύνη conduzido por Sócrates Cálicles a insere em sua concepção sobre a natureza política do homem 4834843 associandoa à justiça τήν σωφροσύνην καί τήν δικαιοσύνην 492a8bi assim como os mais fracos diante da incapacidade de prevalecer sobre os mais fortes instituíram as leis e determinaram que ter posses equânimes é o justo da mesma forma eles diante GÓRGIAS 331 e afirma que é vergonhosa a intemperança como eu dizia an tes157 e escraviza os melhores homens por natureza ela própria incapaz de prover a satisfação de seus prazeres louva a tempe rança e a justiça por falta de hombridade158 Pois para todos b que desde o nascimento são filhos de reis ou que são por na tureza suficientes para prover algum domínio alguma tirania ou dinastia o que seria na verdade mais vergonhoso e pior do que a temperança e a justiça para tais homens159 Embora pu dessem desfrutar as coisas boas sem qualquer empecilho eles elevariam sobre si mesmos a lei o discurso e a censura da massa de homens como seu déspota E como não se tornariam infe lizes sob a égide do belo da justiça e da temperança sem con c ceder aos próprios amigos mais posses do que aos inimigos ainda que possuam o domínio de sua própria cidade Na ver dade Sócrates o que dizes encalçar é isto luxúria intempe rança e liberdade uma vez asseguradas são virtude e felicidade o restante o que é instituído pelos homens contra a natureza é adorno uma tolice desprovida de valor soc É nobre como enfrentas a discussão e falas com fran d queza Cálicles pois agora dizes claramente o que os outros pen sam embora não desejem exprimilo Rogo então que não relaxes de modo algum para que realmente se esclareça como se deve viver Dizeme tu afirmas que se alguém pretende ser como se deve ser ele não tem de refrear seus apetites porém permitir que eles se dilatem ao máximo e se prontificar a satisfazêlos em toda e qualquer circunstância e que nisso consiste a virtude e cal É o que afirmo da incapacidade de satisfazer seus apetites e de se comprazer determinaram que a intemperança a ko lasia ακολασία é vergonhosa 159 Cálicles embora envolvido com a política democrática de Atenas conforme a alusão de Sócrates 48ide revela aqui explicitamente sua admiração pela figura do tirano na medida em que seu poder não está circunscrito às restrições impostas pela temperança e pela justiça σωφροσύνης καί δικαιοσύνης 492045 instituídas pela maioria dos homens como meio de impedir que os mais fortes por natureza prevale çam sobre eles Nesse sentido assim como para Polo 47od47id a vida do tirano se apresenta para Cálicles como modelo de felicidade eu d a im on ia Sobre a dinastia cf supra nota 98 sobre Cálicles como tirano em potência cf supra nota 120 332 GÓRGIAS DE PLATÃO 2Í2 Ο ίκ άρα όρθως λέγονται ol μηδενδς δεόμενοι ευδαί μονες είναι Κ Α Λ Οί λίθοι γάρ αν ουτω γε και ol νεκροί εύδαι μονέστατοι είεν ΣΩι Ά λλ α μεν δη και ως γε συ λέγεις δεινός ό βίος ου γάρ τοι θαυμάζοιμ άν εί Ευριπίδης άληθή εν τοΐσδε λέγει λέγων τίς δ οΐδεν εί το ζην μέν εστι κατθανειν το κατθανειν δέ ζην 493 καί ημείς τω δντι ίσως τέθναμεν ήδη γάρ τον εγωγε καί ήκονσα των σοφών ώϊ νυν ημείς τέθναμεν καί το μέν σωμά εστιν ημίν σήμα της δε ψυχής τούτο εν ω εττι θνμίαι είσί τυγχάνει ον οΐον άναπείθεσθαι καί μεταττίπτειν ι6ο Essa imagem do homem cujos apetites se encontram permanentemente satisfeitos e que de nada carece com o alguém morto em vida aparece por exemplo na fala do Mensageiro da A n tíg o n e de Sófocles m e n s a g e i r o Pois os prazeres Quando os homens deles abdicam não considero vida mas cadáver em vida com o penso w 11657 Τάς γάρ ήδονάς δταν προδώσιν ανδρες ού τίθημ έγώ ζην τούτον ά λλ έμψυχον ήγούμαι νεκρόν No Féd on Platão se refere a ela como uma opinião corrente entre os homens Pois é do parecer da maioria dos homens Símias que quem se abstém e não se compraz com nada disso não merece viver e que aquele que em nada se ocupa dos prazeres provenientes do corpo se encontra a um passo de estar morto 65348 Και δοκει γέ που ώ Σιμμία τοις πολλοϊς άνθρώποις ω μηδέν ήδΰ τών τοιούτων μηδέ μετέχει αυτών ούκ άξιον είναι ζην ά λλ εγγύς τι τείνειν τού τεθνάναι ό μηδέν φροντίζων τών ηδονών αϊ διά τού σώματός είσιν ι6 ι Tratase provavelmente de uma passagem da tragédia F rix o de Eurípides fr 833 segundo o escoliasta E Dodds op cit p 300 Os versos seriam estes Quem sabe se viver é o que chamam morrer E viver é morrer τίς δ οΐδεν εί ζην τούθ ô κέκληται θανειν το ζην δέ θνήσκειν έστί ι 62 Segundo Dodds op cit p 300 embora seja com um considerar esse mito reportado por Sócrates com o de natureza órfica ou órficopitagórica Sexto Empírico todavia atribiu a Heráclito uma concepção bastante similar a essa em sua obra Flipóteses Pirrônicas Heráclito diz que viver e morrer pertencem tanto à vida quanto à morte pois quando nós vivemos nossas almas estão mortas e sepultadas em nós ao passo que quando nós morremos nossas almas tornam à vida e passam a viver 3230 GÓRGIAS 3 3 3 soc Portanto é incorreto dizer que os homens que de nada carecem são felizes c a l Pois assim seriam felizes ao máximo as pedras e os cadáveres160 soc Todavia como tu dizes a vida seria prodigiosa Pois eu não me admiraria se Eurípides diz a verdade nestes versos ao afirmar que Quem sabe se viver é morrer e morrer é viver161 E talvez estejamos realmente mortos pois uma vez escutei de um sábio que nós nesse instante estamos mortos e o corpo sõma é nosso sepulcro sêma162 e que a parte da alma onde estão os ape tites é como se fosse persuadida e se lançasse de um lado ao outro163 ό δέ Ηράκλειτός φησιν ότι και τό ζην και το άποθανεΐν και έν τώ ζην ήμάς έστι και έν τφ τεθνάναι οτε μεν γάρ ήμεις ζώμεν τάς ψυχάς ημών τεθνάναι και έν ήμΐν τεθάφθαι οτε δέ ήμεις άποθνήσκομεν τάς ψυχάς άναβιοϋν και ζήν Apesar de não sabermos com precisão qual a fonte utilizada por Sexto nessa paráfrase dois fragmentos conservados de Heráclito sugerem algo semelhante i Imortais mortais mortais imortais vivendo a morte daqueles e da vida daqueles mortos fr d k 2 2 B 6 2 αθάνατοι θνητοί θνητοί αθάνατοι ζώντες τον έκείνων θάνατον τον δέ έκείνων βίον τεθνεώτες ii Ο mesmo é estar vivendo e estar morto estar desperto e estar dormindo jovem e velho pois o primeiro é o segundo quando muda e o segundo por sua vez é o primeiro quando muda fr d k 2 2 b 8 8 ταύτό τ ενι ζών και τεθνηκός και τό έγρηγορός και καθεϋδον και νέον και γηραιόν τάδε γάρ μεταπεσόντα έκεϊνά έστι κάκεΐνα πάλιν μεταπεσόντα ταϋτα Por fim Dodds ressalta que o mito não poderia ser de natureza órflca por que Platão no Crátilo 40obc diz que os órficos oí άμφίΟρφέα 400C5 derivam σώμα sõma corpo de σώζω sõizõ salvar em oposição àqueles que derivam σώμα sõmade σήμα sêma com o referido aqui no Górgias 163 Sócrates alude aqui à ideia de parte da alma τής ψυχής τοϋτο έν ψ έπιθυμίαι είσΐ 4933 τοϋτο τής ψυχής ού αί έπιθυμίαι είσί 493bi embora não seja suficiente para se afirm ar com segurança que Platão esteja se referindo elip ticamente à concepção tripartida da alma tal com o exposta no Livro iv da Re pública Com o salienta Irwin não é possível determ inar se com essa expressão Platão fala propriamente de partes ou mais genericam ente de aspectos da alma op cit p 195 Todavia J Cooper op cit p 66 observa que ao menos na psicologia m oral sustentada por Cálicles 49ie492c é possível vislumbrar uma noção de alma com três elementos a saber apetites inteligência e co ragem epithumiai phronêsis andreia έπιθυμίαι φρόνησις άνδρεία De qual quer m odo não seria suficiente para se afirm ar categoricam ente a presença da tripartição da alma no Górgias 493 33 4 GÖRGIAS DE PLATÃO άνω κάτω και τούτο άρα τις μυθολογων κομψός ανήρ Ισως Σικελός τις η Ιταλικός παράγων τω όνόματι διά το πιθανόν re και πειστικόν ωνόμασε πίθον τους δε àvorjrovs αμύητους των δ ανόητων τούτο της ψυχής ου αί επιθυμίαι elaί το ακόλαστόν αυτου και ου στεγανόν ως τετρημενος ειη πίθος δια την απληστίαν άπεικάσας τουναντίον δη ουτος σοί ω Κ αλλίκλεις ενδείκνυται ως των εν Αώου το άιδες δη λόγων ουτοι άθλιύτατοι άν είεν ol αμύητοι και φοροΐεν eis τον τετρημόνον πίθον ύδωρ ετερω τοιούτω τετρημενω κοσκινω το ôe κοσκινον αρα λεγει ωί εφη ο προς eμe λόγων την ψυχήν eivai την he ψυχήν κοσκίνω άπήκασεν την των ανόητων ως τerρημόνην are ου δυναμόνην στεγειν δι απιστίαν τε καί λήθην ταυτ επιεικώς μεν εστιν νπο τι άτοπα δηλοΐ μην δ όγω βουλομαί σοι όνδειζάμενος εάν πως οΐός τε ω πεΐσαι μεταθόσθαι αντί του άπλήστως και άκολάστως εχοντος βίου τον κοσμίως καί τοΐς αεί παροΰσιν Ικανως και εξαρκούντως εχοντα βίον ελεσθαι άλλα πάτε ρου πείθω τ ί σε καί μετατίθεσθαι ευδαιμονεστόρους είναι τους κοσμίους των ακολάστων ή ουδ άν άλλα πολλά τοιαυτα μυθολογώ ουδόν τι μάλλον μεταθήσρ ΚΑΛ Τουτ αληθέστερου εϊρηκας ω Σώκρατες ΣΩ Φόρε δη άλλην σοι εικόνα λόγω εκ του αυτου γυμνασίου ττ νυν σκόπει γάρ εΐ τοιόνδε λεγεις περι του βίου εκατόρου του τε σωφρονος και του ακολάστου οΐον εί δυοΐν άνδροΐν εκατερω πίθοι πολλοί είεν καί τω μεν ετερω υγιείς και πλήρεις ό μεν οίνου ό δε μέλιτος ό δε γάλακτος και άλλοι πολλοί πολλών νάματα δε σπάνια καί χαλεπά εκάστου τούτων εΐη καί μετά πολλών πόνων καί χαλεπών εκποριζόμενα δ μεν ουν ετερος πληρωσάμενος μήτ εποχετευοι μήτε τι φροντίζοι άλλ ευεκα τούτων ησυχίαν εχοι τω Ö ετερω τα μεν ναματα ώσπερ και εκείνω δυνατά μεν πορίζεσθαι χαλεπά δό τά δ αγγεία GÓRGIAS 3 3 5 Pois bem esse contador de mitos um homem fino talvez da Sicília ou da Itália derivando uma palavra da outra denominou jarro pi thon essa parte por ser ela persuasiva pithanon e persuasível os estultos anoêtous denominouos não iniciados amuètous e a parte da alma dos estultos onde estão os apetites a parte intempe b rante e inestancável figuroua como um jarro roto devido à sua insaciabilidade Esse homem mostra ao contrário de ti Cálicles que dentre os habitantes do Hades do Invisível aides como ele diz164 os não iniciados seriam os mais infelizes e que guarnece riam de água o jarro roto com um crivo igualmente roto Pois bem ele diz segundo o relato de quem me contou isso que o crivo é a alma e figurou como crivo a alma dos homens estultos por ser ela c rota visto que é incapaz de saciarse devido à incredulidade e ao esquecimento Isso é com razão um tanto absurdo contudo escla rece o que eu quero te mostrar a fim de caso seja capaz persuadirte a mudares de ideia e a escolheres ao invés de uma vida insaciável d e intemperante uma vida ordenada suficiente e conformada com o que se lhe dispõe Porventura persuadote de algum modo a mu dares de ideia e a considerares que os homens ordenados são mais felizes que os intemperantes ou mesmo que eu te conte inúmeros mitos como esse não mudarás de ideia absolutamente cal Acabaste de pronunciar uma grande verdade Sócrates soc Adiante então Vou te apresentar outra imagem prove niente da mesma escola já mencionada Examina então se o que dizes sobre ambas as vidas a do temperante e a do intemperante é algo do gênero Suponhamos que ambos os homens tivessem vários jarros um deles jarros salubres e repletos de vinho mel e leite e muitos outros jarros de conteúdos variados mas que as suas respectivas fontes fossem escassas e pouco acessíveis a muito custo extraídas esse homem uma vez repletos os jarros deixaria de se preocupar com enchêlos e por isso se acalmaria Suponha mos porém que as fontes do outro homem tal como as do pri meiro apesar de pouco acessíveis pudessem ser extraídas mas 164 Ver Platão F éd on 81c Crátilo 404b 3 3 6 GÓRGIAS DE PLATÃO τετρημένα καί σαθρά άναγκάζοιτο δ αεί καί νύκτα καί 494 ημέραν πιμπλάναι αυτά η rày εσχάτας λυποιτο λύπας αρα τοιοντου κάπρον οντο του ριου Aeyets τον του ακο λάστου ευδαιμονέστερον eivai η τον του κοσμίον πείθω τ ί σε ταντα λέγων συγχωρήσαι τον κόσμιον βίου του ακολάστου άμείνω είναι η ου πείθω ΚΑΛ Ου πείθεις ω Σωκρατες τω μεν γάρ πληρω σαμένω εκείνω ονκέτ εστιν ηδονή ουδεμία αλλά τοϋτ έστιν δ νυνδή έγω ελεγον το ώσπερ λίθον ζην επειδάν b πλήρωσή μήτε χαίροντα έτι μήτε λυπούμενον άλλ εν τοντω εστιν το ήδέως ζην εν τω ως πλεΐστον επιρρειν ΣΩ Ουκονν ανάγκη γ άν πολύ επιρρέη πολύ και το απιον είναι και μεγαλ αττα τα τρήματα είναι ταις εκροαις ΚΑΛ Πάνυ μεν ονν Σ ίΙ Χαραδριοΰ τινα αυ συ βίον λέγεις άλλ ου νεκρού ουδέ λίθου καί μοι λέγε το τοιόνδε λέγεις οΐον πεινήν καί πεινωντα εσθίειν ΚΑΛ Έγωγε c ΣΩ Καί διψήν γε καί διψωντα πίνειν ΚΑΛ Αέγω καί τάς αλλας επιθυμίας άπάσας εχοντα καί δυνάμειον πληρονντα χαίροντα ενδαιμόνως ζην 165 16 167 165 Com o resposta ao ideal do hom em in tem p éra n te louvado por Cálicles 49ie492c Sócrates entende que somente o tem p era n te é capaz de satisfazer πληρωσάμενος 49364 seus apetites de m odo a encontrando a quietude se com prazer ao passo que o intempérante é constrangido a buscar uma satisfação contínua que jamais alcançará ficando sujeito às dores mais extremas Sócrates portanto considera o prazer com o o resultado da satisfação dos apetites condição essa que o intempérante não conseguiria atingir pois os vasos rotos e avariados τα άγγεϊα τετμημένα και σαρθά 4938 não são possíveis de serem enchidos 166 Ao contrário do que ilustra Sócrates no mito Cálicles situa o prazer não no resultado do processo de satisfação do apetite que seria um estado de neutralidade μήτε χαίροντα ετι μήτε λυπούμενον 494bi mas precisamente durante seu processo de satis fação Portanto a condição para a felicidade humana consistiria na máxima fluidez dos apetites e em sua insaciabilidade conferindo ao homem um estado contínuo de prazer enquanto a continência dos apetites seria seu obstáculo T Irwin op cit p 196 167 Nos escólios do G órgias é dito que a tarambola é um pássaro que en quanto come defeca ορνις τις ός άμα τώ έσθίειν εκκρίνει GÓRGIAS 3 3 7 que os vasos estivessem rotos e avariados ele seria constrangido ininterruptamente a enchêlos dia e noite senão as dores mais pungentes o acometeriam165 Se assim vive cada um deles acaso afirmas que a vida do intemperante é mais feliz que a do orde 494 nado Quando digo essas coisas persuadote de algum modo a consentir que a vida ordenada é melhor que a intemperante ou não te persuado c a l Não me persuades Sócrates Pois o homem cujos jar ros se repletam não sente mais nenhum prazer e isso como há pouco dizia é viver como uma pedra pois quando se sacia nem se deleita nem sofre Todavia viver de forma aprazível b consiste precisamente na máxima fluidez166 soc Então não é necessário que se o fluxo é profuso seja também profuso o que se expele e haja grandes orifícios para sua vazão c a l Com certeza soc Então é a vida de uma tarambola167 de que falas e não a de um cadáver ou de uma pedra E dizeme te referes a algo semelhante a ter fome e uma vez faminto comer c a l Sim so c E ter sede e uma vez sedento beber c c a l Sim e ter todos os demais apetites e ser capaz de saciá los deleitarse e viver feliz168 168 Cálides torna categórico com essa asserção o hedonismo por ele apre goado ao se referir a todos os apetites τας άλλας επιθυμίας άπάσας 494C2 permitindo a Sócrates escolher os exemplos mais extremos e jocosos para mostrar as consequências de sua tese Na primeira versão do hedonismo 49164920 Cáli cies não diz categoricamente que o homem que pretende viver bem deve ser capaz de satisfazer a todos os apetites ele diz que quando os apetites surgem o homem deve deixar que eles engrandeçam ao máximo para assim satisfazêlos tendo a co ragem e a inteligência suficientes para reprimir qualquer tipo depathos que impeça esse processo como a vergonha ou o medo Isso não pressupõe que esse homem inteligente e corajoso deva satisfazer todo e qualquer apetite pois pode acontecer que ponderando sobre a natureza de certo apetite ele prefira não satisfazêlo por considerálo indigno ou vergonhoso como por exemplo o apetite de se coçar ou o apetite dos homossexuais passivos a que Sócrates recorrerá para refutar o he donismo Mas ao tornar sua tese categórica Cálicles legitima de certa forma as inferências propostas por Sócrates na sequência do diálogo 338 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 495 ΣΧ2 Eîye ω βέλτιστε διατελει γάρ ώσπερ ηρζω καί όπως μη άπαισχννη δει δε cos εοικε μηδ εμε άπαι σχννθηναι και πρώτον μεν είπε εί καί φωρώντα και κνησιώντα άφθόνως εχοντα του κνησθαι κνώμενον δια Γζλουντα τον βίον ευδαιμόνως εστι ζην ΚΑΛ Ω ς άτοπος εί ω Σωκράτη καί ατεχνώς δημηγόρος ΣΩ TotyàJTOi ώ Καλλίκλεις Πώλοι μεζ καί Γο yiat καί εζεπληζα καί αίσχύνεσθαι εποίησα συ δε οΰ μτ εκπλαγης ουδέ χτ αισχυνθης ανδρείος γαρ εί άλλ άπο κρίνου μόνον ΚΑΛ Φημί τοίννν καί τδί κνώμενον ηδεως άν βιώναι ΣΩ Ουκοΰι ehτερ ηδεως καί ευδαιμόνως ΚΑΛ Πάυυ yε ΣΩ Ποτερου εί την κεφαλήν μόνον κνησιω η ετι τί σε ερωτώ όρα ω Καλλίκλεις τί άποκρινη εάν ris σε τα εχόμενα τούτοis εφεξής άπαντα έρωτα καί τούτων τοιοντων οντων κεφάλαιον ό των κίναιδων βίος οντος ον δεινός και αισχρός καί άθλιος η τούτους τολμήσεις λεγειν ενδαίμονας είναι εάν άφθόνως εχωσιν ων δέονται ΚΑΛ Ονκ αισχύνη εις τοιαντα άγων ω Σώκρατες τούς 169 170 λόγους ΣΩ Ή γάρ εγώ άγω ενταύθα ω γενναίε η εκείνος os αν φη ανεοην ουτω τους χαιροντας ο πως αν χαιρωσιν ενδαίμονας είναι καί μη διορίζηται των ηδονών δποΐαι άγαθαί καί κακαί άλλ ετι καί νυν λεγε πότερον φης είναι το αυτό ηου και αγαθόν η είναι τι των ηοεων ο ονκ εστιν αγαθόν ΚΑΛ Ινα δη μοι μη άνομολογονμενος η δ λόγος εάν ετερον φησω είναι το αντο φημι είναι 169 Cf supra nota 145 170 Na medida em que para Cálicles o prazer não se encontra no resultado da satisfação de um apetite mas no próprio processo de satisfação o homem que se coça sem parar se encontra num estado de com prazim ento contínuo em que consiste a felicidade humana G Ó R G IA S 339 soc Muito bem excelente homem Termina como co meçaste e atentate para não seres tomado pela vergonha Tampouco eu como é plausível devo me envergonhar169 Em primeiro lugar dizeme se alguém com sarna e coceira coa gido a se coçar copiosamente teria uma vida feliz tendo de se coçar pelo resto de seus dias170 cal Tu és absurdo Sócrates Simplesmente um orador pú d blico171 soc Pois bem Cálicles deixei Polo e Górgias atordoados e envergonhados tu porém não te atordoes nem te envergonhes pois és corajoso Mas apenas respondeme cal Bem afirmo que quem se coça também teria uma vida aprazível soc Então uma vez aprazível também feliz cal Com certeza soc E se ele tiver coceira apenas na cabeça ou que per e gunta devo ainda te endereçar Vê Cálicles qual será a tua resposta caso alguém te inquira sobre todas as consequências uma após a outra do que dizes E o ponto culminante desse gênero de coisas a vida dos veados não é ela terrível vergo nhosa e infeliz Ou ousarás dizer que eles são felizes se possuí rem copiosamente aquilo de que carecem cal Não te envergonhas de conduzir a discussão a esse ponto Sócrates soc Porventura sou eu que a conduzo a esse ponto nobre homem ou aquele que afirma peremptoriamente que quem se deleita por qualquer modo que seja é feliz sem discernir quais 495 são os bons e os maus prazeres Mas dizeme novamente afir mas que aprazível e bom são o mesmo ou que há coisas apra zíveis que não são boas cal A fim de que a discussão não me contradiga se eu dis ser que são diferentes eu afirmo que são o mesmo 1 7 1 C f 5 1 9 i6 340 G Ó R G IA S D E P L A T à O ΣΩ Δ ια φ θείρεις ω Κ α λ λ ίκ λ ε ις τούς πρώ τους λό γο υς και ουκ αν ετι μ ε τ μ ο υ ικανω ς τα οντα εξετα ζο ις εητρ 7ταρά τα δοκοΰντα σαυτω ερεΐς ΚΑΛ Και γαρ σ υ ω Σ ω κ ρ α τς ΣΩ Ού τοίνυν όρθω ς π οιώ οντ εγώ εϊπ ερ π οιώ τούτο ούτε σ υ άλλ ω μακάριε άθρει μη ου τούτο η το αγαθόν τό π ά ν τω ς χ α ίρ ειν τα ύτά τ γάρ τα νννδη α ίν ιχ θ εν τα π ο λ λ ά και α ισ χ ρ ά φ α ίνετα ι σ υ μ β α ίν ο ν τα εί τούτο ούτω ς ε χ ε ι και ά λ λ α π ο λ λ ά ΚΑΛ Ωϊ συ γ ο ιει ω Σ ώ κ ρ α τς ΣΩ Συ δέ τω ό ντι ω Κα λ λ ίκ λ ε ις τα ύτα ίσ χ υ ρ ίζρ ΚΑΛ Ε γ ω γ ε ΣΩ Έ π ιχ ε ιρ ώ μ ε ν άρα τω λό γ ω ως σου σ π ο υ δ ά ζο ντο ς ΚΑΛ Τίάνυ γ σφόάρα ΣΩ νΙθ ι δη μ ο ι π α δ η ούτω δ ο κ ίΐ δ κ λ ο ΰ τά δ π ι σ τ η μ η ν που κ α λ ίϊς τ ι ΚΑΛ νΕ γ ω γ ΣΩ Ού και άν δρ ία ν νυνδη λ γ ς τιν α ΐν α ι μ ΐτ ά π ισ τ η μ η ς ΚΑΛ Έλίγον γ ά ρ ΣΩ Α λ λ ο τ ι ού ν ως τερ ο ν τη ν ανδρείαν τη ς π ισ τ η μ η ς δύο τα ύτα ε λ γ ς ΚΑΛ Σ φ οδρά γ ΣΩ Τ ί δε ηδονην και ε π ισ τ ή μ η ν τα ύτον η ετερ ο ν 172 173 172 Há dois aspectos a serem comentados quando Sócrates exige de Cálicles since ridade nas suas respostas ou seja que ele revele de fato as suas reais opiniões Por um lado Sócrates está colocando à prova a franqueza que Cálicles alega ter παρρησιαζόμενος 49ie7 em contraste com Górgias e Polo que segundo ele uma vez acometidos pela vergonha de dizerem o que realmente pensam acabaram sendo refutados 482ce nesse sentido os exemplos extremos referidos por Sócrates como consequência do he donismo categórico deleitarse de qualquer modo τό πάντως χαιρειν 49504 teriam essa função suplementar de examinar até que ponto Cálicles é imune ao sentimento de vergonha Esse seria o aspecto ad hominem envolvido no processo do elenchos conduzido por Sócrates Por outro lado Sócrates exige do interlocutor um dos princípios de legi timação do elenchos R Robinson Platos Earlier Dialectic p 15 pois se o interlocutor dá seu assentimento a premissas em que ele próprio desacredita então o resultado seria a refutação de opiniões mas não do interlocutor propriamente dito Sobre a sinceridade do interlocutor ver Platão República 346a Protagoras 360a 173 Cálicles já se mostra suscetível a admitir que há prazeres que não são bons como ele o fará expressamente em 499b como aqueles que Sócrates mencionou ante riormente mas para manter a coerência do argumento ele sustenta a opinião que prazer e bem são o mesmo Cálicles portanto não participa nesse momento seriamente ώς G Ô R G IA S 341 soc Arruinas Cálicles a discussão precedente e deixarias de investigar comigo de modo suficiente o que as coisas são se falasses contrariamente a tuas opiniões172 cal Vale para ti também Sócrates soc Pois bem se faço isso não o faço corretamente tam pouco tu o fazes Mas homem afortunado observa se o bem não consiste em deleitarse de qualquer modo Pois se assim o for tornarseão manifestas aquelas inúmeras consequências vergonhosas há pouco insinuadas e muitas outras mais cal Segundo o teu juízo Sócrates soc Tu Cálicles realmente persistes nesse ponto cal Sim soc Portanto tentemos discutir como se falasses seria mente173 cal Absolutamente soc Vamos lá Visto que teu parecer é esse defineme o seguinte há algo que chamas conhecimento cal Sim soc E não dizias há pouco que há também certa coragem com conhecimento174 cal Dizia sim soc Então sendo a coragem diferente do conhecimento não te referias a ambos como duas coisas cal Certamente soc E aí Prazer e conhecimento são a mesma coisa ou são diferentes σου σπουδάζοντος 4950 da discussão na medida em que suas reais opiniões já não estão mais em jogo Sócrates por sua vez ignora o princípio da sinceridade do interlo cutor cf supra nota 172 e não permite que Cálicles refaça as suas opiniões passando à demonstração de que o prazer e o bem não são a mesma coisa 4950349735 174 Sócrates retoma a tese hedonista de Cálicles 49ie492c segundo a qual o intempérante por meio da coragem e inteligência δΓ ανδρείαν και φρόνησιν 492a2 é capaz de engrandecer ao máximo seus apetites e satisfazêlos Porém ele entende aqui a inteligência phronêsis φρόνησις referida por Cálicles como co nhecimento epistëmë επιστήμη o que implica que ela não pode ser compreen dida senão como certo conhecimento teorético T Irwin op cit p 199 342 G Ó R G IA S D E P L A T à O d e 496 b ΚΑΛ Έ τερ ον δήπου ω σ ο φ ώ τα τε σ ύ ΣΩ ΤΗ καί α ν δρείαν ετέραν η δο νή ς ΚΑΛ Πώϊ γάρ οΰ ΣΩ Φερε δή όπω ς μ εμ ν η σ ό μ εθ α τα ϋτα ότι Κ α λ λ ικ λ ή ς εφ η Ά χ α ρ ν ε ύ ς ηόυ μ ζ ν και α γα θόν τα ντο ν ΐναι ε π ισ τή μ η ν οζ και ανορζιαν και ά λ λ ή λ ω ν και του αγαθού ετερον ΚΑΛ Σ ω κράτης δε γ ε ή μ ϊν δ Ά λ ω π ε κ ή θ ε ν ο υ χ ο μ ο λο γεί τα ϋτα ή ο μ ο λ ο γ ε ί ΣΩ Ο υ χ ο μ ο λο γεί ο ΐμ α ι δε γ ε ουδέ Κ α λ λ ικ λ ή ς όταν 5 V Λ ϊ Λ V Λ αυτός α υτόν υεα σ η τα ι οροω ς είπ ε γαρ μ ο ι τους ευ π ρ ατ το ντα ς το ϊς κακώς π ρ ά ττο υ σ ιν ου το υ ν α ν τίο ν ή γή πάθος π επ ο νθ ενα ι ΚΑΛ Έ α ΣΩ ΤΑρ ουν 7τερ ενα ντία ε σ τ ιν τα ϋτα ά λ λ ή λ ο ις ανάγκη π ερ ί αυτώ ν ε χ ε ιν ώ σ π ερ π ερ ί ν γ ιε ία ς ε χ ε ι και νόσου ου γα ρ ά μ α δήπου υ γ ια ίν ε ι τ ε και ν ο σ ε ί δ άνθρω π ος ουδέ άμα ά π α λ λ ά τ τ ε τ α ι ν γ ιε ία ς τ ε και νόσου ΚΑΑ Πώϊ λ ε γ ε ις Σ Ω Ο ΐο ν π ερ ί οτου β ο ύ λ ε ι του σ ώ μ α το ς α π ο λα β ώ ν σ κ οπ εί ν ο σ ε ί που άνθρω πος ο φ θα λμ ο ύς ω ονομα ο φ θ α λ μ ία ΚΑΛ Πώϊ γάρ ού ΣΩ Ο ν δήπου καί υ γ ια ίν ει γε άμα τ ο ύ ί α υτο ύς ΚΑΛ Ο υ δ δ π ω σ τιο ύ ν Σ Ω Τ ί δέ ότα ν τή ς ο φ θ α λμ ία ς ά π α λ λ ά τ τ η τ α ι άρα τ ό τ ε και τή ς ν γ ιεία ς ά π α λ λ ά τ τ ε τ α ι τώ ν ο φ θ α λμ ώ ν και τ ε λ ευ τώ ν άμα ά μφ οτερω ν ά π ή λ λ α κ τ α ι ΚΑΛ Ηκιστα γ ε ΣΩ θ α ν μ ά σ ιο ν γάρ ο ΐμ α ι και ά λο γο ν γ ίγ ν ε τ α ι ή γάρ ΚΑΛ Σ φ όδρα γ ε 175 O mesmo vocativo também é usado ironicamente por Sócrates no con fronto com Trasímaco no Livro 1 da República 33965 d a o q x Ó T a T e 176 Sócrates satiriza a fórmula geralmente empregada nos tribunais para iden tificar o depoente por meio de seu demo e Cálicles retribui o gracejo da mesma forma E Dodds op cit p 308 177 Cf 482b G Ó R G IA S 343 cal Diferentes por certo sapientíssimo homem175 d soc E a coragem também é diferente do prazer cal E como não soc Adiante então e não esqueçamos que Cálicles o Acarnense176 afirmou que aprazível e bom são a mesma coisa mas que conhecimento e coragem são diferentes tanto entre si quanto do bem cal E que Sócrates de Alopeque não concorda conosco sobre isso ou concorda soc Não concordo e presumo que tampouco Cálicles há e de concordar quando ele próprio contemplar a si mesmo corre tamente177 Dizeme não consideras que quem age bem expe rimenta uma afecção contrária a quem age mal cal Sim soc Então visto que essas coisas são contrárias entre si o que lhes sucede não é necessariamente semelhante ao que su cede à saúde e à doença Pois de fato o homem não é simulta neamente saudável e doente e nem perde a saúde e se livra da doença ao mesmo tempo cal Como dizes soc Por exemplo separa alguma parte do corpo que qui seres e examinaa O homem não pode ter uma doença óptica 496 denominada oftalmia cal E como não poderia soc Com certeza seus olhos não serão saudáveis simul taneamente não é cal Nem qualquer outra coisa soc E o que ocorre quando ele se livra da oftalmia Acaso nessa ocasião ele também se livra da saúde dos olhos e enfim acaba por se livrar de ambas cal Improvável soc Pois julgo eu seria assombroso e absurdo não é b cal Absolutamente 344 0 0 Ι 3 ΙΑ 5 ϋ Ε ΡΣΑΤΑΟ ΣΩ Άλλ ίν μ ίρ ίΐ ο ίμ α ι ίκ ά τΐρ ο ν και λ α μ β ά ν ίΐ και ά π ο λ λ ύ ΐ ΚΑΛ Φ η μ ί ΣΩ Ο νκοΰν και Ισ χ ν ν και α σ θένεια ν ω σ α ύτω ς ΚΑΛ Ναι ΣΩ Καί τά χ ο ς και β ρ α δ ύ τη τα ΚΑΛ Ώ άνν γ ΐ ΣΩ Ή καί τά γα θά και τη ν ευδα ιμονία ν και τά να ντία τούτω ν κακά τ ε και α θλιό τη τα εν μύρει λ α μ β ά ν ε ι και εν μ ερ ει ά π α λ λ ά τ τ ε τ α ι εκατερον ΚΑΛ Πάζτωϊ δηττου ΣΩ Έάι εϋρω μεν αρα ά ττα ώ ν άμα τε ά π α λ λ ά τ τ ε τ α ι άνθρωττος καί άμα ε χ ε ι δ ή λο ν ό τι τα ντά γ ε ονκ άν ειη τό τε αγαθόν και το κακόν ο μ ολογουμ εν τα υτα και ευ μ α λ α σ κ εφ ά μ ενο ς άιτοκρίνου ΚΑΛ Ά λλ υττερφνώς ως ο μ ο λ ο γ ώ ΣΩ νθι δη 7τι τα εμττροσθεν ώ μ ο λο γ η μ εν α τδ ττεινην ελεγ ες 7τοτερον ηου η ανιαρόν είνα ι αυτό λέγω το ττεινην ΚΑΛ Α νιαρόν ε γ ω γ ε το μ εν το ι ττεινώ ντα εσ θ ίε ιν ηδν λ έ γ ω ΣΩ Μ α νθ ά νω άλλ ονν τ ό γ ΐ ττεινην αυτό ανιαρόν η ο ν χ ί ΚΑΛ Φ η μ ί ΣΩ Ο νκοΰν και τδ δ ιφ η ν ΚΑΛ Σ φ όδρα γ ε ΣΩ ΥΙότερον ουν ετι 7τλείω ερω τώ η ο μ ο λο γ ε ίς άττασαν ενδειαν και εττιθνμίαν άνιαρδν ε ίν α ι ΚΑΛ Ο μ ο λ ο γ ώ ά λ λ α μη ερ ώ τα ΣΩ Ειεζ δ ιφ ώ ν τα δε δη ττίνειν ά λ λ ο τ ι η ηδυ φ ρς εΐν α ι ΚΑΛ Έ γ ω γ ε ΣΩ Ο νκοΰν τούτου ου λεγευ τδ μ εν δ ιφ ώ ν τα λνττούμενον δηττου ε σ τ ίν G Ó R G IA S 3 4 5 soc Mas presumo que ele adquire ou perde cada uma de las alternadamente cal Confirmo soc Não sucede o mesmo então à força e à fraqueza cal Sim soc E também à presteza e à lentidão cal Absolutamente soc E quanto aos bens e à felicidade e aos seus contrários os males e a infelicidade não se adquire alternadamente e se perde alternadamente cada um deles cal Absolutamente soc Portanto se descobrirmos alguma coisa que o homem perde e possui simultaneamente é evidente que não será o bem e o mal Concordamos com isso Examina bem antes de res ponder cal Concordo extraordinariamente soc Voltemos ao que foi consentido na discussão anterior Dizias que ter fome é aprazível ou doloroso Refirome a ter fome em si cal Doloroso Todavia afirmo que comer uma vez fa minto é aprazível soc Compreendo Mas então ter fome em si é doloroso ou não é cal É soc E não sucede o mesmo à sede cal Absolutamente soc Devo continuar te perguntando ou concordas que toda carência e apetite são dolorosos cal Concordo e para de me interrogar soc Seja Afirmas que beber uma vez sedento é aprazível ou algo diferente disso cal É aprazível soc Então conforme o teu argumento ter sede não é de certo sofrer 346 G Ó R G IA S D E P L A T à O e ΚΑΛ Ναι ΣΩ To δέ πίνειν πληρώσίς τε της ένδειας και ηδονή ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ουκοΰν κατά το πίναν χαί ρειν λέγεις ΚΑΛ Μάλιστα 2X2 Δ ιψώντά ye ΚΑΛ Φ η μ ί ΣΩ Α υ π ο υ μ εν ο ν ΚΑΛ Ναί ΣΩ Αίσ θά νη ουν το σ ν μ β α ΐν ο ν ο τι λυ π ο υ μ ενο ν χ α ίρ ειν λ έ γ ε ις άμα όταν δ ιψ ώ ντα π ίν α ν λέγτης η ουχ άμα τούτο γ ίγ ν ε τ α ι κατά y ι Λ ν τον αυτόν τοπον καί χρονον eire ψυχής sire σώματος βουλει ονδεν yap οΊμαι διαφέρει εστι ταντα η ον ΚΑΛ Εστιζ ΣΩ Αλλά μην ευ γε πράττοντα κακώς 497 πράττειν άμα αδύνατον φρς είναι ΚΑΛ Φημι γάρ ΣΩ Ανιωμενον δε γε χαίρειν δυνατόν ωμολόγηκας ΚΑΛ Φαίνεται ΣΩ Ουκ άρα τό χαίρειν έστιν ευ πράττειν ον δε το ανιασθαι κακώς ώστε ετερον γιγνεται το ηδν του αγαθού ΚΑΛ Ουκ οΐδ άττα σοφίζρ ω Σωκρατες Σ ί ϊ Οισθα άλλα ά κ κ ίζΐ ω Κα λ λ ίκ λ ε ις και π ρ ό ιθ ί γε ε τ ι εις τό έμ π ρ ο σ θ εν οτι έ χ ω ν λη ρ εΐς ΐνα ειδφς ως σοφ ός b ώ ν μ ε νουθετείς ο ν χ άμα διψ ώ ν τ ε έκ α σ το ς ημώ ν π έ π α ν τα ι και αμα ηδομενος δια του π ιν ε ιν ΚΑΛ Ο υκ οιδα ο τι λ έ γ ε ις 178 178 Vejamos o esquema completo do argumento de Sócrates para demonstrar que prazer e bem não são a mesma coisa 4950349735 i Há algo que se chama conhecimento ii há também certa coragem que o acompanha iii conhecimento e coragem são diferentes iv conhecimento e prazer também são diferentes v portanto coragem e prazer são diferentes vi aqueles que são felizes estão na condição contrária daqueles que são in felizes vii na medida em que felicidade e infelicidade são opostas elas se excluem necessariamente viii assim como uma pessoa não pode ser saudável e estar doente simultanea mente da mesma forma ela não pode ser boa feliz e má infeliz simultaneamente ix então se há algo que alguém possa ter e não ter simultaneamente isso não pode ser o bem e o mal x como toda carência fome e sede são dolorosas mas comer e beber quando alguém tem fome e sede são aprazíveis porque são a satisfação de uma carência xi beber quando alguém está sedento é beber quando se sente dor xii mas é também satisfazer uma carência e portanto é aprazível GÓRGIAS 347 CAL Sim e soc E beber não é tanto saciedade da carência quanto prazer cal Sim soc Não afirmas então que há deleite em beber cal Com certeza soc Quando se tem sede cal É isso soc Quando se está sofrendo cal Sim soc Percebes assim a consequência disso quando dizes que alguém uma vez sedento bebe alguma coisa tu não estás afirmando que ele sofre e se deleita simultaneamente Ou isso não acontece simultaneamente no mesmo lugar e momento seja na alma ou no corpo como quiseres Pois não faz diferença julgo eu É isso ou não cal É soc Todavia afirmas ser impossível agir bem e mal simul 497 taneamente cal Afirmo sim soc Mas concordaste que é possível se deleitar mesmo em padecimento cal É claro soc Portanto deleitarse não é agir bem nem sofrer agir mal de modo que o aprazível tornase diferente do bem178 cal Não entendo os teus sofismas Sócrates soc Entendes mas dissimulas Cálicles Avancemos um pouco mais no argumento precedente e verás como és sábio quando me admoestas Ter sede e comprazerse não cessam em b cada um de nós simultaneamente pelo ato de beber cal Não entendo o que dizes xiii portanto quando se bebe prazer e dor são simultâneos xiv na medida em que é impossível ser feliz e infeliz simultaneamente mas possível sentir dor e prazer simultaneamente prazer e dor não podem ser o mesmo que felicidade e infelicidade xv portanto o bem e o prazer não são o mesmo J Beversluis op cit p 355 348 GÓRGIAS DE PLATÃO ΓΟΡ Μηδαμώς ω Καλλικλευ άλλ άποκρίνον καί ημών ένεκα ΐνα περανθώσιν οι λόγοι ΚΑΛ Ά λ λ act τοιοΰτός έστιν Σωκράτης ω Γοργία σμικρά και ολίγου άζια ανέρωτα και έζελεγχει ΓΟΡ Ά λ λ α τί σοι διαφέρει πάντως ον ση αυτή η τιμή ω ΚαλλίκλΕΐϊ άλλ νπόσχες Σωκράτει έξελέγξαι όπως αν βονληται c ΚΑΛ Έρωτα δη συ τα σμικρά re και στενά ταντα έπείπερ Γοργία δοκεΐ όντως ΣΩ Ευδαίμων εΐ ω Καλλίκλεις ότι τα μεγάλα με μύησαι πριν τα σμικρά έγω δ ονκ ωμήν θεμιτόν είναι όθεν ουν άπελιπες άποκρίνου ei ονχ άμα παύεται διψών έκαστος ημών και ηδόμενοςΚΑΛ Φημί Σ ί2 Ονκοΰν και πεινών καί των άλλων επιθυμιών καί ηδονών άμα παύεται ΚΑΛ Έ σ τι ταντα ΣΩ Ονκοΰν καί των λυπών d καί τών ηδονών άμα παύεται ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ά λλ α μην των αγαθών γε καί κακών ονχ αμα παύεται ως σν ώμολόγεις νυν δε ονχ ομολογείς ΚΑΛ vEywye τί οΰν δη ΣΩ Οτι ον τα αυτά γίγνεται ώ φίλε τάγαθά τοΐς ηδεσιν ουδέ τα κακά τοΐς άνιαροΐς τών μεν γάρ άμα παύεται των δε ου ως ετερων οντων πως ουν ταυτα αν εΐη τά ηδέα roty άγαθοΐς η τά ανιαρά roty κακοΐς εάν δε βούλη καί τηδε επίσκεψαι οΐμαι γάρ σοι ουδέ ταύτη e όμολογεΐσθαι άθρει δε τους αγαθούς ουχί αγαθών παρου 179 A súbita intervenção de Górgias garante o prosseguimento da discus são entre Cálicles e Sócrates da mesma forma que a intervenção de Cálicles no Ia Ato do diálogo permitiu a Sócrates consumar a refutação de Górgias quando ele demonstrava a intenção de abandonar o debate 458bd Se não fosse a in tervenção de Górgias nesse momento provavelmente Cálicles já teria saído de cena O desinteresse gradativo de Cálicles pela forma com que Sócrates conduz a discussão tornase evidente pela mudança de seu comportamento não mais o interlocutor franco e defensor fervoroso de suas convicções mas complacente confirmando o que Sócrates espera que ele confirme para se chegar ao termo dessa conversa em vão A atitude de Cálicles é calcada na sua desconfiança em relação à real motivação de Sócrates na prática do elenchos como ele havia dito antes Sócrates usa do pretexto da busca pela verdade para encobrir seu intuito GÓRGIAS 349 gor De forma nenhuma Cálicles Respondelhe em vista tam bém de nós aqui presentes para que a discussão tenha termo cal Mas Sócrates é sempre assim Górgias pergunta coisas pequenas desprovidas de valor e as refuta gor Mas que diferença faz para ti Isso não é absoluta mente de tua competência Cálicles Submetate à refutação como Sócrates quiser cal Pois bem pergunta essas coisas pequenas e tacanhas visto que é do parecer de Górgias179 soc És um homem feliz Cálicles porque és iniciado nos Grandes Mistérios antes de seres nos Pequenos180 eu julgava porém que era ilícito Partindo do ponto em que interrompeste respondame então se ter sede e comprazerse não cessam em cada um de nós simultaneamente cal Afirmo que sim soc Então a fome e os demais apetites e prazeres não ces sam simultaneamente cal É isso soc E as dores e os prazeres não cessam simultaneamente cal Sim soc Todavia os bens e os males não cessam simultanea mente como concordaste ainda concordas cal Sim e então soc E então Os bens e as coisas aprazíveis meu caro não são os mesmos nem os males e as coisas dolorosas Pois uns cessam simultaneamente enquanto os outros não porque são diferentes Portanto como seriam os mesmos as coisas aprazí veis e os bens ou as coisas dolorosas e os males Se quiseres examina a questão sob este prisma presumo que não concor darás com isto mas observa não chamas os bons homens de primordial que seria a simples contradição do interlocutor uma disposição pro priamente erística tpiXóviKoç d 51535 180 Segundo Dodds op cit p 313 ninguém poderia ser iniciado nos Gran des Mistérios realizados em Elêusis no outono antes de ter sido iniciado nos Pe quenos realizados em Agras na primavera como é referido nos escólios da comédia Pluto de Aristófanes Scholia in Plutum 845 350 α0ΙΙΟΙΑ ΌΕ ΡίΑΤΑΟ σία αγαθούς καλεΐς ώσπερ τους καλούς οΐς αν κάλλος 7ταρή ΚΑΛ Έ γω γεΣΩ Τ ί δε αγαθούς άνδρας καλάς άφρονας καί δειλούς ού γάρ άρτι γε άλλα τους άνδρείους και φρονίμους λίγες ή ου τούτους αγαθούς καλάς ΚΑΛ Πάνυ μεν ουν ΣΩ Τ ί δε τταΐδα άνόητον χαίροντα ήδη είδες ΚΑΛ Έ γω γε ΣΩ Ανδρα δε ούττω είδες άνόητον χαίροντα Κ Α Λ Οίμαι έγωγε άλλα τ ί τούτο 498 ΣΩ Ονδεν άλλ άποκρίνου ΚΑΛ Ειδον ΣΩ Τ ί δε νουν εχοντα λυπούμενον καί χαίροντα ΚΑΑ Φημί ΣΩ ΠοτεροΑ δέ μάλλον χαίρουσι και λυπούνται οι φρό νιμοι ή οΐ άφρονες Κ Α Λ Οΐμαι εγωγε ού πολύ τι δια φερεινΣΩ Ά λ λ άρκεΐ καί τούτο εν πολέμιο δε ήδη είδες άνδρα δειλόν ΚΑΑ Πώϊ γάρ ου ΣΩ Τ ί ουν άπιόντων των πολεμίων πότεροί σοι εδόκουν μάλλον χαί ρειν οί δειλοί ή οί άνδρεΐοι ΚΑΛ Άμφότεροι εμοιγε 6 μάλλον εί δέ μη παραπλησίως γε ΣΩ Ονδέν διαφέρει χαίρονσιν δ ουν καί οι δειλοί ΚΑΛ Σφόδρα γε ΣΩ Και οΐ άφρονες ως εοικεν ΚΑΛ ΝαίΣΩ Προσιοντων δέ οί δειλοί μόνον λυπούνται ή και οί άνδρεΐοι ΚΑΛ Ά μ φότεροι ΣΩ Ά ρ α ομοίως ΚΑΛ Μάλλον ίσως οί δειλοί ΣΩ Απιόντων δ ού μάλλον χαίρονσιν ΚΑΛ GÓRGIAS 351 bons devido à presença de coisas boas assim como chamas os belos homens de belos devido à beleza neles presente cal Sim soc E então Chamas os estultos e covardes de bons ho mens Não era esse o teu juízo pois te referias aos homens co rajosos e inteligentes ou não os chamas de bons cal Claro que sim soc E então Já viste criança estulta se deleitando cal Sim soc E já viste algum dia homem estulto se deleitando cal Creio que sim mas por que a pergunta soc Nada responde cal Já vi soc E então Já viste homem sensato sofrendo e delei tandose cal Sim soc E qual deles se deleita e sofre mais os inteligentes ou os estultos cal Julgo que não há grande diferença soc Isso basta E na guerra já viste homem covarde cal E como não teria visto soc E então Quando os inimigos se retraíam qual deles te parecia deleitarse mais os covardes ou os corajosos cal Para mim ambos senão a diferença é mínima soc Não faz diferença Então também os covardes se de leitam cal Absolutamente soc E os estultos como é plausível cal Sim soc Mas quando os inimigos atacam apenas os covardes sofrem ou os corajosos também cal Ambos sofrem soc Acaso de modo semelhante cal Talvez sofram mais os covardes soc E quando os inimigos se retraem não se deleitam mais 498 b 352 ΌΕ ΡΙΑΤΑΟ τωί ΣΩ Ονκονν λνποννται μεν καί γαίρουσιν καί οί άφρονες και οί φρόνιμοι και οι δειλοί καί οί ανδρείοι παρα πλήσιων ώ συ φης μάλλον δε οί δειλοί των ανδρείων ΚΑΛ ΦημίΣΩ Ά λ λ α μην οι γε φρόνιμοι καί οί ανδρείοι αγαθοί οί δε δειλοί καί άφρονες κακοί ΚΑΛ Ναι ΣΩ Παραπλήσιων άρα γαίρουσιν καί λυπούνται οί αγαθοί καί οί κακοί ΚΑΛ Φημί ΣΩ Ά ρ ονν παραπλήσιων εισίν αγαθοί καί κακοί οί αγαθοί τε καί οί κακοί η καί ετι μάλλον αγαθοί οί αγαθοί καί οί κακοί είσιν οί κακοί ΚΑΛ Ά λ λ α μα Α ί ουκ οιδ ότι λεγειν ΣΩ Ουκ οΐσθ ότι του αγαθούς αγαθών φης παρουσία ΐναι αγαθούς και κακού Οζ κακών τα θ αγαϋα ξίναι τα ηδονάς κακά δε ταν ανίαν ΚΑΛ Έ γω γε ΣΩ Ονκονν τοΐν γαίρουσιν πάρεστιν τάγαθά αί ηδοναί εΐπερ γαίρουσιν Κ Α Λ Πώϊ γαρ ον ΣΩ Ονκονν αγαθών παρόντων αγαθοί είσιν οί γαίροντεν ΚΑΛ Ναί ΣΩ Τ ί δε τοΐν άνιωμενοιν ον πάρεστιν τα κακά αί λνπαι ΚΑΛ Πάρεσην ΣΩ Κακών δε ε παρουσία φης συ είναι κακούς τονν κακούς η ουκετι φης ΚΑΛ Εγωγε ΣΩ Αγαθοί άρα οΐ αν γαίρωσι κακοί δε οΐ άν άνιώνται Κ Α Λ Πάνυ γε GÚRGIAS 353 cal Talvez soc Assim tanto os estultos e os inteligentes quanto os covardes e os corajosos sofrem e se deleitam de modo seme lhante como tu afirmas mas os covardes mais do que os cora josos não é cal Afirmo sim soc Contudo os inteligentes e os corajosos são bons en quanto os covardes e os estultos maus cal Sim soc Portanto os bons e os maus se deleitam e sofrem de modo semelhante cal Sim soc Porventura os bons e os maus são bons e maus de modo semelhante Ou os maus são ainda melhores cal Por Zeus não entendo o que dizes soc Não sabes que segundo a tua afirmação os homens bons são bons pela presença de coisas boas ao passo que os ho mens maus pela presença de coisas más E que as coisas boas são os prazeres e as más os sofrimentos cal Sei soc As coisas boas os prazeres não estão presentes em quem se deleita quando se deleita cal E como não soc Então quando as coisas boas estão presentes não é bom quem se deleita cal Sim soc E aí As coisas más as dores não estão presentes em quem padece cal Estão presentes soc E tu afirmas que pela presença de coisas más os ho mens maus são maus ou não continuas a afirmar isso cal Continuo soc Portanto quem se deleita é bom e quem padece é mau cal Absolutamente 3 5 4 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ 0Î μεν γε μάλλον μάλλον οί δ ηττον ηττον οί ôè παραπλησίως τταραττλησίως ΚΑΛ Ναι ΣΩ Ουκοϋν φης παραπλησίως χαίρειν και λνπεΐσθαι τους φρονίμους και τους άφρονας και τους δειλούς καϊ τους άνδρείους η και μάλλον ετι τους δειλούς ΚΑΛ Έγωγε ΣΩ Συλλόγισαι δη κοινή μετ εμού τί ημΐν συμβαίνει εκ των ωμολογημενων και δις γάρ τοι καϊ τρίς φασιν καλόν 499 είναι τα καλά λεγειν τε και επισκοπείσθαι αγαθόν μεν είναι τον φρόνιμον καϊ ανδρείάν φαμεν ή γάρ ΚΑΑ Ναι ΣΩ Κακοί ôè τον άφρονα και δειλόν ΚΑΛ Πάυυ γε ΣΩ Αγαθόν δε αυ τον γαίροντα ΚΑΛ Ναί ΣΩ Κακόν δε τον άνιωμενον ΚΑΛ Ανάγκη ΣΩ Άνιάσθαι δε καϊ χαίρειν τον αγαθόν καϊ κακόν ομοίως ΐσως δε καϊ μάλλον τον κακόν ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ουκοϋν ομοίως γίγνεται κακός καϊ άγαθός τω άγαθω η και μάλλον b άγαθός 6 κακός ου ταυτα συμβαίνει καϊ τά ττρότερα εκείνα εάν τις ταυτα φτ ηδεα τε καϊ αγαθά είναι ου ταυτα ανάγκη ω Καλλίκλεις ΚΑΛ Πάλαι τοί σου άκροωμαι ω Σώκρατες καθομο λογων ενθυμούμενος ότι κάν παίζων τίς σοι ενδω ότιοϋν Η rf ν c τούτον ασμενος εχη ωσττερ τα μειράκιά ως οη συ οιει 8 i8 i Sócrates apresenta mais um argumento 4970349903 contra a identifi cação entre o prazer e o bem de um lado e a dor e o mal de outro recorrendo ao artifício da reductio ad absurdum com o intuito de mostrar a Cálicles as conclusões paradoxais a que leva tal identidade Vejamos o esquema completo do argumento de Sócrates i Os homens corajosos e inteligentes são bons ao passo que os covardes e estultos são maus ii os covardes e inteligentes se deleitam de modo semelhante aos corajosos e inteligentes e talvez até mais do que eles iii os covardes e inteligentes sofrem de modo semelhante aos corajosos e inteligentes e talvez até mais do que eles iv os homens bons são bons pela presença de coisas boas ao passo que os maus são maus pela presença de coisas más GÓRGIAS 3 5 5 soc E quem sente mais é melhor quem sente menos pior e quem sente de modo semelhante é semelhante cal Sim soc Não afirmas então que tanto os inteligentes e os es tultos quanto os covardes e os corajosos se deleitam e sofrem de modo semelhante ou os covardes até mais cal Sim soc Pois bem recapitulemos nós dois juntos as conse quências de nossos consentimentos Pois dizem que é belo di zer e investigar o que é belo duas três vezes Bem afirmamos 499 que o homem inteligente é bom e corajoso não é cal Sim soc E que o estulto é mau e covarde cal Absolutamente soc E que quem se deleita por sua vez é bom cal Sim soc E mau quem padece cal Necessariamente soc E que o bom e o mau padecem e se deleitam de modo semelhante mas talvez ainda mais o mau cal Sim soc Portanto o mau não se torna mau e bom de modo semelhante ao bom ou até mesmo mais do que ele Isso não é consequência do que foi dito antes caso alguém afirme que b coisas aprazíveis e coisas boas são as mesmas Ou não é neces sário Cálicles181 cal Há tempos te ouço Sócrates concordando contigo e refletindo que ainda que alguém te conceda algum ponto por brincadeira te apegas a isso contente como um garoto Pois tu v as coisas boas são os prazeres e as más as dores vi portanto o homem mau é bom e mau de modo semelhante ao homem bom ou talvez seja até mesmo pior e melhor do que ele 356 GÓRGIAS DE PLATÃO εμε η καί άλλον όντινοΰν ανθρώπων ουχ ήγόίσθαι τάς μευ βΐλτίους ηόονάς τάς δε χάρους ΣΩ Ίου Ιου ώ Κ αλλίκλας ώϊ πανούργος ει καί μοι ς ώσπερ παιδί χρη τότε μευ τα αυτά φάσκων όντως εχειυ τότε δε ετερωί ίξαπατων με καιτοι ονκ ωμήν γε κατ άρχάς ύπο σου έκόντος ειυαι έξαπατηθησίσθαι ώ ουτΌϊ φίλον νυν δε έφάσθην και ώς εοικευ ανάγκη μοι κατά τον παλαιόν λόγον το παρόν ευ ποιαν και τούτο δεχεσδαι τδ διδδμευου παρα σου εσπυ δε δη ώί Ιοικευ δ υυυ λεγείϊ οτι ηόοναί τινές είσιυ αι μευ άγαθαί αί δε κακαί η γάρ ά ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ά ρ ουυ άγαθαί μευ αί ωφέλιμοι κακαι δε αί βλαβΐραί ΚΑΛ Πάυυ γε ΣΩ Ωφέλιμοι δε γε αί αγαθόν τι ποιοΰσαι κακαί δε αί κακόν τι ΚΑΛ Φημί ΣΩ Ά ρ ουν τάς τοιάσδε λεγει οΤου κατα γο σώμα ί υυυδη ελεγομευ ευ τω εσδίειυ κα πίναν ηόονάς η άρα τούτων αϊ μευ νγίααν ποιοΰσαι ευ τω σώματι η Ισχνν η άλλην τινά άροσην τον σώματος αΰται μέυ άγαθαί αί δε ε τάναντία τούτων κακαί ΚΑΛ ΓΤάυυ γε ΣΩ Ο υκοΰν και λΰπαι ωσαύτως αί μευ χρησταί άσιν αί δε πονηραί Κ Α Λ Πώϊ γαρ ον ΣΩ Ονκοΰν τάς μευ χρηστάς καί ήόονάς καί λύπας καί αίρίτέον Ιστίν καί πρακτέον ΚΑΛ ι 82 Cálicles acaba por admitir a disjunção entre prazer e bem de um lado e dor e mal de outro como ele já estava pronto para admitir anteriormente depois que Sócrates lhe apresentou as consequências do hedonismo categórico deleitarse de qualquer modo tò πάντως χαίρειν 495b4 por meio dos exemplos jocosos da coceira e dos homossexuais passivos Naquela oportunidade 49 5a Cálicles assumiu as consequências do que havia dito antes ou seja em 494 C 23 mas já evidenciava a vontade de redefinir seu argumento Sócrates contudo não permitiu que ele o fizesse àquela altura A postura de Cálicles naquele momento bem como agora ao admitir tal disjunção contradiz a formulação do hedonismo categórico mas não a primeira versão do hedonismo apregoado por ele como exemplo de felicidade su prema segundo a qual o homem virtuoso deve permitir que os apetites engrande çam ao máximo para assim satisfazêlos tendo a coragem e a inteligência suficientes para isso 49 1649 20 Cálicles naquele momento não fala na satisfação de todos os apetites como condição para a felicidade Nesse sentido mesmo admitindo que há bons e maus prazeres Cálicles mantém a coerência de sua primeira tese hedonista pois o homem virtuoso seria aquele capaz de engrandecer ao máximo os apetites GÓRGIAS 3 5 7 julgas de fato que eu ou qualquer outro homem não conside ramos que há prazeres melhores e piores182 soc Ah Ah Cálicles como és embusteiro e me tratas como se eu fosse criança ora afirmando que as mesmas coisas são de um modo ora de outro com o escopo de me enganar Aliás eu não julgava a princípio que seria enganado por ti voluntaria mente visto que és meu amigo183 Porém acabaste de mentir e como é plausível é necessário que eu conforme o antigo di tado faça o melhor com o que tenho e aceite a tua oferta Como parece tua afirmação agora é que há certos prazeres bons e outros maus não é c a l Sim soc Porventura os prazeres bons são os benéficos e os maus os nocivos c a l Certamente soc E benéficos são os que produzem algum bem ao passo que maus os que produzem algum mal c a l Confirmo soc Acaso te referes a tais prazeres como por exemplo aos prazeres da comida e da bebida referentes ao corpo sobre os quais falávamos há pouco Pois bem uns os prazeres bons produzem saúde física ou força ou qualquer outra virtude corpórea enquanto outros os prazeres maus produzem os efeitos contrários não é c a l Absolutamente soc Então o mesmo não sucede às dores umas são úteis e outras nocivas c a l E como não seriam soc Não se deve então escolher e usar os prazeres e as dores úteis bons quaisquer que sejam eles e satisfazêlos de modo a se comprazer os maus como o da coceira e o dos homossexuais aludidos por Sócrates por exemplo se fossem o caso deveriam ser evitados por não serem dignos de serem satisfeitos A coragem e a inteligência enfim conferiria a esse homem as condições de satisfação desses apetites garantindolhe assim uma vida feliz J Cooper op cit p 7273 183 Sobre a amizade cf supra nota 141 358 GÓRGIAS DE PLATÃO 500 Πάνυ γε ΣΩ Tàs δε πονηράς ονΚΑΛ Δήλου όή ΣΩ Ενεκα γάρ που των αγαθών άπαντα ήμιν εδοξεν πρακτεον είναι εί μνημονεύεις εμοί τε και Πώλω αρα και σοί συνδοκεΐ οντω τέλος είναι ανασών τών πράζεων το αγαθόν καί εκείνον ενεκα δεΐν πάντα τάλλα πράττεσθαι άλλ ονκ εκείνο τών άλλων σνμψηφος ήμιν εΐ καί σν εκ τρίτων ΚΑΛ Έγωγε ΣΩ Τώρ αγαθών άρα ενεκα δει καί τάλλα καί τά ήδεα πράττειν άλλ ον ταγαθά τών ήόεων ΚΑΛ Ώάνν γεΣΩ ΤΑρ ονν παντός άνδρός εστιν εκλεξασθαι ποια αγαθά τών ήόεων εστιν καί όποια κακά ή τεχνικού δει εις έκαστον ΚΑΛ Τεχνικοί ΣΩ Άναμνησθώμεν όή ων aíi εγώ προς Πώλοι και Γοργίαν ετνγχανον λεγων ελεγον γάρ αν εί μνημονεύεις Μ Al t λ λ οτι ειεν παρασκεναι αι μεν μέχρι ηοονης αντο τούτο μονον παρασκενάζονσαι άγνοονσαι όε τό βελτιον καί τό χείρον αί δε γιγνώσκονσαι οτι τε αγαθόν καί ότι κακόν καί ετίθην τών μεν περί τάς ήδονάς την μαγειρικήν εμπειρίαν αλλά ον τέχνην τών δε περί το αγαθόν τήν Ιατρικήν τέχνην καΧ προς Φιλιού ω Καλλίκλεις μήτε αντος οιον δεΐν προς εμε παίζειν μηδ άτι αν τύχης παρά rà δοκονντα άποκρίνον μήτ αν rà παρ εμοϋ όντως άποδεχου ως παίζοντος όρας γάρ άτι περί τούτου ήμιν είσιν οί λόγοι ου τί άν μάλλον σπονδάσειε 184 185 186 18 4 C f 467C468C 18 5 C f 4 6 4 b 4 6 5 e 186 Ο 3a Ato do diálogo inicia com a desconfiança de Cálicles com relação à seriedade de Sócrates depois de ele expor as consequências aparentemente pa radoxais a que chegou na discussão com Polo a respeito da verdadeira utilidade da retórica 481b Diante do desinteresse gradativo evidenciado por Cálicles pela forma como a discussão é conduzida Sócrates ressalva antecipadamente a sua seriedade tendo em vista a própria natureza do debate como se deve viver õvxiva χρή τρόπον ζην 50 0C 34 qual a melhor forma de vida Todavia a sus peita de que Sócrates esteja brincando contra o que ele próprio se defende aqui ώς παίζοντος sooci teria fundamento na medida em que a estratégia argu mentativa escolhida por ele para refutar as teses morais e políticas de Cálicles dá ensejo a isso a refutação da tese de que o superior e melhor deve possuir mais do que os outros 49ob49ib por meio de um tipo específico de argumento a GÕRGIAS 359 cal Certamente soc E os nocivos não cal Evidentemente soc Se te recordas pareceunos a mim e a Polo que se deve fazer tudo em vista das coisas boas184 Porventura com partilhas desta opinião que o bem é o fim de todas as ações e que em vista dele se deve fazer todas as outras coisas e não in versamente fazer o bem em vista das outras Contamos com 500 o teu terceiro voto cal Sim soc Portanto devese fazer as coisas aprazíveis e todas as demais em vista das boas e não as coisas boas em vista das aprazíveis cal Com certeza soc Será que todo e qualquer homem está apto a selecio nar dentre as coisas aprazíveis quais são as boas e quais são as más ou é preciso de um técnico para cada caso cal É preciso de um técnico soc Rememoremos então o que eu disse a Polo e a Gór gias naquela ocasião185 Eu dizia se te recordas que havia cer tas ocupações circunscritas ao prazer que somente a ele se b dispunham ignorando o que é o melhor e o pior enquanto outras conheciam o que é bom e o que é mau Dentre as que concernem aos prazeres considerei a culinária como experiên cia e não como arte e dentre as que concernem ao bem disse que a medicina é arte E pelo deus da Amizade Cálicles não julgues que devas brincar comigo nem venhas com respostas contrárias a tuas opiniões tampouco acolhas as minhas pala c vras como se fossem brincadeira186 Pois vês que nossos discursos reductio ad absurdum cujo aspecto jocoso é patente e a refutação do hedonismo categórico 493d494e em que Sócrates recorre a exemplos extremos para testar a franqueza parrhêsia παρρησία do interlocutor Do ponto de vista de Cáli cles portanto a suspeita com relação à seriedade de Sócrates seria plausível na medida em que ele é um interlocutor que resiste ao elenchos socrático e não está disposto a se deixar persuadir por Sócrates sobretudo por meio de uma estratégia argumentativa que passa pelo ridículo 360 GÓRGIAS DE PLATÃO τις και σμικρον νουν εχων άνθρωπος η τούτο οντινα χρη τρόπον ζην πάτερου επί ον συ παρακαλώ ís εμέ τα του άνδρος δη ταΰτα πράττοντα λέγοντά τε ευ τω δημω καί ρητορικήν άσκοΰντα και πολιτευόμενου τούτον τον τρόπον ον υμείς νυν πολιτεύεσθε η èirí τόνδε τον βίον τον εν φιλοσοφία και τί ποτ εστιν ουτος εκείνου διαφέρων ϊσως ονν βέλτιστου εστιν ως άρτι εγώ έπεχείρησα διαιρεΐσθαι διελομένους δε καί όμολογήσαντας άλληλοις εί εστιν τούτω διττώ τω βίω σκεφασθαι τί τε διαφέρετον άλλήλοιν καί δπότερον βιωτέον αντοΐν ίσως ονν ονπω οΐσθα τί λέγω ΚΑΛ Ού δήτα ΣΩ Άλλ εγώ σοι σαφέστερου ερώ επειδή ώμολο γηκαμεν εγώ τε καί συ είναι μεν τι αγαθόν είναι δε τι ήδυ ετερον δε rò ήδυ του αγαθού εκατέρου δε αντοΐν μελέτην τινα είναι και παρασκευήν της κτήσεως την μεν του ήοεος Θήραν την δε του αγαθού αυτό δε μοι τοΰτο πρώτον ή σνμφαθι ή μη σομφής ΚΑΛ Ούτως φημί ΣΩ Ίθι δη à καί προς τουσδε εγώ ελεγον διομολόγησαί μοι εί αρα σοι έδοζα τότε αληθή λέγειν ελεγον δε που οτι ή μεν όψοποιικη ου μοι δοκεϊ τέχνη είναι άλλ εμπειρία ή δ Ιατρική λέγων οτι ή μεν τούτου οΰ θεραπεύει καί την φυσιν εσκεπται και τήν αιτίαν ων πράττει και Κογον εχει τούτων έκαστου δούναι ή Ιατρική ή δ έτέρα τής ηδονής προς ήν ή θεραπεία αυτή εστιν απασα κομιδή ατέχνως επ αυτήν έρχεται ούτε τι τήν φύσιν σκεψαμένη τής ηδονής ούτε τήν alríav αλόγως τε παντάπασιν ώς έπος είπεΐν ουδέν διαριθμησαμένη τριβή καί έμπειρία μνήμην μόνον σωζομένη 187 187 Sócrates a princípio trata como antagônicos o modo de vida fdosófico e o político mas como se esclarecerá adiante essa não é a resposta definitiva para o problema Sócrates opõe aqui a vida regida pela filosofia à vida política tal qual vivida por Cálicles e pelos demais políticos naquele contexto da democracia ate niense do final do séc v aC data dramática do diálogo Mas a construção da imagem de Sócrates no Górgias como o verdadeiro homem político 52id522a funde o modo de vida político no filosófico embora pressuponha uma forma de GÓRGIAS 361 versam sobre o modo como se deve viver a que qualquer ho mem mesmo de parca inteligência dispensaria a maior serie dade se é a vida a que me exortas fazendo coisas apropriadas a um homem fazer tais como falar em meio ao povo exercitar a retórica agir politicamente como hoje vós agis ou se é a vida volvida à filosofia e em que medida se diferem uma e outra Portanto o melhor seja talvez distinguilas como há pouco tentei fazêlo e depois de distinguilas e de concordarmos en tre nós que se tratam de duas formas de vida investigar em que elas se diferem e qual delas deve ser vivida187 Talvez ainda não d compreendas o que digo c a l Não mesmo soc Vou te falar com mais clareza Uma vez que eu e tu concordamos que há algo bom e algo aprazível e que o aprazí vel é diferente do bem e que para cada um deles há uma prática e um treino para adquirilo a caça ao aprazível e a caça ao bem respectivamente mas primeiro confirmame ou não esse ponto Confirmas e c a l Confirmo sim soc Adiante então e consente tu o que eu disse também aos aqui presentes caso te pareça ter dito a verdade naquela ocasião188 Eu dizia que a culinária não me parece ser arte mas experiência enquanto a medicina arte Eu afirmava que a me dicina perscruta tanto a natureza daquilo de que cuida quanto a causa de suas ações e consegue dar razão a cada uma delas Eis a medicina A outra sem técnica alguma persegue o prazer 501 para que se volta todo o seu cuidado e não examina absoluta mente a natureza e a causa desse prazer e de forma completa mente irracional por assim dizer nada discerne pela rotina e experiência ela salvaguarda apenas a lembrança do que acontece política distinta daquela democrática Sobre a ideia da vida regida pela filosofia como alheia à vida pública cf supra nota 12 3 ver tb Platão Teeteto 17 2 C 17 7 C P Lima Platão Uma Poética para a Filosofia 188 Cf 464b465e 362 GÓRGIAS DE PLATÃO b του εΙωθότος γίγνεσθαι ω δή καί πορίζεται τας ήόονάς ταντ ονν πρώτον σκόπει el bond σοι ικανως λεγεσθαι καί είναι τινες καί περί ψυχήν τοιαΰται αλλα ι π pay ματ dai ai μεν τεχνικαί προμήθειάν τινα εχουσαι του βέλτιστου περί την ψυχήν ai be τούτον μεν όλιγωροΰσαι εσκεμμεναι δ αν ωσπep όκεϊ την ήόονήν μόνον της ψυχής τίνα αν αυτή τρόπον γίγνοιτο ήτις be ή βελτίων ή χείρων των ήόονων ούτε σκοπονμεναι ούτε μόλον ανταΐς άλλο ή χαρίζεσθαι ο μόνον eire βελτιον είτε χείρον εμοϊ μεν γάρ ω Καλ λίκλεις όοκονσίν τε είναι καί εγωγε φημι το τοιοντον κολακείαν είναι καί περί σώμα καί περί ψυχήν καί περί άλλο οτον αν τις την ήόονήν θεραπενη άσκεπτως 0χων του άμείνονός τε καί τον χείρονος συ be δη πότερον συγκατα τίθεσαι ήμΐν περί τούτων την αυτήν bóav ή αντίφης ΚΑΛ Ονκ εγωγε άλλα συγχωρώ ΐνα σοι καί περανθή ό λόγος καί Γοργία τωόε χαρίσωμαι d ΣΩ ITorcpov be περί μεν μίαν ψυχήν εστιν τούτο περί oe ovo και πολλά ονκ rriν ΚΑΛ Ονκ άλλα καί περί bvo καί περί πολλάς ΣΩ Ουκουν καί αθρόαις αμα χαρίζεσθαι εστι μηόεν σκοπουμενον το βελτιστον ΚΑΛ Οΐμαι εγωγε ΣΩ νΕ χα ΐ ονν είπειν αΐτινες είσιν ai επιτηόενσεις ai τούτο ποιονσαι μάλλον be el βούλει εμού ερωτωντος ή μεν αν σοι boKrj τούτων είναι φάθι ή δ άν μη μή φάθι e πρώτον ôè σκεψωμεθα τήν αυλητικήν ον boKeî σοι τοιαντη τις είναι ω Καλλίκλεις τήν ήόονήν ημών μόνον όιωκειν άλλο δ ουόεν φρόντιζειν ΚΑΛ Έμοιγε όοκεΐ GÓRGIAS 363 habitualmente por meio do que ela proporciona prazer Em b primeiro lugar então examina se te parece ser suficiente esse argumento e haver outras atividades concernentes à alma tais como aquelas referentes ao corpo umas que são técnicas e possuem presciência do que é o supremo bem para a alma e outras que disso se descuram e examinam por sua vez como no caso da culinária somente o prazer da alma e o modo como proporcionálo sem investigar quais prazeres são melhores ou piores e com a estrita preocupação de deleitála seja isso me lhor ou pior A mim Cálicles parece que tais atividades exis c tam e eu afirmo que essas últimas são lisonja seja concernente à alma ou ao corpo ou a qualquer outra coisa de cujo prazer alguém cuide sem examinar o que lhe é melhor ou pior E sobre isso acresces teu assentimento à nossa opinião ou a contestas cal Eu não mas concordo com ela para que tu concluas a discussão e eu deleite Górgias189 soc E isso é válido no caso de uma única alma e não de d duas ou mais cal Não também é válido no caso de duas ou mais soc Então não é possível também deleitálas em conjunto simultaneamente sem examinar o supremo bem cal Eu julgo que sim soc Poderias assim dizer quais são as atividades que fazem isso Ou melhor se quiseres eu te interrogo e tu me respondes com um sim àquela que te parecer inclusa nesse grupo e com um não àquela que não te parecer190 Examinemos primeiro a aulética191 não te parece ser ela uma atividade deste tipo Cáli e cies que encalça somente nosso prazer e descura do resto cal Pareceme 189 Cf 497bc 190 Cf supra nota 179 191 O aulo é um instrumento de sopro mais semelhante ao clarinete do que à flauta à qual é geralmente equiparado Era usado como acompanhamento musical no teatro mas estava especialmente associado às festas noturnas e aos banquetes Platão Teeteto i73d Banquete i76e e às danças frenéticas nos rituais dionisíacos e em cultos similares Aristóteles Política i342bi6 E Dodds op cit p 322 364 GÓRGIAS DE PLATÃO 502 b ΣΩ Ονκοΰν καί al τοιαίδε άπασαι οΐον η κιθαριστικη η έν τοΐς άγωσιν ΚΑΛ Ναι ΣΩ Τ ι δέ η των χορών διδασκαλία και ή των δι θυράμβων ποίησα ου τοιαύτη τα σοι καταφαίνεται η ηγγ τι φρόντιζειν Κινησίαν τον Μίλητος όπως έρει τι τοιοντον οθεν άν οΐ άκονοντες βελτίους γίγνοιντο η οτι μέλλει χαριεΐσθαι τω οχλω των θεατών ΚΑΛ Δήλον δη τοΰτό γε ω Σώκρατες Κ ινησίου γε πέρι ΣίΙ Τ ί δέ δ πατήρ αυτοΰ Μελής η προς το βέλτιστου βλέπων έδόκει σοι κιθαρωδεΐν η εκείνος μέν ουδέ προς τδ ηδιστόν ηνία yap αδων rows θεατάς άλλα δη σκοπεί ονχϊ η τε κιθαρωδικη δοκεΐ σοι πάσα και η των διθυράμβων ποίησα ηδονης χάριν ηυρησθαι ΚΑΛ Εμοιγε ΣΩ Τ ί δέ δη η σεμνή αυτή και θαυμαστή η της τραγωδίας ποίησα έφ ω έσποΰδακεν πάτερου έστιν αυτής το επιχείρημα και η σπονδή ως σοι δοκεΐ χαρίζεσθαι τοΐς θεαταΐς μόνον η καί διαμάχεσθαι εάν τι αντοΐς ηδυ μέν fj λ V 5 λ καί Κχαρισμνον ττονηρον oe οπωί τούτο μζν μη epei ei δέ τι τυγχάνει αηδές και ωφέλιμον τούτο δέ καί λεζει V if y t t και aσςται αντ χαιρωσιν eazre μη ποτζρως σοι οοκζΐ παρεσκενάσθαι η των τραγωδιών ποίησα 192 193 194 192 A cítara era maior do que a lira e acabou substituindoa nas apresentações musicais Conforme o registro nas Inscriptiones Graecae 2965 havia premiações no festival das Panatenaias para os recitais solos de cítara e para aqueles acompa nhados de canto Embora Platão argumente no Górgias que a cítara é empregada nesses recitais com a finalidade precípua de comprazer a audiência tanto na Repú blica 399d quanto nas Leis 8i2be ele admite sua utilidade para a cidade tendo em vista sua função educativa E Dodds op cit p 323 193 Platão distingue aqui o treinamento dos coros ditirâmbicos do ditirambo em si que compreenderia por sua vez a composição dos versos e da música Nos festivais das Grandes Dionísias e das Panatenaias os ditirambos e seus coros con corriam a prêmios E Dodds op cit p 323 194 Cinésias foi um poeta ditirâmbico cuja produção se deu nas duas últimas décadas do séc v aC e no início do séc iv aC E Dodds op cit p 323 Aparece como personagem na comédia As Aves de Aristófanes 414 aC e é satirizado por GÓRGIAS 365 soc Então não sucede o mesmo a todas as atividades desse tipo tal como a citarística praticada nas competições192 c a l Sim soc E quanto à direção dos coros e à poesia ditirâmbica193 Não te parecem ser do mesmo tipo Consideras que Cinésias194 filho de Meles preocupase em dizer coisas tais que tornariam melhores os ouvintes ou que ele se atenta ao deleite da turba de espectadores 502 c a l É evidente que este último é o caso de Cinésias Só crates soc E quanto a seu pai Meles195 Acaso te parecia ele tocar cítara visando o supremo bem Ou ele a tocava nem mesmo visando o que é mais aprazível Pois ele afligia os espectadores com seus cantos Examina então Não te parece que a citarís tica e a poesia ditirâmbica como um todo foram inventadas em prol do prazer c a l Sim soc E quanto à mais solene e admirável delas a poesia trágica b pelo que ela zela Seu intento e zelo são segundo teu parecer ape nas deleitar os espectadores ou também defendêlos evitando pro nunciar o que lhes for aprazível e deleitoso porém nocivo e dizendo e cantando o que não lhes for aprazível porém benéfico quer isso lhes deleite ou não A poesia trágica te parece disporse a quê Ferécrates como um poeta inábil na comédia Χείρων como vemos neste fragmento conservado fr 145 Kock Cinésias o ático abominável Compôs nuanças desarmônicas nas estrofes E arruinou a poesia ditirâmbica a ponto De sua destra parecer mais hábil No manejo do escudo Κινησίας δέ μ ό κατάρατος Αττικός έξαρμονίους καμπάς ποιων έν ταΐς στροφαις άπολώλεχ οϋτως ώστε τής ποιήσεως τών διθυράμβων καθάπερ έν ταις άσπίσιν άριστέρ αΰτοϋ φαίνεται τά δεξιά 195 Meles também foi satirizado por Ferécrates na comédia Άγριοι como vemos neste fragmento Fr 6 Kock Adiante então quem é o pior citarista que já existiu B Meles filho de Písio A E depois de Meles quem mais A Seguramente Quéris penso eu φέρ ϊδω κιθαρωδός τίς κάκιστος έγένετο Β ό Πεισίου Μέλης Α μετά δέ Μέλητα τίς Β έχ άτρέμ έγωδα Χαΐρις 366 GÓRGIAS DE PLATÃO Κ Α Λ Αήλον brj τοΰτό γε ω Σώκρατες οτι προς τήν flbovrjv μάλλον ωρμηται καί το χαρίζεσθαι τοΐς θεαταίς ΣΩ Ουκονν το τοιοΰτον ω Καλλίκλεις εφαμεν vvvbrj κολακείαν είναι Κ Α Λ Πάνυ ye ΣΩ Φέρε δή εΧ t i s περιέλοι τη s ποιήσεως ττάσης τ ο τε μέλος και τον ρυθμόν και το μέτρου άλλο τι η λόγοι γίγνονται το λειπόμενον ΚΑΛ Ανάγκη ΣΩ Ουκονν ττρος πολυν όχλον και bfaov οΰτοι λέγονται οι λόγοι ΚΑΛ Φημ 2X2 Αημηγορία αρα τς εστιν η ποιητική ΚΑΛ Φαίνεται ΣΩ Ουκονν ρητορική μηγορία αν εϊη η ον ρητορευειν boKovai σοι οϊ ποιηται εν rois θεάτροις ΚΑΛ Εμοιγε ΣΩ Ν ΐρ αρα ημείς ηνρήκαμεν ρητορικήν τινα ττρος bήμov τοιοΰτον οΧον παίδων τε όμοϋ καί γυναικών και άνδρών και δουλών καί ελευθέρων ήν ον πάνυ άγάμεθα κολακικήν γαρ αντην φαμςν eivac Κ Α Λ Πάνυ γε ΣΩ E iev τί ôè ή προς τον Αθηναίων bήμov ρητορική και τους άλλους rois εν ταις πόλεσιν bήμoυς τους τών ελευθέρων àvbpώv τ ί ποτέ ήμιν αυτή έστίν πάτερου σοι δοκοΰσιν προς το βέλτιστου αει λέγειν οί ρήτορες τούτον 196 196 Platão repõe aqui ο argumento de Górgias no Elogio de Helena Fr d k 82 Bi 1 sobre a poesia Pela descrição dos efeitos psicológicos da experiência poética é razoável inferir que a reflexão de Górgias se refira precipuamente à tragédia É preciso que eu mostre minha opinião aos ouvintes sobre isso toda a poe sia eu considero e nomeio um discurso com metro Os seus ouvintes são imbuídos de temeroso arrepio de piedade plangente e de desejo condolente a alma através das palavras experimenta um particular sofrimento dos infortúnios e das boas venturas de corpos e acontecimentos alheios 9 δει δέ και δόξηι δείξαι τοϊς άκούουσι την ποίησιν απασαν και νομίζω και ονομάζω λόγον εχοντα μέτρον ής τούς άκούοντας είσήλθε και φρίκη περίφοβος και ελεος πολύδακρυς και πόθος φιλοπενθής έπ άλλοτρίων τε πραγμάτων και GÓRGIAS 367 c a l É evidente Sócrates que ela está volvida sobretudo ao prazer e ao deleite dos espectadores soc Então Cálicles não é isso o que há pouco afirmáva mos ser a lisonja c a l Com certeza soc Vamos lá Se alguém retirasse de toda a poesia o canto o ritmo e o metro não restariam apenas os discursos196 c a l Necessariamente soc E esses discursos não são pronunciados publicamente para uma turba numerosa c a l Confirmo soc Portanto a poesia é certa oratória pública c a l É claro soc Oratória pública não seria então retórica Ou os poe tas nos teatros não te parecem agir como rétores c a l Parecemme soc Portanto acabamos de descobrir certa retórica diri gida ao povo composto de crianças homens e mulheres de es cravos e homens livres retórica essa que não nos é de grande apreço pois afirmamos que ela é lisonja197 c a l Com certeza soc Assim seja E o que é a retórica dirigida ao povo de Atenas e a todos os outros povos de homens livres que vivem nas cidades o que ela é então para nós Porventura os rétores te parecem falar sempre visando o supremo bem e tendoo σωμάτων εύτυχίαις και δυσπραγίαις ϊδιόν τι πάθημα διά τών λόγων επαθεν ή ψυχή φέρε δή προς άλλον άπ άλλου μεταστώ λόγον 197 Isócrates faz uma comparação entre o discurso poético e o discurso re tórico em específico o judiciário na Antídosis Há certos homens que não são inexperientes no que eu mencionei ante riormente no entanto preferem escrever discursos não sobre vossos compromissos mas sobre a Hélade a política e os panegíricos discursos esses que todos diriam ser mais afins àqueles compostos com música e ritmo do que aos proferidos no tribu nal 46 Είσιν γάρ τινες οϊ τών μέν προειρημένων ούκ άπείρως έχουσιν γράφειν δέ προήρηνται λόγους ού περι τών ϋμετέρων συμβολαίων άλλ Ελληνικούς καί πολιτικούς και πανηγυρικούς οΰς άπαντες άν φήσειαν όμοιοτέρους ειναι τοίς μετά μουσικής και ρυθμών πεποιημένοις ή τοίς έν δικαστηρίω λεγομένοις 368 GÓRGIAS DE PLATÃO 503 b στοχαζόμενοι όπως οι πολΐται ως βέλτιστοι εσονται δια τον s αντων λόγους η και ουτοι προς το χαρίζεσθαι τοίς πολίταις ωρμημένοι και ένεκα τον ίδιον τον αντων όλιγωρονντες τον κοινού ώσπερ παισι προσομιλοΰσι τοΐς δημοις χαρίζεσθαι αντοΐς πειρώμενοι μόνον εΐ δε γε βελτίονς εσονται η χείρονς δια ταΰτα ονδέν φροντίζουσιν ΚΑΛ Ονχ άπλονν ετι τοντο έρωτας είσι μέν y a p ο ι κηδόμενοι των πολιτών λέγονσιν a λέγουσιν είσιν ôè και οιονς συ λεγεις ΣΏ Έζαρκεΐ ει γδρ και τουτό εστι διπλοΰν τδ μέν έτερόν που τούτον κολακεία άν εΐη και αισχρά δημηγορία τδ δ έτερον καλόν τδ παρασκεύαζειν όπως ως βέλτισται εσονται των πολιτών ai ψνχαί και διαμάχεσθαι λεγοντα τα βέλτιστα είτε ηδίω είτε αηδέστερα εσται τοΐς ακοΰονσιν αλλ ον πωποτζ συ ταντην aoes την ρητορικήν η ΐ τινα Λ t Λ Λ των ρητόρων τοιοντον ziittiv τι ονγμ και μυι αντον ςφρασας τις στιν ΚΑΛ Αλλά μα Δία ονκ εχω εγωγέ σοι είπεϊν των γε Λ Ç νυν ρητόρων ovoeva ΣΏ Τ ί δέ των παλαιών έχεις τινα είπεϊν δι οντινα αιτίαν εχονσιν Αθηναίοι βελτίονς γεγονέναι επειδή εκείνος ηρζατο δημηγορείν εν τω πρόσθεν χρόνω χείρονς όντες έγω μέν γαρ ονκ οιδα τίς έστιν οντος 198 198 Na Terceira F ilíp ica de 341 a C Dem óstenes recorre a uma distinção semelhante entre uma boa e uma má retórica no seu discurso contra Filipe e con tra aqueles políticos atenienses condescendentes com a expansão do poderio ma cedônio na Hélade A causa disso talvez sejam várias e não é por uma ou duas que nos encon tramos nessa condição Mas se examinardes corretamente descobrireis que isso se deve sobretudo àqueles que preferem vos deleitar a dizer o que é melhor parte deles atenienses zela por aquilo em que se baseiam seu prestígio e poder e não possui qualquer previsão sobre as coisas futuras tam pouco julga que vós deveis fazêlo enquanto outra parte inculpando e difamando aqueles que se ocupam dos afazeres públicos não faz outra coisa senão observar o m odo de a própria cidade condenar a si mesma e de se ater a isso permitindo a Filipe dizer e fazer o que bem quer Esse tipo de ação política embora vos seja habitual é causa de males 23 πολλά μεν ούν ίσως έστιν αίτια τούτων και ού παρ εν ουδέ δύ εις τούτο τα πράγματ άφΐκται μάλιστα δ ανπερ έξετάζητ όρθώς έύρήσετε διά τούς χαρίζεσθαι μάλλον ή τά βέλτιστα λέγειν προαιρούμενους ών τινες μέν ώ άνδρες Αθηναίοι έν οίς GÓRGIAS 369 como mira a fim de que os cidadãos se tornem melhores ao máximo por meio de seus discursos Ou também eles se volvem ao deleite dos espectadores descuram do interesse comum em vista do seu em particular e relacionamse com os povos como se fossem eles crianças tentando apenas deleitálos sem a preo cupação de tornálos melhores ou piores por isso198 5 0 3 c a l Essa não é uma pergunta simples pois há de um lado quem zele pelos cidadãos quando pronuncia seus discursos e quem de outro seja do tipo a que te referes soc Isso basta Se é dúplice uma parte dela seria lisonja e oratória pública vergonhosa ao passo que a outra seria bela que se dispõe para tornar melhores ao máximo as almas dos cidadãos e as defende dizendo o que é melhor seja isso mais aprazível ou menos aprazível aos ouvintes Mas retórica como essa jamais viste199 ou melhor se podes nomear um rétor desse b tipo por que não me disseste quem ele é c a l Mas por Zeus eu não consigo te nomear nenhum rétor contemporâneo soc E então Podes nomear algum antigo rétor por cuja causa os atenienses tenham se tornado melhores depois de ter começado a discursar em público homens que eram anterior mente piores Pois eu não sei quem ele é εύδοκιμοϋσιν αύτοί καί δύνανται ταϋτα φυλάττοντες ούδεμίαν περί τών μελλόντων πρόνοιαν έχουσιν ούκοϋν ούδ ύμας οϊονται δεΐν έχειν έτεροι δε τούς έπι τοις πράγμασιν όντας αίτιώμενοι καί διαβάλλοντες ούδέν άλλο ποιουσιν ή όπως ή μέν πόλις αύτή παρ αυτής δίκην λήψεται καί περί τοϋτ έσται Φιλίππω δ έξέσται καί λέγειν καί πράττειν ό τι βούλεται αί δε τοιαϋται πολιτεΐαι συνήθεις μέν είσιν ύμΐν αίτιαι δέ τών κακών Sobre ο contraste entre ο discurso voltado para o comprazimento da au diência e aquele voltado para o bem comum ver Tucídides 265 Isócrates Sobre a Paz 35 75 126 Antídosis 233234 Demóstenes Terceira Filípica 24 199 Sócrates admite aqui a possibilidade de uma boa retórica ou seja daquela retórica voltada não para o comprazimento mas para o benefício da audiência visando o supremo bem προς τό βέλτιστον 50263 embora ele considere como ficará evi dente na discussão subsequente sobre os grandes políticos de Atenas do séc v aC que ela jamais tenha existido na prática na democracia ateniense Sócrates tornará a se referir a ela adiante como a verdadeira retórica τή άληθινή ρητορική 51735 a qual somente ele senão alguns poucos pratica efetivamente 52id522a Sobre a imagem como o verdadeiro homem político cf supra nota 187 370 GÓRGIAS DE PLATÃO c ΚΑΛ Ti δ ε Θεμιιττοκλεα ονκ ακούεις avbpa αγαθόν γεγονότα και Κίμωνα και Μιλτιάοην και ΤΙερικλεα τοντονϊ τον νεωστι τετελευτηκότα ον και συ άκήκοας Σ Ω Εΐ ίστιν ye ω Καλλίκλεις ην πρότερον σν ελεγες αρετήν αληθής το τάς επιθυμίας άποπιμπλάναι και τας αντον και τάς των άλλων el be μή τούτο άλλ oirep εν τω υστερώ λόγω ήvaγκάσθημev ημείς ό μολογ εϊν ότι αι μev των επιθυμιών πληρονμεναι βελτίω ποιοϋσι τον άνθρωπον d ταυτας μεν άποτελείν αίι δε γείρω μή τοντο δε τεγνη τις εΐη τοιοΰτον avbpa τούτων τινα γεγονεναι ουκ εγω εγωγε 7τως ειττω ΚΑΛ Ά λλ εαν ζητής καλώς ειψήσεις ΣΩ Ί δ ω ιε ν δ οντωσϊ άτρεμα σκσηουμενοι εΐ τις τούτων τοιουτος γεγονεν pepe yap ο αγαθός ανηρ και επι το βέλτιστον λίγων α αν λεγγ άλλο τι ονκ είκή ερεΐ άλλ e άττοβλίττων ττρός τι ωσττερ καί οι άλλοι ττάντες bppiovpyol βλεττοντες προς το αντων εργον έκαστος ονκ είκτ εκλεγό μενος προσφέρει προς το ίργον το αντων άλλ όπως αν εΐοός τι αντω σγβ τοντο ο εργάζεται οϊον εΐ βονλει ίδεΐν τονς ζωγράφους τονς οίκοδόμονς τους ναυπηγούς τους άλλους 20 201 200 Temístocles desempenhou a função de arconte epônimo em Atenas nos anos 493492 aC durante a qual dirigiu a construção das longas muralhas até o Pireu ver Tuddides 1933 Nos anos 483482 aC persuadiu os atenienses a usar os lucros pro venientes das minas de Láurio na ampliação da frota adicionandolhe no mínimo cem trirremes ver Heródoto 7144 Tucídides 1143 Aristóteles C onstituição de A tenas 227 Segundo Heródoto Livros vnix Temístocles serviu como general contra os persas por mar e por terra adquirindo admiração e honra devido a suas estratégias tanto políticas como militares como por exemplo ter ludibriado os persas a entrarem no porto de Salamina movimento decisivo para a vitória das forças helénicas Em 470 aC foi condenado ao ostracismo e se dirigiu para Argos de onde visitou outras cida des Segundo Tucídides 1138 Temístocles aprendeu a língua e os costumes persas e ganhou prestígio junto a Artaxerxes filho de Xerxes rei da Pérsia lá morreu por doença ou segundo outra versão por autoenvenenamento D Nails op cit p 280281 201 Cím on 11 filho de M ilcíades teve uma longa carreira política e foi um dos homens mais influentes em Atenas nas décadas de 470 e 460 aC em especial devido à sua rivalidade com Temístocles Era embaixador de Atenas em Esparta no decreto de Aristides em 479 aC Foi também eleito repetidas vezes general 478477 476475 quando no último ano teria trazido de volta a Atenas os ossos de Teseu ver Heródoto 7107 Tucídides 198 Entre os anos 476 e 463 aC junto a Aris GÓRGIAS 371 c a l E então Não ouves que Temístocles200 fora um bom homem além de Cím on201 M ildades202 e Péricles203 o qual morreu recentemente e cujos discursos também tu ouviste soc Contanto que seja verdadeira Cálicles esta virtude a que te referias na discussão precedente satisfazer os apetites tanto os próprios quanto os alheios Porém se esse não for o caso mas o que na discussão posterior fomos constrangidos a concordar que se deve satisfazer os apetites que uma vez saciados tornam melhor o homem e evitar aqueles que o tor nam pior e que isso seria uma arte pelo menos eu não con sigo nomear algum homem que tenha sido assim c a l Mas se procurares bem descobrirás soc Vejamos então Investiguemos com calma se houve outrora algum homem desse tipo Adiante O homem bom que fala visando o supremo bem não dirá aleatoriamente o que disser mas tendo em vista alguma coisa não é O mesmo su cede aos demais artífices cada um deles tendo em vista o seu próprio ofício não escolhe e aplica os componentes de forma aleatória porém para conferir forma ao que é produzido Por exemplo se quiseres observar os pintores os arquitetos os construtores navais e todos os demais artífices qualquer um à tides Címon sustentou a Liga Delia e comandou a maioria de suas operações No final da década de 460 seu principal rival era Efialtes cujo associado em ascenção na carreira política era Péricles Címon talvez tenha sido processado por Péricles por aceitar suborno de Alexandre da Macedônia em 463 ou 462 aC ver Plutarco Címon 142151 Foi condenado ao ostracismo em 461 conforme registrado nos ostrakas encontrados em expedições arqueológicas Por ação de Péricles Címon retornou a Atenas em 457 aC ver Plutarco Címon 176 e morreu em 450449 aC quando servia como general na campanha contra os persas em Chipre ver Tucídides 1112 D Nails op cit p 9697 202 Milcíades pai de Címon 11 desempenhou a função de arconte epônimo em Atenas nos anos 524523 aC Em 516515 aC foi enviado ao Quersoneso pelo tirano Hípias serviu a Dario rei da Pérsia por algum tempo e logo depois fez parte da chamada Revolta Jónica Com o fracasso da revolta Milcíades retornou a Atenas onde foi processado e absolvido da acusação de tirania no Quersoneso logo depois foi eleito general em 490489 aC Segundo Heródoto 6109110 teve participação decisiva na vitória contra os persas na batalha de Maratona Morreu por causa dos ferimentos decorrentes de uma campanha militar em Paros logo após o episódio de Maratona D Nails op cit p 206207 203 Sobre Péricles cf supra nota 79 372 GÓRGIAS DE PLATÃO 5 0 4 b c πάντας δημιουργούς όντινα βούλα αυτών as eis τάξιν τινά ίκαστος έκαστον τίθησιν ο αν τώη καί ττροσαναγκάζίΐ το eTepov τω ίτίρω π ρίπον τε eivai καί άρμόττε ιν ίως αν το άπαν σνστησηται τταγμίνον re και κΚοσμημίνον πράγμα και οι re ύη άλλοι δημιουργοί και οΰς νυνδη ίλίγομν οι περί το σώμα παιδοτρίβαι re και Ιατροί κοσμοϋσί που το σώμα και συντάττουσιν ομολογουμν οΰτω τούτ ίχΐν V V ου ΚΑΛ Εστω τούτο οΰτω ΣίΙ Τάεωϊ άρα και κόσμου τυχούσα οικία χρηστη άν όίη αταξίας δε μοχθηρά ΚΑΛ Φημί ΣΩ Ουκουν και πλοΐον ωσαύτως ΚΑΛ Ναί ΣΩ Και μην και τα σώματά φαμεν τά ημίτρα ΚΑΛ Πάνν γε ΣΩ Τ ί δ η ψυχή αταξίας τυχουσα ίσται χρηστη η ταξςως τβ και κοσμον τίνος ΚΑΛ 1Ανάγκη ίκ τών πρόσθεν και τούτο συνομολογΪν ΣΩ ι ί ουν ονομα στιν ν τω σωματι τω εκ της rαeωs καί τού κόσμου γιγνομίνω ΚΑΛ Ύγΐΐαν καί ίσχύν ίσως λeγeιs ΣΩ Εγωγ τί δε αυ τω ίν ττ ψνχτ ίγγιγνομίνω ίκ της ταξζως και του κοσμον πΐρω νρΐν και ΠΤΐν ωσπρ έκει τδ όνομα ΚΑΛ Τ ί δε ούκ αυτός λεγει ω Σώκρατς ΣΩ Ά λ λ eí σοι ηδιόν ίστιν ίγω ίρώ συ δί αν μίν σοι δοκώ ίγω καλώς λίγ6ΐν φάθι εί δε μη έλεγχε καί μη 204 Platão salienta aqui os elementos que fazem o trabalho de um artífice δημιουργοί 503ei se configurar como tekhné τέχνη τις 503di imprimir certa forma είδος τι 50364 na matéria com que trabalha de maneira ordenada e não aleatória ούκ είκή 50362 de modo que os elementos estejam em seu conjunto ordenados e arranjados τεταγμένον τε και κεκοσμημένον 504ai adquirindo assim harmonia άρμόττειν 503e8 É interessante observar que Platão no Gór gias considera a pintura como exemplo de atividade técnica tendo em vista seu GÓRGIAS 373 tua vontade verás que cada um deles confere certo arranjo a cada um dos componentes e força que uma coisa se adéque e harmonize à outra até que tudo esteja bem arranjado e orde 504 nado em seu conjunto204 E os outros artífices aos quais há pouco nos referíamos205 os que zelam pelo corpo os treinado res e os médicos também conferem ordem e arranjo ao corpo Concordamos que isso é assim ou não c a l Que assim seja soc Portanto se obtiver arranjo e ordem a casa será útil mas se não os obtiver será inutilizável c a l Confirmo soc Não sucede o mesmo então à embarcação c a l Sim b soc Com efeito podemos dizer o mesmo a respeito de nossos corpos c a l Absolutamente soc E quanto à alma É a ausência de arranjo a tornála útil ou a presença de certo arranjo e ordem c a l A partir do que foi dito antes é inevitável que eu dê mais uma vez a minha anuência soc Que nome terá então aquilo que surge no corpo advindo desse arranjo e dessa ordem c a l Talvez te refiras à saúde e à força soc Sim E que nome terá por sua vez aquilo que surge c na alma advindo desse arranjo e dessa ordem Procura desco brir e dizer o nome como no caso do corpo206 c a l Mas por que não falas tu mesmo Sócrates soc Se te for mais aprazível dirteei mas tu o confirma se te parecer que falo corretamente senão refutame e não cedas método sistemático e a finalidade de produzir um resultado correto T Irwin op cit p 214 Todavia no Livro x da República 596b598c ela é tratada assim como a poesia como imitação deturpada do objeto representado estando três graus afastada do ser τρίτα άπέχοντα του οντος 599a1 ou sejaa eia da coisaa coisa em particular e a coisa imitada pela pintura 205 Cf 464b466a 206 Cf 477bc 374 GÓRGIAS DE PLATÃO d e 505 επίτρεπε εμοϊ γάρ δοκεΐ raîs μεν του σώματος τάξεσιν όνομα είναι υγιεινόν εξ ου èv αντώ ή νγίεια γίγνεται και ή άλλη άρετη του σώματος εστιν ταΰτα η ουκ ίστιν ΚΑΛ νΕστιν ΣΩ Tatî bé γε της ψυχής τάξεσι καί κοσμησεσιν νόμιμόν re και νόμος οθεν και νόμιμοι γίγνονται και κόσμων ταΰτα δ ίστιν δικαιοσύνη τε καί σωφροσύνη φης η οΰ ΚΑΛ Εστω ΣΩ Ούκοΰν προς ταΰτα βλεπων 6 ρητωρ εκείνος ό τεχνικός re και αγαθός και τούΐ λόγους προσοίσει ταις ψνχαις ους αν λίγη καί τας πράξεις απάσας και δώρον εάν τι δίδω δώσει καί εάν τι άφαιρηται άφαιρησεται προς τούτο αει τον νουν εχων όπως hv αυτοΰ τοΐς πολίταις δικαιοσύνη μεν εν ταις ψυχαΐς γίγνηται αδικία δε άπαλ λάττηται καί σωφροσύνη μεν εγγίγνηται ακολασία δε άπαλλάττηται και η άλλη αρετή εγγίγνηται κακία δε άπίη συγχωρείς η ου ΚΑΛ Συγχωρώ ΣΩ Τί γάρ όφελος ω Καλλίκλεις σώματί γε κάμνοντι και μοχθηρώς διακειμενω σιτία πολλά διδόναι και τα ηδιστα η ττοτα η αλλ οτιουν ο μη ονησα αντο σν οπ 7ΤΛον η τουναντίον κατά γε τον δίκαιον λόγον καί ελαττον εστι ταΰτα ΚΑΛ Εστω ΣΩ Ου γάρ οΐμαι λυσιτελεΐ μετά μοχθηρίας σώματος ζην άνθρώπω ανάγκη γάρ οΰτω και ζην μοχθηρώς η ονχ ούτως ΚΑΛ Ναι ΣΩ Ονκονν καί τας επιθυμίας άποπιμπλάναι dtov πει νώντα φαγεϊν όσον βούλεται η διψώντα πιειν υγιαίνοντα μεν εώσιν oi Ιατροί ως τά πολλά κάμνοντα δε ως έπος 2ογ Platão vislumbra no Górgias a possibilidade de uma boa retórica que vise a promoção da justiça dikaiosunê δικαιοσύνη 504ei e da temperança sõphrosunê σωφροσύνη 504e2 na alma dos cidadãos e não simplesmente seu comprazimento contudo não faz qualquer menção ao tipo de constituição política que condicionaria o GÓRGIAS 375 Pareceme que os arranjos do corpo denominamse saudáveis os quais são a origem da saúde e de toda e qualquer virtude do corpo É isso ou não é c a l É soc E os arranjos e ordenamentos da alma se denominam d legítimos e lei com o que as almas se tornam legítimas e ordenadas Isso é a justiça e a temperança Confirmas ou não c a l Seja soc Portanto aquele rétor o técnico e bom terá isso em vista quando volver às almas os discursos que vier a proferir e todas as suas ações e lhes presenteará caso houver algo a ser presenteado e lhes furtará caso houver algo a ser furtado Ele terá sua mente continuamente fixa nesse escopo a fim de que a justiça surja nas almas de seus concidadãos e da injustiça se e libertem a fim de que a temperança surja e da intemperança se libertem a fim de que toda e qualquer virtude surja e o vício parta207 É do teu consentimento ou não c a l É soc E que vantagem há Cálicles para o corpo doente e mísero quando se lhe oferece inúmeras comidas aprazíveis ou bebidas ou qualquer outra coisa do gênero se isso conforme o argumento justo não lhe favorece mais do que a prescrição contrária ou até mesmo menos Não é isso c a l Sim 505 soc Pois julgo eu não é vantajoso que o homem viva com o corpo mísero pois ele terá necessariamente uma vida mísera Não é o que acontece c a l Sim soc Então os médicos geralmente permitem que o homem saudável satisfaça seus apetites como por exemplo comer o quanto quiser quando faminto ou beber quando sedento enquanto ao surgimento desse orador técnico e bom ó τεχνικός τε και αγαθός 5Hd6 se na pró pria democracia embora Sócrates considere que em Atenas jamais houve um político dessa natureza 503b ou se numa outra forma de constituição política em que os governantes detém poder absoluto Sobre a boa retórica cf supra nota 199 376 GÓRGIAS DE PLATÃO είπεΐν ονόέποτ έωσιν εμπίμιτλασθαι ων επιθυμεί συγχωράς τοντό γε και σύ ΚΑΛ Εγωγς ΣΩ ΓΚρι Òè ψυχήν ω αριστε ουχ ό αυτοί τρόπος εως μν αν πονηρά η ανόητος τε ονσα και ακόλαστος και άδικος και ανόσιος εϊργειν αυτήν ôeí των επιθυμιών καί μη έπιτρέπειν αλλ αττα ποιεΐν η αφ ων βελτίων έσταί φης η ον ΚΑΛ Φημί Σί2 Οΰτω γάρ που αυτή όμεινον τή ψνχή ΚΑΛ Πάνυ ye ΣΩ Ουκοΰν το εϊργειν έστιν άφ ων επιθυμεί κολάζίΐν ΚΑΛ Ναι 1 ΣΩ Το κολάζσθαι αρα τη ψυχή άμεινόν έστιν η η ακολασία ώσπερ τί νννόη ωον ΚΑΛ Ονκ οΐδ αττα λέγεις ω Σωκρατες αλλ άλλον τινα έρωτα ΣΩ Οντος άνήρ ούχ υπομένει ωφελούμενος και αυτός τούτο πασχών περί ου δ λόγος έστί κολαζόμενος ΚΑΛ Οίδέ γέ μοι μέλει ονόέν ων συ λέγεις και ταντά σοι Γοργίου χάριν απεκρινάμην ΣΩ ΕΓίΐ τί ουν όη ποιήσομεν μεταξύ τον λόγον καταλυομεν ΚΑΛ Αυτός γνώση ΣΩ Ά λλ ουδέ τους μύθους φασι μεταξύ θέμις είναι καταλείπειν άλλ έπιθέντας κεφαλήν ϊνα μή αν ευ κεφαλής 208 Por meio da analogia entre o corpo saudável e a alma saudável e entre seus estados contrários Sócrates oferece uma objeção ulterior à tese hedonista de Cálicles 49ie492b segundo a qual a felicidade do homem εύδαίμων 49ie6 consiste na sua capacidade de permitir que os apetites τάς έπιθυμίας 49ieg en grandeçam ao máximo para assim satisfazêlos Assim como o corpo doente não pode satisfazer seus apetites por causa da restrição do regime imposto pelo médico em vista da recuperação de sua saúde também a alma intemperante não pode satifa zer plenamente seus apetites devido à sua condição viciosa se seu escopo é curarse do mal que lhe é próprio estultícia intemperança injustiça impiedade 505023 Portanto em resposta à tese hedonista de Cálicles não é o intemperante mas o temperante que se encontra na condição de satisfazer seus apetites άποτημπλάναι 505a6 desde que tais apetites não venham a prejudicar sua alma Nesse sentido GÓRGIAS 377 doente eles jamais permitem por assim dizer a satisfação do que lhe apetece não é Consentes mais uma vez c a l Consinto soc E à alma excelente homem não sucede o mesmo b Enquanto for viciosa por ser estulta intemperante injusta e ímpia ela deverá resistir aos apetites e não se permitir fazer senão aquilo que a torne melhor208 Confirmas ou não c a l Confirmo soc Pois assim é melhor para a própria alma não é c a l Absolutamente soc Então resistir aos apetites não é punila c a l Sim soc Portanto a punição é melhor para a alma do que a intemperança como tu há pouco presumias209 c a l Não entendo o que dizes Sócrates mas interroga ou c tra pessoa qualquer soc Esse homem não tolera ser beneficiado e sofrer aquilo sobre o que discutimos ser punido210 c a l Nada do que dizes me interessa e é por Górgias que eu respondia às tuas perguntas211 soc Seja O que faremos então Encerramos a discussão no meio c a l Hás de saber tu soc Mas como dizem nem os mitos é lícito abandoná los no meio porém se deve acrescentarlhes antes a cabeça d a fim de que não perambulem por aí decapitados212 Então tanto Cálicles quanto Sócrates acreditam que a felicidade de uma forma ou de outra está associada à satisfação dos apetites mas para Sócrates somente o tem pérante se encontra na condição saudável de satisfazêlos de modo razoável T Irwin op cit p 194 209 Platão joga com a semântica do verbo κολάζειν kolazein que signi fica tanto punir como vem sendo traduzido quanto refrear da mesma raiz de ακολασία akolasia intemperança Portanto refrear os apetites da alma intem perante akolastos άκόλαστος significa punila 210 Ou seja ser refreado κολαζόμενος 505C4 de sua intemperança 211 Cf 497bc 212 A mesma imagem é referida por Platão em outros diálogos ver Fedro 264c Filebo 66d Timeu 69b Leis 752a 378 G Ó R G IA S D E P L A T à O e 506 Trepitr άπόκριναι ουν και τα λοιπά ΐνα ημΐν ό λόγος κεφαλήν λάβτ ΚΑΛ Ώ ί βίαιος el ω Σωκρατες εάν be εμοι πείθη εάσεις χαίρειν τούτον τον λόγον η καί άλλω τω διάλεξη ΣΩ Τις ουν άλλος εθελει μη γάρ τοι ατελή ye τον λόγον καταλίπωμεν ΚΑΛ Αυτός be ούκ αν δυναιο διελθεΐν τον λόγον η λεγων κατα σαυτον η αττοκρινομενος σαυτω ΣΩ Ινα μοι ro του Επιχάρμου γενηται a προ του δυο άνδρες ελεγον είς ων Ικανός γενωμαι άτάρ κινδυ νεύει άναγκαιότατον είναι ούτως εΐ μεντοι ποιησομεν οιμαι εγωγε χρηναι πάντας ημάς φιλονίκως εχειν προς το εώεναι το αληθές τί εστιν περί ων λεγομεν καί τί ψεύδος κοινόν γάρ αγαθόν άπασι φανερόν γενεσθαι αυτό δίειμι μν ονν τω λογω βγω ω αν μοι Ooktj βχβιζ eav Μ τω νμων μη τα οντα οοκω ομολογΐν βμαυτω χρη αντιλαμ βάνεσθαι και ελεγχειν ουδέ γάρ τοι εγωγε είδως λέγω λέγω άλλα ζητώ κοινή μεθ υμών ώστε άν τι φαίνηται 213 213 Epicarmo fr 253 Kaibel fr 16 Diels Em seu comentário ao Górgias Olimpiodoro afirma que esse poeta havia composto uma comédia na qual duas personagens dialogam mas acaba uma falando também pela outra 3413 Dodds contudo considera mera conjetura de Olimpiodoro op cit p 332 No Teeteto Platão se refere a Epicarmo nos seguintes termos soc E sobre isso sejam colocados em conjunto e em ordem exceto Parmênides todos os sábios Protágoras Heráclito e Empédocles e dentre os poe tas os expoentes de uma e de outra poesia da comédia Epicarmo e da tragédia Homero 152625 G Ó R G IA S 379 respondeme o que resta para que nossa discussão adquira uma cabeça c a l Como és agressivo Sócrates Se creres em mim dá adeus a essa discussão ou dialoga com outro qualquer soc Quem desejaria então Não abandonemos de forma alguma inconclusa a discussão c a l Mas tu próprio não serias capaz de expor o argumento ora falando ora respondendo a ti mesmo soc Para me valer do dito de Epicarmo eu serei sufi ciente mesmo sendo um só para o que dois homens diziam previamente213 Pois bem é provável que isso seja absoluta mente necessário Todavia se tomarmos essa decisão julgo que todos nós devamos almejar a vitória em saber o que é verdadeiro e o que é falso em relação ao que dizemos pois é um bem comum a todos que isso se esclareça214 Farei a expo sição do argumento então como me parecer melhor mas se algum de vós achar que eu concordo comigo mesmo a respeito de coisas que não são o caso será seu dever então tomar a pa lavra e refutarme Pois eu de fato não falo como conhecedor do que falo mas empreendo convosco uma investigação em comum de modo que se quem diverge de mim disserme algo και περί τούτου πάντες έξης oi σοφοί πλήν Παρμενίδου συμφερέσθων Πρωταγόρας τε καί Ηράκλειτος καί Εμπεδοκλής καί τών ποιητών οί ακροι τής ποιήσεως έκατέρας κωμωδίας μεν Επίχαρμος τραγωδίας δέ Ομηρος 2ΐ4 Sócrates recorre aqui a um oximoro associando a busca pela verdade προς το είδέναι τό άθληθές τί έστιν 50504 própria do diálogo de cunho filosófico ao comportamento competitivo das disputas verbais erísticas φιλονίκως 50564 cujo escopo precípuo é refutar o interlocutor por qualquer meio independente mente da verdade das conclusões a que se chega Sobre a distinção entre diálogo filosófico e diálogo erístico cf supra nota 32 380 G Ó R G IA S D E P L A T à O λέγων δ άμφισβητων εμοί εγίο 7τρωτός σνγχωρησομαι Aeyio μεντοι ταντα εί δοκεΐ χρψαι διαπερανθηναι τον λόγον d δε μη βούλεσθε εωμεν ήδη γαίρειν καί άπίωμεν ΓΟΡ Ά λλ εμοί μεν ου δοκεΐ ω Σωκράτης χρηναί πω απιέναι άλλα διεζελθεΐν σε τον λόγον φαίνεται δε μοι καί róis αλλοΐί δοκέΐν βούλομαι γαρ εγωγε και αυτοί ακονσαί σου αυτόν διιόντοί τα επίλοιπα ΣΏ Άλλα μεν δη ω Γοργία καί αυτοί ηδεωί μεν αν Καλλικλεΐ τούτω ετι διελεγόμην εωί αυτω την του Άμ φίονοί απεδωκα ρησιν αντί τηί τού Ζηθον επειδή ôè σύ ω Καλλίκλεΐί ουκ εθελεΐί σννδιαπεραναι τον λόγον άλλ 215 Visto que Cálicles nega enfim sua participação como interlocutor do diálogo Sócrates recorre então ao monólogo desempenhando tanto a função de inquiridor quanto a de inquirido e convida a plateia a supervisionar a condução do argumento substituindo parcial e momentaneamente o papel até então exercido por Cálicles O apelo de Sócrates à sua proverbial ignorância que se dá em certos contextos específicos nos diálogos platônicos contrasta com seu comportamento positivo no Górgias em que ele se apresenta como defensor fervoroso de suas te ses morais e se apoia na convicção de que por meio de um diálogo corretamente conduzido é possível se alcançar a completude da verdade τέλος τής αλήθειας 487e7 O argumento usado por Sócrates para explicar o sentido de sua ignorância se encontra sobretudo nesta passagem da Apologia Depois de ouvir isso de Querefonte fiz a seguinte reflexão o que quer dizer o deus qual será o enigma Não tenho eu o mínimo conhecimento de que sou sábio o que ele quer dizer então afirmando que eu sou o homem mais sábio Pois decerto não está mentindo não lhe é lícito E por longo tempo fiquei sem sa ber o que ele queria dizer Tempos depois embora relutante volvime para uma investigação do gênero dirigime a um homem que parecia ser sábio para assim refutar o oráculo e mostrar a ele que Esse homem é mais sábio do que eu mas tu afirmaste que era eu Examinando então esse homem não preciso referir seu nome mas era um dos políticos com o qual investigando e dialogando ó atenien ses tive uma experiência do gênero pareceume que esse homem parecia ser sábio à grande massa de homens e sobretudo a si mesmo sem sêlo Em seguida tentei mostrarlhe que ele presumia ser sábio mas não o era Como consequência torneime odiável a esse e aos demais homens que estivessem ali presentes Depois de partir então refletia comigo mesmo que mais sábio do que este homem eu sou é provável que nenhum de nós conheça algo de belo e bom mas ele presume saber algo embora não o saiba enquanto eu porque não sei tampouco presumo saber É plausível portanto que em alguma coisa ainda que diminuta seja eu mais sábio do que ele precisamente porque o que não sei não presumo sabêlo 2ib2d7 ταϋτα γάρ έγώ άκούσας ένεθυμούμην ούτωσί Τί ποτέ λέγει ό θεός και τί ποτέ αίνίττεται έγώ γάρ δή ούτε μέγα οϋτε σμικρόν σύνοιδα έμαυτώ σοφός ών τί οΰν ποτέ λέγει φάσκων έμέ σοφώτατον είναι ού γάρ δήπου ψεύδεται γε ού γάρ G Ó R G IA S 381 manifesto serei eu o primeiro a consentilo215 Digo essas coi sas contudo se parecer melhor que eu deva concluir a dis cussão mas se não quiserdes nos despeçamos agora mesmo e partamos g o r Pareceme Sócrates que não devemos partir agora e que deves tu expor o argumento Que essa é a opinião dos de mais está manifesto De minha parte quero te ouvir percor rendo por ti mesmo o que lhe resta216 soc Para mim Górgias seria um prazer continuar o diá logo com Cálicles enquanto não tivesse lhe restituído o dis curso de Anfíon em objeção ao de Zeto217 Mas visto que tu Cálicles não desejas concluir comigo a discussão então ouveme θέμις αύτώ και πολύν μέν χρόνον ήπόρουν τί ποτέ λέγει έπειτα μόγις πάνυ έπί ζήτησιν αϋτοϋ τοιαύτην τινά έτραπόμην ήλθον έπί τινα των δοκούντων σοφών είναι ώς ενταύθα εϊπερ που έλέγξων τό μαντεϊον και άποφανών τώ χρησμώ ότι Ούτοσι έμοϋ σοφώτερός έστι σύ δ έμέ έφησθα διασκοπών ούν τοϋτονόνόματι γάρ ούδέν δέομαι λέγειν ήν δε τις τών πολιτικών προς ον έγώ σκοπών τοιοϋτόν τι έπαθον ώ ανδρες Αθηναίοι και διαλεγόμενος αύτώέδοξέ μοι ούτος ό άνήρ δοκεϊν μέν είναι σοφός αλλοις τε πολλοίς άνθρώποις καί μάλιστα έαυτώ είναι δ οΰ κάπειτα έπειρώμην αύτώ δεικνύναι ότι οϊοιτο μέν είναι σοφός εϊη δ οΰ έντεύθεν ούν τούτω τε άπηχθόμην καί πολλοίς τών παρόντων προς έμαυτόν δ ούν άπιών έλογιζόμην οτι τούτου μέν τού ανθρώπου έγώ σοφώτερός είμι κινδυνεύει μέν γάρ ημών ούδέτερος ούδέν καλόν κάγαθόν είδέναι άλλ ούτος μέν οίεταί τι είδέναι ούκ είδώς έγώ δε ώσπερ ούν ούκ οίδα ούδέ οϊομαι έοικα γοϋν τούτου γε σμικρώ τινι αύτώ τούτω σοφώτερος είναι ότι ά μή οίδα ούδέ οϊομαι είδέναι 216 Assim como a intervenção de Cálicles garantiu a continuidade da discussão entre Sócrates e Górgias quando este manifestou a vontade de abandonála 458bd Górgias intervém mais uma vez no diálogo e com seu poder de autoridade solicita que Sócrates prossiga no monólogo Platão usa tanto a voz de Cálicles naquela opor tunidade quanto a de Górgias neste momento para trazer à cena a plateia que essa é a opinião dos demais τοΐς αλλοις δοκεϊν 5o6bi2 que de uma forma ou de ou tra tem uma participação importante na dinâmica dialógica No primeiro momento 458bd Górgias não pôde uma vez diante de seu próprio público recusar o debate pois essa atitude prejudicaria sua reputação de sábio e não seria condizente com o que ele próprio havia professado no início do diálogo 448813 No segundo momento a presença da plateia justifica de certa forma o proceder de Sócrates pois o monólogo 506C5509C4 pelo próprio termo é a negação do diálogo do princípio elementar da filosofia uma conversa entre duas pessoas uma na função de inquiridor e outra na de inquirido como Sócrates define reiteradamente na discussão com Górgias e Polo 449bc 4716247204 Nesse sentido o interesse de Sócrates não seria mais o convencimento de Cálicles cuja recalcitrância se manifesta indelével mas da própria plateia ou de parte dela composta pelos discípulos ou admiradores de Górgias como uma ave de rapina sobre um rebanho alheio 217 Cf 485e486d 382 G O R G IA S D E P L A T A O ovv εμού γε άκούων επιλαμβάνον Ιάν τί σοι δοκώ μη καλώς λεγειν καί με εαν εξελεγχης ονκ άχθεσθησομαί σοι ωσπep συ exoi αλλα μγιστοί evepyenjs Trap μοι άναγεγράψη ΚΑΑ Aeye ώγαθε αυτός καί περαινε ΣΩ Ακούε δη εξ αρχής εμού άναλαβόντος τον λόγον Αρα ro 7δυ και το αγασου το αυτό στιυ ϋυ ταυτου ώ εγώ καί Καλλικλης ώμολογησαμεν ΐΐότερον δε το ηδυ ενεκα τον αγαθόν πρακτέον η τό αγαθόν ενεκα του ηδεος Τό ήδύ ενεκα τον αγαθόνΉδυ δε εστιν τούτο ου παραγενομενου ηδόμεθα αγαθόν δε ου παρόντος αγαθοί εσμεν ΐίάνν γε Άλλα μην αγαθοί γέ εσμεν καί ημείς καί ταλλα πάντα δσ αγαθά εστιν αρετής τίνος παραγενο μενηςνΕμοιγε δοκεΐ άναγκαΐον είναι ώ Καλλίκλεις Άλλα μεν δη η γε αρετή έκαστου και σκεύους και σώματος καί ψυχής αύ καί ωου παντός ού τω είκη κάλλιστα παρα γίγνεται άλλα τάξει καί όρθότητι καί τέχνη ητις εκάστω άποδεδοται αυτών άρα εστιν ταντα Εγώ μεν γάρ φημι αξει αρα τεταγμενον και κεκοσμημενον εστιν η αρετή έκαστου Φαίην αν εγωγεΚοσμοϊ τις άρα εγγενόμενος εν εκάστω ό έκαστου οικείος αγαθόν παρεχει έκαστον των όντων Έμοιγε δοκεϊ Και ψυχή αρα κόσμον εχουσα τον εαυτης άμείνων της ακόσμητουΑνάγκηΆλλα μην G Ó R G IA S 383 e toma a palavra se te parecer que eu não falo corretamente E se me refutares não me irritarei contigo como te irritaste comigo c mas terás te inscrito como o meu sumo benfeitor c a l Fala por ti mesmo bom homem e conclui a discussão soc Escuta então a recapitulação do argumento desde o princípio Porventura o aprazível e o bem são o mesmo Não são o mesmo como eu e Cálicles havíamos concor dado218 Devese fazer o aprazível em vista do bem ou o bem em vista do aprazível O aprazível em vista do bem219 E aprazível é aquilo com cujo advento nos comprazemos e bom aquilo por cuja presença somos bons220 d Absolutamente Mas decerto nós como tudo quanto é bom somos bons devido ao advento de alguma virtude Pareceme ser necessário Cálicles Contudo a virtude de cada coisa seja do artefato do corpo da alma ou de qualquer outro vivente não advém da maneira mais bela aleatoriamente mas pelo arranjo pela correção e pela arte relativa a cada uma delas221 Porventura não é isso Confirmo E a virtude de cada coisa não consiste em ser arranjada e e ordenada pelo arranjo Eu diria que sim Portanto há certa ordem apropriada a cada coisa que torna boa cada uma delas quando ela lhe advém Pareceme Portanto a alma dotada da ordem que lhe é própria é me lhor do que a desordenada Necessariamente 218 Cf 499c 219 Cf 500a 220 Cf 497de 221 Cf 503e 384 G Ó R G IA S D E P L A T à O ή ye κόσμον eχουσα κοσμία Πώϊ yap ου μελλειΊ ΐ be ye κοσμία σωφρων Πολλή ανάγκη Η άρα σωφρων ψυχή αγαθή όγώ μεν ουκ εχω παρά ταΰτα άλλα φάναι ώ ψίλε Καλλίκλει σν δ el εχείί δίδασκε ΚΑΛ Aey ώγαθό Σί2 Λεω δη on el η σωφρων αγαθή ίστιν η του ναντίον τη σώφρονι πεπονθυϊα κακή εστιν ην δε αυτή η άφρων τε καί ακόλαστό Πάνα ye Καί μην ο ye σω φρων τα προσήκοντα πράττοι αν καί περί 0eobi καί 7τερί ανθρώπους ου γάρ άν σωφρονοΐ τα μή προσήκοντα πράτ των Ανάγκη ταατ είναι ουτω Καί μην περί μέν άνθρώ V f ΐ ν που τα προσήκοντα πραττων qlkcu αν πραττοι πζρι oe θους όσια τον oe τα οικαια και όσια πραττοντα αναγκη δίκαιον και όσιον είναιΈστι ταΰταΚαί μεν δη καί ανδρείάν ye ανάγκη ου γάρ δή σώφρονος άνδρός όστιν οατε διώκειν ούτε φeύγeιv α μή προστκει άλλ ά δει καί πρά γματα καί ανθρώπους καί ήδονάς καί λύπας φevγeιv καί διώκειν καί ΰπομίνοντα Kaprepeiv οπού δεί ώστε πολλή ανάγκη ώ Καλλίκλει τον σώφρονα ώσπερ διήλθομεν δίκαιον οντα καί άνδρείον καί όσιον αγαθόν άνδρα είναι τελεω τον δε αγαθόν εδ τε καί καλώς πράττΐν ά άν πράττη τον δ εδ πράττοντα μακάριόν τε καί εαδαίμονα είναι τον δε πονηρόν καί κακώς πράττοντα άθλιον οΐιτος 2 222 Platão Eutífron i2ei8 soc Tenta então esclarecerme também tu qual parte do justo é pia a fim de dizermos a Meleto que não mais cometa injustiça contra nós e não nos acuse de irreverência visto que tu já nos ensinaste suficientemente o que é reverente e pio e o que não é e u t Pois bem Sócrates pareceme que a parte do justo que é reverente e pia é aquela que diz respeito ao zelo pelos deuses ao passo que a que diz respeito ao zelo pelos homens é a parte restante do justo ΣΩ Πειρώ δή και σύ έμέ οϋτω διδάξαι τό ποιον μέρος του δικαίου όσιόν έστιν ϊνα και Μελήτψ λέγωμεν μηκέθ ήμας άδικεϊν μηδέ άσεβείας γράφεσθαι ώς ίκανώς ήδη παρά σου μεμαθηκότας τά τε ευσεβή και όσια καί τα μή GÓRGIAS 385 Mas a alma dotada de ordem é ordenada E como não seria E a alma ordenada é temperante É absolutamente necessário Portanto a alma temperante é boa Eu não tenho nada mais 507 a acrescentar meu caro Cálicles Se tiveres algo a dizer ensina nos c a l Fala bom homem soc Digo que se a alma temperante é boa aquela que se encontra no estado contrário ao da temperante é má eis a alma estulta e intemperante Com certeza Com efeito o homem temperante faria o que convém fazer em relação aos deuses e aos homens pois não seria temperante se não fizesse o que convém É necessário que seja assim b Com efeito se fizer o que convém fazer em relação aos ho mens ele fará coisas justas e se fizer o que convém fazer em relação aos deuses coisas pias222 Quem faz coisas justas e pias é necessariamente justo e pio Sem dúvida E além disso é necessariamente corajoso Pois não é próprio do homem temperante encalçar e evitar o que não é conve niente mas encalçar e evitar o que é devido seja isso coisas ou homens prazeres ou dores e persistir e resistir onde é devido fazêlo Por conseguinte Cálicles é de absoluta necessidade que c o temperante tal como o retratamos seja um homem perfei tamente bom visto que é justo corajoso e pio223 e que o homem bom aja bem e de forma correta quando age e que quem age bem seja venturoso e feliz enquanto quem é vicioso e age mal ΕΥΘ Τούτο τοίνυν εμοιγε δοκεΐ ώ Σώκρατες το μέρος τού δικαίου είναι ευσεβές τε και όσιον το περί τήν των θεών θεραπείαν τό δε περί τήν τών ανθρώπων το λοιπόν είναι τού δικαίου μέρος 223 Sobre a unidade das virtudes ver Platão Protágoras 328d334C 3 8 6 GÓRGIAS DE PLATÃO δ àv Ϊη o όναντίως 0ων τω σώφρονι ό ακόλαστοί όν συ èirfiveLS Eyou μν ουν ταύτα ούτω τίθεμαι καί φημι ταντα αληθή eivai ei δε ίστιν αληθή τον βονλόμ6νον ώί eoiKev ev ϋαίμονα eivai σωφροσύνην μν διωκτύον και άσκητίον ακολασίαν δε φενκτύον ώί εχει ποδων όκαστος ημών και 7ταρασκναστίον μάλιστα μν μηδϊν δεΐσβαι του κολάζεσθαι èuv δε 0ηθή ή αυτοί ή άλλος tis των οικείων ή ιδιώτης ή πόλις ίπι0τίον δίκην και κολαστίον el μéλλeι υδαίμων eivai οΰτος εμoiye δοκεί ό σκοπός eivai προς ον βλύ ποντα δει ζήν και πάντα eis τούτο τα αΰτοΰ avvTeívovTa και τα τής πδλεωί όπως δικαιοσύνη παρίσται και σωφρο σύνη τω μακαρίω μύλλοντι Ζσεσθαι οΰτω πράττΐν ουκ επιθυμίας ϊώντα ακολάστους eivai και ταύτας όπνχιρούντα πληρούν άνήνυτον κακόν ληστον βίον ζώντα ome yáp αν αλλω ανθρώπω προσφιλής àv eírj ό τοιοντος οίτε 0εω κοινωνΐν yáp αδύνατος ότω δε μή evi κοινωνία φιλία ουκ αν Ϊη φασι δ οι σοφοί ω Καλλίκλεΐϊ και ουρανόν και 24 25 224 Vejamos o esquema completo do argumento de Sócrates 506C5507C7 i O aprazível e o bem não são o mesmo ii o aprazível dever ser feito em vista do bem e não o bem em vista do aprazível iii o aprazível é aquilo que confere prazer ao passo que o bem é aquilo que nos torna bons iv um homem é bom na medida em que a virtude está presente nele v a virtude não está presente aleatoriamente mas pelo arranjo correção e arte vi então uma alma ordenada e boa é melhor do que uma desordenada e má porque ela é temperante ao passo que a desordenada e má é intempérante vii o homem temperante faz o que é conveniente em relação a deuses e homens ie ele é pio e justo ele é também corajoso encalçando e evitando o que deve ser encalçado e evitado viii portanto na medida em que o temperante é justo corajoso e pio ele faz o que é bom e correto e é feliz e na medida em que o intempérante faz ó que é mau e vergonhoso ele é infeliz J Beversluis op cit p 361 225 As ações do homem intempérante têm como fim a satisfação de seus apetites sendo ele incapaz de refreálos Nessa busca incessante pela satisfação ele acaba por incorrer em atos injustos na medida em que não é capaz de observar o interesse comum em detrimento de seus próprios interesses quando se requer dele o refreamento de seus apetites Portanto o homem intempérante não consegue es tabelecer relações de amizade e por conseguinte viver em comunidade No mito atribuído por Platão à personagem Protágoras no diálogo homônimo a justiça e o GÓRGIAS 3 8 7 seja infeliz Esse seria o homem cujo estado é contrário ao do temperante o intemperante o qual louvavas224 Eu então coloco as coisas nestes termos e afirmo que são verdadeiras Se elas são verdadeiras quem quer ser feliz deve como é plausível encalçar e exercitar a temperança e escapar da d intemperança com os pés tão céleres quanto possamos mantêlos e disporse sobretudo para não precisar de qualquer punição Mas se a própria pessoa ou algum parente seu um cidadão co mum ou uma cidade dela precisar então deverá pagar a justa pena e ser punido caso intente ser feliz Esse me parece ser o es copo com cuja observância se deve viver e segundo o qual se deve agir concentrando nele todos os esforços privados e públicos para que a justiça e a temperança estejam presentes em quem e pretende ser venturoso impedindo que os apetites se destempe rem e tentando saciálos um mal inexaurível enquanto se leva uma vida de gatuno Pois um homem daquele tipo não nutriria amizade por outro homem tampouco por um deus porque é incapaz de viver em comunidade e onde não há comunidade não existiria amizade225 Os sábios dizem Cálicles que o céu e a pudor αιδώ τε καί δίκην 322α são enviados por Zeus como condição de possi bilidade da vida na pólis como ilustra bem esta passagem Zeus então temeroso de que nossa geração perecesse por completo envia Hermes aos homens portando justiça e pudor para que houvesse ordem nas cidades e vínculos estreitos de amizade Hermes pergunta então a Zeus de que modo ele daria aos homens justiça e pudor assim como estão distribuídas as artes devo distribuir também estas As artes estão distribuídas da seguinte maneira um único médico é suficiente para muitos homens comuns e o mesmo se aplica aos demais artífices É assim que devo infundir nos homens justiça e pudor ou distribuílos a todos A to dos disse Zeus é que todos participem de ambos pois não haveria cidades se ape nas poucos homens deles participassem tal como sucede às demais artes E em meu nome institui a lei segundo a qual se deve matar aquele que é incapaz de participar da justiça e do pudor como se fosse ele uma doença da cidade 322cid5 Ζεύς ούν δείσας περι τώ γένει ημών μή άπόλοιτο παν Έρμήν πέμπει άγοντα εις άνθρώπους αιδώ τε και δίκην ϊν είεν πόλεων κόσμοι τε και δεσμοί φιλίας συναγωγοί έρωτά ούν Ερμής Δία τίνα ούν τρόπον δοίη δίκην και αιδώ άνθρώποις Πότερον ώς αί τέχναι νενέμηνται οΰτω και ταύτας νείμω νενέμηνται δε ώδε εις εχων ιατρικήν πολλοις ικανός ίδιώταις και οί άλλοι δημιουργοί καί δίκην δή και αιδώ οΰτω θώ έν τοΐς άνθρώποις ή έπί πάντας νείμω Επί πάντας εφη ό Ζεύς και πάντες μετεχόντων ού γάρ αν γένοιντο πόλεις εί ολίγοι αύτών μετέχοιεν ώσπερ άλλων τεχνών και νόμον γε θές παρ έμοϋ τον μή δυνάμενον αίδούς καί δίκης μετέχειν κτείνειν ώς νόσον πόλεως 388 GÓRGIAS DE PLATÃO 508 γην και θεούς και ανθρώπους την κοινωνίαν συνεχειν και φιλίαν καί κοσμιότητα και σωφροσύνην και δικαιοτητα και το όλον τούτο διά ταυτα κόσμον καλοϋσιν ώ εταίρε ουκ ακοσμίαν ουδέ ακολασίαν συ δε μοι δοκεΐς ου προσ εχειν τον νουν τούτοις καί ταυτα σοφός ών άλλα λεληθεν σε οτι η ίσότης η γεωμετρική καί εν θεοϊς και εν άνθρώποις μεγα δύναται συ δ πλεονεξίαν οΐει δείν ασκείν γεωμε τρίας γάρ αμελείς είεν η εξελεγκτεος δη ουτος ό λόγος b ήμΐν εστιν os ου δικαιοσύνης και σωφροσύνης κτήσει ευδαί μονες οι ευδαίμονες κακίας δε ol άθλιοι η εί ουτος αληθης ΐστιν σκεπτεον τί τα συμβαίνοντα τα πρόσθεν εκείνα ω Καλλίκλεις συμβαίνει πάντα εφ οίς συ με ηρου εί σπουδάζων λεγοιμι λεγοντα ότι κατηγορητεον εΐη καί αυτού t f t r t και veos και eraipov αν τι αοικρ και rrj ρητορικρ ΐτι τούτο χρηστεον και a ΤΙώλον αισχύνη ωου συγχωρεΐν αληθη αρα ην τό είναι τό άδικεΐν τού άδικεΐσθαι οσωπερ c αίσχιον τοσούτω κάκιον και τον μέλλοντα όρθώς ρητορικόν εσεσθαι δίκαιον άρα δει είναι και επιστήμονα των δικαίων ό αύ Γοργίαν εφη Πωλοΐ δι αισχύνην δμολογησαι Τ ούτων δε ούτως εχόντων σκεψώμεθα τί ποτ εστιν a συ εμοι ονειδίζεις αρα καλώς λεγεται η ου ώς αρα εγώ ούχ οΐός τ ειμι βοηθησαι ούτε εμαυτω οϋτe των φίλων ουδενι ουδέ των οικείων ουδ εκσώσαι εκ των μεγίστων κινδύνων ειμι δε επι τω βουλομενω ώσπερ οι άτιμοι τού εθελοντος d άντε τύπτειν βούληται τό νεανικόν δη τούτο τό τού σοΰ Na psicologia moral desenvolvida por Platão no Górgias por sua vez não apenas a justiça mas também a temperança aparecem como condição de possibi lidade da vida em comunidade tendo em vista a relação necessária entre essas duas virtudes όπως δικαιοσύνη παρέσται και σωφροσύνη 507d8ei 226 Sobre a função da amizade numa perspectiva cosmológica ver Empé docles d k 31 B26 em Die Fragmente der Vorsokratiker 227 Segundo Dodds op cit p 339 igualdade geométrica significaria a igualdade das razões encontrada no que é chamado de progressão geométrica por ex na série 2468 onde 24 48 816 Ela por sua vez contrastaria com a igualdade numérica e com a progressão geométrica em que a razão obtida entre os termos menores das séries é maior do que a obtida entre os termos maiores por ex na série 2468 24 é maior do que 46 que é maior do que 68 GÓRGIAS 389 terra os deuses e os homens a amizade e o ordenamento a tem perança e a justiça constituem uma comunidade e por essa ra zão meu caro chamam a totalidade de cosmos de ordem e não de desordem ou de intemperança226 Tu porém não me pareces zelar por eles mesmo sendo sábio em assuntos do gênero e es queces que a igualdade geométrica tem um poder magnífico en tre deuses e homens227 Mas a tua opinião é que se deve buscar possuir mais já que descuras da geometria Assim seja Devemos então ou refutar este argumento de que os homens felizes são felizes pela aquisição da justiça e da temperança e os infelizes pela aquisição do vício ou se for verdadeiro examinar as suas consequências As consequências Cálicles são todas aquelas alu didas anteriormente quando tu me perguntaste se eu falava com seriedade afirmando que se deve acusar a si próprio ou a um filho ou companheiro caso tenha cometido alguma injustiça e que era esse o uso devido da retórica228 era verdadeiro portanto o que segundo teu juízo Polo havia consentido por vergonha que ser injusto e cometer injustiça é tanto mais vergonhoso quanto pior do que sofrêla e que portanto deve ser justo e co nhecedor do que é justo quem intenta ser um rétor correto com o que Górgias por sua vez havia concordado por vergonha se gundo Polo229 Se é isso o que sucede investiguemos então em que consistem as tuas censuras contra mim se elas são corretas ou não que eu sou incapaz de socorrer a mim mesmo ou a qualquer outro amigo ou parente tampouco salválos dos perigos mais extremos que estou sujeito ao modo dos homens desonrados à vontade de qual quer um caso ele queira rachar a minha têmpora expressão juvenil de teu discurso230 ou furtar meu dinheiro ou banirme 228 Cf 48ob48ib 229 Cf 461b 230 Sócrates se refere à expressão juvenil τό νεανικόν 508dl empregada iinteriormente por Cálicles na sua invectiva contra o filósofo e a filosofia 484c Hid respondendo na mesma moeda à acusação de Cálicles com relação à inso Ιιικ ia juvenil νεανιεύεσθαι 4 8 2 C 4 de seu comportamento na discussão 5 0 8 b c d 390 GÓRGIAS DE PLATÃO e 509 b λόγον επί κόρρης άντ γρηματα άφαιράσθαι έάυτε έκ βάλλαν εκ τής πόλως έάυτε τό έσχατον άποκτείυαι καί οΰτω διακάσθαι πάντων δη αίσγιστόν ίστιν ώί 5 σόϊ λόγος ό δέ δη έμόί δστις πολλάκις μέυ ήδη είρηται ούδέυ δε κωλύει και ετι λέγεσύαι Ου φημι ώ Κ αλλίκλίΐς το τν πτζσθαι επί κόρρης αδίκως αϊσχιστον ειυαι ουδέ γε τδ τεμ νσθαι ούτε τδ σώμα τδ έμόυ ούτε τδ βαλλάντιον άλλα τδ τύπτΐΐν και εμέ και τα έμα αδίκως και τεμυειν και αίσχιον και κάκιον και κλεπτειν γε άμα και άνδραποδιζίσθαι και τοιγωρνχίΐν καί συλλήβδην δτιοΰν αδικεΐυ καί εμέ και τα V Λ Λ f V Α εμα τω αδικονντι και κακιον και αισχιον ειυαι η εμοι τω άδικονμίνω ταυτα ήμίν άνω εκεί èv τοΐς πρόσθίν λόγοις οντω φανίντα ώϊ εγώ λεγω κατεχεται και δίδίται καί εί άγροικότρόν τι είπεΐυ έστιυ σιδηροΐς καί άδαμαντίνοις λόγοις ώί γονν αν δόζκν ουτωσί ους συ εί μη λυσας η σον τις νανικώτρος ονγ οΐόν τε άλλως λίγοντα η ως εγώ ννν λίγω καλώς λεγειυ έπεί έμοιγε ό αντδς λόγος 1 yt ff f στιν αει οτι εγω ταυτα ουκ οιοα όπως εχει οτι μευτοι ώυ εγώ έυτεπίχηκα ώσπερ υΰυ ονδάς οΐός τ στίν άλλως λεγωυ μη οΰ καταγέλαστος eivai εγώ μέυ ow αυ τίθημι ταυτα ούτως εχειυ εί δέ ούτως εχει καί μεγίστου τώυ κακών έστιυ ή αδικία τω αδικονντι καί ετι τούτον μάζον μγίστον οντος εί οίου τε τό άδικονντα μη διδόναι δίκην τίνα αν βοήθααν μη δννάμίνος άνθρωπος βοηθάν αντω καταγί λαστος άν τη αλητεία είη αρα ον ταύτην ητις άποτρίφα 231 232 231 Cf 486ac 232 Pode parecer paradoxal o argumento de Sócrates ao dizer que a tese de que é pior e mais vergonhoso cometer injustiça do que sofrêia está firme e atada por argu mentos de ferro e diamante κατεχεται και δέδεται σιδηροΐς και άδαμαντίνως λόγοις 509ai e concomitantemente afirmar que ele não sabe como essas coisas são ότι έγώ ταυτα ούκ οίδα όπως εχει 50935 ou seja como Sócrates pode alegar ignorância sobre o assunto em questão porém afirmar metaforicamente que seus argumentos são irrefutáveis O fato de seus argumentos quando postos à prova mediante inter locutores que possuem opiniões contrárias às suas como no caso de Polo e Cálicles mostraremse consistentes e imunes ao elenchos enquanto os de seus interlocutores serem falíveis e contraditórios permite a Sócrates afirmar que ao menos enquanto eles forem irrefutáveis é legítimo conferirlhes valor de verdade mas isso não implicaria conhecimento pois ainda há a possibilidade de que algum interlocutor mais qualificado GÓRGIAS 391 da cidade ou na situação limite matarme e que essa é a mais vergonhosa condição segundo o teu argumento231 Contudo o meu argumento que já foi dito inúmeras vezes embora nada o impeça de ser repetido é este eu afirmo Cálicles que o mais ver gonhoso não é ter a têmpora rachada injustamente ou ter a minha bolsa ou o meu corpo lacerados mas é pior e mais vergonhoso e rachar a minha têmpora e lacerar as minhas propriedades injus tamente ou roubarme escravizarme violar a minha casa em suma qualquer que seja a injustiça cometida contra mim ou con tra minhas propriedades é pior e mais vergonhoso para quem comete injustiça do que para mim que a sofro Eis o que na dis cussão precedente ficou manifesto e afirmo que isso está firme e atado se não for uma expressão muito rude por argumentos 509 de ferro e diamante ao menos como haveria de parecer na atual conjuntura Assim se tu não o desatares ou qualquer outra pessoa ainda mais jovem e audaz do que tu será impossível que alguém afirmando coisas diferentes das que eu afirmo agora fale correta mente Pois o meu argumento é sempre o mesmo que eu não sei como essas coisas são mas que das pessoas que tenho encontrado como na ocasião presente nenhuma é capaz de afirmar coisas diferentes sem ser extremamente ridícula232 Eu portanto coloco mais uma vez as coisas nestes termos e se as coisas forem assim e b a injustiça for o mal supremo para quem a comete ou se houver a possibilidade de um mal ainda maior do que esse mal supremo ou seja não pagar ajusta pena uma vez cometida a injustiça que tipo de socorro seria esse que tornaria o homem verdadeiramente ridículo quando incapaz de socorrer a si mesmo Porventura não do que Polo e Cálicles possa colocálos em xeque mediante o elenchos corretamente conduzido Esse otimismo de Sócrates com relação à veracidade de suas convicções morais se justifica pelo que ele próprio disse no início do 3a Ato Cálicles possui os três atributos fundamentais enquanto interlocutor para verificar de modo suficiente as opiniões de sua alma conhecimento benevolência e franqueza έτπστήμην τε καί εύνοιαν καί παρρησίαν 487823 se Sócrates conseguir fazer com que Cálicles de um modo ou de outro concorde com as suas opiniões bastará para elas próprias serem verdadeiras ταϋτ ήδη έστιν αύτά τάληθή 486e6 pois visto que Cálicles defende opiniões contrárias ele se configura então como aquela pedra de toque βασάνου 486d7 por meio da qual se pode distinguir o verdadeiro do falso 392 GORGIAS DE PLATAO 510 την μεγίστην ημών βλάβην άλλα πολλή άνάγκη ταύτην είναι την αισχίστην βοήθειαν μη δννασθαι βοηθεΐν μήτε αντω μήτε τοΐς αντοΰ φίλοις τε καί οικείοις δεντέραν δέ την του δευτέρου κακού και τρίτην την του τρίτου καί τάλλα όντως ώ έκαστου κακού μέγεθος πέφυκεν οΰτω και κάλλος τον δυνατόν είναι εφ εκαστα βοηθέιν και αισχύνη του μη άρα άλλα η ούτως εχει ω Καλλίκλεις ΚΑΛ Ονκ άλλως Σ ί2 Ανοΐν ουν οντοιν του άδικεΐν τε και άδικεΐσθαι μεΐζον μέν φαμεν κακόν το άδικεΐν ελαττον δε το άδικεΐσθαι τι ουν άν παρασκευασάμενος άνθρωπος βοηθησειεν αντω ώστε άμφοτέρας τάς ωφελίας ταύτας έχειν την τε άπο του μη άδικεΐν και την από του μη άδικεΐσθαι πάτερα δνναμιν η βούλησιν ωδε δέ λέγω πότερον εάν μη βούληται άδι λ Λ 1 1 Λ Λ 1 V Λ 1 κεισθαι ονκ αδικήσεται η εαν δνναμιν παρασκευασηται του μη άδικεΐσθαι ονκ άδικησεται ΚΑΛ Αήλον δη τοντό γε άτι εάν δνναμιν Σ ίΙ Τ ϊ δέ δη τον άδικεΐν πότερον εάν μη βούληται αδικειν ικανόν τουτ εστιν ου γαρ αδικήσει η και επι τούτο δει δνναμιν τινα καί τέχνην παρασκενάσασθαι ώ çav μη μαση αντα και άσκηση αοικήσςι τι ονκ αυτό γ μοι τούτο άπεκρίνω ώ Καλλίκλεις πότερον σοι δοκονμεν όρθως άναγκασθήναι όμολογεΐν εν τοΐς έμπροσθεν λόγοις έγω τε και Πώλο η ού ήνίκα ωμολογήσαμεν μηδένα βονλόμενον άδικεΐν άλλ άκοντας τούς άδικονντας πάντας άδικεΐν ΚΑΛ νΕστω σοι τούτο ω Σωκρατες όντως ΐνα δια περάνρς τον λόγον 233 Sócrates retoma aqui a discussão sobre o querer boulésis βούλησιν 509d3 analisada anteriormente com Polo a partir da distinção entre fazer o que quer ποιεΐν ών βούλονται e fazer o que parece ποιεΐν ότι άν αύτοΐς δόξη 466b469e 234 Na medida em que a injustiça é o mal da alma portanto quem é preju dicado é o agente e não quem sofre a ação injusta e ninguém pode querer o mal quem comete injustiça a comete involuntariamente por ignorância A mesma tese é defendida pela personagem Sócrates no diálogo Protágoras GÓRG1AS 393 seria aquele socorro que nos afasta do maior malefício Porém é absolutamente necessário que o socorro mais vergonhoso seja ser incapaz de socorrer a si mesmo ou a seus amigos e parentes e o segundo mais vergonhoso o relativo ao segundo mal e o terceiro c o relativo ao terceiro mal e assim por diante Como cada mal pos sui por natureza uma magnitude a beleza de ser capaz de se so correr contra cada um deles lhe é proporcional bem como a vergonha de não sêlo Porventura é algo diferente disso o que sucede Cálicles c a l É o que sucede soc Então se cometer injustiça e sofrer injustiça são duas coisas afirmamos que cometêla é um mal maior ao passo que sofrêla um mal menor Assim dispondo de que coisa o ho mem socorreria a si mesmo de modo a obter ambos os benefí d cios o de não cometer injustiça e o de não sofrêla Do poder ou do querer233 Digo o seguinte ele não sofrerá injustiça se não quiser sofrêla ou se dispuser do poder de não sofrêla c a l Evidentemente no caso de dispor desse poder soc E quanto a cometer injustiça Se ele não quiser cometêla isso será suficiente pois não a cometerá ou igualmente nesse caso ele deve dispor de certo poder e arte pois a menos que e os tenha aprendido e exercitado cometerá injustiça Por que não me respondeste Cálicles quando indagado se eu e Polo segundo tua opinião fomos constrangidos na discussão ante rior a consentir de forma correta ou incorreta ao concordarmos que ninguém quer cometer injustiça mas que todos os que co metem injustiça a cometem involuntariamente234 c a l Que assim seja Sócrates a fim de que concluas o ar 510 gumento soc Pois pelo menos eu julgo que qualquer um dentre os sábios considera que nenhum homem erra voluntariamente nem realiza coisas vergonhosas e más voluntariamente mas reconhece bem que todos aqueles que fazem coisas vergo nhosas e más fazemnas involuntariamente 345d9e4 έγώ γάρ σχεδόν τι οιμαι τούτο ότι ούδεις τών σοφών άνδρών ηγείται ούδένα ανθρώπων έκόντα έξαμαρτάνειν ουδέ αισχρά τε καί κακά έκόντα έργάζεσθαι άλλ εύ ϊσασιν οτι πάντες οί τά αισχρά καί τά κακά ποιοϋντες άκοντες ποιοϋσιν 394 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Και έπϊ τούτο apa ως eoiKev παρασκεναστέον έστϊ δύναμίν τιυα καί τέχνην όπως μη άδικησωμβν ΚΑΛ Πάίυ ye ΣΩ Tís ονυ ποτ έστϊν τέχνη τη ς παρασκυής του μηδέν αδικεΐσθαι η ως ολίγιστα σκέψαι et σοι δοκεΐ ηπερ έμοί έμοϊ μέν γαρ δοκεΐ ηδε η αυτόν άρχειν δεΐν έν τί πόλει η καί τυραννεΐν ή της νπαρχούσης ττολίτείας έταΐρον είναι ΚΑΑ Όρας ω Σωκρατες ώϊ εγώ έτοιμοί Ιμι έπαινεΐν αν τι καλώς λέγης τουτό μοι δοκέΪ5 ττάνυ καλώς είρηκέναι ΣΩ Σκοπεί δη και roôe έάν σοι δοκώ ev λέγειν φίλος μοι δοκεΐ έκαστος έκάστω eivai ως οίόν re μάλιστα όνπερ oi παλαιοί re και σοφοί λέγουσιν ό όμοιος τω όμοίω ον καί σοί ΚΑ Λ Έμοιγε ΣΩ Ονκονν όπου τύραννός έστιν αρχών άγριος καί απαίδευτος eí τις τούτου έν τη πόλeι πολύ βελτίων εϊη φοβοϊτο δηπον αν αυτόν ό τύραννος και τούτω έ άπαντος του νού ούκ άν π ore δύναιτο φίλος γενέσθαι ΚΑΑ Έ σ η ταΰτα 235 235 Ο q u e re r boulêsis β ο ύ λ η σ ιν 5 9 d 3 n ã o é c o n d iç ã o s u fic ie n te p a ra o a g e n te a g ir d e fo r m a ju sta sã o n e c e s s á rio s ta m b é m c e r to p o d e r dunamis δ ύ να μ ίν 5 io a 4 e arte tekhnè τέχ ν η ν 5 io a 4 S e g u n d o D o d d s o p cit p 343 p o d e r n ã o co n siste a q u i e m c e rto p o d e r m a te ria l m a s n a c a p a c id a d e d e c o m p re e n d e r n o ss o v e r d a d e ir o in te re sse a o p a sso q u e a rte c o m o o p r ó p r io P la tã o s a lie n to u a n te rio rm e n te 50 0 346 50 3C 7 d 2 co n siste n o c o n h e c im e n to q u e n o s p e rm ite d is tin g u ir o s p ra ze re s e a p e tite s b o n s d o s m au s 236 O p ro v é rb io se e n c o n tr a e m H o m e ro d e u s a p ro x im a se m p re o s e m e lh a n te d o sem elh an te ώ ς α ίεΐ τ ο ν ό μ ο ΐο ν ά γει θ εό ς ώ ς τ ο ν ό μ ο ιο ν Odisseia 17 2 18 N o d iá lo g o Lísis P latã o se refere ta m b é m à q u eles q u e e scre v e ra m so b re a n atu reza π ερ ί φ ύ σ εω ς 2 i4 b 5 c o m o sá b io s q u e co m p a rtilh a m d a m e sm a m á x im a m o ral E n tão já n ão d ep a ra ste ta m b é m co m sáb io s cu jo s escrito s a firm a m a m esm a co isa q u e é n e ce ssá rio q u e o se m e lh a n te seja se m p re a m ig o d e se u sem elh a n te São eles d e c e r to aq u e le s q u e o s e s c r e v e m e co n v e rsa m so b re a n a tu re za e o to d o GÓRGIAS 395 soc Portanto também nessa circunstância como é plau sível devemos dispor de certo poder e arte para que não co metamos injustiça235 c a l Absolutamente soc Que arte é essa então que nos dispõe para não sofrer mos qualquer injustiça ou o mínimo possível Examina se tua opinião se conforma à minha pois pareceme que seja esta a própria pessoa deve dominar a cidade até mesmo exercer a ti rania ou ser partidária da constituição política vigente c a l Vês Sócrates como estou pronto para tecerte elogios quando dizes algo correto O que acabaste de dizer pareceme absolutamente correto soc Examina então se te parece ser correta também esta minha afirmação Creio que cada um é amigo ao máximo de outrem como dizem os antigos sábios236 quando um é seme lhante ao outro És da mesma opinião c a l Sim soc Assim se houvesse na cidade onde um tirano selva gem e ignorante domina alguém muito melhor do que ele esse tirano o temeria deveras e seria incapaz de um dia tornarse seu amigo com todo o seu ânimo não é c a l É isso D iz e s a v erd a d e re sp o n d e u 2 i4 b 2 6 Ο ύ κ ο ϋ ν κ α ί τ ο ίς τ ω ν σ ο φ ω τ ά τ ω ν σ υ γ γ ρ ά μ μ α σ ιν έ ν τ ε τ ύ χ η κ α ς τ α ΰ τα α ύ τά λ έ γ ο υ σ ιν δ τ ι τ ό ο μ ο ιο ν τ φ ό μ ο ίψ α ν ά γ κ η άει φ ίλ ο ν είνα ι είσ ίν δ έ π ο υ ο ύ τ ο ι o i π ερ ί φ ύ σ ε ώ ς τ ε κ α ι το ύ ό λ ο υ δ ια λ ε γ ό μ ε ν ο ι κ α ι γ ρ ά φ ο ν τ ε ς Α λ η θ ή έφ η λ έ γ ε ις P ro v a v a lm e n te P la tã o se re fira n essa p a ssa g e m d o Lísis a p e n sa d o re s co m o E m p é d o c le s e m cu ja d o u tr in a c o s m o ló g ic a a A m iz a d e Philotés Φ ιλ ό τ η ς e a D is c ó rd ia Neikos Ν εΐκ ο ς sã o p rin c íp io s e m p re g a d o s p a ra e x p lic a r o p ro ce sso d e c r ia ç ã o d o u n o a p a rtir d a m u ltip lic id a d e e d a m u ltip lic id a d e a p a rtir d o u n o re sp e ctiva m e n te v er E m p é d o c le s frs d k 3 1 B 17 e 26 N este fra g m e n to d k 31 B90 p o r su a v e z p o d e s e o b s e rv a r e c o s d e ssa m á x im a re fe rid a a q u i n o Górgias O d o c e d o d o c e se a p o d e ra v a o a m a rg o so b re o a m a rg o se p re cip ito u O á c id o ao á c id o se d irig iu e o a rd e n te m o n ta v a so b re o ard en te ώ ς γ λ υ κ ύ μ έν γ λ υ κ ύ μ ά ρ π τε π ικ ρ ό ν δ έπι π ικ ρ ό ν ο ρ ο υ σ εν ό ξύ δ έπ ό ξύ έβ η δ α ε ρ ό ν δ ε π ο χ είτο δ α η ρ ώ ι 396 GÓRGIAS DE PLATÃO 2Í2 Ουδέ γε et t i s πολν φαυλότερος εϊη ονδ αν οΰτος καταφρονοϊ γαρ αν αυτόν δ τύραννος καί ονκ αν ποτέ ώϊ προς φίλον σπονδάσειεν ΚΑΛ Καί ταντ αληθή ΣΩ Αείπεται δή εκείνος μόνος άξιος λόγον φίλος τω τοιοντω ος αν όμοήθης ων ταντα ψεγων και επαίνων εθελτ αρχεσθαι καί νποκείσθαι τω αρχοντι οΰτος μεγα d εν τανττ rfj πόλει δυνήσεται τούτον ουδεις χαίρων αδικήσει οΰχ όντως εχει 237 N a tr a g é d ia lon d e E u ríp id e s e n c o n tr a m o s u m a p o s iç ã o d iv e rs a so b re a a m iz a d e e n tre o tira n o e p e sso a s d e c o n d iç ã o in fe rio r S e ria fe liz se ria a fo rtu n a d o Q u e m p assasse a v id a c o m m e d o e d e o lh o N a v io lê n c ia E u p re fe riria v iv e r co m o u m c id a d ã o c o m u m e a fo rtu n a d o a ser u m tira n o O q u a l se c o m p r a z c o m te r o s v is c o m o a m ig o s e o d e ia o s n o b re s p o r te m o r d e ser m o rto w 6 236 28 τ ις γ ά ρ μ α κ ά ρ ιο ς τίς ευ τυ χ ή ς ο σ τ ις δ ε δ ο ικ ώ ς κ α ι π ε ρ ιβ λ ε π ω ν β ία ν α ιώ ν α τείνει δ η μ ό τ η ς α ν ευ τυ χ ή ς ζή ν α ν θ έ λ ο ιμ ι μ ά λ λ ο ν ή τ ύ ρ α ν ν ο ς ώ ν ώ ι τ ο ύ ς π ο ν η ρ ο ύ ς ή δ ο ν ή φ ίλ ο υ ς εχειν έ σ θ λ ο ύ ς δ ε μ ισ εί κ α τ θ α ν ε ίν φ ο β ο ύ μ ε ν ο ς 238 V e r A ristó te le s Ética Nicomaqueia 1 1 5 7 8 1 0 1 2 1 16 9 8 9 1 5 239 C o m o o b serv a T Irw in op cit p 230 essa p assagem p arece in con sisten te co m o q u e foi d ito a n terio rm en te so b re o h o m e m in tem p eran te 50 7e in cap az d e esta belecer relações d e am izade philia φιλία e p o r conseguinte de viver em co m u n id ad e cf su pra n o ta 225 O argu m en to a p rin cíp io levaria a u m a co n clu são paradoxal i P a ra se r a m ig o d e u m tira n o e o tira n o se r se u a m ig o é p re ciso se r co m o o tira n o ό μ ο ή θ η ς 5 io c 8 ii o tira n o é in te m p e ra n te iii p o rta n to p a ra se r a m ig o d e u m tira n o é p re c is o se r in tem p era n te iv to d o s o s h o m e n s in te m p e ra n te s sã o in c a p a ze s d e te r a m ig o s 50 7ε v p ortan to p ara ser a m ig o d e u m tira n o é p reciso ser in ca p a z d e ter am igo s A d e sp e ito d e tal in c o n s is tê n c ia in a d v e rtid a p o r S ó c ra te s n esse tr e c h o d o Górgias p a re c e se r u m tó p ic o d o p e n sa m e n to p o lític o g re g o c o n s id e ra r o tira n o c o m o u m tip o d e h o m e m in c a p a z d e e ste b e le ce r re la çõ e s d e a m iz a d e c o m o u tro s h o m e n s te n d o e m v ista as c o n d iç õ e s e m q u e se fu n d a se u p o d e r N a s p a ssa g e n s q u e se g u e m a b a ix o d e a u to res e g ê n e ro s d ife re n te s p o d e s e o b s e rv a r e le m e n to s d e c a ra c te riz a ç ã o co m u n s d a fig u r a d o tira n o i E u ríp id e s fr 605 E is o q u e h á d e m a is e x tre m o e a sso m b ro so e n tre o s h o m en s GÓRGIAS 397 s o c T a m p o u c o se h o u v e sse a lg u é m m ais d esp re zível p o is o tira n o o m e n o sp re za ria e ja m a is o tra ta ria seria m en te c o m o se fo sse u m a m ig o 237 c a l Isso ta m b é m é verd ad e iro s o c Só resta então a ú n ica p essoa d ig n a d e m en çã o q u e seria am ig a de u m h o m e m d e tal tipo aquela qu e tem caráter se m elh an te238 e lou va e vitu p era as m esm as coisas e qu e deseja ser d o m in a d a e se subm eter a q u e m dom in a E ssa p essoa terá m a g n í fico p o d e r em u m a cid a d e co m o essa e n in g u é m se deleitará c o m e ten d o injustiça contra ela239 N ã o é isso o q u e acontece A tira n ia n ã o e n co n tr a ria s o u tra co isa m a is in fe liz É p re ciso a r ru in a r e m a ta r o s a m ig o s a c o m e tid o p e lo m e d o in g e n te d e q u e fa ç a m algo τ ο δ έ σ χ α τ ο ν δ ή τ ο ύ τ ο θ α υ μ α σ τ ό ν β ρ ο τ ο ίς τ υ ρ α ν ν ίς ο ύ χ ε ϋ ρ ο ις α ν ά θ λ ιώ τερ ο ν φ ίλ ο υ ς τε π ο ρ θ ε ϊν κ α ι κ α τα κ τα ν ε ΐν χρ εώ ν π λ ε ΐσ τ ο ς φ ό β ο ς π ρ ό σ ε σ τ ι μή δ ρ ά σ ω σ ί τι ii X e n o fo n te Hieron 389 P ois b em se qu iseres o b se rv a r isso d esco b rirás q u e o s h o m en s co m u n s são m u ito a m a d o s p o r essas p esso as ie paren tes filh o s esposas am ig o s ao p asso que d en tre os in ú m ero s tiranos m u ito s assassinaram os p róp rio s filho s m u ito s ou tro s p elos filh o s fo ram m orto s o u tro s ain d a ten d o o s irm ã o s co m o p artícip es d a tiran ia a ca b a ra m m a ta n d o u n s ao s ou tro s e m u ito s o u tro s fo ra m a rru in a d o s p elas suas p ró p ria s m u lh eres o u p elo s seus co m p a n h e iro s os qu ais p areciam ser a m ig o s a cim a d e tu d o εί τ ο ίν υ ν έ θ έ λ ε ις κ α τ α ν ο ε ΐν ε ύ ρ ή σ ε ις τ ο ύ ς μ ε ν ϊδ ιώ τ α ς υ π ό τ ο ύ τ ω ν μ ά λ ισ τα φ ιλ ο υ μ έν ο υ ς τ ο ύ ς δ έ τ υ ρ ά ν ν ο υ ς π ο λ λ ο ύ ς μέν π α ιδ α ς εα υ τώ ν ά π εκ το ν ό τα ς π ο λ λ ο ύ ς δ ύ π ό π α ίδ ω ν α ύ τ ο ύ ς ά π ο λ ω λ ό τ α ς π ο λ λ ο ύ ς δ έ ά δ ε λ φ ο ύ ς έ ν τ υ ρ α ν ν ίσ ιν ά λ λ η λ ο φ ό ν ο υ ς γ ε γ ε ν η μ έ ν ο υ ς π ο λ λ ο ύ ς δ έ κα ι ύ π ό γ υ ν α ικ ώ ν τώ ν έα υ τώ ν τ υ ρ ά ν ν ο υ ς δ ιε φ θ α ρ μ έ ν ο υ ς κ α ί ύ π ό ε τα ίρ ω ν γ ε τ ώ ν μ ά λ ισ τ α δ ο κ ο ΰ ν τ ω ν φ ίλ ω ν είναι iii Isó cra tes A Nicocles 4 Aos tiran o s n ã o su ced e tal coisa m a s são eles m ais d o q u e os o u tro s qu e d evem ser educados qu an do se estabelecem n o poder passam a viver sem serem a d m o es tad os A m aio ria d os h o m e n s n ã o se a p ro xim a deles en q u a n to os q u e co m eles c o n v iv e m se lh es asso ciam e m v ista d e o b te r a lg u m favor D e fato ap esar d e ad q u irirem au torid ad e sobre gran d e so m a d e d in h eiro e sobre in ú m eros ben s fazem co m que m uitas p essoas p elo fato d e eles n ão u sarem b e m tais recu rsos d isp u tem se é d ig n o p referir a v id a d e u m h o m e m co m u m m as cu jas ações são m o d era d as à vid a d e um tirano Τ ο ΐς δ έ τ υ ρ ά ν ν ο ις ο ύ δ έ ν υ π ά ρ χ ε ι το ιο ύ τ ο ν ά λ λ ο ΰ ς έ δ ε ι π α ιδ ε ύ ε σ θ α ι μ ά λ λ ο ν τ ώ ν ά λ λ ω ν έπ ειδ ά ν εις τ ή ν ά ρ χή ν κ α τα σ τώ σ ιν ά ν ο υ θ έ τ η τ ο ι δ ια τε λ ο ΰ σ ιν οι μέν γ ά ρ π λ ε ισ τ ο ι τώ ν ά ν θ ρ ώ π ω ν α ύ το ΐς ο ύ π λ η σ ιά ζο υ σ ιν ο ί δ έ σ υ ν ό ν τ ε ς π ρ ο ς χά ρ ιν ό μ ιλ ο ΰ σ ιν Κ α ί γ ά ρ τ ο ι κ ύ ρ ιο ι γ ιγ ν ό μ ε ν ο ι κ α ί χ ρ η μ ά τ ω ν π λ ε ίσ τ ω ν κ α ί π ρ α γ μ ά τω ν μ ε γ ίσ τ ω ν δ ιά τ ό μή κ α λ ώ ς χ ρ ή σ θ α ι τ α ύ τ α ις τ α ΐς ά φ ο ρ μ α ίς π ε π ο ιή κ α σ ιν ώ σ τ ε π ο λ λ ο ύ ς ά μ φ ισ β η τε ίν π ό τ ε ρ ό ν έσ τιν ά ξιο ν έ λ έ σ θ α ι τ ο ν β ίο ν τ ο ν τ ώ ν ίδ ιω τ ε υ ό ν τ ω ν μέν έ π ιεικ ώ ς δ έ π ρ α τ τ ό ν τ ω ν ή τ ο ν τ ώ ν τ υ ρ α ν ν ε υ ό ν τ ω ν 398 GÓRGIAS DE PLATÃO ΚΑΛ Naú ΣΩ E i ápa τις εννόησεisv εν ταύτη rfj 7τόλει των νέων T ίνα αν τρόταν εγω μεγα δυναιμην και μηδείς με άδικοι αυτή ως εοικεν αντω όδός έστιν ενθυς εκ νέου εθίζειν αυτόν τοΐς αυτοίς χαίρειν και άχθεσθαι τω δεσπότη και 7ταρασκευαζειν oτωs οτι μαλιστα ομοιος sarai εκεινω ονχ όντως Κ Α Λ N aí ΣΏ Ουκονν τούτω τό μεν μη άδικείσθαι και μέγα δυνασθαι ως 5 νμέτερος λόγος εν τη τόλει διατετρά ξεται Κ Α Λ Ylàvv γε ΣΩ ΤΑ ρ ουν και τό μη άδικείν η τολλον δίΐ εϊτερ όμοιος sarai τω άρχοντι όντι αδικώ και ταρα τούτω μεγα ουνησerat αλλ οιμαι eycoye παν τουναντίον οντωσι η παρασκευή έοται αντω επί τό οΐω rs είναι s τλεϊατα άδικείν και άδικονντα μη διδόναι δίκην η γάρ Κ Α Λ Φαίνεται ΣΩ Ουκονν τό μεγίστου αντω κακόν υπάρξει μοχθηρω όντι την ψυχήν καϊ λελωβημένω δια την μίμησιν τον δε στότον και δνναμιν ΚΑΛ Ο νκ οίδ 0τη στρέφεις εκάστοτε τους λόγους άνω και κάτω ω Σωκρατες η ονκ οίσθα ότι ουτος 6 μιμούμενος τον μη μιμούμενου εκείνον ατοκτενει εαν ρουληται και άφαιρησεται τα όντα ΣΩ Οιδα ωγαθέ Κ αλλίκλεις εΐ μη κωφός y είμί κα σου άκούων και Πώλου άρτι τολλάκις και των άλλων ολίγου 7ταντων των εν rfj τολει αλλω και συ εμού ακούε οτι ατοκτενει μεν αν βούληται άλλα τονηρός ων καλόν καγαθόν όντα iv A ristó te le s Política I 3 i3 b 2 8 3 i Ο tira n o é b e lic o s o a fim d e q u e as p e sso a s m a te n h a m s e o cu p a d a s e c o n tin u e m p re c isa n d o d e u m c o m a n d a n te E a re a le za é su ste n ta d a p e lo s a m ig o s a o p a sso q u e é p ró p rio d o tira n o d e s c o n fia r a o m á x im o d o s a m ig o s p o is e m b o ra to d o s q u e ira m d e stitu ilo d o p o d e r é s o b re tu d o a eles q u e isso é p o ssív e l ε σ τ ι δ έ κ α ι π ο λ ε μ ο π ο ιό ς ό τ ύ ρ α ν ν ο ς ό π ω ς δ ή α σ χ ο λ ο ί τ ε ώ σ ι κ α ί ή γ ε μ ό ν ο ς έ ν χ ρ ε ία δ ια τ ε λ ώ σ ιν ό ν τ ε ς κ α ι ή μ εν β α σ ιλ ε ία σ ώ ζε τ α ι δ ιά τ ώ ν φ ίλω ν GÓRGIAS 399 cal Sim soc Portanto se algum jovem dessa cidade pensasse de que modo eu poderia ter magnífico poder e não sofrer injustiça de nin guém o seu caminho seria como é plausível desde muito jovem habituarse aos mesmos deleites e às mesmas aflições de seu dés pota e disporse para se lhe assemelhar ao máximo Não é assim cal É soc Portanto essa pessoa conseguirá segundo o vosso argumento240 não sofrer injustiça e ter magnífico poder na e cidade cal Certamente soc E quanto a não cometer injustiça porventura sucede o mesmo Ou muito longe disso visto que ele será semelhan temente injusto a quem o domina e terá magnífico poder ao lado dele Mas eu creio que sucederá tudo ao contrário que ele se disporá para ser capaz de cometer o máximo de injustiça e quando cometida não pagar a justa pena Não é cal É claro soc Ele será então acometido pelo mal supremo debilitando 511 e mutilando sua alma pela imitação e pelo poder do déspota cal Não sei como a todo momento consegues arrastar os argumentos de um lado para outro Sócrates ou não sabes que o imitador do tirano matará quem não o imite e furtará suas propriedades se ele quiser soc Eu sei bom Cálicles a menos que eu seja surdo pois b já ouvi isso repetidamente tanto de ti quanto de Polo momen tos atrás e de quase todos os demais habitantes dessa cidade14 Mas ouve também tu o que digo se quiser ele um homem vi cioso matará um homem belo e bom τυραννικόν δε τό μάλιστ άπιστεΐν τοΐς φίλοις ώς βουλομένων μεν πάντων δυναμένων δέ μάλιστα τούτων 240 C f 4 66d 2 4 1 Sócrates co n sid era q u e a a d m ira çã o p ela v id a d o tiran o expressa p o r ΙοΙο e C á licles é co m u m à m aio ria d o s atenienses ressaltando assim u m p rob lem a que se g u n d o a teo ria p olítica d e Platão é in eren te à p róp ria co n stitu ição d em ocrática a gênese d a tiran ia Para u m a d iscu ssã o p o rm e n o riza d a so bre o p rob lem a ver o L ivro v i m d a República S o b re a relação en tre tiran ia e d e m o cra cia n o GYirçVts c f supra nota 120 400 GÔRGIAS DE PLATÂO ΚΑΛ Ονκονν τούτο δή και το άγανακτητόν ΣΩ Ου νουν γε εχοντι ως ό λόγος σημαίνει η οϊει δεΐν τοντο παρασκευάζεσθαι άνθρωπον ώΐ πλεϊστον χρόνον ζην καί μελετάν τας τεχνας ταύταs ai ημάς àt εκ των c κινδύνων σώζουσιν ώσπερ και ήν συ κελεύεις εμε μελετάν την ρητορικήν την εν τοΐς δικαστηρίοις διασωζουσαν ΚΑΛ Ναί μα Δία όρθως γε σοι σνμβονλεύων ΣΩ Τ ι δε ω βέλτιστε η και η του νεΐν επιστήμη r t s λ σςμνη n s σοι οοκέΐ έΐναι ΚΑ Λ Μα Δ Γ ουκ εμοιγε ΣΩ Καί μην σώζει γε καί αυτή εκ Θανάτου τους ανθρώ πους όταν εις τι τοιοντον εμπίσωσιν ου δει τούτης της επιστήμης ει δ αυτή σοι δοκει σμικρα είναι εγω σοι d μείζω τούτης ερώ την κυβερνητικήν ή ου μόνον τας φυχας σώζει αλλα και τα σώματα και τα χρήματα εκ των εσχάτων κινδύνων ώσπερ ή ρητορική και αυτή μεν προσεσταλμενη 5 y t t ςστιν και κόσμια και ον σέμνννέται σχηματισμένη as υπερήφανόν τι διαπραττομενη άλλα ταύτά διαπραζαμενη τrj δικανική εαν μεν εξ ΑΙγίνης δεύρο σώσΐβ οίμαι δύ οβολούς επράξατο εάν δε εζ A ίγύπτου ή εκ του Πόντου e εάν πάμπολυ τούτης τής μεγάλης ευεργεσίας σώσασα h νυνδή ελεγον και αυτόν και παιδας καί χρήματα καί γυναί κας άποβιβάσασ εις τον λιμένα δύο δραχμάς επράζατο και αυτός 6 εχων τήν τέχνην καί ταντα διαπραζάμενος εκβάς παρά τήν θάλατταν και τήν ναΰν περιπατεί εν μετρίω σχήματι λογίζεσθαι γάρ οίμαι επίσταται ότι άδηλόν εστιν οϋστινάς τε ώφεληκεν των σνμπλεόντων ουκ εάσας καταποντωθήναι καί οϋστινάς εβλαφεν είδώς ότι ουδεν 512 αυτούς βελτίους εξεβίβασεν ή οΐοι ενέβησαν ούτε τα σώ ματα ούτε τας φυχάς λογίζεται οΰν ότι ουκ ει μεν τις t y r ν Λ r μςγαλοις και ανία rois νοσημασιν κατα το σώμα σννέχο μένος μή απεπνιγη ουτος μεν άθλιος εστιν οτι ουκ απε GÓRGIAS 401 c a l E isso não é motivo de fúria soc Não para quem é inteligente como indica o argu mento O u julgas que o homem deve se dispor para o quanto mais viver e praticar aquelas artes que sempre nos salvam dos perigos tal como a retórica nos salva nos tribunais a qual me c ordenas praticar242 c a l Sim por Zeus e te aconselho corretamente soc E então excelente homem Acaso o conhecimento da natação te parece ser um conhecimento solene c a l Não por Zeus não a mim soc Não obstante também ele salva os homens da morte quando se defrontam com situações que exigem esse conheci mçnto Mas se ele te parece ínfimo vou te mencionar outro conhecimento de maior mérito a arte da navegação que salva d dos perigos mais extremos não só as almas como também os corpos e os bens semelhante à retórica243 Esse conhecimento é modesto e ordenado e não é solene porque realiza algo es plêndido fazendo as mesmas coisas que a jurisprudência ele cobraria dois óbolos julgo eu se nos trouxesse salvos de Egina para cá se nos trouxesse salvos do Egito ou de Ponto a cobrança seria depois de atracar ao porto de no máximo duas dracmas em troca desta grande benfeitoria trazer a salvo o que há pouco e mencionava ou seja a si mesmo as crianças os bens e as mu lheres Esse homem detentor dessa arte e realizador dessas coi sas após o desembarque caminha à margem do mar e de sua nau com aspecto moderado Pois ele sabe ponderar julgo eu que não são evidentes quais tripulantes ele beneficiou e quais ele prejudicou evitando que naufragassem ciente de que quando os embarcou não eram em nada melhores do que quando 512 os desembarcou quer em relação ao corpo quer em relação à alma Ele pondera então que se algum tripulante cujo corpo é acometido por doenças crônicas e incuráveis não se afogar ele será infeliz porque não morreu não obtendo qualquer benefício 2 4 2 C f 484CCÍ 2 4 3 V e r P latã o Epínomis 9 7 5 e 9 7 6 b I GÓRGIAS DE PLATÃO θανεν και ουδεν ΰπ αυτόν ώφεληται εί δε τις άρα εν τω του σώματος τιμιωτερω τη ψυχή πολλά νοσήματα εχει και ανίατα τούτω δε βιωτεον εστιν καί τούτον όνήσει αντΐ εκ θαλάττης άντε εκ δικαστηρίου εάντε άλλοθεν δπο θειονν σώση άλλ οίδΐν οτι ουκ άμεινόν εστιν ζην τω μοχθηρά άνθρώπω κακώς γάρ ανάγκη ΐστιν ζην Δια ταντα ον νόμος εστι σεμνύνεσθαι τον κυβερνήτην καίπερ σωζοντα ημάς ουδέ γε ώ θαυμάσιε τον μηχανο ποιόν δς ούτε στρατηγόν μη ότι κυβερνήτου οϋτε άλλου ονδενδς ελάττω ενίοτε δυναται σωζειν πόλεις γάρ εστιν οτε ολας σώζει μή σοι δοκεΐ κατά τον δικανικδν είναι καίτοι εί βονλοιτο λεγειν ώ Καλλίκλεις άπερ υμείς σεμ νύνων τδ πράγμα καταχώσειεν άν υμάς τοΐς λόγοις λεγων και παρακαλών επι τδ δεΐν γίγνεσθαι μηχανοποιούς ώϊ ουδεν τάλλά ΐστιν ικανός γαρ αυτω δ λόγος άλλα συ ουδεν ήττον αντοΰ καταφρονείς και τής τέχνης τής εκεί νον και ώϊ εν όνείδει άποκαλεσαις άν μηχανοποιόν και τω νεΐ αύτοΰ ουτ άν δούναι θυγατέρα εθελοις ουτ άν αυτός λαβεΐν την ΐκείνον καίτοι ΐ ζ ών τα σαυτου επαι νείς τίνι δικαίω λόγω τον μηχανοποιοΰ καταφρονείς και των άλλων ών νννδή ΐλεγον οι δ οτι φαίης άν βελτίων είναι και εκ βελτιόνων τδ δε βελτιον εί μή εστιν δ εγώ Αγω αλλ αυτό τουτ στιν αρτή το σωζξίν αντον και τα εαντοΰ όντα οποίος τις ετνχεν καταγέλαστος σοι ό ψόγος γίγνεται και μηχανοποιοΰ και ιατρού και των άλλων b c d 244 Sobre a superioridade da alma sobre o corpo ver Protágoras 313a Ban quete 210b República 445a Leis 72γά 245 Por meio da comparação com a navegação Sócrates pretende mostrar a Cálicles que a retórica não tem qualquer valor ao evitar que alguém seja condenado à morte se tal pessoa não tiver levado uma vida moralmente correta A retórica nesse caso não teria o poder de curar a doença da alma ou seja a injustiça mas de apenas protelar uma vida viciosa indigna de ser vivida Sendo assim qual seria a utilidade da retórica se o que importa é uma vida regida pela virtude e não uma vida a qualquer preço em que seria preferível a morte Todavia se supôssemos que esse discurso de Sócrates se configura como resposta à admoestação de Cáli cles 486ab quando ele vaticina a condenação de Sócrates à morte no tribunal diante de um acusador extremamente mísero e desprezível κατηγόρου τυχών πάνυ φαύλου και μοχθηρού 486b23 a retórica não seria assim útil e digna na GÓRGIAS 403 de sua parte e que para um tripulante acometido por inúmeras doenças incuráveis na alma que vale mais que o corpo244 a vida não lhe é digna e ele não obterá qualquer vantagem em ser salvo seja do mar ou do tribunal ou de qualquer outro lugar ele sabe que não é melhor para um homem perverso persistir a viver pois b é necessário que ele viva miseravelmente245 Por isso o piloto não costuma ser solene ainda que nos traga salvos tampouco o construtor militar ó admirável homem que tanto quanto o general ou qualquer outro além do piloto é capaz de salvarnos em certas ocasiões pois ele salva às vezes cidades inteiras O caso do jurisprudente não te parece semelhante246 Aliás se ele quisesse dizer Cálicles as mesmas coisas que dizeis vós ele solenizaria o seu ofício e vos amortalharia com discur c sos e exortações de que deveis vos tornar construtores militares e que o resto de nada vale pois o argumento lhe é suficiente Mas tu o desprezas tanto quanto a sua arte e o chamarias de construtor militar como se o censurasse e não desejarias con ceder a tua filha em casamento ao filho dele tampouco tu acei tar a sua filha Ademais segundo as razões pelas quais elogias as tuas próprias coisas com que argumento justo desprezas o construtor militar e todos os outros referidos há pouco247 Sei que dirias que és melhor e de melhor progénie Contudo se o d melhor não for o que eu afirmo que seja e a virtude consistir em salvar a si mesmo e as suas propriedades independente do tipo de homem que seja tornarseá absolutamente ridículo o medida em que poderia salvar da morte alguém que viveu corretamente Mesmo nesse caso a retórica seria de pouco utilidade pois a preocupação de se viver uma vida justa está acima de qualquer preocupação com o risco de morte Argumento semelhante é empregado por Sócrates na Apologia cf supra nota 130 246 Sobre a crítica de Platão aos jurisprudentes ver Teeteto 17201763 247 Se na perspectiva de Cálicles a utilidade de retórica consiste em tornar o ho mem apto a preservar a sua própria vida ou a de outrem quando diante de uma acusa ção no tribunal 485d486c e se a virtude consiste precisamente em salvar a si mesmo e as suas propriedades το σώζειν αυτόν καί τά έαυτοϋ όντα 5i2d34 então a arte da navegação da construção militar e da estratégia em nada seriam inferiores à retórica Por conseguinte o homem melhor e superior τούς βελτίους και κρειττους 4897 concebido por Cálicles não diferiria do ponto de vista da virtude de qualquer um desses técnicos que segundo Sócrates Cálicles desprezaria como homens inferiores 404 GÓRGIAS DE PLATÃO τεχνών ocrât του σωζειν ένεκα πεποίηνται αλλ ω μακάρι όρα μη άλλο τι το γενναίου και το αγαθόν fj η το σωζειν τε και σωζεσθαι μη yap τούτο μέν το ζην όπο e crovbr χρόνον τόν γε ώΐ αληθώς àvbpa έατέον icττϊν και ου φιλοφυχητέον άλλα έπιτρέφαντα περί τούτων τω θεω Μ και πισπνοαντα rais yvvaiçiv οτι την ημαρμζνην ovo αν ç 1 1 9 1 A t λ n s κψυγοι το ττι τουτω σκςπτζον τιν αν τροττον τοντον ον μέλλοι χρόνον βιωναι ώΐ άριστα βιοίη άρα εζομοιων ΐ3 αυτόν τη πολιτεία ταύτη èv η αν οικη καϊ νυν be άρα bei σε ως όμοιότατον γίγνεσθαι τω οήμω τω Αθηναίων ei μέλλεις τούτω προσφιλής είναι και μέγα ούνασθαι εν τη πόλει τοί30 ορα ei σοι λυσιτελεΐ και έμοί όπως μη ω όαιμόνιε πεισόμεθα όπερ φασι τας την σελήνήν καθαι ρονσας τας θετταλίόας συν τοΐς φιλτάτοις η αΐρεσις ημιν εσται ταντης της bυváμεως της εν τη πόλει ει bé σοι οιει όντινοΰν ανθρώπων παραόωσειν τέχνην τινά τοιαύτην ητις b σε ποιήσει μεγα όυνασθαι εν τη πόλει τηόε ανόμοιον όντα τη πολιτεία εϊτ επϊ τό βέλτιον εϊτ επι το χείρον ώς εμοι όοκεΐ ονκ όρθως βουλενη ω Καλλίκλεις ου γάρ μιμητην bei εΐναι άλλ αντοφυως ομοιον τοντοις el μέλλεις τι γνή σιον απεργάζεσθαι εις φιλίαν τω Αθηναίων όήμω καί ναι 248 Segundo Dodds ορ cit ρ 35 Platão estaria aludindo aqui antes a um ditado corrente entre as mulheres de Atenas do que às palavras de Héctor na Ilíada digo que nenhum homem pode escapar de seu destino μοίρα δ ου τινά φημι πεφυγμένον εμμεναι άνδρών 6488 como supõem outros estudiosos tais como Croiset e Labarbe 249 Purificar a lua significa causar um eclipse E Dodds op cit p 350 poder atribuído às feiticeiras da Tessália como afirma por exemplo Aristófanes na comédia As Nuvens e s t r e p s í a d e s Se eu comprasse uma feiticeira da Tessália E roubasse a lua à noite eu então a guardaria Num cesto esférico como se fosse um espelho E a manteria escondida comigo w 749752 ΣΤ γυναίκα φαρμακίδ εί πριάμενος Θετταλήν καθέλοιμι νύκτωρ τήν σελήνην είτα δή αυτήν καθείρξαιμ εις λοφεΐον στρογγύλον ώσπερ κάτροπτον κάτα τηροίην εχων 250 A observação de Sócrates ressalta o aspecto contraditório do caráter da personagem Cálicles de um lado um crítico feroz aos costumes nomoi νόμοι instituídos pelo consenso dos homens naturalmente mais fracos e inferiores GÓRGIAS 405 teu vitupério ao construtor militar ao médico ou a qualquer outra arte que se realiza em vista de nossa salvação Mas ho mem venturoso observa se o nobre e o bem não se diferem de salvar e ser salvo Pois o verdadeiro homem não deve se preo e cupar em viver o quanto tempo for nem se apegar à vida mas confiando essas coisas ao deus e acreditando nas mulheres quando dizem que ninguém escaparia a seu destino248 ele deve se volver à seguinte investigação de que modo alguém que vive por certo tempo viveria da melhor maneira possível Acaso assemelhandose a essa constituição política em que vive Tu 513 portanto deves agora te assemelhar ao povo de Atenas o quanto puderes se pretendes terlhe amizade e magnífico poder na cidade Observa se isso é vantajoso a ti e a mim para que não tenhamos homem extraordinário o mesmo sofrimento por que passam segundo dizem as mulheres da Tessália as puri ficadoras da lua249 a escolha desse poder na cidade será para nós a custo do que nos é mais caro Porém se julgas que um homem qualquer poderá te transmitir uma arte apta a te con ferir magnífico poder nessa cidade sem que te assemelhes à sua b constituição política seja para melhor ou para pior tu como me parece não deliberas corretamente Cálicles Pois não deves ser imitador mas naturalmente semelhante a tais homens se intentas criar uma amizade legítima com o povo de Atenas250 movido por certo desprezo pelos valores morais da maioria dos homens 483a 484c um homem portanto de espírito antidemocrático a figura do tirano em potência cf supra notas 120 e 241 de outro um homem envolvido com a política democrática ateniense 515a que preza pelo ideal do homem belo e bom καλόν κάγαθόν 484012 e bem reputado εύδόκιμον 484d2 que valoriza a franqueza como virtude παρρησίαν 48733 referida na República como uma carcaterística do homem democrático viu 5574907 Mas se Cálicles almeja ter efetivamente um poder magnífico μέγα δύνασθαι 5i3bi em Atenas não lhe basta apenas usar a constituição democrática em vista de seus próprios interesses mas é preciso ser naturalmente semelhante αύτοφυώς ομοιον 51304 ao homem democrático Todavia o seu desprezo manifesto pelo lema ter posses iguais αύτοι αν τό ϊσον εχωσιν 483C5 instituído pela maioria dos homens como o belo e o justo 483bd conflita com o que o Sócrates estipula como condição de possibilidade para se ter magnífico poder em uma cidade T Irwin op cit p 232 Nesse sentido o con flito interno da alma de Cálicles impediria que ele obtivesse assim tal poder e es tabelecesse relações de amizade em Atenas 406 ϋ ό ΐία Α Β ΟΕ ΡίΑΤΑΟ μα Δία τω Πυριλάμπους γε προς όστις ονν σε τούτο ις ομοιότατον άπεργάσεται οΰτός σε ποιήσει ώϊ επιθυμείς πολίτικος είναι πολιτικόν καί ρητορικόν τω αυτών γάρ ε ηθζι λεγομένων των λόγων έκαστοι χαίρουσι τω δε άλλο τρίω άχθονται εΐ μη τι συ άλλο λέγεις ω φίλη κεφαλή λέγομέν τι προς ταΰτα ω Κ αλλίκλεις ΚΑΛ Ούκ οΐδ όντινά μοι τρόπον δοκεΐς ευ λέγειν ω Σώκρατες πέπονθα δε το των πολλών πάθος ου πάνυ σοι πείθομαι ΣΩ Ό δήμου γαρ ερως ω Κ αλλίκλεις ένων εν τη ψυχή τη σή άντιστατεΐ μοι άλλ εάν πολλάκις ίσωϊ και βέλτιον ά ταυτά ταΰτα διασκοπωμεθα πεισθήση άναμνήσθητι δ ουν ότι δυ έφαμεν είναι τάς παρασκευάς επϊ τό έκαστον θερα 7τευειν καί σώμα καί ψυχήν μίαν μεν προς ηδονήν όμιλεϊν την έτέραν δε προς το βέλτιστον μη καταχαριζόμενον άλλα διαμαχόμενον ου ταΰτα ήν δ τότε ωριζόμεθα ΚΑΑ Πάυυ γε ΣΩ Ουκοΰν ή μεν ετέρα ή προς ηδονήν άγεννής καί ουδέν άλλο ή κολακεία τυγχάνει οΰσα ή γάρ ε ΚΑΛ Έστω εΐ βούλει σοί ούτως ΣΩ Ή δέ γε ετέρα όπως ώϊ βέλτιστον εσται τούτο είτε σώμα τυγχάνει δν είτε ψυχή δ θεραπευομεν ΚΑΛ Πάυυ γε GÓRGIAS 407 e por Zeus com o filho de Pirilampo também251 Assim quem quer que te faça ao máximo semelhante a eles essa pessoa te tornará político e rétor visto que almejas ser político pois cada um se deleita com os discursos tangentes ao seu próprio caráter mas se aflige com os alheios a não ser que tenhas algo diferente disso a dizer meu querido Temos algo a acrescentar Cálicles c a l Não sei como me pareces falar corretamente Sócra tes mas experimento a mesma paixão que a maioria tu não me persuades absolutamente soc Pois é o amor pelo povo existente na tua alma Cáli cles que me obsta Mas se tornarmos a examinar melhor esse mesmo assunto repetidamente serás persuadido252 Relembra então que afirmamos haver dois modos de nos dispormos para cuidar tanto da alma quanto do corpo um associado ao prazer e o outro ao supremo bem o qual não lhe concede graça mas o combate253 Não era isso o que outrora havíamos definido c a l Absolutamente soc Então aquele modo associado ao prazer é ignóbil e não consiste em outra coisa senão em lisonja não é c a l Que assim seja para ti se quiseres soc E o outro modo não zela para que seja o quanto me lhor o objeto de nossos cuidados seja ele o corpo ou a alma c a l Absolutamente 251 Sobre Demo filho de Pirilampo cf supra nota 105 252 Embora Sócrates tenha conseguido de certa forma incitar novamente o interesse de Cálicles pela discussão por meio do argumento da semelhança entre indivíduo e constituição política e apesar de concordar parcialmente com o que diz Sócrates Cálicles contudo não se mostra convencido decisivamente pelos ar gumentos do filósofo Nesse passo do diálogo Platão nos oferece uma explicação possível para a recalcitrância de Cálicles o amor pelo povo ó δήμου ερως 513C7 no sentido de amor pelo poder como sugere Dodds op cit p 3 5 2 Nesse sentido o que impede Cálicles de compreender racionalmente a verdade das convicções mo rais de Sócrates seria precisamente esse amor fruto da proeminência do elemento apetitivo de sua alma Todavia Sócrates ainda vislumbra a possibilidade de Cálicles ser racionalmente persuadido desde que ele se submeta continuamente ao eíenchos de modo a constatar peremptoriamente a verdade moral das teses defendidas por Sócrates Sobre o amor pelo povo de Cálicles ver Ensaio Introdutório 5 iiin 253 Cf 5oobd 408 GÓRGIAS DE PLATÃO 514 b c d 2Í2 TAp ουν όντως επιχειρητέον ημίν εστιν rfj πόλει και τοΐς πολίταις θεραπενειν ως βέλτιστους αυτους τους πολίτας ποιονντας άνεν γάρ δη τούτον ώί εν τοΐς έμ προσθεν ηνρίσκομεν ουδέν όφελος άλλην ευεργεσίαν ουδε μίαν προσφέρειν εάν μη καλή κάγαθη η òtávoLa fj των μελλόντων η χρήματα πολλά λαμβάνειν η άρχην τινων η άλλην δυναμιν ηντινοΰν φώμεν όντως έχειν ΚΑΛ Πάνυ γε εΐ σοι ήδιον ΣΏ Ει ουν παρεκαλοΰμεν αλληλους ω Κ αλλίκλεις δη μοσία πράζοντες των πολίτικων πραγμάτων επί τα οικοδο μικά η τειχών η νεωρίων η ιερών επι τα μέγιστα οικοδομή ματα πότερον έδει αν ημάς σκεφασθαι ημάς αυτους και εξετάσαι πρώτον μεν εί έπιστάμεθα την τέχνην η ονκ επιστάμεθα την οικοδομικήν και παρά του εμάθομεν έδει αν ή ου ΚΑΛ Πάνυ γε ΣΩ Ονκοΰν δεύτερον αν τάδε εΧ τι πώποτε οικοδόμημα ωκοδομηκαμεν ιδία η των φίλων τινι η ήμέτερον αυτών καί τούτο το οίκοδόμημα καλόν η αίσχρόν εστιν και εΐ μεν ηνρίσκομεν σκοπονμενοι διδασκάλους τε ημών αγαθούς και ελλογίμους γεγονότας και οίκοδομηματα πολλά μεν και καλά μετά των διδασκάλων φκοδομημένα ημίν πολλά δέ καΧ Ιδια ημών επειδή των διδασκάλων άπηλλάγημεν οντω μεν δια κείμενων νουν εχοντων ην αν ίεναι επι τα δημοσία έργα εΐ δε μήτε διδάσκαλον εϊχομεν ημών αυτών επιδεΐξαι οίκο δομηματά τε η μηδέν η πολλά και μηδενος άξια οΰτω δη άνόητον ην δηπου έπιχειρείν τοΐς δημοσίοις έργοις και παρακαλεΐν αλληλους επ αυτά φωμεν ταντα όρθώς λέ γεσθαι η ον 254 Essa seria a finalidade da verdadeira arte política como Sócrates ressalta no Protágoras Ό que eu ensino é tomar boas decisões a respeito dos afazeres domésticos a fim de que se administre a própria casa da melhor maneira possível e a respeito dos afazeres da cidade para que se torne apto ao máximo nas ações e nos discursos Porventura Protágoras disse eu estou compreendendo tuas palavras Pa receme que te referes à arte política e prometes tornar os homens bons cidadãos É exatamente isso o que eu professo Sócrates respondeu 3i8e53i9a7 GÔRGIAS 409 soc Não devemos então tentar cuidar da cidade e dos ci dadãos de modo a tornar os próprios cidadãos melhores ao máximo254 Pois como descobrimos na discussão anterior255 sem isso nenhuma vantagem há em oferecerlhes qualquer benfeito ria se não for belo e bom o pensamento de quem intenta adqui 514 rir grande soma de dinheiro ou o domínio sobre outros ou qualquer outro poder Afirmemos que é isso o que sucede c a l Absolutamente se assim te for mais aprazível soc Se nós Cálicles com o intuito de realizar publica mente as ações políticas consultássemos um ao outro sobre obras arquitetônicas sobre a construção de prédios magníficos como muralhas estaleiros santuários porventura não deve ríamos examinar a nós mesmos e inquirir primeiro se conhe b cemos ou não a arte da arquitetura e com quem a aprendemos Deveríamos ou não c a l Absolutamente soc E em segundo lugar examinar se havíamos cons truído outrora alguma obra privada para um amigo ou para nós mesmos e se essa obra é bela ou vergonhosa não é E se por um lado investigássemos e descobríssemos que nossos mestres eram bons e estimados e que havíamos construído c inúmeras belas obras sob a sua tutela além de muitos outros prédios privados depois de termos nos separado de nossos mes tres bem nessas condições nos volveríamos com sensatez às obras públicas Se por outro lado não tivéssemos como exibir nosso mestre ou nenhuma obra ou ainda que muitas obras mas desprovidas de valor nesse caso seria deveras estulto em preendermos obras públicas e consultarmos um ao outro sobre tal ofício Digamos que são corretas essas afirmações ou não d τό δέ μάθημά έστιν εύβουλία περί τών οικείων όπως αν άριστα τήν αύτοϋ οικίαν διοικοΐ καί περί τών τής πόλεως όπως τά τής πόλεως δυνατώτατος άν εϊη καί πράττειν καί λέγειν Ά ρα έφην έγώ έπομαι σου τψ λόγω δοκεϊς γάρ μοι λέγειν τήν πολιτικήν τέχνην καί ύπισχνείσθαι ποιείν άνδρας αγαθούς πολίτας Αυτό μέν ούν τοϋτό έστιν έφη ώ Σώκρατες τό έπάγγελμα ό επαγγέλλομαι 255 Οί 50405050 410 GÓRGIAS DE PLATÃO ΚΑΛ Γίάνυ γε ΣΩ Ονκονν ούτω πάντα τά re άλλα κάν et έπιχειρη σαντες δημοσιεύειν παρεκαλοΰμεν άλληλονς ως Ικανοί Ιατροί οντες επεσκεψάμεθα δήπον άν εγώ re σέ και σΐ εμέ Φ ερε 7Tpbs θεών αύτδς δε δ Σωκράτης πως έχει το σώμα προς νγίειαν η ηδη τις άλλος διά Σωκράτην άπηλλάγη νόσον η δούλος η ελεύθερος κάν εγώ όΐμαι περί σον ετερα τοιαντα εσκοπούν και el μη ηυρίσκομεν δι ημάς μηδίνα e βελτίω γεγονότα τδ σώμα μήτε των ζενων μήτε των αστών μήτε άνδρα μήτε γυναίκα προς A ιός ώ Καλλίκλεις ον καταγέλαστου àv fjv rfj αλήθεια εις τοσοντον άνοιας έλθείν ανθρώπους ώστε πριν Ιδιωτεύοντας πολλά μεν όπως ετύχομεν ποιησαι πολλά δέ κατορθωσαι και γνμνάσασθαι ίκανώς την τέχνην τδ λεγόμενον δη τούτο εν τώ πίθω την κέραμέίαν έπιχειρειν μανθάνειν και αυτούς τε δημοσιεύειν έπιχειρειν και άλλους τοιούτους παρακαλεΐν ουκ ανόητον Ç Λ A ψ f I σοι οοκει αν είναι ουτω πραττειν Κ Α Λ Έμοιγε 5ΐ5 ΣΩ Ν ίρ δέ ω βέλτιστε άνδρών έπειδη σν μεν αντδς άρτι άρχη πράττειν τά της πόλεως πράγματα εμέ δέ παρα καλείς και ονειδίζεις ότι ου πράττω ουκ έπισκεψόμεθα άλληλονς Φέρε Κ αλλικλης ηδη τινά βελτίω πεποίηκεν των πολιτών εστιν δστις πρότερον πονηρδς ών άδικός τε και άκόλαστος και άφρων διά Κ αλλικλέα καλός τε κάγαθδς γέγονεν η ζένος η αστός η δούλος η ελεύθερος λέγε μοι b εάν τίς σε ταντα έζετάζη ώ Καλλίκλεις τ ί έρεΐς τίνα φήσεις βελτίω πεποιηκέναι άνθρωπον τη συνουσία τη ση 256 256 Ο provérbio alude à tentativa de se aprender uma arte tekhnè τέχνη sem passar pelas etapas preliminares de qualquer aprendizagem ou seja do mais fácil para o mais difícil assim como para se aprender a confeccionar um jarro grande se requer o aprendizado da confecção de objetos menores para que uma pessoa esteja apta a conduzir as ações da cidade o âmbito da política o macro GÓRGIAS 411 c a l Absolutamente soc Isso não vale então para todos os demais casos Se empreendêssemos os afazeres públicos e consultássemos um ao outro como se fôssemos médicos qualificados decerto nos examinaríamos reciprocamente eu a ti e tu a mim da seguinte forma Vamos lá pelos deuses em que estado se encontra o corpo de Sócrates relativamente à saúde Há alguém que já se livrou de alguma doença pela intervenção de Sócrates seja ele escravo ou homem livre E eu creio faria contigo um exame similar E se não descobríssemos nenhum corpo que tenha me lhorado por nossa intervenção seja de um estrangeiro ou de e um cidadão de um homem ou de uma mulher por Zeus Cá licles não seria verdadeiramente o cúmulo do ridículo que os homens chegassem a tamanho desvario a ponto de antes de cumprirem várias ações privadamente vacilando em umas acertando em outras e de exercitarem suficientemente a arte tentar aprender a cerâmica no jarro grande256 como diz o di tado e empreender os afazeres públicos e consultar outros ho mens igualmente desqualificados Não te parece que seria estulto agir assim c a l Pareceme soc E agora excelentíssimo homem visto que tu próprio 515 começaste recentemente a realizar os afazeres da cidade exor tandome a isso e reprovandome porque não as realizo257 não investigaremos um ao outro deste modo Vamos lá Cálicles já tornou melhor algum cidadão Há alguém que antes era vicioso injusto intemperante e estulto e que se tornou um homem belo e bom por causa de Cálicles seja estrangeiro ou cidadão es cravo ou homem livre Dizeme se alguém te indagar sobre isso Cálicles o que responderás Que homem dirás ter se tor b nado melhor com o teu convívio Hesitas em responder se há cosmo ela deve antes ter aprendido a conduzir corretamente as ações privadas o âmbito do οίκος oifcos o microcosmo O mesmo provérbio é referido por Platão no Laques 187b 2 5 7 Cf 484C486C 412 GÓRGIAS DE PLATÃO όκνεϊς άποκρίνασθαι είπερ εστιν τι εργον σόν ετι Ιδιω τενοντος πριν δημοσιεύειν έπιχεφεΐν ΚΑΑ Φ ιλόνικος εΐ ώ Σώκρατες ΣΩ Ά λ λ ον φιλονικία γε ερωτώ άλλ ώϊ αληθώς βου λόμενος είδέναι δντινά ποτέ τρόπον οιει δεΐν πολιτενεσθαι ν ημΐν η άλλον τον αρα έπιμελήση ημΐν έλθών έπι τα της πόλεως πράγματα η όπως οτι βέλτιστοι οι πολΐται ώμεν η ον πολλάκις ήδη ώμολογηκαμεν τούτο δεΐν πράττε ιν τον πολιτικόν ανδρα ωμολογηκαμίν η ον άποκρίνον ωμο λογηκαμεν εγώ υπέρ σου άποκρινονμαι εί τοίννν τούτο δει τον αγαθόν ανδρα παρασκεύαζαν τη εαυτόν πόλει νυν μοι άναμνησθεις είπε περί εκείνων των άνδρών ων όλίγω πρότερον έλεγες εί έτι σοι δοκοΰσιν αγαθοί πολΐται γεγο νέναι Περικλής καί Κίμων και Μιλτιάδης καί Θεμιστοκλής ΚΑΑ νΕμοιγε ΣΩ 0νκοΰν είπερ αγαθοί δηλον οτι έκαστος αυτών βελτίους έποίει τους πολίτας αντί χειρόνων έποίει η ού ΚΑΑ Ναι ΣΩ Ονκονν δτε Περικλής ηρχετο λέγειν εν τώ δημω χείρους ησαν οι Αθηναίοι η οτε τα τελευταία ελεγεν ΚΑΑ Τσακ ΣΩ Ούκ ίσως δη ώ βέλτιστε άλλ ανάγκη εκ των ώμολογημένων είπερ αγαθός γ ην εκείνος πολίτης ΚΑΑ Τ ί ουν δή ΣΩ Ονδέν άλλα τάδε μοι είπε έπι τοντω εί λέγονται Αθηναίοι διά Περικλέα βελτίους γεγονέναι η παν τονναν 258 258 A concepção da política como uma espécie de arte tekhnê τέχνη também aparece na boca de Sócrates nas Memoráveis de Xenofonte E num primeiro momento quando alguém quis saber se Temístocles dis tinguiuse de seus concidadãos devido ao convívio com algum sábio ou devido à sua natureza a ponto de a cidade voltar seus olhos para ele quando se requeria um homem excelente Sócrates disse a fim de incitar Eutidemo que era ingênuo consi derar que as artes de menor valor não adquirem excelência sem mestres competen tes mas o comando da cidade dentre todos os ofícios o mais importante considerar que advém aos homens automaticamente 422 και πρώτον μέν πυνθανομένου τίνος πότερον Θεμιστοκλής διά συνουσίαν τίνος τών σοφών ή φύσει τοσοϋτον διήνεγκε τών πολιτών ώστε προς έκεΐνον GÓRGIAS 413 algum feito teu relativo a uma situação privada antes de em preenderes as ações públicas258 c a l Almejas a vitória Sócrates259 soc Mas eu não te interrogo almejando a vitória porém querendo verdadeiramente saber segundo teu juízo como se deve agir politicamente entre nós Ou quando te volves aos afa zeres da cidade não te preocupas com outra coisa senão que nós cidadãos nos tornemos o quanto melhores Já não concorda mos repetidas vezes que o homem político deve agir assim Concordamos ou não Responde Concordamos eu responde rei por ti Pois bem se o homem bom deve dispor a sua própria cidade nessa condição relembrame agora e dizeme se aqueles homens que mencionavas há pouco Péricles Címon Milcíades Temístocles260 ainda te parecem ter sido bons cidadãos c a l Parecemme ter sido soc Então se foram bons não é evidente que cada um deles tornou melhores e não piores os cidadãos Tornouos ou não c a l Sim soc Então quando Péricles começou a falar publicamente os atenienses não eram piores do que quando ele proferiu seus derradeiros discursos c a l Talvez soc Talvez não excelente homem mas necessariamente segundo o que havíamos assentido uma vez que ele era um bom cidadão c a l E então soc Nada Mas dizeme o que se fala dos atenienses eles se tornaram melhores por causa de Péricles ou pelo contrário άποβλέπειν τήν πόλιν οπότε σπουδαίου άνδρός δεηθείη ό Σωκράτης βουλόμενος κινείν τον Εύθύδημον εΰηθες εφη είναι το οϊεσθαι τάς μέν ολίγου αξίας τέχνας μή γίγνεσθαι σπουδαίους άνευ διδασκάλων ικανών τό δέ προεστάναι πόλεως πάντων έργων μέγιστον ον από ταϋτομάτου παραγίγνεσθαι τοίς άνθρώποις 259 Sobre a ocorrência de termos da mesma raiz de φιλόνικος philonikos ver 457d4 457e3 50504 Sobre a distinção entre o diálogo filosófico e o diálogo erístico cf supra notas 32 141 e 214 260 Cf supra notas 79 200 201 e 202 414 GÓRGIAS DE PLATÃO τίον διαφθαρηναι νπ εκείνου ταυτί yap εγωγε ακούω Περικλεα πεποιηκεναι Αθηναίους αργούς καί δειλούς καί λάλους και φιλάργυρους εις μισθοφορίαν πρώτον καταστη σαντα ΚΑΛ Ύων τα ωτα κατεαγότων άκούεις ταύτα ω Σώ κρατες Σ ίΐ Ά λ λ α τάδε ουκετι ακούω αλλ οΐδα σαφώς καί εγω και σύ ότι το μεν πρώτον ηυδοκίμει Περικλής καί ουδεμίαν αισχρόν δίκην κατεψηφίσαντο αυτού Αθηναίοι ηνίκα χείρους ήσαν επειδή δε καλοί κάγαθοί εγεγόνεσαν ΰπ αυτού επί τελευτή τού βίου τού Περικλεούς κλοπήν αντου κατεψηφίσαντο ολίγου οε και θανατου ετιμησαν 2όι Segundo Aristóteles na Política Pérides instituiu o pagamento de dois e posteriormente três óbolos por dia δικαστικός μισθός dikastikos misthos para cada membro do corpo de juízes que compunha os tribunais de Atenas Parece que Sólon não aboliu aquelas instituições que já existiam anterior mente ou seja o Conselho e a eleição dos comandantes mas estabeleceu a partici pação do povo quando criou os tribunais compostos de todos os cidadãos Por isto inclusive algumas pessoas o censuram por ter abolido uma daquelas instituições e atribuído ao tribunal cujos membros eram escolhidos por sorteio autoridade sobre todos os assuntos Na medida em que isso se fortaleceu deleitaram o povo como se fosse ele um tirano e transformaram a consituição política em democracia Eflaltes e depois Pérides diminuíram a importância do Conselho do Areópago e Péricles estabeleceu pagamento para os membros dos tribunais dessa maneira então agiu cada um dos demagogos de modo a fortalecer a atual democracia 12743111 εοικε δέ Σόλων έκεΐνα μέν υπάρχοντα πρότερον ού καταλΰσαι τήν τε βουλήν και τήν τών αρχών αϊρεσιν τον δέ δήμον καταστήσαι τά δικαστήρια ποιήσας έκ πάντων διό καί μεμφονταί τινες αύτφ λϋσαι γάρ θάτερα κύριον ποιήσαντα το δικαστήριον πάντων κληρωτόν ον έπει γάρ τοϋτ ϊσχυσεν ώσπερ τυράννω τώ δήμω χαριζόμενοι τήν πολιτείαν εις τήν νυν δημοκρατίαν μετέστησαν και τήν μέν έν Άρείω πάγω βουλήν Εφιάλτης έκόλουσε καί Περικλής τά δέ δικαστήρια μισθοφόρο κατέστησε Περικλής καί τούτον δή τον τρόπον έκαστος τών δημαγωγών προήγαγεν αύξων εις τήν νυν δημοκρατίαν 262 Tratase provavelmente de uma referência aos oligarcas que tinham sim patia pelas instituições espartanas As orelhas rachadas τών τά ώτα κατεαγότων 5158 aludem aos efeitos da prática do boxe nos atletas espartanos característica GÓRGIAS 415 foram por ele corrompidos Pois pelo menos eu tenho escutado que Péricles tornou os atenienses preguiçosos covardes tagarelas e avarentos quando instituiu ineditamente as recompensas261 c a l Ouves essas coisas de pessoas com orelhas rachadas Sócrates262 soc Não apenas ouço tais coisas mas tanto eu quanto tu sabemos claramente que no princípio Péricles tinha boa repu tação e nenhum processo vergonhoso contra ele foi votado pe los atenienses quando estes eram piores Porém quando se tornaram homens belos e bons por causa de Péricles já no li miar de sua vida votaram contra ele um processo de roubo263 referida por Platão no Protágoras 342b como distintiva daquele povo O próprio Sócrates é satirizado por Aristófanes como um homem filoespartano como vemos nestes versos da comédia As Aves de 414 aC Antes de tu teres fundado essa cidade Todos os homens de então eram loucos pelos modos lacônicos De longas cabeleiras passavam fome eram sujos tipo Sócrates E portavam cajadinhos w 12801283 Πριν μέν γάρ οίκίσαι σε τήνδε τήν πόλιν έλακωνομάνουν απαντες άνθρωποι τότε έκόμων έπείνων έρρύπων έσωκράτων σκυτάλι έφόρουν 2ό3 Informações mais específicas sobre o processo de roubo contra Péricles ou seja de apropriação indébita do erário público encontramos sobretudo na his toriografia tardia pois embora Tucídides se refira ao caso em sua obra 2653 ele não oferece dados mais precisos tampouco define qual teria sido o teor da acusação Segundo Diodoro Sículo 12454 a acusação foi retirada sendolhe aplicada uma multa de oitenta talentos por questões de pouco valor segundo Plutarco Péricles 3545 a acusação foi retirada sendolhe aplicada uma multa de quinze ou cin quenta talentos segundo Idomeneu de Lâmpsaco FGrHist 338 F 9 a acusação partiu de Cléon que se tornou depois da morte de Péricles em 429 aC político de maior influência em Atenas segundo Teofrasto Fr 616 Fortenbaugh e Heráclito Pôntico Fr 47 Wehrli a acusação partiu de figuras de menor renome Símias e Lacrátides segundo Ateneu X11 589ε Péricles correu risco de perder a vida ou seu patrimônio U Fantasia Tucidide p 490491 416 GÔRGIAS DE PLATÃO δηλον ότι ωί πονηρού ovtoí ΚΑΛ T í ovv τούτον ϊνζκα κακοί ην ΥΙΐρικληί Σ ί2 Ονων yovv αν ίπιμξλητηί καί Ιππων καί βοών τοιοντοί ων κακοί αν έδόκει eivai d παραλαβών μη λακτί ζονταί kavrov μη0 κνρίττονταί μηθ δάκνονταί απέδζΐξΐ ταντα άπαντα ποιοννταί δι αγριότητα η ου δοκΐΐ σοι 264 Platão se refere aqui ao processo contra Péricles mencionado por Tucídi des em sua obra como vemos nesta passagem Todavia a cólera de todos contra Péricles não se arrefeceu até que ele foi condenado a pagar uma multa em dinheiro Não muito tempo depois por sua vez como a multidão adora fazer elegeramno general e entregaramlhe todos os ne gócios na medida em que o sofrimento de cada um se tornava menos lancinante e toda a cidade o requeria por considerálo homem de grande valor Pois durante os tempos de paz em que comandou a cidade ele a conduziu de forma moderada e a protegeu com segurança a cidade tornouse a mais grandiosa em suas mãos e quando a guerra foi deflagrada também nessa circunstância ele soube claramente estimar o poder que ela detinha 26535 ού μέντοι πρότερόν γε οί ξύμπαντες έπαύσαντο έν οργή εχοντες αυτόν πριν έζημίωσαν χρήμασιν ύστερον δ αύθις ού πολλψ όπερ φιλεΐ όμιλος ποιεΐν στρατηγόν εϊλοντο και πάντα τά πράγματα έπέτρεψαν ών μέν περί τά οικεία έκαστος ήλγει άμβλύτεροι ήδη όντες ών δέ ή ξύμπασα πόλις προσεδεϊτο πλείστου άξιον νομίζοντες είναι όσον τε γάρ χρόνον προύστη τής πόλεως έν τή ειρήνη μετρίως εξηγείτο και ασφαλώς διεφύλαξεν αύτήν και έγένετο έπ εκείνου μεγίστη επειδή τε ό πόλεμος κατέστη ό δέ φαίνεται και έν τούτω προγνούς τήν δύναμιν Tucídides em seu célebre elogio em primeira pessoa à figura de Péricles cf supra nota 79 o considerava o homem político por excelência cujos atributos prin cipais eram prestígio inteligência incorruptibilidade e técnica oratória Segundo ele diferentemente dos políticos que depois de sua morte em 429 aC passaram a co mandar as ações da cidade durante a guerra contra Esparta como Cléon por exem plo Péricles não recorria à lisonja para fazer prevalecer suas deliberações ainda que tivesse de enfrentar a cólera popular Tucídides mesmo quando se refere ao processo contra Péricles parece atribuirlhe uma função positiva dentro do mecanismo da democracia ateniense tendo em vista o contexto crítico em que se deu tal processo a peste o assédio de Esparta e de seus aliados ao território ático as más condições em que se encontrava o povo confinado dentro dos muros da cidade os sofrimentos particulares etc Ou seja o processo contra Péricles seja ele qual for é de certa forma entendido por Tucídides como consequência da condição precária em que estava Ate nas naquele momento tendo em vista a conduta passional que é própria à multidão em tais contextos Como Péricles era o principal político e responsável pela deflagra ção da guerra que parecia tender para o lado espartano seria natural que a vítima da cólera do povo fosse ele nesse caso processos judiciais e aplicações de multa seriam meios de manifestação do descontentamento do povo para com a política da cidade A Gomme An Histórical Commentary on Thucydides p 183 índice disso seria que o próprio Tucídides não emite qualquer juízo a respeito do processo se ele foi justo ou injusto tampouco define qual o seu teor um episódio que não incide negativamente sobre o êthos de Péricles nem faz dele um homem político de menor valor GÓRGIAS 417 e não o condenaram por pouco à morte264 Isso é evidência de que ele era um homem vicioso c a l E então Em vista disso Péricles era um homem mau soc Comparandoo ao pastor de asnos cavalos e bois265 ele pareceria mau se recebesse animais que não recalcitram não marram e não mordem e depois os apresentasse com todos esses defeitos em função de sua natureza selvagem Ou não te Nesse sentido pareceme razoável supor que Platão neste passo do Górgias esteja de certa forma respondendo ao elogio de Tucídides a Péricles como o grande homem político da democracia ateniense Para Platão Péricles assim como os demais políticos democráticos de renome não se constitui como o verdadeiro homem polí tico aquele que tenta cuidar da cidade e dos cidadãos de modo a tornar os próprios cidadãos melhores ao máximo έπιχειρητέον ήμίν έστιν τή πόλει και τοΐς πολίταις θεραπεύειν ώς βέλτιστους αυτούς τούς πολίτας ποιοΰντας 51357 Tal processo que Platão afirma ser concernente a roubo κλοπήν 5i6ai seria precisamente índice de que Péricles não foi um bom político pois se o processo foi justo então ele agiu injustamente e isso não é próprio do verdadeiro homem político se por sua vez foi injusta a sua condenação então Péricles não tornou melhores os cidadãos revelando sua falência como homem político O paradoxo em que é enredado Péricles é um dos recursos usados por Platão para revelar no Górgias sua crítica mais profunda à de mocracia como um todo nunca houve um verdadeiro homem político na história da democracia ateniense porque o problema seria a própria constituição democrática Embora esse tema seja tratado em sua completude apenas na República Platão já de lineia no Górgias ainda que apenas em esboço a figura do novo homem político do verdadeiro homem político o filósofo na imagem de Sócrates 52id 265 A metáfora do reipastor aparece pela primeira vez na literatura grega em Homero Ilíada 2243 quando Agamêmnon é chamado de pastor de povos ποιμήν λαών A comparação entre o homem político e o pastor de rebanhos é re corrente em Xenofonte como vemos nesta passagem das Memoráveis Quando os Trinta Tiranos mataram inúmeros homens que não eram os cidadãos mais vis e induziram inúmeros outros a praticar ações injustas Sócrates disse que lhe pareceria espantoso se alguém depois de se tornar pastor de reba nhos tornasse os bois inferiores e piores e não admitisse ser um mau boiadeiro e lhe pareceria ainda mais espantoso se alguém depois de se tornar o comandante da cidade tornasse os cidadãos inferiores e piores e não se envergonhasse disso e nem se considerasse um mal comandante da cidade 1232 έπεί γάρ oi τριάκοντα πολλούς μέν τών πολιτών και ού τούς χειρίστους άπέκτεινον πολλούς δέ προετρέποντο άδικείν είπε που ό Σωκράτης δτι θαυμαστόν οί δοκοίη είναι εϊ τις γενόμενος βοών αγέλης νομεύς και τάς βοΰς έλάττους τε και χείρους ποιών μή όμολογοίη κακός βουκόλος είναι ετι δέ θαυμαστότερον εϊ τις προστάτης γενόμενος πόλεως και ποιών τούς πολίτας έλάττους τε και χείρους μή αίσχύνεται μηδ οϊεται κακός είναι προστάτης τής πόλεως Sobre ο tema do reipastor ver Platão Político 2ô7a268d Aristóteles Ética Nicomaqueia viu 11613145 418 GÓRGIAS DE PLATÃO Λ Λ Λ Λ b κακοί αυαι επιμελητής οστισονν οτονονν ξωον os αν παρα λαβών ήμερωτερα απόδειξη άγριωτερα ή παρελαβε δοκεΐ ν η ον Κ Α Λ Πάνν γε ινα σοι γαρίσωμαι ΣΩ Καί τάδε τοίννν μοι χάρισαι άποκρινάμενος πότε ρον καί ο άνθρωπος εν των ζωων εστιν η ον Κ Α Λ Πώϊ γαρ ον ΣΩ Ονκονν ανθρώπων Περικλή επεμελετο ΚΑΛ Ναί ΣΩ Τ ί ονν ονκ εδε ι αντονς ως άρτι ω μολογον μεν δικαιοτερονς γεγονεναι αντί άδικωτερων νπ εκείνον εΐπερ c εκείνος επεμελεΐτο αντων αγαθός ων τα πολιτικά ΚΑΛ Πάυυ γε ΣΩ Ονκονν οι γε δίκαιοι ήμεροι ώί εφη Ομηρος συ δε τί φής οΰχ όντως ΚΑΛ Ναί ΣΩ Ά λλ α μην αγριωτερονς γε αντονς άπεφηνεν η οίονς παρελαβεν και ταντ είς αυτόν δν ήκιστ αν ίβονλετο ΚΑΛ Βουλ σοι ομολογήσω ΣΩ Εί δοκω γε σοι αληθή λεγειν ΚΑΛ Έ στω δή ταντα ΣΩ Ονκονν εϊπερ αγριωτερονς άδικωτερονς τε και χείρονς d ΚΑΛ Έ στω ΣΩ Ουκ αρ αγαθός τα πολιτικά Περικλής ήν εκ τούτον τον λόγον ΚΑΛ Ον συ γε φής ΣΩ Μα Δ ί ονδε γε συ εξ ων ωμολόγεις πάλιν δε Λεγε μοι περί Κ ίμωνος ουκ εξωστράκισαν αϊτόν οντοι ονς GÓRGIAS 419 parece mau qualquer pastor de quaisquer animais que os recebesse b mais mansos e depois os apresentasse mais selvagens do que quando os recebeu Parecete ou não c a l Absolutamente para que eu te deleite soc Pois bem deleitame respondendo o seguinte se tam bém o homem é um animal ou não c a l E como não seria soc E Péricles não cuidava dos homens c a l Sim soc E então Eles não deviam como há pouco concordamos ter se tornado mais justos por causa de Péricles ao invés de mais injustos visto que ele cuidou deles e era bom nas ações políticas c c a l Absolutamente soc Os homens justos não são mansos como dizia Home ro2 E tu o que dizes Não é assim c a l É soc Todavia Péricles os mostrou mais selvagens do que quando os recebeu uma selvageria contra ele próprio contra quem ele menos haveria de querer c a l Queres que eu concorde contigo soc Contanto que eu pareça te dizer a verdade c a l Que assim seja soc Então uma vez mais selvagens mais injustos e pio res não é c a l Seja d soc Portanto Péricles segundo esse argumento não era bom na ação política c a l Não é o que tu dizes soc Por Zeus já que deste teu consentimento também tu o dizes26 267 Mas falame sobre Címon mais uma vez os homens de quem ele cuidava não o condenaram ao ostracismo para 266 Homero Odisseia 6120 os violentos e selvagens e injustos ή ρ οϊ γ ϋβρισταί τε και άγριοι ούδέ δίκαιοι 267 Cf 487ε 420 GÓRGIAS DE PLATÃO e 517 b έθεράπενεν iva αυτόν δέκα ετών μή ακούσειαν τη ς φωνής και Θεμιστοκλέα ταντα ταντα εποίησαν καϊ φυγή προσε ζημίωσαν Μιλτιάδης δέ τον Μαραθωνι εις το βάραθρον έμβαλεΐν εψηφίσαντο καϊ ει μή δια τον πρύτανιν ένέπεσεν αν καιτοι ούτοι εΐ ήσαν άνδρες αγαθοί ως συ φις ονκ αν 7rore ταντα επασχον ονκονν οι γε αγαθοί ηνίοχοι κατ άρχάς μεν ονκ εκπίπτονσιν εκ των ζευγών επ είδαν δέ θεραπενσωσιν τους ίππους και αυτοί άμείνονς γένωνται y λ V ι ηνίοχοι τοτ εκπιπτονσιν ονκ εστι ταντ οντ εν ηνιοχεια οΰτ εν αλλω εργω ουδενί ή δοκεΐ σοι ΚΑΛ Ονκ εμοιγε ΣΩ Αληθείς άρα ως εοικεν οι έμπροσθεν λόγοι ήσαν ότι ονδενα τιαεΐς ίσαεν ανδοα άναθόν νενονότα τα πολιτικά εν τήδε τη πόλει σν δε ωμολόγεις των ye νυν ονδενα των μέντοι έμπροσθεν καϊ προείλον τούτονς τονς ανδρας ουτοι δε ανεφάνησαν εζ ίσου τοΧς νυν όντες ώστε εΐ οντοι f V 9 λ V ρήτορες ήσαν ούτε τη αληθινή ρητορική εχρωντο ου γαρ αν εξεπεσον ούτε τη κολακικη ΚΑΛ Αλλα μέντοι πολλοί γε δει ω Σωκρατες μή ποτέ τις των νυν έργα τοιαΰτα έργάσηται οΧα τούτων όστις βονλει εΐργασται ΣΩ Ω δαιμόνιε ονδ εγω ψέγω τούτους ως γε διακό νους είναι πόλεως αλλά μοι δοκονσι των γε νυν διακονικω 268 269 268 Ο ostracismo ostrakismos όστρακισμός diferentemente do exílio phugê φυγή não era uma punição por má conduta mas por uma ação polí tica malsucedida Címon foi condenado ao ostracismo em 461 aC depois do fracasso de sua intervenção em favor dos espartanos na chamada terceira Guerra Messênica Segundo Plutarco Címon 178 Címon não cumpriu os dez anos de banimento estipulado por tal punição mas foi chamado de volta a Atenas em 457 aC depois da batalha de Tanagra por um decreto proposto por Péricles E Dodds op cit p 359 269 Não se sabe ao certo a data do ostracismo de Temístocles mas supõese ter acontecido em 474 aC um ou dois anos depois de sua condenação por traição quando os espartanos deram provas de seu envolvimento com Pausânias ver Tucí dides 1135 e de sua partida para a Pérsia E Dodds op cit p 359 GÕRGIAS 421 que não ouvissem por dez anos a sua voz268 E não fizeram o mesmo a Temístocles e o puniram com o exílio269 E Milcíades de Maratona não votaram a favor de que ele fosse atirado ao precipício e se não tivesse sido a intervenção do pritaneu teria e ali se precipitado270 Com efeito esses homens se fossem bons como dizes jamais teriam sofrido essa sorte Os bons cocheiros não são os que no princípio conseguem se suster na parelha e só tempos depois dela caem quando já haviam cuidado dos cavalos e se tornado eles próprios melhores cocheiros Isso não acontece nem na condução de parelhas nem em qualquer ou tro ofício Ou te parece que aconteça c a l Não a mim soc Portanto como é plausível os argumentos anteriores eram verdadeiros271 que nós não conhecemos nenhum homem 517 que tenha sido bom homem político nessa cidade E tu concor davas que não havia nenhum entre os contemporâneos mas que entre os predecessores sim e selecionou esses homens contudo eles se revelaram iguais aos de hoje de modo que se rétores eles foram não empregaram nem a verdadeira retó rica272 pois não teriam sucumbido nem a lisonjeadora c a l Muito longe disso Sócrates nenhum homem contem porâneo jamais realizará feitos semelhantes aos realizados por qualquer um desses predecessores à tua escolha b soc Extraordinário homem eu não os vitupero enquanto servidores da cidade mas eles me parecem ter sido melhores 270 Heródoto a única fonte que se refere a esse episódio diz apenas que Mil cíades sofreu um processo que estipulava pena capital mas não especifica qual seria ela 6136 Acabou se livrando da morte pagando em contrapartida uma multa de cinquenta talentos Segundo Xenofonte Helénicas 1720 ser atirado ao preci pício foi durante certo tempo a pena determinada pelo decreto de Canono contra os inimigos do povo E Dodds op cit p 359 271 Cf 503bc 272 Sobre a verdadeira retórica cf supra nota 199 Sobre o desenvolvi mento da concepção de uma retórica filosófica que se constitui como arte tekhnè τέχνη e não como lisonja kolakeia κολακεία ver Platão hedro 266c274a 422 GÓRGIAS DE PLATÃO τεροι γεγονεναι και μάλλον οΐοί τε εκπορίζειν rrj πόλει ών επεθύμει άλλα γάρ μεταβιβάζειν τας επιθυμίας και μη επίτρεπαν πείθοντες και βιαζόμενοι ειτι τούτο όθεν εμελ λον άμείνους εσεσθαι οι πολΐται ώί έπος είπεΐν ονδεν c τούτων διεφερον κείνοι οπερ μόνον εργον εστιν άγαθου πολίτου ναΰς ôè καί τείχη και νεώρια και άλλα πολλά τοιαΰτα και εγώ σοι ομολογώ δεινότερους είναι εκείνους τούτων εκποριζειν πραγμα ουν γελοιον ποιονμεν εγω τε και συ εν τοΐς λόγοις εν π αντί γάρ τώ χρόνω ον διαλεγό μεθα ουδεν παυόμεθα είς το αυτό άεϊ περιφερόμενοι και άγνοούντες αλληλων ότι λεγομεν εγώ γουν σε πολλάκις οίμαι ώμολογηκεναι καϊ εγνωκεναι ώί αρα διττή αυτή τις d η πραγματεία εστιν και περί το σώμα και περί την ψυχήν και η μεν ετερα διακονική εστιν fj δυνατόν είναι εκπορίζειν εαν μεν πεινί τα σώματα ημών σιτια εαν οε οιψτ ποτά εάν δε ριγώ ίμάτια στρώματα υποδήματα αλλ ών ερχεται σώματα εις επιθυμίαν και εζεπίτηδύς σοι δια τών αυτών εικόνων λέγω ΐνα ραον καταμάθης τούτων γάρ ποριστικον είναι η κάπηλον όντα η έμπορον η δημιουργόν του αυτών e τούτων σιτοποιόν η όψοποιόν η ΰφάντην η σκυτοτόμον η σκυτοδεφόν ουδεν θαυμαστόν εστιν όντα τοιοΰτον δόζαι και αΰτώ καϊ τοΐς αλλοις θεραπευτήν είναι σώματος παντι τώ 273 273 Essa personificação da cidade referida como uma espécie de organismo cujos apetites τάς έπιθυμίας 5i7bs são satisfeitos pela ação lisonjeadora pró pria da política democrática nos remete de certo modo ao princípio metodológico adotado pela personagem Sócrates na construção da cidade ideal na República n 368d3ó9a para encontrar a definição apropriada de justiça Sócrates parte da ci dade macrocosmo para chegar ao indivíduo microcosmo tendo em vista a si milaridade de sua constituição interna Além da analogia entre cidade e indivíduo 503c 5iocd 5i2e5i3a 5i7b5i8a 5i8e5i9a há no Górgias outros aspectos comuns à República tais como i a concepção do querer boulésis βούλησις pressuposta nos argumentos de Sócrates 4óoac 467C468e mas que não é ex plorada a fundo no diálogo ii a noção de uma alma com três elementos na psico logia moral sustentada por Cálicles έπιθυμίαι φρόνησις ανδρεία como observa J Cooper em seu artigo op cit p 66 já aludindo de certa forma à concepção de uma alma tripartida exposta no Livro iv da República iii a referência de Sócrates à ideia de parte da alma no mito siciliano reportado por ele τής ψυχής τούτο έν ω έπιθυμίαι είσι 4933 τούτο τής ψυχής ού αί έπιθυμίαι είσί 493bi embora ela não seja desenvolvida iv a presença marcante do elemento thumos θυμός na dinâmica GÓRGIAS 423 servidores do que os contemporâneos e mais capazes de prover a cidade do que lhe apetecia273 Todavia redirecionar seus ape tites e não lhes ceder usando a persuasão e a força274 de modo a tornar melhores os cidadãos nesse aspecto eles em nada se diferem dos outros por assim dizer e esse é o único feito de um bom político Quanto a naus muralhas estaleiros e todas as demais coisas do gênero275 eu também concordo que eles foram mais prodigiosos do que os contemporâneos em prover a cidade disso Assim tanto eu quanto tu agimos de modo ri dículo na discussão durante todo o tempo em que dialogáva mos não paramos de girar sempre em torno do mesmo ponto e de ignorar reciprocamente o que um ou outro dizia De fato creio que tu concordaste comigo repetidas vezes e compreen deste enfim que há duas atividades concernentes tanto ao corpo quanto à alma e que uma delas é servidora e capaz de prover o nosso corpo de comida se houver fome de bebida se houver sede de mantos cobertores e sapatos se sentir frio e de outras coisas que apetecem o corpo E eu te falo por meio das mesmas imagens propositalmente a fim de que tua com preensão seja mais fácil Como o comerciante o negociante e os artífices entre eles o padeiro o cozinheiro o tecelão o sa pateiro e o curtidor são provedores dessas coisas não é ad mirável que eles sendo como são pareçam ser a si próprios e dialógica sobretudo com relação à vergonha que aparece referida como causa con corrente da motivação humana 455cd 461b 482d v a ideia do thumos aliado da razão sugerida en passant por Sócrates 511b vi o problema do advento da tirania no seio da democracia representado metaforicamente pela imagem do leão na teoria sobre a natureza política do homem sustentada por Cálicles 48364840 vii as semelhanças entre os argumentos sustentados por Cálicles e Trasímaco Livro 1 da República sobre a natureza da justiça e enfim viii o Mito Final que nos remete ao Mito de Er que encerra a República 274 Sobre a função positiva da persuação e da força πείθοντες καί βιαζόμενοι 517b6 na filosofia política de Platão como meio para a promoção do bem comum ver República v i i 5 i 9 e 5 2 o a Político 2 9 6 a 2 9 7 b 275 Tanto Heródoto 7144 quanto Tucídides 1143 atribuem a Tcmístocles o fortalecimento da frota ateniense fator decisivo na resistência contra a invasão persa a construção de muralhas e estaleiros foi referida acima 45 sde como fruto das ações de Temístocles e Péricles O mesmo tema é referido por Sócrates prova velmente de forma irônica no Menêxeno 245a 424 GÓRGIAS DE PLATÃO 5 1 8 b c d μη Ιδότι Sn έστιν τις παρά ταύτας απάσας τέχνη γυμνά στική τε και ιατρική η δή τω οντι γ στιν σώματος θΐραπάα ήνπρ και προσήκα τούτων αρχήν πασών των τίχνών και χρήσθαι τοΐς τούτων έργοις δια το Ιδέναι άτι χρηστόν και πονηρον των σιτιων ή ποτών στιν et αρίτην σώματος τας δ άλλας πάσας ταύτας άγνοίΐν όιο όή και ταύτας μέν δουλοπρπΐς τ καί διακονικός και ανλυθέρους ΐναι πρϊ σώματος πραγματΐίαν τάς άλλας τέχνας την δε γυμναστικήν και ιατρικήν κατά τδ δίκαιον δίσποίνας ΐναι τούτων ταντα ουν ταυτα οτι στιν και πρι ψυχήν τοτ μέν μοι δοκϊς μανθάνίΐν οτι λέγω καί δμολογάς ως ίδώς οτι γώ λέγω ήκΐς δε ολίγον ύστίρον λέγων οτι άνθρωποι καλοί κάγαθοϊ γίγόνασιν πολΐται έν τί πόλΐ και πηδάν γώ έρωτώ οΐτινς δοκΐς μοι δμοιοτάταυς προτίνσθαι ανθρώπους πρι τα πολιτικά ώσπίρ αν et περί τα γυμνα στικά έμον έρωτώντος οΐτινς αγαθοί γγόνασιν η ίσιν σωμάτων θραπυταί έλγές μοι πάνυ σπονδάζων Θαρίων δ άρτοκόπος και Μίθαικος δ την όψοποιίαν συγγγραφώς την Σικελικήν και Σάραμβος δ κάπηλος οτι ουτοι θαυμάσιοι γίγόνασιν σωμάτων θραπνταί δ μέν άρτους θαυμαστούς παρασκίυάζων δ δε οψον δ δε οίνον ίσως άν ουν ηγα νάκτίΐς ΐ σοι έλγον γώ οτι Ανθρωπί επαίει ούδν πρϊ γυμναστικής διακόνους μοι λέγας καί έπιθυμιών παρασκυαστάς ανθρώπους ουκ έπαΐοντας καλάν κάγαθον ουδέν περί αυτών οι άν οίτω τνχωσιν έμπλήσαντίς και V ί Λ 7ταχνναντ τα σώματα των αννρωτιων τταινονμνοι νπ αυτών προσαπολουσιν αυτών και τας αρχαίας σαρκας οι δ αύ δι απίΐρίαν ου τούς έστιώντας αίτιάσονται τών νόσων αιτίους ΐναι καί τής αποβολής τών αρχαίων σαρκών αλλ οί αν αυτοΐς τύχωσι τότ παρόντίς και συμβουλύοντές τι 276 278 276 Cf 46465 50obd 277 Cf supra nota 56 278 Teárion era proprietário de uma padaria em Atenas provavelmente bas tante conhecida tendo em vista a referência de Aristófanes em uma de suas peças venho da padaria de Teárion ήκω Θεαρίωνος άρτοπώλιον λιπών fri e o elo gio de uma personagem de Antífanes aos pães de composição branca όρων μέν G Ó R G IA S 425 aos demais homens os que cuidam do corpo a todos que igno ram que há além de todas essas atividades a arte da ginástica e da medicina que cuidam realmente do corpo276 A ambas convém dominar todas essas artes e utilizar os seus ofícios por que elas sabem quais comidas e bebidas são úteis ou nocivas à virtude do corpo enquanto todas as demais o ignoram Por esse 518 motivo não é admirável que estas últimas em relação à ativi dade do corpo sejam escravas servidoras e desprovidas de li berdade enquanto a ginástica e a medicina conforme o que é justo sejam as suas déspotas O mesmo argumento então é válido para a alma277 por ora tu me pareces entender o que digo e concordas comigo como se soubesses o que falo mas instantes depois vens afirmar que certos homens foram belos b e bons cidadãos na cidade Quando te pergunto quem foram eles tu me pareces indicar homens na política como se inqui rido no tocante à ginástica sobre quais homens foram ou são os que cuidam do corpo tu me respondesses com absoluta se riedade que foram diligentes admiráveis do corpo Teárion o padeiro Miteco escritor sobre a culinária siciliana e Sarambo o comerciante um guarnecedor de tortas admiráveis o outro de comida e o outro de vinho278 Assim talvez te enfurecesses c se eu dissesse que Homem não sabes nada a respeito da gi nástica te referes a homens servidores e guarnecedores de ape tites ignorantes de tudo o que é belo e bom sobre o assunto Eles quando obtêm sucesso fazem saciar e engordar o corpo das pessoas motivo pelo qual são louvados por elas mas des troem a sua antiga compleição muscular E tais pessoas por sua vez devido à inexperiência no assunto não inculparão esses d anfitriões de responsáveis pelas doenças e pela degeneração de sua antiga compleição muscular Quando a saciedade lhes ad vém acarretandolhes tempos depois a doença sem a promoção ά ρ το υ ς τ ο ύ σ δ ε λ ε υ κ ο σ ω μ ά το υ ς d e su a lo ja fr 17 6 K o c k S o b re M iteco M á x im o de T ir e a firm a q u e ele era d e S ira c u sa e e ra tã o b o m c o z in h e iro q u a n to P id ias era b o m e scu lto r a c o z in h a sira cu sa n a e ra fa m o sa p o r su a lu x ú ria v er P latão República m 404d A ristó fa n e s Comoediae fr 2 16 H o r á c io Odes 3 11 8 Z e n ó b io 594 S o b re S a ra m b o P la tã o é p ro v a v e lm e n te a ú n ic a fo n te E D o d d s o p cit p 363 426 G Ó R G IA S D E P L A T à O e 519 b c όταν όη αϊτοί ηκη η τότε πλησμονή νόσον φέρονσα σνχνω f t t tf if rs rs λ ύστερον χρονω are αν ευ του υγιεινού γεγονυια τοντονς αιτιάσονται και ψεξουσιν και κακόν τι ποιησονσιν άν οΐοί τ ωσι tovs δε προτερους εκείνους και αίτιους των κακών εγκωμιάσουσιν και συ νυν ώ Καλλίκλεις ομοιότατου τούτω εργάζτ εγκωμιάζεις ανθρώπους οι τούτους εϊστιά κασιν ευωχούντες ων επεθύμουν καί φασι μεγάλην την πόλιν πεποιηκεναι αυτούς ότι δε οιδεΐ και ύπουλος εστιν δι εκείνους τους παλαιούς ούκ αισθάνονται άνευ γάρ σωφροσύνης και δικαιοσύνης λιμένων και νεωρίων και τειχών και φόρων και τοιούτων φλυαριών εμπεπλήκασι την πάλιν όταν ούν ελθη η καταβολή αυτή της ασθένειας τους τότε παρόντας αιτιάσονται συμβούλους Θεμιστοκλεα δ καί Κίμωνα και Ώερικλεα εγκωμιάσουσιν τους αιτίους των κακών σου δε ίσως επιληψονται εάν μη ευλαβγ καί ro í εμού εταίρου Άλκιβιάδου όταν και τά αρχαία προσ απολλύωσι προς οΐς εκτησαντο ουκ αιτίων δντων των κακών άλλ ίσως συναιτίων καίτοι εγωγε ανόητου πράγμα καί νυν ορώ γιγνόμενον καί ακούω τών παλαιών άνδρών περί αισθάνομαι γάρ όταν η πόλις τινά τών πολιτικών άνδρών μεταχειρίζηται ώς άδικούντα άγανακτονντων καί σχετλια ζόντων ώς δεινά πάσχουσι πολλά καί άγαθά την πόλιν πεποιηκότες άρα αδίκως υπ αυτής άπόλλυνται ώς ο τούτων λόγος τά δε ολον ψευδός εσ τιν προστάτης γάρ πόλεως ούδ αν εις ποτέ αδίκως άπόλοιτο υπ αυτής της πόλεως ης προστατεΐ κινδυνεύει γάρ ταυτάν είναι όσοι τε πολιτικοί προσποιούνται είναι καί όσοι σοφισταί καί γάρ οί σοφι σταί τάλλα σοφοί δντες τούτο άτοπου εργάζονται πράγμα φάσκοντες γάρ αρετής διδάσκαλοι είναι πολλάκις κατηγο ροϋσιν τών μαθητών ώς άδικούσι σφάς arrows τούς τε 279 279 S ó c ra te s u sa a m e sm a p a la v r a to lice s φ λ υ α ρ ιώ ν 5 19 3 3 p a ra co n d e n a r as a ç õ e s d o s p o lític o s d e m o c rá tic o s q u e C á lic le s h a v ia u s a d o p a ra c e n s u ra r a su a d e fe sa d a ju s tiç a e d a te m p e ra n ç a 492C 7 280 S o b re T em ísto cles C ím o n e P éricles cf su p ra n o ta s 200 201 e 79 re s p e c tiv a m e n te S e g u n d o T u c íd id e s 2 6 5 o p ró p rio P é ricle s te ria sid o v ítim a d a có le ra d o p o v o q u e o c o n d e n o u a p a g a r u m a m u lta n o m o m e n to d e cr is e e m 430 a C G Ó R G IA S 4 2 7 de sua saúde elas inculparão vituperarão e maltratarão à me dida de sua capacidade quem estiver presente àquela ocasião e prestar algum conselho enquanto àqueles primeiros os res ponsáveis pelos males só lhes tecerão elogios E o que fazes agora Cálicles é muito semelhante elogias homens que foram e anfitriões e que empanturraram essas pessoas do que lhes ape tecia Dizem que eles tornaram a cidade grandiosa mas não percebem que ela está intumescida e inflamada por causa des ses homens de outrora Pois sem justiça e temperança eles sa 519 ciaram a cidade de portos estaleiros muralhas impostos e tolices do gênero279 porém quando sobrevier enfim aquele assalto de fraqueza inculparão os conselheiros presentes nesse momento e elogiarão Temístocles Címon e Péricles280 os res ponsáveis pelos males Se não tiveres precaução talvez ataquem a ti e a meu companheiro Alcibíades281 quando perderem tanto os bens por eles conquistados quanto os antigos bens ainda b que não sejais responsáveis pelos males mas talvez correspon sáveis Ademais é estulto o que vejo acontecer hoje e o que ouço a respeito desses homens de outrora Pois percebo que quando a cidade surpreende alguns desses políticos cometendo injus tiça eles se enfurecem e se queixam da sorte terrível que sofrem Eis o seu contraargumento que eles depois de terem realizado inúmeros bens à cidade são por ela arruinados É uma com pleta mentira pois jamais um líder da cidade seria arruinado c injustamente pela própria cidade da qual é líder É provável que tanto os políticos de fachada quanto os sofistas sejam os mes mos Pois os sofistas apesar de serem sábios em outros assun tos incorrem no seguinte absurdo afirmam que são mestres de virtude mas acusam frequentemente seus discípulos de co meterem injustiças contra eles quando os privam de salários e q u a n d o A te n a s se e n c o n tr a v a a sso la d a p e la p este p e lo a ssé d io d e Iisp arta e d e seu s a lia d o s p e la s m ás c o n d iç õ e s e m q u e se e n c o n tr a v a o p o v o c o n fin a d o d e n tro d o s m u ro s d a cid a d e d e n tre o u tro s fa to res cf su p ra n o ta 264 2 8 1 S o b re A lcib ía d e s cf su p ra n o tas 10 4 e 107 S o b re o p ro ce sso co n tra A lc i b ía d e s e m 4 15 a G q u a n d o e m c a m p a n h a n a S icília a re sp e ito d a m u tila ç ã o d as h e rm a s e d a p ro fa n a ç ã o d o s m isté rio s v e r T u c íd id e s 6 28 29 6 5 3 6 6 1 428 G Ó R G IA S D E P L A T à O μισθούς αποστερούντες καϊ άλλην χάριν ονκ άποόιόόντες d ευ παθόντες νπ αυτών και τούτον του λόγου τ ί êtv άλογώ τερον εϊη πράγμα ανθρώπους άγαθούς και όικαίονς γινο μένους εξαιρεθεντας μεν αδικίαν υπό του διδασκάλου σχόντας be δικαιοσύνην àbiKeîv τοντω ω ονκ εχονσιν ου boKeî σοι τούτο ατοπον eivai ώ έταîpe ώΐ αληθώς δημη γορειν μ ήνάγκασας ώ Καλλίκλεις ονκ έθελων άποκρί νεσθαι ΚΑΛ Συ δ ονκ άν οΐός τ εϊης λéγeιv ei μη τίς σοι αποκρίνοιτο e ΣΩ Εοικά ye νυν γουν συχνούς reiνω των λόγων επειδή μοι ονκ έθελεις άποκρίνεσθαι άλλ ώγαθε ewe προς Φιλίον ου δοκει σοι αλογον eivai αγαθόν φάσκοντα πεποιηκεναι τινα μεμφεσθαι τοντω ότι νφ εαντοΰ αγαθός γεγονώς Te και ών έπειτα πονηρός εστιν ΚΑΛ Εμοιγε δοκεΊ ΣΩ Ονκοΰν άκούεις τοιαντα λεγόντων των φασκόντων παιδευειν ανθρώπους el ς αρετήν 282 282 A r g u m e n to se m e lh a n te é e m p re g a d o p o r Isó cra te s n o se u d is c u r s o Con tra os Sofistas 5 E o q u e é m a is rid íc u lo d a q u e le s d e q u e m é p re cis o re c e b e r d in h e iro a o s q u a is p re te n d e m tr a n sm itir a ju s tiç a eles d e s c o n fia m a o p a sso q u e d a q u e le s d e q u e m ja m a is fo ra m m e stre s eles e x ig e m as m e sm a s g a ra n tia s e x ig id a s a o s d is c í p u lo s d e lib e ra n d o b e m so b re a su a p ró p ria se g u ra n ça m as a g in d o c o n tra ria m e n te a o q u e p ro fessa m 6 C o n v é m à q u eles q u e e n sin a m o u tra m a téria q u a lq u e r o b se rv a r co m acu id a d e os seus interesses p o is n a d a im p ed e qu e os q u e se to rn a ram p ro d ig io so s e m o u tra s co isa s n ã o sejam h o n e sto s q u a n to ao s co n trato s T o d avia co m o n ã o seria iló g ic o aq u e le s q u e p ro m o v e m a v ir tu d e e a te m p e ra n ç a n ã o co n fia re m so b re tu d o e m seu s d iscíp u lo s P ois se p a ra c o m o s d em ais h o m e n s eles sã o v irtu o so s e ju sto s ce rta m en te n ã o en g a n a rã o a q u eles p o r m e io d o s q u a is v ie ra m a ser o q u e são 56 Ο δέ πάντων οτι παρά μέν ών δει λαβεΐν αυτούς τούτοις μέν άπιστούσιν οις μέλλουσι την δικαιοσύνην παραδώσειν ών δ ούδεπώποτε διδάσκαλοι γεγόνασιν παρά τούτοις τά παρά τών μαθητών μεσεγγυοϋνται προς μεν την ασφάλειαν ευ βουλευόμενοι τώ δ έπαγγέλματι τάναντία πράττοντες Τούς μέν γάρ άλλο τι παιδεύοντας προσήκει διακριβοΰσθαι περί τών διαφερόντων ούδεν γάρ κωλύει τούς περι έτερα δεινούς γενομένους μή χρηστούς είναι περί τά συμβόλαια τούς δέ G Ó R G IA S 429 não lhes restituem outra recompensa embora tenham obtido sucesso por causa de suas lições282 E o que seria mais irracional do que este argumento de que homens que se tornaram bons e justos que tiveram a injustiça arrancada pelo mestre e a jus tiça posta no lugar cometerem injustiça com aquilo que não possuem mais Isso não te parece absurdo meu amigo Tu me constrangeste a agir como um verdadeiro orador público Cá licles porque não desejaste responder283 c a l E tu não serias capaz de falar se alguém não respon desse às tuas perguntas soc É plausível nesse momento estendome em discursos contínuos porque não desejas responder minhas perguntas Mas bom homem dizeme pelo deus da Amizade não te pa rece irracional que alguém afirme ter tornado bom outro ho mem e o censures porque ele é vicioso embora ele tenha se tornado bom e seja bom por sua causa c a l Pareceme soc Não escutas então coisas do gênero daqueles que afir mam educar os homens em vista da virtude284 τ ή ν α ρ ε τ ή ν κ α ι τ ή ν σ ω φ ρ ο σ ύ ν η ν έ ν ε ρ γ α ζο μ έ ν ο υ ς π ώ ς ο ύ κ α λ ο γ ό ν έ σ τιν μή το ΐς μ α θ η τα ΐς μ ά λ ισ τα π ισ τε ύ ειν Ο ύ γ ά ρ δή π ο υ π ερ ί τ ο ύ ς ά λ λ ο υ ς ό ν τ ε ς κ α λ ο ί κ ά γ α θ ο ί κ α ί δ ίκ α ιο ι π ερ ί τ ο ύ τ ο υ ς έ ξ α μ α ρ τ ή σ ο ν τ α ι δ ι ο ϋ ς τ ο ιο ϋ τ ο ι γ εγ ό ν α σ ιν 283 S ó crates ju stifica seu re cu rso à makrologia co m o ten tativa d e d issu asã o de C á lic le s d a v id a p o lítica a trib u in d o cu lp a à reca lcitrâ n cia d o in terlo cu to r q u a n d o ele se n e g o u a co n tin u a r o d iá lo g o 5 0 5 C d O u so d o v e rb o c o n str a n g e r ή ν ά γ κ α σ α ς 5 i9 d 6 in d ic a p re cisa m e n te q u e a su a perfomance c o m o r é to r n e sse m o m e n to d o d iá lo g o n ã o se d e v e a u m ato v o lu n tá r io m a s à n e ce ssid a d e d a o ca siã o S eria esse o a r g u m e n to d e S ó c ra te s p a ra e x p lic a r seu c o m p o rta m e n to p a ra d o x a l n o p rin cíp io d o d iá lo g o se u in tu ito fo i g a ra n tir q u e G ó rg ia s p e rm a n e ce sse re strito a o d o m ín io d a brakhulogia e e v ita sse a makrologia típ ic a d o d iscu rso re tó rico 4 4 9 b c a o p asso q u e a g o ra ele p ró p rio se se rv e d a q u e le m e s m o m o d o d e d is c u r so q u e h avia im p e d id o seu s in te rlo cu to re s d e usar 284 E ssa é a ca ra c te riz a ç ã o g e ra l d o s so fista s d e lin e a d a p o r P latã o n o s d iá lo gos m e stre s d e v irtu d e a d e sp e ito d o q u e ca d a u m d eles em p a rtic u la r e n te n d e p elo te r m o α ρ ετή areté v e r Protâgoras 3 i8 e 3 ig a 349a Hípias Maior 283c Apologia i9 d 2 o c Mênon 9 5 b c Eutidemo 2 7 3 d S o b re a p e c u lia rid a d e d e G ó rg ia s em re la ç ã o a o s d e m a is so fistas cf su p ra n o ta 43 430 G Ó R G IA S D E P L A T à O ίο ΚΑΛ Έγωγε άλλα τ ί άν λεγοις ανθρώπων περί ούδενος άξιων ΣΩ Τ ί δ αν περί εκείνων λεγοις οι φάσκοντες προε στάναι της πόλεως καί επιμελεΐσθαι όπως ώς βέλτιστη εσται πάλιν αυτής κατηγοροΰσιν όταν τύχωσιν ώς πονη ρότατης οϊει τι διαφερειν τούτους κείνων ταυτόν ω μακάρι εστϊν σοφιστής καί ρήτωρ η εγγύς τι και παρα πλήσιου ώσπερ εγώ ίλεγον προς Πώλοι σν δε δι άγνοιαν b το μεν παγκαλον τι οιει είναι την ρητορικήν του οε κατα φρονείς ττ δε αλήθεια κάλλιαν έστιν σοφιστική ρητο ρικής οσωπερ νομοθετική δικαστικής και γυμναστική ιατρικής μόνοις δ εγωγε και ωμήν τοΐς δημηγόροις τε και σοφισταίς ουκ εγχωρειν μεμφεσθαι τούτω τω πράγματι δ αυτοί παι δεύουσιν ώς πονηρόν εστιν εις σφάς ή τω αυτω λόγω τούτω άμα και εαυτών κατηγορεΐν ότι ουδεν ώφελήκασιν ους φασιν ώφελεΐν ονχ ούτως χΐ ο ΚΑΛ Πάιυ γε ΣΩ Καί προεσθαι γε δήπου την ευεργεσίαν άνευ μισθού ώς τδ είκός μόνοις τούτοις ίνεχώρει εϊπερ αληθή ίλεγον άλλην μεν γάρ ευεργεσίαν τις ευεργετηθείς οΐον ταχύς γενόμενος διά παιδοτρίβην ίσως άν άποστερήσειε την χάριν εί προοΐτο αυτω 6 παιδοτρίβης και μη συνθεμένος αυτω μισθόν ότι μάλιστα άμα μεταδιδούς τού τάχους λαμ 1 βάνοι τδ άργύριον ου γάρ δη τή βραδυτήτι οΐμαι άδικουσιν οι άνθρωποι άλλ αδικία ή γάρ ΚΑΛ Ναι 285 285 S e m e lh a n te re p u lsa a o o fíc io d o s so fista s é m a n ife s ta d a p e la p e rs o n a g e m A n ito n o d iá lo g o Mênon s o c D e c e r to ta m b é m tu e stá s cie n te d e q u e sã o eles o s ch a m a d o s so fista s p e lo s h o m e n s a n P o r H é rcu le s ca la te S ó cra te s Q u e ta m a n h o d e sv a rio n ã o se a p o d e re d e n e n h u m p a re n te o u a m ig o m e u se ja e le c id a d ã o o u e stra n g e iro q u e o le v e a p ro c u rá lo s e a ser d eso n ra d o p o r eles u m a v e z q u e tais h o m e n s sã o m a n ifesta m en te a d e so n r a e a r u ín a p a ra q u e m c o m eles co n v iv e 9 ib 7 C 4 ΣΩ Ο ϊσ θ α δ ή π ο υ κα ι σ ύ ο τι ο ύ τ ο ί είσιν ο ϋ ς ο ί ά ν θ ρ ω π ο ι κ α λ ο ϋ σ ι σ οφ ισ τή ς G Ó R G IA S 431 c a l Sim Mas o que dirias sobre homens sem mérito285 520 soc E o que dirias sobre os que afirmam ser líderes e cui dar da cidade para que ela seja o quanto melhor e em troca acusamna quando lhes é propício de ser a mais viciosa Julgas que há alguma diferença entre esses homens e aqueles O sofista e o rétor homem venturoso são o mesmo ou muito próximos e semelhantes como eu dizia a Polo286 mas devido à tua igno rância julgas que a retórica é de todo bela e desprezas a outra b Na verdade a sofística é mais bela do que a retórica tanto quanto a legislação é mais bela do que a justiça e a ginástica do que a medicina287 E eu também julgava que somente aos oradores públicos e aos sofistas não é permitido censurar a pessoa que eles próprios educam alegando que ela os prejudica senão com esse mesmo argumento eles acusam simultaneamente a si pró prios porque em nada beneficiaram quem eles dizem benefi ciar Não é assim c a l Absolutamente c soc E decerto somente a eles seria permitido como é ve rossímil conceder benfeitorias sem exigir salário se é verdade o que diziam Pois se alguém fosse beneficiado de algum outro modo como por exemplo tornarse veloz pelo trabalho do treinador ele poderia talvez priválo da recompensa caso o treinador confiasse nele e sem ter fixado o salário não rece besse o dinheiro se possível enquanto o treinava Pois julgo eu os homens não cometem injustiça pela lentidão mas pela d injustiça ou não c a l Sim A N Η ρ ά κ λεις εύφ ή μ ει ώ Σ ώ κ ρ α τες μ η δ έν α τ ώ ν έμ ώ ν μή τε ο ικ ε ίω ν μήτε φ ίλω ν μ ή τε α σ τ ό ν μ ή τε ξέν ο ν το ια ύ τ η μ α ν ία λ ά β ο ι ώ σ τ ε π α ρ ά τ ο ύ τ ο υ ς έ λ θ ό ν τ α λ ω β η θ ή ν α ι έπ ει ο ύ το ί γ ε φ α ν ε ρ ά έσ τι λ ώ β η τ ε κ α ι δ ια φ θ ο ρ ά τώ ν σ υ γ γ ιγ ν ο μ έ ν ω ν S o b re a su sp e ita re la tiva à fu n ç ã o e d u ca tiv a d o s so fista s v e r P latã o Protá goras 3 1 6 C 3 1 7 C 286 C f 46 5c 287 A leg isla çã o é m a is b e la q u e a ju stiça n a m e d id a e m q u e a p rim eira tem a fu n ç ã o d e reg u la r e g a ra n tir o fu n cio n a m e n to co rre to d as relaçõ es en tre o s h o m en s e n q u a n to a segu n d a a fu n çã o d e co rrig ir as d isfu n çõ e s d o co rp o so cial q u a n d o o co rre ju sta m e n te a tran gressão d as leis p re v ia m e n te esta b elecid as S P ieri op cit p 489 432 G Ó R G IA S D E P L A T à O e 521 b ΣΩ Ονκονν εΐ τις αυτό τούτο αφαιρεΐ την άδικίαν ονδέν δεινόν αντω μήποτε αδικηθή άλλα μόνω ασφαλή ταντην την ενεργεσίαν προέσθαι etπερ τω οντt δνναιτο τΐί αγαθούς ποιεϊν ουχ οϋτω ΚΑΛ Φημί ΣΩ Δια ταντ αρα ως eottce ràs μϊν άλλα σνμβονλας σνμβουλενειν λαμβάνοντα αργυρών οΐον οίκοδομίας πέρι η των άλλων τεχνών ονδεν αισχρόν ΚΑΛ vEoué ye ΣΩ Tlept δέ ye ταυτής της πράζεως οντιν αν τις τρό πον ως βέλτιστος είη και άριστά την αύτοΰ οικίαν διοικοΐ η ττόλιν αισχρόν νενόμισται μη φάναι συμβονλεύειν έαν μη τις αντω αργυρών διοω η γαρ ΚΑΛ Ναι ΣΩ Δήλον γαρ οτι τούτο αίτιόν έστιν οτι μόνη αυτή των ενεργεσιων τον ευ τταθόντα έπιθυμεϊν ποιεί άντ ευ ποιείν ώστε καλόν δοιcet rò σημείου είναι et ευ ποιήσας ταυτην την ευεργεσίαν αντ ευ πεισεταί et òe μη ου έστι ταΰτα ούτως έχοντα ΚΑΛ Έ στιν ΣΩ Έπι πατέραν ουν με παρακαλεΐς την θεραπείαν της πόλεως διόρισόν μοι την τον διαμάχεσθαι Αθηναίοις όπως ως βέλτιστοι εσονται ως ιατρόν η ως διακονησοντα και προς χάριν δμιλήσοντα ταληθή μοι είπέ ω Καλλίκλεις δίκαιος γαρ et ώσπερ ηρζω παρρησιάζεσθαι προς εμέ διατελείν νοείς λέγων και νυν εν και γενναίως είπέ ΚΑΛ Αέγω τοίνυν οτι ως διακονησοντα ΣΩ Κολακευσοντα αρα με ώ γενναιότατε παρακαλείς ΚΑΛ Et σοι Μυσόν γε ήδων καλεΐν ω Σωκρατες ως εί μη ταΰτά γε ποιήσεις 28 289 290 288 C f su p ra n o ta 254 289 S o b re a fra n q u e za parrhésia π α ρ ρ η σ ία d e C á lid e s cf s u p ra n o ta s 13 5 e 14 5 290 O u seja d o m o d o m a is o fe n siv o lis o n je a d o r κ ο λ α κ ε ύ σ ο ν τ α 5 2 i b i a o in v é s d e se rv il δ ια κ ο ν η σ ο ν τ α 5 2 ia 8 E D o d d s o p cit p 36 8 3 6 9 P ieri GÓRGIAS 133 soc Então se alguém elimina precisamente a injustiça não há nenhum terrível risco de que ele sofra injustiça algum dia mas somente ele poderá conceder essa benfeitoria com segu rança se houver alguém realmente capaz de tornar os homens bons Não é assim c a l É soc Portanto é por esse motivo que não é vergonhoso como parece oferecer outros tipos de conselhos em troca de dinheiro como sobre a arquitetura e as demais artes c a l Parece que sim e soc Contudo a respeito desta ação do modo pelo qual al guém se tornaria o quanto melhor e administraria a própria casa ou a cidade da melhor forma288 é considerado vergonhoso recu sar oferecer conselhos se alguém não lhe der dinheiro não é c a l Sim soc Pois evidentemente a causa é esta apenas essa benfei toria faz com que quem sofreu uma boa ação almeje restituíla de modo que parece ser um belo sinal sofrer uma boa ação em restituição a uma benfeitoria feita Porém para sofrêla é pre ciso fazêla É isso o que acontece c a l É 521 soc Defineme então qual o modo de cuidar da cidade a que me exortas o que luta com os atenienses para que se tor nem o quanto melhores tal como o médico o faz ou aquele que lhes é servil e se lhes associa visando o deleite Dizeme a verdade Cálicles Pois é justo que assim como foste franco comigo desde o princípio termines dizendo o que pensas281 E agora dizeme de forma correta e nobre c a l Pois bem digo que o modo servil soc Portanto nobre homem tu me exortas ao modo li h sonjeador c a l Se te é mais aprazível chamálo de Mísio Socrates2 pois se não fizeres isso contudo sugere uma leitura diversa quem se volta ao modo lisonjeador de se fazer política será um servo do povo como os servos da Mísia op cit p 490 434 GÓRGIAS DE PLATÃO ΣΩ Μτ ειπηε δ πολλάκιε εΐρηκαε δτι άποκτενεΐ με δ βουλόμενοε ΐνα μη αυ και εγω εϊπω δτι Πονηρόε γε ων αγαθόν δντα μηδ οτι άφαφησεται εάν τι εχω ΐνα μη αυ εγω εϊπω οτι Ά λ λ άφελόμενοε ουχ εξει δτι χρή σεται αυτοΐε άλλ ώσπερ με άδίκωε άφείλετο οντωε και ε λαβών άδίκωε χρησεται εί δε άδίκωε αίσχρωε εί δε αίσχρωε κακωε ΚΑΛ Ώε μοι δοκεΐε ω Σωκρατεε πίστευαν μηδ αν ν τούτων παθεΐν ωε οίκων εκποδών καί ονκ άν είσαχθειε είε δικαστηρίου νπδ πάνυ ϊσωε μοχθηρού άνθρωπον καί φαύλου ΣΩ Άνόητοε αρα είμί ώ Καλλίκλευ ωε άληθώε εί μη ΰίομαι εν τηδε τη πδλει δντινονν άν δτι τυχοι τούτο παθεΐν τάδε μεντοι ευ οιδ δτι εάνπερ είσίω είε δικαστηρίου περί ά τούτων τινδε κινδννεύων δ σύ λεγειε πονηρόε τίε μ εσται ό είσάγων ονδείε γάρ άν χρηστδε μη άδικονντ άνθρωπον είσαγάγοι και ονδεν γε ατοπον εί άποθάνοιμι βούλει σοι εϊπω δι δτι ταντα προσδοκώ ΚΑΛ ΤΙάνυ γε ΣΩ ΟΊμαι μετ ολίγων Αθηναίων ΐνα μη ειπω μόνοε επιχειρεΐν τη ώϊ άληθωε πολίτικη τέχνη και πράττειν τα πολιτικά μόνοε των νυν ατε ούν ου πρδε χάριν λεγων τόνε λόγουε ούε λέγω εκάστοτε άλλα πρδε το βέλτιστου ου πρδε ε τδ ηδιστον και ονκ εθελων ποιεΐν ά συ παραινεϊε τα κομψά 291 Cf 486b 5iiab 292 Sobre o vaticínio da morte de Sócrates na boca de Cálicles e a sua função dramática ver Ensaio Introdutório 3111 293 Sobre Sócrates como verdadeiro homem político cf supra notas 187199 e 264 Essa imagem é de certa forma construída por Platão também na Apologia Porventura julgais que eu sobreviveria tantos anos se eu me envolvesse com as ações públicas se eu agisse como é digno que aja um homem bom em socorro do que é justo e me dedicasse a isso acima de todas as coisas como é devido fazer Longe disso atenienses tampouco sobreviveria qualquer outro homem Eu contudo durante toda a minha vida revelome sempre o mesmo seja quando me envolvi eventualmente com alguma ação pública seja na minha vida particular jamais fui condescendente com quem quer que tenha agido contra o justo nem mesmo com aqueles que meus caluniadores afirmam serem meus discípulos 32623335 GÓRGIAS 435 soc Não me digas o que já disseste repetidas vezes291 que minha morte está nas mãos de quem quiser para que também eu por minha vez não responda que Um vicioso matará um homem bom nem que ele me furtará se eu tiver alguma pro priedade para que eu por minha vez não responda que Mas se ele me furtar não saberá usar o que furtou mas assim como me roubou injustamente injustamente usará o que conquistou e se injustamente vergonhosamente e se vergonhosamente perversamente c a l Como tu me pareces Sócrates descrer na possibili dade de que tal sorte te acometa como se fosse longínqua a tua morada e não pudesses ser conduzido ao tribunal pela acusação talvez de um homem extremamente torpe e desprezível292 soc Eu seria portanto verdadeiramente estulto Cálicles se julgasse que nessa cidade ninguém sofreria aquilo a que está suscetível Todavia estou seguro de que se eu tiver de apresen tarme ao tribunal correndo um desses riscos mencionados por ti o meu acusador será um homem vicioso pois nenhuma pessoa útil acusaria um homem que não tenha cometido injus tiça e não será absurdo se eu for condenado à morte Queres que eu te explique porque espero isso c a l Absolutamente soc Julgo que eu e mais alguns poucos atenienses para não dizer apenas eu sou o único contemporâneo a empreender a verdadeira arte política e a praticála293 Assim visto que não profiro os discursos que profiro em toda ocasião visando o de leite mas o supremo bem e não o que é mais aprazível e visto que não desejo fazer essas sutilezas aconselhadas por ti294 eu Ά ρ ούν άν με οϊεσθε τοσάδε έτη διαγενέσθαι ει έπρατταν τα δημόσια και πράττων άξίως άνδρός αγαθού έβοήθουν τοΐς δικαίοις και ώσπερ χρή τούτο περι πλείστου έποιούμην πολλού γε δεί ώ άνδρες Αθηναίοι ουδέ γάρ αν άλλος ανθρώπων ούδείς άλλ έγώ διά παντός τού βίου δημοσία τε εϊ πού τι έπραξα τοιούτος φανούμαι και ίδια ό αυτός ούτος ούδενί πώποτε συγχωρήσας ούδέν παρά τό δίκαιον ούτε άλλψ ούτε τούτων ούδενί ους δή διαβάλλοντες έμέ φασιν έμούς μαθητάς είναι 294 Sócrates remete à citação de Cálicles de um verso da tragédia Antíope de Eu ripides deixa para os outros essas sutilezas άλλοις τά κομψά ταύτα άφείς 486c6 436 GÓRGIAS DE PLATÃO λ tt f ff f y λ f 3 ταντα ονχ ςω οτι Aeyco V τω οικαστηριω ο αυτό oe μοι ηκα λόγος ovirep προς Πώλοι èAeyov κρινονμαι γάρ ως V παώίοις Ιατρός αν κρίνοιτο κατηγορονντος όφοποιοΰ σκόπα γάρ τί αν άπολογοΐτο ο τοιοντος άνθρωπος cv τούτοις ληφθίίς cl αυτόν κατήγοροί τις λίγων ότι τί 2 παΐός πολλά υμάς και κακα oôe αργασται ανηρ καί αντονς και τους ικωτάτονς υμών διαφθψί τέμνων tc και κάων καί 522 ισχναίνων κα πνιγών άπορν ποΐΪ πικρότατα πώματα διδονς και πανήν και διψην άναγκάζων ονχ ωσιTcp γώ πολλά και ηδία και παντοδαπα ηυώχονν υμάς τί αν oïci ν τοντω τω κακω αποληφοξντα ιατρόν χΐν ΐπιν η a ξίποι την αλήθααυ οτι 1 αυτα παντα cγω ποιούν ω παϊδίς νγΐΐνώς πόσον τι oïei αν αναβοησαι του τοιούτους 5 3 οικαστας ον μςγα ΚΑΛ Tiras oicaOai ye χρη ΣΩ Ονκονν oïci cv πάση απορία L αυτόν ίχζσθαι οτι b χρη cfativ ΚΑΛ Πάνυ ye 295 295 Cf 464f 296 Essa imagem de Sócrates e por conseguinte do filósofo como médico mais especificamente como médico da alma aparece também no diálogo Protágoras Cuidado para que o sofista meu amigo não nos engane com elogios à sua mercadoria como aqueles envolvidos com a nutrição do corpo o mercador e o traficante Eles próprios dos produtos que transportam desconhecem o que é útil ou nocivo ao corpo elogiando tudo quanto está à venda como também o desconhecem os seus consumidores exceto se houver entre eles um treinador ou um médico Da mesma forma os mercadores e traficantes de ensinamentos que rondam as cidades elogiam tudo quanto vendem a qualquer um que almeje comprálo mas talvez haja excelente homem dentre eles aqueles que ignorem quais de suas mercadorias são úteis ou nocivas à alma como também o ignoram os seus consumidores exceto se houver entre eles um médico da alma 3130702 και όπως γε μή ώ εταίρε ό σοφιστής έπαινών α πωλεΐ έξαπατήση ημάς ώσπερ οί περί τήν τού σώματος τροφήν ό έμπορός τε και κάπηλος και γάρ ούτοί που ών άγουσιν άγωγίμων ούτε αύτοι ϊσασιν ότι χρηστόν ή πονηρόν περί τό σώμα έπαινοϋσιν δε πάντα πωλοΰντες οΰτε οί ώνούμενοι παρ αυτών εάν μή τις τύχη γυμναστικός ή ιατρός ών οϋτω δέ και οί τα μαθήματα περιάγοντες κατά τάς πόλεις καί πωλοΰντες και καπηλεύοντες τώ άει έπιθυμοϋντι έπαινοϋσιν μέν πάντα ά πωλοΰσιν τάχα δ άν τινες ώ άριστε καί τούτων άγνοοϊεν ών πωλοΰσιν ότι χρηστόν ή πονηρόν προς τήν ψυχήν ώς δ αϋτως καί οί ώνούμενοι παρ αυτών εάν μή τις τύχη περί τήν ψυχήν αύ ιατρικός ών GÓRGIAS 437 decerto não saberei o que dizer no tribunal Mas o argumento que me ocorre é o mesmo que expus a Polo295 pois serei julgado como se fosse um médico a ser julgado em meio a crianças sob a acusação de um cozinheiro296 Examina então que defesa po deria fazer um homem como esse surpreendido por tal circuns tância se alguém o acusasse dizendo que Crianças esse homem aqui presente cometeu inúmeros males contra vós próprios e corrompe297 vossos entes mais jovens lacerandoos e cauterizan doos e vos deixa embaraçados emagrecendovos e sufocando 522 vos ele vos oferta as mais acerbas poções e vos constrange à fome e à sede diferente de mim que vos empanturrava de toda sorte de coisa aprazível O que achas que o médico surpreendido por esse mal poderia falar Se ele dissesse a verdade que Eu fazia tudo isso crianças saudavelmente que tamanho alarido segundo a tua opinião fariam juízes como esses Não seria enorme c a l Talvez devemos supor que sim soc Não julgas então que ele ficaria totalmente embara çado sobre o que deve dizer b c a l Absolutamente 297 A referência ao verbo corromper διαφθείρει 52ie8 nos remete di retamente aos termos da acusação impetrada contra Sócrates por Meleto Anito e Lícon conforme os testemunhos de Xenofonte e Platão i Xenofonte Memoráveis 111 Espanteime muitas vezes por quais argumentos os acusadores de Sócrates conseguiram persuadir os atenienses de que ele merecia a pena de morte por crime contra a cidade A acusação contra ele era mais ou menos esta Sócrates comete in justiça por não reconhecer os deuses que a cidade reconhece e por introduzir outras novas divindades Ele também comete injustiça por corromper a juventude Πολλάκις έθαύμασα τίσι ποτέ Χόγοις Αθηναίους έπεισαν οί γραψάμενοι Σωκράτην ώς άξιος εϊη θανάτου τή πόλει ή μεν γάρ γραφή κατ αύτοϋ τοιάδε τις ήν αδικεί Σωκράτης οΰς μέν ή πόλις νομίζει θεούς ού νομίζων ετερα δέ καινά δαιμόνια είσφέρων άδικεϊ δέ και τούς νέους διαφθείρων ii Platão Apologia 24b6ci Como se trata de outros acusadores tomemos novamente o juramento deles Eilo em linhas gerais afirmam que Sócrates comete injustiça por corromper a juventude e por não reconhecer os deuses que a cidade reconhece mas outras novas divindades αύθις γάρ δή ώσπερ ετέρων τούτων όντων κατηγόρων λάβωμεν αύ τήν τούτων άντωμοσίαν έχει δέ πως ώδε Σωκράτη φησιν άδικεϊν τούς τε νέους διαφθείροντα και θεούς οΰς ή πόλις νομίζει ού νομίζοντα ετερα δέ δαιμόνια καινά 438 GÓRGIAS DE PLATÃO Σί2 Τοιούτοι μίντοι καί ίγω οιδα δτι πάθος πάθοιμι αν ίΐσΐλθων ils δικαστηρίου ούτε γάρ ήδονάς άς ϊκπίπόρικα ίζω αυτόΐς λίγΐΐν às ούτοι iíiepy ίσιας και ωφίλίας νομί ζουσιν èyù δε ούτε τους πορίζοντας ζηλώ ουτί oîy πορίζίταί εάυ τ ί τίς ρε η υεωτερου φη διαφθίίραν άπορίϊν ποιοΰντα η τούΐ πρΐσβυτίρους κακηγορπν λίγοντα πικρούς λόγους η Ιδία η δημοσία ουτί το αληϋίς ίζω ίιπίΐν οτι Δικαίως παντα ταυτα έγω λέγω και πράττω το υμίΤίρον οη τούτο ώ άνδρίς δικασταί ούτε άλλο ουδευ ώστε ίσως δτι αν τυχω τούτο πίίσομαι ΚΑΛ Αοκίΐ ουν σοι ω Σωκρατες καλώς εχειυ άνθρω πος èv πόλει ούτως διακείμενος και αδύνατος ων ίαυτω βοηθάν ΣΩ El εκείνο ye h αυτω ύπαρχοι ω Καλλίκλεις δ συ πολλάκις ωμολόγησας εί βΐβοηθηκως εϊη αυτω μήτε περί ανθρώπους μήτε περί θεούς άδικον μηδέν μήτε είρηκως μήτε εΐργασμενος αυτή γάρ της βοήθειας έαυτω πολλάκις ημΐν ωμολόγηται κρατίστη Είναι il μεν ουν εμε τις εζελεγχοι ταύτην την βοήθειαν αδύνατον όντα εμαντω και άλλω βοηθάν αίσχυνοίμην άν και ευ πολλοΐς και ευ όλίγοις εξελεγχόμενος και μόνος υπό μόνου και εΐ διά ταύτην την αδυναμίαν άιτοθνη σκοιμι άγανακτοίην αν d δε κολακικής ρητορικής ενδεία τελευτωην εγωγε ευ οιδα οτι ραδίως ίδοις άν pi φίροντα 298 298 Cf supra nota 297 299 Na Apologia depois de terem definido a pena de morte para seu caso Só crates se recusa a chamar de juízes δικαστάς 4033 aqueles que votaram pela sua condenação uma vez que eles o condenaram injustamente pois na perspectiva de Sócrates seria uma contradição em termos o fato de um juiz dikastês δικαστής agir de forma injusta Vejamos as duas passagens i A vós que sois meus amigos ie os que me absolveram desejo mostrar o que penso sobre o que há pouco me ocorreu A mim ó juízes pois seria uma deno minação correta se eu vos chamasse de juízes sucedeu algo admirável 39654083 ύμιν γάρ ώς φίλοις ούσιν έπιδεΐξαι έθέλω τό νυνί μοι συμβεβηκός τί ποτέ νοεί έμοι γάρ ώ άνδρες δικασταίύμάς γάρ δικαστάς καλών όρθώς αν καλοίην θαυμάσιόν τι γέγονεν ii Se alguém chegasse ao Hades depois de ter se livrado desses homens que professam ser juízes e se deparasse com os verdadeiros juízes os quais segundo dizem também lá proferem julgamentos Minos Radamanto Éaco Triptólemo e GÓRGIAS 439 soc Sim estou seguro de que também eu experimentaria uma paixão semelhante se fosse conduzido ao tribunal Pois não poderei enumerarlhes os prazeres de que os provi pra zeres que eles consideram benfeitoria e benefício e tampouco hei de invejar quem lhes provê e quem por eles é provido Se alguém afirmar que eu corrompo298 os mais jovens por deixá los em embaraço ou que deprecio os mais velhos por profe rirlhes discursos acerbos quer em privado quer em público não poderei dizer nem a verdade ou seja que Tudo o que eu digo é de forma justa ó juízes299 e ajo em vosso interesse nem qualquer outra coisa Consequentemente eu sofrerei o que a ocasião requerer c a l Então parecete correto Sócrates um homem sujeito a essa condição na cidade e incapaz de socorrer a si mesmo soc Contanto que ele disponha daquela única coisa Cá licles com a qual inúmeras vezes concordaste300 que ele tenha socorrido a si mesmo sem ter incorrido em ações ou discur sos injustos referentes a homens ou deuses Pois havíamos concordado repetidamente que essa forma de socorrer a si mesmo é superior a todas as outras Assim se alguém me re futasse provando que sou incapaz de prover esse socorro a mim mesmo ou a outra pessoa seja diante de muitas ou pou cas pessoas seja sozinho por uma só301 seria eu tomado pela vergonha e se em razão dessa incapacidade eu encontrasse a morte haveria de me enfurecer Todavia se eu perdesse a vida por carência de uma retórica lisonjeadora estou seguro de os demais semideuses que em vida vieram a ser justos porventura seria coisa de pouca monta essa viagem 40674135 εί γάρ τις άφικόμενος εις Αιδου απαλλαγείς τουτωνί τών φασκόντων δικαστών είναι εύρήσει τούς ώς αληθώς δικαστής οϊπερ και λέγονται έκεϊ δικάζειν Μίνως τε καί Ραδάμανθυς καί Αιακός καί Τριπτόλεμος καί άλλοι όσοι τών ημιθέων δίκαιοι έγένοντο έν τώ έαυτών βίω άρα φαύλη άν εϊη ή αποδημία 300 Cf 509bc 510a 301 Ou seja a refutação elenkhos έλεγχος praticada no tribunal e a re futação mediante o diálogo Sobre a distinção entre as duas formas de elenchos e a prioridade da segunda em relação à primeira cf supra nota 80 440 ϋΕ ΡίΑΤΑΟ τον θάνατον αντο μεν γάρ το άποθνρσκειν ουδεις φοβείται οστις μη παντάπασιν αλόγιστοί τε και άνανδρος εστιν το δε άδικεΐν φοβείται πολλών γάρ αδικημάτων γέμοντα την φνχην είς Αιδού άφικέσθαι πάντων έσχατον κακών εστιν ει δε βονλει σοι εγώ ως τούτο όντως έχει εθελω λόγον λεξαι ΚΑΛ Ά λλ επείπερ γε καΧ τάλλα επέρανας και τούτο περανον ΣΩ Άκουε δη φασί μάλα καλού λόγον ον συ μεν ηγηση μύθον ώί εγώ οΐμαι εγώ δε λόγον ώς αληθη γάρ όντα σοι λεξω ά μέλλω λεγειν ώσπερ γάρ Όμηρος λέγει GÓRGIAS 441 que me verias suportar facilmente a morte302 Pois ninguém que não seja absolutamente irracional e covarde teme a morte em si teme porém ser injusto pois o cúmulo de todos os males é a alma chegar ao Hades plena de inúmeros atos injus tos Se quiseres eu desejo pronunciar um discurso sobre como isso acontece c a l Como já terminaste os demais termina esse também soc Então escuta como dizem um belíssimo discurso o qual tu suponho terás por um mito embora eu o tenha por um discurso pois as coisas que estou prestes a te contar eu as 302 Na peroração da Apologia Sócrates censura o comportamento daqueles oradores que apelam às paixões dos juízes para conseguirem absolvição a qualquer preço fazendo menção a um tipo de prática característica da retórica lisonjeadora nos tribunais Não digo isso a todos vós mas àqueles que votaram pela pena de morte A eles digo ainda o seguinte Talvez julgueis atenienses que eu tenha sido conde nado por carência daquele tipo de discurso com o qual eu teria vos persuadido se eu achasse devido fazer de tudo quer em palavras ou em ações para ser absolvido Longe disso Fui decerto condenado por carência mas não de discursos e sim de audácia de impudência e de não querer vos dizer aquele gênero de coisas que vos comprazeria ao máximo lamúrias e gemidos fazendo e dizendo tudo aquilo que afirmo ser indigno de mim coisas que estais habituados a ouvir dos outros 38c7e2 λέγω δέ τούτο ού προς πάντας ύμάς άλλα προς τούς εμού καταψηφισαμένους θάνατον λέγω δέ καί τόδε προς τούς αυτούς τούτους ίσως με οϊεσθε ώ άνδρες Αθηναίοι απορία λόγων έαλωκέναι τοιούτων οίς άν ύμας έπεισα εί ώμην δείν άπαντα ποιείν καί λέγειν ώστε άποφυγεϊν την δίκην πολλού γε δει άλλ απορία μέν έάλωκα ού μέντοι λόγων άλλα τόλμης καί άναισχυντίας και τού μή έθέλειν λέγειν προς ύμας τοιαΰτα οΓ αν ύμϊν μέν ήδιστα ήν άκούειν θρηνοϋντός τέ μου καί όδυρομένου και άλλα ποιοΰντος και λέγοντος πολλά καί άνάξια έμού ώς έγώ φημι οία δή και εϊθισθε ύμεϊς τών άλλων άκούειν e 523 442 GÓRGIAS DE PLATÃO δκνΐίμαντο την αρχήν 6 Zeus και δ Ποσειδώυ και ό ΥΙΧούτων πώη παρά τον πατρδ παρίλαβον ην ονν νομοί õôe πρι ανθρώπων eπι Κρονου και aei και νυν erι ίστιν eu öeots των ανθρώπων τον μν δικαίως τον βίον δκλθόντα και 303 Sócrates considera a descrição do julgamento post mortem que irá em preender não como mito muthos μύθος mas como discurso ogos λόγος tendo como critério a verdade contida na narração ou seja se ela é verdadeira então é logos pois o muthos seria por natureza falso Porém em que sentido essa narração seria verdadeira Dodds op cit p 376377 sugere que a resposta mais direta para a questão Platão teria dado no Fédon quando Sócrates justifica a seus amigos o sentido do mito escatológico narrado por ele Afirmar com segurança que essas coisas são assim como eu acabei de con tar não convém a um homem de senso Todavia que é assim ou algo semelhante o que concerne às nossas almas e à sua morada uma vez que a alma é manifestamente imortal pareceme conveniente considerálo e digno o risco para quem supõe que seja assim pois é belo o risco ii4di6 Tò μέν ούν ταϋτα διισχυρίσασθαι ούτως έχειν ώς έγώ διελήλυθα ού πρέπει νοΰν έχοντι άνδρί δτι μέντοι ή ταϋτ έστίν ή τοιαϋτ αττα περι τάς ψυχάς ημών και τάς οικήσεις έπείπερ άθάνατόν γε ή ψυχή φαίνεται οΰσα τούτο και πρέπειν μοι δοκεϊ και άξιον κινδυνεΰσαι οίομένψ ούτως έχεινκαλός γάρ ό κίνδυνος Seguindo a leitura de Friedländer Dodds considera o mito platônico como ex trapolação ou prolongamento de seu projeto filosófico no âmbito do irracional por isso a posição do mito no final do diálogo Nesse sentido essa narração do mundo post mortem se configuraria como logos porque ela seria uma expressão por imagens de uma verdade de religião tendo em vista o que Platão diz na Carta Sétima Devese sempre acreditar verdadeiramente nos discursos antigos e sacros que nos contam que a alma é imortal que ela é subjugada a juízes e está sujeita a pa gar as maiores penas quando se liberta do corpo Por isso devese considerar um mal menor sofrer do que cometer grandes erros e grandes injustiças 335a27 πείθεσθαι δε όντως άει χρή τοΐς παλαιοϊς τε και ίεροις λόγοις οϊ δή μηνύουσιν ήμιν αθάνατον ψυχήν είναι δικαστάς τε ϊσχειν και τίνειν τάς μεγίστας τιμωρίας όταν τις άπαλλαχθή τού σώματος διό και τα μεγάλα αμαρτήματα καί άδικήματα σμικρότερον είναι χρή νομίζειν κακόν πάσχειν ή δράσαι No entanto se recorrermos à República encontraremos uma posição diferente de Platão com relação à classificação do mito do Górgias como logos Vejamos a passagem em que Sócrates discute sobre o modelo de educação a ser adotado para os guardiães da cidade Qual será então a educação Ou seria difícil descobrir uma melhor do que aquela descoberta já há muito tempo Ela consiste na ginástica para o corpo e na música para a alma É isso Porventura não começaremos a educálos antes pela música do que pela ginástica E como não GÓRGIAS 443 contarei como verdadeiras303 Como diz Homero Zeus Posei don e Pluto dividiam o domínio depois que o herdaram do pai304 Havia então a seguinte lei concernente aos homens no tempo de Crono lei que sempre houve e que ainda hoje preva lece entre os deuses o homem cujo curso da vida foi justo e pio Na música disse eu tu incluis os discursos ou não Incluo E não há duas espécies de discursos os verdadeiros de um lado e os falsos de outro Sim E não devemos educálos em ambos mas primeiro nos falsos Não compreendo o que dizes disse ele Não compreendes tornei eu que contamos primeiro os mitos às crian ças Como um todo por assim dizer eles são falsos embora neles haja verdades Ministramos às crianças os mitos antes dos exercícios gímnicos É isso Pois bem era isso o que eu dizia que se deve ter contato antes com a mú sica do que com a ginástica Correto disse ele 37662377311 Τις ούν ή παιδεία ή χαλεπόν εύρεΐν βελτίω τής ύπό τοϋ πολλοΰ χρόνου ηύρημένης έστιν δέ που ή μέν έπι σώμασι γυμναστική ή δ έπι ψυχή μουσική Έ στιν γάρ Ά ρ ούν ού μουσική πρότερον άρξόμεθα παιδεύοντες ή γυμναστική Πώς δ οΰ Μουσικής δ είπον τιθεΐς λόγους ή ου Εγωγε Λόγων δέ διττόν είδος τό μέν αληθές ψεύδος δ έτερον Ναί Παιδευτέον δ έν άμφοτέροις πρότερον δ έν τοίς ψευδέσιν Ού μανθάνω έφη πώς λέγεις Οϋ μανθάνεις ήν δ έγώ ότι πρώτον τοΐς παιδίοις μύθους λέγομεν τούτο δέ που ώς τό δλον είπεϊν ψεύδος ένι δέ και άληθή πρότερον δέ μύθοις προς τά παιδία ή γυμνασίοις χρώμεθα Έ στι ταύτα Τούτο δή ελεγον δτι μουσικής πρότερον άπτέον ή γυμναστικής Όρθώς έφη Equanto logos ο mito do Górgias seria classificado então como discurso falso dentre os quais se encontram os muthoi Mas enquanto muthos embora ele seja por natureza falso ele ainda pode transmitir certas verdades que podem ser entendidas aqui no sentido de verdade moral em outras palavras 0 que é contado pelos mitos é falso mas em vista do que eles são contados é verdadeiro J Adam contudo em seu célebre comentário à República p 110 considera inversamente que a verdade contida no mito referida aqui por Platão diz respeito à verdade his tórica e não à verdade moral 304 Ver Homero Ilíada 15185192 444 GÓRGIAS DE PLATÃO ό σ ίω ς έ π ε ώ ά ν τ ε λ ιν τ ή σ η e îs μ α κ ά ρ ω ν ν ή σ ο ν s ά π ιό ν τα ο ίκ εΪν t v π ά σ η ε υ δ α ιμ ο ν ία ècròí κα κ ώ ν τ ο ν be α ό ίκ ω ς κα ι ά θ έω ς e ls τ ο Trjs T ia eû is Te κ α ι ό ίκ η s δ ε σ μ ω τ ή ρ ιο ν ο δή Τ ά ρ τ α ρ ο ν κ α λ ο ύ σ ιν le v a i τ ο ύ τ ω ν be ό ικ α σ τ α ι ε π ί Κ ρ ό ν ο υ κ α ι e n ν ε ω σ τ ί τ ο ύ A io s τ ή ν α ρ χ ή ν έ χ ο ν τ ο 5 Cuivres ή σ α ν ζω ν τ ω ν ε κ ε ίν η τ ή η μ έ ρ α δ ικ ά ζο ν τε 5 ή μ έ λ λ ο υ ν τ ε λ ε υ τ ά ν κακώί ονν a l ό ίκ α ι ε κ ρ ίν ο ν τ ο ό re ο ν ν Πλοιτωρ και ο ι έ π ιμ ε λ ι τ α ϊ οί έκ μ α κ ά ρ ω ν ν ή σ ω ν lo v r e s e k e y o v rrpòs τ ο ν Δ ία ό τ ι φ ο ιτ ω έ ν σ φ ιν ά ν θ ρ ω π ο ι ε κ α τέ ρ ω σ ε α ν ά ξ ιο ι εύπ εν ο ν ν à Z e v s Ά λλ ε γ ω ε φ η π α υ σ ω το ύ τ ο γ ιγ ν ο μ ε ν ο ν ν ν ν pev y a p κακωΐ a i ό ίκ α ι δ ικ ά ζο ν τ α ι ά μ π ε χ ό μ ε ν ο ι γ ά ρ ε φ η ot K pivôpevoi κ ρ ίν ο ν τ α ι la v res γ ά ρ κ ρ ίν ο ν τ α ι π ο λ λ ο ί ο ν ν ή δ ò s ψ υ χ ά π o v η p ά s e o v r e s ή μ φ ιε σ μ έ ν ο ι ε ΐσ ί σ ώ μ α τ ά r e κ α λά κ α ι γ έ ν η κα ttX o v t o v s κ α ί έ π ε ιδ ά ν ή κ ρ ίσ ις ή έ ρ χ ο ν τ α ι a vT oîs τ τ ο λ λ ο ι μ ά ρ τ v p e s μ α ρ τ υ ρ ή σ ο ν τ ε ς ώ ΐ δ ικ a íω s β ε β ιω κ α σ ι ν οΐ ο ν ν ό ικ α σ τ α ι υ π ό r e τ ο ύ τ ω ν ε κ π λ ή τ τ ο ν τ α ι κα ί ά μ α κ α ι α υ τ ο ί ά μ π ε χ ό μ ε ν ο ι ό ι κ ά ζο ν σ ι π ρ ο τη ψ υ χ ή s τ η s α υ τ ώ ν ò φ θ a λ μ o ύ s κα ί ω τ α κ α ί ο λ ο ν το σ ώ μ α π ρ ο κ ε κ α λ υ μ μ έ ν ο ι τ α ΰ τ α δη α ν το ι s π ά ν τ α ε π ίπ ρ ο σ θ ε ν γ ίγ ν ε τ α ι καί τ α α υ τ ώ ν α μ φ ιέ σ μ α τ α κα ί τ ά τ ω ν κ ρ ιν ο μ έ ν ω ν π ρ ώ τ ο ν μ έ ν ο ν ν έ φ η π α υ σ τ έ ο ν έ σ τ ιν π ρ ο ε ιδ ό τ α ς α υτού s τ ο ν θ ά ν α τ ο ν ν ν ν γ ά ρ π ρ ο ισ α σ ι τ ο ύ τ ο μ έ ν ούν κ α ι όή ε ΐρ η τ α ι τώ Π ρ ο μ η θ ε ΐ ό π ω ΐ ά ν π α ύ σ η α ν τ ω ν έ π ε ιτ α γ υ μ ν ο ύ s κ ρ ιτέ ο ν α π ά ν τ ω ν τ ο ύ τ ω ν τ ε θ ν ε ώ τ α s γ ά ρ b e î κ ρ ίν ε σ θ α ι κ α ι το ν κ ρ ιτ ή ν b eî γ υ μ ν ό ν ε ίν α ι τ ε θ ν ε ω τ α α υ τή τ η ψ υ χ ή α υ τ ή ν τ ή ν ψ υ χ ή ν θ εω ρ ο νντα έ ξ α ίφ ν η ς ά π ο θ α ν ό ν το 5 έ κ ά σ το υ έρ η μ ο ν π ά ν τ ω ν τ ω ν σ υ γ γ ε ν ώ ν κ α ι κ α τ α λ ιπ ό ν τ α ε π ί rtfs γ η s π ά ν τ α Κΐνον τ ο ν κ ο σ μ ο ν iv a úuccua η κ ρ κ η ς rj γω μ ν ο νν τ α ύ τ α έγ ν ω κ ω 5 π ρ ό τ ε ρ ο ς ή υμεΪ3 ε π ο ιη σ ά μ η ν δικαστάΐ v e îs έ μ α υ το ύ δ ύο μ ε ν έκ τ ή ς Α σ ία Μ ιρ ω τ ε καί Ύ α δ ά μ α ν θ ν ν 305 306 b d 305 Morada dos heróis ver Hesíodo Os Trabalhos e os Dias w 166173 e dos homens bons em geral ver Píndaro Olímpicas 26872 Platão República v i i 54obc 306 Em Homero apenas os Titãs habitavam o Tártaro Ilíada 8478ss mas no séc v aC havia a crença de que criminosos poderiam ser enviados para lá como indica por exemplo o temor de Orestes na tragédia de Euripides Orestes w 264265 GÓRGIAS 445 quandomorresse iria para a Ilha dos Venturosos305 e lá habita b ria em absoluta felicidade e apartado dos males enquanto o homem de uma vida injusta e ímpia iria para o cárcere do de sagravo e da justiça cujo nome é Tártaro306 Quer na época de Crono quer na mais recente quando Zeus passou a exercer o domínio os juízes ainda vivos julgavam esses homens em vida no dia de sua iminente morte e por esse motivo os processos eram mal julgados Pluto e os guardiões da Ilha dos Venturosos se dirigiram então a Zeus e lhe disseram que a ambos os luga res chegavam homens iméritos de sua sorte E Zeus lhes disse c Mas eu impedirei que isso aconteça Pois hoje os processos são mal julgados porque quem julga disse ele julga vestido por que o faz em vida Muitos disse cuja alma é viciosa estão vestidos em belos corpos progénies e riquezas e no instante do julgamento acompanhamnos inúmeras testemunhas para testemunhar a vida justa que cumpriram307 Os juízes assim d aturdemse com isso ao mesmo tempo em que julgam vestidos com a alma encoberta por olhos ouvidos e pelo corpo inteiro Todas essas coisas lhes são de obstáculos quer as suas próprias vestes quer as dos julgados Em primeiro lugar então disse ele é preciso impedir que eles tenham a presciência da morte visto que hoje a possuem Prometeu de fato já havia me dito e para acabar com isso308 Em seguida é preciso julgálos desnu dados de todas essas coisaspois o julgamento deve ser feito quando mortos Também o juiz deve estar nu já morto e pers crutar com sua própria alma a própria alma de cada um assim que morrer privado de sua família inteira e despojado de todo aquele ornato enjeitado na terra para que enfim o julgamento seja justo Então eu ciente disso antes de vós determinei como juízes meus filhos dois da Ásia Minos e Radamanto e um da Segundo Aristóteles nos Segundos Analíticos 94033 o Tártaro fazia parte do con junto de crenças pitagóricas E Dodds op cit p 377 307 O procedimento do tribunal post mortem antes da reforma feita por Zeus reflete os mesmos problemas dos tribunais de Atenas conforme a descrição presente no próprio Górgias 47ie 475e47ôa T Irwin op cit p 243 308 Ver Esquilo Prometeu Prisioneiro v 248 446 GÓRGIAS DE PLATÃO 5 2 4 b c d eva be εκ της Ευρώπης Αιακόν ούτοι ovv επειδάν τελευ τήσωσι δικάσουσιν εν τω λειμώνι εν rfj τριόδω εζ rjs φερετον τώ όδώ η μεν eis μακάρων νήσους η δ eis Τάρ ταρον και τους μεν εκ της Ασίας Ραδάμανθυς κρίνει τους be εκ της Ευρώπης Αιακός Μίνω be πρεσβεία δώσω επιδια κρίνειν εάν άπορήτόν τι τώ ετερω iva às δικαιότατη η κρίσις ή περί της πορείας τοΐς ανθρώποις ΤαΟτ εστιν ώ Καλλίκλεις á εγώ άκηκοώς πιστεύω αληθή είναι και εκ τούτων των λόγων τοιόνδε τι λογίζομαι συμβαίνειν ό θάνατος τυγχάνει ων ως εμοϊ δοκεΐ ουδεν άλλο η δυοΐν πραγμάτοιν διάλνσις της ψυχής και τοΰ σώματος απ άλληλοιν επειδάν δε διαλυθητον άρα απ αλληλοιν ου πολύ ήττον εκάτερον αυτοΐν εχει την εζιν την αυτού ηνπερ και δτε εζη ό άνθρωπος το τε σώμα την φύσιν την αυτού καί τά θεραπεύματα καί τά παθήματα ενδηλα παντα οι ον ει τίνος μεγα ην το σώμα φύσει η τροφή η άμφότερα ζώντος τούτον και επειδάν αποθάνη δ νεκρός μύγας και ει παχύς παχύς και άποθανόντος και τάλλα ούτως και ει αΰ επετηδενε κομάν κομήτης τούτου καί 6 νεκρός μαστιγίας αύ εί τις ήν και ίχνη είχε των πληγών ουλάς εν τω σώματι ή υπό μαστίγων ή άλλων τραυμάτων ζών και τεθνεωτος το σώμα εστιν ιδειν ταύτα εχον ή κατεαγότα ει του ήν μέλη ή διεστραμμένα ζώντος καί τεθνεωτος ταντά ταύτα ενδηλα ενϊ δ λόγω οΐος είναι παρεσκεύαστο το σώμα ζών ενδηλα ταύτα καί τελευτήσαντος ή πάντα ή τα πολλά επί τινα χρόνον ταυτον δη μοι δοκεΐ 309 309 Platão Fédon 64C 19 Falemos entre nós mesmos disse Sócrates e dispensemos aqueles ho mens Consideramos que a morte é alguma coisa Absolutamente disse Símias tendo compreendido a pergunta Por acaso seria algo diferente da separação entre a alma e o corpo E estar morto não seria isto de um lado o corpo tendo se separado da alma vir a ser ele próprio em si mesmo e de outro a alma tendo se separado do corpo ser ela pró pria em si mesma Por acaso seria a morte algo diferente disso Não é isso mesmo respondeu GÓRGIAS 447 Europa Éaco Eles quando estiverem mortos realizarão os jul 524 gamentos no prado na tripla encruzilhada onde se bifurcam duas estradas uma para a Ilha dos Venturosos e a outra para o Tártaro Radamanto julgará os que vierem da Ásia enquanto Éaco os da Europa a Minos por suavez concederei o privilé gio de julgar em última instância se um ou outro não souber como fazêlo a fim de que o julgamento sobre o percurso dos homens seja o quanto mais justo Isso é o que eu Cálicles depois de ter ouvido creio que seja verdade e desses discursos calculo que sejam estas as suas con b sequências A morte consiste como me parece simplesmente na separação de duas coisas da alma e do corpo uma da ou tra309 Quando então se separam cada uma delas conserva o seu estado muito próximo daquele que possuíam quando o ho mem ainda vivia O corpo mantém manifestos a sua própria natureza e todos os cuidados e afecções por exemplo se o corpo de alguém em vida fosse grande por natureza ou por nutrição c ou por ambas as coisas quando morresse seria um cadáver grande e se fosse gordo seria gordo também quando morresse e assim por diante se por sua vez cultivasse longos cabelos seu cadáver também os conservaria Se fosse um criminoso em vida e tivesse como marcas no corpo as cicatrizes das pancadas seja dos açoites ou das úlceras depois de morto seria possível vêlas impressas no corpo ou se tivesse em vida os membros fissurados ou retorcidos depois de morto coisas desse gênero também estariam manifestas Em suma quaisquer disposições d que o corpo tenha adquirido em vida todas ou a sua maior parte estarão manifestas também depois da morte por certo είπωμεν γάρ εφη προς ήμς αυτούς χαίρειν ειπόντες έκείνοις ήγούμεθά τι τόν θάνατον είναι Πάνυ γε έφη ύπολαβών ό Σιμμίας Ά ρ α μή άλλο τι ή τήν τής ψυχής άπό του σώματος απαλλαγήν και είναι τούτο τό τεθνάναι χωρίς μέν άπό τής ψυχής άπαλλαγέν αύτό καθ αυτό τό σώμα γεγονέναι χωρις δέ τήν ψυχήν άπό τού σώματος άπαλλαγεΐσαν αυτήν καθ αυτήν είναι άρα μή άλλο τι ή ό θάνατος ή τούτο Οΰκ άλλα τούτο εφη 448 GÓRGIAS DE PLATÃO e 525 b τοΰτ άρα καί περί τήν ψυχήν εΐιαι ώ Καλλίκλεις ενδηλα πάντα εστίν εν τη ψυχή επειδάν γυμνωθή τον σώματος τά τε της φυσεως και τα παθήματα διά την επιτήδενσιυ εκάστου πράγματος εσχεν εν τη ψυχή 6 άνθρωπος επειδάν ουν άφίκωνται παρά τον δικαστήν οί μεν εκ της Ασίας παρά τον Ραδάμανθυν δ Ραδάμανθυς εκείνους Ιπιστήσας θεάται εκάστου την ψυχήν ουκ είδώς οτον εστίν άλλα πολλάκις του μεγάλου βασιλεως επιλαβόμενος η άλλου δτονονν βασιλεως η δυνάστου κατεΐδεν ονδεν υγιές ον τής ψυχής αλλά διαμεμαστιγωμενην και ουλών μεστήν υπο επιορκιών και αδικίας ά εκάστη ή πράζις αυτόν εξωμόρξατο εις την ψυχήν και πάντα σκολιά υπο ψευδονς και άλα ζονείας και ουδέ ν ευθυ διά το άνεν αλήθειας τεθράφθαι καί υπο εξουσίας καί τρυφής καί ύβρεως καί άκρατίας τών πραςϊων ασνμμζτριας Τ και ακτχροτητος γμονσαν την ψυχήν εΐδεν Ιδών δ άτίμως ταύτην άπεπεμψεν ευθυ τής φρουράς οι μελλει ελθοϋσα άνατλήναι τά προσήκοντα πάθη 7τροσήκει δε παντί τώ εν τιμωρία δντι ύπ άλλου όρθώς τιμωρούμενα ή βελτίονι γίγνεσθαι καί όνίνασθαι ή παρα δείγματι τοΐς άλλοις γίγνεσθαι ινα άλλοι δρώντες πάσχοντα 3ΐο Platão recupera aqui uma ideia antiga e difundida na Grécia de que os mortos quando aparecem para os vivos trazem consigo as marcas e cicatrizes fí sicas adquiridas em vida E Dodds op cit p 379 como vemos por exemplo no Livro xi da Odisseia quando Odisseu visita o Hades Muitos deles feridos por lanças de bronze Homens vítimas de Ares de armas encrustradas de sangue w 4041 πολλοί δ ούτάμενοι χαλκήρεσιν έγχείρσιν ανδρες άρηΐφατοι βεβροτωμένα τεύχε εχοντες 3ΐι Cf supra nota 7 ΐ 312 Sobre a dinastia e a realeza cf supra nota 98 GÓRGIAS 449 tempo310 Portanto pareceme que o mesmo sucede à alma Cálicles quando desnudada do corpo todas essas coisas estão manifestas nela seja o que concerne à sua natureza seja as afec ções que o homem possui na alma mediante cada atividade Quando se apresentam então ao juiz os provenientes da Ásia a Radamanto Radamanto os detém e contempla a alma de e cada um sem saber de quem ela é não raro apoderouse do Grande Rei311 ou de qualquer outro rei ou dinasta312 e obser vou que nada em sua alma era saudável mas que ela foi açoitada e estava plena de cicatrizes pelos perjuros e pela injustiça cujas marcas foram impressas na alma por cada uma de suas ações 525 Ele observou que a mentira e a jactância deixaram tudo con torcido e que nenhuma retidão havia porque fora criada apar tada da verdade e viu que pelo poder ilimitado pela luxúria pela desmedida e pela incontinência de suas ações313 a alma estava plena de assimetria314 e vergonha Depois de ter visto tais coisas ele a enviou desonrada315 direto à prisão aonde se diri giu pronta para suportar os sofrimentos que lhe cabiam Cabe a todos os que estão sujeitos ao desagravo cujo desa b gravo por parte de outrem seja correto tornaremse melhores e obterem alguma vantagem ou tornaremse modelo aos de mais para que estes últimos quando virem seu sofrimento 313 Essa é a censura final de Sócrates na perspectiva mitológica ao ideal de virtude aretè apregoado por Cálicles anteriormente luxúria intemperança e liber dade uma vez asseguradas são virtude e felicidade τρυφή και ακολασία και ελευθερία έάν επικουρίαν εχη τοϋτ έστιν αρετή καί ευδαιμονία 492C46 Vale notar contudo que ao invés de liberdade Sócrates se refere aqui a poder ilimitado έξουσίας 525a4 e ao invés de intemperança à incontinência άκρατίας 52534 314 Como foi sublinado por Sócrates anteriormente assimetria άσυμμετρίας 52585 implica ausência de medida e de proporção 508a e portanto ausência de ordem 503d504d T Irwin op cit p 244 315 Sócrates responde aqui a um dos pontos da invectiva de Cálicles contra o filósofo e a filosofia 486c Sobre a desonra atímia ατιμία cf supra nota 132 4 5 0 GÓRGIAS DE PLATÃO α αν πάσχρ φοβούμενοι βελτίους γίγνωνται είσίν δε οι μεν ωφελούμενοι τε και δίκην διδόντες υπό θεών τε και ανθρώπων ουτοι οί άν Ιάσιμα αμαρτήματα άμάρτωσιν όμως oe δι άλγηδόνων και οδυνών γίγνεται αυτοΐς η ώφελία και ενθάδε καί εν Αιδου ον yap υιόν τε άλλως αδικίας άπαλ λάττεσθαι οί δ άν τα έσχατα άδικήσωσι καί διά τα τοιαΰτα αδικήματα ανίατοι γένωνται εκ τούτων τα παρα δείγματα γίγνεται καί ούτοι αυτοί μεν ουκέτι δνίνανται ουδεν άτε ανίατοι όντες άλλοι δε δνίνανται οι τούτους υρώντες διά τάς αμαρτίας τα μέγιστα καί δδννηρότατα καί φοβερώτατα πάθη πάσχοντας τον αεί χρόνον άτεχνώς παρα δείγματα άνηρτημενονς εκεΐ εν Αώου εν τω δεσμώτηρίω τοΐς αεί των αδίκων άφικνουμένοις θεάματα καί νονθετήματα ών εγώ φημι ένα καί Αρχέλαον έσεσθαι εί αληθή λέγει Πώλο καί άλλον δστις άν τοιοντος τύραννος ρ όίμαι δε καί τούς πολλούς είναι τούτων των παραδειγμάτων εκ τυράννων καί βασιλέων καί δυναστών καί τα τών πόλεων πραςαντων γεγονοτας ουτοι γαρ δια την εξουσίαν μέγιστα και ανοσιωτατα αμαρτήματα αμαρτανουσι μαρτυρεί οε τουτοις καί Ομηρος βασιλέας γάρ καί δυνάστας εκείνος πεποίηκεν τούς εν Αιδού τον αεί χρόνον τιμωρουμένους Τάνταλον καί Σίσυφον καί Τ ιτυόν Θερσίτην δέ καί εΐ τις άλλος πονηρός 3ΐ6 Α mesma função atribuída à punição aqui por Sócrates encontramos sa lientada pela personagem Protágoras no mito sobre a gênese e a função da justiça presente no diálogo homônimo Vejamos a passagem Se quiseres refletir sobre a punição Sócrates sobre o que ela é capaz de fazer com quem cometeu injustiça ela mesma te ensinará que os homens conside ram que a virtude pode ser adquirida Pois ninguém cujo desagravo não seja irra cional como se fosse um animal pune quem cometeu injustiça com a mente fixa nisto e em vista disto ou seja porque alguém cometeu injustiça quem busca punir de forma racional pune não em vista do ato injusto já consumado pois o que foi feito já aconteceu mas em vista do futuro a fim de que ninguém torne a cometer injustiça seja a pessoa punida seja quem a viu ser punida 324335 εί γάρ έθέλεις έννοήσαι τό κολάζειν ώ Σώκρατες τούς άδικοϋντας τί ποτέ δύναται αυτό σε διδάξει δτι οϊ γε άνθρωποι ηγούνται παρασκευαστόν είναι αρετήν ούδεις γάρ κολάζει τούς άδικοϋντας προς τούτω τον νοϋν εχων καί τούτου GÓRGIAS 451 fiquem amedrontados e se tornem melhores316 Mas os que são beneficiados e que recebem a justa pena infligida por deuses e homens são aqueles que cometeram erros curáveis contudo é por meio de sofrimentos e dores que eles são beneficiados aqui como no Hades pois não há outro modo de se livrarem da in justiça Por outro lado os que cometeram as injustiças mais extremas e tornaramse incuráveis devido a esses atos injustos tornamse modelo embora eles próprios jamais possam obter alguma vantagem porque são incuráveis317 Não obstante são os outros que obtêm alguma vantagem disso aqueles que os veem experimentar ininterruptamente os maiores os mais do lorosos e os mais temíveis sofrimentos por causa de seus erros dependurados no cárcere de Hades como simples modelo es petáculo e advertência para os injustos que ali chegam a todo instante Eu afirmo que Arquelau318 inclusive será um deles se for verdadeiro o relato de Polo319 e qualquer outro tirano que se lhe assemelhe Creio também que a maior parte desses modelos provém de tiranos reis dinastas320 e dos envolvidos com as ações da cidade pois eles incorrem nos maiores e mais ímpios erros por causa de seu poder ilimitado Homero é tes temunha disso pois ele fez reis e dinastas sujeitos ininterrup tamente ao desagravo no Hades como Tântalo Sísifo e Tício321 ένεκα δτι ήδίκησεν οστις μή ώσπερ θηρίον άλογίστως τιμωρείται ό δέ μετά λόγου επιχειρών κολάζειν ού του παρεληλυθότος ενεκα αδικήματος τιμωρεΐταιού γάρ αν τό γε πραχθέν άγένητον θείηάλλά τού μέλλοντος χάριν ϊνα μή αύθις άδικήση μήτε αυτός ούτος μήτε άλλος ό τούτον ίδών κολασθέντα 317 As almas incuráveis ανίατοι 525C2 para as quais as punições são ineficazes também aparecem no Mito de Er da República άνιάτως X 6i 5e3 e no mito do Fédon άνιάτως H3e2 Sobre Cálicles como exemplo de uma alma in curável ver Ensaio Introdutório 4IV 318 Sobre Arquelau da Macedônia cf supra nota 70 319 Cf 47iac 320 Sobre a diferença entre tirania dinastia e realeza cf supra nota 98 321 Sobre os sofrimentos de Tântalo no Hades ver Homero Odisseia 1158393 sobre os sofrimentos de Sísifo no Hades ver Homero Odisseia 11593600 sobre os sofrimentos de Tício no Hades ver Homero Odisseia 11576581 452 GÓRGIAS DE PLATÃO ην ιδιώτης ονδάς πποίηκν μίγάλαις τιμωρίαις σννίχό μΐνον ώϊ ανίατον ον γάρ οιμαι ζην αύτώ διδ καί υδαιμο νύστίρος ην η οίς ζην άλλα γάρ ώ Καλλίκλεΐϊ εκ των 526 δυναμώνων ίσΐ και οι σφοδρά πονηροί γιγνόμίνοι άνθρωποι ουδν μην κωλύίΐ και V τούτοις αγαθούς άνδρας γγίγνίσθαι και σφοδρά γ άζιον άγασθαι των γιγνομύνων χαλπδν γάρ ω Καλλίκλε και πολλοΰ παίνου αζιον Ιν μίγάλη ζονσία του άδικίΐν γνόμνον δικαίως διαβιώναι ολίγοι δέ γίγνονται οι τοιοΰτοι έπεί και νθάδ και άλλοθι γίγόνασιν οιμαι δέ και σονται καλοί κάγαθοι ταντην την άρίτην την τον δικαίως Β διαχίΐρίζαν δ αν τις πιτρύπη ΐς δε και πάνν λλόγιμος γύγονίν και ίς τονς άλλους Ελληνας Αριστίδης ό Ανσι μάχον οι δ πολλοί ω άριστ κακοί γίγνονται των δυνα στών δπρ ούν λγον πΐδάν ό Ραδάμανθυς Κίΐνος τοιοΰτόν τινα λάβη άλλο μν πρι αυτού ου κ οίδν ονδύν ουθ οστις ουθ ωντινων οτι δ πονηρος τις και τούτο κατιδών άπίπμφν Ις Ύάρταρον πισημηνάμίνος άντ ιάσιμος άντ ανίατος δοκη ΐναι δ δε εκεΐσε φικόμνος 32 323 322 Tersites aparece na Ilíada como uma personagem moral e fisicamente débil uma espécie de antiherói Tinha o costume de insultar indecorosamente os reis para fazer rir os guerreiros Esta é a sua descrição em Homero Era o homem mais feio da expedição de Troia Tinha as pernas tortas e era manco de um pé os ombros Curvos comprimiamse sobre o peito e em cima deles O crânio em ponta pendia onde pouco cabelo se assentava Era sobretudo odioso a Aquiles e a Odisseu 2216220 αϊσχιστος δέ άνήρ ύπό Ιλιον ήλθε φολκός εην χωλός δ ετερον πόδα τώ δέ οί ώμω κυρτώ έπι στήθος συνοχωκότε αύτάρ ϋπερθε φοξός εην κεφαλήν ψεδνή δ έπενήνοθε λάχνη εχθιστος δ Άχιλήϊ μάλιστ ήν ήδ Όδυσήϊ Tersites também é referido no Mito de Er da República X 620c escolhendo a vida de um macaco para renascer 323 Aristides pode ter sido o general na vitória dos atenienses sobre os persas na batalha de Maratona em 490489 aC como afirma Plutarco Aristides 11 mas foi seguramente o arconte epônimo em 489488 aC ig 1 103123 catálogo dos ar contes e o Mármore Pário fgth 239 A 49 Foi condenado ao ostracismo em 482 aC Escólios Aristófanes Os Cavaleiros 855 Aristóteles Constituição de Atenas 227 mas foi chamado de volta para comandar a vitória das forças atenienses sobre os persas na batalha de Salamina em 480 aC Heródoto 895 Aristides foi de certo i GÓRGIAS 453 Tersites322 no entanto ou qualquer outro homem comum que seja vicioso ninguém o fez submetido a grandes desagravos como se fosse incurável pois julgo eu ele não possuía esse po der ilimitado eis por que era mais feliz do que quem o possuía Certamente é dentre os poderosos Cálicles que surgem os homens fortemente viciosos Todavia nada impede que entre 526 eles também surjam homens bons e quando isso acontece merecem enorme admiração pois é difícil Cálicles e digno de inúmeros elogios que alguém disponha de poder ilimitado para cometer injustiças e leve uma vida inteira justa Homens desse tipo são poucos mas aqui e ali eles têm surgido e serão julgo eu homens belos e bons no tocante à virtude de gerir de forma justa o que alguém lhes confia Houve apenas um que fora b muito estimado até mesmo pelos outros helenos Aristides filho de Lisímaco323 mas a maioria dos dinastas excelente ho mem tornase má Pois bem como eu dizia324 quando aquele Radamanto se apodera de um homem desse tipo não sabe nada a respeito dele nem quem ele é nem a sua progénie mas ape nas que ele é vicioso Quando observa isso ele o envia para o Tártaro com um signo325 indicando se ele parece ser curável ou modo o mentor de Címon n Plutarco Címon 54 e trabalhou junto a Temístocles na reconstrução das forças atenienses Serviu como embaixador em Esparta em 478477 aC Tucídides 1913 Aristóteles Constituição de Atenas 233 Morreu por volta de 467 aC D Nails op cit p 4749 324 Cf 524ε 325 Platão República x 6i4b8di Disse que quando sua alma partira ela viajou junto com muitas outras e chegaram num lugar extraordinário onde na terra havia dois abismos contíguos e no céu por sua vez na parte superior dois outros do lado oposto Havia juízes sentados entre um e outro que depois de julgarem ordenavam que os justos se guissem a via superior da direita através do céu atando os signos dos julgamentos na frente ao passo que os injustos a via inferior da esquerda portando também esses na parte de trás os signos de tudo o que haviam feito έφη δέ έπειδή ού έκβήναι την ψυχήν πορεύεσθαι μετά πολλών καί άφικνείσθαι σφάς εις τόπον τινά δαιμόνιον έν φ τής τε γής δύ είναι χάσματα έχομένω άλλήλοιν και τού ούρανοϋ αύ έν τψ άνω άλλα καταντικρύ δικαστάς δέ μεταξύ τούτων καθήσθαι οϋς επειδή διαδικάσειαν τούς μέν δικαίους κελεύειν πορεύεσθαι τήν εις δεξιάν τε και άνω διά τού ούρανοϋ σημεία περιάψαντας τών δεδικασμένων έν τφ πρόσθεν τούς δέ άδικους τήν εις άριστεράν τε καί κάτω έχοντας καί τούτους έν τψ όπισθεν σημεία πάντων ών έπραξαν 454 GÓRGIAS DE PLATÃO c τά προσήκοντα πάσχει ενίοτε δ άλλην είσιδων οσιως βεβιωκυϊαν καί per αλήθειας άνδρος ιδιώτου η άλλον τινός μάλιστα μεν εγωγε φημι ώ Καλλίκλεις φιλοσοφου τα αύτοΰ πράξαντος καί ού πολυπραγμονησαντος εν τω βίω ήγάσθη τε και ες μακάρων νήσους άπεπεμψε ταυτα δε ταυτα και ό Αιακός εκάτερος τούτων ράβδον εχων δι κάζει ό δε Μίνως επισκοπών κάθηται μόνος εχων χρυσοϋν d σκήπτρον ώί φησιν Όδυσσευς ό Όμηρου Ιδεΐν αυτόν λ yf r f I χρυσεον σκηπτρον εχοντα αεμιστενοντα νεκνσσιν εγω μεν ουν ώ Κ αλλίκλεις υπό τε τούτων των λόγων πεπεισμαι και σκοπώ όπως άποφανονμαι τω κριτή ως νγιε στάτην την ψυχήν χαίρειν ουν εάσας τας τιμάς τάς των πολλών ανθρώπων την αλήθειαν ασκών πειράσομαι τω οντι ως άν δύνωμαι βέλτιστος ων και ζην και επειδάν αποθνήσκω e άποθνησκειν παρακαλώ δε και τους άλλους πάντας ανθρώ πους καθ οσον δύναμαι και δη και σε άντιπαρακαλώ επι τούτον τον βιον και τον αγώνα τούτον ον εγω φημι αντί πάντων τών ενθάδε αγώνων είναι και ονειδίζω σοι ότι ονχ oios τ εση σαυτω βοηθησαι όταν η δίκη σοι η και η κρισις ην νυνδη εγω ελεγον άλλα ελθων παρά τον δικαστήν 326 326 A não intromissão do filósofo em outros afazeres ού πολυπραγμονή σαντος 52604 que não lhe sejam próprios se contrapõe à vida do político na demo cracia ateniense que requer inversamente o envolvimento em inúmeros assuntos e atividades Na República a não intromissão apmgtnosuné άπραγμοσύνη está associada à ideia de fazer o que lhe é próprio e por conseguinte à justiça T Irwin op cit p 247 como vemos neste trecho Mas escuta se faz sentido o que digo disse eu O que desde o princípio es tabelecemos quando começamos a fundar a cidade ser preciso observar em tudo é como me parece a justiça ou alguma forma dela Estabelecemos deveras e afir mamos inúmeras vezes se te recordas que cada um deve se ocupar com uma única coisa concernente à cidade aquela para a qual sua natureza está naturalmente mais adaptada A fir m a m o s d e fato Com efeito que a justiça é fazer o que lhe é próprio e não se intrometer em outras coisas já o ouvimos de muitas outras pessoas e nós mesmos já o dissemos inúmeras vezes Já o dissemos de fato iv 433aib2 Ά λλ ήν δ έγώ ακούε εϊ τι αρα λέγω ô γάρ έξ αρχής έθέμεθα δεΐν ποιεΐν διά παντός δτε τήν πόλιν κατωκίζομεν τούτο έστιν ώς έμοι δοκεΐ ήτοι τούτου τι I GÓRGIAS 4 5 5 incurável e este por sua vez chegando ali sofre o que lhe cabe Às vezes quando ele vê uma alma que vivera piamente e conforme a verdade a alma de um homem comum ou de qualquer outro homem mas sobretudo é o que eu afirmo Cálicles a de um filósofo que fez o que lhe era apropriado e não se intrometeu em outros afazeres durante a vida326 ele a aprecia e a envia para a Ilha dos Venturosos E o mesmo faz Éaco ambos realizam o julga mento com um cajado na mão enquanto Minos os perscruta sentado o único a portar um cetro áureo como diz Odisseu quando o viu segundo Homero portando o cetro áureo ditando ordens entre os mortos327 Pois bem Cálicles eu estou persuadido por esses discursos e atentome ao modo pelo qual apresentarei ao juiz a minha alma o quanto mais saudável Assim dou adeus às honras da maioria dos homens e tentarei realmente exercitando a ver dade viver de modo a ser o melhor o quanto me for possível ser e morrer quando a morte me acometer E exorto a isso to dos os outros homens na medida do possível ademais exorto em resposta à tua exortação também a ti a essa vida e a essa luta a qual afirmo ser preferível a todas as demais lutas daqui328 E te censuro porque serás incapaz de socorrer a ti mesmo quando chegar a hora de teu processo e julgamento o qual είδος ή δικαιοσύνη έθέμεθα δέ δήπου καί πολλάκις έλέγομεν εΐ μέμνησαι ότι ένα έκαστον εν δέοι έπιτηδεύειν τών περί τήν πόλιν εις ô αύτοϋ ή φύσις έπιτηδειοτάτη πεφυκυΐα εϊη Έλέγομεν γάρ Καί μήν ότι γε τό τα αυτού πράττειν καί μή πολυπραγμονεϊν δικαιοσύνη έστί καί τούτο άλλων τε πολλών άκηκόαμεν καί αυτοί πολλάκις είρήκαμεν Είρήκαμεν γάρ Sobre a άπραγμοσύνη apragmosune ver Tucídides 2402 2632 2644 6186 Sobre a definição de temperança sõphrosuné σωφροσύνη como fazer o que lhe é próprio τα έαυτοΰ πράττειν ver Platão Cármides i6ibi62b 327 Homero Odisseia 11569 Vale observar que Platão atribui uma função a Minos diferente da que encontramos em Homero na medida em que no poema Minos não está designado a julgar as vidas vividas pelos mortos mas apenas as dis putas eventuais entre eles E Dodds op cit p 383 328 Sócrates provavelmente se refere aqui em específico aos άγώνες agõnes dos tribunais dos quais ele próprio será vítima episódio aludido profeticamente no Górgias 456 GÓRGIAS DE PLATÃO 527 τον τής Αίγίνης υόν επειδάν σου επιλαβόμειος άγη χασμήση καί ϊλιγγιάσεις ούδεν ήττον ή εγω ενθάδε συ ίκεΐ καί σε ισωί τυπτήσει ris καί επί κόρρης άτίμως και πάντως προπηλακιεΐ Τάχα δ οΰν ταΰτα μύθος σοι δοκεΐ λεγεσθαι ώσπερ γραδς και καταφρονείς αυτών καί ουδεν γ αν ην θαυμαστόν κατα φρονειν τούτων εϊ πη ζητοϋντες εϊχομεν αυτών βελτίω καί αληθέστερα ευρειν νυν δε δρας δτι τρεις δντες υμείς οϊπερ σοφωτατοί εστε των νυν Ε λλήνων συ τε καί Πώλοί καί b Γοργίας ουκ εχετε άποδεΐξαι ώΐ δει άλλον τινα βίον ζην η τούτον δσπερ καί εκεισε φαίνεται συμφερων άλλ εν τοσούτοις λόγοις των άλλων ελεγχόμενων μόνος ούτος ηρεμεί δ λόγος ως ευλαβητεον εστϊν τδ αδικειν μάλλον η το άδικεΐσθαι καί παντδς μάλλον άνδρϊ μελετητεον ου τδ δοκειν είναι άγαθδν άλλα τδ είναι καί Ιδία καί δημοσία εάν δε τις κατά τι κακδς γίγνηται κολαστεος εστί καί τούτο δεύτερον άγαθδν μετά τδ είναι δίκαιον τδ γίγνεσθαι καί c κολαζόμενον διδόναι δίκην καί πάσαν κολακείαν καί την περί εαυτδν καί την περί τους άλλους καί περί ολίγους καί περί πολλούς φευκτεον καί τη ρητορική οϋτω χρηστεον επί τδ δίκαιον αεί καί τη άλλη πάση πράζει εμοί ουν πειθόμενος ακολούθησαν ενταύθα οϊ άφικόμενος ευδαιμο νήσεις καί ζων καί τελευτή σας ως δ λόγος σημαίνει καί εασόν τινά σου καταφρονησαι ως άνοητου καί προπηλακίσαι εάν βούληται καί ναι μά Αία συ yε θαρρών πατάζαι την d άτιμον τούτην πληγήν ουδεν γάρ δεινδν πείση εάν τω όντι ης καλός καγαθος ασκών αρετήν καπειτα ουτω κοινή 329 30 329 Tratase da ninfa epônimo da ilha de Egina que levou Éaco para Zeus Píndaro Istmicas 81923 330 Esse discurso protréptico e admoestativo é a resposta de Sócrates à in vectiva de Cálicles contra o filósofo e a filosofia 486ad usando da mesma lin guagem empregada anteriormente pelo seu antagonista Tratase da inversão final do argumento de Cálicles GÓRGIAS 4 5 7 mencionei há pouco Quando te apresentares ao juiz o filho de 527 Egina329 e ele te levar preso ficarás turvado e boquiaberto neste lugar tanto quanto eu ficarei aqui e talvez alguém rache tam bém a tua têmpora de forma desonrosa e te ultraje de todos os modos330 Provavelmente essas coisas parecerão a ti como um mito331 contado por uma anciã e tu as desprezarás E não seria espantoso desprezálas se procurássemos e conseguíssemos descobrir em outro lugar algo melhor e mais verdadeiro Todavia vês neste momento que vós três tu Polo e Górgias os mais sábios entre os helenos contemporâneos não sois capazes de demonstrar que b se deve viver uma vida diferente desta a qual se revele vantajosa também no alémmundo Entre tantos argumentos porém todos os demais foram refutados e somente este persiste que é preciso ter maior precaução para não cometer injustiça do que para so frêla que o homem deve sobretudo preocuparse em ser bom e não parecer sêlo quer privada ou publicamente332 que se al guém vier a se tornar mau em alguma coisa ele deve ser punido que tornarse justo e uma vez punido pagar a justa pena é o segundo bem depois de ser justo que se deve evitar toda forma c de lisonja em relação a si próprio ou aos outros sejam esses pou cos ou muitos e que se deve empregar a retórica e qualquer ou tra ação visando sempre o justo333 Portanto se fores persuadido por mim acompanhame até onde tu quando chegares serás feliz quer em vida quer após a morte como o discurso indica E deixa que alguém te menos preze como se fosses estulto e te ultraje se ele quiser e por Zeus sê confiante e deixa que ele te desfira esse golpe desonroso pois d nada terrível sofrerás se realmente fores belo e bom e exercitares 331 Sobre a distinção entre muthos e logos cf supra nota 303 332 Esquilo Sete Contra Tebas v 592 Ele não deseja parecer excelente mas sêlo ού γάρ δοκείν αριστος άλ είναι θέλει Sobre a discussão a respeito das vantagens e desvantagens de parecer ser uslo e ser justo ver Platão República 11 3623630 333 Sobre a boa retórica cf supra notas 199 207 e 272 4 5 8 GÓRGIAS DE PLATÃO άσκήσαντες τότε ήδη εάν δοκή χρήναι επιθησόμεθα τοΐs πολιτικοις ή όποιον αν τι ήμϊν δοκτ rore βονλευσόμεθα βελτίουϊ όντες βουλευεσθαι ή νυν αισχρόν γαρ εχοντάί ye ώΐ νυν φαινόμεθα εχειν επειτα νεανιεύεσθαι às ri õvras ois ουδέποτε ταύτα δοκεΐ περί των αυτών και ταντα περί των μεγίστων eis τοσοΰτον ήκομεν άπαιδενσίας ώσπερ ουν ήγεμόνι τω λόγω χρησωμεθα τω νυν παραφανεντι os ήμιν σημαίνει ότι οϊιτος ό τρόπο s αριστος του βίου και την δικαιοσύνην καί την άλλην αρετήν άσκονντας καί ζην καί τεθνάναι τουτω ουν επώμεθα καί του s âkkovs παρακα λωμεν μή εκείνω ω συ πιστευων εμε παρακαλεΐί εστι γαρ ουδενόs ãios ω KaÀAÍKÀeis GÛRGIAS 459 a virtude Em seguida só depois de a exercitarmos em comum nos envolveremos com a política se parecer que devemos fazêlo ou aconselharemos o que for de nosso parecer pois seremos me lhores como conselheiros do que o somos hoje334 Pois é vergo nhoso encontrarmonos nessa condição que patentemente nos encontramos e incorrermos nessa insolência juvenil335 como se fôssemos algo a quem jamais as coisas parecem ser as mesmas a respeito dos mesmos assuntos inclusive a respeito dos mais preciosos a tamanha ignorância chegamos Então tomemos como nosso guia este discurso que agora se revela a nós discurso que nos indica que o melhor modo de vida é viver e morrer exer citando a justiça e o restante da virtude Assim sigamos este dis curso e a ele exortemos os outros homens e não aquele no qual acreditas e ao qual me exortas pois ele não tem qualquer valor Cálicles 334 Cf 5 i4 a e 335 Sócrates ao empregar o termo veavieúeaGai neanieuesthai insolên cia juvenil 5271I6 se remonta ao início da invectiva de Cálicles contra o filósofo e a filosofia 482C4 AT KINGS COLLEGE LONDON B IB LIO G R A F IA I Edições dos Textos Gregos e Latinos A N D O C I D E S D iscou rs Texto estabelecido e traduzido por Georges Dalmeyda Paris Les Belles Lettres 1966 A P O L O D O R O T h e Library E d Jam es G e o r g e F ra zer C a m b r id g e H a r v a r d U n v e r s ity P ress 1995 T h e L o e b C la s s ic a l L ib rary A R I S T Ó F A N E S C o m o ed ia e Eds F W Hall W M Geldart London Oxford University Press 1970 A R I S T Ó T E L E S A rs R h etorica Ed W D Ross Oxford Oxford University Press 1959 D e A rte P o etica Liber Ed Rudolf Kassel Oxford Clarendon 1965 E th ica N ico m a ch ea E d L B y w ater O x fo rd O x fo r d U n iv e r sity P ress 1894 Ethica E udem ia E ds R ich ard R W a lze r e Jean M M in gay N e w Y ork O x fo rd U n i v e rsity Press 19 9 1 P o litico Ed W D Ross Oxford Oxford University Press 1988 Topica e t S o p h istici E len ch i Ed W D Ross Oxford University Press 1958 A T E N E U T h e deip nosophists Ed Charles Burton Gulick Cambridge Harvard University Press 1987 The Loeb Classical Library 462 GÕRGIAS DE PLATÃO C ÍC E R O Tusculanes Texto estabelecido por Georges Fohlen e traduzido por Jules Hum bert Paris Les Belles Lettres 1931 D E M Ó S T E N E S Orationes Tomus I Ed S H Butcher Oxford Oxford University Press 1903 D IO D O R O S ÍC U L O Bibliothèque Historique Livre x i i Texto estabelecido e traduzido por Michel Casevitz Paris Les Belles Lettres 1969 D IO G E N E S L A É R C IO Vite e Dottrine dei Piü Celebri Filosofi A cura di Giovanni Reali Milano Bom piani 2005 Vitae Philosophorum Ed Miroslav Marcovich Stvrgardiae Bibliotheca Teub neriana 1999 D IO N ÍSIO D E H A L IC A R N A SSO Antiquités Romaines Texto estabelecido e traduzido por Valerie Fromentin Paris Les Belles Lettres 1998 E SQ U IL O Eschyle Texto estabelecido e traduzido por Paul Mazon Paris Les Belles Lettres 2000 E S Q U IN E S Discours Tomo 1 Texto estabelecido e traduzido por Victor Martin e Guy de Budé Paris Les Belles Lettres 1973 E U R IP ID E S Tragicorum Graecorum Fragmenta Comentários de August Nauck Lapsiae Bibliotheca Teubneriana 1889 Euripide Texto estabelecido e traduzido por Leon Parmentier e Henri Grégoire Paris Les Belles Lettres 1973 H E R Ó D O T O Histoires Texto estabelecido e traduzido por PE Legrand Paris Les Belles Lettres 1946 H O M E R O Opera Eds David B Monro Thomas W Allen Oxford Oxford University Press 1920 H O R Á c io Opera Ed E C Wickham editio altera curante H W Garrod Oxford Oxford University Press 1988 I s o c r a t e s Opera Omnia Ed Basileios G Mandilaras Bibliotheca Teubneriana 2003 L ÍS IA S Orationes Ed Charles Hude Oxford Oxford University Press 1912 o l i m p i o d o r o In Platonis Gorgiam Commentaria Ed Leendert Gerrit Westerink Leipzig Bibliotheca Teubneriana 1970 BIBLIOGRAFIA 463 P ÍN D A R O Isthmiques et Fragments Tome iv Texto estabelecido e traduzido por Aimé Puech Paris Les Belles Lettres 1923 PLA Tà O Platonis Opera Ed John Burnet Oxford Clarendon 1968 P L U T A R C O Péricles Vies Tome in Texto estabelecido e traduzido por Robert Flacelière e Émile Chambry Paris Les Belles Lettres 1969 P R É S O C R Á T IC O S Die Fragmente der Vorsokratiker Eds Herman Diels e Walter Kranz Zürich Weidmann 1989 S E X T O E M P ÍR IC O Sextus Empiricus Ed R G Bury Cambridge Harvard Unversity Press 1976 The Loeb Classical Library S Ó F O C L E S Fabulae Ed Hugh LloydJones e Nigel Guy Wilson Oxford Oxford University Press 1990 Q U IN T IL IA N O Institutionis Oratoriae Tomus 1 Oxford Oxford University Press 1970 T U C ÍD ID E S Historiae Eds Henry Stuart Jones e J Enoch Powell Oxford Oxford University Press 1988 X E N O F O N T E Opera Omnia Ed Edgar Cardew Marchant Oxford Oxford University Press 1921 ii Bibliografia Crítica a d a m James The Republic of Plato Cambridge Cambridge University Press 1979 v 1 a d o r n o Francesco lntroduzione a Platone Roma Laterza 1986 Platone Gorgia Tradução e introdução RomaBari Laterza 1997 a l l e n Reginald E The Dialogues of Plato Euthyphro Apology Crito Meno Gor gias Menexenus New Haven Yale University Press 1984 v 1 B a k h t i n Mikhail Problemas da Poética de Dostoiévski Trad Paulo Bezerra Rio de Janeiro ForenseUniversitária 1981 B E L L iD O Antonio Melro Sofistas Testimonios y Fragmentos Madri Gredos 1996 b e v e r s l u i s John Does Socrates Commit the Socratic Fallacy In b e n s o n Hugh H ed Essays on the Philosophy of Socrates New York Oxford University Press 1992 CrossExamining Socrates A Defense of the Interlocutors in Platos Early Dia logues CambridgeNew York Cambridge University Press 2000 464 GÓRGIAS DE PLATÃO B L O N D E L L Ruby The Play of Character in Platos Dialogues Cambridge Cambridge University Press 2002 B R iC K H O U S E Thomas C s m i t h Nicholas D Platos Socrates New York Oxford University Press 1994 b r o c k Roger Plato and Comedy In c r a i k Elizabeth M ed Owls to Athens Oxford Clarendon 1990 C A M B IA N O Giuseppe Platone e le Tecniche Torino Giulio Einaudi 1971 c a m p o s Haroldo de Homero Ilíada Introdução de Trajano Vieira São Paulo Arx 2001 c a n f o r a Luciano Pathos e Storiografia Drammatica Elenchos Roma Bibliopolis 1995 anno xvi fase 1 Atti del Convegno tenuto a Taormina c a n t o Monique Platon Gorgias Tradução introdução e notas Paris Flamma rion 1993 c a s e r t a n o Giovanni LEterna Malattia del Discorso Quattro Studi su Platone Napoli Liguori 1991 c a s s i n Barbara LEffet sophistique Paris Gallimard 1995 c e n t r o n e Bruno Pathos e Ousia nei Primi Dialoghi di Platone Elenchos Roma Bibliopolis 1995 anno xvi fasc 1 Atti del Convegno tenuto a Taormina 1994 C h a n t r a i n e Pierre Dictionnaire étymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1968 c h i r o n Pierre PseudoAristote Rhétorique à Alexandre Texto estabelecido e tra duzido Paris Les Belles Lettres 2002 c l a y Diskin The Origins of the Socratic Dialogue In w a e r d t Paul A Vander ed The Socratic Movement Ithaca Cornell University Press 1994 c o l e Thomas The Origins of Rhetoric in Ancient Greece Baltimore The Johns Hopkins University Press 1991 c o o p e r John M Notes on Xenophons Socrates In c o o p e r John M ed Essays on Ancient Moral Psychology and Ethical Theory Princeton Princeton Univer sity Press 1999 Socrates and Plato in Gorgias In c o o p e r J ed Essays on Ancient Moral Psychology and Ethical Theory Princeton University Press 1999b c o p e Edward Meredith s a n d y s John Edwin The Rhetoric of Aristotle Salem Ayer 1988 v 111 e m C O R N F O R D Francis MacDonald The Origin of Attic Comedy New York Anchor 1961 d e s c l o s MarieLaurence Structure des Dialogues de Platon Paris Ellipses 2000 d e s j a r d i n s Rosemary Why Dialogues Platos Serious Play In G r i s w o l d Charles L ed Platonic Writings Platonic Readings Londres Routledge 1988 d e s p l a c e s Édouard Lexique Platon Oeuvres Complètes Paris Les Belles Lettres 1970 t x iv e xv d o d d s Eric R 1959 Plato Gorgias A Revised Text Oxford Clarendon 1990 D o r a t i Marco Aristotele Retórica Texto critico tradução e notas Milano Mon dadori 1996 D o v e r Keneth James Aristophanic Comedy Berkeley University of California Press 1972 BIBLIOGRAFIA 465 Aristophanes Clouds Oxford Carendon 1989 E R L E R M La Felidtà delle Api Passione e Virtù nel Fedone e nella Repubblica Trad G Ranocchia In m i g l i o r i M v a l d i t a r a L M N f e r m a n i A eds Inte riorità e anima La Psyché in Platone Milano Vita e Pensiero 2007 f a n t a s i a Ugo Tucidide La Guerra del Peloponneso libro 11 Texto tradução com mentários e ensaio introdutório Pisa Ets 2003 f a r n e s s Jay Missing Socrates Problems of Platos Writings University Park The Pennsylvania State University Press 1991 f r e d e Michael Platos Arguments and the Dialogue Form In a n n a s Julia ed Oxford Studies in Ancient Philosophy Supplementary Volume Oxford Claren don 1992 Fussi Alessandra Why is the Gorgias so Bitter Philosophy and Rhetoric The Penn sylvania State University Press v 33 n 1 2000 Logos Filosofico e Logos Persuasivo nella Confutazione Socratica di Gor gias In B A R A L E Massimo a cura di Materiali per un Lessico della Ragione Pisa Ets 2001 The Myth of the Last Judgment in the Gorgias The Review of Metaphysics 54 2001 Retórica e Potere Una Lettura del Gorgia di Platone Pisa Ets 2006 g a l l o p David The Rhetoric of Philosophy Socrates Swansong In m i c h e l i n i Ann N ed Plato as Author The Rhetoric of Philosophy LeidenBoston Brill 2003 g a s t a l d i Silvia II Teatro delle Passioni Pathos nella Retórica Antica Elenchos Atti del Convegno tenuto a Taormina 1994 Anno xvi fasc 1 Roma Bibliopolis 1995 g e n t z l e r Jyl The Sophistic CrossExamination of Calicles in the Gorgias Ancient Philosophy 15 Pittsburgh Mathesis 1995 g i a n n a n t o n i Gabriele et al Socrate Tutte le Testimonianze Da Aristofane e Se nofonte ai Padri Cristiani RomaBari Laterza 1986 1 Presocratici Testimonianzi e Frammenti RomaBari Laterza 1993 g i a n n a n t o n i Gabriele Socratis et Socraticorum Reliquiae Roma Bibliopolis 1990 g o m m e Arnold Wycombe An Historical Commentary on Thucydides Oxford Clarendon 1956 v 11 G o n z a l e z Francisco J Introduction A Short History of Platonic Interpretation and the Third Way The Third Way New Directions in Platonic Studies Lan ham Rowman Littlefield 1995 g r i l l i Alessandro Aristofane Le Nuvole Introdução tradução e notas Milano b u r 2005 G r i m a l d i William M A Aristotle Rhetoric 1 a Commentary New York Fordham University Press 1980 Aristotle Rhetoric n a Commentary New York Fordham University Press 1988 G r i s w o l d Charles L Style and Dialogue The Case of Platos Dialogue The Monist La Salle vol 63 n 4 1980 Platos Metaphilosophy Why Plato Wrote Dialogues Platonic Writings Pla tonic Readings Londres Routledge 1988 466 GÓRGIAS DE PLATÃO G u t h r i e William K C Los Filósofos Griegos Trad Florentino M Torner México Fondo de Cultura Económica 2000 H A L L iw E L L Stephen Plato Republic 10 Tradução e comentário Wiltshare Aris Phillips 1988 I r w i n Terence Coercion and Objectivity in Platos Dialectic Revue Internationale de Philosophie Paris n 156157 fasc 121986 Plato Gorgias Oxford Clarendon 1995 Platos Ethics Oxford Oxford University Press 1995 Ja c k s o n Robin l y c o s Kim t a r r a n t Harold eds Olympiodorus Commentary on Platos Gorgias Leiden Brill 1998 K a h n Charles Drama and Dialectic in Platos Gorgias Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Clarendon 1983 vol 1 Did Plato Write Socratic Dialogues In b e n s o n Hugh H ed Essays on the Philosophy of Socrates New York Oxford University Press 1992 Plato and the Socratic Dialogue Cambridge Cambridge University Press 1996 Sobre 0 Verbo Grego Ser e 0 Conceito de Ser Trad Maura Iglésias et al Depto de Filosofia p u c R ío 1997 K a u f f m a n Charles Enactment as Argument in the Gorgias Philosophy and Rheto ric University P a r k P A v 12 n 2 1979 K e n n e d y George A A New History of Classical Rhetoric Princeton Princeton Univer sity Press 1994 Aristotle On Rhetoric a Theory of Civic Discourse Tradução introdução notas e apêndices Oxford Oxford University Press 2007 K E R F E R D George B Le Sophiste v u par Platon un Philosophe Imparfait In c a s s i n Barbara ed Positions de la Sophistique Coloque de Cerisy Paris Vrin 1986 The Sophistic Movement Cambridge Cambridge University Press 1991 k o s m a n Louis Arych Silence and Imitation in the Platonic Dialogues In a n n a s Julia ed Oxford Studies in Ancient Philosophy Supplementary Volume Oxford Clarendon 1992 k r a u t Richard Comments on Gregory Vlastos The Socratic Elenchus Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Clarendon 1983 v 1 Introduction to the Study of Plato In k r a u t Richard ed The Cambridge Companion to Plato Cambridge Cambridge University Press 1992 LA B O R D E R IE Jean Le Dialogue platonicien de la maturité Paris Les Belles Lettres 1978 L a n z a Diego Aristotele Poética Introdução tradução e notas Milano b u r 2004 L A U S B E R G Heinrich Manual de Retórica Literaria Trad José Pérez Riesco Ma drid Gredos 1968 l e v i A W Philosophy as Literature The Dialogue Philosophy and Rhetoric Uni versity ParkPA vol 9 n 1 1976 l i m a Paulo Butti Platão Uma Poética para a Filosofia São Paulo Perspectiva 2004 l o n g o Angela La Técnica delia domanda e le interrogazioni fittizie in Platone Pisa Scuola Normale Superiore 2000 l o p e s Daniel Rossi Nunes Xenófanes Fragmentos São Paulo Olavobrás 2003 BIBLIOGRAFIA 467 m a g a l h ã e s v i l h e n a Vasco de O Problema de Sócrates Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1952 m a l h a d a s Daisi s a r i a n Haiganuch Teofrasto Os Caracteres São Paulo Editora Pedagógica e Universitária 1978 m a u r o L Eristica e Dialettica nel Gorgia di Platone Verifiche Vicenza anno xm n 4 1984 m c k i m Richard Shame and Truth in Platos Gorgias In G r i s w o l d Charles L ed Platonic Writings Platonic Readings Londres Routledge 1988 m i t t e l s t r a s s Jurgen On Socratic Dialogue In G r i s w o l d Charles L ed Platonic Writings Platonic Readings Londres Routledge 1988 m o r r o w Gleen R Platos Conception of Persuasion The Philosophical Review Ithaca 1953 m o s s Jessica Shame Pleasure and the Divided Soul Oxford Studies in Ancient Phi losophy Oxford Carendon 2005 m o s t G W Generating Genres The Idea of the Tragic In d e p e w Mary o b b i n k Dirk eds Matrices of Genre Authors Canons and Society CambridgeLondres Har vard University Press 2000 m o u r e l a t o s Alexander P D Gorgias on the Function of Language Philosophical Topics Fayetteville vol xv n 21987 M u r r a y John S Plato on Knowledge Persuasion and the Art of Rhetoric Gorgias 452e455a Ancient Philosophy Pittsburgh vol 8 n 1 1988 n a i l s Debra The People of Plato A Prosopography of Plato and other Socratics India napolis Hackett 2002 n e h a m a s Alexander Eristic Antilogic Sophistic Dialectic Platos Demarcation of Philosophy from Sophistry In n e h a m a s Alexander ed Virtues of Authenticity Essays on Plato and Socrates Princeton Princeton University Press 1999 n i e t z s c h e Friedrich Curso de Retórica Trad Thelma Lessa da Fonseca Cadernos de Tradução São Paulo n 41999 n i g h t i n g a l e Andrea W Genres in Dialogue Cambridge Cambridge University Press 1995 O w e n Gwilym Ellis Lane Philosophical Invective Oxford Studies in Ancient Phi losophy Oxford Clarendon 1983 v 1 Pa t t e r s o n Richard The Platonic Art of Comedy and Tragedy Philosophy and Literature Baltimore vol 6 n 12 1982 piE R i Stefania Nonvel Platone Gorgia Traduzione introduzione e commento Napoli Loffredo 1991 p l o c h m a n n George Kimball r o b i n s o n F E A Friendly Companion to Platos Gorgias Carbondale Southern Illinois University Press 1988 q u i m b y R W The Growth of Platos Perception of Rhetoric In E r i c k s o n K V Plato True and Sophistic Rhetoric Amsterdam Rodopi 1979 r a n d a l l Jr John Herman Plato Dramatist of the Life of Reason New York Colum bia University Press 1970 r a n t a Jerrald The Drama of Platos Ion The Journal of Aesthetics and Art Criti cism Madison vol 26 n 2 1967 468 GÓRGIAS DE PLATÃO R E N D A L L Steven Dialogue Philosophy and Rhetoric The Example of Platos Gor gias Philosophy and Rhetoric University ParkPA v 10 n 31977 R o b i n s o n Richard Platos Consciousness of Fallacy Essays in Greek Philosophy Oxford Clarendon Press 1969 Platos Earlier Dialectic Londres Oxford University Press 1953 R O M IL LY Jacqueline de Magic and Rhetoric in Ancient Greece Cambridge Harvard University Press 1975 R o s s e t t i Livio The Rhetoric of Socrates Philosophy and Rhetoric University P a r k P A v 22 n 4 1989 R o w e Christopher 1976 Introduccion a la Etica Griega Trad Francisco Gonzalez Aramburo México Fondo de Cultura Económica 1993 R u t h e r f o r d R B The Art of Plato Londres Duckworth 1995 S A S S i Maria Michela La Scienza dell Uomo nella Grecia Antica Torino Bollati Boringhieri 1988 La morte di Socrate In s e t t i s Salvatore a cura di r Greci Torino Einaudi 1987 s c h i a p p a Edward Did Plato Coin Rhêtoriké The American Journal of Philology Baltimore v 111 n 41990 s c h l e i e r m a c h e r F D E Introdução aos Diálogos de Platão Trad George Ott Belo Horizonte Editora u f m g 2002 S c o t t Dominic Platonic Pessimism and Moral Education Oxford Studies in An cient Philosophy Oxford v 17 1999 s e s o n s k e A To Make the Weaker Argument Defeat the Stronger In e r i c k s o n K V ed Plato True and Sophistic Rhetoric Amsterdam Rodopi 1979 s i l k Michael S Aristophanes and the Definition of Comedy Oxford Oxford Uni versity Press 2002 s l i n g s Simon R s t r y k e r Emile de Platos Apology of Socrates A Literary and Philosophy Study with a Running Commentary Leiden E J Brill 1994 s m i t h Josiah Renick Xenophon Memorabilia Introdução e comentários New York Arno 1979 s m i t h R Aristotles Topics Books 1 a n d v i i Tradução e comentário Oxford Claren don 1997 s p i t z e r Adele The SelfReference of the Gorgias Philosophy and Rhetoric Univer sity P a r k P A vol 8 n 11975 T a r r a n t Harold Platos First Interpreters Londres Duckworth 2 0 0 0 T a y l o r C C W Platos Protagoras Oxford Clarendon Press 1991 t h e s l e f f Holger Studies in the Styles of Plato Acta Philosophica Fennica Hel sinki fasc xx 1967 t h o m a s C G W e b b E K From Orality to Rhetoric an Intellectual Transforma tion In W o r t h i n g t o n Ian ed Persuasion Greek Rhetoric in Action Lon dres Routledge 1994 T R A B A T T O N i Franco Oralidade e Escrita em Platão Trad Fernando Puente Roberto Bolzani Filho São Paulo Discurso Editorial 2003 T U L L i Mauro AUOrigine del Rapporto fra la Retórica e la Filosofia da Omero a Gorgia Atene e Roma ano x l v i i fasc 1 2002 BIBLIOGRAFIA 469 U N T E R S T E IN E R M Sofisti Testimonianze e Frammenti Firenze La Nuova Italia 1949 t II 1 Sofisti Milão Ed Bruno Mondadori 1996 u s h e r Stephen Greek Oratory Tradition and Originality Oxford Oxford Univer sity Press 1999 v e g e t t i Mario Platone La Repubblica Tradução e comentário Roma Bibliopo lis 1998 Quindici Lezioni su Platone Torino Einaudi 2003 v l a s t o s Gregory The Paradox of Socrates In g r a h a m Daniel W ed Studies in Greek Philosophy Princeton Princeton University Press 1995 Was Polus Refuted In g r a h a m Daniel W ed Studies in Greek Philoso phy Princeton Princeton University Press 1995 The Socratic Elenchus Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford vol 1 1983 Afterthoughts on The Socratic Elenchus Oxford Studies in Ancient Philoso phy Oxford v 1 1983 Socratic Irony In b e n s o n Hugh H e d Essays on the Philosophy of Socrates New York Oxford University Press 1992 w a e r d t Paul A Vander Socrates in the Clouds In w a e r d t Paul A Vander ed The Socratic Movement Ithaca Cornell University Press 1994 w a r d y Robert The Birth of Rhetoric Londres Routledge 1996 W A R TELLE Andre Lexique de la Rhétorique dAristote Paris Les Belles Lettres 1982 Lexique de la Poétique dAristote Paris Les Belles Lettres 1985 w o o d r u f f Paul The Skeptical Side o f Platos Method Revue Internationale de Philoso phie Paris n 156157 fasc 12 1986 Rhetoric and Relativism The Cambridge Companion to the Early Greek Philoso phy Cambridge Cambridge University Press 1999 W o o l f Raphael Callicles and Socrates Psychic Disharmony in the Gorgias Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford v 182000 z e y l Donald J Plato Gorgias Translation with introduction and notes Indianapolis Hackett 1987 ANEXO 1 A n ô n im o Jâm b lico Fr dk 6 a 89 p 100 5 ρ ιοο 5 ι έτι τοίνυν ούκ έπί πλεονεξίαν όρμον δει ούδέ τό κράτος τό έπι τήι πλεονεξίαι ήγείσθαι αρετήν είναι τό δε τών νόμων ύπακούειν δειλίαν πονηροτάτη γάρ αΰτη ή διάνοιά έστι και έξ αύτής πάντα τάναντία τοις άγαθοίς γίγνεται κακία τε και βλάβη εί γάρ έφυσαν μέν οί άνθρωποι άδύνατοι καθ ένα ζήν συνήλθον δέ προς άλλήλους τήι άνάγκηι εϊκοντες πάσα δέ ή ζωή αύτοις εϋρηται καί τά τεχνήματα πρός ταύτην σύν άλλήλοις δέ είναι αύτούς κάν άνομίαι διαιτάσθαι ούχ οϊόν τε μείζω γάρ αύτοις ζημίαν άν οϋτω γίγνεσθαι έκείνης τής κατά ένα διαίτης διά ταύτας τοίνυν τάς άνάγκας τόν τε νόμον καί τό δίκαιον έμβασιλεύειν τοΐς άνθρώποις καί ούδαμήι μεταστήναι αν αυτά φύσει γάρ ισχυρά ένδεδέσθαι ταΰτα 2 εί μέν δή γένοιτό τις έξ άρχής φύσιν τοιάνδε έχων άτρωτος τόν χρώτα άνοσός τε καί άπαθής καί υπερφυής καί άδαμάντινος τό τε σώμα καί τήν ψυχήν τώι τοιούτωι ίσως άν τις άρκειν ένόμισε τό έπί τήι πλεονεξίαι κράτος τόν γάρ τοιοΰτον τώι νόμωι μή ύποδύνοντα δύνασθαι άθώιον είναι ού μήν όρθώς ούτος οίεται 3 εί γάρ καί τοιοΰτός τις είη ώς ούκ άν γένοιτο τοις μέν νόμοις συμμαχών καί τώι δικαίωι καί ταΰτα κρατύνων καί τήι ίσχύι χρώμενος έπί ταϋτά τε καί τά τούτοις έπικουροΰντα οϋτω μέν άν σώιζοιτο ό τοιοϋτος άλλως δέ ούκ άν διαμένοι μ δοκεϊν γάρ άν τούς άπαντας άνθρώπους τώι τοιούτωι φύντι πολεμίους κατασταθέντας διά τήν εαυτών εύνομίαν καί τό πλήθος ή τέχνηι ή δυνάμει ϋπερβαλέσθαι άν καί περιγενέσθαι τού τοιούτου άνδρός 5 οΰτω φαίνεται καί αύτό τό κράτος δπερ δή κράτος έστί διά τε τού νόμου καί διά τήν δίκην σωιζόμενον ANEXO 471 i Além do mais não se deve ansiar por ter mais posses tampouco con siderar que o poder de acumular mais seja excelência e a obediência às leis covardia Esse pensamento é pernicioso ao máximo é causa de tudo quanto é contrário às coisas boas causa da maldade e do detrimento Como os homens foram naturalmente incapazes de viver cada um iso ladamente e congregaramse por força da necessidade como eles por causa dela descobriram todos os recursos de vida e as técnicas sendo impossível que eles convivessem em meio à ilegalidade pois viver assim lhes seria uma punição maior do que aquela vida em isolamento recí proco pois bem é por tais constrições que a lei e o justo devem reger soberanamente os homens sem jamais serem deles subtraídas porque estão fortemente ligadas a eles por natureza 2 Se alguém nascesse com uma natureza tal a ponto de ter o corpo invulnerável de ser incólume intangível extraordinário dotado de corpo e alma diamantinos poder seia pensar talvez que para um homem desse tipo bastasse a supre macia fundada no acúmulo de posses pois ele seria capaz de manterse impune mesmo sem a submissão à lei todavia um juízo como esse é errôneo 3 Pois ainda que houvesse alguém assim ele não subsistiria um homem desse tipo só garantiria a sua sobrevivência se lutasse pelas leis e pelo justo reforçandoos e empregasse sua força para esse fim e para aquilo que lhe concorre pois caso contrário ele não perseveraria 4 Bastaria que todos declarassem guerra contra esse homem de na tureza excepcional e se servissem da boa legislação e da superioridade numérica para suplantálo e prevalecer sobre ele por meio do poder e da arte 5 E é evidente que a própria supremacia enquanto suprema cia é conservada pela lei e pela justiça ANEXO 2 A n tifon te S o fista FrDK 4 4 B 8 7 vgl 99B n8s Oxyrh Pap xi n 1364 ed H u nt Fragm en to A Δικαιοσύνη πάντα τά τής πόλεως νόμιμα έν ή αν πολιτεύηταί τις μή παραβαίνειν χρωτ αν ούν άνθρωπος μάλιστα έαυτώ ξυμφε ρόντως δικαιοσύνη εί μετά μέν μαρτύρων τούς νόμους μεγάλους άγοι μονούμενος δέ μαρτύρων τά τής φύσεως τά μέν γάρ τών νόμων έπίθετα τά δέ τής φύσεως άναγκαία και τά μέν τών νόμων όμολογηθέντα ού φύντ έστίν τά δέ τής φύσεως φύντα ούχ όμολογητά τά ούν νόμιμα παραβαίνων ή άν λάθη τούς όμολογήσαντας και αισχύνης καί ζημίας άπήλλακται μή λαθών δ οΰ τών δέ τή φύσει ξυμφύτων έάν τι παρά τό δυνατόν βιάζηται εάν τε πάντας άνθρώπους λάθη ούδέν έλαττον κακόν έάν τε πάντες ϊδωσιν ούδέν μείζον ού γάρ διά δόξαν βλάπτεται άλλά δι άληθείαν Έστι δέ πάντων ενεκα τούτων ή σκέψις δτι τά πολλά τών κατά νόμον δικαίων πολεμίως τή φύσει κεΐται νενομοθέτηται γάρ έπί τε τοίς όφθαλμοϊς ά δει αύτούς όράν και ά ού δεί και έπί τοίς ώσιν ά δεί αυτά άκούειν και ά ού δει και έπι τή γλώττη ά τε δεί αύτήν λέγειν και ά ού δει καί έπι ταίς χερσίν ά τε δει αύτάς δράν και ά ού δει καί έπί τοίς ποσίν έφ ά τε δεί αύτούς ίέναι καί έφ ά ού δει καί έπί τώ νώ ών τε δεί αύτόν έπιθυμεΐν καί ών μή Έστιν ούν ούδέν τή φύσει φιλιώτερα ούδ οίκειότερα άφ ώνοίνόμοιάποτρέπουσιτούς άνθρώπους ή έφ ά προτρέπουσιν τό γάρ ζήν έστι τής φύσεως καί τό άποθανεΐν καί τό μέν ζήν αύτοΐς έστιν άπό τών ξυμφερόντων τό δέ άποθανεΐν άπό τών μή ξυμφερόντων τά δέ ξυμφέροντα τά μέν ύπό τών νόμων κείμενα δεσμά τής φύσεως έστί τά δ ύπό τής φύσεως έλεύθερα οϋκουν τά άλγύνοντα όρθώ γε λόγω όνίνησιν τήν φύσιν μάλλον ή τά εύφραίνοντα οΰκουν άν ουδέ ξυμφέροντ εϊη τά λυποΰντα μάλλον ή τά ήδοντα τά γάρ τώ άληθεΐ ξυμφέροντα ού βλάπτειν δει άλλ ώφελεΐν τά τοίνυν τή φύσει ξυμφέροντα τ ANEXO 473 Justiça é não transgredir as leis da cidade constituída de cidadãos Então o homem empregaria a justiça sobretudo em seu interesse próprio se diante de testemunhas aplicasse as leis em profusão mas na ausência de testemunhas seguisse as prescrições da natureza Pois as prescrições das leis são instituídas enquanto as da natureza são necessárias o acordo das leis não é inato ao passo que as prescrições da natureza são inatas e não acordadas Assim quando alguém transgredir as leis a vergonha e a pu nição não o acometerão se ele escapar aos olhos dos partícipes daquele acordo mas se for pego a sorte lhe será contrária Porém quando alguém ultrajar além do limite alguma prescrição inata da natureza o mal será em nada menor se ele escapar aos olhos de todos os homens e em nada maior se todos o verem Pois o seu prejuízo não se deve à opinião mas à verdade Eis o motivo completo desta investigação que a maior parte do que é justo segundo a lei encontrase em guerra com a natureza Pois a lei institui para os olhos o que devem ver e o que não devem para os ouvidos o que devem ouvir e o que não devem para a língua o que deve dizer e o que não deve para as mãos o que devem fazer e o que não devem para os pés aonde devem ir e aonde não devem e para a mente o que deve almejar e o que não deve Portanto as privações dos homens provocadas pelas leis não são menos afins nem menos familiares à natureza do que as suas ordenações A vida e a morte são por sua vez propriedades da natureza e a vida provém para os homens daquilo que lhes é vantajoso enquanto a morte daquilo que lhes é desvantajoso E quanto ao vantajoso as prescrições das leis são amarras da natureza enquanto as da natureza são livres Então segundo o raciocínio correto as coisas dolorosas não são mais proveitosas à natureza do que as aprazíveis tampouco as dores seriam mais vantajosas do que os prazeres Pois é necessário que o que é verdadeiramente vantajoso não seja danoso porém benéfico 474 Θ όΚ αΑ β ϋΕ ΡΙΑΤΑΟ Οϊτινες αν παθόντες άμύνωνται και μή αύτοι άρχωσι τοϋ δράν και οϊτινες αν τούς γειναμένους και κακούς όντας εις αυτούς εύ ποιώσιν και οϊ κατόμνυσθαι διδόντες έτέροις αύτοί μή κατομνύμενοι και τούτων τών είρημένων πόλλ αν τις εϋροι πολέμια τή φύσει ένι γε αύτοις άλγύνεσθαί τε μάλλον έξόν ήττω και έλάττω ήδεσθαι εξόν πλείω και κακώς πάσχειν έξόν μή πάσχειν εί μέν ούν τις τοίς τοιαΰτα προϊεμένοις έπικούρησις έγίγνετο παρά τών νόμων τοΐς δέ μή προϊεμένοις άλλ έναντιουμένοις έλάττωσις ούκ άνωφελές αν ήν τοϊς νόμοις πείθεσθαι νύν δέ φαίνεται τοϊς προσιεμένοις τά τοιαΰτα τό έκ νόμου δίκαήον ούχ ικανόν έπικουρεΐν ό γε πρώτον μέν επιτρέπει τώ πάσχοντι παθειν και τώ δρώντι δράσαι και ούτε ένθαΰτα διεκώλυε τόν πάσχοντα μή παθειν ούδέ τον δρώντα δράσαι εις τε τήν τιμωρίαν άναφερόμενον ούδέν ίδιώτερον έπι τώ πεπονθότι ή τώ δεδρακότι ταύτα δέ καταλείπεται και τώ δράσαντι άρνείσθαι έλομένωι έστιν μάλλον όσηπερ τώι κατηγοροΰντι ή τής κατηγορίας πειθώ άμύνειν τώι τε πεπονθότι και τώι δεδρακότι γίγνεται γάρ νίκη και ρήμασι και ANEXO 475 Portanto o que é vantajoso por natureza E quando alguém ao passar por certo padecimento se defender mas não tomar a iniciativa do ataque e quando alguém tratar bem seus genitores embora estes o maltra tem e quando alguém conceder juramento a outros embora estes não o façam pois bem desses casos citados qualquer um veria que a maior parte está em guerra com a natureza a dor o acomete mais quando é possível menos e o prazer menos quando é possível mais e sofre injú ria quando se pode evitála Assim se houvesse alguma proteção das leis àqueles que se submetem a tal condição e alguma perda para os que não se lhe submetem não seria em vão a obediência às leis Todavia é deveras evidente que aqueles que se submetem a tal condição o justo da lei não lhes provê de proteção suficiente pois em princípio admite que padeça quem padece e que ofenda quem ofende e depois não impede o padecimento de quem padece tampouco a ofensa de quem ofende quando aplica as punições trata tanto quem padece quanto quem ofende de forma paritária Pois o primeiro deve persuadir de seu padecimento quem aplica as punições e exigir que a justiça possa lhe valer a quem ofende resta negar o que lhe é imputado A persuasão da acu sação conferida ao acusador protege igualmente quem tenha padecido e quem tenha ofendido Pois a vitória surge e com frases Benaud Cornwall Gonzalez KOLKATA 1981 Roses and Roses Brugnoli Huie Malone SONOMA CALIFORNIA 1981 5Five portraits Cheevers Hoi Hunn Brown WAYNE NEW JERSEY 1980 Lopez ran orO sUU anenic lucuKard mee Barez Pablo PANAO AE 1978 6 The art of Happy Valley YAKIMA WASHINGTON 1981 Five studies Braund Anna Zell Beckett Douglas ALBUQUERQUE NEW MEXICO 1981 Circle Studies Lagace Adam Dacey Hinkle ERIE PENNSYLVANIA 1981 The Beauty of the Roses Brugnoli Huie Malone KALAMAZOO MICHIGAN 1981 Mir Tress Abramovich Henrich Sawicki DUBLEIN IRELAND 1976 9PAINTERS CHOICE 1981 COLEÇÃO TEXTOS 1 Marta a Árvore e o Relógio Jorge Andrade 2 Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial Sérgio Buarque de Holanda 3 A Filha do Capitão e 0 Jogo das Epígrafes Aleksandr S Púchkin Helena S Nazario 4 Textos Críticos Augusto Meyer João Alexandre Barbosa org 5 O Dibuk Sch Anski J Guinsburg org 6 Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro 2 v Andrade Muricy 7 Ensaios Thomas Mann Anatol Rosenfeld seleção 8 Leone de Sommi Um Judeu no Teatro da Renascença Italiana J Guinsburg org 9 Caminhos do Decadentismo Francês Fulvia M L Moretto org ío Urgência e Ruptura Consuelo de Castro 11 Pirandello Do Teatro no Teatro J Guinsburg org 12 Diderot Obras i Filosofia e Política J Guinsburg org Diderot Obras Estética Poética e Contos J Guinsburg org Diderot Obras ui O Sobrinho de Rameau J Guinsburg org Diderot Obras iv Jacques O Fatalista e seu Amo J Guinsburg org Diderot Obras v O Filho Natural J Guinsburg org Diderot Obras vi i O Enciclopedista História da Filosofia i J Guinsburg e Roberto Romano orgs Diderot Obras vi 2 O Enciclopedista História da Filosofia 11 J Guinsburg e Roberto Romano orgs Diderot Obras vi 3 O Enciclopedista Arte Filosofia e Política J Guinsburg e Roberto Romano orgs Diderot Obras v i i A Religiosa J Guinsburg org 13 Makunaíma e Jurupari Cosmogonias Ameríndias Sérgio Medeiros org 14 Canetti 0 Teatro Terrível Elias Canetti 15 Idéias Teatrais O Século xix no Brasil João Roberto Faria 16 Heiner Müller O Espanto no Teatro Ingrid D Koudela org 17 Büchner Na Pena e na Cena J Guinsburg e Ingrid D Koudela orgs 18 Teatro Completo Renata Pallottini 19 A República de Platão Obras 1 J Guinsburg org Górgias de Platão Obras 11 Daniel R N Lopes org 20 Barbara Heliodora Escritos sobre Teatro Claudia Braga org 21 Hegel e 0 Estado Franz Rosenzweig 22 Almas Mortas Nikolai Gógol 23 Machado de Assis Do Teatro João Roberto Faria org 24 Descartes Obras Escolhidas J Guinsburg Roberto Romano e Newton Cunha orgs 25 Luís Alberto de Abreu Um Teatro de Pesquisa Adélia Nicolete org Este livro foi impresso na cidade de São Paulo nas oficinas da Cromosete Gráfica e Editora Ltda em maio de 2011 para a Editora Perspectiva sA Como num jogo das partes e Daniel Lopes em sua apresentação acentua a importância do teatro na construção deste texto acabamos por olhar não mais para Górgias mas para Sócrates e do ponto de vista de um de seus críticos mais ferozes Cálicles A cada linha lembramonos do destino do filósofo de sua condenação à morte e de sua própria arte da palavra Essa discussão violenta conclui o diálogo em páginas destinadas a marcar o caminho da reflexão política e filosófica de épocas sucessivas Paulo Butti de Lima Professor da Universidade de Bari e responsável científico da Scuola Superiore di Studi Storici di San Marino é doutor em grego clássico pela Universidade Estadual de Campinas Unicamp e professor de língua e literatura gregas da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universida de de São Paulo fflchusp É autor do livro Xenófanes de Cólofon Fragmentos Olavobrás 2003 e colaborou com a edi ção de A República de Platão Perspectiva 2006 Tem se dedicado prioritariamente à tradução de diálogos de Platão e aos estu dos sobre filosofia antiga historiografia e oratória gregas Górgias é o segundo volume dedicado a Platão que a editora Perspectiva traz ao leitor brasileiro em sua coleção Textos depois da República Traduzido dire tamente do grego por Daniel Lopes autor das notas e do ensaio introdutório este diálogo aparece no catálogo de Diógenes Laércio séc 11 dC e nos manuscritos medie vais com o subtítulo Sobre Retórica Todavia o leitor que se aventura pelos caminhos dialógicos percorridos pelos interlocutores logo constata que a discussão vai além da tentativa de definir o que é essa arte ou mesmo se ela é verdadeiramente uma arte À medida que o exa me conduzido por Sócrates passa de uma personagem a outra emerge a questão fundamental que é a do melhor m odo de se viver será a vida política da democracia ateniense da qual a retórica é parte imanente ou a filo sófica na imagem de Sócrates construída por Platão O desafio socrático é persuadir de que a justiça é superior à injustiça e que a felicidade humana está na vida virtuo sa Nesse viés moral a pergunta é qual a utilidade da retórica Concebida por Górgias Polo e Cálicles como meio de alcançar uma existência afortunada através do poder e da liberdade ela é para Sócrates instrumento para a prática da injustiça no âmbito político O debate aponta portanto para uma crítica mais ampla de Platão à democracia uma vez que dela se gera o antípoda do filósofo o tirano como se lê na República JA P E SP ISBN 9 7 8 8 5 2 7 3 0 9 1 0 3