• Home
  • Chat IA
  • Guru IA
  • Tutores
  • Central de ajuda
Home
Chat IA
Guru IA
Tutores

·

Letras ·

Literatura

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Recomendado para você

Jorge Amado - Ancestralidade e Representação dos Orixás - Análise Completa

160

Jorge Amado - Ancestralidade e Representação dos Orixás - Análise Completa

Literatura

UNEB

O Fascismo da Cor - Radiografia do Racismo Nacional por Muniz Sodré

190

O Fascismo da Cor - Radiografia do Racismo Nacional por Muniz Sodré

Literatura

UNEB

Capitães da Areia - Jorge Amado - Resumo e Análise da Obra

300

Capitães da Areia - Jorge Amado - Resumo e Análise da Obra

Literatura

UNEB

Literatura e Mitologia Afro-Baiana - Encantos e Percalços na Lei 10639-2003

6

Literatura e Mitologia Afro-Baiana - Encantos e Percalços na Lei 10639-2003

Literatura

UNEB

Candombles na Bahia - Origens, Forças, Orixás e Rituais

50

Candombles na Bahia - Origens, Forças, Orixás e Rituais

Literatura

UNEB

Dossiê Omolu-Obaluaê-Xapanã: Fé, Cura e Sincretismo com São Lázaro e São Roque

13

Dossiê Omolu-Obaluaê-Xapanã: Fé, Cura e Sincretismo com São Lázaro e São Roque

Literatura

UNEB

Melhore Esse Artigo Academico

35

Melhore Esse Artigo Academico

Literatura

UNEB

Pensamento Insurgente - Direito à Alteridade, Comunicação e Educação

11

Pensamento Insurgente - Direito à Alteridade, Comunicação e Educação

Literatura

UNEB

Oficina Plano de Aula

13

Oficina Plano de Aula

Literatura

UNEB

Analise do Poema de Camões

1

Analise do Poema de Camões

Literatura

UERJ

Texto de pré-visualização

Deuses africanos no Brasil é o Capítulo I do livro Herdeiras do Axé de Reginaldo Prandi São Paulo Hucitec 1997 páginas 150 Axé é força vital energia princípio da vida força sagrada dos orixás Axé é o nome que se dá às partes dos animais que contêm essas forças da natureza viva que também estão nas folhas sementes e nos frutos sagrados Axé é bênção cumprimento votos de boasorte e sinônimo de Amém Axé é poder Axé é o conjunto material de objetos que representam os deuses quando estes são assentados fixados nos seus altares particulares para ser cultuados São as pedras e os ferros dos orixás suas representações materiais símbolos de uma sacralidade tangível e imediata Axé é carisma é sabedoria nas coisasdosanto é senioridade Axé se tem se usa se gasta se repõe se acumula Axé é origem é a raiz que vem dos antepassados é a comunidade do terreiro Os grandes portadores de axé que são as veneráveis mães e os veneráveis paisdesanto podem transmitir axé pela imposição das mãos pela saliva que com a palavra sai da boca pelo suor do rosto que os velhos orixás em transe limpam de sua testa com as mãos e carinhosamente esfregam nas faces dos filhos prediletos Axé se ganha e se perde Extraído de Reginaldo Prandi Os candomblés de São Paulo Deuses africanos no Brasil uma apresentação do candomblé Reginaldo Prandi I Religiões populares no Brasil O catolicismo tem sido historicamente a religião majoritária do Brasil cabendo a outras fés o lugar de religiões minoritárias mas nem por isso sem Publicado originalmente com o título Dei africani nellodierno Brasile in Luisa Faldini Pizzorno org Sotto le acque abissali Firenze Aracne 1995 2 importância no quadro das religiões e da cultura sobretudo no século atual Neste segundo grupo estão as chamadas religiões afrobrasileiras1 as quais até os anos 1930 poderiam ser incluídas na categoria das religiões étnicas religiões de preservação de patrimônios culturais dos antigos escravos africanos e seus descendentes Estas religiões formaramse em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas candomblé na Bahia2 xangô em Pernambuco e Alagoas3 tambor de mina no Maranhão e Pará4 batuque no Rio Grande do Sul5 e macumba no Rio de Janeiro6 A organização das religiões negras no Brasil deuse bastante recentemente Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão últimas décadas do século 19 foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas os africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros físico e socialmente com maior mobilidade e de certo modo liberdade de movimentos num processo de interação que não conheceram antes Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas com a formação de grupos de culto organizados Por outro lado no final do século passado foram introduzidas no País algumas denominações protestantes européias e norteamericanas Essas religiões floresceram assim como espiritismo kardecista francês aqui chegado também no final do século passado mas o catolicismo continuou sendo a preferência de mais de 90 da população brasileira até os anos 1950 embora na região mais 1 Bastide 1975 Carneiro 1936 2 Rodrigues 1935 Bastide 1978 3 Motta 1982 Pinto 1935 4 S Ferretti 1986 M Ferretti 1985 Eduardo 1948 5 Herskovits 1943 Corrêa 1992 Oro 1994 6 Bastide 1975 Prandi 1991a 3 industrializada do país o Sudeste a porcentagem de católicos tenha sido menor com um incremento mais rápido no número de protestantes kardecistas e também seguidores da umbanda religião afrobrasileira emergida nos anos 1930 nas áreas mais urbanizadas do País e que a despeito de suas origens negras nunca se mostrou como religião voltada para a preservação das marcas africanas originais O quadro religioso no Brasil de hoje caracterizase por processo de conversão complexo e dinâmico com a incorporação e mesmo criação de algumas novas religiões às vezes com a passagem do converso por várias possibilidades de adesão Os grupos de religiões mais importantes em termos de números de seguidores hoje são o catolicismo em suas ambas versões de religião tradicional e renovada os evangélicos que apresentam múltiplas facetas entre históricos e pentecostais agora também se oferecendo numa nova e inusitada versão o neopentecostalismo Rolim 1985 Mariano 1995 os espíritas kardecistas e um diverso conjunto de religiões afrobrasileiras Entre os católicos renovados sobressaemse as Comunidades Eclesiais de Base Pierucci 1983 e o novo Movimento de Renovação Carismática Prandi 1991b movimentos que se opõem doutrinariamente as CEBs mais preocupadas com questões de justiça social e mais envolvidas na política os carismáticos mais interessados no indivíduo e conservadoramente avessos a temas de consciência social Estimativas recentes indicam a presença de 75 de católicos os carismáticos são 4 e os das CEBs 2 da população 13 de evangélicos 3 históricos e 10 pentecostais 4 de kardecistas e 15 de afrobrasileiros Pierucci Prandi 1995 Dessas religiões a umbanda tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência pois nascida no Brasil ela resulta do encontro de tradições africanas espíritas e católicas Camargo 1961 Concone 1987 Ortiz 1978 Como religião universal isto é dirigida a todos a umbanda sempre procurou legitimarse pelo apagamento de feições herdadas do candomblé 4 sua matriz negra especialmente os traços referidos a modelos de comportamento e mentalidade que denotam a origem tribal e depois escrava mantendo contudo estas marcas na constituição do panteão Comparado ao do candomblé seu processo de iniciação é muito mais simples e menos oneroso e seus rituais evitam e dispensam sacrifício de sangue Os espíritos de caboclos e pretosvelhos manifestamse nos corpos dos iniciados durante as cerimônias de transe para dançar e sobretudo orientar e curar aqueles que procuram por ajuda religiosa para a solução de seus males A umbanda absorveu do kardecismo algo de seu apego às virtudes da caridade e do altruísmo assim fazendose mais ocidental que as demais religiões do espectro afrobrasileiro mas nunca completou este processo de ocidentalização ficando a meio caminho entre ser religião ética preocupada com a orientação moral da conduta e religião mágica voltada para a estrita manipulação do mundo Desde o início as religiões afrobrasileiras se formaram em sincretismo com o catolicismo e em grau menor com religiões indígenas O culto católico aos santos numa dimensão popular politeísta ajustouse como uma luva ao culto dos panteões africanos Valente 1977 S Ferretti 1995 Com a umbanda acrescentaramse à vertente africana as contribuições do kardecismo francês especialmente a idéia de comunicação com os espíritos dos mortos através do transe com a finalidade de se praticar a caridade entre os dois mundos pois os mortos devem ajudar os vivos sofredores assim como os vivos devem ajudar os mortos a encontrar sempre pela prática da caridade o caminho da paz eterna segundo a doutrina de Kardec A umbanda perdeu parte de suas raízes africanas mas se espraiou por todas a regiões do País sem limites de classe raça cor ver Capítulo II Mas não interferiu na identidade do candomblé do qual se descolou conquistando sua autonomia Mas o candomblé também mudou Até 20 ou 30 anos atrás o candomblé era religião de negros e mulatos confinado sobretudo na Bahia e Pernambuco e de reduzidos grupos de descendentes de escravos cristalizados aqui e ali em distintas regiões do País No rastro da umbanda a partir 5 dos anos 1960 o candomblé passou a se oferecer como religião também para segmentos da população de origem nãoafricana II Candomblé nos dias de hoje Por volta de 1950 a umbanda já tinha se consolidado como religião abertas a todos não importando as distinções de raça origem social étnica e geográfica Por ter a umbanda desenvolvido sua própria visão de mundo bricolage européia africanaindígena símbolo das próprias origens brasileiras ela pode se apresentar como fonte de transcendência capaz de substituir o velho catolicismo ou então juntarse a ele como veículo de renovação do sentido religioso da vida Depois de ver consolidados os seus mais centrais aspectos ainda no Rio de Janeiro e São Paulo a umbanda espalhouse por todo o País podendo ser também agora encontrada vicejando na Argentina no Uruguai e outros Países latinoamericanos além de Portugal Oro 1993 Frigerio Carozzi 1993 Pi Hugarte 1993 Prandi 1991c PollakEltz 1993 Pordeus 1995 Durante os anos 1960 alguma coisa surpreendente começou a acontecer Com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no Sudeste o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mãesde santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás Neste movimento a umbanda é remetida de novo ao candomblé sua velha e verdadeira raiz original considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa mais forte mais poderosa que sua moderna e embranquecida descendente Nesse período da história brasileira as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul o alto custo dos 6 ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter E mais nesse período importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira Intelectuais poetas estudantes escritores e artistas participaram desta empreitada que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mãesdesanto tornouse um must para muitos uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste estilo de vida já quem sabe eivado de tantas desilusões O candomblé encontrou condições sociais econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território em que a presença de instituições de origem negra até então pouco contavam Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então entretanto podiam ser encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais Eles se interessaram pelo candomblé E os terreiros cresceram às centenas O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais aos quais os seguidores dão o nome de nações Lima 1984 Basicamente as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as atuais nações de candomblé vieram da área cultural banto onde hoje estão os países da Angola Congo Gabão Zaire e Moçambique e da região sudanesa do Golfo da Guiné que contribuiu com os iorubás e os ewêfons circunscritos aos atuais território da Nigéria e Benin Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana Na chamada nação queto na Bahia predominam os orixás e ritos de iniciação de origem iorubá Quando se fala em candomblé geralmente a referência é o candomblé queto e seus antigos terreiros são os mais conhecidos a Casa 7 Branca do Engenho Velho o candomblé do Alaketo o Axé Opô Afonjá e o Gantois As mãesdesanto de maior prestígio e de visibilidade que ultrapassou de muitos as portas dos candomblé têm sido destas casas como Pulquéria e Menininha ambas do Gantois Olga do Alaketo e Aninha Senhora e Stella do Opô Afonjá O candomblé queto tem tido grande influência sobre outras nações que têm incorporado muitas de suas prática rituais Sua língua ritual deriva do iorubá mas o significado das palavras em grande parte se perdeu através do tempo sendo hoje muito difícil traduzir os versos das cantigas sagradas e impossível manter conversação na língua do candomblé Além do queto as seguintes nações também são do tronco iorubá ou nagô como os povos iorubanos são também denominados efã e ijexá na Bahia nagô ou eba em Pernambuco oióijexá ou batuque de nação no Rio Grande do Sul minanagô no Maranhão e a quase extinta nação xambá de Alagoas e Pernambuco A nação angola de origem banto adotou o panteão dos orixás iorubás embora os chame pelos nomes de seus esquecidos inquices divindades bantos ver Anexo assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação queto Sua linguagem ritual também intraduzível originouse predominantemente das línguas quimbundo e quicongo Nesta nação tem fundamental importância o culto dos caboclos que são espíritos de índios considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão O candomblé de caboclo é uma modalidade do angola centrado no culto exclusivo dos antepassados indígenas Santos 1992 M Ferretti 1994 Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram origem à umbanda Há outras nações menores de origem banto como a congo e a cambinda hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola 8 A nação jejemahin do estado da Bahia e a jejemina do Maranhão derivaram suas tradições e língua ritual do ewêfon ou jejes como já eram chamados pelos nagôs e suas entidades centrais são os voduns As tradições rituais jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá Iniciação no candomblé queto O sacerdócio e organização dos ritos para o culto dos orixás são complexos com todo um aprendizado que administra os padrões culturais de transe pelo qual os deuses se manifestam no corpo de seus iniciados durante as cerimônias para serem admirados louvados cultuados Os iniciados filhos e filhasdesanto iaô em linguagem ritual também são popularmente denominados cavalos dos deuses uma vez que o transe consiste basicamente em mecanismo pelo qual cada filho ou filha se deixa cavalgar pela divindade que se apropria do corpo e da mente do iniciado num modelo de transe inconsciente bem diferente daquele do kardecismo em que o médium mesmo em transe deve sempre permanecer atento à presença do espírito O processo de se transformar num cavalo é uma estrada longa difícil e cara cujos estágios na nação queto podem ser assim sumariados Para começar a mãedesanto deve determinar através do jogo de búzios qual é o orixá dono da cabeça daquele indivíduo Braga 1988 Ele ou ela recebe então um fio de contas sacralizado cujas cores simbolizam o seu orixá ver Anexo dandose início a um longo aprendizado que acompanhará o mesmo por toda a vida A primeira cerimônia privada a que a noviça abiã é submetida consiste num sacrifício votivo à sua própria cabeça ebori para que a cabeça possa se fortalecer e estar preparada para algum dia receber o orixá no transe de possessão Para se iniciar como cavalo dos deuses a abiã precisa juntar dinheiro suficiente para cobrir os gastos com as oferendas animais e ampla variedade de alimentos e objetos roupas cerimoniais utensílios e adornos rituais e demais 9 despesas suas da famíliadesanto e eventualmente de sua própria família durante o período de reclusão iniciática em que não estará evidentemente disponível para o trabalho no mundo profano Como parte da iniciação a noviça permanece em reclusão no terreiro por um número em torno de 21 dias Na fase final da reclusão uma representação material do orixá do iniciado assentamento ou ibáorixá é lavada com um preparado de folhas sagradas trituradas amassi A cabeça da noviça é raspada e pintada assim preparada para receber o orixá no curso do sacrifício então oferecido orô Dependendo do orixá alguns dos animais seguintes podem ser oferecidos cabritos ovelhas pombas galinhas galos caramujos O sangue é derramado sobre a cabeça da noviça no assentamento do orixá e no chão do terreiro criando este sacrifício um laço sagrado entre a noviça o seu orixá e a comunidade de culto da qual a mãedesanto é a cabeça Durante a etapa das cerimônias iniciáticas em que a noviça é apresentada pela primeira vez à comunidade seu orixá grita seu nome fazendose assim reconhecer por todos completandose a iniciação como iaô iniciada jovem que recebe orixá O orixá está pronto para ser festejado e para isso é vestido e paramentado e levado para junto dos atabaques para dançar dançar e dançar No candomblé sempre estão presentes o ritmo dos tambores os cantos a dança e a comida Motta 1991 Uma festa de louvor aos orixás toque sempre se encerra com um grande banquete comunitário ajeum que significa vamos comer preparado com carne dos animais sacrificados O novo filho ou filhade santo deverá oferecer sacrifícios e cerimônias festivas ao final do primeiro terceiro e sétimo ano de sua iniciação No sétimo aniversário recebe o grau de senioridade ebômi que significa meu irmão mais velho estando ritualmente autorizado a abrir sua própria casa de culto Cerimônias sacrificiais são também oferecidas em outras etapas da vida como no vigésimo primeiro aniversário de 10 iniciação Quando o ebômi morre rituais fúnebres axexê são realizados pela comunidade para que o orixá fixado na cabeça durante a primeira fase da iniciação possa desligarse do corpo e retornar ao mundo paralelo dos deuses orum e para que o espírito da pessoa morta egum libertese daquele corpo para renascer um dia e poder de novo gozar dos prazeres deste mundo Ritual e ética O candomblé opera em um contexto ético no qual a noção judáicocristã de pecado não faz sentido A diferença entre o bem e o mal depende basicamente da relação entre o seguidor e seu deus pessoal o orixá Não há um sistema de moralidade referido ao bemestar da coletividade humana pautandose o que é certo ou errado na relação entre cada indivíduo e seu orixá particular A ênfase do candomblé está no rito e na iniciação que como se viu brevemente é quase interminável gradual e secreta O culto demanda sacrifício de sangue animal oferta de alimentos e vários ingredientes A carne dos animais abatidos nos sacrifícios votivos é comida pelos membros da comunidade religiosa enquanto o sangue e certas partes dos animais como patas e cabeça órgãos internos e costelas são oferecidas aos orixás Somente iniciados têm acesso a estas cerimônias conduzidas em espaços privativos denominados quartosdesanto Uma vez que o aprendizado religioso sempre se dá longe dos olhos do público a religião acaba por se recobrir de uma aura de sombras e mistérios embora todas as danças que são o ponto alto das celebrações ocorram sempre no barracão que é o espaço aberto ao público As celebrações de barracão os toques consistem numa seqüência de danças em que um por um são honrados todos os orixás cada um se manifestando no corpo de seus filhos e filhas sendo vestidos com roupas de cores específicas usando nas mãos ferramentas e objetos particulares a cada um deles expressandose em gestos e passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias míticas Essa 11 seqüência de música e dança sempre ao som dos tambores chamados rum rumpi e lé é designada xirê que em iorubá significa vamos dançar O lado público do candomblé é sempre festivo bonito esplendoroso esteticamente exagerado para os padrões europeus e extrovertido Para o grande público desatento para o difícil lado da iniciação o candomblé é visto como um grande palco em que se reproduzem tradições afro brasileiras igualmente presentes em menor grau em outras esferas da cultura como a música e a escola de samba Para o não iniciado dificilmente se concebe que a cerimônia de celebração no candomblé seja algo mais que um eterno dançar dos deuses africanos Seguidores e clientes O candomblé atende a uma grande demanda por serviços mágicoreligiosos de uma larga clientela que não necessariamente toma parte em qualquer aspecto das atividades do culto Os clientes procuram a mãe ou paidesanto para o jogo de búzios o oráculo do candomblé através do qual problemas são desvendados e oferendas são prescritas para sua solução O cliente paga pelo jogo de búzios e pelo sacrifício propiciatório ebó eventualmente recomendado O cliente em geral fica sabendo qual é o orixá dono de sua cabeça e pode mesmo comparecer às festas em que se faz a celebração de seu orixá podendo colaborar com algum dinheiro no preparo das festividades embora não sele nenhum compromisso com a religião O cliente sabe quase nada sobre o processo iniciático e nunca toma parte nele Entretanto ele tem uma dupla importância antes de mais nada sua demanda por serviços ajuda a legitimar o terreiro e o grupo religioso em termos sociais Segundo é da clientela que provém na maioria dos terreiros uma substancial parte dos fundos necessários para as despesas com as atividades sacrificiais Comumente sacerdotes e sacerdotisas do candomblé que adquirem alto grau de 12 prestígio na sociedade inclusiva gostam de nomear entre seus clientes figuras importantes dos mais diversos segmentos da sociedade Devotos das religiões afrobrasileiras podem cultuar também outras entidades que não os orixás africanos como os caboclos espíritos de índios brasileiros e encantados humanos que teriam vivido em outras épocas e outros países Durante o transe ritual os caboclos conversam com seus seguidores e amigos oferecendo conselhos e fórmulas mágicas para o tratamento de todos os tipos de problemas A organização dos panteões de divindades africanas nos terreiros varia de acordo com cada nação de candomblé Santos 1992 M Ferretti 1993 Caboclos e pretosvelhos espíritos de escravos são centrais na umbanda em que estas entidades têm papel mais importante no cotidiano da religião do que os próprios orixás III Comportamento humano como herança dos orixás Segundo o candomblé cada pessoa pertence a um deus determinado que é o senhor de sua cabeça e mente e de quem herda características físicas e de personalidade É prerrogativa religiosa do pai ou mãedesanto descobrir esta origem mítica através do jogo de búzios Esse conhecimento é absolutamente imperativo no processo de iniciação de novos devotos e mesmo para se fazerem previsões do futuro para os clientes e resolver seus problemas Embora na África haja registro de culto a cerca de 400 orixás apenas duas dezenas deles sobreviveram no Brasil A cada um destes cabe o papel de reger e controlar forças da natureza e aspectos do mundo da sociedade e da pessoa humana Cada um tem suas próprias características elementos naturais cores simbólicas vestuário músicas alimentos bebidas além de se caracterizar por ênfase em certos traços de personalidade desejos defeitos etc ver Anexo Nenhum orixá é nem inteiramente bom nem inteiramente mau Noções ocidentais de bem e mal estão ausentes da religião dos orixás no Brasil E os devotos acreditam que os homens e mulheres herdam muitos dos atributos de personalidade de seus orixás de modo que em muitas situações a conduta de alguém pode ser espelhada em passagens 13 míticas que relatam as aventuras dos orixás Isto evidentemente legitima aos olhos da comunidade de culto tanto as realizações como as faltas de cada um Vejamos abreviadamente algumas das características de personalidade mais usualmente atribuídas aos orixás por seus seguidores7 Exu Deus mensageiro divindade trickster o trapaceiro Em qualquer cerimônia é sempre o primeiro a ser homenageado para se evitar que se enraiveça e atrapalhe o ritual Guardião das encruzilhadas e das portas da rua Sincretizado com o Diabo católico Seus símbolos são um porrete fálico e tridentes de ferro Os seguidores acreditam que as pessoas consagradas a Exu são inteligentes sexy rápidas carnais licenciosas quentes eróticas e sujas Filhos de Exu gostam de comer e beber em demasia Não se deve confiar nunca num filho ou numa filha de Exu Eles são os melhores mas eles decidem quando o querem ser Não são dados ao casamento gostam de andar sozinhos pelas ruas bebendo e observando os outros para apanhálos desprevenidos Devese pagar a Exu com dinheiro comida atenção sempre que se precise de um favor dele Como o pai filhos de Exu nunca fazem nada sem paga A saudação a Exu é Laroyê Ogum Deus da guerra do ferro da metalurgia e da tecnologia Sincretizado com Santo Antônio e São Jorge É o orixá que tem o poder de abrir os caminhos facilitando viagens e progressos na vida Os estereótipos mostram os filhos de Ogum como teimosos apaixonados e com certa frieza racional Eles são muito trabalhadores especialmente moldados para o trabalho manual e para as atividades técnicas Embora eles usualmente façam qualquer coisa por um amigo os filhos e filhas de Ogum não sabem amar sem machucar despedaçam corações Acreditase que sejam muito bem dotados sexualmente tanto quanto os filhos de Exu irmão de Ogum Embora eles possam ter muitos interesses os filhos de Ogum preferem as coisas práticas detestando qualquer trabalho intelectual Eles dão bons guerreiros policiais soldados mecânicos técnicos Saudação Ogunhê Oxóssi Deus da caça Sincretizado com São Jorge e São Sebastião Orixá da fartura Seus filhos são elegantes graciosos xeretas curiosos e solitários 7 Conforme pesquisa realizada em 60 terreiros paulistas de candomblé sobretudo em três deles em que o trabalho de campo foi mais demorado o Ilê Axé Ossaim Darê de Pai Doda Braga de Ossaim em Pirituba o Ilê Axé Yemojá Orukoré Ogum de Pai Armando Vallado de Ogum em Itapevi e o Ile Leuiwyato de Mãe Sandra Medeiros Epega de Xangô em Guararema Prandi 1991a Os estereótipos aqui apresentados são em grande parte coincidentes com aqueles colhidos em Salvador no Rio de Janeiro e mesmo na África conforme Lépine 1981 Augras 1983 Verger 1985a 14 Embora dêem bons pais e boas mães têm sempre dificuldade com o ser amado São amigáveis pacientes e muitas vezes ingênuos Os filhos de Oxóssi têm aparência jovial e parece que estão sempre à procura de alguma coisa Não conseguem ser monogâmicos Têm de caçar noite e dia Por isso são considerados irresponsáveis De fato eles se sentem livres para quebrar qualquer compromisso que não lhes agrade mais Dificilmente eles se sentem obrigados a comparecer a um encontro marcado quando outra coisa mais interessante cruza o seu caminho Okê arô Obaluaiê ou Omulu Deus da varíola das pragas e doenças É relacionado com todo o tipo de mal físico e suas curas Associado aos cemitérios solos e subsolos Sincretizado com São Lázaro e São Roque Seus filhos aparentam um aspecto deprimido São negativos pessimistas inspirando pena Eles parecem pouco amigos mas é porque são tímidos e envergonhados Seja amigo de um deles e você descobrirá que tudo o que eles precisam para ser as melhores pessoas do mundo é de um pouco de atenção e uma pitada de amor Quando envelhecem alguns se tornam sábios outros parecem completos idiotas É que apenas querem ficar sozinhos Atotô Xangô Deus do trovão e da justiça Sincretizado com São Jerônimo Seus filhos se dão bem em atividades e assuntos que envolvem justiça negócios e burocracia Sentem que nasceram para ser reis e rainhas mas usualmente acabam se comportando como plebeus São teimosos resolutos e glutões gananciosos por dinheiro comida e poder Uma pessoa de Xangô gosta de se mostrar com muitos amantes embora não sejam reconhecidos como pessoas capazes de grandes proezas sexuais Vivem para lutar e para envolver as pessoas que o cercam na sua própria e interminável guerra pessoal Gostam de criar suas famílias protegendo seus rebentos além do usual Por isso são muito bons amigos e excelentes pais Kaô kabiesile Oxum Deusa da água doce do ouro da fertilidade e do amor Sincretizada com Nossa Senhora das Candeias Senhora da vaidade ela foi a esposa favorita de Xangô Os filhos e filhas de Oxum são pessoas atrativas sedutoras manhosas e insinuantes Elas sabem como manobrar os seus amores são boas na feitiçaria e na previsão do futuro Adoram adivinhar segredos e mistérios São orgulhosas da beleza que pensam ter por direito natural Podem ser muito vaidosas atrevidas e arrogantes Dizem que sabem tudo do amor do namoro e do casamento mas têm muita dificuldade em criar seus filhos adequadamente muitas 15 vezes até se esquecendo que eles existem Não gostam da pobreza e nem da solidão Saudação Ora yeyê ô Iansã ou Oiá Deusa dos raios dos ventos e das tempestades É a esposa de Xangô que o acompanha na guerra Orixá guerreira que leva a alma dos mortos ao outro mundo Sincretizada com Santa Bárbara Seus filhos e filhas são mais dotados para a prática do sexo do que para o cultivo do amor Deusa do erotismo ela é uma espécie de entidade feminista As pessoas de Iansã são brilhantes conversadoras espalhafatosas bocudas e corajosas Detestam fazer pequenos serviços em favor dos outros pois sentem que isso contraria sua majestade Elas podem dar a vida pela pessoa amada mas jamais perdoam uma traição Eparrei Iemanjá Deusa dos grandes rios dos mares dos oceanos Cultuada no Brasil como mãe de muitos orixás Sincretizada com Nossa Senhora da Conceição Freqüentemente representada por uma sereia sua estátua pode ser vista em quase todas as cidades ao longo da costa brasileira Ela é a grande mãe dos orixás e do Brasil a quem protege como padroeira sendo igualmente Nossa Senhora da Conceição Aparecida Os filhos e filhas de Iemanjá tornamse bons pais e boas mães Protegem seus filhos como leões Seu maior defeito é falar demais são incapazes de guardar um segredo Gostam muito do trabalho e de derrotar a pobreza Fisicamente são pessoas pouco atraentes mulheres de bustos exagerados e sua presença entre outras pessoas é sempre pálida Saudação Odoyá Oxalá Deus da criação Sincretizado com Jesus Cristo Seus seguidores vestemse de branco às sextasfeiras É sempre o último a ser louvado durante as cerimônias religiosos afrobrasileiras é reverenciado pelos demais orixás Como criador ele modelou os primeiros seres humanos Quando se revela no transe apresentase de duas formas o velho Oxalufã cansado e encurvado movendose vagarosamente quase incapaz de dançar o jovem Oxaguiã dançando rápido como o guerreiro Por ter inventado o pilão para preparar o inhame como seu prato favorito Oxaguiã é considerado o criador da cultura material Ao invés de sacrifício de sangue de animais quentes Oxalá prefere o sangue frio dos caracóis Os filhos de Oxalá gostam do poder do trabalho criativo apreciam ser bem tratados e mostramse mandões e determinados na relação com os outros São melhores no amor do que no sexo gostam muito de aprender e de ensinar mas nunca ensinam a lição completamente São calados e chatos Gostam de desafios são muito bons amigos e muito bons adversários aos que se atrevem a se opor a eles Povo de Oxalá nunca desiste Epa Babá 16 Tal pai tal filho Assim cada orixá tem um tipo mítico que é religiosamente atribuído aos seus descendentes seus filhos e filhas Através de mitos a religião fornece padrões de comportamento que modelam reforçam e legitimam o comportamento dos fiéis Verger 1957 1985b De fato o seguidor do candomblé pode simplesmente tomar os atributos do seu orixá como se fossem os seus próprios e tentar se parecer com ele ou reconhecer através dos atributos da divindade bases que justificam sua conduta Os padrões apresentados pelos mitos dos orixás podem assim ser usados como modelo a ser seguido ou como validação social para um modo de conduta já presente Um iniciado pode ao familiarizarse com seus estereótipos míticos identificarse com eles e reforçar certos comportamento ou simplesmente chamar a atenção dos demais para este ou aquele traço que sela sua identidade mítica Mudar ou não o comportamento não é importante o que conta é sentirse próximo do modelo divino Além de seu orixá dono da cabeça acreditase que cada pessoa tem um segundo orixá que atua como uma divindade associada juntó que complementa o primeiro Dizse por exemplo sou filho de Oxalá e Iemanjá Geralmente se o primeiro é masculino o segundo é feminino e viceversa como se cada um tivesse pai e mãe A segunda divindade tem papel importante na definição do comportamento permitindo operase com combinações muito ricas Como cada orixá particular da pessoa deriva de uma qualidade do orixá geral que pode ser o orixá em idade jovem ou já idoso ou o orixá em tempo de paz ou de guerra como rei ou como súdito etc etc a variações que servem como modelos são quase inesgotáveis 17 Às vezes quando certas características incontestes de um orixá não se ajustam a uma pessoa tida como seu filho não é incomum nos meios do candomblé duvidarse daquela filiação suspeitandose que aquele iniciado está com o santo errado ou seja mal identificado pela mãe ou paidesanto responsável pela iniciação Neste caso o verdadeiro orixá tem que ser descoberto e o processo de iniciação reordenado Pode acontecer também a suspeita de que o santo está certo mas que certas passagens míticas de sua biografia que explicariam aqueles comportamentos estão perdidas No candomblé sempre se tem a idéia de que parte do conhecimento mítico e ritual foi perdido na transposição da África para o Brasil e de que em algum lugar existe uma verdade perdida um conhecimento esquecido uma revelação escondida Podese mudar de santo ou encetar interminável busca deste conhecimento faltante busca que vai de terreiro em terreiro de cidade em cidade na rota final para Salvador reconhecidamente o grande centro do conhecimento sacerdotal do axé e às vezes até a África e não raro à mera etnografia acadêmica Reconhecese que falta alguma coisa que precisa ser recuperada completada A construção da religião de seus deuses símbolos e significados estará sempre longe de ter se completado Os seguidores evidentemente nunca se dão conta disso IV Religiões éticas e religiões mágicas O candomblé é uma religião basicamente ritual e aética que talvez por isso mesmo veio a se constituir como uma alternativa sacral importante para diferentes segmentos sociais que vivem numa sociedade como a nossa em que ética código moral e normas de comportamento estritas podem valer pouco ou comportar valores muito diferentes Nas religiões éticas a mística extática a experiência religiosa do transe que é o caso do candomblé dá lugar ao experimentar a idéia de dever retribuição 18 e piedade para com o próximo que é o fundamento religioso e da religião do modo de vida a razão de existência e o meio de salvação A transgressão deixa de estar relacionada com a impropriedade ritual para ser a transgressão de um princípio ético normativo Nesse tipo a religião é fonte e guardiã da moralidade entre os homens já que deus é a potência ética plena e em si Nas religiões mágicas ao contrário não há a idéia de salvação a de busca necessária de um outro mundo em que a corrupção está superada mas sim a procura de interferência neste mundo presente através do uso de forças sagradas que vêm elas sim do outro mundo Nesta classe de religiões mágicas e rituais podemos perfeitamente enxergar o candomblé Seus deuses são fortes com paixões análogas às dos homens alternadamente valentes ou pérfidos amigos e inimigos entre si e contra os homens mas em todo caso inteiramente desprovidos de moralidade e tanto quanto os homens passíveis de suborno mediante o sacrifício e coagidos por procedimentos mágicos que fazem com que os homens venham a se tornar pelo conhecimento que estes acabam tendo dos deuses todos mais fortes do que os próprios deuses Weber 1969 v2 909 Esses deuses que são tantos e nem mesmo se conhecem entre si mas que são conhecidos pelo sacerdotefeiticeiro que pode inclusive jogar um contra o outro para obter favores para os homens esses deuses nunca chegam a ser potências éticas que exigem e recompensam o bem e castigam o mal eles estão preocupados com a sua própria sobrevivência e para isso com o cuidado de seus adeptos particulares Daí as religiões mágicas não se caracterizarem pela existência de um pacto geral de luta do bem contra o mal Nelas o sacerdócio e o cumprimento de prescrições rituais têm finalidade meramente utilitária de manipulação do mundo natural e não natural de exercício de poder sobre forças e entidades sobrenaturais maléficas e demoníacas de ataque e defesa em relação à ação do outro que é sempre um inimigo potencial um oponente Não há uma teodicéia capaz de nuclear a religião e nem desenvolver especulações éticas sobre a ordem cósmica 19 mesmo porque a religião no caso do candomblé já se desenvolveu como uma colcha de retalhos fragmentos cuja unidade vem sendo ainda buscada por alguns de seus adeptos que se põem esta questão da explicação da ordem cósmica ainda que num plano que precede o encontro de um fim transcendente e que se ampara numa etnografia que relativisa as culturas e legitima como igualmente uniorganizadoras do cosmo as diferentes formas de religião Por exemplo Juana dos Santos em Os nagô e a morte 1986 parte de uma base empírica oferecida por suas pesquisas no Brasil e na África e com uma reinterpretação apoiada na etnografia cria no papel uma religião que não se pode encontrar nem no Brasil nem na África propondo para cada dimensão ritual da religião que ela reconstitui significados que procuram dar às partes o sentido de um todo dandose à religião uma forma acabada que ela não tem Creio não ser difícil imaginar que o candomblé de fato comporta elementos desses dois grandes tipos de religião mas no conjunto se aproxima mais das religiões mágicas e rituais e como religião de serviço chega praticamente a se colar no tipo estrito de religião mágica O próprio movimento recente de abandono do sincretismo católico leva a um certo esvaziamento axiológico esvaziamento de uma ética ainda que tênue partilhada em comunidades de candomblé antigas emprestada do catolicismo ou imposta por ele uma vez que as questões de moralidade foram um terreno que o catolicismo dominador reservou para si e para seu controle no curso da formação das religiões negras no Brasil Neste movimento entretanto o candomblé não pode mais voltar à tribo original nem ao modelo de justiça tradicional do ancestral o egungun para regrar a conduta na vida cotidiana E nem precisa disto pois não é mais no grupo fechado que está hoje sua força e sua importância como religião De todo modo foi exatamente o desprendimento do candomblé de suas de amarras étnicas originais que o transformou numa religião para todos ainda que 20 sendo ou talvez porque uma religião aética permitindo também a oferta de serviços mágicos para uma população fora do grupo de culto que está habituada a compor com base em muitos fragmentos de origens diferentes formas privadas às vezes até pessoais de interpretação do mundo e de intervenção nele por meios objetivos e subjetivos e cujo acesso está codificado numa relação de troca numa relação comercial para um tipo de consumo imediato diversificado e particularizável que é contraposto ao consumo massificado que a sociedade pressupõe e obriga Estou me referindo especialmente a indivíduos de classe média que usam experimentar códigos com os quais não mantêm vínculos e compromissos duradouros e que o fazem por sua livre escolha podendo contar com um repertório tanto mais variado quanto possível V Uma religião para os excluído Os cultos dos orixás no Brasil dos quais excluo em grande parte a umbanda pela dimensão kardecistacatólica que compõe seu plano de moralidade mas nos quais incluo as formas do candomblé baiano do xangô pernambucano batuque gaúcho tambordemina do Nordeste ocidental etc têm sido pelo menos desde os anos 30 e ininterruptamente verdadeiros redutos homossexuais de homossexuais de classe social inferior Com exceção de Ruth Landes em seu escrito de 1940 Landes 1967 até bem pouco tempo os pesquisadores que erigiram a literatura científica sobre o candomblé sempre esconderam este fato ou ao menos o relevaram como traço de algum terreiro culturalmente decadente Ora o homossexualismo está presente mesmo nas casas mais tradicionais do país não viu quem não quis sobre estudos contemporâneos ver bibliografia em Teixeira 1987 O homossexual sobretudo o homem sempre foi obrigado a publicizar a sua intimidade como único meio de encontrar parceria sexual e ao publicizar sua 21 intimidade obrigavase a desempenhar um papel social que não pusesse em risco a sua busca de parceiro isto é que não pusesse em risco o parceiro potencial um papel que o mostrava como o de fora o diferente o não incluído mas que ainda assim não chegava a oferecer qualquer risco de contaminação do parceiro que para efeito público não chegava nunca a mudar de papel sexual Sua diferença o obrigou a desenvolver padrões de conduta que o identificasse facilmente para ser homossexual era preciso mostrarse homossexual Pois nenhuma instituição social no Brasil afora o candomblé jamais aceitou o homossexual como uma categoria que não precisa necessariamente esconderse anulandoo enquanto tal Só com os movimentos gay de origem norteamericana a partir dos anos 60 é que se buscou quebrar a idéia de que o homossexual tinha que parecer diferente num jogo que valorizou a semelhança e que talvez tenha dado suporte para a guetificação e formação demográfica dos hoje denominados grupos de risco da AIDS Esta aceitação de um grupo tão problemático para outras instituições religiosas ou não também demonstra a aceitação que o candomblé tem deste mundo mesmo quando no extremo tratase do mundo da rua do cais do porto dos meretrícios e portas de cadeia Grandíssima e exemplar é a capacidade do candomblé de juntar os santos aos pecadores o maculado ao limpo o feio ao bonito Se concordarmos que as maiores concentrações relativas de homossexuais e bissexuais ocorrem nas grandes cidades onde podem refugiarse no anonimato e na indiferença que os grandes centros oferecem além de oferecerem locais e instituições de publicização que na cidade grande podem funcionar como espaços fechados isto é públicos porém privatizados encontramos uma razão a mais para o sucesso do candomblé em São Paulo a possibilidade de fazer parte de um grupo religioso isto é voltado para o exercício da fé mas que ao mesmo tempo é lúdico reforçador da personalidade capaz de aproveitar os talentos estéticos individuais e por que não um nada desprezível meio de mobilidade social e acumulação de prestígio coisas muito pouco ou nada acessíveis aos homossexuais 22 em nossa sociedade Ainda mais quando se é pobre pardo migrante pouco escolarizado O candomblé é assim de fato uma religião apetrechada para oferecer estratégias de vida que as ciências sociais jamais imaginaram Esta relação entre sacerdócio e homossexualidade não é prerrogativa nem do candomblé e nem de nossa civilização Mas o que faz do candomblé uma religião tão singular é o fato de que todos os seus adeptos devem exercer necessariamente algum tipo de cargo sacerdotal E qualquer que seja o cargo sacerdotal ocupado ninguém precisa esconder ou disfarçar suas preferências sexuais Ao contrário pode até usar o cargo para legitimar a preferência como se usa o orixá para explicar a diferença Para melhor entendermos isso tudo entretanto teríamos também que não deixar esquecido o fato de contarmos inclusive com variantes de uma sociabilidade jeitos de ser e de viver vivenciadas por grande parte da população brasileira mais pobre que de todo lugar do país vai se juntando nas periferias metropolitanas hoje não importando muito mais sua origem de cor mas que é resultante também do nosso recente passado escravista que amputava normas de conduta suprimia instituições familiares e aleijava até mesmo as religiões das populações escravas Donde fica evidentíssimo ser o candomblé uma religião brasileira muito mais que a simples reprodução de cultos africanos aos orixás como existiram e como existem alémmar Considero bastante significativo o fato de o culto aos orixás no Brasil ter se descolado do culto dos antepassados os egunguns a que já me referi os quais aqui ganharam um culto à parte nos candomblés de egungun Na África eles não eram apenas partes de um mesmo universo religioso o orixá era cultuado para zelar pela família e pelo indivíduo o antepassado era cultuado para cuidar da comunidade como um todo O antepassado garantia a regra o orixá garantia a força sagrada agindo sobre a natureza 23 Mas se o candomblé libera o indivíduo ele libera também o mundo Ele não tem uma mensagem para o mundo não saberia o que fazer com ele se lhe fosse dado transformálo não é uma religião da palavra nunca será salvacionista É sem dúvida uma religião para a metrópole mas somente para uma parte dela como é destino das outras religiões hoje O candomblé pode ser a religião ou a magia daquele que já se fartou da transcendência despedaçada pelo consumo da razão da ciência e da tecnologia e que se encontrou desacreditado do sentido de um mundo inteiramente desencantado e o candomblé será aí uma religião aética para uma sociedade pósética Mas também pode ser a religião e a magia daquele que sequer chegou a experimentar a superação das condições de vida calçadas por uma certa sociabilidade do salvese quem puder onde o outro não conta e quando conta conta ou como opressor ou como vítima potencial como inimigo como indesejável como o que torna demasiado pesado o fardo de viver num mundo que parece ser por demais desordenado e o candomblé poderá ser então uma religião aética para uma sociedade préética VI Sacerdotes e feiticeiros No candomblé a iniciação significa fazer parte dos quadros sacerdotais que são basicamente de duas naturezas dos que entram em transe e dos que não organizados hierarquicamente e que pressupõem um tipo de mobilidade ex opere operato Todo iaô que passar por suas obrigações pode chegar a paidesanto ou mãedesanto independentemente de seu comportamento na vida cotidiana isto é fora dos limites impostos pelas obrigações rituais do devoto para com seu deus e alheio aos deveres de lealdade para com o seu iniciador o qual entretanto pode ser substituído por outro através de adoção ritual sempre que ocorrer por um motivo ou outro quebra pública desta relação de lealdade e dependência 24 Ser pai ou mãedesanto não é aspiração de todos os iniciados nem jamais pode ser em se tratando da categoria dos ebômis não rodantes equedes e ogãs Entretanto é perspectiva muito importante para boa parcela dos adeptos Provenientes em geral de classes sociais baixas e agora não importa mais se são brancos ou se negros vir a ser um paidesanto representa para os iniciados a possibilidade de exercer uma profissão que nascida como ocupação voltada para os estratos baixos e de origem negra passou recentemente ao compor os quadros dos serviços de oferta generalizada a todos os seguimentos sociais a reivindicar o status de uma profissão de classe média como já ocorreu com outras atividades profissionais e em outros contextos sociais Hobsbawn 1984 299 O paidesanto não é mais a figura escondida perseguida desprezada Ele tem visibilidade na sociedade e transita o tempo todo nos meios de classe média que o buscam em seu terreiro e assim fazendo tiramno do anonimato Ao mostrarse em público o paidesanto vêse obrigado a ostentar símbolos que expressem a sua profissão Não contando com cabedal intelectual adquirido na escola o que é decisivo na identidade de classe média da maioria das profissões não proletárias ainda que simbolicamente o pai e a mãedesanto fazemse perceber por um estilo de vestuário e um excesso de jóias ou outros enfeites levados no pescoço na cabeça na cintura e nos pulsos que dão a impressão de serem originalmente africanos ou de origem africana mas cuja tradição não tem mais que meio século Ele e ela fazemse diferentes e quanto mais diferentes melhor Um outro sinal de prestígio amealhado com freqüência por sacerdotes do candomblé bem como da umbanda são as medalhas e comendas concedidas por inúmeras sociedades medalhísticas de finalidade autopromocional e que servem para substituir às vezes com vantagens os diplomas e graus universitários Tudo isto faz parte de um processo de mobilidade social que está ao alcance de pessoas que por suas origens sociais dificilmente encontrariam outro canal de ascensão social A mobilidade e a visibilidade social que sua profissão 25 agora pressupõe são importantes para conferir ao paidesanto uma presença voltada para fora do terreiro que lhe garanta um fluxo de clientes cujo pagamento por serviços mágicos permite a constituição de um fundo econômico que facilita no mínimo materialmente a sua realização como líder religioso de seu grupo de adeptos numa religião em que o dispêndio material é muito grande e decididamente muito significativo Este paidesanto e esta mãedesanto são sacerdotes de uma religião em que as tensões entre magia e prática religiosa estão descartadas Podese finalmente ser ao mesmo tempo o sacerdote e o feiticeiro numa situação social em que cada um destes papéis reforçará o outro E numa sociedade em que cada um deles estará orientado preferencialmente para grupos e até mesmo classes sociais diferentes Ao se realizar como instituição legitimada de prática mágica o candomblé na metrópole faz parte publicamente do jogo de múltiplos aspectos através do qual cada grupo ou cada pessoa individualmente é capaz de construir sua própria fonte de explicação de transcendência e de intervenção no mundo A capacidade de se manter como religião aética que o candomblé demonstra ter permitelhe vantajosa flexibilidade em relação às outras religiões éticas e a abertura para um mercado religioso de consumo ad hoc por parte dos clientes não religiosos que as religiões de conversão em geral não têm A racionalização do jogo de búzios e do ebó ao se apresentarem como menos sacralizados do que na verdade o são o atendimento privativo e com hora marcada o anonimato do serviço a explicitação do pagamento monetário na relação de troca a presença do paidesanto num mercado público regido por regras de eficiência e competência profissional bem como suas próprias regras aéticas no plano do grupo religioso fazem desta religião tribal de deuses africanos uma religião para a metrópole onde o indivíduo é cada vez mais um bricoleur 26 Nesta sociedade metropolitana no rastro das transformações sociais de âmbito mundial dos últimos cinqüenta anos a construção de sistemas de significados depende cada vez mais da vontade de grupos e indivíduos Neste movimento os temas religiosos relevantes como afirma Luckmann podem ser selecionados a partir de diferentes preferências particulares No limite cada indivíduo pode ter o seu particular e pessoal modelo de religiosidade independente dos grandes sistemas religiosos totalizadores que marcaram até bem pouco a história da humanidade Os deuses tribais africanos adotados na metrópole não são mais os deuses da tribo São deuses de uma civilização em que o sentido da religião e da magia passou a depender sobretudo do estilo de subjetividade que o homem em grupo ou solitariamente escolhe para si VII A religião dos orixás na sociedade contemporânea O candomblé tal como existe hoje nos grandes centros urbanos do Brasil é capaz de oferecer a seus seguidores algo diferente daquilo que a religião dos orixás em tempos mais antigos podia certamente propiciar quando sua presença significava para o escravo a ligação afetiva e mágica ao mundo africano do qual fora arrancado pela escravidão Quando o candomblé se organizou no Nordeste no século 19 ele permitia ao iniciado a reconstrução simbólica através do terreiro da sua comunidade tribal africana perdida Primeiro ele é o elo com o mundo original Ele representava assim o mecanismo através do qual o negro africano e brasileiro podia distanciarse culturalmente do mundo dominado pelo opressor branco O negro podia contar com um mundo negro fonte de uma África simbólica mantido vivo pela vida religiosa dos terreiros como meio de resistência ao mundo branco que era o mundo do trabalho do sofrimento da escravidão da miséria Bastide mostrou como a habilidade do negro durante o período colonial de viver em dois 27 diferentes mundos ao mesmo tempo era importante para evitar tensões e resolver conflitos difíceis de suportar sob a condição escrava Bastide 1975 Logo o mesmo negro que reconstruiu a África nos candomblés reconheceu a necessidade de ser sentirse e se mostrar brasileiro como única possibilidade de sobrevivência e percebeu que para ser brasileiro era absolutamente imperativo ser católico mesmo que se fosse também de orixá O sincretismo se funda neste jogo de construção de identidade O candomblé nasce católico quando o negro precisa ser também brasileiro Quando o candomblé a partir dos anos 1960 deslancha a caminho de se tornar religião universal afrouxase seu foco nas diferenças raciais e ele vai deixando para trás seu significado essencial de mecanismo de resistência cultural embora continue a prover esse mecanismo a muitas populações negras que vivem de certo modo econômica e culturalmente isoladas em regiões tradicionais do Brasil As novas condições de vida na sociedade brasileira industrializada fazem mudar radicalmente o sentido sociológico do candomblé Se até poucas décadas atrás ele significava uma reação à segregação racial numa sociedade tradicional em que as estruturas sociais tinham mais o aspecto de estamentos que de classes agora ele tem o sentido de escolha pessoal livre intencional alguém adere ao candomblé não pelo fato de ser negro mas porque sente que o candomblé pode fazer sua vida mais fácil de ser vivida porque então talvez se possa ser mais feliz não importa se se é branco ou negro8 Evidentemente embora o processo de escolha religiosa possa ter conseqüências sociais significativas para a sociedade como um todo na medida que com a escolha certas religiões podem ser mais reforçadas e neste sentido ter aumentada sua influência na sociedade qualquer 8 Os negros ainda hoje marcam maior presença nas religiões afrobrasileiras onde somam entre pardos e pretos 427 Sua presença relativa sobe ainda mais no candomblé originariamente a grande fonte de identidade negra em que chegam a 568 a única modalidade religiosa em que o negro é a maioria dos fiéis Mas há muito branco nas afrobrasileiras 512 e mesmo no candomblé em que representam 28 eficácia da religião no que diz respeito à esfera íntima só pode ser avaliada pelo indivíduo que a ela se converte O desatar de laços étnicos que no curso da últimas três décadas tem transformado o candomblé numa religião para todos também propiciou um nada desprezível alargamento da oferta de serviços mágicos para a população exterior aos grupos de culto Uma clientela já acostumada a compor visões de mundo particulares a partir de fragmentos originários de diferentes métodos e fontes de interpretação da vida O candomblé oferece símbolos e sentidos hoje muito valorizados pela música literatura artes em geral os quais podem ser fartamente usados pela clientela na composição dessa visão de mundo caleidoscópica sem nenhum compromisso religioso O cliente de classe média que vai aos candomblés para jogar búzios e fazer ebós é o bricoleur que também tem procurado muitas outras fontes não racionais de sentido para a vida e de cura para males de toda natureza Certamente o candomblé deste cliente é bem diferente do candomblé do iniciado mas nenhum deles contradiz o sentido do outro O candomblé é uma religião que tem no centro o rito as fórmulas de repetição pouco importando as diferenças entre o bem e o mal no sentido cristão O candomblé administra a relação entre cada orixá e o ser humano que dele descende evitando através da oferenda os desequilíbrios desta relação que podem provocar a doença a morte as perdas materiais o abandono afetivo os sofrimentos do corpo e da alma e toda sorte de conflito que leva à infelicidade Como religião em que não existe a palavra no sentido ético nem a conseqüente pregação moral o candomblé juntamente com a umbanda que contudo tem seu aspecto de religião aética atenuado pela incorporação de virtudes teologais do kardecismo como a caridade é sem dúvida uma alternativa religiosa importante também para grupos sociais que vivem numa sociedade como a nossa em que a 399 Em números absolutos os maiores contingentes negros são evidentemente católicos e em 29 ética os códigos morais e os padrões de comportamento estritos podem ter pouco variado e até mesmo nenhum valor O candomblé é uma religião que afirma o mundo reorganiza seus valores e também reveste de estima muitas das coisa que outras religiões consideram más por exemplo o dinheiro os prazeres inclusive os da carne o sucesso a dominação e o poder O iniciado não tem que internalizar valores diferentes daqueles do mundo em que ele vive Ele aprende os ritos que tornam a vida neste mundo mais fácil e segura mundo pleno de possibilidades de bemestar e prazer O seguidor do candomblé propicia os deuses na constante procura do melhor equilíbrio possível ainda que temporário entre aquilo que ele é e tem e aquilo que ele gostaria de ser e ter Nessa procura é fundamental que o iniciado confie cegamente em sua mãedesanto Guiado por ela este fiel aprende ano após ano a repetir cada uma das fórmula iniciáticas necessárias à manipulação da força sagrada da natureza o axé Não se pode ser do candomblé sem constantemente refazer o rito como não se pode ser evangélico sem constantemente examinar a própria consciência à procura da culpa que delata a presença das paixões que precisam ser exorcizadas O bom evangélico para se salvar da danação eterna precisa aniquilar seus desejos mais escondidos o bom filhodesanto precisa realizar todos os seus desejos para que o axé a força sagrada de seu orixá de quem é continuidade possa se expandir e se tornar mais forte Aceitando o mundo como ele é o candomblé aceita a humanidade situandoa no centro do universo apresentandose como religião especialmente dotada para a sociedade narcisista e egoísta em que vivemos Porque o candomblé não distingue entre o bem e o mal do modo como aprendemos com o cristianismo ele tende a atrair também toda sorte de indivíduos que têm sido socialmente marcados e marginalizados por outras instituições segundo lugar evangélicos Prandi 1995 30 religiosas e não religiosas Isto mostra como o candomblé aceita o mundo mesmo quando ele é o mundo da rua da prostituição dos que já cruzaram as portas da prisão O candomblé não discrimina o bandido a adúltera o travesti e todo tipo de rejeitado social Mas se o candomblé libera o indivíduo ele também libera o mundo não tem para este nenhuma mensagem de mudança não deseja transformálo em outra coisa como se propõem por exemplo os católicos que seguem a Teologia da Libertação sempre interessados em substituir este mundo por outro mais justo O candomblé se preocupa sobretudo com aspectos muito concretos da vida doença dor desemprego deslealdade falta de dinheiro comida e abrigo mas sempre tratando dos problemas caso a caso indivíduo a indivíduo pois não se trabalha aqui com a noção de interesses coletivos mas sempre com a de destino individual O candomblé também pode ser a religião ou a magia daquele que já se fartou dos sentidos dados pela razão ciência e tecnologia e que deixou de acreditar no sentido de um mundo totalmente desencantado que deixou para trás a magia em nome da eficácia do secular pensamento moderno Talvez o candomblé possa ser a religião daquele que não consegue atinar com o senso de justiça social suficiente para resolver muitos dos problemas que cada indivíduo enfrenta no curso de sua vida pelo mundo desencantado O candomblé também oferece a seus iniciados e simpatizantes uma particular possibilidade de prazeres estéticos que se esparrama pelas mais diferentes esfera da arte e da diversão da música à cozinha do artesanato à escola de samba além da fascinação do próprio jogo de búzios o portão de entrada para o riquíssimo universo cultural dos orixás O candomblé ensina sobretudo que antes de se louvarem os deuses é imperativo louvar a própria cabeça ninguém terá um deus forte se não estiver bem consigo mesmo como ensina o dito tantas vezes repetidos nos candomblés Ori buruku kossi orixá ou Cabeça ruim não tem orixá Para os que se convertem isso faz uma grande diferença em termos de autoestima 31 Na nossa sociedade das grandes metrópoles se a construção de sentidos depende cada vez mais do desejo de grupos e indivíduos que podem escolher esta ou aquela religião ou fragmentos delas a relevância dos temas religiosos igualmente pode ser atribuída de acordo com preferências privadas A religião é agora matéria de preferência de tal sorte que até mesmo escolher não ter religião alguma é inteiramente aceitável socialmente Assim os deuses africanos apropriados pelas metrópoles da América do Sul não são mais deuses da tribo impostos aos que nela nascem Eles são deuses numa civilização em que os indivíduos são livres para escolhêlos ou não continuar fielmente nos seus cultos ou simplesmente abandonálos O candomblé pode também significar a possibilidade daquele que é pobre e socialmente marginalizado ter o seu deus pessoal que ele alimenta veste e ao qual dá vida para que possa ser honrado e homenageado por toda uma comunidade de culto Quando a filhadesanto se deixa cavalgar pelo seu orixá a ela se abre como palco o barracão em festa para o que talvez seja a única possibilidade na sua pobre vida de experimentar uma apresentação solo de estar no centro das atenções quando seu orixá paramentado com as melhores roupas e ferramentas de fantasia há de ser admirado e aclamado por todos os presentes quiçá invejado por muitos E por toda a noite o cavalo dos deuses há de dançar dançar e dançar Ninguém jamais viu um orixá tão bonito como o seu 32 Anexo Atributos básicos dos orixás no candomblé Nação queto Orixá Atribuição Sexo Elemento Natural Patronagem Exu orixá mensageiro guardião das encruzilhadas e da entrada das casas M minério de ferro comunicação transformação potência sexual Ogum orixá da metalurgia da agricultura e da guerra M ferro forjado estradas abertas ocupações manuais soldados e polícia Oxóssi ou Odé orixá da caça fauna M florestas fartura de alimentos Ossaim orixá da vegetação flora M folhas eficácia dos remédios e da medicina Oxumarê orixá do arcoíris M e F andrógino chuva e condições atmosféricas riqueza que provém das colheitas chuva Obaluaiê ou Omulu orixá da varíola pragas e doenças M terra solo cura de doenças físicas Xangô orixá do trovão M trovão e pedras pedra de raio governo justiça tribunais ocupações burocrática Oiá ou Iansã orixá do relâmpago dona dos espíritos dos mortos F relâmpagos raios vento tempestade sensualidade amor carnal desastres atmosféricos Obá orixá dos rios F rios trabalho doméstico e o poder da mulher Oxum orixá da água doce e dos metais preciosos F rios lagoas e cachoeiras amor ouro fertilidade gestação vaidade LogunEdé orixás dos rios que correm nas florestas M ou F alternadamente rios e florestas o mesmo que Oxum e Oxóssi seus pais Euá orixá das fontes F nascentes e riachos harmonia doméstica Iemanjá orixá das grandes águas do mar F mar grandes rios maternidade família saúde mental Nanã orixá da lama do fundo das águas F lama pântanos educação senioridade e morte Oxaguiã Oxalá Jovem orixá da criação criação da cultura material M ar cultura material sobrevivência Oxalufã Oxalá Velho orixá da criação criação da humanidade M e F princípio da Criação ar o sopro da vida 33 Orixá Representação material Fetiche Assentamento Elemento mítico Cores das roupas Cores das contas Exu laterita enterrada e garfos de ferro em alguidar de barro fogo e terra vermelho e preto vermelho e preto alternadas Ogum instrumentos agrícolas de ferro em miniatura em alguidar de barro terra azul escuro verde e branco azul escuro ou verde Oxóssi ou Odé pequeno arcoeflecha de metal ofá em alguidar de barro terra azul turquesa e verde azul turquesa Ossaim feixe de seis setas de ferro com folhas e um pássaro no centro em alguidar de barro terra verde e branco verde e branco alternadas Oxumarê duas cobras de metal entrelaçadas água amarelo verde e preto amarelo verde e preto ou búzios Obaluaiê ou Omulu cuscuzeiro de barro com lanças de ferro terra vermelho branco e preto com capuz de palha vermelho branco e preto Xangô pedra em uma gamela fogo vermelho marrom e branco vermelho e branco alternadas Oiá ou Iansã seixo de rio em sopeira ar água e fogo marrom e vermelho escuro ou branco marrom ou vermelho escuro Obá seixo de rio em sopeira de louça água vermelho e dourado vermelho e amarelo translúcido Oxum seixo de rio em sopeira de louça água amarelo ou dourado com pouco de azul amarelo translúcido LogunEdé ofá de metal e seixos de rio em alguidar de barro água e terra dourado e azul turquesa dourado translúcido e turquesa alternadas Euá cobra de ferro e seixos em sopeira de louça água vermelho e amarelo búzios Iemanjá seixo do mar em sopeira de louça água azul claro branco verde claro de vidro só incolor ou com azul ou verde translúcidos alternadamente Nanã seixos e búzios em sopeira água púrpura azul e branco brancas rajadas de azul cobalto Oxaguiã Oxalá Jovem pequeno pilão de prata ou estanho e seixo em sopeira de louça branca ar branco com um mínimo de azul real branco e azul real Oxalufã Oxalá Velho círculo de prata ou estanho e seixo em sopeira de louça branca ar branco branco 34 Orixá Animais sacrificiais Comidas favoritas Números no jogo de búzios Dia da semana Exu bode e galo pretos farofa com dendê 1 7 Segundafeira Ogum cabrito e frango feijoada e inhame assado 3 7 Terçafeira Oxóssi ou Odé animais de caça e porco milho cozido com fatias de coco frutas 3 6 Quintafeira Ossaim caprinos e aves machos e fêmeas milho cozido temperado com fumo frutas 1 7 Quintafeira Oxumarê cabrito e cabra batata doce cozida e amassada 3 6 11 Sábado Obaluaiê ou Omulu porco pipoca com fatias de coco 1 3 11 Segundafeira Xangô carneiro e cágado amalá quiabo cortado em fatias cozido no dendê com camarão seco 4 6 12 Quartafeira Oiá ou Iansã cabra galinha acarajé bolinhos de feijão fradinho fritos em dendê 4 9 Quartafeira Obá cabra e galinha omelete com quiabo 4 6 9 Quartafeira Oxum cabra e galinha omolocum purê de feijão fradinho enfeitado com cinco ovos cozidos 5 8 Sábado LogunEdé casal de cabritos e de aves milho cozido peixe e frutas 6 7 9 Quintafeira Euá cabra e galinha feijão preto com ovos cozidos 3 6 Sábado Iemanjá pata cabra ovelha peixe arroz coberto com clara batida canjica peixe assado 3 9 10 Sábado Nanã cabra e capivara mingau de farinha de mandioca 3 8 11 Segundafeira Oxaguiã Oxalá Jovem caracol catassol inhame pilado e canjica 8 Sextafeira Oxalufã Oxalá Velho caracol catassol canjica arroz com mel inhame pilado 10 Sextafeira 35 Orixá Objetos rituais Tabus dos filhos Sincretismo Correspondência Santo católico Vodum Jeje Inquice Banto Exu chamado Bara no batuque do Rio Grande do Sul ogó bastão com formato fálico carregar objetos na cabeça Diabo Elegbara Bara Eleguá Bombogira Aluviá Ogum espada embebedarse Santo Antônio São Jorge Gun Doçu Incáci Roximucumbe Oxóssi ou Odé ofá arcoeflexa de metal eru espanta mosca de rabo de cavalo comer mel São Jorge São Sebastião Azacá Gongobira Mutacalombo Ossaim lança e três cabaças contendo as folhas sagradas assobiar Santo Onofre Agué Catendê Oxumarê espada e cobras de metal rastejar São Bartolomeu Dã Bessém Angorô Obaluaiê ou Omulu xaxará cetro feito de fibras das folhas do dendezeiro com búzios ir a funerais São Lázaro São Roque AcóssiSapatá Xapanã Cafunã Cavungo Xangô oxé machado duplo xere chocalho de metal contato com mortos e cemitérios vestir se de vermelho São Jerônimo São João Badé Queviosô Zázi Oiá ou Iansã espada e eru espantamosca comer carneiro ou ovelha comer abóbora Santa Bárbara Sobô Matamba Bumburucema Obá espada e escudo circular comer cogumelos usar brincos Santa Joana DArc Oxum abebê leque de metal amarelo espada comer peixe de escamas Nossa Senhora das Candeias Aziritobosse Navê Navezuarina Samba Quissambo LogunEdé ofá e abebê usar roupa marrom ou vermelha São Miguel Arcanjo Bosso Jara Euá espada e chocalho de matéria vegetal esfera comer aves fêmeas Santa Lúcia Euá Iemanjá abano de metal branco e espada comer caranguejo matar camundon go ou barata Nossa Senhora da Conceição Abê Dandalunda Quissembe Nanã ibiri cetro em forma de arco de fibras das folhas do dendezeiro com búzios usar facas de metal Santana Nanã Oxaguiã Oxalá Jovem mão de pilão de prata ou de material branco comida com dendê vinho de palma usar roupa colorida às sextas feiras Jesus Menino Oxalufã Oxalá Velho opaxorô cajado prateado com pingentes representando a criação do mundo comida com dendê vinho de palma usar roupa colorida às sextas feiras Jesus Crucificado ou Redentor Liçá Zambi Bibliografia ABIMBOLA Wande Sixteen Great Poems of Ifá slp UNESCO 1975 Ifá An Exposition of Ifá Literary Corpus Ibadan Nigéria Oxford University Press 1976 ALKIMIN Zaydan O livro vermelho da PombaGira 3a ed Rio de Janeiro Pallas 1991 literartura religiosa AMARAL Rita de Cássia e colab A cor do axé brancos e negros no candomblé de São Paulo Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro nº 25 dezembro pp 99124 1993 ARCELLA Luciano Rio macumba Roma Bulzoni 1980 AUGRAS Monique O duplo e a metamorfose A identidade mítica em comunidades nagô Petrópolis Vozes 1983 Quizilas e preceitos Transgressão reparação e organização dinâmica do mundo In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Candomblé desvendando identidades São Paulo EMW Editores 1987 De Yiá Mi a Pomba Gira Transformações e símbolos da libido In Carlos Eugênio Marcondes de MOURA org Meu sinal está no teu corpo Escritos sobre a religião dos orixas São Paulo Edicon Edusp 1989 BARROS José Flávio Pessoa de O segredo das folhas sistema de classificação de vegetais no Candomblé jêjenagô do Brasil Rio de Janeiro Pallas e UERJ 1993 BASCON William R Ifá Divination Communication between Gods and Men in West Africa Bloomington Indiana University Press 1969a Sixteen Cowries Yoruba Divination from Africa to the New World Bloomington Indiana University Press 1969b BASTIDE Roger As religiões africanas no Brasil São Paulo Pioneira 1975 O candomblé da Bahia rito nagô São Paulo Nacional 1978 BASTIDE Roger e VERGER Pierre Contribuição ao estudo da adivinhação em Salvador Bahia In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Olóorisa Escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Ôgora 1981 BERQUÓ Elza ALENCASTRO Luiz Felipe de 1992 A emergência do voto negro Novos Estudos Cebrap São Paulo nº 33 junho pp 7788 BITTENCOURT José Maria No reino dos Exus 5a ed Rio de Janeiro Pallas 1989literartura religiosa BRAGA Júlio Santana O jogo de búzios Um estudo de adivinhação no candomblé São Paulo Brasiliense 1988 a CABRERA Lydia Yemanjá y Ochún Madrid Forma Grafica 1974 CAMARGO Candido Procopio Ferreira de Kardecismo e umbanda São Paulo Pioneira 1991 CAMARGO Candido Procopio Ferreira de et alii Católicos protestantes espíritas Petrópolis Vozes 1993 37 37 CAMPOS André Gambier OLIVEIRA Kelly Adriano de PRANDI Reginaldo 1993 Lideranças negras no Brasil mimeo Trabalho apresentado no I Simpósio de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo São Paulo USP 1993 CARNEIRO Edison Religiões negras Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1936 CONCONE Maria Helena Villas Boas Umbanda uma religião brasileira São Paulo Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP 1987 CONTINS Márcia O caso da Pombagira Reflexões sobre crime possessão e imagem feminina Dissertação de Mestrado Rio de Janeiro Museu Nacional 1983 CONTINS Márcia GOLDMAN Márcio O caso da Pombagira Religião e violência Uma análise do jogo discursivo entre umbanda e sociedade Religião e sociedade v 11 no 1 Rio de Janeiro 1985 CORRÊA Norton F O batuque do Rio Grande do Sul antropologia de uma religião afrorio grandense Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGS 1992 EDUARDO Octavio da Costa The Negro in Northern Brazil Seatle University of Washington Press 1948 FERNANDES Florestan A integração do negro na sociedade de classes São Paulo Dominus e Edusp 1965 FERNANDES Gonçalves Xangôs do Nordeste Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1937 FERRETTI Mundicarmo Maria Rocha Mina uma religião de origem africana São Luís SIOGE 1985 Desceu na guma O caboclo do tambor de mina no processo de mudança de um terreiro de São Luís a Casa FantiAshanti São Luís SIOGE 1993 Terra de caboclo São Luís SECMA 1994 FERRETTI Sérgio Figueiredo Querebentan de Zomadonu etnografia da Casa das Minas São Luís Editora da Universidade Federal do Maranhão 1986 Repensando o sincretismo estudo sobre a Casa das Minas São Paulo e São Luís Edusp FAPEMA 1995 FONTENELLE Aluizio Exu Rio de Janeiro Espiritualista sd literartura religiosa FREITAS Byron Torres de O jogo dos búzios 9aed Rio de Janeiro Editora Eco sd literatura religiosa FRIGERIO Alejandro CAROZZI María Julia Las religiones afrobrasileñas en Argentina In ORO Ari Pedro org As religiões afrobrasileiras no Cone Sul Cadernos de Antropologia nº 10 Porto Alegre UFRGS 1993 FRY Peter HOWE Gary Nigel Duas respostas à aflição Umbanda e pentecostalismo Debate e crítica no 6 7594 1975 GLEASON Judith A Recitation of Ifa Oracle of the Yoruba New York Grossman Publishers 1973 HASENBALG Carlos A SILVA Nelson do Valle Notas sobre desigualdade racial e política no Brasil Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro nº 25 141160 dezembro de 1993 38 38 HERSKOVITS Melville J The Southernmost Outpost of the New World Africanisms American Anthropologist v 45 4 495590 1943 IDOWU E Bolaji Olodumare God in Yoruba Belief Essex Longman Nigeria l982 LANDES Ruth A cidade das mulheres Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1967 LÉPINE Claude Os estereótipos da personalidade no candomblé nagô In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Olóorisa Escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Ôgora 1981 LÉPINE Claude Análise formal do panteão nagô In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Bandeira de Alairá Outros escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Nobel 1982 LEITE Fábio Tradições e práticas religiosas negroafricanas na região de São Paulo In Culturas africanas Documento da Reunião de Peritos sobre As sobrevivências das tradições religiosas africanas nas Caraíbas e na América Latina São Luís do Maranhão 1985 São Luís UNESCO 1986 LIMA Vicente Xangô Recife Centro de Cultura AfroBrasileiro e Jornal do Comércio 1937 LIMA Vivaldo da Costa O conceito de nação dos candomblés da Bahia AfroÁsia Salvador no 12 6590 1976 A famíliadesanto nos candomblés jejenagôs da Bahia Um estudo de relações intra grupais Salvador Curso de PósGraduação em Ciências Humanas da UFBa 1977 Os obás de Xangô In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Olóorisa Escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Ôgora 1981 Naçõesdecandomblé In Encontro de nações de candomblé Salvador Centro de Estudos AfroAsiáticos da UFBa e Ianamá 1984 LUCAS JOlumide The Religion of the Yorubas Lagos CMS Bookshop 1948 LUCKMANN Thomas Social Reconstruction of Transcendence Secularization and Religion The Persisting Tension Lausanne Conference Internationale de Sociologie des Religions 19eme Conference Tubingen 1987 1987 MACHADO Maria das Dores Campos 1994 Adesão religiosa e seus efeitos na esfera privada um estudo comparativo dos carismáticos e pentecostais do Rio de Janeiro Rio de Janeiro IUPERJ tese de doutorado em Sociologia MAGGIE Yvonne Medo do feitiço Relações entre magia e poder no Brasil Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1992 MARIANO Ricardo Neopentecostalismo os pentecostais estão mudando Dissertação de mestrado em sociologia São Paulo FFLCHUSP 1995 MARIANO Ricardo PIERUCCI Antônio Flávio 1992 O envolvimento dos pentecostais na eleição de Collor Novos Estudos Cebrap São Paulo nº 34 novembro pp 92106 MAZZOLENI Gilberto Maghi e Messia del Brasile Roma Bulzoni Editore 1993 MAUPOIL La géomancie à lanciene Côte des Esclaves Paris Institut dEthnologie 1961 39 39 MCKENZIE PR O culto aos orisa entre os yoruba Algumas notas marginais relativas a sua cosmologia e a seus conceitos de divindade In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Candomblé desvendando identidades São Paulo EMW Editores 1987 MENDONÇA Antônio Gouvêa Um panorama do protestantismo atual In Landim Leilah org Sinais dos tempos tradições religiosas no Brasil Rio de Janeiro ISER 1989 MEYER Marlyse Maria Padilha e toda sua quadrilha de amante de um rei de Castela a PombaGira de Umbanda São Paulo Duas Cidades 1993 MOLINA NA Pontos cantados e riscados dos Exus e Pomba Gira 3a ed Rio de Janeiro Editora Espiritualista sd literartura religiosa MOTTA Roberto Renda emprego nutrição e religião Ciência trópico Recife 52 121 153 1977 Cidade e devoção Recife Edições Pirata 1980 Bandeira de Alairá A festa de XangôSão João e problemas do sincretismo In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Bandeira de Alairá Outros escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Nobel 1982 org Os afrobrasileiros anais do III Congresso AfroBrasileiro Recife Massangana 1985 Comida família dança e transe Sugestões para o estudo do xangô Revista de Antropologia São Paulo nº 25 147157 1982 Edjé balé Alguns aspectos do sacrifício no xangô pernambucano Tese de concurso para professor titular de antropologia Recife UFPe 1991 MOURA Carlos Eugênio Marcondes de Candomblé xangô tambordemina batuque pará e babassuê Bibliografia prévia In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Bandeira de Alairá Outros escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Nobel 1982 MOURA Carlos Eugênio Marcondes de Orixás voduns inquices caboclos encantados e loas Bibliografia complementar In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Candomblé desvendando identidades São Paulo EMW Editores 1987 MOURA Carlos Eugênio Marcondes de A religião dos orixás voduns e inquices no Brasil Cuba Estados Unidos Granada Haiti República Dominicana TrinidadTobago Angola Benin e Nigéria Bibliografia complementar In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Meu sinal está no teu corpo Escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Edicon e Edusp 1989 MOURA Roberto Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Funarte 1983 NEGRÃO Lísias Nogueira O pentecostalismo no Brasil SEDOC v 12 col 11071113 maio 1980 Umbanda entre a cruz e a encruzilhada Tempo social revista de sociologia da USP São Paulo vol 5 nos 1 e 2 pp113122 1984 NOGUEIRA Oracy Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem In BASTIDE Roger FERNANDES Florestan orgs Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo São Paulo Anhembi e Unesco 1955 40 40 OJUOBÁ Bablawô O verdadeiro jogo de búzios 4a ed Rio de Janeiro Editora Eco sd literatura religiosa OMOLUBÁ Babalorixá Maria Molambo na sombra e na luz 5a ed Rio de Janeiro Pallas 1990 literartura religiosa ORO Ari Pedro As religiões afrobrasileiras religiões de exportação In ORO Ari Pedro org As religiões afrobrasileiras no Cone Sul Cadernos de Antropologia nº 10 Porto Alegre UFRGS 1993 As religiões afrobrasileiras do Rio Grande do Sul Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGS 1994 ORTIZ Renato A morte branca do feiticeiro negro Petrópolis Vozes 1978 PEMBERTON John EshuElegbara The Yoruba Trickster God African Arts IX1 2027 1975 PEREIRA João Baptista Borges Aspectos do comportamento político do negro em São Paulo Ciência e Cultura São Paulo vol 34 nº 10 pp 12861294 1982 a Parâmetros ideológicos de projeto político de negros em São Paulo Revista do Instituto de Estudos Brasileiros São Paulo nº 24 pp 5361 1982 b Encontros com Pixinguinha Folhetim Folha de SPaulo 10 de julho de 1983 PI HUGARTE Renzo Las religiones afrobrasileñas en el Uruguay In ORO Ari Pedro org As religiões afrobrasileiras no Cone Sul Cadernos de Antropologia nº 10 Porto Alegre UFRGS 1993 a Las religiones afrobrasileñas en el Uruguay In ORO Ari Pedro org As religiões afro brasileiras no Cone Sul Cadernos de Antropologia nº 10 Porto Alegre UFRGS 1993 b PIERUCCI Antônio FlávioDemocracia igreja e voto o envolvimento dos padres de paróquia na eleição de 1982 São Paulo USP tese de doutorado em Sociologia 1984 Representantes de Deus em Brasília a bancada evangélica na Constituinte In Ciências sociais hoje 1989 São Paulo Vértice e ANPOCS 1989 PIERUCCI Antônio Flávio de Oliveira CAMARGO Candido Procopio Ferreira de e SOUZA Beatriz Muniz de Comunidades eclesiais de base In SINGER Paul e BRANT Vinícius Caldeira orgs São Paulo O povo em movimento 4a ed Petrópolis Vozes 1983 PIERUCCI Antônio Flávio PRANDI Reginaldo Religiões e voto a eleição presidencial de 1994 Opinião pública Campinas v 3 nº 1 pp 2044 maio de 1995 PINTO Altair Dicionário da umbanda Rio de Janeiro Editora Eco 1971 PINTO Roquette org Estudos AfroBrasileiros Rio de Janeiro Ariel 1935 POLLAKELTZ Angelina Umbanda en Venezuela Caracas Fondo Editorial Acta Cientifica 1993 PORDEUS Jr Ismael A magia do trabalho Macumba cearense e festas de possessão Fortaleza Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Ceará 1993 Lisboa de caso com a umbanda Trabalho apresentado no GT Religião e sociedade no XIX Encontro Anual da ANPOCS São Paulo ANPOCS 1995 41 41 PORTUGAL Fernandes O jogo de búzios Rio de Janeiro Tecnoprint 1986 literatura religiosa PRANDI Reginaldo Catolicismo e família transformação de uma ideologia São Paulo CEBRAP e Brasiliense 1975 O trabalhador por conta própria sob o capital São Paulo Símbolo 1977 Os candomblés de São Paulo a velha magia na metrópole nova São Paulo Hucitec e Edusp 1991 a Cidade em transe religiões populares no Brasil no fim do século da razão Revista USP São Paulo nº 11 outdez pp 6570 1991 b Adarrum e empanadas uma visita às religiões afrobrasileiras em Buenos Aires Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro nº 21 p 157165 dez 1991 c Perto da magia longe da política Novos Estudos Cebrap São Paulo nº 34 novembro pp 8191 1992 Città in transe culti di possessione nella metropoli brasiliana Roma Edizioni Acta 1993 PRANDI Reginaldo e PIERUCCI Antônio Flávio de Oliveira Assim como não era no princípio religião e ruptura na obra de Procopio Camargo Novos estudos Cebrap São Paulo no 17 2935 maio 1987 RODRIGUES Raimundo Nina O animismo fetichista dos negros bahianos 2a ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1935 QUEIROZ Maria Isaura Pereira de Cultura sociedade rural sociedade urbana no Brasil São Paulo LTC e Edusp 1978 QUERINO Manuel Costumes africanos no Brasil Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1938 A raça africana Salvador Progresso 1955 RAMOS Arthur O folclore negro do Brasil Rio de Janeiro Casa do Estudante do Brasil 1935 Introdução à antropologia brasileira 2 vols Rio de Janeiro Edições da CEB 1943 RIBEIRO Carmen Religiosidade do índio brasileiro no candomblé da Bahia Influências africanas e européias AfroÔsia Salvador no 14 6080 dezembro 1983 RIBEIRO José O jogo de búzios 4a ed Rio de Janeiro Polo Mágico 1985 literatura religiosa Eu Maria Padilha Rio de Janeiro Pallas 1991 literartura religiosa RIBEIRO René Cultos afrobrasileiros do Recife Um estudo de ajustamento social Recife Instituto Joaquim Nabuco 1952 RIO João do Paulo Barreto As religiões no Rio Rio de Janeiro HGarnier 1906 RODRIGUES Raimundo Nina O animismo fetichista dos negros bahianos 2a ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1935 Os africanos no Brasil 4a ed São Paulo Nacional 1976 ROLIM Francisco Cartaxo Pentecostais no Brasil Uma interpretação sócioreligiosa Petrópolis Vozes 1985 42 42 SANCHIS Pierre As tramas sicréticas da história Revista Brasileira de Ciências Sociais São Paulo nº 28 pp 123130 junho de 1995 SANTOS Deoscoredes Maximiliano dos Mestre Didi História de um terreiro nagô 2a ed aumentada São Paulo Max Limonade 1988 SANTOS Jocelio Teles O caboclo no candomblé Padê Salvador no 1 1121 julho 1989 O dono da terra A presença do caboclo nos candomblés baianos Tese de Mestrado em Antropologia São Paulo Universidade de São Paulo 1992 SANTOS Juana Elbein dos Os nagô e a morte 4a ed Petrópolis Vozes 1986 SCHETTINI Teresinha Bernardo A mulher no candomblé e na umbanda Dissertação de mestrado em Antropologia mimeo São Paulo Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 1986 SCHWARCZ Lilia Moritz 1993 O espetáculo das raças São Paulo Companhia das Letras SEGATO Rita Laura A Folk Theory of Personality Types Gods and their Symbolic Representation by Members of the Sango Cult in Recife Brazil Antropology PhD Thesis mimeo Belfast The Queens University 1984 SENNETT Richard O declínio do homem público As tiranias da intimidade São Paulo Companhia das Letras 1988 SILVA Ornato Jose da Ervas raízes africanas Rio de Janeiro edição do autor caixa postal 7046 1988 SKIDMORE Thomas E EUA biracial vs Brasil multirracial o contraste ainda é válido Novos Estudos Cebrap São Paulo nº 34 novembro pp 4962 1992 SOUZA Beatriz Muniz de A experiência da salvação Pentecostais em São Paulo São Paulo Duas Cidades 1969 SOUZA Laura Mello e O diabo e a terra de Santa Cruz São Paulo Companhia das Letras 1986 SOUZA Nelson Rosário de 1993 A igreja católica progressista e a produção do militante São Paulo USP dissertação de mestrado em sociologia SPARTA Francisco A dança dos orixás São Paulo Herder 1970 TEIXEIRA Maria Lina Leão Lorogun identidades sexuais e poder no candomblé In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Candomblé desvendando identidades São Paulo EMW Editores 1987 THOMAS Keith Religion and the Decline of Magic New York e London Penguin 1985 TRINDADE Liana Exu poder e perigo São Paulo Ícone 1985 TRINDADESERRA Ordep J Na trilha das crianças Os erês num terreiro angola Dissertação de mestrado em Antropologia Social mimeo Brasília Universidade de Brasília 1978 VALENTE Waldemar Sincretismo religioso afrobrasileiro 3a ed São Paulo Nacional 1977 VARANDA Jorge Alberto O destino revelado no jôgo de búzios Rio de Janeiro Editora Eco sd literatura religiosa VELHO Yvone Maggie Alves Guerra de orixás Um estudo de ritual e conflito Rio de Janeiro Zahar 1975 43 43 VERGER Pierre F Notes sur le culte des orisha et vodun à Bahia la Baie de Tous les Saints au Brésil et à lancienne Côte des Esclaves en Afrique Dakar IFAN 1957 VERGER Pierre F Notion de personne et lignée familiale chez les Yoruba In CNRS La notion de persone en Afrique noire Paris Centre National de la Recherche Scientific 1973 VERGER Pierre F Lendas africanas dos orixás Salvador Corrupio 1985 a VERGER Pierre F Orixás Deuses iorubás na África e no Novo Mundo 2a ed São Paulo Corrupio e Círculo do Livro 1985 b WALLIS Roy New Religions and the Potential for Word ReEnchantment Religion as Way of Life Preference and Commodity Secularization and Religion The Persisting Tension Lausanne Conference Internationale de Sociologie des Religions 19eme Conference Tubingen 1987 1987 WARREN Donald A terapia espírita no Rio de Janeiro Religião e sociedade Rio de Janeiro 113 5683 dezembro 1984 WEBER Max Sociology of Religion Boston Beacon Press 1963 WEBER Max Economía y sociedad 2 tomos México Fondo de Cultura Económica 1969 WEBER Max A psicologia social das religiões mundiais In Ensaios de sociologia Rio de Janeiro Zahar sd ZIEGLER Jean O poder africano São Paulo Difusão Européia 1972

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Recomendado para você

Jorge Amado - Ancestralidade e Representação dos Orixás - Análise Completa

160

Jorge Amado - Ancestralidade e Representação dos Orixás - Análise Completa

Literatura

UNEB

O Fascismo da Cor - Radiografia do Racismo Nacional por Muniz Sodré

190

O Fascismo da Cor - Radiografia do Racismo Nacional por Muniz Sodré

Literatura

UNEB

Capitães da Areia - Jorge Amado - Resumo e Análise da Obra

300

Capitães da Areia - Jorge Amado - Resumo e Análise da Obra

Literatura

UNEB

Literatura e Mitologia Afro-Baiana - Encantos e Percalços na Lei 10639-2003

6

Literatura e Mitologia Afro-Baiana - Encantos e Percalços na Lei 10639-2003

Literatura

UNEB

Candombles na Bahia - Origens, Forças, Orixás e Rituais

50

Candombles na Bahia - Origens, Forças, Orixás e Rituais

Literatura

UNEB

Dossiê Omolu-Obaluaê-Xapanã: Fé, Cura e Sincretismo com São Lázaro e São Roque

13

Dossiê Omolu-Obaluaê-Xapanã: Fé, Cura e Sincretismo com São Lázaro e São Roque

Literatura

UNEB

Melhore Esse Artigo Academico

35

Melhore Esse Artigo Academico

Literatura

UNEB

Pensamento Insurgente - Direito à Alteridade, Comunicação e Educação

11

Pensamento Insurgente - Direito à Alteridade, Comunicação e Educação

Literatura

UNEB

Oficina Plano de Aula

13

Oficina Plano de Aula

Literatura

UNEB

Analise do Poema de Camões

1

Analise do Poema de Camões

Literatura

UERJ

Texto de pré-visualização

Deuses africanos no Brasil é o Capítulo I do livro Herdeiras do Axé de Reginaldo Prandi São Paulo Hucitec 1997 páginas 150 Axé é força vital energia princípio da vida força sagrada dos orixás Axé é o nome que se dá às partes dos animais que contêm essas forças da natureza viva que também estão nas folhas sementes e nos frutos sagrados Axé é bênção cumprimento votos de boasorte e sinônimo de Amém Axé é poder Axé é o conjunto material de objetos que representam os deuses quando estes são assentados fixados nos seus altares particulares para ser cultuados São as pedras e os ferros dos orixás suas representações materiais símbolos de uma sacralidade tangível e imediata Axé é carisma é sabedoria nas coisasdosanto é senioridade Axé se tem se usa se gasta se repõe se acumula Axé é origem é a raiz que vem dos antepassados é a comunidade do terreiro Os grandes portadores de axé que são as veneráveis mães e os veneráveis paisdesanto podem transmitir axé pela imposição das mãos pela saliva que com a palavra sai da boca pelo suor do rosto que os velhos orixás em transe limpam de sua testa com as mãos e carinhosamente esfregam nas faces dos filhos prediletos Axé se ganha e se perde Extraído de Reginaldo Prandi Os candomblés de São Paulo Deuses africanos no Brasil uma apresentação do candomblé Reginaldo Prandi I Religiões populares no Brasil O catolicismo tem sido historicamente a religião majoritária do Brasil cabendo a outras fés o lugar de religiões minoritárias mas nem por isso sem Publicado originalmente com o título Dei africani nellodierno Brasile in Luisa Faldini Pizzorno org Sotto le acque abissali Firenze Aracne 1995 2 importância no quadro das religiões e da cultura sobretudo no século atual Neste segundo grupo estão as chamadas religiões afrobrasileiras1 as quais até os anos 1930 poderiam ser incluídas na categoria das religiões étnicas religiões de preservação de patrimônios culturais dos antigos escravos africanos e seus descendentes Estas religiões formaramse em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas candomblé na Bahia2 xangô em Pernambuco e Alagoas3 tambor de mina no Maranhão e Pará4 batuque no Rio Grande do Sul5 e macumba no Rio de Janeiro6 A organização das religiões negras no Brasil deuse bastante recentemente Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão últimas décadas do século 19 foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas os africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros físico e socialmente com maior mobilidade e de certo modo liberdade de movimentos num processo de interação que não conheceram antes Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas com a formação de grupos de culto organizados Por outro lado no final do século passado foram introduzidas no País algumas denominações protestantes européias e norteamericanas Essas religiões floresceram assim como espiritismo kardecista francês aqui chegado também no final do século passado mas o catolicismo continuou sendo a preferência de mais de 90 da população brasileira até os anos 1950 embora na região mais 1 Bastide 1975 Carneiro 1936 2 Rodrigues 1935 Bastide 1978 3 Motta 1982 Pinto 1935 4 S Ferretti 1986 M Ferretti 1985 Eduardo 1948 5 Herskovits 1943 Corrêa 1992 Oro 1994 6 Bastide 1975 Prandi 1991a 3 industrializada do país o Sudeste a porcentagem de católicos tenha sido menor com um incremento mais rápido no número de protestantes kardecistas e também seguidores da umbanda religião afrobrasileira emergida nos anos 1930 nas áreas mais urbanizadas do País e que a despeito de suas origens negras nunca se mostrou como religião voltada para a preservação das marcas africanas originais O quadro religioso no Brasil de hoje caracterizase por processo de conversão complexo e dinâmico com a incorporação e mesmo criação de algumas novas religiões às vezes com a passagem do converso por várias possibilidades de adesão Os grupos de religiões mais importantes em termos de números de seguidores hoje são o catolicismo em suas ambas versões de religião tradicional e renovada os evangélicos que apresentam múltiplas facetas entre históricos e pentecostais agora também se oferecendo numa nova e inusitada versão o neopentecostalismo Rolim 1985 Mariano 1995 os espíritas kardecistas e um diverso conjunto de religiões afrobrasileiras Entre os católicos renovados sobressaemse as Comunidades Eclesiais de Base Pierucci 1983 e o novo Movimento de Renovação Carismática Prandi 1991b movimentos que se opõem doutrinariamente as CEBs mais preocupadas com questões de justiça social e mais envolvidas na política os carismáticos mais interessados no indivíduo e conservadoramente avessos a temas de consciência social Estimativas recentes indicam a presença de 75 de católicos os carismáticos são 4 e os das CEBs 2 da população 13 de evangélicos 3 históricos e 10 pentecostais 4 de kardecistas e 15 de afrobrasileiros Pierucci Prandi 1995 Dessas religiões a umbanda tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência pois nascida no Brasil ela resulta do encontro de tradições africanas espíritas e católicas Camargo 1961 Concone 1987 Ortiz 1978 Como religião universal isto é dirigida a todos a umbanda sempre procurou legitimarse pelo apagamento de feições herdadas do candomblé 4 sua matriz negra especialmente os traços referidos a modelos de comportamento e mentalidade que denotam a origem tribal e depois escrava mantendo contudo estas marcas na constituição do panteão Comparado ao do candomblé seu processo de iniciação é muito mais simples e menos oneroso e seus rituais evitam e dispensam sacrifício de sangue Os espíritos de caboclos e pretosvelhos manifestamse nos corpos dos iniciados durante as cerimônias de transe para dançar e sobretudo orientar e curar aqueles que procuram por ajuda religiosa para a solução de seus males A umbanda absorveu do kardecismo algo de seu apego às virtudes da caridade e do altruísmo assim fazendose mais ocidental que as demais religiões do espectro afrobrasileiro mas nunca completou este processo de ocidentalização ficando a meio caminho entre ser religião ética preocupada com a orientação moral da conduta e religião mágica voltada para a estrita manipulação do mundo Desde o início as religiões afrobrasileiras se formaram em sincretismo com o catolicismo e em grau menor com religiões indígenas O culto católico aos santos numa dimensão popular politeísta ajustouse como uma luva ao culto dos panteões africanos Valente 1977 S Ferretti 1995 Com a umbanda acrescentaramse à vertente africana as contribuições do kardecismo francês especialmente a idéia de comunicação com os espíritos dos mortos através do transe com a finalidade de se praticar a caridade entre os dois mundos pois os mortos devem ajudar os vivos sofredores assim como os vivos devem ajudar os mortos a encontrar sempre pela prática da caridade o caminho da paz eterna segundo a doutrina de Kardec A umbanda perdeu parte de suas raízes africanas mas se espraiou por todas a regiões do País sem limites de classe raça cor ver Capítulo II Mas não interferiu na identidade do candomblé do qual se descolou conquistando sua autonomia Mas o candomblé também mudou Até 20 ou 30 anos atrás o candomblé era religião de negros e mulatos confinado sobretudo na Bahia e Pernambuco e de reduzidos grupos de descendentes de escravos cristalizados aqui e ali em distintas regiões do País No rastro da umbanda a partir 5 dos anos 1960 o candomblé passou a se oferecer como religião também para segmentos da população de origem nãoafricana II Candomblé nos dias de hoje Por volta de 1950 a umbanda já tinha se consolidado como religião abertas a todos não importando as distinções de raça origem social étnica e geográfica Por ter a umbanda desenvolvido sua própria visão de mundo bricolage européia africanaindígena símbolo das próprias origens brasileiras ela pode se apresentar como fonte de transcendência capaz de substituir o velho catolicismo ou então juntarse a ele como veículo de renovação do sentido religioso da vida Depois de ver consolidados os seus mais centrais aspectos ainda no Rio de Janeiro e São Paulo a umbanda espalhouse por todo o País podendo ser também agora encontrada vicejando na Argentina no Uruguai e outros Países latinoamericanos além de Portugal Oro 1993 Frigerio Carozzi 1993 Pi Hugarte 1993 Prandi 1991c PollakEltz 1993 Pordeus 1995 Durante os anos 1960 alguma coisa surpreendente começou a acontecer Com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no Sudeste o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mãesde santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás Neste movimento a umbanda é remetida de novo ao candomblé sua velha e verdadeira raiz original considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa mais forte mais poderosa que sua moderna e embranquecida descendente Nesse período da história brasileira as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul o alto custo dos 6 ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter E mais nesse período importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira Intelectuais poetas estudantes escritores e artistas participaram desta empreitada que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mãesdesanto tornouse um must para muitos uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste estilo de vida já quem sabe eivado de tantas desilusões O candomblé encontrou condições sociais econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território em que a presença de instituições de origem negra até então pouco contavam Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então entretanto podiam ser encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais Eles se interessaram pelo candomblé E os terreiros cresceram às centenas O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais aos quais os seguidores dão o nome de nações Lima 1984 Basicamente as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as atuais nações de candomblé vieram da área cultural banto onde hoje estão os países da Angola Congo Gabão Zaire e Moçambique e da região sudanesa do Golfo da Guiné que contribuiu com os iorubás e os ewêfons circunscritos aos atuais território da Nigéria e Benin Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana Na chamada nação queto na Bahia predominam os orixás e ritos de iniciação de origem iorubá Quando se fala em candomblé geralmente a referência é o candomblé queto e seus antigos terreiros são os mais conhecidos a Casa 7 Branca do Engenho Velho o candomblé do Alaketo o Axé Opô Afonjá e o Gantois As mãesdesanto de maior prestígio e de visibilidade que ultrapassou de muitos as portas dos candomblé têm sido destas casas como Pulquéria e Menininha ambas do Gantois Olga do Alaketo e Aninha Senhora e Stella do Opô Afonjá O candomblé queto tem tido grande influência sobre outras nações que têm incorporado muitas de suas prática rituais Sua língua ritual deriva do iorubá mas o significado das palavras em grande parte se perdeu através do tempo sendo hoje muito difícil traduzir os versos das cantigas sagradas e impossível manter conversação na língua do candomblé Além do queto as seguintes nações também são do tronco iorubá ou nagô como os povos iorubanos são também denominados efã e ijexá na Bahia nagô ou eba em Pernambuco oióijexá ou batuque de nação no Rio Grande do Sul minanagô no Maranhão e a quase extinta nação xambá de Alagoas e Pernambuco A nação angola de origem banto adotou o panteão dos orixás iorubás embora os chame pelos nomes de seus esquecidos inquices divindades bantos ver Anexo assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação queto Sua linguagem ritual também intraduzível originouse predominantemente das línguas quimbundo e quicongo Nesta nação tem fundamental importância o culto dos caboclos que são espíritos de índios considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão O candomblé de caboclo é uma modalidade do angola centrado no culto exclusivo dos antepassados indígenas Santos 1992 M Ferretti 1994 Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram origem à umbanda Há outras nações menores de origem banto como a congo e a cambinda hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola 8 A nação jejemahin do estado da Bahia e a jejemina do Maranhão derivaram suas tradições e língua ritual do ewêfon ou jejes como já eram chamados pelos nagôs e suas entidades centrais são os voduns As tradições rituais jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá Iniciação no candomblé queto O sacerdócio e organização dos ritos para o culto dos orixás são complexos com todo um aprendizado que administra os padrões culturais de transe pelo qual os deuses se manifestam no corpo de seus iniciados durante as cerimônias para serem admirados louvados cultuados Os iniciados filhos e filhasdesanto iaô em linguagem ritual também são popularmente denominados cavalos dos deuses uma vez que o transe consiste basicamente em mecanismo pelo qual cada filho ou filha se deixa cavalgar pela divindade que se apropria do corpo e da mente do iniciado num modelo de transe inconsciente bem diferente daquele do kardecismo em que o médium mesmo em transe deve sempre permanecer atento à presença do espírito O processo de se transformar num cavalo é uma estrada longa difícil e cara cujos estágios na nação queto podem ser assim sumariados Para começar a mãedesanto deve determinar através do jogo de búzios qual é o orixá dono da cabeça daquele indivíduo Braga 1988 Ele ou ela recebe então um fio de contas sacralizado cujas cores simbolizam o seu orixá ver Anexo dandose início a um longo aprendizado que acompanhará o mesmo por toda a vida A primeira cerimônia privada a que a noviça abiã é submetida consiste num sacrifício votivo à sua própria cabeça ebori para que a cabeça possa se fortalecer e estar preparada para algum dia receber o orixá no transe de possessão Para se iniciar como cavalo dos deuses a abiã precisa juntar dinheiro suficiente para cobrir os gastos com as oferendas animais e ampla variedade de alimentos e objetos roupas cerimoniais utensílios e adornos rituais e demais 9 despesas suas da famíliadesanto e eventualmente de sua própria família durante o período de reclusão iniciática em que não estará evidentemente disponível para o trabalho no mundo profano Como parte da iniciação a noviça permanece em reclusão no terreiro por um número em torno de 21 dias Na fase final da reclusão uma representação material do orixá do iniciado assentamento ou ibáorixá é lavada com um preparado de folhas sagradas trituradas amassi A cabeça da noviça é raspada e pintada assim preparada para receber o orixá no curso do sacrifício então oferecido orô Dependendo do orixá alguns dos animais seguintes podem ser oferecidos cabritos ovelhas pombas galinhas galos caramujos O sangue é derramado sobre a cabeça da noviça no assentamento do orixá e no chão do terreiro criando este sacrifício um laço sagrado entre a noviça o seu orixá e a comunidade de culto da qual a mãedesanto é a cabeça Durante a etapa das cerimônias iniciáticas em que a noviça é apresentada pela primeira vez à comunidade seu orixá grita seu nome fazendose assim reconhecer por todos completandose a iniciação como iaô iniciada jovem que recebe orixá O orixá está pronto para ser festejado e para isso é vestido e paramentado e levado para junto dos atabaques para dançar dançar e dançar No candomblé sempre estão presentes o ritmo dos tambores os cantos a dança e a comida Motta 1991 Uma festa de louvor aos orixás toque sempre se encerra com um grande banquete comunitário ajeum que significa vamos comer preparado com carne dos animais sacrificados O novo filho ou filhade santo deverá oferecer sacrifícios e cerimônias festivas ao final do primeiro terceiro e sétimo ano de sua iniciação No sétimo aniversário recebe o grau de senioridade ebômi que significa meu irmão mais velho estando ritualmente autorizado a abrir sua própria casa de culto Cerimônias sacrificiais são também oferecidas em outras etapas da vida como no vigésimo primeiro aniversário de 10 iniciação Quando o ebômi morre rituais fúnebres axexê são realizados pela comunidade para que o orixá fixado na cabeça durante a primeira fase da iniciação possa desligarse do corpo e retornar ao mundo paralelo dos deuses orum e para que o espírito da pessoa morta egum libertese daquele corpo para renascer um dia e poder de novo gozar dos prazeres deste mundo Ritual e ética O candomblé opera em um contexto ético no qual a noção judáicocristã de pecado não faz sentido A diferença entre o bem e o mal depende basicamente da relação entre o seguidor e seu deus pessoal o orixá Não há um sistema de moralidade referido ao bemestar da coletividade humana pautandose o que é certo ou errado na relação entre cada indivíduo e seu orixá particular A ênfase do candomblé está no rito e na iniciação que como se viu brevemente é quase interminável gradual e secreta O culto demanda sacrifício de sangue animal oferta de alimentos e vários ingredientes A carne dos animais abatidos nos sacrifícios votivos é comida pelos membros da comunidade religiosa enquanto o sangue e certas partes dos animais como patas e cabeça órgãos internos e costelas são oferecidas aos orixás Somente iniciados têm acesso a estas cerimônias conduzidas em espaços privativos denominados quartosdesanto Uma vez que o aprendizado religioso sempre se dá longe dos olhos do público a religião acaba por se recobrir de uma aura de sombras e mistérios embora todas as danças que são o ponto alto das celebrações ocorram sempre no barracão que é o espaço aberto ao público As celebrações de barracão os toques consistem numa seqüência de danças em que um por um são honrados todos os orixás cada um se manifestando no corpo de seus filhos e filhas sendo vestidos com roupas de cores específicas usando nas mãos ferramentas e objetos particulares a cada um deles expressandose em gestos e passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias míticas Essa 11 seqüência de música e dança sempre ao som dos tambores chamados rum rumpi e lé é designada xirê que em iorubá significa vamos dançar O lado público do candomblé é sempre festivo bonito esplendoroso esteticamente exagerado para os padrões europeus e extrovertido Para o grande público desatento para o difícil lado da iniciação o candomblé é visto como um grande palco em que se reproduzem tradições afro brasileiras igualmente presentes em menor grau em outras esferas da cultura como a música e a escola de samba Para o não iniciado dificilmente se concebe que a cerimônia de celebração no candomblé seja algo mais que um eterno dançar dos deuses africanos Seguidores e clientes O candomblé atende a uma grande demanda por serviços mágicoreligiosos de uma larga clientela que não necessariamente toma parte em qualquer aspecto das atividades do culto Os clientes procuram a mãe ou paidesanto para o jogo de búzios o oráculo do candomblé através do qual problemas são desvendados e oferendas são prescritas para sua solução O cliente paga pelo jogo de búzios e pelo sacrifício propiciatório ebó eventualmente recomendado O cliente em geral fica sabendo qual é o orixá dono de sua cabeça e pode mesmo comparecer às festas em que se faz a celebração de seu orixá podendo colaborar com algum dinheiro no preparo das festividades embora não sele nenhum compromisso com a religião O cliente sabe quase nada sobre o processo iniciático e nunca toma parte nele Entretanto ele tem uma dupla importância antes de mais nada sua demanda por serviços ajuda a legitimar o terreiro e o grupo religioso em termos sociais Segundo é da clientela que provém na maioria dos terreiros uma substancial parte dos fundos necessários para as despesas com as atividades sacrificiais Comumente sacerdotes e sacerdotisas do candomblé que adquirem alto grau de 12 prestígio na sociedade inclusiva gostam de nomear entre seus clientes figuras importantes dos mais diversos segmentos da sociedade Devotos das religiões afrobrasileiras podem cultuar também outras entidades que não os orixás africanos como os caboclos espíritos de índios brasileiros e encantados humanos que teriam vivido em outras épocas e outros países Durante o transe ritual os caboclos conversam com seus seguidores e amigos oferecendo conselhos e fórmulas mágicas para o tratamento de todos os tipos de problemas A organização dos panteões de divindades africanas nos terreiros varia de acordo com cada nação de candomblé Santos 1992 M Ferretti 1993 Caboclos e pretosvelhos espíritos de escravos são centrais na umbanda em que estas entidades têm papel mais importante no cotidiano da religião do que os próprios orixás III Comportamento humano como herança dos orixás Segundo o candomblé cada pessoa pertence a um deus determinado que é o senhor de sua cabeça e mente e de quem herda características físicas e de personalidade É prerrogativa religiosa do pai ou mãedesanto descobrir esta origem mítica através do jogo de búzios Esse conhecimento é absolutamente imperativo no processo de iniciação de novos devotos e mesmo para se fazerem previsões do futuro para os clientes e resolver seus problemas Embora na África haja registro de culto a cerca de 400 orixás apenas duas dezenas deles sobreviveram no Brasil A cada um destes cabe o papel de reger e controlar forças da natureza e aspectos do mundo da sociedade e da pessoa humana Cada um tem suas próprias características elementos naturais cores simbólicas vestuário músicas alimentos bebidas além de se caracterizar por ênfase em certos traços de personalidade desejos defeitos etc ver Anexo Nenhum orixá é nem inteiramente bom nem inteiramente mau Noções ocidentais de bem e mal estão ausentes da religião dos orixás no Brasil E os devotos acreditam que os homens e mulheres herdam muitos dos atributos de personalidade de seus orixás de modo que em muitas situações a conduta de alguém pode ser espelhada em passagens 13 míticas que relatam as aventuras dos orixás Isto evidentemente legitima aos olhos da comunidade de culto tanto as realizações como as faltas de cada um Vejamos abreviadamente algumas das características de personalidade mais usualmente atribuídas aos orixás por seus seguidores7 Exu Deus mensageiro divindade trickster o trapaceiro Em qualquer cerimônia é sempre o primeiro a ser homenageado para se evitar que se enraiveça e atrapalhe o ritual Guardião das encruzilhadas e das portas da rua Sincretizado com o Diabo católico Seus símbolos são um porrete fálico e tridentes de ferro Os seguidores acreditam que as pessoas consagradas a Exu são inteligentes sexy rápidas carnais licenciosas quentes eróticas e sujas Filhos de Exu gostam de comer e beber em demasia Não se deve confiar nunca num filho ou numa filha de Exu Eles são os melhores mas eles decidem quando o querem ser Não são dados ao casamento gostam de andar sozinhos pelas ruas bebendo e observando os outros para apanhálos desprevenidos Devese pagar a Exu com dinheiro comida atenção sempre que se precise de um favor dele Como o pai filhos de Exu nunca fazem nada sem paga A saudação a Exu é Laroyê Ogum Deus da guerra do ferro da metalurgia e da tecnologia Sincretizado com Santo Antônio e São Jorge É o orixá que tem o poder de abrir os caminhos facilitando viagens e progressos na vida Os estereótipos mostram os filhos de Ogum como teimosos apaixonados e com certa frieza racional Eles são muito trabalhadores especialmente moldados para o trabalho manual e para as atividades técnicas Embora eles usualmente façam qualquer coisa por um amigo os filhos e filhas de Ogum não sabem amar sem machucar despedaçam corações Acreditase que sejam muito bem dotados sexualmente tanto quanto os filhos de Exu irmão de Ogum Embora eles possam ter muitos interesses os filhos de Ogum preferem as coisas práticas detestando qualquer trabalho intelectual Eles dão bons guerreiros policiais soldados mecânicos técnicos Saudação Ogunhê Oxóssi Deus da caça Sincretizado com São Jorge e São Sebastião Orixá da fartura Seus filhos são elegantes graciosos xeretas curiosos e solitários 7 Conforme pesquisa realizada em 60 terreiros paulistas de candomblé sobretudo em três deles em que o trabalho de campo foi mais demorado o Ilê Axé Ossaim Darê de Pai Doda Braga de Ossaim em Pirituba o Ilê Axé Yemojá Orukoré Ogum de Pai Armando Vallado de Ogum em Itapevi e o Ile Leuiwyato de Mãe Sandra Medeiros Epega de Xangô em Guararema Prandi 1991a Os estereótipos aqui apresentados são em grande parte coincidentes com aqueles colhidos em Salvador no Rio de Janeiro e mesmo na África conforme Lépine 1981 Augras 1983 Verger 1985a 14 Embora dêem bons pais e boas mães têm sempre dificuldade com o ser amado São amigáveis pacientes e muitas vezes ingênuos Os filhos de Oxóssi têm aparência jovial e parece que estão sempre à procura de alguma coisa Não conseguem ser monogâmicos Têm de caçar noite e dia Por isso são considerados irresponsáveis De fato eles se sentem livres para quebrar qualquer compromisso que não lhes agrade mais Dificilmente eles se sentem obrigados a comparecer a um encontro marcado quando outra coisa mais interessante cruza o seu caminho Okê arô Obaluaiê ou Omulu Deus da varíola das pragas e doenças É relacionado com todo o tipo de mal físico e suas curas Associado aos cemitérios solos e subsolos Sincretizado com São Lázaro e São Roque Seus filhos aparentam um aspecto deprimido São negativos pessimistas inspirando pena Eles parecem pouco amigos mas é porque são tímidos e envergonhados Seja amigo de um deles e você descobrirá que tudo o que eles precisam para ser as melhores pessoas do mundo é de um pouco de atenção e uma pitada de amor Quando envelhecem alguns se tornam sábios outros parecem completos idiotas É que apenas querem ficar sozinhos Atotô Xangô Deus do trovão e da justiça Sincretizado com São Jerônimo Seus filhos se dão bem em atividades e assuntos que envolvem justiça negócios e burocracia Sentem que nasceram para ser reis e rainhas mas usualmente acabam se comportando como plebeus São teimosos resolutos e glutões gananciosos por dinheiro comida e poder Uma pessoa de Xangô gosta de se mostrar com muitos amantes embora não sejam reconhecidos como pessoas capazes de grandes proezas sexuais Vivem para lutar e para envolver as pessoas que o cercam na sua própria e interminável guerra pessoal Gostam de criar suas famílias protegendo seus rebentos além do usual Por isso são muito bons amigos e excelentes pais Kaô kabiesile Oxum Deusa da água doce do ouro da fertilidade e do amor Sincretizada com Nossa Senhora das Candeias Senhora da vaidade ela foi a esposa favorita de Xangô Os filhos e filhas de Oxum são pessoas atrativas sedutoras manhosas e insinuantes Elas sabem como manobrar os seus amores são boas na feitiçaria e na previsão do futuro Adoram adivinhar segredos e mistérios São orgulhosas da beleza que pensam ter por direito natural Podem ser muito vaidosas atrevidas e arrogantes Dizem que sabem tudo do amor do namoro e do casamento mas têm muita dificuldade em criar seus filhos adequadamente muitas 15 vezes até se esquecendo que eles existem Não gostam da pobreza e nem da solidão Saudação Ora yeyê ô Iansã ou Oiá Deusa dos raios dos ventos e das tempestades É a esposa de Xangô que o acompanha na guerra Orixá guerreira que leva a alma dos mortos ao outro mundo Sincretizada com Santa Bárbara Seus filhos e filhas são mais dotados para a prática do sexo do que para o cultivo do amor Deusa do erotismo ela é uma espécie de entidade feminista As pessoas de Iansã são brilhantes conversadoras espalhafatosas bocudas e corajosas Detestam fazer pequenos serviços em favor dos outros pois sentem que isso contraria sua majestade Elas podem dar a vida pela pessoa amada mas jamais perdoam uma traição Eparrei Iemanjá Deusa dos grandes rios dos mares dos oceanos Cultuada no Brasil como mãe de muitos orixás Sincretizada com Nossa Senhora da Conceição Freqüentemente representada por uma sereia sua estátua pode ser vista em quase todas as cidades ao longo da costa brasileira Ela é a grande mãe dos orixás e do Brasil a quem protege como padroeira sendo igualmente Nossa Senhora da Conceição Aparecida Os filhos e filhas de Iemanjá tornamse bons pais e boas mães Protegem seus filhos como leões Seu maior defeito é falar demais são incapazes de guardar um segredo Gostam muito do trabalho e de derrotar a pobreza Fisicamente são pessoas pouco atraentes mulheres de bustos exagerados e sua presença entre outras pessoas é sempre pálida Saudação Odoyá Oxalá Deus da criação Sincretizado com Jesus Cristo Seus seguidores vestemse de branco às sextasfeiras É sempre o último a ser louvado durante as cerimônias religiosos afrobrasileiras é reverenciado pelos demais orixás Como criador ele modelou os primeiros seres humanos Quando se revela no transe apresentase de duas formas o velho Oxalufã cansado e encurvado movendose vagarosamente quase incapaz de dançar o jovem Oxaguiã dançando rápido como o guerreiro Por ter inventado o pilão para preparar o inhame como seu prato favorito Oxaguiã é considerado o criador da cultura material Ao invés de sacrifício de sangue de animais quentes Oxalá prefere o sangue frio dos caracóis Os filhos de Oxalá gostam do poder do trabalho criativo apreciam ser bem tratados e mostramse mandões e determinados na relação com os outros São melhores no amor do que no sexo gostam muito de aprender e de ensinar mas nunca ensinam a lição completamente São calados e chatos Gostam de desafios são muito bons amigos e muito bons adversários aos que se atrevem a se opor a eles Povo de Oxalá nunca desiste Epa Babá 16 Tal pai tal filho Assim cada orixá tem um tipo mítico que é religiosamente atribuído aos seus descendentes seus filhos e filhas Através de mitos a religião fornece padrões de comportamento que modelam reforçam e legitimam o comportamento dos fiéis Verger 1957 1985b De fato o seguidor do candomblé pode simplesmente tomar os atributos do seu orixá como se fossem os seus próprios e tentar se parecer com ele ou reconhecer através dos atributos da divindade bases que justificam sua conduta Os padrões apresentados pelos mitos dos orixás podem assim ser usados como modelo a ser seguido ou como validação social para um modo de conduta já presente Um iniciado pode ao familiarizarse com seus estereótipos míticos identificarse com eles e reforçar certos comportamento ou simplesmente chamar a atenção dos demais para este ou aquele traço que sela sua identidade mítica Mudar ou não o comportamento não é importante o que conta é sentirse próximo do modelo divino Além de seu orixá dono da cabeça acreditase que cada pessoa tem um segundo orixá que atua como uma divindade associada juntó que complementa o primeiro Dizse por exemplo sou filho de Oxalá e Iemanjá Geralmente se o primeiro é masculino o segundo é feminino e viceversa como se cada um tivesse pai e mãe A segunda divindade tem papel importante na definição do comportamento permitindo operase com combinações muito ricas Como cada orixá particular da pessoa deriva de uma qualidade do orixá geral que pode ser o orixá em idade jovem ou já idoso ou o orixá em tempo de paz ou de guerra como rei ou como súdito etc etc a variações que servem como modelos são quase inesgotáveis 17 Às vezes quando certas características incontestes de um orixá não se ajustam a uma pessoa tida como seu filho não é incomum nos meios do candomblé duvidarse daquela filiação suspeitandose que aquele iniciado está com o santo errado ou seja mal identificado pela mãe ou paidesanto responsável pela iniciação Neste caso o verdadeiro orixá tem que ser descoberto e o processo de iniciação reordenado Pode acontecer também a suspeita de que o santo está certo mas que certas passagens míticas de sua biografia que explicariam aqueles comportamentos estão perdidas No candomblé sempre se tem a idéia de que parte do conhecimento mítico e ritual foi perdido na transposição da África para o Brasil e de que em algum lugar existe uma verdade perdida um conhecimento esquecido uma revelação escondida Podese mudar de santo ou encetar interminável busca deste conhecimento faltante busca que vai de terreiro em terreiro de cidade em cidade na rota final para Salvador reconhecidamente o grande centro do conhecimento sacerdotal do axé e às vezes até a África e não raro à mera etnografia acadêmica Reconhecese que falta alguma coisa que precisa ser recuperada completada A construção da religião de seus deuses símbolos e significados estará sempre longe de ter se completado Os seguidores evidentemente nunca se dão conta disso IV Religiões éticas e religiões mágicas O candomblé é uma religião basicamente ritual e aética que talvez por isso mesmo veio a se constituir como uma alternativa sacral importante para diferentes segmentos sociais que vivem numa sociedade como a nossa em que ética código moral e normas de comportamento estritas podem valer pouco ou comportar valores muito diferentes Nas religiões éticas a mística extática a experiência religiosa do transe que é o caso do candomblé dá lugar ao experimentar a idéia de dever retribuição 18 e piedade para com o próximo que é o fundamento religioso e da religião do modo de vida a razão de existência e o meio de salvação A transgressão deixa de estar relacionada com a impropriedade ritual para ser a transgressão de um princípio ético normativo Nesse tipo a religião é fonte e guardiã da moralidade entre os homens já que deus é a potência ética plena e em si Nas religiões mágicas ao contrário não há a idéia de salvação a de busca necessária de um outro mundo em que a corrupção está superada mas sim a procura de interferência neste mundo presente através do uso de forças sagradas que vêm elas sim do outro mundo Nesta classe de religiões mágicas e rituais podemos perfeitamente enxergar o candomblé Seus deuses são fortes com paixões análogas às dos homens alternadamente valentes ou pérfidos amigos e inimigos entre si e contra os homens mas em todo caso inteiramente desprovidos de moralidade e tanto quanto os homens passíveis de suborno mediante o sacrifício e coagidos por procedimentos mágicos que fazem com que os homens venham a se tornar pelo conhecimento que estes acabam tendo dos deuses todos mais fortes do que os próprios deuses Weber 1969 v2 909 Esses deuses que são tantos e nem mesmo se conhecem entre si mas que são conhecidos pelo sacerdotefeiticeiro que pode inclusive jogar um contra o outro para obter favores para os homens esses deuses nunca chegam a ser potências éticas que exigem e recompensam o bem e castigam o mal eles estão preocupados com a sua própria sobrevivência e para isso com o cuidado de seus adeptos particulares Daí as religiões mágicas não se caracterizarem pela existência de um pacto geral de luta do bem contra o mal Nelas o sacerdócio e o cumprimento de prescrições rituais têm finalidade meramente utilitária de manipulação do mundo natural e não natural de exercício de poder sobre forças e entidades sobrenaturais maléficas e demoníacas de ataque e defesa em relação à ação do outro que é sempre um inimigo potencial um oponente Não há uma teodicéia capaz de nuclear a religião e nem desenvolver especulações éticas sobre a ordem cósmica 19 mesmo porque a religião no caso do candomblé já se desenvolveu como uma colcha de retalhos fragmentos cuja unidade vem sendo ainda buscada por alguns de seus adeptos que se põem esta questão da explicação da ordem cósmica ainda que num plano que precede o encontro de um fim transcendente e que se ampara numa etnografia que relativisa as culturas e legitima como igualmente uniorganizadoras do cosmo as diferentes formas de religião Por exemplo Juana dos Santos em Os nagô e a morte 1986 parte de uma base empírica oferecida por suas pesquisas no Brasil e na África e com uma reinterpretação apoiada na etnografia cria no papel uma religião que não se pode encontrar nem no Brasil nem na África propondo para cada dimensão ritual da religião que ela reconstitui significados que procuram dar às partes o sentido de um todo dandose à religião uma forma acabada que ela não tem Creio não ser difícil imaginar que o candomblé de fato comporta elementos desses dois grandes tipos de religião mas no conjunto se aproxima mais das religiões mágicas e rituais e como religião de serviço chega praticamente a se colar no tipo estrito de religião mágica O próprio movimento recente de abandono do sincretismo católico leva a um certo esvaziamento axiológico esvaziamento de uma ética ainda que tênue partilhada em comunidades de candomblé antigas emprestada do catolicismo ou imposta por ele uma vez que as questões de moralidade foram um terreno que o catolicismo dominador reservou para si e para seu controle no curso da formação das religiões negras no Brasil Neste movimento entretanto o candomblé não pode mais voltar à tribo original nem ao modelo de justiça tradicional do ancestral o egungun para regrar a conduta na vida cotidiana E nem precisa disto pois não é mais no grupo fechado que está hoje sua força e sua importância como religião De todo modo foi exatamente o desprendimento do candomblé de suas de amarras étnicas originais que o transformou numa religião para todos ainda que 20 sendo ou talvez porque uma religião aética permitindo também a oferta de serviços mágicos para uma população fora do grupo de culto que está habituada a compor com base em muitos fragmentos de origens diferentes formas privadas às vezes até pessoais de interpretação do mundo e de intervenção nele por meios objetivos e subjetivos e cujo acesso está codificado numa relação de troca numa relação comercial para um tipo de consumo imediato diversificado e particularizável que é contraposto ao consumo massificado que a sociedade pressupõe e obriga Estou me referindo especialmente a indivíduos de classe média que usam experimentar códigos com os quais não mantêm vínculos e compromissos duradouros e que o fazem por sua livre escolha podendo contar com um repertório tanto mais variado quanto possível V Uma religião para os excluído Os cultos dos orixás no Brasil dos quais excluo em grande parte a umbanda pela dimensão kardecistacatólica que compõe seu plano de moralidade mas nos quais incluo as formas do candomblé baiano do xangô pernambucano batuque gaúcho tambordemina do Nordeste ocidental etc têm sido pelo menos desde os anos 30 e ininterruptamente verdadeiros redutos homossexuais de homossexuais de classe social inferior Com exceção de Ruth Landes em seu escrito de 1940 Landes 1967 até bem pouco tempo os pesquisadores que erigiram a literatura científica sobre o candomblé sempre esconderam este fato ou ao menos o relevaram como traço de algum terreiro culturalmente decadente Ora o homossexualismo está presente mesmo nas casas mais tradicionais do país não viu quem não quis sobre estudos contemporâneos ver bibliografia em Teixeira 1987 O homossexual sobretudo o homem sempre foi obrigado a publicizar a sua intimidade como único meio de encontrar parceria sexual e ao publicizar sua 21 intimidade obrigavase a desempenhar um papel social que não pusesse em risco a sua busca de parceiro isto é que não pusesse em risco o parceiro potencial um papel que o mostrava como o de fora o diferente o não incluído mas que ainda assim não chegava a oferecer qualquer risco de contaminação do parceiro que para efeito público não chegava nunca a mudar de papel sexual Sua diferença o obrigou a desenvolver padrões de conduta que o identificasse facilmente para ser homossexual era preciso mostrarse homossexual Pois nenhuma instituição social no Brasil afora o candomblé jamais aceitou o homossexual como uma categoria que não precisa necessariamente esconderse anulandoo enquanto tal Só com os movimentos gay de origem norteamericana a partir dos anos 60 é que se buscou quebrar a idéia de que o homossexual tinha que parecer diferente num jogo que valorizou a semelhança e que talvez tenha dado suporte para a guetificação e formação demográfica dos hoje denominados grupos de risco da AIDS Esta aceitação de um grupo tão problemático para outras instituições religiosas ou não também demonstra a aceitação que o candomblé tem deste mundo mesmo quando no extremo tratase do mundo da rua do cais do porto dos meretrícios e portas de cadeia Grandíssima e exemplar é a capacidade do candomblé de juntar os santos aos pecadores o maculado ao limpo o feio ao bonito Se concordarmos que as maiores concentrações relativas de homossexuais e bissexuais ocorrem nas grandes cidades onde podem refugiarse no anonimato e na indiferença que os grandes centros oferecem além de oferecerem locais e instituições de publicização que na cidade grande podem funcionar como espaços fechados isto é públicos porém privatizados encontramos uma razão a mais para o sucesso do candomblé em São Paulo a possibilidade de fazer parte de um grupo religioso isto é voltado para o exercício da fé mas que ao mesmo tempo é lúdico reforçador da personalidade capaz de aproveitar os talentos estéticos individuais e por que não um nada desprezível meio de mobilidade social e acumulação de prestígio coisas muito pouco ou nada acessíveis aos homossexuais 22 em nossa sociedade Ainda mais quando se é pobre pardo migrante pouco escolarizado O candomblé é assim de fato uma religião apetrechada para oferecer estratégias de vida que as ciências sociais jamais imaginaram Esta relação entre sacerdócio e homossexualidade não é prerrogativa nem do candomblé e nem de nossa civilização Mas o que faz do candomblé uma religião tão singular é o fato de que todos os seus adeptos devem exercer necessariamente algum tipo de cargo sacerdotal E qualquer que seja o cargo sacerdotal ocupado ninguém precisa esconder ou disfarçar suas preferências sexuais Ao contrário pode até usar o cargo para legitimar a preferência como se usa o orixá para explicar a diferença Para melhor entendermos isso tudo entretanto teríamos também que não deixar esquecido o fato de contarmos inclusive com variantes de uma sociabilidade jeitos de ser e de viver vivenciadas por grande parte da população brasileira mais pobre que de todo lugar do país vai se juntando nas periferias metropolitanas hoje não importando muito mais sua origem de cor mas que é resultante também do nosso recente passado escravista que amputava normas de conduta suprimia instituições familiares e aleijava até mesmo as religiões das populações escravas Donde fica evidentíssimo ser o candomblé uma religião brasileira muito mais que a simples reprodução de cultos africanos aos orixás como existiram e como existem alémmar Considero bastante significativo o fato de o culto aos orixás no Brasil ter se descolado do culto dos antepassados os egunguns a que já me referi os quais aqui ganharam um culto à parte nos candomblés de egungun Na África eles não eram apenas partes de um mesmo universo religioso o orixá era cultuado para zelar pela família e pelo indivíduo o antepassado era cultuado para cuidar da comunidade como um todo O antepassado garantia a regra o orixá garantia a força sagrada agindo sobre a natureza 23 Mas se o candomblé libera o indivíduo ele libera também o mundo Ele não tem uma mensagem para o mundo não saberia o que fazer com ele se lhe fosse dado transformálo não é uma religião da palavra nunca será salvacionista É sem dúvida uma religião para a metrópole mas somente para uma parte dela como é destino das outras religiões hoje O candomblé pode ser a religião ou a magia daquele que já se fartou da transcendência despedaçada pelo consumo da razão da ciência e da tecnologia e que se encontrou desacreditado do sentido de um mundo inteiramente desencantado e o candomblé será aí uma religião aética para uma sociedade pósética Mas também pode ser a religião e a magia daquele que sequer chegou a experimentar a superação das condições de vida calçadas por uma certa sociabilidade do salvese quem puder onde o outro não conta e quando conta conta ou como opressor ou como vítima potencial como inimigo como indesejável como o que torna demasiado pesado o fardo de viver num mundo que parece ser por demais desordenado e o candomblé poderá ser então uma religião aética para uma sociedade préética VI Sacerdotes e feiticeiros No candomblé a iniciação significa fazer parte dos quadros sacerdotais que são basicamente de duas naturezas dos que entram em transe e dos que não organizados hierarquicamente e que pressupõem um tipo de mobilidade ex opere operato Todo iaô que passar por suas obrigações pode chegar a paidesanto ou mãedesanto independentemente de seu comportamento na vida cotidiana isto é fora dos limites impostos pelas obrigações rituais do devoto para com seu deus e alheio aos deveres de lealdade para com o seu iniciador o qual entretanto pode ser substituído por outro através de adoção ritual sempre que ocorrer por um motivo ou outro quebra pública desta relação de lealdade e dependência 24 Ser pai ou mãedesanto não é aspiração de todos os iniciados nem jamais pode ser em se tratando da categoria dos ebômis não rodantes equedes e ogãs Entretanto é perspectiva muito importante para boa parcela dos adeptos Provenientes em geral de classes sociais baixas e agora não importa mais se são brancos ou se negros vir a ser um paidesanto representa para os iniciados a possibilidade de exercer uma profissão que nascida como ocupação voltada para os estratos baixos e de origem negra passou recentemente ao compor os quadros dos serviços de oferta generalizada a todos os seguimentos sociais a reivindicar o status de uma profissão de classe média como já ocorreu com outras atividades profissionais e em outros contextos sociais Hobsbawn 1984 299 O paidesanto não é mais a figura escondida perseguida desprezada Ele tem visibilidade na sociedade e transita o tempo todo nos meios de classe média que o buscam em seu terreiro e assim fazendo tiramno do anonimato Ao mostrarse em público o paidesanto vêse obrigado a ostentar símbolos que expressem a sua profissão Não contando com cabedal intelectual adquirido na escola o que é decisivo na identidade de classe média da maioria das profissões não proletárias ainda que simbolicamente o pai e a mãedesanto fazemse perceber por um estilo de vestuário e um excesso de jóias ou outros enfeites levados no pescoço na cabeça na cintura e nos pulsos que dão a impressão de serem originalmente africanos ou de origem africana mas cuja tradição não tem mais que meio século Ele e ela fazemse diferentes e quanto mais diferentes melhor Um outro sinal de prestígio amealhado com freqüência por sacerdotes do candomblé bem como da umbanda são as medalhas e comendas concedidas por inúmeras sociedades medalhísticas de finalidade autopromocional e que servem para substituir às vezes com vantagens os diplomas e graus universitários Tudo isto faz parte de um processo de mobilidade social que está ao alcance de pessoas que por suas origens sociais dificilmente encontrariam outro canal de ascensão social A mobilidade e a visibilidade social que sua profissão 25 agora pressupõe são importantes para conferir ao paidesanto uma presença voltada para fora do terreiro que lhe garanta um fluxo de clientes cujo pagamento por serviços mágicos permite a constituição de um fundo econômico que facilita no mínimo materialmente a sua realização como líder religioso de seu grupo de adeptos numa religião em que o dispêndio material é muito grande e decididamente muito significativo Este paidesanto e esta mãedesanto são sacerdotes de uma religião em que as tensões entre magia e prática religiosa estão descartadas Podese finalmente ser ao mesmo tempo o sacerdote e o feiticeiro numa situação social em que cada um destes papéis reforçará o outro E numa sociedade em que cada um deles estará orientado preferencialmente para grupos e até mesmo classes sociais diferentes Ao se realizar como instituição legitimada de prática mágica o candomblé na metrópole faz parte publicamente do jogo de múltiplos aspectos através do qual cada grupo ou cada pessoa individualmente é capaz de construir sua própria fonte de explicação de transcendência e de intervenção no mundo A capacidade de se manter como religião aética que o candomblé demonstra ter permitelhe vantajosa flexibilidade em relação às outras religiões éticas e a abertura para um mercado religioso de consumo ad hoc por parte dos clientes não religiosos que as religiões de conversão em geral não têm A racionalização do jogo de búzios e do ebó ao se apresentarem como menos sacralizados do que na verdade o são o atendimento privativo e com hora marcada o anonimato do serviço a explicitação do pagamento monetário na relação de troca a presença do paidesanto num mercado público regido por regras de eficiência e competência profissional bem como suas próprias regras aéticas no plano do grupo religioso fazem desta religião tribal de deuses africanos uma religião para a metrópole onde o indivíduo é cada vez mais um bricoleur 26 Nesta sociedade metropolitana no rastro das transformações sociais de âmbito mundial dos últimos cinqüenta anos a construção de sistemas de significados depende cada vez mais da vontade de grupos e indivíduos Neste movimento os temas religiosos relevantes como afirma Luckmann podem ser selecionados a partir de diferentes preferências particulares No limite cada indivíduo pode ter o seu particular e pessoal modelo de religiosidade independente dos grandes sistemas religiosos totalizadores que marcaram até bem pouco a história da humanidade Os deuses tribais africanos adotados na metrópole não são mais os deuses da tribo São deuses de uma civilização em que o sentido da religião e da magia passou a depender sobretudo do estilo de subjetividade que o homem em grupo ou solitariamente escolhe para si VII A religião dos orixás na sociedade contemporânea O candomblé tal como existe hoje nos grandes centros urbanos do Brasil é capaz de oferecer a seus seguidores algo diferente daquilo que a religião dos orixás em tempos mais antigos podia certamente propiciar quando sua presença significava para o escravo a ligação afetiva e mágica ao mundo africano do qual fora arrancado pela escravidão Quando o candomblé se organizou no Nordeste no século 19 ele permitia ao iniciado a reconstrução simbólica através do terreiro da sua comunidade tribal africana perdida Primeiro ele é o elo com o mundo original Ele representava assim o mecanismo através do qual o negro africano e brasileiro podia distanciarse culturalmente do mundo dominado pelo opressor branco O negro podia contar com um mundo negro fonte de uma África simbólica mantido vivo pela vida religiosa dos terreiros como meio de resistência ao mundo branco que era o mundo do trabalho do sofrimento da escravidão da miséria Bastide mostrou como a habilidade do negro durante o período colonial de viver em dois 27 diferentes mundos ao mesmo tempo era importante para evitar tensões e resolver conflitos difíceis de suportar sob a condição escrava Bastide 1975 Logo o mesmo negro que reconstruiu a África nos candomblés reconheceu a necessidade de ser sentirse e se mostrar brasileiro como única possibilidade de sobrevivência e percebeu que para ser brasileiro era absolutamente imperativo ser católico mesmo que se fosse também de orixá O sincretismo se funda neste jogo de construção de identidade O candomblé nasce católico quando o negro precisa ser também brasileiro Quando o candomblé a partir dos anos 1960 deslancha a caminho de se tornar religião universal afrouxase seu foco nas diferenças raciais e ele vai deixando para trás seu significado essencial de mecanismo de resistência cultural embora continue a prover esse mecanismo a muitas populações negras que vivem de certo modo econômica e culturalmente isoladas em regiões tradicionais do Brasil As novas condições de vida na sociedade brasileira industrializada fazem mudar radicalmente o sentido sociológico do candomblé Se até poucas décadas atrás ele significava uma reação à segregação racial numa sociedade tradicional em que as estruturas sociais tinham mais o aspecto de estamentos que de classes agora ele tem o sentido de escolha pessoal livre intencional alguém adere ao candomblé não pelo fato de ser negro mas porque sente que o candomblé pode fazer sua vida mais fácil de ser vivida porque então talvez se possa ser mais feliz não importa se se é branco ou negro8 Evidentemente embora o processo de escolha religiosa possa ter conseqüências sociais significativas para a sociedade como um todo na medida que com a escolha certas religiões podem ser mais reforçadas e neste sentido ter aumentada sua influência na sociedade qualquer 8 Os negros ainda hoje marcam maior presença nas religiões afrobrasileiras onde somam entre pardos e pretos 427 Sua presença relativa sobe ainda mais no candomblé originariamente a grande fonte de identidade negra em que chegam a 568 a única modalidade religiosa em que o negro é a maioria dos fiéis Mas há muito branco nas afrobrasileiras 512 e mesmo no candomblé em que representam 28 eficácia da religião no que diz respeito à esfera íntima só pode ser avaliada pelo indivíduo que a ela se converte O desatar de laços étnicos que no curso da últimas três décadas tem transformado o candomblé numa religião para todos também propiciou um nada desprezível alargamento da oferta de serviços mágicos para a população exterior aos grupos de culto Uma clientela já acostumada a compor visões de mundo particulares a partir de fragmentos originários de diferentes métodos e fontes de interpretação da vida O candomblé oferece símbolos e sentidos hoje muito valorizados pela música literatura artes em geral os quais podem ser fartamente usados pela clientela na composição dessa visão de mundo caleidoscópica sem nenhum compromisso religioso O cliente de classe média que vai aos candomblés para jogar búzios e fazer ebós é o bricoleur que também tem procurado muitas outras fontes não racionais de sentido para a vida e de cura para males de toda natureza Certamente o candomblé deste cliente é bem diferente do candomblé do iniciado mas nenhum deles contradiz o sentido do outro O candomblé é uma religião que tem no centro o rito as fórmulas de repetição pouco importando as diferenças entre o bem e o mal no sentido cristão O candomblé administra a relação entre cada orixá e o ser humano que dele descende evitando através da oferenda os desequilíbrios desta relação que podem provocar a doença a morte as perdas materiais o abandono afetivo os sofrimentos do corpo e da alma e toda sorte de conflito que leva à infelicidade Como religião em que não existe a palavra no sentido ético nem a conseqüente pregação moral o candomblé juntamente com a umbanda que contudo tem seu aspecto de religião aética atenuado pela incorporação de virtudes teologais do kardecismo como a caridade é sem dúvida uma alternativa religiosa importante também para grupos sociais que vivem numa sociedade como a nossa em que a 399 Em números absolutos os maiores contingentes negros são evidentemente católicos e em 29 ética os códigos morais e os padrões de comportamento estritos podem ter pouco variado e até mesmo nenhum valor O candomblé é uma religião que afirma o mundo reorganiza seus valores e também reveste de estima muitas das coisa que outras religiões consideram más por exemplo o dinheiro os prazeres inclusive os da carne o sucesso a dominação e o poder O iniciado não tem que internalizar valores diferentes daqueles do mundo em que ele vive Ele aprende os ritos que tornam a vida neste mundo mais fácil e segura mundo pleno de possibilidades de bemestar e prazer O seguidor do candomblé propicia os deuses na constante procura do melhor equilíbrio possível ainda que temporário entre aquilo que ele é e tem e aquilo que ele gostaria de ser e ter Nessa procura é fundamental que o iniciado confie cegamente em sua mãedesanto Guiado por ela este fiel aprende ano após ano a repetir cada uma das fórmula iniciáticas necessárias à manipulação da força sagrada da natureza o axé Não se pode ser do candomblé sem constantemente refazer o rito como não se pode ser evangélico sem constantemente examinar a própria consciência à procura da culpa que delata a presença das paixões que precisam ser exorcizadas O bom evangélico para se salvar da danação eterna precisa aniquilar seus desejos mais escondidos o bom filhodesanto precisa realizar todos os seus desejos para que o axé a força sagrada de seu orixá de quem é continuidade possa se expandir e se tornar mais forte Aceitando o mundo como ele é o candomblé aceita a humanidade situandoa no centro do universo apresentandose como religião especialmente dotada para a sociedade narcisista e egoísta em que vivemos Porque o candomblé não distingue entre o bem e o mal do modo como aprendemos com o cristianismo ele tende a atrair também toda sorte de indivíduos que têm sido socialmente marcados e marginalizados por outras instituições segundo lugar evangélicos Prandi 1995 30 religiosas e não religiosas Isto mostra como o candomblé aceita o mundo mesmo quando ele é o mundo da rua da prostituição dos que já cruzaram as portas da prisão O candomblé não discrimina o bandido a adúltera o travesti e todo tipo de rejeitado social Mas se o candomblé libera o indivíduo ele também libera o mundo não tem para este nenhuma mensagem de mudança não deseja transformálo em outra coisa como se propõem por exemplo os católicos que seguem a Teologia da Libertação sempre interessados em substituir este mundo por outro mais justo O candomblé se preocupa sobretudo com aspectos muito concretos da vida doença dor desemprego deslealdade falta de dinheiro comida e abrigo mas sempre tratando dos problemas caso a caso indivíduo a indivíduo pois não se trabalha aqui com a noção de interesses coletivos mas sempre com a de destino individual O candomblé também pode ser a religião ou a magia daquele que já se fartou dos sentidos dados pela razão ciência e tecnologia e que deixou de acreditar no sentido de um mundo totalmente desencantado que deixou para trás a magia em nome da eficácia do secular pensamento moderno Talvez o candomblé possa ser a religião daquele que não consegue atinar com o senso de justiça social suficiente para resolver muitos dos problemas que cada indivíduo enfrenta no curso de sua vida pelo mundo desencantado O candomblé também oferece a seus iniciados e simpatizantes uma particular possibilidade de prazeres estéticos que se esparrama pelas mais diferentes esfera da arte e da diversão da música à cozinha do artesanato à escola de samba além da fascinação do próprio jogo de búzios o portão de entrada para o riquíssimo universo cultural dos orixás O candomblé ensina sobretudo que antes de se louvarem os deuses é imperativo louvar a própria cabeça ninguém terá um deus forte se não estiver bem consigo mesmo como ensina o dito tantas vezes repetidos nos candomblés Ori buruku kossi orixá ou Cabeça ruim não tem orixá Para os que se convertem isso faz uma grande diferença em termos de autoestima 31 Na nossa sociedade das grandes metrópoles se a construção de sentidos depende cada vez mais do desejo de grupos e indivíduos que podem escolher esta ou aquela religião ou fragmentos delas a relevância dos temas religiosos igualmente pode ser atribuída de acordo com preferências privadas A religião é agora matéria de preferência de tal sorte que até mesmo escolher não ter religião alguma é inteiramente aceitável socialmente Assim os deuses africanos apropriados pelas metrópoles da América do Sul não são mais deuses da tribo impostos aos que nela nascem Eles são deuses numa civilização em que os indivíduos são livres para escolhêlos ou não continuar fielmente nos seus cultos ou simplesmente abandonálos O candomblé pode também significar a possibilidade daquele que é pobre e socialmente marginalizado ter o seu deus pessoal que ele alimenta veste e ao qual dá vida para que possa ser honrado e homenageado por toda uma comunidade de culto Quando a filhadesanto se deixa cavalgar pelo seu orixá a ela se abre como palco o barracão em festa para o que talvez seja a única possibilidade na sua pobre vida de experimentar uma apresentação solo de estar no centro das atenções quando seu orixá paramentado com as melhores roupas e ferramentas de fantasia há de ser admirado e aclamado por todos os presentes quiçá invejado por muitos E por toda a noite o cavalo dos deuses há de dançar dançar e dançar Ninguém jamais viu um orixá tão bonito como o seu 32 Anexo Atributos básicos dos orixás no candomblé Nação queto Orixá Atribuição Sexo Elemento Natural Patronagem Exu orixá mensageiro guardião das encruzilhadas e da entrada das casas M minério de ferro comunicação transformação potência sexual Ogum orixá da metalurgia da agricultura e da guerra M ferro forjado estradas abertas ocupações manuais soldados e polícia Oxóssi ou Odé orixá da caça fauna M florestas fartura de alimentos Ossaim orixá da vegetação flora M folhas eficácia dos remédios e da medicina Oxumarê orixá do arcoíris M e F andrógino chuva e condições atmosféricas riqueza que provém das colheitas chuva Obaluaiê ou Omulu orixá da varíola pragas e doenças M terra solo cura de doenças físicas Xangô orixá do trovão M trovão e pedras pedra de raio governo justiça tribunais ocupações burocrática Oiá ou Iansã orixá do relâmpago dona dos espíritos dos mortos F relâmpagos raios vento tempestade sensualidade amor carnal desastres atmosféricos Obá orixá dos rios F rios trabalho doméstico e o poder da mulher Oxum orixá da água doce e dos metais preciosos F rios lagoas e cachoeiras amor ouro fertilidade gestação vaidade LogunEdé orixás dos rios que correm nas florestas M ou F alternadamente rios e florestas o mesmo que Oxum e Oxóssi seus pais Euá orixá das fontes F nascentes e riachos harmonia doméstica Iemanjá orixá das grandes águas do mar F mar grandes rios maternidade família saúde mental Nanã orixá da lama do fundo das águas F lama pântanos educação senioridade e morte Oxaguiã Oxalá Jovem orixá da criação criação da cultura material M ar cultura material sobrevivência Oxalufã Oxalá Velho orixá da criação criação da humanidade M e F princípio da Criação ar o sopro da vida 33 Orixá Representação material Fetiche Assentamento Elemento mítico Cores das roupas Cores das contas Exu laterita enterrada e garfos de ferro em alguidar de barro fogo e terra vermelho e preto vermelho e preto alternadas Ogum instrumentos agrícolas de ferro em miniatura em alguidar de barro terra azul escuro verde e branco azul escuro ou verde Oxóssi ou Odé pequeno arcoeflecha de metal ofá em alguidar de barro terra azul turquesa e verde azul turquesa Ossaim feixe de seis setas de ferro com folhas e um pássaro no centro em alguidar de barro terra verde e branco verde e branco alternadas Oxumarê duas cobras de metal entrelaçadas água amarelo verde e preto amarelo verde e preto ou búzios Obaluaiê ou Omulu cuscuzeiro de barro com lanças de ferro terra vermelho branco e preto com capuz de palha vermelho branco e preto Xangô pedra em uma gamela fogo vermelho marrom e branco vermelho e branco alternadas Oiá ou Iansã seixo de rio em sopeira ar água e fogo marrom e vermelho escuro ou branco marrom ou vermelho escuro Obá seixo de rio em sopeira de louça água vermelho e dourado vermelho e amarelo translúcido Oxum seixo de rio em sopeira de louça água amarelo ou dourado com pouco de azul amarelo translúcido LogunEdé ofá de metal e seixos de rio em alguidar de barro água e terra dourado e azul turquesa dourado translúcido e turquesa alternadas Euá cobra de ferro e seixos em sopeira de louça água vermelho e amarelo búzios Iemanjá seixo do mar em sopeira de louça água azul claro branco verde claro de vidro só incolor ou com azul ou verde translúcidos alternadamente Nanã seixos e búzios em sopeira água púrpura azul e branco brancas rajadas de azul cobalto Oxaguiã Oxalá Jovem pequeno pilão de prata ou estanho e seixo em sopeira de louça branca ar branco com um mínimo de azul real branco e azul real Oxalufã Oxalá Velho círculo de prata ou estanho e seixo em sopeira de louça branca ar branco branco 34 Orixá Animais sacrificiais Comidas favoritas Números no jogo de búzios Dia da semana Exu bode e galo pretos farofa com dendê 1 7 Segundafeira Ogum cabrito e frango feijoada e inhame assado 3 7 Terçafeira Oxóssi ou Odé animais de caça e porco milho cozido com fatias de coco frutas 3 6 Quintafeira Ossaim caprinos e aves machos e fêmeas milho cozido temperado com fumo frutas 1 7 Quintafeira Oxumarê cabrito e cabra batata doce cozida e amassada 3 6 11 Sábado Obaluaiê ou Omulu porco pipoca com fatias de coco 1 3 11 Segundafeira Xangô carneiro e cágado amalá quiabo cortado em fatias cozido no dendê com camarão seco 4 6 12 Quartafeira Oiá ou Iansã cabra galinha acarajé bolinhos de feijão fradinho fritos em dendê 4 9 Quartafeira Obá cabra e galinha omelete com quiabo 4 6 9 Quartafeira Oxum cabra e galinha omolocum purê de feijão fradinho enfeitado com cinco ovos cozidos 5 8 Sábado LogunEdé casal de cabritos e de aves milho cozido peixe e frutas 6 7 9 Quintafeira Euá cabra e galinha feijão preto com ovos cozidos 3 6 Sábado Iemanjá pata cabra ovelha peixe arroz coberto com clara batida canjica peixe assado 3 9 10 Sábado Nanã cabra e capivara mingau de farinha de mandioca 3 8 11 Segundafeira Oxaguiã Oxalá Jovem caracol catassol inhame pilado e canjica 8 Sextafeira Oxalufã Oxalá Velho caracol catassol canjica arroz com mel inhame pilado 10 Sextafeira 35 Orixá Objetos rituais Tabus dos filhos Sincretismo Correspondência Santo católico Vodum Jeje Inquice Banto Exu chamado Bara no batuque do Rio Grande do Sul ogó bastão com formato fálico carregar objetos na cabeça Diabo Elegbara Bara Eleguá Bombogira Aluviá Ogum espada embebedarse Santo Antônio São Jorge Gun Doçu Incáci Roximucumbe Oxóssi ou Odé ofá arcoeflexa de metal eru espanta mosca de rabo de cavalo comer mel São Jorge São Sebastião Azacá Gongobira Mutacalombo Ossaim lança e três cabaças contendo as folhas sagradas assobiar Santo Onofre Agué Catendê Oxumarê espada e cobras de metal rastejar São Bartolomeu Dã Bessém Angorô Obaluaiê ou Omulu xaxará cetro feito de fibras das folhas do dendezeiro com búzios ir a funerais São Lázaro São Roque AcóssiSapatá Xapanã Cafunã Cavungo Xangô oxé machado duplo xere chocalho de metal contato com mortos e cemitérios vestir se de vermelho São Jerônimo São João Badé Queviosô Zázi Oiá ou Iansã espada e eru espantamosca comer carneiro ou ovelha comer abóbora Santa Bárbara Sobô Matamba Bumburucema Obá espada e escudo circular comer cogumelos usar brincos Santa Joana DArc Oxum abebê leque de metal amarelo espada comer peixe de escamas Nossa Senhora das Candeias Aziritobosse Navê Navezuarina Samba Quissambo LogunEdé ofá e abebê usar roupa marrom ou vermelha São Miguel Arcanjo Bosso Jara Euá espada e chocalho de matéria vegetal esfera comer aves fêmeas Santa Lúcia Euá Iemanjá abano de metal branco e espada comer caranguejo matar camundon go ou barata Nossa Senhora da Conceição Abê Dandalunda Quissembe Nanã ibiri cetro em forma de arco de fibras das folhas do dendezeiro com búzios usar facas de metal Santana Nanã Oxaguiã Oxalá Jovem mão de pilão de prata ou de material branco comida com dendê vinho de palma usar roupa colorida às sextas feiras Jesus Menino Oxalufã Oxalá Velho opaxorô cajado prateado com pingentes representando a criação do mundo comida com dendê vinho de palma usar roupa colorida às sextas feiras Jesus Crucificado ou Redentor Liçá Zambi Bibliografia ABIMBOLA Wande Sixteen Great Poems of Ifá slp UNESCO 1975 Ifá An Exposition of Ifá Literary Corpus Ibadan Nigéria Oxford University Press 1976 ALKIMIN Zaydan O livro vermelho da PombaGira 3a ed Rio de Janeiro Pallas 1991 literartura religiosa AMARAL Rita de Cássia e colab A cor do axé brancos e negros no candomblé de São Paulo Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro nº 25 dezembro pp 99124 1993 ARCELLA Luciano Rio macumba Roma Bulzoni 1980 AUGRAS Monique O duplo e a metamorfose A identidade mítica em comunidades nagô Petrópolis Vozes 1983 Quizilas e preceitos Transgressão reparação e organização dinâmica do mundo In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Candomblé desvendando identidades São Paulo EMW Editores 1987 De Yiá Mi a Pomba Gira Transformações e símbolos da libido In Carlos Eugênio Marcondes de MOURA org Meu sinal está no teu corpo Escritos sobre a religião dos orixas São Paulo Edicon Edusp 1989 BARROS José Flávio Pessoa de O segredo das folhas sistema de classificação de vegetais no Candomblé jêjenagô do Brasil Rio de Janeiro Pallas e UERJ 1993 BASCON William R Ifá Divination Communication between Gods and Men in West Africa Bloomington Indiana University Press 1969a Sixteen Cowries Yoruba Divination from Africa to the New World Bloomington Indiana University Press 1969b BASTIDE Roger As religiões africanas no Brasil São Paulo Pioneira 1975 O candomblé da Bahia rito nagô São Paulo Nacional 1978 BASTIDE Roger e VERGER Pierre Contribuição ao estudo da adivinhação em Salvador Bahia In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Olóorisa Escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Ôgora 1981 BERQUÓ Elza ALENCASTRO Luiz Felipe de 1992 A emergência do voto negro Novos Estudos Cebrap São Paulo nº 33 junho pp 7788 BITTENCOURT José Maria No reino dos Exus 5a ed Rio de Janeiro Pallas 1989literartura religiosa BRAGA Júlio Santana O jogo de búzios Um estudo de adivinhação no candomblé São Paulo Brasiliense 1988 a CABRERA Lydia Yemanjá y Ochún Madrid Forma Grafica 1974 CAMARGO Candido Procopio Ferreira de Kardecismo e umbanda São Paulo Pioneira 1991 CAMARGO Candido Procopio Ferreira de et alii Católicos protestantes espíritas Petrópolis Vozes 1993 37 37 CAMPOS André Gambier OLIVEIRA Kelly Adriano de PRANDI Reginaldo 1993 Lideranças negras no Brasil mimeo Trabalho apresentado no I Simpósio de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo São Paulo USP 1993 CARNEIRO Edison Religiões negras Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1936 CONCONE Maria Helena Villas Boas Umbanda uma religião brasileira São Paulo Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP 1987 CONTINS Márcia O caso da Pombagira Reflexões sobre crime possessão e imagem feminina Dissertação de Mestrado Rio de Janeiro Museu Nacional 1983 CONTINS Márcia GOLDMAN Márcio O caso da Pombagira Religião e violência Uma análise do jogo discursivo entre umbanda e sociedade Religião e sociedade v 11 no 1 Rio de Janeiro 1985 CORRÊA Norton F O batuque do Rio Grande do Sul antropologia de uma religião afrorio grandense Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGS 1992 EDUARDO Octavio da Costa The Negro in Northern Brazil Seatle University of Washington Press 1948 FERNANDES Florestan A integração do negro na sociedade de classes São Paulo Dominus e Edusp 1965 FERNANDES Gonçalves Xangôs do Nordeste Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1937 FERRETTI Mundicarmo Maria Rocha Mina uma religião de origem africana São Luís SIOGE 1985 Desceu na guma O caboclo do tambor de mina no processo de mudança de um terreiro de São Luís a Casa FantiAshanti São Luís SIOGE 1993 Terra de caboclo São Luís SECMA 1994 FERRETTI Sérgio Figueiredo Querebentan de Zomadonu etnografia da Casa das Minas São Luís Editora da Universidade Federal do Maranhão 1986 Repensando o sincretismo estudo sobre a Casa das Minas São Paulo e São Luís Edusp FAPEMA 1995 FONTENELLE Aluizio Exu Rio de Janeiro Espiritualista sd literartura religiosa FREITAS Byron Torres de O jogo dos búzios 9aed Rio de Janeiro Editora Eco sd literatura religiosa FRIGERIO Alejandro CAROZZI María Julia Las religiones afrobrasileñas en Argentina In ORO Ari Pedro org As religiões afrobrasileiras no Cone Sul Cadernos de Antropologia nº 10 Porto Alegre UFRGS 1993 FRY Peter HOWE Gary Nigel Duas respostas à aflição Umbanda e pentecostalismo Debate e crítica no 6 7594 1975 GLEASON Judith A Recitation of Ifa Oracle of the Yoruba New York Grossman Publishers 1973 HASENBALG Carlos A SILVA Nelson do Valle Notas sobre desigualdade racial e política no Brasil Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro nº 25 141160 dezembro de 1993 38 38 HERSKOVITS Melville J The Southernmost Outpost of the New World Africanisms American Anthropologist v 45 4 495590 1943 IDOWU E Bolaji Olodumare God in Yoruba Belief Essex Longman Nigeria l982 LANDES Ruth A cidade das mulheres Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1967 LÉPINE Claude Os estereótipos da personalidade no candomblé nagô In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Olóorisa Escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Ôgora 1981 LÉPINE Claude Análise formal do panteão nagô In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Bandeira de Alairá Outros escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Nobel 1982 LEITE Fábio Tradições e práticas religiosas negroafricanas na região de São Paulo In Culturas africanas Documento da Reunião de Peritos sobre As sobrevivências das tradições religiosas africanas nas Caraíbas e na América Latina São Luís do Maranhão 1985 São Luís UNESCO 1986 LIMA Vicente Xangô Recife Centro de Cultura AfroBrasileiro e Jornal do Comércio 1937 LIMA Vivaldo da Costa O conceito de nação dos candomblés da Bahia AfroÁsia Salvador no 12 6590 1976 A famíliadesanto nos candomblés jejenagôs da Bahia Um estudo de relações intra grupais Salvador Curso de PósGraduação em Ciências Humanas da UFBa 1977 Os obás de Xangô In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Olóorisa Escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Ôgora 1981 Naçõesdecandomblé In Encontro de nações de candomblé Salvador Centro de Estudos AfroAsiáticos da UFBa e Ianamá 1984 LUCAS JOlumide The Religion of the Yorubas Lagos CMS Bookshop 1948 LUCKMANN Thomas Social Reconstruction of Transcendence Secularization and Religion The Persisting Tension Lausanne Conference Internationale de Sociologie des Religions 19eme Conference Tubingen 1987 1987 MACHADO Maria das Dores Campos 1994 Adesão religiosa e seus efeitos na esfera privada um estudo comparativo dos carismáticos e pentecostais do Rio de Janeiro Rio de Janeiro IUPERJ tese de doutorado em Sociologia MAGGIE Yvonne Medo do feitiço Relações entre magia e poder no Brasil Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1992 MARIANO Ricardo Neopentecostalismo os pentecostais estão mudando Dissertação de mestrado em sociologia São Paulo FFLCHUSP 1995 MARIANO Ricardo PIERUCCI Antônio Flávio 1992 O envolvimento dos pentecostais na eleição de Collor Novos Estudos Cebrap São Paulo nº 34 novembro pp 92106 MAZZOLENI Gilberto Maghi e Messia del Brasile Roma Bulzoni Editore 1993 MAUPOIL La géomancie à lanciene Côte des Esclaves Paris Institut dEthnologie 1961 39 39 MCKENZIE PR O culto aos orisa entre os yoruba Algumas notas marginais relativas a sua cosmologia e a seus conceitos de divindade In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Candomblé desvendando identidades São Paulo EMW Editores 1987 MENDONÇA Antônio Gouvêa Um panorama do protestantismo atual In Landim Leilah org Sinais dos tempos tradições religiosas no Brasil Rio de Janeiro ISER 1989 MEYER Marlyse Maria Padilha e toda sua quadrilha de amante de um rei de Castela a PombaGira de Umbanda São Paulo Duas Cidades 1993 MOLINA NA Pontos cantados e riscados dos Exus e Pomba Gira 3a ed Rio de Janeiro Editora Espiritualista sd literartura religiosa MOTTA Roberto Renda emprego nutrição e religião Ciência trópico Recife 52 121 153 1977 Cidade e devoção Recife Edições Pirata 1980 Bandeira de Alairá A festa de XangôSão João e problemas do sincretismo In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Bandeira de Alairá Outros escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Nobel 1982 org Os afrobrasileiros anais do III Congresso AfroBrasileiro Recife Massangana 1985 Comida família dança e transe Sugestões para o estudo do xangô Revista de Antropologia São Paulo nº 25 147157 1982 Edjé balé Alguns aspectos do sacrifício no xangô pernambucano Tese de concurso para professor titular de antropologia Recife UFPe 1991 MOURA Carlos Eugênio Marcondes de Candomblé xangô tambordemina batuque pará e babassuê Bibliografia prévia In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Bandeira de Alairá Outros escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Nobel 1982 MOURA Carlos Eugênio Marcondes de Orixás voduns inquices caboclos encantados e loas Bibliografia complementar In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Candomblé desvendando identidades São Paulo EMW Editores 1987 MOURA Carlos Eugênio Marcondes de A religião dos orixás voduns e inquices no Brasil Cuba Estados Unidos Granada Haiti República Dominicana TrinidadTobago Angola Benin e Nigéria Bibliografia complementar In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Meu sinal está no teu corpo Escritos sobre a religião dos orixás São Paulo Edicon e Edusp 1989 MOURA Roberto Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Funarte 1983 NEGRÃO Lísias Nogueira O pentecostalismo no Brasil SEDOC v 12 col 11071113 maio 1980 Umbanda entre a cruz e a encruzilhada Tempo social revista de sociologia da USP São Paulo vol 5 nos 1 e 2 pp113122 1984 NOGUEIRA Oracy Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem In BASTIDE Roger FERNANDES Florestan orgs Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo São Paulo Anhembi e Unesco 1955 40 40 OJUOBÁ Bablawô O verdadeiro jogo de búzios 4a ed Rio de Janeiro Editora Eco sd literatura religiosa OMOLUBÁ Babalorixá Maria Molambo na sombra e na luz 5a ed Rio de Janeiro Pallas 1990 literartura religiosa ORO Ari Pedro As religiões afrobrasileiras religiões de exportação In ORO Ari Pedro org As religiões afrobrasileiras no Cone Sul Cadernos de Antropologia nº 10 Porto Alegre UFRGS 1993 As religiões afrobrasileiras do Rio Grande do Sul Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGS 1994 ORTIZ Renato A morte branca do feiticeiro negro Petrópolis Vozes 1978 PEMBERTON John EshuElegbara The Yoruba Trickster God African Arts IX1 2027 1975 PEREIRA João Baptista Borges Aspectos do comportamento político do negro em São Paulo Ciência e Cultura São Paulo vol 34 nº 10 pp 12861294 1982 a Parâmetros ideológicos de projeto político de negros em São Paulo Revista do Instituto de Estudos Brasileiros São Paulo nº 24 pp 5361 1982 b Encontros com Pixinguinha Folhetim Folha de SPaulo 10 de julho de 1983 PI HUGARTE Renzo Las religiones afrobrasileñas en el Uruguay In ORO Ari Pedro org As religiões afrobrasileiras no Cone Sul Cadernos de Antropologia nº 10 Porto Alegre UFRGS 1993 a Las religiones afrobrasileñas en el Uruguay In ORO Ari Pedro org As religiões afro brasileiras no Cone Sul Cadernos de Antropologia nº 10 Porto Alegre UFRGS 1993 b PIERUCCI Antônio FlávioDemocracia igreja e voto o envolvimento dos padres de paróquia na eleição de 1982 São Paulo USP tese de doutorado em Sociologia 1984 Representantes de Deus em Brasília a bancada evangélica na Constituinte In Ciências sociais hoje 1989 São Paulo Vértice e ANPOCS 1989 PIERUCCI Antônio Flávio de Oliveira CAMARGO Candido Procopio Ferreira de e SOUZA Beatriz Muniz de Comunidades eclesiais de base In SINGER Paul e BRANT Vinícius Caldeira orgs São Paulo O povo em movimento 4a ed Petrópolis Vozes 1983 PIERUCCI Antônio Flávio PRANDI Reginaldo Religiões e voto a eleição presidencial de 1994 Opinião pública Campinas v 3 nº 1 pp 2044 maio de 1995 PINTO Altair Dicionário da umbanda Rio de Janeiro Editora Eco 1971 PINTO Roquette org Estudos AfroBrasileiros Rio de Janeiro Ariel 1935 POLLAKELTZ Angelina Umbanda en Venezuela Caracas Fondo Editorial Acta Cientifica 1993 PORDEUS Jr Ismael A magia do trabalho Macumba cearense e festas de possessão Fortaleza Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Ceará 1993 Lisboa de caso com a umbanda Trabalho apresentado no GT Religião e sociedade no XIX Encontro Anual da ANPOCS São Paulo ANPOCS 1995 41 41 PORTUGAL Fernandes O jogo de búzios Rio de Janeiro Tecnoprint 1986 literatura religiosa PRANDI Reginaldo Catolicismo e família transformação de uma ideologia São Paulo CEBRAP e Brasiliense 1975 O trabalhador por conta própria sob o capital São Paulo Símbolo 1977 Os candomblés de São Paulo a velha magia na metrópole nova São Paulo Hucitec e Edusp 1991 a Cidade em transe religiões populares no Brasil no fim do século da razão Revista USP São Paulo nº 11 outdez pp 6570 1991 b Adarrum e empanadas uma visita às religiões afrobrasileiras em Buenos Aires Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro nº 21 p 157165 dez 1991 c Perto da magia longe da política Novos Estudos Cebrap São Paulo nº 34 novembro pp 8191 1992 Città in transe culti di possessione nella metropoli brasiliana Roma Edizioni Acta 1993 PRANDI Reginaldo e PIERUCCI Antônio Flávio de Oliveira Assim como não era no princípio religião e ruptura na obra de Procopio Camargo Novos estudos Cebrap São Paulo no 17 2935 maio 1987 RODRIGUES Raimundo Nina O animismo fetichista dos negros bahianos 2a ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1935 QUEIROZ Maria Isaura Pereira de Cultura sociedade rural sociedade urbana no Brasil São Paulo LTC e Edusp 1978 QUERINO Manuel Costumes africanos no Brasil Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1938 A raça africana Salvador Progresso 1955 RAMOS Arthur O folclore negro do Brasil Rio de Janeiro Casa do Estudante do Brasil 1935 Introdução à antropologia brasileira 2 vols Rio de Janeiro Edições da CEB 1943 RIBEIRO Carmen Religiosidade do índio brasileiro no candomblé da Bahia Influências africanas e européias AfroÔsia Salvador no 14 6080 dezembro 1983 RIBEIRO José O jogo de búzios 4a ed Rio de Janeiro Polo Mágico 1985 literatura religiosa Eu Maria Padilha Rio de Janeiro Pallas 1991 literartura religiosa RIBEIRO René Cultos afrobrasileiros do Recife Um estudo de ajustamento social Recife Instituto Joaquim Nabuco 1952 RIO João do Paulo Barreto As religiões no Rio Rio de Janeiro HGarnier 1906 RODRIGUES Raimundo Nina O animismo fetichista dos negros bahianos 2a ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1935 Os africanos no Brasil 4a ed São Paulo Nacional 1976 ROLIM Francisco Cartaxo Pentecostais no Brasil Uma interpretação sócioreligiosa Petrópolis Vozes 1985 42 42 SANCHIS Pierre As tramas sicréticas da história Revista Brasileira de Ciências Sociais São Paulo nº 28 pp 123130 junho de 1995 SANTOS Deoscoredes Maximiliano dos Mestre Didi História de um terreiro nagô 2a ed aumentada São Paulo Max Limonade 1988 SANTOS Jocelio Teles O caboclo no candomblé Padê Salvador no 1 1121 julho 1989 O dono da terra A presença do caboclo nos candomblés baianos Tese de Mestrado em Antropologia São Paulo Universidade de São Paulo 1992 SANTOS Juana Elbein dos Os nagô e a morte 4a ed Petrópolis Vozes 1986 SCHETTINI Teresinha Bernardo A mulher no candomblé e na umbanda Dissertação de mestrado em Antropologia mimeo São Paulo Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 1986 SCHWARCZ Lilia Moritz 1993 O espetáculo das raças São Paulo Companhia das Letras SEGATO Rita Laura A Folk Theory of Personality Types Gods and their Symbolic Representation by Members of the Sango Cult in Recife Brazil Antropology PhD Thesis mimeo Belfast The Queens University 1984 SENNETT Richard O declínio do homem público As tiranias da intimidade São Paulo Companhia das Letras 1988 SILVA Ornato Jose da Ervas raízes africanas Rio de Janeiro edição do autor caixa postal 7046 1988 SKIDMORE Thomas E EUA biracial vs Brasil multirracial o contraste ainda é válido Novos Estudos Cebrap São Paulo nº 34 novembro pp 4962 1992 SOUZA Beatriz Muniz de A experiência da salvação Pentecostais em São Paulo São Paulo Duas Cidades 1969 SOUZA Laura Mello e O diabo e a terra de Santa Cruz São Paulo Companhia das Letras 1986 SOUZA Nelson Rosário de 1993 A igreja católica progressista e a produção do militante São Paulo USP dissertação de mestrado em sociologia SPARTA Francisco A dança dos orixás São Paulo Herder 1970 TEIXEIRA Maria Lina Leão Lorogun identidades sexuais e poder no candomblé In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de org Candomblé desvendando identidades São Paulo EMW Editores 1987 THOMAS Keith Religion and the Decline of Magic New York e London Penguin 1985 TRINDADE Liana Exu poder e perigo São Paulo Ícone 1985 TRINDADESERRA Ordep J Na trilha das crianças Os erês num terreiro angola Dissertação de mestrado em Antropologia Social mimeo Brasília Universidade de Brasília 1978 VALENTE Waldemar Sincretismo religioso afrobrasileiro 3a ed São Paulo Nacional 1977 VARANDA Jorge Alberto O destino revelado no jôgo de búzios Rio de Janeiro Editora Eco sd literatura religiosa VELHO Yvone Maggie Alves Guerra de orixás Um estudo de ritual e conflito Rio de Janeiro Zahar 1975 43 43 VERGER Pierre F Notes sur le culte des orisha et vodun à Bahia la Baie de Tous les Saints au Brésil et à lancienne Côte des Esclaves en Afrique Dakar IFAN 1957 VERGER Pierre F Notion de personne et lignée familiale chez les Yoruba In CNRS La notion de persone en Afrique noire Paris Centre National de la Recherche Scientific 1973 VERGER Pierre F Lendas africanas dos orixás Salvador Corrupio 1985 a VERGER Pierre F Orixás Deuses iorubás na África e no Novo Mundo 2a ed São Paulo Corrupio e Círculo do Livro 1985 b WALLIS Roy New Religions and the Potential for Word ReEnchantment Religion as Way of Life Preference and Commodity Secularization and Religion The Persisting Tension Lausanne Conference Internationale de Sociologie des Religions 19eme Conference Tubingen 1987 1987 WARREN Donald A terapia espírita no Rio de Janeiro Religião e sociedade Rio de Janeiro 113 5683 dezembro 1984 WEBER Max Sociology of Religion Boston Beacon Press 1963 WEBER Max Economía y sociedad 2 tomos México Fondo de Cultura Económica 1969 WEBER Max A psicologia social das religiões mundiais In Ensaios de sociologia Rio de Janeiro Zahar sd ZIEGLER Jean O poder africano São Paulo Difusão Européia 1972

Sua Nova Sala de Aula

Sua Nova Sala de Aula

Empresa

Central de ajuda Contato Blog

Legal

Termos de uso Política de privacidade Política de cookies Código de honra

Baixe o app

4,8
(35.000 avaliações)
© 2025 Meu Guru®